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1 Atos de fingir' ET A WO SPVHUC. Ev, 1.0 saber ticito da ficgao ¢ da realidade F hoje amplamente aceito que os textos literdrios sio de natureza fic- clonal. Por esta classificacao, distinguem-se dos textos que, nao possuindo tal caracteristica, relacionam-se de um modo geral com 0 polo oposto & ficcao, ou seja, com a realidade, A oposicao entre realidade ¢ ficgao faz parte do repertério elementar de nosso “saber técito”, ¢ com esta expresso, cunhada pela sociologia do conhecimento, faz-se referéncia ao repertério de certezas que se mostra seguro a ponto de parecer evidente por si mesmo. E entretanto discutivel se esta distingao, por certo pritica, entre textos ficcionais ¢ nao ‘Fiecionais pode ser estabelecida a partir da oposicao usual. Os textos “ficcio- ados” sero de fato tao ficcionais ¢ os que assim no se dizem serao de fato 3 > Como nao se pode negara legitimidade da pergunta, cabe $¢ 0 “saber tacito™ a opor ficcao e realidade ainda pode ser de alguma a descricao dos textos ficcionais. Pois as medidas de mistura do real to, reconhectveis nestes textos, relacionam elementos definidos Nesta relagdo, aparece, pois, algo mais que uma oposicao, de relagao dupla da ficgio com a realidade deveria ser substituida 0 triplice. Como o texto ficcional contém elementos do real te na descrigao deste real, seu componente ficticio nao tem 0 enquanto fingido, a prepata- : 4 S) . 32 0 Ficticio € o Imaginario Referimo-nos, assim, a uma relagio terndria dentro da qual uma con. sideracéo sobre o ficticio dos textos ficcionais nao sé é significativa, como encontra sua possibilidade suficiente. A relagao opositiva entre ficgao ¢ rea. lidade, enquanto “saber técito”, jd pressupée a certeza do que sejam ficcig ¢ realidade. A determinagao nitidamente ontolégica atuante neste tipo de “saber técito” caracteriza a ficcdo justamente pela eliminacao dos atributos que definem a realidade. Nesta certeza irrefletida, recalca-se também 0 pro- blema que tanto atormentava a teoria do conhecimento do inicio da idade moderna: como pode existir algo que, embora existente, realidade? O problema nao encontrou solucao alguma uma troca dos atributos de realidade; pois, a relagao opositiva b: 2. A triade 0 possui cardter de mo quando houve dependente destas distribuigoes, ainda permanecia neste tipo de permuta.? Temos daf uma justificagao heuristica para substituir a rela¢ao opositiva usual pela triade do real, ficticio ¢ imaginario, para, a partir dai, trazer luzo ficticio do texto ficcional. A relac: 10 opositiva entre ficcdo e realidade retiraria da discussao sobre 0 ficticio no texto uma dimensao importante, poli epetida. Se o fingir nao pode ser deduzido da realidade SE nele ca propria, que é de provocar a repeti¢a0 por meio desta ao uma eeabgunit ue a telagdo triddica do teal com o ficricio‘ c o imagi ta uma propriedade fundamental do texto ficcional. Ao mes , fica claro o que caracteriza 0 ato de fingir ¢, assim, o ficticio e! Atosde fingir 33 ida no fingir se transforma em do texto ficcional, Quando a realidade rep t ss eter Porianto trans 80 $e expressa sua aliani com 0 initio, O imagindrio é por nd: lo . ines Raids ee of ee ee experimentado antes de modo Ferg vanil * SGDE GEE, POrSreM inesperads, farcem abit etognes ec cn ia) situacbes que ou se ipem Ou prosseguem noutras bem diversas. “O prdprio da fantasia”, Husserl | é sua arbitrariedade, E., em decorréncia disso, falando ideal: cn aubitrariedade absoluta” Por isso, o fingit tampouco ¢ idéntico (0 virio. Como o fingir se telaciona com o estabelecimento de um Ms _dever Ser_mantidas representagoes de fins (Ziel- 1), que constituem entio a condico para que o imagindrio seja rminada configuracao, que se diferencia dos fantasmas, proj e sonhos diurnos, pelos quais 6 imagindrio penetra diretamente experiéncia. Portanto, também aqui se verifica uma transgressao de que condus do difuso a0 detetminado. Isto é altamente significativo para o texto ficcional. No ato de fingir, 0 uma determinagao que nao lhe ¢ prdpria ¢ adquire, desse | erminacio é uma definicao mi. © da determinagao alcangada pelo ato de fingir, muito embora possa uirir aparéncia de real na medida em que por este ato pode penetrar no o dado e af agir. Neste sentido, o ato de fingir realiza uma transgressio ites diversa daquela que & posstvel observar com relacio a realidade real repetida no texto. Nesta, a determinacao da realidade repetida edida por forca de seu emprego. No caso do imagindrio, seu carter . é transferido para uma configuragao determinada que se impoe no ‘dado como produto de uma transgressio de limites. E significative ‘as formas de transgressao de limites, realizadas pelo fingir no espa- cdo tiddica, sejam de natureza distinta. Na conversdo da realidade i ra coisa, a transgressao de limites manifes- fo; na conversao do imagindrio, que perde sem favor de uma determinacio, sucede uma realizagao (ein ciarse, assimy a articulagao resultante da relagao entre o real, 0 sndrio no texto literdrio. A substantivacio dos adjetivos desta 34 OFicticio € 0 Imaginario triade mostra serem eles apenas qualidades de um objeto construido a partir de suas relagdes reciprocas. Os componentes da triade se diferenciam na me. dida em que possuem fungGes distintas, cabendo porém ao ato de fingir, en. quanto modo operatério decisivo destas relagdes reciprocas, um significado crescente; isso porque ele se determina como a transgressio de limites daquilo que organiza e daquilo de que provoca a configuracao. O ato de fingir, como a irrealizagao do real ¢ a realizagdo do imagindrio, cria simultaneamente uni ata SE na ae pressuposto central que permite distinguir até que ponto as transgressoes de limite que provoca (1) representam a condigao para a reformulacao do mun- ep eratales Oh poate 2 compreensao de um mundo reformulado ¢ \ (3) permitem qu to seja experimentado. ~ Desaparece, assim, a oposigao entre ficgao e realidade, pois, como “sa- . ber tdcito”, ela sempre implica um sistema referencial que 0 ato de fingir, enquanto transgressao de limites, nao mais pode levar em conta. Pois se tra- ta agora de buscar relagGes, em vez de determinar posigoes. Isso ao mesmo ~) tempo significa afastar-se do projeto constante de um lugar transcendental, ~ sempre tido como necessdrio quando se tratava de comprovar, através dos atributos correspondentes, serem ficcao e realidade polos opostos. Desta ma- ont % 1s neira a discussao do ficticio, fundada na triade mencionada, eliminard mais do que um simples transtorno, se nos lembrarmos da histéria da teoria do conhecimento da modernidade: ao tentar teorizar sobre a ficcao, ela se viu forcada a reconhecer como ficgdes as suas préprias bases, sendo obrigada a abrir mao, face & crescente ficcionalizacao de si mesma, da pretensio de ser disciplina basica universal. ciagio funcional dos atos: ~combinagao ~ autoindicagio — ido pressuposto abre a possibilidade de situar o ficticio no text? mediante uma obseryacio mais detida, se revela compost? de fingir. Estes podem ser também apreendidos, porquanto su inaveis. Evidentemente, é necessdria a interacao de vat A « fen a imagind se realize a “mediacao”, no texto ficcional, entre