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ESTUDOS PSICOLÓGICOS JOANNA DE ÂNGELIS

O encontro entre a Doutrina Espírita e a Psicologia é algo que enriquece e


encanta o ser humano. Este olhar psicológico da Doutrina Espírita é ressaltado pelo
Espírito Joanna de Ângelis há mais de 25 anos através de sua Série Psicológica e vem
ganhando mais espaço no Movimento Espírita em todo o mundo. Todavia, para que
essa mensagem realize seu potencial transformador, merece atenção e cuidado dos
seus interessados.
Por isso, o Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de Ângelis escreveu esse
texto que tem como objetivos refletir sobre o diálogo entre essas duas ciências;
analisar a presença da Psicologia no seio doutrinário; e, atentar para o preparo e
esclarecimento que os trabalhadores de um Centro Espírita precisam ter, a fim de se
evitar prejuízos ao Espiritismo.
Os termos psicológicos não transformam a obra de Joanna de Ângelis em um
estudo à parte da Doutrina Espírita. Sua abordagem é essencialmente evangélica, seu
objetivo é o comportamento humano, e seu enfoque é psicológico. Não se constitui em
um estudo puramente de Psicologia, o que amedronta alguns. É um estudo da conduta
humana, abordando os temas que fazem parte de nosso cotidiano. Os conceitos
psicológicos servem para instrumentalizar a análise a respeito do comportamento
humano, mostrando habilmente “como fazer” mudanças verdadeiras para melhor.
Para isso, primeiro apresentamos a relação de Kardec com a Psicologia,
verificando como o Espiritismo já estava permeado, desde seus dias iniciais, pelo olhar
psicológico; depois, analisamos o quanto esse encontro se constitui alavanca para o
processo de transição planetária; em seguida, falamos de como as ciências
oportunizam maior qualificação das atividades desenvolvidas, e em específico
abordamos a presença da Psicologia na Casa Espírita; e, por fim, ponderamos sobre os
cuidados que todo espírita deve ter com essa aproximação na instituição espiritista
para vivenciá-la com respeito, zelo e segurança doutrinária.
Queremos, com isso, facilitar a delimitação dos estudos com viés psicológico,
instrumentalizar os interessados através de orientações, programas e subsídios teóricos
e, principalmente, preservar a Doutrina Espírita de qualquer entendimento menos
acertado nesse encontro com as demais ciências.
1. ALLAN KARDEC E A PSICOLOGIA

A Doutrina Espírita tem seu princípio nos fenômenos de efeito físico, que
ficaram conhecidos por todo o mundo como “mesas girantes”. A Psicologia, enquanto
ciência nasceu da vertente experimental, estudando as bases fisiológicas.
A partir do desenvolvimento dessas duas ciências, quando ultrapassaram seus
dias infantis e atingiram certa maturidade, eis que o Espiritismo debruçou-se sobre a
Psicologia e dela não pôde mais se separar.
Que são teorias diferentes, de berços e objetivos diversos, todos concordamos.
Entretanto, não há Espiritismo sem Psicologia, sob o risco de sermos superficiais
quanto ao entendimento da doutrina kardequiana. Mas essa assertiva não se restringe
apenas à Psicologia. Também ponderamos que não há Espiritismo profundo e sério
sem Filosofia, sem Pedagogia e tantas outras vertentes científicas que estiveram
presentes na mente do Codificador antes mesmo da formalização do Espiritismo, e que
continuam ecoando não apenas no método, como também na didática, na apreensão,
na análise e na síntese do conhecimento.
Qualquer um que conheça um pouco mais sobre a vida de Hippolyte Léon
Denizard Rivail verificará a presença das Ciências Humanas ao longo de todo seu
trabalho em relação à doutrina consoladora. Atemo-nos à Psicologia, não em
detrimento de outras vertentes, mas porque é a que mais nos interessa no atual
momento.
Querer separar o Espiritismo dos estudos psicológicos é tentar formalizar uma
Doutrina Espírita sem alma, uma religião sem nexo causal nem teológico, uma ciência
sem objeto.
Kardec foi explícito nesse sentido, desde o início de suas pesquisas. Sabemos
que desde a primeira publicação da Revista Espírita ele a subtitulou de Jornal de
Estudos Psicológicos. E o que mais admiramos no trabalho codificado por ele, é a sua
capacidade de aprofundamento a respeito do funcionamento da alma humana. Fez isso
antes mesmo da Psicologia estabelecer suas bases científicas, e adentrar a sociedade
como hoje a conhecemos, muitos anos antes do pai da psicanálise, Sigmund Freud
(1856-1939), e Carl Gustav Jung (1875-1961) o grande desbravador do inconsciente
coletivo.
Allan Kardec foi, sem qualquer sombra de dúvida, um grande estudioso da
psicologia humana, e isso está evidente ao longo de toda a sua obra, mesmo com a
precariedade do instrumental científico disponível à época.
Após aqueles dias, na segunda metade do século XX, a Psicologia Profunda
começou a desenvolver-se e nos possibilitou uma compreensão mais elaborada daquilo
que Kardec já antevia – a psicologia da alma.
Na Revista Espírita de 1868 encontramos uma profunda reflexão sobre a
preocupação de Kardec com o futuro do Espiritismo e a necessidade de assegurar sua
unidade. Nesse quesito ele nos apresenta a questão do caráter essencialmente
progressivo da Doutrina e explica: “Apoiada tão-só nas leis da Natureza, não pode
variar mais do que estas leis; mas, se uma nova lei for descoberta, tem ela que se pôr
de acordo com essa lei. Não lhe cabe fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de
se suicidar. Assimilando todas as ideias reconhecidamente justas, de qualquer ordem
que sejam, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma
das principais garantias de sua perpetuidade.”1.
Embora essa questão seja bastante delicada e pouco compreendida no
movimento espírita pela falta de entendimento do que seja o desenvolvimento
científico, verificamos claramente nas palavras do Codificador a preocupação de que a
ciência espírita não estacione sob o risco de matar-se a si própria. Devemos certamente
nos preocupar com sua base e seus aspectos essenciais, os quais, se modificados, não
teríamos mais o Espiritismo, e sim, outra ciência, que mereceria por isso mesmo, outro
nome.
O Espiritismo tem atualmente sua base solidificada em conceitos claramente
exarados na Codificação. Todas as demais obras, artigos, pensamentos e reflexões
surgem para permitir melhor compreensão do que ali se encontra. Mas, como grande
cientista que foi, Kardec deixou estabelecido que não devemos "fechar as portas" ao
progresso e precisamos caminhar a par e passo com todas as ideias reconhecidas justas
que garantam a perpetuidade da doutrina.
Não pretendemos “psicologizar” a religião nem “religiosizar” a Psicologia, mas
desejamos sim, acrescentar ao Espiritismo o que a Psicologia tem oferecido no campo
da psique. E já que o ser humano é um animal simbólico e seu aspecto mítico não foi e
nem será superado por um projeto racionalista, temos no estudo proposto um esforço
interdisciplinar de compreensão e ajuda mútua.
Todos os fenômenos humanos podem ser estudados por diferentes facetas,
incluindo o viés biológico, neurológico, social, psicológico, político, espiritual. Kardec

