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A FAMILIA POBRE E A ESCOLA PUBLICA: ANOTACOES SOBRE UM DESENCONTRO Maria Helena Souza Patto Instituto de Psicologia — USP A partir do fato de que a escola piblica elementar tem fracassado fem sua fungao de escolarizar a maioria das criancas brasileras € Ievando em conta que as eriangas mais atingidas pertencem aos segmentos mais pobres das classes trabathadoras, 0 artigo analisa (05 determinantes da mé qualidade da escola oferecida a estas cerlangas. Entre estes determinantes, o preconceito contra pobres € negros, de profundas ratzes na sociedade brasileira, atua como poderoso estruturante das priticas e processos que se dao na escola A superacao deste estado de coisas & diseutida no dmbito dos direitos da cidadania e das retagées de poder numa sociedade de classes. Descritores: Familia, Escolas. Fracasso Escolar. Preconceito. In- teragdo professor-aluno. Temos as pesquisas dos ricos sobre os pobres. Os pobres sto insolentes, viciosos, etc. E preciso fazer a resposta dos pobres. Jules Michelet, 1834 egundo estatisticas recentes, cerca de dois tergos das criangas SSoracitciras entre os sete e os quatorze anos ndo estio se benef ciando da escola, seja porque ndo tém acesso aos bancos escolares, seja porque j4 passaram pela escola mas nela néo permaneceram, seja porque embora ainda facam parte de seu corpo discente, inte- gram o grande contingente de repetentes que mais cedo ou mais tarde estard fora da escola, sem a0 menos ter concluido as quatro primeiras séries do primeiro grau. E no estamos, como se poderia supor, diante de uma crise da escola piblica elementar por motivos conjun- turais; antes, trata-se de uma incapacidade crénica dessa escola de garantir 0 direito & educagio escolar a todas as criangas ¢ jovens brasileiros, independente de sua cor, de seu sexo ¢ de sua classe social. Dados antigos, que remontam aos anos vinte, ja registravam Psicologia USP, S. Paulo, 3(1/2), p.107 - 121, 1992 107 Maria Helena Souza Patto altos indices de reprovagio e evastio na entio escola priméria, De la para jo se pode negar que a rede escolar foi significativamente ampliada, mas & inegivel também que a escola que ai esta nio consegue ensinar os conteiidos escolares & maioria dos que a pro- curam: atualmente, de cada mil criangas que se matriculam pela primeira vez na primeira série da escola piblica, sé quarenta e cinco chegam & oitava série sem nenhuma reprovagdo e sé cem conseguem terminar o primeiro grau, muitas vezes aos trancos e barrancos. Uma liltima informago justifica 0 recorte que faremos nesse tema to amplo que nos foi atribuido: inimeras pesquisas vém mostrando, ha muitas décadas, que a quase totalidade das criangas que nio con- seguem atingir o minimo de escolaridade previsto em lei faz parte dos contingentes populares mais atingidos pelo carater excludente do capitalismo nos paises do Terceiro Mundo. pesquisa educacional tem cabido a tarefa de explicar esse estado de coisas tantas vezes chamado de calamitoso ao longo da histéria da educagdo brasileira. Na andlise critica das idéias que se propdem a explicd-lo, no exame de sua filiagdo histérica, de seus determinantes sociais, encontra-se a chave para entender a relagio, via de regra mé, dessa escola com seus usuirios mais pobres, Vadios e anormais. Deficientes e diferentes A historia das explicagdes do chamado “fracasso escolar" das criangas das classes populares é feita de uma seqiiéncia de idéias que, em linhas gerais, pode ser assim resumida: na virada do século, expli- cagdes de cunho racista e médico; a partir dos anos trinta, até meados dos anos setenta, as explicagGes de natureza biopsicolégica — problemas fisicos ¢ sensoriais, intelectuais e neurolégicos, emocionais ¢ de ajustamento; dos primeiros anos da década de setenta até recente- mente (mas ainda predominante nos meios escolares), a chamada teoria da caréncia cultural, nos termos em que foi gerada nos E.U.A., nos anos sessenta, no calor dos movimentos reivindicatérios de negros e latino-americanos e como resposta oficial 4 questo — por que essas pessoas nfo alcangam os melhores lugares na sociedade norte-americana? Centenas de pesquisas que absorveram 0 maior investimento de verbas piiblicas para fins nao bélicos naquele pais, responderam: porque nao aleangam 0 mesmo nivel de escolaridade dos brancos. E por que isso acontece? Porque negros e minorias latinas sfo portadores de deficiéncias fisicas e psiquicas contraidas em seus ambientes de origem, principalmente em suas familias, tidas como insuficientes nas priticas de criagdo dos filhos. Pouco depois, a teoria da caréncia tornou-se, pela influéncia de antropélogos funcionalistas, teoria da diferenga cultural, segundo a qual essas 108, A Familia Pobre e a Escola Pablie: Anotagdes sobre um Desencontro pessoas fariam parte de uma subcultura muito diferente da cultura de "classe média" (sic), na qual estariam baseados os programas escolares. Em outras palavras, as criangas das chamadas minorias raciais nio se sairiam bem na escola porque seu ambiente familiar € vicinal impediria ou dificultaria o desenvolvimento de habilidades e capacidades necessdrias a um bom desempenho escolar. Todas essas versdes, sob certos aspectos muito diferentes umas das outras, tém em comum o fato de situarem as causas das di- ficuldades escolares nos alunos e em suas familias, Se é verdade que hd progressos nesta seqiiéncia — na passagem da primeira para as demais, por exemplo, da-se a passagem de concepgdes genéticas para concepgdes ambientalistas da inteligéncia —, é verdade também que todas elas definem "ambiente" de maneira naturalista, a-historica, nao levando em conta as relagdes de produgio e as questdes do poder ¢ da ideologia e, nessa medida, deixam espago para a penetragio da Cigncia pelo senso-comum, pelo que parece ser, pelos preconceitos ¢ esteredtipos sociais relativos a pobres ¢ nao-brancos. Tanto as teorias racistas e do cardter nacional formuladas na Europa no decorrer do século dezenove, como as teorias que as sucederam com o surgimento da Psicologia cientifica, serviram para justificar as condigées de vida muito desiguais de grupos e classes sociais no mundo da suposta "igualdade de oportunidades". Se a nova ordem social parida pela Revolugio Francesa era o reino da igualdade, da liberdade € da fraternidade, em oposicZo 4 ordem feudal, como explicar a existéncia de ricos e pobres, de coloni- zadores ¢ colonizados? A partir do século das Luzes, as diferengas sociais ndo podiam mais ser explicadas em termos religiosos; na era do cientificismo, era preciso explica-las com neutralidade e objetivi- dade, ou seja, através de dados empiricos. No mundo da "carreira aberta ao talento" venceriam os "mais aptos", afirmava o darwinismo social: nesta linha de raciocinio, diferencas individuais ou grupais de capacidade estariam por trés das diferengas sociais. Antes da Psicologia, uma Antropologia de talhe racista encarregou- se de provar cientificamente que os "vencedores" eram mais aptos: através de procedimentos antropomeétricos, produziram-se as primeiras provas empiricas da inferioridade de pobres € ndo-brancos; a literatura registra a pritica de escavagdo de cemitérios destinados as classes “superiores" e "inferiores" em busca de nlimeros que deram ao racismo sua feigdo cientifica (a esse respeito, veja Klineberg, 1966). Da mesma forma que a nobreza ressentida tentou provar sua superioridade sobre os plebeus — o Ensaio sobre a desigualdade das racas humanas, publicado na Franca pelo Conde de Gobineau, em 1854 (apud Moreira Leite, p. 182) os idedlogos da burguesia afirmavam a existéncia dos que nascem para pensar, que se dedicam ao "trabalho 109 Maria Helena Souza Patto intelectual", e dos que nascem para agir, talhados para o "trabalho bracal", supostamente menor, 0 que justificava seu baixo valor de troca no mercado de trabalho. A psicometria gozou de grande prestigio a partir da segunda metade do século passado ¢ um dos ramos mais desenvolvidos da Psicologia — a Psicologia Diferencial — afirmou, até o inicio dos anos cingiienta do século XX, a superioridade intelectual inata dos brancos sobre os niio-brancos, do civilizado sobre o primitivo, do rico sobre o pobre. Os tltimos anos do século passado ¢ as primeiras décadas deste século foram palco de uma verdadeira "cruzada psicométrica” na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, cujo objetivo era no s6 identificar, o mais preco- cemente possivel, os "escolariz4veis", como também aperfeigoar instrumentos de medida da inteligéncia, tida durante muito tempo como inata, a julgar por tantas "provas", entre as quais 0 fato de que os homens mais ilustres nas varias areas da arte, da ciéncia e da politica pertenciam a sucessivas geragdes das mesmas familias. A partir da escala métrica de inteligéncia infantil de Binet, criada a pedido das autoridades educacionais francesas, 0 "movimento psi- cométrico" atingiu varias partes do mundo ¢ o Brasil nao foi excegao. Poucos anos depois, seria a ver dos testes de personalidade; investi- dos de poder cientifico, eles designariam os "normais" e "anormais", os ajustados” ¢ os "desajustados” No Brasil, as raizes dessas concepg0es sobre os “vencedores" € os "perdedores" encontram-se nos escritos de intelectuais brasileiros que, a partir da segunda metade do século dezenove, se propuseram a explicar 0 pais com base nas idéias dominantes no pensamento cientifico ¢ politico europeu. Como diplomata, Gobineau esteve no Brasil_e freqiientou os sales do Segundo Império. O racismo