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1. INTRODUÇÃO
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Advogada em Salvador/Ba, Pós-graduanda em Direito Processual Civil pela Faculdade Jorge Amado. E-mail:
lorena-miranda@uol.com.br
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Sob a influência da teoria científica do direito processual foram
promulgados os diplomas processuais pátrios de 1939 (Decreto-Lei nº 1608/39) e de 1973
(Lei nº 5869/73).
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Filio-me, no particular, à corrente mista, que salienta serem duas as finalidades precípuas do direito processual
civil: atuação do direito objetivo e tutela dos direitos subjetivos. Para a corrente objetivista, a finalidade
circunscrever-se-ia à atuação do direito objetivo, enquanto que, para a subjetivista, limitar-se-ia à tutela dos
direitos subjetivos. Sobre o assunto: Ovídio Batista da Silva e Fábio Gomes, “Teoria Geral do Processo Civil’, 3ª
ed., 2002, pp.42/43.
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José Carlos Barbosa Moreira, “Tutela sancionatória e tutela preventiva”. In “Temas de Direito Processual”, 2ª
série, p.21.
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uma série de reformas que vêm sendo implementadas no Código de Processo Civil vigente,
com vista a adequá-lo a essa nova realidade, primando-se pela efetividade da tutela
jurisdicional4.
Desse modo, a análise que será feita acerca do art. 431-A do CPC tem
por escopo a identificação de suas implicações práticas no que tange ao curso do processo e à
validade da prova pericial nele produzida. Seguindo tal escopo, demonstraremos,
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Relevantes alterações foram introduzidas, com efeito, pelas Leis nº 10.352/2001, 10.358/2001 e 10.444/2002,
objetivando garantir maior efetividade à tutela jurisdicional. Todavia, em razão dos estritos limites deste
trabalho, não será possível pormenorizá-las, cabendo, apenas a título exemplificativo, a enumeração de duas
dessas mudanças: a) art. 273, §7º, do CPC, ao cuidar da fungibilidade formal entre providências antecipatórias e
cautelares; e, b) art. 520 do CPC, ao ampliar as hipóteses em que a apelação será recebida somente no seu efeito
devolutivo.
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inicialmente, o papel do art. 431-A do CPC como veículo de concretização dos princípios
constitucionais do processo, quais sejam, os do contraditório, da ampla defesa e do devido
processo legal. Posteriormente, faremos uma abordagem sumária acerca do sistema de
nulidades processuais adotado pelo Código de Processo Civil brasileiro, destacando a sua
aplicabilidade à prova pericial em decorrência do quanto preconizado pelo art. 431-A do CPC.
Num terceiro momento, será ressaltada a importância prática do artigo em comento, para,
então, relatar os modos pelos quais o comando normativo nele inserto poderá ser efetivado.
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sobre o tema, vide Alexandre Freitas Câmara, “Lições de direito processual civil”, 8ªed, p.31.
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Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido Rangel Dinamarco, “Teoria Geral do
Processo”, 14ª ed., p.82.
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Diante de tal conceito, mostra-se evidente o papel exercido pelo art.
431-A do CPC na realização do princípio do devido processo legal, dado que garante o
exercício, pelas partes, de uma faculdade processual. Explica-se: às partes é facultada, além
da apresentação de quesitos, a indicação de assistentes técnicos, por força do quanto
enunciado pelo art. 421, § 1º, I, do CPC. Todavia, de nada adiantaria a indicação de assistente
técnico se este não fosse avisado, com certa margem de antecedência, da data em que seriam
iniciados os trabalhos periciais. O direito da parte de designar um profissional para
acompanhar a perícia e sobre ela emitir o seu próprio laudo esvaziar-se-ia, uma vez que, não
estando presente no momento da produção da prova (exame médico, vistoria, etc), ao
assistente técnico restaria apenas o papel de mero intérprete do laudo pericial produzido pelo
perito do Juízo.
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pp. 37/38.
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efetuando função ordenadora ou sistematizante, atua também
com função normogenética, inspirando normas procedimentais
incentivadoras da dialeticidade.”
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É cediço que os atos processuais, assim como os atos jurídicos em
geral, exteriorizam-se segundo uma dada forma, ainda que não determinada pela lei. No
campo processual, prepondera o princípio da instrumentalidade das formas, segundo o qual
estas se constituem em meio para o atendimento de uma finalidade e não em um fim em si
mesmas. Por tal razão, o sistema de nulidades processuais do CPC brasileiro adotou o
entendimento em conformidade com o qual, de regra, somente haverá nulidade quando a não
observância da forma resultar em desatendimento à finalidade legal ou ocasionar prejuízo.
Deve-se, portanto, atentar para esses dois aspectos antes de se declarar a validade/invalidade
de um ato processual: a) atendimento à finalidade legal, e; b) ocorrência de prejuízo.