1
KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Rio de Janeiro: FEB, 2009
(dez/1868, p. 514).
incorporou claramente as ciências humanas ao Espiritismo, e em especial a ciência
psicológica.
Na introdução da “Revista Espírita: Jornal de Estudos Psicológicos”, consta
uma importante explicação: “Nosso quadro, como se vê, compreende tudo o que se
liga ao conhecimento da parte metafísica do homem; estudá-la-emos em seu estado
presente e em seu estado futuro, porquanto estudar a natureza dos Espíritos, é estudar
o homem, tendo em vista que ele deverá fazer parte, um dia, do mundo dos Espíritos.
Eis porque acrescentamos, ao nosso título principal, o de jornal de estudos
psicológicos, a fim de fazer compreender toda a sua importância”2.
Consideramos aqui, metafísica tudo que relaciona, em alguma medida, às
manifestações de ordem psíquica. Isto pode parecer óbvio e até mesmo redundante por
ser um conceito não redutível à matéria, mas libertar a psique de se tornar um
epifenômeno do cérebro, é um esforço recente e de importância fundamental para se
avançar nesse campo onde, psique e matéria, ainda são mistérios para nós.
Joanna informa: “Os estudos da Psicologia Espírita constituem uma
contribuição para mais amplo entendimento da codificação kardequiana por
aprofundar a sonda do esclarecimento nos conflitos que vicejam em todas as
criaturas, auxiliando-as com métodos eficazes para solucioná-los, não atribuindo
todas as ocorrências perturbadoras às influências espirituais negativas, mas, sim, aos
próprios demônios, aqueles que acompanham através das sucessivas reencarnações e
formam o ego perverso ou sonhador, dinâmico ou preguiçoso, alegre ou angustiado...
Inevitavelmente, à medida que o ser estuda e se estuda, melhora-se, realizando uma
autopsicoterapia, por eleger o bem ao invés da perturbação e dos sentimentos
inferiores.”i

2. ESPIRITISMO, PSICOLOGIA E A TRANSIÇÃO PLANETÁRIA

Pelo fato de Kardec estimular os espíritas a refletirem sobre o caráter


progressivo da doutrina, devemos nos sentir comprometidos com esse
desenvolvimento, atendendo não apenas ao imperativo do Codificador, mas
principalmente, ao compromisso ante a transição planetária pela qual estamos
passando.

2
KARDEC, Allan. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Rio de Janeiro: FEB, 2009
(jan/1858 – introdução, p. 27).
Para analisarmos essa conexão entre a ciência espírita e as demais ciências,
queremos retomar os períodos das ideias espíritas, crendo que assim poderemos
especificar melhor as diferentes necessidades científicas e suas importantes ligações.
Na conclusão de “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec estabelece três
momentos para as ideias espíritas: “O primeiro, o da curiosidade, provocada pela
singularidade que os fenômenos produzem; o segundo, o do raciocínio e da filosofia;
terceiro, o da aplicação e das consequências. O período da curiosidade já passou,
pois dura pouco tempo e, uma vez satisfeita, muda de objeto. O mesmo não acontece
com o que se dirige ao pensamento sério e ao raciocínio. O segundo período já
começou e o terceiro o seguirá inevitavelmente”3.
Se o momento é o da curiosidade, o ser humano logo vive a necessidade de
averiguação dos fenômenos. Aqui há grande espaço para as pesquisas que buscam a
comprovação científica, seja enfocando a sobrevivência do espírito, a
comunicabilidade com o mundo material ou a reencarnação. Muito utiliza-se dos
instrumentais e conceitos da física, em especial da física quântica. A parapsicologia
tem se debruçado sobre os fenômenos, e os cientistas já produziram grandes avanços
através dos casos de experiências de quase morte (EQM), da transcomunicação
instrumental, entre outros. Não cremos que esse momento esteja ultrapassado e
consolidado, posto que temos encontrado fenômenos cada vez mais sutis e que exigem
estudos e comprovações cada vez mais específicas. Mas queremos ressaltar, que estes
tipos de ciências e estas metodologias exatas de pesquisa, têm como foco esse
primeiro momento das ideias espíritas: os fenômenos.
O segundo período estabelecido por Kardec é o da filosofia e do raciocínio. E
claramente encontramos a conexão com o pensamento filosófico, os estudos sobre o
método, as pesquisas pedagógicas, enfocando a aprendizagem do Espiritismo. Muito
também temos desenvolvido nessa área, aprimorando cada vez mais a forma de
estudarmos e ensinarmos a doutrina. Já temos diretrizes mais acertadas sobre o ensino
das crianças aos idosos, dos iletrados aos pós-graduados, tudo isso, enfocando
apreender os conceitos doutrinários, para, por fim, adentrarmos o terceiro momento -
a vivência desses conceitos.
Este é o terceiro e último momento, e por isso podemos afirmar que é o
objetivo do Espiritismo: suas consequências morais e sua aplicação. Inquieta-nos por
não ser atingido tão facilmente, por não se referir ao simples aprendizado ou
reprodução dos conceitos, mas à incorporação verdadeira dos estudos em nossas vidas.
3
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
Muitos de nós poderíamos discursar perfeitamente sobre o perdão,
apresentando conceitos e orientações que exigem o raciocínio e domínio da oratória.
Somos capazes de orientar as pessoas, aconselhar e querer dirigir-lhes a existência.
Porém, vivenciar esse conhecimento em profundidade, sem máscaras ou
escamoteamentos, seria de uma outra ordem – essa é a dimensão psicológica
essencialmente; esse é o objetivo último do Espiritismo exarado pelo seu Codificador.
Aqui encontramos a necessidade imperativa da conexão com a Psicologia, mas,
além disso, ressaltamos as palavras contundentes de Kardec, em “A Gênese”,
referindo-se a essa nova fase em que o planeta Terra deve adentrar. O grande
diferencial desse novo momento nos mundos de regeneração está diretamente ligado à
esfera emocional quando diz: “não é somente de desenvolver a inteligência o de que
os homens necessitam, mas de elevar os sentimentos”4.
A Psicologia tem nos ensinado que as virtudes não se desenvolvem de fora
para dentro, muito menos que se mantêm através da imposição de comportamentos ou
da anulação dos mesmos. Ninguém se torna humilde assimilando comportamentos de
pessoas humildes, assim como ninguém se torna brando e pacífico “engolindo a raiva”
ou camuflando seu orgulho.
Estes aprendizados são decorrentes dos desdobramentos que a Psicologia
proporcionou ao Espiritismo, e muito nos utilizamos disso sem sequer sabermos de
onde vêm. Identificamos também que o sentimento não se submete às simples
imposições do intelecto, e que ninguém deixa de sentir inveja ou ciúmes porque sabe
que não deveria senti-los – podemos apenas camuflá-los.
Os estudos psicológicos têm oferecido bases cada vez mais profundas e seguras
para o processo de transformação moral, e por isso precisamos nos deter nessa ciência
que não estava à disposição ao tempo de Kardec.
Quando os espíritos luminares respondem ao Codificador que o
autodescobrimento é a forma prática mais eficaz que tem o homem de se melhorar
nessa vida e de não ser arrastado pelo mal, 5 identificamos ali, desde os primórdios da
Doutrina Espírita, a presença latente da Psicologia que ainda viria, para
compreendermos melhor os ensinamentos exarados na codificação. E intuímos que,
possivelmente, os nobres espíritos que respondiam e orientavam a codificação, tinham
domínio da ciência psicológica que ainda não havia aportado no plano material.

