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Análise Sociojurídica do

Acesso à Terra
no Brasil

Drª. Sandra Regina Martini Vial


Socióloga, Doutora pela Università Degli Studi di Lecce - Itália
Professora de Sociologia Jurídica na Universidade do Vale do Rio dos Sinos – São
Leopoldo/RS e na UNIVATES – Lajeado/RS, Brasil e Assessora da Secretaria de
Saúde do Estado do Rio Grande do Sul
“La terra ci fornisce, sul nostro conto, più insegnamenti di
tutti i libri. Perché ci oppone resistenza. Misurandosi con
l’ostacolo l’uomo scopre se stesso. Ma per riuscirci gli
occorre uno strumento. Gli occorre una pialla, o un aratro.
Il contadino, nell’arare, strappa a poco a poco alcuni
segreti alla natura, e la verità ch’egli estrae è universale.”
(Saint-Exupéry)
Apresentação
 Desde muitas décadas existem, no Brasil, “desterrados das
próprias terras”.
 Observamos que milhões de pessoas gritam hoje, em toda
a periferia da modernidade, pela terra. Desta forma, é
evidente que terra significa vida, mas também significa
morte.
 Pretendemos, nesta apresentação, discutir o problema
atual do acesso à terra no contexto da sociedade brasileira
hodierna, analisando e pontuando: o pensamento
filosófico dos clássicos; a evolução sociojurídica da
legislação brasileira desde que era uma colônia e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
THOMAS HOBBES
“Cosicchè, troviamo nella natura umana tre cause principali di
contesa: in primo luogo la rivalità; in secondo luogo la
diffidenza; in terzo luogo l’orgoglio” (Hobbes, 1989:101)
.
 Propriedade: função política e econômica, em que o Estado cria as
regras para o exercício do interesse geral e, como instituto
econômico, proporciona aos indivíduos liberdade para as iniciativas
individuais. Entendia que os limites do indivíduo são definidos pelo
Estado, pois que a vontade do soberano é sempre justa.

 Entendia que a justiça é a vontade de dar a cada um o que é seu; a


propriedade, portanto, é o fundamento da paz e depende do poder do
soberano, que poderá fazer respeitar os pactos estipulados.
JAMES HARRIGTON
“O Oceana, la più benedetta e fortunata di tutte le terre! Come meritatamente e
con generosità la natura ti ha dotata di tutti i beni del cielo e della terra, dal
momento che il tuo suolo sempre fertile non è mai coperto di ghiaccio, né è
funestato da un astro inclemente, e dove Cerere e Bacco sono perpetuamente
affratellati.”

 Obra: The commonwealth of Oceana – Obra utópica. República da


Oceania = duas leis fundamentais: a Lei agrária e a Lei eleitoral. Para
este autor, o equilíbrio da propriedade é o ponto de sustentação de
uma república.

 Era necessário fixar a distribuição da terra e de seus rendimentos


segundo um princípio de igualdade. Somente esta distribuição
igualitária da propriedade de terra garantiria a constituição de uma
“república igualitária”.
 Questão da mulher.
JOHN LOCKE
“E non è strano, come forse può parere a prima vista,che la proprietà del
lavoro riesca a superare la comunità della terra, perché è proprio il
lavoro che pone in ogni cosa la differenza di valore...”

A propriedade privada tem limites naturais:


 )Limite objetivo = o trabalho;
 )Limite subjetivo = a necessidade.

 A terra = propriedade comum do grupo social. Aquele, porém, que


nela trabalhava e a melhorava, colocava delimitações e se apropriava
da terra. Daqui partia a demarcação jurídica da propriedade.
 A delimitação natural da propriedade da terra é o trabalho que se
pode realizar nela: os indivíduos singularmente podem se apropriar
somente daquela proporção de terra que podem cultivar.
GIANBATTISTA VICO
“Os fracos querem as leis. Os poderosos lhes recusam.
Os ambiciosos, para granjear popularidade, promovem-nas.
Os príncipes, para igualar os poderosos com os débeis, protegem-nas.”

