Está en la página 1de 19
O dialogismo: Mikhail Bakhtin Pode soar estranha a presenea de Mikhail Bakhtin neste livro, que, na introdugdo, delimitamos a escolha dos autores aqueles que tém relagio com 0 Como sabemos, alguns principios estruturalistas sio pensamento saussuriano. especialmente em textos escritos abjeto de intimeras e contundentes criticas a partir de 1925/1926, quando se pode falar de uma “‘virada lingilistica” nos debates dos intelectuais que integram 0 chamado Circulo de Bakhtin.' No sntante, mesmo que efetivamente haja oposi¢io marcada a lingiiistica saussuriana, as idéias do Circulo sobre a linguagem trazem elementos que, de algum modo, contribuer para o estabelecimento de um pensamento sobre a srunciagdo, antecipando o estabelecimento de uma lingtsteg da enunciagaio gue, além de contemplara questo da intersubjetividade no Ambito dos estudos ds inguagem, contém a indicagdo de um modelo de andlise, "a qual forma e iso aticulams se no processo de constiigao de sentidas no discurso 2 Nosso objetivo neste capitulo é, precisamente, assinalar que °S idéias de Bakhtin (Voloshinov) sobre a linguagem anunciam a fuirdagdo de uma lingistica que promovers a enunciagdo como centro de referencia do sentido dos fendmenos lingtiisticos, ver sempre renovado, pelo .ndo-a como evento, qual o locutor se institui_ na interagdo viva com vozes socia!s ‘As obras analisadas aqui sa (1981); “Marxismo e filosofia da linguagem Problemas da poctica de Dostoiévski (1997):* Géneros do discurso (1992); O problema do texto (1992)° ¢ O discurso no romance ( 1993).” | Apresentar a teoria enunciativa de Bakhtin no é uma tarefa facil ¢ isso heed alguns fatores que nao podem serminimizados, quaissejam,aamplitude ie eee a discussio em tomo da autoria de textos assinados com nomes s integrantes do Circulo, desconhecimento que ain .da se percebe da 46, roa aegis de enunaro svaidade de seu pensamento eda diversidade de objets de reflex “Atualmente um grande nimero de publicagdes tem, de diferentes fon os ro a Baki paratentara valida de ipotesesextremament di ie entre si. E possivel encontrar as idéias bakhtinianas desde em caine semidtica® dedicados ao estudo do cinema até em estudos sobre literatura cy : énfase recai em questdes estéticas dos textos literarios.’ Se, por um lado, es diversidade sinaliza para uma diferenga radical de abordagens, por outro, indica apr postu relativamente compartithada diante da obra do autor ade que o principio do dialogismo subjaz a todas as utilizagdes que se faz da teoria Conforme Martins (1990), @ comunicagio, entendida como uma relago de ateridade,em que 0“ese consi pelo reconhecimento do “ust gem que aconhecimento desisedpelorecolecimentodo outro “{Bakitin fundamen or imestigagaoet quase fodasasdresem que desenvolvealguna reflex: i sp eonhecimento, teoraehistéria do romance, filosoia da lnguagern, et. No smendimento de Martins a.cada uma desas eas comesponderiarespoctivamente sna reflexdo: teoria do conhecimento seria contemplada pela nogdo de intertextualidade; a teoria do romance, pelo conceito de polifonia ¢ a filosofia da fnguagem, pelo estudo da enunciagdo, Centralizamos 3 atengdo no iltimo ponto, comegando por focalizararelagdo do Circulo com a lingistica, T comum encontrarmos, ent os leitores de Bakhtin, lguma discordéncia “io do autor sobre a lingiiistica. Ha quem veja um anti-saussurianismo radical em suas colocagdes; outros, 20 vevriro, entendem que Bakhtin no recusa a idéia de que a lingua tem wma ilise lingiistica na imanéncia dimensio abstrata, ainda que no encerre a andl ta forma, Hi também os que