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O FRENESI DAS RELAÇÕES DE CLASSES NA PRODUÇÃO DO 

ESPAÇO DA METRÓPÓLE: SEGREGAÇÃO SÓCIO­ESPACIAL EM 
FORTALEZA. 

Alexandre Sabino do Nascimento (Mestrando em Geografia/UFC 
alexgeo_uece@yahoo.com.br) 
Edson Oliveira de Paula (Bolsista CNPq/UFC, Geografia 
edsonoliveirapx@gmail.com) 
Raimundo Jucier Sousa de Assis (Bolsista CNPq/UFC, Geografia, 
juciersousa@yahoo.com.br) 

Forma de apresentação: 
(  ) Pôster 
(X) Apresentação Oral 

Sessão Temática: 
(   ) ST1 
(   ) ST2 
(X) ST3
O FRENESI DAS RELAÇÕES DE CLASSES NA PRODUÇÃO DO 
ESPAÇO DA METRÓPÓLE: SEGREGAÇÃO SÓCIO­ESPACIAL EM 
FORTALEZA. 

Resumo 

Esta  pesquisa  tem  como  objetivos  analisar  a  construção  e  o  processo  atual  de 
segregação sócio­espacial  em  Fortaleza­Ce a  partir de 1973,  quando institui­se as 
regiões  metropolitanas.  Partindo  da  compreensão  de  que  toda  relação  social  é 
passível  de  materialização,  entendemos  que  discutir  a  (re)produção  do  espaço  da 
metrópole,  resultante  das  práticas  sociais  realizadas  no  modo  de  produção 
capitalistas,  remete­nos  a  buscar  a  compreensão  da  própria  sociedade  vigente. 
Dessa forma, com o intuito de ultrapassar o âmbito da mera descrição da paisagem 
e das analises dos dados, buscamos enfocar as relações sociais que a produzem, 
suas  implicações  espaciais  na  leitura  do  processo  de  uso  e  ocupação  do  solo 
metropolitano, especificando em nossa crítica o que se refere à luta pelo o direito à 
cidade.  A  produção social  da  cidade  contrapõe­se  a  apropriação de  seu  resultado 
pelos próprios agentes sociais que a constroem, emergindo neste quadro elementos 
fundamentais, como a propriedade privada e a divisão social do trabalho, para essa 
compreensão.  Depreende­se  que  é  impossível  discutir  criticamente  a  cidade 
capitalista  sem  que  a  percebamos  como  mais  uma  mercadoria  a  venda  na 
sociedade de consumo em que vivemos. 

Forma de apresentação: 
(  ) Pôster 
(X) Apresentação Oral
Eu sabia que cidades eram construídas 
Não fui até lá. 
Isto pertence à estatística, pensei. 
Não à história. 
Pois o que são cidades, construídas. 
Sem a sabedoria do povo? (Brecht) 

Introdução 

Sendo  o  espaço  a  dimensão  material  da  realidade  social,  produto  e 


condição da reprodução da sociedade e da reprodução do capital, fazendo com que 
a  produção  hegemônica  da  cidade  procure  viabilizar,  antes  de  tudo,  de  modo 
eficiente  a  produção  econômica  pelo  espaço  e  pelo  tempo,  e,  paralelamente,  sua 
produção  simbólica  como  construto  que  respalda  a  anterior.  Cabe  então  se 
perguntar:  Como;  para  quê;  e  para  quem  está  se  dando  a  atual  (re)produção  do 
espaço  da  “metrópole”  de    Fortaleza?  E  até  que  ponto  ela  está,  realmente, 
permitindo a reprodução da sociedade (relações de produção) i . 

