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VY. Forentini TRADUGAO LITERAL DAS. FABULAS DE FEDRO por NICOLAU FIRMING — 1941 LIVRARIA LUSITANA 96-RUA RIACHUELO-96 Tel. 9-6204 - $, PAULO es AO LEITOR E éste 0 terceiro opiisculo da Colecgio dos Clissicos Latinos ¢ para éle franscrevemos as razbes que se encon~ tram no inicio da ‘Tradugio Literal da Eneida ¢ da ‘Tra~ ducdo Literal dos Comentirios da Guerra Gaulesa, recen- temiente publicadas: “'Néo vito longe os tempos em que as tradugdes eram um assunto digno de registo nos Indices Expurgatérios, para os professores que supunkem que os alunos possi ores de tais livros nio aprendiam nada com éles. Mas a experiéncia de longos anos de ensino tem-nos confirma~ do, inversamente, que o bom uso das traducées & um grande ‘uviliar para os iniciadores de linguas. ‘As dificuldades que os estudantes encontram, ao tra- dusir qualquer licao, e 0 longo tempo perdido a manusear diciondrios, sem acertar com 0 térmo apropriado, tem le- ado oquéles, na sua maioria, ao desinimo ¢ a detestacio duma lingua que constitue a base do nosso idioma, Ora isto ndo sucederia se possulssem uma traducdo literal, que Thes removesse as dividas ¢ os ajudasse a cowngar’ gra- dualmente, sem os dispensar, todavia, da consulta do di- Era assim que pensava também 0 emérito latinista Monuel Bernardes Branco, quando em 1889 publicou a tradugdo das Bucdlicas. Com 0 fim de obrigar os alunos a consultar os dicio- ndrios ¢ a fixer a flexio dos vocébulos, e de favorecer 0 piiblico quem interessa a leitwra duma obra que encerra preceitos morais, omitimos, de propdsito, 0 texto Tatina. © presente trabalho, que 0 iradutor, preocupado com « tradudo literal de palovra for palavra — para nao 8 a0 Lerton troir 0 seu fin — apresenta sem ornatos de retérica, nem Sroses buriladas, deixaré, talves, aos exigentes a impressio de ter sido escrito em poriugués menos correcto. ‘A preocupagio do tradutor foi tradusir & letra os vo- -edbuios nos casos, mimeros ¢ tempos em que se encontrant, por forma que o interessado em cotejar 0 texto descubra -as palazvas e faca depois a traducio, segundo o sew estilo, ‘sem andar @ prociira de vocdbulos que ndo encontra no texto, sabendo-se, além disso, que hi em tatim verbos ¢ outros vocdbulos que regem construcies diversas dos mes- ‘mos verbos ¢ vocibulos portugueses. Resta-nos ainda diser que 0 facto de os alunos con~ sultarem fraducées mio prejudica 0 ensino; 0 professor ‘reconhece sempre se 0 aluno trabalhow ow ndo pela forma como éle der a rasio da tradugéio que {ée, declinando, conjugando, analisando, e, cumprida a sua abrigacio, powco ‘importaré ao professor que outro colega, que wm expli- cador, wna tradugao ow wma cébula 0 tivesse auxiliado, Isto sto colsas secundérias, se no snfimas”, A presente sraducdo contém tédas as fébulas dos com- pindios dos professores Francisco Jiilio Martins Sequeira, B. A, Xavier Rodrigues — Sousa Carrusce, José Pereira Tavares ¢ Froncisco L. Goncalves Brandao, eleva wi indice numérico das quatro edicdes, para mais facilmente serem encontradas ¢ cotejadas. Lisboa, Abril de 1938. MARIA FERNANDA. Fabulas Esépicas Zi DE Fedro, escravo férro de Augusto LIVRO PRIMEIRO 1 — Prélogo Ew poli em versos sendrios (= de seis pés) esta matéria que © autor (= primeiro) Esopo inventow, A vantagem do livrinho € dupla, (por)que move o riso (= faz tit) e porque adverte (= dirige) a vida por wm conselho prudente (= a: sisedo). Se alguém, porém, quiser censurar (porque falem (até) 23 Grvores, (c) no shmente os animais, lembre-se de ‘que més. (nos) divertimos com narratives fingidas (= apé- ogos). 2 — 0 lobo ¢ o cordeiro ‘Um 16bo ¢ um cordeiro, impelidos pela séde, tinham ‘do a0 mesmo regato; o Iébo estava mais acima e 0 cordeiro auito mais abaixo. Entio 0 ladrio, incitado pela goela insa- sidvel, trouxe (= tevantou). 2 ceusa da contenda. Diz: “Por- ‘que fizeste-turva a agua a mim (que estou) bebendo?” O ta nigero (cordeito), receanco, (diz) em resposta: “Peo (-te que ‘me digas), como posso fazer (aquilo de) que te queixas, 6 Todo? A agua decorre de ti para os meus sorvos.” Aquéle repelido pelas fércas da verdade, diz: “Antes déstes (= hd) seis) meses disseste mal de mim.” © cordeiro. respondeu: 10 PARULAS DE PEDRO — 3 “Na yeidade eu nio era nascide.” Por Héreutes (= palavra de honra), diz aquéle, o teu pai disse mal de mim," ¢ assim dlilacera por uma injusta morte o (cordeiro) arrebatado. Esta fébula foi escrita por causa daquéles homens que ‘oprimem os inocentes com falsos pretextos. 3 — As ris pediram um rei Quando Atenas florescia(m) sob justas leis, uma liberdade insolente agiton a cidade © = anarquia relaxou o antigo freic ‘iscipling). nto (= Dai), conspirados uns contra os on- tros 0s componentes das faeces, 0 tirano Pisistrato ocupa 4 cidadela, Como os Atenienses chorassem a (sua) triste es- cravidio, (ao porque éle ({Bsse) cruel, mas porque todo 0 fardo € pesado para os desacostumados), e tivessem comega~ do a queixar-se, entio Esopo referiu uma tal fabiilazinha: As 1s, divagando pelas (suas) livres lagoas, pediram a Jépiter tum rei com grande gritaria, o qual (cei) reprimisse pela f6r~ ‘¢2 0s costumes dissolutos. © pat dos deuses riu-se e deu- “Ines am peqweno madeiro, que, atirado sibitamente aos vaus (E 2s fguas), aterrou a raga medrésa com 0 movimento © ‘cous 0 barulhio, Como éste (madeiro) jazesse por muito tempo ‘mergulhado no Fimo, uma (F3), por acaso, levanta ticitamente a eabeca para fora da lagoa, c, examinado o rel, chama ti das (a8 ris), Aquelas, (de)posto 0 temor, aproximam-se na ‘darido a0 desafio, ¢ a turba insolente salta pata cima do ma~ eiro, Como tivessem sujado (infamado) éste com tdda a e: écie de insulto, enviaram a Jupiter (ris) pedindo outro rei, porque era inGtil © que tinka sido dado. Entio.envioa-thes uma cobra da Agus, que comecou a agatriclas (comé-las) juma a uma com dente cruel, As (eis) fracas (sem arte, im- potentes), em vio fogem A morte, 0 médo fechathes a vor. Por isso, secretamente dio recados a Mercirio para Jépiter, a-fim-de que socarra as aflitas, Entio o deus, em resposta, diz: “porque nfo quisestes suportar o vosso bom (rei), aguien~ tai o mau”. “Vés também, 6 cidadios, diz (Esopo), su~ portai ésté mal, para que ndo venha um (mal) maior. Lavro Perino — 4, 5, 6 uw — 0 grellio orgulhose © 0 pavao Bsopo deu-nos éste exemplo para que néo (nos) agrade gloriar(-nos) com os bens alheios, e para (agrade) antes passar a vida no seu estado. Um gra: to, inchado de vio orgulho, apanhou as penas que tinham ‘caido 4 um pavio, © enfeitou-se. Depois, desprezando 03 seus, risturou-se ao formoso bando dos pavoes. Aquéles arrancam fas penas 4 ave insolente, © afugentam(-na) com 05 bicos. 0 fgralho muito malteatado comegou, entristecido, a voltar para 4 prépria raga, repelido pela qual (rasa), sofren uma triste jgnominia, Entio um certo dentre aquéles que primeiramente tinha desprezado (disse): “Se tivesses estado contente com fas nossas moradas, © tivesses querido suportar o que a na- tureza (nos) eva, nem terias experimentado aquela afronta, nem a tua desventura sentiria esta repulse.” 5 — Um efio levands carne pelo rio / Perde com razio o (bem) préprio (aquéle) que co- biga o alheio. Enquantoum cio, nadando, levava. (um pe- daco de) carne por um rio, via a sua imagem no expelio das fguas, & culdando que outra presa era levada por outro (Cio), ass tirartha; porém a avidez foi lograda e (nio #6) soltou a comida que tinha na béea, nem ainda menos pdde leancar © que desejava. 6 — A vacs, a cabra, a ovelha e 0 leio ‘A alianca’com o poderoso munca ¢ fiel. Esta fabu lazinha atesta a minha assereso, Uma vaca, uma cabrinhs © fama ovellia sofredora de injéria, foram associadas com um [edo nos bosques. Como estes tivessem apanhado um yeado de vasta corpuléncia, feites os quinhdes, 0 leo falow assi Ba tome a primeira (parte), porque sou chamado Scio; dar-me-cis @ segunda, poraue, sou corajoso; entko a terceira 2 ARULAS DE ¥EDRO — 7, 8, 9 seguir-me-d, porque tenho mais férea; seri maltratado, se alguém tocar na quarta (parte)”. Assim, 2 deshonestidade sbzinha levou téda a presa. 7 — As vas para o sol Esopo vit as bodas concorridas dum ladrdo (set) vizinho, e imediatamente comecou a contar. Uma ver, j como 0° sol quisesse casar, as ras. levantaram tum clamor para os astros, Jipiter, muito impressionado com 0 barulho, procura a causa do queixume, Entio uma certa habitante da Jago die: "Agora um s6 (60!) seca todos os lagos'€ obri- ‘ea(-nos a nés), desgragadas, a morrer numa habitagio séca, . | O que sucedera, se eriar filhos?” 8 — A reposa para uma miscara de eed ‘Uma raposa vira por acaso wma méscara de tragédia (0) disse: "O quam grande beleza, (mas) néo tem cérebro!” Isto foi dito para aquéles aos quais a fortuna conce~ dew honra ¢ gloria, (mas) tirou © senso commum. 9 — 0 lobe eo grou © que reclama dos maus o prego dum servigo, peca & | duas vezes: primeiramente, porque ajuda_os indi- gnos; depois, porque j4 no pode retirar-se impune- mente, Como um osto engolido estivesse atravessado na seta dum T0bo, (Este) vencido pela grande dor, comecow @ induzir com um prémio, win apés outros, para que’ The extrals- ‘Sem aquéle mal, Finalmente um grow (fémea) foi persuadido ‘velo juramento ce, conflando o eomprimento do -escoco 2 ‘goels, {2 a0’ 16bo a perigosa operagio, Como teclamasse daqueéle 0 prémio combinado, (0 lébo) diz: “Bs ingrats (tu) ‘que tiraste da nossa (minha) Déca a cabeca fe salva, € { elles recompensa!” zavro primero — 10, 11, 12 13 10 — Um pardal dando conselhos 2. uma Iebre ‘Mostremos em poucos versos ser tolo (loucura) ‘nfo se acantelar a si ¢ dar conselhos aos outros. Um ppardal censurava ums lebre oprimida (apanhada) por uma guia, soltando (a lebre) graves gemidos. Diz: “Onde esti aquela (tua) velocidade conhecida? Porque pararam assim os (teus) és?” Enquanto fala, um gavido arrebata o proprio (pardal) desprevenido, e mataC-o) gritando, num vio queixume, A lev ‘bre semimorta (diz): “Eis aqui a consolagio da. (minha) ‘morte! (tu) que hi poco seguro zombavas dos nossos ma: les, deploras of teus destinos com um queixume semelhante.” 11— © lébo © a raposa, sendo juiz um Quem quer que se tornou conhecido uma vez por uma vergonhosa fraude, perde o crédito, ainda que diga o verdadeiro (a verdade). (Esta) abreviada fabula de Esopo atesta isto, Um lobo acusava uma raposa pelo erime ‘do furto; aquela negava que (ela) estivesse préxima da culpa ser a culpada). Entio © macaco sentou-se (como) juiz en- {re Gles. Como um e ontro tivesse(m) defendide a sua causa, diz-se que 0 macaco proferira a seatensa: “Tu, (l6bo), no pareces ter perdido o que reclamas; ercio, (6 raposa), teres ‘ws furtado 0 que negas lindamente.” 12 —O burro e 0 ledo A caca O destituido de valory ostentando a sua gléria com palayras, engana os desconhecedores, (mas) serve de troga aos conhecidos, Como um ledo qusesse cagar com ‘6 bisrro por companheito, cobriv-o com ramos © ao mesmo tempo aconsethou-(Ihe) que assustasse o: animals com uma vos desacostumada, (para que) éle préprio (leéo) (0s) 2p2 sihasse, figindo, Aqui (entéo) 0 orelbudo leyanta (Sota) sit 4 PARULAS DE FEDRO 4 Ditamente um gurro com tdas a8 fSrcas ¢ aterra os suimais com © novo prodigio, _Enqwanto estes assustados procuram fas saidas conhecidas, io derrubados pelo ataque horrendo flo ledo. Depois que éste se cansou da canificina, chama 0 lasno e manda(-o) eonter a vor, Entio aquéle, insolente, (diz): “Que tal te parece o efeito da minha vor?” Notivel, diz (© lelo), de tal modo que, 30 cx no conhecesse 0 tett va~ for © a (tua) raga, teria fugido com semelhante médo. 13 — veado junto da fonte Esta narracdo faz ver que muitas vézes se acham. as coisas, que tiveres desprezado, mais ateis do que as louvadas. Como um yeado tivesse bebide numa fonte, peroue vin a sua imagem na gua, Ali, enguanto, maravi- Thado, louva os ehifres ramalhudos © censura a demasiada deigadeza das pernas, assustado de repente pelas vozes dos fagadores, comesou a fngir pelo campo ¢ enganou 03 ees com a corrida ligeira, Ento um bosque recebew 0 animal, to qual (bosque) embaragado pelos chifres retidos, comecod a ser dilacerado pelas mordeduras cruéis dos cies. Diz-se fque éle entio, moribundo, soltara esta vor; “0 infeliz de mim! que agora finalmente compreendo como’ me foram fiteis as (coisas) que ea tinha desprezido e quanto de lito (dessraca) tiveram as que eu tinha louvado. 