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Osesp fecha ano com Bach e Brahms

Récitas dedicadas a Bach serão regidas por Peter Schreier;


Neschling encerra 2008 com sinfonias populares
JOÃO BATISTA NATALI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A Osesp termina a temporada de 2008 com três programas invejáveis.


Entre hoje e sábado, o "Oratório de Natal", de Johann Sebastian Bach
(1685-1970), sob a regência do ex-tenor e hoje maestro Peter Schreier.
Semana que vem, serão três concertos dedicados a peças de Johannes
Brahms (1833-1897). E, entre os dias 18 e 20, apresentam-se a orquestra e
seus percussionistas, o Grupo Pau-Brasil e a cantora Mônica Salmaso.
Bach escreveu três oratórios -imensas cantatas para orquestra, coral e
solistas vocais.
O "Oratório de Natal" (1935), inspirado nos evangelhos de Mateus e Lucas,
é unanimidade entre as grandes peças legadas pelo mestre do barroco
alemão. Schreier, 73, é um especialista em Bach. Tem duas gravações da
"Paixão Segundo São Mateus" (Dresden e Cagliari).
Como cantor lírico, foi cartão postal da ex-Alemanha Oriental, autorizado a
gravar e a se apresentar no Ocidente, como em óperas de Wagner, sob a
regência de Karajan, e de Mozart, regido por Karl Böhm.
Os solistas das três récitas de Schreier serão a soprano Annette Dasch, o
tenor Martin Petzold e o baixo-barítono Andreas Scheibner, alemães, e a
mezzo-soprano Elisabeth von Magnus, austríaca.

Brahms e brasileiros
O programa seguinte, com Brahms, será regido pelo diretor artístico da
Osesp, John Neschling. Ele trará a violinista Sarah Chang, americana filha
de coreanos, com o "Concerto para Violino em Ré maior", op. 77. O
"Concerto para Violino" (1878) foi o único escrito por Brahms e é peça
obrigatória do repertório, que também trará as "Variações sobre um Tema
de Haydn" (1873) e a incrível "Sinfonia nº 2" (1877).
Em seu último programa do ano, a orquestra executa peças de Nelson
Ayres, músico importante no tratamento sinfônico do repertório popular,
Rodolfo Stroeter e Paulo Bellinati.
A primeira é o "Concertino para Percussão e Orquestra", com os
percussionistas da casa.
Na segunda parte, o Grupo Pau-Brasil, com Nelson Ayres ao piano, fará o
"Concerto Antropofágico", com a cantora Mônica Salmaso, que em 2006 se
apresentou como solista da Osesp, o que rendeu no ano seguinte um CD
pela Biscoito Fino com momentos antológicos para a MPB, como
"Beatriz", de Edu Lobo e Chico Buarque -Neschling a compara às melhores
lieder alemãs- ou "Menina, Amanhã de Manhã", de Tom Zé e Perna.
À Folha, Mônica Salmaso disse gostar da idéia de "fugir do habitual". Ela
interpretará um texto falado -sem cantar- , o que é inédito. E ainda
preparou, para o final, duas peças curtas, uma do próprio Neschling e outra
de Villa-Lobos.

OSESP
Quando: qui. e sex., às 21h, e sáb., às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº; tel. 0/xx/11/ 3223-3966)
Quanto: de R$ 28 a R$ 98
Classificação: não indicado a menores de 8 anos

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200814.htm

Rushdie lança livro e acusa Paquistão


"Ocidente deve exigir que o governo paquistanês coloque a
casa em ordem"

Autor anglo-indiano lança no Brasil "A Feiticeira de


Florença", romance que se passa no século 16 e faz mistura de
ficção e história
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL

Há dias Salman Rushdie anda pendurado ao telefone e mandando vários e-


mails.
Nascido em Mumbai, o autor anglo-indiano quer ter certeza de que seus
amigos e parentes estão todos vivos e seguros após os ataques terroristas na
Índia, na semana passada, que mataram mais de 170 pessoas.
O autor, que lança agora no Brasil o seu mais recente romance, "A
Feiticeira de Florença", conta que não perdeu ninguém próximo. "Mas a
maioria de meus conhecidos sabe de alguém que morreu nos atentados",
contou à Folha, em entrevista feita por telefone, de Londres, onde vive.
Rushdie, 61, ficou conhecido mundialmente por conta da ameaça de morte
lançada contra ele pelo iraniano aiatolá Khomeini contra seu livro "Os
Versos Satânicos" (1989).
Mais de uma década depois, quando Nova York, Madri e Londres foram
alvo de ações terroristas, o autor declarou que tudo era parte do mesmo
processo. Agora, diz ele, os ataques a seu país vêm se somar a esse pacote,
resultado da escalada terrorista internacional, ainda que por grupos
diferentes. "No caso dessa última tragédia, ainda se sabe pouco. Mas todas
as trilhas apontam para o Paquistão. A dúvida paira apenas sobre o quanto o
governo paquistanês está envolvido."
Para ele, o Ocidente precisa parar de oferecer dinheiro e armas
incondicionalmente ao país vizinho da Índia. "Os EUA, principalmente, os
ajudam sem pedir uma contrapartida. É preciso exigir que coloquem a casa
em ordem, que deixem de tolerar, ou mesmo de encorajar os grupos
terroristas que têm uma base ali", conclui.

