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VOCABULÁRIO

TÉCN ICO
E
CRÍTICO
DA
FILOSOFIA
André Lalande

Martins Fontes
São Paulo — 1993
Titulo original:
V O C A B U L A IR E T E C H N I Q U E E T C R IT IQ U E D E L A P H IL O S O P H IE
C o p yright © P re s s e s U n iv e r s ita ir e s d e F r a n c e , 1926
C o p yrig h t © L iv r a r ia M a r tin s F o n te s E d i t o r a L t d a . , S ã o P a u l o , 1990,
p ara a p re s e n te e d iç ã o

1? edição brasileira: a b r il d e 1993

Tradução:
F á tim a S á C o r r e ia , M a r ia E m ília V. A g u ia r ,
J o s é E d u a r d o T o r r e s e M a r ia G o r e te d e S o u z a
R evisão da tradução: R o b e r to L e a l F e r r e ir a
Preparação d o original: M a u r íc io B a lth a z a r L e a l
Revisão tipográfica:
S ilv a n a C o b u c c i L e ite , L a ila D a w a , T e r e z a C e c ília d e O . R a m o s ,
M a r ia C e c ília K.. C a lie n d o e L u ís C a r lo s B o rg e s

P rodução gráfica: G e r a ld o A lv e s
C om posição:
A n to n io C ru z e R e n a to C . C a r b o n e

Capa — P rojeto: A le x a n d r e M a r tin s F o n te s

D ados Internacionais de Catalogação na Publicação (C IP)


(C âm ara Brasileira do L ivro , SP, Brasil)

Lalande, A ndré, 1867-1963.


V ocabulário técnico e crítico da filosofia / A ndré Lalande
; [tradução Fátim a Sá C o rre ia ... et al.J. — São Pauio :
M artins Fontes, 1993.
ISBN 85-336-0178-6
1. Filosofia - D icionários 1. T ítulo.
93-0707 ___________________________ CDD-103

índices para catálogo sistem ático:


1. Filosofia - D icionários 103

T odos o s direitos para o Brasil reservados à


L IV R A R IA M A R T IN S F O N T E S E D IT O R A L T D A .
R u a C o n s e lh e ir o R a m a lh o , 3 3 0 /3 4 0 — T e l.: 239 -3 6 7 7
0 1 3 2 5 -0 0 0 — S ã o P a u l o — S P — B ra s il
NOTA À PRIMEIRA EDIÇÃO BRASILEIRA

O s c o m e n t á r i o s d o s m e m b r o s e c o r r e s p o n d e n te s d a S o c ie d a d e F r a n c e s a d e
F il o s o f i a s o b r e o s v e r b e te s d o Vocabulário f o r a m c o lo c a d o s a o p é d a s p á g in a s ;
p a r a r e f e r ê n c ia a eles f o i u s a d a a d e s ig n a ç ã o “ o b s e r v a ç õ e s ” .
INTRODUÇÃO
À D É C IM A E D IÇ Ã O

Poder-se-ia pensar que, ao f i m de m eio século, o V o c a b u lá r io f ilo s ó f ic o de


A n d ré L a la n d e e da Sociedade Francesa de F ilosofia teria perdido a sua audiên­
cia. N ão é isso que acontece e as edições esgotam -se cada vez m ais rapidam ente,
n u m a época em q ue todavia as revistas filo só fic a s decaem p o r fa lta de público.
A n te s de m ais nada, isto tem a ver com o fa to d e as definições e os exem plos
terem sido durante m uito tem po m aduram ente debatidos p o r filó so fo s conscientes
e resolvidos a trabalhar m etódica e p a cientem ente em co m u m , em preendim ento
único ao qual A n d r é L alande e os seus am igos consagraram m u ito tem p o das
suas vidas. Tem a ver, depois, com o f a to de term os nas notas e nas discussões
apenas um notável m odelo dessa análise da linguagem, exercício que não se p e n ­
sava então que fo sse um dia para alguns o essencial da filo so fia . À volta de cada
term o, os m atizes, as oposições de sentidos evocam os das doutrinas, dos p r o ­
blemas, das experiências, e essa discussão co n stitu i u m prim eiro exam e clínico
do p en sa m en to filo só fic o .

Isso significa que o V o c a b u lá r io poderia ser indefinidam ente reim presso sem
alterações? É claro q u e não, e cada nova edição com portava retificações e so ­
bretudo com plem entos. É assim que fig u ra va já , no f i m da obra, u m S u p le m e n ­
t o contendo term os no vo s ou acepções novas d e term os antigos e um A p ê n d ic e
constituído p o r com entários suplem entares, com pletando aqueles q u e se encon­
travam nas notas d o antigo V o c a b u lá r io . C ontudo, é necessário sem dúvida en ­
carar o fa to de u m dia ser preciso refundi-lo m ais com pletam ente. Conviria, p o r
um lado, retificar certos artigos, p o r exem p lo de lógica, de psicologia, etc., que
correspondem a noções cujo co n teúdo se diferenciou, transform ou, renovou,
e acrescentar no vo s — p o r outro lado, introduzir, n u m a certa m edida, os ter­
m o s da linguagem filo só fic a contem porânea, assim co m o certos term os de ori­
gem escolástica que passam hoje p o r vezes da teologia para a filosofia. Acrescente-
se que nas notas e nas discussões se suprim iria de bom grado aquilo que se refere

*
/· '
V IH IN T R O D U Ç Ã O

à obra de filó s o fo s m enores o u q u e se refere a u m c o n texto caduco, a referên­


cias f ora de uso, p rin cip a lm en te q u ando se trata d e filo s o fía ligada às ciências
o u às técnicas. D e que serve rem eter p a ra obras q u e m o sã o n em dissertações
originais, n em exposições atu a lm en te válidas?

F o i isso q u e se ten to u fa z e r já , em p eq u en a s doses, nesta n o v a edição, m as


a tarefa é m en o s sim ples d o q u e se p o d eria supor. C om efeito, se é difícil redu­
z ir o V o c a b u lá r io ao da filo s o fia “clássica”, ta m b ém o é integrar a í o co n ju n to
d e term os técnicos aparentados co m a filo s o fia atual, n a variedade e p o r vezes
na am bigüidade da s suas acepções. U m Vocabulário tornar-se-ia então u m tra­
tado d e filo s o fia p o r ordem alfabética, com as escolhas m ais o u m en o s legíti­
m a s q u e isso im põe. O q u e se p o d e fa z e r é indicar p ro lo n g a m en to s atuais das
noções clássicas, dar definições fu n d a m e n ta is, e p a ra o restante rem eter ao s Vo­
cabulários especiais, com o j á existem para a psicologia, a psiquiatria, etc., e breve,
esperem o-lo, p a ra a lógica fo rm a l.

E fetiva m en te, existem d o is tipos d e leitores p a ra obras deste gênero. Uns,


a p ro p ó sito d e um a doutrina ou d e u m pro b lem a , pro cu ra m situá-los n o con­
ju n to d o p en sa m en to filo s ó fic o e captar-lhes os diversos aspectos, através da
análise da linguagem . São estes, e m particular, estudantes a q u em se p e d e que
reflitam sobre u m a idéia o u um a questão.

Os outros são pessoas que têm nas m ãos u m a obra filo só fic a , clássica o u
contem porânea, e não com preendem certas palavras o u certas expressões. N ã o
p o d em o s remetê-los a um dicionário da linguagem contem porânea, que não exis­
te, segundo creio, nem aos dicionários de teologia, p o r exem plo, dem asiado gran­
des e que não se têm fa c ilm e n te à m ão.

Os prim eiros procuram sobretudo a parte estável d o V o c a b u lá r io , aquela sobre


a q u a l os nossos antecessores conseguiram quase pôr-se de acordo, e que consti­
tuiria u m “B o m u so ”, um a “N o r m a ” da linguagem filo só fic a que p erm ite o
acordo entre o s espíritos. Os segundos, p elo contrário, estão atentos àquilo que
existe d e variável e de sem pre renovado, incodificado e até incodificável na sig­
nificação das palavras.

G ostaríam os sem d ú vida de seguir os rastros da evolução d o s sentidos ou


d o aparecim ento d e expressões em torno das quais se cristaliza p o u c o a p o u c o
u m pen sa m en to que, retrospectivam ente, parecerá ter preexistid o e p rocurado
a su a fó rm u la , ao passo que, na realidade, f o i a fó r m u la q u e se enraizou n o
sentido e g erm inou e suscitou u m m o d o d e pensar, categorias n o v a s . N atural­
m ente, a m a io r pa rte da s expressões novas p ro d u zem apenas m adeira m o rta e
IN T R O D U Ç Ã O IX

inútil, m as co m o saber antecipadam ente se um a m udança de vocabulário reno­


vará verdadeira e utilm ente os nossos conceitos?

D e resto, a extensão d o s conceitos não ê hom ogênea e não acontece n o m es­


m o plano, de m o d o q ue não é su ficiente ju sta p o r sen tid o s. N a lógica, p o r exem ­
p lo , não é fá c il situar, um as em relação às outras, as noções q u e dim anam quer
do cálculo fo rm a l, quer do p en sa m en to natural e intuitivo: p o r exem plo, as de
silogism o, de dem onstração, etc. E xistem co n texto s diferentes e todavia solidá­
rios, m ais ainda, reconhecem os o equívoco do contexto "clássico”.

N o que diz respeito à linguagem filo só fic a contem porânea, o em baraço não
é m enor, tendo cada autor a sua term inologia, o u o seu jargão, que aliás nem
sem pre são perfeita m en te coerentes. E m m u ito s casos, não existe utilização co­
m u m dos term os. Ora, não se p o d e fa z e r razoavelm ente o Vocabulário d e al­
guns dos escritores m ais conhecidos hoje, não sabendo nós a té que p o n to eles
se im porão. F requentem ente, perante a am bigüidade do s textos, m esm o os es­
pecialistas tendem , quando consultados, a não se com prom eter com um a d e fi­
nição fra n ca , que suporia aliás o conhecim ento de u m co n texto geral, e a p r o ­
p o r sim plesm ente um a ou várias fra se s em que o term o fig u ra . M a s é ju sta m e n ­
te para o s com preender que se pretendia um a definição!

Deste p o n to de vista, o D ic io n á r io d a lin g u a g e m f ilo s ó fic a de Foulquié e Saint-


Jean trouxe um excelente com p lem en to ao de A n d r é Lalande, e as citações q ue
reúne esclarecem fre q u en tem en te pela sua aproxim ação. O m esm o ocorre com
o que se refere aos term os de origem escolástica que utilizam p o r vezes autores
não teólogos, e p o r vezes em sen tid o s não tradicionais.

Q uanto às supressões, o p ro b lem a é delicado. E xceto em raros casos, e no


geral tardíam ente, to d o s os com entários ou notas têm o seu interesse e co m p e­
tência, e é m u ito difícil, p o r outro lado, separar as observações m ais célebres,
com o as de Lachelier, de Bergson, de B londel, etc., das outras com as quais se
articulam e são o eco, m esm o q u a n d o estas são assinadas p o r n o m es que ju sta
o u injustam ente fo r a m algo esquecidos. F inalm ente, o co n ju n to destas discus­
sões, num grupo de pensadores que no conjunto é de u m valor excepcional, cons­
titu i um a espécie de testem unho histórico, de im agem de um a sociedade de espí­
ritos que não é fá cil, nem talvez desejável, cortar o u m utilar. A coisa seria m ais
fá c il e m ais ju stifica d a para certas intervenções m ais recentes, m as coloca um
p eq u en o p roblem a de suscetibilidades individuais e sobretudo, em m uitos ca­
sos, esses com entários, acom panhados de referências evidentem ente episódicas,
são instrutivos e sugestivos, m esm o se tornam u m p o u co m ais p esado e desequi­
librado o co n ju n to da obra.
X IN T R O D U Ç Ã O

É p o r isso q u e esta nova edição se contenta co m p eq u en a s supressões, arran­


jo s , precisões de porm en o r. O S u p le m e n to e o A p ê n d ic e fo r a m reunidos e enri­
quecidos co m u m certo n ú m ero de term o s n o vo s1, anunciados p o r um a remissão
para o corpo da obra, na qual serão ulteriormente integrados. N o novo suplemento
assim constituído, eliminaram-se certos comentários inúteis ou caducos, corrigiu-se
um certo número de artigos. Talvez estes aperfeiçoamentos progressivos sejam pre­
feríveis à renovação completa de um a obra que já demonstrou o seu valor e possui
um a significação histórica e com o que orgânica.

Problemas menores surgiram. Dever-se-ia, p o r exemplo, mencionar para os no­


vos termos a tradução em Id o , num a época em que a língua artificial internacional
não conquistou m uitos f é i s ; dever-se-ia inversamente suprim ir a indicação corres­
pondente ali onde j á estava dada? Tratava-se simultaneamente de um a questão de
oportunidade objetiva e de fidelidade ao pensam ento do s iniciadores. Lim itam o-nos
a deixar fe ito aquilo que estava fe ito .

Resta-nos agradecer calorosamente a Roger Martin, professor da Sorbonne, e a


J. Largeaut, pesquisador do C N RS, a quem é devida a maior parte dos melhoramen­
tos feito s ao texto. A ssim se encontra algo rejuvenescida a obra à qual se devotou
o nosso velho mestre A ndré Latande, que não poderiamos separar da admirável equipe
que, em torno dele e de Xavier Léon, nos deu o exemplo de um esforço comum,
paciente e desinteressado, com vista à dupla exatidão da linguagem e do pensamento.

 E Çé P ë 2 «E 2

M e m b ro d o In s titu to ,
P ro fe sso r n a S o rb o n n e

1. E isa lista: Anam nese, antepredicativo, apofático, catégorial, cogita tiva, conatural, construti-
vidade, contuição, dóxico, dulia, ek-stase, elícito, emptria, em si-para si, englobantes, ente-existente,
entilativo, epoché, estimativa, estocástico, existencial, extríncesismo, feedback, form alizar, fu n cio ­
nalismo, futurível, gnosia, hormê, hylê, idiologia, idoneísmo, informação, insight, isom orfismo, ke-
rigma, latría, monismo, material, narcisismo, noema, pattern, performativo, poligénese, praxia, pra­
xis, pré-reflexivo, processo, projetivo, simetría, stress, tipología, tuliorísmo, válido (num segundo
sentido).
PREFÁCIO
À S E D IÇ Õ E S P R E C E D E N T E S

O Vocabulário d a S o c ie d a d e F r a n c e s a d e F il o s o f i a é u m c u r io s o e x e m p lo d a ­
q u ilo a q u e se p o d e c h a m a r a h e te r o g o n ia d o s f in s . O o b j e t i v o o r ig in a l d e s te
t r a b a l h o e s ta v a m u i t o e s tr ita m e n te d e t e r m i n a d o , c o m o se p o d e v e r p e lo a r tig o
“ A lin g u a g e m f ilo s ó f ic a e a u n id a d e d a f i l o s o f i a ” , n a R evu e d e m étaphysique
et d e m orale d e s e te m b r o d e 1 8 9 8 , p e la s “ P r o p o s iç õ e s s o b r e o u s o d e c e r to s t e r ­
m o s f il o s ó f i c o s ” (Bulletin de la Société , s e s s ã o d e 23 d e m a io d e 1901) e p e la
d is c u s s ã o n a s e s s ã o d e 29 d e m a io d e 1 9 0 2 . T r a t a v a - s e d e p ô r o s f iló s o f o s d e
a c o r d o — t a n t o q u a n t o p o s s ív e l — a c e r c a d a q u i l o q u e e n te n d i a m p e la s p a la v r a s
q u e u tiliz a v a m , p e lo m e n o s o s f iló s o f o s d e p r o f is s ã o : p r im e ir a m e n te , p o r q u e t o ­
d o v e r d a d e ir o a c o r d o — q u e r d iz e r , a q u e le q u e n ã o é o e f e ito d e u m a s u g e s tã o ,
d e u m a m a q u i n a ç ã o o u d e u m c o n s t r a n g i m e n t o a u t o r i t á r i o — é m e lh o r e m si
d o q u e a s d is c o r d â n c ia s o u o s e q u ív o c o s ; d e p o is , p o r q u e a s s u a s c o n tr a d iç õ e s ,
te m a t r a d i c i o n a l d e b r in c a d e ir a s , s ã o e m g r a n d e p a r t e v e r b a is e f r e q ü e n te m e n te
p o d e m s e r r e s o lv id a s d e s d e q u e n o s e m p e n h e m o s n is s o . E r a e s s a a o p i n i ã o d e
D e s c a r te s : “ S i d e v e r b o r u m s ig n if ic a tio n e in te r P h ilo s o p h o s s e m p e r c o n v e n ir e t” ,
d iz ia , “ f e r e o m n e s i llo r u m c o n tr o v e r s ia e t o l l e n t u r . ” 1 “ O m a is d a s v e z e s é s o ­
b r e a s p a l a v r a s q u e o s f il ó s o f o s d i s p u t a m ” , e s c r e v ia n a s u a e s te ir a G a s s e n d i,
“ q u a n t o a o f u n d o d a s c o is a s , h á , p e lo c o n t r á r i o , u m a g r a n d e h a r m o n i a e n t r e
a s te s e s m a is i m p o r t a n t e s e m a is c é le b r e s .” 12 “ S in to - m e t e n t a d o a c r e r ” , d iz ia
L o c k e , r e s u m id o p o r L e ib n iz , “ q u e , s e e x a m in á s s e m o s a f u n d o a s im p e r f e iç õ e s
d a lin g u a g e m , a m a i o r p a r t e d a s d is p u ta s c a ir ia m p o r si m e s m a s e q u e o c a m i­
n h o d o c o n h e c im e n to , e ta lv e z o d a p a z , f ic a r ia m a is a b e r t o p a r a o s h o m e n s .”
“ C r e io a t é ” , a c r e s c e n ta v a T e ó f il o , “ q u e is s o p o d e r i a s e r a lc a n ç a d o s e a p a r t i r
d e s te m o m e n t o n a s d is c u s s õ e s p o r e s c r ito o s h o m e n s q u is e s s e m c o n c o r d a r s o -

1. “ Sc sem pre se pusessem de a c o rd a , o s F iló so fo s e n tre si, a c e rc a d o s e n tid o d a s p a la v ra s, q u ase


to d a s as suas c o n tro v é rsia s se d e s v a n e c e ria m .” Regulae, X II, 5.
2. C a rta a G o liu s, 1630.
X II P R E F Á C IO

b r e c e r ta s r e g r a s , e a s e x e c u ta s s e m c o m c u i d a d o . ” 1 S e r ia f á c il m u l t i p l i c a r o s
te s t e m u n h o s d e s t a e x p e r iê n c ia e m e s m o n o s n o s s o s d ia s te m o s d is s o m u ito s
e x e m p lo s 1
2.
M a s a n a t u r e z a h u m a n a t a m b é m é f e i t a d e u m a c e r t a im p a c iê n c ia r e la tiv a
à o r d e m e à s im ilitu d e — im p a c iê n c ia m u i t o le g ítim a , c o r a j o s a a t é , q u a n d o se
t r a t a d e n o s d e f e n d e r m o s c o n t r a u m c o n f o r m i s m o i m p o s t o , o u c o n t r a a a c e ita ­
ç ã o p a s s iv a d o q u e s e r e p e te s e m c r ític a — ; d e s a s t r o s a q u a n d o s e t r a t a d e u m
g o s to p e la c o n t r a d i ç ã o e d e a m o r - p r ó p r i o , m e s m o a t é d e i m p e r i a l i s m o . 4‘O e s ­
t a d o d a m o r a l i d a d e c i e n t íf ic a ” , e s c r e v ia R e n o u v ie r , “ n ã o m e p a r e c e s u f ic ie n te ­
m e n te a v a n ç a d o e n tr e o s f il ó s o f o s p a r a q u e eles p o s s a m u tilm e n te d e lib e r a r e m
c o m u m , a f i m d e f ix a r a n o m e n c l a t u r a m a is p r ó p r i a d e m o d o a im p e d ir q u e o s
s e u s d e b a te s d e s c a m b e m e d e m o d o a t o r n a r a s s u a s d o u t r i n a s m u t u a m e n t e c o ­
m u n ic á v e is ... O s te r m o s m a is i m p o r t a n t e s s ã o d e d o m ín io p ú b lic o e c a d a u m
r e iv in d ic a o s e u b e n e f íc io c o m o d ir e ito d e lh e d a r o se u ‘v e r d a d e i r o ’ s e n ti d o ,
q u e o u t r o s e s t i m a r ã o f a l s o . . . N in g u é m e s t á d is p o s to a f a z e r o s s a c r if íc io s e x ig i­
d o s p e la im p a r c i a l i d a d e d a li n g u a g e m .” N ó s f iz e m o s a lg u n s p r o g r e s s o s . R e u n i­
m o s C o n g r e s s o s d e F il o s o f i a c o n s id e r a d o s ir r e a liz á v e is : m a s n ã o p o d e r e m o s d i­
z e r q u e e s t a “ m o r a l i d a d e ” t e n h a n it i d a m e n t e d e s p e r t a d o . É t ã o t e n t a d o r a t r i ­
b u i r à s p a l a v r a s , c o m t e n a c id a d e , o s e n tid o q u e lh e s a t r i b u í m o s p r im e ir a m e n te
p o r a lg u m e n g a n o a c id e n ta l, o u m e s m o q u e n o s te n h a m o s c o m p r a z id o e m lh e s
c o n f e r ir p o r a u to r id a d e , s o b p r e te x to d e q u e “ s o m o s e fe tiv a m e n te liv re s d e a d o ta r
a s d e f in iç õ e s q u e q u i s e r m o s ! ” .
P o d e m o s m e s m o p e r g u n t a r - n o s se a e x is tê n c ia d e u m e s f o r ç o c o m u m p a r a
f i x a r e a d o t a r u m u s o b e m d e f in id o d o s t e r m o s n ã o e s ti m u la r á c e r to s e s p ír ito s
e n ã o e x c it a r á n e le s o g o s to d e lh e s d a r m a lic io s a m e n te u m o u t r o s e n ti d o , d e
d e f e n d ê - lo e a t é d e d iv u lg á - lo , O e x c e le n te ló g ic o C h . L . D o d g s o n (m a is c o n h e ­
c id o s o b o p s e u d ô n im o d e L e w is C a r r o l l , e c o m o a u t o r d e A lic e n o País das
M aravilhas ) im a g in a n u m a d a s s u a s o b r a s u m a c o n v e r s a e n tr e a s u a h e r o ín a e
o ira s c ív e l H u m p t y D u m p ty ; “ Q u a n d o u tiliz o u m a p a l a v r a ” , d iz o g n o m o n u m
t o m m u ito a ltiv o , “ e la s ig n if ic a p r e c is a m e n te a q u ilo q u e eu q u e r o q u e e la s ig n i­
f iq u e . N a d a m a is , n a d a m e n o s . ” “ O p r o b l e m a ” , r e s p o n d e A lic e , “ e s tá e m s a ­
b e r se é p o s s ív e l f a z e r q u e u m a p a l a v r a s ig n if iq u e m o n te s d e c o is a s d i f e r e n t e s .”
“ O p r o b l e m a ” , r e p lic a H u m p t y D u m p ty , “ e s t á e m s a b e r q u e m é q u e m a n d a .
P o n t o f in a l, é t u d o . ” 3 A d le r c a p to u m u ito p ro v a v e lm e n te u m a v is ã o m u ito m a is
p e n e t r a n t e d o s c o m p le x o s h u m a n o s d o q u e F r e u d .
R e c o r d o - m e q u e u m c ie n tis ta d e g r a n d e m é r ito , e m u ito p a r is ie n s e , m e d iz ia
h á u n s q u a r e n t a a n o s : “ E u , q u a n d o v e jo e m a lg u m lu g a r P roibida a entrada,

1. Ensaio e N ovos ensaios, I I I , IX , 19.


2. V er c o n sta ta ç õ e s s e m e lh a n te s em BE 2 3 E Â E à , Hylas e Filonous, D iálogo II; em D’A Â E Oζ E 2 I ,
Discurso preliminar, § 50; ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , K ritik der kantischen Philosophic, O rise b ach , 659; Ros-
M i N i , “ L e tte ra su lla lin g u a filo s ó fic a ” , em Introduzione alia filo so fia , 404; etc.
3. Through the Looking Glass, C o llin ’s C lassics, 246.
P R E F Á C IO X III

é p r e c is a m e n te p o r a li q u e e n t r o , ” É v e r d a d e q u e s e t r a t a d e p e q u e n a s c o is a s
d a v id a ; e le t i n h a o c u id a d o d e n ã o a p l i c a r e s t a m á x im a à c iê n c ia q u e p r o f e s s a v a
e n a q u a l e r a u m m e s tr e : u m d o s s e u s e s tu d a n te s s e r ia m u ito m a l r e c e b id o se
d is s e s s e “ p e s o ” e m v e z d e “ d e n s i d a d e ” o u “ f o r ç a ” e m v e z d e “ e n e r g ia ” . O s
f il ó s o f o s c o m a m e s m a f e iç ã o d e e s p ír ito s ã o f r e q ü e n te m e n te m e n o s p r u d e n te s :
e n ã o e m p r o v e ito d a s u a b o a r e p u t a ç ã o n o c ír c u lo d o s t r a b a l h a d o r e s in te le c tu a is .
M a s , q u a n d o s e p e n s a d e u m a m a n e i r a o r ig i n a l, s e r á ta m b é m n e c e s s á r io f a ­
z e r p a r a si u m a lin g u a g e m ? N a d a m a is c o n te s tá v e l. “ E n t r e m u ito s d e n ó s ” , d i ­
z ia W . J a m e s , “ a o r ig i n a lid a d e é t ã o p r o f í c u a q u e j á n in g u é m n o s p o d e c o m ­
p r e e n d e r . V e r a s c o is a s d e u m m o d o t e r r iv e lm e n te p a r t i c u l a r n ã o é u m a g r a n d e
r a r i d a d e . O q u e é r a r o é q u e a e s ta v is ã o in d iv id u a l s e s o m e u m a g r a n d e lu c id e z
d e e s p ír ito e u m a p o s s e e x c e p c io n a l d e to d o s o s m e io s c lá s s ic o s d e e x p r im ir o
p e n s a m e n t o . O s r e c u r s o s d e B e r g s o n e m m a t é r i a d e e r u d iç ã o s ã o n o tá v e is e , e m
m a t é r i a d e e x p r e s s ã o , s im p le s m e n te m a r a v i l h o s o s . ” 1
Q u a n d o se d iz d e u m e s p í r i t o q u e e le é o r ig i n a l, e n te n d e m o s , c o n f o r m e o s
c a s o s , d u a s c o is a s t o t a l m e n t e d if e r e n te s : u m a é u m a q u a l i d a d e p r ó x i m a d o g ê ­
n i o ; a o u t r a , u m d e f e ito d e e s p ír ito q u e t o c a a s r a ia s d a to lic e . P e l a p r i m e i r a
in v e n ta m - s e f o r m a s d e a r t e o u d e a ç ã o n o v a s , p e r c e b e m o s e m p r im e ir o lu g a r
a s v e r d a d e s a i n d a d e s c o n h e c id a s , m a s q u e e n c o n t r a r ã o m a is c e d o o u m a is t a r d e
u m e c o , s e m in te r e s s e in d iv id u a l e s e m v io lê n c ia , a tr a v é s d e v á r ia s g e r a ç õ e s , o u
m e s m o q u e p e r m a n e c e r ã o a d q u i r i d a s e n q u a n t o h o u v e r h e r a n ç a s o c ia l. F o i d e s ­
se t i p o a o r ig i n a lid a d e d e S ó c r a te s a o d e s c o b r ir a a n á lis e d o s c o n c e ito s m o r a is ;
d e N e w to n a o f o r m u l a r a le i d a g r a v ita ç ã o ; d e W a g n e r a m p l i a n d o a s r e g r a s d a
h a r m o n i a . P e l a s e g u n d a , d if e r e n c ia m o - n o s d a m e s m a f o r m a d a m a s s a n o m e io
d a q u a l v iv e m o s ; m a s p o r d iv e r g ê n c ia s s e m v a lo r , o u m e s m o d e v a l o r n e g a tiv o .
S in g u l a r iz a m o - n o s , f a z e m o - n o s n o t a r , m a s n ã o tr a z e m o s n a d a a o d e s e n v o lv i­
m e n to d o s c o n h e c im e n to s , d a r iq u e z a e s té tic a o u d a p e r s o n a lid a d e h u m a n a . F r e ­
q ü e n te m e n te a t é é e m s e u d e t r i m e n t o q u e n o s t o m a m o s v e d e te s . D e s te tip o d e
o r ig i n a lid a d e é m a is d ifíc il c i t a r g r a n d e s e x e m p lo s : p o r q u e e m g e r a l d e s a p a r e c e
s e m d e ix a r r a s t r o . P r e c is a m o s p e n s a r e m in d iv íd u o s q u e n ó s m e s m o s c o n h e c e ­
m o s . P o d e m o s , c o n t u d o , r e c o r d a r u m E r ó s t a t o , u m C a líg u la ; p o d e r ía m o s j u n ­
t a r a í a o r ig i n a lid a d e d o s c o n q u i s t a d o r e s g lo r io s o s o u a d o s c r im in o s o s c é le b re s ;
n a l i t e r a t u r a , o s o b s c u r is ta s d a d e c a d ê n c ia l a t i n a , o u o g o n g o r is m o ; e m m o r a l,
a d o u t r i n a d e G ó r g ia s , o u a d o s I r m ã o s d o L iv r e - E s p ír ito . E le v a r - s e a c im a d a
razão constituída, ta l c o m o e la e x is te n o m e io e n a é p o c a e m q u e v iv e m o s ,
m o d if ic á -la e m n o m e e n o s e n tid o d a razão constituinte ; o u , p e lo c o n tr á r io , d e sc e r
a b a ix o d a s n o r m a s a c ^ u ir id a s , a f a s ta r - s e p o r p e rv e rs ã o o u p o r e s n o b is m o , é ig u a l­
m e n te d if e r e n c ia r - s e . M a s u n s s e p a r a m - s e c o m o l u m in á r ia s p a r a a b r i r c a m in h o ;
o s o u t r o s p e r d e m - s e o u v o lta m p a r a tr á s .

1. A Pluralistic Universe, 226-227.


X IV P R E F Á C IO

U m a e o u t r a f o r m a d e a lte r i d a d e p o d e m e n c o n tr a r - s e n a f o r m a ç ã o e u t iliz a ­
ç ã o d a lin g u a g e m f ilo s ó f ic a .
S o lid ific á - la , a u m e n t a r o s e u v a lo r in te r m e n ta l e r a , p o is , o o b j e t o p r im itiv o
d a p r e s e n te o b r a . M a s lo g o se lh e e n x e r to u u m a f u n ç ã o e m q u e d e in íc io n ã o p e n ­
s a m o s e q u e p o u c o a p o u c o fo i t o m a n d o lu g a r p r im o r d ia l. O e s tu d o c rític o d a lin ­
g u a g e m f ilo s ó f ic a p r o v o u s e r m u i t o ú til a o s e s tu d a n te s , a o s jo v e n s p r o f e s s o r e s ,
a o s le ito re s d iv e r s o s q u e se p r e o c u p a m c o m q u e s tõ e s d e s te te o r . M u ita s v ezes, h a ­
v ia d if ic u ld a d e e m d e s c o b r ir o s e n tid o e x a to d o s te r m o s tr a d ic io n a is , a s s u a s v a r ie ­
d a d e s , o u e r r a v a - s e a o c r e r c o m p re e n d ê -lo s * O Vocabulário c o m e ç a d o te n d o e m
v is ta o t e m a s e r v iu s o b r e tu d o à v e r s ã o . D o m e s m o m o d o , d e s d e a p u b lic a ç ã o d o s
p r im e ir o s fa s c íc u lo s , o s le ito re s f o r a m r e c la m a n d o e x p lic ita ç õ e s c a d a v e z m a is p o r ­
m e n o r iz a d a s , f r e q ü e n te m e n te in f o r m a ç õ e s h is tó r ic a s , b ib lio g r á f ic a s , e n c ic lo p é d i­
c a s , q u e o s in ic ia d o r e s d e s te t r a b a l h o n ã o tin h a m tid o a in te n ç ã o d e in tr o d u z ir .
P o r q u e se q u is é s s e m o s f a z e r , a s s im c o m o J . M . B τ Â á ç «Ç , “ u m D ic io n á r io p a r a
o s f il ó s o f o s ” h a v e r ia n e c e s s id a d e d e a í i n s e r ir , c o m o e le , tá b u a s a n a tô m ic a s q u e
r e p r e s e n ta s s e m o s ó r g ã o s d o s s e n tid o s , a b io g r a f ia d o s f iló s o f o s c o n h e c id o s , u m
r e s u m o d a s u a d o u tr i n a , a c r e s c e n ta r - lh e u m a e x p o s iç ã o d a s h ip ó te s e s s o b r e a c o n s ­
titu iç ã o d o á t o m o , o u d a s c rític a s m o d e r n a s d o t r a n s f o r m is m o . T a lv e z te n h a m o s
s e g u id o e m d e m a s ia e s te im p u ls o , e s o b r e tu d o d e u m a m a n e i r a d e s ig u a l, c o n s o a n ­
te o s m e m b r o s o u o s c o r r e s p o n d e n te s d a s o c ie d a d e n o s r e m e tia m e s ta o u a q u e la
in f o r m a ç ã o e n o s c o m p r o m e tia m a p u b lic á - la s . D e v ía m o s a té , e c a d a v e z m a is ,
u ltr a p a s s a r esse s o b je tiv o s , a o m e s m o te m p o p a r a e v ita r g r a n d e s d is p a r id a d e s e
p a r a e v ita r q u e e s ta o u a q u e la in d ic a ç ã o d o c u m e n t á r i a n o s f o s s e r e c la m a d a n a s
p r o v a s . M a s r e c e b e m o s t a n t a s v ezes a g r a d e c im e n to s p o r isso d a p a r t e d e n o s s o s
le ito re s q u e se d o p o n to d e v is ta e s té tic o s o f r e m o s u m p o u c o d e f a l t a d e e q u ilíb r io
n ã o n o s p o d e m o s a r r e p e n d e r d e o h a v e r a c e ito .
F o t ig u a lm e n te p o r in s is tê n c ia d e v á r io s m e m b r o s d a S o c ie d a d e q u e i n d i c a ­
m o s s u m a r ia m e n te , a o l a d o d e c a d a te r m o f r a n c ê s , o s e q u iv a le n te s e s tr a n g e ir o s
c o r r e s p o n d e n te s — m a is o u m e n o s a p r o x i m a t i v a m e n t e — à s s u a s d iv e r s a s a c e p ­
ç õ e s . C o m o s u b lin h a m o s d e s d e o i n íc io , a i n d ic a ç ã o d e s s e s e q u iv a le n te s n ã o p o ­
d i a s e r c o m p le ta ; e c e r to s c r ític o s q u e a p o n t a r a m s e v e r a m e n te e s s a s in c o m -
p le tu d e s , s e m t e r e m c o n t a a s n o s s a s r e s e r v a s , f iz e r a m - n o s l a m e n t a r n ã o te r
r e c u s a d o r a d ic a lm e n te e n t r a r n e s s e c a m i n h o e n ã o te r m o s f i c a d o , c o m o o a n u n ­
c ia v a a n o s s a a d v e r tê n c ia in ic ia l, q u e r n o s te r m o s p e d id o s a u m a l í n g u a e s t r a n ­
g e ir a , q u e r n o s te r m o s j á in t e r n a c i o n a i s , q u e r n a q u e le s c u ja e q u iv a lê n c ia e s t á
u n iv e r s a lm e n te e s ta b e le c id a p e lo u s o d a s tr a d u ç õ e s e d o e n s in o , c o m o M in d p a ­
r a E s p í r i t o o u V ern u n ft p a r a R a z ã o . M a s q u e m é q u e lê a s A d vertên cia s ? É b e m
e v id e n te q u e n ã o p o d e r ía m o s a s p i r a r a f a z e r , s o z in h o s , u m v o c a b u l á r i o f r a n c o -
ita lia n o - a n g lo - a le m ã o . A p e n a s p u d e m o s e s b o ç a r u m t r a b a l h o i n te r n a c i o n a l d e
c r itic a s e m â n tic a p a r a o q u a l j á c o n v id a m o s o s f iló s o f o s d o s o u t r o s p a ís e s 1. A

I. C o n g resso In te rn a c io n a l d e 1900, C om ptes rendus du Congrès , I. 277.


P R E F A C IO XV

m e s m a r a z ã o n o s le v o u a d e c id ir m o - n o s a s u p r im ir o s ín d ic e s d e te r m o s e s t r a n ­
g e ir o s q u e o e d ito r t i n h a a c r e s c e n ta d o n a s e g u n d a e d iç ã o e q u e d e r a m lu g a r a
m a l- e n te n d id o s , n ã o o b s ta n t e a s p r e c a u ç õ e s e r e s e r v a s , d e m o d o q u e n o s p a r e ­
c e u p r e f e r ív e l c o r t a r o m a l p e la r a iz .
N ã o p r e te n d e m o s , c o m e s ta o b r a , d a r definições construtivas , c o m o a s d e
u m s is te m a h ip o té tic o - d e d u tiv o , m a s definições sem ânticas, p r ó p r i a s p a r a e s ­
c la r e c e r o s e n ti d o , o u o s d if e r e n te s s e n tid o s d e u m te r m o e a f a s t a r t a n t o q u a n t o
p o s s ív e l o s e r r o s , a s c o n f u s õ e s o u o s s o f is m a s . T a n t o n e s te c o m o e m o u tr o s c a ­
so s n ã o p o d e m o s p a r t i r d o n a d a ; q u a n d o a ta l se p r e te n d e , a c a b a m o s a p e n a s
p o r n ã o te r c o n s c iê n c ia d a q u ilo q u e se p a r te . A f ilo s o f ia sem p r e s s u p o s to s é u m a
d a s f o r m a s d a q u ilo a q u e S c h o p e n h a u e r c h a m a v a , e n ã o sem r a z ã o , o c h a r l a t a ­
n is m o f ilo s ó f ic o . P o r m a is f o r t e r a z ã o o o b je tiv o d e u m t r a b a l h o d e s te g ê n e r o
n ã o é c r ia r ex nihilo o s e n tid o d a s p a la v r a s , n e m s e q u e r c o n s ti tu ir d e c is o r ia m e n ­
te u m j o g o d e te r m o s d o s q u a is u m c e r to n ú m e r o s e r ia m a d o t a d o s c o m o in d e f i­
n ív e is e o s o u t r o s c o n s tr u íd o s a p a r t i r d e s te s . N ã o d e v e m o s , p o is , t r a t a r e s s a s
d e f in iç õ e s c o m o se fo s s e m p r in c íp io s f o r m a is s o b r e o s q u a is te r ía m o s o d ir e ito
d e r a c io c in a r m a te m a ti c a m e n te , m a s c o m o e x p lic a ç õ e s e m q u e se p o d e m e n c o n ­
t r a r r e p e tiç õ e s d e p a la v r a s q u a n d o e s ta s n ã o f a z e m c o r r e r o r is c o d e d e ix a r o
e s p ir ito n a in d e te r m in a ç ã o . R espice fin e m , g o s ta v a L e ib n iz d e d iz e r : o fim , a q u i,
n ã o é o d e m a n e i r a n e n h u m a c o n s ti tu ir u m a a x io m á tic a , m a s o d e f a z e r c o n h e ­
c e r r e a lid a d e s lin g ü ís tic a s e p r e v e n ir m a l- e n te n d id o s .
U m a o u t r a ilu s ã o m a n if e s t o u - s e n o d e c u r s o d a s d is c u s s õ e s q u e p r e p a r a r a m
a c o n s ti tu iç ã o d e s te Vocabulário. E s t á lig a d a , t a m b é m , a o d e s c o n h e c im e n to d a
s e m â n tic a : p o r q u e a s v e r d a d e s d e s ta o r d e m e s tã o a i n d a lo n g e d e s e r i n c o r p o r a ­
d a s , c o m o a s d a fís ic a e le m e n ta r , à m e n ta lid a d e c o r r e n te d o s f iló s o f o s . É a c re n ç a
n a t u r a l d e q u e e x is te u m a c o r r e s p o n d ê n c ia r e g u la r e n tr e a s p a la v r a s e as c o is a s ,
e p r in c ip a lm e n te d e q u e c a d a p a l a v r a , se p o s s u i v á r ia s a c e p ç õ e s , s e m p r e p o s s u i
p e lo m e n o s u m s e n tid o c e n t r a l , g e n é r ic o , d e q u e o s o u tr o s s e r ia m a p e n a s a p lic a ­
ç õ e s p a r t i c u l a r e s , u m s e n tid o p r iv ile g ia d o , q u e a c r ític a f il o s ó f ic a d e v e e n c o n ­
t r a r . E n c o n t r a m o s a í u m a c o n f i a n ç a n a s a b e d o r ia d a lin g u a g e m q u e f a z le m ­
b r a r a d o C rátilo — s e o C rátifo n ã o f o r u m r o s á r i o d e g r a c e jo s ir ô n ic o s , à m a ­
n e ir a d a s p a r ó d ia s d o B anquete. V e re m o s e m m u ita s d a s “ O b s e r v a ç õ e s ” a p r o ­
c u r a d e s s a u n id a d e s e c r e ta q u e j u s t i f i c a r i a p a r a a r a z ã o o s m a is d iv e rs o s e m p r e ­
g o s d e u m a m e s m a p a l a v r a 1.
É c e r to q u e a u n iv o c id a d e é u m id e a l p a r a o q u a l te n d e a lin g u a g e m e s p o n ta ­
n e a m e n te , a in d a q u e d e u m a m a n e i r a m u ito ir r e g u la r ; e e x is te u m a g r a n d e t e n ­
ta ç ã o , em t o d a s a s m a té r ia s , d e a f i r m a r c o m o u m f a t o a q u ilo c u j o v a lo r n o r -

1. V er a$ observações so b re A m or, Lei , Natureza, Obrigação, Signo, Universalidade , etc.; A u-


g u ste C o m te , a p e sa r d a p ro fu n d id a d e d o seu e sp írito , fez m ais de u m a vez a ap o lo g ia dos “ a d m irá ­
veis eq u ív o c o s” , d a s “ felizes a m b ig ü id a d e s” q u e c e rto s te rm o s a p re se n ta m (Catecismo positivista,
2? co n v e rsa; Polít. posit., I, 108, etc.).
XVI P R E F Á C IO

m a íiv o s e n tim o s f o r te m e n te : “ T o d o s o s h o m e n s nascem liv r e s , e ig u a is e m d i­


r e i t o s . ” M a s in f e liz m e n te e s ta m o s lo n g e d is s o , t a n t o e m lin g ü ís tic a c o m o e m
p o lític a ; e a te n d ê n c ia , p o r m a is re a l q u e s e ja , é c o n t r a r i a d a p o r m u ito s a c id e n ­
te s . B a s ta a b r i r o E nsaio de sem ântica d e B r é a l, o u a Linguagem d e V e n d ry e s
p a r a s a b e r q u e a s p a l a v r a s m u d a m d e s e n ti d o a t r a v é s d e d e s v io s m u i t o d iv e r s if i­
c a d o s ; m u ita s v e z e s , é v e r d a d e , p o r e s p e c if ic a ç ã o , m a s a lg u m a s v e z e s ta m b é m
p o r a p r o x im a ç õ e s s u c e s s iv a s , o u p o r ir r a d i a ç ã o à v o l t a d e v á r io s c e n tr o s s u c e s ­
s iv o s ; a lg u m a s v e z e s a té , d e v id o a d e s c u id o s c a u s a d o s p e la s u a L a u tb iid , o u à
s u a s e m e lh a n ç a c o m u m a p a l a v r a s e m e lh a n te . S e r ia a b s u r d o p r o c u r a r q u a l é o
“ v e r d a d e i r o ” s e n ti d o d e cesto {panier ): p r i m e i r o , c a b a z p a r a p ã o ; d e p o is , q u a l ­
q u e r r e c ip ie n te d e v im e ; d e p o is , u te n s ílio a n á l o g o , m e s m o q u e e m f io d e f e r r o ;
d e p o is , s u p o r t e d e b a r b a d e b a le ia p a r a a s s a ia s {panier ); e m a is t a r d e s im p le s
o r n a m e n t o d e te c id o s s o b r e e s ta s , s e m f a l a r d a c a ix a d e m a d e i r a s u s p e n s a s o b
a s c a m i n h o n e te s {panier ) . E q u a l é o “ s e n ti d o f o r t e ” d e bureau, p a n o d e b u r e l,
m e s a p a r a e s c r e v e r , u n id a d e a d m i n i s t r a t i v a , p e s s o a l q u e o o c u p a , e s ta d o - m a io r
d e u m a s o c ie d a d e ?
P o r m a is la m e n tá v e l q u e s e ja , p a s s a - s e o m e s m o c o m o s te r m o s f ilo s ó f ic o s :
e le s s ã o ta m b é m f r e q ü e n te m e n te d e s lo c a d o s a o a c a s o d e a c id e n te s h is tó r ic o s ,
a i n d a q u e m a is s u tis . O b jetivo é t o m a d o c o r r e n te m e n te , n o s n o s s o s d ia s , p a r a
d e s ig n a r p r e c is a m e n te o in v e r s o d a q u i l o q u e r e p r e s e n ta v a p a r a D e s c a r te s ; e o
s e u u s o m a is r e c o m e n d á v e l d if e r e s im u lta n e a m e n te d e u m e d e o u t r o . A n o m a lia
t o m o u , p o r c o n tr a - s e n s o , o v a lo r d e c a r a c te r ís tic a o u d e f a t o a n o rm a l : n ã o s e ­
r í a m o s m a is c o m p r e e n d id o s se lh e a tr ib u ís s e m o s o s e u s e n ti d o e tim o ló g ic o 1. O
f i m , lim ite , c e s s a ç ã o o u m o r t e , e s tá m u i t o lo n g e d o f i m e n q u a n t o m e ta : s a b e ­
m o s p o r q u ê , m a s a t r a n s f o r m a ç ã o n ã o é p o r is s o m e n o s c a p c io s a . A s id é ia s
d e w íf y ç ü o - c o n je c tu r a e indução- p a s s a g e m p a r a u m n ív e l s u p e r io r d e g e n e r a li­
d a d e u n e m - s e o u s e p a r a m - s e c o n f o r m e a s c ir c u n s tâ n c ia s e m p r o v e ito d o s m a l ­
e n te n d i d o s e d a s d is c u s s õ e s in ú te is . E é p o r is s o q u e é in ú til p r o c u r a r c o m o D e s ­
c a r te s u m a d e f in iç ã o d ita g e r a l d o a m o r , q u e p o s s a j u s t i f i c a r a o m e s m o te m p o
a e x p r e s s ã o o am or à hum anidade e a e x p r e s s ã o fa z e r am or.
O s s e n tid o s d e u m a p a l a v r a n ã o s ã o o s v a lo r e s d e u m a v a r iá v e l i n d e te r m in a ­
d a d a q u a l p o d e r ía m o s d is p o r à n o s s a v o n ta d e . É u m a r e a lid a d e q u e , p o r n ã o
s e r m a te r ia l n o s e n ti d o p r e c is o d o t e r m o , n ã o p o s s u i p o r isso m e n o s a c o n s is tê n ­
c ia , p o r v e ze s m u i t o d u r a , q u e c e r to s f a to s s o c ia is a p r e s e n ta m . A s p a la v r a s s ã o
c o is a s e c o is a s m u i t o a tiv a s ; e s tã o “ e m n ó s s e m n ó s ” : p o s s u e m u m a e x is tê n c ia
e u m a n a tu r e z a q u e n ã o d e p e n d e d a n o s s a v o n t a d e , p r o p r ie d a d e s o c u lta s a té d a ­
q u e le s q u e a s p r o n u n c i a m o u a s c o m p r e e n d e m . P e n s e - s e n u m h a lo d e e v o c a ­

í . E , p o r sin g u la r p a ra d o x o , a p a la v ra etimologia q u e ria d izer, “ etim o lo g ic a m e n te ” , n ã o sen ii-


d o o rig in a l, m as v e rd a d e iro se n tid o , sen tid o a u tê n tic o .
P R E F Á C IO XVII

ç õ e s , o r a in te n s a s , o r a d if ic ilm e n te c o n s c ie n te s , q u e a h i s tó r ia d e c a d a p a l a v r a ,
m e s m o d e s c o n h e c id a , f a z v i b r a r f r e q ü e n te m e n te e m t o r n o d e la . E x is te m p a l a ­
v r a s n o b r e s , c o m o idealismo; in g ê n u a s , c o m o progresso; d is tin ta s , c o m o dialé­
tica; im p o n e n te s , c o m o mediação; f o r a d e m o d a , c o m o virtude. A o g o v e r n o d e
a lg u n s , d iz ia j á A r is tó te le s , c h a m a m o s aristocracia q u a n d o se p e n s a q u e a q u e ­
le s u tiliz a m o p o d e r p a r a o b e m p ú b lic o ; oligarquia q u a n d o s ã o a c u s a d o s d e o
u s a r a p e n a s e m s e u p r o v e ito . E s t a c o n o t a ç ã o m u d a s e m d ú v id a d e u m a é p o c a
p a r a a o u t r a : te s t e m u n h a - o o tít u l o e n g r a ç a d o e j u s t i f i c a d o d e E r n e s t S e illiè re ,
D a D eusa N atureza à D eusa Vida. M a s , e n q u a n t o p e r m a n e c e r , n a d a d e m a is
c ô m o d o p a r a b a t a l h a r e p a r a d a r o a r d e te r o s e n s o c o m u m d o s e u l a d o . A s s im ,
p r o c u r a c a d a u m a p o d e r a r - s e d a s p a la v r a s c o m o v e n te s , o u s im p á tic a s , o u e m
m o d a , d a q u e la s q u e p o s s u e m u m r e f le x o d e p r o f u n d e z a o u a u t o r i d a d e .
E s f o r ç a r - s e p o r c o n d u z ir o s s u b e n te n d id o s d e s te g ê n e r o à p le n a c o n s c iê n c ia
é a ú n ic a c a ta r s e q u e p o d e c o m b a t e r a r e s is tê n c ia q u e e le s o p õ e m à v e r d a d e . S ó
c a ím o s c o m p le ta m e n te n o v e r b a lis m o q u a n d o p e n s a m o s n ã o n o s o c u p a r m o s d a s
p a la v r a s e m o v e r m o - n o s a p e n a s im a te r ia lm e n te n o p e n s a m e n to p u r o . O ú n ic o
m e io d e n ã o s e r s u a v ítim a é a s t o m a r m o s sem f a ls a d e lic a d e z a c o m o o b je to im e ­
d i a t o d a s u a in v e s tig a ç ã o e d a s u a c r ític a .
M a s é p r e c is o n ã o e s q u e c e r q u e , se e s ta p r e c a u ç ã o é f u n d a m e n t a l , n ã o é a
ú n ic a a s e r t o m a d a . U m a o u t r a v e r d a d e p o s t a a c l a r o p e la lin g ü ís tic a é q u e a
lin g u a g e m n ã o se c o m p õ e d e p a l a v r a s , m a s d e f r a s e s . A s in ta x e f il o s ó f ic a e x ig i­
r i a , p o is , n ã o m e n o s v ig ilâ n c ia d o q u e o v o c a b u lá r io : m a s e s ta c r ític a , a t é h o je ,
f o i p r a t i c a d a a p e n a s d e f o r m a m u i t o a c id e n ta l. P o r e x e m p lo , u m d o s p e c a d o s
u s u a is d o s f i l ó s o f o s é o p s e u d o - r a c io c ín io c u ja p a r ó d i a p o d e m o s e n c o n t r a r n o
s o r ite d e C y r a n o , c la r a m e n te c ô m i c o 1: “ P o r a í s e v ê . . . D a í r e s u l t a q u e . . . S o ­
m o s a s s im c o n d u z id o s a a d m i t i r . . . ” c o n d u z e m - n o s s u a v e m e n te a p r e te n s a s c o n -
s e q ü ê n c ia s q u e n ã o se a p o i a m e m n e n h u m a n e c e s s id a d e . G r a n d e s e s p ír ito s n ã o
e s c a p a r a m d e t a l s o r te . P o r v e z e s d e i a o s e s t u d a n t e s , c o m o e x e r c íc io d e ló g ic a ,
p e g a r u m a p r o p o s i ç ã o d o q u a r t o o u q u i n t o liv r o d a É tica e r e c o n s t i t u i r , s e g u in ­
d o a s r e f e r ê n c ia s d o p r ó p r i o E s p in o s a , a c a d e ia d e d e m o n s t r a ç õ e s q u e p r e te n s a ­
m e n te lig a r ia e s s a p r o p o s i ç ã o a o s a x io m a s , d e f in iç õ e s e p o s t u l a d o s in ic ia is .
A q u e le s q u e o t e n t a r a m f a z e r e n c o n t r a r a m t a n t a s r u p t u r a s , t a n t a s in d e te r m in a -
ç õ e s , t a n t o s “ p e q u e n o s s a l t o s ” e a t é g r a n d e s q u e s e d iv e r tir a m o u s e d e c e p c io ­
n a r a m . O E nsaio d e H a m e li n s a lt a f r e q ü e n te m e n te p a r a u m a e q u iv a lê n c ia
c la r a m e n te a r b i t r á r i a p e lo s r e g is tr o s : “ O q u e s e r ia , s e n ã o . . . ? ” o u “ O q u e is to
q u e r d iz e r , s e n ã o . . . ? ” E , n o f u n d o , n ã o s e r á o m e s m o t r o p o q u e s e e n c o n tr a
n a b r i l h a n t e e c é le b r e f ó r m u l a ; “ E is p r o d ig io s o s f a r d o s . N ã o s e r á d e m a is a t é
p a r a D eu s c a rre g á -lo s ? ”

1. “ P a ris é a m a is b e la c id a d e d o m u n d o ; a m in h a r u a è a m ais b e la ru a d e P a ris ; a m in h a c a sa


éa m a is b ela d a ru a ; o m eu q u a r to é o m ais b e lo q u a r to d a c a sa ; eu so u o h o m e m m a is belo d o
m eu q u a r to : lo g o , so u o m a is b elo h o m em d o m u n d o .”
XVI11 P R E F Á C IO

S o r r im o s h o j e e m d ia d o s m o v im e n to s d e e lo q ü è n c ia q u e V ic to r C o u s in f a ­
z ia p a s s a r p o r ra z õ e s ; m a s t o d a s a s é p o c a s p o s s u e m a s u a r e t ó r i c a f ilo s ó f ic a ,
q u e , p o r s e r d if e r e n te , n ã o é p o r is s o m a is d e m o n s t r a t i v a : p e n s e -s e n a p r o l i f e r a ­
ç ã o , e n tr e o s c o n t e m p o r â n e o s , d a s f o r m a s d e lin g u a g e m , c a te g ó r ic a s o u d e p r e ­
c ia tiv a s , q u e p a s s a m m u ita s v e ze s p o r a r g u m e n to s .
U m o u t r o a r tif í c io d e e s tilo c o n s is te e m e n v o lv e r n u m a f r a s e q u e s o a b e m
u m a c o n t r a d i ç ã o im p líc ita . E s ta m o s e n t ã o à v o n t a d e p a r a e x tr a ir d e la e m s e g u i­
d a a s c o n s e q u ê n c ia s m a is v a r ia d a s e m a is in te r e s s a n te s , u m a s v e r d a d e ir a s , o u ­
tr a s fa ls a s , d a d o q u e o c o n tr a d itó r io im p lic a q u a lq u e r c o is a . S e m ir m o s tâ o lo n g e ,
in f e liz m e n te n a d a é t ã o c o m u m e m f il o s o f i a q u a n t o a s f r a s e s e m b r u lh a d a s o u
v a g a s , p e r a n t e a s q u a is o le ito r u m p o u c o c r ític o s e p e r g u n ta c o m p e r p le x id a d e :
“ O q u e is to q u e r d iz e r e x a ta m e n te ? ” E la s tê m d u a s g r a n d e s v a n ta g e n s : u m a é
a d e f a z e r p a s s a r p o r p la u s ív e l, se n ã o a o lh a r m o s d e m u ito p e r t o , u m a id é ia
q u e m a is a d i a n t e s e r á u t i liz a d a , m a s c u jo c a r á t e r a r b i t r á r i o o u f a ls a g e n e r a lid a ­
d e s a l t a r i a a o s o lh o s s e m a n é v o a d is c r e ta q u e lh e e s b a te o s c o n t o r n o s . O s e g u n ­
d o b e n e f íc io d o o b s c u r o o u d o in s ó lito c o n s is te e m o f e r e c e r a e s p ír ito s d iv e rs o s
o c a s iã o p a r a a í p r o j e t a r d if e r e n te s p e n s a m e n to s : a s s im t o d o s f i c a r ã o s a tis f e ito s
c o m a q u ilo q u e a li c o lo c a m e a g r a d e c id o s a o a u t o r p o r e s ta r d e sse m o d o d e a c o r d o
c o m e les. O p e q u e n o e s f o r ç o q u e s u s c ita e s s a p r o j e ç ã o d á u m a g r a d á v e l s e n ti­
m e n to d e p r o f u n d i d a d e , a s s im c o m o u m a g r a ç a e m lín g u a e s tr a n g e ir a , q u a n d o
a c o m p r e e n d e m o s , n o s p a r e c e b e m m a is s a b o r o s a . L e o n a r d o d a V in c i r e c o m e n ­
d a v a a o s jo v e n s q u e o lh a s s e m a u m a c e r ta d is tâ n c ia u m v e lh o m u r o e m r u ín a s ,
n o q u a l a o f im d e a lg u m te m p o p e r c e b e r ia m p a is a g e n s , m u ltid õ e s , o u s a d o s m o ­
v im e n to s , e s b o ç o s v ig o r o s o s e im p r e v is to s . P a u l S ig n a c , se b e m m e r e c o r d o , t i ­
n h a f o t o g r a f a d o u m f u n d o d e p a n e la in c r u s t a d o d e s u je i r a , e f a z ia a d m ir a r a o s
s e u s a m ig o s tu d o a q u ilo q u e a li se p o d i a v e r c o m u m p o u c o d e im a g in a ç ã o .
M a s e s te n ã o é o l u g a r p a r a t e n t a r f a z e r u m in v e n tá r io d e s ta s im p e r íc ia s o u
p e ríc ia s d a lin g u a g e m , q u e u ltr a p a s s a m a s im p le s a m b ig u id a d e d o s te rm o s . T r a ta -
se a p e n a s d e a s s in a la r o s e u l u g a r . O s S o fism a s d e A r is tó te le s , o s E nsaios e os
N o v o s ensaios , a s Lógicas d e P o r t - R o y a l , d e J . S . M ill, d e H . A . A ik in s
r e v e la r a m - s e b o n s m o d e lo s ; m a s h á a i n d a m u i t o q u e f a z e r n e s te t e r r e n o , e n ã o
s e t r a t a d e t r a b a l h o e s té r il. É le v a n d o a té o f u n d o a c r ític a d a lin g u a g e m , e s o b
t o d a s a s s u a s f o r m a s , q u e s e p o d e v e r d a d e ir a m e n te s a b e r o q u e p e n s a m o s ,
liv r a r m o - n o s d a q u ilo q u e n ã o p o s s u i q u a lq u e r s ig n if ic a ç ã o r e a liz á v e l, c o m p r e e n ­
d e r a q u ilo q u e le m o s s e m c o lo c a r id é ia s p r e c o n c e b id a s n o lu g a r d a q u e la s q u e
o a u t o r q u e r ia e x p r e s s a r , e a s s im r e d u z ir a p a r t e d a q u i l o q u e s e m p r e p e r m a n e c e
in c e r to n e s te a t o , t ã o i m e d ia to n a a p a r ê n c i a , t ã o c o m p le x o e t ã o d if íc il d e f a t o :
a tr a n s m is s ã o d e u m a id é ia d e u m c é r e b r o a o u t r o . E to d a v i a é e s s a a c o n d iç ã o
n e c e s s á r ia d e u m a c o m u n id a d e m e n ta l s e m a q u a l n ã o h á v e r d a d e .

M a s e ssa c o m u n id a d e , q u e , p a r a s e r r e a l, e x ig e n o ç õ e s b e m c la r a s e e x p r e s ­
sõ e s p r e c is a s , s e r á p o s s ív e l? C o l o c a r a m - n o e m d ú v i d a . U m c e r to g r a u d e in d e c i­
s ã o e d e o b s c u r id a d e p a s s a , e n tr e m u ita g e n te , p o r s e r u m c lim a a s s a z f a v o r á v e l
P R E F Á C IO X IX

a o p e n s a m e n to . R e c o r d e m o s , d iz -s e , a q u ilo q u e t ã o ju s ta m e n te e sc re v e u É d o u a r d
L e R o y : “ A in v e n ç ã o re a liz a -s e n o n e b u lo s o , n o o b s c u r o , n o in in te lig ív e l, q u a s e
n o c o n t r a d i t ó r i o ... É n e s s a s re g iõ e s d e c r e p ú s c u lo e d e s o n h o q u e a c e r te z a n a s c e ..,
U m m a lf a d a d o c u id a d o d e r ig o r e d e p r e c is ã o e s te riliz a m a is s e g u r a m e n te d o q u e
q u a lq u e r f a l t a d e m é t o d o .” 1 N a d a d e m a is e x a to . M a s t r a ta - s e d e u m g ro s s e ir o
s o f is m a — e o p r ó p r io a u t o r o d e n u n c io u — le v a r p a r a a o b r a c o n c lu id a , p a r a
o liv r o , p a r a a v e r if ic a ç ã o d a s id é ia s a tr a v é s d a s u a c o m p a r a ç ã o , a q u ilo q u e é v e r­
d a d e a p e n a s p a r a o p e n s a m e n to n a s c e n te e p a r a a in v e n ç ã o . O s o s s o s f o r a m p ri-
m e ir a m e n te te c id o s q u a s e a m o r f o s , d e p o is c a r tila g e n s flex ív eis: m a s o c o r p o
p e r m a n e c e r ia n u m e s ta d o d e in f a n tilis m o p a to ló g ic o se o e s q u e le to n ã o a d q u iris s e
d e s d e lo g o a rig id e z n e c e s s á ria p a r a a a ç ã o . F a z e r a a p o lo g ia d o v a g o , d o in c e r to ,
d o e q u ív o c o , c o r r e s p o n d e a r a c io c in a r a dicto secundum q u id a d dictum simplici-
ter. É c e r to q u e a s o b s c u r id a d e s s ã o fe c u n d a s , m a s p e lo t r a b a l h o q u e p r o v o c a m
p a r a a s d is sip a r; a s c o n tra d iç õ e s s ã o ex celen tes p a r a serem d is tin g u id a s, m a s é p o r q u e
i r r i t a m u m e s p ír ito a tiv o e s u s c ita m o e s f o r ç o q u e a s u ltr a p a s s a r á . F o r a d e ss e m o ­
m e n to d ia lé tic o , n e n h u m b e n e f íc io . S ã o c o n d iç õ e s d e p a s s a g e m e n ã o v a lo re s e m
$i. I n s ta la r - s e a í c o m c o m p la c ê n c ia é a c e n d e r o f o g o e n a d a a í c o lo c a r p a r a a q u e c e r.
M u ito s f iló s o f o s , o u p r e te n s a m e n te t a i s , tê m p e n d o r p a r a t a l , q u e r p o r i n t e ­
r e s s e , q u e r p o r g o s to . U n s d is s im u la m a c a d u c id a d e o u a in s ig n if ic â n c ia d a q u ilo
q u e p e r c e b e m s o b u m a o b s c u r id a d e v e r b a l q u e lh e s d á a ilu s ã o d e p r o f u n d i d a ­
d e ; e o s s e u s le ito r e s p a r t i l h a m - n a , se n ã o e s tiv e r e m p r e v e n id o s c o n t r a e s te e f e i­
to d e ó p tic a ; é m u i t o r a r o o o u s a r g r i t a r : o re i e s tá n u ! O u t r o s , m a is a r t i s t a s ,
g o s ta m d a s lu m in o s id a d e s c r e p u s c u la r e s p o r q u e e s ta s s e p r e s t a m à im a g in a ç ã o :
t r a n s f o r m a m , c o m o d iz ia K a n t , o p e n s a m e n to n u m j o g o , e a f i l o s o f i a e m f ílo -
d o x ia . M a s o o b s tá c u lo n ú m e r o u m à p r o c u r a d a lu z é m u ito p r o v a v e lm e n te a
v o n ta d e d e p o tê n c i a , o d e s e jo d e e x ib ir a s s u a s v ir t u o s id a d e s , o u d e c o n s t r u i r
u m a b r ig o c o n t r a a s o b je ç õ e s d e m a s ia d o e v id e n te s . A v e r d a d e é u m lim ite , u m a
n o r m a s u p e r io r a o s in d iv íd u o s ; e a m a i o r i a d e le s a lim e n ta u m a s e c r e ta a n im o s i­
d a d e c o n t r a o s e u p o d e r . T o c a m o s a q u i n u m d o s f a t o s m a is p r im itiv o s , m e s m o
n a o r d e m in te le c tu a l e m o r a l: a l u t a d o outro c o n t r a o m esm o, o f a ls o id e a l d e
d o m i n a ç ã o , in d iv id u a l o u c o le tiv a , c o n t r a a c o m u n id a d e e s p ir itu a l e a p a z . E s t a
a n t i f i l o s o f i a c o m b a t iv a e b io m ó r f ic a a v a s s a lo u a E u r o p a e m n o m e d o p r e te n s o
d ir e ito d e c a d a E s ta d o p e r m a n e c e r s o b e r a n o e o c u p a r t o d o o s e u e s p a ç o v ita l.
E o s h o m e n s a p r a tic a m p o u c o m e n o s d o q u e o s g o v e rn o s . E la e s tá s e m p r e p r o n ta
p a r a m in a r s u tilm e n te o u p a r a a t a c a r p e la f o r ç a o p r o g r a m a d a r a z ã o , q u e r d i­
z e r , o liv r e a c o r d o p a r a a v id a , e o liv re a c o r d o n o p e n s a m e n to . T r a b a l h a r , p e lo
c o n t r á r i o , p a r a m a n te r e s te liv r e a c o r d o fo i o o b j e t o p r im e ir o d e s te tr a b a l h o ;
e , n ã o o b s t a n t e a s s u a s u tiliz a ç õ e s a c e s s ó r ia s , p a r e c e - n o s d e f a t o q u e e s te p e r ­
m a n e c e a in d a s e n d o o s e u p r in c ip a l in te r e s s e .

A Çá 2 é Lτ Âτ Çá E

1. “ A lógica d a in v e n ç ã o ” , Revue de métaphysique et de m o rd e . C f. O pensamento intuitivo,


II: “ In v e n ção e v e rific a ç ã o ” .
NOTA SOBRE OS RADICAIS INTERNACIONAIS

O s r a d ic a is in te r n a c io n a is in d ic a d o s n o f im d o s a r tig o s n ã o s ã o p a la v r a s c o m ­
p le ta s ; d e s tin a m - s e a re c e b e r as te r m in a ç õ e s c o n v e n c io n a is q u e , n u m a lín g u a a r t i ­
fic ia l, a s s in a la m o s u b s ta n tiv o ( s in g u la r o u p lu r a l) , o a d je tiv o , o v e rb o n o s seu s
d ife re n te s m o d o s e te m p o s , e tc ., a s s im c o m o o s p r e f ix o s o u s u fix o s q u e p e rm ite m
a d e riv a ç ã o . P o r e x e m p lo , K oncept... d a r á K oncepto (c o n c e ito ); Koncepta (c o n ­
c e p tu a l, n o s e n tid o d e : q u e é u m c o n c e ito ); Konceptala (c o n c e p tu a l, n o s e n tid o
d e : re la tiv o a o s c o n c e ito s ); Konceptigar (c o n c e p tu a liz a r , t r a n s f o r m a r e m c o n c e i­
to ) ; e a s s im p o r d ia n te . D e v e r-s e -á , p o is , q u a n d o o r a d ic a l in te r n a c io n a l n â o é in ­
d ic a d o n o f im d o a r tig o , v e r e m p r im e ir o lu g a r se n ã o se p o d e d e d u z i- lo im e d ia ta ­
m e n te d a r a iz d a d a n u m a r tig o p r ó x im o .
O m a is d a s v ezes, p e lo c o n tr á r io , esses s u fix o s tiv e r a m d e s e r e x p re s s a m e n te
m e n c io n a d o s , n a f o r m a ç ã o d o ra d ic a l, p a r a c o rre s p o n d e r à p a la v r a fra n c e s a , o u p a ­
r a d is tin g u ir o s seu s d iv e rs o s s e n tid o s ; p o r e x e m p lo : n o sk o , c o n h e c im e n to {ato d e
c o n h e c e r); noskato, c o n h e c im e n to (c o is a c o n h e c id a ; at, su fix o d o p a rtic ip io p a s s a ­
d o p a ssiv o ); nedetermineso, in d e te rm in a ç ã o (c a ra c te rís tic a d a q u ilo q u e n â o é d e te r ­
m in a d o ); maldeterminism o , in d e te rm in is m o (d o u tr in a c o n tr á r ia a o d e te rm in is m o ).
U m j o g o d e p r e f ix o s e s u f ix o s d e s te t ip o , q u a n d o s ã o b e m e s c o lh id o s e e m ­
p r e g a d o s p r o p r i a m e n t e , d á a u m a lín g u a a r tif i c ia l m u i t a s u tile z a e p r e c is ã o . E is
a q u i, p a r a o u s o f il o s ó f i c o , o s m a is in te r e s s a n te s d e n tr e e les, n o s is te m a Id o ,
q u e a té h o je r e a liz o u o m é to d o d e d e r iv a ç ã o m a is p e r f e ito :
P re fix o s: mal-, c o n trá rio ; mi-, p ela m e ta d e ; mis-, d ificilm en te ; ne-, n e g aç ã o p u r a
e sim p le s, sem o p o s iç ã o d e c o n tr a r ie d a d e ; pre-, a n te s ; re-, re p e tiç ã o ; sen-, p riv a ç ã o .
S u f ix o s : -aj, c o is a f e ita d e ; -al, r e la tiv o a ; -ar, c o le ç ã o , r e u n iã o ( p o r e x e m ­
p lo , vortaro, v o c a b u lá r io ) ; - ebl , q u e p o d e s e r . . . ( p o r e x e m p lo , q u e p o d e s e r v is ­
t o , c o m p r e e n d id o , d e s e ja d o , e tc .) ; -end, q u e se d e v e ... ( p a r tic ip io la tin o e m dus)\
-es, s e r , e s ta d o d a q u ilo q u e é is to o u a q u ilo (s e rv e p a r a f o r m a r te r m o s a b s t r a ­
to s : vereso, v e r d a d e , n o s e n tid o : c a r a c te r ís tic a d a q u ilo q u e é v e r d a d e ir o ) ; -esk,
c o m e ç a r ; -ig, t o r n a r ; -ij, t o r n a r - s e ; -//, m e io , in s tr u m e n to p a r a . . . ; -;v , q u e p o d e ;
oz, c o n t a n t o q u e ; -ur, p r o d u z i d o p o r ; e tc .

( S e g u n d o a Franca G uidlibreto d e C ÃZ I Z 2 τ I e LE τ Z ,
P a r i s , C h a ix , 1 9 0 8 .)
ABREVIATURAS

G . G r e g o . — L . L a tim . — D . ( D e u ts c h ) A le m ã o . — E . ( E n g lis h ) I n ­
g lê s. — F . ( F r a n ç a is ) F r a n c ê s . — I. ( I ta lia n o ) I ta lia n o .
R a d . m f .: R a d ic a l i n te r n a c i o n a l.
V o, s u b V o (verbo, sub verbo): r e m is s ã o a u m a r tig o d e u m d ic io ­
n á r io o u v o c a b u lá r io . I n . A p . (in o u apud, e m ): te x to c ita d o n u m
o u t r o te x to , o u p u b lic a d o n u m a o b r a c o le tiv a .
P p : P r o p o s iç ã o . — R : R e la ç ã o .
P r , P p r : P r in c í p io , p r o p o s iç ã o p r im e ir a .
S , P : S u je ito e p r e d ic a d o ( n u m a p r o p o s iç ã o r e p r e s e n ta d a e s q u e m a ­
tic a m e n te ) .

O a s te r is c o * in d ic a q u e se p o d e r e p o r t a r a u m a r tig o d o p r e s e n te Vocabulá­
rio. A le tr a (S ) r e m e te a o S u p le m e n to .
O s t ítu lo s d e a r tig o s e n tr e a s p a s in d ic a m q u e r u m n e o lo g is m o , q u e r u m t e r ­
m o e s p e c ia l n a lin g u a g e m d e u m a u t o r o u d e u m a e s c o la .
Carta de N ... (se m o u t r a r e f e r ê n c ia ) : c a r ta e s c rita p o r N . . . e m r e s p o s ta a o
e n v io d a s p r o v a s d o Vocabulário o u p o r o c a s iã o d a p u b lic a ç ã o d e u m d o s f a s ­
c íc u lo s .

A b r e v ia m o s u m c e r to n ú m e r o d e p a la v r a s m u ito u s u a is (L ó ; . p a r a L ó g ic a ,
P s i c . p a r a P s ic o lo g ia , e tc .) , a s s im c o m o títu lo s d e o b r a s m u ito c o n h e c id a s e f á ­
ceis d e c o n s u lt a r . A lg u m a s r e f e r ê n c ia s f o r a m r e d u z id a s a o n o m e d o a u t o r ; s ã o
e la s : A Tτ á , p a r a D ictionnaire de l ’A cadém ie française (1 8 7 8 ); B τ Â á ç « Ç , p a r a
D ictionary o f P hilosophy a n d P sychology o r g a n iz a d o p o r J . M . B a ld w in ; B û-
Ç« U , p a r a o seu In d ex A ristotelicus ; D τ 2 O . e H τ
I U ., p a r a o D ictionnaire de
I

la langue française d e D a r m e s te te r , H a tz f e ld e T h o m a s (c o m a c o la b o r a ç ã o d e
S u d re ); D T τ Oζ 2
E 7 E, p a r a Dictionnaire usuel des sciences médicales s o b a d ire ç ã o
d e D e c h a m b r e e L e r e b o u lle t ( a r tig o s d e f ilo s o f ia p o r V ic to r E g g e r); ElSLER,
XXIV A B R E V IA T U R A S

p a r a o s e u W örterbuch der philosophischen B eg riffe u n d Ausdrücke-, F 2 τ ÇT3 ,


p a r a o D ictionnaire des sciences p h ilo so p h iq u es p u b lic a d o s o b a s u a d ir e ç ã o ;
G Ãζ Â Ã , p a r a o seu Vocabulaire p h ilo so p h iq u e ; G ÃTÂ Ç« Z è , p a r a o se u L e x i­
I E

cón philosophicum ; L « 2 é , p a r a o seu Dictionnaire de la langue française ; M Â -


I I E

 « Ç , p a r a o s e u W örterbuch der K ritischen Philosophie; M Z 2 2 τ à , p a r a A N ew

English D ictionary on H istorical Principies ( O x f o r d ) ; R « T , p a r a o D iction­


7 E I

naire de p hysiologie p u b lic a d o s o b a s u a d ir e ç ã o ; R τ ÇUÃÂ « , p a r a o s e u D izio-


nario di scienze filo so fich e .

A s c ita ç õ e s d e D e s c a r te s , s e g u id a s d a in d ic a ç ã o “ A d . e T a n . ” , r e m e te m à
g r a n d e e d iç ã o d a s Obras de Descartes p o r A d a m e T a n n e r y . M a s d iv e r s a s d a s
s u a s o b ra s s ã o c ita d a s d ir e ta m e n te p o r p a r te s o u c a p ítu lo s e p a r á g r a f o s . P o r e x e m ­
p lo , M é t., IV , 7 = D iscurso do m é to d o , 4? p a r t e , § 7 .
L E , G e r h . ( = e d iç ã o G e r h a r d t, Philosophische Schriften ); G e r h . M a th ,
« ζ Ç« U

( e d iç ã o G e r h a r d t , M athem atische Schriften).