4 A raposa e © carve Aquéle que gosta de ser louvado com palavras as- tuciosas, da (= sofre) castigos vergonhosos com tar- dio arrependimento, Como um corvo, pousado muma alta Ervore, ‘quisesse comer ta queijo roubado duma jancla, a Taposa vi este, depois comecou a falar assim: *O corvo, que esplendor & das tuas penas! Quanta graca ostentas no corn © no rosto Se tivesses yor, menhuma ave seria Superior”, Mas, enquanto aguéle néscio quer mostrar 2 voz, soltou da boca o quiejo’ que a raposa astuta rapidamente LIVRO_PREMEIRO 15, 16 15 agarrou com os dentes vidos, Somente entio (€ que) a es ‘tupider do corvo enganado gemeu. {Com esta coisa se prova quanto pode o engenho; saber vence sempre a férca] 15 — De sapateiro (a) médioo Como um mau sapateiro, pérdido pela pobreza, tivesse ‘comegado a exercer cliniea num lugar desconhecide, ¢ ven- esse um contra-veneno com um falso nome, adquiria para si fama como os seus rodeios palavrosos. Como éste jazesse abatido por uma grave doensa, 0 rei da cidade, por causa de 0 experimentar, pedia uma taga; depois, fingindo que (le) misturava um veneno 20 antidoto daquéte, tendo d ado s6 Agua, mandow beber Aquéle mesmo, tendo-Ihe promie- fido uma recompensa. EntZo aquéle, com 0 médo da morte, confesson que (éle) se tinha feito eélebre, nfo por algum conhecimento da arte médica, mas pela estupidez do. vulgo. Convocada uma reuniéo, 0 rei pronunciow estas (palavras): “De.quam grande loueura julgais vos ser, os quais ndo du- vidais confiar as vossas cabegas a quem ninguém entregott fs pés para serem calcados?” Diria eu com razdo que isto pertencia aquéles cuja loucura é%0 Iuero (Fonte) da desvergonha. 16 — 0 burro a um velho pastor Na mudanca de govérno muitas vézes os pobres nada mudam além do nome do (seu) senhor. Esta pe- ‘quena fabulazinha indiea ser isto wverdadeiro. Um velho ‘mide apascentava um burrinho num prado. Bste, assustado com 0 clamor inesperado dos inimigos, aconselhava 20 burro fugir, para que no pudessem ser apanhados. Mas aquéle tran- fquilo (tranguilamente) (responde): “Pergunto, Pporventura julgas que o vencedor me hé-de pér duas slbardas?” 0 ve~ ‘the disse que no: “Portanto, que me importa a mim quem sitva, contanto que leve a minha albarda?” 16 PABULAS DE PEDRO — 17, 18, 19 17 — A ovelha, o veade © lébo Quando um tratante chama homens maus para se- rem fiadores, nfio deseja regular o assunto, mas au- mentar o mal, Um veado pedia a uma ovelha um moio (ou alqucire) de trig, sendo o lobo fiador. Mas aquela, temendo préviamente © engano, (disse): “0 Iobo costumon sempre roubar e ir-se embora, (c) tu fugir da vista com impeto ve~ oz; onde vos procurarei, quando chegar o dia (do yenci- riento)?”, 18 — A ovelha, 0 cS @ 0 labo Os mentirosos costumam pagar as penas do ma- leficio, Como um cio caluniador reclamasse de uma oveltia tum pao que éle pretendia que the tinha emprestado, 0 13bo, itado (como) testemunha, disse que era devido néo somente jum, mas afirmou (que eram) dez, A ovelha, condenada pelo falso testemunho, pagou aquilo que mio devia. Depois de poucos dias a ovelha viu 0 Tébo jazendo num fojo: *Esta recomipensa da fraude, diz ela, é dada pelos deuses (de cima).” 19 — A eadela de parto ‘As caricias do homem perverso tém consigo cila~ das que 08 versos, aqui postos (seguiptes), aconselham {que evitemos. Como uma cadela de parto tivesse pedido a outra, pata que depusesse a cria na sua casota, obteve (isto) mente; depois dirigin novas preces Aquela que exigia 0 seu lugar, pediado wm breve tempo, até que pudesse retirar fos cachorras mais fortes. Consumido também éste (tempo), comecou a pedir com mais instincia o covil Disse: *Se pu- deres ser igual a mim ¢ & minha gente (multidio), sairei do lugar. LIvRO PRIWEIRO — 20, 21, 22 7 20 — Os céies famintos Um plano estipido nao s6 carece de realizacio, mas também chama (arrasta) os mortais para a des- graca, Uns cies viram uma pele (em coira) mengulhada nium rio, Para que pudessem comé-I, tirada mais faciimente, comecaram a beber a Agua; mas pereceram rebentados, an tes que atingissem o que tinham desejado, 21 — © lefo velho, o javali, o touro ¢ 0 burro ‘Todo aquéle que perden a antiga dignidade, & objecto. de zombaria, até para os cobardes, na sua grave queda, Como wm leko, abatido pelos anos e aban- Gonado das suas fércas jazesse, exalando 0 filtimo alento, lum javali vefo para éle com os dentes fulminantes © vingou ‘com uma dentada uma antita ofensa, Em seguida 0 touro ‘vara 0 corpo inimigo com os chifres infestos, © burro, quan- do vin que 0 animal (feroz) sofria impunemente, qucbrou- Ctl) @ cabega a0s coices. Mas aquéle, expirando, (disse): “'Softi indignamente que 08 (animais) fortes me insultassem. (mas) porque sou forsado a suportar-te, 6 deshonra da natu- reza, cerlamente me parece morrer duas vézes". 22 — A doninha e 0 homem Como uma déninha, apanhada por wm homem, quisesse cvitar a morte imiaente, disses “Perdoa-me, peso, (@ mim) dane te limpo a casa dos ratos daninhos.” Ble respondeu: Se (o) fizesses por minha causa, ser-(me-Jia grato, ¢ teria dado (agora) © perdio a (ti) suplicante. Mas porque trabalhas para que gozes dos festos que éles estfo para roer © ao mes- ‘mo tempo comas os mesmos (rates), nfo. queitas atribuir-me tum vio beneficio”. E, falando assim, entregou « malvada:& morte. Devem reconhecer que isto foi dito para si, aquéles cujo interésse particular serve a éles préprios f ostentam com demasiado impudor um va mereci- mento. 23 — © céo fist © (homem) repentinamente liberal é agradavel aos néscios, porém arma.lacos vos aos experimentados. Como wi ladrio nocturno tivesse atirado um (pedago de) pao a wm ef, tentando se (aquéle) podia ser subomado pela co- ‘ida atirads, disse (0 cio): -"Oli! queres fechar a minha lingua (béca), para que et no ladre em defesa da proprie- dade do mew dono? Enganas-te muito, porque esta sibita bondade manda-me vigiar para que no aleances Iucro por sinha culpa.” 2A © fraco sucumbe, quando -quer imitar 0 poderoso. Umar vin uma vez um boi num prado c, tocada pela in- vyeja de tamanha corpaléncia, inchou a pele rugosa; entéo perguntow a0s seus filhos, se era mais, larga do que 0 boi ‘Aquéles negaram, De novo esticou a pele com maior esf6rco fe perguntou de semelhante modo, quem era maior. Btes dis- sefam (que era) 0 boi, Quando, indignada por fim, quer in- char-se mais fortemente, jazeu com o corpo rebentado, rebentada e 0 boi 25 — Os eaes € os crocodilos ‘Os que déo maus conselhos aos homens cautelo- sos, nfo s6 perdem o trabalho, mas também sio es- carnecidos vergonhosamente. Contou-se (= conta-se) que fos cies bebem a correr no rio Nilo, para que nfo sejam apa- shades pelos crocodiles. Como, pois, um eo tivesse come- fcado a heber, correndo, tum crocodile assim (falou): “Lambe comm vagar quanto (e) agrade; nfo queiras temer”. Mas eauéle Gresponden): “Férlocia, por Héreules (palavra de honre), se feu nfo soubesse que tu eras desejoso da minha carne. LIVRO PRIBUHIRO — 26 — A raposa ¢ 2 cegonha A ninguém se deve fazer mal; se, alguém, porém, (nos) tiver lesado, a fébula aconselha que deve ser castigado, com igual direito, Diz-se que uma raposa con- vidara primeiro uma cegonha para ama cela, e Ihe pusera uum caldo Tiquido num prato chato, © qual (ealdo) a cego- tha, faminta, de mentum modo péd= saborear. Como esta tivesse convidado a raposa, colocow-lhe (diante) uma garrafa cheia de comida migada; cla propria satisfaz-ze, metendo 0 bbico nesta (garrafa), © atormenta com a fome 2 convidads, Como esta (raposa) lambesse em vio o gargalo da garrafa, soubemos que a ave de arvibacio falou assim: “Cada um deve sofrer com igual animo os seus exemplos”” 27 — O céo 0 tesonre eo abutre Esta coisa (narrativa) pode ser conveniente (= apli- arse) aos avarentos ¢ Aqueles que, tendo nascido humildes, procuram ser chamados ricos, Um elo, de- senterrando una ossada humana, encontra um tesoure, ¢, Porque violara os deuses Manes (as almas dos finados), fof Ihe inspirada a cobica das riquezas, para que pagasse 0 ¢a: tigo & santa religizo. Por isso, enquanto guarda 0 ouro, es- Guecido da comida, foi dizimado pela (morreu a) fome; con- fase que um abutre, poisando sdbre aguéle, dissera: “0. io, com razio jazes (aqui), tu que que ambicionaste stbita- ‘mente as riquezas reais; tu nascldo num canto, educado (criada) no estérco.” 28 — A raposa ¢ @ Sguia (Os homens), embora clevados, devem temer os humildes, porque a vinganca esté patente para a ha- bilidade décil, “Uma iguia roubou uma ver 0s cachorros ‘duma raposa © pé-los no ninho 403 (seus) filhos, pare que (os) fomassem como comids. A mie, tendo seguido esta, comega pedir(-the) que nfo trouxesse, a si, infeliz, tamanho luto, 20 “Aquela desprezou, como que segura no préprio lugar. A Fa- ‘posa tirow dum altar uma tocha acesa © envolven toda a &r~ Nore, de chamas, misturande 2 dor da inimiga a perda do Tangue, A guia, para que arrancasse os seus ao perigo da morte, restituis, suplicante, os filhos inedtomes, & raposs. 20 — As ris temendo os combates dos touros Os humildes sofrem, quando os poderosos esto em diseérdia, Uma 1’, vendo duma lagoa um combate de fouros, diz: "Ai! que grande calamidade nos esta iminente! Pergustada por outra, porque dizia isto, visto que aquéles bois vombatam aeérea da primazia da manada © passavam vide longe delas, disse; "A (nossa) morada esté separada fa (nossa) raga é diferente; mas, aquéle que fuzir expulso Go reino do bosque, vir para os esconderijos secretos da fagoa e esmagara com o (sex) duro pé (a més) as caleadas, lAssim, o furor daquéles chegza até a nossa eabecs.” 