 Demonstra que é da lei agrária que surgem as demais leis.


Observando as leis já existentes sobre a propriedade da terra e sobre a
divisão do solo, Vico afirma que esta divisão dos campos, junto com
a religião, com o matrimônio e o direito de asilo são os elementos
fundamentais para os direitos humanos e, também, para a história da
humanidade.
 A necessidade de viver em sociedade se dá porque os homens
evoluem e, neste processo, os frutos que crescem espontaneamente na
natureza já não são mais suficientes para as famílias, ou para as
comunidades. Surge então, a necessidade de delimitar o território
conquistado.
JEAN-JACQUES ROUSSEAU
“Ogni uomo ha il diritto di rischiare la propria vita per conservarla”
(Rousseau, 1997: 49).

 Rousseau, embora não tenha criado uma teoria exclusiva sobre a


propriedade da terra,, deixa evidente na sua principal obra, “Contrato
Social”, sua preocupação com a temática. Por exemplo, quando trata
da igualdade o autor remete para a vontade geral e para o corpo
político a determinação de quanto, como e quando cada indivíduo
pode apropriar-se de determinada coisa.

 A garantia da propriedade da terra não é mais assegurada por um dom


de Deus, mas por um direito positivado.
DAVID HUME
“Tutte le cose utili alla vita dell’uomo nascono dalla terra; ma poche cose nascono
nella condizione richiesta per utilizzarle. Quindi occorre che vi sia, oltre al
contadino e al proprietario terriero, un’altra classe di uomini che, ricevendo
da essi le materie prime, le lavorino nella forma adatta e ne trattengano una
parte per il proprio uso e mantenimento”(Hume, 1974: 492).
 D. Hume considera a propriedade como uma “espécie de relação”,
que produz uma conexão entre o indivíduo e a coisa, do mesmo modo
relaciona a questão do poder, porque ser proprietário de algo significa
que, pelas leis da sociedade, se tem o direito de gozar e dispor de
todos os benéficos desta mesma propriedade.
 É a utilidade que explica e justifica os vários aspectos da justiça, e
desta forma é também a utilidade que disciplina as várias formas de
propriedade.
 Manuais sobre a propriedade da terra.
IMMANUEL KANT
“Il mio giuridico (meum iuris) è quello con cui sono così legato, che
mi danneggerebbe l’uso che un altro potrebbe farne senza il mio
consenso.”(Kant, 1991: 55)

 Para Kant, ter (possuir) só é possível em um estado jurídico, sob um


poder legislativo público. Somente no estado civil se pode ter um
“meu” e um “teu” externo.

 Não é atividade desenvolvida em uma terra, nem mesmo as primeiras


delimitações, que darão direito da aquisição, mas o “meu” e o “teu”
derivam da propriedade, do que ele define como substância.
FRANÇOIS QUENAY
“Si è creduto che la politica considerasse l’indigenza degli abitanti della campagna
uno sprone necessario per stimolarli a lavorare: ma tutti sanno che le
ricchezze sono la grande molla dell’agricoltura e che ne abbisognano molte
per coltivare bene”(Quesnay, 1966: 14)

 Fisiocracia
 Estado: locus de produção das riquezas
 Riquezas naturais: solo (agricultura e minerais)
 Economia = produção = terra
 O autor entende a economia como um todo formado de partes
interligadas, mas ressalta que a terra é a grande produtora de riquezas.
Para ele, cada riqueza pode ser reduzida à terra e à agricultura. A terra
é reconhecida como riqueza real, assim é indispensável na vida dos
indivíduos em sociedade.A terra é riqueza real não no sentido de mãe
reprodutora, mas no seu profundo significado econômico.
ADAM SMITH
Nessuna società puó essere florida e felice se la grande maggioranza dei
suoi membri è povera e miserabile”.