A s le tr a s A e B d e p o is d a s c ita ç õ e s d e Kτ Ç , K rit. der reinen Vern. ( C r ític a
I

d a r a z ã o p u r a ) , d e s ig n a m r e s p e c tiv a m e n te a p r im e ir a e a s e g u n d a e d iç ã o . A i n ­
d ic a ç ã o d a s p á g in a s d e s ta s e d iç õ e s é r e p r o d u z id a n a d e K e h rb a c h (in -1 6 , R e c la m ),
p a r a a q u a l f o r a m f e ita s ta m b é m a lg u m a s r e m is s õ e s .
A

1 . A 1? S ím b o lo d a p ro p o s iç ã o uni­ n a Id a d e M é d ia ábaco (Liber A baci, d e


versal afirmativa’* e m L ó g ica, se g u n d o os L Ã Çτ 2 á Z è
E P « è τ ÇZ è , d ito F « ζ Ã Çτ T T « ,
v e rso s m n e m ó n ic o s clássico s: 1202) .
Asserit A , negat E, verum generalitcr am bo; B . N a L ó g ic a (ábaco d e J E âÃÇè ),
Asserit I, negat O , sed particulariter am bo.
q u a d r o co m d u p la e n tr a d a q u e re p re s e n ­
2? S ím b o lo d a p ro p o s iç ã o m o d a l n a t a as c o m b in a ç õ e s d e n te rm o s sim p les a,
q u a l o m o d o * e o d ic tu m * s a o a firm a d o s b , c , . . . e d a s su a s n e g aç õ e s* , e m n ú m e ro
u m d o o u tr o . d e 2 ". E s te q u a d r o serv e p a r a e x tra ir as
2 . A . . . o u A n ... G . ó p riv a tiv o . P r e ­ c o n s e q ü ê n c ia s ló g icas d a s p re m issa s d a ­
fix o u tiliz a d o m u ito liv rem en te n a lin g u a­ d a s se g u in d o o m é to d o d e J E âÃÇè (Pure
g em filo só fic a c o n te m p o râ n e a p a r a f o r ­ Logic , p . 80).
m a r te rm o s c o m o s e n tid o e s tr ito d e p r i­ C . N a M e to d o lo g ia , q u a d r o d e c u r­
v a ç ã o , n ã o de c o n tra rie d a d e . V er A m o ­ v a s q u e serv e p a r a o “ c á lc u lo g r á f ic o ” ,
ral, Anestético, etc. q u e r d iz e r, p a r a a d e te r m in a ç ã o d e c e r­
A = A F ó r m u la u tiliz a d a fre q ü e n te -
ta s g ra n d e z a s a tra v é s d o c ru z a m e n to d es­
m e n te p a ra e x p rim ir o principio da iden­
ses tra ç a d o s .
tidade. V er Identidade. Rad. int.: A b a k .
C RÍTIC A A B A L 1 E D A D E V e r Aseidade.
Se e sta f ó r m u la f o r e n te n d id a n o sen ­
A B D U Ç Ã O G . ’AirccyíiJYij.
tid o d o s ló g ico s n ã o d ev e ser to m a d a c o ­
A 2 « è I ó I E Â E è d á e ste n o m e a u m si­
m o p rim itiv a: c o m e fe ito , ela d ed u z-se d a
lo g ism o e m q u e a p re m is sa m a io r é c e r ta
f ó r m u la a D a e d a d e fin iç ã o d o
e a m e n o r é a p e n a s p ro v á v e l: a c o n c lu ­
sig n o = (n o s e n tid o ló g ico ):
s ã o te m a p e n a s u m a p ro b a b ilid a d e ig u a l
à d a m e n o r (Prim, anal., I I , 25; 69 a 20
( a - b . D : a D b. b D a. (D f)
e ss. V er Apagógico).
[a D b. b D a: D a = b. (D f)
P E « 2 TE c h a m a abdução a to d o o r a ­
S e f o r e n te n d id a n o se n tid o m aís a m p io cio cín io em q u e a co n clu são é so m en te ve­
d e v e ser e sc rita : A s A . ro ssím il.
V er Indução e Raciocínio .
Á B A C O G . "A Ô afc L . Abacus. Rad. int.: A b d u k t.
A. N a A ritm é tic a , q u a d r o q u e serve
p a r a e fe tu a r as ad içõ es e s u b tra ç õ e s (an á­ A B E R R A Ç Ã O D . Abirrung; E .
lo g o a u m a p a re lh o d e calcu lar). T a m b é m Aberration; F . Aberration; I. Aberrazio-
a a r te d o c á lc u lo n u m é ric o se c h a m a v a ne. (A s p a la v r a s in g le sa e ita lia n a s ã o d e

S o b re A b e rra ç ã o — I m p o r ta d is tin g u ir, n o s e n tid o A , aberração e desvio. A p a ­


la v ra aberração deve ser e sp e c ialm en te re se rv a d a p a ra as a n o m a lia s q u e , co m o u sem
ra z ã o , p a re c e m ev itáv eis e, p o r c o n se g u in te , s o b re tu d o p a r a as a n o m a lia s d as f u n ­
çõ es in te le c tu a is. C f. e s ta fra s e de P 2 ÃZ á 7 ÃÇ : “ A p r o c u r a d o a b s o lu to é a c a r a c te ­
r í s t i c a d o g ê n i o h u m a n o ; é a e la q u e ele d ev e a s su as aberrações e a s su as o b ra s -
p r im a s .” Justice, D écim o E s tu d o ; c a p . I I I , 23. (L. Boisse)
ABNEGAÇÃO 2

s e n tid o a m p lo e a p lic a m -se a q u a s e to d a A B N E G A Ç Ã O D . Entsagung ; E. A b ­


d e s o rd e m m e n ta l.) negation (ra ro ); Self-denial; n o sen tid o B,
A . S e n tid o té cn ico : a n o m a lia d e u m a Self-sacrifice ; F . Abnégation ; I. Abne-
f u n ç ã o e sp e c ial q u e a im p e d e d e a tin g ir gazione.
o se u fim n o rm a l: a b e r r a ç ã o d a v is ã o , d e A . R e n ú n c ia d o h o m e m a t u d o o q u e
u m in s tin to . h á d e e g o ísta, e m e sm o d e in d iv id u a l, n o s
B . S e n tid o v u lg a r: p e r tu r b a ç ã o m e n ­ seus d e se jo s.
ta l c a r a c te riz a d a p o r u m e rro , u m a b s u r ­ B . N u m s e n tid o m e n o s f o r te , s a c rif í­
d o , u m e sq u e c im e n to g ra v e m a s p a ssa g ei­ c io v o lu n tá rio e m p ro v e ito d e o u tre m d e
r o n u m a m a té ria b e m c o n h e c id a d o u m a te n d ê n c ia n a tu r a l. N um sentido ab­
s u je ito . soluto , s a c rifíc io v o lu n tá rio d e si m e sm o
C RÍTIC A a o s o u tr o s . C f . A ltruísm o .
D eve-se e v ita r o sen tid o B to d a s as ve­ E s ta d o d e e sp írito q u e co n siste n a d is­
zes em q u e ele se p o d e p re s ta r à c o n fu sã o . p o s iç ã o p a r a este s a c rifíc io .
Rad. int.: A . D e v iac ; B . A b e ra c . Rad. int.: A b n e g .

S o b re A b n e g a ç ã o — P e la s u a o rig e m h is tó ric a , p e lo se u s e n tid o té c n ic o , e ste te r ­


m o , q u e p e rte n c e s o b re tu d o à lin g u a g e m d a m o ra l a s c é tic a e c ris tã , re la c io n a -s e c o m
o E v a n g e lh o ( M a t., X V I, 2 4 ; L u c ., I X , 2 3 , e tc .). “ Si q u is v u lt v e n ire p o s t m e , a b n e -
g e t se m e tip s u m e t to lla t c ru c e m s u a m q u o tid ie .” E le im p lic a p rim itiv a m e n te a nega­
ção do egoísmo q u e se f a z c e n tr o d e t u d o , a n e g a ç ã o , p o r c o n s e q ü ê n c ia , d e u m a n e­
g a ç ã o e d e u m o b s tá c u lo à v id a s u p e r io r d o e s p ír ito e à u n iã o d iv in a . É e n fra q u e c e r
o u m e sm o d e s n a tu r a r a sig n ific a ç ã o d a p a la v r a fa z ê -la d e s ig n a r u m sim p les d e sin te ­
resse so cia l o u u m a ltru ís m o p r a tic a n te : e s ta r e n ú n c ia em fa v o r d o s o u tr o s v em d e
a lg o m a is p r o f u n d o e v isa m a is a lto : e x p rim e a lib e rta ç ã o d a a lm a a tra v é s d e u m a
c a r id a d e u n iv e rs a l. T al é o s e n tid o tra d ic io n a l a ssim c o m o o d e fin e o a v iso c o lo c a d o
n o in ício d a s In s titu iç õ e s de T h a u lè re (T a u le r), tra d u z id a s p e lo s re lig io so s d a o rd e m
d o s Irm ã o s P re g a d o re s (D o m in ica n o s) d o F a u b o u rg S a in t-G e rm a in (3? e d içã o , 1681).
“ A a b n e g a ç ã o de si m e sm o n ã o é m a is d o q u e e sq u e c im e n to g e ra l de tu d o o q u e
a m a m o s n a v id a p a s s a d a ..., p o rq u e o n o sso p ro g re s s o em D e u s a p e n a s c h eg a à su a
p e rfe iç ã o a tra v é s d a r u ín a d o n o s so v e lh o h o m e m .” L « ζ Ç« U e sc re v ia a M o re ll em
E

2 4 d e n o v e m b ro d e 1696: “ C o m p re i as o b ra s d e S a n ta T e re s a e a v id a d e  n g e lo
d e F o lig n o , o n d e e n c o n tr o c o isa s a d m irá v e is re c o n h e c e n d o c a d a v ez m a is q u e a v er­
d a d e ir a te o lo g ia e re lig iã o d ev e e n c o n tr a r -s e n o n o s s o c o ra ç ã o a tra v é s d e u m a p u r a
abnegação d e n ó s m e sm o s a b a n d o n a n d o - n o s à m is e ric ó rd ia d iv in a ” (Bτ 2 Z U« , Leib-
niz, B lo u d , 1909, p . 337). A p a la v r a a b n e g a ç ã o é u tiliz a d a d iv e rsa s vezes p o r L e ib n iz
n e ste m e sm o s e n tid o re s u m id o n e ste te x to c u rio s o e e n érg ico : “ A n e g a ç ã o d e si m es­
m o é o ó d io d o p ró p r io n ã o -s e r e m n ó s e o a m o r d a f o n te d o n o sso ser p e sso a l, q u e r
d iz e r, de D e u s ” (ibid., p . 375). N e g a r o eu odioso é p r e p a r a r o a d v e n to d o eu me­
lhor. (Maurice Blondel)
A a b n e g a ç ã o é u m a v a rie d a d e , u m a esp écie de s a c rifíc io . É u m s a c rifíc io q u e im ­
p lic a a n te r io r m e n te u m a esp écie d e r e n ú n c ia intelectual. H á u m ju íz o d e s e p a ra ç ã o ,
u m ju íz o a tra v é s d o q u a l d e c la ra m o s q u e ta l te n d ê n c ia o u p a ix ã o , ta l in te re sse d e ­
vem d e s a p a re c e r d o n o s s o h o riz o n te , se e n c o n tr a m negados (negaré)y c o lo c a d o s lo n ­
ge d e n ó s (ab). E n tã o , a a m p u ta ç ã o n ã o é d o lo r o s a . O a fe tiv o é r e d u z id o a o m ín im o .
N u m s e n tid o , a a b n e g a ç ã o p o u p a -n o s a p e n a d o s a c rifíc io . O s a c rifíc io é u m a a b n e ­
g a ç ã o q u e c o m e ç a p elo c o ra ç ã o ; a a b n e g a ç ã o é u m s a c rifíc io q u e a in te lig ê n c ia in a u ­
g u ra , c o n su m a e e sg o ta . A a b n e g a ç ã o é a fo r m a in te le c tu a l d o s a c rifíc io . (L . Boisse)
3 A B SO L U T O

A B -R E A Ç Ã O D . Abreagieren. E . Absolutismo F . Absolutisme; I. Asso-


T e rm o d e o rig e m fr e u d ia n a : re a ç ã o lutismo.
a tra v é s d a q u a l o o rg a n is m o se d e sfa z d e A . R eg im e de p o d e r a b s o lu to .
u m a im p re s sã o o u d e u m a e x citaç ão q u e B . E s p irito de in tra n s ig ê n c ia , a u s e n ­
n a au sê n c ia d este d e riv a tiv o p o d e ria c a u ­ c ia d e re s e rv a o u de c a m b ia n te s n a s o p i­
s a r p e rtu rb a ç õ e s d u ra d o u ra s . n iõ e s. D a p a rte d e u m a a u to rid a d e , e sp i­
D iz-se a lg u m as vezes, em te rm o s m ais rito o p o s to a to d o o lib eralism o .
g e ra is, de to d a re a ç ã o de d e fe sa . C . (p a rtic u la rm e n te em inglés). M e ta ­
física d o A b s o lu to . D iz-se s o b re tu d o d a
A B S O L U T ID A D E D . A bsoiutheit ;
filo so fía de B ra d ley .
E . Absoluteness; F . Absoluité; I. A bso­
Rad. i n t A b s o lu tis m o .
lutist.
C a ra c te rís tic a d a q u ilo q ue é a b s o lu ­ A B S O L U T O D o L . A bsolutas , p e r­
to : “ E s p in o s a p re te n d e p e n s a r a a b so lu - fe ito , a c a b a d o , m a s c u jo s e n tid o m o d e r­
tid ad e de D eus, faz en d o dele a p ró p ria n e­ n o so fre u a in flu ê n c ia d o ra d ic a l solvere .
c essid a d e .” H τ OE Â « Ç , Descartes, p . 303. V er c ritic a m ais a d ia n te . D . Absoluto E.
Absolute; F . Absolu; l.A sso lu to . O p õ e-
A B S O L U T IS M O D . Absolutismus; se em q u ase to d o s o s sen tid o s a relativo*.

P a re c e -n o s d u v id o s o q u e a p a la v r a te n h a re a lm e n te este a c e n to in te le c tu a lis ta .
Negare te m , a liá s , em la tim u m se n tid o m u ito m ais a tiv o e a fe tiv o m e n o s e s tr e ita ­
m e n te lógico q u e negar. Q u e r d izer ta m b é m recusar. “ N eg are o p e m p a tria s” . (A.
L .) N ã o so m e n te negare n a o te m u m s e n tid o p u ra m e n te in te le c tu a l c o m o n ã o v ejo
q u e , de fa to , e isto é o m ais im p o r ta n te , o u s o ju s tif iq u e a re s triç ã o d a p a la v r a à q u i­
lo q u e d e p e n d e d a in te lig ê n cia. D ir-se -á m u ito b em q u e u m a v e lh a d o m é s tic a tr a to u
o s seu s p a trõ e s c o m u m a p e rfe ita a b n e g a ç ã o ; e m q u e s e ria a in te lig ê n c ia q u e “ in a u ­
g u r a r ia ” esse s ac rifíc io ? O s e n tid o im p lic a d o n e s ta p a la v r a é o d e u m g ra u de d e sin ­
te re sse o u d e u m a e x p re ssã o d e d e sin te re sse q u e u ltr a p a s s a m o sim p les “ e sq u e c im e n ­
t o ” d e si. ( G . Belot)

S o b re A b s o lu tis m o — U tiliz a ç ã o a n g lo -a m e ric a n a d e ste te rm o (s e n tid o C ) p o s ta


e m relev o p o r Em m . Leroux.

S o b re A b s o lu to — O § E fo i d iv id id o em d o is (a tu a lm e n te E e F ) e o fin a l d a
c ritic a fo i m o d if ic a d o c o rre la tiv a m e n te p a r a te r em c o n ta a s o b se rv a ç õ e s seg u in tes
d e Maurice Blondel e d e Em m anuél Leroux.
D ev e-se te r o c u id a d o d e n ã o id e n tific a r o absoluto n o s e n tid o o n to ló g ic o e es­
sen c ia lm e n te e s p iritu a l c o m a c o n c e p ç ã o m a te ria lis ta e in trin se c a m e n te in in telig ív el
d e u m a re a lid a d e em si e p o r si, c o m o , p o r e x em p lo , a m a té ria ú n ic a d o s a lq u im is ­
ta s . N o se n tid o f o r te d a p a la v r a , o a b s o lu to é , c o m o o in d ic a a e tim o lo g ia , a q u ilo
q u e n ã o d e riv a d e n e n h u m a c o n d iç ã o , a q u ilo d e q u e tu d o d e p e n d e e q u e n ã o d e p e n ­
d e d e n a d a , o c o m p le to em si, a q u ilo e s ó a q u ilo q u e p o d e d iz e r: “ S o u a q u ilo q u e
s o u ” , o u c o m o o d e fin iu S e c ré ta n : “ S o u a q u ilo q u e q u e r o .” N ã o fo i a E s c o la E c lé ti­
c a q u e v a lo riz o u e sta c a ra c te rís tic a d e s o b e r a n a aÒTÚQxeta. {Maurice Blondel)
D iz e r q u e se c o n s id e ra a n a tu r e z a re a l o u absoluta d e u m a c o is a independente-
mente d e tu d o o q u e n e la p o s sa h a v e r d e p a rc ia l, d e sim b ó lic o o u d e e rrô n e o n o c o ­
n h e c im e n to q u e d e la te m o s n ã o é d e m a n e ira n e n h u m a a f ir m a r q u e e ssa c o isa c o n s ti­
tu i um A bsoluto , u m a re a lid a d e e x iste n te e m si e p o r si. P o r q u e n â o se c o n c e b e r i a
a natureza absoluta d e u m ser d e p e n d e n te , c o n tin g e n te , re la tiv o ? {Emm. Leroux )
A BSO LU TO 4

1. LÓ G ICA E PSICO LO G IA Crit. da razão pura , A . 324; B. 381: “ V o n


A . “ (T e rm o ) a b s o lu to ” , n o s g r a m á ­ d e n tra n s e . I d e e n .” E le p re v in e u m p o u ­
tic o s , p o r o p o s iç ã o a o s “ te r m o s re la ti­ co m a is a d ia n te q u e é e ste s e g u n d o s e n ti­
v o s ” , d e sig n a a q u e le s q u e e x p rim e m n o ­ d o q u e a d o ta . ( T o d a a p a ss a g e m é u m a
çõ es c o n s id e ra d a s c o m o in d e p e n d e n te s , a n á lise d a s d iv e rs a s a c e p ç õ es d e ab­
n o se n tid o d e q u e elas n ã o s ã o p o s ta s im ­ soluto.)
p lic a n d o u m a re la ç ã o c o m u m o u tr o te r­ A este s e n tid o lig a m -se as ex p ressõ es:
m o . H om em é u m te rm o a b s o lu to , pai “ P o d e r a b s o lu to , m o n a r q u ia a b s o lu ta ,
u m te rm o re la tiv o . (L ã I I 2 É) o rd e m a b s o lu ta ” , e tc .; e p o r e x te n s ã o
B . In d e p e n d e n te d e q u a lq u e r re fe rê n ­ “ c a r á te r a b s o lu to ” , q u e r d iz e r, q u e n ã o
c ia o u d e q u a is q u e r p a r â m e tr o s a r b itr á ­ s u p o r ta n e n h u m a re s triç ã o e n ã o f a z n e ­
r io s . “ M o v im e n to a b s o lu to ; p o s iç ã o a b ­ n h u m a c o n c e s sã o .
s o lu ta ; te m p e r a tu r a a b s o lu ta .” “ S e n tid o a b s o lu to ” , o s e n tid o m a is
C . Q u e n ã o c o m p o r ta n e n h u m a re s­ fo r te d e u m te rm o .
tr iç ã o n em re s e rv a e n q u a n to é d e sig n a d o D. S in ô n im o d e a príori* s e g u n d o
p o r ta l n o m e o u re c eb e ta l q u a lific a ç ã o . L « I I 2 é : “ E m te rm o s d e m e ta fís ic a ”
“ N ecessid ad e a b s o lu ta ; o p e ra ç ã o a b so lu ­ (p ro v a v e lm e n te n o s e n tid o d o séc u lo
ta m e n te e x a ta ; á lc o o l a b s o lu t o .” X V III), “ q u e n ã o é re la tiv o , q u e n ã o tem
K a n t, d e p o is d e te r in d ic a d o u m o u ­ n a d a d e c o n tin g e n te . A s id é ia s a b s o lu ta s
tr o s e n tid o d a p a la v r a (v er a d ia n te F ), s ã o a q u e la s q u e seg u n d o a m e ta física n ã o
acrescen ta: “ D ag eg en w frd es a u c h bisw ei­ d e riv a m d a e x p e r iê n c ia .” S u b V°.
le n g e b ra u c h t u m a n z u z e ig e n d ass e tw as E s te s e n tid o p a re c e s e r u m a in te rp re ­
in a lle r B ez ie h u n g (u n e in g e s c h rä n k t) g ü l­ ta ç ã o p a rc ia lm e n te in e x a ta d o u s o d e s ta
tig ist, z. B. d ie a b s o lu te H e r r s c h a f t.” 1 p a la v r a p o r C o u s in , q u e fr e q ü e n te m e n te
c h a m a o s p rin c íp io s ra c io n a is d e verda­
1. “ P or outro lado, é tam bém usado algumas ve­
des absolutas n o s e n tid o E ; p . e x .: “ A s
zes para indicar que algum a coisa é válida sob todos
os pontos de vista (sem restrições), por exemplo: o po­ v e rd a d e s a b s o lu ta s p re s s u p õ e m u m S er
der absoluto.’’ a b s o lu to c o m o elas o n d e tê m o seu ú lti-

É q u e s tã o d e s a b e r se o absoluto n ã o é m a is d o q u e o o p o s to d e re la tiv o , a s a b e r,
o seu c o r r e la to . E , p o r c o n s e q ü ê n c ia , s a b e r se é le g ítim o p e n sa r à p a r te o a b s o lu to
o u a c r e d ita r fa z ê -lo (o q u e a c o n te c e q u a n d o se u tiliz a o te rm o s u b s ta n tiv a m e n te ).
E m to d o c a s o , a p a ss a g e m d o re la tiv o a o a b s o lu to n ã o p o d e ria te r lu g a r se n ã o
n u m m e sm o d o m ín io q u e se d ev e s e m p re d e fin ir. N u m a e x p re ssã o c o m o “ O A b s o lu ­
to o u o V a lo r ” , é p e la m a is a r b itr á r ia d a s p o s tu la ç õ e s q u e se id e n tific a o a b s o lu to
d a re a lid a d e c o m o a b s o lu to d o v a lo r.
N ã o sei se o a b s o lu to é o in f in ito , m a s p a re c e -m e q u e é o T o d o . O c o n ju n to c o n s ­
titu íd o p elo C r ia d o r e a c r ia tu r a p a re c e -m e m e re c e r o n o m e d e a b s o lu to a o m e n o s
ta n to q u a n to o C r ia d o r s o z in h o , e c o m m a is f o r te r a z ã o se este e s p e ra q u a lq u e r c o isa
d a s c ria tu ra s . (Marsaf)
O s e n tid o d a d o a e s ta p a la v r a p o r J .- J . GÃZ 2 á fo i re a lç a d o p o r Brunschvicg.
J .- J . G o u rd id e n tific a n d o o A b s o lu to c o m o In c o o rd e n á v e l o p õ e o A b s o lu to a o I n f i­
n ito c o m o o d ife re n te a o sim ila r {Philosophie de la religión, p . 248). I m p o r ta c o n tu ­
d o n o ta r q u e o s e n tid o v e rd a d e iro d a p a la v r a em m e ta fís ic a é o s e n tid o in d ic a d o n a
le tra E , e q u e n esse s e n tid o a n o ç ã o d e A b s o lu to é id ê n tic a à n o ç ã o d e I n f in ito ta l
c o m o a e n te n d e m o s m o d e rn o s . {Ch. fVemer)
T a lv e z e s ta p a la v r a te n h a s o frid o se m p re d e u m a c e r ta a m b ig u id a d e : n o seu se n ­
tid o lite ra l e e tim o ló g ic o “ s e p a ra d o d e . . . , sem c o n e x õ e s , in d e p e n d e n te ” (d e o n d e
p o r e x em p lo “ a b la tiv o a b s o lu to ” ), c o m o n o seu s e n tid o m e ta fó ric o “ fin ito , c o m -
5 A BSO LU TO

m o f u n d a m e n to .” Le vrai, le beau, le m en te d a re p resen tação q u e dele possam o s


bien, lição IV , p . 70. te r. V er L « τ 2 á , La Science p o sitive et la
m éta p h ysiq u e, esp ecialm en te liv ro II e se­
2. METAFÍSICA g u in tes (o n d e , aliás, e sta a cep ção e stá es­
A p a la v r a é a q u í u tiliz a d a s u b s ta n ti­ tre ita m e n te co m b in a d a c o m a precedente).
v a m e n te n a m a io r p a rte d o s caso s: “ O P o d e -s e lig ar este s e n tid o à q u e le q u e
A b s o lu to .” D . DasAbsolute; E . T keA b - K a n t in d ic a p a r a o a d je tiv o : “ D as W o r t
solute; F . L ’Absolu'y I. L ’A ssoluto . A bsolut w ird je tz t ö f te r g e b ra u c h t u m
E . “ A q u ilo q u e ta n to n o p e n s a m e n ­ b lo ss an zu zeig en d a ss etw as v o n ein er S a ­
to c o m o n a re a lid a d e n ã o d e p e n d e d e n e ­ c h e a n sich selbst b e tr a c h te t u n d a ls o in ­
n h u m a o u tr a c o is a e tr a z e m si m e sm o a n e rlic h g e lte .” 1 Krit. der reinen Vern .,
s u a ra z ã o d e s e r .” F 2 τ ÇT 3 , s u b V o. P o ­ A . 324; B . 381 (v er m a is a tr á s C ). M as
d e m o s lig ar a este sen tid o (se b em q u e n ã o n ó s n ã o a c r e d ita m o s q u e n e le se e n c o n ­
s e ja e x a ta m e n te o m e sm o ) a q u e le q u e J .- tr e m e sm o a títu lo d e in d ic a ç ã o o s e n ti­
J . G ÃZ 2 á d e u a e s ta p a la v r a p rin c ip a l­ d o c o rre s p o n d e n te d o s u b s ta n tiv o .
m e n te em Les trois dialectiques e n a Phi- G. “ A q u ilo q u e e s tá f o r a de to d a a
iosophie de la religión : o n ã o -c o o rd e n a - re la ç ã o e n q u a n to Finito, p e rfe ito , a c a b a ­
d o , o q u e e stá f o r a d e t o d a re la ç ã o . d o , to ta l. C o rre s p o n d e p o is a o t ò b\o v
P o d e m o s a p ro x im a r d ele ta m b é m , se e a o t ò réX eto f d e A ristó teles. N esta a c e p ­
b e m q u e de a in d a m a is lo n g e , a u tiliz a ­ ç ã o , e é a ú n ic a d e q u e m e s irv o , o A b s o ­
ç ã o q u e fo i fe ita n a a lq u im ia p a r a d esig ­ lu to é d ia m e tra lm e n te o p o s to , c o n tr a d i­
n a r a m a té ria ú n ic a . Bτ Â Uτ T : A procu­ tó r io m e sm o , em re la ç ã o a o in f in ito .”
ra do absoluto.
F . P o r c o n s e q u ê n c ia , n u m se n tid o
1. “ A palavra absoluto è hoje mais frequentemen­
m a is f r a c o , e d o p o n to d e v ista d a te o ria te usada para indicar apenas que aquilo que se diz
d o c o n h e c im e n to : a c o isa em si, o ser ta l de u m a coisa é válido enquanto a considerarm os em
c o m o existe em si m e sm o , in d e p e n d e n te - I si m esma e, p o r conseqüência, interiorm ente.”

p ie t o ” , c o m o o te c id o r e tir a d o d o te a r . N a lin g u a g e m p o lític a in g le s a a e x p re ss ã o


“ M o n a r q u ia a b s o lu ta ” v is o u s o b r e tu d o p rim itiv a m e n te a in d e p e n d ê n c ia em fa c e d e
to d a s u s e ra n ia o u a u to r id a d e e x te r io r, p o r e x e m p lo , e m re la ç ã o a o P a p a ; m a s em
s e g u id a n ã o é d u v id o s o q u e e la se t e n h a a p lic a d o id é ia d e u m g o v e rn o c o m p le ta m e n ­
te m o n á rq u ic o .
H a m ilto n c ritic o u o A b s o lu to d e S ch ellin g e d e H eg el c o m o se fo sse a co isa em
si d e K a n t, in c o g n o sc ív e l n a m e d id a e m q u e e la e stá “ f o r a d e to d a a r e la ç ã o ” c o m
as n o s s a s fa c u ld a d e s d e c o n h e c e r. M a s p a r a eles a p a la v r a s ig n ific a d e p re fe rê n c ia
aquilo sem o qual o$ te rm o s d a re la ç ã o s u je ito -o b je to d e sa p a re c e m .
N ic o la u d e C u s a fo i ta lv e z o p rim e iro q u e fe z s iste m a tic a m e n te a u tiliz a ç ã o de
Absoluto p a ra d esig n ar o o b je to ú ltim o d a esp ecu lação filo só fica. E ste te rm o to m o u -se
u s u a l n este s e n tid o em m u ito s e sc rito re s in g leses c o n te m p o râ n e o s , ta is c o m o B ra d ley
e o fa le c id o B o s a n q u e t, e d e p o is fo i fr e q ü e n te m e n te o b je to d a s c rític a s d o s e sc rito re s
p e rte n c e n te s à esc o la p ra g m a tis ta c o m o W . Ja m e s e F . C . S. S chiller. (C . C. J. Webb )
N a F ra n ç a e s ta p a la v ra fo i in tro d u z id a n o u so filo só fico c o rre n te p o r V ic to r C o u -
$in, em 1817. E le a d e v ia ta lv e z a M a in e d e B ira n , q u e a h a v ia u tiliz a d o p o r v o lta
d e 1812. V er P a u l J τ ÇE I , Victor Cousin et son oeuvre, p p . 70-71 e 107. (V. Egger )
S o b re “ B elo a b s o lu to ” — N ã o é essa u m a e x p re ss ã o v a g a p a r a u m a id éia q u im é ­
rica? ( /. Lachelier) Sem d ú v id a, m a s ela fo i freq ü e n te m en te u tiliz a d a n a E sc o la E clética
e m esm o n o s lite ra to s q u e lh e e ra m c o n te m p o râ n e o s . E n c o n tra m o -la a in d a n o s n o s ­
sos d ia s. (A. L .)
A B SO L U T O 6

Hτ O« Â I ÃÇ , Discussions sur R eid , p . 14. cia a tiv a , s a b e r p u r o , n ã o s u je ito q u e c o ­


D e fin iç ã o d is c u tid a p o r J . S . M « Â Â , n h e ce n e m o b je to c o n h e c id o ; p o s iç ã o in ­
E xam ., c a p . IV . fin ita d e si p o r si, n ã o su b stâ n c ia . Grund-
H . P o r u m a m is tu ra d o s d o is s e n tid o s lage der gesammten Wissenschaft, 9 ss.
p re c e d e n te s o s E c lé tic o s u tiliz a ra m Belo N u m sen tid o d e riv a d o e relativ o a o h o ­
absoluto p a r a d e sig n a r a id é ia d o B elo e n ­ m em : a a ç ã o e m o p o s iç ã o às te n d ê n c ia s
q u a n to existente em si in d ep en d e n te m e n te in d iv id u a liz a n te s . V er X τ â « E 2 L é ÃÇ , La
d e to d a a re a lização p a rtic u la r. “ R eco n h e­ philosophie de Fichte , liv ro I I I , c a p . II.
c em o s trê s fo r m a s p rin c ip a is d a id é ia d o L . “ O e sp irito a b s o lu to ” d e H E ; E Â
B elo : o B elo a b s o lu to ... q u e a p e n a s ex is­ (Absoluter Geist) re p re s e n ta , d e p o is d o
te e m D e u s , e t c .” C h . Bé Çτ 2 á em e s p írito s u b je tiv o e d o e s p írito o b je tiv o ,
F 2 τ ÇT3 , VÃ Belo. U tiliz o u -se a lg u m a s o m o m e n to s u p re m o d o d e se n v o lv im e n ­
vezes c o m o s e n tid o a n á lo g o Bem abso­ to d a id é ia : ele é a c o n sc iê n c ia , d o r a v a n ­
luto e Verdade absoluta. V e r a d ia n te Crí­ te a d e q u a d a , lib e rta d a s n ecessid ad es n a ­
tica e c f . Metafísica-, p rin c ip a lm e n te D e E . tu ra is e d a s c o n d iç õ e s d e re a liz a ç ã o e x te ­
r io r , d e t o d o o c o n te ú d o c o n c r e to d o es­
p ír ito . M as ele re a liz a -se a si m e sm o em
3. U T IL IZA ÇÕ ES DIVERSAS trê s g ra u s : s o b a f o r m a d o id e a l e sté tic o
(a a rte ); so b a f o r m a d a v e rd a d e re v e la ­
I. “ [V alo r] a b s o lu t o .” N as m a te m á ­
d a p o r s e n tim e n to ( a re lig iã o ); s o b a f o r ­
tic a s o v a lo r a b s o lu to de u m n ú m e ro re a l
m a d a v e rd a d e e x p re ssa n a s u a essê n cia
n é o v a lo r a ritm é tic o d e V ^ 2· P a r a u m
a b s o lu ta (o c o n h e c im e n to ra c io n a l p u ­
n ú m e ro n e g a tiv o - x , é x, p o is ( - x ) 2 =
ro ). V er Encykiopaedie, terceira p a rte , se­
( + x )2 = x 2. O v a lo r a b s o lu to (o u m ódu­
ç ã o 3.
lo , co m o se d izia a n tig a m e n te ) de u m n ú ­
m e ro im a g in á rio v u lg a r x+ iy é: V *2 +y2·
F in a lm e n te o v a lo r a b s o lu to de u m n ú ­ C R ÍT IC A
m e ro co m p lex o co m n e lem en to s (x (, x 2,
A b so lu to vem de absolvere nestes dois
... x„) é V xf + ã T| + . ..+ * * . O v a lo r a b s o ­
sen tid o s m u ito d istin to s: d e slig ar, d esem ­
lu to de u m a q u a n tid a d e q u a lq u e r X
b a ra ç a r, lib e rta r, p o r u m la d o , e, p o r o u ­
in d ic a -se , p o r IX I o u p o r m o d X ( n o ta ­
tr o , c o n c lu ir, to r n a r p e rfe ito . Absolutus
ç ã o de C τ Z T7 à ).
tem sem p re este ú ltim o sen tid o m as o p ri­
J . “ O a b s o lu to d a q u e s tã o ” , D E è ­ m eiro foi re fo rç a d o , n o s filó so fo s m o d e r­
Tτ 2 I E è . O p rin c íp io e v id en te o u já d e ­
n o s , p e la re c o rd a ç ã o d e solvere.
m o n s tr a d o d e o n d e se p o d e d e d u z ir a s o ­ A u tiliz a ç ã o m e ta fís ic a d e s ta p a la v ra
lu ç ã o de u m a q u e s tã o ; a n o ç ã o sim p les a o fa la r-s e de D eus o u d o s seu s a tr ib u to s
o u m esm o s o m e n te mais simples à q u a l é m u ito a n tig a e p a re c e p r o v ir d o f a to de
u m a o u tr a se lig a . “ T o d o o se g re d o d o q u e e la a p re se n ta v a a n tig a m e n te u m a sig­
m é to d o c o n siste em p r o c u r a r em tu d o n if i c a ç ã o e s s e n c ia lm e n te la u d a t iv a :
co m c u id a d o o q u e h á de m ais a b s o lu to ... “ Q u in ta -F e ira a b s o lu ta , T e rr a a b s o lu ta ”
E n tr e o s c o rp o s m e n su rá v e is , o a b s o lu to = Q u in ta - F e ir a S a n ta , T e r r a S a n ta .
é a e x te n s ã o ; m a s n a e x te n s ã o é o c o m ­ J ë Çâ «   E : “ D eu s é u m n o m e a b s o lu to
p rim e n to , e tc .” Regulae, V I. ( s a g ra d o ) .” V elh a g ra m á tic a fra n c e sa ci­
K . O “ eu a b s o lu to ” , em F « T7 I E , é o ta d a p o r Darmesteler et Hatzfeld. “ D eus
eu e n q u a n to a to o rig in á rio d o p e n sa m e n ­ e st a b s o lu tu s .” N « TÃÂ τ Z á E C Z è τ , D o c -
to , p rin c íp io de to d a a a tiv id a d e , de t o ­ ta Ignor., I I , 9. G ÃTÂ E Ç« Z è : “ In te rd u m
d o o c o n h e c im e n to e d e to d a a re a lid a d e id em est a c n u d u m , p u ru m , sine u lla con-
p a r a além d as ex istên cias in d iv id u a is o u d itio n e : u t cu m a b s o lu tu m D ei d e c re tu m
e m p íric a s. E le é a ç ã o p u r a , n ã o e x istê n ­ a liq u o d d ico ; in te rd u m id em est q u o d de-
7 ABSTRA ÇÃ O

p e n d e n s a b a l i o .” C o n s e rv o u c la r a m e n ­ a U ab = a a (a U b) ~ a
te este c a r á te r la u d a tiv o e tra d ic io n a l n a s
Q u e r d iz er: u m te rm o absorve to d o t e r ­
o b r a s d a esco la eclética e p o r c o n se q ü ê n -
m o a d ic io n a l d e q u e é fa to r; u m fa to r ab­
cia J . S. M « Â Â e stá c o r r e to q u a n d o n o ta
q u e n o d e b a te e n tre H τ O« Â I ÃÇ e C ÃZ è « Ç
sorve to d a s o m a d e q u e é u m te rm o .
a p a la v r a é a p e n a s u m p s e u d ô n im o c ô ­ A B S T IN Ê N C IA D . Enthaitung ; E .
m o d o d o n o m e de D eu s. V er Filosofia de Abstinence; F . Abstinence ; I. Astinenza.
H am ilton, c a p . IV . ÉTICA. R en ú n c ia v o lu n tá ria à s a tisfa ­
P a re c e u à S o c ie d ad e d e F ilo so fia , d e ­ ç ã o d e u m a n e c e ssid a d e o u de u m d e s e ­
pois d a d iscu ssão n a sessão d e 29 d e m a io j o . P e rte n c e a o s v o c a b u lá rio s e sto ic o
de 1902, q u e o eq u ív o co d esta p a la v ra n ã o (Abstine et sus tine) e c ris tã o ( = a b ste n ç ão
p o d e ria ser in te ira m e n te d e sfeito e q u e se­ d e c o m e r c a rn e ). É u tiliz a d o n o s n o sso s
ria p re fe rív e l u tiliz á -la n u m d o s trê s se n ­ d ia s n u m s e n tid o m u ito e sp ecial re la tiv o
tid o s seg u in tes: à p r o p a g a n d a a n tia lc o ó lic a : o abstêmio
S o b r e tu d o q u a n d o ela é to m a d a c o ­ é a q u e le q u e re n u n c ia a b s o lu ta m e n te ao
m o a d je tiv o o u c o m o a d v é rb io : a q u ilo u so d o á lc o o l, p o r o p o s iç ã o a o tem ­
q u e n ã o c o m p o r ta n e n h u m a re s triç ã o perante.
n em reserv a e n q u a n to tal e d e sig n a d o p o r Rad. int.: A b s te n .
ta l n o m e . É o s e n tid o C .
S o b r e tu d o q u a n d o e la é to m a d a c o ­ A B S T R A Ç Ã O (G . A íp a íç ecris; L .
m o s u b s ta n tiv o : Abstractio ) D . Abstraction; E . Abstrac-
1? O Ser q u e n ã o d e p e n d e de n e n h u m tion ; F . Abstraction; I. Astrazione.
o u tr o . É o s e n tid o E . A. A ç ã o d o e sp írito q u e c o n s id e ra s e ­
2? O S er e n q u a n to tem u m a n a tu re z a p a ra d a m e n te u m e le m e n to (q u a lid a d e o u
p r ó p r ia e in d e p e n d e n te d o c o n h e c im e n ­ re la ç ã o ) d e u m a re p re se n ta ç ã o o u d e u m a
to q u e d ele se te m . É o s e n tid o F . n o ç ã o c o lo c a n d o e sp e c ialm en te a a ten ç ã o
N o ta r-s e - á q u e as sig n ific a ç õ e s E e F s o b re ele e n e g lig e n c ia n d o o s o u tr o s .
s ã o a q u e la s às q u a is j á K a n t re d u z ia o s B . R e s u lta d o d e s ta a ç ã o . V er A b s­
d iv e rso s s e n tid o s d a p a la v r a . V er o s te x ­ tracto.
to s c ita d o s m a is a trá s . C . N a o p e ra ç ã o a c im a m e n c io n a d a
Rad. in t.: C . A b s o lu t (a ); E . A b s o lu t (A ) d iz-se q u e se fa z abstração d o s ele­
(o ); F . E n s i. m e n to s q u e s ã o n e g lig e n c ia d o s. “ F a z e r
a b s tr a ç ã o d e . . . ” c o rre s p o n d e assim a d e ­
1 . A B S O R Ç Ã O (em P s i c . ; a n tig o e s ig n a r o c o n tr á r io d o q u e d e sig n a m o s
p o u c o u s a d o ) D . Vertiefung; E . A bsorp -
“ a b s tr a ir ” o u " c o n s id e r a r p o r a b s tr a ­
tion; F . A bsorption ; I. Assorbim ento. ção” .
E s ta d o d e e s p írito a b s o r v id o ( = m e r­
g u lh a d o n u m p e n s a m e n to o u n u m a p e r­
c ep ç ã o a p o n to d e n ã o p e rc e b e r m a is n a ­ N OTA S
d a ). O p o sto p o r H 2 ζ τ 2
E I à re fle x ã o , n a
A a b s tr a ç ã o is o la p o r in te rm é d io d o
m e d id a em q u e a p rim e ira in d ic a q u e o
p e n s a m e n to a q u ilo q u e n ã o p o d e ser iso ­
su jeito se p erd e m o m e n ta n e a m e n te n o o b ­
la d o n a re p re se n ta ç ã o . A d issecção de um
je to e a seg u n d a q ue ele v o lta a si e o co m ­
ó rg ã o o u m e sm o a re p re s e n ta ç ã o in te le c ­
p re e n d e .
Rad. int.: A b s o r b . tu a l d e u m ó rg ã o is o la d o não é u m a a b s ­
tr a ç ã o .
2 . A B S O R Ç Ã O (L ei d a ) P r o p r ie d a ­ A a b s tr a ç ã o d ife re d a análise p e lo f a ­
d e d a a d iç ã o e d a m u ltip lic a ç ã o ló g ic a s, t o d e e sta ú ltim a c o n s id e ra r ig u a lm e n te
q u e se e x p rim e p e la s d u a s fó r m u la s c o r­ to d o s o s e lem en to s d e u m a re p re se n ta ç ã o
re la tiv a s: a n a lis a d a .
ABSTRACCIONISM O 8

O s e n tid o C , se b e m q u e m u ito n o r ­ p a r a to m a r as a b s tr a ç õ e s c o m o e q u iv a ­
m a l (p o is d e riv a le g ítim a m e n te d a e x p re s­ le n te s d a s re a lid a d e s c o n c r e ta s , d e q u e
s ã o la tin a abstrahere aliquid ab aliquo), elas c o n s e rv a m s o m e n te u m c e r to a s p e c ­
d á fr e q ü e n te m e n te lu g a r a c o n tra -s e n s o s t o . V e r The M eaning o f Truth ■ , c a p .
p o r p a r te d o s in ic ia n te s e m filo s o fía o u X III.
d o s a u to d id a ta s . É n e c e s sá rio c h a m a r a Rad. int.: A b s tra k te m e s .
a te n ç ã o p a r a a v ir a d a q u e a í se p r o d u z .
A B S T R A T A S (C iê n c ia s )
Definição p o r abstração, v e r Definição.
Rad. i n t A . A b s tr a k t; B . A b s tr a k - A . N o u s o c o r r e n te a s ciên c ia s q u e
tu r . (O s e n tid o C é u m id io tis m o q u e n ã o u s a m a s a b s tr a ç õ e s m a is e le v a d a s (M e ta ­
d e v e ser c o n s e rv a d o e m L . I.) físic a , L ó g ic a , M a te m á tic a s , F ísic a g e ra l,
e tc .) .
A B S T R A C C IO N IS M O E. A bstrac­
B . E m A Z ; Z è I E C ÃOI E as c iên c ia s
tionism.
p ro p ria m e n te d itas fo r m a n d o a *'‘série en- 1
A . A b u s o d a s a b s tra ç õ e s .
B . E s p e c ia lm e n te e m W . J τ OE è (q u e
p a re c e te r c r ia d o e sta p a la v r a ) , te n d ê n c ia 1. O Sentido de "Verdade".

S o b re A b s tra c io n is m o — E x p r e s s ã o d e W . J a m e s (s e n tid o B) le m b ra d a p o r E m m .
Leroux.
S o b re C iê n c ia s a b s tr a ta s — T à ¿upatQéofus e m A ris tó te le s d e s ig n a m u ito p r e ­
c isa m e n te o s o b je to s d a s m a te m á tic a s : v e r e m p a r tic u la r M etafísica, X I , 3; 1061 29.
P o d e -s e c o n se rv a r este se n tid o . M a s as g e n e ra lid a d e s d a h is tó ria n a tu r a l n ã o s ã o ta m ­
b é m elas a b s tr a ç õ e s ? S im , m a s a v id a e a o rg a n iz a ç ã o a p e n a s s ã o c o m p le ta s e p o d e m
ser c o m p le ta m e n te e s tu d a d a s n o c o n c r e to e n o in d iv id u a l; p e lo c o n tr á r io , a s fo r m a s
g e o m é tric a s s ã o c o m p le ta s em si m e sm a s , f o r a d o s c o rp o s o n d e e la s se p o d e m re a li­
z a r. O g e ó m e tra n ã o a p r e n d e r ia n a d a d e n o v o s o b re a p irâ m id e e s tu d a n d o a s P i r â ­
m id e s d o E g ito . P o d e r- s e -ia ta lv e z ta m b é m d iz e r q u e a ló g ica é u m a c iê n c ia a b s tr a ta
(o u d o a b s tr a to ) , n o s e n tid o d e q u e o e s tu d o d o silo g ism o se p o d e fa z e r f o r a d e to d a
m a té ria d e te r m in a d a . (7. Lacheiier)
Isso n ã o é te m p o rá rio e v a riá v e l em c a d a c iên c ia c o n fo rm e o e s ta d o d e c a d a q u e s ­
tã o ? A rq u im e d e s d e m o n s tr a o seu p rin c íp io a tra v é s d e u m m é to d o p u r a m e n te g e o ­
m é tric o ; e , r e c ip ro c a m e n te , G a lile u m e d in d o a tra v é s d a e x p e riê n c ia a su p e rfíc ie d e
u m a c iclo id e d á o e x e m p lo d e u m a in v e stig a ç ã o físic a s o b re u m o b je to c o n c r e to , o
q u e lev a a e s te n d e r o d o m ín io d o s c o n h e c im e n to s g e o m é tric o s . (A. L .)
M. Marsal d e se ja ria v er c o n se rv a d a esta e x p re ssão p a ra d esig n ar a q u ilo q u e C o u r-
n o t c h a m a série teórica', e ciências concretas p a r a a q u ilo q u e c h a m o u série histórica
e cosmológica. “ Sem d ú v id a ” , escrev e ele, “ C o u r n o t p r o je to u lu z s o b re e s ta q u e s ­
t ã o , m a s p r o lo n g a n d o a a n á lis e d e C o m te . A s e tiq u e ta s de C o u r n o t s ã o m a is s a tis f a ­
tó ria s ? N ã o . A p a la v r a ‘série h is tó r ic a ’ é já b a s ta n te a m b íg u a , p o is n a série te ó ric a
v e m o s in te rv ir o te m p o , p o s siv e lm e n te m e sm o u m s e n tid o d e v e cç ã o n o te m p o . A
p a la v r a ‘série c o sm o ló g ic a ’ d i 2 a in d a m e n o s s o b re a q u ilo q u e q u e r d izer; e isso tr a n s ­
p a re c e n o e n s in a m e n to , p o r p o u c o q u e já te n h a m o s fe ito a p e lo à d is tin ç ã o e sta b e le ­
c id a p o r A m p è re e n tre a s c iên c ia s c o sm o ló g ic a s e n o o ló g ic a s . O r a , h á c iên cias n o o -
ló g ic a s, n o s e n tid o d e A m p è re , q u e s ã o c o sm o ló g ic a s n o s e n tid o d e C o u r n o t: a e tn o ­
g r a f ia , a Völkerpsychologie, etc. P o r fim , teórica o p õ e -s e a p e n a s à prática o u à téc­
nica. A m in e ra lo g ia é tã o ‘teórica* q u a n to a q u ím ic a . T a m b é m a classificação d e C o u r ­
n o t m e p a re c e c o n c o r d a r n o ta v e lm e n te c o m a s e tiq u e ta s d e C o m te q u e s ã o n ã o ex ce­
le n te s, m a s n a m in h a o p in iã o as m e lh o re s p o s s ív e is .”
9 A BSTRA TO

c iclo p éd ica” : (M a tem á tic a s, A stro n o m ia , c o n fu s ã o . P r o p o s to n u m a o b r a p o lê m i­


fís ic a , Q u ím ic a , B io lo g ia , S o c io lo g ia ) e ca o n d e o p rin c ip a l o b je tiv o de S p e n c e r
q u e “ têm p o r o b je to a d e sc o b e rta d as leis e ra v isiv e lm en te o d e m a r c a r a s u a in d e ­
q u e re g e m a s d iv e rsa s classes d e fe n ô m e ­ p e n d ê n c ia em re la ç ã o a C o m te , a p ó ia -s e
n o s c o n sid e ra n d o to d o s o s caso s q u e p o s ­ s o b re o a rg u m e n to s e g u in te , q u e ele o p õ e
sa m o s c o n c e b e r” . E la s o p õ e m -se às c iên ­ à lig ação necessária estab elecid a p o r C o m ­
cias “ c o n c r e ta s , p a r tic u la r e s , d e sc riti­ te e n tre o a b s tr a to e o g eral: “ T o d o s os
v a s ” , q u e c o n s is te m “ n a a p lic a ç ã o d e s­ p á s s a ro s e o s m a m ífe ro s tê m o s a n g u e
ta s leis à h is tó ria e fe tiv a d o s d ife re n te s se­ q u e n te ; eis u m a verdade geral, m as con­
re s e x iste n te s ” . Cours , 2? liç ã o . creta, p o is c a d a p á s s a r o n o s o fe re c e u m
C. E m S ú E ÇTE 2 a L ó g ic a e a s M a te tip
­ o p e rfe ito d a s u a esp é c ie e n q u a n to r a ­
m á tic a s , d e fin id a s p e la c a r a c te rís tic a c o ­ ç a c o m s a n g u e q u e n te .” O r a , este r a c io ­
m u m d e t r a t a r “ d a s fo r m a s s o b as q u a is c ín io é in e x a to , p o is se p o d e ria d iz e r d a
os fe n ô m e n o s n o s a p a r e c e m ” , e m o p o s i­ m esm a m a n e ira : “ T o d o s o s h ex ág o n o s re ­
ç ã o à s c iên c ia s “ a b s tr a ta s - c o n c r e ta s ” g u lares tê m u m la d o ig u a l a o ra io ; eis u m a
(M e c â n ic a , fís ic a , Q u ím ic a ), q u e tr a ta m v e rd a d e g e ra l m a s c o n c r e ta , p o is c a d a h e ­
“ d o s fe n ô m e n o s e s tu d a d o s n o s seu s ele­ x á g o n o n o s o fe re c e u m tip o o p e rfe ito d a
m e n to s ” , e à s c iên c ia s “ c o n c r e ta s ” , A s ­ s u a esp é c ie e n q u a n to te n d o o la d o ig u a l
tro n o m ia , G e o lo g ia, B iolo gia, p sico lo g ia, a o r a i o .” D a q u i se s e g u iria q u e a g e o m e ­
S o c io lo g ia ), q u e tr a ta m “ d o s p ró p rio s fe ­ tr ia é ta m b é m u m a ciên cia c o n c re ta , o q u e
n ô m e n o s e s tu d a d o s n o se u c o n ju n to ” . é c o n tr á r io à d is tin ç ã o q u e q u e re m o s e s ­
Classificação das Ciências, c a p . I. S ã o , ta b e le c e r e n e g a d o p e lo p r ó p r io a u to r .
s e g u n d o e s ta o b r a , as trê s g ra n d e s d iv i­ D eve-se p o is reco n h ecer q u e to d a lei é a b s ­
sõ es d a c la s s ific a ç ã o d as c iên c ia s e c a d a tr a t a e n q u a n to g e ra l e q u e a p e n a s as apli­
u m a receb e su b d iv isõ e s im p o r ta n te s . cações em to d a s as ciên cias sã o co isa c o n ­
(Ibid, Q u a d ro s I, II e I I I). c re ta , c o m o o a d m ite A u g u s te C o m te n a
p a ssa g e m a ta c a d a p o r S p e n c e r.

CRÍTICA A B S T R A T A S (F u n çõ es) E m M a t. V er
Concreto e c f. R E ÇÃZ â « E 2 , Logique, c a p .
D ev em -se e v ita r to d a s e sta s e x p re s­ X X IX , O b se rv a ç õ e s §§ I a 4.
sões, ex ceto p a ra u tiliz a ç ã o h is tó ric a . P r i­
A B S T R A T IV O (M é to d o ) E m físic a:
m e iro , p o rq u e esta m e sm a h is tó ria as to r ­
a q u e le q u e c o n siste em re s u m ir n u m a f ó r ­
n a e q u ív o c a s. E m se g u id a , n a q u ilo q u e
m u la m a te m á tic a a lei d o s fe n ô m e n o s se n ­
co n ce rn e a o se n tid o A , p o rq u e ele p e rte n ­
síveis d ire ta m e n te o b s e rv a d o s (sem p r o ­
ce à lin g u ag em p o p u la r e p o rq u e a s u a ex ­
c u ra r ex p licá-lo s a tra v és d a s e stru tu ra s o u
te n sã o é m u ito v a g a. N a q u ilo q u e c o n c e r­
d o s p ro c e ss o s n ã o a p a re n te s ) e a tir a r d a í
n e a o s e n tid o B (A u g u s te C o m te ), p o r ­
a s c o n se q u ê n c ia s a tra v é s d o c á lc u lo . V er
q u e a distin ção foi re to m a d a e m e lh o r ela­
a s O b se rv a ç õ e s s o b re hipotético.
b o r a d a p o r C o u r n o t so b o n o m e d e série
teórica e série cosmológica e histórica d as A B S T R A T O L . A bstractus ; D . A b s­
c iên cias. P o r fim , n a q u ilo q u e c o n c e rn e trakt; E . A bstract ; F . Abstrait; I. A$-
a o se n tid o C , p o r q u e re p o u s a s o b re u m a t r a tto .

S o b re A b s tr a to — J. Lachelier é ig u a lm e n te de o p in iã o d e q u e a p a la v r a a b s tr a ta
se deve a p lic a r a p e n a s às noções, m a s o b s e rv a q u e m u ita s vezes se e n s in a o c o n trá rio .
Brunschvicg p e rg u n ta se u m a re p re s e n ta ç ã o n ã o p o d e ria seT d a d a b a s ta n te p a r ­
c ia lm e n te p a ra c o rre s p o n d e r a u m a b s tr a to ? A c re d ita m o s q u e a u tiliz a ç ã o in d ic a d a
m ais a trá s é m a is c o rre ta . (Louis Couturat — A . L .)
A B ST R U SO LO

D iz-se d e to d a a n o ç ã o d e q u a lid a d e m ín a d o a tra v é s d e to d a s as su as relaçõ es,


o u d e re la ç ã o q u e se c o n s id e ra d e m a n e i­ é a u n id a d e q u e c o m p re e n d e as d ife re n ­
ra m ais o u m e n o s geral fo ra d a s re p re se n ­ ç as. N e ste s e n tid o a q u ilo q u e h á d e m ais
ta ç õ e s em q u e e la é d a d a . P o r o p o s iç ã o , c o n c r e to é o e sp irito ; p e lo c o n tr á r io , s ã o
a re p re se n ta ç ã o c o m p le ta ta l q u a l ela é o u a b s tra ç õ e s o p a rtic u la r ( = o sin g u la r) e n ­
p o d e ser d a d a d iz-se concreta. C f. m ais q u a n to e s tá iso la d o d o u n iv e rsa l pela p e r­
a trá s Abstração, N o ta s . cep ç ã o sensível e o u n iv ersal e n q u a n to es­
tá is o la d o d o p a rtic u la r p ela re fle x ã o d o
e n te n d im e n to . (Geschichte der Phitoso-
CRÍTICA phie, W e rk e , X I I I , p . 3 7 .) C f. Universal
concreto.
E n c o n tra m o s a in d a a cid e n ta lm e n te n a
Rad. int.: A b s tr a k tit.
lin g u a g e m filo só fic a d u a s o u tr a s u tiliz a ­
A B S T R U S O (L . Abstrusas, e sc o n d i­
çõ es d a p a la v r a abstrato q u e te n d e m c a ­
d a vez m a is a c a ir em d e s u s o , m a s q u e é d o , de abstrudo ) D . A b stru s ; E . Abstru-
n ecessário a ssin a la r d ev id o a o s eq u ív o co s
se; F . Abstrus; I. A struso.
A f a s ta d o d o c u rso v u lg a r d o p e n s a ­
q u e elas p o d e m c ria r a lg u m a s vezes:
1? N a E sco lástica, ch am av a-se abstra­ m e n to , em p a rtic u la r d o fu n c io n a m e n to
ta a n o ç ã o d e u m a q u a lid a d e c o n c e b id a n a tu ra l d a im a g in a ç ã o , e, p o r c o n se q u ê n ­
in d e p e n d e n te m e n te d o s s u je ito s q u e a c ia , d ifícil d e c o m p re e n d e r. “ E v en th e
p o s su e m e concreta a n o ç ã o (g eral) d es­ m o s t a b s tr u s e id e a s, h o w re m o te so ev er
ses su je ito s eles m e sm o s: a ssim , homem th e y m a y seem fro m sen se a r fro m an y
e ra u m a id éia c o n c re ta , humanidade u m a o p e r a tio n o f o u r o w n m i n d . . . ” 1 L ÃT3 E ,
id é ia a b s tr a ta . O s g ra m á tic o s dizem a in ­ Essay, I I , § 8. “ P la tã o d e m o n s tro u -o
n u m d iá lo g o e m q u e in tr o d u z S ó c ra te s
d a n este sen tid o u m termo concreto e um
termo abstrato. J. S. M « Â Â a d o to u este c o n d u z in d o u m a c ria n ç a a v e rd a d e s a b s ­
u so d a p a la v r a n a s u a Lógica , c a p . II , § tru s a s a tr a v é s d e sim p le s in te rro g a ç õ e s
4 , a p lic a n d o -a às e x p re ssõ es “ n o m e c o n ­ sem n a d a lh e e n s in a r .” L E « ζ Ç« U , N o v o s
c r e to ” e “ n o m e a b s tr a to ” ; m a s ele n o ta ensaios, I, § 5.
m e sm o q u e p r o c u r a r e s ta u r a r com isso
u m a n tig o u so q u a s e a b o lid o . P o d e -s e li­ C RÍTIC A
g a r ta m b é m a isso a d is tin ç ã o fe ita p o r E s ta p a la v ra a p re se n ta fre q u e n te m e n ­
ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 e n tre o s abstracta, c o n ­ te um c a m b ia n te p e jo ra tiv o : falsa p ro f u n ­
ceitos q u e a p e n a s se re la cio n a m co m a ex­ d id a d e , c o m p lic a ç ã o in ú til, c o n fu s ã o ,
p e riê n c ia p o r in te rm é d io de o u tro s c o n ­ m a s isso é a p e n a s u m a c o n o ta ç ã o a c id e n ­
c eito s (re la ç ã o , v irtu d e , c o m e ç o ); e os ta l. E n c o n tra m o -la ( s o b r e tu d o , é v e rd a ­
concreta , c o n c e ito s q u e se re la c io n a m d i­ d e, n a lin g u a g e m clássica) u tiliz a d a n o
re ta m e n te (h o m e m , p e d ra , c a v a lo ). Die b o m s e n tid o , c o m o v em o s n o te x to de
Weit, I, § 9. L e ib n iz c ita d o m ais a trá s .
P ersiste c o n tu d o alg o d essa u tiliz a çã o E s ta p a la v r a é u tiliz a d a a lg u m a s ve­
q u a n d o se e m p re g a m a s p a la v ra s abstra­ zes p o r e rro c o m o s in ô n im o o u c o m o s u ­
to e concreto n o c o m p a r a tiv o , d iz e n d o , p e rla tiv o d e a b s tr a to : a c o n fu s ã o veio
p o r e x e m p lo , q u e a id é ia de “ r e la ç ã o ” p ro v a v e lm e n te d a s im ilitu d e d a s fo rm a s
é mais abstrata d o q u e a d e “ c o m p ri­ e d o f a to d e q u e o a b s tr a to é fr e q u e n te ­
m e n to ” . m e n te a b s tr u s o .
2? P a r a H E ; E Â , Ã abstrato é a q u ilo Rad. int.: A b stru z .
q u e a p a re c e fo r a d a s su as relaçõ es v e rd a ­
d e ira s com o r e s to , o u a q u ilo q u e é u m a
1· “ Mesmo as idéias mais abstrusas, por mais
u n id a d e e x clu siv a d e d ife re n ç a s ; o con­ afastadas que possam parecer das sensações ou de
creto é a q u ilo q u e e stá p le n a m e n te d e ter- qualquer operação do nosso e sp írito ...”
II A B SU R D O

A B S U R D O D A . Absurd, Abgesch­ C RÍTIC A


mackt, Ungereimt; B . Widersinnig ; E . “ N o s e n tid o c o rre n te , absurdo d esig ­
A bsurd ; n o s e n tid o B, Nonsensical; F . n a tu d o a q u ilo q u e é c o n tr á r io a o sen so
A bsurde ; I. Assurdo. c o m u m o u m e sm o a o s n o sso s h á b ito s de
A . P r o p r ia m e n te , a q u ilo q u e v io la a s e s p írito ; m a s e m filo s o fia é a co n se lh á v e l
re g ra s d a L ó g ic a . U m a id é ia a b s u r d a é e n te n d e r p o r isso so m e n te a q u ilo q u e é
u m a id é ia c u jo s e le m e n to s sã o in c o m p a ­ c o n trá rio à razão; p o d e n d o p rin c íp io s d a
tív eis. U m ju íz o a b s u r d o é u m ju íz o q u e ra z ã o , aliás, ser d e fin id o s d e u m a m a n eira
c o n té m o u im p lic a u m a in c o n se q ü ê n c ia . m a is o u m e n o s a m p la .” N o ta d e J . L τ -
U m ra c io c ín io a b s u r d o é u m ra c io c ín io T7 E Â « E 2 e F . R τ Z 7 p a r a a p rim e ira e d i­
f o r m a lm e n te falso*. ç ã o d a p re s e n te o b ra .
O a b s u r d o , n e s te s e n tid o , é p o is m a is Raciocínio p o r absurdo , a q u e le q u e
g e ra l q u e o contraditório * e m e n o s g e ra l p r o v a a v e rd a d e o u a fa ls id a d e d e u m a
p ro p o s iç ã o p e la fa ls id a d e d e u m a c o n se -
q u e o falso*. E s trita m e n te f a la n d o , o ab­
q ü ê n c ia . H á p o is d u a s espécies q u e é p re ­
surdo deve ser d istin g u id o d o n ã o -s e n tid o
c iso d is tin g u ir: 1? prova p o r absurdo (L .
(D . Unsinn, sinnlos ), p o is o a b s u r d o te m
Probatio per absurdum, p er incommo-
u m s e n tid o , e é fa ls o , e n q u a n to q u e o
d u m ; p . e x . e m B τ T Ã Ç , De dignit., V , §
n ã o -s e n tid o n ã o é p ro p ria m e n te n e m v er­ 3): racio cín io q u e p ro v a a v erd ad e d e u m a
d a d e ir o n em fa ls o . p ro p o siç ão p ela ev id en te falsid ad e d e u m a
B . N u m s e n tid o m a is g e ra l e m a is v a ­ d a s c o n se q u ê n cia s re su lta n te s d a s u a c o n ­
g o , n a lin g u a g e m fa m ilia r, d iz-se d a q u i­ tr a d itó r ia ; 2? redução ao absurdo (G .
lo q u e é ju lg a d o n ã o ra z o á v e l, seja q u a n ­ cnrotytjyri m r ò c c ò vvó it o v , A RISTÓ T ELE S;
d o se fa la d as id é ia s, seja q u a n d o se fa la L . Reductio ad absurdum): ra cio cín io q u e
d a s p esso a s. le v a a re je ita r u m a a s s e rç ã o fa z e n d o v er

S o b re A b s u r d o — L. Boisse é de o p in iã o : 1? q u e seria m ais c o r r e to n ã o u tiliz a r


e sta p a la v r a q u a n d o se fa la d a s p esso a s; 2? q u e se a v a n ç a d e m a s ia d o q u a n d o se a f i r ­
m a q u e o n ã o -s e n tid o n ã o é p ro p r ia m e n te n e m v e rd a d e iro n em fa ls o : “ É u m a g r a n ­
de q u e s tã o ” , d iz ele, “ a d e s a b e r se se d e v e a d m itir u m estado de indiferença ta n to
n a v id a in te le c tu a l c o m o n a v id a a fe tiv a .”
“ O a b s u r d o te m u m s e n tid o e é fa ls o , e n q u a n to q u e o n ã o -s e n tid o n ã o é p r o p r ia ­
m e n te n em v e rd a d e iro n em f a ls o .” É sem d ú v id a isto q u e se d ev e d iz e r, m as isto
re s p o n d e rá b e m à u tiliz a ç ã o ? Q u a n d o M a u ric e B lo n d el escreve: “ O m a te ria lism o é
u m n ã o - s e n tid o ” (m ais a d ia n te , o b s e rv a ç õ e s s o b re Matéria) n ã o q u e r d iz e r q u e ele
tem u m s e n tid o , q u e p o ré m é fa lso ? P o r o u tr o la d o , a lite r a tu r a se m ifilo s ó fic a d e ­
sen v o lv e fre q ü e n te m e n te este te m a : “ O m u n d o é a b s u r d o .” Is to n ã o q u e r d izer q u e
ele n ã o tem u m se n tid o o u m e sm o ta lv e z , m a is e sp e c ia lm e n te , q u e ele é d e s titu íd o
d e fin a lid a d e p r ó p r ia (o q u e n ã o s e ria u m a g ra n d e d e s c o b e rta , m as m a n ife s ta ria d e
p re fe rê n c ia a re a ç ã o d e u m a a lm a d e s ilu d id a , c o m o p o d e ria tê-lo sid o u m a d m ir a d o r
d a s h a rm o n ia s d a n a tu re z a , d e p o is d o te r r e m o to d e L isb o a )? (M . Marsaf)
D iv ersas c a u s a s te n d e m p a r a fa z e r c o n f u n d ir n a lin g u a g e m c o rre n te estas d u a s
ex p ressõ es: a u tiliz a ç ã o d o n ã o -s e n tid o p o r h ip é rb o le c o m o n o e x em p lo c ita d o a trá s ;
a u tiliz a ç ã o in g le sa d a p a la v r a nonsense p a r a u m a in c o n g ru ê n c ia d ita q u e r p o r to lice
q u e r p o r b rin c a d e ira ; p o r fim , a o p o s iç ã o d e absurdo e de razoável q u e c o n d u z à
u tiliz a ç ã o d a p rim e ira d essas p a la v ra s p a ra tu d o o q u e a ra z ã o n ã o p o d e ra tific a r;
e, p o r fim , a c o n o ta ç ã o p e jo r a tiv a m u ito e n é rg ic a d e s ta p a la v r a q u e a c a b a em c erto s
caso s p o r c o n s titu ir-lh e q u a se to d o o c o n te ú d o . {A. L .)
A B U L IA 12

q u e ela c o n d u z ir ía a u m a c o n se q u ê n c ia p írito de c o n tra d iç ã o n o s a to s . C h am a-se


c o n h e c id a c o m o fa ls a o u c o n tr á r ia à p r ó ­ abulia sistematizada a q u e la q u e se re la cio ­
p ria h ip ó te se , V er Vτ « Â τ I « , “ S o b re u m a n a so m e n te c o m u m a c e rta c a te g o ria de
classe n o tá v e l de ra c io c ín io s p o r re d u ç ã o ato s. (S egundo P ie rre J τ ÇE I , ap . R « T7 E I ,
a o a b s u r d o ’’, Revue de métaphysique, se­ s u b Vo.)
te m b ro de 1904. C f. Apagógico. A C A D E M IA D . Akademie\ E . Aca-
S o b re a p ro v a p o r a b s u r d o n a s m a te ­ dem y; F . Académie; 1. Accademia.
m á tic a s , ver D Ã2 ÃÂ Â E , “ O v a lo r d as A . Antiga Academia - E sco la de P la ­
c o n c lu sõ e s p o r a b s u r d o ” , Rev. philos., tã o , E sp e u sip o e X e n ó cra te s.
set. 1918. B. Média e Nova Academia - E scola de
R a d , in t. : A b s u r d . A rc esila u , de C a rn é a d e s e d o s seus su ces­
A B U L IA (d o G . A 0ov\íct). D . A bu- so res. S in ô n im o de p ro b a b ilism o * .
lie, Willenslosigkeit; E . Aboulia\ F .
Aboulie; I. Abulia. NOTA
C o n ju n to de fe n ô m e n o s p sicológicos A e x p ressão Nova Academia é m u ito
a n o rm a is, “ co n sistindo n u m a alteração de u su al. Média Academia e Antiga Acade­
to d o s os fenôm enos q ue d ependem da v o n ­ mia são m ais ra ra s . Q u a n d o se fa la d a E s­
ta d e , as reso lu çõ es, os a to s v o lu n tá rio s, os co la de P la tã o , diz-se em g eral a Acade­
e sfo rço s de a te n ç ã o . H á ta m b é m abulias mia sem q u a lific a tiv o . “ A A c a d e m ia ”
de decisão* e abulias de execução*’, e d is­ ( = os ja rd in s de A cad e m o s) e ra o lu g a r d o
tinguem -se ain d a en tre estas últim as a abu­ seu en sin o .
lia motriz (cf. Apraxia)·, a abulia intelec­ Rad. int.: A k a d e m i.
tual (c h a m a d a p o r G Z ; E aprosexia, in c a ­ A Ç Ã O D . Tal Handlung', q u a n d o se
p a c id a d e de ap lic aç ão ), a q u e la q u e se m a ­ q u e r in sistir so b re a característica causal da
nifesta pela p e rtu rb a ç ão o u im po ssibilid ade a ç ã o e s o b re o e fe ito p ro d u z id o : Wirk-
d a a te n ç ã o ; a abulia de resistência, a q u e la ung; E . Action, Aclivity; F . A ction ; í.
q u e consiste n u m exagero pato ló gico d o es­ Azione.

S o b re A b u lia — A ç õ es c u jo c o n te ú d o p e rm a n e c e o m e sm o p o d e m s e r e x e c u ta d a s
em d iv e rso s g ra u s d e p e rfe iç ã o p s ic o ló g ic a c o m u m a te n s ã o p s ic o ló g ic a m a is o u m e ­
n o s e le v a d a . F u i le v a d o a d is tin g u ir g ro s s e ira m e n te n o v e g ra u s p rin c ip a is q u e p o d e ­
m o s d e sig n a r d a seg u in te m a n e ira : 1? A to s re fle x o s; 2 f A to s su sp e n siv o s; 3? A to s
so ciais; 4? A to s in te le c tu a is ; 5? A to s a ss e rtiv o s; 6? A to s re fle tid o s ; 7 Í A to s e rg u é tic o s
o u r a c io n a is ; 8? A to s e x p e rim e n ta is ; 9? A to s p ro g re s s iv o s . (C f. A te n s ã o p sic o ló g ic a ,
o s seu s g r a u s , a s su a s o sc ila ç õ e s, The British Journal o f Psychology , M ed ic a i se c tio n ,
o u tu b r o d e 1920, ja n e ir o e ju lh o de 1921.) E m c a d a g r a u a p re s e n ta m -s e p e rtu rb a ç õ e s
d a a ç ã o q u e p e rd e o g ra u s u p e r io r e q u e c a i, às vezes c o m e x a g e ro , n o g ra u in fe rio r.
A p a la v r a abulia , q u a n d o e m p re g a d a d e m a n e ir a p re c is a , n ã o d e sig n a a s u p re ss ã o
d e u m a a ç ã o d e u m g ra u q u a lq u e r ; d e sig n a e x a ta m e n te a s u p re s s ã o d a a ç ã o re fle tid a ,
a im p o s s ib ilid a d e d e d a r a o a to a f o r m a d e u m a d e c is ã o , q u e r d iz e r , d e u m a v o n ta d e
o u d e u m a c re n ç a s u sp e n sa s d e p o is d e d e lib e ra ç ã o . O m a is d a s vezes h á ao m e sm o
te m p o u m a q u e d a n o g ra u in fe rio r , e x ag e ro d a a ç ã o a s s e ra tiv a q u e d e sig n a m o s p elo
n o m e d e im p u ls o o u s u g e s tã o . ( Pierre Janet )

S o b re A ç ã o — E ste a rtig o fo i r e fe ito n a 4? e d iç ã o .


