Documentos de Académico
Documentos de Profesional
Documentos de Cultura
Bruno Madureira
Bruno Madureira
Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
Bruno Madureira*
Resumen
El objetivo principal de este artículo es analizar los cambios ocurridos en las
bandas civiles en Portugal, con una especial atención al municipio de Águeda
(distrito de Aveiro), en el último cuarto de siglo XX, un periodo especialmente
desconocido en el ámbito de las agrupaciones musicales. El enfoque metodoló-
gico incluye la consulta bibliográfica, la recopilación de artículos de prensa, la
investigación de colecciones y archivos y la realización de entrevistas. El análisis
de los datos recogidos pone de manifiesto la revalorización de la banda de músi-
ca civil como agrupación, especialmente si se toma como referencia el periodo
precedente, y aun teniendo en cuenta la persistencia de ciertas dificultades como
pueden ser las económicas. Dicha revalorización se debió a una combinación
* Membro do projecto de investigação: “A Nossa Música, o Nosso Mundo: Associações Musicais, ban-
das filarmónicas e comunidades locais”. Investigador do Instituto de História Contemporânea (UNL) e
membro da Banda de Música da Força Aérea Portuguesa. Doutorando em Estudos Artísticos na Facul-
dade de Letras da Universidade de Coimbra.
53
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
Abstract
The main purpose of this article is to analyse the changes that have occurred
in Portuguese wind bands especially in the municipality of Águeda (district of
Aveiro) in the last quarter of the 20th century as this is a very unknown period
in what concerns these musical groups. The methodology used includes bibli-
ographical research, collection of press articles, research in collections and ar-
chives, as well as interviews. An evident revival phase can be highlighted in
these groups when the collected data is compared to the one in the preceding
period. Despite the persistence of certain problems such as the economic ones,
this revival was possible thanks to a combination of factors, among which the
increased availability of human resources can be referred. Due to the insufficient
studies on this subject, this research casts a new light on these groups, especially
in the municipality of Águeda and during the time period in question.
54
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
55
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
56
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
57
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
58
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
para África, como das restrições à emi- zenas de outras foram criadas de raiz
gração impostas pelos países habitual- com o regime democrático10. O surgi-
mente de destino emigratório, sobretu-
do após o choque petrolífero de 1973.8
(bandas de Casegas, Retaxense e Cortense), Vila
Embora de forma muito progressiva, Real (bandas da Portela, Valpaços, Perafita, Sa-
naturalmente, esse fenómeno ajudou brosa e Torre de Ervededo) e Leiria (bandas Bi-
a colmatar um dos maiores problemas doeirense, Alcobaça e Comércio e Indústria das
Caldas da Rainha).
das filarmónicas nas décadas preceden-
tes baixa disponibilidade de recursos
10
Bandas do Catujal, Póvoa de Santa Iria, Mafra,
Mira Sintra, Marvila, Venda Seca, Atalaia – Lou-
humanos isto porque, o perfil carac- rinhã, Malveira da Serra, Casaínhos, Charneca,
terístico dos emigrantes, bem como dos Lameiras, Agualva ‒ Cacém, Monte Abraão, Al-
militares mobilizados para África, con- vidense, Mucifalense, da Associação de Despor-
tos e Recreio O Paraíso, do Centro de Cultura
dizia com o dos elementos das bandas e Desporto da C.M. de Oeiras e da Sociedade
civis: jovens do sexo masculino. Con- Musical Simpatia e Gratidão (todas do distrito de
sequentemente, com a maior disponi- Lisboa), banda do Município do Gavião (Porta-
bilidade de recursos humanos, além do legre), bandas de Vilela, Ceira, Serpinense e Po-
marense (Coimbra), bandas de Coina, Barreiro e
