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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO

COLEGIADO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

CADERNO DIDÁTICO

METEOROLOGIA APLICADA À AGRICULTURA

FROF. MÁRIO DE MIRANDA VILAS BOAS RAMOS LEITÃO

Juazeiro/BA – Junho 2017


Introdução

Em função da carência de fontes de consulta versando sobre algun dos assuntos abordados na
Disciplina Meteorologia e Climatologia, oferecida no Curso de Graduação em Engenharia Agrícola
e Ambiental da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus de Juazeiro/BA, para
suprir em parte as necessidades existentes, procurou-se elaborar este Caderno Didático, visando
oferecer aos alunos da mencionada da disciplina, um texto básico objetivando comtemplar de
maneira mais direta e objetiva alguns assuntos.
Entretanto, alertamos que este trabalho representa uma modesta contribuição sobre os
assuntos tratados na disciplina Meteorologia Climatologia. Portanto, diante disso, recomenda-se que
para um maior aprofundamento sobre os temas tratados na referida disciplina, o leitor deve procurar,
além das referências mencionadas neste caderno didático, outras fontes bibliográficas.

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Sumário
Introdução 2

CAPITULO - 1
1. Importância do tempo e do clima para a agricultura 5
1.1. Condições do tempo e do clima 7
1.2. Clima e tempo 10
1.3. Estrutura Vertical da Atmosfera 10
1.4. Elementos e Fatores climáticos 11
1.5. Escala Temporal dos Fenômenos Atmosféricos 12
1.6. Escala Espacial dos Fenômenos Atmosféricos 12
1.7. Estações do Ano 13

CAPITULO - 2
2. . Relações astronômicas Terra-Sol 14
2.1. Referencial local 14
2.2. Culminação e Declinação de Sol 15
2.3. Movimentos da Terra 17
2.4. Estações do ano 19
2.5. Variação da duração efetiva dos dias 21
2.6. Ângulo zenital do Sol 23
2.7. Cálculo da insolação máxima 26
2.8. Tempo sideral, solar e legal 28

CAPITULO - 3
3. Radiação solar e sua influência sobre as plantas cultivadas 33
3.1. Condução; Convecção e Radiação 33
3.2. Corpo Negro; Absortividade e Refletividade 34
3.3. Transmissividade; Albedo; Emissividade 34
3.4. lei de Stefan-Boltzmann 35
3.5. Influência da radiação solar sobre as plantas por faixa espectral 36
3.6. Radiação emitida pela superfície terrestre 37
3.7. Saldo de Radiação 38
2.7. Utilização da radiação solar pelas culturas 40
2.8. Fotoperiodo 40

3
2.9. Efeito da quebra da noite 43

CAPÍTULO - 4
4. Temperatura e plantas cultivadas 44
4.1. Temperaturas Cardeais 44
4.2. Unidade de calor ou graus-dia 44
4.3. Cálculo de Graus-dia 45
4.4. Método Direto 45
4.5. Método Residual 46
4.6. Método segundo VILLA NOVA et al. (1972) 46
4.7. Proteção das culturas agrícolas contra as baixas temperaturas 47
4.7.1. Método topo climático 47
4.7.2. Métodos microclimáticos 47
4.7.3. Exposição do solo 47
4.7.4. Cobertura com vidro 48
4.7.5. Cobertura com Plástico Transparente 48

CAPÍTULO – 5
5. Considerações gerais sobre a transferência de água para a atmosfera 49
5.1. Importância 50
5.2. Medidas diretas da evaporação e evapotranspiração 51
5.3. Evapotranspiração potencial 53

CAPÍTULO – 6
6. Variáveis que influenciam a transpiração 54
6.1. Radiação solar 54
6.2. Umidade do ar 54
6.3. Temperatura 55
6.4. Vento 55
6.5. Disponibilidade de água 56

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CAPÍTULO 1

1. Importância do tempo e do clima para a agricultura

Meteorologia é o ramo da ciência que se ocupa dos fenômenos físicos da atmosfera


(meteoros). Seu campo de atuação abrange o estudo das condições atmosféricas em dado instante, ou
seja, das condições do tempo. Tais condições resultam da movimentação atmosférica, que é
originada pela variação espacial das forças atuantes na massa de ar. Portanto, a atmosfera é um
sistema dinâmico, em contínua movimentação, embora se tenha, em algumas situações, a sensação
de que o ar esteja "parado". Mas isso ocorre esporadicamente em alguns locais e apenas por alguns
instantes, em virtude do equilíbrio dinâmico das forças atuantes naquele local. Um dos desafios da
ciência é prever, com razoável antecedência, os resultados dessa movimentação e suas possíveis
consequências. A isso, denomina-se Previsão do Tempo, e essa é a parte visível da meteorologia, e
que ganha cada vez mais espaço na tomada de decisões operacionais, principalmente nas atividades
agrícolas cotidianas. Outro aspecto importante dessa movimentação atmosférica é sua descrição
estatística, em termos de valores médios sequenciais. Desse modo, faz-se uma descrição do ritmo
anual mais provável de ocorrência dos fenômenos atmosféricos. É essa sequência média que define o
clima de um local, e que determina quais atividades são ali possíveis. Essa caracterização média
define a Climatologia. Isto significa que a Meteorologia trabalha com valores instantâneos enquanto
a Climatologia utiliza valores médios (de longo período). Tendo como critério a influência das
condições atmosféricas sobre as atividades humanas, a Meteorologia possui divisões especializadas
com objetivos bem focados sendo uma delas a Meteorologia Agrícola (ou Agrometeorologia),
voltada para as condições atmosféricas e suas consequências no ambiente rural. Este texto tem por
objetivo descrever tópicos meteorológicos e climatológicos e suas aplicações às atividades rurais. As
condições climatológicas indicam o tipo de atividade agrícola mais viável de um local, e as
condições meteorológicas determinam o nível de produtividade para aquela atividade, num certo
período, além de interferir na tomada de decisão com relação às diversas práticas agrícolas.

A agricultura é um sistema tecnológico artificial desenvolvido pelo homem com o objetivo


de se obter alimento, fibra, e energia em quantidade suficiente para garantir sua subsistência por um
certo período. As plantas foram gradativamente sendo domesticadas até permitir que extensas áreas
fossem cobertas com indivíduos com mesma composição genética. Nessa condição, a interação com
o ambiente depende do estádio de desenvolvimento das plantas visto que, num dado instante, todos
os indivíduos daquela comunidade têm a mesma idade, com porte semelhante, e também com

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mesma suscetibilidade aos rigores impostos pelo meio. Quanto mais homogênea for a população de
plantas, maior será sua suscetibilidade às condições ambientais. O ritmo da disponibilidade de
energia e de água de uma região determina o seu potencial de produtividade agrícola. A energia
radiante e a temperatura afetam o desenvolvimento e o crescimento dos vegetais, dos insetos e dos
microrganismos. A produção de biomassa está diretamente relacionada à disponibilidade energética
no meio, que condiciona a produtividade potencial de cada cultura. A estimativa da potencialidade
produtiva das culturas em uma região é feita com modelos agroclimáticos, que também podem
servir de subsídio para a previsão de safras. A duração das fases e do ciclo de desenvolvimento dos
vegetais e dos insetos é condicionada pela temperatura, e pelo tempo que ela permanece dentro de
limites específicos. Um índice bioclimático que tem sido usado para estudar essa relação é
denominado de graus-dias, ou seja, quantos graus de temperatura ocorreram durante um dia e que
efetivamente contribuíram de maneira positiva com o metabolismo do organismo considerado.
O efeito térmico é fundamental para a produção das frutíferas de clima temperado, que necessitam
entrar em repouso durante o inverno, e para tal exigem certo número de horas de frio, para quebrar a
dormência das gemas e retomarem o crescimento vegetativo e o desenvolvimento após o inverno. O
fotoperíodo (número máximo possível de horas de brilho solar) é outro condicionante ambiental que
exerce influência no desenvolvimento das plantas, pois algumas espécies só iniciam a fase
reprodutiva quando da ocorrência de um certo valor de fotoperíodo por elas exigido. O ritmo anual
desses elementos permite a escolha de melhores épocas de semeadura, visando ajustar o ciclo das
culturas anuais às melhores condições locais de clima, minimizando-se riscos de adversidades
meteorológicas, para que expressem sua potencialidade produtiva. O ciclo vital dos fitopatógenos é
constituído por fases típicas, no caso de fungos, por exemplo: pré-penetração, penetração, pós-
invasão e liberação / dispersão de esporos. Com exceção da pós-invasão, as outras fases, por
ocorrerem fora da planta, são totalmente dependentes das condições ambientais, pois temperatura e
duração do molhamento da parte aérea das plantas, por orvalho ou chuva, são essenciais para a
germinação dos esporos e sua penetração nos tecidos vegetais. O vento e a chuva atuam como agente
de dispersão carregando esporos, além do vento causar lesões nas plantas, por atrito e agitação, e que
favorecem a penetração de patógenos nos tecidos. Conhecendo-se os efeitos desses elementos
condicionantes das infestações, pode-se inferir a existência de condições ambientais favoráveis ou
não para ocorrência de pragas e de doenças, como base para seu controle e orientação quanto a
esquemas de alerta fitossanitários eficientes, econômica e ambientalmente, de aplicação de
defensivos agrícolas.

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A disponibilidade de água depende do balanço entre chuva e evapotranspiração, sendo esta
última dependente das condições da superfície (tipo de cobertura, tipo de solo) e da demanda
atmosférica (disponibilidade energética, umidade do ar, e velocidade do vento). A disponibilidade
hídrica no solo pode ser quantificada pelo balanço hídrico climatológico, evidenciando as flutuações
temporais de períodos com excedente e com deficiência, permitindo planejamento das atividades
agrícolas, visando minimizar perdas. Também o teor de açúcares, a qualidade de bebida e de fibras,
e o aspecto dos frutos são afetados pelas condições ambientais. As exigências hídricas das culturas e
sua relação com as condições ambientais embasam o suporte ao planejamento e quantificação da
irrigação.
As condições meteorológicas representam fatores exógenos que afetam a fecundidade, o
período de gestação e, portanto, a eficiência reprodutiva dos animais. Durante sua vida, o animal
responde diretamente às condições físicas do ambiente, que podem lhe causar estresse físico por
excesso ou deficiência de chuvas, por temperaturas elevadas ou baixas, por ventos fortes e
constantes. As condições de conforto térmico afetam diretamente seu ganho de massa corporal
(produção de carne), bem como de outros produtos (leite e ovos), além da sua qualidade (lã). Há
também efeitos indiretos, causados pelo clima, sobre o crescimento das pastagens e surtos de
doenças.

1.1. Condições do tempo e do clima

Das atividades econômicas, a agricultura é sem dúvida aquela com maior dependência das
condições do tempo e do clima. As condições atmosféricas afetam todas as etapas das atividades
agrícolas, desde o preparo do solo para semeadura até a colheita, o transporte, e o preparo e o
armazenamento dos produtos. As consequências de situações meteorológicas adversas levam
constantemente a graves impactos sociais, e a enormes prejuízos econômicos, muitas vezes difíceis
de serem quantificados. Mesmo em países com tecnologia avançada e com organização social
suficiente para diminuir esses impactos, os rigores meteorológicos muitas vezes causam enormes
prejuízos econômicos. Como as condições adversas do tempo são frequentes e muitas vezes
imprevisíveis a médio e longo prazo, a agricultura constitui-se em atividade de grande risco.
Exemplos são as ocorrências de secas prolongadas, os “veranicos” (períodos secos dentro de uma
estação úmida), as geadas, e os períodos de chuva excessiva muitas vezes acompanhadas de granizo.
Segundo Smith (1975), a “Meteorologia Agrícola tem por objetivo colocar a ciência da
Meteorologia à serviço da agricultura em todas suas formas e facetas, para melhorar o uso da terra,
para ajudar a produzir o máximo de alimentos e a evitar o abuso irreversível dos recursos da terra”.

