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san a5-9509225-0 O ESTUDO ANALITICO DO POEMA se01c10 ,RS 5 ANTONIO CANDIDO erm Lemange fave. Themica. FAPER® roo Tews iyi 6290 aot Canty Ser diese Deen FPLC? SS ae in conga ISBN’ 8+ edigto 85.90087.06.8 foras4 Clee Aad. Lia ! ns Oa come "Ok allio do prema Aneto Cnn Comentiri ¢ interpretagto lenis... Comentirio 3s Interpret mrs ma 0s fundamentos do poems ‘a Sonoridade A teon de Grammont Rima. ».Orttmo ©. Ometn a.O verso As unidades expressivas © destino das pales o poesia [As modalidades de palavras Nguradas {8 Retiroa taco oma “Top sense} Pigs = 188 Nature da mctfora 185 157 ‘liogrfta Nora inicia, Como esta dito na “Explicagio” (ver adiante), a mats ria que seate € parte de um eurs0 ministrado emt 1968 par ‘oP ano de Letras, tendo sido mais tarde aproveitado nos tros, Se naquela ccasifo estas nota foram mimeografidas Amina revelia,devido a ina gentilinconfidéncia de Marlyse ‘Meyer, desdobrada pela dedieagio de Rodolfo ari, ambos, tna época, da Cadeira de Lingua e Literatura Francesa ~ por que Thes dar agora forma bem mais comprometedtora de livro? Primeico, para atender & generosa solitude de sma cnlega e amiga, Waluice Nogueira Galvéo, empeahada com tals alguns companies em divalgartrabalhos internos de nossa Faculdade, Segundo, porque passados winte eq {so anos este material jé pode er considerado elemento part tnsua hist6rla, como amostra do que se fazia naquele tempo, antes das transformagées por que passou a Teoria da Lite- rutura-e, em consegiénels, 0 seu ensino. Com os prfessores franceses e Hallanos que versa para a recénfmndada Universidade de Sio Paulo a partir dle 1984, apreademos que um curso deve ser concebido © preparado antecipadamente, a faa de ser consultado nas tulas e assegurar a maior exatido possivel,além de rom- per com a mentaidade improvisadora, timbre de nobreza {ntelectual em nossa trdicio, Com efelto, tive mestres ba sileiros que visivelmente preparavum bem as aulas, mits Angiam improvisélas, nclysive para sugeriraquete povler de mesa qu desma ui em sta dete tena Bein lo prokacrocmndin, outer AcetlemDce roca, mado w ota ato cme thm pt olan Biro, corre asia complet (xc divinte pine dtp) elon le qual soe shen pode Epistar em nontona efrmainse, mpd aralane ile sso, © co pnd nt etc Dono qu prepreg wns pesca Ai a Stn i dei mace tah omo, nals on meno chen ou eh pga) © tote el ata exponen, nanos ls ¢ Sings or en oa ‘Quando, em comegos de 1961, iniciet na Universida- de de Sao Pato (onde fe antes Avtteme de Sotelo) 6 curso de Teoria da Literatura (denominado a segult, por proposta minha, Teoria Literria e Literatura Comparada), ‘o meu critério foi ensinar de mancira aderente ao texto, evi lando teorizar demais ¢ procurando a cada instante mostrar ide que maneira 05 conceitos Iucram em ser apresentados ‘ono instrumentos de pritica imediata, isi é, de anclise. (Qiianto aos textos escolhidos, quis desde logo valorizar os Contemporiineos, até entio de pouca presenga no ensino de fons cule, Usados autores tadiciona no ano, ecld para o 4° © a antiga Especiatizagdo: 1) usar autores {lo Movterismo; 2) presentar de maneienatualtzda 08 ‘eliisicos”, como, por exemplo, José de Alencar (Senhora) © Machado de Assis (Quincas Borba, alguns contos). Na- ‘quel alturn a Pditora do Autor publicow antologias de di- ‘YeiNO8 poelas modernos, tornando-os acessiveis aos este daiites. Por isno pte trabalhar com poemas de Manel Ban- detm, Carlos Drummond de Andrade, Musilo Mendes, a6 de Mério de Andrade, caja obra era corrente na edigio Mactins. De Maro analissmos durante meses, em 1962, 0 poeta “Louvagio da Tarde”, fat que menciono porque di- Mente os sexninérios nasces ida do Ievantamento de uns Mhotagdee marginals, 0 que fol feito por Maria Helena Grembecki, Nites Teresinha Feres © Telé Porto Ancona Loper,€talvez tenba sido o primeiro impuilso no proceso fe incorporagio do acervo do grande escstor a0 Instituto ide Estudos Brasileiros. (A partir de certa altura esse taba tho teveo anxilio da Fapesp, Fundagio de Amparo a Pes aque emt 1968, por solictagio minha, havia concedido & primeira bolsa para investigag3o ao campo da Titeratrs: ePerola de Carvalho sobre fontesinglesas de Machado de Assis) “Com base no material coli as trés pesaquisadoras labora suas dissertagbes de mestmdo sobre aspectos Sia obra de Mario de Andrade, que também fot objeto, em ‘evi, de suas teses de doutorado. Menciono ainda, 20 rubito do Modernism, a dissertagio e a tese de Vera Chalmers, sobre Oswald de Andrade, porque acho que esse ‘conjunto de traballos fot semente de um ciclo de pes Sas, documentagio, estuds sobre os dots wstores € 0 Mo- dernismo em geval “As nolas que comer o presente lv, embora anti quadas ¢ chetus de Incas, contendo mais indlcacies do (dhe desenvolvimentos, server, portanto, par registrar tt thomento no ensino de iterafura em nossa Faculdade. Por Jeno, concordet que fosem impress, como documento di {queleinfeto dos anos de 1960, quando a primeira geragio dd Heenclados 6 tinha chegado & maturidade dos 08 e, ‘Com cla is responsabilidad de diregfo e orkengio, ae, depola de ais enperange, scam poston a darn partir de 1964, Mas sobretudo 1968. duper So Past, julho de 1987 ‘Antonlo Candido de Mello e Souza ExPLicagho Tate volume contém parte teériea de wm eurso dado em 1963 ¢repetido emt 1964 pant o A ano de Teoria Liter ‘in A parte que se pode chamar de pritca era consituida bela andlie de poemas de Manuel Bandeten escolhido como peemaplo principal, no apenas pela alta qualidade de sua SGhra, mas porque ela € provavelmente 0 nica em oss fMeerstura que permite a um estudante encontrar todas 2 nonalidades de verso, desde 08 rigorosamente fixos att 08 ie Hiremente experimentas. AS referencias de pighans, daca Keilor encontrar ao lado de poems dey allem & sMNogta poten (Indigo, Rio de Janeio: atoms do Au- ‘ox, 1961). ‘Nao fol su ain de mimeografa este texto spe ravlo, mas de colegas-€ aonigos da Cadleira de Lingua Hte- ‘inva Francesa, Alguém pedi para lr, depois mundos. Jinr para eeu uso; os encarregados aeabarain por ater vrancls, porque ee inferessacam equlseri tarmbétt #8 089 Bolas, Tudo A minha revelia embora depots com o meu sopitimento agradecido pela demonstragio de interesse sesfudetramente desvanccedor. A Cadel, portanto, € 808 Tens componentes, a sinha gratidio muito sincert (0 registro deases fats serve também para descupar- ne por unt texto fragientirio, cheto de buracosy rfenén- ine iucompletas, Indicagbes sem continungio. Txt visto fine em aa a matéria ta sendo nfo apenas desenvotvida ie completada por elementos que tio sparecemt a, POF to de um curso deste tipo, voltado para aintegeagao da lin -uagem poetica em estruturas signi uit obra no texto presente aparecia como remissiva a um cademo, wilizado ny los quando repeti o curso, glose bi mas sugerida aqui, do desvinctlament ‘Sho Paulo, novembro de 1967 Antonio Candido de Mello e Sours Professor de Teoria Literaria © Literatura Comparada dda sonoridade expressiva, tio hem proposto por cobson. Aqui, ela tem por fulero usta apresent gh e desnecessiria da velha teorla de Grammont, em 1964 reduzi na pritica a uma indicagéo breve, lo epeti o curso. Mals tare, ao atualizar parte des tas para seminatios do 1* ano de Pos-Graduagio, 106 e 1967, houve cortes, sul PROGRAMA 4% px0/1963, © estado analitico do poems Introdugso 1. 0s fundamentos do poema 1. sonoridade; b, sitmo; emetro; verte, 2, As unidades expressives 4. alegoria; «.simbolo. 8. Aestrutura 1, princspios estraturaiss »,prinefpios ongantzadoress «. sistemas de integracio, 4. Os siguificados 4, sentido ostensivo laténcta; i, tmeucio ideol6giea; «. poesia “dizeia™ ¢ “obliqua"; 4, clagcza obscuridade. 5, A umidade do poem, InTRODUGAO ‘0 nosso curso deste ano versars problemas de poesia, so contro dos dots anos anteriores, em que tratamos de problemas da prosa, O estudo da poesia apresenta certas {hiculdades especias, porque no universe prosaico 0 meio Uc expresso nos parece mais préxin da linguagem quot- tana, e és nos familiarizamos mais rapkdamente con ele. [A tinguegem da poesia € mais convencional impOe uma ‘aigigio tor, sobretudo porque clase mantfesta gerne Tein noses dns, en pega curas ¢ mals concentra, ‘E:Fhor isso mes Sio sienos acessivels ao primo con: ato. Para oaluno de ano, oestudo da poesia apresenta, esta Foealdede algunas vantagens postvs. & prmei € Jue os cursos de literatirm que teve antesiormente se be ‘Ena de preferéncia ci textos de pros; asset, poder Saoravarfar e ampliae aang experiéacin, A segunda € que 0 ‘Sntago com os pocmas 0 flcia mum universo expresso {que tem so avo predieto dos estudos da ein mats e- Tova deste séeu, Como disse no inicio do mew curso 2c romance no ano passado, ht sem divide mais estudos ‘ore rosa do que sobre pcs; mus os stds mss reve Inclonéros e talvez mals altos dos mossos dias, até bem peo, foram de etn de poesia. Tato posto, aluno tem dese, prstimisarment, de saber oque€ poesia. Nao opodereistlsizer por enquanto, Dela propria natureza do ears, que seri explicada dau @ pouco out na priixima aula, Mas deseja também saber que diferenga it entre prose poesia, Basta dizer por enquanto ‘que as neepgdes variam conforme as Kings, ¢ que elas se relueionann uo conceito geral de Nteratsra, Ban portugués, iio hi dhivida: a terausra € o conjunto das produgbes fei {us com base na eriagio de um estilo que & fnsldade de si ‘GENO no instrument para demonstragio ou expost lo, Mais resirtamente, €o coajunto de obras em estilo Hiteririo que manifestant ¢ jatwilo de efiar wm objeto ex: pressive, Neticto na maior purte, Nowtras Hinguas, porém, ‘A colsis so menos simples, e demonstrant com sis fo ‘o_que na nossa o alto conceito que se faz geralmente da ‘poesia como eategoria privilegiada de eriagio espiritnal. Bo “Go sobretudo do alemo, ear que Literatur € lermo muito ral, que levou a singulares confus6es 0 nosso Silvio, Romero, por exemplo. Literatur ei alenilo & 0 coujunto de tuulo 0 que se esereven sobre qualquer assunto, Dicheung & ‘que signifien © que sg esereveu em estilo ltenirio © com intuito criador. Escritor, on Schifisteller, €0 que excreve ‘qualquer cols, como noticias de jornal, por exemplo Dichter 0 eseritor dotado de capacidade eriadora. Em portugues et posso ser um eseritor, e Carlos Drummond de Andrade também 0 €; em alemdo ex sow Schrifisteller, © ele, um Dichuer. Bu pertengo a Literature ele A Dichtung. \dificl- dade esté para o estrangeizo em que Dichter & tanto Drummond quanto Graciliano Ramos, 10 €, no caso, no se diferencia a prosa da poesia, mas a qualidade do escrito, crindor ow meramente informativo, eritico, analitice, etc ‘Poesie © Roman sio movdalidades de Dichtung. ‘Em Htallano, Benedetto Croce, visivslnente inspirado nas acepeées alemis, que ee sproximam da velha acepsio trea de poesia como erlagio,estabelecew ao longo da sia anna distingéo entre Poesia terature Aqua ab fr cbran cu prose vero © conrenponde& Dichungs esta fe yates ute efor, também pede ser em pros ¥~ fo, torentmando-se da Iitertur dos ademas, Qnando t- thats Dichtung,wsanos eqaentemeate Poesia, chars tle Toelae soe Dichter. Mas € preciso notar que assim flamos fuga ts nossas scepGbES asa © Os aprox rmdo da acepgto eee. “ode esa digress vale para Tes mostrar a eminés- in do gomostn de pala, qe €tomada cono a fornia ss {ena auvidde erindor da paler, devi a ltulgbes vretundue dando accasowwt-nundo de excpsional fc ‘ir capri Por ico aaliidade pode érerestida de ss carder superoe dentro da erature, © poesia “polis de logue pam atllamos eiportnia¢ scx iE adam sta, Sobretnd Ivano em conta poe- Stall os tempos moderios atid eiador por ex ‘Hlnci, pos odoo o gener nobres eam culivaio em ‘ero He, o desenvolvimento do rome «do eaten post muti este cata de class, mas mosiea por isto ‘esto com tora aerate ain da nbuloseiadora da csi APRESENTAGAO DO PROGRAMA © curso deste ano trata dos Hementos ncessios para «using dos posmus ess props, du conse rugbes nile 1 Trtaremos do “poems” ¢ no da "poesia", 2 Farenos “anilie” no necessariamente “inter ‘Faremos “anilise” e milo necessariamente “Inter. pretagao™ sclaregamos: 1, “Poema” e niio “poesia” io abordaremos o problema da clagio police ext abstratos o que a poesta, fala nattez do ato criador do ase, Ito na quer der