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DESCRICAO ESTATISTICA DE UM SISTEMA FisIco Os ingredientes basicos da analise mecanico-es ‘em equilibrio podem ser resumidos nas seguintes ctapas istica de um sistema fisico ta 1. especi denominado ensemble estatistico); icagiio dos estados microscépicos do sistema (que formam um conjunto, 2. estabelecimento de um postulado estatistico basico ¢ utilizagao da teoria das probabilidades. No caso de um sistema com energia total fixa, utilizamos a hipétese simplificadora das probabitidades iguais a priori, que conduz a defini¢ao do ensemble microcandnico; 3. estabelecimento de uma conexdo com a termodindmica, ou seja, com as varidiveis visiveis do mundo macroscépico. Um sistema fisico de particulas é governado pelas leis da mecanica (classica ouqui dependendo do nivel e dosinteresses da nossa andlise) que fornecem os meios paraa especificacio de um estado microscépico. No entanto, dependendo do fendmeno analisado, podemos construir modelos especificos, as vezes de carter semiclissico, em que a dinamica microscépica é drasticamente simpli- ficada, Nesses casos, levam-se em conta apenas os mecanismos essenciais que seriam responsaveis pelas manifestacdes fisicas estudadas. Por exemplo, para analisar as propriedades magnéticas de um cristal iénico isolante, é conveniente considerar uma rede cristalina rigida, desprezando 0 movimento vibracional dos ions magnéticos. Em modelos magnéticos dessa natureza, normalmente estamos interessados somente nos momentos magnéticos (isto é, spins) da capa eletronica, 42 © Introduto d Fisica Estatistica separando o efeito dos demai s Por razbes de ordem técnica, asvezes éinteressante introduzir um modelo di para um gas de N pa aus de liberdade (inclusive dos spins nucleares). reto uulas num yolume V: no chamado modelo do “gas de rede”, 0 volume € dividido em V células discretas que podem estar vazias ou ocupadas por, no maximo, uma particula, simulando 0 efeito de impenetrabi- lidade produzido por um pot a especificacio n ra cial intermolecular de carogo duro. Nesse caso, rosc6pica do sistema consiste na identificagio das configu- ices de N particulas em V células. O ensemble estatistico € constituido pelo conjunto dos estados microscépicos, aos quais serio associados determinados pesos probabilisticos. Neste capitulo, vamos utilizar uma série de exemplos para ilustrar a especi- ficacio dos estados microse6picos de modelos estatisticos. Também vamos enunciar © postulado fundamental da mec: construir 0 ensemble microca ndnico e apreser uma discussio sucinta das bases da teoria. A conexio com 0 mundo macrosc6pico sera postengada pa um préximo capitulo, aguardando a discussio das idéias basicas da termodinamica gibbsiana. 2.1 ESPECIFICAGAO DO ESTADO MICROSCOPICO DE UM SISTEMA: EXEMPLOS QUANTICOS Na mecinica quantica, um sistema estacionario é caracteri vado pela fungio :m geral, essa fimgio de onda pode ser escrita em termos de onda V(qusga-) de uma base ortonormal completa de autofungdes de um operador, como o hamil toniano do sistema. Assim, temos Y= Dende > o Hy = On > onde 9€ 0 operador hamiltoniano. Os auto-estados g,,, caracterizados pelo conjunto de 1 niimeros quanticos, fornecem uma maneira simples de contar os “estaclos microscépicos” do sistema, Mais adiante, vamos voltar a essa questio a fim de mostrar que a propria mecinica quantica j4 tem um carater estatistico trinseco, distinto da estatistica necessatia devidoa distribuicdo de estados micros- c6picos do sistema, Exemplo (1): particula localizada de spin 1/2 Ha dois auto-estados, Deserigdo Estatistica de um Sistema Fisico © 43 “() + Hh . correspondentes a “spin para cima ou }” © a “spin para hi vamente. Na presenga de um campo magnético H, a energia (hamiltoniano) 