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Bolivarianismo
Bolivarianismo
bolivarianismo é uma ideologia radical de esquerda que se baseia nas idéias do militar e político Simón Bolívar. Em seu uso contemporâneo, geralmente
faz referência, entre outros aspectos, a sua concepção de justiça social. Considera-se atualmente que esta ideologia esteja bastante difundida por toda
Aqueles que se fazem chamar bolivarianos dizem seguir a ideologia expressa por Simón Bolívar nos documentos da Carta de Jamaica, o Discurso de
Angostura e o Manifesto de Cartágena, entre outros documentos. Entre suas idéias estão a promoção da educação pública gratuita e obrigatória e o repudio à
intromissão estrangeira nas nações americanas e à dominação econômica. Propõe, principalmente, a união dos países latino-americanos.
Atualmente a ideologia bolivariana tem entre seus seguidores o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que, desde que começou na presidência da república,
se autodenominou bolivariano e seguidor das idéias de Bolívar. Entre suas ações inspiradas na dita ideologia estão a mudança da Constituição da Venezuela
de 1961 na chamada Constituição Bolivariana de 1999, que mudou o nome do Estado para República Bolivariana da Venezuela, e outros atos como a criação
e promoção de escolas e universidades com o adjetivo bolivariana, como o são as Escolas Bolivarianas e a Universidade Bolivariana da Venezuela. Todas
estas políticas que estão sendo levadas a cabo na Venezuela se enquadram no que se denominou Revolução Bolivariana. A partir de 2005, começou-se a
utilizar, além disso, o conceito de Socialismo do Século XXI e a definir o caráter socialista da Revolução Bolivariana na Venezuela.
O grupo insurgente colombiano Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, nos últimos anos, tem anunciado que se consideram inspirados nas idéias de
Simón Bolívar, e tem expressado sua simpatia ao presidente venezuelano e à chamada Revolução Bolivariana. O presidente Hugo Chávez, em diversas
ocasiões, rechaçou as acusações de que apoia os ditos grupos armados, e tem apelado para que eles deponham as armas e se alcance a paz na Colômbia.
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O que é o Bolivarianismo
Bolivarianismo é em linhas gerais a doutrina que prega a união dos países da América Latina e do Caribe, pois
considera que existem laços históricos e culturais entre os povos da região e várias razões de ordem política para essa
integração. Uma delas seria o fato de que a divisão da América Latina a torna presa fácil do imperialismo e do
neocolonialismo, e que a integração não só possibilitaria a reafirmação da liberdade e independência dos latino-
americanos, como propiciaria condições muito maiores para o desenvolvimento e progresso da região. O processo de
integração se daria de várias maneiras: no plano político, econômico, mas acima de tudo buscando uma aproximação
direta entre os povos.
Antecedentes
As origens do movimento podem ser traçadas desde as primeiras rebeliões indígenas decorrentes da conquista
espanhola e portuguesa. A brutalidade com que eram tratados levou os povos submetidos a desenvolver um senso de
unidade para resistir à tirania e opressão, pois mesmo pertencendo a diferentes povos e culturas o tirano que os
escravizava era um só: a metrópole colonial, seja através de seus representantes seja através da odiada
aristocracia criolla. Foram incontáveis as rebeliões de índios e escravos africanos durante o período colonial, porém a
maior delas foi a de Tupac Amaru entre 1780 e 1783, que sacudiu o Peru e Alto Peru (atual Bolívia), então entre as
regiões mais ricas do império espanhol.
Com o Iluminismo e a Revolução Francesa, ganharam força entre a oligarquia criolla as idéias de independência da
América Latina, e o precursor das idéias bolivarianas – Francisco de Miranda – foi ele próprio comandante em chefe do
exército francês na Bélgica durante a Revolução. Nascido em Caracas, de família aristocrática basca, propôs pela
primeira vez que todo o território entre a margem ocidental do Mississípi e o Cabo Horn se tornasse um país
independente e unido, governado por um mandatário denominado Inca, em homenagem aos antigos imperadores
andinos.
