Está en la página 1de 144
Esti em tédas as livrarias um dos livros mais Gtele © necessi- rios dos Gltimos tempos, aparecides no Brasil — MANUAL DA SE- CRETARIA PARTICULAR, de Bernice C. Turner, uma famosa se- e professéra norte-americana, livro éste adaptade as condi- os chefes de servico, para o funcionalismo piiblico em geral, tem ainda amplas possibilidader de atender a tédas as pessoas, pois cuids de numerosos problemas da vida moderna. Ensina como um fichirio, uma biblioteca, conversa com os companheiros ¢ che- fes, possibilidades nos empreges, manga de lugar, etc. © MANUAL DA SECRETARIA PARTICULAR, de Bernice ©. Turner, considerado © methor no género, ndo s6 porque abrange todes es problemas que uma sccretiria enfrenta na sua profissao, como auxilia satisfatériamente as chefes de serviso, dirctores de ‘aiganizagces © outros dirctores no desempenho de suas fun Uma Ediggo CRUZEIRO - Prego Cr$ 100,00 Pedidos pelo Reembélso Postal 8 Rua do Livramento, no 191 - * EM TODAS AS LIVRARIAS A CIGARRA o. uesimio pe wai Suit 00 St REDAGAO Diretor FREDERICO CHATEAUBRIAND Secretirio Redator-chete ‘ARY VASCONCELOS sistente HERBERTO SALES @ ACAD: — Assis Ninel Lopes: de tente: Hello Lo Blanco, ‘COLABORACA © Rangel Bai Christiano Hennig, Constanti Faléblogo, Elsa Marzulto, Fred Fico Pinkelro, Helena Ferraz, Torahim ADI-Ackel, [ise Sum Bmoslens, Leon Ellichar, Lovr- Ges G. Silva, Lulz Eduardo da Silva Machado, Lule Felipe Rocha Fragoso, Luiz Mure ‘Maris Lufss, Marla Teresa, Mix rio Lima, andes, Rul Costa, Sil mipala, Stella, Sylvio Alves ¢ Sylvia Tullo Car aso. , REFORTAGE iva, Artindo Silva, Ser, HelGphile Terra e José Leal FoTOG Alexandre, Edgar einen Barreto, Jean Manzon, J 08, Wareel Cognac’ e Plecce Verger DEPARTAMENTO ARTISTIC: Alceu Pena, Arci Moura, Armando Pa: “Arlog. Estevao, | Carlos {co Blanco, Humberto ‘eronymo Ribeiro, J Morals, J, “Moura ly, Orlando ne, Santa Rosa eV Nome: todo o Brasil mezo_avulso Porturid € poldning. Assinacura qnunl sob registro. m6 dco, para o Bros Assinature anual stro! para Por- tugal ¢ Coldnias, Crs 200,00 Agentes em todus as cldndes do Brust) ertspondentes nas Pringipals cldades do mundo. Rédaclo ¢ Admintstraeio Rua do Livrament Tel, $34 Publleldade: Suourenis: Er Sete de Abril, Em Belo Hottve: 4 21828, i = Praga da Independencia, Publlcidade em 5. Paulo: ‘DE | IMPRENSA (SILA) Rita Sete de Abril, = 2a, dos “Diirios Associados’. Tiragem diste _mimero, pela qual nos responsabitiza- mos: 63.000 vat BRIL, més folhas séeas de outono, a0 encontra do PVC pCi CE etiee nt Pes cnCcae en aeRO) fio de gélo a eseorrer nc tempo. Tu, que féste o” segundo econ erect mnts entice at Rt ey te dig primeiro 9 povo reunir-se ao redor do’ tempio de Te- EI tees ees lpasec tae emt Motte faite re coeent oem mmenT Ty Tete) bril de tristes azaléias lilaves, estiolando, Tinel de cin- Rice et CMa name om Ma cer etic Poe CounGn arora ute cig wae aie RCW ean siete eat ineee ate ot tarts feltaram os dias de ontem’ e compor o nosso Judas de mentira, fazendo-o feio, imaginando-o desengoncade, de narlz comprido, olhos grandes, gulosos de dinheiro... de tints dinheiros. © Iscariotes deve parecer-se com um BSCR L eebc cere Ce ese Vetoes came an pt ve a rams tT Seen e ee MO Merete MC M ntsc PC Reon es Seine cece te an AE T Cea ay ucle ar de traidor, de covarde. Pvpe ICH muircU tiem semana CS (ome Comber RT EeL er o/s Siar PrceLta Memes Mpmatr nal Metesalg EOE eset SUICSMTGC EHC Wo tec co Peete eee crise anata acs Eon Ergo Un esse tot STORE US Cece i a Ue: Keg clare, ease da cme reve UCcComeme mercer tru oya)s era Se aR eC Cat ees a Ean if CO cea Tut tas escort icra sco CEC ee es fetta cars see heen ty Cl Meier rents Crmc at mit emra cnr ster lentsn tai) em que a histéria descreve 4 tessurreican do Crist ay. ocean a Ree as Pe aera CMC Um mmm oe rm tedd Re RCC COh ae tape ae ene eae tea ate eam Eu amsoSnE Ce Games an Uitte lc E aut ae) ove Rec ORE Me UE Men igce esac Mcrae ta aT ET po ae ces aceae ichc) GoMaT Coe Tec r oe Seana 6 SALDANHA COELHO Rio — Abril de 1949 0 pove seuss oe Ihistas, os retalhistss culpam os frigorificos @ éstes alegam cscassex de A_ARTE DE LUDIBRIAR O POVO A ORDEM E... ROUBAR Texto de HELIOPHILO TERRA - Fotos de DOUGLAS ALEXANDRE RIO de Janeiro j4 foi um paraiso, embora nfo se acre- dite. Comia-se hem, vivia-se des- preceupado © tudo era motivo para tornar a vida melhor e mais des- frutavel. Néo havia o problema da_habi- tagio, Podia-se ficar tres dias ¢ trés noites visitando, sem o menor compromisso ¢ sob mil deferéncias do senhorio, as dozentas © tantas casas de aluguel anunciadas ii Fiamente nos jornais matutjfios. ‘As mulheres nio trabalhavam fora, cedia-se-lhes 0 lugar os ‘bondes e brigava-se quando al guém empurrava ums. delas, ainda que fein. O que os homens ga- mbayam dava para sustentar una imensa cll até 0 terceito grau de PArentesco. Com 0, advento da Estado Novo 2 coisa midou, Toda uma corja de salteadores © comtrabandlistas, qué ainda se mantinha ao largo na expectativa de Getilio sair, preci- pitou-se no eécho com esfaimada sofreguidio, vinda de todos os la- dos, como uma muvem de gafa- notes vorazes. O interyencionismo estatal ma vida privada, em um pais onde a produsio ainda cngatinhava présa ao fraldismo da pequena manuf: tum, afogou-se de promo no. dé ficit' € no caos administrativo. Para controlar os presos © a li- ‘vre-concorréneia, combateu-se chamada superproduglio, que na realidade mio passava de uma mascara pomposa do subcottsumo reguitante do baixo padrio de vida Assim, pouco a pouco, os brasi- Jejros foram se acostumando com 9 novo cavalciro do apocalipse di- tatorial — 0 cimbio negro. Cim- bio negro do sal, da batiia, do agicar, da came, da cebola, do cimento.... Excecio feita ds doengas oriun- das da desnutrigio, tudo faltava a0 homem pobre. Os circulos vicio- '$05 $¢ entrelagavam com espantosa harmonia. Se nio havia leite era porque o gado estava dessalitrado, seo_gado estaya dessalitrado era por falta de sal, ¢ a falta de sal Provinha do cambio negro deste produto, que passava, desde as sa- linas ao consumidor, pelas mios dc dex intermediirios que the ma- joravam @ prego exatamente dex vézes, Os erladores, por seu lado, vol- taram-se para a criagao de gado fino, indistria por demais aconse- Thivel ¢ luerativa a una época em que tudo rodopiava no vortice da inflagio. E com a mesma légica € necessidade com que se fundou a era getuliana, deu-se por inaugu- rada a dinastia do zebu, eugénica ¢ comercialmente superior iquela, e seus exemplares chegaram a atin- gir cotagdes fabulosas. © gado de corte, que ainda pe- rambulava nas invernadas paulis- tas ¢ mineiras, foi exportado para © estrangeiro em troca de sonoras divisas, que se conservam até hoje em, situagio de semibloqueio a zona do esterlino, E assim veio 9 racionamento F comb medida contemporizadora Dass ieihee 5 Foam acrecal, vis seria necesséirins dex anos } mara sua completa testauragio. © poo, que niin pasticipara ° do hanquete, foi solenemente convo. ado na hora do sac ae virtude da carne recebida nfo es far argem a lveros com: pensadores, cougucirés a éle recorreram, usando os. recursos sonuins do Iudibrio, © déste moda conseui mtrabalangar os I~ f0s © prejuizos Depois de tude, da panela me Hida ¢ remexids, emtregou-se 0 caso, que outrora se resolvia no ambito da criagdo intensiva, 4 ar- itragem da gendarmeria de_con- trdte. Competir’ latoragio com a Policia, me temperatura do docnte. © trar-the os paliatives a fim de comisiter a profunda lesio can- sada. pelo sifilismo. cstadonosi EP justamente ai que comccames 1 fossa reportagem, Uma bicicleta de entregs 2 domicilio a esta, em ci A Delegacia de Economia Po- tmlar, que funciona num pardiciro da Avenida Mem de S: dar tiova forma e amplitude as atri= buighes da antiga 3% Delegacia Auxiliar, Bese servigo — de fise calizagao € repressio aos crimes Depois de verificado que a came se destina 20 cimbio negro... contra a economia popular — an- tes a carga de uma peqitna s¢- $0, & atualmente, por orga da extraordiniria miultiplicagio dos gatunos, um verdad quartel com quase 2X) homens, Sia agio se pauta sobretudo: nas. resolugtes ds, Comissio Central de Pregos combinadlas com os dispositivos pe- nais em vigor, Apesar do elevado niimero de funeionarios, ha falta de pessoal no setor de pregos. Os carros ¢ a gasolina a servico. da delegacia sf0. também _insulicien tes, Existe ainda, se bem que em france declinio, a desonestidade de alguns policiais, que as vézes re- Jaxam o flagrante, falta punida ‘om a pena de demissio, afora 0 processo criminal, que € rigoroso, No entanto, as ocorréncias de ex- torsie € subrmo tim rareado 0 css 0 ciclista é conduside & Delegacia para ver autuado em ——timamente © a grande maior fieereates cqucinas apresentadas provém da asi estranhos 4 Delegacia ¢ 4 Policia, € que se organizam em quadrilhas. Para evilar confusio © para que profissionais, melhor se localizem ésses_ grupos criminosos, o Delegado Schwab: terniog obrigatériea 0 uso de uma ficha especial de identificact sim, qualquer turma que se re ewsar a exibi-la deve ser imediata mente présa ou denunciada a Ra. Gio-Pateulha, que agiri inconti nent Atualmente, 0 que mais preocupa 5 agentes secretos ¢ 0 caso da carne, Com as manobras altistas dos frigerificos — que veio agra- Vat considerivelmente a sitiagio de semi-racionamento puseram= s€ as turmas em posigio de com- bate para atacar os agouguciros aproveitadores, A guerra comeca is 2 da ma: drugada ¢ termi 10 da ma- nh. Acompanhamos certa vee uma dessas diligéncias, a pé, pois