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bolivarianismo é uma ideologia radical de esquerda que se baseia nas idéias do militar e político Simón Bolívar. Em seu uso contemporâneo, geralmente

faz referência, entre outros aspectos, a sua concepção de justiça social. Considera-se atualmente que esta ideologia esteja bastante difundida por toda

aAmérica Latina, principalmente na região andina.

Aqueles que se fazem chamar bolivarianos dizem seguir a ideologia expressa por Simón Bolívar nos documentos da Carta de Jamaica, o Discurso de

Angostura e o Manifesto de Cartágena, entre outros documentos. Entre suas idéias estão a promoção da educação pública gratuita e obrigatória e o repudio à

intromissão estrangeira nas nações americanas e à dominação econômica. Propõe, principalmente, a união dos países latino-americanos.

Atualmente a ideologia bolivariana tem entre seus seguidores o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que, desde que começou na presidência da república,

se autodenominou bolivariano e seguidor das idéias de Bolívar. Entre suas ações inspiradas na dita ideologia estão a mudança da Constituição da Venezuela

de 1961 na chamada Constituição Bolivariana de 1999, que mudou o nome do Estado para República Bolivariana da Venezuela, e outros atos como a criação

e promoção de escolas e universidades com o adjetivo bolivariana, como o são as Escolas Bolivarianas e a Universidade Bolivariana da Venezuela. Todas

estas políticas que estão sendo levadas a cabo na Venezuela se enquadram no que se denominou Revolução Bolivariana. A partir de 2005, começou-se a

utilizar, além disso, o conceito de Socialismo do Século XXI e a definir o caráter socialista da Revolução Bolivariana na Venezuela.

O grupo insurgente colombiano Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, nos últimos anos, tem anunciado que se consideram inspirados nas idéias de

Simón Bolívar, e tem expressado sua simpatia ao presidente venezuelano e à chamada Revolução Bolivariana. O presidente Hugo Chávez, em diversas

ocasiões, rechaçou as acusações de que apoia os ditos grupos armados, e tem apelado para que eles deponham as armas e se alcance a paz na Colômbia.

 www.unidadpopular.org

O que é o Bolivarianismo

“Tudo nos une, nada nos separa”

Roque Sáenz Peña

Bolivarianismo é em linhas gerais a doutrina que prega a união dos países da América Latina e do Caribe, pois
considera que existem laços históricos e culturais entre os povos da região e várias razões de ordem política para essa
integração. Uma delas seria o fato de que a divisão da América Latina a torna presa fácil do imperialismo e do
neocolonialismo, e que a integração não só possibilitaria a reafirmação da liberdade e independência dos latino-
americanos, como propiciaria condições muito maiores para o desenvolvimento e progresso da região. O processo de
integração se daria de várias maneiras: no plano político, econômico, mas acima de tudo buscando uma aproximação
direta entre os povos.

Antecedentes

As origens do movimento podem ser traçadas desde as primeiras rebeliões indígenas decorrentes da conquista
espanhola e portuguesa. A brutalidade com que eram tratados levou os povos submetidos a desenvolver um senso de
unidade para resistir à tirania e opressão, pois mesmo pertencendo a diferentes povos e culturas o tirano que os
escravizava era um só: a metrópole colonial, seja através de seus representantes seja através da odiada
aristocracia criolla. Foram incontáveis as rebeliões de índios e escravos africanos durante o período colonial, porém a
maior delas foi a de Tupac Amaru entre 1780 e 1783, que sacudiu o Peru e Alto Peru (atual Bolívia), então entre as
regiões mais ricas do império espanhol.

Com o Iluminismo e a Revolução Francesa, ganharam força entre a oligarquia criolla as idéias de independência da
América Latina, e o precursor das idéias bolivarianas – Francisco de Miranda – foi ele próprio comandante em chefe do
exército francês na Bélgica durante a Revolução. Nascido em Caracas, de família aristocrática basca, propôs pela
primeira vez que todo o território entre a margem ocidental do Mississípi e o Cabo Horn se tornasse um país
independente e unido, governado por um mandatário denominado Inca, em homenagem aos antigos imperadores
andinos.

Retornou à então capitania-geral da Venezuela com o objetivo de comandar a revolução libertadora, mas acabou
derrotado e preso. Foi sucedido no comando do movimento emancipador por Bolívar – outro membro da aristocracia
criolla, também de origem basca, profundamente imbuído de ideais iluministas e românticos – assistiu em Paris à
coroação de Napoleão Bonaparte. A guerra de independência durou vários anos e foi especialmente sangrenta,
deixando a Venezuela quase despovoada.

O início do bolivarianismo

Depois da consolidação do movimento independentista na Grande Colômbia (Colômbia, Venezuela, Equador e


Panamá, então parte da Colômbia), a batalha de Ayacucho (Peru) em 9 de dezembro de 1824 põe fim definitivamente
ao domínio espanhol na América (com exceção das Grandes Antilhas). O próximo projeto de Bolívar, mais além da
Confederação dos Andes (que reuniria a Grande Colômbia ao Peru e Alto Peru), seria o Congresso Anfictiônico do
Panamá, inspirado nas reuniões pan-helênicas da Grécia antiga, e do qual participariam as nações recém-
emancipadas da América Latina. A escolha do Panamá decorreu de um desejo de Bolívar de que o “istmo do Panamá
fosse para os latino-americanos o que o istmo de Corinto foi para os gregos”.