Retornou à então capitania-geral da Venezuela com o objetivo de comandar a revolução libertadora, mas acabou
derrotado e preso. Foi sucedido no comando do movimento emancipador por Bolívar – outro membro da aristocracia
criolla, também de origem basca, profundamente imbuído de ideais iluministas e românticos – assistiu em Paris à
coroação de Napoleão Bonaparte. A guerra de independência durou vários anos e foi especialmente sangrenta,
deixando a Venezuela quase despovoada.
O início do bolivarianismo
Foram convidados todos os países livres hispano-americanos mais o Império do Brasil e os Estados Unidos, esse
último com direito a participar de apenas determinados debates. Também foram convidados a enviar observadores a
Holanda e a Grã-Bretanha. Compareceram ao Congresso representantes do México, América Central, Grande
Colômbia, Peru, EUA, Grã-Bretanha e Holanda. Argentina, Bolívia, Brasil e Chile não enviaram delegados.
Entre as decisões do Congresso: a formação de uma liga, união e confederação perpétua entre os países hispano-
americanos participantes; a criação de um exército e marinha comuns; a concessão de cidadania comum aos
habitantes das nações contratantes; o repúdio ao tráfico de escravos; e a realização de novo congresso alguns meses
depois, em Tacubaya (México). O Congresso de Tacubaya não foi realizado, e os tratados firmados não chegaram a
entrar em vigor. Com a dissolução da Grande Colômbia, em 1830, o projeto de Bolívar viu-se seriamente abalado. O
Libertador morreu de tuberculose e de desgosto no mesmo ano.
Nos anos seguintes, o projeto de Bolívar foi solapado pela crescente divisão e desunião da América Latina, por obra
tanto das elites locais sedentas de poder, quanto dos Estados Unidos e das potências européias, fiéis à máxima “dividir
para governar”. O México, então o país mais populoso e rico da América Latina, foi invadido pelos EUA, que lhe
tomaram metade de seu território; a América Central se fragmentou; o Paraguai foi arrasado pela Tríplice Aliança; o
Chile tomou da Bolívia o seu acesso ao mar.
A volta do bolivarianismo
Contudo, a idéia de uma identidade comum da América Latina nunca deixou de ter força, especialmente entre
pensadores, escritores e revolucionários, como Martí e Sandino; durante todo esse período, houve várias tentativas de
aproximação em nível regional. Porém, a grande retomada dos ideais bolivarianos ocorreu a partir de 1959, com o
triunfo da Revolução cubana. Voltou-se a falar em uma maior integração como forma de resistência ao imperialismo;
surgiram movimentos guerrilheiros diretamente inspirados no exemplo cubano em quase todos os países latino-
americanos.
Em 1998 foi eleito Hugo Chávez na Venezuela, que tem como principal item de sua política exterior a construção de
uma União Latino-Americana e que é atualmente o principal divulgador das idéias bolivarianas e integracionistas. O
avanço a passos largos da integração na Europa e no Extremo Oriente reforça a urgência por iniciativas desse tipo na
América Latina, que ademais é muito mais homogênea que esses 2 grandes blocos e portanto tem condições muito
maiores para uma plena integração.
Hoje, o movimento bolivariano tem a característica notável de vir das bases, de movimentos populares como o MST, o
MAS da Bolívia, os piqueteiros argentinos, os Círculos Bolivarianos, etc. Como disse Evo Morales do MAS “Ser
bolivariano para mim é responder a um movimento latino-americano de libertação, tomando os princípios, os
mandamentos de Bolívar e incorporando a luta indígena, o tema da identidade. Recuperar as formas de vivência em
coletividade, em comunidade, essas formas de vivência em harmonia com a natureza”.
Fidel Castro
Ser bolivariano hoje é: lutar pela união da América Latina, contra o imperialismo, pela autodeterminação dos povos,
pela solidariedade, pela valorização de nossas raízes indígenas e africanas.
