Está en la página 1de 92
SER INFORME_ = cs AGROPECUARIO ¥.22-n,212-setJout. 2001 Uma publicagio bimestal da Empresa de Pesquisa Agropecuéria de Minas Gerais Bibi Bene ee iced Ge eu aC gal Eo cn Agricultura Alternativa nin se vise samen apn co mtn ‘pengencae lore ab 8 1 cimagiadamsira ce fingo cn so} eimiaco ce Comore ans eneies Figura 1 - Temperatura (°C) necesséria para inotivagao de diferentes orgonismos | on Boker & Roistacher (1957), citados por Fry (1982). Figura 2 - Producto de pélen e de voléteis induzidos por herbiveria (VIH) do écaro-ftbtago © do fripes na planta NOTA: Estes recursos podem ser explorades pelos herbivoros (core e tripes), pelos inimigos natu- rais especialistos (6coro-predador) e por predadores polifogos, que além de se olimenta rem dos herbvoros podem alimentar-se de outros predadores (predagao intraguilde), Figura 3 - Acaro-predador, Iphiseiodes zulvegai (Acari: Phyto- seiidae), a0 lado da aberiura de uma domécia em folha de café Figure 6 - Cobertura de adubo verde omendoim-cavalo em levoura cafesira Informe Agtopecuirio, Belo Horizonte, v.22, n.242, setleut. 2001 eee Agricultura Alternativa OrgGnicos conquistam o mercado O engenheiro ogrénomo Leontine Bolbo Jinior 6 diretor agricola dos Usinos S60 Francisco Santo Anténio pertencentes é. | Orgonizagéo Balbo. Locolizadas no interior de $60 Poulo, deservolvem, desde 1986, um projeto pioneiro pore producéo de acicar orgénico. A marca Native criada pela organizacéo, demonsira 0 sucesso do empreendimento, com uma projegéo de 18 mil toneladas exportades. UA - O que é Projeto Cano Verde e quais os seus objetivos? Leontine Balbo Jr. - © Projeto Cana Verde comecou a ser desenwolvido em 1986 pela Usina Sao Francisco (Ufra) para pro- utir ogécar orgénico. O trabalho tom eo mo bose © ogricullura aulo-sustentével, represented por um ‘ripé de fatores: 1) ser economicamente viével; 2) respeiter, preservar e trazer melho Fias a0 meio ambiente; 3} implementor programas socicis di- Figidos aos funciondrios e comu dade. Atualmenta, © Projete Cana Verde tobronge os duas usinas do grupo, @ Santo Anténio e a Sé0 Francisco, Todo © proces 50 obedece aos principios de produgdo Corgéinico estabelecidos pelo International Federation of Organic Agriculture Move~ ments (Hfoom). A partir da implantogéo do Projeto Cana Verde, todo © processo produtiva de ‘gécor foi madificado. De inicio, as terras ppassaram por um period de converséo ‘que durou 36 meses, ou seja, elas ficaram sem receber qualquer tipo de produto qui- rico nesse periodo. Esse & 0 tempo minimo exigido pelos érg6os cerlficadores, para Informe Ageopecutrio, Belo Horizonte, v.22, n.212, p.-2, 9 Teontine Balbo J Dior apriola da Usina Sto Francisco que © campo de cullive seja considerado corgénico novamente. Os ferfizantes qui cos foram substituides por um amplo siste ma integrodo de nutrigéo orgénica com o finalidade de proteger 0 solo ¢ melhorar suas caracleristicas fisicas e quimicas. controle biclégico mostrou-se, neste ‘caso, mois efciente do que o uso de defen- sivos quimicos. Para defender a planlagée das pragas, como @ broce-da-cana, se usados inimigos natureis, como uma pe- quena vespe, criada no laboratério ento- molégico da Usina. As doencas sé evi todas com 0 uso de voriedades de cano naturelmente resistentes. Plontas indese- ives, que poderiam concorrer com o cul tra, s80 controladas por operagées de cul tivo e métodos eulturais, som @ utilzagdo de herbicides. Os transgénicos - organis- mos geneticamente modificados - séo proibidos. Um programa de rellorestamento de vores nativas comegou @ ser implantado ‘em 1986, a fim de ciorihas de diversidede (depésios biolégicos) de recursos naturais ‘que contribuem para © equilrio do ecos- Sistem local. As Usinas mantém vveiros capazes de produzir 65 mil mudos de espécies nativas por ano. Elas séo plan- todas nas fazendas de acordo com suas quolidades e as necessidades de coda lout. 2001 local, come margens de rios, lagos ¢ vér~ 2208, 6reas considerodas criatérios de pe- ves, aves @ mamiferos. Desde o inicio do programa (é foram plantadas cerca de 700 rll 6rvores @ 8 éreos beneficadas mais eniiges jd formam verdadeiras forests. Desde que 0 Frojato Cana Verde foi odo- fade, o$ onimsissivestes comegaram 0 voltor &s fazendas e, gradativamente, a cadeia alimentar foi sendo restabelecida. Poralelamente, um trabalho de protecao & vida selvagem protbe a caga e & pesca € estabelece um programa de prevencao © combate @ incéndios nas reas reflores todas e de vegetacéo nativa, potrulhamen- to € restrigdo de acesso aos habitats & cadogio de sistemas de produgie agricola compativeis com a manutengao do vida selvagem. Em 2001, a Ufra contratou os servigos de uma equipe especializada em ecologia para manitorare avaliar o impacto do nove sistema de produgao sobre Fauna @ @ flora instalado nos florestos nati- ‘vas ereflorestamentos (6 estabelocidos. Os primeiros resultados deste trabalho apon- tam pora © retorno de animais conside- redos extintos no regiéo, tais como 0 lobo- ‘guard, © tamandué-bendeiro, @ paca, © lontra ele, 6 no inicio dos anos 80, visando & melhoria de qualidade de vide de seus funcionérios e familiares, os Usinas Santo Aniénio @ S60 Francisco criaram servigos médicos @ odontolégicos, fecilitaram & incentivaram 0 acesso & educagéo (através de um programe educacional) e co lazer. Esse trabalho foi reconhecido, jé em 1987, pela Cémara Americana de Comércio, que concede 0 Prémio de Contribuigdo Empre- soricl 6 Comunidade (Prémio Eco). Hoje, cerco de 8.500 pessoas s80 beneficiodas por esses programas. Visondo & valoriza- 80 profissional do trabalhador, as Usinas Santo Anténio e Sé0 Frencisco também _mantém programas de treinamento e capo- citagéo profissional, de cargos e salérios, de qualidade total e de porticipagso nos resultades. Além de cumprir a responscbi- lidade social como empregader, 0 rebalho dessos Usinas voltado @ seus funcionérios tem demonstrade impacto bastente positivo iunio 00 érgée certificador em suas inspe- Bes anveis, IA - Explique © que significou o prética criada pele Ufra de néo queimor o cane? Leontine Balbo Jr. - No Ura, desde implantagdo de Projeto Cana Verde, a quei made foi totalmente abolda, néo se usa {ago nos conavicis das fozendas. Em 1989, ‘2 cone crue (sem queima) passou a ser colhide gradatvamente por méquinas 6s- pecialmente desenvolvdes em parceria com o febricante e eresceu até atingir 100% do 6rea do Usina. IA - O processamento do agécar também segue padrées naturais? Leontine Balbo Jr. - Os processos i dustricis usodes na produgéo do agécar corgérico seguem os exigéncias estabelec dos pelo FVO/Ecocert, desde © pesogem a cona ol 0 armazenamento do produto ensacado. Os sistemas produtivos néo uti lizam produtos quimicos nem editives in- dustriais, os conhecides “bronqueadores" do ogécor. No inicio da produgéo org6- nica, equipamentos e dutos passom por purgamento, a fim de eliminor qualquer contato entre produtos convencionais & orgénicos. IA - O sucesso do empreendimento & con- seqiéncia da preocupagdo como meio ‘ombiente? Leontino Balbo Jr. -Pode-se dizer que sim. © objetivo inicial de Projeto Cana Ver- de era realizar em sua plenitude 0 poten- cial conservecionista @ condicioncdor de solos da cultura de cana-de-agtcare, desta forma, obter um sistema produtivo capaz de se aulo-sustentar sob o ponto de vista ‘egronémico. UW - Qual o popel da pesquisa agropecus- rig dentro desta nova perspectiva de produgéo orgénica? Leontine Balbo Je. - £ muito impor tante que se desenvolvam pesquisos agro- pecudrias voltadas aos sistemas orgénicos de produgéo, uma ver que hé demandes bastante especificas nesta modolidade de ogriculire, fais eomo a necessidode de sistemas de controle biolégico de proges, ‘0 melhoramento de variedades por sise- ‘mas trecicioncs (sem mosificagées trans- trices) e © desenvolvimento de sisiemos de processamento de metérias-primos orgénices que preservem a sua integridade alé 0 produto final. IA - Quontos hectores de orgéinicos o Usi- na Séo Francisco possvi ctualmen- te? Leontine Balbo Jr.