o imag!” manece , com base no pressuposto j4 mencionado, sempre pe : i ; ns dos atos de fingir correspondentes, que realizam 4 de limites. | Atos de fingir 35 Como produto de um autor, cada texto liter4rio é uma forma determi- ~ || nada de acesso ao mundo (Wellenwendung). Como esta forma nao esté dada fe antemao pelo mundo a que o autor se refere, para que se imponha é pre- i e inser it-nao significa imitar as estruturas existentes de organizacio, mas sim decompé-las. Daf resulta a selegido. necessiria a cada texto ficcional, dos sistemas contextuais preexistentes, sejam eles de natureza oc A selegio é uma transgressao de limites na medida em que os elementos do real acolhidos pelo texto agora se desvin- culam da estruturacao semantica ou sistematica dos sistemas de que foram tomados. Isso vale tanto para os sistemas contextuais quanto para os textos li- terdrios a que Os novos textos se referem. Entretanto, sucede ainda algo mais. Ressaltam-se, em primeiro lugar, os campos de referencia enquanto tais, uma ‘yer que a intervengao seletiva neles operada ea reestruturacao de sua forma de organizagao daf resultante os supdem como campos de referéncia. Enquanto cles representam, como sistemas, a forma de organizacao de nosso mundo so- ioculeural, coincidem a tal ponto com suas fungées reguladoras que mal sio observados; sao tomados como a prépria realidadé. A selecao retira-os desta identificagao ¢ os converte em objeto da percepcao. A qualidade de tornar-se perceptivel, no entanto, nao ¢ parte integrante dos sistemas correspondentes, pois s6 a intervengao resultante do ato de selecao provoca esta possibilidade. Decorre daf que o ato da selecdo da a conhecer os campos de referéncia do texto como os sistemas existentes.cm seu contexto, campos que se dao a saber sé, WE SACHS, m_que sao transgredidos. A forma de organizagao ea validez, s se rompem agora porque certos elementos sao deslocados ¢ se” {OUtTOs CONTEXtOS; isso-vale-tanto-para normas e valores quanto para © aluses. Os elementos que o texto integra nao sao em si ficticios, élecao € um ato de fingir, pelo qual os sistemas, como campos de sao delimitados entre si, pois suas fronteiras sto transgredidas. perceptibilidade assim produzida dos campos de referéncia alcanca rspectivistica através da divisao destes campos de referéncia em Atos que sao atualizados pelo texto, enquanto outros permane- se os elementos escolhidos trazem 3 luz um campo de referén- nente por esta escolha que se mostra o que dat foi excluido. Os ‘0 texto retira do campo de referéncia se destacam do pano de € transgredido. Desse modo, os elementos presentes no texto pelos que se ausentaram. Assim, 0 elemento escolhido alcan Of, 36 0 Ficticio eo Imagindrio uma posigao perspectivistica, que possibilita uma avaliagao do que é presente no texto pelo que dele se ausenta. O ato de selecdo mais uma vez mostra um limite em cada campo de referéncia selecionado pelo texto, para outra yer transgredi-lo. E assim 0 mundo presente no texto é apontado pelo que se ausenta € 0 que se ausenta pode ser assinalado por esta presenga. = Tal processo tem carter de acontecimento que, portanto, nio € refe- | +} rencidvel e que, no caso presente, se manifesta pela auséncia de regras para a | "| selesio, pois que esta selecéo governada apenas por uma escolha feita pelo |+ «<4 autor nos sistemas contextuais, através de seu acesso ao mundo. Se houvesse é uma regra para a selegao, esta nao seria uma transgressio de limites, mayape- ae a livia Concepcio Vigente. sas | ie “0 ato lecao um ato de fingir que, como transgressio de limites, possui cardter de acontecimento, sua fungao se funda no que € por ele produzido. Se 0 ato de selecao constitui os campos de referéncia do texto como sistemas contextuais de contornos nitidos e diferencidveis, cujo limite é transgredido, entdo neste processo articulagbes precedentes sa0 suprimidas ¢ os elementos escolhidos se complementam com uma nova articulagao. Assim, os elementos cescolhidos ganham um valor diferente daquele que tinham no campo de refe- réncia existente. Suprimir, complementar, valorizar sao, entretanto, operacdes Bae pst bm Biisicas da “produgao do mundo”, como as denomina Nelson Goodman em cu Ways 9 Neste suprimir, com, € expressa também uma in- que s€ mostra nestas operagdes, mesmo que nao formulada no texto legao » possibilita entao aprender a intencio- n no contexto de liens reciprocas. Ela, por fim, se controle de tal interpretacao, porquanto campo de referéncia elementos escolhidos do segundo plano, que, por efeito da do ¢, desta maneira, concede & visibilidade do mundo reuni- teferéncia uma disposicao perspectivistica. Neste process? intencional do texto, que deve sua realizagao a irrealizaci0 desta forma dificuldades que até agora sobrecarregara™ * s intengao autoral. O desejo, tao frequentemente repetido de descobrir a verdadeira i intengao do autor conduziu 41" Atosdefingir 37 dagagao da psique do autor ou das estruturas de sua consciéncia, Esta situagZo sempre conduziu a solugées especulativas, FE. provavel que a intengao nao se reve- lenem na psique nem na consciéncia, mas que Possa ser abordada apenas através \ das qualidades de manifestacao que se evidenciam na seletividade do texto face \ a seus sistemas contextuais. Por conseguinte, a intencionalidade do texto é algo : que nao se encontra no mundo dado correspondente, sem que fosse antes algo ja imagindrio. Se ela se originar de um ato do fingir, se revelar4 como “objeto sransicional” iransitional object”)* entre-o-treal-e o imagindrio, 4 medida que transforma os campos de referéncia do texto no material de sua manifestagao e Oimaginario como a condicao de sua representabilidadé (Vorstellbarkeit). Como ato de fingir, a selecao encontra sua correspondéncia intratextu- al na combinacdo dos elementos textuais, que abrange tanto a combinabilida- de do significado verbal, o mundo introduzido no texto, quanto os esquemas responsdveis pela organizacao dos personagens ¢ suas acdes. A combinacao é um ato de fingir porque também ela possui a caracterizagao bdsica: ser trans- gressao de limites. Isso se mostra no plano lexical, por exemplo, no uso de neologismos, como a criagao joyciana de benefiction. Nesta combinacao de benefiction|bene- diction ¢ fiction, emprega-se o significado lexical para romper-se a determinacao _ semintica do léxico. O significado lexical é apagado para que um outro se ilu- __ tnine; troca por intermédio da qual a combinacao produz uma relagao de forma do que permite tanto uma delimitacao dos campos lexicais entre si quanto constante alteracao de perspectivas. As transformag6es semanticas assu- a0 feices diferentes dependendo de se a dimensio referencial diz respeito & r) ou ao fundo (Grund). A instabilidade de uma relacao de tal modo ada que conduz a oscilagao provoca um espectro semantico que nao mais ir a nenhum dos dois campos lexicais. estratégias da rima podem romper de modo semelhante as ificado lexical, como mostram os versos do “Prufrock” de Eliot: I, after teas and cakes and ices, strength to force the moment to its crisis?” de chs ¢ bolos e sorvetes, teria eu levar 0 momento & sua crise?) 