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1 Leitura, texto e sentido Concep¢ao de leitura Frequentemente ouvimos falar—e também falamos~ sobre a importinci "Ga leitura na nossa vida, sobre a necessidade de se cultivar 0 habito de Teitura entre criancas jovens, sobre 0 papel da escola na formagio de Teitores competentes, com 0 que concordamos prontamente, Mas, no bojo dessa discussio, destacam-se questOes como: O que € Jer? Para que ler? Como ler? Evidentemente, as perguntas poderilo ser Fespondidas de diferentes mods, os quais revelario uma concepgio de Teitura decorrente da concepgio de sujeito, de lingua, de texto e de sentido que se adote. Foco no autor Sobre essa questio, Kock (2002) afirma que & concepeao de lingua como representacio do pensamento corresponde a de sujeito psicolégico, individual, dono de sua vontade e de suas agdes. Trata-se de um sujeito visto como um ego que constrdi uma representacdo mental € deseja que esta seja *captada" pelo interlocutor da maneira como foi mentalizada, Nessa concepeao de lingua como representagio do pensamento de sujeito como senhor absoluto de suas agdes e de seu dizer, 0 texto 10 ingedorevitaca Koch + Vands Maas é visto como um produto ~ I6gico ~ do pensamento (representagio mental) do autor, nada mais cabendo ao leitor senao “captar” essa representagio mental, juntamente com as intengdes (psicol6gicas) do produtor, exercendo, pois, um papel passivo. Aleitura, assim, é entendida como a atividade de captagio das ideias do autor, sem se levar em conta as experiéncias & os conhecimentos do leitor, 2 interagio autor-texto-leitor com propésitos constituidos sociocognitivo-interacionalmente. © foco de atenco €, pois, 0 autor € suas intencdes, € o sentido esta centrado no autor, bastando to-somente ao leitor captar essas intengdes. Foco no texto Por sua vez, 4 concepgao de lingua como estrutura coresponde a de sujeito determinado, “assujeitado” pelo sistema, caracterizado por uma espécie de “nio consciéncia”. 0 principio explic: de todo e qualquer fendmeno e de todo e qualquer comportamento individual repousa sobre a consideracao do sistema, quer linguistico, quer social Nessa concepeio de lingua como eédigo ~ portanto, como mero instramento de comunicacio ~ € de sujeito como (pre)determinado pelo sistema, o texto € visto como simples produto da codificacio de um emissor a ser decodificado pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, 0 conhecimento do eédigo utilizado. Consequentemente, a leitura é uma atividade que exige do leitor 0 foco no texto, em sua linearidade, uma vez que “tudo esti dito no dito”. Se, na concepgao anterior, a0 leitor cabia 0 reconhecimento das intengdes do autor, nesta concepcio, cabe-Ihe © reconhecimento do senticlo das palavras e estruturas do texto, Em ambas, porém, 0 leitor € caracterizado por realizar uma atividade de reconhecimento, de reproducio. Foco na interacao autor-texto-leitor Diferentemente das concepedes anteriores, na concepgao teracional (dialégica) da lingua, os sujeitos sto vistos como atores/ construtores sociais, sujeitos ativos que — dialogicamente — se constroem € sao construidos no texto, considerado 0 proprio lugar Lerecompreencee 11 eracilo e da constituicio dos interlocutores. Desse modo, ha lugar, exto, para toda uma gama de implicit mais variados tipos, ente detectiveis quando se tem, como pano de fundo, 0 contexto nitivo (ver capitulo 3) dos participantes da interacao. essa perspectiva, o sentido de um texto € construido na interacao tos ¢ niio algo que preexista a essa interaglo. A leitura é, ‘uma atividade interativa altamente complexa de producZo entidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos ¢ textual ¢ na sua Forma de organiza conjunto de saberes no interior a seguir: Paces Pal, 13 ab 2005, tirinha, Garfield representa bem o papel do leitor que, em interacao “o texto, constr6i-the o sentido, considerando nao s6 as informag ramente constituidas, como também o que é implicitamente aa leitura é uma atividade na qu € 0s conhecimentos do leitor; ‘a leitura de um texto exige do leitor bem mais que o conhecimento do cédigo linguistico, uma vez que o texto nio é simples produto da codificacto de um emissor a ser decodificado por um receptor passivo. 