apontam problemas de coesio interna na posigio de Bakhtin em relagdo & nogio saussuriana de lingua, ora recusando sua pertinéncia no processo de constituigdio do sentido, ora admitindo-a, Para melhor situar essa diversidade de opinides é necesséria uma referéncia i discussao existente em tomo da autoria dos textos assinados por Bakhtin/Voloshinov: Freudismo, de 1927," Marxismo e filosofia da linguagem. (1998) argumentam na de 1929." A questio é polémica. Clark ¢ Holqui defesa de que Marxismo e filosofia da linguagem (rt) deve ser atribuido 2 Bakhtin; Morson ¢ Emerson (1989) contestam essa posigio, apresentando evidéncias para que se reconhega, no minimo, uma co-autoria nas obras assinadas por Bakhtin e Voloshinov (e também por Bakhtin e Medvedev) © diatogis logismo: Mikhail Bokhtin 47 arespatodessadseusso, Faraco(2003)assinalaaexséncing adetrésposigdes es que 80 reconhecem como da autoria de Bakhti N05 textos = aquel ‘ados sob scu nome Ou encontrados em seus arquivos: public a aqeles qu atibuem a Bakhtin a autora de todos os tests considera em dispultas oe Jes que defendem que Bakhtin, de fato, escreveu textos em go aque! Voloshinov e com Medvedev. '* pareeria com « propésito tomar partido nesse debate; apenas destacamos Tingiisticas bastante diferenciadas entre si, conforme 0 bao doauror que esteja em andlise. Mais especificamente, em 1, assinado okt (WoTOshinov). € em Problemas da poética de Dostoiévski (rr) & pal (éc1), assinados somente por Bakhtin, encontramos rata da cro ver ferentes em relagio a lingistiea saussuriana.'° Acreditamos pesicionamentos a er exare dessas diferentes posigOes Posse trazer a tona a teoria enunciativa a rao de Bakhtin. Inieieras por WF A reffexdo com que Bakhtin (Voloshinov) inicia a segunda parte de rt se aque motivou Saussure a empreender Sus CUrSOS de lingiiistica teak o problema da delimitagao de fronteiras do objeto. Saussure quer definir o objeto da ciéneia lingiistica, empenhando-se em distingui-lo do de outras sci que também se ocupam da linguagem Ja Bakhtin (Voloshinov) busca avabjeto real” do que ele chama de filosofia da linguagem. No capitulo 4, ele vant questoes que ainda hoje so eruciais para @ lingiiistica: qual serdadeiro micleo da realidade lingiiistica, 0 ato individual da fala ou o sistema 2? Qual 0 modo de existéncia da realidade lingiistica, @ evolugao ua imutabilidade de normas idénticas a si mesmas?"° parte do exame de duas orientagSes do pensamento inadas de subjetivismo idealista ¢ metidas a uma andlise ntagdo denominada de maior atengio, Nio é no ue ha concepyoes asanelh a ling criadora ininterrupta Para respondé-las, lingiistico-filoséfico por ele denomi cbjetvsmo abstrato. Ambas as orientagdes so sub critica em profundidade nos capitulos 5 ¢ 6. A orie! dbjvismo ubsirato refere-se a Saussure e receberd, aqui, pois teria da enunciagao comumente atribuida ao Circulo é vista como um Produto da critica feita a essa postura tedrica. ae | 48 seduce sti Segundo Bak akhtin (Voloshinov), a asad sistema de reguaridadesFonéticas, gama on “6 con de garantir a unidade da Kinga eas Leics qua yen Tg tes individual de ct Bua. Esse objetivisin ue tem af, veo ms al de eriagdo quand Tigado % Somente adn to cue uum dado momento histérico, ¢ supra ng sii img oe cot obedecem lpi » € supra-individual. As leis dent & a 0 Oe ats obedeem so pip da ininin Exe, on, nang tees OO i ma lingistio[..] da abordagem io aon oS 8 eo Tata-se de uma nogao de lingua que considera a comeacy ns we ar arbitrariedade do sistema lingiistico sem referencia sommes ‘ 7s 8000 Signo a realdate in co? s 08 0 individuo, O que