Está en la página 1de 9
Revista Ibero Americana de Estrategia EISSN: 2176-0756 admin@revistaiberoamericana.org Universidade Nove de Julho Brasil Dsponivel em: hips redalye.orgaticulo oa?id=331227 108007 > Como ctar est artigo reBalyo. Arg > Nemero complete Sistema de Informacao Cientifica > Mais artigos Rede de Revistas Cientificas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Home da revista no Redalye Projeto académico sem fins lucrativos desenvolvido no ambito da iniclativa Acesso Aberto urismo e globalizagao: algumas perspectivas Luis Augusto Severo Soares Bacharale Mestre er Turemo—Unbere Especnlsta em Educerto ~ Uninove Mestsando em Citncias Sociss PUC-SP; Professor no curso Turismo e Tecnologia em Hotelaria = Uninove Profesear do curso de Tirso ~ Balas Artes de Sto Paulo. Sto Paulo, SP [Bros] lnssonres@hotmi.com Neste artigo, busca-se refletir sobre as implica- ses da globalizagéo no turismo, reconhecendo a possibilidade de realizar distintas observagées a respeito desse fendmeno e seus efeitos na érea, além de discutir 0 consenso que o define, Com base nesse objetivo, tratar-se-é da globalizagao como um movimento precedido pelos processos. de mundializagio e internacionalizagio que gera diversas transformagies na sociedade, ou seja, um. movimento entrelagado a uma série de resolugdes ue interferem no turismo. Com 0 abjetive de di- recionar a anzlise ao campo especifico de estudo, serdo apresentadas, apartir da perspectiva de Boa- ventura de Souza Santos, algumas das influéncias naatividade turistica, entendendo-as como pontos necessérios para que os planejadores ¢ administra dores do turismo o compreendam e o incentivem, sem se limitarem aos caminhos propostos pelo consenso presente na idéia de globalizacao. Palavras-chave: Capitalismo. Globalizacao. Turismo, Rovista Gerenclais, S80 Paulo, v. 6, 9.1, 68-70, 2007 sobmay 64 1 Introdugao © fenémeno turistice moderno esta atual- mente envolvido nas pautas governamentais académicas e mercadoligicas, caracterizado por dois fatores: a ascensio da ideologia das férias e a ascensio da concepgio mercantil do turismo moldado pelas empresas turisticas que organi- zam e reorganizam os espagos de consumo para promové-lo (FORTUNA, 1995). Constitui-se, assim, um tema relevante para andlise das ma- nifestages sociais contemporaneas. Entretanto, seu estudo deixa lacu quando se tenta associé-lo a outras condigses da sociedade; é 0 caso das implicagdes da globaliza 40 ne turismo, © turismo & comumente associado A glo- balizagdo ~ & intensificagao dos fluxos turisticos 3s teéricas, sobretudo internacionais e & queda das fronteiras culturais promovidas pelo encontro entre o visitante e 0 visitado, Soma-se, ainda, a constante relagéo com a entrada de investimentos, a abertura de mercados, a influéncia da tecnologia da informa- 80 e dos transportes e a ativagao de novos paré- metros administrativos e politicos internacionas, transnacionais e supranacionais que influenciam, em seu andamento. Embora seja imperative reconhecer esas questées, quando consideradas as prineipais im= plicagdes da globalizagao no turismo, deixa-se de observar uma série de elementos primordiais para efetivar tal anélise, Assim, dirige-se 0 olhar sobre a globalizagao e suas conseqiiéncias para © turismo, muitas vezes supondo seu aparente carter de inevitabilidade e de integragio a uma nova ordem mundial, a exemple do que defen dem autores come Beni (2003) e Molina (2004) Para estabelecer a andlise desejada, este texto esté dividido em dois eixes: © primeiro trata diretamente da globalizacio, com o intuito de compreendé-la como um processo precedido por diversas condiges econémicas, sociais, po- liticas e culturais, fator que impée a necesséria ‘ago. O segundo eixo, a partir da perspectiva de Santos (2002) ~ das dimensdes da globalizagio -. a algumas das influéncias no turismo, anélise de sua f genta um breve exame de 2 Globalizaco: uma dnica interpretagao e direcao? A globalizacdo, atualmente, é abordada em diversos estudos, muitos dos quais, de antemao, apresentam-na para caracterizar um