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© Copyright: do autor Fedigdo 2010 Direitos reservados desta edigao: Universidade de Santa Cruz do Sul Esta 1°, edig&o deste livro foi possivel gragas a0 auxilio financeiro da Fundagao de Apoio a Pesquisa Cientifica ¢ ‘Tecnolégica do Estado de Santa Catarina - FAPESC Bditoragio: Clarice Agnes, Ubiratan de Carvalho Di44d_Dallabrida, Valdir Roque 2 ; Desenvolvimento regional: por que algumas regides se desenvolvem ¢ outras no? / Valdir Roque Dallabrida. - 1.ed, - Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2010. 212p. Bibliografia. ISBN: 978-85-7578-265-1 1. Desenvolvimento regional. 2. Disparidades ceconémicas regionais. I. Titulo. CDD: 338.9 [Biblioteedra: Muriel Thurmer - CRB 10/1558 AGRADECIMENTOS Uma obra nfo resulta do esforgo individual do escritor. Apesar de nao ser possivel menosprezar 0 esforgo individual, € fundamental admitir que ela resulta do esforgo coletivo. Explico: (1) alguém tem que prover os recursos financeiros para 0 custeio da sua impressio e.do tempo de trabalho de quem se envolve; (2) outros precisam abdicar da presenga fisica e emocional do escrit (3) outros colaboram com as ideias que, em tempos diferentes, » por pessoas residindo em lugares diferentes, com concepgSes ideolégicas diferentes, foram elaboradas; (4) outros, em algum ‘momento, acreditam no potencial do escritor e abonam a ideia de escrever a obra. Entre os primeiros, vai o agradecimento & dirego © aos funcionérios da FAPESC, pelos recursos disponibilizados para publicagao da primeira edigdo, ¢ & UnC, pela participagio no’ custeio de outras despesas com recursos materiais e remunerago dos funcionétios e professores, que se envolveram no projeto de elaboragdo da obra. Entre o segundo grupo, 0 reconhecim« minha esposa Ilse, aos meus filhos Marcelo, mesmo presente, a minha desatengdo, em vérios momentos, principalmente entre o final de 2009 c o primeiro trimestre de 2010. Espero deles a compreensio, com a promessa de compensagio desses momentos. No terceiro grupo incluo todos os autores citados na obra, 0s mais referenciados em especial, além de alguns colegas que aceitaram 0 desafio de revisar 0 texto e dar suas contribuigles, dentre os quais destaco os éolegas do mestrado e, especialmente, dois professores que mais diretamente atuaram na revisao. Uma € a Profa. Dra. Mirian Beatriz Schneider Braun, graduada em 10 ‘Valdir Rogue Dallabrida 3 ABORDAGENS TEORICAS RECENTES SOBRE DESENVOLVIMENTO LOCAL, REGIONAL OU TERRITORIAL Nesta parte do livro faz-se uma revisdo das mais importantes vertentes te6ricas contemporfineas que tratam do desenvolvimento, focadas na escala local, regional ou territorial. Para fins de recorte temporal, considerar-se-o as abordagens ou vertentes te6ricas, formuladas a partir da década de 1980!, Antes de referenciar as diferentes correntes teéricas ¢ fazer uma sfntese de suas ideias e dos eixos centrais de andlise, alguns comentérios introdutétios. Primeiro, que desde os primérdios das ciéncias sociais, em algumas éreas do conhecimento, dentre elas a Economia, os alvo de uma intensa atividade intelectual. Mas foi a partir da II Grande Guerra que se exacerbou, principalmente na Economia, 0 debate entre os que negam e 0s que afirmam a especificidade te6rica do fenémeno do desenvolvimento. O debate, que teve avangos e retrocessos para ambos os Iados, esté longe de ser conclufdo, sendo que o seu resultado atual, mesmo que provis6rio, tem repercussées que extrapolam em muito 0 campo académico. Assim, desde a década de 1950, vérios autores, como os ja mencionados, fizeram abordagens, umas de cunho mais liberal, outras de cunho keynesiano, ou até mais revolucionérias, como autores marxistas. Em segundo lugar, sobre as abordagens regionalistas, alguns, autores contemporfineos tém feito severas criticas ao caréter demasiadamente localista de boa parte de tais concepgdes te6ricas. Sobre esta problemitica, nao se faré referéncia nesta obra, remetendo a outras leituras?. Desenvolvimento regional Mm Em terceiro lugar, parece it conceitos aqui utilizados: desenv territorial. ante, caracterizar os ento local, regional ¢ Sobre desenvolvimento local, h4 certa concordancia de varios autores sobre a preciso do conceito elaborado por Buarque®: € um processo endégeno registrado em pequenas unidades territoriais e assentamentos humanos capaz de promover © dinamismo econémico ¢ a melhoria da qualidade de vida da populacdo. Salienta o autor que, no atual estigio da globalizacio, € resultante direta da capacidade dos atores e da sociedade local especificidades na busca de competitividade em um contexto de répidas e profundas transformagGes. Em relagao ao desenvolvimento regional, segundo ressalta regional tem como referéncia aspectos geog: administrativos, econdmicos, fisico-naturais, culturais, politicos, etnogréficos, dentre outros. Boisier’ refere-se ao conceito desenvolvimento regional como um processo de mudanga estrutural localizado num Ambito territorial chamado regio, que se associa a um permanente proceso de progresso da prépria regio, da comunidade ou sociedade local e de cada individuo que La habita. 3400 termo desenvolvimento territorial, em outra obra tem- se referido a ele como ‘um processo de mudanga estrutural cempreendido por uma sociedade organizada territorialmente, capaz de promover a dinamizagéo socioeconémica ¢ a melhoria da qualidade de vida de sua populagao". Existem elementos comuns aos'tés conceitos: (1) refere- se a um processo de mudanga estrutural localizad uma responsabilidade fundamental & sociedade region: adinamizagio socioecondmica associada & melhoria da qi de vida de sua populagdo. As definigdes parecem indicar alguns 112 Valdir Rogue Dallabrida pardmetros para o desenvolvimento regional. Para manter-se no objetivo desta obra, o texto contemplard ‘uma descrigdo das vertentes te6ricas, seus principais autores e obras, além de fazer referéncia & ideia principal, ou eixo de andlise. ‘Novamente, aqui, destacamos que nfo h4 uma tinica forma’de classificar tais vertentes te6ricas. No entanto, em geral, é aceito pela academia dividir as abordagens em quatro vertentes principais: () abordagens que tém como referencia bésica 0 conceito de distrito industrial marshalliano; (2) abordagens regulacionistas; (3) abordagens neoschumpeterianas ou da economia evolucionéria; (4) abordagens institucionalistas e/ou neoinstitucionalistas. Estas, também, poderiam ser identificadas como as quatro vertentes teGricas principais do chamado ‘Novo Regionalismo’, ‘ou uma ‘Nova Ortodoxia’”, termos utilizados para referir-se 3S abordagens elaboradas a partir da década de 1980, que tém como foco de observagio, teorizagdo e andlise, 0 local, a regio ou territ6rio. Faz-se, inicialmente, uma breve sintese sobre cada uma destas abordagens. Na sequéncia, dé-se destaque a alguris enfoques tedricos especificos, mesmo que na sua maioria derivem das abordagens aqui referidas. No entanto, é fundamental que, inicialmente, se destine um espago para sintetizar a abordagem sobre a “acumulagio flexivel”, a qual, de certa forma, se poderia dizer que serve de inspirago para algumas das abordagens regionalistas. 