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ismo e sexismo cultura brasileira Gonzalez ‘aera $eti Prone, quer teve aoutpa? Aqucla neguina ater no tivess@ dado com a lingua brencos. Malham ala até hoje. T tar? No 6.4 0a qua caga na saicie_"! fambém, quem mandou no saber se Stes iver cizencs que “preto quando néo.cage na ALONGA EPiGRAFE diz muito além do percebe 6a identificacio muito bem analisado poru que ela conta. De saida, o que do dominado com o dominador. Bisse ff m Fanon,’ por exemplo. Nossa tentativa podem a necessidac es série de problem i cara) sempre um Construgio? O que ele oculta, para os incomodar. Exat negra ésituada ne seu discurso? que estavam 2 O lugar em que nos situamos deter eo ziporte epiat duplo féndmeno do racismoe do sexi como a sintomética tid, minard nossa interpretagao sobre: smo, Para nés, oracismo se constity que caracteriza a hew O que comecou ci guagem, outra a sua retomada pot dizer outra coisa sfo mais, nocam criagio das lingu positivas do atod aoutra elimina. Ouainda:a anili }egraem uma outra perspectiva mulata, doméstica e mie preta. ipresentada no Encontro Ns Ora, na medida em qu brasileira, pois assim indagacao via psicanal por Miller, ow seja: por (econsegue muitas ve ‘0 risco que assumi cagbes, Exatamente pi aquele que nfo tem f da, ora. Se a.entre os 2 compar na entrada, 0 que se $50 jd foi va aqui é o que foi taaceita- | mulher sobree constitu esse sen~ jolentos de onde colocan- a partir 50, nos (Latin ta, ain 1 outro tancia politica no Movimento Negro Unificado constituia-se como fator determinante de nossa compreensio da questo racial. Por outro ado, a experiencia vivida como membro do Grémio Recreativo de Arte Negra a Escola de Samba Quilombo permitiu-nos a percepeao de varias facetas {que se constituiriam em elementos muito importantes para.a concretiza ao deste trabalho, E comecou ase delinear, para nds, aquilo que se pode- tia chamar de contradigdesintemas. O fato & que, como mulheres negras, sentimosa necessidade de aprofundar essa reflexo, ao invés de conti- rnuarmos a reprodugo e repetigio dos modelos que nos eram oferecidos pelo esforco de investigagdo das cineias sociais. Os textos nos falavam apenas da mulher negra numa perspectiva socioecondrsica que elueidava ‘uma série de problemas propostas pelas relag8es raciais. Porém, fieava (e ficaré) sempre um resto, que desafiava as explicagées. E isso comecou ‘anos incomodar. Exatamente pelas nogtes de mulata, doméstica e mae ppreta que estavam ali, nos martelando com sua insisténcia ‘Nosso suporte epistemolégico se.dé a partirde Freud e Lacan, ouseja, dapsicandlise. justamente porque, como nos diz jacquesAlain Miller em sua Teoria da Alingua: © que comegoucoma descoberta de Freud foi outra abordagem da lin- guagem, outra abordagem da lingua, cujo sentido s6 veto a luz com sua retomada por Lacan. Dizer mais do que sabe, no saber o que diz, dizer outra coisa que niio o que se iz, falar para nio dizer nada, no so mais, no campo freudiano, os defeitos da lingua que justificam a criaglo das linguas formais. Essas so propriedades inelimindveis positivas deste de falas: Psicanlise ¢ l6gica, umase funda sobre oque ‘outraelimina. A andlise encontra seus bens nas latasde Lixodalégica. Ou ainda: a andlise desencadeis o que a légica domestica* ra, na medida em que ads negres estamos na lata de lixoda sociedade brasileira, pois assim o determina a légiea da dominagio, caberia uma indagagio via psicandlise.E justamente com base na alternativa proposta ‘Por Miller, ou seja: por que o negro ¢ isso que a légica da dominaclotenta (e consegue muitas vezes, nés o sabemos) domesticar? O risco que assumimos aqui ¢ 9 do ato de falar com todas as impli cages. Exatamente porque temos sido falados, infantilizados (nfans € aquele que no tem fala propria, é a crianca que fala de si na terceira 239 ‘ eiéncia, afirma Pessoa, porque é falada pelos adultos), que neste trabalho assumimos eta ica ‘nossa propria fala. Ou seja,o lixo vai falar, e numa boa, jogo de cintura: A primeira coisa quea gente pereebe nesse papo de racismo é que todo mie saca que acon ada de cena, E ape GA ATIVA , peixinho é, Mulhernegra, natural fuxineira,servente trocadora de Gnibus ou prostitu Jornal, ouvir ridio ver televisdo, mais € que ser favelados, Racismo? No Brasil? Quem foi que disse? Isso 6 colsa de americana. { i Au ndo tem diferenga, porque todo mundo ébraieit acima de todo barnaval, Rio de jan Siesasa Deus, Freto aqui ébem tratada tem o mesmo dieitoquea gente, ther e samba: Te tem. Tanto é que, quando se esforga, cle sobe na vida como qualquerum, ‘A fantasia, frevos, Gonhego um que médico; educadissima, culto, elegante ecom umas nos tambér. feisdes tao finas... Nem parece preto, ta. Basta a gente ler ea es no querem nada, Portanto, tém Fui nomeada ‘LAMARTINEA omento que se im Por ai se wé que o barato é domesticar mesmo. E, se agente detém qu a c olhar em determinados aspectos da chamada cultura brasileira, a escolas — « Benve sac que, em suas manifestacSes mais ou menos conscientes, cla as: azul ¢ bran oculta, revelando, as marcas ‘da afvicanidade que a constituem, (Como é eer eee brane que pode?) Sequindo por al, a gente também pode apontar pro lugar da pena mulher negra nesse processa de formagto cultural, asiva come os dife- pioneiros, prince rentes modos de rejeicio e imtogragao de seu papel. Por iso, a gente vai trabalhar com duas nocSes que ajudario a sacar 2 a © que a gente pretende caracterizar. A gente estd falando das nogdes de _ das mulatas que, comscténcia e de meméria, Como consciam. gente entende olugarde ‘do carro alegérico, desconhecimente, do encobrimento, da aliena¢io da resquecimentoe até vindo; oe - gostosa asi se faz presente, Jd a meméria, =e se fossem benctos: feérico vem de “fee O mito que se f justamente no mor com toda a sua for consciéncia, afirma como a verdade, Mas a meméria tem suas asticias, seu jogo de cintura: por isso, ela fala por meio das mancadas do discur- so da consciéncia. O que a gente vai tentar é sacar esse jogo ai, das duas, também chamado de dialética. E, no que se refere a gente, Acrioulada, a gente saca que a consciéncia faz tudo para a nossa histéria ser esquecida, tirada de cena. E apela para tudo nesse sentido.’ S¢ que isso t4 al... efala, ANEGA ATIVA ‘Mulata, mulatinha meu amor Fui nomeade teu tenente interventor LAMARTINE BABO Carnaval. Rio de Janeiro, Brasil. As palavras de orem de sempre: bebida, mulher e samba. Tode mundo obedece e cumpre. Blocas de sujo, barhhos 4 fantasia, frevos, ranchos, grandes bailes nos grandes clubes e nos pequenos também. Alegria, loucura, liberdade geral, No entanto, hé um momento quese impée. Todo mundo se concentra: na concentragio, nas arquibancadas, diante da tevé, Asescolas vio desfilar suas cores duplas ou triplas. Predominam as duplas: azul e branco, verde e rosa, vermelho ¢ branco, amarelo e pre- to, verde e branco e por af afora. Espetiicula feérico, dizem os locutores plumas, paetés, muito luxe e tiqueza, Imperadores, uiaras, bandeirantes epioneiros, princesas, orixds, biches, bichas, machos, fEmeas, salomées, erainhas de sab, marajés, escravos, soldados, s6ise luas, baianas, ciga- nas, havaianas. Todos sob o comande do ritmo das baterias edorebolado das mulatas que, dizem alguns, nio estio no mapa, “Olha aquele grupo do carro aleg6rico, ali. Que coxas, rapaz’; “veja aquela passista que ver vindo; que bunda, meu Deus! Olha come ela mexe abarriguinha. Vai ser gostosa assim Id em casa, tesic"; “elas me deixam loueo, biche’ E ld vao elas, rebolantese sorridentes rainhas, distribuindo beijoscomo se fossem béngdos para seus dvidos stiditos nesse feérico espetdcule,.. E feérico vem de “fée", fada, na civilizada da lingua francesa, Contode fadas? O-mito que se trata de reencenar aqui ¢ 0 da democracia racial. E é justamente no momento do rite carnavaleseo que o mito ¢ atualizado ‘com toda a sua forca simbélica. E énesse instante que a mulher negra 244 pe que o primeiro as eniente da lingua qu na, dado pelos afri io. Outre aspect ciondrio, ou seja, m cio, de esvaziame deixa transparec ique precisava ser es jamos 0 que nos di er; em A mulher no em todas os seus detalhes anat fogos de artificio eletrinicos, E estard nas paginas das revistas ‘Smicos; e os flashes se sucedem, co ela dé oque tem, pois sabe que aman nacionais e internacionais, vista e adm rada pelo mundo inteia, Iso, sem contar 0 cinema ea televisia Ef ols feericomente luminosa e luminada, na fecrico espetieule q Bere eocreve deg ‘Toda jovem negra, que desfila no mais humilde bloco do mais long e das menares, eo uo subuirbio, sonhacom a passarela da Marqués de Sapucat. Sonhaco es ss ssse serio douredo, contol fadas no qual “a uate invejando fereneat pane ins sales ot Porque, mulata, tu nfo é5 deste planeta", £ Por que nao? Come todo mis as igénclas . se eda democracia racial oculta algo paraalém daquile que mostes, sleds de ‘Numa primeira aproximagio, constatamos que exerce eva violéney aide simbélica de maneira especial sobte a mulher negra. Pois o outro pee The cco, es do endeusamento camavalesco ocorre no eotidiamo desse mulher, pick snes momento em que ela se transfigura na empregada doméstica, E por aviltantes dosenks quea culpabilidade engendrada pelo seu endeusamento se exerce com pastes quem eS fortes cargas de agressividade. Poraf, também, que se constata que. ccastigos pecunia Atmos mulata e doméstica sio atribuicdes de um mesmo sujeit dos concubinatos ‘Anomeario vai depender da situago erm que somos vistas Sea gente di uma volta pelo tempo da escravid ‘muita coisa interessante, Mi © branco faz com a gente fais adiante, citando "mento do fim do sécul excluia de suas fungbe 1 "emanchara > cles tempos, ol Sete “ concubinagem, tudo b 0, pode enconts ita coisa que explica essa confusto toda que Porquea gente ¢ preto. Pra gente que é p Mucama, (Do quimbumdo mu’kama ‘amdsia escraval) 8. f. Bras. & ee escrava negra mogs ¢ de estimacao que era escolhida para auxiliarnos debense raheem: Servigos caseiros ou acompanhar pessoas da familia ¢ que, por vezes, sua articulacao coma era ama deleite. (Os grifos so meus) ee amulher negra ciente que, paulatinan 242 Parece que o primeiro aspecto a observar é o préprio nome, significante ‘proveniente da lingua quimbunda, ¢ significado que nela possui, Nome ‘fricano, dado pelos africanos e que ficou como inscriglonao apenas no diciondrio, Outre aspecto interessante é o deslocamento do significado 9 dicionério, ou seja, no cédigo oficial. Vemos ai uma espécie de neu- tralizacio, de esvaziamento no sentido original. 0 "por vezes” & que, de pllo, delxa transparecer alguma coisa daquile que osafricanos sabiam, nas que precisava ser esquecido, ocultado. Vejamose que nos dizem outras textos a respeito de mucama. June E. Hahner, em A mulher no Brasil, assim se expressa (..) a escrava de cor criow para a mulher branca das casas grandes e das menores, condigdes de vida amena, ficil e na maior parte das vvezes ociosa. Cozinhava, lavava, passava a ferzo,esfregava de joelhos 0 chlo das salas e dos quartos, cuidava dos filhos da senhorae satisfazia as exigéncias do senhor. Tinha seus préprios filhos, o dever e a fatal solidariedade de amparar seu companheiro, de sofrer com os outros escravos da senzala e do leito e de submeter-se aos castigos corporals que lhe exam, pessoalmente, destinados. (..) O amor para a escrava (..) tinha aspectos de verdadeiro pesadele. As incursdes desaforadas e aviltantes do senhor, hos e parentes pelas senzalas, a desfacater dos padres a quem as Ordenagées Filipinas no intimidavam, com seus castigos pecuniérios e degredo paraa Africa, nem os faziam desistir dos concubinatos e mancebias com as escravas.