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John Hann - Opoderem movi ‘Unwersidade ambiental gan ‘Niklas Lubmana Sociologia classic ~ Mars, Durkheim, Weber Carlos Eda O senso pri Pierre Bor A pesaqu Na Titolo o do Sell Dados Intermacionats de Catal (Camara Brasileira do mq metodologicos Varios autores lografia watho ~ Universidade Federal do Rio de Janeica Estadual ce Campinas nto ~ Mosimentos soci ¢ rodeo a Teoria dos Sistemas ISBN 978.95.326-3681-2 1 2. Pesqui 08-05168, iene isa q Minas Gerais, expen perspeciva de anal Ering Golfenan fro, SP, Brast!) ra enfoques epistemologicos taducao de Ana Cristina #3 ed. = Petroplis, RJ: Vos, 2012. — na: La recherche qualitative sociais — Pesquisa ~ Metodologia tativa : Metodologia 300.72 seao na Publicacao (CIP) cpp-300.72 to LO) DAREN A pesquisa qualitativa Enfoques epistemolégicos ¢ metodolégicos Jean Poupart Jean-Pierre Destauriers Lionel-H. Groulx Anne Laperrigre Robert Mayer Alvaro Traducao de Ana Cristina Arantes Nasser EDITORA V vozes _ Petpols pig OF AE © 1097, Gaétan Morin fiditeur, Montreal, Canad tive: enjeux epistemologiques et ‘Titulo do original frances: La vecherche qual rmethodolog Direitos de publicacao em lingua portuguesa: 2008, Editora Vozes Lida Rua Frei Luis, 100 25689-900 Petropolis, Rf puleww.vozes.com.be Basil Todos 0 direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderd ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletronico ou mecanico, imeluindo fovocopia e gravacao) au arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissao escrita da Editors Diretor editorial Frei Antdnio Moser Edicores Aline dos Santas Carneiro Marilac Loraine Olenilt Secretitio executive ‘Joao Batista Keeuch ‘Editoracao: Maria da Concetcao Borba de Sous Projeto grafico: AG.SR Desenv. Grafico ‘Capa: juliana teresa Hannicket ISBN 978-85-326.3681-2 (edicto bras ISBN 2-89105.661.2 (edicao canadenss Eulitade conlorme 0 novo acordo ortogrilico. Luts, 100, (Calva Postal 99023 ~ Tel: 29) Fax: (24) 2231-4676 Sumario Apresentacao da cotecao, 7 Prefacio —Reflexdes sobre uma trajet6ria pessoal pela diversidade dos objetos de pesquisa, 9 Apresentacao, 31 PARTE I EPISTEMOLOGIA E TEORIA Sobre algumas questoes epistemoldgicas de uma metodologia geral para as, ciencias sociais| Alvaro P. Pires, 43 Contribuicio da pesquisa qualitativa a pesquisa social Lionel-Henri Groubs, 95 PARTE I DELINEAMENTO DE PESQUISA £ AMOSTRAGEM. ativa ris, 127 detineamento de pesquisa qu: Jean-Pierre Deslauriers ¢ Amostragem e pesquisa qu: Alvaro P. Pires, 154 ativa: ensaio tedrico e metodoldgico = PARTE Ill ~ ABORDAGENS E TECNICAS DE PESQUISA, metodologicas Jean Poupart, 215 A observacio direta ¢ 2 pesquisa qual Mylene Jaccoud ¢ Robert Mayer, 254 Aanalise documental André Cellard, 295 A sociologia como ciéncia da vida: a abordagem biografica Gilles Houle, 317 Pagte lV ~ ANALISE A inducao analitica Jean-Pierre Deslauriers, 337 A woriza¢do enraizada (grounded theory): procedimento analitico € comparacao com outras abordagens similares Anne Laperviére, 353 Sobre o método fenomenologico utilizado como modo de pesquisa qualitativa nas ciéncias humanas’ (eoria, pratica e avaliago Amedeo Giorgi, 385 Os critérios de cientificidade dos métodos qualitatives Anne Laperriere, 410 Indice dos autores, 437 Indice dos assuntos, 445 Os amtores, 455 Indice geral, 439 I | | | | Apresentacao da colecao Brasilio Sallum Jr A Colecao Sociologia atnbiciona reunir contribuigdes importantes desta disci- plina para a analise da sociedade moderna, Nascida no século XIX, a sociologia ex- pandiu-se rapidamente sob o impulso de intelectuais de grande estatura ~ conside- rados hoje cltssicos da disciplina -, formulou téenicas proprias de investigacio © fertilizou o desenvolvimento de tradicées teoricas que orientam o investigador de maneiras distintas para o mundo empirico. Nao ha o que lamentar o fato de a so- ciologia nao ter um corpus te6rico tinico eacabado. E, menos ainda, ha que esperar que este seja construido no futuro. E da propria natureza da disciplina ~ de fato, ma de suas caracteristicas mais estimulantes intelectualmente renovar concei- tos, focos de investigacao e conhecimentos produzidos. Este é um das ensinamen- tos mais duradouros de Max Weber: a sociologia e as outras disciplinas que est dama sociedade esto condenadas a eterna juventude, a renovar perman te seus conceitos a luz de novos problemas suscitados pela marcha incessante da historia, No periodo hist este ensinamento € mais verdadeiro do que nunca, pois as sociedades nacionais, que foram os alicerces da construgao da disci plina, estio pasando por processos de inclusa Iso, de intensidade variav sociedade mundial em formacao, Os socidlogos tém responcdida com vigor aos de- safios desta mudanea hist6riea, ajustando o foco da disciplina em suas varias espe- cialidades. A Colecao Sociologia pretende oferecer aos leitores de lingua portuguesa um conjunto de obras que espethe tanto quanto possivel o desenvolvimento tedrico e mnetodologico da disciplina. A colecdo conta com a orientacdo de comissio edito- rial, composta por profissionais relevantes da disciplina, para selecionar 0s livros a serem nela publicados A par de editar seus autores clissicos, 2 Colecdo Sociologia abriré espaco para obras representativas de suas varias correntes teoricas e de suas especialida~ des, voltadas pata o estudo de esferas especificas da vida social. Devera também suprir as necessidades de ensino da Sociologia para um piiblico mais amplo, clusive por meio de manuais didaticos. Por dltimo ~ mas nio menos impor- tante ~, a Colecao Soci almeja oferecer ao publico trabalhos sociol6gicos \ STANKO, E. (1980). “W ce You E me et/and Justice, vol. 7-8, n. 3-4, p. 220-225. TEDLOCK, B. (1991). “From Participant Observai pation; The Emergence of Narrative Ethnography”. ‘earch, vol. 47, p. 69-94. TEVIANT, S. (1983). “Les études de ‘communauté et la ville: héritage et pro. | blemes”, Sociologie du Tra 2, p. 243-256. a THRASHE! FM. (1927). The Gang (1963). Chicago: Phoenix. ‘TREMBLAY, M.-A. (1985). Une premiere saison en Acadie ou comment je suis devenu anthropologue sans le savoic, In: GENEST, S. (org). La passion de _| Pechange: terrains d'anthropotogues du Québec. Chicoutimi: Gaétan Morin, | p. 15-52. (1968). La technique d’observation. In: TREMBLAY, M.