3.1 A abordagem sobre acumulaco flexivel No inicio de 1984, uma obra de M. Piore e C. Sabel* passa a ser referéncia nas concepcées sobre economia e specializagao flexivel. O conceito de produgdo ou especializacao flexivel implicava numa nova ‘maneira de produzir, que transformava revolucionariamente, desde Desenvolvimento regional 13 a base técnico-cientifica até a natureza dos bens finais, passando pelos sistemas produtivos, o tamanho e as relagées entre empresas € a organizaco do trabalho. Tal conclusdo dos autores partia de observag6es feitas em vérias partes do mundo, principalmente na chamada Terceira Itélia, onde eram percebidas tais mudangas. A tese fundamental dos autores era de que estarfamos vivendo uma segunda ruptura industrial. Ao rejeitara tese segundo a qual a crise dos pafses centrais, posterior a 1973, se devia aos efeitos perversos da intervengdo do Estado na economia, Piore ¢ Sabel situam a origem da mesma no esgotamento do modelo de desenvolvimento industrial baseado na produgio em série, ‘generalizado a partir da primeira ruptura industrial do final do século XIX, com sacrificio as tecnologias industriais de caréter artesanal. Os autores chegam a propor abertamente uma estratégia de reconversio industrial para os pafses avancados, baseada num modelo de producao flexvel associado as tecnologias artesanais. Assim, produgdes massivas ¢ estandardizadas dirigidas a ‘mercados homogéneos, seriam substitufdas por manufaturas com tiragens pequenas de produtos feitos na medida das necessidades do cliente. De tecnologias baseadas em maquinarias de propésito \inico, operadas por trabalhadores semiqualificados, se passaria as tecnologias e &s méquinas miiltiplas operadas por funcionérios qualificados. As empresas grandes de caréter monopolista, integradas verticalmente ¢ com economias internas de escala, cederiam lugar as empresas médias e pequenas, vinculadas entre si através de relagées de cooperagao e de divisio do trabalho entre firmas, utilizando a subcontratagio, as quais gerariam economias externas. O eixo de competéncias se transferia dos Pregos para produtos homogéneos, para a inovacdo e ao desenho de produtos diferenciados. Assim, a produgdo flexivel anunciava, finalmente, um novo horizonte de possibilidades produtivas, inovagdes tecnol6gicas ¢ organizagées empresariais que deveriam ter grandes consequéncias na configuragdo espacial das economias, interferindo positivamente no desenvolvimento regional. Estas 114 ‘Valdir Rogue Dallabrida concepgées, quase que como um verdadeiro ‘evangelho’, se generalizaram para todos os paises do mundo, estimulando o surgimento de uma série de conceitos,tais como, produgao flexivel, Adistritos industriais, clusters, sistemas produtivos locais, regionais, territoriais, além de outros?, Vérias das mudangas previstas na obra de Piore ¢ Sabel ‘ocorreram nos anos seguintes. No entanto, é possivel considerar a abordagem dos autores como demasiadamente otimista, principalmente no que se referem as possibilidades que se abririam a0 desenvolvimento regional. O que se petcebeu foi, muito mais, ‘uma rearticulagdo do sistema capitalista mundial, flexibilizando tecnologias ¢ formas de organizacao da producio, terceirizando a produgio de determinados itens para pequenas e médias empresas situadas em vérios pafses do mundo, principalmente dos produtos que utilizam tecnologias tradicionais, no entanto, mantendo 0 controle da geragio da tecnologia de pontae do mercado mundial, 3.2 Os distritos industriais italianos do tipo marshallianos Conforme jé salientado nesta obra a noco de distrito industrial ver de Marshall, para fazer referéncia ao fenémeno, presenciado ainda no século XIX, de concentracdo de einpresas especializadas em um ramo de produgo, em certas comunidades inglesas, com uma divisio de trabalho entre pequenos produtores baseada em lagos de solidariedade. A partir dos anos 1970, especialmente diante do fendmeno de crescimento de pequenas e médias empresas integradas no centro e norte da Itélia, regio chamada de Terceira Italia, autores, principalmente, talianos, procuraram aprofundar a nogdo de distrito industrial desenvolvida por A. Marshall. Tais concepgdes exerceram grande influéncia sobre a elaboragao de abordagens recentes do desenvolvimento local ou regional como, por exemplo, a dos Sistemas Locais ou Regionais de Produgdo, Clusters Axranjos Produtivos Locais", iii coal regional 1s Becattini"' resume a nogdo de distrito industrial, neste novo perfodo hist6rico, tendo como foco a experiéncia italiana: é uma entidade socioterritorial caracterizada pela presenca ativa de uma comunidade de pessoas e de uma populacio de empresas num determinado territ6rio. No distrito, tender-se-ia acriar uma osmose perfeita entre a comunidade local e as empresas. A inddstria predomina como atividade econdmica dominante. Assim, nos distritos industriais, cada uma das empresas tenderia a se cespecializar numa tnica, ou em apenas algumas das fases dos ‘Processos produtivos espectficos de cada distrito. Constitui-se num caso concreto de divisdo de trabalho localizada, em que as ‘empresas enrafzam-se no territ6rio, estas geralmente pertencentes ‘2.um mesmo ramo industrial, agindo integradamente. A influéncia desta concepedo reformulada gerou a crenga na possibilidade de multiplicagdo de distritos industriais de pequenas ¢ médias empresas em diferentes pafses, integrando-se em rede, niio s6 nacionalmente, mas mundialmente, contrapondo-se & forga avassaladora das grandes empresas multinacionais. Apesar da euforia inicial, esta possibilidade parece nfo ter se concretizado, como é possivel observar nas experiéncias de distritos industriais, em varias partes do mundo. 3.3 A Escola da Regulagio A Escola da Regulagio ou Teoria da Regulagéo é uma corrente de pensamento econémico de origem francesa. No centro de suas concepgdes esté a ideia de regulago econdmica. Nasceu em meados da década de 1970 de uma critica severa & economia neocléssica, procurando ultrapassar alguns enfoques desta, através de uma sintese eclética entre keynesianismo, marxismo, institucionalismo americano ¢ o historicismo A obra de M. Aglietta!?, Regulagdo e Crise do Capital publicada na Franca em 1976, vale como fundadora desta co te6rica®, ; A Escola da Regulagio reconhece o lugar das instituigdes, 116 Valdir Rogue Dallabrida formas organizacionais, convengdes e regras comportamentais ‘como fatores endégenos inerentes as particularidades estruturais onémicos. Segundo a abordagem sujeito a crises c{clicas. Porém, ele consegue se reproduzir durante um determinado perfodo através da criag&o de um aparato regulat6rio que, uma vez aceito pelos agentes econdmicos, tende a agir de forma anticfclica. Desta forma, a abordagem regulacionista ¢ uma critica a0 marxismo ortodoxo, por defender que as crises do capitalismo nao seriam superadas. Regime de acumulagio é um conceito basilar na Teoria da Regulago. Um regime de acumulagio pressupde um padrio de organizacdo da atividade produtiva adequada ao padrao de consumo, isto é, um nf ividade econdmica compativel com a demanda efetiva. taria crises de superprodugao ou situagdes de elevado inflagdo. Outro conceito é 0 de modo de regulacio, entendido como um conjunto de leis, valores, hébitos que mediam a relago com o regime de acumulagéo € mantém a