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INTRODUGAO AO ESTUDO DO DIREITO doDireto » Assim, por exemplo, uma declaragéo de vontade & exigida pelas normas positivas para gue ocorra a vinculago negocial entre as partes que celebram um contrato. Contudo, pode ocorrer que um representante comercial manifeste a vontade do representado por meio do uso indevido de seu papel timbrado, visto que, digamos, o poder de represen- taco jé tinha sido cassado, mas a outra parte contratante 0 ignorava. O jurista vai entéo classificar as representagées, elaborard uma teoria da representacio aparente, a fim de que tanto o representado quanto a outra parte contratante de boa-fé ndo se prejudi- do da representago comercial estard formada de quem. Com isso, 2 sistematiz “juizos de valor ou de interesse sobre a publicidade, unidade de bens econdmi cos, protegao de seu valor funcional e seu interesse de investimento e, por con- seguinte, juizos de preferéncia, por exemplo, do interesse do credor em poder executar uma coisa ou determinar o seu destino real” (Esser, 1952) Protege-se a confianga negocial a fim de enfrentar um problema de justica. Em suma, ao distinguir, definir, classificar, sistematizar, a ciéncia dogmética esté as ago do direito, tendo em vista a decidibilidade de conflitos. Estu- dar a ciéncia juridica é aprender a elaborar esses sistemas, é dominar-Ihe os principios de construsio, saber di voltas com a ident wuir para depois integrar de forma coerente. Para realizar essa construgao é que o jurist sm para oper operativos: com eles se operam definigées, classificacées, sistemas. labora seus conceitos, que tém ostensiva fungio opera- cional. Eles serv icionalizar a tarefa de sistematizagdo. Sio por isso conceitos Numa disciplina introdutéria ao estudo do direito & preciso, pois, apresentar, ainda que de forma perfunctéria, quais so, entre aqueles conceitos € os principios a que se referem, 08 de aplicagéo mais geral, posto que, com base neles, em tese, é possfvel en- tender a construgao dos demais. 4.1.1 Conceito de norma: uma abordagem preliminar ‘A ciéncia dogmatica contemporanea encontrou no conceito de norma um instru- mento operacional importante para realizar sua tarefa analitica de identificar o direito. -gou a ver nele a nogao € 0 objeto central, se ndo exclusivo, de toda 2 ciéncia do direito. Em sua obra Teoria Pura do Direito, Kelsen afirma que os comportamentos humanos s6 so conhecidos mediatamente pelo cien- tista do direito, isto é, enquanto regulados por normas. Os comportamentos, a conduta de um ser humano perante outro, diz ele, sao fendmenos empiricos, perceptiveis pelos sentidos, ¢ que manifestam um significado. Por exemplo, levantar o brago numa as- sembleia é uma conduta. Seu significado tem um aspecto subjetivo e outro objetivo. O significado subjetivo desse ato pode ser, conforme a intengao do agente, um simples movimento de preguica, o ato de espreguicar-se. Entretanto, no contexto, esse ato pode ter um significado objetivo: manifestou-se, ao levantar a mo, um voto computével para Um dos grandes te6ricos contemporaneos ct DogecaAnaitcs oa Cita do Dire como Teoria da Norma 71 tomar uma deciséo. Esse significado objetivo é constituido por uma norma, a norma ~gundo a qual o ato de votar seré contado pelo erguimento do braso. E claro que as normas, como esquemas doadores de significado, podem manifestar sama objetividade relativa: o que é norma para um ou para um grupo pode nfo ser norma ara outro. O significado objetivo geral é obtido por normas juridicas. Sao elas 0 objeti- 0 € 0 princ{pio delimitador das ocupagbes teéricas do jurista Essa posicdo de Kelsen, radical em sua formulasao, sofre muitas objeg6es. A princi- decorre de questo metodolégica: como isolar a norma juridica das intengdes sub- ctivas que a acompanham? Como isolé-la dos condicionamentos socizis, eles préprios mnstituidos de fendmenos empiricos dotados, por sua vez, de significado dependente de outras? Assim, por exemplo, o ato de matar alguém: o significado do ato vem dado por uma norma penal que o pune. Trata-se, porém, de conduta circunstanciada, o agente fre influéncia do meio, de sua