12. tngedoe wae Keen + Vands Maras Fundamentamo-nos, pois, em uma concep¢io sociocognitivo-inte- acional de lingua que privilegia os sujeitos e seus conhecimentos ‘em processos de interag’o, © lugar mesmo de interagio ~ como ji dissemos — € 0 texto cujo sentido “nao esti 14", mas é construfdo, considerando-se, para tanto, as ‘sinalizacdes” textuais dadas pelo f autor e os conhecimentos do leitor, que, durante todo 0 processo de leitura, deve assumir uma atitude “responsiva ativa’. Em outras pala vras, espera-se que © leitor, concorde ou no com as ideias do autor, complete-as, adapte-as etc., uma vez que “toda compreensio € prenhe de respostas e, de uma for forcosamente, a produz’ (Barts, 1992:290), autor-texto-leitor A interaca Nas consideracdes anteriores, explicitamos a concepgio de Jeitura como uma atividade de produgio de sentido. Pela consonancia com nossa posicdo aqui assumida, merece destaque 0 trecho a seguir sobre leitura, extraido dos Parmetros Curriculares de Lingwa Portuguesa: A leitura € © processo no qual 0 leitor realiza um trabalho ativo de compreensto ¢ interpretacio do texto, 2 partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre 6 autor, de tudo o que sabe sobre a linguagem etc, Nao se trata de extrair informaglo, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de selegio, antecipagio, inferéncia e verificacao, sem as quais no 6 possivel proficiéncia. f 0 uso desses procedimentos que possibilta controlar 0 que vai send lido, permitindo tomar decisoes diante de 4 dificuldades de compreensio, avancar na busca de esclarecimentos, validar no texto suposicoes feitas In: Pardmeteos Curticulares Naconals:terceto ¢ quarto cielas de ensino fundamental y lingua portuguesa/Secretaria de Educate Fundamental. ~ Brasilia: azcstr, 1998, pp. 6970, ‘Como vemos nesse trecho, encontra-se reforcado, na atividade de apel do leitor enquanto construtor de sentido, utilizando- smo selecao, antecipacao, inferéncia que, contradiga ou avalie a ute ou a rechace, que dé > Ieitor e seus a construgio de . vem merecendo a atengio de estudiosos do texto ¢ alimentando € discusses sobre a sua importincia para o ensino da titulo de exemplificagao, tentemos uma “simulacto” de como nés, , recorremos a uma série de estratégias no trabalho de construgao, cimentos sobre © autor do texto: Marcelo Coelho; ‘o meio de veiculagao do texto: Folha de $.Paulo; 0 género textual: miniconto; o titulo: elemento constitutivo do text chamar a atengio do leitor ¢ orienta-lo na produ¢ao de sentido; "+ a distribuigao e configuracao de informagbes no texto. Especificamente, a0 nos depararmos com o titulo QUESTOR fazemos antecipacoes, levantamos hipoteses que, no Sorrer da leitura, serao confirmadas ou rejeitadas. Neste tiltimo caso, Oteses serio reformuladas e novamente testadas em um movimer destaca a nossa atividade de leitor, respaldada em conhecimentos vados na meméria (Sobre a lingua, as coisas do mundo, outros 14 ingore vias Koch # Vanda Maria las textos, outros géneros textuais, como veremos no capitulo 2) ¢ ativados no processo de interaco com 0 texto, Focalizando o titulo, atentamos para a palavra “reforno” © seu significado — regresso, voltae situamos a hist6ria no mundo das narrativas infantis, resgatando em nossa meméria a hist6ria do Patinho Feio com a qual este conto dialoga de perto Com “previsées” motivadas pelo titulo, “adentramos" 0 texto, prosseguindo em nossa atividade de leitura e producto de sentido: “Alfonso era 0 mais belo cisne da fago Principe de Asttirias. Todos os dias, ele contemplava sua imagem refietida nas équas daquele chiquérrimo e exclusive condominio para aves milionérias. Mas Alfonso nao se esquecia de ‘sua origem humid. = Pensar que, néo faz muito termpo, eu era conhecido como o Patinho Fe. Um dia, ele sentiu saudades da mde, dos irméos e dos amiguinhas da escola, ‘A leitura desse trecho apresenta-nos uma personagem ~ que julgamos tratar-se da principal, uma vez. que € citada no titulo ¢ aparece em posicio de destaque no inicio da hist6ria. ‘Também