faltava gasclina endo se podia reabastecer 0 carro, ¢ a impressio que nos deixou o detective Bessa € 05 investigadores Agostinho ¢ Parada foi o que melhor se pod esperar te operosidade © exagio no cumprimento do dever 03 acougu culpa a falta de carne, que nic di lucro, € 36 no cerram as por iros, como sempre fas para nfo incorrer no “lock ont”, de feito desmoralizador Em consec obedientes & ve tha praxe que intermediario nunca Pere, o prejuizo é transferido ao consumidor pelos tramites sinuo: bio negro ¢ por um Proceso virtualmente licito. © agougueiro sé fornece carne os fregueses que se sujeiturem a pagar, por fora, o acr fipulado, De manha partem as bi cigletas de entrega com o rest 0 talio, que comttém o destivatirio, a qualidade da © 0 prego da tate. A agio dos policiais consiste em imerceptar Picicletas © de verificar o tipo da carne © 0: preco estabelecide nota, Pode tau ypanhar a entrega © pergun se quiser comprador por quanto paga a mereadoria. mercadoria. Bste, para nfo ter 0 seu fornecimento cortado, ou res onde certo (errado, quero dizer) ‘ou alega que a patroa, que dorminds, € quem sabe do as sunto, ssim, paganda os pregos ma: joradas, as familias ricas esgotam os estoques dos agougues, © as 6 da manhé, quando li aparecem os pobres, s encontram ossos para rotr ‘Ademais, 96 se configura crime ide sonegagio quando ésses entre gadores a domicilio nfo conduzem nolas de entrega, esta ciao comerciante assiste & repessgem da No entanto, apesar de saberem que estiio. send lesados ¢ que ©a carne boa é yendida’ pelo cambio negro, hd wma surpreendente mi vontade dos fregueses _espoliados nas transagées de balco (falta de piso © majoragio de precos) em colaborar com a Policia, Procuram fugir dé todos os modos possiveis as obrigacdes do flagrante delito, chegando mesmo ao cimulo de defender os exploradores @. atri- buir a falta a uma simples obra do acaco. Ante a intransigénca dos pol deedobram-se em novas desculpas, desta vez em vor alta & ‘As declaragées da parte lesada sio rogistradaas em autoritiria, Argumentam que nio podem ir & Delegacia porque pre- cisam preparar a comida do mnri- do, que 05 fillhos esto chorando. espera do leite, ete, etc. Vézes hi que os funciondrios se véem na comtingéricia de usar de energj para evitar que o lesado,— pega capital do processo — se abstenha de depor em cartério, Todavia, muito embora _possa farecer absurdo as pessoas qué acham que o povo deve se unir ombater o inimiga comum, el_mi yontade s¢ até certo punto, Rio — Abril de 1949 Vivemol num pais obi a justi- sa ¢ lenta ¢ aborrecida, No Rio de Janeiro, por exemple, ela esti aquém do desenvolvimento crim nal da cidade, Instalada em pré- dios inadequados e pequenos — existem duas varas criminals f cionando a mesma tando com a f: jos e material de téda espécie, qualquer caso por mais simples transforma-se logo muma_verdadei- Ta ocupacio extra m vida do in- dividuo. Tsto gera 0 pavor, a for bia policiasjustiga, que vai cres. cena com os exemplos ¢ expe- riéacia, indo estourar fatalmente nas mios dos policiais que tiveram por azar a lavratura de um fla- srante, Por iitime, no podetiamos dei- xa de lado as cartas andzimas que chegam mente ao. gabi- nete do delegado. A que lereis a seguir, foi apuradh no miérite pela propria autoridade, mas sem re- sultado. poditivo: “Sr. Delegado, Para comecar no sou nenhum enerenqutiro ‘as minhas miltiplas tarefas nao. sme permite ficar bispando a vida atheia, como & do gésto dos meus whos, Sou apenas um homem di- rite ¢ st cu deixo o pélo no ser- vigo por que raziio ses vagabiun- dos no podem deixar também? Votei no B.S. D,, a joia da de- mocracia brasileira, mas. nas. pro- ximas cleigdes no pretenda votar fem ninguém, a menos que tenha calo ma mio”, “© fato, sr. delegado, £0 s- guinte: sempre que volt’ do meu trabalho as 2 da madrogada. we um earto-pipa entrar na_garagem anga, oa Rua José Felix n. 21 no Jacarézinho. A principio a sa mio me surpreenden, pois 0 pior ‘seria ver entrar burro — de verdade, de quatro pés, mas com a continusego, comecei a me matt ear, pois o carro sé ficava 1d vin te minutos, Como o telhado minha casa facili sce a visio, sub répria vida, fi ése preseneiado pela vicinhanga mexeriqueira, Entio é athos que tém vista tanta feia, vio pessoal da vac despejando Tatoes dig pips. E nfo foi uma got Ghas, Foran 6 bier, 8 late, 6 late: é iss0? Cada Dr. Delegado, € feito a Karagem © © guarda municipal. Dieixo de dar aqui @ meu nome quero garagem, que & meu amigo! den nacio com 0 dono A meia ocite as geladeiras estic abarrotadas. As vic da manhi camme desaparsere como por encanto Dedique UM MINUTO A SUA BELEZA para horas e horas de encanto! © Apenas 1 minuto — um minuto que a tornard mais encantadord, horas e horas! Passe, suavemente, o Creme Pon's “V” sobre © rosto, Veja como é leve, alvo e refres- ante, como flocos de neve! Sua répida ago dissolve ¢ elimina os deiritos © impurezas acumuladas na pele. Remova-o, apés 1 minu- to, E julgue voce mesma, sem modéstla, Veja como,sua cutis adquiriu um move colorido, ¢ ‘est4 mais clara, radiante, gostoga de acariciar. POND'S Para completa timpesa e embelezamento da. pele, wwe, também, antes de DESLUMBRANTES PROGRAMAS MA Vida 6 Aaaion! — on. dase Gans 17.99 A CIGARRA - Magoxina ‘ ; O BARRANCO (Coxrixvagko ba PAG. 50) fies do integralismo, em plena chela. Souza Lima aesconversou, com habilidade. Parsaram a falar da ultima recepgfio de Ne~ nem Castro, umn lider social, que também pare- cla“ nssumir caracteristicas totalitdrias, e depois do ecnjunto de girls langado pelo Copacabana, Deipedi-me déles. Iustintivamente, ful caminhando para os 1a- dos da Gléria e acabel por juntar-me a uns ocio- 40s que patmavam para a muvem espessa de. poelra. Os andéimes provisérios, que apenas haviam resguardado as demoligdes, escondiam agora esca~ vagées profundas. Mesmo em riseo de serem em~ bargadas, infciavam-se as obras, nfo pelo sentido ‘ascensional, mas pelo parédoxo da depressfio. ‘All-se ehterrava, de fato, J. P., no cantochio tuturista das perfurairizes ¢ das maquinas de bri- tor. Estava condiclonado as transagées do velhc 54 0 quarteirfo que se ia erguet, numa consagra- \do superior & de Mausolo. ‘Ainda n&o tina nome o e@ificio e J& se pre- jin win deslocnmento ea vida carioca; antes de surgir ao nivel do solo, havia consumido dezenas de milhares de contos; mesmo sem autorieacto da burecracia voraz, Hnha reeebido a primeira pro- posta de loeacdo. ‘Ao meu lade, um sujeito entendido revelava & ontre que se tratava dima emprésa americana, de capitals americanos: brasileiro “n&o tinha peito” para aguilo... ae Voltel A cidade, consultands no bonde a iista de encoinendas do Batraiico. 86 me haviam pedi- co coisas dificels, absurdas, que me tomavam o tempo todo. Onde irla achar, por exemplo, 0 meto metro de fazenda iguaizinha & amostra, mas com as pintas azuls e ndo vermelhas? ‘A noite, alagado de suor, encharcado de refres~ ees, pus-me R refazer penosamente a lista, riscan- do o que ali estava, atravancando o quarto, ¢ 0 que JA havla seguido, despachado com alivio Nio me velo logo 0 sono. Bocejei até muito tarde, a Imaginar para onde terla Ido Marla de Lourdes, cuja familla se mu dara do bairro, e se Valla a pena insistir com Toone, apesar daquéle novo amiguinho, que me havia olhado come quem avalla os pontds do pri- meiro round. Ester deeaparecera: ostava fora, disseram-me de m4 sombra, na casa de mavels. ‘Mas no barbeiro, onde me impingiram masca~ gens complleadissimas, a manicura havia eompri- nildo minha mAo ao seti colo macio; também uma eriatura solene, de olhos trabalhados, estivera meu lado na casa de dtica e alguém, por vanglori Ihe havia denunciada 6 nome, o telefone € 0 preco habitual. ‘Ambas se intrometeram pelo meu sono serédio, confundinde-se, completando-se, mas permitindo fos recalques e complexos a tarefa inconsciente das minticias. Bis que J. P. me surge imtempes- tive, a derrubar quartelrées, e arrastando Perui- nha, expulsou do Banco, a pontapés, a mim ¢ a Souza Lima. x Findara a Missa, Uma assisténeia luzida comecou a derivar pe- Jas escadarins da Matriz, lenta, aparatosa, dissimmu_ lando a exibi¢lo mitua de vestidos e chapéus. ‘Carros de alto custe elfitilavam a pintura, com 8 mela porta abertn # motorisias atentos, de uni- Rio — Abril de 1949 : ; forme e de bond A méo. Um casal recebtu ainda 6s cuInpriméntos pelas niipelas recentes; cabecas ccalvas inclinavam-se no belja-mio sorridente e to- do um grupo de moras, logo rodeado, falava alto de estagses de Squas, de Teresépolis, anunclando ‘partidas. Segui pelo jardim dispensando-me também, Aos domingos, vervia-se mais tarde o almzo na penséo; podia ficar por all, ma correcio do meu terno de linho franco, sem inibigses de Inépela. No Large do Machado cruzavam-se os extre- mos: as elegdncias da Missa e a nudea que refluia da prala, calculadamente entrevista nos roupées desfraldados. ‘A praia constrangia-me. All perto, na do Flamengo, velha familiar das manhis de remo, © denso formiguelro arrepiava- fmeé: era impossivel encontrar prazer no mergu- iho entre pernas estranhas ou em ser empurrado. pelos cotovelos agressivos. ‘© impudor impreesicnava as avessas: pare- cla-me ver as etiquétas de preco nmaguelas amos tras do mercado. Talver mesmo saldes e enca- thes, entre a fagenda nova em plena propaganda. Ipanems, Leblon, os postos de Copacabana, eram como a exposicdo de quadros sugestivos, mas todos tes com 0 cart de adveritneia: “ven- ido", Vinha-me entio & eabeca uma frase insistente, lida em Stenklenviez, no reparo de