estagio da sociedade moderna integrada _mundialmente: ‘uma sociedade sem fronteiras definidas, de fluxos « de interagses globais. Tal perspectiva & comu- mente dada como condigéo irreversivel para os membros da sociedade em rede (CASTELLS, 2007). Sejam atores principais ou coadjuvantes, é essa a palavra de ordem para a sociedade in- formacional Partindo-se dessa consideracao, a globaliza- «80 se torna um simples processo de interagées transfronteirigas ¢ transnacionais, de sistemas de producio, de transferéncias financeiras, de dis- seminag&o e uso da informagao e da tecnologia, até dos deslocamentos de pessoas em escala mundial (SANTOS, 2002). Entretanto, existe outra perspectiva, aqui proposta mediante breve anilise dos processos de mundializagio ¢ internacionalizagio, enten- dendo-os como movimentos que antecedem & globalizacao. A realizagao desse tipo de anise faz-se necesséria para evitar uma compreenséo isolada da globalizagao, que a coloca como condi- 40 inovadora na sociedade, diante da qual resta apenas adaptar-se, desconsiderando as transfor~ mages sociais, politicas, econémicas e culturais ‘que @ antecedem e a acompanham Posto isso, considera-se mundializagao “..] um processo de aumento gradativo de relagSes, contatos e fluxos que se estabelecem entre povos [..} nos campos econémico, politico, cu tural e religioso” (WANDERLEY, 2003, p. 212- 213). Um processo que inicialmente ndo envolve os Estados, e sim a intensificagao das relagdes sociais entre povos, dada, muitas vezes, pela legi- timagdo das mais diversificadas préticas sociais. Entende-se, aqui, amundializag8o como um fendmeno de larga extenséo, e 0 desenvolvimen- to do modo de producéo capitalista é reconhe- cido de forma int s0. A expansio do capitalismo é, portanto, um fator presente nesse processo que lhe concede novos contornos, Faz-se necessério ressaltar foncais, So Paul, v. 6, n. 1. p. 63-70, 2007, esse aspecto, pois, embora a mundializacdo seja reconhecida como um movimento mais extenso, 6, até certo ponto, um movimento que conjunta- mente “mundializa” o capitalismo. Em uma perspectiva histérica, Habsbawm (2005) destaca a Revolugio Industrial Inglesa (1780) e a Revolugéo Francesa (1789), a partir da qual a industrializagio, a expanséo dos tanspor- tes e das técnicas de produgao e as transforma des subsegiientes nos valores sociais, politicos @ econémicos permitiram que, pela primeira vez ra histéria da humanidade, fossem “[..] retira- dos os grithées do poder produtivo das socie- dades humanas, que daf em dia capazes da multiplicagao répida, constante, ¢ até © presente ilimitada, de homens, mercadorias & servigos [..]” (HOBSBAWM, 2005, p. 50) Ambas as revolugdes demarcaram um periodo em que a mundializagao passou a ser abalizada pela ascensio do capitalismo industrial te se tornaram € de novos valores politices, sociais, culturais e econémicos. Recorrendo-se a Marx, essa nogéo se torna clara, quando se reconhece o capitalis- mo come um processo eivilizatério que influencia, todas as formas de organizacao do trabalho e da vida, e que nao pode existir “[.J sem revolucio- nar continuamente [..] todo 0 conjunto de rela Bes sociais" (MARX; ENGELS, 1988, p. 69). Intrinseca & mundializagao, a internaciona- izagéo tem seu surgimento delimitado pelo en- volvimento do Estado moderne nesse process de relagSes mundiais, “[..] entendida como 0 conjunto de relagées intra-estatais, interestatais como 0 surgimento de instancias supranacio- nais nas quais as decisdes sao tomadas fora do Ambito nacional” (WANDERLEY, 2003, p. 218), um processo de intensificagao das relagées rea- Wado diante das influéncias sociais, polticas, culturais e econémicas entre Estados-Nagéo — desenvolvidos ¢ subdesenvolvides. Da mesma forma, é vista como uma etapa vineulada & ascen- so do padréo fordista-keynesiano que “[.. teve como base um conjunto de préticas de controle balho, tecnologias, habits de consumo & configuragdes de poder palitico-econémico [.. (HARVEY, 1999, p. 19). Uma combinagao da ad- ministragao econémica keynesiana e do padrao fordista de gerenciamento