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Tendo essa descrição em mente, o objetivo do presente texto é fornecer conhecimentos necessários
para se analisar e entender as relações entre o ambiente natural e as atividades agrícolas, visando
maximizar a exploração econômica dos recursos, porém consciente da necessidade de preservação
do ambiente para gerações futuras.
Com a crescente tendência na tentativa de se minimizar os efeitos adversos da exploração
agrícola sobre o ambiente, com os consumidores impondo restrições e especificando condições de
produção de alimentos, o planejamento do uso da terra com base nos aspectos forçantes do clima
procura fornecer elementos para o desenvolvimento da agricultura sustentável. A delimitação da
aptidão das regiões aos cultivos quanto ao fator clima resulta no Zoneamento Agroclimático. Essa
delimitação climática juntamente com a aptidão edáfica (solos) compõe o Zoneamento
Agroecológico (clima e solo) que, juntando-se ao levantamento das condições sócio-econômicas,
define o Zoneamento Agrícola, base para o planejamento racional do uso da terra. Desde a
semeadura até a colheita, os tratos culturais (aplicação de defensivos, irrigações, movimento de
máquinas agrícolas, etc.) são condicionados pelas condições ambientais. Logo, a tomada de decisões
e o planejamento de operações cotidianas dependem do conhecimento das condições meteorológicas
prevalecentes. O acompanhamento diário dessas condições, e a utilização da previsão do tempo,
constituem-se em ferramenta fundamental para a operacionalização das atividades agrícolas. A esse
monitoramento diário das condições ambientais existentes e à elaboração de informes específicos
denomina-se de Agrometeorologia Operacional. Essa é uma atividade em que se procuram
estabelecer harmonia entre as condições reinantes, a previsão meteorológica, e as atividades
necessárias para bom desempenho econômico. Essa é uma maneira prática de se reduzir o impacto
agroambiental imposto pela exploração desenfreada dos recursos naturais, na tentativa de se prover
alimentos, energia, e fibras para uma população crescente. Resumindo, a Agrometeorologia tem sua
principal aplicação no planejamento e na tomada de decisões numa propriedade agrícola, seja na
produção animal ou vegetal, sendo ferramenta indispensável ao agrônomo e ao produtor rural.
Diante do exposto, conatata-se que as plantas dependem, para o seu crescimento e
desenvolvimento, além da sua contribuição genética, também dependem igualmente das
contribuições ambientais do solo e do clima. Como um fator ecológico na agricultura, o solo tem
sido mais bem estudado e é melhor compreendido do que o clima. Em geral, os agricultores
conhecem mais sobre o manejo do solo do que como explorar adequadamente os recursos
climáticos. A climatologia pode contribuir para solucionar o problema da escolha dos lugares para
uma determinada cultura ou de uma dada cultura para determinado lugar. Embora a localização de
muitas regiões agrícolas, tenha sido selecionada pelos agricultores muito antes do desenvolvimento

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da moderna ciência da climatologia, a falta de um conhecimento detalhado das relações entre plantas
e clima, tem prejudicado o planeamento inteligente das atividades agrícolas numa escala maior.
A radiação solar, a evapotranspiração, a amplitude diária da temperatura, o balanço hídrico e
outros parâmetros meteorológicos precisam ser completamente analisados antes de ser estabelecido
um plano para obter o máximo retorno econômico para um determinado regime climático. Uma das
aplicações da pesquisa climatológica relaciona-se com práticas culturais. alguns problemas como
irrigação, o espaçamento entre as linhas de uma cultura, a época de aplicar alguns fertilizantes, a
seleção das variedades e o transporte podem ser melhor resolvidos quando são equacionados
levando-se em conta os elementos climáticos. A Modificação artificial dos microclimas por meio
dos abrigos (quebra-ventos), sombreamento e "mulches" aquecimento, diminuição da
evapotranspiração por produtos químicos, etc., são exemplos de um campo que pode trazer novas
perspectivas.
A previsão dos rendimentos agrícolas e, portanto, das safras, com base nas condições
meteorológicas, é um dos aspectos importantes dos estudos agroclimáticos. Desta forma, a
Meteorologia e a Agricultura sendo consideradas como ciências ou como técnicas básicas da vida
diária, estão intimamente ligadas. Portanto, o clima assume grande significância em quase todas as
fases das atividades agrícolas, que vai desde a seleção de regiões ou lugares adequados para
instalação de culturas ou desenvolvimento de experimentos agrícolas, bem como planejamento a
curto, médio e longo prazo das atividades agrícolas.
Sendo o Brasil um país de muitas atividades agrícolas, faz necessário obter informações
meteorológicas e climatológicas específicas que capaciitem os agricultores e criadores a tomarem
decisões operacionais. As pastagens, as hortaliças, o fumo, as frutiferas estão entre as culturas mais
sensíveis ao clima.
Os serviços meteorológicos devem satisfazer pelo menos quatro tipo de exigências dos
agricultores:

1. Previsão de Tempo;
2. Instruir os agricultores, quando ao uso das informações sobre o tempo;
3. Observações especializadas de clima onde as culturas são realizadas;
4. Sistema de informações sobre o clima através dos meios de comunicação.

O tempo é o pivô nas decisões necessárias em muitas fases da produção agrícola. Estas
decisões devem levar em conta as condições de clima passados, presentes e futuros. A influência
exercida pelo o clima sobre os organismos vivos é muito complexa, não somente devido ao grande

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número de variações, mas também constante interação entre elas. Condições favoráveis de clima,
não apenas produzem altos rendimentos, mas também permitem que uma tecnologia desenvolvida
expresse seu potencial.

1.2. Clima e tempo

A atmosfera é uma massa em contínuo movimento e isto induz variações nas condições
predominantes numa região. O estado da atmosfera pode ser descrito por variáveis que caracterizam
sua condição energética. Para um local, essa descrição pode ser tanto em termos instantâneos,
definindo sua condição atual, como em termos estatísticos, definindo uma condição média. Portanto,
introduz-se uma escala temporal na descrição das condições atmosféricas. Denomina-se tempo à
descrição instantânea, enquanto que a descrição média é denominada de clima. Logo, tempo é o
estado da atmosfera num local e instante, sendo caracterizado pelas condições de temperatura,
pressão, concentração de vapor, velocidade e direção do vento, precipitação; e clima é a descrição
média, valor mais provável, das condições atmosféricas nesse mesmo local. Com a descrição
climática sabe-se antecipadamente que condições de tempo são predominantes (mais prováveis) na
região e, consequentemente, quais atividades agrícolas têm maior possibilidade de êxito.
Clima é uma descrição estática que expressa as condições médias (geralmente, mais de 30
anos) da sequência do tempo num local. O ritmo das variações sazonais de temperatura, chuva,
umidade do ar, etc., caracteriza o clima de uma região. O período mínimo de 30 anos foi escolhido
pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) com base em princípios estatísticos de tendência
do valor médio. Desse modo, inclui-se anos com desvios para mais e para menos em todos os
elementos do clima. Esse valor médio relativo a 30 anos é denominado Normal Climatológica.

1.3. Estrutura vertical da Atmosfera

A atmosfera terrestre possui uma estrutura vertical extremamente variável quanto a inúmeros
aspectos: composição, temperatura, umidade, pressão, movimentos etc. A atmosfera terrestre é
subdividida em camadas conforme a variação da temperatura (Figura 1). Essa divisão obedece a
seguinte sequência a partir da superfície terrestre: troposfera, estratosfera, mesosfera e termosfera, as
quais são separadas por camadas com temperatura constante: tropopausa, estratopausa e mesopausa.
Dentre as camadas atmosféricas a Troposfera é mais importante, nela ocorrem a maioria dos
fenômenos meteorológicos de interesse prático. Entretanto, as camadas interagem entre si, trocando
propriedades, uma vez que não há limites físicos que as separem.

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1.4. Elementos e fatores climáticos

Elementos são grandezas (variáveis) que caracterizam o estado da atmosfera, ou seja:


radiação solar, temperatura, umidade relativa, pressão, velocidade e direção do vento, precipitação.
Esse conjunto e variáveis descrevem as condições atmosféricas num dado local e instante. Fatores
são agentes causais que condicionam os elementos climáticos. Fatores geográficos tais como
latitude, altitude, continentalidade/oceanidade, tipo de corrente oceânica, afetam os elementos. Por

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exemplo, quanto maior a altitude menor a temperatura e a pressão. A radiação solar pode ser tomada
ou como fator condicionador ou como elemento dependente da latitude, altitude, e época do ano.

1.5. Fenômenos Atmosféricos

A face da Terra voltada para o Sol (dia) está sempre mais quente que a face oposta (noite).
Com o movimento de rotação da Terra, um local experimenta uma variação diária em suas
condições meteorológicas (temperatura, pressão, nebulosidade, chuva, umidade relativa, etc). Essa
variação diária ocorre em todos locais, com maior ou menor intensidade, e é um fenômeno natural.
Em geral, quanto mais árido (seco) maior a variação diária da temperatura (calor sensível) e,
consequentemente, da pressão. Portanto, essa é a escala diária de variação das condições
meteorológicas. Uma escala maior de variação das condições meteorológicas é a anual, que é devida
ao posicionamento relativo entre a Terra e o Sol, gerando as estações do ano. As diferenças sazonais
são mais intensas à medida que se afasta da linha do Equador. Na região equatorial, em função de
uma certa constância de incidência da radiação solar ao longo do ano, as distinções entre as estações
são menos intensas. À medida que se caminha em direção aos polos, há acentuação nessa
intensidade. Note-se que a radiação solar é o principal elemento controlador das variações tanto na
escala diária como na anual. Essas são variações que ocorrem com uma periodicidade (ciclo)
previsível. Nesse ponto, é importante fazer distinção entre as variações que ocorrem rotineiramente e
aquelas que indicam mudanças no clima. Quando se fala em mudança climática, fala-se de
tendências que ocorrem nas condições regionais, num período razoavelmente longo de tempo
(décadas, séculos), para uma grande região. Os causadores dessa mudança são os fenômenos naturais
(vulcões, atividade solar), sem qualquer influência humana, e mais aqueles desencadeados realmente
pelas atividades humanas (desmatamento, poluição, urbanização). A necessidade de incorporar
novas áreas na produção de alimentos pressiona o desmatamento e sua substituição por plantas de
ciclo menor.

1.6. Escala Espacial dos Fenômenos Atmosféricos

Os fenômenos atmosféricos ocorrem de forma continuada, havendo influência de uma escala


sobre outra. No entanto, visando a facilitar o entendimento de suas ocorrências e os efeitos possíveis
da ação humana, pode-se separá-las em três grandes categorias, ou seja, macro, meso, e micro-
escala, que são importantes para a previsão do tempo e para o manejo agrícola. A macro-escala trata
dos fenômenos em escala regional ou geográfica, caracterizando o clima de grandes áreas pelos

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fatores geográficos (Latitude, Altitude, etc.). Nessa escala, descreve-se, por exemplo, o (macro)
clima de uma região. Esta escala é o foco quando se fala em mudança climática.

A meso-escala se refere aos fenômenos em escala local, em que a topografia condiciona o


(topo ou meso) clima pelas condições do relevo local. A exposição (N, S, E ou W), a configuração
(vale, espigão, meia encosta), e o grau de inclinação do terreno determinam o clima local. Portanto,
dentro do macroclima da região é possível que existam inúmeros topoclimas. A configuração e a
exposição do terreno podem modificar bastante o clima regional, sendo de grande importância na
agricultura, devendo ser levado em consideração no planejamento agrícola. Por exemplo, nas regiões
S e SE do Brasil, os terrenos com face voltada para o Norte são mais ensolarados, mais secos e mais
quentes. Os de face voltada para o Sul são menos ensolarados, mais úmidos e mais frios, sendo
batidos pelos ventos SE predominantes na circulação geral da atmosfera. No inverno, terrenos de
meia encosta ou convexos permitem boa drenagem do ar frio, ao passo que terrenos côncavos
acumulam o ar frio, agravando os efeitos da geada em noites de intenso resfriamento. Logo, a meso-
escala deve ser considerada no planejamento de implantação e manejo de um cultivo.

A micro-escala é aquela que condiciona o clima em pequena escala (microclima), sendo


função do tipo de cobertura do terreno (solo nú, gramado, floresta, cultura rasteira, represa, etc.), que
determina o balanço local de energia. O fator principal é a cobertura do terreno e cada tipo de
cobertura tem influência própria sobre o microclima. Isso significa que dentro de um topoclima
podem existir inúmeros microclimas, condição mais comum na natureza. Desse modo, enfatizando
extremos, florestas não têm variações térmicas acentuadas no decorrer do dia, enquanto que culturas
de menor porte e menos compactas ou cobertura morta intensificam a amplitude térmica.

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CAPÍTULO 2

2. Relações astronômicas Terra-Sol

2.1. Referencial Local

Para muitos estudos meteorológicos é fundamental selecionar pontos de referência para os locais
da superfície terrestre onde se deseja fazer a observação. Tais pontos são denominados referenciais
locais. Deste modo, para cada ponto selecionado (referencial local), associa-se o sistema de
coordenadas mais conveniente para o estudo desejado. Tais coordenadas geralmente são esféricas ou
cartesianas, as quais são muito importantes para se estudar os movimentos atmosféricos, assim como
a posição dos astros na abobada celeste. Em meteorologia, o sistema de coordenadas cartesianas (x,
y, z) associado ao referencial local, centrado no ponto P da superfície terrestre (Figura 1) é definido
como:

1. Eixo xx’, tangente em P ao paralelo que passa por esse ponto, com sentido positivo apontado
para Este (vetor unitário, Iλ);
2. Eixo yy’, tangente em P ao meridiano que passa por esse ponto, com sentido positivo
apontando para o Norte (vetor unitário, IΦ);
3. Eixo zz’, coincidindo com a vertical local, tendo sentido positivo orientado para o zênite de P
(vetor unitário, Iz).