30 — © milhafre e 05 pombas ‘Aquéle que se entrega a um homem mau para ser defendido, enquanto procura auxilio, encontra a (sua) fina, Como as pombas tivessem fugido muitas vézes do: Inillafee, © tivessem evitado a morte pela rapider da pena (Ee com 0 veo), 0 ladrio volven o sen pleno para a asticis, Cenganoa com tyne tal fraude a raga inerme: “Porque leveis fim teippo (ma vida) inquieto, antes que (= em ver de).me rieis (elegeis — eleger) rei, com uma alianca estabelecida, fq mim) qu vos torne seguras (= proteja) de ‘da a injria? ‘Aquclas, econfiadas, entregam-se ao mifhafres 0 qual, tendo fomado 0 reino, comecou a comé-las uma a uma © @ exer cero poder com as unhas eruéis. EntZo uma das que resta- Sem (diz): “Com razio somos castigadas, (nés) que con- fiimos a vida a ste (= tal) lado. IM DO PRIMEIRO LIVRO ie LIVRO SEGUNDO 31 — O autor © género (literério) de Esopo esti encerrado em exemplos, nem outra coisa qualquer se procura por meio das fabulas, sendo que se corrija 0 érro dos mortais € (que) a actividade cuidadosa se aperieigoe, ‘Qualquer, pois, que tenba sido o lugar (a matéria) de aar- rar, contanto que captive os onvidos © conserve 0 seu pro= pésito, recomenda-se pelo assunto, nao pelo nome do autor. Na yerdade, com todo o cuidado guardarei 0 costume do vyelho; mas, se me agradar intercalar alguma coisa, para que ‘a variedade destas palavras daleite os sentidos (os ouvides), desejaria que ( leitor, recebas & bos parte (a bem), assim, contanto que a brevidade (a concisio) recompense aquela henevoléncia. Para que o elogio desta nio seja verboso, atende, por que deves negar a0s cobigosos, (0 que pedem) (¢) também oferecer aos moderados, 0 que no houverem pedido, 32 — O bezerro, o lefo ¢ 0 Indra ‘Um Iefo estava sdbre um bezerro prostrado. Tnterveio wm fadrio de estrada, pedindo uma parte. “Dar-ta-ia, disse (o eGo), se nfo costumasses tomi(-la) por ti”; ¢ repelia o mal yado, Um viandante inofensivo foi Jevado fortuitamente 20 mesmo (lugar), c, vista a Sera, chegow atrés (= reeuou) 0 PABULAS Dx FEDRO — 33, 34 b& Ao qual aquéle (Jefo) sossegado, dizi “Nio ha por que femas, ¢ tira afoitamente a parte que € devida & tua modera~ io". Entio, dividido o dorso, demandon as selvas para que esse aproximacio ao homem. Exempla sem divida notavel © lowavel; porém, a cobica € rica e o acanhamento & pobre, 33 — Esope para um certo (homem acérea do éxito dos maus ‘Um certo (homem) feride pela mordedura de wm cio fu rioso, langou ao malfazejo um (pedaco de) po tinto de san~ tue, coisa (= 0) que otvira dizer ser 0 remédio da ferida, Entko Fsopo assim (faiou): “Nao quelras fazer isto na pre- senga ‘de muitos efes, para que no nos devorem vivos, ‘qvando souberem ser fal 0 prémio da culps.” Q born éxito dos malvados atrai muitos. 34 — A dguia, a gata eo javali ‘Vina guia fizera o ninho no alto de um carvatho; ema gata deta A Itz no meio” (do carvatho), tendo encontrado fuma cavidade; uma fémea de javali, habitante dos bosques, tinha posto a cria jonto do tronco. Entio a gata destruit fassim pela frande © pela sua malicia celerada éste convivio asa Trepa a0 inho da agwia e diz: “Uma desgraga esti preparada para ti ¢ talver também para mim, infeliz, Por- ‘qvanto, porque vés (= 0 veres) 0 javali cavar a’ terra todos ‘os dias, 0 insidioso quer deitar a terra 0 carvalho para que acilmente oprima to cho a: nossa prole." Espathado o ter- ror e desvairados os sentidos, a gata desceu ao covil do. ja- vali cerdoso, (e) diz: “Os teus filhos estdo em grande peri 150; porquanto, logo que tiveres saido pastar, com o tetr0 Febanko, a guia esti preparada para te roubar os poraui- hos.” Depois que enchen de temor éste Iugar, também a fastula se eseonde na sua cavidade segura, Em seguida, va- Layao szcuNpo — 35 23 *aueando de noite com 0 pé suspense, quando se encken de slimento © & sua prole, simulando pavor, espreita todo 0 dia. A Aguia, temendo a queda, est pousada nos ramos; 0 ia- val, evitando s rapina (dos filhos), néo sai fora. Para que (izes) suites (coisas)? finaram-se de inanigio com as suas (crias) e forneceram largo pasto & gata e 20s seus gatinhos. Quanto de mal prepare muitas ézes um homem bi- lingue (com doblez de cardcter) a credulidade nés- cia pode ter como prova. 35 — César para um atridrio Ha em Roma ama certa raga de buligosos, correndo apres- sadamente, ocipada na ociosidade, cansando-se gratuitamen- te, nada fazendo, mexendo-se muito, molesta a si mesma ¢ odiosissima aos outros. Quero corrigir esta (saga), se, todavia, eu (puder) posso, com wma narracio verdadeita; 0 custo do ‘trabalho & prestar atengdo. Como Tibério César, dirigindo-se 4 Népoles, tivesse vindo para a sua casa de campo de Mi- send, @ qual, coustruida pela mio de Liiculo no alto monte, otha’ para omar da Sicilia e vé a seus pés o mar da Tos cana, um das escravos do trio, de cinta levantado, © qual tinka a tisica colta desde os ombros com uina banda de Ti sho de Pelisio, com franjas pendentes, andando 0 seu se- whor a passear pelos jardins verdejantes, comecou a borri- far, com um balde de madeira, a terra escaldads, ostentando lum obséquia cortés, mas & mofado. Depois, por caminhos ceurvas conhecidos, corre para outra vereda, fazendo cair a potira. César conhece @ homem © pereebe a ascio. Como jnlgon aguilo ser nfo sei o qué de bom, 0 senhor diz: “O16!” ‘Aquéle, na yerdade, acode de um salto, alegre com 0 desejo uma gratifieacdo certa, Entio a majestade de téo grande principe divertin-se assim: “NEo fizeste muito ¢ o teu tra- batho perecen em ¥80} as bofetadas vendem-se comigo por muito mais caro”, | | 24 PABULAS DE_FEDRO — 36, 37 36 — A dguia e a gratha ‘Ninguém est suficientemente défendido contra os poderosos; se, porém, um conselheiro maléfico se veio juntar, ruiu tudo aquilo que a férca e a maldade atacam, Uma Aguia levantou uma tartarga para 0 alto Como esta tivesse escondido © corpo na casa crea, nem, escondida, padesse ser ferida dé modo nenhum, uma gralha veio pelo at e, voando perto, (diz): “Arrebataste com as gua as uma presa sem divida excelente; mas se eu no te ver mostrado 0 que deve ser feito por ti, em vio te fatigaré com. seu grave péso.” Prometida uma parte, aconselha-a a ‘que quebre dos altos astros s6bre um rochedo a concha d- 72, despedagada a qual, se alimente facilmente com a comi- da. A guia, induzida por estas palaveas, obedecew 0s con selhos © logo dividin fiberalmente a iguaria com a mestra Assim, aquela que f6re protegida pot um dom da natureza, desigual (= inferior) as duas, morrew de morte desgracada, 37 — Os dois. machor © oc ladrdes Dois machos iam carregados com bagagens; um levava ccestos com dinheiro, o outro sacos abarrotadas de muita ce- vada. Aquéle, rico com 2 carga, esti sobranceiro com a ca- bega Ievantada, e sacode’ com © pescogo um guiso sonore, (© companhciro segue-o com passo ranquilo © sossegado, De sibito wns TadrBee vém dma emboscada c, no meio da carnifi 1, ferem com um ferro 0 macho, roubam a8 moedas, (©) desprezam a vil cevada. Como, pois, © macho, despojado, chorasse as suas desgragas, 0 outro die: “Na verdade folgo ‘gue eu tenba sido desprazado, porque nada perdi © néo fui maltratado com ferida.” Com éste argumento est segu- ra a pobreza dos homens; as grandes riquezas estio expostas 20 perigo. avro sugUNDO — 38, 39 25 38 — © veado junto dos bois Um veado, enxotado dos esconderijos dos bosques, para ‘que evitasse a morte iminente dos cacadores, 6 seu payor cego (= cego de pavor) para uma quinta pré- xima e escondeu-se num estibulo oportune. Aqui um boi Wse quiseste para ti, 6 deseracado, que espontinesmente correste para a morte, € confiaste a vida ao tecto dos homens?” Mas éle, suplicante, disse: “Pou- pai-me ves, somentes as altemativas da noite sucedem a0 espago do ‘dia, sairei novamente, oferecida a ocasie, boieiro traz a folhagem, por isso nada v&. Depois todos os campinor vio © vém, singuém repara: 0 easciro passa tam- bhém, nem éle deseabre algum coisa. Entio 0 animal satis- feito comegow a agradecer aos bois pacatos por the terem dago hospitalidade num tempo adverse. Um (boi) respon- deus “Desejamos, na verdade, que tu estejas salvo, mas se Gisse) 20 escondido: vier aquéle que tem cem olhos, a tua vida volver-se-i em grande perigo, Entre estas coisas, 0 préptio dono voltou da cela, porgue tinha visto h& porco os bois delgados, aproximou-se do estébulo: “Porque hi pouca folhagem? Faltam (palhas para as) camas? Que trabalho & tirar estas teins de aranha?” Enquanto examina as coisas uma por suma, vé também os elevados chiires do veado; convorada a ceriadagem, ordena que éste seja morto ¢ leva a press. Esta fébula mostra que o dono vé muito (mais) nas suas 39 — A estétua de Esopo Os atenienses erigiram uma estitua ao génio de Esopo © colocaram o (= éste) eseravo sobre um pedestal para que (os homens) soubessem que o caminho da honra esta aberto para todos, ¢ a gléria ndo é dada ao nasci- mento, mas sim virtude, Porque outro (anterior) tinks Impedide que eu Sés8¢ 0 primeiro (homenageads), procure, fo que me restow, aue dle nfo estivesse £6: nem esta € (foi) 26, PABULAS DE PEDRO — 40 inva, mas emulagio. Porém, se 0 Licio for favorével a0 meu trabalho, tera mais (autores) que oponha & Grécis. Mas, se a Javea quiser criticar 0 trabalho, no roubari, todavia, 2 consciéneia do louvor (merecido). 40 — © autor Se 0 nosso élo chega aos teus owvidos © 0 teu espirito saboreia fabulas fieticias com arte, a (minha) felicidade re move (afasta) todo 0 queixume. Porém, se o meu douto tra- batho vai ter com aquéles que a natureza esquerda (infansta) trouxe a tz, nem podem qualquer coisa, senfo censurar os melhores, suportarei com 0 coragio endurecido a desgraca fatal, até que a Fortuna tena vergonha do.seu crime. FIM DO SEGUNDO LIVRO LIVRO TERCEIRO 41 — Fedro a Eutico Se deseias let os livrnhos de Fedo, & necessério, Fut co, que estejas livre de nexécios, para que o teu espitito yee sinta 0 vigor da (iinha) poesia. “Porém, dizes, o tox talento azo (6) de tanto (valor) para que um momento de ‘uma hora peresa para os teus deveres”. Nio é, pois, motivo para isto, que nio convém a ouvidos ocupades ser tocado elas twas maos. Dirés talves: “Virdo algumas férias que me chamario ao estudo com 0 espfrito livre”. ?Porventara te- ris tu, pergunto eu, umas bagatelas insignificantes, antes que empregues cuidados no govémo da (tua) casa, resti- tues aos amigos os. tempos (perdidos), dés atensio a tua mulher, repoises 0 espirito, dés descanso a0 corpo, para ave cumpras com mais vigor a ver (a tarefa) costumada? O fim € 0 género de vida deve ser mudado por ti, se pen- sas transpér 0 limiar das musas, Ex, a quem (minha) mie dew i iuz no cimo do monte Pitrio, no qual a divina Mnemésine, nove vézes fecunda, dew & luz, para Jépiter to- ante, 0 ¢6r0 das Artes, embora ea tenha nascido na prépria escola de Febo, © tenha arrancado do corasio inteiramente © cuidado de possuir, © me tenka dedicado a esta vida, con- vidado pela sléria nfo forcada, todavie, sou recebido des denhosamente na companhie (dos poetas). Que crés. tu acontecer aquéle que procura com iéda a vigilia acumtlar grandes riquezas, preferindo um lucro agra davel a um trabalho douto? Mas ji (= enfim) seja 0 faue 191, como disse Sindo, quando foi levado ao rei da Dar- ‘nia, tfacarei 0 tercciro livro no estilo de Esopo, dedican flovo A tua honra ¢ as teus servicos. Se leres éste, folgarci; porém, se menos (= 0 nio leres), os vindouros certamente tero com que se deleitem. ‘Agora ensinarei abreviadamente por que foi inventado, © género das fabulas, A escravidio exposta, porque no ousava dizer o que queria, Ievou os seus senti- mentos proprios para as fabulas ¢ iludiu a dendineia com gracejos fingidos. Ora pelo caminho daquéle (Eso- po) et fiz 0 caminko e pensel. mais coisas do que le det ra, escolhienda algumas para (as aplicar) & minha desgraca. Porém se outro acusador, se outta testemunha, enfim outro jie, além de (= exceptuado) Sejano, existisse, confessatia que feu era digno de tamankos mates, nem aliviaria a (minha) dor com. estes remédios. Se alguém errar na sua suspeicéo, ¢ le- var para si.o que seré comum de todos, loucamente revelara 4 conseiéncia da sua alma, Quereria, todavia, ser descupado fhara com éste, pois nem eu tenho intencio de apontar indi viduos, mas sim mostrar a propria vidae costumes dos ho riens, Dirg, talvez, algném que eu empreendi um trabalho pe~ sudo, Se 0 Prigio Bsopo, se Anacdrsis da Citia pode (pude~ ram) eriar com a(s) seus) génio(s) fama imortal, ex que estou mais perto da Grécia letrada, porque abandonarei_ mum sono inerte a hora da pitria? quando a nacio da Tracia conta os seus eseritores e Apolo é 0 ppi de Lino © Musa (@ a mac) de Orfeu, que mover as pedras com o sew eanto © domo ‘9s animais ferozes e deteve com uma suave demora os {m- petos do Habro? Por isso, Inveja, afasta-te daqui, para que nfo gemas em vio, porque me & des (costumada), Induzicte a ler; peso-te que me dés uma opi- nifo sincera com a conhecida frenqueza. ia uma gldria solene 42 — A velba para a anfora iada, que ‘espathava ainda 20 longe um suave aroma de bérra (vinho) de Falemo © do nobre (excelente) barre. Depois que a s6- frega aspirou, com todas as (a plenas) narinas, (disse): “O suave aroma! que bem direi ter estado antes de ti, visto que 10s restos. so. tais DI” Quem me coshecer, dirk a ‘que alude ist. ‘Uma velha vin estar no chio uma anfora x 43 — A pantera e os pastores Igual recouhecimento, costuma ser dado pelos des- prezidos, Umma pantera cait una. ver inprufentemete ma cova, Uns camponeses virm(na); une amontonm Pats ontvos carregam(na) de. pedras; algun, pelo contrde Fo, compadecios da qie ia morrer certamente, ainda que ingutim a frie ataram-ie' (um petago de) po para que frlentasre o alento, -Sobreveio a aolte; vBovte euborese- aos para casa, como havendo de encontrrla morta no dia fequnte.Porém ela, logo que res as frees enfraquecida, Thertowse da. cova comn uit salto veloc © aprestase como asso acclerado para 0 seu cov, Decorrides poweos aMie-se pela frente, tracida 0 pao, mata oF prdprioe pasto- es 6, devatendo tOdas at colss, efurecnse com ada i= Petosidade, Ent¥o os que tinha. poupado a fer, temendo ‘por’ si, no recusam o dano (do gado), pedem somente pela via, “Mat ela (Gi): “Ex lembromme Ge quem me atacou ‘com pedras(#), (e) de. quem me doa po; vée dela! de te- para aquéles que me feriram. 