O s e n tid o A e sta v a d e fin id o n a re d a ç ã o p rim itiv a : “ M udança de u m ser c o n s id e ­
r a d a co m o p ro d u z id a p o r este m e sm o s e r, e tc .” Maurice Biondel e Ch. Werner e sc re ­
v eram -m e d iz en d o q u e “ m u d a n ç a ” lh es p a re c ia im p ró p rio s en d o u m p e n sa m e n to c o n ­
te m p la tiv o o u u m a v o n ta d e im u tá v e l ta m b é m fo rm a s d e a ç ã o . M . B l o n d e l , sem
13 AÇÃO

A . O p e ra ç ã o d e u m ser c o n s id e ra d a m e sm a co isa q ue tem estes d o is n o m es d e­


c o m o p r o d u z id a p o r e ste p r ó p r io ser e v id o a o s d iv e rso s s u je ito s a o s q u a is n o s
n ã o p o r u m a c a u s a e x te rio r. “ É b a s ta n te p o d e m o s r e p o r t a r .” D E è Tτ 2 I E è , Pai­
d ifíc il d is tin g u ir a s aç õ e s d e D e u s d a q u e ­ xões da alma, 1 * p a r te , a r t. 1. C f. Tran­
las d a s c ria tu ra s, d a d o q u e h á o s q u e a cre ­ sitiva (ação).
d ita m q u e D eu s fa z tu d o , e tc .” L E « ζ Ç« U , N o sen tid o físico (m u ito fre q u e n te n as
Discurso de metafísica , c a p . V I. ciên cias): “ A a ç ã o d o s á c id o s; a s açõ es
M ais e sp e c ia lm e n te e x e c u ç ã o d e u rn a le n ta s (em g e o lo g ia ); a a ç ã o d a lu z s o b re
v o liç ã o . A lg u m a c o isa q u e e s tá e m o s o rg a n is m o s .”
si, e q u e n a d a , n e m m esm o a q u ilo q u e ele C . E m M e c â n ic a , s e n tid o té c n ic o :
p r ó p r io é a n te s d o ú ltim o m o m e n to q u e p r o d u to d e u m a e n e rg ia p o r u m te m p o .
p re c e d e a a ç ã o , p r e d e te r m in a .” R E ÇÃZ - S o b re a d ife re n ç a en tre a ação d ita “ m au -
â « 2 , Science de la morale , I , 2.
E
p e r tu is ia n a ” e a a ç ã o d ita “ h a m ilto n ia -
B . P o r c o n se q ü é n c ia , in flu e n c ia e x er­ n a ” , assim co m o so b re o princípio da me­
c id a s o b re u m o u tr o s e r. “ T u d o a q u ilo nor ação, v e r m a is a d ia n te o a r tig o e n o
q u e se fa z o u a c o n te c e d e n o v o é g eral- S u p le m e n to a s o b serv açõ es de R en é B E 2 -
m e n te c h a m a d o p elo s filó s o fo s u m a p ai­ I 7 E Â ÃI .
xão em re la ç ã o a o o b je to a o q u a l isso D . ( O p o s ta à inação.) A tiv id a d e , t r a ­
a c o n te c e e u m a ação em re la ç ã o à q u ilo b a lh o , e sfo rç o . “ N ã o se re q u e r m ais a çã o
q u e fa z co m q u e is so a c o n te ç a ; d e m a n e i­ p a r a o m o v im e n to d o q u e p a r a o r e p o u ­
r a q u e a in d a q u e o a g e n te e o p a c ie n te se­ s o .” D E è Tτ 2 I E è , Princípios , II , 2 6 .
ja m m u ita s vezes m u ito d ife re n te s a a çã o E m p a rtic u la r, e sfo rço m o ra l: “ A c er­
e a p a ix ã o n ã o d e ix am d e ser se m p re u m a te z a é u m a re g iã o p r o f u n d a o n d e o p e n -

f o r m u la r u m a d e fin iç ã o p r o p r ia m e n te d ita , d a v a d e ação a a n á lise q u e é re p ro d u z id a


m a is a d ia n te ; C h . W E 2 ÇE 2 p ro p u n h a : “ D e s e n v o lv im e n to d a p o tê n c ia q u e p e rte n c e
a u m ser p e la s u a n a tu r e z a .” A q u e s tã o fo i s u m a r ia m e n te e x a m in a d a m a s n ã o r e s o l­
v id a n a sessã o d e 3 d e m a io d e 1923. D e s c a rto u -s e a d e fin iç ã o : “ D e se n v o lv im e n to
d a p o tê n c i a ...” a ssim c o m o a fó r m u la (p r o p o s ta p o r u m d o s m e m b ro s d a S o c ie d a ­
d e ): “ O q u e n u m se r é c o n s id e ra d o c o m o p r o d u z id o p o r este m e s m o s e r, e tc .” N e ­
n h u m te x to fo i a p r o v a d o d e c o m u m a c o r d o ; d e c id iu -se m a n te r , à f a lta d e m e lh o r,
a re d a ç ã o p rim itiv a te n d o -m e eu c o m p r o m e tid o a p r o c u r a r a in d a a lg u m te rm o q u e
e sc a p asse , se p o s sív e l, à o b je ç ã o in d ic a d a . A c re d ite i p o d e r a d o ta r fin a lm e n te a p a la ­
v ra “ o p e r a ç ã o ” , u tiliz a d a , a liá s , p o r M . BÂ ÃÇá E Â n a n o ta s e g u in te e q u e m e p a r e ­
c eu s u fic ie n te m e n te g e ra l p a r a d a r s a tis fa ç ã o a o s e s c rú p u lo s in d ic a d o s . C f. “Opus
quod operatur Deus a principio usque ad fin e m , s u m m a ria n e m p e n a tu r a e l e x . . . ”
B τ TÃÇ , D e dignitate et augm. scient., liv ro I I I , c a p . IV , c ita n d o o Eclesiastes, I I I ,
11. (A . L .)
A p a la v r a ação, m a is c o n c r e ta d o q u e ato, e x p rim e a q u ilo q u e é a o m esm o te m p o
p rin c íp io , m e io e fim d e u m a o p e r a ç ã o q u e p o d e p e rm a n e c e r im a n e n te a si m e sm a.
P a r a a c o m p re e n d e r e h ie ra rq u iz a r -lh e as d iv e rsa s a c e p ç õ e s seria b o m u tiliz a r a d is ­
tin ç ã o tra d ic io n a l e n tre x o u ív , irgárreir e ôewQãv. 1 ? A a ç ã o p o d e c o n s is tir em m o ­
d e la r u m a m a té ria e x te rio r a o a g e n te , em e n c a r n a r u m a id é ia , e m fa z e r c o o p e r a r p a ­
ra u m a c ria ç ã o a rtific ia l d iv e rsa s p o tê n c ia s físicas o u id e ais. 2? A a ç ã o p o d e c o n sis tir
em d a r f o r m a a o p r ó p r io a g e n te , em e sc u lp ir o s seu s m e m b ro s e o s seus h á b ito s ,
em fa z e r v iv er a in te n ç ã o m o r a l n o o rg a n is m o , em e sp iritu a liz a r a ssim a p r ó p r ia v id a
a n im a l e a tra v é s d e la a v id a so cia l. 3? A a ç ã o p o d e c o n s is tir em re a liz a r o p e n sa -
AÇÃO 14

s a rn e n to a p e n a s $e m a n té m p e la a ç ã o . te se in te r n a d e p r e fe rê n c ia a r e p re s e n ta ­
M a s q u a l a ç ã o ? H á a p e n a s u m a : a q u e la ç ã o o b je tiv a ” . Carta d e M a u ric e B Â ÃÇ -
q u e c o m b a te a n a tu r e z a a ssim a c ria , q u e áE Â a L a la n d e s o b re o a r tig o A ção n a
m o d e la o e u c o n tr a r ia n d o - o . O m a l é o p r im e ir a e d iç ã o d o Vocabulário (S ). C f.
e g o ísm o q u e n o fu n d o é c o v a r d ia : a c o ­ a o b r a d o m e sm o a u to r in titu la d a
v a rd ia te m d u a s faces: p r o c u r a d o p r a ­ L'action.
zer e fu g a d o e sfo rç o . A g ir é c o m b a tê -la .”
J . L τ ; ÇE τ Z , “ F r a g m e n ts ” , Revue de CRÍTICA
m étaph ., 1898, p . 169.
A p a la v r a ação re c e b e o seu c a r á te r
E. (n a m e d id a em q u e se d is tin g u efilo só fic o d o te rm o a g ir ( agere , e m p u r ­
ação d a in te lig ê n c ia o u d o p e n s a m e n to ): ra r) q u e se lig a , p o r u m la d o , a o s e n ti­
a e s p o n ta n e id a d e d o s se re s v iv o s e p a r ti­ m e n to in te rio r d o e s f o rç o e d a v o n ta d e
c u larm en te d o h o m e m c o n ce b id a q u e r c o ­ e, p o r o u tr o , a o s m o v im e n to s e x te rio re s
m o u m a o rd e m d e fa c u ld a d e s q u e d ife re q u e s ã o a s u a m a n ife s ta ç ã o o u q u e p r i­
ra d ic a lm e n te d a re p re s e n ta ç ã o e o p o s ta m itiv a m e n te s u g e rira m a o s o b s e rv a d o re s
a e s ta (v er m a is a d ia n te a d iv is ã o d e a n tr o p o m o r f is ta s a id é ia d e u m a re la ç ã o
R E í á , c ita d a n o a r tig o ativo) q u e r c o m o a n á lo g a : a a ç ã o d a á g u a so b re o fo g o , p o r
s e n d o “ a q u ilo q u e e n v o lv e a in te lig ê n c ia e x e m p lo , se n d o c o n c e b id a c o m o u m a lu ­
p re c e d e n d o -a e p re p a ra n d o - a , seg u in d o -a ta e u m e s fo rç o . M ais a in d a , c o m o o n o ­
e u ltr a p a s s a n d o - a ; em c o n s e q ü ê n c ía , to u J o s ia h R Ãà TE (Bτ Â á ç « Ç , VÃ Acti-
a q u ilo q u e n o p ró p r io p e n s a m e n to é s ín ­ vity), a te o r ia d e A ris tó te le s q u e fa z de

m e n to n a q u ilo q u e ele te m d e m a is u n iv e rs a l, d e e te r n o : a c o n te m p la ç ã o n o s e n tid o


f o r te e té c n ic o é a a ç ã o p o r ex ce lê n cia . N o p rim e iro s e n tid o a ação p a re c e o p o r-s e
à idéia; ela lu ta p a r a d o m in a r u m a m a té r ia m a is o u m e n o s re b e ld e , m a s d ev e fin a l­
m e n te a p r o v e ita r d e s ta lu ta e e n riq u e c e r-s e a tra v é s d a c o la b o r a ç ã o d o s seu s m e io s
de e x p re ss ã o . N o s e g u n d o s e n tid o a ação p a re c e o p o r- s e à intenção q u e e la se a rris c a
a tr a d u z ir im p e rfe ita m e n te e d e te r io r a r , m a s q u e , p e lo c o n tr á r io , e la d e v e p re c is a r,
fe c u n d a r, fin a liz a r. N o te rc e iro c a s o a ação contemplativa p a re c e o p o r- s e às d ilig ê n ­
cias e à agitação discursiva da meditação o u d a p r á tic a , m a s n a re a lid a d e e la e x p rim e
a u n id a d e p e r f e ita e n tre o ser e o c o n h e c im e n to q u e p r e p a r a o s c o n flito s p r o v is ó rio s
e s u b a lte rn o s de to d a s a s p o tê n c ia s e x te rio re s, in te rio r e s , s u p e rio re s p o r fim re c o n c i­
lia d a s , h ie ra rq u iz a d a s , a tu a liz a d a s . N ã o se d e v e, p o is , c o n c lu ir d e ste s c o n flito s tr a n ­
s itó rio s u m a h e te ro g e n e id a d e ra d ic a l e fin a l e n tre p e n s a m e n to e a ç ã o . E s ta p re te n s a
o p o s iç ã o , q u e n e ste s ú ltim o s a n o s fo i m u ita s vezes d e f e n d id a , im p lic a ria u m d u p lo
e rro : p a r a q u e e la fo sse re a l s e ria p re c iso q u e o p e n s a m e n to se lim ita s se a se r u m
s iste m a de re p re s e n ta ç õ e s , d e re la ç õ e s , d e a b s tr a ç õ e s n o c io n a is s e p a ra d a s d a v id a e
s u b s titu in d o -s e a e la; o r a , isso é fa ls o ; e s e ria p re c iso q u e a a ç ã o fo s se u m im p u ls o
d e p o tê n c ia irre m e d ia v e lm e n te o b s c u r o q u e a c o n sc iê n c ia n ã o fo sse c a p a z d e a c la r a r ,
re c u p e ra r, c o n q u is ta r e a p e r fe iç o a r; o r a , is to é ig u a lm e n te fa ls o . A a ç ã o d e v e c o n s ti­
tu ir a sín tese e n tre a e s p o n ta n e id a d e e a re fle x ã o , a re a lid a d e e o c o n h e c im e n to , a
p e s s o a m o ra l e a o rd e m u n iv e rs a l, a v id a in te r io r d o e s p ír ito e a s fo n te s s u p e rio re s
o n d e ela se a lim e n ta . J o u b e r t d isse: “ P e n s a r em D e u s é u m a a ç ã o .” S. J o ã o d a C ru z
tin h a d ito m a is p r o f u n d a m e n te : “ A a ç ã o q u e e n v o lv e e c o m p le ta to d a s as o u tra s
é p e n sa r v e rd a d e ir a m e n te e m D e u s .” (Maurice Blondel)
N o s e n tid o m oral “ a ç ã o ” s ig n ific a d e c is ã o , d ilig ê n c ia , in te rv e n ç ã o e fic a z , p o r
in ic ia tiv a p r ó p r ia , d e u m a a tiv id a d e v o lu n tá r ia q u e n ã o é d e te r m in a d a n e m p e la su a
n a tu r e z a n e m p o r n a d a e x te r io r a e la; d e m a n e ira q u e se a a ç ã o a ssim e n te n d id a n ã o
15 AÇÃO

D eus “ o a to p u r o ” , ao m esm o te m p o q u e in te iro re p o u s a s o b re u m e sfo rç o a n á lo ­


o S er s u p re m o , c a u s o u u m a fo rte a s s o ­ g o a o d e se jo de q u e n ó s te m o s c o n sc iê n ­
c ia ç ã o de id é ia s e m esm o fre q ü e n te m e n - c ia . (O m ais p ro v á v e l é aliás q u e estas
te u m a c o n fu s ã o e n tre este te rm o e o de id éias d ife re n te s , c o n ciliáv eis o u n ã o , te ­
realidade. E n c o n tra -se o seu indicio n a cé­ n h a m s id o a o m e sm o te m p o p e rc e b id a s
leb re fó r m u la : O que nâo age não é, q u e p e lo a u to r e q u e d a s u a p r ó p r ia m u ltip li­
p o d e sig n ific a r q u e a re a lid a d e d e p e n d e c id a d e , c o n fu s a m e n te s e n tid a , re s u lte a
d a a ç ã o A (d a ex istên c ia de u m a n a tu r e ­ im p re ssã o de p ro f u n d id a d e q u e d á este
za p r ó p r ia , o q u e é q u a se u m a ta u to lo ­ v e rso .)
g ia); o u d a a ç ã o B (e x e rc id a s o b re o s o u ­ Rad. int .: A . A g; B . In flu ; C . A k cio n ;
tro s); o u d a a ç ã o n o sen tid o ético D , q u e r D . L a b o r; E . A k c io n .
d iz e r, d o e s fo rç o . P o d e -s e d iz e r o m es­
m o d a c o n c lu s ã o d e F a u s to : “ N o p rin c í­ A ç ã o (P rin c íp io d a m e n o r) — P r o p o ­
p io e ra a a ç ã o , A m A n fa n g wardie Tat" sição de m e c â n ic a q u e se p o d e e n u n c ia r
q u e ele su b stitu i a das Wort (o v erb o ), der so b u m a fo r m a g eral (f ix a d a d e p o is d o
Sinn (o p e n s a m e n to ) e n a q u a l ele a b s o r ­ séc. X V II d e d iv e rsas m a n e ira s em F er-
ve die K raft (a fo rç a ). E la p o d e d e sig n a r m a t, M a u p e r tu is , E u le r , H a m ilto n )
q u e r o c a r á te r e te rn o e p rim itiv o d o d e­ d iz en d o -se q u e a a ç ã o n o se n tid o C é
v ir em o p o s iç ã o à id é ia de u m a c a u s a c o n s ta n te m e n te u m m ín im o (o u u m m á ­
tra n s c e n d e n te ; q u e r a a n te r io rid a d e d o x im o); o u a in d a , e de u m a fo rm a m ais ge­
n ã o -in te le c tu a l s o b re o in te le c tu a l; q u e r r a l, q u e a s u a v a ria ç ã o é n u la , q u e p o s ­
a in d a a c re n ç a a n im is ta de q u e o m u n d o sui u m v a lo r e s ta c io n á rio (d e o n d e o n o -

é se m p re c ria ç ã o d e ser é, n o e n ta n to , s e m p re c ria ç ã o d e a c o n te c im e n to , de fe n ô m e ­


n o , lo g o se m p re u m c o m eç o d e q u e a v o n ta d e q u e o p r o d u z é re s p o n sá v e l. N o s e n ti­
d o físico c o m o q u a n d o se fa la d a a ç ã o d o s á c id o s , d a a ç ã o d o fo g o , d a a ç ã o d a m a s ­
sa, e tc ., a p a la v r a a ç ã o sig n ific a , p e lo c o n tr á r io , a lg u m a c o isa q u e re s u lta d a p r ó p r ia
n a tu re z a d o a g e n te , q u a lq u e r q u e seja ele, c o n c e b id o c o m o d e te r m in a d o a p ro d u z i-
la em v irtu d e d a s p ro p r ie d a d e s q u e o c o n s titu e m e d e q u e e m n e n h u m g ra u se p o d e
im a g in á -lo re sp o n sá v e l. E ra assim q u e o u tr o r a se d is tin g u ia m os actus humani o u
a çõ e s q u e o h o m e m re a liz a s a b e n d o -a s e q u e re n d o -a s e os actu hominis o u açõ es q u e
o h o m e m p r o d u z , se n ã o sem o sa b e r, p elo m e n o s sem o q u e re r, a tra v é s d o q u e ele
é n a tu ra lm e n te . (L. Laberthonnière )
O sen tid o C fo i a c re s c e n ta d o p o r p r o p o s ta d e R enéBerthelot, Brunschvicg, Louis
Weber.
S o b re o s e n tid o E — A m a io r p a rte d a s vezes q u a n d o se d istin g u e a a ç ã o d a in te ­
lig ên cia é p a r a d is trib u ir lo u v o re s a u m a o u a o u tr a , p a r a as c la s s ific a r e as h ie r a r ­
q u iz a r. O ra em n o m e d a a ç ã o se e n d e re ç a m m a ld iç õ e s a o p e n s a m e n to p u ro e se vive
n a q u ilo q u e J . S t. B lack ie c h a m a “a loucura da e x te r io r id a d e o r a se d e c la ra q u e
o p e n s a m e n to é s u p e rio r a tu d o e q u e a a ç ã o é a p e n a s u m a im a g e m e n fra q u e c id a
d ele. É p r o p r ia m e n te e n tã o a im p o tê n c ia d e c o n te m p la r , àaOevtia deuçíar, a a ç ã o
to rn a -s e u m a g ra n d e p o b re z a . “ Oh fraqueza de agir...!” Q u a n d o e sta m o s s eg u ro s
d a s n o ssa s id é ia s, p a r a q u e serv em os f a to s q u e a s c o n firm e m ? C f . a c éle b re s e n te n ç a
d e V illiers em A x el: “ V iv e r... os c ria d o s f a r ã o isso p o r n ó s .” (Louis Boisse) C f. d o
m e sm o a u to r : Le Fétichisme de 1’action (A ction m or ale > 15 d e n o v . d e 1902).

S o b re a Critica — D o a d á g io : “ A q u ilo q u e n ã o age n ã o é ” , p o d e -se a in d a a p r o ­


x im a r a fó rm u la : “ U m ser é o n d e a g e ” , f ó r m u la q u e se e n c o n tr a n o s E sc o lá stic o s
e de q u e já os E stó ic o s fa z ia m u so . (R. Berthelot)
ACASO 16

m e de " P r in c íp io d a a ç ã o e s ta c io n a r ia ” , r a c io n a l, as p re rro g a tiv a s in trín s e c a s d a


de q u e h o je em d ía se faz a lg u m a s vezes re lig iã o p a ra a a u d iê n c ia de to d o s os es­
u so ). E sta p ro p o s iç ã o fo i c o n sid e ra d a o ra p ír i to s .” Carta d e M a u ric e B Â ÃÇá E Â a
c o m o p o s s u id o r a d e u m v a lo r m e ta fís i­ L a la n d e a c e rc a d a p ro v a d e ste a rtig o (2?
c o , o ra c o m o s en d o u m a v e rd a d e q u e d e ­ ed ição ). V er m ais a d ia n te Intelectualismo ,
riv a u n ic a m e n te d a cien cia p o s itiv a , q u e r Pragmatismo, e La signißcation du präg ·
c o m o o p rin c ip io fu n d a m e n ta l d a m e c á ­ matisme, de P τ 2 Ãá « , n o Bulletin d a S o ­
n ic a , o r a c o m o u m te o re m a d e m o n s tr á ­ c ie d a d e de F ilo s o fia , ju lh o de 1908, co m
vel a p a r tir d as leis g erais d o m o v im e n to . u m a c a r ta d e M. BÂ ÃÇá E Â .
S o b re a h is to ria d e ste p rin c ip io e s o ­ B. N u m s e n tid o d ife re n te e m ais a m ­
b re a u tiliz a ç ã o q u e dele é fe ita p elo s fí­ p lo d iz-se d o p ra g m a tis m o , d o h u m a n is ­
sicos c o n te m p o rá n e o s v e r o Suplem ento m o , d o in s tru m e n ta lis m o e d e to d a s as
n o fim d e ste liv ro . d o u tr in a s q u e d e fe n d e m a p rim a z ia d a
a ç ã o em re la ç ã o à r e p re s e n ta ç ã o .
F ilo s o fia d a a ç ã o
A. D o u tr in a filo s ó fic a d e M a u ric e A C A S O (G . Tvxtj, avrófiarov) D. Z u ­
B Â ÃÇá E Âe x p o s ta p rin c ip a lm e n te n a su a fall, Zufälligkeit; E . Chance, Hazard
o b r a L ’action (1893). “ E la lig a-se a estes (m a is r a r o ) ; F . Hasard ; I. Caso, Azzar-
d o is p ro b le m a s e n e ste e s p irito : 1? E s tu ­ do, Fortuito (ra ro s ).
d o d a s re la ç õ e s e n tre o p e n s a m e n to e a E s ta p a la v r a serve p a r a tra d u z ir t vxt j
a ç ã o , de m o d o a c o n stitu ir u rn a crítica d a e avTÓjiaTov e m A 2 « è I ó I E Â E è , q u e o p õ e
v id a e u rn a c ie n c ia d a p r á tic a c o m a in ­ estes te rm o s a ^vern e o s a p ro x im a d e
te n ç ã o de a r b itr a r o d ife re n d o e n tre o in ­ acidente * ( I ò ou/ißeßTjxos). A natureza,
te le ctu a lism o e o p ra g m a tis m o a tra v é s d e s e g u n d o ele, é o q u e a g e e m v irtu d e d e
u m a ‘filo s o fia d a a ç ã o ’ q u e en v o lv e u m a u m a f in a lid a d e * , m a s: 1? c a d a a ç ã o e x e­
‘filo s o fia d a id é ia ’ em lu g a r de a ex clu ir c u ta d a c o m v ista a u m fim p ro d u z a c e s­
o u a ela se lim ita r. 2? E s tu d o d a s relaçõ es so ria m en te efeito s q u e n ã o sã o c o m p re en ­
d a ciên cia c o m a c re n ç a e d a filo s o fia d id o s n o seu fim (co m o o ru íd o d e u m vei­
m a is a u tô n o m a c o m a re lig iã o m a is p o ­ c u lo , e fe ito ace ssó rio e n ã o p re te n d id o d o
s itiv a , d e m o d o a e v ita r ta n to o r a c io n a ­ seu m o v im e n to ); 2? as a ç õ e s d e ste tip o
lism o q u a n to o fid e ís m o , e co m a in te n ­ p o d em te r e n tre si a p ro x im a çõ e s q u e ta m ­
ç ã o d e e n c o n tr a r , a tra v é s d e u m ex am e b ém n ã o s ã o c o m p re e n d id a s n a fin a lid a -

S o b re o P r in c ip io d a m e n o r a ç ã o — N o v a re d a ç ã o d e v id a a René Berthelot . E le
q u is ju n ta r - lh e u m c o m e n tá rio h is tó ric o d e m a s ia d o e x te n s o p a r a s e r a q u i in s e rid o
m a s q u e se e n c o n tr a r á n o Suplem ento, n o fim d a p re s e n te o b r a .

S o b re A c a so — A rtig o c o rrig id o seg u n d o as o b serv aç õ es d e J . L a c h elier, F. R a u h ,


E . G o b lo t, F . M e n tré , L . B ru n sc h v ic g .
História — A r i s t ó t e l e s d e fin iu o a c a s o , a c a u s a a c id e n ta l d e e fe ito s e x c e p c io ­
n a is o u acessó rio s q u e rev estem a a p a rê n c ia d a fin a lid a d e (V er Física, 197a5, 12, 22).
E s ta d e fin iç ã o é c o m p le x a , c o n té m a d e C o u r n o t, m a s c o m a id é ia d e fin a lid a d e a
m a is . P a r a ele, o a c a s o é u m e n c o n tr o a c id e n ta l q u e se a sse m e lh a a u m e n c o n tr o
in te n c io n a l (o c re d o r q u e e n c o n tr a p o r a c a s o o seu d e v e d o r , o trip é q u e c a i, p o r a c a ­
s o , s o b re os seu s trê s p é s). U m e x e m p lo d e A le x a n d re d e A f r o d ís ia e sc la re ce p e rfe i­
ta m e n te a d is tin ç ã o fe ita p o r A ris tó te le s e n tre τ ύ χ η e α υ τ ό μ α τ ο ν : u m c a v a lo fu g itiv o
e n c o n tr a o se u d o n o p o r a c a s o ; h á α υ τ ό μ α τ ο ν p a r a o c a v a lo e τ ύ χ η p a r a o d o n o .
(F. Mentré)
17 ACASO

d e d essas a ç õ e s . O c o n ju n to d esses e fe i­ ta r d e a to d o s os jo g o s o n d e n ã o in te rv é m
to s a c e ssó rio s c o n s titu i a τ ν χ η e α υ τ ό μ α ­ a h a b ilid a d e d o jo g a d o r , m a s o n d e o g a ­
τ ο ν . (V er M « Â 7 τ Z á , “ O a c a s o em A ris ­ n h o e a p e r d a s ã o d e te r m in a d o s p o r u m
tó te le s e e m C o u r n o t” , Revue de mé- c o n ju n to d e c a u sa s m u ito p e q u e n a s o u
taphysique, n o v e m b ro , 1902, e Étudessur m u ito c o m p le x a s p a r a q u e o re s u lta d o
la pensée sdentifique chez les grecs et les p o s s a ser p re v is to .
modernes, c ap . IV .) A s d u a s p a la v ra s são D a í d u a s m a n e ira s d e d e fin ir e ssa p a ­
n o m a is d a s vezes a s s o c ia d a s p o r A 2 « è ­ la v ra , c o n s o a n te se p re te n d e v eicu lar a p e ­
Ió Â è : “ T à "γ ι ν ό μ ε ν α
I E E φ ύ σ α -πά ν τ α n a s a id é ia q u e te m o s d o a c a s o , o u in d i­
•γ ί ν ε τ α ι η « e i ώ 6 ι η ώ ί ε π ί τ ο π ο λ ύ . τ α δ ε c a r te o ric a m e n te q u a is a s c irc u n stâ n c ia s
πα ρ ά τ ο orei x a l ώ ϊ eVt τ ο χ ο λ ύ , α τ ό o b je tiv a s q u e fo rn ec em a esta id éia a o c a ­
τ ο ν α υ τ ο μ ά τ ο υ x a t α π ό τ ύ χ η ί .” Π β ρ ί s iã o d e se a p lic a r:
χ ε ν έ σ ε ω * χ α ϊ φ θ ο ρ ά ί , II , 6, 33b7. M a s ,
1? Definição subjetiva :
n u m s e n tid o m a is re s trito , a τ ύ χ η é a p e ­
n as u m a p a rte d e α υ τ ό μ α τ ο ν (Física , II, A. C a ra c te rís tic a d e u m a co n te c im e n ­
6, 19 7 a37): e la c o n siste n a q u ilo q u e , to o u de u m c o n c u rso d e a c o n te c im e n to s
a c o n te c e n d o p o r aca so a seres d o ta d o s d e q u e n ã o a p re s e n ta o g ê n e ro de d e te rm i­
v o n ta d e (q u e r d iz er, a tra v é s de u m efei­ n a ç ã o q u e n o s p a re c e ria n o rm a l d a d a a
to p u ra m e n te a c id e n ta l e n ã o p rev isto das s u a n a tu re z a ; p o r e x e m p lo , c a r a c te rís ti­
su as voliçõ es, o u a in d a p o r u m a c a u sa ex­ c a d e u m a c o n te c im e n to q u e to c a a n o s ­
te rio r q u e n a d a tem de in te n c io n a l) , é s a p e ss o a , o s n o sso s b e n s, os n o sso s in ­
c o n tu d o ta l q u e n ã o se p o d e ria d e se já -lo teresses, m a s q u e n ã o p o d e m o s p re v e r e
o u tem ê-lo , q u e rê -lo o u q u e re r im p ed i-lo : q u e n ã o q u is e m o s; d e m a n e ira q u e n ã o
“ ’Ό σ α ά τ ο τ α ν τ ο μ ά τ ο υ "γ ί ν ε τ α ι τ ώ ν n o s p o d e m o s o u to r g a r o m é rito n em m e ­
τ ρ ο α ι ρ ε τ ώ ν , roTs ε χ ο υ α ι π ρ ο α ί ρ ε σ ι ν .” recer u m a c en su ra , m esm o se alg u m as d as
Ibid. 197*>21. V er Β ο ν ι τ ζ , ν ο τ ύ χ η . n o s s a s açõ e s v o lu n tá ria s e stiv e re m e n tre
Sentido primitivo: “ J o g o d e A z a r as c a u s a s q u e c o n c o r re r a m m a te ria lm e n ­
A hasard) é o n o m e p r ó p r io d e u m a esp é ­ te p a r a o e fe ito p r o d u z id o . “ A in d a q u e
cie d e jo g o d e d a d o s ” (Dτ 2 O ., H τ I U . e o s h o m e n s se g a b e m d a s su a s g ra n d e s
T 7 ÃOτ S, VÃ , 1227 A ) , a la r g a d o m a is açõ e s e sta s sã o fre q u e n te m e n te a p e n a s

AvTÓfiaTOi è u m a p a la v r a d a lín g u a g re g a c o r r e n te , q u e se e n c o n tr a j á e m H o m e ­
r o . Q u e r d iz e r, seg u n d o a s u a e tim o lo g ia , “ a q u ilo q u e se m o v e p o r si m e s m o ” , e s ­
p o n tâ n e o . E m certas p assag en s d e A ristó te le s, en co n tra-se a in d a este sen tid o : a yeveois
avTÓpaTos é a g e ra ç ã o e s p o n tâ n e a . C o m o é q u e , m e sm o a n te s d a s u a é p o c a , j á tin h a
p a s s a d o p a r a o d e acaso (T u c id id e s , X e n o fo n te )? P r o v a v e lm e n te p o r a n títe se à q u ilo
q u e é d e te r m in a d o p o r u m a c a u s a e x te r n a , e , p o r c o n s e g u in te , p rev isív el. Se assim
f o r , b a s ta ria a p r o x im a r e sta n o ç ã o d a id é ia s e g u n d o a q u a l a ú n ic a c o isa v e rd a d e ir a ­
m e n te f o r tu ita é a q u e d im a n a d e u m c o m e ç o a b s o lu to , de u m liv re -a rb ítrio (m a s,
b em e n te n d id o , sem a tr ib u ir e s ta in te r p r e ta ç ã o ao p r ó p r io A ris tó te le s). (A. L .)
N o Essai, C o u r n o t s u b lin h a a d e fin iç ã o d e J e a n de Lτ P Â τ TE I I E ( Traité des je u x
de hasard, H a ia , 1714) q u e é a a n te p a s s a d a d a s u a . E le d e fin ia o a c a s o co m o “ o
c o n c u rs o d e d o is o u trê s a c o n te c im e n to s c o n tin g e n te s , p o s s u in d o c a d a u m deles as
su a s c a u s a s, de f o r m a q u e o seu c o n c u rs o n ã o p o s su i n e n h u m a q u e se c o n h e ç a ” .
C ita d o n o Essai, to m o I, p . 56, n o ta 1. (F. M entré )
A d e fin iç ã o d a d a p o r P ë ÇTτ 2 é fo i a n te r io rm e n te f o r m u la d a p o r R E Çá Ç em
L ‘avenir de la science: “ O a c a s o ” , d iz ele, “ é a q u ilo q u e n ã o te m c a u s a m o ra l p r o ­
p o rc io n a d a a o e f e ito .” (p . 24) E le c ita c o m o ex em p lo o a c a s o d a m o rte de G u sta v o
A C A SO IS

e fe ito s d o a c a s o e n â o de u m g ra n d e d e ­ rio s o a c id e n te , p o r o u c o n tr a a ra z ã o in ­
s íg n io ,” (L τ R ÃT 7 E E ÃZ Tτ Z Âá , Máxima d ife re n te m e n te , c o n s o a n te o s e n c o n tro s
57) ” 0 q u e c o n s titu i a c a s o a o s o lh o s d o s a tô m ic o s , fo rtu ito s p o r d e fin iç ã o , e n ­
h o m e n s é d e síg n io a o s o lh o s de D e u s .” q u a n to q u e o liv re -a rb ítrio h u m a n o exi­
(BÃè è Z E I , Política , V , I I I , 1) V er Fatum. g e, a n te p o ssib ilid ad e s in d e te rm in a d a s , a
“ A ju ris p ru d ê n c ia a d m ite n e ste s e n tid o d e lib e ra ç ã o d a ra z ã o , q u e ex clu i o aca­
o caso fo rtu ito , q u e s u p rim e , salv o c o n ­ so .” R ÇÃZ â « 2 , Histoire et solution des
E E

v e n ç ã o c o n tr á r ia , a re s p o n s a b ilid a d e d o problèmes métaphysiques, X I I , p . 101.


d e v e d o r .” ( Código civil, a r t. 1148, 1302) F ra n c k d efin e-o d a m esm a fo rm a: “ A q u i­
lo q u e n ã o p a re c e ser o re s u lta d o n e m d e
2? Definições objetivas : u m a n e c e ssid a d e in e re n te à n a tu re z a d as
B. A q u ilo q u e é a o m e sm o te m p o m ac­ o isa s , n e m d e u m p la n o c o n c e b id o p e la
te ria lm e n te in d e te r m in a d o e m o r a lm e n ­ in te lig ê n c ia .” Dictionnaire, 682 B.
te n ã o d e lib e ra d o . H á , p o r o u tr o la d o , ra z õ es p a r a d u v id a r,
“ E p ic u ro [pelo c lin a m e n ]... n ã o fazia a c re s c e n ta , d e q u e este c o n c e ito c o rre s ­
m a is d o q u e in tr o d u z ir n o s a to s v o lu n tá ­ p o n d a a a lg o d e e x iste n te .

A d o lf o , m o r to em L u tze n p o r u m a b a la d e c a n h ã o , e a c re s c e n ta : “ A d ire ç ã o d e u m a
b a la v a ria n d o a lg u n s c e n tím e tro s n ã o é u m f a to p r o p o r c io n a l às im e n sas c o n se q ü ê n -
cias q u e d a í r e s u lta r ã o .” S e g u n d o e sta d e fin iç ã o , o a c a s o seria s in ô n im o d e c a u s a
in s ig n ific a n te q u e p r o d u z e fe ito s in c alcu lá v e is. E x e m p lo : o c o m p rim e n to d o n a riz
de C le ó p a tr a e o g rã o de a re ia de C ro m w e ll (em P a s c a l). P o u c o f a lto u p a r a N a p o -
leão n ã o te r p a r tid o p a r a a T u r q u ia , o q u e a lte r a r ia o c u rs o d a R e v o lu ç ã o e os d e s ti­
n o s d a E u r o p a . P o u c o fa lto u p a r a q u e D a rw in n ã o v ia ja sse a b o r d o d o Beagle , o
q u e te ria a lte r a d o c o n sid e ra v e lm e n te o d e stin o d a b io lo g ia ! T ra ta -s e de u m a d as c a ­
ra c te rístic a s d o a c a s o h u m a n o e h is tó ric o , m as u m a c a ra c te rís tic a derivada . O fa to
o b je tiv o c o n siste n a c o in c id ê n c ia d a s séries; o re s to é in te rp re ta ç ã o su b je tiv a e f in a ­
lista . ( /d .)
A id é ia de R e n á n p a re c e -m e m u ito d ife re n te d a d e P o in c a ré . P a r a o p rim e iro ,
tr a ta - s e de importância moral, p a r a o seg u n d o tr a ta - s e de grandeza física d o s f e n ô ­
m e n o s c o n s id e ra d o s , n o s e n tid o de q u e o físico c o n s id e ra o m ilésim o de m ilím e tro
c o m o n eg lig en ciáv el c o m p a r a d o a o q u ilô m e tro ; e é p re c is a m e n te d a í q u e e x tra í a su a
ju s tific a ç ã o d a lei d o s g ra n d e s n ú m e ro s . P o d e -s e d iz e r , e e u p ró p r io j á o fiz n a Críti­
ca, q u e se se p re te n d e c o n s e rv a r n a p a la v r a acaso o s e u s e n tid o u s u a l so m o s n ecessa­
ria m e n te c o n d u z id o s d a id é ia p u ra m e n te m a te m á tic a à id é ia d e ju íz o a p re c ia tiv o ; m a s
isso p a re c e -m e u m a m o d ific a ç ã o d a te o r ia e n ã o o seu p o n to d e p a r tid a .
P o r o u tr o la d o , te ria d ific u ld a d e em c o n c o r d a r q u e se D a rw in n ã o tiv esse fe ito
a v ia g em a b o r d o d o Beagle isso te ria a lte r a d o c o n sid e ra v e lm e n te o d e s tin o d a b io lo ­
g ia ; m a s tr a ta - s e d e u m a q u e stã o q u e d iz re s p e ito a o p a p e l d o a c a s o n o p ro g re s so
d a ciên cia e n ã o d a d e fin iç ã o d o te r m o . (A. L .)
A o p re te n d e r c o rrig ir a d e fin iç ã o d e C o u r n o t, P . SÃZ 2 ã τ Z (tese so b re a Inven­
ção) e n c o n tr o u e sta fó rm u la : “ O a c a s o é o e n c o n tr o d e u m a c a u s a lid a d e e x te rn a e
de u m a fin a lid a d e in te r n a .” E s ta d e fin iç ã o a p ro x im a -s e d a de A ris tó te le s, m a s n ã o
é tã o c o m p re e n s iv a : é a p e n a s u m c a s o p a rtic u la r. P o d e a c o n te c e r o e n c o n tr o d e d u a s
fin a lid a d e s; e d e p o is as d iv e rsas fin a lid a d e s n ã o d ev em ser c o lo c a d a s n o m esm o p la ­
n o . (F. Mentré)
19 ACASO

C. “ C a r a c te rís tic a d e u m a c o n te c i­ n íç ao g e ra l: “ O a c a so é o c o n c u rso d e fa ­


m e n to o c o rrid o p e la c o m b in a ç ã o o u e n ­ to s ra c io n a lm e n te in d e p e n d e n te s u n s d o s
c o n tro de fe n ô m e n o s q u e p erte n ce m a sé­ o u tr o s ” {Traitéde l ’enchaînement, § 52;
ries in d e p e n d e n te s n a o rd e m d a c a u s a li­ Matérialisme, vitalisme, rationalisme, p .
d a d e ” (C ÃZ * Théoríe des chances et
2 ÇÃI 313), d e fin iç ã o o n d e é p re c iso e n te n d e r
des probabilités, c a p . II; e Essai sur les a p a la v r a fa to s n o s e n tid o m ais g eral. “ It
fondem ents de nos connaissances, c a p . is in c o rre c t to say th a t a n y p h e n o m e n o n
III). E le c o m p le ta em o u tro lu g a r esta d e ­ is produced by chance, b u t w e m a y say
fin iç ã o o b s e rv a n d o q u e a m e sm a esp écie th a t tw o o r m o re p h e n o m e n o n a re con­
de c o n c u rso p o d e te r lu g a r n ã o só n a o r ­ joined by chance... m e a n in g th a t th e y a re
d e m de c a u s a lid a d e , m as ta m b é m n a o r ­ in n o w ay re la te d th ro u g h c a u sa tio n ; th a t
d e m ra c io n a l o u ló g ic a (p . ex. a série d o s th e y a re n e ith e r c au se a n d e ffe c t, n o r e f­
d ecim ais d o n ú m e ro ir). D o n d e e sta d e fi- fects o f cau ses b e tw e e n w h ich th e re su b -

S o b re a Crítica — Extrato da discussão na sessão de 4 de ju lh o de 1907:


J. Lachelier: “ V ejo a p e n a s d o is s e n tid o s p o ssív eis d a p a la v r a acaso: 1? a a u s ê n ­
cia de q u a lq u e r ra z ã o d e te rm in a n te ; 2? a a u sê n c ia de d e term in a çã o teleoló gica. Q u a n d o
se diz q u e o a c a s o ‘n ã o e x iste ’, to m a -s e , v u lg a rm e n te , a p a la v r a n o p rim e iro s e n tid o ;
p re te n d e -se d iz e r q u e tu d o é d e te r m in a d o , p e lo m e n o s m e c a n ic a m e n te (a m e n o s q u e ,
c o m o B o ssu e t, n ã o se s o b r e p o n h a à o r d e m n a tu r a l u m a esp écie d e te le o lo g ía d iv in a ;
n ã o e x istiria e n tã o a c a s o , m e sm o n o s e g u n d o s e n tid o ). N o p e n s a r d e to d a a g e n te
existe u m a c a s o ; e q u a n d o se d iz q u e u m a c o isa a c o n te c e p o r a c a s o e n ten d e -se p o r
isso q u e e ssa c o isa a c o n te c e sem d ú v id a e m v irtu d e d e u m a n e ce ssid a d e m e c â n ic a
( p a r a f a la r co m v e rd a d e , n ã o se a f ir m a ta l n e m se n e g a , n ã o se p e n s a d e f a to n e ste
g ê n e ro de c a u s a lid a d e ); m a s , e m to d o c a s o , a sse g u ra -se q u e a c o n te c e f o r a d e q u a l­
q u e r o rd e m te le o ló g ic a , q u e r d iz e r, f o r a n ã o só d e q u a lq u e r d e síg n io h u m a n o o u d i­
v in o , m as ta m b é m d e q u a lq u e r o rd e m e stá v e l (d e q u a lq u e r f o r m a d e re s to q u e se
e x p liq u e e s ta o r d e m ; m a s vê-se a í s e m p re , m a is o u m e n o s c o n sc ie n te m e n te , o e fe ito
d e u m a esp écie d e te le o lo g ía d a n a tu r e z a ) . É n e c e s sá rio a c re s c e n ta r q u e a q u ilo q u e
e s c a p a a e s ta o rd e m só se c h a m a acaso p o r o p o s iç ã o o u p e lo m e n o s p o r c o n tra s te
c o m e s ta m e sm a o rd e m . A ss im , a m a r c h a re g u la r d e u m p la n e ta n a s u a ó rb ita n ã o
n o s p a re c e f o r tu ita ; as p e rtu rb a ç õ e s p ro d u z id a s p e la a tr a ç ã o m ú tu a d o s p la n e ta s ta m ­
b é m n o s n ã o p a re c e m f o r tu ita s , m a s u m a p e r tu r b a ç ã o p r o d u z id a p e la p a ssa g e m de
u m c o m e ta p a re c e -n o s f o r tu ita , p o r q u e o s c o m e ta s e os seus m o v im e n to s n ã o f o r ­
m a m p a r a n ó s u m c o n ju n to o rg a n iz a d o . S e h o u v e sse a p e n a s u m só c o r p o , a n d a n d o
n o e sp a ç o e m lin h a r e ta , em v irtu d e d e u m im p u ls o re c e b id o , n ã o d iría m o s q u e o
a n d a m e n to d o c o rp o e r a f o r tu ito , p o r q u e ele n ã o se oporia, n o n o sso p e n s a m e n to ,
a q u a lq u e r c o n ju n to o rg a n iz a d o d e m o v im e n to s .”
L. Brunschvicg a c e ito u e sta s o b s e r v a ç õ e s 1.

1. C, R a n zo li dividiria de um a m aneira análoga os sentidos da palavra acaso. “ Este term o ” , escreve-nos


ele, “ só tem sentido preciso num contexto determ inado e segundo a ordem de idéias em que, de saída, nos
colocarmos. Dai três utilizações fundam entais: A. Do ponto de vista da causalidade ou da necessidade, o
que é espontâneo, indeterm inado; B. Do ponto de vista da finalidade, aquilo que é m ecânico, inconsciente;
C. Do ponto de vista da previsibilidade, aquilo que é im previsto, imprevisível, inesperado; e isso quer, 1?,
devido à complexidade das causas e dos efeitos; quer, 2?, devido ao encontro de séries independentes de
acontecim entos.” Ver a sua obra // caso net pensiero e nelio vila, M ilão, 1913.
A CASO 20

sists a n y la w o f c o ex iste n ce ; n o r ev en e f- d a d a s c irc u n s tâ n c ia s ) e n tre d u a s o u v á ­


fects o f th e s a m e o rig in a l c o llo c a tio n o f ria s séries c a u s a is re c ip ro c a m e n te e r e la ­
p rim e v a l c a u s e s .” ' J . S. M « Â Â , Lógica , tiv a m e n te in d e p e n d e n te s .” M τ Â á « á « E 2 ,
liv ro I I I , c a p . X V II, § 2. “ O a c a s o ” , Revuephilosophique, ju n h o
“ O a c a s o é u m a in te rfe rê n c ia , a lg u ­ de 1897, p. 585.
m a s vezes s in g u la r, n o rm a lm e n te im p r e ­ D. C a ra c te rís tic a d o s a c o n te c im e n to s
visível d e v id o à c o m p lex id ad e d o s seus fa ­ n o s q u a is se v e rific a a lei dos grandes nú-
to r e s ... e m to d o c a s o n ã o in te n c io n a l e meros , q u e r d iz e r, ta is “ q u e s e n d o esses
re la tiv a m e n te c o n tin g e n te (a in d a q u e n e ­ a c o n te c im e n to s sep a ra d o s e m classes e es­
c e s s á ria e m s i, n u m d a d o m o m e n to e em I. s a s classes e m c a te g o ria s , a re la ç ã o e n tre
o n ú m e ro to ta l d e aco n tecim en to s d a clas­
se e o n ú m e ro to ta l de a c o n te c im e n to s d e
I . “ É inexalo dizer que um fenóm eno, qualquer u m a d a s c a te g o ria s te n d e irre g u la rm e n te
que ele seja, é p ro d u zid o p elo acaso·, m as lem os o
p a ra u m lim ite d e te rm in a d o q u a n d o o n ú ­
direito de d h e r que dois ou vários fenômenos são reu­
n id o s p e lo acaso; enrendendo p o r isso que aqueles m e ro d e a c o n te c im e n to s c o n s id e ra d o s se
não se encontram ligados de qualquer modo pela cau­ to r n a c a d a vez m a io r ” . (D E M ÃÇI E è è Z è ,
salidade; que não constituem nem causa nem efeito “ A p ro p ó s ito d o a c a s o ” , R evuedu mois,
um do o u tro , nem são efeitos d a m esm a causa, nem
m a rç o d e 1907).
efeitos de causas ligadas entre si por um a lei de coe­
xistência, nem efeitos de um a mesma colocação ori­ O m e s m o a u to r p r o p ô s a o C o n g re sso
ginal das causas prim itivas.” d e F ilo s o fia d e G e n é v e (1904) a s e g u in te

F. Rauh: “ A id éia d e a c a s o o p õ e -se c o m e fe ito à d e normalidade, e n te n d id a n u m


s e n tid o m u ito a m p lo , e c o n c o r d o c o m tu d o a q u ilo q u e fo i d ito p o r L a c h e lie r a e ste
re s p e ito . M a s é n e c e ssá rio q u e se f a ç a m a lg u m a s re s e rv a s . E m p rim e ir o lu g a r , n ã o
é e x a to q u e e s ta id éia d e n o rm a lid a d e s e ja n e c e ssa ria m e n te u m a c o n s id e ra ç ã o o u u m a
p re fe rê n c ia s u b je tiv a s , c o m o o p o d e r ia m fa z e r c re r a lg u n s e x e m p lo s a d ia n ta d o s , o u
a in d a essa e x p re ss ã o d e lástima lógica q u e se e n c o n tr a n a s c o n c lu s õ e s d e s te a rtig o .
P a r a m u ito s filó s o fo s a n o r m a é c o n c e b id a c o m o o b je tiv a e p o r c o n s e q u ê n c ia o a c a ­
s o p a rtic ip a d e s ta c a r a c te r ís tic a .”
J. Lachelier. “ M e sm o se a n o r m a f o r c o n c e b id a c o m o o b je tiv a é a p e n a s o n o sso
p e n s a m e n to q u e considera is to o u a q u ilo e q u e , p o r c o n se q u ê n c ia , fa z d isso u m a c a ­
s o , r e fe rin d o -o à n o r m a q u e isso te r ia d e te r s e g u id o . S ó ex iste a c a s o em re la ç ã o a
classes, e s o m o s n ó s q u e m c o n s titu ím o s a s c la s s e s .”
F. R auh : “ P o r o u tr o la d o , é p re c iso n o ta r q u e , s u b je tiv a o u o b je tiv a , a normali­
dade n ã o se d e fin e s e m p re p e la re p e tiç ã o . A ssim , u m jo g a d o r n ã o a c r e d ita r á te r g a ­
n h o p o r acaso se a c r e d ita r q u e 'teve sorte*. A ‘s o r te ’ é a q u i u m a esp écie d e in flu ê n c ia
e , p o r c o n se q iiê n c ia , d e n o r m a q u e s u p rim e o a c a s o . In v e rs a m e n te , u m a seq iiên cia
d e a to s in c o e re n te s , a in d a q u e c o n s titu a u m a re p e tiç ã o , n ã o se rá p o r isso m e n o s c o n ­
s id e r a d a c o m o u m a seq iiên c ia de f a to s d e a c a s o , A n o rm a lid a d e é a q u i d e o rd e m
d ife re n te : c o n s is te n a c a r a c te rís tic a d e a d a p ta ç ã o p r ó p r ia d a in te lig ê n c ia . E m re s u ­
m o , ex iste n o r m a q u a n d o h á u m a n o ç ã o d e fin id a , s e ja p o r re p e tiç õ e s , se ja p o r u m a
m é d ia , s e ja p o r u m a in te n ç ã o , s e ja p o r u m a d ire ç ã o , s e ja p o r u m a característica in ­
trín s e c a ; n u m a p a la v r a , d e q u a lq u e r m a n e ir a .”
A. Lalande: “ É p o r is so q u e citei n a Crítica o e x e m p lo d e A m é ric o V e sp ú c io .
A n o r m a é a í q u a lq u e r c o isa c o m o u m a ju s tiç a id e a l, c o n tr a a q u a l o s f a to s te ria m
p e c a d o .”
J. Lachelier : “ S e ja , m a s c a b e , se se a la r g a r m u ito a id é ia d a n o r m a , d is tin g u ir
21 A C A SO

fó rm u la , in titu la d a Extensão da definição p o r tâ n c ia , p o r q u e e n v o lv e to d a a m in h a


de acaso: “ U m a c o n te c im e n to é d ito p r o ­ a p o s ta .” (H . P ë ÇTτ 2 é , “ O a c a s o ” , Re-
c ed e r d o a c a s o q u a n d o n â o e x iste q u a l­ vue du mois, m a rç o d e 1907) A lei d o s
q u e r lig a ç ã o e n tr e a n a tu r e z a d a s u a c a ­ g ra n d e s n ú m e ro s d ev e ser c o n s id e ra d a ,
te g o r ia e a c a u s a d e te r m in a n te d e s s a c a ­ n e ste c a s o , c o m o u m a p ro p r ie d a d e d e r i­
te g o r ia .” (C . R . do Congresso , p . 692) v a d a r e s u lta n te d essas d u a s c o n d iç õ e s e
d e u m p o s tu la d o s e g u n d o o q u a l a p r o ­
E. C a ra c te rís tic a d e u m a c o n te c im e nb­ a b ilid a d e d a s c a u s a s v a ria ria s e g u n d o
to r ig o r o s a m e n te d e te r m in a d o , m a s ta l u m a f u n ç ã o c o n tín u a (d e u m a f o r m a
q u e u m a d ife re n ç a e x tre m a m e n te p e q u e ­ q u a lq u e r ).
n a n a s su a s c a u s a s te r ia p r o d u z id o u m a
d ife re n ç a c o n sid e rá v e l n o e fe ito . P o r C RÍTIC A
e x e m p lo , o a tr a s o d e u m s e g u n d o q u e te ­ A d e fin iç ã o d e C o u r n o t e d e J . S. M ill
ria e v ita d o u m a c id e n te ; u m a u m e n to d e s u p õ e séries c a u s a is , in d iv id u a is e is o lá ­
u m m ilé sim o n o im p u ls o d a d o à b o la d a v eis, o q u e n u n c a é v e rd a d e iro te o r ic a ­
r o le ta , a u m e n to q u e te r ia fe ito s a ir u m m e n te e q u e ta m b é m n ã o o é se q u e r p r a ­
n ú m e ro em vez de u m o u tr o . “ A d ife re n ­ tic a m e n te n a m a io r p a r te d o s caso s: p o r
ç a n a c a u s a é im p e rc e p tív e l, e a d ife re n ­ e x e m p lo , to d o s o s m o v im e n to s d o c ilin ­
ç a n o e fe ito é, p a r a m im , d a m a io r ím - d r o e d a b o la , n o jo g o d a ro le ta , têm

e n tre verdadeiras e falsas n o rm a s : u m a s o b je tiv a s , o u tr a s m a is o u m e n o s a rtific ia is


o u im a g in á ria s . É esse o c a s o d a m a io r p a r te d as m é d ia s .”
G. Sorel: “ P r in c ip a lm e n te a s m é d ia s e sta tís tic a s d a v id a s o c ia l: a id é ia s e g u n d o
a q u a l são necessários ta n to s m o rto s p o r a n o p a r a u m a d e te r m in a d a p o p u la ç ã o só
c o rre s p o n d e à n o s s a m a n e ira d e p e n s a r as c o is a s .”
F. Rauh: “ E n q u a n to n o r m a , n ã o se p o d e c o n tu d o d iz e r q u e seja falsa, é a p e n a s
s u b je tiv a . M a s c o n v ie m o s d e sd e o in íc io d a d is c u s s ã o q u e h a v ia n o r m a s s u b je tiv a s
e n o rm a s o b je tiv a s .”
“ Q u e a s e q u ê n c ia to ta lm e n te m e c â n ic a d a s c a u s a s q u e d e tê m a ro le ta n u m d e te r­
m in a d o n ú m e ro m e f a ç a g a n h a r , e p o r c o n s e q ü ê n c ia o p e re c o m o o f a r ia u m g ê n io
b o m q u e c u id a s s e d o s m e u s in te re ss e s, q u e a f o r ç a to ta lm e n te m e c â n ic a d o v e n to
a r r a n q u e u m a te lh a d o te lh a d o e a la n c e à m in h a c a b e ç a , q u e r d iz e r, a j a c o m o o
f a r ia u m g ê n io m a u q u e c o n sp ira s s e c o n tr a a m in h a p e s s o a , n e ste s d o is caso s e n c o n ­
tr o u m m e c a n is m o o n d e o p ro c u r e i, o n d e d e v e ria te r e n c o n tr a d o , p a re c e , u m a in te n ­
ç ã o : é o q u e q u e r o d iz e r a o fa la r d e acaso. E d e u m m u n d o a n á r q u ic o , o n d e o s fe n ô ­
m e n o s se su ced essem a o s a b o r d o s seus c a p r ic h o s , e u d iria a in d a q u e se t r a t a d o re i­
n o d o acaso, e n te n d e n d o p o r isso q u e e n c o n tr o d ia n te d e m im v o n ta d e s , o u m e lh o r,
d e c re to s , q u a n d o e sp e ra v a u m m e c a n is m o . A ssim se e x p lic a a s in g u la r a g ita ç ã o d o
e s p ír ito q u a n d o te n ta d e fin ir o a c a s o ... O sc ila , in c a p a z d e se f ix a r , e n tr e a id é ia de
u m a a u sê n c ia d e c a u s a e fic ie n te e a d e u m a a u s ê n c ia d e c a u s a f in a l... O p ro b le m a
p e rm a n e c e in s o lú v e l, c o m e fe ito , e n q u a n to n ó s to m a r m o s a id é ia d e a c a s o p o r u m a
p u r a id é ia , sem m is tu r a d e a fe c ç ã o . M a s , n a re a lid a d e , o a c a s o a p e n a s o b je tiv a o
e s ta d o de a lm a d a q u e le q u e te r ia esperado u m a d as d u a s esp écies de o rd e m e e n c o n ­
tr a a o u t r a . ” (H . B erg so n , L*evolution créatrice, 254-2 55)
O c o n ce ito d t fortuito só p o d e ser c o m p re e n d id o fo r a d a s u a re la ç ã o co m o c o n ­
c eito d e necessário, e este p o r s u a vez só o p o d e ser n a s su as re la çõ e s c o m os c o n c e i­
to s de p o ssív el, de im p o ssív el, d e v ero ssím il e d e c ertez a .
A C A SO 22

c o m o c a u s a c o m u m o m o v im e n to d o c a u s a s .” ( Histoire et solution d esproblè-


croupier q u e as la n ç a , e a s u a v o n ta d e de mes métaphysiques, X X I I I , p . 170) P o r
jo g a r o la n ce . E , to d a v ia , ex iste o a c a s o . o u tr o la d o , p a r a se fa la r de a c a s o , é p r e ­
“ N a h ip ó te se d o d e te rm in is m o ” , diz RE- ciso n ã o só q u e h a ja e n c o n tr o d e séries
NOUviER, “ n ã o é d e m o d o a lg u m ló g ico in d e p e n d e n te s , m a s ta m b é m q u e o a c o n ­
a d m itir, co m o fa z C o u rn o t, fa to s a cid e n ­ te c im e n to p ro d u z id o p o r este e n c o n tr o
tais o u d e a c a s o q u e ele d e fin e n ã o c o m o a p re se n te s u fic ie n te in te re sse p a r a p o d e r
casos de in d e te rm in ism o p a rc ial, m as pelo ser c o n s id e ra d o c o m o o o b je tiv o possív el
e n c o n tro de efeito s d e cau sas m u tu a m e n te d e u m a série d e c a u s a s fin a is . (C f. PlÉ-
in d e p e n d e n te s . N ã o se t r a ta , a in d a h ip o ­ R O N , “ E n s a io s o b re o a c a s o ” , n a Revue
te tic a m e n te , d e c a u sa s in d e p e n d e n te s d o de métaphysique, 1902.)
te m p o ; seria n e ce ssá rio , p a ra q u e h o u v e s­ A d efin ição de D e M o n t e s s u s é
se c au sas c u jo s e n co n tro s n ã o fo ssem p re­ igualm ente contestável: 1? enquanto só
d e te rm in a d o s c o m o elas p ró p ria s , q u e so ­ considera a lei dos grandes núm eros ex­
breviessem a lg u m a s d elas n o e x terio r d a s clui do acaso todos os fenôm enos que não
séries sem c o m eç o n em fim c u jo s te rm o s se repetem , o que equivale a restringir ar­
fo sse m to d o s e fe ito s e a o m e sm o te m p o bitrariam ente o sentido da palavra; é um

T e n h o p o r c lássicas as d e fin iç õ e s de E è ú « ÇÃ è τ , Ética , I, X X X III E sc ó lio , p r in ­


c ip a lm e n te : “ A t res a liq u a n u lla alia de c a u s a c o n tin g e n s d ic itu r n isi re sp e c tu d e fe c-
tu s n o s tra e c o g n itio n is . R es e n im , e tc .” {F. Tònnies)
A p a la v r a acaso n ã o m e p a re c e p o d e r ser d e fin id a , e m n e n h u m s e n tid o , in d e p e n ­
d e n te m e n te d a id é ia de fin a lid a d e . N o d o m ín io p u ra m e n te físic o , se se n ã o fiz e r in ­
te rv ir n e n h u m a re la ç ã o co m os seres v iv o s, o acaso n ã o te m q u a lq u e r lu g a r. S ó se
p o d e tr a ta r aí de necessidade (c a u sa lid a d e ) o u d e contingência. A ss im , n ã o c re io q u e
se p o ssa c h a m a r acaso à im p o s sib ilid a d e d e p re v e r. N ã o p o sso p re v e r se a m a n h ã c h o ­
v e rá , m a s n ã o d ig o q u e o te m p o d e p e n d e d o a c a s o ; isso n ã o te ria s e n tid o . É u m a c a ­
so se o b o m te m p o c o in c id ir co m a lg u m a c o n te c im e n to p a r a o q u a l o te m p o b o m
é d e se já v e l; é a in d a u m a c a s o se c h o v e r ju s ta m e n te n u m d ia em q u e o te m p o b o m
s e ria c o n v e n ie n te . N o s jo g o s d e a z a r , tra ta -s e e fe tiv a m e n te d e f a to s im p o ssív eis d e
p re v e r, m a s q u e sã o favoráveis ou desfavoráveis. A c a s o s ig n ific a exclusão da finali­
dade. O r a , se se c o n s id e ra r e x c lu siv a m e n te o s f a to s físic o s, a fin a lid a d e n ã o te m d e
ser e x c lu íd a , n a m e d id a em q u e n ã o tev e o c a s iã o d e aí se in tr o d u z ir .
Se o aca so n ã o p o d e ser d e fin id o “ fis ic a m e n te ” d a í n ã o re s u lta q u e o d ev a ser
“ p s ic o lo g ic a m e n te ” , p o rq u e p o d e h a v e r aí finalidade sem inteligência, p o r ex em p lo
n a o rg a n iz a ç ã o d o s v eg etais. N o tr a n s f o r m is m o d a rw in ia n o , a seleção e x p lica a fix a ­
ç ã o de u m a c a ra c te rís tic a a c id e n ta l. E s ta fix a ç ã o re s u lta d a q u ilo q u e e ssa c a r a c te rís ­
tic a p o ssu i de v a n ta jo s o e c o n s titu i u m p ro g re s so ; n ã o é d e v id a a o a c a s o ; é u m caso
d e fin a lid a d e , m a s a p rim e ira a p a r iç ã o d a c a r a c te rís tic a só se e x p lica p e la seleção .
E n tr e as c a ra c te rís tic a s a c id e n ta is só se d á o n o m e de a c a s o à q u e la s q u e calham ser
(n?xou(7[) v a n ta jo s a s e ta m b é m à q u e la s q u e calham ser d e s v a n ta jo s a s . A s o u tr a s são
p u ro s acidentes. Só se d á o nome de a c a s o ao s a c id e n te s em relação a o s q u a is nos
p o d e m o s p e r g u n ta r se são fa v o rá v e is o u d e sfa v o rá v e is; e, q u a n d o se o p ta pelo a c a ­
so , é p o rq u e se exclu i u m a fin a lid a d e q u e se p o d e ria s u p o r.
A n e g a ç ã o d a c a u s a lid a d e é a contingência e n ã o o acaso .
A n e g a ç ã o d a fin a lid a d e é o acidental. T a lv e z se p o s s a c h a m a r a c a s o a tu d o a q u i­
lo q u e é a c id e n ta l. M a s, n u m s e n tid o m a is esp e c ial, o a c a s o é o acidente que é fa-
23 A C A SO

a c a s o q u e o m e rc ú rio se ja o ú n ic o m e ta l feren ças cau sais seja ta l q u e essas d ife re n ­


líq u id o à te m p e r a tu r a m é d ia em q u e vi­ ças nos s e ja m imperceptíveis, e, p o r o u ­
v em o s; 2? e n q u a n to fa z in te rv ir a in d e ­ tr o la d o , q u e a d ife re n ç a n o s e fe ito s seja
p e n d ê n c ia d a c a u s a e d a c a te g o ria n ã o importante. A p rim e ira d e sta s c a ra c te rís ­
te m e m c o n ta o f a to d e q u e , f a la n d o e s­ tic a s d e p e n d e d a s u tile z a d o s n o sso s s e n ­
c ritam en te, a c a u s a (o u m e lh o r, o c o n ju n ­ tid o s , e a seg u n d a d ep en d e d o s n o sso s ju í­
to d a s c a u sa s) d e te r m in a sempre a c a te ­ zo s de a p re c ia ç ã o : é u m a c a s o q u e o n o ­
g o ria : c a d a sistem a de im p u lso s d e fin id o s v o c o n tin e n te te n h a re c e b id o o n o m e de
d a b o la e d o c ilin d ro , se p u d e sse m ser n o ­ A m é ric o V e sp ú c io e n ã o o d e C ris tó v ã o
ta d o s , n ã o c o m u m a rig o ro s a p re c isã o , C o lo m b o ; c o n sid e ra -se e rro a p e n a s d ev i­
m a s co m u m a a p ro x im a ç ã o m a io r d o q u e d o à p e q u e n e z o u à c o m p le x id a d e d a s
a q u e la d e q u e d is p o m o s , im p lic a ria n e ­ c a u s a s q u e d e te r m in a ra m esse e fe ito ?
c e s s a ria m e n te o n ú m e ro s o rte a d o . N ã o , p o is se a A m é ric a se c h a m a s se C o ­
N o ta r-s e -á , p o r o u tr o la d o , q u e a d e ­ lô m b ia , as c a u s a s d isso n ã o te ria m sid o
fin içã o de H . P ë ÇTτ 2 é n ã o é ex clu siv a­ nem m en o s m ín im as, n e m m en o s co m p le­
m en te o b je tiv a . É p reciso , co m efeito , p a ­ xas, e c o n tu d o n ã o a trib u iría m o s esse fa to
ra q u e h a ja a c a s o , q u e a p e q u e n e z d a s d i­ a o a c a s o , p o r q u e n o s p a re c e ria natural

vorável ou desfavorável a qualquer fim sem que esse fim valha para qualquer coisa
na sua produção.
A lei d o s g ra n d e s n ú m e ro s , c o m o j á fo i re fe rid o , n ã o se a p lic a a to d o s os fa to s
d e a c a s o . A c re s c e n to q u e to d o s o s fa to s a o s q u a is se a p lic a n ã o s ã o f a to s d e a c a so .
A ssim , o n ú m e ro a n u a l d o s c a s a m e n to s é m u ito v a riá v el n u m a p e q u e n a c o m u n id a ­
d e , m e n o s n u m a g ra n d e c id a d e , m e n o s a in d a n u m d e p a r ta m e n to , q u a se c o n s ta n te
n u m g ra n d e p a ís. D ir-se -á e n tã o q u e a s p e ss o a s se c a s a m p o r a c a s o ? A lei d o s g r a n ­
d e s n ú m e ro s a p lic a -se a to d o s o s f a to s q u e c o m p o r ta m a lg o de a c id e n ta l; e x p rim e
u m a p ro p r ie d a d e d a s m é d ia s. (E. Gobloi)
É p re c is o c o n s e rv a r a id é ia q u e C o u r n o t t ã o b e m p ô s em fo c o : a d o e n c o n tro
d e séries in d e p e n d e n te s ; to d o s o s c aso s d e a c a s o a c o n tê m ; j á a n te r io rm e n te o m o s ­
tre i, a p ro p ó s ito d o a c a s o n a s d e s c o b e rta s e in v e n çõ e s (Revue de philosophie, a b ril
e ju n h o , 1904). E s tá de a c o r d o c o m o e m p re g o u s u a l d a p a la v r a a c a s o . E x em p lo s:
L τ F ÃÇI τ « ÇE , f a la n d o d e d u a s c a b r a s , d iz q u e elas
D e ix a ra m , u m a e o u tr a , os seus p ra d o s :
Uma para a outra se dirigiram p o r algum bom acaso.
X . d e M τ « è I 2 E escrev eu à V ** d e M a rc e llu s em 30 de a b ril d e 1846: “ A s n o ssas c a r ­
ta s c ru z a ra m -s e e a p ra z -m e v er u m p o u c o de s im p a tia n e ste a c a s o .” N « E I Uè T7 E en ­
v io u a W a g n e r, em m a io de 1878, Humano, demasiado humano: “ P o r u m p asse d o
esp írito m ira c u lo s o d o a c a s o ” , d iz ele, “ receb i n e ste m esm o m o m e n to u m b elo ex em ­
p la r d o lib re to d e Parsifal c o m u m a d e d ic a tó r ia d e W a g n e r .” O s ex em p lo s d a d o s
p o r A ris tó te le s (o c o v eiro q u e d e sc o b re u m te s o u r o , o a d v o g a d o q u e vai a o fó ru m
e e n c o n tr a o se u d e v e d o r) e n tr a m n a d e fin iç ã o d e C o u r n o t o u p elo m e n o s a p re s e n ­
ta m a c a ra c te rís tic a a s s in a la d a p o r C o u r n o t (c o m alg o a m a is).
É p re c iso , c o m e fe ito , a c r e s c e n ta r a e s ta d e fin iç ã o : a s im u la ç ã o d a fin a lid a d e ,
E ste p o n to fo i e sta b e lec id o n ã o só p o r P íé 2 ÃÇ , m a s ta m b é m p o r G . T τ 2 á E , q ue d e ­
fin iu o aca so c o m o “ o in v o lu n tá rio s im u la n d o o v o lu n tá r io ” , e p o r B 2 ; è Ã Ç , p a r a
E

q u e m o aca so é “ u m m e c a n is m o q u e a ss u m e a a p a rê n c ia de u m a in te n ç ã o ” . E m
A CASO 24

q u e o c o n tin e n te tiv esse o n o m e d o p r i­ a ssim e se a c re n ç a s u b e n te n d id a d e q u e


m e iro e u ro p e u q u e o d e s c o b riu . N esse o s f a to s devem seguir leis n ã o seria a q u i­
s e n tid o , o a c a s o s u p õ e a in te rv e n ç ã o de lo q u e d e te r m in a n e ste c a so a a p lic a ç ã o
u m ju íz o d e v a lo r q u e d e c la re o q u e é r a ­ d o te r m o acaso. O e m p re g o u s u a l d e sta
z o á v e l, in te re s s a n te , b e lo , ú til, e q ü ita ti- p a la v r a v is a , c o m e f e ito , a ir r e g u la r id a ­
v o , e tc . E n c o n tr a r e m o s a este re s p e ito o de c o m a q u a l as séries te n d e m p a ra a m é ­
c rité rio d e fin a lid a d e a s s in a la d o n o a r ti­ d ia : “ a p a r te d o a c a s o d im in u i” à m e d i­
go de P«é 2 ÃÇ . d a q u e se c o n s id e ra u m m a io r n ú m e ro de
re p e tiç õ e s . A id é ia n o r m a tiv a q u e ju s ti­
Q u a n d o se t r a t a d e jo g o s d e a z a r, es­
fic a ria a q u i a e x p re ss ã o acaso s e ria a d e
se m e sm o c a r á te r apreciativo é e v id e n te ,
u m ritm o c o n s id e ra d o m a is o u m e n o s
p o r q u e a id é ia e sse n cia l é a q u i a d e ga­
co n scien tem en te c o m o normal , p o r ex em ­
nho o u d e sucesso.
p lo a a lte rn â n c ia re g u la r d e d u a s h ip ó te ­
Q u a n d o se t r a t a d e f a to s físic o s q u e ses ig u a lm e n te p ro v á v e is, ritm o id eal q u e
se re p e te m u m g ra n d e n ú m e ro d e vezes se c o n s ta ta , c o m u m a esp é c ie d e tris te z a
c o m u m a v a ria n te c o n s titu in d o o a c a s o , ló g ic a , q u e a e x p e riê n c ia se d e sv ia irre­
o c rité rio p a re c e n ã o m a is se a p lic a r. C a ­ gularmente. V er as o b s e rv a ç õ e s .
b e to d a v ia e x a m in a r-se se é e fe tiv a m e n te Rad. int.: H a z a r d .

s u m a , é p re c iso re g re s s a r à v e lh a d e fin iç ã o d e A ris tó te le s q u e o c á lc u lo d a s p r o b a b i­


lid a d e s p e rm itiu p re c is a r.
A d ific u ld a d e q u e se e x p e rim e n ta a o d e f in ir e sta fu g a z n o ç ã o a d v é m d o f a to de
se o sc ila r e n tre o p o n to d e v is ta s u b je tiv o e o p o n to d e v ista o b je tiv o . U n s, c o m o
C o u r n o t, a c e n tu a m o la d o o b je tiv o , o u tr o s , c o m o P ié r o n , T a r d e , o la d o s u b je tiv o .
A ris tó te le s u n e o s d o is p o n to s d e v ista .
É p re c iso s u b lin h a r q u e P ë ÇTτ 2 é n ã o p r o p õ e u m a d e fin iç ã o ú n ic a d o a c a s o ,
m a s trê s d e fin iç õ e s , e s ta n d o as d u a s p rim e ira s a s s o c ia d a s . A 3? c a te g o ria d e a c a s o s
c o m p re e n d e ria , s e g u n d o ele, o s a c o n te c im e n to s f o r tu ito s n o s e n tid o d e C o u r n o t, e
te n ta re d u z ir e s ta classe às d u a s p rim e ira s (e fe ito s c o n sid e rá v e is a p a r tir d e c a u sa s
a) m u ito p e q u e n a s e b ) m u ito c o m p le x a s; m a s n ã o c o n se g u e o p e r a r c o m p le ta m e n te
e s ta re d u ç ã o e serv e-se d e fó r m u la s d u b ita tiv a s ( ‘‘n em s e m p r e ...” “ a m a io r p a r te
d a s v ezes” ). P a re c e d e f a to q u e a id é ia de e n c o n tr o é in e re n te à n o ç ã o d e fo r tu ito
sem q u e se p o s sa d izer q u e a c a ra c te riz a to ta lm e n te . P a r a o p ró p r io P ë ÇTτ 2 é o ti­
p o d e a c a s o é o n a s c im e n to de u m g ra n d e h o m e m , q u e r d iz e r, o e n c o n tr o a c id e n ta l
de d o is g a m e ta s e x ce p c io n a is c u ja fu s ã o p ro d u z in c alcu lá v e is re s u lta d o s . T o r n a m o s
a c a ir na d e fin iç ã o de A ris tó te le s . C o u r n o t tev e o m é rito d e lh e e sc la re ce r u m a fa ce
q u e o filó s o fo tin h a d e ix a d o o b s c u r a .
O p o n to d e lic a d o q u e ju s ta m e n te a ss in a la is é q u e a s séries n u n c a s ã o completa­
mente independentes. Is to é v e rd a d e te o ric a m e n te ; p ra tic a m e n te , n ã o . (T e o ric a m e n ­
te o c á lc u lo d a s p r o b a b ilid a d e s s u p õ e q u e os a c o n te c im e n to s o u sortes seja m ig u a l­
m e n te p ro v á v e is; os c aso s em q u e e sta s c o n d içõ e s se e n c o n tr a m re a liz a d a s são ex ces­
siv am ente ra ro s , senão n u lo s. M as com a a ju d a dos p o s tu la d o s e d as ab straçõ es pode-se
a p lic a r o c á lc u lo a c aso s d e s ig u a lm e n te p ro v á v e is. O m esm o a c o n te c e a q u i.) T e o r i­
c a m e n te tu d o se p re n d e a tu d o n o u n iv e rs o . M as, em re la ç ã o a o c o n ju n to , os seres
v iv os c o n s titu e m to d o s is o la d o s , siste m a s fe c h a d o s , e sp e c ia lm e n te o h o m e m . É p o r
isso q u e o a c a s o in te rv é m n o d o m ín io d a v id a , e p a rtic u la rm e n te n a v id a p sico ló g ica
d o h o m e m e n a h is tó ria . (F . M entré)
25 A C ID E N T E

A C A T A L E P S IA ( ’À x a r c A t t f í a , te , o q u e a c o n te c e ra ra m e n te .
PlRRO). Rad. int .: A . A c id e n ta l; B .' A c id e n t.
A . H is to ric a m e n te , e s ta d o q u e re s u l­ A C ID E N T E (G . Σ ν μ β β β η χ ό ϊ ), N o
ta d o p rin c íp io c ético de q u e n ã o h á c ri­ s e n tid o A : L . Accidens; D . Akzidens; E .
té r io d a v e rd a d e . Accident\ F . Accident; I. Accidente.
B . D is p o siç ã o d a q u e le q u e re n u n c ia C f . Essência, Substância.
p o r p rin c íp io a p r o c u ra r a so lu ç ã o de u m A . S e n tid o té c n ic o m a is u s u a l: a q u i­
p ro b le m a . D a m e sm a fo r m a em Bτ TÃÇ , lo q u e p o d e aco n tecer o u d esap arecer sem
d ú v id a d e fin itiv a o p o s ta à d ú v id a m e tó ­ d e s tru iç ã o d o s u je ito : “ " O ytperat xa l
d ic a : “ N o s v e ro n o n a c a ta le p s ia m , sed híTCoyivt.TOu xuiplv r^ í τ ο ύ υ π ο χ α μ ί ν ο υ
e u c a ta le p s ia m m e d ita m u r .” Nov. Org., φ θ ο ρ ά s .” P Ã2 E « 2 « Ã , ísagoge, V , 4 a 24.
I, 126. C f. Efético. E le d iv id e o s a c id e n te s e m sep a rá v eis (p .
A C ID E N T A L D . Accidentiel, zufal- ex. p a r a o h o m e m o d o rm ir) e in s e p a rá ­
lig; E . Accidentai; F . Accidentel; I. A c- veis (p . ex. p a r a o e tío p e , o ser n e g ro : c a ­
cidentate. ra c te r ís tic a c o n s ta n te m a s q u e se p o d e
c o n c e b e r c o m o v in d o a d e s a p a re c e r sem
A . A q u ilo q u e p e rte n c e a o a c id e n te ,
q u e o su jeito a o q u a l ela se ap lica seja d es­
n ã o à essên cia, “ D e fin iç ã o a c id e n ta l” ,
tru íd o ).
v e r Definição.
B . Q u e aco n tece d e u m a m a n e ira c o n ­ Sofism a do acidente, v e r Falácia.
tin g e n te o u f o r tu ita ; o p o s to a necessário. B . T u d o a q u ilo q u e a c o n te c e (accidit)
P o r c o n s e q ü ê n c ía , n a lin g u a g e m c o rre n ­ d e m a n e ira c o n tin g e n te * o u f o r tu ita * ;

Jean de La Harpe p e n s a , p e lo c o n tr á r io , q u e as o b je ç õ e s fe ita s a C o u r n o t n a Crí­


tica n ã o são c o n c lu d e n te s, p o is n ã o a tin g e m o fu n d o d o se u p e n s a m e n to : l f C o u r ­
n o t n ã o d e fe n d e c o m o M ili q u e o te c id o d a s c a u sa s “ é fe ito d e fio s s e p a ra d o s ” , m a s
p e n s a q u e as séries c au sa is s ã o d e p re fe rê n c ia c o m p a rá v e is “ a feixes d e r a io s lu m in o ­
sos q u e se p e n e tr a m , se e s p a lh a m e se c o n c e n tra m sem o fe re c e r em n e n h u m a p a rte
in te rs tíc io s o u s o lu çõ e s d e c o n tin u id a d e n o seu te c id o ” (Essai, § 2 9 ); 2? n ã o exige
u m a in d e p e n d ê n c ia o rig in a l d e ssa s séries c a u s a is: “ O la n ce q u e o croupier f a z ... c o r­
re s p o n d e e fe tiv a m e n te à q u ilo q u e C o u r n o t d iz n a s Considérations (I, p . 2 ) re la tiv a ­
m e n te à “ s u sp e n sã o c o m u m d e to d o s os e n c a d e a m e n to s a u m m e s m o a n el p rim o r­
d ia l, p a r a além d o s lim ites, o u m e sm o a q u é m d o s lim ites q u e a s n o ssa s o b serv aç õ es
p o d e m a tin g ir ” . “ B a s ta q u e o la n ce fe ito , as re a ç õ e s d a b o la e d o c ilin d ro d ifira m
o su fic ie n te p a r a q u e a b o la c a ia em c asas d ife re n te s u m a s d a s o u tr a s , p a r a u m g r a n ­
d e n ú m e ro d e la n c e s , p ro p o rc io n a l m e n te à s u a p r o b a b ilid a d e .” De Vordre et du ha-
sard: le réalisme critique d ’A . A . Cournot, p . 232.
Se é este o p e n s a m e n to de fu n d o d e C o u r n o t (o q u e é m u ito p la u sív e l, d a d o s o s
h á b ito s d o seu e s p írito ), a d e fin iç ã o p r o f u n d a de a c a s o n ã o seria p a r a ele a in d e p e n ­
d ê n c ia d as c a u s a s, q u e é a p e n a s o a sp e c to p rá tic o e e x o té ric o d e s ta n o ç ã o , m as a
c o n fo rm id a d e c o m a lei d o s g ra n d e s n ú m e ro s , m a n ife s ta n d o a a u sê n c ia d e razão,
n o s e n tid o em q u e ele c o s tu m a o p o r o “ r a c io n a l” a o “ ló g ic o ” . V er J , d e L τ H τ 2 ­
ú E , ibid., p . 233; A . L τ Â τ Çá E , “ N o ta s s o b re o p rin c íp io d e c a u s a lid a d e ” , Revue
philosophique, s e te m b ro , 1890.
S o b re A c id e n te — EvfáJfdnxõs é e n te n d id o p o r A ris tó te le s n u m s e n tid o m u ito
a m p lo : é ap licáv el a to d o s o s a tr ib u to s . (E . Bréhier)
ACME 26

e sp e c ialm en te n a lin g u a g e m c o rre n te d o u tr in a , u m a in s titu iç ã o tê m o seu m ais


a q u ilo q u e a c o n te c e de m a n e ira d e s a ­ a lto g ra u d e in flu ê n c ia o u d e a tiv id a d e .
g ra d á v e l. B. M á x im o de d e se n v o lv im e n to . “ O
exercício d a a te n ç ã o n o q u a l vim o s co m o
t NOTA o acme d a c o n s c iê n c ia ...” M . P 2 τ á « ÇE è ,
* ... A 2 « è ó Â è d iv id ia o s e n tid o d e
I I E E Traité de psychologie générale, I, 54.
σ ν μ β φ η χ ό ϊ d e u m m o d o u m p o u c o d ife ­
A C O M O D A Ç Ã O D . Accomodation ;
r e n te d a q u e le q u e P Ã2 E « 2 « Ã fo r m u lo u
E . Accomodation', F . Accom m ation; I.
(a c red itan d o sem d ú v id a q u e ap en as o co ­
Accom odam ento.
m e n ta v a) e q u e fo i a d o ta d o p o r to d a a ló ­
gica e sc o lá stica e clássica. D istin g u e Á . P s ic . P rim e ira m u d a n ç a d e u m a
“ b a a δ πά ρ χ ε ι μ ε ν τ ιν ι χ ο α α λ η θ έ ς fu n ç ã o o u d e u m ó rg ã o q u e tem p o r re ­
ε ί π ε ί ν , ο υ μ ε ν τ ο ι e(· α ν ά γ κ η ς ο υ τ ε π ι τ ο s u lta d o p ô -lo s de a c o rd o co m to d o o u
ι τ ο λ ι ί ( p o r e x em p lo ο f a to d e u m m ú sic o p a r te d o seu a m b ie n te ; m u d a n ç a c u ja fi­
se r b ra n c o ); ο σ α υ π ά ρ χ ε ι ε χ ά ο τ ω χ α θ ’ x a ç ã o (e p a rtic u la rm e n te a fix a ç ã o h e re ­
α υ τ ό μ ή ε ν τ η ο υ σ ί α ο ν τ α (p o r ex em p lo d itá r ia ) c o n s titu iria a adaptação*. S e n ti­
ο f a to d e o s â n g u lo s d e u m triâ n g u lo v a ­ d o n o v o p r o p o s to p o r J . M . Bτ Â á ç « Ç ,
le re m d o is r e to s ) . M eta f . , IV , 30; Diet, o f Phil., Vo e q u e n o s p a re ce ría ú til
1025a14 e 31. E le in clu iria assim n este se­ a d o ta r .
g u n d o sen tid o to d a a c o m p re e n sã o im p lí­ B. R e g u la ç ã o d o s is te m a ó p tic o d o
c ita , q u e a d e fin iç ã o d e P o r f ir io ex clu i, o lh o .
p o is u m triâ n g u lo e u c lid ia n o n ã o p o d e R ad. in t.: A k o m o d .
d e ix a r d e te r os seus â n g u lo s ig uais a d o is
re to s sem d e ix a r de ser triâ n g u lo . A C O M O D A T IC IO (S en ü d o ) S en tid o
Por acidente, G . Κ α τ ά σ υ μ β ε β η χ ό * s im b ó lic o d a d o ta rd ía m e n te e a c id e n ta i-
(A2 « è I ó I E Â E è ): a q u ilo q u e faz u m ser o u m e n te a u m te x to q u e n ã o fo i fe ito com
o q u e lh e a c o n te c e n ã o em v irtu d e d a s u a v ista a essa a p lic a ç ã o . D iz-se p a r tic u la r ­
essên cia ou d o s a trib u to s q u e o d e fin e m m e n te d o s v ersícu lo s d a B íb lia. C f.
m a s in d e p e n d e n te m e n te d estes. O m ú s i­ Alegoria.
co c o n s tr ó i p o r a c id e n te , p o rq u e n ã o o A C O N T E C IM E N T O D . Ere ignis: E .
fa z e n q u a n to m ú sic o : a c o n te c e (σ υ μ β α E vent; F . Événem ent ; I. Avvenim ento,
ί ν ε ι ) q u e o h o m e m q u e c o n stró i é a o m es­ Evento.
m o te m p o m ú sic o . M etaf., IV , 7 : 1017a
A . O q u e a d v é m n u m a d a ta e n u m lu ­
11- 12.
g a r d e te rm in a d o s q u a n d o se fa z p re s e n te
D a í d e riv a o s e n tid o esp ecial de Con­
u m a c e r ta u n id a d e e se d istin g u e d o c u r­
versão p o r acidente. V er Conversão.
so u n ifo r m e d o s fe n ô m e n o s d a m esm a
Rad. int.: A c id e n t.
n a tu re z a .
A C M E G . Ά χ μ ή , p o n ta , m á x im o , o B . P o r ab rev iação : aco n tecim en to im ­
p o n to m a is fa v o rá v e l. p o r ta n te o u q u e c a u s a sen sa ç ã o .
A . É p o c a n a q u a l u m filó s o fo , u m a V er a s o b se rv a ç õ e s s o b re Fato.