 Na sua teoria encontramos a preocupação com o que a terra pode


oferecer para a riqueza da nação.
 Progresso da sociedade = incremento da riqueza real do proprietário.
 Para A. Smith, a ordem originária da sociedade civil são os que vivem
da renda da terra, do salário e fundos.
 Quem tinha a propriedade da terra estava diretamente vinculado ao
poder político, assim como ao poder judiciário.
KARL MARX
“La terra, finché non è sfruttata come mezzo di produzione, non è un capitale. Le
terre-capitale possono essere aumentate proprio come tutti gli altri
strumenti di produzione”
 Karl Marx descreve que a propriedade privada, enquanto atividade que é
por si, enquanto sujeito, enquanto pessoa, é o trabalho.
 Para ele a terra era como se fosse a continuidade do corpo do agricultor:
não é possível separar o homem do campo do próprio campo. A terra é a
história da própria sociedade, que evolui tal qual as necessidades de
produção evoluem e/ou se modificam.
 Para Marx, o capitalismo faz com que a terra deixe de ser algo simbólico
para ter um significado essencialmente econômico. O agricultor torna-se
operário assalariado. Marx ocupou-se fundamentalmente do processo de
proletarização do homem do campo. Diz textualmente que a propriedade
burguesa é o resultado das relações sociais burguesas. Afirma, ainda, que
a propriedade privada impede o desenvolvimento social do homem.
Reflexões Conclusivas
 Para Niklas Luhmann, a propriedade da terra, que antigamente significava
garantia de acesso, inclusão a outros sistemas sociais, na modernidade,
assume outras características.
 Luhmann propõe também uma nova idéia para entendermos a propriedade
da terra como uma problemática: a questão escassez. A terra é escassa no
sentido que, se é propriedade de um, não é propriedade de outro.
 Podemos ver como a propriedade da terra que, originalmente, era um
problema que incluía, simultaneamente, questões da economia, do direito e
da moral, tornou-se, na modernidade, uma questão meramente econômica.
Porém, nesta mesma sociedade, diferenciada funcionalmente, a
propriedade da terra, na periferia da modernidade, torna-se um problema
de ordem política, o qual faz com que a periferia seja cada vez mais
periferizada e o centro cada vez mais centro. Em outras palavras, quando a
propriedade da terra deixa de ser uma questão de ordem natural, passa a ser
uma das tantas artificialidades da sociedade moderna. Esta mesma
artificialidade pode ser entendida desde o ponto de vista da inclusão, na
sociedade moderna, ou da exclusão.
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil
 Tratado de Tordesilhas: (07.06.1494) primeiro marco divisório das
terras brasileiras. Conquista da nova terra através da invasão, luta e
extermínio da população já existente. Colonização realizada através
de sesmarias, monoculturas e utilização do trabalho de índios e
escravos.

 Feitorias: (1511) processo de ocupação do território nacional.


Inegável importância econômica. Definição do modelo de ocupação
das terras brasileiras. Feitorais mais importantes:em 1511, em Cabo
Frio e
em 1516, em Pernambuco.

 Capitanias Hereditárias: Depois das feitorias, as terras brasileiras


passaram a ser “doadas” aos portugueses que deixavam Portugal em
busca da fortuna. Deste modo, em 1534, vários nobres portugueses
ganharam do rei porções significativas de terra as quais foram
denominadas “Capitanias Hereditárias”.
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)

 Regimento de Tomé de Souza: (1548) permitia o acesso à terra por


meio de doações. Note-se que a distribuição das terras dependia da
Coroa, a qual tinha a propriedade da terra brasileira como fundamento
do seu poder político, social e econômico. O acesso à terra poderia ser
alcançado por ocupação, que era uma forma ilegal de acesso à terra,
ou por doação real, que era a forma legal. O que ocorreu no Brasil foi
que os fazendeiros obtinham acesso à terra através de doações e às
demais “raças e povos”, através da ocupação. Fato este que na
modernidade se aprimorou! Os grandes proprietários podem comprar
mais e mais terras e os trabalhadores rurais têm acesso à terra através
da “invasão”.
 Governo-Geral: (até 1808) neste período se implementaram as
sesmarias e a política de colonização;
 Expedições estrangeiras: (de 1550 a 1650) países lutavam pela posse
das terras brasileiras;
 Colônia do Açúcar e o Ciclo do Ouro: (1500 até final de 1600)
período em que se solidificaram os latifúndios e formaram-se os
quilombos;
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)