O plano definido pelos eixos xx’ e yy’ coincide com o plano do horizonte local. As
componentes de um vetor segundo as direções Iλ e IΦ, são chamadas respectivamente, componente
zonal e componente meridional. O sistema de coordenadas esféricas associado ao referencial local
centrado no ponto de observação (figura 1.1) em geral é definido do seguinte modo no âmbito das
ciências atmosféricas:
1. r é o comprimento do vetor posição - cuja origem está em P e se orienta com o ponto
observado (0͑ ≤ r < ∞);
2. a é o azimute do ponto observado, é o ângulo formado entre o semieixo ou e a projeção de r
sobre o plano do horizonte, medido a partir do Norte no sentido do movimento dos ponteiros
de um relógio (0° ≤ a ≤ 360°);
3. Z, o ângulo zenital, compreendido entre o semieixo OZ e a direção de r, medido a partir do
zênite (0° ≤ Z ≤ 180°).

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Ao complemento do ângulo zenital denomina-se ângulo de elevação (E) que é determinado a
partir do plano horizontal, para cima ou para baixo.

Figura 1. Referencial local, com origem no ponto (P) da superfície da Terra, ao qual está associado
um sistema de coordenadas cartesianas (A), esféricas (B) e esféricas modificadas (C)

2.2. Culminação e Declinação de Sol

Quando o Sol (S) ocupa uma posição na esfera celeste e seu centro coincide com o plano de um
meridiano, significa que naquela instante, o Sol culminou no plano daquele meridiano, e também em
todos os pontos situados naquele meridiano, porém com ângulos zenitais diferentes. Particularmente,
no instante em que o Sol ocupa o zênite do local de observação (vertical local), essa situação é
denominada de culminação zenital.

Por outro lado, o ângulo formado entre o plano do equador e o raio vetor do Sol é denominado
de declinação solar. Na prática, pode-se considerar a declinação igual a latitude do local em que o
Sol culmina no zênite naquele instante. Neste caso, assume-se, que a vertical local é um
prolongamento do raio da Terra, passando pelo local em questão, indo na direção do espaço. A
declinação (δ) do Sol, para qualquer dia do ano, pode ser calculada pela equação:

(2.1)

15
(2.2)

(2.3)

Nas equações (2.2) e (2.3) F é a fração angular do ano, na data considerada, que pode ser óbito por:

(2.4)

(2.5)

(2.6)

Nesta equação (3), d é o dia segundo o calendário juliano, e representa o número de ordem do
dia do ano. Por exemplo: em 01 de janeiro, d = 1; em 01 de fevereiro, d = 32 e em 31 de dezembro,
d = 365. Embora a declinação do Sol varie continuamente com o tempo (Figura 2), pode-se
considerá-la constante ao longo de cada dia, tendo em vista que a variação diária é pequena.

Figura 2. Declinação diária do Sol ao longo do ano

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2.3. Movimentos da Terra

O sol se desloca no espaço, em direção a um ponto da esfera celeste, próximo da posição


atualmente ocupada pela estrela Vega, arrastando consigo todos os demais corpos que integram o
sistema solar. Tendo em conta esse deslocamento do Sol, o movimento da Terra se efetua numa
trajetória em hélice elíptica. Em meteorologia, porém, o importante é conhecer os movimentos da
Terra em relação ao Sol e analisar suas consequências sobre o comportamento da atmosfera.
Devido a forma elíptica da órbita, a distância Terra-Sol, (que em média, é da ordem de 149,5
milhões de quilômetros) varia com a época do ano: a Terra ora se aproxima, ora se afasta do Sol.
Quando a distância Terra-Sol é máxima (04 de julho) é denominada de afélio e quando é mínima (03
de janeiro), é chamada de periélio. Normalmente a distância real Terra-Sol (D) é expressa em
unidades da distância média (D) através da relação: R= d/D (tabela 1.3). A terra também gira em
torno do seu próprio eixo (movimento de rotação). Mas, esses não são os únicos movimentos
importantes da Terra. Tendo em vista que o movimento de translação da Terra ocorre num plano,
denominado plano da eclíptica, o qual contém o centro do Sol. A interseção do plano da eclíptica
com a esfera terrestre constitui uma linha chamada eclíptica, que também pode ser projetada na
superfície do globo (Figura 3), o plano da eclíptica forma com o do equador um ângulo de
aproximadamente 23°27’.

Figura 3. A interseção do plano da eclíptica com a esfera terrestre

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A inclinação do plano equatorial e consequentemente do eixo da Terra, tem efeitos importantes,
em relação ao plano da eclíptica. Tais efeitos podem ser mais bem visualizados imaginando-se um
observador hipoteticamente posicionado no centro da Terra e movimentando-se com ela. Por causa
da rotação do planeta, o observador veria o Sol girando em redor da Terra, deslocando-se de Leste
para Oeste, completando uma volta por dia. No entanto, isso na realidade é um movimento aparente
do Sol ao longo do dia, pois de fato é o movimento de rotação da terra que ocorre de Oeste para
Leste. Por outro lado, um observador ao observar o movimento do Sol, vai notar que sua posição
numa determinada hora muda de um dia para outro, ou seja, sua declinação variava com o tempo. Na
realidade, a declinação do sol aumenta durante seis meses (de -23°27’ até 23°27’) e diminui durante
seis meses (de 23°27’ até -23°27’). Essa variação da declinação implica num movimento aparente
anual do Sol na direção Sul-Norte-Sul e ocorre devido ao movimento de translação a Terra.

A variação temporal da declinação do sol (Figura 2) também pode ser facilmente detectada por
um observador situado à superfície terrestre: basta que esse observador escolha um lugar de
referência e, numa mesma hora do dia, meça periodicamente o comprimento e a direção de sua
própria sombra. Caso esse observador se mantenha numa latitude da faixa tropical, não muito
afastada do equador, por exemplo, poderá observar que:

- numa certa época do ano, sua sombra, àquela hora, estará orientada para o lado Norte e no
restante do ano para o lado Sul;

- sua sombra aumentará progressivamente de comprimento durante certa parte do ano, àquela
mesma hora, diminuindo no restante do tempo.

Tais observações somente poderão ser explicadas tendo-se em conta a variação da declinação do
sol, descrita, aproximadamente, pelas equações já mencionadas.

De uma vez que o centro do disco solar mantém-se sempre no plano da eclíptica, o que foi
explicado anteriormente permite tirar as seguintes conclusões:

- durante o ano a declinação do sol varia entre -23°27’ e +23°27’;

- para cada latitude intertropical ([Φ] < 23°27’) o Sol culmina no zênite em apenas dois pontos,
correspondentes a duas distintas datas do ano;

18
- durante o ano o Sol culmina zenitalmente uma única vez num ponto de cada trópico e
nenhuma vez em latitudes médias ou elevadas;

- para uma dada latitude intertropical, as datas em que o Sol culmina no zênite são tanto mais
próximas quanto mais perto do trópico correspondente estiver a latitude considerada;

- durante seis meses o Sol ilumina mais um hemisfério do que o outro.

Às culminações zenitais do sol em pontos dos trópicos e do equador denominam-se,


respectivamente, solstícios e equinócios. Durante o ano ocorrem dois solstícios: em 21 ou 22 de
junho, num ponto do Trópico de Câncer e em 21 ou 22 de dezembro, num ponto do Trópico de
Capricórnio. Os equinócios, também em numero de dois, verificam-se em 22 ou 23 de setembro e 21
ou 22 de março, quando o Sol culmina no zênite de um ponto do equador. Essas datas são
aproximadas, é claro: em primeiro lugar por que ocorre um ano bissexto a cada quatro; em segundo,
por causa da precessão dos equinócios, que será comentada adiante.

A interseção do plano do equador celeste com o da eclíptica constitui a linha dos equinócios,
que toca à esfera celeste em dois pontos (Figura 3). Ao ponto ocupado pelo centro do disco solar por
ocasião do equinócio de março, denomina-se ponto vernal. A posição do ponto vernal, no entanto,
não é constante em relação às estrelas aparentemente imóveis. A cada ano a posição do ponto vernal
se desloca cerca de 50” para Oeste, isto é, no sentido oposto ao da rotação da Terra. Desse modo, o
ponto vernal completa uma volta na eclíptica aproximadamente em 25.800 anos (MASCHERONI,
1952). Como os equinócios e também os solstícios são fixados em função da passagem do Sol pelo
ponto vernal da esfera celeste, esse fenômeno, conhecido como precessão dos equinócios, provoca
uma defasagem gradual na ocorrência desses eventos. Deste modo, a cada 12.900 anos a época dos
equinócios fica defasada de seis meses. O deslocamento do ponto vernal é motivado pelo
movimento de precessão do eixo da Terra, semelhante ao que acontece com o eixo de um pião que
gira. O eixo terrestre descreve um cone a cada 25.800 anos.

2.4. Estações do ano

O ano está dividido em quatro períodos - denominados estações – que se caracterizam por
condições atmosféricas médias ou menos típicas, tanto mais acentuadas quanto mais afastada do
equador estiver a região que se considere. Na faixa tropical, por exemplo, praticamente não se notam
diferenças profundas no comportamento da atmosfera, a não ser quanto à época chuvosa (que se
repete a cada ano aproximadamente nos mesmos meses) e uma suave oscilação da temperatura

19
média do ar. Nas regiões de latitudes médias e elevadas, porém, essas mudanças são bem nítidas,
condicionando inclusive os estágios de desenvolvimento de plantas (repouso biológico, floração,
frutificação, etc.).

Os solstícios e equinócios são eventos que marcam o início das estações do ano em cada
hemisfério. Deste modo, as estações do ano, num hemisfério, devem ser defasadas de seis meses em
relação ao outro, já que dependem do maior ou menor aquecimento do hemisfério considerado, pelo
Sol. O verão do Hemisfério Sul (Figura 4), começa na data do solstício de dezembro, que atualmente
ocorre no dia 21. Nessa mesma data, portanto, começa o inverno no Hemisfério Norte. Exatamente
por isso os solstícios e equinócios são designados, por alguns autores, conforme a estação que se
inicia no Hemisfério considerado: por exemplo, o equinócio de primavera no Hemisfério Sul (de
outono, no Hemisfério Norte).

Figura 4. Início das estações do ano para o hemisfério Sul

Em geral, as características meteorológicas de um determinado local variam com as estações.


Essa variação é tanto mais sensível quanto mais afastado do equador estiver o local em causa.
Próximo ao equador, por não haver alteração acentuada no suprimento de energia solar ao longo do
ano, praticamente não se consegue caracterizar as estações. Nas regiões de latitudes médias e
elevadas, no entanto, a alteração é suficiente para que o contraste entre as estações seja muito bem
caracterizado.

20
TABELA 3

DIA DO INÍCIO DAS ESTAÇÕES DO ANO EM CADA HEMISFÉRIO

Data Hemisfério Sul Hemisfério Norte Evento

Março, 21 outono primavera equinócio


Junho, 22 inverno verão solstício
Setembro, 23 primavera outono equinócio
Dezembro, 22 verão inverno solstício

A variação estacional no suprimento de energia solar em uma dada latitude está diretamente
relacionada com mudanças na duração efetiva dos dias e, portanto, com a declinação do Sol.

2.5. Variação da duração efetiva dos dias

Em decorrência do movimento de rotação da Terra, a luz solar atinge a metade da superfície


terrestre em cada instante, originando a alternância dos dias e noites. Mas, a duração dos dias e das
noites, não é a mesma em todos os pontos da Terra; nas diferentes estações do ano, as porções
iluminadas em cada hemisfério não são necessariamente iguais num dado instante.

Para um ponto da superfície terrestre, que disponha de horizonte totalmente desobstruído,


define-se duração efetiva do dia como o intervalo de tempo que decorre entre o nascimento e o ocaso
do Sol. Para fins meteorológicos o nascimento e o ocaso do Sol ocorrem quando o disco solar
tangencia o plano do horizonte aparente, estando o restante do disco virtualmente abaixo desse
plano. Nessas circunstâncias a verdadeira posição do centro do disco solar é 50’ abaixo do plano do
horizonte. Isso advém do fato do raio do disco solar subtender um ângulo de aproximadamente 16’ e
da refração atmosférica aumentar em cerca de 34’ o ângulo de elevação do Sol, quando próximo à
linha do horizonte (LIST, 1971). Em outras palavras: devido à refração sofrida pela luz solar ao
atravessar a atmosfera, o Sol é visível mesmo quando, sob o ponto de vista geométrico se encontra
abaixo do plano do horizonte. Entretanto, por comodidade de exposição, a influência da refração
atmosférica será inicialmente ignorada durante a discussão que se irá seguir. Oportunamente levar-
se-ão em conta suas consequências.