que 0 nosso curso no sre, verti parm ajdar oentendinento de problemas deste tipo. Tistcesclarecimento € necessdro tuum para saa tiara relagin do poina com a poest, pois desde o Roman {inno do aparetmento do poema em prosa (dew ado) € {edsparagan do lrismo (de outro) sabemos: co-vern ite mes como verso muti, Pode have rh ponte poosla em verso Tivre Com o advent das, cee eT Diecaiebolislas,sabemos ncusis due a ones Se caitGr apenas nos chamadas seners Otic, suis Hone star autenicamente presenle na poss de +. que poile ser fella em verso multa coisa que no & poesia, Julgintentos retrospectivos a este propdsito so iviivetl, mu aoa pereepgio de cada Teton Assim, embo- 7H & Howsla diaticn do séewlo XVII, por exemple, Fosse perfeltamente metefieada e constitufsse uma das ativida es positleas leyitimas, hoje ela nos parece mals préxina dog valores da prosa, |O nosso curso visa, pois, basicnmente,& poesia como se maiifesta 20 poema, em versos mietrifioados ow Tires Tm segulda, seremos levados aestuda 0 que 0 poem tans nite, o que tradicionalmente ge chan ie neste cuso nos aproximaremos de um estudo da poesia. ‘Assim, chegaremos a ela partindo empiricamente das suas manifestagdes coneretas, eno ftzendo o cumin inverso, mats filos6fico, Por qué? Porque estamos interessudos s0- bretudo em formar estudiogos e professores de literatura, para os quais a tarefa mais premente ¢ saber analisar os produtos concretns que slo 08 poems 2, “Andlise” mais do que “interpretacéo” {Sendo asa, prtnos do poena em sun realidad con ‘petdncia na andlise, e no primariamente na interpretagio, que decor dela, Todo estudo real da poesia pessunte a nlerprelagio, que pode Incisive se etn drctamente, sem {eeutso a0 comenléra, que forma.a mslor parte da andlse. ‘A anéllse como comentério € wm prehmbul, pars a pro- fessor de Meratur ede lingua s toma indiapensdve Troqientemente os pofessores se linitam a sndlise- ‘comentéro, I precio deixar bem claro que isto & wma eta pe. Serta uma etapa necessérla? A resposta varia conforme b tipo de poesia e os problemas apresentados ex eada poe- ia Mas de qualquer mod, oeomentéri, quid feito, deve ther coroado pela interpretagio, No 5* ano nos dedicaremos Tas Interpretagio; node a comentiro, cua téenicn deve Nor adgutrida pelos candidats a professor Geomentito€ essencinhnents 0 esclrecimento ob sive dap lementon necesdrios ao enteniimento adeaus- ‘iodo poema. if uma alivdade de eruigio, que nfo press oie mata senstbldade side, mas que sm clase tora vi operagio mecinca. O-verdadeiro comentador exper: inanta previa todo-o encase do pocma, pam em. hid allea he os instrientos de andlise, Depots desta, -Tinesprtagin deve ung cono um reorgodaqeeleencun- iamen, ep como se sucednco ou diminsigio, sn os eatdiosos de mentalkade postive, act: ncnttio pate ser algo de universitariomente respite, Poneto degewaspecis-verifedveis de eum strc, Tri etc, biogrficn, t, A interpretagho svi algo dema- Tinla pessoal para constr objeto de ensino e sistent isin. Afquus wo mats longs, eentendem que a poesia tem tint easénclaineomuntcive, quando consideramos fora tt pum experizncin pessoa em uma iacionlidade pro- Tanda qe se torna sigiatva apenus& ntuio de end tim, «to pode portato ser objeto de esti, Ontros, mais modernos, adotam posi exatamente posta, e afimam ane a pe cludada a ps ir desta sua patwrezn intima; que ela pode ser objeto de ‘sill sintemdtlco « queo comentnia aim dedesneces: sirlo, aler "Ea posit de um dos Tpriovs tebrcos epraicates da elise tenis. em 0860 tempo, osuigo Eni Siig, que foro ums teorla da tn. lerpretgio de fundo rgorosamente esilisticn, segundo que ‘wDiografia, o contetido Mlosétleo, as ligagbes his\brico-cnl- {itis no 88 essenciais 90 verdadero estudo da literatue “Ta E que ests, longe de escamotear a fracionalldade pro- Tiida da poesta, parte, ao contrisio, destes elementos in- pondenivets a primeira vista, mas que so 9s tinleos a pes mitiracesso a estrutura real do poema. (Wer Die Kunst der Interpretation ~A arte da interpretagio,)* ‘Uma posico mais equilibrada, on pelo menos mais ‘il para o estudo universitirio, é a de Beano von Wiese, para qual nio apenas ni hi oposicio entre comentario € interpretagio, mus “0 comentitio corretamente enterdido é r 0". (Ver Ueber die Interpretation Iyrischer Dichtang", Deutsche Lyrik, p. 15.) ‘ste probleme ¢ importante, pois sobre ele se baseia (ova a ertiea moderna, que tend virlas formas de inter pretagio, contraa teadicto ossificada do comentirlo erudi fo, que bania 0 requisite da seasibildade, e, portanto, aver Aavleira apreensio do poema. E que estabetecia wma rigid relngao causal que hoje mio se pode mais aceitar. As moder. ‘olla para estrutura tern, prosirando pr de ado to 1 nio sea ersenclalente-o poems, ¢ considemnd cir ‘slanciis © somenos (no que se sefee& inlerpreiacio) ‘ulementos dilos pele invest faleos, ‘iio gong) nets que hee {ue Mistorfantente vate como andoto de uma seca anato- Mle desertva, antes relnante. Mas no a exporemos aq Ti oes comps tea ba ada eta ig {alge nt des cds cote Jivotaremos a posigio mais universitri de considera a in Testis sobre poema como wna operagio Fea ein das Tapas Vetnis comentirioeinlexpretagto, on coments Sree alse Tterpretva— mame ge, mie Fseaten diswciar igor cor que aio Micon ‘itido sem Tnterprelago, © que pode haver in Tide sem -comentieio. Nas qu, neste cur, enldaremos indians do. conenio dopa, frnecento part {slo os elementos de posica quc forem necessirios, sem tneta nos fierdiarmos tavestidas no terreno da inter etagio. Mas, tanto no easo do comentirio quanto no da inter pretagio, o interesse se fcalza no poems, uidade concre: Ui que limita e concentra a alvdade do estudioso, (COMENTARIO F INTERPRETAGAO LITERARIA ‘Num testo literiso bh essencalmente umasoscto ase “Ltuadsto de sentido e outro que étradugto do eu const ‘prime, exprimindo usw ws do mundo e do homes (O estilo do text importa em consideri-o da anc mle fntegra pssive, como comunicaglo, mas ao mes tho tempo. © sobretado, como expresso. O que o artista {eam comunienr, el ofa & medida que se exprie. Aes, resado €o aspocto fundamental da arte e portanto da Bte~ ‘ai. ‘Gcomentério é wna espécie de tradugio, eta previa: _mente A inlerpreiagio, inseparivel dela essencialmente, mas. {torleanente podend consistir numa operigio sepaada, Neste sentido velamos alguns Wpicos do j& ctado Bexno toon Whee ("cer die Interpretation Iyischer Dichtsng”, p12). Dizon que o przerestéten¢ realgado, no pee ‘cado pela anilise sistemitica, von Wiese defeudle a posstbi- Iidade-duma interpretacho cientifies ou sisteméticn ‘oissenschafliche) © lembma que as dividas neste respeto {Tepkant fata de se opor ermdaniente Comentrio exter i Tinterpretato (intern, fei “qublinca), Em verdade “psomentitioben compscendidas ‘vestibule da iterpeetagio" (p. 15) ‘O comentirio ¢ tanto mals necessiro quanto mais se fase poesia de 6s, no fentpo ena esrutra semntic. ‘Um poema medieval necessita um trabalho prévio de eluci- ‘dagio Moldgie, que pode ser dispensado na poesia atval ‘Mas meso nesta na etapa intial de tradugio,gramae Lal, biogrifien, este, ete, que flit o trabalho final © ‘eoisvo da interpretacio, 1 que € interpretagao, alvo superior da exegese ite- iste? Como J indlow expressivuneate Kall Staiger, Anterpretarsgaien repro edetemaae com pene ‘rugdocompreensira engage adequada dara, 0 struts iti, st norma extatris peculiar, se itd as quis wana obra tries proces, we ide ‘es constta de novo como unde. (. 16) Naturems *(..] Int so én truco do nis diel que tradugio de uma lagu para outra (..)” @. 16). sa no se revela por si mies nem para os que falama mesma Tingua, Eeepantnso o quanto -O Tetor despzevenido (ou Ingfnsio) 1é male nin percehe” (p17) Dafa necessidade de ensinar ¢ aprender a interpreta: co sistemiticn Requisioss =Nio se prender exchusfvamente forma nem ao con: (ido formalismo” e“materialismo"),néo wiz padres “allio ao posma (p. 17) = Nib falar de 1 mest, mas da obra, isto é, nfo em- ‘dos nela (9. 18) aga “april oa Bias Sabeeteatas pT a eae erin pec on aie a mentario puro ¢ simples, que € 0 Tevantamento de dados Pa a acts dnd es Se ee easitma pounce SE SE a aniamate Se ae ore LS Dadi sopra topecaa ex lenason ce a ea diteas mace Antero eee aa a opin tants mae eae, 2 tin snails sealed SE ee eco Ale . Se Sa ae Sees stern merece inh ee io ene bod coger iam chasnar eespectivaments 0 moniento da parte” © *mo- mento do toda", completand 0 cireulo hermentutico, ow interpretativo, que conslste em entender o todo pela parte parte pelo todo, a sintese pela andlise c a anilise pela sintese ‘Aceste respeito, tomemos alguns conceitos de Staiger tio citado estado Die Kunst der Interpretation: ‘O taterprete xe mde pela capctdade de exit demi sate, weeptto da posi, ese det » teulro sew encanto, o que determina 0 seu segredo ex su ele ede spofindr por sie do conhecinento ‘pases cso pea vlad or, Isto € pov? De- eile dose ne consider sateen, rnendutica 08 enbinow henito que nfo compra gebgate ces pb oo B “clio Wenentutes, a ej respeto io demos tunis que €aacessarlamcnte un erclo vito, Sabe os pla Ontologia de Heidegger que todo o cones! eto bunann se deseavolve desta maser, camber ‘Fake a Mateon no costumam ander de ome Tanai, Horan, no devemos evar o crcl ms ‘pens ele em entrar nee coretaente(p. 123) Em seguida, Stage fala do prazer da emogdo da ite ralnra como condigio de conheckmento adequado, sem te nor a acusagio de Tundar os estudos iterrios no sent znentosubjetivo. O sentimento neste easo € um extéio de Crientagio e de penstrgao, “O entéso da sensibikidade 2e {oma também eterio de conhecimento stems” (. 18). Tina vex ansegursda esta penetragio slmpdtica, oll tor deve apreender o ritmo, o largo compasso do posmut Tobie o qual repos o este, tendo a elemento axe wuiica ‘nu todo of aspectos de wma obra de um artista ox de ut {empo (p14). Quando apreendemos pela sensibilidade o rtm geral {nlerpretaco, Re er Laces Leto,» concep de Sgr impr i pt ier aks 0 Neste estilo 0 etaioso se separa do amador. amo star, sta 0 seatimento geal e wi dominio tina vago, que pode esclaccer por melo de Tesras enlan, Nas cle no sent a cease de comprovar tomo tad se afin no Lodo, e como otal se ai fen ures, Aposbidade de esabcleeer esa prom 60 Tiadamento de nossn cna (p. 15) Antes de entrar na apresentagio dos elementos ne- ces aan do pn nani ee thoun nterpretagso posterior, fapamos um exerci breve, {jue mostre como o coment ea interpretaio se comple- thm e como ada um dees pode ser melhor compreeadido orm cas concreto, Sejo soneto de Canes, mumerado 74 nae oF tanizai por Hemant Cidade (St da Costa) 1. Amor ogo que are sem seven fora que dt ent e vente; ‘um conentamento descomtente, dor que dsatina sem doe um wo querer mals que bem queren, 6 solo andar por ente a genes ‘B nunca contents de comtntes 8 feealdarque se guna ci s penn Bi querer estar preso por vontade; ‘eerie aquem veace, 0 vencedon, ter com quem nos mata laa. Ounwosnineosorea Maa come canst poe se feo [Nos congteshunanos ain, Se io contro asl 60 mest Amor? i, 1508-1, Amor 6 um Fogo 6.8 um andr soli, 8.8 um onda. ComentAnio ‘Tratarse de um soneto, Signifcativ: adogio de wm Instrumento expressive italiano (ou fxado e explorado pe- Jog italianos), apto pela sua estrutura a exprimir uma dlatética; isto €, no caso, wma forma ordenada e progressiva de argumentagio. H certa analogia entre a marcha do so- nieto ea de certo tipo de raciocinio 16gico em vogn ainda no tempo de Cambes: 0 silogismo. Em geral, contém wma pro- posigdo on una série de proposigbes (on algo que se pose similar a ela) ¢ uma conclusdo (ou algo que se pode a ela asim) Este soneto obedece so modelo clissico, f composto em decassilabos ¢ obedece ao esquema de rimas ABBA, ABBA, CDC, DCD. Isto permite a divisio do tema. acons. litnigto de wina rea unidade sonora, na qual a famillaridade dos sons e a passagem dum sistema de rimas a outro aju- dam ao mesmo tempo o envolvimento da sensibilidade © a ‘lareza da exposigio pottice (proposigio, conelusdes) 0 decassslabo, como aqui aparece, ¢ de invengi ita liana, embora exista com outzos ritmos na poesia de ontras Hinyuas. Verso capas de conter una emissiio eonora prolon- juda,e bastante variado para se ajustar ao conteido. 