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IJKLMNOPQ
RSTUVW
As religiões da América pré-colombiana, à época do descobrimento, variavam desde
formas
animistas primitivas, com cultos estreitamente ligados à natureza, até sofisticados
panteões
mitológicos que, nos casos mais avançados -- impérios asteca e inca --encontravam-se
provavelmente próximos do monoteísmo. A evoluçã o maior ocorreu fundamentalmente
em
duas grandes regiões culturais -- América Central, o México inclusive, e regiões andinas
--,
cujas sucessivas civilizações tenderam a integrar de maneira sincrética, em novos
sistemas, os
deuses e concepções religiosas preexistentes. Cabe notar, no entanto, que povos da
América
do Norte e outras regiões sul-americanas criaram mitologias próprias originais.
No que se refere ao México e à América Central, as manifestações religiosas arcaicas
adquiriram firmeza nos panteões das grandes culturas teocráticas -- dirigidas por
sacerdotes
que controlavam os calendários e os ritos -- do horizonte clássico e especialmente no
centro
sagrado de Teotihuacan, que, entre os séculos I e VI d.C., difundiu por toda a regiã o o
culto
ao deus civilizador Quetzalcóatl, criador do homem. No século VII, a chegada dos toltecas
--
povo guerreiro cujo sanguinário deus Tezcatlipoca, o Sol noturno, expulsou Quetzalcóatl,
segundo conta a lenda -- provocou a destruiçã o de Teotihuacan.
Sua cultura, no entanto, perdurou em grande parte na civilizaçã o maia do Yucatán, que
sofreu também o influxo de grupos toltecas fiéis a Quetzalcóatl, conhecido pelos maias
com o
nome de Kuculkán. Outras importantes divindades maias eram Itzamná, senhor dos deuses
e
filho do primeiro criador Hunab-Ku; e Chac, deus da chuva equivalente ao Tlátoc asteca. O
texto sagrado em língua quiche Popol-Vuh constitui uma fonte de inapreciável valor sobre
a
mitologia maia, cuja variedade se ampliava ainda mais ao se desdobrar cada divindade em
quatro figuras relacionadas aos pontos cardeais.
A integraçã o das culturas anteriores conferiu extraordinária riqueza à mitologia asteca,
correspondente a um regime teocrático dominado pela figura do rei em que as concepções
guerreiras, políticas e religiosas formavam um todo unitário. A cosmogonia asteca, de
caráter
fatalista, considerava que o mundo se achava em seu quinto estado, após a destruiçã o dos
quatro anteriores, crença que fundamentava, a prática de sacrifícios humanos, cujo
propósito
era proporcionar sangue ao Sol para que sua luz nã o se apagasse. Veneravam-se
popularmente
inúmeros deuses menores, com o objetivo de alcançar sua proteçã o frente aos desastres
naturais. As trê s divindades principais do panteã o eram Quetzalcóatl, Tezcatlipoca,
protetor
dos jovens guerreiros e feiticeiros, e Huitzilipochtli, o Sol diurno, deus supremo das antigas
tribos astecas, senhor da guerra e adorado também pelos camponeses como protetor das
colheitas. Além deles, existiam divindades próprias das diversas classes sociais e
profissões, e
outras que encarnavam forças cosmogô nicas, embora se tenha observado que durante o
século
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XV começaram a se desenvolver algumas tendê ncias dualistas e, em menor medida,
monoteístas.
As civilizações andinas também desenvolveram complexos sistemas religiosos, embora
seus panteões mitológicos nã o tenham alcançado a multiformidade dos da América
Central.
As manifestações artísticas de culturas que floresceram durante o primeiro milê nio antes
da
era cristã , entre elas a de Chavín, com suas representações de animais totê micos e
grotescas
figuras antropomórficas, mostravam já acentuados traços de elementos religiosos e
simbólicos
associados a cultos da natureza que seriam depurados por civilizações posteriores, como as
de
Huari e Tiahuanaco, esta última centro de um importante movimento religioso.
A religiã o inca, estatal e teocrática, divinizava o imperador como "filho do Sol". Soube,
no entanto, assimilar as divindades e crenças dos povos conquistados para assegurar a
unidade
política do império, o que explica a convivê ncia de ritos populares junto da religiã o
oficial
encarnada pelo panteã o inca.
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O SEGREDO DOS ASTECAS
Pedra do Sol: o monólito mais célebre da civilização
Assim como os seus antecessores incas, os astecas fascinam a arqueologia e despertam
suposições em torno do seu desaparecimento. Comunidade marcada pelo trabalho e pelas
crenças religiosas, os astecas habitavam a regiã o de Astlán, a noroeste do México.
Sucessores
diretos da linhagem dos toltecas, os astecas inicialmente formavam uma pequena tribo de
caçadores e coletores que, em 1325, se deslocou em direçã o à zona central mexicana e
desenvolveu uma agricultura moderna e de subsistê ncia. Entre as invenções dos astecas,
constam a irrigaçã o da terra e a construçã o dos "jardins flutuantes" - cultivo de vegetais
em
terrenos retirados do fundo dos lagos. A construçã o das chinampas (nome dado a esses
jardins) era feita nos lugares mais rasos dos lagos. Os astecas demarcavam o local das
futuras
chinampas com estacas e juncos, enchiam-nos com lodo extraído do fundo do lago e
misturavam com um tipo de vegetaçã o aquática que flutuava no lago. Esta vegetaçã o
formava
uma massa espessa sobre a qual se podia caminhar. Estas tecnologias foram essenciais para
a
fundaçã o e sobrevivê ncia de Tenochtitlán.
Tenochtitlán, capital do império asteca, era bela e bem maior que qualquer cidade da
Europa
na época. Esta metrópole teve seu apogeu de 400-700 d.C. Com suas enormes pirâmides
do
Sol e da Lua (63 e 43m de altura, respectivamente), sua Avenida dos Mortos (1.700m de
comprimento, seus templos de deuses agrários e da Serpente Plumada, suas máscaras de
pedra
dura, sua magnífica cerâmica, ela parece ter sido uma metrópole teocrática e pacífica, cuja
influê ncia se irradiou até a Guatemala.
Sua aristocracia sacerdotal era sem dúvida originária da zona dos Olmecas e de El Tajín,
enquanto a populaçã o camponesa devia ser composta por indígenas Otomis e outras tribos
rústicas. A religiã o compreendia o culto do deus da água e da chuva (Tlaloc), da serpente
plumada (Quetzalcoatl) símbolo da fecundidade agrária e da deusa da água
(Chalchiuhtlicue).
Acreditavam na vida após a morte, em um paraíso onde os bem-aventurados cantariam sua
felicidade resguadardos por Tlaloc.
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Ascensão e derrocada
O império inca foi construído em apenas um século (XIV). A derrocada veio tã o
rapidamente
quanto a sua ascensã o. Em nome da Igreja Católica e da Monarquia do Velho Mundo, os
conquistadores espanhóis Hernández de Córdoba, Grijalva e Hernán Cortés, chegaram em
1517 no México, conquistaram e destruíram a civilizaçã o Asteca, erguendo sobre as
ruínas do
templo de seu deus mais importante, uma catedral cristã . A prisã o do Príncipe
Montezuma e
sua submissã o direta a Hernán Cortés e Fernán Pizarro. Humilhado e submetido aos
favores
dos espanhóis, Montezuma foi decepado.
Por incrível que possa parecer, a civilizaçã o asteca simplesmente desapareceu. Várias sã
o as
hipóteses para sua "fuga". Uma delas alega que o massacre dos astecas teria impelido os
membros da civilizaçã o a debandarem para a Floresta da América Central. Outra
hipótese,
coadunada por ufólogos e fanáticos em discos voadores, afirma que os astecas eram seres
extraterrestres ou produtos híbridos, que teriam retornado aos seus planetas de origem,
assim
que a missã o tivesse sido concretizada. Poucos indícios revelam o paradeiro desse povo
misterioso. Entretanto, por volta de 1988 uma equipe de reportagem de uma TV de El
Salvador encontrou um achado um tanto desconcertante. Incrustadas na parede de um
templo
estavam escritas, em náuatle (língua tradiocional dos astecas), as palavras: "Nós
voltaremos
no dia 24 de dezembro de 2.010".
A Arte Asteca
As ruínas astecas indicam muito mais grandeza do que qualidade. Sua arquitetura era
menos
refinada que a dos maias. Milhares de artesã os trabalhavam continuamente para construir
e
manter os templos e palácios. Pequenos templos se elevavam no topo de altas pirâmides de
terra e pedra, com escadaria levando aos seus portais. Imagens de pedra dos deuses, em
geral
de forma monstruosa, e relevos com desenhos simbólicos, eram colocados nos templos e
nas
praças.
A mais famosa escultura asteca é a Pedra do Sol, erradamente conhecida como Calendário
de
Pedra Asteca. Está no Museu Nacional de Antropologia da Cidade do México. Com 3,7 m
de
diâmetro, a pedra tem no centro a imagem do deus sol, mostrando os dias da semana asteca
e
versões astecas da história mundial, além de mitos e profecias.