Um aspecto, ainda, não discutido o bastante é o processo de agravamento das 
contradições  sócio­espaciais  da cidade  de  Fortaleza,  advindo  de seu  processo  de 
integração  competitiva  no  mercado  global,  seguindo  o  modelo  econômico 
preconizado  pela  globalização,  que  reestrutura  a  produção  e  o  espaço  no  Brasil, 
atualmente,  sendo  que,  uma  vez  que  se  processa  essa  modernização 
“conservadora”  ela  acentua  a  histórica  desigualdade  sócio­espacial  e  cria  novas 
desigualdades. 
Repensadas  e  relidas  pela  lógica  da  forma­mercadoria,  as  cidades  têm  sido 
pensadas e produzidas com vistas à ampliação de sua inserção no circuito mundial 
de  valorização,  notadamente  através  da  adequação  de  suas  formas  de  gestão  e 
produção  de  seus  espaços.  Competitividade,  “empresariamento”,  planejamento 
estratégico ii  ­ por projetos ­ intervenções pontuais, entre outros enunciados, passam 
a compor o rol das iniciativas a serem adotadas pelos administradores urbanos dos 
mais diversos matizes político­ideológicos. 
Os  anos  passam  e  a  retórica  continua  a  mesma,  os  agentes  hegemônicos 
produtores  do  espaço,  principalmente,  incorporadores,  proprietários  dos  meios  de
produção,  proprietários  fundiários  e  o  Estado  coadunam­se  num  projeto  de 
economia  espacial  do  urbanismo iii  que  transforma  o  espaço  urbano  em  uma  das 
principais  mercadorias  da  economia,  no  nosso  caso,  dando  destaque  para  essa 
espacialização para o turismo e especulação imobiliária. Vale salientar que, muitas 
vezes, uma  mesma pessoa ou grupo concentra todas essas funções e poderes na 
produção do espaço. 
Existem vários fatores que em conjunto explicam a realidade de Fortaleza de 
metrópole  de  “excluídos”  como:  a  forte  concentração  e  especulação  de  terras,  a 
reestruturação  produtiva  no  campo  e  também  na  capital,  as  secas  periódicas,  o 
discurso  ideológico  da  capital  como  local  das  oportunidades,  que  com  uma 
conseqüente  maior  mobilidade  da  população  no  Ceará,  devido  aos  meio­técnicos 
implantados no  mesmo,  que facilitam  essa busca pelo um  “El dourado”  na capital. 
Isso  fez  com  que  Fortaleza  virasse  a  atração  de  todos  os  migrantes  expulsos  do 
campo, que vieram somente engrossar as fileiras de um “exército de reserva” que, a 
cada  dia,  perde  mais  essa  característica  e  passa  a  se  transformar,  sim,  em  um 
agrupamento  de  “incluídos  precariamente”.  Algumas  dessas  pessoas,  ainda, 
conseguem se inserir em um mercado de trabalho cada vez mais exigente, mas, na 
sua maioria como subcontratados, empregados precariamente e terceirizados, isso 
sem  falar  do  grande  número  que  caminha  para  o  chamado  por  Milton  Santos  de 
circuito  inferior  da  economia.  Com  essa  divisão  social  do  trabalho  surge 
simultaneamente uma divisão social e funcional da cidade. 
O espaço urbano é projetado cada vez mais para buscar se ajustar ao “tempo 
único”,  ditado  pelo  mercado,  e  que  se  diferencia  nas  diferentes  partes  da  cidade. 
Políticas  de  revitalização  para  tornar  algumas  áreas  mais  importantes  e  atrativas 
para negócios, inclusive para o turismo, uma reestruturação para uma nova fase de 
acumulação capitalista – em Fortaleza temos: Projeto Novo Centro, Centro Dragão 
do Mar de Arte e Cultura, Projeto Costa­oeste etc. Processos espaciais como os de 
fragmentação,  homogeneização  e  hierarquização  e  processos  econômicos 
diretamente  ligados  com  a  formação,  realização  e  distribuição  da  mais­valia 
coexistem na formação do espaço urbano fortalezense. 
Deve­se atentar que este processo fica cada vez mais difícil de captar, pois a 
extrema velocidade das mudanças devido a compressão espaço­tempo relatada por 
Harvey (1992), com a especialização cada vez  maior da divisão do trabalho, deixa 
estatísticas  e  métodos  de análise  obsoletos muito  rapidamente, sem  contar com  o
fato  de  que  a  produção  do  conhecimento  sobre  a  realidade  nunca  consegue 
acompanhar  a  produção  desta  mesma  realidade.  Por  isso,  achamos  que  só  uma 
análise baseada no método do materialismo dialético e na categoria da totalidade é 
possível  de  captar  esses  fenômenos,  entendo­a  a  partir  de  Harvey  que  sobre  a 
mesma afirma: 
A  totalidade  busca  moldar  as  partes  de  modo  que  cada  parte  funciona 
para  preservar  a  existência  e  estrutura  geral  do  todo  (...)  Uma 
conseqüência  que  se  segue  é  que  cada  elemento  reflete  dentro  de  si 
todas  as características  da totalidade  porque  ele  é  o  lugar  de  uma  série 
de relações dentro da totalidade (HARVEY, 1980, p.250). 