-AUfrapossui tual. mente, 7.470 hectares cerificados como corgénicos. Seu potencial de produgdo & de 70 mil tonelados de agicar/ano. Para complementar 0 fornecimento de matéria- prima, © S80 Frenciseo conta com o cana orgénica culivada em 5.500 hectores da Usina Santo Anténio, Esso érea também & totalmente cerffieads para o produgéo ‘orgénica. Sé0, portanto, 12.970 hectares de canovial orgénico cerificado. IA - Produtos orgénicos s80 vidveis econc- micamente? Leontine Balbo Jr. - Sim. Produtos orgé- nieas 880 normalmente mais caros que os convencionais, em fungao de cusios de produgéo mais elevados. Entretanto, eles Informe Agta ecuari, Blo Horizonte, v.22, 0.212, 9 Agricultura Alternative ‘no carregam em si os custos relatives aos impactos socioambientais comumente rela cionados com os congéneres convencio- nis, Estes custos ou so pagos pela comu- riidade, ov tornom-se perdas ecolégicas irreparéveis. IA ~ Quois 660 0s principals produtos orga nicos produzides pelo Ure e onde sao comercializados? Leontine Balbo Jr. - Além do ogicar ‘orgénico Native « Usine Sao Francisco pro- due café orgénico. Trata-se de primeiro café ‘orgénica 100% Avdbica do mercado. Os produtos estéo expostos no vareio ‘em espacos ecolégicos - éreus especial- mente reservadas pore olimentos orgéni- 05, @ junto aos similares convencionais. ‘Ambes sé0 vendidos nos principois super- mercados do pais. VA- 0 que representa para o empresa o criagée de marca Notive? Leontine Balbo Jr. - A marea Native 6 uma oposta da Orgonizagéo Balbo no mercado de produtos orgénicos do Brasil, Nossa intengéo 6 ampliar @ linho de pro dutes de forma a oferecer aos clientes mois consisiéncia na opgéo por ume alimenia- {go mois souddvel sob todos os aspec- fos. IA - Aprocura por produtos orgénicos vem crescendo no mundo inteiro, assim co ‘mo @ preocupacée com o meio ambi ente. Quais os perspectives para a ‘agriculture orgénica em face do de- senvalvimento dos transgénicos? Leontino Balbo J haveré uma polarizagdo enire os usuérios dos tecnologias agricolas considerodas mo- demos, tals camo © modificagéo gent ca de organismes, © adubagio quimica & 108 defensivos ogricolas, ¢ os usuérios das ‘éenicas orgénicas de cutive. Coda vez mais, © consumidor ford uma opgto climentar Entendemos que consciente, @ os alimentos orgénicos seréo sempre considerados uma opgSo segura de olimentagée para aqueles que nao se dispuserem @ consumir transgénicos, por exemple. 2, saLlout. 2001 eee Agricultura Altornativa REVISTA BIMESTRAL ISSN 01003364 CcomssAO EDITORIAL, Marcela Franco ‘Amo M.S, Andrade Later Rios Alves eprror Vévis Laces COORDENACKO'TECNICA Clee Maria Ferreira Pint © Malai Venzon COORDENAGAOEDITORIAL AUTORIA Dos ARTIGOS AcemirCaepal, Anglo Pali Clede Maria Ferreira Pito, Dany Silvio Sova Leite Amara, Eduard de Sa Mendonca, Eduardo S. Mirubai, Honorino Rogue Rosighe, acinar Luis de Soues, lore ‘4 Caso Kil Sarge Ribs, one Mario Perens, Jia César Dis Chaves, Llano avier Montoya, Lue A. Maffia, Madelsie ‘enzo Maria Cela Martin de Sousa, Pedro Las uC. A. Ales, Ricard HS Santos Robinson A Peli, Sebati Pair, Trail REVISKOLINGOISTICA EGRAFICA Mone A ie Gomi eRosly A. Rib Batista Peers NORMALIZAGKO tina Rocha Goes Mara iia Mela Siva PRODUCROE ARTE Digg: Maria Alice Vere Rosana Mra Met Eanes ormtagio: Maris Ale Vie Rosagel Maia Mots Enact ota cope: Herandes Werner png) arwessio PUBLICIADE -Awesenria de Marketing ‘Av Jodi du Sci, L617 - Cidade Nova (Ca Psu, 515 - CEP 31170000 - Delo Horzome MG Telefax 31 358-5465 Copyright© = EPANIG -1977 probida a repredugi alo pardal por quabquer ios, ‘sem autora sera do etn. Todos 0 drei so ‘servadosd EPAMIG, ( Tn Rape, 3 a Gx TTF a Montane EPARIG, 197) « Con de arm ISSN 0100368 ropes: conju € exc. « I Agee « Poitice.2. Agia - Aspect sn id NaCl“ Re 8 CE Informe Agropecuari, Galo Horizonte, v.22, n212, setJout, 2001 Agricultura Alternativa: valorizando o homem e o ambiente ‘A produgtio vegetal nos moldes da agriculture “moderne” & bolizada pelos principios da Revolugée Verde, na qual empregam-se ‘monoculves de cultivares melhoradas, para alta produtividade e outras, coracteristicas agronémicas. Com isto, as plantas perderam sues carac- ferisicas naturcis de rustcidade e, ern clguns casos, inclusive a resis téncia a pragas e a doengas. Adicionalmente, ocorrem problemas cossociados aos estresses impostos &s plantas, como os nutricionais, hidricos e até mesmo quanto co cultivo em épocos e/ou loceis, pare 5 qucis as plantas néo esto adoptades. Na busca de sistemas de producto mais sustentéveis, surgiram 0s chamedas “novas” alternatives de agriculture, as quais s60 ne reali. dade o resgate de téenieas (4 empregadas hé muitos anos. Nesse con- texto, destaca-se, principalmente, « preocupacdo em proteger o meio ‘ombiente e a sade humana. ‘A Agricultura Alternative tem como objelivos produzir alimentos de qualidade, respeitando © meio ambiente; manter a fertlidade do solo com a generalizagéo da policulture e da integragéo da lavoura e do criagéo cnimal, realizendo, assim, © controle de eroséo @ a pre- servagie da qualidade de égua; eriar solugées adequados com vistas © olingir os causas @ ndo os sinfomas e, principolmente, valorizor 0 homem e seu trabalho. Embora a moioria das correntes de Agricultura Aliernativa opre- sente forte cardter agronémico © mesmo tecnolégico, pode-se afirmar ‘que, em termos gerais, os mudangas propostas aponiam para um sentido comum, que pode ser resumido como: adogdo de préticas de estratégias de produce voltades para © manutengio dos recursos produtivos; aumento da biodiversidade dentro e préximo cos sistemas de produgéo; invesiimento em préticas eestratégios culturais ebiclégicas do controle das populacées de herbivoros, microrganismos plantas esponténeas ¢ investimento em préticas e estratégias voltades para a Uillzagéio de recurtos localmente disponivels. Assim esta edigéo do Informe Agropecuéirio mosira que com prética da Agricultura Alternative tenta-se restobelecer a interagdo ogricullor-notureza-produgée de alimentos, na busca de moior harmo- nig no meio rural e melhor qualidade dos produtos a serem oferecidos 100 consumidor, Mércio Amaral Presidente do EPAMIG. Nesta _ Edicao Na Agriculture Alternativa, ¢ constante a preccupagéo em utilizar préticas agricolos que respei- tom notureza. Em geral, s60 indicadas aquelas que otimizem os recursos locais, por meio da integragdo dos atividades de produgéo animel com os de producéo vegetal. Pode-se citar, como exemple, 0 utiliza ‘cG0 do composte orgénice proveniente da compostagem de dejetos animois ¢ residuos vegetais, que visa & obtengée da méxima ciclagem de nutrientes no sistema de produce. ‘Outros praticas como 0 uso da adubagao verde com laguminosas ¢ consércio ou rolagao com coreais; o plantio de érvores e de gramineas, com 0 objetivo de otimizor o ciclagem de fésforo; a rotagéo de culturas @ 0 uso de cobertura morta para @ melhoria das condigées do solo; 0 manejo ambiental para o controle de progas através da conservacéo e aumento dos seus inimigos noturais intogram as ages desenvolvidas pela Agriculture Alternative. A harmonia ambiental é 0 principio geral de todas as prétices realizadas, resscltando que « propriedade deve estar em equilibrio com o meio. AEPAMIG, com esta edigo do Informe Agropecuério, apresenta os principais correntes de Agricultura Alternative e as diversas préticas agricolas que podem ser utiizades em substtuigéo dquelos usades ne agriculture convencional e procure, desse forma, detalhar a contribuigéo dessas correnies © préticas rumo @ ume agriculture mois sustentavel. ACoordencgao Técnica \émiica @ Agroecol Agricultura Natural, Organica, Bio Ricardo H. S. Sontos e Eduardo de Sé Mendonca 5 Aplicagées de principios de controle no manejo ecolégico de doencas de plantas Eduardo $. G. Mizubutie Luiz A. Maffia ° Estratégias para 0 manejo ecolégico de prages Madelaine Venzon, Angelo Pallini e Dany Silvio Souzo Leite Amaral os 19 Manejo ecolégico de plantas daninhes Pedro Luis da C. A. Alves e Robinson A. Pitelli.. . 