2 [Bate soneto apresenta uma perticulardade: « propo ‘loi € feta por uma justaposicdo de conceitos nos dots primelros quartetos, estendendo-se a primeito terecto, So ho dtimo tem higar a conclusdo (que € uma conseqaéneia tlo exposto), que de ordindsio principia no snterior. Quanto a estratura sftmica, notar que na parte propositiva (LL versos), todos os versos tén cesura da 6* hilaba, permitindo wm destaque de 2 membros, o primeiro thos quats exprime a primieir parte de uma antitese, expri- Inindo o sequndo a segunda parte Vemos aqui a fungi 16- ijca ou psicoldgien da mética, ao ajustarse & marcha Inte- Jectual e afetiva do poema. "Note-se ainda que poeta recorrediscretamente dal terago, isto 6, & freqaéncia num ou mais versos das mes- ‘nas consoantes, formando uma determinada constante 80- hore, ow antes, ui efeito sonoro particular ‘rno primero verso; f no terceiroe sétimo; d no quae to; w no décimo, et. ‘Quanto a outmas creanstincias exteriores 3 interpre- Iago, como data de composicéo, situagao na vida do poeta, le, nio hi elementos no easo, Apenas um pormenor dito de variantes. InTeRrRETAGAO PARTE: ASPECTO EXPRESSIVO FORMAL lBvidentemente se trata de um poema consteuido em tomo de antiteses, ongunizadas Tongitudinalmente em for- tna simétrica, por efeito da cesurasigntfcativa, dando mic tia impresedo de estrutura bilateral regular, ordenada em ‘Barto muincn ro rou ‘tomo de wma tensio dialétia, Sio dus séries de membros que se optem, prolongando daante 11 versos tim movi: inento de entrechogue. Tista forma estrutural geral € movimentada por uma progressio constante do angumento poético, manifestada 1 pelo efeto de accimulo das imagens, que acabam cvlando uma atmosfera de sntitese; 2 pela absimagio progressiva das categorias gramati- tals bésieas que so, no caso, voctbulos-chive do ponto de vista potico, Assim € que temos sucessivamente uma Grea dle substantivos, uma érea de verbos substantiondas e wma frca de verbos, Suistantivos: I estrof:fogo, frida, contentamento, dor Verbos substantivados: 2 estrofe: tm querer, tm a= dar eolitério pode ser substantivo ow adjtivo, ali; dpa leitura possivel), Transigio no teres verso que prepara passagem para a drea verbal seguinte (fem/ munca conten tars) ‘Verbos: estrofe,¢ fim da segunda: querer estar, serv, ter, ‘Trata-se de um nftido processo de abstrugo, que re- vels a passagem do estado passive do sujeito postico A sua acto, Intensificando a sa forga emocional Ainda sob este aspecto, note-se na Grea dos substant- vos a evolugio da causa material -fogo~ para a consentn- la material imediata e apenas metaforicamente imaterial ~ frida, dela para a conseqiéncia imaterial mediata ~ con- (entamento e dor, que sfo estados da sensibilidade, posigio ("enjambement”), todo o terceto se wpresenta como lunidade expressiva coess e sninterrupta, pela presenga de ‘una conseqnéncta léglco-poética, sob a forma de interroga- glo. Bata interrogacio exprime a perplexidade do poeta ¢ Jermnte transitar a nossa segunda parte. (Ver nota abaixo.) 2) PARTE; ASPECTO EXPRESSIVO EXISTENCIAL Bote soneto exprime, sob aparente rgidex lgiea, uma lense e dramética tensio existencial; €0 encermamento de juma profianda experiéncia humana, Daseada na perplex je ante o carter contraditério (bilateral, para usar a ex: pressio aplicada & forma estrutaral do soneto) da vida bu Jana. A vide € contraditéra, e como os poetas nfo cansam tie lembrar, amor ¢ Gio, prazere dor, alegre tristeza, an- diam juntos, Sabeatos hoje pela pslcologia moderna que isto ho constted, parma cigncia, motivo de perplexidade, mas a pripria realidad dos sentimentos de toda a personalidade, ‘arte percebes antes da eifncia, [No soneto de Camées hii uma rebeldia apenas ret6el- ca, sob a perplexidade do dltimo tereeto. Mus no corpo Mialético do poem reponta uma aceitagio das duas mela- sles da vida, pelo conhecimento do seu carter inevitével. A profunda experiencia de vim homem que viven guess, pr bio, vicis, gozos do espiito, leva-ow esta anlise que #e20- fnhece a divisio na vnidade, 9 propria conclusio perplexa tio fin € o reconhecimento de que a unidade se sobrepOe final & divisio do ger no plano da experigncia humana to- fal, O amor tudo o que vimos, eee € aspiagio de plenit de gragas & qual o nosso ser se organiza e se sente existir Grande mistéro ~ sugere 0 poeta ~ que seado t80 aparente- ‘mente oposto a untdade do ser, cle seja um unifieador dos eres (na medids em que é amizade). [A slmetria anttética perfetamente regular exprime presenga de nina ordem no eaos. O espiito unica, no pax Oxrwosaineozorsa ‘no da arte, as contradigbes da vida, nfo us destruindo, mas {ntegrando-as. Nota: Seria posstvel representar grficamente o soneto de Camoes, levando em conta a estrutura antitétin das ts primeiras estrofes, cortadas vertiealmente pela cesta no 6" ‘Yerso, 0 ritmo tnificador da estrofe nal: x Os FUNDAMENTOS DO POEMA fa, SONORIDADE ‘Todo poema € basicamente uma estrutura sonors ‘Antes de qualquer aspecto significative mais profendo, tem ‘eta realidade Timinaz, que & um dos niveis ou camndas da Gua realidade total. A sonoridade do poesia, ow seu Gubstrato nico” como diz Roman Tngarden, pode ser al- tamente regular, muito perceptivel, detesminando wma me- Jodie propria na ordenagio dos sons, ou pode ser de tal snaneira disereta que praticamente nfo se distingue da pro- Se, Mas também a prosa tem uma camada sonora Constitutiva, que faz parte do seu valor expressivo total ‘Tomemos txés poemas de Manuel Bandetra, na Antologta: ‘p. 180 ~ "Gazal em lowor de Hatia"; p. 187 —"Belo belo"; - 79 ~*Poema tiado de uma noticia de Jornal”. ‘Vemos,analisando-os sob o aspecto meramente sono ro, que eles se dispdem niima ordem decrescente quanto & Tiqueza sonora O primeiro é regularmente metrificadoy hi {uma rma constante que taz ste vezeso meso som biisico ‘em entorze vergos ete, O segundo tem wma espécie de esrb Tho com rima tonnte e wma especle de quadra iregular cont tena ma, entre as seqénetas maiores de versos livres, set (Bem mance oo remy telelton especial de sonosidade, O sitio 6em prosa, dispos- {a por unidades stmicas variveis, com uma homofonta pra {Heamente ocasional, que representa uma falsarima. Mas nos its easos tentos um sistema de sonoridades que importam deoisivamente para a sndividualidade do poem. poeta pode, fundado nesta realldade,explortlasts- lematicamente etentar obter efeitos especals, que ullzemt f conoridade das palavras e dos fonemas ~ sem falar na pica coletiva da metrifieagio, que oferece wm arsenal de rikmos que ele adapta 2 sua vontale aos designios de oniem psicol6gica, deseritiva, etc, Deixemos de lado por enquanto ‘ameteificagio e nos fxemos apenas em efeitos sonoros par- ticulares dentro do verso afm de averiguar 0 seguinte pro- Dblema: além da melodia e da harmonia proprias & palavra poeticamente ondenada em verso, regular ou livre, hd certos onemas que despertem sensagies on emogdes de outra na tureza -auaitva,plistica, eolorida,seja em si, seja Higadas 1 idéias, no nivel psicolégleo? Haveré ma letra ou letras ‘que contuniquem a sensagio da cor branca, om a iia de Drancura simbélica (moral, et.)? Este € 0 problema da cexpressividade dos sons, da cortespondéncia entre som ¢ uum sentido necessirio, cuja forma mais complexa é a ‘sinestest, ou simultaneidase de sensagoes, ste problema das correspondéncias tem ralzes mis LUcas aparecen primeiro com forma simbélica sob a in Mudnein de Swedenborg, Costuma-se tomar como ponte decisivo da sua formulagio na poesia o soneto das "Corres- pondéncias” de Baudelaire. Os simbolistas levariam este ponto de vista ao miéximo, chegando Rimbaud, no “Soneto das voguis",aatrbuir a cada uma delas uma cor especifica Na lingua portuguesa, este aspecto da influéncia de ‘awulelaire se fax sentirdesde o dectnio de 1870 - por exen- fo, nas Claridades do Sul, de Gomes Leal (1875). ‘Mas, neste nfvel,tata-se duma espécte de arbitrio me- latirico do poets, que atribui um dado valor expressivo wo hom. © problema propriamente dito € de ordem fontica © 86 occ sistematicamente com pesguieas de foneticistas, procarando estabelecer sem determinado som corresponde fist, necessariamente, para oda a gente, a um determinado Wilor expressivo, Até hoje as pesquisa nfo puderam con- ‘hui de modo satisfatéro, tendo inclusive escapado em par Je nos foneticistas para cairem na esfera propria do psicdlo- |, to qual incumbe a investiga das sensapbes. ‘Em poesia, a teorla mais famosa é a do foncticists Maurice Grammont,cnjo Kio Le Vers Frangats é de 1906, ‘Antes de expé-la ede comentar outros pontos de vista pro ‘contra, eximinemos alguns casos concretos de sonorida- tte poétia expressiva (1) Por que tarda, Jats que tanto custo Avr do men amor moves tens passox? (Gongalves Dias) Inleressa-nos o primeiro verso em ques letra Tapare- ce cinco yezes em der silabae poetiens, ainda com 0 reforgo hhomofnleo de wt D isto €, de uma dental como ela. Num poeta consteuido ent torno da passagem do tempo, que pro- {cura transmit a duraco psicolgicaem relagio com o fir fdas horas, € no qual una fnda se angustia com a demmora do taamorado, que afinal ndo vem, esta aliteagio parece conte- fir uma especie de poderoso travumento ao primeizo verso. ‘Teria oT (apolado no D) um valor expressivo de reas, pe- sar, demoray, atardas,seguras? (2) Pons qa sont ces serpents qu silent sur vos tts? ‘acne Neste verso, Orestes, em delirio, imagina que as fi ras se precipita sobre ele como serpentes sbilantes, © tltoallterativo que nos chasna logo aatengio éa epetigio do S (incluido um C com som de 5) iaicial eineo veres em doze sflabes poéticas. Isto sugere osibilar da serpente bem ‘como 0 seu rastzjarcoleante, Tela o Sm valor expressivo de sibil, deslizamento, tc:? (@) Les souls de In nuit Notiaeat sur Gala, (Wetor Hugo) Aqui temos, para sugerir a branda oscllago das br. ‘sas da noite, 0 grupo consonantal F, repetido das vezes, com apoio secundério do. pré-vocilico trés veres, em doze sllabas poétieas. As liquidas repetidas, e dues vezes ligndas a apoio principal doF teriam esta propriedade expressiva? (4) to ves Ninf cantas, pastar 0 gudo [Na tarde clara do calnoso esto. “Tervo, bunhando as plldas artes, ‘Nas porgbes do rqussimo tesouro O vastocumpo da mbigao reereins (Ciao Manel da Cota © segundo dos versos citados completa o anterior © sugere a claridade civil eFumnosa da bem ordensda pais gem vingiana das pastorais. O efeto sonoro comes na pa Javra‘eantar", mediante a epetigio da vogel A em ott sfla- has t@nieas, num total de quatorze silabas méiricas. A se- juin, num violento contrast, o verso seguinte introdue « lia de uma regido agreste € fosca, como se una nuvem ‘eseurm houvesse passado sobre a claridade da pastoral ste feleto tems conrespondéncias sonoras na podcrose sila int lal de “turvo", em que 0 U, apotado no T e no R, vibra com ima profididade e wma escureza que quebram inteiramente ‘helata sucesso de AA. O.A volta no mesmo verso, mas 38 ‘esbatdo pela nasalzacio (“banhando"),eem seguida amor- lecido pelo efelto desta e do U (*palidas”) ‘Feria 0 U, que aparece una diniea vex em dez silabas posticas, a propriedade de sugerir estes efeitos? Nos casos futeriores tinbamos 0 efetto devido & repetigao aliterativa. Mas aqui temios uma dnica ocorréncta central, com apoio poctndrio das nasals Tats rect sonoros -homofonlas por meio de rim, ssonincis, alteragio, ete. —constituem recursos tradicio- hais da poesia metrficada. Com o Simbolismo, adquisiram enovada importancia e sofreram um processo de intensi tenga, em virtude da busca de efeitos sinestésicos e de eei- tos musieais, Poderia parecer que isto € indeuo numa poe- bia feita para ger lida. Mas certos psicblogos e foneticistas Sustentam que leitwra ¢ acompanhada de um esbogo de fonagto (agio Mdeo-otora) e de audigto, de tal modo que és nos representamos mentalmente o elito visado, Para termos wma idéia da verdadeira orgia métrica © sonora que se abandonaram os simbolistas, basta lembrar ttestrofe inicial do *Pesadelo", de Eugenio de Castro, em {tue vemos rima interna obsessiva, assonincin,aliteragoes, fe, acumladas de modo quase delirante, para sugerte & ftmosfera e as sensagdes do sono: [Na mete que entree esteemece a quermesse, O so, o celestial gasol, esmorece, [Bas cantienas de serenos sons amenos Fogem fdas, indo fina Nor dos fenos. ‘Com 0 