Sendo assim as desigualdades socioespaciais das metrópoles estão de forma 
inexorável ligadas ao processo de reprodução ampliada do capital, sendo que cada 
parte fragmentada da metrópole reflete as contradições do sistema, principalmente 
a contradição capital/trabalho. 
Carlos a esse respeito e falando sobre o processo de produção da metrópole 
afirma: 
(...)  esse  processo se  realiza  reproduzindo  a  cidade,  que assume,  neste 
momento histórico, a forma da metrópole. A nosso ver o termo ‘metrópole’ 
revela  um  momento  histórico  do  processo  de  reprodução  da  cidade, 
portanto  não  estamos  diante  de  um  novo  processo,  mas  de 
transformações históricas no processo de constituição do espaço urbano. 
(CARLOS, 2001, P.12). 
Cabe  ressaltar  que,  em  Fortaleza,  o  uso  e  ocupação  do  solo  são  injustos  e 
desiguais  em  sua  forma,  refletindo  uma  contradição  básica  do  sistema  capitalista, 
pois no mesmo a produção é socializada, mas a apropriação é privada, sendo que 
em  Fortaleza  isso  se  dá  de  forma  mais  latente  e  explícita  por  sua  extrema 
concentração  de  renda  e  conseqüente  desigualdade  socio­espacial,  que  se 
desenvolveu  historicamente.  Desta  forma  essa  intencionalidade  de  ingressar  no 
mercado  mundial  de  cidades,  que  tem  como  conseqüência  a  reestruturação 
espacial  da  cidade,  que  seletivamente  escolhe  os  lugares  já  portadores  de 
vantagens de mercado – ou portadores de sistemas técnicos, levando a segregação 
sócio­espacial, já existente, a ficar cada vez mais gritante.
A  desigualdade  do  desenvolvimento  capitalista  metropolitano  é  funcional  às 
necessidades de acumulação na metrópole, pois a mesma organiza o processo de 
metropolização  da  área  em  estudo,  no  qual  fundamentalmente  se  acumulam 
espaços  deficitários,  social  e  urbanisticamente,  que  logo  atuam  como  reservas 
urbanas. 
Outro  fato  a  se  destacar,  é  o  de  que  as  políticas  públicas  resultam  de 
determinados projetos políticos, em alguns casos conflitantes (Município e Estado), 
e que trazem consigo uma noção de espaço e desenvolvimento implícitos em suas 
ações,  que  obedecem  a  uma  intencionalidade  hegemônica.  Quais  são  neste  caso 
as  necessidades  que  o  atual  projeto  político  atende?  Quais  os  limites  e  alcances 
das  atuais  políticas  públicas  de  cunho  “democrático”,  em  uma  metrópole 
fragmentada  e  vulnerabilizada  socialmente  como  Fortaleza,  para  resolver  seus 
problemas?  E,  por  fim,  uma  questão básica,  o  planejamento  urbano  é  solução  de 
problemas da vida cotidiana ou é a proposta de solução para o capital? 
Analisar o papel dos agentes produtores do espaço diante da nova conjuntura 
do mercado e suas  imposições,  e  as  devidas  reações  da sociedade neste  espaço 
que  para  Lefébvre  é  um  espaço  “conflitivo  e  dialetizado”,  contradições  essas  que 
devem  ser  analítica  e  dialeticamente  reveladas,  para  que  se  possa  ter  um 
entendimento  real  da  dinâmica  urbana  de  Fortaleza  e  do  seu  processo  de 
reprodução do espaço urbano. 
Sendo que esse processo de reprodução do espaço urbano de Fortaleza deve 
ser  correlacionado  ao  desenvolvimento  capitalista  periférico  e  suas  contradições 
inerentes,  sendo  uma  delas  a  segregação  sócio­espacial  característica  da 
(re)produção da cidade, se dando concretamente na cidade e sendo vivida no seu 
cotidiano. 

Trabalho,  Renda  e  Divisão  Social  do  Espaço:  fundamentos  da 


segregação sócio­espacial 

Na  sociedade  capitalista,  o  trabalho  é  a  causa  de  toda  a 


degenerescência  intelectual,  de  toda  a  deformação  orgânica.  [E 
continua  em  um  outro  capítulo]  Trabalhem,  trabalhem,  proletários, 
para  aumentar  a  fortuna  social  e  as  vossas  misérias  individuais, 
trabalhem,  trabalhem,  para  que,  tornando­vos  mais  pobres,  tenham
mais  razão  para  trabalhar  e  para  serem  miseráveis.  Eis  a  lei 
inexorável da produção capitalista. (LAFARGUE, ????) 

Lafargue  no  impagável  “Direito  à  preguiça”  nos  dá  algumas  pistas  para 
compreender,  por  meio  de  uma  linguagem  bem  agradável,  a  lógica  da  produção 
capitalista,  da  reprodução  de  Capital,  onde  o  trabalho  atua  como  um  elemento 
fundamental  na  estruturação  das  classes,  através  da  divisão  social  do  trabalho. 
Através  desta  divisão  podemos  entender  o  porquê  das  diferenças  impressas  no 
espaço, onde são expressam as características das classes que dele usufruem e os 
usos que dele fazem. O Aprofundamento desta divisão dá origem ao processo que 
buscamos aqui enfocar: a segregação sócio­espacial. 

Um  outro  fator  essencial  na  constituição  do  processo  de  segregação  sócio­ 
espacial é a divisão social do espaço, que decorre do primeiro fator. Esta deriva das 
condições sociais de reprodução, onde as relações sociais de produção se refletem 
diretamente  na  renda  vislumbrada  por  cada  classe  e  se  impõem  como  meio 
determinante  da  apropriação  de  diferentes  parcelas  do  espaço  por  seus  diversos 
grupos constituintes (KOWARICK, 1985). 

A segregação sócio­espacial, segundo Carlos (2006), se expressa como um 
sintoma  da  crise  urbana,  no  bojo  do  processo  de  desenvolvimento  capitalista 
periférico,  no  qual  o  Brasil  se  insere.  Neste  desenvolvimento  assistimos  a  uma 
acentuação  das  desigualdades  sociais,  em  quadros  onde  a  realidade  já  era 
bastante complicada. Se por um lado temos de fato, um forte aumento dos ganhos 
nas  riquezas  “do  país”;  de  outro,  vemos  o  aumento  da  espoliação  das  classes 
sociais desfavorecidas, principalmente nas últimas décadas. 

O  elementar  processo  de  industrialização  realizado  no  Brasil,  que  ganha 


maior projeção após as primeiras décadas do pós­guerra e nas décadas seguintes, 
onde  este  processo  se  amplia  e  é  gradualmente  transformado  através  de  um 
movimento de reestruturação produtiva. 