natural aumento do número de músicos Lira Cercalense (Setúbal), bandas de Rio Maior,
em cada filarmónica, ressurgiram no Gançaria e Montalvense (Santarém), banda de
território nacional inúmeras bandas ci- Vermoim (Porto), banda de Caminha (Viana do
Castelo), bandas de Penalva do Castelo, Sernan-
vis, cuja actividade foi suspensa duran-
celhe, Sendim, Ferreirim e Nelas (Viseu), banda
te o Estado Novo9. Paralelamente, de- da Quinta do Picado (Aveiro), bandas de Alvito
e Odemira (Beja), bandas de Vila Real de Santo
António, São Brás de Alportel, Aljezur, da Casa
8
Nos anos antecedentes o fenómeno emigratório do Povo de Alcantarilha, Pêra e Armação de Pêra
teve grande impacto em toda a sociedade portu- e da Associação Filarmónica de Faro (Faro),
guesa. Entre 1958 e 1974, mais de 1,5 milhões bandas de Carrazedo de Montenegro e de Carlão
de portugueses radicaram-se na Europa central, (Vila Real), bandas de São Miguel de Mamede,
sobretudo na França. de Alandroal e da Casa do Povo de Vendas Novas
9
Nos distritos de Lisboa (bandas da Cruz-Que- (Évora), entre dezenas de outras
brada, Porto Salvo, Parede, Lameiras e Odive- No último quartel do século XX foram igualmen-
las), Beja (bandas de Aljustrel, Serpa, Safara, te fundadas no estrangeiro inúmeras bandas por
Ferreira do Alentejo e União Mourense), Braga emigrantes portugueses: Sociedade Filarmónica
(bandas de Calvos, Póvoa de Lanhoso e Santa Recreio do Emigrante (1978), nos EUA; Socie-
Maria do Bouro), Coimbra (bandas de Espinhal, dade Filarmónica União Popular San José (1978),
Mira, Ceira e Monfortense), Évora (bandas de nos EUA; Artista Amadora San Leandro (1980),
Borba, Corvalense, Azarujense, Portelense e nos EUA; Azores Band os Escalon (1980), nos
União Montoitense), Guarda (Banda de Pínzio), EUA; Filarmónica Portuguesa de Tulare (1981),
Portalegre (bandas de Nisa e Monforte), Porto nos EUA; Sociedade Filarmónica Lira Açoreana
(Banda de Baltar), Viseu (bandas de Castro (1982), nos EUA; Associação Filarmónica Por-
Daire e Nagoselo do Douro), Aveiro (Banda de tuguesa de Calgary (1983), no Canadá; Filarmó-
Burgo), Bragança (bandas de Mogadouro, Brin- nica do Chino (1986), nos EUA; Filarmónica
ço, Vilarinense, Carviçais e Vimioso), Santarém Portuguesa de Paris (1986), em França; Ban-
(bandas de Muge e Ourém), Castelo Branco da de Música Portuguesa (1990), na Austrália;
59
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
60
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
61
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
algumas das quais, sem esse interesse, de vista destes autores é que, apesar
a breve prazo se extinguiriam”19. Na da subsistência das dificuldades finan-
sua tese de licenciatura, realizada no ceiras e materiais, no início dos anos
ano de 1985, Regina Gomes também oitenta estava a ser progressivamente
destacou o crescente interesse da ju- ultrapassada uma das maiores dificul-
ventude pelas bandas de música: “Ac- dades das filarmónicas nas décadas
tualmente há em todo o país cerca de antecedentes —o défice de recursos
650 bandas activas e nos últimos 10 humanos. Concretamente nas bandas
anos tem havido um rejuvenescimento civis do concelho de Águeda, todos
e um recrudescimento da actividade os entrevistados paralelamente a
das bandas”20. Biu referiu ainda que outros dados, designadamente, as fo-
“(…) apesar do nenhum incentivo, da tografias disponíveis confirmam que
falta de condições propícias, da ausên- as respectivas filarmónicas aumenta-
cia de estruturas, da precariedade de ram progressivamente o seu quadro de
instrução específica, jovens dos mais executantes após o advento da demo-
humildes estratos continuam a substi- cracia, sobretudo, na década de 198023.
tuir-se aos mais velhos nos bancos das Vejamos o caso concreto da Nova:
escolas de música das filarmónicas “em 1976 já o número de executantes
(…)”21, enquanto Silva Dionísio rela- da Banda Nova ascendia a quarenta
tou, em 1984, num outro colóquio: “a e notava-se um afluxo de aprendizes,
maior dificuldade das bandas reside na como nunca antes se verificara (…)”24.