Modernismo houve de tm lado uma dessono- tlzagio da poesia, que se aproximou sob este aspecto da ‘sonoridade normal € mais diseretada prosa. De outro, um proveitamento imitativo intenso, na esteira do Simbolis- mo. Vejamese estes versos de “Dangas”, de Mério de Ans ddmude, em que 0 poeta, numa poesia para ser lida, combina. © efeito sonoro com « disposigio grea, pam sugerir os ‘movimentos coreogrificos e sua correspondéncia psicols. slew: EU DANCO! ‘Bu dango manso, nat manso, No canso e dang, Dango evengo, Maipsnga. $6 no pens, Noutro verso do mesmo poeta - decassilabo branco tle “Lowvapio da Tarde” - vemos o efeito da noite que cat Druscamente sugerido pela repetigio da mesinasilaba trés veres, liguda ao grupo Rl e aliteragio do S: elo ar um luscofseobrusco trl, Serelepeando na baa fea, No entanto, € preciso lembrur que estamos vendo exemplos de sonoridade procurada, conseientementeerla da pela intensifiagio de efeitos, € que assim forgaria de serto modo o valor expressive do som. I preciso assinalar duas coisas: a «quando se fala em estrutura sonora, fla-se da sono ridade de qualquer poema, pois todo poema tem a sua ine vidalidade sonora propria; ~oeeito expressvo, mesmo de carter sensorial, pode ser obtide por outros reeurtoa, ox com a predominancla de ‘outros rectssos,e principalmente pelo valor semintico das palavras escolhidas, ‘Tomemos a estrofe inicial da “Cangio da Moge-Fan- asma de Belo Horizonte", de Carlos Drummond de Andrade: 2B sou a Moga- Fantasma ‘que espera ne Rua do Chumbo ‘carr da madrugua i sou a brane elnga efi, + ‘minha care € um saspivo na mara da ere, Eu sou a Moga-Fantasms, O mew nome era Masia. Maria.Que-Morr-Antes. Notamos: no hé rima; hé 0 ritmo regular do setissilabo, que eria wma unidade sonora na estrofe. O ver- s0 principal +, que sugere a realidade da personagem e n0s faz sentir a sua imponderivel Irialdade, &formado pela st ‘essio de epitetos que dao, em lugar de qualquer som, a ‘sensagio referida, Sobretudo porque iets deles se eucedemt < oprincipal € posto em cvidéncia no fim do verso sequinte, ligando-te aos anteriores por wma assondacla, ou rina toante: [Bu sou BRANCA e LONGA e FRIA, ‘ona carne én SUSPIRO O pubstantivo “suspio” tem uma fingio adjetiva, de- pols dos txts qualificativos anteriores, e pode ser encarado fom um quarto epiteto, Temos neste caso una sucesso de gentidos e us efelto sonore multo disereto eriando a Ilusto sensorial ‘Dai se dizes, em oposigio a tese da expressividade ob Jetiva do som (nilo do sentido que cada um de n6s atribui Subjetiva ¢ abitrariamente nos sons) que ele € na poesia ‘elemento dependente de outros, esebretudo do proprio sen- tido das palavra, que so o elemento diretor. Asse props sito, Jobin Press faz uma consideragio pitoresca &respeito do femoso verso do mion6logo em que Macbeth fala da su- ccesiio estérl dos dias: “Teatortow and to-morrow and to-morrow ee Segundo alguns, a sucessio de O e R retomados trés _veres emt (rs wnidades iguais € dominando intetramente 0 ‘verso, daria nm sentido de vacuidade, monotonia e deses- pero, Ora diz ele, se tomarmos o mesmo verso em contexto Ulferente, verenios que nfo sugere nada disso, e que portan- toa sonoridade € um fendmeno posticamente sem sutono- tn, E inventa a seguinte quadra jocosa ‘Why I guy? Because day after day 1 boerow and I borrove ad T borrow. "When wil you ay?" all my creditors say —Teaorow and tomorrow and tomorrow. (The Fire and the Foust, 1245), erro Caen ‘A solusio deste problema deve ser inicialmente ped ‘dais Lingatstien. Por qué? Porque, mesmo que no 9¢ Poss ‘iver que bum expressivdade tmanente no som, pode-86 entuntar se a palava Iiterariamente sad no tem cextas Teenlierdades que Tevam a formarse no leitor ow owvinte in impressio nio tecessariamente contida na su estri- peculiar de signo Hngistico, "A corrente mais acatada de Lingifstica, que vem de ‘erdinan de Saussure, postala que osigno lingistico (pa luvra)€ composto de um sgnifleantee dem significado, Signieante &a imagem atisticn, 0 significado € 0 conceito fine ela transite. Assim, o signo “mesa” se constitat do om artieulado que se representa pelas letras m, €, 5,40 lla do objeto mesa que ele representa. Ora, para Saussure, tt contrlo do que pensavam outros linghistas, 0 80m no Smesponde ao conceit, nio & determinado por qualquer peculinridade dele, nfo se lige a qualquer propriedade do Ppjeto, Balando na sia terminologia, “o sino € arbiteixio", ‘Segundo Niels Enge, ctado por Delbouile: ts S Osdois constants semfotgicos de ui dado sign sto, corm Sausenre,inseparnvements [palos, masa min de ser da consti deste si see amanela pla qual se consti, nfo pode set cura, sneroicamente, emt nena xs n> Pee mo sigur wm dos dots constitutes do wine tt € motive poo one, ereciprocamente, Sonorié ‘ete 0.25) ‘Se assim é nfo se pode dlzer que linghisticamente hhaja qualquer nexo entze o som que traduz, © concelto (0 “ “imagem actistiea") c © priprio conceito, Logo, # expressi- viddade do som se sustenta diletimente, De ito, pensando nesta contribuigho, voltemos a nae lisar os exemplos propostos. Veremos que no verso de Gon calves Dias o feito de podcroso travantento temporal, mar ‘ado peln aliteragio dos 7, esté na depensdéncia do sentido do verso. A primeica palavra em '€ 0 verbo “tardar”, que por si fotrodus « idéia de algums coisa que demora, que esa temporalmente, que se alarda, As outrasreforgam este ‘entido, Jatr tarda porque custa tanto a mover o¢ pasos ‘ap chamado amoroso. “Tarda", tanto" e “eusto” produzem ‘uma carga de peso retardo, mais pelo aetmulo semitntico do que pelo aciimulo sonar, © Nomesmo caso esto verso de Racine em que overbo “sifler” comanda o sentido € 0 som material reforgao sen Udo. As outras palavras nio concorrem enquanto sentido, ‘as trazem 0 conceito de sexpente que sibila:€ 0 conceito predispde 0 espirto u aceitar “sont” et “oes” (bem como, para a vista, 08 SS mudos de “vos” e “tetes"), no rime ‘ragado pelo fendmeno indicado no conceit, Balnda aqua sentido precede 0 som aa coastituigio do efeto sobre a nossa senstbiidade,) [No entanto, nds sentimos uma tal efleieia no feito sono, que somos levados a perguntar de novo se no caso dlo signo lterrio, ¢ sobretudo poético, ndo ocorrera sma cespécle de arbitrio. Ese uo arbirlo sematico nto se acres. cena, pelo jogo das convengbes estétioas e da sedimenta io histérica, um cestoasbisio expressivo peculiar, Eo que ‘esa, por outros motivos, Damas Alonso que, sendo poe- {a € mais sensivel do que fol Saussure a este proble ue, wo abort estabelece uma posigio muito fecunda ‘ara «andlise teria, Di ele: 46 Para 0 mestze de Genebra “signin” era eonceita", Os sgnifiantes eran, pots, meros por tadores on transnissores de concetos, Esta € ma ‘ia tho asagplcn quanto pobre, plana, da read te idiométicn, que € profenda, tsdimeasional. Os “sigalleantet* nao tunsatem “conceitos", mas de ean complex fanconats, Unt sigan {a agem aedetica) cimana no aujito que fala dle tn eangn paca de ipo complexo, forma tferalmente por um conceit (em alguns casos por ‘isis conceltos em determinadas condigdes por ne- hua), por sites afiaidedes, por sinestesis obs ‘as, profundas (views, tikes, audiives, ete). Tgualnente est éaico"sigallcante” mobiiza ind eras dreas da rede palguica do oxvinte; através elas, este pereebe a eaegncontida na imagem acs tie. “Signlfiedo”€ wma carga complexa, De modo ‘lm podemos considerer 0 “signiieado” em se tido meramente conceltea, mis leva em conta todas essas dees, Diremos, pols, que tm signa flo & eempre complezo, e que dentzo dee se pode Aistinguie uma gee de “signifeados paresis”. be a Bp, 223). Esta conceitsagio de Dimaso Alonso € sutil e abre novas poseibilidades de avallar 0 efeto do signo pottico, nelusive quanto possiblidades expressivas da sonorida~ tle, Neste sentido ele fx a andlise de wm verso da “Fabia le Polifemo e Galatea", de Géngora, mostrando que slab ‘UR € um significado parcial dentro do signo, e que tem leita especific de eseurecer 0 verso: Tnfarne tara de nocturaas aves 0 wtp muuinco porous Bibliografa sumiria: Pu Dethouile, Sononté et Poste (texto que me seria de gui). Fenlinand de Saussure, Taité de Lingustique Générale (ha ea dco espanhoin de Astado Alonso, com importante prefici). Dainsso Alonso, *Signlfcante y signiteado”, em Le Poesia Espanola. ull Gare Soren, Las Tmies de la Bist. A fim de avallar © mais objetivamente possivel este problema, vejamos agora as idéias dos partidérios do valor Expressive dos sons (no sentido estrito), apresentando-as iniciahnente sem extn, para podermos assimilélas antes de discuttlas. ‘Para comesat, a posigio de wm praticante do verso, 0 s-simbolista Murilo Arajo, em seu lvro A Arte do Poet, ‘cap. 24, “O Uimbre verbal” (Comentirio do texto de Murtlo Araujo.) (ArEORIA DE GRAMMONT Como exemplo de uma teorla que afirma a existéncia de cormeaponilencias entre a sonoridade eo sentimento, ve- jumos a de Maurice Geammont. (Em Le Vers Frangais, 2 hate “Lessons considérés comme moyens d'expression”, p. 198875.) ‘Ponta de part (CPode-e pntar ume dia por meo de sons; to os sabem que isto €praiivel na miles, a poe ‘Sie, sem ser mia, €(-] om ecrta medida wa mi ‘ices wos sho capes de not ‘Nosso eérebro associa e compara connie mente, easefcn oo idl, dispoe-nas por grupos © dena fo mesmo grupo coneeitos poramente Inte {Ectunl co impresses que Ibe sho fornecidas pelo fui, evista, 0 gosto, o ola, otacto Resta dit Golque as idélas mais aberatas fo quase sempre Ssoociadas alas decor, wom, cher, secue, dare arolean, Diese comrentemeste na linguagem sls Comum ilas graves, Ives, sombris, turvas, ne dom caaentas; on, 86 consi, utnoses, clas, eaplandecents, lags estes, clevadas, prof thom, pensamentos doses, amargos, insipido.. ee (1956) 1 wma tradugdo anditiva de impresses dos outros sentidos, dada pela Hinguagem corrente e explorada sinte tmaticamente pelos poetas. O caso notdrio e dese sempre fhotado € da “harmon imitativa”, em que se vise conscien- xrw0 mainco 00 Hm emente a um efeito acentuado ¢ visivel. Mas todo verso {em assonfincias ealiteragdes que constitiem & base da sun sonoridade, e que contribuem poderosamente para o set ‘feito, O esforgo de Grammont consist exatamente em es- lular estes efeitos, mostrando o valor espeeificn de cada ‘vogal e consoante, quando repetida ou combinads a ote, Bleach que em franeés-€ mesmo noutras Kaguas hi certas cconrespondéncias constantes, "As palavras que exprimem ‘um rangldo, wm harutho ieitante contém todas win Re wis vogal clara ou aud ~ como a palavras aigree grincer elas propria. ‘Tadavia, Grammont fo bastante prudente para obser- ‘va, ¢ em sega insists repetidas vezes, quefo som por si 86 nilo produ efeitos se no estiverligado ao sentido; Hm resume, todos os sons da ngage, vo tls on consoantes, podem azsamalr lore poison ‘Tuan isto € possi pelo sentido da pases ‘em que ocoren se 0 sentido aso for suscotve de ‘ose, permanecem inexpressvos Bevidente qu, {do mesmo mod, aunt vere, ht ain de eee” ts fonenas, estes fonemis e tomato expressivos ‘ou permanccerio nerteseonforine a dei express, ‘O'mesino som poe sevir ou cuncorre pa expr. Ini ideas bastante diversas unas des ntrns, be ‘unio posea sai de unt lo aque €inlado pela ‘sua pedprianntarern. Nao ll, por mui sie, ‘que nfo sea complex, os seus dversoselemen. {os os seus dvertow matlzen, podem ser express pele viztnhunga e pelo concarso de sons diferentes. (Omesmo oeorse evdeutemeate no wereo ito verso expressive id scape viriow elemento dive sien que entram em jogo na expresso. Sto es elementos difereotes que tentaremos isola, de. terminundeo papel eo valor pépri de ea wt de les (0. 