Em 21 de dezembro – solstício de verão no Hemisfério Sul – o sol culmina no zênite num ponto
do Trópico de Capricórnio (Figura 4). Nessa data o sol ilumina muito mais da metade do Hemisfério

21
Sul e bem menos da metade do Hemisfério Norte (Figura 4). Como a declinação do Sol (aqui é
considerada praticamente constante ao longo de um dia) é de -23°27’, sob o ponto de vista
puramente geométrico observa-se que:

- para latitudes compreendidas entre a do Círculo Polar Antártico e o Polo Sul, o Sol (que vinha
se mantendo 24 horas por dia acima do plano do horizonte) atinge seu maior ângulo de elevação
durante o ano;

- para latitudes compreendidas entre o equador e 66° 33’ S a duração efetiva do dia assume seu
maior valor anual, que será tanto mais próximo de 24 horas quanto mais ao sul estiver o local
considerado;

- no equador o dia teria exatamente 12 horas (não fosse o efeito da refração atmosférica);

- para latitudes situadas entre o equador e o Círculo Polar Ártico, a duração efetiva do dia atinge
o mínimo valor durante o ano;

- no Polo Norte o Sol (que já estava sob o plano do horizonte há cerca de três meses) alcança
seu menor ângulo de elevação anual (-23°27’).

Na realidade, 21 de dezembro é a data que corresponde à metade do longo dia polar Sul, que
dura aproximadamente seis meses. No polo Norte, essa data marca a metade da noite polar norte,
cuja duração é, também, de aproximadamente seis meses.

Cerca de três meses depois (em 21 de março), o Sol culmina no zênite de um ponto situado no
equador. Desprezando-se o efeito da refração atmosférica, a duração efetiva do dia é de 12 horas em
todas as latitudes, exceto nas vizinhanças imediatas dos Polos. Ali o disco solar efetua uma volta
completa em torno do observador (no sentido horário, no Polo Norte e no sentido anti-horário no
Polo Sul), mantendo-se 24 horas ao nível do plano do horizonte aparente. Essa data anuncia o início
da noite polar Sul e o começo do dia polar Norte.

Continuando sua trajetória, a Terra atinge a posição da órbita que corresponde a 21 de junho,
ocasião em que a declinação do sol assume seu valor máximo anual (+23°27’). Nessa ocasião
verifica-se o solstício de junho e são observados os seguintes fatos:

- nas latitudes superiores a do Círculo Polar Ártico – para as quais a duração efetiva dos dias é
de 24 horas desde 21 de março – o Sol atinge o maior ângulo de elevação durante o ano (metade do

22
dia polar Norte), ocorrendo o contrário ao Sul do Círculo Polar Antártico (metade da noite polar
Sul);

- para locais compreendidos entre o Círculo Polar Ártico e o equador, a duração efetiva do dia
torna-se máxima e tanto mais próxima de 24 horas quanto mais elevada a latitude que se considere;

- do equador até o circulo Polar Antártico, essa data corresponde ao dia de menor duração
efetiva (ou à noite mais longa do ano).

Finalmente, por ocasião do equinócio de setembro observam-se os mesmos fatos que em 21 de


março marcando o início do dia polar Sul e da noite polar Norte.

A partir dessas considerações, conclui-se que a duração efetiva dos dias aumenta desde o início
do inverno até o final da primavera e diminui do início do verão até o final do inverno. Isso é válido
para ambos os hemisférios.

A duração efetiva do dia (num dado local e data) é também chamada insolação máxima ou
insolação teoricamente possível. É um parâmetro meteorológico de grande utilidade e pode ser
facilmente calculada, tal como será visto no final deste tópico. A insolação real, ou simplesmente
insolação, correspondente ao intervalo de tempo em que o Sol é perfeitamente visível num dado
local e data. A insolação depende, portanto, das condições atmosféricas, principalmente da presença
de nuvens capazes de ocultar o disco solar. A insolação máxima seria igual à insolação real, em dias
de céu completamente isento de nuvens e de fenômenos que ocultassem o disco solar, naqueles
locais com horizonte totalmente livre de obstáculos.

2.6. Ângulo zenital do Sol

O ângulo zenital do Sol, para um dado instante e local, pode ser calculado determinando-se o
ângulo formado entre o vetor posição do Sol (P) e a vertical local, como sendo um prolongamento
do raio (r) da Terra (Figuras 5 e 6). Para cálculo de ângulo zenital usa-se a equação:

(2.7)

23
Portanto, desde que se conheçam a latitude do local, a declinação (δ) do Sol e o ângulo horário
(h), correspondentes ao instante em questão, o ângulo zenital (Z) do Sol para qualquer instante pode
ser óbito pela equação (2.6). O ângulo horário é função da hora solar verdadeira, já que é definido
em relação à culminação do Sol (meio-dia solar verdadeiro). Esse ângulo é positivo pela manhã e
negativo à tarde. Por exemplo: três horas antes da culminação do Sol, h = 45°; uma hora após a
culminação do Sol, ou seja, a passagem do Sol pelo plano do meridiano local considera-se h = -15°.
Por outro lado, isso equivale a dizer que o deslocamento aparente do Sol corresponde a 4° a cada
minuto.

Figura 5. Ângulo zenital do Sol para um determinado local

A análise da equação (2.6) permite deduções muito interessantes como será visto a seguir.

2.6.1. Para o Polo Norte

No Polo Norte (cosΦ = 0 e senΦ = 1) tem-se cosz = senδ e, portanto, 90° - Z = E = δ. Daqui se
conclui que, no Polo Norte, o ângulo de elevação (E) do Sol é sempre igual a sua declinação.

24
2.6.2. Para o Polo Sul

No caso do Polo Sul (cosΦ = 0 e senΦ = -1) verifica-se que E = 90° - Z = - δ.

Como tanto a declinação do Sol como o ângulo zenital são definidos levando em conta o centro
do disco solar, essas conclusões confirmam que, nos polos, o centro do disco solar encontra-se acima
do plano do horizonte durante seis meses consecutivos (dia polar) e abaixo dele o restante do ano
(noite polar). Evidencia ainda, que durante o dia polar o Sol não se põe: a cada 24 horas descreve
uma volta completa na abóbada celeste em torno do zênite. No polo considerado, o angulo de
elevação do Sol aumenta progressivamente dia após dia, durante três meses (do equinócio até o
solstício correspondente) até atingir o valor máximo de 23°27’. A partir dai o ângulo de elevação do
Sol diminui, tornando-se nulo por ocasião do equinócio seguinte.

2.6.3. Para o meio-dia solar

Por ocasião da culminação do Sol (meio-dia solar) tem-se h = 0° (cos0° = 1) em qualquer


hemisfério. Nessas circunstâncias a equação (1.6) assume a seguinte forma (SELLERS, 1965):

(2.8)

Dependendo dos sinais associados à declinação e à latitude, essa expressão admite duas
soluções: Z = δ-Φ e Z = Φ- δ. Ambas confirmam que a declinação do Sol deve coincidir com a
latitude do local que se considere para que a culminação seja zenital (Z = 0°). De uma vez que -
23°27’≤ δ ≤ +23°27’, o Sol culmina zenitalmente apenas duas vezes por ano em pontos de paralelos
da faixa intertropical e somente uma vez em cada trópico.

Quando se adota a solução Z = δ - Φ, podem ser encontrados valores tanto positivos como
negativos para Z: os valores positivos devem ser interpretados como uma indicação de que, em sua
passagem pelo plano do meridiano local (meio-dia solar verdadeiro), o Sol é visto ao Norte do Local
de latitude Φ considerado; os valores negativos correspondem à posição do Sol ao Sul daquele local.
Quando se adota a solução Z = δ - Φ os sinais de Z devem ser interpretados exatamente de maneira
inversa. Essas conclusões são válidas para ambos os hemisférios. Na prática, pelo fato do ângulo

25
zenital ser considerado sempre positivo, costuma-se tomar Z =‫׀‬δ-Φ‫ ׀‬que, de fato, é a solução geral
da equação anterior.

Figura 6. Ângulo zenital para três latitudes durante a passagem do Sol no plano do Equador
nos dias de equinócios (20 ou 21 de março e 22 ou 23 de setembro)

2.7. Cálculo da Insolação Máxima.

A equação (1.6) é frequentemente empregada para calcular a duração efetiva dos dias (N) em
qualquer local P (Φ, λ, z) e época do ano. Para aplicá-la admite-se que Z = 90° quando o centro do
disco solar atinge o plano do horizonte local, o que corresponde aos instantes do nascimento e do
ocaso do Sol sob o ponto de vista geométrico. Designando-se por H o valor (desconhecido) do
ângulo horário por ocasião do nascimento ou do ocaso, a equação (1.6) tornando-se:

(2.9)

Neste caso, H representa o ângulo horário entre o nascimento do Sol e a sua passagem pelo
plano do meridiano local (meio-dia solar) ou entre esse instante e o ocaso. Tendo em conta que o Sol

26
percorre cerca de 15° por hora em seu movimento aparente diário de Este para Oeste, evidencia-se
que a duração efetiva do dia será:

Analisando essa expressão no que concerne aos possíveis sinais de Φ e δ, confirmam-se as


seguintes conclusões anteriores:

- se Φ e δ tiverem sinais iguais (o que se verifica na primavera e no verão, em ambos os


hemisférios) e, portanto, N > 12 horas;

- se Φ e δ tiverem sinais contrários (o que acontece no outono e no inverno, em ambos os


hemisférios), obter-se-á cosH > 0 e isso significa que N < 12 horas;

- se Φ = 0, ter-se-á N = 12 horas independentemente do valor de δ (isto é, no equador os dias


tem sempre 12 horas, qualquer que seja a época do ano);

- se δ = 0 (equinócio), obter-se-á também N = 12 horas em todas as latitudes, exceto nos polos e


em suas vizinhanças.

A duração efetiva do dia é normalmente referida como insolação máxima. O termo insolação é
usado para designar o intervalo de tempo em que o disco solar pode ser visto a partir de um
determinado local, durante o dia. A insolação máxima corresponde então ao caso limite em que o
disco solar pode ser visto durante todo o intervalo de tempo transcorrido entre o nascimento e o
ocaso. Em geral a insolação real é menor que a máxima, por causa da presença de nuvens e de
fenômenos atmosféricos capazes de ocultar o disco do Sol.

A análise anterior é puramente geométrica, já que fundamentou-se na posição do centro do disco


solar coincidindo com o plano do horizonte local para definir o nascimento e o ocaso do Sol. No
entanto, se uma melhor aproximação for requerida, pode-se considerar que, à luz da Meteorologia, o
nascimento e o ocaso do sol ocorrem quando o disco solar tangencia o plano do horizonte local. De
uma vez que o raio do disco solar subtende um arco com cerca de 16’, em média, deve-se adicionar
essa quantidade ao valor de H obtido acima. Essa correção, porém, é parcial: não inclui o efeito
devido à refração da atmosfera, o qual implica num acréscimo de cerca de 34’, tal como já
mencionado. Face ao exposto, uma equação mais apropriada para o cômputo de H deverá incluir
essas correções (16’ + 34’). Assim,

H = arc.cos(-tgΦtgδ) + 50’, e, portanto: N = 2H/15 = (2/15)arc.cos{(-tgΦtgδ) +50’) (2.10)

27
Essa equação (8.4), em função do acréscimo de 50’ evidentemente fornece valores mais
elevados da insolação máxima que aqueles deduzidos somente a partir de considerações
geométricas. Mesmo assim ela é apenas aproximada, pois sua dedução fundamentou-se em hipóteses
simplificadoras, isto é:

- que a declinação do Sol não muda durante um dia (Eq. 1.5.1);

- que a vertical local coincide com o prolongamento do raio terrestre,

- que a refração atmosférica, para ângulos de elevação próximos de 0°, é de 34’ exatamente.

Essas simplificações, porém, situam-se perfeitamente dentro dos limites de erro aceitos na rotina
meteorológica.

2.8. Tempo sideral, solar e legal

O dia sideral é definido como o intervalo de tempo que transcorre entre duas culminações
sucessivas do ponto vernal, num mesmo meridiano. O dia sideral tem 24 horas siderais, divididas em
60 minutos siderais, cada um dos quais subdivididos em 60 segundos siderais. Por causa da
precessão dos equinócios, a duração do dia sideral não é rigorosamente constante, mas essa variação
é tão pequena que nem chega a ser cogitada. Assim, o dia sideral é aceito como unidade fundamental
de tempo.

O dia solar verdadeiro é definido como sendo o intervalo de tempo transcorrido entre duas
culminações sucessivas do sol, num mesmo meridiano. Para um dado local da Terra, o dia solar
verdadeiro começa quando o Sol culmina no meridiano oposto ao do local considerado (situação
correspondente à meia noite nesse local). Um critério similar é usado como respeito ao ponto vernal,
para definir o dia sideral.

O dia solar verdadeiro tem duração variável durante o ano. De fato, se a Terra não possuísse
movimento de translação, para que o Sol, ou o ponto vernal, culminassem duas vezes num dado
meridiano, a Terra teria de girar 360°. No entanto, isto só é quase exato em relação ao ponto vernal;
em relação ao Sol, a Terra deverá girar mais que 360°, devido ao seu movimento de translação. O
deslocamento aparente do Sol para Este deve completar uma volta inteira na eclíptica no período de
uma translação terrestre. Assim sendo, para percorrer toda a elipse orbital, a Terra necessita de
366,2422 dias siderais (culminações do ponto vernal ou rotações da terra em torno do seu eixo) ou

28
365,2422 dias solares (culminações do Sol). Em média, portanto: 1 dia solar = 1,0027 dias siderais =
1 dia 3 min. 56 seg. (tempo sideral). Essa equivalência refere-se à média anual para dias solares
verdadeiros, já que a duração destes varia com a mudança da velocidade angular de translação da
Terra a qual, por sua vez, é uma função cíclica (com periodicidade anual). A segunda lei de Kepler
estabelece que o vetor posição de um planeta varre áreas iguais em tempos iguais (Figura 7). Como a
órbita da Terra é uma elipse, a distância Terra-Sol varia durante o ano, logo, a velocidade angular de
translação também varia.