44 — O cortador e ¢ macaco Um certo (homem) viu que um macaco estava dependu- rado a porta dum camicsiro (num agougue), entre outras mercadorias © comestiveis; perguntou a que saberis. Entfo ‘0 cortador, gracejando, disse: “Garante-se que o sabor & tal PARULAS DEF qual a cabeca”. Julgo que isto foi dito mais por graccio do que por verdade; visto que por um lado tenho encon- tados muitas vézes (homens) formosos (que sio) pés- simos, ¢ por outro lado tenho conhecido muitos de semblante feio (que so) dptimos. 45 — Esope e o petulante 6 a desgraca, Um certo petwlante atirara uma pedra a Esopo. Disse: “Tanto me- thor!” Em seguida dew-the um asse, (e) prosseguiu assim “No tenho mais, palavra de honra, mas mostrar-te-ei onde: possas receber (mais); eis ai vem um rico © poderoso; atira fgualmente uma pedra a éte ¢ reeeberés um prémio digno.” ‘Aquéle, persuadido, 422 0 que foi aconselhado; mas a espe~ anca enganou a impudente audicia; porquanto, sendo pre- 0, pagou 2(s) culpa(s) ma eruz. 46 — A mésea e @ mula ‘Uma mosca poison no temo ¢, censurando a mula, diz “Quam vagarosa és! ndo queres andar mais depressa? Tem emutela que ndo te pigue ex © peseoso com 0 ferric” Aquela respondent: “ ras temo aquéle que, sentado no assento da frente, governs fio me mova com as tuss palavrass (© met jugo com flexivel chicote e me refreia as) béea(s) fcom espumantes freios. Por isso, defxa a tua frivola inso~ Tincia; eu sei onde se deve parar © onde (quando) se deve carrer.” Por esta fabula pode certamente ser escarne- cido aquéle que sem valor faz vas ameagas. 47 — O lobo para 0 cio Direi brevemente, quam doce é a liberdade, Um abo, abatide pela magreza, encontrou-se casualmente com jum edo bem alimentedo, Depois, logo que pararam, sat- dando-se um a0 outro: “Pergunto-te, (disse o l0bo), donde =] Laveo TERcEIRO — 48 3h (provém) (que) assim estejas nédio? om com que comida fi- zeste tio grande corpuléncia? Eu que sou muito mais forte, morro & fome". © cio com singeleza: “O mesmo pacto te facultado, se é capaz de prestar igual servigo a um do- no". "70 qué, diz éle, que sejas o guarda da porta e defen- das a casa dos ladroes, durante a noite?", Ea, na verdade, stow preparado; agora suporta as neves © a3 chuvas nos ‘bosques, arrastando uma vida spera; quanto mais facil € ata mim viver debaixo de tela © saciar-me, (a mim) ocio- s0, de abundante comida!” “Portanto, vem comigo". En- quanto caminham, o lobo vé 6 pescoco dé co limado pela cadeia. “Donde (provém) isto, amiga?” “Nao é nada”. “Dize, peso-te, todavia". “Porque ‘parego fogoso, prendem-me du- ante © dia, para que ew deseanse com a lve, ¢ vigie quan- do vier a noite; solto 20 erepisculo, vagueio por onde me parece, © po é&me langado espontineamente; 0 dono dix wine os ossos da sua mesa; a criadagem langa(-me) peda- 508, © cada um a iawaria que enfastis. Assim o meu esto- mago se enche sem fadiga”. “Otha li, se te apetece ausen- ‘ar-te, hd Tieenga.” Diz: “Nio, completamente”. “Goza tt, 6 edo, as coisas que lowvas; néo quero reinar, desde ‘que no seja livre para mim”. | 18 — Aim e 0 irmio Aconselhado por éste preceito, examina-te mnuitas vézes, Um certo (homem) tinha uma filha muito feia eo mesmo (tinha) um filho notivel pelo belo rosto. Estes, brineande pucritmenie, viram por acaso um espelho, como foi posto na cadeira da mie. Bste gaba-se (de ser) formoso; aquela zanga-se, nem suporta os gracejos do. irmio, glo. ando-se, como quem tomava tudo como injitia, Corre, por- tanto, para o pai a-fim-de ferie por sua yer (0 irmio), ¢ com grande rancor acusa 0 filho, porque, tendo nascido homer, focou num objecto das mulheres, Aquéle (pai), abragando ‘um e outro, © colhendo beijos, © repartinds por ambos © doce amor, disse: “Quero que vés useis do espelho todos 32 PAgULAS DE FxDRO — 49, 50, 51 os dias; tu, para que nZo.corrompas a beleza cont os Vicios da maldade; tu, para que vengas esta(s) face(s) com 0s bons costumes. 49 — Sécrates para os amigos O nome de amigo é vulgar, mas a lealdade é rara. Como tivesse construido para si uma pequena casa, Sécra- fen (euja morte eu néo evito, se alcangar a fama déle © re- Senome A emulagdo, contanto que seja absolvido em cin~ se (2 depois de morto), no sei quem do povo, como cos Tama suceder (disse a Séerates): “Pérgunto-te, (tu) um bo~ mem tal, constrois uma casa tio pequena?” Dizi “Oxali tua encha esta (easa) de verdadeiros amigos.” 50 — © frango para uma pérola Enquanto 0 fiho de uma gelinka 9 frango)_procura comida numa estrumeira, encontrou uma pérola, Diz: “Ja see mum lugar indigno, tt, uma coisa de tanto valor!” “Se Ziguém, desejoso do teu valor, tivesse visto isto, hé muito ferias voltado para o antigo brilho. Porque te encontsel ey a Guem a comida € muito mais preferivel, nem 2 ti pode ser Gu, nem 2 mim qualquer coisa. Conto isto aquéles que me io entendem, (= Deitar pérolas a porcos). 51 — As abelhas © os zingios, sendo juiz a vespa umas abethas fizeram os favos no alto de um carvalhoy cos zingios inestes diiam que estes (favos) eram seus. A Gendéncia foi levada para o tribunal, sendo jniz uma vesps. Como esta conecesse findamente uma ¢ outra familia, pro~ pos as duas partes esta decisio: “O corpo nfo & disseme~ Thange ¢ a cér igual, de tal modo que © assunto com ra- ‘tio cai intelramente em diivide. Mas, para que a minha cons fo pegue itreflectida(mente), tomai os corticns © LIVRO TERCEIRO colocai mel nos alvéolos, para que pelo sabor do mel ¢ pela forma do favo, apareca, o autor déstes, dos quals agora se trata.” Os zingios rejeitam; 2 condicéo agrada as abethas. Entio aqucla (vespa) dirimiu a questio com esta sentenga “Esta manifesto quem o nfo pode (fazer) e quem 0 féz. Por- tanto, restituo As abelhas o seu fruto (trabalho).” Eu teria ‘omitido em siléncio esta fabuls, se os zingios no tivessem recusado 0 contrato pactuado. 52 — Acérea do jégo ¢ da severidade Como um certo ateniense tivesse visto Bsopo jogando as rozes, em um grupo de rapases, paroul © rhinse como de tn fouco, Logo que o velho (Esopo), antes excsenecedor do que digno de ser esearnecido, vin isto, Ss um arco afrosxado no meio do cattinko, (@) disses “Ol, sibio, explica 0 que fiz,” Aqutle inguieta-re por moto tempo, nem compreendew a causa da pergunta feta, Finalmente dé-se por vencido. tio o sibio, vencedor (disse): “Depressa partirés 0 arco, se o tiveres sempre retesado; mas, se 0 affousares, seri ‘ti, quando quiseres”. Assim, deve dar-se algumas vézes recreio ao Espirito, para pensar melhor, logo que vol- te a ti (para pensar). 53 — A cigarra e a coruja Aquéle que nao se presta 4 complacéncia de ou- trem, sofre muitas vézes 0 castigo do seu orgulho. Uma ‘eigarra fazia um insupertével barulho a wma corujs, acostumada a procurar nas trevas a sua alimentagio © a to- mar o sono durante o dia num eseavado tronco. Foi roga- da, (para) que se calasse. Comecou a grita muito mais for- temente, Novamente feita uma prece, estimulowse mais. A coruja logo que viu que nenhum auxilio havia para si, e que fas palavras indteis eram desprezadas, interpelou a faladora com éste ard: “Visto que as tuas melodias, que ta julgas soarem como a eftara de Apolo, nio me deixam dormir, té- 34 RABULAS DE PEDRO my niko tengo de beber © néctar que Palas hi pouco me deus fe nao fens fastio, vem; bebamos juntamente.” Aquela, que ardia em séde, logo que.conheceu que a sta voz era Jouva- da, voou avidamente. A coruja, saindo da cavidade, perse- ‘guava (Aquela) assustada e entregou-a a morte. Assim, sen- ido morta, concedes aquilo que negara viva 54 — As drvores ma proteccio dos deuses Os deuses escolheram um dia as Grvores que queria ave cestivessem sad a sta protecgio. O carvalho agradou a Ji- biter, mas a murta a Véous; o loureiro a Febo, 0 pinheiro 2D Cibele, © 0 clevado choupo 2 Hércules, Minerva, admiran- lowe, perguntouCes) porque escolhiam (Grvores) estéreis, Séoiter disse como causa: “para que nfo parecamos vender a honra pelo fruto.” Mas, por Héroules, alguém dira o que ‘guisen, (disse Minerva), @ oliveira é-nos mais agradével por Causa do-fruo.” Entio 0 pai dos deuses e semeador dos ho~ mens assim diz: “O filha, com razdo tu és chamada sibia por todos. Se nfo ¢ util aquilo que fazemos, ¢ va a gléria”. A fabulazinha aconsetha a no fazer nada que fo seja atl 55 — © pavao para Juno acérea da voz Um pavio veio para Juno, suportando indignamente que the néo tivesse dado os cantos do rouxinol, (dizendo) que aquéle era admirado por tédas as aves, (e) que éle era escar- hecido logo que soltava a vor. Entio a deusa, por causa de (© consolat, disse: “Mas excede(lo) na beleza, excede(-to) hha geandeza; 0 esplendor da esmeralda brilha no ten pes- ‘loco, & desdobras uma cauda esmaltada de penas pintadas.” Diz (o pavio): “Para que me serve uma beleza muda, se son veneida na voz?" “Por yontade dos destinos vos foram dados os dotes; 2 ti 2 beleza, as férgas 8 aia, 2 melodia a0 rouxinol; 0 agouro ao corvo, & gralha os pre~ ségios sinistros; © tOdas esto contentes com os préprios do~ _ Liveo TERcKIRo — 56, 57 35 tes. ‘Nao queiras ambicionar o que te nao foi dado, | para que a enganosa esperanga nio recaia em quei- | sume 56 — Esopo responde a um palrader | Como Esopa fdsse o iinico criado para o seu senhor, foi mandado preparar ceis, mais cedo. Procurando, pois, 0 fogo, percorrew algumas casas, e ericontro finalmente onde accn- desse a luz, Entio tornon mais curto caminko que f6ra mais longo para éle a volta (procurando fume); porquanto, comegou a voltar (para casa) em linha direita através da pra- ca. Mas tm certo palrador da msltidio; “O Esopo, que (fa- zes) tw com uma Ins, estando o sol em melo (dia)?" Diz (Esop0): “Procuro um homem,” apressando-se, foi para asa, Se aguéle importano aplicou isto a0 espitito, cer~ tamente compreendeu que éle, que intempestivamente tisha escarnecido do ecupade, nio pareceu komem ao velho, 57 — O poeta Restam-me coisas que eu escreva mai, lente, omito-as, Primeiramente, 6 