Os astecas eram artesã os hábeis. Tingiam algodã o, faziam cerâmica e ornamentos de
ouro e
prata e esculpiam muitas jóias finas em jade.
Cultura e Religião de um povo místico
Dezoito deuses. O politeísmo dos astecas estava configurado na crença em divindades
representativas para cada uma das funções. Acreditavam em um deus que monitorava o
vento,
outro que monitorava o sol, outro que cuidava das plantações e assim por diante. A religiã
oe
o Estado estavam tã o unidos na sociedade asteca que as leis civis tinham por trás de si a
força
da crença religiosa. Quando entravam em guerra, os astecas lutavam nã o só por vantagens
políticas e econô micas, como também pela captura de prisioneiros. Estes eram
sacrificados
aos muitos deuses. A mais importante forma de sacrifício consistia em arrancar o coraçã o
da
vítima com uma faca feita de obsidiana, ou vidro vulcânico. À s vezes, os sacerdotes e
guerreiros comiam a carne da vítima.
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Huitzilopochtli, a divindade asteca favorita, era o deus da
guerra e do sol. Exigia o sacrifício de sangue e de corações
humanos para que o sol nascesse a cada manhã . Outros
deuses importantes eram Tlatoc, da chuva; Tezcatlipoca, "o
espelho fumegante", do vento; e Quetzalcoatl, "a serpente de
plumas", deus do conhecimento e do sacerdócio. Segundo as
lendas astecas, Quetzalcoatl havia atravessado o mar
velejando, mas um dia voltaria. Os deuses exigiam
cerimô nias especiais, orações e sacrifícios a intervalos
determinados ao longo do ano e em ocasiões especiais.
Após as guerras, o mais bravo dos prisioneiros era
sacrificado. Para isso, caminhava até o altar do templo
tocando uma flauta e acompanhado de belas mulheres.
NOME DO DEUS REPRESENTAÇ ÃO COMENTÁ RIOS
CENTEOTL Deus com chifre
COATLICUE "Mulher-serpente"
EHECATL Deus do vento
HUEHUETEOTL Deus do fogo Considerado o deus mais
antigo da Mesoamérica
HUITZILOPOCHTLI Deus da guerra/Sol Principal guardiã o da metrópole
asteca de Tenochtitlan
MICTLANTECUHTLE Deus da morte
OMETECUHLTI Criador da vida na Terra Sua esposa era OMECIHUATL
QUETZALCOATL "Serpente-Plumada" - deus da
civilizaç ã o e aprendizado
Um dos mais significativos
deuses astecas. Representa
a forç a da natureza.
TEZCATLIPOCA
Deus da noite e da magia Deus supremo. Associado
também com o destino dos
homens e com a realeza.
TLALOC Deus da chuva e da tempestade Outro dos deuses mais
cultuados no Antigo México
TONATIUH Sol Considerado como primeira
fonte de vida
TONANTZIN A Terra, a "honorável avó"
XILONEN "Jovem espiga-de-milho" Associado com o governo
CHICOMECOATL "Sete serpentes" Associado com o governo
XIPE TOTEC Deus da primavera e do replantio
XIUHTECUHTLE Deus do fogo
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Histó ria e cultura do povo do Sol
O Homem de Jade, uma das misteriosas relíquias dos astecas
Os astecas, de acordo com sua própria história lendária, surgiram de sete cavernas a
noroeste
da Cidade do México. Na verdade, esta lenda diz respeito apenas aos tenochca, um dos
grupos
astecas. Esta tribo dominou o Vale do México e fundou Tenoochtitlán, que se tornaria a
capital do império asteca, por volta do ano 1325 d.C. Conta a lenda que o deus
Huitzilopochtli
conduziu o povo a uma ilha no Lago Texcoco. Ali viram uma águia, empoleirada num
cacto,
comendo uma serpente. Segundo uma profeciam, este seria o sinal divino para o local da
construçã o de sua cidade.
Os tenochca começaram com um pequeno templo e logo tornaram-se os líderes da grande
naçã o asteca. A primeira parte da história asteca é lendária. Mas o resultado das
escavações
arqueológicas e os livros astecas servem de base para um relato histórico verídico. A
história
possui um registro bastante autê ntico da linhagem dos reis astecas, desde Acamapichtli,
em
1375, a Montezuma II, que era o imperador quando Hernán Cortés entrou na capital asteca
em
1519.
Montezuma de início acolheu os espanhóis, mas depois conspirou contra eles. Cortés entã
o
aprisionou o imperador. Os astecas rebelaram-se contra os invasores e Montezuma foi
morto
no levante. Cortés, com quase mil soldados espanhóis e a ajuda de milhares de aliados
indígenas (tribos inimigas dos astecas), finalmente conquistou os astecas em 1521. Sua
vitória
foi fácil. Enqüanto os espanhóis possuíam armas de fogo, cavalos e armas de ferro, os
astecas
praticamente lutavam com as mã os. Outro fator que propiciou o domínio por parte dos
espanhóis foi crença, evidentemente equivocada, de que os espanhóis seriam na verdade o
deus Quetzalcoatl e seus seguidores, regressando, como rezava a lenda.
O império asteca caiu imediatamente após a conquista. As doenças européias terminaram
por
assolar a populaçã o e dizimar milhares de pessoas. Os espanhóis arrasaram
completamente o
centro cerimonial de Tenochtitlán e usaram a área para seus prédios públicos. Derrubaram
templos astecas e erigiram igrejas católicas.
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Cotidiano
A maioria dos astecas vivia como os índios de hoje, nas mais remotas aldeias do México. A
família morava numa casa simples, feita de adobe ou pau-a-pique e coberta de sapê . O pai
trabalhava nos campos com os filhos mais velhos. A mã e cuidava da casa e treinava as
filhas
nos afazeres domésticos. As mulheres passavam a maior parte do tempo moendo milho
numa
pedra chata, a metate, e fazendo bolos sem fermento, as tortillas. Também fiavam e teciam.
Os alimentos preferidos eram a pimenta, o milho e o feijã o - que produziam em larga
escala
para consumo. As roupas eram feitas de algodã o ou de fibras das folhas de sisal. Os
homens
usavam tanga, capa e sandálias. As mulheres trajavam saias e blusas sem mangas.
Desenhos
coloridos nas roupas revelavam a posiçã o social de cada asteca. Os chefes de aldeia
usavam
uma manta branca e os embaixadores carregavam um leque. Em geral, os sacerdotes se
vestiam de negro.
Educação
Os sacerdotes tinham controle total sobre a educaçã o. O império asteca era provido de
escolas
especiais, as calmecas, que treinavam os meninos e meninas para as tarefas religiosas
oficiais.
As escolas para as crianças menos disciplinadas eram chamadas de telpuchcalli, ou "casas
da
juventude", onde elas aprendiam história, tradições astecas, artesanatos e normas
religiosas.
Os astecas registravam os acontecimentos mais importantes em livros feitos de papel
preparados com folhas de sisal. Estes livros eram enrolados como pergaminhos ou
dobrados
como mapas. Os astecas nã o possuíam um alfabeto. Criaram uma espécie de escrita em
logogrifo, usando imagens e caracteres simbólicos.
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INCAS - Misticismo e fé
Rodrigo Craveiro
Conta a história que os primeiros incas surgiram em forma de duas lendas bem conhecidas.
A
primeira dizia que Tayta Inti ou o Pai Sol, observando o caos e a perdiçã o que
prevaleciam na
Terra, decidiu enviar ao planeta duas crianças, com o objetivo de estabelecer a ordem. Elas
surgiram as águas do Titicaca, o lago mais alto do mundo, e carregavam uma espécie de
estátua dourada, presente de seus pais. O nome do primeiro inca era Manko Qhapaq; sua
irmã
era Mama Oqllo.
De acordo com a tradiçã o, a estátua foi enterrada na montanha Wanakauri, a sudeste de
Cuzco. A interpretaçã o desta lenda tem um suporte favorável, já que sugere que Manko
Qhapaq representa uma naçã o inteira do povo Tiawanako. Eles viveram na regiã o de
Titicaca
e eram conhecidos por suas terras férteis. Ainda assim, os Tiawanako foram surpreendidos
pela superpopulaçã o e pela escassez de alimentos, o que os obrigou a bater em retirada
rumo a
uma terra mais promissora. Sabe-se também que a possível capital do Estado de Tiawanako
era Taypiqala, que teria sido destruída pelos guerreiros Aymara, vindos do sul do Peru. As
invasões obrigaram o povo Tiawanako a fugir em direçã o ao vale de Cuzco. Já foi
provado
que os Tiawanako tiveram uma participaçã o decisiva na formaçã o de Tawantinsuyo, o
Estado
que abriga Cuzco.