Nos últimos anos, a reestruturação pode ser percebida mais facilmente, pela 
mudança  de  significado  dos  setores  produtivos.  Assim,  os  sustentáculos  da 
economia global hoje se firmam, segundo Carlos (2005), não mais na produção de 
mercadoria nos setores produtivos de bens materiais, mas no setor financeiro, onde
o espaço figura como elemento primordial para a realização do ciclo de reprodução 
do capital, principalmente ao que concerne aos espaços de lazer, onde a inserção 
no  mercado  turístico  se  impõe  como  nova  condição  para  sua  realização.  Emerge 
neste  momento  uma  nova  lógica:  a  cidade  mercadoria iv .  Esta  reestruturação  faz 
com que nasça uma “nova economia”, onde temos como elementos constituintes os 
setores  financeiros,  de  comercio  e  de  serviços.  Esta  reestruturação  se  apresenta 
também no mercado de trabalho, que passa a empregar cada vez menos pessoas, 
precarizando cada vez mais as condições de reprodução social – pelo menos para 
as classes desfavorecidas. (CARLOS, 2005). 

Vemos  então  que  há  também  a  construção  de  novas  espacialidades 


baseadas  nas  atuais relações  sociais  de  produção.  Como  exemplo  temos  os  sub­ 
empregos  que  se  impõem  nas  metrópoles  brasileiras  e  nos  grandes  aglomerados 
urbanos  como  novos  paradigmas  da  estruturação  sócio­espacial,  de  onde  o 
crescimento  de  novas  favelas  são  resultantes.  Amélia  Damiani  (2005)  a  esse 
respeito nos fala da produção de uma “nova pobreza” 

que não vem estritamente da exploração do trabalho, mas da exclusão 
da  produção,  são  os  desempregados  permanentes:  vai­se  do 
desemprego temporário e dramático ao permanente. Com isso há uma 
circulação de massa de dinheiro irrisória entre os pobres, dinheiro na 
forma  meio  de  circulação  [o  que  garante  a  sobrevivência  a  níveis 
precários]. 

Esta  “nova  pobreza”  que  Damiani  relata  pode  ser  enquadrada  dentro  da 
metodologia  do  observatório  das  Metrópoles  ­  grupo  de  pesquisa  ao  qual  somos 
vinculados – como parte integrante da Tipologia sócio­espacial inferior. 

Para  atingirmos  uma  melhor  visualização  do  que  entendemos  por  Tipologia 
sócio­espacial. Esta é um conceito desenvolvido dentro do projeto observatório das 
metrópoles,  que  divide  a  metrópole  fortalezense  em  seis  tipologias  ­  Superior, 
Médio­superior,  Médio,  Popular  Operário,  inferior  Popular  Periférico  e  Rural  ­,  que 
possuem  como  base  para  sua  construção  a  análise  de  alguns  fatores  sócio­ 
econômicos, como as condições sociais de reprodução, onde o trabalho, ou melhor, 
a  divisão  social  do  trabalho  tem  papel  central  na  estruturação  social  do  espaço,
onde  se  desenvolve  o  conceito  de  Categoria  sócio­ocupacional,  tendo  este  como 
pano de fundo um embasamento em métodos utilizados pelo IBGE, nos Censos. 

Buscando  a  compreensão  do  processo  de  segregação,  vejamos:  dentro  da 


tipologia inferior, por exemplo, as pessoas que se encontram nas Categorias sócio 
ocupacionais superiores v  representam  apenas  2,57%  da  população;  enquanto  que 
na tipologia Superior elas chegam a 28,47%. 

Se  confrontarmos  agora  os  dados  referente  as  ocupações  populares vi 


atingimos  um  total  de  77,89%  na  Tipologia  Inferior,  enquanto  que  na  tipologia 
Superior este número atinge apenas 37,35%. Vemos aí a gritante separação entre 
as classes populares e as dirigentes. 
E  asseveramos  que  este  número  não  é  mais  discrepante  em  função  de 
algumas  curiosidades,  por  exemplo:  os  trabalhadores  domésticos  são  também 
contabilizados  nas  áreas  de  tipologias  superiores,  em  função  de  informarem  que 
são residentes naquele domicílio, em virtude da natureza do contrato que possuem 
–  sistema  de  folgas  semanais  ou  quinzenais,  por  exemplo.  Estes  trabalhadores 
apresentam sozinhos 15,42%, o que pode representar uma distorção na análise se 
vista  de  maneira  superficial.  Dessa  forma  se  extrairmos  este  percentual  teremos 
apenas 21,93%, o que agrava ainda mais a expressão da Segregação. Mas nos é 
interessante  compreender  que  a segregação  não  é  absoluta,  prova  disto  é  a  forte 
presença  de  empregadas  domésticas  servindo  aos  “donos  da  cidade”  em  áreas 
privilegiadas. 

Ainda que  a  proximidade  das  classes,  proporcionada pelas  relações sociais 


que  estabelecem,  se  apresentem,  ao  menos  à  primeira  vista,  como  um  dado 
alentador,  a  real  situação  que  existe  é  que  através  dos  anos  com  o 
desenvolvimento das relações produtivas no bojo do modo capitalista de produção 
faz com que o abismo sócio­econômico cresça a cada dia. Deixamos claro que não 
nos  interessa aqui  esta  proximidade  proporcionada por  essas relações,  mas sim  a 
criação  de  uma  real  proximidade  social,  onde  possamos  atingir  uma  melhor 
distribuição de renda, melhores condições sociais, caminhando para uma sociedade 
mais justa. Utopia? Creio que não. Mas se não nos empenharmos neste sentido, do 
que  adianta  toda  esta  construção  teórico­ideológica  até  aqui?Queimem  estes 
escritos e não fará diferença alguma.
Para  finalizarmos  este  momento,  urge  que  busquemos  uma  solução  para  a 
questão  do  acesso  a  cidade,  ou  melhor,  à  Metrópole,  como  é  o  caso  de 
Fortaleza.Temos o que Ribeiro vem enfatizar: a carência habitacional como um dos 
principais problemas urbanos enfrentados hoje. Este se apresenta 