Entico, para que te nfo parega demasiado Smmportuso a ti, a quem a variedade de muitas coisas aperta; depois, se alguém fortitamente quer tentar as mesmas, para que possa ter alguma coisa de trabatho que reste; ainda ‘tue abunde to grande quantidade de matéria, que falta 0 ar- tista para 0 trabalho, (¢) nfo @ trabalho para o artista. Peo aque dés & nossa brevidade © prémio que prometeste: mostea- : ste ficl & palavea, poraue a vida todos os dias esti. mais proxima da morte, ¢ tanto menos do tex beneficiochesa- 4, quanto a demora consumie mais tempo. Se cumprites @ coisa (a promessa) apressadamente, © uso se tomaré mais fongo; ‘ruirei por mais tempo, se mais rapidamente tiver comecado, enquanto existem alguns restos de vida cansada, bi lugar para o ausilio; um dia a tua bondade esforcar-s Valdadamente por me ajudar abil (enfraqueso) peta velhig, ee 36 PAnuLAS pa FEpKo — 57 auando tiver deixado de ser Stil © beneficio © a morte, prd~ Sima, exigir a divida, Jelgo Toncura fazer-te pedidos, quando Copostincamente a miserieSrdia est inclinada (ao bem). Mui~ tas vezes o réu abteve perdao, tendo confessado Guanto mais justamente deve (0 perio) ser dado a um ino- Mate? ésse 0 tee papel; depois, por uma vicissitude se- relhante, chegarfo as vézes de ostros. Decide 0 que sofre 1 eonseiéncia, o que permite a 6, © (faz) que ex scja defen- ‘dido gravemente com o tex juizo, O meu espirito ultrapas- sou o terme, que se propés; mas dificultosamente se con fem o espirito, o qual, cOuscio da sincera integridade, opri- fide. pelas insoléncias dos maus. Pergunterds quem sejam; fapareceeZo com o tempo, Es, enquanto o meu juizo se con~ Servar, recordarei perfeitamente a mixima que em rapaz It outrora: “"H um crime para o plebeu murmurar publi camente”. FIM DO TERCEIRO LIVRO \ | amet LIVRO QUARTO 58 — O poeta « Particuléo Como eu tivesse resolvide pér térmo & obra com esta (ten- elo) para que houvesse bastante matéria para os outros, con- denei no coracio silencioso o meu designio, Poravanto, se alguém hi (= houver) também desejoso de tal gléria, de que modo deixar de apurar o que terei omitida, para ‘que le deseje entregar isso mesmo & fama quando uma cons cepcao de ideas ¢ um estilo préprio existe-para cada qual? . Portanto, nfo 0 capricho mas uma razio sélidas_ me dew a causa de escrever. Por isso, 6 Particulfo, visto que te deleitas com as fabulas, (a que chamo Esépias, (€) nio de Esopo, porque éle mostrou poncas, e ett trago (escrevo) ina ts, servindo-me do género antigo, mas de coisas novas), quando houver vagar, Jers o quarto livrinko, Se a mal gnidade quiser censurar éste, & Hicito que o critique, con- tanto que no possa imité(-lo). A gléria esté adquirida para mim, visto que tu € visto que os semelhantes a ti tras- Jadais as minhas palavras para os vossos escritos, e me juke gais digno de tongas recordagées. Nao desejo um aplatso iletrado. 59 burro e os Galos (sacerdotes de Cibele) O.que nasceu infeliz, nfo s6 passa uma vida tris. te, mas até depois da morte o persegue a dura inisé. PApULAS DE FEDRO — 60, 61 tia do destino, 03 Galos (sacerdotes de) Cibele costuma- vam evar para os peditérlos um burro que trazia as exr~ gas, Como éste tivesse sido morto com 0 trabalho © com fs cargas, titada a pele, fizeram para si tambores. Tnterroga~ los depois por um certo (homem) (s6bre) o que tinham feito 20 seu Delicio (nome do jamento), falaram déste modo: “Julua- ya que éle depois da morte havia de estar seguro (descan- Eada); (@as) eis que outras pancadas so dadas a0 morto” 6) — O poeta Parece-te brinear(mos) e, na verdade, brincamos com 2 4 pena eve, enquanto nfo temos nada maior (mais impor- ante); mas observa diligentemente estas ninharias: Quam grande utiidade encontraras debsixo dels! Nao sfio sem- pre (as coisas) aquilo que parecem} a primeira ap: Féncia engana a muitos; um espirito raro compreen- de aquilo que 0 trabalho (do poeta) esconden num recanto interior, Para que nfo julewe que ett disse isto fom razio, ajuntarci wma fébulazinha Acérca da dninba © dos rates. Como uma ddninka, enfraquecida pelos anos © pela Yethiee, no pudeste 4 aleangar os ratos yelozes, exvolve- vSe em farinha © colocou-se negligentemente. nam Sugar es cure. Um rato, julgando que era comida, saltou 6, apanha- ‘do, swcumbin A morte; outro (pereceu) de semelnante modo, depois também um terceiro; seguindo-se outros, cia tam- ‘ém um matreiro (pelos anos), © qual tinha evitado mutes ‘yézes lagos ¢ ratociras; c, vendo de longe as ciladas do as- tucioso inimigo, die: “Assim tenhas sade, como és fa- rrinha, (lst) que jazes ail” 61 — Acérea da repose oda uv} ‘Uma raposa, obrigada pela fome, 20 do com todas a8 reas; como no pode atingir aquela (wv), afastando-s¢, disse: “Ainda no esté madura; of quero Livro ovat 62, 63 comé-la verde". Os que deprimem com palavras aqui las coisas que nfo podem fazer, deverdo aplicar a si éste exemplo, 62 — O cavalo eo javali Enquanto wm porco mont8s se revolve, turvou 0 vat com onde) um cavalo estava acostumado a mitigar a séde, Dagui nasceu uma contends. Q animal de pés sodantes (= 0 cavalo), irade contra a fera, pediu o auxilo do homem que, cenguendo no dorso, voltou (levou) para © inimigo. Depois, ‘que 0 cavaleiro matow éste Gaveli) com dardos arremessa- los, diz-se que falow assim: “Folgo que eu tenha tevado- auxilio as twas preces, porque tomei uma presa ¢ aprendé quam Gtil és." E assim obrigou(-o) a, suportar 03 freios con- tra a vontade, Entio aquéle (cavalo), entristecido, (diz): “Enquanto eu demente procuro a vingauga duma pequena ‘coisa, encontrei a eseravidio”. Esta fibula aconsetharé os. iracundos a sofrer antes’ impunemente do que a en- tregar-se a outrem, 63 — Combate dos rates ¢ das déninhas Como os ratos, cuja histéria até nas tabemas se. pinta, vencidos pelo exéreita das ddninhas Sugissem © corressem precipitadamente em volta dos sens buracos apertadas, reco- Ihidos dificultosamente, evitaram, todavis, a morte. Os che- fes daquéles que tinham ligado’ chifres (penachos) as. sas cabecas, a-fim-de que tivessem no combate um sinal visivel, ue 0s soldados seguissem, fieeram presos nas portas © fo- ram apanhados pelos inimigos; o vencedor entertou-o8 20 infernal abismo do insaclével Ventre, imolados pelos seus dentes vidos. Qualquer que seja 0 povo que um acontecimento funesto oprime, a grandeza dos chefes corre perigo; © povo miudo esconde-se em abrigo facil ee 40 A 64 — Fedro ‘Tu, “narinanga” (zombeteiro), que deprimes os meus es- ciitos e te enfastias de fer éste género de gracas, suporta o livrinho com um pouco de paciéneia, enquanto aplaco (de~ senrugo) a severidade da tua fronte, © Esopo aparece em co- turnos (estifos) novos. Oxali que © pinheiro da Tessie runca tivesse caldo a golpes de machado no cume do bos que de Pelion *, mem Argos, para o audacioso caminho de morte prometida, tivesse construido com o auxilio de Palas ‘ema embarcagio que (Foi) a primeira que franqucow as en~ seadas do inhéspito mar, para desgraca dos grezos e dos ‘barbaros! Porquanto, nio sa familia. do soberbo Eetes chora, como também os reinos de Pélias jazem por terra com ‘6 crime de Medes, encobrindo de varios modos 0 seu caréc- ter crucl, dali efectuos a fuga pelos membros do seu iemio, ‘aqui manchou as mos das flhas de Pélias com a motte do pai, Que te parece? “dies que também isto & insulso dito com falsidade: porque Minos muito mais antigo subjugou com tuna armada 9 mar Egeu ¢ vingou com justo castigo o {mpeto (dos inimigos)". Por iss0, 0 que te posso fazer, Ieitor Ca~ ‘io, sem nem as fabulazinhas (03 apélogos) nem as fébulat grandes (tragédias) te agradam? No queiras ser inteiraménte importino as letras (20s letrados), para que te nio causem maior enfaio. Isto foi dito para aquéles que pela lou- cura desdenham ¢ eriticam o céu, para que se julgue que sio sabios. 65 — A vibora &-umroficial-de-ferreiro © que com dente mordaz ataca um mais mordaz, sinta que (ée) & pintado neste conto, Ums vibora vei pare a offeina de wm ferreiro, Como esta examinasse Alea expodiie dos Argonauss, Luvno_ovanto — 66, 67, 68 41 ‘via alguma coisa de comida, mordou uma lima. Aquela (lie ma) contumaz, diz: *Louca, porque (me) tentas ferir com 0 dente 2 mim que me acosttime! a roer todo o ferro?" 66 — A raposa ¢ 0 bode © homem astuto, logo que caiu em perigo, procura encontrar refiigio com 0 mal de outrem, Como uma aposa inconstiente(mente) tivesse caido um poco e fdsse ‘enclausurada por uma margem bastante alta, um bode se- asioso veio para o mesmo lugar. Ao mesmo tempo pergtn~ tou se a Agua era doce © abundante, Aquela, imaginando tuna frauds, (lis): “Desee, amigo: & tio grande 2 bondade da agua, que a minha vontade ufo pode ser saciada”. © Ghode) tarbado atirou-se. Entio a raposinha sain do poco, firmando-se nos clevados chifres ¢ deixou 0 bode preso no poco fechado. O7 — Acirea des vicios dos homens Fapiter colocou-nos dois alforjes; dex (colacou) atrés das costas um cheio dos vicios préprios, (@) suspendew adiante do peito (outro) earregado com os alheios. Por esta razio nfo podemos ver 05 nossos- males (defeitos) ; Togo que os outros cometem uma falta, somos censores. 68 — Q ladrio a Tenterna Um Iedrio acendeu uma lanterna no altar de Jipiter © roubow 0 préprio (piter) com a lez déle. Como, éste se afastasse carregado’ com a sncrilego roubo, de repente a imagem santa de (Jépiter) soltou esta vor: “Ainda que es- tas (coisas) teaham sido ofertas de perversos, (tio) odiosas até para mim, que nfo me ofendo de serem roubadas, toda- vis, & cslerada, pagarés a cnlpa com a vida, quando de fe- tora chegar o dia designado para o castigo, fas, para que 42 PARULAS DE PEDRO — 69, 70 ‘9 nosso fog0, por meio do qual a piedade honra os deuses vyenerandos, nfo alumie (a)o erime, profbo que haja tal troca de luz.” Por isso, hoje nem & permitido acender = lanterna na Hampada dos dewses, mem o fogo sagrado em wina tan~ tema, Quantas coisas wteis contena esta narrativa, nfo on ‘tro do que aquéle que # inventow, (as) explicaré. Primeira- mente significa que muitas vézes encontrarés como teus principals inimigos (= inimigos principalmente-a ti) os que tu proprio tiveres alimentado; em segundo lu- gar, mostra que os crimes so punidos néo com a cé- era dos deuses, mas pelo tempo marcado dos desti- nos; Finalmente proibe que 0 bom se associe com o mau no uso (partilhe com 0 maa o uso) de alguma 69 — (Prova-se) que as riquezas sio més ‘As riquezas com razio so odiadas pelo homem forte, porque uma arca (cofre) rica (cheia) impede a verdadeira gléria, Hércules, recebido no céu por causa do Seu valor, como tivesse satdado os deuses que 0 felicita~ vam, vindo Pluto, que € 0 filho da Fortuna, desviow (déle) bs olhos. 