coesio social. As principais premissas da Teoria da Regulacdo'residem, em suma, no pressuposto de que a produgao da estrutura determinante de um socioecondmico 36 se realiza na medida em que for capaz de engendrar determinadas particularidades organizacionais e institucionais que garantam a coeréncia do processo de acumulagio de capital e sua expansio, em limites compatfveis com a coesio social no espago das nagdes. Boyer"* desdobra esse pressuposto em trés hip6teses fundadoras vvinculadas a uma problemética macroeconmica: (1) 0 processo de acumulacéo de capital € determinante na dinamica macroecon6mica; b) o proceso de acumulagao de capital nfo é espontaneamente autoequilibrado por fendmenos puramente mercantis e concorrenciais; c) as instituicoes e as formas estruturais sao determinantes para direcionar 0 proceso de acumulago de capital através de um conjunto de comportamentos coletivos ¢ individuais coerentes. Desenvolvimento regional 47 Um destes modos de regulagdo, o fordismo, foi responsével, por exemplo, pela grande estabilidade ¢ desenvolvimento dos paises capitalistas ricos, desde a Segunda Grande Guerra até meados dos anos 1970. Fundado sobre a distribuigao sistemitica dos ganhos de produtividade, de forma a sustentar a demanda necessétia para a reproduco ampliada do sistema, é justamente a crise deste modo de regulacao que impossibilita a continuidade da divisio internacional do trabalho ento vigente, gerando a industrializagio de certas regides do Terceiro Mundo (como 0 Brasil e a Coreia do Sul) dos préprios paises centrais (como 0 Nordeste da Itélia), Porém, se 0 desenvolvimento fora das regides tradicionalmente privilegiadas se constituiu em uma forma de contomar os efeitos da crise do fordismo, ele ndo se constituiu de maneira nenhuma em uma solugdo para esta crise, a qual depende do desenvolvimento de novas formas de regulaca0. Ao contrério, © desenvolvimento regional ou local representou em muitos casos uma forma de contomar 0s mecanismos fordistas de regulacdo, como através da utilizagio de mio de obra pouco sindicalizada, de relagées de trabalho familiares, de isengo de impostos, etc. Por esta razio, muitos estudiosos, defendem que, se 0 desenvolvimento local ou regional pode contribuir para.a superago da crise do fordismo, ele deverd ocorrer no quadro de mudancas mais amplas que incluam: (1) uma diminuigao da jornada de trabalho de acordo com a produtividade jé alcangada € com o seu crescimento; (2) uma distribuigdo mais equitativa do trabalho; (3) a formagéo de um amplo setor de ‘economia solidéria’, autogerida a partir de relagdes contratuais com 0s seus usuérios, que inclua e sociais e, (5) a constituigao de uma agéncia internacional para a protecdo do patriménio comum da humanidade"’. Sao questées ainda situadas muito mais na dimensio da possibilidade do que da realidade. 8 Valdir Rogue Dallabrids ‘Mais recentemente, reafirma-se 0 enfoque do chamado ‘P6s-fordismo Regulacionista’'*, defendendo redes de compromissos, coeréncias e contratos sociais locais, através, de certo modo, de regulacao localizado, condizente com o regime de acumulago mais geral. De maneira geral reforgam enfoques ttadicionais da Teoria da Regulagao, adaptados a realidade atual do final do século XX. 3.4 O Neoschumpeterianismo ou economia evolucionéria termo schumpeterianismo ou neoschumpeterianismo, fefere-se &s ideias de uma obra clissica de J. Schumpeter. Para este autor, o principal fendmeno que explicava o desenvolvimento econémico € 0 papel inovador desempenhado por certos empresérios. ‘Mais recentemente, muitos estudiosos foram buscar em ‘Schumpeter as explicagdes te6ricas sobre a diversidade observada em alguns Ambitos espaciais, enfatizando o papel das inovagdes na anflise das condigées que permitiram a certas regides se destacarem das demais em termos de desenvolvimento. Diferentemente de Schumpeter, no entanto, algumas correntes neoschumpeterianas enfatizam que o desenvolvimerito niio necessariamente acontece por rupturas radicais, podendo se dar de forma adaptativa © progressiva, destacando 0 papel do aprendizado no processo de aprendizagem, do conhecimento técito € da rotina nos processos inovadores"”. Da mesma forma, a figura isolada do empresério, central no modelo original de Schumpeter, € menos enfatizada em favor das instituicdes de pesquisa ¢ desenvolvimento de produtos € processos."* Assim, as correntes neoschumpeterianas, também chamadas de ‘economia evolucionéria’, a partir da década de 1980, retomam o debate sobre a influéncia do fator inovagio no desenvolvimento, com abordagens, por exemplo, como a dos “Meios Inovadores’ ¢ ‘Sistemas Nacionais ou Regionais de Tnovagio’. ug 3.4.1 Abordagem neoschumpeteriana sobre meio inovador Como jé referido, o elemento comum a todas as abordagens neoschumpeterianas € 0 papel da inovago no desenvolvimento. Inicialmente, trata-se de estudos, impulsionados inicialmente por Aydalot, que mostraram estar em curso um proceso de transformago das hierarquias espaciais no compativel com as teorias dominantes do crescimento desigual, baseadas, porexemplo, em esquemas do tipo centro-periferia. O retrocesso de algumas tadicionais regides centrais e a emergéncia de pr de dinamismo continuado em regides periféricas ou semiperiféricas tomou claro que as teorias espaciais dominantes poderiam explicar as hierarquias urbanas existentes, mas ndo a sua transformaco, isto é, ndo explicavam os processos de desenvolvimento com génese no territ6rio. Aydalot, seguindo concepgdes tedricas anteriores de Peroux e Schumpeter, defende que os processos de desenvolvimento tém trés aspectos fundamentais. Um de carster instrumental, que se refere ao fato de que os atores do desenvolvimento devam ser organizagdes produtivas flexiveis, como ocorrem com as pequenas e médias empresas, capazes de superar a rigidez das grandes organizacdes do tipo fordista”. O segundo, de cardter mais estratégico, defendendo a diversidade uias técnicas e nos produtos, nos gostos, na cultura e nas politicas, que facilita a abertura de méiltiplos caminhos de desenvolvimento para os territ6rios, segundo as potencialidades de cada um deles. Por tltimo, um aspecto de cardter mais operativo, defendendo que os processos de desenvolvimento so a consequéncia da introdugdo de inovagdes e conhecimento através de investimentos dos atores econdmicos, um processo de carter territorial produzido como consequéncia da interagio dos atores que integram 0 entorno ou meio inovador”’. Segundo Maillat™, 0 conceito de meio inovador pretende apreender as dinémicas territoriais de inovacdo, tendo como pressuposto que, atualmente, 0s mecanismos do desenvolvimento 120 ‘Valair Rogue Dallabrida regional residem nas regides que sio capazes de inovar, de por em pritica projetos que aliem as novas técnicas, a cooperagéo entre as empresas, as instituigdes de formaco e pesquisa que desenvolvam novos produtos, muitas vezes com 0 apoio das autoridades locais ¢ regionais, ou das universidades. Lopes” resume 0 que € chamado de meio inovador, como uum aglomerado territorial caracterizado por: (1) possuirum capital de conhecimento, de natureza técnica, organizacional, comercial ou relacional, associado a0 processo de produgdo local; (2) apresentar um “capital relacional’ baseado no conhecimento recfproco dos atores do meio e materializado numa trama de relagGes mercantis e nao mercantis, formais e informais; (3) dispor de um quadro valorativo-normativo que regule as relagdes ¢ comportamentos dos atores locais, conferindo-thes identidade social ao meio e, desejavelmente, uma convergéncia de objetivos estratégicos de atuagao, sendo esta autoidentificagao coletiva do meio, a fonte geradora das sinergias criativas da atuaco dos atores locais; (4) dispor, estruturado no meio, um coletivo de atores que gere 0s recursos materiais e humanos do meio, no qual , no mundo da indiistria, é uma concentragéo de empresas que se comunica por possuir caracteristicas semelhantes ¢ coabitar no mesmo local. Elas colaboram entre si e, assim, se tomam mais eficientes. Porter defende que os clusters tém o potencial de melh competitividade industrial de trés formas diferent incrementando a produtividade das empresas ligadas ao @) contribuindo com a inovagao; (3) estimulando a criagdo novas empresas. Um conceito essencial na anflise de Michael Porter € 0 conceito de competitividade. Porter sugere que se deva abandonar toda a ideia de ‘nagao competitiva’ como expresso que tenha grande significado para a 134 Valdis Roque Dallabrida prosperidade econémica. A produtividade das empresas é 0 que realmente influencia ¢ determina os ufveis da prosperidade econémica de um pafs, afirma 0 autor. Por outro lado, segundo ele, nenhuma nagéo pode ser competitiva em tudo, ou ser exportadora Ifquida dé to, 0 que caracteriza 0 foco setorial de sua andlise, Para Porter, a vantagem competitiva € criada ¢ mantida através de um processo altamente localizado. Diferengas nas estruturas econ6micas, valores, culturas, instituigdes e hist6rias nacionais contribuem profundamente para o sucesso competitivo. © papel do pafs sede parece ser to forte quanto sempre foi. Embora a globalizagao da competi¢ao possa, aparentemente, tomar a nago menos importante, em lugar disso parece fazé-la ‘mais importante. Com menos impedimentos ao comércio para roteger as empresas ¢ indiistrias internas nao competitivas, a nagio sede adquire.significagao crescente, porque é fonte do conhecimento ¢ da tecnologia que sustenta a vantagem competitiva®!. Ferndndez™ prope um conceito ampliado de cluster, permitindo referir-se a uma maior pluralidade de sistemas territoriais de producao, ou seja, aos diferentes tipos de aglomeragées de empresas. Refere-se, entdo, a uma rea geogréfica delimitada, com um ntimero significativo de empresas c emprego, dentro de um reduzido niimero de setores industriais. ‘Sao formados, geralmente, por aglomeragdes de pequenas médias empresas, pertencentes a um determinado setor, situadas em determinado territorio. Entende-se que ao referir-se a um sistema territorial de producdo, fica implicita a ideia de que nele interatuam empresas ¢ instituigdes, necessariamente. Um autor brasileiro, Zaccarelli®, propde nove requisitos para que um aglomerado de atividades possa ser classificado como um cluster: (1) alta concentragio geografi todos 05 tipos de empresas e instituigdes de a com 0 produto/servigo do cluster; (3) empresas altamente lizadas; (4) presenga de muitas empresas de cada tipo; aproveitamento de materiais ou subprodutos; (6) grande cooperagio entre as empresas; (7) intensa disputa: Desenvolvimento regional 135 substituigao seletiva permanente; (8) uniformidade de nivel jera necessério que todos devam ser atendidos simultaneamente. s principais resultados das pe: industriais, segundo o clusters and indust Development Studies - IDS so: (1) comuns num leque amplo de setores e de pafses em desenvolvimento; (2) eles tém ajudado pequenas empresas a igBes ao crescimento e a competir em mercados a abordagem da eficiéncia coletiva, desenvolvida do IDS, ajuda a explicar entretanto, eficiéncis ga sustenta relagdes enfrentar os novos desafios competitivos; (6) dentro dos clusters, maior cooperagio € relacionada positivamente com melhor desempenho; (7) aumentos na cooperagdo vertical tém sido maiores do que na cooperacao horizontal; (8) pressdes ccompetitivas globais t8m conduzido a uma crescente diferenciacao dentro dos clusters; (9) pesquisas futuras precisam dar maior énfase nos elos extemos, e nao apenas nos elos internos, também ‘enfocar os sistemas de conhecimento, e nao apenas os sistemas produtivos. So algumas conclusdes que podem ajudar a avaliar a eficiéncia de diferentes formas de aglomeragao industrial existentes em varias regi6es do Brasil e do mundo. E utilizado também o termo arranjo produtivo local — APL, referindo-se a aglomeragio de um némero sig empresas que atuam em torno de uma atividade produtiv pal, bem como de empresas correlatas ¢ complementares, em um ‘mesmo espago geogrifico, com identidade cultural e vinculo de articulagdo ¢ interacdo, cooperacdo ¢ aprendizagem entre si ¢ com outros autores locais instituicbes, tais como, escolas técnicas, 136 ‘Valdir Rogue Dallabrida uuniversidades, empresas de prestacdo de servigos ¢ instituigdes de pesquisa ¢ desenvolvimento® A relagdo que se pode fazer entre clusters, arranjos produtivos locais ¢ sistemas produtivos, € que regides com a resenga destes tipos de aglomerag6es produtivas, principalmente estes tiltimos, tém maiores condigées de estimulo ao seu desenvolvimento, 3.6.4 O enfoque teérico da Nova Geografia Econdmica aul Krugman pode ser apontado como o formulador inicial de uma série de modelos que em seu conjunto e reunindo as contribuig6es de diversos outros estudiosos, constituem uma nova teoria econémica do espago. Seu relevante contributo teérico comegou a tomar forma a partir da publicacso de um primeiro trabalho, em 1991 (Geography and trade)*. A partir do primeiro trabalho publicado e em sucessivos artigos, P. Krugman estruturou o que se convencionou chamar de Nova Geografia Econdmica. Por geografia econémica, Krugman entende a localizagao da producdo no espaco, ou seja, € 6 ramo da economia que se preocupa com onde ocorrem as coisas. No sentido adotado pelo autor, a maior parte da economia regional e algumas questdes da economia urbana, constituem a geografia econdmica. A teoria do comércio internacional, segundo ele, é um ‘caso especial da geografia econdmica, onde as fronteiras e as ages dos governos das nagSes desempenham um relevante papel na determinag&o da localizacao e distribuic¢do espacial das atividades produtivas. A partir de suas elaborages tedricas, Krugman baseou 0 seu programa de investigacio nas seguintes perguntas cléssicas da economia espacial: (1) porque se concentra a atividade ‘econémica em determinadas localizagées, em vez de distribuir-se uuniformemente por todo o territ6rio?; (2) que fatores determinam 05 sitios nos quais a atividade produtiva se aglomera?; (3) quais Desenvolvimento regions! 