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“Tc Mapp et Edin ge dead poe, Pak Aap 28 ‘ape: Suto graphiqae(Strashour) tora Le Male (Nt | RN Eaton eletinice Editors Le Mai ( evs: Spa Coutinbo Abbot Calo impress seabamersa: PAULUS Gaia da Pago a Fone OFRN 7 Bites Cena is Mamede Didory-Momberer Chritine. grafic edcaso: gars do ndivo-poto /Cheatine Dery Momergr Prefs de Pier Dominios Badu de Mara da Cone Psp oto Gomes dui Neto, Las ase Neal RN: EDUFRN, So Paulo: as, 208 ‘esque (at) Noga Edvaso) ISON 976853002873 LEducaia 2 loge 3. Peng ior. 4 Pica dee coniads, [Til TE Doin, ire Puede Cone 1. Sie Net, Ja ‘Gomes dV Pus Las source owas ue om im np ato ae trina, 1 hr Stalarestion der pletstachen Avtabicaraphie in 18 Jaiuncert (A 3e- a ha potata no sto XM T].em NIGGL (oP. it, RTE Die autctlcgraphia: au Fom und Geschche aoa erarachen Pra autobiogratie fra «histria de um ganero ters, Nt) 0 plore fo fundado na Almanha, no sbi de nei Evangca Ute soe ior Philpp Jacob Spener (1635-1708. cua oor Fis decides eta al ne necosricade de plodace pessoa: o movimento 18d ‘Soma acho de August Hermann Froneke (83 Face otis uniwerstara @aregura sua dlusio nes pales ron roqio petata& marcade pela perrenaidade do conde Trap tdi andodor Go comunidades doe lrbos Merivios, que se expahou tim soguda na Europa América do Nore. 42| Chistine Deloy-Momberger {gundo um protocolorigoroso, que descreve com precisioasf- Ses sucessivas, peas quis passa o crente, articuladas em torno da ruptura biogrifcac espritual da revelagdo divina” As autobiografias espirituais, entretanto, nio se reduzem a Ainica relagdo da conversio. Com dosagens e equilibrios diver- 08, a narrativa de conversio coexiste com o esquema da nar- rativa de oficio ou de aprendizagem, cujo genero € praticado desde o século XVI toma por objeto a aquisico de um saber. fae profissional, quer se trate do oficio de artesio ou do cur- Hiaulo de estudos do clérigo. Essa superposigo tipolégica tem efeitos de contaminagio reciproca: 0 acontecimento intenso ¢ temporal que se enconta no centro da narrativa de conver so torna-se, na narrativa de oficio, um quadro eronolégico & tepogrfca, A narativa de ofc, por sa ver, uiza a inter pecsio psicoldgica que acompanha a interrogagio da fé para easier snes eps dn dda narrativa profana e da narrativa espiritual sé podem se rea. liar, verdadeiramente, por uma mutagéo do motivo religioso, ‘quando.o modelo da conversio ea ruptura radical, que o catac. teria, forem substituidos pelo modelo da Providénca, que guia © crente ao longo de toda a sua vida. Entregando-se & sabedoria ¢ vontade divina, ocristio pode entéo debulhar uma historia religiosa de sua vida, omada de referénciase de leitmatv espi- Hituals ~¢, nessa histria, os acontecimentos profanos podem vir a assumir um lugar. Um modelo da evolusio se sobrepée, enti, ao modelo da ruptura. Nao hé mais distro narrative entre vida profana e vida espiritual: seus cursos podem conflule Para mesmo género e se confundir. ‘A passagem do motivo da conversio para 0 motivo da pro- Vidéncia corresponde, entio, a uma secularizagio tipolégica da autobiografa espirtual. O mesmo tipo de narrativa convém do- ravante para fazer a histéria da experiéncia rligiosa e da vida profana. Entfetanto, do encontro, no esquema providencial, da ‘ri religiosa com a histéria profana, nasceu um novo tipo 1 Ses Fagan ubiogticos deco pr August Homan Fn erin TMD quae ran ste Sco Se ans Bo ee ogra © ecucagio | 43 de narrativa que nao é maisa do oficio tradicional. Por um lado, pela interrogagao da fé, a narrativa adquiriu uma dimensio de introspecgio psicol6gica que nao existia na narrativa de oficio;, por outro lado, do motivo da providencia ela retirou um prin- pio explicativo, um modo de inteligibilidade, que