Foram convidados todos os países livres hispano-americanos mais o Império do Brasil e os Estados Unidos, esse
último com direito a participar de apenas determinados debates. Também foram convidados a enviar observadores a
Holanda e a Grã-Bretanha. Compareceram ao Congresso representantes do México, América Central, Grande
Colômbia, Peru, EUA, Grã-Bretanha e Holanda. Argentina, Bolívia, Brasil e Chile não enviaram delegados.

Entre as decisões do Congresso: a formação de uma liga, união e confederação perpétua entre os países hispano-
americanos participantes; a criação de um exército e marinha comuns; a concessão de cidadania comum aos
habitantes das nações contratantes; o repúdio ao tráfico de escravos; e a realização de novo congresso alguns meses
depois, em Tacubaya (México). O Congresso de Tacubaya não foi realizado, e os tratados firmados não chegaram a
entrar em vigor. Com a dissolução da Grande Colômbia, em 1830, o projeto de Bolívar viu-se seriamente abalado. O
Libertador morreu de tuberculose e de desgosto no mesmo ano.

Nos anos seguintes, o projeto de Bolívar foi solapado pela crescente divisão e desunião da América Latina, por obra
tanto das elites locais sedentas de poder, quanto dos Estados Unidos e das potências européias, fiéis à máxima “dividir
para governar”. O México, então o país mais populoso e rico da América Latina, foi invadido pelos EUA, que lhe
tomaram metade de seu território; a América Central se fragmentou; o Paraguai foi arrasado pela Tríplice Aliança; o
Chile tomou da Bolívia o seu acesso ao mar.

A volta do bolivarianismo

Contudo, a idéia de uma identidade comum da América Latina nunca deixou de ter força, especialmente entre
pensadores, escritores e revolucionários, como Martí e Sandino; durante todo esse período, houve várias tentativas de
aproximação em nível regional. Porém, a grande retomada dos ideais bolivarianos ocorreu a partir de 1959, com o
triunfo da Revolução cubana. Voltou-se a falar em uma maior integração como forma de resistência ao imperialismo;
surgiram movimentos guerrilheiros diretamente inspirados no exemplo cubano em quase todos os países latino-
americanos.

Em 1998 foi eleito Hugo Chávez na Venezuela, que tem como principal item de sua política exterior a construção de
uma União Latino-Americana e que é atualmente o principal divulgador das idéias bolivarianas e integracionistas. O
avanço a passos largos da integração na Europa e no Extremo Oriente reforça a urgência por iniciativas desse tipo na
América Latina, que ademais é muito mais homogênea que esses 2 grandes blocos e portanto tem condições muito
maiores para uma plena integração.

Hoje, o movimento bolivariano tem a característica notável de vir das bases, de movimentos populares como o MST, o
MAS da Bolívia, os piqueteiros argentinos, os Círculos Bolivarianos, etc. Como disse Evo Morales do MAS “Ser
bolivariano para mim é responder a um movimento latino-americano de libertação, tomando os princípios, os
mandamentos de Bolívar e incorporando a luta indígena, o tema da identidade. Recuperar as formas de vivência em
coletividade, em comunidade, essas formas de vivência em harmonia com a natureza”.

“Só há porvir na união, só há salvação na união”

Fidel Castro

Ser bolivariano hoje é: lutar pela união da América Latina, contra o imperialismo, pela autodeterminação dos povos,
pela solidariedade, pela valorização de nossas raízes indígenas e africanas.

Fonte: www.unidadepopular.org.br 

O Bolivarismo
Texto Rodrigo Cavalcante

1. O que é isso?
É um movimento político libertário da América Latina inspirado nas ações do militar venezuelano Simón Bolívar (1783-1830), que liderou as guerras de independência
contra o domínio espanhol em várias nações da América do Sul: Venezuela, Colômbia, Panamá, Equador, Peru e Bolívia (nomeada em homenagem a ele).
2. O que prega?
Bolívar sonhava em transformar os países da América Latina em uma confederação de nações livres, unidas entre si por um corpo de leis em comum para tratar de política
externa. Resumidamente, uma espécie de Estados Unidos da América do Sul. O mais próximo que ele chegou disso foi a fundação da Grande Colômbia, país que durou de
1819 a 1830 e abarcava a Venezuela, o Panamá, o Equador e a Colômbia atuais, além de territórios que hoje pertencem ao Brasil, à Costa Rica, ao Peru e à Guiana.
3. O que hugo Chávez tem a ver com simôn Bolívar?
Além da retórica, Chávez também é venezuelano, militar e quer uma América Latina “independente do domínio dos EUA”. E, assim como o governo de Bolívar na Grande
Colômbia descambou para o autoritarismo, o governo de Chávez tem grandes chances de ter o mesmo fim.
 

érica Independente
O Pan-Americanismo
1. ORIGENS

Diversos autores procuram demonstrar que desde o século XVIII surgiram precursores dos ideais pan-americanos, citando-se como um dos pioneiros o Padre
Alexandre de Gusmão, brasileiro que servia na corte de D. João I de Portugal, e um dos responsáveis pela elaboração do Tratado de Madri (1750).

``É certo que o Tratado de Madri fala em `paz perpétua` entre as duas Coroas, mas este compromisso de paz entre potências traduz apenas a promessa de não
disputar, nem uma nem outra, pedaço do bolo que já haviam dividido entre si.
Nada tem a ver um tratado dessa espécie com a doutrina muito mais tarde nascida, e que procurava firmar um princípio de não intervenção estrangeira, de
cooperação, de paz e harmonia entre Estados já constituídos. " (SOUZA GOMES, L., América Latina, SeusAspectos, Sua História, SeusProblemas, Fundação Getúlio
Vargas, p. 253.)