0 pai perguntoulhe a causa. (Héreules) “Odeio-a (a riqueza) porque é amiga dos maus ¢ a0 mesmo tempo corrompe tddas as coisas com 9 Tucro atirado (oferecido)” 70 — Acérea das cabras barbadas Como as cabrinhas tivessem obtide de Jupiter a barbs, os dotes entristecidos comegaram a indignar-se porque as émeas tivessem igualado a sua dignidade “Deixai, disse (Jupiter), ‘que clas fruam (de) uma gléria vi © userpem o omato da vossa fungio, contanto que no sejam iguais a vos em fOrca 4 vossa férea).” Bste conto aconselha-te a que so- frag que sejam semelhantes a ti ne aparéncia, os que slo desiguais em valor. naveo_ovarro — 71, 72, 73 43 71 — Acérea da sorte doe homens Como um certo (homem) se queixasse (cérea) das suas desgracas, Esopo inventouw esta (fibula) com o fim de © con- solar: uma nau, batida por cruéis tempestades, entre as Hi- sarimas dos passageiros © 9 médo da morte, loga que o dia de sibito se muda para um aspecto sereno, comegou a ser levada segura com os ventos favordveis © a inspirar dema- slada alegria aos navegantes. Entio o pilote, tornado sibio (experiente) com os perigos, (diz): “f necessiirio folgar moderadamente,e queixar-mo-nos sem precipitagio, porque a dor ea alegria mistura(m) téda a vida.” 72 — A Serpente. Compaixio perniciosa © que leva auxilio aos mans, tempo depois arre- pende-se, Um certo (homem) levaniou uma cobra entorpe- ida pelo gélo e éle proprio, compassivo contra si, aqueced-a rio seio: porquanto, fog que se refx, maton imediatamente © homem. Como 0% crime, respondew ra tivesse perguntado a esta a causa do fara que ninguém aprenda a fazer bem 2B A raposa © 0 dragio ‘Uma raposa, cavando 0 covil, enquanto tira a terra e pro- longa muitos buracos bastante interiormente, chegou a ruta interior de um dragéo, que guardava os (seus) tesouros es condidos. Logo que via éste, (disse) + “Pego(-te). que conce- das primeiramente perdio 4 minha imprudéncia; depois, se vés claramente quanto nfo & conveniente & minha vida o ‘ouro, respondas clementemente: 7Que fruto tiras déste tra- batho, ou que tamanho prémio ¢ que te prives do sono © passes a vida nas trevas?” Aquéle (dragio) diz: "Nenhum, ‘mas isto foi-me atribuide pelo supremo Jipiter", Por iste, (disse a raposa), nem tiras para i, nem quer coisa?” “Assim agrada aos destino”, 22 alguém qual ‘Nao quero que 44 PApuras DE PEDRO — 74, 75 te ites, se ou falar livremente: "Quem € semelhante a ti nnasceu, estando os deuses irados (= sob mé estrela)". Tu | | | foue hiedes ir para ali, onde foram os antepassados, poraue Gtormentas 0 miserdvel espirito com um entendmento cego? ‘A i digo, 6 avarento, alegria do teu herdeiro, (tu) fue privas ox deuses do’ incenso e a ti proprio da comidas fine triste ouves © amisico som da citaras a quem affige a Guavidade das tibias (llautas); 2 quem os precos das comi- das arrancam gemidos; que, enquanto ajumtas 20 patrimé~ fio quadrantes (pequenas quantias), atormestas 0 cu com Sordido perjtirio; que cerceias ao funeral toda a despesa, para que a libitina (morte) io tire algum iaterésse do que é ten 74 — Feiiro ‘Ainda owe a inveia dissimule ‘0 que depois pense jolger, todavia, compreendo(-o) Hindamente. Did que & de Esopo tudo aguilo que julzar digno de membria; se alguma coisa te sorrir menos, porfiars com qualquer aposta que fot in- Wentada por mim. Quero que éste seja refutado agora ja (uesmo) com 2 minha resposta. Quer esta obra seja inept, | fuer digna de ser lowvada, dle (a) invented, a nossa mio (a) aperfcigoou. Mas continuemos a ordem proposta do nosso intento. 75 — Acérea de Siménides © homem douto tem sempre as riquezas em si Siménides, que eserves insigne(s) melodia(s), para que mais Faeilmente aliviasse a pobreza, comecon a percorrer as cida~ dies nobres da Asia, cantando 0 louvor dos vencedores com foma deverminada paga, Depois que se tortiow rico com éste enero de iuero, quis yoltar 4 pétria por via maritima; Era, poréim, nascido, segundo diz(em), na tha de Cia, Subiu para Bar mavio que wma horrivel tempestade ¢ ao mesmo tempo dp velhice destruin (destrairam) no meio do mar, Uns juntam — i 1 i j 4} | | 45 ‘05 cintos, outros as coisas preciosas, como amparo para a vida, Um certo mais curioso: “0 Siménides, tu nada to- ‘mas das tuas riqueras?” Diz (Siménides): “Tenho comigo t6das as minhas coisas”. Entio poucos eseapam a nado, por- ‘que muitos pereceram carregados com 0 piso. Sobrevem os ladrées, roubam 0 que cada um salvou (do nauirdgio), dei- xam-nos niis. Por acaso ésteve perto a antiga cidade de Cia zomens, que os niufragos demandaram. Aqui, um certo (ho- mem) dado ao estudo das letras, que tinha lido muitas vé- zes 05 versos de Siménides, ¢ cra o maior admirador déle ausente, recebeu-o junto de si (em sua casa), téndo-o conhe- ido gostosamente pela prépria conversacéo; proven 0 ho- mem de fato, divheiro e eriadagem. Os outros levam o set painel, poiingo comida, Logo que Siménides viu aquéles, evados) por acaso 20 set encontro, disse: “Eu tinha dito que tédas as coisas estavam comigo; 0 que vbs tirastes, de- 76 — A montanha parturiente Uma montanha dava a luz soltando graves gemidos, E hhavia nas terras (nas regées) a maior expectativa, Mas (en- Go) cla deu a luz um rato. Isto foi escrito para ti que, quando prometes grandes coisas (a-pesar-de fazeres grandes promessas) nada realizas, 77 — A formiga ¢ 2 mésca ‘Uma formiga © uma mésea contendiam fortemente (sébre) ‘qal valia mais. A mésca assim comecos primeira: “Por- ventura podes comparar-te as nossas honras? Habito entre 1s altares; percorro os templos dos deuses, (e) quando se suetifiea, provo tédas as entranhas; poiso na etbeca do. rei ‘quando, me parece, © toco Ievemente os castor libios das matronas. Nada fago © gozo das melhores coisas, Que (coi- sa semelhante destas te cabe, 6 rdstica?” “A companhia, dos deuses & na verdade. glotiosa, mas para aquéle que é 46 vApuzas pe repro — 78 convidado, (@) no para aquéle que € odiado, Frequentas o= itares? isto €, és enxotada quando ai vens, Mencionas 0% eis © os bios das matronas? Ainda por cima também te fabes daquila que © nidor deve ocultar.” Nada fazes? por ior quando ha necessdade, mada tens. Quando cu cuida- oeimente acumulo.grio(8) para o inverno, vejo que tm te Ghmentas de. estérco, em volta do muro; quando 0s frios fe cbrigam a morver, intsiigada, wma casa abastecida me re Site ineblume, Desafiae-mie no verko, (mas) calas-te, quando fa brama (vein o inverno). Rebati bastante, nx verdade, @ (Gua) soberds.” Uma tal fabulazinka distingue os catac~ eres daquéles homens que se adornam com falsos Ulogios e daguéles etjo mérito demonstra uma s6lida honra. 78 — O Poeta Disse et mais acima, quanto valiam as letras entre os homens; agora entregarei 4 meméria (= contarci) Guam grande honra Ihes é concedida pelos deuses. Mutle mesmo Siménides, eérea do qual fale, encarregado por umm certo preco, a-fimi-de que escrevesse o fouvor de (8) dim certo atleta vencedor, demandou um lugar retirado, Como 1 exiguidade do assunta reprimisse a inspiragio, usow da lie erdade pogtica do costume ¢ entrepds os astros gémeos, fi- thos de Leda, referinde o prestigio de semelhante) gloria. ‘Aprovou a obta; mas aceitos uma terca parte da recom pensa; disse @ atleta: “Dar-to-Zo aquéles dos quais. so as lias tercas (partes) do Iouvor. Mas, para que nao julgues ‘gue tu €4 despedido com ira, promete-me (gue tu vers) para i ifela (comigo) : quero convidar hoje os parentes, no méimeto lov quais é para mim", (Siménides) ainda que enganado € (nazoado, da injiria, prometey, dissimulando custosamentes Volto a bora marcada e pds-se a mesa. O banguete resplat~ Tecis com a hilaridade dot copos, a casa ressoava ales ‘com grande aparate, quando, de repente, dois jovens, Cobertos de p6, banhados em muito suor, com uma befezs sdbre-humana no corpo, recomendam a um certo escravozi ‘nho que chame Siménides para junto de si (déles); que era do interésse déle; que nio faga demora (0 servo). O homem, perturbado, chama Siménides. Apenas se afastara um pé do Danquete, a ruina da abdbada oprimiy sibitamente os outros; Nem aliins jovens foram encontrados a ports. Logo que a fordem do facto narrado se divulgou, todos souberam que a presenca das divindades (de Castor e Polux) ders a0 vate (poeta) a vida em lugar da recompensa, 79 — O posta a Particuléo Restam ainda muitas coisas que eu possa (podria) dizer, © ahunda a copiosa variedade das coisas; mas as arglicias moderadas sio agradaveis, as imoderadas ofendem. Pelo que, 6 Particuiio, varko integérrimo, nome que hi-de viver nos meus escrtos, enquanto a estimacio permanecer nas Tetras latinas, se nie (aprovas) 0 (meu) intlecto, aprova pelo menos a brevidade, que tanto mais justamente deve ser recomendada, quanto mais fortemente slo enfadonhos os poets. FIM DO QUARTO LIVRO LIVRO QUINTO 80 — © Poeta Se algumas vézes inserir o nome de Esopo, a0 qual ji hd muito restitai o que (lhe) devi, sabei que & por causa da au~ foridade; como no nosso séeulo fazem alguns artistas ane cncontram um preco maior para as suas obras, se em novo imdrmore inscreveram 0 nome de Praxiteles, na prata desgas- jada um Mirko, na madeira um Zeusis. Poig a mordaz in- veja favorece mais a uma antiguidade fingida, do que ‘208 bons (méritos) presentes. Mas sox levado a uma fa- bola dum tal exemplo. 81 — © rei Demétrio © Menandre (pocta) (Como muitas vézes se engana o juizo dos homens) Demério, due {oi chamado, Falério, ocupow Atenas com po~ der ilcgitimo (usurpado). Como € costume do povo, corre porum lado € pelo outro, © & porfia, gritando: *(Viva) com felicidade!” Os proprios magnates beijam aquela mio pele ‘qual #80 oprimidos, gemendo tacitamente a triste alternative Ga sorte. Ainda mais, 08 preguicosos © 08 que s6 proctram fo descanso, para que 0 facto de terem faltado os nfo preja~ ddique, véem em dltimo lugar; entre estes, Menandro, nota ‘Wel pelas comédias, a8 quais Demétrio, desconhecendo 0 pr6- Livko gunwTo — 82, 83 49 prio. (pessoalmente), tinha lide, © tinha admirado © talento do homem, todo perfumado (= impregnado de perfumes), de vestes rocagantes,. vinha com asso delicada e linguido. Logo que 0 tirano (0 usurpador vin gate no altima grepo “?Quem (@ aquéle efeminado (que) ousa vir para a minha Presenca?” Os que estio perto responderam: “Bste € 0 es- critor Menandro”. Mudado imediatamente, disse: “Nao pode existir homem mais formoso”. 82 — Os viandantes ¢ o ladvéo Como dois soldados tivessem ido 20 encontro de wm Ta- dro, uum fagiu, © ontro, porém, parow e defendense com sta forte (mao) diteita; depois de derrubado o ladrio, © com- pneiro timido avorre desembainha a espada; depois, dei fado 0 capote para as costas, die: “Deiaarmo ed; vow tra. tar de fazer-Ihe sentir, com que homens se mete”, Enti © que tha combatido até o fim, (diz): “Ex gostaria que ha Dowco me tivesses ajudado ao menos com estas palavras, — teria sido mais resoluto, julgando-as verdadeiras; — agora eaconde 0 ferro e a Tingua igualmente ft, para que possas enganar outros que te no conhecam. Eu que experitentel com quam grandes frgas foges, sei quanto se nio deve acte- ditar no teu valor”. Esta narrativa deve ser aplicada aquéle que é forte num easo favordvel e fugidico na(s) coisa(s) duvidosa(s) 83 — 0 calvo © a mésca ‘Uma mésea mordeu a cabega descoberta (desnudada) de tum calvo; (@) procurando apanhar esta (mdsca), dew a em) si uma forte lambada (= palmada). Entdo ela es- carnecendo: “Quisesie vingar com a morte a picada dum pequenino insecto; que farés a ti, gue juntaste @ afronta 20 agrayo?” Respondeu: “Comigo faciimente me reconcilio, Porque sei que no foi com a intengio de ofender. Mas de- 30, ApUsAS DE PEDRO — 84, 85 sejava, até com maior incémodo, matar-te, malvado animal duma raga desprezivel, que te deleitas a sugar 0 sangue bu- mano.” Esta fabula ensina a conceder 0 perdio Aqui Ie que peca involuntariamente;- pois 0 que é nocivo, de caso pensado, julgo que éle ¢ digno de qualquer castigo. 84 — 0 burro e 0 porquinho Como um certo (hiomem )tivesse imolado um varrdo 20 divine Hércules, 20 qual devia uma promessa pela sua sai ds, ordenow que 2s sobras dz covada se deitassem 20 burro. ‘Aquéle (burro), rejeitando estas, falou assim: “Com muito ‘gosto apeteceria aquela comida, se no tivesse sido morto % Aterrado com a reflexto aquéle que se nutriu com a desta tébula, evitel sempre o lucro perigoroso.. Mas (Giese): “Os que roubaram riquezas, continua Iaentes. ja, vamos! Enumeremos o: que, sendo presos, pereceram: Encontrarés (= encontrat-se-6) maior aimero de castigados ‘A temeridade € um bem para poucos, (e) & um mal para muitos. 