educaco, de sua condi¢go mental. A norma, em sua ieza formal, apenas prescreve: deve ser punida com uma san¢o a conduta de matar. m que medida os fatores subjetivos devem ser também levados em conta? Kelsen nos diz que eles devem ser abstrafdos pelo jurista e to somente levados em conta see 1ando a propria norma o faz. A fun¢o da ciéncia juridica 6, pois, descobrir, descrever © significado objetivo que a norma confere ao comportamento. No entanto, qual o cri- sério para operar essa descrico? Kelsen afirma que ele se localiza sempre em alguma outra norma, da qual a primeira depende. O jurista deve, assim, caminhar de norma norma, até chegar a uma ultima, que é a primeira de todas, a norma fundamental, fechando-se assim o circuito. O direito é assim, ‘mas, cujo significado sistemdtico cabe & ciéncia juridica determinar. Por seu cardter restritivo, a teoria de Kelsen recebe a objegdo de empobrecer o uni- ‘eso juridico, Nao vamos discutir essa questéo. Contudo, sua posigao pde em relevo a importéncia da norma como um conceito central para a identificacio do direito. A pos- sibilidade de ver o direito como conjunto de normas repousa em sua correta apreensio. A teoria de Kelsen aplica-se no contexto do que chamamos anteriormente de fenémeno da positivagdo, portanto num contexto histérico dominado pelo direito entendido como algo posto por atos humanos, os atos de legislar, que mudam pressionados pela celeri- dade das alteragGes sociais provocadas pela industrializacao, que exigem sempre novas disciplinas e a revogaco de disciplinamentos ultrapassados. Assim, j& no século pas- sado, 0 jurista Von Jhering, em 1877, em seu Der Zweck im Recht (A finalidade no direito), frmava (1916:256): ara ele, um imenso conjunto de nor- “A definicao usual de direito reza: direito é 0 conjunto de normas coativas validas num Estado, ¢ essa definicao a meu ver atingiu perfeitamente o essencial s dois fatores que ela inclut so 0 da norma e o da realizacZo por meio de coa- fo... © contesido da norma é um pensamento, uma proposi¢ao (proposigao juri- ica), mas uma proposi¢ao de natureza prética, isto é, uma orientagdo para a ago humana; a norma é, portanto, uma regra conforme a qual nos devemos guiar.” 2, com base nessa definicZo, os caracteres distintivos da norma juridica em primeiro lugar, que, em comum com as regras gramaticais, a norma tem 0 ie orientagio, delas separando-se, porém, & medida que visam especificamente & ana. Nem por isso elas se reduzem & orientaco para a acéo humana, pois isso ocorre também com as méximas da moral. Por isso, diz ele, deve-se acrescer-Ihe 0 card~ ter imperativo, sua impositividade contra qualquer resisténcia. A norma, portanto, estd uma relagio de vontades, sendo um imperativo (obriga ou profbe) visto que manifesta ‘© poder de uma vontade mais forte, capaz de impor orientagdes de comportamento para vontades mais fracas. Relago de império, comando, as normas so interpessoais € no existem, como tais, na natureza. Conforme se ditijam a a¢do humana num caso concreto ‘ou a.um tipo genérico de aco, as normas constituem imperativos concretos ou abstra- 108. Jhering, movido pela ideologia liberal que exclui do direito o privilégio, a regra que do pode ser generalizada, conclui que, em sua especificidade, a norma juridica 6 um imperativo abstrato dirigido ao agir humano. ‘A questio sobre o que seja a norma juridica e se o direito pode ser concebido como ‘um conjunto de normas nao é dogmética, mas zetética. E uma questo aberta, tipica da filosofia jurfdica, que nos levaria a indagagGes infinitas, sobre pressupostos e pres- supostos dos pressupostos. Sendo uma questdo zetética, ela ndo se fecha. As teorias filos6ficas fornecem explicagées sobre ela, mas 0 tema continua renovadamente em aberto: a norma é um comando ou um simples ditetivo? Uma regra de organizagao? A sangfo faz parte de sua constituicdo ou trata-se de elemento aleatério que apenas apa- rece quando a norma é violada? Nao € nossa intengZo, nos limites desta IntrodugZo, enfrentar essa questo ~ zeté- tica ~ prépria da filosofia do direito. Apenas com objetivo didético gostarfamos, porém, de classificar trés modos bisicos