na  medida  em  que,  em  razão  da  exclusão  de  grande  parte  da 
população  do  mercado  imobiliário  formal,  a  'solução'  do 
chamado  déficit  habitacional  tem  sido  a  inserção  marginal  na 
cidade.  [...]  Assim,  quem  está  fora  do  mercado  [podendo  ser 
entendido aqui como o mercado de trabalho formal, bem como o 
mercado imobiliário] somente tem acesso à moradia à  margem 
da cidade! (RIBEIRO – grifo nosso) 

Só  para  ilustrar  o  que  Ribeiro  mostra  temos  que  o  preço  da  terra  torna 
inacessível o estabelecimento da população com um nível de renda mais baixo, em 
áreas  mais  valorizadas,  por  meio  do  mercado  formal,  o  que  explicita  o  fator  solo 
urbano  como  meio  necessário  à  segregação,  ou  seja  do  solo  urbano  enquanto 
obstáculo. Dados do SINDUSCON­CE (2006) mostram o preço do m² edificado em 
bairros clássicos da elite, como o Meireles, a Aldeota e a Praia de Iracema, atinge 
R$  88, 42,  nas  menores  residências  (que  chegam  a  55m²),  o  que  torna  inviável  a 
inclusão por meio do mercado imobiliário formal o estabelecimento de uma família. 

As  questões  do  acesso  e  do  direito  a  cidade  merecem  uma  análise  mais 
acurada, a qual faremos a seguir. 

O direito à cidade e/ou à Metrópole. 
“O  movimento  da  reprodução  da  metrópole  revela  (...)  uma 
contradição fundamental no movimento do processo de reprodução da 
cidade  entre  valor  de  uso  e  valor  de  troca  do  espaço  impressa  nas 
possibilidades de apropriação do espaço da vida”. 
Ana Fani Alexandri Carlos 

A  produção vii  capitalista  das  metrópoles  no  Brasil  se  revela  enquanto 


(re)produção  de  espaços  dominantes/dominados  no  interior  das  próprias
metrópoles, isso devido a uma divisão sócio­espacial do trabalho estabelecida pela 
segregação,  entendendo  ambos  como  processos  resultantes  da  propriedade 
privada do solo urbano na economia capitalista. 
A  propriedade  privada  da  cidade  espoliadora  do  sentido  do  urbano viii  na 
qual  vivemos  no  momento  é  fruto  das  realizações  de  interesses  do  estado  e  da 
burguesia  em  tê­la  (a  cidade)  como  mais  uma  mercadoria  que  venha  a  contribuir 
com o processo de acumulação capitalista. 
Partindo  desse  entendimento,  que  a  cidade  moderna  possui  um  duplo 
valor, um valor de uso e um valor de troca, e que o valor de troca quase anula ou 
“obscurece”  o  valor  de  uso,  faz­se  necessário  discutir  aqui  o  que  seria  o  direito  à 
cidade ou à metrópole. 
Para  aprofundar  essa  discussão  faz­se  necessário  entender  que  a  cidade 
atual  “aparece  como  privação,  perda,  estranhamento  revelando  os  descompassos 
entre tempo da vida e aquele da transformação da morfologia urbana imposta pelas 
políticas  urbanas  no  seio  do  Estado.  Esse  descompasso  aponta  a  produção 
alienada da cidade”. (CARLOS, 2004. p. 148) 
As  relações  sociais  de  produção  no/do  espaço  da  cidade  materializam  a 
sua  imagem  e  semelhança,  quer  dizer,  materializam  a  natureza  íntima  do 
capitalismo,  ou  seja,  coagulam  no  espaço,  com  diferentes  formas  no  decorrer  do 
tempo  histórico,  a  sua  própria  forma  carregada  de  essência  construída  pelas 
desigualdades  sociais  inerentes  as  contradições  de  classes  existentes  nessa 
sociedade capitalista. 
A  lógica  de  produção/apropriação  na/da  cidade  parte  da  capacidade  que 
cada um tem de “pagar” para morar e, desde já, compreendemos que morar não é 
habitar, e pressupondo as diferentes apropriações devido à propriedade privada do 
solo  urbano,  morar  enquanto  direito  à  “teto”  e  bem  estar  mercadológico  não 
expressa a complexidade do direito à cidade. 
Entendemos o direito à cidade como o direito à vida, a liberdade de viver o 
tempo  na  construção  social  do  espaço;  pressupondo  assim  o  fim  da  produção  e 
apropriação  diferenciada  do  produzido  coletivo  (mercadorias  e  relações  sociais) 
realizando  com  isso  a  construção  e  apropriação  da cidade pela  sociedade  urbana 
como um todo, o que Lefebvre passa a chamar da cidade enquanto obra ix .
Para  se  chegar  a  esse  feito  acreditamos  que  é  necessário  construir  uma 
sociedade que venha interrogar ou radicalizar o papel da cidade e da vida que está 
sob  a  égide  do  Estado  e  da  burguesia.  A  grande  controvérsia  para  esse 
acontecimento está nas discussões amenizadoras do Estado, que dizem respeito à 
construção  ou  o  melhoramento  aos  poucos  da  cidade  a  partir  do  planejamento 
urbano,  buscando  aliviar  com  essa  falsa  noção  de  formação  solidária  uma 
democratização  do  espaço  urbano,  enquanto  conquista  e  ajustamento  do  “bem 
estar”  social  e  agindo  ainda,  com  aqueles  menos  beneficiados  do  capital,  com 
políticas  assistencialistas,  doando  desde  dinheiro  até  “balaios”  básicos  como 
alimentação e moradia. 
Compreendemos que o planejamento urbano não é a saída para o direito à 
vida e à cidade, mas, ao contrário, é ele mesmo o planejamento do capitalismo que 
dá  continuidade  à  cidade  enquanto  máquina  de sustentação  dessa  superestrutura 
jurídica, econômica e ideológica. 
Para a geógrafa Ana Fani A. Carlos (2004): 
A realidade  produzida  de forma  profundamente  desigual  revela  a  dialética 
do mundo. É preciso diferenciar o direito à cidade (...) dos direitos básicos 
que  o  brasileiro  ainda  não  alcançou  por  que  sua  banalização  impede  a 
construção de um projeto de transformação radical da sociedade brasileira. 
(p. 150) 