Aponta-se também o peruano Plabo Olavide que, influenciado pelas idéias do Iluminismo, organizou em Madri a Junta das Cidades e Províncias da América Meridional,
sociedade secreta destinada a estimular a independéncia da América (1795). Ainda que considerasse a emancipação do Novo Mundo como um empreendimento a ser
realizado em conjunto pelas sociedades americanas, Olavide tinha uma visão muito estreita de união pan-americana: ficava restrita apenas às sociedades da América
do Sul.
No século XIX, em meio ao processo de emancipação da América Espanhola, outras manifestações de ideais pan-americanos evidenciaram-se através de projetos
formulados por representantes da elite hispano-americana. Juan Martínez de Rosas, integrante da Primeira Junta Governativa e autor da Declaração dos Direitos do
Povo Chileno, defendeu o princípio de solidariedade entre o Chile e as demais sociedades hispano-americanas e a necessidade de unir todos os povos americanos em
uma confederação a fim de garantir a independência contra os planos da Europa e de evitar conflitos inieramericanos. Esses princípios igualmente foram sustentados
por Bernardo O`Higgins que assumiu a liderança da luta pela independência do Chile.
Jose de San Martín e o Coronel Bernaldo Monteagudo, argentinos que participaram das guerras de libertação do seu país, do Chile e do Peru, expuseram a idéia de
realizar um congresso pan-americano para melhor resistir a eventuais ameaças da Espanha contra suas colônias que se emancipavam. "Antes (...) já Francisco Miranda
(...) antevira a solidariedade continental, quando apresentou ao gabinete inglês, em 1790, o plano para libertar a América da tutela espanhola (...) Miranda estabelecia
uma América única, geográfica e administrativa, um vasto Estado comum, do Mississipi ao Cabo Horn Vemos então que os pronunciamentos no sentido de estabelecer
a união entre as sociedades amencanas ganharam maior expressão durante a luta pela independência das colônias européias no Novo Mundo. Foi tanto a necessidade
de defesa contra a ameaça representadapela Europa assim como as raízes históricas e geográficas ccmuns que forjaram o ideal pan-americano, o qual deve ser
entendido como um movimento de solidariedade continental a fim de manter a paz nas Américas, preservar a independência dos Estados amnericanos e estimular seu
inter-relacionamento.
O projeto de solidariedade continental, no entanto, foi desenvolvido sob duasmodalidades distintas: o Bolivarismo e o Monroísno.

2. O BOLIVARISMO

O Bolivarismo representa a visão pan-americana concebida por Simon Bolívar (1783-1830), venezuelano que dirigiu a luta pela independência da Venezuela, Colômbia,
Peru, Bolívia e Equador.
Em vários escritos (cartas e proclamações) defendeu a necessidade de união face à possível contra-ofensiva da Espanha, apoiada pela Santa Aliança.
Essa idéia de união das sociedades americanas, Bolívar apresentara antes mesmo da Carta da Jamaica. ``A sua exposição prática já é perceptível em um artigo que
Bolívar escreveu para o Morning Chronicle, de Londres (5 de setembro de 1810), dizendo que se os venezuelanos fossem obrigados a declarar guerra à Espanha
convidariam todos os povos da América a eles se unirem em uma ccnfederação. O plano surge novamente no Manifesto de Cartagena, escrito por Bolívar em 1812, e
mais claramente em 1814, quando, como libertador da Venezuela, enviou a circular que condicionou a liberdade dos novos Estados ao que ele chamou de `união de
toda a América do Sul em um único corpo político` (...) E, em 1818, respondendo à mensagem de saudação, enviada a Angostura pelo director argentino, Pueyrredón,
declarava que, tão logo a guerra de independência estivesse terminada, procuraria formar um pacto americano, e esperava que as Províncias do Rio da Prata se
unissem a ele."
Simon Bolívar

Na prática, criou a Grã-Colômbia (1819), de duração efêmera; em 1830, no mesmo ano após a morte do criador, terminou a Grã-Colômbia, fragmentada em três
Estados; Venezuela, Equador e Colômbia, à qual se integrava o Panamá. Seus esforços no sentido de unir o Peru e a Bolívia foram infrutíferos diante da resistência
oposta pelo prufundo regionalismo daquelas sociedades sul-americanas.
Entretanto, Bolívar não desanimou de lutar pela fraternidade pan-americana e, em dezembro de 1824, enviou nota-circular aos govemos americanos convidando-os a
se reunir para organizar uma confederação.
Quase dois anos depois reuniu-se o Congresso do Panamá, com sessões entre 22 de junho e 15 de julho de 1826. Nesta data, aprovou-se a continuação das discussões
em Tacubaya, no México, mas a decisão não foi cumprida.
Considerado por diversos historiadores como a primeira grande manifetação do Pan-Americanismo, o Congresso do Panamá aprovou:

um Tratado de União, Liga e Confederação Perpétua entre os Estados hispano-americanos;


a cota que caberia a cada país para a organização de uma força militar de 60.000 homens para a defesa comum do hemisfério;
a adoção do princípio do arbitramento na solução dos desacordos interamericanos;
o compromisso de preservar a paz continental;
a abolição da escravidão.