A segunda lenda é conhecida como "Irmã os Ayar" e indica que, de trê s janelas da
montanha
Tamput'oqo (a 25 kms de Cuzco) teriam saído quatro irmã os. Eram eles: Ayar Manko
(Manko
Qhapaq), Ayar-Kachi, Ayar-Auka e Ayar-Uchu. Cada um deles trouxe sua esposa. Eles
caminharam até Cuzco, onde apenas as mulheres e Manko Qhapaq fundaram a cidade, em
nome de Teqsi Wiraqocha e do Sol.
Organização Política
É incontestável que o estado inca teve uma organizaçã o social e política peculiar. Seu
chefe
de Estado era o Inka ou Sapan Inka, também conhecido como Sapan Intiq Churin ("O
Único
Filho do Sol"), que tinha uma esposa com o nome de Qoya. De um modo mais
compreensível,
pode-se dizer que o nome "Inka" equivale a "Rei"; e "Qoya" significa "Rainha". De acordo
com a tradiçã o andina, tanto Inka quanto Qoya eram descendentes diretos do Deus Sol.
Para
perpetuar sua linhagem divina, o Inka era obrigado a casar com sua irmã . O "Sapan Inka"
também tinha um número limitado de concubinas e filhos. A tradiçã o conta que Wayna
Qhapaq tinha mais de 400 crianças. Este privilégio era dado somente para o Inka.
O Inka era o chefe religioso e político de todo o Tawantinsuyo. Ele praticava a soberania
suprema. Pesava o fato de que o Inka era venerado como um deus vivo, pois era
considerado
o Filho do Sol. Seus súditos seguiam suas ordens com total submissã o. Aqueles que
conviviam com ele se humilhavam em sua presença, em ato de extrema reverê ncia.
Apenas o
mais nobre homem da linhagem Inka podia dirigir a palavra ao Inka e repassar as
informações
aos outros súditos. Algumas das mulheres do Império Inca coletavam cabelo e saliva do
Rei,
como forma de se protegerem de maldições. Ele era carregado em uma maca dourada e
suas
roupas eram feitas de pele de vicunha da mais alta qualidade. Somente ele usava o
simbólico
Maskaypacha ou uma insígnia real, espécie de cordã o multicolorido. Grandes adornos
dourados pendiam de suas orelhas, o que acabava por deformá-las. O imperador inca usava
ainda uma túnica que ia até os joelhos, um manto banhado a esmeralda e turquesa,
braceletes
e joelheiras douradas e uma medalha peitoral que trazia impresso o símbolo do Império
Inca.
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Os historiadores ainda nã o chegaram a um consenso sobre o número exato de incas que
governaram Tawantinsuyo desde sua fundaçã o. Alguns cronistas sugerem que eles fossem
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ao todo, outros apostam no quantitativo de número 13. A tradiçã o reconhece os primeiros
oito
reis, de Manko Qhapaq até Wiraqocha, como os Inka místicos. Até a chegada dos
conquistadores espanhóis, cinco reis governaram um dos impérios mais misteriosos e
fascinantes de toda a história.
Pachakuteq governou de 1438 a 1471 e foi sucedido por Tupaq Inka Yupanqui, que ficou no
poder de 1471 a 1493. Depois, seguiram no reinado Wayna Qhapaq (1493-1527), Waskar
(1525-1532) e finalmente Atawallpa (1527-1533). A dinastia inca nã o acabou com a
chegada
dos espanhóis invasores, mas abriu caminho para o surgimento da naçã o Quéchua.
Movido
por interesses diplomáticos, Pizarro nominou Toparpa ou Tupaq Wallpa como o novo Inka,
envenenado quando viajava até Cuzco. Mais tarde, o direito ao trono foi oferecido a
Manko
Inka ou Manko II,outro filho de Wayna Qhapaq que, em 1536, começou uma longa guerra
para retomar o comando de Tawantinsuyo. Ele acabou sendo assassinado por dois
seguidores
do conquistador espanhol Almagro e foi substituído pelo filho, Sayri Tupaq, que morrem
em
Yucay, após traiçã o dos conquistadores. Titu Kusi Yupanqui, irmã o de Sayri Tupaq, foi
denominado novo Inka. Sua primeira açã o no poder foi se dirigir até Vilcabamba, com o
objetivo de continuar a guerra. Vitimado por uma doença, Titu Kusi morreu e foi sucedido
pelo irmã o Tupaq Amaru. Mas Amaru foi seqüestrado pelo capitã o espanhol Martin
Garcia
Oñas, que acabou se casando com a sobrinha de Amaru. Tupaq Amaru foi levado até
Cuzco e
executado em praça pública. Era o ano de 24 de setembro de 1572 e o conquistador
Viceroy
Francisco de Toledo se regozijava diante da execuçã o sumária. Após 36 anos de guerra,
os
conquistadores do Velho Mundo adquiriam todos os direitos sobre a terra sagrada dos incas.
Os Deuses dos Incas
VIRACOCHA: (Ilha Viracocha Pachayachachi), (Esplendor originário, Senhor, mestre do
mundo), foi a primeira divindade dos antigos Tiahuanacos, proveniente do Lago Titicaca.
Como o seu homô nimo Quetzalcoatl, surgiu da água, criou o céu e a Terra e a primeira
geraçã o de gigantes que viviam na obscuridade. O culto do Deus criador supunha um
conceito
intelectual e abstrato, que estava limitado à nobreza. Semelhante ao Deus Nórdico Odín,
Viracocha foi um deus nô made, e como aquele, tinha um companheiro alado, o condor
Inti,
grande profeta.
INTI: (o Sol), chamado "Servo de Viracocha", exercia a soberania no plano superior ou
divino, do mesmo modo que um intermediário, o Imperador, chamado "Filho de Inti",
reinava
sobre os homens. Inti era a divinidade popular mais importante: era adorado em muitos
santuários pelo povo inca, que lhe rendiam oferendas de ouro, prata e as chamadas virgens
do
Sol.
MAMA QUILLA: (Mã e Lua), Esposa do Sol e mã e do firmamento, dela se tinha uma
estátua
no templo do Sol. Essa imagem era adorada por uma ordem de sacerdotisas, que se
espalhava
por toda a costa peruana.
PACHA MAMA: "A Mã e Terra", tinha um culto muito idolatrado por todo o império,
pois
era a encarregada de propiciar a fertilidade nos campos.
MAMA SARA: (Mã e do Milho).
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MAMA COCHA: (Mã e do Mar)
As lendas incas
A Primeira Criaç ão: "Caminhava pelas imensas e desertas pampas da planície,
Viracocha
Pachayachachi, 'o criador das cosas', depois de haver criado o mundo em um primeiro
ensaio
(sem luz, sem sol e sem estrelas). Mas quando viu que os gigantes eram muito maiores que
ele, disse: - Nã o é conveniente criar seres de tais dimensões; parece-me melhor que
tenham
minha própria estatura! Assim Viracocha criou os homens, seguindo suas próprias
medidas,
tal como sã o hoje em dia, mas aqueles viviam na obscuridade".
A Maldiç ão: Viracocha ordenou aos hombres que vivessem em paz, ordem e respeito.
Entretanto, os homens se rendeream à vida ruim, aos excessos, e foi assim que Deus
criador
os maldisse. E Viracocha os transformou em pedras ou animais, alguns caíram enterrados
na
Terra, outros foram absorvidos pelas águas. Finalmente, despejou sobre os homens um
dilúvio, no qual todos pereceram.
A Segunda Criaç ão: Somente trê s homens restaram com vida, e com o objetivo de
ajudar
Viracocha em sua nova criaçã o. Assim que o dilúvio passara, "o mestre do mundo"
decidiu
dotar a Terra com luz e foi assim que ordenou que o sol e a lua brilhassem. A lua e as
estrelas
ocuparam seu ligar no vasto firmamento.
Religião
Como muitos outros elementos da cultura andina, a religiã o dos incas é um produto da
convivê ncia milenar do homem com a natureza. Em síntese, é uma religiã o que o
homem nã o
pode explicar, demonstrar ou dominar, pois trabalha como fenô menos ou poderes
superiores
incontroláveis. Dessa forma, uma serpente que com uma picada conseguisse causar
convulsões e morte em um homem era considerada sagrada. Um puma, o mais poderoso
animal da fauna andina, era considerado como deus pelos incas.
Os trovões e raios que causavam fogo e destruiçã o também eram venerados. Dúzias de
outros
elementos andinos tinham características de divindades.
A religiã o é definida como a uniã o dos valores e crenças morais, que seguem uma
conduta
social individual. De qualquer modo, a prática de rituais coloca o homem em contato com
o
divino. Segundo informações baseadas em arqueologia e fatos históricos, os altos
sacerdotes
incas reuniam-se anualmente em um templo de Huayna Picchu. Ali, eles ofereciam a
ayahuasca - uma bebida feita da decocçã o de duas plantas amazô nicas - a uma jovem
virgem.