0 ou |", resp dada por +iyH, com spin L , a= -ji-F - HH = © MoH, com spin T , onde #é 0 momento magnético, com projecio 4, a0 | assumir 05 valores + 44, OU — Hy. ngo do campo, podendo Exemplo (2 muito fracamente interagentes), nia presenga de uma campo aplicado A. Nesse caso 0 hamiltoniano é dado pela soma rés particulas localizadas de spin 1/2, ndo-interagentes (ou, talvez, H = =f A = jig: A= jig A Temos, entao, oito auto-estados que sio dados pelos seguintes produtos: (i) } 1 + ou a agar, com energia—3, H; (ii) t 1 1, Gili) tL f e (iv) | t 1 ,comenergia -H Hs) Th 4,0) Lt 1 Wii) | | 1, comenergia+ n, He (viii) | LL, com energia + 34, H. Os auto-estados com ene! $+ 11, sio triplamente dege- nerados, Exemplo (8): Nparticulas localizadas ee spin 1/2, de um campo ff. Nesse caso, 0 hamiltoniano é dado pela soma Jiorinteragentes, na presenga a Si Hands; co ‘onde o conjunto de “Varidveis de spin”, [6,:j= 1,...N], com a; podendo assumir os valores * 1 para qualquer j, designa cada um dos microestados acessiveis a0 tema, De fato, sistema, Dada a energia E, temos grande degenerescéncia nesse a energia pode ser escrita em termos do niimero de spins para cima, Nj, ¢ do niimero de spins para baixo, Ny = N~ N,. Assim, temos 4 * Introducio a Fisica Estatstica HoHNy + HgH(N -N;) eo Portanto, y ) v4 cy ort) smesmas nocdes combinatérias que ja foram empregadas no problema do caminho aleatério para obter o niimero de auto-estados dada is a0 sistema com nergia E, Maisadliante vamos ver que, cada cenergia i, 0 postulado fundamental da mecanica tistica estabelece que toclos esses microestados sio igualmente provaveis. A conexiio com a termodiniimica se d por meio da fungko e esta copia, que deve ser id «lo limite termodi- ntificada com o logaritmo natural de Q (E, N), no cham iio E/N ragentes representa muito bem © comportamento térmico de um paramagnel N32, comara namico, em que sse modelo de spins ni 1. A introdugio de interagdes entre os spins, que torna o problema estatistico extn mamente complicado, & capaz de produzit um modelo par a explicacio dos fendmenos de orde mento magnético, como o ferromagnetismo. Exemplo (4): oscilador harménico unidimensional de freqiiéncia w. Nesse caso, osauto-estadossio cados pelos polindmios de Hermite, correspondendo aos autovalores dle ene! @) Exemplo (5): dois osciladores harménicos unicimensionais localizadlos ¢ inde- all w. penclentes, com a mesma freqiiéncia fundamen Como no caso dosspins locali s,em problemas quinticos dessa natureza o hamiltoni: no é somavel, H= Hy + Hy, os auto-estados se mul Deserigdo Estatistica de um Sistema. tiplicam, 6 1 2, € as auto-enengias correspondentes também se somam, By + By. Portanto, as auto-energias sio dadas por 1 1 Enya =[m+5 + [mg +5 Jno =(m +np +1), oy ‘onde o par (n,n) designa um auto-estaco quantico. O auto-estado (0,0) ter energia fw; os auto-estados (0,1) ¢ (1,0) tem cnergia 2h w; os auto-estados (0,2), (2,0) © (1,1) tém a mesma cnergia 3/1 w, ¢ assim por diante, ‘xemplo (6): conjunto de Noscitadores harménicos unidim € ndo-interagentes, com a mesma freqiiéncia fundamental w, Essa generaliza do exemplo anterior, que dé origem a um problema combi- natério lig mente mais sofisticado, constitui © famoso modelo de proposto em 1906 para explicar a variagio do calor especifico dos sétidos com a temperatura. As auto-energias sio dadas por 1 1 (ao) N =| m+.tny +> ho, oncle 0 conjunto de niimeros qunticos (my), com n= 0,1 2s. para qualquer dlesigna o auto-estado correspondente, Pocemos escrever essa energia na forma Mto+ no, ay ett onde o inteiro M- ny + # my represen mero total de quanta de energia no sistema. Para encontr cia dos auto-estaclos corresponclentes.a ‘hw — N/2 adores localizados. O problema combinat6rio é a degeneres essa energia, basta