submete 0 ‘uso da vida a um propésito que ie dé sua forma e seu sentido: ‘o homer esté no projeto de Deus, vida humana tem um des- tino; entre as agdes, 08 acontecimentos, os encontros que fazem 2 vida de um homem, hd relagées que tém sentido, mesmo se ‘esse sentido permanece escondido. As condicées da seculariza- ‘gio desse modelo retinem-se quando dimensio psicoldgica eo ‘modelo de inteligibilidade se encontram para substituir a causa- lidade providencial externa por uma causalidade psicologics i ‘terna, considerada como verddeiro motor da vida humana". Esse novo espago autobiografico nio se afasia, entretanto, do principio dinimico e do modelo estrutural herdados de suas origens religiosas. Nas autobiografias espirituais, esse espago estava duplamente definido: pela relagio do crente com Deus € pela forma que Deus imprime a vida humana. Duas das dimen- s6es estenciais da autobiografiaestavam desse modo colocadas: a de um ser unificado que pressupde a relagio individualizada com Deus, de um sujeito sobre o qual se exerce a graga divina € a esta responde pela fé; e a de uma narrativa que encontra sua organizagéo, sua orientagdo e seu sentido na experiéncia fundadora da manifestagao e da diresao providenciais. A au- tobiografia moderna transpGe para o plano profano essas duas dimensoes: a primeira, no dispositive enunciativo que une, de ‘modo contratual, o autor € leitor, dispositive descrito por Phi lippe Lejeune (1975), mediante a nocio de pacto autobiogré- ‘fico, com a qual criou paradigma do género autobiogréfico. aces ROUSSE oo 20 Yc con, ch Sanne tee nies ee Serra chet eee eee misteata gale me peepee am Stee cerecrerneearc enna Sears aa eager eee aceite enema eemec aie See areca rn mes Ponca neat ages Bae christine Dory Momberger Atassagem de um dispositivo a outro, da relagao com Deus & ego com o letor, deixa, entretanto,inalterado o que pressu- Peha a autobiografia espiritual: a existéncia de um individuo- ‘que no mais se define na sua relagdo com a divindade, msn ela pecs com insta pesoalizaa de ‘Seitor que Ihe devolve he garante a identidade de seta. ‘egunda dimensio vincula-se ao modo de estruturagdo ¢ de Ihitizacdo da narrativa:os eventos fundadores, as rupturas, as Reser ique pontuarnaesperieaciada relavea can Dane a Pea da €marcam, a parti deen a5 tapas de uma busca {Rowpect desi mesmo. Exe 0 modo providence {bad que os pensadores da Bildung vi retomar soba forma omance de formagio. 6 Bildungsroman: a narrativa de vida como ontogénese safattios pensadores do Ilaminismo alemio (Lessing, Herder, boat, Sehille, Goethe) a Bildung €0 movimento defor Bo des ploqulo ser, priprioetniceque consti gual- yr homem, manifesta suas disposigbes e participa da reali- jo dhamane como lr unhnal Presa fl de inidade (Humanitatsphilesophie), que se exprime segundo ta concep organisa que deve muito cincias d vide, tticularmente A botinica, o desenvolvimento humano é con- como uma semente que crescee floresce segundo suas Pesprias forgas € disposigdes (Ausbildung), adaptando-se as rgdes do seu meio ambiente (Anbildug), ‘Com o enfraquecimento dessa referencia cosmoldgica ¢or- Pict, Bildang se omar qu ea ainda hoje pra. cl a alema: uma pritica da educagio de i, uma preocupagio tll von HUMBOLDT, tad por Lois DUMONT 1991, 124, on dopo Lai 9.126; “Over REE ere etoaeekaks ee ‘Nias etsroente tle. ta Yormago ida a soa © 8 mek oberon de sve oar em todo" pase meio DUMONT pt. 0. Snare err ures eure te ones Biogas «educa | AS ‘com o desenvolvimento interior a qual interpreta toda situagaoy todo acontecimento, como a ocasio de uma experiéncia desie cde um retorno reflexivo sobre si, na perspectiva do aperfeigoa- mento e da completude do ser pessoal. Esse pensamento da Bildung representa @ vida humana ‘como um processo de formacio do ser, por intermédio das experiéncias que ele atravessa, como um caminhar orientado para uma forma adequada e realizada de si (nunca alcangada). le esté na origem do modelo que, de maneira mais ou menos consciente,impregna ainda nossas representagées biogréficas: hho campo liter, nas priticas de formacio tanto quanto nas representagdes do senso comum, a narrativa da vida continua a ser vista como um percurso orientado e finalizado pelo qual o narrador retraga a génese do ser no qual se tornou. (0 modelo biogrifico da Bildung construiu-se e se imps sob forma litedria do Bildungstoman ou romance de formacao'. © Bildungsroman caracteriza-se por tuma estrutura que acom- ‘panha as etapas do desenvolvimento do her, de sua juventude {Sua maturidade. Inicia-se com a entrada do personagem no mundo, depois segue as tapas marcantes de sua aprendizagem dda vida ~ erros, desilusdes, revelagBes que a pontuam ~ ¢ se fencerra quando o personagem atinge um conhecimento de sie ‘Geseu lugar no mundo, suficientepara viver em harmonia.con- igo mesmo e com a sociedade. Esse esquema ideal-tipico tem para nés um cardter de evidéncia, pois se tornou, precisamente, B eaquema dominante da representasio biogréfica; mas o que ele introduz é uma definicio nova da temporalidade biografica, ‘que apresenta aimagem de uma vida em devi, Mikhail Bakhtin pedagogic lems, esta concapeio opse-se forte (ands Baohong 2 unlrolere-se a0 emproeneimento ds ecucarao etena ¢ ESS Feiieacbes danigna a conjma dos meio diditico @ cricot Filed gas te pede pretender facitar uma formacao cue ej qual foto Go. Pals Se contetanels em que se exora 26 pode se, em Oita onic, ume armapie de sauna. 1S Forma expeciicamerte lems do romance de edueacso.o Bingso- Ie ethan a ide weds da Bildung (gelebte Bidungsced). Ere ot re ici representantes a Bchrgwoman, encotram se: Les années o Be Wahelm Mester, ce Goethe (1790, Anton Reiser de Mo- fhe GES 1790, « Agathon, de Wieland (179. 45 Christine Dory Momberger (1979, 227), em Estética da eriagdo verbal, fez dessa dindmi- ca temporal inteiorizada, 0 principio mesmo do romance de formagio: 1A imagem do heréi no & mais uma unidade estiics, mas, 20 contri, uma uridade dindmica. Nests forma de romance, o her, seu carter, tornam-se uma grendeza varévl [0 tempo 38 introduz no interior de home imoregna toda sua imagem, © que modifica» signicag subetancial de eeu destino de sua vida. ‘No romance de Goethe, Les années d ‘apprentissage de Wi- Ihelm Meister, considerado a obra-prima do Bildungsroman, 0 herdi utiliza todos os meios para realizar o que ele acredita ser sua via, mas a vida ea experiencia o submetem as ilusBes que 0 afastam de si mesmo. A aprendizagem de sua verdade, ou seja, de sua disposigio interior, passa pela descoberta progressiva de si mesmo e por ma iniciaglo que vai levi-lo a reconhecer seu ponto de harmonia consigo mesmo, com os outros ¢ com © mundo, Essa busca de si nio é o reconhecimento de tipo plato- nico de uma esséncia pessoal subtraida do devir e destinada a0, desvelamento, Ao longo de suas errancias geogrdfcas, sociais, sentimentais ou intelectuais, Wilhelm evolui de acordo com os personagens e as situagbes que ele encontra: a vida de fato para ele uma perpétua aprendizagem da qual nio cessa de tiar, (oa melhor, de absorverligdes (como uma planta ou um orga- nnismo vivo absorve os elementos vitais de seu meio ambiente), até que se desenvolva nele a propria forma de sua realizacio. O ‘ttico italiano Pietro Cita (1990, p. 61-62) evoca esse proces- $0, ecorrendo a imagens construtivstas ¢ organicistas que do conta dessa formagio em ato: Ele MWihelm sabe, degrau a degrau, a excada expagose de sua onisténcia. Quando dercobra urn nove ambiente, tum novo