206-7) ‘Bsta posigio moderadora de Grammont nfo ¢ levada em conta por Delbouille, que o critica violentamente, im {ando-se aos aspectos mais extremados da sua teoria no encionasdo sequer este conceito, que é repetido no curso tia obra (p. 282, p. ex.). Mas, como se vé, ele aceita uma, tert rea de determinagio necesséria (0 “eirelo”), que pro- ‘cura provar com base na onomatopéia e deseavolver no cor- po do live, “Distingue os sequintes casos: Repetigio de fonemas walsquer; Vogis; Consoantes; Hiato; Rima 1, Repetigo de fonemas ‘Caso em que a natureza do fonem no tem importin cia, o seu papel sendo devido apenas A repellgo, regular ost irregular: Tipos de repetio: 44 de silaba: coueou 1 de vogal eliquetie, monotone de consoante:palpite Isto no interior da palayra. No interior do verso, se to mator,podem-se obtr efeitos com este fendmeno, Antes deles estéo ritmo, que contribat decisivamente para o eft to. Mas este depende do coneurso do som. ‘Que le brut des emer qu frappatet/en cence. (Lasts) cem ena tae eae ® ? ‘ ‘Typos de repetigo 4, Paavra ou patevras; Apts plane blanche une ante plane blanche. (Hugo) dem, com seforgo de sons isolados retomados, mas _scontidos nestas palavras Tica source kane nom qe gotte& goutte tombe. (Héreda) sos wut 2, Ronemusisolados i busca dos mais variados efeitos. ‘Vg: movimento regular eps ce coup fatal le pouvoir Ageippine ‘Vers nchute grands pas chaque our/sachemine. (Racine) re ch chojorsch ‘movimento ou ruido repetido indefinidamente sem idea de regularidade expressa: Ht Pan, elentiosant ou pessoa la cadence. (Héredia) A Yappel dc plas Torsqe ton sein pulpit. Lamertine) poop pe ans en" Aceste propésito Grammont estabelece um principio fiandamental: "a palavrn palpte j& exprime por si 86 a re petigio porque tem dias slabas comegadas pela mesma ‘oclusiva P, que 0 poeta repete em outras palavras, pondo-t udestaque” (p, 221-2). Mas esta observagio deve ser eom- pletada pela de Beog de Fouguitres, que ele ita: “Constata- fe freqientemente que a palavra gerutora de dela se toma, por meto de seus elementos fnicos, gerador sonoro do ver- fo, ¢ submete todas as palavras gecsndrias que a acompa- ham a una espécie de vasalagem tOnica.” 8, Duas agbes paralelas, das quals « segunda seque regularmente a primeira, sendo eventualmente sua conse- aincia ‘Ou des Neues. anprintesps, oud rait.enastomne, (La Fontaine) owd toad 4, Uma série de acontecimentos em seqaéncia répida, dependendo um do outro, ou paralelos: Jee vis, Je rouse pills se we, (Racine) ‘ ars 15, Insisténcia, Repetigzo de fonemas essenciais © smarcantess réveiia ses ils dormant 6 femme Ise, sis 5 * [Bie remit fuiesnistee dans espace. (Hugo) ares * A palave fundamental sinistre€reforgada pelos fe 2, Vogts 1. Asqudas: dor, desespero,algria, eélers, roniae des- prezo deido, toga. 2. Clarns: levers, dogura 8, Brilhantes: barulhos ramorosos, 4, Sombrias: barulhos surdos,raivs, peso, gravidede, déias somibrias. oan’ Noni foetem os eftos das ska, nodienn- Low ‘Tal malig et me nu, et conspire A me nie. (Racine) rend. pide mon ls, de von unique enfant. (Cher) 2. (4.6 880,) Mest dou d'éconter les soups, les brats fats. Viens! une te invisible. (Heredia) Soup dans les verges. (Hugo) Bla deae) ‘Comme tlsonna la charge fl sonna la vitor. (La Routine) fracas des seins. qu sonnalent leur fanfare Grea) 4.(,6,09 lle deoute, Un belt our frappe es sous Elis. Hugo) Léghre, elle ofa pos ce Breit tonnant et sour (Quon se péeiptant realewn toment plas loud (Lamartne) 8. Consoantes 1, Momentiness. Séo as explosivas, proprias a qual- ‘quer tdéia de choque: oclusivas surdas © sonoras. AS pric teiras, mals fortes, produzem mals efeto (7, C, P) que as ‘segunda (D, G, B). Exprimem ow ajudam a sugeri wm rui- do seco repetido, como nas palavras tincer, tintamarre, elapots,eliquetis,te-tac, ere-erac,claguet, céptter, grater, ete. 2 alsa @ tes bras qaatour de a tu Jetes, Sonner tes celts of arent descochettes, (de Lisle) 1 détourna la ue grands pes, ete brut ‘De se éperons doe Se pend dans la nit (Masset) Ruido mais brando, embor sempre sacudido. (*Saccadé") ia sac etd serpent aust i donna Contr les mrs, an qu'il ua late. (La Fontaine) Sob 0 aspecto moral ‘ronla: Dore conten, Voltaire, etn deux source Volige-il enor sr ts 08 décharnés? (Must) colera Ualaze ex wn tate, et n'a que top wéew. (Racine) hesttagio: ‘Dans le doute morte font fe wus agi. (Racine) Ormomutmen pore mora. os metos de expresso 66 tenham vi tox de mod geal quan «tela express sa cor respondent, seo mesos fonemas sto repetidos fom mutta Reqiéxcis, eles se impbem forgostmente atengio, mt as exsos, sila mo pedir a epe- {isto os versor choca, porqe Bf dscordincla en {rea idsia expres eos meow emprepsdos. (p. 295) 2. Continuas: nasais: m,n; Kguidas: fr; esplrantes (pibilantes , 2,0 ¢chlantes ech), nasa: lentidio, brandura, langor, timex Cette heure a pour aos sens des impressions duces Came des pes musts quimrshent aur des mousses. (Lamrtine) guts , prop regamento: mente, 86 Kguida, Fuidez, escor- Le leave en écoulant nous aise dans ees vases, (Lamurtne) 1 feito varidvel conforme 0 apoto vocilico: ‘vg, rachadura, rangldo: Mats ln egre meurvtssure “Moran le rst! chaque jour (Suly-Prudhomme) glo surdo, gto abafado: Le perf trom et xe rit. de ma rage. (Racine) ‘espirates (sibilantes chiantes): sopro, sussito, bilo, deslizamento; fEmito, angst ckime, eblera. £8, Reuntto de consoantes diversas, 0 cestudo anterlor consiste num esforgo feito por ‘Grammont para determinas 0 valor expressivo especiico de ‘cada fonema tomado isoladamente; mas ele observa. a gui que em quase todos 08 casos € possivel veriflear ai {erferéncia de outros fonemas. Por isso, 0 mesmo fonema pode servic expresso de mais de uma sensagio ou senti fnento, €0 mesmo verso pode servir para exemplificar ef tos diferentes, conforme o toniemos do angulo das vogsis fou das consoantes. Na verdade, oefeito total éfreqBente thente devido & combinagao de efeitos parciais, cujo actimulo ‘Ceombinagto definem o ram geal da espressividade, sem- pre sob a ovientagio da iia, ‘Mas desde que conbegamos o efeito de cada fonema particular, € possivel analisaro efeto oriundo da sua com binagto, 0 papel por eles representado. As combinagoes € fs efeltos so variadissiaes, paticamente limitados, como Hlinitada € @ gama das expressoes humanas. Grammont s¢ limita aestudar como exemplo alguns casos de combinagio de consoantes. [As labialse a8 lablodentaisp, by mf,» tm como paricuaridade a clreupstiaca dea su ate Tago ser visvelexerormente. Ela exige um mov mento de ibios que pode ser considemdo em certa ‘Media como gesto a costo e que toraa esas con: Sonne propias para exprimir 0 desprezo € 0 sc. (p-319) Je ne prens pias pon ge un peuple tera (Ravine) ‘Aedes parts plas haute oe bea fla dot prétendre. (Corneille) ‘one vez peur d'une ombe etpeue d'un pede cende, (Hg) Mas: “Pde haver num verso tants lblals quanto em alguns dos: que acabamos de citar sem que por isto ele se tome esprezivo, sea idéia nio comportar este matiz" (p. 314), Daf serem mas, segundo Grammont, os versos que contém ddemastadas labiais sez o sentido corresponidente que ws re- quer (€ uma conseqiiéneia da sua conviegto de que ha sm fimbito de significado dos fonemas, independentemente do sentido). Outro caso: *O emprego combinado da iquida f com ts fricativas acrescentari hs diferentes auancas de sopro ou de rumorejoa idéia de fuides” (p. 317). ‘Ua ints pasfm sorta des toes dasphodte, Les soufles dela ui flotisent sur Gaal. (V Hago) © poeta quer pimtar nestes dots vers0s os vio perfumados que ve desprendem coon um en {aleve e cobrem tudo afta como um tecdo liquid, Considerando apenss 08 feos lcbservarse que 0 poeta comepa por uma repetigio de we neniom ‘en tadoo princio vers, menos ain aba 0 ‘os sopros embulssmatos que evolan, Depo ele com Dina 9 eam 6 1, Sst, 0 spo com a uider, © dt said da tag dos perfumes concentra ‘como navens. Nesta combinagio, of correo rsco de Bear meto abuiado pelo jo poeta apart, solando- ‘emasphedéle, ese. Bai, estas mavens sedis: Solvem numa espéeie de tecido sido, stax cals ‘detina dgua trangia que o poeta exprime pele das Iiguidas eo vocaismo tnllorme de Calgala (9. 318) ‘Vimos a questio da expressividade dos fonemas, Isto 6, dos valores sensorinis ¢ emocionais ligados « fonemins ropetidos no verso; Inclusive alegacdo mato dwidosa da sinestesa, No caso mais notério e extrem, vitosaalitera- nea assonincia, que constitem a repetigho voluntériae fvidente de consonates e vogais, respectivamente. Tndependentemente da expressividade vimos que tis, fendmenos de hornofonia constitaers wm substrato sonora ‘lo poema, que contibut para sua estruturae para 0 efeto fie le exeroe sobre nés. Agora, devemos ver alguns casos ‘nals nesta ordem de fendmenos sonoros do poema. Bsquema: 1. Breve iid teora de Grammont 2. Brow ide de eoia de Spe 8. ponigio exiremada de Morer ea de Michaut 2. Conlusto sabre o valor ds souoidades:depesr encn eta de otros lementon d tte gral decom pstgao do vers. Moe posto lao, gre iteesse, no {pens qunuto estat soso (ou "ubstato nico") thn geal mas ao pia efto das sonordades parca contin, 5 Sistemliagh: Sonoridade do ones, vogue consoants. Sonoridade dos gros vootios e eansonantas Sistemas de repctigi dos efeitos hhomofoniag, de qu a praca €a sina (omnia deatidade de sons) ~assontncas(epetigfo de ogee) ~aliteragio (repetigto de consoantes) “hhumeoni uceso de bres) ~ melodin inka formads pela altars sucesiva das Conseqiéncias extremas da repetigio dos efeitos: tharinoni atin siestesia sempre na dependacta do contexto sugestto pseolglea {6.Conclusto geral: 0 sentido, na acepeio mals amp, ‘exe o valor expressivo da sonoridade (sentido Iéxico, senti- ‘do metaférien, sentido simbélico) Rima ‘Dentre og recursos usados para pbter certos efeitos: enpecinis de sonovidade do verso, o principal éa ima que, cegundo Manuel Bandeim, “€ a igualdade ov semethance fle'sons a terminacio das palavras” ('A verificagio em Fingus portuguesa”, p. 88-9) “Toda a hist6ria do verso portugués se fez sob a églde arin, emibora desde 0 Renascimento haja voltado a pt ctado verso branco dos clsicos latinos. Das Hinguns rom: Gieas, aque mais Ricow submetida aquete recurso foto fan- ‘bes, que 86 o.abandonou com o verso livre, Mh rima apareceu nas lteratueas latinas como conse: ‘qhencin da decadencia da méirica quantitativa, Isto &, bo- veda na alleradncia e combinagio de sflabas longas e sla- fas breves. Oaffowsxamento da métrica quantitative dew I jr ao aparecimento da métricartmica, bseada na suces- vr das eflabas, com acentos tonicos distribuidos em alg- Atnedelas, Nao é necessario buscar a sua origem em outros Taoves, embora eles possam ter interferido, como a alegada Inf uencia da poesia érabe depots da conguista da Pentast- Ju berica, O fato € que desde o século IV eV da nossa erat fee nota a sua ocorrEncia no proprio ltim, O fato acen- house a medida que decain a Kagua latina © se formar. hts neolatinas, Tanto misma quanto nowtras, ela fo wsada na IMhde Média Jé nos séculos XTe XII o seu uso era geral © losenvolvido nas romanieas, € os trovadores proven fo far os que a aperfeigoaram © de certo modo a estabelece vr emo recurso sine qua da poesia em idtoma vult ‘Foram eles os mestres dos poctas doutras linguas romini- ‘Como ficou dito, na Kinga portuguesa, 2 semethangn dda tatiana e da espanhola, o verso sem rima, ou verso brat- ‘cn, volton a ser pratcado depois do Renascintento, mas sx- pre em metros longos, e quase apenas no decasstlabo, cu Nonoridade forte © amplitude permitiram aproximélo do verso latino, deeassslabo branco se prestot nfo apenas poesia diditica, mais prosaica, mas & épica e & fisica, Al [Buns poctasromiintioos foram admieivelscultores dele. Mas 1s parmasianos ¢ 08 simbolistas 0 abandonaram, com pow cas excesses, ‘No Modermismo, a sla munca fol abandonada. Mas os posins ndquiriram grande Hherdade no seu tratamento. (0 iso do verso livre, com ritmos mmulto mis pessoas, PO- endo esposar todas as inflexBes do poeta, permitin deixi- Ide lado, No verso metsiflcado, eln fol usada ot no, e pela primeira vex pode se observar na poesia portuguesa 0 verso bramco em metros curtos. Seu ws0 fol mals freqiente, mas conservouse a liberdade de sua combinagto (De modo #e- fal, & poesia moderna se apéin mals no ritmo do que aa fima, e esta aparece como vassala daquele. TA fanglo principal da rima € eriar a recorréncia do ‘som de modo marcent, estabelecendo wma sonoridade con- tintin ¢nitidamente perceptivel no poem, Freqientements fnosst sensiblidade busea no verso o apoio da homofonia nl ed sistema de homofonias de um poema extral um lipo prépeio de pereepeio poética, por vezes independente {dog valores seminticos. £2 0 esqueleto sonoroformado peta fomnbinagio das rimas, ‘A postiea sempre se oeupou dos tipos de rima © do “inodo de comibiné-ta, distinguindo diversas modalidades © cestabelecendo regras, Bstas chegarant a0 maximo de it ffencia com 08 