empresarial que se es- tendeu até os anos 1970, 0 fim da Era de Ouro (HOBSBAWM, 1995). Entretanto, a internacionalizagéo também acompanhou 0 esgotamente desse modelo, que eu lugar a um novo padrao de acumulagao, ca racterizado pela [1] flexibilidade dos processos de traba- Iho, dos mereados de trabalho, dos pro- dutos e [dos] padres de consumo. [.] pelo surgimento de setores de produgéo inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de servigos financeiros, novos mereados e, sabretudo, taxae al- tamente intenzificadas de inovagio co- mercial, teenoligien & organizacional (HARVEY, 1999, p. 140), Se assim vista, a internacionalizacao foi o periodo de intensificagéo das influéncias, dire- cionadas para a composigao de uma economia indial capaz de sustentar o capitalismo dentro das decisées do Estado interventor, em muitos casos regulador das ages do mercado. Nesses termos, ambos os processos, mesmo que com- preendidos em conceitos di tos, apontam para a intensificagao das relagdes entre povos & Estados mediadas pela extensio de influéncias, principalmente econémicas — movimentos que intrinsecamente promoveram mudangas na so- ciedade e formataram, entre outros resultados, uum sistema capitalista de escala mundial, E a globalizacao, € parte desse processo? Parece correto afirmar que a globalizagio ¢ um movimento subseqtiente aos processos citados, elaborado em torno de um consenso, que, por um lado, privilegia a ascensio de uma nova Iigica econémica e politica (e administrativa) e, por outro, mantém algumas condigées padrées in- tensificados nos periodos anteriores. Assim, a globalizagio pode ser compreen- dida por meio de trés pontos analisados em con- junto: o capitalisme como modo civilizatério, © esgotamento do padrdo fordista-keynesiano ‘abservado no fim da Era de Ouro e 0 consenso que a cerca, Tem-se, assim, 0 que se entende como elementos-chave do atual quadre deno- minado globalizagao, fe, Ske Paulo, v. 6,n. 1, 63-70, 2007 Um conjunto de elementos, deliberado como fendmeno inevitavel, que decretou que apenas uma politica econémica e uma légica administra- tiva pautada pela competitividade, produtividade, livre-troca ete. permitiria & sociedade sobreviver (LIMOEIRO-CARDOSO, 2000). Uma formula- ‘g80 que mantém a ldgica do capital, conferindo- the um novo contorno para determinar uma ti via, colocando-a “|. como se fosse um produto natural do devir histérico [.J” (LIMOEIRO- CARDOSO, 2000, p. 16). Os valores que acompanham, a priori, nao esto pautados pelas interagdes entre povos e/ou Estados-Nagao nem pela multiplicidade de orientagdes (BECK, 1999), mas, sim, pelo eixo ideolSgica do capital e do mercado. Portanto, a “[...] acepgao dominan- te de “globalizacao" é, pois, uma ideclogia [ (LIMOEIRO-CARDOSO, 2000, p. 98). Uma formulagao que tem como objetivo a slobalizagao das trocas no mercado internacional, (os movimentos mundiais de capital — semelhan- te & mundializagao do capital denominada Chesnais (1996) — e a reestruturagio produtiva capaz de alavancar os niveis de produtividade & acumulagao. Uma “determinagia” que, por seu caréter pluridimensional, gera transformagées nas mais variadas pr ¢, sobretudo, econdmicas, em parte sob a mesma idéia dos processos anteriores, ou seja, se antes “modernizar-se” e “desenvolver-se” era uma al- temnativa, agora "globalizar-se" ou “adaptar-se” & uma necessidade, -as sociais, politicas, culturais Por ser uma ideologia (hoje dominante), a aceitagio de sua formulagéo implica reconhe- cimento e prosseguimento de novas resolugées econémicas, sociais, culturais e politicas, que, por sua vez, ditam regras & administragio. Portanto, entende-se a globalizagio coma um conjunte de intervengées que generalizam os processos € as as do capitalismo, atingindo, quando con- sentida, a sociedade com um todo. Nessa pers pectiva, a globalizagio, apesar de definida por uma ideologia, gera implicagSes que vao além de suas deliberagdes dominantes e tornam possivel entendé-la como estr [.