S o b re A cm e — D ió g e n es L a é rc io , a ssim c o m o c e rto s d o x ó g r a f o s , fix a v a u n if o r ­


m e m e n te n o s q u a r e n ta a n o s o acme d o s filó so fo s e é g e ra lm e n te a ú n ic a d a ta q u e
ele n o s d á . “ Ή ρ ά χ λ β ι τ ο ί ... η χ μ α ζ ε χ α τ ά τ η ν ε ν ά τ η ν χ α ΐ έ ξ η χ ο σ τ η ν * Ο λ υ μ π ι ά ­
δ α .” (CA. Serrus)
27 A C R O M A T O P S IA

NOTA matic, F . Acroamatique; 1. Acroamático.


[E m fran cês] E s ta p a la v r a tin h a a n ti­ T e rm o a p lic a d o p rim itiv a m e n te p a r a
g a m e n te o s e n tid o la tin o d e eventus: re ­ c e rta s o b ra s d e A 2 « è I ó I E Â E è ; sin ô n im o
s u lta d o , e fe ito , re s u lta d o fin a l. M as a p e ­ d e esotérico* n o sen tid o A , O põe-se ig u a l­
n as o c o n se rv o u e m r a ia s e x p re ssõ e s, c o ­ m e n te a exotérico (p . ex . R E ÇÃZ â « E 2 ,
m o : “ O a c o n te c im e n to p ro v o u - o b e m .” Philos, one., II, 39, e B ÃZ I 2 ÃZ 7 , Études
É a in d a u m p o u c o a c a d ê m ic o . d'histoire de la philosophic, 103, o n d e ele
Rad. int .: E v e n t. c a ra c te riz a o a c r o a m á tic o c o m o se n d o o
e n sin o d o a p o d ític o , d a d é n c ia ; o e x o té ­
A C O N T R A R IO (R a c io c ín io ) aq u e le
ric o , o d o d ia lé tic o , d o v ero ssím il).
q u e c o n c lu i d e u m a o p o s iç ã o n a s h ip ó te ­
P o r co n seg u in te, acroamático é e n te n ­
ses u m a o p o s iç ã o n a s c o n se q ü ê n c ia s. E x ­
d id o a lg u m a s vezes n o s e n tid o d e e s o té ­
p re s s ã o d e o rig e m ju r íd ic a ; v er A pari.
ric o B.
D iz -se ta m b é m , m a is r a r a m e n te ,
C RÍTIC A
acroático.
E ste ra cio cín io p o d e ser v álid o em cer­ Rad. int.: A k r o a m a tic .
to s c a so s c o n fo rm e a m a té r ia à q u a l se
a p lic a , m a s n ã o é u m a r e g ra g e ra l d a d o A C R O M A T O P S IA O u m a is r a r a ­
q u e u m a c o n se q u ê n c ia v e rd a d e ir a p o d e m e n te , acromasia. D . Achromatopsie,
r e s u lta r d e u m p rin c íp io f a ls o , e d u a s h i­ Achromasie ; E . Achromatopsia, Achro-
p ó te se s c o n tr á r ia s p o d e m te r a m b a s c o n ­ masia; F . Achromatopsie, Achromasie;
seq ü ê n c ia s c o m u n s . 1. Acromatopsia, Acromasia.
A a c ro m a to p s ia to ta l o u cegueira cro­
A C O S M IS M O D . Akosm ism us; E . mática (D . Farbenblindheit; E . Colour­
Acosm ism ; F . Acosmisnte; I. Acosmis- blindness; F . Cécité chromatique; I. Ce­
m o. (D o G . èt p riv a tiv o e xoV por.) d ía per le colori) é a in c a p a c id a d e d e d is­
T e rm o a p lic a d o p o r H e g e l , a o siste­
tin g u ir as c o re s co m c o n se rv a ç ã o d a se n ­
m a de E s p i n o s a (p o r o p o s iç ã o a a te ís ­
sa ç ã o lu m in o s a (p e rc e p ç ã o d o b r a n c o e
m o ) p o rq u e ele fa z e n tr a r o m u n d o em
d o n eg ro ). A a cro m ato p sia p arcial o u dis-
D e u s em vez d e n e g a r a s u a ex istên c ia
cromatopsia (daltonismo n o sen tid o a m ­
(Encyclopaedie, § 50).
p lo ) é a in c a p a c id a d e d e p e rc e b e r u m a
A C R O A M Á T IC O (d o G . CXXQQCifia, c o r p a r tic u la r o u d e a d is tin g u ir de u m a
lição o ra l). D . Akroamatisch', E . Acroa- o u tr a : A n e r itr o c r o m a to p s ia , a n e ritro p -

S o b re A c ro a m á tic o — B arth élem y S a in t-H ila ire , n o s verb etes Aristóteles e Acroa­
mático (n o Dicionário d e F r a n c k ), q u a n to a e sta q u e s tã o , re m e te a B Z Â , Com- 7 E

mentatio de libris aristotelicis acroamaticis et exoteric is, to m o I d e s u a e d iç ã o d e A ris ­


tó te le s (A. L .).

S o b re A c ro m a to p s ia — A rtig o c o m p le ta d o s e g u n d o a s in d ic a ç õ e s de Piéron q u e
a c re s c e n ta o seg u in te: “ A a c r o m a to p s ia to ta l é ta m b é m c h a m a d a v isã o monocromá­
tica p elo s a u to re s fiéis à te o r ia d e Y o u n g -H e lm h o ltz s o b re a c o n s titu iç ã o d a s e n sa ­
ç ã o lu m in o s a a tra v é s de trê s p ro c e sso s c ro m á tic o s d e q u e d o is fa lta ria m n e ste c aso .
P a r a o s m e sm o s a u to re s a a c r o m a to p s ia p a rc ia l e q u iv a le a u m a v isão d ic ro m á tic a
(e n q u a n to q u e a v isã o n o r m a l é tric ro m á tic a ) co m tr ê s v a rie d a d e s c o n fo rm e o p r o ­
cesso cromático ausente: protanopia, c e g u e ira p a r a o v e rm e lh o ( Rotblindheit; Red-
blindness); deuteranopia, c e g u e ira p a r a o v e rd e ; tritanopia, c e g u e ira p a r a o a zu l.
A C U ID A D E 28

sia, a u sê n c ia d a p e rc e p ç ã o d o v e rm e lh o , ções adquiridas e fixadas particularm en­


etc. te através da hereditariedade e designar
as primeiras variações individuais com a
Rad. int.: A k ro m a to p s .
palavra acomodação* (Dict. o f Philos.
A C U ID A D E (S en so ria l) D . Scharfe'., and Psych., sub Vo). T a r d e aplica-a pe­
E . Acuteness: F . Acuité; I. Acuteza. lo contrário ao estado dos elem entos, or­
C a p a c id a d e p a r a os s e n tid o s: 1? de gânicos ou não, que são coordenados em
p erceb er as excitações m ais o u m en o s f r a ­ con ju n to ou subordinados ao seu m eio.
cas; 2? de d istin g u ir d u a s p ercep çõ es m ais Les b i s sociales, cap. III.
o u m e n o s p ró x im a s em d is tâ n c ia o u em Rad. i n t A . A d a p ta d ; B . A d a p tu r .
q u a lid a d e .
“ A D A P T A D O ” C f. Agregado.
Rad. int.: A k u te s.
A D E Q U A D O (d o L . Adaequatus).
A D A P T A Ç Ã O D . Anpassung; E .
D . Adàquat; E . Adequai; F . Adéquat; I.
Adaptation; F . Adaptation; I. A dat- Adequato.
tamento.
A . D iz-se d e u m a id é ia q u e re p re se n ­
A . E s ta d o d a q u ilo q u e e stá em h a r ­ ta p e rfe ita e c o m p le ta m e n te o seu o b je ­
m o n ia c o m o seu m eio o u m ais g e ra lm e n ­ to , de u m a e n u n c ia ç ã o q u e n ã o d ife re em
te co m o q u e age s o b re ele. n a d a d a q u ilo q u e e stá d e s tin a d a a e n u n ­
B . M o d ific a ç ã o de u m a fu n ç ã o o u de c iar.
u m ó rg ã o q ue te m co m o re su lta d o colo cá- B . P a r a E s p i n o s a u m a id é ia é a d e ­
los de a c o rd o c o m to d o o u p a r te d o seu q u a d a q u a n d o possu i to d a s as q u a lid a d es
a m b ie n te , se ja in te rn o , se ja e x te rn o . o u d e n o m in a ç õ e s in trín se c a s d a id éia
v e rd a d e ira * . Ética, II, D ef. 4.
NOTA C . Para L e i b n i z um conhecim ento
J. M , B a l d w in e Ll o y d Mo r g a n adequado é um conhecim ento distinto
p ro p õ e m re s trin g ir a p a la v r a às a d a p ta ­ cujos elem entos são eles m esm os distintos,

A a c r o m a to p s ia lim ita d a à s m e ta d e s h o m ó lo g a s d a s d u a s re tin a s ([hemiacromatop-


sia) é a fo r m a m a is lig e ira d a hemianopsia (c u jo s g ra u s m ais a c e n tu a d o s são a he-
m ia s te re o p s ia , p e rd a d a v isão d as fo r m a s , e a h e m ia fo to p s ia , p e rd a d a p r ó p r ia sen si­
b ilid a d e .”
Acromatopsia é um termo bárbaro. Seria preferível dizer anestesia às cores, in­
sensibilidade às cores ou, m elhor ainda, cegueira das cores (sic: tradução de H o l -
g r e n , Farbenbiindheit, Colourblindness). (V. Egger)
S o b re A d e q u a d o — A d e fin iç ã o d e E s p in o s a , m u ito e n ig m á tic a se se c o n s id e ra r
este te x to is o la d a m e n te , te ria n e ce ssid a d e de ser e sc la re c id a c o m a a ju d a de o u tra s
p a rte s d a É tic a . A c o n c e p ç ã o f u n d a m e n ta l p a re c e -m e ser m ais o u m e n o s a seg u in te:
u m a id éia é a d e q u a d a n u m e sp írito q u a n d o e la aí se e n c o n tr a a c o m p a n h a d a de to d a s
a q u e la s q u e são p recisas p a r a lh e d a r p le n a m e n te ra z ã o . (E . Leroux) É d ifícil e x p ri­
m ir p o r p o u c a s p a la v ra s o se n tid o e o a lca n c e d e u m a fó r m u la e sp in o s is ta sem n o s
p re s ta rm o s à c o n tro v é rs ia ; assim p re fe rim o s , a q u i c o m o em o u tr a s p a ssa g e n s, re m e ­
te r p u r a e s im p le sm e n te a o te x to ; seria d e m a s ia d o lo n g o u n ir to d a s as p a ssag en s n e ­
c essárias p a ra as c o m e n ta r; lim ita m o -n o s p o is a in s e rir a o b s e rv a ç ã o de L e ro u x q u e
n o s p a re c e m u ito a p r o p r ia d a p a ra o r ie n ta r o e s p írito n a in v e stig aç ã o d e ste c o m e n tá ­
rio . {A. L.)
29 A D M IR A Ç Ã O

q u e r d iz e r, u m a n o ç ã o q u e é in te ira m e n ­ m ita d o ( p o r e x e m p lo , q u e ta l re g im e é
te a n a lis a d a em n o ç õ e s sim p le s d e m o d o b o m p a r a ta l te m p e ra m e n to ) p a r a a a s ­
q u e d e la se c o n h e c e a priori a p o ssib ili­ s e rç ã o g e ra l c o rre s p o n d e n te (q u e esse re ­
d a d e . Discurso de m eta/., c a p . X X IV . g im e é b o m e m si n ã o im p o r ta n d o p a r a
Rad. in í.: A d o k u a t. q u e m ).

A D H o m in e m (A rg u m e n to ) D iz-se de A D I g n o r a n tia m (R e c u rso ) à ig n o ­


u m a rg u m e n to q u e é v á lid o a p e n a s c o n ­ râ n c ia .
tr a o a d v e r s á rio q u e se c o m b a te , q u e r es­ T êm este n o m e d ife re n te s m a n e ira s d e
se a rg u m e n to se fu n d e s o b re u m e rro , ra c io c in a r, g e ra lm e n te so fistic as:
u m a in co n seq u ên cia o u u m a co n cessão d o A . A p ro v e ita r-s e de o in te rlo c u to r ig ­
a d v e r s á rio , q u e r ele vise a este o u à q u e le n o r a r u m fa to q u e se o p o ria a o a rg u m e n ­
p o r m e n o r p a r tic u la r d a in d iv id u a lid a d e to in v o c a d o . C f. Sub-repção.
o u d a d o u tr in a d a q u e le .
B . “ E x ig ir q u e o a d v e r s á rio a d m ita a
A D IÇ Ã O L Ó G IC A D . Logische ad- p ro v a o u in d iq u e u m a m e lh o r .” L e i b -
dition\ E . Logical addition ; F . A ddition n i z , N ov. ens ., IV , X V II, 20 (re s u m in ­
iogique; I. A ddizione lógica . d o L o c k e , Essay, m e sm o p a rá g ra f o ).
O p e ra ç ã o ló g ic a ap licáv el a o s co n ce i­ E le d is tin g u e aí d u a s f o r m a s : u m a p a r a
to s (o q u e é a s u a u tiliz a çã o m ais c o m u m ) a q u a l c o n se rv a o n o m e d e ad ignorari-
e às p ro p o siç õ es. É re p re s e n ta d a q u e r p o r tiam , e q u e c o n sis te e m im p o r a o a d v e r­
+ q u e r d e p re fe rê n c ia p o r U . sá rio o onus* probandi ; a o u tr a q u e ele
A . A som a lógica de d o is (o u m ais) c h a m a ad vertiginem (rec u rso à vertig em )
co n ce ito s (o u , m a is e x a ta m e n te , d as suas m a s q u e é p ro v a v e lm e n te a q u ilo a q u e
e x ten sõ e s) é o c o n ju n to d o s in d iv íd u o s L o c k e v isav a ; “ é o q u e o c o r r e ” , d iz ele,
q u e fa z e m p a r te d a e x te n s ã o d e u m q u a l­ “ q u a n d o se ra c io c in a d e s te m o d o : se es­
q u e r d e n tre eles. E x e m p lo s : o s in g leses e t a p r o v a n ã o é a c e ita n ã o te m o s n e n h u m
o s fra n c e se s; o s e u ro p e u s e o s ru s s o s . m e io d e c h e g a r à c e rte z a s o b re o p o n to
q u e e sta m o s tr a ta n d o ; o q u e se c o n sid e ­
B . A som a lógica d e d u a s (o u m a is)
ra u m a b s u r d o ” .
p ro p o s iç õ e s é a p ro p o s iç ã o q u e a f ir m a
V e r n a s e q u ê n c ia d o te x to a d iscu ssão
q u e u m a (p elo m e n o s) d e sta s p ro p o siç õ e s
d o s c a so s o n d e estes a rg u m e n to s p o d e m
é v e rd a d e ira . V er Disjunção.
ser v á lid o s .
Rad. int.: A d ic io n (o ) lo g ik a l(a ).
A D J u d ic iu m (R e c u rso ) ao ju ízo é
“ A D IC T O S e c u n d u m Q u id a d D ic-
oposto por L o c k e aos diversos argumen­
tum S im p lic ite r” (literalm ente: d o que é
tos ad hominem, ad ignorantiam, ad ve-
dito relativam ente a algum a coisa, ao que
recundiam. Essay, IV , X V II, 22.
é dito sem restrição); fórm ula clássica que
traduz A r i s t ó t e l e s : " κ α τ ά τ ο τ η κ α ί A D M IR A Ç Ã O (L . Admirado). P a r a
ά τ τ λ ώ *” . D os sofismas, 168bl l . a lé m d o seu s e n tid o u s u a l e sta p a la v r a
S o fism a q u e c o n siste em p a s s a r d e a p re s e n ta em D e s c a r t e s o s e n tid o e ti­
u m a a sserção v e rd a d e ira n u m d o m ín io li- m o ló g ic o d e e s p a n to . E le c o n sid e ra -a co -

S o b re A d iç ã o ló g ic a — A re d a ç ã o d o § B fo i m o d if ic a d a de a c o r d o co m a p r o ­
p o s ta de Th. de Laguna.
A u tiliz a ç ã o d e s ta e x p re ssã o d ev e-se a o fa to d e q u e a o p e ra ç ã o ló g ica de q u e se
tr a ta a p re s e n te to d a s a s p ro p r ie d a d e s fo rm a is d a a d iç ã o a ritm é tic a , s a lv o a q u e la q u e
ex clu i o p rin c íp io d e ta u to lo g ia : τ 7 Ã 7 τ . . , - « ; a + a + a . . . - a . ( R . Berthelot)
A D M IT IR 30

m o e s ta n d o n a o rig e m de to d a s as p a i­ c e r ta te se , a o m e n o s p o r e n q u a n to ; o u se
x õ es. ( Tratado das paixões, seg u n d a p a r ­ q u e r le m b ra r q u e a q u e le de q u e se fa la
te , a rt. 53.) n ã o fez m ais d o q u e su b screv er u m a id éia
A D M I T IR D . Zuiassen, zugeben; an- c o rre n te sem a c ritic a r; o u a in d a se a n u n ­
nehmen ( s o b re tu d o n o s s e n tid o s C e D ); cia p e la u tiliz a ç ã o d e ste te rm o q u e se
E . A .t o adm ií; to assume (ver Assunção, te m o b jeçõ es c o n tra o q u e u m o u tro “ a d ­
o b serv açõ es); F . Admettre-, I. Ammettere. m ite ” .

1? Faiando dos hom ens : B . A c e ita r a títu lo de in s tru m e n to in ­


te le c tu a l, d e re g ra o u d e c o n v e n ç ã o e s ta ­
A. R e c o n h e c e r o u to m a r p o r v e rd a ­
b e lecid a. “ U m a c lassificação a d m itid a ” ;
d e iro . “ A d m ito - o .” “ A d m ite -se q u e . . . ”
“ A d m itir as e lisõ es” (n a v e rsific a ç ã o );
“ U m a o p in iã o a d m itid a .” “ D escartes a d ­
“ os aco rd es d isso n a n te s” (n a co m p o sição
m ite q u e o e s p írito é m a is fá c il d e c o n h e ­
m u sic a l), e tc .
cer q u e o c o r p o .”
A p a la v ra , n este s en tid o , im p lica q u a ­ C . R ec e b er a títu lo de p rin c íp io p r o ­
se sem p re u m a reserv a; o u se p re te n d e in ­ vável o u a p ro x im a d o , c u ja u tiliz a ç ã o é
d ic a r q u e n o s lim itam o s a n ã o n e g ar u m a m ais o u m en o s c o m p le tam e n te ju stific a d a

S o b re A d m ir a ç ã o — A rtig o c o m p le ta d o d e a c o rd o c o m u m a n o ta de Louis Prat


q u e insiste so b re o c a rá te r primitivo d a a d m ira ç ã o em D escartes: “ Q u a m p rim u m n o b is
o c c u rit a liq u id in s o litu m o b je c tu m , et q u o n o v u m esse ju d ic a m u s , a u t v a ld e d iffe -
re n s a b eo q u o d a n te a n o v e ra m u s , vel s u p p o n e b a m u s esse d e b e r e , id e ffic it u t illu d
a d m ire m u r et e o p e rc e lla m u r. E t q u ia h o c c o n tin g e re p o te s t a n te q u a m u llo m o d o
c o g n o sc a m u s n u m illu d o b je c tu m sit n o b is c o n v e n ie n s n e c n e , A d m ir a tio m ih i, v id e-
t u r esse prim a omnium p a s s i o n u m D e s c a r t e s , Paixões da alma, 2? p a rte ; in ício
d o a rtig o L I II.
O te r m o admiração c o m p o r ta trê s u tiliz a ç õ e s filo s ó fic a s : 1 ? E m A ris tó te le s o u
E s p in o s a , o v u lg a r a d m ir a q u e a s c o isa s s e ja m c o m o s ã o ; o s á b io a d m ir a r ia q u e elas
fo sse m d e o u tr a m a n e ira : o c o n h e c im e n to d a n e c e s sid a d e in e re n te à o rd e m to ta l su ­
p rim e , p o is , a a d m ira ç ã o o u tr a n s f o r m a - a n u m a im p a ssív e l c o n te m p la ç ã o in te le c ­
tu a l. 2? E m D e s c a rte s , a a d m ir a ç ã o é a p a ix ã o f u n d a m e n ta l d o filó s o fo ( Tratado
das paixões, 1 1 ,5 3 ); c o n s is tin d o em p rim e iro lu g a r n u m a s u rp re s a q u e p ro v o c a a in ­
v e stig ação e p e rm a n e c e n a a lm a d a filo so fia , p o rq u e é s e m p re p reciso p o d e r e s p a n ta r­
se, e la so b re v iv e à p r ó p r ia d e s c o b e rta e to rn a -s e u m s e n tim e n to d e a le g ria e sté tic a
e m e ta fís ic a , c o m o o in d ic a o fin a l d a 3? M e d ita ç ã o , o n d e D e sc a rte s se d e té m d ia n te
d e D eu s p a r a “ c o n sid e ra r, a d m ira r e a d o r a r a in c o m p a rá v e l b eleza d e ssa im e n sa lu z ” .
3? O llé -L a p ru n e v iu n a a d m ir a ç ã o o im p u ls o m o ra l d a filo s o fia , a a lm a d a e d u c a ­
ç ã o , o v iá tic o d a v id a e s p ir itu a l, a re c o m p e n s a fin a l de u m a m o r d a v e rd a d e , c o m o
e la f o r a d e le o seu c o m e ç o e a s u a a tr a ç ã o : o p a p e l q u e o u tr o s a tr ib u e m à c u rio s id a ­
d e , à in q u ie ta ç ã o , ele f a z c o m q u e s e ja d e s e m p e n h a d o p o r este s e n tim e n to d e a le g ria
c o n fia n te q u e d e s a b ro c h a o s e r n a p o s se se m p re acrescív el d e u m a re a lid a d e in f in ita ­
m e n te ric a e b o a . V er o seu d is c u rs o s o b re Adm iração · . (Maurice Blondel)

S o b re A d m itir — A rtig o o m itid o n a p rim e ira ed iç ã o e a c resce n ta d o p a ra d a r c o n ta


d a s d is tin ç õ e s a n á lo g a s e sta b e le c id a s p o r De Laguna a p r o p ó s ito d a s p a la v ra s in g le ­
sas A ssum ption e to assume. V er Assunção, o b s e rv a ç õ e s . 1

1. Publicado em B Â ÃÇá E Â , Léon Ollé-Laprune, l'achèvem ent et l ’avenir d e son oeuvre , pp. 280-296. Cf.
ib id ., p. 44.
31 A D V E N T ÍC IO

p e la s p re v isõ es o u a p lic a ç õ e s q u e to r n a q u e n o ev o lu cio n ism o , n o sen tid o la to , os


p o ssív eis. “ A d m itir e m o s q u e a a ç ã o d o s caracteres específicos, e p rin cip alm en te os
c o rp o s m u ito a f a s ta d o s é in s e n s ív e l.” p rin c íp io s ra c io n a is , s ã o “ in a to s n o in ­
“ P o d e -s e a d m itir p a r a a re la ç ã o d a c ir­ d iv íd u o , m a s a d q u ir id o s p e la e sp é c ie ” .
c u n fe rê n c ia c o m o d iâ m e tro o v a lo r B. O p o s to a infuso n a lin g u a g e m d o s
3 ,1 4 1 6 .” m ís tic o s: a q u ilo q u e p o d e s e r o b tid o p e ­
D . T o m a r c o m o p o n to d e p a r tid a de lo e sfo rç o p e sso a l, p e lo h á b ito m e to d ic a ­
u m ra c io c ín io u m a p ro p o s iç ã o ( /e m * ) m e n te fo r m a d o , e n q u a n to q u e a c o n te m ­
sem n o s in q u ie ta rm o s e m s a b e r se ela é p la ç ã o “ in f u s a ” é o e fe ito d ire to d e u m a
v e rd a d e ir a o u fa ls a , p ro v á v e l o u im p r o ­ “ a ç ã o de presença ” e d e u m a in ic ia tiv a
v á v el, m a s so m e n te c o m a fin a lid a d e d e d a c a u s a d iv in a q u e n e n h u m a in d ú s tria
e sta b e le c e r q u a is s ã o as su as c o n s e q u ê n ­ h u m a n a p o d e s u b s titu ir.
c ia s . “ A d m ita m o s q u e o n ú m e ro d a s es­ Rad. int.: A q u irit.
tre la s s e ja i n f i n i t o ...”
2. A D Q U IR ID O ( s u b s t.) D . Erwor­
2? Faiando de coisas: bene Kenntnisse; E . Acquirem ents (p lu ­
E . C o m p o r ta r ; e s ta r a p to a re c eb e r ra l); F . Acuis; I. Acquistato, A cquisto.
p e la s u a n a tu re z a . “ E s te te x to a d m ite C o n ju n to d e c o n h e c im e n to s a d q u ir i­
m ú ltip la s in te r p r e ta ç õ e s .” “ U m a re g ra d o s p o r u m in d iv íd u o , e m p a r tic u la r p o r
q u e n ã o a d m ite ex ceçõ es.” V er Assunção u m a lu n o . E s te te r m o é s o b r e tu d o u tili­
e Hipótese. z a d o e m p e d a g o g ia .
Rad. i n t A . A g n o sk ; B . (C onsent; C . Rad. int.: A q u ir it.
G r a n t; D . P o s tu l; E . A d m is . “Aquisição d o c o n h e c im e n to ” , v er
1. A D Q U IR ID O (a d j.) D . ErworbenElaboração. ;
E . Acquired ; F . Acquis', I. Acquisito. A D V E N T ÍC IO L . Adventitius.
A. Q u e n ã o é p rim itiv o : c a r á te r a d ­ Cogitationes adventitiae, id éias a d ­
q u irid o (q u e u m in d iv íd u o o u u m a e s p é ­ v e n tíc ia s , D e s c a r t e s . A q u e la s q u e n o s
cie n ã o p o ssu ía n o in ício ); p ercep çõ es a d ­ s ã o fo rn e c id a s p elo s s e n tid o s . O pÕ em -se
q u irid as (q u e n ã o são d a d a s im e d ia tam en ­ à s id é ia s inatas e às id é ia s factícias, q u e r
te a tra v é s d e u m s e n tid o m a s re s u lta m d e d iz e r, c o n s tr u íd a s . Terceira meditação,
u m a e d u c a ç ã o e d e u m ra c io c ín io in c o n s­ § 8-
ciente). O p õ e-se n e sta ex p ressão a p ercep ­
çõ es naturais. A D V e rec u n d ia m (R e cu rso ) a o resp ei­
to o u ta lv e z m ais exatam ente à in tim id a ­
NOTA ç ã o . “ É o q u e ocorre” , d iz L e i b n i z (re ­
N a e x p re ss ã o “ H e re d ita r ie d a d e d o s s u m in d o L o c k e , Essay, IV , X V II, 19),
c a ra c te re s a d q u ir id o s ” e n ten d e m -se sem ­ “ q u a n d o se cita a o p in iã o d a q u e le s q u e
p re c a ra c te re s a d q u irid o s pelo indivíduo a d q u irira m a a u to rid a d e d e v id o a o seu s a ­
d e p o is d o seu n a s c im e n to (em o p o s iç ã o b e r , p o s iç ã o , p o d e r o u d e o u tr o m o d o ;
à te o r ia d a rw in ia n a d a s e le ç ã o q u e o p e ra p o is q u a n d o a lg u é m n ã o se re n d e p r o n ta ­
s o b re 'a s v a ria ç õ e s a c id e n ta is ). M a s a ex ­ m e n te a ela so m o s lev ad o s a cen su rá-lo co ­
p re s sã o “ c a ra c te re s a d q u irid o s ” n ã o te m m o v a id o so e m e s m o a ta c h á -lo d e in s o ­
a p e n a s e s ta sig n ific a ç ã o . D iz-se c o rre n te - lê n c ia .” (Novosensaios, ibid.) D iz-se em
m e n te , ta n to e m in glês c o m o e m fra n c ê s , p a r tic u la r d o a p e lo a u m a o p in iã o u n i-

S o b re A d q u ir id o — A rtig o c o m p le ta d o s e g u n d o in d ic a ç õ e s d e Berthod (o b s e rv a ­
ç ã o so b re a ex p ressão “ h e re d itaried a d e d o s caracteres a d q u irid o s ” ; d e Maurice Blondel
[se n tid o B] e de G. Beaulavon [Adquirido, substantivo]).
A E S T O F IS IO L O G IA 32

versalm ente adm itida ou considerada co­ -.vantagem destas quatro denom inações é
m o tal. a d e serem retiradas d o s fatos observa­
d o s e de não im plicarem nenhum a h ip ó ­
A D V e rtíg in e m V er A d ignorantiam.
tese co m o acontece nas expressões com o
A E S T O F IS IO L O G IA E . Aesthophy- “ afasia cortical, subcortical, afasia de
siology (S p e n c e r , Princ. o f psychol., I, condutibilidade (W e r n i c k e ) ” , e tc., que
cap. 6): estudo das relações entre a fisio ­ repousam sobre a consideração de esque­
logia e a p sicologia da sensação. m as explicativos im aginários.
Rad. int.: A fa zi.
A F A S IA (G . 'h.¡paoic¿). D . Aphasie',
A F E C Ç Ã O /A F E I Ç Ã O (L . Affectas,
E . Aphasia·, F . Aphasie; I. Afasia.
A ffectio ). D . A ffek tio n , Gefuhl. (S o b re
A . N o s cético s d a A n tig u id a d e , s u s ­ o u s o a le m ã o d a p a la v r a A ffe k t, ver
p e n s ã o de to d a a s s e rç ã o d o g m á tic a . V er W u n d t , Physiol. Psychol., I I , 404); E .
Se xt o Em p í r ic o , Hipóteses pirrónicas, A ffectio n (A ffe c t é p r o p o s to p e lo s c o n ­
liv ro I, c a p . X X : “ r ie g i átpaoías.” te m p o râ n e o s n u m o u tr o s e n tid o , o d e
B. P s i c o l . P e r d a to ta l o u p a rc ia l d a s m ó b il* p ro v e n ie n te d a se n sib ilid a d e ;
fu n ç õ e s d a lin g u a g e m , sem le sã o d o s ó r ­ B a l d w i n , M a c k e n z i e , S t o u t n o Dict.
g ã o s n em p a ra lis ia . E s ta p a la v ra a p lic a ­ o f Philos, and Psych., s u b V°); F. A ffe c ­
se em in g lês, c o m o o b s e rv a m J a s t r o w e tio n ; I. A ffec to , A ffezione.
B a l d w i n (D ict. o fP h il., V o), d e m a n e i­
A . T o d o m o v im e n to d a sen sib ilid ad e,
ra m ais g eral: seja à lin g u ag em fa la d a , se­ n o s e n tid o B, q u e c o n siste n u m a m u d a n ­
j a à lin g u a g e m e s c rita , se ja a o f a to de as ça d e e sta d o p ro v o c a d a p o r u m a cau sa ex­
c o m p re e n d e r, s e ja a o fa to de a s u tiliz a r. te rio r. E ste m o v im e n to p re s s u p õ e a ex is­
O u so fran cês p a re c e re strito à p a la v ra fa ­ tê n c ia d e u m a tendência, m a s n ã o se c o n ­
la d a e o u v id a . (R e i c h e t , V o) U m a s u b ­ fu n d e c o m ela: “ A c o n sc iê n c ia d e c a d a
d iv is ã o u n iv e rs a lm e n te a d m itid a é a d e: a f e c ç ã o ... e n v o lv e a c o n sc iê n c ia d e u m a
1? a afasia motriz (motorische Aphasie, te n d ê n c ia q u e a p ro d u z . A te n d ê n c ia a p e ­
m otor aphasia, aphasie motrice, afasia n a s n o s é d a d a a tra v é s d a a fe c ç ã o , e t c .”
motrice), ta m b é m c h a m a d a afemia p o r L a c h e l i e r , Psychologie et métaphysi­
B r o c a ; e 2? a afasia sensorial (sensoris- que , n a s e q ü ê n c ia d o Fondem ent de l ’in­
che Aphasie, sensory aphasia, aphasie duction, p . 137.
sensorielle, afasia sensoriale) a lg u m a s ve­
B . E sp e cia lm e n te , o p ra z e r e a d o r en ­
zes c h a m a d a afasia de Wernicke.
q u a n to o p o s to s , c o m o m e n o s c o m p le x o s
CRÍTIC A p s ic o ló g ic a e fis io ló g ic a m e n te , às e m o ­
É preferível reservar para a primeira ç õ e s p r o p r ia m e n te d ita s d e c ó le ra , d e re ­
o nom e de afasia e designar a segunda c e io , d e e s p e ra n ç a , etc.
com o term o de surdez verbal·, para a lin­ C . I n c lin a ç ã o e letiv a* , m e n o s in te n ­
guagem escrita, utilizar os term os corres­ s a e m a is re g u la r d o q u e a paixão B e c a ­
pondentes agrafía e cegueira verbal. A ra c te riz a d a p ela au sên cia o u p o u c a im p o r-

S o b re A f a s ia — P a r a P ie rr e M a r i e a e x p re s s ã o “ a f a s ia d e B r o c a ” deve ser re ­
s e rv a d a p a r a a a fa s ia to ta l, q u e u n e a a f a s ia m o tr iz (q u e ele p r ó p r io c h a m a anartria)
e a a fa s ia d e W e rn ic k e o u a f a s ia v e rd a d e ir a (n ã o te n d o s u rd e z v e rb a l e x istên c ia c lín i­
c a d is tin ta ). E n tr e as v a rie d a d e s d e a fa s ia p o d e m -s e a s s in a la r a afasia de entoação
(B rissa u d ), o u p e r d a d a “ c a n ç ã o d a lin g u a g e m ” ; a afasia óptica o u in c a p a c id a d e
d e n o m e a r os o b je to s a p e n a s s e g u n d o a s u a p e rc e p ç ã o v isu al; a afasia tátil o u in c a ­
p a c id a d e de n o m e a r os o b je to s a p e n a s s e g u n d o a s u a p e rc e p ç ã o tá til. ( H . Piéron)
33 AFETA R

tâ n c ia d o s fa to re s fisio ló g ic o s. O m e sm o n açõ es* a tra tiv a s o u re p u ls iv a s p a r a c o m


c a m b ia n te n o in glês affection. o s n o sso s sem elh an tes. M a i n e d e B i r a n :
D. C o n ju n to d e e s ta d o s e d e te n d ê n “­ A a fe c ç à o é o q u e re s ta d e u m a s e n s a ­
cias a fe tiv a s. “ A n o s sa e x istên c ia m o ra l ç ã o c o m p le ta q u a n d o d e la se s e p a ra a in ­
a p e n a s c o m p o rta u m a v e rd a d e ira u n id a ­ d iv id u a lid a d e p e sso a l o u o eu e c o m ele
de n o m o m e n to em q u e a a fe iç ã o d o m i­ to d a fo r m a d e te m p o o u d e e s p a ç o ” , o u
ne a o m e sm o te m p o a e sp e c u la ç ã o e a a in d a , “ q u a n d o a id éia d e sen sação se e n ­
a ç ã o .” A . C ÃOI E , Discours préliminai­ c o n tr a r e d u z id a à sim p les s e n sa ç ã o sem
id éia de q u a lq u e r e s p é c ie .” Essai sur les
re. (P o l. p o s ., I, 15.)
fondem ents de la psychologie , Πuvres
CRÍTICA inédites , I I , 11. P ie r r e J a n e t c o n s e rv a o
A s p a la v ra s iratty, perturbationes ani- se n tid o d e M a in e d e B ira n [Automatisme
m i (a u c to re C ic e ro n e ), affectus, affectio- psychologique, p . 41).
nes, passiones s ã o d a d a s c o m o s in ô n im o s É p o is n e c e s sá rio e sp e c ia liz a r e p re c i­
p o r S to . A g o s t i n h o , De dvita te Dei, s a r este te rm o se q u is e rm o s fa z e r dele
I X , 4 . A ffec tio u tiliz a -se s e g u n d o G o - u m a u tiliz a ç ã o filo só fic a . P r o p o m o s re s­
CLENius p a r a d e s ig n a r, q u e r u m a d is p o ­ trin g i-lo a o c o n ju n to d e to d o s o s s e n ti­
m e n to s e s tá tic o s q u e c o n sis te m n u m es­
siç ã o , q u e r u m e s ta d o , q u e r u m a m u d a n ­
ta d o e n ã o n u m a te n d ê n c ia . A s a fe cç õ es
ç a d e u m s e r, q u e r a s u a c a u s a s e ja in te r­
c o m p re e n d e rã o e n tã o o p ra z e r, a d o r e
n a o u e x te rn a . Lex. p h ii ., 7 8 b. R e c o n h e ­
a s e m o ç õ e s p r o p r ia m e n te d ita s .
ce p a r a affectus d o is se n tid o s: 1? Tráflos,
accidens ; 2? a s te n d ê n c ia s d e d e se jo e d e i p ra z e r e d o r
a fe cç õ es
a v e rsã o e n q u a n to e sp o n tâ n e a s e n ã o p r o ­ I em oções
S e n tim e n to s . . .
v o c a d a s p o r u m a s e n sa ç ã o a tu a l. Ibid., te n d e n c ia s i in c lin a ç õ e s
80a. o p rim e iro d estes s e n tid o s q u e e n ­ I. aIfeptiv
aixaõses
volv e to d a s as m o d ific a ç õ e s de u m ser, Rad. int .: A fe k t.
m e sm o in te le c tu a is , p e rsistiu a té o sécu ­
A F E M IA V er Afasia.
lo X V III. V er u m te x to d e B u f f o n c ita ­
d o em L ittré , s u b Vo. E s p i n o s a e n te n d ia A F E R E N T E V er Eferente .
affectio co m a m e sm a g e n e ra lid a d e e res­ A F E T A R (L . Afficere, Affectare). D .
trin g ia c o m o se seg u e o s e n tid o d e affec­ Affizieren; E . A ffect; F . A ffecter, 1.
tu s : “ E m e n d o p o r p a ix õ e s (affectus ) as Commuovere.
a fe c ç õ e s (affecüones ) d o c o rp o q u e a u ­ A . E x e rc e r u m a ação n o s e n tid o B.
m e n ta m e d im in u e m a su a p o tê n c ia d e A p e n a s se u tiliz a q u a n d o o o b je to d e ssa
a g ir, e t c .“ Ética, I I I , d e f. 3. a ç ã o é u m ser v iv o . V er A fetivo . “ A lu z
P a r a D e s c a r t e s a a fe iç ã o (C ) é c a ­ a f e ta a r e t i n a .”
ra c te r iz a d a p e lo f a to de q u e n ela se e sti­ B . E m p a rtic u la r exercer u m a ação so ­
m a o o b je to d o seu a m o r m e n o s q u e a si b re a sen sib ilid a d e * e m a is e sp e c ia lm e n ­
m e sm o . O p õ e -se à a m iz a d e o n d e a e sti­ te a in d a p ro d u z ir u m e s ta d o de triste z a .
m a é ig u a l; e à d e v o ç ã o o n d e ela é s u p e ­
r io r . Paixões da alma, I I I , a r t. 83. E sse c r ít ic a

s e n tid o está in te ira m e n te esq u e c id o h o je . D eve-se e v ita r em p s ic o lo g ia este ú l­


E m R E í á a s a fe iç õ e s s ã o to d a s a s in cli­ tim o s e n tid o , q u e é u m a fo n te d e e q u í-

S o b re A f e ta r — To affect em inglês p od e ser usado m esm o quando o ob jeto da


a ç ã o n ã o é um ser v iv o . (77i. de Laguna )
Ch. Werner Tecorda que K a n t se serv e da p a la v r a afficiren para d e sig n a r a a ç ã o
que o o b je to ex erce s o b re a s e n s ib ilid a d e [Estética transe ., § 1).
A F E T IV ID A D E 34

v o c o s. E s ta p a la v ra a p re s e n ta o u tro s se n ­ A F E T IV O D . G efuhis...; E . A ffe c ti­


tid o s n ã o filo só fic o s m a s sem a m b ig ü i- ve; F . A ffec tif; 1. A ffetivo .
dade. D esig n a a c ara c te rístic a g e n érica d o
Rad. int.: A . In flu ; B . A fe k t. (No sen­ p ra z e r* , d a d o r* e d a s em o çõ es* q u e s ã o
tido de entristecer, A flik t.) ch am a d a s freq ü en tem en te co m o n o m e co ­
m u m d e ‘‘e sta d o s a fe tiv o s ” . A ex p ressão
A F E T IV ID A D E D . A ffektivitat, Ge- “ te n d ên c ia s a fe tiv a s ” é ta m b é m a p lic a d a
fu h i; E . A ffectivity, feeting; F . A ffe c ti­ p a ra a s in clin açõ es* e p a r a a s p aix õ es* .
vité', I. A ffetivitá . A fetivo d ife re d e Passivo p o r c o n te r
a m a is: 1? a id é ia d e q u e se t r a t a d e u m
A . C a r a c te r ís tic a dos fe n ô m e n o s
fe n ô m e n o d e s e n s ib ilid a d e n o s e n tid o B;
a fe tiv o s.
2? a ex istên cia d e u m a re a ç ã o d a p a rte d o
B . C o n ju n to d o s fe n ô m e n o s a fe tiv o s. ser q u e s e n te , q u e e x p re ssa a tra v é s d e u m
V er Sensibilidade, B. c e r to e s ta d o in d iv id u a l a m o d ific a ç ã o r e ­

s o b r e A fe tiv id a d e — V e r a h is tó r ia d e s ta p a la v r a e a c rític a d o seu s e n tid o p o r


M a u ric e P r a d in e s , Revue de synthèse, o u tu b r o d e 1935.

S o b re A fe tiv o — A r tig o c o m p le ta d o s e g u n d o a s in d ic a ç õ e s d e v id a s a F r . A bauzit


e Louis Weber.
P e n s o q u e , a p e s a r d a s o b je ç õ e s le v a n ta d a s c o n tr a a e x istê n c ia d a m e m ó ria a f e ti­
v a , e la é tã o c o n s ta n te q u a n to a m e m ó ria in te le c tu a l e ig u a lm e n te d is s e m in a d a . E la
n ã o se a ju s ta a o d u a lis m o b e rg s o n ia n o d a m e m ó ria p u r a e d a m e m ó ria m o tr iz , m a s
isso é, n a m in h a o p in iã o , o q u e d e m o n s tr a m e lh o r a fra g ilid a d e d a c o n c e p ç ã o b e rg -
s o n ia n a s o b re a re c o rd a ç ã o .
N o c a r á te r a fe tiv o d e c e rto s e s ta d o s q u e a p a r e c e m c o m a c a r a c te rís tic a d e u m
p a s s a d o r e e n c o n tr a d o , re c o n h e c id o e m a is o u m e n o s lo c a liz a d o n o te m p o , n ã o h á
n e m p ra z e r n e m d o r. H á ta lv e z emoção a in d a q u e o te rm o a lte re a q u i a q u ilo q u e
p re te n d e d e sig n a r: p o is, q u a n d o se f a la d e e m o ç ã o , p e n sa -s e s e m p re m a is o u m e n o s
n a s e m o çõ es m a c iç a s e g a s ta s , n a s e m o ç õ e s -c h o q u e , e n q u a n to q u e n ã o h á n a d a d e
p a re c id o n a s re c o rd a ç õ e s a fe tiv a s . P ié r o n , p a r tic u la r m e n te n a Revue philosophique
d e 1902, d e sc re v eu c e rto s c a s o s d e s te g ê n e ro c o m u m a p re c isã o n o tá v e l e c o m ex ­
p re ssõ e s fe lizes. E m s u m a , a c a r a c te rís tic a a fe tiv a d e u m e s ta d o d e c o n sc iê n c ia se ria ,
n o f u n d o , u m a c o n sc iê n c ia c en e stésic a q u e a p a re c e a in te rv a lo s , e m c e rto s m o m e n ­
to s de re p o u s o d a a te n ç ã o e de p a s s iv id a d e re c e p tiv a , n o c o n ta to c o m p e rc e p ç õ e s
e x te rn a s , a c id e n ta is . E ssa co n sc iê n c ia d a c e n e ste sia — d e u m a c en e stesia r e e n c o n tr a ­
d a n o s caso s em q u e se tr a t a de u m fe n ô m e n o d e m e m ó ria — é emoção a p e n a s d e v i­
d o a u m m e c a n is m o in d ir e to . E e la n ã o e s tá n e c e s sa ria m e n te tin g id a d e p r a z e r o u
d e s o frim e n to . I s to seria p r ó p r io d o e s ta d o a fe tiv o m a is g e ra l o u , se se q u is e r, m a is
e le m e n ta r. (Louis Weber)
A in te r p r e ta ç ã o d a c a r a c te rís tic a a fe tiv a c o m o s e n d o u m c o n ju n to d e sen saçõ es
c e n e stésic as, o u (n o c a s o d a m e m ó ria ) im a g e n s d e a n tig a s sen sa çõ e s c en estésicas, é
u m a h ip ó te s e c e rta m e n te m u ito p la u sív e l, m a s n ã o u m f a to s u fic ie n te m e n te in c o n ­
te stá v e l p a r a q u e a p o s s a m o s fa z e r e n tr a r n a d e fin iç ã o d o p ró p r io te rm o . T a lv e z a
p ró p r ia n o ç ã o d o a fe tiv o s e ja , p sic o lo g ic a m e n te , u m a d essas id eias sim p les q u e a a n á ­
lise n ã o p o d e d e c o m p o r. É p o r isso q u e n o s lim ita m o s a u m a d e fin iç ã o p o r e x te n s ã o ,
n a q u a l a liá s a p a la v r a e m o ç ã o d ev e ser e n te n d id a n o s e n tid o m a is a m p lo . (A. L .)
C f. L o u is W e b e r , “ S o b re a m e m ó ria a f e tiv a ” , Rev. de m étaph., n o v e m b ro de
1914.
35 A F IR M A Ç Ã O

ceb id a de fo r a . C h a m a -s e “ to m a f e tiv o ” C. A tr a ç ã o a n á lo g a à a tra ç ã o m o le ­


o u “ e le m e n to a f e tiv o ” d e u m a se n sa ç ã o c u la r q u e p ro d u z as c o m b in a ç õ e s q u ím i­
a p a r te d e sen sib ilid ad e q u e n e la está c o n ­ cas e q u e fo i c h a m a d a d e affm itas p o r
tid a , e n q u a n to se o p õ e a o seu a sp e c to re ­ A Â ζ E 2 I Ã Ã G 2 τ Çá E . A p a la v r a n o s e n ­
p re s e n ta tiv o ; “ m e m ó ria a f e tiv a ” a re v i­ tid o q u ím ic o to r n o u - s e s o b re tu d o p o p u ­
v escên cia n a q u a lid a d e d e sim p les r e c o r­ la r c o m BÃE 2 7 τ τ â E (S).
d a ç õ e s , d e s e n tim e n to s e x p e rim e n ta d o s
a n te r io rm e n te . (M a s a e x istê n c ia d e u m a c r ít ic a
m e m ó ria a fe tiv a p r o p r ia m e n te d ita é d is ­
cu tív e l.) C f. Memória e o b serv aç õ es m ais T e rm o v a g o q u e te m a p e n a s d u a s u ti­
a d ia n te . liz a çõ e s m a is o u m e n o s d e fin id a s : 1? a s
Afinidades efetivas ( Wahlverwandtschaf
CRITICA ten), títu lo d e u m r o m a n c e d e G Ã : E I 7 E

E xcelente te rm o filo só fico ; te v e o u tro - e ra p rim itiv a m en te u m a ex p ressão d e q u í­


r a o se n tid o d e a fe tu o s o m a s d e s e m b a ra ­ m ic a d e a u to r ia d e B e rg m a n n e q u e d e ­
ç o u -se dele c o m p le ta m e n te n o s d ia s d e s ig n a v a a s a fin id a d e s q u e d e s tro e m u m
h o je . c o m p o s to e m p ro v e ito d e n o v a s c o m b i­
Rad. i n t A fek tiv. n açõ es; 2? a Afinidade natural das idéias,
p ro p r ie d a d e q u e tê m os fe n ô m e n o s p s í­
A F I N I D A D E (L . A f f mitas). D . Ver
q u ic o s d e se a tra íre m u n s a o s o u tr o s n o
wandtschaft, A ffin ita t; E . A ffin ity; F .
c a m p o d a c o n sc iê n c ia , p o r a s s o c ia ç ã o ’1'
A ffin ité ; I. A ffin ita .
d a s id é ia s (co m o u sem s e m e lh a n ç a ).
A . A lia n ç a (a n á lo g a à s a lia n ç a s d e fa ­ Rad. int.: A fin .
m ília, sen tid o p ró p rio de afinidade n o s ju ­
risc o n su lto s). A F IR M A Ç Ã O D . A . Behauptung ; B .
B . S em e lh a n ça , lig ação o u a tra ç ã o re ­ Bejahung ; E . Affirm ation', F . A ffirm a-
s u lta n te d e u m a se m e lh a n ç a . tion ; I. Afferm azione.

S o b re A fin id a d e — C o n s u lta r É tie n n e G ÃE E 2 Ãà


E Sτ « Ç -H « Â τ « 2 , Etudes p ro ­
I E

gressives d ’un naturaliste, p a r tic u la r m e n te o ú ltim o e s tu d o : “ L ei u n iv e rs a l (a tr a ç ã o


de si p a r a si) o u ch av e a p lic á v e l à in te r p r e ta ç ã o d e to d o s o s fe n ô m e n o s d e filo s o fia
n a tu r a l” , n o q u a l c h a m a afrontamento a o q u e n o m e a m o s v u lg a rm e n te a fin id a d e .
V er em p a rtic u la r a n o ta d a p á g in a 159 o n d e ele e x p lic a c o m o f o r m o u e s ta p a la v ra .
(Louis Boisse) C f. m a is a d ia n te A tração , o b s e rv a ç õ e s .
“ P a r a B a rc h u s e n , o s c o rp o s q u e tê m afinidade e n tr e si a ss e m e lh a m -se , s ã o p r i­
m o s , o q u e n ã o q u e r d iz e r q u e se a m e m ; p a r a B o e rh a a v e , p e lo c o n tr á r io , a afinidade
ex erce-se e n tre c o rp o s e n tr e o s q u a is n ã o se a s s in a la n e n h u m a re la ç ã o d e s im ilitu d e ,
m a s q u e se a m a m , se u n e m e c e le b ra m as su as n ú p c ia s c o m m a is o u m e n o s b a ru lh o
o u b r il h o .” J . B. D Z Oτ è , L e ç o n s s u r la philosophic chimique, 3 9 8 . (T e x to c o m u n i­
c a d o p o r M . Marsal )

S o b r e A f ir m a ç ã o — P o d e -s e re s e rv a r afirmação n o s e n tid o B m a s p o d e r-s e -á re ­


s e rv a r n o m e s m o s e n tid o afirmar"! D iz-se: “ A fir m o q u e n ã o . ” E se é a ssim a d is tin ­
ç ã o to rn a -s e p r e c á r ia . (G. Beaulavorí) E la é n e c e s sá ria s o b re tu d o q u a n d o afirmação
é to m a d a n o s e n tid o e m q u e a p a la v r a d e sig n a , n ã o o a to d e a f ir m a r , m a s a c o isa
a f ir m a d a (Afírm alo e n ã o A firm o). N o c a so d o v e rb o , e d o s u b s ta n tiv o c o m s e n tid o
v e rb a l, é fá c il le g itim a r a u tiliz a ç ã o d eles se se o b s e r v a r q u e q u a n d o se d iz: “ A fir m o
q u e n ã o '\ o o b je to d a a f ir m a ç ã o é u m a lexis to m a d a e m b lo c o , c o n te n d o e m si m e s­
m a a n e g a ç ã o , q u e p e rm a n e c e a ssim e x te r io r a o a to d e a f ir m a r . (A. L.)
A F IR M A T IV O 36

A . N a lin g u a g e m c o rre n te , a to p e lo p ro p o s iç ã o p r á tic a q u e f o r m u la um p re ­


q u a i se p e n sa o u se e n u n c ia u m ju íz o c o ­ c eito g e ra l e fu n d a m e n ta l (A forism os de
m o v e rd a d e iro (q u e r este ju íz o e ste ja n a H ipó c r a t e s ).
su a fo rm a a firm a tiv a ou n eg ativ a). O p õ e- Rad. int.: A fo ris m .
se à in te rro g a ç ã o o u à d ú v id a . N e ste se n ­
A F O R T IO R I (R acio cín io ) L . (su b en ­
tid o , to d a n e g a ç ã o firm e é ta m b é m u m a
te n d id o : causa).
a firm a ç ã o .
A . R a c io c ín io q u e c o n c lu i de u m a
B. L ó ; . E m o p o siç ã o a negação* d e­
p ro p o s iç ã o u m a o u tr a p ro p o s iç ã o de ta l
sig n a a c a ra c te rís tic a de u m a p ro p o s iç ã o
m a n e ira q u e h á em f a v o r d a s e g u n d a as
n a q u a l a c ó p u la (n o s e n tid o g e ra l, q u e r
m esm as ra z õ e s q u e em f a v o r d a p rim e i­
d iz e r, a re la ç ã o c o n s id e ra d a e n tre os te r ­
r a , e a in d a m ais u m a o u o u tr a s ra z õ e s
m o s) é sim p lesm en te co lo c a d a co m o exis­
(u m a o b je ç ã o o u u m a d ific u ld a d e a m e ­
te n te , c o n s is tin d o a n e g a ç ã o em a firm a r
n o s p o d e n d o p a s s a r p o r u m a ra z ã o a
(n o se n tid o A ) a a u sê n c ia d e ssa re la çã o
m a is). “ A m a v a -te in c o n s ta n te ; q u e te ria
(p o r p riv a ç ã o o u p o r ex clu sã o ).
fe ito fie l? ” Andrôm aca, a to IV , c. 5.
CRÍTICA B . R a c io c ín io q u e c o n clu i de u m a
P a r a o sen tid o A , co n v ém dizer asser­ q u a n tid a d e o u tr a q u a n tid a d e d a m e sm a
ção e re se rv a r afirmação p a r a o se n tid o n a tu re z a , m a io r o u m e n o r, e d e ta l m o ­
B , c o n fo rm e a o b s e rv a ç ã o fe ita p o r G o - d o q u e a p rim e ira n ã o p o ssa ser a tin g id a
BLOT n o seu Vocabulaire e a p ro v a d a na o u u ltr a p a s s a d a sem q u e a s e g u n d a o se­
sessão d a S o c ie d ad e de F ilo so fia de 29 de ja ta m b é m . “ A q u ilo q u e a c a b a m o s de d i­
m a io de 1902. zer s u b s is tirá a fo rtio ri se o e rro d e p r e ­
Rad. int.: A . A sse rt; B , A fir m . c isã o d a lu n e ta , em lu g a r d e ser d a m e s­
m a o rd e m d e g ra n d e z a q u e o d a s le itu ­
A F IR M A T IV O D . Bejahend ; affir­ ra s , fo r n o ta v e lm e n te m a is f r a c o .” C o -
mai iv\ E . Affirmative·, n o s e n tid o C , p o ­ LARDEAU, A pproxim ations dans les me­
sitive ; F . A ffir m a tif ; I. A fferm ativo. sures physiques, p . 279.
A. B . Q u e c o n s titu i u m a a firm a ç ã o
q u e r s e ja n o s e n tid o A q u e r n o s e n tid o NOTA
B. Q u a n d o se t r a t a d e u m ju íz o o u de E s ta s e g u n d a f o r m a d e ra c io c ín io
u m a p ro p o s iç ã o , e n te n d e -se e sta p a la v ra a p lic a -se ig u a lm e n te , m e sm o n a o rd e m
s e m p re n o s e n tid o B. m o r a l, a tu d o o q u e é c o n s id e ra d o su sce­
tív el d e g ra u s ; p o r e x em p lo n o ra c io c ín io
C . Q u a n d o se fa la de p e ss o a s: q u e m
d o P r o M ílo n e : “ Se se te m o d ire ito de
é d a d o a a firm a r co m d ecisão ; q u e m a fir­
m a ta r o la d r ã o , co m m a is ra z ã o o a ssa s­
m a co m f o r ç a (n u m c a s o d a d o ).
s in o .” O a rg u m e n to p a re c e , a liá s , s o b as
Rad. int.: A . A s e rta l, A fir m a i; B .
su as d u a s fo r m a s , s e r d e o rig e m ju ríd ic a
A se rte m .
e lig ar-se à re g ra : “ N o n d e b e t, cui p lu s
A F O R IS M O (G . ’Aipog itrio s, d e fin i­ licet, q u o d m in u s est n o n lic e re.” U l p i a ·
ç ã o ). D . Aphorismus; E . Aphorism ; F . n o em Digesto (E d . M o m m se n , liv ro 50,
Aphorisme·, I. A forism o. títu lo X V II, n? 21. C f . 26 e 110).
P r o p o s iç ã o c o n c is a q u e e n c e rra m u i­
“ A F R O N T A M E N T O ” V er A finida­
to s se n tid o s e m p o u c a s p a la v ra s . É , q u e r
de, o b s e rv a ç õ e s .
u m a p ro p o s iç ã o d o g m á tic a q u e re su m e
u m a te o r ia o u u m a série d e o b s e rv a ç õ e s A G E N T E D . Der o u Das Wirkende ;
(B a N ovum Organum, aphorismi
c o n , E . Agent; F . Agent; I. Agente.
de interpretatione naturae et regno homi - T r a n s c riç ã o d o L . esco l. Agens, a q u i­
nis, cf. P r e f á c io , n o in íc io ), q u e r u m a lo q u e ag e o u a q u e le q u e a g e. T o d o ser,
37 A G N Ó S T IC O

e n q u a n to se c o n sid e ra n u m s e n tid o q u a l­ Ba l d w i n , m a s s e g u n d o E i s l e r , s u b V o,
q u e r , q u e ex erce u m a ação* p a r tic u la r ­ a p lic a -se à d o u tr in a d e S ó c ra te s: “ S ó sei
m e n te n o s e n tid o B . (O o b je to d e s ta a ç ã o q u e n a d a s e i.”
é o paciente.) Rad. int.: A g n o si.
“Intelecto agente ” (L . esco l. Intellec-
tus agens). “ A o p in iã o m a is c o m u m é a A G N O S T IC IS M O (d o G . " A y m o ­
d o s p e rip a té tic o s , q u e p re te n d e m q u e o s
t o s , in c o g n o sc ív e l). D . Agnosticismus,
o b je to s d e f o r a e m ite m esp ecies q u e se Agnosie (? v er e sta p a la v r a ) ; E . A gnosti­
lh es a s s e m e lh a m ... E s ta s e sp é c ie s ... to r - cism; F . Agnosticisme; I. Agnosticism o ,
n a m -s e in telig ív eis a tra v é s d o intelecto
Agnosteismo.
T erm o c ria d o p o r H u x l e y em 1869.
agente , o u a tiv o , e sã o p r ó p r ia s p a r a se­
re m re c e b id a s n o intelecto paciente . . . ” D esig n a a tu a lm e n te q u e r o h á b ito d e espi­
M a l e b r a n c h e , Recherche de la vérité , rito q u e co n siste e m c o n sid e ra r to d a a m e ­
I I I , c a p . 2 . V er A tivo (in tele c to ). tafísica* (o n to ló g ica) c o m o fú til (B a l d ­
w i n , su b Vo), q u e r o c o n ju n to d as d o u tr i­
A G N O S IA D . Agnosie; E . A gnosia ; n a s filo só ficas, aliás m u ito d iferentes e n ­
F . Agnosie ; I. Agnosia. tre si e m o u tro s asp ecto s, q u e a d m ite m a
In c a p a c id a d e d e re c o n h e c e r os o b je ­ existência d e u m a o rd e m d e re a lid ad e in ­
to s o u os sím b o lo s u su a is (a m n é s ia p e r ­ cognoscível p o r n a tu re z a (p a rticu larm en te
c e p tiv a ) sem p e r tu r b a ç ã o d a s sen sa çõ e s o Positivism o* d e A u g u ste C o m t e ; o E v o ­
e m g e ra l. lu cio n ism o * d e H . S p e n c e r ; o R elativis­
D istin g u em -se u m a agnosia visual (ce­ m o* d e H a m i l t o n ; alg u m as vezes tam b ém ,
g u e ira p síq u ica to ta l, o u p a rc ia l, d e q u e a c o m reserv as, o C riticism o * d e K a n t ).
cegueira v erb al é u m caso p a rtic u la r); u m a R ad . int.: A g n o s tik is m .
agnosia tátil (ag n o sia d as fo rm a s táteis o u
astereognosia, d ev id a a u m a p e rtu rb a ç ã o A G N Ó S T I C O (s u b s t. e a d j.) D . A g-
d a sensibilidade relativ a so b re tu d o à a n e s ­ nostiker, agnostisch; E . Agnostic; F . Ag-
tesia); p o r f ím , u rn a agnosia auditiva (sur­ nostique; I. Agnóstico.
dez p síquica, to ta l o u p arcial, de q u e a s u r­ Q u a n d o se f a la d e p e ss o a s: q u e p r o ­
d ez v erb al é u m caso p a rtic u la r). fe ssa o a g n o stic is m o * ; o u (a d je tiv a m e n ­
te) q u a n d o se fa la d e d o u trin a s : q u e co n s­
NOTA titu i u m a fo r m a de a g n o stic is m o . V er
Agnosia é d a d a c o m o sin ô n im o a le ­ m a is a trá s .
m ã o de agnosticismus n o D ic io n á rio d e Rad. int.: A g n o stik .

S o b re A g n o sia — A rtig o a c re s c e n ta d o p o r Henri Piéron; a n o ta q u e vem ju n t a


fig u ra v a p rim itiv a m e n te n o fin a l d o a r tig o agnosticismo.
E ste te rm o escreve-se ta m b é m a lg u m a s vezes Agnoscia ( Agnoscie ). F o i c ria d o p o r
F 2 E Z á em 1891. A a g n o sia c o m p re e n d e em p a rte o q u e se c h a m a d e assimbolia (FlN-
k e l n b u r g , 1870). T o d a e sta te rm in o lo g ia n ã o e stá a in d a f ix a d a . (.Ed. Claparède.)

S o b re A g n o stic ism o — H u x le y c o n to u c o m h u m o r e n ã o sem ir o n ia c o m o c rio u


e m 1869 a p a la v r a Agnostic p a r a p o d e r ta m b é m ele v aler-se de u m n o m e d e d o u tr in a
n o m eio d o s seus h o n ra d o s c o n fra d e s d a Metaphysical Society q u e tin h a m to d o s q u a ­
lifica tiv o s em -ista. V er Agnosticismo (1889) em H u x l e y , Collected Essays, to m o
V , p . 239. C f . ta m b é m A r m s t r o n g , Agnosticism and Theism in the X I X Century.
D e f a to , o s te rm o s agnóstico e agnosticismo se rv ira m m u ita s vezes d e fó r m u la c ô ­
m oda n o s casos o u nos países o n d e a declaração d e u m a confissão re lig io s a determi­
n a d a era o b r ig a tó r ia o u p e lo m e n o s u s u a l em c e rta s c irc u n s tâ n c ia s . (A. L.)
A G O N ÍS T IC O 38

A G O N ÍS T IC O (G . òtytíviOTtxàs, q u e d e p e n d ê n c ia f u n c io n a l, n e m d ife re n c ia ­
se re fe re à lu ta ; a lg u m a s vezes q u e g o s ta ç ã o , n e m s o lid a rie d a d e m o ra l; 2? colônia
d a lu ta e d a c o n te s ta ç ã o [¿Qtanxôt], q u e s u p õ e u m a d e p e n d ê n c ia fu n c io n a l
P Â τ I ã Ã , M énon, 75 C ). D . Agonistisch; sem d ife re n c ia ç ã o ap re ciá v e l; 3? o rg a n is ­
E . Agonistic; F . Agonistique ; I. A g o ­ m o q u e su p õ e u m a in terd ep en d ên cia* d o s
nístico. e le m e n to s c o m d ife re n c ia ç ã o ; 4? associa­
A . R e la tiv o à lu ta , p a rtic u la rm e n te à ção * q u e , sem e x c lu ir o u a d m itir n eces­
lu ta p e la v id a . s a r ia m e n te a c a ra c te rís tic a d e c o lô n ia o u
d e o rg a n is m o , s u p õ e q u e o v ín c u lo p r in ­
B . Q u a n d o se fa la d a s d o u tr in a s o u
c ip a l d a a g re g a ç ã o s e ja d e n a tu r e z a p si­
d as disposições d e esp írito : fa v o rá v el à lu ­
c o ló g ic a (re p re s e n ta ç ã o e v o liç ã o ). G .
ta ; q u e re c o m e n d a a lu ta e n e la vê o in s­
T a r d e p r o p õ e p a r a estes trê s ú ltim o s c a ­
tr u m e n to d o p ro g re s s o .
sos o te rm o adaptai, m ais a d e q u a d o . (Les
Rad. int.: L u k ta l, — em .
lois sociales , p . 116.)
AGRADÁVEL E DESAGRADÁ­ Rad. int.: A g re g a j.
V E L V er Prazer, D or e cf. Sensação.
A G U E U S I A V e r a s o b se rv a ç õ e s s o ­
A G R A F IA D . Agraphie ; E . A gra­ b re Anestesia.
phie; F . Agraphie ; I. Agrafía.
A L E G O R IA ( G . 1AWtfyoQÍct). D . A l­
P e r d a d a c a p a c id a d e d e e sc re v e r. V er
légorie; E . Allegory; F . Allégorie; I. A l­
Afasia.
legaría.
Rad. int.: A g ra fí.
A . S im b o lis m o c o n c r e to p re s e n te em
A G R E G A D O (d o L . aggrego). D . to d o o c o n ju n to d e u m a n a r r a ç ã o , d e u m
Agrégat ; E . Aggregate, aggregation; F . q u a d r o , e tc ., d e ta l f o r m a q u e to d o s os
Agrégat ; I. Aggregato. e lem en to s d o s im b o liz a n te c o rre sp o n d a m
C o n ju n to d e e le m e n to s ju s ta p o s to s e s is te m a tic a m e n te , u m a u m , a o s e le m e n ­
re u n id o s p o r u m a c e rta c o e sã o . “ O c o m ­ to s d o s im b o liz a d o .
p o s to é a p e n a s u m a m o n to a d o o u aggre-
B . A p r ó p r ia o b r a q u e é c o m p o s ta se­
gatum d o s s im p le s .’* (L E « ζ Ç« U , Monado-
g u n d o e ste p ro c e ss o .
logia, § 2) A u tiliz a ç ã o d a p a la v r a e m so ­
c io lo g ia é r e tir a d a d a b io lo g ia o n d e se C . E m p a r tic u la r , a p e lid a -s e sentido
o p õ e m p o r e x e m p lo a s S a lp a s a g re g a d a s alegórico d a E s c r itu r a a q u e le d o s q u a tr o
a o s m e sm o s a n im a is v iv e n d o n o e s ta d o s e n tid o s q u e e x p rim e o s d o g m a s re lig io ­
d e in d e p e n d ê n c ia in d iv id u a l. so s e s o b re tu d o a c o rre sp o n d ê n c ia d o A n ­
tig o e d o N o v o T e s ta m e n to . O s trê s o u ­
CRÍTICA tr o s sã o o s e n tid o lite ra l, o s e n tid o m o ­
É c ô m o d o c o n se rv a r n a p a la v ra a g re ­ r a l o u tro p o ló g lc o (H Z ; Ã á E S. V í I Ã2 )
g a d o o s e n tid o m u ito g e ra l q u e re c e b e u e o sen tid o an ag ó g ico * : “ L itte ra g esta d o -
s u b d iv id in d o a ssim co m o se seg u e a s d i­ c e t, q u id c re d a s A lle g o ria , M o ra lis q u id
fe re n te s classes d e a g re g a d o s : a g a s , q u o te n d a s A n a g o g ia .” (A Z ζ E 2 ,
1? Agregado p ro p r ia m e n te d ito o u Sym bolism e religieux, I I , c a p . I I I , p . 50)
m ecânico, cuja unidade não supõe nem Rad. int.: A le g o r.

