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A ASTROLOGIA

HISTÓRIA E JULGAMENTO
Do original inglês THE CASE FOR ASTROLOGY

Copyright © 1970 by John Anthony West e Jan Gerhard Toonder

Copyright 1974 da edição em português Editora Artenova S.A.

Tradução
Marcio Tavares d'Amaral

Capa
Studio Artenova

Revisão Salvador
Pittaro

Reservados todos os direitos desta tradução. Proibida a reprodução, mesmo


parcial, sem expressa autorização da Editora Artenova S.A.
JOHN ANTHONY WEST
E

JAN GERHARD TOONDER

A ASTROLOGIA
HISTÓRIA E JULGAMENTO

Tradução de
MARCIO TAVARES D'AMARAL
ÍNDICE

Introdução pág. 8
Relação de Fotos 7
Primeira Parte — História e Técnica pág. 10
1 — Sonhos que os Caldeus nunca sonharam pág. 11
2 — A Puta da Babilônia pág. 28
3 — A Enjeitada Ataca pág. 39
4 — A Bela Adormecida acorda pág. 51

Segunda Parte — Objeções pág. 59


1 — A Rainha da Superstição pág. 60
2 — O Conselho da Rainha pág. 67

Terceira Parte — A Evidência pág. 73

Quarta Parte — O Futuro e a Significação


da Astrologia pág. 104

Apêndice I - A Querela dos Egiptólogos pág. 130


Apêndice II - Gêmeos de Tempo pág. 133
Notas pág. 135
Bibliografia pág. 143

Capa - Orelha - Contracapa


O Dr. Johnson dizia que era fácil estar do outro lado..." Eu
nego que o Canadá esteja conquistado e posso sustentar minha
firmação com um punhado de bons argumentos. Os franceses
são um povo mais numeroso que o nosso; por isso é pouco
provável que nos deixem ficar como Canadá — "Mas o Ministro
diz que sim". Certo. Mas o Ministro já nos fez gastar muito do
nosso dinheiro. E isso só interessa a ele. — "Mas também nos
aconselham os homens que lutaram lá" — Sim, mas esses
homens tem ainda mais interesse em nos iludir. Eles não querem
que pensemos que cometeram um grave erro; e não querem que
pensemos que foram derrotados pelos franceses, mas sim que
saíram vitoriosos. Agora imagine se você for lá ver tudo que está
acontecendo. Isso só satisfaria você mesmo. Quando voltasse
não acreditaríamos que você dissesse. Diríamos que você foi
subornado...

Bowell's London Journal


14 de Julho de 1763
Relação das Fotos
(entre as páginas 82 e 86)

1 — Vista aérea do Templo de Luxor, no Egito

2 — O Colosso de Ramsés II superposto à planta do Templo

3 — Recém-nascido superposto à planta da cobertura interior do


Templo de Luxor

4 — Planta do Templo de Luxor com um esqueleto superposto

5 — Esquema mostrando os principais (e astrologicamente


importantes) estágios do crescimento humano, em
confronto com as dimensões do Templo

6 — A atribuição astrológica de partes do corpo humano ao


domínio de signos do Zodíaco foi incorporada ao Templo de
Luxor e é idêntica à mostrada nos desenhos medievais.

7 — Pirâmide e Câmara Mortuária de Chephren

8 — Miquerinos, Hathor e uma deusa, esculpidos em xisto

9 — A multidão concentrada na Grand Central Station, em Nova


Iorque, assiste à primeira apresentação na América do
Astroflash, um computador programado para fornecer
horóscopos e fazer previsões

10 — Jean Henderson, Joyce Ritter e suas famílias

11 — Albert Einstein e Otto Hahn

12 — James Stephens e James Joyce

13 — Beniamino Gigli e Lauritz Melchior


Introdução
Atacada pela Ciência ao longo de três séculos, negada pela Filosofia,
Psicologia, Medicina, pelo Direito e pelos demais ramos ortodoxos do saber
atual, á astrologia recusa-se a morrer. No início da era espacial, atinge
uma popularidade só comparável à que gozou nos tempos da Velha Roma.
No entanto, outras superstições, rudemente combatidas pela Ciência,
afastaram-se da cena e decaíram. A Sociedade da Terra Plana manifesta-se
muito pouco nesses últimos tempos; seu apelo é limitado. Algumas bruxas
ainda sobrevivem, beneficiando-se de uma propaganda desproporcional ao
seu número ou à sua importância. Por que, então, a astrologia se faz cada
vez mais presente?
Trata-se de um apelo puramente inconsciente — como Freud gostaria
de definir? Ou deve ser atribuído à eterna imunidade do homem à razão e a
sua correspondente e igualmente eterna paixão pelo mistério? Ou será
possível — como pensava Jung — que exista alguma coisa por trás de tudo
isto?
Muitas pessoas educadas ignoram este fato. Como podem planetas
distantes afetar nossa vida e temperamento? Não é um fato indiscutível da
ciência biológica o de que os traços
físicos e mentais são transmitidos por hereditariedade? E assim por
diante... Mas que provas existem, realmente, contra as especulações da
astrologia? Como os astrólogos respondem, ou tentam responder, a essas
objeções? Há alguma evidência legítima a favor da astrologia?

.. há alguma evidência no sentido da influência que as estrelas supernovas exercem sobre


manifestações epidêmicas, não sendo impossível que sejam responsáveis por outras influências, mais
decisivas, sobre a própria evolução. Há pelo menos um sentido em que podemos afirmar que nossa
vida é influenciada pelos astros, embora já nos tenhamos libertado da superstição da astrologia. (Os
grifos são nossos.)
G. Maxwell Cade, chefe de pesquisa (aparelhos infravermelho) e diretor médico-chefe) das
Indústrias Smith Ltda., escreveu no New Scientist, em 19 de setembro de 1968:

"Quanto mais avançamos na Ciência, mais nos convencemos de que o universo é uma grande
unidade... Temos, portanto, o direito de supor, quando encontramos um certo ritmo em tantos
fenômenos..., que estamos lidando com partes relacionadas a esse todo."
Dewey e Dakin, Cycles, The Science of Prediction, Holt, 1950. (Edward R. Dewey é o
presidente da Foundation for the Study of Cycles, filiada à universidade de Pittsburgh.)
“... certos fenômenos que ocorrem no espaço geofísico, e todos os fenômenos que Em nome da Ciência o Sr. Moore está fazendo mágicas; esperando
ocorrem no espaço solar e astrofísico atuam a distância. Não importa qual a sua natureza, a destruir a astrologia, "desencantando-a" exatamente como os menos
verdade é que sua ação se manifesta por radiações de natureza eletromagnética ou
corpuscular, ou através de variações nos diversos campos: elétrico, magnético, brilhantes dos médicos egípcios antigos "exorcizavam" as doenças dos seus
eletromagnético ou gravitacional. Tudo isso pode hoje em dia ser relacionado como ação a clientes: "Vai-te, doença, vai-te, filha da doença! Vai-te, que tu quebras os
distância. ossos, destrói o tecido... vai-te para a terra, doença maldita, maldita!"
Giorgio Piccardi, The Chemical Basis of Medical Climatology, Charles C. Thomas, A declaração de que a astrologia não tem bases científicas não tem
1962, p. 120. (O professor Piccardi é diretor do Instituto de Química Orgânica, Universidade
de Florença.)
nada a ver com as evidências que porventura venham provar esta
declaração.
"Nos últimos anos, têm surgido laços estranhos e inexplicáveis entre as fases da Lua, a "Que, precisamente, quer-se dizer quando se afirma que um planeta
precipitação pluvial, o choque dos meteoros, as tempestades magnéticas e os distúrbios está "em" uma constelação?" — pergunta Moore.
mentais. E como se estivéssemos-nos movendo através de uma verdadeira ficção científica, Ninguém pretende convencer-nos de que todos os astrólogos são
no sentido de provar a crença antiga na relação entre a Lua e a loucura." sábios, mas todos ouviram falar no telescópio, e é evidente que mesmo os
Sir Bernard Lovell, diretor do Observatório de Jodrell Bank, escrevendo no Sunday mais histéricos não seriam reduzidos à impotência por este enigma. Pelo
Times, 15 de março de 1963.
contrário, tranqüilamente responderia: "Quando, em relação à Terra, o
planeta Marte aparece na porção celeste que os astrônomos chamam de
Por mais absurda que possa parecer a manifestação astrológica dos
Escorpião, diz-se que Marte está "em" Escorpião."
jornais, toda a teoria astrológica está fundamentada no princípio de que os
Agora, os astrólogos realmente declaram que uma criança nascida
fenômenos celestes afetam a vida na Terra; as citações acima — declarações
nesta configuração é afetada por ela. E esta afirmação pode não ter bases,
de cientistas, não de astrólogos — sugerem que tais efeitos existem e são
pode ser um absurdo. Mas se assim é, por que descer ao exorcismo para
cientifica-mente conhecidos.
livrar-se dela? Por que não chamar à cena provas científicas incontestáveis?
E particularmente valiosa a declaração de Sir Bernard Lovell, que "Não existe, é bem verdade, uma única prova imediata e decisiva para
apenas quatro anos antes, no seu Reith Lectures, declara encarar a
provar o erro da astrologia", comenta Paul Courdec, astrônomo francês cuja
astrologia "de maneira bastante divertida."
hostilidade à astrologia leva-o aos extremos de, na mesma frase, falar do
Será possível que os astrólogos, apesar de tudo, vão rir por último? Essa
"erro da astrologia" e da falta de provas para determinar este erro.
pergunta, depois de três séculos de racionalismo, torna-se subitamente
Se a astrologia estivesse morta e enterrada, não haveria necessidade de
válida. Não resta dúvida, porém, de que a atitude da ciência oficial continua
exumá-la. Mas, diante da sua vitalidade, há muito que se faz necessário um
inalterada em relação a essas indagações, como provam as citações abaixo:
estudo de fôlego. Que aconteceu com esse espírito de curiosidade objetiva
"Primeiramente, registra-se ainda uma certa confusão entre a ciência da Astronomia, por de que a Ciência tanto se vangloria? Uma sociedade que está inclinada a
um lado, e essa crendice medieval que é a astrologia... A Astronomia é o estudo do Universo; gastar bilhões para. pôr o homem na Lua evidentemente deveria estar
a astrologia, que se propõe a predizer o futuro e o caráter das pessoas pela observação da disposta a gastar uns poucos milhões para estudar os efeitos da Lua sobre o
posição dos astros, não tem nenhum rigor científico e pode ser tranqüilamente definida pela homem. Principalmente, quando há uma série crescente de evidências de
palavra "irrisão".
que tal influência existe.
Não resisto à tentação de uma pequena dissertação sobre a astrologia, a assim chamada
ciência segundo a qual a posição dos astros influencia a vida e a conduta das pessoas. Nosso duplo objetivo, ao escrevermos este livro, foi recolher e
Suponhamos, por exemplo, que o planeta Marte esteja na constelação de Escorpião... Os relacionar o material disponível e analisar o preconceito contra a astrologia.
astrólogos afirmarão que isto tem uma influência decisiva sobre a criança (nascida sob esta Mas, antes de discutirmos a questão de como a astrologia se coloca hoje em
configuração). No entanto, que é que se quer dizer precisamente quando se afirma que um dia, é importante estabelecer uma distinção.
planeta está "em" uma constelação? Os planetas estão muito próximos a nós em relação às
estrelas... Contrapostos a argumentos de tal natureza, os astrólogos normalmente batem em
retirada, resmungando com seus botões frases ininteligíveis sobre os antigos ensinamentos e
as influências esotéricas. Nada mais precisa ser dito."
Para os crédulos, o absurdo nos jornais é a astrologia. Infelizmente, para
os céticos educados, o absurdo nos jornais também é a astrologia. Portanto,
não é muito difícil entender que a astrologia, que preocupou homens como
Pitágoras, Platão, Plotino, Santo Tomás de Aquino, Kepler e muitos outros
era uma astrologia inteiramente diferente desta. Para esclarecer essa
diferença, vamos ter de entrar a fundo na longa história que esta crendice, ou Primeira Parte
ciência, percorreu.

HISTÓRIA
e
TÉCNICA
1 Sonhos que os caldeus nunca sonharam

A astrologia nasceu no passado mais longínquo, em condições


desconhecidas.
A astrologia é uma das superstições mais antigas e mais difundidas, encontrando-se
desde há muito entre os egípcios, os hindus, os chineses, etruscos e, especialmente, entre os
babilônios, através dos quais chegou à Grécia no quarto século A.C., estendendo-se a Roma
alguns séculos mais tarde. O nascimento da astrologia deve estar ligado à impaciente
curiosidade humana e ao desejo de harmonia.
Leis e regularidades foram descobertas nas transformações mais evidentes da natureza, e
entre elas sobressaíam as decorrentes da influência e alteração dos corpos celestes. O
movimento do Sol regulava e vivificava a Terra. A chuva, as trovoadas e as enchentes vinham
igualmente do céu. Era, portanto, natural pensar que os poderes superiores que regem o
destino humano provinham dos céus, e que os decretos desse poder podiam ser ali lidos,
desde que se aprendesse o significado das alterações dos astros na sua trajetória. O Sol, a Lua
e os planetas passaram a ser encarados como divindades celestes, sendo-lhes conferidos
nomes de deuses e deusas. Se alguém aprendesse a ler e interpretar o sentido da atividade
desses deuses, seria possível descobrir quais os seus objetivos. Daí, paralelamente ao estudo
de interpretação amplamente baseado na posição relativa dos astros, desenvolveu-se uma
análise da própria posição e movimento desses astros. Nasceu e desenvolveu-se, assim, uma
estranha mistura de ciência e imaginação fantástica...
A falha fundamental do sistema astrológico é o caráter arbitrário de todas as declarações
que se fazem. Por um lado, isto decorre do fato de terem-se baseado em fatos oralmente
transmitidos, com referência a determinados fenômenos, aliados à convicção de que, uma vez
reproduzido o fenômeno, gerar-se-ia a mesma conseqüência; por outro lado, porque essas
afirmações dependem de associações de idéias, variando a apreciação do fenômeno segundo
se o relacione a coisas boas ou más, como, por exemplo, a vitória sobre os inimigos, a fome,
as enchentes; por outro lado, ainda, por se basearem na idéia mística da transferência de
caráter de uma divindade ou planeta. Os laços com que a astrologia subjugou a mente humana
são forjados por sua aparente cientificidade...(1)
Quando procuro ver o universo com os olhos de um babilônio de 3000 A.C., tenho de
recuar aos anos de minha infância. Aos quatro anos eu possuía o que se pode chamar de uma
compreensão adequada e satisfatória de Deus e do mundo. Lembro-me de um dia em que meu
pai apontou para o teto branco, decorado por um grupo de bailarinas, e declarou que Deus
estava ali, me olhando. Imediatamente, convenci-me de que as bailarinas eram Deus... Da
mesma forma, costumo pensar, ó mundo fantástico das estrelas, no teto do mundo, devia
aparecer para um babilônio ou egípcio...
Há uns seis mil anos, quando a mente humana ainda estava meio adormecida, os
sacerdotes caldeus ficavam à noite em seus mirantes, olhando as estrelas...(2)

As torres construídas pelos caldeus mediam 300 metros de altura, 300


metros. de largura, 300 metros de comprimento; construídas
com tijolos vitrificados, terminando, no topo, em câmaras ricamente Embora mínimos ao serem comparados com o Sol e a Lua, os demais
adornadas de ouro e pedras preciosas. Enquanto isto, no Egito, os Faraós planetas são os corpos celestes que mais chamam a atenção depois
sonhadores já tinham construído suas maiores pirâmides (ver fotografia 1), daqueles. Realmente, eles se movem em trajetórias bastante singulares.
estruturas de tal porte envolvendo tantos cálculos arquitetônicos e Tanto que os antigos os chamavam de "viajores". Os planetas não
logísticos que, mesmo contemporâneos nossos, dos mais "despertados", exercem nenhuma influência visível sobre os acontecimentos terrestres.
não conseguem descobrir como foram feitos. Não obstante, uma vez deificados o Sol e a Lua, deve ter parecido lógico
Alguma coisa está errada. aos nossos caldeus aplicar o mesmo princípio aos planetas. E como é
Se a astrologia é produto da impaciente curiosidade humana, que difícil supor que houvesse dois caldeus pensando a mesma coisa sobre o
aconteceu a essa mesma curiosidade depois do desenvolvimento deste seu caráter dessas divindades, mais ainda que esse acordo pudesse nascer
místico produto? Por que se mostrou incapaz, durante seis séculos, de espontâneo entre duas nações, tem-se de pensar que a partir de dado
desmascarar esse erro? Será que os homens capazes de calcular os momento essas características passaram a ser reduzidas a escrita,
movimentos dos astros terão sido tão ignorantes a ponto de não terem incorporando-se à tradição.
sabido corrigir os erros supersticiosos cometidos na tentativa de predizer o Ao mesmo tempo, devem ter-se realizado esforços de sistematização
futuro com base nesses mesmos movimentos? dos conhecimentos adquiridos. A ciência das fases do Sol e da Lua serviu
a propósitos imediatos, práticos: calendários, fase de colheitas e
Diante da astrologia que nos é dada a conhecer hoje, é bastante difícil semeaduras e assim por diante; enquanto que a observação dos planetas,
imaginar como teria sido essa mesma astrologia, quando pensada por mais pobre em suas conseqüências práticas, e muito mais trabalhosa,
caldeus sonhadores no alto de suas torres de observação. acabou servindo para alimentar o mercado mais florescente de então: o dos
Esses caldeus sonhadores devem ter-se intrigado com o espetáculo do sacerdotes empenhados em tutorar o povo.
nascer do Sol; com o fato de que o Sol dá luz e calor, e de que a sua forma Não tendo mais nada a fazer, é possível que os caldeus reparassem na
parece regular o ritmo das estações. Uma vez que a própria natureza semelhança das figuras celestes com desenhos de animais estranhos:
obedece ao ,Sol, seria mais do que natural que o nosso protoastrólogo touros, caranguejos, leões, centauros. E quando acontecia de o Sol, a Lua
tentasse descobrir a influência do Sol sobre todo o desenvolvimento; e ou algum dos outros planetas estarem na porção de céu presidida por uma
seria de se esperar que essa influência mostrasse ter relação direta com as dessas figuras, eles poderiam muito bem pensar que a influência desse
estações do ano. E claro que se faziam previsões especiais para os dias astro estava sendo modificada pela da constelação dominante.
encobertos, uma vez que a influência do Sol não se pode exercer através E, além de tudo isso, temos que supor que nossos caldeus viviam
das nuvens. impressionados por fenômenos extraordinários de todo tipo: tremores de
O segundo planeta em importância é a Lua. Nossos caldeus não terra, enchentes, cometas; às vezes mesmo fenômenos puramente
devem ter deixado de se impressionar com suas estranhas mudanças de humanos, mas não menos impressionantes: fome, guerras, pestes, e assim
fase. Devem ter reparado que sua própria mulher oscilava dentro desse por diante. E tudo isso acaba-ria sendo inscrito nos anais da nova
ritmo inconstante, concluindo, por analogia, que a Lua era mulher. doutrina, que a qualquer momento acabaria ruindo sob o seu próprio
Podem ter notado, se podiam ver o mar do alto de seu mirante, que as peso.
marés são também reguladas pela Lua. Não deixariam de ver que, apesar Mas a astrologia atual, a nosso ver, não se parece nada com essa
das repetidas mudanças de fase, a Lua, como sua mulher, uma vez outra, de associações, analogias e relações. Num certo sentido, a astrologia
longamente observada, podia ser prevista. E devem ter-se lembrado de de hoje é muito mais ilógica. Por exemplo: que tipo de mente, na
ligar as observações que recolhiam da contemplação da Lua àquelas que antiguidade, poderia sustentar que uma criança nascida em 18 de março,
decorriam dos movimentos do Sol. sob Peixes, seria aquática, mística, reclusa, artística, enquanto que a
nascida uma semana depois sob Áries seria esquentada, violenta,
discutidora, militarista? Por que deveriam os cancerianos nascidos em 18
de julho,
sob a influência da Lua, tender à poesia e à introspecção, enquanto os de casas astrológicas; e essa simples mas decisiva complicação também entra,
Leão, nascidos uma semana mais tarde, cairiam sob a influência do Sol, embora mais raramente, nas conversas sociais.
puxados pelo seu protótipo leonino? Portanto, uma criança pode nascer em abril, com e Sol em Touro, mas
Ou bem os antigos eram ainda mais loucos e sonhadores do que os com o Sol inclinado no horizonte a 25° de Libra. Libra é, então, o signo de
doutos imaginam, ou há algum método na sua loucura, que os doutos nascimento e a posição do nascimento do Sol se chama ascendente. O ponto
absolutamente não querem ou não conseguem descobrir. mais alto que o Sol alcançar no dia do nascimento da pessoa — que
dependerá do lugar desse nascimento e da estação do ano — determinará o
Os Princípios do Zodíaco e a Técnica Astrológica meio-do-céu, ou medium coeli, ou MC. E pela posição do ascendente e do
MC constitui-se a formação das casas. (Ver figura 1.)
Vamos dar uma olhada nessa atual reprodução astrológica do mundo. O ponto oposto ao ascendente chama-se descendente. O ponto oposto
No seu sentido mais puro, mais simbólico, depurado das exigências do ao meio-do-céu chama-se nadir. Esses quatro pontos aparentemente
mercado, a doutrina astrológica pode ser encarada como uma afirmação da arbitrários são os ângulos aos quais se atribui importância astrológica. Em
harmonia que preside ao Universo, e como um guia para a compreensão das termos gerais, pode-se dizer que a posição do Sol, da Lua e dos planetas nos
suas leis. signos solares indica o caráter das pessoas, ao passo que sua colocação
A margem o fato de que ela nunca existiu, a astrologia dos antigos relativamente aos ângulos determina o seu destino, com suas circunstâncias e
caldeus era feia — portanto, lógica. A verdadeira astrologia é ilógica, mas relações: o uso que será feito do caráter recebido.
elegante; é a representação da coreografia celeste. Os Planetas
Os planetas, de acordo com a astrologia, diferem quanto à sua natureza;
Signos Solares afirma-se que representam ou simbolizam funções cósmicas bem
determinadas, e cada um deles deve regular os signos cuja função ele
O zodíaco, ou círculo celeste, está dividido em 12 setores iguais (3). representa, e esses signos são por sua vez ligados aos planetas de acordo
São os signos — Áries, Touro, Gêmeos, Câncer e outros — que todo com sua proximidade do Sol. O seguinte quadro dá, de maneira sintética, a
mundo conhece. Esses setores devem ser, ou representar, ou corporificar natureza astrológica de cada planeta e o signo que ele regula. (Ver fig. 2)
determinadas funções cósmicas, e o animal ou figura atribuída a cada
signo é mais do que um simples símbolo mnemônico: é uma representação
gráfica, uma abreviatura do que de outra forma empregaria uma infindável Planeta Rege Princípios Simbolizados
terminologia. Saturno Aquário e Capricórnio Contradição, Cristalização
Júpiter Peixes e Sagitário Expansividade, Prodigalidade
Casas e Ângulos Marte Áries e Escorpião Paixão, Energia, Virilidade
Vênus Touro e Libra Harmonia, Senso artístico, Simpatia
Mercúrio Gêmeos e Virgem Intelectualidade, Mobilidade
A Terra se move em torno do Sol, mas é o Sol que parece andar à Lua Câncer Receptividade e Subconsciente
roda do círculo zodiacal, e é essa posição aparente do Sol no momento do Sol Leão Criatividade e Conhecimento
seu nascimento que determina o signo solar do horóscopo. É o familiar
"Você é de Gêmeos? Eu sou de Aquário" das conversas sociais.
Ao lado disso, a Terra gira em torno do seu eixo a cada 24 horas. Por Os novos planetas, Urano, Netuno e Plutão, apresentam um desafio
isso, percorre em um dia as mesmas influências que o Sol palmilha em um evidente a essa distribuição dos planetas pelos signos. Discutiremos os
ano, tornando lógica a divisão do círculo zodiacal em 12 partes problemas levantados pelos novos planetas mais adiante. (Ver pp. 74-5.)
correspondentes. Essas divisões são as
Figura 2. Os signos do Zodíaco e os planetas que devem regê-los. Este desenho ilustra a
noção tradicional, antes de aparecerem os novos planetas. Essas relações não são arbitrárias,
sendo feitas sob uma série de pesquisas numerológicas. Os astrólogos modernos se
perguntam se os novos planetas devem ou não ser incorporados e se isto pode ser feito
sem destruir o rico esquema simétrico tradicional. E, no entanto, possível que Urano seja
co-regido por Aquário e Netuno por Peixes.

As Relações

Para interpretar um horóscopo, o astrólogo tem de tomar todos esses


fatores em consideração. A localização dos planetas nos signos dá, ao que
se afirma, a chave do caráter. Assim, uma pessoa nascida com Marte em
Touro vai ser significativa e previsivelmente afetada por isto. Da mesma
Figura 1. Horóscopo de uma criança nascida em 20 de abril, 18h22m, em Braunau (Áustria). A forma, afirmarão os entendidos, a criança seria afetada diferentemente se
pessoa a quem este horóscopo pertence nasceu com o Sol no primeiro grau de Touro. Seu
ascendente (Asc.) está, no entanto, a 25 graus de Libra. Um astrólogo que interpretasse esse
Marte, em vez de aparecer na sétima casa, surgisse na sexta, o que
horóscopo diria que essa pessoa tem temperamento de Touro. Touro é um signo de grande força corresponderia a ter vindo uma hora antes.
de vontade e determinação. As pessoas deste signo cedo decidem o seu caminho na vida. Podem Mas, acima e para além dessas complexidades, tanto o caráter quanto
começar devagar, mas, uma vez determinados os seus objetivos, nada os fará parar. (Caroll
Righter, in The Astrological Guide to Marriage and Family Relations.) No caso, a predição a sua manifestação são afetados pela relação dos planetas entre si.
parece especialmente adequada, a criança mais tarde foi conhecida como Hitler. Outras pessoas Quando os planetas se apresentam dentro de determinados ângulos,
de Touro deveriam recusar-se a estar conformes com seu horóscopo de maneira tão correspondendo às leis da harmonia, diz-se que eles estão "em relação".
catastrófica.
Assim. quando dois planetas são separados por 180 graus, diz-se que
estão em oposição; quando separados por 90 graus estão em relação aguda
e assim por diante; e essas relações são consideradas essencialmente
diferentes, importando harmonia ou desarmonia. As principais relações são
as que se seguem (Ver fig. 3).

Ângulo Nome da Relação Natureza


0 graus Conjunção Neutra, dependen-
do de outros fatores
relevantes
60 graus Sextil Harmoniosa
90 graus Aguda Desarmoniosa
120 graus Trina Harmoniosa
180 graus Oposição Desarmoniosa

Isto quer dizer, por exemplo, que Marte em conjunção com Vênus em
touro, em relação aguda com Saturno em Leão, da sétima para a décima
casa, significará, para um astrólogo, coisa bem diferente de Marte em
conjunção com Vênus em Virgem, em relação trinitária com Saturno em
Capricórnio, da primeira para a quinta casa. (Ver fig. 4.)

Tipos Astrológicos

Signos, casas, planetas em signos e casas, relações entre os planetas, e


entre os planetas e os ângulos — especialmente entre os planetas e o
Ascendente e o Meio-do-Céu — são os fatores principais a serem
considerados na elaboração de um horóscopo, ou mapa da hora. Em teoria,
Figura 3. Relações. Vênus e Marte numa dupla relação aguda com Saturno (90 graus). Vênus rege o
um horóscopo pode ser elaborado para qualquer tipo de acontecimento, e horóscopo de Hitler, tanto pelo signo quanto pela casa, uma vez que Touro, signo solar, e Libra,
— ainda em teoria — se um horóscopo for válido para um determinado Ascendente de Hitler, são regidos por Vênus. O poder de Vênus é ainda aumentado pela sua colocação
aspecto, o deve ser para os demais. Assim, um empreendimento comercial, na sétima casa, que, analogicamente, corresponde ao sétimo signo, que é Libra.

uma criança e uma idéia nascidas na mesma hora compartilham o mesmo No caso, Vênus dificilmente poderia ser mais aflita do que é. A conjunção com Marte, capaz por
horóscopo. si só de misturar o charme de Vênus com a energia de Marte, torna-se negativa e violenta pela relação
Teoricamente, a mesma influência cósmica preside ao nascimento duplamente aguda com Saturno. Essa relação, quando manifestada entre Saturno e Vênus, costuma
trazer à tona os aspectos negativos e egoístas de qualquer temperamento, enquanto que essa mesma
dessas diversas manifestações. Os astrólogos acreditam — com maior ou relação, quando estabelecida entre Saturno e Marte, provoca as maiores demonstrações de violência de
menor certeza — que o "caráter" de um negócio, de uma criança e de uma que o espírito humano é capaz. E claro que nem todas as pessoas nascidas sob esta configuração se
idéia pode ser determinado com base no horóscopo; e — com menor transformam em Hitlers, mas os astrólogos tenderiam a esperar alguma manifestação "hitleriana" por
parte de indivíduos com uma tal relação Vênus-Marte-Saturno.
segurança ainda — que o futuro desse negócio, criança ou idéia pode ser
previsto pelo
Em termos gerais, os astrólogos mais cautelosos de hoje não têm muita
fé em qualquer tipo de predição, embora depositem grande confiança na
capacidade de determinar o "caráter" com base no horóscopo. E como o
grande interesse popular pela astrologia sempre foi, e continua sendo,
referido à capacidade de prever, encontramos uma situação como a atual,
em que a astrologia é largamente subutilizada. Mas, deixando de lado o
problema da utilização e subutilização da astrologia, cabe ressaltar que a
verdadeira astrologia demonstra uma complexidade que nem de longe pode
ser suspeitada pelo leitor da subliteratura astrológica dos jornais.
Não obstante, a complexidade e o absurdo não são de forma alguma
excludentes. E se os princípios que subjazem à divisão do zodíaco em casa
e signo forem falsos; se o princípio que determina a atribuição do sentido
aos planetas e às relações estabelecidas entre eles for puramente arbitrário e
baseado na fantasia, a complexidade passa a não ser mais do que um mero
exercício intelectual.
Vamos, portanto, investigar cada um desses princípios, tendo, porém,
sempre em mente que um tratamento mais adequado ao tema requereria um
espaço muito maior do que o de que podemos dispor neste livro.

Os Princípios Subjacentes ao Zodíaco

A divisão do Zodíaco em 12 setores (ou em oito, 16 ou 20 setores)


baseia-se na crença de que o universo é coerente, e de que os números não
Figura 4. Os signos do Zodíaco divididos em polaridades. são uma simples invenção que permite aos homens fazer meras distinções
quantitativas, mas que, pelo contrário, são as chaves simbólicas das leis
estudo da posição dos planetas, em qualquer momento dado, em relação às qualitativas que regem o universo. Toda a tradição esotérica tentou sempre
posições iniciais do horóscopo-matriz.(*) expressar a diversidade na unidade, e isto sempre se revestiu de um caráter
Embora os métodos de interpretação dos horóscopos sejam os mesmos, numérico e simbólico; a astrologia é um método especial-mente engenhoso
não importa qual seja a natureza do assunto investigado, os astrólogos de realizar essa combinação.
estabelecem uma distinção terminológica entre os diferentes tipos de Se olharmos atentamente o Zodíaco, veremos que os signos estão
análise. A astrologia que se emprega a estudar e predizer o futuro dos dispostos para representar, antes de mais nada, a Lei de Dois, a lei da
negócios, dos Estados, das nações, das raças, dos Partidos políticos é dualidade, da polaridade: coisas que nos são familiares, como macho-
chamada de Astrologia Mundana; a astrologia usada para estudar e fêmea, positivo-negativo, ativo-passivo. Encontramos que Áries é positivo,
prever o futuro dos indivíduos é chamada Astrologia Genetlíaca; e a Touro negativo, Gêmeos positivo, Câncer negativo, Leão positivo, e assim
astrologia usada para responder a questões tendo por base o horóscopo do por diante a roda toda do Zodíaco. (Ver fig. 4.)
momento em que a pergunta foi feita chama-se Astrologia Horária. A seguir veremos que os signos se dispõem igualmente dentro da Lei
(*) Os métodos usados para ler o futuro nas estrelas são muito variados, complexos e muitas vezes de Três, o princípio da relação.
simbólicos, e há pouca concordância entre os astrólogos sobre a validade particular de qualquer um
deles
A trindade, o princípio de três, expressa a relação. Se o universo Embora seja possível colocar a coisa mais claramente, pode-se notar
fosse homogêneo, nada poderia acontecer. Se fosse apenas dual, nada que no exemplo citado um tornou-se tanto dois quanto três, dependendo de
aconteceria, ainda. Resultaria daí um estado de eterna tensão entre duas como se encare o diagrama.
forças iguais e opostas. Era preciso existir um princípio de reconciliação, Em astrologia, a regra dos três expressa-se pelo que se convencionou
uma Terceira Força. Um escultor e um pedaço de madeira não produzem chamar "Os Modos da Ação". Os signos, como já vimos, podem ser positivos
uma estátua — é preciso haver a idéia; um homem e uma mulher não ou negativos, de acordo com a regra da polaridade, mas refletem, ao mesmo
bastam para gerar uma criança — é preciso haver amor, ou pelo menos tempo, o princípio da triplicidade.
desejo; um cientista e um tubo de ensaio não resultarão numa experiência Homem-mulher é uma polaridade, mas amante-amada-desejo é uma
— é preciso haver curiosidade. relação. Amante-amada não são a mesma coisa que homem-mulher,
Mas a polaridade está incorporada na triplicidade. O que existe não apesar de sua aparência externa ser a mesma e suas contas continuarem a vir
é dois mais um — embora possa parecer ilógico que não seja assim. Em para o mesmo endereço. A Lei da Triplicidade sobredetermina a Lei da
termos esotéricos, a emergência da unidade dentro da multiplicidade é Dualidade. Os modos sobredeterminam as polaridades; as polaridades
manifestada como: um torna-se dois e três simultaneamente. E isto pode permeiam os modos.
ser esquematicamente figurado da seguinte maneira: Assim, em astrologia os modos de ação são chamados "Cardeais"
(aquilo de que tudo o mais depende), "Fixos" (aquilo sobre o que se atua) e
"Mutáveis" (o que efetua a alteração na correlação de forças). Áries é
Cardeal, Touro é Fixo, Gêmeos é Mutável, Câncer é Cardeal, Leão é Fixo,
Virgem é Mutável e assim por diante. E os signos começam a se diferenciar,
Áries é positivo e Cardeal, mas Gêmeos, embora também positivo, é
Mutável, e Leão é positivo e fixo. (Ver fig. 5.)
Três termos, porém, são ainda insuficientes para descrever uma coisa ou
um acontecimento. A relação é eminentemente teórica. Não se pode dizer
que exista. Amante-amada-desejo não é um casamento, nem mesmo um
caso. Para que exista de fato essa realidade, é preciso que se conjuguem
quatro termos, que contenham a relação dentro de si. Os quatro termos de
uma família poderiam ser pai-mãe-responsabilidade-união. Mas o quarto
termo não é arbitrariamente agregado (4), e pai-mãe-responsabilidade não
é a mesma coisa que amante-amada-desejo (como muitos casais ainda
pensam).
Em muitas das tradições mais antigas, essa numeração quaternária é
expressa pelos quatro elementos: Fogo, Ar, Terra, Água — dos quais toda a
matéria deriva.
Somos obrigados pelos livros escolares a desprezar essa divisão,
considerando-a supersticiosa. E é claro que, tomados ao pé da letra, os
quatro elementos não significam nada. Mas o princípio dos quatro
elementos era correto e permanece correto, embora a terminologia possa
parecer antiquada e medieval aos nossos ouvidos.
Figura 5. Os signos do Zodíaco divididos em triplicidades. Os modos.
A química orgânica é concebida principalmente à base da intervenção a varrer as velhas ambigüidades, obrigando-os a chamar as pessoas de
de quatro elementos: Hidrogênio, Carbono, Oxigênio, Nitrogênio. As "hidrogênicas" ou "carbônicas".
funções desses elementos, o papel que desempenham na vida orgânica Em astrologia, portanto, quatro elementos são superimpostos aos
podem ser assemelhados ao desempenhado pelo Fogo, pela Terra, pelo Ar modos e às polaridades. Áries é Fogo; Touro, Terra; Gêmeos, Ar; Câncer,
e pela Água (5). Embora imprecisa do ponto de vista científico, a antiga Água; Leão, Fogo; e assim por diante. Áries é positivo, cardeal, fogo;
terminologia tem a vantagem de ser mais fluida, e, portanto, mais Leão é positivo, fixo, fogo; Sagitário é positivo, mutável, fogo. (Ver fig.
adaptável às 6.)
Cada signo é diferente, não há dois que se identifiquem, não há
repetições; todas as permutações possíveis de polaridade, triplicidade e
quadratura se esgotam num sistema de 12 signos. Os modos —
representando a força — ligam-se firmemente ao triângulo —
representando matéria. Os elementos — que representam matéria — são
intimamente ligados ao triângulo — representando força. (Ver fig. 7.)
O diagrama do Zodíaco, assim construído, pode ser entendido como o
conjunto de todas as consoantes de uma língua, expressando todas as
potencialidades, sobre as quais o Sol, a Lua e os planetas, como vogais
móveis, criam as palavras eternamente mutantes que chamamos de
realidade.
E é essa linguagem celestial que os astrólogos acreditam poder
interpretar.
Se podem ou não é pergunta que não nos preocupa nesse momento. O
ponto que queremos esclarecer aqui é que esse sistema, que é
simultaneamente fusão de polaridades, triplicidades e quadraturas, com
sua determinação harmônica de relações a ângulos, é na verdade um todo.
Nenhum acúmulo de observações desligadas, não importa o quanto
tenham custado, pode ter transformado uma superstição sem nexo nesse
esquema elegante e consistente. Em resumo: a astrologia nunca foi
sonhada por caldeus sonhadores no alto de suas torres de observação.

A Evolução da Astrologia

Figura 6. Os signos do Zodíaco divididos em relações quaternárias; os Quatro elementos. Mas como esse engano sobre as origens da astrologia persiste entre os
doutos, talvez seja interessante descermos a abordar as origens do engano.
contingências da vida do que a moderna terminologia. A linguagem Esses doutos supõem, sem nenhuma evidência comprobatória, que a
cotidiana continua a refletir a sabedoria das palavras escolhidas pelos astrologia evoluiu pacífica e fortuitamente, exatamente como teria
antigos para designar os elementos. Continua a ter sentido referir-se a ocorrido com a vida orgânica.
determinadas personalidades como "de fogo", "terrenas", "aéreas", Mas por mais importante que possa ser a teoria da evolução quando
"aquáticas". Pode-se imaginar, ao contrário, o que aconteceria se aplicada à vida orgânica, quando transposta para o campo das idéias,
aparecesse um esperanto destinado religiões ou mesmo superstições, torna-se flagrantemente
essas coisas passam a existir — sua perfeição ou imperfeição dependendo
da capacidade do criador e da validade intrínseca da idéia que presidiu a
essa criação. Mas sem essa idéia nada pode acontecer. (Platão tinha uma
grande dose de razão: seu único erro foi o de atribuir mais realidade à idéia
do que à sua manifestação. O termo realidade "superior" talvez tornasse o
conceito mais claro e preciso.)
Na história das instituições humanas nada evoluiu de maneira
darwiniana — incluindo a própria teoria de Darwin. A Origem das
Espécies, na sua forma original, não foi primeiro uma vírgula, depois uma
palavra, a seguir uma frase, um parágrafo, um capítulo, finalmente, uma
teoria. Foi — como todas as demais idéias que o homem já teve — um
estalo, uma espécie de alumbramento. E depois de muito trabalho,
concentração, estudo e o necessário período de gestação, ela nasceu;
inteira; como tudo o mais do universo. Sem dúvida, a verdadeira escrita
progride letra por letra, linha por linha, mas essa é na realidade a parte
menos importante do processo.(*)
Parece, portanto, muito estranho que no campo da Ciência, onde se
insiste tanto que cada teoria só pode ser elaborada a partir da experiência, os
cientistas eximam o universo de seguir as mesmas leis de cuja ação eles
próprios não conseguem escapar. O universo aparece por acaso, por
coincidência, enquanto que o homem — a única e terrível exceção — é
obrigado a pensar antes de fazer.
O próprio desenvolvimento da Ciência poderia ser responsabilizado
pela perpetuação desta idéia. Todo pensamento pré-científico reputa-se
inadequado, e a única maneira de adquirir conhecimentos passa a ser o
acúmulo incessante de fatos e idéias. A partir daí, nasce a convicção de que
Figura 7. O Zodíaco dividido simultaneamente em polaridades, triplicidades e quadraturas. a Ciência tem crescido de maneira ordenada e coerente, muito facilmente
Observe-se que o triângulo que representa a matéria sempre se liga a um dos quatro derrubável pela leitura, de uma só assentada, dos números de Science ou do
elementos. Signos separados por 90 graus são sempre polares.
O triângulo de força (o Espírito) liga-se invariavelmente a elementos de igual natureza. New Scientist correspondentes a seis meses consecutivos. E, muito
convenientemente, esquece-se de que as verdadeiras contribuições ao
inviável; o que é fácil de se provar, não apenas com argumentos filosóficos desenvolvimento científico são o resultado não
ou teóricos, mas com provas científicas, uma vez que essa afirmação é
resultado de uma experiência universal e inalterável.
(*) Muitas escolas esotéricas e tradicionais sustentaram que a vida orgânica "evolveu"
No íntimo do Homem, nada evolui fortuitamente. exatamente desta maneira. Por ex., que o gato é o resultado final da idéia de gato. Temos de
Nenhum corpo de conhecimentos coerente — como a astrologia — admitir que é muito difícil imaginar um gato a meio desse caminho, com uma
simplesmente vai sendo acumulado, tomando forma à medida que evolui. semicorporalidade, mas isso pode ser apenas um defeito nosso. De qualquer maneira, essa
Trabalhos artísticos, religiões, hipóteses científicas, até horários de trem teoria tem o mérito de corresponder à própria experiência humana, e se pode ser perigoso
— tudo isso tem de ser pensado. E só então antropomorfizar o universo, talvez seja ainda mais perigoso não o fazer.
de acumulação, mas de inspiração, ou, para dizê-lo de maneira científica, de desconsiderar toda e qualquer evidência que seja circunstancial e não
formulações de hipóteses.(*) pareça "difícil". A credulidade do ceticismo não leva nenhuma vantagem
Mas, voltando à astrologia... E correto dizer que ela não podia fazer sobre a credulidade da aceitação cega: o cego a quem se descreve de mil
nem fez uma trajetória evolucionista, o que nos leva a achar correto desafiar maneiras diferentes uma árvore e que por isso acaba concebendo que a
a cronologia aceita para a sua origem, também. Porque essa cronologia não árvore é um mero objeto imaginário está tão errado quanto o cego que
só depende de hipóteses contestáveis, como ainda se baseia na teoria da aceita como árvore a primeira descrição que lhe fazem, mesmo que
evolução, como vimos mais atrás. Os doutos e sapientes continuam realmente ela se refira a um cavalo; corresponde a isto a ilustração que o
afirmando que a astrologia nasceu na Babilônia, não antes do sétimo século Corão faz do aprendizado da Ponte de Sirah, que, imaginando encontrar a
A.C., transplantando-se depois para a Grécia orientalizada do terceiro a luz, leva de um lado o anjo da Credulidade e, do outro, o da Lógica.
segundo séculos A.C. Nos círculos acadêmicos, o ceticismo cego está na moda, como aliás
E interessante notar que os repositários mais antigos e tradicionais, vem ocorrendo há alguns séculos. A hipótese transformou-se em dogma; o
legendários mesmo, dispõem de maneira inteiramente diversa, sendo, em pensamento contraditório foi rejeitado a priori como romantismo e
vista da inadequação da teoria atualmente aceita, importante determos nossa heresia; e o processo há muito se vem autoperpetuando, as modernas
atenção mais demoradamente nessas fontes da tradição. autoridades, escoladas na ortodoxia, referindo-se apenas às antigas
autoridades, que pensavam exatamente como elas. Há, no entanto, boas
razões para se supor que a tradição é bastante mais acurada do que os
A Astrologia no Egito doutos pensam, e que — deixando os Atlantes de parte — é bem possível
As tradições, mas não os historiadores, afirmam que a astrologia foi que a astrologia tenha sido conhecida pelos egípcios milhares de anos antes
uma "inspiração divina" dos "sábios da Atlântida". Esse conhecimento, de chegar à Grécia.
afirma-se, é a forma original do que foi passado ao Egito, à China e às É fato incontestado que os egípcios — como de resto todos os povos
civilizações frustradas da América do Sul. Foi sempre transmitida da antiguidade — se interessavam pelos mistérios do céu. Mapas astrais,
oralmente de mestre a discípulo, e, embora se fizessem grandes esforços evidentemente cópias de outros mais antigos, indicavam com precisão a
para manter esse segredo, ele foi gradualmente absorvido pelo mercado, localização das estrelas fixas, sendo que a perfeição desses mapas permitiu
perdendo, não ganhando, força e coerência, uma vez que as guerras e aos estudiosos datá-los de 4240 A.C., aproximadamente. Imhotep,
desastres de ordem natural tenderam a perpetuar a situação miserável da arquiteto responsável pela construção da primeira grande pirâmide — o
humanidade. túmulo do faraó Zoser, da terceira dinastia — foi também reconhecido
Mas, chamados a apresentar qualquer evidência, os defensores dessa como o fundador da Medicina e como grande astrônomo. Um de seus
teoria não têm o que dizer, a não ser citar cegamente .as tradições, não lhes títulos era o de Chefe dos Observadores. Observadores de quê?... No
atribuindo nenhum valor que não decorra, nesse caso, diretamente do fato entanto, muitos dos doutos afirmam que o interesse dos egípcios pelo
de serem tradições. espaço era puramente astronômico, não havendo entre eles astrologia de
Embora seja legítimo exigir provas em relação a lendas e a essa espécie alguma.(6)
astrologia lendária, não se deve cair no erro que seria Se isto fosse verdade, a dos egípcios teria sido a única das antigas
civilizações capaz de fazer essa distinção; coisa bastante peculiar se se
(*) "As certezas da Ciência são uma ilusão. Elas contêm necessariamente limitações tiver em mira a predileção dos egípcios por qualquer outro tipo de magia e
inexploradas. Nosso trato das doutrinas científicas é controlado pelas difusas concepções
metafísicas da nossa época. Mesmo sem isto, somos continua-mente induzidos em erro. E misticismo. É certo, no entanto, que eram astrônomos dos melhores da
sempre que aparece um novo método de pesquisa experimental, todas as certezas antiguidade. O calendário egípcio era tão perfeito que só recentemente foi
desmoronam do alto de suas incongruências," A.N. Whitehead, Adventures of Ideas possível desenvolvê-lo.
(Cambridge University Press, 1933).
E as pirâmides estão construídas de tal maneira que apontam os pontos raramente foi produto de primitivos, e nunca o foi materialista. Mas até
cardeais com uma diferença de segundos apenas.(*) bem pouco tempo atrás o mistério da civilização egípcia permanecia
A mitologia egípcia chegou até nós completamente incompreensível. insolúvel; as autoridades insistindo na história manifestamente impossível
Ao astrólogo, porém, parece certo conter uma infinidade de símbolos dos Caldeus Sonhadores, enquanto que os ocultistas, na falta de evidências,
astrológicos. E é difícil imaginar esses sinais sem uma astrologia que os atribuíam aos egípcios, seja lá qual for a teoria, que tenha nascido de seus
acompanhe. A Esfinge (Tebas), antigo símbolo esotérico significando toda a devaneios pessoais.
ciência passada, é, astrologicamente, o símbolo fixo de Touro, Leão, Águia Nas últimas duas décadas, porém, numa série de livros pouco
(a águia antigamente era usada em lugar de Escorpião) e do Homem. Ao conhecidos fora da França, e apenas entre os círculos especializados, um
mesmo tempo, a Esfinge simboliza os quatro elementos: Touro-terra; Leão- orientalista, R.A. Schwaller de Lubicz, produziu uma obra, que,
fogo; Águia-água; Homem-ar. Será que os egípcios, ignorantes de detalhisticamente documentada, estabelece o quadro de uma civilização da
astrologia, simplesmente combinaram essas figuras porque isso os distraía? qual as maravilhas arquitetônicas do Egito podem ter provindo (9). E nessa
Embora suportando perseguições cientificas vigorosas até civilização, como a lenda sempre insistiu, parece que a astrologia
recentemente e, por defenderem a astrologia, é bem verdade que os desempenhou um papel importante.
astrólogos poderiam ter feito mais, em seu próprio interesse, do que Infelizmente, abstrair a astrologia do resto do Egito seria falsear tanto a
simplesmente manter a velha lenda de que a astrologia existiu no Egito, astrologia quanto esta civilização; enquanto que discutir a obra de Lubicz
sendo oralmente passada de mestre a discípulo. No entanto, embora um suficientemente bem para lhe fazer justiça está além do escopo deste livro e
argumento desse tipo traia suas origens doutorais, é bem verdade que os da capacidade dos seus autores.
doutos têm de reconhecer que a tradição oral existiu num certo momento da Mas o futuro da astrologia depende em grande medida da atitude que os
Antiguidade pelo menos: Hipócrates (quinto século A.C.) declarou: "Mas as estudiosos e os doutos tomarem em relação a seu passado. Por isso, é
coisas santas são mostradas aos homens santos. Os profanos não poderão necessário pelo menos tocar de passagem no Egito trazido à luz por
conhecê-las até serem iniciados nos ritos da Ciência (7) e outras declarações Schwaller de Lubicz, uma vez que difere em cada detalhe daquele da
desse tipo não são dificilmente encontráveis." história dos primitivos materialistas, que o mais elementar bom senso nos
Mas reconhecer a existência de uma tradição oral não é ensina não ter podido existir nas margens do Nilo.
o mesmo que reconhecer a sua validade. Os amadores que tentaram penetrar
no significado implícito da arquitetura egípcia permaneceram sempre A Interpretação Simbólica do Egito
insatisfatórios, pouco convincentes e vulneráveis; enquanto que das O quadro que Schwaller de Lubicz pinta do Egito é o resultado de mais
autoridades não se pode esperar nada além de variações em torno do de 12 anos de pesquisas locais, estudando o templo de Luxor (ver fotografias
dogma: "Por mais primitiva 1-6), construído por Amenhotep III (1500 A.C.) com uma equipe que incluía
e materialista que possa ter sido a concepção dos egípcios a sua mulher, Ischa, um especialista em hieróglifos, Alexandre Varille, um
respeito da vida de além-túmulo, é inegável que essa concepção - arqueólogo filiado à Comissão Francesa de Arqueologia, e Clement
foi responsável por algumas das obras-primas da antiguidade. "(8) Robichon, diretor do Instituto de Arqueologia do Cairo.
Segundo de Lubicz, os sábios do Egito consideravam o universo um
Sem entrar na discussão sobre o que seja uma obra-prima, todo, em que cada parte se relacionava com as demais. Para eles, o universo
convém declarar o seguinte: que, na história das artes, a obra-prima era, na sua inteireza, consciente. Essa consciência se manifestava na
hierarquia de graus que os homens conhecem como diversidade. O que os
(*) L. Borchardt, uma das maiores autoridades em Egiptologia, afirmava que o alinhamento homens encaram
das pirâmides na direção dos pontos cardeais era tão perfeito que não poderia ser superado
na época em que ele próprio escrevia (1922). Daí, tirou a conclusão de que a ciência dos
egípcios estava ainda na infância... E de se notar que Neugebauer (Exact Sciences in
Antiquity, Brown University Press, 1957) recomenda particularmente Borchardt como
modelo de pensamento arqueológico sólido.
como "matéria" é um reflexo dessa consciência, e o que chamamos de Quer dizer: os dados aparentemente mortos da Astronomia podem ser
"espírito" é a consciência no seu mais alto grau.(10) usados por aqueles que sabem que eles podem produzir um efeito
A chave para se entender as leis que regem esse universo está no estudo emocional calculado e desejado. Isso é a astrologia. Mas é uma astrologia
dos números. Eles encaravam o universo como número, na medida em que o radicalmente diferente da que conhecemos hoje em dia.(11)
número expressa a função (as leis da polaridade, triplicidade e quadratura, Infelizmente, não estamos capacitados a falar muito dessa astrologia,
apontadas na pág. 17 e seguintes). A ciência e a matemática egípcias, além de que de Lubicz aduz provas definitivas de que ela existiu e foi
condenadas como incorretas pelos doutos de hoje, só o será se chamada a utilizada pelos egípcios. Preocupado em conseguir dar num único livro
cumprir as tarefas da matemática moderna, para as quais não foi imaginada. uma imagem bem definida da civilização egípcia como um todo, de
Nas mãos dos egípcios — como Schwaller de Lubicz demonstrou — a Lubicz não desce a detalhes. Mostra. no entanto, como os egípcios
Matemática era uma maravilha de fluência e precisão. Os egípcios empregavam tanto o Segmento Áureo(12) quanto os dados astronômicos
acreditavam que as leis do universo estavam inscritas no homem; que se ele para determinar as proporções e formas de sua arte e arquitetura, e em
se conhecesse suficientemente poderia compreender o universo. princípio pode tentar-se extrair as regras gerais de sua astrologia, a partir
Os templos do Egito, e toda a sua arte sagrada, destinavam-se a dessas chaves.
corporificar e transmitir todo esse conhecimento em termos humanos; foram
projetados, até os seus mínimos detalhes, para representarem um A Tradição Oral
conhecimento ao mesmo tempo profundamente espiritualista e rigorosamente
científico. Eram exercícios didáticos, mas numa escala tão colossal que Mas se uma astrologia tão elevada realmente existiu, por que não
dificilmente podemos imaginar o que representavam; talvez devam ser temos dela nenhuma notícia escrita? E admissível que os egípcios fossem
entendidos como um exercício de trabalho coletivo no qual as orientações do capazes de transmitir um conhecimento tão intrincado oralmente?
mestre são cumpridas pelos discípulos, até que, no decorrer do trabalho, os Schwaller de Lubicz resolve este problema, por mais fora do alcance
discípulos vão entendendo os desígnios do mestre, e tornando-se mestres eles que pudesse estar, dentro dos limites de sua pesquisa. Indica que, de tudo
próprios. que chegou até nós, não se encontra uma única indicação escrita sobre os
De Lubicz prova, sem margem para dúvidas, que o plano estranhamente cânones da arquitetura egípcia.(13)
assimétrico do Templo de Luxor não pode ter sido um simples capricho, o Conclui, daí, que esse refinado e complexo conjunto de
resultado da atuação de vários arquitetos, com planos diferentes, produzindo conhecimentos foi transmitido oralmente, e, até que os arqueólogos
uma estrutura desprovida de ritmo, embora possuindo inegável valor apresentem provas contra esta conclusão, não podemos negar sua
artístico. Ao invés, o Templo de Luxor foi criado para representar as leis validade.(*)
contraditórias que presidem ao nascimento e desenvolvimento do homem
(ver fotografias 2-5). E todos os demais templos egípcios foram construídos (*) "O defeito da tradição oral é que ela pode mudar imperceptivelmente de geração a
com intenção semelhante, para representarem as funções cósmicas e leis geração, e não pode ser facilmente transmitida de uma cultura a outra. " John Ziman,
naturais apropriadas a cada tempo e lugar. Public Knowledge: The Social Dimension of Science (C. U. P.), pág. 101. O defeito
Nesse sistema, a astrologia desempenhou um papel unificador. As leis dessa argumentação é que seu autor não entende o que a tradição é, ou o que deve ser, ou
como funciona.
que governam o sistema solar e a revolução planetária não eram, para os A arquitetura egípcia manteve-se fiel a seus princípios durante 4 mil anos, mudando
egípcios, fórmulas mortas, mas correlações vivas como as que regem os apenas quando considerações astrológicas ou de outro tipo a induziam a isso. Uma
homens. Utilizando em sua arquitetura as proporções e razões que se tradição é um corpo de valores, que é menos aberto a interpretações dúbias se for
estabelecem entre os planetas, sabiam poder produzir o desejado efeito oralmente transmitido do que se essa transmissão se fizer por escrito. Por ex.: a Inquisição
instrutivo sobre os que estivessem preparados para recebê-lo. se baseou numa interpretação falsa dos Evangelhos escritos.
Uma tradição viva deve mudar. Se não é capaz de mudar adaptando-se ao tempo, é
sinal de que está decadente. (A Igreja X Galileu.)
Se os sábios do Egito consideraram importante manter em segredo suas deste monumento (a Grande Pirâmide). Essas teorias contradizem
técnicas arquitetônicas, então devem ter tomado um especial cuidado em redondamente tudo o que foi conseguido pela arqueologia e pelas pesquisas
conservarem a astrologia para si próprios. Em mãos erradas, uma astrologia dos egiptólogos..."(14)
altamente desenvolvida poderia ser uma arma destrutiva, singularmente A autoridade citada e reconhecida por ambos os autores é o artigo de
maléfica. N.F. Wheeler na revista arqueológica Antiquity (Vol. IX, 1935), em que os
Portanto, se bem que a prova final e conclusiva da existência de uma Piramidologistas são aniquilados de uma vez por todas.
astrologia desse tipo na Idade Antiga não tenha ainda sido produzida, há
Depois de ler esse artigo, o leitor poderá decidir por si próprio se deve aceitar as fantásticas teorias
boas razões para se acreditar na sua existência. hoje correntes, ou se deve manter-se dentro do mais elementar senso comum da evidência
Primeiro, porque os indícios fornecidos por Schwaller de Lubicz e arqueológica...(pág. 5)
É possível chegar muito perto na compreensão da vida das pessoas da Idade das Pirâmides...(pág.
tantos outros são muito numerosos e demasiado fortes para poderem ser 9)
ignorados ou explicados de outra forma. E segundo — lendas e tradições à Pensadores claros, lógicos...eles (os egípcios) não tinham medo de enfrentar os materiais mais
parte — porque a interpretação acadêmica e aceita da civilização egípcia é trabalhosos em suas construções, e chegavam mesmo a preferi-los aos mais fáceis...(pág. 10)
Pode-se imaginar o arquiteto dessa pirâmide chegando até Khufu (Cheops) e vendo seu projeto
tão vulnerável a críticas multilaterais que deve existir alguma outra imediata e entusiasticamente aprovado...(pág. 176)
explicação. Pode imaginar-se os representantes dos trabalhadores...(pág. 177) Pode imaginar-se os
Embora já tenhamos chegado, pessoalmente, a essa explicação, sentimentos...de Khufu...(pág. 181)
...podemos afirmar que os objetos que hoje se imaginam terem sido usados como símbolos
achamos que é importante ilustrá-la em traços largos, para traçar um quadro esotéricos não têm nenhum valor além do seu óbvio significado operacional. Não há nenhuma prova em
justo do tipo de raciocínio hoje em dia imperante. Vamos examinar as contrário...(pág. 302)
considerações de um técnico altamente considerado, sobre esses
monumentos egípcios que, mais do que quaisquer outros, excitaram a O apelo de Wheeler' ao bom senso pode ser sedutor, mas não leva de
imaginação do público e que a tradição sempre ligou, pelo menos forma alguma à certeza. Que é o bom senso, afinal...? Se pedirem a alguém
indiretamente, à astrologia: as Pirâmides de Gizeh. que costure um sapato, mesmo sem nenhuma experiência prévia, esse
Fora seu objetivo básico de servir de túmulo, as pirâmides foram alguém há de usar uma sovela, não uma colher de chá. Isto é bom senso.
variamente consideradas, na literatura não raro aberrante que existe sobre Mas nenhum acúmulo de bom senso ensinará esse mesmo homem a não
elas, como centros de iniciação esotérica; símbolos gigantescos cujas tocar num fogão, se ele não souber, por uma experiência anterior, que o
próprias medidas continham a chave do futuro da humanidade; repositórios fogão pode estar quente. Esse tipo de bom senso é precisamente o que não
de conhecimentos astronômicos e astrológicos; e muitas outras coisas. Os deveria ser empregado na pesquisa arqueológica. A pedra de Roseta nunca
doutos modernos ficam com a teoria dos túmulos: as pirâmides foram poderia ter sido decifrada à base de bom senso.
construídas exclusivamente como túmulos, e isso é tudo que se tem a dizer Então, depois de ter apelado para o bom senso, o Professor Wheeler
sobre o assunto. pede ao leitor para suspendê-lo, passando a usar a imaginação —
Dois estudiosos contemporâneos, em dois diferentes livros, verdadeira antítese do bom senso; pode alguém realmente imaginar como
ridicularizam todas as teorias não tumulares em termos bastante equívocos. Khufu se sentia?
Um deles declara: "Imagina-se que importantes constantes matemáticas — As pessoas não conseguem nem entender perfeitamente seus filhos ou
por exemplo, um valor extremamente exato de π — poderiam ser expressas seus pais. Os vitorianos viviam numa atmosfera sufocante de positivismo e
nas dimensões e na orientação falsa moralidade. Os elisabetanos parecem-nos mais pessoas estranhas do
que seres reais. Os egípcios, se se acreditar nos egiptólogos, passavam a
Apenas os fatos reais podem ser reduzidos a escrita e transmitidos de uma cultura a outra sem
alterações. Mas esses fatos, bem como sua compilação, não constituem tradição. E quando os modernos
vida inteira pensando na morte, preparando-se para a morte, e no entanto
tísicos começam a questionar fatos como a velocidade da luz, começa a nos parecer que mesmo não eram nem capazes de ter uma idéia clara da vida de além-túmulo
realidades dessa natureza passam a ser consideravelmente animadas... (Edwards, op. cit., pág. 39). Esse comportamento é praticamente
"Físicos Espantados Enfrentando o Colapso das Leis da Natureza" — anuncia a página um do
Observer de 13 de abril de 1969.
sem paralelo na vida e na experiência contemporâneas. Por isso, a duodecimal do Zodíaco é facilmente encontrável pela superposição do
afirmação de que é possível ter-se uma aproximação muito grande do quadrado. (Ver fig. 8.)
modo de vida dessas pessoas deve ser considerada uma das maiores Ao reconhecer a necessidade de explicar as pirâmides a uma igual
ingenuidades de todos os tempos; justificando de nossa parte o mais distância da "Piramidologia e das conclusões baseadas na espécie de senso
extremo ceticismo em relação a qualquer outra afirmação do autor, bem comum" que o Professor Wheeler nos aponta(*), Schwaller de Lubicz
como ao trabalho de quem quer que o recomende. corrobora a teoria que o genuíno senso normalmente escolheria. "A parte as
Continuando: "pensadores claros, lógicos... não tinham medo de significações simbólicas", afirma ele, "foram as pirâmides construídas como
enfrentar os materiais mais trabalhosos em suas construções." Isso é um observatórios astronômicos: os corredores compridos, extremamente bem
exemplo de falta de seqüência. A clareza lógica não é um pressuposto para alinhados, que levam da face externa até o interior, teriam sido visores
se trabalhar deliberadamente com material mais difícil, em vez de utilizar o através dos quais os egípcios podiam fazer observações dotadas de alto grau
mais fácil. Até pelo contrário. O bom senso que vigora hoje em dia ensina- de precisão."
nos a fazer a vida cada vez mais fácil de ser vivida. Mas aí se encerra mais Por exemplo, os egípcios usavam três calendários diferentes: um
do que uma simples ambigüidade verbal. A decisão de tornar a arte mais baseado nas fases da Lua, de 360 dias, outro baseado no Sol, de 365 dias —
difícil, usando um material trabalhoso, não foi tomada acidentalmente ou os cinco dias de excesso em relação ao outro eram feriados —um terceiro, de
num estado de semiconsciência. Os egípcios sabiam que só tomando essa 365,25 dias, extremamente preciso, baseado na trajetória de Sírio. Ao
decisão contrária à "boa" lógica se colocariam em condições de, no contrariar muitas autoridades,(15) de Lubicz demonstra que a astronomia
trabalho, experimentar essa iluminação interior chamada Maestria. egípcia foi desde o início altamente estruturada, e que uma ciência desse tipo
Esse princípio implica reconhecer que os egípcios sabiam exatamente não poderia ter-se desenvolvido sem um plano diretor, sem um sistema
o que estavam fazendo, e por quê. organizado — não casual — de observação. Ele sugere que as pirâmides,
E, finalmente, que dizer da inexistência de provas contra o alegado especialmente a grande Pirâmide de Gizeh, eram os instrumentos que
sentido simbólico dos monumentos? Se, daqui a 5 mil anos, um arqueólogo permitiam aos egípcios esse alto grau de perfeição. Os resultados então
desenterrar uma das nossas igrejas, poderá concluir, pelos túmulos, alcançados não seriam possíveis pelo simples exercício do olho nu. E, num
crucifixos e esculturas, tratar-se também de uma estrutura planejada como certo sentido, de Lubicz justifica o espírito, quando não o método e os
túmulo. Não haveria nenhuma prova em contrário. resultados, dos piramidologistas: as dimensões das pirâmides são realmente
Mesmo sem acreditar que o número de pedras da câmara real da significativas. A Pirâmide de Cheops foi construída para demonstrar a Regra
Grande Pirâmide pode indicar-nos quem será o próximo presidente dos de Ouro de uma certa maneira, a Pirâmide de Chefren para exprimi-la de
EUA, nenhum leitor não especializado é obrigado a aceitar as ponderações outra forma; enquanto que a Pirâmide de Snefru é uma síntese.
opostas, e igualmente ilógicas, que Wheeler apresenta em relação às E de Lubicz mostra que as teorias correntes sobre a astronomia egípcia
Pirâmides ou qualquer outro aspecto da cultura egípcia antiga. alicerça-se em meras hipóteses, não correspondendo a fatos; o que soa como
A par disto, os egiptólogos ignoram o significado esotérico das boa-nova aos ouvidos suficientemente lógicos para perceberem a fragilidade
Pirâmides como sólido geométrico, não como estrutura arquitetônica dos argumentos convencionais, mas insuficientemente especializados para se
específica. contraporem a eles. Afinal, não é preciso ser nenhum gênio para perceber
A base quadrangular representa a Terra — ou o princípio quaternário que, se os arquitetos egípcios quisessem apenas construir belos
da matéria; os lados triangulares representam o princípio trinitário da
criação, ou da relação, ou da força. E é claro que o Zodíaco e a Pirâmide (*) O Dr. Kurt Mendelssohn, arqueologista, discutindo as pirâmides no Science Journal, em
corporificam os mesmos princípios; mais ainda isto se torna óbvio quando março de 1968, afirma: "Foram construídas porque o ,homem tinha chegado ao ponto em que
se observa que a divisão se encontrava capaz de construí-las." E significativo que o artigo do Dr. Mendelssohn se
intitule Science at the Pyramids!
túmulos, teriam encontrado meio de decorá-los de maneira mais corrente e
impressionante do que colocando corredores estranhos e sem sentido
aparente levando ao seu interior.

