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A “NOVA ORDEM oO CONSENSO DE MUNDIAL” E WASHINGTON InTROoUGAS [As idéias que marcaram a politica econdmica dos paises latino-americanos, a0 longo dos anos de 1990, tiveram como matriz os postulados neoli- berais. Estes foram difundidos pelas nagdes indus- trializadas, notadamente pelo governo dos Estados ‘Unidos, com vistas a criar um ambience adequado, fem escala mundial, para a reprodugio da ordem econémica que mais o beneficiava. Liberdade de comércio, livre circulagéo de capitais, unificagio de politcas macroecondmicas, ete, figuraram no centro dos debates académicos ¢ empresariais da tilima década. ‘Ao longo deste artigo serio discutidos os as- pectos principais da criagio e difusio das politcss neoliberais no contexto regional ¢ nacional. Na pri- meira segao serd tratada a criaglo de uma “nova ordem econémica mundial”, em cuja construsio ts instituigées de Bretton Woods, completamente descaracterizadas de suas funges origina tniram papel destacado. Focando a realidade lati- no-americana, se comentaré como foi criada a hhegemonia do Consenso de Washington, cujos pos- tulados foram aplicados 4 quase totalidade dos pai- ses da regito. Uma NoVA GRDEM EGONOMICA INTERNACIONAL Entre o inal da Segunda Guerra Mundial e 1973 economia capitalista assistiu a longo processo de "Daur em Hisera Econdmica pela FFLCH-USP; profesor da Feeldade de Ezpnomia da Fndao Armando Alves Pentel, {is TaenldadesIteradas“Campen Sales” ¢ da Faculdade de Giencasda Administ deSi aso. Avtar dove Formas ‘Sconimia de Bail (Sto Palo: Poneea Thomson, 2002) em ‘Saja com Marna Guano de Mendonga “{_Warens Corse Pres” ) ‘crescimento econdmico, vulgarizade como era de ‘oure,! Ao longo de quase trinta anos, os indicado- tes sociais dos paises industriais melhoraram sen- sivelmente. Politicas de assisténcia social foram adotadas para amparar os trabalhadores no desem- prego, na doenca e na velhice. O consumo popular passou a ser o carro-chefe da expansio da econo~ mnia, A inovacio tecnoldgica e a obsolescéncia pro~ gramada dos produtos fariam girar as grandes es truturas industriais. J4 nos paises do chamado ‘Terceiro Mundo nao se pode generalizar a expres- sio “era de ouro". Algumas regides expandiram ra- pidamente, como certos pafses da América Latina € do Extremo Oriente. Entretanto, na maior parte dos paises africanos, no Sudeste asidtico ¢ no subcontinente indiano, as lutas de descolonizagio deixaram profundas cicatrizes, cujos reflexos ainda persistem. A crise dos anos 1970, entretanto, dereriorow aquelas condigbes. A contragio do mercado mun. dial ea crise energética forgaram as economias a se adaptar a ambiente caracterizado por maior con corténcia, Do ponto de vista das grandes corpo racées multinacionais, as regras do jogo até entdo prevalecentes jf nao serviam mais. A alianga impl- Cita que existia entre estas € 08 trabalhadores orga nizados dos paises cenerais, que ajudava a impedir 6 avango do comunismo, tornara-se obsoleta nos fanos 1980, quando o bloco socialista apresentava sinais de exaustdo.? Desse ponto de vista, 08 “su- bornos sociais” necessérios para minimizar a luta de classes nos paises centrais jd nao deveriam ser ‘Go generosos, Do ponto de vista microecondmico, as empre- sas passaram a adotarestratégias para um mercado cada ver mais restrito e sujeito a grandes flutuagdes. Como se sabe, desde 1973 a economia mundial novos munos @ Avo 21 + ne 45 + 2006 tem experimentado ciclos de ‘eescimento cada vez. mais cur- 105, Dois ou trés anos de cres- cimento ¢ outros dois ou és anos de contragio. A. econo- mia deveria se tornar mais “fe xivel” para se cstabilizar. As garantias sociais que procegi- am’ em “demasia” 0 trabalha- dor deveriam ser liquidadas. Afinal, a grande empresa pri- vada necessirava de margem de manobra para en- frentar uma concorténcia mais acirrada. Como decorréncia dessa situagio, as grandes plantas industriais de padsio “fordista” foram frag- mentadas a partir de estratégias de “terceirizagao”? ‘Também 0 modelo japonés