137 as condigdes para a sustentabilidade ou a alteracao de tais situagGes, para chegar a0 equilibrio? Krugman sintetiza suas contribuigdes te6ricas em duas grandes ideias: a primeira, que em um mundo onde tanto rendimentos crescentes como os custos de transporte séo gerar uma l6gica circular de aglomeragao. Quer dizer, mantendo- se as demais condigdes estaveis, os produtores querem situar-se perto de seus fornecedores e de seus clientes, o que explica que se localizem uns perto dos outros. A’segunda consiste em que @ ‘imobilidade de alguns recursos, a terra e em alguns casos a forca de trabalho, atuam como uma forga centrifuga que se opde a forga centripeta da aglomeragio”. A tensio entre estas duas forgas modela a evolucdo da estrutura espacial da economia’. Estas duas ideias centrais poderiam explicar em parte as questdes acima descritas, as quais so de fundamental importincia para 0 entendimento das desigualdades e do crescimento econémico desigual. ‘Segundo Krugman, as forgas que incitam os empresérios industriais a se agruparem residem nas extemalidades da demanda. Para 0 autor, a concentrago geogrifica nasce, basicamente, da interago entre os rendimentos crescentes, os custos de transporte a demanda. Afirma que, se as economias de escala sao suficientemente grandes, cada fabricante prefere abastecer 0 mercado nacional a partir de um nico local. Para minimizar os custos de transporte, elege uma posicao espacial que permita contar com uma demanda local grande. Mas a demanda local serd grande, precisamente na érea onde a maioria dos fabricantes elege situar-se. Deste modo existe um argumento circular que tende a manter a existéncia do ‘cinturdo industrial’, uma vez. que este tenha sido criado®. Reportando-se especificamente & anélise econdmica da localizagao industrial, Krugman se refere aos estudos de Marshall, citando trés razdes que ele havia identificadc como favordveis & concentrag#o de uma atividade em um determinado local: (1) 138 ‘Valdir Rogue Dallabrida gragas A concentragdo de um elevade mimero de empresas de ‘um ramo no mesmo local, um centro industrial cria um mercado conjunto para trabalhadores qualificados, que beneficia tanto aos trabalhadores como as empresas; (2) um centro industrial permite # proviso, em maior variedade e a um menor custo, de fatores concretos necessérios ao sétor, que no so objeto de comércio; (3) devido ao fato da informagao fluir com mais facilidade em um Ambito mais restrito que ao longo de grandes disténcias, um centro industrial gera 0 que se pode chamar, nas palavras de Krugman, de osmose tecnol6gica (technological spillovers)®. A concepgiio teérica da Nova Geografia Econémica tem recebido criticas de autores da Geografia Humana, tais como Martin‘. Originam-se dos gedgrafos econdmicos, em oposigao ‘0s economistas geogréficos. Os primeiros so mais favoréveis aos enfoques da teria da produgao flexivel, do regulacionsimo francés e dos distritos industria italiana. Centralmente, a critica afirma que a Nova Geografia Econdmica, nem € nova, nem é geografia. Por outro lado a teoria geral da aglomeragao tem pouco foco no espaco e demasiadamente em modelos mateméticos, nas suas abordagens te6ricas. 3.6.5 Os enfoques tedricos sobre a sociedade ou economia em rede, cidades mundiais e cidade-regiio f Sobre o tema redes, a obra de Castells ‘Sociedade em Rede’, busca esclarecer a dinamica econdmica ¢ social da nova era mundial: a era da informago. O autor destaca que'a economia global se caracteriza hoje pelo fluxo e troca quase instantineos de informagdo, capital ¢ comunicagao cultural. Esses fluxos regulam e condicionam a um s6 tempo 0 consumo e a produgao. As redes refletem culturas distintas, sendo que tanto elas, quanto seus tréfegos, em grande parte, esto fora das regulamentagdes nacionais. Nossa dependéncia em relagio aos novos modos de ‘luxo informacional dé enorme poder de controle sobre nés, aqueles que esto na posigio de controladores. 139 Em outra obra Castells" destaca que a situagao de espaco/ territ6rio emergente atribui a estes melhores condigées de competir ‘com vantagem na economia-mundo. Esta situagto, apesar de continuar associada & posigo que ocupa cada territério, regio ‘ow lugar na divisdo internacional do trabalho, nao esté mais baseada no nfvel de industrializaco, nem na posico simplista urbano/rural, norte/sul ou centro/periferia, posto que se produzem movimentos de difusdo industrial em todas as escalas, tanto ao norte como 20 sul, tanto no centro como na periferia, internamente diversificados, © existem varios tipos de centros e periferias. Os espagos/ territérios tornam-se emergentes pelo seu padrao de competitividade global e pela capacidade de cada ambito em conectar-se aos principais fluxos e inserir-se nas redes. Castells lembra que a divisio espacial do trabalho nfo tem ‘como principal base as nagdes, como em perfodos anteriores. Para ele, esté construfda em tomo de quatro posigbes diferentes dos agentes econ6micos no sistema-mund. rodutores de alto valor, baseados em trabalho informacional; (2) produtores de alto volume, baseados em baixos custos; (3 tores de produtos nio transformados, baseados em recursos naturais, e (4) produtores reduzidos a trabalhos desvalorizados. © fato novo é que a nova divisio espacial do trabalho esté estruturada entre agentes econdmicos que operam em rede e 0s paises so penetrados pelas quatro posig6es, com 0 que, mesmo as mais poderosas economias, tém segmentos marginais de sua populacdo em trabalhos desvalorizados. E claro que a proporgao é maior nos pafses/territérios pouco conectados nas redes globais. Na economia sustentada no fluxo de informagSes, a disputa pelo capital internacional ndo se baseia mais unicamente na redugo de custos e pregos, mas € complementada por estratégias urbanas que buscam também maiores nfveis de produtividade urbana. Esta depende de fatores como a conectividade, a inovacao ea flexibilidade institucional, facilitando a insergao privilegiada, principalmente, das cidades-regido no cenério.global. Uma variagio do enfoque de redes, da década de 1990, 140 Valdir Rogue Dallabrida corresponde a uma linha de trabalho sobre o surgimento de redes de cidades ¢ regiées que estariam conectadas entre si numa sociedade global baseada no fluxo de informagées. Segundo este enfoque, se estaria presenciando um processo de globalizacio impulsionado pelos grandes avangos nas tecnologias de informagio, telecomunicagao e transporte, oportunizando fluxos de informagées © conhecimentos possiveis de serem transferidos com muita gerenciamento dos fluxos globais de informagio, a partir de suas unidades produtivas localizadas em territ6rios diferentes, Na economia sustentada no fluxo de informagées, a disputa pelo capital internacional néo se baseia mais unicamente na Tedugio de custos e pregos, mas é complementada por estratégias, urbanas que buscam também maiores niveis de produtividade urbana. Esta depende de fatores como a conectividade, a inovagio a flexibilidade institucional, facilitando a insergao privilegiada, principalmente, das cidades-regidio no cendrio global. Tais abordagens, principalmiente de autores como Borja e Castells defendem 0 planejamento estratégico de cidades ou regides, entendido como uma grande operacso comunicacional, ou seja, um intenso processo de mobilizacio, quase situando cidades ¢ regides como uma mercadoria que é vendida através de campanhas de marketing. 