38 0 Ficticio € 0 Imaginario ‘As palayras em situagio de rima ressaltam a divergéncia semantica jus- tamente por sua sonoridade. Se 0 mesmo aqui assinala a nao-equivaléncia, | combinagio entxo funciona como revelagao da diferenca no semelhante. Mais uma ver &ta diferenga se organiza como uma relacao entre figiira ¢ jo em que a crise é trivializada e o sorvete pode ganhar uma significacao imprevisivel. Em diltima andlise, haverd aqui e em inimeros casos semelhan- tes um aumento do potencial semntico porque a combinagao ¢ empregada de modo a permitir uma constante oscilagao face & relagéo forma ¢ fundo, enfatizando-se ora uma, ora outra. Caso semelhante se dé com os elementos do contexto selecionados pelo texto que servem na literatura narrativa, por exemplo, para esbocar vis6es esquematizadas, que apresentam personagens e ages. Daf resultam espacos semanticos cujos limites o herdi geralmente transgride," de modo que o ponto de relevancia do campo de referéncia é ora o fundo, ora a figura, originando-se, assim, uma rede de relag6es inexistente no simples esquema do texto. Como ato de fingir, a combinagao cria relacionamentos intratextuais. Como 0 relacionamento ¢ um produto do fingir, ele se revela, como a inten- do texto, como “fact from fiction”.'' Ele alcanga esta “faticidade” fica pelo grau correspondente de sua determinagao, mas também pela exercida nos elementos que ele relaciona entre si. Pois, nao sendo 0 uma propriedade destes elementos, nao partilha de seu cariter embora, por sua determinacao, provoque a aparéncia de ser 10, sua “faticidade” nao se funda no que é, mas naquilo que Pode-se daf dizer que cada relagao estabelecida nao sé al- elementos, mas os converte em posigdes que obtém sua avés do que excluem. O que é excluido se matiza na relagio © seu contorno; desta maneira, 0 que se ausenta ganha 0 realizada vive do que rechaca, entao o relacionamento- um ato de fingir, em princfpio apresenta 0 realizado ¢ © impo de copresenca que faz com que as relagSes realizadas existéncia de sombras e possibilitem que outras consig’™ O relacionamento, portanto, faz com que & Po Si sejam transgressoras de sua posicionalidade, m® goes realizadas — de acordo com a exigéncia intenc! ona Atos de fingir 39 Nao é preciso sublinhar expressamente que o relacionamento pode as- sumir miltiplas maneiras no texto ficcional. Hd, entretanto, certas catego- rizagGes que devem ser ressaltadas para que se mostrem as consequéncias re- sultantes da especificidade desse modo de fingir. Trés planos de rompimento de fronteiras, ou seja, de sua transgressio, se distinguem pelo relacionamento no texto ficcional. O primeiro conecta-se estreitamente ao processo de selegao e articula as convengoes, hormas, valores, alusdes € citages contidas no texto? “A ficc3o Berea Unidas dnnero-de ‘um-tinico-espago_uma variedade de lingua- gens, de niveis de focos, de pontos de vista, que seriam contraditérios noutras espécies de discurso, organizados quanto a um fim empirico particular’. Esta paradigmdtica do texto, derivada da selecio, se articula por meio das relagoes estabelecidas. Tais relagdes, no entanto, dificilmente podem ser des- critas como uma articulagao sintagmatica, pois o relacionamento nao segue fegras previsiveis. Ao contritio: “A forca, o poder de qualquer texto, mesmo j omais descaradamente mimético, esté naqueles momentos que excedem nos- Sa capacidade de categorizar, que conflitam com nossos cédigos interpretati- , os, mas que, apesar disso, parecem corretos”.* Quando tais relacionamentos S80 Convincentes, sem que possuam uma regularidade comandada por um cbdigo, é porque, através deles, os elementos agora interligados logram trans- ipfedir os valores de antes. A mudanca de valor é um processo plaustvel que se realiza continuamente pelo relacionamento do material retirado sobretudo 0 contexto a que pertence o texto. Este processo é especialmente notado na literatura narrativa, onde os ns representam normas diferentes, cujo relacionamento revela a de certas normas, para que sua transgress4o se compreenda como por limitagao inevitével. » plano de relacionamento se mostra onde determinados «s- icos $40 organizados no texto literdrio pelo relacionamento. campos de referéncia incratextuais, resultantes dos elemen- texto se apropriou. Estes campos sao em geral motivo para que nsgrida as fronteiras, em principio insuperdveis, existentes en- os. Esta transgressao de fronteiras é, no sentido de Lotman, um to relacionado ao tema, que se revela como. element, revolu- am que se opée “2 classificacdo vigente™." Mas isso pois é também relevante para apenas para a literatura narrativa, 40 0 Ficticio e o Imaginério a lirica, em que 0 eu-lfrico se constitui como ponto de intersegao dos es- quemas, que derivam dos mais diferentes discursos do contexto do texto ¢ sao introduzidos no poema. Resultam dai, desde logo, relagées diferencia das entre os esquemas discursivos escolhidos, que devem ser transgredidos como ponto de intersegao de todos estes discursos, ara que 0 eu-lirico, a 1° Como 0 heréi do romance, possa assumir sua configuragio individual i é também apenas pelo “efeito de transgressao” que 0 eu-lirico ¢ capaz de mostrar a topografia semantica posta no poema. Assim, sucede uma alte- ragao dos valores, que, a partir da organizagao intratextual, produzem os espagos semanticos. Tal violagao do sistema semantico secundario resul- tante possui cardter de acontecimento porque 0 “teferente” da semAntica dai derivada quebra com aquela determinagao provocada no texto pelos processos de selegao e combinagao._ As “agoes dos personagens ficcionais importam enquanto representa possibilidades de relacionamento. Neste caso, a ficgao nao é apenas realizagho de um relacionamento, mas também representagdo de relacionamentos ou comunicacao sobre relacionamentos”."° Se 0 relacionamento, nesta forma, chegar até a autoapresentagao, mostrar também a amplidao do leque de diferentes relacionabilidades dos elementos entre si articulados e mostraré em que medida os elementos articulados na rede de relagao podem mudar, nforme os modos de relacionamento. No que concerne ao terceiro plano, basta aqui a referencia ao jé dis- o plano lexical de relacionamento, que se manifesta no rompimento de significados desaparecem em favor de certos relacionamentos”..” binacao como um ato de fingir, exprime-se uma forma parti- lacionamento se mostra, no plano do signifi- O relacionamento é a0 mesmo tempo um process © rompimento do significado lexical, passando pela anticos, até a alteragao do valor. Ele, entretanto, nao forma verbal propria, que seria surpreendida ¢™ do texto. Segue-se dai que o relacionamento, com? , € captavel a partir de seus efeitos mostrados ™ Q relacionamento converte a fungio designativa em fungio figuratiy Se no uso figurativo da lingua seu carter denotativo ¢ paralisado, way de saparece entretanto a referéncia, Mas a referéncia de uso figurative, nascido do relacionamento, nao é mais resgatavel a partir dos sistemas de referencia existentes. Tal referéncia visa & expresso ¢ representagao, Se compreende mos a expressdo ¢ a Tepresentagio, como Goodman as apresentou,"” come referencia (Bezug) a que remete o uso figurativo da lingua, resulta duas consequéncias: 1. Aquilo a que remete este tipo de linguagem nao ¢, em mesmo, de natureza verbal. Também nao existe como um dado objetivo, que exigitia apenas a fun¢ao designativa da linguagem para que pudesse dizer algo sobre ele. Este € 0 motivo por que a linguagem em questo deve transgredir sua fungao designativa, para manifestar, pelo uso figurativo, a intraduzibili dade de sua referencialidade. 