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Capitulo 08 O CEARA NA INDEPENDENCIA DO BRASIL Independencia ou Morte” (1888), de Pedro Américo: a emancipacao foi comandada pelas elites 8.1 A INSTABILIDADE DO BRASIL INDEPENDENTE Um dos processos que mais chama a aten: é o da preservagao da unidade territorial Independencia, em 1822. Em rigor, existia um Brasil como o concebemos hoje. Nao havia uma unida nacional ou um Estado nacional. As Provincias nao apresentayam grandes lacos entre si. Os habitantes se identificavam geralmente como portugueses e/ou por identidades particulares, baiense, das minas, do Pernambuco. A separacao oficial do Brasil de Portugal a7 de setembrode 80) foi manipulada pelos latifundidrios e comerciantes do que hoje é chamado de sudeste. Havia um panico das elites em relagioa uma rebelido de pobres e escravos, ameacando o sistema latifundiro € a escravidao, ou a confrontos armados entre as provincias, quais conduzissem a fragmentagao territorial do Brasil, o quee® a €poca, um risco sério. Assim, para efetivar a independéncia sem traumas coos a ordem social e a unidade politica, as classes coal encontraram no principe D. Pedro (deixado para ae Brasil quando do regresso de D. Joao VI a Portugal em 182 eh aliado importante. D, Pedro faria a independéncia cei Setores dominantes e, em recompensa, ganharia 0 de da Com 0 “Grito do Ipiranga’, encerram-se trés a na¢ao portuguesa. Ocorreram resistencias de bE i piauh 4s sobretudo, nas provincias do norte/nordeste | a0 dos historians do Brasil quando dy No inicio de século XIX nig como ser Bahia) e do sul (Cisplatina), de independéncia, contudo, debeladas rapidamente. O princi- és foi coroado como D. Pedro primeiro imperador do Brasil (COS- 1999). $2 CEARA: UMA DECADA INSTAVEL Na primeira metade da década de 1820, ‘0 Ceara foi palco de intensa agitacao po- litica e revoltas, as quais se relacionavam ao processo de independeéncia do Brasil, 4s disputas entre os grupos oligarquicos pelo controle da provincia, e a oposi- " Gao ao processo de centralizacao do po- que se impunha no Pais durante o | o (1822-31) e que ja vinha sendo do desde o inicio do século, pelo Nessa fase de instabilidade, co- e grupos de “cabras” (na verdade, de escravos, livres pobres e indios) los a servicos de segmentos pro- os buscavam impor os interesses em confrontos brutais. 0 pano de fundo para toda essa politica - e contribuindo para a estava a crise econdmica cea- € 1819, a economia local mante- situa¢ao relativamente con- vel, com os lucros provenientes do io € comércio do algodao. A ultima ® seca havia atingido a capitania nos anos de 1790/93. Os senhores liarios (em especial os do vale do be, a area mais populosa e rica do décadas iniciais do século XIX) ram uma fase de prosperidade, ®, pois, de recursos humanos (a ertaneja que deles dependia e os €m grupos armados) e materiais Para envolver-se em disputas politicas e reagir contra medidas governamentais que atingissem seus interesses. Mas na década de 20, a intensificagao da concorréncia da cotonicultura dos EUA, 0 aumento da produtividade das fabricas inglesas (com menos algodao se Passou a produzir mais tecidos) e Ppragas agricolas (como 0 mofo) vio atingir em cheio a producao e a lucratividade do al- godao do Brasil, em especial as do Ceara. Dessa maneira, verifica-se um empobre- cimento geral da provincia e um clima de insatisfacao, ensejando lutas dos la- tifundiarios para assumir o controle do poder local e se proteger/combater a exploracao da metrépole portuguesa/ Estado imperial ou ainda para usufruir das benesses do Estado que se estrutura- va (LEMENHE, 1991; OLIVEIRA, 2009; FELIX, 2010). 