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CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA. JUDICIAL CONCURSO DE INGRESSO DE JUIZ ASSISTENTE PROVA ESCRITA DIREITO CONSTITUCIONAL E ORGANIZACAO JUDICIARIA DATA: 06/07/2018 Grupo I Durante a ultima manifestagao organizada pela Policia Nacional contra 0 nao aumento salarial e 0 nao descongelamento das Progressdées e promogdes na carreira, alguns agentes da policia entraram em casa do Carloto, sita na Cidade dos Espargos, ilha do Sal, sem o seu consentimento, ¢ afixaram cartazes na varanda do primeiro andar, Tépicos de resolugdes: 1+ Tdentifique ¢ qualifique os direitos fundamentais em causa. (1,5 valores) Direito de manifestagao (direito-liberdade) consagrado no artigo 53.° da CRCV; Ambos correspondem a tipos de direitos fundamentais pertencentes a espécie direitos, liberdade ¢ garantias; Direito a inviolabilidade de domicilio (direito- Sarantia ¢ ha quem entenda ser ainda direito-liberdade), consagrado no artigo 43.° ne I da CRCVs Direito de propriedade privada (direito-direito), consagrado no artigo 69.° da CRCV, pertence a categoria de direitos fundamentais de natureza aniloga a dos direitos, liberdade ¢ garantias, beneficiando, por conseguinte do mesmo regime, nos termos do artigo 26.° do CRCV. (Poder-se-ia mencionar ainda Outros direitos fundamentais, nomeadamente o direito intimidade da vida pessoal ¢ familiar, artigo 41.°n.° 2 da CRCV) 2 Os comportamentos dos agentes da policia teriam amparo juridico- constitucional? Justifique a sua resposta (5,5 valores) Deveria argumentar-se que 0 direito a manifestagao apresenta-se, assim, como direitos gerais das pessoas enquanto tais, independentemente das suas fungdes ¢ das suas dimens6es particulares. Sendo um direito, liberdade e garantia, foi concebido primacialmente para a defesa da liberdade pessoal contra o Estado, Em relago a0 direito de manifestagao, apesar do n.° 5 do artigo 244.° da CRCV prever a possibilidade de sua restrigdo, tal ainda ndo se sucedeu e ¢ da competéncia exclusivamente reservada & Assembleia Nacional, nos termos da alinea k) do artigo 1762 da CRCV. No caso em aprego esté-se perante 0 problema da vinculagiio das entidades Privadas aos direitos, liberdades ¢ garantias, nos termos do artigo 18.° da CRCV. A Tesposta a esta questio deve feita a partir das teses de eficdcia direta, eficdcia indireta e deveres de protegdo. Partindo da tese da eficécia indireta, sem prejuizo da adesdio que merece a tese dos direitos de protec, diria que os particulares gozam de autonomia e de liberdade, no quadro do sistema dos direitos e liberdades fundamentais. Assim, tal vinculago esta limitada as situagdes de poder e é gradativa, devendo ser ponderados os valores em jogo, ou seja 0 peso dos direitos ¢ liberdades em causa. No caso em aprego nao se verifica nenhuma situago de poder social (real) ou de desigualdade que confete prote¢ao aos comportamentos dos agentes da policia, Por outro lado, o direito a inviolabilidade de domicilio, o direito a intimidade da vida pessoal ¢ familiar e 0 direito de propriedade privada constituem limites imanentes ao direito de manifestag8o. Aqueles nao esto abrangidos pelo ambito ¢ nem pelo contetido do direito a manifestagao. Nem se pode argumentar que o direito de manifestagaio prevalece sobre o direito de propriedade privada por este estar integrado na categoria de direitos e deveres econémicos, sociais e culturais ¢ ter natureza andloga aos direitos, liberdades ¢ Barantias, pois ambos esto sujeitos a0 mesmo regime e a mesma protesao constitucional nos termos do artigo 26.