descobrir o ntimero de manei quanta de energia entre N osci analogo ao calculo da distribuigio de M bolas idénticas denwo de N caixas dis- postas a0 longo de uma determinada direcio. A figura abaixo auxilia 0 nosso raciocinio: 46 © Introdupto é Fisica Estatistica Na primeira caixa ha trés bolas, na segunda caixa, quatro bolas, na terceira, uma bola, ¢ assim por diante, até a tiltima caixa, que tem duas bolas. Para des- cobrir todas as configuracdes possiveis, devemos calcular todas as permutagdes de M+ N~1 elementos (isto é, das bolas mais as divisorias que definem as caixas) ¢ dividir 0 mimero obtido por M! (pois as bolas so idénticas) e por (= 1! (pois as divis6rias também sao idénticas). Assim, temos 0 ntimero de sao sistema com energia E, auto-estados acessi (M+N-1)! (z $n} : IN TES ay 02 Q(EN No capitulo 4 vamos utilizar (EN) para estabelecer a conexio com a termodi- namica ¢ obter a famosa lei de Einstein da variagio do calor especifico dos s6lidos com a temperatura. Exemplo (7): particula livre de massa m, em uma dimensio, dentro de uma “caixa de potencial” de lado L (ou seja, tal que 0 © x= L, com potencial nulo dentro dla caixa ¢ infinito fora dela). © hamiltoniano desse sistema sera dado por a3) as) cuja solugao pode ser escrita na forma (x) = Asen kx + Boos ke , as com as constantes A ¢ Breais ¢ a energia dada por a6) Descrigdo Estatistica de um Sistema Fisico © 47 Ascondigées de contorno, (0) (L) =0, fornecem o espectro discreto de auto- estados ¢ respectivos autovalores de energia desse sistema, 9(x) = Asenk, x 5 ea an E,==*, 2m nm =, onde n=1,2,3,... as) Mais adiante, neste texto, vamos preferir escrever a fi cdo de onda de particula nica na forma complexa 4 (x) = Cexp[ikx) a9) € utilizar condigdes periddicas de contorno, 6(0) = (Z), tal que (20) importante otar que, no limite termodindmico, L—> 2, condigdes de contorno intas devem conduzir aos mesmos resultados termo Exemplo (8): sistema de N particulas livres € ndo-interagentes de massa m, em uma dimensio, dentro de uma “caixa de potencial “ de lado L (ou seja, tal que 0=mSL,05y5L,. infinito fora dela). hamiltoniano desse sistema sera dado por «0S xy L, com potencial nulo dentro da caixa e en Portanto, temos a equagao de Schroedinger 48 © Introducdo a Fisica Estatistica Fy Ol oo ky) = BO(x),...52y), (2) cuja solugao é dada pelo produto ®(x,,---181) = Om (81) -- Oty (27) > 3) ondeas fungdes de particula iinica podem ser escritas na forma dy (x) = Cexp(ikx), como na equacao (19). A energia é dada por Eby wvahy = So (HP tt)» eh imposi¢ao de condigdes periddicas de contorno fornece a quantizagao dos nimeros de onda, (25) onde ny,...ny= 0,1, 2, + 3,... Um particular estado microsc6pico do sistema seria designado pelo conjunto de nimeros qu: tic 05 {hy,..hy). No entanto, as fungdes de onda de particulas quanticas idénticas devem ser simétricas (no caso de bésons) ou ani simétricas (no caso de férmions) diante da permutagio de diuas variaveis de posigao. A anilise dos microestados do sistema quantico de N particulas idénticas é, portanto, bem mais complicada; vamos postergé-la para um capitulo especifico deste texto. 22 ESPECIFICACAO DO ESTADO MICROSCOPICO DE UM SIS CLASSICO DE PARTICULAS Em mecanica classica, um sistema de n grausde liberdade fica perfeitamente especificado quando conhecemos as coordenadas generalizadas de posicao, ‘ovsys € aS Coordenadas generalizadas de momento, fy,...py,- Por exemplo, no caso de Nparticulas livres no espaco eucli ano, precisamos conhecer 3Ncoor- denadas de posigao € $N momentos, isto 6 x, 91.21.» INN Pay Phy Pay + Pay Pyy Bey E convenient introduzir 0 espaco de fase, constituido por 2n eixos, tal que cada estado microscépico do sistema de n graus de liberdade seja repre- sentado por um tinico ponto nese