* Mais adiante, citando José Hon6rio Rodrigues, ela se refere a um docu- ‘mento do fim do séeulo xvrrt pelo qual 0 viee-rei do Brasil na época exclufa de suas func&es do capitic-mor que manifestara "baixos senti- mentos” e manchara seu sangue pelo fato de tersecasado com uma negea. naqueles tempos, observa-se de que maneiraaconsciéncia (revestida deseucardter de autoridade, no casa) buscava impor suas regras do jogo: sencubinagem, tudo bem; mas casamento ¢ demais. ‘Ao caracterizar a fungdo da escrava no sistema produtivo (prestagao_ debens e servigos) da sociedade escravocrata, Helefeth Saffioti mostra sua articulagio com a prestacdo de servicos sexuais. E por afela ressalta que a mulher negra acabou por se converter no “instrumento incons ssiente que, paulatinamente, minava a ordem estabelecida, quer na sua 243 dimensto econémica, quer na sua dimensdo familiar” senhor acabava por. ‘assumir posigdes antiecondmicas, determinadas da wic Sua postura sexual; como houvesse negros que disputavam com ele ‘brat terreno do amor, partia Para a apela¢do, ou seja, a tortura e a-venda ide servig concorrentes. E adesordem se estabelecia exstamente porque que seu hor as relagdes sexuais entre os senh mais primdriss ¢ animais que fo ineongruentes com as ex; ores e escravas desencadeavam, ssem, processos de interagdo ‘pectativas de comportamento, ‘que pres Cabe de }eastas. Assim, no apenas homens brancosi Regros se tornavam concorrentes na disputa das negras, mas também smulheres brancasenegras disputavama stenscdo do homem brance,’ p. No live Pelo que os dois textos dizem, constatamos que 9 éngendramento da ‘ulate eda doméstica se fer a partirda figura da mueama, E,pelovh ilo é por acaso que, no Aurélie, a outra fungi da mucarne esté entre Parénteses. Deve ser ocultada, recalcada, tirada de cena. Mas isso no elements significa que ndo esteja presente, cor sua malemoléneia perturbadara, da mulh Eo momento privilegiado em que sua presenca se torna manifesta é sexURIS ( Jastamente 0 da exaltacio mitica da mulata neste entre parénteses que element 0 Carnaval, animald Quanto a doméstiea, ela nada mais é do que a mucama permitida, a mente de da prestagao de bense servicas, ou 3eja, o burro de carga que carrega se envoly sua prdpria familia e a dos outros nas costas, Da {, ela ser o lado opesto ‘que cheg da exaltagao; porque ests no cotidiano, E & nesse cotidiano que podemos ‘final lhe constatar que somos vistas como domésticas, Melhor exemplo disso sig ‘os casos de diseriminagaode mulheres negrasd Depois que a g porque é um p e conjugados, 4 um baile n cou, Porém, m bém. Pelo exp: comete ato se diz que anima na verdade, at gente saca que nde dé pra daem que éu ido esquecida, Estd af. rose cultural Dd Mas é justamente aquela negra andnima, habitante da periferia, nas baixadas da vida, quem sofre mais tragicamente os efeitos da terrivel cul- pabilidade branea. Exatamente porque ela que sobrevive na base da pres- faclo de servigos, segurando a barra familiar praticamente sozinha, Isso porque seu homem, seus irmios ou seus filhos sfo cbjeto de perseguica0 policial sistemstica (esquadrées da morte, mfosbrancas estioai matando hnegros 4 vontade; observe-se que so negros jovens, com menos de trinta anos, Que se veja também quem a maioria da populace earcerdria deste pais). Cabe de novo perguntar: como é que gente chegou aeste estado de coisas, com abolicio e tudo em cima? Quem responde pra gente é um ‘ranco muito importante (pois é cientista social, uai) chamado Caio Prado Junior, Ne livro Formagée do Brasil contempordnee, ele diz uma porgao de coisas interessantes sobre o tema da escravidao: Realmente a escravidio, nas duas fungies que exerceré na sociedade colonial, fator trabalho e fator sexual, niodeterminard seniorelagbes clementares muito simples. (..) Aoutra fungie do escravo, ou antes, da mulher escrava, de instrumento de satisfaglo das necessidades sexuais de seus senhores e daminadores, nio tex um efeito menos elementag, Nio ultrapassard também o nivel primérioe puramente animal do contato sexual, nao se apreximando senfio muito remota- mente da esfera propriamente humana do amor, em que o ato sexual se envolvede todo um complexo de emoBes e sentimentos tfo amplos aque chegam até a fazer passar parao segundo plano aquele ate que afinal Ihe deu origem.