carência de instrumentos para as suas Após a Revolução Democrática de
escolas motivada, na maior parte das 1974 iniciou-se um processo de eman-
vezes, por um bem-vindo surto de in- cipação progressiva da mulher na so-
teresse da juventude em todo o nosso ciedade portuguesa e, consequente-
território”.22 Essencialmente, o ponto mente, uma maior participação desta
nas mais diversas actividades profis-
19
Humberto Biu, “A valorização das bandas de sionais, sociais e lúdicas, incluindo
música”, in Colóquio sobre música popular por- nas bandas civis. Sobre este fenómeno
tuguesa – comunicações e conclusões (1979), vejamos o que escreveram Santana
Lisboa, INATEL, 1984, 93.
e Ramos na década de oitenta: “(…)
20
Regina Ferreira Gomes, As bandas filarmóni-
interessante notar também a crescente
cas como expressão, 32.
Humberto Biu, “A valorização das bandas de
21
música”, 146. 23
Entrevista a Rosa, Moreto, Lemos, Ferreira,
22
Dionísio, “Actividades dos centros de recupe- Jesus, Fernandes, Lopes, Pepino, Ana, Silva e
ração de instrumentos musicais”, in 1º colóquio Neves, 2014.
nacional de música, comissão permanente do dia 24
AA.VV., Associação Cultural e Recreativa
mundial da música (Abrantes: Câmara Municipal Banda Nova de Fermentelos, Águeda, ed. Banda
de Abrantes, 1984), 132. Nova de Fermentelos, 2001, 23.
62
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
63
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
64
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
65
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
66
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
67
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
68
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
69
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
70
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
71
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
72
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
73
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
74
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
75
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
76
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
de atraiu aprendizes, foi decisivo para lhoria das bandas civis passava pela
o futuro da banda e promoveu uma formação apropriada dos regentes
série de “alterações e inovações ao amadores através de cursos descen-
nível da estrutura e funcionamento da tralizados, complementares aos que
banda, solidificando-lhe o futuro”63. o INATEL organizava anualmente.65
Nesse ano, os regentes das restantes Distintas personalidades, provenientes
bandas eram amadores de idade avan- de múltiplos organismos, partilharam
çada e somente na década de 1980 fo- este ponto de vista, o que levou à mul-
ram contratados jovens músicos para tiplicação da oferta de formação ao
as reger, alguns deles profissionais e nível da regência de bandas um pou-
outros com formação em conserva- co por todo o país, maioritariamente
tórios, o que ajudou a elevar o nível da responsabilidade do INATEL, da
artístico daqueles agrupamentos. A SEC, da FCG e da APEM. A partir de
Marcial contratou Silas Granjo64, em 1972, a FNAT / INATEL promoveu
1980; a Castanheirense, Gil Miranda, anualmente o “Curso de aperfeiçoa-
em 1988; a Alvarense, Juvenal Mar- mento de regentes amadores de ban-
ques, em 1983; e a 12 de Abril, João das civis”, onde regentes amadores,
Neves, em 1980, que em 1986 transi- durante cerca de um mês, absorveram
tou para a Nova. ensinamentos ligados à teoria geral da
Numa época em que os instrumen- música, à instrumentação e à harmo-
tistas foram estimulados a frequenta- nia. Segundo Neves Dias, até ao ano
rem escolas de música oficiais, mui- de 1981 frequentaram estes cursos
tos com perspectivas de uma carreira mais de 150 regentes – cerca de um
musical a nível profissional, uma parte quarto dos existentes no país – muitos
significativa dos regentes manteve-se deles jovens e autodidactas. Pelo me-
estagnada na reciclagem de conheci- nos no ano de 1981, este evento con-
mentos musicais, sobretudo no campo tou com o apoio da Junta Central de
da regência. Diferentes personalida- Casas do Povo, que premiou os alunos
des pressionaram-nos a apostar na for- mais qualificados e “aqueles que mais
mação e apelaram à sua substituição, contribuíram para uma evolução mu-
por outros mais capazes. Em 1984, sical no seio das suas bandas”.66 Esses
Humberto Biu considerou que a me-
65
Humberto Biu. “Bandas de música civis e
63
AA.VV, Associação Cultural e Recreativa amadoras e sua valorização”, in 1º Colóquio Na-
Banda Nova de Fermentelos, 19. cional de Música, Comissão Permanente do Dia
64
Em 1980 Silas Granjo introduziu uma selecção Mundial da Música, Abrantes, CM de Abrantes,
dos Beatles, Jesus Christ Superstar e Pop Show 1984, 123.