cientifico e as teorias do cardter nacional tiveram transito fécil junto A elite brasileira e seus intelectuais. Nao admira, portanto, que um intelectual do porte de Silvio Romero tenha afirmado em 1871 Do conséreio da velha populagio latina, bestamente atrasada, bes tamente infecunda, ¢ de selvagens africanos, estupidamente indolen- tes, estupidamente talhados para escravos, surgiu, na méxima parte, ‘este povo (apud Mendonca, p. 75) Concepgdes semelhantes a respeito do povo brasileiro estardo presentes na obra de Raimundo Nina Rodrigues, Oliveira Vianna, Afonso Arinos de Mello Franco € tantos outros, até a ruptura epistemolégica de "A Formagio do Brasil Contempordneo”, no qual Caio Prado Junior, em 1942, faz uma leitura do pais na clave do materialismo histérico. no A Familia Pobre e a Escola Pablica: Anotagdes sobre um Desencontro Na literatura educacional, a presenga das teorias racistas médicas — da medicina dos grandes quadros patolégicos de trans- missao genética — se fard sentir muito cedo: em 1818, Sampaio Déria escrevia a Oscar Thompson, a propésito da intengfio deste de autorizar a promogdo em massa do primeiro para 0 segundo ano da escola elementar piblica paulista, alegando que concordava com a medida porque ela possibilitava que nao se negasse matricula aos novos candidatos "s6 porque vadios e anormais teriam que repetir © ano” (apud Almeida Ir., 1957, destaques nossos). Nos anos quarenta, Ofélia Boisson Cardoso (1949), num exemplo perfeito de confluéncia de opinio, estereétipo, preconceito e discurso cien- tifico, afirmava, num artigo de grande repercussio: 0 que a escola procura construir, a familia destréi, num momento reduz a p6 (...). Nos meios mais desafortunados, os exemplos vivos ¢ flagrantes insinuam-se na carne, no sangue das cr Ihes formas amorais de reagio, comportamentos anti-soci scendo € desenvolvendo-se sob tal agdo negativa, desinteressam-se do trabalho escolar, do-Ihe pouco valor, no eréem em sua eficacia, ‘Tem os herdis do morro que, tocando violio, embriagando-se, dormindo durante o dia, em constante malandragem noite, vivem ‘uma vida sem normas, sem diregio; por vezes, ostentam auréola maior —algumas entradas na detengio, um crime de morte impune. Nesses grupos, em que pululam menores delingtentes, nao ha como controlar-se: a reagdo é espontinea, primitiva, quase irracional. Vence 0 mais forte; & ainda a lei dos primeiros tempos (..). A escola aconselha as boas maneiras, procura difimdir bons habitos sociais de polidez. Mas como no morro, na casa de cémodos, isso nada exprime € até se tora ridiculo empregar "com licensa", "desculpe", "muito obri- ado" (p. 82-3). Esta representagiio pejorativa dos pobres, gerada do lugar social da classe dominante e em consonancia com seus interesses, foi encampada pela Psicologia e pode ser encontrada na teoria da caréneia cultural quando ela afirma que o ambiente familiar na pobreza é deficiente de estimulos sensoriais, de interagdes verbais, de contatos afetivos entre pais e filhos, de interesse dos adultos pelo destino das criancas, num visivel desconhecimento da complexidade e das nuances da vida que se desenrola nas casas dos bairros mais pobres. Coerentes com esta visio, os psicdlogos muitas vezes fazem afirmagdes do seguinte teor: [0s altos indices de reprovagio se explicam] pela falta de apoio em casa, ficando em geral a erianga por sua prépria conta; tem eriangas de nivel intelectual baixo sem receber a devida orientagio pedagogica € psicolégica; tem criangas fracas, com distirbios fisicos e mentais, criangas deficientes nfo encaminhadas as classes especiais; criangas ut Maria Helena Souza Patto Timitrofes em classes adiantadas e criangas deficientes e limftvofes em classes comuns. A afirmagdo da patologia generalizada das criangas pobres, a patologizagdo de suas dificuldades escolares tem algumas conseqiién- cias que convém destacar: dispensa a escola de sua responsabilidade; induz a uma concepgao simplificadora do aparato psiquico dos pobres, visto como menos complexo do que o de outras classes sociais. (Em nome desta concepeio, muitas vezes as criangas sio submetidas na escola a praticas humilhantes, sob a alegago dos professores de que elas "nao percebem",, "no sentem" as agressées); justifica a busca de remédios mais simples e baratos para suas dificuldades emocionais. Isto fixa patente nesta passagem do de- poimento de uma psicéloga entrevistada por Freller (1993): Tinham que inventar uma terapia adequads a essa populagio, mais, rapida, mais concreta, que exigisse menos esforgo, que fosse direto a0 problema e ajudasse na pritica. Eles nfo conseguem abstrair, simbolizat... (p.24) A formagio de psicélogos pode ser limitada a ponto de nao Ihes fazer saber que quem nao tem capacidade de abstracdo e de