Fonte: www.unidadepopular.org.br
O Bolivarismo
Texto Rodrigo Cavalcante
1. O que é isso?
É um movimento político libertário da América Latina inspirado nas ações do militar venezuelano Simón Bolívar (1783-1830), que liderou as guerras de independência
contra o domínio espanhol em várias nações da América do Sul: Venezuela, Colômbia, Panamá, Equador, Peru e Bolívia (nomeada em homenagem a ele).
2. O que prega?
Bolívar sonhava em transformar os países da América Latina em uma confederação de nações livres, unidas entre si por um corpo de leis em comum para tratar de política
externa. Resumidamente, uma espécie de Estados Unidos da América do Sul. O mais próximo que ele chegou disso foi a fundação da Grande Colômbia, país que durou de
1819 a 1830 e abarcava a Venezuela, o Panamá, o Equador e a Colômbia atuais, além de territórios que hoje pertencem ao Brasil, à Costa Rica, ao Peru e à Guiana.
3. O que hugo Chávez tem a ver com simôn Bolívar?
Além da retórica, Chávez também é venezuelano, militar e quer uma América Latina “independente do domínio dos EUA”. E, assim como o governo de Bolívar na Grande
Colômbia descambou para o autoritarismo, o governo de Chávez tem grandes chances de ter o mesmo fim.
érica Independente
O Pan-Americanismo
1. ORIGENS
Diversos autores procuram demonstrar que desde o século XVIII surgiram precursores dos ideais pan-americanos, citando-se como um dos pioneiros o Padre
Alexandre de Gusmão, brasileiro que servia na corte de D. João I de Portugal, e um dos responsáveis pela elaboração do Tratado de Madri (1750).
``É certo que o Tratado de Madri fala em `paz perpétua` entre as duas Coroas, mas este compromisso de paz entre potências traduz apenas a promessa de não
disputar, nem uma nem outra, pedaço do bolo que já haviam dividido entre si.
Nada tem a ver um tratado dessa espécie com a doutrina muito mais tarde nascida, e que procurava firmar um princípio de não intervenção estrangeira, de
cooperação, de paz e harmonia entre Estados já constituídos. " (SOUZA GOMES, L., América Latina, SeusAspectos, Sua História, SeusProblemas, Fundação Getúlio
Vargas, p. 253.)
Aponta-se também o peruano Plabo Olavide que, influenciado pelas idéias do Iluminismo, organizou em Madri a Junta das Cidades e Províncias da América Meridional,
sociedade secreta destinada a estimular a independéncia da América (1795). Ainda que considerasse a emancipação do Novo Mundo como um empreendimento a ser
realizado em conjunto pelas sociedades americanas, Olavide tinha uma visão muito estreita de união pan-americana: ficava restrita apenas às sociedades da América
do Sul.
No século XIX, em meio ao processo de emancipação da América Espanhola, outras manifestações de ideais pan-americanos evidenciaram-se através de projetos
formulados por representantes da elite hispano-americana. Juan Martínez de Rosas, integrante da Primeira Junta Governativa e autor da Declaração dos Direitos do
Povo Chileno, defendeu o princípio de solidariedade entre o Chile e as demais sociedades hispano-americanas e a necessidade de unir todos os povos americanos em
uma confederação a fim de garantir a independência contra os planos da Europa e de evitar conflitos inieramericanos. Esses princípios igualmente foram sustentados
por Bernardo O`Higgins que assumiu a liderança da luta pela independência do Chile.
Jose de San Martín e o Coronel Bernaldo Monteagudo, argentinos que participaram das guerras de libertação do seu país, do Chile e do Peru, expuseram a idéia de
realizar um congresso pan-americano para melhor resistir a eventuais ameaças da Espanha contra suas colônias que se emancipavam. "Antes (...) já Francisco Miranda
(...) antevira a solidariedade continental, quando apresentou ao gabinete inglês, em 1790, o plano para libertar a América da tutela espanhola (...) Miranda estabelecia
uma América única, geográfica e administrativa, um vasto Estado comum, do Mississipi ao Cabo Horn Vemos então que os pronunciamentos no sentido de estabelecer
a união entre as sociedades amencanas ganharam maior expressão durante a luta pela independência das colônias européias no Novo Mundo. Foi tanto a necessidade
de defesa contra a ameaça representadapela Europa assim como as raízes históricas e geográficas ccmuns que forjaram o ideal pan-americano, o qual deve ser
entendido como um movimento de solidariedade continental a fim de manter a paz nas Américas, preservar a independência dos Estados amnericanos e estimular seu
inter-relacionamento.