Ao Congresso compareceram apenas os representantes da Grã-Colômbia, Peru, México e Províncias Unidas de Centro-América. Os EUA também enviaram
observadores. O Congresso do Panamá, manifestação concreta de solidariedade continental, contudo, acabou sendo um fracasso, para isso contribuindo:
a resistência dos EUA que pretendiam expandir-se pelas Antilhas e temiam a difusão de movimentos de abolição da escravidão;
a opusição do Brasil, cuja Monarquia era contrária a regimes republicanos e temia a propagação das idéias anti-escravistas; D. Pedro I chegou inclusive a enviar a
Missão Santo Amaro à Europa com a incumbência de negociar com Metternich, Primeiro-Ministro da Austria e verdadeiro dirigente da Santa Aliança, o uso de forças
militares brasileiras para substituir os governos republicanos americanos por Monarquias confiadas a Príncipes europeus;as manobras da Inglaterra, não só porque
George Canning, Ministro das Relações Exteriores, não tinha interesse na organização de uma América forte e coesa, como também porque temia a formação de um
sistema americano sob a direção dos EUA, o que poderia criar problemas à expansão econômica inglesa;
não terem sido ratificadas, posteriormente, as decisões tonladas.

Os ideais do Pan-Americanismo bolivarista, porém, ccntinuaram vivos, e novos congressos foram reunidos para discutir assuntos diversos dentro do espírito
desolidariedade continental. Dessas reuniões o Brasil e os EUA foram excluídos: os Estados Unidos, por causa de seu expansionismo territorial, envolvendo inclusive a
anexação de terras mexicanas, e o Brasil; devido a suas constantes intervenções no Prata, políticas essas contrárias à solidariedade continental.
Com representantes da Bolívia, Chile, Peru, Equador e Colômbia reuniu-se a Conferência de Lima (1847). "Nela foram tratados princípios do Direito
americano,intervenção, agressão, reparações, limites, como também dispositivos práticos sobrecomércio, navegação fluvial, serviços postais e consular, extradição.
Em 1856, celebrou-se a Conferência de Santiago, quando o Peru, o Chile e o Equador firrnaram o compromisso de estabelecer a união da ``grande família
americana``. No mesmo ano, Chile e Argentina concluíram acordo comercial estabelecendo o fim das barreiras alfandegárias entre os dois países; a chamada
"cordilheira livre" funcionou até 1868, quando foi suprimida, uma vez que o govemo chileno pretendeu estender aos produtos importados de outras nações os
privilégios concedidos apenas aos produtos argentinos e chilenos.
Por iniciativa peruana reuniu-se a Segunda Conferência de Lima (1864), a fim de estabelecer uma confederação de caráter defensivo. Peru, Bolívia, Chile, Colômbia,
Equador, Guatemala, Argentina e Venezuela concordaram em organizar umaconfederação, pois se sentiam ameaçados pelas freqüentes intervenções estrangeiras que
se processavam no continente e constituíam um perigo à segurança dos Estados americanos. 
Assim é que, em 1855, o aventureiro norte-americano William Walker invadiu e conquistou a Nicarágua; em 1861, a Espanha ocupou São Domingos e estabeleceu seu
protetorado até 1865; em 1861-1862, Espanha, França e Inglaterra desembarcaram tropas na República Mexicana, onde Napoleão III instaurou a efêmera Monarquia
de Maximiliano de Habsburgo (1863-1867); em 1864, uma esquadra espanhola ocupara as ilhas peruanas de Chinchas, em incidente que acabou levando ao conflito do
Peru e Chile contra a antiga metrópole (1866). "O Império Brasileiro evitou a reunião de Lima, para não ver discutida a sua política no Prata. Na Câmara brasileira,
entretanto, foi mais tarde criticada a nossa ausência (...) Dos tratados assinados (...) nenhum chegou a ser integralmente aplicado (...) Ao espírito primitivo de
regionalismo, sucedia um sentimento de nacionalismo."

Animados de sentimentos pan-americanos bolivaristas, outros congressos reuniram juristas sul-americanos: Lima (1874), Caracas (1883) e Montevidéu (1888). Em
Montevidéu chegou a se projetar um Código Interamericano, incluíndo questõescomuns do Direito Intemacional e Privado.
Desse modo, apesar dos fracassos occrridos, os ideais do Pan-Americanismo bolivarista lançaram as bases da solidariedade continental assentada em posição de
igualdade entre todos os Estados. 

3. O MONROÍSMO

O Monroísmo representa a visão norte-americana do Pan-Americanismo, bem distinta do Bolivarismo e fundada no predomínio dos EUA sobre os demais Estados
americanos.Sua primeira manifestação foi a Mensagem Presidencial de James Monroe enviada ao Congresso dos EÚA (1823). Nela, Monroe negava aos europeús o
direito de intervençâo no ccntinente americano, seja para criar áreas de colonização, seja parasuprimir a independência recém-ccnquistada pela maioria dos Estados
arnericanos.
A análise do documento evidencia que os Estados Unidos opunham-se à Europa da Santa Aliança: 

1°) devido à preocupação norte-americana com a sua própria segurança, uma vez que a política da Santa Aliança, marcada por intervenções armadas, visava a
presérvar as instituições monárquicas e ccmbater os regimes republicanos; ora, precisamente em 1823 occrrera a intervenção francesa (determinada no Congoesso de
Verona, de 1822) na Espanha, onde foram restaurados os poderes monárquiccs de FernandoVII, a qual poderia se desdobrar em intervenção nas Repúblicas da
América;