4
KARDEC, Allan. A Gênese. Rio de Janeiro: FEB, 2007.
5
Ver questão 919 de O Livro dos Espíritos.
Se o autodescobrimento é buscar aquilo que desconheço em mim e que é
atuado por mim, compreender um pouco mais da Psicologia do Inconsciente torna-se
um verdadeiro compromisso que todos nós, espíritas, podemos ter para com o
Espiritismo, contribuindo para nessa fase de transição planetária.
O espírito Joanna de Ângelis não traz nenhum propósito diferente ao
Espiritismo, sendo extremamente fiel a Kardec e a Jesus. O que a mentora faz é
ampliar o entendimento daquilo que já está posto, aprofundando o olhar a respeito dos
aspectos morais da doutrina.
Mergulhar nesse estudo da dinâmica da alma permite-nos aprofundar nas bases
ainda inacessíveis da doutrina reveladora, mais próximos de sua grandiosidade e
sabedoria, para que penetre no âmago de nosso ser e nos transforme, bem como todos
aqueles que procuram nossas instituições, fazendo dela o verdadeiro Consolador
Prometido.

3. QUALIFICAÇÃO DOS TRABALHOS

Ao nos debruçarmos sobre as demais ciências conforme nos orienta Kardec,


precisamos ter clareza de qual é nossa base doutrinária para compreendermos como as
ciências podem acrescentar às análises espiritistas. A fundamentação, o norte, o foco e
todo o trabalho do Centro Espírita está no Espiritismo. Buscamos as demais ciências
como auxiliares do processo já estabelecido doutrinariamente.
Não podemos nos enganar de que as ciências de diferentes áreas estejam fora
da Casa Espírita. Elas fazem parte de nossas ações por estarem diretamente ligadas a
vivência do cotidiano, da vida em sociedade, a exemplo da interface Espiritismo e
Ecologia, nos conduzindo à reflexões sobre o homem e o meio ambiente, ou de todo
trabalho desenvolvido pelas Associações Médico-Espíritas, repercutindo em uma
maior compreensão a respeito do fenômeno saúde-doença.
Além disso, encontramos nas ciências convergentes desdobramentos teóricos,
instrumentos metodológicos e orientações específicas que dão maior consistência e
precisão às práticas doutrinárias. Um palestrante que seja doutrinariamente correto,
mas sem mínimas noções da técnica expositiva transformará seu discurso em algo
entediante, cansativo e desestimulante aos presentes. Entretanto, se essa mesma pessoa
organizar uma apresentação didaticamente bem elaborada, com recursos áudio-visuais
adequados, postura e domínio da oratória, certamente conseguirá apresentar a Doutrina
Espírita de forma brilhante.
Nenhuma dessas técnicas é encontrada nas obras kardequianas, afinal o
objetivo do Codificador era de apresentar a teoria espírita. Nem por isso, devemos nos
privar desses conhecimentos sobre oratória ou informática, sob o risco de prejudicar as
atividades doutrinárias.
Estudamos Pedagogia para melhor elaborar o ensino a ser ministrado às
crianças e compreender o seu desenvolvimento. Como trabalhamos com crianças e
adultos, precisamos compreender o processo de aprendizagem de cada faixa etária.
Exemplo claro dessa falta de conhecimento, é o fato de alguns evangelizadores
desinformados ainda tratarem a criança como um adulto em miniatura, exigindo dela
habilidades intelectuais que não possui em decorrência do seu estágio de
desenvolvimento neurológico e/ou moral. Por isso, muitas vezes, não conseguem obter
resultados significativos e impedem que a doutrina alcance seus objetivos, gerando
superficialidade de aprendizado, quando não, a evasão do aprendiz. E isso não
acontece pela precariedade da Doutrina Espírita, e sim, pela falta de preparo técnico
por parte do evangelizador, que ainda não aprendeu a trabalhar de modo efetivo com
crianças pequenas.
O mesmo raciocínio se aplica àqueles que pretendessem inserir uma “educação
livresca”, exigindo que as pessoas do grupo de estudo, chamados de “alunos”,
decorem a “matéria”, por acreditarem ser a melhor forma de desenvolver a
aprendizagem. Sendo assim, verificamos que quanto mais estudamos as ciências
pedagógicas, mais efetivos somos nesse processo.
Muito temos estudado sobre a Assistência Social no movimento espírita.
Fazemos, e devemos assim proceder, para compreendermos melhor a condição social
dos assistidos e melhor executarmos nossas atividades com essa população.
Compreendendo sobre os tipos de assistências, poderemos distinguir aqueles que mais
efetivamente beneficiam os necessitados, daquelas práticas ineficazes para os dias
atuais. Agindo assim, promovemos a união entre a ciência atual e o Espiritismo,
conforme a orientação kardequiana. O grande cientista antevia que se assim não
fossemos capazes de agir, ficaríamos ultrapassados como determinadas religiões que
permaneceram fechadas em si, e hoje, se mostram obsoletas pelo desenvolvimento do
homem moderno.
Se a meta do Espiritismo é conduzir a humanidade na senda da evolução, numa
mudança efetiva de comportamento, devemos estar profundamente contectados aos
estudos psicológicos. Afinal, não há o que chegue ao comportamento que não passe
pela psique. Destrinchar esse processo é trabalho da Psicologia.
Então, os estudos psicológicos servem para compreendermos o comportamento
humano, da criança ao idoso, em suas dimensões de saúde e doença mental, bem como
as relações e seus entraves, seu processo de desenvolvimento moral.
O Espiritismo nos proporciona claramente o direcionamento da vida,
estimulando os homens a uma meta que é a pureza do ser, a integração com Deus e
suas Leis. A Psicologia, que tem por objeto de estudo a psique, oferece ao Espiritismo,
meios que o auxiliam a alcançar seus resultados de maneira mais eficaz.
A prática da Psicologia é exclusiva dos psicólogos, por terem uma formação
específica, assim como, lecionar parao Ensino Fundamental,exige uma graduação
apropriada, e também para se atuar profissionalmente na Assistência Social.
Não podemos confundir, em hipótese alguma, as atividades da Casa Espírita.
Embora estudemos Pedagogia para trabalhar melhor nossas crianças, jamais o objetivo
de uma instituição kardecista poderá ser a docência do Ensino Regular, assim como as
atividades da assistência social não visam substituir ou competir com a atuação
governamental. Não somos profissionais da área, e já foi há muito, o tempo em que as
instituições religiosas se organizavam para oferecer o mínimo às suas comunidades,
porque o governo não oferecia os recursos necessários para a sobrevivência de muitos
homens.
Desejar igualar o Espiritismo à prática da psicoterapia é um grande equívoco,
igualmente ao do psicoterapeuta que prega o Espiritismo em seu ofício. Cada prática
tem seu lugar.
O que aprendemos com Joanna é que o Centro Espírita deve ser considerado
um hospital de almas. Portanto, é um espaço terapêutico, no qual oferecemos valiosas
contribuições para o reequilíbrio da criatura humana açodada por todos os tipos de
aflições. “Em razão da sua finalidade precípua, que é libertar os assistentes da
ignorância da sua realidade, as realizações doutrinárias caracterizam-se como
psicoterapias valiosas”. Entretanto, mais a frente esclarece: “O cuidado deverá ser
em não o transformar em uma clínica psicológica ou que faculte a aplicação de
terapias alternativas, afastando-o dos objetivos espirituais para os quais foi criado
esse núcleo de amor e de ação caridosa quão fraternal.”ii
Precisamos de coordenadores de estudo que sejam verdadeiramente espíritas.
Contudo, para compreenderem e melhor divulgarem os conhecimentos oferecidos pela
mentora Joanna de Ângelis, melhor será que essas pessoas se dediquem ao estudo da
Psicologia, mesmo que superficialmente. Da mesma forma que para estudar alguns
textos do Espírito André Luiz, o indivíduo não há de ser médico, porém seria
importante para a compreensão de alguns capítulos, ter conhecimento sobre Medicina,
sob o risco de não se compreender a mensagem o autor espiritual por completo.
Temos certeza de que o Espiritismo só teve a abrangência, a solidez e a
seriedade que admiramos porque Kardec teve o discernimento e a coragem de
harmonizar os novos estudos da alma às abordagens científicas da época – e por que
nós, atualmente deixaríamos de seguir seu exemplo?

