Está en la página 1de 4
Esté-se perante uma situago juridica internacional, isto é uma situago com conexdo a varios ordenamentos juridicos, no caso, em virtude da nacionalidade, residéncia habitual e local da celebrac3o do ato, pelo que importa determinar qual a lei competente para regular esta situagéo. Em ordem a determinar a lei competente cumpre recorrer as regras de conflitos vigentes no ordenamento juridico portugués, as quais podem ter fonte interna ou supranacional (em convengées internacionais ou no Direito da Unio Europeia), prevalecendo as segundas sobre a primeira, por forca dos n.2s 3 e 4 do Artigo 8.2 da Constituigéo da Republica Portuguesa (CRP). No caso, esté-se perante um problema de capacidade matrimonial, para o qual nao existem regras de conflito de fonte supranacional aplicdvel, isto &, ndo se preenchem os ambitos de aplicago de qualquer regulamento da Unio Europeia ou de qualquer convencdo internacional igente no ordenamento juridico portugués, pelo que se deve recorrer as regras de conflitos do Cédigo Civil (CC) em ordem a determinar qual a lei aplicdvel. Em particular, deve-se recorrer a0 Artigo 49.2 CC, uma vez que a situacao da vida é, em principio, subsumivel ao conceito quadro “capacidade para contrair casamento”, 0 qual deve ser interpretado de forma auténoma, recorrendo-se a forma como esse conceito é interpretado no ordenamento juridico portugués, mas com autonomia desse em ordem a abranger outras realidades juridicas. Deste modo e atendendo aos Artigos 1600. e ss. CC, 0 conceito quadro deve ser interpretado como abrangendo “todos os pressupostos positivos e negativos que uma pessoa deve possuir de forma a puder contrair casamento”, sendo essa a situacdo visada no caso. Quanto a Capacidade Matrimonial de A: 0 Artigo 49.2 CC manda aplicar & capacidade para contrair casamento a lei pessoal, sendo esta a lei da nacionalidade, nos termos do Artigo 31.2, n.2 1 CC, Pelo que a capacidade para contrair casamento serd regulada, em principio, pela lei da nacionalidade de A, isto é, a lei venezuelana. Sucede que o direito internacional privado venezuelano considera competente a lei do domicilio de A, considerando assim competente o direito alemio, que por sua vez considera competente o direito venezuelano por considerar competente para regular a situacao o direito da nacionalidade. Sendo que quer o direito venezuelano, quer o direito alemao praticam devolugdo simples, ou seja: e™ Leto, Ar492+ DS ps 3.2/1 Em regra, 0 Direito Internacional Privado portugués néo admite 0 reenvio, praticando referéncia material, cf. Artigo 16.° CC, sucede, no entanto, que existem excecdes previstas nos Artigos 17.2 e 18.2 CC. No caso, no se est perante nenhuma das excegbes do Artigo 17.2 ¢ 18.2, apenas estando-se perante uma aparéncia de transmissdo de competéncias (isto ¢, do Ambito de aplicagéo do Artigo 17.2), uma vez que o direito venezuelano 20 praticar devolugo simples vai remeter para as regras de direito material e regras de conflitos do direito alemao, ficcionando que o sistema de devolucdo por esse praticado é 0 de referéncia material, assim, como o direito alemao considera competente para regular a situago a lei da nacionalidade (a lei venezuelana), 0 direito venezuelano considera-se competente. De referir, por outro lado, que 0 direito aleméo, ao praticar idéntico sistema de devolucao, iria-se considerar a si préprio competente. Desta forma, ndo se estando perante uma situacdo do Artigo 17.2 ou do Artigo 18.2, pois 0 direito venezuelano considera-se a si préprio competente, entdo, por aplicagdo do Artigo 16.° CC, o direito internacional privado portugués consideraria competente o direito venezuelano. Nao se colocam problemas de ordenamento juridicos complexos. Nos termos do Artigo 15.2 CC, as regras de conflitos apenas conferem titulo de aplicago as normas que integram 0 contetido do conceito quadro, pelo que cumpre proceder 3 chamada qualificagdo. Este processo légico pode ser reconduzido a 3 pontos fundamentals/momentos de analise: 2 A interpretaco do conceito quadro ~ no caso, conforme referido supra, o conceito quadro de “capacidade para contrair casamento” deve ser interpretado como abrangendo todos os “pressupostos positivos © negativos que uma pessoa deve ter para puder casar”, cf. supra quanto & metodologia de interpretacdo desse conceito. 2.2 A caraterizagio das regras estrangeiras pretensamente aplicdveis a situagdo ~ a norma venezuelana que dita que as pessoas do mesmo sexo ndo podem casar é uma norma que estabelece um pressuposto negativo para se puder contrair casamento, pelo que, esta norma, regula matéria de capacidade matrimonial. 