S o b re A le g o ria — A re d a ç ã o fo i lig e ira m e n te r e to c a d a c o n fo rm e u m a p r o p o s ta


d e Th. de Laguna.
H á u m a d ife re n ç a im p o r ta n te n a u tiliz a ç ã o a tu a l g e ra l d a s p a la v r a s alegorui e
símbolo d o p o n to d e v is ta e s té tic o . Alegoria te m u m s e n tid o q u a s e s e m p re p e jo ra -
39 A L E G R IA

A L E G R I A D . Freude ; E . Joy; F . “ A a leg ria in te rio r n ã o é, c o m o a p a ix ã o ,


Joie; I. Gioia. u m f a to p sic o ló g ic o is o la d o q u e o c u p a ­
U m d o s e sta d o s fu n d a m e n ta is d a sen ­ r ia p rim e ira m e n te u m a c e r ta p a r te d a a l­
sib ilid a d e , d e la n ã o se p o d e d a r, p a r a fa ­ m a e g a n h a r ia e sp a ç o p o u c o a p o u c o . N o
la r c o m p ro p rie d a d e , u m a d e fin iç ão . N ã o seu nível m a is b a ix o , a ssem elh a-se a u m a
d e v e ser c o n f u n d id a c o m o p ra z e r o u o o rie n ta ç ã o d o s n o sso s e s ta d o s de c o n s ­
b e m -e s ta r; a p re s e n ta s e m p re u m c a r á te r c iên c ia p a r a o fu tu r o . D e p o is, c o m o se
to ta l, q u e r d iz e r, q u e se e ste n d e a to d o s esta a tra ç ã o dim in u ísse o seu peso, as n o s ­
o s c o n te ú d o s d a c o n sc iê n c ia (e m e sm o sas id é ia s e sen sa çõ e s su ce d e m -se c o m
sem d ú v id a a o s e s ta d o s in c o n sc ie n te s). m a is ra p id e z ; o s n o sso s m o v im e n to s j á

tiv o : a ss in a la m -se a ‘‘frie z a ” , a p o b r e z a , a in sip id e z d a s a le g o ria s . É q u e o s e lem en ­


to s q u e fo r m a m a a le g o ria não têm interesse próprio, e m u ita s vezes n e m m e sm o
q u a lq u e r s ig n ific a ç ã o , f o r a d o p a p e l q u e lh es é in te n c io n a lm e n te a tr ib u íd o . E la s s ã o
n e c e s sa ria m e n te a rtific ia is e q u a s e s e m p re c o m p lic a d a s . P e lo c o n tr á r io , o sím b o lo
p o d e s e r v iv o , e v o c a d o r, p o r q u e n e le a im a g e m te m u m in te re sse p r ó p r io , e la v ale
p o r si p r ó p r ia a o m e sm o te m p o q u e p o r a q u ilo q u e su g ere; a lg o d o s s e n tim e n to s q u e
d e s p e rta o sím b o lo e n riq u e c e , p o is , a id é ia s im b o liz a d a .
P o r e x e m p lo , fa la r-s e -á d e a le g o ria s a p r o p ó s ito d o b r a s ã o , d o Romance da Rosa
o u d a “ C a r te d u T e n d r e ” , d a Melancolia d e A lb e rt D ü r e r o u d a A poteose de Henri­
que I V d e R u b e n s , e d e s ím b o lo s a p r o p ó s ito d o Fausto, d o M oisés d e V ig n y , d o
Sátiro de V . H u g o , d a c e n a d o P o b r e n o D. João, d e to d a a o b r a d e W a g n e r. (G .
Beaulavon)
“ A o b s e rv a ç ã o d e B e a u la v o n s o b re alegoria t sím bolo é p e rtin e n te m a s in c o m ­
p le ta . E stes te rm o s o p õ e m -s e n ã o so m e n te c o m o o p o b r e se o p õ e a o ric o , o fr io a o
c a lo r e o m o r to a o v iv o , m a s a in d a c o m o o c la ro a o c o n f u s o , o u n ív o c o a o e q u ív o c o ,
o tr a n s p a r e n te a o tu r v o . I s to fic a ria c la r o a tra v é s d a c o m p a r a ç ã o d o c lassic ism o , d a
é p o c a d a s lu zes c o m o ro m a n tis m o ( s o b r e tu d o a le m ã o ). P a re c e q u e h á n a e s tr u tu r a
m e n ta l fra n c e s a u m a r e p u g n â n c ia g e ra l e m a c e ita r o s ím b o lo . D aí o a c e n to p e jo r a ti­
v o d o s e p íte to s a tr á s r e f e r id o s ... D a í a re a ç ã o d o s c rític o s c o m o S a rc e y d ia n te d e
c e rta s o b r a s e s tra n g e ira s . D a í p o r fim o in su ce sso d a s te se s d e F r e u d s o b re o s im b o ­
lism o d o s o n h o .” 0Carta de M . Marsal a A . Lalande)

S o b re A le g ria — Gaudium r e p re s e n ta q u a lq u e r c o is a d e m a is im e d ia to e d e m ais


p r o f u n d o d o q u e laetitia. D iz-se d e p ra z e re s físic o s: veneris gaudia. O s e n tid o
c o n se rv o u -se n a s filie de jo ie , m e re triz e s , e “ o s filh o s que se concebem no prazer
(en jo ie ) ” (M o l i è r e ). (J. Lachelier)
N ã o sei se a c a ra c te rís tic a d e totalidade é a m a rc a m a is c a r a c te rís tic a d a a le g ria :
c re io q u e é p re c iso ir m a is a d ia n te , o sim p les p ra z e r é m a is fr a g m e n tá rio , p o rq u e
p a re c e p ro v ir m e n o s d e n ó s , é u m e s ta d o d a n o s sa c o n sc iê n c ia , m a s q u e está nela,
e m a rc a n as açõ e s q u e s o fre u m m o m e n to de a d a p ta ç ã o f o r tu ito . A a le g ria é to ta l,
p o rq u e é s e n tid a c o m o v e rd a d e ir a m e n te in te rio r: e stá em n ó s p o r n ó s; m a rc a u m a
a d a p ta ç ã o d o n o sso e s ta d o às su as c o n d iç õ e s , m a s u m a a d a p ta ç ã o q u e se faz p a r a
to d o o n o s s o ser. D a í a v e rd a d e p e lo m e n o s p a rc ia l d a d e fin iç ã o q u e d is tin g u e a a le ­
g ria d o sim p les p ra z e r p e la idéia, q u e r d iz e r, a plena consciência q u e a e la se a c re s­
c e n ta . A c ria n ç a é s e m p re m a is alegre q u e o a d u lto , p o r q u e a s u a c o n sc iê n c ia m a is
sim p le s e m a is m ó v e l id e n tific a -s e m a is fa c ilm e n te c o m a im p re s s ã o p re s e n te ; m a s
a s u a a le g ria , s u b je tiv a m e n te m u ito s e d u to r a p e la f r e s c u r a d e s e n tim e n to s q u e d e n o ­
t a , é fre q u e n te m e n te in s ig n ific a n te n o s seus o b je to s . {Bernes)
A L E G R IA 40

n ã o n o s c u s ta m o m e sm o e s f o r ç o .” (H á CRÍTICA
q u e fa z e r a q u i u m a re s e rv a n o q u e c o n ­ F o r a m d a d a s d iv e rs a s d e fin iç õ e s d e
cern e à a leg ria e x tá tic a .) “ F in a lm e n te , n a a le g ria , m a s to d a s le v a n ta m sérias o b je ­
e x tre m a a leg ria, as n o ssa s p e rc ep ç õ es e as çõ es. A m a is c éle b re é a d e E s p i n o s a :
n o ssa s re c o rd a ç õ e s a d q u ire m u m a q u a li­ “ L a e titia e s t h o m in is tr a n s itio a m in o re
d a d e in d e fin ív e l, c o m p a rá v e l a u m c a lo r a d m a jo re m p e r f e c tio n e m .” Ética , I I I ,
o u a u m a lu 2, e tâ o n o v a q u e em certo s d e fin iç õ e s , II. C f. ibid. p ro p . X I, e sc ó ­
m o m e n to s , r e to r n a n d o s o b re n ó s p r ó ­ lio . M as é evid ente q u e , v e rd a d eira o u fa l­
p rio s , e x p e rim e n ta m o s c o m o q u e u m es­ s a , e sta p ro p o s iç ã o e n u n c ia em to d o c a ­
p a n to de s e r .” H . B e r g s o n , Essaisur les so u m a c a ra c te rís tic a in te ira m e n te e s tr a ­
donnés immédiates de la consdence, p . 8. n h a à c o m p re e n s ã o u s u a l d a p a la v ra ale-
S o b re o s fe n ô m e n o s m e c â n ic o s, fís i­ gria ; e o p r ó p r io E s p in o s a p a re c e fa z er
cos, q u ím ico s, fisiológicos e psíq u ico s q ue a p e lo a e sta id é ia q u a n d o a c re s c e n ta q u e
c a ra c te riz a m a a leg ria ver G . D u m a s , La a a leg ria n ã o é a p ró p r ia p e rfe iç ã o , m as
tristesse et lajoie. E le d istin g u e aí d o is ti­ a p a ssa g e m a e ssa p e rfe iç ã o , p o r q u e se o
p o s: “ E x iste m a leg rias c a lm a s , n â o m u i­ h o m e m n a scesse co m a p e rfe iç ã o à q u a l
to ric a s em im a g e n s e em id é ia s, em q u e a sc e n d e , p o s su i-la -ia sem e x p e rim e n ta r
a excitação m e n ta l p arece fa lta r, e q u e são a le g ria . ( C o n tr a D e s c a r t e s : “ A a le g ria
c a ra c te riz a d a s s o b re tu d o p o r u m s e n ti­ [pelo m e n o s a q u e é u m a p a ix ã o ] c o n s ti­
m e n to de b e m -e sta r e d e fo r ç a , p e la co n s­ tu i u m a a g ra d á v e l e m o ç ã o d a a lm a n a
c iên c ia de u m m a io r p o d e r físico e m e n ­ q u a l co n siste a satisfa ç ão q u e ela tem com
t a l . . . E x iste m , p o r o u tr o la d o , aleg rias o b em q u e a s im p re s sõ e s d o c é re b ro lh e
e x u b e ra n te s c a r a c te riz a d a s p o r u m a su- re p re s e n ta m c o m o s e n d o s e u ... [E ex iste
u m a o u tr a a leg ria] p u ra m e n te in te le c tu a l
p e ra tiv id a d e m e n ta l e p o r u m s e n tim e n ­
q u e c h eg a à a lm a p ela sim p les a çã o d a a l­
to esp ecial de p r a z e r q u e a c o m p a n h a e s ­
m a e q u e se p b d e d iz er q u e c o n s titu i u m a
ta a tiv id a d e ; e ste s e n tim e n to de p ra z e r
, a g ra d á v e l e m o ç ã o e x c ita d a em si m e sm a
n ã o é ex clu siv o d o s e n tim e n to de bem -
n a q u al c o n siste a satisfa ç ã o q u e tem c o m
e sta r; a m a io r p a rte d as vezes lh e é a c re s ­
o b e m q u e o seu e n te n d im e n to lhe r e p r e ­
c e n ta d o c o m o a d o r m o ra l à d e p re s s ã o ...
sen ta c o m o s e n d o seu. ” A s paixões da al­
E ssas a leg rias, to d o s as c o n h e c e m , são as
ma, II, 9 1 .)
m a is fre q ü e n te s ; p ro d u z e m -s e em g e ra l
P a r a L o c k e “ a a le g ria é u m p ra z e r
d e p o is d as b o a s n o tíc ia s e d o s a c o n te c i­
q u e a a lm a ressen te q u a n d o c o n sid e ra c o ­
m e n to s fe liz e s .” C a p . I I I , 118-119. M as
m o c e r ta a p o sse d e um bem p re s e n te o u
d ev e-se s u b lin h a r, p a r a p re c isa r o s e n ti­
f u tu r o ; e e n tra m o s n a p o sse de u m b em
d o d e sta d iv isã o , q u e estas d eterm in a çõ e s q u a n d o ele está d e ta l fo rm a em no sso p o ­
se acrescentam à a le g ria e n ã o sã o su as d e r q u e o p o d e m o s g o z a r s e m p re q u e
constituintes , p o r q u e p o d e h a v e r b e m - q u e ir a m o s ” . A o q u e L e i b n i z re s p o n d e :
e s ta r , f o r ç a , c o n sc iê n c ia d e u m g ra n d e “ F a lta m n a s lín g u a s p a la v r a s s u fic ie n te ­
p o d e r físico e m e n ta l, e tc ., sem a a leg ria m e n te p r ó p r ia s p a r a d is tin g u ir n o ç õ es vi­
p r o p r ia m e n te d ita , e m e sm o co m tr is te ­ z in h a s . T a lv e z a p a la v r a la tin a gaudium
za (p . ex. o Moisés de A . d e V i g n y ); e, c o n s titu a u m a m e lh o r a p ro x im a ç ã o a e s­
p o r o u tr o la d o , p o d e h a v e r aí su p e ra tiv i- ta d e fin iç ão de aleg ria d o q u e laetitia, q u e
d a d e m e n ta l, e m e sm o c e rta s fo rm a s de ta m b é m se tr a d u z p o r a le g ria ; m a s esta
p ra z e r a crescen tad as a e sta a tiv id a d e, sem p a re c e -m e sig n ific a r u m e s ta d o em q u e o
q u e p o r isso h a ja a le g ria : p o r e x e m p lo , p ra z e r p re d o m in a em n ó s, p o rq u e , d u ra n ­
n a n e ce ssid a d e d e fa z e r fa c e a u m a d if i­ te a m a is p r o f u n d a tris te z a e n o s m ais
c u ld a d e im p re v is ta , o u n u m a c ó le ra p e la a g u d o s d e sg o sto s, se p o d e te r a lg u m p r a ­
q u a l n o s d e ix em o s lev ar de b o m g ra d o . zer c o m o o b e b e r o u o u v ir m ú sic a,
41 ÁLGEBRA

m a s o d e s p ra z e r p re d o m in a ; e, d a m e s­ séc u lo III a n te s d e Je s u s C ris to até a o sé­


m a m a n e ira , em m e io à d o r m a is a g u d a , c u lo III d a n o s s a e ra ; e sp e c ia lm e n te , em
o esp írito p o d e e sta r aleg re, e ra isso o q u e filo s o fia , o c o n ju n to d o s n e o p la tô n ic o s
a c o n te c ia a o s m á r tir e s .” N ovos ensaios, p r o p r ia m e n te d ito s (A m o n iu s S a c ca s,
liv ro I I , c a p . X X , § 6. M a s e s ta in te r p r e ­ P lo tin o , P o r f ir io , e tc .) e d o s a le x a n d ri­
ta ç ã o d e gaudium é a r b itr á r ia , E s p i n o s a n o s c ris tã o s (C le m e n te d e A le x a n d ria ,
d e fin ia -o d e u m m o d o c o m p le ta m e n te d i­ O ríg e n e s, e tc .)
fe re n te : “ G a u d iu m e s t L a e titia , c o n c o m i­
B. C a r a c te rís tic a d e p e n s a m e n to e de
ta n te id e a re i p r a e te r ita e , q u a e p r a e te r
estilo d e q u e o s escrito res e p a rtic u la rm e n ­
sp em e v e n it.” Ê t., I I I , A ffe c t, d e f ., X V I.
te o s p o e ta s g re g o s d e A le x a n d r ia d e ra m
A d e iaetitia n ã o o é m e n o s, e é d e d u v i­
o e x e m p lo : s u tile z a e o b s c u r id a d e , m a is
d a r q u e u m a e o u t r a tr a d u z a m c o r r e ta ­
o g o s to p e la s a le g o ria s e p e la s a lu sõ e s
m e n te o s e n tid o d a s p a la v ra s la tin a s .
e ru d ita s .
“ G a u d e re d e c e t, la e te ri n o n d e c e t” , d i­
Rad. in t.’ A le x a n d rin is m .
z ia C í c e r o p a r a re s u m ir a d o u tr in a es­
to ic a q u e p ro íb e a o sáb io m a n ife sta r a sua A L E X IA D . Alexie; E . Alexia·, F .
a le g ria p o r g e sto s e x te rio re s ( Tusculanas, A lexie ; I. Alessia.
V I, 31); e n u m a o u t r a p a s s a g e m : “ C u m V e r Cegueira* verbal.
r a tio n e a n im u s m o v e tu r p la c id e a c c o n s ­
t a n t e s tu n e illu d gaudium d ic itu r, c u m “ ALFABETO DOS PEN SA M EN ­
a u te m in a n ite r e e ffu s e a n im u s e x s u lta t, T O S H U M A N O S ” E x p r e s s ã o u tiliz a d a
tu m illa laetitia g estien s vel n im ia dici p o - p o r L e i b n i z {Historia et commendatio
te s t i.” {Ibid. IV , 6) A d is tin ç ã o é , p o r ­ linguae charactericae, G e rh ., V II, 185; De
ta n to , c o m p le ta m e n te d ife re n te . organo, In é d ito s , ed . C o u tu r a t, 4 3 0 , e tc .)
F in a lm e n te , a f ó r m u la p r o p o s ta p o r e p o r C o n d i l l a c (m a s d o p o n to d e vis­
L e ib n iz é ig u a lm e n te m u ito d isc u tív e l. t a e m p íric o ) p a r a d e s ig n a r o s e le m e n to s
P o r u m la d o s e ría n e c e s sá rio e n te n d e r sim p le s d e q u e s ã o f o r m a d a s , s e g u n d o
p ra z e r n u m s e n tid o d e ta l m a n e ira a m p lo eles, to d a s as id é ia s.
q u e d e s ig n a ria to d o s o s fe n ô m e n o s a f e ­ A origem desta expressão parece ser
tiv o s q u e a v o n ta d e n ã o p r o c u r a e s p o n ­ o título Abecedarium naturae, dado por
ta n e a m e n te d e s v ia r; e , p o r o u tr o la d o , B a c o n a um a das suas obras; ele desig­
m e sm o s e n d o a ssim e n te n d id o , re s u lta ria na as “ form as” * elem entares que, segun­
q u e a a le g ria n ã o s e ria o r e s u lta d o d a a s ­ d o ele, pelas suas com binações “ à m anei­
so cia ç ã o e n tre fe n ô m e n o s elem en tares a n ­ ra das letras do alfab eto” , constituem to ­
te rio rm e n te d a d o s , m a s , p e lo c o n tr á r io , das as propriedades das coisas e, intelec­
u m e s ta d o d e c o n ju n to , q u e p o d e te r p o r tualm ente, todas as verdades. {De digni-
c a u s a ta l a c o n te c im e n to d e te r m in a d o , tate , I I I , IV , I I . )
m a s q u e se c a ra c te riz a s o b re tu d o p e la su a
Á L G E B R A (d o árabe: Al-djebr, re­
re a ç ã o s o b re o siste m a to ta l d o s fa to s p sí­
q u ic o s e p e la to n a lid a d e q u e lh e c o m u ­ paração, que se aplicava provavelm ente
n ic a . ao restabelecim ento das equações através
C f . Felicidade e Dor. de adições e subtrações com pensatórias).
Rad. int.: J o y . D . E . I. Algebra; F . Algèbre.
A . A rte d e tr a ta r os p ro b le m a s de A rit­
A L E X A N D R IN IS M O D . Alexandri- m ética re p re se n ta n d o o s n ú m e ro s (d esco ­
nismus\ E . Alexandrmism; F . Alexandri­ n hecid os) atrav és de letras. C iência d o s n ú ­
nism e; I. Aliessandrinismo. m e ro s in d e te rm in a d o s (L e i b n i z ).
A. C iv iliz a ç ã o g re g a d e A le x a n d ria B. M é to d o g eral d e re p re s e n ta ç ã o d as
(filo s o fia , a r te , le tra s , ciên cias) d esd e o re la çõ e s e fu n ç õ e s* m a te m á tic a s e ló g i-
Á L G E B R A D A L Ó G IC A 42

cas p o r m eio d e sím b o lo s. V er Algoritm o . 1896) e d a d e L. C o u t u r a t , L ’algébre de


C . C ie n cia d a s p ro p r ie d a d e s d o s ¡a logique (resu m in d o os sistem as d e Boo-
p o lin ó m io s* e d a s form as * alg éb ricas; a r­ le e de S ch ro e d e r), coleção S cien tia (1905).
te d e re so lv e r a s e q u a ç õ e s a lg é b ric a s. U rn a d a s fo r m a s d a Logística*.
Rad. in t .: A lg e b r.
D . C iê n c ia d a o rd e m (PoiNSOT). E s ­
ta d e fin iç ã o fo i lo u v a d a p o r C o u r n o t A L G E D Ô N IC O (d o G . aX yos, d o r ,
p e la su a p ro f u n d id a d e n u m c a p ítu lo o n ­ e r)Ôovr), p ra z e r). R elativ o à d o r e a o
de ele re c o lh e u m a série d e d e fin iç õ e s de p ra z e r. “ M ais im e d ia ta m e n te a in d a q u e
á lg e b ra ( Correspondance , c a p . IV ), m a s à a fe tiv id a d e p s íq u ic a a lg e d ô n ic a a p e r­
ele p ró p rio a d o ta fin a lm e n te o se n tid o C. c e p ç ã o a p a re c e lig a d a a o s e n tim e n to .”
CRÍTICA Pr a d i n e s , Traité de psychologie genéra­
le, P r e f á c io , IX .
O sentido A seria m elhor designado
p or A ritm ética universal ( N e w t o n , Á L G IC O , A L G E D Ô N IC O (d o G .
St o l z ); o sentido B por Simbólica ou aX y o s, ctXyTjÔúv, d o r física).
Característica ( L e i b n i z ) , Logística* R elativ o à d o r ou q u e te m a c a ra c te rís­
quando se trata de lógica; o sentido D tica d e u m a d o r. P o r vezes, que so fre dores.
( Tática de S y l v e s t r e , Sintática de
A L G O R ÍT M IC A (L ó g ica ) D . Algo
C o u r n o t ), por Combinatoria*.
rithmische L o g ik ; E . Algorithm ic Logic ;
Á L G E B R A D A L Ó G IC A D . Algebra F . Logique algorithmique ; I. Lógica al­
der Logik-, E . Lógica! algebra ; F . Alge­ gorítmica.
bre de la logique ; I . Algebra della lógica. S istem a d e n o ta çõ e s e de reg ras de cál­
T ítulo da obra de S c h r o e d e r , Vorle- c u lo , a n á lo g a s às d a á lg e b r a , q u e p e r m i­
sungen uber die Algebra der Logik (1890- te q u e r s o m e n te re p re s e n ta r as o p e ra ç õ e s

S o b re Á lg e b ra d a ló g ic a — A e x p re ss ã o fo i c r ia d a p e lo m a te m á tic o in glês B o o -
LE. A su a r a z ã o d e ser e stá n a u tiliz a ç ã o d o s s ím b o lo s lite ra is e d o s sig n o s o p e r a to ­
rio s d a á lg e b ra v u lg a r p a r a tr a d u z ir as te o ria s d a ló g ic a fo rm a l c lássica , q u e B o o le
e sp e ra v a a ssim a la r g a r . A s su a s Laws o f Thought (1854) c o n tê m , to d a c o n s titu íd a ,
a á lg e b ra d a ló g ic a tra d ic io n a l, a p r e s e n ta d a c o m o u m “ c á lc u lo d a s c la sse s” , q u e r
d iz e r, c o lo c a n d o -n o s n o p o n to d e v ista d a e x te n s ã o ló g ic a d o s c o n c e ito s . R eco n h e ce -
se, em seg u id a , q u e as m e sm as fó rm u la s p o d e ria m ser c o n sid e ra d a s c o m o c o n stitu in d o
u m c álc u lo d a s p ro p o s iç õ e s . A “ lo g ís tic a ” n o s e n tid o d e B e r tra n d R u ssel e de C o u ­
tu r a t n a sc e u d e d u a s p re o c u p a ç õ e s d is tin ta s : 1? a p lic a r o s m é to d o s d a á lg e b ra à s re ­
laçõ es ló g icas q u e a ló g ic a f o r m a l tra d ic io n a l n ã o e s tu d a v a , in v e n ta n d o p e la n ecessi­
d a d e n o v o s sig n o s o p e ra tó rio s ; 2 ? e s ta b e le c e r q u e a ló g ic a a lg o rítm ic a assim e n te n ­
d id a e g e n e ra liz a d a c o n té m to d o s o s p rin c íp io s d a s c iên c ia s m a te m á tic a s . (R en éBer-
thelot )
BÃÃÂ E a la r g o u o c a m p o d a ló g ic a tr a d ic io n a l se b e m q u e d e la a c e ite os p rin c í­
p io s , s o b r e tu d o , c o m o fo i d ito a tr á s , n o q u e se re fe re à s relaçõ es d e e x te n s ã o . M as
sai d o q u a d r o d e s ta ló g ic a q u a n d o re d u z o ra c io c ín io a o s m é to d o s d e d e se n v o lv i­
m e n to , d e e lim in a ç ã o e de re d u ç ã o (Law s o f Thought , c a p . V -V I1 I). E ele m e sm o
in d ic a n o c a p . X V d a m e sm a o b r a q u e a s u a L ó g ica é m a is a m p la q u e a d e A r is tó te ­
les e q u e o ra c io c ín io n ã o se re d u z a o silo g ism o . P o r fim , to d a a s e g u n d a m e ta d e
d a o b r a (c a p . X V I e seg u in tes) é u m a p a ss a g e m d a ló g ic a p a r a a te o r ia d a s p r o b a b ili­
d a d e s p o r m e io d a su a á lg e b ra : s e n d o a p r o b a b ilid a d e d e u m a p ro p o s iç ã o in te rm e ­
d iá r ia e n tre os v a lo re s 0 e 1, o s ú n ic o s q u e a L ó g ic a clássica c o n s id e ra . (A. L.)
43 A L IE N A Ç Ã O

d a ló g ica c lássica de m a n e ira m ais c o n ­ N a a tu a lid a d e , c o n ju n to d e sím b o lo s


d e n s a d a e m a is rig o r o s a , q u e r a la r g á - la e d e p ro c e d im e n to s d e c á lc u lo . E x .: al­
e d e fin ir o p e ra ç õ e s n o v a s , p . ex. as q u e goritmo de Euclides ( p a r a e n c o n tr a r o
co n cern em às fu n çõ es ló gicas, à lógica d a s m a io r d iv is o r c o m u m d e d o is n ú m e ro s );
re la ç õ e s, etc. algoritmo infinitesimal (em o p o s iç ã o a o
V er Logística. m étodo in fin ite s im a l c o n c e b id o in abs­
tract o c o m o u m m o d o d e ra c io c ín io q u e
A L G O R IT M O (E n c o n tra -se ta m b é m se e n c o n tra q u e r nos indivisíveis, q u e r nas
a lg u m a s vezes a fo rm a Aigorismo m ais fluxões, q u e r n o s diferenciais).
p ró x im a d a etim o lo g ia: A l K o rism i o u A l Rad. in t .: A lg o ritm .
K w arizm i, n o m e d o a u to r de u m a Á lg e ­
b r a q u e in tr o d u z iu n a E u r o p a d o sécu lo A L IE N A Ç Ã O D . A . Verausserung ;
IX a n u m e ra ç ã o d e c im a l.) D e o n d e , n a B . Irrsinn’, E . Allienation\ F . Aliénation ;
o rig e m , este siste m a de n u m e ra ç ã o ; d e ­ I. Alienazione.
p o is , em c o n s e q ü ê n c ia , c o n ju n to d a s re ­ A. N o se n tid o ju r íd ic o e p rim itiv o :
g ra s d o c á lc u lo d o s n ú m e ro s e sc rito s n o v e n d a o u cessão de u m b em a o u tr a
s iste m a d e cim al (as “ q u a tr o re g r a s ” ); e, p e sso a .
p o r fim , p o r e x te n s ã o , re g ra s d as o p e ra ­ P o r m e tá fo ra : e sta d o d a q u ele q u e p e r­
çõ es sim p les em to d a a esp écie de c á lc u ­ te n c e a o u tr o . “ O p e rs o n a lis m o é u m e s ­
lo. D . Algorithmus ; E. Algorithm ; F . Al- fo r ç o c o n tín u o p a r a p r o c u r a r as z o n a s
gorithme\ I. Algoritm o. o n d e u m a v itó r ia d e c isiv a s o b re to d a s as

S o b re A lg o ritm o — A rtig o m o d if ic a d o se g u n d o d iv e rsa s o b s e rv a ç õ e s , em e sp e ­


cial de Paul Tannery.

S o b re A lie n a ç ã o — E tim o ló g ic a m e n te , a p a la v r a im p lic a a p e n a s u m a d e fin iç ã o


m e ta fís ic a e v e rb a l: alienatus , a q u e le q u e n ã o se p e rte n c e . P a r a se fa z e r u m a id éia
p sic o ló g ic a d a a lie n a ç ã o m e n ta l é p re c iso n ã o a d is tin g u ir d a s a ú d e m e n ta l, a tra v é s
d e c a ra c te rís tic a s a r b itr a r ia m e n te e sc o lh id a s, m a s , p e lo c o n tr á r io , a p ro x im á -la d ela
se g u n d o o p rin c íp io de C la u d e B 2 Çτ 2 á , s e g u n d o o q u a l o p a to ló g ic o é a p e n a s o
E

ex ag e ro d o n o rm a l.
Se, p o r ta n to , com F . P a u lh a n , se d is tin g u e e n tre o s n o rm a is , e s e g u n d o a o rd e m
d e a ss o c ia ç ã o e d a s te n d ê n c ia s , os tip o s s is te m á tic o s , h e s ita n te s , d e s e q u ilib ra d o s , in ­
c o e re n te s , e tc ., p o d e r-s e -á e n c o n tr a r estes m e sm o s tip o s e n tr e os a lie n a d o s c o m e x a ­
g e ro a m a is ... A s q u a lid a d e s ig u a lm e n te fo r m a is , m a s s e c u n d á ria s , ta is c o m o riq u e ­
z a o u p o b re z a m e n ta l, le n tid ã o o u ra p id e z d a s a ss o c ia ç õ e s, p o d e r ã o n a m e sm a f o r ­
m a , d e v id o a o seu e x a g e ro , d e te r m in a r s u b g ru p o s o u c a r a c te riz a r m e lh o r os g ru p o s
j á e sta b e le c id o s.
P o r fim , d o p o n to d e v is ta b io ló g ic o e s o c ia l, s e ria a in d a u m e rro c a ra c te riz a r
a a lie n a ç ã o m e n ta l d iz e n d o q u e o h o m e m s ã o e s tá a d a p ta d o ao seu m e io , e n q u a n to
q u e o a lie n a d o n ã o o e stá . Sem d ú v id a , se p o d e c o n s id e ra r a s a ú d e c o m o a c o n c o r ­
d â n c ia d o s n o sso s ju íz o s , ra c io c ín io s , id é ia s , im a g e n s, e tc ., co m os fe n ô m e n o s d o
m u n d o m a te ria l e so c ia l, m a s n o p r ó p r io n o rm a l e s ta c o n c o r d â n c ia n u n c a é p e rfe ita
e a a d a p ta ç ã o c o m p le ta n ã o ex iste. C o n v é m , p o is , a q u i c o m o a tr á s , fa la r so m e n te
d e e x ag e ro e, co m e sta re s triç ã o , p o d e -s e d iz e r q u e o s a lie n a d o s se a f a s ta m d a a d a p ­
ta ç ã o q u e r d e v id o a excesso d e s iste m a (p e rs e g u id o s o u c iu m e n to s ), q u e r d e v id o a
d e fe ito d e c o e rê n c ia (m a n ía c o s e x c ita d o s), q u e r d e v id o à h e sita ç ã o d o s e lem en to s p sí­
q u ic o s (d u b ita tiv o s ), q u e r d e v id o a in é rc ia (d é b e is o u d e m a s ia d o e q u ilib ra d o s ). ( G .
D u m a s)
A LM A 44

fo r m a s d e o p re s s ã o e d e a lie n a ç ã o , e c o ­ s u a a tiv id a d e . “ 'Η ψ υ χ ή ôè τ ο ύ τ ο ω


n ô m ic a , s o c ia l o u id e o ló g ic a , p o d e d e ­ ζ ώ μ ε »χ α ί α ί σ θ α ν ό μ έ θ α xaI δ ί α ν ο ο ύ μ ί θ α
s e m b o c a r n u m a v e rd a d e ir a lib e rta ç ã o d o π ρ ώ τ ω ϊ .” A 2 «è ó Â è , Π ^ρ ί ψ υ χ ή ί ,
I I E E

h o m e m .” E m m a n u e l M ÃZ Ç« E 2 , Esprit , 4 14a 12. E s ta re a lid a d e p o d e ser, a liá s ,


ja n e ir o d e 1946, p . 13. c o n c e b id a , q u e r c o m o m a te r ia l: Ή
ψ υ χ ή σ ώ μ α Χ ί π τ ο μ ί ρ « . E P I C U R O , em
B. O te r m o m a is g e ra l p a r a d e sig n a r
D « Ã; . L τ E 2 T . X, 33: “ D ei f la tu n a ta m ,
a s p e rtu rb a ç õ e s p r o f u n d a s d o e sp irito :
im m o r ta le m , c o r p o r a le m , e f f ig ia ta m ” ;
“ A lie n a ç ã o m e n ta l.” O s lim ite s d o q u e T E 2 I Z Â « τ ÇÃ , D e A n im a , 8, e tc .; cf.
se d e sig n a d e ste m o d o e s tã o b a s ta n te m al m a is a d ia n te , R E ÇÃZ â « E 2 , o b s e rv a ç õ e s ;
fix a d o s e c e rto s a lie n ista s c o n te m p o r á ­ q u e r c o m o im a te ria l: “ A a lm a é d e u m a
n e o s e v ita m fa z e r u so d ele. n a tu r e z a q u e n ã o tem n e n h u m a re la ç ã o
“Alienado n ã o é u m te rm o d a lin g u a ­ c o m a ex ten são n e m c o m a s d im en sõ es o u
g em m é d ic a , n em m e sm o d a lin g u a g e m o u tr a s p r o p r ie d a d e s d a m a té r ia de q u e o
c ie n tífic a ; é u m te r m o d a lin g u a g e m p o ­ c o r p o é c o m p o s to .” D E è Tτ 2 I E è , Pai­
p u la r , o u m e lh o r, d a lin g u a g e m d a p o lí­ xões da alma, I, a r t. 30, e tc .
cia: u m a lie n a d o é u m in d iv id u o q u e é p e ­ S o b re o s e n tid o a m p lo e o s e n tid o es­
rig o s o p a r a o s o u tr o s o u p a r a si m e sm o tre ito d a p a la v r a alma (1 ? q u a lq u e r m ó ­
sem ser le g a lm e n te re s p o n sá v e l p e lo p e ­ n a d a ; 2? só a s m ó n a d a s q u e tê m p e rc e p ­
rig o q u e c r ia ... O p e rig o c ria d o p o r u m çõ es d is tin ta s e a c o m p a n h a d a s d e m e m ó ­
d o e n te d e p e n d e m u ito m a is d a s c irc u n s ­ ria ), v er L E « ζ Ç« U , M onadologia, § 19.
ta n c ia s so ciais n a s q u a is ele viv e d o q u e B. P r in c íp io d e in s p ira ç ã o m o ra l.
d a n a tu re z a d a s s u a s p e rtu rb a ç õ e s p s ic o ­ “ T e r a lm a ” , e x p re ss ã o d e A ÇT« Â Â ÃÇ ,
lo u v a d a p o r M me d e S ta é l, q u e a c re s c e n ­
ló g ic a s .” P ie rre J τ Ç E I , Les médications
ta : “ É e ste s o p ro d iv in o q u e f a z to d o o
psychologiques, I, 112.
h o m e m : a m a n d o - s e a p re n d e -s e m a is s o ­
A L M A (G . ^ivxq\ L . Anim a). D . See- b re o s m is té rio s d a a lm a d o q u e a tra v é s
le ; E . Soul ; F . Â m e; I. A nim a. d a m e ta fís ic a m a is s u til.” D e 1’AUemag -
A.
ne, 3? p a r te , c a p . II.
O p rin c ip io d a v id a , d o p e n sa m e n ­
to e d o s d o is a o m e sm o te m p o e n q u a n to C R ÍT IC A
c o n s id e ra d o c o m o u m a re a lid a d e d is tin ­ E s ta p a la v ra im p lica sem p re u m a d u a ­
ta d o c o rp o a tra v é s d o q u a l m a n ife s ta a lid a d e de n a tu r e z a e de fin s, u m a o p o si-

S o b re A lm a — Prat a c re s c e n ta ao s te x to s c ita d o s n o § A : “ Z e n â o d e C ic io , A n ti-


p a te r n o s seu s liv ro s Da alma e P o s id ô n io c h a m a m a lm a a u m e s p ír ito d o ta d o de c a lo r
q u e n o s d á a re s p ira ç ã o e o m o v im e n to .” D « ó ; E ÇE è L τ é 2 T« Ã , tr a d . a n ô n im a (A m s ­
te r d ã , S c h n e id e r, 1761), to m o II, p. 172. (V id a d e Z e n ã o .) V an B iè m a r e c o rd a o se­
g u in te te x to d e L E « ζ Ç« U : “ C o n tu d o , p a r a v o lta r à s f o r m a s o r d in á r ia s o u a lm a s m a te ­
ria is , e s ta d u r a ç ã o q u e é p re c is o a trib u ir -lh e s e m lu g a r d a q u e la q u e fo i a tr ib u íd a a o s
á to m o s p o d e ria fa z e r-n o s p e n s a r q u e elas v ã o d e c o r p o e m c o r p o , o q u e s e ria m e ­
te m p s ic o s e ” ; e a d o u tr in a q u e ele lh e o p õ e s o b re “ a c o n s e rv a ç ã o n ã o s ó d a a lm a , m a s
ta m b é m a in d a d o p ró p r io a n im a l e d a s u a m á q u in a o r g â n ic a m e sm o q u e a d e stru iç ã o
d a s p a rte s g ro sse ira s o te n h a re d u z id o a u m a p e q u e n e z q u e esc a p e a o s n o s so s sen tid o s
tanto quanto a q u e la q u e ele tin h a a n te s d e n a s c e r ” . N ovo sistema da natureza e da
comunicação das substâncias , § 6 e 7 . V er to d a a p a s s a g e m e c f . Teodiceia, 397.
E n c o n tra -s e ta m b é m e m R E ÇÃZ â « E 2 u m a c o n c e p ç ã o h ip o té tic a d a a lm a e n q u a n ­
to “ c o m p o s to s u til, p e n e tr a n te , im p e rc e p tív e l p a r a o s ó rg ã o s o u in s tr u m e n to s a in d a
m a is g ro s s e iro s ” , m a s c o n tu d o m a te ria l e c a p a z d e p a lin g ê n e se * . V er Psychologie ra-
lionelle, c a p . X X IV ; e d . A r m a n d C o lin , I I , 290.
45 ALM A

ç â o , p e lo m e n o s p ro v is o ria , c o m a id é ia C f . P Â τ I ÂO, Tim eu , 34 B s e g ., o n d e e la


d o c o rp o q u e r d o p o n to d e v is ta m e ta fís i­ é s im p le s m e n te c h a m a d a 4 fo x y . L .
c o , q u e r d o p o n to d e v is ta e m p íric o , q u e r A n im a mündig F Â Z á á ; P rincipium
d o p o n to de vista m o ra l, “ q u e r m e sm o d o hylarchicum, H e n r i M Ã2 ; D . Weltsee­
E

p o n to de v is ta e s té tic o , p o r e x e m p lo , le, Weltgeist; E . Soul o f the world ; F .


q u a n d o se d iz q u e é p re c iso te r a lm a p a r a  m e du m onde ; I. A n im a dei m undo.
te r g o s to ” . ( C a r ta d e M a u ric e B lo n d e l) A lm a q u e fa z em re la ç ã o a o m u n d o
D istin g u e -se d a p a la v r a espirito *: 1 ? p o r in te iro o p a p e l d e p rin c íp io de u n id a d e e
c o m e r a id é ia d e u m a s u b s tâ n c ia in d iv i­ d e m o v im e n to d e fin id o m a is a tr á s . E la é
d u a l; 2? p o r ser m a is c o m p re e n s iv a , d e fin id a p o r ST7 E Â Â « Ç; : “ W a s d ie C o n -
a p lic a n d o -s e s o b r e tu d o a p a la v r a espiri­
tin u ita t d e r a n o rg a n is c h e n u n d d e r o r g a ­
to às o p e ra ç õ e s in te le c tu a is . O p õ e -se
nischen W elt u n te rh a lt, u n d die g an ze N a ­
ig u a lm e n te a o eu n a q u e s tã o d e s a b e r se
t u r zu e in e m a llg e m e in e n O rg a n ism u s
a n o s s a a lm a “ é m a io r q u e o n o sso e u ” ,
v e r k n ü p f t.” 1 lieber die Weltseelle, Säm ­
q u e r d iz er, se a n o s s a e x istên c ia p s íq u ic a
tliche Werke, I , A b th .1 1 ,5 6 9 . O ra se c o n ­
é m a is rica d e c o n te ú d o d o q u e a q u ilo d e
q u e te m o s c o n sc iê n c ia . sid era q u e ela o c u p a o lu g a r de D eus*; o ra
E x iste m e sm o , n o m a is d a s v ezes, e n ­ q u e ela s e ja u m in te rm e d iá rio e n tre D eu s
tre os m o d e rn o s , u m se n tid o re lig io so em e o s seres visív eis.
co n seq u ên cia de u m a asso ciação m u ito ge­
r a l: 1? e n tre a id é ia d e a lm a e a id é ia d e A lm a p e n s a n te — ôtayoT ín xrj
im o r ta lid a d e ; 2 o e n tre a id é ia d e a lm a e A 2 « è ó Â è , f i e p t ^vxrjs, 4 3 1 * 1 4 ;
I I E E

a id éia de D e u s, c o n s id e ra d o c o m o a o r i­ votjTtxii tyvxr), ibid. 429*28. A a lm a o u a


g em e o v ín cu lo d a s alm as seg u n d o o C ris ­ p a r te d a a lm a q u e é o p rin c íp io d o p e n ­
tia n is m o (D è T τ 2 è , M τ Â ζ 2 τ ÇT
E I E E 7 E , s a m e n to . C f . A tiv o * (in te le c to ). S o b r e a
L « ζ Ç« U , B 2 3 Â à , e tc .).
E E E E

Rad. int.: A n im .
1. “ Aquilo que sustenta a continuidade d o m u n ­
A lm a d o m u n d o — 'H rÕv t t civt òs do orgânico e inorgânico e u n e to d a a natureza num
A 2 « è I ó I E Â E è , f ic e i 407*3. organism o universal.’’

M a is d o q u e a p a la v r a e s p ír ito , a p a la v r a alma e v o c a o s e n tim e n to d o q u e é vital ,


q u e n te , c o rd ia l. M a s a p a la v r a espírito n ã o ex clu i estes h a r m ô n ic o s (e a e tim o lo g ia
r e c o rd a - o b e m ); a p e n a s p õ e d e p re fe rê n c ia o a c e n to s o b re o q u e é in d e p e n d e n te d a s
c o n d iç õ e s m a te ria is o u a n im a is , s o b re o q u e p a r tic ip a d o u n iv e rs a l, d o e te r n o ; fa la r-
se -á d e “ p u r o e s p ir ito ” d e p re fe rê n c ia a “ p u r a a lm a ” . ( Maurice Blondel)
A u tiliz a ç ã o d a p a la v r a é fr e q ü e n te m e n te p o é tic a e v a g a : “ U m m u n d o sem a l­
m a . ” “ O b je to s in a n im a d o s , te n d e s p o is u m a a l m a ? ...” ( L a m a rtin e ). B erg so n fa la
d e u m “ s u p le m e n to d e a lm a ” , o q u e s u rp re e n d e d a p a r te d o a u to r d o s Dados im e­
diatos. (Aí. Marsal)
A id éia d e imortalidade fo i a s s in a la d a n a C rític a a c im a p o r p r o p o s ta de G . B eau -
la v o n , q u e n o ta q u e é n isso q u e , c o m u m e n te , a p a la v r a a lm a fa z p e n s a r de im e d ia to
n a s n o ssa s s o c ie d a d e s c ris tã s . P o d e r-s e -ia a c re s c e n ta r q u e e la e v o c a ta m b é m , a in d a
q u e p a ra n ó s se c u n d a ria m en te , a d o u trin a d a transmigração das alm as (ver m ais a trá s).
T o d a s e sta s id é ia s m e p a re c e m lig a r-se à d e p rin c íp io individual e separável q u e te n ­
tei p ô r em re le v o n o te x to d e ste a rtig o . (A. L .)

S o b re A lm a d o m u n d o — O d e u s d o s E s tó ic o s lig a a “ a lm a d o m u n d o ” p la tô n i­
ca às d o u tr in a s p o s te rio re s . T o r n a - s e a T e rc e ira H ip ó s ta s e d e P lo tin o e é e ssa a o r i­
g em d o s e n tid o d e s ta p a la v r a e m S ch ellin g . (R . Berthelot )
A L O G IC O 46

d iv isã o g e ra l d as fu n ç õ e s d a a lm a o u d a s O p o s to a lógico * n ã o c o m o c o n trá rio


a lm a s ver ibid., 413M 2, 414a32. d a q u e le n u m m e sm o g ê n e ro , m a s c o m o
e s tr a n h o às d e te rm in a ç õ e s q u e o c o n s ti­
A lm a sen sitiv a — aia6r}Tixf¡ ipuxrj, tu e m . C f. A m o ra l .
A2 «èI ó I E ÂE è , n e e i fa x ijs , 415a l , etc. A S p i r diz neste sentido ilógico, que ele
a lm a o u a p a r te d a a lm a q u e é o p rin c i­ o p õ e a antilógico. “ A realidade... é iló ­
p io d e se n sa ç ã o e d a se n s ib ilid a d e , m e s­ gica m as não a n tiló g ica .” Nouvelles es-
m o n o s seres q u e n ã o p o s su e m ra z ã o . quisses, p. 20.
E s ta p a la v r a fo i p r o p o s ta n a p rim e i­
A lm a v e g e ta tiv a — 0p« II Tixr¡ \pvxij,
ra re d a ç ã o d o p re s e n te Vocabulário p a r a
Ar , ríe e l ^ u x ijs, 4 1 5 a2 3 , etc.
is t ó t e l e s
re p re s e n ta r tu d o o q u e , n o h o m e m , e s tá
A a lm a o u a p a r te d a a lm a q u e p r o d u z
além d a s fu n çõ es in te le ctu a is. M as le v an ­
a n u tr iç ã o , o c re sc im e n to , a r e p ro d u ç ã o
to u viv as o b je ç õ e s . V er e m p a rtic u la r, n o
e o d e c lín io d o s seres vivos m e sm o n ã o
a p ê n d ic e , a c a r ta d e M a u ric e B l o n d e l
d o ta d o s de sen sação * e d e sen sib ilid ad e* .
re la tiv a à id é ia d e ação.
A lm a sensív el — A nim a sensibilis o u ALTERAÇÃO (G. ’AXXÃú ÃT3 ). D. I

Spiritus vita lis, Bτ TÃÇ . O è e s p írito s a n i­


Alteraiion, Aenderung; E . Alteration
m a is , c o m p re e n d id o s m a is o u m e n o s c o ­ (sem c o n o ta ç ã o p e jo r a tiv a ) ; F . Altéra-
m o em D e sc a rte s. É u m a s u b s tâ n c ia p u ­ tion ; I . Alterazione.
ra m e n te m a te ria l ta n q u a m a u r a c o m ­
p ó s ita ex fla m m a et a e r e ” . Historia vi· A. E m A ris tó te le s m u d a n ç a n a c a te ­
tae et m ortis , e d . E llis, II, 2 1 3 -2 1 5 . V er g o r ia d e q u a lid a d e * : o f a to d e v ir a ser
as o b se rv a ç õ e s. o u to r n a r o u tr o .
E s te s e n tid o e n c o n tra -se a in d a n a lin ­
“ A L Ó G IC O ” D . Alogisch (SCHOPE­ g u a g em té c n ic a d a te o ria d o c o n h ec im e n ­
NHAUER, H a r t ma nn ). to o u d a d ia lé tic a : “ A a lte r a ç ã o é u m a

S o b re A lm a sensív el e e s p írito s a n im a is — “ A n im a s iq u id e m sen sib ilis siv e b ru -


to ru m p la n e s u b s ta n tia c o rp o re a c e n s e n d a e st, a c a lo re a tte n u a ta et f a c ta in v isib ilis:
a u r a , in q u a m , ex n a tu r a fla m m e a et a e r e a c o n f la ta ... c o rp o re o b d u c ta a tq u e in a n i-
m a lib u s p e rfe c tis in c a p ite p ra e c ip u e lo c a ta ; in n erv is p e rc u rre n s , et sa n g u in e sp iri-
tu o s o a r te r ia r u m re fe c ta et r e p a r a ta , q u e m a d m o d u m B e rn a rd in u s T elesiu s et disci-
p u lu s e ju s A u g u s tin u s D o n iu s a liq u a ex p a r te n o n o m n in o in u tilite r , a s s e r u e r u n t...
E st a u te m h aec a n im a in b ru tis a n im a p rin c ip a lis , c u jo s c o rp u s b r u to r u m o rg a n u m ;
in h o m in e a u te m o rg a n u m ta n tu m et ip sa a n im a e r a tio n a lis , et s p iritu s p o tiu s q u a m
animae a p p e lla tio n e , in d ig ita ri p o s s it.” F . B a c o n , De dignitate , liv ro IV , c a p . II I,
§ 4.

S o b re “ A ló g ic o ” — Ú til p a r a d e sig n a r o q u e a in d a n ã o p o d e ser in tro d u z id o a t r a ­


vés d a re fle x ã o n o s q u a d ro s d a nossa ló g ic a , e sta p a la v r a n ã o p o d e ria te r u m v a lo r
d e fin itiv o e estáv el, p o is n a re a lid a d e n a d a n a n a tu r e z a o u n o e s p írito é e s tr a n h o às
d e te rm in a ç õ e s q u e fazem d o re a l e d o p e n s a d o u m Solidum quid . A ló g ica n ã o ces­
so u d e se a la r g a r e de se a g iliz a r p a ra i n t e g r a r a q u ilo q u e n o p rin c íp io h a v ia e x clu í­
d o , o f a to , o a c id e n ta l, o e x c e p c io n a l, o p a to ló g ic o : h á u m a ló g ica d o s e n tim e n to ,
d a p a ix ã o , d a v id a , d a a ç ã o , u m a ló g ica d a d e s o rd e m ; n ã o q u e ela ju s tifiq u e tu d o
a o c o m p re e n d e r tu d o ; m u ito p elo c o n tr á r io , ela re s s a lta as re p e rc u s s õ e s d is ta n te s de
u m a ju s tiç a im a n e n te , d e u m a n o r m a c o ex te n siv a ta n to à o rd e m c o m o às a b e rra ç õ e s
a p a r e n te s e p ro v is ó ria s . E x iste o ilógico , n o s e n tid o d e q u e os c o n tr á r io s sã o d o m e s ­
m o g ê n ero ; n ã o h á n o fu n d o n a d a d e alógico. (Maurice Blondel)
47 A L T E R N A T IV A

n o ç ã o o rig in a] ta l c o m o a d e q u a lid a ­ A L T E R N A T IV A D . E . F . Alternati­


d e .. . ” H τ O Â « Ç , Essai, c a p . I I I , § 2 , A :
E ve; I. Alternativa.
“ C o m o c o n s titu ir u m a n o ç ã o in telig ív el V er Disjuntivo.
e m ais o u m e n o s c o m p le ta d a a lte ra ç ã o A . S iste m a d e d u a s o u m ais p r o p o ­
em g e r a l.” siçõ es e m q u e u m a p elo m e n o s é v e rd a ­
B. N a lin g u a g e m m o d e rn a p a ssa g emd e ira . É , p o is , a som a lógica d e d u a s o u
a u m e sta d o d ife re n te o u a n o r m a l c o n si­ m ais P p (q u e n ã o são n ecessariam en te ex­
d e r a d o c o m o in fe rio r. “ A a lte ra ç ã o d as c lu siv as u m a d a o u tra ). E s ta a c e p ç ã o é
c o re s d e u m q u a d r o .” ra ra .

Rad. int.: A . (ação de tornar-se ou­ B . M ais e sp e c ia lm e n te (m as m a is o r ­


tro): A ltre s k ; (ação de tornar outro): A l- d in a ria m e n te), sistem a d e p ro p o siçõ es em
trig . B . K o ru p te s k , K o ru p tig . q u e s ó u m a é v e rd a d e ir a . (D is ju n ç ã o ex­
c lu siv a .)
A L T E R I D A D E (G . ¿ r e p o r ^ ) . D . R e n o u v i e r c h a m a princípio da alter­
Andersheit, Anderssein', E . Otherness, nativa à q u ilo q u e v u lg a rm e n te se c h a m a
A lterity (ra ro ); F . Altérité: I. Alterita. p rin c íp io d o te rc e iro e x clu íd o . Logique,
A . C a r a c te rís tic a d o q u e é o u tro * . 2? e d ., I , 249-2 52.
O p õ e -se a id e n tid a d e . P o r c o n s e q u ê n c ia , n a o rd e m p r á tic a ,
p o s sib ilid a d e o u n e c e ssid a d e d e e sc o lh e r
B . E sp ecialm en te em R E ÇÃZ â « E 2 , ca­
e n tre v á ria s d ecisõ es a to m a r .
ra c te rístic a d o q u e é o u tr o q u e n ã o eu .
(E ste se n tid o lh e é p r ó p r io .) V er as o b ­ C . C a d a u m a d a s p ro p o siç õ e s o u d as
serv açõ es. decisões q u e fa zem p a rte d e u m a a lte r n a ­
tiv a n o s e n tid o A o u n o se n tid o B.
NOTA CRÍTICA
A n o ç ã o de alteridade é, d o p o n to de S eria d esejáv el a d o ta r n o m es d ife re n ­
v is ta ló g ico , u m a re la ç ã o sim é tric a e in ­ tes p a r a o s sistem as de p ro p o s iç õ e s e p a ­
tra n s itiv a , q u e fo i re p re s e n ta d a p o r O ’ r a c a d a u m a d e la s, p o r ex em p lo , n o p r i­
(S c h r o e d e r ) o u p o r I’ (C o u t u r a t , Les m e iro c aso , alternativa', n o seg u n d o alter­
principes de la logigue , § IV n a E n c ic lo ­ nante (p o d e n d o ter e sta s e g u n d a p a la v ra
p e d ia R u g e ). E la é a ssim d e fin id a u m sen tid o re la tiv o : “ m é o a lte rn a n te de
c o m o n e g aç ã o p u ra e sim ples d a id e n ­ n ” s ig n ific a ria : m e n são o s a lte rn a n te s
tid a d e , de u m a m e sm a a lte rn a tiv a ).
Rad, int.: A ltre s. Rad. int.: A . A ltern ativ ; B . A lte rn a n t.

S o b re A lle rid a d e — O s e n tid o em q u e R en o u v ie r to m a e sta p a la v ra fo i-n o s a ssi­


n a la d o p o r Louis Prat, q u e n o s re m e te p a r a o te x to se g u in te : ‘‘Da relação como ca­
tegoria. O s u je ito : o m e u p e n s a m e n to p r ó p r io . O o b je to : u m g o lp e v in d o de fo ra .
O o b je to é o o u tro : u m a s e n s a ç ã o , u m a tr a ç ã o , u m e m p u r r ã o , u m a fric ç ã o , u m a
d o r. N a d a de lo c a liz a ç ã o ; a id éia de e sp a ç o n ã o in te rv é m a in d a ; h á a p e n a s u m a o p o ­
sição e n tre o eu e o n ã o - e u .” “ Ip s e id a d e , a lte rid a d e e sín tese: p e rc e p ç ã o . O q u e , d o
p o n to de v ista d o eu m e sm o , c o rre s p o n d e a o s te rm o s d a re la ç ã o em g e ra l: D istin ç ã o ,
Id e n tid a d e , D e te r m in a ç ã o .” R E ÇÃZ â « E 2 , Derniers entretiens, p p . 9 e 10 (c ó p ia de
u m a n o ta re d ig id a p o r ele).
S e ria n e c e ssá rio , p a re c e , p a r a a c o rre s p o n d ê n c ia d o s te rm o s , re sta b e le c e r a o r ­
d em seg u in te: I d e n t i d a d e , D i s t i n ç ã o , D e t e r m i n a ç ã o . M a s é ig u alm en te a s s i m q u e e le s
são e n u m e ra d o s n a Logigue, c a p . X X V I I . (A. L.)
ALTO 48

A L T O V er a s o b s e rv a ç õ e s . s e m e lh a n te s e n q u a n to ta l c o m o o b je tiv o
d a c o n d u ta m o ra l. C f . as fó r m u la s de
A L T R U IS M O D . Altruism us; E. A l ­ C o m te : “ V iv er p a r a o u tr e m — O A m o r
truism·, F . Altruisme', I. Altruism o. c o m o p rin c íp io , a O rd e m c o m o b a se , o
T erm o criado por A . C o m t e em o p o ­ P ro g re s s o c o m o o b je tiv o , e tc .”
sição a egoísmo*, adatado por S p e n c e r e
tornado corrente na linguagem filosófica. CRÍTICA

A . P s i c . S e n tim e n to de a m o r* p a r a D is tin g u im o s de m o d o n ítid o o s d o is


c o m o u tr o : q u e r se ja a q u e le q u e re s u lta c a m b ia n te s d o sen tid o A , n ã o a p e n a s p o r­
in s tin tiv a m e n te d o s la ço s q u e ex istem e n ­ q u e n o p o n to d e v ista p sico ló g ico eles c o r­
tr e o s seres de u m a m e sm a e sp é c ie, q u e r resp o n d em a d u a s a titu d e s d ife re n te s, m as
a q u e le q u e re s u lta d a re fle x ã o e d a a b n e ­ p o rq u e B a l d w i n (Dictionary, su b V o)
g a ç ã o in d iv id u a l. C o m p re e n d e seg u n d o n o ta q u e a p a la v r a altruísmo só d e v e ser
o Quadro d o Catecismo positivista a d e ­ u tiliz a d a q u a n d o se tr a t a d e u m a d is p o s i­
d ic a ç ã o , a v e n e ra ç ã o , a b o n d a d e . ç ã o c o n sc ie n te e n ã o de u m in s tin to o u d e
B . É t i c a . D o u trin a m o ra l, o p o s ta a o h á b ito s criad o s pela in terd ep en d ên cia* o r ­
h e d o n is m o , a o e g o ísm o * e n u m a c e rta g â n ic a . N o ta r-s e - á q u e , n o Discurso pre­
m e d id a a o u tilita ris m o * (n a m e d id a e m liminar, C o m te u tiliz a m u ita s vezes a b n e ­
g a ç ã o como sinônimo de altruísmo.
q u e este n ã o re q u e r, em p rin c íp io , n e n h u ­
m a o u tr a in s tâ n c ia m o ra l além d a p r o c u ­ S o b re a d istin ç ã o e n tre altruísmo e ca­
ra , p o r p a rte d o a g e n te , d o seu v e rd a d e i­ ridade v e r m a is a d ia n te a n o ta d e M .
ro interesse): te o ria d o b e m q u e co lo ca n o B Â Ã Çá Â .
E

p o n to de p a r tid a o in te re sse d o s n o sso s I Rad. int.: A ltru is m .

S o b re A lto — R. Eucken a s s in a lo u -n o s o u so fre q ü e n te q u e se fe z n a filo so fia


e n a lite r a tu r a ale m ã s d o q u a lita tiv o alto (hoch, höher): Höher e r a u m a p a la v r a c a r a
a S c h le ie rm a c h e r n a s u a ju v e n tu d e e d a e sc o la r o m â n tic a . P e lo c o n tr á r io , K a n t p r o ­
te s to u c o n tr a u m p re te n s o “höher Idealismus” q u e se lh e a tr ib u ía . “ H o h e T ü r m e ,
u n d d ie ih n e n ä h n ü c h n e n m e ta p h y s ic h g ro sse n M ä n n e r, u m w elch e b e id e g e m e in i­
g lich viel W in d ist, s in d n ic h t f ü r m ic h . M e in P la tz ist d a s f r u c h tb a r e B a th o s d e r
E r f a h r u n g .” 1 ( H a rte n s te in , IV , 121.) A e x p re ssã o “höhere K ritik” fo i ig u a lm e n te
e m p re g a d a . H e in r id , n a Teologische Realencyclopädie, fa z n o ta r q u e “höhere Kri­
tik ” e ra a d iv isa d e I. G . E ic h h o rn (T 1827).
E m fra n c ê s , haut (a lto ) fo i a lg u m a s vezes e m p re g a d o n este s e n tid o p o r a lg u n s
a u to r e s , n o m e a d a m e n te p o r R a v a i s s o n , q u e u s a a té fr e q ü e n te m e n te a p a la v r a : “ A
alta (h a u te ) filo s o fia , d iz ele, d a ta d a é p o c a ... e m q u e se re c o n h e c e u q u e , p a r a ex p li­
c a r o ser e a u n id a d e , n ã o b a s ta a m a té r ia .” L a P h ilo s o p h ie en France au X I X siéde,
l f e d ., p . 1. “ E s te re s u lta d o g e ra l, d e sd e s e m p re e n tre v is to p e la alta (h a u te ) filo so ­
f i a . . . ” Ibid., 232. “ A alta (h a u te ) d o u tr in a q u e e n sin a q u e a m a té r ia é a p e n a s o ú lti­
m o g ra u e c o m o q u e a s o m b r a d a e x is tê n c ia ...” Ib id ., 26S, etc.
M a s este u s o é e x c e p c io n a l, n ã o se t r a t a d e u m te r m o filo s ó fic o ; a höher c o rre s ­
p o n d e o te rm o superior, este m u ito u s a d o filo s o fic a m e n te , m a s n ã o p o s s u in d o s e n ti­
d o té c n ic o p re c iso . (A. L .)
S o b re A ltru ís m o — “ A d o to d e b o m g ra d o e sta p a la v r a (altruísta, a d j.) q u e d ev e­
m o s a C o m te . R e c e n te m e n te u m c rític o q u e c o n d e n a v a e s ta p a la v r a p o r ser d e f o r ­
m a ç ã o n o v a (as newfangled) p e rg u n ta v a p o r q u e n ã o n o s c o n te n tá v a m o s c o m as

1. “ As alcas corres e os grandes m etafísicos que se lhes assemelham têm de ord inário m uito vento ao
seu redor. Esse não é o meu negócio: meu terreno é a pro fundid ade fértil d a experiência.”
49 A L U C IN A Ç A O

A L U C IN A Ç Ã O D . Hallucination ; E . to , de u m a p o ltr o n a , p o r e x em p lo , q u e
Hallucination', F . Hallucination ; I. A ¡lu­ d e v eria n o rm a lm e n te e s ta r o c u lto p e la
cí nazione. p e sso a q u e e stá s e n ta d a .
P e rc e p ç ã o p o r u m in d iv íd u o d e sp e r­
CRÍTICA
to o u , m u ito m ais ra ra m e n te , p o r u m g ru ­
p o d e in d iv íd u o s , d e u m o b je to sensív el 1. B r i e r r e d e B o i s m o n t (.Des hallu­
q u e n ã o está re a lm e n te p re sen te o u d e u m
cinations, p . 16) d is tin g u e e n tre a lu c in a ­
ção e ilu sã o e fa z re m o n ta r esta d is tin ç ã o
fe n ô m e n o q u e re a lm e n te n ã o aco n te c eu .
a A r n o l d , Observations on Nature,
Alucinações hipnagógicas, a q u e la s
Kinds, Causes and Preservation o f
q u e p re c e d e m im e d ia ta m e n te o so n o .
Insanity *, L o n d re s , 1806. E le c ita as d is­
Alucinação negativa, fe n ô m e n o q u e
tin ç õ e s a n á lo g a s fe ita s p o r C r i c h t o n ,
c o n siste em n ã o p e rc e b e r u m o b je to p re ­
Es q u i r o l , Lé l u t , Le u r e t , P a r c h a p -
sen te, e em p reen ch er atrav és d e u m a im a ­
p e ; e a d o ta p a r a si p r ó p r io a seg u in te
g em in d ife re n te a p a rte d a re p re s e n ta ç ã o
fó rm u la : “ D e fin im o s a a lu c in a ç ã o c o m o
to ta l q ue esse o b je to deveria n o rm a lm e n te
a p e rc e p ç ã o d o s sig nos sensíveis d a id éia;
o c u p a r. D eve-se su b lin h a r q u e alucinação e a ilu s ã o , a a p re c ia ç ã o fa ls a d as s e n s a ­
negativa n ã o é, p a r a fa la r co m p ro p r ie ­ ções in te r n a s .” (Ibid., p . 18) E sta d is tin ­
d a d e , u m a a lu c in a ç ã o n o s e n tid o v u lg a r, ç ã o é r e to m a d a d e u m a fo r m a m ais p re- .l
m as a n te s u m fe n ô m e n o in v e rs o . C o n tu ­
d o , h á q u a lq u e r co isa d e v e rd a d e ir a m e n ­ l . O bservações sobre a natureza, o s gêneros e a
te a lu c in a tó r io n a p e rc e p ç ã o d e u m o b je ­ pro fd a x ia d a alienação m ental.

e x p ressõ es b o n d o s o ( benevolent ) e b e n fa z e jo ibeneficient). H á p a r a isso u m a ra z ã o


su fic ie n te . A ltruísm o e altruísta, a p re s e n ta n d o a o e s p írito , p e la su a fo r m a a ssim co ­
m o p e la s u a s ig n ific a ç ã o , a s a n títe se s d e eg o ísm o e de e g o ísta , c o m u n ic a m a id é ia
d e sta o p o s iç ã o m u ito ra p id a m e n te e c o m g ra n d e c la re z a , o q u e n ã o a c o n te c e co m
b e n e v o lê n c ia , b e n e fic ê n c ia e os seu s d e riv a d o s , p e la ra z ã o de n ã o im p lic a re m d ire ta ­
m e n te a a n títe se . E s ta s u p e rio rid a d e n a fo rç a ex p re ssiv a d a p a la v r a fa c ilita a c o m u ­
n ic a ç ã o d as id é ia s m o r a is .” H . S p e n c e r , Princípios de psicologia, 8? p a rte ; n o ta
a o títu lo d o c a p . V III: “ A ltru is tic s e n tim e n ts .” T ra d u ç ã o R ib o t e E s p in a s , II , 638.
O s c a p ítu lo s p re c ed e n te s são in titu la d o s : “ E g o istic s e n tim e n ts ” , “ E g o -a ltru istic se n ­
tim e n ts .”
D ife re n te s m o d ific a ç õ e s f o r a m in tr o d u z id a s n a sessão de 3 de m a io de 1923 n a
re d a ç ã o p ro v is ó ria d e ste a rtig o fe ita c o m v is ta à s e g u n d a e d ição :
1? N o § A d izia-se p rim itiv a m e n te : ” ... a q u ilo q u e re s u lta in s tin tiv a m e n te d a so­
lidariedade d o s seres de u m a m e sm a e s p é c ie .” Beaulavon o b se rv o u q u e este te rm o
e ra d e m a s ia d o esp ecial e im p lic a v a u m a h ip ó te s e a in d a d iscu tív el s o b re a o rig e m d o
se n tim e n to a ltru ís ta in stin tiv o .
2? N o § B as p a la v ra s : “ o u ao in d iv id u a lis m o ” fo r a m a c re s c e n ta d a s p o r p r o p o s ­
ta de Berthod, Gilson e Van Bièma. A u g u ste C o m te , c o m o se o b s e rv o u , e sta v a p r e o ­
c u p a d o em e n c o n tr a r re m é d io p a r a o in d iv id u a lis m o d o sécu lo X V III . P o d e r-se -ia
q u a se d iz er, a c re s c e n to u B erthod , q u e a su a id éia d e altruísmo se o p õ e s o b re tu d o
à Declaração dos direitos do homem. S ab e-se, a liá s, co m q u e in sistê n c ia c ritic o u esta
id éia de d ire ito . M as p a re c e u p re fe rív e l c o n s e rv a r e sta n o ta a p e n a s n as o b serv aç õ es
q u e a ex p licam .
3? N o m e sm o p a r á g r a f o , a lg u m a s lin h a s de e x p lic a ç ã o fo r a m a c re s c e n ta d a s p o r
p ro p o s ta de Gilson e Van Bièma p a r a f a z e r c o m p r e e n d e r e m q u e s e n t i d o o a l t r u í s m o
p o d e ser o p o s to a o u tilita r is m o , p o is n ã o é d u v id o s o q u e M ili é m u ito a ltru ís ta n a
A L U C IN A Ç Ã O 50

cisa e m e n o s o b s c u ra p o r J a m e s S u l l y , n a d a d e re a l se v e n h a a c re s c e n ta r à a lu ­
q u e a e n u n c ia assim : “ U m a ilu sã o deve c in aç ã o , e q u a se sem p re a p erso n ag e m o u
s e m p re te r p o r p o m o d e p a r tid a a lg u m a o o b je to fic tíc io a p a re c e em re la ç ã o co m
im p re s sã o re a l, e n q u a n to q u e u m a a lu c i­ o b je to s re a is q u e são n o rm a lm e n te p e r ­
n a ç ã o n ã o te m u m a b a se d e ste g ê n e ro . c e b id o s . (V er a b a ix o o s fa to s c ita d o s n a s
A ssim , h á ilusão q u a n d o u m h o m e m , to ­ o b s e rv a ç õ e s , e a q u e le s q u e s ã o re fe rid o s
m a d o d e te r r o r , to m a p o r u m f a n ta s m a p o r T a i n e , n o a p ê n d ic e d e A inteligên­
u m tr o n c o d e á rv o re ilu m in a d o p e la lu z cia.) M a s , a o a f a s ta r o c rité rio d o e rro
d a lu a . H á alucinação q u a n d o u m a p e s ­ p a rc ia l o u to ta l, a d is tin ç ã o p re c isa d o s
s o a q u e te n h a im a g in a ç ã o se re p re s e n ta d o is fe n ô m e n o s p o d e s e r m a n tid a d a se­
tã o v iv am en te a face d e u m am ig o au sen te g u in te m a n e ira . E x iste m n a p e rc e p ç ã o
q u e d u r a n te u m in s ta n te e la c rê re a lm e n ­ n o rm a l d e u m o b je to d o is f a to re s a c o n ­
te v er esse a m ig o . A ilu s ã o é , p o is , u m s id e ra r: 1? a s e n s a ç ã o p r o p r ia m e n te d i­
d e slo c a m e n to parcial d e u m fa to e x te rio r ta ; 2? a in te rp re ta ç ã o d e s ta sen sa çã o a tr a ­
a tra v é s d e u m a fic ç ão d a im a g in a ç ã o , e n ­ vés d o c o n c u rs o d e re c o rd a ç õ e s , d e im a ­
q u a n to q u e a a lu c in a ç ã o é u m d e slo c a ­ g e n s, d e a ss o c ia ç õ e s, d e ra c io c ín io s q u e
m e n to t o t a l . ’ ’ L es illusions des sens et de tr a n s f o r m a m a s e n s a ç ã o b r u ta n u m o b ­
i’esprit, B ib lio . scien t. in te r n a t., ed . fra n ­ je t o d is tin ta m e n te re c o n h e c id o . Se h o u ­
c e s a ., p p . 8-9. v er a lte ra ç ã o d a q u ilo q u e d ev e s e r n o r ­
E s ta d is tin ç ã o n ã o p o d e ser a ce ita s o b m a lm e n te a sen sa çã o , d ire m o s q u e h á alu­
e sta fo rm a : é m u ito r a r o , c o m e fe ito , q u e cinação; se h o u v e r a p e n a s a lte ra ç ã o d a -

s u a m o ra l p r á tic a , a in d a q u e o seu a ltr u ís m o s e ja d e riv a d o ; e é is so a liá s a q u e a


re d a ç ã o p rim itiv a v isav a c o m as p a la v ra s : “ em c e rta m e d id a ” . M a s p a re c e u n e c e ssá ­
rio ser-se m a is e x p líc ito . {A. L .)
Altruísm o n o s e n tid o de A u g u s te C o m te o p õ e -se p o r u m la d o a egoísmo, m as
p o r o u tr o o p õ e -se ta m b é m a caridade . A o c o n tr á r io d a s d o u tr in a s q u e (c o m o a de
L a R o c h e fo u c a u ld ) re d u z e m to d o s o s m o to r e s d a v id a a fe tiv a a o a m o r - p r õ p r io , o
a ltru ís m o c o n s id e ra q u e ex iste u m m o v im e n to c e n tr ífu g o tã o n a tu r a l e e s p o n tâ n e o
q u a n to a te n d ê n c ia c e n tr íp e ta . S o b re e ste f u n d a m e n to de n a tu re z a fa z r e p o u s a r a
o rd e m so cial e m o ra l, c o m p le ta n d o , o rg a n iz a n d o a e s p o n ta n e id a d e d o in s tin to a t r a ­
vés d a re fle x ã o e d a ciên cia q u e a tra v é s d a O rd e m e d o P ro g re s s o e le v a m a h u m a n i­
d a d e a té a o C u lto re lig io so d o g ra n d e S er h u m a n o . M as p re c isa m e n te p o r q u e este
a ltru ís m o te m a s u a fo n te n a n a tu re z a e o seu te rm o d e d e se n v o lv im e n to n a so c ie d a ­
de d ife re ra d ic a lm e n te d a c a rid a d e q u e n ã o se lim ita à s su g estõ es d a n a tu re z a e à
o rg a n iz a ç ã o p o s itiv is ta d o s b en s so cia is; e la u ltr a p a s s a a o rd e m lim ita d a d e sta s o li­
d a rie d a d e a o m e sm o te m p o e s p o n tâ n e a e ra c io n a l, p a r a o lh a r o s o u tr o s h o m e n s per
oculosD ei, p a r a ju s tif ic a r o d o m in f in ito d e si, p a r a e rig ir D eu s n o h o m e m em lu g a r
d e e rig ir a h u m a n id a d e em D e u s. N a te n ta tiv a d e s u b m e te r a o seu u so te rm o s , s e n ti­
m e n to s , id é ia s de o rig e m c ris tã c o m o a d e a b n e g a ç ã o , C o m te d e s n a tu ro u - a s e c o m o
q u e as d e c a p ito u . ( Maurice Blondel )
S o b re A lu c in a ç ã o — U m a p a r te d a c ritic a p rim itiv a fo i s u p rim id a e s u b s titu íd a
l f p o r indicações históricas mais completas; 2? p o r p ro p o s iç õ e s q u e te n d e m a p re c i­
s a r o s e n tid o d a p a la v r a s e g u n d o as o b s e rv a ç õ e s c o m u n ic a d a s p o r Goblot, Delbos,
Couturat, Rauh, Pecaut, Boisse, Ranzoli.
M u ito s a lie n is ta s c o n te m p o râ n e o s p e n sa m q u e a a lu c in a ç ã o n itid a m e n te c a ra c te ­
riz a d a , ta l c o m o e r a a d m itid a p o r E s q u iro l, L é lu t, B rierre d e B o ism o n t, M ich éa, Bail-
la rg e r, e tc ., é u m fe n ô m e n o r a r o — d iz em m e sm o a lg u n s , d u v id o s o — e q u e a m a io r
p a r te d o s caso s d ev e e ssa n itid e z a o tr a b a lh o re tro s p e c tiv o d a m e m ó ria o u a u m a
SI A L U C IN A Ç Ã O

q u ilo q u e n o rm a lm e n te d e v e s e r a in te r ­ q u e elas a p re se n te m , p sico lo g icam en te, as


p re ta ç ã o p e rc e p tiv a d a sen sa ç ã o , d ire m o s m e sm a s c a ra c te rís tic a s q u e e sta s.
q u e h á ilusão. Alucinações psíquicas, alucinações
psicossensoriais, ver o Suplemento n o fim
2. N ã o se c h a m a m v u lg a rm e n te àsd a p re s e n te o b r a .
im a g e n s d o s s o n h o s alucinações, a in d a Rad. int .: H a lu c in .

e x p re ss ã o v e rb a l q u e p re c isa b e m , p a r a o a u d ito r , a im p re s s ã o re a lm e n te e x p e rim e n ­


t a d a p e lo s u je ito 1.
“ O q u e , p e lo c o n tr á r io , im p r e s s io n a , n a m a io r ia d o s a lu c in a d o s , é a d is tin ç ã o
q u e eles p r ó p r io s fa z e m , e m a is fr e q ü e n te m e n te s o b a in flu ê n c ia d a s n o ssa s p e r g u n ­
ta s , e n tr e a s su a s a lu c in a ç õ e s e a s su a s p e rc e p ç õ e s re a is . A s a lu c in a ç õ e s d a v isão n ã o
s ã o v e rd a d e ira m e n te c o m p le ta s , q u e r d iz e r, sem e lh a n te s à s p e rc e p ç õ e s n o rm a is , c o m
a m e sm a n itid e z d e c o n to r n o s e d e c o re s, o s m e sm o s re le v o s, q u e n o s c a so s d a s g r a n ­
d e s in to x ic a ç õ e s , e m q u e a liá s se fa z em a c o m p a n h a r d a o b n u b ila ç ã o d a c o n sc iê n ­
c i a . " N o s o u tr o s caso s " o s d o e n te s tê m m u ito fr e q ü e n te m e n te u m a te n d ê n c ia es­
p o n tâ n e a p a r a fa z e r u m a c rític a , e a c a b a m o s p o r v e r " (n o q u e se re fe re à s a lu c in a ­
çõ es v isu ais) " q u e n a p sic o se a lu c in a tó r ia c rô n ic a eles n ã o se e n g a n a m ; re c u sa m -se
a v e r a í p e rc e p ç õ e s v isu a is, e c o m o d e lira m e x p lic a m tu d o n a tu r a lm e n te em fu n ç ã o
d o se u d e lírio , c o m o u m a m a q u in a ç ã o d o s seu s in im ig o s , to d o esse c o n ju n to im p r e ­
c iso d e im a g e n s " . G . D u m a s , Traité depsychologie , to m o I I , p . 893: " A s a lu c in a ­
ç õ e s e m g e r a l ."
C e rto s c a s o s , c o n tu d o , p a re c e m e fe tiv a m e n te c o n s titu ir v e rd a d e ir a s a lu c in a ç õ e s
n o s e n tid o c lássico . U m f a to c u rio s o é q u e o s e x e m p lo s q u e se seg u e m s ã o re la tiv o s
a su je ito s q u e n u n c a fo r a m a lie n a d o s . " O s e n h o r M a rillie r c o n to u -m e q u e te v e u m a
a lu c in a ç ã o r e p e tid a to d o s o s d ia s , à m e sm a h o r a , d u r a n te b a s ta n te te m p o . S e n ta d o
à m e sa d e tr a b a lh o , ele via , s e n ta d a n u m a p o ltr o n a , u m a p e ss o a q u e o o b s e rv a v a
fix a m e n te . O r a , a p o ltr o n a e sta v a v a z ia . A fa ls a p e rc e p ç ã o e ra tã o p re c is a , tã o re a l
c o m o as p e rc e p ç õ e s c irc u n s ta n te s , A m ã o q u e r e p o u s a v a s o b re o b r a ç o d a p o ltr o n a
e ra tã o n ítid a , t ã o d e fin id a em to d o s o s p o rm e n o re s c o m o a p r ó p r ia p o ltr o n a ; a c a ­
b e ç a d e sta c a v a -s e d e u m a g r a v u r a p e n d u r a d a n a p a re d e e e sc o n d ia -lh e u m a p a rte .
E is a q u i a a lu c in a ç ã o t i p o . " (E x tra to de u m a n o ta d e E dm ond G oblot )
O u v i p o r d u a s v ezes a lu c in a ç õ e s serem d e sc rita s p o r p e sso a s q u e j á as tin h a m
e x p e rim e n ta d o ; estav am tã o ca ra c te riz a d a s p o r essa m is tu ra ín tim a de elem en to s reais,
p e rc e b id o s n o r m a lm e n te , c o m o p o r e le m e n to s a lu c in a tó r io s . 1? A s e n h o ra M ., c u ja
id a d e u ltr a p a s s a v a os s e sse n ta a n o s , c o n to u -m e q u e d u r a n te u m c e r to p e río d o d a s u a
v id a v ia to d o s o s d ia s , à m e sm a h o r a , e n tr a r n a sa la o n d e e la se e n c o n tr a v a u m h o ­
m em v e stid o c o m o u m o p e rá rio q u e se a p ro x im a v a , a e m p u rra v a c o m a m ã o c o m o
q u e p a r a a a f a s ta r d o seu c a m in h o , e sa ía em s eg u id a . E la d a v a o s m e sm o s p o r m e n o ­
res q u e o s e n h o r M a rillie r s o b re as a p a r ê n c ia s ig u a is d e re a lid a d e a p re s e n ta d a s p e la
p e rs o n a g e m im a g in á ria , o s o b je to s d ia n te d o s q u a is p a s s a v a , etc. 2? O m e u c a m a r a ­
d a d a E sc o la N o rm a l P . B . ( m o r to d e m e n in g ite n o a n o seg u in te , c o m v in te e d o is
a n o s) v iu u m d o s seus p a is n u m a a lé ía d o ja r d im , a p ro x im o u -s e p a r a lh e fa la r, e a
im ag em d e s a p a re c e u n o m o m e n to em q u e ele a ia to c a r . E le fa z ia as m e sm as o b s e r­
v açõ es s o b re a re la ç ã o e n tre a im a g e m e a s á rv o re s v iz in h a s. (A. L .)

. Resumo das conversas com G eorges D um as.