De uma vez que os dias solares verdadeiros não têm a mesma duração no ano, é inconveniente
usar o tempo solar verdadeiro par fins civis. Para contornar essa dificuldade, definiu-se ano solar
médio: nele, um sol fictício, chamado Sol médio, percorre a eclíptica com velocidade angular
constante, completando uma volta no mesmo tempo gasto pelo Sol. O sol médio efetua 365,2422
voltas por ano em torno a Terra, todas com igual duração. Considerando esse Sol fictício, o valor
médio anual de Δα deve ser 360°/365,2422≈59’ por dia solar verdadeiro, ou seja: cada dia solar
verdadeiro tem um acréscimo de 3 min. 56 seg. de tempo sideral, em relação ao dia sideral.

Como foi visto, o ano sideral corresponde a 366,2422 dias siderais e, por conseguinte, a
366,2422 rotações da Terra em torno do seu eixo Norte-Sul. Durante esse mesmo intervalo de
tempo, verificam-se 365,2422 culminações do Sol num dado meridiano de referência.
Consequentemente, um ano não corresponde a um número exato de dias, nem siderais, nem solares
(verdadeiros ou médios). Caso se quisesse considerar cada ano como uma translação da Terra, a
passagem de um ano novo deveria ser festejada 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 46 segundos após o
início do ano anterior. Depois de um século ter-se-ia uma defasagem de 24,22 dias (isso sem
considerar a precessão dos equinócios). De uma vez que inúmeros eventos estão associados a
determinadas datas fixas do ano, convencionou-se definir o ano como o período de 365 (número
exato) dias solares médios. Essa definição não elimina todos os inconvenientes: depois de um ano,
por exemplo, o afélio não será alcançado no mesmo dia e hora, mas 5 horas, 48 minutos e 46
segundos depois do instante em que se verificou no ano precedente. A diferença não é significativa
no intervalo de um ano (equivale a 14’ de arco da órbita terrestre), mas sua acumulação ao longo dos
anos levaria a uma mudança progressiva das datas de eventos astronômicos (como o início das
estações do ano, por exemplo, tornado irracional o uso de datas para definir a ocorrência de tais
eventos. Essa inconveniência é parcialmente sanada adicionando-se um dia solar médio nos anos
múltiplos de 4. Desse modo, quatro anos consecutivos correspondem a 365x4 + 1 = 1461 dias
solares médios, o que equivale a 1461/365,2422 = 4,000085 órbitas completas. O dia adicionado é

29
29 de fevereiro e o ano que o recebe é chamado ano bissexto. A pequena diferença que ainda resta
(agora quatro anos excede levemente o número inteiro de translações ) implica no excesso de 7,8
dias a cada 1000 anos. O ajuste necessário é praticamente eliminado não incluindo o dia 29 de
fevereiro no ano inicial de cada século que não for divisível por 400. Por exemplo: o ano 2000 como
é divisível por 400 foi bissexto, porém o ano de 2100 não terá o dia 29 de fevereiro.

O tempo solar médio é cronometrado em relação ao meridiano local do observador. Dessa


maneira, a utilização generalizada do tempo solar médio não seria prática, pois o usuário teria que
ajustar o relógio todas as vezes que fosse necessário alterar sua longitude. Para não incorrer nesse
inconveniente, convencionou-se dividir a superfície da terra em 24 segmentos, separados por
meridianos equidistantes de 15° de longitude. Cada um desses segmentos constitui um fuso horário.
Estabeleceu-se, ainda, que todas as localidades situadas num dado fuso horário teriam a mesma hora
do meridiano central do fuso em questão. O fuso inicial, ou de origem, tem como meridiano central
o de Greenwich e, por isso o tempo assim computado é referido como tempo médio de Greenwich
(TMG). Para localidades situadas fora do fuso de Greenwich, tem-se o tempo civil. Assim, no 1°, 2°,
3°..... fusos a Oeste de Greenwich, a hora civil corresponde a 1,2,3..... horas, a menos que o fuso de
Greenwich, reciprocamente, no 1°, 2°, 3°... fusos a este de Greenwich, tem-se 1,2,3...horas a mais.

Considerando que seria necessário ajustar o rélogio todas as vezes que se cruzasse o meridiano
limite se fusos horários contíguos, alguns governos adotaram o tempo legal, segundo o qual são
mudados os limites dos fusos horários em seus territórios. O tempo legal de um país geralmente usa
acidentes geográficos ou fronteiras políticas como referências para mudança de horas. O Brasil adota
quatro faixas com horas distintas em seu território (Figura 8), que se estende entre o segundo e o
quinto fuso horário a Oeste de Greenwich. A análise da Figura (8) mostra que, em Fernando de
Noronha, a hora legal corresponde a TMG-2 (ou em relação ao tempo legal de Brasília, uma hora a
mais); em Recife (que na realidade está no mesmo fuso horário de Fernando de Noronha), adota-se a
hora legal de Brasília; etc.

O meridiano de 180° (oposto, portanto, ao de Greenwich) é denominado meridiano


internacional de mudança de datas. À Oeste deste meridiano a data é um dia mais tarde que a Este,
muito embora a hora civil seja exatamente a mesma. Na prática adota-se a linha internacional de
mudança de datas – que coincide com aquele meridiano apenas nas áreas oceânicas – devido aos
horários legais, adotados pelos países aos quais pertencem arquipélagos ali existentes.

30
Figura 8. Fusos horários e hora legal no Brasil

Denomina-se equação do tempo à diferença (positiva, nula ou negativa) entre a hora solar
verdadeira (Tv) e a hora solar média (Tr) num dado meridiano e época do ano. Essa diferença (Δt)
representa a correção que deve ser aplicada à hora solar média para que se obtenha a hora solar
verdadeira, em cada meridiano. A equação do tempo varia ao longo do ano exatamente por que a
velocidade angular de translação da terra não é constante (Figura 8). Face ao exposto, para
localidades situadas em meridianos centrais de fusos horários, a hora solar verdadeira será dada pela
expressão:

(2.11)

Mas, para localidades situadas em meridianos que não sejam os meridianos centrais dos fusos
horários, faz-se necessário estabelecer uma correção de longitude, já que o tempo solar médio é
tomado em relação ao meridiano real do local em questão, e não ao meridiano central do fuso
horário ao qual esse local pertence. A correção de longitude (Δλ) é expressa em unidades de tempo,
tendo-se em conta que a velocidade angular de rotação da Terra é de aproximadamente 15°/h. Assim
sendo:

31
(2.12)

Quando o local considerado estiver a Leste do meridiano central do fuso horário ao qual
pertence, Δλ é positivo e se estiver a Oeste é negativo. Como já foi mostrado, se o local estiver no
meridiano central do fuso, a correção de longitude será nula.

(2.13)

Nesta equação Δλ é dado em minutos; Lc é a longitude do meridiano central do fuso horário e


Lo a longitude do local em questão, ambas dadas em graus. A curva constante na Figura 9 apresenta
a correção diária do tempo ao longo do ano.

Figura 8. Mostra a correção diária do tempo ao longo do ano

CAPÍTULO 3

2. Radiação solar e sua influência sobre as plantas cultivadas

32
O Sol é a principal fonte de energia para a superfície da Terra. Outras fontes, tais como o
calor do centro da Terra e os materiais radioativos que existem no interior do nosso planeta
contribuem muito pouco em comparação com a energia que procede do Sol. Na parte superior
(Topo) da atmosfera, a intensidade da energia solar em um plano perpendicular à direção da radiação
é de 2,0 Cal/cm².min e é chamada de constante solar.

Na atmosfera, o calor pode ser transferido mediante três processos como será apresentado a
seguir.

3.1. Condução, Convecção e Radiação

Condução - processo em que a energia calorifera é transferida de uma para outra molécula. Como o
ar é um mau condutor de calor, essa transferência na atmosfera é pouco importante.

Convecção - processo em que há movimentação de uma massa fluida (ar, água) provocada por uma
diferença de densidade; a massa aquecida se afasta da fonte de calor. O ar que se encontra em
contato com uma superfície se torna aquecido por condução, e na medida em que aquece, se expande
e fica mais denso, sendo substituído por ar mais frio. A convecção é um dos principais meios de
transferência de calor na atmosfera, a mesma impede que as camadas mais baixas da atmosfera, se
tornem extremamente quentes durante o dia, em virtude da difusão de calor que ocorre por
convecção entre 1500 e 3000 metros mais próximos do solo. A convecção pode ser horizontal ou
vertical. A convecção horizontal, também chamada de advecção é o mais importante meio de
transferência de calor na Terra, sendo responsável pelas mudanças diárias do tempo. A advecção
ocorre devido às diferenças de pressões.

Radiação - transferência de calor (energia radiante) de um objeto para outro sem haver necessidade
de um meio de conexão. Esta transferência ocorre através de ondas eletromagnéticas.

A radiação eletromagnética se dá em diferentes comprimentos de onda, o que condiciona as


características que assumem as diversas radiações. Matematicamente o fenômeno é expresso pela
equação.
V  . f
Em que:

33
V - é a velocidade da Luz;
 - é o comprimento de onda; e
f - o número de ondas que ocorrem por unidade de tempo, conhecido também como frequência da
radiação.

3.2. Corpo negro, Absortividade e Refletividade

É um material hipotético tomado como ponto de referência para efeito de estudo


característico do espectro solar. Este material apresenta um espectro de radiação contínuo em todos
os comprimentos de onda e é capaz de absorver, por outro lado, toda energia radiante sobre ele
incidente. Entretanto nenhum material natural conhecido é capaz de se comportar como um perfeito
corpo negro, embora alguns se aproximem dessa condição, e esta é a razão pela qual idealizou-se um
corpo negro com absorvidade e emissividade 1.

Absortividade (a) - É a fração da radiação indicente que á absorvida pelo material. Tem valor que
varia de 0 a 1. O valor 1 é teórico porque só o corpo negro ideal é capaz de assumi-lo.

Refletividade (r) - É a fração da radiação incidente que é refletida pelo material. A refletividade das
plantas, por exemplo, varia com o comprimento de onda, apresentando um mínimo no meio do
espectro visível, e um máximo próximo à região infravermelha. O coeficiente de reflexão da
folhagem de uma cultura depende de sua cor, das condições de umidade e do ângulo de incidência
dos raios solares. A refletividade geralmente aumenta com o brilho da superfície da folha. Durante o
primeiro estágio de desenvolvimento de uma cultura, quando a cobertura do solo é ainda incompleta,
o coeficiente de reflexão é mais reduzido devido a baixa refletividade do solo.

3.3. Transmissividade, Albedo e Emissividade

Transmissividade (t) - a fração da radiação incidente que é transmitida pelo material.


Os valores desses três coeficientes para determinado material variam de zero a 1, sendo que a
soma dos três tem que ser igual a 1. Exemplo: se um material tem uma absorvidade de 60% e uma
refletividade de 40%, a sua transmissividade será zero. Assim, matematicamente tem-se:

a r t 1

34
Albedo (α) - É o termo que exprime a refletividade de um material e, portanto, sinônimo de
coeficiente de reflexão. Geralmente, ao invés de coeficiente de reflexão, usa-se o termo albedo para
expressar a quantidade de radiação visível refletida.

Emissividade () - É um coeficiente que se refere ao comportamento ativo de um material, isto é, à


sua capacidade de emitir energia radiante. A emissividade de um material é também medida em
relação à emissividade do corpo negro que é igual a 1. Segundo a lei de Wien, existe uma razão
inversamente proporcional a temperatura do corpo negro e o comprimento de onda do ponto de
emissão máxima de energia (m), isto é, o produto das duas grandezas é uma constante cujo valor
depende das unidades da temperatura e do comprimento de onda.

T. m = C

3.4. Lei de Stefan-Boltzmann

Esta lei estabelece que a quantidade total de energia emitida por um corpo negro em todos os
comprimentos de onda é proporcional à quarta potência de sua temperatura absoluta. O fluxo total é
T4, onde  é a constante de proporcionalidade conhecida como constante de Stefan-Boltzmann e T
10 2 -1 -4
a temperatura absoluta. O valor de  é 0,817 x 10- Cal.cm- .min . ºK .
A energia solar que chega até a Terra é composta por um conjunto de radiações cujos
comprimentos de onda variam mais ou menos de forma contínua de 0,15 a 4. Este conjunto de
radiação recebe o nome de Espectro Solar. Radiação com comprimento de onda acima de 4 é
chamada de radiação de onda longa, como é o caso da luz difusa que vem do céu, que ao passar
pelas nuvens, sofre transformações em suas características físicas. A energia radiante emitida pela
Terra para a atmosfera também é de onda longa.
A radiação ultravioleta é absorvida nas camadas superiores da atmosfera pelo oxigênio e
principalmente pelo ozônio que funcionam como protetores naturais, já que os raios ultravioletas são
nocivos aos seres vivos. Esses efeitos podem ser observados nas montanhas de elevadas altitudes
onde as queimaduras da pele ocorrem de forma grave.
A radiação infravermelha é em parte absorvida pelo vapor d'água e o gás carbônico presentes
na atmosfera. Partículas sólidas e cristais de gelo em suspensão na atmosfera provocam também
dispersão de parte da energia solar.