-J1um fendmene muhfacetado com di- mensées econSmicas, sociais, poitieas, culturais, religiosas e juridicas interliza- das de modo complexo [..J um vasto € intenso eampo de eonflitos entre grupos ocinis, Estados © interesses hegems- nicos, por um lado, e grupos socials, Estados e interesses subsiternos, por ‘outro; [..] No entanto, por sobre todas as suas dvisdes internas, © campo he- -geménico atua na base de um eonsenso entre os seus mais influentes membros. (SANTOS, 2002, p. 26-27) Na interpretagao de Santos (2002), a gioba- lizagdo & um conjunto de intervengdes e proces- s0s que partem de um consenso e que, portanto, tem caracteristicas hegeménicas, quando afirma- das pela maioria da sociedade, Entretanto, hej, apés seu “seguimento”, j& nio reflete somente ‘esse consenso, o que permite distinguir, na prépria vigéncia, movimentos que se opdem e oferecem novas perspectivas. 3. Asimplicagdes da globalizagao no turismo A interpretacio da globalizagio como pro- cesso irreversivel que norteia as ages da socie- dade é diretamente formulada nos estudos do turismo, tomando-a ponto de partida de uma série de argumentagdes que pretendem colocé- Jo como meio para o desenvolvimento social e ‘econémico!. Assim, 0 turismo no mundo “globa- izado” torna-se uma ferramenta para aleangar novos patamares de competitividade, que, con seqiientemente, proporcionariam uma série de beneficios aos niicleos turisticos. Essa é a primeira implicagao da globalizagio no turismo, pois intensifica uma mudanga central ‘em seu conceito, Distancia, dessa forma, a com- preensio do turismo como um fendmeno social de encontro, para caracterizé-lo como um setor eco- némico capaz de atrair bens ¢ servigos que quali. fiquem a oferta e estimulem a demanda, Dessa nogéo provém diversas interpreta- ‘ges que definem o turismo como um “sistema estruturado”, cujo sucesso dependeria de “exter- nalidades” - como investimentos em empresas Rovieta Gerenciais, So Paulo, v.61, p. 68-70, 2007 @ infra-estrutura ~ somadas a auténticos atra- tivos das regides receptivas. Se, por um lado, essa implicagéo produz efeito conceitual, por outro, permite o seguinte questionamento: como proporcionar uma série de beneficios sociais & econdmicos aos niicleos turisticos, a partir da compreensio sistémica e, predominantemente, econdmica do turismo diante da globalizacio que intensifica a competitividade e exige processos de produgio, trabalho e acumulagio cada vez mais flexiveis e desiguais? Entende-se que, & medida que se intensifi- ca a visio do turismo como meio para competir na economia globalizada, mais se permite de- senvolvé-lo como uma atividade para instaura- 580 dos valores e ages da ideologia dominante, Em outras palavras, quanto mais se defende sua orientagao econémica “globalizada’, mais dificil se torna compreendé-lo como um fenémeno social que permite, quando estucado, observar as caracteristicas da sociedade, seja para orien- tar anélises que reconhecam suas contradigies © conflitos, seja para encaminhar propostas menos reducionistas que visam, unicamente, & sua expanséo econémica. Pertanto, validam-se 0 turismo e as adaptagdes concernentes & globali- zago como 0 tnico caminho, afastando a possi- bilidade de cada localidade promové-lo conforme suas necessidades, compreensoes e caracteristi cas, como propéem, entre outros, Krippendorf (2000) e Yézigi (2001). Ao se analisarem as ages governamentais para o desenvolvimento do turismo nacional, vé-se que essa implicagao é patente, e as politicas de -megaprojetos sio exemplos disso. Segundo Cruz (2000), s8o projetos urbano-turisticos implan- tados no Brasil nos anos 1980-1990, como Rota, do Sol (RIN), Cabo Branco (PB), Costa Dourada, (AL/PE) e Linha Verde (BA/SE). Orientados pela idgia de que o turismo & uma atividade econémi- ca capaz de reverter os quadros de desigualdade social, os projetos pdem os governos locais e seus investimentos & disposicao do capital. Assim, a Iigica reside em fornecer infra estrutura para que o mercado se instale e, pos- teriormente, encarregue-se de sua comercia- izagao. Nesse caso, parece que 0 turismo tem resultados similares aqueles da globalizagao social (SANTOS, 2002) - motivada