O projeto de solidariedade continental, no entanto, foi desenvolvido sob duasmodalidades distintas: o Bolivarismo e o Monroísno.
2. O BOLIVARISMO
O Bolivarismo representa a visão pan-americana concebida por Simon Bolívar (1783-1830), venezuelano que dirigiu a luta pela independência da Venezuela, Colômbia,
Peru, Bolívia e Equador.
Em vários escritos (cartas e proclamações) defendeu a necessidade de união face à possível contra-ofensiva da Espanha, apoiada pela Santa Aliança.
Essa idéia de união das sociedades americanas, Bolívar apresentara antes mesmo da Carta da Jamaica. ``A sua exposição prática já é perceptível em um artigo que
Bolívar escreveu para o Morning Chronicle, de Londres (5 de setembro de 1810), dizendo que se os venezuelanos fossem obrigados a declarar guerra à Espanha
convidariam todos os povos da América a eles se unirem em uma ccnfederação. O plano surge novamente no Manifesto de Cartagena, escrito por Bolívar em 1812, e
mais claramente em 1814, quando, como libertador da Venezuela, enviou a circular que condicionou a liberdade dos novos Estados ao que ele chamou de `união de
toda a América do Sul em um único corpo político` (...) E, em 1818, respondendo à mensagem de saudação, enviada a Angostura pelo director argentino, Pueyrredón,
declarava que, tão logo a guerra de independência estivesse terminada, procuraria formar um pacto americano, e esperava que as Províncias do Rio da Prata se
unissem a ele."
Simon Bolívar
Na prática, criou a Grã-Colômbia (1819), de duração efêmera; em 1830, no mesmo ano após a morte do criador, terminou a Grã-Colômbia, fragmentada em três
Estados; Venezuela, Equador e Colômbia, à qual se integrava o Panamá. Seus esforços no sentido de unir o Peru e a Bolívia foram infrutíferos diante da resistência
oposta pelo prufundo regionalismo daquelas sociedades sul-americanas.
Entretanto, Bolívar não desanimou de lutar pela fraternidade pan-americana e, em dezembro de 1824, enviou nota-circular aos govemos americanos convidando-os a
se reunir para organizar uma confederação.
Quase dois anos depois reuniu-se o Congresso do Panamá, com sessões entre 22 de junho e 15 de julho de 1826. Nesta data, aprovou-se a continuação das discussões
em Tacubaya, no México, mas a decisão não foi cumprida.
Considerado por diversos historiadores como a primeira grande manifetação do Pan-Americanismo, o Congresso do Panamá aprovou:
Ao Congresso compareceram apenas os representantes da Grã-Colômbia, Peru, México e Províncias Unidas de Centro-América. Os EUA também enviaram
observadores. O Congresso do Panamá, manifestação concreta de solidariedade continental, contudo, acabou sendo um fracasso, para isso contribuindo:
a resistência dos EUA que pretendiam expandir-se pelas Antilhas e temiam a difusão de movimentos de abolição da escravidão;
a opusição do Brasil, cuja Monarquia era contrária a regimes republicanos e temia a propagação das idéias anti-escravistas; D. Pedro I chegou inclusive a enviar a
Missão Santo Amaro à Europa com a incumbência de negociar com Metternich, Primeiro-Ministro da Austria e verdadeiro dirigente da Santa Aliança, o uso de forças
militares brasileiras para substituir os governos republicanos americanos por Monarquias confiadas a Príncipes europeus;as manobras da Inglaterra, não só porque
George Canning, Ministro das Relações Exteriores, não tinha interesse na organização de uma América forte e coesa, como também porque temia a formação de um
sistema americano sob a direção dos EUA, o que poderia criar problemas à expansão econômica inglesa;
não terem sido ratificadas, posteriormente, as decisões tonladas.