* Depois que a gente lé um barate assim, nem dé vontade de dizer nada porque é um prato feito. Mas vamos ld. Quanto aos dois fatos apontados e conjugados, é sé dar uma olhadinha, de novo, no texto de Heleieth. Ela 44 um baile no autor, no mesmo espago discursivo em que ele se colo- ‘cou, Porém, nosso registro é outro, vamos dar nossa chamadinha tam- bém. Pelo exposto, a gente tem aimpressio de que branco nfo trepa, mas comete ato sexual e que chama tesio de necessidade, E, ainda por cima, diz que animal sé tira sarzo, Assim nio da pra entender, pois nao? Mas, na verdade, até que dé, pois o texto possui riqueza de sentido, na medi- da em que é uma expressto privilegiada do que chamariames de new- rose cultural brasileira. Ora, sabemos que 0 neurético constréi modos 245 deocultamento do sintoma, porque isso Ihe traz certos beneficios. Essa objetivo pris construgo g liberta da angiistia de se defrontar com o recalcamento. Na medo. 4 longo] verdade, 0 texto em questo aponta para além do que pretende analisar made unidade No momento em que fala de alguma coisa, negando-a, ele se revela como enon eee desconhecimento de si mesmo. dominante just Nessa perspectiva, ele pouco teria a dizer sobre essa mulher negra, orden ¢ segurs seu homem, seus irmios ¢ seus filhos de que vinhamos falando, Exata- : mente porque ele hes nega o estatuto de sujeito humano. Trata-os sem visto, e respond pre come objeto, Até mesmo como objeto de saber.” E por ai quea gente a gente no che compreende a resisténcia de certas andlises que, a isistirem na prio= nunca salu de ridade da luta de classes, se negam a incorporar as categorias de raga e tHeleieth disseram sexo, Ou sejam, insistem em esquect-las.* stica, 86 faze E, retomando a questo da mulher negra,a gente vai reproduziruma sendo ol a i re ‘coisa que a gente escreveu hd algum tempo: aa Ss ae -serd que ela sé dese ‘opiblico"? Ou seja, antincios de empreg ‘nas casas das mada neirae raramente ct escolas, supermerc: ‘Equande, como: nno “caso Aézio"” qu bone, denunciando coisas ficam realm ridicularizacao ow nfo assumi-la. Dev fonicos ditos popul crioula que defend wai acontecer a ele segdes policiais de de fagir A angistia Marli’, por exempl der. E sério porque nada melhor para daque o gesto de f naheroina, tinica ¢ -As condigdes de existéncla material da comunidade negra remetem a condicionamentos psicolégicos que tém que ser atacados e desmas- carades. Os diferentes indices de dominagto das diferentes formas de produgdo econémica existentes no Brasil parecem coincidir num ‘mesmo ponte; a reinterpretacgo da teoria do "lugar natural” de Avie- ‘ételes, Desde a época colonial aos dias de hoje, percebe-se uina evi dente separagao quanto a0 espaco fisico ocupado por dominadores ¢ dominados. O lugar natural da grupo branco dominante sio moradi sauddvels, situadas nos mais beles recantos da cidade ou do campo e devidamente protegidas por diferentes formas de policiaments que vie desde os feitores, capitaes de mato, capangas etc, até a policia formal ‘mente constituida. Da casa-grande e do sobrado até os belos ediffctos ¢ residéncias atuais, ocritério tem side © mesmo, Jo ugar natural do negro é 0 oposto, evidentemente: da senzala as favelas, cortigos, inva- 802s, alagados e conjuntos “habitacionais” (...) dos dias de hoje, 0 crité- riotem sido simetricamente e mesmo: a divisée racial do espaco.(..) No caso do grupe dominado, o que se constata sto familias inteiras armen toadas em cubiculos cujas eondigdes de higiene e sate so as mais pre- cévias, Além disso, aqui também se tem a presenca policial;sé quendog para proteger, mas para reprimir, violentaré amedrontar. £ porai que se entende por que © outro lugar natural do negro sejam as prisdes. A sistemética repressio policial, dado 0 sou earster racista, tem por 246 objetivo préximo a instauracdo da submissic psicoldgica através do :medo. A longo prazo, o que se visa ¢ 0 impedimento de qualquer for- ma de unidade do grupo dotninads, tnediante a utilizaco de todosos meios que perpetuem a sua divisio interna, Enquanto isso, o discurso dominante justifica a atuagio desse aparelho repressivo, falando de ‘ordem e seguranca sociais.* Pelo visto, e respondendo & pergunta que a gente fer mais atrés, parece ‘que a gente nao chegou a esse estado de coisas. O que parece ¢ que a gente nunca saiu dele. Basta a gente dar uma relida na que a Hahner e aHeleieth disseram. Acontece que a mucama “permitida’, 2 empregada doméstica, 96 faz cutucar a culpabilidade branca, porque ela continua sendo a mucama com todas as letras. Por isso ela é violenta e concre- tamente reprimida, Os exemplos nao faltam nesse sentido; se a gente articular divisio racial e sexual de trabalho, fica até simples. Por que serd que ela sé desempenha atividades que naa implicam em “lidar com o ptiblico”? Ou seja, em atividades onde nda pode ser vista? Por que os antincios de emprego falam tanto em “boa aparéncia"? Por que serd que, fas casas das madames, ela s6 pode ser cozinheira, arrumadeira ou fax: neira e raramente copeira? Por que é “natural” que ela seja a servente nas escolas, supermercados, hospitais etc. e tal? E quando, como ne famoso “caso Marli" (que tem sua contrapartida no “caso Aézio"” que, afinal, deu no que deu), ela bota a boca no trom- bone, denunciando o que esto fazendo com homens de sua raga? Ai as coisas ficam realmente pretas ¢ hd que dar um jeite, Ou se parte paraa ridicularizago ou se assume a culpabilidade mediante a estratégia de no assumi-la, Deu pra sacar? A gente se explica: os programas radio- fonices ditos populares sHo useiros ¢ vezeiros na arte de ridiculatizar a crioula que defende seu crioulo das investidas policiais (ela sabe o que vai acontecera ele, né? 0 “caso Aézio” tai de prova). Que se escute as seqies policiais desses programas. Afnal um dos meios maiseficientes de fugir & angdstia ¢ ridicularizar, ¢ rir daquilo quea provoea. Ja o“caso ‘Marli", por exemplo, ¢ levado a sério, tao a sério que ela temque se escon- der. Esério porque se trata do sew irmio (enao do seu homem); portanto, nada melhor para neutralizar a culpabilidade despertada pelo seu ato do que o gesta de folclorizé-la, de transformé-la numa “Antfgona Negra’, ‘na heroina, tinica ¢ inigualavel. Com isso, a massa anénima das Marlis é 247 esquecida, recalcada. E tudo continua legal nesse pais tropical. Elemen- ‘tar, meu caro Watson, E poral que gente entende por que dizem certas