Petronio a or- fia purpurada: uma s6 nydez excita mals que um cento delas Podia dar meu testemunho. A voluptuosidade subdividida trradiava-se, di- Iufa-se; infinitamente pequena, tendla a desapa- recer. Eu julgava impraticével a integtacho da- quele anseto, flutuante ¢ vaste como as ondas. Restava a impostura da estéticn. Antes dos 20 anos, porém, nfo se vai & praia por amor & es- tetica. Um animal cheio de areia, retostado, desculpas por sujar meu terno branco. = Voce... voce ¢ 0 139. —Ourico! voc’ por aquit © Ourico saifa do internato um ano antes de ‘mim, unt dos witimos de sua turma, Embora mais adjantado que eu, como estévamnos juntos ho 10 de estudos, pedia-me sempre auxillo nos tra- balhos de latim © por mals de uma vez eu Ihe fi- wera redagies intefras, sem diivida medidcres © Ge certo melhores que as déle. Abracamo-nos em plena rua e fomos a um café, fe seminu, eu com o temo maculado. Cursava também a Faculdade, onde nunca nigs tinhamos encontrado. Fizera eoneursos no Dasp, era funclondrio piblico e eritico literaria @ ‘uth vespertino. — Mas yoo’... voct tinha horror a Iitera- ture. — Foi por isso mesmo. Agora tenho idéia originals. Lémbra-Se do Oliveira, o 115? — Sim... trou o prémio. — Pols aqui fora nfo acerta uma, Fol clas sificado muito abaixo de mim ¢ nfo conseguiy momeagio; anda dando aulas, por af, faz (radu ges 14 para o jornal... © Ourico citou outros fracassados, para esia- belecer depois uta teoria: — E' gente que andava bem no trilho, ma: ‘86 no trilho. Eu vou escrevendo, dando volta, cor- tando eaminho, mas passo A frente déles. E voce?” — Vou indo... respondi. (Cow edit ‘Mrs, Danid MeCereni¢h Cee do mundo usam PON D'S — porque niio faz o mesmo? © Cuide da beleza, da javentude, do fresoor de sua cfitis, oom Cold Cream Ponds. Pela acio ‘ltra-penetrante de seus ingredientes, 0 Cold ‘Cream Pond’s limpa integralmente os poros, removendo o make-up, 0 pé de arroz, 6 rouge, os detritos e = poci ‘sssegurando. a completa respiraplio e renovagiio das ‘oflulas, que tornam a chitis mais bela © mais suave. ‘Use-o tOdas a9 noites. E para belezn ¢ suavidede ‘extras, aplique-o também pelas manbis. Para perfela max (00 ESTES FLGELENTES PROGEAMLAS PouDrt: Teatro Pond’s, 20s. 4a. 6us., in 13,20 bares, oa Widio S80 Paulo, “A Vide 6 Avsin™ r2an., 4an, 6 Gas, de 1730 bores, on Fiddio Nacional do Rio, re BU e Mae eee aT feel 7 1 Rio — Abril de 1949 Deli alll $C Texto de JOSE LEAL M certa manhi da primavera + passada varios tiros de ca- nhao foram disparados na Bai da Tijuca. © instrutor era um ca- pitao do Exército Brasi alto ¢ magro, de nariz adunco e olhos claros. As guarnicées cram for~ madas por rapazes atléticoy € imberbes, a maioria com aspecto infantil, Um coronel encapotado por causa do frio, fumava € ob- servava calmamente os exercicios tinham como alvo uma das tas ihotas desertas do litoral carioca, Diversas familias apr: clayam 6 cmocionante espetaculo, € muitos eram os automoels pa rados em frente ao “night-club” “Corsario”, localizado 3 ime diagdes, Um désses automévei pettencia ao autor cas fotos que hoje publi Aproximamo- nos, € logo em seguida amos sabendo que se trataya de om exereicio de campanha des alunos OLA DE BRAVURA Fotos de MARCEL COGNAC do Colégio Militar do Rio de J nieiro, Sua Exceléncia o General Cantobert Persira da Costa, ape~ r da chuva intensa que estava cainde desde a noite anterior, j& cstivera_no “campo di Ges” dos futuros oficiais brasi- leiros, acompanhado do seu- aj dante de or s, saindo de la com a melhor impressio, QO Ministro da Guerra, franco ¢ simples, em dez ou doze palayras, disse de sua grande satisfacdo em encom: trar jovens tio corretos ¢ tio dis- ciplinados que sémente orgulhar a Patria hoje ¢ amanha © comandanté, 0 coronel a que nos referimos acima, nao pode esconder também a sua satisfacao depois de ouvir as palavras do Chefe do Exéreito, © daquela ho: rae mdiante mais carinho passe a d-volar aos seus alunos, rapiazss de tédas as categorias que se preparam no ‘Colegio Militar para © ingresso nos ceittros superiores déste pais, até 0 oficialato. Estavam presertes todas as ar- mas; A Cavalaria, enguanto disparos cram feitos, avangavam sébre territério inimigo om ser- vigos de reconhecimentos, devas: sando matas ¢ enfrentande pet gos. Os servigos de comunicacho, funcionavam com précisio © ace- leradaments, notando-se na fisio notin de seus responséveis um aspecto belicoso como st vertlae deiramente estivessem numa guer= ra, A Infantaria tomava posigées, soldados cavavam — trincheiras ¢ de fuzil em punho aguardavam a ordem do comando para 0 ¢o- méco da luta. E progrediam, ar- rastando-se pelo cho molhado no desejo de conquistar postos mais estratégicos. Por sua vex 0 Batalhdo de Engenharia prepara- va o caminho para o avango das tropas, ora construindo pontes, 1. a salsicha, © feijde, as tutes © 0 mocarrio, para fas de combate na Barra da Tijuca. PELA nossa bandeira, pela nossa liberdade, pelo nas- NAS PARADAS militares © Colégio Militar do so pove, éles saborie @ miximo. Defenderio 48 Jantire conquista os maiores aplausos do piblico com a vids tudo isso naturezs nos legou. Presente. Destaca-se pelo gatbo e pela disciplina. ° = Py =4 Ed er = 5 aa rs =) a Pa estavam presentes. A artithatia reali sob as ordens de um capitie de Ext tados de fate. » médica desempenhia- idades com absoluto procedente iasfrentes, uns ¢ tros sorri um toque lamar, sat Rosto € dev Amou um segund 0. porque Come sem gritos, vetho segundo renente em O comandante qiiilo, com gan quanto seus rap voravam © rancho, para depois re- ATLETICO, POREM IMBERBE TIRO DE CANHAO SOBRE A ILHOTA DESERTA DO LITORAL CARIOCA a © DESCANSO DA TROPA PROPORCIONA ALEGRIA A CIGARRA - Magazine jas. O° Colégio Militar Wo Rio de Janeiro é um helecimento de prime dem, funciona na Rua cisco Xavier, ¢ por éle passaram as figuras mais i Exército, omecaren as ido um conjunto de professéres dos mais perfsitos He se desejar, conta mesmo tempo com wm maguifice corpa de alunos. onde se nota disciplina, inteliggncia © dedica- io. Uma esenia d> bravura, Mo paradas militares a z cas tém assistido, 0 Col, do Rio de Ik pre uma invejivel percentagem de aplausos das multidées. Lem bro-me qu2, recentemente, quan dao Chefe do Govérno Uru- giao eatéve no Brasil, Pres dente Batle Berres, rea em sta homeniagem um dos mais belos desfilss que ale to- om-se tes doar da cm ritie de gala ram_os eadetes uf terra. Desfilaram os regim=ntos aconais, a Escola Militar de Re senile. os Friileiros sd Brasil, ¢ os zlunos do Colégio Militar. Oc sou em frente ao palanque no qua estavam o° Presidente Ds Presidente Berres, 0 Ministro Canrobert, ¢ outras altas autor dades nacionais. uma erande gal- va de palmas foi ouvida, uma sal va mais forte do que todas as 6 (ras. E! que o garho. a cleg: a beleza do conjurto. caus? ram, adm‘ragio aos presentes. 0 povo saudou mais entusiastica- mente ainda os alunos do Coléeio Militar, Foi uma consagracio |. que envaidecen no somente o comandante do esta delecimento como também os alu- nos que naquela hora _tiveram ama confirmacio desapaixonada seus méritos, a's do dsfile, cada um vole tout para casa com 0 corpo cansa- do ¢ a alma feliz: orgulhosos d Si mesmos, orgulhosos do estabe- lecimento a que pertencem. Os jovens que ilustram esta reporta xem fotogratica de Marcel Cos nac sia os nossos oficiais do fu- tir, mocos qu2 desde cedo se ompenetram de umta responsabi- lidade perante nds todos ¢ pe- ante a Patria, Bles sero as sen- linelas corajosas que guardarto 0 nosso pais, que defenderao. a nos sa_bandeira,.a nossa liberdade ¢ a inviolabilidade de nosso territé- rio, Pela nossa Bandeira, pela nossa Patria, pela nossa liherda- de, Ges saberio. dar 0 miximo. Defenderio com a propria vida tudo isso que a natureza nos iegou. E’ para éles a nosea home- gem. ¢ ROTEIRO DO AGRESTE Texto de JOSE’ CONDE’: © agréste & uma xona intermed ‘tao pernambucano, Quando o sife, atravessa a ron acuca pelas, canaviais 6 earros A FEIRA DE CARUARU A feira de Caruatu ¢ um tetrato das grandezas e mi- sérias da caatings. Retrato m cores magras -e gordas. m vermelhos . sangilineos, etdes tenros e cinzas inde- finidos.. Poesia e tragédia Lutas e esperangas. A sinuo- sa rua do Coméreio, vergasta- da pejo sol da manh de sa- bado, 6 bem 0 reflexo de todos €sses sentimentos. Mulheres magras de pele eneardida _diante dos montes de man- gas, abacaxis e jambos; ho- mens secos como os pés de pau da sua toca, vendéndo rédes, arrelos, farinha, alper- catas — as mudas alpercatas que mal fazem estalar os gra- vetos nas misteriosas rotas do co. Mas ha também a té poesia dos passarinheiros. dos bébedos de feira, dos: mis. tleos vendedores, de santinhos e medalhas com a efigie do padrinho padre Cicero; a poe sla dos bonecos de barro e das bruxas louras com suas cabeleiras de earod. Os pedin- we tes cegos com suas cuias de” bois gemendo cactos que o cond: na, em plene agreste Fotos de JOSE’ MEDEIROS A CIGARRA - Magosine entre @ literal © o sor jem da Great-Western deixa Re- com sous vethor engenhos @ <2 ru, cuja feira —- a mais importante do nordeste — @ aqui focalizada, “A infincia de Caruaru ha anos que nao a vejo sio suspiros arrancados ~ do peito de um sertanejo e ‘A nea, 0 cavalo, o imbuzei- to, a trovoada, os cururus mar- telando nosbarreiros na quie~ cabaca, eos cantadores, © © tude da noite lavada pela chu- homem da cobra, a macaca Cotinha e seu chapéu de cou- ro. E os folhetos de capas ber- rantes wfarrando as aventuras do Nordeste: Historia de Josi- na a menina perdida; Quem tem muther tem