Os ideais do Pan-Americanismo bolivarista, porém, ccntinuaram vivos, e novos congressos foram reunidos para discutir assuntos diversos dentro do espírito
desolidariedade continental. Dessas reuniões o Brasil e os EUA foram excluídos: os Estados Unidos, por causa de seu expansionismo territorial, envolvendo inclusive a
anexação de terras mexicanas, e o Brasil; devido a suas constantes intervenções no Prata, políticas essas contrárias à solidariedade continental.
Com representantes da Bolívia, Chile, Peru, Equador e Colômbia reuniu-se a Conferência de Lima (1847). "Nela foram tratados princípios do Direito
americano,intervenção, agressão, reparações, limites, como também dispositivos práticos sobrecomércio, navegação fluvial, serviços postais e consular, extradição.
Em 1856, celebrou-se a Conferência de Santiago, quando o Peru, o Chile e o Equador firrnaram o compromisso de estabelecer a união da ``grande família
americana``. No mesmo ano, Chile e Argentina concluíram acordo comercial estabelecendo o fim das barreiras alfandegárias entre os dois países; a chamada
"cordilheira livre" funcionou até 1868, quando foi suprimida, uma vez que o govemo chileno pretendeu estender aos produtos importados de outras nações os
privilégios concedidos apenas aos produtos argentinos e chilenos.
Por iniciativa peruana reuniu-se a Segunda Conferência de Lima (1864), a fim de estabelecer uma confederação de caráter defensivo. Peru, Bolívia, Chile, Colômbia,
Equador, Guatemala, Argentina e Venezuela concordaram em organizar umaconfederação, pois se sentiam ameaçados pelas freqüentes intervenções estrangeiras que
se processavam no continente e constituíam um perigo à segurança dos Estados americanos.
Assim é que, em 1855, o aventureiro norte-americano William Walker invadiu e conquistou a Nicarágua; em 1861, a Espanha ocupou São Domingos e estabeleceu seu
protetorado até 1865; em 1861-1862, Espanha, França e Inglaterra desembarcaram tropas na República Mexicana, onde Napoleão III instaurou a efêmera Monarquia
de Maximiliano de Habsburgo (1863-1867); em 1864, uma esquadra espanhola ocupara as ilhas peruanas de Chinchas, em incidente que acabou levando ao conflito do
Peru e Chile contra a antiga metrópole (1866). "O Império Brasileiro evitou a reunião de Lima, para não ver discutida a sua política no Prata. Na Câmara brasileira,
entretanto, foi mais tarde criticada a nossa ausência (...) Dos tratados assinados (...) nenhum chegou a ser integralmente aplicado (...) Ao espírito primitivo de
regionalismo, sucedia um sentimento de nacionalismo."
Animados de sentimentos pan-americanos bolivaristas, outros congressos reuniram juristas sul-americanos: Lima (1874), Caracas (1883) e Montevidéu (1888). Em
Montevidéu chegou a se projetar um Código Interamericano, incluíndo questõescomuns do Direito Intemacional e Privado.
Desse modo, apesar dos fracassos occrridos, os ideais do Pan-Americanismo bolivarista lançaram as bases da solidariedade continental assentada em posição de
igualdade entre todos os Estados.
3. O MONROÍSMO
O Monroísmo representa a visão norte-americana do Pan-Americanismo, bem distinta do Bolivarismo e fundada no predomínio dos EUA sobre os demais Estados
americanos.Sua primeira manifestação foi a Mensagem Presidencial de James Monroe enviada ao Congresso dos EÚA (1823). Nela, Monroe negava aos europeús o
direito de intervençâo no ccntinente americano, seja para criar áreas de colonização, seja parasuprimir a independência recém-ccnquistada pela maioria dos Estados
arnericanos.