A M A B IM U 5 52

A M A B IM U S T e rm o m n e m o té c n ic o A M I Z A D E D . Freundscha/t·, E.
d e L ó g i c a q u e e n u n c ia a e q u iv a lê n c ia Friendship', F . Am itié; I. Am icizia.
d a s q u a tr o m o d a is A . A . I. U ., c o lo c a ­ In c lin a ç ã o eletiv a* re c íp ro c a e n tre
d as n a o rd e m seg u in te: Possível, Contin­ d u a s p e sso a s m o ra is ; o p õ e -se a o a m o r B
gente, Impossível, Necessário. A , m a rc a d ev id o à au sên cia d a característica sexual;
a a firm a ç ã o d o m o d o * e a d o d ictu m * (p. a o a m o r C d e v id o à c a ra c te rís tic a d e r e ­
ex .: é p o ssív el q u e S se ja P ); I, a n e g a ç ã o c ip ro c id a d e .
d o m o d o e a a firm a ç ã o d o d ic tu m ; U , a
C RÍT IC A
n e g a ç ã o d o m o d o e a d o d ic tu m . E , q u e
se e n c o n tr a n a s trê s o u tr a s p a la v ra s m n e- A m iz a d e te m u m s e n tid o m a is p r e c i­
m o té c n ica s sim ilares (Purpurea*, IItace*, so q u e a m ig o (d iz-se q u e se é a m ig o d a s
Edentuii*), a s s in a la a a f ir m a ç ã o d o m o ­ a rte s , d o p r a z e r e n ã o q u e se tem a m iz a ­
d o e a n e g a ç ã o d o d ic tu m . V er a s o b s e r­ de p o r estes o b je to s ). A im p o r tâ n c ia fi­
v açõ es s o b re Modalidade. lo s ó fic a d e ste te rm o v em s o b re tu d o d o
p a p e l c o n c e d id o à ç>c\ia p elo s filó so fo s
A M A U R O S E V er as o b s e rv a ç õ e s s o ­
g reg o s (P i t á g o r a s , P l a t ã o , A r i s t ó t e ­
b re Anestesia.
l e s , E p ic u ris ta s e E s tó ic o s ). A r i s t ó t e -
A M B IG U ID A D E D . Zweideutigkeit ; l e s re c o n h e c e trê s esp écies de a m iz a d e
E . A m b ig u ity ; F . A m biguité ; I. A m - q u e se su b d iv id e m elas m esm as em n u m e ­
biguità. ro so s c a m b ia n te s : a q u e te m p o r o b je to
D u p lo s e n tid o de u m a p a la v r a o u d e o p ra z e r; a q u e te m p o r o b je to o in te re s ­
u m a e x p re ss ã o q u e r se ja p o r e la m esm a se; a q u e te m p o r o b je to o b em m o ra l.
q u e r se ja s e g u n d o o seu lu g a r e a s u a c o ­ S ó a te rc e ira é p e rfe ita : TeXtta 6'
n e x ã o . C f. A nfibolia, Equívoco. t Õ)V àyotduv iptkía x a i xoiQ' òtQtrqv
Rad. int.: A m b ig u e , — a j. 6fiout>v. É tica a N icôm aco, V I I I , 8 ,
1 156b7 . A s fo r m a s in fe rio re s n ã o d ev em
A M B IV A L Ê N C IA V er Suplemento.
to d a v ia ser e x c lu íd a s d o n o m e d e a m iz a ­
A M B L I O P I A V er a s o b s e rv a ç õ e s s o ­ d e . Ética a E udem o , V II, 2 , 1236a. O s
b re Anestesia. e stó ic o s v ã o m a is lo n g e e a té re c u sa m o

“ É p re c iso te r e m c o n ta , n a d e fin iç ã o d e s ta p a la v r a , o f a to d e c e rta s a lu c in a ç õ e s


se re fe rire m n ã o a o b je to s p r o p r ia m e n te d ito s , m as a e s ta d o s in te rio re s : a lu c in a ç õ e s
m u s c u la re s (C 2 τ OE 2 , Die Hallucinationem im M uskelsinn, F r e ib u r g , 1889): a lu c i­
n a ç õ e s c en e stésic as (te r u m c o rp o d e v id ro , e s ta r m o r to , e n c o n tr a r -s e n u m c o rp o q u e
n ã o o seu , e t c .) .” (C. Ranzolí)

S o b re A m iz a d e — G. Beaulavon p õ e em d ú v id a q u e a a m iz a d e se ja m a is n e c e ssa ­
ria m e n te re c íp ro c a d o q u e o a m o r . “ F a la -s e , d iz ele, de uma amizade não partilhada,
o c a s o é f r e q u e n te em p a r tic u la r n as c r ia n ç a s .” P a re c e -m e q u e e s ta e x p re ssã o é u m
p o u c o f o r ç a d a e q u e n este caso se fa la ria de p re fe rê n c ia de “ a f e iç ã o ” o u “ s im p a tia ”
n ã o p a r tilh a d a . E m to d o c a s o , e s ta u tiliz a ç ã o d a p a la v r a p e rte n c e ria à lin g u a g e m f a ­
m ilia r: n a lin g u a g e m filo s ó fic a re té m s e m p re q u a lq u e r c o isa d a u tiliz a ç ã o a ris to té lic a
e e sto ic a ; p o r e x e m p lo , n e sta p a ssa g em d e R E ÇÃZ â« E 2 e P 2 τ I : “ A a m iz a d e real dig­
na deste nome d á -n o s , n o n o sso p ró p r io se x o , o c o m p a n h e iro d e v id a c u jo c a r á te r
se a d a p ta a o n o s s o , este ser h a rm ô n ic o d o n o s s o s e r, sem lh e ser s e m e lh a n te o u m e s­
m o c o n tr a s ta n te , c o m o q u a l a p e n a s te m o s re la ç õ e s h a b itu a is em p é d e re c ip ro c id a ­
d e . ” La nouvelie monadologie , p . 193. C f. R ÃZ è è E τ Z , Émile, IV : “ O a p e g o p o d e
d is p e n s a r a re c ip ro c id a d e ; a a m iz a d e n u n c a .” (E d . G a rn ie r, p . 2 5 4 .) (A . L .) V er
Afecçõo */A feição.
53 AMOR

n o m e d e a m iz a d e a tu d o o q u e n ã o fo r A M O R (L . A m or). D . Liebe; E . Lo-


o a p e g o d o s s a b io s em ra z ã o d a id e n ti­ ve; F . Am our; I. Am ore.
d a d e d a s u a s a b e d o ria . (D iá lo g o s de A . N o m e c o m u m a to d a s as te n d ê n ­
Eú « TI , II, 22).
E I Ã
c ia s a tra tiv a s s o b re tu d o q u a n d o elas n ã o
Rad. int.: A m ik (es). tê m p o r o b je to exclusivo a s a tis fa ç ã o de
u m a n e ce ssid a d e m a te ria l: tais c o m o as
A M N E S IA (do G . ex, ¡xvrjcns). D . A m -
in clin açõ es d o m ésticas (a m o r d o s p ais p e ­
nesie; E . Amnesia; F . Amnésie; I.
Amnesia. lo s filh o s); a s in c lin a çõ e s c o rp o ra tiv a s*
( p a trio tis m o ; e sp írito d e g ru p o ); as in c li­
P e rd a o u e n fra q u e c im e n to d a m e m o ­
n açõ es in d iv id u ais* (a m o r a o jo g o , a m o r
ria coexistindo com u m estad o n o rm al das
a o lu x o , a m o r d a p ro fissã o ). Se a te n d ê n ­
o u tra s fu n ç õ e s in te le c tu a is. Am nésia ge­
c ia é p u ra m e n te m a te ria l, u tiliz a -se em
rai\ a q u e la q ue a tin g e to d a s a s c ate g o ria s
fra n c ê s o v e rb o aimer , m a s ra ra m e n te o
de re c o rd a ç õ e s; amnésia parcial (R i b o t ,
s u b s ta n tiv o am our : d iz-se on aime boi-
Maladies de la mémoire ) o u sistematiza­
re , m as n ã o se d iz on a l ’amour de
da (P . J a n e t , Autom atism epsychologi-
Válcool.
que), a q u e la q u e a tin g e u m a c a te g o ria
p a rtic u la r de re c o rd a ç õ e s (p o r ex em p lo B . D iz-se d a in c lin a ç ã o sex u al s o b to ­
u m a d as classes de sen sa ç õ e s, o s n o m e s d a s a s s u a s fo rm a s e em to d o s os seu s
p ró p r io s , as d a ta s e m e sm o u m a le tra de­ g ra u s . Q u a n d o a p a la v r a se u tiliz a s o z i­
te rm in a d a ). P ro p o m o s o te rm o amnésia n h a é em g e ra l n e s ta a c e p ç ã o .
sistemática , de q u e o m esm o a u to r se ser­ C . T e n d ê n c ia e sse n cia lm e n te oposta
ve q u a n d o fa la d a a n a ste sia * . a o egoísmo: I? s e ja p o r q u e ele te n h a p o r
Rad. int.: A m n e zi. o b je to o b em d e u m a o u tr a p e sso a m o -

S o b re A m n é sia — D istin g u e m -se a in d a s e g u n d o a re p a rtiç ã o n o te m p o d a s r e c o r­


d a ç õ e s a b o lid a s:
A s amnésias lacunares, re la tiv a s a p e río d o s d e te m p o d e lim ita d o s ; as amnésias
retrógradas (e n g e n d ra d a s q u a se s e m p re p o r tra u m a tis m o s ) re la tiv a s a u m p e río d o
m ais o u m e n o s lo n g o q u e p re c e d e d e im e d ia to o a c o n te c im e n to c a u s a l; as amnésias
anterógradas o u contínuas (am nésias d e fix ação ), relativas a u m p e río d o m ais o u m enos
p ro lo n g a d o n o c u rs o d o q u a l n ã o se p r o d u z a q u isiç ã o d e re c o rd a ç õ e s; as amnésias
anterorretrogadas, q u e c o m b in a m a s d u a s ú ltim a s fo rm a s .
F in a lm e n te , a d istin ção d a s am n ésias d e evocação e d e conservação, o p o stas ig u al­
m e n te às a m n é sia s d e fixação, d iz re s p e ito a o s m e ca n ism o s g e ra d o re s d a a m n é sia
(d e s tru iç ã o d a s p ró p r ia s re c o rd a ç õ e s o u in c a p a c id a d e d e u tiliz a r as re c o rd a ç õ e s r e a l­
m e n te c o n se rv a d a s). {H. Piéron)
S in ô n im o fran c ês: e sq u e c im e n to ( oubli ). ( K Egger) P a re c e -n o s q u e as d u a s p a la ­
v ra s n ã o sã o e q u iv a le n te s: o e sq u e c im e n to é n o rm a l; a a m n é s ia , p a to ló g ic a . (Louis
Couturat — A . L.)
A e x p re ssã o “amnésia periódica ” (P ie r re J a n e t , e tc .) seria u tilm e n te s u b s titu í­
d a p o r amnésia dos períodos. “Am nésia contínua ” , d o s m esm o s a u to re s , é e q u ív o ­
c a. D ev er-se-ia d iz e r: e s q u e c im e n to p ro p o r c io n a l (à mesure). (V. Egger)

S o b re A m o r — E s ta p a la v r a , n o s e n tid o B, n ã o deve dizer-se d a in c lin a ç ã o s e ­


x u al a n ã o ser q u e e la se ja e le tiv a . (G. Dumas ) S em d ú v id a , tra ta -s e v e rd a d e ira m e n te
d o q u e se deve d iz er: ver a Crítica m ais a trá s . M a s , d e f a to , e sta re s triç ã o n ã o é o b ­
s e rv a d a : “ R ed u zi o a m o r a u m a fu n ç ã o e e sta fu n ç ã o a u m m ín im o .” T τ « Ç , Tho- E

mas Graindorge, 307. Os ex em p lo s são n u m e ro s o s . (A. L.)


AM OR 54

ral: a m o r a o s d e sg ra ç a d o s, a m o r a o p r ó ­ desses fa ls o s s e n tim e n to s q u e eles c h a ­


xim o; 2? seja p o rq u e ten h a p o r o b jeto u m a m a m d e a m o r e q u e n ã o se a sse m elh a m
idéia em fa ce d a q u a l se fa z m ais o u m e­ m a is a o a m o r d o q u e a v id a d o a n im a l
n o s co m p le ta a b n e g a ç ã o d o in teresse p ró ­ à v id a d o h o m e m .” T àè I ë , Da vida,
p rio e até d a p ró p ria individ ualidade: a m o r p . 170, t r a d . f r a n c ., e to d o s o s c a p ítu lo s
à ciência, à a rte , à ju s tiç a . “ O v e rd a d e iro d o X X II a o X X IV . O m e sm o se a p lic a
a m o r tem sem p re p o r b a se a re n ú n c ia a o a o s ra c io c ín io s d o ro m a n tis m o s o b re o
b em in d iv id u a l.” T o l s t o i , Da vida, 177. v a lo r m o ra l d o a m o r q u e re p o u s a m s o ­
Se estes o b je to s d e a m o r são c o n sid e ra d o s b re a m is tu ra d o s d o is s e n tim e n to s e m B.
re u n id o s e fo r m a n d o o s a trib u to s de u m a O s e sc o lá stic o s d is tin g u e m c o m ju s ti­
p e sso a m o ra l: a m o r de D eu s. ça am or beneficientiae (C ) e amor con-
cupiscentiae ( = e g o ís ta , A o u B ). N u m
C R ÍT IC A se n tid o p ró x im o o p õ e -s e p o r vezes a m o r
V ê-se p ela a n á lis e p re c e d e n te q u e a c a p ta tiv o e a m o r o b la tiv o . É v e rd a d e q u e
p a la v r a a p re s e n ta s e n tid o s m u ito d iv e r­ D E S C A R T E S p r o te s to u c o n tr a e sta d is tin ­
s o s , p o d e n d o a lg u n s d eles ir até a u m a ç ã o , re d u z in d o u m e o u tr o à fó rm u la :
v e rd a d e ira o p o s iç ã o . A s fó r m u la s lite rá ­ “ U m a e m o ç ã o d a a lm a c a u s a d a p e lo m o ­
ria s q u e re p o u sam so b re o jo g o d e sta o p o ­ v im e n to d o s e sp írito s q u e a in c ita a j u n ­
siçã o s ã o in u m e rá v e is: “ Se a c re d ita m o s tar-se v o lu n ta ria m e n te a o s o b je to s q u e lhe
a m a r a n o s sa a m a n te p o r a m o r d e la es­ p a re c e m s e r c o n v e n ie n te s. ( J u n ta r - s e
ta m o s b e m e n g a n a d o s .” L a R o c h e f o u - v o lu n ta ria m e n te = ‘im a g in a r u m to d o d o
c a u l d , M ax . 374. “ N o v e n ta e n o v e c e n ­ q u a l se é a p e n a s u m a p a rte e d e q u e a c o i­
té sim o s d o m a l e n tre o s h o m e n s p ro v ê m sa a m a d a é o u tr a ’.)” Paixões da alma, II ,

O a m o r n o s e n tid o C é m e n o s u m a n tie g o ism o d o q u e u m su p ra -e g o ísm o : é a


te n d ê n c ia fu n d a m e n ta l d o se r e m d ire ç ã o a o b e m , d e in íc io in d e te rm in a d a m e n te , m a s
p o r fim este b em u n iv e rs a l n ã o ex clu i o m e u p r ó p r io b em q u e n e le e stá c o m p re e n d i­
d o : “ A m o r b e m o r d e n a d o c o m e ç a p o r si m e s m o .” S em d ú v id a a fim d e im p e d ir a
m o n s tru o s a d e s p r o p o rç ã o d o a m o r-p r ó p rio , q u e u s a a in c lin a ç ã o in fin ita p a ra o b e m
e m f a v o r d o eu fin ito e in sa c iá v e l, im p o r ta a b s o lu ta m e n te a b a f a r , o d ia r e ste e g o c e n ­
tris m o . M as a in s tâ n c ia p r o f u n d a n ã o p e rsiste m e n o s n o m ais ín tim o d e c a d a ser q u e
te m c o m o q u e s u p e r a r trê s e ta p a s : 1 ? am or complacentiae et concupiscentiae , in g ê­
n u a d e d ic a ç ã o d a c ria n ç a q u e re la c io n a sem re fle x ã o tu d o c o n sig o m e sm a ; 2? amor
benevolentiae et benefícentiae, g e n e ro sid a d e q u e p õ e a p e sso a n o se u lu g a r e a su ­
b o rd in a a o s o u tr o s ; 3? am or unionis, e s q u e c im e n to e d á d iv a d e s i, m o r te a m o ro s a
d e u m a v id a q u e , s e g u n d o a s p a la v ra s d e S to . A g o s tin h o , est plus ubi amat quam
ubi anim at , m a s q u e se e n c o n tr a ta n to m a is p e rfe ita m e n te q u a n to m a is p e r d id a e s tá
n a q u ilo q u e a m a . H á p o is a sc e n s ã o , m a s n ã o r u p tu r a , n em o p o s iç ã o a b s o lu ta n a s
d iv e rsa s fa ses e n o s d iv e rso s s e n tid o s d o a m o r . (Maurice Blondet)
P a re c e q u e h á a lg u m e q u ív o c o e m d iz e r q u e o b e m u n iv e rsa l n ã o é ex clu siv o d o
meu b e m próprio e a fó r m u la “ c a r id a d e b em o r d e n a d a c o m e ç a p o r si m e s m a ” , d e ­
p o is de te r se rv id o p a r a exprimir a idéia que Blondel recorda m a is a tr á s e q u e n o s
fo i a s s in a la d a ta m b é m p o r R. Daude, é h o je q u a se q u e a p e n a s u tiliz a d a n u m s e n tid o
irô n ic o . N ã o s ó p a re c e c e rto q u e h á caso s em q u e a a b n e g a ç ã o e o sa c rifíc io sã o reais
e n e ce ssá rio s p a r a o b e m u n iv e rs a l, m a s m e sm o , e m tese g e ra l, é d e s u p o r q u e o ser
o u o b em d o h o m e m e s tá v e rd a d e ira m e n te n o seu eu n o q u e ele p o d e a p e lid a r seu
e d e le a p r o p r ia r - s e , o q u e está lo n g e d e p o d e r ser tid o p o r e v id e n te . E o q u e o m ís-
55 AMOR

7 9-81. M as a a ss im ila ç ã o é e v id e n te m e n ­ o s s e n tid o s d a p a la v r a a m o r . S e ria d e s e ­


te in e x a ta n a m e d id a em q u e as c o isa s o u já v e l, d e v id o à p re v e n ç ã o m o ra l f a v o r á ­
o s seres d e s e ja d o s são c o n c e b id o s c o m o vel q u e a e la a n d a lig a d a , re s e rv á -la a o
u m meio em v ista d o fim q u e n o s s o m o s , s e n tid o C ( = a q u e le q u e tr a n s p o r ta p a r a
e n ã o c o m o o u tr o s m e m b ro s d e u m todo f o r a d o in d iv íd u o q u e a m a a fin a lid a d e
d o q u a l fa z e m o s p a r te d a m e sm a f o r m a d o seu s e n tim e n to e d a s u a a ç ã o ). C f. a
q u e eles, o u m e sm o s u b o r d in a n d o - n o s a b e m c o n h e c id a d e fin iç ã o d e L e i b n i z :
eles: o q u e é o a m o r n o sen tid o C . E le v o l­ “ A m a re e st g a u d e r e fe lic ita te a lte r iu s .”
t a a liá s à o p o s iç ã o d o s d o is s e n tim e n to s A p a la v r a desejo, q u e lh e é n itid a m e n te
a tra v é s d e u m ro d e io : “ A in d a q u e as p a i­ o p o s ta em c e rto s c aso s p e la lin g u a g e m
x õ es q u e u m am b icio so p o ssa te r p ela g ló ­ c o rre n te , p o d e ria ser a p lic a d a em geral ao
r ia , o b ê b a d o p e lo v in h o , u m b r u to p o r o u tr o s e n tid o ( - t e n d ê n c i a p a r a a p o sse
u m a m u lh e r q u e ele q u e r v io la r, u m h o ­ o u fr u iç ã o c o m o u sem c o n s id e ra ç ã o d a
m em de h o n r a p elo seu a m ig o o u p ela su a fin a lid a d e p r ó p r ia d o q u e é d e s e ja d o ; o
a m a n te e u m b o m pai p elo s seus filh o s se­ q u e H e l v é c i o re s u m ia n o a fo ris m o :
ja m d ife re n te s e n tre si, to d a v ia , p e lo fa ­ “ A m a r é te r n e ce ssid a d e ” ). M as, p o r o u ­
to de p a rtic ip a re m d o a m o r sã o sem elh an ­ tr o la d o , a p a la v ra amor p e rte n ce tã o fo r-
t e s . ” Ibid., 82. M as a c re s c e n ta q u e u m te m e n te à lin g u ag em c o rre n te , co m a m u l­
p a i em re la ç ã o a o s seus filh o s “ r e p re s e n ­ tip lic id a d e d o s seu s s e n tid o s , q u e n ã o se­
ta n d o -s e q u e eles e ele fa z em u m to d o de ría m o s c a p a z e s d e fa z e r a d o ta r u m a es­
que ele não é a melhor parte, p re fe re f r e ­ p e cia liz a çã o d e ste te rm o . L im ita m o -n o s ,
q u e n te m e n te o s in teresses d eles a o s seu s” p o is , a a s s in a la r n e le a a m b ig u id a d e e a
e q u e “ a a fe iç ã o q u e as p e ss o a s d e h o n r a re c la m a r e m to d o s os caso s e q u ív o c o s a
tê m p elo s seu s a m ig o s é desta natureza se u tiliz a ç ã o d e e x p re ss õ e s q u e p e r m ita m
b em q u e ela r a ra m e n te s e ja tã o p e rfe ita ” ; e v ita r o s o fis m a . C f. as o b s e rv a ç õ e s s o ­
o q u e re s ta b e le c e a o p o s iç ã o . b re Caridade.
É , p o is , im p o s sív e l re d u z ir à u n id a d e Rad. i n t A m .

tic o e n c o n tr a q u a n d o se p e rd e n o q u e a m a n ã o é ta lv e z este eu q u e ele tin h a a b a n d o ­


n a d o . (A. L .)
Ch. Werner r e c o rd a “ a n o ç ã o p la tô n ic a d o a m o r c o m o o e n tu s ia s m o a tra v é s d o
q u a l a a lm a , sen sív el à a tr a ç ã o d a B eleza p e r f e ita , te n d e p a r a a im o r ta lid a d e ” .

S o b re a Crítica — P o d e r- s e -á d iz e r q u e o a m o r à c iê n c ia , à ju s tiç a , a D eu s se ja
am or bene/icientiael (J . Lachelier) E s te te r m o e sc o lá stic o é, co m e fe ito , u m p o u c o
e s tre ito d e m a is . C o n tu d o , se se a m a a c iê n c ia “ p e la c iê n c ia ” e n ã o p o r u m a esp écie
de e g o ísm o in te le c tu a l q u e se c o m p r a z em e x e rc e r as s u a s fa c u ld a d e s , p a re c e c o r r e to
q u e o o b je tiv o d a a ç ã o s e ja o bem da ciência em si m e s m a , q u e r d iz e r, o seu p r o g r e s ­
so . E a m e sm a c o isa p a r a a q u e le q u e a m a D eu s servindo-o, n ã o se rv in d o -s e dele p a r a
a su a p r ó p r ia s a lv a ç ã o . (A. L .)
N ã o v e jo n a d a a r e p r o v a r n a te se de D e s c a rte s . E la re s e rv a a q u e s tã o d e s a b e r
se o c e n tro d e g ra v id a d e d o s iste m a f o r m a d o p o r n ó s e o o b je to a m a d o e stá em n ó s
o u n esse o b je to . ( J . Lachelier ) M a s e la n ã o fa z p a s s a r d e s ta f o r m a o essen cial p a ra
s e g u n d o p la n o , a o c o lo c a r, p e lo c o n tr á r io , n o p rim e iro p la n o u m a u n id a d e fa c tíc ia ?
(A. L .)
“ A m o r- verdadeiro ’’ p a ra d e sig n a r o a m o r n o sen tid o C seria aceitáv el: en co n tra-se
já em C a tu lo amatam vere (L X X V I); c o n tu d o desinteressado, u tiliz a d o p o r L e ib n iz .
s e rá , ta lv e z, m ais c la r o . ( J . Lachelier)
A M O K IN T E L E C T U A L D E D EU S 56

A m o r in te le ctu a l de D e u s — (E s p i n o - O p õ e -se a o a m o r d e in te re ss e , a o a m o r
sa ) S e n d o o a m o r d e fin id o c o m o “ u m a de e sp e ra n ç a e m e sm o a o a m o r de p r e f e ­
a le g ria a c o m p a n h a d a d a id é ia de u m a rê n c ia , q u e c o n siste em a m a r a D eu s m ais
c a u s a e x te r io r “ (Ética, 111» d e f. 6 ), o d o q u e a si m e s m o , m a s q u e c o n té m a in ­
a m o r in te le c tu a l d e D e u s é o a m o r d e d a u m r e to r n o s o b re a v a n ta g e m desse
D eu s c a u sa d o p elo c o n h e c im e n to a d e q u a ­ e s ta d o .
d o d a s c o isa s, q u e n o s fa z e x p e rim e n ta r
A M O R A L (d o p re fix o G . p riv a tiv o èt
u m a a le g ria u n id a à id é ia de D e u s c o m o
e de m o ra i). D . Amoralisch; E . Amoral·,
c a u s a d a n o ssa alegria. Ética, V, p ro p . 32,
F . Amoral·, I. Amorale.
C o r o lá r io . C f. A dequado.
N e o lo g is m o d e v id o p ro v a v e lm e n te ,
A m o r ( P u r o ) — “ O a m o r só a D eu s, n a F r a n ç a , a G u y a u (v er as o b serv aç õ es),
c o n s id e ra d o em si m e sm o e sem q u a lq u e r m a s q u e se e s p a lh o u r a p id a m e n te d e sd e
m is tu ra de m o tiv o in te re s s a d o , n e m de e n tã o , s o b r e tu d o n o s ú ltim o s a n o s .
m e d o , n em de e s p e ra n ç a , é o p u r o a m o r N ã o su scetível de q u a lific a ç ã o n o r m a ­
o u a p e rfe ita c a r id a d e .“ F e n e l o n , M á­ tiv a* d o p o n to d e v ista d o b e m e d o m a l;
xim a dos santos, c a p . I ( D id o t, II, 6). e s tr a n h o à c a te g o ria d e m o ra lid a d e .

S o b re A m o ra l — A rtig o c o m p le ta d o s e g u n d o as in d ic a ç õ e s fo r n e c id a s p o r Na-
bert, q u e n o s c o m u n ic a os te x to s seg u in tes: “ A u s ê n c ia d e fim , amoralidade c o m p le ­
ta d a n a tu re z a , n e u tra lid a d e d o m e c a n is m o in f i n ito ...” G Z à τ Z , Esquisse d'une me-
raie sans obligation ni sanction, 1? e d . (1855), p . 102. “ A s leis d a n a tu r e z a ... sã o
im o rais o u , se se q u iser, a-morais p re c isa m e n te p o rq u e s ã o n e c e s sá ria s.” Ibid., p . 144.
O Dicionário d e M u r r a y c ita um ex em p lo de amoral em 1882 (S t e v e n s o n ), m a s
n o ta - o c o m o u m te rm o o c a s io n a l (a nonce-word ). N ã o o e n c o n tr a m o s n e m n o D i­
c io n á rio d e B a l d w i n (1901) n e m n a p rim e ir a e d iç ã o d o d e E isle r (1 8 9 9 ). F ig u r a n a
te rc e ir a (1910).
E ste te rm o te m o d e fe ito d e s e r h íb r id o . (J. Lachelier)
Se d ig o : a m o ra l d is tin g u e o m o r a l d o a m o r a l, h á a í c o is a p io r d o q u e u m a a m b i-
g ü id a d e . O a p riv a tiv o , e em g e ra l o h e le n ísm o lin g u ís tic o , é u m p ro c e d im e n to p r e ­
g u iç o so , fe c u n d o em c a c o fo n ia s o u em e q u ív o c o s . (V. Egger)
A re d a ç ã o d a Crítica é n o v a : fo i fe ita d e p o is d a d is c u s s ã o q u e o c o r r e u n a sessã o
de 3 de m a io d e 1923. O te x to p rim itiv o d o a rtig o c o n tin h a u m m e m b ro d e fra s e
o b sc u ro so b re a u tiliz a çã o d e sta p a la v ra “ p o r e u fe m ism o ” ; d e u lu g a r a m a l-e n te n d id o s
q u e e s p e ra m o s e v ita r a tra v é s d e sta s e x p lic a ç õ e s m a is d e s e n v o lv id a s. Brunschvicg e
Leroux, em p a r tic u la r , in s is tira m p a r a q u e se m a n tiv e ss e o s e n tid o filo s ó fic o n a s u a
p u r e z a . “ O im o ra l" , d iz B2 Z Çè T7 â « T; , “ v a i c o n tr a a m o r a l, c o m u m a c o n sc iê n c ia
m a is o u m e n o s c la ra d o q u e fa z ; o amoral n ã o te m s e q u e r c o n sc iê n c ia d a e x p e riê n c ia
d e ju íz o s m o r a is .” “ U m ser am oral ” , e sc re v e L E 2 ÃZ 7 , “ n ã o é s im p le sm e n te a q u e ­
le q u e in frin g e a s re g ra s m o ra is , m a s a q u e le q u e n ã o p re s ta n e n h u m a im p o r tâ n c ia
a e s ta in f r a ç ã o , a q u e le q u e c o n te s ta o u ig n o r a o v a lo r d o im p e ra tiv o é tic o . N o am o­
ral n ã o e x istirá e ste c o n flito e n tr e a c o n sc iê n c ia e a c o n d u ta q u e a n o ç ã o d e im o r a li­
d a d e p a re c e c o m p o r t a r .“ N a d a d e m a is j u s to n o q u e se re fe re a o amoral , m as ta lv e z
s e ja , in v e rs a m e n te , lim ita r d e m a n e ira d e m a s ia d o e s tr e ita o s e n tid o d a p a la v r a im o­
ral: a o la d o de u m imoralismo te ó r ic o d e u m N ie tz s c h e , q u e te m p le n a c o n sc iê n c ia
d o q u e é a m o ra l e q u e re a g e c o n tr a e la , e x iste u m a imoralidade p r á tic a q u e a f r a q u e ­
za o u a p e rv e rs ã o d a c o n sc iê n c ia e x p lic a m sem a s u p r im ir . A liá s, as p a la v ra s imoral
e imoralidade a p lic a m -se fa c ilm e n te a o s p r ó p r io s a to s , à c o n d u ta in d e p e n d e n te m e n ­
te de tu d o o q u e se p o ssa s ab e r so b re a co n sciên cia o u a in co n sciên cia d o ag en te. (A. L.)
57 A M O R -P R Ó P R IO

C f . Imoral. fato e n ã o ju ízos de valor nega por isso


m esm o a m oral é propriam ente o amo-
CRÍTICA ralism o.” F o u i l l é , observações sobre o
O su ce sso d e s te te r m o , a p rin c íp io Fi­ artigo Imoralismo, m ais adiante,
lo s ó fic o , fo i tã o g e ra l q u e e n tr o u n a lin ­ B. A u s ê n c ia d e m o ra lid a d e (n u m in ­
g u ag em c o rre n te d o s m eio s c u lto s. É m es­ d iv íd u o ).
m o u tiliz a d o a lg u m a s v ezes n a c o n v e rs a ­ Rad. int.: A . A m o ra lis m ; B , Se-
ç ã o c o m o u m a esp é c ie d e e u fe m ism o p a ­ n e ttk e s.
r a f a la r d o s c a ra c te re s q u e m e re c ia m ser
c h a m a d o s p ro p ria m e n te im o ra is , m a s d o s A M O R -P R Ó P R IO D . Eigenliebe (n o s
q u a is se q u e r fa z e r e n te n d e r q u e tê m ta l­ d o is s e n tid o s ); E . Self-love (n o s e n tid o
vez q u a lq u e r d e s c u lp a n a s u a in d if e re n ­ A ); B . S em e q u iv a le n te e x a to . (V er as o b ­
ç a n a tu r a l à s id é ia s d o b e m e d o m a l o u s e rv a ç õ e s); F . A m our-propre ; I. A m o r
n o d e s e n v o lv im e n to in c o m p le to d a s u a proprio.
c o n sc iê n c ia m o r a l. E s te s e n tid o f r o u x o e A . A m o r d e si m e s m o , e g o ísm o n o
u m p o u c o e q u ív o c o n ã o d e v e s e r a d m iti­ s e n tid o B ( a n tiq u a d o ) . “ O a m o r d a p á ­
d o n a lin g u a g e m filo s ó fic a c o r r e ta . V er tr i a é u m v e rd a d e ir o a m o r - p r ó p r io .”
as o b s e rv a ç õ e s . S a i n t -E v r e m o n d , I I , 399.
Rad. i n t N e -e tik a l; no sentido pejo­ B , O r d in a r ia m e n te : s e n tim e n to c o m ­
rativo: s e n -e tik . p le x o d e o r g u lh o p e s s o a l, c o n f in a n d o ,
p o r u m la d o , c o m o d e s e jo d e b e m a g ir
A M O R A L I S M O S em e q u iv a le n te s
n a q u ilo q u e p o d e ser a p re c ia d o p e lo s o u ­
n o u tr a s lín g u a s , a lé m d o F . Am oralism e
tr o s e , p o r o u tr o la d o , c o m u m a s u sc e ti­
(?). b ilid a d e v o lta d a p a r a esta a p re c ia ç ã o . “ O
A. D o u trin a seg u n d o a q u a l n ã o existea m o r - p r ó p r io d o s a u to r e s p r o f is s io ­
m o r a l a n ã o ser a títu lo d e c re n ç a , sem n a i s . . . ” D u c l o s , Considerations sur les
f u n d a m e n to o b je tiv o e u n iv e rs a l. “ A moeurs, c a p . X II.
d o u tr in a q u e a p e n a s a d m itin d o ju íz o s d e Rad. int.: P r o p r - a m .

S o b re A m o ra lis m o — A s e d iç õ e s p re c e d e n te s c o n tin h a m n e ste a rtig o u m a c ita ­


ç ã o d e F o n s e g riv e c h a m a n d o de “ a m o r a lis m o ” a d o u tr in a d e T a in e s e g u n d o a q u a l
“ o v íc io e a v irtu d e sã o p r o d u to s c o m o o a ç ú c a r e o v itr io lo ” . J u lg a m o s p re fe rív e l
s u p rim i-la d e v id o à o b s e r v a ç ã o s e g u in te , q u e tin h a s id o a liá s p u b lic a d a a o m e sm o
te m p o p a r a c o lo c a r as c o isa s n o lu g a r: “ O te x to d e F o n s e g riv e r e p o u s a s o b re u m a
in te r p r e ta ç ã o fa ls a d a f ó r m u la d e T a in e . O p ró p r io T a in e e x p lic o u -se c o m n itid e z
s o b re e ste p o n to n u m a c a r ta q u e a s u a Correspondência r e p r o d u z , Correspondance,
t. I I I , p p . 2 1 4-215: ‘D iz e r q u e o v íc io e a v irtu d e s ã o p r o d u to s c o m o o v itrio lo e o
a ç ú c a r n ã o q u e r d iz e r q u e eles s e ja m p r o d u to s q u ím ic o s ... s ã o p r o d u to s m o ra is q u e
o s e le m e n to s m o ra is c ria m a tra v é s d a s u a a s s o c ia ç ã o ... U m a vez fe ita a a n á lise , n ã o
se c h e g a à in d if e re n ç a , n ã o se d e s c u lp a u m c e le ra d o p o r q u e se e x p lic o u a s u a p e rv e r­
s i d a d e ...’ . ” N a s u a Filosofia da arte, T a in e d e fe n d e , de m a n e ira m a is g e ra l a in d a
q u e n o e s tu d o d a n a tu r e z a , q u e o p o n to d e v is ta m o r a l é t ã o le g ítim o q u a n to o d a
c iên c ia e q u e , d e ste p o n to d e v is ta , se d e v em c la s s ific a r as c a ra c te rís tic a s d o s seres
n u m a o rd e m d ife re n te d a s u a o r d e m d e im p o r tâ n c ia c ie n tífic a . C f . t . I I , p . 328 e
p p . 364-365. (R. Berthelot)
S o b r e A m o r - p r ó p r io — E m in g lês n ã o e x iste u m a p a la v r a q u e c o r r e s p o n d a ex a-
ta m e n te a o s e n tid o B , conceit, self-conceit a s s in a la m s o b r e tu d o o c o n te n ta m e n to d e
si m e sm o e a p ro x im a m -s e m a is d e vaidade d o q u e d e amor-próprio. E m c e rto s c aso s
A M P L IF IC A N T E (In d u çã o ) 58

A M P L IF IC A N T E (In d u çã o ) A q u e ­ m a -se ta m b é m indução baconiam e é


la q u e e ste n d e a f ó r m u la g e ra l e x tra íd a o p o s ta à indução aristotélica o u , m ais
d e u m c e rto n ú m e ro d e fa to s p a ra f a ­ g e ra lm e n te , à indução completa, q u e n ã o
to s a in d a d e sc o n h e cid o s o u fu tu ro s . C h a ­ u ltr a p a s s a o g ra u d e g e n e ra lid a d e q u e

d e v er-se -ia u tiliz a r seif-respecí, pride, vanity e ta m b é m p a r a u m c e rto a sp e c to d e s ta


id é ia sensitiveness. S e rv im o -n o s f r e q u e n te m e n te em in glês d o te rm o fra n c ê s , (Th. de
Laguna)
E. Leroux o b serv o u q u e se e n c o n tra em J e a n -J a c q u e s R o u sseau u m a d istin ç ão m u ito
p re c is a e n tre amor-próprio e am or de si: o s e g u n d o é “ u m s e n tim e n to n a tu r a l q u e
lev a to d o a n im a l a v e la r p e la s u a p r ó p r ia c o n s e rv a ç ã o e, d irig id a n o h o m e m p e la r a ­
z ã o e m o d if ic a d a p e la p ie d a d e , p r o d u z a h u m a n id a d e e a v irtu d e . O a m o r - p r ó p r io
é a p e n a s u m s e n tim e n to r e la tiv o , a rtific ia l e n a s c id o n a s o c ie d a d e q u e leva c a d a in d i­
v íd u o a fa z e r m a is c aso d e si d o q u e d o s o u tr o s , q u e in s p ira a o s h o m e n s to d o s os m a ­
les q u e eles se fa z e m m u tu a m e n te e é a v e r d a d e ir a fo n te d a h o n r a ” , Discurso sobre
a desigualdade, n o ta 0, N o c o r p o d o Discurso, 1? p a r te , ele u tiliz a amor-próprio n o
s e n tid o de e g o ísm o re f le tid o , f u n d a d o em ra z õ e s .
H õ f f d in g (Rousseau und sein Philosophie, p . 107) re m e te -n o s , n o â m b ito d e s ta
d is tin ç ã o , p a r a V a u v e n a r g u e s , iníroduction à ¡a connaissance de l ’esprit humain,
q u e tin h a a p a r e c id o o ito a n o s a n te s (em 1746). E is a p a ss a g e m de V a u v e n a rg u e s : o
f a to de se m o r r e r p e la g ló r ia “ ju s tif ic a a d is tin ç ã o q u e a lg u n s e sc rito re s s a b ia m e n te
fiz e ra m e n tre o amor-próprio e o am or de nós m esm os... C o m o a m o r d e n ó s m e s­
m o s , d izem eles, p o d e m o s p r o c u r a r f o r a d e n ó s a n o s s a fe lic id a d e ; p o d e -s e a m a r a
si m e sm o f o r a de si m a is d o q u e a s u a p r ó p r ia e x iste n c ia (sic ); n ã o s o m o s d e m a n e ira
n e n h u m a p a r a n ó s m e sm o s o n o s so ú n ic o o b je to . O a m o r - p r ó p r io , p e lo c o n tr á r io ,
s u b o r d in a tu d o às su as c o m o d id a d e s e a o seu b e m -e s ta r: ele é p a r a si m e sm o o seu
ú n ic o o b je to e o seu ú n ic o f im ... O a m o r - p r ó p r io q u e r q u e as c o isa s se d é em a n o s
e fa z -se c e n tr o d e tu d o . N a d a c a r a c te r iz a , p o is , tã o b e m o a m o r - p r ó p r io c o m o a c o m ­
p la c ê n c ia q u e te m o s em n ó s m e sm o s e a s c o isa s d e q u e n o s a p r o p r ia m o s ” . Introduc-
tion à la connaissance de Vesprit humain, liv ro I I , c a p . X X IV . H õ f f d in g p e n s a q u e
V a u v e n a rg u e s se in s p iro u ta lv e z n e s ta p a s s a g e m d e S h a fte s b u ry , o u “ d o s C a r te s ia ­
n o s ” . M as n a I n tr o d u ç ã o d e R o u s t a n à s u a e d iç ã o d o Tratado acerca do am or de
Deus, d e M a l e b r a n c h e , e n c o n tr a - s e a in d ic a ç ã o s e g u in te : “ M a le b ra n c h e lo u v o u o
te ó lo g o p r o te s ta n te A b b a d ie ... p o r te r d is tin g u id o amor-próprio e am or de nós mes­
m os, s e n d o o p rim e ir o a fo n te d e to d o s o s n o s s o s d e s r e g ra m e n to s e, o s e g u n d o , p e lo
c o n tr a r io , n a tu r a l e le g ítim o , e p rin c ip io d e to d o s o s n o s so s e s fo rç o s p a r a c u m p rir
o d e v e r .” Introd., p . 52. A p a s s a g e m d e M a le b ra n c h e e n c o n tr a - s e n o m e s m o v o lu m e ,
p p . 132 s s., n a Primeira carta ao R . P. L am y. E s ta d is tin ç ã o lo n g a m e n te d e se n v o lv i­
d a p o r ele e s tá e m e s tr e ita re la ç ã o c o m a q u e s tã o d o puro amor. (A. L .)
L . Boisse c o m u n ic o u -n o s ta m b é m o te x to seg u in te: “ Q u a n d o o céleb re La Roche-
foucauld d iz q u e o a m o r-p r ó p rio é o p rin c ip io de to d a s as n o ssa s a ç õ e s, q u a n ta g e n te
a ig n o ra n c ia d o v e rd a d e iro se n tid o d a e x p re ssã o amor-próprio n ã o in c ita rá c o n tr a este
ilu stre a u to r? E n te n d e -se a m o r-p r ó p rio c o m o o rg u lh o e v a id a d e e assim se im a g in a q u e
L a R o c h e fo u c a u ld c o lo c a v a n o vício a fo n te d e to d a s a s v irtu d e s. E r a , c o n tu d o , fácil
d e p e rc e b e r q u e o a m o r-p r ó p rio o u a m o r d e si e ra a p e n a s u m s e n tim e n to g ra v a d o em
n ó s p e la n a tu re z a , q u e e ste s e n tim e n to se tr a n s f o r m a v a em c a d a h o m e m em vicio ou
e m v irtu d e , d e a c o rd o c o m os g o sto s e a s p aix õ es q u e o a n im a m , e q u e o a m o r-p r ó p rio
d ife re n te m e n te m o d ific a d o p ro d u z ia ig u a lm e n te o o rg u lh o e a m o d é s tia .” H e l v é c i o ,
Do espirito, Discursos, c a p . IV : “ D o a b u so d a s p a la v ra s ” . E d . L av ig n e, 1843, p p . 20-21.
59 A N A G O G IC O

p e rte n c e à s o m a d o s d a d o s . V er Indu­ T e rm o q u e r e p re s e n ta o q u e p a r a a
ção. lin g u ag em m u sical c o rre sp o n d e à a fa s ia 4'.
R ad . int.: A m p lig a n t. A musías m otrizes , in c a p a c id a d e d e
c a n ta r , d e a s s o b ia r , d e to c a r u m in s tr u ­
A M P L O S (D ev eres) D . fVeite Pflich-
m e n to (n e ste c a so d iz-se a lg u m a s vezes
ten (d u v id o s o ); E . Loose duties; F . Lar­
amusia instrumental). C o rre s p o n d e m à
ges devoirs. (V er a s o b s e rv a ç õ e s .)
a g ra fía * .
C h a m a -s e a ssim a o s d ev eres c u jo
A musías senso riais: s u rd e z m u sic a l,
c u m p rim e n to n ã o c o m p o r ta u m a d e te r­
c e g u e ira m u s ic a l (p e rd a d o p o d e r d e r e ­
m in a d a m e d id a , o u c u jo c a m p o d e a p li­
c o n h e c e r, d e c o m p re e n d e r as can çõ es o u ­
c a ç ã o fic a e n tre g u e à n o s s a liv re e sc o lh a ,
v id a s o u d e ler a m ú s ic a e sc rita ).
ta is c o m o a b o n d a d e o u o d e v o ta m e n to .
Rad. int.: A m u si.
O p õ e m -s e a o s deveres estritos (o s d a j u s ­
tiç a ), d o s q u a is se p o d e d iz e r e x a ta m e n te A N A G Ó G IC O G . 'A v a y u y tx ó s .
a q u ilo q u e p re sc re v e m o u p ro íb e m e c o m A . S e n tid o a n a g ó g ic o (D . Erhebende
re la ç ã o a q u e p e ss o a s d e v em ser c u m ­ Erklärung ; E . Anagogic Interpretation ; F.
p rid o s . Sens anagogique ; I. Senso anagogico).
A q u e le d o s q u a tr o s e n tid o s d a s E s c r itu ­
CRÍTICA
ra s q u e é c o n s id e ra d o o m a is p r o f u n d o
E s te te rm o d e u f r e q ü e n te m e n te lu g a r e c o n sis te n u m s ím b o lo d a s c o isa s q u e
a c rític a s (p o d e rá ex istir a lg u m a o b rig a ­ c o n s titu e m o m u n d o d iv in o . “ A n a g o g i-
ç ã o q u e s e ja a o m e sm o te m p o in d e te rm i­ c u s sen su s d ic itu r q u i a v isib ilib u s te n d it
n a d a n o seu quantum ?) e a c o n fu s õ e s a d in v isib ilia, u t lux p rim o d ie f a c ta ... n a -
(amplo s e n d o to m a d o n o s e n tid o d e f a ­ tu r a m an g elicam s ig n ific a i.” H u g o d e S.
cultativo). V í t o r e m A u b e r , Symbolisme religieux,
N ã o m e p a re c e ser o p o r tu n o p r o p o r I I , 53. V er Alegoria.
u m ra d ic a l in te rn a c io n a l p a ra e sta ex p re s­
B . U tiliz a d o p o r L e i b n i z c o m o a d je ­
s ã o , q u e seria p re fe rív e l q u e fo s se s u b s ti­
tiv o d a p a la v r a I n d u ç ã o (’A í/avo^T j):
tu íd a p o r u m a f o r m a m a is p re c isa .
“ Tentamen anagogicum , E n s a io a n a g ó ­
A M U S IA D . A m u sia ; E . A m usia ; F . g ico n a p r o c u r a d a s c a u s a s .” M as, a liá s ,
A m u sie ; I. Am usia. seg u n d o a s u a u tiliz a ç ã o , ele liga este sen-

S o b re D ev eres a m p lo s — Weite Pffichten n ã o é u s u a l e m a le m ã o . (F . Tõnnies)


A e x p re ss ã o doveri larghi n ã o é u s a d a n a lin g u a g e m filo s ó fic a ita lia n a ; n a lin g u a g e m
c o r r e n te , a e x p re s s ã o o p o s ta , doveri streiti, é f r e q ü e n te p a r a d e s ig n a r o s d ev eres em
re la ç ã o a o s q u a is o in d iv íd u o n ã o p o d e a b s o lu ta m e n te s u b tra ir-s e . A d is tin ç ã o e n tre
d e v e re s negativos, o u de ju s tiç a , e o s d e v e re s positivos, o u d e b o n d a d e , é, p elo c o n ­
t r á r io , d e u so té c n ic o . P a re c e -m e e q u iv a le r à q u e la d o s d e v e re s e s tr ito s e a m p lo s , m a s
c o m m ais p re c is ã o . (C . Ranzoli)
E x iste m m u ito p o u c a s o b rig a ç õ e s r ig o r o s a m e n te d e te r m in a d a s , m e sm o q u a n to
a o quod: fo r a d o s d ev eres negativos (n ã o r o u b a r , n ã o m e n tir) q u a s e n ã o ex istem b o a s
a ç õ e s a p r a tic a r e em re la ç ã o à s q u a is e s ta m o s m a is o u m e n o s o b rig a d o s s e g u n d o
as c irc u n s tâ n c ia s . (J. LacheUer)
A d is tin ç ã o e n tre o s d e v eres d e ju s tiç a e d e c a r id a d e p a re c e -m e b a s ta r a m p la m e n ­
te . (F . M entré ) P a re c e m e sm o s u p e r io r à q u e la e n tre o s d e v eres p o sitiv o s e n e g a tiv o s:
p o r q u e r e p a r a r o m a l q u e se fez, p o r e x e m p lo , é u m d e v e r d e ju s tiç a , e s tr ito , e, c o n ­
tu d o , n ã o c o n s is te n u m a sim p le s a b s te n ç ã o . (A. L .)

S o b re A m u sia — A rtig o a c resce n ta d o seg u n d o as in d icaçõ es fo rn ec id a s p o r Piéron.


A N A L G E S IA 60

tid o a o p re c e d e n te : " O q u e c o n d u z à s u ­ d o n u m a s ín te se n o s e n tid o C . “ A a n á li­


p r e m a c a u s a ” , d iz ele n o p rin c íp io , “ é se d e u m te x to ” — e ste s e n tid o , q u e e n ­
c h a m a d o a n a g ó g ic o q u e r n o s filó s o fo s , v o lv e d e c o m p o s iç ã o e re c o m p o s iç ã o , é o
q u e r n o s te ó lo g o s ...” Ibid., ed . G e rh a rd t, d e C o n d i l l a c , p a r a q u e m a a n á lise o u
V III , 270. m é to d o a n a lític o c o n siste “ em o b s e r v a r
n u m a o rd e m su ce ssiv a as q u a lid a d e s d e
A N A L G E S IA (G . à , aX-yos). D .
u m o b je to c o m o fim d e lh es d a r n o e sp í­
Analgesie, Anatgie; E . Analgesia, A nal­
rito a o rd e m sim u ltâ n e a n a q u a l elas exis­
gia; F . Analgesie, Analgie; I. Analgesia, te m ” . Lógica, 1? p a r te , c a p . II, § 6. “ E s ­
Analgia. t a a n á lise (a d o p e n s a m e n to ) n ã o se fa z
In s e n s ib ilid a d e p a r tic u la r o u to ta l à
d e m a n e ira d ife re n te d a d o s o b je to s ex ­
d o r , c o e x iste n te co m a c o n s e rv a ç ã o d as
te rio re s . D e c o m p õ e -s e d a m e sm a f o r m a ;
o u tr a s o u d e a lg u m a s d a s o u tr a s s e n s a ­ r e tra ç a m - s e a s p a rte s d o seu p e n s a m e n to
ç õ es. V er Anestesia.
n u m a o rd e m su ce ssiv a p a r a as re s ta b e le ­
Algestesia é u tiliz a d a p o r a lg u n s a u ­ c e r n u m a o rd e m s im u ltâ n e a ; faz-se e s ta
to re s p a r a d e s ig n a r a s e n s ib ilid a d e à d o r c o m p o siç ã o e e sta d e c o m p o s iç ã o d e a c o r­
(RlCHET, I, 4 7 9 , e tc .). d o co m a s re la ç õ e s q u e ex istem e n tre as
Rad. int.: A n a lg e s ia . c o is a s .” Ib id ., § 7 .
A N Á L IS E (G . ’A m X ixJis = 1? re s o lu ­ C. M a is e s p e c ia lm e n te , p a r a T a i n e ,
ç ã o , s o lu ç ã o re g re ssiv a ; 2? d e c o m p o s i­ m a s n u m s e n tid o p r ó x im o , “ a n a lis a r é
ç ã o ). D . Analyse; E . Analysis; F . A naly­ tr a d u z ir e tr a d u z ir é p e rc e b e r s o b os sig ­
se; I. Analisi. n o s f a to s d is tin to s ... P a r a s a b e r o q u e é
O p õ e -se a S ín tese* . u m a natureza to m a -s e u m a n im a l, u m a
1? S en tid o s q u e se lig am à id éia d e de­ p la n ta , u m m in e ra l c u ja s p ro p rie d a d e s se
composição; n o te m e v e r-s e -á q u e a p a la v r a natureza
a p a re c e n o m o m e n to em q u e se te n h a fei­
A . D e c o m p o s iç ã o de u m to d o n as
to a s o m a d o s f a to s im p o r ta n te s e d is tin ­
su as p a rte s, q u e r m a te ria lm e n te : “ A a n á ­
tiv o s ... T a n to n a s c iên c ia s m o ra is c o m o
lise q u ím ic a ” ; q u e r id e a lm e n te : “ A d e f i­
n a s ciên c ia s fís ic a s , o p ro g re s s o c o n siste
n iç ã o é a a n á lise de u m c o n c e ito .”
n a u tiliz a ç ã o d a a n á lise e to d o o e sfo rç o
B . P o r c o n se q ü ê n cia , to d o m é to d o o u d a a n á lise é o d e m u ltip lic a r o s fa to s q u e
e s tu d o q u e c o m p o r ta u m e x a m e d is c u r­ u m n o m e d e s ig n a ” . Filósofos clássicos,
siv o , m e sm o se ele d e se m b o c a n o seu to ­ c a p . X I I I . C o m p o r ta d u a s e ta p a s : “ tra -

S o b re A n á lise — P a re c e -n o s ú til p a r a m a io r c la re z a p ô r a q u i in extenso a p a s s a ­


gem d e D u h a m e l de q u e o te x to c ita d o n o § D é a c o n c lu s ã o : “ Q u a n d o se tiv e r q u e
e n c o n tr a r a d e m o n s tr a ç ã o d e u m a p r o p o s iç ã o e n u n c ia d a , p ro c u ra r-s e -á p rim e iro s a ­
b e r se e la se p o d e d e d u z ir c o m o c o n s e q ü ê n c ia n e c e s s á ria d e p ro p o s iç õ e s a c e ita s, caso
e m q u e e la p r ó p r ia d e v e rá ser a c e ita e s e rá p o r c o n s e q ü ê n c ia d e m o n s tr a d a . Se n ã o
se p e rc e b e r d e q u a is p ro p o s iç õ e s c o n h e c id a s ela p o d e r ia ser d e d u z id a , p ro c u ra r-s e -á
s a b e r d e q u a l p r o p o s iç ã o n ã o a c e ita e la o p o d e r ia s e r e , e n tã o , a q u e s tã o se rá r e d u z i­
d a a d e m o n s tr a r a v e rd a d e d e s ta ú ltim a . Se e s ta se p o d e d e d u z ir d e p ro p o s iç õ e s a c e i­
ta s , s e rá re c o n h e c id a c o m o v e rd a d e ir a e, p o r c o n s e q ü ê n c ia , s e rá p r o p o s ta ; c a so c o n ­
tr á r io , p r o c u ra r-s e -á d e q u a l p ro p o s iç ã o a in d a n ã o a c e ita e la p o d e r á ser d e d u z id a ,
e a q u e s tã o se rá r e d u z id a a d e m o n s tr a r a v e rd a d e d e s ta ú ltim a . C o n tin u a r-s e - á a ssim
a té q u e se c h e g u e a u m a p r o p o s iç ã o r e c o n h e c id a com o v e rd a d e ir a e, e n tã o , a v e rd a ­
d e d e s ta p ro p o s iç ã o s e rá d e m o n s tr a d a .
“ V ê-se p o is q u e este m é to d o , q u e se c h a m a análise, c o n sis te em e sta b e le c e r u m a
c a d e ia d e p ro p o s iç õ e s , e t c .”
61 A N Á L IS E

d u ç ã o e x a ta , tr a d u ç ã o c o m p le ta ” (q u e é o que V «è I E c h a m a a n á lise zetética * , o u


u m lim ite d o q u a l a p e n a s n o s p o d e m o s porístico-zetética (v e r P . T a n n e r y ,
a p ro x im a r g ra d u a lm e n te ). (I b i d s u b A p ên d ice 11 às Notions de mathematiques
f in e ) d e J . T a n n e ry ) e é p ro v a v e lm e n te a q u ilo
2? S e n tid o s q u e se lig am à id éia de re­ q u e D e sc artes v isa q u a n d o fa la d a “ A n á ­
solução: lise d o s a n tig o s ” , d is tin g u in d o -a d a “ Á l­
g e b ra d o s m o d e r n o s ” . M étodo , II, 6.
D . ‘‘A a n álise c o n siste em estab elecer
C f. D u h a m e l , D e s m é th o d e s d a n s
u m a cad eia de p ro p o siçõ es c o m e ç a n d o n a
tes Sciences d e r a is o n n e m e n t , I, c a p . V ,
q u e q u e re m o s d e m o n stra r e a c a b a n d o n u ­
X e X I, o n d e ele o p õ e a a n á lise d o s a n t i ­
m a p ro p o s iç ã o c o n h e c id a , p ro p o s iç õ e s
g o s, d e fin id a e ss e n c ia lm e n te p o r e sta c a ­
ta is q u e p a rtin d o d a p rim e ir a 1 c a d a u m a
ra c te rístic a , à a n álise n o sen tid o D ta l c o ­
delas seja u m a c o n seq ü ên cia n ecessária d a
m o ele p ró p r io a e x p õ e.
q u e lh e su ced e; de o n d e re s u lta q u e a p r i­
F . N o s e n tid o g e ra l, sin ô n im o d e Á l­
m e ira é u m a c o n se q u ê n c ia d a ú ltim a e,
g e b ra , n a m e d id a em q u e o m é to d o a lg é ­
p o r c o n se g u in te , v e rd a d e ira c o m o e l a .”
b ric o c o n siste em s u p o r o p ro b le m a re ­
D u h a m e l , D es m é th o d e s d a n s les Scien­
s o lv id o p a ra d e d u z ir d a í a s c o n d içõ e s d a
ces d e r a is o n n e m e n t , I, 4 1 .
s o lu ç ã o , q u e r d iz e r, r e m o n ta r d a c o n s e ­
À a n á lise a ssim e n te n d id a o p õ e -se a
q ü ên cia p ro c u ra d a (d esco n h ecid a) p a ra as
sín tese* n o s s e n tid o s A e B. E m re la ç ã o
su as p re m is sa s (c o n h e c id a s).
à o rd e m d o e n c a d e a m e n to d a s p r o p o s i­
E s te s e n tid o c o rre n te n o sécu lo X V II
çõ es, d a p re m issa à c o n s e q ü ê n c ia , a s ín ­
h o je e stá c a íd o e m d e su s o .
te se c h a m a -s e p r o g r e s s ã o e a a n á lise, r e ­
g ressã o . G . E s p e c ia lm e n te , h o je em d ia , o c á l­
A an álise n este se n tid o é c h a m a d a p o r c u lo in fin itesim al p o r o p o s iç ã o à Á lg eb ra
Vié t e porística*. e le m e n ta r. É u m a a b re v ia tu r a d a lo cu ção
“ A n á lise in fin ite s im a l” o u “Análise do
E . M é to d o d e d e m o n s tra ç ã o q u e c o n ­
infinitam ente pequeno ” ( L ’ H o s p i t a l ,
siste em s u p o r re s o lv id o o p r o b le m a . É
1965), q u e s ig n ific a v a e m v irtu d e d e F .
“ Á lg e b ra in fin ite s im a l” .
I. Q uer dizer, d a que se pretende dem onstrar. Rad. int.: A . A n a liz ; D . A n a litik .

K a n t to m a a s p a la v ra s análise e analítico em d o is se n tid o s: 10 n o s e n tid o ló g ico


d e d e c o m p o s iç ã o d o s c o n c e ito s , c a so e m q u e elas se o p õ e m a síntese e a sintético;
2? n o s e n tid o ra c io n a l e m q u e elas d e sig n a m a p r o c u r a d a s c o n d iç õ e s a priori d a ex ­
p e riê n c ia : a a n á lis e d o c o n h e c im e n to , a “ a n a lític a tra n s c e n d e n ta l” . N e ste s e n tid o ,
c o m o K a n t p r o c u r a e sta s c o n d iç õ e s a tra v é s d e u m m é to d o re g re ssiv o , a a n á lise k a n ­
tia n a a p ro x im a -s e d o m é to d o d e P a p p u s . A u tiliz a ç ã o d e K a n t d a s p a la v r a s análise
o u analítica , n e ste c a s o , e x p lica-se p e lo f a to d e ele p re te n d e r a p lic a r a o c o n h e c im e n ­
to d o re a l a s p r ó p r ia s f o r m a s d a ló g ic a . (F. Rauh)
S o b re o s d ife re n te s se n tid o s d a s p a la v r a s análise e síntese n o s g e ô m e tra s a n tig o s ,
v er P a u l T a n n e r y , A p ê n d ic e II às N otions de m athem atiques d e J u le s T a n n e r y .
A í ele d is tin g u e :

a a n á lis e -o p e ra ç ã o ( - d e c o m p o s i ç ã o )
p o rís tic a
a a n á lis e -m é to d o
z e té tic a

V er tam b ém P ie rre B Ã Z I 2 ÃZ 7 , L ’idealscientifique des mathématiciens, p p . 123 ss.


A N A L ÍT IC A 62

A n álise reflex iv a — V er Reflexivo. p ro ced im en to s lógicos q u e “ é o u parece ser


em q u a s e to d a p a rte seg u id o p elo p e n s a ­
1. A N A L ÍT IC A (O ) (su b st.) D . Analy­
m en to c o m u m ” ; ju ízo , in d u ç ão , silogism o.
tik-, E . Analytic ; F . Analytique; I. A na­
E le o o p õ e ao “ m é to d o sin tético ” q u e p ro ­
lítica.
g rid e a tra v é s d e tese, a n títe se e sín tese. Es
A . Q u a n d o se fala d e A r i s t ó t e l e s , si­ sai sur les élements principaux de la repre
n ó n im o d e ló g ica fo rm a i. O s Primeiros sentation, 1 , 1, A : “ O m é to d o a n a lític o .”
Analíticos e o s Segundos Analíticos V er Síntese e Sintético , tex to e observações.
(’A m X u T ix á w Q Ó T eQ a , v o r e Q o i) sã o o s li­ M τ . Geometria analítica. G e o m e tria
I

v ro s q u e c o n stitu e m a te rc e ira p a r te d o q u e tra d u z as figuras e as p ro p ried ad es geo­


Organon. m é tric a s p o r m e io d a a n á lise F , q u e r d izer
B . P a r a K a n t a a n a lític a é o e s tu d o d a Á lg e b ra , e x p rim in d o c a d a p o n to de
d a s fo rm a s d o e n te n d im e n to e, p o r co n se- u m a fíg u ra pelas suas c o o rd e n ad a s41. O p õ e-
q ü ên cia, a analítica transcendental é a ciên­ se à g eo m etria “ sin tética” q u e racio cin a so­
c ia d a s fo r m a s a priori d o e n te n d im e n to b re as p ró p r ia s fig u ra s v a len d o -se d a in ­
p u ro . (V er Dialética e Transcendental.) E la tu iç ã o .
co n siste em a n a lis a r a fa c u ld a d e d e c o n h e ­ Método analítico, sin ô n im o d e análise*
cer p a r a d e sc o b rir o s c o n ce ito s e os p r in ­ n o se n tid o D .
cip io s a priori sem os q u a is o c o n h e c im e n ­ P s i c o l . U m espírito é analítico se con­
to (a ex p eriên cia) n ã o s e ria p o ssív el. sidera as coisas nos seus elem entos; é sin­
tético se as considera n o seu conjunto.
2 . A N A L ÍT IC O (a d j .) D . Analytisch;
Língua analítica, a q u e te n d e a se p a ­
E . Analytic; F . Analytique. I. Analítico.
r a r a id éia p rin c ip a l d a s su as relaçõ es ex­
S e n tid o g e ra l: q u e p ro c e d e p o r a n álise
p re s s a n d o c a d a u m a d elas a tra v é s d e u m a
o u q u e c o n stitu i u m a an álise .
p a la v ra d is tin ta e a o rd e n a r as p a lav ras se­
E sp ecialm en te:
g u n d o u m a o rd e m ló g ica e p re d e te rm in a ­
LÓG. K a n t c h a m a a n a lític o a u m j u í ­
d a . A lín g u a sin té tic a , p elo c o n trá rio , é
zo (a trib u tiv o ) n o q u a l o p re d ic a d o está
aq u ela q u e ten d e a re u n ir v árias idéias n u m
c o n tid o n o su jeito : “ E n tw e d e r d as P ra d i-
só te rm o c o m p o sto e a c o n stru ir a frase de
c a t B g e h ö re t d em S u b je k t A als etw as w as
ta l m a n e ira q u e ela fo rm a u m a espécie de
in diesem B eg riffe A v e rstec k te r W eise en ­
q u a d r o , inteligív el a p e n a s p o r u m a to in ­
th a lte n ist; o d e r B liegt g an z ausser d em Be­
divisível d o e sp írito .
g r if f A , o b es zw ar m it dem selb en in V erk ­
Rad. int.: Subst.: A n a litik ; adj.: A n a -
n ü p fu n g steh t. Im ersten F all n en n e ich d a s
liz a n t; no sentido mat.: A n a litik ; (carac­
U rth e il a n a ly tis c h , im a n d e r n s y n te ­
terística): A n alizem .
tis c h .” 1 K a n t , K rit. d e r re in e n V e rn ., In -
t r o d ., § IV . P a r a a c rític a d e s ta d istin ç ã o A N A L O G IA (G . àvakoyía). D . Ana-
v er P a u l T a n n e r Y, Sur la distinction des logie; E . Analogy; F . Analogie; I. A na­
jugem ents analytiques et synthétiques , logia.
B ull, d a so c. d e filo s ., sessão d e m a rç o d e
A . S e n tid o p rim itiv o e p ró p r io : id e n ti­
1903.
d a d e d a re la ç ã o q u e u n e d o is a d o is o s te r­
“ M é to d o a n a lític o ” é u tiliz a d o p o r
m o s d e d o is o u m ais p a re s. E sp e cia lm e n ­
H AM ELIN p a r a d e sig n a r o c o n ju n to de
te , e p o r ex celên cia, p ro p o r ç ã o m a te m á ti­
c a (c h a m a d a hvcíkoyLa. e m E u c l i d e s ).
A r i s t ó t e l e s an alisa este sen tid o c o m p re ­
1. “ O u o predicado B pertence ao sujeito A com o cisão n a Ética a Nicômaco , V , 6; 113a30
algo que está já contido de um a m aneira escondida no ss.
conceito; ou B está, de fato, fora do conceito A , ainda
B . M esm o s e n tid o , m as e n te n d id o in
que se encontre, contudo, em ligação com ele. N o pri­
meiro caso, chamo-lhe juízo analítico, no outro, sinté­ concreto: o q u e a p re se n ta u m a a n alo g ia
tico.”
63 A N A L O G IA

n o s e n tid o A : siste m a d e te rm o s q u e têm é u n ív o c o ; causa, n o s e n tid o ju d ic iá rio e


e n tre si a m e sm a re la ç ã o . C f. Correspon­ n o se n tid o físic o , é e q u ív o c o ; risonho
dencia. a p lic a d o a u m ro s to e a u m ja r d im é a n á ­
C . R e la ç ã o d e d o is ó rg ã o s q u e sã o lo g o . T o d o s o s n o m e s d e a tr ib u to s a p li­
a n álo g o s* n o se n tid o d a d o a e s ta p a la v ra c a d o s a D e u s d e v em s e r e n te n d id o s n o
s e n tid o a n a ló g ic o . E s ta a c e p ç ã o n ã o se
p o r G e o ffro y S a in t-H ila ire .
e n c o n tra o u é m u ito ra ra n a filo so fia clás­
D . R e la ç ã o d e d o is ó rg ã o s a n á lo ­
s ic a , m a s ela to r n o u - s e fre q u e n te n a s
g os* n o s e n tid o d a d o a e s ta p a la v ra p o r
o b r a s n e o to m is ta s c o n te m p o râ n e a s .
CüVIER. Rad. int.: A n a lo g (e s), a n a lo g (a j-).
E . S en tid o c o rre n te e v ago: sem e lh a n ­
R a c io c ín io p o r a n a lo g ia
ça m a is ou m e n o s d is ta n te , p a r tic u la r ­
m en te en tre coisas q ue n ã o se assem elh am A . R a c io c ín io f u n d a d o so b re a a n a ­
n o seu asp ecto geral e n ã o p o d e m ser s u b ­ lo g ia n o s e n tid o A . E m p a r tic u la r , d e te r ­
s u m id a s so b u m m e sm o c o n c e ito . m in a ç ã o de u m te rm o p elo c o n h e c im e n ­
to d o s d o is te rm o s de u m d o s p a re s e de
NOTAS u m d o s te rm o s d o se g u n d o .
1. Ά μ α . . . , em analogia a ss in a la q u a ­ B . T o d o racio cín io q u e conclu i em v ir­
se c e rta m e n te a id éia de re p e tiç ã o (L . tu d e de u m a se m e lh a n ç a e n tre os o b je to s
re ...) co m o em α ν ά μ ν η σ ή , reminiscência ; so b re os q u ais se ra c io c in a .
α ν α β ί ω σ ή , re s s u rre iç ã o , re to r n o à v id a ;
ά ν ά λ η -ψ ,π re to rn o de fo rç a s , c o n v a ­ CRÍTtCA
lescen ça. E sta e x p re ss ã o , a f o r a o se n tid o A , d e
2. U m a re lação te rn á ria , o u m esm o de q u e o c á lc u lo d a “ q u a r ta p r o p o r c io n a l”
o rd e m m ais e le v a d a , p o d e ria fa z e r n a s ­ é o tip o , re p re s e n ta u m a id éia m u ito v a ­
cer u m a a n a lo g ia m ais c o m p le x a d o q u e g a , q u e se to rn o u a in d a m ais c o n fu s a co m
a sim ples p ro p o rç ã o : p . ex. e n tre “ P e d r o a te n ta tiv a d e to r n á - la p re c isa em d iv e r­
c o m p ra u m c a v a lo a P a u lo ” e “ J o ã o so s s e n tid o s . É a ssim q u e , p a r a K τ ÇI
c o m p ra u m a c a s a a J o a q u im ” . M a s n ã o (Logik , § 84), a indução c o n siste em es­
crem o s q u e se te n h a m c o n sid e ra d o a s p r o ­ te n d e r a to d o s os seres de u m a m esm a es­
p rie d a d e s d e sta s a n alo g ias c o m m ú ltip lo s p écie a s o b se rv a ç õ e s fe ita s s o b re a lg u n s
te rm o s a n ã o ser n o s en saio s d e lógica das d e n tre eles, o raciocínio po r analogia em
relações. c o n c lu ir d a s s em e lh a n ç a s b e m e sta b e lec i­
3. A analogia de atribuição d is tin g u i­ d a s e n tre d u a s esp écies as s e m e lh a n ç a s
d a p o r S. T ÃOá è d e A I Z « ÇÃ d a analo­ a in d a n ã o o b s e rv a d a s ; p a r a C ÃZ 2 ÇÃI
gia de proporção (a q u e la q u e é d e fin id a (Essai, § 46, 49), a indução é a p e n a s u m a
n o s e n tid o A ) c o n siste n u m a u tiliz a ç ã o sim p les e x tra p o la ç ã o , a a ç ã o d o e sp írito
d o s te rm o s q u e n ã o s e ria n e m a u tiliz a ­ q u e c o n tin u a e s p o n ta n e a m e n te u m m o ­
ç ão u n ív o ca* nem a u tiliz a ç ã o eq u ív o ca* : v im e n to a n te r io r; o ra c io c ín io p o r a n a ­
H om em , a p lic a d o a S ó c ra te s e a P la tã o , lo g ia , p elo c o n tr á r io , eleva-se p e la o b ser-

S o b re A n a lo g ia — “ H á m a is a n a lo g ia o u re la ç ã o e n tre as co res e os sons d o q u e


e n tre as c o isas c o rp o ra is e D e u s .” D E è Tτ 2 I E è , Resp. às 2 objeç., IX , 107, C f.
108-109. T alv ez se d e v a e n te n d e r e s ta p a ssa g em n o s e n tid o de a n a lo g ia de a tr ib u i­
ç ã o . (E . Gilson)
“ A s a n a lo g ia s fu n d a m e n ta m -s e m e n o s em se m e lh a n ça s n o c io n a is (similitudines)
d o q u e n u m a e stim u la ç ã o in te rio r , n u m a s o lic ita ç ã o a s s im ila d o ra ( intendo ad assi-
m ilationem )." M. BÂ ÃÇá E Â , L'Ê tre et les êtres, p p . 225-2 26. (/. Benrubi )
ANÁLOGO 64

v ação d a s relaçõ es à razão das coisas; p a ­ c a p . II , 3? se ç ã o ). P rin c íp io s a priori d o


r a E . Rτ ζ « E 2 (Logique , c a p . X IV ): “ 1? e n te n d im e n to p u r o , re la tiv o s à c a te g o ria
a a n a lo g ia ( = o ra c io c ín io p o r a n a lo g ia ) d e relação*, q u e tê m c o m o f ó r m u la g e­
é p ro p r ia m e n te u m a d e d u ç ã o fe ita s o b re ra l: “ T o d o s o s fe n ô m e n o s , d o p o n to d e
u m a in d u ç ã o p ré v ia ; 2? a a n a lo g ia é sem ­ v is ta d a s u a e x istê n c ia , e s tã o s u b m e tid o s
p re h ip o té tic a e n q u a n to q u e a in d u ç ã o
a priori a re g ra s q u e d e te rm in a m a s u a re­
te o ric a m e n te , se n ã o sem p re n a ap lic aç ão ,
la ç ã o re c íp ro c a n o s e io d o te m p o .” (A .
é c e r ta ” ; fin a lm e n te , p a r a H τ OE Â « Ç , q u e
176); o u : “ A e x p e riê n c ia a p e n a s é p o s s í­
to m a s o b re e ste p o n to o c a m in h o c o n tr á ­
vel p e la re p re se n ta ç ã o d e u m a lig ação n e­
r io d e C ÃZ 2 ÇÃI e se a p r o x im a d e J . S.
M « Â Â (Logic, I I I , X X ), o ra c io c ín io p o r c e s s á ria e n tr e as p e rc e p ç õ e s .” (B . 218)
a n a lo g ia é a indução de assimilação, E sta s a n a lo g ia s sã o trê s : a p e rm a n ê n ­
a q u e la q u e a s s e n ta s o b re a s s e m e lh a n ç a s c ia d a s u b s tâ n c ia ; a e x is tê n c ia d e leis fi­
e x terio re s d e q u e n ã o se c o n h e c e a ra z ã o . x a s d e s u c e ssã o n a n a tu r e z a (o u , n a 2?
(Do raciocínio p o r analogia. A n n é e p h i- e d iç ã o , o p rin c íp io d e c a u s a lid a d e ); o
lo s ., 1902.) p rin c íp io d e re a ç ã o re c íp ro c a u n iv e rsa l
P a re c e , p o is, im p o ssív el d a r a e sta ex ­ e n tr e to d a s a s s u b s tâ n c ia s e m c a d a m o ­
p re s s ã o u m s e n tid o p re c is o f o r a d a a c e p ­ m e n to d o te m p o .
ç ã o A . M a s c o m o a in d e te r m i n a ç ã o d o
u s o , m e sm o té c n ic o , p a re c e a tu a lm e n te A N Á L O G O D . A nalog , gleichartig ;
in s u p e rá v e l re c o m e n d a -s e a o m e n o s n ã o E . Analogous; F. Analogie', I. Análogo.
fa z e r d e la , c o m o a c o n te c e m u ita s v ezes, A. Q u a lific a tiv o d e u m te rm o q u e es­
u m a esp é c ie d e f in id a d o g ê n e ro ra c io c í­ t á e m re la ç ã o a u m o u tr o n a m e sm a r e la ­
n io , c o o rd e n a d a à indução* e à dedução*. ç ã o q u e u m te rc e iro em re la ç ã o a u m
V er D Ã2 ÃÂ Â E , L e raisonnement para q u a r to ; p o d e n d o e s ta re la ç ã o ser q u e r
analogie, s o b r e tu d o c a p . III. u m a re la ç ã o d e g ra n d e z a m a te m á tic a (o
*‘A n a lo g ia s d a e x p e riê n c ia ” D . Ana- q u e p a re c e se r o s e n tid o p rim itiv o d a p a ­
togien der Erfakrung (Kτ Ç , K ritik der I la v ra ), q u e r u m a re la ç ã o d e s itu a ç ã o , d e
reinen Vern., T r a n s e . A n a ly t., liv ro I I I , d u r a ç ã o , d e fin a lid a d e , e tc . “ A re d e

S o b re A n á lo g o — A n te s de c o n sis tir n u m a metáfora, c o m o n o e x e m p lo e sc o lh i­


d o , a a n a lo g ia c o n siste n u m a sim ilitu d e re a l d e r e la ç ã o , d e fu n ç õ e s o u d e fin a lid a d e ,
q u e r c o m o u m a q u a r ta p ro p o r c io n a l a e n c o n tr a r , q u e r c o m o u m a c o n tin u id a d e filo -
g e n é tic a , c o m o a d a a s a e d a b a r b a ta n a , q u e r c o m o u m a a ss im ila ç ã o p o ssív el d e u m a
o rd e m in fe rio r a u m a o rd e m s u p e r io r ( “ as v irtu d e s h u m a n a s s ã o a n á lo g a s à s p e rfe i­
çõ es d iv in a s ” , c o m o d isse L e ib n iz , q u e c o n c e b ia as c o isa s e s p iritu a is non ex analogia
universi, sed ex analogia nostri): a ss im , sem q u e h a ja s e m e lh a n ç a sen sív el o u fig u r á -
v el, o a n á lo g o e x p rim e o r a u m a re la ç ã o ló g ic a , o r a u m a d e p e n d ê n c ia h is tó ric a o u
u m a c o n e x ã o b io ló g ic a , o r a u m a c o n v e rg ê n c ia e u m a u n id a d e d e p la n o e n tre o rd e n s
em a p a r ê n c ia in c o m e n s u rá v e is . (Maurice Blondel )
E s ta p a la v r a d e sig n a e m E . G e o f f r o y S a in t-H ila ire b e m m a is d o q u e u m a carac­
terística·, d e s ig n a to d a u m a te o r ia q u e ele e x p õ e e m v á ria s o b r a s e, p a rtic u la rm e n te ,
n o s P r in c íp io s d e f il o s o f i a z o o ló g ic a . E ste liv ro c o m e ç a c o m u m d is c u rs o p re lim in a r
c o n s a g ra d o à te o ria d o s a n á lo g o s . M a is a d ia n te G e o f f r o y d e sc re v e q u e e sta te o r ia
“ n ã o é a p e n a s u m a sim ples a m p lific a ç ã o (d a d o u trin a a risto té lic a ), e la re co n h ece p r in ­
c íp io s p r ó p r io s , e la te m u m o b je tiv o p re c iso , ela se to r n a u m in s tr u m e n to d e d e s c o ­
b e r ta s ” , e tc ... P r. d e p h ilo s o p h ie z o o lo g iq u e , c h e z P ic h ó n e D id ie r e c h ez R o u s s e a u ,
P a ris , 1830, p . 9 7 . (L. Boisse )
65 A N A R Q U IS M O

te le g ráfica é a n á lo g a a o siste m a n e rv o s o ” M as a p a la v ra e ra a in d a c o n sid e ra d a


(q u e r d izer: e stá p a r a u m p a ís c o m o o sis­ p o r FÂ τ Z ζ 2
E c o m o e ru d ita e ra ra : ver A
I

tem a n erv o so p a ra u m o rg an ism o ). D iz-se, educação sentimental (1869), ed . L em er-


n o m esm o se n tid o , correspondente. re , I, 220.
B . Q u a lific a tiv o de d o is g ru p o s c u jo s Rad. int .: A n a lo g .
te rm o s se c o rre sp o n d e m u m a u m . A N A M N E S E V er Suplemento.
C . E sp ecialm en te, n o sen tid o a d o ta d o
A N A R Q U IA D . Anarchismus; E . A .
p o r G e o f f r o y S a i n t - H i l a i r e , c ara c te ­
Anarchy; B . Anarchism ; F . Anarchie; I.
rística de d o is ó rg ão s q u e em d o is seres d i­
ferentes tê m o lugar e as m esm as conexões,
Anarchia.
e m b o ra p o ssam te r fu nções d iferentes (co ­ A . D e so rd e m (e p ro p ria m e n te d e so r­
m o o b ra ç o d o h o m e m e a a sa d o p á s s a ­ d e m p o r a u sên cia d e a u to rid a d e o rg a n iz a ­
ro ). D iz-se, d e p re fe rê n c ia , n este s en tid o , d o ra ): “ A d o u trin a m e ta físic a a c e rc a d a
homólogo * . p re te n s a lib e rd a d e m o r a l1 deve ser h is to ­
ric a m e n te e n c a ra d a c o m o u m re s u lta d o
D . N o sentido adotado por C u v i e r e
p a ssa g eiro d a a n a r q u ia m o d e r n a .” A .
pela m aior parte d o s biólogos d o século
COMTE, Catecismo positivista , ed . P é-
X IX : característica dos órgãos que têm a
c a u lt, p . 137.
mesma função (quer eles tenham ou não
a mesma característica anatôm ica). B . D o u trin a po lítica (c o m p o rta n d o v a­
rie d a d es n o tá v eis) e c u jo p o n to c o m u m
E . Q u a lific a tiv o d e d o is te rm o s e n tre
co n siste e m re je ita r to d a o rg a n iz a ç ã o d o
os q u ais existe u m a sem elh an ça m ais o u
E s ta d o q u e se im p o n h a a c im a d o in ­
m e n o s d is ta n te , p a rtic u la rm e n te n o s seus
d iv íd u o .
efeito s o u n a im p ressão q u e eles p r o d u ­
zem . “ R azões a n á lo g a s ” . C f. Analogia. CRÍTIC A

NOTA E screve-se a lg u m a s vezes, n o sen tid o


B , an-arquia e u tilizo u -se ta m b é m anar­
Análogo d izia-se a n tig a m e n te d e tu d o
o que está d e a c o r d o , d a q u ilo q u e está em
quismo. E s ta f o r m a serv iria m e lh o r, p o is
e v ita ria a c o n fu s ã o e n tre o s d o is sen tid o s,
harm onia. “ E is p o r q u e as n o ssa s o b ra s
q u e n ã o é r a r a (S ).
nos a g ra d a m s o b eran a m e n te, in d ep en d en -
Rad. int.: A n a rk i.
tem ente d o a m o r-p ró p rio : é p o rq u e elas
se lig am a to d a s a s n o ssa s o u tra s id éias e A N A R Q U IS M O S in ô n im o d e anar­
são-lhes a n á lo g a s .” M o n t e s q u i e u , Ca­ quia n o s e n tid o B. V e r, n o ro d a p é , as o b ­
hiers (e x tra to s e d ita d o s p o r B e rn a rd - servações.
G ra sse t, p . 37). E n c o n tra m -s e freq ü e n te -
m e n te n o fim d o sécu lo X V III ex p ressõ es
c o m o : “ U m d iscu rso a n á lo g o à s c irc u n s­ 1. Quer dizer, n o pensamento de Coime, o livre-
tâ n c ia s .” arbítrio no sentido C (liberdade de indeterminaçâo).