Os egípcios puseram seus conhecimentos astronômicos em prática de


uma série de formas que podem, tranqüilamente, ser consideradas
astrológicas.
Por causa de um fenômeno conhecido como "precessão dos equinócios,
a Terra, gradualmente, vai mudando sua posição em relação ao Zodíaco, de
modo que, aproximadamente em cada 2.160 anos, um signo diferente
aparece na época do equinócio da primavera. Para os astrônomos modernos,
os signos do Zodíaco evidentemente não passam de divisões arbitrárias do
espaço celeste. Mas, para os astrólogos, cada signo deve pôr a sua marca no
tempo a que preside.
Estamos agora na entrada da assim chamada Idade de Aquário (sobre a
qual a maioria dos leitores deve ter ouvido falar). A Idade de Peixe, datando,
aproximadamente, do primeiro século antes de Cristo, chegou ao fim, tendo
sido antecedida pelas Idades de Áries, Touro e Gêmeos, correspondendo
aproximadamente a 2000, 4000 e 6000 A.C., respectivamente.
Sobrou muito pouco da Idade de Gêmeos para que possamos analisá-la
satisfatoriamente, mas a Idade de Touro penetra no que conhecemos da
História do Egito e da Mesopotâmia, e é um fato que essa época foi
fortemente impregnada de cultos do Touro. Tanto a cultura egípcia quanto a
sua rival da Mesopotâmia mostram uma prevalência absoluta da imaginação
taurina, enquanto que as preocupações arquitetônicas estão singularmente
acordes com uma idade que, astrologicamente, é considerada "da Terra".
Tomado isoladamente, isto poderia naturalmente ser considerado
"coincidência", mas é de se notar que por volta de 2000 A.C. as imagens de
touros começaram a desaparecer, sendo substituídas pelas de carneiros e
outros símbolos do fogo, como que anunciando a Idade de Áries.
O símbolo dos primeiros cristãos, usado como código secreto de
identificação em épocas em que era perigoso fazê-lo abertamente, era o
Peixe. A explicação que normalmente se oferece para justificar esse fato é
que a palavra peixe, em grego, soa semelhantemente à palavra Jesus. Mas
Figura 8. A pirâmide, combinando os princípios de Três e de Quatro ou o Espírito e a essa não precisa de ser, necessariamente, a explicação completa, ou a única.
Matéria. Embaixo, o Zodíaco dos 12 signos, derivado da pirâmide esquemática. E um evidente excesso pedir ao deus da coincidência que explique por
que Touro, Carneiro e Peixes se impusessem como
imagens às suas respectivas eras apenas para serem mais tarde escolhidos princípios a que tinham sido dedicados perdiam sua relevância astrológico-
como símbolos astrológicos por um grupo de esotéricos recém-existentes. determinante.
Assim, embora não se tenha descoberto nenhuma descrição do Zodíaco O templo antigo não era apenas a base sobre a qual se erguia o novo;
datando daquela época, o fato de que imagens representando o fogo e a terra ele era, literalmente, o progenitor. Escolhiam-se pedras e inscrições do
tenham sido aplicadas nas artes e na arquitetura em suas respectivas eras templo superado como pedra inaugural simbólica do novo edifício. E esse
astrológicas, e o de se terem empregado símbolos astrológicos em material não era, alheatoriamente, agregado ao templo em construção, mas,
pelo contrário, cuidadosamente colocado nas fundações, na base das
construções como a Esfinge, parecem sugerir que os egípcios não só deram colunas, e em outros pontos estratégicos, sem prejudicar sua posterior
nome às constelações, mas também lhes atribuíram o significado simbólico invisibilidade.
que hoje conhecemos. Os templos egípcios não eram um instrumento de glorificação dos
Ao mesmo tempo, a mitologia obviamente astral dos egípcios também faraós. Eram uma analogia viva do próprio processo da vida; uma obra de
deve ser objeto de decodificação, e de Lubicz traz algumas contribuições arte em estado de permanente renovação, e em consagração perpétua ao
valiosas nesse sentido. Por exemplo: os doutos zombam do fato de que em princípio a que toda arte verdadeira deve obedecer.
astrologia a Lua seja ora macho ora fêmea, dependendo do lugar, da cultura Agora, a profusão de imagens de touros e carneiros, ou outras que
e da época; e isso é lançado à conta das arbitrariedades dos sacerdotes- simbolizassem o fogo, nas suas épocas adequadas, é prova de que existiu
astrólogos. uma verdadeira astrologia entre os egípcios, e astrologia forte, construída de
cima para baixo, com poder de impor sua verdade à arte e à arquitetura do
Mas isso, em certos casos pelo menos, pode ser menos arbitrário do período; mas isso não nos leva muito longe com referências às particulari-
que parece. E uma tradição da astrologia que os planetas incorporem em si dades dessa astrologia.
tanto o princípio masculino quanto o feminino (como aliás acontece como Todavia, a partir do hábito egípcio de derrubar templos construindo em
homem) e que, dependendo do lugar e do tempo, mesmo das condições seu lugar outros, de acordo com considerações astrológicas, pode ajudar-nos
geográficas, um dos dois princípios poderá prevalecer. Visto por este a reconstruir alguns aspectos de sua antiga ciência. De Lubicz discute uma
ângulo, não causa estranheza que os' deuses e deusas dos egípcios(*), ao série de inscrições de templos novos, em que um ou outro faraó deixou
curso de quatro mil anos, tenham mudado de caráter e mesmo de gênero. consignado o seu discurso de inauguração. Embora os doutos releguem essas
Mas dessa evidência parece decorrer que se pode imprimir um sentido manifestações à categoria de rituais, de Lubicz nos mostra como cada uma
delas contém uma descrição acurada — mas não precisa — do céu no
simbólico ao caos, desde que se utilize o método adequado. momento da inauguração. Dados astronômicos eram usados para determinar
Muitas coisas se tornaram mais claras pela interpretação simbólica da as dimensões e proporções dos templos. Pareceria, portanto, que estudiosos
arte e da arquitetura egípcias. Os Faraós eram especialistas em derrubar os suficientemente qualificados poderiam reduzir os princípios astrológicos
templos construídos por seus predecessores, levantando outros em seu escondidos nessas referências, e corporificados nelas. A astrologia, por mais
lugar. Isso sempre foi interpretado como sendo a versão antiga de uma caótica que pareça, poderia ter sido empregada, no princípio, para conferir
doença moderna: políticos, fora de si, psicologicamente megalomaníacos, os dados que as ruínas fossem fornecendo. Porque pode muito bem ocorrer
que, como todo o resto da. sua cultura, a astrologia dos egípcios esteja
tentando glorificar-se à custa de quem os antecedeu. inscrita nas pedras dos seus templos.
De Lubicz afirma que os templos egípcios não eram destruídos, mas,
sim, sistematicamente desmontados, sempre que os

(*) Segundo de Lubicz, é um erro referir-se aos Neters egípcios como deuses e deusas; antes,
representam princípios cósmicos, e nas artes, suas vestes, posição e gestos fornecem a chave do
conhecimento que o trabalho individual lhes agregou.
Astrologia e Medicina no Egito
cada coisa. Da mesma forma, existem instruções rigorosíssimas quanto à
Tudo que sabemos sobre a Medicina no Egito decorre de apenas nove época de colher as ervas e preparar os remédios.
papiros, a maioria deles fragmentária, parecendo cópias de papiros mais Ao supor-se que essas determinações não sejam um mero capricho, sua
antigos. Os estudiosos não concordam sobre a data dos papiros e sobre a existência deve levar-nos a crer que foram astrologicamente determinadas;
data das informações neles contidas. Mas, recentemente, descobriu-se que, parece que os egípcios pensavam — ou sabiam — que diferentes ervas
quando se fazia uma cópia, seguia-se sempre a língua original. Daí, corporificam diferentes princípios, correspondendo aos princípios
consideram-se mais antigos os dados contidos em línguas mais antigas: e simbolizados pelos planetas e signos do Zodíaco, acontecendo o mesmo
isto revelou o inquietante paradoxo de que os papiros mais antigos com as diversas doenças, e com o próprio corpo humano.
mostravam-se bastante despojados de magia, ao passo que os mais novos se Os curiosos diagramas do homem cósmico, tão freqüentes na Idade
despiam quase que inteiramente do seu substrato médico, guardando, Média, pelos quais se chega a crer que cada órgão e parte do corpo estão
apenas, a superstição. sob a influência de diversos planetas e signos, descendem, de acordo com
A medicina científica produziu sua obra-prima, o papiro de Smith, no de Lubicz, do Antigo Egito (ver fotografia 6). O simbolismo do Templo de
tempo das pirâmides, no alvorecer da civilização egípcia. Luxor é extremamente próximo aos desenhos medievais.
O Dr. Paul Ghalioungui, Professor de Medicina da Universidade do Esse tipo de raciocínio médico analógico pode ser impugnado hoje em
Cairo, está em apuros para provar que a medicina egípcia se desenvolveu à dia pelos rigidamente ortodoxos, mas a verdade é que os princípios
margem da superstição. Mas não se inclina a especular sobre suas origens. aplicados na homeopatia são os mesmos, em outra versão, que prevalecem
Nem demonstra nenhum interesse em explorar o lado astrológico-mágico- na acupuntura, tão em moda nos dias que correm. Há provas
encantatório dessa medicina. contemporâneas no sentido de reconhecer que o potencial elétrico contido
Mas nas pegadas do caminho aberto por de Lubicz, alguns fatos tanto nos planetas quanto no homem variam de acordo com as fases da
tornam-se astrologicamente curiosos. Ghalioungui, porém, parece tomar a Lua, a hora do dia e a estação do ano; e outras propriedades do mundo,
sério a lenda dos segredos. natural e humana, também são alteradas. Há alguma lógica, portanto, em
Deve lamentar-se, no entanto, que esses papiros não contenham toda a sabedoria médica do tempo, que as propriedades da saúde também variem de acordo com isso.
já que é provável que até certa época o ensino tenha sido estritamente oral... A imposição de limites às E, à medida que o tempo passa, algumas das noções mais absurdas e
práticas esotéricas é atestada por Stabo, que afirma que os sacerdotes egípcios foram buscar a maior parte revoltantes dos antigos provam estarem baseadas em conhecimentos
de sua sabedoria em Platão e Eudóxio, mesmo depois de estes terem passado cerca de 30 anos no Egito.
Isso é confirmado pelos historiadores... Está também amplamente demonstrado por anotações nos científicos absolutamente corretos. A tão vilipendiada dreckapotheke
papiros. O livro do coração e dos vasos começa assim: "O princípio do segredo da Física: conhecimento (palavra alemã que poderia ser traduzida como farmacologia de merda),
dos movimentos do coração e conhecimento do coração; e, de fato, esse livro contém noções sobre a
circulação do sangue que escapavam. aos gregos."(*) (16)
que recomenda a aplicação de terra, fezes e urina para a cura de
determinados distúrbios, veio mais tarde a ser substituída pelo emprego de
Nessa medicina fragmentária mas impressionante que chegou até nós, a penicilina natural e antibióticos.
hora de ministrar os remédios é de extrema importância, e nesse sentido Parece, assim, que muitas das coisas que nos repugnam eram bastante
existem instruções bastante precisas. Um tratamento da vista indica seis corretas, ficando sempre uma grande lacuna nessa matéria, uma vez que os
ópticas diferentes para fazer egiptólogos não conseguem descobrir a que se referem as receitas e
recomendações. E um fato inegável que os gregos, bem como os árabes,
deveram muito da sua medicina aos egípcios; e que, dos gregos e árabes, a
Medicina — ou o que restou dela — alcançou a Europa Medieval e a
(*) "A ciência antiga foi produto de pouquíssimos homens; e esses poucos não eram
egípcios." Neugebauer, op. cit., pág. 91.
Cristandade em geral.
Faz alguma diferença que o remédio seja dado ao doente em uma hora e 2 A Puta da Babilônia....
não em outra? Será eficaz uma erva colhida e preparada a tal hora, perdendo,
no entanto, essa eficácia se colhida e preparada em hora diferente? E essas
horas têm alguma relação com a posição das estrelas? Quando Júpiter estiver em frente de Marte chegará o trigo, e homens vão ser sacrificados ou um
Descobertas atuais numa série de domínios tornam essas perguntas grande exército vai ser sacrificado.
razoáveis. Venha ou não esse aspecto da medicina egípcia a ser Quando Marte se aproximar de Júpiter haverá grande devastação no país. Quando Marte se
aproximar de Júpiter, o rei de Akkad há de morrer, e as colheitas do país prosperarão.
fundamentado total ou parcialmente pela ciência moderna, essa hipótese não Quando a Lua aparecer em sua carruagem, o domínio do rei de Akkad prosperará.
pode deixar de ser apreciada. Quando a Lua estiver no seu ponto mais baixo, um povo estrangeiro será submetido ao rei.
Mas isso é assunto para egiptólogos-médicos-astrólogos, assim como Quando Mercúrio culminar em Tammuz, virão as colheitas. Quando Leão estiver escuro, o
coração da Terra não será generoso. Vida eterna ao rei!... de Asandu.
desencavar a astrologia egípcia das pedras dos templos é assunto para Quando Júpiter se unir a Vênus, os oráculos do país chegarão aos deuses. Merodach e
egiptólogos-arquitetos-astrólogos. Especialistas dessa qualidade são em Sarapanitum ouvirão as orações do povo e terão pena dele.
Deixem que me mandem um jumento para que possa descansar meus pés... De Nirgatitir.(18)
número muito reduzido hoje em dia, e, pela receptividade que tiveram as
obras de Schwaller de Lubicz (ver apêndice I), não parece que esta situação Assurbanipal (668/626 A.C.), Rei da Assíria, recebia esses textos como
esteja mudando. relatórios diários de seus magos e astrólogos. Estritamente confidenciais, e
Embora a estrutura da astrologia seja tal que ela nunca poderia ter-se endereçados exclusivamente ao Rei, esses relatórios, escritos em
desenvolvido a partir de acuradas observações astronômicas e da linguagem cuneiforme, encontravam-se entre as milhares de tábuas da
interpretação idiota dessas observações; e embora um número suficiente de biblioteca de Nínive. A astrologia egípcia tem de ser desentranhada das
evidências indique que a astrologia de hoje é o que a lenda sempre afirmou suas ruínas, mas os magos e astrólogos assírios legaram-nos textos bastante
— que era parte de uma antiga doutrina que fundia arte, religião, filosofia e familiares aos nossos ouvidos modernos. Anotado como "inconfidencial", e
ciência num todo internamente coerente —, a atitude acadêmica em relação escrito em termos menos obscuros, poderia sair de qualquer jornal
a ela permanece curiosamente imutável. contemporâneo; nenhuma interpretação esotérica, tanto quanto sabemos,
"Comparada com o fundo de religião, misticismo e magia, as doutrinas pôde ser feita desses relatórios.
fundamentais da astrologia são a mais pura ciência", declara Otto Por outro lado, os magos e astrólogos de Nínive e da Babilônia podem
Neugebauer. (17) ...E comparado com a comida, o cozinheiro e as panelas, o não ser tão culpados de superstição e/ou charlatanice quanto parece. Não
fogão também é pura ciência. O Professor Neugebauer se apresenta sabemos como chegavam às conclusões. Existiam dados astronômicos
"extremamente cético sobre as possibilidades de se estabelecer uma síntese muito acurados, aos quais tinham acesso. E apesar de em suas tábuas
— o que quer que essa palavra queira dizer." Mas ele está, ao mesmo tempo, declararem que porque Júpiter se encontrava diante de Marte ia haver
convencido de que "a especialização é a base necessária do conhecimento guerra podiam não ser mais culpados de superstição do que um médico
verdadeiro"....o que quer que isso queira dizer. Pode ser que queira dizer que, que, depois de longas e laboriosas experiências e observações, declara ao
estudando minuciosamente o fogão, a "Ciência" acabará entendendo o paciente que deve ir para a cama por ter pressão alta e tosse forte. O
cozinheiro. método pelo qual o especialista chega ao seu diagnóstico não é da conta do
não-especialista.
O rigor do diagnóstico é outra coisa. Nunca ouvimos ninguém dizer
que os astrólogos de Nínive e da Babilônia poderiam estar certos, ou pelo
menos certos em boa parte das vezes.
E ninguém provou o contrário. Talvez Assurbanipal não fosse tão tolo juntamente com as entranhas dos animais sacrificados, como meio de
quanto parece, e estivesse realmente recebendo bons conselhos. Ou talvez os profecia.
relatórios fossem ritos formais não tomados a sério por ninguém. Ou talvez Os mesopotâmicos eram observadores ávidos e inveterados das estrelas,
haja neles um significado esotérico que nem nós nem ninguém pôde e sua astronomia atingiu um alto grau de precisão desde muito cedo. O
entender. E lamentável que mesmo uma situação como esta, onde se envolve movimento dos planetas estava sendo registrado em escrita cuneiforme pelo
astrologia, que parece ser da mais baixa qualidade, não tenha sido sequer menos por volta de 1700 A.C. Em toda essa astronomia não se menciona a
considerada. astrologia nenhuma vez; e no entanto, quando a astrologia aparece na corte
O profeta Daniel, que viveu um século mais tarde, foi reconhecido de Assurbanipal, fá-lo sem referir-se à precisão astronômica, e de uma forma
como o melhor dos astrólogos, e foi nomeado mestre por eles, como se lê no que se poderia considerar mais decadente do que incipiente. Nenhum
próprio livro de Daniel; no entanto, se o cronista diz a verdade, a sabedoria acúmulo de profecias do tipo da escuridão de Leão e de Mercúrio em
não era traço dos mais salientes da corte de Nebuchadnezzar. Tammuz poderia crescer e se auto-organizar no sistema elegante do Zodíaco,
E, porém, impossível julgar o conhecimento de verdadeiros sábios a com suas polaridades, triplicidades e quadraturas.
partir do seu comportamento na corte. E há pelo menos um indício bíblico de Schwaller de Lubicz procurou a verdadeira tradição por trás da história
que poderia estar-se desenvolvendo uma astrologia mais acurada nos egípcia que conhecemos, e é provável que a tradição subjacente à história
bastidores. dos povos mesopotâmicos não seja de todo diferente daquela — pois por
Em 597, o profeta Ezequiel, juntamente com o Rei Johakin de Judá, foi mais diferentes que sejam, as tradições esotéricas, mesmo por definição,
exilado na Babilônia. Profetizando os sofrimentos de Israel, Ezequiel (4:6) devem assemelhar-se no essencial.
dá testemunho ao Senhor, quando este lhe aparece em visão: "Eu te anunciei E certo que a história das duas culturas difere. No Egito, a tradição
cada dia do ano." nunca pôde estar muito abaixo da pele da vida, uma vez que as
Para um astrólogo isto soa como um sistema ainda em uso, dentro do manifestações externas da política egípcia não parecem tão afastadas das do
qual um dia, numa escala, é ligado a um ano em outra. Quer dizer, a posição Vaticano, com suas portas fechadas, suas rivalidades internas e seus variados
dos planetas no trigésimo dia depois do nascimento de uma criança há de se graus de tirania e corrupção. A Mesopotâmia, por outro lado, lembra mais
repetir em algum dia do trigésimo ano. (Por mais ilógico que possa parecer, Nova Iorque; estuante, polifacetada, uma cidade em que tudo acontece.
os astrólogos insistem em que isso realmente ocorre.) Mas a história da Mesopotâmia — menos que a do Egito — é mais
Agora, a famosa visão de Ezequiel, a roda com a Esfinge, indica que ele notável pelo que não sabemos do que pelo que sabemos. E, onde de Lubicz
de alguma forma viu coisas em termos astrológicos (os místicos geralmente triunfa ao descobrir as bases da tradição oral secreta terá de falhar ao tentar
descrevem suas experiências dentro do contexto de suas crenças particulares) compreender o caráter estranhamente fragmentário com que esse
e a referência não deve ser meramente arbitrária.(19) conhecimento chegou até nós.
A Mesopotâmia, sem as fronteiras e defesas naturais do Egito, apresenta Recentemente, porém, apareceu uma série de livros que podem ajudar-
um panorama histórico ainda mais fragmentado e caótico. nos 'a elucidar o mistério. As lendas de toda parte estão sempre carregadas
A construção dos Zigurats — em três, quatro ou sete andares, e a de relatos de desastres cósmicos de variadas proporções. Entre os doutos
prevalência de figuras geométricas como o setestrelo — indica que desde os sempre existiram poucos partidários do catastrofismo, mas desde Lyell e
tempos mais recuados deve ter existido aí alguma espécie de tradição Darwin essa noção passou a ser impopular até as raias da heresia.
esotérica. Desde a mais remota antiguidade, as pedras de construção dos O padre Xavier Kugler, o estudioso largamente responsável pela
babilônios eram decoradas com desenhos do Sol, da Lua, de Vênus; e dos destruição das teses da Escola Pan-Babilônica de Arqueologia (que
tempos de Sargão (aproximadamente 2800 A.C.), os astros são invocados, acreditava que todas as grandes civilizações saíram da Babilônia), chegou à
conclusão de que as civilizações
mesopotâmicas sofreram violentas comoções naturais que ultrapassavam pensar num nascimento mais recente é praticamente impossível; e não se
largamente os marcos da normalidade, e mesmo da anormalidade.(20) A pode esquecer as figuras da Lua, do Sol e de Vênus pintadas nas mais
descoberta de vastas ruínas submersas na ilha de Thera deu um grande antigas pedras de construção da Babilônia. Já a peça de convicção mais
ímpeto aos adeptos da teoria catastrófica. De acordo com Mavor, o importante que Velikovsky apresenta são as inscrições de Ammizaduga, de
desastre que submergiu Thera e fez desaparecer a civilização cretense teve aproximadamente 1600 A.C.; pois essas inscrições, numa época em que a
proporções cinco vezes maiores do que o que fez explodir o Krakatoa em precisão astronômica era larga e deliberadamente praticada na Babilônia,
1888 (este último matou 30 mil pessoas, provocou maremotos no mundo mostrava Vênus numa rota bastante estranha. Os doutos atribuem essa
inteiro, atingindo quase todos os portos do Pacífico, e cobriu o Sol com inscrição a observações defeituosas. Velikovsky pondera que, se as demais
fumaça vulcânica durante três anos). Se o terremoto que destruiu Thera teve inscrições são precisas ao mais alto grau, por que a observação de Vênus
cinco vezes essas proporções, quer dizer que nada, por volta ou por perto do estaria errada? Cita também a astrologia asteca, onde Vênus é apresentada
Mediterrâneo, poderia sobreviver. como um astro sanguinário e perigoso, que deve ser temido e
Evidências vindas de outra parte mostram que, por mais tremendo que propiciado.(23)
esse desastre possa ter sido, não se localizou em Thera, nem nas Mas seria necessário que isso se refletisse também na mitologia
imediações. Claude P. A. Schaeffer, arqueólogo francês, concluiu que toda oriental. Como já demonstramos, a alteração do caráter dos astros não é
a civilização centro-oriental foi varrida e sacudida pelo menos cinco vezes arbitrária, mas deve-se à ênfase emprestada a um ou outro planeta numa
entre o terceiro e o segundo milênios A.C. A maior dessas catástrofes ele época e num lugar determinados.
datou de, aproximadamente, 1500 A.C., datando daí a época mais provável Velikovsky afirma que, num desses desastres da História recente, a
do desastre de Creta. Terra se inclinou no seu eixo, provocando idades glaciais, alterando
E, finalmente, o mais arrojado e mais desprezado desses estudiosos, permanentemente a flora e a fauna da superfície da Terra, bem como toda a
Immanuel Velikovsky, sustentou numa série de livros(21) que esses sua ecologia. Há um grande acúmulo de provas científicas que confirmam
desastres atingiram o mundo inteiro, e que foram causados por distúrbios a teoria dos cataclismos; a mais convincente, a nosso ver, é a incidência de
planetários, especialmente provocados por Vênus, que, de acordo com mamutes na tundra siberiana. Velikovsky indica que esses imensos
Velikovsky, é um planeta novo, nascido de Júpiter, no passado recente; e animais, pesando cada um várias toneladas, foram congelados de maneira
que, antes de entrar em órbita certa, chocou-se com a Terra (causando a tão fulminante que não tiveram nem mesmo tempo de se decompor.
catástrofe de 1500), continuando, após vagar erraticamente pelos seguintes Quando são desenterrados do chão permanentemente gelado de tundra, até
800 anos, ao cabo dos quais entrou em duelo com Marte, causando a série a córnea de seus olhos está em perfeito estado de conservação, e sua carne
de desastres mencionados. pode ser dada sem susto aos cães. No entanto, o exame de seu estômago
Uma vez que as teorias de Velikovsky contrariam tudo que foi revela uma alimentação subtropical. Velikovsky sustenta que nada, a não
estabelecido pela História, Geologia, Arqueologia, Astronomia, ser uma oscilação muito forte no eixo da Terra, poderia congelar cinco
Antropologia, não é de se estranhar que sejam encaradas sem muito boa toneladas de mamute, e mantê-las congeladas por todos esses anos.
vontade pelos especialistas das áreas afetadas. As descobertas dos últimos Mas Velikovsky afirma que isto aconteceu no período que
20 anos, porém, trataram de dar relevância a algumas dessas estranhas convencionamos chamar de "histórico", e isso é impossível à luz da
conclusões e predições, ao passo que muitos poucos pontos foram História egípcia. As pirâmides, sem dúvida, datam de antes da catástrofe de
categoricamente desmentidos.(22) 1500. Essas construções estão deliberada e acertadamente orientadas na
Os argumentos contra e a favor de Velikovsky são bastante complexos, direção dos pontos cardeais; e os mapas astrais desenhados no teto das
de modo que vamos apenas resumir os pontos mais contraditórios: o papel tumbas mostram o mesmo céu que ainda se pode ver hoje sobre o Egito. A
de Vênus como estrela da manhã e estrela Vésper está tão bem assentado na posição dos astros é dada com tanta precisão que os estudiosos, com
antiga mitologia egípcia que pequenas divergências, conseguiram datar esses mapas do ano
SEDUZIU A GRÉCIA...
de 4240 A.C. Se Velikovsky estivesse certo, um mapa astral do Egito seria
irreconhecível hoje, e as pirâmides apontariam para o vazio. Da mesma Pitágoras (aproximadamente 580/500 A.C.) pode ser considerado como
forma, o clima do Egito teria sofrido alterações análogas à da Sibéria. Mas as a força individual mais poderosa no desenvolvimento do pensamento
pinturas dos primitivos túmulos mostram um tipo de vida que é ocidental. Como tantos dos maiores mestres do mundo, não deixou nada
indubitavelmente o egípcio, e que não mudou em 4 mil anos. escrito, e as passagens da sua vida e de sua obra acabaram sendo a tal ponto
Tenha ou não Velikovsky razão, há provas conclusivas de que o destorcidas que se acabou duvidando até de sua existência histórica. Mas
cataclismo de 1500 A.C. realmente arrasou Creta e boa parte do está já agora definitivamente aceito que ele não foi uma mera criação
Mediterrâneo, e isso, sem dúvida, atinge as doutrinas tradicionais, lendária, mas realmente viveu e ensinou sua filosofia e sua ciência na escola
irreparavelmente. Porque mesmo o Egito nunca mais alcançou sua de Croton, aberta depois da sua volta de longa viagem à Babilônia e ao
temperatura anterior. Egito.
A série de catástrofes que Velikovsky situa por volta de 700 A. C. pode A Pitágoras sempre se creditou a descoberta das Leis da Harmonia e da
ter uma significação ainda maior para a astrologia. Mas não conhecemos Lei Geométrica, que leva seu nome, tendo sido condenado pelos lógicos por
nenhum trabalho científico escrito depois do de Velikovsky, que nesse ponto ter alimentado e desenvolvido a superstição de que os números são
"
o contradiga ou corrobore. significações", o que veio originar uma série de outras superstições
igualmente desprezadas pelos lógicos, entre as quais o conceito de
A verdade incontestável, porém, é que — antes do sétimo século A.C. Harmonia das Esferas, um dos módulos centrais da astrologia.
— tanto a História oriental quanto a ocidental são fragmentárias e E, no entanto, impossível evitar inteiramente o universo pitagórico.
incompletas; enquanto que a partir daí — com alguns intervalos importantes Mesmo os lógicos, no seu descolorido mundo do sim-ou-não, têm de lhe
— passa a ser mais coerente, e isso é de se estranhar, uma vez que os pontos render homenagem. Porque se dois não tivesse um significado diferente de
culminantes da Arte e da Arquitetura no Egito, na América do Sul, e, em um, não haveria a menor distinção entre o verdadeiro e o falso. E, nos
certa medida, na Índia e na China tinham sido alcançados antes desse mundos da Matemática e da Física, o neopitagorismo é um movimento
período. reconhecido e aceito.(24)
Mais ainda, começara a aparecer nos séculos imediatamente posteriores Não se sabe se o próprio Pitágoras ensinava astrologia, ou a praticava.
uma série de mestres, aparentemente independentes, que passaram a ensinar Os doutos vitorianos e clássicos, traçando suas genealogias
e propalar teorias que chegaram até o nosso tempo. E, porém, curioso que intelectuais, e, como industriais novos-ricos, querendo passar a si próprio
todos esses homens se refiram, para conferir-se autoridade, aos sábios do atestado de linhagem nobre, proclamaram, durante vários séculos, e com
passado. Não é estranho que Buda, Lao Tsé, Pitágoras e Zoroastro recorram bastante sucesso, que os gregos sempre foram infensos à astrologia; pelo
ao mesmo estratagema para impressionar o povo ignorante com suas menos até Alexandre trazê-la consigo de suas guerras de conquista; ponto
credenciais? E se — como pensam ainda alguns estudiosos — o homem deu esse em que não havia a menor discordância.
nessa época um grande passo adiante no sentido de uma consciência superior Mas, em 1900 essa visão foi contestada por Franz Cumont.
e outras formas mais elevadas de civilização, menos motivo teriam esses
inovadores para se referir aos sábios antigos. ...outro discípulo de Platão, o astrônomo Eudóxio de Cnidos, declarou: "Não se deve dar crédito
aos caldeus, que predizem o destino de cada homem de acordo com o dia do seu nascimento." Certos
No entanto, toda a astrologia que conhecemos desse período é a de filologistas modernos — que sem dúvida encaram a História grega como se fosse uma experiência em
Babilônia e Nínive, e parece ser de baixa qualidade. A par do que, afirma-se recipiente fechado, que uma providência desejosa de evitar qualquer elemento perturbador conduziu de
acordo com o desejo dos sábios do futuro certos filólogos, repito, duvidaram de que Eudóxio pudesse,
que os princípios da astrologia são de inspiração pitagórica. A lenda insiste no quarto século, conhecer e condenar
— e Schwaller de Lubicz prova — em que esses princípios são muito mais
velhos que Pitágoras.
a genetliologia (predição baseada no dia do nascimento) em seu tratado sobre os Eudóxio e Teofrasto que a astrologia genetlíaca era praticada pelos
Signos Celestiais: ele estranhava a afirmação dos caldeus, de que eram capazes de prever babilônios pelo menos por volta do quarto século A.C. não é absurdo
a vida e a morte de uma pessoa, e não só coisas gerais, como bom e mau tempo.
A curiosidade insaciável dos gregos, portanto, não ignorava a astrologia, mas seu gênio pensar-se que — dispondo de dados astronômicos muito acurados — os
superior rejeitava as doutrinas supersticiosas, e seu agudíssimo senso era capaz de caldeus dispusessem de métodos sistemáticos de calcular e profetizar,
distinguir os dados científicos que os caldeus recolhiam das conclusões errôneas que daí métodos esses bastante antigos - apesar de esta visão ter sido denunciada
tiravam. Deve servir para sua glorificação eterna o fato de — entre dados teóricos precisos por Robert Eisler, entre outros.
e a manipulação que deles faziam os sacerdotes orientais — terem sabido ficar com a
Ciência, desprezando a superstição.
Enquanto os gregos permaneceram gregos, a adoração aos astros não ganhou nenhuma
ascendência sobre seu espírito, e qualquer tentativa de substituir uma teologia estelar à sua Segue-se que a afirmação de que teriam existido sacerdotes "caldeus" e "egípcios"
idolatria imoral mas encantadora foi destinada ao fracasso. O esforço dos filósofos, para escrevendo em grego para um público helenizado ávido de excentricidades, procurando
incutirem em seus concidadãos a noção dos "grandes deuses visíveis", como os chamava basear suas profecias na sabedoria centenária ou mesmo milenar de seus ancestrais, não
Platão, caiu diante do prestígio de uma cultura alicerçada na Arte e na Literatura.(25) passa de uma rematada mentira. Nunca, em tempo algum, um primitivo sumério, assírio,
babilônico, ou, menos ainda, um antigo elamita, hurrita ou hitita escrevendo em escrita
E há de chegar o dia em que o filho do novo-rico há de repudiar as cuneiforme, sobre tijolos de barro, jamais estabeleceu qualquer relação entre as posições
pretensões mais comezinhas do pai, galgando o alto da árvore familiar dos planetas
e os vários signos zodiacais, em função da predição do destino ou do caráter de qualquer
(mas insistindo sempre em que o velho era Robin Hood). criança — real, nobre ou plebéia — nascida ou concebida seja lá em que momento for.(26)
Como podemos conciliar o gênio superior e o agudíssimo espírito
crítico com a idolatria, por mais encantadora e imoral que seja?(*)
Como poderiam esses gregos de uma parte expurgar da superstição as Agora, fora a convicção que essa declaração revela, resta-nos a
observações dos caldeus e de outra parte ceder ante o fascínio de uma arte
certeza de que Eisler leu todas as inscrições sumérias, assírias,
e uma literatura inteiramente calcadas na idolatria?
É claro que uma nação de pessoas tão subsagitarianas (metade gênio, babilônicas, elamitas, hurritas e hititas que já foram e ainda serão
metade débil) nunca existiu. encontradas.
Um gênio superior e uma grande capacidade crítica não têm nada a Parece que essa afirmação é, no mínimo, um tanto prematura.
ver com a crença em ou o repúdio a qualquer espécie de astrologia. Descobertas recentes (1952) trouxeram à luz os horóscopos dos
Sócrates tinha um gênio superior e grande espírito crítico, mas as pessoas babilônios, onde se anotam posições zodiacais e planetárias. Os mais
que o prenderam e condenaram à morte não tinham. Uma paixão antigos desses horóscopos podem ser datados de 29 de abril de 409
nacionalmente espalhada pela profecia indica o declínio de um país, e por A.C.(27)
muitos séculos os cidadãos gregos estavam tão ocupados em guerrear Isso nos mostra que a astrologia pessoal, genetlíaca — oposta à
contra os inimigos — e em se guerrear uns aos outros, que essa paixão não mudança que descreve fatos nacionais e locais, ligados ao futuro do
teve tempo de se instalar. rei, como os que encontramos em Nínive — já existia séculos antes
No tempo de Cumont, não se havia encontrado nenhum horóscopo do que se imaginava que teria começado; e na Babilônia.
pré-cristão. Mas pode deduzir-se do testemunho de Mas isso não nos diz nada sobre o conteúdo dessa astrologia.

Reduzida a termos simples, a história pode ser definida como a luta da


civilização contra a barbárie, com a vitória desta — uma vez que mil
(*) Fazendo uma concessão ao subjetivismo da linguagem; porque chamar Kronos, que
castrou o pai e devorou os filhos, e Édipo, que matou o pai e cometeu incesto com a mãe. homens civilizados demoram cem anos para erguer uma catedral, e um
de encantadores é realmente um tanto licencioso. único bárbaro a destrói a poder de canhão em um minuto. Certas
sociedades — e esse parece ter sido o caso do Egito — conseguem forjar
um equilíbrio por determinado lapso de tempo. Em outras, a civilização
corre como um fio visível mas tênue por entre o tapete bárbaro — como
os construtores de igreja da assim chamada Idade das Trevas. Numa idade, Acha que a astrologia foi uma descoberta grega, ou pelo menos aí se
realmente, de trevas, esse fio é invisível. desenvolveu, com sua atividade máxima no segundo século A.C., quando a
Os doutos não podem falar de religião, arte e astrologia sem deixar geometria euclidiana e a altamente desenvolvida astronomia grega foram
claro de que religião, arte ou astrologia estão falando e de que grau. agregadas à superstição caldéia. Mas isso é impossível, dado que a
Acompanhando, pacientemente, as conexões entre as teorias matemáticas e astrologia, com sua dança e fusão de números, é um todo, claramente
astronômicas, fomos passando de período a período, e de civilização a civilização. Nosso implícito em tudo o que se conhece do ensinamento de Pitágoras.
caminho muitas vezes andou paralelo ao apontado por historiadores da arte, da religião, da Teriam os pitagóricos, realmente, desenvolvido e praticado a astrologia
alquimia e de tantos outros domínios. Isso não deve causar estranheza. Apenas vem guardando-a, porém, como os egípcios, para si próprios?
confirmar a interligação necessária da cultura humana. O caminho da Astronomia é talvez
único, na medida em que seu desenvolvimento lento mas firme vem criar as bases do passo Admitimos que cair na desculpa do ensinamento secreto sempre que
mais importante da História humana: a criação das modernas ciências exatas. Seguir esse escasseiam as provas não é um comportamento extremamente científico. E,
caminho específico da cultura humana é, a meu ver, extremamente importante, por mais no entanto, universalmente sabido que os pitagóricos mantinham esse tipo
fragmentários que nossos resultados possam ser.(28)
de ensinamento.(*) Estaria a astrologia entre esses segredos? Não
Mas, o caminho... da religião, da arte e da alquimia segue uma imaginamos como poderia faltar aí. Pitágoras, e Platão depois dele,
direção exatamente oposta ao das ciências exatas, que, seja dito a bem da acreditava que o homem é um microcosmo, contendo em si todas as leis
verdade, não são exatas, mas meramente quantitativas. Decisivo não é aplicáveis em escala macrocósmica. Esse é um dos princípios fundamentais
sinônimo de válido. A bomba atômica foi o acontecimento mais decisivo da da astrologia. Empédocles, um dos grandes primeiros discípulos de
História de Hiroxima. Pitágoras (aproximadamente 450 A.C.), recebeu o crédito da teoria dos
As civilizações operam simultaneamente sobre um número variado de quatro elementos. Vimos que eles faziam parte da mitologia egípcia. São,
níveis. Os Beatles, dentro do seu próprio e legítimo caminho, não são da igualmente, noções centrais das doutrinas astrológicas. Pitágoras pensava
mesma ordem que Bach. A religião de Billy Graham não é comparável com que a harmonia musical não era mais do que uma expressão da harmonia
a de Meister Eckart. Não é questão de ser melhor ou pior, mas de ser mais universal à qual todos os nossos órgãos teriam acesso; um fenômeno
ou menos elevado. terreno da música das esferas. Os mesmos cânones matemáticos da mú-
Que uma tal hierarquia existe, é inegável. Mas ela não pode ser sica, aplicados à astrologia, produzem o conceito de "relação astral".
mensurada — por nenhum instrumento que seja um prolongamento e um Seria tudo isso ignorado pelos egípcios e pitagóricos, tendo sido
refinamento dos cinco sentidos. E é isso que tentam fazer os doutos com inventado mais tarde por tipos ecléticos e espertos?
suas lentes de aumento. Nossa opinião é de que Pitágoras e seus discípulos conheciam a
Padrões metafísicos, arbitrários — como a mensurabilidade — são astrologia mas confinavam seu estudo ao simbolismo do Zodíaco e dos
constituídos em instrumento de trabalho científico. Tudo é então submetido planetas e às harmoniosas relações entre eles; um pitagórico dessa época
a esses padrões como pressupostos para ser seriamente considerado. devia interessar-se mais pelo sentido de Marte em Escorpião do que na
Quando os padrões são inaplicáveis, o erro, evidentemente, será da coisa maneira como Marte em Escorpião afeta a X, nascido com Marte em
analisada. Se não pode ser medido, se escapa ao nosso controle — como o Escorpião. E se ele fosse preocupar-se com o fato de que essa pessoa
ESP e a China Comunista — é declarado não existente. Pode-se até discutir nascida com Marte em Escorpião poderia fazer um bom negócio comprando
o assunto, é claro, mas, na discussão, aqueles que ousarem impugnar os
padrões aceitos, declarando-os inadequados ao assunto, são sumariamente (*) "Os mistérios mais zelosamente guardados pela Irmandade (de Pitágoras) poderiam
pronunciados doidos e incompetentes, e excluídos da votação. muito bem ser de origem cósmica e prática. E ao mesmo tempo trágico e irônico que fossem
acabados contra-sensos." E. T. Bell, op. cit., pág. 198. É duplamente trágico e irônico o fato
Desatento à idéia crucial dos níveis, Neugebauer considera a astrologia
de que E. T. Bell não conheça a natureza desses segredos, e esteja dando palpites tão
como a primeira forma de quantificação do conhecimento. entendidos.
um cachorro quando Júpiter estivesse em conjunção com Sírio, porque os templos gregos, a arte grega, um sem-número de rastros dos
Sírio também era conhecido como "Estrela do Cão", e Júpiter simboliza a ensinamentos pitagóricos, em estado de maior ou menor impureza, e uma
boa sorte, então ele provavelmente seria expulso da Irmandade. E poderia astrologia estranha e caótica.
montar sua banca na ágora como Caldeu. Mas o terceiro século A.C., desenvolvendo a Astronomia
Isso nos traz de volta à noção de Nível, complicando as coisas, mas e a Geometria, deu aos astrólogos gregos maior capacidade de calcular com
pelo menos tornando possível de entender um quadro histórico que não é precisão a elaboração dos horóscopos, embora não se possa saber como
uma mentira a priori. isso se refletiu sobre sua capacidade interpretativa.(30) (O cozinheiro de
O exemplo acima distingue, embora canhestramente, os níveis da talento consegue mais de uma fogueira do que um noviço consegue com
astrologia — simbólico, psicológico e oracular. Mas, os níveis não são um fogão a gás.) E essa astrologia de aspecto científico foi espalhada pelo
mutuamente excludentes. Ou, para ser mais preciso, pode ser possível mundo, então conhecido no rastro das tropas de Alexandre.
praticar os níveis mais inferiores sem conhecer os superiores, mas é O discípulo mais famoso de Aristóteles teve grande sucesso nas
impossível estudar os superiores sem conhecer os inferiores, mesmo que ciências físicas, concorrendo com a capacidade intelectual do mestre e à
seja inviável praticá-los. guisa de demonstrar seus próprios conhecimentos, destruiu e reduziu a pó
Um exemplo hipotético: um rei, agindo de acordo com os conselhos praticamente tudo que fora teoricamente construído antes dele. Assim
do sábio da sua corte, poderia saber com antecedência que os astros como Aristóteles destorceu o ensinamento pitagórico e acabou com a idéia
prediziam uma geração jovem extremamente caótica, o que o faria tomar arrogante de que
medidas educacionais para alterar as condições; canalizando toda essa o homem, com o simples exercício da razão, pode chegar ao conhecimento
energia, conscientemente, para objetivos construtivos. de todo o real, assim também Alexandre, seguindo caminho idêntico,
Mas, a História mostra-nos que uma astrologia desse tipo nunca destruiu o Palácio de Dario, e com ele a biblioteca onde se guardava toda a
existiu, a não ser que tenha ocorrido no Egito.(29) sabedoria de então, que até aquela época tinha logrado sobreviver aos
Não obstante, basta que a astrologia seja encarada através desse conquistadores e às catástrofes; e, em compensação, fundou a Cidade de
conceito de níveis para que uma série de aspectos, de outra forma Alexandria em honra própria.
incompreensíveis, se esclareça; entre eles, o levantado pelo irado e colérico Mas o paralelo não se interrompe aqui. O aspecto particular-mente
Franz Cumont, que, falando inoficiosamente à confraria científica, maligno do ensinamento de Aristóteles, mencionado acima, não
perguntou: "Como pôde essa doutrina absurda nascer, desenvolver-se, contaminou o Ocidente até ser disseminado por outras fontes; enquanto
espalhar-se e sobreviver através dos séculos, favorecida por inteligências que, apesar de Alexandre, Alexandria tornou-se a capital espiritual do
superiores?... essa alucinação... a mais persistente que jamais atingiu o mundo, cadinho de culturas e o centro por excelência de intercâmbio de
cérebro humano..." todo conhecimento astrológico
A resposta está em que as inteligências superiores, exatamente por e esotérico.
causa de sua superioridade, reconhecem o valor e a validade do princípio No decorrer de muitos séculos, os doutos estudaram o conteúdo de
dos níveis. Esses homens sabiam que os fatos mais importantes não são escritos antigos e modernos. Sem a menor dúvida, ali tinha florescido um
passíveis de serem captados por mecanismos artificiais e emocionais; e novo surto de trabalho intelectual; e a nova livraria chegou à soma
isso os abriu à crença de que o simbolismo da astrologia — como pensava considerável de 700 mil volumes.
o próprio Pitágoras — poderia ajudá-los a penetrar no segredo de outra Se as corridas de cavalos são o esporte dos reis, então queimar livros
forma indevassável dessas verdades universais — crença essa que toda era o esporte dos conquistadores; é por causa desse passatempo que as
uma vida posteriormente dedicada ao estudo não conseguiu amortecer. notícias da sabedoria dessa época são tão fragmentárias. Durante as guerras
de César, essa nova biblioteca, o Museion, foi queimada, destruindo-se a
A onda de genuína civilização representada por Pitágoras e Platão maioria dos textos astrológicos.
passou por sobre a Grécia, deixando como memória Babilônia, ao longo de sua tumultuada História, foi destruída várias
vezes, o mesmo acontecendo com Nínive e todos. os demais centros de
cultura da antiguidade. No segundo século
E.C., o Imperador Sétimo Severo saqueou os templos egípcios, queimando dos soldados? E que, por analogia (Marte/ferro/armas/etc.), deveria ser
ou espalhando pelo mundo toda a literatura sacra ali contida. A Serapeion, também o planeta dos açougueiros e cirurgiões? Saturno já desempenhava
livraria construída dos escombros do Museion e das lembranças dos sábios, seu papel atual na mais antiga mitologia egípcia. Mercúrio, o mensageiro
incorreu na cólera do Bispo Teófilo três séculos depois de César; perderam- dos deuses da Grécia, o Thoth dos egípcios, sempre desempenhou um papel
se aí 200 mil livros ofensivos. Os remanescentes abrigaram-se em Bizâncio, de mensageiro dos deuses; regula o intelecto; é o planeta dos escritores (e
onde estariam temporariamente salvos. Enquanto isso, o Imperador dos mágicos, ilusionistas, saltimbancos). Quem pensou nisso pela primeira
Constantino decretou que essa versão do Cristianismo — muito parecida vez? E por causa de que autoridade essa versão foi aceita? Será que
com a que vigora hoje, mas absolutamente afastada da do Cristo — fosse centenas ou milhares de astrólogos andaram escavando o mundo do
considerada a religião oficial de Roma, queimando em decorrência todos os helenismo para de repente chegar ao acordo unânime de que essa era sua
arquivos pagãos. Em Bizâncio, Teodósio II seguiu o mesmo caminho no função? Se os doutos têm razão, e o sentido atribuído tanto aos planetas
quinto século, não só fechando todas as universidades que ainda ensinavam quanto aos signos do zodíaco é puramente arbitrário, sem um grão de
a filosofia grega, mas destruindo tudo que tivesse vindo de Alexandria. Na verdade, então o fato de que esse sentido atravessou mil anos plenamente
própria Alexandria, porém, a nova geração de infatigáveis estudiosos colava aceito — e pelos cérebros mais brilhantes, não pelos mais fracos — passa
e recolhia os cacos do que sobrara... vivendo em paz ainda alguns séculos, a a ser um enigma grande demais para ser sumariamente posto de lado.
gozar os resultados do seu trabalho. Mas, em 641, Alexandria caiu mais Na época pré-cristã, nenhum astrólogo, nem nenhuma escola de
uma vez. Os sábios suplicaram ao general árabe Amr que poupas-se a astrologia de que se tenha conhecimento tinha poder e autoridade para
biblioteca. Mas, Amr, precursor do Positivismo, declarou que se tratava de impor decretos aos inúmeros astrólogos independentes, provenientes das
um falso problema. "Ou esses livros" —ponderou ele — "contêm as mais diversas confissões filosóficas ou religiosas. E no mundo helênico não
verdades contidas no Corão, e nesse caso são desnecessários, ou têm o que havia nenhuma organização suficientemente grande e estável para
não está no Corão, e nesse caso são falsos." E puseram fogo na Biblioteca. desenvolver um sistema de observações astrológicas — que requereria o
(Essa lenda (sic) é considerada apócrifa.) trabalho metódico de algumas gerações. Eisler (op. cit., pág. 79) afirma que
a arte divinatória dos caldeus foi o resultado de uma experiência milenar.
... E CORROMPEU ROMA Que aconteceu a esses registros? Por que não chegou até nós nem uma peça
dessa volumosa estatística coletiva?
O tratado astrológico completo mais antigo de que temos notícia, e Essas são objeções legítimas. E os astrólogos não as podem ignorar.
que chegou a nossas mãos, é o Tetrabiblos, de Claudius Ptolomeu, Mas sua defesa oblíqua é interessante. Pondo de lado a satisfação estética
neoplatônico de Alexandria, astrônomo, geógrafo, matemático e astrólogo do simbolismo astrológico, os astrólogos realmente estiveram trabalhando
do segundo século E.C. com esse material durante 2 mil anos. E, nesses milênios, ninguém se
Sete séculos tinham decorrido desde Pitágoras — o mesmo lapso de preocupou em rever os cânones astrológicos. Ninguém afirmou que Vênus
tempo que nos separa da magna carta. Nesse meio-tempo, a astrologia era na verdade saturnina quanto ao caráter, nem que Marte era jovial.
florescera em todos os níveis — especialmente o mais baixo — em todo o Suponha-se por um momento que a astrologia seja na verdade uma irrisão, e
mundo helenizado. que todos os seus resultados sejam invariavelmente falsos. Nesse caso, pode
Desses sete séculos, a astrologia sai com a roupagem com que se a ser que durante 2 mil anos os que trataram com ela tenham estado tão
conhece hoje — muito pouca coisa foi acrescentada depois. Os passos que fascinados peio seu estranho simbolismo, e tão submissos à autoridade de
se deram nessa evolução permanecem desconhecidos, tornando a história da hipotéticos caldeus sonhadores, que nem se tenham lembrado de repudiar
astrologia. mais lacunosa do que nunca. essa doutrina, nem lhes tenha passado pela cabeça reformulá-la em bases
Quem primeiro decidiu que Marte seria o deus da guerra; e que esse mais efetivas. Certos indícios e fragmentos dão uma idéia de como essa
planeta deveria, por isso, ser importante no horóscopo astrologia conseguiu percorrer todos esses séculos mais ou menos intacta.
Havia, por exemplo, Berosus, sacerdote de Baal, que abriu uma
escola astrológica na ilha de Cos, em 280 A.C. Não sabemos o que ele
vontade divina; a Ciência é para o materialismo moderno o estudo dos
pensava, nem como, mas há sempre alguma coisa de real por trás de uma
acidentes não-divinos — mas ambas pressupõem a inelutável operação de
reputação que se torna legendária. causa e efeito.
O maior mestre da era pré-cristã foi Posidônio. Não sobrou nada de Como seus sucessores modernos, os estóicos se negavam a aceitar, ou
suas obras, mas alguns relatos de segunda mão e a obra de escritores
não podiam compreender, a noção de nível, e por esse caminho foram
caudatários de Posidônio no plano das idéias dão alguma luz à
incapazes de reconciliar a idéia de livre arbítrio com a noção de causa e
investigação. Sabe-se, portanto, que seus ensinamentos se baseavam
efeito. E como num universo necessariamente predeterminado pela vontade
largamente no Timaeus, de Platão — que era inteiramente pitagórico e
divina, como num em que efeitos cegos sigam causas acidentais, a
que além disso incorporara elementos de certas teorias místicas do indagação sobre a natureza das causas é um evidente absurdo, os estóicos
Oriente. Por essa época, só Epicuro (que ensinava uma doutrina
eram capazes de saber — exatamente como seus sucessores modernos(*) —
radicalmente oposta) rivalizava com ele como mestre. Grande número das
qual o efeito que se seguiria a determinada causa; a astrologia, como a
principais figuras da época passou por seu ensinamento, a começar por
ciência 2 mil anos depois, foi obrigada a corroborar essa visão estreita e
Cícero (que mais tarde repudiou acremente a astrologia). A reputação de
parcial.
Posidônio é a de que se tratou do maior advogado que a astrologia jamais No tempo de Claudius Ptolomeu, a astrologia tinha evoluído, ou, mais
teve. Parece que o mestre inspirou um longo poema astrológico ao poeta precisamente, se amontoado numa forma semelhante à em que é praticada
romano Manilius, que, por sua vez, teve, com isso, grande influência sobre
hoje em dia. O Cristianismo não passava, nessa época, de uma das muitas
os astrólogos.
crenças que lutavam pela hegemonia; todas as quais lidavam de alguma
Hiparco, o maior dos astrônomos gregos, era astrólogo — para
forma com a pretendida natureza da alma; cada uma das quais, de uma
desespero dos historiadores contemporâneos.
forma ou de outra, dava alguma atenção à astrologia. Mas, se a astrologia
Mas pode parecer que a contribuição grega à astrologia foi técnica, podia ser encaixada em qualquer opinião filosófica, suas formas já estavam
não interpretativa. A adiantada astronomia e a matemática do antigo e definitivamente assentadas — não de forma como gostariam de supor os
médio reinados do Egito tinha-se perdido, e os astrônomos gregos mais céticos, mas, como já nos referimos antes, de forma a fazer com que
Aristarco, Seleucis, Hiparco e outros foram obrigados a redescobrirem todas as modificações porventura introduzidas no modelo não resistissem ao
essas ciências por seus próprios esforços. A aplicação de uma astronomia teste do tempo.
e geometria desenvolvidas permitiram a elaboração de horóscopos mais Apesar de todo o seu valor como geógrafo, astrônomo e matemático, o
perfeitos. E a isto foi aplicado o conjunto de cânones e símbolos já conhecimento que Ptolomeu tinha do universo físico era tão insuficiente
existentes — apresentando, alguns, pequenas adulterações e mudanças quanto o de todas as pessoas de seu tempo. Mas em seus trabalhos sobre
decorrentes do passar do tempo. astrologia, ele tenta justificar as "influências" astrológicas com raciocínios
Como fundadores e aderentes do estoicismo, os gregos forneceram o científicos. Ele substituiu a personalidade que, anteriormente, se atribuía aos
ambiente filosófico onde poderia florescer uma astrologia não puramente planetas pela terminologia aristotélica das "qualidades primárias", que soam
simbólica como a de Pitágoras, nem rudimentar como as profecias feitas falsa e bastante ridículas aos ouvidos modernos(31)
para consumidores ávidos, nem psicológica, mas uma verdadeira Ptolomeu não inventou a astrologia; tentou apenas aplicar o que ele
astrologia filosófica, capaz de suportar o materialismo estoicista; doutrinas pensava serem princípios científicos ao corpo de regras chegadas a ele de
em muitos pontos semelhantes ao ateísmo materialista prevalecente hoje fonte ignorada ou só vagamente suspeitada. Assim, explicando como os
em dia (sob as siglas de Humanismo, Existencialismo, Religião Ética e planetas adiantam o tipo de morte que se deve esperar, assevera; "... se o
outras). domínio da morte se
Como o materialismo moderno, o estoicismo penetrou
profundamente nas classes dominantes e setores intelectuais da época; e a (*) "Nunca fale no superior e no inferior em termos de evolução." Charles Darwin, citado por
astrologia serviu ao estoicismo da mesma forma com que as ciências Marjorie Grene, The Knowers and the Known, pág. 266.
modernas servem o materialismo moderno. A astrologia era, para os
estóicos, o estudo das manifestações da
situar em Saturno, há de provocar a morte por distúrbios demorados: tosse,
reumatismo, disenteria, distúrbios nervosos, hidropisia, cólicas e problemas Como pôde aparecer uma noção desse tipo? É possível que em
uterinos; em resumo, qualquer dessas doenças que provenham da excessiva determinado momento meia-dúzia de homens tenha sido morta numa arena,
exposição ao frio." (Calor, frio úmido, seco são as assim chamadas por animais selvagens; examinando seus horóscopos, os astrólogos
"qualidades primárias".) descobriram que todos eles tinham Saturno em signos de animais e em
relação maléfica com Júpiter; poderia isso ter passado à astrologia em
Júpiter acarreta a morte por angina, inflamação dos pulmões, apoplexia, espasmo, dor
termos de que todos os homens nascidos nessas condições morreriam da
de cabeça, problemas cardíacos, e por todas as doenças provenientes. da superabundância mesma forma, e, uma vez incorporado, teria resistido às alterações e
de ar, respiração defeituosa. revisões para sempre? Pode ter acontecido que, de outra feita, quatro
Marte causa a morte por febres constantes, terçãs, feridas súbitas e espontâneas, homens tenham sido assassinados por suas mulheres; que se tenha
afecções dos humores, expectoração de sangue e hemorragias de todos os tipos; por descoberto que Vênus lhes era desfavorável, e que daí se tenha concluído
abortamento, pelo parto, por erisipela, resumidamente, por todas as doenças que decorram
do excesso de calor. que nas mesmas condições os homens sempre sofrerão morte violenta
Vênus produz a morte por distúrbios no estômago e no fígado, por escorbuto e provocada ou planejada pela mulher?
disenteria; também por excesso ou falta de assimilação e por fístulas e veneno e por tudo Os sábios de hoje em dia admitem que essa seja a resposta. E pode
que decorra da superabundância ou falta de umidade. realmente ser parte da resposta. Um agudo senso crítico nunca foi regra
Ainda, Mercúrio causa morte por fúria ou loucura, melancolia, epilepsia, síncopes,
tosse, e tudo que decorra de excesso ou falta de aridez.
entre os astrólogos. Por isso mesmo, hoje em dia, declarações como a
...se acontecer de Saturno estar nos signos fixos, em oposição ao Sol, causará morte por seguinte são bem mais freqüentes do que deveriam ser: "Saturno tem uma
sufocação, ocasionada tanto por aglomeração de pessoas quanto por estrangulamento ou temperatura calculada em 270° abaixo de zero; é, por isso, o planeta gelado.
enforcamento... Se no entanto (Saturno) estiver colocado em signos de formas animais, os Como qualquer ginasiano sabe, o calor dilata, enquanto que o frio contrai."
nascidos aí serão destruídos por feras, e se Júpiter também estiverem relação, oferecendo "Quando, portanto, nasce uma mulher com Saturno cruzando seus raios
características aflitivas, a morte ocorrerá em público, e de dia; por exemplo, pela exposição,
em combate, a feras perigosas. Se Saturno estiver oposto a qualquer astro no ascendente, tanto com o Sol quanto com a Lua, sua vida se torna muito restrita e fria...
causará a morte na prisão; se estiver em conjunção com Mercúrio, especialmente se nas Saturno é um planeta muito sincero e consciente, mas é essencialmente um
proximidades da constelação da Serpente, nos signos zodiacais da Terra, produzirá a morte planeta de características fixas." Isso foi escrito, por incrível que pareça, em
por feridas ou mordidas de répteis e animais ferozes. E, se Vênus também ligar-se a Saturno 1954, e apareceu impresso em Prediction magazine (novembro de 1954);
e Mercúrio em conjunção, a morte advirá através de veneno ou artimanhas femininas. Se
Saturno estiver em Virgem ou Peixes, ou em signos da água, em conjunção com a Lua,
quem perpetrou essa enormidade, A. W. Pole, numa nota em que chama a
provocará a morte por meio da água, por afogamento ou sufocação; e se perto de Argo, por atenção para seus serviços, nomeia-se, modesta-mente, "O Maior Astrólogo
afunda-mento de navio... do Mundo".
Marte, quando em signo de forma humana, colocado em ângulo agudo ou em oposição Mas a história não acaba aí. Antes de mais nada, é preciso que
ao Sol ou à Lua, provocará a morte em guerra civil ou no estrangeiro, ou por suicídio: se compreendamos que um livro-texto de astrologia é uma redonda
Vênus estiver presente, a morte virá por mãos de mulher, ou por assassinos assalariados por
mulher; e se Mercúrio estiver em conjunções com eles, a morte será provocada por ladrões, impossibilidade; implicaria quantificar o qualitativo. Cada horóscopo é uma
assaltantes...(32) entidade completa. Todo horóscopo é individual(*). E qualquer astrólogo
sabe (Ptolomeu sem dúvida, sabia) que abstrair elementos individuais do
Que aconteceu a Pitágoras? Será este o legado dos sábios do Egito? horóscopo é eliminar parte da verdade. Portanto, é um absurdo dizer que
Como puderam os Tetrabiblos de Ptolomeu permanecer como texto básico Vênus em oposição a Saturno quer dizer isto ou aquilo. Porque isto só
durante 16 séculos? E como podia um homem são cometer esse crime ao ocorre sob uma miríade de condições, quando uma série de
papiro pela primeira vez?
Metade dos homens nasce com Saturno em signos de animais. Desses,
pelo menos um em cada 20 tem Júpiter em relação maléfica com seu signo.
Mesmo supondo a existência de um alto índice de violência na Alexandria (*) Na Parte Terceira vamo-nos ocupar dos horóscopos de crianças nascidas quase no mesmo
do segundo século A.C., seria de supor-se que 25 de cada mil homens minuto, mas que, além disso, não apresentam nenhuma característica comum.
tivessem então morrido em combates públicos com feras?
circunstâncias contribui para isso. Mas, para falar sobre esses assuntos
globalmente, os astrólogos têm de generalizar. E em termos de Mas Roma nunca foi uma civilização no sentido em que hoje
generalidades é impossível abordar as infinitas condições que a matéria empregamos a palavra. Embora algumas correntes civilizatórias corressem
exige. subterraneamente — os primitivos cristãos, as formas mais puras do
Vamos deixar o grande sentido de ilustração de Ptolomeu de lado por neoplatonismo, algumas seitas religiosas — a civilização nunca alcançou o
um momento. Não há muitos homens que sejam assassinados por povo romano em cheio; o que se pode apreciar pelo caráter de pobreza da
mulheres, menos ainda por assassinos a soldo de mulheres. Mas há, sem literatura romana, sua arte e escultura sem originalidade, o caráter burocrá-
dúvida, um certo tipo bem definido de homem que vive por obra e graça da tico de sua arquitetura.
mulher. Os caricaturistas e dramaturgos têm registrado esse tipo desde No tempo de Cristo, o fervor da República tinha morrido; o Império
tempos imemoriais. E evidente que cada homem nessas circunstâncias tem não tinha nada a oferecer em seu lugar, além de pão e circo; e, com essa
suas próprias características, mas nenhum astrólogo ficaria espantado se se falta de alternativas, o povo se voltava para o misticismo e a superstição
pudesse realizar algumas experiências de grupo, com conceitos em busca de conselho e ajuda.
predeterminados — e essas experiências viessem a confirmar, por métodos Tem-se traçado alguns paralelos entre Roma e os Estados Unidos — e,
estatísticos, que realmente, entre essas pessoas, existe uma grande por extensão, todo o mundo ocidental — e essas comparações são bastante
incidência de tipos aflitos sob a influência de uma relação Marte-Vênus- válidas. (A onda corrente de astrologia pop não é nenhuma surpresa.) Mas,
Saturno. as condições que existiam no Império Romano, e que favoreciam esse tipo
de ocupação, eram ainda melhores do que hoje em dia. Muito poucas
pessoas podiam assistir à televisão ao vivo, que eram os jogos no anfitea-
Ptolomeu e os demais astrólogos de seu tempo encaravam a astrologia tro; o jornal ainda não tinha sido inventado, e as pessoas que queriam
seriamente. Embora muito poucos depoimentos escritos nos tenham manter-se "inteligentemente informadas do andamento das coisas" tinham
chegado desse tempo, há evidências irrefutáveis do esforço que os que confiar nos rumores para receberem sua ração diária de badalação e
astrólogos despendiam para refinar e aperfeiçoar sua arte. Vettius Valens, desinformação. Não havia ainda psicanálise, e eram os astrólogos quem
contemporâneo de Ptolomeu, tentou fazer cômputos estatísticos, embora desempenhavam o papel de guias espirituais dos ricos.(33)
desconhecesse as sutilezas dos métodos necessários. Os médicos Horóscopos diários eram encontrados nas ruas. Se o cliente não sabia o
utilizavam a astrologia em seus diagnósticos e receitas, embora sem muitos momento exato de seu nascimento — e poucos sabiam —, jogava-se uma
resultados, pelo que se pode depreender. A grande ciência do Antigo Egito linha de barbante em cima do zodíaco do astrólogo; onde o fio caísse seria
desaparecera — a nosso ver uma das razões mais fortes para se encarar a o Ascendente. Acreditava-se em que se os astros se mostravam ao
teoria da catástrofe de maneira menos leviana; de todas as áreas do intérprete de tal maneira que ele era capaz de ler o futuro, então eles
conhecimento humano, o conhecimento médico era o que mais dificilmente próprios providenciaram para que o fio caísse no lugar exato.(34)
deveria evaporar-se. Por volta do fim do segundo século, o ímpeto de criar Pitágoras tinha tanto a ver com essa astrologia quanto com a que hoje
uma obra astrológica original tinha desaparecido. encontramos nos jornais. Mas seria um erro traçar um paralelo demasiado
A decadência da República Romana, o início do Império, representou e próximo entre o caldeu de Roma (todo astrólogo popular se
propiciou o aparecimento de uma astrologia de mercado, que perdurou até autodenominava caldeu) e seu descendente moderno. O caldeu não era um
os nossos dias. simples jornalista-psicólogo. Seu papel econômico e psicológico na
A ascensão de Augusto ao trono foi predita por um astrólogo, apesar de sociedade era muito maior. Combinava em si as funções de fabricante,
todas as dificuldades que se lhe antepunham. Augusto ficou de tal maneira agência de conselhos e vendedor; e seu produto de baixo misticismo e fé
impressionado com isto que mandou cunhar moedas com seu signo solar espúria diferia do produto material de hoje em dia, pois uma vez usado,
(Capricórnio). Os imperadores que lhe. sucederam passaram a dar grande servindo a seus propósitos, não deixava nenhum problema em aberto para
importância a seus magos. resolver.
A situação não era nova. Séculos antes, o profeta Isaías tinha
pronunciado sua famosa condenação dos astrólogos; "Fica, pois, em silêncio, 3 A Enjeitada Ataca
e penetra nas trevas, ó filha dos caldeus... Fica agora com teus
encantamentos e com as bruxarias que te acompanham desde tua juventude...
Estás soterrada pela multidão dos teus conselhos. Deixa agora que os Durante muitos séculos a Igreja Católica tolerou a astrologia, se é que
astrólogos, os que olham o céu, os que predizem mês a mês, deixa que esses realmente não a utilizou. Uma vez que a doutrina astrológica fundamental
se levantem e te salvem da tua ruína." prevê a coerência do Universo, e se propõe a ser o estudo da vontade divina,
Mas, a prosa retumbante tem pouca influência sobre a marcha dos que se registra no macrocosmo e se manifesta no microcosmo humano, não
impérios. Jerusalém caiu no curso que lhe estava traçado, e Roma seguiu da pode haver nenhuma briga séria entre a astrologia e qualquer religião. Mas a
mesma forma. Se a astrologia ajudou-a a sobreviver mais um dia, ou prática real da astrologia é evidentemente uma outra questão.
acelerou sua queda, isso já é uma outra questão. Santo Agostinho, no terceiro século, consultou, ele próprio, astrólogos
antes de se converter, e nunca negou que as predições fossem bastante
acuradas; apenas, sendo teologicamente mais astuto que seus predecessores,
compreendeu o perigo que a astrologia poderia representar para a fé.
Argumentou, assim, que a astrologia substituía a vontade de Deus por um
simples movimento mecânico dos astros; que levava os homens a se
resignarem com o destino em vez de lutarem pela graça; que aparentemente
negava o livre arbítrio — que Agostinho considerava existente apenas para
levar o homem a escolher entre aceitar ou não a salvação.
Já que os perigos potenciais da astrologia superavam de muito as suas
vantagens, Agostinho jogou contra ela todo o peso de sua autoridade; uma
sábia jogada teológica e política, a julgar pelo nível da astrologia então
praticada .no Império. A astrologia não foi banida pela Igreja, nem se tornou
uma manifestação cultural underground; mas a ênfase que se lhe negava foi
suficiente para evitar sua ressurreição — situação essa que perdurou durante
toda a Idade Média.