espaco. Veja a figura 2.1, em que o par (4p) designa o conjunto de variaveis q),.04qPt> «Py» Podemos representar no espaco Descrigao Estatistica de um Sistema Fisico #49 de fase todos os pontos (estados microscépicos) compativeis com as condicdes macrosc6picas de um sistema (energia, volume, ntimero de particulas). Ao con- trario dos exemplos quanticos, agora vamos ter de realizar uma contagem de 140. Portanto, € conveniente introduzir a funcio densidade p(q,p), tal que pdgdp dé o niimero de estados microscépicos com coordenadas generalizadas dentro da célula dg dp. estados microscépicos num espago con 2 70.7) ej Figura 21 Representacio bidimensional de um espaco de fise cisco. Exemplo (1): particula livre de massa m, em uma dimensao, com energia E, dentro de uma caixa de comprimento L (isto é, com 0 = x = L). Como a cnergia tem a forma E= f2/2m, o momento sera dado por p= J2mE Nafigura2.2 representamos o espaco de fase associadoa esse sistema. Todosos pontos situados sobre os dois segmentos da figura sio acessiveis A particula com energia E. Figura 22. Os segmentos indicam as regides acessveis «uma particula de energiaf'com posigio 0-< x J Nesse caso, 0 espaco de fase € bidimensional, mas a regio de pontos acessiveis ao sistema, constituida pelos dois segmentos da figura, é unidimensional. Isso 50% Introdupto Fisica Estatistica introduz algumas dificuldades técnicas. Seria interessante que a regio acessivel ao sistema tivesse a mesma dimensio do espaco de fase (isto é, que fosse uma area ‘em duasdimensdes, um volume em és imensdes, um hipervolume de dimensio dium espaco de fase ddimensional) . Para resolver essa questio, em ver de definir uma energia fixa E, vamos dizer que a energia esta entre Ee E+ 6E, onde 3E é uma grandeza macroscopicamente pequena, mas de valor fixo (mais adiante vamos ver que, no limite termodinamico, esse artificio facilita os caleulos ¢ nao tem qualquer efeito sobre a conexio com a termodinamica). Na figura 2.3 repre- sentamos as regides do espago de fase que io acessiveis ao sistema (as duas faixas hachuradas, com 4p = .[m/2E 5E), Portanto, o volume do espaco de fase acessivel a0 sistema sera dado por 2 Q(B, 1,58) = 2185p (2) 15E (2) Mais adiante vamos ver que, de acordo com 0 postulado fundamental da fisica estatistica, a densidade de pontos é constante na regido hachurada (com valor /0) € se anula fora dela. A entropia classica (embora nao tenha qualquer sentido falar de entropia para um sistema de uma tinica par- normalizado dado por ticulal) seria dada pelo logaritmo natural de ©. samo! ZZZZZ7A} tp cm Figura 2.3. Regides acessives a uma particula livre em uma dimensio com energia entre Ke f+ Ble posicio (0 x L., Os segmentos da figura 2.2 sio substituidos pelns reas hachuradas, Exemplo (2): oscilador harménico unidimensional com energia entre Ee E+ 86. O hamiltoniano classico desse sistema € dado por 2 1 waLia dng? , : ctgl en Descrigio Estatistica de um Sistema Fisico ® 51 onde méa massa e > 0 a constante de mola, Portanto, dada uma enengia Fa fio de ponto: essiveis no espaco de fase € definida pela clipse 23) Com a energia entre Ee £+ 5E, a regio acessivel é uma coroa eliptica (ver figura 2.4), en wea ¢ dada pela expressio 29) 1/2 Q(E, 6E) 2x(#) bE Nesse caso muito simples, o volume do espaco de fase acessivel ao sistema (isto é, a frea 9) & uma fi \cdo independente da energia! Figura 24 Reyiio do espaco de fixe acessvel a wan oxcilaor hariénico wid Be bs BE nensional com enengia entre Poderfamos agora propor varios outros exemplos. $6 que acima de duas dimensdes comega a ficar dificil desenhar no papel 0 espaco de fase! Além disso, nem sempre é facil calcular hipervolumes de regides limitadasnesse espaco. Vamos, portanto, apresentar apenas um exemplo adicional, de enorme interesse fisico. Exemplo (3): gis ideal classico de N particulas monoatémicas e ndo-interagentes (ouseja, desprezando quaisquer interagdes entre as particulas), cle massa m, dentro do volume V, com energia entre Ee E+ BE. Ohan ‘oniano dese sistema é dado por (30) 52 © Introdupto é Fisica Estatistica As coordenadas de posicao, | %j;j=1,..