2°) devido aos projetos territoriais expansionistos dos EUA, que pretendiam avançar suas fronteiras até o litoral do Pacífico. Esses objetivos contrariavam interesses
ingleses no noroeste da América, pois norte-americanos e britânicos disputavam o domínio do Oregon. Por isso, John Quincy Adams, Secretário de Estado, havia
aconselhado o Presidente Monroe a rejeitar as propostas de George Canning, Ministro inglês, no sentido de Estados Unidos e Inglaterra formularem uma nota conjunta
opondo-se à política de intervenção da Santa Aliança: "Deve ser mais simples (...) do que surgirmos como um simples escaler na esteira de um poderoso navio de
guerra inglês." Além do mais, o govemo de Washington preocupava-se com o avanço da Rússia: em documento de setembro de 1821, o Czar Alexandre I afirmara
direitos russos sobre terras e águas do noroéste da Àmérica Setentrional, desde o Alasca até a Califómia. Impunha-se, então, aos dirigentes norte-americanos impedir
a ampliação do colonialismo europeu por territórios do Novo Mundo;

3°) devido ao interesse norte-americano em garantir um comércio livre com paísesindependentes. A inter-relação da economia com a política torna-se evidente ao
constatarmos que o govemo dos EUA foi dos primeiros a estabeleoer relações diplomáticas com os novos Estados surgidos com a conquista da independência.

Desse modo, a Mensagem de Monroe representou antes de mais nada "a expansão de uma política nacional cuja aplicação cabia unicamente ao govemo dos Estados
Unidos. Além disso, a atitude e as palavras de Monroe não continham qualquer garantia que livrasse os demais povos americanos das agressões ou intervenções dos
Estados Unidos. Isto viu-se efetivamente quando nos anos de 1824 a 1826 a diplomacia dos Estados Unidos expressou suas ambições sobre Cuba (...) Os Estados
Unidos opunham-se a que as Antilhas espanholas fossem tomadas independentes pela ação da Colômbia e México, cujos governos pretendiam realizar uma expedição
emancipadora. O temor da anexação de Cuba ao México, ou a alguma das Repúblicas libertadoras, não era menor que o de uma independência precária, com ameaça
de intervenção européia".
A Doutrina Monroe, usualmente resumida na expressão "América para os americanos``, na realidade atendeu apenas aos interesses norteamericanos. Não houve
solidariedade continental quando os dirigentes estadunidenses opuseram-se ao projeto de união americana no Congresso do Panamá, nem quando o, nem quando o
Tratado Guadalupe-Hidalgo (1848) assegurou-lhes a Califórnia, Novo México, Arizona, Utah, Nevada e Texas que foram tomados ao México após vitoriosa campanha
militar. Muito menos houve solidariedade continental quando o Tratado Clayton-Bulwer (1850), assinado com a Inglaterra, fixou as respectivas áreas de influência das
duas sociedades e os EUA assumiram o compromisso de não empreender sem os ingleses a construção de um canal na América Central.
Já ao findar o século XIX, quando o capitalismo e a industrialização norte-americana conheceram acelerado desenvolvimento, nova manifestação do Monroísmo ocorreu
graças aos esforços de James Blaine, Secretário de Estado dos EUA.
Reuniram-se, então, em Washington, 18 países americanos entre outubro de1889 e abril de 1890, na Primeira Conferência Internacional Americana, cujas decisões
mais importantes foram: 

- condenar a guerra e afirmar a nulidade de cessões territoriais decorrentes de operações de conquista ou sob ameaça de guerra;
- aprovar o recurso ao arbitramento para solução de eventuais divergências interamericanas;
- recomendar a construção d uma ferrovia intercontinental para melhor relacionamento entre os povos americanos;
- aprovar a criação de um órgão coordenador das relações comerciais. "Esse organismo foi a União Pan~Americana, iniciada sob a denominação de Escritório Comercial
das Repúblicas Americanas, com sede em Washington e mantida pelos recursos proporcionados pelos Estados-membros." Nessa conferência, os norte-americanos
procuraram aprovar uma reunião aduaneira continental. Era o Destino Manifesto em sua segunda etapa econômica - a primeira fora territorial e custara ao México a
perda da metade de suas terras - visando a ampliar a expansãn econômica dos EUA, altamente industrializados, na América Latina, agrária e tradicional consumidora
de produtos industriais europeus. O projeto fracassou devido sobretudo à resistência do delegado da Argentina, Roque Sáenz-Peña.
"Essa Assembléia seria o início de uma série de outras que, com o andar dos tempos, alteraria o conceito de solidariedade continental, partindo para um instrumento
que é hoje a Organização dos Estados Americanos, a OEA, com poderes amplos, que incluem a intervenção nos Estados-membros, a ajuda ou cooperação técnica, a
ordem continental, o incentivo ao desenvolvimento. ncerrada a Assembléia, ia experimentar-se a primeira prova de seu êxito: o caso de Cuba."
O Big-Stick ia começar a funcionar para assegurar, não a união, mas o predomínio dos EUA sobre a América Latina.

TEXTO RETIRADO DE HISTÓRIA DAS SOCIEDADES AMERICANAS


Aquino Jesus e Oscar
Ed. Ao Livro Técnico
Mapa retirado do cd-rom Atlas de História Geral, da Editora Ática

http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=39

Hugo Chávez, Marx e o 'Bolivarismo' do século XXI


Por Jair Antunes
17 Fevereiro 2007

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O começo do século XXI testemunhou um ressurgimento do nacionalismo


populista burguês em grande parte da América Latina. De certa forma, este
desenvolvimento do nacionalismo compartilha de características comuns com
o que foi visto no século anterior em figuras como Juan Domingo Perón na
Argentina, Getúlio Vargas no Brasil ou de Lazaro Cardenas no México.