coisas, pensando que esto xingando a gente. Tem uma miisica antiga chamada "Néga do cabelo duro" que mostra direitinho porque eles querem que o cabele da gente fique bom, liso e mole, né? £ por isso que dizem que a gente tem belgos em vez de labios, fornalha em vez de nariz. cabelo ruim (porque é duro). E quando querem elogiara gente dizem que a gente tem feigées finas (e fino se ope a grosso, né?). E tem gente que acredita tanto nisso que acaba usando creme pra clarear esticando os cabelos, virande “eid” ae ficando com vergonha de ser preta, Pura besteira, Se bobear, a gente mem tem que se defender com os xingamentos que se referem direta- mente ao fato de a gente ser preta. Ea gente pode até dar um exemplo que pie os pintos nos is. Nio faz muito tempo que a gente estava conversando com outras mulheres, num papo sobrea situagio da mulher no Brasil. Foi af que uma delas contou uma histéria muito reveladors, que complementa o quea gente jé sabe sobrea vida sexual da rapaziada branca até nao faz muito: {niciagao e prética com as erioulas. £ af que entra a histéria que foi com- tada pra gente (obrigada, Ione). Quando chegava na hora do easamento com a pura, frégile inocente virgem branea, na hora da tal noite de mip- ssias, a rapaziada simplesmente brochava. Ji imaginaram o vexame? E onde é que estava o remédio providencial que permitia aconsumagio das bodas? Bastava o nubente cheiraruma roupa de crioula que tivesse sido usada, para “logo apresentar‘os documentos”, Ea gente ficou pensando ‘essa prtica, tao comum nos intramuros da casa-grande, da utilizagdo desse santo remédio chamado catinga de crioula (depois deslocado para 0 cheira de corpo ou simplesmente cé-ct), E fica facil entender quando xxingam agente de negra suja, né? Poressase outras também, que di vontade de rir quando a gente con- tinua lendo o livro do seu Caio Prado Junior: Aquele trecho, que a gen- te reproduziu aqui, termina com uma nota de rodapé, cide ele reforga todas as babaquices que diz:da gente, citando um autor francés (André ‘Maurois) em francés (s6.que a gente ‘traduz): diferenca en conclusic E interessa peito para acri Onilagre doamor humane & que, cbre un instinto te simples 0 desea, infos cu infans, le constr6i os edificios de sentimentos, os mais complexos edelicados. 248 esse milagre que o amor da senzala nfo realizou e nao podia realizar © Brasil-colénia, Pelo exposto, parece que nem Freud conseguiu melhor definir neuro- do que Andeé Maurois. Quanto 4 negativa do “seu” Caio Prado finior, felizmente, a gente sabe o que ele esta afirmando esquecidamente: 0 da senzala sé realizou o milagre da neurose brasileira, gragas @ ssa coisa simmplérrima que € 0 desejo. Tao simples que Freud passou a da toda escrevendo sobre ela (talver porque nao tivesse o que fazer, né, can?). Definitivamente, Caio Prado Jiior “detesta” nossa gente. Atinicacolher de ché que dé é quand fala da “figura boa da ama negra’ de Gilberto Freyre, da “mile preta”, da “ba”, que “cerca o bergo dacrianga jleira de uma atmosfera de bondade e ternura’.® Nessa hora, agente vista como figura boa e vira gente. Mas af ele comega.a discutir sobre diferenga entre escravo (coisa) e negro (gente) pra chegar, de novo, a ma conclusio pessimista sobre ambos. Einteressante constatar come, por meio da figura da “mie-preta’, a “verdade surge da equivocagio.” £ exatamente essa figura, para a qual 46 uma colher de ch4, quem vai dara rasteira na raga dominante. E rvés dela que o “obscuro objeto de desejo” (0 filme do Bufiuel), acaba transformando na “negra vontade de comer carne” na boca da moga- da branca que fala portugués. O que a gente quer dizer é que ela no ¢ esse exemplo extraordindrio de amor e dedicace totais como querem os brancos e nem tampouco essa entreguista, essa traidorada raga como querem alguns negros muito apressados em seu julgainento. Ela, sim- plesmente, é amie. E isso mesmo, é a mie. Porque a branca, na verdade, 6a outra. Se assim nao a gente pergunta: quem é que amamenta, que 44 banho, que limpa cocd, que poe pra dormir, que acorda de noite pra cuidar, que ensina a falar, que conta histériae por al afora? £2 mie, no ‘Rois entZo. Elaéa mie nesse barato doido da cultura brasileira. Como mucama, éa mulher; entio aba" éa mie, A branca, achamada legitima ‘esposa, é justamente a outra que, por impossivel que pareca, s6 serve ‘para parir os filhos do senor, Nao exerce a funco materna. Essa é efe- ‘tuada pela negra. Por isso, a “mie preta’ ¢a me, E, quando a gente fala em fungSo materna, a gente esti dizendo que a mie preta, ao exercé-la, passou todos os valores que lhe diziam res~ peito para.a crianga brasileira, como diz Caio Prado Jimior. Essa crianca, este infans, € dita cultura brasileira, cuja lingua é 0 pretogués. A fun- 249 so materna diz respeito & internalizacao de valores, ao ensino da lingua maternae a lima série de outras coisas mais que vio fazer parte do ima- Sindrio da gente.” Ela passa pra gente esse mundo de coisas que a gente val chamar de linguagem, E gracas aela, ao que ela passa, a gente entra ha ‘ordem da cultura, exatamente porque é ela quem nomeia o pai. For ai, a gente entende por que, hoje, ninguém quer saber mais de baba preta, 86 vale portuguesa, 56 que é um. pouco tarde, né? A rasteira j&foi dada. MUITA MILONGA PRA UMA MIRONGA sO ‘36 uma palavra me devora Aquela que o meu coragio nao diz ABELSILVA Quando se 1é as declaragdes de um Dom Avelar Brando [1912-1986], Arce- bispo da Bahia, dizendo que a africanizagio da cultura brasileira éum ‘modo de regressdo, dd pra desconfiar, porque, afinal de contas, o que estd feito, estd feito. Eo