As primeiras manifestações objetivando a prática
da Extensão Universitária no Brasil remontam o início do século XX, praticamente coincidindo com a criação do ensino superior.
Neste período havia um entendimento de que a
Extensão Universitária poderia se manifestar através de cursos, conferências e prestações de serviço promovidos pela Universidade (sobretudo a antiga Universidade de São Paulo, 1911) Nos anos 50, o movimento estudantil (UNE) passa a organizar-se política e culturalmente na construção de um compromisso social que orientasse a formação e a atuação profissional. Configura-se aí o início de uma busca pela institucionalização da Extensão Universitária.
Instaurada a Ditadura Militar, algumas ações
podem ser visualizadas no âmbito da Extensão Universitária: 1) Criação, em 1966, do Centro Rural de Treinamento e Ação Comunitária (CRUTAC);
2) Criação do Projeto Rondon;
3) Promulgação da Lei Básica da Reforma
Universitária (Lei n. 5.540/68): “ (...) as universidades e as instituições de ensino superior estenderão à comunidade, sob a forma de cursos e serviços especiais, as atividades de ensino e os resultados da pesquisa que lhe são inerentes (Art. 20). A Lei 5.540/68 talvez tenha sido um dos mais contraditórios empreendimentos do regime militar: promoveu uma reforma no ensino superior brasileiro: extinguiu a cátedra (ícone do pensamento e do comportamento conservadores na universidade); introduziu o regime de tempo integral e dedicação exclusiva aos professores; criou a estrutura departamental; dividiu o curso de graduação em duas partes: ciclo básico e ciclo profissional; criou o sistema de créditos por disciplinas; instituiu a periodicidade semestral e o vestibular eliminatório; foi implementada a indissociabilidade ensino-pesquisa-extensão. Aqui começa-se a tratar, portanto, da institucionalização da Extensão Universitária. Os termos dessa institucionalização foram os seguintes: “As instituições de ensino superior: a) por meio de suas atividades de extensão proporcionarão aos seus corpos discentes oportunidades de participação em programas de melhoria das condições de vida da comunidade e no processo geral de desenvolvimento” (Art. 40).
Nos anos 70, começam a surgir iniciativas para o
fortalecimento da Extensão Universitária, como o Plano de Trabalho de Extensão Universitária, já sob influência das idéias de Paulo Freire. FREIRE, P. Extensão ou Comunicação? 15 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
A educação é situação gnosiológica em seu
sentido mais amplo. Por isto é que a tarefa do educador não é a de quem se põe como sujeito cognoscente diante de um objeto cognoscível para, depois de conhecê-lo, falar dele discursivamente a seus educandos, cujo papel seria o de arquivadores de comunicado.
A educação é comunicação, é diálogo, na medida
em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados. O conceito de extensão apresenta um fundamental equívoco, qual seja o de estender um conhecimento técnico, em lugar de – pela comunicação eficiente – fazer do fato concreto ao qual se refere o conhecimento (expresso por signos lingüísticos) objeto da compreensão mútua. Os termos derivados de extensão e extensionismo encerram conotações antidialógicas e antipedagógicas, que obstaculizam ato de conhecer à medida que não implicam um que-fazer educativo e sim mecanicista e vertical. Uma práxis desse conceito deveria integrar subjetividade e objetividade em unidade dialética, de modo a constituir um saber solidário com o agir e vice-versa. Subjetividade e objetividade em unidade dialética são etapas inseparáveis nas ações humanas. Rompendo esta dialetização, dicotomizando o indicotomizável, ambas (subjetividade e objetividade) carecem de sentido teleológico. Juntamente à luta pela redemocratização e reconstrução das instituições políticas e sociais, começa a ser reelaborada a concepção de Universidade Pública e redefinidas as práticas de Ensino, Pesquisa e Extensão.
As ideias de Paulo freire são fundamentais
também neste momento, sobretudo porque contribuem para questionar a visão assistencialista das ações de extensão. Daí que a Extensão Universitária passa a ser percebida como um processo que articula o Ensino e a Pesquisa e se relaciona com os novos movimentos sociais. No I Encontro Nacional de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras, em 1987, um novo conceito foi pactuado: “A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre Universidade e Sociedade. A Extensão é uma via de mão-dupla, com trânsito assegurado à comunidade acadêmica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da praxis de um conhecimento acadêmico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento(...)” “(...) Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, acadêmico e popular, terá como consequências a produção de conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional, a democratização do conhecimento acadêmico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora deste processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social.” (FORPROEX, 1987) Em consonância com as definições pactuadas no FORPROEX, a Constituição de 1988 confere a “indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” (Art. 207) e estabelece que “as atividades universitárias de pesquisa e extensão poderão receber apoio financeiro do poder público” (Art. 2013, § 2°)
As principais contribuições desta etapa da
institucionalização da Extensão Universitária referem-se ao financiamento e à elaboração teórico-conceitual, especificamente a definição de diretrizes e objetivos. A LDB (Lei n°9.394/96) estabelece a Extensão Universitária como uma das finalidades da Universidade (Art. 43) e institui a possibilidade de apoio financeiro do Poder Público, inclusive mediante bolsas de estudo (Art. 44,52 e 77);
Outra ação, no sentido e ao encontro desta
etapa da institucionalização, foi a aprovação do Plano Nacional de Extensão, em 1998. Por meio do Plano Nacional de Extensão buscou- se: “1) a possibilidade de dar unidade nacional aos programas temáticos que já se desenvolvem e m diferentes universidades brasileiras; 2)a garantia de recursos financeiros destinados à execução de Políticas Públicas Correlatas (...); 3) O reconhecimento, pelo Poder Público de que a Extensão Universitária não se coloca apenas como uma atividade acadêmica, mas como uma concepção de Universidade Cidadã; 4) a viabilidade de Interferir na solução dos grandes problemas sociais existentes no País” Aprovado em 2001, estabelece a responsabilidade das Universidades nas suas funções de Ensino, Pesquisa e Extensão, na formação inicial e continuada dos profissionais da educação básica, e propõe “ assegurar que, no mínimo, 10% do total de créditos exigidos para a graduação no ensino superior no País será reservado para a atuação dos estudantes em ações extensionistas” (Meta 23 - LEI No 10.172, DE 9 DE JANEIRO DE 2001.) Em relação a atuação extensionista das Universidades, o PNE 2014-2020, considera estratégico “assegurar, no mínimo, 10% (dez por cento) do total de créditos curriculares exigidos para a graduação em programas e projetos de extensão universitária, orientando sua ação, prioritariamente, para áreas de grande pertinência social”; como estratégia à meta 12 “elevar a taxa bruta de matrícula na educação superior para 50% (cinquenta por cento) e a taxa líquida para 33% (trinta e três por cento) da população de 18 (dezoito) a 24 (vinte e quatro) anos, assegurada a qualidade da oferta e expansão para, pelo menos, 40% (quarenta por cento) das novas matrículas, no segmento público” (LEI Nº 13.005, DE 25 JUNHO DE 2014.)