35
Quando o céu se encontra encoberto por nuvens, o caráter de espectro muda completamente:
o extremo infravermelho é em grande parte absorvido pelo vapor d'água e o extremo ultravioleta é
completamente dispersado.

3.5. Influência da radiação solar em determinadas faixas espectrais

Os seres vivos especialmente as plantas são diretamente influenciados pela energia solar e a
ação desta depende muito das condições de nebulosidade. A intensidade da luz afeta separadamente
o desenvolvimento das células vegetais; uma planta que tem como seu habitat natural um ambiente
sombrio experimenta queimaduras e perturbações, provocadas especialmente pelos raios
ultravioletas quando exposta diretamente à radiação solar. A comissão Holandesa de Irradiação
Vegetal (1953), depois de estudar os efeitos específicos causados por determinados trechos do
espectro solar sobre os vegetais, estabeleceu 8 faixas diversas com características próprias:

1ª faixa - Radiação com comprimento de onda maior que 1. Não causa danos às plantas sendo
absorvida e aproveitada sob forma de calor sem causar interferência nos processos biológicos.

2ª faixa - Radiação com comprimento de onda entre 1 e 0,72, exerce efeito sobre o crescimento das
plantas, com o trecho mais próximo a 1 sendo de muita importância para o fotoperiodismo,
germinação da semente, controle de floração e coloração do fruto.

3ª faixa - Radiação com comprimento de onda entre 0,72 e 0,61 é fortemente absorvida pela
clorofila, gera forte atividade fotossintética e em vários casos, também gera forte atividade
fotoperiódica.

4ª faixa - Radiação com comprimento de onda entre 0,61 e 0,51 corresponde a região do espectro
que exerce baixo efeito fotossintético e fraca ação sobre a formação das plantas.

5ª faixa - Radiação com comprimento de onda 0,51 a 0,40 é essencialmente a região do espectro
solar visível mais fortemente absorvida pelos pigmentos amarelos e pela clorofila, corresponde ao
azul violeta do espectro, gera grande atividade fotossintética e exerce vigorosa ação na formação das
plantas.

36
6ª faixa - Radiação com comprimento de onda entre 0,40 e 0,315 exerce efeito na formação das
plantas, tonando-as mais baixas e suas folhas mais grossas.

7ª faixa - Radiação com comprimento de onda entre 0,315 a 0,28 é prejudicial à maioria das
plantas.

8ª faixa - Radiação com comprimento de onda menor que 0,28 mata rapidamente as plantas.

3.6. Radiação emitida pela superfície terrestre

A superfície da terra emite radiação de onda longa para a atmosfera. Mais de 99% da energia
emitida se dá na região de comprimento de onda de 4 a 100 micra, com um máximo ocorrendo na
faixa de comprimento de onda de 10. A intensidade da radiação de onda longa emitida pela
superfície terrestre pode ser determinada pela equação:

RS =   T4

Em que:
RS - é a radiação terrestre emitida pela superficie;
 - a emissividade da superfície;
 - a constante de Stefan-Boltzmann; e
T - a temperatura absoluta da superfície.

Dentre as várias equações empíricas usadas para estimar a radiação emitida pela a atmosfera,
uma é bastante conhecida emuito utilizada, a equação de Brunt, que tem a seguinte fórmula:

n
Ra = T4 (0,56 - 0,09 e ) (0,1 + 0,9 )
N
Em que:
Ra - é a radiação emitida pela atmosfera;
 - é a constante de Stefan-Beltzmann;
T - a temperatura absoluta do ar próximo à superfície;
e - a tensão do vapor do ar, expressa em mm.Hg; e

37
n
- a insolação efetiva (razão de insolação).
N

As constantes da fórmula de Brunt (0,56; 0,09; 0,1 e 0,9) podem variar de acordo com as
condições climáticas. Portanto, como os valores acima mencionados foram determinados na
Inglaterra, para melhor ajustamento desta equação em outros locais, essas constantes precisam ser
determinadas.

3.7. Saldo de Radiação (Rn)

A contabilidade das radiações que entram e saem de uma comunidade vegetal, é denominado
de balanço de radiação, saldo de radiação ou radiação líquida, e é obtido pela expressão:

Rn = (1 - r) Rg + Ra - Rs

Em que:

Rn - é a radiação líquida;
r - é o coeficiente de reflexão;
Rg - é a radiação de onda curta que chega;
Ra - é a radiação emitida em forma de onda longa pela atmosfera;
Rs - é a radiação emitida em forma de onda longa pela superfície.

Essa equação mostra que o saldo e radiação ou a radiação líquida é a diferença entre o total
do fluxo de radiação ascendente e descendente, e representa, portanto, a quantidade de energia
disponível a superfície do solo. Quando não se dispõe de instrumentos apropriados para medir Rn,
ele pode ser estimado a partir das equações que seguem:

(4.19)
Ou

(4.20)

Nessas equações, os símbolos têm os seguintes significados:

38
a = albedo da superfície
ɛ = emissividade da superfície (que normalmente varia entre 0,97 a 0,99);
 = 8,132x10-11 cal.cm-2.oK-4, constante de Stefan-Boltzman;
n = insolação observada;
N = duração efetiva do dia (ou insolação máxima teoricamente possível), dada por:

(4.21)

Em que:  e  representam, respectivamente, a latitude local e a declinação do Sol na data particular


que se considera:

Qg - radiação solar global (cal.cm-2 / dia).


e - pressão parcial do vapor d’água (mm. Hg)
T - temperatura da superfície-fonte (oK).

Devido aos processos de absorção e difusão que ocorrem na atmosfera, a radiação solar que
atinge a superfície terrestre é inferior aquela observada no topo da atmosfera. Na Figura abaixo é
apresentada a representação esquemática do balanço de radiação solar.

39
3.8. Utilização da radiação solar pelas culturas

A eficiência quanto à utilização da radiação solar pelas culturas, deveria aumentar devido às
múltiplas camadas de folhas, entretanto, normalmente isso é reduzido por duas razões:
1. Porque a superfície do solo não é completamente coberta pela cultura, perdendo desta
forma grande quantidade de radiação.
2. Porque existem deficiências variáveis em água, nutrientes minerais, prejuízo de doenças e
temperaturas desfavoráveis.
O outro fato que contribui para a aparente baixa eficiência de informações sobre o material
radicular, o qual pode constituir até 30% de matéria seca total em termos de colheita. A eficiência da
utilização da radiação solar pode ser computada pela relação matéria seca produzida por unidade de
área cultivada e a radiação incidente na mesma área, durante o mesmo período.

3.9. Fotoperiodo

A duração do comprimento do dia (fotoperiodo) desempenha importante papel no


desenvolvimento das plantas. As pesquisas indicam que a duração do dia atua abreviando ou

40
aumentando o ciclo da planta, bem como sobre sua composição química, formação de bulbos,
tubérculos, raízes carnosas, atividades e repouso vegetativo, tipo de flores e sobre a resistência ao
frio.
De acordo com experimentos realizados em Wasnington com diferentes variedades de soja,
Garner e Allard (1920) estabeleceram que existe variedade de soja de floração precoce ou tardia,
conforme a duração efetiva do dia. As variedades que requerem dias longos para florescer são,
portanto de floração precoce, e aquelas que para florescer necessitam de dias curtos são de floração
tardia. Baseando-se neste fato, diminuindo artificialmente a duração do dia, as variedades de
floração tardia adiantarão a data de floração. Por exemplo: a variedade Bilori (Soja) semeada e
cultivada em condições naturais, com dias de 15 horas de insolação, levou 110 dias deste a
germinação até a floração. Porém, essa mesma variedade cultivada sob as mesmas condições, em
outro lote, para o qual, a duração do dia foi reduzida para 12 horas, utilizando-se câmaras escuras, as
quais eram colocadas à tarde e retiradas na manhã do dia seguinte, necessitou apenas de 28 dias para
florescer.
Quando um vegetal dispõe de condições favoráveis de temperatura, umidade, etc., para
crescer, porém a duração do dia não é adequada, a planta crescerá indefinidamente, produzindo-se
casos de gigantismo. A todas estas reações das plantas diante da duração efetiva do dia dá-se o nome
de fotoperiodismo. Quanto ao fotoperiodismo, existem os seguintes tipos de plantas:

- plantas de dias curtos;


- plantas de dias longos;
- plantas neutras;
- plantas alternadas; e
- plantas intermediárias.

Plantas de dias curtos - são plantas que aceleram seu ciclo, adiantando a floração, com dias de
curta duração (menos que 14 horas).
Plantas de dias longos - são plantas que aceleram seu ciclo, adiantando a floração, com dias de
longa duração (mais de 14 horas).
Plantas neutras - são aquelas indiferentes ao fotoperiodismo.
Plantas alternadas - são plantas que florecem em dias longos alternados por períodos de dias
curtos.
Plantas intermediárias - são plantas que florescem entre os limites, dias longos e dias curtos.

41
Para calcular os períodos em que a duração do dia é curta, longa ou intermediária utiliza-se
tabelas ou obtem-se diretamente pela equação:

2H 2
N=  arc.cos (-tg.tg)
15 15

Heliografo

42
Fitas heliograficas

3.10. Efeito da quebra da noite

Uma experiência realizada com plantas de dias curtos, na qual uma planta foi submetida a
um flash de luz com comprimento de onda de 660 m durante a noite, não foi verificada nenhuma
alteração; na noite do dia seguinte foi repetido o procedimento, e também não houve alteração;
entretanto na noite posterior ao ser aplicado um flash com comprimento de onda igual a 735 m, no
dia seguinte a planta floresceu. Esta experiência mostrou que existe um pigmento responsável por
esse fenômeno de "Fitocromo". Este pigmento é observado em duas formas: o que absorve radiação
de comprimento de onda igual a 660 m, chamando de P660 e outro que absorve radiação de
comprimento de onda igual a 735 m, conhecido por P735. Um fato importante observado foi que
qualquer um desses pigmentos sendo ativado com radiação conveniente se transforma no outro.

Durante o dia as plantas recebem radiação com comprimento de onda de 660 m, então o
pigmento P660 se transforma no pigmento P735. Durante a noite o pigmento P735 se transforma no
pigmento P660. Plantas de dias curtos precisam de pouco pigmento P735 enquanto as plantas de dias
longos necessitam de muito P735.

43
CAPÍTULO 4

4. Temperatura e plantas cultivadas

A temperatura além de ser um dos principais fatores que controlam o crescimento das
plantas, é também responsável pela distribuição destas sobre a superfície da Terra. Um grande
número de processos fisiológicos nas plantas ocorrem entre temperaturas de 0 a 40ºC. Sendo assim,
existe uma faixa muito ampla de temperatura, dentro da qual ocorre o processo de crescimento das
plantas. Algumas plantas por sua vez se adaptam melhor a temperaturas relativamente baixas,
enquanto outras a temperaturas moderadas e outras a temperaturas elevadas.
Diante disso, é muito importante que na escolha de uma área para implantação de uma
determinada cultura, seja levado em consideração, além de outros fatores importantes, a temperatura
requerida pela espécie a ser cultivada. Isto implica necessariamente, que o local de implantação deve
oferecer condições de temperatura, que não sejam prejudiciais ao desenvolvimento da cultura em
questão. Este problema pode ser considerado como de fácil solução, tendo em vista a existência de
longos períodos de observações de temperatura média diária em quase todas as partes do globo.

4.1. Temperaturas cardeais

Indepedentemente das condições de luz, o crescimento da planta torna-se nulo, quando a


temperatura alcança um determinado valor menor mínimo ou excede um determinado valor tido
como máximo. Entre esses limites, existe uma faixa ótima de temperatura, na qual o crescimento da
planta se dá com maior rapidez. Estes três valores são conhecidos como temperaturas cardeais.
PARKER (1946) mostrou que a complexidade da planta impede a determinação exata das
temperaturas cardeais, porque dependendo do processo, as plantas exigem temperaturas diferentes.
Entretanto, valores aproximados das temperaturas cardeais são conhecidos para a maioria das
expécies vegetais. Por exemplo: culturas típicas de estação fria, como aveia, trigo, cevada, centeio,
etc., os pontos são todos comparativamente baixos: mínimo de 0 a 5ºC, ótimo de 25 a 31ºC e
máximo de 31 a 37ºC.