 Sesmarias: (de 1702 a 1822) modelo de distribuição de terras;

 Colonização do Sul do Brasil por imigrantes: (início de 1800) que


exerciam o trabalho agrário;

 Independência do Brasil: (1822) foi proibida a concessão de


sesmarias até a Lei de Terras. Até o ano de 1822: as terras brasileiras,
exceto as doadas em sesmarias, faziam parte da Coroa Portuguesa. No
ano anterior à Independência, o Brasil gozava da condição jurídica de
“Reino Unido”. Por meio de decretos, D. Pedro fez vigorar algumas
mudanças importantes. Ainda no ano de 1822, houve a proibição da
concessão de sesmarias, que permaneceu até a Lei de Terras do ano
de 1850. Então, entre os anos de 1822 a 1850, a única forma de
acesso legal à terra era a posse.
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)

Constituição de 1824: primeira Constituição brasileira, a qual


desconhecia os princípios da Revolução Francesa. É garantido o Direito
de Propriedade em toda a sua plenitude. Se o bem público legalmente
verificado exigir o uso e emprego da Propriedade do Cidadão, será ele
previamente indenizado do valor dela. A Lei marcará os casos em que terá
lugar esta única exceção, e dará as regras para se determinar a
indenização.

Lei de Terras de 1850: definia a compra como único meio de aquisição


de terras. Tira dos índios qualquer direito sobre a terra que ocupavam há
muitos séculos. Foi uma lei feita para beneficiar os grandes fazendeiros,
que tinham não somente um poder econômico, mas também
influenciavam o sistema do direito e definiam o sistema da política.
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)

Constituição de 1891: criou a transferência das terras de uso público da União


para os Estados. Nesta Constituição, temos a transferência das terras de uso
público da União para os Estados. Quer dizer, buscam-se alternativas para
resolver o problema agrário, mas a cada tentativa de solução criam-se novos
problemas. Multiplicaram-se dezenas de atos legislativos diversos, nos
diferentes Estados. Cada Estado pretendia uma política fundiária própria.
Lutas pela terra no final de 1800 e início de 1900: tem-se a formação de
núcleos de trabalhadores agrários que, para tentar sobreviver, se unem a líderes
que vão surgindo, como o que ocorreu em Canudos.
Código Civil de 1916: estabeleceu a discriminação das terras devolutas
pertencentes ao Estado e às propriedades particulares. Vejamos os artigos:
Art. 524. A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e dispor de seus bens, e de reavê-los
do poder de quem quer que injustamente os possua.
Art. 526. A propriedade do solo abrange a do que lhe está superior e inferior em toda a altura e em
toda a profundidade, úteis ao seu exercício, não podendo, todavia, o proprietário opor-se a
trabalhos que sejam empreendidos a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse
algum em impedi-los.
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)

 Constituição de 1934: limitou negativamente o direito de propriedade;


 Constituição de 1937: omissa quanto à função social da propriedade;
 Constituição de 1946: baseada nas Constituições anteriores. Esta
Constituição nasceu em um contexto pós-guerra, e foi de inegável
importância para a redemocratização do país e a reafirmação do
constitucionalismo. A base para a formação da Constituição foi
buscada nas anteriores Cartas Constitucionais, mas refletiu o
momento de turbulência em que foi elaborada, sendo, por isso, muitas
vezes, contraditória.
 Estatuto da Terra: (1964) de relevante importância porque legitima a
luta pela terra no Brasil.
Art. 2 - É assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da
terra, condicionada pela sua função social, na forma prevista nesta
Lei.
Quem são os “todos” de que trata o artigo?
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)
 Reforma Agrária: necessária ainda hoje e pela qual movimentos
sociais lutam de forma organizada;
 Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional Nº 1 de 1969:
consagrou a função social da propriedade como princípio
constitucional;
 Outras Legislações :
- Ato Institucional n.o 5 (AI5), de 13 de dezembro de 1968, o qual foi
o responsável pela maior concentração do autoritarismo que se
conheceu no Brasil e seus reflexos são evidentes em todos os
segmento sociais. Na política agrária, o acesso à propriedade da terra
estava condicionado a que os proprietários defendessem a integridade
da Nação e a segurança nacional. Assim, com integridade e
segurança, poder-se-ia fazer a “justa” distribuição da propriedade.
- A partir dos anos 70, surgiram decretos-leis para a implementação e
viabilização da reforma agrária;
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)
 Constituição de 1988:
Ainda vigente, estabelece como norma e princípio o atendimento à função
social da propriedade;

Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança
e à propriedade, nos termos seguintes:
...
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
A função social da propriedade restringe o direito de propriedade e se
estabelece como um direito social e um dever individual do proprietário.
No que diz respeito aos indígenas, a Constituição de 1988, chamada de
Constituição Cidadã, refere, em seu art. 20, que as terras
tradicionalmente ocupadas pelos indígenas são bens da União.
Evolução sociojurídica do acesso à terra no Brasil (continuação)
 Banco da Terra: (1998) a ser utilizado como meio para solucionar o
problema da distribuição das terras no Brasil;

 Novo Código Civil Brasileiro: (Lei nº 10.406, que entrou em vigor


no dia 11 de janeiro de 2003) a inovação do Código Civil vigente
está no § 1º do art. 1.228, o qual enfatiza as finalidades econômicas e
sociais do direito de propriedade:
Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa,
e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as
suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam
preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a
flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e
das águas.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra - MST

“É a terra de trabalho contra a terra de negócio.


O que unifica as aspirações e lutas de um colono gaúcho,
de um posseiro maranhense e de um índio Tapirapé é essa resistência
obstinada contra a expansão da apropriação capitalista da terra.
Mesmo que cada um, cada categoria social construa a sua própria
concepção de propriedade, o seu próprio regime de propriedade
anticapitalista: a propriedade camponesa, a propriedade
comunitária e a posse.”
(José de Souza Martins)
MST (continuação)
A cada momento da evolução social da sociedade brasileira, foram
se consolidando movimentos sociais que se sentiram marginalizados
pela falta do acesso à terra. O MST, atualmente, é o mais importante
movimento de luta pela terra na América Latina. É uma luta pela
terra de trabalho, de vida, de satisfações, enfim, da terra como local
de vida, trabalho e morte.

Em janeiro de 1984 surge o MST,


fruto de um encontro de
camponeses. A questão central
estava logicamente aliada à antiga
luta pela Reforma Agrária, entendida
como modelo de concretização dos
direitos econômicos, sociais,
culturais e ambientais.
MST (continuação)
As conjeturas históricas da construção do MST fundamentaram os três
grandes pressupostos do Movimento, quais sejam:
1- terra;
2- reforma agrária;
3- mudanças gerais na sociedade.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra está organizado em


todo o país. As instâncias deliberativas são:
- a) Congresso Nacional – ocorre a cada 5 anos;
- b) Coordenação Nacional;
- c) Direção Nacional;
- d) Coordenação Estadual;
- e) Direção estadual;
- f) Coordenações Regionais;
g) Coordenações dos Assentamentos e Acampamentos.
MST (continuação)

A principal características do MST é a sua organização.

 Números (http://www.mst.org.br ):
Hodiernamente, o MST é atuante em 23 estados brasileiros.
Envolve mais de 1,5 milhões de pessoas, sendo 300 mil
famílias assentadas e 60 mil que ainda vivem em
acampamentos. No ano de 2001, teve-se a quantidade de 585
acampamentos, nos quais participaram 75.730 famílias. No
mesmo ano, o número de assentamentos foi o de 1.490, sendo
108.849 famílias assentadas.
Assentamento Lagoa do Junco

O assentamento da Lagoa do Junco localiza-se em Tapes, zona sul do


Rio Grande do Sul. Foi efetuado em outubro de 1995. A população deste
assentamento é composta predominantemente por netos de imigrantes
alemães, italianos e poloneses.