pammasianos. Todas visu a evitar a baaall- fade, de um lado, 0 prectosismo, de outso; a extrair 0 mie to da sonoridade da combinagios a determinar a distancia a posigio das rimas, Mas todas estas regres so relates, CO poeta pode fazer boa poesia, da mais comvincenteefiel- ‘Sa sonora, volando muitas delas, Inclusive usando siste- fnatleamente as rimas banais AO, MENTE, etc, ow rntan- tio palavras das mesmas categorias gramaticais, Pode-se ter time idéla do rigor pamnasiano estudando 0 Tratado de tersificagao, de Bilac e Guimaries Passos, ou a Consolida- (po das lets do verso, de Manuel do Carmo. | A distingSo mais importante que convés reteré 4 que istsbut as rimas emt Consoantes e Toantes. A primetra € & fina perfeita, om sima proprlamente dila; a segunda é a ssonineia no fim do verso. Na rima consoante, ow sim plesmente, na consoante, hf concordincia de todos 08 fonemas a partir da vogal Unica: ‘rescura das serela edo orvalho ALHO ‘Graga dos brancos pis dos pequeninos INOS ‘or das manhss cantando pelos nos INOS Rota mais alla no sais alto gatho. ALO [Na vima toante hé concordincia das vogais tOnicns, oa das vos tnicas eoutra, ou outa wogais Stonas que sequen: 1 rma com Moral Asta ‘Charco ina com Prantoe com Estanbo Marto rime cots Fisssimo e com Sopoifro (xe de Bune) Arima toante foi largamente usada na poesia medie- val. Depois conservow-se na poesia espanola, ¢ dela vol tou para a nossa neste século{ Ultimamente tem sido sad dde-novo com preilegio por poetas modemos brasileiros, ssobretudo Joo Cabral de Melo Neto, nsito iafuenciado pelos espanhdis, e dele passou a toda e nova poesia brasi- edna, Bles a uilizam 86, ow de mistura com as consoantes, ‘conseguindo os melhores efeitos, inclusive aassonincta mais Fugidia, que apenas se pode chamar de homofonia,e que no centanto permite uma grande eflcicia postica Eis wm exemplo de Jodo Cebral: Dew anso Se wem por ereuos na viagem Pernambuco ~ Todos o8 Foras Se vest numa espial a cota oun memsee 0 primero circulo € quando O ewido no campo do Tour. Quando tenso na pista (O salto ele calls [Bt o Ihara onde coqueios, onde eajueros, Guararapes, Contato aparece cm vtrne a paisagem, Além da rima, hi outras homofonias, como & repeti- ‘io de palavms, de frases ede versos, que se chama Recor- ‘ucla ~ recurso muito usedo na nossa poesia moderna, sobcetudo por Angusto Feereo Schmidt, ¢ depois dle. [\nicns de Moras Mas também pelos oxtos, Quando & ropetigo de verso primo ao otro on de frases Ou pal ts ein fim de vero, temos a homofoniasbsoete, que de Cert todo € 0 dest da ima ima ds ims, como fa Poca humors os gos paramente malabart- cou Bxemplo: (all, amast dela Rein, alla, tous magni Galamment de 'Aréne a Tour Magne, & Nimes, ‘Vejamos exemplos de recorréncia de verso, frase pa- lavm no poema “A esteela da manhi” (Antolagla, p. 93): 1.0 primeiro verso € também o timo ("Eu quero a es tucla da maha"). 2. 0 sétimo verso, “Procarem por toda a parte”, se repe te como 28° 8. O sintagma "a estrela da manhi” ocorre em 4 versos: 1, & de Le 4. A palavea “desapareces ocorre no 5 € 10 6! versos. 5.0 sintagma “ums homem” ocorre n0 8 € 09! versos, 6, 0 Imperative “pecai acorre nos versos 18, 19, 20 € 21 seguido de “por” aa primeimuocorrénciae de *com” nas otras. 7. Repete-se ainda de forma cliptica, mediante & prepost- ‘elo “com”, nos versos 234, 24 254, mus isto no interfere no sistema das sonoridades, Sob outro aspecto, alguns destes exemplos sto casos. de ansfora, isto é, repetigho de palavra ou frase no comes de varios versos, (Muitos outros pocmas de Manuel Bandera podem sor examinados para verficar @ recorréncia, como "Belo belo”, p. 147, “Tema evariaghes",p. 161) ‘De modo ger, houve no Modernism, em relagto ao (Os FUNDAMENTOS DO POEMA Parnasianisio © ao Simbolismo, wna marcada dessonor- ‘gia do verso; depois, uma reseonorizagio emt oxeo8 (er ‘nos. For dessonorizagio entendo aqui ua dimsniga dos efeitos sonoros regulares, ostensivos e evidentes, nio a s0- b.ORITMO horidade de cada plavea; a busca de ws som de pros, tn Clusive com a supressdo dass, a qusbra da cegularidade 0s elementos sonores propriamente ditos esto, no ‘tmica, ete. (ex. "O eacto”, i que se nota 0 vere lve, no poems, intimamente lgados, € mesmo subordinados 20 fe- «qual a Sonoridade é confiada ts homofonias quase naturals hnimeno dominante do itmo, qe €Justamente uma forma tos fonemas e do stm varie). ilecombinar as sonordades, no dos fonemas, mas dus com- Mats ecentemente houve wna retomada da sonora: Ihnagdes de fonemas que sio as silabas © 08 pés. ‘so intenctons, spoiada na recornéneia, no sitio imitativo, ‘Aldéin de ritmo € muito comple, e frequentemente zo trocailho, Dai a imports atl a recor e de snulto vagi, Podemos chamar de sito a cadéncia regular pritcas andlogas, Inclusive as que se liga ao processo de {lefinida por um compasso c, nour extremo, a disposicio Obter o feito visual no lado do efito sonoro ~ levando-se Se ean asa aioe Ma oxime cso eri fem conta que & poesia € feita para o8 ofhos aa elvilizagio Nee ee eftetncia de onns; a0 engwnedy est ‘tua. Mas, por tna curosa vnganga da sonoridade pot reiterate da sletsia ox da unldade criade pela combi- a, 08 postas que valorizam o feito visu, como 08 arma de oaae fim ambos os casos, cera expresah de Listas, so 0s que também mats dependem do eeito Sonor, tuna regularidade que free agrada os ossos sentidos! Sob (Aguas exensplos de Hasoldo de Campos © Ronaldo aspecto mas gem ele aparecera como wna espécie de Azcredo.) {winipio de ordem do univer, e assim vemos Guilherme the Aimetda, no sea estudo sobre Roma, elementode expres: fio, falar na tradugho podtica dos rtmos da tera, de Fog, {ha agua, do vento, © do olfato, da vista do tat, do gosto © {laaudigao, Reta pan-ritmia tem interesse posto ou meta: Tévico, mao serve apenas para confundia questo, equ ermos tratar objtivamente como estudo. Na verdad, de- ‘emos consideraro ito ua fendmeno indissoluveieate Taato eo tempo, © que apenas metaforiamente poe ser Acansposto 10s feadmenos em que este nfo € elemento es- senclal. Metaforicamente, podentos falar do ritmo de um ‘quadro; mas no sentido préprto, 6 falamos do ritmo de um riovimento, O encadeamento dos sons, a sucesso de wes- (os possuem sitmos. Por ito, nda 26 podemos usar este conceito com precisto nas artes que Ihes correspondem; niisica, poesia, danca. Isto, a despeito dos te6ricos da An- Aigiidade 6 wilearem a palavrasitmo para exprimira sime- (sin das artes pldstioas, ea despeito do hibit terse earal- raulo definitivamente ns Haguagem estética, Quando lemos um verso, esobrettalo um poema com pleto, 0 que nos fere imediatamente a atengio no sio as Sonotidades especifieas dos fonemas, que 86aparecem quan fo de certo moo destrimos o vero pela anise fonticn (O que apsrece é 0 movimento ondulatério que caractesiza 0 verso co distingue de otro: este movimento é ritmo} Nos ‘ersos que temos ido de Mantel Bandeira, as sonoridades ‘spazecem dissolvidas numa unldade maior, que as engioba ‘permite a sua atnagio sobre a sensibiidade. Por exemplo: outa eate gual que et fiz, Daring, em louvor de Hatz A leitura mostra que cada verso é felto de wma sltemfncia de silabas mais acentuadas e de slabas menos foentuadas, Algumns se destacam, mals fortes; outras S80 rienos fortes, ese esbatem ante as primeiras;outras, finale Inente, sio fracas e se esbatem ante as primeiras © as se ftundas. Chamando as txts modalidades A, B e C, respect ‘amente, teremos um esquema do seguinte tipo: s8yerso:C, A,B, C,6,4, B.A 2Hverso: AC, BB, ALC. [Nos dois easos, observamos que os trés tipos de sili bus sealternant, Se traduzirmos estas leis por uma cur, tle quecada uma seria um ponto constitutive, terfamos, gr eamente, espacialmente, representada a ondulagao de que se flava deima: aa Ae Aol we NO Os tragadios mostram que as ondulagdes variant, ¢ q¥e estas ondulagdes retratam objelivamente as varlagdes de in- tensidade sonora que compoem o ritmo. Ritmo é, pots, wma alternineia de sonoridades mais fracas € mais fortes, for riando uma unidade configurada Os clementos que compsem 0 verso io indissolives, « niio podemos imaginar um sem o outro. Mas se tentisse- mos, por sim esforgo de abstragio, imaginar quais 08 que fancionam com maior importancia na caracterizagio de wm verso, chegramios provavelmente & conclusio de que € 0 yitmo Ele €a alia, a mio de ser do movimento sonoro, 0 tesqueleto que ampam todo osigaificad6 Considerando isto, ‘muitos cheganum a conclusto de que o ritmo seria wna es- pécie de manifestacio, na are, dé realidades clesentares dlavida. A trdagio de sitmos onginicos, por exemplo; wma ‘yer que também a vida se manifesta basicamente por miclo tle rtmos: a pulsagio cardiaca, 0 movimento respiratorio, ‘marcha, 0 gesto, Sendo assim, itmo teria wm fandamento blologico e estaria ancorado in prépria natureza, O verso corresponde, de fito, a uma.certa realidade respirator, q4e fe define antes de mais nada pela posaibilidade de emitir a Sscessio de sons em certas unidades de emissio respirato- Paraoutros, oritmo possuiria una realidade marca pela tividade social do homem. Teria, por exemplo, nasci- fo do traballi pots como todos sabem, o gesto produtivo ‘émais ripido, mais daradouro e mais eficiente se for regu lac, Hé uma acentuada economia de esforgo.e um aumento de produtividade no gesto regular: o da enxada eaindo era tcadéncia, 0 do martelo batendo em cadéncia. Do dngulo toletivo, ésabido que a reqularidade do gesto no 86 perml- te mais eficcia, mas éfrequentemente condigéo pari que 0 flo se eallze, Assim um grupo de homens levantastdo um [peso 86 0 pode fazer Se houver coordenagio dos movimea= tos, O ritmo dé umidade ao grupo, tornando efciente 0 se cesforgo € reforgando 0 sentimento de participasio, de Interdependéncia como requiaito para realizagies. fncho- sive © eansago fisico é diminaido, aumentando-se a capaci- dade de sesistencia. Bates pontos de vista Tevam a duns alitudes opostas ‘quanto A origem do ritmo: ox ele preexste & consciéncia do THomem, pois Ja existe na propria natureza inclusive n05 tmovimentos fistoligioos; ou ele € uma eriagto do homem, Uerivando das atividades sociais. No primeiro exs0, 0 ho- ‘nem traduz pelos seus melos de expressio um fendmeno {que anterior e superior a ele. No segundo caso, o honem ria um meio proprio de expresso, que & subordinado in {eitamente a ele. Mais alnda: no primetzo caso, o ritmo se- ta ui fendmeno natural, emboraesteticamente disciplin tloyno sequndlo, seria umn fenbmeno paramente estético em yom de oxigem social. Colocadas assim, de maneira extremada 38 duns pO sigdes cam insatisfatros; mas se fosse preciso decidir Coguematicamente por uma ow outm, parece que a primeira {esa mata raaio de ser, Com efeto, € inegvel que, como realidad objetiva, o movimento ritmico preexiste a qual iuer slstematizagio fita pelo homem, e que 08 movimen- tos onginicos se fizem nitmicamente, por sv propria nate Rau, Mesmo o canto de certos passaros, oo gto de ext fos animals se ordenam numa modulaglo stmiea ~ m0s- {rando que antes do trabalho humanoe sta nflxéneia como ‘Gnpunizador do gesto, a natureza conheca 0 ritmo, € que 0 hhomem poderia (@-o apreendido nesta fonte, For otro lado, a8 atividades coletivas on individuais| ritmadas ocorteram emt povos que tinham um certo nivel de ‘calla, sobretudo os que jéhaviam entrado na fase agrico- fa, Ora, grande nfimero de homens vivem ainda hoje como ‘verum todos os homens durante centenas de milhares de hos, ito é, da coleta e da caga, em atividades que no re- fquerem o trabalho regular de am grupo, embora possam requereresforgo esporidico de muitos. (0 que pexlemios concur, jf que no estamos interes sados no problema sob o aspecto etnogzitico ou sociolOa- to, quteo homem que fz poesia conbeceo ritmo na nature sae pode f-o observado e imitado; e que a assoctagio bi fant era tipos de atividades ritmadas que tnerementam este coniecimento do ritmo, ‘Com isso, icamos de posse de algumas nogies im portantes: 0 ritmo € uma realidade profunds da vida e da ocledade; quando o homem imprime ritmo & sta pala, pram obter efeito estético, esti exiando um elemento que Tin esta palavra ao mundo natural e social © est eriado para esta palavra uma eficicin equivalente & efcicia que 0 Htmo pode trzer ao gesto human prodstivo, Ritmo &, por tanto, elemento essencial & expresso esttica nas artes da palavra, sobretudo quando se tmta de versos, isto & wm tipoaltamente concentrado eatuante de palavra. Ble permi- tc criara unidade sonora na diversidate dos sons? ‘Conhecida a importineia do ritmo como fenidmeno de extrema generalidade, podemos entrar agora no estudo do rilmo pottieo, que é wma das modalidades estéticas recisando a definigio esbocada, digumos que: ‘Orritmo do verso nas linguas neotatinas éa sua diet sao em partes mais acentuadas ¢ partes menos acentuadas (que se sucedem, ea integragto dessas partes numa unidade ‘expressiva. [Nesta definigio temos os seguintes elementos: 1. Divisio 4, Sucessgo temporal 2, Pastes 5. Uaidade 1, Acentuagio O sito esta ligado intimamente&idéia dealterms ‘lterndncta de som e slléncio; de graves © agudos; de tOn!