-A. Initiation aly Techerche dans les sciences hum p. 271-286. TRISTAN, A. (1987). TROGNON, A, (1987). Produire d MASSONNAT, J: TROGNON, A. ciales: observer, VAN DER MAREN, Education ~ Leth Recherche Quali AN MAANEN, J. (1988). Tale Universtity of Chicago Press VERDES-LEROUKX, J. (1978 VINET, A. (1975).La vie quotidie graphiques, vol. 16.0. 1. p. 85-112 id: On Writing Ethnography. Chicago: Paris: Minuit un asile quebécvis”, Recherches Socio WAX, M. (1971). Doing Chicago Press. WEBB, S. & WEBB, B and Advice, Chicago: University of 952). M iy. Londres: Longmans, Green. jeldwork ~ Vol. 1: Founda tions of Ethnography Management. Bev WHYTE, WF. (1943). si Slum (1993). Chicago: U YEAGER, P.C. & KRAM., Corporate Ethics”, Qi Topics in Cool Settings: The Study of 13,0, 2p 127-148. A analise documental* André Cellard As capacidades da meméria sio limitadas e ninguém conseguiria pretender me- rnorizar tudo. A memoria pode também alterar lembrancas, esquuecer fatos impor- tuntes, ou deformar acontecimentos. Por possibilitar realizar alguns tipos de recons- tmigao, o documento eserito constitu, portanto, uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciéncias sociais. Fle é, evidentemente, insubstitutvel em qualquer reconstituicdo referente 2 um passado Telativamente distante, pois nio é taro que ele represente a quase totalidade dos vestigios da atividade humana em de- terminadas epocas, Alem disso, muito frequentemente, ele permanece como tinico testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente. (O documento permite acrescentara dimensio do tempo a compreensio do so- cial. Como o ressalta Tremblay (1968: 284), gracas ao documento, pode-se operar um corte longitudinal que favorece a observacao do processo de maturacao ou de evolucao de individuos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, praticas, etc., bem como o de sua génese até os nossos dias No plano metodologico, & analise documental apresenta também algumas santagens significativas. Como 0 enfatizou Kelly (apud GAUTHIER, 1984: 296- 297), trata-se de um métodd de coleta de dados que elimina, a0 menos em parte, a eventualicade de qualquer influencia—a ser exercida pela presenca ow interven¢a0, do pesquisador —do conjunto das interacées, acontecimentos ou comportamentos dade de reacio dos sede medida Porém, ainda que algumas caracteristicas da andlise documental posstbilitem recorrer ao documento vantajoso em certos niveis, deve-se admitir que sett uso suscita também algumas questoes. Se, efetivamente, a andlise documental elimina em partea dimensio da influéncia, dificilmente mensuravel, do pesquisador sobre osujeito, nao € menos verdade que o documento constitui um instrumento qué © pesquisador nao domina. A informacto, aqui, circula em sentido tinico; pois, em- * Queremos agradecer a Alvaro Pires, do departamento de Crmminlogia dx Universidade de Ouse, ‘Miche Filion, dos Arquivos Nacionais de Canad, bem como a André LaRose ea Gerald Pellets, Pesquisadoresindependentes, pelos comentarios jadiciosos emitidas em relagto a este texto. a bora tagarela, o documento permanece surdo,e 0 pesquisador nao pode dele exig precisdes suplementares. © pesquisador que trabalha com documentos deve superar varios obstaculos¢ desconfiar de imiimeras armadilhas, antes de estar em condicao de fazer uma anal. se em profundidade de seu material. Em primeiro lugar, ele deve localizat 0s textos pertinentes e avaliar a sua credibilidade, assim como a sua representatividade, Q autor do documento conseguiu reportar fielmente 0s fatos? Ou cle exprime mais as percepoes de uma fragao particular da populacao? Por outro lado, o pesquisa, dor deve compreender adequadamente o sentido da mensagem ¢ cont o que repletas de termos e concei conhecido, etc. E, portanto, dor ter de tomar um certo mimero de precaucoes pi fae serao, parcialmemte, garantias da validade e da so! uma breve descricao do docu. sntos e dos procedimentos que jez de suas explicacoes, produzido, o autor € os atores sociais em cena, a contial nnatureza, sua légica interna, etc. Depois, apos algumas consideracbes gerats rel rentes A andlise, completaremos este breve exame com um exemplo de anailise al cado a dois curtos textos datando da época do Regime francés. © documento escrito Definir o documento repre: sir uma de suas princi Y. Langlois e C. Seignobos, em sua doravante des historigues (1898). fizeram dele. aliés.o piva de influenciou imtimeras geracées de historiadores. Para Langlois e Seignobos,c do, anocao de documento se aplicava quase exclusivamente ao text0, €, Pa mente, aos arquivos oficiais. Esta definicio decorria principalmente da aborc res da época, uma abordagem co: jiorais” des: reconsiderada devido ae ularmente pela Escola dos Anas 194: 43), Privilegiando uma abor (LEDUC, MARCOS-ALVAREZ; LE PELLEC dagem ais globalizante, a historia social documento. De fato, tudo 0 que é v rmunko, é considerado como documento ou atualmente, Pode tratar-se de textos escritos, mas também de documentos de tudo o que serve de 296 evista, ou anotacoes fet yuemos— também para trang) lo nao é nem a de retracar a evolucto xérica da metodologia, nem de fazer um levantamento de tudo 0 que pade cons- tuir uma “fonte”. Também nao temos a intengao de explicar como fazer a analise tado.o que pode tomara forma esctita, pois isto seria 0 mesmo que explicar toda I, eesta nao & a nossa pretensio, bem longe disto. O “docu- registrado em papel. Mai consideraremos as fontes, pritnérias ou secundarias’, que, por definicao, sao exploradas ~ e nao criadas — no contexto de um procedimento de pesquisa mos que a divisto que realizamos, aqui, estélonge de ser res- . pois existe uma abundancia de tipos de documentos escritos e iniimeras raneitas de agrupé-los em ordens ¢ subordens. Grosso modo, podem-se repartir esdocumentos em dois grandes grupos: os documentos arquivados”¢ os que nao 0 so. Por outro lado, pouco importa a natureza da documentacdo, quer de dominio silico, quer de dominio privado. Eis alguns exemplos. + Os documentos publicos: ~ Os arquivos publicos. Trata-se de uma documentacao geralmente volumosa tipo de arquivos compreende comumente: os arquivos governamen derais, regionais, escolares, ou municipais), 0s arquivos do