interessa &a rel ss lagdo entre os sign S qual se deve explicar a logica interna iOS, dentro do sistema gy No decorrer do livro, Bakhtin (Voloshinow) critica aqui que chan tie sistema de normas imutiveis.O objetivismo abstrato, ao airmat que sea. ine lingiistico constitui um fato extemo & consciéncia individual, tambon ate ee que € para a consciéncia individual que faz sentido falar de sistema deep Ca imutiveis. Entretanto, para o autor, “se fizermos abstragio da consign individual subjetiva e langarmos um olhar verdadeiramente objetivo [| nio oe encontraremos nenhum indicio de um sistema de normas imutaveis”," Na verdade, Bakhtin (Voloshinov)esté criticando a concepeao sincrénica deestulo a dalingua, negando-seaadmitirum momento de descrigio atempora:“osistema sincronico da lingua s6 existe do ponto de vista da consciéneia subjetiva do focutordeuma dada comunidade lingtisticaemumdadomomentodaistr’* Na sua perspectiva, o objetivismo abstrato nfo percebe ess relagio entre 0 al, tendendoaafirmararealidadeca cbjetvidade sistemaeaconsciéncia individu iimediatas da lingua como sistema de formas normativas. e Bakhtin (Voloshinov) vai mais longe em sua critica ao acrescentat que a iv ( consciéncia subjetiva do locutor nao se utiliza desse sistema, que de fato “ uma mera abstragdo, produzida com dificuldade por procedimentos cognitives bem determinados”.""A proposta do fildsofo é vera lingua imersa na realidade enunciativa conereta, servindo aos propésitos comunicacionals do Locuter. Para ele, no importa a forma lingiiistica invariavel, mas sua fungfo em um dado contexto, Essa concepgao conduz Bakhtin ( identificada no objetivismo abstrato. A palavra (termo equ eves, & linguagem no contexto bakhtiniano) em estado ded ‘Voloshinov) a uma diregdo oposta ha y ivalente, algums | icionatio © diclogisme: Mieho fokhtin 49 ima realidade da qual 0 falante se vale para onae a ar OS SUS props Na realidade, nao so palavras 0 que pronunasnnn : . ‘ou mentiras, coisas boas ou més, importante, on eal + importantes o radiveis, etc.” Assim, toda a enunciagio esta 0 esti eu nicacionais. mas, mas verda wis, agradaveis ou de iii ! hiv vicia de contetido ideolégico € a separagio, mesmo que ape nas no rico, entre a lingua e o contetido ideolégico no se justifea, visto tra base tedrica e empirica precisa M tor quer chamar a ateneao para o que ele considera um dos grandes eqiv0oos objetivismo abstrato, isto é,a crenga de que ¢ possivel estudara lingua Jevandoem ‘conta métodos e categorias que nao contemplam a atividade dialdgica. Basicamente, nie comm esculal ti impr Jano te ye no encon Bakhtin (Voloshinov): ingua como “sistema de normas imutaveis ¢ privilegia a descrigdio formal, estatica e normativa J6gicas, em detrimento do “contexto de fe critica a idéia de 1 incontestaveis”, que de enunciagdes mono! enunciagdes precisas”; le de construir um sistema sincronico desligado @ negaa possibilidad da evolugdo da lin; aun ‘em transformagao; gua, uma vez que, a seu ver, a concepgdo de compreenso como ato passivo que exclut 8 contesta qualquer réplica ativa. previamente € por principio Ao eriticar o privilégio da descricao formal, estitica € normativa em sn do mutivel; a desvinculagdo da palavra do contexto historico real detriment © estudo das enunciagdes monolégicas isoladas de maneira de utilizagao; veces a deserio sinerénica desligada da evolugao da lingua, Bakhtin ‘Vlosinov) mostra sua concepgo de enunciagdio como produto da interagao de dois individuos socialmente organizados, mesmo que interlocutor seja ua vituaidade representativa da comunidade na qual esté