Os neoplatônicos de Alexandria foram os principais responsáveis pela


sobrevivência da astrologia no Leste. Plotino, o grande discípulo de Platão e
Pitágoras (terceiro século da Era Cristã), lutou contra uma interpretação
fatalista da astrologia. E é a Plotino e a uma série de discípulos seus que se
deve o fato de a astrologia ter continuado a existir, caracterizada como um
estudo sério. Proclus, o maior dos últimos neoplatônicos (quinto século),
escreveu uma paráfrase do Tetrabiblos de Ptolomeu, e foi em grande
medida por causa desse livro que os fragmentos da tradição chegaram até
nós.
Embora haja pouca evidência de que tenha existido uma real prática o ressurgimento da astrologia na Idade Média deve-se inteiramente aos
astrológica por parte dos neoplatônicos, é bem possível que houvesse árabes.
alguma coisa nesse sentido nos bastidores. Foi o que chegou até nós como Ao contrário da maioria das outras religiões, o islamismo não começou
Hermetic Writings — fragmentos de uma obra gigantesca, que se afirma sendo uma disciplina esotérica. Na verdade, a fé eminentemente guerreira
constar de mais de 2 mil volumes, e que foi queimada juntamente com o de Maomé antes de mais nada reconquistou e unificou as porções asiática e
Museion, no tempo de César — que se encontrou em Alexandria. Esses africana do Império Romano, e foi só depois disso, quando o entusiasmo
livros estranhos e tantálicos dizem conter o que restou da sabedoria marcial decaiu, que os místicos maometanos (os sufis) — astrônomos,
egípcia; uma mistura de alquimia, astrologia, mágica, medicina; a maioria médicos, estudiosos e matemáticos — vieram à tona. Construiu-se um
das passagens muito obscuras, parece que deliberadamente.(35) grande observatório astronômico em Bagdá, começando a se fazer
Enquanto isso, em outro canto do agora desmembrado Império, observações sistemáticas do espaço; descobriram-se inúmeras estrelas
ressurgia um considerável interesse pela matéria. Aécio de Amida, médico novas, que foram a seguir nomeadas. E já que os árabes, como qualquer
da corte de Bizâncio (sexto século), publicou o seu Tetrabiblion, em povo pré-industrial, não compreendiam colecionar fatos pelo simples prazer
grande parte compilação de obras anteriores. Sendo um livro muito quantitativo, a Astronomia sem a astrologia seria realmente
respeitado e popular, veio reviver algumas das idéias de Ptolomeu, incompreensível.
esquecidas no Oriente, inclusive a idéia de que a Terra teria forma esférica. Muslim Spain era o maior centro de estudos árabe. E, em Granada e
Aécio também chamou a atenção para a obra antiga de Philolaus Sevilha, a astrologia, juntamente com outras ciências antigas, era estudada
(aproximadamente 390 A.C.), um pitagórico que, segundo Aécio, desenhou nos níveis simbólicos e psicológicos, com ênfase particular, na sua suposta
um sistema cosmológico no qual a Terra era simplesmente um dos relação com a Medicina. Espalhados pela Espanha Islâmica, os judeus
planetas, à semelhança do Sol e da Lua, desprendendo-se dela uma espécie passaram a formar entre os maiores astrônomos, filósofos e médicos.
de fogo eterno. (36) Tolerados pelos árabes como "Filhos do Profeta", e ainda não vilipendiados
E, na cultura cristã ocidental, o curso direto do pensamento pitagórico pela Igreja Católica como causa e fundamento de todos os seus males, os
foi conservado por Boethius, o último filósofo que tecnicamente pode ser judeus viveram durante muito tempo entre os árabes, com liberdade de
considerado romano. Ao escrever no fim do sexto século, quando a própria incursionar na Cristandade, servindo assim, não oficialmente, de
Roma era uma cidade decadente com apenas alguns mil habitantes, tendo mensageiros e transmissores de cultura entre as duas forças irreconciliáveis.
as sobras da Corte Imperial se mudado, por motivos de segurança, Sempre bem-vindos por causa de seus conhecimentos médicos e gerais, os
provisoriamente, para Ravena, Boethius tentou reconstituir em dois livros, judeus também introduziram na Europa a rejuvenescida astrologia árabe.
De Institutione Aritmetica e De Institutione Musica, o que se salvara, e Os magos romanos, desprestigiados, acabaram esquecidos por todos.
era conhecido do pensamento de Pitágoras. Boethius escreveu com aquele As considerações agostinianas — perfeitamente válidas ao seu tempo - não
brilhantismo e aquela paixão que alguns poucos eleitos guardaram mesmo tinham mais eficácia; os maiores doutores da Igreja, nessa época. quase que
na decadência da civilização, e seus livros exerceram uma influência sem exceções, abraçaram o estudo da astrologia, especialmente no tocante
permanente através da Idade das Trevas — uma designação imprópria, ao seu significado simbólico. Santo Tomás de Aquino, um dos mais
incoerente e injusta, que só se explica por parte de quem liga o iluminismo hesitantes, acabou dando seu beneplácito, se bem que apenas em princípio,
à eletricidade: a arte que sobreviveu nesse período, O Livro de Kells, por sem se envolver com a prática; Grosseteste, primeiro diretor de Oxford,
exemplo, não foi obra fundamentalmente astrológica, os trabalhos de cultivou-a, no que foi seguido por Roger Bacon, o pai do método
Boethius serviram pelo menos para preservar os princípios numerológicos experimental.
e harmônicos sobre os quais a astrologia repousa. Não há dúvida de que a cosmovisão medieval era unilateral. Mas o
Entre todos os ápodos que lançam à astrologia, talvez o mais freqüente conceito que hoje se tem dessa época é fruto de uma grande incompreensão
seja o de medieval (ver pág. 14). Mas, na verdade, e de uma visão do mundo igualmente destorcida.
Para o pensamento moderno, o universo é um fato gigantesco, Resumidamente, o mundo não passava de uma arena em que se
redutível a uma série de fatos constitutivos. Para a cultura medieval, era um debatiam, em luta eterna e mortal, as forças de Deus, ou ordem, e as hostes
símbolo; dentro do qual os fenômenos e suas infinitas variações não do Diabo (nome simbólico para a Segunda Lei da Termodinâmica). E a
passavam de outras tantas manifestações da vontade de Deus. Indiferente, astrologia, estudando a multiplicidade de interações dos astros em relação
ou abertamente hostil aos fatos em si mesmos, o pensamento medieval às coisas da Terra, tornou-se o instrumento par excellence do
voltava-se exclusivamente para os princípios subjacentes aos fatos. Para a estabelecimento de prodigiosos esquemas demonstrativos da ação das
mentalidade moderna são os fatos que importam, enquanto os princípios forças da Ordem.
que se arranjem como puderem. Os cientistas desconfiam ou mesmo O perigo, no que concerne a esse pensamento, está na indiferença com
negam a realidade das experiências interiores; confiam exclusivamente em que os fatos do mundo físico se adequavam à teoria. E claro que, quando a
seus sentidos, ou nesses instrumentos que os prolongam: o que pode ser harmonia é o único critério para julgar uma idéia, não sobra nada ao campo
medido é real. Os medievos consideravam o mundo dos sentidos uma da imaginação: e embora o esquematismo simbólico e hierárquico do
ilusão; só a experiência interior era real. Acreditavam que a Terra era pensamento medieval pudesse ser uma representação perfeita do esquema
redonda, mas sabiam que o Universo é uma hierarquia de valores. O real do mundo espiritual, não havia nele nada que evitasse a superveniência
pensador moderno sabe que a Terra é redonda, mas acha que os valores são de todo tipo de elucubrações e caprichos escolásticos.
subjetivos, uma simples invenção do homem. Os homens da Idade Média Na verdade, muitas das relações pelas quais a Idade Média mereceu a
ignoravam as coisas do mundo físico, construindo, por isso, uma sociedade pecha que lhe impuseram estão ligadas ao passado da astrologia. Desde
que era só catedrais, e pouca saúde e preocupação com a integridade das cedo os alquimistas ligaram os metais aos astros. A lenda de Osíris com o
pessoas. Os modernos ignoram a importância do espírito, construindo, sarcófago de ouro mostra a relação de Saturno com esse metal desde a mais
portanto, uma sociedade que é toda força e vigor, sem catedrais. Os remota antiguidade; e as demais relações tradicionais devem datar da época
racionalistas se alegram e chamam a isto progresso. Mas as crescentes dos egípcios, também — de qualquer forma, são encontradas nos
fendas que a instabilidade psicológica abre nessa sociedade saudável fragmentos Herméticos (que, segundo a tradição, foram originalmente
podem vir a provar, no fim, que as catedrais é que são necessárias egípcios). (37) As relações entre os planetas e certas ervas foram estudadas
e a eugenia, um luxo. pelos árabes e pelos médicos-astrólogos judeus; enquanto que Ptolomeu, o
No entanto, os dois extremos não são excludentes, nem de igual maior geógrafo do seu tempo, atribuía, escrupulosamente, características
natureza. Porque a supervalorização dos fatos sem os valores leva à bomba astrológicas aos vários Estados e cidades da época.
atômica. E os valores exaltados unilateralmente, sem se referirem a fatos, Os textos Herméticos proclamam: "Assim como está em cima, assim
são uma rematada tolice, com o perigo adicional de criarem um mundo de está embaixo", e os pensadores medievais viam réplicas do Zodíaco em
tal maneira desconfortável que os próprios valores acabem-se tudo e em toda parte. O Homem, o microcosmo, continha o Zodíaco em si,
demonstrando irrelevantes. e os diversos membros e órgãos de seu corpo (ver fotografia 6) estavam
Além do mais, a modernidade não detém o monopólio do pedantismo: supostamente sob a influência dos vários planetas e signos. Os quatro
Pensar sobre valores não é o mesmo que agir de acordo com eles. E a humores — calma, sangue, cólera e bile — correspondiam aos quatro
mesma ordem de raciocínio que é hoje responsável pela filosofia elementos, e as doenças provinham de desequilíbrios, por excesso ou por
lingüística e por tantas outras filosofias da Ciência levou os medievos a se falta, desses quatro humores. Um equilíbrio apropriado era chamado "bom
engajar na construção de esquemas igualmente pomposos e inúteis. As humor", e preparavam-se remédios que, segundo se acreditava, eram
famosas angeologias e demonologias eram, na verdade, a tentativa de capazes de estabelecer esse equilíbrio. Embora a Medicina medieval pareça
imprimir razão às experiências de santos e místicos, a despeito da adver- ter sido menos ineficiente do que se costuma imaginar, estava longe de
tência desses mesmos santos e místicos de que isto seria impossível. alcançar grandes resultados, e o desdém medieval pela experiência deve ter
evitado entre eles o problema da superpopulação.
Mas se a maioria das relações astrológicas datava da antiguidade, o Quem poderia acusar os medievos de, por isso mesmo, saírem procurando
espírito medieval, ávido de classificar e esquematizar, foi responsável por relações baseadas no sete em toda parte?
desenhar um tapete extremamente simples com os inúmeros fios que
vinham das fontes árabes, neoplatônicas e bizantinas. Uma vez que era de A astrologia saiu de moda. Não foi, é preciso que se diga, desaprovada,
pouca importância verificar se os fatos correspondem ou não aos princípios, quer em princípio, quer na prática, e as razões para o seu desaparecimento
parece que não passou pela cabeça de um astrólogo medieval a idéia de que são mais complexas do que os historiadores poderiam imaginar.
sua elaboração poderia ser altamente insatisfatória, não nascendo, por isso, O declínio da astrologia liga-se normalmente à redescoberta do sistema
nenhuma tendência de melhoria e aperfeiçoa-mento. Era mais compensador, heliocêntrico por Copérnico, às leis de Kepler, à mecânica de Newton, à
espiritualmente falando, procurar novas relações, ainda não inventadas. As descoberta de Urano e Netuno, e, por último, e talvez mais importante, ao
piores conseqüências disso foram teorias como a que afirma que porque o sadio ceticismo do Homem moderno, à sua supervalorização aparente do
sistema solar tem sete planetas, segue-se que o corpo humano terá neces- poder da razão. Essa análise do declínio da astrologia já se encontra de tal
sariamente sete orifícios. maneira disseminada que ninguém mais se lembra de contestá-la.
A vontade de ver relações em toda parte pode ser absurda, mas não o E no entanto, com exceção da descoberta dos novos planetas, essas
será mais do que a incapacidade de as ver em parte alguma. Por exemplo, revoluções científicas não afetam em nada quer os princípios, quer a prática
um médico bastante conhecido(38), tendo se oposto às crendices que da astrologia; fato que era conhecido por Copérnico, Kepler e Newton, e,
cercavam a fabricação, pelo homem, dos primeiros utensílios de pedra, evidentemente, por qualquer pessoa que esteja familiarizada com esses
opôs-lhe, a partir de uma suposta análise das potencialidades da mão princípios.
humana, a teoria de que essa mão respondia a "forças superiores"; Durante muitos séculos — esquematicamente, desde a época das
conclusão que adiantou a serviço "da procura da verdade objetiva". Mas, a catedrais até a queda da sociedade medieval por volta do século XV — as
verdade objetiva é que, diante de raciocínios como este, os numerologistas e limitações práticas da astrologia eram menos importantes do que sua justeza
astrólogos medievais não tinham de que se envergonhar. formal. Os astrólogos estavam muito mais interessados nas inúmeras
implicações numerológicas, místicas, alquimísticas e cabalísticas de sua arte,
De fato, em certos aspectos a numerologia medieval era não só e a antiga prática romana de predizer o futuro não tinha, até então, voltado a
justificável, mas, inclusive, lógica, se considerarmos o contexto dos prevalecer para as massas.
conhecimentos físicos e médicos de que então se dispunha. O número sete Mas na onda de dissolução e caos da Europa, motivada fortemente pelo
tinha sido investido de qualidades místicas e mágicas desde tempos crescimento e poder concorrente dos Estados Nacionais, pelo desencanto
imemoriais, como síntese do Céu e da Terra, do Espírito e da Matéria, com o estado de corrupção e de manifesta desespiritualidade da Igreja, as
respectivamente simbolizado pelos números três e quatro. O folclore de profecias voltaram a grassar. Muitos dos papas da Renascença consultaram
inúmeros povos antigos está cheio de setes: as Sete Plêiades, o Dragão de astrólogos de maneira mais ou menos consciente. Melancthon, o braço
Sete Cabeças, os Candelabros de Sete Braços, as Sete Cordas da Lira de direito de Lutero, era um astrólogo fervoroso, e o próprio Lutero não se
Orfeu, as Sete Voltas das Sete Esferas. A tábua periódica de elementos, com furtou a escrever o prefácio de um trabalho astrológico de Johannes
sua estrutura de oito partes, os níveis de energia da teoria quântica não Lichtenberger — no qual declarava que os signos celestiais compraziam a
pareceriam coisas incompreensíveis ao espírito medieval, mas acima de deidade.
tudo, como prova mais evidente e conclusiva da significação simbólica do Enquanto isso, alguns poucos pesquisadores se interessavam pelo
sete está o fato de que existiam aparentemente sete planetas, o Sol, a Lua, aperfeiçoamento das técnicas astrológicas.
Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno, cada um deles com sua esfera de Johann Müller (1436/76), matemático e astrônomo, desenvolveu a
cristal, circulando serenamente em torno da Terra. teoria primária das casas, que permanecia intocada desde Ptolomeu. Foi
Müller quem, escrevendo sob o pseudônimo latinizado de Regiomontanus
(Müller era de Konigsberg), lançou
as bases da teoria das 12 casas, baseando-se em seus conhecimentos
astronômicos, e ligando essas casas aos signos existentes. A base dessa místico Nicholas de Cusa(1401/64), cujo ensinamento se baseava em
divisão tinha sido facilitada pela teoria ptolomaica de Ascendente, Médio Boethius.
Céu, Descendente e Nadir, mas foi Regiomontanus quem desenvolveu as Portanto, o sistema heliocêntrico era um dos temas de discussão dos
complexas relações matemáticas aí envolvidas. Teoricamente, a divisão em estudiosos da Renascença. Mas, coube a Copérnico a grande dificuldade de
12 casas foi aceita pelos astrólogos de toda a Europa; na prática, confirmar essa teoria pela observação.
infelizmente, determinar a posição exata de cada casa com relação aos Na verdade, as opiniões sobre astrologia — as de Copérnico ou de
ângulos é um problema que preocupa os astrólogos hoje em dia, da mesma qualquer outra pessoa — não têm a menor importância: se Marte em
maneira como preocupava então. Por diversas razões técnicas, existem Escorpião quer dizer tal coisa ou tal outra. Mas uma vez que os historiadores
tantos argumentos a favor quanto contra as diversas divisões, e embora haja insistem no fato de que os grandes vultos da ciência da época não
uma concordância, quase que geral, sobre a posição dos ângulos e o fato de condenaram publicamente a astrologia apenas por inércia, sentimento
que devem existir 12 casas correspondendo aos 12 signos, os métodos religioso recalcado ou medo da opinião pública, talvez seja útil dedicar
empregados podem apresentar uma diferença de cinco, 10 ou mais graus em algum tempo a esse assunto controvertido.
relação à posição dessas casas. Assim, uma configuração planetária forte, Treinado para ser diplomata, Copérnico era capaz de aplicar esse
que pode cair na primeira casa (representando personalidade) por uma treinamento à vida, e, conhecendo os possíveis efeitos psicológicos de suas
divisão, cairá, se se seguir outra, na segunda (que representa o apego às descobertas, sabiamente evitou torná-las públicas durante sua vida —
coisas corpóreas). E claro que isso deve fazer muita diferença na precaução que parece ter-lhe sido bastante característica. Não sabemos, por
interpretação de todo o horóscopo; e o problema dessa divisão permanece exemplo, o que Copérnico pensava da astrologia, ou do efeito que imaginava
confuso e irrespondido. sua teoria viesse a ter sobre a astrologia. Sabemos, porém, que entre seus
maiores amigos estava Joachim Rheticus (que providenciou a publicação
Assim, com um declínio do interesse pelo lado espiritual da astrologia póstuma das idéias de Copérnico), astrólogo ardente, autor de Narratio
e por um renascimento da procura de seu aspecto puramente profético — Primo (1540), livro que utilizava a teoria de Copérnico para predizer,
que, como sempre, vai encontrar uma malta de charlatães e neuróticos — as astrologicamente, a iminente Segunda Vinda de Cristo.
reais inadequações da astrologia começaram a patentear-se aos homens de Ao ser essa a inclinação de seus amigos mais íntimos, parece pouco
pensamento. Criou-se uma situação em que os piores aspectos da astrologia provável que Copérnico alimentasse uma particular hostilidade à astrologia.
ficaram a descoberto, enquanto se fortalecia uma vaga de pensadores Mas a situação é irônica. Tomando como base os estudos pitagóricos,
seculares e predominantemente intelectualistas. Esses homens eram imunes Copérnico provou idéias que tinham sido consideradas absurdas durante
ao pensamento simbólico e hierárquico, e, assim, essa astrologia de baixo quatro séculos de pensamento racional antipitagórico. E a teoria de
nível foi atacada e ridicularizada como sendo o que nunca pretendeu — a Copérnico — que realmente não trata de astrologia, mas permite, a partir de
verdadeira tradição astrológica — ser, e nunca teria sido, se a sociedade seus fundamentos, que se construam ricas teorias astrológicas — é apontada
decadente não tivesse arranjado os instrumentos que favoreciam essa como responsável pela queda da astrologia.
degradação. Ninguém mais se lembra de Joachim Rheticus. Sem dúvida, poucos
E isso, essa interpretação, está imensamente distante daqueloutra, de hoje em dia estudam o Narratio Primo. Mas, na verdade foram livros como
que Copérnico, Kepler e Newton teriam com suas descobertas destruído a este, livros de base da astrologia, os responsáveis pelo seu declínio. Não
astrologia. houve Segunda Vinda. E os céticos estavam cada vez menos inclinados a dar
crédito aos que predissessem isto.
Copérnico (1473/1543) foi, na verdade, levado à redescoberta do Galileu (1546/1642), responsável pelo triunfo público final da teoria de
sistema heliocêntrico pelo estudo das idéias pitagóricas, que veio a Copérnico, era praticante de astrologia (tornou-se famoso por predizer uma
conhecer na Itália, na escola fundada pelo teólogo longa vida ao seu então patrão, o Duque
de Toscana, que, não obstante, morreu duas semanas depois), e em lugar porque segundo eles, se ela era tão pequena que não tinha importância, não
nenhum declara que praticava apenas para ganhar algum dinheiro extra, ou existia. Em resumo, os astrólogos reagiam da mesma maneira como reagem
que pessoalmente repudiava a astrologia. Realmente, se Galileu enfrentava os cientistas de hoje em dia quando confrontados com fenômenos como o
bravamente a Inquisição para defender suas idéias, seria pouco provável ESP, ou com as infinitas estatísticas que provam que a posição do planeta no
que, dotado de semelhante coragem, guardasse apenas para si o desdém pela momento em que a pessoa nasceu vai influir mais tarde na escolha da
astrologia, se por acaso o tivesse. profissão.
Tycho Brahe (1546/1601) era um defensor declarado da astrologia, E o próprio Brahe não foi exceção. Sendo capaz de conciliar suas
embora, como astrônomo, tenha feito uma descoberta que contribuiu mais descobertas a respeito da explosão das Novas com as crendices da astrologia,
para romper a fé psicológica na astrologia do que qualquer outra descoberta nunca soube aceitar o sistema heliocêntrico de Copérnico, que combatia por
científica. Brahe provou que uma Nova que aparentemente circulasse pelo motivos teológicos; e contrariando dados incontestáveis da observação,
céu seria, na verdade, uma estrela fixa. inventou, ele próprio, toda uma nova fundamentação para a velha teoria
Desde Aristóteles, os astrólogos acreditavam que as estrelas fixas eram geocêntrica.
eternas, imutáveis, e que eram deuses. Os astrólogos sempre saudaram a Mas, com esse ato de estupidez voluntária, Brahe não só guardou
aparição de uma nova luz no firmamento com uma barulhenta abundância intactas suas crenças como também possibilitou aos historiadores o material
de predições — quase sempre fantasiosas — mas caíam num estranho necessário para classificá-lo. Apesar de grande observador e experimentador,
silêncio quando descobriam uma estrela fixa, vivendo uma vida autônoma, dotado de grande engenhosidade técnica(39), a posição anticopérnica de
morrendo de morte própria. E quando esses novos fatos eram reunidos e Brahe e sua defesa da astrologia fizeram dele um marginal da Ciência — não
opostos à astrologia pelos que a combatiam, os astrólogos, silenciosamente, um verdadeiro cientista, mas um homem de transição. Com o declínio da
passavam ao largo dessa interpelação. O esquema astrológico medieval, autoridade de Aristóteles e Ptolomeu, e com o surto da experimentação,
baseado em princípios numerológicos e astrológicos, era especialmente nasceu um novo período do conhecimento humano. A completa liberdade de
vulnerável, uma vez que tanto os seus cultores quanto os seus detratores o investigação, sem limitações religiosas, levou muitos séculos para se
interpretavam literalmente, não simbolicamente. Os fatos mudam, mas os firmar...(40) Quer dizer, os homens ainda não tinham chegado ao ponto de
princípios são eternos; os átomos e as galáxias se desintegram, mas os exacerbação da curiosidade (a mesma que matou o gato) em que o exercício
princípios harmônicos sobre os quais eles repousam permanecem. Apesar dessa inteligência curiosa viria a ser mais importante que o verdadeiro
de nosso espírito não ser sempre capaz de aceitar isto de boa vontade, sendo conhecimento; a indiferença aos valores — chamada "liberdade intelectual"
a história do pensamento, no fundo, a resenha da tentativa do homem de — não tinha ainda suplantado o interesse por esses mesmos valores. Não se
racionalizar o que deveria, na verdade, entender. cogitava, ainda, de implantar duas cabeças num cachorro, apenas para ver se
Na época de Brahe, a massa dos que acreditavam em astrologia — e dava certo.
era quase todo mundo — como os próprios astrólogos, criam que a Pode classificar-se Brahe, tranqüilamente, não-cientista. Mas, seu
astrologia era o efeito de causas que agora podiam ser consideradas sucessor no Observatório de Praga, Johann Kepler (1571/1630), continua
ilusórias; a hierarquia literal das sete esferas, a literal imutabilidade e mantendo os cotovelos fora dessa jogada. Kepler fez observações e
divindade das estrelas fixas, e assim por diante. experiências, e deixou-as caírem onde deviam cair. Mas era, ao mesmo
Confrontados com os resultados das descobertas de Copérnico e tempo, um homem intensamente religioso, um neoplatônico fervoroso, cujas
Brahe, a maioria dos astrólogos virava as costas, escondia a cabeça na areia investigações científicas eram apenas parte de um esquema de investigação
ou simplesmente as acusava de fraude, ou simplesmente as racionalizava para justificar, empiricamente, a harmonia das esferas.
— por exemplo, os astrólogos que se recusavam a registrar a existência da Uma vez que seu salário dependia do Imperador, e como o Imperador
Lua e de Júpiter, tinha outras idéias na cabeça e não gostava de ser secundarizado, Kepler
estava em permanentes apuros financeiros.
Para remediar suas rendas inconstantes, escrevia almanaques astrológicos, A atitude de Kepler em relação à astrologia é inteiramente consistente
prevendo os principais acontecimentos dos anos seguintes, estabelecendo e foi suficientemente bem demonstrada pela passagem citada acima: "Uma
horóscopos pessoais; embora encarasse ambas as coisas como perda de experiência sempre renovada... atraiu, inconscientemente, o meu
tempo. "A astronomia, mãe sábia" — comentava — "a astrologia, a filha entendimento..."
inculta e tola, vendendo-se a qualquer cliente que possa e queira pagar o "
Agora que podemos dizer que Kepler passou pelo crivo da nossa
suficiente para manter sua mãe sábia vivendo." critica" — continua Graubard — "torna-se claro que a sua atitude em
Acabasse aqui o assunto e os estudiosos poderiam atribuir o interesse relação a essa matéria é inteiramente inconsistente... E evidente que os
de Kepler pela Astrologia ao simples acaso, à necessidade; mas, o assunto aspectos que ele aceitava foram herdados do passado cultural que o formou,
não acaba aí. e sua inclinação por eles decorre da harmonia que mantém frente à sua
"A experiência cada vez mais confirmada (tanto quanto pode exigir-se personalidade."
das coisas da natureza) que demonstra o caráter de excitação das naturezas E também evidente que Kepler, falando de si próprio, dá-nos a
sublunares com relação às posições planetárias atraiu, inconscientemente, o entender, exatamente, o contrário. De acordo com Kepler, ele foi, de início,
meu entendimento. "(41) Kepler repetidas vezes escreveu a amigos cético em relação a toda a astrologia, e só depois de praticá-la achou que ela
declarando sua intenção de separar o joio do trigo. Assegura que a pressa atraía, "inconscientemente, o seu entendimento". Era contra a crença e o
de alguns teólogos, filósofos e médicos em, muito acertadamente, rejeitar apego cego à astrologia — isto sim, herança do seu tempo — que ele se re-
as superstições da astrologia pode acabar jogando a criança junto com a voltava e se batia.
água suja. E declara: "Nada acontece nem existe no firmamento estrelado A experiência e a observação não são, por si mesmas, nenhuma garantia
que não se reflita de maneira secreta na Terra e na Natureza: as faculdades de objetividade(*). Os homens vêem o que querem ver. E as maiores
dos espíritos deste mundo são afetadas da mesma maneira como o céu descobertas da Ciência freqüentemente resultaram da visão lúcida de um
é"(42). E no entanto, é sobre essas bases que estudiosos de Kepler, como único homem, num terreno já existente, mas que o restante das pessoas não
Mark Graubard, conseguem escrever: conseguia ver. E, portanto, possível que Kepler tenha tentado
desembaraçar-se de várias décadas de prática astrológica. Mas, os cientistas
A atitude de Kepler em relação à astrologia é tão inconsistente, irracional e e historiadores da Ciência valorizam a experiência como se fosse o único e
ambivalente quanto costumam ser as atitudes de pessoas que vivam períodos de transição mesmo o melhor método de adquirir conhecimentos. Kepler foi um dos
em relação a instituições decadentes... Além de ser um grande matemático e astrônomo, e
um obstinado e profundo filósofo religioso, Kepler era um grande místico, um sonhador, maiores cientistas, um homem que compreendia perfeitamente o valor da
uma personalidade ingênua, sem um pingo de maldade, mesquinhez ou insinceridade. experiência e da observação. Fez sua vida através da prática da astrologia, e
Muito da astrologia é misticismo, poesia e harmonia, para ele, e não, por nenhum depois de lidar algum tempo com ela chegou à conclusão de que alguma
artifício de raciocínio, lei natural... Ele lida com a astrologia porque ama o seu folclore... coisa havia nela que o atraía. Os cientistas e historiadores da Ciência nunca
Mas, seus esforços são os de um animal subjugado à canga, ou, mais propriamente, os de
um homem preso às suas crenças.(43)
elaboraram um horóscopo. No entanto, com essas bases precárias,

(*) Ver L. Johnson Abercrombie, The Anatomy of Judgement. O autor, um psicólogo,


Mas, as figuras de retórica do Sr. Graubard, embora apenas demonstra que os estudantes de ciências, quando aprendem a ler uma chapa de raios X, não
complementares, chocam-se entre si. Um animal submetido à cangalha luta conseguem distinguir entre o que realmente está sendo mostrado e o que pensam estar vendo.
porque sabe que está preso. Um homem preso por suas crenças nunca luta, E interessante notar que a primeira reação dos estudantes, quando confrontados com provas
simplesmente porque não sabe que está preso. O homem que cai na que avaliam a extensão dos prejuízos em sua apreciação dessas chapas, são a surpresa e a
raiva. Só depois de um treinamento longo — e trabalhoso — conseguem algum nível de
armadilha de suas próprias convicções sempre se considera um homem objetividade. E isso, é bom lembrar, refere-se à capacidade de ler raios X, que deve ser uma
livre, iluminado, sensível e progressista, e quando não está citando Galileu atividade. absolutamente desapaixonada.
nem empunhando cartazes que pedem reformas sociais, pode ser encontrado
trabalhando duramente em coisas como as que acabaram de ser citadas.
chamam Kepler de "inconsistente, irracional e ambivalente", alegrando-se
pelo fato de que os homens modernos não vivam mais na era da superstição e
da ignorância.
...como cosmovisão séria e objetiva, exigindo e absorvendo o concurso das melhores
inteligências, a astrologia está morta. Se se perguntar qual a causa do destronamento da
astrologia, a resposta estará no avanço das ciências e nos progressos da pesquisa em todos os
setores. A astrologia nasceu num mundo geocêntrico, e a revolução copernicana feriu-a de
morte. As predições dos astrólogos não sobrevivem ao teste da experiência. A pesquisa, no
que diz respeito à História das Idéias, mostra com que facilidade elementos sãos de
conhecimento podem misturar-se com noções ilusórias para formar um sistema aparentemente
coerente, no qual o intelecto pode submergir por algum tempo.(44)

Figura 10. Projeção ortogonal. Órbitas de Marte, Terra, Vênus e Mercúrio em torno do Sol.
Figura 9. Segundo Kepler, as órbitas dos planetas circunscrevem os sólidos perfeitos.
A astrologia em desgraça
O golpe de morte que Copérnico aplicou à astrologia foi tão terrível
que seus principais continuadores, Kepler e Galileu, foram astrólogos O declínio da astrologia foi um caso complexo. Mas, se lidarmos com
praticantes! De alguma forma poder-se-ia questionar, sem desrespeito, o ela em três níveis — (1) astrologia espiritual e simbólica, (2) astrologia
alegado "processo geral da pesquisa" senão o da própria Ciência.(*) psicológica e médica (3), predição da sorte — podemos conseguir um
quadro mais claro.
As descobertas astronômicas de Kepler (as órbitas elípticas dos
Desde Ptolomeu, ninguém mais dera importância à questão básica da
planetas e as razões entre suas distâncias) foram parte do trabalho de toda a
astrologia: o como? Na Europa Medieval, isto não tinha importância; a
sua vida, dirigido no sentido de aprovar literalmente a noção pitagórica da ênfase era dada ao aspecto espiritual, não ao aspecto físico das coisas. Para
harmonia das esferas. Seu objetivo era provar que as distâncias entre os o pensamento medieval, o simbolismo astrológico era um instrumento de
planetas podiam ser relacionadas com os sólidos perfeitos (ver figuras 9 e
conhecimento. Era tanto um sistema de conhecimento quanto uma chave
10), que, por sua vez, manteriam relações harmônicas entre si — relações
para penetrar na natureza do universo. Para utilizar esse tipo de astrologia, é
que não deveriam ser meramente casuais, mas verdadeiras chaves para a
necessário raciocinar em termos de níveis.
significação desses planos e formas(45). Usando cálculos matemáticos No tempo de Kepler, essa habilidade tinha-se esgotado. Em princípio,
extremamente complexos, Kepler procurava demonstrar e calcular o som os procedimentos experimentais deveriam andar lado a lado com a
exato que cada planeta provocava em suas circunvoluções, afirmando que
especulação teórica. Na prática, o mundo ocidental tornou esses dois
esses sons podiam ser ouvidos pelo Sol, que permanecia na sua posição de
elementos largamente excludentes. Kepler foi um dos poucos a harmonizar
corporificação do Princípio Divino. E quando pensou ter descoberto a chave
os dois princípios, mas a maré já estava baixando, e ninguém mais seguiria
desse complexo sistema, exultou, acreditando ter redescoberto a sabedoria
o seu exemplo. A religião estava recaindo no Fundamentalismo (a crença no
dos antigos egípcios; detalhe interessante, pois demonstra que Kepler sabia, sentido literal das Escrituras), catolicismo dogmático e vários sistemas
ou pensava, que os egípcios conheciam essas relações. éticos vazios. O princípio espiritual desapareceu; não se tornou exatamente
Ao ser este o seu objetivo, não é de estranhar que Kepler recorresse à subterrâneo, voltando ao tempo das catacumbas, mas contradizia,
elaboração de horóscopos para financiar seu trabalho. Mas, desde que a flagrantemente, a tendência intelectual da época. (Dominação de grupos de
citação da "filha tola"(**) é apresentada como evidência do desprezo que rosa-cruzes, alquimistas, maçons — por pouco que tenham conservado da
Kepler votiva à astrologia, ninguém mais se lembrou de que a Astronomia tradição; Boehme, William Law, Fénelon, Swedenborg, Goethe.) Mas, à
kepleriana era uma astronomia de bases pitagóricas; não se tratava do parte algumas poucas pessoas, ninguém estava interessado ou era capaz de
desejo de alcançar fatos cada vez mais distantes e sem significado, mas o entender o simbolismo astrológico. Passou-se a exigir dos astrólogos uma
esforço de descobrir os princípios que fundamentam esses fatos. E para boa explicação material para a astrologia, coisa que não podiam fornecer,
tanto era preciso, antes de mais nada, descobrir os fatos relevantes. Em não por falta de boas idéias. Uma antiga teoria, por sinal muito respeitada,
resumo, a astronomia de Kepler não era o que um astrônomo moderno afirmava que os astros influenciavam a vida na Terra através do orvalho —
chamaria de astronomia: era astrologia. líquido persuasivo que cairia das estrelas durante a noite, afetando tudo que
tocasse; as diferentes influências — positivas ou negativas, desta ou daquela
natureza — seriam determinadas pela posição dos astros.
(*) Do ponto de vista psicológico, a última parte da frase citada acima é importante, pois seu
Com a descoberta da teoria da condensação, essa explicação foi
autor é um teórico marxista. abandonada.
(**) Na verdade, a palavra que Kepler empregou foi buhlerische que significa prostituída Outra noção, mais séria, que prevaleceu até o século XVI, afirmava
ou rebaixada, e não tola, ignorante. Mas, já que várias gerações de estudiosos de Kepler que os astros exalavam determinados vapores, um vento que a criança, ao
traduziram buhlerische por tola, consideramos que seria uma falta de respeito quebrar a nascer, inalava, como se fosse uma espécie
tradição.
de alma. Uma vez descoberto o fato de que a atmosfera nem chega até os Em pouco mais de um século, a astrologia transformou-se, de trabalho
demais planetas, essa teoria foi igualmente abandonada. sério que era, praticado pelas melhores inteligências da época, em jogo
Os astrólogos da Renascença explicaram a astrologia nos termos da vazio de significado.
ressonância musical: da mesma forma como um copo vibra numa sala em John Dee (1527/1608), astrólogo, mágico, ocultista e precursor das
que se toque um violino num determinado tom, assim também a alma vibra experiências no campo da ESP, foi o respeitado conselheiro e confidente da
com a música das esferas. Isto não é, evidentemente, uma explicação, mas Rainha Elizabeth. No entanto, já em 1638 a astrologia tinha-se tornado tão
uma analogia, e os intelectuais dos séculos XVII e XVIII não lhe dariam a sensaborona, pelo menos na França, que o astrólogo Morin de Villefranche
menor importância. (Vamos ver, porém, que mais tarde esta idéia teve um teve de esconderse atrás das cortinas para registrar o momento exato do
certo ressurgimento.) Mas, os astrólogos não podiam explicar como sua nascimento de Luís XIV. Na geração anterior, a tradição ter-lhe-ia conce-
astrologia funcionava melhor do que os músicos podiam fazer em relação à dido o lugar de honra, acima mesmo do médico... mas os franceses sempre
sua música, e o espírito do tempo era tal que permitia aos músicos seguir foram muito suscetíveis às coisas da razão, como sua história passada e
adiante sem incomodá-los com perguntas, mas de forma alguma estaria dis- recente demonstram. No tempo em que John Aubrey escrevia (1626/97), era
posto a permiti-lo à astrologia. preciso assumir um tom defensivo quando se dava qualquer opinião
Kepler tinha avisado o crescente grupo de céticos de que não jogassem favorável à astrologia: "Ainda não aperfeiçoamos esta ciência ao ponto em
a criança fora, junto com a água suja. Porém, poucos estavam dispostos a que seria desejável. O caminho para essa perfeição deve incluir uma
ouvir, e havia uma quantidade imensa de água suja. A astrologia, no seu coleção de horóscopos baseados no verdadeiro instante do nascimento,
nível psicológico e médico, era essencialmente ptolomaica. Apenas dois como os que trabalhosamente recolhi e ofereço a seguir..."(47)
refinamentos metodológicos — e ambos discutíveis — tinham sido O aporte empírico de Aubrey foi admirável, mas ninguém trabalhou
agregados a essa astrologia. Um foi a contribuição de Regiomontanus sobre sobre ele; e, mesmo que não fosse assim, nada teria resultado daí: a
a divisão em 12 casas, outro era a afirmação kepleriana de que as bases aplicação do método estatístico à astrologia é um assunto muito delicado,
harmônicas das relações astrológicas exigiam uma explicação lógica. Quer bastante além das possibilidades do século XVII.
dizer: se o ângulo de 90 graus (correspondente à quarta relação harmônica) Por outro lado, quando o prestígio da astrologia começou a declinar não
era um símbolo de atividade, então suas frações e múltiplos harmônicos, apareceram mais astrólogos realmente brilhantes. Sem dúvida, para cada
como os ângulos de 45 e 135 graus, deveriam ser também pontos sensíveis, Kepler aparecem mil astrólogos charlatães e sem conteúdo, mas, mesmo
cabendo englobá-los na mesma interpretação. Mas, esses eram assim, o século XVI deu um sem-número de pessoas eruditas e sensíveis,
melhoramentos mínimos, em vista do caráter nebuloso da doutrina que, como praticantes de astrologia, conseguiram grande reputação.
acumulada.(46) Também não se deve esquecer que essa espécie de predição da sorte conta
Incapazes de explicar o funcionamento da astrologia, os astrólogos mais sempre muito com a predisposição favorável do paciente.
honestos e menos entusiásticos tiveram de reconhecer que ela não A mais difundida de todas as profecias astrológicas — a predição de um
funcionava muito bem, e que para fazê-la trabalhar não era requerido a dilúvio de proporções em decorrência da conjunção de todos os planetas em
Ciência (que por definição pode ser ensinada a todos e cada um), mas senso Peixes, em 1524 — não se concretizou. As coroas e toda a Europa passaram
artístico; no fundo, era a interpretação que contava, e nessas bases era um ano de tensão mas nada aconteceu, e permitiu-se que os astrólogos
impossível chegar-se a um resultado conclusivo. Em resumo, embora o continuassem suas profecias. Mil quinhentos e oitenta e oito estava previsto
conselho de não jogar o nenê fora junto com a água suja pudesse ser muito para ser um ano particularmente catastrófico. No entanto, fora a derrota
justo, na prática era impossível distinguir categoricamente o que era bebê e o espetacular da Armada espanhola (que, de resto, foi catastrófica apenas para
que era água suja. a Espanha), nada mais aconteceu. Mas, os astrólogos não foram despedidos
de seu emprego. Porém,
80 anos depois, o último dos grandes astrólogos, William Lilly, predisse, tipo, o que não é verdade. O interesse de Newton pela alquimia nunca
específica e acuradamente, tanto a grande peste quanto o grande incêndio, esmoreceu, e sua vida foi mais dedicada a pesquisar o que hoje seria
que assolaram Londres sucessivamente nos anos de 1665 e 1666. E tudo chamado de "ocultismo" do que o 'que hoje se chamaria "ciência". Quando
que conseguiu foi ser levado à presença da Câmara dos Comuns como jovem, sem a menor dúvida, estudou astrologia. "O último ano de
suspeito de ter provocado os desastres. aprendizado de Newton levou-o ao interesse pela Matemática, uma vez que
Homem culto e sob muitos aspectos notável, Lilly incluiu a passagem reconhecia que seus estudos de astronomia e, como ele próprio admitiu,
que se segue na sua Epistle to the Student of Astrology, que, juntamente astrologia só poderiam desenvolver-se à luz da matemática moderna.(49)
com as investidas incessantes de Kepler, podem traçar para nós um quadro Essa divisão de trabalho pode ter revertido em perda para a Ciência,
realista da astrologia em seu declínio: mas não representou nenhum ganho para o ocultismo. Apesar de todo o seu
Sê humano, cortês, familiar com todos; de trato simples e fácil; não aflijas os miseráveis
brilhantismo matemático, Newton nunca se apercebeu do princípio dos
com o terror de um julgamento severo; anima essas pessoas a confiarem em Deus, a pedirem "níveis"; era devotamente religioso, mas sua religião era uma variação
clemência e justiça em Seu julgamento: sê civil, sóbrio, não procures posições; dá livremente mitigada do fundamentalismo. Nunca é, porém, demais repetir que, se
aos pobres tanto o teu dinheiro quanto os teus conselhos; não permitas que as potências Newton pode não ter professado abertamente a astrologia, o fato é que
terrenas façam de ti um mau juízo, ou um que possa desonrar a Arte. nunca a condenou. A revolução copernicana já estava velha um século e
Daí, podemos concluir, justificadamente, que os astrólogos da época meio, e no entanto Newton, a maior inteligência científica da época, não
faziam normalmente tudo que Lilly aconselhava os estudantes a não afirmava que Copérnico, ou qualquer de seus seguidores, inclusive ele
fazerem. No entanto, o exemplo de Lilly não inspirou nenhuma nova escola próprio, tivesse declarado que a astrologia estava morta.
de astrólogos iluminados e justos. E, sem defensores de estatura intelectual
considerável, o declínio tornou-se inevitável. Os estudiosos modernos Na falsa aurora do Iluminismo, as pessoas acreditavam que pelo
podem atribuir tudo isto "aos progressos da Ciência e da pesquisa", mas simples exercício solitário da razão todos os problemas seriam resolvidos.
nesse caso fica aberto o fato de que, se, por volta de 1685, realmente a A razão não podia atingir o Reino dos Céus (que as Escrituras declaravam
maioria das pessoas das classes educadas era oponente ou altamente cética não estar nem aqui nem além, mas em toda parte), e portanto, dispensou
em relação à astrologia; preocupavam-se bastante com as bruxas... Havia ou esse Reino como ilusão dos primeiros homens. Em vez dele, a Razão
não havia bruxas? O chefe de Polícia, Hale, declarou que, evidentemente, erigiria um reino semelhante, democraticamente, aqui mesmo, na Terra;
havia, uma vez que existiam leis contra elas. Outros não tinham tanta crença que, levada a seus extremos lógicos, culminou com a Iluminação
certeza. Pelo sim pelo não, grande número de bruxas foi condenado e posto mística de Hiroxima.
na fogueira. E foi neste clima de progresso científico que Newton publicou Entre esses primeiros defensores da Razão, nenhum era mais
o seu Principia Mathematica (1687), obra que — afirma-se —destruiu a altissonante que Jonathan Swift, e ninguém revelou maior incapacidade de
astrologia de uma vez por todas.(48) aplicar esse princípio à sua própria existência. No seu nível mais baixo, a
E
curioso, porém, que esse corolário da sua obra não tenha ocorrido ao astrologia é tanto irracional quanto ininteligível. Quando Swift subiu à
próprio Newton, que cita inclusive uma anedota célebre nos círculos cena era esta a astrologia que estava em evidência — e, mesmo que fosse a
astrológicos. Conta-se que certa vez o astrônomo Edmond Halley reprovou de nível superior, deveria ser igualmente incompreensível para ele,
a Newton a sua alegada defesa da astrologia, ao que Newton teria igualmente seria matéria de irrisão e anátema.
respondido, alegremente: "Eu estudei o assunto, Sr. Halley, e o senhor não." Porém, aconteceu que um astrólogo popular, de nome Partridge,
Aparente-mente, não há evidências de que provem a veracidade desta lenda. incorreu nas desgraças da Coroa. E tomando o nome de Isaac Bickerstaff,
No entanto, os historiadores afirmam, com diferentes graus de indignação, Swift publicou um almanaque concorrente, prometendo ir mais longe em
que Newton era imune a interesse desse suas profecias que os profetas pusilânimes da época. Prometeu que evitaria
as generalidades
dos astrólogos correntes, publicando, ao invés, profecias concretas e obrigado a, dois meses mais tarde, desafiar o Duque para um duelo, que
minuciosas. Por essa época, os sentimentos antifranceses andavam certamente o filósofo teria perdido. Mas, na manhã do duelo, foi
exaltados (1708), e Bickerstaff predisse a morte da maioria dos Grandes de providencialmente preso e mandado para a bastilha (por algum panfleto
França. Entre essas profecias, estava a da morte de Partridge, o astrólogo antigo), salvando por pouco a vida, o que lhe permitiu vir mais tarde a
rival, que deveria ocorrer no dia 29 de março de 1708. descompor os pobres astrólogos, por não terem sabido chegar mais perto
Partridge, que não tinha desenvolvido seu espírito de cooperação a da realidade...
níveis tão drásticos, passou muito bem o dia fatal. Mas, Bickerstaff negou- Dois séculos antes; essa história seria contada de um lado da França
se a reconhecer o fato, e publicou uma manchete com o seguinte título: ao outro, como prova de boa profecia astrológica.(50)
Narrativa da Morte do Sr. Partridge, o Escritor de Almanaques, no No século XV, as pessoas teriam acreditado em tudo que dissesse
Vigésimo Nono Instante, Numa Carta de um Oficial Recém-Chegado, respeito à astrologia; nos séculos XVIII e XIX, não acreditavam em mais
a uma Pessoa de Honra. nada. E, embora não venhamos aqui defender a astrologia profética —
Partridge publicou uma réplica furiosa, mas em vão. A história tinha estatisticamente, a porcentagem de acertos deve ser irrisória — ao longo de
ganho vida própria, e as pessoas se recusavam a acreditar no morto sua história registraram-se tantas predições agudas pormenorizadas e
presumido, quando vinha de público alegar sua sobrevivência. Podia passar certas, que, incluí-las todas na categoria das coincidências, é indefensável
a mendigar daí por diante, porque no Stationer Hall a predição de e um tanto absurdo. Por exemplo: na corte austríaca de Maria Teresa, o
Bickerstaff tinha sido tomada a sério, e o nome de Partridge riscado de astrólogo oficial ainda encontrava seu lugar. No nascimento de Maria
todas as listas. Foi literalmente afastado, pelo descrédito público, do Antonieta (no mesmo dia do terremoto de Lisboa, 1740), a leitura do
exercício de sua profissão (embora tenha voltado, alguns anos mais tarde, horóscopo foi tão negra que as festas que normalmente se seguiam ao
sob pseudônimo, com um novo almanaque). E enquanto ninguém nascimento de uma princesa real foram suspensas, e a corte inteira
conseguia entender Newton, Swift era devorado sem problemas, o que mergulhou na desolação. E, de fato, em toda a história encontraremos
levou a astrologia a um absoluto descrédito, impedindo sua entrada nas poucos personagens cuja vida tenha sido tão desgraçada e infeliz quanto a
rodas cultas. de Maria Antonieta. E, no entanto, esta anedota é citada por Hilaire Belloc
Na França, ocorreu um processo semelhante, e o toque final foi dado para ilustrar o atraso intelectual da, corte de Maria Teresa, ainda presa a
pelo parceiro de Swift, Voltaire, outro que se esforçava denodadamente essa superstição superada que é a astrologia — o que é como se se
para manter a propaganda da razão separada da sua prática. condenasse a Medicina como fraude, citando como prova todas as pessoas
Dois astrólogos, o Conde de Boulainvillier e um astrólogo profissional que foram por ela curadas.
chamado Colonne, tinham predito a morte de Voltaire aos 32 anos. E uns
34 anos depois dessa profecia Voltaire, numa carta pública, pede desculpas
a esses senhores por ter frustrado suas melhores esperanças. Como esgrima
literária, faltou a essa tirada o excepcional engenho do ataque de Swift,
mas bastou para pôr toda a França culta a rir, impedindo, daí por diante,
que a astrologia fosse sequer cogitada como coisa séria por lá.
Voltaire se esqueceu, porém, de dizer que, com a idade de 32 anos,
exatamente a prevista por ambos os astrólogos, foi insultado pelo Duque de
Rohan, replicando com sua tradicional ironia, o que lhe valeu um par de
bastonadas, aplicadas por um valete daquele nobre, sob seus olhos
complacentes e participantes. Não tendo quem tomasse seu partido,
Voltaire viu-se
4. A Bela Adormecida Acorda
descendente de Swedenborg, da alquimia e de fragmentos do ensinamento
tradicional). nunca excluíram a astrologia de suas cogitações. O famoso e
acatado psicólogo Fechner (1801/1887) afirmava que os planetas tinham
Durante dois séculos, as teorias de Newton foram tão eficazes em dar
"alma", não se reduzindo à soma de seus elementos materiais — ponto de
solução aos problemas mecânicos, que se passou a pensar que todos os vista que não foi recebido com muita simpatia. Um cientista chamado
problemas admitiriam, em última análise, uma explicação mecânica. E, Schleider, numa réplica intitulada Fantasias Lunáticas de um Filósofo da
embora essa noção fosse acalorada e eficazmente combatida por uma série Natureza (1857), refutou violentamente:
de pensadores — especialmente por Goethe (1749/1832), cujos trabalhos
científicos normalmente não são conhecidos porque se familiarizou Exceto as forças da gravidade, da luz e do calor, não temos conhecimento de
especialmente por sua reputação literária (51) — prevaleceu até o século nenhuma outra que chegue à Terra proveniente de qualquer corpo celeste. Todas as nossas
XX, quando os físicos demonstraram seu erro mesmo do ponto de vista da investigações científicas, a Astronomia e a Física com suas extraordinárias capacidades de
observação e experimentação, não nos permitem vislumbrar o menor traço de semelhante
Física.
influência. Portanto, hoje em dia nenhuma opinião contrária a esses princípios científicos
No entanto, apesar de firmemente enraizada nessa Cosmologia pode ser aceita por seres razoáveis. Os sonhadores, no entanto, e os tolos podem conspirar
newtoniana errada (os cientistas cometeram erros; as outras pessoas são com os lunáticos contra a integridade da inteligência humana.(52)
supersticiosas), a astrologia já tinha sido afastada da consideração dos
doutos muito antes da descoberta científica que realmente abalou sua teoria E hoje, num mundo de raios cósmicos, de raios X, de raios gama,
e sua prática: a descoberta de Urano por Herschel em 1787. alimentado por baterias de prótons, vivificadas pelos raios solares,
De todas as provas que a natureza oferecia de estar alicerçada sobre explorando os campos sempre verdes das pradarias eletromagnéticas
uma base sétima, nenhuma tinha sido tão convincente para a mentalidade interplanetárias, também não há outra alternativa para o homem de boa
medieval quanto a existência de sete planetas. Embora a revolução razão: a de reconhecer que os homens bem informados do século passado
copernicana tenha provado que a disposição dos sete era arbitrária, e servia deveriam ter sido mais cuidadosos ao exprimirem a sua única alternativa
apenas aos interesses do geocentrismo, sempre continuavam existindo possível.
sete, sem contar a Terra, o que satisfez aos astrólogos, sem exigir nenhuma Porém, os homens bem informados prevaleceram um século atrás, e o
revisão da astrologia. A descoberta de Urano, seguida da de Netuno e interesse pela astrologia refugiu-se a um mínimo; mas não deixou de
Plutão, certamente não invalida o princípio da influência, mas abre a existir, uma vez que a coletânea de mil páginas de E. Sibly, intitulada
discussão em todos os níveis possíveis, e os problemas levantados por essa Astrology, foi publicada no fim do século XVIII, republicada em 1812 e
discussão permanecem em aberto até hoje. mais uma vez impressa em 1826; grupos de cavalheiros interessavam-se de
Durante todo o século XIX, a astrologia foi considerada morta. Mas, maneira sumária, mas nem sempre superficial pela astrologia e demais
apenas se encontrava num estado de suspensão animada. Enquanto a ciências ocultas, e é bem possível, embora não possamos oferecer nenhuma
astrologia popular e psicológica praticamente desapareceu. com exceção evidência disto, que grupos ou mesmo indivíduos isolados, em alguma
dos poucos escritores de almanaque e ciganas — manteve-se um interesse parte da Europa, estivessem manuseando a sabedoria proveniente do tempo
localizado, mas intenso, pelo nível pitagórico da astrologia. O próprio das catedrais. O máximo que se pode dizer neste sentido é que dificilmente
Goethe deu-se ao trabalho de pesquisar o momento exato de seu se arquitetariam exposições tão completas e documentadas sobre aquela
nascimento; estabeleceu horóscopos, parece que os considerou de alguma época, como as de Schwaller de Lubicz e René Guenon, assim, do ar.
valia, e mostrou satisfação por constatar a coincidência entre sua casa solar Embora seja científico explicar um mistério atribuindo suas causas à
(a quinta de Virgem) e a casa lunar de Christiane Vulpius, sem dúvida a "coincidência", seria romantismo pueril defender tese de. que uma tradição
mais importante de suas amantes. E os seguidores do trabalho científico de esotérica espere para vir à tona apenas qando o tempo estiver maduro para
Goethe (ele próprio ela — mas isto sempre será uma possibilidade(53).
O renascer da astrologia, entretanto, se deve a causas mais palpáveis. de pais poderosos e ricos na Rússia, revelou, ainda criança, grandes dotes
O filósofo positivista Augusto Comte observa, em alguma parte de sua psíquicos. Com 17 anos, casou-se com o General Septuagenário Nikifor
obra: "A qualidade não tem importância; o único critério válido é o da Blavatsky, que lhe conferiu seu honrado nome, lhe deu condições legais de
quantidade (ou outras palavras que quisessem dizer a mesma coisa)." Essa abandonar o lar paterno, e depois, ao que tudo indica, se evaporou.
afirmação é em si mesma um julgamento de valor, qualitativa, portanto, Dessa época em diante (1848), Madame Blavatsky percorreu o mundo
logo, nos termos comtianos, sem importância; mas, à essa não-importância, procurando conhecimentos esotéricos. Permaneceu algum tempo no Egito,
deve ser analisada com atenção, pois é o verdadeiro moto da moderna onde os desconhecidos Irmãos de Luxor iniciaram-na em seus mistérios.
sociedade industrial, a sociedade dos nossos dias. Em 1855, foi ao Tibete, até então virtualmente interditado aos estrangeiros
Essa filosofia e a maneira de viver que ela engendrou geraram a revolta (essa viagem parece ter sido autenticada por fontes externas), estudando
literária e artística conhecida como romantismo, que não passava de parte durante sete anos com os Lamas. Do Tibete seguiu para a Índia, onde
de um processo global embora pouco coordenado de progresso que veio também estudou.
trazer um despertar de interesse por coisas consideradas "sobrenaturais". Sua aparição na América causou grande sensação e uma propaganda
Manifestação específica deste fato era o grupo de pessoas que se desenfreada, que, apesar de excessiva, permitiu que se reunissem em torno
reuniam, por volta de 1850, na casa de um certo Senhor Fox, para estudar dela os esforços disseminados e mal orientados do espiritismo.
fenômenos espíritas. Tratava-se de uma aproximação assistemática de Em 1875, com seu discípulo Coronel Olcott, fundou a Sociedade
fenômenos cujo estudo é hoje em dia mui respeitosamente chamado Teosófica, que rapidamente se espalhou por todo o mundo. Enquanto isso,
"
parapsicologia". Mas, no tempo de Fox o baralho de Zener ainda não tinha Madame Blavatsky jogava todas as suas energias na divulgação de sua
sido imaginado, e as sessões familiares daquela casa se desenrolavam entre doutrina, combatendo feroz e sistematicamente a hoste de seus detratores, e
guias espirituais, ectoplasmas, ataques misteriosos e todo o resto. ainda encontrando tempo para publicar suas volumosas obras Isis Unveiled
Quanto dessas experiências eram verdadeiras é difícil de se dizer. (1877), The Secret Doctrine (1888) e uma série de trabalhos menores, com
Porém, nem tudo era falso, e o espiritismo atraiu um sem número de os quais conseguiu um público fixo.
pessoas educadas e instruídas. Pessoalmente, achamos o discurso interminável de Blavatsky sobre
Por volta de 1873, o interesse por esses assuntos tinha atingido o auge "iniciados" e "adeptos" repelente, e não confiamos em suas fontes. Embora
na América e na Europa. Mas o espiritismo não era um movimento, nem concedendo, com muito boa vontade, que ao longo da história ensinamentos
uma filosofia ou religião; era mais uma reação emocional contra a qual o especiais tenham sido reservados para possibilitar a seres especiais o
materialismo pretendia ter todas as respostas(*), apesar de propiciar tão cumprimento de tarefas especiais, não acreditamos que Madame Blavatsky
pouca satisfação. tenha sido uma dessas pessoas. Ao tentar forjar uma síntese das grandes
E nesse ambiente emocional e criativo, com toques de fanfarras tradições do mundo, Blavatsky conseguiu elaborar uma terrível miscelânea.
apareceu Madame Blavatsky — declarando que tudo que se tentava fazer por Não obstante, era uma mulher de grande capacidade de estudo e poder
esse caminho estava errado, mas que ela possuía todas as respostas, pessoal, e alguns dos ingredientes da sua mistura são autênticos.(*)
encontradas duramente na tradição egípcia, tibetana e indiana.
Helena P. Blavatsky (nascida Hahn) (1831/91) tinha nessa época 40
anos e uma história, que, conhecida apenas nos detalhes que ela
escolhidamente revelava, era bastante exótica. Nascida (*) Quando já se acreditava que os maiores problemas estivessem resolvidos, o Professor
Philip Spiller contrariou a concepção quase unânime sobre a estrutura da matéria: "Nenhum
dos materiais constituintes de um corpo, nenhum átomo são originariamente dotados de
(*) O químico Berthelot afirmou, em 1888, que a Ciência já havia descoberto tudo que se força, mas cada átomo é absolutamente morto, sem nenhuma capacidade intrínseca de agir a
devia descobrir; restavam apenas alguns detalhes. Lord Kelvin expressou uma opinião distância."
semelhante.
É a Madame Blavatsky e ao Movimento Teosófico que ela fundou que distância entre essas partículas em vibração são — falando num outro nível — tão grandes
quanto as que existem entre flocos de neve ou pingos de chuva. Mas, para a Ciência será um
se deve o renascimento da astrologia. "Sim, o nosso destino está escrito nos absurdo. (55)
astros!... Isso não é superstição, muito menos fatalismo... Está
definitivamente provado que os horóscopos e as profecias não são Esse esquema conceitual era particularmente valioso, pois parecia
arbitrários, e que, conseqüentemente, as estrelas e as constelações têm responder às questões mais embaraçantes; e, de qualquer forma, a atração
influência sobre a relação com os indivíduos. E se isso é verdade, por que que o teosofismo exercia devia-se exatamente ao seu profundo desdém à
essas relações não se estabelecem também com as nações, as raças, com experiência e à observação. Uma nova onda de astrólogos, liderada pelo
toda a humanidade?" Como peça da prosa blavatskyana, esse trecho é sem teosofista inglês Alan Leo (1860/1920), estava reunindo forças — que,
dúvida pouco representativo, tanto pela sua relativa clareza quanto por seu apesar de ser considerado um fato consumado entre os próprios astrólogos,
absoluto fechamento; mas é típico de como as conclusões são sacadas de não transparecera, ainda, no campo da Ciência: "A astrologia continua
premissas puramente assertivas. Não está de forma alguma "definitivamente morta, morreu há tanto tempo que nem cheira mais" — anunciou o Dr.
provado" que os horóscopos não se baseiam em ficções, e para sustentar Arthur Mercier nas Fitzpatrick Lectures diante da Academia Real de
essa afirmação basta inverter essa outra, igualmente precipitada, de que a Física, em 1913.
astrologia está definitivamente desaprovada. Como essa declaração atingiu Alan Leo não se sabe, mas seus
Mas, mesmo que Madame Blavatsky tivesse sido um modelo de trabalhos astrológicos estavam tendo, por essa época, um considerável
coerência e espírito científico, os céticos teriam-se mantido inalteráveis — sucesso financeiro. Leo combinava um interesse sincero e agudo pela
como ficaram diante de uma série de trabalhos cuidados e coerentes que astrologia com um notável tino comercial e um excepcional espírito de
cobriram o mesmo campo de observações — enquanto que a diminuição cruzado. Sob sua égide fundou-se a Seção Astrológica da Sociedade
das conotações apocalípticas do movimento teria reduzido o seu apelo... De Teosófica, dedicada a estudos e pesquisas sérias no setor.
qualquer forma, o teosofismo levou, de uma só vez, de um sopro, a A concepção astrológica de Leo tinha um certo ar de velhinha bem
consciência da existência de tradições esotéricas orientais a um grande comportada, simpática e antisséptica próprio da teosofia: ler um "bom livro"
público, inspirando um interesse renovado a sério pela astrologia, primeiro era remédio eficaz para evitar "más influências planetárias"; a praia e
na Inglaterra, pouco depois na Alemanha, França e América. passeios pelo campo também eram itens muito cotados da lista de antídotos
(um bom conselho científico, hoje em dia acompanhado pela revolução
Com a introdução das idéias que prevaleciam na astrologia hindu, na tecnológica, que substituiu a praia e o campo por uma dose conveniente de
filosofia hindu (idéias talvez devidas à própria Blavatsky — é muito difícil, íons negativos). E os assessores de Leo na elaboração do magazine
sem entrar num estudo muito detalhado, distinguir o que é tradição e o que é costumavam tomar para si nomes verdadeiramente pomposos: Sepharial,
Blavatsky), a questão extremamente embaraçosa da descoberta dos novos Charubel, Aphorel.
planetas, Urano e Netuno, foi posta de lado, e a rígida numerologia De qualquer maneira, Leo e seus sócios despertaram algum interesse. E
medieval ruiu definitivamente. sua astrologia caracterológica — entremeada de profecias — atraiu as
Os astrólogos indianos sempre sustentaram que o homem apresentava pessoas suficientemente espertas para perceberem que o que queriam
12 níveis de consciência, correspondentes aos 12 signos do zodíaco, e impingir-lhes como psicologia moderna não passava de um logro, e não
também aos 12 planetas, que existiam quer os víssemos quer não. (54) levava a parte alguma.
Fundaram-se sociedades na França e na Alemanha; e apareceram
Blavatsky, porém, afirmou: "...A matéria esta tanto mais ativa quanto mais inerte
pequenos almanaques, da mais diversa qualidade, levantando as
parecer. Um bloco de madeira ou pedra é impenetrável a qualquer propósito. No entanto, e inumeráveis divergências de opinião sobre as mais diferentes questões
de facto, suas partículas estão em vibração incessante, tão rápida que ao olho nu o corpo astrológicas.
parece não ter nenhum movimento; e a Enquanto isso, nas principais universidades os estudiosos resumiam os
seus ataques a dimensões procustulares: desde que não havia nada a
aprender com a própria astrologia, toda essa
série de volumes sobre a matéria reduzia-se a absoluta inutilidade. Sua
natureza erudita preservou-se do público. Outros estudiosos estavam Nenhum elemento do sistema canônico da astrologia foi mantido de
convencidos não só de que a astrologia era uma superstição, mas também de parte; sobre cada um deles abriu-se a mais ampla discussão'. Os
que continuava morta. E a grande questão que deveria ser investigada foi almanaques eruditos e altamente especializados começavam a ter tiragens
deixada em aberto (como em Cumont, ver página 66), ou simplesmente não assombrosas; e as discussões entre escolas e teóricos rivais tornaram-se
foi colocada: como podem homens, que em nada se distinguiam de nós, ter tão amargas e hostis, e a insistência em relação a precedências e
acreditado em semelhantes absurdos durante milênios? protocolos chegou a um nível tal de paranóia, que observadores menos
Ironicamente, os beneficiários dessa erudição foram exata-mente os avisados poderiam tomar a velha crença esotérica pela mais insípida das
novos astrólogos, que se sentiam em liberdade para rejeitar a opinião erudita, ciências exatas.
utilizando, porém, fatos dessas pesquisas para justificar, no que coubesse, Mas não é essa a realidade. À parte a extraordinária demonstração
seus próprios princípios. de energia e vitalidade, pouca coisa sobrou que dê frutos hoje em dia. A
maior lição que aí se aprendeu foi que a velha crendice, seja lá qual for o
Depois da Primeira Grande Guerra, o interesse pela astrologia seu valor intrínseco, não se presta com tanta facilidade à quantificação
aumentou consideravelmente, em especial na Alemanha. A densa atmosfera das ciências modernas. A idéia de Aubrey, de construir um sistema
de inflação, derrota militar e derrocada moral e psicológica, parece ter altamente quantificado, não passava de uma generalização ingênua.
invadido mesmo as universidades e num tal clima era possível mesmo a um Sem dúvida, na Alemanha, como em qualquer outro lugar, floresceu,
professor-doutor não só se interessar pela astrologia, mas inclusive ao lado da astrologia séria, o gosto pelo seu aspecto caracterológico,
dedicarse. a ela, ou ao seu estudo, sem perder em nada sua posição ou alheatório. (Muitos astrólogos sérios ganharam a vida com essa atividade,
prestígio, situação que levou Jung a predizer que a' aceitação da astrologia como Kepler fizera na antiguidade — afinal, os astrólogos também
como matéria séria e acadêmica estaria por pouco. precisam comer.) A frenética situação política da década dos 20
Isso era certamente uma opinião prematura (e talvez mesmo errada) . A assegurava um bom mercado para a astrologia mundana, e havia um
nova equipe teosófica da astrologia estava ainda muito voltada sobre si público ávido de saber os horóscopos dos principais líderes políticos,
mesma para pretender um assalto ao reduto da ortodoxia (56). No entanto, sendo alguns deles inclusive do conhecimento público.
tornara-se moda entre os astrólogos chamar a astrologia "ciência". Mas, Uma astróloga, a senhora Elsbeth Ebertin, registrou influências de
apesar dos esforços feitos no sentido de expurgar a terminologia medieval, e Touro no horóscopo de Hitler, embora só dispusesse da data do seu
tendente a incorporar os novos planetas, era basicamente a astrologia nascimento sem a hora correta. No seu livro de predições para 1923,
herdada de Ptolomeu, e os céticos não caíram no logro. adiantou que este homem traria complicações para a Baviera (senso
Na verdade, a prática da astrologia é um pouco de ciência, um pouco de comum, provavelmente, como tanta coisa na astrologia), mas que
arte; bastante próxima da prática da Medicina, mas mais complicada e mais qualquer esforço que fizesse para chegar ao poder resultaria em fracasso.
genérica; a clínica médica foi durante muito tempo não posta em dúvida, e Foi o ano do famoso putsch que terminou com a prisão de Hitler. A
por séculos e séculos não apareceram verdadeiros pesquisadores neste setor, senhora Ebertin e muitos outros astrólogos sempre afirmaram que o
existindo apenas práticos com conhecimentos mais ou menos gerais. horóscopo de Hitler não permitia fazer predições de coisas boas, de modo
Só na Alemanha, na década de 20, enfrentou-se o problema desse que, quando este °chegou finalmente ao poder, os astrólogos passaram a
estado precário da prática médico-astrológica. E fizeram-se muitas ser considerados persona non grata, e muitos líderes nazistas se
tentativas, algumas bastante bizarras, para conseguir alguns melhoramentos. opunham à astrologia por motivos ideológicos. Nos anos imediatamente
Proliferaram muitas teorias, sendo as mais famosas as da Escola de anteriores à guerra, os pequenos almanaques desapareceram, e os
Hamburgo, de Alfred Witte, que defendia nada mais nada menos do que a astrólogos que tivessem um mínimo de
existência de oito planetas além da órbita de Netuno. Efemérides precisas
(tábuas astronômicas determinando a longitude e latitude diárias dos
planetas) foram calculadas para esses planetas hipotéticos, e daí tiveram-se
predições, alcançando resultados impressionantes.
senso de preservação evitavam declarar em público seja lá o que fosse em ângulo. É possível ler Carter sem imaginar que os delegados da Inquisição
relação ao horóscopo de Hitler. estão logo ali, além da esquina, ou que um trânsito desfavorável (a
E, no entanto, foi só na Alemanha que se realizaram esforços passagem de um planeta, em seu curso normal, pelo ponto de nascimento de
concentrados para botar a astrologia em bases mais decentes. Na França, outro planeta) significa iminente visita — e essa batida na porta pode ser o
uns poucos cidadãos estavam tentando justificar a astrologia em bases homem da televisão, ou uma intimação para comparecer a juízo., mas
estatísticas, atingindo resultados às vezes impressionantes, mas sem a nenhuma ligação deve ser estabelecida, sem risco de heresia...
menor platéia. Na mesma França, um grupo de psicólogos heterodoxos e Carter, porém, era bastante cético, senão inteiramente descrente, da
brilhantes começava a se preocupar com a astrologia, não do ponto de vista possibilidade de tornar a astrologia uma matéria científica, e, depois de
de suas profecias, nem como subsídio para a análise do caráter a partir da umas poucas incursões amadorísticas no terreno da estatística, preferiu
data do nascimento, mas como elemento de descrição e compreensão da inclinar-se por uma visão mais tradicional. Carter acreditava no poder da
natureza humana, de forma mais profunda e eficiente do que a fornecida intuição pessoal ou coletiva, mesmo contrária à experiência, opondo-se,
pelo método superado da tipologia, coerente ainda entre os psicólogos, e deste modo, à escola inglesa, que advogava a mais restrita segurança na
que, por mais útil que possa ser até certo ponto, pára sempre no momento prática, ainda que isso custasse o necessário espírito de indagação e
exato de fazer as descobertas mais relevantes. Por exemplo, de que me aventura.
adianta saber que Tennyson e o homenzarrão do circo são mesomorfos? Ou Mas, com aquela capacidade que os ingleses têm de se manter sérios até
que Kafka e o açougueiro ali da esquina são ambos introvertidos? o ridículo — um homem de chapéu gelot e guarda-chuva anunciando,
Psicólogos como René Allendy e Adolphe Ferrière viram, com razão, que o sorrateiramente, as últimas novidades do contrabando e dos livros
caráter ganhava muito mais consistência sob o enfoque astrológico. underground — foi exatamente na Inglaterra que apareceu a moda da
E, num plano mais elevado ainda, um reduzido número de estudiosos astrologia de jornal.
franceses (entre os quais se contavam Schwaller de Lubicz e René Guenon) Em 1930, quase como brincadeira, o Sunday Express publicou um
dedicava-se a pesquisar o sentido profundo das diversas tradições esotéricas artigo sobre o horóscopo da recém-nascida Princesa Margareth, que
de maneira coerente, indubitável, sem sensacionalismos (57), tornando suscitou uma tal avalancha de correspondência que o astrólogo responsável
possível, entre outras coisas, encarar-se a astrologia como parte integrada de pelo artigo, R. H. Naylor, foi contratado para escrever uma série. A acolhida
uma civilização. do público foi desmedida e inesperada; as tiragens aumentaram, e os jornais
Na Inglaterra, Alan Leo morrera, legando sua astrologia a Charles E. rivais apressaram-se a informar e esclarecer seus leitores, usando as mesmas
C. Carter, talvez o melhor dos praticantes modernos da astrologia. armas, o que fez com que, primeiro, na própria Inglaterra, depois na
Articulado, prático e pessoalmente impressionante, Carter ¡ratou de Alemanha e na França, as colunas de astrologia passassem a ser obrigatórias
vazar a astrologia numa terminologia moderna e aceitável; coisa que os nos bons jornais.
demais astrólogos do nosso tempo nem haviam cogitado. Lendo Alan Leo e Essa astrologia popular pioneira não era ainda a mixórdia como a que se
outros da mesma época e convicções, o moderno estudante de astrologia lê hoje em dia (em que todas as pessoas nascidas em Leão terão perdas
continuaria achando que, mediante conjunções desfavoráveis, determinadas financeiras, enquanto que as de Escorpião deverão encontrar um estranho
pessoas poderiam morrer em praça pública, atacadas por animais selvagens. atraente), mas astrologia mundana, da mesma espécie contra a qual Isaías
Nos manuais de Carter não há exortações para levar-se uma vida investiu.
zodiacalmente limpa, nenhum mandamento bíblico, nada sobre corpos Naylor, o astrólogo que inaugurou este sucesso, era o mais colorido,
etéreos e planos astrais, tão queridos aos teosofistas, mas tão avessos a sem dúvida o mais corajoso, e, no final das contas, talvez menos
equivocado de todos. Ao contrário da maioria de seus colegas, cuidava de
pessoas que vejam a coisa por outro
fazer predições precisas e verificáveis. Quando acertava, ninguém se gabava
mais do que ele; quando errava, ninguém se apressava a racionalizar com
tanta segurança: "Desde 1919 eu tenho repetidamente predito que a paz
seria mantida entre as nações da Terra. Minhas pesquisas
astrológicas agora me convencem que esta situação não perdurará por muito alguns fatos, cientificamente comprovados, que cheiravam suspeitamente a
tempo: as sombras da guerra escureceram o firmamento'." astrologia.
Abril de 1936: Naylor prediz que o Rei Eduardo VIII casaria dentro de Mas, já por essa época era praticamente impossível afirmarse que a
três anos, e que nenhum rei teria sido endeusado mais do que ele. (Note-se, astrologia estava morta. E, embora a maioria da comunidade acadêmica
porém, que o famoso ledor de mão, Cheiro, predissera a abdicação do ridicularizasse o assunto, seu ressurgimento não podia mais ser negado.
mesmo rei.) Pelo menos, como fenômeno psicológico e sociológico, não podia mais ser
Agosto de 1936: Naylor anunciava que Roosevelt ganharia as eleições, ignorado.
mas que dificilmente terminaria seu segundo mandato. Em outubro de 1938,
porém, anunciava um terceiro período para Roosevelt. A Segunda Guerra Mundial interrompeu a atividade astrológica, mas
"Dez Anos de Paz: que o Mundo se Desarme:" era a redundante enriqueceu sua história com uma nota muito curiosa, a de Hitler e de seus
profecia que se encontrava na capa da Prediction (58), de junho de 1939. pretensos astrólogos.
Setembro de 1944: "Os dias de Franco estão contados." Desde a ascensão de Hitler ao poder, os astrólogos passaram a ser
Por outro lado, em 1944 Naylor discordou de uma profecia americana, olhados desfavoravelmente; no entanto, foi divulgado na Inglaterra, por um
baseada em estatísticas, que prediziam uma guerra na Europa, entre astrólogo refugiado, chamado Louis de Wohl, o boato de que o próprio
1966/1970, enquanto que Naylor sustentava que nessa época; os Estados Hitler consultava astrólogos, e seguia seus conselhos — o que não é de todo
Unidos estariam em crise interna e em guerra na Ásia. impossível, uma vez que se sabe que as mais altas personalidades do III
Junho de 1951: Naylor prevê um confronto e cisma entre a Rússia e a Reich mantinham um interesse mais do que declarado por magia e "ocultis-
China. mo", incluindo-se aí o esquema grotesco que afirmava que vivíamos no
Essa febre de interesse popular representou muito pouco para o interior do planeta, e não em sua superfície, olhando o céu através de sua
desenvolvimento de qualquer dos níveis significativos da astrologia. Mas crosta. De acordo com de Wohl, o astrólogo de Hitler era K. E. Krafft,
provocou respostas curiosas de racionalistas de todos os tipos, de homem excêntrico mas, a sua moda, brilhante, que desde a década de 20
pseudocientistas, e, mais curioso, de grandes cientistas, nenhum dos quais tinha-se engajado numa campanha solitária pela colocação da astrologia em
pode dizer-se que se tenha comportado muito bem (ver pp. 117 e seguintes). bases decisivamente estatísticas.(59)
Os astrólogos não conseguiram responder a esses ataques sem uma nota Depois da guerra, ficou suficientemente bem estabelecido que Hitler
de histeria, mas uma vez afastada a argumentação emocional, a tese é nunca teve nenhum conselheiro dessa espécie, nunca tendo dado crédito à
simples: os cientistas pediam provas aceitáveis do ponto de vista científico, astrologia. Parece que Krafft jogou, no início, com algumas idéias nazistas,
sobre a validade da astrologia. Os astrólogos admitiam que não havia tendo-lhe sido dado algum trabalho no Ministério da Propaganda de
"provas", mas isso não era culpa da astrologia — se os cientistas querem Goebbels. Mas, quando descobriu, com surpresa, que os líderes políticos
provas, que estudem o assunto, ponham-no em discussão entre eles, o que não partilhavam do seu interesse pela astrologia, recusou-se a cooperar. A
nunca foi feito, e, até encontrarem provas contra, reservem, recompensa por esse gesto de defesa da sua integridade foi a prisão,
cientificamente, sua opinião. acabando por morrer a caminho de Buchenwald, em 1945.
Mas de nada adiantou essa controvérsia. Por volta da década de 30, do Na Inglaterra, porém, de Wohl teve sucesso na tarefa de convencer o
ponto de vista científico, a astrologia passou a ser pelo menos colocável, alto comando de que Krafft estava a soldo dos nazistas, prestando-lhes
tendo a teoria da relatividade e dos quanta derrubado o universo auxílio astrológico; em resposta, o alto comando britânico estabeleceu um
simplificado de Newton e Laplace, mas não havia nenhum cientista que serviço "contra-astrológico", do qual só de Wohl fazia parte, com o posto de
quisesse dedicar-se ao assunto diretamente, mesmo quando nessa mesma capitão e o dever de percorrer os locais de luta interpretando os próximos de
década apareceram Hitler, de acordo com dados históricos (60).
A par seu aspecto de curiosidade histórica, existe um detalhe nessa
transação, que tem importância para a astrologia. Nas
jornadas de Hitler para consolidar seu poder, o grande golpe de Munique
em 1938, suas rápidas campanhas na Polônia e na Escandinávia, houve um
momento de glória insuperável, um momento em que foi realmente um
mestre; sua fulminante invasão da Holanda e dos Países-Baixos, e a
humilhação que impôs aos franceses.
Esse momento pode ser circunscrito ao dia 10 de maio de 1940, e, por
estranho que pareça, está tão bem definido no horóscopo de Hitler que
qualquer pessoa teria de admitir que ele agia sob conselho de algum
astrólogo; ou, se isso for de todo impossível historicamente, é-se mesmo
assim tentado a citar este exemplo como a da fatal compulsão que os astros
exercem sobre uma pessoa.
Neste livro, o que nos interessa é mais o estudo dos princípios da
astrologia, as evidências existentes contra ela e a seu favor, do que seus
aspectos técnicos; mas já que a astrologia é mais familiar sob o seu aspecto
(dúbio) de profecia, aproveitaremos este exemplo para descrever
brevemente o método usado pelos astrólogos para elaborarem suas
predições.
O método mais elementar, simples e lógico é o que diz respeito aos
"trânsitos". A posição dos planetas no seu nascimento é conhecida como a
sua rota, ou "radix". No seu trajeto espacial, os planetas cruzam, ou
melhor, estabelecem relações com essas rotas ou radix, e essas relações
determinam pontos celestes considerados vitais. E claro que as diversas Figura 11. O horóscopo de Hitler com seus trânsitos (ver fig. 1). Alguns fatos relevantes e
sua interpretação: Saturno alto no Signo de Leão, na décima casa, tradicionalmente simboliza
rotas dos planetas em órbita indicam que relações desse tipo, previsíveis o homem •que chega até em cima, mercê de sua ambição, mas corre o risco constante de
mas variáveis, estão sempre em progresso, e das diversas combinações os perder as posições. Saturno numa dupla relação aguda com Vênus e Marte: o perigo tornando-se
realidade. Mercúrio em oposição (180 graus de distância) a Urano: indicação de idéias estranhas
astrólogos tentam tirar os seus horóscopos. (às vezes brilhantes) e de violenta histeria. Saturno numa relação sexta não muito forte (60
Ao analisar o horóscopo de Hitler, verificamos que na noite de 10 de graus) com Urano permite a utilização dessas características desagradáveis para atingir o
sucesso. Urano numa relação menos que sexta com o Ascendente, mas na décima segunda
maio de 1940 seus trânsitos não poderiam ser mais favoráveis. casa, leva ao emprego da violência. Netuno e Plutão estão próximos um do outro na oitava
Como a fig. 11 demonstra, Saturno formava uma relação trinitária casa de Gêmeos; morte e destruição causadas voluntariamente, e talvez uma certa inclinação ao
suicídio. Aspectos positivos: o Sol em Touro, numa relação trinitária (120 graus) com a Lua e,
primeiro com a Lua (que se relacionava muito bem com Hitler), depois com menos forte, com Júpiter, estando estes dois numa conjunção favorável. Isto representa não só o
o radix de Júpiter no signo de Hitler. O trânsito de Marte — planeta da amante apaixonadíssimo, quase animal, mas representa uma poderosa personalidade, e, como Sol
na sétima casa, um forte apelo público. Este homem casou-se com o seu público, apresentando
guerra — formava uma relação trinitária com o Ascendente, e uma relação grandes ideais, em seguida traiu-o (Marte e Vênus desfavoráveis na sétima) em favor de suas
sexta com o radix, de Mercúrio. Júpiter — planeta do sucesso — próprias ambições (Saturno), e, no fim, foi incapaz de frutificar esse matrimônio traído. (E
interessante notar que a conjunção de vários planetas na sétima casa é uma constante nos
encaminhava-se para uma conjunção com o radix do Sol, posição sobre horóscopos de alguns ditadores, entre os quais Mussolini e Stalin.
todas favorável, na astrologia tradicional, ao sucesso em qualquer Os símbolos externos no desenho representam as reais posições dos planetas no dia 10 de
maio de 1940, a 1:15 da manhã, hora de Greenwich. As linhas pontilhadas marcam as
empreendimento. Enquanto que a Lua, que gira tão devagar que leva um principais relações.
mês para esgotar todos os seus ciclos, estava numa relação trinitária perfeita
com Urano, planeta da revolução, da
surpresa, da blitz, do inesperado. E isso se deu na hora exata em que o tradições se esboroam, novos conceitos surgem; dentro desse ambiente, é
ataque foi deflagrado. realmente muito difícil predizer o que ocorrerá, ou entender o que está
Não obstante isto, um astrólogo que assessorasse Hitler não se limitaria acontecendo.
a predizer baseado nos trânsitos. Olharia também as chamadas "direções Seria um truísmo afirmar que nós nos encontramos num período com
secundárias". E nisso que os astrólogos acham que Ezequiel estava filmando tais características. Mas, é claro, ninguém precisa acreditar que isto tenha
quando mencionou a história do "um dia por um ano". Entre todos os alguma coisa que ver com a astrologia. Talvez, como a Regra de Ouro da
aspectos ilógicos da astrologia, não haverá nenhum mais ilógico do que Natureza, como o aparecimento e desenvolvimento da vida orgânica sobre a
este, e, no entanto, nenhum praticante passará sem ele, embora não possa Terra, como a harmonia entre os diversos elementos e a forma espiralada das
explicar o próprio princípio deste procedimento; Basicamente, este galáxias, assim também o caos atual e sua previsão astrológica podem ser
princípio afirma que o que ocorre no céu num deter-minado dia há de se explicados como "coincidência" — aquilo que entre os princípios de
repetir, de alguma forma simbólica, dentro de um ano, no plano da vida; Shertock Holmes, acostumado a decifrar todos os mistérios, era considerado
assim como a Terra, girando em torno do seu eixo num dia, se expõe às "elementar".
mesmas influências que sofre durante o ano, a análise das estrelas no No entanto, é interessante, e talvez não tanto uma coincidência, que a
qüinquagésimo primeiro dia de Hitler pode ajudar-nos a prever o que mesma guerra que enterrou o passado tenha aberto campos insuspeitados
acontecerá no seu qüinquagésimo primeiro ano. Essas indicações eram para o desenvolvimento da Ciência, cuja arrancada nos últimos 15 anos
muito menos favoráveis que os trânsitos, e foi incorporando a elas os seus tornou possível, dentro de certos limites, rediscutir o caso da astrologia, que
desejos pessoais que tantos astrólogos continuaram a predizer a paz às a Ciência em seu estágio anterior se vangloriava de ignorar.
vésperas da Segunda Guerra. Os astrólogos procuravam convencer-se de
que os astros não permitiriam a Hitler agir contra seus próprios interesses.
No entanto, tendo a História girado sua roda, resta o fato de que o momento
mais brilhante de Hitler era facilmente detectável, do ponto de vista
astrológico, e coincidia perfeitamente com o seu momento de maior triunfo
político e militar.
Mas não nos propomos a defender o aspecto profético da astrologia
com nenhuma dose pessoal de entusiasmo. Trazemos à tona Hitler e suas
estrelas em parte para justificar esta breve incursão pelo terreno das técnicas
de predição e para trazer a nossa exaustiva análise astrológica do passado
para os dias de hoje.
Se houver história no futuro, ela registrará a Segunda Guerra Mundial
como a grande virada da civilização, e dependendo do estado de
desenvolvimento da nova civilização, como a grande virada da astrologia.
E um fato astronômico incontestável que, devido à precessão dos
equinócios, breve o Sol aparecerá no equinócio da primavera, no signo de
Aquário. E o que os astrólogos chamam de "Idade de Aquário". Agora, os
astrólogos sempre sustentaram que essa mudança tem uma significação de
grande alcance, e que o período de transição entre uma era e a outra é
invariavelmente marcado pelo caos, pelo conflito e pela indecisão; as
Segunda Parte

OBJEÇÕES
1 A Rainha da Superstição

Ao analisar os fatos à luz do conceito de níveis, e dando uma atenção


um pouco mais séria às principais tradições, a história da astrologia parece-
nos bastante diferente do quadro que os estudiosos vitorianos pintaram, e
que foi divulgado com loas por seus seguidores.
Abordamos a total falta de provas científicas que invalidem a
astrologia, mas até agora não tocamos, senão muito sumariamente, nas
objeções que até hoje têm sido opostas a essa arte esotérica.
Indubitavelmente, se essas objeções forem irrefutáveis, as provas científicas
tornam-se supérfluas. Analisemos, portanto, as objeções de eminentes
estudiosos e cientistas, permitindo, sempre que possível, que falem por si
mesmos.