As eleições do presidente Hugo Chávez na Venezuela—o qual está


caminhando para um mandato vitalício—e Evo Morales na Bolívia, o retorno
do ex-líder sandinista Daniel Ortega para a presidência da Nicarágua, bem
como a eleição de Rafael Correa no Equador, foram todas acompanhadas da
retórica nacionalista para reverter o brutal e sangrento período de
desagregação das economias latino-americanas das últimas décadas. Alguns
dizem que a América Latina está realmente se movendo para a esquerda, para
um novo tipo de socialismo, no entanto, em cada um destes países o domínio
do capital permanece intacto.

Hugo Chávez, em particular, apresentou este movimento como uma


continuação da velha cruzada de Simon Bolívar, El Libertador, quem há dois
séculos dizia tentar libertar a América Latina das garras da dominação
imperialista, mas que na realidade lançou as bases para a dominação
imperialista durante séculos. Chávez chegou a ponto de entregar réplicas da
espada de Bolívar para Morales, Correa e Ortega durante suas respectivas
posses.
Certos setores da esquerda latino-americana que se especializaram em semear
ilusões a partir de tais lideranças, acompanham a Chávez, envolvendo-se
também no manto de Bolívar e na perspectiva do presidente venezuelano de
um retorno continental da "revolução Bolivariana".

Mas, quem foi Bolívar, e qual foi realmente sua herança?

Marx e a biografia pouco heróica de Simon Bolívar

Em artigo escrito em 1858, intitulado Bolívar y Ponte, Marx relata as falsas


façanhas de El Libertador durante as guerras antiespanholas. Marx apresenta
Bolívar como um falsário, desertor, conspirador, mentiroso, covarde,
saqueador, etc.

Marx tinha clareza do papel de classe desempenhado por Bolívar nestas lutas,
mostrando-o como um típico representante de setores da tradicional burguesia
criolla local: "Bolívar y Ponte, Simon, o ‘Libertador' da Colômbia nasceu...
em Caracas (...) Descendia de uma das famílias mantuanas, que, na época da
dominação espanhola, constituíam a nobreza criolla na Venezuela".

Para Marx, Bolívar, ao final dos conflitos anticastelhanos, com a vitória dos
exércitos nacionalistas, foi transformado em um falso símbolo de toda a luta
antiimperialista latino-americana, fundando, o assim chamado "bolivarismo",
o qual consiste basicamente em proclamar a libertação nacional dos povos
oprimidos contra o imperialismo sem, no entanto, alterar fundamentalmente as
relações entre as classes sociais, quer dizer, sem alterar a estrutura sócio-
econômica.

Do ponto de vista de Marx a "revolução" hispano-americana conduzida por


Bolívar teria sido, no melhor dos casos, uma imitação pálida das revoluções
burguesas européias, nunca indo além de um esforço para uma maior
liberdade de comércio e de melhores condições para explorar os trabalhadores
latino-americanos. Marx nunca glorificou Bolívar simplesmente porque nunca
percebeu em sua trajetória político-militar uma só ação que pudesse indicar,
para a classe trabalhadora latino-americana e mundial, qualquer progresso na
luta pela liberdade humana. Ao contrário, Marx mostrava claramente a
natureza e os limites de classe da assim chamada "revolução bolivariana".

A emancipação dos negros escravos realizada por Bolívar, por exemplo, não
estava relacionada a uma suposta consciência humanista do "herói", mas ao
medo instalado na burguesia criolla de uma possível revolução popular, após a
independência, contra a própria classe dominante local. Para evitar tal suposta
revolta popular, Bolívar inventou uma solução bastante original e que, por
obra do destino, ficou registrada pelo punho do próprio "Libertador" numa
carta endereçada a seu principal general, Santander, em 20 de abril de 1820.
Nesta carta, Bolívar esclarece que a liberdade concedida aos negros que se
alistassem no exército nacional não estaria ligada à necessidade de aumento
do efetivo do exército, mas estaria sim diretamente ligada à necessidade de
diminuição de seu perigoso número, ou, em outras palavras, do perigo de uma
possível "Haitiização" revolucionária de todo o continente. O recrutamento
dos negros às fileiras do seu exército servia assim para eliminá-los em
combate.

Como proclamou Bolívar: "De acordo com o artigo 3o da Constituição: ‘todos


os escravos úteis para os serviços das armas serão destinados ao exército.'"

"Salvo engano - continua ele - isto não é declarar a liberdade dos escravos e
sim usar a faculdade que me dá a lei (...) Não será útil que estes adquiram seus
diretos no campo de batalha e que diminua seu perigoso número por um meio
poderoso e legítimo?" (In: Bolívar. Bellotto & Correa. SP: Ática, 1983, p.50).

Uma das partes mais interessantes do artigo de Marx sobre o "Libertador" é


quando destaca o quanto o exército rebelde estava dependente do apoio
externo, em especial do imperialismo industrial britânico e das milícias
mercenárias oriundas da Europa, as quais, segundo Marx, foram decisivas nas
lutas vitoriosas de libertação de Nova Granada (atuais Venezuela, Colômbia e
Equador). Como escreve Marx: "[Em 1818] chegou da Inglaterra uma forte
ajuda sob a forma de homens, navios e munições, e oficiais ingleses,
franceses, alemães e poloneses afluíram de toda parte para Angostura... as
tropas estrangeiras, compostas fundamentalmente por ingleses, decidiram o
destino de Nova Granada... em 12 de agosto Bolívar entrou triunfalmente em
Bogotá".