trabalho mas ninguém quer ser solteire; A Morte de Lampeas. O. Nordes- te mistico, tragico e amoroso. Mas sempre agarrado ao ho- mem, como nesses versos que 0 trovador popular canta na feira de Caruaru: ‘Minha alma triste suspira em desiumbrante desejo eu chore por minha terra ya * © gado urea no campo, 6 chao na varzea umedece Ai, suspira o trovador: Eu chore por minha ter MESTRE {VITALINO Leo num jornal que o Mu- seu de Arte de Sao Paulo vai expor os trabalhos de ceri- mica de Mestre Vitalino, De certo, leltor da metrépo- Je, nunca ouviste falar de Mes- tre Vitalino. Imaginal, toda- via, tratar-se de alguma ce- lebridade em transite pela ca- pital paulista. Cautela. Acre- dito que poderei vos dizer al- gumas palavras sdbre Mestre Vitalino. Acontece que nas- cemos no mesmo lugar; 0 au- tor déste texto, sobretudo, teve grande parte de sua infancia ligada a Mestre Vitalino — niio & sua pessoa, pois simente o conhecen faz poucos meses — mas A sua arte, traduzida nos caltngas de -batro, boizinho: e cavalinhos que foram a de- licia de sua meninice sem os horizontes das grandes cida- des. ‘Augusto Rodrigues brseu uma fotografia na qual apa- recem, alem de Mestre Vita- Iino, Clovis Graciano, Alfre- do Mesquita e o autor destas linhas. Tenho o retrato dian- te dos olhos e ao contempli- lo € como se retornasse Aque- le sabado, de muito sol, na feira de Caruaru. Fol no dia da posse-do_governador Bar~ bosa Lima ¢ os bacamarteiros do PSD, desde o amanhecer, marchavam pelas ruas dando tires infernais e botando médo nos matutos que tinham vin- do 4 feira. De trabuco no om- bro, lengos de cOres ao pesco- go, alpercatas de vaqueiros, meio cangaceiros e meio elei- tores fiéis do seu chefe poli- tico, foram éles os verdadel- ros senhores da terra naque- Je dia. E, vendo-os, eu me per- pguntava: Graclano e Mesqui- ta — nossos convidados de passagem por Caruaru — ho- mens de Sio Paulo, com que olhos estariam olhando aquela demonstracao simulta- neamente pitoresca e barba- ta? Dos plpécos dos baca- marteios. salvaram-nos, en- tretanto, Mestre Vitalino ¢ o sarapatel de porco, com aguar- dente, que saboreamos ng pe- © sol da castings queno restaurante do Beco de Joao Piston. ‘Mas, delxemos de lado o sa- rapatel € os bacamarteiros yoltemos a Mestre Vitalino, Comegare! dizendo que o ar- tista que vai expdr no Museu de Arte de Séo Paulo é tio humilde quanto os outros ma- tutos, seus irmiios, que na fel- ride sibado, em Caruaru, vio vender sua rapadura e sua farinha de mandioca, geri- mum, macaxeira, alfenins e arrelos e alpercatas de couro. Parece-me vé-lo: pequeno e magro, a tz quelmada pelo sol do agreste, com stias cal- cas de morim e a eamisa aber- ta no peito. Esta de cécoras e diante déle se espraiam as magnificas pecas de barra que suas mos humildes modela- ram e sua imaginagdo ilumi- now. — Entio, mestre — digo — sua fama chegot até ao Rio le sorri com aquéle jeito melo encabulado de caboclo inteligente. Nao responde Recebe o cruzado que a fre- guesa The paga pelo calunga adquirido, © continua rindo. Graciano examina atentamen- te os ealungas; Mesquita j4 ndo encontra palavras para exprimir a sua admiracho. Enguante isso, Mestre Vita- lino atende a freguesia, acen- de o clgarro de palha de uma mulher, troca um dedo de pro- Sa com o yendedor de cor- das, 20 lado. Nao parece ter consciéncia das belezas que florescem de suas mios. Nun- ta imaginou que alguém, mes- mo all na eldade, pudesse di- zer que seus bonécos tivessem outra serventia que nfo para as vadiagées de menino tra- quino. Quando rapazola, co- megou a fazer aquilo. Havia o rogado € a séca; havia o mundo da caatinga limitando seu lugar dentro da vida. Existia a familia e a neces- sidade de alimentd-la. Velo- the entio a idéia de fazer as calungas, como outros Ji fa- ziam antes déle: festas na Toga, cangaceiros, cortejos de nolvos & caminho da igreja, engenhos, casas de farinha — a vida do Nordeste falando pelos bonecos que eram os brinquedos ‘da nossa infancia, E tudo isso para Mestre Vi- talino era uma ocupagdo como outra qualquer: como condu- air ag rézes para os bebedou- Tos ou o jirau de galinhas para a feira de Caruaru. A gl6- tla fol um acidente com o qual éle nunca contou. Ainda agora, ao ver 0 nome de Mestre Vitalino nas félhas da metropole, volto a pensar com mafor ternura no meu conterraneo. — Entdo, mesme, sua fama chegou até em Sho Paulo, E nfo sei porque, tenho a impressdo de vé-lo novamente sorrir com aquéle jeito,enca- bulado. E quem sabe se Mes- tre Vitalino também nao esta rindo por dentro de todo ésse barulho que os lordes da ci- dade andam fazendo a seu Tespeito?... ANEDOTARIO Perua € nome feio... Por isso, ao pefguntar a0 matuto, na feira, o preco da ave, éle me responde: Or fregueses escothem ‘A CIGARRA - May te — A “injurinda” custa dee mil réis, “se” mogo. ng Dona Belmira aliava a sut- dez um senso de economic realmente admiravel. Um disio na feira, diante do tabuleir de queljos do sertio, indagoite — Qual ¢ © preco? —Trés mil réis, minhit dona. ah Dona Belmira nio ouviu bem. — Como? ‘Treze mil réis?) Mas é uma carestia, Se 0 st- nhor deixar por doze, eu levo um, — Mas eu no disse trezél minha dona, Bu disse trés m réls. E dona Belmira: T — Entio deixe por dois « Quinhentos, h TROVADORES POPULARES | © primelro poeta que co- nhecl na vida fol um vaquel ro de Caruaru, Acabada a la: buta nos carrascais, reeolhiza das as rézes a cair da tarde? entregava-se Janelo As suas trovas. Dias, meses mais tar. de, apereciam elas enfeixadas em pequenos folhetos que eram: yendidos na felra de Carua~‘ ru. Livrarias pitoreseas as que yendiam os versos de Ja~ nelo: sob o toldo de lona, mis~ turados aos fasciculos de Joao Martins de Athayde, Leandro Gomes de Barros ¢ de tantos outros trovadores populares do Nordeste — berras Ye sa- bio, pedras de antz, retratos do padre Cicero e queljos de coalho de lelte tle cabra, O (Cone H) 30 A CIGARRA - Magazine ESTE ROMANCE OBTEVE 0 PREMIO REVISTA “A CIGARRA” NO GRANDE CONCURSO LITERARIO REALIZADO PELA “EMPRESA GRAFI- CA O CRUZEIRO S.A“, NA SUA SECAO DE LIVROS SEU AUTOR, JOSE’ FERREIRA LANDIM, FOL CONTEMPLADO COM A IMPORTAN- CIA DE CR$ 30.000,00, E A COMISSAO JULGADORA CONSTITUIU-SE DOS ESCRITORES ALVARO LINS, CIRO DOS ANJOS E MARQUES, REBELO. Pee el eee Sect ye Romance de JOSE FERREIRA L NOIM CAPITULO VII STAVA com Souza Lima, no eu gabinete, quando o oti- fro se anunelou; eu o conhecli de nome e acabava de ser in- formado do servigo especinliss! mo gue nos estava prestando. ‘A obra grandiosa ainda nao tinha canseguide _aprovagic Surgiam embaracos, restrig6es, recusus, adiamentos, Indecis6es, um mundo de obstéeulos € resis- téncins que se desfaziam, a custo, para reaparecerem agravados & mais complexes. Um yespertine langara a eam- panha hostil: ora o imenso edi- ficlo seria um aleijao monsiruo- 80, ora nearretaria prejulzes & populagso, orn prejudicaria o movimento do seroporto, dada a grande altura. O pior é que se havin levantado a bulha quan- do mais se procuraya conseguir reserva, — E ento? indaguel ansloso. Sowa Lima sorriu, escolhendo um eharuio na calxa. — Entéo, estamos pagando, ‘Tinha contade com aquilo, mas nunea assim, com tamanha im- pudénela ¢ tal yoracidade. Uma verba a mis, nos orgu- mentos, uma protelagio irritan- te, éra 56 isso. Com 0 advento do Estado Novo, alterando «vida do pais, tudo se havia compli- cado; nada mais Igico que uma Inielativa daquelas se enredasse em dificuldades imprevistas. — Mesmno assim, vamos bem Contemplou um instante ¢ projeto maajesteso, aberto na mesa, © acendeu o charuto — 86 0 Banco ¢ que esté apa- recendo. Est claro que nfo po- demos dissimular tudo, mas niu estamos. burlando ninguém: tan- to fax que estejam vinte ou du- ventos metidos nisso, como que ‘6 capital seja dum 30. Desde que aja o dinheiro ¢ que se pague, .. Para compensar os atrapalhos havin noticlas exeelentes. Se quiséssemos ceder 0 material ehegado pu especular com os embarques nos Estados Unidos ¢ ha Inglaterra, teriamos ganho uma fortuna. Havia um rumor de que inmos aambarear eimen to e ferro, tals foram as quan- tidades adquiridas. Até mesmo a Pfotelaclio inopinada havia tra- zido uma relativa vantagem, com referénela as operagbes em Sic Paulo, que smente agora entra- Yam no ritmo necessitio: estava Earantido também o ritmo acele- rado da construgao, — Enfim, veremos... disse ‘Souza Lima, mandando introdu- air o homem, Ao ser apresentado, soube que cram parentes € que haviam an- ado juntos pela Europa. Perge- bi que nfo se guardavam segre- das para o réem-chegado: éle acabava de conciuir, com éxito, wma distributelo velada de che- ‘ques ao portatior. Desobitruira-se, afinal, a apro- perder ‘vaclo da obra gigantese: tua cadeira de deputado com a © homem acabava dissolugao do Congreso; or isso deixara de ser politico Ge freqilentar os ministérios, Prefeltura ¢ as ante-chmaras Catete. Valiosissimo, portato; nds, proviciencial. ‘Afundados nas poltronas, horeames @ bom café do com & euforia dos vitor Souza Lima, em politien, sem; se havia mostrado discretissit comigo, mas o ex-depittado mi teve a mesma reserva. Baixou apenas meio tom vor © pude saber que o Est ‘Novo, embora bem apaindo pel amilitares, 0 que era essenci ainda navegava em aguas typ vas. Na Europa, o ambiente a de guerra e pouca atencio se din prestar As nossas coisas termas; mas nos Estados Ui entre outros aspectos, via com Resumo dos capitulos publicados Como ninguém @ profeta em sua terra, 0 “Barranco” recebe “com reservas © seu novo “senhor'”. Nio se compreende que um rapazola possa