Bispo dancou ai. Acordou tarde porque o Brasil jé este ¢ afticanizado, M. D. Magno tem um texto que impressionou a gente, exa tamente porque ele discute isso, Duvida da latinidade brasileira afirmando que este barato chamado Brasil nada mais é de que uma América Africana, ou seja, uma Ameéfrica Ladina. Para quem saca de crioulo, 0 texto apon- ‘a para uma ming de ouro que a boralidade europeizante faz tudo para esconder, para tirarde cena. E, justamente por isso, estamos a, usando de Jogo de cintura, para tentar se entender: Embora falando, a gente, como todo mundo, numade eseritura. Por iss, a gente vai tentarapontar para aquele que tascou suaassinatura, sua marca, seu selo (aparentemente, sem sé-Jo), seujamegio, seu sobre-nome como pai dessa “adolescente” neurstica que a gente conhece como cultura brasileira. E quando se fala de pai esta se falanda de fungo simbélica por exceléncia. Jd diz oditado popular que “Pilhos de minha filha, meus netos sto; filhos do meu filho, serio ou no, Fungfo paterna £ isso aj, E muito mais questo de assumirdo que de ter Certeza. Ela no é outra coisa seni a fun¢do de ausentificacdo que promo- veacastragio. Epor ai, geagas a Frege.” quea gente podedizer que, como zero, ela se caracteriza como aescrita de uma auséncia. 250 Eonome de uma: enome que se cla nao ser aust que é retirado ¢ vio erigir algu seja, qual é on: do Pai? Por um: do lugar-tenen sejaoutra cois Eporissoque a gent sordem significant ‘Magno, a gente fech de S). Pra isso, bast rado pelo Mario de sabe, Macunaima ns Depois ele branque’ bobear, quer virarn gia do branqueamer negrada mediantes ‘ocidentais. Mas.age ‘nossa gente. E ning ‘paterna.** Isso sem masmo Pelé. Que se Povo, nascido em Pi representagdes poj ‘ver com isso, sao pr com “a alma de nos E poressa via que so como modosde: que serd que dizem de uma onipoténcia cagana entrada, cag tortura utilizados ps “mulate assanhada” sos)? Por que seré qi Eonome de umaauséncia. 0 nome dessa auséncia, digamos, é o nome que se atribui A castrag3o. Eo que é que falta para essa ausén- cia nfo ser ausente, para completar essa série? Um objeto que no ha, que é retirado de saida. S6 que os mitos eas construcées culturais ete. ‘vio erigir alguma coisa, alguma ficco para colocar nesse lugar; ou seja, qual € o nome do Pai e qual 0 nome do lugar-tenente da Nome doPai? Por um motivo importante, porque se eu souberqual é o nome dolugar-tenente do Nome do Pai, acharei esse um (S:) que talvez nfo ‘seja outra coisa senfo onome [grifo nosso] do Nome do Pal.* ‘Eporisso que agente falou em sobre-nome, isto é, nese S: que inaugura ‘ ordem significante de nossa cultura, Acompanhando as sacacbes de ‘Magno, a gente fecha com ele ao atribuir ao significante negro o lugar de 5:. Pra isso, basta que a gente pense nesse mito de origem elabo- rado pelo Mario de Andrade que é o Macunaima. Come todo mundo sabe, Macunaima nasceu negro, “preto retinto filho do medo da noite”, ‘Depois ele branqueia como muito crioulo que a gente conhece, que, se bobear, quer virar nérdico. £ por af que d4 pra gente entendera ideolo- ‘gia do branqueaments, a légica da dominago que visa a dominagao da ‘negrada mediante a internalizago-e a reprodugo dos valores brancos ocidentais. Mas a gente nfo pode esquecer que Macunaima é oherdi da " nossa gente. E ninguém melhor do que um heréi para exercer a fungo ‘paterna.* Isso sem falar nos outros como Zumbi, Ganga-Zumba e até sesmo Pelé, Que se pense nesse outro heréi chamado de a Alegria do Povo, nascido em Pau Grande Eles esto como repeticae do $1, como representagSes populares do herSi. Os herdis oficiais no tém nada a ‘ver com isso, so produto da légica da dominaco, nfo tém nada a ver com “a alma de nossa gente", E por essa via que entendemos uma série de falas contra o negroe que stio como modos de ocultagao, de nfoassuneao da prépria castracao. Por que seré que dizem que preto correndo ¢ ladriio? Ladrio de qué? Talver de uma onipoténcia filica. Por que ser4 que dizem que preto, quando nao ‘caga na entrada, caga na saida? Por que sera que um dos instrumentos de tortura utilizados pela policiada Baixada do Rio de Janeiro é chamado de “mulata assanhada” (cabo de vassoura que introduzem no anus dos pre- 0s)? Por que seré que tudo aquilo que o incomodaé chamadode coisa de 254 preto? Por que seré que ao ler © Aurvélio, no verbete negro, a gente encon- ‘tra um polissemia marcada pelo pejorativoe pelo negativo? Por que sera ‘que seu Bispo fica tio apavorado coma amesga da afticanizaglo do Brasil? Por que serd que ele chama isso de regressio? Por que vivem dizendo ra gente se por no lugar da gente? Que lugar é esse? Por que seré que 0 racismo brasileiro tem vergonha de si mesmo? Por que serd que se tem “e preconceito de no ter preconceito” eao mesmo tempo seacha natural que o lugar domegro seja nas favelas, nos corticos e alagados? £ engragado como eles gozam a gente quando a gente diz que é Fra- mengo. Chamam a gente de ignorante, dizendo que a gente fala errado. E de repente ignoram quea presencadesse rno lugar do I nada mais équea marca lingufstica de um idioma africans, no qual ol inexiste. Afinal, quem que o ignorante? Ao mesmo tempo, acham o maior barato a fala dita bra- sileina, qué corta os erres dos infinitivos verbais, que condensa vocé emeé, © estilem td e por af afora, Nao sacam que to falando pretogués. E por falar em pretogués, é importante ressaltar que objeto parcial por exceléncia da cultura brasileira é a bunda (esse termo provém do quimbundo que, por sua vee, ¢ juntamente com o ambunde, provém do ‘tonco linguistico bantu que “casualmente” se chama bunda). E dizem ‘que significante nfo marca... Marca bobeira quem pensa assim,” De repente bunda é lingua, é linguagem, é sentido, écoisa, De repente 6des- bundante perceber que o discurse da consciéncla, 0 discurso do poder dominante, quer fazer a gente acreditar que a gente é tudo brasileiso, e deascendéncia europeia, muito civilizado etc. ¢ tal. ‘S6que, na hora de mostrar oque eles chamam de “coisas nossas”, éum taldefalar de samba, tutu, maracatu, frevo, candomblé, umbanda, escola de samba e por af afora, Quando querem falar do charme, da beleza da mulher brasileira, pinta logo a imagem de gente queimada da praia,*de andar rebolativo, de meneios no olhas, de requebros e faceirices. E cul- ‘mainando, pinta este orgulho besta de dizer que a gente é uma democracia racial. 