85 — O chocarreire ¢ 0 camponés Os mortais costumam enganar-se com parcialidade, e, enquanto se mantém no preconceito do sew érro, ser (= sdo) levados para se arrependerem, quando (0s factos se tornam evidentes. Um certo rico, indo cele~ brar uns jogos eénicos notivels, com a promessa de um pré~ ‘mio, eonvidou a todos, para que cada um mostrasse a novi- dade que pudesse. Vieram os dancarinos (= histrifes) 08 ldesafios da gloria; entre, estes um chocarreiro, conbiecido pela delicada graea, disse que éle tinha para oferecer um sé hero de especticala que nunca fra apresentado no teatro, © boato espalhado alvoroga a cidade, Os lugares, powco an- tes varios, faltam & multidio. Poréim, depois que éle parouy, sbzinho na cena, sem aparato, sem ajudantes, 2 expectacio por si $6 impés o siléncio. Ble baixou repentinamente a ca~ bega para a dobra do manto ¢, com a sua, de tal modo imi- tou a vor de um porquinho, que afirmavam que um verda- deiro (pores) se ocultava sob o mauto; e mandavam que (@ste manto) f4sse sacudido, Feito isto, logo que nada foi en- contrado, carregam @ homem de muitos loavores, ¢ todos 0 acompanham com 0 maior aplauso. Um camponés, 20 ver ‘aie isto era feito, disse: “Nao me venceré, palavra de hon- por Héreules)", ¢ imediatamente prometen que dle hhavia de fazer melhor no dia seguinte. A maltidao torna-se maior, 34 @ prevengio preocupa os espiritos, © sentam-se para escarnecer, nfo para observar. Apareceu um e outro. O, chocarreiro € 0 primeiro a granhir © move aplausos ¢ i vanta gritos. Entio 0 camponés, simulande que éle encobria ‘um porauinho sob os vestuétios (o que fazia na verdade, ‘mas escondendo(-o), porque nada tinham encontrado no pri- meiro), puxon a orelha ao verdadeiro (poreo), que tinba fcultado, ¢ com a dor solta a vor da (sua) natureza. © povo aclama que © chocarreiro tinha imitado muito mais seme- Ihantemente, ¢ insiste que o camponés seja posto fora. Mas Ble tira do sci © préprio porguinho e, provando o torpe *Brro com uma prova manifesta, declara! “Eis af, que jul- es sois!” 86 — Um calvo ¢ um certo (homem) igual mente felto de cabelo ‘Um calvo encontrou casuatmente um pente numa ener zilliada. Aproxima-se outro igualmente falto de cabelos. “Alto, diz, (dividamos) em comum, o que quer que seja de tucro.” Aquéle mostra o achado © acrescentan 20 mesmo tempo: “A vontade dos deuses favorece; mas, com um destino ine ‘yejoso, encontrimos tum carvio, em yer dum tesoira, como dizem”. A queixa convém aquéle a quem enganon, ssperang: 2 AguLAs DE ¥EpRO — 87 87 — Principe, tocador de flauta Nas ocasides em que um espirito vo, seduzido por uma aura fugaz se arrogou uma insolente con- fianga, a louca leviandade facilmente vai ter ao ridictlo. Principe, tocador de flauta, foi um pouco mais conhecido (do ‘que 08 outros), acostumade a acompanhar (com a flauta) a Batilo, na cena, Bate, por acaso, em uns jogos, (nto me re- cordo’ bem em ausis), “enquanto se muda o cenirio, despre Yenido, dew uma grave queda (= cain desastradamente), © partia tibia (eanela da perma) esquerda, como tivesse prefe= Fido perder dvas tibias (flautas) direitas. Levado nos bragos fe gemendo muito, & conduzido a casa. Passam alguns me~ fea, até que a cara cheva a sanidade. Como é costume dos capectadores, essa espécie (de gente) divertida comecou a esejar (aquéle), por cajos sons o vigor do dancarino costu~ mava ser excitado. Um certo nobre devia dar uma fes! Como Principe comecava a andar, induziu-o por dinhelro por preces, 2 que sSmente se mostrasse no proprio dia dos Jogos, Lage que éste chegon, o boato acérca do tocador de flauta espalha-se pelo teatro. Uns afirmam que tle mor- eu, outros que éle sem demora vai aparecer & vista. Bai- ado o pao, depois de ribombarem os’ trovées, 08 deuses falaram, conforme 0 costume tradicional, Entfo 0, c6r0 en- toou um hino desconkecido, (para o flautita) que bé powco, ‘nha aparecido, cujo sentido era éste; “Alegra-te, Roma, (gue estis salva com 0 restabelecimento do principe (Austs~ fo)!" Todos se leyantaram para aplaudir. © tocador de flauta tira beijos, julgando que os admiradores o felicitam. A or dem eqiestre compreende o louco érro e manda que 0 hino ela repetido com grande mofa. Bste repete-se. © meu (0 hnosso) liomem curva-se todo no palco. O(s) cavaleiro (s), tro- fando (déle), aplagde(m); 0 povo julga que éste pede wma: Gores.” Porém, logo que 0 facto se conhecen em tédas as ancadas do (teatro). Principe, com uma perma ligada por ‘ama facha branca, © com estes “brancas, © com sapatos Livro quiwto — 88, 89, 90 53 também brancos, ensoberbecendo-se com a honta da case diving (de Augusto), por todos foi posto fora pelas ore- thas. 88 — © tempo ‘Um calvo, com a fronte cabeluda, © a nuica mua, com ve~ loz corteirs, cquilibrando-se sdbre vina navalha( o qual de- ters, se 0 apanliares; uma vez, escapado, nem 0 préprio Jpiter © pode fazer recuar (= tomar a apanhar), significa 2 breve ocasido das coisas; os antigos fingiram uma tal imagem do Tempo, para que a negligente demora néo im- peilisse a exeeupio (as execugées do nosso trabalho) 89 — © touro ¢ 0 novilho Como um touto, ltando com 0s chifres muma porta estrei= ta, dficultoramente pudesse entrar para o'curral, um novitho sinava de que modo devia dobrar-se (Daixat-se). Disse G@ touro):_"Cale-te, sci isto antes que tu tivesses nascido” Quem ensina um mais instruido, julgue( saiba) que ‘sto € dito para si 90 — © eéo, © porco © 0 cacador Como um eke forte tivesse sempre satisfeito a0 seu dono contra tédas as feras velozes, com 0 péso dos anos, come~ gow a perder as forcas. Um dia, atirado a luta de (= com) fim cerdoso javali, agarroa uma orelha, mas, por causa dos dentes cariados, soltou a presa. Entio 0 cacador, des contente, ceusurava 0 cio. O velho (eo) da Lacénia em resposta: “Néo te faltou a minha coragem, mas as mi- nihas forcas. Lowa 0 que fomos, se j& condenas 0 que so- mos”. Vés claramente, 6 Fileto, por que razio escrevi isto (© minha sitira jé é fraca). FIM DO QUINTO LIVRO | Bee Sd APENDICE 91 — O autor Nio se deve pedir mais do que o justo. Se a naturesa tivesse moldado o género humano, segundo 4 minha opinigo, seria muito mais bem dotado; porquanto, ternosia concedido tadas as comodidades que a indulgente Fortuna concedeu a qualquer animal: as forgas do elefante, 0 impeto do Ieio, a duragdo da gratha, 0 orgulho do fe- ror tonto, a plécida mansidio do veloz cavalo, ¢ assstiria, todavia, ao homem a acuidade de engenho que the & pré~ ‘pria, — Jipitef, que com grande sensatez negou aos ho- mens estas coisas, para que a nossa audécia nao arrebatasse © fovérno do mundo, si-se certaménte consigo no céu. Portanto, passemos os anos dp tempo determinado ‘pelo destino contentes com a davida do. invencivel jFipiter, nem tentemos mais do que permite a nossa Gondigio. mortal. 92 — Prometeu e Dolo Acérea da verdade e da mentira, Outrora Prometes, ‘oleiro da nova geracio, fizera também a Verdade com subtil ‘enidado, para que puidesse administrar a justica entre os ho- mens. Chamado shbitamente pelo mensageiro do grande J piter (© Meredirio), encomenda a fabricacéo ao falaz Dolo, fue havia pouco recebera para aprendizagem, Bate, cheio de ‘cudado, enquanto teve tempo, f€2 com hébil mao um simu- acco com igual semblante, com a mesma estatura (da Ver~ Gade) e semelhante em todos os membros. Quando estava ‘quisi téda admiravelmente erguida, faltou-the 0. barro para fazer os pés, O mestre voltou; Dolo, perturbado com éste ‘mmédo, sentou-se apressadamente no seu lugar. Prometet, Admirando uma tio grande semelhanca, quis que se visse # avénpice — 98, 55 lérie da propria arte. Por isso, Jangow igualmente na forna~ Tha a5 duas estétuas; cosidas as quais -tendo-lhe infundido: vida, a sagrada verdade comecou a andar com modesto: asso, mas a imagem incompleta ficou como que peaada no proprio ugar. Entio a falsa imagem e a obra do furtivo tt foram chamada(s) mentira; & facil o essen ‘mento aos que negam que esta (= mesitira) tem pés. Os vi cios disfargados algumas vézes aproveitam aos ho- mens, mas na ocasido. propria aparece, todavia, a verdade. 93 — © macaco e a raposa, Um macsco pedia a raposa uma parte da sua cauda, para ae pudesse honestamente torar as nédegas nas. A mali. ‘ena (raposa) respondew assim aquéle: “Ainda qué se tome mais compria, todavid, arrasta-la-ei mais apressada pela lama € pelos espinhios, do que repartirei contigo uma pareela por ‘mais pequena que seja. 94 — O autor Deve-se dar valor ao seiitido e nao ds palavras. ion, 0 qual se diz que anda preso a uma roda, ensina que a voliivel fortuna se muda, Sisifo, arrastando com grande trabalho por uns altos montes acima, uma pedra, que se precipita do cume, com sor sempre baldado, mostra ave fas misérias do homem so sem fim. Porque (se) Tentalo tem side, estando no meio de um lago, descrevem-se 0s avaren- ‘tos, aos quais rodelam a posse dos bens, mas nada. podem tocar. AS criminosas (infelizes) Danaides transportam 4gua(s) fem bifhas, nem podem encher 0: tonéis furados. Assim se perders aquilo que deres A luxiria. Titios esté estendido por pove geiras, lembrando-se, para triste tormento do figado, ‘que Ihe renasee (e volta a ser devorado pelo corvo): Quanto maior lugar de terra alguém possui, com éste (argu- mento) se demonstra que ¢ afectado com mais grave cuidado, A antivuidade disfarcou propositadamente 4 ver~ dade, para que 0 sibio comprcendesse, (@) 0 ignorante errasse. PARULAS 95 — O autor uri, pores, os consehos do Deus de Delos. "Diss, 6 ‘Apolo, peco-te, o que nos & mais ti, tu que habitas Del- fos e 0 formoso Parnaso”. O que &? 0 cabelos da sagrada ‘sacerdotisa arrepiam-se, 0(8) tripé(s) (da. Pitia) move(m)-3e, 4 imagem geme no interior do templo, os lourciros ‘remem © 0 préprio dia empalidece. Pitia, (= a. Pitonis), tocada pela inspiragdo divina, solta a yor! “Ouvi, 6 poyos, 08 con- selhos do Deus de Delos: honrai_a piedade, curmpri as ‘promessas aos deuses; defendei com as armas a pa- fia, os pais, os filhos, as castas espOsas; repeli_ com © ferro 0 inimigo; socorrei os amigos, perdoai aos infelizes; favorecel os bons, ide ao encontro dos en- ganadores; vingai os delitos, reprimi os. impios; te- jnei os maus, nfo cnfieis demasiadamente em nin- guém”, Dizendo estas coisas, a virgem delirante, (e) bem deovairada, porque perdea as coisas que disse, cain (desta- lecida). 96 — Esopo e 0 escritor Um certo (homem) recitara a Esopo uns maus escritos, ‘nos quais se gabava muito ineptamente. Por isso, desejando ‘saber 0 que o velho sentia, (disse): “Porventura pareci-te demasiado orgulhoso, ou temos uma yd confianga no tafen- to?” Aquéle, aborrecido com a péssima obra, diz: “Eu aprovo fortemente porque te louvas. Com efeito, nun- ‘ca te sucederd isso (seres louvado) por outro”. 97 — O pai de familia e Esopo De que modo deve ser domada a mocidade feroz. Um pai de familia tinha um filho eruel, Quando éste s¢ tina afastado da vista do pai, maltratava os servos com mui fos acoutes © dava livre curso a impetnosa juventude, Eso- po, por iss0, conta ao velho isto abreviadamente: Um certo (homer) jungia um boi velho a (com) um novitho. Como. Zste, afastando 0 jogo, do pescoco desigual, slegasse, para apbnprce — 98, 99, 100 57 seusa, a5 Hanguidas forsas da (sua) iade, aquéte camponés disse: "Ngo hi motivo por que temas, nfo Taso (iso) para que trabalhes, mas para que domes éste que; com o(s) pé(s) com o(s) chifre(s) torma muitos facos (nutliza muitos). A tmansido é um reméaio para a erustiade”. Também tu, se nao retiveres cuidadosamente contigo ésse (filho), e nnio reprimires com cleméncia o genio feroz, toma cuidado que nao acresga a queixa da familia’ (eria~ dagem). 