2. Como tal linguagem n4o mais designa, abre -se entao, por intermédio de sua figuragio, a possibilidade de se representar aquilova que se refere, Neste caso, a prépria lingua se despotencializa em um andlogo, que implica tao 36-4 condicao para a representabilidade possivel, e, ‘a0 mesmo tempo, significa nao ser idéntica Squilo que trata de representar. Surge entao, na referéncia da linguagem figurativa, uma ambiguidade pe- “culiar: ela funciona ao mesmo tempo como andlogo da representabilidade como signo da intraduribilidade verbal daquilo para que aponta. Vejamos agora a qualidade apreensivel do ficticio no relacionamento. roduto de um ato de fingir, 0 relacionamento é a configuracao con- indrio. Este nunca pode sé integrar totalmente na lingua, cio, enquanto concretizagio do imagindrio, nao possa prescin- inagao da formulacao verbal, para que, por um lado, charne a que se trata de representar e, por outro, para que introduza diversas, no campo dos mundos existentes, 0 que se mani- 0.9 gir do texto ficcional, até agora descritos, ou seja, os da binagdo, diziam respeito a transgressao de limites seja, 4 transgressdo dos campos de referéncia intratex- ar-se uma complexificagao crescente. Como produto ¢ namento nao se refere apenas a elaboracio dest do material selecionado, mas igualmente ao rr ferenc pos. Isso nos levou.a reconhecer uma d. do ficticio. Esta diferenciacao crescerd ainda 1 42 OFicticio € 0 Imagindrio que consiste no desnudamento de sug tratarmos agora doutro ato de fingi icionalidade, . : , Este ato é caracteristico da literatura em sentido lato, que se dé 4 conhecer como ficcional, a partir de um repertorio de signos. Nao se pode ae =m d 0 texto abordar aqui a multiplicidade dos repert6rios de signos pelos qu ficcional se revela na literatura. Deve-se entretanto ressaltar que este reper- tério de signos nao se confunde co! por que fracassaram todas as tentativas de de , ‘Sinal de ficgao no texto assinalado ¢ antes de tudo reconhecido através de conveng6es determinadas, historicamente variadas, que o autor ¢ o publica compartilham € que se manifestam nos sinais correspondentes. Assim, o sinal de ficgao nao designa nem mais a ficgao como tal, mas sim o “contra- to” entre autor e leitor, cuja regulamentagao comprova o texto nao como discurso, mas sim como “discurso encenado”.” Desse modo, os géneros literdrios se apresentam como regulamentagoes efetivas de longo prazo, que permitem uma multiplicidade de variagoes histéricas nas condigées contratuais vigentes entre autor ¢ ptiblico, Contudo, mesmo designagées de curto prazo, caracteristicas de certas situagdes, como a de “romance nao ficcional”, funcionam do mesmo modo, porquanto a convengio é ai firmada justamente por seu desmentido. Nesta familiaridade rotineira em nds desperta o repertério de signos — por certo apenas esbogado - 0s signos linguisticos do texto; razig monstrar 0 contrario. Pois o nde uma consequéncia significativa. Pois as ficces nao existem ficcionais; clas desempenham um papel importante tanto idades do conhecimento, da a¢ao e do comportamento quanto no “instituigoes, de sociedades e de visdes de mundo.” De ides de fic¢ao, o texto ficcional da literatura se diferencia pelo ficcionalidade. A prdpria indicagao do que pretende o face aquelas ficcdes que nao se mostram como tais. O acontece ali onde a ficgao precisa apresentar os proces- fundamentagao. Por isso, a rentincia ao desnudament ente de uma intengao de fraude; ele nao se realiza seria afetado o valor da explicaco ou da fundament® € como aparéncia da realidade, de que ela, neste at ental ncionar como a condigao transcend ‘Atos de fingir 43 Mas se um texto ficcional se dé a conhecer como tal, através de sinais do contrato vigente entre autor e leitor, mudard a atitude em relagao ao que * |\ 0 texto apresenta, Quando isso nao acontece, surgem erros do leitor, que a jteratura varias vezes tematizou; por exemplo, quando Partridge, no Tom Jones, de Fielding, toma uma apresentagao do Hamlet nao como pega de teatro mas como a prépria realidade, em que, devido aos acontecimentos espantosos, acredita que deve intervir.”® O proprio Shakespeare jé fornecera no Sonho de uma noite de veraoo paradigma disso, quando os operarios-ato- res afirmam constantemente a seus espectadores que nao precisam temer 0 leo, pois este nao é real mas apenas representado por Snug. A ilusio nao corre por conta da ficcionalidade do texto, mas sim da ingenuidade de um modo de pensar que nao é capaz de registrar os sinais do ficcional. No entanto, o texto ficcional contém muitos fragmentos identific yeis da realidade, que, através da selecao, sao retirados tanto do contexto ‘sociocultural quanto da literatura prévia ao texto. Assim, retorna ao texto Ficional uma vealidede de todo revonhesie posta entreranto agora sob 0 signo do fingimento. Por conseguinte, este mundo é posto entre parénte- “ses, para que se entenda qué o mundo representado nao é 0 mundo dado, mas qué deve ser apenas entendido como se o fosse. Assim, se revela uma consequéncia importante do desnudamento da fico. Pelo reconhecimento do fingir, todo 0 mundo organizado no texto literdtio se transforma em ‘um como se. O por entre parénteses explicita que todos os critérios naturais . to a este mundo tepresentado devem ser suspensos. Assim, nem 0 mun- ) representado retorna por efcito de si mesmo, nem se esgota na descrigao mundo que lhe seria pré-dado. “Aqui jé aparece uma primeira diferenca significativa quanto a ficgao ee Cardter, pois nela se mantém os critérios “naturais”. E mes- vel que a funcao da dissimulacao seja a de manter intactos os cri- “naturals”, para que a ficcao seja compreendida como uma realidade. Vesa Se dE TO CaSO de Os Critérios “haturais” serem postos entre , pois o paréntese implica que 0 mundo af posto nao é um objeto si mesmo, mas objeto de uma encenagio ou de uma consideragao tipo. Assim, na verdade, a realidade se repete no texto ficcional, mas itividade é superada por estar posta entre parénteses. Resulta dai ite um trago caracteristico do como se: pelo paréntese.¢-sempre assi- resenca de um aspecto da totalidade que, de sua parte, ndo pode ser 44 0 Ficticio e 0 Imaginario | uma qualidade do mundo representado, no minimo porque este foi constity- | | ido a partir de segmentos dos diversos sistemas contextuais do text : Neste aspecto da toralidade, destaca-se a fungio do uso, gragas & qual a fiogao entra na obra. Por conseguinte, também a realidade representada no texto nao deve ser tomada como tal; éla &a referencia de algo que cla nao é mesmo se.este algo se torna representavel por ela. E necesséria uma abordagem mais aprofundada do como se para que se entendam suas consequéncias. A particula da frase condicional significa, como Vaihinger formula, “que a condigao por cla estabelecida & irreal ou imposstvel’.» Julgar 0 mundo emergente no texto ficcional como se ele se confundisse com 0 mundo real significa ainda que se almeja encontrar um elemento de comparagao que, entretanto, se limita a particula da condicio- nalidade. Entender o mundo emérgente no texto como se fosse um mundo significa relaciona-lo com algo que ele nao é. “Assim, se afirma forgosamente a equivaléncia de uma coisa com as consequéncias necessdrias de um caso im- possfvel ou irreal [...]