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Amanda Tenório
Esta multiplicidade de projetos de mundo, cada qual explicado por seu próprio mito
etiológico é, via de regra, desconcertante para o leitor ocidental moderno, que
espera que uma das explicações seja preferível às demais. Isso nunca acontece. Do
mesmo modo, os modelos do universo coexistem, completam-se e, às vezes – como
ocorre entre os dogons com o modelo referente ao corpo ou ao modelo da cesta
orientada – são impostos um sobre o outro.
Na sociedade moderna a temática das cidades passou a ser estudada por vários campos,
inclusive o jornalismo, suscitando pesquisas interdisciplinares. Geografia urbana, sociologia urbana,
antropologia urbana são todas responsáveis em suas respectivas delimitações pelo estudo das
cidades e suas formas sociais.
O nosso objeto de estudo neste segmento será claramente a cidade como um lugar onde a
vida cotidiana coexiste com elementos humanos individuais e práticas sociabilizantes. O jornalismo
de cidades se preocupa basicamente com os fatos que ocorrem repetidamente no âmbito das
cidades, das suas ruas e bairros, acontecimentos estes que não poderiam estar incluídos em outros
cadernos, como política - no qual já conhecemos as personagens, esportes nem cultura.
Entretanto, é preciso pensar nas cidades não apenas no lugar do objetivo, mas também do
subjetivo, ou seja, na possibilidade do simbólico. Seja por meio de desenhos, discursos e gráficos, a
cidade tem a capacidade de ser tanto um desejo do observador quanto uma possibilidade de se
tornar real. Em “Espelho das Cidades”, Henry-Pierre Jeudy (2005, p.81) afirma que:
A cidade excede a representação que cada pessoa faz dela. Ela se oferece e se retrai
segundo a maneira como é apreendida. Uma certa nostalgia parece nos fazer
acreditar que a cidade não corresponde mais ao signo porque se teria tornado
excessivamente percebida graças aos símbolos de sua monumentalidade exibida.
O caderno de cidades é o espaço da vida comum, das rotinas do dia a dia e por isso da
interação social. É o lugar do jornal destinado aos desconhecidos, onde desde os acusados até as
vítimas encontram um forte apelo perante os leitores, visto que as passagens, mesmo que retratadas
com uma certa frequência, sempre ocorrem.
Referências:
JEUDY, Henry-Pierre. Espelho das cidades. Rio de Janeiro, Casa da Palavra: 2005.
RIBEIRO,Luiz Cesar de Queiroz; PECHMAN, Robert. Cidade, povo e nação: gênero do urbanismo
moderno, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1996.