Encontra­se  desde  o  início  da  década  de  1980  à  vontade  dos  “donos  da 
cidade x ” de construir um espaço urbano que venha combinar esteticismo com lazer, 
buscando no espetáculo mercantilizado da natureza e das artificialidades a imagem 
vazia do direito à liberdade. É assim que surge o slogan de Fortaleza como a Terra 
do Sol;  e  é nessa  mesma perspectiva,  que o  litoral  fortalezense está  em processo 
de  “limpeza  do  lixo,  de  pobres  repulsores  de  turistas”,  sendo  aqueles  “varridos” 
pelos planos do Estado e pelos interesses dos especuladores imobiliários. 
Grande  parte  da  área  litorânea  da  metrópole  Fortaleza  já  está  marcada 
pela  construção  de  grandes  edifícios  “quadrados”  e  “espelhosos”,  que  juntamente 
com o mar e os fenômenos naturais, fazem a tripla privatização: da água (assim, do 
lazer coletivo e aquilo que chamamos de natureza), das brisas (amenizadoras das 
altas  temperaturas  nordestinas,  sendo  agora  barradas  pelos  edifícios)  e  do  solo
urbano (grande parte dessa área litorânea ­ como é o caso da avenida beira­mar e 
dos bairros Aldeota e Meireles ­ é construída para “turista ver” e consumir. 
Como próprio pensava o filósofo Lefébvre (...) “a natureza, ou aquilo que é 
tido  como  tal,  aquilo  que  dela  sobrevive,  torna­se  o  gueto  dos  lazeres,  o  lugar 
separado do gozo, a aposentadoria da criatividade”, acrescentando ao dizer que “a 
cidade (...) não é mais do que um objeto de consumo cultural para os turistas e para 
o estetismo, ávidos de espetáculo e do pitoresco”. (p. 116) 
O  Planejamento  Urbano  não  abarca  o  ato  do  habitar,  pois  não  busca  ele 
mesmo  extinguir  a  propriedade  privada  do  solo  urbano,  ao  contrário,  busca 
continuar  a sua  luta  incessante,  no  que se  refere  à  venda  da  produção  da  cidade 
enquanto mercadoria. Para Carlos, “o ato de habitar esta na base da construção do 
sentido da vida, realizada nos modos de apropriação dos lugares da cidade, a partir 
da casa, na vida cotidiana enquanto prática sócio­espacial”. (p. 140) 
O direito à cidade não diz respeito a um Plano Diretor de Desenvolvimento 
Urbano  Participativo xi ,  nem  muito  menos  a  formulação  e  acesso  as  políticas 
assistencialistas  e  habitacionais.  Nas  palavras  de  Lefébvre,  “o  direito  à  cidade  se 
afirma como um apelo, como uma exigência”. (p. 116), compreendido esse como a 
quebra desse modelo exibidor da cidade como mercadoria e das pessoas enquanto 
coisas,  ou  seja,  da  terra  e  da  vida  enquanto  propriedade  privada  do  capital,  o 
rompimento  da  produção  do  espaço  social  enquanto  “exterioridade”  e 
estranhamento a sua própria (re)produção. 
No pensar de Carlos (2004), 