estado civil, assim como alguns arquivos de natureza notarial ou juridica. = Os documentos piblicos no arquivados. Eles incluem, entre outros, os jor- nais, revistas, periodicos e qualquer outro tipo de documentos distribuidos: publicidade, amincios, tratados, circulares, boletins paroquiais, anuétios tele- + Os documentos privados: ~ Osarquivos privados. Ainda que ela ndo pertenca ao dominio publico, ocor- re que uma documentagao de natureza privada seja arquivada. Ela pode, con- sstitedssan sia tudo, sor de acesso bastante dificil. Trata-se aqui, principalmente, de doe mentos de organizagoes politicas, sindicatos, Igrejas, comunidades religiosa, instituicoes, empresas, etc ~ Os documentos pessoais. Esta categoria reine autobiografias, didrios ini mos, correspondéncias, historias de vida, documentos de familia, ete Existe, de fato, uma mul se compara a informagio que elas contém. Isso porque a pesquisa documental ex ge, desde o inicio, um esforco firme ¢ inventivo, quanto 20 reconhecimento dog depositos de arquivos ou das fontes potenciais de informacio, e isto naoapenasem fangdo do objeto de pesquisa, mas também em funcio do questionamento. Uma preparagao adequada é também necesséria, antes do exame minucioso de fontes documentais previament icadas. Nesse estigio, o principal erro consiste em se precipitar sobre o primeira bloco de documentos obtido, antes de realizar ‘um inventério exaustivo ¢ uma selecdo rigorosa da informacdo dispontvel. E im. portante aprender a decodificar e utilizar os instrumentos de pesquisa preparados pelos arquivistas, a fim de assimilar a logica que presidiu a classificacéo da docu. ‘mentagio, Devern-se tomar as mesmas precaucdes com os arquivos privados oua documentacdo pessoal. Uma pessoa que deseje empreender uma pesquisa documental dev‘ com oob- licidade de fontes documentals, cuja variedade nig “4 Jetivo de constituir um corpus satisfaisrio, esgotar todas as pistas capazes de the | fornecer informacoes interessantes. Se nossos predecessores deixaram vestigios documentais, eles raramente o fizeram com vista a possibilitar uma reconstrugéo posterior; tais vestigios podem se encontrar, portanto, em toda a sorte de locais, os mals heterogeneos. A experiencia pessoal, a consulta exaustiva a trabalhios de o tos pesquisadores que se debrugaram sobre objetos de estudo andlogos, bem como a iniciativa € a imaginagdo, também integram adequadamente a constituicdo desse corpus: os pesquisadores mais aguerridos sabern que os docuraentos mals e- veladores se escondem, as vezes, em locais insuspeitos. De resto, a flexibilidade & também rigor: 0 exame minucioso de alguns documentos ow {es novas, oul mesmo modificacao de alguns dos pressupostos iniciais, Esse foio caso, por exemplo, quando realizamos nossas pesquisas sobre « historia da loucu- ra, no Québec, de 1600 a 1830. A documentacdo, sobretudo para o periodo do Antigo Regime, parecia razoavelmente rara. Assim 0 haviam constatado outros pesquisadores antes de nés, seja na Europa, ou nos Estados Unidos. Eles deviam se Contentar com uma documentacdo quase exclusivamente institucional, ow ainda, proventente da elite instruda, ocultando, assim, 0 ponto de vista das pessoas Co” uns sobre a loucura, assim como 0 cotidiano vivido pelas pessoas acometidas de desordem Thado, nés nos perguntamos se a sociedade canadense do Antigo Regime havia rental, Familiarizados com o meio psiquiatrico, por termes nele trabs- | nhecido o processo judicidrio da tutela, uma vez que nosso direito civil decorte, emboa parte, do antigo direito consuetdinario frances, Fssa pista nos levou a des fobrir que a Franca do Antigo Regime, e, consequentemente, a Nova Franca, pos- safam um sistema de tutela privado, interdicao ¢ tutela, para as pessoas sofrendo de distirbio mental. Esses dosstes, de uma imensa riqueza, esto conservados nos ‘rquivos Nacionais do Québec. Eles contém, sobretudo, os depoimentos de pes sas proximas aos pretensos loucos, reportando seu comportamento, as reagdes provocadas por sua “anormalidade”, e assim por diante. Esses depoimentos de pessoas “comuns”, que haviamn sido fielmente registrados por tum eserivio, perm tem fazer uma andlise muito acurada da situacdo vivida pelas familias ¢ pelos co: nhecidos dos “loucos”, seja qual fosse seu nivel de cultura (a maioria era iletrada), durante um longo periodo. Assim, tivemos a surpresa de constatat, principi mente, que 0s conhecidos dos alienados nao haviam desempenhado um papel tao assivo no advento do manicomio quanto nossos conbiecimentos teéricos nos hi iam até entao levado a supor. Voltaremos, mais adiante, a esse aspecto da anali- se documental Aanalise preliminar: exame ¢ critica do documento Como nés 0 mencionamos anteriormente, I transformar um doc mento; € preciso aceité-lo tal como ele se apresenta, tao incompleto, parcial ou im- preciso que seja, Torna-se, assim, essencial saber compor com: algumnas fontes do- fumentais, mesmo as mais pobres, pois elas sto geralmente as unicas que podem nos esclarecer, por pouco que seja, sobre uma situagio determiaada. Entretanto, continua sendo capital usar de prudéncia ¢ avaliar adequadamente, com um othar ico, a documentacao que se pretende analisar. Essa avaliacao critica constitu etapa de toda analise documental. Fla se aplica em cinco diten- sbes que examinaremos aqui. O contexto A exame do contexte social global. no qual foi pre ent eno qual merguthava seu autor eaqueles a quem ele fot destinado, ¢ primordial, em to: das as etapas de urna andlise documental, seja qual tenha sido a época em que 0 texto em questao foi escrito, Indispensével quando se trata de um passado distal te, esse exercicio o € de igual modo, quando a analise se refere a um passado cente. No uiltimo caso, contudo, cabe admitir que a falta de distancia pode compli- cara tarefa do pesquisador. Seja como for, o analista nao poderia prescindir de conhecer satisfatoriamen- tea conjuntura politica, econémica, social, cultural, que propiciou a producto de tum documento determinado. Tal conhecimento possibilita apreencler 0s esquemas concettuais de seu oui de seus autores, compreender sua teacao. identificat as pes- soas, grupos sociais, locais, fatos aos quis se faz alusdo, etc. Pela analise do con- texto, 0 pesquisador se coloca em excelentes condigdes até para compreender as compreender jo st ignora tudo sobre aquele -xto, a Interpretaclo que é de uma desericao, as de- geindividuos, ou seja, os que pertenciam a classe instruida, podiam expressar seus pontos de vista por meio da escrita.