As famílias que vivem nesse


assentamento são divididas em dois
grupos:
1 - grupo de acampados da
Embrapa – vinculados com o MST.
2 - antigos moradores da fazenda
que foi desapropriada.
Assentamento Lagoa do Junco (continuação)

Estrutura do assentamento:

- Setor de produção;
- Setor de educação;
- Setor de saúde.

Grande parte dos assentados está vinculada à Cooperativa de Produção


Agropecuária dos Assentados de Tapes LTDA (COOPAT), fundada em
24 de fevereiro 1998, composta por 18 famílias, totalizando 51 pessoas
que vivem em forma de agrovila. O regime de trabalho coletivo já
começou a ser praticado no acampamento, localizado no município de
Capão do Leão, onde permaneceram por dois anos.
Assentamento Lagoa do Junco (continuação)

Hodiernamente, a Lagoa do Junco é um exemplo de


assentamento que deu certo. Os assentados vivem com dignidade,
produzem, seus filhos freqüentam as escolas locais. Mas a luta não parou:
hoje, os atuais assentados continuam vinculados ao MST, auxiliam nos
novos acampamentos e também na administração estadual e nacional do
MST.

Pesquisa Empírica:

Foi desenvolvida a pesquisa empírica no assentamento ora


analisado, organizada na aplicação de questionários às famílias assentadas.
Quando perguntados sobre os direitos que lhe foram efetivados com o
MST, os assentados citaram as seguintes respostas:
Direitos efetivados com MST

Lugar para morar


Assentamento Lagoa4% do Junco (continuação)
Direito à
propriedade
4% Direito à terra
Direito de lutar por 17%
um pedaço de De chegar perto
chão de novos direitos
4% 4%
Aposentadoria
Direito de
4%
participar
21% Bloco do produtor
rural
4%
Salário
maternidade
8%
Direito de ser
cidadão Direito de plantar
13% 4%
Igualdade entre os
homens e as
mulheres
13%
Assentamento Lagoa do Junco (continuação)
Eis alguns depoimentos:

“Com o MST eu conquistei a terra, a credibilidade da sociedade que acredita


na nossa luta e voltei a ser um cidadão”. (Tarcísio Stein)

“O MST cria as suas normas”. (Orestes da Veiga Ribeiro)

Com o MST :“Temos mais direitos:


o direito de decidir o caminho, de se
opor. O direito de ser cidadão, de ser
alguém na Vida! Ser alguém na vida
é saber que é bom ser colono, é bom
produzir para consumir. O MST dá
orgulho, dá direito de ter esperança.”
(Fábio Augusto de Medeiros Lopes)
Considerações Conclusivas

Toda a produção legislativa que ocorreu no Brasil, desde o seu


“descobrimento” até os dias atuais, não foi capaz de solucionar o grande
problema agrário brasileiro. A produção legislativa no Brasil-Colônia foi
protetora e criadora dos grandes latifúndios que ainda hoje perduram.
Temos hoje, no Brasil, aproximadamente 4 milhões de famílias sem terra,
sendo que 2,8% das propriedades rurais ocupam 56,7% de todas as terras
cadastradas enquanto que 62,2% das propriedades ocupam 7,9% das
terras.

Havemos de inferir, todavia, que vivemos na era da inclusão universal,


que se deu através de pressupostos políticos e jurídicos. Porém, um fato
que nos intriga é a contínua necessidade de produção legislativa
inadequada à realidade social.
A luta pelo acesso à terra é a luta pela terra mãe,
pela terra produtora e reprodutora,
é a luta dos desgarrados do chão, dos
desgarrados da terra.
Esta é a luta pela felicidade, pela fraternidade,
pela igualdade, pela justiça.
Todos sentimentos altamente improváveis e, por
isso, possíveis.
Assim como é possível construir um novo Brasil,
apesar de todas as improbabilidades.
Informações:

 Sandra Regina Martini Vial:


srmvial@terra.com.br
sandra@juris.unisinos.br

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