3.6.6 O enfoque tedrico sobre o Estado-regiio ‘Umenfoque inspirado na literatura gerencial e administrativa sobre a globalizagéo proclama o surgimento de uma ‘ordem internacional sem fronteiras nacionais’, com um consequente esgotamento do papel do Estado Nacional ¢ de suas politicas de regulag’o macroeconémica, conforme Ohmae”, ou até desaparecimento do Estado, conforme Strange. E uma versio Desenvolvimento regional 141 muito divulgada na imprensa nacional e internacional, condenando ‘© comportamento intervencionista do Estado e proclamando as vantagens da livre competicdo entre cidades ou regides. um enfoque fortemente liberal, que retoma teses que defendem o livre mercado ¢ a retirada do Estado das decisdes econémicas, ou de quaisquer formas de regulagio ou de regramento da economia do pajs. 3.6.7 enfoque te6rico do DLIS - Desenvolvimento Local Integrado Sustentavel O enfoque do desenvolvimento local integrado sustentavel resulta de um programa de um setor do Banco Mundial (PNUD), implementado no Brasil na década de 1990, via politicas do Governo Federal. Segundo a metodologia do programa, o desenvolvimento resulta de um amplo debate entre organizagdes nao governamentais, de governo € da sociedade local. Segundo Franco®, um dos autores que tem dado o maior suporte te6rico a0 programa no Brasil, o desenvolvimento local integrado sustentivel é um novo modo de promover 0 desenvolvimento que possibilita o surgimento de comunidades mais sustentéveis, capazes de suprir suas necessidades imediatas, descobrir ou despertar suas vocagies locais € desenvolver suas potencialidades especificas além de fomentar 0 interc&mbio extemno, aproveitando-se de suas vantagens locais. © programa foi implantado no Brasil em diferentes localidades e municipios. Na prética, trata-se de um ativismo local a fim de tentar criar uma osmose perfeita entre comunidade local € as empresas, com a construcdo de um homogéneo sistema de valores, tendo por base a eficiénciae a sustentabilidade ambiental”. Trata-se de uma das visGes mais otimistas localistas de desenvolvimento local. 1a Valdir Roque Dallbrida 3.6.8 O enfoque te6ricos sobre Governanga Local e Best Practices do Banco Mundial Em vérios documentos recentes, 0 Banco Mundial tem defendido diferentes formas de participago e governanga local, além de boas praticas (Best Practices) nos processos de implementagao das politicas de desenvolvimento localizadas. A defesa da participagio da sociedade civil, por parte do Banco Mundial e outras instituigdes internacionais, fundamentam-se na crenga de que, para que 0 processo de desenvolvimento seja sustentével, deve existir um conjunto transparente e previsivel de normas ¢ instituigdes que regulem as ages piiblicas. Assim, a chamada boa governanga € caracterizada por um processo esclarecido ¢ previsfvel de formulagio de politicas piblicas, servidores puiblicos profissionalizados, um Poder Executivo que possa ser responsabilizado por suas ages e uma sociedade civil forte e atuante nas questées de interesse piblico, todos agindo dentro das regras da lei. A participacdo é considerada um componente intrinseco da boa governanca. Orgios intemacionais como a UNDP conceituam governanga como: 0 exercicio da autoridade econ6mica, politica e administrativa para gerenciar um pafs em todos os nfveis. Compreendem mecanismos, Processos ¢ instituigdes através das quais os cidadios.e grupos articulam seus interesses, exercitam seus direitos legais, cumprem com suas obrigagées ¢ medeiam suas diferengas”. Sobre as boas préticas sugeridas por tais instituigoes internacionais, toma-se como exemplo um documento da OECD, transcrito por Bandeira”. Uma delas & a proposigao para que sejam criados conselhos econdmicos e sociais com a participagao dos cidadios. O referido documento sugere que para a soluggo dos problemas regionais, as instituigdes locais devem se esforgar para: (1) desenvolver a confianga e a cooperagio, pelo es diferentes tipos de associagao sejai sociais ou empresariais; (2) ctiar coalizes politicas, através do estimulo A criago de conselhos regionais para dar publicidade aos temas piblicos, criar consensos, 143 Dosen envolvendo a diversidade dos atores; (3) estimular a cooperagao inter-regional, estabelecendo relagdes com outras regides que tenham problemas semelhantes, evitando a concorréncia entre as mesmas. Veja-se que, tanto a sugestio de formas de governanca local como de boas priticas, sto carregadas de “boas intengses', no entanto, sustentam-se no mesmo otimismo localista de que tudo é possfvel a partir do local. 3.6.9 O enfoque teérico sobre economia solidéria ¢ popular ‘Trata-se de um enfoque que se popularizou recentemente xno Brasil. Um dos maiores te6ricos brasileiros sobre o tema e um dos principais autores € P. Singer”. Para o autor, a economia popular solidéria pode ser definida como um modo de produc cuja caracteristica central € a igualdade de direitos, acrescida da autogestdo. Na sua prética, os empreendimentos podem ser geridos pelos prdprios trabalhadores coletivamente, de forma democrética, cada um tendo direito a um voto. A partir de 2003, varios projetos de economia popular € solidéria tém sido desenvolvidos no Brasil, transformando-se em politica de governo, o setor sendo tratado como um circuito alternativo de produgdo, distribuigao e consumo de bens e servigos de setores populares urbanos ¢ rurais. 3.6.10 © enfoque tedrico sobre a Teoria do Desenvolvimento Geogréfico Desigual Entre os autores neomarxistas internacionais, é fundamental incluir um autor contempordneo, D. Harvey. A abordagem de Harvey, principalmente numa de suas obras recentes, classifica- se entre os enfoques teGricos focados na dimensZo espacial do desenvolvimento”, 0’ autor elabora 0 que chama de Teoria do Desenvolvimento Geogréfico Desigual. Em suma, a abordagem 144 ‘Valdir Rogue Dallarida te6rica do autor, visa a compreender o funcionamento do capitalismo num ambito geogréfico, principalmente, apontando como a dinmica da acumulacao do capital pode alterar 0 espago € as formas de espacialidade, gerando desigualdades entre os territ6rios ¢ regides. Para Harvey, as assimetrias no desenvolvimento so fortemente influenciadas pela acumulagao do capital, pela ago do homem na natureza, pela busca de redugdo do tempo de giro do capital e pelos conflitos territoriais em diferentes escalas geogréficas (municipal, regional, estadual, nacional e internacional). Pela sua concepgio de desenvolvimento, fica claro que Harvey parte da matriz. marxista, porém, dé um passo além, na tentativa de integrar & andlise marxista a dimensio espacial. Ou seja, tenta espacializar a andlise marxista, a partir de uma contribuigio relevanie ao estudo das relagdes entre ambiente territorial © organizagdo social e humana, tendo como pano de fundo a acumulacao do capital. Sua intencionalidade é a apresentagdo de uma teoria unificada, integrando a sua elaboragao te6rica, diferentes linhas de pensamento, tas sejam, a interpretago historicista, argumentos construtivistas, visdes ambientalistas € explicagées geopoliticas. ‘Na interpretacao historicista, o desenvolvimento geqgrafico desigual é causado pela forma com que o desenvolvimento politico- econdmico dos pafses centrais penetra nos territ6rios, na economia, na politica ¢ na cultura dos pafses periféricos. Na abordagem construtivista, as desigualdades so decorrentes das préticas explorat6rias, tais como, o chamado imperialismo, o colonialismo € 0 neocolonialismo, dos pafses mais