pelas allancas com as empresas multinacionais que incidem sobre a estrutura nacional de classes, intensificando criando novas formas de desigualdades sociais (Gedusao salarial e dos direitos, lberalizago do mercado ete) Embora muitos autores da rea no des- taquem esse perspectiva, as implicagses da glo- balizagao se estendem a perda da centralidade do Estado na determinagio de poltticas para 0 turismo. Se, por um lado, como € 0 caso brasilei- 10, 0 Estado “intervém" por meio de projetos de financiamento para instalngio de infra-estrutu- +2, a exemplo do Programa de Desenvolvimento do Turismo no Nordeste (Prodetur-NE) (BENEVIDES, 1998), por outro, seu papel ndo & mais que o de um “financiador” para o mercado, que se instala e, com suas regras, passa a com- petir pela demanda, Entende-se, portanto, como uma implicagio derivada da globalizagio politica (SANTOS, 2002). Vale lembrar que esse movimento subjaz as determinagées do consenso citado, promotor da Hberaizagio, da desregulamentagio, dos ajusta- rmentos politicos ete. Assim, ndo se trata somente de questionar as consegiiéncias da perda da cen- tralidade do Estado, mesmo porque seria contes- tvel afrmar que o governo brasileiro a possuia. E preciso reconhecer que as implicagées da globa- lizagio perfazem um resultado mais amplo e im possbitar os efeitos pronunciados nos estudos © projetos tu questionamento antes comentado. icos — navamente se instaura Apesar de tal questionamento, © turismo & continuamente estimulado dentro do consenso formador do processo da globalizag3o. Um mo- vimento que incentiva cada municipio, sobretudo aqueles que possuem poueas alternativas econd- nicas, a langar-se na aventura turistica, como destacado no Plano Nacional de Turismo: © turismo quando bem planeiado, dentro de um modelo adequade, onde as comunidades participam do proces- 50, possibilita a incluso dos mais varia- dos agentes sociais [.] Nesse modelo, fs grande maioria do setor & constitu: fo de pequenas ¢ médias empresas, fe, Ske Paulo, v. 6,n. 1, 63-70, 2007 fazendo com que 0 desenvolvimento da atividade possa naturalmente eontribuir como fator de distrbuiglo de renda [.] (MINISTERIO DO TURISMO, 2003, 24-5) Porém novas perguntas surgem, Como se tornar um pélo turistico sem eapacidade de inves- timento em infra-estrutura para atrair empresas & demanda? Como responder ac declinio da capaci. dade do Estado para investir em uma politica que ‘ova o turismo e seus possiveis efeitos econd- micos e sociais locais? A despeito das motivagdes que redundam esse questionamento e das nogdes de desen- volvimento e de planejamento adequado, a res- posta dada pelo consenso ¢ buscar alternativas para “adaptar-se” & realidade, para mover-se do quadro de cidades “nao-globais", para aproveitar seus “potenciais” atrativos, Enfim, para promo- ver © turismo como meio para o “desenvolvimen- to” social e econé nico. Logo, 0s municipios € 0 turismo assumem novas atribuigdes. © novo papel das cidades diante da globa- lizagio € dado por muitos como um processo fem que as cidades so os novos protagonistas de nossa época, concentradas na definigio de uum planejamento estratégico que promova seu desenvolvimento (CASTELLS; BORJA, 1996) Dessa forma, entende-se que, paralelamente a esse eftito, 0 estimulo ac desenvolvimento do turismo “salvador” torna-se atrativo, Assim, 0 que Harvey (2005) caracteriza como um novo tipo de “empreendedorismo urbano", orientado para o desenvolvimento local pelo turismo, surge como implicagao perigosa da globalizagao. Afinal, se é dada a resposta (ainda que dentro do consenso) & falta de desenvolvimento econémice e social ¢ a0 declinio da capacidade do Estado para investir no turismo, persiste © questionamento inicial: como se tornar um pélo turistico sem capacidade de in vestimento em infra-estrutura para atrair empre- sas e demanda? Dé-te, por um lado, a via da negociagio e, por outro, a via da competicfo, num primeira momento para atrair 0 investimento necessério €, depois, o mercado, Assim, justifica-se 0 passo inicial que evidentemente levar a uma nova