simboli- zag%io ndo consegue falar... As melhores anilises da psicologia do oprimido tém ficado por conta das poucas pesquisas que registram com inteligéncia e sensi- bilidade a voz complexa dessas pessoas e da literatura e sua critica enquanto formas de conhecimento: é sobretudo nessas iiltimas que vamos encontrar as melhores ligdes de "psicologia da pobreza", sempre social, porque sé compreensivel no ambito das relagdes sociais de producdo, numa sociedade especifica. Dois dos melhores exemplos disso estdo na andlise de Roberto Schwarz (1991a; 1991b) da ficgdo machadiana — especialmente nos capitulos sobre Eugénia, Dona Plicida e Prudéncio, os pobres brancos ¢ negros, "homens livres" & escravos de Memérias Péstumas de Bras Cubas, ¢ no ensaio sobre Dom Casmurro, onde sobressaem José Dias e Capitu, o agregado e a moga pobre do Brasil tradicional —e nos ensaios de Antonio Candido sobre a ficgio de Graciliano Ramos, recentemente reunidos. Dada a natureza do discurso oficial sobre as vicissitudes da escolaridade das criangas pobres, nao é de estranhar que uma con- cepedo de "ser humano" em termos de "aptos" ¢ “inaptos” estruture a pratica de professores e técnicos escolares. A maneira preconceituosa, € negativa como se referem a seus alunos tem sido registrada repetidas vezes pela pesquisa educacional nos iiltimos anos: "burrs", "preguigosos", "imaturos", nervosos", "badern “deficientes", “sem raciocinio", "lentos", "apéticos" sio expressdes dos educadores, porta-vozes, no ambito da escola, de preconceitos ¢ 12 A Familia Pobre e a Escola Pablica: Anotagdes sobre um Desencontro esteredtipos seculares na cultura brasileira. E 0 preconceito ndo se limita, & 6bvio, as criangas, mas engloba toda a familia: quando ela € 0 assunto, 0 adjetivo mais comum & "desorganizada", Vistos como fonte de todas as dificuldades que as criancas apresentam no trato das coisas da escola, os pais sdo freqiientemente referidos como rresponsaveis", "desinteressados", "promiscuos", "violentos", "bébados", "ndmades" € "nordestinos” (este iltimo adjetivo, em consonancia com a ideologia da nova direita detectad-a por Pierucci [1987] ). Ougamos o que dizem algumas educadoras!: muito diffcil para a crianga de periferia, PSe al pe-ri-fe- porque a gente sabe a bagagem que a crianga traz de casa. Mas na periferia tem sempre uma classe (escolar) de nivel bom, com familia, estruturada... (uma orientadora edueacional). ‘Tem criangas com condigéo de aprender, mas no tém ambiente familiar, tém muita agressio dos pais entre sie contra os filhos. Elas no tém condigdes emocionais para aprender. Se é bem alimentada, se tem carinho da mie e atengo do pai, alguém que olhe o caderninho dela, nio tem por onde ser reprovada. Mas elas nio tém nada disso. principal é carinho, pode até ter um pouco de fome, mas precisa sentir que tem alguém interessado nela, que gosta dela. A mie ndo tem aquela sensibilidade de um elogio (...) essas mies sio umas coitadas, nfo t&m sensibilidade, ndo tem nada ...(uma professora). ‘A mie € meio espaventada, 2 gente vé na reunio 0 jeito de cada uma... Ela ndo liga para os filhos, vive na rua, argola na orelha ¢ muito pintada... meio esquisita ...(uma professora). Também, pudera, as mies estio cheias de amantes! Eu disse "de- amantes" ¢ ndo "di-amantes" (dizia uma técnica do MEC em 1984, ‘numa reunitio do Conselho do Menor do Governo do Estado de Sio Paulo). Produzindo a escola de mé qualidade: o lugar do preconceito Por em questo as explicagdes ideoldgicas das desigualdades de progressio escolar das criangas das classes subalternas nao significa fazer 0 elogio da pobreza, como pode parecer. Entre as criangas apontadas pela escola como “probleméticas” certamente hé uma parcela que precisaria de um bom atendimento especializado fora da escola, como acontece com tantas criangas mais ricas que receber apoio médico, psicoldgico, fonoaudioldgico quando necessitam. No 1. Depoimentos extraidos de registros de pesquisa de campo. 113 Maria Helena Souza Patto entanto, mesmo nesses casos, as atitudes tomadas dentro da escola podem aprofundar ¢ cronificar as dificuldades vividas por uma crianga. Por exemplo, um professor que desqualifica e destréi tudo que uma crianga que sofreu perdas significativas produz, s6 esta contribuindo para 0 recrudescimento de suas dificuldades — noutras palavras, para a ocorréncia do "trauma cumulativo" de que fala Winnicott, estudado em detalhe por Freller em pesquisa recente. Nao € ocioso lembrar que uma crianga que nao aprende a ler e a escrever numa escola de mi qualidade ndo é necessariamente doente, como querem as clinicas psicolégicas que atendem a essa clientela. Além disso, j4 dispomos de dados suficientes para afirmar que o nimero de cridngas portadoras de problemas fisicos ou psiquicos é, via