poderosos sobre os paises subdesenvolvidos. J4 0 desenvolvimento. desigual dos pafses explicado pela forma que alguns pafses exploram outros, fazendo com que as discrepancias entre os paises aumentem cada vez mais. A concepgéo ambientalista enfoca a questio do desenvolvimento desigual como resultado das adaptagSes humanas para as diferenciagées ambientais dos pafses. Essas diversidades ambientais explicam 0 modo como so criadas as especializagies Cocal, regional, nacional e global). Aversioimperialsta territGrios de extrair excedentes do resto do mundo, reduzindo-os a uma divisio do trabalho subserviente aos interesses do poder hegem6nico. Assim, a teoria unificada desenvolvida por Harvey para a anélise da dinémica regional do territ6rio em geral ¢ considerada importante tanto do ponto de vista metodol6gico, como do ponto de vista te6rico. Metodologicamente, destaca-se na forma como ele faz, a apropriagio e integragao de contribuigdes teéricas que Ihe antecederam num todo unificado. A contribuigio teérica destaca-se por levar em considera¢o 0 tempo e o espaco em constante movimento, dando uma ampla visfo sobre a légica da interago entre um ambiente territorial, aqui inclufdo 0 sistema produtivo em sua interface ambiental, o sistema financeiro com das organizagées sociais e politicas, propiciando uma visio ‘geogrifica do desenvolvimento territorial do capitalismo, mais realista. Por fim, sobre a tentativa de uma teoria unificada proposta condicionalidades distintas quais sejam: (1) a insergéo material do processo de acumnulago do capital na ‘teia da vida’ socioecolégica; (2) a acumulagao do capital no espago € no tempo; (3) a acumulagao via espoliagdo e; (4) os conflitos nas diferentes escalas geogréficas. Esses elementos, segundo Harvey, deveriam ser considerados, juntos, para a estruturacdo de uma teoria sobre 0 desenvolvimento geografico desigual no capitalismo. 146 ‘Valdir Rogue Dallabrida 3.6.11 Os enfoques teéricos sobre desenvolvimento (econémico) local e endégeno Frequentemente se associa o desenvolvimento endégeno com a capacidade de uma comunidade local de utilizar 0 potencial de desenvolvimento existente em um territ6rio € dar resposta aos desafios que se apresentam em um momento determinado. Esta visdo implica uma valorizagio p. frequentemente o , do papel que joga o potenc desenvolvimento existente em todo tipo de territérios, permitindo as comunidades locais dar resposta produtiva adequada e satisfazer as necessidades da populagao” ‘A pergunta que pode ser feita é: sao as politicas de desenvolvimento localizadas capazes de influir sobre padres estruturais ¢ reduzir desigualdades regionais? Bi a questo que dé © foco central a esta obra. Varios autores tém se posicionado, referindo-se as politicas alternativas de desenvolvimento regional. Boisiex™ € um dos autores latino-americanos que tem uma extensa obra. Numa delas, faz uma andlise dos resultados das politicas de desenvolvimento empreendidas na América Latina, afirmando: cinquenta anos de politics pablicas a favor do desenvolvimento territorial na América Latina tém produzido uma rica experiéncia para andlises académicas, no entanto escassos resultados préticos mensurados ‘em termos da redugao da hiperconcentracdo demogréfica © econémica no territ6rio, da redugdo das disparidades territoriais ¢ no nivel de vida das pessoas, da redugao do acentuado centralismo institucional latino-americano que se expressa, ademais, através de organizagées situadas em poucos.focos de modemnidade no tertit6rio”. (O mesmo autor, ao defender a construgio do poder politico local-regional, como condicdo necesséria a uma maior participagio democritica dos cidados no destino de seu entorno espacial, seja ele, 0 bairro, a cidade, a regio, ou o territério, faz. uma afirmagao interessante: no se mudam as coisas por voluntarismo, senio Desenvolvimento regional 147 ‘mediante o uso do poder. O poder polit acumular reconhece ser de duas fonte: toda a regio deve a desceniralizacio, € Q) aconcertagao social, enquanto esta supde uma verdadeira criacdo de poder (a unifio faz a forga). No entanto, sem grandes ilus6es, afirma 0 autor, que o poder que se acumula na comunidade regional niio é um poder para fazer uma revolugdo. $6 € suficiente para modificagdes nos parimetros do estilo de’desenvolvimento, no nos pardmetros do sistema. Ressalta, ao mesmo tempo, as possibilidades e os desafios™. Com o mesmo foco analitico, outro autor Helmsing”, afirma que regides centrais existentes foram seriamente afetadas pela reestruturago industrial. Ao mesmo tempo surgiram ‘novas’ regides de crescimento, conhecidas como distritos industriais, as 4quais tém competido exitosamente no comércio internacional. especializacao flexivel ¢ os distritos industria redefiniram o marco de referéncia para as politicas regionais e deram origem a segunda gerago de politicas regionais de industriatizacao, Outro autor de referéncia que tem uma obra extensa é ‘Véequez-Barquero”. Numa de suas obras destaca fortalezas debilidades das politicas de desenvolvimento local. Como fortalezas, destaca as seguintes: (1) fortalecimento dos processos de ajuste produtivo - como resposta aos desafios da globalizacio, a dimensio local s6 tem duas opgdes, ou poe em prética uma estratégia de desenvolvimento ex6geno, atraindo investimentos externos, ou implementa uma estratégia de desenvolvimento ‘econ6mico local, criando condigSes para o surgimento de iniciativas locais de solugao dos problemas locais; (2) melhoramento da produtividade e competitividade - politicas de desenvolvimento local, que se proponharh a melhorar a eficiéncia da produco, a qualidade dos produtos e a acessibilidade dos mercados, so mais ceficientes e posstveis de implementar em éreas distantes dos fluxos econdmicos hegemdnicos; (3) gestio do emprego e das inovacoes ~ agées centralizadas mostram-se incapazes de gerir adequadamente as mudangas tecnolégicas ¢ a geracio de jo potencial de desenvolvimento do is so mais eficazes para potencializar ‘0s recursos que permanecem inutilizados ou subutilizados no terit6rio; (5) impulso ao controle local do desenvolvimento - as fenémenos que tém mostrado fortes sinergias nos processos de reorganizagio da economia ¢ do Estado, Quanto as limi tem aceitado a politica de desenvolvimento local, [0 ae ‘corre de forma muito mais acentuada no Brasil], sendo fundamental para sua efetivacdo; (2) reduzida autonomia para a ago local - a adequados para a gestlo local - frequentemente, os dirigentes e 0s recursos humanos locais, carecem da qualificago necesséria favorecendo uma maior participagdo, uma maior capacidade financeira, aos nfveis locais de governo, o que nem sempre ocorre. Desenvolvimento regional 149 obras, dovidamente teferenciadas, com destague pars: DALLABRIDA, BASSO e NETO, 2006; BRANDAO, 2007; DALLABRIDA, 2000; DALLABRIDA, SIEDENBERG e FERNANDEZ, 2004., > Recomenda-se a leitura em obras anteriores: AGOSTINI, BANDEIRA ¢ DALLABRIDA, 2009; DALLABRIDA FERNANDEZ, 2008; FERNANDEZ e DALLABRIDA, 2008; BRANDAO, 2007. > BUARQUE, 2006. « SIEDENBERG, 2006. Ver FERNANDEZ e DALLABRIDA, 2008. * PIORE e SABEL, 1984; 1993. * CE. MONCAYO JIMENEZ, 2001. Uma obra recente, faz: uma interessante revisio da literatura sobre o tema: KELLER, 2008. "Outros autores desta corente terica: BOYER, 1968; 1990; LIPIETZ, 1977; 1985; GORZ, 1983. \« BOYER, 1986. ' Conforme DALLABRIDA, BASSO ¢ NETO, 2006, op cit. 6 Autor referéncia: LIPIETZ, 1985 Aistritosindustrais, nos meios inovadores enos sistemas regionas de inoacio. 