56 que quando a negrada diz que no é, caem de pau em cima da gente, xingando a gente de racista, Contraditério, né? Na verdade, para além de outras razdes, reagem dessa forma justamente porque a gente pos o dedo na ferida deles, a gente diz que o rei esti pelada. E 0 corpo do rel é pretoe o rel éescravo, E logo pinta a pergunta. Como é que pode? Que inversiio é essa? Que subversio é essa? 252 Adialéticado ‘seja, negra nas nos diferentes: saber constitué E também n racial, exatame nado o Senhor-| racial, Exatame ‘total, justamen Averdade que escravo, tem qv sbes que acons “Adialética do senhor ¢ do escravo serve para explicar 0 barato, "£ éjustamente no Carnaval que o reinade desse rei manifestamente ‘A gente sabe que Carnaval é festa cristi, que ocorre num espaco )que chamamos do Carnaval brasi ficidade, um aspecto de subversio, de ultrapassagem de limites emitidos pelo discurso dominante, pela ordem da consciéncia. Essa sso na especificidade s6 tem a ver com o negro, Nao é por acs se esse momento, a gente sai das colunas policiais e é promovida spa de revista, 2 principal focalizada pela tev8, pelo cinema e por af a. De repente, a gente deixa de ser marginal para se transformar no bolo da alegria, da descontraco, do encanto especial do povo, dessa Berra chamada Brasil. E nesse momento que Oropa, Franca ¢ Bahia so uito mais Bahia do que outra coisa. E nesse momento que a negrada para a rua viver o seu gozo e fazer a sua gozagiio. Expressbes coma: #4 0 blaco na rua, bot pra frevé (que virou nome de danca nas ferva- do carnaval nordestino), botd pra derreté, deixa sangri, dé um sué, etc. p prova disso. £ também nesse momento que os nao negros satidam e ‘abrem passagem para o Mestre-Escravo, para o senhar, no reconheci- sto manifesto de sua realeza. E nesse momento que a exaltagao da cul- americana se da através da mulata, desse “produto de exportagio" (0 “que nos remete a reconhecimento internacional, a um assentimento que esti para além dos interesses econémicos, saciais ete., embora com eles “searticule). Nao é por acaso quea mulher negra, como mulata, sabendo isso, posto que conhece, bota pra quebrar com seu rebolado. Quando se diz que o portugués inventou a mulata, isso nos remete exatamente a0 fatode ele ter instituido a raca negra como objeto; e mulata é crioula, ou seja, negra nascida no Brasil, no importando as construgSes baseadas ‘nos diferentes tons de pele, Isso af tem mais.a ver com as explicagdes do _ saber constituido do que com o conhecimento. £ também no Carnaval que se tem a exaltagae do mito da democracia ‘racial, exatamente porque nesse curto periodo de manifestacao do seu rei- nadoo Senhor-Eserave mostra que ele, sim, transaeconhecea democracia racial. Exatamente por isso que no resto do ano ha reforgo do mito enquan- total, justamente por aqueles que nfo querem olhar para onde ele aponta. Avverdade que nele se oculta, e que sé se manifesta durante o reinado do escravo, tem que ser recalcada, tirada de cena, ficandoem seu lugar asilu- ses que a consciéncia cria para si mesma. Sendo como é que se explicaria, 253 tambémy ofato de os brancos proibirem a presenca da gentenesses que eles chamam de chique e da gente ndo ter dessas frescurascom é querende aprofundar sua sacagao que Magno se indaga se en vats na Dialética Senhor-Escravo, porque & dialética da nossa. a (..), aonde sempre o senhor se apropria do saber do escravo, & minagio, por vias desse saber apropriade, como marca que wai em relagdo com o S:, no fol produzida pelo escrava, que, na dialéti retoma olugardo senhor, subrecepticiamente, como tado escravo. Quer dizes,o lugar do senhor era de cutrem, mas a produclo ea toate priagio do lugar-tenente de nome do pai veio marcada, afinal, por Sent scot elemento africano.* Diferentes lugares da cultura brasileira sio caracterizados pela pres desse elemento, No caso da macumba, por exemplo, que se atente fhe alsa Economy o3rde dezembro nas praias do Rio de Janeiro, para os despachos que: aa ruleiplicam em cada esquina (ou encruzilhada) de metrépoles como Rive iain 8 So Paulo, ¢ isso sem falar de futebol. Que se atente para as festas de largo. ater com era Salvador (tio ameacadaras para o insegure europocentrista do Bispo Area Apel de lé). Mas que se stente para os hospicios, as prisdes ¢ as favelas, como “Toor sonic lugares privilegiados da culpabilidade como dominaciio e repress. Que femporarcome ge se atente pata as priticas dessa culpabilidade através da chamada aga hae Policial. Sé porque o Significante-Mestre foi roubado pelo escravo que se impés como senhor. Que seatente, por fim, pro samba da Portela quando ee ve fala de Macunaima: “Vou membora, vou membera/ Eu aqui velto mais o/ Vou morar no infinito e virar constelagao”. Eo que significa conste- Sel lagho, senio lugar de inscrigo, de marcagio do Nome do