conforme os quais 2 questio do que seja @ norma cos- tuma ser enfocada. (s juristas, de modo geral, veem a norma, primeiramente, como proposigao, inde- pendentemente de quem a estabelesa ou para quem ela & dirigida. Trata-se de uma roposi¢ao que diz como deve ser o comportamento, isto é, uma proposicao de dever- -ser, Promulgada a norma, ela passa a ter vida prépria, conforme o sistema de normas no ‘qual estéinserida. A norma pode até ser considerada o produto de uma vontade, mas sua existéncia, como diz Kelsen, independe dessa vontade. Como se trata de uma proposi- do que determina como devem ser as condutas, abstracao feita de quem as estabelece, podemos entender a norma como imperativo condicional, formulavel conforme propo- sigo hipotética, que disciplina 0 comportamento apenas porque prevé, para sua ocor- réncia, sano. Tudo conforme a formula: se A, entdo deve ser S, em que A é conduta hipotética, S a sangdo que segue & ocorréncia da hipétese; o dever-ser serd o conectivo que une os dois termos. Nesse caso, a norma seria propriamente um diretivo, isto é, ‘uma qualificacio para o comportamento que o tipifica ¢ o direciona. De um modo ou de outro, nessa primeira concepeao, a norma é proposigao. Dogma Anaiea ou a its do iro com Teoria ds Noma 73. s juristas, porém, também costumam conceber normas como prescrigdes, isto &, como atos de uma vontade impositiva que estabelece disciplina para a conduta, abs- trado feita de qualquer resisténcia. A norma como prescrigdo também se expressa pelo dever-ser, que significa entao impositivo ou impositivo de vontade. Dessa vontade no se abstrai, permanecendo importante para a andlise da norma a andlise da vontade que a prescreve. Na verdade, para o reconhecimento da prescri¢o como norma juridica, essa vontade é decisiva, posto que vontade sem qualidades prescritoras (inabilitada, ilegiti- ma, sem autoridade, sem forga) nao produziré norma. Normas so, assim, imperativos ou comandos de uma vontade institucionalizada, isto é, apta a comandar. Por fim, ha também a possibilidade de considerar a norma como um fenémeno com- plexo que envolve ndo s6 2 vontade de seu comando, mas também diferentes situagSes estabelecidas entre partes que se comunicam. Nesse caso, a norma é vista como comuni- casho, isto é, roca de mensagens entre seres humanos, modo de comunicar que permite a determinacao das relacées entre os comunicadores: subordinagao, coordenacdo. Para a andlise da norma como comunicagao, torna-se importante ndo s6 a mensagem (pro- posicio), nao sé as qualidades do prescritor, mas também a identificacéo dos sujeitos, seu modo de reasao as prescrigdes, sua prépria qualificacio como sujeito. Tomada como um complexo comunicativo, 2 norma torna-se o centro de um série de problemas: a determinagZo da vontade normativa (teoria das fontes do direito), a determinagao dos sujeitos normativos (teoria dos direitos subjetivos, capacidade, competéncia, respon- sabilidade), a determinacdo das mensagens notmativas (teoria das obrigacdes, das per- missdes, das faculdades, das proibigGes normativas) etc. ‘Como vemos, seja como norma-proposiglo, seja como normaprescigo, seja como nor- rma-comunicagéo, 0 conceito de norma juridica é um centro tebrico organizador de uma dogmética analitica. Mesmo sem desconkecer que o jurista, ao conceber normativamente as relagdes sociais, a fim de criar condigdes para decidibilidade de seus conflitos, tam- bém é um cientista social, hé de se reconhecer que a norma é seu critério fundamental de andlise, manifestando-se para ele o fenémeno juridico como um dever-ser da conduta, um conjunto de proibigSes, obrigag6es, permiss6es, por meio do qual os homens criam entre si relagdes de subordinagao, coordenacéo, organizam seu comportamento cole- tivamente, interpretam suas préprias prescrigdes, delimitam 0 exercicio do poder etc Com isso, é também possivel encarar as instituic6es sociais, como a familia, a empresa, a administragao publica, como conjuntos de comportamentos disciplinados e delimita- dos normativamente. 