£ preciso, entio, poder ler nas entrelinhas, para poder compreender 0 que 0s outros viviam, seno nossas : ° fisco de ser, grosseiramente, falseadas. Um bom ex gem da Nova Franca, longamente veiculada pela historiografia tradicional. Uma vez {ue uma enorme parcela das fontes acessiveis provinha de religiosos, como os jesut- tas, ede membros de comuni smerosos na colénia, & €poca -, a reconstituigao do passado, efetuada pelos historiadores, baseava-se essencialmente ‘as interpretages, percepgdes ¢ conviecdes transmitidas por essas pessoas desejosas de valorizar os progressos realizados. Também se teve por muit jmpressao de que os primeiros habitantes da colonia eram bastante dev‘ ‘antes € respeitosos da Igreja e da ordem estabelecida, Falava-se também dos ros decretos de intendentes e mandamentos de bispos tocando diversos asps vida cotidiana, como prova de que o Estado eo clero exerciam uma forte influéncia Sobre os habitantes, em matéria de pratica religiosa e de mor ‘uma leitura mais ritica desses ikimos documentos possibi gembem diferente dos habitantes de Nova Franca. Assim, por exemiplo, parece mais prudente concluir que se um bispo pede a seu clero para proibir os rem ou de brigarem durante a missa, € porque, efetivamente, alguns que os habitantes no mudaram de comportamento, apesar das 12 outra imagem do grau da autoridade exercida pela Igreja sobre seus “figis” JAENEN, 1976). Sistematizando a referida leitura, e com- pletando-a com outras fontes documentais de apoio, o pesquisador pode, portanto, chegar'a uma imagem da relacao dos primeiros canadenses com a religido, diferente daquela & qual nos haviamos habituado no passado. A.qutenticidade e a confiabilidade do texto [Nao basta, entretanto, informar-se sobre a origem social teresses particulares do autor de um doctimento. E também importante assegu- rarse da qualidade da informacao transminda. Por exemplo, ainda que # questa da antenticidade raramente se coloque, nao se deve esquecer de verificar a proc: dénicia do documento. Em alguns casos, é também necessirio considerar o f documentos nos chegém por intermédio de copistas q ir escritas quase ilegiveis. Principalmente os historiadores hi muito aprenderam a desconfiar de possiveis erros de transmissio. Por outro lado, ¢ importante estar sempre at torou os autores € o que eles descrevem. Fles foram testemunhas diretas ou indi tas do que eles relatam? Quanto tempo decorreu entre o acontecimento € a ste Aescricéo? Eles reportaram as falas de alguma outra pessoa? Eles pod: enganados? Eles estavam em posicao de fazér esta ou aquela observacao, de estabe- lecer tal julgamento? ete. Em alguns casos, nao € superfluo familiarizar-se com os oo instrumentos de coleta utilizados pelos autores, Este a3} teno caso de documentos como os recenseam ios destin dos aos recenseadores experimentaram gran ‘* jempo, Anatureza do texto car que nao € possivel expr rl inado aos seus superiores, ¢ em se te, deve-se levar em consideracao a natureza de um text tirar concludes. Efetivamente, a abertura do autor. 0 de um texto podem variar enormemer do. Eo caso, entre outros, dedoe ca, que sao estruturados de forma diferente e 50 ad em fungio de seu grav de iniciacao no foi i ‘mentos para os historiadores. Quando escreveram seu Langlois e Seignobos (1898) mo. Consequi dos docu. tera e externa do documento, toriadores que vieram depot pessoa pode narrar a digdo de faze 2 7 catisfatoriamente o sentido des termos empregados pelo autor ou os autores de wm 0. Para os textos antigos, isso ¢ evidente, jd que a significagao de intimeros ter- 20 longo dos anos. Tomemos 0 exemplo do “tratamento moral”, pelos médicos alienistas no século XIX. Um observador pouco advertide ivamente” crer que o termo “moral” utilizado aqui concerne aos cos- .€ mesmo que em pleno pertodo vitoriano, es tes de tudo corr toda uma outta conotacao. Foi o zou primeiramente a expressao “tratamento moral”, a fim. ‘da dos outtos médicos, cujas “terapias” eram, sobretudo, de ordem fisiologica {gmedicamentos, sangrias, etc.). Pinel, por sua vez, buscava restaurar 0 “moral” de seus pacientes. Como 0 termo “psicologico” ainda nao existia, ele qualificou sua shordagem de “tratamento moral”, Esté claro, desde entio, que a interpretacao dos do século XIX poder variar sensivelmente, conforme o sentido (0 "moral’. Delimitar adequadamente o sentido das palavras e dos con- rente no caso de documentos mais re- textos al dado0. cxitos€, centes nos quais, por exemplo, que contém regionalismos, gftia propria a meios particulares, linguagem popular, tie, Deve-se também prestar atengdo aos conceitos-chave presentes em tum texto € avaliar sua importancia ¢ seu sentido, segundo 0 contexto preciso em que eles $20 empregados. Finalmente, ¢ ttl examinar a logica interna, o esquema ou o plano do texto: Como um argumento se desenvolveu? Quais sio as partes principais da ar- gumentagdo? ete. Essa contextualizagio pode ser, eetivamente, um precioso apoio, quando, por exemplo, comparam-se vétios documentos da mesma natureza. Aandlise Com o trabalho de andlise preliminar devi te completado, & 0 mome: (0s da problematica ou do quadro tesrico, con- sito, auteres, intr lidade, natureea do texto, conceitos-chave pesquisador podera, assim, fornecer uma interpretacdo coerente, tendo em conta tematica ou o questionamento inicial. Como em todo procedimento que levou 0 ador atéa analise, a abordagem permanece tanto indutiva quanto dedutiva. asduas se 120 das questoes que o historiador se coloca, ele seleciona e 0 vestigios do passada, ates para a sua pesquisa. Ele nao se fecha em um esquuema indutivo ~ do documento tira-se 0 fato—, mas ans ites para confirmar, invalidar, entiq teses. A inducdo transenitida pelas citncias da natuceza primes cedimento que privilegiaa problematica, o quest MARCOS.ALVAREZ; LE PELLEC, 1994: 42) Er StS hips, AO € nem Esse tipo de abordagem analitica deve muito a Escola dos Anais e sed da abordagem positivista da escola metodis ima, como 0 vines, contava coma