8.3 DEPOSICAO DO GOVERNO RUBIM O quinto administrador do periodo pos- terior A separacao de Pernambuco, inves- tida em julho de 1820, foi o capitao-de- -mar-e-guerra Francisco Alberto Rubim, autoridade que buscou de todas as formas resistir as ideias mais liberais, visto que seu periodo coincidiu com 0 inicio do furacao politico que se abatera entao so- bre o reino. Nao por acaso, somente apos muita presso da Camara de Vereadores ea sublevacao dos militares acantonados em Fortaleza (14 de abril de 1821), Rubim jurou a Constituigao a ser feita pelas Cor- tes portuguesas. Era uma consequéncia da Revolugao Liberal do Porto de 1820, a qual exigiu o retorno de D. Joao a Por- tugal e a elaboragao de uma constitui¢ao Capitulo 08 - 0 Ceard na Independencia do Brasil 145 (ocorreram varias manifestagoes Brasil afora, exigindo de D. Joao VI e demais autoridades 0 juramento antecipado da tal constitui¢ao). : No Crato, todavia, rebentou movi- mento defendendo, ao contrario da ca- pital. Aquela vila, dominada pelas forcas absolutistas que haviam sufocado a in- surreigao de 1817 - representadas por Leandro Bezerra Monteiro, pelo filho deste, Gongalo Luis Teles, e por Pereira Filgueiras, entre outros -, recusou-se a jurar o documento constitucional, pois embora nao se soubesse precisamente o que era uma constitui¢ao, temia-se que esta atingisse o rei, sendo, nesta perspec- tiva, uma impiedade, um atentado contra a religio, segundo que estabelecia uma estreita ligacao a mentalidade sertaneja entre Deus e monarca. Temia-se da mes- ma forma que o juramento resultasse em coisa semelhante ao movimento de 1817, uma anarquia republicana. Entre os segmentos mais humildes, corriam boatos dando conta que se a tal constitui¢ao, uma “lei do satanas”, fosse aprovada, seriam os pobres, mulatos e caboclos escravizados. Falava-se ainda que a constituicao era uma criatura viva, de aparéncia horripilante e capaz das maiores maldades contra os tementes a Deus! Diante do clima de inquie- ta¢do, 0 governador Rubim LDA, mandou enyiados ao Cariri, 0s quais com dificuldades conseguiram convencer Pe- reira Filgueiras e Leandro Bezerra Monteiro, mostran- do que a cConstituicéo nao Lm tinha nada contra Deus e Populares lutaram que proprio D. Joao V1jéa —_indepenaerchea ta vezes recrutados d forga. Capttulo 08 - 0 Ceard na Independencia do Brasil jurara. Outros chefes Monarqui: rém, continuaram a incitar 9 Povo Po. tra a “lei do diabo”. A tensag era te na regiao, ocorrendo motins dim e Missao Velha. om eb Em agosto de 1821, celebrava na Igreja do Crato um te pela adogao do regime constityc: 400 homens armados cercaram 9 temp no propésito de pér fim A ceri - acreditavam que a constituicao jg substituir a imagem de Nossa Senhora da Penha Por outra, de uma prostituta, de nome Ursula. $6 nao Ocorreu uma tragédia devido a aco apaziguadora do capitao-mor Pereira Filgueiras. Com o tempo, arrefeceram os Ani- mos no Cariri, embora em Fortaleza cada vez mais aumentasse a pressio contra Rubim. Os opositores nao acre ditavam na fidelidade do governador 4 causa constitucional. Um levante militar, em 3 de no de 1821, obrigou Rubim a renu Ceara passou entao a ser g governo provisério, mandante da tropa de Xavier Torres, militar lig ses dos constitucionali a de Lisboa. Curioso notar que o a tico do Ceara, pela primeira ae vee: tinica, caracterizou-se pela cia de uma s6 facgao politica, pois torno das eleigdes para as cortes con- -se na capitania as duas correntes jicas que se formavam entao, os - realistas portugueses ¢ os nacionalistas. Jais correntes de opiniao, partidos, idas quase de qualquer conteti- ideolégico, defendiam a Constituicao motivos opostos: os portugueses, fi- 4 metropole, sonhavam com o retor- ao sistema colonial, com toda sorte monopélios e privilégios para os lusi- enquanto os brasileiros desejavam a autonomia que a colénia ra desde a chegada de D. Joao VI. A corrente dos realistas portugueses quase sempre comerciantes li- s 4 Metrépole (como Lourenco da bem afirma a historiadora Keile © entendimento de “patria” & a era diferente do que temos hoje. participantes desse movimento, a ia” seria o seu local de nascimen- )s faziam parte desde o decreto de Reino Unido de Portugal, Brasil ; no entanto, o entendimento do, essa uniao de correntes nao que os realistas portugueses n do poder em proveito préprio. ¢leitos, havia