de regra, menor do que o numero de repeténcias. caso da desnutrigao é ilustrativo: apontada durante décadas como a grande causadora desses indices, sabemos hoje que é preciso relativizi-la, nio como fato inaceitivel que atinge tantas criangas brasileiras, mas como obsticulo & sua escolaridade. Pesquisas médicas j4 comprovaram que as criangas atingidas com mais severidade pela falta de proteinas ¢ calorias nos primeiros anos de idade nfo estio em mimero significativo dentro das escolas. Se aos dados sobre desnutri¢o juntarmos as estatisticas de mortalidade infantil nos anos pré-escolares, entenderemos que as criangas brasileiras pobres que atingem os sete anos de idade e ingressam na escola so sobreviventes, num sistema social perverso, que conseguiram se alimentar o suficiente para nio ter seu sistema nervoso lesado. So muitas as estratégias usadas pelas familias mais pobres para garantir o alimento necessério: 0 consumo da "barrigada", mencionado pelas mulheres da Vila Helena, ouvidas por Sylvia Leser de Mello (1988), & s6 um exemplo. O mito da desnutrigio como principal causa das dificuldades escolares dessas eri- ancas e a tentativa de reverté-la através da merenda escolar, além de porem em risco a identidade da escola como institui¢o de ensino, néo tiveram instituigdo da merenda, elas continuaram a crescer. O que justifica a manutengo da merenda & a necessidade de sanar a fome momentinea dessas criangas, tanto mais presente na populagdo escolar, quanto mais 0 pais afunda na recessio e no desemprego. Nao se pode também responsabilizar os professores pelas mazelas da escola piblica fundamental, uma vez que eles ndo passam de produtos de uma formagao insuficiente, porta-vozes da visio de mundo da classe hegem@nica e vitimas de uma politica educacional burocritica, tecnicista e desconhecedora dos problemas que diz querer resolver. A produgio do fracasso escolar esti assentada, em grande medida, na insuficiéncia de verbas destinadas 4 educagio escolar publica e na sua malversagdo. Ao contrdrio do que afirma a 114 A Familia Pobre e a Escola Piblica: AnotagSes sobre um Desencontro ideologia liberal, o Estado, nas sociedades capitalistas — e isto é mais dbvio nas sociedades capitalistas do Terceiro Mundo —nio esta a servico dos interesses de todos os cidadios, mesmo porque os interesses de dominantes e dominados sio inconcilidveis. Num pais como o Brasil, é cada vez mais evidente que o Estado serve aos interesses do capital e investe em educacao escolar somente na medida exigida por esses interesses. Falta de dinheiro significa educadores mal pagos e ai tem inicio uma cadeia de fatos cujo resultado tiltimo & a md qualidade do ensino oferecido, Mencionemos alguns elos desta cadeia: em primeiro lugar, é preciso lembrar que a quase totalidade do corpo docente da escola primaria, até a 4* série, é constitufda de mulheres de classe média-média e média-baixa que no trabalham mais por "amor a arte", mas porque precisam complementar 0 orgamento doméstico. Como donas-de-casa, acabam muitas vezes tendo uma tripla jornada de trabatho (duas profissionais uma doméstica). Além dessa sobrecarga, carregam o peso de sua desvalorizago num sistema educacional que, a partir dos anos setenta, parcelou o trabalho pedagégico, transformando-o numa verdadeira "linha de montage" na qual os técnicos (orientadores, assistentes pedagégicos, psicélogos, supervisores, ctc.), que supostamente sabem mais, tém mais poder e maiores salérios que os professores, meros executores de decises superiores, reduzidos 4 condigao de "trabalhadores bragais" mal remunera- dos. Num dia-a-dia atribulado, no hi tempo para ler, estudar, informar-se. Em condigdes materiais de trabalho em geral precérias — prédios em mas condigdes fisicas, falta de material didatico e de consumo, falta de fun- ionirios, perfodos escolares muito curtos, etc. — essas trabalhadoras da _educago também desenvolvem "estratégias" para sobreviver que conspiram, todas elas, contra a boa qualidade da escola e instituem 0 desrespeito no trato ‘com seu usttirio destituido de poder: ter dois empregos, falar, tirar licengas, mudar para uma escola mais préxima da casa ou da outra escola, evitar a primeira série, tida como mais trabalhosa, etc., sfio alguns desses recursos. Na seqii muitas vezes classes inteiras ficam sem professor por longos perfodos; professores iniciantes assumem as classes mais trabalhosas; tenta-se facilitar o trabalho pedagégico rotulando os alunos como fortes, médios € fracos; formam-se as classes de repetentes que, no jargio escolar, so as “classes que ninguém quer"; institui-se um permanente movimento subterraneo de troca de alunos indesejiveis entre as professoras; ensina-se de modo automético e monétono contetidas ¢ rituais sem significado para as