4.1.2. Concepsao dos fenémenos sociais como situagées normadas, expectativas cognitivas e normativas Estas observagbes conduzem-nos diretamente ao problema de concepsao da prépria sociedade. A dogmatica analitica permite ao jurista compreender a sociedade normati- $c, isto 6, capté-la como uma ordem. Entendemos, neste contexto, por sociedade teragbes, comportamentos mutuamente dirigidos ¢ referidos uns aos, ‘ourros, formando uma rede de relagées. Definimos comportamento como estar em situa ¢4o, Quem est em situagdo transmite mensagens, quer queira quer no. Comportar-se E estar em situaggo com os outros, os enderegados das mensagens, os quais também cstio em situacao. De onde, comportamento é troca de mensagens, comunicagao. Essa ‘roca de mensagem é 0 elemento bisico da sociedade, do sistema social. Trata-se de um dado irrecusivel, posto que o homem sempre se comporta, se comunica: ¢ impossivel ro se comportar, nfo se comunicar. O ‘mo que néo queiramos nos comunicar estamos comunicando que no queremos nos comunicar (cf. Watzlawick, Beavin, Jackson, 1973:44) seja, a comunicagdo no tem contrérios: mes- Assumindo esse postulado, podemos conjecturar em seguida que @ comunicaglo humana ocorra em dois niveis: o nivel cometimento e 0 nivel relato. Esse tiltimo corres- ponde & mensagem que emanamas, ao contetido que transmitimas. Por exemplo, quando di- ‘zemos: sente-se! 0 contetido transmitido é 0 ato de sentar-se. © cometimento correspon- de A mensagem que emana de nds, na qual se determinam as relagées (de subordinacdo, de coordenagio), e que, em geral, é transmitido de forma nao verbal (pelo tom da voz, pela expresso facial, pelo modo como estamos vestidos etc.). Por exemplo, o cometimento (mensagem sobre a rela¢io) € diferente se a mensagem sente-se! é wransmitida por um professor ao aluno, ou por um aluno 2 outro aluno, ou por este 20 professor. Assim, quando nos comportamos, na troca de mensagens, esté presente, de parte a parte dos agentes, uma expectativa miitua de comportamento. Quem diz sente-se! espera que outro comporte-se de certo modo (sentando-se - relato - ¢ subordinando-se — cometi- mento). Essas expectativas podem ser, por sua vez, objeto de expectativas prévias. Quem diz sente-se! no apenas tem a expectativa de um movimento (sentar-se) e de um acata~ mento (subordinagéo), mas tem também a expectativa de qual seja a expectativa do en- derecado (este espera de mim uma ordem, ele me vé como superior) que também pode ou nio confirmar-se, ¢ vice-versa, isto 6, 0 enderecado também tem expectativas sobre as expectativas do emissor. Com isso, criam-se situagoes complexas, que se confirmam ‘ou que se desiludem, em que os homens se apresentam claramente ou escondem suas intengdes, ou em que agem sem reflexio, descuidadamente etc. Dai se segue um con- junto instavel de relacionamentos de relagdes de expectativa, os quais so sempre, em inimero de possibilidades, maiores do que as possibilidades atualizveis. Esta despro- poredo (quem diz: sentese! espera pelo menos quatro possibilidades: sentar-se ou néo sentar-se, com ou sem subordina¢o) nos permite dizer que as situagSes comunicativas so, em princ{pio, caracterizadas pela complexidade, entendendo-se por complexidade ‘um ntimero de possibilidades de acZo maior que o das possibilidades atualizéveis (cf. Luhmann, 1972, v. 1:40). No entanto, na medida em que as situagSes comportamentais sé complexas, ha nelas também uma compulsao para selecionar expectativas € possibilidades atualizéveis, de interagao: seletividade € uma segunda caracterfstica do comportamento. Quem di DogmaticeAnaitca ou a Cita do Direko como Teoria da Norma 75) nte-se! j4 selecionou uma possibilidade. Contudo, sclecioné-la ndo significa que ela atualize. O enderecado pode nao sentar-se ou pede sentar-se sem subordinacao, por cemplo, desdenhosamente. A desilusdo, portanto, faz parte das situagGes comporta- rentais. A possibilidade da desilusdo mostra-nos que a interago humana é sempre con- ingente. Contingéncia (possibilidade de ocorrer ou nao a expectativa selecionada) é uma sceira caracteristica da situacdo comunicativa. Por isso, para a ocorréncia dos sistemas tempo: 0 que se espera hoje pode nao ser esperdvel amanha. A simples desilusao pela gem do tempo € controlada, atribuindo-se, pela