° da CRCV. 3+ Suponha que o Carloto foi aconselhado a langar mio do recurso de amparo Para defender o seu direito fundamental. Que comentrios Ihe merecem esse conselho. (1,5 valores) Um dos meios de tutela dos direitos, liberdades € direitos fundamentais Constitucionalmente garantidos consiste na possibilidade de interpor recurso de amparo. Este s6 pode ser interposto contra atos ou omissdes dos poderes piiblicos lesivos dos direitos, liberdade e garantias fundamentais, depois de esgotados todos os meios legais de defesa e todas as vias de recurso ordindrio, nos termos do artigo 20.° da CRCV e dos artigos 2.° e 6.° da lei n.° 109/TV/94, de 24 de outubro. No caso em andlise, os agentes da policia néo agiram na veste de poderes piiblicos. No caso, porém, existem preceitos legais expressos de que Carloto poderia langar mao, para proteger os bens juridicos eventualmente violados, nomeadamente os do Cédigo Penal, artigos 180.° e 204, que tipificam, respetivamente, crime de introdugao em casa alheia e crime de dano. Poderia 0 Carloto pedir indeminizagéo pelos danos causados, nos termos do artigo 20.° n.° 2 da CRCV e do artigo 483° do Cédigo Civil. Poder-se-ia ainda acrescentar que uma vez instaurados os processo judiciais, 0 Carloto teria a Possibilidade de suscitar 0 incidente da inconstitucionalidade, 0 qual, depois de esgotadas as vias de recursos ordindtios, caberia recurso para o Tribunal Constitucional (fiscalizagdo conereta da » constitucionalidade), nos termos dos artigos 281.° e 282.° da CRCV e artigos 11.° alinea c) e 75.° e seg, da Lei n.° 56/V1/2005, de 28 de fevereiro. Grupo I Foi enviado para promulgagio como decreto legislativo que estabelece, no seu artigo 25°, o seguinte: L- Oterrit6rio judicial da Repiiblica de Cabo Verde divide-se em trés circulos, sendo 0 primeiro correspondente ao territério das ilhas de Santo Antéo, Sao Vicente e Sao Nicolau, o segundo ao das ilhas do Sal, Boa Vista e Maio € 0 terceiro ao das ilhas de Santiago, Fogo e Brava. 2- Em cada circulo judicial hé um tribunal de Relagdo. A Associagio Sindical dos Magistrados de Cabo Verde solicita ao Chefe de Estado que vete imediatamente o diploma por ser inconstitucional. 1- Aprecie a pretenstio da Associagao dos Magistrados de Cabo Verde, tendo em atengo 0 tipo de fiscalizagaio em causa. (5 valores) O decreto legislativo é um ato legislativo do Governo emitido com base na lei de autorizagao legislativa, nos termos dos artigos 175.° alinea c), 177.°, 182° n2 1, 261. n.°s 1 e 2 alinea b) e artigo 204.° n° 2 alinea b),todos da CRCV. Nao resta diivida de que 0 Governo tem competéncia legislativa, nos termos do artigo 204.° da Constituigaio. O artigo 25.° em causa tem como objeto a Organizagao, competéncia ¢ funcionamento dos tribunais judiciais, matéria de competéncia legislativa absolutamente reservada 4 Assembleia Nacional, nos termos do artigo 176. alinea d) da CRCV. A Assembleia Nacional nao poderia emitir uma lei autorizativa ou habilitante a0 Governo para legislar sobre esta matéria. Assim sendo, foi violada a norma de competéncia (inconstitucionalidade orgdnica) e norma de forma ou de processo (inconstitucionalidade formal). Esté em causa uma fiscalizagao preventiva abstrata, pois o diploma que constitui © seu objeto ainda nao entrou em vigor e no existe nenhum litigio em concreto, nos termos do artigo 278.° n° | alinea a) e do artigo 135.° n.° | alinea r), ambos da CRCV. Trata-se de um controlo concentrado, apenas ao Tribunal Constitucional, havendo prazo para ser requerido e para a decisao, nos termos do artigo 278.° n.°s 3,45 da CRCV. ‘A pretenso da Associag’o dos Magistrados de Cabo Verde & improcedente, porquanto tendo o pedido por base a desconformidade com a Constituigao, logo veto juridico, o Presidente da Repiiblica nao poder vetar imediatamente mas sim tem, primeiramente, que pedir ao Tribunal Constitucional que fiscalize o referido preceito legal, esperar pelo parecer deste érgdo que pronuncie pela inconstitucionalidade e s6 depois vetar obrigatoriamente o diploma e devolver ao Governo, nos termos dos artigos 279.