apenas um naciona- José Martiniano de Alencar, e isso rue o deputado titular renunciou por 10 de satide. Pouco emergiram as contradig6es 4 85€8 grupos devido a politica re- stlzadora das cortes portuguesas ¢ & Costa Dourado, Mariano Gomes ¢ José de Agrela Jardim) moradores das maiores vilas, como Fortaleza, Icé e Aracati, Tam- bém integravam essa corrente os milita- Tes acantonados na capital (por exemplo, © chefe do governo provisério, Francisco Xavier Torres), burocratas como Manoel do Nascimento Castro e Silva e os ouvi- dores Porbém Barbosa e José Joaquim Correia da Costa Pereira do Lago, e mes- mo latifundidrios mais conservadores (como 0 monarquista convicto Leandro Bezerra Monteiro). Ja a fac¢ao nacionalista, liderada pelos Alencar (j4 de volta ao Ceara, anistiados apds os insucessos da Revolugao Per- nambucana), reunia os frageis segmentos urbanos que haviam apoiado ou simpati- zado com a insurreicao de 1817, e, sobre- tudo, os elementos sertanejos latifundia- ios ligados a agricultura e a pecudria. de “patria” estava intimamente ligado ao local onde eles tinham raizes, sendo este lugar mais importante que o proprio Rei- no Unido, pois era ai que residiam seus interesses, sua familia, seus negocios, As- sim a defesa da propriedade representava a defesa da “sua patria’, defesa da “patria local” (FELIX, 2010: 74). iminéncia da independéncia brasileira. Dai, entao, passaram-se a chamar os ele- mentos vinculados 4 metrépole de “cor- cundas” e os nacionais de “patriotas”. No intuito de manter um controle so- bre o Brasil, determinaram as cortes por- tuguesas que se elegessem juntas gover- nativas nas provincias. Isso era, note-se, uma importante mudanga administrati- va, pois, os governantes das provincias Capitulo 08 - 0 Ceara na Independéncia do Brasil 147 148, Ao contrario do que comumente se pensa, a Independéncia do Brasil provocou varios conflitos internos seriam eleitos localmente e nao indica- dos pela Coroa portuguesa, como até en tao acontecia. Por outro lado, as eleigoes das juntas governativas acirraram as disputas entre as oligarquias e partidos locais, em virtude da possibilidade de conquistar/manter 0 poder e defender Seus interesses ~ dai o porqué da insta- bilidade deste momento, com a eleicdo e deposi¢ao de varias juntas. Assim, a 15 de janeiro é escolhida, em substituicao ao governo provisério de Francisco Xavier Torres, a Junta Go- vernativa do Ceard, presidida por José Raimundo de Passos Porbém Barbosa, ligado aos “corcundas” € fiel as preten- Ses recolonizadoras das Cortes. No Pais todo acirram-se as lutas entre brasileiros © Portugueses. Era 0 preliidio daindependéncia, A3 de julho de 1822,0 Et ay baixou decreto oe hoo ; Ceiehes pare escolha lag ae és leia Constituinte brasi- Positadamente den "2 Cearense pro- ‘amente demoroy ° n ua fazer a eleica aticando a ira do partido Patriota er, Capitulo og © Ceara na ing Independéncia do Brasil oO NHEIRO, 1963; E14, MARA, 1970; Gp 50, 54 TENEGRO, 1980; op Moy PINHEIRO, 1986, rau 1, 0, 8.5. 07 DE SETE | CEARA MBRO ny No Crato surge um : pré-independéncia sabacn agora aliados Tristao Gone, ey José Pereira Filgueiras _ ¢ St que a familia Alencar man, facilmente o rude e Popular tao-mor cratense. Exige-se © fn da Junta Governativa de Porbin Barbosa, tida pelos liberais com inimiga da Patria e dos anseios dy Povo cearense. Por sua vez, os “corcun. das” da vila, apoiados por tropas coman- dadas por José Félix de Mendonca, pu. sam a aterrorizar e agredir os “patriots, sofrendo da mesma forma retaliagies Acabam, porém, expulsos por Filgue: ras (setembro de 1822) e retirar Ic6, forte reduto de portugues unem forgas com o “co Antonio Diniz, que ali tambér atos hostis aos “patriotas” sentantes da provincia brasileira para 16 de recomendando-se que Na verdade, a data de 7 de setembro nao eve reper ssio e nem foi valorizada, ‘os embates € controvérsias do pro- cess0 de independéncia do Brasil. 