tomar o mesmo lugar de J, P. Mas Perminha reata, s¢m nenhuma reserva,-o antigo naméro. Zeca néo quer nao sabe se impor: deixa que as coisas continuer) na imutdvel rotina. Entretanto, manda abrir estrada nova, muito criticada, e tem gran- des plans. Sem aborrecer-se com os boatos, que o dio como restes a falir, dispSt-se a empregar ne “Barranco"’ parte das Seus grandes recursos, Volta a0 Rio €... a idade maravilhosa lego 0 absorve, desindividualizande-e, sem que éle mais se preo- cupe com o velho feudo des Mascarenhas e suas questiimculas. Comega entéo a sua dupla vida, VOCE tambem usar KOLYNOS Bosto um cm. na escovo seco Agrada mais. Limpa mais... Rende mais. Loam A CIGARRA - Magazine O BARRANCO (Costinvacgho oa pic, 11) Passando ein revista o internate, Juntos 0 nome do Peltio, — Estourou, por ld mesino, disse © Ourigo, ‘Nio the sabla outro nome: havin de ser Our ge. Esqueci-me logo do enderéco que me deu, per perto, esqueci-me déle mesmo, porque fique pensauido no Peltfio, Generozo colega! Antes de sentar-me & m dx pensiio velo-me déle, barkada © consumido seu lelto final, uma sombtla adverténcia © = Amigo velho, estou perdido. ., Risquei na agenda um nuimero de telefone, quel um enderéco, passci @ riscar hordrios es clais e acnbel por arrancar pagina e quelm§-la Era uma bonita agenda do Banco, de esmera acabamento, que Souza Lima mandava distri num cireulo restrite, Aguelas anotacées, laboricsamente conseguld das ¢ retificadas pela experlénets, figuravam all ua agenda do Banco, como os bonecos das barra quithas de feira, que alo expostos junto aos pro. Jéteis, estimulando ao tiro a0 alvo. Eu mfio tinha a nolva ingénua do Peitio, ne © pai austero, nem familia erédula que es por mim; mas tinha o Banco Mascarenhas, iq, tef © malor edificio da cidade e também tinha o Bar- ranco, onde néo se admitiam manicuras neni acerdes telefénicos. Pelizmente, naquele domingo vazlo, eu J& me bavia desincumbido da ditima encomenda. lembra Para Abdré Bento, administrador identifica A gest do cargo, a chuva era ouro que caia dd ccu, Para mim, proprietitlo favoréeide, era unu! incOmoda macada. No podia ir praticar no caminhao Dera em fazer curso intensive para motoris- ta, ministrade por Esteves. Mesmo como clsmiti« cos da téenfea, estiivamos aplicando, aluno © mes- tre, uma teoria local ¢ objetiva: Se eu conseguisse entender-me com o caminhio e resolver o5 testes Acumulados pela estrada, estaria amplamente ca- pacitado para as maiores facanhas na profissiio. Na roda habituil gos observadores e criticos dus liebes, havi. pessimistas: mas Estéves nfo per. ceu a 1é no diseipulo amado, que éle iniclava nos areanos daquele motor — Voeés entendem é de boi e cavalo... E uni cavalo s¢ no tem manha? Quanto mais 80... No Barranco, chuva. era fertado. Jotio Carapina, vindo da cidade pata a cons: truglo do viveiro, preferia considerd-lo como de ponto feeultative; 14 eetava éle, no paicl, de plate a em punho, rodeado por Gina, que colecionaval pedacinhos de madeira, mobilidrio do seu raun- do de bruxas, *Felicia também abengoava ehuva: avocara-_ 4¢ a responsabllidade pelas hortas que eu insistira em fazer aos fundos do cereado, com muito es- térco ¢ adubos quimieos, Ela e Peruinha, mal sbrigadas da chuva, tinham corrido a ver as nie nhhadas novas de Legorns, ainda no galinheita yelho. © casardo enchia-se de gaiolas tOseas © pesatios galoldes, onde epleiros & bicudos, sabia ranjetras e gaturames, cardlals @ galos da serra piando, chilreando, trinande e gorgeando, espera~ | vam pelo palacio do vivetro. ¢ (Continua Na. pia. 34) de Abril de 1949 Rio Katherine Mansfield, notavel cs vara 9 conto uma contribuigas ren Cento de KATHERINE MANSFIELD itora inglésa, trouxe vadota € marcante Em “Miss Brill" se acham reunidos, de modo admiravel, » virtuosismo sugerida do que escrito. F, MBORA 9 dia 4 lindo — 0 eeu s Vilhado com grandes man- has de liz dourada como um inho bran¢o que sass os jardins piblieos — Miss Brill estava satisfetta por ter Resolvido sair com sua pele. O ar nao se agitava, mas, quando se abria @ boca, sen- fMa-se tm Nyeiro avrepio, tal ico & a sutileca psi terizam os demais trabalhos seus, nos qua a que carte- tudo é mais qual como antes de ge beber um gole de agua gel de emi onde, vi tituar — v - ja de cima de ergueu at apalpou a pele, Colsin nbures, Miss Brill a qite- dlustragao de rida! Que agraddvel vollar = senticla ali, Havis-a. tirada da ¢aixa naguela mesma tar- de, tinha-the sacudido s naf- a, passaram-lhe wna é! cova, @, ao esfrega-In, dera de novo vida aqueles olhinhos turvos, “Que fol que me acon- teceu?” tinham-lhe dito os alhinhos tristes. Oh, que bom vé-los langar-lhe @e. novo aquéle olhar rapido de cima do edredon!... Mas o nariz, uma massa preta qual nao estava nada segui via ter apanhado uma panea- (Cow Ty MORALS 4 ROTEIRO DO AGRESTE (Conctuszo pA Piatya 22) 4 ehicoteava a rua do Co- aes sabado ardente. B enquanto gemia a sanfona 40 pedinte eega, o vendedor, cer~ tado de pequena multid curlosos, recitava com énf ag grandes gventuras que ¥ mham contadas nos folhetos de capas bervantes. Bram ma- ravilhosas historias dos mt- Jagres do padre Cicero; aa proezas dos bandoleiras ehe- fiados por Virgolino Ferreira Lampeao; os apuros da mu- Yher barbada ou as tristes @ suaves naryetivas de améres campestres de vaqueiros ¢ ¢a= hoslas do Cariri. A vida do Nordeste surgla intelrinha nog versos de pé quebrado. Ora, as grandes séeas gtiranda gs homens ma~ gTas ara as estradas poel= ventas; ora, os magnificos diag de inverno, a chuva can tando nos telhados, sapos coa~ chando nos barreiras cheios, cobertores sendo esquentados & beira do fogo para o sono gosteso. Todo o Nordeste mis- Heo, tragico ¢ amoroso: Nor- deste das profevias de fim de mundo, com dia marcado, a ntas horss e em tal lugar; oa santos, dos cangaceiros ¢ Para fixer mevs cabslos? da tenho o elsi BRYLCREE Cabelos sodios, juvanis, fixados mas nao colads Isse vo. BRYLCREEM Is que perfeitol censegu! Tenhem personal faus cabelas bam pane twados dos poetas, como Janelo, ta- queiro do meu pai, vate dos garraseais, do abcio triste can~ tado pelos tangerinos que palmilhavam as margens do quase sempre sé0 rio Ipoju- ca. Onde esta Janelo, ¢ vivo ou world, me pergunta agora, tantos anos depois que seus Witimos yersos me foram re- citados na feira de Carnary. E esquecido durante tanto tempo, por que meio velo a Jembran¢ga a musica das suas trovas, seu vulto séco como © cipd cortido pelo sol da caatinga? Talvez 2$ yersos de ‘Ascenco Ferreira, que hoje Teio com o mesmo encanta- mento dos dias da infancis; ACCIGARRA Magazine talvez as fotografias que o | amigo me ofereceu, esas fo- fogratias onde encontro um Polco de mim mesmo, num remoto antepasiado que tam- bém come a poeirs dos ata- Thos seftanejos, empurrando @ gado para os longinquos hebedouros. Permita-me, leltor, que Ihe fale do modesto poeta Jane- Jo: posta mesmo no nome. Q) ua figura magra se debru: se sobre minha lembranes. E embora nao reearde mais ss troves que eantou, ougo, to- davia, as patas do seu eavalo magro mastigando o mato ras- telro, tropecando nas pedras pontudas, avaneando sempre, para tras, para muito distan- te — para cada vez mais lon- ge de mim, como se fsse im. possivel deter a doida arren- cada des dias irremediayel- mente perdidos, O BARRANCO cContixvacso pa pic Qutras idélas me tinham vin- do, sugeridas pelas revistas agri+ ‘colds, Gu, mais exatamente, pelos seus antincios: duplificagdo do bomar com frutelras raras, pe- Tas, ameixéiras, alixias, uma erlggho de perus gigantés, um cazal de pavoes. André Bento, para quem as Jornais efam evangelhos, reser- YVava tddas as descrencas para 83 publicagies agricolas. Mas andava muita tolerante, desde que The mandara vir, néia 05 dois qolos de arame requerides, mas Jogo meia diizia détes, com que eereou uns pastos de reserva, Desde muitos anos, era a pri- meira. vez que se faziam planta- Bes em sitios esquecidos. Fase surea, portanto, para o adorme- eido feudo de J. P. + Sobretudo, pela nova estrada. Bla JA investia, larga e abatila- 4s, rompende do sitio do Felado, sim chavaseal que Antunes ad- quirira per bom prego, todo um. lombo do morro, cortado em in- cimacdo, exisia 0 talho sangil- neo, com chamalotes dé flamore. ‘Quire turma, muito adiante, desbastava o Alagadico @ aii mesmo, no Barranco, preparan- do-Ihe a chegada triunfal, 14 duas casas de palha tinham {do abaixo e o quintal de Sinhé La- fe estava ameacado. i? — Caso de interdig&o, resumi- ta Chieo Lopes, eseandalizanda- 8 com 0s gastos. Cémplice de meus segredos ‘bancérios, André Bento nio lhe Tespondia; muito menos a Vie cente, que falava em estabelecer- se na Passagem, antes que o Barranco forse 4 garra. © rabula, outro conivente na conspiragio, a remexer nos car- farios, de procuracéo én punho, seabgra por descobrir que per- tencigm a J. P. umas casas da Rua 15, que jam & praca pelos impastos em ‘atraso, Nisto, Chico Lopes teve razia. fol mau negdcio men saldar o uébite, Havia por 16 uma gente feimosa e capia, que perdera a nogho dos aluguéis, ‘Era uma pena ter que yoliar 20 Rio... ‘Minha tla colocara-me sdbre 8 trilhos da Faculdade e Souza Lima dera-me o grande fmput inicial: eu tinha que p. pelas leis da propria tnerei quele argumento ferrovitirio do Dr. Pimentel. Os atritos ¢ que Mme retardavam, invenciveis. © principal déles acabava de entrar pelo eseritério, molhado de chuva, radiante com as 1 nhadas, a hater os pés desealcos, pois deixara os tamanco: na sa- leta. ‘Viu-me com a revista” aberta os joelhos e atirou-a ao chilo para