nossos olhos de leitores atentos apontam para uma oposicao marcante no trecho em tomo dos nomes Alfonso x Patinho Feio, & qual subjazem outras oposigdes: presente x passado; riqueza x pobreza. No quadro abaixo, destacamos essa oposicao: O mais belo cisne (© Patinho Feio lago Principe de Asturias : chiquérrimo e exclusive . ‘condominio para aves milionérias (© quadro chama a nossa atenglo para a forte caracterizacao de Alfonso, composta pelas adjetivagdes referentes A personagem e a sua morada, em frente & fraca caracterizagao no que conceme a sua vida quando era conhecido como Patinho Feio, fato esse que pode servir de estimulo & formulacao de novas antecipacdes do leitor ative. © trecho em destaque, ainda nos salta aos olhos a expressio ~ - introdutéria de uma situacio+ conforme conh Eno empiricamente constituido textual stinuando 6 proceso de es sobre © passado de Alfonso (Onde morava? era € ), bem como sobre as provaveis agdes do “mais belo cisne do lago ipe das Astirias”, motivadas pelo sentimento de saudade expresso enn i ee Sls RTO MNOS TOS Entio, o que fari Alf ‘ou leitores dk 0s irmaios ¢ amiguinhos de escola? amos a leitura para a verificacio ¢ confirmagio (ou nio) de hipoteses: 2 lagoa do Quaquenha. 0 pequeno e barrento local de sua infancia, ia conversava com as amigas chocando sua quacragésima ninhada antecipamos que Alfonso voltaria do trecho ainda nos propde um avango na caracterizacao do de origem do Patinho Feio, em contrapc eontetido do primeiro trecho da histori complementa Vejamos a representagio das novas informacdes (em negrito) quadro: far ‘Omais belo cisne 0 Principe de Astirias mo € exclusive condominio. © trecho se encerra fe © Patinho Feio Jagoa do Quaquenhd 0 pequeno e barrento local de sua infancia , cuja resposta — positiva ou negativa? ~ tentamos 16 ngedre Ving Koch © Vande Maras antecipar e vamos verificar na continuidade da interaca Vejamos: (Quitéra levantou-se muito espantada. = Se-se-senhor cisne ... quanta honra... mas creio que © senhor se cconfunde, = Mamae..? = Como poderia eu ser mae de to belo e nabre animal? ‘Ngo adiantou explicar, Dona Quitéria balancava a cabeca. = Ese cisne é mesma lindo. mas doido de pedta, coitado.. © texto também nos desperta sentimentos, emogdes. Envoltos na atmosfera de emogoes sugerida pela leitura, que efeito o “esquecimento” da pata Quitéria provocard no Alfonso? Depois disso, 0 que pode acontecer? O que far o pobre Alfonso? ‘Voltara para 0 seu luxuoso condominio? Hipétese ntimero um. Persistiré no seu intento de ser reconhecido € novamente aceito na comunidade? Hipétese nimero dois. E verdade que outras hipéteses poderio ser formuladas, tantas quantas permitirem os conhecimentos e a criatividade dos leitores. Mas como nossa pretensio 6 a de uma mera simulacao de como o leitor interage com 0 texto, fiquemos naquelas dus apontadas € vamos confirm (ou nao) na leitura do trecho a seguir: ‘Alfonso fol entéo procurar a Bianca. Uma patinha linda do pré-primério, Que vivia chamando Alfonso de feio, = Lembra de mim, Blanca? Gostaria de me namorar agora? He, he, he. E, agora, o que nés, leitores, prevemos: Bianca responder afirmativa ou negativamente as perguntas do Alfonso? Estamos torcendo para que sim ou para que nao? _—Deus me ive! Estélouco? Umapata namorendo um cisne! Aberragsodanatureza Como vemos, até 0 momento, a situacdo no esté nada boa part Alfonso. Diante da negativa da pata Quitéria ¢ da patinha Bianca, 0 que iercoomeeeeenat onso poderi fazer? Voltar para o lago Principe cas Astirias ¢ esquecer E uma (outra) hipstese mnfessar que por essa nito espervamos, nao é mesmos O que aconteceri, entio? Resolver bruxo 0 problema do Alfonso? na hipétese de que nenhuma tentativa dara certo, 1080 condominio € esquecer de humilde? Tera a historia um final (in)feliz? E s6 ler Jom alguns passes magicos, 0 feitceiro e astrélogo Omar Rhekko resolveu 0 problema. £m poucos dias, Alfonso transformou-se num pato adulto. Gorduucho He bastante sem grace. Dona Quitéria capricha fazendio lasanhas para ele, Cuidado para nao engordar demais,flhinho. um cafuné na cabeca de Alor pescogudo... bicudo... Mas sabe que