150 ‘Valdr Rogue Dallabrida * Outra obra que aborda o tema: CAMAGNI, 1995, * MAILLAT, 1995; 1998; 2002. 9, 2005, tores tais como: ANTONELLI e FERRAO, 2001; es receites que tratam deste enfogue: MENDEZ, 2002; SILVA, 2008. »' Por exemplo: GILLY e TORRE, 20008; 20006, * COURLET, 2001; COURLET e SOULAGE, 1995, cars, sndicaos, o Bstadoe seus organsmos. Resell © pel da esowtraeds ong ola esc Wesley Mitchel 4e Veblen € seu principal livro € Business Cycles, publicado em aglomeracio« extemalidades, centradas ‘economia em: POLESE, 1998. ‘cadequada, para aexpressiio worlds of production, « Storper e Salais (1997). + KRUGMAN, 1991; 1995, A forca centrifuga é uma pseudoforga‘ou forga inergal, nfo sendo portanto ‘uma forg eal, que existe apenas para um observadorsolidério a um referencial ‘animado de movimento de rotago em relagéo a um refereacialinercal, ou seja, sem aceleracto, Forga centripeta 6 a forgaresultante que puxa 0 co:po 152 Valdir Roque Dalaba para o ceatro da trajet6ria em um movimento curvilineo ou circular Cf, MONCAYO JIMENEZ (2001). % ste € 0 préximo pardgrafo utilizam contribuigbes de Silva (2004), fazendo ‘uma sintese de Krugman (1992). ‘© Ver abordagem recente sobre a Nova Geografia Econémica em: PONTES; ‘SALVADOR, 2009. 1 “Texto de Relatrio de Referéncia de reunitio do Grupo dos Sete em Lyon em 2006, reproduzido por: BANDEIRA, 2000. 12 BANDEIRA, 2000. ipal que enfoca a teoria: HARVEY, 2006a. Outras obras 'n0 Brasil: HARVEY, 2006b; 2005. tém feito tal abordagem: VAZQUEZ-BARQUERO, “ums cba do stor: VAZQUEZ BARQUERO, 1996; 1991; 199; 19%; ce avian nore) 2000. Deteavolvimento regional 153 4 CONSIDERACOES FINAIS Esta obra teve como preocupagio central sintetizar as diferentes enfoques ou abordagens teéricas que, historicamente, tém centrado seu foco de estudo ao entomo de uma pergunta: por que algumas regiées se desenvolvem mais que outras? Como uma sintese, entende-se que esta obra seja ‘uma contribuicdo importante para a iniciagao aos estudos sobre as teorias do desenvolvimento. ara finalizara obra, neste capftulo final, pretende-se centrar 0 foco em quatro questdes fundamentais. Primeira, retomar a ressaltar alguns limites da teoria e desafios da pratica do desenvolvimento regional. Por iiltimo, s4o expressas algumas consideragies finais. 4.1 O real sentido de desenvolvimento Pessoalmente se tem feito referéncia a0 conceito de desenvolvimento, preferindo 0 uso do conceito desenvolvimento territorial. Assim, desenvolvimento tetritorial'seria ‘um proceso de mudanga estrutural empreendido por uma sociedade organizada territorialmente, sustentado na potencializagao dos capitais © recursos (materiais e imateriais)existentes no local, com vistas & Fessalta sua dimensio localizada e o sentido da dinamizagéo 154 Valdir Rogue Dallabida socioeconémica como sendo a melhoria da qualidade de vida da populacéo. Um autor, obrigatoriamente, precisa ser mencionado quando se faz referéncia ao real sentido do desenvolvimento. ‘Trata-se + Amartya Sen®. Superando o tradicional erifoque economicista do desenvolvimento, o autor defende que muitos problemas de Privagao € pobreza estdo presentes ndo 6 nos paises ditos subdesenvolvidos, mas também nos desenvolvidos, mesmo que numa escala menor. A principal tese do autor é que 0 desenvolvimento € um processo de expansio das liberdades individuais. Tais liberdades seriam, segundo Sen, os principais meios e fins do desenvolvimento. © alcance das liberdades individuais seria a base para 0 desenvolvimento, Isso immplicariaem eliminar suas principais fontes limitadoras, tais como a pobreza, a tirania, a caréncia de oportunidades econdmicas, a privagao social, a presenca sistemiética de Estados repressivos, em suma, a falta de liberdades substantivas. Isso inclui boa alimentacio, saide ¢ educagao, meio ambiente saudével, oportunidades de lazer, possibilidade de expressar-se livremente, enfim, construgéo de um ambiente com democracia, igualdade e equidade. Assim, a liberdade de escolha « partir de juizos de valor formados de forma independente estaria sempre combinada e condicionada pela capacidade real de ser de fazer, segundo o autor. J4 Castoriadis?, a0 criticar 0 ‘mito do desenvolvimento’, 0 define como um estgio da sociedade que pode ser reconhecido como a possibilidade de todos os habitantes da terra terem acesso a Agua potivel, alimentacao equilibrada, satide, educagio ¢ democracia. Para 0 autor, 0 desenvolvimento seria um processo de aprimoramento das condicdes do viver em sociedade. Veja-se que, 0 conceito de desenvolvimento, além de traduzir sua complexidade © a natureza interdisciplinar, se aproxima da concepcao de Amartya Sen. f possivel afirmar que, tanto na concepgio de desenvolvimento de Castoriadis como na de Sen, esté contemplada regional 155 ‘a multidimensionalidade do desenvolvimento: social, econdmica, cultural, politica, espacial e hist6rica. Ou seja, o desenvolvimento € um fenémeno complexo que se realiza sempre em territérios especificos, Resulta de dinamicas socioeconomicas-culturais ruitas vezes conflituosas e da manifestagZo de forgas contrérias. Assim, as situagdes concretas de desenvolvimento se constituem em arranjos temporérios, que também podem ser chamados de actos socioterritoriais‘, repensadas temporariamente, considerando mudangas sociais, politicas, culturais e econdmicas que venham a ocorrer. Como tais situagGes so resultantes da disputa de interesses divergentes, a questo do jogo de poder precisa ser considerada, (© economista brasileiro Celso Furtado, numa de suas obras*, refere-se as dimensdes do conceito de desenvolvimento, afirmando que o mesmo tem sido utilizado contemporaneamente ‘em dois sentidos distintos. O primeiro diz respeito A ‘evolugéo de um sistema social de produgdo’, & medida que este, mediante a acumulagao ¢ 0 progresso das técnicas, toma-se mais eficaz, ou seja, eleva a produtividade do conjunto de sua forga de trabalho. O segundo sentido do conceito de desenvolvimento relaciona-se com o grau de satisfacdo das necessidades humanas. Este tiltimo est em consonfincia com a concepeo de desenvolvimento de Amartya Sen, jé referido, Acrescenta, ainda, Furtado que a ideia de desenvolvimento possui pelo menos trés dimens6es: (1) a do incremento da eficécia do sistema social de producio, ou seja, 2 satisfagio das necessidades elementares da populagao; (2) a da consecugdo dos objetivos a que almejam os grupos dominantes de uma sociedade; (3)ado aumento da eficécia do sistema de produgao, pela utilizago de recursos escassos. Considerando que tais dimensdes, muitas vezes so conflitantes, ou ambiguas, pois as aspiragdes de um ‘grupo social, por exemplo, 0 dominante, no necessariamente atende as aspiragdes da maioria da populacio, salienta o autor que a concepeio de desenvolvimento de ums sociedade nio alheia a sua estrutura social. Tampouco a formulacao de uma politica de desenvolvimento e sua implantago é concebivel sem

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