criancas; gasta-se muito tempo tentando controlar criangas inquictas, muitas vezes com agressées fisicas e morais; professoras podem desaparecer de um dia para outro; o vinculo entre professor e aluno, necessirio a aprendizagem, pode ser rompido virias vezes por ano, etc., etc. Insatisfeitas e desgastadas, as profes- soras tendem a viver o seu rancor na relaco com o usuario desta instituicso piiblica que, como veremos, nao é s6 o aluno, mas toda a familia. Apoiadas us Maria Helena Souza Patto num discurso cientifico que confirma 0 senso comum — onde os pobres aparecem como menos capazes e destituidos das virtudes que levam ‘a0 sucesso —as educadoras tentam resolver os seus problemas néio s6 com as medidas que acabamos de mencionar, como através de outros expedientes que penalizam os alunos e as familias mais pobres: para suprir a falla de material de consumo, exigem contribuigdes em dinheiro ou espécie; sem qualquer apoio legal, exigem uniforme completo e listas abusivas de material escolar, criando muitas vezes uma situagio insustentével aos que no podem arcar com estas despesas. Pesquisando junto a familias de um bairro periférico da cidade de Sao Paulo, nas quais criangas em idade escolar jé estavam fora da escola, Campos e Goldenstein (1981) constataram que um dos principais motivos da chamada evasdo escolar & o fato surpreendente de que a escola piblica elementar nio é gratuita, ou seja, na maioria das vezes a “evasio" é expulsio, ‘0 desabafo de uma professora resume tudo isso de modo eloqiiente®: (0 trabalho do professor nfo é mais valorizado. A gente se submete a enfrentar uma classe de trinta pestinhas quatro horas, todos os dias: {sso quando nio é obrigado a dobrar 0 periodo por eausa desse saldrio dde fome que a gente tem, e ainda vem af uma mle qualquer sentando nna mesa ¢ chamando a gente de VOCE! Nao senhora, respeito & bom jjol Um SENHORA na frente do nome coloca ordem nas coisas ¢ af sim dé para conversar. Estas criangas vém para a escola tudo sujas, malcheirosas, coitadas, a familia ndo esté nem ai. Ne- nnhuma fez pré-escola, nto tém 0 minimo de nogio de espaco, coordenagio, a lateralidade & toda atrapalhada. Algumas criangas rminhas ndo t&m nada de discriminago visual, como que eu posso alfabetizar? Também, coitadas, na favela nfo t&m mesmo estimulagdo rnem motivagdo dos pais... Flas me contam cada historia! & a mle que bate, o irmfo que rouba, no tem comida. Sem comer, como & que podem aprender? Mas também acho que jé esto até acostu- mados: a gente d4 merenda e as vezes nem comem. Gostam quando tem ovo e salsicha, olha o luxo, até meus filhos preferem assim! Mas 4 gente tenta ajudar, ver se consegue iluminar um pouco a cabesa desses pais, mas vocé pensa que adianta? Nao esto nem ai, nem aparecem nas reunides ¢ quando vém ainda tém a coragem de perguntar 0 que é que EU fago a tarde toda que ndo ensino o fiho da "belezinha" —voc8 acredita? As historias sio de amargar! Se a gente quando tem qualquer probleminha j& vem para a escola querendo jogar as criangas pela janela, imagine elas, que em casa tém 0 pai bébado, a mie que espanca ¢ vive cheia de amantes ¢ o irmao drogado, Nao tém mesmo chance de aprender. A gente tem que ensinar 0 méximo que eles podem mas dar a mesma matéria que eu 2. Depoimento nio publicado, coletado por Elaine Cristina Z. Ré es, 1985. 116 A Familia Pobre ¢ a Escola Piblica: Anotagdes sobre um Desencontro dava na escola particular, nem pensar. A linguagem tem que ser bem diferente, ndo adianta dizer que nfo, Eles ndo tém capacidade de aprender além disso e se chegarem a ler, escrever e fazer conta direito jf estou bem feliz. Se quiserem ¢ forem esforcados conseguem se sair bem na vida (...) Eu sou especialista, fiz Faculdade, sou especialista tem educagio (...) © fago questio de mostrar isso a essas mies ignorantes e que nao t8m consciéncia. A gente manda questionérios, vvocé pensa que respondem a verdade? Que nada! Mentem o salério querendo se fazer mais pobres para pegar material da escola ¢ rninguém quer dizer que tem marido bébado... Diante desse quadro, ainda (Zo real em tantas escolas urbanas da rede de primeiro grau, nio é exagero afirmar que as idéias liberais — entre as quais a propalada "“igualdade de oportunidades" — esto hoje quase tio "fora do lugar" quanto estavam no Brasil escravocrata (para uma anélise do liberalismo no Brasil mondrquico, veja Schwarz, 1973). A familia e a escola: um confronto desigual ‘Apesar desse estado de coisas, do qual muitos educadores tm uma idéia fragmentéria, professoras ¢ diretoras tendem a atribuir 0 baixo rendimento da escola & incapacidade dos alunos ¢ ao desinte- resse e desorganizacio de suas familias, A principal forma de relagio da escola com as familias ¢ a convocagdo dos pais — geralmente a mie — para