eu acho vocé uma gracinha? (lusivo condominio para aves milionsrias. Mas 'sua arigem humid. | Pensar que, ndo faz muito tempo, eu era conhec Un dia, ele sentiu saudades da mée, dos inméos & Voou até a lagoa do Quaquenha. O pequeno e barrenta otal de sua infanc 18 agers Vlog och Vanda Maa is ‘Appata Quitéria conversava com as amigas chocando sua quadragesima ninhada, Alfonso abriu suas langas asas brancas. = (Mame! Marae! Voce se letra de rim? Quitéialevantou-se muito espantada = Se-se-senhor cisne... quanta honra... mas creio que 0 senhor se confunde, = Mamae..? = Como podria eu ser mae de 10 belo e nobre animal? [No adiantou explicar Dona Quitéria halangava a cabeca — Esse cise é mesma lindo... mas doido de pedta, coitado... Alfonso foi entéo procurar a Bianca. Uma patinha linda do pré-primério. Que vivia chamando Alfonso de feio. = Lembra de mim, Bianca? Gostaria de me namorar agora? He, he, he. = Deus me livre! Esté louco? Uma pata namorando um disne! Aberracéo da natureza. Alfonso respirou fund. Nada mais fazia sentido por af. Resolveu procurar um famaso bruxo da regiéo. Com alguns passes magicos, 0 feiticero e astrélogo ‘Omar Rhekko resolveu problema. Em poucos dias, Alfonso transformou-se num pato adulto. Gorducho e bastante sem graca. Dona Quitéia capricha fazendo lasanhas para ele ~ Cuidado para ndo engordar demats,fihinho. Bianca faz um cafuné na cabeca de Alfonso. ~ Gordo... pescocude... bicudo... Mas sabe que eu acho voce uma gracinha? \iveram felizes para sempre. Forte: Come, Mel, “0 Retna do Patnho Fea Faha de Soul, 19 mar, 2005. Fabia, p. 8 fa atividade de leltores ativos, estabelecemos relagdes entre nossos conhecimentos anteriormente constituidos & as novas informagdes contidas no texto, fazemos inferéncias, comparagées, formulamos perguntas relacionadas com 0 seu contetido. Mais ainda: processamos, criticamos, contrastamos e avaliamos as informacdes que nos sio apresentadas, produzindo sentido para o que Jemos. Em outras palavras, agimos estrategicamente, 0 que nos permite ditigir e autorregular nosso proprio processo dle leitura. Dbjetivos de leitura £ claro que Gm que lemos 0 texto, pelos objetives da leitura. De modo geral, podemos dizer que hi textos que lemos porque efemos nos manter informados (omais, revistas); ha outros textos Jemos para realizar trabalhos aca¢ eses, livros, ntificos); ha, ainda, outros textos cuja leitura € realizaca deleite (poemas, cont que somos “obrigad {que nos caem em maos (panfletos) ou nos sto apresentado cothos (outdoors, cartazes, faixas). mais tempo ou em menos tempo; com mais atencao ou com menos » ou Com menor interacao, enfim. itura e producao de sentido “Anteriormente, destacamos a concepeio de leitura como uma atividade cada na iteragio autor texto-letor. Se, por um ldo, nesse process, ‘considerara materialidade linguistica do texto, elemento © 6 qual e a partir do qual se constitui a interacdo, por outro lado, iso também levar em conta os conhecimentos do leitor, condicio abelecimento da interacdo, com maior ou menor qualidade. mento de um sentido para o texto, nto do 0, € justificamos osigfo, visto que, na atividade de le lugar social, vivéncias, relagdes com 0 outro, valores da snidade, conhecimentos textuais (cf. Pauuno et al. 2001), srevela a leitura do texto a seguir: 20. ngedore Vilage Koch + Vanda Mai las MENOS TONUS MUSCULAR, MENOS BRILHO NO CABELO, (MENOS PELTO, MENOS BUNDA... A MEDIDA QUE ENVELHECE, A GENTE VAL FICANDO CADA VEZ MENOS..! SEJA MAIS POSITIVA, LAURINHA, PENSA EMTUDO O QUE TEM AGORA ENAOTINHAHA 20 ANOS.! E,TEMRAZAO, MALS OLHETRAS, MALS RUGAS, MALS PAPADA, MAIS MANCHAS| MALS BARRIGA, MATS CELULITE.. Fonte Celie Suing nes Tamancs | Seleconac er tensed. ya Voge, p21 Na leitura da charge, dentre outros conhecimentos, ativamos valores da época € da comunidade em que vivemos, conforme verificamos na relagio de causa € consequéncia sugerida na materialidade linguistica do texto: © a velhice é a causa de se ficar cada vez menos: §GSS0GH05 ARURCUIAR Mens FINO MHD Abela, menos peltey menos bund. + avethice & a causa de se ficar cada vez mais: STOOETESNEAS ‘IgES) Mais! Papaclay mais MEnIChas) mais