Tomavam da poçã o mágica e evocavam os espíritos da natureza. A virgem era sacrificada
e
seu sangue derramado no altar, uma forma de devoçã o ao Deus Sol. As próprias virgens
se
sentiam honradas em serem escolhidas para o ritual.
Como conseqüê ncia de sua divisã o social, havia na sociedade inca uma cosmovisã o
privada
para a nobreza e outra para o povo plebeu. Os templos incas sempre permaneciam
protegidos
e trancados. Em termos gerais, considerava-se que todos estavam subordinados a uma
entidade invisível, eterna e onipotente, que recebera o nome de Wiraqocha. Alguns
historiadores afirmam que o nome real desse deus era Apu Kon Titi Wiraqocha ou talvez
Illa
Teqsi Wiraqocha. Alguns estudantes peruanos acreditam na probabilidade de que este
mesmo
deus era identificado pelos nomes de Pachakamaq e Tonapa.
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Visão cosmopolita do Universo
O deus Wiraqocha estava acima dos trê s mundos da cosmovisã o peruana. Os incas
acreditavam na existê ncia do Hanan Pacha, um mundo no espaço sideral e chamavam de
Kay
Pacha a superfície da Terra. Eles afirmavam ainda que o Ukhu Pacha era um mundo situado
abaixo do solo, uma espécie de inferno. O Inka era considerado como o Sapan Intiq Churin
ou
o "Único Filho do Sol". Esta era a principal razã o para que cada cidade ou vilarejo inca
tivesse templos dedicados ao seu culto. O mais importante templo - todo banhado a ouro -
era
o Qorikancha. Na religiã o quéchua, considerava-se que a Lua era uma deidade feminina,
identificada com a prata e esposa do Deus Sol. O mais importante sacerdote na sociedade
inca
era o Willaq Uma. Em condições normais, o cargo de Willaq Uma era ocupado pelo irmã o
ou
o tio do Rei.
Um estudo de Luis E. Valcarcel indca que todos os deuses, menos Wiraqocha, surgiram do
Hanan Pacha. Ali também estariam os espíritos de incas nobres também. Daquele mundo,
teriam vindo os incas, como crianças do Sol. Dois seres mitológicos estabeleceram uma
comunicaçã o regular entre os diferentes mundos; do Ukhu Pacha saiu todo o mundo
terrestre -
ou Kay Pacha - e eram projetados através do Hanan Pacha. Daí se vê um pouco da relaçã
o
com o catolicismo. Os católicos acreditam que após a morte, o espírito vá para o céu.
Esses
seres mitológicos ou espirituais eram representados na forma de duas serpentes: Yakumama
(mã e d'água), que ao chegar à Terra fora transformada em um grande rio e teria voltado
ao
mundo sob a forma de um raio. A outra cobra era Sach'amama (Mã e Á rvore), que tinha
duas
cabeças e caminhava verticalmente, com a aparê ncia de uma "velha árvore". Ao chegar ao
mundo celestial, Sach'amama foi transformada em um K'uychi (arco-íris), que era
relacionado
com a fertilidade.
A Terra ou a Mã e Terra, conhecida como Pachamama, ainda é objeto de cultuaçã o em
todas
as montanhas andinas. As estrelas também ocuparam um lugar preponderante na religiã o
préhispânica.
Muitas estrelas e constelações, tais como a estrela Ch'aska ou Vê nus, ou a
constelaçã o Pleíades tinham características divinas. Atualmente, alguns seguidores da
religiã o
inca ainda usam algumas constelações para a previsã o do futuro: de acordo com o brilho
das
estrelas, é possível saber se o próximo ano será repleto de chuvas, prosperidade, alegria
ou
desastres.
Muitos historiadores indicam que Waka ou Guaca era um santuário usado para a veneraçã
o de
deuses regionais ou locais. Considerava-se que a vida de uma pessoa ou uma dinastia
pudesse
emergir de um rio, uma montanha, um pássaro ou um puma. Quem nascia dos rios era
denominado de Crags; quem provinha das montanhas, era chamado de Orkjo. A arte de
embalsamamento teve grande desenvolvimento no Peru pré-hispânico. Toda a pessoas que
morria era mumificada, nã o importasse a qual classe social pertencia. A única diferença
era
que as múmias das pessoas comuns eram depositadas nos cemitérios; enqüanto que as
múmias dos nobres eram reservadas em Wakas (templos). As Mallki (múmias) eram
objetos
de adoraçã o e serviam comunidades inteiras como se estivessem vivas. Outro elemento
importante na religiã o inca eram os Wayke, ídolos ou representações de pessoas nobres,
esculpidos em metais e geralmente em tamanho natural. Restos de intestinos dos falecidos
parentes eram colocados em uma caixa e depositados no peito da estátua. Os metais nã o
tinham qualquer valor econô mico na sociedade inca; apenas valores cerimoniais.
Há referê ncias de que a sociedade inca praticava orações, abstinê ncia sexual e
festividades, e
entendia o conceito de pecado. As casas de família tinham amuletos que buscavam trazer
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prosperidade e boa sorte. Chamados de Wasiqamayoq ou Ulti, eram esculpidos em pedra e
tinham diferentes formas e cores. Normalmente tinham formas de concha, onde as pessoas
colocavam vinho ou ayahuasca durante as cerimô nias chamadas de "haywarisqa" (cerimô
nia
de oferendas).
Oferendas e sacrifícios
As oferendas consistiam em diferentes elementos, como comida, ayahuasca, Aqha (bebida
alcoólica fermentada a partir do milho), lhamas e porcos. As oferendas líquidas eram
colocadas em fontes chamadas de Phaqcha, e a ayahuasca e o sangue de animais eram
irrigados no templo, como sacrifício. Os animais eram sacrificados para que se buscasse
prever o futuro pelo estudo de suas vísceras, coraçã o, pulmões e outros órgã os. Alguns
historiadores espanhóis - normalmente padres católicos - escreveram que em
circunstâncias
especiais sacrifícios de crianças eram praticados (estudiosos peruanos alegam que essa
posiçã o da Igreja Católica visava atenuar as atrocidades cometidas pelos conquistadores
espanhóis, em nome do Cristianismo). O padre Vasco de Contreras y Valverde, usando de
diversos documentos em 1649, assegurou que quando o Wayna Qhapaq morreu "seu corpo
foi
trazido para a cidade, onde em seu funeral quatro mil pessoas foram assassinadas...".
Garcilaso Inca de la Vega escreveu: "Eles nã o tinham sacrifícios relacionados à carne ou
sangue humano, mas abominavam isso e abominavam o canibalismo. Os historiadores que
disserem o contrário estarã o incorrendo em erro grave".
Atualmente, já se sabe que algumas províncias Quéchua praticavam sacrifícios humanos;
Huaman Poma, entre 1567 e 1615, escreveu que Capacocha era o nome de uma criança
sacrificada com uma ano de idade, enquanto que Cieza de Leon acredita que esse seja o
nome
dado a todos os presentes e oferendas de seus ídolos; Pedro Sarmiento de Gamboa escreveu
que "Capaccocha era a imolaçã o de duas ou mais crianças do sexo masculino ou
feminino".
Supõe-se que os sacrifícios humanos tenham ocorrido nos templos incas mais importantes.
Em 1992, Johann Reinhard informou a respeito de restos de um corpo humano encontrados
em altas montanhas andinas. O padre Cobo escreveu em 1639 que quando os garotos eram
sacrificados, "eles eram estrangulados com uma corda, ou por socos initerruptos e eles eram
queimados; algumas vezes, os incas tornavam-no bê bados, antes de matá-los". Quando os
espanhóis chegaram ao Peru, a reduçã o sistemática dos indígenas e de suas idolatrias
estava
evidente.
Uma das metas principais dos espanhóis era tentar extirpar totalmente os "bruxos" da
religiã o
de Tawantinsuyo. Quando as "Reduções de índios" foram estabelecidas em 1572 por
Viceroy
Toledo, (para alguns peruanos, foi um grande organizador; mas tirano e perverso para
muitos
outros). Os espanhóis se concentraram em quatro esforços quando da conquista das tribos
quéchua: estabelecer o controle ou escravizar os índios, fazer com que os incas pagassem
pesados tributos à Coroa Espanhola, estabelecer o controle moral e alterar a religiã o dos
incas.
A religiã o dos incas, que se caracterizava por animista, começava a ganhar traços
católicos.
Os mais importantes templos incas foram queimados e demolidos. Uma Inquisiçã o foi
instaurada e os sacerdores "Willaq Uma" e "Tarpuntays" foram considerados como
feiticeiros
e, por isso, submetidos à dura lei da Igreja Católica.
Todo o seguidor de seitas ou religiões diferentes do catolicismo era reprimido ou mesmo
assassinado. Entre os colonizadores, haviam pensamentos diferentes sobre os homens
andinos
e sua religiã o. A mais famosa disputa em torno de dados religiosos foi travada entre o
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missionário espanhol e historiador Bartolome de las Casas (1474-1568) e o também
escritor
espanhol Juan Gines de Sepulveda (1490-1573). De las Casas sugeriu a necessidade
imperativa de evangelizar o povo do Novo Mundo, em concordância com os preceitos
cristã os.