de Amílcar Morais, Cf. Barbosa, A Rambóia, p. 66
Neves Dias, “No curso de regentes do INA-
155. TEL: bandas e filarmónicas lutam pela sobrevi-
77
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
78
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
79
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
o que nos leva a crer que houve, de e levadas a cabo diversas iniciativas,
facto, uma ligação entre ambos fenó- sobretudo na região da Grande Lisboa,
menos. Particularmente nas bandas do a fim de estimular o gosto pela apren-
município de Águeda, temos conheci- dizagem musical e o aperfeiçoamento
mento da frequência massiva de ins- artístico de crianças e jovens das esco-
trumentistas e maestros no Conserva- las de música de filarmónicas. Nesse
tório de Música de Aveiro, somente no âmbito, a Junta de Turismo da Costa
decorrer do último quarto da centúria do Sol teve um papel valioso ao incen-
vigésima. António Silva considera que tivar a criação da Escola de Iniciação
a carência de escolas e de conserva- Musical do Estoril, além de fomentar
tórios antes da revolução democrática a formação de uma banda de jovens72.
foi um dos causadores da estagnação Paralelamente, apesar de organizados
das filarmónicas deste concelho: “Eu desde 1962, após o advento da demo-
acho que a estagnação vinha […] não cracia manteve-se a realização dos
das décadas de cinquenta e sessen- Cursos Internacionais de Música da
ta, mas sim das décadas anteriores. Costa do Sol, no Estoril, que integra-
As bandas não evoluíam nada […] e ram cursos de aperfeiçoamento para
não evoluíam porque não tinham es- instrumentistas de sopro e “destina-
colas […] os conservatórios vieram vam-se em especial a componentes de
transformar tudo […]”70. Pepino refe- bandas filarmónicas visando a sua va-
re inclusivamente que as bandas ague- lorização musical através do aperfei-
denses, a Nova de Fermentelos em çoamento da técnica instrumental”73.
particular, iniciaram a sua evolução O INATEL teve, igualmente, um papel
após António e João Neves, seguidos considerável no âmbito da formação
de outros, frequentarem o conservató- musical para elementos de bandas ci-
rio e iniciarem uma carreira musical a vis ao estimular, através de subsídios
nível profissional, nomeadamente nas e apoio logístico, a criação de escolas
bandas militares71. de música para elementos de ambos os
Ao longo dos primeiros anos do
regime democrático foram planeadas 72
Fundo Documental da Banda Sinfónica da
GNR, Espólio Silva Dionísio, Envelope BF1,
Silva Dionísio, Estudo para a projectada Ban-
70
Entrevista a Silva, 2014. da Juvenil da junta de Turismo da Costa do Sol,
71
Entrevista a Pepino. 1975.
O maestro António Neves ingressou no Conser- 73
Centro de Documentação Anselmo Braam-
vatório de Aveiro em 1967. Ferreira, Jesus, Lo- camp Freire do Museu Municipal de Loures, Es-
pes e Neves confirmam que os primeiros músicos pólio pessoal de Marcos Romão, Cota ROMA-
das respectivas bandas a frequentarem o conser- 505, Programa dos XVI Cursos Internacionais
vatório, fizeram-no depois do terceiro quartel do de Música da Costa do Sol, Julho / Agosto de
século XX. 1978.