4. PSICOLOGIA NA CASA ESPÍRITA?

O encontro entre Psicologia e Espiritismo é um convite para o Movimento


Espírita iniciar novos tempos, de maior qualificação e aperfeiçoamento na sua forma
de trabalho. O convite não é apenas para maior qualidade técnica das tarefas, mas
também para uma maior qualidade em termos teóricos, compreendendo o ser humano
e a Doutrina Espírita por vieses ainda não estabelecidos, pautados na dimensão do
homem integral.
Não pense o leitor desavisado que ao estimularmos o estudo das emoções na
Casa Espírita estamos nos contrapondo a qualquer estudo já realizado, ou exigindo
uma nova estrutura doutrinária. Isso seria um grande equívoco.
Para compreendermos essa intenção vemos como exemplo o estudo da
parábola do Filho Pródigo. Todos sabem que o evangelho de Jesus é um grande norte
para a humanidade, e essa parábola nos faz pensar sobre as buscas exteriores, sobre os
prazeres imediatos e principalmente sobre o Pai amoroso e bom que temos. Mas essa
mesma passagem, interpretada pelo viés psicológico e espírita oferecido por Joanna de
Ângelis (Espírito), na obra Em busca da Verdade, psicografada por Divaldo P. Franco,
ganha uma amplitude inigualável. Qualquer um que se detenha nessa obra perceberá o
quanto os conceitos psicológicos como persona, sombra, ego e Self nos colocam em
contato com a parábola, fazendo-nos perceber dimensões do comportamento humano,
pouco compreendidas. E mais, nos permitem enxergar as atitudes de cada pessoa por
um ângulo diferenciado, menos literal, mais dinâmico e, por consequência, mais fácil
de ser interiorizada.
Quando a mentora se utiliza de conceitos psicológicos em suas obras, ela as
destina a um público que deseja estudar. Seu gênero de escrita é para o leitor que
realmente quer adentrar nos labirintos do comportamento humano. Não estamos aqui
estabelecendo qualquer hierarquia entre os diferentes gêneros da literatura espírita,
mas explicitando as diferenças. Para a leitura de uma poesia é preciso um exercício do
sentir, pois as palavras não ganham sentido pela pura cognição, e sim pela
sensibilidade. Não tem por objetivo tocar a inteligência do homem, senão, sua alma.
Se tentarmos dialogar com um texto poético de maneira rígida e sistemática,
acharemos a poesia uma perda de tempo.
Assim acontece com o gênero da escrita que exige estudo. Se desejarmos ler
como alguém que se delicia com um romance, certamente muito pouco
compreenderemos, acusando o autor de ser “difícil” ou complexo demais.
Toda proposta inovadora vivencia certa resistência pela dificuldade de
compreensão imediata. Isso aconteceu com a própria doutrina que, à medida que foi se
esclarecendo, que seus estudantes foram se empenhando nesse aprendizado, mais
acessível foi se tornando as demais e maior amplitude social ela obteve. Cremos que
isso acontecerá em todos os vieses específicos de análise da Doutrina Espírita. Haverá
um impacto inicial, para logo mais ser dissolvido, na justa medida em que seus
estudantes se empenharem para sair da superficialidade e adentrarem nas profundezas
da alma.
As obras de Joanna de Ângelis exigem pesquisas complementares, não apenas
do vocabulário da língua portuguesa, mas principalmente das ciências humanas. Ao
longo de seus trabalhos, a mentora foi progressivamente se aprofundando nas questões
psicológicas e psiquiátricas, exigindo assim do leitor interessado, um estudo
particularizado.
Sendo assim, um espírita que também seja psicólogo e tenha estudado
Psicologia Profunda, terá, provavelmente, mais facilidade para compreender
determinados textos. Mas o pré-requisito não está em ser psicólogo. O requisito para
bem compreender a mensagem, é a noção de determinados conceitos psicológicos.
A Psicologia não é assunto exclusivo dos psicólogos, assim como a educação
não é assunto exclusivo dos pedagogos. Esses conhecimentos permitem a todos
independente da formação profissional, ir além, em matéria de conduta humana.
Vejamos um exemplo: fixados nos conceitos morais, sabemos que não
devemos ser conduzidos por nossos impulsos sexuais. Talvez nem todas as
perspectivas psicológicas concordem com isso, e outras até estimulem a sexualidade
sem maiores critérios. O Espiritismo nos deixa muito claro qual é a meta. Porém, há
mais de cem anos, Freud estudando o inconsciente ofereceu ao mundo a brilhante
conclusão de que reprimir os impulsos sexuais não significa eliminá-los, muito menos,
equilibrá-los, afinal estes continuam influenciando o comportamento humano de
maneira sorrateira, gerando sintomas e constrangimentos aparentemente de outra
ordem. Percebemos que Freud não nos deu o direcionamento de como viver a
sexualidade de maneira harmoniosa conforme entende o Espiritismo. Foi a doutrina
consoladora que nos apresentou didaticamente as Leis Morais e estabeleceu esse
direcionamento seguro para a felicidade. No entanto, a psicanálise nos esclareceu
formasde nos aproximarmos desse objetivo, falando-nos da sublimação que é diferente
da repressão.
O grande psicanalista nos ofereceu, dessa maneira, diretrizes e esclarecimentos
para que o verdadeiro espírita possa usar a seu favor. Sem o conhecimento do
inconsciente, da dinâmica da psique e do desenvolvimento da libido, ainda estaríamos
presos aos dogmas proibitivos, crendo-nos resolvidos em determinado tema, sem
termos a menor noção dos prejuízos futuros que geramos para nós mesmos.
A psicanálise, nesse aspecto, por estudar o ser humano, trouxe luz sobre esse e
vários outros temas doutrinários, sem exigir que sejamos psicanalistas, porém sem
descartar a necessidade de noções mínimas de psicanálise, para usufruirmos dos
conhecimentos doutrinários em sua essência.
Como lidar com os sentimentos, como auxiliar as pessoas no processo de
transformação moral – objetivo último do Espiritismo – sem o conhecimento do
funcionamento emocional e psicológico?
O Evangelho já elucidou, por exemplo, os prejuízos da culpa. A Psicologia,
contudo, aliada ao Espiritismo, vem esclarecer que a culpa prejudicial que estagna o
indivíduo é narcísica, ou seja, é orgulhosa por se colocar no centro de tudo e não
cogitar a possibilidade de ignorância ou erro. O Evangelho fala da necessidade de se
tolerar as pessoas, mas a Psicologia em comunhão com a Doutrina Espírita ensina que
primeiro é preciso entender-se interiormente, identificar a nascente do incômodo
pessoal e tomar consciência das próprias imperfeições. Somente assim, o indivíduo
será capaz de tolerar os outros. O Evangelho ensina as pessoas a serem caridosas, mas
quando o Espiritismo se soma a Psicologia, tornam-se capazes de identificar em si, a
possibilidade de diferentes intenções por trás do comportamento aparentemente
caridoso, entre elas, o orgulho e o egoísmo. Aprendem que, primeiro é necessário
combater estes sentimentos para vivenciar a verdadeira caridade.
O ser humano é extremamente profundo e complexo, e o movimento espírita
precisa buscar, cada vez mais, recursos para esta compreensão pessoal e coletiva. Até
o momento presente, a Psicologia tem se apresentado como uma das principais pontes
para que a doutrina cumpra sua meta. Não apresenta nenhum caminho novo, ou impõe
determinada forma de trabalho, mas pode ser, quando utilizada de maneira ética, um
importante recurso de autodescobrimento, levando o sujeito ao verdadeiro encontro
consigo mesmo
Em entrevista concedida em maio de 2000, em New York, Divaldo afirma que
a nova perspectiva de Joanna de Ângelis com sua obra, é a de criar uma mentalidade
capaz de não ficar apenas nos teoremas doutrinários, mas nas soluções
comportamentais. Retirar o movimento espírita, que está encarcerado nas Casas
Espíritas, para equacionar os problemas da criatura onde a mesma estiver. Levar a
mensagem para mudar o mundo, através da mudança social, moral, econômica, porque
- conforme Kardec - o Espiritismo está atrelado a todos os ramos da ciência, não
apenas da ética moral da filosofia, mas também da psiquiatria, do comércio, da
indústria, dos relacionamentos humanos, dos direitos humanos. E lança um desafio:
colocarmos as bases da doutrina no pensamento social para mudar a sociedade.