(1) The Queen of Humbug, pelo Dr. Harold Spencer Jones, astrônomo de
Sua Majestade no Observatório Real de Greenwich.
A astrologia afirma que os corpos celestes — o Sol, a Lua, os planetas e as estrelas —
exercem influência sobre os negócios humanos. Tem-se como certo que a disposição desses
corpos no momento em que a pessoa nasce representa uma influência decisiva sobre a sua
personalidade, e, que estudando essas posições a qualquer momento depois do nascimento,
pode obter-se um guia seguro para o futuro.
Essas afirmações, por si sós, abrangem um campo bastante amplo. Mas não se esgotam
aí as possibilidades da astrologia. Ela pode diagnosticar doenças, pode prever o rumo dos
acontecimentos mundiais. Consegue predizer o tempo. Algumas pessoas acreditam mesmo
que as sementes se desenvolvem melhor quando plantadas de acordo com determinadas
características, celestiais.
Essas afirmações são inteiramente infundadas. Nenhum astrônomo poderia dizer mais
do que isso. Mas, embora absurdas, atendem ao desejo das pessoas de investigarem o futuro.
Respondem à crença primitiva de que nosso destino é guiado por alguma força externa e
sobrenatural.
O astrólogo poderá estabelecer um bom horóscopo, predizendo o futuro — mediante
pagamento, é claro. E significativo o fato de que não conheço nenhum astrólogo que seja um
observador do espaço, muito menos conheço bons observadores que sejam astrólogos.
E
trabalho do astrônomo pesquisar e estudar as estrelas, aprendendo, pela observação
lenta e paciente, alguma coisa sobre elas. Baseando-se no que aprendeu, é seu dever vir a
público declarar alto e bom som que a astrologia é um contra-senso, uma simples coleção de
regras empíricas que chegaram a nós como herança de um passado longínquo e em certa
medida duvidoso...
Qualquer estudante de Ciências não poderia deixar de se divertir lendo um desses livros
de astrologia. Não vi, até agora, nenhum argumento a seu favor que tenha a mais leve base
científica. Não descobri nenhuma declaração que traga, mesmo que de longe, alguma
pesquisa científica.
uma morte precoce e violenta. Um dia determinado seria ou não favorável a uma pessoa de
Tentei encontrar nos livros de astrologia um único princípio que justificasse a quem se conhecesse a data do nascimento, em decorrência de uma série de regras
onipresença ativa dos astros na vida das pessoas. Encontrei declarações como as de que complicadas.
existe uma coincidência entre os acontecimentos terrenos e os que se passam em algum As regras — diz-se — corporificam a sabedoria dos antigos caldeus. A astrologia
lugar do céu estrelado (a única confirmação dada a isso é a de que o tempo na Terra tinha grande influência sobre o pensamento e a linguagem das pessoas. Palavras comuns
depende, ou esta ligado, das manchas e explosões solares) e que todos os homens estão como consideração, desastre, influenza e conjunção derivam diretamente do vocabulário
submetidos às leis que regem o planeta. astrológico.
Não encontrei nada mais substancial. Como astrônomo, devo declarar que essas são A astrologia recebeu golpes terríveis quando apareceram dois novos planetas, Urano e
bases muito frágeis para alicerçar afirmações ousadas como as que a astrologia faz. Netuno, sem mencionar a descoberta de outro menor, Plutão, e uma infinidade de
Infelizmente, existem muitas pessoas que acreditam arraigadamente na astrologia. planetóides anteriormente desconhecidos. Os sábios do Oriente não os haviam descoberto,
Tenho em meu poder cartas trágicas que mostram como a astrologia destruiu lares que, até e colocá-los dentro do esquema astrológico foi tão difícil e artificial quanto pôr um
um dos cônjuges ter adotado essa crença estúpida, eram felizes. Assim pode dizer-se que a automóvel numa cota darmas.
astronomia é a rainha das Ciências, pode dizer-se que a astrologia é a Rainha da Porque a astrologia, como a heráldica, tem suas regras, e é uma ocupação muito
Superstição...(1) divertida, embora bastante inútil. Se eu fosse um verdadeiro astrólogo, seguidor das
(2) A astrologia... ainda tem milhões de seguidores, mas está tão afastada de qualquer tradições da Ciência, estaria mais zangado com os jornais de domingo do que com os
semelhança com a Ciência que parece perda de tempo discuti-la. A teoria de que as céticos.
manchas solares causam depressão... é a derradeira manifestação do antigo ponto de vista de Essas damas e cavalheiros predizem seu futuro, sua sorte ou azar, baseados no mês do
que a vida humana está ligada a fenômenos astronômicos.(2) seu nascimento.
(3) A crença na astrologia é desculpável; é a filosofia do homem indolente. A vantagem de Eu nasci quando o Sol estava na constelação chamada Escorpião. De acordo com as
se acreditar nos absurdos astrológicos é que os atos das pessoas são predeterminados pelos antigas tradições, isto não quer dizer grande coisa. Mas se os planetas da sorte, Vênus e
movimentos e posições do Sol, da Lua e dos demais planetas... E evidente que, se Júpiter, também estivessem na mesma constelação, então eu poderia preparar-me para, de
conseguirmos convencer-nos de que não somos responsáveis pelos nossos atos, nossa moral alguma forma, ter boa sorte na vida.
se deteriora, e deixamos de nos preocupar. A astrologia é uma filosofia consoladora, Mas, se a astrologia está certa, não se pode predizer o futuro de uma pessoa pela
adaptada às necessidades das pessoas timoratas e idiotas.(3) simples constatação da posição do Sol. Seria o mesmo que diagnosticar uma doença
(4) Astrologia: Uma pseudociência que trata da influência dos astros sobre o destino das apenas olhando a língua do paciente, sem tomar em consideração a temperatura ou o pulso,
pessoas, e da predição dos acontecimentos futuros... A partir da metade do século XVII sem proceder a nenhum outro exame. Outra dessas ciências da superstição é a leitura da
(Europa) o interesse por essa pseudociência decresceu. Continua, porém, a florescer na Ásia mão...
e na África, constituindo-se em meio de vida de vários charlatães que se aproveitam do Se os astrólogos e adivinhos leitores de mão quiserem convencer os cientistas da
estado de ignorância das classes mais baixas.(4) veracidade de suas ciências, têm de fato uma tarefa das mais simples. Devem ter, sem
(5) Superstições Sintéticas e Ciência da Crendice, por J. B. S. Haldane.(5) dúvida (se suas afirmações e pressupostos são corretos), descoberto que milhões de jovens
Uma das definições da superstição é "a religião das outras pessoas". Eu certamente morreriam entre 1914 e 1918. Devem estar, portanto, capacitados a descobrir as datas de
discordo de opiniões das religiões de outras pessoas, mas não vou atacá-las aqui. As futuras guerras. Se acertar algumas datas, talvez eu passe a considerá-los com alguma
religiões, mesmo quando não são verdadeiras, fazem parte de um sistema em que as pessoas seriedade. Mas não me deixarei impressionar por uns poucos golpes de sorte.
honestas e inteligentes acreditam. Seja lá como for, os astrólogos e leitores de mão são muito úteis à causa do
Prefiro discutir as superstições sintéticas, que são elaboradas como "ópio para o povo", capitalismo. Ajudam a convencer as pessoas de que seu destino escapa ao seu controle. E,
particularmente a astrologia. Muitos dos jornais de domingo têm astrólogos contratados, e é claro, isto será verdade enquanto muitas pessoas continuarem pensando assim. Mas, se
às vezes dou uma olhada em suas colunas. um número suficientemente grande de pessoas começar a descobrir que nosso destino pode
Não quero atacar a verdadeira astrologia, que começou há muitos séculos como ser alterado por nós próprios, começarão a acontecer coisas que levarão ao fim do
tentativa de ligar os acontecimentos terrenos aos fatos celestes. Essa astrologia levou a que capitalismo e da própria astrologia.
se conservassem na Babilônia e em outras cidades do que é hoje o Iraque registros de
eclipses e outros fatos que são da maior utilidade para a astronomia moderna. Por tudo que se disse, parece claro que todos os críticos desconhecem
Na Idade Média, isso evoluiu até o estagio de arte, com regras bem determinadas. Para inteiramente as teses pitagóricas que fundamentam a astrologia. Para eles,
estabelecer um horóscopo era preciso saber a posição de todos os planetas na hora do a astrologia popular é a única que existe. Mas mesmo sob esse
nascimento da pessoa. E para predições é preciso saber até o minuto em que isso ocorreu.
Cada planeta deve ter uma influência boa, má ou neutra. pressuposto, os ataques que nesse nível são feitos não correspondem aos
E o céu foi dividido em casas relacionadas com vários aspectos da vida humana. Assim, fatos, além de falharem também no plano exclusivamente teórico.
se na hora do seu nascimento Saturno e Marte estivessem em conjunção na casa da Morte, O astrônomo real (1) não consegue encontrar nenhuma afirmação que
era bem provável que você fosse encontrar denuncie um mínimo de pesquisa científica. Quer dizer, não houve
investigação científica. Por outro lado, acusa
A objeção é, no entanto, apresentada como se no longo decurso da
as relações baseadas nas manchas solares de serem "uma base muito frágil História ninguém, antes de Haldane, tivesse jamais pensado no assunto.
para alicerçar afirmações como as que a astrologia faz". Sem dúvida, assim Acontece que Ptolomeu perdeu bastante tempo indagando-se
é. Mas isso é uma base, indubitavelmente originada de trabalho científico. exatamente a respeito desse assunto. Afirmava e a maioria dos astrólogos
Existe, hoje, como antigamente, um bom número de astrólogos que são modernos concordaria com isto — que o destino das pessoas está submetido
também astrônomos. E de tempos em tempos os jornais de domingo ao destino mais amplo de nações raças, tribos, áreas geográficas (por
publicam cartas de astrônomos que declaram acreditar na astrologia, exemplo, vítimas de terremotos). Definir acertadamente o horóscopo de um
preferindo, porém, o anonimato, por medo de repercussões negativas na sua povo, uma raça ou uma tribo já é outro problema. Mas a dificuldade ou
vida profissional. De resto, a não ser que tenha estudado pessoalmente a impossibilidade de sequer estabelecer as linhas-mestras de semelhante
matéria, um astrônomo não sabe mais a respeito de astrologia do que um horóscopo não invalida o princípio astrológico da ligação entre os fatos
mecânico de rádio sobre música. Pedir a opinião abalizada de um terrestres e os fatos zodiacais. Quer apenas dizer que a profecia astrológica é
astrônomo sobre este assunto é pura perda de tempo. E, no entanto, no falha, e nenhum astrólogo decente pensaria de outra forma.
decorrer das nossas extensas pesquisas, nunca encontramos a declaração de Agora, a condenação que Haldane faz da astrologia por motivos
um astrônomo que sustentasse seu desconhecimento da matéria por não tê- políticos deve ser encarada como uma obra-prima da estupidez científica.
la estudado. Embora durante mais de 4 mil anos os astrólogos tenham trabalhado em
Os demais críticos apresentam a mesma presteza na crítica, e a mesma estreita ligação com o capitalismo imperialista para mistificar a classe
timidez de fato, que se nota no astrônomo real. O Sr. Gardner (2) apresenta operária, esse laço permaneceu secreto até que o professor Haldane viesse
as manchas solares como "a última manifestação do antigo ponto de vista de desmascará-lo.
que a vida humana está ligada a fenômenos astronômicos", como se os Daí, um grande esforço tem sido feito para evitar que a massa descubra
antigos normalmente se preocupassem muito com manchas solares (na o quanto é fácil alterar seu destino, e é graças a esse esforço bem sucedido
realidade, os chineses se preocupavam). Além do mais, ao tempo em que que tanto o capitalismo quanto a astrologia ainda não desapareceram do
Gardner escrevia (1957), já se haviam estabelecido e provado firmemente mundo.
algumas relações dessa natureza, muito mais impressionantes do que as No entanto, um grupo de humanitaristas, baseados no enfoque
manchas solares. Mas não há, em seu ataque, nenhuma referência a isso. psicológico de Haldane, está disposto a pôr fim a essa guerra. Uma vez que
Alfred Still (3) considera a astrologia uma filosofia apropriada a as pessoas compreendam que a guerra não é boa para elas, automaticamente
"pessoas timoratas e idiotas", fazendo-nos ficar intrigados sobre a deixarão de desejá-la. E uma vez acabadas as guerras, sobrará tempo para as
excelência das crendices deste cavalheiro, que com tanta facilidade inclui pessoas se concentrarem na abolição do capitalismo e da astrologia.
nessa categoria Platão, Plotino e Kepler. Sem dúvida continuarão a existir pessoas que duvidem de que a teoria
À parte sua verborragia, é o geneticista J. B. S. Haldane quem, apesar se converta tão facilmente em prática, mas uma página da própria biografia
de erros flagrantes, apresenta algumas objeções válidas. do professor Haldane calaria para sempre esses céticos.
A descoberta dos novos planetas foi e continua sendo um problema, Comunista ferrenho, Haldane tolerou o regime de Stalin através de
embora não se constitua no "golpe de morte" a que Haldane se referiu. todas as atrocidades e barbarismos da década de 30, mas descobrindo que na
Em segundo lugar, Haldane aponta um problema realmente sério, o da Rússia seguiam-se os princípios genéticos de Lysenko, deduziu que os
relação entre o destino individual e os acontecimentos históricos numa comunistas não estavam interessados na verdade, e retirou-lhes seu apoio.
escala mais ampla. Cita o exemplo dos milhões mortos na guerra, que, a ser O material citado-acima vem de cientistas e escritores científicos, e
valida a astrologia, deveriam ter a morte inscrita em seus horóscopos. pode ser encarado como uma amostra justa do tipo
de crítica que se faz à astrologia por esse lado. Mas pode-se argumentar
que à parte o tom às vezes apaixonado dessas críticas nenhum de seus Tanto quanto sabemos, nenhum crítico da astrologia tentou pô-la a
autores declara ter estudado o assunto. prova no terreno da sua própria experiência, o que, aliás, também não seria
Na parte histórica mencionamos o interesse acadêmico que se concludente — o menino que sem nenhum ouvido musical, ganhando de
manifestou no século passado em relação à astrologia, e referimos de presente um violino, prova sem demora que não se pode tirar música de um
passagem os nomes de Franz Cumont e Otto Neugebauer. A seguir, instrumento desse tipo — mas seria pelo menos útil aos estudiosos
citamos extensas passagens do livro The Royal Art of Astrology, de cientistas, na busca da verdade objetiva:
Robert Eisler(6), conhecido, estudioso da Babilônia. Uma vez que este é
um dos poucos livros inteiramente dedicados a destruir as premissas da Assim como os metais foram associados aos planetas por uma generalização indevida
astrologia, as criticas nele suscitadas devem apresentar algum interesse. da origem do ferro, devida a meteoros, assim também, com base na mesma origem meteórica
de algumas pedras, deduziu-se que todas as pedras preciosas teriam origem celeste, e o céu
passou a ser imaginado como uma imensa safira ou bandeja de lápis-lazúli, pontilhada pelos
Por esses dias os devotos da astrologia não se cansam de repetir a queixa amarga de
diamantes das estrelas brancas, pelos rubis das vermelhas, pelas esmeraldas das esverdeadas
Alfred John Pearce, que escreveu no Textbook of Astrology (1911): "Por que será que a
etc.
maioria dos homens cultos do século XIX e deste nosso século se negam a entender que há
A conexão entre os astros e os planetas, a astrobotânica responsável por nomes como
uma grande dose de verdade na astrologia? A resposta é: Porque nunca investigamos o
flor do sol, helianthus, flor Jovis, é, evidentemente, derivada de uma série de fatos
assunto, contando com muitos preconceitos contra ele, que os impedem dessa pesquisa."
astrológicos. Assim como o camponês imaginaria que o sentido dos horóscopos está ligado
Essa extraordinária acusação contra a pesquisa moderna é prova suficiente tanto de
à semeadura, crescimento e florescimento do trigo, centeio, cevada, uva, sésamo, o
má-fé absoluta quanto do mais completo desconhecimento dos trabalhos eruditos sobre o
jardineiro encarregado das plantas medicinais ligaria também esses mesmos astros ao seu
assunto, desde os tempos do grande mestre francês Saumaise (Salmasius, 1648),
mister. Uma série de coincidências empíricas seria explicada pelos astrólogos por jogos de
correspondente de Milton, até os nossos dias, que viram a decifração, compilação e edição
idéias ou palavras, tão caros aos místicos que acreditem num universo regido pelos sagrados
dos textos mais importantes da tradição egípcia e mesopotâmica, a publicação em mais de
princípios da simpatia universal e da sacra analogia.
12 volumes dos textos da astrologia grega, sob a direção da Sphaera Barbarica por Franz
A interpretação antropomórfica do céu como rosto e do Sol e da Lua como o olho
Boll (1904), dos textos astrológicos de Hermes Trismegisto por Wilhelm Gundel (1936) e
esquerdo e o direito levariam necessariamente a correlacionar todos os sete instrumentos
a pesquisa de todo o material disponível por homens como A. Bouché-Leclercq (1899),
sensitivos do rosto — dois olhos, dois ouvidos, duas narinas e uma boca — aos sete
Caril von Bezold (1914) , Reginald Campbell Thompson (1900) , Charles Virolleaud (por
planetas, como encontramos no livro da tradição neopitagórica hebraica Sepher Yezirah
volta de 1905), Aby Warbung e uma série de jovens inspirados pelo seu exemplo. Nenhum
(Livro da Criação, literalmente, da Formação ou do Desígnio). A igualmente
dos tópicos de seus livros é jamais citado por qualquer dos defensores da astrologia. Não
antropomórfica idéia de um deus e uma deusa celestes, arqueados sobre a Terra, tão familiar
conseguem convencer-se de que suas práticas tolas foram investigadas por pesquisadores
à pintura egípcia, poderia sugerir uma coordenação das sete partes da divindade — uma
de grande renome dos principais países ocidentais, com profundidade e imparcialidade, ao
cabeça, um tronco, um órgão procriador, dois braços, duas pernas — com os mesmos sete
longo dos últimos três séculos, e que nenhum deles deixou de condená-la como
planetas. Nos túmulos egípcios encontramos os astros de cada um dos decanatos meticulo-
superstição, resíduo de que um dia foi uma grande religião panteísta, um esforço
samente distribuídos sobre o corpo da deusa celeste Nut. No tratado pseudohipocrático On
portentoso e racional de compreensão do universo...(7)
Heptades (Peri hebdomadon), escrito por um médico do V l século a.C., na Jônia, um
mapa do mundo então habitado e conhecido é comparado ao corpo humano, sendo o
Tão grande era a imparcialidade e cuidado com que esses cavalheiros Peloponeso a cabeça, o Istmo de Corinto o pescoço ou espinha, a Jônia os órgãos de
abordaram o estudo da astrologia, que no prefácio de seu livro, Bouché- respiração e alento (phrenes), o Helesponto as pernas, o Bósforo da Trácia e Ciméria os
Leclercq escusa-se de realmente dedicar alguma atenção ao assunto, pés, o Egito e o Mar Negro o reto. A divisão do corpo celestial do Grande Homem, ou
afirmando: "Não vamos perder o nosso tempo pesquisando o que outros já Makranthropos em 12 partes resultaria na correlação com a divisão astrológica das 12
estudaram, perdendo o seu." Atitude fortemente recomendada por seções do Zodíaco, como encontramos, em representações diagramadas, nas instruções de
médicos e barbeiros, que recorriam a esses princípios para saber o momento certo de
Eisler(8). Franz Boll, desafiado por um leitor que afirmava nunca ter ele sangrar, cauterizar etc. O conhecimento dos signos zodiacais ou dos astros que regem os
elaborado um único horóscopo, respondeu, imparcialmente: "Não somos diversos decanatos e estendam sua influência sobre os membros do corpo humano,
suficientemente doidos para perdermos nosso tempo num assunto dessa afetando-o com todas as doenças e tribulações que são reservadas ao homem, possibilitaria
natureza." O imparcial e cuidadoso Franz Cumont já foi discutido. ao médico praticante dessa ciência — que por isso mesmo se auto-intitulava "astro-
matemático" — "calcular" a poção que preservaria cada um de seus clientes das más
"
influências", ou curaria o membro ainda tocado pelo efeito maléfico de determinado astro,
assim como os médicos húngaros, que deram a Erasmo uma "poção astrológica"
para expulsar os efeitos de Leão. Depois de ter tomado a beberagem durante algum tempo,
Erasmo sentiu-se melhor, duvidando, porém, se o efeito benéfico teria provindo da mágica o mesmo método para explicar os efeitos da Lua sobre distúrbios mentais.
ou não.
Todas essas correlações — inteiramente desprovidas de qualquer apoio científico Qualquer pessoa que tenha tido a infelicidade de viver nas proximidades de um
empírico — derivam pretensamente de revelações divinas, relatadas pelo egípcio Hermes hospício sabe como seus internos ficam muito mais agitados e barulhentos em noites de
Trismegisto a seu divino filho Asclépio... luar, pela simples razão de que essas noites são claras, não densas como as demais,
conduzindo, desta forma, mais dificilmente ao sono profundo e reparador. Mas este
Le Style Est l'Homme Même. (Madame Blavatsky e John Hazelrigg) simples fato deve muito naturalmente ter levado os primeiros médicos e feiticeiros a
(ver n.° 56, p. 265) são os modelos de precisão e clareza quando imaginar que os neuróticos e psicóticos eram pessoas "aluadas" ou "lunáticas"...(10)
comparados com Eisler. E o leitor,, pisado nos calos por esse banho de
erudição, deve perguntar-se sobre o que está sendo dito. Mas uma vez É estranho e difícil de entender que esse fato nunca tenha ocorrido às
decodificada essa escrita cuneiforme, descobre-se que o que se diz é muito pessoas encarregadas dos hospícios, que, em vez de recrutarem turnos
pouco. Eisler oferece à guisa de fatos, suas próprias idéias sobre a relação especiais nessas ocasiões, teriam apenas que abaixar as cortinas; uma vez
dos metais com os planetas, além da relação dos mesmos com pedras que, segundo Eisler, "qualquer tecido, por mais fino que seja, serve para
preciosas e plantas, para finalmente afirmar que não há provas empíricas proteger o indivíduo".
em apoio a essas teses, o que é sem dúvida correto. Mas, também não há Em 1946, foi observada uma série de fenômenos, com o objetivo de se
evidências empíricas que as refutem. demonstrar uma periodicidade correspondente às fases da Lua. Tudo isso
é tranqüilamente atribuído por Eisler à simples claridade da Lua,
esquecendo-se o sábio de que neste caso não haveria absolutamente
Finalmente, qualquer parede, cortina ou tecido, por mais finos que sejam, servem para
proteger o corpo do recém-nascido das influências planetárias, sem falar no embrião
nenhuma periodicidade, dependendo as variações verificadas
protegido pelo corpo materno, que é absolutamente impenetrável por qualquer emanação simplesmente do fato gratuito de haver noites claras e noites escuras
de calor ou luz provinda dos astros. Pelo contrário, as descobertas mais recentes, sobre nubladas.
raios cósmicos que realmente nos atingem a todo momento, vindos das profundezas do "O selenotropismo de certas plantas que voltam suas flores para a Lua
espaço, nunca foram tomados em consideração pelos astrólogos...(9) Se os astrólogos,
como nossos antigos estudiosos, quisessem comparar as influências planetárias com 'a
de noite tem sido observado. E bastante análogo ao heliotropismo de
atração da palha pelo âmbar' — isto é, eletricidade — ou com a atração do ferro pelo ímã certas plantas que se voltam para o Sol durante o dia, presumindo-se que
— isto é, magnetismo — a resposta mais simples a essa pretensão seria a de que os físicos possa ser explicado por um mecanismo semelhante. "(11)
modernos dispõem de instrumentos muito preciosos para detectar e medir os distúrbios Mas ninguém sabe que mecanismo similar é esse, e por que certas
eletromagnéticos na nossa atmosfera; e que sabe que esses distúrbios provêm do Sol, mas plantas se voltam para o Sol, outras para a Lua, e outras para parte
não dos planetas, que simplesmente refletem a luz solar, não sendo responsáveis por
nenhum tipo de radiação autogerada. alguma.

Menos afortunado que o homem de boa razão de 1857, foi preciso ...De qualquer forma, esses fenômenos absolutamente naturais bastam para explicar a
menos de 10 anos para fazer essa afirmação científica parecer inteiramente crença tão difundida entre camponeses e jardineiros de que é conveniente plantar as
sementes e realizar as colheitas em tempo de mudança de Lua.(12)
infundada. Está hoje definitivamente estabelecido que Júpiter, com As teses de Madame Kolisko, apresentadas em seu livro The Moon and Plant
certeza, e outros planetas, provavelmente, emitem ondas de rádio, tendo Growth, publicado pela Sociedade Antroposófica — de que, de acordo com experiências
todos os planetas uma carga magnética própria, não se sabendo o que de laboratório, o crescimento de todas as plantas, sem distinções, é mais rápido e eficiente
ainda esperar das próximas descobertas. quando se faz o plantio dois dias antes da Lua Cheia, gerando-se o efeito contrário quanto
o plantio é feito dois dias antes da Lua Nova — com exceções inexplicáveis na altura do
A tirada transcrita acima foi especificamente dirigida contra quarto crescente — foram testadas pelos Srs. J. Maby, BSC, ARCS, FRAS, e T. Bedford
Ptolomeu, pela sua tentativa de explicar os fenômenos físicos por causas Franklin, MA, FRSE, co-autores de um livro notável, The Physics of the Divining Rod
astrológicas. Por mais divertido que pareça, Eisler, depois de muitas voltas (1939), sendo a conclusão geral no período de fevereiro a julho de 1938 que "não se pôde
em torno do assunto, usa exatamente fazer nenhuma distinção clara entre a Lua Cheia e a Lua Nova no período considerado".
Esse resultado é tanto mais significativo quando se confirma a imparcialidade e o espírito
aberto dos investigadores, que afirmam
seu propósito de repetir a experiência eliminando determinados fatores que podem ter É estranho que Eisler não consiga ver nessa terminologia pitagórica de
conduzido a essa resposta negativa, uma vez que eles esperavam, animadamente, um Amor e Luta a noção contemporânea de atração e repulsão, de positivo e
resultado positivo.(13) negativo. Estranho, também, que desde a sua recusa de aceitar a idéia de
estrelas guerreiras a radioastronomia já nos trouxe notícias de galáxias em
Escrita provavelmente na Lua Nova, ou quando o autor estivesse colisão (ou em guerra). Será que os antigos conheciam esses fatos? E
protegido por algum tecido fino das influências benéficas da Lua Cheia, provável que não, mas talvez Velikovsky tenha razão, e fenômenos como
esta passagem é, à primeira vista, não-eisleriana, e, à parte sua sintaxe esses tenham ocorrido no nosso sistema solar em tempos imemoriais. Por
tortuosa, quase racional. que não? Não há nenhuma prova de que isto seja impossível, nem ao menos
Dois estudiosos, com várias letras depois do nome, submeteram a teste uma teoria destinada a levantar essa impossibilidade.
de laboratório as afirmações duvidosas de outra estudiosa, sem letras depois Num certo sentido, não é justo chamar Eisler à arena nessa discussão
do nome, concluindo, depois de vários meses de teste, que os resultados sobre os astros. The Royal Art of Astrology não é nem um trabalho erudito;
alegados não se confirmaram. A declarada pretensão de repetir o teste na verdade, não passa de uma paródia do que está ou sempre esteve errado
confirma a sua objetividade. entre os eruditos. Mas há algo de magnífico, no fim das contas: é que Eisler
No entanto, entre essa disposição e o momento em que Eisler escreve não deixou de levar a extremos nenhum simplismo ou excesso acadêmico; é
transcorreram oito anos. Terão os referidos cavalheiros deixado de repetir como se tivessem contratado Goya para ilustrar uma Enciclopédia de
seu teste por causa da guerra? A intenção de refazer um teste, Pedantismo.
evidentemente, não significa que fatalmente ele será refeito. E basta uma Swift e Voltaire, apesar do tipo de vida que levavam, tentavam trazer o
olhada superficial pelas bibliotecas para se constatar o erro de muitos ideal do racionalismo para seu estilo de escrever. Mas, Eisler faz o seu apelo
estudiosos. à razão ao longo de 2% páginas perfeitamente apopléticas. E, no entanto,
Eisler se esquece de afirmar que as teses de Madame Kolisko resultam apesar de sua extensão e seu caráter violento, The Royal Art of Astrology
de uma série de experiências de laboratório aparente-mente rígidas e sérias, não adianta nenhuma prova além das contidas nos parágrafos inteiramente
abrangendo um período de 12 anos, publicadas em livro fartamente alheios aos fatos mais elementares escritos por outros oponentes.
ilustrado, mostrando a influência da Lua sobre o crescimento das plantas. Temos até aqui citado uma série de fontes que se opõem à astrologia,
Não pode haver engano quanto a isto. Ou bem Madame Kolisko está demonstrando a mesma incapacidade de apresentar provas ou sequer
certa, e neste caso a Lua realmente afeta o crescimento das plantas, ou bem levantar alguma ponderação teórica que venha em apoio às suas pretensões.
ela é uma charlatã que falsificou um número considerável de fotografias Mas, existe por trás de cada um desses depoimentos algo que lhes é comum,
para demonstrar uma tese errada.(14) E bem possível que as conclusões dos uma certa coisa que os unifica a todos, embora não seja muito fácil de
senhores Maby e Bedford se alterassem, se submetidas ao novo teste identificar, nem de, à primeira vista, entender. E temos de pelo menos essa
prometido e não realizado. vez ser gratos a Eisler, que, com seu amor ao excesso, parodia esse princípio
comum de maneira perfeita.
De acordo com a cosmologia animista e antropomórfica de Empédocles — projetando Ele explica a experiência religiosa, as visões dos místicos.
nossas características puramente humanas ou animais no universo remoto, em seus silêncios
profundos — o mundo é regido pelo Amor, e pela Luta. Assim, o astrólogo deve tentar Mas, algumas pessoas estão tão acostumadas a verem as coisas por um ângulo
descobrir, curiosamente através da Geometria, as simpatias e antipatias celestes, dividindo o destorcido e irracional, perdem tanto tempo a se fascinarem com a visão de uma bola de
Zodíaco em grupos rivais de aliados e adversários. 'Utque sibi coelum, sie tellus dissidet cristal, que se acabam submetendo a um fluxo de imagens como se sonhassem acordadas. A
ipsa' ("Assim como o céu é uma casa dividida, assim a Terra se divide contra si própria.") é ruptura se torna ainda mais efetiva quando a escuridão das tendas de adivinhos é
o que afirma Manilius — a verdade sendo aquela loucura humana que acredita serem os estranhamente quebrada pelo reflexo luminoso de algum diamante ou cristal. De fato, -o
astros que atiçam as guerras, que até os nossos dias ainda se fazem... o que Firmicus indivíduo contemplativo pode cair no que se chama de "transe", um estado de "bebedeira
Matternus transcreve do Livro de Abraão (!) que se afirma ter trazido essa sabedoria sóbria",
pessimista da Ur dos Caldeus, e é o quanto basta para tocar todos os demais dogmas
astrológicos com a mão do absurdo (15).
como os místicos antigos definiam o estado da alma induzida a um estado semelhante através apenas seus aspectos principais. E apesar de termos referido alguns deles no
da contemplação de miríades de pontos luminosos contra o veludo azul ou negro do espaço curso da investigação histórica que abriu o livro, por amor à inteireza do
constelado.(16)
trabalho, permitir-nos-emos indicar todas as objeções que se fazem, para
E assim o mistério finalmente se resolve. Por não entender que o Reino depois distinguir entre elas.
dos Céus era um ilusão de ótica, Cristo morreu na cruz. Por não terem tido a
lembrança de recordar a seus seguidores o uso de bolas de cristal, Buda, Lao
Tsé, Zoroastro, os místicos hindus e os sufis islâmicos perderam um tempo
precioso em concentração, contemplação e relaxamento para imporem a
vontade sobre o caos, para subtraírem os homens do domínio dos sentidos,
que é a sua condição. O Mestre Zen leva anos dominando seu espírito para
que, num único momento privilegiado, a mão, o pincel e a montanha se
façam um sobre o papel. Tudo em vão: bastava-lhe dar uma olhada numa
bola de cristal. Desde que a História se desdobra, os sábios têm meditado, os
monges não cessaram de rezar, os derviches trabalharam e jejuaram;
construíram-se templos, catedrais, mesquitas e pagodes; desenvolveu-se uma
grande tradição de arte, música e poesia sagradas; tudo isso sem a menor
necessidade; tudo porque nossos ancestrais, mal informados, insistiam em
imaginar que, entre o êxtase lúcido dos santos e o estado de auto-hipnose dos
pesquisadores modernos, deveria existir uma diferença qualitativa.
Graças a Eisler podemos agora entender por que ele e seus colegas
eruditos e cientistas têm tal opinião sobre a astrologia, e, na verdade, sobre
tudo que nos chegou do passado.
Esses homens, que nunca construíram uma catedral, jamais dançaram a
dança do derviche, não conhecem o poder da meditação, seja por meia hora
apenas, negam a possibilidade de tal diferença qualitativa. Acreditam que
essas atividades não passaram da forma mais antiga e ingênua de suas
próprias disciplinas. Sua atitude em relação à arte antiga é de
sentimentalismo e/ou condescendência, enquanto que sua postura diante da
ciência antiga é (na melhor das hipóteses) a que se deve aos antepassados .(
17)
No que respeita à astrologia, julgada a priori como uma falácia, seus
críticos acreditam que qualquer argumento contra ela é válido; a astrologia
não pode funcionar; portanto, não funciona.
Não obstante, há objeções que são válidas, e outras que não o são. Os
astrólogos sabem a diferença, e as objeções fundamentadas são matéria de
intensa discussão. Uma vez que algumas delas são extremamente intrincadas
e técnicas, vamos abordar
a influência dos planetas nas suas relações com a Terra. E de presumir-se
2 O Conselho da Rainha que os astrólogos tenham ficado tão chocados com à revelação de que a
Terra gira em torno do Sol quanto os próprios filósofos e escolásticos, mas
isto não afetou em nada a sua astrologia. Como já ressaltamos, nem
Copérnico, nem Kepler, nem mesmo Newton admitiram, sequer, a hipótese
1. A teoria heliocêntrica de Copérnico explodiu a astrologia, que se de que a descoberta de Copérnico tivesse destruído a astrologia. Por outro
baseava num esquema geocêntrico. lado, parece inegável que essa teoria não era desconhecida entre os egípcios
2. A descoberta dos novos planetas não pode ser incorporada à astrologia e os pitagóricos, como entre os chineses e hindus, e no entanto, a astrologia
tradicional, destruindo, assim, o velho sistema baseado no número dos floresceu em todos esses lugares.
planetas antigos, que era sete.
3. Para que a astrologia tenha alguma validade, é preciso haver ação à 2. Os novos planetas. Este é indubitavelmente um problema, dos que
distância, e isso foi negado pela física moderna. não podem ser resolvidos pela astrologia no seu estado atual de
4. O Sol não passa de uma massa incandescente. Os planetas não passam degenerescência. Seria necessária uma pesquisa de larga escala para
de globos de material mais ou menos solidificado, constituídos de minerais, determinar o que os novos planetas significam para incorporá-los ao cânon.
gases e metais, não podendo, desta forma, influenciar a vida na Terra. Tradicionalmente, a lei dos sete era um princípio sagrado, e a existência
5. A astrologia deixa de tomar em consideração a precessão dos de um sistema de cinco planetas, mais o Sol e a Lua, constituía uma prova
equinócios, baseando-se, portanto, num zodíaco imaginário. física altamente conveniente da natureza sagrada da lei, especialmente
6. De acordo com a Genética, toda a nossa herança nos é transmitida na quando eram encarados como um círculo sereno a girar em torno da Terra,
concepção, quando o esperma e o óvulo se unem. Compreende-se, portanto, que podia, então, ser excluída do sete sagrado.
que os caracteres físicos e, em grande medida, psíquicos são fixos. Se A descoberta dos novos planetas não altera em nada a lei dos sete.
portanto a astrologia pretendesse ter algum valor, teria de basear os Apenas essa lei não se' manifesta como os astrólogos medievais achavam
horóscopos no momento da concepção, o que é extremamente difícil de que se manifestava. E na falta de facilidades para desenvolverem uma
descobrir, uma vez que a fertilização pode realizar-se 24 horas depois do ato pesquisa mais ampla, os astrólogos ficam incapazes de comprovar com fatos
sexual. indiscutíveis as diversas teorias que surgiram para justificar o aparecimento
6a. Gêmeos e gêmeos no tempo: crianças nascidas no mesmo minuto e dos planetas novos e o papel desempenhado por Urano, Netuno e Plutão.
no mesmo lugar teriam de ser, de acordo com a astrologia, perfeitamente Chegou-se, em termos gerais, a uma concordância quanto à natureza
iguais. dos planetas. Urano é o planeta da revolução, das mudanças violentas, da
6b. Parto antecipado; se a astrologia está certa, deveria admitir que o democracia e da Tecnologia. Netuno é um planeta da água, um tanto
parto antecipado altera completamente o caráter do nenê que dele nasça. misterioso, Maneta de coisas - ocultas, de drogas, de romantismo, de sutis
7. Como pode a astrologia explicar o genocídio? Teriam todos os judeus estados de espírito. Plutão é o planeta responsável pelo aproveitamento e
mortos por Hitler a morte violenta inscrita nos seus horóscopos? governo dos poderes subterrâneos, planeta de totalitarismos e cataclismos —
8. O próprio Zodíaco não passa de um círculo imaginário, como seu próprio nome indica. Não importa que os nomes tenham sido
e todos os demais conceitos astrológicos, como casas, relações criados para homenagear os astrônomos Percevai Lowell e C. W.
e os sentidos atribuídos aos planetas, não passam de fantasias arbitrárias, Tombaugh. Os astrólogos não costumam atribuir nada a coincidências,
sem nenhuma base empírica. assim como os cientistas estão sempre dispostos a responsabilizá-las por
tudo.
1. Teoria Copernicana. A redescoberta dos princípios de
heliocentrismo destruiu a cosmologia medieval, e foi um golpe de morte
para toda a Idade Média. Mas, a astrologia estuda
Como foi que os astrólogos chegaram a essas conclusões? Segundo essa linha especulativa, os astrólogos apresentam também a
Colecionando casos; por analogia; por terem sentido os novos planetas; opinião de que os novos planetas não se manifestam na consciência
por simbolismo da astrologia hindu, que sempre afirmou a existência de 12 individual em toda a extensão do gênero humano, preferindo, pelo contrário,
planetas correspondendo aos 12 signos e a funções determinadas mas escolher determinados indivíduos excepcionalmente dotados — sendo que
mutáveis, em resumo: chegaram a essas definições pelo processo que na esta concepção é particularmente imune à investigação científica.
Ciência se chama "formação de hipóteses"? Pode-se atribuir validade a Na tentativa de enquadrar os novos planetas no velho conceito de
essas conclusões? Ninguém pode saber, antes de submetê-las a testes harmonia das esferas, tem-se afirmado que esses planetas determinam o
controlados cientificamente. início de uma nova série (conservando-se, assim, a lei dos sete), uma nova
Por outro lado, ao tentarem colocar os novos planetas dentro do seu oitava, como se diria em linguagem musical. Urano, Netuno e Plutão
esquema anterior, os astrólogos caem num problema indisfarçável. representariam, assim, uma oitava superior, ou mais espiritual, de Mercúrio,
Geralmente, considera-se que o aparecimento dos novos planetas não Vênus e Marte, respectivamente.
representa um corolário do nascimento da Ciência, mas que, pelo contrário, Não é necessário dizer que nada disso pode ser chamado "ciência";
que esse desenvolvimento científico representa uma nova fase da História trata-se tão-somente de especulações baseadas em conceitos astrológicos que
humana, um espalhado acesso às faculdades e descobertas do intelecto podem estar muito na moda, mas que permanecem improvados, e são mesmo
(representando a revolução industrial um primeiro momento desse muito difíceis de provar. Não obstante, uma vez que se acumulam provas
desenvolvimento), desempenhando os novos planetas o papel de símbolos sobre a relação céu/terra, as formulações hipotéticas dos astrólogos podem
dessas novas oportunidades. revelar-se tão inspiradas quanto as formulações de hipóteses dos cientistas.
O argumento da astrologia é desavergonhadamente analógico a esse, O que sem dúvida não nos faz esquecer que a descoberta dos novos planetas
mas isso talvez ainda não seja o pior.(18) representa um problema difícil e delicado para os astrólogos.
Os astros nascem, desenvolvem-se, morrem. (A Ciência põe aspas
nessas afirmações.) Os seres humanos nascem, crescem, morrem. 3. A ação a distância é impossível. Esta teoria era muito empregada
Analogicamente, a vida orgânica e a raça humana, como manifestação para sustentar um universo mecânico, onde se imaginava que entre um
dessa vida, teriam de submeter-se ao mesmo processo, que, em relação aos planeta e outro mediasse um espaço vazio. Esse argumento foi usado por
seres humanos (não podemos adiantar nada em relação às estrelas), se Eisler em 1946. Mas, os conhecidíssimos ciclos solares e uma série
manifesta de maneira abrupta mas discreta. Quando uma criança chega à infindável de outros fenômenos já hoje invalidam essa tese. (Ver Terceira
puberdade, influências que há poucos meses seriam ignoradas manifestam- Parte.)
se de forma particularmente aguda. E algo semelhante a isto pode estar
agora mesmo acontecendo a toda a humanidade, sustentam os astrólogos.
Por causa do movimento extremamente lento dos novos planetas, as 4. A influência solar e planetária é impossível. O Sol não passa de
massa incandescente etc. Essa objeção, muito comum, não é na realidade
relações entre eles podem durar anos, podendo-se, então, apresentar a
uma objeção, mas uma afirmação de caráter negativo. Declara, com efeito,
objeção de que todas as crianças nascidas nessa época partilhariam dessas
que o Universo é desprovido de sentido. Mas não é mais fácil ou possível
influências, apesar de individualmente terem nascido em momentos
demonstrar esta afirmação do que a afirmação contrária.
diversos. Os astrólogos acham mesmo que talvez um fato dessa natureza
E se é difícil imaginar o Sol e os planetas dotados de consciência e
explique o famoso "Fosso geracional". As explicações históricas que nor-
vontade, conhecendo, como conhecemos, seus constituintes químicos,
malmente se dão a fatos dessa natureza têm sido sempre posteriores aos
podemos, como analogia, tomar o exemplo de uma célula sangüínea no
fatos, e seria interessante se os astrólogos pudessem prever as diferenças
nosso próprio corpo. Possuída de algum tipo de consciência, será a célula
caracterológicas, digamos, de uma geração nascida com Netuno em Libra,
sangüínea capaz de
e outra com Netuno em Escorpião.
imaginar que a razão de sua acelerada velocidade é o nosso medo repentino? errada. Os Sideralistas afirmam que só o zodíaco móvel, sideral, é
Os astrólogos, sejam lá quais forem as divergências internas que os verdadeiro, afirmação que têm tentado provar com uma série de pesquisas
dividem, aderem todos ao antigo princípio do "assim na Terra como no céu". estatísticas.
O sistema solar é considerado um "organismo", os planetas são expressões Seus oponentes (a maioria dos astrólogos convencionais) replicam que
das funções desse organismo, da mesma forma como os vários membros do essas estatísticas podem ser interpretadas de diversas maneiras, e
corpo são expressões e instrumentos de suas funções. E claro que demonstrar reafirmam que suas próprias experiências coletivas confirmam a validade
as funções dos planetas é um problema de outra ordem. Mas, sem dúvida, a do Zodíaco Tropical.
objeção de que a astrologia está errada porque os planetas não passam de um Mas, seguindo uma pista que nos chega desde os antigos egípcios,
acúmulo de rochas e gás tem que ser descartada; é o mesmo que afirmar que talvez possa afirmar-se que os dois Zodíacos não são inimigos, nem
o homem não passa da soma de seus compostos químicos (teoria defendida mutuamente excludentes. E evidente que as leis que regem a vida sobre a
por alguns psicólogos do comportamento, mas desaprovada mesmo por seus Terra não evoluíram de acordo com o Zodíaco Sideral. O equinócio da
colegas cientistas, que; por algum motivo, consideram essa premissa lógica primavera continua ocorrendo no dia 22 de março, e o primeiro dia da
repelente). primavera ainda é Zero graus de Áries. E se há alguma verdade na
astrologia, então essas leis deveriam valer identicamente para o homem e
5. A astrologia deixa de tomar em consideração a precessão dos para a vida orgânica.
equinócios. O assim chamado zodíaco "Tropical", usado pela maioria dos Por outro lado, não se pode negar importância astrológica à precessão
astrólogos, é fixo. Cada ano começa a Zero graus de Áries. Não obstante, por dos equinócios. Foi essa precessão que iniciou as Idades de Touro, Áries e
causa da precessão dos equinócios (ver pág. 47 e segs.), no dia do equinócio Peixes, e vai iniciar breve a Era de Aquário.
da primavera — quando o dia se divide igualmente entre dia e noite — o Sol Talvez o recurso a uma analogia ajude a resolver o problema.
não nasce a Zero graus de Áries, mas, recuando, gradualmente, levanta-se a Imagine-se uma cidade auto-suficiente no interior de um grande império.
7 graus de Peixes. Isto significa, em termos de prática astrológica, que uma A cidade tem suas próprias tradições, feriados, santos e heróis locais, seu
pessoa nascida em 24 de março é considerada ariana, mas na verdade o Sol, - próprio ritmo de vida. A um observador não avisado parecerá autônoma e
nesse dia, está nascendo em Peixes. Será essa pessoa, portanto, ariana, ou imutável. Mas, na verdade, essa cidade está ligada ao complexo de regra e
cairá ela sob a influência de Peixes? leis que governam o império. De tempos em tempos chegam instruções e
Os críticos apresentam essa objeção sem nem ao menos se darem ao mensagens; introduzem-se alterações mínimas, mas seguras, nos ritmos e
trabalho de investigar como o problema é colocado nos círculos astrológicos. procedimentos. Para os próprios habitantes, não se revelam essas
Essa questão tem sido reconhecida há séculos. Ptolomeu deve ter sabido alterações como minimamente significantes; e só pela pesquisa de
dela. E se Schwaller de Lubicz tem razão, os egípcios tinham plena depoimentos e marcos deixados pelos antepassados é que se poderá
consciência dele e de sua complexidade, sendo seus três calendários, que avaliar a sua extensão. A cidade corresponde, evidentemente, ao Zodíaco
operavam conjuntamente, um reflexo desse conhecimento. Tropical, diário, seguido pela maioria dos astrólogos; o império pode ser
Hoje em dia, existe um pequeno mas ruidoso grupo de astrólogos na relacionado ao Zodíaco Sideral, cujas determinações e regras imperativas
Inglaterra e nos Estados Unidos, sustentando que o Zodíaco Astral, aquele são quase completamente inapreensíveis.
que se move de Áries para Peixes, é o único verdadeiro, e a astrologia (em Do ponto de vista prático, portanto, parece que os astrólogos estão
grande parte devida a Ptolomeu, em cuja época o calendário Sideral grandemente justificados (ao menos teoricamente) por se manterem
coincidia com o Tropical), que não reconhece isto, tem-se tornado firmemente agarrados ao Zodíaco Tropical. Utilizar de maneira consciente
crescentemente o Zodíaco Sideral pode ter sido muito fácil para os egípcios, mas é
praticamente impossível para nós. Se fosse, nós provavelmente estaríamos
empenhados agora em elaborar sistemas para a Era de Aquário,
objetivando adequar
o homem ao seu tempo. Em vez disso, estamos voando para a Lua. Não há nenhum argumento genético para informar a experiência milenar
de incontáveis gerações de astrólogos; nem ninguém se preocupa em
6. Tudo que recebemos como herança nos é legado no momento da explicar o que os livros esotéricos egípcios afirmam sobre a entrada da alma
concepção. Se a astrologia pretendesse ter algum tipo de validade, no corpo; os cientistas modernos negam essas fontes.(19)
deveria basear os horóscopos no momento da concepção. Já nos O argumento central da Genética contra a astrologia vale tanto quanto a
referimos aos livros de Hermes Trismegisto, cujas ligações com a tradição própria Genética. E na Genética, como em qualquer outro ramo da Ciência,
egípcia é reconhecida por todos os estudiosos. Esses livros fragmentários as novas descobertas tendem mais a abrir do que a fechar o horizonte dos
incluem métodos precisos de determinar o momento da concepção. conhecimentos. Excertos do relatório de uma recente experiência poderão
Recentes pesquisas do psicólogo tcheco Eugen Jonas parecem pôr em servir para provar a nossa afirmação:
dúvida nossas velhas certezas (ver pág. 174 e segs.)
Até poucos anos atrás, a ciência da hereditariedade — considerada como um sistema
Mas isso não responde à objeção. Porém, basta para confirmar que os altamente complexo — estava bastante seguramente definida. Dizia respeito à Genética, o
antigos tinham consciência da importância astrológica da concepção, e estudo dos genes no interior das células. A recente descoberta de que a substância genética —
lidavam de alguma forma com o problema. Mas o que dizer da noção DNA — também pode existir fora desses núcleos, por exemplo, nas subcélulas conhecidas
astrológica de que é o instante do nascimento o decisivo para a como mitocôndrias, turbou as águas tranqüilas da corrente mendeliana. Agora, essas águas se
determinação da personalidade e do destino da pessoa? Isso não contraria tornaram ainda mais barrentas: um trabalho recém-publicado levanta a hipótese de que os
genes talvez não sejam o único fator envolvido na hereditariedade.
todas as pesquisas mais recentes no campo da Genética? Roger Williams, bioquímico da Universidade do Texas... descobriu que em relação a
Não inteiramente. Mas o argumento dos geneticistas pelo menos é ratos que tinham sido gerados durante 101 gerações, de modo que seus genes não poderiam
coerente, e merece ser tratado com seriedade. ser idênticos, revelaram-se grandes diferenças na análise da sua urina, apesar de todos os ratos
A teoria genética considera que "não somos nada mais" do que o estarem submetidos à mesma dieta. Desde então tem demonstrado que variações enormes —
próximas a 60 por cento — podem ser registradas em animais desta forma preparados, e
produto de nossos genes. De acordo com o Penguin Dictionary of Science, abrangendo áreas de comportamento tão diversas quanto a disposição ao consumo do álcool,
um gene é uma "partícula hipotética, constituindo parte de um escolha de alimentos e tendências a exercícios. Quais as causas dessas variações, se as razões
cromossomo... O gene é encarado como sendo uma configuração molecular normalmente apontadas para explicar as origens da individualidade — condicionamento
específica dos ácidos nucleicos... num ponto particular do cromossomo... genético e meio ambiente, e as relações entre ambos — eram idênticas? Williams tem uma
ver Código Genético." Vejamos: Código Genético. O código segundo o teoria sobre a matéria. Forjou a teoria de que existem outros fatores — além dos genes e do
meio — envolvidos no controle do complexo processo de diferenciação, no qual um
qual determinadas características hereditárias são transmitidas de geração a organismo, contendo centenas de milhões de células diferentes, desenvolve-se de um único
geração. O código é expresso pela configuração dos cromossomos. óvulo originário.
A hereditariedade, portanto, depende da configuração dessas unidades Com Eleanor Shorrs, Williams desenvolveu uma série de experiências com pequenos
hipotéticas no interior dos cromossomos. Mas, que determina a quadrúpedes (Anais da Academia Nacional de Ciências, vol. 60, pág. 910). Estudaram 20
parâmetros, inclusive o peso dos órgãos e bases bioquímicas, confirmando-se que todos
configuração? A resposta científica é coincidência. Mas, os astrólogos variavam extremamente de 140 por cento. A hipótese de Williams aparentemente se confirma.
respondem "as estrelas." E embora não possam ainda provar nada nesse As implicações desses experimentos são profundas. Podem ser resumidas pela afirmação
sentido, a hipótese do determinismo astral vem sendo crescentemente de que os genes não precisam necessariamente ter muita importância no processo da
desenvolvida e apoiada. O gene hipotético nunca foi observado, e se existe, hereditariedade (grifo nosso) — uma afirmação bastante revolucionária. Algumas das
há num nível molecular, abrindo-se, portanto, a influências extremamente características mais profundamente assentadas de determina-
delicadas. Evidências cada vez mais fortes atestam a sensibilidade das
reações químicas às influências eletromagnéticas existentes, e essas
influências, por sua vez, estão ligadas 'a condições extraterrenas. Os
astrólogos podem defender, pelo menos teoricamente, a possível validade
do horóscopo elaborado sobre o momento da concepção. Mas isso, por si
só, não justifica a validade do horóscopo baseado na hora do nascimento.
Pode alguém adquirir, com a primeira respiração, características anteriores
inexistentes?
da raça — forma, inteligência, disposição, fertilidade, força etc. — variam de maneira Do ponto de vista da escala harmônica, isto corresponde ao segundo,
excessivamente contínua para serem explicadas por simples mudanças de genes. terceiro, quarto e duodécimo graus. Mas, se esses graus têm alguma
Normalmente, aceitando que os genes sejam os transmissores da inteligência, os geneticistas significação, seus múltiplos devem também exprimir alguma coisa. E,
admitem que essa espécie de característica envolve uma multiplicidade de genes. Mas se,
como William pensa, existem fatores externos aos genes, e que podem controlar os genes
realmente, desde os tempos mais remotos os astrólogos têm tentado utilizar
(o grifo é nosso), fatores presentes numa série de células, dependendo apenas da distribuição um sem-número de divisões diferentes. Os signos de 30 graus são divididos
que esses fatores vierem a ter nessas células, então a explicação dessas infinitas variações em três seções iguais, cada uma delas representando um decanato (o
torna-se muito mais fácil. E existem evidências reveladas pelo estudo que os biólogos têm trigésimo sexto grau harmônico), os astrólogos hindus trabalham com áreas
realizado sobre moléculas, de que esses fatores citoplasmáticos, controladores dos genes — de três graus (o centésimo vigésimo grau harmônico), e multiplicam-se
indutores e repressores — existem...(20)
sistemas — novos e antigos — que tentam atribuir significações específicas
Assim, a responsabilidade foi desviada dos genes para os também — mas via de regra simbólicas — aos diversos graus individuais. Isto está
hipotéticos fatores de indução e repressão, mantendo-se dessa forma um inteiramente de acordo com a teoria astrológica. Os gêmeos nascidos com
decente e decoroso materialismo. As experiências de Williams também não poucos minutos de diferença realmente se distinguiriam no plano desses
confirmam, evidentemente, nenhuma tese astrológica. Mas, objetivamente, altos graus harmônicos. Mas abordar o problema de maneira prática é outro
destrói o argumento antiastrológico de origem genética: as descobertas da caso, e os astrólogos mais bem dotados para esse tipo de investigações estão
moderna Genética não invalidamos princípios da astrologia. Os astrólogos concentrados em problemas mais imediatos.
discutiram, durante muito tempo, se a origem das características hereditárias 6a. Gêmeos de tempo. Crianças nascidas no mesmo minuto e lugar
estaria ligada ao momento da concepção (o que, teoricamente, deveria ser deveriam ser idênticas, não importando que tivessem mães diferentes.
detectável, no horóscopo dos pais, se a astrologia fosse suficientemente Tem-se recolhido um bom material sobre isso, de maneira sem dúvida
refinada), enquanto que a personalidade estaria ligada ao momento do muito desorganizada, mas já se pode dizer que as crianças nascidas no
nascimento. mesmo momento e lugar efetivamente partilham algumas características
Não obstante, dentro dos limites da argumentação genética, podem-se comuns. Com grande freqüência descobriremos que têm o mesmo nome,
apresentar algumas objeções interessantes, como as que se apresentam em casam-se com mulheres ou homens de nomes idênticos, trabalham m ocupa-
relação aos gêmeos. ções semelhantes, têm sucesso ou insucesso pelas mesmas razões e morrem
A eterna questão de gêmeos idênticos tem preocupado constantemente de causas idênticas ou semelhantes. (Ver gráficos 10-13 para alguns
os astrólogos, bem como os geneticistas. Na teoria astrológica, cada minuto exemplos visuais. E o apêndice 2 para um exemplo extraído de vários casos
é relevante. Uma diferença de 10 minutos no nascimento pode significar idênticos ilustrativo do fato.) Pode tudo isto ser atribuído ao Bom Deus, à
que o ascendente de um dos gêmeos se encontra num signo diferente do do Coincidência, sem problemas?
outro, o que acarreta a mudança simultânea de todas as casas. Por outro Os astrólogos acham pouco provável que se possa fazê-lo, a sério.
lado, uma diferença de 10 ou mesmo 20 minutos pode não fazer nenhuma Mas, por outro lado, admitem que os fatos relatados são aqueles que de uma
diferença para o horóscopo, quando o ascendente estiver "colocado no meio forma ou de outra ganharam uma certa notoriedade, destacaram-se dos
do signo (rodando uma vez em cada 24 horas a Terra permanece em cada demais. Porque sem dúvida existe uma série de gêmeos desse tipo que não
signo durante duas horas). Porém na prática, baseando-se apenas nos apresenta tantas e tão importantes características em comum. Mas, como
horóscopos, os astrólogos são incapazes de distinguir os gêmeos idênticos sempre acontece com a astrologia, os detratores criticam com a mais
dos que apresentam amplas diferenças. E, para complicar ainda mais a absoluta ignorância dos fatos, e os defensores encontram-se num
questão, o problema da divisão de casas é inteiramente deslocado.
Se o problema admitir qualquer tipo de resposta, esta deverá ser uma
interpretação refinada do problema das áreas de graus individuais. Como já
vimos, o Zodíaco está dividido em polaridades, triplicidades, quadraturas,
tudo obedecendo a um princípio duodecimal, de acordo com Pitágoras.
estado de desorganização que lhes torna difícil mostrar alguma coisa de Que é que, hoje em dia, causa as diferenças entre raças, nações,
concreto por trás dos casos, já de si muito sugestivos, mas incapazes de, regiões, até entre cidades vizinhas? Qualquer pessoa poderá reconhecer,
isolados, justificar qualquer tentativa de mostrar que as semelhanças ainda que vagamente, que o caráter de uma região difere do de outra; que a
psicológicas e fisiológicas dos gêmeos de tempo ocorrem com uma atmosfera num ponto do rio é bastante diferente da que se surpreende
freqüência excessivamente alta para poderem ser atribuídas à simples poucos quilômetros mais abaixo; que uma cidade parece hostil, ao passo
coincidência. que, meia hora mais adiante, outra nos parecerá agradável. Os estereótipos
nacionais e raciais são investigados pelos racionalistas bem-pensantes, mas
6b. Parto produzido. Sustentariam os astrólogos que uma criança sobrevivem, porque qualquer coisa neles parece verdadeira, não importa
que tenha nascido de um parto produzido tem características muito que seja uma simples exageração ou extrapolação de traços desagradáveis.
diferentes das que teria se nascida de parto normal? Por mais difícil que Não há nenhuma forma de medi-lo, mas o fato é que os alemães nascem
seja sustentar essa tese, os astrólogos não tiveram outra alternativa senão previsivelmente alemães e os franceses ferrenhamente franceses.
fazê-lo. Mas, à semelhança da questão dos gêmeos, os astrólogos tendem a Os astrólogos sabem que o tipo genético e o meio não são explicações,
achar este problema tão complicado e pouco promissor que preferem mas, sim, descrições: medidas aplicadas ao mistério. Os astrólogos
reconhecer sua ignorância e passar a outros aspectos mais palpáveis do seu formulam horóscopos para os grandes acontecimentos históricos, os
trabalho. tratados importantes, as constituições, as dinastias reais, os líderes e
ministros, as datas de importantes fenômenos climáticos e geológicos
7. Tragédias de massa: Teriam todos os judeus assassinados por (tremores de terra, enchentes, pragas etc.) procurando freqüências
Hitler a morte inscrita em seus horóscopos? Essa objeção comum e significativas entre os signos, analisando as posições relativas de um planeta
válida que se faz à astrologia foi levantada por J.B.S. Haldane, sendo ou grupo de planetas, pesquisando os graus específicos a que sejam sensí-
discutida de maneira muito superficial, embora se trate de uma das objeções veis nações, cidades ou raças. Os resultados nem sempre são satisfatórios,
mais sérias e repetidas. Os astrólogos afirmam que o destino individual está mas não, poucas vezes tem-se chegado a fatos que podem ser considerados
submetido ao destino mais amplo de sua cidade, estado, nação ou raça. Mas altamente animadores.
os astrólogos não se revelam capazes de distinguir o individual do geral, e
8. O Zodíaco é um círculo imaginário, e as demais noções
talvez mesmo nunca tenham sido capazes disso — os egípcios, tanto quanto
astrológicas — casas, relações etc. — são igualmente arbitrárias, e não
sabemos, usavam a astrologia pessoal para fins medicinais, não para
correspondem a nenhuma verdade objetiva. Esta é, evidente-mente, a
profecia; e sua astrologia profética servia aos vastos propósitos do Estado e objeção principal. Mas, afirmá-la apenas porque parece razoável não diz
da época, consagrando cidades, templos, territórios inteiros ao sentido dos absolutamente nada da sua validade. E preciso apresentar provas. Da
símbolos cósmicos, ou signos que regulavam aquela nação, templo ou
mesma forma, é preciso que essas provas. sejam fornecidas pelos
território. Não sabemos como os egípcios chegavam a suas conclusões.
astrólogos, em defesa da astrologia. Sem evidências não pode haver
Nem conhecemos até que ponto essas conclusões tinham sucesso, ou sequer
discussão científica.
eram relevantes — exceto pelo fato de que os 4 mil anos de civilização Não obstante, existe pelo menos uma boa razão teórica para não
egípcia não podem ser renegados; numa civilização que durou quatro menosprezá-la, pelo menos até se descobrir alguma prova. Em 1954, o
milênios, alguma coisa devia andar certa!
eminente físico e matemático P.A.M. Dirac escreveu: "Entre todas as
Os astrólogos persistem na prática da astrologia mundana. Seus
violentas mudanças a que tem sido submetida a teoria física nos tempos
resultados não são de molde a impressionar o cientista ou estatístico, muito
modernos, subsiste pelo menos uma rocha, que resiste a todos os temporais,
menos seus métodos aparentemente arbitrários convencerão os céticos; mas
e à qual sempre nos podemos agarrar com segurança — a certeza de que as
os problemas com os quais eles lidam deveriam interessar os sociólogos e leis da natureza correspondem a uma bela teoria matemática. Isto significa
cientistas sociais. uma teoria baseada em princípios matemáticos,
e que se ligam de maneira tão elegante que é um prazer trabalhar com
elas."(21)
Desse ponto de vista, a astrologia fazendo apelo ao senso estético do
homem como árbitro final da verdade é sumamente interessante. Porque Terceira Parte
pode dizer-se que, em falta de evidência clara, foi a atração estética exercida
pela astrologia que garantiu a sua sobrevivência por tantos séculos (cf.
Franz Cumont, pág. 66).
Os antigos egípcios, de acordo com Schwaller de Lubicz, não A EVIDÊNCIA
acreditavam no conhecimento advindo exclusivamente do cérebro; para
chegar à verdade insistiam em pensar com o coração. Quando Dirac afirma
que "as leis da natureza correspondem a uma bela teoria matemática", está,
na verdade, falando egípcio antigo.
Esse apelo à estética não é sentimental. Nos últimos tempos, mesmo o
materialismo mais empedernido tem-se baseado em valores, ou seja, em
afirmações de aprovação ou desaprovação — por exemplo, a afirmação de
que a vida na Terra é um acidente não é nem mais lógica nem mais ilógica
do que a afirmação contrária. Seguindo esses mesmos princípios, e
mantidos os demais fatores, seria muito mais lógico acreditar-se numa
teoria esteticamente satisfatória do que numa que não o fosse.

Vimos, assim, as principais objeções costumeiramente opostas à


astrologia. Acreditamos que não haja nada na moderna ciência que invalide
a astrologia, do ponto de vista teórico, e, insistimos repetidamente, não há
nenhum corpo de experiências que a invalide empiricamente. Pelo
contrário, existe agora uma série de evidências acumuladas no sentido de
confirmar o princípio básico das relações celestes-terrestres, e existem
algumas evidências de que princípios tais como o de casa, relações e os
sentidos atribuídos aos planetas não podem ser mais por muito tempo
ignorados.
As Evidências

A tentativa de pôr a astrologia em termos aceitáveis frente às disciplinas


modernas, aplicando a ela o que essas disciplinas apresentam de válido, tem
ocupado um bom tempo dos astrólogos desde o renascimento do interesse,
na virada do século.* Os objetivos dos astrólogos ao se aproximarem das
luzes da Ciência contemporânea foram sumarizados por John M. Addey,
presidente da Associação de Astrologia da Grã-Bretanha, numa
comunicação de 1959:
Muitos de nós pensam no século presente como aquele que marcou o renascimento e
fortalecimento da astrologia. A situação revela que foi feita uma série de avanços na
elaboração técnica dos horóscopos, e que, graças ao trabalho de alguns astrólogos, podemos
registrar um grande interesse pela nossa Ciência —um tipo de interesse latente, altamente
difundido, mas ainda não suficientemente aproveitado.
Não obstante, o que já se conseguiu parece muito pouco diante do muito que ainda há a
fazer. No que toca às regras para estabelecer os horóscopos, há uma série imensa de
dificuldades — os zodíacos, as casas, as relações — todas apresentando problemas cuja
resolução depende exclusivamente de um trabalho tenaz, persistente; a base filosófica ainda
precisa ser adequada aos tempos modernos; os princípios e leis metafísicos da nossa matéria
ainda não foram coordenados; nossos repertórios são difusos e contêm uma série de erros;
muitos elementos válidos da tradição jazem esquecidos nos antigos alfarrábios, necessitando
de ser traduzidos, e uma série de pesquisas, que precisam ser urgentemente feitas, é
negligenciada, e deixada ao sabor da vontade de quem queira empreendê-las, explicando-nos
depois seus resultados...
O principal obstáculo (à arregimentação de novos estudantes) é a oposição da
comunidade científica, e seria preciso checar o seu espírito crítico, abrindo o acesso a um
público mais amplo, tentando, desta forma, conseguir um número maior de estudantes...