A análise do documento evidencia que os Estados Unidos opunham-se à Europa da Santa Aliança:
1°) devido à preocupação norte-americana com a sua própria segurança, uma vez que a política da Santa Aliança, marcada por intervenções armadas, visava a
presérvar as instituições monárquicas e ccmbater os regimes republicanos; ora, precisamente em 1823 occrrera a intervenção francesa (determinada no Congoesso de
Verona, de 1822) na Espanha, onde foram restaurados os poderes monárquiccs de FernandoVII, a qual poderia se desdobrar em intervenção nas Repúblicas da
América;
2°) devido aos projetos territoriais expansionistos dos EUA, que pretendiam avançar suas fronteiras até o litoral do Pacífico. Esses objetivos contrariavam interesses
ingleses no noroeste da América, pois norte-americanos e britânicos disputavam o domínio do Oregon. Por isso, John Quincy Adams, Secretário de Estado, havia
aconselhado o Presidente Monroe a rejeitar as propostas de George Canning, Ministro inglês, no sentido de Estados Unidos e Inglaterra formularem uma nota conjunta
opondo-se à política de intervenção da Santa Aliança: "Deve ser mais simples (...) do que surgirmos como um simples escaler na esteira de um poderoso navio de
guerra inglês." Além do mais, o govemo de Washington preocupava-se com o avanço da Rússia: em documento de setembro de 1821, o Czar Alexandre I afirmara
direitos russos sobre terras e águas do noroéste da Àmérica Setentrional, desde o Alasca até a Califómia. Impunha-se, então, aos dirigentes norte-americanos impedir
a ampliação do colonialismo europeu por territórios do Novo Mundo;
3°) devido ao interesse norte-americano em garantir um comércio livre com paísesindependentes. A inter-relação da economia com a política torna-se evidente ao
constatarmos que o govemo dos EUA foi dos primeiros a estabeleoer relações diplomáticas com os novos Estados surgidos com a conquista da independência.
Desse modo, a Mensagem de Monroe representou antes de mais nada "a expansão de uma política nacional cuja aplicação cabia unicamente ao govemo dos Estados
Unidos. Além disso, a atitude e as palavras de Monroe não continham qualquer garantia que livrasse os demais povos americanos das agressões ou intervenções dos
Estados Unidos. Isto viu-se efetivamente quando nos anos de 1824 a 1826 a diplomacia dos Estados Unidos expressou suas ambições sobre Cuba (...) Os Estados
Unidos opunham-se a que as Antilhas espanholas fossem tomadas independentes pela ação da Colômbia e México, cujos governos pretendiam realizar uma expedição
emancipadora. O temor da anexação de Cuba ao México, ou a alguma das Repúblicas libertadoras, não era menor que o de uma independência precária, com ameaça
de intervenção européia".
A Doutrina Monroe, usualmente resumida na expressão "América para os americanos``, na realidade atendeu apenas aos interesses norteamericanos. Não houve
solidariedade continental quando os dirigentes estadunidenses opuseram-se ao projeto de união americana no Congresso do Panamá, nem quando o, nem quando o
Tratado Guadalupe-Hidalgo (1848) assegurou-lhes a Califórnia, Novo México, Arizona, Utah, Nevada e Texas que foram tomados ao México após vitoriosa campanha
militar. Muito menos houve solidariedade continental quando o Tratado Clayton-Bulwer (1850), assinado com a Inglaterra, fixou as respectivas áreas de influência das
duas sociedades e os EUA assumiram o compromisso de não empreender sem os ingleses a construção de um canal na América Central.
Já ao findar o século XIX, quando o capitalismo e a industrialização norte-americana conheceram acelerado desenvolvimento, nova manifestação do Monroísmo ocorreu
graças aos esforços de James Blaine, Secretário de Estado dos EUA.