80
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
sexos, não só nas sedes das filarmóni- tatorial. Esses agrupamentos musicais
cas, como em casas do povo, grupos continuaram a privilegiar as transcri-
desportivos e outras colectividades. ções de obras orquestrais, geralmen-
Todas estas acções, projectos ou ini- te de autores estrangeiros74. Parale-
ciativas, são dignas de menção, uma lamente, a música de compositores
vez que de uma ou outra forma, em portugueses interpretada nas décadas
maior ou em menor grau, promoveram anteriores — marchas, danças, rapsó-
a música e a aprendizagem dos instru- dias e fantasias escritas originalmente
mentos de sopro, os quais constituem para banda — continuou a integrar o
a base instrumental das bandas civis. reportório da maioria das bandas ci-
vis, nomeadamente, as obras de Sousa
Compositores e música para banda Morais, Pinto Ribeiro, Leonel Ferrei-
ra, Santos Pinto, Artur Ribeiro Dantas,
As discrepâncias da qualidade ar- José da Silva Marques, Duarte Pes-
tística entre as bandas civis portugue- tana, Joaquim Luiz Gomes, António
sas são um obstáculo à compreensão e Cordeiro Gonçalves, Lourenço Alves
à construção de um paradigma do re- Ribeiro, Miguel de Oliveira, Francis-
portório musical habitualmente inter- co José Dias, José Figueiredo, Silva
pretado no derradeiro quarto da centú- Marques e Marcos Romão. Após o 25
ria vigésima. A este problema junta-se de Abril de 1974, surgiram outros no-
a habitual inexistência de programas mes cuja estética musical não se afasta
de concerto na maioria das bandas ci- muito da dos anteriores, entre os quais,
vis, sobretudo nas regiões norte e cen- Ilídio Costa, Agostinho Caineta, Antó-
tro, isto porque, a quase totalidade das nio Fortunato de Sousa, Antero Ávi-
práticas performativas dessas bandas la, Afonso Alves, Hermínio Leite ou
eram realizadas no âmbito de festas Amílcar Morais.
religiosas que, como sabemos, não A partir de meados da década de
disponibilizam programas de concer- 1970 e, particularmente no decénio
to. Analisar as partituras em arquivo seguinte, disseminou-se o reportório
também não é muito rigoroso porque bandístico em torno de selecções mu-
a existência de determinada obra não sicais de temas latino-americanos e
significa que ela fosse interpretada no anglo-saxónicos, célebres e fáceis de
período em consideração. Não obstan- cantar, que atraíram jovens para as fi-
te, de um modo global consideramos
que o reportório musical comummen-
te interpretado pelas bandas civis não
74
Apesar de, até finais da década de 1980, terem
surgido inúmeros compositores de referência a
sofreu alterações significativas nos escrever música original para banda, como Ma-
anos imediatos à queda do regime di- rio Davidowsky, John Adams, Davis Maslanka,
Johan De Meij, entre muitos outros.
81
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
82
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
John Williams, Robert Smith, Andrew gentes durante várias décadas78. Efec-
Lloyd Webber, Claude Schoenberg e tivamente, as selecções musicais refe-
Ennio Morricone, arranjados por com- ridas foram um estímulo para os mais
positores estrangeiros e alguns portu- jovens, incluindo os potenciais apren-
gueses. dizes. Foi dessa forma que a banda se
O fenómeno da difusão das se- aproximou dos jovens, causou uma
lecções musicais de temas latino- maior interacção com os espectadores
americanos e anglo-saxónicos e, consequentemente, conquistou um
ocorrido um pouco por todo o mercado mais abrangente. Como con-
país a partir da década de 1980 foi sidera Silva, “foi com o Jesus Cristo
paradigmático nas filarmónicas de Superstar e muitas outras que já não
Águeda, especialmente na Banda me lembro, que se conquistou o mer-
12 de Abril. Depois da nomeação de cado. E foi com esse reportório que se
João Neves como maestro desta ban- criou em Travassô o gosto pela banda
da, em 1980, com o apoio de António (…)”79. Em 1983 Américo Fernandes
Silva levou avante uma série de ino- aludiu à necessidade de mudança de
vações, incluindo a interpretação de paradigma no reportório das bandas,
música baseada nas selecções acima lembrando que a 12 de Abril e as duas
mencionadas. Após alguma relutância bandas de Fermentelos já tinham ini-
inicial, sobretudo por parte dos músi- ciado essa mudança. Fernandes consi-
cos e ouvintes mais velhos, esse esti- derou que era essa a forma de as ban-
lo musical integrou o reportório das das aliciarem a juventude80.