29 Produgéo de composto organice e vermicomposto, Jorge de Castro Kieh! 40 Adubacao verde @ rotagéo de culturas Jilio César Dios Chaves e Ademir Calegari soni ‘ 53 sistemas Agrofloresiais: aspectos ambientais e sociecondmicos Jorge Riboski, Luciano Javier Montoya e Honorino Roque Rodigheri 6 Cenlificagéo de produtos ergénicos e legislagéo pertinente Mario Célia Martins de Souze . os 68 Pesquisa e desenvolvimento tecnolégico na Agricultura Orgénica Jacimar Luis de Souza 73 Agricultura Aliernativa no contexio mundial Cleide Moria Ferreira Pinto, José Mauricio Pereira e Trazilbo José de Poula Jinior. . 80 Tendéncias da Agricultura Allernotiva na Europa Trozilbo José de Paula Jinior, Cleide Mario Ferreira Pinto @ José Mauricio Pereit@ ww.nnrnn a4 Enearto: De moderniemo ao sustentavel passando pelo desenvolvimento - Sebastido Pinheiro Informe Agropecuirio Belo Horizonte v2 212 p88 setJout. 2001 | Informe Agropecusrio indexado nas Bases de Dados: CAB INTERNATIONAL e AGRIS. (Os nomes comerciais apresentados nesta revista sio citados apenas para conveniéacia do leitor, no havendo preferéncias, por parte da EPAMIG, por este ou aquele produto comercial. A citagao de termos técnicos seguit a omenclatura proposta pelos autores de cada artigo. Agricultura Alternative Agricultura Natural, Organica, Biodindmica e Agroecologia Ricardo H. S. Santos' Eduardo de SA Mendonga® Resumo - As principais correntes da Agricultura Alternativa no Brasil quecontrapdem 20 modelo agricola moderno divergem-se em: Agricultura Biodinamica, Agricultura Organica, Agricultura Natural e Agroecologia. Com isso busca-se uma agricultura mi sustentavel. Palavras-chave: Agricultura Alterativa; Ecologia; Revolugio verde; Pritica agricola; Equilibrio ambiental. INTRODUCAO © processo de modernizagio da agri- cultura, inciado com a Segunda Revolu- so Agricola e aprofundado na Revolugao Verde, trouxe também conseqiéncias de- sastrasas nos aspectos agrondmicas, eco- nimicos, ecolbgicos € sociais. Assim, os ‘movimentos que surgiram em oposi¢0 20 modelo agricola modemno apresentam, em mtior ou menor grau, propostas para a agri- cultura em seus vérios aspectos. Em termos serais, a insustentabilidade do modelo mo- derno (ou convencional) é atribufda 20 ‘comprometimento tanto dos recursos pro- dutivos, tais como solo, gua e recursos genéticos, como das estruturas e processos ccoligicos basicos responsaveis pelo fun- cionamento dos ecossistemas, tais como biodiversidade, luxo de energia,ciclagem de nutrientes © mecanismos de repulagio populacional. Também atribuiu-se gran- de dependéncia de insumos de alto custo energétio, & geragto e a0 acentuamento de desigualdades econdmicas esociaisem niveis local, regional e mundial ea incapa- cidade de atender 3s finalidades primirias de alimentara populagio e de methorar as condigdes de vida daqueles envolvidos di- retamente no proceso produtivo, Em ter- ‘mos mais amplos, Bird (1988) identifica que ‘ninsustentabilidade decorre dos seguintes processos 4) utilizagio de solugdes paliativas pa- +a problemas estruturais; b) utilizagio de solugées universais para problemas espectficos locais; ©) utilizagio de insumos externos de alto custo energsticn; 4) subordinagao dos aspectos ecol6gi- cos deficiéncia econdmica. ‘Todos esses processos sio decorren- tes da mercantlizagio da agricultura, em que a terra, a dgua, as pessoas ea biodiver- sidade adquirem o status de mercadorias, compraveis e vendéveis, igualando-se a ingumos € produtos As principaisfrentes de agricultura que contrapiem a este modelo agricola sio: Agricultura Biodinimica, Agricultura Orgi- nica, Agricultura Natural e Agroecologia. ‘Suas caracteristicas serio discutidas nos préximos t6picos, AGRICULTURA BIODINAMICA ‘A Agricultura Biodindmica€ originada na Antroposofia, ciéncia espiritual criada pelo filésofo austriaco Rudolf Steiner em 1924, Apés a Segunda Guerra Mundial, ‘Steiner foi procurado por agricultores da Europa Oriental para orientd-1os a respeito de novas perspectivas na agricultura, visto que muitos deles estavam tendo problemas com a qualidade das sementes produzidas com a maior incidéncia de doengas as, plantagdes ¢criagdes animais, além de re- dugio no periodo de utilizagio da area de cultivo, dentre outros. Assim, Steiner preparou um ciclo de palestras sobre agri ‘cultura que foi proferidoem Kobertwitz na Polnia (Klett, 1999). 0 fildsofo mostrou ‘que 0 importante na agricultura era trans- formara empresa agricola em um organismo agricola, onde a manutengao da qualidade «do solo é fundamental para a sanidade das cculturas vegetais,e que é muito importante 4 integragio das atividades dentro da pro- priedade agricola. Neste sentido, foram indi cadas téenicas para o tratamento do solo, do esterco animal e para o preparado de aditivos (reguladores de processos biol6- ‘gicos) para a adubaglo, as quais fiearam conhecidas como os preparados bioding- micos (Koepfetal., 1983). Durante ociclo de palestras foi criado o Circulo Experi- mental de Agricultores Antropossticos ue tinha como objetivos pesquisar ¢ di ‘vulgar os principios e as priticas da Ag cultura Biodinamica Atualmente, a Biodinamica, além de manter a visio de que a propriedade agri cola deve ser vista como um organismo, ‘Enge Agrs, D.Sc, Prof: URV Dep Fotecnia, CEP 36571-000 Vigosa-MG. Correia eletronico: rsantos@mail.ufubr 2g Agr, Ph.D., Prof. UFV - Dep Solos, CEP 36571-000 Vigosa-MG. Correio eletrénico: exm@mail.uf.br Informe Anropecuiro, Belo Horizont v.22, 212, 85-8 fou 2001 em que a individualidade de cada situagao deve ser respeitada, tem a preocupagio de orientar préticas agricolas que tespeitem a natureza, onde.o método & empregado. Em geral, sio indicadas como priticas agrico- has 4) aiinteragio entre a produgio animal © a produgio vegetal, com a obten- Gio do composto orginico prove- niente da compostagem de dejetos animais € residuos vegetais; ) a orientagdo astron6mica para a de- finigao dos perfodos de semeadura e demais atividades agricolas; ©) a utilizagao de compostos Iiquidos claborados a partir de substancias animais, vegetais e minerais, com 0 “objetivo de equilibraro campo decul- tivo com as forgas vitais da natu- «) a preocupagio com a harmonia am- biental do campo, onde a proprieds- de deve estar em equilibrio com 0 ‘meio natural também no aspecto vi- sual, plantando cercas-vivas, cul- turas de bordadura e vizinhanga, cculturas pioneiras em dreas degra~ dadas procurando fazer o refloresta- mento de acordo com a vegetagao natural; ©) ouso da adubagdo verde com 0 apro- veitamento de toda a potencialida- de das leguminosas, inclusive em consércio ou rotagdo com cereais; 1) ocultivodeervas.e seu uso na forra- gem, ‘Com base no exposto, os prineipios da Agricultura Biodindmica podem ser apli- cados em qualquer regido, mio havendo tum pacote de técnicas que devam ser se~ guidas. Considerando-se que a base da Antroposofia para o cultivo das plantas € para a criagdo animal é 0 respeito a0 ecos- sistema natural, onde essas atividades sfio realizadas, as propriedades agricolas que seguem a Agricultura Biodindmica adotam priticas agricolas distintas mantendo os ‘mesmos prinipios Os produtores biodindmicos utilizam alguns preparados especiais, que sio bor- riftados sobre as plantas ow adicionados 40 adubos . Tas preparados so aplicados ‘em pequenas quantidades (4,8 a 320 g/ha por exemplo) e exercem ago de dinamiza- «0 dos processos de creseimento e apre- sentam fomulagGes basicas a partir de esterco (Preparado 500) ou silicio (Prepa- rado 501), além de outros preparados com vegetais (Preparados 502 a 507) (Koepf et al, 1983), No Brasil a organizagio de referéncia «em Agricultura Biodindmica € o Instituto Biodindmico (IBD), sediado em Botucatu (spp. AGRICULTURA ORGANICA Nos primeiros anos do século XX, oin- gles Albert Howard, trabalhando na india, observou que os agricultores nao utiliza- vam fertilizantes quimicos € nem agro- ‘tGxicos no cultivo € na eriagdo animal, € ‘queas plantas ¢ 0s animais de traglo apre- sentavam menor incidéncia de doengas do que aqueles conduzidos com a utiliza- g40 de_ varios métodos convencionais de controle sanitirio. O pesquisador também observou que os hindus (indios