Reuniram-se, então, em Washington, 18 países americanos entre outubro de1889 e abril de 1890, na Primeira Conferência Internacional Americana, cujas decisões
mais importantes foram:
- condenar a guerra e afirmar a nulidade de cessões territoriais decorrentes de operações de conquista ou sob ameaça de guerra;
- aprovar o recurso ao arbitramento para solução de eventuais divergências interamericanas;
- recomendar a construção d uma ferrovia intercontinental para melhor relacionamento entre os povos americanos;
- aprovar a criação de um órgão coordenador das relações comerciais. "Esse organismo foi a União Pan~Americana, iniciada sob a denominação de Escritório Comercial
das Repúblicas Americanas, com sede em Washington e mantida pelos recursos proporcionados pelos Estados-membros." Nessa conferência, os norte-americanos
procuraram aprovar uma reunião aduaneira continental. Era o Destino Manifesto em sua segunda etapa econômica - a primeira fora territorial e custara ao México a
perda da metade de suas terras - visando a ampliar a expansãn econômica dos EUA, altamente industrializados, na América Latina, agrária e tradicional consumidora
de produtos industriais europeus. O projeto fracassou devido sobretudo à resistência do delegado da Argentina, Roque Sáenz-Peña.
"Essa Assembléia seria o início de uma série de outras que, com o andar dos tempos, alteraria o conceito de solidariedade continental, partindo para um instrumento
que é hoje a Organização dos Estados Americanos, a OEA, com poderes amplos, que incluem a intervenção nos Estados-membros, a ajuda ou cooperação técnica, a
ordem continental, o incentivo ao desenvolvimento. ncerrada a Assembléia, ia experimentar-se a primeira prova de seu êxito: o caso de Cuba."
O Big-Stick ia começar a funcionar para assegurar, não a união, mas o predomínio dos EUA sobre a América Latina.
http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=39
Marx tinha clareza do papel de classe desempenhado por Bolívar nestas lutas,
mostrando-o como um típico representante de setores da tradicional burguesia
criolla local: "Bolívar y Ponte, Simon, o ‘Libertador' da Colômbia nasceu...
em Caracas (...) Descendia de uma das famílias mantuanas, que, na época da
dominação espanhola, constituíam a nobreza criolla na Venezuela".
Para Marx, Bolívar, ao final dos conflitos anticastelhanos, com a vitória dos
exércitos nacionalistas, foi transformado em um falso símbolo de toda a luta
antiimperialista latino-americana, fundando, o assim chamado "bolivarismo",
o qual consiste basicamente em proclamar a libertação nacional dos povos
oprimidos contra o imperialismo sem, no entanto, alterar fundamentalmente as
relações entre as classes sociais, quer dizer, sem alterar a estrutura sócio-
econômica.
A emancipação dos negros escravos realizada por Bolívar, por exemplo, não
estava relacionada a uma suposta consciência humanista do "herói", mas ao
medo instalado na burguesia criolla de uma possível revolução popular, após a
independência, contra a própria classe dominante local. Para evitar tal suposta
revolta popular, Bolívar inventou uma solução bastante original e que, por
obra do destino, ficou registrada pelo punho do próprio "Libertador" numa
carta endereçada a seu principal general, Santander, em 20 de abril de 1820.
Nesta carta, Bolívar esclarece que a liberdade concedida aos negros que se
alistassem no exército nacional não estaria ligada à necessidade de aumento
do efetivo do exército, mas estaria sim diretamente ligada à necessidade de
diminuição de seu perigoso número, ou, em outras palavras, do perigo de uma
possível "Haitiização" revolucionária de todo o continente. O recrutamento
dos negros às fileiras do seu exército servia assim para eliminá-los em
combate.
"Salvo engano - continua ele - isto não é declarar a liberdade dos escravos e
sim usar a faculdade que me dá a lei (...) Não será útil que estes adquiram seus
diretos no campo de batalha e que diminua seu perigoso número por um meio
poderoso e legítimo?" (In: Bolívar. Bellotto & Correa. SP: Ática, 1983, p.50).