personagem, compreende e sents plenemente tessa experi propria se da natureza de Hamlet © da de Terezs, de Jano @ de Lotto, do nobre @ do burgués. Blogra educasso| 47 £ assim que eles forma; aprende a conhecer realidad, ‘cada vez acrescenta um nove galho a0 seu tence, um degrau na escada de sus vida 0 percurso de formacio do personagem do Bildungsroman inscreve-se numa perspectiva finalista ou teleol6gica. A linha geral do percurso de aprendizagem, mesmo entrecortada de er- Fncias erecuos, obedece a uma ampliagio progressiva ecumu- lativa da experigncia, na qual cada fase do desenvolvimento traz ‘uma “lio” qualitativamente superior & precedente. A dindmica da narrativa encadeia, entre uma situa¢do iniial de inocéncia € inexperiéncia e uma situacéo terminal de maturidade e de do- ‘inio, 0s acontecimentos segundo uma causalidade final que convida a uma leitura retrospectiva. £ a partir da finalidade, do objetivo tal como foi atingido (ou nao), que se articulam as relagdes de causa e efeito e que o movimento de aprendizagem adquire sentido para © leitor, ou seja, encontra, ao mesmo tem- ‘po, sua orientago e sua significagdo. Essa construgdo orient da, que setraduz no romance de formagdo como uum efeto est ‘ico (ndo esquecamos que se trata de obras lterdrias, de fesi0) ce responde a uma intengio didatica(trata-se de instruir oleitor ‘com relacSo & sua propria vida), vai se transportar, apesar da ‘curva ideal que desenba, para 0 modelo de narraiva biogréfica que permanece, em grande parte, 0 nosso". "Anarrativa de formagao, uma forma sociopolitica da consciéncia de si © modelo de inteligibilidade biogréfca, progressivo ¢ teleo- légico, que representa a narrativa de formacao é apenas uma das formas s6cio-histéricas da narrativa de vida. sso significa que, © para lator fancés, que no tem necessoiamente acento aos clésices slemes do Eldungoroman, esse erguera daaratia de formagao € aquele {Gos contnca a anmar a constugiobiogtca dos grandes rorrenees dosécu- iB xox Bales Storchal 20a) else ox 6a desiurio« do Cevencantaren (o (edvcatn sentimental de Flaubert, osm como maior Pare ca =u Feraturarmenasea Wadi‘ona 48| Christine Dlory Momberger longe de coincidir com nao se sabe que realidade inatingivel do vivido, ele representa uma das formas segundo a qual elabora- nos ¢construimos a histria de nossa vida, uma grade deleitura fede interpretagao com a qual damos uma forma e um sentido ‘um rea fragmentério, desconhecido, heterogéneo. Para com- preendera inscrigdo sécio-histbria desse modelo, nio instil, fem diivida, lembrar que ele sucede e substitui amplamente ou- tras representagdes do curso da vida e, portanto, outros tipos de narrativas de vida que correspondem a contextos culturais ‘iferentes. Se examinarmos, por exemplo, o modelo biogrifico dominante na Antiguidade greco-latina, ode Plutarco em Vidas {dos homens ilustres, percebemos que se trata de um modelo da ‘substancia, ou seja, de uma definigio preestabelecida, da essén- ia de um ser que jf esté totalmente contido em si mesmo antes {de fazer a experiéncia do curso da existtncia. A biografia nao responde aqui & pergunta: Como wn hortem tornou-se oque ele mas. questdo; Como um homem éo que ele € Cada uma das /idas de Plutarco apresenta-se como ailustrasao de um cardter, palavra que, em grego, significa “marca’, “impressio',e designa ' que esti “impresso,o que faz parte da substincia, ¢ nao do cidente, As situagées e os acontecimentos da vida dos perso- hagens s20 apenas a ocasio da revelacio de um femperamento precstabelecido, Revelagio, e no devir: a realidade histérica e } ambiente biogrifico nio modificam em nada um conjunto dle qualidades e atitades dadas desde o inicio; eles sio apenas fo pano de fundo sobre o qual clas se atualizam. As