“O  direito  à  cidade  é  a  negação  do  mundo  invertido,  aquela  das  cisões  da 
identidade abstrata, da indiferença da constituição da vida como imitação de 
um  modelo  de felicidade forjado  na posse de bens; na propriedade  privada; 
na importância da instituição e do mercado; do poder repressivo que induz a 
passividade  pelo  desaparecimento  das  particularidades;  da  redução  do 
espaço cotidiano ao homogêneo, destruidor da espontaneidade e do desejo. 
Assim  espaço  amnésico  e  tempo  efêmero  caracterizadores  do  momento 
atual,  mas  que  podem  ser  superados,  pois  os  sujeitos  se  insurgem 
contestando  e  confirmando  suas  diferenças  e,  nesta  ação,  descobrindo 
possibilidades.” (p. 150)
O entendimento do estatuto da cidade sobre o direito à cidade 
Buscamos alavancar essa discussão pelo motivo de entender sobre o que 
o  estatuto  da  cidade  diz  em  respeito  ao  direito  à  cidade,  e  como  isso  é 
compreendido, ou faz parte, de nosso entendimento. 
É digno de nota lembrar que o estatuto da cidade foi aprovado pela Lei nº 
10.  257,  de  10  de  julho  de  2001,  que  regulamenta  os  arts.  182  e  183  da 
Constituição Federal de 1988. 
“Para  todos  os  efeitos,  essa  lei,  denominada  de  estatuto  da  cidade, 
estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso 
da propriedade  urbana em  prol  do bem coletivo,  da segurança e  do bem­ 
estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”. (p. 25) 
Durante  a  leitura,  várias  são  as  páginas  que  citam  o  estatuto  da  cidade 
como uma vitória para a construção de uma cidade mais justa, organizada, “bonita” 
e que a partir do planejamento urbano participativo possa vir a construir a cidade de 
e para todos os habitantes. Achamos que não é bem assim. Em nossa apreciação 
critica à respeito do estatuto da cidade, achamos que não se pode ser esquecido ou 
“mascarado”  que  essa  “vitória”,  no  nosso  entender,  não  ocorre  pela  generosidade 
do  Estado  e  da  Burguesia  à  população  pobre,  ou  pela  luta  incessante  ou 
valorização  dos  movimentos  sociais  pelos  “donos  da  cidade”,  mas,  como  próprio 
está escrito no estatuto, ele é a água para apagar a “bomba relógio” construída pela 
miséria que está prestes (se já não estiver) a explodir nas grandes cidades. 
“As elites estão sendo verdadeiramente engolidas pelos dramas urbanos e 
estão  sendo  obrigadas  a  aceitar  a  mudança”  (p.  6),  essas  são  algumas  das 
descrições  na apresentação do  próprio estatuto  da cidade inscritas  pelo  Deputado 
Federal Inácio Arruda. 
Achamos que não precisa ser nenhum grande intelectual para entender que 
as ações do governo em relação à criação do estatuto da cidade no século XXI, é 
estratégica,  tornando­se  perceber  que  o  que  está  em  jogo  é  a  mal­estar  da 
burguesia e a crise do seu Estado, e não os séculos de sofrimento de milhares de 
povos mundiais provocados por essa dupla inseparável. 
O estatuto da cidade, no que tange o seu entendimento acerca do direito à 
cidade,  segue  a  vertente  de  raciocínio  citada  acima.  Nessa  breve  análise,
entendemos  que  o  direito  à  cidade  discutido  pelo  estatuto  perpassa  por  quatro 
características principais, a saber: 
I)  A  luta  pela  Reforma  Urbana  (...)  expresso  em  políticas  e  ações 
mobilizadoras  na  busca  insistente  pelo  direito  de  morar  e  aí  viver  dignamente, 
fazendo com isso a cidade mais justa e democrática. 
II)  Atenuar  a  especulação  imobiliária,  para  amenizar  o  caos  generalizado 
que tem sido morar na cidade. 
III)  Busca  por  melhorias  das  qualidades  de  vida  da  cidade,  que  possam 
possibilitar mais  a  indução do  que  a  normatização  das  diversas formas  de  uso  do 
solo e o controle das iniciativas públicas e privadas sobre o urbano. 
IV)  Urbanização  e  regularização  fundiária  das  áreas  faveladas  e 
loteamentos ilegais; programas de construção de moradias populares por parte dos 
estados e municípios; utilização das terras públicas ociosas para assentamentos da 
população de baixa renda. 

O direito à moradia, a saneamento básico, o direito a uma melhor qualidade 
de vida baseada no bem­estar mercadológico e o direito de permanecer na área de 
ocupação não é em nossa concepção o que entendemos por direito à cidade. 
Como explica Carlos (2004): 
O  que  existe  concebido  no  estatuto  da  cidade  é  um  sentido  reduzido  e 
simplificado  do  direito  à  cidade  identificado  com  o  direito  à  moradia  mais 
serviços que dizem respeito ao mundo do habitat. (...) a luta pela moradia, 
não é apenas a luta por um “teto mais serviços”, mas a luta pela vida contra 
as formas de apropriação privada. (...) e nesta direção se trata de mudar a 
cidade e não reajustá­la [a partir do planejamento urbano] para o mercado 
e aos interesses dos segmentos que sustentam o estado. (p. 141) 