0 16 de outubro ganhou, a principio, maior destaque (BITTENCOURT, 2007). No dia 16 de outubro retine-se 0 colé- so eleitoral no Icé, exigindo a rentincia da Junta Governativa de Porbém Barbosa eaescolha de um novo governo formado pelos representantes das camaras da pro- yincia. Como esperado, os “corcundas” José Félix e Anténio Diniz, nao aceitando aquelas deliberacdes, invadem, com um grupo de homens armados, a Casa do Conselho, agredindo e prendendo varios dos eleitores na cadeia local, dispensando outros a socos e a pata de cavalos. Em face de tais violéncias, varias mili- cias partiram de diversas regides do Ca- tiri, sobretudo do Crato, sob o comando de Pereira Filgueiras, para socorrer os *patriotas” no Ico. Avisados da vinda das forgas de Fil- gueiras, os “corcundas” decidiram se re- tirar para Fortaleza, mas no percurso, no local chamado Forquilha (jun¢ao dos rios Jaguaribe e Salgado), acabaram por en- contrar os “cabras” do coronel Anténio Bezerra de Sousa Menezes, que igual- mente dirigia-se ao Icé para ajudar os t ‘Carla Régia de 11 de margo de 1823, bai- xada por D. Pedro I, elevava Fortaleza 4 ategoria de cidade, com o nome de For- taleza de Nova Braganga (nomenclatura que nao sobreviveu), em compensagao . A3 de marco do ano de 1823, é elei- . “ma outra Junta Governativa pro- Patriota’, chefiada pelo Pe. Francisco Den eter eas batalha, presos e feconiaelaca em ree : zi para a vila icoense. Em seguida, elegeram-se finalmenteos representantes cearenses na Assembleia Constituinte brasileira e, igualmente, um novo ‘govertio Para a provincia, ligado a08 Patriotas. Para presidir a nova Junta, que recebeu 0 nome de Governo Temporario, foi escolhido José Pereira Filgueiras. Decidiu-se ainda iniciar uma marcha sobre Fortaleza para depor a Junta de Porbém Barbosa. A Junta Governativa na capital, nao tendo como resistir aos “cabras” dos “patriotas” e tomando conhecimento da independéncia do Brasil (trazida por navios, com mais de um més de atraso), decide renunciar (9 de novembro de 1822). No dia 23 de janeiro de 1823, no mesmo dia da chegada a Fortaleza, apés longa marcha, o governo temporario de Filgueiras assume o poder cearense. Perseguem-se os portugueses — 0 go- yerno tempordrio sugere que sejam os portugueses proibidos de ocupar cargos plblicos. Muitos deles serao presos. A Camara de Vereadores fortalezense, “cor- cunda’, por protestar contra 0 que se pas- sava, € dissolvida, sendo eleita outra em seu lugar. Era o revanchismo “patriota’. pelo apoio prestado pelo Ceara a causa da independéncia. Era também um reco- nhecimento do crescimento (lento) que Fortaleza vivia naquele come¢o de sécu- Jo XIX (GIRAO, 1979). Pinheiro Landim, vigirio interino do Ic6, Tristio Gongalves é nomeado vo- gal e Pereira Filgueiras, comandante Capitulo 08 - 0 Cearé na Indepencléncia do Brasil 149 os ae ea das armas. Brao redominio da oe te nacionalista € liberal e era, tam ey o elemento agrario elevado a centro ae decisiio dos fatos politicos (SARAIVA, 1970: 161).Enquanto no Ceara levan- ancipacionista, no tava a bandeira em: Piaui eclodia um movimento armado pro-Metrépole liderado pelo coman- dante de armas Joao José da Cunha Fidié. Apés varios apelos dos naciona- listas piauienses, © governo cearense decidiu por auxilid-los, enviando tro- pas comandadas por Pereira Filgueiras e Tristao Gongalves. As forcas cearenses compunham-se na maioria absoluta de homens humil- des, que iam a luta por estarem submeti- dos ao arbitrio dos latifundidrios ou for- 1 apltulo 08 - © Cea i ra na Independencia : do Brasil gados pelos “patriotas” dos voluntarios aumer alvorogo na capitania. By mil homens, os quais ap bates, violéncias e saq Fidié na vila de Caxias, n em agosto de 1823. Tristao com seu exército, regres a em janeiro de 1824, sendo f recebidos. Mas nao teriam des breve envolver-se-iam - e perc vida - na Confederagao do mais importante movimento rebel regiao, conhecida hoje como (PINHEIRO, 1963; FILHO, 19 MARA, 1970; GIRAO, 1971; M NEGRO, 1980; NOBRE, 19 RO, 1986; FELIX, 2010).

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