inserido o locutor, ¢ propse, dessa forma, a idéia de interagdo verbal realizada por meio da cnnciago, A unidade fundamental da lingua passa, assim, a ser 0 didlogo, tntendido no somente no sentido aritmético do termo, mas como toda a Comunicagao verbal, independentemente do tipo. Qian leitores de url tém apontado que a posigao de Bakhtin em relag’io ao lugar da forma no estudo da linguagem nao se 50 tnvad 30. Inet 6 linac de enuncacoe 8 Lingua no processo de consiturge ne como se pode ot Pode observar nas afirmagées abaixo, N° POI a0 comes que remetem a uma So orm, Pode ser demonstrada no pan te6rico e pritico do ponto de vista do deciframen a smento de uma ling ‘morta e do seu ensino.”* No entanto, em outros momentos, Bakhtin (Vlosin lingtisticas como pare inaliendvel do emuncado, denando come & nseperabilidae, nites forma setiio ao erm du lgugenec, lager conse ela icine igpti laisse wks tema/significagio (capitulo 7 de wrt) wi CO tema é0 “sentido da enunciagdo completa” sendotnico, individual ko reiterdvel; “ele se apresenta como a expresso de uma situagohistrcaconea que deu origem 8 enunciagio™” Para se contemplar o tema, no basta aac | morfol6gica ou sintitica,é preciso também a dos elementos verbais da sitasio aspen uma enunciagse Jia significagdo € um aparato técnico para a realizagio do tema, | ra yest is sociais dom constituida de “elementos da enunciagdo que sao reiteriveis ¢ idénticos cada | on sov) em wrt, SODE = 2 a | Noloshinov), em vez que sio repetidos” Os elementos que entram em sua consiuigio sx) orto, u* abstratos, convencionalmente definidos ¢ sem existencia coneret | seen dad cor © reconhecimento da perspectiva formal como parte do sentido ee acing (1 enunciagio esté mais visivel no capitulo 7, porém jé aparece Aa 2 data oa anetividade* jtulo $ snteriommente, eomo, por exerplo, na passagem retirada do cap ow fo lann ooataiald transcrevemos abaixo: Frblema da compreenss por entender que “qualq’ o germe de uma respost didlogo, o que implica 0 ‘no processo de instituig comunicagao verbal for que, em MFL, a matéria © responsivo, isto €, in ' Na realidade, o locutor serve-se da lingua para suas necessidades t Na rettivas concretas para o uta, a corso da HB aoa sentido da enuncag da fl) Te ET de aaere formas normativas (admitamos, por CMIWanly © j Iegitimidades destas) num dado context0c | de gravidade da lingua no reside na co eras amn na sna que es form OTE no contexto, O que importa no é 0 aspecto da forma Iingaistica que. soncreto, Paracle, ocent© mnformidade a norma 42 © diclogi lOGismo: Mikhail Bakhtin $1 canqualquercasoem que esta utilizada, permanece: Nio: para 0 locutor 0 que importa € aquilo que eae oe idéntico, Fnguistica figure num dado contexto, aqui que a ee Mequado as condicdes de uma situa¢do concreta dada weeny qa afirmagio, 0 componente abstrato da lingua nao é eeposto que o estudo das formas Tingdistcas como Rou yuma teoria da enunciagao.” Podemos afirmar que peti 0 objetivsmo abstrato, & a propria dicotonia ng meando Bakhtin (Voloshinov) afrma o que “falta 8 lingbistics sary éumna abordagem da enunciagZo em si" que ultrapasse a Tituintes imediatos, esté anunciando uma lingiistica cujo * Tingua nem a fla, mas a enunciago, evento de passagem eyo gn. mediante o qual sedi a semantizagao da lingua. i perm observa Faraco (2003), Bakhtin (Voloshinow) nfo propée a cag una segunda cgnea ars wratar do due 3 Tingiistica nao trata. gos teora semantica repousa sobre uma tensdo permanente entre o tema € a cpuneiagdo: ela se configura como o lugar de uma sgnifieapio de uma sontradigao dinamica entre © aspecto