sentar-se néles. Um olhar 4% porta, apenas, @ todos os our tros para mim, examinando-me, suspeitanda tudo, adivinhando- me com tOdas as suas intuiedes. — Voce val trazer outra ver a “Blo — Abril de 1949 (a 3 Leva dle pra cidade. va ca Marques teiro, nem das runs. ris e faziam tinir of qristuis ‘Marques, entretanto, gos- “muito dela, deu-me os para endo toi d que Ihe dissease nada. " Pauinha nfo euporteya inw- e cangol-se ecm o Pal ¢ mie jd sabiam, And; nto ¢ Felicia tiveram commu @ oficlsl © de certo Chice desconfiava. continuava a entrar pela embora pudese exigir 0 ‘aberto para recebé-la. Cuidava de minhas roupas, d¢ “fedo 0 que ea meu, absorvendo~ “me de ver. No tinhamos culpa. ‘A culpa foi de meus 19 anos, foi dos labios carnudes ¢ de um cla estuante que se deseobrira fio pomar. Houve dias sombrigs, de arfependimento apreensio, mas a amenca passou e ngo vol- (aria mais a preocupar-nos. por- Gie ela sabia congulriar agora sequrancs. — Nio! cocega, nio! Felicia acostumou-se s nio ; €:cutar 8 gritos e os xingamen- fos, 8 nfo perceber os ecvarrbes hos méveis e paredes, a luta fi- nal, que abalava portas com es- ‘trondos. Marques nunca mais yeio al- mopar comigo no casario. Talver fOsse pata a interdicdo Impecivel na minha roupa es- ‘cura, sapatos noyos a luzirem, es- peel-or & porta da sala, decidi- do a ser também um homem de Scatamonto ¢ ceriménia. ‘Chico Lopes _ apresentou-me com a simplicidade adequada a0 momento — Meu primo... E co outro, mais formal e me- nos inexato: = © Doutcr Promotor da Co- marca. Sentaram-se ambos no ‘off © Dr, Paulinho, multe amével, _ descendo 80 meu nivel de crise dor, elogion logo 0 temno de pe- mus gigantes, que le ira no ceronda. Era um bonito rapaz, multo mogo, que sabia vestit-se; mas falava como o Padre Ananias, professor de Histéria, numa én- Fase continua, ‘Também eu fale! na horin e nos péssaros que néio se querian: acostumar go vivelro; = conver- Sa vulgst morreu de Tepente e Chico Lopes assumin aspecto Giarmente na rigida mudez. “= Mas 0 que hé, “seu” Chico? — HA multas coisas... rimelramente, havia Gina, Como Ihe havia sugerido o Dr. Promotcr, éle esteva dicpotto a qesumir a turoria da menina, Winha cc o dicurio pronto e valeu-se de periirases e eufemis~ mos pera aludir a Peruinha, “tambem de menor idade", dans doa entender que Gina ndo po~ erin permanecer mais nO ca~ sarda, ‘Mas havia. uma condigio sencial — Desde que me jam enire- gues os bors deixadas pela mde, estou pronto a... — Bans? eu nio sshia... — Deixou objetas ae valor ¢ lambém dinheito. — E' verdade! O Sr, até ficou com 03 potes... — Uma parte minima, protes- fou éle, indignado. Q Dr, Paulinho inierveio. ae jm, isto S80 mintcias. O ial persiste... = Perdio, perdio, imeistin Chico: Lopes, ofendido, "Fez questio de lembrar os ayi- #5,qile Me havia dado em vao, citow a quelmg das cédulas, a distribuigdo dos géneros @ 0 mais que se perciera, — Qual 6-0 “mais”, “seu ‘Chico? A casa? nem agueles ca- catecos eram dela... = Seri preciso provar isto, VWoltou-se para o fuiuro genro we continuo! @ falar, explicanda- the por que havia relutado em vaceitar a tutoria: € que talvez {ésse obrigado a instaurar pra- estos desagradivels, = Otimo! exclamel, levantan- do-me, Vou mandar extrair re- cibo dos 11 anos de aluguel, des fornecimentas de leite, da le nha... Sera em prejulzo da dria, atalhou o Dr, Paulinho. Pus-me a andar pela sala, dis- simulando a custo” a irritacso: tive Impetos de delxa-los sdzi- nhos, comfabulando no sofa © simplesmente ir para o pomar, assoviando, ‘Mas Felicia entrou com o cafe Por sua prépria eonta, usou do aparetho de falso Sevres e ca grande salva de prata com as armas do Bardo, ‘Chico Lopes falou do Bar: até que eu o interrompesse: — Bem, "sen" Chico: oS: velo aqui 36 por causa de Ginn “Aquile café do Felicia desmen tia todos o& precsitor: nfo exc tava. Atéo tom de voz se mo- derou, depols da salva arme- Hada. * Né&o, nfo tinham vindo pars aiseussées. Multa ao contriric vinham como amigos, queriam ambos ajudar-me. — Em que, “seu” Chico? 35 Chico Lopes déclarou que o ar. éxigia Woz. vas. For no percebeu neni 6 a ua presenca, do cons tliria teria disparatado; 10.9 que ela se retitou, perguntel-Ihis se preferiam pessar g9 ercrité:'o € ainds bem nio acabava 0 ecn- Viée, genro ¢ sdgro futuros apro~ varam. 2 lembranca, Sentei-me na cadeira girsioria da ‘bureau’, com @ propasito 1: = lo de nada discutir ea nada cujetar: quanto mais depres a terminasie a fara, tanto me- mor. Uma das maneiras de recul~+ ver, tinba-me dito Sona Lin, € @ de ndo decidiriy pois tera ggora a melhor ocaslio de cone ssgrar 0 paradoxo. ‘Teve a palavra Chico Lopes. Inculeousse como o mais antle xo morador do,Barranco, Esta Ya J@ ali, repisou éle, quando J, P, ‘ora uma crianga, Ningti ortanto, deveria negar-lhe 0 di- Feito de interessar-se pelo Iugr, como se interessava, acima da queiquer outro. Pacientemente, esperel que de desenvolvesse a grau de paren~ co com minha ta, € ate me~ mo, por vinculos remotos, com a proprio J. P. ‘Diante daquelas coisas intims’, ‘0 Br, Paulinho afastou-se, © rendo as estantes. Notei-the préferdnele pelas obras em ingté € italiano, que folheava ajento~ Diente, tanto um trabalho histo Ce aLy 4 & F STINDA A PLE A BELEZA E’ OBRIGACAC A MULHER tem obrigucte de set bonita Hoje em dia. 56 @ feio quem quer. Essa. 7a verdade Os cremes prov tetores: para x pele se anérfet coam dia-aedia Agora jd temes v Creme de Alface, altraconcentrarlo, aut se caracterizn por stra agio ri pida para embranquecer fina @ relrescar a ettis Depnis de aplicar éste creme observe como a sua pele canhs um ar de natiralidade encan sador 4 vista A pele qi no respira resse €u ¢ torni-se horrivelments es cura © Creme de Alface per mite a pele respirar an mesme fempo que evita os patios, as manchas, a3 asperezas © a ten: déncia para a pigmentacio. ‘0 vico, 9 britha de uma pele viva e sadia volta a imperar com o uso do Creme de Alfacr “Brilhante”. Experimente-o. 36 A -CIGARRA - Magazines VIAGEM ATRAVES DO CONTO MUHDIAL premisie nie Voie SAR Ose en eect ree a ROMANIA Ad Higfature ruinene 4 praticemente heptinenta gie dele tenos gets que se yal ediktdo — 0 aulodidata Paxait 1 Marrader’ de gente, tele foto, ties, We mera cucacli¢ade do que propricmen yor Watereute editerial em aerot 5 asc amenos qenulicn a2 fe papdo de literatura roreac. A rescl Capes: ‘occrres 40d infivéncla: ou pew itor apreveiiade a FTaa60 yar Rom: teecovheetia he. araau A Uteraiur romeno ‘tox powsos encuntrando caudiebed ba: poriupueia, ecireen (yeah profs saltarés de mina aprOLim 1dG 86, pela tate. de fiterninre met. sabretHee. dh hoje exsinada em Portupel a Catedsa de Liagea «citer W-CsMO ko) ran, Mleter Bact, de fella a base de um iaudia. 1386 i wearesie Diciginds 2 serei de ~Publiededéy Ramenes ursonizada pe! tudo Roiveno ag Faculdive de Leiter te Lisbon, onde ajora en: Pro}, Vietor Bucics xem dicalpaido, fingce rena gor. gortamuese kale, A par de Tene visor ox de.lieros Waoladis.- , 140° it Ferae didetiew coon u "Meter Pralicn dL Jot orgotizada por ue portigwés Tomi, Caragiste (12-1912!, 0 autor selec ne . MaviOrnia neste *Viagert atrares do cots aintiderads & Malor exetitor aramatico ‘da jun ‘pole Deicendenda de usin farilia ee Mores, tol {amen ator e tere vids basteste apiteda, exereente varin® yroflsiders “Gnter de ae dedicar @ uderalera. Caltitvu sferiaréne “A Eilacgen dc Mésioaie’' — {raball Fontistleo daa superstighes, populares, conforma not Gekulor conceda um papel secunddrio xo eiementa solr [LM aati de bora ate a M2 esialagem do Manjoaln ; 4a{ até Popesti-de-Cima, uns vin- me um becado tarde; le contas, rosy a trote moiferado, espera-me, hora e tnela. O° cavalo Assim pensanito, vi si est bom tire: He est ngar o deixar descansar tres, quattes ta tax na estalagein do Manjo: de bor anda Isto, Wit off Fete como continuavam. a th. to de hora e mais tr ma mali, Agora era a estalagem hota; até Popesti hora. e° meia, fans iss hort Gnelit Aga passa das sete: ds-dez, 0 mais fardar, estarei com -o Coronel yerdade, despachel- ae devia’ ter Mas no f ca Conto de (ON her de MB morrera ha Mulker enérgica! vivid, 2 ¢3ta mace a (este atras as cotsas de ta cla ti ioe cite de pedra, Mien ie cla deve ter bom di dade: uns @ machado , quand timenied —tiulia 20 ple — tinha exnidec tro. Puseram a marie dois pegaram-he pelas pe para enterra-Jo adian ge. Quando eStalagem. sea grit Ladroes! chefe de polfcia com varios ho- mens ¢ mais quatro giardas a (lassn ma oloaia pos- Socorre jo vom! 0 rio, mor ombros. Agora, como ert OR Oda a genie ave o tmde f ane podia pasear pela cabeca que 0 muda nfo. fingisse? Ratsram-liie até desmaiar —- em vio, mio L. CARAGIELE = perguntars © ls, respondera: © Alda wi0. Creio que s melhor iu mesmo. eseoiheres, “Leventara-se, préso a ree- lidele, ¢ se dirigira a janet Teta observar a rua’ escure fid@, a iluminagdo rarefeita: — Pensemos nisso mals tar- de, agora € muito cedo — dis- se. Ensimesmava-se, recordan- “0 passado quase morto. Wie tinha coragem de ser “Sinceto, e hoje ido estava “perdido, irremediavelmente e fas nao sentia tanto assi dhaveria de se acostumar. tie fovar as chamas de suas palxbes — dos desejos que tl tha de amar e viv Tiehte. ; Acrediiaya que Lurdes tam them sofria, Co sccava a sen- Hlit-se abandonada, ¢ por. is he ocultava sempre sua in- “satisfacao, demonstrando-Ihe fa amava tanto quanto no Bia de sna declaracao, ou na Tele de niipelas. a0 notar que Thais 9 sinal de na espdsa era maior, mergulha- va DUM entorpeciMmento. 