de gestio, baseado no “estoque zero" © na produgio just-in-time’ passou a ser adotado nos Estados Unidos ena Europa. O “mercado de massa” foi substicuido pelo mercado de “nichos” e de “segmentos”. Artigos que deman- davam muita matéria-prima foram miniaturizados. © chip de computador passou a figurar como pesa- chave em quase todos os dispositivos industraliza dos. Reduzindo custos com a eletrinica, foram dis- seminados os computadores pessoais, as placas de fax modem, a comunicagio por cabos de Fibra éptica € 0 satélite de telecomunicagoes. A concorréncia intermonopolistica levou as grandes empresas a deslocar parte de suas ativida- des industriais para os paises periféricos. A princi- pal explicacio para esse fendmeno estava na busca por “fatores produtivos” mais baratos, como maté- Fia-prima ¢ trabalho, Comparativamente ao similar norte-americano, um operitio médio na China, no Brasil, na Malisia ou no México recebe menos da décima parte do salirio daquele, forgando para bai- x0 08 custos trabalhistas. A gestio de unidades tio distances das matrizes foi faclitada pelo baratea- mento nos pregos das telecomunicagoes. Soffwares cada ver mais complexos tornaram as tarefas admi- nistrativas padronizadas € 0 célculo financeiro ade- quado para apurar, no tempo rea, os ganhos € per- das de modificagdes abrupras nas taxas de cambio dos diferentes paises em que operam aquelas corporagoes Também por conta dessa internacionalizagio da produgio, as operagbes financeiras aumentaram de forma surpreendente desde 1980.° Novos instru- Cet Ban Weds ‘mentos financeiros foram cti- ados, como no caso dos deri- vatives, ou tiveram 0 uso intensificado; como as opera- bes de hedge.” Uma ver que a instabilidade passou a sera regra da economia mundial, (os agentes econémicos busca: ram se defender das mudan- «8 abruptas de cenétio, utili- zahdo-se cada ver mais de mecanismos de protesio. Nao obstante necessidade tangivel, as operagées financeiras 20 longo das duas tiltimas décadas tém- se caracterizado mais pelo cariter especulativo, S40 objetos de especulagio, em nivel mundial, as taxas de cambio, as taxas de juros, a variagio nas precos de commodities, ex. Aqui também o desenvolvimen- to das tclecomunicagoes possiblitou o acompanha- ‘mento do mercado financeiro de diferentes paises @ partir de, por exemplo, um escritério da City de Londres, em tempo imedliato. As “posigSes” e os ati- vos financeiros passaram a mudar rapidamente de mis na busca pela méxima rentabilidade, Hoje, 0s prdprios sistemas de informética administram auto- maticamente as posigdes, por intermédio de “ordens limitadas”, que compram ou vendem ativos de acor- do com a variagio dos niveis de pregos. Os sistemas também permitem a avaliagio simultinea de uma série de varidveis para obter 0 “étimo” de rentabili dade, Outra modalidade de transagio financeita é a “arbitragem”, que consiste em comprar determina- do ativo de um mercado ¢ vendé-lo em outro, por prego mais elevado, Um caso parte da financeirizagio da econo- mia mundial é 0 crescimento acentuado das divi- das publicas de diversos paises. Em que pese a ado- io de politicas de “equilfbrio fiscal” 20 longo dos anos 1980, é fato que as dividas publicas dos prin- cipais paises do mundo aumentaram expressivamen te. A divida dos Estados Unidos dobrou entre 1975 € 1995, passando de 35% para 70% do PIB. As dividas publicas da Itdlia, Belgica, Suécia ¢ Japio superaram o respective PIB anual. Em parte, 0 au- mento das dividas se elaciona com a queda na pou: ppanga interna. Por outro lado, se relaciona com a internacionalizagio da rolagem feita nos mercados Financeitos. O “mercado” passou a ditar o nivel das taxas de juros, rornando os governos seus reféns, ‘sujeito a grandes flutuagdes. ‘Todas as caracteristicas des- se novo quadro do capitalismo, que se vem desenrolando nos til- fimos vinte anos, possuem fio condutor nico: 0 acirramento da concorréncia entre as nagoes cen- trais do sistema, independente- mente de atranjos regionais como a Unio Européia, Asia Pacific