imutavel do signo lingiiistico ¢ seu aspect mutavel e dependente da situagao de enunciacao; entre 0 sii ignificado vane! de uma enunciagao e seu femna mével e tinico; entre os diferentes Jo mesmo signo lingiistico. A segunda posigdo de Bakhtin ANolshinov), em iri, sobre a relacao do aspecto formal da lingua e seu uso tica que comporta duas dimensdes em estreita deixaentrever, entao, uma semant pela estrutura (reiterdvel e sempre igual) € 0 sentido N fala ‘conte mpo" entagao em cons aujto no nem “ygentos” sociais comrelagdo: o sentido dado dado pela enunciagao (sempre mutivel ¢ adaptivel). Aintersubjetividade est contemplada na semantica proposta por Bakhtin (lolskinov) quando a distingdio entre tema e significacao € relacionada a0 problema da compreensao. Ja vimos que ele recusa compreensio passiva, porentender que “qualquer tipo genuino de compreensio [J deve conter ja germe de uma resposta”.®* A compreensao & tomada como uma forma de «ilogo, o que implica o reconhecimento da interagao do locutor ¢ do receptor 0 processo de instituigao do sentido. A afirmagiio de que “s6 a corrente da ‘omunicagio verbal fomece & palavra a luz de sua significagao”™ deixa ver ba a amatéria lingitistica adquire significagao em um processo ativo ivo, isto é, intersubjetivo. 152. Introduce @ lingUistice da enunciocdo A presenga da intersubjetividade na teoria semintica proposta ganka contomos ainda mais rios pelo reconhecimento de que, além be Mn ¢ significagao, a palavra tem acento apreciativo ou de valor, — apreciativo € transmitido por meio da cntoagao expressiva, que diz ear relagio individual entre 0 locutor e 0 objeto do discurso, a Por causa da construgdo de um sistema lingiistico abstrato, o5 lingaistas chegaram a separar 0 apreciaivo do signficativo, a considerar 0 apreciativo como um elemento marginal da significagdo, como a expressio de uma relagio individual entre 0 Jocutor ¢ 0 objeto de seu discurso.”” FormulagSes como essa mostram que Bakhtin (Voloshinov) integra o acento apreciatvo ao sentido, ou sea, véa orienta apreciativa como consitva da enunciagdo. Esta pressuposta ai a concepgao de que 0 sujeito semantiza a lingua no evento enunciativo. E preciso dizer que o sujeito € ai concebido na interaggo com 0 outro,* sendo atribuido a ele papel criativo no processo de composigiio do sentido, podendo, por sua entoacao expressiva, -desestabilizar as redes instituidas, Desse modo, o sistema tebrico proposto em 1. acolhe o singular ¢oefémero, aquilo que a racionalidade eienifiea hegemdnicaabstrai.” A afirmasio que ‘encerra 0 capitulo 7 corrobora essa interpretagdo: .cer estivel nesse processo. E por isso que a (0 abstrato igual a si mesmo, ¢ absorvida pelo ra retomarenfim Nada pode permane significagao, element tema, ¢ dilacerada por suas contradigdes vivas, pa sob a forma de uma nova significago com uma estabilidade ¢ uma identidade igualmente provis6rias. ‘Além de teoricamente propor que o estudo da lingua como tal so € produtivo no interior de uma teoria da enunciagao, Bakhtin (Voloshinov) indica como articular de forma metodolégica, na aniilise de fendmenos de linguagem 4 questio lingiistica propriamente dita a dados da enunciagdo concreta, em que 0 outro & concebido como “lei consttutiva do tecido de todo discurso" Isso ocorre na terceira parte de wrt, em que Bakhtin (Voloshinov) faz uma espécie de demonstragdo de como se operacionaliza sua teoria semantica, aplicando o que ele chama de “método sociolégico” a mecanismos sintiticos ae ee for valida, 0 método sociolégico de Bakhtin iegra os elementos abstratos da lingua estrutura da enunciagio