america- nos) utilizavam diversas téenicas para apro- veitar os materiais orgénicos produzidos ‘na propriedade. Com base nessas observa- ‘96es, Howard realizou varios estudos sobre compostagem ¢ adubagio orgfinica (Bonilla, 1992). Apés varios anos de pesquisa, ele desenvolve o sistema “Indore” de compos- tagem, em que os materiais produzidos na propriedade agricola eram transformados tem hiimus, que, aplicado ao solo em época conveniente, asseguraria a vida bioligica do solo e atenderia As demandas de nutti- «20 e de sanidade das eulturas. Dessa for- ma, os alimentos produzidos seriam de alto valor nutitivo. Basicamente, a Agricultura Orgénica tem como sustenticulo a aplicagio no solo de residuos orginicos vegetais ¢ animais Site: hup:/hvwwibd.combr e e-mail: ibd@ibd.combr Informe Agropecuéro, Belo Horizonte, Agricultura Altesnativa pproduzidos na propriedade agricola, como objetivo de manter 0 equilibrio biolégico ceacciclagem de nutrientes. Assim, ela no aceita 0 uso de adubos minerais de alta so lubilidade e nem agrotSxicos. A adubado quimica 6 atendida pelo uso de rochas de baina solubilidade e pelo trabalho com di- ferentesculturas no sistema agricola. O uso de leguminosas, com 0 objetivo de fixar 0 nitrogénio stmosférico, ¢ 0 uso de grami- nas ¢ Arvores, com 0 objetivo de otimizar aciclagem de fosforo, io priorizados,além do uso do esterco animal. E estimulado o uso de recursos locais sempre que posst- vel, por meio da integragao das atividades de produgao animal com as de produgio vegetal, visando & obtengao da maxima ciclagem de nutrientes no sistema de pro- dugio. ‘Além de trabalharo solo com o objetivo ‘de proporcionar um melhor equiltbrio bio- 1gico e nutricional para o desenvolvimen- to das plantas, podem-se utilizar também rmateriais orginicos na fertilizagdo do solo ou da planta (adubagio foliar). Um dos compostos mais difundidos no Brasil 6 0 Super Magro, que Se caracteriza pela fer- mentagio anaer6bica do esterco bovino com a adigfio de micronutrientes durante 0 processo. Esse material tem apresentado cexcelentes resultados nio s6 na otimizagio da adubagio foliar, mas também no controle ‘de pragas de algumas culturas. Ele tem sido adotado principalmente para culturas como cafe fruteiras. ‘A Agricultura Orginica, dente as fren- tes alternativas, teve grande destaque no Brasil e em outros paises. Hoje, existem diversas associagdes de agricultores ten- tando organizar 0 mercado e varios paises {4 possuem legislagio tentando normatizar ‘aprodugio e a comercializagio de produtos ‘orgénicos. A legislagdo brasileira, por meio dda Instrugo Normativa n*7, do Ministerio da Agricultura, Pecusriae Abastecimento, define © que se entende por produgio orginica e quais as estruturas de controle federais e estaduais, reconhecendo o cres- cimento do mercado de produtos orginicos 22, 0.212, p58, sel. out. 2001 Agricultura Alternativa no Brasil (Penteado, 2000). ‘Uma das associagdes mais atuantes na ‘rea € a Associagao de Agricultura Orgi- nica (AAO), sediada em Sto Paulo AGRICULTURA NATURAL Em 1935,0 empresério japonés Mokiti ‘Okada, ap6s cinco anos de experimentacio, ria uma religido em que o princfpio funda- mental é 0 de que as atividades agricolas devam respeitar as leis da natureza. Esta religido serve como alicerce para a Agri cultura Natural, qual procura minimizara intervengao no ambiente e nos processos naturais, opondo-se aos outros sistemas discutidos. Os quatro prineipios basicos so: fazer agricultura sem cultivo do solo (Graramruina solo), no utilizar fertlizantes, quimicos ou orginicos, ndo capinar o solo (@s plantas companheiras enriquecem 0 solo) endo utilizar agrotéxicos. Dessa for- ma, 0 agricultor ndo deve arare gradear a terra ndo deve utilizar insumos quimicos € nem compostos orginicos e, muito menos, agrotéxicos. A visio reducionista é com- pletamente desconsiderada nesse sistema, procurando-se utilizar téenicas que otimi- zem 0 equilfbrio ambiental. Assim, dentre as priticas agricolas recomendadas esto arotagio de culturas, a adubagio verde, a cobertura morta, o controle de pragas e do- cengas pela manutengao das caracteristicas naturais do am tee melhoria das condi- Ges do solo e emprego de inimigos na- turais. $6 em ultimo caso devem-se usar produtos naturais nao poluentes, compos- tos vegetais ¢ microorganismos. Na Agricultura Natural sio muito utii- zados 0s “microorganismos eficientes” €0 composto orginico Bokashi. Os micro- organismos eficientes so compostos por bactérias produtoras de Acido lético, leve- duras,actinomicetos, fungos filamentosos e bactérias fotossintetizantes. O Bokashi é uum tipo de composto organico constituido de fatelo de arto, farelo de soja, torta de ‘mamona, farinha de carne e de osso e fa “Site: hnp:thwwaao.org.br Email: fmopes@sol.com.br "E-mail: aspia@ax.apc-org rinha de peixe, noculados com microorga- nismos eficientes. Sua principal finalidade ndo € atuar como adubo orgénico e sim ‘complementar a matéria orginica do solo, propiciando um alimento adequado minimo ‘para o desenvolvimento dos microorganis- mos eficientes. No Brasil, contatos sobre a Agricul- tura Natural podem ser realizados com Fundagio Mokiti Okada (MOA), em Sio Paulo’, AGROECOLOGIA A Agroccologia talvex nfo devesse ser classificada como mais uma corrente de Agricultura Alternativa, uma ver.que no tem cardter doutrindrio centralizado, no preconiza 0 uso de produtos ou processos préprios e muitos prinefpios agroecols- gicos estio presentes em diversas préticas utilizadas em outras correntes. Agroeco- Jogia constitui mais propriamente na de- nominacdo que a Agricultura Alternativa assumiu prineipalmente no meio académico € nos movimentos conduzidos com sua participagao. Dentreas principais definigdes de Agro- ecologia podem-se citar: 0 estudo das bases ecoldgicas (estruturas € fungbes) dos sis- temas agricolas (Gliessman, 1989); apli- cago de conceitos e prineipios ecol6gicos na eoncepgio © manejo de sistemas agri- colas (Gliessman, 1989); a base cientifica 4a agricultura alternativa (Altieri, 1989). Segundo Hetch (1989), no seu sentido mais alobal, a Agroecologia incorpora idéias ‘mais ambientais desentimento social acer- cada agricultura e, na sua concepsio mais especifiea, refere-se ao estudo dos fend- ‘menos ecoldgicos que ocorrem nos cam pos de produgio. ‘Apesar de algumas das definig6es se- rem pouco esclarecedoras, depreende-se que otermo Agroecologia apresenta muitas facetas, 0 que se deve & natureza da ativi- dade agricola, que recebe pressdes nao 6 ecolgicas, mas também econdmicas € Informe Agropecuitio, Belo Horizonte, v.22, r.212,p.-8, set.fout. 2001 sociais, Assim, o pensamento agroecol6- gico € influenciado pelas Ciéncias Agri- colas, pelo Movimento Ambientalista, pelos estudiosos da fea de Ecologia e de Sistemas de Produgio Indigenas € Tradi- cionais, e, finalmente, por estudos de de- senvolvimento rural do Terceiro Mundo etch, 1989), ‘Além de algumas universidades fede- ras, itimerasatividades na rea de Agro- ecologia so realizadas por redes de Orga- nizagdes Nio-Governamentais (ONGs) em diversos Estados brasileiros, como por exemploa Assessoriae Servigos a Projetos ‘em Agricultura Alternativa (AS-PTA)®. CONSIDERACOES FINAIS (O que interessa, em relagio a estas cor- rentes, ndlo so precisamente as suas va- riagOes, mas sim as suas coineidéncias. A Agricultura Alternativa tem como prin- cipais objetivos: 4) gerar alimentos de alta qualidade biol6gica,respeitando e trabalhando como meio ambiente; 'b) manter a fertilidade do solo com a generalizagio da policultura e da integragio da lavoura e da eriagio ‘animal, realizando, assim, o controle da erosio ¢ a preservagio da qua lade da Agua, sem emprego de agrotéxicos poluidores dos alimen- tos e do ambiente; ©) criar solugdes adequadas com vistas a atingir as causas e no os sinto- mase colocar como objetivo a valo- rizago do homem e do seu traba- tho. Dessa forma, a Instrugdo Normativa #7 considera como parte da Agricultura Organica todo aquele produto obtido em sistema de produgio agropecusria e indus- trial abrangendo os sistemas denominados