S o b re A n a rq u is m o — A p a la v ra a n a r q u ia foi u tiliz a d a p e la p rim e ira vez, n o s e n ti­


d o B, p o r P r o u d h o n ; fo i re to m a d a p o r B a k u n i n e , q u e in d ic a essa filiaç ã o . (/?. Ber-
tfielot — A . Berthod]
O tex to p rim itiv o : “ D e so rd e m , au sên cia d e a u to rid a d e o u d e o rg a n iz a ç ã o ” foi su b s­
titu íd o p elo te x to a tu a l p a r a c o n sid e ra r u m a c rític a d e Af. Marsal: “ E s ta d e fin iç ão p a ­
receria im p lic a r” , d iz ele, “ q u e o exercício d a a u to rid a d e é a c o n d iç ã o n ecessária e
su ficien te d a o rd e m ; o ra , a d e so rd e m p o d e t e r o u tra s c a u s a s além d a a u s ê n c i a d e a u to ­
rid a d e , e a o rd e m p o d e em c e rto s c a so s e sta b e lec e r-se e s p o n ta n e a m e n te .
A N E S T E S IA 66

A N A R T R IA V er Afasia. a s sen saçõ es re u n id a s a n tig a m e n te s o b o


n o m e d e to q u e (c o n ta to , p re ssã o , te m p e ­
A N E R IT R O P S IA V er Daltonismo ,
ra tu ra ) e m esm o à d o r. V er Analgesia.
o b serv açõ es e cf. Acromatopsia.
Anestesias sistemáticas (P ie rre J τ -
A N E S T E S IA (d o G . òtpcaoú-qaía, in ­ n e t ): aq u elas q u e n ã o a ssen tam so b re to ­
sen sib ilid ad e). D . Anaesthesie ; E . Anaes­ d a s as term in ações de u m m esm o n erv o o u
thesia; F . Anesthésie; I. Anestesia. to d a s as fu n çõ es d e u m m esm o se n tid o ,
S u p ressã o (p a rc ia l o u to ta l) d a fa c u l­ m a s so b re u m g ru p o d e sen saçõ es re u n i­
d a d e d e e x p erim en tar sensações co n scien ­ d a s p o r u m a c aracterística p sicológica co ­
tes. E s ta p a lav ra n ã o se d iz c o m u m en te d a m u m ( p o r ex em p lo , os o b je to s seg u rad o s
v isão , d a a u d iç ã o , d o p a la d a r e d o o lfa ­ p o r u m a c e rta p e sso a , e tc .).
to , m a s ap lic a-se e sp e c ialm en te a to d a s Rad. int .: A n estezi.

U m a d as teses d a d o u tr in a a n a r q u is ta é m e sm o q u e a a n a r q u ia , ta l c o m o é d e fin id a
n o s e n tid o A , n ã o ex iste e q u e a d e s o rd e m q u a n d o se p ro d u z n ã o é n u n c a o e fe ito
de u m a a u sê n c ia d e a u to r id a d e ; e a té , n o m a is d a s v ezes, e la é o e fe ito d e s ta , c u ja s
p re te n sõ e s c ria m o u fa z e m c re sc e r a d e s o rd e m , s o b r e tu d o q u a n d o é c o e r c itiv a .”
Marsal faz ta m b é m n o ta r q u e n o s e n tid o A se re ú n e em g eral a d e sc riç ã o d e u m
e s ta d o d e f a to e u m a a p re c ia ç ã o d e sfa v o rá v e l. A s d u a s id éias p o d e m d isso c ia r-se .
É assim q u e L E S e n n e escrev e: “ O id e a l d a c o n sc iê n c ia m o ra l é s e n tid o c o m o u m a
c o m u n id a d e c u ja h a r m o n ia a c o n te c e ria anárquicamente, q u e r d iz e r, n o lim ite , sem
lei n em m o ra l, d a re c ip ro c id a d e d o a m o r e n tre to d o s o s h o m e n s em n o m e d o a m o r
de D e u s .” Traité de morale générale, p . 365. M as e s ta u tiliz a ç ã o q u e n ã o se a p r o ­
p ria , sem d ú v id a , a o p r ó p r io s u b s ta n tiv o a n a r q u ia p e rm a n e c e e x c e p c io n a l, c o m o o
m o s tra , a liá s , o f a to de a p a la v r a ser a c o m p a n h a d a p e la s u a d e fin iç ã o . {A. L .)
E n c o n tra -s e em P r o u d h o n um a análise m u ito p re c is a d o s d ife re n te s se n tid o s de
anarquia.
S eg u n d o o e stu d o d e E ltz b a c h e r a s d o u trin a s a n a rq u is ta s n ã o tê m e m c o m u m a p e ­
n as a negação do Estado n u m fu tu r o p ró x im o d o s p o v o s civ ilizad o s. ‘‘E s ta n eg ação
sig nifica p a r a G o d w in , P r o u d h o n , S tirn e r e T u c k e r q u e eles re je ita m o E s ta d o sem res­
triç õ e s; p a r a T o ls to i, q u e o re je ita n ã o d e u m a m a n e ira a b s o lu ta , m a s so m en te p a ra
o fu tu r o p ró x im o d o s p o v o s civ ilizad o s; p a r a B a k u n in e K ro p o tk in fin a lm e n te sig n ifica
q u e eles p rev eem n u m fu tu r o p ró x im o q u e a e v o lu çã o fa rá d e sa p a re c e r o E s ta d o .”
E l t z b a c h e r , L 'anarchisme, tr a d . O tto K a rm in , G ia rd e B rière, 1912, p . 388. E m re ­
la çã o à p ro p rie d a d e , as d o u trin a s a n a rq u is ta s sã o o u adoministas (G o d w in , P r o u d h o n ,
S tirn e r, T o lsto i) o u doministas (T u ck e r, in d iv id u a lista ; B a k u n in , co letiv ista; K ro p o t­
k in , c o m u n ista). S e g u n d o as su as id éias s o b re a re a liz a ç ã o d a a n a r q u ia , as d o u trin a s
a n a rq u is ta s são ou reformistas (G o d w in , P r o u d h o n ) o u revolucionárias. E s ta s ú ltim a s
p o d e m su b d iv id ir-se em d o u trin a s re n ite n te s (T u c k e r, T o lsto i) e in su rre c io n ais (S tirn er,
B ak u n in , K ro p o tk in ). D a m e sm a fo r m a , seg u n d o a s u a relação c o m o d ire ito , a fa m í­
lia, a relig ião , as d o u trin a s a n a rq u is ta s n ã o têm n a d a em c o m u m . (O . Karmin)
U m o u tr o tra ç o c o m u m d a s d o u tr in a s a n a r q u is ta s é o seu o tim is m o d o p o n to
d e v ista d a o rg a n iz a ç ã o e s p o n tâ n e a d a p r o d u ç ã o e d o tr a b a lh o : o s a n a r q u is ta s a c r e ­
d ita m , c o m o F o u r ie r , q u e tu d o se f a r á p o r a tr a ç ã o , sem c o a ç ã o , d e sd e q u e u m a o r ­
g a n iz a ç ã o a rtific ia l e v ic io sa n ã o lh e fa ç a o b s tá c u lo . ( C h. Andler)
S o b re A n e ste sia — N o q u e c o n c e rn e à se n sib ilid a d e v isu a l, o s te rm o s técn ico s
u tiliz a d o s s ã o amaurose (c e g u eira to ta l) , ambliopsia (c e g u eira in c o m p le ta ), acroma­
topsia (v er e s ta p a la v r a m a is a trá s ) . P a r a a s e n s ib ilid a d e a u d itiv a , a p e rd a d as s e n s a ­
çõ es to n a is (a ltu ra d o s so n s) é d e s ig n a d a p e la e x p re ss ã o surdez tonal. A a n este sia
g u s ta tiv a é c h a m a d a agueusia e a a n e ste sia o lfa tiv a anos mia. (H. Piéron)
67 A N G Ú S T IA

“ A N E S T É T IC O ” T e rm o in tr o d u z i­ P o r c o n c e ito s de re fle x ã o e n te n d e ele os


d o p o r L a l o p a ra d e sig n a r, em o p o siç ã o c o n c e ito s p o r m e io d o s q u a is o e n te n d i­
a o se n tim e n to estético* p ro p ria m e n te d i­ m e n to c o m p a r a as re p re se n ta ç õ e s (id e n ­
to , o s e n tim e n to d o q u e v u lg a rm e n te se tid a d e e d iv e rs id a d e , a c o r d o e o p o s iç ã o ,
c h a m a “ a b e lez a d a n a tu r e z a ” e n q u a n to in te rn o e e x te rn o , m a té ria e fo rm a). A a n ­
o h o m e m n ã o in te rv é m n e la ; “ to d a a v i­ fib o lo g ía re su lta d e q u e o s p re d ic a d o s p u ­
d a p r o f u n d a e im a te ria l q u e se e n c o n tr a ra m e n te in telectu ais d e te rm in a d o s p o r es­
p o r to d a p a r te se se s o u b e r v ê-la a tra v é s tes c o n c e ito s sã o a p lic a d o s a o s fe n ô m e ­
d a in tu iç ã o p esso al, dizem os m ísticos; to ­ n o s sensíveis, q u e r seja p a ra os c o m p re en ­
d a s as a p a rê n c ia s m e sm o , e, ta lv e z , s o ­ d e r, q u e r p a ra os u ltr a p a s s a r, sem c u id a r
b re tu d o , a s m ais m a te ria is, d izem o s re a ­ d a s c o n d iç õ e s p r ó p r ia s d a s en sib ilid a d e .
l i s t a s ...” C h . L a l o , Introduction à l ‘es- D a í em K a n t to d a u m a c rític a d a m o n a -
thétique, 2? p a r te , c a p . II: “ A b eleza d o lo g ia le ib n iz ia n a , q u e ele c o n sid e ra b a ­
a n e s té tic a d a n a tu r e z a .” sea d a n e sta a n fib o lia .

A N F IB O L IA o u , iló g ic a m e n te , A n ­ A N G Ú S T IA D . Angst; E . A nguish ;


fib o lo g ía (G . ’Anipt-PoXict). D . Am phibo- F . Angoisse', I. Angoscia.
lie\ E . Am phibol\a\ A m phibology ; F. A , P r o p r ia m e n te , c o n ju n to d e fe n ô ­
A m phibolic ; I. Anfibología. m e n o s a fe tiv o s d o m in a d o s p o r u m a se n ­
D u p lo s e n tid o de u m a lo c u ç ã o o u de sa ç ã o in te r n a d e o p re s s ã o e de e s tr e ita ­
u m a frase. Vei Ambiguidade. P r o p o m o s m e n to (angústia) q u e a c o m p a n h a d e o r ­
u tiliz a r de p re fe rê n c ia ambigüidade p a r a d in á rio o receio de u m s o frim e n to o u de
a s p a la v ra s o u os te rm o s , anfibolia p a r a u m in f o r tú n io g rav es e im in e n te s, c o n tr a
as frases o u as p ro p o s iç õ e s , e equívoco o s q u a is n o s sen tim o s im p o te n te s p a r a
n o sen tid o g e ra l. n o s d e fe n d e rm o s .
Rad. int.: A m fib o l, — es, d u sen sess. A neurose de angústia é c a r a c te riz a ­
A n fib o lia tra n s c e n d e n ta l — O u d o s d a p ela fre q ü ê n c ia o u a c o n s tâ n c ia d e u m
c o n c e ito s de re fle x ã o (K τ Ç , Crítica da
I
sen tim e n to de a n g ú stia no sen tid o A . V er
razão pura). A p ê n d ic e g e ra l à A n a lític a P ie rre J a n e t , Obsessions et psychasthé­
tra n sce n d e n tal: ‘‘V on d er A m p h ib o lie d er nies (1 903), 1, 554, 558; De l ’angoisse à
R e fle x io n sb e g riffe d u rc h d ie V erw ech s- l ’extase (1 9 2 6 ), 11, 302, 379.
lu n g des e m p iris c h e n V e rs ta n d e s g e - B . D iz-se fre q ü e n te m e n te , d esd e a l­
b ra u c h s m it d em tra n s c e n d e n ta le n .” 1 g u n s a n o s , d a in q u ie ta ç ã o * m e ta fís ic a e
m o ra l. “ O s filó so fo s c o n te m p o rá n e o s ,
d e p o is d e se te re m d u r a n te a lg u m te m p o
1. “ Da anfibolia aos conceitos de reflexão pela
confusão d o uso empírico do entendim ento com o c o m p ra z id o n a in q u ie ta ç ã o , serv em -se
seu uso transcen den tal.” h o je d a p a la v r a ‘a n g ú s tia ’ p a ra d e sig n a r

S o b re A n fib o lia — A p ro p o s iç ã o a c im a e stá c o n fo rm e à u tiliz a ç ã o d e A ristó te le s


q u e o p õ e ct/ji<pif3o\ux, a m b ig u id a d e de c o n s tru ç ã o , a d ítw w /u a , a m b ig ü id a d e de u rn a
p a la v ra . Eien Sofis., c a p . IV , 166322. (C . C. J. Webb)
S o b re A n g u s tia — A a n g u s tia c rô n ic a é u m s e n tim e n to c a ra c te rís tic o d o s e sta d o s
m e la n c ó lic o s; a p re s e n ta -s e à c o n sc iê n c ia c o m o u m a d o r e s o b re tu d o c o m o u m v ag o
m e d o q u e fo r a m v u lg a rm e n te c h a m a d o s c o m o d o re s e m e d o s m o ra is p a r a in d ic a r
q u e se tr a ta d e u rn a d o r im p re c is a e d e u m m e d o sem o b je to . N a re a lid a d e , tra ta -s e
de u r n a co isa b em p re c isa : o s u je ito tem m e d o d a s u a p ró p r ia a ç ã o e so fre c o m o
p e n s a m e n t o d e e x e c u t á - l a . E ste m e d o t r a v a a a ç ã o d e u m a m a n e ira d e f i n i t i v a e n ã o
d e u m a m a n e ira m o m e n tâ n e a , c o m o n u m a p a r a d a , o u n o s e n tim e n to d a fa d ig a .
A N IM A L 68

e sta c o n sc iê n cia d o n o sso d e stin o p e sso a l CRÍTICA


q u e n o s tir a a c a d a in s ta n te d o n a d a
N ã o se p o d e d a r n o e s ta d o a tu a l d a
a b r in d o d ia n te d e n ó s u m f u tu r o n o q u a l
ciên cia u m a d e fin iç ã o q u e d istin g a em a l­
a n o s s a e x istên c ia se d e c id e .” L . L τ â E Â -
g u m a s p a la v ra s o a n im a l d o v eg etal e
l e , La philosophie française entre les
p o d e-se m esm o p e rg u n ta r se h a v e rá lu g a r
deux guerres, p. 100. E s ta u tiliz a ç ã o p a ­
p a ra m a n te r esta d istin ç ão p a ra as fo rm as
rece p ro v ir d e K« 2 3 ; τ τ 2 á , O concei­
E E
o rg â n ic a s m a is e le m e n ta re s.
to de angústia (1 8 4 4 ).
Rad. int.: A n g o r. Rad. int.: A . A n im a l; B . B esti.

A N IM A IS (E s p írito s ) V er Espírito. A N IM A L ID A D E D . A . Tierheit,


Tierreich; B . C . Tierheit; E . Anim ality;
A N IM A L D . Tier; E . A n im a i ; F.
F . Anim alité; I. Anim alità.
Animal·, I. Antm ale.
A . U m a d a s d u a s g ra n d e s classes d e A . O re in o a n im a l (m as q u a se sem p re
seres vivos: a q u e la q u e , n a s su as fo rm a s n o s e n tid o B d a p a la v r a a n im a l).
s u p e rio re s , se o p õ e a o re in o v e g etal p e la B . C a ra c te rís tic a d o a n im a l n o s e n ti­
m o b ilid a d e , se n sib ilid a d e , re p re s e n ta ç ã o d o A , “ O q u e c o n stitu i a a n im a lid a d e ...
e in c ap acid ad e d e se a lim e n tar d ire ta m e n ­ é a f a c u ld a d e d e u tiliz a r u m m e c a n is m o
te de e le m e n to s in o rg â n ic o s . d e d e s e n c a d e a m e n to ( déclanchement )*
B . P o r e lip se, o s a n im a is q u e n ã o o p a ra c o n v e rte r em açõ es ‘e x p lo siv as’ u m a
hom em . s o m a tã o g ra n d e q u a n to p o ssív el de en er-

E s ta p a r a d a d a a ç ã o e e s ta a n g ú s tia p o d e m e s ta r Localizadas n a s f o b ia s ; q u a n d o se
e s te n d e m a u m g r a n d e n ú m e r o d e açõ e s o h o m e m a sse m e lh a -se a u m a n im a l c e rc a d o
q u e te n ta s u c e ssiv a m e n te to d a s as s a íd a s e n ã o e n c o n tr a n e n h u m a : n ã o p o d e e x e c u ­
ta r n e n h u m a to , n em d e s e já -lo , n e m s o n h á - lo ; n ã o p o d e m a is v iv e r n e m to le r a r a
s u a p ró p r ia v id a . A a n g ú stia c o m p le ta tra z a id é ia d a m o rte e as te n ta tiv a s d e su icíd io .
O s e n tim e n to , q u e n o fu n d o p e rm a n e c e s e m p re o m e sm o , é o d a u rg ê n c ia d a a ç ã o
e a o m e sm o te m p o d o c a r á te r d e fe itu o s o e a b o m in á v e l d e to d a a ç ã o . A a n s ie d a d e
é c o m p o s ta d e s ta e s g o ta n te e p e r p é tu a p r o c u r a e d e ste d e s g o s to , d e s te m e d o d e to d a
a ç ã o q u e se p r o p õ e . P o d e m -s e lig a r a o sim p le s re c u o d ia n te d a a ç ã o to d a s a s p e r tu r ­
b a ç õ e s p sic o ló g ic a s e fisio ló g ic a s q u e fo r a m d e sc rita s n a a n g ú s tia , p o is elas d e p e n ­
d e m d a d e riv a ç ã o p ro d u z id a p o r este a to d e tid o . A s c o isa s p a$ sam -$ e c o m o se a o
fe n ô m e n o s u p rim id o se s u b s titu ís s e m , p o r u m a esp é c ie d e d ifu s ã o d a f o r ç a n ã o u tili­
z a d a , u m g r a n d e n ú m e ro d e fe n ô m e n o s in fe rio re s . P a r a o u tr a s o b r a s c ita d a s m a is
a tr á s v e r B o v e n , “ L ’a n x ie té ” , n o s A nnales médico-psychologiques , ju lh o d e 1935.
(P. Janet )
S o b re A n im a lid a d e — A lg u n s m e m b ro s d a S o c ie d a d e c o rrig ir a m déclanchement
p o r decienchement n a p r o v a d e s te a rtig o e r e c o r d a r a m q u e e s ta p a la v r a p a re n te d o s
te rm o s ingleses clench, unclench, etc. v em d o v e lh o fra n c ê s clenche (p r o n u n c ia d o
clanche) q u e q u e ria d izer tr in c o d a p o r ta (s e g u n d o L ittré ) o u p e q u e n a a la v a n c a q u e
serv ia p a r a le v a n ta r u m tr in c o d a p o r ta (s e g u n d o a A c a d e m ia ). O te x to d e B erg so n ,
q u e fo i o q u e m a is c o n trib u iu p a r a a in tr o d u ç ã o d e s ta p a la v r a n a lin g u a g e m filo s ó fi­
ca, u tiliz a déclanchement e é a o r to g r a f ia q u e ele a d o ta ig u a lm e n te a lh u re s , p . e x .,
ibid . , p . 274 (declancher e declanchement); L'énergie spirituelle, p . 8 , e tc . R o u s ta n
ta m b é m escrev e declancher (Psychologie , p p . 4 7 3 , 4 7 5 , e tc .). A s d u a s fo r m a s têm
p o is a seu f a v o r b o a s a u to r id a d e s . C o n tu d o , m a is ta r d e , e m Les deux sources, B erg ­
s o n escrev eu déclencher , p . 2 3 3 , e decienchement, p . 329.
69 Α Ν Ο Μ Ι Α

g ia p o te n c ia l a c u m u la d a .” H . BE 2 ; è ÃÇ , tung; E . A nnihilation; F . Anéantisse-


Evol. creatice, p . 130. m ent ; I. Annientam ento.
C. C a r a c te rís tic a d o a n im a l n o s e n ti­ D e stru iç ã o d o ser (em o p o siçã o à sim ­
d o B , e n q u a n to q u e o p o s ta à c a r a c te rís ­ p les m u d a n ç a ).
tica h u m a n a . “ O a sc e n d en te c rescen te d a Rad. int . : (F a to d e ser a n iq u ila d o ) N i-
n o s s a h u m a n id a d e s o b re a n o s s a a n im a ­ h ile sk ; ( a to d e a n iq u ila r) N ih ilig .
lid a d e se g u n d o a d u p la s u p re m a c ia d a in ­
A N O M A L IA (G . 'Av&fiotKta, d e si­
te lig ê n c ia s o b re a s in c lin a ç õ e s e d o in s­
g u a ld a d e , ir r e g u la r id a d e , d e 6/taX oy,
tin to sim p á tico so b re o in s tin to p e s s o a l.” u n if o r m e , ig u a l). D . Abnorm ität; E .
A . C ÃOI E , Cours de phil. p os., 59? li­ Anom aly; F . Anomalie; I. Anomalia.
ç ã o , ad fin . C f. Humanidade.
G e ra lm e n te , to d o fe n ô m e n o q u e sai
Rad. int.: A . B estiar; B . A n im a le s; C . d o tip o o rd in á rio ; e sp ecialm en te, to d a a l­
B esties.
te ra ç ã o a c e n tu a d a d e u m ó rg ã o o u d e
A N IM IS M O D . Animismus', E . A ni- u m a fu n ç ã o .
mism; F . Anim isme; I. Anim ism o.
A . T e o ria s e g u n d o a q u a l u m a ú n ic a CRÍTICA
e m e sm a a lm a é a o m e sm o te m p o p rin c í­ V er Anorm al. A nôm alo e n c o n tra -s e
p io d o p e n s a m e n to e d a v id a o rg â n ic a . em C o u r n o t : “ S e g u n d o a te o ria de Bi-
D iz-se p a rtic u la rm e n te d a d o u tr in a de c h a t a v id a o rg â n ic a p ro s se g u e o seu c u r­
S t a h l (Theoria medica vera, 1707). V er so d u r a n te as s u sp e n sõ e s , a n ô m a la s o u
Vitalismo. p e rió d ic a s , d a v id a a n im a l.” Essaisur les
B . T e o ria s e g u n d o a q u a l a id é ia d e fo n d em en ts de nos com aissances, c a p .
a lm a re s u lta ria d a fu s ã o d a id é ia d o p r in ­ X X I I I , § 362. C f . Considerations, to m o
cíp io q u e p ro d u z a v id a e d a id é ia d o “ d u ­ I I , p . 6 (e d . B o iv in ). M a s a tu a lm e n te es­
p l o ” o u d o f a n ta s m a q u e p o d e s e p a r a r ­ t a p a la v r a q u a s e n ã o é u s a d a .
se d o c o rp o ( p o r e x e m p lo n o s o n o ). Rad. int.: A n o m a l(e s ), a n o m a l(a j).
TYLOR, Primitive culture, I, 428-429. C f.
“ A N O M I A ” D o G . ¿tvoftux, d e s o r ­
a d is c u s s ã o d e L é v y - B r u h l , Les fo n e -
d e m o u v io la ç ã o d a lei.
tions m entales..., p p . 81-93.
A . A usência de lei. “ E sta hipótese (so­
C . “ T e n d ê n c ia a c o n s id e ra r to d o s os
bre o$ fin s ú ltim os da vida m oral) p od e
c o rp o s c o m o viv os e in te n c io n a d o s .” J .
variar segundo os indivíduos; é a ausên­
P ia g et , La representation du monde chez
cia de lei fixa que se p o d e designar com
Venfant, 160. E sta d o m en tal d o s p o v o s q u e
o n om e de anomia para a opor à autono­
a c re d ita m n a p re sen ç a d e a lm a s a n tr o p o ­
mia d o s k a n tian os.” G u y a u , Morale
m ó rfic a s e m to d o s os seres d a n a tu re z a .
sans Obligation ni saction, p . 230.
Rad. int.: A . A n im ism ; B . A n im atism .
B . A usência de organização, de coor­
A N IQ U IL A M E N T O D. Vernich- denação. “ O estado de desregramento ou

S o b re A n o m a lia — Louis Boisse r e c o rd o u q u e a id é ia d e anomalia n ã o d ev e s e r


c o n f u n d id a c o m a d e a n u la ç ã o d a s leis d a n a tu r e z a (c o m o o p o d e ría fa z e r c re r u m a
e tim o lo g ia e r r ô n e a ) . E. G eoffroy Saint-Hilaire e Claude Bernard in s is tira m s o b re es­
ta id é ia de q u e a n a tu re z a n ã o fa z n e m erros n em c o m e te fa lta s e q u e n ã o se d e v e
m ais fa la r d o s seu s c a p ric h o s (lubridia naturae, P l í n i o ). M o n t a i g n e j á tin h a d ito :
“ O q u e c h a m a m o s de m o n s tro s n ã o o s ã o p a r a D e u s, q u e vê n a im e n s id a d e d a s u a
o b r a a in fin id a d e d a s fo r m a s q u e n e la e stã o in c lu íd a s; ... de t o d a a s u a s a b e d o ria
a p e n a s e m a n a o b o m e c o m u m e re g u la r; m a s n ó s n ã o v em o s a s u a c o n v en iê n c ia
e re la ç ã o ; ... a p e lid a m o s de c o n tr a - n a tu r a o q u e advém c o n tr a o costum e.” E ssa is,
liv ro II, c a p . X X X : “ D e u m a c ria n ç a m o n s tr u o s a .”
A N Ô M IC O 70

d ea n o m ia ...” DZ 2 3 7 E « O , Lesuicide, p. P a rtic u la rm e n te , ch am a -se anteceden­


281. V er A nôm ico. te, n u m ju íz o h ip o té tic o , à p ro p o s iç ã o
Rad. int.: A n o m i. q u e e n u n c ia a c o n d iç ã o , e conseqüente a
p ro p o s iç ã o q u e é c o n d ic io n a d a . N o c aso
A N Ô M IC O D . A nom isch ; E . A no-
“ Se A é v e rd a d e ir a , B é v e r d a d e ir a ” , A
mic; F . Anom ique; I. A nom ico (? ). é o antecedente, B o conseqüente (o c o n ­
A . N ão organizado ou desorganizado: d ic io n a d o ).
“ A divisão d o trabalho a n ô m ic o ” é o tí­ B . Em P s i c o l . e na teoria d o co n h e­
tulo de um capítulo de D u r k h e i m , La cim ento, cham a-se antecedente de um fe ­
división du iravail social, livro I I I , cap. n ôm en o to d o o fen ôm en o que o precede
I. E la é, para ele, um a das form as da di­ no tem po (em particular: antecedente
visão d o trabalho anorm al *. imediato, ant. invariável).
B . Q u e re s u lta d a fa lta d e o rg a n iz a ­ C . P s i c o l . C ham am -se antecedentes
ç ã o . “ O s u ic íd io a n ô m ic o .” (T ítu lo d o a todos os acontecim entos, quer sejam in­
c a p . V d e L e suicide d e D u r k h e i m .) dividuais quer hereditários, que podem
Rad. int.: A n o m i. explicar certas anom alias psíquicas d e um
A N O R M A L D . Abnorm isch, unre- determ inado su jeito.
geímâssig ; E . A bnorm al; F . Anorm al; I. Rad. int.: A n te c e d e n t.
Sregolato (? ). 2. A N T E C E D E N T E (a d j.) D . Vorher-
E tim o ló g ic a m e n te , c o n tr á r io à nor­ gehend, vorig; E . Antecedent, anterior,
ma*. Irre g u la r, q u e n ã o e stá c o n fo rm e prior; F . Antecedent; I. Antecedente.
q u e r (A ) a o tip o m é d io , q u e r (B ) a o tip o A n te r io r , n u m d o s d o is se n tid o s d e s ­
id e a l d a esp écie c o n s id e ra d a . t a p a la v r a . V e r Anterioridade.
CRÍTICA Rad. int.: A n te .
T e rm o m u ito e q u ív o c o em ra z ã o d e s­ “ A N T E C I P A Ç Ã O ” (G . π ρ ό λ η ψ ή ,
ta d u p la c o n c e p ç ã o d o normal. V er a c rí­ d e o n d e o L . Anü-cipatio). D . Anticipa-
tic a e as o b s e rv a ç õ e s s o b re e s ta p a la v ra . tion; E . Anticipation ; F . Anticipation; I.
A lé m d isso , anormal p a re c e te r sid o c o n ­ Antícipazione.
f u n d id o fr e q ü e n te m e n te c o m a n ô m a lo A . O s esto ico s e o s e p ic u rista s c h a m a ­
(v er Anom alia) e e s ta ú ltim a p a la v r a s e r­ v a m assim a o p e n sa m e n to d o g eral n a m e ­
ve m u ita s vezes d e s u b s ta n tiv o c o rre sp o n ­ d id a em q u e ele se fo r m a e s p o n ta n e a m e n ­
d e n te a anormal , n ã o e s ta n d o a p a la v r a te a p a r tir d a p e rc e p ç ã o d o sin g u la r
anormalilé em u s o em fra n c ê s . P a r e c e , {evvoia φ ν σ ι χ ή τ ω ν χ α θ ό λ ο ν ), DlOG.
a liá s , q u e se tem fr e q ü e n te m e n te d e p re ­ L τ é 2 T« Ã , V II, 154. “ A n tic ip a tio q u a e -
c ia d o o s e n tid o e x a to d e anomalia, ao d a m sin e d o c tr in a , q u a m τ ρ ό Κ η ψ ί ν ap -
a p ro x im á -lo n ã o de o/totXos, m a s de vo­ p e lla t E p ic u ru s , id est a n te c e p ta m a n im o
l t os, e p o r c o n s e q ü ê n c ia d a id é ia d e n o r ­ rei q u a m d a m in fo rm a tio n e m sin e q u a nec
m a , q u e é v iz in h a d a d e r e g ra o u d e lei. intellig i q u id q u a m , nec q u a e ri, n ec d is p u ­
Rad. int.: N e -n o rm a l. t a n p o te s t.” C « TE 2 Ã , De natura deorum,
Z, 16.
A N O S M IA V e r as o b s e rv a ç õ e s s o b re
Anestesia. B . “ A n te c ip a ç ã o d a n a tu r e z a ” o u
a p e n a s “ a n te c ip a ç õ e s ” d e s ig n a , em Bτ ­
1. A N T E C E D E N T E (su b st.) D . E . A n ­ TÃÇ , to d a s as g e n e ra liz a ç õ e s a p re s s a d a s ,
teceden t; F . Antécedente; I. Antecedente. s a íd a s d e u m p e q u e n o n u m e ro d e fa to s
A. LÓG. E m to d a a im p lic a çã o , o te r­q u e se n o s im p õ e m q u a s e sem q u e p e rc e ­
m o im p lican te é d ito o antecedente e o te r­ b a m o s . V er e sp e c ia lm e n te N ov. org., I,
m o im p lic a d o o consequente. 25-33. D u rk h e im , p a re c e q u e sem ra z ã o ,
71 A N T IM O R A L

a trib u iu este se n tid o a u m o u tr o te rm o d o B. A n te rio rid a d e c ro n o ló g ic a: c o n sis­


v o cab u lário b a co n ia n o , o de “ p ren o ção ” *. te em p re c e d e r n o te m p o .
Rad. int.: A n te (s ).
NOTA
A N T I ... (G . apTÍ). P re fix o u tiliz a d o
L E « ζ Ç« U r e t o m o u e s ta p a l a v r a
p a r a a s s in a la r a o p o s iç ã o .
in te r p r e ta n d o - a n o s e n tid o d a s id éias r a ­
E m a lg u m a s p a la v r a s , p o r d e f o r m a ­
c io n a is ta is c o m o ele p r ó p r io as a d m ite
(N ovos ensaios, P r e f á c io , § 2). M as n ã o ç ã o d o la tim ante, este p re fix o a ss in a la
p a re c e q ue esse seja o s e n tid o e stó ico . a a n te rio rid a d e ; m as este caso é ra ro e n ão
se e n c o n tra n o s te rm o s d e fo rm a ç ã o c o n ­
“ A n te c ip a ç õ e s d a p e rc e p ç ã o “ — D . te m p o râ n e a .
A n ticip a tio n en der W ahrnehm ung.
“ A N T I L O G I A ” G . ' Avrikoyía.
(K τ Ç , Kritik der reinen Vern., T r a n s .
I
N o s cético s g re g o s, o p o siçõ e s d e d is­
A n a ly t., liv ro II , c ap . II , 3? se ç ã o .) P r in ­
cíp io s a priori d o en ten d im en to * p u ro , re­ c u rso s o u de a rg u m e n to s , q u e resu m e a
la tiv o s à c a te g o ria de q u a lid a d e* e q u e se fó rm u la : itavri \ oyo}\ óyo$ ¡ o r o s avrí xu-
resu m em n e sta fó rm u la: “ E m to d o s os fe­ Tcti (S E 7 I Ã E Oú í 2 « TÃ , Hipót. pirronea-
n ô m e n o s, a se n sa çã o e o real q u e lhe c o r­ nas, c a p . 27).
re s p o n d e n o o b je to (realitas phaenome-
A N T IL Ó G IC O V er Alógico.
non) têm u m a g ra n d e z a in te n s iv a , q u e r
d iz er, u m g r a u .” (A . 166); o u : “ E m t o ­ A N T IM N É S L A D . Antim nesie ; E . I.
d o s os fe n ô m e n o s, o real q u e é o o b je to A ntim nesia ; F . Antim nesie.
d a se n sa çã o tem u m a g ra n d e z a in te n siv a, F en ô m en o o p o sto à paramnesia *. F a l­
q u e r d iz er, u m g r a u .” (B. 207) so se n tim e n to d e n o v id a d e lig a d o a u rn a
E m F ísic a , e sta in te n s id a d e c o n s titu i p e rc e p ç ã o fa m ilia r. V er A . L e m a i t r e ,
stforça e esta p ro p o siç ã o é p o r isso o p rin ­ “ P a ra m n é sie n eg ativ e e t p a ra m n é sie re n -
c íp io a priori d a d in â m ic a . v e rsée ” . Arch. de psych., ju lh o de 1909.
Rad. in t .: A n tim n e s i.
A N T E P R E D IC A T IV O V er Su­
plem ento. “ A N T IM O R A L ” N o m e d a d o p o r
R E ÇÃZ â« E 2a um dos d o is elem en to s q ue
A N T E R I O R ID A D E D . Vordersein ; seg u n d o ele c o m p õ e m a filo so fia p rá tic a
E . Anteriority ; F . Anteriorite; I. Ante- d o O rien te a n tig o . C onsiste n a ap o teo se d a
riorità. p o tê n c ia e d a h a b ilid a d e in d iv id u a is, e re ­
R e la ç ã o d o q u e está a n te s c o m o q u e
p o u s a so b re a id éia d e q u e “ as m assas h u ­
e stá d e p o is. V er Primeiro.
m a n as são o in stru m e n to n a tu ra l e fatal d a
A. A n te rio rid a d e ló g ica: c o n siste em ra n d e za e d o p ra z er d e alg u n s, que sabem
g
se r o p rin c íp io , a p re m is sa o u a c o n d iç ã o e p o d e m serv ir-se d e la s ” . Uchronie, 1?
d e u m a p ro p o s iç ã o . q u a d r o , p . 44. V er Ultramoral.

S o b re A n te rio rid a d e — A a n te r io r id a d e ló g ic a é re la tiv a a u m d a d o siste m a de


im p lic a çõ e s e a u m a e sc o lh a p ré v ia d e in d e m o n s trá v e is . D o fa to d e e la n ã o ser c ro ­
n o ló g ic a seria e rra d o c o n c lu ir q u e é a b s o lu ta n a e te r n id a d e p a r a a e te rn id a d e . {M.
Marsal)
S o b re A n ti... — P re fix o m u ito p o u c o u tiliz a d o ; s e ria ex celen te p a r a d e sig n a r os
c o n tr á r io s e d istin g u i-lo s d o s c o n tr a d itó r io s . E x .: O fa ls o é o n ã o -v e rd a d e iro (p o is
q u e t u d o o q u e n ã o é v e r d a d e i r o é fa ls o ); o m a l é o a n tib e m p o i s o n ã o - b e m c o m ­
p re e n d e o n e m b em nem m al e o m a l. ( Victor Egger)
A N T IN O M IA 72

A N T IN O M IA (G . Α ν τ ι ν ο μ ί α , c o n ­ s o c ia l s o b re a lib e rd a d e a b s o lu ta e in d e ­
tr a d iç ã o n a s leis). D . A n tin o m ie ; E . A n - f in id a d e to d o o e n s in o .” A . C o m t e ,
tinomy; F . Antinom ie; I. A ntinom ia. Cours d e phil. positive , liç ã o 5 7 , ad f i ­
A . E m D i r e i t o e em T e o l o g i a : c o n ­ nem; e d . S c h le ic h e r, V I, 370.
tr a d iç ã o e n tr e d u a s leis o u p rin c íp io s n a U tiliz a d a a lg u m a s vezes d e m o d o a b u ­
s u a a p lic a ç ã o p r á tic a a u m c a s o p a r tic u ­ siv o p a r a d e s ig n a r o q u e é o p o s to a o
la r. so cia lism o * o u m e s m o a u m a f o r m a p a r ­
tic u la r d e re g im e so cia l.
B . E m Kτ ÇI : “ c o n f lito e n tr e a s leis
d a ra z ã o p u r a ” ; c o n tra d iç õ e s n a s q u a is
A N T ÍT E S E (G . ’A r r tf e o ts ) . D . A n -
a r a z ã o p u r a se e n v o lv e n e c e s sa ria m e n ­
tithesis; E . A ntithesis ; F . A ntithèse ; I.
te , n a c o s m o lo g ia ra c io n a l, q u a n d o p r o ­
A ntitesi.
c u ra o in c o n d ic io n a d o n o fe n ô m e n o (q u er
n a série to ta l in f in ita d a s c o n d iç õ e s , q u e r A . O p o siç ã o d e se n tid o e n tre d o is te r­
n u m p rim e iro te r m o a b s o lu to ) , e q u a n ­ m o s o u d u a s p ro p o s iç õ e s . E s ta o p o s iç ã o
d o , e m c o n s e q ü ê n c ia , e la t r a t a o m u n d o p o d e se r a d o s c o n tr a d itó r io s , o u a d o s
s u b m e tid o às c o n d iç õ e s d a e x p e riê n c ia c o n tr á r io s , m a s s o b r e tu d o e sta ú ltim a .
p o ssív el, c o m o se ele tiv esse u m a re a lid a ­
B . M ais g e ra lm e n te , o p o s iç ã o d e d u a s
d e e m s i, te o ric a m e n te d e te rm in á v e l. E s ­
c a r a c te rís tic a s , d e d u a s te n d ê n c ia s , etc.
ta s c o n tra d iç õ e s tra d u z e m - s e e m q u a tr o
p a re s de p ro p o s iç õ e s c o sm o ló g ic a s ; c a d a C . M ais especialm ente, na lógica*
u m d estes p a re s c h a m a -se uma a n tin o m ia transcendental de K a n t e n a dialética*
m a s a o m e sm o te m p o o seu c o n ju n to de H e g e l , o segu n do m om en to de um a
c o n s titu i “ a A n tin o m ia d a r a z ã o p u r a ” . antítese n o sentido A , que se op õe então
{Kritik der reinen Vernunft, D ia lé tic a à tese*.
tr a n s c e n d e n ta l, 2? p a r te .) E m K a n t h á N a s antinom ias * d e K a n t a s a n títe se s
ta m b é m u m a a n tin o m ia d a ra z ã o p r á tic a a f ir m a m , c a d a u m a s o b re a q u e s tã o q u e
re la tiv a a o c o n c e ito d o s o b e r a n o b em lh e c o n c e rn e , q u e n ã o e x iste te rm o a b s o ­
{Kritik der praktischen Vernunft , liv . I I , lu ta m e n te p rim e iro (n e n h u m c o m eç o d o
c a p . II); u m a a n tin o m ia d o ju íz o teleo - te m p o , n e n h u m e le m e n to sim p le s, n e ­
ló g ic o , re la tiv a a o m e c a n is m o e à fin a li­ n h u m a to liv re, n e n h u m ser n e c e s sá rio )
d a d e ; e u m a a n tin o m ia d o g o s to (Kritik e q u e , p o r c o n se g u in te , a p ro c u ra d o s a n ­
der Urtheilskraft, § 54 s s ., D ia lé tic a d o te c e d e n te s , d o s c o m p o n e n te s , d a s c a u sa s
ju íz o e sté tic o ). d e te r m in a n te s o u d a s e x istê n c ia s, d e p e n ­
C . N u m s e n tid o m a is f r a c o , to d o o d e n te s u m a d a o u tr a , só p o d e p ro s s e g u ir
c o n f lito , a p a r e n te o u re a l, e n tre as c o n ­ in d e fin id a m e n te .
dições de u m m esm o fim , o u e n tre as con- Rad. int.: A n tite z .
s e q ü ê n c ia s d e d o is ra c io c ín io s q u e p a r e ­
cem d e m o n stra tiv o s u m d o o u tr o . V er, p . A N T I T I P I A ( ’A v t i t v v íoi). P a la v r a
e x ., o títu lo d a o b r a d e V ic to r H e n r y , u tiliz a d a p o r L E « ζ Ç« U p a r a d e s ig n a r “ o
A ntinom ies Unguistiques (1896). q u e fa z c o m q u e u m c o r p o se ja im p e n e ­
Rad. in t .: A n tin o m i. trá v e l a o u tr o ” . Exame dos princípios de
R. P. Malebranche ; E r d m a n n , 6 9 1 a . “ A t-
A N T I- S IM E T R I A V er Suplemento.
trib u tu m p e r q u o d m a te ria est in s p a tio .”
A N T I- S O C IA L C o n tr á r io à b o a o r ­ Comm entatio de anima brutorum; ibid . ,
d e m d a so c ie d a d e . “ U m p rin c íp io a n ti­ 4 6 3 a.

S o b re A n tin o m ia — S o b re o s e n tid o d a s a n tin o m ia s k a n tia n a s ver as o b s e rv a ­


ç õ es de J. Lachelier a c e rc a d a p a la v r a Razão.
73 A N T R O P O L O G IA

A N T R O P O C Ê N T R IC O (d o G . logia moral e la é o c o n h e c im e n to d o h o ­
avflçw Tror, xtvTQOp). D , Anthropocen- m e m v o lta d o p a r a o q u e d e v e p r o d u z ir
trisch; E . Anthropocentric ; F . A nthropo­ a s a b e d o ria n a v id a , d e a c o r d o c o m o s
centrique; I. Antropocentrico. p rin c íp io s d a m e ta fís ic a d o s c o stu m e s .
Q u e fa z d o h o m e m o c e n tr o d o m u n ­ Anthropologie in pragmatischer Hinsicht,
d o e c o n s id e ra o b e m d a h u m a n id a d e c o ­ 1788.
m o a c a u s a fin a l d o re sto d as co isas. C f. Tugendtehre, E in le itu n g , § M o n ­
Rad. in t .: A n tr o p o c e n tr a l. de ele o p õ e a antropologia à antropono-
A N T R O P O L O G IA (do G . " A v Bq w - mia, q u e r d iz e r, à lei m o r a l re s u lta n te d a
Tros, Xo'-yos). D . Anthropologie; E . A n th ­ ra z ã o .
ropology; F . A nthropologie ; I. A n tro ­ D . (D e p o is d e c e rc a d e 1870) u m d o s
pologia. g ran d es ra m o s d as ciências n a tu ra is , a q u e ­
A . S e n tid o te le o lo g ic o : a ç ã o d e f a la r le q u e c o n s titu i, p o r a ssim d iz er, a z o o ­
h u m a n a m e n te d a s c o isas d iv in a s. “ A a n ­ lo g ia d a espécie h u m a n a . F o i d e fin id a p o r
tro p o lo g ia v e rd a d e ir a e re a l d a s v e rd a d e s B r o c a c o m o “ o e s tu d o d o g ru p o h u m a ­
q u e eles n ã o p o d e ría m c o m p re e n d e r de n o e n c a r a d o n o seu t o d o , n o s seus p o r ­
u m a o u tr a m a n e ir a ...” (M a l e b r a n c h e , m e n o re s e n a s s u a s re la ç õ e s c o m o re s to
Natureza e graça , I, 2 .) E m d e s u s o . C f. d a n a tu r e z a ” . (N o Dictionnaire d e Ri-
L e i b n i z , Disc. d e m e ta f c a p . X X X V I. c h e t , s u b V o.) N e ste s e n tid o ela c o m ­

B . N a n eo -esco lástica, e stu d o d o c o m ­ p re e n d e a a n a to m ia h u m a n a , a p ré -h is ­


p o s to h u m a n o , c o n s id e ra d o n a s u a u n i­ tó r ia , a a rq u e o lo g ia , a e tn o g r a f ia e a e t­
d a d e (em o p o s iç ã o à d is tin ç ã o ra d ic a l en ­ n o lo g ia n o s e n tid o m a is a m p lo , a s o c io ­
tr e o q u e p e rte n c e à a lm a e o q u e p e rte n ­ lo g ia , o fo lc lo re , a lin g u ística. V er o Nou-
ce a o c o r p o , n o c a rte s ia n is m o ). V er, p o r veau traité de psychologie p u b lic a d o so b
e x e m p lo , n a o b r a de M g r. M e r c i e r , Les a d ire ç ã o de G . D u m a s , to m o I, c a p . II:
origines de la psychologie contemporai­ “ O s d a d o s d a a n tr o p o lo g ia ” , p o r P . Ri-
v e t , p p . 56-5 7.
n e , o c a p . IV : “ P s ic o lo g ia e a n tr o p o lo ­
g ia .” E . N o s e n tid o re s trito (m ais re c en te )
C . C iência d o hom em em geral. a p e n a s a q u e la s d a s ciên c ia s p re c e d e n te s
K a n t con ceb e o ob jeto d a antropologia q u e e s tu d a m a c la s s ific a ç ã o , a p a le o n to ­
de três maneiras: com o antropologia teó­ lo g ia e a b io g e o g ra fia d a s v a rie d a d e s d a
rica ou psicología empírica, ela é o conhe­ esp é c ie h u m a n a ( ibid .).
cim ento do hom em em geral e das suas Antropologia criminal (e x p re ssã o d i­
faculdades; co m o antropologia pragm á­ fícil d e ju s tif ic a r , m a s m u ito u su al): es­
tica, é o conhecim ento do hom em v olta­ tu d o d a s c a r a c te rís tic a s físic as e m e n ta is
d o para o que p od e assegurar e aum en­ p a r tic u la r e s a o s a u to r e s d o s crim es e d e ­
tar a habilidade hum ana; c o m o antropo­ lito s .

S o b re A n tro p o lo g ia — A rtig o re v isto e c o m p le ta d o n a sessã o d e 3 d e m a io de


1923 s o b re tu d o s e g u n d o a s in d ic a ç õ e s d e P. Fauconnet (§ C ) e d e Gilson (§ D ); u lte ­
rio r m e n te s e g u n d o a s in d ic a ç õ e s d e M. Afarsal s o b re a s m u d a n ç a s q u e o s e n tid o E
c rio u p o r re s triç ã o d o s e n tid o D .
P . R « â E I , n o c a p ítu lo c ita d o m a is a tr á s , p r o p õ e , e ele p r ó p r io p õ e isso e m p r á ti­
c a , d esig n ar o sen tid o D p o r “ A n tro p o lo g ia ” (co m m a iu scu la ) e o sen tid o E p o r “ A n ­
tr o p o lo g ia S . S .” (q u e r d iz e r strícto sensu). F a z n o ta r q u e n o s e n tid o a m p lo se diz
m ais fr e q u e n te m e n te n a A le m a n h a Ethnologie, n a I n g la te rra Ethnology.
A N T R O P O M O R F IS M O 74

C RÍTIC A çõ es r e tir a d a s d a n a tu re z a o u d a c o n d u ­
A a n tr o p o lo g ia n o s e n tid o D n ã o é ta h u m a n a . “ Se o in te le cto d o a n im a l en ­
u rn a ú n ic a c ie n c ia , m a s u m a g ru p a m e n ­ c e rra e le m e n to s q u e d ife re m f u n d a m e n ­
to d e p a rte s d e c iên cias o u de a p lic a ç õ e s ta lm e n te d o s q u e c o n c o rre m p a r a c o n s ti­
d as ciencias q u e têm c o m o o b je to c o m u m tu ir o n o s s o é m a is o u m e n o s c e rto q u e
o h o m e m , p o r u m la d o , n a s u a n a tu r e z a eles fic a r ã o p a r a s e m p re e s c o n d id o s . O
fís ic a e m e n ta l e , p o r o u tr o , n o seu d e ­ antropom orfism o n e ste c a s o é a b s o lu ta ­
m e n te f o r ç a d o . . . ” M a y e r s o n , “ O se n ­
se n v o lv im e n to h is tó ric o e p ré -h is tó ric o .
so c o m u m v is a rá o c o n h e c im e n to ? ” , R e·
E la ta m b é m c o m p re e n d e ria , p o is , n e ste
s e n tid o , to d a a p sico lo g ia h u m a n a , a m o ­
vue de m étaph., ja n e ir o d e 1923, p . 19.
N e ste s e n tid o a p a la v r a é e n te n d id a ,
r a l, a h is tó r ia , a c iê n c ia d a a r te e a d a s
o m ais d as vezes, n u m se n tid o p e jo ra tiv o .
relig iõ es. M as o g ru p o d e e stu d o s q u e ela
re u n ia caracterizav a-se so b re tu d o p o r c er­
Rad. int.: A n tr o p o m o r f is m .
t o e sp írito n a tu r a lis ta , q u e r d iz e r, p elo A N T R O P O M O R F IT A P a re c e te r si­
p o s tu la d o d e q u e as fo rm a s su p erio re s d a d o p rim itiv a m e n te o n o m e d a d o a u m a
v id a m e n ta l e so cia l e n c o n tr a m a s u a ex ­ se ita d e h e ré tic o s q u e se d e se n v o lv e u n o
p lic a ç ã o s u fic ie n te n a s c o n d iç õ e s m a te ­ séc u lo I I I e IV n o s m o s te iro s c ris tã o s d o
ria is e c lim a té ric a s d a v id a fis io ló g ic a . A E g ito : “ Ñ e q u e m u lto m e lio ra s u n t is ta (a
p a la v r a d e s ig n a , p o is , a o m e sm o te m p o c re n ç a d e q u e o h o m e m é quasi norma et
u m c o n ju n to de c iên c ia s e u m e s p írito speculum naturae, e de q u e a n a tu re z a age
c ien tífico p a rtic u la re s q u e im p o r ta d is tin ­ c o m o ag e a esp écie h u m a n a ) q u a m h a e -
g u ir n a lin g u a g e m . resis a n th r o p o m o r p h ita r u m , in cellis a c
Rad. i n t A n tro p o lo g i. s o litu d in e s tu p id o r u m m o n a c h o r u m o r-
ta ; a u t s e n te n tia E p ic u ri, h u ic ip si in p a ­
A N T R O P O M O R F IS M O (d o G.
g a n is m o r e s p o n d e n s , q u i d iis h u m a n a m
a tA q u it o s , ftoQtfir}). D . Anthropomorphis-
fig u ra m tr i b u e b a t.” B a c o n , D e dignit.,
m us ; E . Anthropomorfism\ F . Anthropo-
V ., § 9 . (A. L .)
m orfism e ; I. A ntropom orfism o.
A . A ç ã o d e a tr ib u ir a D e u s a n a tu r e ­ “ A N T R O P O T E Í S M O ” T e rm o u s a ­
z a h u m a n a : “ É b r in c a r c o m D e u s a t r a ­ do por P 2 τ I p a r a d e s ig n a r o e s fo rç o d a
vés d e a n tr o p o m o r f is m o s p e r p é tu o s : é v o n ta d e ra c io n a l e m d ire ç ã o d a v id a s u ­
re p re se n tá -lo c o m o u m h o m e m q u e se d e­ p e r io r . “ A m is sã o d o h o m e m é te n d e r
v o ta in te ira m e n te a o tr a b a lh o d e q u e se m a is e m a is e m d ire ç ã o d a d iv in d a d e . É
t r a t a . ” L « ζ Ç« U , Teodiceia, I, § 122.
E
a fé ra c io n a l, a re lig iã o ra c io n a l, o a n t r o ­
p o te ísm o . ” L a religión d e Vharmonie , p .
B . M a is re c e n te m e n te , n u m s e n tid o
252.
m a is g eral: d iz-se d e to d o ra c io c ín io o u
d e to d a d o u tr in a q u e , p a ra ex p licar o q u e A P A G Ó G I C O (R a c io c ín io ) (d o G .
n ã o é o h o m e m (p o r e x e m p lo , D e u s, os ’Kirotyuyii, a ç ã o d e c o n d u z ir). D . A pa-
fe n ô m e n o s físic o s, a v id a b io ló g ic a , a gogisch', E . Apagogic ; F . Apagogique ; I.
c o n d u ta d o s a n im a is, e tc .), lhe ap lic a n o ­ Apagogico.

S o b re A n tr o p o m o r f is m o — N o v a re d a ç ã o d o § B d e v id a p rin c ip a lm e n te a Beau·
(avon. Mauríce Blondel e Piéron h a v iam en v iad o o b serv açõ es n o m esm o sen tid o . Blon-
del o b s e rv a q u e se p o d e fa c ilm e n te c o m e te r a n tr o p o m o r f is m o s q u a n d o se p a ss a d o
h o m e m in d iv id u a l p a r a a v id a so c ia l.

Sobre “ A n tr o p o te f s m o ” — C f. E p i c t e t O: do hom em sem elhante a um anim al


feroz o filó so fo podeTá fazer um d eus. Conversas, livro II, cap. V III e IX . (L. Prat)
75 A P A R Ê N C IA

A . A bdução*. r a d a d ife re n te d o o b je to * c o rre s p o n d e n ­


B . R a c io c ín io p e lo a b s u r d o . “ É d if í­ te (n o se n tid o A : o b je to c o n c e b id o c o m o
cil, n a m in h a o p in iã o , a b ste rm o -n o s sem ­ p o s su id o r d e u m a re a lid a d e d e u m a o u de
p re d e sta s d e m o n s tra ç õ e s a p a g ó g ic a s , o u tr a o rd e m , in d e p e n d e n te d a n o s sa
q u e r d iz e r, q u e re d u z e m a o a b s u r d o ...” c o n sc iê n c ia in d iv id u a l): u m q u a d r o te m
L E « ζ Ç« U , N o v o s ensaios, IV , V III, § 2. a p e n a s u m a aparência d e re le v o ; u m so ­
V er Absurdo. fis m a é a p e n a s c o n c lu siv o em aparência.
C . R a c io c in io q u e c o n siste em p ro v a r D iz-se ta m b é m neste sen tid o falsa aparên­
u m a tese p e la e x clu são (a r e fu ta ç ã o ) d e cia. C f. Dialética , D .
to d a s as o u t r a s te se s a lte r n a tiv a s * C . E s p e c ia lm e n te , M e t a f .: tod a
(W Z Çá I ). E is o m o d e lo : o u A , o u B , o u a p re s e n ta ç ã o n a m e d id a em q ue é c o n s i­
C , . . . é v e rd a d e ira . O r a n em B , n em C , d e ra d a c o m o d iferen te d a co isa em si* que
... é v e rd a d e ira ; lo g o A é v e rd a d e ira . É lh e c o rre s p o n d e . S in ô n im o d t fen ô m e ­
o ra c io c ín io d is ju n tiv o ( m odus tollen- no- B.
do-ponens). D . (E m francês] p ro b a b ilid a d e , v e ro s­
NOTA sim ilh a n ça . “ P o d e -se n eg ar isso co m .cer-
A ristó te le s d iz v u lg a rm e n te ònra>ur*í} ta a p a r ê n c ia .” R e n á n , Dialogues philo-
elç t o à ò v v a t o v (re d u ç ã o a o im p o ssív el) sophiques, p. 42. “ N ã o h á a in d a v e rd a ­
p a r a d e sig n a r o q u e de o r d in á r io se c h a ­ d e , m a s h á p o r to d a p a r te trê s b o a s a p a ­
m a a re d u ç ã o a o a b s u rd o . N ele e n c o n tra ­ rê n c ia s d e v e r d a d e .” M a e t e r u n c k , La
se c o n tu d o àirayuyr), sem m a is , sem d ú ­ vie des abeilles, p . 235. (S en tid o ra ro e um
v id a p o r ab rev iação d esta fó rm u la . ( Prim. p o u c o re b u s c a d o .)
anal., I, 6; 2 8 b 2 1 .) D e o n d e o s e n tid o B
CRÍTICA
de apagógico.
Rad. int.: A p a g o g i(a l). E ste ú ltim o sen tid o é u m arcaísm o u ti­
liz a d o a títu lo d e “ e le g â n c ia ” e q u e p o ­
A P A R Ê N C IA D . Schein (em to d o s o s d e ser e q u ív o c o : u m a lin g u a g e m filo s ó fi­
sen tid o s m as s o b re tu d o n o sen tid o B ); E .
c a deve e v itá -lo . O s e n tid o c e n tra l d a p a ­
A . B . C . Appearance; D . Likelihood ( f a ­
la v ra é o s e n tid o B; q u a n d o se t r a t a de
m iliar; n ã o p erten ce à lin guagem técnica); C é p re fe rív e l fa la r d e fen ô m en o *, q u e
F . Apparence; I. Apparenza (em to d o s o s K a n t o p õ e e x p re ss a m e n te a aparência
se n tid o s). (Schein).
A . A sp e c to de u m a c o isa . “ U m e d i­ O te rm o a n tité tic o é realidade* (q u e
fício de a p a rê n c ia m e d ío c re .” (M e n c io ­ receb e ig u a lm e n te u m s e n tid o fe n o m e n a l
n a m o s a p e n a s p o r d is p o siç ã o m e tó d ic a e u m s e n tid o o n to ló g ic o ). E sta s p a la v ra s
este se n tid o , o m a is p ró x im o d a e tim o lo ­ d ep en d em a m b a s d o ju ízo apreciativo* de
g ia, m a s q u e n ã o p e rte n ce à lin g u ag em fi­ q u e m as u tiliz a : aparência a p re s e n ta u m
lo s ó fic a .) lig eiro c a m b ia n te p e jo r a tiv o : realidade,
B . P s ic . T o d a a p re se n ta ç ã o * n o se n ­ u m c a m b ia n te la u d a tiv o m ais a c e n tu a d o .
tid o A , n a m e d id a e m q u e e la é c o n s id e ­ Rad. int.: B . S e m b l.

S o b re A p a rê n c ia — A ris tó te le s d is tin g u e s iste m a tic a m e n te a p ro p ó s ito d a a p a ­


rê n c ia : 1? o q u e é ó b v io ; 2? o q u e p a re c e ser v e rd a d e iro sem o ser (S. T o m á s faz
de o rd in á rio a n te c e d e r as su as so lu çõ es p o r fa lso s Videtur quod): 3? o q u e a p a re c e
n o sen so c o m u m c o m o a e x p re ssã o d o q u e é m ais h a b itu a l, q u e r e sta m a n e ira c o ­
m u m de e n c a ra r as co isas seja su fic ie n te p a r a f u n d a r u m ju íz o d ia lé tic o , q u e r esta
a p a r ê n c i a p r i m e i r a p o s s a s e r r e t o m a d a p e l a r a z ã o d o u ta e e rig id a em v e rd a d e a p o d í-
tica. (Maurice Blondel)
A PA R EN TE 76

A P A R E N T E D . Scheinbar (r a ro n o m is tu ra m em p ro p o r ç õ e s m a l d e fin id a s .
s e n tid o A ); Schein (em c o m p o siç ã o ; sem ­ M u ita s p a ss a g e n s em q u e fig u ra e sta p a ­
p re n o s e n tid o B: Scheinkrank, Scheinlie- la v r a p a re c e m u m jo g o em q u e o s a u t o ­
be, etc.); E . A . Clear, plain\ B. Apparent, re s se d iv e rte m e m s u g e rir p e la p rim e ira
seeming; F . A pparent ; I. Apparente. “ a p a r ê n c ia ” d a fra s e o c o n tr á r io d o q u e
A . P rim itiv a m e n te q u a n d o se f a la d as e la d iz n a re a lid a d e . S e n d o d a d o q u e n a
coisas: bem visível; q u e ap arece claram en te lín g u a c o r r e n te , salv o q u a n d o se t r a t a d e
a o s o lh a re s. “ U m a in scrição a p a r e n te .” o b je to s m a te ria is, a p a la v ra aparente te m
“ A educação n ã o se lim ita a to m a r a p aren ­ sem p re o s e n tid o B, é q u a s e c e rto q u e u m
tes a s p o te n cialid a d e s esco n d id a s q u e ap e ­ le ito r d e sp re v e n id o o e n te n d e rá a ssim , a
n as p re c isa ria m de se re v e la r .” E . D Z 2 3 - m e n o s q u e a p e n a s se tr a te d e u m a a n títe ­
HEiM, Education et sodologie, p . 51. se em q u e aparente se o p õ e ex p ressam en te
P o r m e tá f o r a : e v id e n te , visível. “ E s­ a escondido; e, p o r c o n s e q u ê n c ia , o es­
c rito r d ev e fa z e r o m e s m o se q u is e r evi­
ta p r ó p r ia a u sê n c ia de d e se jo s e d e e sp e ­
t a r os m a l-e n te n d id o s .
r a n ç a s ... é j á a a p a r e n te a b o liç ã o d e ste
p r a z e r p u r o e o v o to c a r o e tá c ito d e p o ­
Rad. int .: A . E v id e n t; B . S e m b l.
d e r re s ta u r á -lo .” J . S e g o n d , Tntuition et A P A R E N T E M E N T E V e r Aparente.
amitié , p . 125. M e s m a u tiliz a ç ã o d o a d ­
A P A R I (R a c io c in io ) L . (s u b e n te n d i­
v é rb io : “ É p o r q u e la n ç a u m v é u s o b re o
d o causa): a q u ilo q u e c o n c lu i d e u m c a ­
p ro b le m a d a s o rig e n s q u e ele p o d e s u s ­
so u m o u tro c o n sid e ra d o c o m o sem elh an ­
te n ta r teses a p a r e n te m e n te c o n tr a d itó ­
r ia s .” A . D a r b o n , Le concept du hasard te . E x p re s s ã o d e o rig e m ju r íd ic a ; v er A
contrario.
chez Cournot , p . 38. (E ste s e n tid o é b a s ­
ta n te r a r o .) A P A R T E a n te , a p a r te p o s t L o c u ­
B . S e n tid o u s u a l: q u e n ã o é o q u e p a ­ çõ es e sc o lá stica s q u e se a p lic a m à e te r n i­
rece ser. “ M o v im e n to a p a r e n te .” “ C o n ­ d a d e : a e te rn id a d e a parte ante é u m a d u ­
cessão a p a r e n te .” “ R azõ es a p a re n te s , es­ ra ç ã o infinita n o p a s s a d o ; a e te r n id a d e a
p e cio so s p re te x to s o u o q u e eles d e n o m i­ parte p o st é u m a d u r a ç ã o in fin ita n o
n a m d e u m a im p o s s ib ilid a d e ...” L τ f u tu r o .
B r ü YÈRE, Caracteres , c a p . V III. “ A A P A R T E re i (U n lv e rs a lia ) U n iv e r­
a b o liç ã o a p a re n te d a s re c o rd a ç õ e s v isuais s a is 4' q u e p ro v ê m d a n a tu r e z a d a c o is a e
n a c e g u e ira p s íq u ic a ...” B e r g s o n , Ma- n ã o d a n a tu r e z a d o e s p ír ito q u e a c o n h e ­
tière et mémoire, p . 97. ce. “ Id e m est q u o d s e c u n d u m rei n a tu -
M esm o s sen tid o s p a r a o a d v é rb io u ti­ r a m .” GÃTÂ E Ç« Z è , s u b V<>, 4,
liz a d o fr e q ü e n te m e n te p a r a a s s in a la r a
iro n ia . A P A T I A (G . 'AxáOttoi). D . Apathte\
E . A pathy; F . A pathie ; I. Apatia.
c r ít ic a A. É I í Tτ (s o b re tu d o h isto ric a m en te ).
N ã o s o m e n te o s s e n tid o s A e B são In d if e r e n ç a a o s m ó v e is sensív eis; e s ta d o
q u a s e c o n trá rio s n a s u a a c e p ç ã o e x tre m a d o s á b io q u e d e sp re z a a d o r o u m e sm o
c o m o se e n c o n tr a m n eles, p o r assim d i­ q u e n ã o se d á c o n ta d e la (M E ; á 2 Â TÃè ,
z e r, to d o s o s in te rm e d iá rio s , o n d e eles se E è I ë TÃè , C é I « TÃè ). C f . Ataraxia.

S o b re A p a tia — O s e n tid o B p ro v é m d e u m d o s d o is s e n tid o s d a d o s p o r A r is tó te ­


les à p a la v r a ccváSeia; ele d is tin g u e a apatia d o vovs, q u e n a d a a f e ta , d a d e atoôrjTt-
xóv q u e d e p o is d e te r s id o fo r te m e n te a f e ta d o p o r u m sen sív el n ã o é m ais c a p a z de
ser a f e ta d o p o r o u tr o , n ^ t i/^xrrf, I I I , 4; 4 2 9 a29 — 429b5. (J. Lachelier )
77 A PERCEPÇÃO

B. P s i c o l . N o s e n tid o g e ra l, in sen si­transcendental é a c o n sc iê n c ia d e s i, o


b ilid a d e . M a is e sp e c ia lm e n te , n o s e n tid o “ E u p e n s o ” (Kritik der reinen V erm n ft,
e tn o g rá fic o , c a ra c te rís tic a d e u m in d iv í­ § 4 ).
d u o q u e ag e p o u c o o u f r o u x a m e n te , em
C . Em M a i n e d e B i r a n , co n sciên cia
c o n s e q u ê n c ia d a s u a in d if e re n ç a às c a u ­
o u c o n h ecim en to in te rio r d o a to p elo q u a l
sas q u e v u lg a rm e n te p ro v o c a m e m o ç õ e s
o e u p õ e a su a ex istên c ia n o e sfo rç o m u s ­
o u d e se jo s . (P e jo r a tiv o .)
c u la r . “ O s e n tid o in te r n o a q u e c h a m a ­
Rad. iní.: A p a ti.
m o s s e n tid o d o e s fo rç o e ste n d e -se a to ­
“ A P E L A T I V O ” E x p re s s ã o a n tig a d a s a$ p a r te s d o siste m a m u s c u la r o u lo ­
p a r a d e sig n a r o s te rm o s q u e tê m u m a c o m o to r s u b m e tid a s à a ç ã o d a v o n ta d e .
c o n o ta ç ã o * . “ O s n o m e s p r ó p r io s fo r a m T u d o o q u e e s tá c o m p re e n d id o n a e s fe ra
o rig in alm en te a p e la tiv o s ... O s n o m e s a p e ­ d e a tiv id a d e d e ste s e n tid o , o u q u e se li­
lativ o s o u te rm o s g e r a is ...” L e i b n i z , N o ­ g a, seja d ire ta m e n te , s e ja p o r a sso c iaç ã o ,
v o s ensaios, I, I I I , c a p . I l l , § 5-6. a o seu e x ercíc io , e n tr a n o fa to d e c o n s ­
A P E R C E P Ç Ã O D . Apperception·, E . ciên cia e to rn a -s e o b je to p ró p rio , im e d ia ­
Apperception ; F . Apercepüon o u apper­ to o u m e d ia to , d a a p e r c e p ç ã o in te r n a .”
ception; I . Appercezione. Œ uvres inédites, p u b l. p o r E rn e s t N av il-
le , I, 233.
A . Em L e i b n i z , “ consciência ou co­
nhecim ento reflexivo d o estado interior” D . E m H e r b a r t , p ro c e s s o p e lo qual
q u e constitui a percepção* sim ples (Prin­ a e x p e riê n c ia n o v a se a d a p ta a o to d o d a
cípios da natureza e da graça, § 4). ex p eriên cia p a ssa d a d o in d iv íd u o , é tra n s ­
B . Em K a n t , ação d e relacionar u m a f o r m a d a p o r e sta e f o r m a c o m eia u m n o ­
representação à consciência de si (aper- v o t o d o . A e x p e riê n c ia p a s s a d a é c h a m a ­
cepção empírica). A apercepção pura ou d a p o r H e rb a rt liappercipirende M ass d e r

S o b re A p e rc e p ç ã o — O § C (s o b re M a in e d e B ira n ) é d e v id o a P. Tisserand.
É s e m p re e r r a d o u tiliz a r apercepção p o r apreensão. A a p e rc e p ç ã o ¿ u m a a ç ã o
m u ito m ais im p o r ta n te d o q u e a sim p le s a p re e n s ã o . A p re e n d e r n ã o sig n ific a q u e se
d e s c u b ra o rig in a lm e n te o q u e q u e r q u e s e ja , n em m e s m o q u e se c o la b o re v e rd a d e ir a ­
m e n te n o tr a b a lh o d o c o n h e c im e n to . H á a lg u m a p a ss iv id a d e n a a p r e e n s ã o , o u , p e lo
m e n o s, h á m ais a tiv id a d e n a a p e rc e p ç ã o . É o q u e p a re c e te r v is to c la ra m e n te P r o u d -
h o n n u m te x to c u rio s o : “ O q u e d is tin g u e a m u lh e r é , p o is , q u e n e la a fr a q u e z a , o u ,
m e lh o r d iz e n d o , a in é rc ia d o in te le c to , n o q u e re s p e ita à apercepção d a s re la ç õ e s,
é c o n s ta n te . C a p a z a té c e r to p o n to d e apreender u m a v e rd a d e e n c o n tr a d a ...” Justi­
ce, X I e s tu d o , c a p . 1 , 9 . N a “ a p r e e n s ã o ” lim ita r-n o s -ía m o s a receber a id é ia a tra v é s
d e u m e n c o n tr o feliz, u m a c id e n te , u m a c a s o e a “ a p e r c e p ç ã o ” im p lic a ria q u e a d e s ­
c o b rís se m o s la b o rio s a m e n te e m si sem e s p e ra r q u e e la viesse d e f o r a . (Louis Boisse )
W illia m J a m e s riu -se d o m is té rio q u e fa z e m c e rto s f iló s o fo s e m v o lta d e ste te r m o
apercepção. É, d iz ele, u m a p a la v r a ú til em p e d a g o g ia e q u e d e sig n a c o m o d a m e n te
u m p ro c e ss o c o m q u e to d o s o s e d u c a d o re s t r a ta m , m a s n a re a lid a d e n ã o sig n ific a
m ais d o q u e o a to d e to m a r c o n sc iê n c ia d e u m a c o isa (it verify means nothing more
than th ea ct to taking a thing into the m ind ). “ N ã o c o rre s p o n d e a n a d a d e p a rtic u la r
o u d e e le m e n ta r em p sic o lo g ia , p o is é a p e n a s u m d o s in u m e rá v e is re s u lta d o s d o p r o ­
cesso psico ló g ico d a asso ciação d a s idéias e a p ró p r ia p sico lo g ia p o d e facilm en te p a ss a r
sem a p a la v r a , s e ja m q u a is fo re m o s serv iço s q u e e la p o s s a p r e s ta r n a p e d a g o g ia .”
Talks to Teachers, c a p . X IV , p p . 156-157. (A. L.)
A P E T IÇ Ã O 78

V o rs te llu n g e n ” ; a ex p eriên c ia n o v a llap- P s ic . I n c lin a ç ã o q u e te m p o r o b je to


percipirte M asse d e r V o rs te llu n g e n ” 1. u m a d a s n e c e ssid a d e s o rg â n ic a s (fo m e ,
E. Em W u n d t , este te rm o tem umm o v im e n to , r e p r o d u ç ã o , etc.)·
d u p lo s e n tid o . P o r u m la d o , s ig n ific a o A d is tin ç ã o d a Id a d e M é d ia e d o sé­
p ro c e sso p e lo q u a l u m c e rto c o n te ú d o d a c u lo X V II e n tre o a p e tite c o n cu p isc ív el
c o n sc iê n cia a p a re c e c o m m a is c la re z a . (in c lin a ç ã o ) e o a p e tite irascív el (e m o ç ão )
P o r o u tr o la d o , e x p rim e u m p rin c íp io g e­ c a iu c o m p le ta m e n te em d esu so n a lin g u a ­
ra l d e e x p lic a ç ã o e m v irtu d e d o q u a l as g e m filo só fic a c o n te m p o râ n e a .
fo rm a s s u p e rio re s d a v id a m e n ta l c o m ­ Rad. int.: A p e tit.
p o r ta m o u tr a s lig açõ es a lé m d as d a a s s o ­
A P L IC A D A S (C iências) V er Ciência.
c ia ç ã o m e c â n ic a e p o d e m re g u la r-se p e ­
lo s in te re sse s e sté tic o s o u tó g ic o s. V er A P O D Í C T I C O (G . 'A ir o Ò e ix T ix ó s ,
Physiol. psychohgie , 4 f e d ., q u a d r o a n a - d e m o n stra tiv o ). D . Apodiktisch; E . A po-
lít., V o Apercepção. dictic; F . Apodictique-, I. Apodittico.
C RÍTIC A L Ã; . N e c e ssá rio * , em o p o s iç ã o a o
assertórico e a o problemático. E stes te r ­
E s ta p a la v r a n ã o te m a tu a lm e n te , em
m o s fo r a m d iv u lg a d o s p o r K τ Ç , q u e
I
fra n c ê s , s e n tid o b em d e fin id o . U tiliza-se
d eles faz as trê s div isõ es d a modalidade *
a lg u m a s vezes c o m o a p re e n sã o * n o se n ­
d o s ju íz o s .
tid o B.
Rad. int.: A p o d ik tik .
O sen tid o de H e rb a r t, q ue é m u ito u ti­
liz a d o em a le m ã o e em in g lês, p a r tic u la r ­ A P O F Â N T IC O G . crKO<potVTixós, é
m e n te n a s q u e stõ e s p e d a g ó g ic a s, te n d e utilizado por A r i s t ó t e l e s para caracte­
ta m b é m a d ifu n d ir-s e n a F r a n ç a . V er p . rizar entre os enunciados verbais com um
ex. R o e h r i c h , L'attention (1905). sentido aqueles que podem ser ditos ver­
Rad. int.: A p e rc e p t. dadeiros ou falsos (em op osição a um de­
“ A P E T IÇ Ã O ” E m L e i b n i z , a sejo , um a oração, um a d en om in ação,
“ a ç ã o d o p rin c íp io in te r n o ” (n a m ó n a ­ etc.). Ver Juízo e Proposição.
d a ) “ q u e fa z a m u d a n ç a o u a p a ssa g e m E s ta p a la v ra é ta m b é m u tiliz a d a a lg u ­
de u m a p e rcep ção p a r a o u tr a ” . M onado­ m a s vezes c o m o su b stan tiv o , n o s en tid o de
logie, § 15. V er Percepção. te o ria ló g ic a d a s p ro p o s iç õ e s . “ E sta s n o ­
v as d isp o siçõ es d e p ro p o siç õ e s o u d e te r­
A P E T I T E ( G . o g e g i s , A R IS T Ó T E L E S ), m o s e sc a p a m à a p o fâ n tic a a ris to té lic a .”
D . Sinnlicher Trieb ; E . Appetite-, F . A p- C h. S e r r u s , Traite de logique, p. 173.
p é tit ; I. A ppetito.
A P O F Á T IC O Ver Suplemento.