-, N}, variam irrestritamente dentro do volume V. Cada componente das coordenadas de momento pode assumir valores entre ~ % € +, com a restrigao de que a energia total esteja entre Ee E+ 6E. Portanto, o volume do espago de fase acessivel ao sistema, = 0 (E, V, N; 8E), seri dado por Ju fea 24 tfy?s2m(E+8E) DB py (a vN J 2m ES PP +-—-+py*<2m( E+SE) Para calcular essa tiltima integral, em primeira ordem em 6E, vamos recorrer & fomula para o hipervolume de uma hipercoroa esférica de raio Re espessura OR num espaco dimensional (ver apéndice A.4), 2,(R;6R) = C,R"6R, (32) onde C, € uma constante que depende apenas da dimensio n. No nosso caso, Ne R= (2mE)1/2, temos ci (33) 2 224(€,¥. N88) =( Prewtem ondeaconstante C;yy podeser obtida por meio das formulas do apéndice. Sistemas dessa natureza, em que o volume € a energia, no limite de Ngrande, comparecem na expressio de 0 na forma de poténcias de uma fracao de N, constituem exemplos importantes de fluidos ideais, que vamos chamar de “sistemas normais”, *2.3 ENSEMBLE ESTATISTICO, HIPOTESE ERGODICA, POSTULADO FUN- DAMENTAL DA MECANICA ESTATISTICA nto dos pontos do espaco de fase classico, acessiveisa um determinado sistema (ouseja, com- © conjunto dos auto-estados de um modelo quantico, ou o con) pativeis com certos vinculos macrosc6picos) constituem um ensemble estatistico. Descrigio Estatistica de um Sistema Fisico «53 ae Pap.) Figura 25 Trajetria de um ponto no espaco de fase Para dar uma ilustracdo do que vem a ser a hipdtese ergédica, que fornece as bases para o estabelecimento do postulado fundamental da fis vamos considerar a trajet6ria no espaco de fase, a partir de certo a estatistica, stante f,, de um sistema classico de ngraus de liberdade (ver figura 2.5). Na formulagao hamil- toniana da mecénica classica, em que o hamiltoniano #€é funcao das varidveis independentes g, p, « (¢ onde qe psao parametrizadas pelo tempo 0),a trajetéria no espaco de fase € governada pelas equagées de Hamilton, Hey ga aimee 34) Dadas as condig: as trajet6rias, embora muito complicadas, nao devem se cruzar no espaco de fase. iciais, as solugdes dessas equacdes sio univocas. Portanto, ‘Vamos agora considerar um conjunto (macroscopicamente denso) de pontos em certa regio do espaco de fase. O ntimero de pontos nessa regiao, 10 tempo 4, pode ser caracterizado pela densidade p = p(q, p, t). Assim, p(q, p, 1) dqdp representa o ntimero de pontos, no instante de tempo ¢, com coordenadas entre ge qt dge pe p+ dp. Agora é facil estabelecer uma equacdo para a evolugao temporal da densidade, # dt 9 4, 2 , 9 dH dp an , ap ap %® gt ap? a aq ap ap ay * at CD Definindo os parénteses de Poisson de p com 3, a0 apd 1% }= 3 op op aq eo 54. © Introducio d Fisica Estatistica podemos escrever a equacio diferencia ra ap 7 Balp,n}+2 (37) rian aaa Como o mimero de pontos no espaco de fase se conserva, isto €, os pontos repre- sentativos de um sistema fisico ndo podem ser criados ou destrufdos, pois as tra- Jjetorias nunca se cruzam, temos uma equacao de conservacio, freeng fow. em que Sé uma hipersuperficie fechada que engloba o hipervolume ¥, ¢ 0 fluxo é dado por J = pv, em que o vetor v = (jp) € uma velocidade generalizada, Utilizando 0 teorema de Gauss, a equacio integral (38) se transforma na equacao diferencial (39) em que V = (0/04, 2/Ap). Explicitando a forma do divergente generalizado, podemos escrever a a 2 2 =-2. 