ecol6gico, biodinamico, natural, susten- tivel, regenerativo, biolSgico e agroeco- Agricultura Alterativa \égico (Penteado, 2000) Uma das grandes diferengas dessas frentes de agricultura em relaclo 3 agri- cultura convencional éa forma de condugo da lavoura, no que tange a incidéncia de pragas, doengas ¢ plantas daninhas. Na agricultura convencional a visio “redu- cionista” € determinante na tomada de decisio das téenicas a serem utilizadas pa- ra resolver os problemas. Na Agricultura Alternativa,a visio de “convivéncia” com © problema, tentando minimiz4-lo com diversificagio e rotaglo de culturas, onde as incidéncias de pragas e doengas causam tum dano menor & cultura e produtividade area como um todo. Em iltimo caso, 0 tomadas medidas reducionistas com 0 uso de produtos (caldas, extratos vegetais compostos organicos Ifquidos) menos agressivos ao ambiente, a0 agricultor e a0 consumidor. No fjnal da década de 80,a Agricultura ‘Altemnativa ganhou espago no mercado a demanda por produtos livres de agro- txicos vem crescendo a cada dia. Este fato levou a organizagio dos agricultores para evitariregularidades no mercado ¢ buscar ‘certificagao dos seus produtos. No Brasil, as duas entidades certificadoras mais conhecidas si0 0 IBD e a AAO, em que 0 produtor que atender a certas exigéncias tem 0 direito a0 uso do selo orginico de sgarantia, nio uso de agrotéxicos no implica ‘que a produgdo passe a ser orgiinica. Exis- tem varios crtérios definidos que devem sguidos pelo produtor, para que possa ser considerado ou até certificado como produtor de Agricultura Organica. O for- necimento de nutrientes € feito por meio de compostos organicos, fertilizantes foliares de processos biolégicos (como ‘exemplo 0 Super Magro) ¢ fontes renovi veis de macro e micronutrientes, em pro- ceess0s de rotagdo de culturas e de respeito 8 biodiversidade, proporcionando condi- gbes mais equilibradas entre 0 solo e os vegetais. Atualmente, & muito grande a conver- so de dreas de produtos convencionais para a cultura de produtos organicos. A Intemational Federation of Organic Agri- culture Movements (Ifoam) mostra que na Europa, entre os anos de 1985 e 1997, a conversdo passou de 120 mil para 2,15 milhdes de hectares. © mereado mundial 4e produtos organicos é estimado pelo De- partamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), em USS 23.5 bilhdes. Nos Estados Unidos,em 1996, mais de 40% das ‘maiores redes de supermercados jé ven- diam alimentos de cultivo orginico. A co- mercializagio desses produtos no pats crescia a taxas préximas de 20% no period, tendo movimentado USS 7,6 bilhoes, em 1995 (Agrianual, 2000) Emboraa maioria das correntes de agr- cultura alternativa apresentem forte cardter agronémico € mesmo tecnolégico, pode- seafirmar que, em termos gerais, as mudan- aS propostas apontam para um sentido comum, que pode ser resumido como: ) adogio de priticas e de estratégias de produgdo voltadas para a manu- tengio dos recursos produtiv b) aumento da biodiversidade dentro e préximo aos sistemas de produgio; 6) investimento em prticas e estraté- sas culturais ebiol6gicas de contro le das populagies de herbivoros, mieroorganismos e plantas espon tneas; 4) investimento em praticas e estraté- gias voltadas para a utilizaglo de re- cursos localmente disponiveis; ©) descentralizagio ¢ regionatizagio das estruturas de beneficiamento e de comercializagao; 4) incentivo as formas associativas de beneficiamento e de comercializa- io; 12) democratizagao dos acessos a0 cré- dito e informaga hy estabelecimento de politicas agrico- lacagréria voltadas principalmente para agricultores familiares, parceiros ce arrendatarios. Assim, esses modelos de agricultura tentam restabelecer a interagio agricultor- natureza-produgio de alimentos, objetivan- do maior harmonia no meio rural e melhor {qualidade dos produtos a serem oferecidos ‘a0 consumidor. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS AGRIANUAL 2000, Anuérioda Agricultura Bra- sileira. Sio Paulo: FNP Consultoria & Comércio, 12000. ALTIERI, M.A. (Bd), Agroeeologia: as bases cientiieas da agrcultara alterativa. Rio de Ja neiro: PTA-FASE, 1989. p. 17-19. BIRD, E.R, Why “modern” agriculture is envi ronmentaly unsustainable: implications for the politics of the sustainable agriculture movement inthe USA: Ins INTERNATIONAL SCIENTIFIC (CONFERENCE OF THE IFOAM, 6., 1988, San te Cruz, Proceedings... Global perspectives in agroecology and sustainable agricultural systems. Santa Cruz: CFSABS, 1988, v.1, p. 31-36. BONILLA, J.A. Fundamentos da agricultura evoldgiea: sobrevivenciae qualidade de vida. Sio Paulo: Nobel, 1992. 260 p, GLIESSMAN, SR. Agroecotogy: researching the ‘ecological basis for sustainable agriculture. tn: Agroecology: researching the ecological basis for sustainable agriculture. New York Springer-Verlag, 1989. . 3-10, (Bzological Staies Series, 78) HETCH, SB. A evolugio do pensamento ecolé- fico, In; ALTIERI, M.A. (Ed). Agroecologia: asbasescienificas da agricuuraalterativa. io de Janciro: PTA-FASE, 1989. cap.l,p. 25-41 KLETT, M.0 impulso da agricuturabiodindmica 1 partir da Antroposofia In: CONFERENCIA BRASILEIRA DE AGRICULTURA BIODINA- MICA, 3. 1998, Piracicaba, Anais. A agroeco. logia em perspectiva. Sto Paulo: Secretaria de Extado do Meio Ambiente, 1999. p. 28-40, KOEPF, H. H.; PETTERSSON, B. D.: SCHAUMANN, W. Agricultura biodindmica Sto Paulo: Nobel, 1983. 316 p. PENTEADO, S.R. Normas da produgio organi Introdusio a agricultura or- jormas técnicas de eultivo, Campinas: ca. In: sgfintca: Grafimagem, 2000, eap. 15, p:85-106. Informe Auropecuéro, Belo Horizonte v.22, 0.212, p68, se.fut. 2001 Agricultura Altornativa Aplicacées de principios de controle no manejo ecolégico de doencas de plantas Eduardo $. G. Mizubutit Luiz A. Maffia® Resumo - Produzir alimentos, utilizando-se baixas quantidades de agroquimicos ou mesmo sem sta aplicagSo & hoje uma opgio rentével para o produtor. Hi uma fatia do mercado consumidor disposta a pagar mais por produtos que sejam considerados mais, seguros, Entretanto, o limite entre 0 valor agiegado, obtido com a nao utilizagto dos produtos quimicos, ea redusdo de produtividade por problemas filossanititios éesteito. ‘As doengas encontram-se entre os principais fatores que reduzem a produtividade das culturas. O controle delas sem a utilizagao intensa de agroquimicos é um desafio. Para zeduzir as perdas causadas por patSgenos em sistemas considerados como alternativos (orginico, natural et), é necessério implementar 0 manejo de doengas, o qual se baseia naaplicagio integrada dos prineipios de controle. As medidas de controle, que resultam na redugio da quantidade de indculo inicial da taxa de progresso da doenga e/ou da du- ragio da epidemia, devem ser empregadas para o controle racional eeficiente de doengas. ‘io abordados exemplos de medidas que podem ser implementadas para um manejo ecoldgico de doencas de plantas. Apesar da importincia do manejo ecoldgico, hé pouco conhecimento cientifico disponivel, principalmente quanto aaspectos etioldgicos eepicie- _mioldgicos de coencas de plantas. Enecessério tomar csponiveis resultados experimentais sélidos e conscientizar as produtores, quanto ao manejo ecoldgico de doensas. Palavras-chave: Fitopatologia; Agricultura Organica; Controle de doengas; Métodos alternativos. INTRODUCAO ‘A agricultura teve inicio hé aproxima- damente 10 mil anos, quando.o homem dei xou de obier seu alimento de forma extrs vistae trouxe as plantas para uma condigao mais uniforme e artificial. Nos seus primér- dios, a agricultura era conduzida de forma mais sustentvel e nfo eram utilizadas pré ticas que alteravam sobremaneira 0 equilt brio plantas-pat6genos. Porém, ainda assim, cexaumaalteraciodo que ocorre na natureza, poiso simples fato de aumentara densidade de plantas numa determinada érea é sufi- ciente para interferir no equilfbrio dos sis- temas pat6genos-hospedeiros. Eimportan- te lembrar que, na natureza, hd diversidade entre espécies e dentro de espécies vegetais que as populagdes de patégenos ¢ de hos- pedeiros estio em equilibrio, no qual ambas desenvolveram