5. CUIDADOS E PONDERAÇÕES

5.1 Grupo de Estudo ou Grupo de Psicoterapia?

No meio espírita, existe o receio, por parte de certas pessoas, deque os grupos
de estudo se transformem em grupos de psicoterapia. Em geral, essa preocupação se
dá pelo desconhecimento das características desses dois tipos de grupos, acreditando-
se que em qualquer grupo onde as pessoas falem de suas vidas, fosse configurar uma
psicoterapia de grupo.
Acreditamos que, parte desse desconhecimento se dê porque os grupos de
estudo da Doutrina Espírita tem um caráter terapêutico, e temos dificuldade em
diferenciar o que seja uma prática psicoterapêutica e o que seja a psicoterapia
enquanto prática profissional.
Dizer que os grupos de estudos doutrinários tenham um caráter terapêutico, não
os iguala a um grupo de psicoterapia, porque são caminhos e técnicas completamente
diferentes, com objetivos diferentes. As atividades da Casa Espírita auxiliam
efetivamente as pessoas a viver melhor, administrar seus problemas sob uma ótica
diferenciada - a espiritual -, aceitar suas dores com mais consciência e resignação,
terfé no futuro, entre tantos outros benefícios que a doutrina proporciona. Os grupos
devem ser classificados, porque produzem uma mudança positiva na vida de seus
participantes. Se não transformassem o homem para melhor, não haveria sentido de
existirem.
Já sabemos que o objetivo do Espiritismo é a transformação moral do homem,
conforme apresentado na conclusão de O Livro dos Espíritos. Logo, todas as
atividades de uma Casa Espírita precisam convergir para esse mesmo fim, levando o
homem a viver melhor consigo, com seu próximo e com Deus, e por isso são
psicoterapêuticas.
Já a psicoterapia é um trabalho diferente, em especial, desenvolvido por
psicólogos. Só pode ser realizada por pessoas formadas por uma instituição
reconhecida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC), e sua prática profissional é
regida e orientada por um conselho de classe – neste caso, o Conselho Federal de
Psicologia (CFP) e suas regionais. Essa instituição a qual todas as práticas
profissionais dos psicológicos estão submetidas estabelece que, ao psicólogo é vetado
induzir convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação
sexual ou qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções
profissionais.6
O Conselho de Psicologia argumenta que a natureza da instituição não
determina a natureza do trabalho. Mas o que mais pretendemos ressaltar é que,
independente disso, quando o Centro Espírita destina sua atenção às outras atividades,
sejam elas psicológicas, médicas, sociais, certamente está deixando de atender à
própria doutrina. Quando deixamos de falar de Espiritismo para realizar um
atendimento psicológico, por exemplo, certamente não estamos fazendo uma troca
com saldo positivo, afinal o psicólogo não falará da doutrina em nosso lugar.
Além disso, é importante ressaltar, que a psicoterapia é um trabalho profundo
que ocorre dentro de um contexto específico, o qual precisa ser considerado para que
seus resultados sejam alcançados. Entre eles, lembramos a questão dos estudos e
supervisões constantes, do ambiente, do pagamento, da continuidade, do vínculo
transferencial e contratransferencial.
Existem ainda outros importantes elementos de diferenciação entre um grupo
de estudo e um grupo de terapia: o foco, o embasamento teórico e a intervenção.

a) Foco

6
Código de Ética do Psicólogo - Artigo 2, item b.
O foco de um grupo de estudo é a Doutrina Espírita. O foco de um grupo de
psicoterapia é a experiência de vida dos seus participantes.
Os dois podem proporcionar uma vida mais saudável a seus membros. Mas,
enquanto o grupo de estudos parte dos conteúdos doutrinários, para levar os sujeitos a
refletirem sobre suas vidas e modificá-las dentro de suas possibilidades, a psicoterapia
parte das vivências e dos elementos pessoais dos terapeutizandos, não se atendo a
qualquer conteúdo específico ou doutrinário.
Superficialmente essas duas abordagens podem até parecer próximas, mas na
prática, são completamente diferentes – basta um olhar mais profundo.
Nos grupos de estudos temos um programa a seguir, com temas específicos,
didaticamente construídos e orientados para cada encontro, com bibliografia a ser
estudada pelo coordenador e pelos participantes. Além disso, temos um objetivo muito
claro: estudar aquele conteúdo de modo que seus integrantes consigam estudar a si
mesmos, e transformar suas vidas para melhor a partir do que estão aprendendo.
Já em um grupo de psicoterapia, o profissional sempre terá como foco o que os
pacientes desejarem para aquela sessão, seus conteúdos, suas vivências. A partir daí,
dará início ao trabalho de análise, fazendo-os pensar sobre esse ou aquele aspecto que
estão evidenciando, favorecendo a tomada de consciência de seus padrões de
funcionamento e de suas posturas geradoras de sofrimento. Nessa situação, não se
utiliza de uma doutrina religiosa que se preocupa em oferecer diretrizes para a conduta
humana, e sim, da análise do próprio comportamento em si, onde cada sujeito é visto
como único.
Não é uma mera conversa, nem um grupo de desabafo ou de simples
aconselhamentos. O analista se utiliza de técnicas específicas, posturas, olhares e
análises que diferem de um diálogo cotidiano. Há uma vasta bibliografia, de diferentes
linhas de abordagens psicológicas, estabelecendo práticas e condutas profissionais que
tornam um encontro grupal em uma psicoterapia de grupo.