3.2 A subjungdo ou qualificagio stricto sensu — em virtude do seu contetido ¢ funcio, isto é, por estabelecer um impedimento ao casamento, esta norma do direito venezuelano é subsumivel ao conceito quadro da regra de conflitos do Artigo 49.2, ndo sendo relevante o facto que este impedimento se reporta a uma qualidade da pessoa do outro cénjuge (mesmo sexo de A). Desta forma, da aplicacao do direito venezuelano resulta que A ndo pode casar. Cumpre questionar se da aplicago do direito estrangeiro resulta uma situago juridica contréria aos valores e principios estruturantes do ordenamento juridico portugués, isto , cumpre saber se houve ou néo violagio da ordem pablica internacional, cf. Artigo 22.2, como é alegado por Ae B. Ora, para tal cumpre analisar que: - Por um lado, a evolucao sécio-cultural da ordem publica internacional portuguesa, isto é, 2 evolugao dos valores e principios estruturantes do ordenamento portugués parecem apontar para a absoluta necessidade da admissdo desse tipo de casamentos, pois: i) © legistador portugués passou de sancionar os casamentos entre pessoas do mesmo sexo com inexisténcia juridica para os permitir, em igualdade, com os casamentos entre pessoas de sexos diferentes; ji) tal implica uma violagao do principio da igualdade e do direito fundamental a constituir familia, vertidos, respetivamente, nos Artigos 13.2 e 36.2 da CRP. = Por outro lado, a recusa de aplicagio das regras de direito estrangeiro & excecional, sé devendo ter lugar quando a situaggo tem alguma conexio com 0 ordenamento juridico Portugués, nao sendo certo que, na generalidade das situagées, o facto que o ato est a ser praticado em Portugal suficiente para a acionar. Sem prejuizo da reserva referida, a verdade é que o que esté em causa 6, no tdo-somente um direito fundamental, mas também um direito humano, pelo que, & semelhanca da inadmissibilidade da aplicagao de lei estrangeira que admita a venda de pessoas por aplicagao da reserva de ordem piblica internacional, deve-se acionar, no caso concreto, tal reserva, vedando a aplicago da norma do direito venezuelano que proibe o casamento entre pessoa do mesmo sexo. ‘A sangdo da reserva de ordem publica internacional ¢ a desaplicagao das regras contrérias a esta, cf, Artigo 2.8/2 CC, isto é, preside & aplicaco da reserva o principio do minimo dano da lei estrangeira, Nos termos do Artigo 22.2, n.2 2 CC, deve-se recorrer &s regras mais apropriadas da legislacio estrangeira e s6, subsidiariamente, ao direito material portugués. No caso, pode-se recorrer 8 possivel regra geral do direito venezuelano que admite o casamento. Quanto a Capacidade Matrimonial de B: Conforme referido supra, o Artigo 49.2 manda aplicar a lei pessoal, a qual, nos termos do Artigo 31.2, n.2 1, corresponde a lei da nacionalidade do visado, ou seja, no caso, a lel brasileira. Sucede que no caso, a lei brasileira considera competente a lei do domicilio de 8, no caso, a lei portuguesa, sendo que a aplica, uma vez que pratica referéncia material, isto apenas remete para as regras de direito material do direito portugués, ou seja: xe™ L>L, Ar 492+ RM 3L.8/1 No caso, esté-se perante uma situagdo de retorno & lei portuguesa, ou seja, a excego prevista no Artigo 18.2, n.2 1, a qual tem como inico pressuposto o facto que a lei estrangeira aplicar 0 direito material portugués, 0 que ocorre no caso, uma vez que o direito brasileiro praticar referéncia material, aplicando-se assim o direito portugues. Sem prejuizo, como se esté perante matéria da lei pessoal (capacidade, cf. Artigos 25.2 e 49.2 CC) cumpre verificar o preenchimento do n.2 2 do Artigo 18.2, o qual tem 3 pressupostos, os quais esto preenchidos, pois: i) esté-se perante uma situagao do Artigo 18.2, n.2 1; ii) esté-se perante uma situacao abrangida pela lei pessoal; iil) o interessado reside em territério portugués (B reside em Lisboa, Portugal). Como Artigo 18.9/2 est preenchido, deve-se admitir 0 retorno. Por fim, para se admitir o retorno & necessério demonstrar que nao esta preenchido 0 Artigo 19.2, n.2 1 nfo est preenchido. Como da aplicagao do direito portugués resulta que B tem capacidade para celebrar o casamento, entdo, o Artigo 19.2, n.2 1 ndo pode obstar ao reenvio, pois tal pressupde que da aplicacgo do direito aplicavel pelo Artigo 18.2 ou 19.° resulte a ilegitimidade de um Estado (no caso, capacidade}. Assim, é aplicével & capacidade matrimonial de 8 o direito portugués. Porém, apenas sero competentes as regras de conflitos abrangidas pelo conceito quadro do ‘Artigo 49.2 (cf. supra aquando da qualificacdo do direito aplicavel a A). 1.2 Interpretagao do Conceito Quadro - vide supra por se tratar da mesma regra de conflitos; 2.8 Caraterizago das Regras pretensamente aplicdveis - ao no estabelecer nenhuma proibi¢ao ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, 0 direito portugues esté a admiti-lo, devendo-se caraterizar a norma resultante dessa omissio como tal facto no consubstanciar Pressuposto negativo no direito portugués; 3.2 Subjuncao ou Qualificagdo Stricto sensu — as regras do direito portugués constantes dos Artigos 1600.2 e ss., inclusive a omissdo de um pressuposto negativo ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, sao subsumiveis ao conceito quadro do Artigo 49.2. Por aplicacio do direito portugués, B pode casar com A. Conclusao: i) & aplicavel 8 capacidade matrimonial de A a lei venezuelana, com excegdo das regras contrarias a ordem publica internacional portuguesa, cf. supra; ii) aplicdvel & capacidade matrimonial de B a lei portuguesa; ill) Ae B podem casar.

También podría gustarte