Economic Cooperation Organization (Apec), ou North American Free Trade Agreement (Nafta). De fatoy empresas norte-americanas, alemds ¢ japonesas pro curam criar no mundo as TLL), condicées mais adequadas Dopniodevta ae edecmepeaioas Ge eee eae ee cee ce manele aie empresas passarama adotar refa. estratégias paraum mercado Diante disso, os ide6- Gavenetente logos do sistema passaram a | pugnar por uma nova or | dem. Se a tecnologia jé per- J mitia 0 deslocamento de pitais ¢ de indistrias por todas as partes do mundo, por que restringit tal movimento devido a interesses locais nacionais? Estava na hora de retomar 0 antigo discurso fisiocrético: aises fare, lair paser, mais uma ver Para atender &s novas necessidades do capita- lismo, as regras que valiam na “era de ouro” jé nao mais serviam. O papel dos Estados em administrar as economias nacionais, principalmente nos pafses dda periferia, no deveria ser considerado como an- tes, Tratava-se de criar um “consenso” acerca dos temas que mais interessavam aos paises do centro do sistema: a) liberdade de circulagao de capitis; b) supressio de restrig6es ao investimento produti- vy; ¢) abertura comercial; ¢ d) padronizagio de po- lisicas macroeconémicas. As diretrizes anteriormente citadas foram re- forcadas nas politicas de insticuigoes como o FMI. 0 Banco Mundial ea OMC (ex-Gatt), ao longo dos anos 1990, A atuagio conjunta dessas instituigdes teria por finalidade eriar uma ordem internacional dita “mais solidéria’, estimulando a integracio dos paises por via do comércio internacional ¢ deslo- cando 0 capital excedente de um polo do sistema (ye Les para outro. Seria obtida assim melhor alocagio de capital, desde aque todos os paises convergissem em suas politicas macroecond- micas. Dessa forma, garantir-se- ia a teansparéncia necesséria para a medigio da taxa de lucros e dar- se-ia maior seguranga aos inves- timentos estrangeitos diretos. No final do processo, todos os paises sairiam vitoriosos: os padroes de consumo seriam equalizados no longo prazo, Os mais pobres se aproximariam rapidamente dos mais ri- cos, sem prejuizo para os segundos. Veja-se, por ‘exemplo, a defesa do “livre comércio” feita por um dos idedlogos de plantio, centando convencer os brasileitos das “virtudes” da Area de Livre Comér- cio das Américas (Alea): © comércio internacional também desempenhard um papel importante na elevagio do nivel de vida brasileiro. Parailustrar opotencial de curo prazo, utilizar cleus de um eecente artigo que compara as economias externas do México ¢ do Brasil com foco no comércio de tmercadoras e investimenta direto, Entre 1982 e 1997, © estoque mundial de investimenco estrangeiro no ‘México (avaliado em termos de custo hisesrco) eresceu 9) enquanto o estoque mundial de TED no Brasil cresceu de umn fator 5,6. Como o Brasil rem um mercado interno quase duas vezes maior do que o PIB mexicano e uma renda per apiza mais elevada,o Brasil € deum faror7 inerentertente uma localizagio mais atraente para as empresas multinacionais, Mas nos dtimos quinze anos, ‘© México dereubou rapidamente suas barreras 3 impor- tao e, assim, aboliu a sinalizagdo de “ado entre™ que assustava os investdoresextrangetos, Por sso o estoque de IED se expandia mais rapidamente no México do que no Brasil” Observe-se que o ideslogo fala como se 0 capi- tal responsivel pelo aumento do fator no emigia- ria em seguida para outra parce, fazendo © mesmo indicador diminuir. Se os investidores externos ¢s- tivessem interessados em ampliar a producio e a renda de um pais periférico, ¢ levadas em conside- ragio as proporcdes de populagio ¢ tamanho do PIB, China, India e Indonésia seriam os principais receptores de capitais do mundo desde hé muito tempo, ¢ certamente jd teriam entrado no “clube dos pafses ricos”. Pelo conttitio, o “livre-cambismo” do século XIX arruinow aqueles paises, colocando 19s na condigao de colénias e subcol6nias, cujos efi- tos sio sentidos até os dias atuais. Novos Rumos @) Ao 21 +9045 + 2006

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