Gines de Sepulveda admitiu que o indígena andino teria de ser evangelizado, mas antes
teria
de ser humanizado. Sepulveda queria dizer que o componente de uma das civilizações mais
ricas do mundo devia ser tratada como animal e passar por um processo de humanizaçã o.
Tradicionalmente e oficialmente considera-se a religiã o oficial peruana como sendo a
católica. Como Carmen Bernard diz, "os incas nã o sã o povos fossilizados. Sua imagem é
ainda vívida nas mentes que eram excluídas de todo o poder político. Essa imagem dos
incas é
real para a história ou serve como uma proposta alegórica? Nã o importa. Ela vive nos
corações daqueles a quem o mundo moderno parece ter sido esquecido ou rejeitado..."
Macchu Picchu – A cidadela dos Andes
Durante o início da primeira década do século XX, vários exploradores da América do Sul
procuravam por ouro e outros tesouros da extinta civilizaçã o inca. Hiram Dingham
acabou
descobrindo quase que por acaso, em 1911, uma pequena cidade, no topo dos Andes. Ali,
conta a lenda vivia somente uma família. Era Macchu Picchu, a cidadela perdida dos incas.
Ninguém sabe como e porque Macchu Picchu foi construída. Fincada em um local de
dificílimo acesso, a cidade mais conhecida dos incas desenvolvia papel fundamental no
império Inca. Pensava-se que a construçã o da cidade tivesse sido ordenada pelo Pachacuti
Inca, como uma oferenda real ou divina, pelo ano de 1460. Sua existê ncia era sempre
mantida
em segredo. Após a morte de Pachacuti, o poder foi legado aos seus familiares e a cidade
passou a ser visitada por sacerdotes incas até a invasã o da Espanha. Com a exceçã o
daqueles
que viviam na cidade, poucas pessoas tinham permissã o oficial para transpor os limites e
entrar em Macchu Picchu.
Carcomidos pelas doenças (trazidas pelos europeus), pela guerra civil e outras atrocidades,
os
incas começaram a abandonar a cidade, que ficou esquecida nos últimos dias do Império
Inca.
Alguns historiadores relatam o encontro de Digham com uma única família - mã e e filha
pequena. "A criança tinha rosto tã o lindo, como jamais eu vira", teria dito Digham.
Quando
Manco Tupac começou a guerra contra espanhóis em 1536, poucos incas pensavam que a
cidade poderia ser usada como forte. Tupac e seu exército operaram de muitas montanhas
ao
redor da cidade. Mas a despeito da astúcia de Tupac, os espanhóis tinham pesadas armas.
Manco Tupac e seu exército se debandaram em direçã o à Floresta Amazô nica, onde se
instalaram em Vilcabamba. Este foi o último forte inca. Em pouco tempo, toda a populaçã
o
do Império foi dizimada. Como contam algumas lendas, Capac e Atahualpa levaram o
conhecimento da produçã o de ayahuasca - aya=alma; huasca=vinho (o vinho das almas)
aos
povos indígenas. Atualmente, pelo menos 79 tribos amazô nicas fazem uso da bebida
sagrada
e algumas religiões também a utilizam como instrumento de desenvolvimento espiritual,
como a UDV (Uniã o do Vegetal), Barquinha e o Santo Daime.
Desde a queda de Vilcabamba, a antiga cidade de Macchu Picchu foi deixada abandonada e
esquecida. A própria floresta tomou o cuidado de abraçar as ruínas da cidade e escondê -la
para os próximos séculos. As construções de pedra de Macchu Picchu eram muito bem
feitas -
indicando que a cidade provavelmente tinha importância religiosa. Muitos túmulos
também
foram encontrados próximo ao monte, na floresta. A estrutura da cidade inclui residê ncias,
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templos, jardins, um palácio real e locais para banhos cerimoniais. Cerca de duas mil
pessoas
viviam ali.
Há indícios da existê ncia de uma outra cidade, chamada de Maranpampa pelos
arqueólogos.
Os cientistas trabalham com a hipótese de que Maranpampa esteja oculta em algum local
próximo a Macchu Picchu. Possíveis ruínas dessa cidade teriam sido descobertas em 1986.
A
cidade de Paikhikhin também foi descoberta em 1997 e se localizava na Amazô nia
Brasileira.
Teriam os incas se refugiado em território brasileiro?
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Os Mayas
É importante salientarmos que os historiadores não conheceram a Autêntica
Civilização dos Mayas, refiro-me a Civilização Serpentina, ou aos que
viveram em Mayab. Conheceram apenas uma civilização em declínio, já
exposta
e entregue aos Dzules do seu tempo, portanto as informações históricas
precisam ser compreendidas como apenas a visão que os historiadores
tiveram, o que é diferente da realidade.
Os maias nã o chegaram a formar um império unificado. Existiram em diversos centros
praticamente independentes (com alguns costumes em comum), cada um dos quais tendo o
seu crescimento, apogeu e decadê ncia. Isoladas e distantes da influê ncia européia, as
cidades
maias cresceram e sua cultura teve um grande desenvolvimento. A decadê ncia dos maias
aconteceu por volta do século XIII, bem antes da invasã o espanhola, que ocorreu no final
do
século XV. Dentre as culturas pré-colombianas, a dos maias foi a que mais se desenvolveu
em
vários campos: arte, educação, comércio, arquitetura, matemática e astronomia. Como
curiosidades, confira o esporte nacional.
Nestas peças da cultura maya, vemos aspectos interessantes. Homenagens aos Deuses
Mayas
da chuva e um exemplo de suas oferendas.
A sociedade
Tendo em vista a natureza dos documentos analisados pelos arqueólogos nã o é fácil
recompor
em detalhe a organizaçã o da sociedade maia. De qualquer forma, sabe-se que apresentava
grupos sociais com características bem definidas indicando estratificaçã o social.
Os maias dividiam-se em províncias autô nomas que eram verdadeiras cidades-Estado
(como
nos informa Alberto R. Lhuillier). Nelas a maior autoridade era o halach uinic. Ele
desenvolvia funções religiosas e políticas sendo o seu cargo de natureza hereditária.
Os sacerdotes eram responsáveis pelos sacrifícios, faziam oferendas, estudavam
astronomia,
faziam calendários e liam escritos, em suma, concentravam uma grande parcela do poder.
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Eram muito temidos sendo responsáveis pela imposiçã o dos prê mios e castigos e,
principalmente, pela transmissã o das tradições.
Uma espécie de nobreza desfrutava de privilégios, atuava na administraçã o da cidade.
Possuíam terras e supõe-se que nã o pagavam tributos.
Muito abaixo dos sacerdotes estã o os guerreiros, e artesã os que se dedicam à confecçã o
de
uma série de objetos muitos deles de uso ritual. Os comerciantes, se é que existiam como
grupo social, nã o tinham expressã o.
Os camponeses dedicam-se a tarefas mais rudes, ou seja, eram responsáveis pela
agricultura e
pelas construções.
As propriedades comunais, forneciam alimentos para a família dos camponeses e também
para os sacerdotes e nobres. A eles cabia também trabalhar nas construções dos centros
cerimoniais, transportando pedras com as quais erguiam pirâmides, faziam terraços,
campos
de pelota e templos.
Muitos desenhos representam nativos sem que se possa saber com segurança se seriam
sacrificados ou escravizados. "Os cronistas da época da conquista deixaram algumas
informações em seus escritos. Eles informam que a condiçã o de escravo podia ser
resultado
de uma pena (adultério ou homicídio), por nascimento (pais escravos), prisioneiro de
guerra,
órfã o destinado ao sacrifício pelo seu tutor ou ter sido comprado por um comerciante."
A civilizaçã o maia passou por tantos períodos, por tantas transformações; sofreu
inúmeras
interferê ncias de outras tradições indígenas, que fica difícil pensar nã o ter sofrido a
sociedade
maia grandes alterações na sua forma de organizaçã o social. Acredita-se, por exemplo,
que
num primeiro momento da vida em Tikal, as tarefas eram distribuídas de maneira pouco
rígida permitindo mobilidade entre os afazeres necessários à vida do grupo.
Provavelmente em Chichén Itzá na sua fase marcada pela presença tolteca a situaçã o
tenha
sido diferente, a sociedade bem mais estratificada e, provavelmente, com menor
mobilidade.
A Pirâmide de Chiché n Itzá :
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Essa Pirâmide possui uma grande simbologia Esotérica, com seus nove degraus principais
e
sua escadaria lateral que funcionava também como calendário.
Costumes e vestuá rio
A roupa dos sacerdotes era rica. Usavam peles de jaguar, mantos vermelhos, plumas e
adornos incrustados com jade.