Como podemos perceber, Bolívar livrou a América Latina do já retrógrado


império castelhano apenas para pô-la, então, sob o jugo do imperialismo
industrial britânico e posteriormente sob aquele do imperialismo do norte-
americano.

Enfim, Marx tinha tão pouca admiração por Bolívar que o acusa de ser uma
paródia de Napoleão Bonaparte, um novo Bonaparte na América. Talvez até, a
paródia da paródia da paródia: o compara ao ditador golpista do Haiti,
Soulouque, que já era a caricatura de Luis Napoleão III da França, o
Bonaparte paródia do Bonaparte I. Como escreveu, em Herr Vogt: "A força
criadora de mitos, característica da fantasia popular, em todas as épocas tem
provado sua eficácia inventando grandes homens. O exemplo mais notável
deste tipo é sem dúvida Simon Bolívar". E Marx, em carta de 14/02/1858,
comenta com Engels: "Teria sido passar dos limites querer apresentar
Napoleão I como o canalha dos mais covardes, brutal e miserável. Bolívar é o
verdadeiro Soulouque".
Hugo Chávez: o Bolívar do século XXI

No entanto, mesmo o caráter covarde, traidor e mentiroso, etc, com que Marx
pintou a figura de Bolívar, parece não ter sido suficiente para que, no século
XX, a dita esquerda "marxista" latino-americana abandonasse de vez por todas
a idolatria a este pseudo-herói. Ao contrário, essa esquerda o transformou em
uma referência para a classe trabalhadora latino-americana, passando a
inventar o "Bolivarismo" como um símbolo de toda uma suposta luta
antiimperialista latino-americana.

Como dissemos acima, neste início do século XXI, o exemplo mais claro de
sobrevivência e ressurgimento do Bolivarismo Bonapartista latino-americano
está representado na figura do Coronel Hugo Chávez, presidente da
Venezuela. Chávez, militar de carreira, protagonizou um golpe militar
fracassado na Venezuela em 1992, sendo preso e libertado dois anos depois.
Em 1998 foi eleito, pelo voto direto, presidente da República. Em 1999 criou
uma nova Constituição mudando o nome do país para "República Bolivariana
da Venezuela"

Desde então, ano após ano, Chávez vem aumentando seu poder. Em 2005,
graças ao boicote às eleições promovido pelos partidos de oposição, ganhou a
maioria total na Assembléia Nacional. Agora, reeleito presidente em 2006,
com 63 % dos votos, apesar de seu controle de 100% do Parlamento, aprovou
no último dia 31 de janeiro a chamada "Lei Habilitante" que lhe concede
poderes extraordinários, incluindo o direito de governar por decretos durante
18 meses. Várias vezes, já ameaçou a oposição com uma reforma
constitucional que lhe permitiria infinitas reeleições, se perpetuando no poder
de forma vitalícia.

Ao ser eleito pela primeira vez em 1998, Chávez prometeu acabar com a
miséria que assola a maioria absoluta do povo venezuelano. Não obstante, de
lá para cá, os pauperizados diminuíram somente de forma relativa no país: a
pobreza, em geral, diminuiu de 49,9% da população em 1999 para 37,1% em
2005, e a chamada miséria absoluta passou de 21,7% para 15,9%. No entanto,
esta mudança se deve à implementação de programas assistencialistas
promovidos por Chavez nestes últimos anos e não a um aumento significativo
da renda dos trabalhadores. De fato, os níveis de desemprego em 2005 são
maiores do que quando assumiu o governo em fevereiro de 1999 (11,3% em
1999 contra 12,4% em 2005). De qualquer forma, pelo menos 53% da
população total do país continua vivendo ou na pobreza ou na miséria absoluta
(os dados são da CEPAL—Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe).

Além disso, o relativo sucesso dos programas assistencialistas de Chávez


deve-se em grande parte às riquezas naturais do subsolo venezuelano,
sobretudo, do petróleo. Por isso, o seu governo vem realizando processos de
renegociação dos contratos com as corporações estrangeiras de energia,
apresentando estas negociações como "nacionalizações". Desta forma, a
empresa petroleira PDVSA—Petróleos de Venezuela SA— passou a ter 51%
das ações da empresa sob controle do estado, ficando os outros 49% sob
controle do capital privado (predominantemente estrangeiro). De acordo com
presidente bolivarista, o maior inimigo do povo da Venezuela seria o
imperialismo norte-americano, porém, este inimigo, ao mesmo tempo, se
constitui no maior parceiro comercial do governo de Chávez, sendo o
principal comprador do petróleo venezuelano.

Chávez e sua dependência do petróleo

Segundo dados da CEPAL para 2005-2006, mais da metade das exportações


da Venezuela, em especial de petróleo cru, tem como destino o mercado
norte-americano. O mesmo percentual é válido para a importação de produtos
manufaturados: pelo menos metade do que a Venezuela importa de produtos
acabados vem do inimigo/parceiro Estados Unidos.