vas. Expectativas durdveis sao obtidas pelo desenvolvimento de dois mecanismos crutura, certa durapfo &s expec- estruturais: atitudes cognitivas e normativas. Atitudes cognitivas sio expectativas cuja durabilidade é garantida pela generalizagdo possibilidades, por meio de observacio. Observamos, por exemplo, que alguém agre- ‘com violencia tende a reagir com violencia. Se genetalizamos essa observagao, ob- .mos uma regra empirica, que nos permite assegurar certa estabilidade a previsao das cpectativas sociais. Se, porém, essa generalizacdo é desiludida por novas observagbes a sempre alguém reage com violencia), a regra cognitiva se adapta aos fatos (sem- 1 se reage 2 violencia com violencia, salvo...). Atitudes cognitivas so, pois, atitudes ptativas manifestadas em regras igualmente adaptativas. Exemplo delas sao as leis, 1ificas, que descrevem a normalidade do comportamento e nos permitem controlar a contingéncia dos sistemas sociais (a ciéncia como instrumento de previsao). Atitudes normativas séo, de outro lado, expectativas cuja durabilidade é garanti- por uma generalizay 10, mas estas s4o consideradas como irrelevantes para a expectativa generalizada. Por no adaptativa, isto 6, admitem-se as desilusGes como um. mplo, diante da possibilidade de reacio violenta de um individuo contra a a¢ao vio- enta de outro, estabelece-se a proibigo da violéncia privada. Mesmo que a violéncia corra, a expectativa de que esta no devia ocorrer fica genericamente garantida. As expectativas normativas se manifestam por meio de normas. Normas, nese contexto, expectativas cuja duracio & estabilizada de modo contrafético, isto €, a gene~ go da expectativa independe do cumprimento ou descumprimento da a¢do emph serve esperada. Elas no referem regulardades do comportamento, mas prescrevern = normatividade. Ou seja, a diferenca entre uma lei cientifica e uma lei juridica, nesse deco. eetatia em que a primeira descreve a normalidade, e a segunda prescreve a normali- Gade do comportamento. ‘As estruturas sociais, portanto, so constitufdas por uma combinatéria de expec- tativas copnitivas e normativas, de modo a conferir durabilidade as relacbes socials di- wamicamente em transformacio. Quando, por exemplo, dirigimos um auromével, 0 trdfego pode ser visto come tum conjunto de interagSes €, pois, uma rede complex de expectativas. Algumas so cognitivas ~ em média, ninguém corre loucamente pelas ruas, pois 0 risco de abalroar outro carro conffonta-se com 0 risco de causar um dano a si préprio -, outras so normativas ~é obrigat6rio dar preferéncia a quem vem da direita. Ths primeira s60 garantidas por generaizagSes empiricas, as segundas por presciges, Pare conferir durabilidade, porém, em caso de conflito entre as duas (as cognitivas ¢ a5 notmativas), devemos reconhecer que, em titima instncia, o comportamento se esta- biliza preponderadamente pelas normativas (mesmo que os motorists tendam a corres Toucarente, as normas continuarlo a pribir comportamentos negligentes), Podemos, assim, entender o que significa, para o jurista, captar a sociedade como andem, Néo se desprezam as regularidades empiricas; elas constituem a estrutura social come uma rede de possbilidades expliciveis por nexos causa. A eausalidade €, assim cima categoria do conhecimento que faz parte do saber juridico, mas como sua condi¢o, ‘A dogmtica analitica dé preferéncia, em Glkima instancia, 8 compreensio do compor taiento em termos normativos, estabelecendo relagSes de imputaglo: dada a conduta x iimputa-se aela a consequéncia y. A categoria da imputagdo permite & dogmatica analitica captar 2 sociedade como rede de expectativas normativas, isto é, de regularidades néo sdaptativas: por mais que se disseminer assaltose crimes, o juristacapta o fenomend como conduta proibida, imputando ao fato a generalizagao normativa:€ proibido furtar ‘natar, sob pena da sangSes. O jurista sabe que hé entre causalidade ¢ imputagao certa tnterdependéncia: de um lado, as normas reforgam a regularidade empirica; de outro, se testa néo se verifica absolutamente, podemos chegar a uma situaco de anomia (as nor- nas ndo so respeitadas em absoluto