- fs etonas; de Iongase breves, em combinagbes variadss. Se tomamnos 0 verso, « primeira divisio que nos salta & visa, nas Tinguas neolatinas, é a das silabas, Um verso se ‘compée de win certo mimeo de silabus, que podemos des- Ti cee ani at gin 6, don ein eet Po a, tc te pagan 20701 ru (erate wpm esta denen patios {inmates Bl Sor, tht du masnent tacar na diego, Silubas posticas, bem entendido, que nto ‘correspondem exatamente ds silabas gramaticnls, Mas se tomarmos as silahas como elemento sitmleo, le ge revela insatisfatério, ¢ nio corresponde A realidade. No primeiro soneto inglés de Manuel Bandetra: Quando a morte cere meus ols duros 6 eu destacar sflabe por silaba, tendo 0 euiado de marear bem a paisa entre cada wna, a fim de eriar © movimento ‘tmleo, terel como resuliado uma sucessdo de segmentos Inexpressivos, volorizados por igual, sem produzle a ondu- Igo essencial ao efeit stmnico: Quan (doa mor [ef cer J mens fa. Th08 Se, ao contrério, ew dissero verso natiralmente, pes «cho que ele ¢ marcado por silabas fortes, que se clevam sobre as demais, Se ew as pronunciarfortemente, verei que las promovem a divisto do verso em segmentos, formando uma série de unidades separadas por uma pausa virtual, ‘mas wnidas na integridade sonora do verso. Este efeito pode serdado graflcamente escreveniloem matésculas as silabas ‘nica (Quando a MOR /te cerRAR / meus O (hos DU / (ro) Anat trelades deteatnadas pen acetuno, elias por pans qu cm depos de cata tn a staan nice So quatro widen, oe eenta, ot fos ple seq esas tales cat un Sen en ato ae revpemndecn plo sma] as Wo ‘verso € prodiuto da sua concatenagio, da sua sucesso numa, ‘erta orem, Concuo entio que o ritmo me € dado, no pela tivisdo silabiea, mas sm pela divisdo em tats unidades, que fcompiem © movimento de ondulagio de todos o8 versos ‘nas inguas neolatinas] PrxTEL (119 un STIS /s0 TEM /po aNO / re © MOG), (Leo) De BLANCS / sanGLOTS / glsSANT / sur P'ZUR / des ‘coROL (es). (Mallarmé) [La CRES / pa tempesTAD / del ro enDO(60), (Quevedo) ‘Quando fazemos esta verificagio a respeto da exis- ténciw de segmentos ritmicos, estamos nos conformando ‘com um tipo aceite de escansto ~ como 0 vertos nos n0ss08 tratadistas € no cléssien estudioso do ritmo do verso fran ‘e65, Maurice Grasimont (I*parte de Le Vers Francais). ‘A teora staaen de Grammont sofreu sm ataque cer- raulo de Btienne Souris (La correspondence des Aris, cap. XXVIT, “De la musique du vers", p. 151-86), segundo 0 ‘qual, entre outras coisas, a divisio do alexandrino, propos- ta por Grammont, nfo daria um ritmo realmente poético, ‘nas um ritmo elementay, prmério e pobre. Pam ele, 0 ritmo tio verso éde tipo musical, e obedece ts mesmas leis. Divi fdblo por melo de pawsas depois das tOniess produz wma ‘série de batidas desgraciosas e artificias, pots o ritmo pro- priamente dito (ausical) se expsime por meio de uma love huspensio, nunca pausa, antes da tOnica. O verso de ‘Mallarmé, neima citada, provavelmente se leria, segundo Sousa, nus letra adequadtas e/BLACS san (GLOTS gis/SANT wurTa/ZURdes co/ ROIIe8) Mas isso, deslizanio, semi cortes, que no existem nia ‘pausa musical, merameate convenciond, e portanto tam- them nao na passa de verso. 0 resultado, segundo Souriay, que se oblém waa varodade staen multo meio, wm iqueza encantador, longe de divido peedrie das batidas pis-aleas, Segundo ele (c af perosbemos 1m dos sens méveis), tratado deste modo, o vers facts luraia por revelar 1s rmesmas qualidade ritmicas dos versos latinos, alemies © inuleses, Como sabemos, estes so verss cujo ritmo é mar- ado pela sucessio de pés, formados pela altemncia de sSlabas longus e beves, do coaterio das sila neolatines, fpenasdlonss e teas, Soins desea tar verso fran es do sex grupo naturale levi-o a esse outro grupo, 0 {qual analogia con itn msc talvez seja mals esti, ois, como saberns, ele se far por uma combinagio de no- tas longus ede notas reves, mareando-se aquelas por tm ‘crcl branco ests por am eculo ceo. Nos vers que Se contam por pes, e nio por silabas, 0 acento tonico correspond as vagal Tongas, de modo que o ritmo se ela tora efetiamente por na aliemincia de longas brews Sejam dois versos de Byron: “The Assyrian came down, ike Uhe wolf inthe fod ‘And ther cohorts were gleaming with purple and gold les se dividem do seguinte modo: “The Ar SY / sau came DOWN / ike the WOLF in the BOLD [And thei 0 /horts were GLEAM Jing with PUR /ple and GOLD ‘ov seja: quatro pés,formado ends um pela combinagio de ‘das silabas breves e uma long: ra, na metrifleagio quantitative, cacla verso obedece ‘acum pé dominante, como estes (que si, como veremio8, ttnapestos), Se quisermios trtar os versos neolatinos igual- foute, teremos na thalor parte das vezes como resultado lima variedade de pés to mesaio verso, chegando tqattO Ccntco pé diferentes que podem dar a variadn melodia de ‘ve fala Sowrian, mas que no correspondem de modo al- fium a0 principio de regularidade da meétrica quantitativs, {En que pode haver no maximo wma discreta mistura de dos pee nim hexmetro, ou, tals normaimente, um pé inital fn terminal de natnteza divers, ‘6. Em todo o caso, fiquemos com o principio importante de quco ritmo éformado pela sucesso, no verso, de unt dos sitmicas, constituidas por wma alternineia de vogais, Tongans e breves, ou tonieas e toons. ") consideragio dessa realidade permite wma anise sito mais objetiva e precisa de ritmo, em contrapasicio 80 Itatamento aifgbico, sobre o qual repouss a teoria métrica dos ominticos ¢ dos parnasianos e, através deles, « que how ensinaram na escola. Geralmente, o ritmo part ws pamastano éfengao da tonieldade, purae simples, eno da eaientagao em waidades de tonicldade altemada. Nos fratadistas, verifica-se a mudanga mais recentemente, O portugues Amorim de Carvalho, muito tteigente, di real- Be andlise tice e & identificagio dos respectivos ses: fhentos, mas podemos dizer que foi conf Said Ali que se rv nna fase mals rigorosa, com a consideragso aio % apenas dos acentos nics, de modo geal mins dos ace irene pramaris e dos edd, detenninando 20 tease tgs quads dessins, que permite ie ails ‘itbice mate precton No verso de Baio da Cae: ‘Que combate desordenadamente reconhecianise duas dominantes, na terceima € na décisns, Com a conseqjiente divisdo do verso em duas partes (Que comBa je desordensdaMEN (1). se reconieeermos wi acento secuntlio na 6 flab, texe- thos tats segmentos, sem prejuizo do efeito real de confit ‘so na letra corrente: ‘Que comBA /te deSOR / dendaMEN (©) Sad Alt reconhece quatro Upos de unidades stmicas nos ‘yersos portngueses: = 1, Daa ton € wan len: — 8. Ui toni © uma dt“ 3, Du étonase uma tonics “A, Duns tnioas ew Stone: Para cle, portanto, ilo hé wnidades matores de ts siabas pottieas, pols quando isto parece ovorrer, interven! tha verdatle o acento secndario e cria uma subdivisto, ‘Cavalcanti Proenga, que explora muito bem nn adie sitmlcn os pontos de vista de Said Aly, combinando-o8 cos ts de Plus Servien, reconhece mats das unless 5. Uma tna e ets stoma: 9. Tits dtonas © ume tates: Satd Al, atendo-te ao fendmeno da alternfcia sitasi- ca das silabas, fo dd nome A sua combinagéo em unida- des; Proenca as chama "cElulas métricas". Um e outro de- znominam tals unldades eonforme as velhas apelagies gre- 8, notando que o fazem mum sentido aproximativo, sem (querer atribuir natureza quantitativa i nossa altemnincia si libica. Teremios entio os seguintes nomes para as unidades ‘dentifeadas: (na ordem) Jambo, troqucu, anapesto, dictlo,péon primo e péow quasto A andlise ritmica nos leva por vezes a identificar ou- ‘ras unidades, sendo conveniente indic-las, a despeito de sta rridade: “7. Vem ten entre das dtonas anfibaco; ~~ 8, Ue étona entre dua tees: anfimaces “9, Duas toneas:espondeus = Assim, no verso inicial de Os Lusiadas ‘As armas eos bates asinalados, pode-se ler wm Jambo inicial, mas eu prefiro ver all um Anfbrace. [Emborm nfo se tate de substitae wma “litra itm ‘1 por unidades” a uma “lettura por sflabas", pois no nosso ‘yersio as dias coisas se misturam intimamente, 0 certo & «qe esto do verso do pono de ists ds snidades rtm {is permite um Ambit maior de andi] Com efit It {armon ritmo bcontagem slabicn nfo feremos como an lisar 0 vero ls estanente a importinia « « eiicia deate mostra que ht wa wade tendo vere, que pera a sua redugto 8 contagem métiea A nossa poesia ‘modems conqustow o tm lire, cist represents wna rand dienidade~ tanto par o poeta, que pede 0 apoio te nineros reglaes, quanto para o estioso, que ho conta com os cédigos da verieasio tradicional Quando ‘Manuel Bandera proclamou o seu deseo de ear todos os ritmos, sobretuo os inumerivels, esta indian esta ‘ptr com om mimes regslare, qe exige do porta ma txtraordindra capacidadedeuasraiberdade quem asa poston a nossn por Magalies de Azeredo, versos de treze 0 czesueissflabas, buscando 0 ritmo de tipo quantitative, € fem geral decomponiveis em versos menores. Senos mantivermos numa aitude aferradamente mé ‘alea, ou slabiea, chegaremos a conclusio de Amorim de Carvalho, para o qual todos os versos de mais de cinco sfla- has sto compostos. Os versos de até quatro silabas seria ‘os verdadeimimente “elementares", aos quats se redvzriant ‘sempre 0s maiores. No entanto,s¢ adotarmos uma percep- io ritmica udequada, 0 nosso conceito se alargne aceitare- mos unidades muito malores, pols © ritmo tem funcio uniflcadora, como se vé em versos lives de vinte silabas. Dentro do ponto de vista silabico,talver todo verso port gues de mals de der sen sempre composto de dofs ou mais clementares. O de 11, por exemplo, existia nos cancione!