. Assim, se finge um caso impossfvel, dele se extraem as consequéncias necessdrias e com estas consequéncias, que deveriam ser tam- bém impossiveis, estabelecem-se equivaléncias, que nao se deduzem da pré- pria realidade existente”.”* Assim, 0 conjunto de particulas do como se serve para “estabelecer equivaléncias entre algo existente e as consequéncias de um caso itreal ou impossivel”.®* Se o texto ficcional relaciona 0 mundo por ele representado a este “impossivel”, a este “impossivel” faltara precisamente a “determinagao que alcanga através de sua representacao. Podemos denominé- -lo de imagindrio porque os atos de fingir se relacionam com 0 imaginétio. tanto, 0 como se significa que o mundo representado nao € propriamente indo, mas que, por efeito de um determinado fim, deve ser representa- como se o fosse. Pois sempre “onde ocorre esta comparacao imagindtia comparacao com algo imagindrio, e nao se tratando apenas de um de representagées, mas com alguma finalidade pratica, de modo paracao derivam consequéncias, a expresso como se é adequad compara algo existente com as consequéncias necessdrias de um E de se ressaltar que esta atividade imaginativa deve ter alg™ € pratica, alguma finalidade: s6 neste caso a funcio imaginativ® ¢ 3 Pois nao se trata, sem que haja alguma finalidade, de tomar algo que ¢ irreal”.®* Se assim o “imagindrio” ganha a sua confi ente pela finalidade, deve-se observar que o mundo representa te sa as pe dre te. feit me mit de Atos de fingir 45 no texto ainda nao é a finalidade do texto; ao contrério, ele constitui, como termo de comparac’o determinado, a condigo para que se torne represent4- vel a dimensio do uso, indicada pelo paréntese. Esta condigao é preenchida pelo mundo representado no texto na me- dida em que ela provoca uma dupla referencia (Verweisung), a que devemos permanecer atentos. O mundo representado no texto tem um efeito sempre ambivalente, porque, na concretude de sua representacao, parece designar um mundo por ela representado. No entanto, os atos de selecao e combina- ao ja revelaram que o mundo do texto, por eles construfdo, nao é idéntico ao do contexto. Segue-se daf que o mundo representado no texto nao designa um mundo existente; por isso, seu hébito designativo apenas funciona como a condigao de uma referéncia. Com 0 como se é posstvel indicar a orientacao desta remissao: 0 mundo representado hé de se tomar como se fosse um mundo. Daf resulta que 0 mundo representado no texto nao se refere a si mesmo e que, por seu cardter remissivo, representa algo de diverso de si préprio. Mostra-se aqui de novo © modo caracterfstico do ficticio: ser transgressio de limites. De todo modo, deve-se destacar 0 fato de que com a ficcao do como se ocorre a transgressio daquilo que, de sua parte, como mundo representado no texto, j4 materializa um produto proveniente dos atos de fingir. Esta situagio merece ser aqui assinalada porque os efeitos acumulados de transgressao do ficticio podem - explicar como um mundo constantemente reformulado pelos atos de fingir da assim permanece acessfvel 4 compreensao. Uma observacao critica de Diirrenmatt a propésito da encenaco, por gio Strehler, de Velha senhora ilustra a importancia da distingao entre ar (Bezeichnen) e 0 remeter (Verweisen) a0 mundo representado no peca por ter-se esforcado em apresentar a cena na estacio ¢ todas s com a maior fidelidade. Desta maneira, diz Diirrenmatt, surgiu na realismo que tinha de destrui-la. Pois 0 autor incorporara em seu a série de alusdes, que deveriam dar ao ptiblico a sensagao constan- se de uma peca de teatro. Noutras palavras, a propria peca fora n sinais ficcionais para que apresentasse 0 mundo representado a0 empo no modo do como se. No momento porém que a diregao supri- is ficcionais e, assim, eliminou 0 como se, tornou-a representacao 46 OFicticio eo Imaginario a pega se transformara na designagio de ta] Se assim se produz uma ilusig lade representada serve ag tadores. Como, pela encenagio, ‘ realidade, a dimensio remissiva se esvaziara. Se a de realidade, que se cumpre & medida que a realid: propésito de designd-la, cabe perguntar 0 que pretende esta representacio, Pois a reconducio da realidade representada & fungao designativa Provoca a ideia de uma redundancia bizarra, que — se 140 materializa, de sua parte, uma possbilidade refinada de representagao — torna de faro supérflua a realidade representada. Se, entretanto, 2 redundancia fosse um modo de representa- 40, jé se teria nela manifestada a dimens4o remissiva, na medida em que a Tedundancia nao aponta para si mesma, mas é representagio de algo outro, Este é um modo de representagio com que trabalha, por exemplo, a literatura documental contemporanea. Assim, a critica de Diirrenmatt é muito sugestiva por mostrar que a tentativa de retirar da determinago do mundo representado seu caréter de como se conduz forcosamente 2 climinacéo do elemento de comparacio ai manifestado. Se a retraduzibilidade do mundo representado em evidéncia realista condiciona a sua destruigao, isso significa que o mundo representado do texto nao é mimético. ‘Ao mesmo tempo, porém, o mundo representado no texto é uma ma- terialidade que, por seu cardter de como se, nao traz em si mesmo sua de- terminagao, que deve ser procurada e encontrada apenas em relacao com algo outro. Se um diretor como Strehler sacrifica a remissao por privilegiar a designacio, faz com isso aparecer uma certa ambivaléncia no mundo te- Ppresentado no texto, que, enquanto tal, remete a alguma coisa sem nem pot isso suprimir a funcao designativa; esta subsiste a partir dos materiais que si0 » pelos atos de selecao e combinacao, do contexto do texto, ¢ que si0 s como um mundo. Desta maneira conserva-se formalmente 1° um elemento designativo. Se o como se assinala que 0 mundo represe™ ser visto como se fosse um mundo — sem que seja retratado com? €necessdrio manter um certo grau de designacao para que 0 mu" se transformar na condicionalidade intencionada. Esta sujeisi0 designativa & remissiva mostra que o mundo representado, enqua"? algo, tem apenas o cardter de andlogo, pelo qual se exemplifict® mediante a forma de um determinado mundo. o mundo do texto se caracteriza pelo como se, isso diverso deve ser introduzido no mundo representado no text em ignifica que * 4 que Atos de fingir 47 al o dle proprio nao é. Pois 0 elemento de comparacio na expresso como se é urn i “mpossivel” ou um “irreal”, a que se deve visar através do mundo represen- ‘ tado. Embora ele nao seja um mundo real, deve ser considerado como tal, ci fazendo com que a finalidade, que comega a se esbogar pelo ato de remissao, possa ser compreendida como a possibilidade de seu tornar-se perceptivel : (Wahrgenommenwerden). Este mundo serve apenas para tornar acessivel a : consideragio 0 que por ele ¢ designado ¢ que, por seu turno, nao é parte s integrante do mundo dado. Assim, 0 como se suscita também reages nos re~ ceptores dos textos ficcionais. Pois imaginar 0 mundo do texto como se fosse um mundo provoca atitudes; assim, se transgride 0 mundo representado no texto ¢ 0 elemento de comparacao visado recebe uma certa concregao. Se a reago afetiva permanece orientada pelo mundo do texto, na atitude se realiza um imagindrio como figura de representagao. O como se provoca, portanto, um ato de representagao dirigido a um determinado mundo, que nao se re- laciona nem subjetiva, nem objetivamente, com as referencias; em vez disso, ocorre uma dupla transgressao de limites do mundo do texto ¢ do difuso do imagindrio. A representacao do sujeito enche de vida 0 mundo do texto € assim realiza 0 contato com um mundo irreal. Causar reages sobre o mundo : seria entao a fungdo de uso produzida pelo como se. Para isso é necessdrio ; irrealizar-se o mundo do texto, para assim transformd-lo em andlogo, ou seja, 1 em exemplificagao do mundo, para que com isso se provoque uma relacao de reagdo quanto ao mundo. ‘Mas 0 andlogo também pode ter mais uma fungao. O mundo repre- sentado no texto, enquanto produto do fingir, resulta dos atos de selesao ¢ combinacéo ¢ nao tem nada de idéntico ao mundo dado. O mundo do texto permite, portanto, que por ele sejam vistos os dados do mundo empirico por ‘uma 6tica que nao lhe pertence, raz4o por que constantemente ele pode ser isto de forma diversa do que é. Dai que a reagao que 0 como se desperta no ito do mundo do texto possa se referir também a realidade empirica, que, és do mundo do texto, é visada a partir de uma perspectiva que nao se ‘com uma outra do mundo dado da vida real (Lebenswelt). Se a ficgao do como se provoca atividades de orientacao ¢ de repre- 40 nos receptores €, portanto, desperta reag6es, é de se perguntar em ‘medida o mundo irrealizado do texto possui efeitos retroativos sobre os a partir da representabilidade por ele estimulada. Noutras pala- ‘© como se condiciona apenas a transgressao de limites do mundo posto Te ee ee ee 48 OFicticio ¢ 0 Imagi entre parénteses ou também das atividades provocadas nos receptores? Para responder a esta pergunta, podemos langar mao do caso concreto do ator, Um intérprete de Hamlet, por exemplo, nunca pode identificar-se total. mente com Hamlet, no minimo porque nunca terd plena certeza de quem é Hamlet; como pessoa, este nunca existiu. Assim, ele se verd permanentemen. te, ou seja, a seu corpo, a suas emogées, a seu espirito, como um anélogo, para que, desta maneira, represente 0 que nao é. Para alcangar a determinacao de uma figura irreal, 0 ator tem de se irrealizar. Por este motivo, a realidade de seu corpo se despotencializa em um andlogo para que, por intermédio deste, uma configuragao irreal ganhe a possibilidade de sua aparéncia real.” Ou seja, a representabilidade daquilo que é provocado pelo como se significa que nossas capacidades se p6em a servigo desta irrealidade para, no proceso de irrealizagao, transformé-la em realidade. Se o ficticio nos possibilita nos irrealizarmos para garantir & irrealidade do mundo do texto a possibilidade de sua manifestacao, entao, pelo menos estruturalmente, nossa relagao com o mundo do texto terd carater de aconte- cimento. Pois este se origina da violacao de limites estabelecidos ¢ se subtrai & referencialidade, pois nao se deixa reconduzir ao estado (Gegebenheit) de significado. Através deste cardter de acontecimento, o imaginrio se converte em experiéncia, possibilitada pelo grau de determinacao que o imaginério alcanga por meio da ficgio do como se. Daf resulta um estado de tensio que estimula sua supressao. A possibilidade desta se da pela recondugao do que se manifesta no acontecimento a um sentido. Pois as tensdes s6 se dissipam por _um processo de semantiza¢ao. Sabemos pela psicologia gestaltista 0 quanto sponde a nosso hébito orientar a atividade de classificagao em curso i percepcdo e pela representacao, ai empregadas no sentido de fechar as de percepcao, ou seja, de representacao, que vierem a ser produzidas. \do uma Gestalt se fecha, realiza-se a Percep¢ao, ou seja, o objeto ima- fa consciéncia imaginante (Vorstellungsbewuftsein). Por iss 30s, procuramos constantemente arranjar os dados, de maneita ibuamos de modo a possibilitar a eliminagao da tensao existent icemos, na Gestalt fechada, a determinacao pretendida. Se 0 fic- ites no texto ficcional para em seguida rompé-los, a fim de as: fa concretude ao imagindrio, com a qual ele se torna efica Produz nos receptores a necessidade de controlar a experien Ito do imagindrio (das ereignishafte Erfahren des Imaginire”) tica sen dev end riér den ao | del diss este con de: fice seni no | der: nen pro} doi con sup éin inte gad de « aguc com zer q reco nari assin que. mest Mos de fing 49 A este respeito, vale assinalar um importante achado da psicolinguls- : tica: toda expresso verbal é acompanhada pela expectativa da constincia de sentido.”* Pois tudo 0 que ¢ dito significa alguma coisa, muito embora se deva levar em conta que quem deseja compreender a lingua deve compre= ender mais do que a lingua.” Por conseguinte, parece natural que a expe- riéncia do cardter de acontecimento do imagindrio provoque no receptor a demanda de fixagao do sentido, para que o acontecimento seja reconduzido ao familiar, conquanto assim se contradite o acontecimento, pois é proprio dele o ultrapassar os sistemas de referéncia. No entanto, mesmo que se saiba disso, nao se deve suspender a semantizagao desta experiéncia, Uma vez que estes processos sao, por sua natureza, imprescindiveis, deve-se pelo menos compreendé-los com maior clareza. Se a semantizagao ¢ os atos de doagio j de sentido resultantes derivam da tensio que se apossa do receptor do texto ficcional, em virtude do cardter de acontecimento do imagindrio, entio o sentido do texto é apenas a pragmatizagio do imagindrio ¢ no algo inscrito no proprio texto ou que lhe pertencesse como sua razo final. Se assim consi- derarmos, 0 sentido do texto nao seria nem sua tiltima palavra (sein Letztes), nem seu termo origindrio, mas sim uma operacio inevitdvel de traducao, provocada ¢ tornada necesséria pela forga de acontecimento da experiéncia do imagindrio. Se, a0 contrério, nos inclinamos a entender o sentido do texto como sua tiltima palavra ou seu termo otigindtio, é de se indagar se com esta suposi¢ao nao interpolamos no texto, como sua razio constitutiva, algo que € inevitavel 4 experiéncia do imagindrio. Do ponto de vi cao é plausivel. Por um lado, ela suprime a tensio resultante da for- de acontecimento do imagindrio e, por outro, corresponded expectativa Ancia do sentido da expressao verbal. Entretanto, assim elidimos a eza da observacao que nos diz que, para compreender a I{ngua, é preciso der mais do que a lingua. om esta avaliacao dos atos de doagao de sentido, nao deva ou se possa renunciar a cles. Ao contrdrio, estes atos permitem até que ponto representam, enquanto pragmatizagao do imagi- inevitabilidade de um processo de tradugao pelo qual conseguimos uma experiéncia que, mais uma vez, se origina da transgressao do sta psicolégico, esta ¢ pretende di- sentido, a semantizagao produz, no Ambito dos receptores, o 0 de tradugao que o ficticio no texto ficcional efetua no am 50 0 Ficticio € 0 Imagin: bito dos produtores. Se o ficticio é a traducao do imagindrio na configuracs, concreta para o fim de uso, a semantizacao ¢ a traducto de um aconteg, mento experimentado na compreensio do produzido. Sé0 estes proces. complementares de tradugao do imagindrio que comprovam que este ¢ energia constitutiva do texto ficcional. O texto ficcional teria uma compre ensio estreita desta dimensao se as operagdes de semantizacio inevitéves dg, receptores conduzissem desde ja & interpolagio no texto do sentido, como ,. ele fosse sua razao constitutiva origindria. Corresponde ainda & nossa experiéncia com os textos que estes sejan compreendidos de modos diversos. As raz6es disso s4o bem conhecidas,§. nao compreendermos a diversidade de entendimentos como 0 malogro con, tante de uma tarefa de Sisifo, consagrada a descoberta do sentido oculto, con, tataremos ent4o como com este conceito explicitamos, simultaneamente, ym limite da seméntica; pois, em tiltima andlise, ele significa uma dimensao que se esfuma no texto ficcional, que pode ser entendida como experiéncia por certo decifrével, sem que seja plenamente determindvel e, com isso, semant. camente exaurivel. A diversidade de possibilidades de compreensao do text literdrio aponta para o limite da semantica ¢ evidencia que este problema nip pode ser resolvido tomando-se a semantica como referéncia. Por isso mesmo, é possfvel que o mesmo texto faca “sentido” em situagdes muito diferenciadas, A partir dai possivel compreender os entendimentos diversificados de um texto ficcional como a caracterizaco pragmética de sua semantica. Se a semantic ‘de um texto é caracterizdvel apenas pragmaticamente, seria entdo penoso que traindo-se das situagdes, se quisesse ostentar um sentido do texto como 40 constitutiva. Seria mais simples, ao invés, ver nos diversos modos de izagao o indicio da miltipla disponibilidade do imaginario. de fingir, que aparecem no texto ficcional, apresentam um t ite: serem atos de transgressao. Na selecdo, sao transgredidos do texto, mas também o € a imanéncia do prépti? €m seu repertério a transgresso dos sistemas contextutls combinacao, ocorre uma transgressio dos espacos semintr ente constituidos, o que vale tanto para a ruptura de limit par afir met daf min aper por rién um tem face derh tem mun Assit peri por « do confi por-< na fo culia nem. deter lado transi Provo fictici proc nas pc do tex paz de dado ¢ Atos de fingir 51 parénteses este mundo e assim evidencia que nao se pode proferir nenhuma afirmagao verdadeira acerca do mundo af posto. Em principio, o desnuda- mento assinala duas coisas. Em Primeiro lugar, significa para o destinatario da ficgao que ela deve ser tomada como tal. Além disso, afirma que aqui do- mina a hipotese de que hd de se supor como mundo 0 mundo representado, apenas para que assim se mostre que é representagao de algo outro. Sucede por fim uma Ultima transgressio que 0 texto provoca no repertério de expe- riéncias dos receptores; pois a atividade de orientacao provocada se aplica a um mundo irreal, cuja atualizagio tem por consequéncia uma irrealizagao tempordria dos receptores, Se 08 atos de fingir encontram seu trago comum na transgressao, é entao face a esta que se mostra a atualidade das diversas particularidades (Beson- derheiten), pois estas se realizam como operagdes complementares, que permi- tem 0 processo de reformulacao do mundo, que nao encontra seu idéntico no mundo, deixando aberta tanto a experiéncia quanto, por fim, a compreensio. Assim, o ficticio funciona exatamente pela ordenagao de seus atos como ex- perimentabilidade e compreensibilidade de reformulagao dentro do mundo. Os atos de fingir reconheciveis no texto ficcional se caracterizam entao por darem lugar a determinadas configuracées, distinguiveis entre si: a sele- ‘¢4o resulta na configuracao da intencionalidade do texto; a combinacio, na configuracao do relacionamento; ¢ o autodesnudamento, na configuracao do entre-parénteses. Poder-se-ia descrever estas configuracdes apoiando-se formulacao j4 empregada de Goodman: “fact from fiction”. Sua pe- idade consiste em que nem sio qualidades daquilo a que se referem, idénticas a0 imaginario. Ao contrério do imaginério, sio altamente quanto 3 faticidade de seus campos de referéncia, so 0 nio- ficticio entao se qualifica como uma forma especifica de “objeto 2! que se move entre o real e o imaginério, com a finalidade de muitua complementaridade. Enquanto “objeto transicional” 0 um fato, porquanto por intermédio dele se realizam continuos troca, ainda que em si mesmo seja ele um nada, pois existe ape- processos de comutacio. , 0 ficticio tampouco se confunde com o fundo constitutivo to menos o sentido ¢ este fundo, tanto menos 0 ficticio é ca- Se 0 sentido é a operacao semantica que se realiza entre o texto receptor, entao 0 ficticio é apenas a condi¢ao para a reformula- Bs 52 0 Ficticio eo Imaginario a0 das realidades postas ¢ dai transgredidas no texto. Como, no entanto, ¢ imagindrio no texto literdrio se concretiza € se torna eficaz apenas através q. ficticio, ele precisa introduzir-se na lingua. Obrigado a verbalizar-se, Pode se mostrar como tal apenas por meio da abertura da organizacao textual, Es. abertura adere tanto a intencionalidade do texto quanto ao relacionament, ao pr-entre-parénteses. Pois, na intencionalidade, as decisdes de escolh _ adequadas aos campos de referéncia extratexuais correspondentes, dos quais derivam os elementos selecionados — nao sao capazes de se verbalizar. Ny relacionamento, tampouco se verbaliza a correlagao dos campos semanticos intratextuais, ou 0 acontecimento revoluciondrio de sua transgressio, No por-entre-parénteses, por fim, a finalidade nao se verbaliza porque foi ela que Se apresentou entre parénteses. Desta maneira, os pontos “arquimédicos” do texto se afastam da verbalizacao, manifestando-se, na indicada abertura, pela configuracao verbalizada do texto, a presenga do imagindrio. Deriva dai uma derradeira realizagao do ficticio no texto ficcional. O ficticio oferece agora a0 imagindrio a possibilidade de que este se faga presente no produto verbal do texto, na medida em que a propria lingua é transgredida e enganada, para que, no engano da lingua, o imagindrio, como causa possibilitadora do texto, Atos de fingir 58 Notas ' Aproveitamos a traducao brasileira da primeira versio deste capitulo de Luiz Cos- ta Lima e Heidrun Krieger Olinto. In: Luiz Costa Lima (org.). Teoria da literatu- ra em suas fontes. V. ll, 2* ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983, pp. 384-416 (N. do T)). * Odo Marquard. “Kunst als Antifiktion — Versuch tiber den Weg der Wirklichkeit ins Fiktive”. In: Dieter Henrich & Wolfgang Iser (orgs.). Funktionen des Fiktiven (Poetik und Hermeneutik X). Munique: 1983, pp. 35-54. * No presente contexto, o real ¢ compreendido como o mundo extratextual, que, enquanto faticidade, € prévio a0 texto ¢ ordinariamente constitui seus campos de referéncia. Estes podem ser sistemas de sentido, sistemas sociais e imagens do mundo, assim como podem ser, por