historias de vida, das quais Phutarco organiza a narrativa, sio a historia ddo desvelamento, da atualizacao de alguma coisa que jf estava presente desde as primeiras experiéncias da vida. (© modelo da narrativa de conversio poe em cena uma rup- tura biogréfica e espiritual, articulada com @ acontecimento da revelagio divina e da conversio. Essa ruptura divide a vida de forma intensae radical entre um antes, o tempo darrincia edo pecado, eum depois, o tempo da fe daexistencia em Deus. Em ua versio origina, ilustrada pelas Confissdes, de Santo Agos- tino, esse modelo de narrativa de conversio também nio se refere mais a0 que seria um devir do ser pela experiéncia, nes- ie caso, religiosa ou espiritual. Fe justapde, de certa maneira, Boga «educa | 4? dduas temporalidades igualmente substanciais, a do pecado e dda graga, que no podem ser transmutadas uma na outra e que ddesenham universos claramente separados. f somente no limiar {do século XVIII que a autobiografia espiritual vai explorar as ‘vicissitudes da fé e engajar, em consequéncia, um devir da exis- tincia do crente em Deus, ou seja, uma Bildung de tipo espiritual. ‘A autobiogralia moderna, dssemos anteriormente, nasceu da secularizagio dessa biografiaespiritual, que submete ao exame ide uma estrita vigiincia 0 devir, sempre ameacado, da. graca divine na existéncia do crente. [Appregndncia do percurso de vida em nossas representagbes Diograficas desenhado pelo Bildungsroman nos fex perder de vista a sua historicidade e esquecer a perspectiva de exempla- Tidade da qual ele era o instrumento. Naturalizamas 0 modelo “iscursivo da narrativa de formagio e The concedemos o crédi- to de uma verdade fandada na realidade. Assim fazendo, abje- tivamas, sob a forma de um saber consttuido e de principi de acio, o modelo epistémico (esquema de inteligibilidade) ¢ fo modelo praxeol6gico (esquema de conduta) dos quais essa arrativa era portadora. A narrativa de formacio, tal como a inaugura e a impoe o Bildungsroman, corresponde a um esté- fo socio-hstérico da relaqdo “individu” e “sociedade’ Nas Sociedades ocidentais modernas, podemos situar no Renasci- mento o comego do processo de individualizacio que condur, dao mesmo tempo, a uma inferiorizagdo e a uma objetivacio da representacio individual. A centralizacao estatal dos poderes, pelo fato de uma menor proximidade ¢ do enfraquecimento Inaterial das restrigbes coletivas, acarreta uma interiorizagéo dios procedimentos de controle e das regras de conduta; a di- ferenciagho crescente das fungbes sociais e a interdependéncia ‘cada ver maior dos individuos entre si tem como conseqién- ‘ia uma representagio objetivada do individuo ¢ da socieda- intas € opostas!”. 0 "7 Resumes em pouess inh tere canal da obra de Norbert ELAS. Ci ‘em parlan La sot des inci 3.171) 50] Chratine Dory Momberger No dominio da sociopolitica, © processo de individualizagio encontra sua expressio na ascensio e na dominacio progress ‘va de uma classe social, a burguesia, que, na Europa do final do século XVIII, esté prestes a concentrar em suas mios o essen cial dos poderes politicos, econdmicos culturas. A sociedade bburguesa fundada sobre o capital ea transformagao do mundo pelo capital, nio se define somente pelas relagdes de producio ‘epoder que ela instala, mas também por um conjunto de repre- Sentagoes atinentes & relagdo do individuo com a sociedade ¢ determinantes para uma estrutura particular de consciéncia de si. A concepgio do individuo que toma forma com a sociedade bburguesa éaquela de um ser responsivel eauténomo, que se faz ppor ele mesmo, que tem seu caminho a fazer na vida, que deve ‘encontrar seu lugar na sociedade. Essa representacio de um de- vir individual portador de trans-formasdo integra as nogbes de