N © dialagismo logismo: Mikhoil Bokhtin 53 seen como espago de dilogo entre acentosapeciay sna iyo do discus citado (dseuso dirt, dscurso caer livre), tradicionalmente descrito como um pobleeaeseaee de abordagens gramaticais ou estilisticas, ers asd av iat utes tadle lee fleece lagi ce Habelho oats dis elses pro fernalss fet inet pio pelo ¥ repectva enunciat Paz por uma divi fetdo na enuncinca0 M eatudo do discurso citado contempla a intersubjetividade,trazendo a yesto do “outro” de maneira concreta, como dimensio constitutiva da inguagem: 0 “outro” como discurso ¢ 0 “outro” como receptor. De forma pioncira, esse fenomend lingitistico é trabalhado como enunciagao na fruniagio,reagao da palavra & palavra, discurso no discurso, recepgio ativa do diseurso de outrem. se por alguma razdo, talver até conjuntural, Bakhtin (Voloshinov), em contraditério em sua posigdo sobre os aspectos estruturais Julnguagem,isonaodeve obscureccr Sua contribuigdo no sentido de anunciar sma lingistca da enunciago Cujo objeto Se institui pela diluigao da clivagem ipstatoconereto ¢ pela inclusto da relago intersubjetiva. Diferentemente do que se apresenta em MFL, nas obras em que a autoria aio & compartthada, Bakhtin tem uma relagdo positiva com a lingiiistica, sa insti sua teoria da Finguagem sem jinvalidar a teoria saussuriana, imbora nfo deixe de assinalar que cla é insuficiente para o estudo da yi, apresenta-se Ct comunicagao verbal. 'A discuss entre os aspectos abstratos e concretos da linguagem cncontase virias veres formulada em sua obra. No iiltimo capitulo de Problemas da poética de Dostoiévski,? a questao se coloca na distingao entre fngua, objeto especifico da lingitistica obtido por meio de uma abstragao, € dicwso, lingua em sua integridade conereta, Bakhtin considera legitimo ¢ recessirio o procedimento da lingiiistica de recortar a lingua pela abstragao_ ‘ée alguns aspectos da vida concreta do discurso. fm Problemas da poética de Dostoiévski, Bakhtin coloca seu objeto de «tudo como pertencente a metalingiiistica, que, diferentemente da lingiiistica, ‘la do fendmeno do discurso em uma perspectiva que 0 considera na realidade conereta ¢ viva, Ao contririo do que se poderia supor, em fungdo do que ‘sti explicitamente colocado em varios momentos de wrt, Bakhtin nao | 54. tnreducte &tngueie da anncngo dlesconsidera 0 estudo lingistico sausurian, de vista é diferente porque nao é 7 bascado em um obj ele, as “pesquisas metalingiiisticas, evidenter : lingtistica © devem api plicar 08 seus resultados completar-se mutuamente e no fundirse"*® ODS -MENKe, no pog” 05 pe Para 0 autor, so as relagdes dialégicas que sing pode haver relaco de didlogo em um objeto abstrato (a lin nn transcendéncia do didlogo releva aspectos contextuais nio comes teoria lingiiistica. mado No entanto, as relagdes dialégicas no podem ser separatasd ty ihn isi como fendmeno integral econcreto. Bakhtin introduz aidéiadecasn™ WR ett 8 y giscurs0 SO dialdgica, dizendo que alinguagem vive na comunicasio dsligen dns Os ener esibilidade det aque a usam. Essa concepgio ébisica para autor pois partirdkamen, fy coeillOMO o humane i que o didlogo nao pode ser reduzido a descrigio légico-semintca Pua mE eT ET ana de deter lado, as regularidades l6gicas so fundamentais para as relagdes dsp (pois tudo que é dito possui regularidade interna), mas, por auto, ios reduzem a elas, dada a sua especificidade. A condigdo para que as exis logico-semanticas se tornem dialégicas € que sejam matcriaizas discurso (enunciado) e assumidas por um autor de quem as reglidls expressam uma posigao. Como essa