acumulagio de fatos histéricos incontestaveis:o trabalho de analise cons tia, principalmente, em fazer uima sintese dos elementos assim acumnulados. A his, ‘oria social modificou essa sbordagem, e, doravante, procede-se preferencialments pela desconstrugto ¢ reconstructo dos dados. Michel Foucault mostrou mute bem essa nova posigdo em sua obra Archéologie du savoir: A histéria mudou de posicio em relagao ao documento: ela se como tarels prime! stingue arte en ves, etbelece series, distinguco que € io 0 & ident ram, 0 que ¢ pass definic, no proprio ages (FOUCAULT, Definitivamente, como bem 0 argumenta Foucault, o pesquisador deseo: tritura seu material & vontade: depois, procecle a uma reconstrtcao, com vista ponder ao seu questionamento, Para chegar a isso, ele deve se etmpenhar em desco- brirasligacdes entre os fatos acurnualados, entre os elementos de informacdo que pa Fecem, imediatamente, esttanhos uns aos outros, como o assinala Deslautiers (199) 79). E esse encadeamento de ligacdes entre a problemitica do pe versas observagdes extraidas de sua documentagio, 0 q explicacdes plausiveis, produzir uma interpreta 1cdo de um aspecto qualquer de uma dada sociedade, neste ou naquele momento. A fim de estabelecer essas ligacoes e de cons € importante extrair os elementos pertinentes do texto, compara elementos contidos no corpus documental. A maioria dos metodol da-em dizer que €a leitura repetida que permi similitudes, relagoes e diferencas capazes de levar a uma reconstrugao admiss confidvel. As combinacoes possiveis entre os diferentes elementos coi fontes estabelecem-se em rel co, mas personalidade do pes- quisador, de sua posi¢ao te6rica ou ideolégica, A essa altura, a reconstrucao se opera, geralmente, a partir do que Deslauriers, baseando-se ein Carl Jung, chama aincronicidade; ou seja, o momento em que uma soma de ideias ou de pensa- Spenios se une para formar uma explicacdo, em que um certo raciocinio se constroi fitinamente, € em que uma ligago se estabelece entte varios fatos e faz-se & fy E nesse estgio que a imaginacao ¢ a intuicao do pesquisador sio mais utiliza- dis (DESLAURIERS, 1991: 87-91, LETOURNEAU, 1989). Cor pebatiento magico, pois esse momento crucial da andlise ese “e fe fato; rata-se de uma aptida ao de reflexdes, leituras,discusstes com outros pesquisadores, etc. Sali {Gis também, por outco lado, que o tempo passado na coleta dos dados frequente- inte possibilta uma reflexo continua a maturacio de algonias ideias ou bips- teges que levam a formmulacao de explicacdes plausiveis, “4 qualidade ca validade de uma pesquisa resultam, por sua vez, em boa parte, das precaucoes de ordem critica tomadas pelo pesquisador. De modo mais geral, € qualidade da informacao,a diversidade das fontes utilizadas, das corroboracdes, dis intersecedes, que dao sua profundidade, sua riqueza e seu refinamento a uma salise’. Deve-se desconfiar de uma andlise que se baseia numa pesquisa pobre, na «aul o pesquisador 56 considera alguns elementos de contexto e uma documen- tucio limitada, visando formaular explicagdes sociais. Uma analise confidvel tenta cercat a quest2o, recorrendo a elementos provenientes, tanto quanto possi fontes, pessoas ou grupos representando muitos interesses diferentes, de modo a também € preciso contat coma capacidade do pesquisadior em explorar diferentes pistas teoricas, em se ques- tionar, em apresentar explicacdes originais, ete, Entre os historiadores quebequenses, Fernand Onellet inovou muito, no inicio suas reconstrugses, Ansiando demonstrar, por exemplo, que o fervor nacionalista niio era a tinica razio que havia levado os habitantes a se sublevar, quando das rebe~ liges de 1837-1838, ele consultow, entre outros, arquivos paroquiais, tais como os ram seu apice ao longo desse antes, com Jean Hamel blemas agricolas grave (OUFLLET, 1966, 1976). Um Escola dos Anais no Quebec, Ou 0 te6rica que o levou a dar uma interpretacéo totalmente diferente para algumas quesides cruciais da historia do Québec, tais como a Conquista, a presenca de uma 2, qualidade e a diversidade, mas n30 dade; confiabildade; proximidae: cao das categoras; ot sea, colear depoimentos wna imagen coerente do fendmneno pesquisedo. burguesia financeira em Nova Franca, ou as causas das rebelides de 1837-1838, 4 liado & escola de pensamento neoliberal de Cite libre, que descontiava do nacions lismo quebequense, Ouellet atraiu logo a ira dos nacionalistas tradicionats listas, cujas teses, entdo, dominavam amplamente na historiografia qua enham chamado de “traidor®, “colaboracionista”, ou , que ele tdo bem colocou em pritica, na sua obra Histoire économique et soc Bas-Canada (1966), € pela qual ele foi respeitado e mesmo admirado, E, porém, em razdo da importancia da busca da diversidade em termos fontes, que se adverte o pesquisador para realizar pesquisas em um estado de eg sito orientado pela inducao. Evidentemente, ¢ importante formular, desde o nie algumas ideias diretrizes, propondo um quadro tedrico, mesmo restrito, afin frientar as analises minuciosas, Contudo, tal quadro deve continuar flexivel, po diante de novas fontes documentais, bases de arquivos inesperadas, pode-se ser xado a elaborar novas teorias, novas hipoteses, ou a aperleicoar alguns conceites = iniciais. E preciso, portanto, manter o espirito critico, todavia aberto, pots nunca, se sabe quais surpresas nos reservam os exames minuciosos dos documentos Como o haviamos anteriormente mencionado, aquilo que apreendemos desco. | brindo a documentagao de interdicao € tutela € que nos abriu novas perspectivas | para a explicagao do advento do manicOmio no Québec, permitindo-nos matizar sensivelmente nossas proprias pasigdes em relacao a isso. ‘ Um exemplo de analise documental c 0 ve, a andlise documental constitni, gerakmente, una emprei "go. Por isso, nao ¢ facil dar um exemplo real dela, afora outras pesquisss foram realizadas satisfatoriamente. No entanto, nas paginas que seguem, ten- » dar um exemplo muito breve de andlise documental, servindo-nos de dois | embrar que 0 exemplo€ alo sob a perspectiva de-uma pesquisa documental, ¢ nao do comentario de doct- mento" certo que, como um pesquisader poderia encontrar se diante de centenss de comentérios para cada texto, dossié ou documento que passasse por