- 0s como 0 "verso de arte maior"; mas 0 que os ronsinticos ‘tlizaram com abundancia obedecia w outro ritmo © no provém dele, mas de um verso italiano formado realmente pela solda de dois pentasslabos (ER 2,5, 8, 11), No entan- {0,0 seu ritmo tho forte ewnsficador, qv 86 por um esfoe= 9 de atencio poderemos fazer u divisio, levads que 60- smos pela vertigem do seu galope: [No meio das tabs de aenos verdes, (Gonsalves Dias) Poderfasnos ler do mesma modo No meio das taes De amenos verdores? Parece que nfo} seria mutilar 0 conceitoe desvirtuar Jinpeto sonoro a que o posta visou. AF temos um caso int Fessante de verso historicamtente composto e rtmlcamente omado 10, como os oss08 do exinio sao enumerados por nomes diversos ede fto separados embrotogieamente, con servando divisées visiveis noadulto, mas formam uma pega (0 alexandrino francts é um caso diferente, porque, vido a forte cesra na sexta sabe, que o divide em dois hhemistiquios, pode dar na nossa Kingua, em que € héspede recente, o ar de dols membros justapostos. Mas os bons lexandinos portugueses dilellmente se separam, como este 180 eagador de esmeraldas”, de Bile: emo Dias Pais Leme entrou pelo sero; Ferndo Dias Pais Leme Tntrou pelo sertio Acima de doze, a nidade, como vimos, se toma pre ria nos versos metrifiados, mesmo quando feitos por boa ilo ¢ com visvel tengo de unldade sttlca: ‘Quando as estrelas surgem na tare surg a esperanga ‘Toda alma triste no seu desgnsto soma um messlas: Quem sabe? O acaso, na sorte esquia, tz mudanga ence de munlos as exsténcia que er vias, (Blac, “Cantilenn”) (© pr6prio nome deste soneto em versos de 14 stabs indica intengio de um ritmo de embalo, que talvex se as- te melhor a metros menores, ¢ poderiamos imagini-lo de dduas mancias diferentes: (Quando as estes surge asd Surge a Esperanga. “Toda alma triste no sex dexgosto ‘Sona umn Mesias: (Quer sabe? 0 acaso, na sorte esqua, ‘Ta a mudanga Hench de mundos as existéncias ‘Que erm vasa Quando as estes Suegem na tarde ‘Sige m esperance. Tod alma teste ‘Quem se? 0 acaso Na-orteexauiva, “Taz a mudanga enche de mundos ‘As existdncias| ‘Que eram vans. Netricamente, ¢ sequindo, por exemplo, o ponto de vista de um Amorim de Carvalho, sera legitimo o desdobrx mento, emt qualquer dos dots casos: cada verso de 14 seria inal « dois de nove mais quatro, ou a tes de quatro, mais ‘quateo, mais quatro, Mas ritmicamente a divisio quebnaria Atwnldade de pensamento do poeta, que justamente quis tt nero amplo para uma sentenga ampla ~ eada verso de 14 ontendo ta conceito no, que justifca © ampara a unkda- de do ritmo, endo amparado por ela Isto se orna evidente {quando abandonanios metsiBeagio e entramos no dom tio do verto livre, cuja lel é wadesso do ritmo ao pensamen- oc viee-yersa, permitiado wma riqueza muito malor, embo- ‘comm menor souoridade. ‘Dada a cireunstnela de o ritmo ser (como vemos cada ver mais) « alma do verso, a sua let profunda ¢ principal = dado Isto, podemos compreender que o seu 80 pelos poe: tas € algo mais do que um capricho, ¢ que 0 seu estudo é mais do que ma sésie de mgas. O ritmo se liga profnda mente & seasibilidade do homem nas suas variagdes através ddo tempo ~ embora tenha uma intemporaidade essencial {que vem de sua ligasio com a propria pulsagao da vida“*O ‘Atma éelerno e sempre atual como. propria vida; a prosédi E que se liga ao tempo, ao espago, e & lingua” — como diz Heusler (apud Theophil Spoerri, “Der Rythmus des Romanisches Verses”, p. 198). Aqui, j& que nfio estamos izendo esta diferenga entre o ritmo como fendmeno essen- cial ea prosédia como conjunto de recursos usaco para ob- ter 0 ritmo, podemos dizer o que acima dissemos, ‘lobalizando; mas bom estabelecer a distingdo que Spoersi fiz, denominando reapectivamente ritmo ¢ meios de rlumtzagao (loe. cit) Cada escola teria, on cada periodo, escothem eaper- figoam os metros que mais Ihes convém, segundo os rit- mos adequados a esta aspiragio. Na iteratura clissica da nossa lingua, ocorrem em ordem de importincia como metros preferenciais: o decassilabo, 0 setissilabo, 0 hexassilato, Na romntica, o decassilabo, 0 setissiabo, 0 cenidecasstlabo tipo A, o encasstlabo lipo A, o hexassilabo. Na pamastana: 0 decasstlabo,o setisslabo, 0 hexassilabo, © endecasaabo tipo B e 0 eneassslaho tipo B. O decassilabo dos cléssions foi sobretado 0 2-6-10 00 418-10 reepectivamente “herdico” ¢ “sifico"! Aquele, mais tusado que este, © ambos nunca postos sucessivamerte en! ‘séries longus, mas misturados com outros, de modo a ctiat ‘avariedade tao cara hestética neocléssicne barroca, No sit ‘hatado ce Retérica eFoétca, Bre! Caneca, ao trata do sien, « ssinala a sua melodia acentuada e fla do perigo ext uso sem mistira com outros: tratava-se de um ritmo envolvente, ‘tue feria a relativa contengio da sensibilidade clssica, ra, tno século XVIII acorreu a valorizagio da sensibilidade pe- Jos proptios pensadores, ¢ ela delxou de ser uma espécte de zona repeal da alma, omando lugar ao lado da vontade © ‘da razdo, Bo que denotam a obra a influéncia de Rousseas, fo culto da atureza, da simplicida, da emogio = com re- pereussdes imediatas nos filsofos, como Kant, que consa- [pra 0 seu advento n0 estudo do espirito, Vemos entdo uma fudanca concomitante nos géneros e formas lterrias ~ Inclusive na escolls dos metros ¢ dos ritmos. Os italianos trazem a0 primeiro plano os esquemas cantantes © cenvolventes do eneassilabo A e do endecassslabo A, usan- ddo-o8 em estrofes isorvitmicas em arrepio aos preceitos. Na nossa lingua, Bocage comega a usar e abusar do sic, se ttuido pelos adiralores, como El6t Ottont Eos roma 0s, ferindo em cheto as reservas dos tratadistas e do gosto ‘anterior, chegaro a trai-to como se fosse igual aos sefer- dos eneassilabo e endecassilabo, com ele compondo poe- Ina inteiros em estrofes isorrtmicas. B que buscavam, com lung € outzos, o envolvimento da rao pela sensibilidade, ‘consonfineia A mudanga de concepebes que acompanox {tsgraes mudangassocais do sco XVII na sua paso gem parn o XIX. [Baste nico exemplo, que poderia ser repetido para ‘tios casos, mostra como o ritmo algo visceral em rela- ‘glo sensibilidade do homem, e no wm mero reeurso téc- fico, le espelha toda a inguictagto, as alteragies do espi- Fito e da sensibilidade, a concepeio do mundo, sofrendo Influéncias das transformagdes da arte ¢ do pensamento. asta lemra, uo enso dos metros preferdos pelos romn- loos, ovariter que melodia fol adqurindo no século XVIIE a8 influéncias que dela softeu. Relagio dos metros fmpie resdee 11 silabas como canto de melodrama setecentisty feito das drias de Gpera, ox independentes, no setssilabo 3-7; mais tarde, influéncia no emprego do siflco em estro- {es isoretmicns pela voga avassaladora da valea —danga r0- ‘manicn entre todas. Por isso, 0 ouvido experimentado dis- tingue imediatamente, num poema, a marca ritmica do pe- rfoda a que pertence: & nobreza meio seca dos decasstlabos hexGicos; 0 resvalar fugidio dos sificos e anapésticos ro- imiinticas, a solenidade plistica do decassilabo © do alexandrino parsanianos, Os rominticas franceses efetuaram uma certadesarti- ceulagio do alexandrino, no sentido de Ihe dar maior varie- dade e movimento, rompendo a simetria deal dos clissi- cos. Teenicamente, isto consist num deslocamento da ‘cesta na sexta silaba, © em ver de dimetros, obtiveram ‘timetios e tetsimetros, sendo necessirio lembrar, no en- ‘tanto, que mesino oalexanudrino clissico tem pausas que 0 ‘subdividem conforme tais esquemas, mas com menos nit dex, Muilas vere, persste x cesura virtual dividindo os dois bhemistiqaios, mas redivzia aleve pause, enquanto wcesura vverdadeira toma o lugar de uma das pausas do hemistiquio. (0s parnasianos levaram mais longe a experimentaciio ste sentido e foram imitados pelos seguidores bras os, como se pode ver num bom estudo em que Georges Le Gentil compara Heredia e Blac: Mas se levarino em conta que Bile &0 maior sonetista dese grupo e do su pats, ao fearemos fespaatados ante a preferénca que manfeston por Heredia Sendoa sua poesia, em contest conta be der do ambiente, uma afirmasio de vilidade ‘ombatva e rude, le io podera seo apreiar a fora dura, rutlant, metalin, Daa sua predieio influence panassienne na Brea” p. 37) E Le Gentil dé em nota os seguintes exemplos, com- paranda versos dos dois poetas: LAL Paitsous Phorsble pean qu Mote autour d’Hereule nn incertea atv da carota futur 2.10 Se tonne et voit dn oe larg par Inert Do Gam, ouvie do mar a voe bramante €rouea. 8.9 BLdds lows, du auogeéffrouché qu'l exible. Em Sagres. Ao tufio que se desencadela. 4.8 embrasse. Ta howl envelope lew groupe. impssvel, opordo wo mar o vuto enorme. 5-7 Mlgné les siteles, "homme et a foudre et le vent Bailha nas gus, eowo entre volts himidas 7S Cestheure Maunboyante of, pari once et herb. (go tem em Bio) 84 Dates, pouplos ctr, ss vont Laracus doe nt os troncos da brenka rst. O bandetante 9.3 Se fronce, heres de eins d'or. est Hercule. Entre o Liao eo Mar da Siri que camino, 202 Rejetaat tes cheveux en rete, tu pars, 6 tem uma raz ¢ um gozo 6 soles stag cesuras mostram como hé variedade posstvel ide ritmo na unidade do metro, B mostram, do ponto de vis- a que nos tnteressa agora, uma ceria inguietagéo rtmica {que bombardeia a simetria do alexandrino, tendendo a rom- per com iberdade a tirania da cesuen media. Pare Grammont, ‘in obra ital, o alexandrino francés tem idealmente qua: %0 {ro segmentos absolutamente uals, marcados pela cesunt por duas pausas que subdividem 0 hemistiquo: MI Hatearia da isocronia, do ritmo isoerbnlco, posto que ‘ada segmento leva teoricamente 0 mesmo tempo a ser pro rnunciado, Nao custa ver que cla corresponde wo desejo da simetsia que animou us ares €a literatura do Ocidente em ‘nuitos perfodos entre os sécnloe XV e XX, e que se reflete thas mancims, na arguitetsra, na pintsra, na divisio do flexandrine em dias partes Iguals de sels silabas, do Secassilabo das outras Iinguas romnicas em duas partes aproximadamente iguais de seis e quatro silabas, mas em tn ¢ outros com cesura obrigatGria na sexta para os casos padroes, Or, « sinetia fo primetso abalada e depots supe- ‘aula nas artes, a partir do fim do século XIX, com sinals precumores. Pars 0 caso do ritmo do verko, podemos ver que o ataque & cesura média comegou com 08 rominticos € prosseguittcrescente com os parnasianos; depois de se ter rompido a tendéncia clissiea para associar intimamente ‘metro € ritmo numa correlagio necesséria com unt maimo de variagio, acahou-se por romper com o proprio metro pelo aadvento do verso livre dos simbolistas ~ que procuraramt ‘mostra inclusive que o metro fixo era usério,e que miaio- ria dos alexandsinos, quando falados normalmente, conte nna verdade maior nGmero de silabas (rt. "Vers Li Shipley, Dictionary). Assim, em Tugar da simetra, adoton se (1) a irreqularidade, (2) 6 contrast, (8) a dissontncla, O processo de alteracio rtmica se tomou patente com ‘8 oposigio do verso musical do Simbolismo, em sun busca de matizes fugidios e imponderiveis, ao verso escultural € ‘martelado dos pamasianos. Bra pelo tempo em que a “me- Toda inflnita” de Wagner comegava a atuar na sensibilidade cena técnica siusical, com alteragio dos intervalos e tentativa de desritmizar a mésica. Do 3" Ato de Thistdo © Isola nasce o flete que dari o Tmpressionismo, depois 0 ‘Alonalismo, com a raptura do compasso, eda relagio tal tedominante. Desenvolvem-se as priticas da. dissonfincia fede sincopa, que seriam estruturadas pela Dodecafonia © hoje pela misiea eletxOnlea. A sensibilidade de um mundo ‘convulsionado aceita os esquemas assimétrcos na pintura, fa literatura ena misien a difusio do jazz generallza pelas Classes da sociedade ocidental um ritmo “orquestral” reintrontzado em (unto, e iolentasincopa. E assim como a misiea procure fagir& tirana da do- mina edo.compasso, porsia procura abandonar o metro, tomantdo-se o verso “inumerivel” (como a miisica “infini- ta"), aderindo a idéia, abandonando a simetriasilabica, O verso livre dos simbolistas, que era freqientemente “verso Iihertado”, sofre novas transformagdes; subverte as poéti- fats tradiclonsis, permite cortes bruscos, redugoes inespe- radas e prolongaaeatos infindos. (© metro, portanto, ceders lugar ao ritmo, De tal todo que em nossos dias, na nossa literatura, quando ee voltow to desejo de regularidade allébicn esta se fer nfo apenns em tnoldes mais ou menos tradicionals, embora transformados (como se vé bem na obra de Manuel Bandetra), mas segue flo rumos novos, Na obra de Joto Cabral de Melo Neto, por texemplo, vemos uma espécte de reedueagio do metro pelo ritmo, ao contririo do que antes se dava. Criador de unida- les, este ndo obedece mals njungio de um exrto mimero previsto de esquenas pars cada metro. Ele estabelece a va- Hedaule relativa do metro para a unidade do ritmo, como se ‘yéno uso de setessilabos eactassilabos altematis de Jobo a ron C90 Cabral e do Gltimo Musilo Mendes. Ou, neste, asos ainda mais Irregulares com sensagio de unidade. Surge wi nls verso formal de extrema liberdade, no qual 0s ritmos se ‘constroem & yontade, ese esbate ou anula a nogao de melo- ‘dia do verso, Depois de séculos, 0 metzo se abalon realmen- te, mostrando que néo ¢ intangivel, nem eondigio do verso, ‘enquantoo ritmo se revelavao suporte real deste, triunfan- do pela liberdade, Dai a necessidade de considerarmos, etualmente, 0 cestudo do ritmo de prefertneia a0 dos metros; nfo apenas porque grande parte da poesia moderna € sitmlca e no métrica, mas para encararmos a poesia metrificada como la realmente €: um efeite do ritmo vasiado na unidade do tuetzo; e no de won metro falsamente soberano que eris © Gisige otto, O metro dé ao ritmo Iiitese apoio, para que ‘le erie a modiulagao expressiva do verso. Daf entendermos, tuverdade da afirmagio de Spoersi: “O ritmo nada nrais €do ‘que 0 movimento da alma elevado & consciéncia” (op. cit. $. 10). em plano mais concreto:“Pode-se dizer, num sen: ldo de insuspeitada profimdidade, que o ritmo € 0 alento resplatGrioe a pulsogio cardiaca da poesia® (op. ci, p. 212).

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