98 — Esopo e 0 vencedor gimnico * Como se contém algumas. vézes a vaidade. Goma” o sib fegia (Exope) tives visto. casuamente tum vencedor do. certame gfmico vangloriando-se, nergun- toutthe), seo adversério dle tina mais f6res. Aqule (est pondeu): “Nao digas fio; as minhas frgas foram muito raiores. Por isso, diz (Hsopo), tolamente meteceste esta 16. ria, s6, (senda) mais forte, veneeste am menos vélido? Se- rias tolerdvel 36 por-acasa dissesser que tt tinhas vencido (com arte ¢ coragem) um que era mats forte" 99 — © burro a uma lira ‘Um burro viu uma lira jazendo num prado. Aproximou-se experimentou as cordas com a nha; tocadas, soaram, “Linda coisa, mas, por Héreules, corre mal para mim, dis- se, poraue sou desconkecedor da arte. Se alguém mais hi- Dil a tivesse encontrado, teria deleitado os ouvidos com os ‘cantos divinos". Assim muitas vézes os talentos se per- dem por infelicidade. 100 — Um. gale levado em liteira pelos wat Que muitas vézes a excessiva negligéncia conduz 05 homens ao perigo. i ‘Um galo tila gatos portadores de lira. Logo que uma raposa vit que éste era transportado todo vaidoso, falow as- sim: “Aviso(-te) de que te acauteles do engano; porquanto, se rellectisses nos semblantes des, verificards (verifiarias) 8 __PAmuras ps reono — 101, 102, 103 ‘que Tevavam wma presa ¢ nfo uma carga”. Depois que Sociedade (companhia) dos gatos comegou a ter fome, des- pedagoti 0 amo e repartin entre si o cadaver. 101 — © cavalo de quadriga vendido para uma atafona Aquilo que acontecer deve ser sofrido com igual ‘Um certo (homem) furtou um eavalo de quadriga, afa- 1s vitérias, ¢ vendeu-o para_um moinho. Como tivesse sido conduzide das més para beber, viu que ft seus companheiros iam pata o cireo, para que execulas— fem as Tutas agradaveis nos jogos. Com lagrimas a borbu- thar, diz: “Ide, felizes, (@) com 2 cortida celebrai o dia fes- tivo sem mim; eo, de infeliz sorte, chorarei os meus des~ tinos ali, onde a mio eriminosa dum ladrio me evou. mado pop mui 102 — O urso faminto Que a fome excita o espirito aos animais. Se al- ‘gama ver nos: bosques faltam alimentos 20 wrso, corre para fam litoral fragoso, e, agarrando-se a um penedo, deixa cair ‘4 poica © pouco as pernas cabeludas na gua; logo que os fcaranguejos se prenderam entre os pélos destas (pemas), saindo para terra, sacode a presa do mar, © 0 astucioso goza do manjer colhido por um lado © pelo outro. Por isso, a ome estimula © engenho até aos parvos. 103 — © viandante e'0 corvo ‘Um certo (homem), tomando um caminho errado através dos campos, ouvin: “eu te saiddo,” ¢, demorando-se um pou- ochinho, logo que vin que ninguém estava presente, tomow ‘9 passo (Seguin 0 caminho). © mesmo som (voz) de wm Iu- gar oculto (0) saida pela segunda ver. Animado pela vor acolhedors, paroy, a-fim-de que’ recebesse igual cortesia, fquem quer que f5sse. Como éle, olhando em volta, por muito tempo tivesse permanecido no seu érro, ¢ tivesse perdido © ‘tempo de (percorrer) algumas milhas, um corvo mostrou-se , voando por cima, repetin indefinidamente "Ave Apfixpics — 104, 105, 106, 107 539 saido)!" Entfo, percebendo que éle tinha. sido enganado, iz: “Ora mal hajas por isto, ave péssima, que assim deti- este os pés de quem se apressava". 104 — O pastor e a cabrinha Um pastor quebrara com o bordjo wm chifre a uma cabri- tha; potse a peiclhe que nfo Bedescorisse ao amo (2o- no). “Embora ferida indignamente, calar-me ‘2 propria accdo (0 facto de per que ta cometeste.” i, todavia; mas clamara (denunciara) 0 105 — A serpente ¢ 0 lagarto ‘Uma serpente tinka agarrado por acaso um lagarto pela frente; como quisesse devorar éste com a gocla aberta, aquéle apanhow um saminho que estava perto e, conservan- do-o atravessado na béca muito forte, refreou com uma de- mora engeahosa 2 vida gocla, A serpente solto da béca a presa initil 106 — A gralha e a ovelha a ‘Uma gralha odiosa poasara sobre uma ovelha; como tix trazido esta sdbre 0 dorso, contra a yontade © por muito tempo, diz: “Se tivesses feito isto a um cio dentudo, ferias sido castigada.” Aquela péssinia em resposte, (diz): “Desprezo. os fracos, ¢ eu mesma cedo aos fortes; sci a quem hei-de maltrater, a0 qual, dolosa, deva acariciar (en- gavat); por isso, prolongo até o¢ mil anos a minha velhice.” 107 — A Iebre'e 0 bociro Como uma lebre fugisse ‘com pé Higeiro dum cacador, e, vista por um boieiro, se escondesse num silvado, (disse) Recorte, 6 boiciro, pelos deuses © por tdas as tuas ésperan- ss, (aie) nfo ime deseubras; nunca fiz nenhum mal a éste campo.” Porém 0 camponés (diz): “No tens que temer, e5- conde-te tranqiila." E logo 0 cacador, perseguindo-a, (dir): "6 boieiro, (por favor) pergunto, porventura a lebre vei pare aqui?” "Velo, mas foi-se por aqui, para a esquerda”; ¢ feo 0 acéno indica a lado direito. 0 cacador, (de) apressa- ABuTAS pe ¥EpRO — 108, 109, 110 do, néo compreenten, ¢ afastou-se da vista, Entio o boiciro tesimn (disse A lebre) : “Acaso & grato a di o facto de te ha- Ver ew ceultado?” "No. nego inteiramente que tenho © dow Ge maiores agradecimentos a tua lingua; pelo contririo de~ fejo que sejas privado dos teus pérfidos olhos”. 108 — A borboleta © = vespa “Uma borboleta, andando a esvoagar, vira uma vespa: © sorte iniqua!; enquanto viviam os corpos, de cujos restot nds recebemos a vida, eu fui eloglente ma paz, forte, nos com Dates, a primeira em téda(a) a(s) arte(s) entre a9 minbas con- temporaneas; eis tudo (0 que agora sou)! Voo (feita) tere foe cinzal Ta, que foste besta de carga, maltratas com o tet fertdo cravado a qualquer. que te apetece.” Mas a vespa sol- tou uma vor digna dos seus costumes (picantes): “Vé, nao ‘© que tenhamos sido, mas o que somos agora.” 109 — A eotovia © a repose ‘A-ave (a) que 08 eamponeses chamam cotovia, porque efec- tivamente faz 0 seu ninho na terra, encontrou-se fortuitamente com a malvada rsposinka; ¢, logo que a vis (vista ests), fevantou-se mais alto com as asas. Aquela (raposinka) di “Ba te eaido, pego-te (que me digas) por que motivo fugiste ‘de mim, como se a comida no prato néo fésse em abundan- ‘cia para mim: grilos, esearavelhos, quantidade de_gafanho- fost, Nto bi motivo para teres médo; ew amo-te muito por Causa’ dos teus pacilicos costumes vida honesta.” (Aquela), pelo contrario, responden: “Tu na verdade falas bem, et nso sou igual a ti no campo, mas no ar. Mas anda dat, con- fio-te a minha vida.” 110 — Epitoge ‘A maldade € 2 probidade (= 03 homens maus ¢ 09 ho- ‘mens bons) Jouva(m) igualmente o que a minha Musa com- Doe, qualquer que isto seja, porém esta (probidade lonva) ‘om sinceridade; aguels (maldade) inrta-se em silencio. FIM DAS FABULAS EXPURGADAS INDICE GERAL Ao Leitor 1X2] 73) CBA Livro. Primciro [Pe No| Py Ne [Pe NS Prélogo gals} 5 SUE sco. 8 31 5 2) wml wo ol ve te jtiano rd 10 3} 9 3) 19 $8) 10 a7) =O gral orguthoso eo pevio n 4} 4] a st] 3 3 Un edo evando carne elo. 5] 3 5] 4 6] 9 33} 30 27 ~ Alvaca,acabra, 4 ove= tha ¢ 0 Telo 6} 3 6) 81st ys Asti para o sl rer] out ey A’ ayes fora gid lstre deimetin 2 8) 15 3] $1) 6 2] =0 lobo e © gro ol 6 9 oa) 6 20 | 293 257% Um pardal dando, coor | aon soma es 1910] 7 10] 6 34) 7 8) 274 2mm “<0 lobo ea vaposy seh do foie um mmcaoo,. 13 1) 18 Odurroeoietoadeca 13 2{ 19 2) 13 2) 14 a5 | © wea janto da fone 14 13} 20 13] 13 30 TA Tayom'cocorvo.., 14 lai 21 | 8 19 7 4 252 250% De apatero a mélico 18 15 | 22 18} O° barre sum yelio | aston 215 16) 23 16] 7 14 Avovetfa, 0 vend ‘¢'o 180 16 7] 24 17 | A ove, 0 cio" € 6 | 0 216 18 | 24 18 Avcadela departs“. 16 19 | 35 19 Osietes famintos 2. 17 20 | 26 20] 4 4) 8. 5] ae 245 O'feto vetho, 0 java 1, 0 touro eo burro 17 21| 27 21| 10 2] 30 94 A dovinta co homem 17 22) 3 Z| 9 2 © Gio fia, % 3 | 2 | $ 40| a 3s Rt rebertada ¢ 0 boi 18 241 30 24) 715 0 2098 ‘Or cies c os crocailos 18 25] 38. 25 aR repos ea cogonba 19 26{ 32 25/ 11 14 @ chore 0 tesouro co antes vac | 33 2 1 Maine Sauce (Pytico Jia), 1807, 2 Xavier Rofenss (B.A. © int ae Sat Cetra YBEN Pa Jou’ erccay Daven, 1887. Gongales Salo acts py 1907” as Minis ican a pigthan © on meray ct ‘gor te qpnerum ae itlalas os diveion tones * Hgemtrwse"o. osm assent de tbl, sas em pros. | A raposa ¢ a guia... 19 Ae as temento 08 t ombates dos touros 20 (© milhafree as pombas 20 Lieyo Seawdo © aster 0 bezers9, 0 __tadrto | "Beapo para am certo | homer) aeéeea do Exito. dos maus A asia, «gata 0 ie vali car pero aiviivio 23 / ‘A guia ea gralha, ‘Os dois machos © 05 adres eo 0 veal junto dos bois 25 wR estitua de Esop0.- 25 0 lor... Livro Tercsiro Fedro a Entico -...++ 27 ‘A yelba para a dnfore 29 | ‘A pantera ¢ 03 pastores 29 © fortador ¢ 0 macaco 29 ~Esope © 0 petalante... TA mosca e'2 mula. “As abelias © | ioe, sendo jira | yer | ‘Acérea, do. 3640 © 4a } severidade sess en2e 38 AcGgarra © a coraia $3 ‘As frvores, na protee= fo dos ae aees ” 40 2 4 s a 10 15 M4 R 18 16 Fa a | | | a | 2 2 4 6 as 306 208¢ TRal Pe. %Q_ pavio para Juno actrea da Wore cen 3 Bsopo responde a um palradar wes. "poeta 22 35 Livro Quarto 0 "burro © 0s Galos (ecrrotes ‘de C= te) a © poeta. 38 sscRegrea dh Yaposa da wa + 38 Qvemaio 0 javali... 39 Combate dos "ratos’ © ‘das. doninhas =. 39 Fedro ra ‘A vibora a" wi oficial de pelcno ns avrapa eo bole ‘tee dow ven dos iment atte o's stra 41 towne) as Cen @ seen las cabs ba fn @ etre st dos tos cA creme Geman ees Alama eo dato. hie Relea de Sina! ‘A tonsa partreni $9 ‘forename 4S O pecan O posts # Paris Lioro Quinto © porta. 8 © tet Demétsio’ © die nandro. (poeta) s+ AB 6 ca aa Beusanas. is 18 6 32, ay a a fxprer GERaK, BS 9! 3 23 231 267 222 aL 2H iaspice GERAY fips mmnce cma TRAD, MS 1] X RZ] FBS] GB Pee] Pe Ne [Be No| re. N* |e N Z 2] @ | Oko ¢ a méecal.: © | OL 8S } Seesae. 8S 2 st | hocarreiro © 0 cam | | ones 0 a5 [10s | 20 un ealvo j homes). igualmente | {Miprde eabeloss-rss SL 86 | 105.86 i Pencipe, oeador de | tata se a7 |i a7) 21 40 0 tengo 53 | 0 8 © tou eo novilos: $3 99 | 11 8 a © io, 0 porco © 0 ca : ester ss ofan 9) 8 7} a 10 Apindice 6 ase ag tf at | Brometca’e Dolo s-- 54 92 | 114 92 OG macaco ca raposas- 38 93 | 116 99 © autor 55 94 | Uo 9 © autor 22 gs 95 | us 95 . Baopee 6° 3 96 | 19 9 y Ovni, de fama ¢ |: Esop0 ceccsensnssne $6.97 | 120. 97 | fe Esope .¢) 8 | ‘irnico 121 98 / obo ca Tita 2 9 2 2 | | ‘nn alo Tevado em | teita pelos gatos 122 100 | He | ‘0 cavalo de quads \ a : vendo para uma | | : | Minton sfesveeeeees $8 10L | 123 10 e Oe taninis Ls $8 Moe | wag 2 |S 9 | 3819 i © viandante e 0 corvo 58 103 | 125 103 © pastor ee cabrinba $9 104 | 126 104 | & Serpents coo Ingarto $9 105 | 126 105 | A fala ea ovelia.. 59 106 | 127 108 | ‘A fabre es boleiron-. 59 107 | 127 107 | ‘A horboleta ea vesga 60-108 | 128 108 E B estoria © a raposae- 6D 109 | 129 109 2m : Bpllogs scstsceeeeeee 6D 140 | 130 110 ie ADVERTENCIA, Embora 0 presente edigéo contenha o tradueto de tantas fadudas quantas contém a bem elaborada edicao do Sr. Prof. Dr. Martins, Sequeira, nem sempre seguimos o texto desta edicéo, porque em muitas fabulas hd passagens diferentes das mesmas jabulas das outras edigées conhecidas. Estas diferencas alteram imuitas vézes 0 sentido; na fébula 107, por exemplo, encontra-se “lupus, 0 1460, enguanto nas outras edicdes se 1é lepus, a lebre Grémos que estas divorsidades de textos se devems aos co pistas mediewsis € & publicacdo dos seus manuscritos em nacbes ‘Siferentes. !

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