estratégias para garantir suas existéncias (Akiba etal, 1999). Bsse equilibrio resultou da coevolugio de plan- tas e pat6genos, por milhares de anos nos seus habitats, sem necessariamente com- prometerasobrevivéncia deum ou de outro. Nas iltimas décadas, a populagio hu- ‘mana cresceu vertiginosamente, 0 que ge- rouanecessidade de produzir maisalimen- tos, Com a crescente demanda por alimen- tos, @ agricultura intensificou-se, levando aos desequilfbrios biolégicos nos agro- ecossistemas, principalmente quanto & redugio da diversidade biol6gica. A pro- dugdo vegetal nos moldes da agricultura “moderna” € balizada pelos principios da Revolugdo Verde, na qual empregam-se monocultivos de cultivares melhoradas, para alta produtividade e outras caracte- risticas agronOmicas. Com isso, as plantas perderam suas caracteristicas naturais de rusticidade e inclusive, em alguns casos, @ resisténcia a doengas. Adicionalmente, ‘ocorrem problemas associados aos estres- ‘es impostos as plantas, como os nutricio nals, os hidricos e até mesmo quanto a0 caultivo em épocas e/ou locais, 20s quais as plantas no esto adaptadas. Assim, ‘ocorrem perdas considerdveis em decor- réncia das doengas de plantas, Estima-se que as doengas de plantas sido responséiveis por perdas de, aproxim: damente, 12% do total de produtos agrt colas cultivados principalmente nos paises em desenvolvimento (Agrios, 1997). A ne- Eng Agr, PhD., Prof. UFV-Dep* Fitoparologia, CEP 36571-000 Vigosa-MG. Correio eletrdnico: mizubui@ufubr *Eng® Agr, Ph.D., Prof. UFV-Dep® Fitopatologia, CEP 36571-000 Vigosa-MG. Correio eletrénico: lamaffia@ ufbr Informe Agropecuiro, Bolo Horizon v.22, 1.212, 9-18, seb/out. 2001 10 Agricultura Attornativa cessidade de reduzir essas perdas levou & adogdo quase que exclusiva de opgdes de controle com base no uso de produtos qui- rmicos. A difusio do uso destes produtos foi bem-sucedida, tendo em vista diversos fatores, dente os quais destacam-se a faci- lidade de uso, orelativo baixo custo, 0s re- sultados espetaculares em curto espaco de tempo e a propaganda. Porém, no Brasil, ro raro esses produtos so usados de for- ma irracional, desrespeitando registros, dosagens, perfodos de caréncia e técnicas de aplicagdo e seguranga dos aplicadores «edo ambiente. Tendo em vista esses proble- ‘mas, a soviedade jd sente as conseqiiéncias do uso desregrado de produtos quimicos e, stualmente, hd uma busca frenética dealter- nativas para o controle de doengas, princi- palmente dentro do contexio ecolégico. ‘Como o erescimento econdmico répido raramente pode ser obtido sem prejudicar a sustentabilidade ecol6gica (Thurston, 1990), a chave do manejo ecoldgico seria a sustentabilidade, Segundo a Food and Agriculture Organization of the United ‘National (FAO), agricultura sustentivel & ‘© manejo e conservagao dos recursos na- turais € @ orientagdo de mudangas tecno- Jogicas e institucionais de tal manera a assegurar a satisfagdo das necessidades hhumanas de forma continuada para as ge- ragoes presente e futura, Tal desenvolvi mento sustentével conserva o solo, a gua eos recursos genéticos animaise vegetais; ni degrada 0 meio ambiente; € tecni ‘mente apropriado, economicamente visvel cesocialmente aceitavel (Weid, 1994). Na busca de sistemas de produc’ mais sustentveis, surgiram as chamadas novas alternativas de agricultura, que, na realidade, resgataram as téenicas empre~ gzadas ha milhares de anos. Essas técnicas setiam consideradas como ecologicamente ‘corretas. Neste contexto, destaca-se princi- palmente a preocupacdo de protegio a0 meio ambiente ¢ & sade humana. Porém, nesses sistemas 0 controle de doengas re~ presenta, ainda, uma grande empreitada, Aqui, 05 fitopatologistas tém que ccupar papel de destaque, no qual os desafios so reduziras perdas dos alimentos ¢, a0 mesmo tempo, salvaguardar o ambiente (Maffia & Minubuti, 1999). Para que se viabilize, a produgio ecol6- ‘ica deve ser embasada no manejo racional dos problemas fitossanitétios e, em espe- cial, das doencas. & importante considerar ‘que os patdgenos slo parte do ecossiste- ‘macecliminé-los 6 ecologicamente invigvel e talvez indesejével, Hi que maneé-los para que se aproxime do equilibrioexistente nos ecossistemas naturais. Manejo ecol6gico de doengas de plantas 6 aqui definido como sendo 0 conjunto de estratégias e de pri: ticas, empregadas com base nos prinefpios de controle de doengas de planias, com 0 objetivo de reduzir as perdas em niveis to- leraveis, sem interferit, acentuadamente, no ambient. Dependendo da forma de condugio da agricultura (natural, biolégica, biodinmica lc.) hi variagSes quanto & tolerancia 20 ‘emprego de determinadas praticas, princi- palmente quanto 20 uso de caldas e adubos ‘orginicos. No entanto, a adogao de prticas ‘que silo vistas sem restrigdes pelas dife- rentes filosofias & um recurso poderoso til, Explors-las ¢ bem recomendé-las so- mente é possivel com o entendimento dos prinefpios de controle de doengas de plan- tas, A aplicagao desses princfpios seria caz para reduzir a intensidade de doengas, mas a escassez de resultados de pesquisas bem fundamentadas é um fator limitante para obter inferéncias mais realistas. Fsse artigo objetiva discutiras aplicagGes de prin- cfpios de controle e as estratégias para 0 manejo ecolégico de doengas de plantas PRINCIPIOS DE CONTROLE E PRATICAS APLICAVEIS AO MANEJO ECOLOGICO DE DOENCAS DE PLANTAS Virias medidas de controle podem ser utlizadas,isoladamente ouem combinagio, para manejar doengas de plantas. Essas medidas foram agrupadas nos denomi- nados principios de controle. nicialmente, ‘quatro desses principios de controle foram propostos: exclusio, erradicago, protegio ‘¢ imunizagio (Whetzel, 1929). Posterior mente, foram acrescentados os principios de terapia © escape. Esses scis principios de controle de doencas de plantas em thti- ma instincia, visam: 2) iimpedir ou reduzir a chance de en- trada do patégeno num local, onde ele no ocorre (exclusio); ») eliminar o patégeno ou reduzir sua populaglio em um local, onde ieste- jnestabelecido (erradicaga0); ©) evitarinfeegbes de plantas pelo pa- tégeno que jf se encontra estabele- ido no local (protegio); 4) tomar as plantas resistentes ao pats- geno (imunizagio); 6) tratar ou curar infecgbes jf estabe- lecidas(terapia); 1) impedir ou reduzir a chance de ocor- réncia de condigdes favordveis a0 desenvolvimento da densa (escape). A aplicagio de mediclas de controle deve ser embasada nos seus efeitos epide- riolégicos. Se se considerar que a inten- sidade de doenga na colheita, que vai re fletir nas perdas, depende da quantidade de doenga/inéculo inicial (y,), da taxa de progresso de doenga (r) edo tempo em que a cultura esté exposta ao patégend (t), po- dem-se adotar medidas de controle que visam reduzir y,,re/ou,t. Em geral, as me- didas incluidas nos prinefpios de exelustio ede erradicagio reduzem y,, as medidas de protegio reduzem r, as de imunizagio € terapia reduzem y,eloureas de escape re- duzem yy r fou t (Quadro 1). Em muitas situagées, a adogio de medidas de protecao 6 invidvel para o manejo de doengas num contexto ecol6gico por normalmente envol- verem 0 uso de produtos quimicos. Assim, 6 provavel que as medidas potencialmente mais eficientes, para 0 manejo ecol6gico dedoengas, sejam as que objetivam aexcli- slo e a erradicagdo, associadas aquelas que reduzam a ocorréncia de condigies fa- vordveis ao desenvolvimento da doenga (escape). No entanto, nao se deve ignorar ‘a adogio conjunta de outras medidas que, isoladamente, tenham menor eficiéncia, mas quando somadas complementam-see con- tribuem para dificultar o desenvolvimento de doengas. A integracao de priticas € a chave do sucesso no manejo ecoligico de doengas. ‘As medidas incluidas dentro de cada Informe Agropaesdrio, Bolo Horizonte v.22, 9.212, p.