0 ca- © belo tevolto, rugas fundas na testa, Terla coragem de amar 9 filho pequenino que 0 acor- rentara ao lar? Temia nao sentir nenhuma estima pela (rianea prestes a tiascer. € falvez essa impressiio nao pas- Sake com os anos. Em ver- dade, procurava culpar o mun- do inteira de sua deseraca, e Slimentava, pot vézes, uma taiva’ ‘da contra o menino em gestacho. Todavia era obrigacio a concentrar-se ¢ 2 esconder os sentimentos que The gam ne alma, pelo menos diante da espésa. i Néo confessaria a ninguém suas: maguas, procuraria mes- mo ehganar-se, como ha firendo nestes iiltimos tem- pos. Mas. se o filho nascesse morte? Era bem capaz de abationat Lurdes ¢ devolve Ig aos pais. A pobre, nesses digs, andava sofrendo calada cuidando do enxoval da crian- ta. Ela queria que fosse ho. mem ¢, quando, as vézes, 1h penguntava sobre isso, éle ves pondia sempre: = Como desejares, querida Nessas ocasides, — Lurdes abaixava a cabeca. Julgava, talvez que éle nao ligaya a fietior importancla a sorte do bebé, que até desejasse a sua motte, Ela reeouheeta que & livres, pattida estava em jon0. Re a apenas aguardar o desfe che, E ao olhi-lo, com os othes rasos dagua, auvia-o fa= lar, a vow arrastads — Sin, Lurdes, havera de ser‘homem, Um homem eon 0 pal. iB Eneostava-se a janela e sen” {la a nolte tomar conta de si, do seir mundo fechado, Nao deixava de cistiar, © agora que estava & espera de gue seu destino se delienasse mais + elaramente, uma vaga espe: ranea imundava sua alma, Lurdes, nesse fim de sofria com as dores do parto, no Teito, onde eva assistida por um médico € pela parteira. Fazia ja algumas horas que gemia, 03 dedos magros e ner- vosos apertaride a coleha. quisera flear junto dela, pa- deria ser que a crianca nas cesse mortn, € nenhuma es mao prenderia mals & espé- Olhava, ing halie que chegara, invadido de uma grande angiistia, E Lurdes, fi- carla ao desamparo? Esere- ver-Ihe-ia cartas longas, pro- meteria voltar um dia. ‘Um vento gelado pereorria Miustaagio pr JERONIMO RIBEIRO aA Tua escurecida Sempre derreado no ‘peitorit' da ja~ nela, ele continuava a pensar, fitando o céu. estrelado. De ente, escuton uma vor que na do interior da casa Era a parteira que 6 chamé va para ver o filho. O corredot estaya ilumina- doe um cheird de alfazema se espaihava no ar. Teria nascide morto? Olhvu-para a parteira cam esse pergunta na face. A mulher sain sem eompreender. fle a acompa- nhon, com passos ‘pesados. Agora um chéva de crianga enchia a casa inteira. Nao. 0 filho estava v! Encontrou a porta do gual to apenas encostada e entrou, vendo na cama a espdsa que sorria. No berco, a@ lado, en= rojlado em flarlas, um ente- zinko chorava, contraindo as maozinhas cér de rosa, A um sinal do clinico, que lavava bacia, —-Que ha, doutor? © médico falou-Ihe baixo: — Recomendo-lhe que te- ha muito culdado com dona Lurdes. Ela nao. podera saber to cédo que sua filha nascew WOM... (Concivt wa rhe: art 42 A CIGARRA - Magazine QO BARRANCO (Contin Ties de Thomaz Wilson, a reapel- (e de Colombo, como a monogra- - de Castellani sobre os talst~ es de moedas, Enquanto Chico Lopes st ia recoximands da Sra moderne, ‘cmibém o gemiy futuro aproxi- dag prateleiras que es- Ghdiam os meus romances poll- Cisis e as brochures de Golete, Arrependisihe dé hap ter com- Frida Edgard Wallace no ori- final. — Nés estamos vendo seu es- forgo, Meimo ees fantasize de peruse de estradas, mostram a dua vontade de methorar izs0 por ful, empregands no Barranco 0 theiro que lhe coube, Mas niko tem que ir continuar seus estu- dos? — Sim, vou continuar. Chico Lopes mudou de posigéo m2 cadelra, Nesse momento cri- 19, 0 Dr. Pavlinho fol recostar- ze & jancla, com um volume das ‘obras completes de Chateau- -briand, — © nosso amigo André Hen- {o, como jé Ihe disse, bem me- dece um repouso... Ninguem melhcr do que ele, o iecano, poderia. avaliar a hone yedez de André Bento, incapaz co um deslize, ¢ duma_perfeiia Jealdade. Mas era um retrégrado, ‘um rotineiro, © bomem que me- nos eonvinha & nova fase pro- gressista. — Pelo que ouvi dizer, os seus negécios, no Rio, foram entre- yates a terceiros, para que pui- tase euldar dos estudes, nao foi iso? Nao espsrou pelo assentimento, _ ccneluindo com légica de ferro: © mesmo devia fazer eu, com 7 imalores razées, no que tocara 80 ‘Borranco. Era inegavel o meu intuito de uferir dali lucros compensado- res, viver, enfim, dos rendimen- tos da terra. Precisava, pol:, de inentulidade adiantada A frente ie administracdo. Alem disso, Teavia as questées trabalhistas, 3806 delicades, como 0 de da Giovana, as queéstéezinhas no foro, no civel e no crime. Entbora & contragosto, forgado Pela emaciinela, Chloo Lopes : decidira-so atervir, Nada mals simples nem mals ecoerente: propunha-se assumir, ie em prssoe. a direco do Bar- anco, sem aceitar neuhum orde- ps aE DA PAGINA © Dr. Paulinho, porem, deve- via ser contratado como Pro- curador: a seu pedido, o substi- tuto de promoter Umitar-te-la a hronorérios muito modesto:. Re: salvavesse, isto era clara, © que leh preeerevia ao advogado, nae ‘Guesiées de maior vulto, = “Seu” Chico, eu lhe agta- ‘ego inuito... — N&o tem qué agradnetr. Minha obrigacao era esta. Apanhei no “bureau” ume cat= ‘km de charutos, ainda fechada, Que era uma de minhes pirracas ‘com Peruinha; ela telmava em ender logo com ¢3 chertitos ficar com a linda caixa, de fe- chedura ¢ chavezinh Chico Lopes guardou o cigarzo gue retirara do mao, — Eu the agradego, “seu” ‘Chico, mas into multo: acabel de contratar © Antunes e estou salicfelto com le. © homem é experto @... — Téa experto, cortou 0 Dr. Feulinho, fechando o volume, qlic até agora conseguiu livrar- se dups processo. Falando mais para o cutto do que pera mim, dsclazou que 230 ya tudo era com a Ordem Po- Utica € Social, cnde nao st ed- Tnitiam chicanas. Desta vez, o vabula néo exceparia... Apanbel ng jancla o volute ab...u e recoloquei-o na ectente, = Sinto muito, mas et. nao quero mudar as condipdss do Barreuca. Alem disso, teria que pagar honcrartos dignos d# wn Fromotor e iseo aqui ndo vat reu- der tanto assim... © Jovem doulor podia ser am- bicloso e sem multos escrupulos mas nfo éra tolo: soube distin. ule da ironts a resolucto tinal e trremovivel. Lancou as estan- tes ua olhar benevolente, ce quem 6 a teria assimilads toda e riusse com finura. — Nesse caso, desculpe. Néo sablanies cle que j& estivesse ein) tantas dificuldades. = Multas difieuldades, tor. — Embaragos morais tambem niko € isso? © de:aléro pesado me velo a béca. Calei-me a tempo, limi- tando-me a guardar a calxa de charutos, reoém-aberta, e correr com estrépito a tamba do “bu- reau”’, = Bra 36 isso, “seu” Chico? Era sé. Dignos na derrota, ‘airam ambos como herols que dou- : se baleram bem no bom eomba- - te; mas na varanda, 34 com um pé na escada, o Dr. Paulinho ainda se voltou, para aconselhar. ine a que estudasse e concluisse meu curso. = Ja conelul, doutor, Repeti-the frase de Sou- za Lima, em yela de motejas: de muito pouco me valeria o curo de direito, quando milhares de eeutores s aspiravam chegar a Gécima parte daquilo-que eu ja etn. Bio idéizs de calouro... £— Calouro qué néo quer scr eu patrio, Com o desabafo, veltel ao es« eritério reprimindo a yontade de vir-e de cantar. Peruinha ja ‘tava ali, manuseando a caixa de charutos . — E agua? ‘Tinka ouyido tudo, ma outra ‘Ro.-a entreaberta. Desde muito que nAo Ge conformava em dei- sar fora de seu contréle os meus ‘tos mais simples. == Agora, #les ‘vio ver... Naguela tarde, Andre Beni Gy. & cabega quando me obsti- mel com @le no propésito vinga+ ‘vo. — Tsso val dar € um falatorto gr0se9, — Deixa dar. — Pois sim, mas quem fica agul sou eu. Na menhi seguinte, houve um imoleque que volton do curiat com a5 lates Vazias e com unia cesta sem frutas, + ‘Chico Lopes reagiu, valente- mente, ‘Trouxe 0 moleque a reboque @ fez quostio de pagat o itite 00 ‘prego de cidade e 9s frutas ta bém, como se vendiam na do. ‘Nao tardei muito @ arrepender- me, pensando na mulher, Dina Emeréneia, ela sim, prima de minha a. Era uma dona de casa modelar, vivenda pare os seus. cig Iamentou o ineldente, mas achou que Chico Lopes pre- elsava mesmo duma lcéo. — He vai ¢ meter a ronce ne gente, disse Peruinha, {ihe de ‘Apressel minha volta a0 Rio. ‘Nio encontrel um pretexto para tevoger a ordem que me. vexava, um subterfagio salvador, que ma ‘Ric — Abrfl de 1948 permitiste anular a niesquinhee, sem quebre do decéro. Chico Lopes é que se frontava a valer. tircu dinheiro na Caixa Eco- tiea, deuao futuro genro um almico opiparo, com cinco con- vidados @ adquiriu dois lampides hoves, queimando Alcool 6 ndo gecolina, que irradiavam um cla~ rio de festa até pero do casa- a0. dees vie Passada a fase iniclal, o edi- ficio comecou a surgir, moreso & felo, tmpressionando apenas pele yastidio de sta érea. Nem me. tho os que se haviam. femiliari- Sado com as linhas majestocas do prcjeto, poderiam reconhecé-lo & paveer daquela maisa informe. J& nfo merecia os comentarios os pascantes: deixara de er uma novidade, condiego impres- cindivel 20 interésse do carioca. © homem da rua tapava os ou- vidos & barulhelra monétona e Gesviava-se da pocira: aqullo nio crescla, nunca ia avante, Nos efrculos médios da finan- 3, esperava-se pelo estrondo de tun craque. Nio havia cimento, diciam, +a io ser que se importase 0 ds ntina; nao havia ferro sufl- citnte, fathava a mio de obra. Qs capitalisias audaciosos arre- pendiam-se da megalomania e etavam récortendo eo govémo, ‘para que os salvasse de um de- ‘Sastre total. ‘Os Maus rumores nio me po- diem alarmar, Souze Lima en- contrava néles uma cerla vanla- gem, que era a de efastar os im- portunos: ninguém pensa em fa- ver extorsio & uma emprésa que eid indo & garra. — © pior j& passou, disse-me He no Banco. Nao esta corren- ge fudo como se esperava, mas £0 agora pode-se ter a cortez de que chegaremos ao fim. Havla, de certo, escassez de material, ¢ também alguns transe icmos no oreamento geral; dois ou tres obstéculos imprevistos ti- nham sido contornados e nfo se esperavam outros. Dols perigas, apents. © primeiro era de que a5 per- turbacdes do Estado Novo pudes- sem impedir a normalidade das transagies cfetuadas; 2 fabrics de vidros, por exemplo, talver Noltasse &s nosas mAos. © outro perigo vinhs de certa gente, capaz de intrometer-se com imposigoes. absurdas. Os mares internos da politica, feliz- mente, andavam por demais re- ese esoueclam-se de — Ma: ainda ‘hd politien? par- guntel rindo. Souza Lima definis a politica pela, etimologia: govérno da cl- dade, Incrente, portanto, a todo © qualquer govérno de uma na- g40, indizpensével a todos 0: re- gimes. Quis. saber entéo o que se comentava pelo interior. =U nismo que por agul Isso qué os formats andam di- zendo. ‘== Entéo, nada. Vamos ou nao vamics hoje a0 casino? — Podemos ir.’ Paiso por Ih as 9 e mela. Tinha-se imposio ésse dever: lapidar-me, como amivelmente oll envernizar-mie, como Julgeva eu, Era preciso que me {Osse preparando, a tempo, para & vida que cédo ou tarde teria que levar. Gonvenceu-me a enovar a matricula na Faculdade, 0 que me cbrigou a tirmar acordos se- cretos. para regulariar ms fre- qilénela, Submeteu-me a ums aprendizagem de dangas, curso algum tanto extensivo, dade a boa aparéncia de duas me Habituou-me a comparecer & Co. Jombo, nas stgiindas-felras, € a recepgdes de Nene Castro, on- de conheci mais gente do que podia guardar de memoria, visual e nominal. ‘Apostet no Jockey, fiz-me s6- cio do Country ¢ j& rectbia con- vites sem a intervencéo Go pa- or antinha-me, porém, afastedo Gos castines e aferrado & pensio no: Latanjeiras. ‘Agradava-me aguéle quarto es- acoso € tranqlilo, aqueia saletes ao lade, com sua janela para 0 patio, chelo de frescura e silén- cio. Ali, sentia-me em mim mes- mo, desembaracado € real. © maldo do inlernato conti- nuava ao canto, recoberto por uma colcha vistoss; nas pare- es, duas folografias do Barran- 0, anspliedss, e um instanténeo de Peruinha, & niesa de cabecei- ra. Tinha cotmprado uma peu- hha, enfileirando nela prémios' do colésio, a medalha das regatas, a taga mintiscula do bilhar, ume caixinha de vidro, com 0 ca- eles de Maria de Lourdes e teu proprio retrato, em grande ola, imaugurendo o “smoking”. Na saleta, em boa moldura, uma copia do projeto do edifi- cio ma Giéria, defrontando 0 cartéo postal, sObre a estante, que isolava o prédio do Banco, dando-Ihe relevos de palacio. ‘Todo eu all estava, 0 189, 0 Zeca, o ertu0, 0 herdeiro e 0 Senh-r do Barranco. A meu ta Jante, inearnava-me em qualquer déles, remexendo no malao ou 43 aApurando-me ao expelho, dentza. @o “summer’’ recentiseimo. Ndo mictava 20; tinha equiles companhelros de querto, 05 uni 95 que me conyinham, O3 héspedes da alem’ jd tho exam 03 mesmos; para o |i it 2 funcioniria ‘apavecera um piofetsor, mais vago que eruc..0, e go jovem e alegte casal subs (ura outro, nada jovem ¢ maca tlegre. © contador do Banco & eu gozivamos das regelias de ‘yesranos, com malores conside= rag6es para mim, que pagtva gem deseontos os meses no Bar ¥anco. A presenga do professor rou tava-me & exclusividade de in- telectual; mas neste ponto, eu me havia filled @s criginalt..- des do Ouric®, ‘Tinhamos amiu- dado os encontros, desde que eu Ja nfo andava tanto pela Facul- dade, ¢ @e multo se comprazia tq minha atengio ® na minha generosidade nos bars. — Esta historla de. intelectual esté mal contada, pontificou 6 Ourigo, Um industrial nfo dirl- ge stia fabrica com a barriga: val perguntar ao tei bangueiro se éle acerta os negécios com os pes Ascim, pois, como havia espe- clalidades clinicas e clrcunsori- goes na cultura Juridica, sem que hinguém deixaxe de ser médico cu advogado, nfo se podia negar intelectualidade @ quem a em- pregava fora dos setores classi 08. 3. P., num exemplo, havia el- éo intelectualisslmo, E gracas # fsto, eu podia pagar-Ihe a5 doses de ufsque. As 9 e mela, Sousa Lima veo Duscar-me nas Latanjelras, Era necessirio que me imuni- vaso do Jogo, coma & vacina imuniza do. bacilo. Quanto « eonsideral-me lsento, seria 0 mesmo que evitar os postos da Salde Publics. Se nfo me darla atestado, pelo menos nfo teria a Goer-lhe aquela negligénela, no caso de infecgSo, sempre possic vel, — Vemos epanhar justamente 0 1.° “show”. Ha uma cena me- wlcana que tem agradade. ‘Acrescentou que a spresenta- 80 cra velhe, em véspera de set substituida; mas para mim tudo serlam novidades, inclusive as ovis. Por iss mesmo, linhs ex- gido boa colocaglo para nosse mesa. Nos cagsinos, Souza Lima exigia. © regulamento interno do Ban co Vedava © pano verde eos fun- ciondrios; para impor a rentin- ola, como dirigente, competia-Ine (Consus ma rhoina 46 eetéza de que os quebratia e de que hunea os poderin segurar. Eo marido, com que pacitncia a ouvia! Tinka su- gerido tudo — ar 3 de ouro, dagueles gue passam por de- thisdas orelhas, uma almofa- dinha no cavalete, Nao, nada ihe agradaya. Miss Brill teve Voniade de a sacudir, © casal de velhos conti- nusva sentado vo/banco, am- bes quictos como’ estatu Nén favia mal, havia sempre A multidao para observer, De ca, de la, diante dos alegretes de flores, ¢ em volta do co- Teto da, musica, exiblam-se ca- sais e grupos, que ora para- Yam para canversar, ofa pari cimptimentay, ora para comi- prar um ramilhete de flotes ao’ velho mendigo que tinha ym escaparate mas grades. 8 corriam poten ida, ayarrand umas as outras e rindo: piinhos, com de séda branca ao. pescoo gaxotinhas, bonequinhas fran- cesas, titias vestidas de ve- ludo e cendas. E, uina vez por outta. aparecia um garotinhio ceriende, répido e vacilante, do. espaco descoberta em di- ‘ecdo @ sombra das arvores, parava, olhava, amente no chao, avain até que a m: IS seus sapatinhos de tacoes eltos, tel qual uma frangul- nha, se precipitara, ralhando, eh seit auxilio, As outtas S086 set nos be ® fas cadeitas verdes, © erat sempre, mals ot menos, as mesma, domingo vai, donin= ra- grandes lacos fare varus shies Sree potas nu fumiarnente * liquise, Pare fucen Verma « externas uve © poate as lac PROCURE Bim FARMACIAY E GROGAR AD NA Hatta AV. SANDOVAL IR. C FOStaL | 874 MESS BRILL AWonrenuagdo ma PA NA go vem, e@ — Miss Brill re- parava isso muica ves —- em quase todas clas liavia qual- quer colsa de pindego. Eram estranhas, silenciosas, tédas mals ou mencs velhas e. maneira como olbavam. aspecto, dir-se-iam acabarem tédas de sair de pequeninos Gartos escuros ou mesmo de simples. armarios! Por detras do coreto havia arvores delgadas com as fo- thas amarelecidas caindo, & através delas descobria-se 0 mar no horizonte, e para além ‘© céu aztl com nuvens vela- das de ouro, “Chim, chim, pim! Chim pim! Pim, chim, chim!” fazia ‘0 bando. De um ado vinbam dugs ra parigas, vestidas de encarna- do, de outro, dois soléados cde farda azul; eneohttaram-se, viram-se, formaram pares e Ja foram de brago dado. Duas camponesas com el péus de palha muito ener gados passaram, graves, tu- eando os seus lindés burricos cor de fumo, Uma freira, pa- lida e fria, passon rapida. De- pols fol uma linda mulher que deixou cait um raminho ce violetas, ¢ um rapazinho log s2 precipitou para o apanhar; ela pegon no raminho e ati- rou-0 fora, como se tivesse colhido venena. Deus do céu! ll nao sabia se de- admirar aquéle gesto ou E depois um toque ce inho e um senor vestido zento. sieontraram-se mesma diante dela, Ble alto, 1é0, grave e ela tra era EMORROIDAS eVAR [tS E=3 ies A CIGARRA - Magazine © seu toque de arminho eom- prsdo ‘quando ainda era lon= Agora, tudo nela, 0 cabelo, 9 Testo, mesmo 05 olhos, erat da cor daquele miscravel = . a mao, com que. ix tendo nos labios com as lu- 3 lavadas, era tal qual ums patinha amarela, Oh! Ests va. tao contente por encontra io — encantada! Sempre ima- ginara que se haviam de en- contrar naquela tarde. B in descrevendo onde tinha este- —em téda parte, aqui. 2: beira mar. O die estara ao lindo — éle nao achava? E nao teria éle, talvez?.,. Mas éle agitau a cabeca um elgarro, soprat, te a fumagae, a falava € ria, lancou, fora o fosforo e continuou seu ca- O toque de arminho ou $6; Sorria mais brilhan~ temente do que nunca. Mas até a propria banda parecia mnpreender a que mente, enouanto o tambo fando, dizia; Bruto! _B: Que irla ela fazer? Que iri acontecer agora? Mas cn quanto Miss Brill se expan- Gia em perguntas, o toque de jinho, como se acabasse de to mais mo adian dou. E a banda mudou de Hove, pondo-s¢ a tocar 3 deprecsa, mais ales e do gue nunca, e 0 easal dy velhios que estava sentado jun- to de Mics Brill ergueu-se derped enquante um Tho muito engracado, gre ve- suiees, meando, a0 ritmo da estéve a ponte << ‘ar com quatro tapati- gas ore iaeevam em sentido contrario Oh, ¢ pent O vue ela g m9 aciilla e © que ela se di stava Ce estar all observands tudo tal qual uma pe peca oO céu, 1a at féese pintado? “Mas foi prec: cue aparecesse um caozinhi wehando, solene, jit ienemente se 1 , ual come um cachorrinho do teatro a queni tivesse dado uma droga qualquer, para Miss Brill descobrir porque era equilo tao emocionante, Kram todos atores, Nao pertenciam apenas ao pitblieo, nao esta vam apenas a yer, represen~ tavam. Mesmo ela tinha o

También podría gustarte