Faz­se necessário ainda discutir que compreensão de qualidade de vida e 
de bem­estar é discutida pelo estatuto da cidade. Dessa forma, o que discutíamos 
anteriormente  sobre  o  direito  à  cidade,  como  o  direito  à  liberdade  das  práticas 
sociais  e  da  vida,  que  estava  oposto  à  propriedade  privada  do  solo  urbano  e  ao
controle  da sociedade  sob  a  égide  do  Estado  e  da  burguesia,  foi  o  contrário  ou  o 
“incompleto” do que encontramos ou entendemos após a leitura da Lei 10. 257. 
Entretanto, é preciso salientar que durante a leitura ficou claro para nós que 
a realização do que está inscrito no estatuto da cidade deverá ser acompanhada e 
pressionada  pelos  movimentos  sociais.  Mas,  quais  os  papéis  dos  intelectuais  e 
críticos  para  a  organização  desses  movimentos?  Não  seriam  estes  organizados  o 
motivo  de  uma  mudança  maior  que  a  construção  de  casas  ou  saneamentos 
básicos?  Não  seriam  esses  a  base  para  a  construção  de  uma  sociedade 
radicalmente livre? 
A construção de uma sociedade radical é o caminho para a apropriação da 
cidade a partir da extinção do solo urbano enquanto mercadoria e da libertação do 
trabalhador enquanto mera força de trabalho. 
Talvez  seja  necessário  lembrar  que  todos  nós  somos  iguais  perante  a  lei 
desde 1988, sendo necessário frisar que o desenrolar da vida no processo histórico 
fica  mais  complicada  e  sendo  que  cada  vez  mais  o  diferente  não  é  a  igualdade 
social  ou  a  libertação  da  exploração  capitalista,  e  sim,  é  a  crescente  massa  de 
pessoas  pobres  que  estão  se  formando  e  sobrevivendo  nesse  mundo  de  lógica 
perversa  consumista  e  inútil,  o  que  põe  em  jogo  a  própria  existência  da 
humanidade. 

Notas 


Nesse  ponto  compartilhamos  com  o  pensamento  de  Carlos  quando  diz:  “A  análise  do  processo  de 
produção do espaço urbano requer a justaposição de  vários níveis de realidade, momentos diferenciados 
da  reprodução  geral  da  sociedade,  como  o  da  dominação  política,  o  da  acumulação  do  capital,  da 
realização  da  vida  humana  (...)  A  materialização  do  processo  é  dada  pela  concretização  das  relações 
sociais  produtoras  dos  lugares.  Esta  é  a  dimensão  da  produção/reprodução  do  espaço,  o  passível  de  ser 
vista, percebida, sentida, vivida”. (CARLOS, 2001, p.12) 

ii 
Aqui nos referimos ao novo paradigma de gestão urbana chamado de Empreendedorismo urbano. Sobre 
o mesmo ver (HARVEY, 2006; COMPANS, 2006). 

iii 
Sobre o termo economia espacial do urbanismo Harvey (1980) fala que “o urbanismo, necessariamente, 
surge  com  a  emergência  de  um  modo  de  integração  econômica  de  mercado  de  troca  com  suas 
concomitantes  estratificações  sociais  e  acesso  diferencial  aos  meios  de  produção”.  (HARVEY,  1980, 
p.205) 

iv 
CARLOS, A. F. A. A Repr odução da Cidade como “ negócio”. In: Urbanização e Mundialização: 
estudos sobre a metrópole. São Paulo: Contexto, 2005 

CAT’s  Superiores:  correspondem  aos  empregos  de  grande  significação  econômica  e,  algumas  vezes, 
também  de  status.  São  elas:  Grandes  empregadores,  dirigentes  do  setor  público,  dirigentes  do  setor
privado,  profissionais  autônomos  de  nível  superior,  profissionais  empregados  de  nível  superior, 
profissionais estatutários de nível superior e professores de nível superior. 
vi 
As  ocupações  a  que  aludimos  são:  trabalhadores  da  indústria  moderna,  trabalhadores  da  indústria 
tradicional,  trabalhadores  dos  serviços  auxiliares,  trabalhadores  da  construção  civil,  trabalhadores  do 
comércio,  prestadores de  serviços  especializados,  prestadores de serviços especializados,  prestadores de 
serviços não especializados, trabalhadores domésticos, ambulantes e catadores. 
vii 
Produção  a  partir  de  Lefebvre  em  seu  duplo  sentido  ­  strito  sensu  representada  pela  produção  de 
mercadoria  e  de  bens  materiais;  e  lato  sensu,  que  diz  respeito  à  produção  de  relações  sociais  e  que  dá 
continuação a vida. 
viii 
Convergimos com o pensar de Henry Lefebvre quando escreve, em sua obra “O direito à cidade”, que 
o “urbano não pode ser definido nem como apegado a uma morfologia material nem como algo que pode 
se  deparar  dela.  Não  é  uma  essência  a­temporal.  (...)  É  uma  forma  mental  e  social,  a  forma  da 
simultaneidade, da reunião, da convergência e do encontro ou encontros”. (p. 81) 
ix 
Lefebvre se refere à cidade enquanto valor de uso; uso dos prédios, das ruas, das praças; no qual geraria 
o prazer derivado da apropriação . 

Referimos­nos  ao  estado  burguês  e  seus  burgueses  parceiros,  como  os  especuladores  imobiliários,  os 
“latifúndiaristas” urbanos e os grandes empresários. 
xi 
Nós do Laboratório de Planejamento Urbano e Regional – LAPUR – participamos no ano de 2006 dos 
encontros nos bairros referentes  ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano da Cidade de Fortaleza – 
PDDU ­  e  discutimos com  a  população  as  possibilidades de  participação  dentro daquele documento, no 
qual  poderiamos  vir  a  ajudar  a  discutir  e  solucionar  os  problemas  do  bairro.  Na  nossa  opinião,  a 
construção de planejamentos urbanos participativos, elaboram nada mais que uma mesma farsa no que se 
refere  a  falsa  democratização  urbana  e  o  reforço  na  criação  de  “etiquetas  urbanas”  para  o  próprio 
desenvolvimento ou sustentação do capitalismo. 

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