4.2. Unidade de calor ou graus-dia

O conceito de graus-dia não é algo recente, pois, a mais de dois séculos vem sendo
questionado. Este conceito afirma que o crescimento de uma planta é variável de acordo com a

44
quantidade de calor à qual ela é submetida durante toda sua atividade vegetativa, essa quantidade de
calor é espressa em graus por dia (graus-dia). Através do conhecimento destas unidades de calor
necessárias, pode-se estimar o período de desenvolvimento de cada fase da planta, a época de
maturação, colheita e até prever-se controles fitossanitários.
Desde que não existam fatores limitantes tais como deficiência hídrica e nutricional, pragas e
moléstias, a somatória dos graus-dia de uma cultura é constante. Podendo variar dentro de uma
espécie em função da variedade, solo, clima, etc.

4.3. Cálculo de Graus-dia

Podem-se calcular os graus-dia (GD) de maneira simples e direta, pegando-se a temperatura


média diária e subtraindo desta o valor da temperatura mínima necessária ao desenvolvimento de sua
espécie. Exemplo: se a temperatura mínima (ou base inferior) de uma determinada espécie é 10ºC e
a temperatura média diária do local considerado é 18ºC, tem-se neste dia uma contribuição de 8 GD.
Outra maneira de calcular os graus-dia é calcular a área delimitada pelo termograma e a
temperatura base inferior (TBI). Temperatura base inferior (TBI) é a temperatura abaixo da qual o
desenvolvimento das plantas é despresível. Esta temperatura varia para cada espécie. Analogamente,
pode-se admitir a existência de uma temperatura base superior (TBS). Outras maneiras de cálculo
foram propostas (Lindsej & Newmaava, 1956; Willians & Mackay, 1970; Mederski et alii, 1973).
Entretanto, veremos aqui apenas os seguintes métodos: o método direto, o método residual e o
método segundo Villa Nova et alii (1972).
Antes de estudarmos estes métodos é interessante sabermos o que significa Constante
Térmica. Chamamos de constante térmica ou índice residual, a quantidade de calor acumulada desde
os primeiros dias de germinação até a maturação da planta, ou seja, a soma de todos os graus-dia
obtidos, desde o primeiro dia de germinação até a maturação é um valor fixo conhecido como
constante térmica ou índice residual. Portanto, para cada cultura existe uma constante térmica
especifica.

4.4. Método direto

O cálculo dos graus-dia através do método direto consiste em tomar apenas os valores de
temperaturas médias diárias superiores a 0ºC. Ou seja, para calcular a constante térmica, somam-se
as temperaturas médias diárias, não computando os valores de temperaturas inferiores ou igual a
0ºC.

45
4.5. Método residual

Segundo esse método, com poucas diferenças, quase todas as espécies agrícolas começam a
crescer aos 6ºC, portanto, toda temperatura inferior a este valor não tem nenhuma utilidade. Este
limite de temperatura 6ºC é conhecido como zero vital. Porém, para encontrar a verdadeira eficiência
de uma temperatura é necessário subtrair os 6ºC que correspondem ao zero vital; o residuo restante
é, portanto, a temperatura efetivamente útil. Deste modo, para se calcular a constante térmica pelo
método residual, subtrai-se 6ºC da temperatura média de cada dia e soma-se o resultado de todos os
résiduos obtidos.

4.6. Métodos segundo VILLA NOVA et al. (1972)

Este método consiste em determinar os graus-dia, pelo cálculo da área compreendida entre a
temperatura base inferior (TBI) e a curva de temperatura diária. A estimativa desta área pode ser
feita, conhecendo-se as temperaturas máxima (Tx) e mínima (Tn) do local onde a cultura está
instalada ou do local onde será implantada, bem com as temperaturas base inferior (TBI) e base
superior (TBS) da espécie cultivada. Podem ocorrer vários casos, porém, veremos aqui apenas
alguns casos:

Caso 1. TBS > Tx e TBI < Tn

T n
GD = (Tn - TBI) + (T x )
2

Caso 2. TBS > Tx e TBS > Tn

(T x  TBI ) 2
GD =
2(T x  T n )

Caso 3. TBS > TBI > Tx

Neste caso GD = 0

46
Caso 4. TBS < Tx e < TBI = Tn

(T x  T n ) (T x  TBS ) 2
GD = 
2 2(T x  T n )

Caso 5. TBS < Tx e TBI > Tn

(T x  TBI ) 2  (T x  TBS ) 2
GD =
2(T x  T n )

4.7. Proteção das culturas agrícolas contra as baixas temperaturas

Nas regiões onde ocorrem temperaturas baixas, muitos métodos são utilizados para proteger
culturas agrícolas das baixas temperaturas. Estes abrangem desde a cobertura, a aspersão, a
nebulização, até o aquecimento e a mistura das camadas mais baixas da atmosfera.

4.7.1. Método topo climático

Com respeito a ocorrência de ventos catabáticos como providência de prevenção, no


Hemisfério Sul, no período de inverno deve-se plantar nas encostas voltadas para o norte, tendo em
vista que esta face nesta época recebe mais energia solar. Outra providência importante é somente
plantar na parte alta e no meio da encosta, evitando o plantio nas partes mais baixas.

4.7.2. Métodos microclimáticos


Consistem em se tomar medidas no período de inverno, de modo que a energia solar
armazenada pelo solo durante o dia seja utilizada durante a noite. Seguem algumas medidas:

4.7.3. Exposição do solo

Proporcionar uma boa exposição do solo à radiação solar, o qual deve permanecer sempre
capinado e limpo, para que o calor armazenado possa compensar de certo modo, as perdas por
irradiação noturna.

47
4.7.4. Cobertura com vidro

O vidro por sendo transparente a radiação de ondas curtas possibilita que toda radiação solar
incidente alcance a superfície do solo. Porém, como o vidro é impermeável a radiação de ondas
longas, impede a saída da radiação emitida pelo solo e pelas plantas. Desta forma haverá um saldo
positivo de energia suficiente para evitar a geada.

4.7.5. Cobertura com Plástico Transparente

Plástico transparente deixa-se ultrapassar tanto por radiação de ondas curtas como por
radiação de ondas longas. Seu coeficiente de proteção, entretanto é inferior ao do vidro, porém tem a
vantagem de ser mais leve que o ar frio. Desta maneira, a medida que vai sendo aquecido, o ar se
eleva sendo substituído por outra massa de ar que com o tempo também vai se elevar. Esta
ocorrência possibilita o surgimento da camada de inversão de temperatura, responsável pelo
aquecimento do ar próximo ao solo. O ar quente que deixa o aquecedor mistura-se rapidamente com
o ar mais frio, fazendo com que a temperatura de toda massa de ar não seja muito elevada. Esta
massa de ar, sendo pouco aquecida, não irá se elevar demasiadamente, pois o ar aquecido que se
encontra acima da superfície de inversão funcionando como um anteparo ao ar que iniciou seu
movimento de elevação.
A instalação de um número razoável de pequenos aquecedores apresenta uma eficiência
muito maior que um pequeno número de grandes aquecedores pois a distribuição da energia radiante
é muito mais uniforme.

CAPÍTULO 5

5. Considerações gerais sobre a transferência de água para a atmosfera

48
Entre a superfície terrestre e a atmosfera há um permanente intercâmbio de água, tal como se
depreende da análise do ciclo hidrológico. Grande parte da água cedida à superfície pela atmosfera
decorre da queda livre de partículas de natureza hídrica, constituindo as precipitações líquidas
(chuva, garoa, sereno, etc.) e sólidas (saraiva, neve, etc.). Sob determinadas condições de
temperatura, porém, o vapor d’água atmosférico pode passar à fase líquida ou sólida, diretamente
sobre a superfície da Terra ou dos corpos nela existentes, formando depósitos de Gelo (geada) ou de
água (orvalho). Finalmente, a atmosfera ainda pode perder água para a superfície por interceptação
de gotículas de nevoeiros.
A transferência de água para a atmosfera se processa, em sua quase totalidade na fase gasosa
e em decorrência da formação de vapor d’água na interface superfície-atmosfera. Assim, a umidade
do ar resulta, principalmente, da evaporação que se verifica nas superfícies líquidas (oceanos, mares,
lagos, cursos d’água, etc.), no solo úmido, etc. e, ainda, da sublimação que se processa nas
superfícies de gelo e de neve, além da transpiração dos seres vivos. Evidentemente, também pode
ocorrer transferência de vapor d’água para a atmosfera em decorrência da água e da sublimação do
gelo que se forma sobre, ou é interceptado por vegetais e outros corpos encontrados na superfície
terrestre. Em determinadas circunstâncias essa transferência se efetua, de início, diretamente na fase
sólida ou líquida, por dispersão de partículas retiradas pelo vento (tempestade de neve poslha, etc.),
pela atomização da água próximo às cachoeiras, agitação da folhagem molhada, etc. Finalmente,
uma contribuição relativamente pequena à transferência de água para a atmosfera é devida a
processos artificiais, notadamente à combustão.
Num dado instante e local, o fluxo de vapor d’água para a atmosfera depende de uma série de
variáveis que atuam interativamente. Em condições natuais, esse fluxo está condicionado pela
energia disponível, por propriedades físicas da superfície-fonte, pela umidade do ar adjacente, pelas
características dinâmicas da camada atmosférica justaposta àquela superfície, etc. Há situações em
que o ar adjacente está saturado e, nessas circunstâncias, o número de moléculas de água que
abandona a superfície fonte no estado gasoso, torna-se igual ao núnmero das que a ela retornam no
mesmo intervalo de tempo. Nesses casos a tranferência virtualmente cessa. Na situação mais
comum, porém, o ar da camada atmosférica contígua não se encontra saturado e, portanto, o número
das moléculas que retornam à superfície-fonte é inferior ao das que ingressam na atmosfera por
unidade de tempo. Convém notar que o próprio movimento do ar tende a acelerar a difusão de vapor
d’água na atmosfera e, em princípio, inibe a saturação.
No caso particular da superfície-fonte estar representada pela epiderme viva, o problema da
transerência da água para a atmosfera torna-se bem mais complexo: em se tratando de plantas, por
exemplo, a transpiração vai depender da espécie considerada e, para cada espécie, da idade, estágio

49
de desenvolvimento e sanidade da espécie em estudo, da umidade disponível às raizes, da hora do
dia etc., além dos fatores ambientais já referidos.
Uma vez gerado (por evaporação, sublimação ou transpiração) o vapor d’água mistura-se ao
ar da camada atmosférica justaposta à superfície-fonte por difusão turbulenta e, posteriormente, é
transportado por correntes advectivas e convectivas. Essa difusào será tanto mais rápida quanto
maior for o estado de agitação do ar (turbulência) que, por sua vez é condicionado pela velocidade
do vento e pelas características aerodinâmicas da própria superfície e das circunvizinhanças, sendo
também faverecida pelo grau de instabilidade da atmosfera.

5.1. Importância

Sob o ponto de vista meteorológico, o estudo da transferência de vapor d’água para a


atmosfera reveste-se de especial importância. A água é a única subtância capaz de mudar
expontaneamente de fase nas condições de pressão e temperatura reinantes na troposfera. A
passagem do vapor d’água para a fase líquida ou sólida implica na liberação de calor latente, que irá
contribuir para aquecer o ar. Assim sendo, à transferência de vapor d’água para a atmsofera está
associada a uma tranferência de energua que, posteriormente, poderá ser posta à disposição do meio,
a milhares de quilômetros da região de origem. Essa passagem do vapor d’água à fase sólida ou
líquida, além disso, origina as nuvens e uma série de hidrometeoros.
No que concerne às aplicações, esse estudo assume considerável significado prático. Nas
regiões áridas e semiáridas, onde as disponibilidades hídricas geralmente condicionam as atividades
agrícolas e, em situações favoráveis, podem por em risco a própria sobrevivêncvia de populações
inteiras, o conhecimento da distribuição espacial e temporal da taxa média de tansferência de vapor
d’água para a atmosfera propicia um planejamento mais racional do uso da água. Pesquisas visando
a prsevação dos recursos hídricos são, nesses casos, muito encorajadas. Também é evidente que, a
partir de estudos dessa natureza, é possível quantificar melhor as lâminas d’água para irrigação e sua
frequência, o que permite manter a umidade do solo dentro da faixa de tolerância mais apropriada às
exigêncais das culturas. Por outro lado, essas investigações fornecem subsídios que podem
proporcionar um melhor controle de demanda de água em grandes reservatórios, racionalizando seu
uso para fins industriais, abastecimento urbano, etc. Assim sendo, estudos que visem caracterizar as
perdas d’água para a atmosfera interessam diretamente aos Meteorologistas, climatologistas,
Agrônomos, Sociológos, Economistas, Engenheiros, Administradores, e etc., já que podem
beneficiar as regiões consideradas e contribuir para consolidar seu desenvolvimento sócio-
econômico.