Na verdade, o atual crescimento econômico da Venezuela está baseado na


enorme demanda mundial por petróleo (o país é o quinto maior produtor
mundial), do qual os EUA, como dissemos, é seu maior consumidor. Em
1999, primeiro ano do governo Chávez, o país produzia menos de 2,8 milhões
de barris/dia. Já em 2005, segundo dados da própria PDVSA, a produção
diária atingiu a casa dos 3 milhões e trezentos mil barris/dia.

O que fica claro é que o bonapartismo chavista repousa totalmente na


altíssima demanda mundial por petróleo. O aumento em torno de 20% da
produção entre 1999 e 2005 ocorreu sob as circunstâncias de um aumento
substancial do preço do barril no mercado mundial. Em 1999 o barril custava
25 dólares, em 2005 atingiu a casa dos 55 dólares. Em 2006, com a
especulação em torno da invasão americana do Irã (quarto maior produtor), o
barril de petróleo ultrapassou a casa dos 70 dólares, preço bem próximo
daquele recorde de 1979 quando da revolução iraniana. Mesmo agora, no
início de 2007, passados os boatos de possíveis novas guerras americanas, o
preço do barril de petróleo continua acima dos 50 dólares (CEPAL).

Chávez e sua "revolução bolivariana" estão inteiramente amparados na


altíssima demanda mundial por combustíveis fósseis, impulsionada em
especial pelas guerras estadunidenses no Oriente Médio. Neste sentido,
George W. Bush não é na realidade o maior inimigo de Chávez, como afirma
este, mas, exatamente o contrário: é graças a esta política militarista de Bush
que Chávez consegue arrecadar dividendos fantásticos para a economia do
país. Bush é, na verdade, se não o melhor amigo do seu governo, pelo menos
seu maior parceiro nos negócios, pois, sem esta contraditória parceria, Chávez
certamente não teria como implantar o enorme programa assistencialista de
redução da pobreza e da miséria absoluta no país levado a cabo nos últimos
anos. Este programa, no entanto, não significa nenhum desenvolvimento real
da economia venezuelana como um todo, mas sim, um dos pilares
fundamentais do bonapartismo de Chávez.

Para mostrarmos ainda mais claramente a dependência de Chávez do petróleo


e da política belicista de Bush, basta comparar os dados da economia
venezuelana desde a primeira posse de Hugo Chávez como presidente do país
até os dias atuais. Nos anos de 1999, 2002 e 2003 o PIB da Venezuela teve
uma queda monstruosa de cerca de 24%. Nos anos de 2004 e 2005, contudo,
anos de alta produção petrolífera e de preços internacionais favoráveis, o PIB
venezuelano cresceu em índices extraordinários que chegaram a 27,2%. Neste
mesmo período, como já indicamos, os preços do petróleo saltaram de 25
dólares/barril para mais de 50 dólares. Porém, na média dos 7 anos de
"revolução bolivariana" (1999-2005), descontando-se as altas e baixas do
ciclo econômico, o PIB venezuelano cresceu a uma taxa média de medíocres
1,5% anuais. Em 1999, os rendimentos do governo com o petróleo alcançaram
a cifra de 3.947.429 milhões de bolívares. Em 2005 estes rendimentos
pularam para 40.703.315 milhões de bolívares, um aumento real de cerca de
1.000% (CEPAL, Estudio Económico 2005-2006).

Chávez não tem a intenção de romper com o imperialismo e com o domínio


dos bancos sobre a economia do país. Para percebermos isto, basta observar a
conta dos juros da dívida pública que o país paga anualmente aos banqueiros.
Em 1999 Chávez pagou aos credores do país a cifra de 1.647.017 milhões de
bolívares; já nos anos de 2003, 2004 e 2005 pagou a monstruosa cifra de
23.017.422 milhões de bolívares (um aumento de cerca de 1.400%).

Para termos uma idéia mais clara do compromisso de Chávez tanto com a
burguesia imperialista quanto com parte de uma nova burguesia criolla
nacional, basta darmos uma olhada nas cifras pagas aos credores financeiros
pelos governos que o precederam e as posteriores. Entre 1990 e 1998, por
exemplo, o Estado venezuelano pagou 4.863.869 milhões de bolívares em
juros da dívida pública. Esta cifra paga ao longo de 9 anos é igual à cifra paga
por Chávez em apenas em um único ano (CEPAL).

O "socialismo Bolivarista do século XXI" de Chávez é um socialismo que está


totalmente adaptado às necessidades do capitalismo mundial. As corporações
multinacionais, apesar das tão alardeadas "nacionalizações", continuam a
operar livremente no país e a ter seus lucros garantidos pelo próprio governo
venezuelano, como dito no próprio site da estatal petroleira PDVSA: "O
Executivo Nacional deixou claro que em caso algum se questiona a presença
das empresas em nosso país e que as mesmas obtenham seus respectivos
lucros, produto de seus investimentos, mas o que exigimos de maneira
irredutível é que esta participação se faça no marco do respeito à nossa lei e à
nossa soberania".

Simon Bolívar, amparado na força do exército e numa suposta libertação das


classes oprimidas, foi uma das grandes caricaturas latino-americanas do
Bonaparte III do século XIX. Hoje, Chávez—que baseia seu poder econômico
e político sobre a classe trabalhadora não em um programa socialista para a
transformação da sociedade, mas em uma sustentação assegurada pelo
exército e em uma política assistencialista tornada possível graças aos altos
preços do petróleo—aparece como o simulacro moderno de Bolívar, ou
melhor ainda, como o simulacro do simulacro, o Bonaparte Latino-Americano
do século XXI.

http://www.wsws.org/pt/2007/feb2007/po5-f17.shtml

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