com- petigéo, a qual nko necessariamente promovers 0 desenvolvimento desejado. Para compreender essa _consegiiéncia, deve-se lembrar que, quando se estabelece que © turismo & capaz de promover a economia, igualmente se assume a idéia de que esse e as ‘empresas envolvidas devem monitorar-se pela competicao. Assim, seu desenvolvimento deveré responder aos objetivos daqueles que o comercia- lizam e aceitar os critérios da competitividade & da racionalidade produtiva. Novamente, volta-se a0 primeiro questionamento: como uma série de beneficios sociais e econémicos aos nteleos turisticos diante da globalizagie que in- tensifica a competitividade e exige processos de produgao, trabalho ¢ acumulagao cada vez mais porcionar flexiveis e desiguais? Acredita-se que essa implicagie também ‘ocorre por uma necessidade i presas que comercializam © turismo, Sem um, conjunto de atrativos naturais ou culturais, origi. nais ou construidos, que ao mesmo tempo sejam 05", “diversificados” e “adaptados”, no ediata das em- “ater serd possivel atrair a demanda nem competir. Essa é uma implicagao direta da globalizagao no ‘turismo, que confere ao mercado uma particular capacidade de transformar os atratives de qual- ‘quer localidade em um valor a ser "agregado” aos produtos e servigos, para buscar das. Um proceso intensificado pela liberagio econémica, pela nova configuragao empreende- dora das cidades e pela compreensao do turismo ‘como meio econémico capaz reverter 0 quadro novas deman- econdmica e social local ‘Aa se tomar esse movimento como parte de um ciclo maior, a etapa intermedisria seria 0 cres- cimento da demanda, a instalagao de empresas, 0 ‘emprego ¢ a renda proveniente do turismo. Um. crescimento motivado pela criagao de novos seg- mentos e pela atragio de demandas. Desse ponto em diante, as redugdes de precos, a degradacdo do espago, a descaracterizagao cultural’ e 0 apa. recimento de novos destinos (de interesse das em- presas) invertem 0 processo, deixando © turismo ‘em movimento de scente, Essa situagao € observada nas cidades que ‘optam por um modelo receptive internacional de clusters controlados pelas empresas, que ditam 0 Rovieta Gerenciais, So Paulo, v.61, p. 68-70, 2007 ritmo e a forma de crescimento. Cabe entio per guntar: os clusters sio modelos de planejamento € administragdo inquestiondveis que, diante dos efeitos da globalizagio, devem ser seguides? A. slobalizacao e suas implicagdes so irreversivels, & cabe a nés apenas seguir suas determinacSes para adaptar o turismo e suas “estratégias"? 4 Consideragies finais: uma nova perspectiva para 0 estudo do turismo Considera-se que a globalizagao tem impli- cagées cielicas no turismo, que o transformam, cada vez mais, em um setor econémico atrelado 8 légica capitalista e & ideologia dominante, tor- nando-o ineapaz de responder aos seus préprios valores, seja por distanciar-se das possibilidades de encontro, de descoberta e de escolha, seja por findar-se nas contradi¢oes que impedem que sew modelo obtenha éxito, © turismo esta, desde sua compreensio moderna, submerso nes paradigmas da socie- dade capitalista. Assim, a globalizacdo supde fa intensificagao desse modelo mercadolégico, agora assentado em novas determinagSes. Iss0 Bo quer dizer que sua compreensio e anslise estejam limitadas a esse paradigma, tampouco que se devam submeter propostas aqui apresen- tadas a essa aplicagao, Cumpre, entéo, investigar a especificidade de nossa situagao (gue inclui a andlise do turismo. come fenmeno social, seus conflitos e contra igdes) enquanto parte da expansio capitalista e extensio de uma ideologia, e, a partir dessa ago, definir 0 que ¢ fundamental: uma nova perspecti- va de andlise para seus planejadores e administra dores, que va alm do determinismo que define 0 turismo como uma “indiistria” que deve ser adap- tada aos parémetros da globalizacao. Em itima anilise, sem a pretensio de superar toda e qualquer contradigao ou substituir uma ideologia por outra, é necessério reconhecer 8 efeitos da globalizacao sobre o turismo, para assim ampliar os estudos oferecidos