suas 9] maos. O nar e cle andlise que expusemos anteriormente ie. de fato, a uma abordagem global que deveria se tornar automtica para todo” a 5 redigir eds ote quatto pt isador voltado a pesquisar uma documentagio determinada, documento ‘Osdocumentos que apresentamos foram, inicialmente, considerados no ambi- ‘deta pesquisa realizada numa perspectiva “critica”, que visava, entre outras isas, evidenciar as primeiras medidas de regulacio social em Nova Franca, pa jlarmente aquelas que levaram 20 surgimento dos hospitais gerals, em, 1692. ‘lica, pretendiamos grosso modo delimitar as principais mudancas socioeco- icas provocadas pelo advento progressivo do capitalismo, que, por forca de si- fhagdes desestabilizadoras que o acompanhavam, acarretou medidas correttvas jano da regulacdo social. Os primeiros séculos em que se intensificou a implan- fiedo do capitalismo foram marcados, no Ocidente, por periodos de vazios ¢ de Silies econdmicos, que deixavam sem recursos os cariponeses que vinham se montoar nas cidades, na esperanca de trabathar nas fabricas —0 que criava, muito fequentemente, situagdes potencialmente explosivas. Segundo Michel Foucault (971), dentre outros, a apari¢ao dos hospitais gerais, no século XVII — estas insti- tuigdes destinadas & internagdo de pobres, vagabundos, libertines, prostitutos, Jnucos -, constitui uma medida de controle social, para restabelecer a order epocas de crise, pelo sequestro dos provocadores sem-trabalho, e pela dispo: dade de uma mao de obra a bom preco, nos tempos de prosperidade. Para compre- ender devidamente a genese do aparecimento dessas instituicées semicarcerarias, 19 final do século XVII, no Québec, buscando medir até que ponto, também aqui ainstalacdo at tais instituicdes se insere numa dinamica socioeconomica seme- Thante aquela que levou ao grande isolamento na Franga, pateceu-nos pertinente ‘orientar nossas primeiras andlises dos documentos, tendo em conta as medidas to- madas pelas autoridades da colonia a fim de gerir o problema dos sem-trabalho & dos marginais, antes de optar pelo hospital geral como soluefo. Tendo como alvo of diversos decretos promulgados pelas autoridades com vista a regulamentar 0 problema colocado pelos sem-trabalho ¢ as desotdens por eles cometidas, hat mos empreendido nossa pesquisa documental a partir de 1692, ¢ remontado no tempo até o surgimento das primeiras legislacdes pertinentes. Nossas sondagens. ros possihilitaram cobrenida deccahriv dais decretns emanadas da Conselho <0- berano ¢ que constituem os dois primeiros textos dirigidos aos mendigos ¢ vaga bundos da colonia. © primeito data de 1677. Decreto referente a proibiedo de mendigar* Sobre o que fot reapresentado & Corte, pelo procurador-geral do Rei de que ha cerca de trés anos a mendicidade for introduzida nesta, receberam "presente decreto eum outro (também sranserto mais adiante neste text (do direta do francts praticado no séeulo XVI, nfo apresentando, po Ae construgses gramaticais hoje vigentes (NT) ow x8 b que poderia ocorrer se a mendicidade e 8 indol ido as penas que le Volta estas casas stem forca de lei, Esté-sediante de uma sociedade de Antigo Regime, na qual o Spitalismo comecow a abrir ca ‘ao trfico de peles, ghica‘inddstria” da colonia, Traa-se, efetivamente, da tinieaatividade econdmica ue permite a alguns comerciantes a acumulacdo de capital, e que emprega um fade numero de pessoas, cerca de oitocentas, & época (HAMELIN, 1960: 107) fav é) tma enorme proporcao de toda a indo de obra assalariada da colonia. © mnte Jean Talon havia se empenhado bastante em diversificar a economia, a0 tengo do exercicio de seu cargo, mas, no momento de sua partida, em 1672, houve tuarevitavolta. A chegada de Frontenac, obcecado pela reconstituicao de sua for- tanapessoal c apressado em se enriquecer por meio do trifico de peles, provocaria gnaconcentracdo sem precedente da atividade econ6mica da colonia, no setor do tufico. Area de abastecimento de peles se decuplicou, rapidamente, € 0 mercado turopeu'se viu inundado de peles. Essas negociacoes logo desestabilizaram o tni- fo mercado de trabalho importante na colonia, jé que, de 1676 2 1679, as autorida. {esse veem na obtigagao de proibir a atividade de caca e comércio de peles, e, em 1, institu oficialmente o regime dos feriados anuais de tréfico. Sob esse novo me, apenas alguns privilegiados titulares de permisso podem, doravante, mo- popolizar todo o trafico de peles. Segundo Hamelin, “o monopdlio do trafico de fs por uma categoria social determinada privou uma multidao de individuos marginals de uma renda complementar que lhes possibilitava saldar suas compras, ‘no agricultor ou no comerciante. Agora, para sobreviver, particularmente em tem- pos de crise, esses individues se endividam [..J* (HAMELIN, 1960: 57). (Os anos 1670 ¢ 1680 sao também palco de conflitos penosos para a populacio, 1 05 iroqueses, de tum lado, incomodados com 0 engrandecimento da rede de -0 dos franceses, e depois, com os americanos e os ingleses, quando da guerra da liga de Augsburgo. A colonia conheceré inclusive a pentiria, a partir de 1686. E possivel que os trabalhadores que dependiam totalmente do comércio de pe- les fossem fortemente afetados pela crise que abateu esse mercado, a partir da me- tade dos anos 1670. Sem diivida, é a esses desempregados que se dirige 0 decreto we acabamos de ler Os autores Bese texto emana do Conselho soberano da Nova Franca, Q Conselho exercia, ntio, varias fungdes judicidrias e administrativas. Ele servia de tribunal de apela. ao, em materia civil e criminal, e tambem pronunciava sentencas. Ele tinha o ditei- tode controlar, por exemplo, as nomeacSes dos juizes, e podia regulamentar 0 co- i, assim como o preco dos alimentos. Em termos da “policia®, ele se interes- sava pela assisténcia social, pela protecao dos benss, pela prevencao dos incéndios ¢,como 0 vimos, pelas desordens, (© Conselho soberano reunia os habitantes mais importantes da colonia: isto é, os detentores do poder. Tinham nele assento 0 governador, o intendente, obispo € 0 habitantes), ja que o documento relata que os “mendigos” teriam ameacado pi as “principais casas desta cidade, vangloriando-se disso”. Finalmente. os do intendente sto também representados, por ser ele o responsavel pela