Pal? ‘Se abatalha discursiva, no que se refere cultura brasileira, foiganha pelo negro, que teré ocorrido com aquele que segundo os calculos deles, ocuparia o lugar do senhor? Estamos falando do europeu, do branco, do dominador, Desbancande do lugar do pai, ele sé pode ser, como diz o Mag- no, oto ou cormo; do mesmo modo que a europeia acabou sendo a outra, 5 Cae Proto jionF 30 sie Que seein. ojornals esse “esq o “no cae wma prot Sateen ‘herman ‘Uta Gonzalez,“ ¥ ‘the Political Eons i oe eu ens amulet ‘oesscs grupos. Se 254 Tenvo ¢ Uma viRK@ REWIEADK 00 AATI9O PUBLICADO NO ANUARIO CIENCIAS EOCIA HOLE, cH, #84, F.220-44,TEMDO #100 MPRESENTADO PELA PRIMERA VEE HA BEUNERO DO GRUPO /ASROCHAOLO BRASNFIFA Dx PO8-CHADUACLOE PEEQUIGANAE CHENCIAS 9OCIAI(ANPOCH) a: Epgrae da popes tora Wc: Frame Fanon 0519) sof, psiglat e esata Francés mscdo Martnea & decrigns afsieash Fol ineltculfrloment engage nas gucstie racine nos temas leads &descelorizaco, tendo laborado importantes estos sobre feos pelea da ooh [ia Goda, “Culurs,cenieside srabalhseitnlingultico politico ca explora da mulber mlneo, Atul Meeting ofthe Latin Ameriean Studies Ancien, Ftaburgh, srabris7s. ‘ia Costas, “0 papelda mahernegeanasciedade brasileira’, mimeo, Spring Symposkom tha lea Ecncny of the Blick Word, Los Angelan 08s ap, JacquesAlan Miller, “Teori da Aligus’ Revista Lgar 181976... is Gonraes, “a jventadenegr Dalia ea querdads devemspregs’ mime, Anal Meeting of Altcns Heritage Stadies Associaton, Pteburgh 3-39 a8 975 (elie enetipode su eckcs ethno basta ds dslogn do branqucamenta. Miso justameste um rou apelidade de mulato. quem foioprieire ma sunarticalgtoem dscurso “antic. Agente faa dose Ouveia Vianna Srangurammest, a importa em que 10 ‘oques consciénca cobra dagen, paramalscestrapresena agente, pars mal seat spresenga da gee. Sea gente paste pr alguna croulce, la arma logs un exquetea pa gent“ Compertar como geie™ Etemmult gente da gente que soembarca nen |§)Nesse sentido. vale apontar pars um lipo deexperifncia mito comm. ReSio:me 208 daa a ats Aja dlls anh. pede ce, pega pelea "Amadame ei” Semprclhes respondo quea andaae sue, mais ia Ye, cto como ‘somos vistas plo ‘coral brasleire. Outrotipo de pergun que secoxtuma fazer, mar al fenlagaes pace: Veedtrabalhs ma televise? ou "ace ¢arsiea” Ea gente sabe «gue Signiica ete raalhc ese" 9 June Huhne, mulher no Bras io de Jere: Ciilizao Brasileira. 197, 120-2. $0 Heleieth Sales, Amaltermasoidade declare: mits eralidade, Petxopalir Vows 3275 5. a iden 42 Cais Prado junior Formayda do Bra Conterpordnes, Ska Paul: Editara Brasilien, 198, Biers. 1 Ssgmund Freud, Obras Completa. Madrid: Edtotal Bibtioteca Nueva. 967 14 Quella oral do Bru de de outubro de gt, porate ma ela de coma 8 ssc ‘equecinente’ Trat-se de nals um cas de disriminaydo racial de uma muer negra; ocazo uma profesor. Comoa htaareralou emmore, indo parwaalzada joc © srimnensjuntamnt cm tu ‘simplices’ sfrmam gusa csuss do come nao S56 aasmo masa incompeténcada profesor. 1 Uda Gonzales, "0 papel da mulher negra na sociedad brailer” mimeo, Spring Sympoatum the Political Eoonamsy fhe Black Virld. Los Angeles 10-12 mal:373 6 Emap, em Melford Hons uma mlb negra, duns 27 anos chamada Mai Poreta da Siva, ‘em plenadtadura militar, resolvera enftentar o grupos de exterminio para afrmar que ate irmtoPaal Pereira da Sle, danas fra assasnado or pala mstares infrades esses grupor Serstomer a ambeacas de arte, Marl esav em dalgacacebatahaes 255 i sezugadocecanhtcer os sass de ne mak, Us ftgrfe dela nosjorais da doce ‘mulher pobre « ptgrs olhando firme paras multdio de polciaisperflados co bata da Policia Militar em Nora iguacu, numa tentativa de recanheett i “Caso Asi": um serventede pedreire morrey toreurade na cla de uma delegaclana ‘Tuc. ern op. 18. Cale Prads usios Formopto do Bal Contamperdco (Conia), Sto Paso: Edltora 27. pas, dem, Jacques Lacan O Samia, ir, Rio de Janeiro: 2abas Etove. 975. Ulla Gezales, 9. it Friedrich Ladwig Goto Prege iass008) fof um materitico,«flbaofo lem, que sprotimandaa fiosafiae a matemstica, M.D. Magna, Amsfria Madina: intoco ama abertura, Rio de Janeiro: Colds Freudian Flo deJanciza, 1980. (Oharato do Magno chamar Macunaimn de Méquina. (mun, 9 er$i em. Sacaran? (Que seatente para ofato da perman nes de Zumbi no iontgindto popelar nordesting oene aquele que fa a criangaslevadas se comportaremtmelbar. "Se voc® Ho Beer qulat ‘umibi vem te pega. Por as, agente lembratosd 0 tema que oe senhores de eageako tinham em face de um staque rurpresa do grande grneral negra assim cote fala da ue, referindo-se apa que va chegar,amengamesfilbos de Ihe conta at pai) a suas Solecagens, Que se atente também para. fora simbéliea de Zuml come egeifcante que ‘cutucn a comseidncia negrado seu dasperenr NBs 6 pot sca que 929 de novembro dia de ‘morte em i695 6 considerado © Dia Nacional a Conecidncia Negrae que aad tm ver ade mais, te deslocamente de datas (do de malo parao 20 de noveenbrs) sda deli de \ursmodo de asungloda pateridade de Zumblo uma demuincta contra falca rat Princem Imbel. Afimal,agentosabe ques mie-preta {que é ame, 2 Trata-te de Garincha, jog de futebol. ‘asta oihar na tev? e sacar comoas multinacinaistrensam ber os signiicantr que nat pesam “pelo pe". A USToprem um andnci dejeans que aS morta pesscal ebolanda& ‘Bunda eso ser lara Sandinha 88, “a-mals goatora do Brasil” ‘Umantincio de bronseasortrannitido os éalbus que trafegam ma zona sul do ode ‘eprodus um ate lho, uma mancada da discursoconsciente, no aftmar:-primaito acon, depois. camor” Bandeir, AD. Magna, op ce

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