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Brahms e brasileiros
O programa seguinte, com Brahms, será regido pelo diretor artístico da
Osesp, John Neschling. Ele trará a violinista Sarah Chang, americana filha
de coreanos, com o "Concerto para Violino em Ré maior", op. 77. O
"Concerto para Violino" (1878) foi o único escrito por Brahms e é peça
obrigatória do repertório, que também trará as "Variações sobre um Tema
de Haydn" (1873) e a incrível "Sinfonia nº 2" (1877).
Em seu último programa do ano, a orquestra executa peças de Nelson
Ayres, músico importante no tratamento sinfônico do repertório popular,
Rodolfo Stroeter e Paulo Bellinati.
A primeira é o "Concertino para Percussão e Orquestra", com os
percussionistas da casa.
Na segunda parte, o Grupo Pau-Brasil, com Nelson Ayres ao piano, fará o
"Concerto Antropofágico", com a cantora Mônica Salmaso, que em 2006 se
apresentou como solista da Osesp, o que rendeu no ano seguinte um CD
pela Biscoito Fino com momentos antológicos para a MPB, como
"Beatriz", de Edu Lobo e Chico Buarque -Neschling a compara às melhores
lieder alemãs- ou "Menina, Amanhã de Manhã", de Tom Zé e Perna.
À Folha, Mônica Salmaso disse gostar da idéia de "fugir do habitual". Ela
interpretará um texto falado -sem cantar- , o que é inédito. E ainda
preparou, para o final, duas peças curtas, uma do próprio Neschling e outra
de Villa-Lobos.
OSESP
Quando: qui. e sex., às 21h, e sáb., às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº; tel. 0/xx/11/ 3223-3966)
Quanto: de R$ 28 a R$ 98
Classificação: não indicado a menores de 8 anos
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200814.htm
Ficção e história
Em "A Feiticeira de Florença", Rushdie volta a trabalhar com a mistura de
ficção com história, mitos e lendas que marca suas obras.
O enredo se passa no século 16, na Europa e na Índia, e envolve
personagens reais com imaginários. Entre os primeiros estão o imperador
Akbar, o Grande, Nicolau Maquiavel e membros da família Médici, que se
celebrizou por patrocinar artistas renascentistas.
As conexões entre Oriente e Ocidente, outro tema constante no universo de
Rushdie, são o pano de fundo do romance.
"Os ecos daquele tempo estão presentes hoje. Somos desde sempre a
mesma espécie, nosso comportamento não muda tanto através dos tempos.
Assim como naquele mundo havia disputas por poder, desejos de vingança,
disputas religiosas, mas também histórias de generosidade e tolerância, da
mesma maneira vivemos atualmente. A natureza humana é a mesma, em
qualquer período da história."
No centro dessas possíveis analogias com o mundo de hoje está a figura de
Akbar (1542-1605). Líder importante da história indiana desse período,
Rushdie decidiu explorar seus dilemas pessoais.
Os fatos históricos relacionados à sua cronologia são corretos, mas seus
sentimentos e reações, inventados. "Eu o admiro por ter sido um
governante muito à frente de seu tempo. Em tempos de guerra, conquistas e
vingança, teve uma preocupação pela busca de uma harmonia e pela
diplomacia."
O fato mais intrigante sobre o imperador, para Rushdie, é a mistura, em sua
personalidade, de dois elementos aparentemente contraditórios. "Era um
tirano e não estava nada interessado em não sê-lo. Por outro lado, queria
promover a paz."
Outro elemento histórico explorado por Rushdie é a bruxaria. No livro, as
bruxas são lindas "e não têm nariz grande e feições assustadoras, como nos
fez crer a arte européia. Eram mulheres que conviviam com uma realidade
dupla. Encanto e sensualidade as faziam especiais. Mas elas também
morriam queimadas se fossem acusadas de práticas diabólicas".
Influência
Rushdie admite a forte influência da literatura do italiano Italo Calvino
(1923-1985) na construção do mundo fantástico de "A Feiticeira". "A
atmosfera de encanto e a forma como descrevo o maravilhoso têm muito a
ver com as leituras que fiz de suas obras, em especial "As Cidades
Invisíveis"."
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200815.htm
TRECHO
Até mesmo o imperador sucumbia à fantasia. Rainhas flutuavam dentro de
seus palácios como fantasmas, sultanas rajput e turcas brincando de
pegador. Uma dessas personagens reais não existia de verdade.
Era uma esposa imaginária, sonhada por Akbar do jeito que crianças
solitárias sonham com amigos imaginários, e apesar da presença de
muitas consortes vivas, embora flutuantes, o imperador acreditava que as
esposas reais é que eram fantasmas e a amada não existente é que era
real. Ele lhe deu um nome, Jodha, e nenhum homem ousava contradizer-
lhe.
(...) Enquanto você estava anestesiada para a tragédia de sua vida, você
foi capaz de sobreviver.
Quando a clareza lhe voltou, quando lhe foi cuidadosamente restaurada,
podia ter deixado você louca. Sua memória redespertada podia
enlouquecer você, a memória da humilhação, de tanta manipulação, de
tantas intrusões, a memória dos homens. Não um palácio, mas um bordel
de memórias, e por trás dessas memórias a certeza de que aqueles que
amavam você estavam mortos, que não havia saída.
Essa certeza podia fazer você se pôr em pé, se refazer e fugir.
Se corresse depressa podia escapar de seu passado e da lembrança de tudo
que tinha sido feito à você, e do futuro também, da inescapável desolação
à frente. Haveria irmãos para resgatá-la? Não, seus irmãos estavam
mortos.
Talvez o próprio mundo estivesse morto.
Extraído de "A Feiticeira de Florença", de Salman Rushdie
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200817.htm
Crítica/"A Feiticeira de Florença"
A FEITICEIRA DE FLORENÇA
Autor: Salman Rushdie
Tradução: José Rubens Siqueira
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 54 (404 págs.)
Avaliação: ótimo
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0412200818.htm
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