Addey é bem sucedido em esclarecer o estatuto ambíguo da astrologia:


ninguém mais a chama uma ciência, pois sua aparência é mais a de uma
arte; ninguém mais a considera uma arte, porque crescentemente parece
possível interpretá-la cientificamente. E essa interpretação científica é
realmente necessária.
(*) Mas nesse número inclui-se uma porcentagem deploravelmente baixa de astrólogos. A
maioria continua a usar métodos de investigação e conhecimento tradicionais, não importa
quão errados estejam; enquanto que em outros setores predominam metafísicos de segunda
ordem, encarando a astrologia como coisa sacrossanta, intocável pela razão e pela
experiência.
Mas, uma vez reconhecida a necessidade de aplicar a pesquisa
científica à astrologia, entra em cena uma série de fatores para complicar a Mas, supondo-se que todos esses obstáculos pudessem ser superados,
questão. poder-se-ia indagar que seus esforços teriam ainda de ser feitos para
Para começar, a pesquisa na astrologia, como qualquer tipo de conseguir resultados satisfatórios.
pesquisa, requer muito dinheiro e pessoal treinado, fatores, ambos, muito A profecia astrológica, que conta com a maior popularidade entre os
raros. Além disso, os experimentos astrológicos são intrinsecamente crédulos e a maior desconfiança entre os educados, é quase que
irrepetíveis. A relação de um planeta com o outro está em permanente inteiramente estranha a um tratamento científico, visto ser quase que
mudança, e dessa forma torna-se impossível separar um fator ou grupo de indefinível em termos aceitáveis e precisos. Uma ilustração interessante
fatores e estudá-los fora do todo. desse fato é a que nos oferece o estudioso renascentista Pico della
Tomemos como exemplo a tentativa de determinar o sentido — se é Mirandola, na sua tentativa de refutar a astrologia estatisticamente. Pico
que há algum de Marte em Escorpião. Seria muito fácil recolher uma série testou a predição do tempo realizada pelos astrólogos durante 130 dias
de testes de grupo, realizados com indivíduos nascidos quando Marte consecutivos, e triunfalmente declarou que os astrólogos tinham acertado
estava em Escorpião. Mas cada um desses indivíduos há de ter o seu Marte apenas seis vezes. Porém, de acordo com a moderna teoria estatística,
em relação inteiramente original com cada um dos outros planetas, esses números representam um exemplo excepcional da significação
especialmente os que se movimentam de maneira particular, como a Lua, negativa. Para descobrir-se o tempo, bastaria inverterem-se as afirmações
Mercúrio e Vênus. Os ascendentes e meio-céus estariam espalhados a toda dos astrólogos, para ter-se uma margem de 95% de probabilidade.
volta do zodíaco, e se quiséssemos reduzir a pesquisa, por exemplo, a Pareceria, assim, que Pico estaria usando um método estatístico
pessoas de Marte em Escorpião em conjunção com um ascendente em inaceitável. E, pondo de parte a terminologia, seria muito difícil conseguir
Escorpião, teríamos de reduzir o teste de tal maneira que seus trabalhos um consenso entre os astrólogos sobre profecias; os testes podem
dificilmente poderiam ser validamente generalizados. demonstrar que enquanto dois astrólogos chegam a resultados consistentes
Daí, sem dúvida, se deverá depreender que a astrologia jamais poderá mais de 10 não os alcançam nunca, ou muito raramente, ou apenas nos
ser reduzida a dados quantitativos. Existem, sem dúvida, fatores desse tipo, dias de maior inspiração. Resumindo: seria muito difícil, haveria poucas
e pode-se abstraí-los do todo com algum grau de significação estatística, chances de colocar a profecia astrológica em bases científicas.
mas é essencial que o sentido do todo não seja esquecido na análise da Pode chegar-se a melhores resultados em testes destinados a verificar
parte. a validade da astrologia de aplicação psicológica. Embora seja impossível
Desta forma, ao se tentar introduzir a pesquisa na astrologia, enquanto dissociar os elementos quantitativos dos qualitativos, seria possível
ela afete seres humanos, a noção de nível torna-se necessária e organizar testes para verificar a influência de determinados planetas sobre
insubstituível. Os gêmeos de tempo podem ter nascido no mesmo minuto, e grupos de pessoas nascidas em determinadas épocas; e, no sentido inverso,
apresentar mesmo características assombrosamente semelhantes, mas grupos de pessoas que partilhassem características comuns poderiam ser
vivem em níveis psicológicos diferentes, mesmo em níveis sociais investigados para apurar se a causa dessa coincidência poderia ser
diferentes (Ver apêndice 2). E perfeitamente possível que dado fator astrológica. Como veremos mais adiante, testes desse último tipo já deram
astrológico possa, em certos casos, demonstrar-se especialmente sensível a resultados muito interessantes.
certas doenças, ao passo que em outros atue simplesmente como indicador Mas, a parte da astrologia mais facilmente analisável por métodos
de determinadas características psicológicas. Em outras palavras, a científicos é a que diz respeito às relações do plano celeste com o terrestre,
pesquisa em astrologia deveria ser conduzida com extrema flexibilidade, no campo dos acontecimentos físicos. A astrologia tradicional insistiu
uma alta disposição de aceitar o inesperado, uma habilidade toda especial sempre em que as plantas e ervas recebiam determinadas influências
de aplicar a intuição, e uma preocupação com o todo que não se pode planetárias; da mesma forma que os órgãos do corpo, bem como as
afirmar seja das características mais notáveis da ciência contemporânea. doenças, são influenciadas e determinadas por planetas específicos. Testes
neste sentido exigiriam relativamente pouco dinheiro ou pessoal treinado,
Evidência estatística
e algumas das provas que citaremos abaixo tendem a indicar que essas
influências não são destituídas de sentido e verdade. PRIMEIRAS PESQUISAS
Finalmente, há a astrologia simbólica, a astrologia do significado, a
astrologia espiritual que prendeu a atenção dos grandes cérebros da história. Com o desenvolvimento das estatísticas, os astrólogos conseguiram
Essa astrologia não é diretamente acessível a testes quantitativos, mas não fazer uso de suas armas potencialmente úteis.
pode haver muita dúvida de que, se por algum milagre a pesquisa em No entanto, até muito recentemente, os que organizavam os
astrologia fosse começada e os resultados começassem a ser acumulados, os experimentos tinham muito pouco treino em estatística, e foi a partir de
pesquisadores, não importando sua atitude original, teriam -que encarar o seus erros que os astrólogos começaram a imaginar como é difícil aplicar
fato de que seus resultados tinham sido obtidos porque os componentes do estatística em astrologia — em boa medida por causa da multiplicidade dos
sistema solar tinham significado, e eles seriam atirados na direção da fatores tomados em conta e da dificuldade de isolar os fatores que estão
astrologia simbólica, querendo ou não. sendo realmente testados. Para dar apenas um exemplo do que os
Até agora, no entanto, não há quase nenhum teste organizado por experimentadores tiveram que tolerar inicialmente: em função das órbitas
astrólogos com uma compreensão das requisições da Ciência. Houve elípticas dos planetas e de suas velocidades variantes em relação à Terra,
poucos testes organizados por cientistas sem compreensão de astrologia, eles freqüentemente aparecem como estacionários em algum signo dado,
cuja intenção era destruir a premissa astrológica. Finalmente, tem havido ou podem aparentemente se mostrar em movimento para trás através de um
um número de testes desenvolvidos por cientistas sem interesse em signo em movimento retrógrado. Isso significa que por limitados períodos
astrologia cujo campo de pesquisa os leva até áreas direta ou indiretamente de tempo cada planeta gastará quantidades variantes de tempo em cada
relacionadas com a premissa astrológica, e dessas últimas fontes muitas de signo, devendo tudo isso ser levado em conta quando se fizer o cálculo —
nossas evidências foram levantadas. digamos — do numero dos músicos nascidos com Vênus no signo de
Há um aspecto negativo e um positivo nessa situação. Do lado Libra.
positivo, uma vez que a evidência vem de fontes indiferentes ou hostis à Dessas primeiras experiências talvez a mais conhecida seja a de Carl
astrologia, não pode haver suspeita de os experimenta-dores organizarem Jung, que compreendeu a profundidade e riqueza do simbolismo
suas experiências com intenção de provar seus preconceitos astrológicos. astrológico quando aplicado à Psicologia.
Do lado negativo, por ignorar as conotações astrológicas de seu próprio Jung fez uma interessante mas elementar tentativa de procurar fatores
trabalho, cada um dos operadores opera num vácuo. Seus resultados não se astrológicos nos horóscopos de casais. Ele estudou as relações mútuas do
ligam uns aos outros, nem conseguem ser dispostos em algum esquema Sol, da Lua e do ascendente e, embora de início tenha conseguido
conceituai mais largo. O resultado é que muitos dos experimentos, levados a resultados impressionantemente significativos, à medida que sua
efeito independentemente, simplesmente provam sempre o mesmo ponto experiência continuava, o seu grupo de teste crescia, esses resultados foram
sem avançar além dele. (Nestes casos, mencionamos apenas um dos abandonados, apesar de permanecerem estatisticamente interessantes. Mas
experimentos representativos.) Jung parece ter perdido o interesse na experiência e não a levou mais
Portanto, a evidência científica que suporta a astrologia é — longe.
ironicamente — em grande parte resultado do acaso. Muito provavelmente, Parece estranho que, desenvolvendo seu teste, Jung tenha falhado ao
experimentos designados para serem testados deliberadamente para certos procurar um relacionamento mútuo entre Marte e Vênus, tradicionalmente
fatores obteriam em outros mais sucesso, e resultados diretamente os planetas da atração masculino-feminina. Mas de qualquer maneira,
relevantes. Assim, no entanto, o leitor precisa julgar por si próprio se há numa pesquisa dessa natureza, a dificuldade está em definir o que significa
evidência suficiente ou não, capaz de fazer da astrologia novamente um atração. Seguramente, é possível dizer que alguma espécie de
assunto que prenda seriamente a atenção. relacionamento existe entre um casal sem existir entre um homem e uma
mulher sem laços. Mas, definir a natureza precisa do vínculo em termos
astrológicos é outro assunto inteiramente diverso.
Outros experimentadores cometeram erros semelhantes. Antes da Apesar de o estabelecimento acadêmico ignorar o trabalho de Krafft
Segunda Grande Guerra, um professor americano, Farnsworth, em vez de e Choisnard, os astrólogos por muitos anos acreditaram que esse trabalho
desaprovar a astrologia, anotou a data de nascimento de 7 mil músicos. estatístico tivera efeito e que a astrologia tinha sido vingada.
Música é tradicionalmente ligada, a Vênus, e atribui-se a Vênus o governo MICHEL GAUQUELIN
do signo de Libra. Mas Farnsworth descobriu que não haviam nascido mais
músicos sob Libra que sob qualquer outro signo e com isso considerou Em 1950, Michel Gauquelin, graduado em Estatística pela Sorbonne,
refutada a astrologia. Conclusão prematura. Para efetivamente desacreditar o interessou-se pelas reivindicações feitas pelos astrólogos, lançando-se à sua
relacionamento música/Vênus, seria necessário olhar para os outros papéis investigação — ou, para dizer mais acuradamente, ao seu combate.
que Vênus pode desempenhar nos mapas dos músicos — aspectos, casas, Ao trabalhar com sofisticados métodos modernos, Gauquelin logo
ângulos etc., e isso Farnsworth não fez. Novamente, o problema é saber o mostrou que tanto os resultados de Krafft quanto os de Choisnard estavam
que procurar. E verdade que os músicos têm sua música em comum, mas baseados em métodos falhos e em testes de grupo insuficientes. Quando
música é um assunto amplo. Os astrólogos não esperavam que o timpanista acabou, Gauquelin encontrava-se capacitado a sustentar que nenhuma das
tivesse muito em comum com o flautista, e fatores ligando os timpanistas reivindicações feitas por Choisnard ou Krafft ficaria de pé com um exame
entre si e os flautistas entre si — se eles existem — seriam submergidos nas minucioso. Sobrava apenas o trabalho de um astrólogo francês, Leon
estatísticas. Realmente, os astrólogos ficariam deliciados se as estatísticas Lasson, que num pequeno livro apresentou estatísticas correlacionando as
mostrassem mais soldados nascidos sob Áries que sob outros signos, e mais posições dos planetas nas suas casas de acordo com as várias posições.
músicos sob Libra, mas depois de certo número dessas investidas Lasson descobriu que, com uma freqüência muito além do que o acaso
estatísticas, ficou claro que o universo pede uma certa finura antes e se permitiria, Marte seria encontrado em relação com os ascendentes e
dignar a revelar seus segredos astrológicos. descendentes nos horóscopos de 134 políticos; Vênus nos ascendentes de
Duas outras tentativas estatísticas pioneiras são dignas de serem 190 artistas, Mercúrio nos ascendentes e descendentes de 209 atores e
mencionadas, principalmente porque, apesar de subseqüentemente escritores. Se bem que os testes de Lasson fossem reduzidos demais para
parecerem inadequadas, conduziram a experiências recentes, nas quais, subsistirem inequivocamente, suas mostras eram impressionantes. Esse
finalmente, resultados genuínos começaram a aparecer. aspecto da astrologia não havia ainda sido testado por Gauquelin, e por
K. E. Krafft, o suíço que se pensou ter sido o astrólogo privado de essa razão ele compilou um razoável grupo de teste de 576 eminentes
Hitler, gastou anos juntando dados de todo tipo imaginável numa tentativa professores de Medicina. Para surpresa de Gauquelin, a tese de Lasson foi
de colocar a astrologia em bases científicas, relacionadas à hereditariedade, confirmada. Tanto Marte quanto Saturno relacionavam-se com os
fisiologia e psicologia. ascendentes e descendentes desses eminentes professores
significativamente, na verdade gigantemente, além do que o acaso poderia
E Paul Choisnard, um famoso astrólogo francês, devotou muito tempo à ditar.
compilação de estatísticas tentando comprovar a ação de fatores astrológicos Não pouco espantado, Gauquelin compilou um novo grupo de 508
sobre hereditariedade, especialmente em relação aos ascendentes de pessoas eminentes doutores. Novamente, Marte e Saturno estavam em relação com
superiores e à posição dos planetas no horóscopo das que tinham sofrido os ascendentes e descendentes em números arrasadores. Pegando ambos os
morte violenta. Choisnard pretendia que suas estatísticas provassem grupos juntos, a superioridade chegava a 10 milhões para 1, em relação a
significativos fatores astrológicos, trabalhando em conceitos tais como o casos que poderiam ser explicados pelo acaso.
relacionamento Sol-Marte nos mapas de mortalidade precoce; Tendo planejado refutar estatisticamente a astrologia de uma vez por
relacionamento Mercúrio-Lua nos mapas dos filósofos; aspectos Sol-Lua nos todas, Gauquelin descobriu por fim uma correlação entre planetas e
mapas de celebridades e aspectos de Marte nos mapas de soldados. profissões que era inexplicável fora da Astrologia.
Incapaz de deixar o assunto onde estava, e felizmente desconhecedor do
tratamento a ele reservado nas mãos dos seus colegas profissionais,
Gauquelin decidiu perseguir seus resultados onde quer que eles levassem.
Na Europa Continental, ao contrário do que acontece na Inglaterra e nos
Estados Unidos, a hora do nascimento sempre foi anotada nos registros ao
lado da data. Laboriosamente, Gauquelin colecionou dados de toda a França,
abrangendo grandes grupos de eminentes membros de outras profissões:
soldados, políticos, artistas, músicos, escritores, desportistas, padres. Em
cada caso, sem nenhuma exceção, diferindo apenas na extensão do grau de
significação, os grupos de testes de Gauquelin demonstraram
categoricamente que a escolha da profissão de homens eminentes e a posição
de certos planetas na hora de seu nascimento (nascimento, e não concepção!)
apresentavam uma impressionante e inexplicável correlação.
Mas, a afeição de Gauquelin pela astrologia diminuía. (Gauquelin aceita
a sonhadora teoria caldéia de história astrológica e qualquer outra variedade
de mito antropológico, arqueológico, psicológico, sociológico, desde que
tenha o imprimatur da ciência sobre ele.) Suas estatísticas tinham não
apenas confirmado uma premissa astrológica superior, como tinham-na
confirmado de uma forma que era em grande parte — se bem que não
totalmente — consoante com a astrologia tradicional. Marte e Saturno
figuram fortemente nos mapas de cientistas e acadêmicos, como qualquer
astrólogo poderia prever, da mesma maneira. Marte e Júpiter aparecem
fortemente nos mapas dos cientistas; enquanto nas cartas dos artistas e dos
músicos, Marte e Saturno significativamente fugiam dos graus ascendentes e
superiores (ver fig. 13) — descoberta inesperada mas inteiramente ortodoxa;
mas Vênus e Mercúrio não apareceram significativamente nos mapas dos
músicos e pintores, o que qualquer astrólogo teria antecipado, com riqueza
de dados.

Gauquelin publicou suas estatísticas em 1955 em A Influência dos


Astros (Denoël), repetidamente sustentando que seus resultados não
validaram a astrologia tradicional, mas antes uma outra influência celestial,
até agora sem nome, não tendo nada a ver com a astrologia o que equivalia
afirmar que as peças de Shakespeare não haviam sido escritas por William
Shakespeare mas por alguém mais, que aconteceu viver no mesmo tempo e
Figura 12. Marte e Júpiter nas cartas de 3142 líderes militares. no mesmo lugar e que também se chamava William Shakespeare.
Mas não importa. Qualquer que seja o nome que Gauquelin tivesse Porte atacou o trabalho de Gauquelin num artigo de misteriosas
resolvido dar à sua rosa, a Ciência farejava um rato. Seu livro foi recebido minúcias estatísticas. (1) Mas sua principal objeção era a de que Gauquelin
com desanimado e desapaixonado descaso. tinha confinado suas pesquisas à França. As estatísticas de Gauquelin
A imprensa popular francesa moveu-se em extensa cobertura; A tinham mostrado uma correlação total entre a data e a hora do nascimento e
Influência dos Astros foi discutido detalhadamente nos detestados jornais a escolha da profissão de homens eminentes na ordem de um milhão para
astrológicos (bom número de astrólogos modernos se dera ao incômodo de um, contra o acaso. Que essa correlação tenha ocorrido nos horóscopos dos
se armar com o conhecimento de técnicas estatísticas) mas dos bastiões do franceses tem muito pouco a ver com o caso. Porte afirmava que, a despeito
ortodoxo Gauquelin encontraram apenas silêncio. Os especialistas não se da quase irrepreensibilidade de sua técnica estatística, Gauquelin tinha
preocupavam nem a examinar o livro, muito menos a criticá-lo apenas posto a nu um feliz acaso nacional. Porte insistia em que se os
publicamente. Mas finalmente uma relutante resposta foi dada por M. Jean mesmos métodos fossem aplicados a outros países obter-se-ia resultado
Porte, administrador do Instituto Nacional de Estatística. diferente e imprevisto. Eis aí um ataque que faria inveja a Alice no País das
Maravilhas ou Alfred Jarry.
Em 1953, um comitê belga de pesquisa foi formado com o objetivo
expresso de estudar pesquisas sérias em qualquer campo considerado
paranormal.
Os astrólogos já tinham entrado em choque com esse comitê antes,
quando um astrólogo francês, M. Legrand, tinha proposto um desafio aos
astrólogos para provarem suas reivindicações.
Legrand tinha afirmado:
Dêem-me o lugar, a data e a hora do nascimento de dez pessoas, ou quarenta ou mais,
cujo passado tenha sido gravado. Para cada uma delas dêem-me duas ou três datas de
acontecimentos decisivos em sua vida; isto servirá para me capacitar e retificar o tempo
exato do nascimento, que é sempre dado de maneira aproximada.
Dessas pessoas eu devo saber apenas o sexo.
Nos próximos oito ou dez dias, na presença de vocês e na frente de testemunhas, no
microfone da Rádio Nacional, darei um relato do traço mais característico da personalidade
de cada um, bem como das principais datas de seu passado, dando o caráter preciso do que
nelas aconteceu. Elas podem confirmar ou negar o que eu disser.

Paul Coulderc, acirrado inimigo da astrologia, e membro do comitê


belga, tinha pública e regozijadamente declarado que o comitê não teria
trabalho nenhum. No entanto o comitê levou três semanas para responder a
Legrand, e sustentou então que um tal teste não provaria nada. A
correspondência arrastou-se por seis meses, e, no fim, o comitê declinou de
aceitar a proposta de Legrand.(2)
Gauquelin, apesar de sua violenta tendência antiastrológica, não podia
mais dispor de um auditório para suas estatísticas embaraçantes. Ninguém
Figura 13. Mapa mostrando a distribuição de Saturno e Marte (combinados) nos mapas empreendeu um detalhado estudo dos números, mas Gauquelin gravou um
de 2 048 músicos e pintores opostos a 3 305 cientistas.
bom número de reações
não-oficiais no seu livro subseqüente, Os Homens e os Astros (Denoël, as tradicionalmente corajosas mulheres da Nova Inglaterra desistirem.)
1960). O grupo de teste de Gauquelin tinha agora subido para 25 mil,
incluídos os 5 mil originais franceses. Nos mapas de 3 305 cientistas, Marte
Marcel Boll, um dos membros do comitê, declarou: "Suas conclusões foi encontrado no ângulo 666 vezes. O acaso predizia 565 vezes. As
são apenas romances de sensação, a pior espécie de prova, e o resultado é chances contra isso são de 1 para 500 mil.
sem esperança; porque, se você fizesse tal inquérito na Grã-Bretanha, na Nos mapas de 3 142 líderes militares, 634 tinham Marte nos ângulos,
Alemanha, nos Estados Unidos, você não obteria mais do que o descrédito pelo acaso seriam 535. Probabilidade novamente: 1 para 1 milhão. Júpiter
nacional." (3) ficou nos ângulos 644 vezes, contra 525 preditos pelo acaso. A
E o professor Dauvillier, de Física Cósmica, do Colégio da França, probabilidade: 1 para 50 milhões.
afirmou: "Se há alguma coisa que sé assemelhe a uma correlação, só pode Nos mapas de 1 485 atletas, Marte apareceu nos ângulos 327 vezes,
ser uma flutuação, que prova que o grupo era insuficiente." Gauquelin contra as 253 do acaso. A probabilidade: 1 para 500 mil. E assim
também citou Dauvillier que, em outra época, propôs que "aqueles que são prosseguia; cada um dos grupos de Gauquelin repetia a lição implícita no
justamente os menos avançados em filosofia natural compreenderão como estudo original da França.
foram fortuitas as causas físicas e astrológicas, e recusarão a examinar um Esses resultados foram devidamente publicados no segundo livro, Os
elo entre o sistema solar e a raça humana." (4) Homens e os Astros, no qual Gauquelin, com ferocidade redobrada, insistiu
Gauquelin tinha agora duas escolhas. Tanto podia largar o assunto e em que essa evidência não era a favor da astrologia: "Não há nenhum ponto
começar novamente a trabalhar em algo menos delicado, quanto aceitar as de relação, sob um rigoroso ponto de vista científico, entre a estrutura dos
criticas de seus colegas, por mais ridículas que pudessem ser, e levar à resultados obtidos, especialmente dentro do espírito com que minhas
frente a mesma experiência, usando dados de outros países. estatísticas foram realizadas, e a astrologia." (6)
Com admirável coragem e tenacidade, Gauquelin escolheu o segundo Nas páginas do vivo jornal astrológico Cahiers Astrologiques, uma
caminho, e, com sua esposa, começou a viajar metodicamente pela Itália, contínua e quente batalha se acendeu desde a publicação dos dados
Bélgica, Alemanha e Holanda, coletando dados para novos grupos de testes. originais. Os astrólogos reconheceram que o espírito quantitativo do
Os resultados, naturalmente, indicaram os mesmos planetas aparecendo caminho exclusivo de Gauquelin era completamente oposto ao dos
significativamente nos mapas de homens eminentes da mesma profissão, astrólogos; mas eles insistiram em que os dados de Gauquelin eram, no
mitigados apenas pelos fatores que podiam ser chamados de "verdade principal, uma vingança da astrologia tradicional, demonstrando
nacional". Por exemplo, Gauquelin descobriu que Marte relacionava-se com apoliticamente que a posição dos astros no dia do nascimento era o fator
os graus dos soldados italianos com muito maior freqüência do que o fazia decisivo, ou pelo menos um dos fatores decisivos, na personalidade subse-
com os soldados alemães.(5) Superficialmente, pode parecer diferente do qüente do sujeito, e, portanto, na escolha de sua profissão. Além disso, os
que se esperava. Mas apenas superficialmente. Ninguém sonharia em dizer astrólogos insistiam em que os dados de Gauquelin tinham — com várias
que os italianos são mais belicosos que os alemães. Pareceria que os exceções significativas e interessantes — provado justamente as conexões
alemães não precisam de um Marte poderoso para fazer deles soldados, que os astrólogos tinham sempre reconhecido — Marte: soldados, atletas;
enquanto que os italianos, mantendo sua imagem, precisam de uma Saturno: cientistas; Júpiter: atores, padres etc.
superdose. (Uma anedota, não muito velha, incluía a Enciclopédia dos Mas a reação acadêmica em relação a este novo livro de Gauquelin não
Heróis de Guerra Italianos entre a lista dos menores livros do mundo. E o foi muito diferente do que tinha sido contra o primeiro.
New Scientist, relatando os resultados de uma pesquisa sobre os limites da Sem dúvida, sob a tutelagem do professor Hans Bender, da
dor, dizia que, em dadas circunstâncias de dureza, as italianas e judias eram Universidade de Friburgo, um famoso investigador de fenômenos
as primeiras a se queixar, enquanto que as irlandesas iam consideravelmente paranormais, o primeiro livro de Gauquelin tinha ''do
mais longe, não conseguindo fazer
estudado por um grupo que incluía um astrônomo; um estatístico e um
psicólogo. Incapaz de encontrar defeitos, o professor E. Tornier, especialista não divulgaram ao público o fato de terem sido incapazes de encontrar
em teoria matemática da probabilidade na Universidade de Berlim, mandou qualquer erro nas estatísticas de Gauquelin.
o livro e seus achados a colegas na Universidade de Harvard — de onde A tábua seguinte mostra os resultados que Gauquelin considerou
nenhuma palavra posterior foi ouvida. Mas esse foi praticamente o único como estatisticamente significativos.
murmúrio oficial até aquela data.
Três famosos estatísticos estudavam agora o segundo livro: J. M. Ascensão e Freqüência Freqüência Freqüência
Faverge, professor de Estatística na Sorbonne, E. Tornier, mencionado declínio de significativa normal significativa mais baixa
acima, e Jean Porte, cujas críticas originais tinham forçado Gauquelin a uma
repetição européia da experiência francesa. MARTE Cientistas Políticos Escritores
Nenhum erro pôde ser encontrado nas estatísticas, na coleta dos dados Médicos Atores Pintores
ou nos cálculos. Atletas Jornalistas Músicos
Executivos
Contadores estavam treinados para verificar duplamente os resultados.
Sem nenhuma exceção, os grupos de controle de horóscopos selecionados JÚPITER Atletas (time) Pintores Atletas Individuais
ao acaso davam os resultados de acordo com as leis do acaso. Ainda mais (boxeadores etc.)
impressionante - (e mais desanimador), os grupos de testes de Gauquelin Soldados Músicos
tinham sido feitos com os homens mais eminentes nas suas respectivas Políticos Escritores Cientistas
Atores Médicos
profissões; quando os grupos de controle foram formados com homens em
posições subordinadas nas mesmas profissões, os resultados eram também Jornalistas
no nível do acaso. (7) Teatrólogos
Neste ponto, Jean Porte fez o favor de admitir que não podia haver SATURNO Cientistas Políticos Atores
mais dúvida sobre o fato de que a posição das estrelas no momento do Médicos Soldados Pintores
nascimento de uma pessoa tinha uma influência decisiva sobre a profissão Jornalistas
que mais tarde escolheria. Essa influência sobre nove profissões distintas Escritores
podia ser aceita como prova. Tornier, no entanto, declarou que era uma LUA Políticos Cientistas Atletas
expressão absurda de uma experiência absurda; em outras palavras, apesar Escritores Médicos Soldados
de provado, era sem sentido. Pintores
Até o famoso comitê para estudar fenômenos paranormais tinha agora Músicos
que concordar em estudar os dados, se bem que só depois de muitas cartas Jornalistas
de Gauquelin. Originalmente, Marcel Boll tinha escrito dizendo: "Então,
você espera que tudo pare a fim de que os especialistas possam gastar dez Fora o interesse demonstrado pelo grupo de Bender Freiburg e a
dias arrumando suas penas?" Gauquelin polidamente lembrou que, não fazia hostil capitulação do comitê belga, tanto quando pudemos verificar, os
muito tempo, Clouderc se queixava de que o comitê não tinha nada para dez anos de trabalho de Gauquelin foram inteiramente ignorados.
fazer. E quando, finalmente, o comitê se reuniu para examinar os dados, Para astrólogos, no entanto, há pouco a aprender no trabalho de
também eles foram incapazes de encontrar erros. No entanto, reservaram Gauquelin, embora levante uma série de questões importantes, que
sua opinião oficial quanto à validade dos achados tão conscientemente que podiam gerar novas e grandiosas maneiras de ver. Embora os resultados
até esta data ainda de Gauquelin possam ser gratificantes, poucos astrólogos tinham a
necessária objetividade para não reagir contra o persistente ataque tanto
aos astrólogos quanto à astrologia.
Mas o trabalho de Gauquelin prova, de uma vez por todas, e
incontestavelmente, que há alguma coisa na astrologia.
Isso não quer dizer que os astrólogos saibam o que estão fazendo. Não
significa que um astrólogo possa dizer a um cliente o que lhe está reservado
no futuro. Mas prova, sem nenhuma possível sombra de dúvida, que há uma
relação direta entre a posição dos planetas na data do nascimento e a
profissão que um homem pratica subseqüentemente. Mais ainda: prova que
a maior parte dessas correlações está de acordo, ou pelo menos não se choca
com os preceitos da astrologia tradicional (isso significa que qualquer
pessoa um pouco menos cega que Gauquelin pela ciência moderna ter-se-ia
lançado ao trabalho tentando aplicar seus resultados à tradição, para
diminuir a grande percentagem de descrédito; em vez de insistir em que
tenha descoberto uma nova ciência, novinha em folha, cujos preceitos já
tinham sido avançados por primitivos no longínquo passado).
Mas, talvez a mesma tenacidade que permitiu a Gauquelin levar
adiante sua árdua e ingrata tarefa, não lhe permita admitir, ou mesmo ver,
que está confirmando a astrologia, a simples e antiquada astrologia.
Qualquer que tenha sido o caso, a negligência não fez nada para alterá-lo, e
nove anos depois da publicação do Os Homens e os Astros Gauquelin
confirmava sua pesquisa.
Ao provar a correlação entre os planetas e os astros, Gauquelin
demonstrou-se incapaz de explicá-la por qualquer hipótese científica,
enquanto que uma explicação nos termos simbólicos tradicionais era para
ele impensável. "Nós rejeitamos a investida de explicação ocultista,
segundo a qual o planeta, na sua ascensão, joga uma sombra mais ou menos
imaterial ou simbólica sobre o recém-nascido, sombra que o seguirá por
toda a vida, decidindo o seu destino. Tais aforismos não têm interesse,
porque, na ciência, uma pessoa só pode apresentar hipóteses se elas forem
firmemente materiais, limitadas e precisas". (9) Não importa que a ciência
moderna esteja fundamentalmente mistificada pela natureza do material,
esquecendo que limites são, por definição, impostos ao homem e, portanto Se pretendermos
arbitrários, logo, julgamentos do valor, donde imateriais e metafísicos.
Gauquelin bem merece suas conclusões científicas e não astrológicas.
Em busca de uma causa material como explicação para suas cifras,
Gauquelin, com sua costumeira meticulosidade, estudou as configurações
planetárias que governam a hereditariedade, acreditando que, se laços
planetários pudessem ser descobertos entre os horóscopos de pais e filhos,
as leis da genética podiam
Foto 6:
A atribuição astrológica
de partes do corpo
humano ao domínio de
signos do Zodíaco foi
incorporada
ao Templo de Luxor
e é idêntica à
mostrada nos
desenhos medievais.
Fotos 7 e 8:
Há cerca de 6.000 anos
atrás, quando a
mente humana estava
ainda semi-adormecida
sacerdotes caldeus
levantavam observatórios
para observar as
estrelas... A. Koestler, em
The Sleepwalkers

Foto 9:
A Astrologia está morta. E morreu há tanto tempo que já nem se lhe sente o
cheiro. Dr. C. A. Mercier em Fitzpatrick Lectures, 1913

Foto 10:
Jean Henderson e Joyce Ritter e suas famílias. Jean e Joyce nasceram com
cinco minutos de diferença, na mesma maternidade, em 20 de fevereiro de
1947. Veja apêndice II
ser derrubadas, e o espectro da astrologia sumiria atrás do anátema, abrindo
o dia para a Ciência.
Ao imaginar que, se, os planetas desempenhassem algum papel
regulador na hereditariedade, essas regras orientariam toda a população e
não apenas os homens eminentes em cada profissão, Gauquelin recolheu um
grupo de teste de 15 mil casais e comparou as posições planetárias no seu
nascimento com as posições de suas crianças, tomando ao todo mais de 300
mil posições planetárias. Para o espanto de um não-astrólogo, Gauquelin
encontrou uma correlação estatisticamente importante entre os mapas
paternos e os filiais, novamente operando com Marte, Júpiter, Saturno e a
Lua, e incluindo desta vez o planeta Vênus. A proporção entre os achados
Foto 11: de Gauquelin e os resultados ocasionais foi de 500 mil para 1. E como
Vencedores do Prêmio Nobel Albert Einstein e Otto Hahn, ambos
nascidos em 14 de março de 187- contraprova, em um grupo de controle feito com horóscopos cujo dia de
nascimento foi falseado, a correlação com os horóscopos dos pais limitou-se
ao nível do acaso.(10)
Daí, Gauquelin concluiu que suas estatísticas não faziam nada mais do
que descobrir um novo aspecto da hereditariedade. E, tendo colocado seus
dados atrás da égide dessa palavra mágica, imaginou que estava dando uma
contribuição à Ciência. De fato, suas estatísticas indicavam apenas que o
moderno conceito de hereditariedade é inadequado. Supostamente, nós
somos o produto fortuito de uma conjunção de genes imaginários. Agora,
pareceria que os genes são de alguma forma determinados pelas posições
dos planetas no momento da concepção. E, ao contrário, o momento do
nascimento estará relacionado com os horóscopos de nossos pais — até o
infinito.
Foto 12: "Porque a ciência moderna ainda nos tem muito a nos ensinar sobre a
James Stephens e James Joyce, escritores irlandeses, ambos nascidos relação entre o homem e o cosmos, vamos continuar a seguir a nova estrada
às 18 horas do dia 2 de fevereiro de 1882. Para os astrólogos o
ascendente Capricórnio é bastante óbvio oposta à astrologia, na qual começamos, mas dessa vez acompanhados de
especialistas qualificados
— savants chevronés —" (11) sugere Gauquelin. Ora, os savants
chevronés parecem pouco inclinados a acompanhá-lo nessa estrada
psicologicamente perigosa. No entanto, fica um fato estabelecido: a posição
de planetas específicos ao nascimento está relacionada com a profissão
seguida mais tarde. Também parece simples predizer que, se e quando os
savants chevronés decidirem investigar o trabalho de Gauquelin, vão ter
que aprender a praticar não uma ciência materialista, mas um certo tipo de
astrologia
— chamada cosmobiologia, ou a astropsicologia, ou qualquer outra coisa.
Porque, provando que planetas específicos estão relacionados com
profissões específicas com um alto grau de
Foto 13:
Beniamino Gigli e Lauritz Melchior, tenores, ambos nascidos a 20 de
março de 1890. Apêndice II
significação estatística, Gauquelin deu uma expressão quantitativa a uma em 10° de Áries, diz-se que esta relação está "aproximando"; o Sol está-se
antiga crença qualitativa: a de que os planetas, e suas posições relativas no fechando sobre Saturno. Se as posições são inversas, então a relação seria
espaço, são significativas. O estudo e a interpretação desse significado é a "de separação." Analogicamente, a astrologia compararia o processo ao
astrologia; e Gauquelin parece destinado a ficar nos livros como efeito de Doppler: quando aproxima, a relação indica tensão, excitação,
L'Astrologue Malgré Lui. ação; quando separa, indica relaxamento, extensão, dilatação, passividade.
Addey descobriu uma preponderância-impressionantemente significativa de
relações de separação nos mapas de seus 970 nonagenários. E, imaginar que
JOHN M. ADDEY ninguém tinha pensado nisso antes, que a preponderância de relações de
separação tem um significado astrológico; pode-se, portanto, esperar que os
Das várias pesquisas estatísticas, nenhuma foi mais dramática que a de
nonagenários demonstrem grande habilidade e propensão a conservar
Gauquelin. Mas de um ponto de vista puramente astrológico, há várias que energia, não desperdiçando, ou maltratando suas fontes físicas, e assim por
são mais informativas, e, no seu próprio caminho, conclusivas. diante, sendo esses notadamente os efeitos tradicionalmente conferidos pelas
Reconhecendo a necessidade de um ponto de partida científico para a
noções de separação.
astrologia, John Addey (ver pág. 147) decidiu investigar os mapas de 970
Portanto, procurando por um tipo de correlação, Addey encontrou
nonagenários, tomados inclusive do Quem é Quem?
outro. Mas isso, por sua vez, leva a uma experiência ainda mais interessante
Addey primeiro verificou desvios importantes nos signos do Sol. (Os (e sumamente importante).
capricornianos são reputadamente pessoas de vida longa. Serão mesmo? Os Ainda era possível, a despeito do alto nível de significação obtido, que
de Peixes, de acordo com os manuais, são de vida curta. Há alguma verdade
suas estatísticas estivessem erradas, e reuniu-se, para testá-las, um grupo de
nisso?) As cifras de Addey corroboraram com o que se está tornando um
pessoas de quem o oposto — a preponderância de relações de aproximação
lugar-comum estatístico: o Sol, nos vários signos, parece não desempenhar
— podia ser esperado.
quase nenhum papel detectável pela análise estatística. Addey encontrou Como professor num hospital de pólio, Addey tinha formado um grupo
tantos Peixes quantos Capricórnios, e assim por diante por toda a volta do de teste de particular interesse do seu ponto de vista de astrólogo. E um fato
Zodíaco, da mesma maneira que Gauquelin encontrou tantos soldados
médico que as vítimas de pólio pertencem cerradamente a um tipo
nascidos sob o alegadamente pacífico signo da Libra quantos sob os signos
reconhecível — brilhante, nervoso, ativo. Ao contrário, pessoas moles
marciais, Áries e Escorpião.(12)
raramente contraem pólio.
Também não pôde Addey encontrar nenhuma evidência estatística de
Para o astrólogo, isso conota Marte/Mercúrio (nervoso, estimulação
nenhum dos outros pontos de longevidade tradicionais na estatística. E, intelectual, excitação) de alguma maneira relacionados com Saturno (levado
enquanto uns podem racionalizar e dizer que os nonagenários não têm nada a dirigir o cérebro, conforme os cientistas saturninos de Gauquelin).
em comum, a não ser sua longevidade, pareceu a Addey que apenas isso já
Addey raciocinou que se os nonagenários mostravam uma
era bastante para fazer algum tipo de conexão. E é nesse ponto,
preponderância de relações de separação, então as vítimas de pólio,
incidentalmente, que uma importante diferença pode ser notada entre duas
caracterologicamente opostas, deviam mostrar uma preponderância de
experiências científicas igualmente importantes. Os oponentes da astrologia, aspectos "de aproximação".
procurando refutá-la, desistiram depois das mais óbvias descobertas Essa hipótese revestiu-se de grande significado. Um grupo foi
estatísticas, enquanto que um astrólogo, sabendo por experiência que alguma
analisado, encontrando-se relações "de aproximação" que ocorriam
correlação deve existir, continuará a procurar. E, por fim, Addey encontrou
significativamente com mais freqüência que as relações opostas; em
ao menos um fator significativo.(13)
gratificante contradição com os nonagenários (ver fig. 14).
Os astrólogos reconheceram há muito tempo uma diferença qualitativa
Estudando as ondas desses mapas, Addey foi atraído pela sua natureza
entre uma relação que está aproximando e outra que está separando. Por
recorrente. Imaginou que essas formas eram suscetíveis
exemplo: se num horóscopo o Sol estiver
e sem sacrificar ou destorcer os princípios pitagóricos da astrologia.
Se bem que "a música das esferas" tenha feito parte da linguagem
astrológica desde o próprio Pitágoras, e que muitos dos grandes astrólogos
tenham dedicado seu tempo a tentar correlacionar as teorias musical e
astrológica, nenhum, até o presente, logrou estudar os dados astrológicos
em termos de ondas, e isso, para nós, pode provar, finalmente, ser de grande
importância.
Imediatamente, um sem-número de abafantes problemas astrológicos
tornam-se compreensíveis. As vítimas de pólio de Addey estavam
claramente ligadas por fatores astrológicos — as estatísticas não podiam
evidentemente estar todas erradas. Mas esses fatores não eram comuns a
nenhuma tradição astrológica privada. Nenhuma interpretação em termos do
usual zodíaco de 12 signos, ou qualquer outro zodíaco de signos fazia
sentido. A própria recorrência é que era significante. Ela criava uma onda.
Essa onda correspondia a uma escala harmônica — neste caso de um ano,
que por sua vez correspondia à escala fundamental.
Reinterpretando os dados em termos de signos-do-Sol descobriu ele
que, enquanto as tradicionais divisões em Áries, Touro, Gêmeos etc. não
diziam nada se abandonassem essas divisões preconceituosas, atendo-se a
investigação das ondas, padrões distintos emergiriam. As vítimas de pólio
tendiam a nascer de acordo com a décima segunda escala harmônica, mais
forte que todas, diretamente relacionada com a centésima segunda escala
harmônica. Tomada fora da linguagem estatística, o mapa de Addey
indicava que uma criança nascida em cada terceiro grau (irrespectivo com a
divisão zodiacal) é trinta e sete por cento mais propensa a contrair pólio que
uma criança nascida nos dois graus intermediários. A margem de
Figura 14. Aspectos aplicantes nos mapas das vítimas de pólio. Notar a similaridade dentre as
casualidade nos números de Addey era de 1 para 1000. E um grupo de
curvas dos dois hospitais separados. controle de crianças sem pólio, selecionadas ao acaso, apresentou os
resultados do acaso.
de uma técnica estatística chamada análise de ondas, pela qual os dados são Que significam as estatísticas de Addey? Ninguém ainda está seguro.
trocados pelos seus componentes harmônicos. Esse método está sendo Significará que um astrólogo, contando apenas com a data do nascimento,
correntemente explorado para estudar ciclos naturais, "horas biológicas", e pode predizer que criança vai, que criança não vai contrair pólio? Claro que
uma variedade de outros fenômenos diretamente correlacionados com os não. Mas significa que Addey isolou ao menos dois fatores astrológicos de
ciclos planetário e celestial. Através da análise de ondas, Addey acreditava suscetibilidade ao pólio — as relações "de aproximação" e a 120.a escala
que a confusa astrologia genética tradicional podia ser trazida à luz e harmônica; e abriu um campo de pesquisa astrológica que, se explorado
interpretada — ao menos em parte — de maneira concorde com a rigorosa com alguma força, pode apresentar resultados importantes.
demanda quantitativa das disciplinas modernas,
Também na nossa opinião, resolveu o mistério apresentado por uma
importante amostragem estatística feita nos Estados Unidos no início da
década de 50, por Donald O. Bradley, astrólogo que é também estatístico.
Bradley reuniu as datas de nascimento de 2 593 padres do Quem é
Quem na América, procurando correlações astrológicas, mas com a idéia
fixa da divisão de 12 signos. Em tal divisão, se mais padres nascem sob
Leão e menos sob Escorpião, do que o acaso antecipara, então os altos-e-
baixos deviam cair no meio dos respectivos signos. Trabalhando os dados,
Bradley descobriu que esses altos-e-baixos realmente ocorriam, signifi-
cando que fatores astrológicos de alguma espécie estavam atuando. Mas
esses altos-e-baixos não ocorriam no meio dos signos aos quais, de acordo
com a teoria estatística, pertenciam. Foi sugerido a Bradley, no entanto, que
se ele usasse o Zodíaco Sideral, e não o Tropical, os altos-e-baixos ficariam
em seus lugares próprios, o que o convenceu, a ponto de se tornar defensor
do Zodíaco Sideral, desde então.
Mas para a maioria dos astrólogos, isso fazia pouco sentido. Parecia
que Bradley e os sideralistas estavam solapando toda a tradição astrológica
apenas para uma pesquisa estatística dar certo, dentro de um esquema
preconcebido. E apareceu nos jornais astrológicos uma discussão
infrutífera, argüindo a validade de mais padres nascerem sob Peixes no
Zodíaco Sideral, ou sob Áries, de acordo com o Zodíaco Tropical. Figura 15. Datas de nascimento de padres tomadas no Quem é Quem. O mapa acima foi
A visão de Addey sobre a natureza harmônica dos seus dados compilado da Associação Astrológica Britânica e mostra as datas de nascimento de padres
estatísticos — seus e de Bradley — evitou esse problema de zodíacos. Esses ingleses. O gráfico do meio foi compilado por Donald O. Bradley do Quem é Quem
americano. O mais interessante é que quaisquer que sejam os fatores não ocasionais
dados, parece, estão fora do visor generalizado pelo conceito de signo do operativos os gráficos obviamente corroboram um ao outro. As curvas inegavelmente
Zodíaco. Não é que mais vítimas de pólio nasçam em Leão (ou, usando o seguem um padrão semelhante.
Zodíaco Sideral, em Câncer), trata-se, antes, de crianças que, nascidas em
dias correspondentes à 120.a escala harmônica, são mais suscetíveis. Da muitos de um tipo que pode ser isolado astrologicamente, mesmo que nesse
mesma forma, os padres, por alguma razão, parece que nascem mais em momento ninguém possa dizer precisamente de que tipo se trata.
dias correspondentes à 7.a escala harmônica (numa proporção de 100 para 1, Essa experiência particular, se bem que de maior interesse do ponto de
fruto do acaso). E, o que é muito interessante, uma repetição da experiência vista astrológico, envolve um grande saber especializado sobre astrologia.
de Bradley, feita por Addey, mas usando os dados de padres britânicos, Nessa mostra de ruivos Addey está especialmente preocupado com o
confirmou fortemente os resultados do primeiro (ver fig. 15). desenvolvimento e exploração das técnicas para estudar conceitos
Um outro estudo estatístico de Addey nos mapas de nascimento de 100 tradicionais com métodos modernos.(14) Diferentemente de Gauquelin ele
ruivos britânicos provou novamente que fatores astrológicos não está preocupado em tornar a astrologia científica, mas, antes, está
desempenhavam um papel significativo — não que a posição dos planetas antecipando o dia em que a Ciência, em seu próprio interesse, começará a
no dia do nascimento causasse o cabelo vermelho, mas o cabelo ruivo tornar-se astrológica. O trabalho de Addey demonstra que quase todos os
parece ser um elemento entre fatores principais da astrologia tradicional — as relações, as casas, a
significação dos diversos graus, a posição
dos planetas em relação as casas — são baseados em realidade, e que essas
realidades, numa certa extensão, aceitam um trata-mento estatístico.(15) cores dos caranguejos (Mudança de Cor dos Caranguejos) e os padrões
de sono das moscas (Emergência das Moscas). Brown descobriu que todos
seguiam um ciclo definido, reconhecível
Influência Celestial sobre Organismos Vivos e similar, se bem que o ápice da curva diferisse de uma espécie para outra.
Esses testes foram realizados sob condições estritamente controladas, e
ficou claro que os ritmos deviam ser devidos não a mudanças climáticas
FRANK A. BROWN externas, mas a influências de natureza persuasiva e cósmica. Os principais
Virtualmente, todos os organismos vivos atuam de acordo com ritmos e mais óbvios. fatores cósmicos envolvidos eram o Sol e a Lua.
marcados, predeterminados. Por muito tempo, a natureza do mecanismo Organismos tão dessemelhantes quanto a batata e o caranguejo
d
responsável pela regulagem foi discutida. Uma escola de pensamento emonstravam inequivocamente uma periodicidade mensal (lunar) e anual
acreditava que o organismo respondia a mudanças na ionização do ar. (solar) sem possibilidade de erro. (16) Esses ritmos eram
Outra escola postulava um "relógio biológico" interno. Mas era impossível caracteristicamente mais depressivos na Lua Nova
explicar como ou por que a ionização do ar causava a aparentemente e mais ativos na Lua Cheia; eram indiferentes à temperatura
proposital è inteligente — se bem que inconsciente — felicidade dos e mesmo a drogas. Um rato, sob condições de controle, numa gaiola
organismos sob consideração, enquanto era igualmente impossível loca- escura, era duas vezes mais ativo quando a Lua estava sobre o horizonte
lizar qualquer organismo físico capaz de servir como "relógio" — se bem que quando estava abaixo dele; confirmando também o insistente
que cada célula seja responsável pelo ritmo; o "relógio" falado estava ao testemunho de todos esses anos de velhas e jardineiros.
mesmo tempo em toda parte e em lugar nenhum. Mas talvez o mais impressionante de todos seja a experiência de
Ultimamente foi declarada uma trégua entre as duas facções oponentes. Brown com as ostras.
Demonstrou-se que a ionização do ar e os relógios biológicos não eram As ostras abrem e fecham suas conchas num ritmo distinto, sem
mutuamente excludentes. A dificuldade no entanto permaneceu. Mesmo relação com as marés. E supunha-se que a ação física das marés, e não os
oferecendo-se apoio mútuo, as duas teorias combinadas não podiam dar efeitos da Lua, eram responsáveis por isso. Brown, no entanto, pôs as ostras
conta do fenômeno. em recipientes à prova de luz de New Haven, Connecticut, e partiu para
Frank A. Brown, professor de Biologia, discordou das duas hipóteses Evanston, em Illinois, e colocou-as em água salgada especialmente
dominantes, e com uma equipe de trabalhadores, depois de dez anos de preparada numa câmara escura.
experiência, ofereceu um impressionante suporte de evidência sustentando Nem bem haviam passado duas semanas, já as ostras tinham ajustado
uma teoria alternativa, atribuindo o "relógio biológico" a ritmos celestiais, seu ritmo de abrir e fechar as fases lunares de Evanston; quer dizer, para o
eliminando a necessidade de um mecanismo físico interno. que devia ser o ritmo da maré de Evanston, se houvesse maré lá, provando
Num famoso artigo em Science (4 de dezembro de 1959) Brown que é a Lua, e não ação real da água, que provoca a periodicidade.
descreveu essas experiências. E essa descoberta conduziu a um estudo maciço de uma vasta
Brown e seus colaboradores realizaram uma longa série de testes sobre variedade de organismos vivos, de algas às plantas com flores, de animais
os movimentos noturnos do feijão (Movimento de Sono dos Feijões), invertebrados e vertebrados. Achou-se que os índices metabólicos eram
juntamente com a análise de corridas feitas por ratos durante o dia bastante independentes das condições externas imediatas. "Agora ficou
(Corrida de Ratos) (*); as variações das bastante claro que sob tais condições externas constantes todas as coisas
vivas sofrem a influência imposta sobre elas pelo meio-ambiente, alterando-
se os ritmos metabólicos exatamente às freqüências geofísicas naturais",
(*) Não confundir com a Corrida dos Ratos, um fenômeno sociológico e a manifestação Brown escreveu. Um astrólogo, no entanto, teria discordado do uso de
bastante longa de ritmos astrológicos mais delicados.
"imposta", e afirmaria simplesmente que as
freqüências geofísicas naturais eram meras instâncias do que Pitágoras trinta — ou dezoito — horas, o organismo não ficaria mais atento a ele e
chamou a Harmonia das Esferas. "iria embora", revertendo a seu ritmo natural, não importando qual o
Como cientista, Brown mantinha-se naturalmente afastado da sistema que estivesse agindo sobre ele. Visto teologicamente, isto pareceria
metafísica. No entanto, em sua tentativa de explicar os ritmos solar e lunar, implicar que a esperança está construída nas muitas moléculas do
revelado em suas experiências, inadvertidamente procurou uma explicação caranguejo. E nesse caso, por que devia ser diferente com o homem?
que atinge o simbólico. Tendo dispensado a necessidade do "relógio"
hipotético, Brown tinha que dar conta da maneira pela qual diferenças de
minuto no nível de energia podem trazer mudanças tão dramáticas a todo o LEONARD J. RAVITZ
organismo. Ele postulou um "mecanismo de acionamento", onde a aplicação Dr. Leonard J. Ravitz, da Duke University, explorando mudanças no
de um minuto de energia sobre um "dispositivo" (que é, incidentalmente, tão potencial elétrico emitido pelo corpo de pessoas normais e doentes,
fisicamente hipotético quanto o "relógio") provoca uma reação em cadeia, encontrou mudanças marcantes coincidindo com as fases da Lua e com as
culminando num vasto acúmulo de energia despendida pelo organismo„ estações. Os doentes apresentavam maiores distúrbios.
Como analogia, Brown cita um esquema de estrada de ferro, no qual o Baseado no que encontrou, Ravitz era capaz de prever com sucesso o
complicado processo da estrada de ferro é posto em movimento pelo estado emocional de seus pacientes, e ratificou a antiga crença de que havia
esquema, que é o seu dispositivo de acionamento. mais inquietação entre os doentes, quando a Lua estava cheia. (Embora
Mas, esta analogia é talvez melhor do que Brown pensava. Pois um Eisler fosse, sem dúvida, concluir que os pacientes com maiores distúrbios
esquema de estrada de ferro não "acontece" apenas; o verdadeiro esquema eram justamente os que ficavam, por causa da doença, mais perto da janela,
físico atual (energia) é a manifestação da decisão de operar trens de tal em e portanto os únicos a serem afetados pelo luar.)
tal tempo. Essa decisão é um fato mental. É invisível. E indemonstrável. Não Ravitz afirmou: "Seja o que for que sejamos além disso, somos todos
podemos provar que uma decisão foi tomada. Mas, desde que tenha sido máquinas elétricas. Portanto, as reservas de energia podem ser mobilizadas
tomada por homens, nós sabemos de nossa própria experiência que um por fatores periódicos universais (tais como as forças da Lua) que tendem a
esquema de trem não podia ter sido feito sem essa idéia, ou decisão, original. agravar os desajustamentos e conflitos já presentes." (17)
Ratos e batatas operam um esquema muito mais sutil do que nossas
estradas de ferro. Porém, é bastante ilógico, e mesmo anticientífico (porque Outras experiências
contrário à experiência) imaginar que nossos esquemas da natureza
precisaram ser pensados e que os da natureza apenas aconteceram. Porque não há nenhuma organização reconhecida trabalhando na
Embora o professor Brown não tenha tirado essas conclusões de sua pesquisa das implicações das experiências desse tipo desde Brown e Ravitz,
analogia, elas estão aí implícitas, são legítimas e difíceis de evitar. é no momento impossível dizer em que sentido preciso essas descobertas
Brown também descobriu que, se mantivesse vários organismos no vão corroborar ou contradizer as crenças astrológicas tradicionais.
escuro, eles manteriam seus ritmos dia-noite normais apesar da ausência de Mas mesmo sabendo que isto não vai levar-nos mais fundo na
luz. No entanto, se um ritmo artificial de dia e noite fosse imposto a eles, os astrologia, parece valer a pena descrever brevemente ao menos algumas das
organismos podiam ser forçados a obedecer. Podiam ser levados a responder experiências que engrossam as fileiras da evidência quantitativa. Parece
a um dia, que era mais ou menos o usual de vinte e quatro horas. Mas, e isso também de valor mencionar que em seu último livro, L'Astrologie Devant
é muito interessante, sem interferência, eles seriam tolerados apenas até um Ia Science, Michel Gauquelin põe como referências em sua bibliografia
certo ponto. Além desse ponto. mais ou menos quarenta e dois artigos e livros científicos que tratam das relações celestes-
terrestres.
Em 1938, no Japão, Yamahaki estudou a freqüência de 33 mil de maneira particularmente dramática e diretamente astrológica no trabalho
nascimentos e encontrou uma freqüência significativa ocorrendo nas Luas do Dr. Eugen Jonas, psiquiatra tcheco e diretor do Departamento de
Cheia e Nova; a menor freqüência ocorrendo um ou dois dias antes do Psiquiatria da Clínica do Estado de Nagysurana. (20)
primeiro e último quartos. (18) Meneker, um ginecologista norte-americano,
confirmou isso com um estudo de meio milhão de nascimentos.(19) Ao lidar com pacientes femininos, Jonas notou que muitas delas
Gutman e Oswald, estudando 10 mil casos de menstruação, por um manifestavam ciclos de vitalidade e sexualidade acentuada,
período de quatorze anos, encontrou um máximo definido nas Luas Cheia e independentemente de seus ciclos menstruais, e começou a procurar uma
Nova. Arrhenius, no começo do século, tinha chegado a uma conclusão explicação. Ao mesmo tempo, interessou-se por crianças deformadas,
similar de um estudo de 11 mil casos. Mas outras pesquisas não foram deficientes e retardadas, que sua clínica muitas vezes recebia.
capazes de identificar tal ritmo. Seus interesses conduziram-no aos escritos biológicos dos antigos
Depois de ler as experiências levadas a efeito pelo químico italiano egípcios, gregos e hindus, onde notou que algumas das crenças desses
Giorgio Piccardi (ver p. 182 e segs.), o Doutor Abram Hoffer, diretor de escritores antigos estavam começando a ser sustentadas pelas descobertas
pesquisa psiquiátrica no Hospital da Universidade de Saskatchewan, no modernas.
Canadá, decidiu ver se os pacientes mentais sob seu cuidado estavam Isso, por sua vez, conduziu-o à pesquisa, de onde tirou três conclusões
sujeitos às mesmas influências externas que regiam os precipitados originais:
químicos de Piccardi.
Ele descobriu que os depressivos reagiam fortemente, seus piores 1. Que a capacidade de uma mulher madura conceber tende a ocorrer
períodos caindo sem erros em março. Neuróticos, ao contrário, mostravam exatamente sob a fase da Lua (relacionamento Lua-Sol) que prevalecia
quando ela nasceu.
periodicidades, mas periodicidades de uma maneira inteiramente diversa,
2. Que o sexo da criança depende do fato de a Lua ter estado, ao
com um auge de neurose em janeiro e julho, enquanto que os
mesmo tempo, no campo positivo ou no campo negativo do eclipse (signo
esquizofrênicos mostravam-se notavelmente insensíveis a qualquer forma
de influência externa. Hoffer fez a interessante observação de que, sendo os do Zodíaco).
neuróticos na maior parte quase normais, podia ter sentido encarar janeiro e 3. Que a viabilidade do embrião é influenciada numa grande medida
pelas posições dos corpos celestes no tempo da concepção.
julho como psicologicamente significativos em face da população em geral.
O Doutor Edson Andrews, médico americano, foi informado por sua Jonas declarou: "Primeiro, encarei estas coisas como fantásticas e não
enfermeira de que os pacientes estavam tendo significativamente mais consegui acreditar em sua verdade. No entanto, minhas observações e meus
hemorragias em certas épocas que em outras. Andrews primeiro riu da exames através de milhares de casos na clínica ginecológica em Pozsony
idéia, mas um teste superficial pareceu confirmá-la. Um inquérito mais (Bratislava) mostraram-me que quantos mais casos obstétricos eu estudava
organizado e elaborado revelou que em 100 casos de operação das amídalas mais os resultados mostravam a existência de uma lei da natureza até então
oitenta e dois por cento das crises de hemorragia ocorriam entre o primeiro desconhecida.
e o terceiro quartos da Lua. A desproporção era mesmo maior do que tinha O trabalho de Jonas atraiu uma atenção considerável em sua nativa
parecido, Andrews afirmou, desde que menos pacientes eram admitidos Tcheco-Eslováquia, assim como na Alemanha e na Áustria. No mundo de
pela Lua-Cheia. Uma reverificação feita por um outro médico produziu língua inglesa, tanto quanto sabemos, foi ignorado, exceto pelos astrólogos
resultados semelhantes. — e é preciso admitir que mesmo os astrólogos acharam algumas das
teorias de Jonas difíceis de aceitar.
EUGEN JONAS Não é necessário dizer, portanto, que a oposição de profissionais foi,
em muitos casos, intensa. Mas a nossa única fonte de informação deixa
O impressionante papel desempenhado pela Lua em tantas entrever que todas as vezes que suas idéias, foram levadas a exame foram
experiências envolvendo organismos vivos parece ser corroborado rigorosamente confirmadas.
Testando sua própria teoria de determinação de sexo dos filhos num O movimento antroposófico incorpora um número de reconhecidas
grupo de 250 mapas de nascimento, Jonas encontrou 87% de correção em características de todas as tradições, mas com seu aspecto distintamente
sua teoria. Uma investigação húngara, usando o método de Jonas, encontrou germânico, e seguindo a liderança de Steiner — com sua influência própria
resultado semelhante, e investigações separadas na Tcheco-Eslováquia, uma dos estudos de Goethe — o movimento colocou considerada ênfase na
delas oficial, patrocinada pelo Governo, deram 94% e 83%, de acertos, ciência moderna e incluiu, entre seus membros, um grupo de cientistas
respectivamente. (O índice de acaso nestes testes é de 50%.) qualificados. Muitos anos de pesquisa organizada, direta, produziram
Predizer o sexo dos filhos pode ser interessante como jogo astrológico resultados interessantes em muitos setores referentes à astrologia. Mas- esse
de salão, mas não tem nenhum valor particular. No entanto, a capacidade que trabalho parece encontrar apenas raramente um caminho na imprensa
Jonas afirma possuir, de prevenir as mulheres de que a concepção em certas popular, para não falar das publicações científicas.
épocas astrologicamente determinadas corre o risco de produzir crianças
defeituosas, pode ser realmente de grande valia; como poderia ser sua O trabalho científico dos antroposofistas parece ser levado a efeito sob
capacidade de predizer às mulheres seus dias férteis, processo que atuaria condições de controle tão estritas quanto as que prevalecem em qualquer
sobre, ou paralelamente, o cientificamente aceito ciclo Ogino-Knaus, não o outra parte. As publicações antroposóficas convidam a inspeção de
invalidando, mas o desenvolvendo. estranhos. E, se bem que seja verdade que a pesquisa antroposofista é
Fomos informados de que um professor americano de psicologia, da baseada na presunção de um universo coerente e significante, isso não é de
Universidade de Stanford, está em pleno estudo para testar as teorias de maneira nenhuma menos científico que a pesquisa ortodoxa, que é baseada a
Jonas. Será do maior interesse ver, primeiro, se elas são novamente presunção contraria.
confirmadas, e, se assim for, quais as reações da comunidade acadêmica Mencionamos a longa série de experiências feitas por Madame Kolisko,
ocidental.(*) culminando em seu livro A Lua e o Crescimento das Plantas (Companhia
Publicadora Antroposófica,- 1938). A despeito da leviana exclusão feita por
Experiências dos Antroposofistas — Seguidores de Rudolf Steiner Eisler, baseado em conclusões tiradas de uma única experiência feita por
Maby e Bedford, "autores conjuntos de um livro notável, Os físicos da
Rudolf Steiner (1861/1925), filósofo e grande autoridade em Goethe, Varinha de Condão", as descobertas de Frank Brown e muitas outras
era líder da seção alemã do movimento teosofista. Mas, tendo altercado com acrescentam a possibilidade de que os vinte anos de pesquisa de Madame
Annie Besant, sucessora de Madame Blavatsky, Steiner rompeu com o Kolisko não tenham sido um golpe de sorte, e que seus dados não foram
movimento e fundou uma escola própria, pregando Antroposofia ou Saber da preparados tendo em vista um plano preconcebido.
Humanidade, com quartel-general na Suíça. Em teoria, naturalmente, essas experiências devem ser realizadas por
alguém desinteressado por tais fenômenos. Mas a experiência dos
(*) Desde que isto foi escrito, ao menos uma referência apareceu na imprensa ocidental. O antroposofistas indica que, neste caso, a "teoria" tem a faculdade de ser
Doutor Miriam Moore-Robinson (in New Scientist, 11 de novembro de 1969) discutiu a forte incooperativa. Algumas das pesquisas mais interessantes e sem dúvida mais
possibilidade de se poder prever o sexo dos filhos antes dos próximos cinco anos, e menciona
as afirmações de Jonas, mas conclui bastante depreciativamente: "Tal é a inventividade dos convincentes parecem depender de quem as realiza! Isso talvez queira dizer
inventores que não será provavelmente necessário basear-se no empirismo do Doutor Jonas que, embora pareça " incientífíco ", a proverbial sabedoria do jardineiro
nem, para citar Plínio, esperar um frio vento do Norte para fazer um filho." E é difícil não provavelmente não é mito. E talvez essa idéia não seja tão anticientífica
concordar com o autor neste ponto. Os pesquisadores mencionados pelo Doutor Moore- quanto parece. Os iogas sabem há pelo menos 3 mil anos, e a ciência há pelo
Robinson estão atarefadamente separando esperma masculino de esperma feminino por meio
de sedimentação e centrifugação, passando uma tênue corrente elétrica através do sêmen, e
menos três séculos (21), que o espírito pode influenciar a matéria. A ciência
tornando a secreção ácida ou alcalina; e as vantagens de tais métodos de encantamento sobre ortodoxa não tem nenhuma teoria satisfatória que diga o que é espírito, e
meramente confiar na Lua é mais que evidente para qualquer leitor de espírito científico. Mas nenhuma que diga o
o que é talvez mais interessante no artigo é a boa vontade do autor de citar as afirmações de
Jonas sem a priori pô-las de lado.
que é matéria. Portanto, esse novo fato é muito mais misterioso do que sua A Influência Celeste no Mundo Físico
divulgação faz supor. Todas as tradições esotéricas, no entanto, insistem em
que tanto matéria quanto espírito são apenas manifestações da mesma Alta OS FENÔMENOS CELESTIAIS AFETAM A INTERFERÊNCIA DE
RADIO NA ATMOSFERA
Consciência. Para essa maneira de pensar, o domínio da matéria pelo
espírito é apenas uma expressão da hierarquia natural; certamente um John H. Nelson, engenheiro elétrico, estava empregado na RCA para
mistério, mas de maneira nenhuma um problema filosófico ou um investigar as possíveis conexões entre flutuações na interferência do rádio e
paradoxo. fenômenos celestes. (24) Verificando registros de perturbações datadas de
De qualquer maneira, as experiências de Madame Kolisko aparecem 1932, Nelson descobriu que a maior parte das tempestades magnéticas —
para dar uma prova dramática da influência da Lua sobre o crescimento das que causam as interferências no rádio — ocorriam quando um ou dois
plantas, e, à parte a experiência, única, breve e sem conclusões dos senhores planetas estão em conjunção, ou em 180° ou 90° em relação ao Sol. Baseado
Maby e Bedford, não conhecemos nada que contradiga seu trabalho. em seus dados originais, Nelson era capaz de predizer distúrbios na
Resultados igualmente interessantes foram obtidos por uma outra atmosfera com a certeza de 80%. (25) E uma pesquisa subseqüente permitiu
experiência antroposófica descrita em Lua e Planta por Agnes Fyfe (22). que refinasse seus métodos, incluindo mesmo todos os planetas, até Plutão.
Rudolf Steiner afirmava que era possível preparar um remédio contra o No momento, ele é capaz de prever distúrbios no rádio até noventa e três por
câncer de visco, mas o efeito desse remédio dependia de quando a planta cento de certeza e continua a trabalhar pretendendo refinar seu sistema ainda
fosse colhida. mais.
Assim, quando foi fundado um laboratório de pesquisa do câncer em De um ponto de vista astrológico, as descobertas de Nelson são do mais
1949, os antroposofistas decidiram testar o visco para ver se estas supostas alto interesse. Desde que a astrologia existe, tem sido considerada neutra em
variações em suas propriedades podiam ser medidas. Seu efeito tóxico sobre si mesma, embora seus efeitos dependam de outros fatores, enquanto o 90°
ratos brancos foi testado regularmente, o seu valor pH (grau de acidez) de relação — o reto — e o 180° de relação — a oposição — têm sido
medido. considerados "desarmônicos" (ou "maléficos" ou "maus" ou "difíceis",
A seiva do visco foi também trabalhada num processo chamado dependendo do tempo, da função e das preferências psicológicas e
dinamólise capilar no qual faz-se a seiva aparecer num pedaço de filtro de emocionais dos astrólogos).
papel. Isso deixa uma marca que, quando fixa, pode ser fotografada. E as A pesquisa de Nelson no campo altamente frio das perturbações do
fotografias tiradas mostram as variações nas marcas. rádio provou inequivocamente essa velha teoria astrológica — que, durante a
Depois de 70 mil dessas experiências, foram estabelecidas e definidas longa e escura idade da mecânica newtoniana, esteve sujeita a ridículo maior
complexas ondas harmônicas, tanto de longa duração quanto de curta do que qualquer outra faceta da astrologia.
duração. As marcas eram quase insensíveis às condições imediatas do Além disso, Nelson descobriu que esses campos predizivelmente bons,
tempo, mas afetadas violentamente por fatores extraterrestres, em particular campos sem perturbações, eram formados quando um grupo de planetas se
os eclipses. Sem aventurar nenhuma conclusão sobre a efetividade da seiva alinhavam nos ângulos de 60° e 120° em relação ao sol — o "sextil" e o
de visco no tratamento do câncer, é no entanto bastante razoável supor que "trino" da astrologia tradicional, desde os tempos imemoriais considerados
a mudança de marcas formadas por esta seiva podem muito bem representar "bons", "benéficos" e "harmônicos". Nelson também encontrou que quanto
uma mudança nas suas propriedades medicinais — quaisquer que possam mais planetas estivessem envolvidos nas várias relações, mais pronunciada
ser. era a perturbação. E ainda refinamentos adicionais indicavam que se podia
Dados estes resultados, a insistência dos egípcios quanto ao tempo em também contar com as escalas harmônicas das relações principais para torná-
que os remédios são tanto preparados quanto administrados parece bastante las sensíveis — justificando a teoria de Kepler, de que tais relações enrola-
razoável, ao menos em teoria. (23) língua como o
"quincúncio" e o "sesquiquadratura" – 150ºe 125º — deviam ser tomadas em
consideração. Nelson descobriu que todas as escalas harmônicas diretas e de lugar desses terremotos era superior ao acaso, num grau estatisticamente
oposição (as relações "duros") produziam relações detectáveis: um aspecto significativo. Em particular Urano, Plutão e Júpiter tendem a estar
de 45º, um aspecto de 22,5º todos os múltiplos de 15° e mesmo um aspecto envolvidos nas configurações, enquanto o Sol e a Lua aparentemente não
de 7,5º. desempenham nenhum papel. Essas configurações são comumente da
Isso tanto corrobora quanto amplia a visão normal das relações variedade dura (90° e escalas harmônicas deste); e, maior a magnitude do
astrológicas. Dá ainda mais crédito à teoria de Addey de que, através do evento, mais probabilidade havia de que os planetas estivessem configurados
estudo das ondas harmônicas, a astrologia pode ser levada muito além do no horóscopo do terremoto.
ponto em que se encontra atualmente. E indica que o complexo trabalho hoje Embora de maneira nenhuma conclusivos, os dados de Tomaschek dão
levado a efeito pelo Instituto Astrológico em Aalen, sob a direção de R. suporte aos pressentimentos coletivos dos astrólogos modernos que
Ebertin, está no caminho certo: esta escota dá particular atenção às relações atribuíram caráter "revolucionário" e "explosivo" a Urano e Plutão, enquanto
"duros" e suas escalas harmônicas. (26) que o envolvimento de Júpiter pode significar que os raios lançados pelo seu
Se bem que as descobertas de Nelson tenham sido largamente normalmente bom deus podem não ser inteiramente um fruto da imaginação
divulgadas na imprensa popular e nos jornais científicos, sua óbvia conexão grega. (27)
com a astrologia foi ou ignorada ou habilmente posta de lado: "A evidência Ao tentar explicar a correlação entre os acontecimentos terrestres e
de uma estranha e inexplicada correlação entre as posições de Júpiter, celestes, Tomaschek ingenuamente fugiu da hipótese física, geralmente
Saturno e Marte em suas órbitas em torno do Sol e a presença de violentos ingênua, proposta por Gauquelin e outros cientistas ortodoxos, cujo trabalho
distúrbios elétricos na atmosfera superior da Terra parece indicar que os inadvertidamente se relaciona com a astrologia. Tomaschek sustentava um
planetas e o Sol participam de um mecanismo cósmico de equilíbrio elétrico, ponto de vista simbólico consoante com a tradição, e, como era ao mesmo
estendendo-se por um bilhão de milhas do centro do Sistema Solar. Tal tempo astrológico e físico, suas opiniões a esse respeito são particularmente
balança elétrica não é levada em conta nas teorias astrofísicas correntes", interessantes. Vamos voltar a elas em nosso capítulo final.
dizia a reportagem do The New York Times. O fato de que essa balança era Um trabalho considerável foi feito com sucesso ligando a atividade das
levada extrema-mente em conta pela antiga teoria astrológica era, sem manchas solares com uma grande variedade de fenômenos terrestres. E esse
dúvida, considerado pelo The New York Times como notícia que não valia que segue é apenas um dos muitos relatórios com descobertas positivas:
a pena imprimir. Numa recente sessão da Sociedade Popov de Engenharia de Rádio e Comunicação
Embora Nelson prefira não meter-se em questões diretamente Elétrica, o Doutor A. K. Podshibyakin relatou que a pesquisa levada a efeito há vários anos na
astrológicas, seu trabalho propõe uma pergunta diretíssima e quase Faculdade Médica de Tomsk encontrou uma relação entre acidentes rodoviários e a atividade
solar. Suas estatísticas mostram que, no dia seguinte a uma erupção de chama solar, os
automaticamente: essas tempestades magnéticas celestialmente
acidentes rodoviários aumentavam, algumas vezes quatro vezes acima da média (grifo
correlacionadas têm algum efeito na vida da Terra, além de perturbar a nosso). Podshibyakin mencionou que descobertas similares foram também obtidas por
recepção de rádio em ondas curtas? pesquisadores em Hamburgo e Munique. Afirmava também que a resposta humana ao
Que nós saibamos, ninguém fez experiências com o propósito expresso estímulo é geralmente mais baixa durante uma erupção solar que nas outras horas.
de testar os efeitos das tempestades magnéticas preditas nos ritmos de vida, O interesse na relação entre os fenômenos solares e terrestres tem existido por muitos
anos. Quando ocorre uma erupção solar, uma imensa quantidade de radiação ultravioleta é
ou nos dados médicos. Mas parece provável que os estudos de terremotos do produzida. Isso aumenta a ionização da atmosfera terrestre de tal maneira que durante esse
finado Doutor Rudolf Tomaschek tenham ligação com as descobertas de período a transmissão na Terra através de ondas curtas é provavelmente interrompida. O
Nelson. poder das erupções solares sobre o metabolismo humano é também uma idéia interessante.
Tomaschek, que era presidente da Sociedade Geofísica Internacional, (28)
físico famoso e astrólogo (a mais rara das combinações), levou a cabo uma
De fato é. Particularmente, desde que Nelson mostrou que as
análise estatística de 134 grandes terremotos. Descobriu que a posição dos
perturbações no rádio podem ser preditas com uma precisão
planetas no tempo e no
de 93% a partir das posições dos planetas. Refletindo um pouco sobre a quer que fosse responsável pelas flutuações. (29) Durante sete anos, mais
extrema delicadeza e a minuciosa escala das ações e reações do corpo, de 200 mil experiências separadas foram realizadas.
pareceria bastante mais razoável reverter a questão: seria surpreendente se Piccardi descobriu que as taxas de precipitação seguiam um definido e
esse fenômeno elétrico e magnético mundial não afetasse o metabolismo predizível padrão cíclico durante o ano, com um mínimo em março.
humano. Também encontrou variações de acordo com a latitude — interessante em
vista da pesquisa de ciclos que indica que os ciclos biológico e mesmo
INFLUÊNCIAS EXTRATERRESTRES NA econômico seguem padrões similares; correspondendo não apenas à
QUÍMICA INORGÂNICA latitude, mas também ao campo magnético da Terra. O padrão cíclico era
quebrado violentamente quando havia perturbações magnéticas agudas na
De todos os campos da ciência, nenhum parece tão desprovido de atmosfera. E o ciclo anual era envolvido no familiar ciclo de mancha solar
mistério quanto a química inorgânica, onde — ensinaram-nos na escola — X de 11-1. Tudo isto corrobora os dados cíclicos de um número de campos,
vai sempre combinar com Y numa medida dada e numa dada proporção para com exceção da aguda flutuação anual em março. Não se podia dar conta
formar XY. dessa flutuação em termos de fenômeno terrestre, nem em termos de
Mas, realmente o assunto não é assim tão simples. Há esqueletos no fenômeno conhecido dentro dos limites do sistema solar, e Piccardi
armário do químico. Colóides e precipitados em particular recusam-se a ousada-mente levantou a hipótese de que as flutuações de março eram
conformar-se com os padrões de comportamento químicos, e a água, o mais devidas a fatores originalmente galáctico.
comum dos líquidos, é também o mais misterioso, exibindo um número de A Terra revoluciona em torno do Sol, que por sua vez se move
embaraçantes aberrações. Se bem que há muito tempo conhecido dos rapidamente em direção à constelação de Hércules, significando que a
cientistas, esse comportamento desobediente tem sido geralmente Terra não descreve no espaço uma órbita chata, mas uma espiral complexa
desdenhado, atribuído a equipamentos defeituosos ou erros de laboratório, cuja ação em março é única.
ou francamente atribuído a "caprichos da natureza", e conseqüentemente
ignorados. A velha idéia de "espaço vazio" foi evidentemente descartada e, em
No entanto, um químico italiano, professor Giorgio Piccardi, da seu lugar, a ciência fala agora em "campos de força". Embora negando a
Universidade de Florença, ficou interessado por esses assuntos na década de astrologia, Piccardi teoriza que o deslocamento da Terra dentro do campo
30, e depois de uma longa e persistente experimentação mostrou que essas de força durante o mês de março resulta na curiosa flutuação de velocidade
anomalias químicas eram causadas por fatores extraterrestres. das reações químicas durante esse mês.
A mais impressionante das experiências de Piccardi é uma que começou Essas experiências químicas de Piccardi foram por muitos anos
em 1951 e se estendeu por todo o ano de 1958, realizada como uma acompanhadas por pesquisa nas anomalias da água. Foi mostrado que a
contribuição ao Ano Geofísico Internacional. água é particularmente sensível a influências exteriores entre temperaturas
Usando métodos específicos, pré-organizados, seguindo um plano de 30° e 40° C., e que os colóides participam dessa estranha sensibilidade.
predeterminado, Piccardi e outros cientistas em laboratórios no mundo "Não é preciso sublinhar a natureza necessária desse fato", afirma Piccardi,
inteiro prepararam um precipitado de oxicloreto de bismuto em água, sob "é bem sabido que a vida faz parte de um sistema aquoso e coloidal." (pág.
condições de laboratório estritamente controladas. 15)
Foi descoberto que a taxa de precipitação variou de dia a dia. A A água é sensível a influências extremamente delicadas e é capaz de
possibilidade de' erros no equipamento foi eliminada, assim como o foi a adaptar-se nas mais variadas circunstâncias em um grau que não é atingido
possibilidade de falta de cuidado na preparação da experiência. Quando uma por nenhum outro líquido. Pode ser que essa infinidade de possibilidades
placa de cobre era colocada em recipientes experimentais, o precipitado se seja o que torna possível a existência de vida. (pág. 33)
formava numa taxa constante, significando que o cobre anulava os efeitos
do que
"... campos eletromagnéticos de baixa freqüência e portanto de muito "Tudo isso pode sugerir astrologia... A relação desse livro com a
pouca energia são capazes de atuar sobre a água (grifos nossos)" (pág. 33) astrologia, no entanto, é como a da moderna química com a alquimia....No
Piccardi descobriu que os mais surpreendentes resultados eram os em entanto, a realidade de milhões de nascimentos não deixa dúvidas de que,
comprimento de onda FMB (Freqüência Muito Baixa). Experiência em na média, as pessoas nascidas em fevereiro e março diferem decididamente
outros campos também encontraram que as ondas FMB causavam das nascidas em junho e julho." (30)
marcantes mudanças biológicas. E realidade maior era a de que nada conhecido pela ciência ortodoxa
"
Radiações eletromagnéticas e variações de campo atingem a massa podia explicar essa discrepância, nem nenhum outro fenômeno cíclico que
total de um corpo, logo, de um organismo, e provocam oscilações, Huntington e sua equipe estavam descobrindo. Depois de décadas de
excitações, ou, de qualquer forma, a ressonância, por assim dizer, de todos trabalho, no entanto, sem realmente mencionar a palavra proibida, como
os elementos estruturais capazes de responder aos seus estímulos, onde quer que se deixava a porta aberta: "A evidência é suficiente para garantir a
que sejam encontrados. A ação deles é... total" (pág. 135) hipótese de trabalho de que a eletricidade da atmosfera, devida
"... esses elementos que, dependendo de suas formas geométricas e de presumivelmente ao Sol, mas talvez também a todo o Sistema Solar, é um
suas relações energéticas internas, são capazes de se ajustar a radiações de fator cíclico a que se associam de perto os ritmos psicológicos." (31)
freqüências aproximadas, são os elementos estruturais... não pode haver Foram encontrados ciclos operando nas esferas biológica, econômica,
ressonância sem estrutura (pág. 125). meteorológica, geofísica, humana, animal, e virtualmente qualquer outra
Essa última citação soaria familiar aos ouvidos de um astrólogo esfera.
medieval; assim como aos dos arquitetos das catedrais e dos templos do Podia mostrar-se como elas são altamente não ocasionais. Certas
Egito. Pois as estruturas que eles construíam eram projetadas periodicidades definidas aparecem aqui e ali, enquanto que outras nunca
conscientemente para provocar essa ressonância desejada dentro dos aparecem. Por exemplo, um ciclo com base de 9-6 anos manifesta-se numa
corações e cabeças dos observadores. Portanto, é estranho que Piccardi, no variedade de fenômenos que vão do tamanho que o salmão alcança no
meio de todas essas experiências, deva renegar publicamente a astrologia Canadá à largura do cerne da árvore, e aos preços de algodão nos Estados
tradicional. Unidos, mas nada foi encontrado que seguisse um ciclo de base 10-6 anos.
Que a distribuição não era fortuita e que era devida a outros fatores além da
sorte foi demonstrado quando os ciclos novamente ficaram fora do
CICLOS E MANCHAS SOLARES programa.(32)
E, como demonstração suplementar, os ciclos invariavelmente se
A conexão entre o ciclo de manchas solares e fenômenos terrestres foi
manifestavam harmônicos, isto é, em progressão dupla e tripla, mas nunca
noticiada pela primeira vez em 1801 por Herschel, o descobridor de Urano.
em quíntupla ou sêxtupla. Assim, há três ciclos distintos de 15 anos,
Os preços do trigo pareciam seguir inexplicavelmente o ciclo de 11-1 ano,
envolvidos num ciclo maior de quarenta e cinco anos etc.
frente à freqüência das manchas solares. E através do século XIX esforços Os ciclos eram um fato. Nada na Terra podia explicá-los. O lugar
intermitentes foram feitos para isolar ciclos e utilizá-los — principalmente lógico a olhar era o céu, mas isto os pesquisadores de ciclos recusaram-se a
quando se relacionavam a negócios. Mas até 1920 não tinha ainda
fazer. E, no entanto, os astrólogos, embora satisfeitos com os novos dados
começado a pesquisa sistemática.
sobre ciclos, não podiam explicá-lo nos termos da astrologia tradicional.
Em Harvard, um grupo de pesquisadores sob a direção do professor
Os ciclos de Huntington caíam em marcas de tempo desajeitadas — 41
Ellsworth Huntington descobriu dados cíclicos inexplicáveis seja sob que
meses, 9-6 anos, 11-2 anos, 18 anos — nenhum dos quais
ângulo fosse. Seguiu-se um sem-número de livros que provocaram um
geocentricamente. Os astrólogos gostariam de ver claros
coçar de cabeça científico considerável, gritos de alegria dos astrólogos e
uma negação irada do próprio Huntington.
das conjunções entre os cinco planetas exteriores. Os resultados são
ciclos de 12 anos correspondendo a Júpiter, ciclos de 28 anos mostrados no quadro que se segue.
correspondendo a Saturno, e assim por diante. O próximo passo de Dewey será examinar as relações entre as
Em 1950, na América, a Fundação do Estudo de Ciclos era inaugurada, harmônicas das manchas solares e as conjunções dos planetas interiores.
filiada à Universidade de Pittsburgo. Mas agora apareceria confirmado que as conjunções dos planetas (com a
Essa fundação, que agora cresceu a 10 mil membros subscritos, embora estranha exceção de Netuno) coincidem com a atividade das manchas
observando as devidas precauções em discutir abertamente astrologia, nunca solares.
foi hostil a ela. No entanto, na diretoria está o famoso astrólogo e autor de Desde que ficou estabelecido que a atividade das manchas solares
numerosos artigos em revistas astrológicas, que evidentemente não faz coincide com uma série de fenômenos terrestres, parece lógico concluir
nenhum esforço para esconder seus interesses astrológicos. E em anos que esses fenômenos estão de alguma forma conectados com as conjunções
recentes, como se empilhassem evidências em favor da astrologia, a dos planetas, e aqui estamos nova-mente no domínio da astrologia.
Fundação cada vez mais tende a se inclinar para um interesse aberto pelo
assunto.
Edward R. Dewey, presidente da Fundação, declarou em 1967: Conjunção Período Sinó- Período da Harmô- Diferença
Planetária dico Médio nica das Manchas Percentual
O aspecto realmente importante do estudo de ciclo comparativo é a possibilidade de que
ele vá conduzir à descoberta de forcas ambientais até agora desconhecidas (o grifo é nosso) Saturno+Urano 44-36 anos 45-47 anos 0-2
que afetam a vida, o tempo, e muitos outros fenômenos terrestres... Que poderiam ser essas Júpiter+Urano 13-81 anos 13-78 anos 0-2
forças externas? Inafortunadamente, ainda não sabemos, mas parece claro que existe alguma Júpiter+Saturno 19-86 anos 19-78 anos 0-4
coisa estranha... Se tais forças forem reais, como dissemos no começo, trata-se de assunto da
maior importância para a humanidade. A prova da existência de tais forças vai empurrar as Júpiter+Plutão 12-46 anos 12-40 anos 0-5
fronteiras do saber tanto quanto qualquer invenção de que eu me lembre. (33) Urano+Plutão 126-95 anos 123-72 anos 2-6
Saturno+Plutão 33-42 anos 32-05 anos 4-3
Em setembro de 1968, em Ciclos, o professor Dewey publicou um Saturno+Netuno 35-85 anos 37-73 anos 5-2
artigo intitulado Uma Chave para as Relações das Manchas Solares com Júpiter+Netuno 12-78 anos Nenhum
os Planetas. Dewey escreveu que muitos dos pesquisadores de ciclos tinham Urano+Netuno 171-40 anos Nenhum
descoberto que os planetas estavam de alguma forma relacionados com as Plutão+Netuno 492-00 anos Nenhum
manchas solares, e, portanto, com todo o complexo de fenômenos cíclicos,
mas ninguém tinha sido capaz de descobrir qual era essa relação. Mas foi Devia ficar claro agora que, embora seja impossível colocar todas as
notado que, embora a freqüência das manchas solares seguissem o familiar experiências que descrevemos em uma caixa conceitual nítida, têm todos
ciclo de 11-1 ano, isso não era um ciclo verdadeiro. As manchas solares são em comum o denominador de uma influência extraterrestre sobre assuntos
magnetizadas e normalmente ocorrem aos pares. Num ciclo de 11-1 anos, as terrestres. E, embora seja injusto para com os cientistas responsáveis
manchas norte lideram e as manchas sul seguem, e, no próximo ciclo, as chamar seu trabalho de "astrologia", é igualmente injusto da parte dos
manchas sul lideram e as norte seguem. Em conseqüência, raciocina Dewey, cientistas imaginar que astrologia só diz respeito à predição sobre a
um ciclo verdadeiro seria de 22-22 anos. compra de cães-dágua.
O ciclo 22-22 anos foi então removido dos dados originais sobre as Entretanto, se a evidência não se apresenta com absoluta nitidez, em
manchas solares. Os dados remanescentes foram sujeitos a uma espécie de compensação cobre um vasto campo de interesses, muitos dos quais tocam
análise harmônica, e os mais importantes números isolados. Em outras diretamente vários preceitos da astrologia tradicional. O trabalho de
palavras, ficaram apenas os dados que não estavam relacionados com o ciclo Gauquelin é a corroboração direta da influência dos planetas sobre a
de 22-22 anos. E esses números foram então comparados com os tempos personalidade; o de Nelson confirma a validade da teoria das relações; o
médios estudo dos ciclos
parece implicar a afirmação de que a psicologia humana e animal é afetada em termos visuais. Quando se falava dentro, obtinham-se fotografias das
em uma enorme escala por fatores cíclicos, que por sua vez dependem do figuras do som, e descobriu-se, por exemplo, que a letra "O" falada
sistema solar, e assim por diante. produzia uma fotografia perfeitamente esférica.
Ao apresentar a evidência, no entanto, não demos em nenhuma parte De todas as crenças antigas e primitivas, poucas foram mais
uma indicação de como opera a influência celeste. Num certo sentido, isso universalmente ridicularizadas pelos críticos modernos que a noção de que
não é essencial. Os cientistas e engenheiros estiveram usando a eletricidade palavras e nomes estavam imbuídos de propriedades mágicas e outras —
durante um século antes de compreender como ela trabalhava. Nós pensamos para além do ato arbitrário de inventar uma palavra ou um nome para
que neste ponto já é suficiente afirmar que a influência celeste em muitas representar uma coisa ou pessoa.
áreas é um fato. Mas satisfaz muito mais se uma explicação razoável do
fenômeno puder ser fornecida, e pensamos que isso pode ser feito, não por No antigo Egito, tomavam-se precauções. para impedir a extinção do oitavo ou alma-
do-Nome... Nos textos das pirâmides encontramos mencionados um Deus chamado Khern,
evidência direta, é verdade, mas pelo que em nossa opinião parece ser uma i.e. palavra: a palavra tendo uma personalidade como a de um ser humano. A Criação do
analogia singularmente poderosa. Mundo foi devida à interpretação em palavras, por Thoth, do desejo da divindade...
As crianças estão muitas vezes, similarmente, ansiosas para esconder seus nomes; e da
Cimática: O Estudo das Ondas mesma forma como as crianças sempre perguntam qual é o nome de uma coisa e encaram o
nome como uma aquisição valiosa, nós sabemos que todas as estrelas têm nomes...
Em alguns sentidos, o século XX sofre mais aflitivamente que qualquer outra idade
Cimática é o nome dado pelo seu fundador, Hans Jenny, ao estudo das anterior dessas superstições verbais...
ondas e da maneira como as ondas influenciam a matéria. (34) A persistência da primitiva perspectiva lingüística não apenas em todo o mundo
Essencialmente, o trabalho de Jenny é apenas um vasto refinamento de religioso, de uma ponta a outra, mas no trabalho dos pensadores mais profundos, é de fato
um fenômeno examinado pelo físico alemão do século XVIII, Ernst Chladni, uma das mais curiosas características do pensamento moderno. (36)
que descobriu que quando se espalhava areia sobre uma placa presa num O espírito racional é imune a tais disparates; e o racionalismo sabe que
violino, e eram tocadas diferentes notas nesse instrumento, a areia se se — digamos — Vladimir Nabokov tivesse escolhido chamar sua famosa
distribuía em vários e lindos padrões, que mudavam de acordo com a nota ninfeta de Hepzibah não teria feito a menor diferença.
emitida. Na ciência essas figuras são conhecidas como "figuras de Chladni". Entretanto a fotografia de Jenny permanece lá, o tempo todo torcendo o
Mas, o método de Chladni permitia poucos refinamentos, os materiais nariz para a razão. Por que a menos que Ogden e Richards estejam
eram limitados e as freqüências difíceis de controlar ou de alterar durante a preparados para dispensar toda a arte, a literatura, a poesia, a música e a
experiência. Mas a forma era de certa maneira uma função da freqüência de literatura, como resíduos pura-mente emotivos da superstição, acabaríamos
vibração; isso era bastante claro. tendo que admitir que nisto, como em muitas outras coisas, os egípcios
Jenny decidiu investigar o fenômeno, e para isso inventou um estavam tratando com realidades. A arte nos afeta pela sua estrutura, pelas
equipamento que lhe permitisse sujeitar um grande número de materiais a vibrações sensórias que levanta, e que são mais tarde interpretadas pelas
um grande número de freqüências, tudo sobre um sistema de controle nossas faculdades estéticas — quaisquer que possam ser.
flexível. Areias, pós e líquidos eram espalhados em placas de metal, e então O tonoscópio de Jenny é feito para que vibrações sonoras atuem sobre
vibrados em diferentes freqüências de som, produzindo uma espetacular material inerte cuja ação pode ser fotografada. "O" não soa apenas como
disposição de formas e padrões (35) e uma série de experiências talvez "O", ele tem a aparência de um "O". (37) Bastando apenas pronunciar a
mereça uma atenção particular do nosso ponto de vista. vogal, pode-se fazer um material inerte conformar-se com o que se pode
Entre as invenções de Jenny está o tonoscópio, uma máquina planejada chamar a Lei do O. "Pode-se dizer que os sons da voz humana têm efeitos
para converter a voz humana, e os sons em geral, específicos
sobre os vários materiais de diversas maneiras, produzindo o que se pode O Sistema Solar é um todo concreto, vibrante. Para os nossos sentidos,
chamar de figuras vocais correspondentes." (38) Os egípcios e os primitivos os planetas movem-se vagamente em órbita. Mas, para um ser que considere
parecem sempre menos supersticiosos e primitivos: a Ciência já admitiu que uma centena do milhar de anos como um segundo, o sistema solar seria
ondas sonoras podiam influir no crescimento das plantas; é apenas um invisível, mas audível, (desde que os sentidos de tal ser estejam afinados
pequeno e lógico trânsito até a admissão de que a repetição de fórmulas e para perturbações magnéticas e eletromagnéticas e não apenas atmosférica).
cantos sagrados (ondas sonoras) podem objetivamente curar doenças. Se a Como todos os outros sistemas vibratórios, o Sistema Solar está obrigado a
música pode afetar as plantas, por que seriam os vírus e as bactérias imunes? produzir uma multidão de sons harmônicos interatuantes, sendo que os
Já discutimos a Lei do Três, a Lei da Relação — tradicional-mente efeitos daí provenientes constituem o que foi pesquisado no que
simbolizando o Espírito — que insiste em que, para alguma coisa acontecer descrevemos.
no universo, três forças, e não duas, são necessárias, mas que essa terceira é As experiências de Jenny demonstram que a forma depende não apenas
inefável. A Cimática de Jenny é essencialmente o estudo dessa ilusória da freqüência da vibração, mas também da natureza do material que está
terceira força que tão constantemente permanece imune à nossa razão: é a sendo vibrado. Materiais diferentes vibrados à mesma velocidade produzem
idéia entre o escultor e o bloco de madeira; é o desejo que medeia entre o marcas diferentes. Essa é uma demonstração visual da diferença qualitativa.
homem e a mulher; o Espírito Santo da Santíssima Trindade. E para conseguir explicar isso em termos que não sejam da estrutura atômica
A importância do trabalho de Jenny repousa na capacidade de expor dos materiais é simplesmente perder a saída; a aparentemente simples adição
essa terceira força, de permitir aos cientistas estudar suas manifestações aritmética dos elétrons também resulta em diferenças qualitativas entre os
quantitativamente. Mas é preciso frisar que isso não significa que, a elementos básicos. E em música, a mesma nota tocada num violino e num
terceira força tenha sido explicada; ela continua tão misteriosa quanto oboé nos afeta de maneira diferente. Não está certo afirmar que não há
sempre: nesse caso, a força é aplicada à matéria através da ação mediata da diferença real nas notas atrás do total da soma das respectivas escalas
vibração; mas essa vibração, como o esquema do trem do professor Brown, harmônicas; com efeito, a diferença é tão real quanto os cálculos.
é a manifestação de uma decisão consciente; não é nem matéria nem A situação do sistema solar é análoga a uma orquestra. Os planetas
energia, recusa-se a ser apanhada lingüisticamente; entretanto, sem ela Jenny (instrumentos) são compostos de materiais grande-mente diversos, variando
não teria padrões, o professor Brown não teria nenhum esquema de trem. enormemente quanto à massa e à densidade, que gravitam (vibram) numa
Repetindo: forma é impossível sem freqüência, e freqüência é variedade de velocidades, e essas velocidades estão mudando sem cessar em
inexplicável. Pode esse fato estar atrás de: "No começo era o Verbo"? Isso relação a cada outra, e também nas distâncias e ângulos com os quais
era o que os egípcios queriam dizer quando creditavam a Thoth a criação do interagem. Agora se aceita que os planetas são carregados elétrica e
mundo por sua interpretação, em palavras, do desejo divino? magneticamente; sabe-se que Júpiter e a Terra, pelo menos, emitem ondas de
Parece-nos que o trabalho de Jenny traz uma importante contribuição rádio, e é óbvio que estamos apenas começando a conhecer a verdadeira
ao aspecto físico da astrologia, e o aspecto físico da astrologia é natureza física dos planetas. Mas devia agora ser incontrastável que as
naturalmente o único aspecto ao qual pode ser aplicado o método científico. influências dos planetas variam enormemente; não há erro quanto ao
A cimática torna claro que o antigo conceito da Harmonia das Esferas aparecimento de Saturno, nem de Vênus, nos mapas dos cientistas, nas
deve ser tomado literalmente. A analogia medieval da ressonância, estatísticas de Gauquelin etc... E o trabalho de Nelson, Piccardi, Dewey,
longamente deixada de lado no universo mecânico newtoniano, no qual os Jonas e outros tornou igualmente incontestável que cada átomo de cada
planetas giravam num espaço vazio, volta agora como fato demonstrável. molécula da Terra tem como única escolha responder ao seu tom cósmico.
(39)
O esperma se une ao óvulo; o tantas vezes citado "código genético"
determina a infinidade de possibilidades em que o feto pode relacionar-se
com seus pais. Mas, que é o código
genético? Qual é a natureza precisa da mensagem que o mensageiro RNA Mas, a despeito dessa severidade, permanece o fato de que um
leva ao DNA antes que o último possa operar? Não são apenas os genes, astrólogo que abandona a astrologia desgostoso ou desesperado é uma
mas o seu arranjo: em outras palavras, não é uma coisa, é o resultado de raridade. Portanto, haverá validade, mesmo na astrologia do momento, para
um ato, o qual em si próprio não é nem matéria nem energia. Nas justificar o tempo gasto com ela por homens aparentemente sãos? Ou que
experiências de Jenny, o arranjo (forma) é contingente sobre a freqüência. eles estarão se iludindo? E possível, como afirma Gauquelin, que a
Não é possível que o código genético seja a resposta do esperma e óvulo influência cósmica seja um fato incontestável, mas que todo o edifício
unidos ao complexo de freqüências cósmicas que prevalecem no momento? astrológico não passe de superstição, que os astrólogos, mesmo os mais
Embora apoiados em diferente terminologia, os astrólogos têm sérios, sejam charlatães ou loucos?
afirmado que é exatamente este o caso, desde tempos imemoriais. E, Gauquelin, campeão dos fatos e números, não sustenta sua afirmação
naturalmente, têm afirmado, ainda mais, que, no que se refere ao caráter, é com fatos — apenas vagas alusões a provocações feitas a astrólogos e
o momento do nascimento, e não o da concepção, o fator determinante. nunca respondidas. Como vimos, outros oponentes da astrologia, de
Que isso é. fato, e não suposição, está amplamente provado pelo trabalho Voltaire e Swift até Eisler, Haldano, Courdec e Patrick Moore, têm
estatístico de Gauquelin e de Addey. Mas julgar esse fato em termos físicos levantado condenações com convicção, mas com idêntica ausência de fatos
é provavelmente impossível, e esse livro não é o lugar para uma ou números. No entanto, os astrólogos — até muito recentemente uma
dissertação sobre a natureza da alma, ou mesmo um resumo das doutrinas minoria desdenhada e sem influência — têm feito réplicas amargas em
tradicionais sobre o assunto. (Ver a bibliografia para leituras adicionais seus jornais não lidos — não com fatos para sustentar sua causa, mas ao
sobre este aspecto esotérico da astrologia.) menos com a justiça do seu lado. Em vista da sua falta de evidência, os
Vamo-nos restringir à observação de que a soma das freqüências, críticos pareceriam ter a obrigação moral de suspender seus ataques até que
tonalidades, ritmos e escalas harmônicas de uma peça musical não se pudesse trazer uma testemunha razoável para defendê-los.
constituem o significado da música, nem esse significado pode ser A verdade é que é difícil demais inventar métodos para colocar a
derivado de uma tal avaliação quantitativa. De maneira similar, podemos astrologia, e, em particular, os astrólogos, em testes satisfatórios quanto às
medir todo o alfa e outros ritmos do cérebro do homem calculando um exigências científicas, sem ao mesmo tempo forçar os astrólogos a
esquema de trem; mas isso não nos diz nada do significado de seus destorcerem seus próprios métodos no desejo de se adaptarem ao teste.
esforços. No entanto, nos anos recentes, dois esforços coordenados foram feitos
A harmonia das esferas, então, não é uma fantasiosa figura de discurso, para vencer essas dificuldades. Um pelo professor Hans Bender, cujos
mas uma realidade. No entanto, precisamo-nos guardar de uma conclusão resultados atuais, infelizmente, não conseguimos obter, só nos sendo
fácil demais, a de que seríamos influenciados pela música das esferas; possível relatar o que soubemos de segunda-mão: que os astrólogos em
porque, de uma forma sutil mas inelutável, nós somos essa música. E a geral acertavam muito na análise de caráter, mas muito pouco nas
astrologia é, ou devia ser, a disciplina, metade arte, metade ciência, previsões, o que não é surpresa.
dedicada à interpretação de seu sentido. Mas, os resultados do segundo teste são avaliáveis em detalhe.
Essa elaborada série de experiências foi imaginada pelo finado
A Prova do Pudim: Os Astrólogos enfrentam o Teste Vernon Clark, psicólogo americano interessado pela astrologia — antes de
mais nada porque, para uma superstição suposta-mente extinta, ela parecia
Ao apresentar nossa evidência, nós evitamos discutir o estado atual da dar mostras de extraordinária vitalidade. E, sem ter contatos com os
astrologia e as qualificações dos astrólogos que a praticam, além de citar astrólogos, anotou, no começo dos anos 50, um bom número de resultados
um número de fontes astrológicas, todas admitindo que esse estado era puramente científicos que pareciam sustentar a premissa astrológica.
insatisfatório e precisavam drasticamente de uma revisão.
Atiçado seu interesse, Clark então deu o raro passo de realmente estudar Isso exclui insinuações implícitas, como se se tivesse incluído um
o assunto por si próprio. Isto é, em vez de gastar trinta anos estudando senador na seleção e vários horóscopos pertencessem a nativos com seus
minuciosamente, examinando as palavras das autoridades em astrologia, vinte anos, o que obviamente tornaria as coisas mais fáceis.
todas convencidas, a priori, de sua fraude, Clark começou a examinar 4. O nascimento nos Estados Unidos foi colocado como uma confissão
horóscopos. Cedo convenceu-se de que em alguma parte, de alguma forma, para eliminar a possibilidade de ligações geográficas: um garçom que
havia coisas que mereciam atenção; daí, decidiu fazer um teste para tentar satisfazia a todas as outras condições foi eliminado porque nasceu na
ver se a sua convicção recente podia ser colocada em uma aceitável base França.
científica, ou, ao menos, em base estatística. (40) 5. A hora do nascimento era tão averiguada quanto fosse possível.
Clark primeiro decidiu testar a afirmação dos astrólogos de que, dos Encontrar nativos que preenchessem todas essas condições era, achou
dados obtidos do momento do nascimento, podia-se prever talentos e Clark, bastante mais difícil do que imaginara. Mas, concluída a tarefa,
capacidades futuras. foram estabelecidos os horóscopos, e a seguir remetidos aos astrólogos
Entrou em contato com vários dos mais bem vistos astrólogos na participantes.
Inglaterra e nos Estados Unidos, dos quais vinte e três concordaram em A única informação que receberam dizia respeito à natureza das
cooperar, embora um tenha desistido no meio do caminho; no fim, decidiu profissões. O teste deles era fazer coincidirem as profissões com os
tomar como resultados dos testes apenas as respostas dos primeiros vinte. horóscopos, de acordo com a sua ordem de semelhança, i.é. o astrólogo
Selecionou então horóscopos de dez pessoas na base de participação em devia selecionar o horóscopo mais parecido com o crítico de arte, o segundo
algumas profissões bem definidas, cinco homens e cinco mulheres. O grupo mais parecido, e assim por diante, até o quinto mais parecido.
incluía um herpetologista, um músico, um guarda-livros, um veterinário, um Como contra-experiência, Clark deu exatamente o mesmo teste para
professor de arte, um crítico de arte, um consertador de bonecas, um um grupo de controle de não-astrólogos — psicólogos profissionais e
bibliotecário, uma prostituta e um pediatra. trabalhadores sociais — que deviam fazer seleções cegas. Esse grupo deu
Esses horóscopos foram selecionados entre os primeiros que um resultado no nível do acaso.
apareceram, não foram especialmente escolhidos. Não se tentou selecionar Os astrólogos tiveram respostas consideravelmente melhores,
horóscopos-norma — que cooperativamente obedecem a todas as regras — devolvendo os testes com um nível de significação de 0,01 acima da sorte.
ou horóscopos-problemas — que não obedecem a nenhuma. Mas fez-se as Isto é: a proporção era de 100 para 1 entre respostas do acaso e respostas
seguintes estipulações: significativas.
1. O Nativo (*) deve ter seguido a sua profissão por um tempo considerável E indo ainda mais longe nos dados (desde que as estatísticas são
— as pessoas que mudavam muito de emprego eram deixadas de lado. abertas a um grande número de refinamentos e sutilezas), descobriu-se que
2. As profissões deviam ser claramente definidas, embora não se tenha os resultados poderiam ter sido ainda melhores se se tivesse usado os
feito nada para evitar duplas funções, como veterinário e herpetologista, ou métodos estatísticos mais novos e avançados. Mas esses permanecem
como o crítico de arte e a prostituta. inoficiais, não por causa dos astrólogos, mas porque os estatísticos
3. Os nativos deviam ter entre quarenta e cinco e sessenta e cinco anos. ortodoxos tendem a desconfiar desses métodos.
Clark achou que, usando sua técnica de contagem original, dezesseis
dos vinte astrólogos acertaram acima do nível da sorte. Mas usando a
(*) O termo nativo, para o assunto do horóscopo, tem um sabor extravagante e medieval, mas técnica de contagem tradicional, dezessete dos vinte tinham acertado acima
data apenas de 1508. Os astrólogos o retêm apesar de suas conotações incientíficas, talvez do acaso. E adicionando os resultados dos dois astrólogos que tinham sido
porque nenhuma palavra, melhor, brota facilmente no espírito. Horoscopistas obviamente não os últimos a responder — e que por isso tinham sido omitidos do teste — os
serviria, e "astrologistas" seria ainda pior.
resultados teriam aumentado mais ainda.
Desse teste, portanto, é possível concluir tentativamente que o caráter
do homem é influenciado ou determinado pela
e os mapas foram preparados por um astrólogo de fora, que não foi
posição dos planetas no momento do nascimento, e que, usando apenas a informado para que teste serviria efetivamente e excluindo a possibilidade
data do nascimento, os astrólogos podiam distinguir e delinear o caráter. de ESP entre Clark e os astrólogos participantes.
A conclusão ainda era precária. Ainda havia uma chance de tudo ser
por acaso. E a experiência de Clark foi criticada por inúmeros motivos, Novamente o teste foi organizado em pares. Desta vez um de cada par
entre eles a possibilidade de os astrólogos terem conseguido seus era de paralisia cerebral, enquanto que o outro era alguém com um mapa
resultados através de ESP. muito semelhante, que tivesse uma inteligência acima da média ou de
Essa possibilidade tinha que ser testada. E arranjou-se um teste ainda alguma forma fosse excepcionalmente dotado.
mais difícil. O teste I mostrava apenas que os astrólogos podiam distinguir. Os astrólogos não tinham nenhuma história de casos para combinar,
Fez-se o teste dois para ver se eles podiam também predizer. nenhuma data de acontecimentos importantes, nenhuma informação
Davam-se aos astrólogos 10 pares de horóscopos. Cada par trazia junto pessoal, nada além do fato de que um dos mapas pertencia a uma vítima
uma história, com as datas de acontecimentos importantes na vida (honras de paralisia cerebral. Sua tarefa consistia em determinar qual.
concedidas, dias cruciais, mortes etc.). Dizia-se aos astrólogos que um dos Outra vez os astrólogos acertaram acima do grau de significação de
horóscopos pertencia aquela história, enquanto que o outro pertencia a 0,01.
alguém da mesma idade e sexo, nascido na mesma vizinhança, mas cuja Como todo apostador de turfe sabe, três acertos de cem para um numa
história era diferente. (Realmente, o falso horóscopo era espúrio, única série faz um bom dia nas corridas. E, embora os astrólogos de Clark
cozinhado ao acaso para um tempo e lugar próximos ao mapa verdadeiro: não estejam retornando a resultados da ordem de 1 milhão para um,
os astrólogos evidentemente não sabiam disso.) conseguidos por Gauquelin, é preciso lembrar que os astrólogos estavam
Desde que era, para Clark, impossível ter qualquer informação sobre as sendo testados na totalidade do seu saber, e de maneira muito mais
pessoas (hipotéticas) correspondentes aos mapas preparados, a exigente do que aparece-ria na sua posição profissional.
possibilidade de ESP era mínima, embora não obviada (é praticamente Clark, no entanto, treinado para a ciência, e tentando conseguir a
impossível excluir todas as possibilidades): e isso testaria a capacidade de aprovação para a astrologia, minimizou a importância dos testes. Mostrou
predizer, ao menos retrospectivamente; e se um astrólogo podia dizer, minuciosamente como os testes não "provavam" a astrologia, mas também
baseado apenas na data do nascimento, que um acidente ou um casamento não "conseguiam refutá-la".
ou qualquer outra coisa pertenciam antes ao horóscopo A que ao B, isso "Com anos de experiência atrás deles, trabalhando com essa hipótese,
significava que, ao menos teoricamente, poderia também ter predito um eles (os astrólogos) mal precisam de provas de que a humanidade de fato
acontecimento dessa natureza antes de o fato se dar. seja reativa ao seu ambiente planetário. (42) Mas nossos amigos cientistas
Nesse teste, os astrólogos novamente marcaram acima do nível de ainda precisam, por certo tempo, ser-tratados com a cerimônia devida aos
significação de 0,01. Desta vez usaram-se respostas dos 23 astrólogos que convidados de honra; precisamos ser cuidadosos, como anfitriões, só nos
cooperaram. Três tinham ligado todos os dez horóscopos com as histórias, dirigirmos a eles em sua própria língua, e oferecer entretenimento que já
18 tinham acertado acima do nível do acaso, e dois não ultrapassaram esse faz tempo sabemos que será de seu gosto", Clark sugeria. (43)
nível. A experiência de Clark foi submetida à apreciação de estatísticos, e
Duas marcas de 100 para 1 na mesma série é uma raridade. Mas Clark não pode estar errada. Durante a experiência, foram tomadas precauções de
decidiu testar ainda mais. Foi demonstrado que os astrólogos, na base fraude.
apenas da data do nascimento, podiam distinguir e predizer. Agora, "Nunca mais", insistia Clark, "será possível rejeitar a técnica
decidiu-se ver se eles podiam categorizar. E a possibilidade de ESP ainda astrológica como um negócio vago, misterioso e místico — como o
permanecia um dado possível. brinquedo de físicos indisciplinados — ou meramente como maquinações
Nesse novo teste, Clark apenas organizou. A tarefa de selecionar os que aproveitam apenas a embusteiros inescrupulosos.
nativos foi feita por um grupo de físicos e psicólogos,
Aqueles que, sem prejuízo, querem fazer assim terão que permanecer em
silêncio, ou então repetir essas experiências para si próprios. "(44)
Porém, nenhum dos amigos cientistas de Clark estava interessado.
Certamente nenhum deles repetiu essas experiências para si próprio. Tanto
quanto sabemos, resultados de Clark, como os de Gauquelin (*), não foram
transcritos em nenhum jornal científico. Apenas Cosmopolitan, revista com Quarta Parte
limitados seguidores científicos, achou adequado dar ao trabalho de Clark
um arejamento público.
Um pequeno sonhador. Será que Clark imaginou seriamente que por O FUTURO E A SIGNIFICAÇÃO
uma cobertura constante de açúcar verbal, sua pílula podia ser engolida? DA ASTROLOGIA
Parece uma estranha ingenuidade da parte de um homem formado como
psicólogo.
Embora menos duros que as experiências de Nelson, Piccardi ou
Gauquelin (envolvendo mais variáveis humanas e ainda mais sujeitas a leis
mais misteriosas, mais caprichosas), as experiências de Clark eram
preparadas para testar os astrólogos em seu próprio terreno, e os astrólogos
passaram nesse teste.
Isso, juntado ao total das evidências a serem acrescentadas, torna-se
cada vez mais difícil evitar a impressão (bastante aguda nesse estágio do
jogo, para usar uma fraseologia mais política) de que, em matéria de
astrologia, Pitágoras, Platão, Plotino, Ptolomeu, Santo Tomás de Aquino,
Alberto Magno e João Kepler estavam certos — ao menos em princípio —
e toda a moderna ciência, errado.