Enfim, Marx tinha tão pouca admiração por Bolívar que o acusa de ser uma
paródia de Napoleão Bonaparte, um novo Bonaparte na América. Talvez até, a
paródia da paródia da paródia: o compara ao ditador golpista do Haiti,
Soulouque, que já era a caricatura de Luis Napoleão III da França, o
Bonaparte paródia do Bonaparte I. Como escreveu, em Herr Vogt: "A força
criadora de mitos, característica da fantasia popular, em todas as épocas tem
provado sua eficácia inventando grandes homens. O exemplo mais notável
deste tipo é sem dúvida Simon Bolívar". E Marx, em carta de 14/02/1858,
comenta com Engels: "Teria sido passar dos limites querer apresentar
Napoleão I como o canalha dos mais covardes, brutal e miserável. Bolívar é o
verdadeiro Soulouque".
Hugo Chávez: o Bolívar do século XXI
No entanto, mesmo o caráter covarde, traidor e mentiroso, etc, com que Marx
pintou a figura de Bolívar, parece não ter sido suficiente para que, no século
XX, a dita esquerda "marxista" latino-americana abandonasse de vez por todas
a idolatria a este pseudo-herói. Ao contrário, essa esquerda o transformou em
uma referência para a classe trabalhadora latino-americana, passando a
inventar o "Bolivarismo" como um símbolo de toda uma suposta luta
antiimperialista latino-americana.
Como dissemos acima, neste início do século XXI, o exemplo mais claro de
sobrevivência e ressurgimento do Bolivarismo Bonapartista latino-americano
está representado na figura do Coronel Hugo Chávez, presidente da
Venezuela. Chávez, militar de carreira, protagonizou um golpe militar
fracassado na Venezuela em 1992, sendo preso e libertado dois anos depois.
Em 1998 foi eleito, pelo voto direto, presidente da República. Em 1999 criou
uma nova Constituição mudando o nome do país para "República Bolivariana
da Venezuela"
Desde então, ano após ano, Chávez vem aumentando seu poder. Em 2005,
graças ao boicote às eleições promovido pelos partidos de oposição, ganhou a
maioria total na Assembléia Nacional. Agora, reeleito presidente em 2006,
com 63 % dos votos, apesar de seu controle de 100% do Parlamento, aprovou
no último dia 31 de janeiro a chamada "Lei Habilitante" que lhe concede
poderes extraordinários, incluindo o direito de governar por decretos durante
18 meses. Várias vezes, já ameaçou a oposição com uma reforma
constitucional que lhe permitiria infinitas reeleições, se perpetuando no poder
de forma vitalícia.
Ao ser eleito pela primeira vez em 1998, Chávez prometeu acabar com a
miséria que assola a maioria absoluta do povo venezuelano. Não obstante, de
lá para cá, os pauperizados diminuíram somente de forma relativa no país: a
pobreza, em geral, diminuiu de 49,9% da população em 1999 para 37,1% em
2005, e a chamada miséria absoluta passou de 21,7% para 15,9%. No entanto,
esta mudança se deve à implementação de programas assistencialistas
promovidos por Chavez nestes últimos anos e não a um aumento significativo
da renda dos trabalhadores. De fato, os níveis de desemprego em 2005 são
maiores do que quando assumiu o governo em fevereiro de 1999 (11,3% em
1999 contra 12,4% em 2005). De qualquer forma, pelo menos 53% da
população total do país continua vivendo ou na pobreza ou na miséria absoluta
(os dados são da CEPAL—Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe).
Para termos uma idéia mais clara do compromisso de Chávez tanto com a
burguesia imperialista quanto com parte de uma nova burguesia criolla
nacional, basta darmos uma olhada nas cifras pagas aos credores financeiros
pelos governos que o precederam e as posteriores. Entre 1990 e 1998, por
exemplo, o Estado venezuelano pagou 4.863.869 milhões de bolívares em
juros da dívida pública. Esta cifra paga ao longo de 9 anos é igual à cifra paga
por Chávez em apenas em um único ano (CEPAL).
http://www.wsws.org/pt/2007/feb2007/po5-f17.shtml