e nfo podem mais ser reconhecidas como tals, nao eetabilizando quaisquer expectativas). Em regra, porém, seu enfoque é predominante- mente imputativo, 0 jurista parte das normas como dogmas, tomadas como premissas {ue ele ndo pode trocar, pois seu saber dogmatico nfo é adaptativo,é fundamentalmente paraprescritivo. Assim, ele encara os fendmenos socais, as interagdes, como conjunie aerrmados, isto é, unidades firmes e permanentes, objetivas e concretas, dotadas de or- tanizacdoe estrutura. Ontileo identificador dessas unidades (por exemplo, a familia: empresa) & 0 centro geométrico de convergencia de normas que conferem durabi lidade 4s expectativas normativas dos agentes. Esses agentes, eles proprios, sio centros g20- inbirieos de normas, isto 6, papéis sociais normativamente prescritos (o pai, a mae, os filhos, o empregador, o empregado). O objetivo do conhecimento dogmético-analitico DogmiicaAnaltica ou. ital do Dire como Teoria da Norma 77 so propriamente as pessoas concretas, fisicamente identificéveis, mas papéis tipifi- ios por normas que configuram responsabilidades, deveres, faculdades, poderes etc. ‘er por exemplo a figura do pai no art, 338 do Cédigo Civil Brasileiro). 4.1.3 Cardter juridico das normas: instituigdes e miicleos significativos Neste ponto é preciso reconhecer que, sendo norma um conceito nuclear para a dogmética analitica, o jurista se vé as voltas, na estrutura social, com uma multiplicida- de delas, dentre as quais esto aquelas que Ihe interessam peculiarmente: as juridicas. sssim, por exemplo, a confianca é fato social, que pode existir ou néo nas interacées, € sue corresponde a um mecanismo regulativo do intercimbio de expectativas. Confiar significa selecionar possibilidades e controlar a contingéncia das expectativas seleciona- das. Ela tem base em expectativas cognitivas (as pessoas tendem a manter sua propria ‘magem, no so falsas) e, sobretudo, expectativas normativas (nem a quebra factual da confianca altera a exigéncia de que as pessoas devem manter sua propria imagem). As nor: mas que regulam a confianga so de variado tipo: falamos em normas costumeiras, moras, igiosas etc. Portanto, a estrutura normativa da confianca envolve varias normas que podem, inclusive, néo ser compativeis umas com as outras. Na verdade, as estruturas -ociais em geral manifestam mais normas que a sociedade pode suportar. A expectativa normativa de A (a palavra dada deve ser cumprida) pode contrapor-se a expectativa .ormativa de B (a palavra dada deve ser cumprida, desde que as condigdes em que foi dada sejam as mesmas). Surgem, assim, conflitos das projegdes normativas que resultam da superprodugéo ses conflitos ndo so a exce¢o, mas o comum na vida social. A dogmatica -em de se haver com esse problema. O principio da inegabilidade dos pontos de partida exige a postulago de normas preponderantes que, em caso de conflitos, devem prevale- A teoria dogmatica do direito pressupde que essas normas preponderantes S40 as consideradas juridicas. Como identificé-las? normas. Essa questo, importante para a dogmética, tem uma relevancia zetética: multipli- sm-se as hipéteses e o problema permanece em aberto. Trata-se de matéria tipica da Slosofia do direito. Nao vamos trat-Ia em sua amplitude. Para os objetivos desta Intro- dugdo, vamos limitar-nos, didaticamente, a apresentar um ponto de vista que servird de crientagdo para nosso estudo da dogmética analitica Do ponto de vista zetético, observamos que a identificagio de normas como juridi- <25, realizada pelos juristas, se dé conforme critérios variéveis no espaco e no tempo. No lo XVII, Pufendorf, por exemplo, distinguia as normas juridicas (direito natural) das normas morais, por se referirem as primeiras ao sentido e a finalidade das acées hu- nanas desta vida, enquanto as segundas eram referentes as aes da outra vida, tomando- por critério a distingdo das ages em internas e externas, assumindo, pois, que o que smanecia guardado no coracZo humano e nao se manifestava exteriormente deveria rtencer 20 ambito moral. Ndo obstante a dificuldade de um critério universal, sem,

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