(*) Gauquelin, alimentando a noção de que ele e outros savants chevronés estavam nas
vésperas de inventar uma nova ciência que não tivesse nenhuma relação com a antiga ou
atual astrologia, também achou conveniente não mencionar o trabalho de Clark em nenhum
de seus livros.
O Futuro e a Significação da Astrologia

O futuro da astrologia está comprometido com o complexo das atitudes


que frente a ela se tomam e, no momento, prevalece uma situação única na
história astrológica. Por um lado há o ressurgimento da astrologia popular no
seu mais baixo nível; por outro, as descobertas da ciência física, que
confirmaram a premissa básica da astrologia, mantêm-se apesar de tudo,
entre os muitos cientistas responsáveis, presas ao estigma de superstição, que
esteve ligado a ela por séculos.
Embora opostas, essas duas atitudes dominantes não são de forma
alguma excludentes.
O interesse da massa pela profecia astrológica pode ser olhado, em
termos exclusivamente históricos, como corolário inevitável de uma
sociedade em seus últimos espasmos de declínio e degeneração. A única
surpresa é que três séculos de materialismo, racionalismo e tecnologia
possam parecer tão pouco convincentes e emocionalmente insatisfatórios, e
as mesmas pessoas que sentam cativadas vendo o homem pôr os pés na Lua
desligam o aparelho quando o show acaba e se voltam para o horóscopo
diário do jornal, para ver o que lhes está reservado. Efetivamente, esse pode
ser um sinal de esperança. Não no que toca a afirmar que os homens são
menos supersticiosos do que sempre foram, mas, sob o aspecto de que é
muito mais difícil do que se pensa impor-lhes uma forma de superstição
excluindo todas as outras.
Interessante também, do ponto de vista histórico, é o fato de que a
paixão pela profecia tenha seduzido inclusive os oponentes da astrologia,
embora nesse campo não se chame profecia, mas, Pesquisas do Futuro (1), e
elaboradas desculpas econômicas, científicas e psicológicas sejam propostas,
para justificar essa atividade. Ninguém estuda as estrelas. De preferência,
instalam-se máquinas pensantes, usa-se dinheiro universitário, se possível, e
as variáveis são colocadas no computador, o que torna tais inquéritos
respeitáveis.
Mas as motivações atrás da pesquisa do futuro e atrás da astrologia
popular são as mesmas, a despeito da dissimilaridade do jargão empregado.
Ambas delatam unia incapacidade de viver no presente, e ambas se apóiam
na suposição de que, prognosticando o futuro, pode-se atuar sobre ele com
uma sabedoria miraculosa, a despeito do caos e enganos tão evidentemente
prevalecentes
no tempo em que esse prognóstico é feito. No entanto, tanto a pesquisa
futura quanto a astrologia popular preenchem uma necessidade emocional
óbvia e, analisando esta última manifestação de decadência, vamos analisar
VOCÊ CONHECE SEU SIGNO DE NASCIMENTO os vários jeitos que a astrologia popular tomou, para saber, afinal, o que se
MAS QUAL O SEU SIGNO SOLAR? vende.
O jornal de astrologia é, naturalmente, o mais familiar de todos. Já se
(É o que pode guiar sua sorte, seu amor e sua felicidade) prediz, afirmam eles, o que a semana ou o mês reservam para todos os
Gêmeos, todos os Cânceres, todos os Leões etc.
A maior parte das pessoas sabe qual seu signo de Já agora devia ser evidente para o leitor que a interpretação de um
nascimento no Zodíaco... Áries... Capricórnio... horóscopo é uma tarefa complexa e delicada envolvendo uma multidão de
Câncer, Leão, qualquer que seja. Mas muito poucos de fatores, e que, mesmo no que tem de melhor, a astrologia moderna deixa
fato sabem qual seu signo solar, o signo no ascendente muito a desejar. A astrologia de jornal é desprovida de valor. Tudo o que
na sua data de nascimento. Essa é a parte secreta de pode ser dito a seu favor é que ela não aspira a mais do que titilar. Os
um horóscopo... a parte secreta precisa ser procurada recenseamentos indicam que muito pouco dentre uma multidão leva
individualmente... pessoalmente... para um homem bastante a sério as profecias; o que não tem grande importância. Se se
e para uma mulher. E é normalmente um negócio custoso banisse a astrologia do jornal, as colunas vazias apenas seriam enchidas
pelo qual os astrólogos cobram um preço alto. Não com maiores assassinatos e cataclismos, e, vista por esse lado, talvez possa
desta vez! Mais uma vez eu sou o primeiro com um até ser considerada um bem.
progresso astrológico vital, novo e único para homens
Mais interessante do nosso ponto de vista são os serviços oferecidos
e mulheres que não podem pagar preços altos por seus
horóscopos. Eu posso não apenas dizer o seu signo solar, por um número razoavelmente grande de caros astrólogos profissionais (ver
mas dizer o que ele representou na sua vida passada... o fac-símile da página anterior).
e o que ele pode significar no seu futuro! Uma pessoa pode legitimamente perguntar-se o que Imhotep, chefe dos
observadores, teria achado de verdadeiro neste observatório de Londres.
Você pode saber tudo sobre esse grande e novo Do outro lado da moeda, um astrólogo americano, George Cardinal
serviço grátis, se for maior de 18 anos. Mande apenas Legros, aconselha:
8d em selos para o correio, seu nome completo,
endereço completo e data de nascimento completa (sem Esteja em harmonia com os acontecimentos. Saiba que acontecimentos importantes
a data de nascimento completa eu não o posso ajudar) estão passando por sua vida... saiba que ação tomar e quando... isto pode fazer uma grande
e mandar-lhe-ei um estudo astrológico alegre, brilhante, diferença nos seus negócios... toda a diferença entre vagar sem objetivo e sem proveito, e
marchar para o contentamento e a abundância.
a boa estrela para a sua sorte, seu amor e sua felicidade. Esteja em harmonia consigo próprio. Saiba o você físico e psicológico... controle seus
talentos e traços escondidos, seu potencial por descobrir. Pode fazer diferença para sua vida
O PRIMEIRO E MELHOR... SEMPRE! pessoal... nos seus negócios e no seu progresso social.
Mas primeiro que tudo conheça seu astrólogo. A ciência da astrologia pode iluminar
MADAME X seu caminho para uma vida mais cheia e feliz apenas se o seu praticante for alguém que a
tenha aprendido tanto como uma ciência ou como uma arte... alguém que tenha não apenas a
OBSERVATÓRIO DE OXFORD STREET, hábil precisão de uma longa experiência, mas o talento e a sensibilidade para perceber as
LONDRES, W. 1. sutilezas e as nuanças que fazem seu horóscopo único e diferente de todos os outros.
Análise de Horóscopo do Nascimento $250; Prognósticos para um ano $300; Mapa
Horário $25; Consulta ou aula particular (uma hora) $25; Correção do tempo do nascimento
$50. (2).
Infelizmente, nem nossa curiosidade nem nosso fundo de pesquisa
eram suficientemente fortes para testar a competência do senhor Legros. O computador foi alistado a serviço astrológico. Agora é possível
Mas por seu salário imaginativo ele oferece um serviço mais compreensível colocar num computador os dados do nascimento e num segundo obtém-se
que o observatório da Rua Oxford. Este último, pesquisando seu signo uma brilhante análise de caráter com predições para o ano seguinte, tudo
ascendente (levam-se no máximo 60 segundos para calcular. O resultado é sem a interferência de mãos humanas. Dado o estado insatisfatório da
então olhado em efemérides impressas), promete apenas um horóscopo astrologia, e a extrema delicadeza da aproximação que requer a análise de
superficial. Mas o senhor Legros promete de uma vez só profecias, horóscopos, à primeira vista esse casamento morganático da astrologia com
conhecimento próprio, sucesso social, contentamento, a realização do a máquina não dá em nada.
potencial escondido e esse summum bonum, diante do qual todas essas Entretanto, o computador tem interessantes potencialidades
grandes vantagens parecem insignificantes: lucro. Em poucas palavras, por astrológicas apesar dos obstáculos inevitáveis (o computador não pode
uns poucos $250 o senhor Legros dá o abre-te, sésamo para o Sonho quebrar as regras quando a perspicácia ou a intuição pedem que elas sejam
Americano. quebradas; não pode fazer julgamentos de valor; seus julgamentos de valor
Pouco importa se a astrologia não pode conferir esses benefícios. Nada estão colocados nele desde o começo, e, dadas limitadas e inflexíveis
mais o pode fazer. Como indicam países tais como a Suécia e os Estados premissas, está, como um A. J. Ayer eletrônico, condenado a seguir sua
Unidos, lucro e contentamento não são efeitos necessários. Mais e melhor própria lógica até as internamente consistentes, mas muitas vezes
não são sinônimos — embora toda a civilização tecnológica esteja baseada manifesta-mente ridículas conclusões. A máquina não tem sutileza).
na presunção de que o sejam. Os astrólogos profissionais não se Mas, tem uma memória gigantesca. A informação possuída pelo
agüentariam muito tempo nos negócios quando a verdade começasse a programador. Se o programador for um experimentado e sábio astrólogo, a
aparecer nos seus anúncios. Seus clientes estão interessados em outras máquina pode resultar numa astrologia melhor que a obtida em uma sessão
coisas. pessoal com um charlatão ou um neófito. E embora o computador vá
De acordo com um astrólogo inglês, P.I.H. Naylor, as duas perguntas espelhar a inclinação do programador (assim como o teste de QI e outros
que lhe são feitas mais comumente são: "Quando eu vou ganhar mais testes objetivos espelham a inclinação dos psicólogos), ao menos essa
dinheiro?" e "Quando meu marido/mulher vai morrer?" E, embora seja inclinação será fidedigna e não mudará de dia para dia, permitindo análises
possível que tais perguntas provo-cassem a ira de Santo Agostinho, uma comparativas com que se pode contar. Além de tudo, o computa-dor
análise mais cerrada revela que os clientes do senhor Naylor estão trabalha numa velocidade espantosa.
interessados em conseguir para si próprios um padrão de vida mais elevado No entanto, desde que o cliente médio da astrologia esteja interessado
e um grau mais alto de liberdade pessoal; precisamente, os objetivos apenas no seu futuro, a intuição e a perspicácia dos astrólogos é que são
perseguidos pela Ciência e cada jornal e revista de ampla circulação. No importantes, não tanto a sua velocidade, e nesse sentido a astrologia
que tem de pior, portanto, esse nível da astrologia não é pior que a computada não traz melhoria alguma. Seu valor está em seu emprego
sociedade que cria uma necessidade para ela; e, pelo melhor, pode servir potencial na pesquisa astrológica, na qual testes de grupo são investigados
para um propósito mínimo: nem todos os clientes estão interessados apenas à procura de fatores astrológicos específicos: por exemplo, há, digamos, no
no dinheiro ou na herança dos seus maridos e mulheres. Alguns vêm com fim de 1978, uma conjunção de Marte com Urano em Escorpião. Um
perguntas legítimas. Alguns têm um mais ou menos acurado retrato de si grupo de teste de crianças nascidas sob essa configuração pode ser
próprios e de suas capacidades. Os bons astrólogos são, pela sua natureza, preparado, num esforço de encontrar o que Marte em Escorpião em
bons psicólogos — senão a interpretação de um horóscopo seria impossível conjunção com Urano significa, se é que significa alguma coisa.
— e é provável que esses clientes possam conseguir alguma coisa além de
banalidades (3). Que a astrologia dessa espécie proporcione um bom campo
para charlatães não é culpa de Pitágoras (4). Sua atração é permanente, mas
varia de intensidade de acordo com o estado de uma dada civilização. Além
disso, surge um novo capricho que os adivinhos de Roma e da Babilônia
teriam invejado: o horóscopo computado.
Em vista do intenso interesse pela astrologia computada (ver o clichê Um oponente pode caçoar dizendo que nessa base qualquer um pode
9) teríamos ficado contentes se tivéssemos sido capazes de fornecer uma chegar a qualquer interpretação, segundo sua fantasia. E seria impossível
crítica adequadamente pesquisada dessa operação. Infelizmente, a falta de discutir. Em quatro ocasiões, no entanto, o computador fez afirmações que
fundos impediu que fizéssemos um grupo de testes através do computador. são singularmente relevantes no caso de Eichmann, e bastante inequívocas.
Como gesto simbólico, no entanto, mandamos para a Pesquisa de Padrões Na página dedicada a Sua Personalidade — Defeitos, há um parágrafo
do Tempo, Incorporada de Rockway, Long Island, a data de nascimento de que diz:
Adolf Eichmann, sob pseudônimo. E logo recebemos pelos nossos 20
dólares um Relatório do Padrão do Tempo (que é um eufemismo "A qualidade que você mais precisa ter sob controle é um traço de crueldade que
deslavado para dizer Análise de Horóscopo) de 18 paginas simpaticamente ocasionalmente aparece em sua atitude. Embora possa estar bem camuflada, às vezes, revela-
se não obstante sem conjunturas críticas. E fá-lo de maneira bastante curiosa — na sua
arquitetadas.
tendência a deixar cair as pessoas a quem você mais deve."
Sm pretender que o nosso relatório seja pior, melhor, ou igual aos
outros, podemos sumarizá-lo como se segue. Embora não seja geralmente conhecido, é um fato que antes da carreira
Duas páginas devotadas a uma exposição admiravelmente concisa, e nazista de Eichmann ele estava ligado, mesmo apaixonado, pelos judeus,
não sem significação, da antiguidade da astrologia, sua premissa básica, e o pela sua cultura e tudo o mais pertencente ao judaísmo. Seus amigos eram
fato de que as evidências militam cada vez mais a seu favor. Aqui não havia judeus; seus gostos artísticos formados por conhecimentos judeus, e às vezes
horóscopos alucinados, nem nenhuma teosofia da Câmara do Comércio Eichmann parecia quase orgulhoso de se considerar uma espécie de judeu-
prometendo, ao mesmo tempo, lucro e o Reino dos Céus. As únicas notas por-associação.
amargas: uma deslavada mentira quanto ao fato de a astrologia estar nesse Adiante, o relatório declara:
momento sendo reencaminhada pelos cientistas; e a declaração de que "um
conhecimento do seu padrão de tempo será de inestimável valor porque "Há um elemento destacado, objetivo, no seu caracterizar-se que será uma vantagem
para você se e quando você decidir entrar em alguma sociedade de trabalho ou atividade de
capacitá-lo-á a exercer seu livre arbítrio em todas as suas dimensões",
grupo, enquanto sugere que seus sentimentos não vão ganhar a supremacia tratando com as
considerações ambas que deixam muito a desejar. pessoas concernentes. Você vai provavelmente encontrar-se ligado a alguém que tem uma
A análise de caráter contém muitas das doubles entendres e personalidade magnética, que é seguro de si, possivelmente uma espécie de exibicionista,
contradições que sem oponentes fariam ressaltar como mutua-mente mas, que tem um brilho criativo e se pode contar como sendo leal. As sociedades devem ser
excludentes: colocadas em termos que possam ser revistos num prazo de 10 anos, pois, além desse período,
podem deteriorar-se.
...você é um idealista e um individualista, tem muito de pioneiro e reformador. Independência e grande Se a sua ocupação exige que trabalhe sob a autoridade de outros, o elemento destacado,
força de direção são exercidas algumas vezes em uma destacada maneira objetiva e expressa em idéias e objetivo de seu caracterizar-se pode ser capaz de ajustá-lo a seus superiores, particularmente
objetivos originais e muito progressivas. Há alguma coisa galvânica com você, mas alguma coisa difusa e se eles são um tanto individualistas e exigentes.
indeterminada, também.
Será possível tal coisa? Realmente, é, mas, claro que o sujeito do Talvez algo ruim na classificação seja: "...no todo considere-se
relatório tem liberdade de selecionar do grupo de traços computados aqueles afortunado em matéria de dinheiro... No entanto você está como estava,
que mais toquem a sua vaidade, descartando todo o resto como erro. providencialmente protegido, não apenas contra catástrofes materiais, mas
de qualquer azar cataclísmico."
Você é bastante artístico, e também muito sentimental. Seu gosto em música, poesia, e Mas, o relatório conclui sua análise de caráter com: "Seu padrão do
outras quaisquer formas de arte refletem uma grande qualidade... A primeira vista, as pessoas tempo é bastante desfavorável para qualquer forma de litígio dos tribunais.
podem ter a idéia de que você tem uma refinada, urbana, e, de fato, destacada personalidade. Se em qualquer tempo aparecerem circunstâncias que precisem de
Conseguindo conhecê-lo melhor, eles vão reconhecer que você pode ser também muito
conservador, taciturno e inflexível. intervenção legal, esforce-se sempre para ajustar a questão fora dos
tribunais"; sobre o quê, comentários adicionais são inteiramente supérfluos.
essas potencialidades da astrologia, quando mais não seja para
Esse é, naturalmente, apenas uni exemplo, e uma opinião é tão boa descobrirmos os assuntos sobre os quais se omite a ciência moderna.
quanto qualquer outra sobre a interpretação. Um teste organizado no
computador seria um projeto divertido, mas tanto quanto soubemos, tal ASTROLOGIA E MEDICINA
teste ainda não foi tentado. A maior aproximação foi com teste imaginado
por Gauquelin, que mandou os dados de nascimento de criminosos
Há 2500 anos, Hipócrates declarou que o médico que não fosse
notórios para o computador organizado por seu inimigo de longa data, o
também astrólogo seria um sal sem sabor. Agora parece possível que
astrólogo André Barbault. Não é preciso dizer que o computador, que por
Hipócrates conhecesse uma astrologia de ordem mais avançada do que os
necessidade precisa generalizar, e que quase certamente nunca seria
estudiosos têm querido supor, e que o saber médico-astrológico à sua
programado para dizer a alguém que ele ou ela era um assassino real ou
disposição era, num certo sentido, válido.
potencial, falhou em divulgar essa informação. Daí, Gauquelin explodiu
O potencial elétrico do corpo humano varia com as fases da Lua. E o
na imprensa jubilosamente, afirmando que tinha demonstrado a inverdade
potencial elétrico de um paciente perturbado varia mais que outro qualquer.
não apenas da astrologia de computa-dor, mas da astrologia em geral. Se
Seguramente é apenas um pequeno, lógico degrau o passar desse fato à
Gauquelin tivesse tido interesse em testar realmente a máquina, e não
hipótese de que muitos outros fatores além do potencial elétrico variam
apenas pôr Barbault no ridículo, podia ter feito melhor tirando de um de
com as fases da Lua; e igualmente com os planetas; visto que as posições
seus próprios testes de grupo uma dúzia de atletas com Marte diretamente
dos planetas afetam as tempestades magnéticas da atmosfera.
sobre o ascendente, ou uma dúzia de cientistas, com Saturno, e colocá-los
Os cientistas já estão estudando a relação entre a eletricidade do corpo
no computador para ver se alguma coisa emergia. Seria ainda apenas uma
e a suscetibilidade à doença. Entretanto, foi demonstrado que as reações
brincadeira de salão, mas pelo menos não tão boba. (5)
químicas são afetadas pelas condições celestes, como o são as propriedades
das plantas.
O Potencial da Astrologia Há aqui laços astrológicos que poderiam ser explorados com grande
proveito. Suscetibilidades possíveis a certas doenças podiam ser
Se nossa tentativa de descrever a astrologia como uma disciplina em determinadas apenas com base na data de nascimento, e podiam-se tomar
vários planos tiver tido sucesso, deve estar claro agora que a astrologia medidas preventivas desde o começo. Igualmente, seria possível
dos alegres, gargalhantes horóscopos e de iluminação movida a lucro não determinar que remédios eram efetivos para os diversos indivíduos ou tipos
era a astrologia que intrigava Plotino e Kepler. No entanto, as evidências de indivíduos determinados numa base astrológica, enquanto que a eficácia
científicas que juntamos mostram que, a despeito da tolice da astrologia de remédios sob condições celestes específicas também requereria um
popular, as correlações terrestre-celestes indubitavelmente existem. A estudo.
tradição insiste em que a 'astrologia era ao mesmo tempo uma alta ciência A sempre intrigante possibilidade de dias favoráveis para a concepção
(no tradicional, não no moderno sentido da palavra) e que era utilizada de Crianças permanece aberta, e igualmente a hora favorável para seu
em muitos sentidos práticos, cujo sucesso não se pode julgar. Mas, nascimento, mesmo induzido; embora precise ser dito que a astrologia tem
novamente nossa evidência sugere que um reexame sem preconceitos do um grande caminho para andar antes de tornar-se fidedigna a esse respeito.
que foi deixado pela antiga disciplina pode gerar um saber útil, embora a Ainda mais, a possibilidade de evitar dias propícios a doenças, ou horas,
pesquisa em larga escala nos campos abertos por Gauquelin, Addey, não está muito longe, como indicam os estudos de Jonas. Outra possibili-
Nelson, Piccardi, Jonas etc. possa dar facilmente uma informação de dade, outra extensão lógica do trabalho de Jonas, é que o controle dos
incalculável valor prático. nascimentos pode ser conseguido se os fatores astrológicos determinantes
Já que vivemos numa idade em que as pessoas educadas tendem a da fertilidade puderem ser isolados e suficiente-mente refinados (Madame
pensar em termos práticos, pode ser útil examinar Blavatsky fez essa sugestão).
A astrologia médica é de particular interesse no momento. Porque Mas, quaisquer que sejam os motivos, os estudos de ciclos mostraram
seus benefícios imediatos são óbvios, quase tangíveis, é possível que a que um fenômeno periódico afeta toda forma de vida na Terra. E o trabalho
mais recente parece em vias de descobrir as relações entre os ciclos e os
pesquisa na astrologia médica comece hoje mesmo, conseguido apenas um ritmos celestes — relações que os astrólogos sempre acreditam existir.
nível mínimo de interesse. Se a nossa patológica sociedade de consumo desse caminho para uma
outra, na qual a humanidade pegasse o que fosse legitimamente requerido
ASTROLOGIA E CRIMINOLOGIA da Terra, dando de volta o que lhe é devido, então os astrólogos poderiam
ser capazes de dirigir a economia com previsões acertadas para os sete
Se as pesquisas correntes das causas genéticas do comporta-mento anos das vacas magras
e os sete das vacas gordas; a astrologia seria capaz de prever quando
criminal forem aceitas, pode-se também estabelecer grandes conexões plantar, o que plantar, como plantar, quando guardar
astrológicas. Os astrólogos serão perfeitamente capazes de determinar as e quando gastar.
tendências apenas pelos seus horóscopos. Além disso, os astrólogos
poderão distinguir entre os criminosos habituais e os criminosos cujos atos ASTROLOGIA NA EDUCAÇÃO E NA PSICOLOGIA
anti-sociais foram engatilhados por raras configurações planetárias e com
quem se podia contar dentro de um comportamento normal durante os A educação moderna foi condicionada para dar aos jovens os fatos e
períodos intermediários. E concebível que a própria lei venha ta ser feita valores do materialismo, para prepará-los para inedificantes vocações
favorecendo a análise das condições astrológicas durante o processo criadas pelo materialismo, necessárias à sua sobrevivência. E embora uma
judicial de crimes, com vistas à determinação das sentenças. crescente (mas ainda pequena) minoria de estudantes compreendam que
estão sendo logrados, e reajam contra o sistema, não há caminho para sair
A pesquisa poderia ser barata e facilmente organizada: os prisioneiros do círculo vicioso. Os professores são capazes de ensinar apenas o que
fazem grupos de testes ideais. Se já está provado que o doente reage às sabem, e tudo o que sabem é materialismo. Mesmo os rebeldes têm que
fases da Lua, parece bastante lógico estender a pesquisa a tipos criminais, comer, e só os sortudos e imaginativos conseguem encontrar profissões ou
testando seus estados de espírito, seu fluxo de adrenalina, suas taxas de ocupações gratificantes.
metabolismo e outros fatores sob a influência dos acontecimentos lunares Enquanto isso, os 'sociólogos algumas vezes deploram, mas na maior
e planetários. parte das vezes aceitam, o tédio ocupacional em massa como um preço
necessário ao progresso.(6) E os psicólogos do comportamento, dedicados
à gloriosa tarefa swiftiana de quantificar a personalidade (A é 0,56 mais
ASTROLOGIA E ECONOMIA amável que B, enquanto que B é mais uniformemente moderado que C por
um fator de 0,32), não se preocupam em como os indivíduos podem escapar
É um fato bastante conhecido que muitos homens de negócios da mecanização, mas antes em como aparar as arestas agudas dos
consultam astrólogos hoje em dia, à procura de vantagens pessoais, assim indivíduos, facilitando o reino de ignomínia uniforme que tais psicólogos
como fazem muitos políticos. Uma fonte na qual confiamos, mas que não vêem como ideal.(*)
pode ser revelada, assegura-nos que ao menos 10 figurões há que
regularmente consultam astrólogos, e a mesma fonte nos informa que
companhias seguradoras usam a astrologia para determinar os riscos do
seguro — prática astuta mas bastante repelente. Edward R. Dewey, (*) "À medida que as nações individuais vão-se tornando cada vez mais estreita-mente
interdependentes, a marginalidade social voluntária se torna cada vez menos tolerável. O
presidente da Fundação para o Estudo de Ciclos, também queixou-se de
autor prevê que as técnicas de psicologia experimental serão crescentemente usadas para
que os estudos de ciclos foram forçados a concentrar-se pesada-mente "salvar esses galhos do fogo", e eventualmente inculcar em toda a sociedade uma adequada
sobre os fatores econômicos, principalmente porque esses estudos eram atitude responsável". Ementa de um artigo, A Tecnologia do Consentimento, de Hans
financiados por grandes firmas de negócios interessadas em passar à frente Eysenck, professor de Psicologia, Hospital Maudsley, Londres. No "New Scientist", 26 de
de seus competidores, e bastante desinteressados da importância científica junho de 1969."
dos ciclos revelados.
A astrologia, mesmo no seu grau mais baixo, sublinha a diferença Dada uma chance, bons astrólogos podem analisar caracteres e dar
entre os indivíduos, e o objetivo de uma boa análise de horóscopo é dar ao orientação psicológica e vocacional com segurança impressionante. Mas a
indivíduo alguma compreensão dos fatores que o fizeram diferente e não atitude prevalecente continua a ser a da Junta Escocesa de Educação.
igual a todos os outros (7). Uma vez que esses dois objetivos são bastante No entanto, rachaduras prometedoras começaram a aparecer nas
inimigos da prática educacional e psicológica desses dias, é muito fachadas.
improvável que os astrólogos sejam bem-vindos em qualquer desses Na conferência levada a efeito em Londres (em setembro de 1969) para
campos, seja em que circunstâncias for. E uma recente experiência discutir o futuro da astrologia, Patrick Harding, psicólogo jungiano,
astrológica pode ser tomada como a típica atitude dominante. descreveu seu trabalho com crianças delinqüentes e perturbadas. Estudando
Na Escócia, encontrou-se que grupos de crianças, separados seu horóscopo, Harding afirmou que era capaz de predizer os períodos
etariamente apenas por um período de meses, obtiveram marcas bastante durante os quais suas cargas estariam particularmente sujeitas a reações
díspares em testes do QI. Como os grupos eram grandes e as diferenças violentas. A partir dos mapas, tornou-se também capaz de localizar potenci-
impressionantes e cientificamente inexplicáveis, os membros da alidades e talentos em suas personalidades, desviando assim a energia para
Associação Astrológica da Inglaterra determinaram estudar os resultados canais construtivos, quando, de outra maneira, seria despendida em
para ver se as diferenças podiam ser atribuídas a fatores astrológicos. John destruição e rebelião sem sentido. Perguntado sobre o número de seus
Davy, ex-diretor de ciência do Observer — um dos raros jornalistas que colegas que conheciam e aprovavam seu trabalho astrológico, Harding
entende alguma coisa de astrologia, e além disso não é inimigo dela — respondeu que mais ou menos meia-dúzia. Não se podia dizer que fosse uma
interessou-se pelo projeto, e o Observer concordou em prover modestos revolução psicológica, mas já era melhor que nada. E se a astrologia
fundos para financiar o estudo. O apoio cético de um famoso psicólogo, o consegue resultados que não podem ser atingidos pelos métodos ortodoxos,
professor John Beloff, foi também obtido, assim como o foi o da então talvez a astrologia deva sobreviver: os pais das crianças perturbadas
Universidade de Edimburgo. A despeito da respeitabilidade dos estão mais interessadas em vê-las bem e alegres do que em ortodoxia
patrocinadores, quando a Junta Escocesa de Educação soube que seus profissional.
dados seriam atentamente examinados na busca de possíveis fatores Nem são o doutor Harding e a meia-dúzia de interessados colegas os
astrológicos, recusou-se a permitir o acesso a eles. únicos psicólogos correntemente interessados em astrologia. Nos Estados
A ironia é que precisamente nos campos da educação e da psicologia o Unidos, de acordo com a senhorita Julienne Sturm, presidente da recém-
saber astrológico presente é suficiente para fazer de benefícios imediatos formada Associação de Pesquisa Astrológica Científica Internacional, numa
uma clara possibilidade. recente conferência psicológica, todo um painel foi dedicado à leitura de
A astrologia mundana é na sua melhor parte especulativa, e ninguém papéis astrológicos. Em Harvard, como já mencionamos, com apoio
pode mudar isso. Poucos astrólogos expressariam muita confiança na universitário, um psicólogo ali formado está estudando o trabalho do Doutor
medicina astrológica no estado presente, e nenhum astrólogo apostaria na Jonas e repetindo suas experiências a ver se encontra resultados iguais.
exatidão estatística de suas predições. Mas o ponto forte da astrologia Kosmos, o jornal publicado pela organização da Senhorita Sturm, foi
moderna, o aspecto sobre o qual os astrólogos são insistentemente infiltrado por estudantes interessados em pelo menos cinco bibliotecas
intimados a arriscar suas reputações em público, é a habilidade em analisar universitárias, e cursos atuais de astrologia estão sendo dados num punhado
o caráter das pessoas com base nos horóscopos. de grandes universidades americanas e canadenses.
Discutimos já os resultados de Clark, citamos o desafio do astrólogo O doutor Baldur Ebertin, do Instituto de Cosmobiologia de Aalen
francês Legrand ao hostil Comitê Belga, em tese formado para estudar (Kosmobiologische Institut of Aalen), informou que o interesse pelo instituto
fenômenos paranormais. Na Inglaterra (em abril de 1968) a astróloga estava crescendo rapidamente na Alemanha,
inglesa Ingrid Lind apareceu na televisão analisando às cegas os caracteres
de quatro pessoas desconhecidas. Tão acuradas foram suas leituras que
vários jornalistas, criticando o programa, tributaram-lhe o cumprimento
supremo de duvidar da honestidade da experiência.
e que dos cem membros que tinha, pelo menos dez eram acadêmicos se alinham nas relações tradicionalmente inarmônicas, mas, ao contrário,
profissionais. quando se alinham nas relações tradicionalmente harmônicas a recepção do
E em todos os países os astrólogos estão sendo chamados — quando rádio é particularmente livre de estática.
não pelas faculdades, por grupos de estudantes — para conferências nas Nada de material pode explicar esses fatos. Chamá-los hereditariedade
Universidades. ou propor que Saturno "engatilha" uma inclinação para a ciência
Pois para a astrologia desenvolver-se é preciso que seja instituídas nas simplesmente substitui um mistério por outro.
universidades, que podem fornecer fundos e facilidades em pesquisas. Os As teorias 3 e 4 precisam ser apresentadas. Saturno simboliza aquelas
exemplos que citamos somam muito pouco, mas é preciso lembrar que funções cósmicas que, sob circunstâncias próprias, resultam, no século XX,
enquanto as universidades estão pateticamente abertas para qualquer nova na habilidade e desejo de tornar-se um cientista. Quando uma criança nasce
idéia desde que seja quantitativa (há erupções de ciências sociais com Saturno em um dos ângulos, pode-se afirmar sem fantasia que o todo do
completamente imaginárias por toda parte), para a astrologia fazer qualquer universo está tocando uma nota cientifica. Os cientistas deploram a procura
incursão, o pedido precisa ser alto, a evidência impressionante, e os savants de explicações espirituais para fatos físicos (*). No entanto, os fatos físicos
chevronés inseguros de seus próprios direitos. Essa combinação prevalece que confirmam a astrologia continuam a acumular-se, e é impossível
no momento, e há razões para acreditar que cada um de seus elementos vai explicá-los em termos puramente materialistas: E, uma vez que não são
intensificar-se nos próximos anos. E se uns poucos psicólogos e educadores isolados, uma vez que não fundam uma nova ciência espiritual e miraculosa,
fizerem uso da astrologia em suas profissões e puderem ventilar seus estando, ao contrário, relacionados com todos os reconhecidos ramos
resultados publicamente ou em jornais especializados, a atmosfera, ao ortodoxos da ciência, torna-se cada vez mais claro que essas disciplinas tam-
menos nessas áreas diretamente afetadas, há de melhorar bém não podem ser explicadas por nenhuma teoria exclusivamente
consideravelmente. materialista.
A Ciência explica um universo que se revela em reinos cada vez mais
Astrologia e Ciência complexos, mas, ao mesmo tempo, cada vez mais coerentes. Nada existe que
não preencha alguma função, que não realize alguma tarefa. Apenas a
O finado Doutor Rudolf Tomaschek fez uma lista das quatro teorias Ciência se torna cada vez mais caótica. Tendo ordenado a supremacia da
correntemente usadas para explicar as correlações estabelecidas entre os quantidade, a única coisa que pode fazer é proliferar novas disciplinas, na
acontecimentos terrestres e celestes:
(*) Ao comentar o livro Sobre o Crescimento e a Forma de D'Arcy Wentworth Thompson,
1. Que os corpos celestes realmente operam sobre os acontecimentos terrestres.
P.B. Medawar nota: "Ele (Thompson) parou sem delongas de supor que o ato de integração
2. Que os corpos celestes precipitam acontecimentos que estão no ponto de se
irromperia eventualmente sobre assuntos do espírito: "De como a alma informa o corpo, a
manifestarem.
ciência física não me ensina nada... nem eu pergunto a um físico como a bondade brilha no
3. Que os corpos celestes se sincronizam com os acontecimentos terrestres.
rosto de alguém, e como o diabo se trai em outra". E Medawer continua: "Mas D'Arcy não
4. Que os corpos celestes simbolizam forças cósmicas, funções qualitativas de tempo e
faz nenhuma outra menção desses assuntos, e nem nós faremos". P. B. Medawer, A Arte do
espaço (8).
Solúvel, Methuen, 1967, pág. 29.
A atitude é bastante incompreensível: para o eunuco, as paixões do sultão são
As teorias 1 e 2 são mais comumente usadas pelos materialistas (a incompreensíveis. Mas quando, com um sorriso afetado, ele exalta sua própria enfermidade
"hereditariedade" de Gauquelin e o "gatilho" de Brown), mas essas como uma virtude, e é saudado por isso, seu domínio não pode durar muito tempo. As
Tomaschek rejeita como inadequadas para dar conta da natureza questões que Thompson apenas evitou perguntar, o que Medawer ridiculariza, são
naturalmente aquelas que os egípcios perguntaram, e, aparentemente, responderam com
qualitativa das relações provadas. E Saturno e não um planeta qualquer, sucesso.
que domina os ascendentes e Meio-céus dos cientistas de Gauquelin; é Na Ciência, as respostas são dadas para aquelas questões que são correta-mente feitas.
Marte, e não um planeta qualquer, que está sobre os ascendentes e Meio- Porque os sábios do Egito fizeram suas perguntas, eles construíram templos para quatro mil
céus dos soldados e dos atletas. A perturbação do rádio é pronunciada anos; porque nossos cientistas fizeram suas perguntas, nós temos o gás dos nervos.
quando os planetas
tentativa de alcançar e digerir todas as novas descobertas, e essa prodigiosa e
crescente desordem é encarada como um sinal de sucesso (*). no processo terrestre à cruz fixa de Fogo, Terra, Ar, e Água: aos planetas e
Ninguém sabe onde nem a que tempo nem como o simbolismo da aos signos do Zodíaco (9).
astrologia foi desenvolvido. Mas é inegável que se trata de um sistema Em Teoria da Influência Celeste, Rodney Collins, discípulo do
coerente, auto-suficiente e cheio de ingenuidade e complexidade. Ouspensky, segue a analogia do "tanto em cima quanto embaixo" por várias
Acreditamos que a evidência reunida aqui torna possível afirmar em termos avenidas, afirmando que sistemas tão díspares quanto a tábua dos
amplos e gerais que a validade de seu simbolismo está provada. No entanto, elementos, as funções do corpo humano e a estrutura do Sistema Solar estão
é claro para os astrólogos, e para outros cientistas capazes de pensar em intimamente relacionadas (10). Tentando modernizar a antiga teoria que
termos não materialistas, que o vasto corpus do fato científico pode ser tor- relaciona as várias partes do corpo humano à influência dos planetas;
nado compreensível relacionando-se ao sistema que reconhece funções Collins postula que o sistema endócrino em particular é um modelo do
como manifestações de princípios, esses, por sua vez, manifestações de Sistema Solar. Isso é de um interesse astrológico relevantíssimo, porque é,
inteligência. Dito claramente: se o universo persiste em mostrar-se ordenado, ou deve ser, suscetível de corroboração física. Por exemplo, Collins afirma
coerente, proposital e inteligente, e a Ciência persiste em mostrá-lo que o planeta Marte corresponde em função às glândulas adrenais. Se for
desordenado, incoerente, sem alvo e sem cabeça, deve ser a ciência quem verdade, deve ser possível medir o fluxo de adrenalina em sujeitos que se
está no caminho errado, não o universo. pensa serem particular-mente marciais, e averiguar quais os aspectos e
Mas, a tarefa de relacionar a Ciência à astrologia é uma tarefa imensa, configurações de Marte que realmente têm influência sobre essa glândula.
que requer longos, cuidadosos estudos, levado a efeito por legiões de Ambos esses livros têm a sua insuficiência. Hauschka elegantemente
pesquisadores. Faltando uma tal força-tarefa, os indivíduos interessados relaciona os planetas aos metais e sais metálicos e suas respectivas funções.
apenas podem teorizar, e essas teorizações estão destinadas a ser mais ou Mas, descobrindo que os planetas novos não encaixam nesse sistema, ele os
menos incompletas rejeita como hors de combat numa linha. Não pode ser assim. Pois se os
e expostas à crítica. No entanto, há ao menos duas tentativas que nos velhos planetas estão carregados de sentido para os processos da Terra, não
parece andar na direção certa. se pode presumir que os planetas novos não tenham sentido, simplesmente
Em A Natureza da Substância, Rudolf Hauschka, químico porque não se ajustam. Possivelmente, os planetas novos são, como alguns
e antroposofista, examina os elementos químicos e a formação de astrólogos afirmam, realmente novos, e significam o início de uma nova
componentes orgânicos e inorgânicos e relaciona suas funções oitava planetária. Mas de uma forma ou de outra, precisam ser explicados. E
Collins, com seu entusiasmo quase medieval para encontrar conexões entre
A Regra de Ouro determina a relação entre as notas da escala musical. A taxa de todas as coisas, tende a estender a analogia além dos limites da
crescimento do corpo humano e as proporções entre seus membros podem ser expressas em credibilidade. A teoria pode ser bastante firme; se o universo é Um, então
termos da Regra de Ouro. A Regra de Ouro aplica-se às distâncias entre os planetas e às suas tudo deve ser, de uma forma ou de outra, relacionado. Pode ser permissível
velocidades em órbita. Os Números Fibonacci que servem para descrever a forma dos começar da base de fatos conhecidos e construir conclusões especulativas,
organismos vivos são um paradigma da Regra de Ouro. As relações entre os sólidos
geométricos perfeitos são múltiplos e frações da Regra de Ouro. "Curiosamente, essas séries mas essas conclusões não deviam ser oferecidas previamente — o que
(os Números Fibonacci) são a expansão da Regra de Ouro. Essa espécie de coincidência Collins tende a fazer.
tentou o antecipador da Natureza. Talvez ele tenha sido levado a pensar que há harmonias Quaisquer que sejam os erros de detalhe de Hauschka e Collins, o
similares a serem descobertas em cada departamento da natureza". Rom Harré, A motivo que os levou a isso é firme: essas correlações e relações devem
Antecipação da Natureza, Hutchinson, 1965, pág. 80. Mas o mais curioso é a atribuição a
priori de tudo isso por parte do professor Harré à coincidência
existir. Mas tudo deve permanecer no nível da especulação, a menos e até
que a atmosfera científica se altere dramaticamente para que a pesquisa
desses assuntos se torne um princípio concernente à ciência como um todo,
(*) De acordo com Sir Peter Medawer, a ciência é o "empreendimento de mais sucesso em ao invés de esforços independentes de um punhado de heréticos.
que os seres humanos já se engajaram". Pelo mesmo indício, pode ser dito que a "leucemia é o
empreendimento de mais sucesso em que os glóbulos brancos já se engajaram".
A Astrologia e a Imprensa "Há pelo menos alguma verdade nas pretensões da astrologia? Recentemente, há uma
década, o veredicto seria um unânime e direto não. As poucas experiências e análises
estatísticas realizadas, as mais conhecidas das quais feitas por Carl Jung, que ficou
Muitos astrólogos dedicados e sérios acreditam que os astrólogos
interessado nos símbolos arquétipos da astrologia, foram negativas ou na melhor das
populares e os charlatães são em larga medida responsáveis pela perpetuação hipóteses inconclusivas. Os astrólogos não têm objetividade ou formação universitária para
do mau nome da astrologia. Em nossa opinião, no entanto, isso é de menor fazer pesquisas aceitáveis. A ciência tem tarefas mais prementes.
importância que outros fatores relacionados, contribuintes, dos quais o mais "A Vida é curta e há muito o que fazer", disse o professor Gibson Reabes, do
saliente é a deliberada deturpação continuamente ativada pela imprensa. Departamento de Astronomia da Universidade de Carolina do Sul, que estudou astrologia
por causa das suas ligações com a astronomia. "Eu posso tanto trabalhar em astrologia
Até recentemente, a astrologia apenas era mencionada, de raro em raro, quanto em alguma coisa que sei vai me ser útil. Algumas pessoas dizem que não vêem como
pela imprensa, e nunca pela imprensa séria. No fim do ano, podia contar-se a astrologia pode funcionar", continuou, "mas ninguém provou finalmente que não funciona.
com uma ou outra publicação para dar um consenso das predições A única pergunta realmente útil é se ela funciona ou não, e eu vejo evidências muito
astrológicas para o ano vindouro, e aí acabava o assunto, a menos que um pequenas de que funcione. São os cientistas sociais, penso eu, que estão perdendo mais em
não olhar para as influências".
bocado de charlatanismo aparecesse bastante sensacional ou sórdido para
Enquanto não aparece um cientista sério para olhar a feitura dos horóscopos e
tranformar-se em boa notícia. Mas nunca se fazia menção aos astrólogos predições do futuro como algo mais do que simples superstição, há ao menos dois que
que, certa ou erradamente, se dedicavam a um estudo sério do assunto; e pensam que os campos eletromagnéticos do Sol, da Lua e dos planetas mais próximos da
nenhuma cobertura extensa era dada à evidência astrológica ou quase Terra, podem influenciar a vida aqui de muitas maneiras ainda desconhecidas.
astrológica que estavam acumulando. Na melhor das hipóteses, o assunto era Experiências realizadas por Frank A. Brown, Júnior, professor de Biologia na
Universidade de Noroeste, levaram-no a acreditar que os organismos podem ser receptores
tratado com uma jovialidade avuncular; na pior (e mais comum), com um esquisitamente sensitivos mesmo aos mais fracos desses impulsos, embora seus efeitos
escárnio inconcebível. específicos só tenham começado a ser investigados" (11).
Nos últimos dois anos, no entanto, a astrologia per se tornou-se sujeito
de demorados artigos especiais em vários jornais e revistas de grande Esta coluna é a única, de vinte, devotada ao lado sério e experimental
circulação, entre eles o The New York Times, o Observer, de Londres, o da astrologia. E embora não se esperasse de um jornalista o conhecimento
Time, e o Life. de Schwaller de Lubicz, Platão ou Plotino, a capacidade de pegar os fatos
A própria natureza do jornalismo torna inadequados tais artigos. Sem diretamente, seria, em teoria, o seu forte.
comissionar um astrólogo literário para fazer o trabalho ou, ao menos, Até 1950, as pesquisas estatísticas tinham-se mostrado negativas ou
encontrar um jornalista informado no assunto, o artigo está destinado a ser inconclusivas, mas desde 1950 começaram a mostrar-se positivas e de fato
escrito por um grupo de repórteres, a quem se deu 15 dias ou um mês para muito conclusivas. Buckley não menciona o trabalho de Gauquelin, Addey,
pesquisar o assunto; embora, aparentemente, se façam esforços para designar Vernon Clark ou Bradley. Ele os desconhecia? Se é verdade, não pode ser
escritores cujos interesses os qualifiquem para o trabalho. O Time acusado de deturpação .deliberada mas apenas de incompetência. Uma
selecionou o editor associado Douglas Auchincloss, "interessado no culto entrevista com qualquer sábio astrólogo teria sido suficiente para informá-lo
desde que uma empregada da família leu sua sorte numa folha de chá quando da existência desses inatacáveis inquéritos estatísticos.
ele era garoto". Ainda mais, procurando a tarefa, Auchincloss não apenas O gambito jornalístico comum num artigo astrológico é uma entrevista
tinha um par de horóscopos, como também consultou uma leitora de mão e com um astrólogo, apresentando-se o resultado com opinião especializada
entrevistou uma vidente. Foi o máximo que se fez por uma doutrina à qual os como Buckley fez com o professor Reaves, que se esquivou das delícias
melhores cérebros através dos tempos devotaram toda a sua vida. frívolas da astrologia pelo estudo útil da astronomia.
Embora inadequados a priori, esses artigos não precisavam ser a Nós discutimos o potencial da astrologia em campos tais como a
deliberada deformação da verdade que apareceu em nome da informação; o medicina, a lei, a educação, etc. De acordo com um artigo do New
repórter do The New York Times, Tom Buckley, escreve: Scientist, a maioria dos astrônomos não se interessa
Revelação da Sorte. Neste ínterim, os astrólogos precisam continuar a sustentar a
pelo Sistema Solar, nem em problemas relacionados com viagens ao espaço fantasia de que os planetas particulares influenciam facetas particulares da personalidade ou
— tanto quanto essa impressão pode ser dada. Antes, eles estão interessados acontecimentos específicos..."
no estudo da nossa e de outras galáxias. Talvez o professor Reaves esteja
engajado em pesquisa útil nesses campos. Ou possivelmente estará tentando A afirmação "é aqui que as pretensões científicas da astrologia são
ganhar o prêmio de 50 libras oferecido pela revista astronômica The testadas e falham" é uma franca mentira. Os únicos testes feitos foram os de
Observatory (de 6 de abril de 1953) ao melhor ensaio devotado à idade do Clark e Bender, e ambos parecem provar que os astrólogos podem sustentar
Universo. suas pretensões bastante, acima do nível do acaso (12).
Ao obter, finalmente, sucesso em semear a terra com refugo, e É curioso que os que citam as experiências de Brown sejam
desenvolver uma raça de ovelhas sem lã, parece que o grande sábio de considerados apologistas. Por que apologistas? Ou a Lua afeta as ostras ou
Lágado, de Swift, virou seus talentos para a astronomia. não. Se afeta, então há todas as razões para acreditar que pode afetar outras
Buckley menciona brevemente as experiências de Brown, mas dizer isso formas de vida, inclusive a nossa própria.
sem mencionar o volume de evidências corroborativas constitui uma Astrólogos sofisticados nunca abandonaram as teorias de causalidade
paródia de jornalismo, e essas paródias são a regra quando os jornalistas pela sincronicidade de Jung. Os astrólogos sofisticados atribuíam as
tentam tratar da astrologia. Mas nenhum repórter, não importa o quanto operações da astrologia à sincronicidade, muito tempo antes de Jung ter-lhe
esteja determinado a isso, pode ter esperanças numa disputa com a revista aplicado esse nome particular. Eram apenas os astrólogos insofisticados que
Time, que merece um exame mais detalhado: tentavam explicar a astrologia em termos causais.
Ao dar o que era devido a Brown e Takata, o Time bem que podia ter
"Linguagem Inaudível para o Homem: É a interpretação de um dado mapa que esbanjado umas poucas linhas mais com todos os outros a quem os
determina se o astrólogo é considerado bom, medíocre ou mau. E é aqui que as pretensões apologistas se referem. Mas o exemplo talvez mais flagrante de deturpação
científicas da astrologia são testadas e falham. Se a astrologia trabalha em algum outro deliberada está contido na breve, ambígua alusão a Gauquelin que, numa
caminho além da intuição por um lado, e fé mais esperança, do outro, a chave da questão esperta manobra verbal, não apenas tem seu nome escrito errado mas aludido
para o homem moderno é como? O próprio como das coisas incomodou os babilônios para
quem uma montanha podia voar através dos ares, ou o Sol ficar em pé. Mais tarde,
para a insignificância: de acordo como Time, ele não é "estatístico, Michel
pretendeu-se que alguma espécie de emanações saídas de corpos celestes afetavam os Gauquelin" (que realmente pesquisa) mas apenas "escritor de ciência, Michel
caracteres e os destinos dos homens. Quando os cientistas não encontraram emanações Gauquelin".
bastante poderosas, astrólogos sofisticados abandonaram completamente a causalidade a Pobre Gauquelin! Toda essa invectiva antiastrológica por nada! Tendo
ardentemente abraçaram a teoria de Jung de sincronicidade — que tudo no universo, num gasto 10 anos compilando seu grupo enorme de 25 mil pessoas; tendo
dado momento, participa, através desse momento, de tudo o mais que reparta a mesma
unidade de tempo. demonstrado sem dúvidas possíveis que planetas particulares influenciam
Atualmente, no entanto, as emanações podem estar encenando uma volta. Alguns
facetas particulares da personalidade, seus esforços passam sem nota e sua
apologistas da astrologia apontam para o fato de que ostras experimentais transportadas de premissa demonstrada é descartada pelos místicos residentes do Time como
Long Island Sound para Evanston, no Estado de Illinois, e protegidas da luz e de mudanças "fantasia".
de temperaturas, gradualmente alteraram seu ritmo de abrir e fechar do ciclo de maré de E claro que jornalistas responsáveis pelo artigo estão cientes da
Long Island para o que seria o ciclo de maré de Evanston, se Evanston tivesse maré.
Aparentemente a Lua estava-se comunicando com as ostras em alguma linguagem ainda
verdade. O Time dificilmente se referiria a Gauquelin sem conhecer os
inaudível ao homem. O médico japonês Maki Takata achou que a composição do sangue resultados de seu trabalho. Mais do que isso, sabemos por contatos pessoais
humano muda em relação ao ciclo de onze anos das manchas solares, ao brilho do Sol e ao que o Time entrevistou a senhora Sturm da APACI por duas longas vezes, e
nascer do Sol, bem como durante os eclipses. O escritor de ciência francês, Michel a secretária da Associação Astrológica Inglesa uma vez, e no fim declinou de
Gauquelin, prevê uma nova ciência da astrobiologia que justifica-ria a conclusão de que usar qualquer das informações fornecidas por elas porque eram muito
forças extraterrenas têm efeito sobre a vida humana, e ao mesmo tempo explodiria a
conglomeração de mito e mágica que confunde a astrologia moderna. "sérias".
Entretanto, uma apresentação justa do alcance da evidência avaliável de fato a filosofia baseada na qual a maior parte de nós organiza suas vidas, qualquer que
exigiria pouco em termos de espaço; haveria ainda um amplo lugar para seja o credo professado.
O leitor pode objetar razoavelmente que o neutralismo moral da atitude científica
escarnecer a astrologia popular. E esse pequeno espaço devotado ao cerne
exclui sua relevância para o assunto em estudo. Minha réplica é simples. A razão para um
da evidência atual certamente sugeriria a milhões de leitores que a código moral é pragmática e sai em primeira instância da necessidade de vivermos juntos
astrologia era ao menos digna de uma consideração mais séria. sem nos matarmos um ao outro, é um estágio mais avançado de sofisticação de nossa
Claramente, o Time, o Life, o The New York Times, o Observer de necessidade de desistir de tornar a vida inconfortável demais para os outros. A maneira
Londres, o New York e outras revistas não têm nenhum desejo de criar essa pela qual um cientista vê a moral é utilitária e mesmo benthamita. O fato de que quase
sempre ela coincide com as atitudes do cristianismo indica que mesmo a mais severa das
impressão. religiões tem que manter seus pés no chão se quiser manter-se em dia. O utilitarista se opõe
Para compreender suas razões, temos de empreender o que talvez às pessoas que se massacram porque ele pensa que os outros não devem ter desculpas para
pareça uma inútil digressão em filosofia contemporânea, mas que massacrá-lo. Essa é a base da lei, que é a essência da civilização. E embora a condição
rapidamente vai conduzir-nos de volta à astrologia, naqueles exatos atual do mundo forneça muitos argumentos para pessimismo a curto prazo, vale lembrar
que alguma espécie de lei vigora numa porção mais extensa da Terra de que em qualquer
aspectos que intrigaram os grandes filósofos do passado.
outra época da história (13).
Materialismo: Ou, A Batalha Contra a
Ignorância e a Superstição Embora expresso com uma convicção admirável, esse texto
exemplarmente materialista tem vários pontos discutíveis.
Numa fala irradiada pela BBC, o Doutor Henry Miller, psicólogo e Ignorando cuidadosamente todos os fatos da história, é possível vê-la
vice-reitor da Universidade de Newcastle, deu seus pontos de vista sobre os em termos de esforço para "manter supremacia sobre seus competidores
problemas éticos levantados pelos transplantes de órgãos. biológicos", mas uma vez que se tome os fatos reais em conta, esse ponto
Minha opinião em relação a esse problema está ligada ao ponto de vista filosófico de de vista bio-marxista é difícil de defender. A história registrada mostra
que, a meu ver, não é o pior dos que estão correntemente em moda. Para mim a história do que seu esforço foi quase inteiramente entre competidores humanos, e não
homem é a história de uma cada vez maior compreensão e controle do mundo físico, e de um biológicos. Entretanto, a vasta literatura de antropologia torna bastante
esforço, irremissível para manter a supremacia sobre seus competidores biológicos. Com isso
vem um declínio da influência da religião e outras superstições, e uma convicção cada vez
claro que as assim chamadas tribos primitivas não vêem as necessárias
maior de que tentativas para melhorar o aqui e agora devem ter precedência sobre a tentativa durezas impostas pela natureza como uma competição para ser ganha,
de consolação em um futuro hipotético. mas antes como um panteão de forças com cujos ritmos os humanos
A popularidade presente de uma tal orientação é devida em parte ao grande sucesso da precisam harmonizar suas vidas (14).
mestria científica do nosso ambiente. É fácil para os medrosos afirmar que os ganhos que
devemos à revolução científica são insubstanciais, que são compensados pelos perigos Enquanto o doutor Miller encara a religião como uma superstição, o
inerentes à falência da competência política para manter-se lado a lado com o avanço
científico. No presente, nossa capacidade para compreender e manipular o mundo físico fato é que a Bíblia (e todos os textos sagrados em suas próprias palavras)
venceu claramente nossa incapacidade para encontrar um arcabouço social apropriado para a adverte o homem para procurar o Reino aqui, não "para o futuro". Que
aplicação efetiva do novo saber e dos novos talentos. Mas o materialista honesto precisa essa injunção completamente sem possibilidade de erros possa ser
admitir que as dificuldades do político e os triunfos dos cientistas refletem as intratabilidades subseqüentemente mal interpretada por savants chevronés dificilmente
relativas de seus materiais mais do que o talento respectivo dos operadores. No meu próprio
campo da medicina nós não precisamos ir mais longe do que a vitória sobre a infecção
poderá ser imputado à religião.
bacteriana, que já tinha causado mais sofrimento do que todas as guerras do presente século. O doutor Miller portanto deixa de lado os covardes que vêem os
O fato é que, a despeito dos seus atuais e hipotéticos perigos para a humanidade, o avanço da ganhos científicos como insubstanciados. No entanto, os jornais são
ciência já melhorou a qualidade da vida de milhões de habitantes do mundo. Embora o consistentemente preenchidos com informes de simpósios organizados por
materialismo científico seja uma filosofia fora de moda, e que um materialismo otimista cientistas covardes sobre problemas tão imaginários quanto a guerra
esteja ainda mais desafinado com o pessimismo culto, tão popular hoje em dia, é
nuclear química e bacteriológica, o esgotamento mundial do solo, a
poluição, os pesticidas e assim por diante. Esses são, sem dúvida, os
ganhos a que o doutor
Miller se refere: "o sucesso na dominação científica do nosso ambiente". a superstição veio primeiro e que a moralidade só chegou depois, como
A escala pela qual o doutor Miller constata que o sofrimento humano reflexão. A leitura mais superficial dos Evangelhos, do Velho Testamento e
abolido pela medicina é maior do que o sofrimento humano causado pela de qualquer outro texto religioso é suficiente para mostrar que não é esse o
guerra deve ficar como um milagre de mensuração do século XX. E uma caso.
história narrada por Sir William Slater, KBE, e outros, vai ajudar a ilustrar a Por fim, a interpretação da gênese e prevalecimento da lei parece
pertinência da contestação ao doutor Miller. "Antes que a malária estivesse particularmente aberta a dúvidas. A base da lei que permanece não é nunca
controlada numa certa área da África, apenas duas crianças entre 10 utilitarista, como afirma o doutor Miller. Antes, é invariável e
sobreviviam cada ano. Depois de uma campanha para acabar com a inextrincavelmente ligada ao código de moral — e muitas vezes à religião —
moléstia, o número de sobreviventes subiu para oito. O doutor responsável que é considerada supra-humana em suas origens e no seu direito de
visitou o chefe para receber os agradecimentos e louvores. Será que podia, compelir à obediência sem coerção externa. Historicamente, a lei utilitarista
perguntou o doutor, fazer mais alguma coisa pelo chefe? O velho disse: é posta em vigor apenas pelas tiranias.
"Sim, será que você pode me dizer quem é que vai sustentar todas essas A declaração de que "alguma espécie de lei agora vigora sobre uma área
crianças?" (15) Essa história não é apócrifa, aparentemente. maior da superfície da Terra do que em qualquer outra época histórica" é
O doutor Miller então afirma que o materialismo científico está fora de talvez a mais descabida das afirmações do doutor Miller. Porque tanto
moda. Mas esse ponto de vista é difícil de ser defendido. O materialismo quanto nós somos capazes de julgar, não conseguimos ver nenhum exemplo
científico é certamente o que prevalece entre os cientistas, e, como Jacques de sociedade que tenha vivido sem lei.
Barzun habilmente ilustra (16), os objetivos, atitudes e métodos da Ciência O que o doutor Miller talvez queira dizer é que a coação da lei agora
se infiltraram em todas as outras disciplinas, incluindo a história, a crítica prevalece sobre uma área maior da superfície da Terra do que nenhum outro
de arte e mesmo as artes, tais como hoje se apresentam. tempo na História. Se é esse o sentido, então é impossível discordar. Em
Portanto, nem otimismo nem pessimismo podem ser chamados países utilitaristas e benthamitas tais como a China Vermelha e a Rússia tal
filosofia; são antes atitudes, atitudes emocionais tomadas contra dados lei parece prevalecer particularmente, e ninguém entende por que
teoricamente neutros. intelectuais ingratos tentam fugir. Por esse critério, parece até uma tristeza
E, finalmente, neste mesmo ponto, imaginamos por que o doutor que a Alemanha nazista tenha sucumbido: pois havia uma área na superfície
Miller achou necessário chamar a atenção duas vezes para a impopularidade da Terra na qual a lei realmente prevalecia!
putativa de sua filosofia. Como materialista honesto, ele só pode estar certo; Se os eminentes julgamentos científicos não fossem suficientes para nos
que diferença faz a popularidade? É curioso que os fornecedores de deixar no mais negro pessimismo, a prevalência da maneira de filosofar do
superstições tais como Buda e Cristo nunca sentiram necessidade de pedir doutor Miller seria. Pois se essa curiosa tapeçaria de credulidade e histeria
apoio público, o último, de fato, nem mesmo sobre a Cruz. fosse de alguma maneira extraordinária, ela podia ser descartada como
Do mesmo nível de argumentação é a afirmação de que a visão da patética. Mas trata-se apenas de uma declaração típica de descrença, e mil
moral pelos cientistas é "utilitária e mesmo benthamita". O doutor Miller exemplos, nem melhores nem piores, podem ser escolhidos à vontade na
parece nunca ter lido A Hélice Dupla, de James Watson, cientista cuja literatura materialista.
visão de moral e tudo o mais é dificilmente utilitarista e de maneira Dessa maneira, em nome da lógica, Bertrand Russell, deão do
nenhuma benthamita. O doutor Watson queria o Prêmio Nobel. Interessante materialismo, fundador da lógica simbólica, e campeão de causas utilitaristas
notar que com muito poucas exceções, os comentadores acharam sua e benthamitas tais como julgar Lyndon Johnson In absentia por crimes de
candura refrescante, e sua moralidade, longe de repreensível, típica. guerra, demole a religião; declarando que, desde que todas as religiões
Igualmente indefensável é a maneira como o doutor Miller vê a origem do discordam entre si, logicamente, apenas uma pode ser verdadeira (17); o que
código moral. Ele parece acreditar que na cristandade é exatamente equivalente a dizer: "Seis cozinheiros dão seis diferentes
receitas
de torta de maçã, portanto, logicamente, apenas uma pode ser torta de Upanischads ou o Tao-Te Ching. Mas tal determinação é comum entre os
maça." No prefácio ao livro no qual a sabedoria é espalhada, Paul- materialistas. E do lado de fora pareceria que todas as religiões se
Edwards, professor de Filosofia na Universidade de Nova Iorque, degeneraram a um estado não muito acima do representado pelo doutor
descreveu Russell como "o maior filósofo vivo". Peale. Assim, reconhecendo a existência apenas deste nível de religião, o.
materialista pode opor-lhe argumentos de validade apenas superficial.
J.B.S. Haldane, com característica obtusidade, cita as duas
características sobre as quais se baseia o materialismo: A religião é freqüentemente considerada uma combinação de
1 — que havia matéria antes de haver espírito. sentimentalidade, ignorância proposital e, acima de tudo, covardia;
2 — que havia acontecimentos antes de haver espíritos para perceber enquanto que o materialista por sua vez vê a si próprio como um espírito
esses acontecimentos. pensante, racional, utilitário e benthamita querendo encarar os fatos num
Que essas crenças sejam metafísicas e indemonstráveis incomodou universo brutal e sem espírito; ele é o John Wayne da filosofia, sentando-se
tanto aos seguidores de Haldane quanto haviam incomodado o próprio empertigado na sela da verdade; imparcial, justo, severo, um Rancheiro
Haldane. Que de fato tais crenças são precisamente contrárias à Solitário defendendo a filosofia contra as eternas forças da ignorância e da
experiência humana (os esquemas de trem podem ser pensados antes de superstição.
existirem) dão a essas afirmações o peso do absurdo. O livro onde elas Mas, realmente, o materialismo não é nenhuma filosofia.
aparecem chama-se: Ciência e Vida: Ensaios de um Racionalista. Baseado em premissas indefensáveis, e indemonstrável fisicamente, é
Agora, em tal atmosfera, não pode haver lugar para a astrologia nem uma falsa religião que, usando o nome da razão para encobrir o que na
para nenhuma doutrina que sequer levante a hipótese da existência de um verdade é mera crença negativa, domina as almas simples que nunca se
universo coerente, significante, no qual o homem foi criado atreveram a levar suas experiências emocionais além de uma primeira e
expressamente para preencher um propósito. sinistra escovada com niilismo adolescente (19).
Como já acentuamos, a astrologia no seu mais alto grau é um O atirador-direto de estilo próprio é um aleijão emocional, derrubado
componente essencial e honrado das mais genuínas religiões ou tradições. ignominiosamente antes de ter conseguido pôr os pés no estribo. Ferido e
Essas religiões e tradições são originalmente criadas para instruir o prostrado, ele manca de volta para o rancho onde se encontra com outros