bartiga, mais celulite Lere compreender 21 er encabecada pel ica uma es - é verdace — que nem sempre foi assim, nem sio pensam sobre essa fase da vida. A leitura e a produgio de sio atividades orientadas por nossa bagagem sociocognitiva: ntos da lingua e das coisas do mundo (lugat entos ar uma pluralidad um mesmo texto. cemplificago do que acabamos cle afirmar, a proposta de na tirinha abaixo—embora caricturizada -€ ex ssa verticalmente & como mote — apresenta trés leituras para o mesmo fato: 0 kento do mosquito na parede. Sobre esse fato, as leituras — undo a proposta do autor ~ vio se constituindo temente dependendo do leitor — seu lugar social, seus seus vale ‘em um texto, pois, como ja afirmamos, o sentido no esti apenas eitor, nem no texto, m isso, €de inal importncia que o leitor considere na e para a produgao de do as ‘sinalizagde: do texto, além dos conhecimentos que possui 22. tinged Vilage Koch + Vanda Maris as A pluralidade de leituras € de sentidos pode ser maior ou menor dependendo do texto, do modo como foi constituido, do que foi explicitamente revelado ¢ do que foi implicitamente sugerido, por um lado; da ativagio, por parte do leitor, de conhecimentos de natureza diversa, como veremos no capitulo a seguir, e de sua atitudle coopenutiva perante 0 texto, por outro lado, Se vimos, anteriormente, em relacdo 2 titinha do Galhardo, que a leitura pode variar de um leitor para outro, podemos verificar também que a leitura pode variar em se tratando do mesmo leitor. £ 0 que evidenciaremos com o texto a seguir: Fore Revie Vie Sto Pal: Ae 1.874, ano 37,n 0, 6 out 2004, Fm relacio ao texto, o mesmo leitor podera realizar duas leituras diametralmente opostas e, nesta atividade, a orientagio do autor tem | ignificativo: k ma para baixo implic: Entada pelo fio condutor SAGTSITORIIS; ler de baixo para cima, a leitura baseada no fio condutor SiaitERO. orient xemplo disso primeira garrafa, bebi umn copo e joguel o resto na pia. e/a sequnda garrafa, bebi outro cope e joguelo resto na pia, 2 fercera garrafa, bebi o resto e fogue’ 0 copo na pia §2 quarta garrafa, bebi na pia © jogue 0 resto no cope. EF quinto copo, joguei a rolha na pia e bebi a garrafa ja sexta pla, bebi a garrafa e joguel o copo na resto. ia garrafa eu peguei no resto e bebi a pia © copa, bebi no resto e joque' a pia na oitava garrafa ona pia no copo, peguiei na garrafa e bebi a resto que agora nao se trata de .0 para cima ou da direita para esquerda. tagaio do autor finha o te a dispo: de outra natureza, Observemo progride sem ‘estranhamento”, Da se cao dos termos na oraca linha em 10 nos chama a atenco por ser jente inaceitvel, segundo o nosso conhecimento de mundo. ra a producio do proporcionalidade: quant ‘embriaga; quanto mais se embriaga, mais comete ntido do t 20 ngedoreVlcaKech + Vande Mati as No texto, a acentuagao do grau de embriaguez, esté correlacionada as construcdes sintitico-semanticamente comprometidas: quanto mais incoerentes os enunciados, mais acentuado o grau de embriaguez (afinal, bébado nao fala coisa com coisa mesmo, nao €?). Como vemos, © texto pressupde do leitor que leve em conta a “incoeréncia” - estilisticamente constituida ~ como uma indicagao relevante para a produgio de sentido. Fatores de compreensao da leitura Ja € do nosso conhecimento que a compreenstio de um texto varia segundo as circunstancias de leitura e depende de varios fatores, complexos ¢ inter-relacionados entre si (AUENDE & Conpeaanin, 2002). Embora defendamos a correlagdo de fatores implicados na compreensio da leitura, queremos chamar a atengio para as vezes em que fatores relativos ao autor/leitor, por um lado, ou ao texto, por outro lado, podem interferir nese processo, de modo a dificulté-lo ou faciliti-lo, Autor/leitor Esses fatores referem-se a conhecimento dos elementos ling (uso de determinadas expressdes, léxico antigo etc.), esquemas cognitivos, bagagem cultural, circunstincias em que 0 texto foi produzido. A fim de exemplificar 0 que afirmamos, vamos let 0 texto a seguir: Vide Bula ‘Hé cerca de 10 anos publique’ este artigo no Jomal de Cajuru, nun momento ‘especial para 0 pais, quando 0 