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5.2. Medidas diretas da evaporação e evapotranspiração

Em geral, o termo evapotranspiração é empregado para designar a transferência de vapor


d’água para a atmosfera quando a superfície-fonte está representada por um solo vegetado. A
evapotranspiração representa, portanto, duas contribuições distintas: a evaporação da água contida
no solo e a tanspiração decorrente da atividade biológica da comunidade vegetal presente nesse solo.
Evidentemente, muitas espécies vegetais eliminam água diretamente na fase líquida (gutação), uma
parte que pode retornar ao solo sob a forma de pequenas gotas, sendo o restante evaporado.
A evaporação e a evapotranspiração podem ser quantificadas em termos de massa de vapor
d’água que, por unidade de tempo, atravessa a unidade de área de uma superfície plana e horizontal,
situado imediatamente acimada superfície-fonte. Suas dimensões são as de massa, por área e por
tempo (M.L-2.T-1 ). Na prática, porém, é usal essa grandeza ser expressa em termos de altura da
lâmina d’água transferida para a atmosfera, por unidade de tempo. Por exemplo: a evaporação de 10
mm.dia-1 corresponde à tranferência de uma lâmica d’água com 10 milímetros de altura em 24 horas.
Ou seja, 1 mm de evporação ou evapotranspiração, equivale a 1 litro de água transferido para a
atmosfera por cada metro quadrado de projeção horizontal da superfície-fonte.
Medidas diretas da evaporação ou da evapotranspiração, em condições naturais, são
extremamente difícies de serem realizadas na prática. Tecnicas instrumenrtais sofisticadas tem sido
desenvolvidas com esse objetivo, mas sua aplicação tem se restringido ao contexto da investigação
científica em pequenas áreas, sujeitas a exaustivos estudos. Os equipamentos normalmente usados
nesse caso são bastante dispendiosos, o que tem limitado sua aplicação em atividades de rotina.
Deve-se ressaltar, porém, que mesmo envolvendo alta tecnologia, muitos dos instrumentos de
medida geralmente alteram, com sua própria presença, as condições naturais do ambiente em que
são instalados. Por outro lado, muitos dos instrumentos convencionais encontrados com mais
frquência nas estações meteorológicas, por exemplo, na realidade não medem a evaporação natural,
apenas traduzem casos muito particulares da transferência de água para a atmosfera, quer a partir da
água contida em recipientes (evaporímetros e tanques evaporimétricos), quer a partir de superfícies
porosas umedecidas (atmosféricas). Esses instrumentos possem limitações, motivadas por sua
geometria, pelos materiais usados em sua confecção, por imposições de exposição, etc., que podem
afastá-los bastante da realidade do processo que pretendem reproduzir. Na melhor das hipóteses
pode-se aceitar que esses instrumentos convencionais, sob dederminadas condições de exposição,
possam apresentar alguma correlação com a evaporação natural. No entanto, tanques
evaporimétricos de grandes dimensões, a exemplo do tanque Russo de 20 m2, adotado como tanque
padrão para medir evaporação pela OMM, quando convenientemente instalados em locais

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representativos, podem fornecer indicações mais representativas da evaporação natural. Tais
instrumentos, porém, têm o incoveniente de serem caros, de terem instalação definitiva e de
manutenção um tanto difícil, visto que exigem limpezas frequentes e demandam um volume de água
muito grande.
O uso de pequenos reservatórios naturais para medir a evporação, também tem se revelado
problemático. Normalmente esses reservatórios apresentam perdas por infiltração que são difícies de
serem quantificadas.
Para medidas diretas da evapotranspiração são empregados lisímetros, isto é, tanques
enterrados, contendo selo e a espécie vegetal que se deseja estudar. Alguns lisímetros - conhecidos
como lisímetros de drenagem (Fig. 1) - fundamentam-se no príncipio de que a evapotranspiração
corresponde à diferença entre a água (por irrigação e precipitação) e a água parccelada, quando são
connhecidas as quantidades de água existentes em seu interior no início e no fim de um certo
intervalo de tempo. A limitação de lisímetros desse tipo está exatamente em como quantificar essa
água residual. Além disso, como a percolação é um processo geralmente lento, os lisímetros de
drenagem (mesmo quando fosse possível superar aquela dificuldade) não se prestariam para
determinações em intervalos de tempo curtos; são mais preciosos para determinações mensais
(CHANG, 1968). Os chamados lisímetros de balança, ou lisímetros de pesagem, parecem ser os
melhores. Esses instrumentos dispõem de um sistema de pesagem, geralmente hidráulico, associado
a um mecanismo que indica ou registra seu peso. A evapotranspiração é obtida por diferença entre
duas leituras consecutivas, no início e no fim do intervalo de tempo selecionado. Nos centros de
investigação mais sofisticados existem modelos capazes de indicar a evapotranspiração aintervalos
tão curtos com dez minutos (CHANG, 1968). Evidentemente os preços e as ecigências operacionais
não permitem a utilização desses equipamentos em atividades de rotina.
Para que um lisímetro possa repdroduzir com alguma fidedignidade as condições naturais de
cultivo, é indispensável que englobem um considerável volume de solo: primeiro, para possibilitar o
pleno desenvolvimento do sistema das plantas nele situadas; segundo, para reduzir os efeitos de
contorno, isto é, a influência causada por suas próprias paredes. Em seu interior, o solo deve ter as
mesmas características edafológicas do terreno adjacente, o que não é fácil de se conseguir na prática
(a textura, a estrutura e, algumas vezes, até mesmo natureza do solo original, podem ser alteradas
por ocasião de sua instalação). Finalmente, as plantas nete conditas devem apresentar o mesmo
aspecto e estar na mesma fase de desenvolvimento que as circunvizinhas as quais, por sua vez,
devem ser representativas da comunidade em estudo. Essas exigências têm, sem dúvida, o objetivo
de preservar a representatividade dos lisímetros mas, de fato, concorrem para que se tornem

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estruturas de grandes dimensões, de instalação difícil (e, com tal permanente), de elevado custo
aquisitivo e, às vezes, operacional.
Considerando o exposto conclui-se que, em utilizações de rotina, as limitações envolvidas
desencorajam tentativas para medir diretamente a evaporação ou a evapotranspiração, pelo menos no
atual estágio do conhecimento humano. Por esse motivo, normalmenterecorrem-se a métodos
indiretos de estimativa dessas grandezas. Alguns desses métodos, os mais comuns, serão abordados
no presente texto.

5.3. Evapotranspiração potencial

Alguns dos métodos proposto para estimar a tansferência de vapor d’água para a atmosfera
visam quantificar, não a evaporação ou a evapotranspiração natural, mas um parâmetro denominado
evapotranspiração podencial. Esse parâmetro foi instroduzido na bibliografia em 1944, por C.W.
Thornthwaite, como “a perda d’água por uma parcela de solo úmido completamente revestida de
vegetação e suficientemente grande para eliminar o efeito de Oasis” (THORNTHWAITE &
HARE). Em 1965, H.L. Penman modificou um pouco o conceito introduzido por Thornwaite,
definindo a evapotranspiração potencial como a quantidade de água, “transpirada por unidade de
tempo por uma vegetação rasteira e verde, recobrindo totalmente o solo, com altura uniforme e sem
jamais sofrer limitações hídricas” 9THORNTHWAITE & HARE, 1965). Se verifica, que as
definições propostas não podem ser consideradas rigorosas.

CAPÍTULO 6

6. Variáveis que influenciam a transpiração


A taxa de transpiração de uma planta ou mesmo de uma folha varia de dia para dia, de hora
para hora e, frequentemente de minuto para minuto. A maior ou menor rapidez com que o vapor

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d'água é eliminado pelas plantas, resulta da ação que os fatores ambientais exercem na fisiologia das
mesmas. Dentre os fatores que mais influenciam a taxa de transpiração estão a radiação solar, a
umidade, a temperatura, o vento e a disponibilidade de água.

6.1. Radiação solar

Este termo refere-se à luz visível e a outras formas de energia radiante (radiações
infravermelha e ultravioletas) que são provenientes do Sol e atingem a superfície da Terra. Os
principais efeitos da radiação solar sobre a transpiração resultam das influência da luz sobre a
abertura e o encerramento dos estomas já foram comentados anteriormente. Porém, desde que
nenhum dos fatores ambientais exerça qualquer influência sobre a transpiração estomática, a não ser
quando os estomas estão abertos, a luz ocupa uma posição de primordial importância entre os fatores
que condicionam a transpiração. Outro efeito importante da radiação solar sobre a transpiração é sua
influência na temperatura da folha.
As taxas de difusão e de evaporação são diretamente influenciadas pela tensão do vapor
d'água da atmosfera. Em geral, quanto maior for a tensão d'água na atmosfera, mais baixa será a taxa
de transpiração, desde que os fatores restantes não se modifiquem. Sempre que os estomas estão
abertos, a taxa de difusão do vapor d'água que se libera duma folha, depende da diferença entre a
tensão de vapor nos espaços intercelulares e a tensão do vapor d'água na atmosfera, uma vez que a
tensão do vapor é um índice de pressão de difusão do vapor d'água.

6.2. Temperatura

Os efeitos da temperatura sobre a taxa de transpiração estomática podem ser claramente


analisados em termos dos seus efeitos sobre a diferença nas tensões de vapor d'água existentes nos
espaços intercelulares e na atmosfera. Suponhamos que tanto a temperatura de uma folha com os
estomas abertos, como a temperatura do meio ambiente aumentam de 20º para 30ºC, se a folha não
estiver deficiente em água, o aumento de temperatura provocará um acréscimo na tensão de vapor
dos espaços intercelulares de cerca de 17,54 mmHg para cerca de 31,82 mm - Hg, e como à tensão
dos espaços intercelulares está em contacto direto com a superfície evaporante tende a manter um
equilíbrio da tensão do vapor dos espaços intercelulares com a água do mesófilo, na atmosfera
ambiente, contudo, as condições existentes de tensão de vapor são muito diferentes. Em dias sem
nebulosidade, isto é, tipicamente naquele dias em que se verificam taxas de transpiração mais
elevadas, as alterações da tensão de vapor da atmosfera durante o dia em áreas onde o ar circunda

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livremente, são pequenas. Contudo, quando o movimento do ar é calmo, mudanças significativas na
tensão do vapor na vizinhança de plantas que transpiram rapidamente podem ser notadas. Por outro
lado, a subida de temperatura resulta, principalmente, num aumento na tensão de vapor através dos
estomas, e portanto num acréscimo da taxa de transpiração.

6.3. Umidade do ar

As taxas de difusão e de evaporação são diretamente influenciadas pela tensão do vapor


d'água da atmosfera. Em geral, quanto maior for a tensão d'água na atmosfera, mais baixa será a taxa
de transpiração, desde que os fatores restantes não se modifiquem. Sempre que os estomas estão
abertos, a taxa de difusão do vapor d'água que se libera duma folha, depende da diferença entre a
tensão de vapor nos espaços intercelulares e a tensão do vapor d'água na atmosfera, uma vez que a
tensão do vapor é um índice de pressão de difusão do vapor d'água.

6.4. Vento

O efeito do vento na taxa de transpiração é bastante complexo, e depende, em parte, das


outras condições ambientais. Normalmente, um acréscimo na velocidade do vento, dentro de certos
limites corresponde a um aumento na taxa de transpiração. Este fato explica-se, geralmente,
admitindo que o vapor de água se acumula muitas vezes na vizinhança das folhas que transpiram sob
uma atmosfera calma, especialmente se essas folhas não estão expostas à ação da luz solar. Quando
o vento não é fraco, provoca uma agitação nas folhas, e portanto, qualquer acumulação de moléculas
de vapor d'água na vizinhança imediata das superfícies foliares será rapidamente dispersa. O balanço
dos ramos e a agitação das folhas pela ação do vento contribuem para que haja taxas mais elevadas
de transpiração. Essas oscilações das folhas podem aumentar em parte a taxa de eliminação de vapor
d'água por compressão dos espaços intercelulares, forçando assim a saída de vapor d'água e de outros
gases através dos estomas. Uma brisa suave é relativamente mais eficaz em aumentar a taxa de
transpiração do que ventos com grande velocidade. Tem-se observado que os ventos fortes retardam
a transpiração, provavelmente devido ao encerramento dos estomas sob tais condições. O vento pode
ainda exercer efeitos indiretos na taxa de transpiração devido sua influência na temperatura das
folhas.

6.5. Disponibilidade de água

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Embora a transpiração possa processar-se por pequenos períodos à taxas consideravelmente
mais elevadas do que a taxa de absorção de água, se as condições do solo são tais que a absorção
d'água é apreciavelmente diminuida, a taxa de transpiração mostrará em breve, uma diminuição
correspondente. A disponibilidade de água no solo em relação à planta, é portanto, um fator
importante e, muitas vezes, limitante da transpiração.

Referências bibliográficas

MAYER, B.S., ANDERSON, D.B. e BOHNING, R.H. Introdução à Fisiologia Vegetal.


Tradução C.J. Rodrigues Júnio - Fundação Calouste Gulbenkian. Lisboa, 1970.

MOTA, F.S. Meteorologia Agrícola - Biblioteca Rural Livraria Nobel S/A, 5ª edição. São Paulo,
1981.

ROSEMBERG, N.J. Microclimate: The Biological Environment. John Wiley & Sons. New York,
1974

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