concorréncia, de risco, de luta pela vida, mas também de leque dos possives, de alternativas, de escolhas. Nao surpreende que «a nogao filoséfica e moral da Bildung se elabore nesse contexto s6cio-historico e que ela encontre um terreno favordvel nas re- presentagdes do individuo que Ie sio vinculadas, Erna forma de consciéncia desi que define o individuo da so- ciedade burguesa que se situa o modelo biogréfico da natrativa de formagio. Podemos nos perguntar se a forma ontogenética ‘da narrativa de formagio, por fazer intervir uma temporalidade ‘eum devir fortemente individualizados, é possivel fora do con- texto da sociedade burguess: as sociedades ruras ou as socieda- des aristocraticas parecem nao poder desenvolver esse modelo particular, na medida em que, por um lado, a representagoes e 4 vivéncia dos individuos sto conduzidas por pertencimentos coletivos para os quais o Nés € bem mais forte do que 0 Eu, e, Por outro, essas sociedades repousam sobre uma concepgio da temporalidade (temporalidade ciclica,transmissio entre gera- §8es) que exclu aevolugio e o devi. A narrativa biografica nes- sas sociedades s6 pode ser anarrativa da identifcacao do indi «duo com as representagbes ¢ 0s valores coletivos,¢,tratando-se de narrativa de aprendizagem, serd a narrativa da reprodugio ddo mesmo e do processo de adequacio do individuo aos mo- delos de saber fazer ou de estado (de estabelecimento) que Ihes Biogas «educa |S1 Jmpoem seus pertencimentos. Nas estruturas relativamente fe- chadas ¢ rigidas que constituem as sociedades tradicionais, nas ‘quais as fungdes sociaissio, proporcionalmente, ainda pouco diferenciadas e identicamente transmitidas de geragio em ge- racio, os individuos nao dispdem de leques de possibilidades ‘ede itineririos e, portanto, da margem de escolhas e de riscos, {que implica a narrativa de formagio. Somente o individuo das sociedades dita desenvolvidas, fundadas sobre a especializagio fea diferenciagio das fungSes sociais, sobre a interdependéncia, individual e a multiplicagao de redes, pode recorrer a projecoes biogrificas que integram formas de devir ede realizagio indivi duais e envolvem a iniciativa, a autonomia ¢ a responsabilidade de um ator dono de suas escolhas de existéncia". © que seré desse modelo amanhi? A que novos modelos biogrificos as transformagdes societals que hoje vivem os pal- ses desenvalvidos darao origem? O romance, o cinema, a psi- candles cicias humanas, em ger, mais recentemen- te, a biologia ea biogenética desconstruiram a imagem de um ‘jello unifcado e de uma unidade biogrfica que o curso da ida permite efcar na mesma eee temas 2 6% eriéncia do que alguns chamam de es e dissocia- Foes: outros, de maltidimensionalidade 0, ainda, de fluidez de {um sujeito cujos contornos e pontos de referencia parecem nos, ‘escapar das mos. E, entretanto, o que essas artes e cigncias nos. ‘ensinam, o que nossa experiéncia nos mostra cada dia, parece chocar-se em nossa mente com a persisténcia de um esquema de construsio e de um modelo de conduta que mantém, de forma obstinada, uma figura do curso da vida e um modo de construgao do sujeito, herdados da Bildung. Nao & a menor de nossas contradigées ~ talvezosinal da nossa fundamental di 5 cape ps me mmr me drs de amiss elgeaeve tse pei por formas de lr ec: eee oe ea Secon an Se enca peo ae gen age tem tomes da ealraglo ce care “Suse ou grupo, sea em tormos de racasos, protector € de movmentes soca 52| Christine Dory Momberger sociagio entre heranga e pés-modernidade ~ a pregnancia, em rnés, de uma figura biogréfica que nossos modos de inscrigio sécio-historica e nossas identidades miltiplas parecem contra- dizer continuamente, Construcao biografica e educacao de

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