esquema colorido havia sido desmantelado, & havia grandes expectativas quanto ao futuro politico do Brasil Hoje aproveito para republicé-lo, como prévia para o Vide Bula i, que certamente traré novos medicamentas, para quem sabe, desta vez, curar 0 paciente, Uma coisa € certa; este jé néo esté mais na UM. Concordam? O Brasil esté doente, Eta frasezinha batida! Todo mundo esté cansado de saber disso. O diabo é: qual remédio? foe tem tentado com crogas tradici almejado efeito de Bempouo eng ott una coe ov ‘quase nao t 1 total, a “Collorcalna’, que, infelizmente, na pratica de laterais extremaamente deletérios (como a liberaco B “Pecelidona") quase acaba com o doente. ém, para o ano que vem, novos.mariieamentos poderéo ser usados. quanto isso no acontece, doente consegue Se voltando ao ano, que ver, se & que podemos voltap a0 futuro, vam idar os possiveis medicamentos que teremos & dispasigao da‘froribyndo primeica.droga a sbr.ciscutida j4 € uma antiga qué estava em detu: wv con nova embalagem € novas indic fi fase da “Pyumalufina’, extraida do peu-brasff com 3 propriedéde de jover perda das gorduras, printipalmente-.statais, azentuand a livre ta.colaterala crise agude de attortarsmo e tamnbem sino, senda cantraindicade para as democracies. nda droga, também ja testada, € derivado de debona’, Jefcina”, quejatua em praticamente todos 0s orgaos, que passam a Ustas da “Desoxidonropinainteréfase", que pro ing: ten 2 que pode se fate 20 organo Tea tequercina” séhdo, entretanto, muito mais terceira droga ir Ge efciencia.Tatase do “Clordrato dedulel", denvade da “Estrelapetina’ = como ef células perifericas,tornando-as t80 quanto a Sistema Nervoso Centra) nbrar que a mesma pode causarimobiismo com lberacso de Sete edisidéncias, Tats efeitos colstrais podem ser evitados com ineceo na wei de “antisectarina e cpsulas de "Bonsenso"” Anda é bom lombrarque os st3ncia provoca uma coravermelhade fem todos 0s crass ‘A quarta droga que dt a “Tucenina Cacicoide’, na verdade tm complexo de inimeros componentes, como a “FH.Cardozina", a 26 id Mi las “zesserrnitrina”, a “Mariocovase" emultas outras mais que so muito eficientes *™n Vitra, porém sem comprovacao de efeito “In Vivo". ‘Seu maior efeito colateral 6 a interagao de seus componentes que competem fentre si, causando uma sindrame chamada “encimamurismo", sindrome esta cextremamente deletéria e que pode invibializar 0 uso de tal medicamento. Existem ainda orogas menores como @ *Brizolonina” que, quando aplicade, pprovoca intensa verborragia e manias persequitdrias. Hé ainda a A.C. Malvadezina, uma droga extremamente torica que causa rnéuseas até em quem aplica, erminando nosso estudo, esperamos que, desta vez, os médlcos saibam 0 remédio certo para salvar 0 doente. ‘Autor Lu Fernand Eas cardloaistag, #35 horas ana, corsa © que nos chama 2 atengio no texto? Que conhi necessirios da parte do leitor para compreender 0 texto? Respondendo & primeira pergunta, podemos dizer que nos cha atengio a criagdo de um “c6digo especifico’ naa (Gillorcaanay PEcaNSHA (Tearina, Paimaluing Pemedebona, Orestequercina, Desoxidepropinainienferase, LA. Bleurizina, Grestequletcini, Cloridsaie de Tulaldy Fstrelapetina, antiscotirina, Ronsensol, Tucinina Cacicoide, PH. Cardozina, Zessertinitrina, Mariocovase, cneimamusisme, Brizolonina, A.C. Malvadezina resultante da conjugacio do conhecimento do autor sobre: * politica © medicina; ‘© clementos formadores ¢ processos de formacao de palavras, 0 que Ihe possibilita elaborar um *diagnéstico” sobre a politica brasileira Além desse “cédigo-inventado”, destacamos as partes do texto referentes a informagdes sobre as “drog: colateral, contraindicago. Em outras pal producao, também evidencia 0 conhecimento que possui sobre 0 género bula. i o que pocemos verificar se compararmos 0 contetido de uma bula qualquer com o contetido do texto apresentado no quadro composicio, efeito fas, © autor, em sud a seguir are compre vemos, se, do lado do autor, imentos para a producao do texto, , da parte do leitor, eonsidlere esses conhecimentos ( ua, de género textual ¢ de ‘ionado -modelo. 