naliterat ada rea e debater seus resultados, em vez de aceitar seu quadro atual como irreversivel e Gnico. Tourism and Globalization: some perspectives In this article, one searches to reflect on the im- plications of the globalization in the tourism, be- ing recognized the possibilty to carry through distinct comments on this phenomenon and its effect in the tourism, beyond arguing the con- sensus that defines it. Front to this objective, we will deal with the globalization as a movement preceded for the mundialization processes and internationalization that generates many trans- formations in the society, that is, an interlaced movement to a series of resolutions that inter- vene with the tourism. With the objective to direct the analysis to the specific field of study, it will be presented, from the perspective of Boaventura de Souza Santos, some of the influ- ences in the tourist activity, having understood ‘them as necessary points in order to the planners and administrators of the tourism understand it and motivate it without limiting themselves to the ways proposed by the consensus that exists in the idea of globalization. Key words: Capitalism. Globalization. Tourism. Notas Come mencionamos, autores como Beni (2003) ) vaidam essa perspective e «¢ Molina (200 referéncias para a maior dos estudos da rea de ‘sriemo que apresertam e interpretam o turiemo 1 ur setor econémico que deve ser adaptado dades impostas pel gobalizagio, Lemos lestaca tal verifiengio ao analsar as diferentes (2005) ‘estado que influencarar nesse processe: rms’, do “deslocamenta do “desenvolvimento industrial do turismo” e do eservolvimens ustentével A degradagio do espago.e& No que se refer descaracterizagio cultural, cbservar-se os oftitos da globalizaric cultural (SANTOS, 2002) que, no turismo, estérelacionada & adaptagio de atrativos tornam-se hemogéneos pars alrair variadas demandes. Referéncias BECK, U. 0 que ¢ globolizayio? Equivoeos do slobalismo, Respostas & globalzagio. |. ed. Séo Paulo: Paz e Terra, 1999. Rovista Gerenciais, S80 Paulo, v. 6, 9.1, p. 68-70, 2007 BENEVIDES, |, Torso e Prodetur.NE: dimensSes € colhares em parceria I. ed. Fortaleza: BNBY/UFC, 1998, BENI, M. C. Globalizagdo do turismo, Megatendéncias do setor ea realdade brasileira. |. ed, So Paulo: ‘Aleph, 2003, CASTELLS, M.A sociedade em rede, 10. ed. S80 Paulo: Paz e Terra, 2007. (A era da informagio: economia, sociedade e cultura, I) CASTELLS, M.: BORJA, J. As cidades como atores politicos. Nowos Estudos Cebrap, S80 Paulo, n. 45, 152-166, 1996, CHESNAIS, F.A mundializardo do capital. 1. ed. Sia Palo: Xama, 1996. CRUZ, R. C, A. O Nordeste que o turismotts) ‘io v8. In: RODRIGUES, A. A. B. (Org). Turismo, modernidade, globalizasao. |. ed. Sao Paulo: Hucitee, 1997. v1, p. 210-218, CRUZ, RC. A. Politica de turismo e terrtério. Ie Sko Paulo: Contexto, 2000. FORTUNA, C. Turismo, autenticidade e cultura lrbana: percurso teérico, com paragens breves em Evora e Coimbra, Revista Critica de Ciéncias Sciais, Coimbra, 43, p.II-44, 1995 HARVEY, D. Condligo pés-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudanca cultural. 8 ed. S80 Paulo: Loyola, 1999. HARVEY, D. A prochisdo capitlita do espogo. I. ed So Paulo: Annablume, 2005, HOBSBAWM, E. Era dos extremas: o breve séeulo XX. 1. ed, Sao Paulo: Companhia das Letras, 1995, HOBSBAWM, E. Era das revolusées. 19. ed, So Paslo: Paz e Terra, 2005. KRIPPENDORF, J. Sociologia do Turismo, Para uma nova compreensio do lazer e das vingens. I, ed. Sio Paulo: Aleph, 2000, LEMOS, L. de. 0 valor turistico na economia da sustentabildade. |. ed, Séo Paulo: Aleph, 2005. LIMOEIRO-CARDOSO, M. Ideologia da lobalizagio e (des)eaminhos da eigneia social In: GENTILI, P. (Org), Globalizardo exeludente: desigualdade, exclusio e demoeracia na nova orden mundial 2, ed, Petrépolis: Vozes, 2000. p. 96-125, MARX, K ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. |. ed, Peteépolis: Vozes, 1988. MINISTERIO DO TURISMO. Piano nacional do turismo: diretrizes, metas e programas — 2003-2007. Brasfa: 2003. Disponivel em:

También podría gustarte