que ougam queixas de seus filhos ou sejam informados de algum problema mental destes "detectado" pelas professoras. Figis aos ensinamentos da Psicologia Educacional, as educadoras costumam eneaminhar todas as criangas que ndo respondem as suas exigéncias a servigos médicos e psicolégicos para diagnéstico. As es das educadoras sobre os alunos repetentes — muitas vezes confirmadas por laudos psicolégicos produzidos a partir de procedi mentos diagnésticos bastante duvidosos — em geral tém grande poder de convencimento sobre a crianca e seus familiares, ndo s6 porque produzidas num lugar social tido como legitimo para dizer quem so os mais capazes, como também porque vio na diregio do slogan liberal segundo 0 qual "vencem os mais aptos e os mais esforgados". Os rotulos assim produzidos "grudam nos dentes" dos oprimidos ¢ funcionam como "mordagas sonoras” (segundo ex pressdes usadas por J.-P. Sartre para se referir & ades&o dos coloni zados A ideologia do colonizador) que dificultam uma visio critica de sua condi¢go social e os mergulham num discurso de auto- acusagio, Isto fica patente na fala de algumas mies quando perguntadas sobre a causa do insucesso escolar de seus filhos (Freller, 1993): 47 Maria Helena Souza Patto Em casa ele é esperto, sabe achar os caminhos, fazer troco, mas na escola no consegue. Acho que é um parafuso que falta. Eu até que achava ele bom da cabeca, mas chega na sala ¢ esquece tudo, Acho que é da familia, ninguém tem sina para o estudo. Eu e meu marido somos leigos. a gente nio entende das coisas da escola porque nio fomos na escola quando eriangas. Meus filhos vio na escola mas também nio entendem, nfo conseguem aprender. Acho que nio é coisa para a gente (p. 41). As familias diferem quanto a relagio que estabelecem com os veredictos das professoras, diretoras, ¢ técnicos sobre seus fillios, Hi as que credulamente encampam o parecer da escola e passam a procurar na historia da familia ou da crianga fatos que expliquem a anormalidade que nfo haviam percebido; mais do que isto, sio gratas aos educadores pela revelagio. Muitas se debatem confusas entre 0 retrato escolar e ndo-escolar de suas criangas, tentando concilid-los ¢ pedindo ajuda na resolugdo deste impasse. Outras so capazes de articular uma visio critica das coisas da escola que guardam para si, temendo represilias se forem se queixar. Mas hé um denominador que Ihes € comum: todas valorizam a escolaridade ¢ Iutam para manter os filhos na escola até esgotarem os tltimos recursos. E esta Tuta geralmente é de toda a familia: os mais velhos vao trabalhar para que 0s mais novos estudem, os adultos consomem 0 minimo possivel do salério para comprar os livros, a mie faz algum bico no bairro para adquirir os cadernos. Pressionada pela escola para apresentar sua filha com o uniforme completo, Dona Guiomar, uma mulher migrante e softida de um bairro periférico, conta-nos que a quota de sacrificio pode ser dramética: Os congas dela, quando ela chega da escola, queria que vise... £ 56 tum conguinha $6, eu lavo e ponho no varai, seco no fogio para ela irparaa escola. A meinha eu comprei, até estava guardando dinheiro para levar mea filho no Pronto-Socorro que ele esti doente. Falei: “Quer saber? Eu vou dar um chazinho de mate para 0 menino e vou comprar a meia dessa menina, se no ela nfo vai estudar." Em geral, as criangas sio mantidas na escola durante muitos anos, até que mecanismos escolares mais ou menos sutis de expulsio acabem por se impor. Tirar da escola uma crianga que "vai bem" ndo € a regra, 0 que contraria a versio do senso comum, segundo a qual a desvalorizagio da escola pelos pobres seria a principal causa de evasio escolar. Estas mulheres — que contam uma histéria de trabalho quando solicitadas a contar a vida e que contam a vida quando perguntadas 18 A Familia Pobre e a Escola Piblica: Anotagdes sobre um Desencontro sobre 0 trabalho (a este respeito, veja Mello, 1988) — muitas vezes so 0 arrimo da familia; na impossibilidade de contarem com um fo com quem dividir o fardo cotidiano, organizam o grupo familiar de modo a dar conta da sobrevivéncia de todos. Muitas nio tm ou tém pouca escolaridade ¢, em geral, encontram dificuldades na relagio com a escola dos filhos, seja pela averstio (calcada em experigncias escolares negativas, como alunas ou como mies), seja pela ambivaléncia, seja pela idealizagio dessa instituigio. E em muitos casos a escola nfo ajuda: a aceitacdo das mies pela escola ¢ tanto maior quanto mais corresponderem a mie ideal presente no imaginério das educadoras: "pobre, mas limpinha", casada legal- mente, colaboradora com a escola através da prestagio de servigos e de contribuigdes em dinheiro, assidua nas reunides da APM, “corpo docente oculto” que ensina e acompanha as ligdes escolares