-18, set /out. 2001 Agricultura Alternativa QUADRO 1 -Principiose medidas de controle de doengas de plantas ¢ seus princpais efeitos epidemioligicos u Principio de controle Medidas de controle Reduglode Exclusio Inspegao € certifieagao de sementes © mudas Ye Barreirase quarentenas Y ‘Tratamento de sementes / mudas (biol6gico e térmico) % Cultura de tecidos (indexagao) Ye Resti¢a0 da movimentagio de méquinas, implementos e pessoas da rea infestada para rea sadia % ‘Limpeza de méquinas ¢ implementos Ye Erradicagao Eliminagi e/ou tatamento de restos culturais % [Bliminagio de hospedeirosprineipas % ‘Controle de plantas invasoras Y% ‘Cultivo de plantas antagonists ou armadithas Ye Sistemas de preparo de solo Ye Rotaelo de cuturas Yo Incorporagao de matéria orginica Ye ‘ratamento de solo (biol6gio, vapor ¢ slarizao) Yo TInundagBo do solo oe ‘ratamento de sementes © muilas (biol6gico ¢ térmico) Yo ‘Limpeza de embalagens, equipamentos ede armazéns Ye Pulverizagao decaldasulfocdlcica © -Eliminagio de plantas doentes (roguine) Yor oda de ramos doentes| Yor Protegio ‘ratamento biol6gico de sementes e mudas Ye Pulverizacio de agente de controle biokbgico r Pulverizasio de calda sulfocdlcca, bordalesae vigosa r Cattvos consorciados F Controle de insetos vetores . Natrigtio do hospedeito (pH efertilizantes) r ‘Tratamento pés-colheita (refrigerago e bil6gico) . Imunizasio Resistencia nduzida (Caltvares rosistentes Mistura de cultivares Biotecnologia (plantas transgénicss) Terapia ‘Termoterapia Ye Cinurgia Yor Podas de ramos doeates Yet Escape [Bsvolha da rea efou do local de plantio Yont -Escotha da época de planio e/ou de colheta Yert Modificagio das prétcas culturais(drenagem, itrigagio, espagamento,orientago de linhas de plantio, nt rofundidade de plano, desbaste,podas de arejamento ete) ‘Armazenamento (sementes, pis-colhits) em candies de ambiente modiicado Bt FONTE: Dados bisicos: Zadoks & Shein (1979) e Hall & Nasser (1996). NOTA: y, InGeulo inicial;r- Taxa de progresso da doengo Inlorme Apropecuato, Belo Horizonte ‘Tempo de exposiglo ao patégeno, 22, n.212, .$-18, salou. 2001 2 principio serio discutidas e apenas alguns exemplos delas serio apontados, dentro de um universo, cujo limite seja imposto pela criatividade eexperiéncia do produtor. Exclusdo principio de exclusdo visa impedirou reduzir a chance de entrada do pat6geno emum local, onde este nfo ocorre, As prin- cipsis medidas de controle so de ordem legislativa, como a quarentena,a certifiea- Gio © fiscalizagio de Sreas. © produtor pode € deve empregar este principio a0 adotar préticas como: observar a legislagao fitossanitéria vigente; adquirir material comprovadamente sadio de fornecedores idOneos; evitar tanto quanto possfvel a introdugao de material vegetal, principal- ‘mente mudas, dos quais nao se conhece © estado fitossanitirio; proceder ao tratamen- to de sementes e de mudas para erradicar possiveis infecgdes ou propégulos. Para este éltimo, uma alternativa ao uso de pro- dutos quimicos ¢ 0 tratamento térmico de partes vegetais. Esse processo ¢ eficiente para doengas causadas por diferentes pa- ‘6genos (Fungos, virus, baetérias e nema- tides) c€ relativamente simples. Em geral, temperaturas entre 70°C € 75°C por 30 min so suficientes para inativar a maioria dos fitopatégenos (Fig. 1, contracapa). O fator-chave para o sucesso de méto- dos que empregam calor no controle de doengas de plantas € a combinagio tempo temperatura, Geralmente, as sementes s40 ‘mais tolerantes ao calor que muitos pat6ge- nos. Poroutro lado, como partes propagati- vas tendem a ser menos tolerantes que os patégenos, devem ser tratadas a temperatu- ras inferiores e a tempo mais prolongado. controle do trifego de mudas cftri- cas provenientes de regides onde ocorre © cancro citrico, causado pela bactéria Xanthomonas axonopodis pv. citri, para locais indenes é um exemplo de medida le- sislativa ineluida no prinefpio de exclusio. A sigatoka negra, causada pelo fungo Mycosphaerella fijiensis, 6 uma das doen- ‘a8 mais destrutivas da bananeira e que até [pouco tempo no ocorria no Brasil. Atual- mente, esta doenga encontra-se na regio Norte do pais e no Mato Grosso, € até 0 ano de 2000, nao havia sido constatada na regido Nordeste/Norte de Minas Gerais, onde se concentra a bananicultura neste Estado. O transporte e/ou a entrada de mu- das, frutos e caixarias € proibido nessas regides. Até o presente, as medidas de exclusio tém sido eficientes em evitar a entrada do patégeno em Minas Gerais ‘A limpeza de equipamentos, de mé- quinas e de implementos deve ser incre- ‘mentada como medida complementar, para evitar que o inéculo seja introduzido em determinado local. Para muitas situagdes, por exemplo, em regides citricolas, onde o ccanero citrico representa uma ameaga, esses procedimentos sao rotineiramente empre- ‘gados com a adogio de pedilivios e rodo- livios (compartimentos onde so colo- ccados desinfestantes © por onde vefculos obrigatoriamente transitam). Apesar de 0 tratamento ser feito com produtos quimicos, cesta pritica limita ou restringe o uso deles somente nos locais onde esto instalados pedilivios e rodolivios e pode contribuir para reduzir a quantidade de produtos que ‘io usados na prevengio da infecgao. Esses Procedimentos podem ter seu emprego mais generalizado com a lavagem e desin- festagio de maquinérios, instalagdes ¢em- balagens. A simples lavagem dessas partes com égua em local apropriado (onde o que for lavado nfo contribua para aumentar a contaminago do ambiente) reduz.a quan- tidade de inéculo potencialmente passivel de ser introduzido na érea. Erradicagéo CO principio de erradicagdo visa a elimi- nago ou & redugdo da populagio do pat6- Agricultura Alternative geno de uma drea infestada, Em geral, as medidas slo executadas de modo que ve- nha a interferir na fase de sobrevivéncia dos patégenos. Dentre as medidas que servem a este propésito incluem-s: rota 0 de culturas, inundagio, pousio ov alqueive, bom preparo de solo € uso de plantas antagonistas (no caso de nemat6i- des). No entanto, algumas dessas medidas, no sio ecologicamente desejéveis. Por ‘exemple, para controle de patégenos que afetam a parte aérea das plantas e que no produzem estruturas de sobrevivéncia, preconiza-se a eliminagao de restos cultu- rais por meio de bom preparo do solo com aragdo € gradagem. Sob o ponto de vista conservacionista e de sustentabilidade, tais préticas ndo sio as mais adequadas, € o sistema de plantio direto é 0 mais reco- ‘mendado. Dados de pesquisa tm demons- trado maior intensidade de doengas em sistemas de plantio direto em monocultura (Quadro 2) ¢ que alguns fungos fitopato- g€nicos que afetam a soja (Macrophomina haseolina, Fusarium spp. € Rhizoctonia solani) podem sobreviver na palhada por at& 27 meses (Costamilanet al, 1999). Para aliaros aspectos de conservagdo das carac- teristicas fisicas ¢ biolégicas do solo aos de controle de doencas, recomenda-se a associagio de plantio direto e rotagio de culturas. Os beneficios desta associagio foram demonstrados para controle de do- engas foliares do trigo (Quadro 2) A adigio de matéria orginica ao solo (adubagao organica, incorporagio de plan- tas etc.) contribui para aumentar a diversi- dade ea aividade da microflora do solo. Nes- QUADRO2- Efeito da rotagio de culturas edo manejo do solo na severidade () de manchasfoiares (causadas por Drechsler trtc-repents,Bipolaris orokiniana e Septoria madorum) do trigo ‘BR 23 estidio de alongamento Stadt Treo] Pemo Manse | canto | out | commode | Ma eto | misimo | “Suieon | denvecn Mowat 7% | | es | wo | 30 romoa) | 06 | oa | o6 | a3 | 08 ronaoem | os | ca | a6 | as | 06 FONTE: Dados bisicos: Reis & Forcelini (1995). Agricultura Alternativa te processo, organismos benéficos e anta- ‘26nicos a vérios patégenos sio estimula- dos e competem em maior intensidade com fitopatégenos, estabelecendo-se, assim, 0 controle biolégico no solo. Este processo pode nao ser desencadeado imediatamente apd aadigdo de matéria organica e sua efi- cigncia depende da manutengdo continua- a dos aspectos biol6gicos do solo. ‘Com aadigdo de 30% ou mais de com- posto de esterco bovino em solo infestado com Pythian wtimum, aos 15 dias antes asemeadura, obteve-se controle eficiente de tombamento em pepinos (Bettiol et al., 2000). Estes autores sugerem que a ef cincia da adigao de matéria organica po- de ser resultado da maior