homem quanto à natureza de seus propósitos cósmicos (para evitar uma cujas experiências foram semelhantes. Escoram-se em números. Até certo
terminologia teológica emocionalmente carregada, vamos chamá-lo de ponto, surge a concordância unânime de que andar de cavalo é impossível,
atingimento de uma forma mais alta de consciência) e prover o arcabouço e que todos os que sustentaram o contrário são ignorantes e supersticiosos.
prático dentro do qual o homem possa trabalhar para atingir esse objetivo. Se se lhes mostra que bem debaixo do seu nariz, defronte do rancho, há
Mas, talvez necessariamente sujeito às mesmas inexoráveis leis de pessoas a cavalo, os materialistas honestos viram as costas, e olhando para
nascimento, crescimento e maturidade, senectude e morte que se aplicam à outra direção através de seu fino telescópio, declaram que não vêem nada.
célula, ao corpo humano e às estrelas, as maiores tradições se degeneram. Mas, de qualquer maneira, andar a cavalo é impossível, desde que todos no
rancho — e todos, dessa vez, são savants chevronés — concordem com
...A semana passada a família Nixon teve lá seu culto, com David como convidado. Eles isso.
ouviram um sermão típico de Peale chamado Nunca Duvide — Deus Está do seu Lado, que refletia Simplesmente negando que as harmonias infinitas e as sutilezas
o otimismo indômito de seu livro O Poder do Pensamento Positivo. "Que Deus ama você é a maior
verdade já enunciada", disse Peale. "Deus não quer ninguém oprimido ou faminto. Ele apenas passa
prodigiosas, a opulência incrível de formas exibidas pelo mundo sensível
seus grandes braços em torno de todo mundo e aperta todo mundo contra si". (18) são manifestações da Consciência Mais Alta, ou qualquer consciência, o
materialista se sente seguro. Enquanto puder imaginar novas palavras
Apenas um homem muito obstinado podia confundir religião neste descritivas para aplicar a fenômenos naturais ("seleção natural", "pressão
nível com o que motivou a Catedral de Chartres ou os de seleção", "mutação", "valor de sobrevivência", "código genético'),
enquanto
apenas em si próprio, o seu único critério para avaliá-las é a recepção dada
puder convencer a si próprio de que essas descrições são explicações, poderá pelos de fora (*).
sempre atribuí-las à "coincidência". Vista nestes termos a hostilidade pela heterodoxia — seja por parte da
O arquiinimigo do materialismo é, naturalmente, a religião, Ciência quanto peia da falsa religião — torna-se menos paradoxal. O furor
e é verdade que a religião não pode ser colocada numa pura base empírica. inevitavelmente suscitado por cada nova experiência de ESP; a caça às
Mas sua criada, a astrologia, pode, ao menos em certa extensão. bruxas encabeçadas pelo astrônomo esquerdista-liberal Harlow Shapley,
Reconhecer as relações provadas entre os acontecimentos celestes e para reprimir o trabalho de Volikovsky, caçando-o de seu posto acadêmico;
terrestres é reconhecer a coerência do Sistema Solar. Uma vez que está a "frente ampla do silêncio" erigida pelos egiptologistas para escudá-los da
demonstrado que planetas particulares influenciam facetas particulares da interpretação do Antigo Egito, maciçamente documentada mas
personalidade, torna-se quase impossível negar a existência de sentido e revolucionária, de Schwaller de Lubicz; tudo se torna claro para os sérios ou
valor. E uma vez reconhecido isto, a menos que também nesse ponto se superficiais observadores externos, desde que visto de uma perspectiva
possa falar em "coincidência", as posições materialistas tornam-se adequada.
insustentáveis. Porque, no importante sentido espiritual da palavra, o materialista não
Mas se a ciência deve ser a pesquisa da "verdade objetiva", como se "existe". Ele é a soma de suas credulidades. Ele não tem nenhuma verdade
justifica essa falta de disposição de abandonar uma tese insustentável? individual ou alma, e sua cópia, sua auto-imagem requer, do ponto de vista
Para dar uma resposta satisfatória, precisamos distinguir entre as de sobrevivência, a estima dos colegas e a aprovação do mundo. O
atitudes da religião e da credulidade. materialista não pode permitir-se estar errado. Para voltar ao rancho do
O homem religioso, o místico, sabe; seu saber é um assunto de Abaixo-toda-oposição, o descrédito é equivalente à morte.
trabalho duro e experiência pessoal; seu saber é inviolável; seu grau Portanto, embora seja bastante óbvio que a astrologia que ocupou os
de inviolabilidade dependendo do estágio místico do seu próprio espíritos das melhores cabeças da história não é da mesma ordem da
desenvolvimento; da sua habilidade em distinguir o que sabe daquilo astrologia popular das revistas para mulheres de hoje em dia, essa distinção
que meramente acredita. nunca foi feita. E embora as experiências de Brown, Piccardi e outros
O homem crédulo apenas acredita — seja no materialismo, obviamente relacionem
comunismo, fascismo, socialismo, democracia ou qualquer outra ideologia e aparentemente corroborem alguns dos preceitos básicos da astrologia
espúria e sub-rogada (instantaneamente detectável pela presunção, clara ou antiga, essa quase inescapável conclusão é rejeitada pelos próprios
tácita, de que o homem pode modificar a sociedade sem antes se modificar). experimentadores como impossibilidades a priori,
O místico não deve importar-se pessoalmente pelo fato de ser apreciado e a astrologia os retém como um estigma.
ou incompreendido. Ele pode, da profundidade e riqueza de sua própria Não é tanto que os materialistas não queiram encarar as conseqüências
experiência, tentar convencer os outros do seu valor, mas a recepção dos da evidência astrológica avaliável, mas é que eles não podem; eles não são
seus ensinamentos, a popularidade ou impopularidade de sua filosofia são livres para tanto. Eles não têm livre arbítrio.
para ele assunto morto (*).
Para o homem crédulo, por outro lado, a opinião pública é de extrema (*) Essa sutil mas peculiarmente abjeta forma de escravidão, em virtude da sua
importância. Porque suas crenças são baseadas universalidade, não é comumente reconhecida como escravidão, mas como coisa bastante
admirável. "A verdadeira felicidade nunca será atingida pela aquisição de uma televisão
melhor, ou de uma lancha mais rápida. Será mais certamente atingida ao subir a escada da
(*) Desde que os loucos são também imunes à opinião dos de fora, os nossa complexa organização até posições de êxito e respeito" (grifo nosso), Vannevar Bush,
materialistas, Freud por exemplo, freqüentemente igualam os místicos aos loucos. A Ciência hão é Bastante, Morrow, 1969, pág. 139.
Mas os de nós que não são nem místicos nem loucos precisamos usar nosso
julgamento para saber se há alguma distinção entre Jelalladin Rumi, São João da Cruz, .. é realmente verdade que um bom e genuíno cientista é, ou devia ser, indiferente a
os autores do Rig Veda, os pintores do Sumei, o compositor do quarteto em dó, os assuntos de prioridade...?" P.B. Medawer, A Arte do Solúvel, Methuen, pág. 126.
doentes certos com a sua incoerência e suas incomunicativas produções.
Livre Arbítrio ou Não Livre "Ah, mas eu adoro cavalos e preciso montar! ", exclamou. "Minha vida seria vazia sem
Arbítrio?: A Questão Eterna cavalos."
Repeti meu aviso. Depois de um ano, acalmada por uma falsa sensação de segurança,
porque nada tinha acontecido, foi montar. O cavalo saltou, e envolveu-a num acidente com
Quando numa reunião social aparece o assunto da astrologia, e um motociclista, e tanto ela quanto o motociclista ficaram bastante machucados. O resultado
revela-se que uma das pessoas presentes é um astrólogo, há uma foi um caso de tribunal, onde ela teve que pagar os danos.
reação predizível: intensa curiosidade feminina e igualmente intensa Ela então me perguntou como sair dessa! Eu não podia fazer nada. O aviso fora dado a
tempo, o assim chamado "soar do gongo" estava escrito em seu mapa. Ela podia tê-lo evitado
hostilidade e desdém masculino. No entanto, se a hostilidade se deve a aceitando o aviso inicial, mas preferiu não o fazer.
uma total falta de vontade de escutar, depois que a evidência é Tinha livre arbítrio; o cavalo não tinha. Entretanto ela fora avisada!
esboçada, a pergunta surge inevitavelmente: isso significa que nós Os astrólogos continuamente enfrentam esses problemas. Nós podemos apenas avisar.
Não podemos alterar o curso depois de as coisas acontecerem.
somos predeterminados? Que não há livre arbítrio?
A questão é velha na astrologia. (E é essa questão e sua relação com
nível, tempo, e os princípios pitagóricos subjacentes à astrologia que A segunda história é com o astrólogo Alan Leo, que uma vez .avisou um
ocuparam o espírito dos antigos filósofos. As aplicações práticas da cliente sobre iminentes problemas financeiros. Para prevenir-se do perigo, o
astrologia em medicina, educação, legislação, etc., embora possam ter sido homem transferiu todos os seus pertences para o nome da esposa. Três
importantes, ou ainda virem a sê-lo, eram de menor interesse para esses semanas mais tarde a mulher fugiu com o motorista.
homens que as implicações filosóficas e espirituais da astrologia. Essa Poderia esse homem ter evitado a ruína financeira? Seria a cliente de
preocupação não é de maneira nenhuma tão egoísta e pornográfica quanto Montalban livre para poder afastar-se dos cavalos e fugir do litígio?
pode parecer. Se os homens sabem por que e como estão na Terra, fica A maior parte dos filósofos modernos, assim como a maior parte dos
talvez um pouco mais fácil a convivência. Nesses últimos tempos, sem astrólogos, concordariam com Madame Montalban na resposta afirmativa.
dúvida, não há nada tão utilitário, nada tão benthamita quanto o estudo e a Na opinião de Sartre, por exemplo, um garçom é um garçom porque certo
prática da astrologia — e, naturalmente, da Religião, da Arte, da Filosofia e dia tomou a decisão livre e consciente de ser garçom, e este conceito é
da Ciência — a este nível.) partilhado pela maior parte dos existencialistas.
Muitos astrólogos — mas não todos — afirmariam com alguma O filósofo lingüístico Anthony Flew cita como exemplo de livre arbítrio
veemência que o livre arbítrio existe, a despeito de seus esforços persistentes em ação o par que deseja casar-se, não havendo nenhuma compulsão externa
em usar a astrologia como instrumento de profecia. forçando-os a fazê-lo e esse exemplo encontraria muito pouca oposição da
Isso não é bem a contradição em termos que parece ser. Um escola filosófica particular de Flew.
antigo provérbio astrológico afirma: "As estrelas inclinam, mas não Não parece importar que a experiência comum e universal considere
insustentáveis essas posições filosoficamente determinadas. Sartre suporia
compelem". Há, no entanto, muita discussão sobre o grau de
que o garçom em questão poderia ser um caçador de prêmios? Ou um
inclinação e compulsão. Em que medida são os homens capazes de filósofo? Ou um neurocirurgião? Uma multiplicidade de fatores genéticos e
atuar contra suas próprias inclinações, se é que o são? Dois exemplos ambientais que orientam a sua escolha para garçom ou algo equivalente à
tomados da literatura astrológica ilustrarão o problema. O primeiro é sua inclinação psicológica e sua capacidade intelectual — coisas desse tipo
citado por Madeleine Montalban, a astróloga responsável por uma o orientam firmemente na escolha.
coluna mensal na revista Predição (20): Flew mantém a distância a objeção óbvia a esse exemplo, afirmando que
mesmo que os psicólogos de comportamento provassem que o casal, devido
O conselho do melhor astrólogo não será de nenhuma valia se você não o cumprir. ao seu envolvimento emocional, não
Uma mulher uma vez me consultou. Não tinha problemas particulares;
apenas queria saber quais os principais perigos que seu horóscopo lhe reservava.
Encontrei Júpiter mal afetado pelos planetas, lugar e casa e eu a preveni
de nunca ir à justiça ou a corridas de cavalo. (Júpiter regula ambas as coisas.)
poderia ter-se abstido do casamento, ainda assim, de acordo com o uso Rose no livre arbítrio. Nunca na História o volume e a intensidade da
comum da palavra livre, esse casal, agindo sem compulsão externa, estava discussão racional foram maiores que no momento presente. No entanto,
agindo livremente, e portanto, o livre arbítrio existe. nunca antes a humanidade triunfante encarou simultaneamente a Bomba, o
No entanto, uma pessoa precisa apenas pegar o oposto do exemplo CBW, a superpopulação, a fome iminente, a poluição e esgotamento do
para ilustrar sua debilidade — o clássico caso do amor sem recompensa. E solo, a ubíqua luta racial e a violência, que tem um momento próprio. De
o amante solitário livre para parar de necessitar do seu amor sem resposta? fato, o momento presente permanece como prova apodítica da incapacidade
Não há força externa compelindo-o a sofrer. Seguramente, se o livre arbítrio humana, da futilidade da discussão racional e da incapacidade humana em
é tão prontamente avaliável quanto quer a lógica, o amante infeliz precisaria modificar a sociedade.
apenas tirar partido dele. Isso significa, então, que não há livre arbítrio, ao fim de tudo? Nós
existimos numa fantasticamente complexa, mas predeterminada teia de
A reportagem da revista Time sobre a astrologia conclui:
causa e efeito? Esse ponto de vista tem também seus sustentadores, não
O bom astrólogo sente o humor de seu cliente, percebe seus problemas e encontra o
menos enfáticos que os da opinião oposta.
caminho mais positivo de colocá-los no contexto do seu horóscopo. Então, olha para frente, Philip Barford, astrólogo, declara:
arrumando suas predições para que possam dar num conselho construtivo. O cliente podia
estar melhor arranjado se procurasse um psiquiatra, um conselheiro matrimonial, um médico, Se como astrólogos nós aceitamos as implicações totais de qualquer doutrina de
um advogado ou uma agência de emprego. Mas há muitas pessoas confusas que recusam harmonia cósmica, então devemos admitir a implicação do que nós vemos com evidência. O
aceitar responsabilidades pessoais em sua vida, insistindo em que alguma força externa é Sistema Solar é um todo funcional, regulado por relações ideais em cada plano a que a
quem controla... consciência pode esconder. Em qualquer instante singular da vida desse sistema, o
mecanismo cósmico está manifestando um padrão de relações estruturais inteira e
absolutamente determinado pelo giro inicial dado a ele no instante de sua concepção ideal.
No entanto, na mesma edição do Time, um artigo descrevendo um Os astrólogos freqüentemente gostam de transigir., sustentando que a astrologia
choque árabe-israelense afirma: "Essas advertências servem principalmente simplesmente indica as influências prevalecentes e as oportunidades dentro das quais nós
para ilustrar o fato de que a violência tem um momento próprio..." Pode o temos liberdade de escolha entre alternativas possíveis. Isso é absolutamente inconsistente
Time ter ambos os pontos de vista? Se a violência tem um momento com o princípio astrológico básico. Qualquer escolha feita na convicção de livre arbítrio é
um momento expressando um padrão cósmico predeterminado. Pragmaticamente, é
próprio, então a aceitação ou a não aceitação da responsabilidade pessoal é
impossível acreditar em livre arbítrio e continuar astrólogo. Logicamente, a doutrina do livre
irrelevante. E acontece com o autor do artigo sobre astrologia aceitar ele arbítrio é um mito. Nossa única liberdade é o reconhecimento intelectual de necessidade. Se
próprio a responsabilidade pessoal para sua própria vida? Se assim e, talvez essa conclusão parece indigesta, sempre se pode rejeitar a noção de harmonia cósmica, e com
fizesse melhor se parasse de denegrir a astrologia e fosse, por sobre as ela, qualquer tentativa de predizer os acontecimentos futuros ou ler o caráter no mapa (22).
águas, até o Oriente Médio, para ensinar a eles o seu segredo. Pois é óbvio
que se todos os homens aceitassem a responsabilidade pessoal de suas Mas não é que a conclusão do senhor Barford seja indigesta; é que, a
vidas, a violência nunca mais teria um momento próprio. despeito do seu tom pontifical, ele permanece autocondenado. No grande
Numa fala pela BBC (21) o doutor Stephen Rose declarou: parágrafo negando o livre arbítrio, já nos são dadas duas chances de usá-lo:
"As maneiras de mudar os espíritos humanos permanentemente primeiro, é-nos dito que a nossa única liberdade é o reconhecimento
são duas e apenas duas: pelo uso da argumentação racional e intelectual da predeterminação, o que já é livre arbítrio; e segundo, é-nos
pela mudança da estrutura da sociedade. Os dois maiores trunfos dada a alternativa de rejeitar a noção de harmonia cósmica, o que é também
da humanidade são a capacidade humana para o pensamento livre arbítrio.
e discussão racionais e sua vocação para a mudança social". A conclusão de Barford está baseada numa cosmologia estranha: a de
Em toda a História não pudemos encontrar exemplo de que uma consciência teria gerado o Sistema Solar, comunicando-lhe o seu
espírito humano sendo mudado permanentemente através de giro inicial, desaparecendo depois, presumivelmente para criar outros
uma discussão racional; nem parece justificável a crença do doutor sistemas igualmente sem cuidados.
Para ser consistente, se o Sistema Solar é considerado como manifestação relações. E o professor Darlington, afirmando a ausência de livre arbítrio,
de consciência, então a consciência com o seu livre arbítrio pareceria sem ironia, fornece a chave de sua existência. De acordo com ele, a ilusão
destinada a ser um atributo do próprio sistema. Claramente, nós estamos em do livre arbítrio é causada pela interação do genótipo e do ambiente. Mas se
liberdade de usar nosso livre arbítrio rejeitando a noção newtoniana de livre arbítrio é uma ilusão, interação não é.
Barford sobre a Mecânica Divina. Na verdade, o que é essa interação? Certamente não é genótipo. Nem
Igualmente restritas são as vistas do geneticista famoso, C. D. tampouco ambiente. Não é matéria, coisa. Nem é energia, atuando sobre
Darlington: alguma coisa. Entretanto, não pode ser refutada, pois não importa quão
Em Genética, todo comportamento é geneticamente determinado, mas é também
impalpável, não importa quão insusceptível de medir ela seja: sem ela, nem
ambientalmente determinado... a divisão de determinação em dois sistemas, o genótipo (a ambiente nem genótipo teriam sentido.
constituição genética do indivíduo) e o ambiente, transmite, como corolário, a interação Interação é a misteriosa Terceira Força, elemento necessário a cada
sucessiva daqueles dois sistemas e a introdução de um no outro. É essa a interação que nos acontecimento, em cada nível do universo. Nas experiências de Hans Jenny,
dá a ilusão de livre arbítrio... uma escolha nos parece livre porque em cada contingência está
uma nova reação do genótipo e do ambiente (23).
o arbítrio estava representado por freqüência; entre o amante e o amado há
o desejo; entre o escultor e o bloco de madeira há a inspiração; é o Espírito
Santo da Santíssima Trindade, fundamental a todas as tradições.
Aqui, aquelas duas grandes divindades da floresta, genótipo e Arbítrio, ou a Terceira Força, manifesta-se em valores, que são
ambiente, são responsáveis pelo giro inicial. Darlington presume que ambos registrados pelas emoções mas indetectáveis pelos sentidos e recusados pelo
aqueles sistemas, embora dinâmicos, sejam fechados. Para não bater na lógico utilitarista.
tecla filosófica, para destruir essa controvérsia é bastante citar as No entanto, o universo apresenta-se para o utilitarista da mesma
experiências recentes provando que, como os iogas sempre afirmaram, o maneira como se apresenta para nós: como uma hierarquia de valores.
homem pode controlar mesmo suas funções involuntárias. Isso significa que Se um utilitarista tropeça num banquinho, ele pode, num acesso de
o ambiente pode ser alterado através do exercício da vontade. O ambiente raiva, jogá-lo contra a parede. Mas se tropeça na sua filhinha, embora da
não é um sistema fechado. O futuro é portanto impredizível, não por causa mesma forma zangado, ele vai certamente responder de maneira diversa. E
de sua complexidade, mas por causa de sua própria natureza. E o livre embora seja possível afirmar que o utilitarista evitou ferir sua filha para não
arbítrio não é uma ilusão. ter de lhe pedir desculpas (conforme o doutor Henry Miller, op. cit., págs.
Por outro lado, o grande triunfo da humanidade, que é, de acordo com 222ss.), é igualmente possível que a exegese utilitarista da moralidade deixe
o Doutor Rose, a capacidade de modificar a sociedade, está reduzido à algo a desejar.
irrisão em cada jornal diário. Nossas vidas são organizadas em escalas de valor, e não podemos
Poderia parecer que temos e não temos livre arbítrio, situação indicada escapar a esse fato. O utilitarista valoriza a utilidade. O lógico exalta a
por Schopenhauer, que declarou: "O homem tem livre arbítrio, mas não o lógica porque o exercício dessa faculdade útil, mas prosaica, permite-lhe o
arbítrio de usá-lo". Desde que isso é um paradoxo, o filósofo prazer mais penetrante que é capaz de experimentar. Ambos podem
contemporâneo vai rechaçá-lo como desprovido de sentido, mas, para o argumentar que todos os valores, inclusive o deles próprios, são subjetivos,
amante não correspondido, sobram-lhe sentido e verdade. "meramente emotivos", mas até isso é um julgamento de valor, e não temos
nenhuma obrigação, lógica ou qualquer outra, de aceitá-lo; ou mesmo
Livre Arbítrio — Visto Filosófica e perder nosso tempo preocupando-nos com tais distinções lógicas. Porque se
Psicologicamente os valores são sem distinção, sem sentido, então a lógica é, por definição,
sem valor.
O paradoxo é apenas aparente, e desaparece uma vez que se livre da
rigidez lógica. A alternativa dual, sim ou não, é inaplicável; o problema
precisa ser visto através da tríade de
Entretanto, quem disse que os valores dados pela emoção são menos seu exercício matinal; e, como o Time tão certamente observa, a violência
fidedignos que os valores dados pelos sentidos? Realmente, é impossível tem um momento próprio.
provar os dados emocionais. Mas os instrumentos usados para provar os Não há resposta para a pergunta: "Temos ou não livre arbítrio?" De
dados sensíveis não são mais do que extensões dos próprios sentidos, e, preferência, podemos dizer que tanto quanto não estão envolvidas nossas
portanto, tautologias: os sentidos simplesmente se autocorroboram. Os emoções, nós o temos. Mas tão logo entrem em jogo nossas emoções,
cientistas, então, pretendem que esses dados correspondam ao mundo real, perdemos essa capacidade.
e essa pretensão recebe o apoio do matemático, que freqüente-mente E visto que, como fato de senso comum, nossas emoções se envolvem até
baseia-se em hipóteses que não têm nenhuma relação observável com a nas coisas mais triviais dos nossos pensamentos e ações, na realidade nós
realidade. não temos livre arbítrio. Nossa posição atual é a dos cachorros no parque,
Se é esse o caso, com o saber derivado da emoção (e não é possível perturbados por cada cheiro.
dizer de consciência limpa que nós sabemos — se de fato sabemos O que chamamos "força de vontade" é simplesmente o cão de caça num
qualquer coisa que seja), podemos afirmar que Bach é objetivamente rastro de cheiro, particularmente forte. Os homens não nascem livres. Nós
melhor músico que os Beatles, que Chartres é objetivamente melhor nascemos em cadeias, vivemos em cadeias, e morremos em cadeias, a
arquitetura que o London Hilton, que São Francisco era objetivamente menos que acordemos para a situação e consigamos nos desentranhar de nós
melhor homem do que Hitler, que o homem vive em um nível próprios (*).
objetivamente mais alto de consciência do que uma couve, que por sua vez Entretanto, se a questão do livre arbítrio é tão facilmente resolúvel, por
vive num nível mais alto do que uma pedra. Essas conclusões, baseadas na que tem sido sempre tão mal compreendida? Como homens supostamente
experiência emocional, podem ser consideradas tão objetivas em seu cultos podem afirmar que por meio da discussão racional os espíritos
próprio sentido quanto a dura experiência dos sentidos, que parece não ser humanos são alterados e a sociedade humana modificada?
tão dura, afinal de contas. Talvez porque essa ilusão é lisonjeira, porque faz uma pessoa se sentir
Nossas emoções nos dizem que existem níveis. E todas as tradições educada e magnânima, e, acima de tudo, porque é gratificante. Pois o
nos ensinam que o propósito especial na hierarquia cósmica é ascender do genuíno reconhecimento emocional da falta real do livre arbítrio é uma
nível em que as coisas nascem para um nível mais alto. Mas não há nada experiência soberba, até devastadora. (Os deterministas filosóficos podem
automático ou fortuito nesse processo; um homem individual precisa negar verbalmente o livre arbítrio, mas em sua vida real eles se comportam
reconhecer que existem níveis e que existe a necessidade e a possibilidade justamente como todo mundo — como se o possuíssem.)
de ir de um nível a outro. Obviamente, se o processo não é automático, Literatura e Livre Arbítrio
então ele tem de ser arbitrário. Para ele ser arbitrário, tem que ter livre Para confirmar isso, podemos utilizar proveitosamente o exemplo
arbítrio. fornecido pela literatura, onde, sem simplificação excessiva, pode ser dito
Como assunto de experiência prática, podemos dizer honestamente — que cada situação dramática — do Édipo às peças de Brecht e às novelas de
e esse exemplo vale para todo o resto — que somos "livres" para irmos e Kafka — é uma ilustração da situação do homem em face do livre arbítrio;
comprar o jornal agora ou esperarmos mais 10 minutos. Mas dentro de uma de sua inabilidade
experiência igualmente indubitável, o fanático não é livre para reconhecer o
negro e o judeu como seus iguais; o materialista pode viver um mês em Chartres e
sair injuriando a religião e cantando os louvores da discussão racional; o (*) Isso não parece ser uma defesa da psicologia do comportamento, que afirma que o
amante não correspondido está preso à sua miséria por laços mais fortes que comportamento humano é, e só pode ser, a resposta aprendida de um organismo a um
estímulo; inalterável, exceto através de uma ação externa, como a terapia.
um escravo nas galés; o cabeça-quente não pode reprimir seu O psicólogo do comportamento trabalha. Suas observações são importantes até onde
temperamento; o homem preguiçoso encontra uma centena de boas razões podem chegar; mas elas se referem apenas a homens sem arbítrio. O estudo das reações dos
para não fazer iogas e dos mestres Zen contradiriam as teorias desta particularmente desencaminhadora
escola de pensamento.
de agir fora do padrão, em circunstâncias que requerem a grande liberdade nível que o de um hábil neurocirurgião? Que o feito de Escoffier era da
de agir de outra forma. mesma ordem do de Leonardo? A potencialidade para existir em níveis
A força opressiva e compelidora que a literatura dramática exerce sobre diferentes parece ser um traço exclusivamente humano, não partilhado por
nós é boa medida de sua veracidade. Se realmente temos livre arbítrio, nada na natureza, tanto quanto podemos imaginar.
devíamos achar tolos os julgamentos e tribulações dos heróis trágicos. Mas No entanto, a distinção em nível entre o açougueiro e o cirurgião não
como é que se não temos nenhum maior conhecimento literário, repelimos o pode ser considerada uma "consciência" de nível — o cirurgião não escolhe
final feliz barato, os romances que realmente atribuem livre arbítrio ser cirurgião em vez de açougueiro e nem vice-versa. Ambos simplesmente
ilimitado aos heróis, e aceitamos, por outro lado, como real a luta do seguiram suas inclinações naturais, larga, mas talvez não completamente
protagonista emboscado em sua própria personalidade, incapaz de impedir determinadas por seus genótipo e ambiente. Do ponto de vista de
seu destino, ou mesmo de alterar sua reação frente ao destino. consciência de sua efetiva ausência de livre arbítrio, ambos estão no mesmo
E entretanto, a possibilidade está ali, não importa o quanto esteja longe. nível. Vistos esotericamente, ambos são escravos. No entanto, visto dessa
Embora possamos saber do ataque em que o Rei Lear vai morrer, que as três maneira, um açougueiro que venha a ter uma compreensão do problema
irmãs não vão nunca chegar a Moscou, que sempre se negará a K. a entrada estará marchando para adquirir o livre arbítrio que é seu direito natural (a
no castelo, se não houvesse a possibilidade de se dar o contrário, não haveria "pérola do grande preço" escriturai), e se encontrará num nível bem mais
tensão; e nossa crença na situação seria suspensa. A tensão é criada pela luta alto que o neurocirurgião.
das possibilidades opostas. Mas se genótipo e ambiente contam grandemente para a diferença
Mas se a literatura nos dá um retrato acurado da falta de livre arbítrio do inconsciente de nível, parecem desempenhar papéis apenas menores e
homem, falha em dar conta do princípio de nível. Os heróis dramáticos subsidiários na questão muito mais importante do reconhecimento
gastam todas as suas emoções tentando alterar situações externas consciente do nível. Um homem tem uma intuição sobre isso, e um outro
normalmente ocasionadas por falhas em suas próprias características. A não tem; e essa intuição tem muito pouco a ver com o talento do homem, ou
literatura secular trata invariavelmente de homens sem arbítrio, cuja mesmo com sua inteligência, mas bastante com causas impalpáveis, tais
tragédia é não verem a si próprios como são. Se Otelo se encarasse como um como predileção e sensibilidade, qualidades que cortam todas as barreiras
cidadão estúpido não haveria tragédia (24). genéticas e de classe.
A literatura sagrada, por outro lado, refere-se invariavelmente à luta do Naturalmente, os que afirmam que não há diferença entre Bach e os
homem em busca do livre arbítrio. Só que nessa luta o único drama Beatles vão rejeitar tudo isso como um pseudoproblema, mas há outros que
verdadeiro toma lugar dentro de um homem, e, se é que as há, são poucas consideram que as diferenças são tão reais quanto importantes. Nós
suas manifestações externas. A literatura sagrada talha-se em termos acreditamos que uma compreensão do problema só poderá vir da aceitação
alegóricos ou simbólicos. (A Tentação do Cristo no Deserto, O Bagavad do tempo como multidimensional.
Gita, A Conferência dos Pássaros.) Sem o reconhecimento da existência
do nível, a literatura sagrada parece chata e incompreensível. Tempo e Nível

Livre Arbítrio e Nível Falar de tempo como uma quarta dimensão tornou-se um lugar-comum
desde o desenvolvimento da Teoria da Relatividade. O tempo, olhado como
Os homens homenageiam o princípio do nível de várias maneiras. Um quarta dimensão — junto das três dimensões costumeiras de comprimento,
dos mais comuns e óbvio é nosso reconhecimento das excelências e dos largura e altura é empregado por matemáticos e físicos em seus cálculos,
graus de excelência. mas normalmente com a cláusula de que essa quarta dimensão não deve ser
Não diríamos que há diferença entre uma pedra e outra ou entre duas olhada em nenhum sentido como real mas, antes, como a raiz quadrada de
couves, ou mesmo entre dois cachorros. Mas quem diria que o trabalho de uma letra, como ajuda imaginária, cuja existência
um açougueiro tem lugar no mesmo
facilita a solução dos cálculos. Os matemáticos afirmam que pode-se dimensão, a dimensão da eternidade, parece ser uma realidade muito viva
montar equações que requerem dezenas ou centenas de dimensões para esses povos; entretanto, um sábio tão astuto quanto Santo Agostinho era
similares para sua solução. forçado a admitir que, embora pare-cesse, para si próprio, compreender o
Mas essas garantias não resolvem o problema do tempo. Não há nada tempo, logo que alguém lhe perguntava sobre ele, deixava imediatamente de
na nossa experiência que corresponda a dezenas de dimensões. Mas nós o compreender. J .G. Bennett cunhou a expressão extremamente útil, "cegos
certamente parecemos experimentar o tempo. E se não é uma dimensão, de eternidade", para descrever nossa condição normal.
então o que é? Não tentaremos de maneira nenhuma tratar do assunto com os aspectos
A filosofia moderna é de pouca ajuda. A. J. Ayer, por exemplo, rejeita matemáticos da dimensão do tempo (26). Mas se nossa análise de livre
categoricamente a noção de tempo multidimensional (25). O curso do arbítrio e do nível for sólida, seremos capazes de tratá-la por um prisma
tempo é uma ilusão, afirma Ayer. O tempo não passa, nós passamos. Mas psicológico e não técnico, o que, embora mero esboço, pode ter alguma
esse argumento é pouco convincente. Se nós passamos, passamos para utilidade.
onde? Vimos de onde? Numa armação de quê? Colocado em movimento O livre arbítrio é uma realidade. Os níveis são realidades. Isso indica
por que acidente? Como aconteceu esse acidente? Se o curso do tempo é que existe a contingência. Mas o que é contingência? No tempo, como
uma ilusão, então é uma ilusão partilhada por todos. Que valor de sabemos, todos os fenômenos estão sujeitos a causa e efeito. Se esse curso
sobrevivência tem essa ilusão? (Porque num universo materialista nada sem fim fosse toda a história, então os genótipos interagiriam como
pode sobreviver, a menos que possua um valor de sobrevivência.) ambiente até o infinito, e a contingência seria apenas o nome que nós
Há alguns físicos eminentes (Louis de Broglie, Henry Margenan e daríamos a nossa ignorância, de qual das numerosas alternativas era
Herbert Dingle, entre outros) que parecem não ter lido o professor Ayer, predeterminada para sair de acordo com os planos numa dada situação.
que parecem estar querendo tomar as dimensões múltiplas do tempo a Mas como já vimos, o espírito influencia a matéria e isso pode ser
sério, uma vez que há certos problemas puramente físicos que requerem o provado. Existe a contingência. Mas o que é a contingência, se ela fica fora
tempo como quarta dimensão real, tendo-se que somar a ela uma quinta e das leis de causa e efeito? E onde está a contingência, se está fora do curso
ainda uma sexta dimensões. do tempo?
O principal desses problemas é o da energia potencial. Nenhuma O problema se complica, uma vez que nossa experiência do tempo, sem
explicação de causa e efeito parece ser capaz de explicar a existência de nem falar em eternidade, é incompleta. O menino esperto pergunta: Onde
energia potencial — causa e efeito sendo uma dimensão da dimensão do está o passado?, e dizem-lhe para não fazer perguntas tão tolas. Mas o físico
tempo. E do ponto de vista psicológico, a mesma dificuldade é apresentada e o matemático não podem responder, a menos que o tempo, como quarta
por fenômenos bem atestados, tais como os sonhos precognitivos, nos dimensão, seja real.
quais o futuro parece tanto existir quanto ser suscetível de mudar. Os nossos sentidos percebem o mundo como um vir-a-ser perpétuo,
O problema do livre arbítrio é tão mal compreendido porque não é miraculosamente criando-se a partir do vazio do futuro e deixando uma
lisonjeiro nem confortante encará-lo. Mas o problema do tempo parece ser esteira atrás de nós no igual vazio do passado. Entretanto, não podemos
mal compreendido porque o intelecto humano, sem a ajuda da compreensão acreditar que seja esse realmente o caso. Por outro lado, pensar tanto no
emocional, não está equipado para alcançá-lo; e uma vez que estamos futuro quanto no passado como realidade idêntica ao presente é realmente
acostumados a aplicar nossos intelectos puros a todo e qualquer problema, a difícil para a nossa imaginação.
compreensão nos escapa. Os povos ditos primitivos parecem ter menos Sem dúvida, muitas das dificuldades vêm da linguagem construída para
problemas como tempo do que nós. Os aborígines australianos falam do explicar a ilusão de passado e futuro que os sentidos nos dão, e que, por
tempo ilusório no qual vivem e morrem incorporados dentro do Tempo do outro lado, torna-nos impossível pensar no tempo em outros termos — desde
Grande Sonho, quer dizer, não sujeitos a fluxo e curso. E esse Grande que não podemos pensar sem linguagem. Entretanto, se nós empregamos
Sonho, que corresponde à quinta uma analogia, e imaginamos o tempo como um filme sem fim, no qual o
presente
é um único quadro iluminado, então a realidade do pedaço de filme já um curso diferente; e pouco a pouco o açougueiro realmente começa a
mostrado é o passado, o que será ainda mostrado é o futuro, e ambos são tão modificar sua vida, a vida dos que lhe estão próximos, e, dentro de suas
reais quanto o pedaço iluminado em qualquer momento dado. O filme é o reduzidas possibilidades, a própria sociedade.
todo, é a totalidade. Mesmo que fosse sem fim — sem começo e sem fim — Nosso açougueiro hipotético está operando num nível mais alto do
ainda seria uma totalidade, um todo. O fato de só podermos ver um quadro que aquele em que nasceu: Pelo menos nos momentos em que é capaz de
de cada vez é devido ao projetor, que corresponde ao nosso aparato exercer seu livre arbítrio duramente conquistado ele transcende as leis de
sensório. Mas se nós não percebêssemos o filme em termos de curso, mas causa e efeito, próprias da natureza e submetidas ao tempo. E naqueles
todo de uma vez, percebê-lo-íamos como um ponto no tempo, como um momentos nos quais é capaz de exercer um pouco de livre arbítrio, ele vai
acontecimento. Isso seria um relance de eternidade — que parece ser o que experimentar uma consciência mais alta, adequada ao seu novo nível, que
os afogados e outros perto da morte experimentam. por sua vez vai-lhe assegurar que eternidade não é apenas um vago termo
Mas nada é mais possível de acontecer num filme acabado; suas metafísico, sem sentido real, mas uma realidade; sem embargo, a realidade
contingências se exauriram em sua criação. O sistema está fechado. mais profunda.
Prevalece a causa e efeito.
Portanto, quando aplicamos a nossa analogia à vida como é vivida no Tempo e Destino
tempo, precisamos ter cuidado. Nossas vidas são como filmes no momento Mas isso não significa que um açougueiro possa de repente se
de serem feitos. O sistema ainda não está fechado, pelo menos em teoria transformar num cirurgião, e menos ainda que um grão de papoula possa se
(*). transformar num carvalho.
Vamos supor que nosso açougueiro e nosso neurocirurgião são gêmeos A questão do destino — favorita dos astrólogos e dos dramaturgos —
no tempo, nascidos com minutos de diferença de um para o outro, e ambos parece quase independente da questão de livre arbítrio. O astrólogo francês
agraciados com temperamentos inflamados por uma relação Sol-Urânio de do século XVII, Morin de Villefranche, escreveu: "As datas de nascimento
um signo de Fogo para um signo da Água. e os acontecimentos na vida dos homens são encadeados pela providência
Como muitos homens de temperamento quente, o neurocirurgião em vista do concurso necessário na realização comunal do destino, de tal
considera-se um modelo de razão, virtuosamente indignado contra as maneira que aquele que, por exemplo, desde sempre está destinado a
loucuras e as tentações do mundo. Acredita no livre arbítrio; tem morrer assassinado não deixará de encontrar o seu assassino, e aquele que
consciência social, e atribui a relutância do mundo em se modificar como deve ser um marido infeliz irá invariavelmente procurar descobrir a mulher
uma prova da irracionalidade do mundo, justificando assim sua indignação. que providenciará para que ele o seja." (27)
O açougueiro, por outro lado, embora talvez não esteja menos É interessante testar essa afirmação com exemplos concretos. John
preocupado com as loucuras e tentações do mundo, de alguma forma Kennedy, por exemplo, tinha sido prevenido por uma dúzia de astrólogos e
tornou-se consciente do fato de que desgastando-se eternamente ele não videntes contra os perigos do assassinato, e, por alguns, sobre o período
apenas não modifica o mundo, mas torna-se, pessoalmente, cada vez mais exato do perigo. Mas é claro que, mesmo que tivesse ficado impressionado
profundamente escravizado por ele. Reconhecendo sua verdadeira posição com o número dessas predições, sua posição era tal que ele não podia
em face do livre arbítrio, consegue adquiri-lo. O açougueiro começa a fazer acautelar-se, pois sua personalidade nunca lhe permitiria tomar as precau-
uso de suas possibilidades. Situações que de outra maneira terminariam ções costumeiras. Quanto aos casais infelizes, há um sem-número deles, e
quase que seguramente em catástrofe começam agora a tomar o próprio leitor pode fazer uma seleção, dentro da própria experiência,
testando os resultados com o pronuncia-mento de Villefranche, eloqüente
mas assustador.
(*) Se essa analogia é válida, ela traz interessantes perguntas éticas, filosóficas, Mas, e os que levaram toda a vida lutando para adquirir o livre
psicológicas e astrológicas sobre a natureza e os efeitos dos nascimentos induzidos.
arbítrio? E o ioga, o santo, o mestre Zen? Estarão esses
presos a seus destinos quanto os cidadãos livres escravizados? Pegando ciclo sem fim de nascimentos nas religiões orientais e a idéia de porvir da
exemplos históricos — Cristo, Buda, Sócrates, etc. — pode parecer que cristandade). Ambos são erros cometidos ao se tentar agarrar a eternidade
estes homens estão, ainda mais que os outros, submetidos às leis do destino. com a linguagem de causa e efeito; essa é uma armadilha quase inevitável,
Entretanto, é por vezes difícil evitar a conclusão de que, por horríveis e desde que a linguagem do tempo é a única que nós podemos falar, ou
ignominiosas que tenham sido as mortes desses homens, elas foram podemos sempre falar, enquanto que a eternidade precisa ser surpreendida
escolhidas deliberadamente, talvez como último teste de estado de sua por faculdades que no homem comum são inteiramente amordaçadas.
libe-ração da cruz da carne, da espiral do tempo. Voltando ao açougueiro' ao neurocirurgião: o açougueiro, na teoria de
Nós não pretendemos ter a certeza. Além disso, é impossível julgar os Ouspensky, em virtude de seus próprios esforços para subjugar sua
motivos dos homens de nível mais alto do que o nosso próprio. E ninguém personalidade e adquirir livre arbítrio, não volta, depois da morte,
sabe se os detalhes dessas histórias são a história dos fatos, ou simbolismo, reencarnado como neurocirurgião. Nem o cirurgião, em virtude de sua
ou ambas as coisas. ignorância proposital, terá o que merece, reaparecendo numa vida futura
Talvez se possa dizer que o destino "está escrito" mas que os vários como açougueiro. Antes, o açougueiro vive perpetuamente na eternidade, e
campos em que cada qual joga o seu destino não está. Dentro dos limites repetidamente no tempo, seguindo o caminho (a escada de Jacob?) para o
das leis causais, um homem que conseguiu um alto grau de livre arbítrio é estado chamado variadamente de "liberação" ou "salvação" — portanto,
livre para se mover, enquanto que o resto de nós permanece completamente confirmando a tese de Agostinho de que o homem tem livre arbítrio, apenas
desamparado. para escolher ou recusar a salvação.
E se se levanta a objeção: e as crianças que morrem, e os jovens Nosso açougueiro iluminado atinge o estado no qual, liberto do tempo,
mortos nas guerras antes de terem podido pensar em livre arbítrio ou na sua vive na eternidade, enquanto que o irreduto neurocirurgião vive no tempo, e
falta? Confessamos a nossa ignorância. Mas, se forçados a escolher entre sua vida existe perpetuamente na eternidade no nível literalmente inumano
crenças que não correspondem a nada dentro da nossa experiência pessoal, que ele escolheu; eternamente perdendo o seu tempo com aqueles cujos
tenderíamos a aceitar a palavra dos responsáveis pela catedral, em vez da espíritos se recusam a serem mudados pela discussão racional.
dos responsáveis pela bomba H ou pela escova de dentes elétrica, e
responderíamos que num sentido cósmico inacessível ao nosso nível normal Nível indetectável pela Astrologia
de consciência, nas dimensões da eternidade, a inocência permanece sem
condenação, ao passo que a ignorância na filosofia hindu, avidya, Embora longa, essa digressão em torno de livre arbítrio, nível e tempo
ignorância proposital, é o único pecado, e é interessante que a palavra foi necessária. Pois qualquer astrologia que almeje algo mais que prever
pecado derive de uma outra que significa errar o alvo. futuras quedas financeiras e a provável perda de esposas precisa encarar
esses assuntos seriamente.
A astrologia estuda o significado do momento cósmico, como ele é
Tempo, Reencarnação e Volta
revelado nas conjunções e configurações dos planetas contra o fundo
Uma pesquisa levada a efeito nos Estados Unidos revelou que 75 por simbólico do zodíaco. Nisso, a astrologia é uma inquirição da Terceira Força
cento dos astrólogos profissionais que responderam ao questionário da Trindade. Da mesma forma que as freqüências de som aplicadas por Hans
acreditavam em reencarnação — uma mostra de opinião pouco propícia a Jenny representavam o arbítrio do experimentador, as freqüências elétricas
atrair os amigos cientistas de Vernon Clark, embora possamos imaginar e eletromagnéticas produzidas pelos planetas representam o arbítrio do
que a mesma pesquisa na Inglaterra ou na Alemanha, produziria uma sistema solar.
percentagem bastante mais baixa. O horóscopo é um mapa da potencialidade. Tanto o mapa de
De acordo com Ouspensky, foi em grande parte a dificuldade que o nascimento quanto o de concepção representam um momento
homem experimenta em atingir o conceito de dimensões múltiplas do
tempo que conduziu à crença na reencarnação (o
cósmico existindo na eternidade sobre cada nível, com inúmeras com vocação para um impressionante número de casos amorosos, sem tocar
possibilidades para cada um desses níveis. no que faz Goethe merecedor de estudos atuais, como gênio. Similarmente,
Embora os astrólogos falem costumeiramente como se as estrelas do horóscopo de Hitler nenhum astrólogo prediria a apoteose da
outorgassem essa ou aquela personalidade ao indivíduo, talvez fosse mais mediocridade que Hitler era chamado a representar.
correto e mais proveitoso que os mesmos dados fossem olhados como o Na prática real, no entanto, o Goethe potencial pode ser distinguido do
que as estrelas pedem do indivíduo. Hitler potencial numa época mais livre, numa sociedade capaz de
Mas apenas pelo mapa de nascimento, o astrólogo não pode dizer desenvolver e utilizar a astrologia mesmo nos seus níveis práticos, onde os
nada sobre o nível do indivíduo. Ele pode, com alguma fineza, distinguir talentos poderiam ser incentivados e as psicoses curadas ou desviadas.
o futuro açougueiro do futuro cabeleireiro de senhoras. Mas não pode, com Mas se o nosso argumento é firme, a concepção ilusória do homem
nenhum grau de exatidão, distinguir o açougueiro do neurocirurgião. O moderno sobre livre arbítrio, nível e tempo torna-lhe largamente impossível
astrólogo não pode dizer, apenas com o mapa de nascimento, quais das avaliar a validade potencial da astrologia a despeito da evidência que se
possibilidades abertas ao indivíduo vão ser utilizadas, ou a que nível (*). acumula. As chances de desenvolver a astrologia até seu potencial máximo
Dito de outra maneira, o astrólogo pode falar sobre a natureza da são portanto remotas, e levam a um futuro remoto; e nós não pretendemos
semente, mas não pode adiantar se a semente caiu num solo fértil ou ser favorecidos com o dom da profecia.
pedregoso, ou à beira do caminho. Nem pode dizer se na dimensão da No entanto, parece adequado fechar um livro sobre a astrologia com um
eternidade a semente já se enraizou. olhar sobre o futuro. Portanto, tomando em conta uma multiplicidade de
Isto não é uma insuficiência da astrologia, mas está previsto em suas fatores psicológicos, políticos, sociais, econômicos, estéticos, tanto quanto
regras. Pensar de outra maneira seria violar todas as tradições mantidas formos capazes, tendo em mente o que a tradição nos ensina quanto ao clima
sagradas. Se o nível pudesse ser predito apenas a partir da data de astrológico propício para a morte de uma época e o nascimento de outra, e
nascimento, isso significaria que o livre arbítrio era na verdade uma ilusão, aplicando o que nos parece ser a faculdade de senso comum, aguardamos o
ou, pior ainda, que era contingente e distribuído preferencialmente, fazendo futuro' para justificar as reflexões seguintes.
uma gozação permanente da Justiça Divina — noção bastante difícil para
animar esses dias, e que destruiria também a consciência de que o estado
da sociedade é o resultado dos erros do próprio homem. E Agora?
A falta de habilidade do astrólogo em distinguir os níveis pode ser O revigoramento da astrologia dependerá do restabelecimento da
chamada literalmente de providencial, mas há muitos astrólogos que não civilização genuína; quer dizer, uma aristocracia no sentido verdadeiro da
reconhecem isso, e pela aplicação de pesquisa metódica conseguem explicar palavra; o que é dirigido pelos melhores. (Quem é melhor? "Aquele que está
caracteres historicamente significativos esquadrinhando e isolando cada mais distante na estrada para obter livre arbítrio" pode ser uma definição.
assunto da imensa teia astrológica. Não é muito mais difícil, na prática, determinar quem é melhor neste sentido
Por enquanto, nada pode ser feito. Dado o horóscopo de Goethe, o do que naquele em que se determina quem é melhor cozinheiro ou melhor
astrólogo prediria um homem inteligente e imaginativo tenista.)
(*) Mais atrás mencionamos a sexta dimensão, postulada por certos matemáticos e físicos nos aconteceu seguir através do tempo, e para o qual demos o nome de "realidade."
como uma necessidade. Ela é, de acordo com Ouspensky, a dimensão na qual todas as A luz desse conceito quebra-cabeça, a explicação da criação dada por um africano parece
possibilidades são realizadas. Da mesma forma como é possível perceber a dimensão da inspirada por algo mais do que a primitiva poesia. O africano afirma que "estamos sendo
eternidade perguntando para onde foi o passado, é possível perceber a sexta dimensão
perguntando o que aconteceu a todas as possibilidades não realizadas. Se as possibilidades são sonhados por um sonho"; um conceito ecoado pelo físico eminente, Sir Arthur Eddington, que
reais, elas não podem existir num estado de perpétuo vir a ser, como não pode o mundo físico observou que a Física moderna faz o universo parecer muito mais com um pensamento gigante
interpretado por nossos sentidos. Na consciência do universo hexadimensional, portanto, todos do que com uma máquina gigante.
os outros mundos possíveis são tão reais quanto o caminho cego que
Para ressuscitar e aplicar a astrologia, precisa haver uma hierarquia Entretanto, a despeito do otimismo de longo alcance de pensadores,
legítima, em cujo pináculo estejam homens capazes de compreender o tais como Norman Vincent Peale e o doutor Henry Miller, é claro que cada
simbolismo cósmico da astrologia, e as necessidades mundanas na vez mais pessoas têm fome e estão ficando com mais fome, não importando
sociedade na qual a astrologia vai ser usada. Estes homens precisam estar que Deus tenha dado a elas um grande abraço de urso, e a ciência deseja vê-
numa posição de dirigir as pesquisas organizadas de legiões de indivíduos las bem. Com toda a conversa sobre a poluição, a poluição continua; a
cujos valores se aproximam dos superiores: isto é, seu objetivo precisa ser "dominação do ambiente", que é apenas violação do ambiente, procede
alguma coisa menos desprezível do que posições de êxito e respeito. Não rapidamente, e os piores ultrajes — dada a natureza dos valores
há Prêmios Nobel espirituais. materialistas, são irreversíveis e inalteráveis. Em termos humanos, a
Para surgir uma tal civilização, dois requisitos precisam ser violação é um crime. Por que não o ser, em termos cósmicos?
cumpridos. Primeiro, a massa dos homens precisa tornar-se E no entanto inconcebível que o século deva ser seguido por um
completamente desiludida não apenas do materialismo como tal, mas vigésimo primeiro que não passe de uma grotesca extensão do anterior. E
também dessas tolas palavras de ordem: reforma e revolução. parece-nos que apenas duas possibilidades permanecem abertas: a
Segundo, um indivíduo ou um grupo de indivíduos precisa aparecer humanidade encara o holocausto sem a redenção conferida pela revigoração
conduzindo a autoridade interna que compele os homens a livremente e restauração do saber tradicional — resultando num barbarismo irrefreado;
pagar vassalagem a uma doutrina que requer a aceitação da ou nós encaramos o mesmo holocausto, mas somos guiados através dele por
responsabilidade pessoal por seus atos e pensa-mentos e mesmo por suas líderes espirituais capazes de fundar uma civilização sobre as ruínas.
emoções. Em outras palavras, indivíduos como Buda ou Cristo. No entanto, a verdadeira natureza física do holocausto permanece uma
conjectura. Talvez não haja a Bomba, ou o Inseto, ou a Morte Negra, mas as
Se essa última condição soa pouco provável, podemos apenas dizer maldades menores da guerra convencional, o colapso moral total e as
que em tempos passados, sob condições de tamanha bancarrota espiritual desordens civis de larga extensão (28) .
quanto a de hoje — embora menos ajuizada fisicamente — apareceram Qualquer que seja o caso, é auto-indulgência insistir demais no caso.
esses líderes, e de certa forma, representaram a queda do barbarismo. A Nós não podemos fazer nada. Tudo que podemos fazer é reconhecer nossa
possibilidade não deve ser afastada. própria posição.
Mas prever-se um Messias é um risco, o futuro do materialismo não é E bastante claro que as coisas precisam piorar muito antes de
risco menor. Homens são homens, os valores são eternos, e qualquer melhorarem. E igualmente claro que para a imensa maioria não há
sistema de pensamento ou de governo que não for baseado num esperança. Empoleirados defronte de seus aparelhos de televisão,
reconhecimento de nível e da necessidade do homem de transcender a si acreditando em tudo que lêem nos jornais, eles são arrastados pela corrente.
mesmo está destinado a produzir o descontentamento das massas. Mas conforme o passo se aperta, e a situação fica mais tola e mais sinistra,
A universalidade das taxas crescentes de divórcio, suicídio e parece igualmente que uma minoria crescente compreenderá que, não muito
insanidade, a insatisfação universal e o fastio para com o trabalho longe, as serpentes esperam, e que a atividade própria da humanidade é uma
insensato e o descanso igualmente insensato engendrados pela tecnologia, luta contra a corrente em direção das nascentes.
a assim chamada "revolução sexual" (que não tem quase nada a ver com o Essa minoria pode muito bem levantar as relações provadas entre os
sexo, mas é simplesmente um caminho para sair da apatia engolfaste e fenômenos terrestres e os celestes — e a inabilidade total do materialismo
sem sentido da vida moderna), as qualidades indiretas mas intensas das para explicar esses fenômenos — como ao menos uma oportunidade de
revoltas estudantis por sobre todo o mundo, tudo atesta a falência total do repudiar o materialismo e tudo o que ele afirma. Tendo repudiado o
materialismo. Mesmo paliativos antigamente seguros, como a guerra, materialismo, torna-se então menos difícil encarar as implicações atrás
dessas relações e correlações
patriotismo e educação perderam seu sabor.
físicas, que por sua vez podem conduzir a uma visão dos problemas APÊNDICE I
cruciais de livre arbítrio, nível e tempo. Neste ponto, se não nadando
contra a corrente, ao menos olhando na direção certa, esses indivíduos, de
acordo com suas capacidades e inclinações, facilitarão o estudo, A Querela dos Egiptólogos
divulgação e aceitação
da astrologia, como parte de um redespertado interesse geral pelos valores Em 1949, o aparecimento do primeiro livro de R.A. Schwaller de
e ensinamentos tradicionais. Lubicz, Le Temple dans l'Homme, causou uma espécie de tumulto dentro
Quanto mais provas são acumuladas, mais atenção se dá à astrologia, e dos altamente especializados círculos de egiptologia.
mais estudantes ela atrai. Daí, maior será a frustração do materialismo, Embora normalmente uma disputa tão sábia não fosse de molde a
mais garantida a sua necessária queda, e mais esperançosamente perto & encontrar caminho entre o público, essa provou ser uma exceção.
perspectiva de uma nova e Durante anos, enquanto trabalhavam em Luxor e Karnak colecionando
genuína civilização na qual o homem compreenda que não foi criado para provas para sua nova interpretação simbolista da tradição egípcia, de Lubicz
comer maçãs. e sua equipe tiveram oportunidade de exibir sua evidência e explicar seu
Se uma tal civilização surgisse, não pode haver dúvida de que uma ponto de vista em primeira mão aos visitantes.
astrologia ressuscitada e refinada desempenharia um papel de um valor Entre esses estava André Rousseaux, eminente crítico literário francês.
incalculável dentro dela; num nível puramente utilitário e benthamita na Rousseaux tinha-se tornado um firme advogado da interpretação simbolista e
medicina, na lei, na economia, na educação e na psicologia, e num nível tinha acompanhado a disputa dos sábios bem de perto. Finalmente,
refinado e simbólico na religião, na ciência, na arte e na filosofia. enraivecido com o tratamento que recebiam a nova doutrina e seus porta-
Olhados propriamente, esses são os pilares da sabedoria que tratam, vozes por parte do establishment egiptológico, ele colocou seu ponto de
respectivamente, da alma, do corpo, das emoções e do intelecto do homem, vista diante do público não especializado da revista literária Le Mercure de
na forma de sua relação com a terra e com a hierarquia do céu e numa France (julho de 1951).
civilização em que a religião, a ciência, a arte e a filosofia não fossem as Como filósofo e orientalista, o próprio de Lubicz não tinha acesso nos
charadas mutuamente excludentes que são hoje em dia, podia bem ser a jornais especializados em egiptologia, mas por vários anos o caso simbolista
astrologia o laço ou mediador entre elas, ao mesmo tempo arte científica e tinha sido defendido profissionalmente por Alexandre Varille, arqueólogo e
filosofia sagrada; um abelhudo legítimo nas conversas dos deuses. egiptólogo muito qualificado que, como muitos outros, tinha-se convencido
da validade da nova interpretação — mas que, ao contrário dos outros,
arriscara sua carreira para apoiá-las abertamente.
Então, concentrando-se na contínua batalha entre Varille e o campo
ortodoxo, Rousseaux explicou brevemente a visão simbolista e sua
importância potencial para o futuro do pensa-mento ocidental, e, sustentando
suas afirmações com excertos de numerosas cartas e documentos, afirmou
que:
1. Embora Varille aderisse rigorosamente a cada convenção escolástica;
apesar de apresentar as provas a favor da interpretação simbólica; embora a
evidência por ele apresentada fosse de fato inatacável, ele era, não obstante,
refutado pelos egiptólogos
ortodoxos como "fantasista". Finalmente, a justificação para a sua Os dois eruditos insistiam principalmente que não havia querela real (o
refutação era a de que todos os outros egiptólogos concordavam que ele era artigo de Rousseaux chamava-se A Querela dos Egiptólogos) desde que
um fantasista, enquanto que ele era apenas um — argumento usado por todos os egiptólogos reconheciam que Varille estava errado. E Drioton
espíritos científicos semelhantes séculos mais cedo para condenar Galileu. notou aprovativamente a "frente comum de silêncio" erigida pelos
2. Varille insistia que de Lubicz e os simbolistas tinham descoberto egiptólogos para responder ao ataque simbolista, novamente apelando para
provas que demonstravam que a egiptologia, como era correntemente a unanimidade de opinião como uma evidência da falta de solidez do
praticada, precisava de uma revisão total. Não é que os egiptólogos argumento contrário.
estivessem especificamente errados, mas é que eles estavam apenas Além disso, levantava um bom número de objeções egiptológicas ao
arranhando a superfície. recente artigo de Varille, e concluía recusando o convite de Rousseaux para
Textos que, quando decifrados, pareciam ilógicos e inconsistentes — o encontro em Luxor, afirmando que os egiptólogos tinham muitas coisas
sendo esse caráter de incoerência atribuído aos autores do texto — importantes a fazer além de perder seu tempo viajando ao Egito para
subitamente, quando interpretados do ponto de vista simbólico, faziam um desacreditar um punhado de mentiras. Entretanto, sugeria que se os
sentido perfeito dentro de uma consistente visão do mundo, que tinha laços simbolistas tomassem cuidado ao apresentar seu caso, seriam bem-vindos a
óbvios com as tradições hindu, cristã e outras. Istambul ou a Amsterdã, cenário de próximas convenções arqueológicas,
Logo, Varille afirmou que os textos egípcios não podiam ser nas quais poderiam discutir o assunto.
meramente decifrados e examinados do ponto de vista da escolástica Foi então dado a Varille espaço — negado nos jornais eruditos — para
moderna; antes, tinham de ser interpretados e compreendidos no espírito responder às objeções ortodoxas ponto por ponto. E, finalmente, ele
em que foram imaginados. Era necessário pensar egípcio. declinou o contra-convite para ir a Istambul ou a Amsterdã, declarando que
Isso, diziam os especialistas, era absurdo, desde que textos desse tipo nem as ruínas egípcias holandesas nem as ruínas egípcias turcas eram
eram corretamente decifrados pelos sábios, e não revelavam nenhuma lugares próprios para a confrontação ao vivo que os simbolistas tinham
necessidade de interpretação. tentado realizar.
3. Finalmente, Rousseaux afirmava que os jornais arqueológicos Desafortunadamente, quando esse segundo artigo apareceu na
repetidamente se recusavam a publicar as dissertações de Varille, e que imprensa, Varille tinha sido morto num acidente de automóvel, perdendo os
estas eram submetidas a um processo padrão, pelo qual Varille era acusado simbolistas seu principal porta-voz oficial.
de falhar ao tentar produzir evidências na sustentação de sua causa.
Tanto quanto sabemos, nenhuma atenção maior foi prestada às idéias
Rousseaux citava certas críticas específicas que suprimiam as respostas de de Lubicz até que o maciço Temple de l'Homme, em três volumes,
de Varille — o que, para alguém de fora, parecia muito convincente. E apareceu em 1958 (a edição quase inteira do Temple de l'Homme foi
Rousseaux concluía sugerindo que, em vista da importância potencial do destruída num terremoto).
estudo da egiptologia, fosse arranjada uma confrontação em Luxor, onde se Novamente, André Rousseaux trouxe o assunto à atenção do público
encontrassem especialistas em vários campos do estudo egiptológico — no trimestral literário e filosófico Les Cahiers du Sud (n.° 358), novamente
arquitetura, hieróglifos, arte — revendo a evidência em primeira mão, e se sumarizando a interpretação simbolista, mas dando desta vez a descrição
possível, desacreditando-a. seguinte — de particular interesse para a astrologia:
Esse artigo provocou furiosas contestações de dois eminentes
egiptólogos, o senhor Étienne Drioton, diretor-geral do Serviço Francês de Os monumentos egípcios, quando eram a emanação viva da humanidade faraônica,
manifestavam um completo jogo de correspondência com os ritmos da natureza, e
Antiguidades Egípcias (e o alvo de muitas das críticas de Rousseaux), e o especialmente com o ritmo soberano e ordenado escrito nos corpos celestes. Assim, a
senhor Jean Sainte-Fare Garnot, diretor de estudos da Escola Prática de primeira coisa que deve ser dita de um templo egípcio, com a intenção de atingi-lo
Altos Estudos. completamente, é que se trata de um monumento à imagem do céu: não por vagas alusões,
mas por laços precisos com os períodos astronômicos, e em rigorosa harmonia com as
revoluções astrais.
Entre as pessoas que contribuíram para esse artigo estava Arpag
Mekhitarian, secretário da Fundação Egiptológica Rainha Elizabeth (de ... Aqui novamente, encontramos a referência a uma famosa concepção egípcia, a da
Bruxelas), o único egiptólogo ortodoxo a violar a "frente comum de Divindade Hermopolita, composta de quatro pares de divindades representando as diversas
silêncio", de tal maneira que a opinião de Mekhitarian pode ser de bom formas que o caos assume entre a tomada de consciência e começo da diferenciação, de onde
emerge o Criador Sol, na forma de um infante saído do lótus (1).
grado olhada como possuidora de um peso particular.
... cada um de nós (egiptólogos ortodoxos), dentro da pequena esfera de sua
Que os mitos egípcios representam a gênese consciente do universo, e
especialidade, precisa ter a coragem de verificar, em campo se necessário, as afirmações feitas que os mitos, deliberadamente e em pleno conhecimento, descrevem a
pelo senhor M. de Lubicz, e ele precisa pedir a ajuda de colegas e técnicos capazes de lhe prevalência da unidade na multiplicidade, são pontos centrais da
darem alguma luz em domínios que lhe estão formalmente fechados; acima de tudo, ele interpretação simbolista do Egito, e bastante estranhos à concepção
precisa não rejeitar a priori como inconcebível o que excede a sua compreensão. ortodoxa, que olharia isto tudo como contos de fadas fabricados por
... o simbolismo do senhor Schwaller de Lubicz não é uma simples e pessoal
interpretação dos fatos, mas conclusões levantadas de evidência precisa e objetiva, que até sonhadores em torres de marfim.
agora escapou da perspicácia dos egiptólogos. De Lubicz escreve:

Isso parece bastante claro. Mas seguindo a publicação de Le Temple de Admitindo uma causa-origem de todo o universo, isso é de necessidade única...
A Criação se realiza portanto completamente através dos números Um e Dois; e a
I'Homme, nenhum outro egiptólogo esposou abertamente o ponto de vista dualidade será a característica fundamental do Universo criado... A unidade cria por "olhar a
simbolista, ou (aparentemente) deu ouvidos ao conselho do senhor si própria"...
Mekhitarian. Entretanto, a morte de Schwaller de Lubicz, de sua esposa e de Nós podemos chamar essa unidade Deus, ou energia despolarizada... a unidade é
Clement Robichon (arqueólogo e arquiteto que, juntamente com Varille, indivisível, o Deus Criador... a unidade é consciente de si própria.
tinha status universitário) afetou o trabalho mais concentrado em campo. A O universo é, dessa maneira, apenas consciência, e o presente, em todas as suas
aparências, apenas uma evolução de consciência, de sua origem ao seu fim, que é o retorno à
pesquisa é conduzida pela senhorita Lucie Lamy, enteada de de Lubicz, e origem. O alvo de toda religião iniciática é ensinar o caminho que conduz a essa última
por uns poucos indivíduos espalhados. fusão (2).
Aparentemente, pode parecer que a "frente comum de silêncio" foi Um outro egiptologista declara:
efetiva, e que, protegidos atrás dela, os egiptólogos ortodoxos sentiam-se
livres para citar as construções vacilantes de Wheeler, Borchardt, et al. como Através desse longo exame tentei enfatizar que há razão e sistematização em toda a
decoração egípcia.
"autoridades", continuando as pesquisas nesse Egito de materialistas Parece-me cada vez mais claro que, para os egípcios, todos os elementos de um desenho
primitivos que produziram todas essas obras-primas sem ter uma idéia clara têm um valor e um sentido implícito. Obviamente, precisamos tomar cuidado com uma
de vida no além. Mas há uma indicação de que os labores dos simbolistas supersutilização, botando em nossas interpretações mais ingenuidade que os egípcios tiveram
não passaram completamente despercebidos. E que, ao menos na França, em mente. Mas seu desejo de dar a um desenho um significado e uma eficácia tão grande
quanto possível é tão freqüentemente aparente que me parece necessário olhar nos menores
sem mencionar de Lubicz ou reconhecer um débito ao ponto de vista detalhes para chegar a uma compreensão de suas intenções (3).
simbolista, mascaradas com a ortodoxia de linha dura, noções com cores
simbolistas estão começando a aparecer em jornais e livros de egiptólogos, Esse é, precisamente, o ponto que foi enfatizado a vida toda por de
onde são coletados pela senhorita Lamy, e comparados com as passagens Lubicz, Varille e os simbolistas e tão freqüente quanto ardentemente negado
relevantes do trabalho de Schwaller de Lubicz, onde tiveram a sua inspiração pelos egiptólogos ortodoxos. E portanto de particular interesse que o senhor
consciente ou inconsciente. Lacau, autor do parágrafo acima, estivesse entre os mais veementes
Embora freqüentemente técnicas e complicadas e, tiradas do contexto, inimigos da interpretação
difíceis de entender, é no entanto claro que, trabalhando com pontos de vista
ortodoxos, passagens como a seguinte seriam impossíveis. (Citamos apenas
dois dos 15 de tais empréstimos que nos foram fornecidos pela senhorita
Lamy, que por sua vez os selecionou de uma coleção muito maior.):
APÊNDICE II
simbolista, quando dela se falou pela primeira vez, há 20 anos.
Nossos outros exemplos são igual e obviamente derivados de um
conhecimento da interpretação simbolista. Mas o que é interessante não é
que as idéias de de Lubicz estejam sendo utilizadas sem que ele seja Gêmeos de Tempo
reconhecido como fonte, mas que essas idéias estejam sendo infiltradas em
jornais oficiais com aparente boa fé, como ortodoxia. O mais famoso gêmeo de tempo era Samuel Hemming, que nasceu na
Daqui será mais intrigante seguir o futuro do trabalho de de Lubicz. Sem mesma hora do mesmo dia em que nasceu o Rei George III, da Inglaterra (4
nenhuma ilusão quanto à sua importância potencial, ele estava, naturalmente, de junho de 1738).
relacionado não com o reforço da egiptologia como tal, nem com o Hemming e George III pareciam-se muito e suas vidas corriam
polimento da imagem dos construtores desaparecidos dos templos e paralelamente, embora nos níveis respectivos. Hemming estabeleceu-se no
pirâmides, mas antes com o oferecimento da chave para uma tremenda, negócio de ferragens no dia em que George sucedeu no trono. Ambos
coerente e válida doutrina, cujo estudo poderia permitir que pelo menos os tinham-se casado no dia oito de setembro de 1761, ambos geraram o mesmo
engajados nela se libertassem da esterilidade, estupidez e falácia do número de crianças do mesmo sexo, ambos ficaram doentes e tiveram
materialismo que hoje em dia torna este país inabitável. acidentes ao mesmo tempo, e ambos morreram no dia 29 de janeiro de 1820
"A egiptologia pode ser uma profissão para escavadores e saqueadores por motivos semelhantes.
de túmulos, ou pode-se tornar a mais maravilhosa fonte de conhecimento A vida do dissoluto George IV também se espelhou na vida de um
para um mundo a vir", declarou de Lubicz. plebeu gêmeo de tempo, nascido na mesma hora. Esse homem, embora
"Dependerá da coragem da juventude (4) ... e — nós somos compelidos tivesse se tornado um humilde limpador de chaminés, era — a seu nível e
a ajuntar — da convicção de que uma tal egiptologia é de fato possível, o dentro do seu próprio círculo — igualmente renomado como jogador,
que, sob as condições presentes, pareceria requerer tanta sorte quanto namorador e gastador, e ambos eram adeptos das corridas. O príncipe corria
coragem." com puro-sangues e o outro com velozes burros de raça. No dia em que o
príncipe foi escoiceado por um cavalo, seu gêmeo foi escoiceado por um
burro, e ambos ficaram incapacitados pelo mesmo .espaço de tempo.
Quando um foi à bancarrota, seu gêmeo também faliu.
Duas mulheres sem relações, ambas chamadas Edna, encontraram-se
pela primeira vez em um hospital de Hackensack, em Nova Jérsei. Ambas
tinham nascido no mesmo dia e estavam no hospital para o primeiro parto.
Suas crianças nasceram com uma diferença de uma hora, e ambas tinham,
previamente, recebido o nome de Patricia Edna. Ambas estavam casadas
com homens chamados Haroldo, que tinham ambos nascido no mesmo dia.
Ambos estavam no mesmo negócio, tinham a mesma marca, modelo e cor
de automóvel. Ambos os casais tinham-se casado no mesmo dia. Ambas as
mulheres tinham o mesmo número de irmãos e irmãs e praticavam a mesma
religião. Ambas as famílias tinham um cachorrinho chamado Spot.
Um homem chamado Patrick O'Connor tinha sido preso e detido numa a outra. Não apenas elas eram notavelmente parecidas fisicamente, mas
prisão do exército, acusado de deserção. Levou quatro ou cinco dias para que partilhavam os mesmos gostos e idiossincrasias. Ambas vinham de família
as autoridades descobrissem que embora tivesse nascido no mesmo dia, de cinco crianças. Ambas tinham pais com tarefas parecidas no mesmo
tivesse o mesmo Número de Seguro Nacional, as mesmas obturações e a aeroporto.
mesma cicatriz de operação que servia para identificar o desertor, ele não era
de fato este homem — que naturalmente também se chamava Patrick O Rei Umberto da Itália foi apresentado a um proprietário, notando sua
O'Connor. semelhança com ele. Depois de investigar, soube-se que o Rei e o
proprietário tinham nascido no mesmo dia, na mesma hora e tinham-se
Depois da morte de Rodolfo Valentino, os produtores de cinema casado com mulheres do mesmo nome, e ambos tinham um filho chamado
começaram a procurar alguém que se parecesse bastante com ele para poder Vittorio. O proprietário tinha entrado nos seus negócios no mesmo dia em
tomar seu lugar. Encontraram três; e um deles era um italiano, Giordano que o Rei assumira o trono.
Venturini, nascido na mesma região que Rodolfo e no mesmo dia que ele. O Rei então soube que o proprietário tomaria parte num torneio de tiro
no qual ele daria os prêmios; e expressou seu desejo de novamente
Em Nova Iorque, um fabricante de móveis chamado Richardson encontrar-se com seu sósia.
encontrou um homem que se parecia muito com ele. Esse homem nascera na Mas quando chegou a hora, o Rei soube que o sósia morrera ao limpar a
Itália, e era do mesmo dia que Richardson. Quatro anos depois de se terem arma. E antes de poder ser levado à cena do desastre o próprio Rei foi
encontrado, Richardson foi atropelado por um carro, e dois dias mais tarde assassinado por um anarquista.
morreu. Em outra parte da cidade, Negrelli também tinha sido atropelado por
um carro, e embora isso tivesse sido duas semanas mais cedo, tanto Seria possível documentar várias centenas de casos desse tipo. Mas
Richardson quanto Negrelli morreram no mesmo dia em conseqüência dos continuar ouvindo-os seria cansativo, e não provaria nada do ponto de vista
ferimentos. científico. Os astrólogos, no entanto, insistem em que a documentação é
agora suficientemente forte para provocar o interesse dos espíritos
As chapas 11 e 12 falam por si próprias. Hahn e Einstein, ambos científicos. Os astrólogos confiam que uma pesquisa de larga escala provaria
nascidos no dia 14 de março de 1879, foram grandes físicos. James Stephens sem margem de dúvidas que os casos de gêmeos de tempo não são
e James Joyce, ambos nascidos às seis horas da manhã do dia dois de atribuíveis à coincidência e que portanto pode-se prever a repetição de
fevereiro de 1882 (para um astrólogo, o ascendente de Capricórnio é semelhanças físicas e psicológicas. Isso seria particularmente interessante
particularmente óbvio), foram, ambos, famosos por atenção quase obsessiva para os estudos do problema dos níveis.
para com a linguagem.

Beniamino Gigli e Lauritz Melchior (chapa 13), ambos grandes tenores,


nasceram em 20 de março de 1890. Ambos eram membros da Companhia
Metropolitana de Nova Iorque.

Joyce Ritter e Jean Henderson (chapa 10) vieram ambas viver em Nova
Iorque com a idade de seis anos. Desde esse tempo, não apenas seus
professores, mas também seus pais tinham dificuldade em reconhecê-las.
Ambas tinham nascido na mesma enfermaria com cinco minutos de
diferença de uma para
NOTAS
Nenhum desses últimos foi traduzido para o inglês. Os três volumes do
Introdução
Temple de I'Homme, chave para o resto, são devidos a seu tamanho e
1. Paul Ghalioungui, Magic and Medical Science in Ancient mercado restrito, de um preço proibitivo para um leitor médio e só se
Egypt, Hodder and Stoughton, 1963, pág. 36. encontram os livros nas grandes bibliotecas públicas.
2. Paul Couderc, L'Astrologie, Que Sais-je?, 1952 Há, no entanto, dois livros da falecida senhora Ischa Schwaller de
Lubicz, Herbak-Chick Pea, Hodder and Stoughton, 1953, e Her-bak,
Primeira Parte: História e Técnica Disciple, Hodder and Stoughton, 1961, em que se tenta explicar a sabedoria
1. Chamber's Encyclopaedia, 1966 egípcia dentro da narrativa de uma novela. Mas esses livros podem ser
2. Arthur Koestler, The Sleepwalkers, Hutchinson, 1968, págs. 19- considerados apenas como sucessos parciais; os ensinamentos egípcios
20 falavam em transmigração, mas os egípcios atuais, que supostamente
3. Em lugares diferentes, em tempos diferentes, o zodíaco foi herdaram a tradição, não o fazem. Talvez seja impossível chegar bastante
dividido de outras maneiras: às vezes em 8, 16 e 20 setores. A divisão em perto dos antigos egípcios para retratá-los como caracteres vivos em terceira
12 signos foi a que prevaleceu no Ocidente, mas isso não significa dimensão; entretanto, a senhora Lubicz teve o grande mérito de tornar
necessariamente que os outros meios de divisão estejam errados, ou que acessíveis idéias difíceis e obscuras, torná-las mesmo divertidas.
todos estejam errados. Antes, isso depende dos significados dados às 10. Certos físicos, p. ex. Eddington, Schroedinger, de Broglie,
divisões. parecem estar inclinados a uma visão deste tipo; está implícito no trabalho
4. Nós devemos a J. G. Bennett essa ilustração. Ver The Dramatic do neurologista J.C. Eccles etc.
Universe, Hodder and Stoughton, 1956 (especialmente volumes I e II),
para uma discussão dos significados dos sistemas, e as relações entre eles. 11. As catedrais góticas e os templos do Oriente são construídos sobre
5. Rudolf Hauschka, The Nature of Substance, Stuart and Watkins, princípios semelhantes, mas parece que sob condições que não permitem
1966. uma comparação direta com os egípcios. Os egípcios não construíram para
produzir monumentos. Sua arquitetura era a realização de um sacramento
6. Robert Eisler, The Royal Art of Astrology, Herbert Joseph, perpétuo; um rito consciente e deliberadamente assumido, empreendido
1946. sobre a compreensão de que isso era tão essencial para o bem-estar do
7. Citado por Paul Ghalioungui, op.cit., pág. 47. espírito quanto o processo análogo de comer o era para o corpo.
8. I. E. S. Edwards, The Pyramids of Egypt, Penguin Books, pág.
52. Os autores também foram informados de que a música sagrada no
9. Le Temple dans l'Homme, Le Caire, Cairo, 1948. Essa edição, Oriente foi composta sobre princípios astrológicos, para produzir um
que tencionava ser a primeira de um trabalho maior, foi quase toda calculado efeito artístico, mas não conseguimos encontrar nada de positivo
destruída por um terremoto. sobre o assunto.
12. A Regra do Ouro, normalmente representada por Φ , é expressa
Le Temple de l'Homme, Caracteres, Paris, 1958, 3 Vols. Essa é a pela fórmula Φ = 0,6103398 e preocupou por muito tempo o espírito dos
obra-prima na qual de Lubicz apresenta o saber matemático, artístico, artistas, arquitetos, naturalistas e muitos outros, uma vez que é normalmente
arquitetônico, astronômico e esotérico do antigo Egito. As implicações considerada como reguladora das proporções da maior parte das artes e da
sociais e filosóficas desse saber foram discutidas em: Le Roi de la natureza. Plantas e conchas marinhas crescem de acordo com padrões
Théocratie Pharaonique, Flammarion, 1961; e em Le Miracle descritíveis por Φ ; a arquitetura gótica, egípcia e hindu são também
Égyptien, Flammarion, 1963 (publicado postumamente). Schwaller de apresentadas por Φ , assim como sua arte. De acordo com de Lubicz,
Lubicz apresentou um resumo mais ou menos acessível da tradição Φ representa a cisão primordial da unidade dentro da multiplicidade. De
egípcia. acordo com outros sábios contemporâneos, sua aparência
ubíqua é uma "coincidência" (R. Harré, The Anticipation of Nature,
Hutchinson, 1965, pág. 80). Ver a bibliografia. 24. Ver E. T. Bell, The Magic of Numbers, McGraw-Hill, 1946, para
13. R.A. Schwaller de Lubicz, op.cit., vol. I, pág. 637. uma interessante, embora emocionalmente inconsistente, explicação do
14. I.E.S. Edwards, The Pyramids of Egypt, Penguin Books, edição neopitagorismo na ciência.
revista, 1961. Otto Neugebauer, The Exact Sciences in Antiquity, Brown 25. Franz Cumont, Astrology and Religion among the Greeks and
University Press, 1957. Romans, 1912, Dover Edition, págs. 30-31.
15. Principalmente, Antoniadi, L'Astronomie Égyptienne. 26. Robert Eisler, The Royal Art of Astrology, Herbert Joseph, 1946,
16. P. Ghalioungui, op.cit., pág. 47. pág. 166.
17. Otto Neugebauer, op.cit., pág. 171. 27. Neugebauer and Van Hoesen, Greek Horoscopes, American
18. The Reports of the Magicians and Astrologers of Nineveh and Philosophical Society, vol 48, 1959.
Babylon, ed. R. C. Thompson, Luzac, 1900. 28. Neugebauer and Van Hoesen, op. cit., pág. 177.
19. W. A. Irwin, The Problem of Ezekiel, Chicago, 1943. 29. E, no entanto, astrologicamente difícil acreditar que o tremendo
20. Kugler, Sybillinischer Sternkampf und Phaethon in natur- ímpeto de energia exigido para a construção das catedrais, e a ênfase súbita
geschichtlicher Beleuchtung, Münster, 1927. no elemento da Cristandade simbolizado pela Virgem Maria apenas
21. Immanuel Velikovsky, Worlds in Collision, Doubleday, 1950; aconteceram. O mesmo surto de energia foi igualmente avaliável para os
Ages in Chaos, 1953; e Earth in Upheaval, 1956. bárbaros que partiram em suas cruzadas.
22. The Velikovsky Affair, ed. Alfred de Grazia, Sidgwick e 30. Continuamos supondo que é de fato possível extrair informações
Jackson, 1966. Essa coleção de ensaios do The American Behavioural psicológicas e outras a partir exclusivamente da hora do nascimento.
Scientist discute a reação às teorias de Velikovsky, e a subseqüente 31. Mais tarde, veremos Robert Eisler ridicularizar a explicação
justificação de pelo menos algumas das suas idéias. ptolomaica sobre o funcionamento da astrologia, tentando, através de
explicação idêntica, provar o seu não-funcionamento. E, como interessante
Um pouco repetitivo como livro, e por fim conseguindo explicar a dado marginal, vale a pena mencionar que a Encyclopaedia Britannica, 14.a
inquisição acadêmica em termos da ciência de comportamento — em vez da edição, é tão solícita para com os sentimentos dos modernos leitores que
psicologia do pedantismo — The Velikovsky Affair é, no entanto, um evita citar Ptolomeu como astrólogo — embora, tanto quando se saiba, em
documento social da maior importância. relação ao Ocidente, ele seja o maior astrólogo que já viveu. E como
23. Se é possível refutar a teoria de Velikovsky sobre Vênus, sua escrever um livro sobre Édipo, e, por razões de delicadeza, evitar falar das
maior afirmação, de que acontecimentos de natureza extraterrestre estreitas relações familiares que ele mantinha.
causavam catástrofes na Terra, permanece forte. Várias teorias bastante 32. Ptolemy's Tetrabiblos, traduzido da paráfrase grega de Proclus
plausíveis começam a surgir. Nenhuma conseguiu explicar por J. M. Ashmand. Reimpresso por Foulsham, 1917, págs. 198-200.
satisfatoriamente o cinturão de asteróides que circula entre Marte e Júpiter. 33. "As pessoas adaptavam suas vidas às predições astrológicas...
Pensa-se que são os restos de um antigo planeta que explodiu. Não há nada Submeter-se à astrologia intelectualmente significava uma absoluta
que diga que esse planeta tenha explodido há muito tempo. E uma submissão ao destino. Os adeptos discutiam se havia ou não algum livre
expedição oceanográfica conduzida pelo professor M. W. Ewing, da arbítrio." C.A. Burland, The Magicai Arts, Arthur Barker, 1966, pág. 70.
Universidade de Colúmbia, encontrou uma camada de cinza vulcânica no 34. Isso é apenas um abuso do princípio no qual se baseia o I Ching.
leito do mar, tão compacta, que não pode ser explicada em termos de Esse livro chinês de oráculos incorpora muitos dos princípios da astrologia
atividade vulcânica terrestre. Ewing pensou que isso só podia ser explicado na interação de dualidades e triplicidades dentro do Hexad. O I Ching atraiu
por um cometa que tivesse passado muito perto da terra, deixando uma no passado muitos dos grandes pensadores da China, entre eles Confúcio,
grande chuva de lava atrás de si. Velikovsky afirma que esse cometa era que é principalmente responsável pela versão hoje conhecida por nós. Jung,
Vênus. Não é necessário que tenha sido, mas cinza vulcânica é sempre recentemente,
cinza vulcânica, e se a Terra não a pode ter produzido, ela deve ter tido
alguma outra origem
esteve muito preocupado com ela e escreveu uma introdução para a famosa 40. Colin Ronan, Changing Views of the Universe, Eyre and
tradução de Richard Wilhelm. E nós nos lembramos de ter lido há alguns Spottiswoode, 1966, pág. 97.
anos no New Yorker sobre dois físicos chineses, ganhadores do Prêmio 41. Johann Kepler, On the New Star in the Foot of the Serpen-
Nobel, que admitiram com bastante despreocupação que consultavam o I tarium, Chapter VIII, pág. 33.
Ching, e não apenas como jogo de salão. 42. Johann Kepler, De Stella Nova, cap. 28.
35. Há, no entanto, um ponto astrológico nos Escritos Herméticos, 43. Mark Graubard, Astrology's Demise and Its Bearing on the
que é de grande interesse. Uma objeção comum aos astrólogos é a de que, Decline and Death of Beliefs, Osiris, 1958, pág. 230.
mesmo garantindo a possibilidade de influência astral, o momento 44. Benjamim Farrington, Encyclopaedia Britannica, 1967.
importante devia ser o da concepção, e não o do nascimento. Os 45. Parte do Mysterium Cosmographicum de Kepler (no qual ele
compiladores dos Escritos Herméticos estavam bem atentos ao problema, explorou pela primeira vez essas relações) está traduzido para o francês em
e há fórmulas atribuídas ao legendário autor dos textos, Hermes Trismegisto Le Miracle Égyptien, de R.A. Schwaller de Lubicz. Neste livro, e em Le
(Hermes ferido três vezes), às quais se atribuía a determinação, baseada no Temple de I'Homme, ele discutiu prolongadamente o complexo assunto do
horóscopo do nascimento, do verdadeiro momento da concepção. Através significado das várias relações harmônicas. De Lubicz chega a resultados
da longa história da astrologia, a importância desse horóscopo do momento semelhantes aos de Kepler em muitos aspectos, mas usando apenas as
da concepção foi muito discutida. Todos os astrólogos concordavam que matemáticas faraônicas.
esse momento devia significar alguma coisa. Alguns insistiram mesmo 46. Uma escola de astrólogos alemães contemporâneos alijou
sobre a exclusividade do horóscopo da concepção. Outros afirmavam (essa completamente a teoria das casas, mas dá grande ênfase às escalas
é a opinião da maioria) que o momento da concepção determina o que um harmônicas e aos ângulos duros, que está de acordo com as idéias de
homem herda de seus pais (concordando com a moderna teoria genética) Kepler.
mas que o momento do nascimento determina o caráter (muito discordante 47. Aubrey's Brief Lives, ed. Oliver Lawson Dick, Penguin Books
da moderna teoria genética). 1962, pág. 52.
36. A esfericidade da Terra e o heliocentrismo do sistema eram 48. "Até a publicação da teoria de Newton mostrando a falácia das
certamente conhecidos pelos egípcios, e quase certamente conhecidos pelos crenças sobre as quais estavam baseados os esquemas ou horóscopos
antigos chineses e hindus. Quando os jesuítas chegaram pela primeira vez à celestes, a astrologia foi uma das mais sérias tentativas de explicar o mundo
Índia (1595), a teoria de Copérnico não havia sido aceita pela Igreja, e os cientificamente." Oliver Lawson Dick, prefácio a Aubrey's Brief Lives.
jesuítas ridicularizavam as noções astrológicas e cosmológicas do pagão 49. Sir Harold Hartley, FRS, New Scientist, 11 de maio de 1967,
chinês — que afirmava que a Terra estava suspensa nos ares, não numa revendo The Mathematical Papers of Isaac Newton, vol. I, 1664-6.
esfera de cristal, e que circulava em torno do Sol. 50. Prever mortes e desastres para inimigos foi uma prática normal
dos astrólogos, que raramente viveram de acordo com os padrões de Lilly.
37. Os planetas e seus metais: Sol-ouro, Lua-prata, Mercúrio- Jerome Cardan (1501-76), médico, matemático e astrólogo, detestava
mercúrio, Vênus-cobre, Marte-ferro, Júpiter-estanho e Saturno-chumbo. Lutero e preparou sua hora de nascimento de maneira a lhe fazer predições
38. K. von Weizsäcker, History of Nature, Routledge, 1951, pág. 24. desfavoráveis — no caso de Cardan, uma ação psicologicamente valiosa,
39. Os instrumentos astronômicos de Brahe foram a primeira coisa desde que era famoso por um bom número de profecias notoriamente exatas.
que o recomendou à atenção do Imperador Rudolph II. Homem rixento e Uma lenda diz que no dia que tinha predito a própria morte, sentindo-se
beligerante, a certo ponto Brahe teve seu nariz cortado num duelo e usou. forte e bem disposto, cometeu suicídio para não falhar na predição... Mais
seu engenho técnico fazendo um nariz falso para si próprio. como uma questão de interesse, o grande sábio do Renascimento, Pico della
Mirandola, chamado o "flagelo da astrologia", morreu com a idade de 31
anos, como três astrólogos diferentes tinham predito. Mas, dadas as atitudes
de Pico para com a astrologia, era bem provável que os astrólogos da época e grandeza. Racialmente, mais uma vez a humanidade está tocando o ponto
se apressassem a predizer sua morte, e tão rápido quanto possível. Não máximo de seu círculo de movimento, daí o renascimento do tema das
sabemos quantos outros astrólogos além desses três tocaram no assunto. estrelas, em tudo que concerne à felicidade espiritual da política do corpo."
51. Ver Erich Heller, The Disinherited Mind, Meridian, 1959, para John Hazelrigg, Astrosophic Principies, Hermetic Publishing Co., Nova
uma excelente explicação desse aspecto da obra de Goethe. Iorque, 1917, págs. 11-12.
52. Citado por L. Kolisko, The Moon and Plant Growth, Infelizmente, esse é o tipo de prosa astrológica do começo do século. E
Anthroposophical Publishing Company, 1938. mais deprimente é que debaixo da ênfase cômica, Hazelrigg está
53. Enquanto a história do barbarismo é um livro aberto — reis e apresentando vários pontos cálidos (renascimento do interesse pela
conquistadores tomam medidas para perpetuar suas memórias — a história astrologia, etc... Se a astrologia pode sobreviver, os cientistas de um lado e
da civilização é bastante misteriosa. Ninguém sabe de onde vêm os os Hazelriggs do outro podem ser tomados como sinais do seu inesgotável
Evangelhos; ninguém sabe quem era professor de Plotino, Ammonius apelo emocional, se não de sua validade.
Saccas; o Islão não tinha nenhum místico até que de repente apareceram os 57. Ver a bibliografia.
sufis; as catedrais subiam no azul, construídas em proporções que não eram 58. Prediction, revista devotada à astrologia, quiromancia, ESP,
usadas desde o Egito, e assim por diante. espiritualismo, mágica e outros aspectos ocultos num nível popular, mas
54. Se o número eventual de planetas for além de 12, não é preciso apresentando às vezes aspectos interessantes, de um modelo mensal pelo
dizer, este esquema vai ter os mesmos problemas do modelo de sete qual Naylor pôde trabalhar durante algum tempo.
planetas. 59. As pesquisas de Krafft, mas não suas conclusões, interessaram
55. P. Spiller, Der Weltaether ais Kosmische Kraft, pág. 4; citado vários psicólogos proeminentes.
por H.P. Blavatsky, The Secret Doctrine, vol. II, pág. 232. 60. As ramificações dessa história são tais que é impossível condensá-
56. "Por causa do silêncio da astrologia por muitos anos, tornou-se la sem destruir sua qualidade fantástica. Os detalhes são expostos com
crença profunda dos mentalmente tímidos e dos convencionalmente perfeição elogiável, mas com pouco élan, por Ellic Howe, em Urania's
inteligentes, aqueles enamorados do dogma e da artificialidade, que ela Children, William Kimber, 1967.
tinha caído num desuso quase eterno. Alguns se gabavam de que a ciência a
esmagara completamente. Mas porque uma nuvem tinha momentaneamente Segunda Parte: Objeções
encoberto o sol, não é razão para se supor que tivesse apagado para sempre
a principal fonte de luz. Ninguém pode ser realmente acusado de esconder 1. News Review, 3 de agosto de 1939.
um raio de seu fulgor da glória do mundo. Basta uma olhada casual para os 2. Martin Gardner, Fads and Fallacies in the Name of Science,
corredores do tempo para notar como esse holofote espiritual ilumina Dover, 1957.
periodicamente a jornada humana. A astrologia é a mesma, embora a 3. Alfred Still, Borderlands of Science, Rider, 1964.
humanidade, impelida por uma lei recessional por sob o arco de sua 4. Encyplopedia Americana, 1957.
evolução, possa por algum tempo perder a consciência de sua divindade — 5. Daily Herald, 29 de setembro de 1938.
embora o sinal esteja ainda brilhando do zênite oposto — e assim acredite 6. Robert Eisler, The Royal Art of Astrology, Herbert Joseph, 1946.
ter totalmente banido do alcance da vista tudo que não for contingente. Mas 7. ibid., pág. 27.
imediatamente voltamos ao horizonte, e vejam!, lá no céu ainda brilha a 8. ibid., pág. 261.
estrela da Interpretação, sem dúvida um pouco estranha devido à nossa 9. ibid., pág. 187.
separação forçada, mas de maneira nenhuma menos brilhante em sua 10. ibid., pág. 144.
majestade 11. ibid., pág. 142.
12. ibid., pág. 142.
13. ibid., pág. 143.
14. Uma terceira conclusão é mais misteriosa: que reconhecidamente a
senhora Kolisko possa obter resultados, enquanto que outros, sob as cobriu, acertadamente, que não eram apenas o ascendente e o descendente
mesmas condições, não possam; o lendário polegar verde. Um artigo em que apareciam de maneira significativa, mas também o Meio-Céu e o Nadir;
em outras palavras, os quatro ângulos da astrologia tradicional.
McCall's, março de 1970, descreve uma experiência feita na Universidade
6. Les Hommes et les Astres, Denoël, 1960, pág. 16.
de McGill, na qual os cientistas aparecem em vias de comprovar o polegar
7. Astrologicamente, esta é uma das descobertas mais inte-
verde.
ressantes de Gauquelin. No final das contas os dois eram atletas, também;
15. Robert Eisler, op. cit., pág. 125.
sargentos são tão profissionais quanto generais; e um assistente de
16. ibid., pág. 54.
laboratório pode estar tão ligado à Ciência quanto um vencedor do Prêmio
17. "Há agora uma outra corrente parafísica de vanguarda: a corrente
Nobel. Que é que, astrologicamente, determina a diferença? Será possível
de pensamentos e idéias representadas pela palavra falada, escrita e
detectar a diferença em horóscopos individuais?
impressa — e pelas obras de arte... Isto natural-mente (grifos nossos)
8. De Michel Gauquelin, L'Astrologie Devant la Science,
cresce, envolve e brota novos ramos, como a corrente orgânica com a qual
Planète, 1966, pág. 166.
está relacionada..." Sir Alister Hardy, The Living Stream, Collins, 1965,
9. L'Astrologie Devant la Science, pág. 168.
pág. 40. A aplicação do princípio da evolução à história da arte, com vistas
10. De Michel Gauquelin, op. cit. pág. 172. Conforme Die
a explicar a arte moderna, é uma aplicação singularmente infeliz desse
Planetare Heredität (Zeitschrift für Parapsychologie und Grenzgebiete der
princípio.
Psychologie, parte V, n.° 2/3, 1962, págs. 168/93).
"Uma pessoa pode ler os velhos filósofos e desfrutar de um
11. ibid.
pensamento penetrante aqui e ali, sem muito estudo colateral." Vannevar
12. Esses resultados não constituem refutação bastante dos
Bush, Science Is Not Enough, William Morrow, 1967, pág. 164.
atributos tradicionais do signo solar. Um astrólogo esperaria ainda que um
18. Samuel Butler declarou: "Embora a analogia seja freqüentemente
nonagenário nascido em Leão, com um ascendente de Leão em conjunção
desencaminhadora, é o recurso menos perigoso de que dispomos."
com Júpiter, fosse uma expansiva personalidade leonina, enquanto que um
Notebooks; Música, Quadros e Livros, Pensamentos e Palavra.
nonagenário nascido em Capricórnio com um ascendente Capricórnio
19. Uma exceção era o falecido Prêmio Nobel de Física, Erwin
relacionado com Saturno deveria ser um duro Capricórnio. Mas esse
Schrödinger, What is Life, Cambridge, 1948.
princípio astro-lógico do signo solar parece quase impossível de ser isolado
20. New Scientist, 5 de setembro de 1968, pág. 478.
quantitativamente.
21. P.A.M. Dirac, Quantum Mechanics and the Aether, Scientific
13. Como a hora do nascimento não é dada na Inglaterra, nem
Monthly, LVIII, 1954, pág. 142.
no Quem É Quem, Addey não podia verificar as posições dos planetas m
Terceira Parte: A Evidência
relação aos ângulos, que justamente davam a Gauquelin os seus resultados.
1. Em La Tour St.-Jacques, n.° 4. Possivelmente, um estudo europeu de longevidade confirmaria mais os
2. Prediction, janeiro de 1955. resultados de acordo com a tradição.
3. Les Hommes et les Astres, pág. 16. (Mas encontrar 14. John M. Addey, Astrology and Genetics: Red Hair,
idiossincrasias nacionais seria apenas muito interessante, mas Astrological Journal, vol. X, n.° 3. Para o trabalho de Addey sobre os
nonagenários e as vítimas de pólio, ver "Research of a Scientific Starting
não sadia-mente astrológico.) Point", Astrology, vol. 32, n.° 3, e "The Discovery of the Scientific Starting
4. L'Astrologie Devant la Science, Planète, 1966, pág. 160. Point", Astrological Journal, vol. III, n.° 2.
15. Uma confirmação maior do trabalho de Addey só agora nos
5. O método de Gauquelin não é inteiramente satisfatório, de chegou, através de uma reinterpretação, em termos harmônicos,
um ponto de vista astrológico, e obscurece resultados que
podem aparecer quando os mesmos dados são estudados por
estatísticos com espírito científico. No entanto, Gauquelin
des
Pelo contrário, um astrônomo inglês — que permanece incógnito —
do material recolhido pelos sideralistas numa tentativa de mostrar a maior
validez do zodíaco Sideral sobre o Tropical. ridicularizou as estatísticas sem as ter visto, e logo em seguida os astrólogos
Addey mostra interessantes ondas nos mapas de 302 médicos tirados do americanos citaram esse inglês como uma autoridade.
Medicai Register of Great Britain. Addey considera um assunto de não 25. J. H. Nelson, Shortwave Radio Propagation Correlation with
pouca importância que nestes testes de grupos maciços — os médicos e os Planetary Positions, RCA Review, (EUA) março de 1951, vol. 12, págs.
padres— que são tradicionalmente aliados — ambos tentam tratar do homem 26/34; Planetary Position Effect on Short Wave Signal Quality,
—, as escalas harmônicas significativas são a 5.a, a 25.a a 125.a, ou 5, 52 e 53. Electrical Engineering, maio de 1952, vol. 71, n.° 5, págs. 421/4.
Esotericamente, 5 teve sempre um significado especial na Medicina e
sempre foi um número que simbolizava o homem microcósmico. O antigo 26. O espaço e a natureza genérica desse livro torna impossível discutir
símbolo egípcio para a alma humana era uma estrela de cinco pontas. o trabalho, objetivos e teorias da escola de Aalen; e porque a maior parte
Astrological Journal, outono de 1969. dos papéis permanece sem tradução, eles são apenas parcialmente
16. Aparentemente, Brown não fez nenhuma tentativa para conhecidos, mesmo dos astrólogos de países de língua inglesa. A escola de
correlacionar a atividade com ritmos planetários. Aalen é, no entanto, a única organização astrológica que conseguiu para si
17. Psychiatry and Journal of Social Therapy, julho de 1966. própria um pouco de respeitabilidade acadêmica.
18. John M. Addey, The Basis of Astrology II; Astrological Journal,
vol. IV, n.° 3. 27. R. Tomaschek, Kosmische Kraftfelder und Astrale Einflusse,
19. New Scientist, 7 de setembro de 1967. Tradition und Fortschritt der Klassischen Astrologic, Ebertin Verlag.
20. Nosso conhecimento do trabalho de Jonas é dado através de um 28. New Scientist, 25 de abril de 1968, pág. 160.
panfleto, The Moon Conception and The Sex of Offspring, publicado como 29. Em outras experiências, Piccardi descobriu que lâminas de
suplemento do Astrological Journal, vol. IX, n.° 4, por F. Rubin, MA, que diferentes metais colocadas sobre os vasilhames alteravam curso das
viajou até a Tcheco-Eslováquia para entrevistar o doutor Jonas. De acordo experiências químicas de diferentes maneiras. Não é preciso muita
com Rubin, que cita o doutor Jonas, seus estudos foram analisados por
lentes universitários, astrônomos e matemáticos da Universidade de Viena e imaginação para relacionar isso com as propriedades mágicas atribuídas a
declarados publicamente válidos; foram testados extensivamente pelas amuletos e pedras da sorte e outras crenças de pessoas primitivas e
autoridades tchecas, e, embora o Max Planck Institute de Heidelberg tenha supersticiosas.
requerido e recebido dados da clínica Pozsony, não sabemos quais foram 30. Ellsworth Huntington, Season of Birth, 1923.
suas conclusões. 31. Ellsworth Huntington, Mainsprings of Civilization, 1945.
21. Escritos em 8 de março de 1969. Ver o New Scientist, 13 de 32. Uma vez que o estudo dos ciclos é muito recente, não foi possível
fevereiro de 1969, pág. 343.
22. Agnes Fyfe, Moon and Plant, Society for Cancer Research, estudar as presumíveis conseqüências de ciclos a longo prazo, e ninguém
1968. conhecerá a resposta antes que eles ocorram, ou deixem de ocorrer.
23. René Schwaller de Lubicz dá um testemunho pessoal sobre um 33. Cycles, julho de 1967, p. 191. Eis alguns fenômenos que se supõe
ungüento que, quando preparado de acordo com um rito tradicional, serem cíclicos:
operava quase miraculosamente, mas, quando preparado de outra maneira,
era verdadeiro veneno. Um ciclo anual de base 9.6/9.667, encontrável entre os coiotes, os
24. De acordo com o astrólogo americano, Carl Payne Tobey (em seu peixes, os linces, as martas, os ratos almiscarados, os coelhos e os animais
prefácio a Grant Lewi, Heavens Knows What) Nélson só foi contratado selvagens em geral (Canadá e Estados Unidos).
depois que astrônomos profissionais recusaram fazer o estudo, tendo A pesca do salmão (Canadá), a abundância de salmão (Inglaterra).
considerado a priori a hipótese como absurda. Tobey afirma que uma vez Os galos silvestres, falcões, os mochos, as perdizes (Canadá e Estados
que haviam sido estabelecidas as descobertas de Nélson, nenhum jornal Unidos).
astronômico as publicaria.
As lagartas, as chinchilas, os percevejos (Canadá e Estados Unidos). 38. Hans Jenny, Cymatics, pág. 82.
Os anéis dos troncos das árvores. 39. Ao se ler o livro de Jenny, belamente ilustrado mas — por isso
A colheita do trigo (Estados Unidos). mesmo — proibitivamente caro, é interessante observar alguns padrões
O ozônio na atmosfera, as cifras de precipitação pluviométrica em orgânicos emergindo sem erros de certas areias e outras substâncias
escala mundial. inorgânicas — como as riscas das zebras, os favos de mel, as conchas das
A precipitação de trovoadas, a freqüência de ondas magnéticas. tartarugas. Coincidência?
Enchentes e transbordamentos de rios da Índia. Incidentes de 40. O sine qua non do astrólogo potencial é o desejo de tentar ao
saúde (coração — Nova Inglaterra). Incidentes de saúde (rins menos uns horóscopos por iniciativa própria. Nossa experiência pessoal
— Canadá). leva-nos a pensar que, à parte o contingente inegável de velhas excêntricas,
Guerra (batalhas internacionais). uma boa porcentagem de astrólogos começou a vida com ceticismo, mas
Preços do algodão (Estados Unidos). com o espírito suficiente-mente aberto para aceitar a oportunidade de
Crises Financeiras (Grã-Bretanha). elaborar alguns horóscopos próprios. Nosso próprio interesse pelo assunto
Foi observado um ciclo de 18.2, tendo-se realizado alguns testes. Ciclos foi provocado por uma experiência desse tipo.
que ocorreram em 1943 tornaram a se dar em 1962 nas seguintes áreas: 41. A maior parte dos astrólogos prefere que os clientes os consultem
casamentos em St.-Louis; enchentes do Nilo; vendas de uma Companhia pessoalmente. Trabalhar "às cegas" como na experiência de Clark é tão
Industrial; preços dos estoques industriais; construções em Hamburgo; difícil quanto diagnosticar uma morte sem a presença do paciente.
atividade relativa a bens reais; vendas de uma companhia de Utilidade 42. A hipótese: "Os astrólogos, trabalhando com material que só pode
Pública, produção de ferro; abatimentos e descontos; construção de casas ser derivado da data do nascimento, podem, com sucesso, distinguir entre os
para moradia; acidentes; o crescimento dos anéis da árvore de Java. indivíduos, e essa sua habilidade pode ser julgada através dos métodos de
Nota: Muitos fenômenos demonstram a concorrência de vários ciclos estatística normalmente empregados para estabelecer a validade e a
ao mesmo tempo. responsabilidade de qualquer investigação psicológica."
A. L. Tchijevsky, cientista russo, mostrou um ciclo nas epidemias 43. In Search, Winter, 1959-60.
humanas que correspondia ao ciclo das manchas solares; e um ciclo de 11-1 44. ibid.
ano em relação a todo tipo de excitação humana — guerras etc., utilizando Quarta Parte: O Futuro da Astrologia
dados de 72 países, num retrospecto até 600 A.C. (Action de l'Ionization de 1. Science Journal, outubro de 1967.
I'Atmosphère sur les Organismes Sains et les Organismes Malades, 2. Fate's Astrology Forecast, inverno de 1966.
Traité de Climatologie, de Piery, 1935, vol. 1, pág. 576/86 e vol. 2, págs. 3. A maior parte dos bons astrólogos aconselha realisticamente, ou,
1042/5.) mais freqüentemente, não dá conselhos; a maior parte prefere ou mesmo
34. Cf. Science Journal, maio de 1968. insiste em encontrar os clientes pessoalmente. Isso porque é virtualmente
35. Cf. Hans Jenny, Cymatics, Basilius Press, Basel, 1966. impossível distinguir níveis de sensibilidade apenas pela data do
36. Ogden e Richards, The Meaning of Meaning, Routledge e Kegan nascimento. Um açougueiro e um neurocirurgião podem ser
Paul, 1956, págs. 27/29. caracterologicamente irmãos de sangue, mesmo em níveis bastante
37. Embora o "O" falado se pareça com o "O" escrito, isto não ocorre diferentes.
exatamente da mesma forma com outras vogais, p.ex.: o "A" não se parece 4. Um questionário enviado pelos doutores Bender e Timm, da
com "A". Mas vogais faladas diferem significativamente, e sem erros, e pode Freiburg University, revelou que dos 213 astrólogos que responderam, 77
ser interessante ver se essas formas correspondem de alguma maneira com as por cento eram a favor de requerer legalmente dos astrólogos que
antigas versões escritas de sons. prestassem exames antes de se estabelecerem; 82 por cento, que pensavam
ser possível lutar contra o charlatanismo
42 por cento que pensavam dever-se proibir a astrologia de jornal. Disso, os 10. R. Collin, The Theory of Celestial Influence, Stuart and Watkins,
professores Bender e Timm tiraram uma conclusão curiosa: "Quando 174 1955.
astrólogos querem acabar com o charlatanismo, mas apenas 104 são contra 11. New York Times Magazine, 15 de dezembro de 1968.
os jornais astrológicos, conclui-se que nem todos os astrólogos consideram a 12. Ver pág. 165 (da tradução) e seguintes.
astrologia de jornal charlatanismo, mas, daí, é apenas possível concluir que a 13. Keeping People Alive reimpresso no Listener, 27 de fevereiro de
faculdade crítica, especialmente autocrítica, de alguns astrólogos deixa algo 1969. O doutor Miller não deve ser de maneira nenhuma confundido com
a desejar." Disso, por sua vez, é apenas possível concluir que a faculdade Henry Miller, o escritor americano, ardente antimaterialista e astrólogo
amador.
lógica de alguns professores deixa algo a desejar, se eles são incapazes de 14. Cf. o trabalho dos antropólogos Wilhelm Schmidt, Evans Pritchard e
distinguir entre oposição, e proibição por lei; particularmente na Alemanha R. Marrett.
aonde as palavras Verbot e Untersagung trazem desagradáveis memórias. 15. Citado por John Laffin, The Hunger to Come, Abelard Schumann,
1966, pág. 17.
5. A brochura de um grupo americano, chamada Astrological Dating
16. Jacques Barzun, Science: The Glorious Entertainment.
acaba de nos chegar. Naturalmente, sua efetividade dependerá de seu 17. Bertrand Russell, Why I Am Not a Christian, Allen and Unwin,
programador, e nós não temos maneira de saber como o Astrological Dating 1956.
trabalha na prática. Mas, em teoria, essa é uma das funções úteis que os 18. Time, 6 de dezembro de 1968.
computadores podem realizar. Não há nenhuma razão teórica pela qual um 19. Cf. Autobiography de Bertrand Russell, vol. I.
computador não seja capaz de estabelecer tipos com exatidão considerável 20. Prediction, abril de 1968.
— a tradição considera que esse era um dos usos que os egípcios davam à 21. Reimpresso no Listener, 7 de agosto de 1969.
astrologia. Há, no entanto, uma dificuldade que pode tornar esse processo 22. Philip Barford, Astrological Journal, vol. IV, n.° 3, pág. 10.
pouco efetivo em ação, e, ao mesmo tempo, impossível de testar fora dessa 23. C.D. Darlington, Genetics and Man, Allen and Unwin, 1964.
ação. Essa dificuldade é a imagem ilusória que a maior parte de nós faz de si 24. Tragédia é derivado do grego -rp&yoç (bode) e 4)8.í) (canção), e quer
próprio. dizer "canção do bode". Os sábios não informam como isso veio a ser
aplicado ao que nós conhecemos como tragédia, mas sugerem que foi por
Embora seja possível ao computador escolher consortes adequados para
coincidência um primitivo dia de festival que com o passar dos tempos
nós, é igualmente possível que o imaginário auto-retrato que guardamos em
evoluiu para uma oportunidade em que produções dramáticas, ou tragédias,
nossa cabeça não corresponda à realidade, e acabaremos acusando o
eram apresentadas. Na literatura esotérica, no entanto, o bode é um símbolo
computador de ser um casamenteiro ineficiente. No entanto, se o
para tudo que é teimoso, insensível e irregenerável no homem, tudo o que é
computador faz bem seu trabalho, alguma coisa em nós deve responder.
imune ao princípio de Nível. Nós nos perguntamos se a canção do bode não
6. Cf. Nels Anderson, Work and Leisure, Routledge and Kegan Paul,
deveria ser aplicada a essas qualidades. Pois é indiscutível que todos os
1961.
heróis trágicos, modernos e antigos, se conformam com esta descrição.
7. A relutância do corpo em aceitar órgãos estranhos ou tecidos 25. A. J. Ayer, The Problem of Knowledge, McMillan, 1956.
estranhos é uma bela corroboração biológica da uniqüicidade. 26. Isso foi dado fundamentalmente por P.D. Ouspensky, e
8. Traduzido e reproduzido do Astrological Journal, junho de 1962, de sistematizado por J. G. Bennett. Ver a Bibliografia.
R. Tomaschek, Tradition und Fortschritt der Klassischen Astrologie. 27. La Théorie de Determination Astrologique de Morin de
Villefranche, trad. de H. Selva, Lucien Bodin, 1902.
9. R. Hauschka, The Nature of Substance, Stuart and Watkins, 1955. 28. A predição do Nostradamus sobre os chineses em Paris no ano
2000?
Apêndice I BIBLIOGRAFIA
1. P. Derchain, Chronique d'Êgypte, vol. XXXVIII, n.° 76, pág. 225. Em vez de dar uma bibliografia que, embora completa, fosse também
2. Temple datis l'Homme, págs. 11/12; Temple de I'Homme, págs. 60/61. desinformativa, nós preferimos oferecer uma solução de livros específicos que o
3. Pierre Lacau, Une Chapelle de Sesostris Ier à Karnak, pág. 251. leitor pode achar úteis de uma maneira ou de outra.
4. Le Myracle Égyptien, pág. 17. Os livros marcados com um asterisco são os que foram referidos no texto.

História da Astrologia

Livros que aberta ou implicitamente sustentam o aceitado ponto de vista


acadêmico

Berthelot, R., La Pensée d'Asie et l'Astrobiologie, Paris, 1938.


* Cumont, Franz, Astrology and Religion Among the Greeks and Romans, Dover,
1912.
∗ Edwards, I.E.S., The Pyramids off Egypt, Penguin Books, 1961.
∗ Eisler, Robert, The Royal Ar of Astrology, Herbert Joseph, 1946. (Ver a bi-
bliografia de Eisler para ter uma lista completa dos livros acadêmicos sobre a
história da astrologia.)
∗ Graubard, Mark, Astrology's Decline and its Bearing on the Decline and Death
of Beliefs, Osiris, 1958.
∗ Koestler, A., The Spleepwalkers, Hutchinson', 1968.
∗ Neugebauer, O., The Exact Sciences in Antiquity, Brown University Press,
1957; (e van Hoesen) Greek Horoscopes, American Philosophical Society, vol.
48, 1959.
∗ Ronan C., Changing Views of the Universe, Eyre and Spottiswoode, 1966.
∗ Thompson, R.C. (ed.), The Reports of the Magicians and Astrologers of
Nineveh and Babylon, Luzac, 1900.

Livros que abertamente (ou inadivertidamente) sustentam o


ponto vista tradicional da astrologia

∗ Antoniadi, E.M., L'Astronomie Égyptienne, Paris, 1934.


∗ Ghalioungui, P., Magic and and Science in Ancient Egypt, Hodder and
Stoughton, 1963.
Guenon, R., The Reign off Quantity, Luzac.
∗ lrwin, R.A., The Problem of Ezekiel, Chicago, 1943.
∗ De Grazia, A. (ed.), The Velikovsky Affair, Sidgwick and Jackson, 1966.
∗ Schmidt, Wilhelm, Beginnings of Religion, Methuen, 1933.
Platão, The Timaeus.
Plotinos, The Enneads.
∗ Schwaller de Lubicz, lscha, Her-Bak, Her-Bak, Disciple, Hodder and Stoughton * Ptolemy, C., Tetrabiblos, traduzido da paráfrase grega de Proclus por J. M. Ashmand;
∗ Schwaller de Lubicz, R.A., Le Temple dans l'Homme, Le Caire, 1948; Le Temple de 1822, Foushman edition, 1917.
l'Homme (3 vols.), Caractères, 1958; Le Roi de la Théocratie Pharaonique, 1961; Le
Miracle Égyptien, 1963; Propos sur Ésotérisme et Symbole; 1962, Flammarion. Livros pertencendo à evidência para a astrologia
∗ Velikovsky, 1., Worlds in Collision; Ages in Chaos, Earth in Upheavel, Doubleday.
∗ Tomaschek, R., Tradition und Fortschritt in Klassischen Astrologie, Ebertin Verlag. Fyfe, A., Moon and Plant, Society for Cancer Research, 1968.
∗ Gauquelin, M., L'Influence des Astres, 1955; Les Hommes et les Astres, 1960,
Livros relacionados com os princípios e simbolismo Denoël; L'Astrologie Devant la Science, 1966, Planète. (Ver a bibliografia de
pitagóricos da astrologia Gauquelin para uma extensiva lista de obras estabelecendo as correlações celestes-
terrestres).
Dewey and Dakin, Cycles: The Science of Prediction, Holt, 1950.
∗ Bell, E.T., The Magic of Numbers, McGraw-Hill, 1946. Huntington, E., Mainsprings of Civilization, J. Wiley, 1945.
∗ Bennett, J.G., The Dramatic Universe, Hodder and Stoghton, 1956.
Piccardi, G., The Chemical Basis of Medical Climatology, 1962, C.T. Thomas.
∗ Collin, Rodney, The Theory of Celestial Influence, Stuart and Watkins, 1955.
Ghyka Matila, The Geometry of Art and Life, Sheed, 1958, Éssai sur le Rhythme,
Gallimard, 1938; Le Nombre d'Or, Gallimard, 1931. Livros pertencendo de uma maneira ou de outra à disputa variadamente descrita
∗ Harré Rom, The Antecipation of Nature, Hutchinson, 1965 (para uma crítica do como As duas Culturas, ou como Ciência Versus Tradição.
neopitagoreanismo de Eddington etc.)
Hauschka, R., The Nature of Substance, Stuart and Watkins, 1966. Jenny, Hans, O Ponto-de-vista materialista
Cymatics, Basilius Press, Basel, 1966.
Kepler, J., Prodromus Dissertationum Cosmographicarum seu Mysterium Ayer, A.J., Language, Truth and Logic, Gollancz, 1936; The Problem of Knowledge,
Cosmographicum (dos primeiros trabalhos de Kepler nos quais ele acreditou ter Macmillan, 1956.
encontrado a relação entre os sólidos perfeitos e as órbitas e velocidades das plantas), Calvin, John, lnstitutes of the Christian Religion, 1540.
traduzido do Latim por R. Schwaller de Lubicz em Le Miracle Égyptien.
∗ Darlington, C.D., Genetics and Man, Allen & Unwin, 1964.
∗ Ouspensky, P.D., In Search of the Miraculous, 1950; A New Model of the Universe, Darwin, Charles, The Origin of Species, 1859.
Routledge and Kegan Paul, 1931.
∗ Gardner, Martin, Fads and Fallacies in the Name of Science, Dover 1957.
Pettigrew, J.B., Design in Nature, Longmans, 1908.
Senard, M., Le Zodiaque, Lausanne, 1948. ∗ Haldane, J.B.S., Science and Life: Essays of a Rationalist, Barrie and Rockliffe,
∗ Thompson, D'Arcy Wentworth, On Growth and Form, Cambridge, 1917. 1968.
∗ Whyte, L.L. (ed.), Aspects of Form. Hitler, A., Mein Kampf, 1925.
Lenin, V.I., lmperialism, 1917.
Locke, John, Essay Concerning Human Understanding, 1690.
Livros sobre as técnicas de astrologia Medawar, P.B., The Future of Man, Methuen, 1960; *The Art of the Soluble, Methuen,
1967.
Carter, C.E.O., The Principles of Astrology; Astrological Aspects; AnEncyclopaedia of
Milton, John, Paradise Lost, 1667.
Psychological Astrology, Theosophical Publishing House.
∗ Ogden, C.K. e Richards, I.A., The Meaning of Meaning, Routledge and Kegan Paul,
Davison, Ronald C., Astrology, Arco Handbooks (um manual particularmente lúcido, 1956.
conciso e de preço razoável). ∗ Russel, Bertrand, Why 1 Am Not a Christian, Watts, 1927; Mysticism and Logic
(Philosophical Essays), Longmans, 1910; Autobiography vol. 1, Allen & Unwin, 1967.
Ryle, G., The Concept of Mind, Hutchinson, 1949.
Sartre, J.P., Being and Nothingness, 1949; Existencialism and Humanism, Methuen,
1948.
Swift, Jonathan, Gulliver's Travels.
∗ Ziman, John, Public Knowledge: The Social Dimension off Science, Cambridge, 1966.

Livros que se opõem ao materialismo e/ou sustentando a


tradição

∗ Abercrombie, L. Johnson, The Anatomy of Judgement, Faber, 1965.


∗ Augustine, St., Confessions; The City of God.
∗ Barzun, ).,Science: The Glorious Entertainment, Secker Warburg, 1969. Bennett,
J.G., The Crisis in Human Affairs, 1948.
Eckhart, Meister, traduzido por C. de B. Evans, Stuart and Watkins.
∗ Grene, Marjorie, The Knower and the Known, Faber 1966.
∗ Hardy, Alister, The Living Stream, Collins, 1965; The Divine Flame, Collins. Heller, Erich,
The Disinherited Mind, Meridian, 1959.
Hudson, Liam, Contrary Imagination, Methuen, 1966.
Huxley, Aldous, The Perennial Philosophy, Collins, 1958.
Kafka, Franz, The Trial; The Castle.
Kierkegaard, Soren, Journals.
∗ Koestler, A., (ed.), Beyond Redutionism, Hutchinson, 1969.
Nicoll, Maurice, Living Time, Vincent Stuart, 1951.
Russell, E.S. The Directiveness of Organic Activity.
Schroedinger, I., What is Life 7, Cambridge, 1962.
Tricker, R.A.R., The Assessment of Speculative Science, Mills and Boon, 1965.
von Uexküll, J., Theoretical Biology, 1926.
Whitehead, A.N., Adventure off ldeas, Cambridge, 1933.
ASTROLOGIA A partir de uma pesquisa detalhada e
HISTÓRIA E JULGAMENTO séria, os autores deste livro ajudam a
acabar com a confusão que sempre
cercou a Astrologia, estabelecendo a
Em 1959 Sir Bernard Lovell dizia que distinção entre a ciência simbólica, que
encarava as doutrinas astrológicas com exerceu fascínio e atração sobre as
"divertido desprezo". Quatro anos mais maiores cabeças que o mundo conheceu
tarde, no entanto, este célebre cientista através da História, e a mistificação das
havia mudado o seu ponto de vista, ao cartomantes e ciganas que,
declarar que, "nos últimos anos algumas invariavelmente, impressionam as
estranhas e inexplicáveis conexões pessoas mais simplórias em seus
parecem existir entre as fases da lua, a momentos de crise.
queda das chuvas, os impactos dos Neste livro, que é um dos mais sérios
meteoritos, as tempestades magnéticas e estudos já feitos sobre a Astrologia e o
os distúrbios mentais dos seres humanos. seu lado positivo, os autores apresentam
Parece até que estamos, através de uma as mais impressionantes evidências, a
série de fantasias científicas, chegando à partir da Química, da Biologia, da
prova de que existe uma relação de causa Astrofísica, da Psicologia Estatística e de
e efeito entre a lua e os lunáticos, con- muitos outros ramos da ciência,
forme acreditavam os antigos". (Sunday demonstrando, inquestionavelmente,
Times (Londres), março 1963). que existe uma relação entre as posições
Será possível que, após três séculos da Lua, do Sol e dos Astros, e os
de ciência materialista, os astrólogos acontecimentos terrestres.
tenham por fim a última palavra? Obviamente eles não vão ao extremo
As mais diversas tradições insistem de aceitar que o astrólogo colunista de
que a Astrologia é uma doutrina jornal possa predizer, com acuracidade,
conhecida plenamente apenas pelas os acontecimentos cotidianos e as
civilizações desaparecidas da antiguidade. experiências individuais, mas afirmou que
Muitos cientistas modernos, no entanto, existe bastante evidência provando o
condenam o conceito insistindo que a tradicional ponto de vista de que a vida de
Astrologia se desenvolveu a partir das cada indivíduo, o seu temperamento e o
superstições e das artimanhas de seu destino estão ligados
curandeiros e sacerdotes de tempos indissoluvelmente à exata situação do
imemoriais. Os autores deste livro sistema solar (posição dos astros) no
contestam este ponto de vista, ar- momento de seu nascimento.
gumentando que a natureza pitagórica da Finalmente os autores discutem a
Astrologia é de tal ordem que seria possibilidade de uma renascente
impossível um desenvolvimento da Astrologia e o papel que ela poderá
mesma a partir de simples superstições desempenhar no desenvolvimento de uma
sem base na realidade científica. E civilização mais autêntica, mais simples e
provam a contestação com a evidência de mais humana.
superdocumentados estudos de Álvaro Pacheco — EDITOR
Egiptemologia.

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