° n.° 3 e 283.° n.° 1 da CRCV. Diferente se passariam as coisas se tivesse solicitado ao Presidente que langasse mao do veto politico. cy 2- Confronte as diferentes espécies de veto. (1,5 valores) Veto é a recusa ou o impedimento de um ato produzir efeitos por agéio de um outro Srgdo (no nosso caso o Presidente da Republica) exterior & competéncia para a sua pratica. © veto juridico tem por fundamento a desconformidade com a Constituigtio Pronunciada pelo Tribunal Constitucional na sequéncia da fiscalizagao preventiva de ato legislativo enviado para a promulgagao. E obrigatério e expresso, nos termos do artigo 279.° n.° 3 da CRCV. O veto politico ou de mérito tem por fundamento a conveniéneia ou discordancia Politica. Surge logo como alternativa a promulgagaio, antes de qualquer juizo de Por parte do Tribunal Constitucional. Mas também pode ser utilizado quando 0 Tribunal Constitucional nao se pronuncia pela desconformidade com a Constituigdo ou podendo ainda actescer ao veto juridico. Pode ser exercido no prazo de trinta dias, a contar da data de recegao de qualquer diploma para promulgagao, nos termos do artigo135.° n.° | alinea s) e artigo 137.°, ambos da RCV. Grupo II Comente a seguinte afirmagao, tendo em conta o julgamento do incidente da ilegalidade pelos tribunais comuns ¢ 0 recurso para 0 Tribunal Constitucional: (5 valores) “O modelo (cabo-verdiano) nao prevé a possibilidade de controlo da legalidade de normas aplicdveis aos casos em julgamento”. Sim&o Santos, Sistema de Fiscalizagao da Constitucionalidade em Cabo Verde, Ed, Almedina, pagina 252. Em Cabo Verde, ha fiscalizagao concreta da constitucionalidade a cargo de todos os tribunais (modelo difuso na base) com recursos das decisdes para o Tribunal Constitucional (modelo concentrado no topo), nos termos do artigo 281.° da RCV. Deste modo, cabe aos érgios com fungdo jurisdicional (0s tribunais em geral ao abrigo dos artigos 209.° e 210.° da CRCV) apreciar a conformidade com a Constituigdo das normas convocadas para resolugaio do caso sub judice, nos termos do artigo 211.° n.° 3 da CRCV. Constitui um poder dever dos tribunais, O controlo da legalidade aqui é visto como a conformidade com a lei ordindria ou © direito ordindrio. Trata-se designadamente de subordinagio de decreto legislativo & Lei de autorizagaio ou de decreto-lei de desenvolvimento a Lei de base, Para autor, nao deixa ser, no minimo, curioso e para alguns quicé inquietante, que ‘a Constituigao ndo prevé a possibilidade de recurso de fiscalizagao da legalidade para o Tribunal Constitucional de decisdes de tribunais comuns advenientes da aplicagao ou recusa de aplicagao de normas por desconformidade com outras leis, quando confrontado com o disposto no n.° 2 do artigo 281.° da Constituigao. Tendo em atengao, de um passo, o principio da legalidade em sentido muito amplo, que se traduz na conformidade do poder com 0 Direito a que deve obediéncia, vertida na afirmagao de que o Estado funda-se na legalidade democratica, nos termos do artigo 3.° n° 2 da CRCV e, de outro passo, 0 principio geral de subordinagdo do poder judicial & lei nos termos do artigo 211° n° 3 da Constituigio, os tribunais nao devem aplicar aos casos em julgamento normas desconformes com as leis de grau superior ou perante as quais devem ceder. Considerando-se que ha uma lacuna constitucional, socorrendo-se da analogia legis, entende-se que, nos mesmos moldes do disposto no artigo 281.° n.° 2 da CRCV, perante uma decisdo que deixe de aplicar uma norma tida por ilegal ou que a aplica apesar de 0 Ministério piiblico ou uma das partes ter arguido a sua ilegalidade (por violagao de lei de valor superior), haverd recurso para o Tribunal Constitucional. (sero levadas em consideragao outras teses).

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