28 ngedove Vaca Koch + Varda Maria las Desse modo, 0 texto, pela forma como € produzido, pode exigir mais ou exigit menos conhecimento prévio de seus leitores. O texto anterior um exemplo de que um texto nao se destina a todos ¢ a quaisquer Ieitores, mas pressupde um determinado tipo de leitor. Em nosso dia a dia, deparamo-nos com intimeros textos veicutados em meios diversos (jomnais, revistas, ridio, 1v, internet, cinema, teatro) cuja producao é “orientada” para um determinado tipo de leitor (um piiblico especifico), o que, alias, vem evidenciar o principio interacional Constitutivo do texto, do uso da lingua. Texto Além dos fatores da compreensio da leitura derivados do autor € do leitor, bid os derivadas do texto que dizem respeito 2 sua legibilidade, podendo ser materiais, linguisticos ou de contetido (ef. AuuENDE & Conemantn, 2002). Dentre os aspectos materiais que podem comprometer a compreensio, os autores citam: o tamanho ¢ a clareza das letras, a cor © a textura do papel, o comprimento das linhas, a fonte empregada, a variedade tipogrifica, a constituicao de parigrafos muito longos; €, em se tratando da escrita digital, a qualidade da tela e uso apenas de maidisculas ou de mintisculas ov excesso de abreviacdes Além dos fatores materiais, ha fatores linguisticos que podem dificultar a compreensao, tais como: 0 léxico; estruturas sintiticas complexas caracterizadas pela abundancia de elementos subordinados; oragdes supersimplificadas, marcadas pela auséncia de nexos para indicar relagdes de causa/efeito, espaciais, temporais; auséncia de sinais de pontusicao ou inadequagio no uso cesses sinais, Vejamos, a seguir, um clissico exemplo de um género textual (bula) ‘no qual a conjugacao de fatores materiais ¢ linguisticos compromete a compreensiio leitora. 30 tngecore vaca Koch + Vanda Maris as Danone: pnts ie iacee a ge een cape ee nerd ooops ci EAE OE ADEA treo ten Se as fas ep es cone pancoa a ee ee {aie esta Poe oes Rend es ev esis pom as eas hacer {mftercrcstns nee: ben coma sm pasnts con ne scoccestemiea pepe - {Sscrameuate sor se nats un ipaoe ace Poon tomate men ean esos rc usps rue do sree econ en comet ie © € A toa que a bula é conhecida como u (Agéncia Nacional d 30 de bulas, visando artunidade do empreendimento no 0 factvel ide, j25 novas regras, seré possivel aproveitar m nha da letra, A separacdo dos textos tam la passa pelo bon um sabio, 0 bam senso no 32 ngecereVilaga Kach © Vanda Miri Bias Escrita e leitura: contexto de producao e contexto de uso Depois de escrito, o texto tem uma existéncia independente do autor Entre a producto do texto escrito e a sua leitura, pode passar muito tempo, as circunstancias da escrita (contexto de produgao) podem ser absolutamente diferentes das circunstancias da leitura (contexto de uso), fato esse que interfere na produgio de sentido, como bem exemplifica a tirinha a seguir Feats: Fob dS Paul, & aia 2005, Pode acontecer também que 0 texto venha a ser lido num lugar muito distante daquele em que foi escrito’ou pode ter sido reescrito de muitas formas, mudando consideravelmente o modo de constituiciio da escrita, como nos exemplificam os textos a seguir Texto 1 Capitulo | QUE TRATA DA CONDICAO E EXERCICIO DO FAMOSO FIDALGO DOM QULXOTE DELA MANCHA ‘Num fugar de La Mancha," de cujo name néo quero lembrarme, vivia, n30 ‘hd muito, um fidalgo, dos de lanca em cabido, adarga antiga, rocim fraco, é ‘TVs de Cervantes pode referinse a um dos ste poveaclos: Miguel Esteban, Vileveede, Exquivas,Tsteafuers, Quinzaar de La Orden, Agana de Calatrava, Argh de Alb, alguns com forte taigio cervantina pantufos Tinha em casa alarias, com tanta, 3 porque a clan pérolas,@ SE careiso era miapreciads que ale vaca, Em ta essa passagem pinta Cervantes fpastica c meiocre do fal, Be har como agasalho més, da cor da i, embora i qusis Lari 34. Ingedore aca Koch + Vand Mar Eas ‘ceo da, cornea oo cus om dns ws olsen ot como mano alr 05 fas sha 05 eri, eater feta, Sou CO cee 308 do de Dom Quixote, clissico de Miguel de Cervantes, ido de Dom Quixote, adaptacao da obra de Cervantes lico infantil, sto exemplos muito bons de que Otexto 1, ext eo texto 2, extr voltada para o p + umtexto pode