restantes bandas aguedenses. Os en- É importante perceber que a
trevistados consideram que este tipo interpretação da música baseada em
de música causou bastante impacto, selecções musicais de temas latino-
não só nos elementos da banda, como americanos e anglo-saxónicos está
nos ouvintes, sobretudo nos jovens77. estritamente relacionada, não apenas
A propagação deste tipo de música com questões de opções musicais,
também se relaciona com as mutações como com a maior disponibilidade fi-
de mentalidades, sobretudo nos novos nanceira das filarmónicas, isto porque,
maestros contratados pelas bandas
de Águeda no decorrer na década de 78
Lemos da Rosa foi regente da Marcial entre
1980, após a liderança dos mesmos re- 1929 e 1980; a Alvarense foi regida por António
de Figueiredo de 1932 a 1974; a 12 de Abril, en-
tre 1954 e 1980, teve como regente José Lima
e a Nova foi regida por Artur Bártolo de 1944
a 1963.
77
Entrevistas a Adail Rosa, Moreto, Lemos, Fer-
reira, Monteiro, Fernandes, Lopes, Pepino, Silva
79
Entrevista a Silva.
e Neves. 80
A voz de Águeda, 05-08-1983, 3.
83
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
84
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
84
AA.VV., Amílcar da Fonseca Morais, Águeda, 85
Silva Dionísio, Plano de Actividades Musicais,
ed. C.M. Oliveira do Bairro / Museu de Etnomú- Lisboa, Departamento de Actividades Culturais
sica da Bairrada, 2013, 10. do INATEL, 1980, 8-9.
85
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
86
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
87
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
88
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
89
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
90
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
91
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
92
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
93
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
94
Madureria, Bruno. Bandas civiles en Portugal en el último cuarto del siglo XX: un estudio de caso
Vol. VI, No. 6, enero-junio 2018
95
Vol. VI, No. 6 Revista Ciencias y Humanidades Enero-junio 2018
Arquivos
Arquivo Nacional Torre do Tombo, SNI, Cx. 5672, Cx. 5547.
Museu da Música Portuguesa – Casa Verdades de Faria, Espólio Particular de Fernando Lopes Graça,
Caixa S1, Código 013.
Centro de Documentação Anselmo Braamcamp Freire do Museu Municipal de Loures, Espólio Pessoal
de Marcos Romão, Cota ROMA-505.
Fundo Documental da Banda Sinfónica da GNR, Espólio de Silva Dionísio, Envelopes BF1, BF2, CR8,
RJ1.
Periódicos
Diário de Noticias: 12-12-84, 26-11-1983; Arte Musical: 01-01-1930, 10-07-1932, 20-10-1931; A voz
de Águeda: 05-08-1983.
Entrevistas
Adail Rosa, José Moreto, Fausto Lemos, António Ferreira, Albertino Monteiro, Américo Fernandes,
Abílio Lopes, António Pepino, João da Ana, António Silva, Mário Neves, Águeda, 2014.
Bibliografia
AA.VV. A música é a alma do povo – Orquestra Filarmónica 12 de Abril. Águeda: Sociedade Recrea-
tiva e Musical 12 de Abril / Orquestra Filarmónica de Travassô, 2003.
AA.VV. Associação Cultural e Recreativa Banda Nova de Fermentelos. Águeda: Banda Nova de Fer-
mentelos, 2001.
AA.VV., Amílcar da Fonseca Morais. Águeda: ed. C.M. Oliveira do Bairro/ Museu de Etnomúsica da
Bairrada, 2013.
Assunção, Ana Paula. Museu Etnomúsica da Bairrada – A arte dos sons. Oliveira do Bairro: Câmara
Municipal de Oliveira do Bairro, 2005.
Baltazar, Manuel. “Problemas das bandas civis e sua possível solução”. In Colóquio Sobre Música
Popular Portuguesa — Comunicações e Conclusões (1979). Lisboa: INATEL, 1984.
Bandasfilarmonicas.com [consultado em 8 de Março de 2015].
Barbosa, Alfredo. A Rambóia – Banda Marcial de Fermentelos: 140 anos de história. Porto: Edições
Universidade Fernando Pessoa, 2009.
Biu, Humberto. “A valorização das bandas de música”. In Colóquio sobre música popular portuguesa
– comunicações e conclusões (1979). Lisboa: INATEL, 1984.
96