b) Embasamento teórico

Embora em um grupo de estudos de autodescobrimento, possamos estudar


conceitos junguianos como persona ou sombra, esse seria um estudo doutrinário com
o objetivo de se compreender o ser humano e, consequentemente, habilitar-se à
vivência do Espiritismo. Não estudamos as teorias psicológicas por si, como em um
curso de Psicologia. Nós espíritas, aprendemos com Joanna de Ângelis, utilizara
Psicologia como auxílio para analisarmos melhor nossas próprias vidas, e nos
trabalharmos interiormente. Se conceitos psicológicos como ego e Self são utilizados
para análise doutrinária, precisamos entendê-los como instrumentos para desdobrar o
entendimento que já está posto pela Doutrina Espírita. Estes conceitos nos permitem
uma análise por um ângulo específico, mas não visamos o estudo da teoria em si. Cada
membro do grupo tem seu trabalho pessoal de conectar o que está sendo estudado com
a sua própria vida, repensando suas atitudes para um comportamento mais saudável.
Por outro lado, na psicoterapia a teoria psicológica não é apresentada para seus
participantes, tão pouco se faz necessário que os entendam ou estudem. O
conhecimento é a base da qual se utiliza o psicólogo para compreender o
funcionamento das pessoas, e intervir de modo específico nesse funcionamento,
auxiliando no processo de tomada de consciência. Isso está diretamente ligado ao que
chamamos de tipo de intervenção ou manejo.

c) Intervenção

Em um grupo de estudos não fazemos intervenções psicológicas. Os


participantes podem até falar de suas vidas, mas como não temos uma avaliação
precisa do sujeito [diagnóstico], não sabemos da situação atual, e temos consciência de
que aquilo que a pessoa fala é apenas uma versão de toda a história ou problema, é
preciso nos abster de qualquer comentário específico ou aconselhamento.
Se nosso objetivo é apresentar a doutrina para que os participantes reflitam
sobre sua própria vida, cabe ao coordenador apresentar os conceitos doutrinários e
esclarecer aqueles que não estão conseguindo bem compreender o conceito
doutrinário. Também acreditamos ser tarefa do coordenador, proporcionar reflexões
através de uma boa didática, de vivências pedagógicas, para que os participantes
consigam extrapolar os conceitos doutrinários para suas próprias vidas.
Em um grupo de estudos sobre perdão, por exemplo, jamais o coordenador do
estudo poderá analisar o comportamento do participante para lhe dizer o que ele deve
fazer para perdoar, muito menos tentar identificar suas resistências ou mecanismos de
defesa, para favorecer seu desenvolvimento emocional. Ele não é habilitado
tecnicamente para isso, e mesmo que fosse não seria o local, o momento, o enfoque e a
proposta, incorrendo numa falta ética.
É preciso compreender que se um psicólogo faz algum tipo de intervenção, ou
mesmo um aconselhamento, seja na psicoterapia individual ou em grupo, ele não a faz
aleatoriamente, por “achismo” ou suposição.
Em geral, o psicólogo faz uma análise da personalidade do sujeito.
Tecnicamente chamamos de diagnóstico. Existem muitas formas de diagnósticos, seja
através da estrutura da personalidade, dos mitos, tipos psicológicos junguianos,
sintomas clínicos, forma de funcionamento. Independente de qual linha teórica e qual
prática se apóia, toda atitude de um psicólogo frente a seu paciente está fundamentada
em um diagnóstico específico.
A partir desse diagnóstico ele vai definindo a forma de relacionar-se com seu
paciente, o que falar ou não falar, como direcioná-lo e auxiliá-lo, pois cada pessoa é
única, e o que pode dar certo para uma não necessariamente dará para outra. É preciso
fazer uma análise do momento de vida, da constituição egoica, dos mecanismos de
defesa, entre tantos outros detalhes que precisam ser analisados, para que então o
psicólogo possa se posicionar com segurança. As perguntas que se faz, as posturas
que se têm, se “acelera” ou “freia”, se “esquenta” ou “esfria”, são pautadas nisso. Para
algumas pessoas perguntamos: “O que você está sentindo” e para outras: “O que você
está pensando?”
Cada pergunta, questionamento, confronto, orientação ou sugestão está
fundamentado numa compreensão psicológica do sujeito. Uma pessoa com transtorno
de personalidade, outra com perfil ansioso, outra histérica e outra que seja psicótica
serão manejadas de maneira completamente diferente.

5.2 O coordenador

Em um grupo de estudos, mesmo sendo coordenado por um psicólogo, jamais


este profissional deverá estar ali imbuído dessa persona profissional. Sua função no
grupo não é fazer qualquer tipo de diagnóstico, orientação ou intervenção
psicoterapêutica – seria um desrespeito à sua profissão e principalmente à Casa
Espírita.
Por isso, afirmamos justamente o oposto do que a maioria pensa: ter um
psicólogo coordenando um grupo de estudos é algo bastante delicado, pois exigirá dele
muita atenção e cuidado para que não confunda seus papéis, comprometendo o
resultado final.
Se detectarmos que as pessoas precisam de psicoterapia, devemos sugerir que
procurem esse tipo de serviço, assim como sugerimos para alguém com queixa
habitual de dor de cabeça durante o Atendimento Fraterno, que consulte um
neurologista.
Existem espíritas que não são psicólogos, mas gostariam de ser. Outros que
acreditam que “nasceram para isso”, mas não se deram a oportunidade de cursar uma
faculdade de Psicologia. E outros que cursaram, mas não conseguiram se estabelecer
no mercado de trabalho. Temos observado que algumas dessas pessoas tentam realizar
seus sonhos ou desejos fantasiosos, coordenando grupos de estudo de cunho
psicológico, ou sendo voluntário no Atendimento Fraterno. Isso é um grande engano.
Já vimos outros, que fizeram algum tipo de pós-graduação na área de Psicologia,
sendo de outras áreas, e que expressaram claramente o desejo de “se sentirem um
pouco psicólogos” ministrando aulas de Psicologia na Casa Espírita ou facilitando
grupos. Se há questões pessoais para serem resolvidas, elas devem ser solucionadas
procurando um psicoterapeuta, mas sem envolver, usar ou colocar em risco as tarefas
espíritas.
A Psicologia enquanto prática é uma profissão que pode ser buscada por todos
que a desejarem, mas sem o objetivo de se identificar nos estudos psicológicos de
Joanna de Ângelis uma brecha para “exercer essa questão mal resolvida”. Todos que
estão à frente de um grupo de estudos na Casa Espírita, o fazem para promover o
conhecimento e a vivência doutrinária. A abordagem psicológica que Joanna de
Ângelis propõe é apenas um viés dentro do Espiritismo, e jamais podemos confundir
com a prática profissional no Centro Espírita.
Outro grande equívoco, seria pensar que um psicólogo, apenas por ter
significativo conhecimento da Psicologia Analítica, pudesse assumir um grupo de
estudos na Casa Espírita só por sua habilitação profissional. Um ótimo psicólogo está
habilitado a fazer psicoterapia ou dar aula de Psicologia, e apenas um ótimo espírita
está habilitado a coordenar um grupo de estudos sobre Espiritismo. Por isso,
decidimos relacionar algumas exigências que acreditamos serem mínimas para
coordenar esse tipo de grupo:

a) Conhecimento doutrinário: precisamos mais uma vez reforçar que os


estudos psicológicos de Joanna de Ângelis são um viés da Doutrina Espírita.
Na prática não há grandes diferenciações, pois o que se deve estudar em todos
os grupos de estudo de uma instituição kardecista é o Espiritismo. Alguns
estudam num viés filosófico, outros, pedagógico, médico ou psicológico. Mas
todos estudam a Doutrina Espírita, e por isso, não há como coordenar qualquer
grupo de estudos sem sólido conhecimento doutrinário, principalmente quando
nos referimos a grupos com vieses específicos, que por isso mesmo, tornam-se
um complicador a mais. Se a Psicologia torna-se um enfoque pelo qual se
analisa a doutrina, não há como coordenar um estudo sem intimidade com os
ensinamentos espíritas, sob o risco de termos apenas um grupo de Psicologia, e
nesse sentido, não haveria motivo para estar numa Casa Espírita. O foco, o
objeto e a finalidade são a divulgação e a vivência doutrinária. Todos nós então
precisamos beber dessa fonte para conseguirmos analisá-las por essas
diferentes facetas, e apresentá-las aos estudantes do Espiritismo com muito
comprometimento. Se a leitura das obras básicas já é um requisito difícil de ser
atendido por muitos, imaginemos o estudo sério e dedicado. Verificamos que
nosso movimento espírita é carente de pessoas que realmente estudem Allan
Kardec, que entendam e tenham habilidade para transitar pelos conceitos,
podendo explorá-los e aplicá-los à vida com precisão. Seria uma
irresponsabilidade debruçar-se sobre qualquer viés, sem antes absorver a
essência de maneira clara. Não há como pensar que alguém tome a frente de
um grupo de estudos da Doutrina Espírita sem conhecimento solidificado dessa
doutrina. O Espiritismo, ao mesmo tempo em que é simples e consolador,
também é complexo devido aos novos conceitos que instiga.

b) Experiência em coordenação de grupos de estudos: para toda atividade


institucional há sempre uma preparação ou pré-requisitos a serem
atendidos. Na instituição espírita não poderia ser diferente. Coordenar
adequadamente um grupo de estudos é uma das tarefas mais complexas ao
nosso alcance, pois não se constitui em simples tarefa de exposição
doutrinária. O coordenador precisa ter conhecimento vasto do conteúdo
exposto, atentar-se ao processo grupal, mediar relações, motivar pessoas e
acima de tudo, apresentar a doutrina de modo encantador para que as
pessoas a vivencie e se modifiquem interiormente. Sem contar a presença
de pessoas que tumultuam o grupo, falam demais e quase não deixam
espaço para os colegas e coordenador. Ainda temos os exaltados, os
críticos, os pessimistas, entre tantas figuras que precisam ser manejadas
adequadamentepara não serem excluídas, por também precisarem da
doutrina em suas vidas. Preferimos então orientar que, para coordenar um
grupo de estudos com viés psicológico, seria ideal que primeiramente a
pessoa tenha experiência em coordenação de grupos de estudos, transitando
confortavelmente pelos conceitos espíritas e pela didática, para que, a partir
daí possa empreender um desafio maior que é o de coordenar um grupo de
estudos com um viés específico.

c) Conhecimento específico: se em um extremo estão os que creem que


seria preciso uma habilitação profissional em Psicologia, para se coordenar um
grupo de estudo das obras de Joanna de Ângelis, em outro extremo, também
equivocados, estão aqueles que se aventuram pela tarefa sem noções básicas e
certos conhecimentos específicos das abordagens psicológicas – em especial,
da Psicologia Analítica de C. G. Jung7. A pessoa que está à frente de um grupo
de estudos com abordagem dos conceitos psicológicos junguianos, como faz o
Espírito Joanna de Ângelis, precisa ter estudo sobre Psicologia Analítica. Não
há obrigatoriedade da presença de um psicólogo, até porque como na
Psicologia há muitas linhas teóricas diferentes, podemos encontrar inúmeros
psicólogos que nada compreendem de inconsciente coletivo, repressão,
arquétipos ou interpretação de sonhos. Mas há sim, a necessidade de
comprometimento com a Psicologia, por parte do coordenador, no sentido de
entender minimamente os conceitos para levar seu grupo a entender
profundamente o Espiritismo para que modifiquem suas vidas, sem deturpar a
Psicologia e principalmente, a própria doutrina dos espíritos.

5.3 E quando os participantes falam de suas vidas?

Muitos coordenadores de grupos de estudo espíritas têm receio de que seus


participantes adentrem questões pessoais e falem de suas vidas. Isso é uma questão
específica e que não tem nada a ver com os grupos de estudo das obras de Joanna de
Ângelis. Isso estaria muito mais ligado à didática, ao vínculo do grupo com o
coordenador e àsua postura de acolhimento, do que ao tema propriamente dito.
7
Foi com intuito de facilitar o acesso e a compreensão de determinados conceitos da
Psicologia Transpessoal e da Psicologia Analítica que o Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de
Ângelis escreveu, até o momento, duas obras: “Refletindo a Alma: a psicologia espírita de Joanna de
Ângelis” (2011) e “Espelhos da Alma: uma jornada terapêutica” (2014), conciliando os textos
fundamentais do Espiritismo, com as obras de Joanna de Ângelis e com as referências da Psicologia.
A Doutrina Espírita veio para nossas vidas, para o cotidiano, para a superação
pessoal. Isso já está estabelecido desde o início por Kardec. É natural e saudável que
ao estudar a doutrina, as pessoas desejem falar de suas vidas, fazendo essas conexões
que são importantíssimas para que o Espiritismo cumpra com seu papel de regenerador
de nossa sociedade. Problema seria se em um grupo de estudos as pessoas falassem da
vida dos demais, analisando a sociedade, os problemas do mundo, com vãs filosofias
ou pensamentos vazios, sem se enxergarem como parte desse mundo. Problema seria,
estar numa palestra ou grupo de estudo e ficar pensando que o marido ou o filho
deveriam estar ali, ou fazer o evangelho no lar e analisar a vida dos outros e suas
necessidades de mudanças, sem se perceber em relação ao tema.
Se a doutrina veio para mudar nossas vidas – posturas, relações e
comportamentos –, é mais que natural querermos falar desses temas ou assuntos no
grupo de estudo. É preciso pensar, que certas pessoas têm o grupo de estudo como
único espaço para falarem de suas vidas e refletirem sob a ótica espiritual. Muitos
vivem em contextos onde a espiritualidade não é aceita, em famílias com diferenças
religiosas. Outros vivem rotinas adoecidas, estressantes, onde o único momento que
encontram para pensar sobre a própria vida é aquele - no grupo de estudos, uma vez
por semana. Atualmente é enorme o número de pessoas que não desligam o celular um
minuto sequer, não conseguem ficar em silêncio, não se desligam dos problemas, e
quando estão no grupo de estudos conseguem, mesmo que por pouco tempo,
conectarem-se consigo mesmas. Por isso reforçamos que devemos incentivar
este“olhar para dentro”, sem medo, tendo a certeza de que estamos contribuindo para
um mundo melhor.
A partir desses aspectos analisados até aqui, podemos afirmar categoricamente
que todos os grupos espíritas deveriam criar espaços para as pessoas falarem de si e se
analisarem. Não está aí o problema, e sim na forma como lidamos com esse tema. Por
isso, queremos ressaltar e refletir sobre dois aspectos importantes: a postura do
coordenador e os conteúdos trazidos pelos participantes.