ser lido num lugar € tempo muito distantes daquele em que foi produzido: ‘= um texto pode ser reesctito de muitas formas, objetivando atender a tipos diferentes de leitor fo e leitura Resie nosso percurso, destacamos que a leitura € uma atividade que intensa participagao do leitor, pois, se 0 autor apresenta um @ incompleto, por pressupor a inser¢io do que foi dito em esquems vos compartilhados, € preciso que o leitor © complete, por meio Huma série de contribuigdes. Ssim, no processo de leitura, o leitor aplica ao texto um modelo yo, ou esquema, baseado em conhecimentos armazenados na © esquema inicial pode, no decorrer da leitura, se confirmar Fazer mais preciso, ou pode se alterar rapidamente, como pod imine less pases comveses pias eu sent 10. de que all estava, Finalmente, 9 minha alma gémea, voc’ medelxou emocionad. Mes, na verdade, eu também sentiuma 9 diferente & hoje mis ainda, neste nosso incio de bate-papo. Sabe 2 Até parece que eu te conheco de uma vida inteira 2 Desde outras vides, tamanha & a afnidade que eu sinto por vocé. ito, Ja30. Assim & covardia, esta batalha vocé ganhou. sou desde ja reférn da sua simpatia, seu jeto, sua forma de 5, Maria. Vamos conversar mais, quero saber tudo de voc 36. ingedore villas ech + Vand Mora las = Adivinha, se gostas de min. — Quem é vocé, minha misterisa? ~ Ey sou Colombia — Eu sou Pierrot. Mas nem & carnaval, nem meu tempo passou. Bom, pelo imenas depois de voc. E verdade, Jo20. Deixando a misica de lado, eu que ja ndo sou té0 menina, apesar de estar me sentindo assim, quero que voc® seiba que 2 minha vida festava muito chata, muito mondtona até que o destino te colacou neste diélogo ‘meio louco, meio magico. = Vamos fazer 0 jogo da verdade, Maria? Eu sou Jo30, ou outro nome qualquer tenho 45 anos, casado fd muito tempo, sem fils. Meu casamento entrou numa rotina =£y também, Joo, estou casada ha muito tempo, também sem fihos, achando que era faliz, até te descobri, , principalmente, descobrir que estou viva. ‘Apesar de também ter passado dos quarenta, estou me sentindo uma colegia, dlante das primeitas emocbes. =A minha esposa é boazinta, mas ndo tem a minima imaginacéo, nem a tua -ensibilidade. Jamais seria capaz de um didlogo deste nivel = Omeu matido & honest trabalhador mas é um tremendo cretino, 6 penso em futebol = Eu até gosto de furebol, mas no sou muito fandtico. A minha mulher 56 ‘quer saber daquelas novels chatas,seripre do mesmo jit. = Eu quase que nem assisto novelas, prefio ler econversar. Com pessoas como voce, & claro! = Pois 6... este papa de ntemauita& gostoso, mas n3o me satis plenamente Eu quero te conhecer pessooimente, taro teu corpo. E quem sabe... Eu fico meio envergonhada.... Mas, dane-se 0 pudor estou iouca para fazer com voce as coisas mais loucas que pur. = Que tal neste fim de seman, a tarde... a gente poderia ira um barzinho. ~ Eu topo!!! — Me dena o niimero do seu celui. ~ Ah! E 9999, = 9899... Mas este 0 celular da minha esposal!! E vocé, Joana??? = 109621111 Autor Lue manda Els candologote mas horas aga, croneta Ieitores, a0 iniciarmos a interagio com 0 autor por meio do ‘Sitwamos a hist6ria no seguinte quadro: um homem ¢ uma mulher em um bate-papo de internet e, geralmente, como € esperado nessa ©, comportam-se como dois desconhecidos. a hist6ria pressupde do leitor a squema, que guiard a compreensio até a penuiltima texto, quando a hipétese inicial, reforgada pelo desenvolvimento Gria, deve ser alterada e reconstruida pelo leitor: 0 homem ¢ a onversavam numa sala de bate-papo via intemet nao eram mnhecidos — nito se levarmos em conta o sentido mais corriqueiro =, eram, para surpresa dos dois personagens (do mundo dos virtuais leitores (do mundo real), marido e mulher. 10 texto € um exemplo de que o autor pressupde a participactio or na construcio do sentido, considerando a (reorientagao que lhe & se que a compreensio nao requer que 0s vidade de construcio de sentido que leitor, € p -onsiderar que, nessa ide, além das pistas ¢ sinalizagdes que © texto oferece, entram em. 9 05 conhecimentos clo leitor. F desses conhecimentos que

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