ago emana de viizagdo da. lingua conseaiienten {ada una. Tal reflexo & perce! construgio composicional do ent enunciado, em uma dada esfera, relativamente estaveis de enunci« COcontraponto de Bakhtin &, Desse pont de vista, 0 autor pro} ‘oposigio entre género ¢ estilo, m: no estilo slo inseparaveis das explicitamente estudado na seg uma severa eritiea & lingilistic anbuida so locutor, que minimi ese da teoria de | Para a proposta el; omy “sesio responsiva ativa Po Ghime ponto, Na visio do autor, entdo, lingiiistica e metalingiistica tim obs auténomos ¢ metas préprias, ainda que no necessariamente excludes \ lingiiistica estuda a linguagem na sua generalidade, como algo qv ® possivel a comunicagio dialégica, ao passo que a metalingtistics fs ddo que ele chama de relacdes dialdgicas, relagbes essas que nio poe estabelecidas por critérios genuinamente lingitisticos, poravs enters pertencam ao campo do discurso, no fazem parte de um camp) pore lingiistico de seu estudo. O autor vé uma complementagio entre cus n afirmando a necessidade de recorrer a lingua para dar conta do 1°" | Podemos dizer que Bakhtin concebe a metalingtistia pe"! siete enunciagdo e seus constitutes. Nao interessa a ele 0 estudo est x © dictogis gismo: Mikhail Bakhtin 55 em si, apesar de nao o de sition cartar, mas 0 da gapsieas que ai tem lugar. Em sua concepeio, 0 sentido se eoverg iefatzaio das rages TOgieas em relagdesdilégicas, 0 ri iss “fecer que a semantizaga0 da lingua ocorre na enunciagto. aie tm Gneros do discurso (1992), que, segundo Todorov afi na scsi publicaglo brasileira, “€ algo como uma sintese das ideas lingiisticas de Bakhtin nos anos vinte”,** é possivel reconhecer um Bakhtin de proxmo daguele que estreveuProblemas da potica de Dosoivs ray pode sercomprovado por meio de viras evidéncias de tragos comuns aes livs, ais como: 0 reconhecimento da legitimidade da lingistica vroriana para trtar do que é da ordem do repetivel: a concepgao de de significagao; a preocupacdo com questdes de estilo, evo! sau um nivel abstrato catre outa. 0s géneros do discurso slo discutidos a luz de uma concepedo de snunciado como possibilidade de uso da lingua. O percurso feito por Bakhtin thasiamente este: agao humana esti direlamente ligada ao uso da lingua. Coo essa agdo emana de determinadas esferas da atividade humana, a Go da lingua conseqiientemente reflete as condigdes ¢ finalidades de cada uma, Tal reflexo é perceptivel no contetido tematico, no estilo ¢ na ‘enstugdo composicional do enunciado. A fusio desses ts elementos no enunciado, em uma dada esfera, determina 0 que Bakhtin chama de “tipos relativamente estaveis de enunciados”, ou seja, os géneros do discurso.” Ocontraponto de Bakhtin é, nesse texto, a exemplo de outros, a estilistica. Dass pono de vista, o autor propde 0 estudo do estilo no mais em termos de posgdo entre género e estilo, isto é, as mudangas to esilo sio insepardveis das mudangas nos géneros. Esse problema é a segunda parte do livro, quando Bakhtin elabora ipremacia uilizagé mas em termos de interagao, xpictamente estudado 1 uma severa critica lingistica do século xix em fungdo da su aruda ao locuor, que minimiza o papel do outro na produgio do enunciado, “Trés pontos da teoria de Bakhtin so fundamentais tanto para a critica fea quanto para a proposta elaborada. Si eles: a atitude responsiva ativa, a compreensio responsiva ativa e a oposigiio oragio/enunciado. Iniciaremos Pel Gitimo ponto, A oposigao oragio/ w fenunciado & ima unidade da lingua e como tal nic enn tS uma unidade da cor Sep ts mmunicag ees 0 verbal

También podría gustarte