40) 3 (9) * 5p PP) x (40) Utilizando as equacdes de Hamilton, temos ; men onemmoer ta) «a ai Pb Portanto, a equacao (40) pode ser escrita na forma a a a B44 9B + = {0.9 (42) Comparando as equacdes (37) € (42), obtemos o famoso teorema de Liouville, dp onstante (43) Descrigio Estatistica de um Sistema Fisico ® 55 que funciona como ponto de partida para varias formulagdes da fisica estatistica dos sistemas fora do equilibrio (como ser discutido bem maisadiante no capitulo 15). O teorema de Liouville garante que pé uma constante, ou seja, que os pontos ho espaco de fase se movem como um fluido incompressivel. Numa situacao de equilibria, isto &, estaciondria, quando a densidade p nao deve ser uma funcio explicita do tempo, temos ap Pao {0,0 a) ou seja, a funcao p= p(¢, p) s6 deve depender das coordenadas generalizadas qe ppor meio de uma funcao do hamiltoniano do sistema, 9/= (4, p). Logo adiante vamos ver que esse resultado fornece uma justificativa para o estabelecimento do postulado fundamental da mecanica estatistica em equilibrio. Apés todos esses preliminares, vamos voltara hipétese ergédica. Para calcular uma média temporal de certa grandeza f no laboratério, normalmente tomamos a média de varios valores de fnum tempo grande 7. Assim, temos o valor médio Dav = tin 4 J rae fe A hipétese ergédica consiste em supor que esse mesmo valor, no equilibrio, pode ser obtido por meio de uma média no espaco de fase, _ Jcla.)o.0)eaty “ Jota. )ania (4) (N, onde 0 ensemble € constituido por todos os estados microsc6picos acessiveis a0 sistema. A média temporal é substitufda por uma média sobre o ensemble esta- {istico, Estamos supondo que os pontos do ensemble sejam e6pias figis do sistema macrosc6pico ¢ que, no decorrer do tempo, a trajet6ria do sistema fisico no espaco de fase deve visitar todos os pontos do ensemble. Justificase, portanto, a substi tuicdo da média temporal por uma média instanténea no ensemble. Vamos usar implicitamente a hipétese ergédica, como um instrumento de trabalho, que se jjustifica por meio das suas conseqiiéncias. No entanto, desde o inicio do século (a -rg6dica ja foi proposta e utilizada por Boltzmann), hé longas dis- cussdes sobre a validade da hipétese ergédica, cujo estudo acabou dando origem pote 56 © Introducio a Fisica Estatistica um ramo da matematica. A hipétese ergédica na sua forma mais forte somente pode ser verificada para sistemas extremamente: mples (como um oscilador har- ménico). No entanto, formas mais fracas da hipétese ergédica, que teriam validade em “quase” todos os pontos do espago de fase (ou seja, exceto em regides de medida nula), tém sido analisadas na literatura, O leitor interessado nessas questoes deve-se referir a um excelente artigo de revisio, publicado por Joel Lebowitz © Oliver Penrose em Physics Today (fev. 1973, p. 23) Agora estamos preparados para enunciar o postilado fundamental da mecanica estatistica em equilibrio (ou postulado das probabididades iguais a priori), que sera justi- ficado a posteriori, por meio de suas conseqiéncias. Em wm sistema estatistico fechado, com energia fixa, todos os microestados acesstovis so igualmente provdveis. Essa suposicao de probabilidades iguais, a prion, de certa forma representa um reconhecimento da nossa ignorancia sobre o estado microsc6pico do sistema. No caso do paco de fase clissico, a densidade p deve ser constante na regido acessivel ao sistema nuula fora dela (em concordancia com o teoremade Liowville). Nesse caso, podemos construir uma densidade devidamente normalizada por meio da definicio YQ para ESH(q,p)SE+5E, p= «an 0; de outra forma . No caso de sistemas quanticos ou de modelos discretos, a probabilidade é dada simplesmente pelo inverso do m~imero © de microestados acessiveis ao sistema. Definida a distribuigao de probabilidades associada