O uso do ornamento era tã o freqüente, que entre a nobreza era costume o uso de pedras
semipreciososas
nos dentes.
As Cidades
Os maias habitaram uma área que compreende hoje parte do México (os estados de
Yucatán,
Campeche, Tabasco e Chiapas), a Guatemala e Honduras. Calcula-se que 15 milhões de
habitantes viviam em uma área de aproximadamente 325 000 quilô metros quadrados
tendo
como eixo a península de Yucatán.
A regiã o é comumente dividida em: Terras Altas (Guatemala e faixa úmida do Pacífico
até El
Salvador) e Terras Baixas que se dividem em Terras Baixas do Sul (Tabasco no golfo do
México, Honduras no litoral do Caribe), tendo como expoente em Petén, onde se
concentraram o mundo Maya e as Terras Baixas do Norte que correspondem à península
do
Yucatán.
As primeiras aldeias em território maia datam de de 1500 a.C. Nas regiões de Chiapas e
Guatemala encontramos uma cerâmica rica em ornamentaçã o. Mas é por volta de 800
a.C.
que vemos um povoamento mais intenso nas Terras Baixas.
A cerâmica em Petén data de 800-600 a.C indicando que o homem dominara uma natureza
adversa e criara condições para se estabelecer nesta regiã o. No ano 600 a.C., pelo que
indicam
as escavações, Tikal é povoado. Ali, em 200 a.C. desenvolver-se-á a construçã o de um
grande
centro cerimonial. Ele sofrerá alterações durante 10 ou 12 séculos até transformar-se na
maior
cidade da área maia.
A importância de Tikal é grande em funçã o das modificações que ocorreram. Elas
indicam o
surgimento de um estilo regional, qualificado como maia, e que influirá nas Terras Baixas.
Tikal é uma cidade totalmente envolvida pela floresta tropical, exemplo de cidade maia.
Teve
grande florescimento entre 435 e 830. A área central da cidade possuía por volta de 3000
construções. Templos, palácios, campos para jogos de bola e banhos a vapor foram
algumas
das funções reconhecidas pelos arqueólogos para as construções escavadas. Encontraram-
se
também centenas de túmulos contendo oferendas, cisternas e lugares para guardar víveres.
Dentre os objetos achados, vale a pena destacar a obsidiana esverdeada, típico artigo de
exportaçã o de Teotihuacan, que nã o existia na área maia.
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Para termos uma idéia do porte de algumas construções, vale a pena citar como exemplo o
templo IV construído por volta de 741 com 72 metros de altura. Quanto às construções
civis,
a disposiçã o era diferente: trê s ou quatro quartos seguidos e a luz só entrava pela porta.
A
cozinha ficava fora, em uma espécie de alpendre e pelo desconforto dessas peças muito
escuras imagina-se que grande parte das atividades eram realizadas externamente.
Em Tikal notam-se bem confluê ncias culturais. Um dos seus soberanos "Céu tormentoso"
(426-456), soube expressar muito bem a aproximaçã o cultural fazendo-se desenhar (na
estela
31 de Tikal) com dois guerreiros mexicanos em cujos escudos podia-se ver Tláloc (deus
mexicano), ao mesmo tempo em que ele usava roupas tipicamente maias.
A estrutura urbana da cidade de Tikal é importante de ser compreendida na medida em que
estará presente em outras cidades. Como nos lembra um importante estudioso das cidades
indígenas, Jorge Hardoy, "seu aspecto nã o é ordenado como de Teotihuacán, mas seus
construtores criaram efeitos atraentes edificando "largos calçadões que desembocavam
quase
que invariavelmente em uma praça que garantia uma perspectiva majestosa".
Quando Tikal entra em declínio florescerã o outras cidades como Palenque, Copán,
Piedras
Negras, Uxmal, Chichén Itzá, etc., cada qual apresentando sua marca específica.
Nas Terras Baixas, Piedras Negras é um espaço onde podemos contemplar em detalhe a
arte
maia. Sã o 7 200 monumentos produzidos ao logo de 200 anos (608-810), onde uma série
de
relevos nos permite conhecer um pouco mais dessas culturas.
Uma das cenas representadas nesses relevos, por exemplo, é uma reuniã o do conselho.
"Diante de jovens nobres e de membros das famílias reinantes, um grupo de dignitários
está
sentado no solo, enquanto, do alto de um trono ricamente ornamentado, em cujo rebordo
apóia sua mã o, o príncipe se inclina em direçã o aos mais idosos de seus conselheiros".
Palenque é uma cidade localizada na serra de Chiapas. Sua arquitetura e escultura sã o
surpreendentes. Por exemplo: a água que chega até a cidade foi canalizada em alguns
lugares
através de aquedutos subterrâneos. Embora algumas soluções possam surpreender, nã o
devemos olhar isoladamente cada um dos elementos arquitetô nicos desta cidade.
A renovaçã o está presente no aspecto geral da cidade no que se refere à em leveza e
harmonia
de proporções.
Como conseguiram leveza arquitetô nica nas construções? Aumentar os espaços interiores,
e
criando aberturas em forma de "T", que permitiram a entrada de luz. Entre as construções
importantes vale a pena mencionar o chamado "palácio" com sua torre de observaçã o, o
templo das Inscrições e o mais fantástico túmulo real conhecido no mundo maia.
Copán ao lado de Tikal e Palenque compõem os maiores expoentes da civilizaçã o maia,
reunindo os elementos culturais que sã o o seu cerne: arquitetura e escultura. Do ponto de
vista
científico, coube a Copán o mais perfeito domínio da astronomia.
O calendário maia elaborado em Copán pelos seus astrô nomos é de uma precisã o
admirável,
superando os calendários europeus produzidos na mesma época. Em Copán realizavam-se
reuniões de astrô nomos vindos de regiæes distantes. Este é o ponto alto da cultura maia.
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Em torno da precisã o do calendário maia poderemos fazer inúmeras perguntas. Por
exemplo:
como elaboraram cálculos tã o gigantescos e complexos? Como desenvolveram em tã o
alto
nível o conhecimento matemático necessário à astronomia? Poderemos saber o grau de
precisã o dos maias ao construir o calendário, mas nã o podemos demonstrar os caminhos
seguidos para chegar até ele.
Em suma, cidades como Tikal, Cópan, Quiriguá, Pedras Negras, Uaxactum, Palenque,
Yaxchilan, situadas no sul do México, Guatemala e Honduras, caracterizam a regiã o maia
marcada pela presença de grandes centros urbanos.
Feitas estas observações de caráter mais geral podemos penetrar no universo maia
analisando
suas formas de organizaçã o social, política e religiosa.
O declínio da cultura maia (Já degenerada)
Por volta de 800 d.C., por motivos ignorados as civilizações das planícies do sul irã o
desaparecer. Só sobreviverã o os maias do norte do Yucatán. Provavelmente catástrofes
como
secas ou inundações, terremotos ou epidemias tenham alterado o tê nue equilíbrio
responsável
pela produçã o de alimentos necessários ao abastecimento da regiã o.
As guerras entre grupos ou mesmo migrações também podem ter desorganizado o
equilíbrio
das populações estabelecidas nas Terras Baixas. Mas, entre as hipóteses, a mais
extravagante
(mas possível) de todas diz respeito à auto-destruiçã o. Os sacerdotes prisioneiros de uma
visã o fatalista do mundo, construíram a partir dos astros o fim da própria cultura. Ou seja,
prevendo o fracasso, conduziram a história de suas cidades para essa direçã o.
Chichén Itza, Uxmal e Mayapán haviam formado uma aliança para manter o domínio da
península. Mas, no início do século XIII com a queda de Chichén Itzá, termina o ciclo da
cultura maia.
Da cultura maia restará apenas o cálculo curto e parte da tradiçã o mantida através da
repetiçã o
oral. Os livros de Chilam Balam recolherã o algumas profecias embora muito da cultura
maia,
embora suas formas diferenciadas de expressã o, tenha se perdido no seu declínio.
Alguns pequenos grupos dos descendentes índios, que formavam esses Estados decadentes,
sobreviverã o embora mantendo-se isolados. Mas, o que de fato ocorreu com relaçã o a
essa
área foi um processo de mexicanizaçã o, onde as marcas culturais passaram a ser impostas
pelos astecas e chichimecas.
A conquista espanhola
Os maias viviam um período de franco declínio quando os espanhóis chegaram à
América.
Por volta de 7 séculos antes da chegada dos conquistadores das cidades maias foram
abandonadas e invadidas pela floresta grande parte tropical fenecendo parcela significativa
da
cultura de que os maias eram depositários.
Na península do Yucatán e Guatemala os espanhóis entraram em contato com alguns
sobreviventes de uma cultura em decadê ncia. Aliás, como nos lembra o grande
antropólogo
Miguel Léon Portilla, em 1511, ou seja, 11 anos antes de Cortés iniciar sua expediçã o
para
conquistar a cidade do México (Tenochititlan) uma caravela encalhou e seus dois
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sobreviventes chegaram às costas do Yucatán. Um deles de nome Gonzalo Guerrero casou
com uma índia optando por viver entre os maias e o outro Jerô nimo de Aguilar
vinculando-se
mais tarde à expediçã o de Cortés servirá como interprete entre Cortés e sua "amante"
índia
Malinche.