Ficção e história
Em "A Feiticeira de Florença", Rushdie volta a trabalhar com a mistura de
ficção com história, mitos e lendas que marca suas obras.
O enredo se passa no século 16, na Europa e na Índia, e envolve
personagens reais com imaginários. Entre os primeiros estão o imperador
Akbar, o Grande, Nicolau Maquiavel e membros da família Médici, que se
celebrizou por patrocinar artistas renascentistas.
As conexões entre Oriente e Ocidente, outro tema constante no universo de
Rushdie, são o pano de fundo do romance.
"Os ecos daquele tempo estão presentes hoje. Somos desde sempre a
mesma espécie, nosso comportamento não muda tanto através dos tempos.
Assim como naquele mundo havia disputas por poder, desejos de vingança,
disputas religiosas, mas também histórias de generosidade e tolerância, da
mesma maneira vivemos atualmente. A natureza humana é a mesma, em
qualquer período da história."
No centro dessas possíveis analogias com o mundo de hoje está a figura de
Akbar (1542-1605). Líder importante da história indiana desse período,
Rushdie decidiu explorar seus dilemas pessoais.
Os fatos históricos relacionados à sua cronologia são corretos, mas seus
sentimentos e reações, inventados. "Eu o admiro por ter sido um
governante muito à frente de seu tempo. Em tempos de guerra, conquistas e
vingança, teve uma preocupação pela busca de uma harmonia e pela
diplomacia."
O fato mais intrigante sobre o imperador, para Rushdie, é a mistura, em sua
personalidade, de dois elementos aparentemente contraditórios. "Era um
tirano e não estava nada interessado em não sê-lo. Por outro lado, queria
promover a paz."
Outro elemento histórico explorado por Rushdie é a bruxaria. No livro, as
bruxas são lindas "e não têm nariz grande e feições assustadoras, como nos
fez crer a arte européia. Eram mulheres que conviviam com uma realidade
dupla. Encanto e sensualidade as faziam especiais. Mas elas também
morriam queimadas se fossem acusadas de práticas diabólicas".

Influência
Rushdie admite a forte influência da literatura do italiano Italo Calvino
(1923-1985) na construção do mundo fantástico de "A Feiticeira". "A
atmosfera de encanto e a forma como descrevo o maravilhoso têm muito a
ver com as leituras que fiz de suas obras, em especial "As Cidades
Invisíveis"."

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200815.htm

TRECHO
Até mesmo o imperador sucumbia à fantasia. Rainhas flutuavam dentro de
seus palácios como fantasmas, sultanas rajput e turcas brincando de
pegador. Uma dessas personagens reais não existia de verdade.
Era uma esposa imaginária, sonhada por Akbar do jeito que crianças
solitárias sonham com amigos imaginários, e apesar da presença de
muitas consortes vivas, embora flutuantes, o imperador acreditava que as
esposas reais é que eram fantasmas e a amada não existente é que era
real. Ele lhe deu um nome, Jodha, e nenhum homem ousava contradizer-
lhe.
(...) Enquanto você estava anestesiada para a tragédia de sua vida, você
foi capaz de sobreviver.
Quando a clareza lhe voltou, quando lhe foi cuidadosamente restaurada,
podia ter deixado você louca. Sua memória redespertada podia
enlouquecer você, a memória da humilhação, de tanta manipulação, de
tantas intrusões, a memória dos homens. Não um palácio, mas um bordel
de memórias, e por trás dessas memórias a certeza de que aqueles que
amavam você estavam mortos, que não havia saída.
Essa certeza podia fazer você se pôr em pé, se refazer e fugir.
Se corresse depressa podia escapar de seu passado e da lembrança de tudo
que tinha sido feito à você, e do futuro também, da inescapável desolação
à frente. Haveria irmãos para resgatá-la? Não, seus irmãos estavam
mortos.
Talvez o próprio mundo estivesse morto.
Extraído de "A Feiticeira de Florença", de Salman Rushdie

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200817.htm
Crítica/"A Feiticeira de Florença"

Força da obra está no uso inventivo da


necessidade básica de dizer palavras
ADRIANO SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

A inspiração mais óbvia de "A Feiticeira de Florença", de Salman Rushdie,


é a estruturação cíclica das "Mil e Uma Noites", com suas labirínticas
histórias dentro das histórias. Isso já foi feito por tanta gente que, a
princípio, levaria de cara o livro ao esvaziamento. A questão é que não é
esse uso de uma fonte batida que dá potência ao texto (e há outras, como a
moralidade cruel dos contos de fadas ou vários dos volumes que constam
na desnecessária bibliografia ao final das suas 404 páginas).
A força do enredo decorre de um uso inteligente e inventivo dessa
necessidade tão básica de dizer palavras -aliás também fundamental nas
"Mil e Uma Noites": "Na morte, assim como em vida, ele estaria cheio de
palavras não ditas e elas seriam o seu Inferno, a atormentá-lo por toda a
eternidade".
O desafio do escritor é que colocar as palavras para "fora", retirá-las do
estado de "não dizer", não significa gastar palavras, já que uma das grandes
armadilhas dessa envelhecida e incontornável forma de narrar, o romance, é
exatamente dar a falsa impressão de que ele aceita tudo.
Transitando no século 16 entre o renascimento italiano de Maquiavel e o
Oriente ficcionalizado do imperador Akbar, em meio a mulheres
magicamente concebidas, duplicações e mentiras, Rushdie dá conta da
tarefa. Ele não chega aqui aos ideais de leveza ou velocidade propostos por
Calvino a que, declaradamente, vem buscando em sua produção, mas se
aproxima: "Ele era um contador de histórias, tinha sido atraído para fora de
sua porta por histórias de portentos, e por uma em particular, uma história
que poderia fazer sua fortuna ou, talvez, custar-lhe a vida".

ADRIANO SCHWARTZ é professor de literatura da EACH (Escola de


Artes, Ciências e Humanidades) da USP

A FEITICEIRA DE FLORENÇA
Autor: Salman Rushdie
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 54 (404 págs.)
Avaliação: ótimo

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200818.htm

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