ao ensemble estatistico, que esse caso especifico se denomina ensemble microcanénico, podemos aplicar os métodos usuais da teoria de probabilidades. #24 CONSIDERAGOES SOBRE A FORMULACAO DA MECANICA ESTATISTICA DOS SISTEMAS QUANTICOS Em mecanica quantica, um sistema é caracterizado pela fungao de onda ¥, que pode ser expandida em termosde um conjunto completo (4, | 4 ortonormalizadas de um determinado operador. O processo de medida de certa grandeza pode ser desci mntofuncde pela chamada redugao do pacote de onda. Assim, adotando o ponto de vista mais tradicional da mecinica quantica, a cada grandeza fisica 0 esta associado um operador O tal que Oy =O Vn» (48) Deseigo Extatistca de um Sistema Fsico © 57 ‘em que {¥,} € um conjunto completo € ortonormalizado de autofuncdes € 0, € co autovalor correspondente a #/ ,. A funcao de onda do sistema pode ser escrita na forma = Lenn 49) O processo de medida da grandeza fisica 0, efetuado pela interacao.com um objeto clissico, pode produzir um particular valor o,, passando o sistema quantico a ficar no estado Jy. No entanto, a priori, podemos dizer apenas que ha certa probal lidade, dada por |c,|2, de obter o valor o,. Se dispusermos de um niimero muito grande de sistemas, todos idénticos, devidamente preparados no mesmo estado ¥ (por exemplo, por meio de uma selecio efetuada por medidas anteriores de outra grandeza fisica), obteremos uma distribuigao de valores da grandeza fisica 0, com o valor médio, ou valor esperado, dado por (MOI) = Ne cu(v mlO1¥n)= DerenPn(V al ¥n)= Dokl a (50) ‘Até agora o proceso descrito envolve apenas 0 carter estatistico intrinseco da mecnica quantica. Nao ha qualquer referéncia a respeito da possivel igno- rancia sobre o estado microscépico do sistema. O que aconteceria entio se néo soubéssemos cxatamente a fungi de onda V? Isto é, se 0 sistema pudesse ser encontrado num conjunto grande de funcdes de onda ¥, todas elas compativeis com as condigdcs macroscépicas. Nesse caso, deve ser efetuada uma média esta- semelhante tistica extrinseca, devido A nossa ignordncia sobre o sistema, m a0 que se faz em mecanica estatistica classica, ‘Vamos considerar novamente 0 valor esperado do operador O, utilizando agora uma expansio de V em termos das autofungdes ¢,, do operador hamil- toniano, ¥= Dan on onde conhecemos todos os coefientes a,,. Entio, temos o valor médio intrinseco da mecanica quantica, (wi01)= (0)= Zenon (al Ol0n) 62 58 * Introduco & Fisica Estatistica Se nao conhecermos exatamentea funcao V, devemos fazer uma média estatistica sobre todos os seus valores, ou seja, sobre todos os valores dos cocficientes ay, ‘Vamos designar por ( ...),y €ssa segunda média. Assim, temos (()),, 5 L(ehan) (Gn!O10,) = Leia), Onn (63) Amédiaestatistica(ay, ay). pode ser muito dificil de calcular. Vamos simplesmente definir uma matriz densidade, Pam = (ir) 4) ((0))_, = & Pam Om = ¥(P0),, = TF PO= Trop 5) Quando 6 for diagonal na representagio |, isto é, quando 6,,,= 0,5, teremos. (A), Lomas w onde a soma é sobre 0s auto-estados quanticos definidos pelo conjunto {by} Essas tiltimas expresses devem ser comparadas com a média no espago de fase classico, utilizando uma densidade normalizada, (s(aP))= JAlo-r)elp)aade : 6 A matriz p desempenha, portanto, o mesmo papel da densidade clissica norma- lizada, p(q,p). Nosso postulado fundamental, no caso quantico, significa que os elementos de matriz p,,, devem ser iguais a uma mesma constante para todos os auto-estados com a mesma energia E (ou com energia entre Ee E+ 6E, se for mais conveniente) EXERCICIOS 1. Os nitcleos dos atomos de certos sélidos cristalinos tém spin S= 1. De acordo com a teoria quantica, cada micleo pode ter trés estados quanticos de spin

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