A conquista do Yucatán, de fato, só terá início em 1527 sendo concluída em 1546. Foi
feita
por 300 homens acompanhados dos tlaxcaltecas. Durante esses anos, foram submetidas as
populações de cakchiqueles, quichés, tzutujiles, entre outros. Vale a pena notar que os
quichés
tentaram se opor ao domínio espanhol, mas foram derrotados e massacrados.
Assim como os astecas referem-se a presságios funestos os maias também possuem textos
proféticos. Os textos maias sobre a conquista referem-se às profecias, especialmente os
livros
de Chilam Balam de Chumayel , de Tizimín e de Maní.
Os testemunhos indígenas sobre as conquistas do Yucatán estã o em grande parte incluídos
nos livros de Chilam Balam.
A memó ria da conquista
Sã o poucos os documentos indígenas que sobreviveram à conquista. A cristianizaçã o da
América fez-se acompanhar de um grande esforço para eliminar todo material que pudesse
favorecer manifestações idolátricas.
Restaram apenas trê s livros produzidos pelos indígenas antes da conquista. Os outros
livros
que se referem à cultura maia e, entre eles, os chamados livros de Chilam Balam, sã o
adaptações que os padres fizeram à língua maia do Yucatán, descrevendo antigos
costumes
indígenas e a confluê ncia entre a cultura indígena e a cultura espanhola.
Os temas tratados nos livros sã o de diversas naturezas: 1. textos de caráter religioso 2.
textos
de caráter histórico, tendo em vista as cronologias maias 3. textos astrológicos 4. Rituais 5.
medicinais e, também, 6. novelas espanholas escritas em língua indígena.
Devo confessar, leitor, que enquanto escrevia sobre o passado pré-colombiano uma
profecia
de Chilam Balam voltava sempre à minha mente. Parecia a voz da consciê ncia exigindo
que
uma última mensagem fosse escrita.
Obedeci à ordem deixando para vocês desvendarem este último mistério:
" No hay verdad en las palavras de los extranjeros"
(Profecia de Chilam Balam, que era cantor na antiga Maní)
A língua maia
Sã o inúmeros os dialetos falados na área correspondente ao Yucatán, Guatemala, El
Salvador
e Belize. De qualquer forma, os lingüistas dividem-nos em dois grandes ramos: o huasteca
eo
maia. Este segundo ramo se subdividiu em outras línguas (como o Chol, Chintal, Mopan,
etc).
A língua maia, falada no Yucatán, sofreu inúmeras transformações com as invasões
toltecas e
também devido às influê ncia da língua nahuatl falada pelos astecas.
Em seus monumentos deixaram uma série de inscrições que até hoje nã o foram
decifradas.
Infelizmente muitos documentos maias foram destruídos chegando até nós apenas trê s
livros.
Sã o eles o Códice de Dresde, o Códice de Madri e o Códice de Paris.
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Os livros maias eram confeccionados em uma única folha que era dobrada como uma
sanfona.
O papel era feito com uma fibra vegetal coberta por uma fina camada de cal. O conteúdo
desses livros sã o de natureza calendárica e ritual, servindo para adivinhações.
Um dos cronista que viveu na época da conquista, o Bispo Diego de Landa, refere-se aos
livros que os maias utilizavam permitindo-lhes saber o que havia sucedido há muitos anos.
Portanto, a escrita representava um elemento importante na preservaçã o de suas tradições
culturais. Mas, infelizmente grande parte deles foram destruídos como se pode constatar na
afirmaçã o do próprio bispo:
"...Encontramos um grande número de livros escritos nesses caracteres, e
como nada tivesse a não ser flagrantes superstições e mentiras do
demônio,
nós os queimamos a todos".
Atividades agrícolas e comerciais
Os Maias cultivavam o milho (trê s espécies), algodã o, tomate, cacau, batata e frutas.
Domesticaram o peru e a abelha que serviam para enriquecer sua dieta, à qual somavam
também a caça e a pesca.
É importante observar que por serem os recursos naturais escassos nã o lhes garantindo o
excedente que necessitavam a tendê ncia foi desenvolverem técnicas agrícolas, como
terraços,
por exemplo, para vencer a erosã o. Os pântanos foram drenados para se obter condições
adequadas ao plantio.
Ao lado desses progressos técnicos, observamos que o cultivo de milho se prendia ao uso
das
queimadas. Durante os meses da seca, limpavam o terreno, deixando apenas as árvores
mais
frondosas. Em seguida, ateavam fogo para limpá-lo deixando o campo em condições de
ser
semeado. Com um bastã o faziam buracos onde se colocavam as sementes.
Dada a forma com que era realizado o cultivo a produçã o se mantinha por apenas dois ou
trê s
anos consecutivos.
Com o desgaste certo do solo, o agricultor era obrigado a procurar novas terras. Ainda hoje
a
técnica da queimada, apesar de prejudicar o solo, é utilizada em diversas regiões do
continente americano.
As Terras Baixas concentraram uma populaçã o densa em áreas pouco férteis. Com
produçã o
pequena para as necessidades da populaçã o, foi necessário nã o apenas inovar em termos
de
técnicas agrícolas, como também importar de outras regiões produtos como o milho, por
exemplo.
O comércio era dinamizado com produtos como o jade, plumas, tecidos, cerâmicas, mel,
cacau e escravos, através das estradas ou de canoas.
A arquitetura e o urbanismo
As pirâmides em geral estavam cobertas de vegetaçã o sendo necessário que os
arqueólogos
abrissem clareiras para restaurá-las. Ao estudá-las descobriram que as primeiras pirâmides
recobriam outras pirâmides. Esse costume de recobrir uma construçã o com outra corria
também com relaçã o aos pisos.
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As casas construídas em grupo eram cobertas de sapé e sempre estavam próximas de
plantações de milho.
Inúmeros caminhos faziam a ligaçã o entre as casas e um templo que poderia ser de
pequenas
dimensões. Em dias determinados, a populaçã o daquela regiã o se encontrava para trocar
produtos, fazer oferendas, e participar de cerimô nias religiosas.
Os caminhos eram movimentados por homens que carregavam milho e outros produtos que
poderiam ser trocados nas cidades. Mas o tráfico mais complicado era o de pedras
necessárias
as construções.
Nos inúmeros templos os sacerdotes realizavam cultos ligados à fertilidade do solo. Os
centros rituais de maior importância eram muito freqüentados tanto por jovens que iriam
ser
sacerdotes, como por artífices que construíam monumentos, produziam cerâmica e teciam.
A vida dos maias era ritualizada e, neste sentido, é difícil separar o político e o econô mico
do
religioso. Os rituais eram organizadores do cotidiano, da guerra e dos sacrifícios. Os maias
sempre estavam preocupados com a presença dos seus deuses.
Você pode perguntar, leitor, como sabemos da importância dos rituais. Em primeiro lugar,
a
presença marcante de inúmeros centros cerimoniais é um forte indício. Ou seja, a freqüê
ncia,
as dimensões e a localizaçã o desses centros sã o bastante significativas da importância
que
possuíam na vida daquela populaçã o. E, em segundo lugar, as pinturas murais, esculturas
e
decorações de vasos elucidam muitas questões sobre a vida dos antigos maias.
O calendá rio
A precisã o do calendário maia é muito grande, e que nos conduz a uma reflexã o sobre
conhecimento científico propriamente dito.
O ponto de partida, sem dúvida alguma, sã o as estações do ano responsáveis pelo ciclo
da
vida. E, como tais alterações estã o vinculadas a fenô menos celestes, os astrô nomos
maias
passaram a especular o cosmo. Através de investigações puderam conhecer o movimento
dos
astros montando dois calendários: um de significado ritual de 260 dias dividido em 13
grupos
de 20 dias e um calendário solar de 365 dias com 18 grupos de 20 dias mais cinco dias.
Os dois calendários acabavam por se encontrar a cada 52 anos quando começava um outro
ciclo. A estes dados acrescentaram outros referentes a Vê nus, as fases lunares e eclipses
conseguindo com todo esse esforço, cálculos bastante precisos.
Para construir todo este quadro de reflexã o eram indispensáveis os cálculos. E, para
realizálos,
produziram um sistema numérico. Assim, os maias conceberam um sistema que tinha
como base 20. Os símbolos utilizados eram uma barra para indicar 5, um ponto para indicar
a
unidade e uma espécie de concha alongada para indicar o zero.
As inscrições glíficas que dizem respeito a números foram interpretadas faltando ser
decifrado
o "glifo-emblema". Provavelmente caracteres gravados referem-se a certas festas e
profecias
relacionadas com as datas, as quais se constituem em presença constante nos monumentos.