No tocante ao primeiro grupo (atos com forma exigida por lei), poderá a
lei prescrever determinada forma sob pena de nulidade, hipótese em que o juiz estará
autorizado a decretá-la até mesmo de ofício, não podendo, todavia, ser argüida pela parte que
lhe deu causa (art. 243 do CPC). Se, entretanto, a lei exigir determinada forma mas não
cominar pena de nulidade ao seu desatendimento, será considerado válido o ato se, a um só
tempo, alcançou a sua finalidade e não ocasionou prejuízo às partes (arts. 154, 244, 249, § 1º e
parágrafo único do art. 250, todos do CPC). Não é por outro motivo que, podendo o juiz
decidir o mérito a favor daquele a quem aproveite a declaração de nulidade, deverá ele
simplesmente desconsiderá-la (art. 249, § 2º, do CPC). Idêntica regra é aplicável às hipóteses
em que nenhuma forma foi prescrita em lei: de nada adianta a prática de um ato se ele não
alcança a sua finalidade ou o faz causando prejuízo a uma das partes ou a ambas.
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Feita uma análise, ainda que superficial, do sistema de nulidades
vigente em nosso Código de Processo Civil, resta avaliar a sua aplicabilidade ao art. 431-A do
CPC, dispositivo que, sem sombra de dúvida, veicula ato processual, passível, portanto, de
controle de validade pelo ordenamento jurídico-processual.
Entendemos que o ato descrito no art. 431-A do CPC (ciência das partes
acerca do início dos trabalhos periciais) deve ser praticado sob a forma de intimação,
seguindo-se pois, todas as exigências normativas pertinentes à figura legal mencionada (ex.:
da publicação da intimação no Diário Oficial, quando cabível, deverão constar os nomes das
partes e de seus advogados – art. 236, § 1º, do CPC), sob pena de ser a intimação reputada
nula de pleno direito, por força do art. 247 do CPC. Logo, o ato previsto no art. 431-A do
CPC enquadra-se naqueles em que a lei prescreve determinada forma, imputando ao ato a
pena de nulidade para o caso de descumprimento, vício que pode ser, inclusive, decretado de
ofício pelo juiz, não necessitando de provocação da parte interessada.
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dos atos subseqüentes que dele dependam, a exemplo da prova pericial produzida. A respeito,
oportuna se revela a transcrição de trecho da obra de José Rogério Cruz e Tucci8:
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“Lineamentos da nova reforma do CPC”, 2ª ed., p.74.
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In “Código de Processo Civil reformado”, 5ª ed., pp.77/80.
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Divisa-se, assim, no CPC vigente, três etapas pertinentes à cientificação
das partes acerca do início da prova pericial: até 1992, havia a audiência de instauração de
perícia, garantindo à parte o conhecimento do local, dia e horário em que os trabalhos
periciais seriam iniciados, mas prejudicando, por outro lado, a celeridade processual; após a
Lei nº 8.455/92, a ciência das partes dependeria do bom-senso do perito, a quem ficou
delegada a incumbência de informar aos litigantes quando e onde começaria o seu trabalho
(não havia norma expressa a esse respeito), fato que comprometia sobremodo a segurança
jurídica.
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Conforme dito anteriormente, a ciência de que cuida o art. 431-A deve
ser implementada através de intimação, seguindo-se as normas pertinentes, estatuídas nos arts.
234 e seguintes do CPC.
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proferir despacho, dele intimando, com uma certa antecedência, as partes, sob pena de restar
inválida, como antes se disse, toda a prova pericial colhida.
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Flávio Cheim Jorge, Fredie Didier Júnior e Marcelo Abelha Rodrigues, “A nova reforma processual”, 2ª ed.,
pp. 57/58.
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Juiz Federal titular da 4ª Vara da Seção Judiciária do Estado da Bahia.
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Corrobora com tal entendimento, ainda, J. E. Carreira Alvim12, verbis:
Destaque-se, por fim, que a intimação deverá ser feita na pessoa dos
advogados das partes, os quais se encarregarão de informar os respectivos assistentes
técnicos, dando-lhes, assim, oportunidade de acompanhamento da perícia a ser realizada.
6. CONCLUSÕES
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“Código de Processo Civil reformado”, 5ª ed., pp. 79/80.
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2. O art. 431-A do CPC, acrescido ao citado diploma legal por força da
Lei nº 10.358/2001, teve por escopo primordial garantir a aplicabilidade prática dos princípios
constitucionais do processo: devido processo legal, contraditório e ampla defesa,
possibilitando uma participação mais efetiva dos litigantes na fase de produção da prova
pericial, garantindo, com isso, o pleno exercício de suas faculdades e direitos processuais no
campo probatório;
4. A ciência às partes do início da prova pericial deve ser dada por meio
de intimação. Desobedecendo-se a forma prescrita em lei, o ato será, a priori, nulo (art. 247
do CPC);
7. BIBLIOGRAFIA
ALVIM, J.E. Carreira. Código de Processo Civil reformado. 5. ed., Rio de Janeiro: Forense,
2003.
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CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. V. 01, 8. ed., Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2002.
DINAMARCO, Cândido Rangel. A reforma da reforma. 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2002.
JORGE, Flávio Cheim; DIDIER JR., Fredie; e RODRIGUES, Marcelo Abelha. A nova
reforma processual. 2. ed., São Paulo: Saraiva, 2003.
SILVA, Ovídio Batista da; e GOMES, Fabio. Teoria geral do processo civil. 3. ed., São
Paulo: RT, 2002.
TUCCI, José Rogério Cruz e. Lineamentos da nova reforma do CPC. 2. ed., São Paulo: RT,
2002.
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