ocdem pela policia. E, aliés, principalmente no sentido dessa considderacao, a ordem pi. blica, que convergem os interesses dos diferentes autores desse texto ram reproduzidos, no presente ¢: 1891, Hai mais de um si dores uma fonte con! sobre a Nova Franca, Nao se podk cles encerram, Trata-se também redigido apos um enc portanto, crer que as falas aqui reportadas pelo secretario sao bas foi enunciaco durante a reuniao. Quanto a confial prova nela apresentados, também é bastante di vex mais, & natureza do docu selho junto a populacto. Nao é, to da analise Os conceitos-chave ¢ a estrutura légica do texto Trata-se di 1n decteto que proibe mendigar. Na pi sma que levou 0 Conselho a estabele para ganhar sua vida depois, a formulacao da proibicao ou da ilegalidade (de “Reque 17, a". mendigar nas cidades", linha 23), €, contraventores (de “instituindo-se ai o dit ctiada, nao se tinha toral certeza da ortografia exata de al no slits, 8 qual ndo se conlere, na época, a importancia que Ihe sera dada posterior sendo, essa diferenca das ortografias nao constitui verdadeiramente cisoestar a desbravar, ou, mais exatamente, de desmatar (quando da chegada dos primeiros folonos, 0 solo esta totalmente coberto de florestas e € necessario “desertar” sua tera, antes de poder fazer com el quer que seja). Tambem se verificarao al- gins termos ou conceitos-chave que se repetem frequentemente, quando se faz sluso a0s mendigos: € 0 caso de “mendicidade” e de “mendigo”, que nao fazem sengo “mendigar”, em razio de sua “indoléncia” e de sua *vida ociosa’’ analise Estamos, portanto, diante de um texto que se dirige, evidentemente, aos de- sempregados do trafico de peles. F isso, 20 menos, o que deixa entrever 0 contexto socioecondinico desses anos. Quando da partida do regimento de Carignan, em 1668, uma boa parte dos 400 soldados que decidiram permanecer na colonia tor- €, a0 que parece, cacadores © comerciantes de peles. Com as dificuldades comhecidas, pouco depois, pelo mercado, em razao da superproducdo e da proibi- io de praticar o trélico, torna-se perfeitamente plausivel pensar que esses “mend\- 20s” a0s quais se dirige o conselho— essa gente que nao cultiva a terra para garantir sua subsisténcia ~ s4o, bem ou mal, esses desempregados oriundos da crise repen- tina no setor das peles. O problema parece, aids, bastante recente, ja que nuncaan- tesse fez mengao as desordens ligadas a qualquer mendicidade (cles teriam surgi- do havia trés anos, segundo o documento). Essa nao €, contudo, a analise que os tmembros do conselho fazem da origem do problema, a qual € bem mais suméria: *[.] que faz aproximadamente trés anos que a mendicidade foi introduzida nesta cidade por quatro ou cinco mulheres dos locais cireunvizinhos, que ainda tiveram saudicia, dentre outras coisas, de viret aqui também mendigar [..". Sua explica- : ie tudn indica, os o inais Himitada, 2 @ om m manne emir, que, a0 rembros do conselho se interessam totalmente pelo problema, e, inclusive, nfo sio isentos de responsabilidade em relacdo & situagio econdmica desastrosa que prejudica essa gente (os “mendigos”, de sua parte, parecem estar bem conscientes disso, jd que eles ameacam pilhar as principais casas da cidade). Porém, 0 argu- bem outro e incrimina primordialmente 0 individu. Isso & sncao a0 vocabulario emprega- , vida ociosa ~ para designar os miserdveis los XVIe XVII, quando os pobres viam desaparecer o sentimento de simpatia ms ‘ica que os havia acompanhado durante toda a [dade Média. O pobre é, doravante, principal responsavel por sua condicio, devide a preguicae a indolencia. E, pior, am 7 ele € tomado como perigoso e fonte de desordem e de instabilidade. Para re a situagao, ordena-se, pois, a esses “mendigas”, sob pena de punicdo, de “vo para stas tertas ¢ viver do fruto de suas coletas. Eis somente que o documenig produzido no fim do-verio. Ainda seria preciso que esses mendigos tenham ten. de “desertar” suas terras, semed-las, ec.,antes de poder tirar de 7 : s,etc., antes de poder tirar delas algum el de subsistencia aitiaalee i eae | Por outro lado, segundo o procurador-geral, haveria mais de 300 mendigos tomo da cidade de Quebec. Esse dado & surpreenciente, poisa cidade contava quer | do muito, com 1.200 habitantes, na epoca. Aqui, das duas uma: ou isso se doves ‘um problema socioecondmico bastante grave: problema este que o Conselhsa_| propoe a solucionar, ameacando punir aqueles que nio retormam para uma ters, antes de oito dias; ou entao, o problems é, voluntariamente ou por teacao de pins co, exagerado pelas autoridades, a fim de justificar sua intervencao. Fife cionar-se em relagao a isso Seja como for, a solugao preconizada nao pa rer tido a eff _s] aque, em 1683, 0 Concelho ¢ obrigado a volta A earga com umn segundo dene proibindo mendigar: e Trobiges aos mendgossadios de mendige neta cidade, cy Bem de hes dar esmols com pons peounred 10 es, Sobre o que fot ceapresentado pelo procurador- smo dia de agosto de 1677, Cate teria profbigtesa todos os mendgossaiesd cidade, sob pena de punicao, [...] o: retorafam, esobreacrgat © pl ondiglo de ganar sta vida ectam sida ue os leva tds expecie de desordem, colocando-osna condi es ueteem servir nerirn habtante do pas ainda que seb a émvonmenecessdade de doméstices, sem comar ae # tle constoem em torno da cidade transforma seem locas candalo ede desordem no tendo tats peseas Se eure toda especie de gentalhassendo pa tat agora, que eles tena tempo dese feta dese estabel suc que coir obo, anes nesta requerendo o dito procuradr gral to,esabelecam-se intrdid dios de mend de paniho, se de recitea, no fagelo,autorizando ea dele sir em oto das 4 permancee em ss casas; Com tanbem todas vs pesaous de Auer qualidade e condo, de dar ow delve dat esolas 5 coma pena pecusria de 10 libs] Dem m2 || ema. Eles continuam sendoracusados pel procederemos, brevemente, & andlise preliminar desse segundo texto, ja que geautores € 0S interesses sAo simplesmente os mesmos que examinamos para © Sato precedente, Como o vimos anteriormente, 0 contexto € diel no que conces- tao trfico de peles. Aqui, a construgdo do texto pernanece simplesmente a mes- salvo que o tom se radicalizou em relagdo aos mendigos, na exposicao do pro- vida ociosa e por serem motivo de Jpsordem., Fala-se em “gentalha® e em “gente sem honra", sobretudo quando eles serecusam, a0 que parece, a servir de domésticos de pessoas que bem necessita- am deles, Essa radicalizacao da linguagem € acompanhada de uma radicalizacdo fm termos das penas prescritas aos “recidivistas”, as quais sio mais precisas do que so primelzo texto: a canga, na primeira ofensa; ¢ o flagelo, na segunda, Aqui, nds Nes encontramos diante de uma linguagem € de um logica punitivas, completa inente modernas. Como no decreto precedente, este prescreve penas diferentes, jar405 mais cOmodes que batem as portss. Nao se trata mais da desonrosa canga, Fem do flagelo; mas sim, de urna multa por meio da qual 0 contraventor pode facil- mnente se absolver, e cujo montante rou desde a titima vez A breve andlise que fazemos desses dois textos nos deixa entrever que, confton- tadas com alguns problemas socioeconémicos causados pelos sobressaltos do capi- tlismo nascente —e que sfo, portanto, novos, para elas -, as autoridades da colonia mio saben muito bem como reagir. Sua analise da situacdo € sumiria ¢ superficial e this nio conseguem dar cabo de seu problema. E por uma razao evidente: 0 Conse~ those atém maisao sintoma do problema (os desempregados), do que as suas causas reais, Logo, nao tendo esse decreto mais feito do que o precedente, ¢ também diate deuma situacdo que se agrava, as autoridades se voltardo rapidamente para uma ou- masolucio, a da Agencia dos pobres, em 1688. Esta iniciativa, interessante, visa pro- porcionar uma ajuda direta (ferramentas, adiantamentos de investimentos) aos de- safortunados que desejem voltara trabalhara terra, No entanto, tais medidas nao sto suficientes aos olhos de muitos, ¢, quatro atos mais tarde, a Nova Franca assiste & ahertura dos hospitais gerais de Quebec € de Montreal. ib Conclustio Seguindo as pistas que deixam entrever alguns elementos de ura problemati- c2,ecom base numa documentagao nova sobre 0 conhecimento do contexto e so- breas ligacdes que se podem estabelecer entre 03 autores € 05 textos, seus interes- ses€0 vocabulatio empregado, ¢ possivel chegar a construit o inicio de uma expli- «ago respeito do surgimento dos hospitais gerais, a qual se pretende diferente da ‘xplicacdo da fundagao de instituigécs de caridade destinadas a proporcionar uma ajuda desinteressada aos miseraveis da colonia. E possivel a verificar 0 desenvolvi- mento de uma logica de regulagao social punitiva, que tem raiz nas perturbacdes provocadas pela transigao ao capitalismo. Porém, trata-se mais aqui dos primsr- tos de uma pesquisa documental e, para ser completa, a referida interpretacdo nao as poderia basear-se ex: analisar resumidamel contexto bastante pat Para ser rica e confiaw sivamente em apenas dois documentos, que acabamos ~ na realidad, algumas frases laconicas, emitidas emg lar, por alguns membros dos grupos sociais dominantas |, nossa explicacao deveria ser complementada por diver, fontes ~ correspondencias do governador out do intendente com 0 ministéri dy marinha; cartas do juiz de Laval, de comerciantes, de pessoas menos divetamenie cenvolvidas no fendmeno, como os padres ou os religiosos —e, sobretudo, por umy © documentacao que nos faca conhecer o ponto de vista de pessoas diretamente vigg, das pot esses decretos ¢ pela criaco dos hospitais gerais. A leitura que fariamnos dg conjunto desse material nos permitiria bascar mais solidamente nosso ponto de vista, ou talvez nos levaria a matizé-lo sensivelmente. 2 Sera importante lembrar, aqui, que 0 exercicio ao qual acabamos de nos dei car nao poderia, de nenhum modo, constituir um exemplo rigido do que represen: ta uma analise documental de natureza qualitativa. Ffetivamente, acabamos dere: sumir e de ordenat uma série de etapas metodol6gicas que a maioria dos pesquise dores percorre por reflexo ¢ segundo uma ordem variavel para cada um. O que d sejamos principalmente ressaltar, ao final desse breve exemplo, é que é possivel, 5 coisas em algumas linhas de texto; ele ilustrou como a andlise decor, de uma série de escolhas que dependem do pesquisador: esculhs do tema, do problema de pesquisa, da orientacao teria ou ideologiea, dos ele mentos do contexto que permitem a interpretacio, da abordagem metodologic, etc, Tanto escolhas «ue dizem respeito & propria personalidade do pesquised: como escolhas que. felizmente, estendem 20 infinito a gama das pesquisa edasin. | terpretacdes possiv Referencias ANGELL, B.C. & FREEDMAN, R. (1959). Lemploi des documents, des archives, des recensements ¢ cles indices. In: FESTINGER, L. & KATZ, D. Les methodes de recherche dans les sciences sociales. Vol. 1. Paris: PUF, p. 350-380. ATIRIDGE, D.. BENNINGTON, G.; YOUNG, R. (1987). Post-Seructuralism and the Question of History. Cambridge: Cambridge University Press. Paris: PUF, BARDIN, L. (1977). Lunalyse de con BLOCH, M. (1941). 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Em suma, apos ter-se recusado 0 sujeito, por sobrecarregar demais na analise dos processos sociais, eis que se aplaude agora o seu retorno (TOURAINE, 198: de um sujei- to que, na realidade, nunca havia partido. O que se passou, portanto, ¢ o que pode nos ensinar essa redescoberta desse ponto de vista? Nao € mais necessétio fazer a demonstragio da importancia das historias ou selatos de vida nas cléncias hummanas, ¢ ampouco fazer o recenseamento das pes- ‘quisas que privilegiaram, priviegiam, ou ainda contam privilegiar esse tipo de ma. terial. Na realidade, seu ndmero é condizente as expectativas suscitadas por esse novo “método” biografico. Ora, a renovagao paradigmatica anunciada entrou em. ‘choque com problemas tedricos e metodoldgicos, dos quais se notou quanto muito a complexidade, a qual é, contudo, bem real e poderia resumir o imenso in- teresse por essa redescoberta da Escola de Chicago, e também pelas questdes te cas, metodolégicas, bem como epistemoldgicas, que foram, entio, “abordada: (BACHELARD, 1968). Nem técnica, nem mécodo, nem teoria (HOULE, 1986), esée'tnateral requer, entretanto, uma abordagem renovada na sociologia,¢ princi- palinente contém, por suas qualidades especificas, um valor heuristico considers seja seu obje tes cs, foi demasiade severe. por que nfo? A box dizes, ¢impossive a

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