a) A postura do coordenador: é essencial frente a uma pessoa que fala de sua


vida. Quando o coordenador quer, ou aceita o desejo dos participantes de fazer
do grupo de estudos uma pseudo-psicoterapia grupal, cai em grande equívoco.
As pessoas podem compartilhar seus insights, aquilo que estão pensando, as
questões que o tema propicia refletir. Não é o fato de falarem de suas vidas que
transforma um grupo em psicoterapia ou não. O elemento principal está ligado
ao manejo do coordenador. Vejamos um exemplo concreto: se estamos
estudando sobre a cólera, em O Evangelho Segundo o Espiritismo 8, e
questionamos quando os participantes sentem cólera, essa reflexão será muito
oportuna. Inúmeras pessoas têm adoecido fisicamente por não perceberem suas
emoções. Pensar sobre elas, poderá auxiliar em muito as pessoas a viverem
melhor. Talvez os participantes compartilhem aquilo que lhes deixam com
raiva, ou o que fazem quando estão com raiva. Isso é natural que aconteça, e
pode ser muito produtivo, na medida em que as pessoas estão refletindo sobre
si, em vez de perderem tempo “cuidando” da vida alheia. Estamos no grupo de
estudo para nos trabalharmos interiormente, e não para virarmos experts no
julgamento de nossos irmãos. Se o texto analisado leva-nos a essas reflexões,
isso é algo maravilhoso em nossas vidas. A doutrina está cumprindo com seu
objetivo através de nosso trabalho. Se a partir do compartilhamento de alguém,
outro conseguir tomar consciência de si será ainda mais maravilhoso,pois a
experiência de uns estará ajudando outros. Isso é muito bonito. É a Doutrina
Espírita efetivamente mudando vidas. Mas se o coordenador, a partir daqueles
conteúdos, desejar se intrometer na vida do participante, dizendo o que ele
deve fazer e como deve agir, estará “tentando” fazer uma terapia. Lembremos
que o grupo de estudo é focado no conteúdo doutrinário. Quando alguém nos
traz um elemento de sua vida ou mesmo uma pergunta sobre como deveria
agir, como coordenadores sempre deveremosquestionar: “E o que o texto está
nos dizendo sobre isso que você traz?” Caso o texto não diga nada, nada
falaremos, pois nossa função ali é de porta-voz da doutrina, e não de oráculo
ou guru dos participantes. O foco é na teoria, e não na vida da pessoa.

b) Os conteúdos trazidos pelos participantes: ressaltamos três situações


específicas. A primeira é quando alguém fala de conteúdos da sua vida que não
estão ligados ao tema. A segunda refere-se às pessoas que falam demais no
grupo. E a última, quando algum participante deseja revelar situações de sua
intimidade.
 Se alguém nos traz depoimentos de sua vida que não estão ligados
ao tema, devemos ouvir em uma primeira vez, afinal é bem possível
que aquela pessoa precise desabafar naquele momento. Jesus
anunciou:“Venha a mim todos os que estão aflitos e
8
KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: FEB, 2007.
sobrecarregados e eu vos aliviarei”. Não precisaremos nesse
primeiro momento interrompe-la. Mais do que isso, precisamos
estimular o acolhimento e a compreensão por parte do grupo, pois
qualquer um de nós poderia estar naquela situação difícil e
precisando de alguém que nos ouvisse. Mesmo que o conteúdo do
dia fique comprometido, mesmo que alguns participantes não se
interessem pela vida dos outros, ouvir é uma grande caridade a ser
praticada, sob o risco de agirmos de forma contrária a tudo aquilo
que a doutrina nos ensina. Contudo, se aquela mesma pessoa quiser
utilizar-se de mais de uma oportunidade para desabafar sobre o
mesmo assunto, precisaremos sim desta vez, delicadamente
intervir.Neste caso, já não estaremos diante de uma catarse
necessária, e sim, de uma problemática psicológica que o grupo não
poderá auxiliar. Certamente que, como coordenadores, precisaremos
de muito tato para auxiliar essa pessoa a procurar uma ajuda
profissional. Sua repetição do relato evidencia que algo precisa ser
elaborado dentro dela, e um psicólogo será necessário nesse caso.
Entretanto, seja na primeira ou na segunda situação, jamais o
coordenador ou outro participante deverá emitir sugestões ou
conselhos, por ser antiético e irresponsável.
 Na situação em que temos no grupo pessoas que falam demais de
suas vidas, embora elas possam estar dentro do tema, podem
atrapalhar o desenvolvimento do grupo. Precisaremos conversar
individualmente com o participante, auxiliando-o a perceber seu
comportamento e gentilmente pedir que coopere com o bom
andamento dos estudos, avaliando melhor quando é imprescindível
a sua contribuição pessoal. Isso é muito importante principalmente
para evitar que os demais participantes criem um sentimento
negativo em relação à determinada pessoa. É responsabilidade do
coordenador a proteção emocional de todos os participantes. Deixar
uma pessoa inadequada atuar no grupo desgovernadamente seria
permitir a exposição dessa pessoa aos demais.
 E além dessas duas situações, há aquela em que precisamos refletir
sobre os limites dos compartilhamentos e reflexões no grupo.
Existem pessoas que não tem “filtro” para essa avaliação e, falam de
suas vidas como se estivessem conversando com o amigo mais
íntimo. Pior ainda quando essas pessoas se expõem sem sequer
conhecer o grupo. Quando a pessoa é nova no grupo e começa a
falar sobre intimidades de sua vida, sem qualquer dúvida,
deveremos interromper gentilmente e encaminhá-la para o setor de
Atendimento Fraterno. Se aquele, já é um participante mais antigo
do grupo, precisamos ajudá-lo a se preservar, sob o risco de mais a
frente sentir-se envergonhado por ter se exposto demais, e não
querer voltar para a atividade. Mas nessas situações, será sempre
importante fazer um questionamento: “Qual é o limite para se falar
no grupo?” Não temos algo definido e estabelecido, pois isso
dependerá do vínculo grupal, da postura do coordenador e da
afetividade entre os participantes. Vivemos situações onde os
grupos da Casa Espírita são maisfortes que muitos vínculos afetivos
em seus próprios lares. Esse limite que separa o adequado do
inadequado a se compartilhar no grupo é muito sutil. Não há uma
linha definida, pois dependerá do nosso grau de abertura para a vida
e para o autodescobrimento. Como coordenadores, se em geral não
falamos e não conhecemos nossas emoções, certamente ouvir
alguém falar de sua raiva nos parecerá constrangedor, como se isso
precisasse ficar “guardado a sete chaves”, e certamente iremos
reprimir os participantes. Isso acontece regularmente. Certos
coordenadores não desejam pensar ou analisar sua própria vida,
sejam emoções e sentimentos, problemas ou dificuldades, e em vez
de assumirem sua dificuldade, tentam impô-la ao grupo. Então,
silenciar o outro, nesse caso, não será nada mais, que uma tentativa
de silenciar o seu próprio mundo interior – mas isso não dará certo
por muito tempo. Quando vemos colegas no grupo relatando, por
exemplo, os motivos que lhe deixam com raiva, isso pode nos
incomodar. Repercutirá em nós porque certamente nos veremos
impelidos a enxergar nossas próprias raivas. Daí, muitas vezes,
preferirmos ficar apenas na teoria a abrirmos espaço para que as
pessoas falem de suas vidas. Mas como a doutrina poderá nos
mudar em profundidade, verdadeiramente, se não conseguirmos
“olhar para dentro”? Corremos o risco de fazer apenas mudanças
superficiais, construir personas, sem qualquer consonância com a
profundidade de nossa alma. Como cada participante vai levar para
sua vida e aproveitar a experiência, é uma questão pessoal que não
depende prioritariamente do coordenador. Mas, podemos e devemos
estimular as pessoas a pensarem em suas próprias vidas a partir do
que estamos estudando. O coordenador e os participantes precisam
estar dispostos a se conhecer...
i
Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de Ângelis – Espelhos da Alma, p. 117.
ii
Núcleo de Estudos Psicológicos Joanna de Ângelis – Refletindo a alma, p. 99.

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