exemplo, outros textos, em que se efetua uma organizacao especifica, ou seja, uma interpretacao da realidade. Em consequéncia, 0 real se determina como 0 miiltiplo dos discursos, a que se refere 0 acesso a0 mundo do autor, tal como mostrado pelo texto. Neste ensaio, o ficticio ¢ compreendido como um ato intencional, para que, acen- \do o seu “cardter de ato”, nos afastemos de seu carater, dificilmente determ el, de ser. Pois, romado como 0 nao-real, como mentira ou embuste, o ficticio fe apenas como conceito antagénico a outra coisa, que antes esconde a sua peculiaridade. “imagindrio” é aqui introduzido como uma designacao comparativa- ra €, dai, distinta das ideias tradicionais sobre ele. Renunciou-se por como faculdade imaginativa, imaginagdo, fantasia, que trazem la ampla carga de tradicao, sendo com frequéncia justificados como fa- bem determinadas e claramente distintas doutras. Pense-se por r6ria do conceito de fantasia e ver-se-4 que para 0 idealismo alemao valgo bem diverso do que representa para a psicanilise e que, dentro ra Freud o que ¢ para Lacan. Como nio se trata de, face a0 texto © imaginério como uma faculdadé humana, mas de circuns- iras como cle se manifesta € opera, com a-escolha desta designacao para um programa do que para uma determinagao. Trata-se de indrio funciona, para que, a partir dos efeitos descritiveis, ==e=V_0" 54 O Ficticio € 0 Imaginario abram-se vias para o imagindrio — proposta que, no presente ensaio, ¢ Sa re ene o Reiclo Co agindrio; cl, a respeit, capitulo TV tak « Edmund usserl. Phantasle, Bildbewusssein, Erinnerung. Zur Phinomeng j anschaulichen Vergegenwitrtiqungen (Gesammelte Werke XXIII). Eduard er ac (org.). Den Haag: 1980, p. 535. W” Nelson Good! of Worldmaking. Hassocks: 1978, pp. 10-7, 101-2, * Bose termo é de D. W. Winnicott. Playing and Reality. Londres: 1971, pp, 1\.4 » TS, Eliot. Collected Poems 1909-1935. 154 ed. Londres: 1954, pp. 13 ss, Cf, a respeito, Juri Lotman. Die Struktur literarischer Texte (UTB 103). Trad, alema de Rolf-Dieter Keil. Munique: 1972, pp. 342 ss. « Nelson Goodman. Ways of Worldmaking. Hassocks: 1978, p. 102. _p "Jonathan Culler. Structuralist Poetics, Structuralism, Linguistics and the Study Literature. 24 ed. Ithaca: 1977, p. 261. 2 iat ee, _p" Lotman, p. 334. Chea respeito Karlheinz Stierle. “Die Identitit des Gedichts — Hildertin als Pan digma’. In: Odo Marquard & Karlheinz Stierle. Identiti (Poetik und Hermencs tie VIII). Munique: 1979, pp. 505-52, assim como minha exposigao “Figura nen des lyrischen Subjekts”, ibidem, pp. 746-9, sobre as teses daquele ensio, Johannes Anderegg. Literaturwissenschafiliche Stiltheorie (Kleine Vandenboes _ “Reihe 1429). Géttingen: 1977, p. 93. O conceito de relacionamento também’ ~ central na teoria estlistica de Anderegg. Goodman, p.93- % Tbidem, pp. 29-33 € 102-7. __ Umaandlise mais detalhada da interacao entre 0 ficticio ¢ 0 imaginsrio se encont no capitulo IV. Rainer Warning. “Der inszenirte Diskurs. Bemerkungen zur pragmatischen Re n der Fiktion” jeter Henrich & Wolfgang Iser (ongs.). Funksionen iven (Poetik und Hermeneutik X). Munique: 1983, pp. 183-206. a respeito, entre outros, Arnold Gehlen. Urmensch und Spéitkultur Philos ¢ Exgebnisse und Aussagen. 3* ed, Frankfurt/M.: 1975, pp. 205-16 g. The History of Tom Jones. XV, 5. Londres: Everyman Ll 307-11. Ee |. Pararealities: The Nature of our Ficitions and How We Kno¥ ie Iniversity Monographs in Romance Languages 12). Amster!#¢°" 83, pp. 25 ss., analisa a situagao assim: rary » Hans und 8 ed * Ibide * Thide * Ibide ” Cha Einb deqt afirn no p * Sobri psych 2 wee ( * Wins fingi por i ty Aves 88 re, Considere-se 0 caso de um rapaz aterrorizado no cinema. Em certo momento he da ago, quando um monstro aparece de sdbico na tela, suponhamos que o garoto de repente entorte a cara, Isso parece ser uma respostafiso 4 do garoto faz parte do construct , relagao direta entre os dados do a nitio ~ a ficsio concebida/percebida. © mundo ficcional é certamente um mundo de faz de conta ¢ 0 rapaz, Mas, no momento em que grita, Ny to ficcional e, sentidos, agarre o brago de sua cadeira e dé um grito. logica automdtica. Parece que 0 eu subjetivo 0 ficcional na tela, de tal modo que hé uma sentido que Ihe tocam e seu mundo imagi- mesmo tacitamente, esta consciente disso. Parece que se imagina “dentro” do construc- como esse constructo faz parte de seus dados “externos” dos ele projeta essa exterioridade dentro das experiéncias de seu “mundo real”. Em consequéncia, é como se suas oscilages entre a ficcdo e o “mundo. real” entrassem, por assim dizer, em “curto-circuito", de modo que, por uma a fragao de segundos, ele ficasse exclusivamente “dentro” do frame ficcional: tal : frame tornou-se 0 seu tinico “mundo real”. io * Hans Vaihinger. Die Philosophie des Als Ob. Sytem der theoretschen, prahtschen und religidsen Fiktionen der Menschheit auf Grund eines idealistcchen Postivismus k 8" ed. Leipzig: 1922, p. 585. é % Tbidem, pp. 585 ss. ® Ibidem, p. 591. % Ibidem, p. 589. ® C£,, a respeito, Jean-Paul Sartre. Das Imagindire. Phinomenologische Psychologie der Einbildungskraf. Tradugio alema de Hans Schéneberg, Hamburgo: 1971, p. 296, de que se extraiu a referéncia ao ator. Sartre termina esta referencia com a seguinte firmagao: “Nao ¢ 0 personagem que se realiza no ator, mas 0 ator que se irrealiza -personagem” (ibidem). este conceit, cf. Hans Hérmann. Meinen und Verstehen. Grundstige einer ischen Semantik. Frankfurt/M.: 1976, pp. 187, 192-6, 198, 207, 241, B ss. 410 ss. € 500. idem, p. 210. » pp. 102 ss. iatecuial 1-25. A partir da perspectiva psicanalitica, Winnicott desenvolve 0 “objtos transicionais” como fungao central da primeira fase da crianga, ¥édio da qual se realiza a separacao da mae. Bs 56 0 Ficticio € 0 Imaginario Desde 0 nascimento, portanto, o ser humano tem a ver com o blema da relagao entre 0 objetivamente percebido €o subjetivane concebido. Uma boa solugao desse problema inexiste para o iw he mano que nao tenha sido bem preparado pela mae Para isso, 4 me intermédia a que me refiro é aquela concedida 4 crianga entre q aids vidade primdria e a percepedo objetiva, fundada no teste de realidad, Os fenémenos transicionais representam os eats estagios do iy da ilusio, sem os quais nao ha significado para o individuo ng ide de uma relagao com o objeto percebido pelos outros externos Aquek individuo [...]. O objeto transicional ¢ os fenémenos transicions, concedem a cada ser humano aquilo que lhe ser4 sempre importante isto é, uma drea neutra de experiéncia que nao serd desafiada, p, objeto transicional pode-se dizer que ele é um objeto de concordins entre nds e a crianga, a quem nunca perguntaremos: “Foi voce quen concebeu isso ou isso se apresentou a voce de fora?”. O importante é que ai nao se espera nenhuma decisao. A questo nao hd de ser formulads [...]. Essa drea intermédia da experiéncia sobre a qual nao se indagas: pertence a realidade interna ou externa (partilhada) constitui o ter: t6rio maior da experiéncia da crianga e, por toda a vida, se mantén na experimentagao intensa que pertence as artes, 4 religiao, & vidi imaginativa e ao trabalho cientffico criador (pp. 11-4).

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