em casa e que, acima de tudo, nao reclama ou reivindica. Muitas so gratas as professoras e a diretora por aceitarem seus filhos, permi- tirem a sua matricula, ajudarem com algum material escolar. Em fungio do bairro e de sua histéria de organizacao e lutas populares, as familias tm mais ou menos consciéncia da escola como um direito, tém mais ou menos consciéncia de que, como pagadores de impostos em tudo que compram, contribuem para a existéncia da escola de seus filhos. Nos bairros menores € mais recentes, compos- tos de uma maioria de migrantes chegados ha pouco anos a grande cidade, a oferta de um lugar na escola é vista como um favor da diretora; nestes casos, muitas vezes estabelece-se uma relago de clientela entre as educadoras e as familias, na qual estas nao tém qualquer poder a opor ao poder técnico daquelas. Examinando a questo das relagdes de poder entre instituigdes prestadoras de servigos ¢ seus usuarios, Basaglia (1973) constatou que quanto menor 0 poder do usuario, maior 0 poder de técnicos funciondrios, tanto mais o poder destes € absoluto ¢ arbitrario, a ponto de suas agSes dispensarem qualquer justificativa de natureza técnico-cientifica, Esta relagdo que se caracteriza por um maximo de poder da instituig’io e nenhum poder do usudrio — que Basaglia chama de "asilar" — esté presente, com toda a sua forca, nos manicémios judiciérios. Quando nao hé o poder econdmico a opor a0 poder institucional, € 0 poder advindo da consciéncia ¢ da exigéncia dos direitos de cidadania que possibilita que os usuarios ndo fiquem A mercé dos caprichos dos que trabalham na instituigio, © arbitrio nas relagdes com os alunos e suas familias esté muito presente nas instituigdes escolares que atendem aos segmentos mais pobres da classe trabalhadora. Assim, a melhoria da qualidade do ensino piblico passa por espacos externos & escola: a transformago 19 Maria Helena Souza Patto de "clientes", de "favorecidos" em cidadios ¢ condigao impres- cindivel A maior eficiéncia dos servigos piblicos em geral. E fora de dvida que os educadores precisam de melhores saldrios; niio se discute também a necessidade de aparelhar melhor os prédios escolares; no entanto, uma escola voltada para os interesses ¢ necessi- dades de seu corpo discente s6 serd possivel 4 medida que os educadores tiverem uma formagdo profissional de melhor nivel. Por "formacio profissional" nao estamos entendendo "treinamento técnico", mas uma formagio intelectual consistente que os instrumente para uma reflex_o critica a respeito da escola e da ago pedagégica numa sociedade de classes, que os capacite a "identificar o inimigo" corretamente ¢, por esta via, poderem se aliar aos seus alunos na luta pela escolaridade dos trabalhadores, sejam eles educadores ou no. A superagao de opinides € esteredtipos é dificilima; como diz Ecléa Bosi (1992), ela nfo é uma técnica, mas uma conversio. Por isso, a formagiio do magistério precisa sair das maos de cursos particulares e publicos de péssima qualidade ser entregue as Universidades piblicas e particulares de comprovada competéncia. Enquanto nfo for assim, todos os participantes da vida escolar continuardo sendo constrangidos por planos educacionais ¢ “pacotes pedagégicos" que s6 tém dificultado o encontro da escola com seu objetivo de socializar o saber que Ihe cabe transmitir. $6 entio, averdadeira "caréncia cultural" dos brasileiros —a que resulta da falta de acesso de todos ao melhor que o espirito humano criou ao longo de sua historia — comegard a ser suprida, Dona Guiomar e seus filhos tém todo o direito a isso. PATTO, M.H.S. Poor families and public schools: notes on a disagree- ment. Psicologia-USP, Sio Paulo, v. 3, n.1/2, p.107 - 121, 1992. Abstract: Taking into consideration thatthe elementary public school had failed in its academic function with the majority of Br children and, furthermore, that the children most involved in thi situation are those belonging to the poorest segments of the working, classes, the article analyses the determining factors of the bad quality of schooling offered to these children. Among those determining. factors, the prejudice against poor people and negroes, deeply im- bedded in Brazilian society, is a powerful element in the school process. Overcoming this problem is discussed within the citizenship rights and relations of power in a society of classes. Index terms: Family. Schools. Academic failure. Prejudice. Teacher student interaction. 120 A Familia Pobre ¢ a Escola Publica: Anotagdes sobre um Desencontro REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ALMEIDA JR., A. Repeténcia ou promosdo automética? Revista Brasileira de ‘Estudos Pedagdgicos, Rio de Janeiro, v.27 n.65, p. 3-15, jan/mar. 1957. 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