Todo esse universo lógico marcado pelos cálculos se fazia acompanhar por uma leitura do
"horóscopo". De acordo com a data do nascimento, era previsto o "destino" do recém-
nascido.
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Se o dia nã o era de bom agouro, cabia ao sacerdote encontrar maneiras de ultrapassar
aquela
dificuldade. Neste sentido, o sacerdote possuía a chave do tempo com a qual construiu uma
filosofia fatalista. O mundo podia ser destruído porque seria recomposto mantendo-se assim
uma perspectiva cíclica que marcava o ritmo da história.
Cronologia
O interesse em confeccionar um calendário vinculava-se também a uma necessidade de
definir datas.
Todos os acontecimentos que lhes pareciam importantes tinham suas datas fixadas em
relevo
numa pedra. Apesar desta preocupaçã o constante com a cronologia predominava entre os
maias a busca infindável de suas origens míticas que se sobrepunha à realidade.
Evidentemente, os arqueólogos, preocupados em datar objetos e culturas, tentaram
estabelecer
uma relaçã o entre a cronologia maia e a cronologia cristã . As conclusões sã o
discutíveis.
Neste sentido, para nã o nos confundirmos, é melhor tomar a data de 2 500 a.C. como uma
data inicial a partir da qual se iniciaria a longa trajetória dos maias. Esse pressuposto é
apenas
uma hipótese didática e nã o possui comprovaçã o prática.
Esporte Nacional
O jogo de pelota (pok ta pok), praticado por todas as
civilizações pré-colombianas, era o esporte nacional
maia, como provam as quadras construídas para esse fim.
Para esse povo, o jogo tinha caráter sagrado e cósmico,
simbolizando a luta da luz contra as sombras, através de
seus deuses, e o movimento dos astros no firmamento.
Em um campo retangular de 70m de largura por 168m de
comprimento, catorze jogadores arremessavam uma
pesada bola de borracha através de anéis de pedra,
fixados nos dois lados do campo. A bola só podia ser
movimentada com a cabeça, braços e pernas, sendo
proibido o toque de mã os.
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Vocabulá rio
Das palavras Mayas empregadas nos livros segundo e terceiro (“O Vôo da Serpente
Emplumada”).
AHAU - Deus, homem divino, rei, “Deus-Rei”, “Grande Senhor”.
BALCHE - Bebida que se extrai de uma arvore em Yucatán e que se fermenta. Também
significa árvore escondida.
CENOTE - Poço de água subterrânea. O Cenote Sagrado existiu em Chichen Itzá e era
lugar
de cerimô nias místicas.
COZUMIL - Pequena ilha de frente a Península de Yucatán que significa “Terra das
Andorinhas”. Atualmente se chama Cozumil. Esta ilha foi indubitavelmente a sede de um
seminário ou escola esotérica da cultura Maya.
DZULES - Senhores; este nome se deu aos espanhóis nos primeiros tempos da conquista.
KATUN - Época ou período da cronologia Maya. Pequeno século Maya, de 20 anos de
360
dias.
KUKULCAN - Grande instrutor divino, ‘Serpente com Plumas’ equivalente ao
Quetzalcoatl
Nahoa.
MANI - “Tudo passou”. Também é o nome de uma famosa cidade Maya que nos tempos
da
conquista foi sede dos Reis Xiu e o último refúgio da civilizaçã o Maya e de sua cultura
religiosa.
PAUAH - “Os que distribuem ou dispersam o jorro da vida”. Quatro espíritos celestiais.
TZICBENTHAN - “Palavra que há de obedecer”.
SAC-NICTÉ - Branca Flor.
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MITOLOGIA JAPONESA
Criação da terra. O mito de Izanagui e Izanami
A mitologia japonesa relata que a apariçã o do gê nero humano na terra se deu sob forma
divina. No princípio tudo nã o passava de uma massa viscosa e indistinta no oceano. Deste
mar surgiu algo semelhante a um broto de junco e desabrochou. Deste surgiu uma
divindade.
Simultaneamente, duas outras criaturas divinas, masculina e feminina, emergiram. Pouco se
comenta sobre o trio original, mas gerou deuses e deusas na terra celestial. Após um
período
incontável de tempo, surgiu o par de energia divina Izanagui e Izanami.
Certa ocasiã o, os deuses deram a Izanagui uma lança enfeitada e confiaram-lhe a tarefa de
criar o Japã o. O casal desceu de Takama no Hara (Planície Celeste) por "uma Ponte
Lançada
do Céu" (Ama no Hashi Date) – geralmente associada ao arco-íris. Pararam no meio dela
para
observar a terra viscosa lá embaixo. Do alto da ponte, o jovem Izanagui mergulhou sua
arma
divina dentro da viscosidade flutuante, "agitando em forma de círculo, e ao retirar, deixou
respingar da ponta gotas salgadas que caíram da lança e, sobrepondo-se, se cristalizaram
formando ilhas. Vendo as ilhas que acabaram de criar, Izanagui e Izanami atravessaram o
Ama no Hashi Date (Ponte Lançada do Céu), e desceram para lá, onde fizeram um acordo
entre si, eregindo o "Augusto Pilar Celeste" na ilha de Ono Koro, para criar mais ilhas e
assim, deram origem ao arquipélago japonê s. O capítulo 6 do Kojiki descreve várias
ilhas:
"Assim a terra de Iyo foi denominada Ehime". A primeira ilha que o casal divino deu à luz
foi
awaji, e, em seguida, a ilha de Shikoku.
Izanagui e Izanami casaram-se e aprenderam a arte de fazer amor olhando um par de garças
(tsuru) em acasalamento. Estas aves brancas sã o ainda relacionadas à uniã o e mesmo o
deus
Espantalho nã o pode assustá-las, já que foram abençoadas na criaçã o.
Entre a descendê ncia de Izanagi e Izanami estã o marcos geográficos, como deus das
Cachoeiras, deus das Montanhas (Ôyama Tsukimi no Kami), deus do Fogo (Watatsumi no
Kami) Espírito das Á rvores, deus das Ervas, deus dos Ventos, além dos espíritos de todas
as
ilhas japonesas (Dai Yashimagumi). O deus dos Ventos foi responsável pela criaçã o de
muitas
ilhas, pois era ele que dissipava névoa densa e revelava regiões desconhecidas.
O primeiro filho do casal foi abortado, supostamente por causa de uma ofensa da parte de
Izanami à cerimô nia de casamento e a criatura semelhante a um peixe-geléia foi colocado
no
mar. Todos os outros filhos sobreviveram.
ORIGEM DA VIDA E MORTE NA TERRA – O último filho do casal a nascer, após uma
sucessã o de ilhas terem sido formadas e povoadas, provocou a morte da mã e. Era o deus
do
Fogo (Watatsumi no Kami). Izanami adoeceu com febre ardente e acabou morrendo. Para
apaziguar seu espírito, os homens construíram um altar e ofereceram flores (conforme os
adeptos do shintô estaria aí a origem do ikebana).
Izanami morre e parte para Yomi, o mundo dos mortos. O deus Izanagui, cheio de desgosto,
vai visitá-la. A deusa falecida nã o quer que ninguém veja como perdeu a beleza, dando
mostras de vaidade feminina. Mas, apesar de suas súplicas, Izanagui acende uma tocha,
olha
para ela, fica assustado com o estado de decomposiçã o de seu corpo e foge. Ofendida com
a
reaçã o de seu esposo, Izanami e outras criaturas da terra dos mortos perseguem Izanagui,
mas
ele consegue escapar, atirando para trás trê s objetos, que se transformam em outras coisas.
Ele
entã o coloca uma grande pedra bloqueando a passagem da caverna no local denominado
Yomotsu Hirasaka.
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Do lado de dentro, Izanami lançou aos gritos uma maldiçã o: –"Oh! Meu adorado esposo,
se
você age assim, eu a cada dia estrangularei mil habitantes de seu país". Izanagui entã o
respondeu que faria nascer 1.500 pessoas diariamente.
Izanagui manteve sua palavra e depois submeteu-se a um ritual de purificaçã o (Mizogui)
para
se livrar dos efeitos de sua descida ao Mundo dos Mortos (Anoyomi). Enquanto purificava
se
lavando, gerou várias divindades. As mais importantes delas sã o: Amaterassu Omikami, a
Augusta Deusa Sol, que nasceu enquanto ele lavava o olho esquerdo; Tsukiyomi no
Mikoto, o
deus Lua, na lavagem do olho direito; e Takehaya Suzano-o no Mikoto, o deus Tempestade,
enquanto ele lavava o nariz. Estas divindades sã o as chamadas "filhos nobres", a quem ele
escolheu para reinar, respectivamente: a Amaterassu coube Takama no Hara (Alta Planície
Celeste), a Tsukiyomi foi dado governar Yoru no Ossukuni (País do Reinado da Noite) e
para
Suzano-o, Una Hara (Planície Marinha).
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