atividade mi- ctobiol6gica, aumento do mimero de mi crorganismos antagonistas, assim como ‘de mieroartrpodos que ocorrem no com- posto, Nocaso de tratamento de solo com vis- tas d redugio da populagio de fitopatsge- nos, a pasteurizacio (62°C) deve ser uti zadaem detrimento desterilizago. Com a pasteurizagio, evita-seaeliminagao massal da microflora do solo, principalmente de organismos benéficos. Contudo, 0 custo da pasteurizacao, assim como a viabilidade de uso dessa técnica devem ser conside- rados antes de ser recomendada. O tratamento de solo ou de substratos com 0 aquecimento obtido com a solari- zacHo tem sidoeficiente para eliminago de \rios patégenos. A cobertura do solo com ‘um filme plstico transparente eleva.atem- peratura a niveis letais a fitopat6genos, porém de menor dano a organismos bené ficos. O tratamento de parcelas experimen- tais infestadas com o fungo Sclerotium rolfit foi eficaz em reduzir 0 niimero de escleidiosikg de solo ¢em aumentar a pro- dugio de feijio em dois anos consecutivos (Ghini etal, 1997), Para tratamento de subs- tratos, o uso de um sistema de coletor solar € wma alternativa interessante. Com este processo, obtém-se uma solarizagio mais ripida do solo com efeitos deletérios sobre propigulos de fitopatégenos. O tratamento de substrato utilizado para produgio de rmudas de tomateiro em coletor solar por dois ou trés dias foi suficiente para reduzir suibstancialmente a populagio de juvenis do nematside Meloidogyne arenaria (Ghini etal, 1998). O tratamento térmico de sementese de mudas é uma medida que visa eliminar estruturas de fitopat6genos presentes no material propagativo. Otratamento térmica de toletes de cana-de-agicar por imersio fem Agua quente visa eliminar infecgoes ccausadas por virus, bactérias e fungos. ( tratamento de restos de cultura de com o fungo Clonostachys rosea tem proporcionado a redugo da sobrevi- vvéncia do fungo Botrytis cinerea, agente causal do mofo cinzento, uma das doengas mais limitantes para a produgio de rosas, antagonista C. rosea 6 capaz de parasitar ashifas de B. cinerea e de competir com 0 patégeno, principalmente por nutrentes, 6 que contribui para reduzir sua sobrevi vvencianos restos culturais (Morandi etal, 2000). Imunizagéo Constitui na uilizagao de plantas resis- tentes a patégenos. O homem vem utii- zando variedades resistentes a doengas € 4 pragas hé muito tempo. O plantio de variedades resistentes é, sem divida, omé- todo ideal de controle de doengas de plan- tas, considerando que: 4) envolve baixo custo, pois a aqui- sigio de material propagativo de plantas resistentes geralmente nao € significativamente maior que ode otras variedades; 1) €de fic uso, pois nfo requer 0 em- prego de téenicas especializadas ou rio conhecidas pelos agricultores; ©) piso plantio, nfo requer a interven- «io do produtor; 4) 6 eficaz, pois a intensidade de doen- ‘ca serd menor e muitas vezes abaixo do limite de dano econémico; €) Eecologicamente desejével, pois per- rite a redugiio ou, em alguns casos, até mesmo a nio utilizagio de de- fensivos. Hi Timitagies que impedem ou restrin- _gemo uso generalizado de imunizagao, pois ‘nem sempre variedades resistentes a varios patSgenos esto disponiveis e, nio raro, Informe Agropecuiti, Bale Horizonte, v.22, n.242,p.9-18,set/ut. 2001 13 algumas variedades resistentes possuem ‘menor niimero de caracteristicas agrond- micas desejaveis. Contudo, as vantagens do uso dessas variedades suplantam, em muito, as desvantagens. Vale a pena considerar que as popu- lagées naturais de plantas nao so geneti- ‘camente uniformes ¢ nestas populagdes & Aificil encontrar uma planta com as mesmas cearacterfsticas de outra da mesma espécic. Similarmente, a maioria das culturas de subsisténcia, principalmente nos trépicos, & cultivada como misturas (espécies dife- rentes, gen6tipos diferentes, clones dife- renies etc.). Porém,em face das exigéncias da agricultura moderna, os grandes culti- vvos agricolas so constituidos de popula- Bes geneticamente uniformes, crescendo em éireas extensas. O melhoramento gené- tico foi utilizado para 0 desenvolvimento de cultivares resistentes a doengas,princi- palmente aquelas com resisténcia vertical que, normalmente, no € durdvel. Por outro lado, considere-se que, em geral, a popu- lagbes de fitopatégenos sio bastante nu- ‘merosas e,em muitas situacoes, de grande variabilidade genética, Assim, o manejo da resisténcia ¢ fundamental para prolongara vida Gti das variedades com resistencia vertical, Para tanto, deserevem-se as prin- cipais estratégias. Uso de mistura de variedades Esta situagao simularia 0 que ovorre na natureza, isto €,aexisténcia de diversidade genética. Tem-se observado que, quando se utilizam diferentes variedades de uma espéciecultivada numa érea, a intensidade dda doenga € menor. Essa estratégia € inte- ressante, prineipalmente por ser de baixo custo ¢ ecologicamente desejavel. Porém, mais apropriada para pequenos produ- tores, pois pode haver desuniformidade de plantas quanto ao porte, desenvolvimento, requerimento nutricional, tipo e qualidade do produto colhido, produtividade etc. Re- centemente, essa estratégia foi aplicada na regio de Jianshui, China e, como resultado, ocorreu redugao significativa na intensida- de da brusone, causada por Magnaporthe ‘grisea, principal doenca fingica da cultura do arroz (Quadro 3). 4 ‘QUADROS - Severidade da brusone (Magnaporthe grisea) em paniculas de arroz, producto valor da cultura com 0 plantio de uma culivar ou mistua de duas culivares Pai donarapetan| Mingo | Se ei ‘Huangkenuo (Suscetivel) 35,0 5,08 We Stat? esse) 40 vos | ser Minas Gaeginsstayats | _16 wow | 220 FONTE: Das ses: Zita GD Emensaio realizado no RioGrandedo _—_—Piramidagéo fui acess cists a= igemparnsth deve grace dere ‘mentes de uma cultivar de aveia suscet- vel A ferrugem (Puccinia coronata f. sp. venae), com linhagens moderadamente suscetiveis a doenga, Pelos resultados obti- dos, medida que diminuiu a proporgio de plantas suscetiveis na mistura, a intensi- dade da doenga também diminuiu (Michel etal, 1997). Uso de variedades que possuam resisténcia poligénica e duradoura, do tipo horizontal De certa forma, esta situagio também simula 0 que ocorre em ecossistemas na- tris, isto é hé grande variabilidade gené- tica nas populagdes de plantas. A doenga ‘do € completamente suprimida, mas seus efeitos so reduzidos. Redugdes adicion sero obtidas com outras medidas de ma- nejo, Apesar de essa estratégia ser eficien- te, nem sempre hé variedades que, conco- ‘mitantemente, tenham tais atributos e boas ccaracteristicas agrondmicas. Outra limi- tagio é a estreita base genética da espé- cieem questo, o que implica em pequena possibilidade de transferéncia de varios genes que conferem resisténcia duradou- 1a. Para varias culturas, principalmente as perenes, este tipo de resistencia seria a ideal, Muitas das plantas perenes cultiva- das, bem como os hibridos de milho, apre- sentam resistencia horizontal a doencas. A cultivar de cenoura, Brasilia, tem resis- t2ncia horizontal As manchas foliares eau- sadas por Cercospora carotae e Alternaria dauci sisténeia, geralmente genes maiores (R), ‘numa dinica cultivar. Tem-se assim, uma supervariedade capaz. de resistr a varias ragas do patégeno. A principio, a idéia € atraente, mas hé uma chance de surgir um superpatégeno capaz. de quebrar essa resis- téncia. Coma piramidacio de vérios genes ‘em uma variedade de aroz, obteve-se maior redugio da intensidade de queima bacte- riana causada por Xanthomonas oryzae py. oryame, do que 0 uso de diferentes varie- ades, cada uma com um ou poucos genes deresisténcia (Ahmedet al, 1997). Rotacéo de genes de resistén no tempo e no espaco Apesar do uso da resisténcia vertical trazer 0s problemas relacionados anterior- mente, a rotagio de genes de resistencia pode minimizar estes problemas, princi- palmente em culturas plantadas intensiva- ‘mente. Essa estratégia consiste em alternar variedades que tém resisténcia monogénica ‘no tempoe no espago. As mesmas varieda- des nao sao plantadas em sucessio e sim a

También podría gustarte