1, "M assa apercebente das representações” ; A P O R É T IC O S (F iló so fo s) V er Eféc-


“ massa apercebida das representações".
ticos.

S o b re A p e tite — A s p a ix õ e s q u e se re la c io n a m c o m o a p e tite concupiscível “ são


a q u e la s q u e p a r a serem e x c ita d a s têm a p e n a s n e ce ssid a d e d a p re s e n ç a o u d a a u s ê n c ia
d o s seus o b je to s ” . “ E , q u a n to às cin co ú ltim a s (a u d á c ia , m e d o , e s p e ra n ç a , d e se sp e ­
r o , c ó le ra ), q u e a c re s c e n ta m a d ific u ld a d e à p re s e n ç a o u à a u sê n c ia d o o b je to , eles
(o s ‘a n tig o s f iló s o f o s ’) re la c io n a m -n a s c o m o a p e tite a q u e eles c h a m a m concupiscí­
vel..” B Ã è è Z E I , Conn. de Dieu et de soi-même, c a p . I, 6. (A. L .)
O s e sc o lá stic o s c o n s id e ra ra m a v o n ta d e c o m o u m “ a p e tite in te le c tu a l” in s istin d o
s o b re o d in a m is m o p r o f u n d o d a ra z ã o o u , a n te s , d a in te lig ê n c ia a n te r io r m e n te a o p o ­
d e r d e o p ç ã o q u e a p e n a s e sp e c ific a o a p e tite . (Maurice Blondet)
79 A P R A X IA

A P O R I A G . aTTogíoi (p r o p ria m e n te G la u b e n sei, w as je m a n d b e h a u p te t, ist


au sê n c ia d e p assag em o u d e m e io , iro ço s; d a s W e tt e n .” 1 K τ Ç , Crítica da razão
I

e m b a r a ç o , d ific u ld a d e , n e c e ssid a d e ); D . pura, M e to d o lo g ia tra n s c e n d e n ta l, I I , §


A poríe ; E . A poria ; F . Aporíe; I. Aporia. 3 (A . 825).
A . E m A r i s t ó t e l e s , d ific u ld a d e a A p o s ta d e P a s c a l — “ A v o ssa ra z ã o
reso lv er; “ a p re s e n ta ç ã o de d u a s o p in iõ e s n ã o s e rá m a is fe rid a e sc o lh e n d o u m a o u
c o n trá ria s e ig u a lm e n te ra c io n a is em re s ­ o u tr a (D e u s ex iste o u n ã o e x iste), já q u e
p o s ta a u m a m e sm a q u e s tã o ” . H a m e - é p re c iso n e c e s sa ria m e n te e sc o lh e r. É
LIN, Systeme d ’Aristote, p . 233; c f. p . p o n to p a c ífic o . M as e a v o ssa b e a titu d e ?
105. P esem o s o g a n h o e a p e rd a , ace ita n d o q u e
B . N o s m o d e rn o s , a p a la v r a é f r e ­ D eu s e x iste. C o n s id e re m o s estes d o is c a ­
q u e n te m e n te to m a d a n u m s e n tid o m a is so s: se g a n h a rd e s , g a n h a re is tu d o , se p e r­
fo rte : d ific u ld a d e ló g ic a d e o n d e se n ã o d erd e s, n ã o p erd ereis n a d a . A p o sta i, p o is,
p o d e sair; o b je ç ã o o u p ro b le m a in s o ­ q u e E le ex iste, sem h e s ita r .” Pensamen­
lú v eis. tos, sec. I I I , n ? 233.
Rad. ini .: A p o ri. A P O S T E R I O R I V er A priori.
A P O S T A D . Wette; E . Wäger, F . Pa­ A P R A X I A (G . ’A a - g a lia ; in a ç ã o ).
ri-, I. Scomessa. D . Apraxie-, E . Apraxia; F . Apraxie-, 1.
C o n v e n ç ã o a le a tó r ia p e la q u a l d u a s Apprassia.
p e ss o a s d e o p in iõ e s o p o s ta s c o n tra e m In c a p a c id a d e d e e x e c u ta r c o rre ta m e n ­
u m a o b rig a ç ão ev en tu al (e m g eral a d e p a ­ te a to s h a b itu a is sem q u e h a ja p a ra lis ia
g a r u m a certa so m a de d in h e iro ) p a ra co m
a q u e la d as d u a s a q u e o a c o n te c im e n to
1. “ A pedra de toque h abitual para se saber se
d e r ra z ão . “ D as gew ö h n lich e P ro b ierste in aquilo que cad a um pretende é simples opinião ou
o b etw as b lo sse Ü b e rre d u n g o d e r ... festes crença firm e é a ap o sta.”

S o b re A p ra x ia — A rtig o re m o d e la d o p a r a te r em c o n ta d iv e rsa s o b je ç õ e s f o r m u ­
la d a s n o m e a d a m e n te p o r Piéron e L, Boisse.
E s te te rm o fo i c ria d o p o r G Ã ; ÃÂ em 1873 p a ra d e s ig n a r a p e r d a d a in te lig ê n cia
d a u tiliz a ç ã o d a s c o isa s. E s ta n o ç ã o , u m p o u c o a m b íg u a , fo i d e te r m in a d a c o m e x a ti­
d ã o p o r H . L « ú Oτ ÇÇ
E em 1900 q u e d e fin e assim a a p ra x ia : “ In c a p a c id a d e de ex e ­
c u ta r c o m o s m e m b ro s os m o v im e n to s a p r o p r ia d o s (zweckgemass) a p e s a r d a in te g ri­
d a d e d a m o tric id a d e . A a p ra x ia é d e a lg u m a m a n e ir a o a n á lo g o , n a e s fe ra d a s pra-
xtas, d a a g n o s ia , q u e é u m a p e r tu r b a ç ã o d a p e rc e p ç ã o q u e p e rte n c e à e s fe ra d a s gno-
sias." [Ed. Claparèdé) V er A bulia intelectual.
D istin g u e -se e n tre u rn a apraxia ideatória (d e m e n cia m o triz ) e u rn a apraxia ideo -
m otriz, o u a p r a x ia v e rd a d e ira (L ie p m a n n ). H á a m n é s ia m o tr iz , p e r d a d o b e n e fic io
de u m a a p re n d iz a g e m m o to r a . A afemia (a fa s ia m o triz ) e a agrafía s ã o caso s p a r ti­
c u la re s d e a p ra x ia . P o r fím , ex iste u rn a a p r a x ia p o r agnosia* , q u e se c h a m a pseudo-
apraxia o u apraxia agnósica : é a in c a p a c id a d e d e m a n e ja r c o rre ta m e n te o s o b je to s
u s u a is p o rq u e estes n ã o são re c o n h e c id o s . {H. Piéron)
A a p ra x ia n ã o c o n sis te , d e o r d in á r io , n a in c a p a c id a d e d e re c o n h e c e r as fo rm a s
d o s o b je to s o u a s u a u tiliz a ç ã o . N em a re p re s e n ta ç ã o n e m a v o n ta d e s ã o a tin g id a s ;
im a g in a m -s e o s m o v im e n to s e q u e re r-s e -ia re a lizá -lo s: é a p e n a s a execução q u e é im ­
p o ssív el (e c o n tu d o n ã o e x iste p a ra lis ia ). E b b in g h a u s , q u e to m a a p a la v r a n este se n ­
tid o , c o n s id e ra , p o r c o n s e g u in te , a a fa s ia m o tr iz c o m o u m c a s o p a r tic u la r d a a p r a ­
x ia (Précis de Psychologie, tr a d . f r a n c ., A le a n , 1910, p . 238). (L. Boisse)
A P R E C IA Ç Ã O 80

{por ex em p lo d e se a s s o a r , d e se serv ir d e s e n tia m c u ju s q u e rei in se ip sa ; a lia est


u m g a rfo o u d e u m c an iv ete, de fazer u m o p e ra tio in te lle c tu s, scilicet c o m p o n e n tis
si n a l-d a -c ru z ). F e n ô m e n o a in d a m a l d e ­ est d iv id e n tis; a d d itu r e t te r tia o p e r a tio ,
fin id o e q u e p a re c e r e s u lta r , seg u n d o os scilicet r a tio c in a n d i.” Comentário sobre
caso s, d e p e rtu rb a ç õ e s psico ló g icas d e n a ­ o r ie ç i ’F.QMPfíais, P r o e m iu m , I , 1.
tu re z a d ife re n te . V er o b s e rv a ç õ e s . B . S e n tid o m o d e rn o : to d a o p e ra ç ã o
Rad. int.: A p ra x i. in te le c tu a l re la tiv a m e n te sim p le s o u im e ­
A P R E C IA Ç Ã O D . Wertschätzung ; d ia ta , se ja d e p e rc e p ç ã o , se ja de ju íz o , se­
j a d e m e m ó ria , se ja de im a g in a ç ã o c o n ­
E . Appreciation', F . Appréciation-, I. Ap-
s id e ra d a c o m o a p lic a n d o -se a u m c o n tr á ­
preziazione.
rio d is tin to d a p r ó p r ia o p e ra ç ã o . O p õ e -
O p e ra ç ã o d o e sp írito re la tiv a n ã o à
se em in g lês a misapprehension, e n g a n o
ex istên c ia de u m a id é ia o u de u m a co isa,
p o r ju íz o à p rim e ira v ista .
m a s a o seu v a lo r, q u e r d iz e r, o seu g ra u
A Síntese da apreensão (D . Synthese
de p e rfe iç ã o re la tiv a m e n te a u m d a d o fim
der Apprehension) e m Kτ ÇI é d e fin id a :
( p a rtic u la rm e n te a v e rd a d e , a b e lez a , a
“ d ie Z u s a m m e n se tz u n g d es M a n n ig fa lti­
m o r a l, a u tilid a d e ). Apreciação o p õ e -se
gen in e in e r e m p iris c h e n A n s c h a u u n g .” '
a descrição o u explicação , c o m o o d ire i­
Krit. der reinen Ver., s o m e n te A , 98-9 9.
to a o f a to , o q u e d e v e ria s e r a o q u e fo i
re a liz a d o . C . F a c u ld a d e de c a p ta r a tra v é s d a in ­
Rad. int.: E v a lu . te lig ê n c ia . (M u ito r a r o e m fra n c ê s .)
D . M e d o lig eiro o u m a l d e fin id o .
A P R E E N S Ã O D . Apprehension,
Auffassung (estas p alav ras n ã o têm o sen­ CRÍTICA
tid o D ); E . Apprehension', F . A pprehen­ E s te te rm o é a tu a lm e n te m u ito v a g o
sion ; I. Apprensione , Apprendim ento. e p a re ce , a liá s, im p lic a r u m a v isão s u p e r­
A. N a e sc o lá stic a : to d o c o n h e c im e n ficial
­ d o e s p írito , p o is n ã o ex iste a to v e r­
to de u m o b je to , c o n s id e ra d o e n q u a n to d a d e ira m e n te sim p le s e a m e n o r p e rc e p ­
a ç ã o d o s u je ito q u e se a p lic a a este o b je ­ ç ã o de u m o b je to o u de u m e s ta d o m e n ­
to . “ A p p re h en sio est in tu itiv a vel a b stra c ­ ta l im p lic a to d o u m tr a b a lh o de p e n s a ­
tiv a ... vel sim p le x vel c o m p o s ita , e tc .” m e n to , c o m o ju s ta m e n te o b s e rv a G o -
G Ã T Â Ç« Z è , l2Õb.
E BLO T, s u b V o.
M ais e sp e c ialm en te , em S. T o m á s d e É u tiliz a d a m u ito c o rre n te m e n te n a
A q u i n o , a p rim e ira d a s trê s o p e ra ç õ e s p sico lo g ia in g lesa p a r a d e sig n a r o c o n h e ­
d o e sp írito q u e ele c a ra c te riz a assim : c im e n to d o in d iv id u a l. “ A s lo n g as we 1
“ U n a q u a e d ic itu r in d iv isib iliu m seu sim -
p lic iu m in te llig e n tia vel a p p re h e n s io , p er 1. " A reunião do m últiplo num a intuição em pí­
q u a m scilicet in te lle c tu s a p p re h e n d it es- ric a .”

S o b re A p re c ia ç ã o — Apreciar s ig n ific a q u e r julgar (b o m o u m a u ), q u e r e sp e c ia l­


m e n te julgar bom: “ A p re c ia r u m a b rin c a d e ir a .” “ U m a u to r a p re c ia d o .” M as o su b s­
ta n tiv o n ã o te m n u n c a este s e n tid o em fra n c ê s . E le é p e lo c o n tr á r io fr e q u e n te e n tre
o s filó s o fo s a m e r ic a n o s , e m q u e appreciation é q u a s e se m p re e n te n d id a fa v o ra v e l­
m e n te . E m ita lia n o apprezamento te m ta m b é m e s ta sig n ific a ç ã o la u d a tiv a . (A. L.)

S o b re A p re e n s ã o — Apreensão (q u e tr a d u z o a le m ã o Auffassung) é u m te rm o
fre q u e n te m e n te u tiliz a d o n a p sico lo g ia c o n te m p o râ n e a p a r a d e sig n a r a m e m ó ria im e ­
d ia ta o u c a p a c id a d e lim ite de r e p r o d u ç ã o c o r r e ta sem a tr a s o , d e p o is d e u m a p e rc e p ­
ç ã o ú n ic a , d e n ú m e ro s , le tra s , p a la v r a s , im a g e n s , e tc . ( H . Piéron)
81 A PRESENTAÇÃO

view a particular ob ject, or event, alone, e q u ív o c o s q u e p o d e fa z e r n a sc e r a p a la ­


w e merely apprehend it; but when we v ra representação.
bring it into relation to kindred things we “ A p r e s e n ta tio n h as a tw o fo ld r e la ­
c o m p r e h e n d s James S u l l y , The H u­tio n ; f ir s t, d ire c tly to th e su b je c t; a n d se­
man M ind , I, 389. C f. Apercepção. c o n d ly , to o th e r p re s e n ta tio n s . By th e
Rad. ini.: A dpren. f ir s t is m e a n t th e fa c t t h a t th e p r e s e n ta ­
tio n is a tte n d e d to , th a t th e su b je c t is m o ­
A P R E S E N T A Ç Ã O D . A . Präsenta­
re o r less c o n sc io u s o f it; it is ‘in his m in d ’
tion (E i s l e r ); Vorstellung ; B . Vorfüh­ or presented."'1 J . W a r d , Psychology
rung ; E . Presentation·, F . Presentation ; I.
(E n c ic l. B ritâ n ic a ), 1? se ç ã o . C f . 2? se­
Presentazione.
ç ã o : “ T h e o ry o f p r e s e n ta tio n s .”
A. Tudo o que se apresenta ao espíri­
B. N a p sico lo g ia ex p erim en tal, fase de
to , tod o objeto de conhecim ento, no sen­
u m a e x p e riê n c ia q u e c o n siste em fa z e r
tid o m ais am plo da palavra: Idea de
q u e o s u je ito p e rc e b a u m c e rto o b je to . A
L o c k e . Termo m uito usual na psicologia
a p re s e n ta ç ã o p o d e ser v isu al (c h a m a -se
inglesa, e freqüentem ente em pregado em
francês, à im itação desta, para evitar os 1
2. “ Uma apresentação tem um a dupla relação:
l? relação direta com o sujeito; 2? relação com o u ­
1 . 1'E nquanto consideram os um objeto particu­ tras apresentações. Pela prim eira, é preciso entender
lar (singular), apenas o apreendem os, m as, quando que esta relação é m arcada, que o sujeito tem dela
o pom os em relação com coisas da mesma espécie, mais ou m enos consciência; está 'n o seu espirito’ ou
com preendem o-lo.” p resen te·.." (D ir-se-iaem francês: p r e s e n te a l’esprit.)

S o b re A presentação — A p rim e ira r e d a ç ã o d a Crítica te rm in a v a assim : “ N ã o p o ­


n h o o b je ç õ e s a o e m p re g o d e sta p a la v ra ; m a s p a re c e -m e m u ito d u v id o s o q u e o p r e f i­
x o re, n a p a la v r a fra n c e s a représen ta t ion, te n h a tid o p rim e ir a m e n te u m v a lo r d u p li-
c a tiv o . E s te p re fix o te m m u ito s o u tr o s u s o s , p o r e x e m p lo e m recolher, retirar, reve­
lar, requerer, recorrer, e tc . O seu v e rd a d e iro p a p e l, n a representação, n ã o se rá a n te s
o d e m a rc a r a oposição d o s u je ito e d o o b je to , c o m o n a s p a la v ra s revolta, resistên­
cia, repugnância , repulsa, e tc .? ”
F. A b a u zit re c o n h e c e q u e o p re fix o re d e n o ta g e ra lm e n te u m a a ç ã o q u e n ã o im ­
p lic a n e n h u m a d u p lic a ç ã o . E le a c re s c e n ta o e x em p lo “ re m e te r u m a c a r t a ” (la d o a
la d o co m “ re m e te r u m d e p ó s ito ” ) e le m b ra q u e n a lin g u a g e m p o p u la r se d iz q u a se
s e m p re “ rentrer ” em vez de (íentrer ” ; p . ex. u m o b je to q u e n ã o p o d e e n tr a r ( ren-
trer) n u m a c aix a. N o c a so de re p re s e n ta ç ã o , ex iste sem d ú v id a , d iz ele, u m c e rto se n ­
tid o d u p lic a tiv o ; m a s n ã o é a q u e le in d ic a d o p o r B 2 ; è Ã Ç : re p re s e n ta ç ã o n ã o q u e r
E

d iz e r re p e tiç ã o d e u m e s ta d o m e n ta l a n te r io r , m as re fle x o , n o e sp írito , d e u m o b je to


c o n c e b id o c o m o e x isten te em si. P o r ta n to , a p re s e n ta ç ã o n ã o se ju s tific a .
J. Lachelier c o n clu i ig u a lm e n te , a in d a q u e p o r o u tr a s ra z õ e s: “ P a re c e -m e ” , diz
ele, “ q u e representação n ã o e ra p rim e ira m e n te em fra n c ê s u m te r m o filo só fic o , e
q u e se to r n o u ta l q u a n d o se q u is tr a d u z ir Vorstellung. M as j á se d iz ia representarse
{se répresenter) q u a lq u e r c o isa e eu c re io q u e a p a r tíc u la re, n e sta p a la v r a , in d ic a v a ,
d e a c o r d o c o m o seu s e n tid o c o m u m , u m a r e p r o d u ç ã o d o q u e tin h a sid o a n te r io r ­
m e n te d a d o , m a s sem q u e ta lv e z lh e fo sse d a d a a te n ç ã o ... A c rític a d e B erg so n é,
p o r ta n to , a rig o r, ju s tif ic a d a ; m a s n ã o é n e c e s sá rio s e r tã o rig o ro s o c o m a e tim o lo ­
gia. O m e lh o r seria n ã o se fa la r m esm o em filo so fia d e representações e d e c o n ten tar-se
c o m o v e rb o representarse {se répresenter); m a s , se h o u v e r a b s o lu ta n e ce ssid a d e de
u m s u b s ta n tiv o , é p re fe rív e l representação, n u m s e n tid o j á c o n s a g ra d o p elo u s o , a
apresentação, q u e e v o c a , em fra n c ê s , id é ia s d e u m a o rd e m to ta lm e n te d if e r e n te .”
A P R IO R I, A P O S T E R IO R I 82

e n tã o ta m b é m exposição), o u a u d itiv a , o u p e riê n c ia s u p õ e e n ã o b a s ta m p a r a e x p li­


o lfa tiv a , etc. O *'‘te m p o d e a p re s e n ta ç ã o ” c a r m e sm o q u a n d o a p e n a s tê m a p lic a ç ã o
é o te m p o d u r a n te o q u a l o o b je to p e r­ n a e x p e riê n c ia . A priori n ã o d e sig n a ,
m a n e c e u s o b o s e n tid o (o u s o b o s s e n ti­ p o is , u m a a n te r io rid a d e * c ro n o ló g ic a
d o s ) d o s u je ito . (p s ic o ló g ic a ), m a s u m a a n te r io r id a d e ló ­
g ic a . E s te s e n tid o , q u e é h o je o m a is
C RÍTIC A
u s u a l, e n c o n tr a - s e j á e m L E « ζ Ç« U : ” ...
“ A n o s s a p a la v r a r e p re s e n ta ç ã o é c o n h e c e r a priori e n ã o p o r e x p e riê n c ia .”
u m a p a la v r a e q u ív o c a q u e d e v e ria , de Discurso de metafísica , § 8. M a s fo i s o ­
a c o r d o c o m a e tim o lo g ia , n ã o d e s ig n a r b re tu d o d iv u lg a d o p o r Kτ ÇI , q u e a ss in a ­
n u n c a u m o b je to in te le c tu a l a p r e s e n ta d o la ta m b é m a e x istê n c ia d o s e n tid o B n a
a o e s p írito p e la p rim e ira vez. S e ria n eces­ lin g u a g e m c o rre n te : v e r p a r tic u la r m e n ­
s á r io re s e rv á -la p a r a a s id é ia s o u p a r a as te a in tr o d u ç ã o à Crítica da razão p u ra ,
im a g e n s q u e tr a z e m a m a r c a d e u m tra­ V , § 1.
balho a n te r io r e fe tu a d o p e lo e s p ír ito .
D ev er-se-ia e n tã o in tr o d u z ir a p a la v r a B. D o p o n to d e v ista m e to d o ló g ic o
a p re se n ta ç ã o (ig u alm en te e m p re g a d a p ela c h am a -se a priori a to d a id é ia o u c o n h ec i­
p s ic o lo g ia in g le sa) p a r a d e s ig n a r d e u m a m en to a n te rio r a tal especial experiência o u
m a n e ir a g e ra l tu d o o q u e p u r a e sim p le s­ série d e e x p eriên cias. A ssim e m C la u d e
m e n te é a p r e s e n ta d o à in te lig ê n c ia .” H . B E 2 Çτ 2 á u m a “ id é ia a priori ” é u m a
BE 2 ; è ÃÇ , E x tra to d a d iscu ssão n a sessão hip ótese*. (Introãuction à Vétude de la mé-
d a S o c ie d a d e d e F ilo s o fia de 29 d e m a io decine expêrimentale , 1? p a r te , c a p . 2.)
de 1901 {Bulletin, ju lh o d e 1901, p . 102).
CRÍTICA
E á . C Â τ ú τ 2 è á E e sc re v e u -n o s ig u a l­
m en te p a ra re c o m e n d a r o e m p reg o d a p a ­ O s e n tid o m a is a n tig o d e s ta ex p ressão
la v ra apresentação. E le c h a m a a a te n ç ã o q u e se e n c o n tra n a Id a d e M é d ia , m a s q u e
p a r a q u e , n a F r a n ç a e n a In g la te rra , se c a iu q u a s e c o m p le ta m e n te em d e s u s o ,
su b d iv id e m s o b re tu d o o s fe n ô m e n o s psí­ co n siste em d esig n ar p o r racio cín io a prio­
q u ic o s c o n f o r m e o seu c o n te ú d o é a p r e ­ ri (a p a r tir d o a n te c e d e n te ) a q u ilo q u e vai
s e n ta d o (a tu a l) o u re p re s e n ta d o (im a g i­ d a c a u s a a o e fe ito , d o p rin c íp io à c o n se ­
n á rio ), e n q u a n to q u e n a A le m a n h a se tem q u ê n c ia ; n u m a p a la v r a d o q u e é simpli-
em c o n ta s o b r e tu d o o seu g ra u d e c o m ­ citer prius, prius natura , a o q u e d a í d e r i­
v a ; e p o r ra c io c ín io a posteriori o q u e re ­
p le x id a d e . É p re c is o , p o r ta n to , p o d e r-s e
a ssin a la r e sta c ara c te rístic a p ela o p o siçã o m o n ta d a s c o n se q ü ê n c ia s a o s p rin c íp io s ,
d a s p a la v r a s apresentação e representa­ d o q u e é c o n d ic io n a d o p o r n a tu r e z a ao
ção. V er as o b s e rv a ç õ e s . q u e o c o n d ic io n a . (C f. Análise e Sínte­
Rad. int.x P r iz e n ta j. se.) E ste s e n tid o e n c o n tra -s e a in d a em
L e ib n iz (o n d e a p a re c e ta m b é m o s e n tid o
A P R I O R I , a p o s te r io ri A c o m o fo i a s s in a la d o a trá s ) : “ A ra z ã o
A. D o p o n to de v is ta g n o s io ló g ic oé a v e rd a d e c o n h e c id a c u ja lig a ç ã o co m
c h a m a m -s e a posteriori o s c o n h e c im e n ­ u m a o u tr a m e n o s c o n h e c id a n o s f a z d a r
to s q u e d eriv am d a ex p eriên cia o u q u e d e­ o n o sso a ss e n tim e n to à ú ltim a . M ais p a r ­
la d e p e n d e m ; a priori a q u e le s q u e a ex ­ tic u la rm e n te , e p o r ex celên cia, c h am a -se -

S o b r e A priori, a posteriori — P o d e -s e v e r e m H Z OE a p a ss a g e m d o s e n tid o es­


c o lá s tic o p a r a o s e n tid o A : Treatise on H um an N ature ; 1, p a r te IV , e Essay, X X III
(v o l. I, 2 0 6 ). A p r o x im a r d e s te ú ltim o te x to Kτ ÇI , Kritik der Urteilskraft , I, 1, § 33
ss. ( Werke, e d . H a r te n s te in , V , 293). (C . C . J. Webb)
83 A P R O X IM A D O

lh e ra z ã o se é a c a u s a n ã o s o m e n te d o Appropriation-, F . A ppropriation ; I.
n o sso ju íz o , m a s ta m b é m d a p r ó p r ia v e r­ Apropriazione.
d a d e , o q u e se c h a m a ta m b é m ra z ã o a A to p elo q u a l n o s a p o d e r a m o s , p a r a
priori . ” N ovos ensaios, IV , X V II, 1. d ele fa z e r n o s s a p r o p r ie d a d e in d iv id u a l,
E m K τ Ç , se b e m q u e a in te n ç ã o se ­
I d o q u e n ã o p e rte n c e a n in g u é m o u a t o ­
ja c e rta m e n te a de s e p a ra r o s e n tid o A , d a g e n te.
e n c o n tra m -s e m u ita s e x p re ssõ es q u e p a ­ Rad. int.: P r o p r(ig ) ,
recem in sistir s o b re o c a r á te r p sic o ló g ic o
d e p re fe rê n c ia a o c a r á te r ló g ico d o s co ­ A P R O S E X I A V er Abulia.
n h e c im e n to s q u e c h a m a de a priori : u m a A P R O V A Ç Ã O D . Beifall ; E. A ppro­
p ro p o s iç ã o a priori é a q u e la q u e “ z u ­ bation, approval·, alg u m as vezes sanction-,
g leich m it s e in e r N o tw e n d ig k e it g e d a c h t F . Approbation-, I. Approvazione.
w ir d “ 1 (Krit. der reinen Vern ., E in le i­ J u íz o fa v o rá v e l d e a p re c ia ç ã o . O te r ­
tu n g , II [a p e n a s B ], p . 3); a q u e la q u e é m o é u tiliz a d o s o b re tu d o n o s e n tid o é ti­
“ in s tre n g e r A llg e m e in h e it g e d a c h t“ 12 c o , m a s seria ú til esten d ê-lo a o se n tid o ló ­
(ibid., 4). A p rim e ir a e d iç ã o d iz ia m e s­ g ic o e a o s e n tid o e sté tic o o n d e se e n c o n ­
m o : “ S o lc h e allg e m ein e E r k e n n tn is s e ... t r a a m e s m a c a r a c te rís tic a , q u e n ã o re c e ­
m ü s s e n , v o n d e r E r f a h r u n g u n a b h ä n g ig , b e u n o m e e sp ecial.
v o n sich selb st Klar u n d gewiss s e in .” 3 Rad. int.: A p r o b .
Ib id ., E in l, I, A , 1. M a s e sta fó r m u la d e ­
s a p a re c e u e m B. A P R O X IM A Ç Ã O D . Näherung-, E .
E le d istin g u e : 1? o c o n h e c im e n to a Approximation-, F . A pproxim ation; I.
priori, q u e é necessário e u n iv ersal, d o co ­ A pprossim azione.
n h e c im e n to absolutam ente a priori A . C a r a c te r ís tic a d a q u ilo q u e é
(schlechterdings a priori), q u e tem as m es­ a p ro x im a d o * n o s e n tid o A o u n o s e n ti­
m as características e, m ais a in d a , que n ã o d o B. “ E m p rim e ir a a p r o x im a ç ã o .”
p o d e ser d e d u z id o de n e n h u m o u tr o ; 2?
B . V a lo r a p r o x im a d o : “ U m a a p ro x i­
o c o n h e c im e n to a priori q u e d iz re s p e ito
m a ç ã o de m ilím e tr o .”
a p ro p o siç õ es em q u e u m d o s te rm o s a p e ­
n a s p o d e ser c o n h e c id o p o r e x p e riê n c ia ,
Rad. int.: P ro x im e s , p ro x im a j.
d o c o n h e c im e n to a priori puro* {rein), A P R O X IM A D O D . Annähernd; N ä­
q u e n ã o c o n té m n e n h u m te rm o e m p íric o herungs... (p . ex. Näherungsgrösse); E .
{ibid.). Approximate, approached; F. Approché;
P a re c e ú til p a r a a c la re z a d a lin g u a ­ I. Approssim ato.
g em filo só fic a re s e rv a r a priori e a poste­
A. D iz-se p ro p r ia m e n te de u m a g ra n ­
riori a o s e n tid o A .
d e z a v iz in h a d a g ra n d e z a re a l, s u b s titu í­
A P R O P R I A Ç Ã O D . Aneignung; E . d a a ela q u a n d o é im p o ssív el o u in ú til
c o n h e c ê -la rig o ro s a m e n te o u e x p rim i-la
1. “ Cujo pensam ento é acom panhado pelo da d e u m a m a n e ira e x a ta (p . ex. n o c a s o d e
sua necessidade." u m n ú m e ro irra c io n a l). Lei aproximada:
2. “ Que é pensada com o rigorosam ente univer­ a q u e la q u e p e r m ite c a lc u la r u m v a lo r su ­
sal,"
3. "Esses conhecimentos universais... devem ser
ficien te p a ra o o b je to q u e n o s p ro p o m o s ,
claros e certos por st pró prio s, independeniem ente m a s u m p o u c o d ife re n te d o v a lo r v e rd a ­
da experiência." d e iro .

S o b re A p r o p r ia ç ã o — O s u b s ta n tiv o te m u m s e n tid o m a is e s tre ito d o q u e o v e r­


b o apropriar-se: este diz-se m e sm o d o a t o p e lo q u a l n o s a p o d e r a m o s (legal o u f r a u ­
d u le n ta m e n te ) d o q u e p e rte n c e a o u tre m .
A P R O X IM A T IV O 84

B. e r i s t ó t e l e s , Física, V I, 9. E s te a r g u ­
M a is g e ra lm e n te , c a r a c te rís tic a d A
u m c o n h e c im e n to já v á lid o , m a s q u e n ã o m e n to re c e b e o seu n o m e d o f a to d e Ze-
é d e fin itiv o e q u e d ev e to rn a r-s e m ais p e r­ n ã o te r to m a d o c o m o e x e m p lo A q u ile s
fe ito , m a is a d e q u a d o a o se u o b je to . G . d o s p é s lig e iro s p e rs e g u in d o u m a t a r ­
Bτ T7 E Â τ 2 á , Essai sur Ia connaissance ta r u g a .
approché , 1927.
A R B IT R A R IE D A D E S en tid o a b s tra ­
Rad. int.: P r o x im .
to : c arac te rístic a d o q u e é a rb itrá rio . S em ­
A P R O X IM A T IV O V er Aproximado. p re p e jo ra tiv o .
M a s a p a la v r a te m m u ita s v ezes, s o b re ­
A R B I T R Á R I O ( a d j.) D . Willkürlich;
tu d o n a lin g u a g e m c o rre n te , u m a c e n to
E . Arbitrary; F . Arbitraire ; I. Arbitrário.
d e s fa v o rá v e l; e n q u a n to aproximado p õ e
Q u e d e p e n d e u n ic a m e n te d e u m a d e­
o a c e n to s o b re o su c e sso p a rc ia l d a a p r o ­
c isã o in d iv id u a l, n ã o d e u m a o rd e m p re ­
x im a ç ã o , aproximativo e v o c a d e p re fe ­
e s ta b e le c id a o u de u m a r a z ã o v á lid a p a ­
rê n c ia a id é ia d e q u e ela fic a m u ito lo n g e
r a to d o s : “ U m a s u p o s iç ã o a r b i t r á r i a .”
d a g r a n d e z a o u d a v e rd a d e e x a ta s.
S alv o em alg u n s casos m u ito ra ro s tais c o ­
A P T ID Ã O D . Eignung; E . Abitíty; F. m o “ e sc o lh e r u m v a lo r a r b itr á r io ” (n as
A ptitude; I. A ttitudine. m a te m á tic a s ), a p a la v r a te m s e m p re u m
C a r a c te rís tic a física o u p s íq u ic a q u e to m p e jo r a tiv o e q u a s e se m p re m u ito
to r n a a q u e le q u e a p o ssu i c a p a z d e e x e r­ e n é rg ic o .
c e r b e m u m a fu n ç ã o . E ste te r m o to r n o u -
CRÍTICA
se m u ito u s u a l n a lin g u a g e m d a p s ic o lo ­
g ia e d a p e d a g o g ia c o n te m p o râ n e a s : ver A rb itr á r io d ife re d e contingente* p o r ­
p . ex . E á . C Â τ ú τ 2 è á , C om m ent diag­
E
q u e este n â o c o n té m a id é ia d e b e l-p ra z e r;
nostiquer les aptitudes chez ies écoliers a r b itr á r io o p õ e -s e , p o r c o n s e q u ê n c ia , à
(1924). ra z ã o n o r m a tiv a e à n e c e s sid a d e d e c o n ­
Rad. int.: A p te s . v e n iê n c ia e n ã o à n e c e s sid a d e p r o p r ia ­
m e n te d ita . D ife re d e decisório* p o r q u e
A Q U IL E S U m d o s a r g u m e n to s d e a s s in a la u m a to d e v o n ta d e e d e e sc o lh a
Z E Çâ Ã d e E Â é « τ , d ito s (m a s ta lv e z e r r a ­ ra z o á v e l, n e c e ssá rio p a r a s u b s titu ir o q u e
d a m e n te ) c o n tr a o m o v im e n to . “ U m m ó ­ a lei o u a n a tu r e z a d a s c o isa s d e ix a m in ­
vel m ais le n to n ã o p o d e ser a lc a n ç a d o p o r d e te rm in a d o . U tiliza-se ta m b é m a lg u m a s
o u tr o m a is r á p id o , p o is o q u e p e rseg u e vezes n e s te s e n tid o arbitrai , to m a d o d a
d ev e s e m p re c h e g a r a o p o n to q u e o c u p a ­ lin g u a g e m ju d ic iá r ia , m a s e s ta e x p re ss ã o
v a a q u e le q u e é p e rs e g u id o e o n d e este j á é r a r a n e ste s e n tid o e p o d e ría le v ar a c o n ­
n ã o e stá [q u a n d o o s e g u n d o lá ch eg a ]; d e fu sõ e s.
m a n e ir a q u e o p r im e ir o m a n té m se m p re O p o d e r “ a r b itr á r io ” d ife re d o p o d e r
u m a v a n ç o s o b re o s e g u n d o .” S e g u n d o a b s o lu to * : 1? p o r q u e o a r b itr á r io só p o -

S o b re A p tid ã o — A a p tid ã o é u m a c a r a c te rís tic a físic a o u p s íq u ic a c o n s id e ra d a


d o p o n to d e v is ta d a p r á tic a , d o r e n d im e n to . A s s im , a s e n s ib ilid a d e às c o re s, q u e
p a r a a p s ic o fisio lo g ia é a p e n a s u m a p ro p r ie d a d e d a r e tin a , é u m a a p tid ã o n a m e d id a
e m q u e p e rm ite e x e rc e r c o m s u c e sso c e rta s p ro fis s õ e s .
O te r m o aptidão e n c e rra as id é ia s d e d is p o s iç ã o n a tu r a l e d e d ife re n ç a in d iv id u a l.
F ala-se a lg u m as vezes d e “ a p tid ã o a d q u irid a ” , m a s n a re a lid a d e n este caso su b en ten d e-
se a e x istê n c ia d e u m a d is p o s iç ã o n a tu r a l p a r a a d q u ir ir u m h á b ito , u m je ito p a ra
a p r o v e ita r a e x p e riê n c ia . Se to d o s o s h o m e n s a p re s e n ta s s e m e x a ta m e n te a s m e sm as
c a p a c id a d e s e a m e sm a d is p o s iç ã o p a r a a p r o v e ita r u m a a p re n d iz a g e m , a n o ç ã o d e
a p tid ã o seria s u p é r flu a . (Ed. Claparède)
85 A R E C T O AD O BL1Q U U M

d e e x istir d e n tr o d e c e rto s lim ite s o u em ta n tu m b o n u m velle d ic itu r e t m a n c ip a ta


c erto s p o n to s ; 2? p o rq u e e sta p a la v ra n ã o m a io n o n e s t.” ld ., ibid. (M u ito r a r o .)
é u tiliz a d a em m a té ria so cia l sem im p li­ G S e n tid o m a is u s u a l (L ib e ru m a r b i­
c ar u m sen tid o d e sfav o rá v e l. Q u a n d o u m triu m in d iffe re n tía e ): p o tê n c ia “ d e e sc o ­
p o d e r c u jo ex ercício n ã o se lim ita p o r n e ­ lh e r o u d e n ã o e sc o lh e r u m a to ”, ta l q u e
n h u m a re s triç ã o é c o n f ia d o legalmente a dele se faz “a p ro v a n a s c o isa s em q u e n ã o
u m in d iv íd u o , d iz-se discricionário. h á n e n h u m a razão q u e n o s fa ç a p e n d er p a ­
ra u m la d o d e p re fe rê n c ia a o o u tro ”. B o s-
1 . A R B Í T R IO D . A . Willkur, Will- S U E T , Tratado do livre-arbítrio, I e II. “ O
kurherrschaft ; B . Willkur, E . A . Arbi- h o m e m c rê-se livre: n o u tro s te rm o s ,
trary managing, sentencing , e tc .; B . Ar- e m p e n h a -s e em d irig ir a s u a a tiv id a d e c o ­
bitrariness ; F . Arbitraire·, I. Arbítrio. m o se o s m o v im e n to s d a s u a c o n sc iê n c ia
S en tid o co n creto : b el-p razer in d iv id u al e, p o r co n seg u in te, os a to s q u e dela d e p e n ­
d e u m a a u to rid a d e ; d ecisão c a p rich o sa n u ­ d e m n ã o fo ssem s o m e n te u m a fu n ç ã o d o s
m a m a té ria o n d e se d e v eria p ro c e d e r p e la a n tec e d en te s, co n d içõ e s o u circ u n stâ n c ias
ra z ã o o u p e la a p licação d e u m a regra. E v o ­ d a d a s , ... m a s p u d e sse m v a ria r e m ra z ã o
c a d e o r d in á r io a id é ia d e in ju s tiç a . d e q u a lq u e r c o isa q u e e stá nele e q u e n a ­
d a , n em m e sm o o q u e ele p r ó p r io é a n te s
2 . A R B Í T R IO (L . A rbitrium ). S in ô ­
d o ú ltim o m o m e n to q u e p re c e d e a a ç ã o ,
n im o de v o n ta d e (em d e su s o ).
p re d e te rm in a i’ R ÇÃ Z â « 2 , Science de la
E E

A r b ítr io (liv re-), o u f r a n c o a r b ítr io morale, I, 1-2. Ver Indiferença.


(M as e sta ú ltim a fo r m a é a rc a ic a ) L . L i­ P a r a a c rític a e a u tiliz a ç ã o d e ste te r ­
berum arbitrium D . Freier Wille, Willens- m o , ver a d iscu ssão d a p a la v ra Liberdade.
freiheit; freie Willkur ( d a d o p o r Kτ ÇI Rad. int.: C . L ib e r(a ) a rb itri(o ).
co m o tra d u ç ã o de liberum arbitrium), ab- S e rv o -a rb ítrio — E m o p o s iç ã o a o
solute Wahifreiheit (E « è Â 2 ); E. Freewill;
E liv r e -a rb ítrio , a d e p e n d ê n c ia a b s o lu ta d a
F . Libre arbitre ; I. A rbítrio libero. v o n ta d e h u m a n a em re la ç ã o a o p o d e r e
A . V o n ta d e n o s e n tid o m a is g e ra l d a à g ra ç a d iv in o s. E s ta e x p re ss ã o tem p o r
p a la v r a (r a r a e em d e su so ). “ V o lu n ta s et o rig e m o títu lo d a o b r a d e L Z 2 Ã , De
I E

lib e ru m a r b itr iu m n o n s u n t d u a e p o te n - servo arbítrio, 1525.


tia e , sed u n a t a n t u m . ” T ÃOá è áE AI Z « - A R E C T O A D O B L IQ U U M (R a c io ­
NO, Sum m a theologiae, I, q u . 83, a r t. 4. c ín io ) O p e ra ç ã o ló g ica q u e co n clu i “ d o
“ L ib e ru m a r b itr iu m 1? est v o lu n ta s u t re to p a r a o o b líq u o ” (d ir-s e -á m e lh o r:
fe r tu r sin e c o a c tio n e in a liq u a r e . . . ” GO- “ d o d ire to p a r a o in d ir e to ” , n u m s e n ti­
CLENIUS, 643. d o a n á lo g o a o s e n tid o g ra m a tic a l d estes
B . L ib e rd a d e m o ra l e n q u a n to b o a te rm o s ). C o n sis te n a s u b s titu iç ã o de u m
v o n ta d e: “ 2? haec v o lu n ta tis lib ertas q u ae te rm o e q u iv a le n te p o r u m te rm o q u e é

S o b re L iv re -a rb ítrio — E ste te rm o te n d e m ais e m a is a o p o r-se a Uberdade p e la


p r e d o m in â n c ia d o c a r á te r a r b itr a i, o u m e sm o a r b itr á r io , de u m a d e c isã o q u e , c o m o
d iz D e sc a rte s , p a re c e ria u m d e fe ito n o c o n h e c im e n to de p re fe rê n c ia a u m a p e rfe iç ã o
n a v o n ta d e . “ L ib e rd a d e d e in d if e r e n ç a ” é o c o n tr á r io d a v e rd a d e ir a lib e rd a d e . O
liv re -a rb ítrio é u m a b s tr a to q u e n ã o se d ev e e rig ir em c o n c re to . (Maurice Blondel )
C f. Liberdade, c rític a e o b s e rv a ç õ e s .
Laberthonnière c h a m a a te n ç ã o p a r a a p r o f u n d a d ife re n ç a q u e s e p a ra o livre-
arbítrio, e n q u a n to c o n c e b id o c o m o a lg o q u e se re fe re à e sc o lh a d o s m eios , e o liv re-
a r b ítr io , c o n c e b id o c o m o alg o q u e se re fe re à e sc o lh a d o s fin s. V er n o Suplemento
e sta c o m u n ic a ç ã o , d e m a s ia d o e x ten sa p a r a ser in s e rid a a q u i.
ARGUM ENTAÇAO Xfi

a p e n a s u m a p a r te d o s u je ito o u d o p r e ­ Argum ento de Berkeley : a r g u m e n to


d ic a d o . C o n s titu i, p o r c o n s e g u in te , u m a c o n tr a a e x istê n c ia p sic o ló g ic a d a s id éias
in fe rê n c ia a s s ilo g is tic a * , c o m o n o ta g e ra is, q u e c o n sis te em d iz e r q u e n ã o se
L « ζ Ç« U , q u e d á o s dois ex em p lo s seg u in ­
E p o d e p e n sa r u m h o m e m q u e n ã o seja nem
tes: “ J e s u s C ris to é D eu s; lo g o , a m ã e de b ra n c o nem u m h o m e m de c o r, nem g r a n ­
J e su s C ris to é a m ã e de D e u s ” e “ D e u s d e nem p e q u e n o ; u m m o v im e n to q u e n ã o
c a s tig a o h o m e m ; o r a , D e u s c a s tig a j u s ­ s e ja n em m a r c h a n e m v ô o , n e m n a ta ç ã o
ta m e n te aq u ele q u e ele castig a; lo g o , D eus n e m r e p ta ç ã o , e tc . Princípios, I n tr o d ., §
castig a o h o m e m ju s ta m e n te .” Nov. ens., 9 (e em m u ita s o u tr a s p a ss a g e n s d as su as
IV , c a p . X V II, § 4. o b ra s ).
A rgum ento de Cauchy : te n d e n te a
A R G U M E N T A Ç Ã O . D . Beweisfuh- p r o v a r q u e a série n a tu r a l d o s n ú m e ro s
rung, Argumentaron; E . Argumentaron; n ã o p o d e te r existên cia a tu a l e n q u a n to in ­
F , A rgum entaron; I. Argom entazione. fin ita , p o is se p o d e ria fa z e r c o rre s p o n d e r
A . S érie de a rg u m e n to s te n d e n te s p a ­ a c a d a n ú m e ro o seu d o b r o o u o seu q u a ­
ra a m e sm a c o n c lu s ã o . d r a d o o u o seu c u b o , e tc .; o b te r-s e -ia a s ­
B . M a n e ira d e a p r e s e n ta r e de d is p o r sim u m a série q u e te ria p o r d e fin iç ã o e x a ­
os a rg u m e n to s . ta m e n te ta n to s te rm o s q u a n to a p rim e i­
Rad. int.\ A r g u m e n ta r , -a d . r a , e n q u a n to e s ta c o n te r ia , c o n tu d o , to ­
d o s os te rm o s d a s e g u n d a m ais u m c e rto
A R G U M E N T O (L . Argum entum ). n ú m e ro d e te rm o s n ã o in c lu íd o s n e la .
D . Argum ent, Beweis ; E . Argum ent; F . C τ Z T à , Leçons de physique génerale ,
7

Argum ent; I. Argum ento. I I I . C f. C ÃZ I Z 2 τ I , D e Vinfinx mathe-


A. R a c io c ín io d e s tin a d o a p r o v a r o u atique , I I I , I I , e m ais a d ia n te Número
m
a r e f u ta r u m a d a d a p r o p o s iç ã o . V er (lei d o ).
A quiles, A d hom inem , Ontológico, B. T e rm o d e fin id o , su scetív el d e ser
Físico-teológico, etc. s u b s titu íd o p o r u m a v a riá v e l n u m a f u n ­
A rgum entum baculinum: a r g u m e n to ç ã o ló g ic a .
q u e p re te n d e p ro v a r a ex istên cia d o m u n ­ N o s e n tid o m a is g e ra l, e n ã o a p e n a s
d o ex terio r b a te n d o n o c h ã o com u m p a u . n o s e n tid o d e te rm o a p r o p r ia d o p e la s u a
V er J . S. M i l l , Filosofia de H am ilton , n a tu r e z a à f u n ç ã o d e q u e se tr a ta : “ C h a ­
c a p . X I. D iz-se ta m b é m d o a rg u m e n to de m a re m o s o s a rg u m e n to s p a r a o s q u a is <px
S g a n a re lle ( M o l i è r e , Casamento à fo r ­ te m u m v a lo r ‘v a lo re s p o ssív eis d e x '; d i­
ça, c e n a V III), q u e b a te n o “ d o u to r p ir ­ re m o s p a r a q u e tpx ‘te m u m s e n tid o p a r a
r ó n ic o ” M a r fu riu s p a r a r e f u ta r o seu ce­ o a rg u m e n to x ’ q u a n d o <px ‘tem u m v a ­
tic ism o . lo r p a r a e ste a r g u m e n to ’. ” B. R Z è è E Â ,

S o b re A r g u m e n to — A o s o lh o s d o seu a u to r , to d o a rg u m e n to é p ro v a ; se esta
p a la v r a fo r u tiliz a d a n e ste c a so é d e v id o a u m a m o d é s tia e u m a d is c riç ã o re c o m e n ­
d á v e is. M as é s o b re tu d o b o m s e rv irm o -n o s d e la q u a n d o a p e n a s a le g a m o s u m r a c io ­
c ín io d e o u tr e m . É p re fe rív e l d iz er “ o a rg u m e n to o n to ló g ic o ” , m e sm o se o tiv e rm o s
c o m o p r o b a n te , d o q u e “ a p ro v a o n to ló g ic a ” . (A/. Marsal)
Beaulavon p e rg u n ta v a -s e se a e x p re ss ã o “ A rg u m e n to de B e rk e le y ” , n o se n tid o
in d ic a d o , é s u fic ie n te m e n te u s u a l p a r a m e re c e r u m a m e n ç ã o , e a c h a q u e n ã o ex iste
ra z ã o p a ra d e s ta c á -lo assim d o r e s to d a s u a filo s o fia . S o b re a q u e s tã o de p rin c íp io ,
só p o s s o ser d a s u a o p in iã o . M a s , s e n d o d a d o q u e a fó r m u la se e n c o n tr a a lg u m a s
vezes so b e s ta fo r m a e n ig m á tic a q u e e m b a r a ç a o s e s tu d o s , p a re c e ser ú til m e n c io n á -
la. E s ta e x p re s s ã o v e m p ro v a v e lm e n te d o q u e dele d iz H Z O , Essay, X I I , 1.
E
87 A R Q U É T IP O

“ A te o ria d o s tip o s ló g ico s” , /?ev. de mé- tic u la r d e n u m e r a ç ã o , e n q u a n to q u e a


laph., 1910, p . 267. T o m a-se alg u m as ve­ A ritm é tic a , n o s e n tid o A , in d e p e n d e
zes n o s en tid o m ais re strito c h a m a d o a trá s d is s o .)
“ v a lo re s p o ssív e is de x ” .
CRÍTICA
Rad. int .: A rg u m e n t.
C o n v iria re s e rv a r a p a la v r a A ritm éti­
ARISTOCRACIA (G. ’Aç ã 7Ã7 p a ­ 7
ca p a r a o s e n tid o A e d e s ig n a r o s e n tid o
r i a ) . D . Aristokratie; E . Aristocracy ; F . B p e la p a la v r a Cálculo, p o r e x e m p lo , o u
Aristocratie ; I. Aristocrazia. A rte de calcular. A e x p re ss ã o Aritm ética
SÃT« ÃÂ . A . G o v e rn o e x erc id o p o r universal (N ç ÃÇ ) s e ria c o n v e n ie n te
E I

u m a só classe so cial m e n o s n u m e ro s a d o p a r a d e s ig n a r a c iê n c ia d o s n ú m e ro s ge­


q u e o resto d a n a ç ã o , m a s c o n sid e ra d a su ­ n e ra liz a d o s, q u e r d iz er, d o s n ú m e ro s f r a ­
p e r io r em luzes o u em v irtu d e s e g e ra l­ c io n ário s, q u a lific a d o s, irracio n ais e c o m ­
m e n te h e re d itá r ia . p le x o s e n ã o Álgebra*.
B, A classe q u e ex erce este g ê n e ro d e Rad. int.: A ritrn e tik .
g o v e rn o . P o r m e tá f o r a , u m a classe re s ­
“ A R Q U E S T E T I S M O ” E . Archaes-
tr i ta , c o n s id e ra d a d e u m p o n to d e v ista
thetism.
q u a lq u e r s u p e r io r à m a s s a d a s o c ie d a d e .
N o m e d a d o p o r E . D . COPE à d o u ­
NOTA trin a (aliás b e m m ais a n tig a : ST7 E Â Â « Ç; ,
J ÃZ E E 2 Ãà , p . e x .) s e g u n d o a q u a l a se n ­
T o d o g o v e rn o , o b s e rv o u P la tã o , é
s ib ilid a d e e a v id a são a n te r io re s a o s seu s
c h a m a d o d e d u a s m a n e ira s d ife re n te s se­
ó rg ã o s e s ã o c a u sa s d o d e s e n v o lv im e n to
g u n d o se ex erce n o in te re sse d o s g o v e r­
d estes.
n a d o s o u d o s g o v e rn a n te s . Q u a n d o u m a
classe p o u c o n u m e ro s a g o v e rn a n o in te ­ A R Q U É T I P O (G . ’A gxeV uxos, m o ­
resse c o m u m , é a aristocracia; q u a n d o g o ­ d e lo o rig in a l; L . Archetypus). D . Ar-
v e rn a n o seu p ró p r io in teresse, é a oligar­ chetyp, Urbild: E . Archetyp ; F . Archéty-
quia. D a m e sm a fo r m a realeza e tirania , pe; 1. Archetipo.
e tc . A. M E I τ E . T ip o s u p re m o , p r o tó tip o
E s ta d is tin ç ã o , q u e se re d u z à d o ta u -
id eal d a s co isas. D iz-se, p o r ex em p lo , d as
d a tiv o e d o p e jo r a tiv o , p e rsiste n a u tili­
Id éias* d e P Â τ I ã Ã ; em M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E
z a ç ã o a tu a l d a p a la v r a .
as id éias d e D eu s: “ A s u a s u b s tâ n c ia é
Rad. int.: A , A ris to k ra tis m ; B . A ris- v e rd a d e ira m e n te re p re se n ta tiv a (d as c ria ­
to k r a ta r .
tu ra s ) p o rq u e e n c e rra o a rq u é tip o o u o
A R IT M É T IC A ( G . ’A p i ^ m * ) . D . m o d e lo e te r n o ... Ele vê n a s u a essên cia
Aritrnetik', E . A rithm etic ; F . A rithm éti­ as id éias o u as e ssên cias d e to d o s o s seres
que ; I. Aritmética. p o ssív eis e n as su a s v o n ta d e s a s u a ex is­
tê n c ia ...” Recherche de la vérité, livro IV ,
A , S e n tid o p rim itiv o e e tim o ló g ic o :
c a p . X I (ed . J . S im ó n , p . 97).
c ien c ia d o s n ú m e ro s in te iro s , d as su as
E m BE 2 3 E Â E à , id éias de to d a s as coi­
p ro p r ie d a d e s e d a s su as re la ç õ e s (d iv isi­
sas ta is c o m o ex istem n o p e n s a m e n to d i­
b ilid a d e , e tc .). A p a r te s u p e rio r d e sta
vin o an tes d a c riação (q u e r d izer, p a ra ele,
c iên c ia c h a m a -se Teoria dos números. a n te s d o a to p elo q u a l D eu s to r n o u as
B . C iên cia p rá tic a d o cálcu lo , q u e r d i­ su as id é ia s p e rcep tív eis a o s e sp írito s). A
z e r, d as o p e ra ç õ e s a e fe tu a r s o b re o s n ú ­ e x istê n c ia d e ste s a rq u é tip o s é o q u e a u ­
m e ro s in te iro s e as fra ç õ e s . C h a m a v a -s e to riz a a d iz e r q u e d o is e sp írito s d ife re n ­
n a A n tig u id a d e Logística , n a Id a d e M é ­ tes p e rc e b e m u m a c o isa id ê n tic a {Dialo­
d ia Á b a c o * o u A lg o r itm o * . (E ste s e n ti­ g u e s d ‘H y la s e t d e P h ilo n o u s , p . 2 5 9 ,
d o d a p a la v ra s u p õ e u m siste m a p a r ­ tr a d . B e a u la v o n -P a ro d i) . M as to m a -o
ARQUEU 88

ta m b é m p a r a d e sig n a r a s c o isas m a te ria is A rc h a e u s ex c o n n e x io n e vitalis a u ra e , ve-


e x iste n te s f o r a d o e sp írito , without the lu t m a te ria e , c u m im a g in e sem in ali, q u a e
mind, d e q u e n e g a a re a lid a d e . V . Prin­ est in te rio r n u c le u s s p iritu a lis , fe c u n d ita -
cipies, § 9 e 9 0 . te m sem ín is c o n tin e n ts .” Vτ Ç H E Â ­
B . D o p o n to d e v ista p sico ló g ico e e m ­ OÃÇI , Archaeus faber, 4 .
p íric o , em L ÃT3 E e C ÃÇá « Â Â à T : id é ia
q u e serv e d e m o d e lo em re la ç ã o a o u tr a s . A R Q U U E T Ô N I C O ( a ) (su b st. e a d j.)
D iz-se: 1 ? d a s sen sa ç õ e s e n q u a n to d a d o s G . 'ctQxiT€X70)>Uirj {.Ttxpr}), a rte d o a r q u i­
im e d ia to s re p ro d u z id o s p elas im ag en s; 2? te to . D . A rchitektonik, -isch; E . Archi-
as n o ç õ e s c o n s tru íd a s liv rem e n te p e lo es­ tectonics , -ic; F . Architectonique\ I. A r-
p írito p o r m eio de d efin içõ es, a fim d e d e ­ chitettonica, -o.
las d e p o is se serv ir p a r a c la s s ific a r o s o b ­ A . E m A2 «è ó I I E ÂE è , u m a c iên c ia é
je to s p e rc e b id o s . (C f. T τ « ÇE , De Vintel- d ita arq u ite tô n ic a re la tiv a m e n te a u m a o u ­
ligence, liv ro IV , c a p . I, 1: Id é ia s g erais t r a q u a n d o o s fin s d a s e g u n d a são s u b o r ­
q u e s ã o m o d e lo s .) L ÃT3 E , N o v o s en­ d in a d o s a o s d a p rim eira e, p o r co n seq ü ên -
saios, I I , X X X I, § 1-3. C ÃÇá « Â Â τ T , Ori­ c ia , lhe serv em d e m e io s. P . ex. a P o lític a
gem dos conhecim entos humanos, to m o é a r q u ite tô n ic a em re la ç ã o à E s tra té g ia ,
I I , seç ã o II. à E c o n o m ia , à R e tó ric a e ta m b é m à É ti­
C . E m M τ « ÇE á E B « 2 τ Ç , n u m s e n ti­ c a; a E s tr a té g ia , p o r seu la d o , é a r q u ite ­
d o p e jo r a tiv o : e n te s de r a z ã o , seres s o ­ tô n ic a e m re la ç ã o à ír n m o j e e s ta em re ­
b r e n a tu r a is , o b je to s de s u p e r s tiç ã o . In ­ la ç ã o à xáKivoTTotrfTLXij. E t. N icôm ., I .,
fluência do hábito, 2? s e ç ã o , c a p . VI (ed . 1; e A Çá 2 ò NICO, Paraphrasis, a d h u n c
T is s e r a n d , to m o I I , p . 280) e c o n c lu s ã o lo c u m . C f . É t. N icôm . V I, 8 e V II, 12.
(ibid. C f. m e sm a seção , c a p . III e c a p . V ). B . E m L E « ζ Ç« U , o q u e d e p e n d e d a s
E s te u s o d a p a la v r a e n c o n tr a r -s e -á n o u ­ c a u s a s fin a is e n ã o d a s c a u s a s m e c â n ic a s.
tr o la d o ? “ O re in o d a s a b e d o r ia , s e g u n d o o q u a l
t u d o se p o d e e x p lic a r arquitetonicamen­
CRÍTICA te , p o r a ss im d iz e r , p e la s c a u s a s f in a is .”
A d iv e rsid ad e d a s u tilizaçõ es d este te r­ Tentamen anagogicum. E d . G e r h ., V I I ,
m o m a l d e ix a s u b sis tir a tu a lm e n te a id é ia 2 7 3 . M onadologia , § 83.
v a g a d e u m modelo q u a lq u e r o p o s to às C . E m Kτ ÇI , s u b s ta n tiv o : d e sig n a a
s u a s cópias . V er c o n tu d o n o Suplem ento a r te d o s s is te m a s , q u e r d iz e r, a te o r ia d o
o n o v o s e n tid o q u e lh e f o i d a d o p o r q u e e x iste d e c ie n tífic o n o n o s so c o n h e ­
Ju n g . c im e n to e m g e ra l. {Kritik der reinem Ver-
Rad. in t. : A r k e tip . n unft, M e to d o lo g ia , I I I .)
Rad. int.: A r k ite k tu r a l.
A R Q U E U L . Archaeus.
P r in c íp io v ita l q u e p a r tic ip a d a m a ­ A R T E (L . Ars, c o n s id e ra d o c o m o o
té r ia e d o p e n s a m e n to e e x p lic a ria se g u n ­ e q u iv a le n te a d m itid o d o G . t €xvt ¡). D .
d o P τ 2 τ TE Â è Ã e J. B. V τ Ç H E Â OÃÇI o K u n st ; E . A rt; F . A rt\ I. Artre.
d e s e n v o lv im e n to d o ser v iv o . “ C o n s ta t C f. Técnica .

S o b re Arquitetônico — O § A fo i a c re s c e n ta d o a o te x to d a 1 ? e d iç ã o p o r G. Belot.

S o b re A rte — E s ta p a la v r a c o m p o r ta d o is s e n tid o s s im e tric a m e n te in v e rs o s, a


p a r t i r d e u m a r a iz c o m u m . O artifex é o h o m e m q u e e n c a r n a u m a id é ia , q u e f a b r ic a
u m ser q u e a n a tu r e z a n ã o fo rn e c e , u m artificiatum , c o m o d iz ia m o s e sc o lá stic o s
(c f. S . T o m á s , Sum m a contra Gentiles , I I I , 36). M a s o u e s ta c r ia ç ã o e s tá s u b o r d i­
n a d a a o s n o s s o s fin s p rá tic o s (nos sum us fin is om nium artificialum: omnia enim
89 ARTE*

A . E m g e ra l, c o n ju n to d e p ro c e d i­ té tic a , as o u tr a s d im a n a m d a fin a lid a d e


m e n to s q u e servem p a ra p ro d u z ir u m c e r­ ló g ica.
to re s u lta d o : “ A rs est s y ste m a p ra e c e p -
C RÍT IC A
to r u m u n iv e rs a liu m , v e ro ru m , u tiliu m ,
T e n d o o s e n tid o A en v elh e c id o sen si­
c o n se n tie n tiu m , ad u n u m e u m d e m q u e fi­
v elm en te n as ex p ressõ es artes mecânicas,
n e m te n d e n tiu m .” D e fin iç ã o c o m u m a
G τ Â ÇÃ e a R τ OZ è s e g u n d o G o c le n iu s,
E
artes liberais, e m e sm o n a o p o s iç ã o e n ­
tr e a a rte e a n a tu r e z a , p ro p o m o s c o n s a ­
125b. A a r te o p õ e -se n e ste s e n tid o : 1? à
g r a r e sp e c ia lm e n te a u tiliz a ç ã o filo só fic a
c iên c ia c o n c e b id a c o m o p u r o c o n h e c i­
d e sta p a la v r a n o s e n tid o B, q u e é d e lo n ­
m e n to in d e p e n d e n te d as a p lic a ç õ e s; 2? à
ge o m a is fre q ü e n te n o s e sc rito res c o n ­
n a tu r e z a , c o n c e b id a c o m o p o tê n c ia q u e
te m p o râ n e o s (salv o em a lg u m a s e x p re s­
p r o d u z sem re fle x ã o . A este s e n tid o
sõ es tais c o m o arte racionai [q u a n d o se
lig am -se a s e x p re ssõ e s: A rtes mecânicas:
fa la d a m o ra l], arte militar, e a in d a , m e s­
m a rc e n a ria , a r te d o e n g e n h e iro ; Belas- m o n e ste c a s o , a c o m p re e n s ã o s u b je tiv a
artes, a q u e la s n a s q u a is o o b je tiv o p r in ­ d e s ta s ex p re ssõ es é m u ita s vezes c o lo rid a
cip al é a p ro d u ç ã o d o b e lo e e sp ecialm en ­ p o r u m re fle x o d o s e n tid o B). E v itar-se -
te d o b elo p lá s tic o : p in tu r a , e s c u ltu ra , ia a ssim o e n u n c ia d o e sc o lá stic o d o p r o ­
g ra v u ra , a rq u ite tu ra , a rte d e c o ra tiv a ; A r ­ b le m a : “ Se a ló g ic a e a m o ra l sã o c iê n ­
tes liberais (o u as sete artes), d iv isã o d o s c ia s o u a r te s ” , f ó r m u la e q u ív o c a p e la
e s tu d o s n a s fa c u ld a d e s d e filo s o fia d a q u a l s ã o s e m p re p e r tu r b a d o s aq u eles q u e
Id a d e M é d ia , c o m p re e n d e n d o o trivium: se in ic ia m n o e s tu d o d a filo so fia .
g ra m á tic a , r e tó r ic a , ló g ic a , e o quadri- O sen tid o A é p ro p riam en te a técnica*.
viunr. a ritm é tic a , g e o m e tria , a s tro n o m ia , Rad. int.: A rt.
m ú sic a.
A rte * (C iê n c ia d a ) D . Kunstwissens­
B . E è é « T τ . S e m e p íte to a A r te o u
I I
chaft. T e rm o m u ito u tiliz a d o n a filo s o ­
a s A rte s d e sig n a m to d a p r o d u ç ã o d a b e ­ fia a le m ã c o n te m p o r â n e a o n d e é g eral-
leza a tra v é s d a s o b ra s d e u m ser c o n s ­ m e n te o p o s to à p a la v r a E sté tic a* (M a x
c ien te. N o p lu r a l, esta e x p re ss ã o a p lic a ­ D è è ë 2 , AZsthetik und allgemeine Kuns­
E

se s o b re tu d o a o s m e io s d e e x e c u ç ã o ; n o twissenschaft, 1906; E , U « U , Grundle­


I I

sin g u la r às c a ra c te rís tic a s c o m u n s d a s gung der allgemein Kunstwissenschaft i, 1


o b ra s de a rte . N este s e n tid o , a a r te o p õ e -
se a in d a à c iê n c ia e as a rte s à s ciên c ia s,
m a s de um o u tr o p o n to d e v ista: e n q u a n ­ 1. E stética e ciencia geral da arte. F undam ento
to q u e u m a s d im a n a m d a fin a lid a d e e s­ d a ciência geral d a arte.

propter hominis usum fiu n t ); o u ela n o s s u b o r d in a a fins id e ais e s a tis fa z , se assim


se p o d e d iz er, as n ecessid ad es n ã o u tilitá ria s : de o n d e , p o r h ib rid a ç ã o d e sta s c a r a c te ­
rístic a s p rim itiv a s d a a r te , o a sp e c to m á g ic o , s u p e rs tic io s o , id o lá tric o q u e e la to m o u
n o s p ró p r io s in ício s d a h u m a n id a d e ; d e o n d e o d e v o ta m e n to , a d e v o ç ã o d o a r tis ta
à su a o b ra ; de o n d e o c u lto m ís tic o d a a rte n o s m ais c iv iliz ad o s. (Maurice Blondel )
T a lv e z n ã o c a ib a p r o c u r a r c o m o a a r te tom ou u m a sp e c to m á g ic o e p s e u d o -
re lig io s o , se se re fle tir q u e a re lig iã o , s o b to d a s a s su as fo r m a s , é u m a d as fo n te s ,
e ta lv e z a p rin c ip a l fo n te , d a o b r a e sté tic a . “ T o d a s as a r te s ” , d iz ia L a m e n n a is , “ s a í­
ra m d o te m p lo .” A h is tó ria d a a r te g re g a , a d a a r te c ris tã , o s e s tu d o s c o n te m p o r â ­
n e o s d e so c io lo g ia a p re s e n ta m u m g ra n d e n ú m e ro de e x e m p lo s. (A. L .)
A fó r m u la “ se a ló g ic a é u m a c iên c ia o u u m a a r te ? ” d e riv a d e C τ SSIODORO, De
a tribus ac disciplinis iiberaUum litterarum. V er M τ 2 « é τ Ç , C lassif des Sciences
I

d'A ristote à St. Thomas, p p . 78 s$. C f ., a d ia n te , Lógica.


A R T IC U L A R 90

1914). M as isto re d u z in d o a E s té tic a à ( s o b re tu d o n o s e n tid o B); F . Artistique ;


a n á lis e m e ta fís ic a o u p sic o ló g ic a d o Be- I. Artístico.
io , e to m a n d o a p r ó p r ia id é ia d e B elo n o A . Q u e c o n c e rn e à a rte : “ E n s a io s o ­
seu s e n tid o m a is lim ita d o . C f . Feio. b re a a tiv id a d e a r tís tic a .” (S u b títu lo d a
N o ta r-s e - á q u e L τ Â Ã , q u e , n a F r a n ­
o b r a d e D E  τ T2 ë 7 , Psychoiogie de
ç a , re p re s e n ta u m a te n d ê n c ia a n á lo g a ,
Fort.)
c o n se rv a , p e lo c o n tr á r io , p a r a a ciên cia
g e ra l d a a r te o n o m e de E s té tic a e c o n si­ B . F e ito c o m a rte ; q u e tem u m v a lo r
d e r a q u e r c o m o anestéticas* q u e r c o m o e sté tic o . E s te s e g u n d o s e n tid o n ã o é in ­
pseudo-estéticas* as fo rm a s d e b eleza tais d ic a d o n e m p o r L « I I 2 é n em p o r D τ 2 O .
c o m o a b e lez a n a tu r a l, q u e n ã o re s u lta m e H τ I U ., m a s é m e n c io n a d o n o D ic io n á ­
d a p ro d u ç ã o a rtístic a. V er a su a Introduc­ r io d a A c a d e m ia F r a n c e s a , e d iç ã o de
tion à ( ’esthétique, 2? p a rte . 1878, q u a n d o e s ta p a la v r a fo i a c e ita p e la
p rim e ir a vez.
A R T IC U L A R (S e n tid o ) D . Gelen-
kem pfindung; E . Articular sensation ; F. CRÍTICA
Sens articulaire ; I. Senso articolare. L « I I 2 é d e s a p ro v a e s ta p a la v r a , m e s­
U m a d a s classes e le m e n ta re s d e se n ­ m o n o s e n tid o A . “ E ste n e o lo g ism o e stá
s a ç õ e s, q u e d e p e n d e ria , s e g u n d o K2 τ U- m a l c o n s tr u íd o ” , d iz ele, s u b V o: “ artís­
SE, d e te rm in a ç õ e s n e rv o s a s esp e c iais e tico s ig n ific a q u e c o n c e rn e a o s a rtis ta s ,
s e ria d e te r m in a d a p e la p o s iç ã o o u p e lo c o m o sofístico sig n ifica q u e c o n ce rn e ao s
m o v im e n to d a s a rtic u la ç õ e s . V er Cines- s o fis ta s . A v e rd a d e ir a p a la v r a s e ria ar-
tésico, Muscular. tiel .” S u p o n d o q u e ele te n h a r a z ã o , em
Rad. int.: A rtik a l(a ) sen s(o ). p rin c íp io , artístico e s tá h o je c o n s a g ra d o
A R T IF IC IA L IS M O T e rm o c ria d o p o r u m u so g e ra l.
p o r J . P « τ ; E I p a r a d e s ig n a r a c re n ç a , Rad. int.: A . A rta l; B . A rto z , a r tis t.
freq u e n te ta n to nas crian ças co m o n a A n ­
Á R V O R E D E P O R F Í R I O L . A rbor
tig u id a d e e n a Id a d e M é d ia , de q u e to ­
porphyríana (u tiliz a d a a in d a n esta fo rm a
d as as coisas fo ra m p ro d u z id a s d a m a n e i­
em a le m ã o ); e n c o n tra -s e ta m b é m Baum
ra c o m o s â o fa b ric a d o s o s o b je to s a r tif i­
des Porphyrius ; E . Tree o f Porphyry ; F .
ciais. C f. B 2 Z Çè T7 â « T; , L ’expérience
Arbre de Porphyre\ I. Scala di Porfirio.
hum aine..., c a p . X V III: “ O a rtific ia lis ­
D ia g ra m a d e s tin a d o a ilu s tr a r a su ­
m o to m is ta .”
b o r d in a ç ã o d o s c o n c e ito s e q u e fig u ra
A R T ÍS T IC O D . Kunst-, künstlich; E. co m alg u m as v arian tes de fo rm a n a m aio r
Aesthetic, artistic (B ald w in ); Artística! p a rte d a s ló g icas a n tig a s* .

S o b re a ex p re ssã o A rte p ela a rte — “ Q u a n d o C o u sin a u tiliz o u p e la p rim e ira vez,


em 1818, n a s su as a u la s n a S o r b o n n e a e x p re ss ã o arte pela arte tin h a um se n tid o
in te ira m e n te n a tu r a l: ‘É n e c e s sá ria a re lig iã o p e la re lig iã o , a m o ra l p e la m o ra l, a a rte
p ela a r t e . ’ É a p e n a s b em m a is ta rd e q u e estas ú ltim a s p a la v ra s se to r n a m o p r o g r a ­
m a de u m a e sc o la e u m te m a de d isc u s s ã o e n tre o s p a rtid o s . A c re sc e n te m o s q u e ta m ­
b ém C o m te u tiliz o u in c id e n ta lm e n te esta f ó r m u la , m a s n u m s e n tid o c o m p le ta m e n te
e x te rio r: ‘C u ltiv a r a a rte p e la p r ó p r ia a r te ’ s ig n ific a p a r a ele ‘n ã o se p r o p o r h a b itu a l­
m e n te o u tr a m e ta além de d iv e rtir o p ú b lic o ’. ” Cours de philosophie positive, VI,
167. R. E Z T3 E Ç , Les grands courants de la pensée contemporaine , p . 443. T e x to c o ­
m u n ic a d o p o r I. Benrubi.
91 A S C E T IS M O

Substância d e la s q u a n to e la p rim itiv a m e n te f o r m e ­


C orp óreo Incorpóreo n o s e n é r g ic a ...” C Z 2 è Ã , liç ã o L I , § 2.
C f. ta m b é m o te x to c ita d o m a is a tr á s n o
C orpo
a rtig o Anim alidade.
A nim ado In anim ado
Rad. int .: I n f lu .
' Vivo
Sensível N ão sensível A S C E S E D . Askese; F . Ascèse. A p a ­
la v r a n ã o p a re c e ser u tiliz a d a e m in glês
" 'A n im a l
e e m ita lia n o .
Raciona) N âo racional
M e s m o s e n tid o q u e ascetismo m as
' H om em c o m u m c a m b ia n te : ascese c o n c e rn e m e ­
n o s a o s e x ercíc io s o u à s p riv a ç õ e s m a te ­
Retira o seu nom e d a Isagoge de
ria is , e m a is à v id a in te rio r .
P Ã2
E « 2 « Ã , à qual é provável que prim iti­
vam ente estivesse ligada. “ C h a m a m o s ascese a o e s fo rç o h e ró i­
c o d e v o n ta d e q u e im p o m o s a n ó s p r ó ­
A S C E N D E N T E D . Einfluss; E . A s­ p rio s a fim d e a d q u ir ir a e n e rg ia m o ra l,
cendency; m u ito r a r a m e n te Ascendant a f o r ç a e a firm e z a d e c a r á t e r .” (S egue-
(q u e q u e r ta m b é m dizer p ro sp e rid a d e); F . se u m a a n á lis e d a s c a ra c te rís tic a s p o s iti­
Ascendant ; I. Ascendente. T e rm o p rim i­ v a s e n e g a tiv a s d a a sc e se .) D Z Tτ è , Edu-
tiv a m e n te a s tr o ló g ic o , d e o n d e o d u p lo cation du caractere, p p . 2 3 2 ss.
s e n tid o d a p a la v r a in g lesa. Rad. int.: A s k e t.
In flu ê n c ia de u m a te n d ê n c ia o u d e
u m a p e sso a q u e se ex erce em fa v o r d o A S C E T A D . A sket, Asketiler; E . A s­
s e n tim e n to d e s u p e r io rid a d e q u e e la in s­ ee tic; F . Ascète; I. Asceta, Ascético.
p ira . M u ito f r e q ü e n te em A u g u ste CÃO ­ A q u e le q u e p r a tic a o ascetismo*.
I E : “ O (p ro g re sso h u m a n o ) d ev e c o n sis­ Rad. int,: A sk e t.
tir em o b te r, a tra v é s d e u m exercício c o n ­
v en ien te das no ssas facu ld ad es, u m ascen ­ A S C E T IS M O (G . ’A axitv, exercer;
d e n te ta n to m ais m a rc a d o p a r a c a d a u m a “¿toxrjoctt t t qòs t cóvqv”, M anual de EPIC-

S o b re A sc e se — A c re s c e n ta d o p o r p r o p o s ta e in d ic a ç ã o d e Prat e de Giison.

S o b re A s c e tis m o — D o is e rro s s ã o c o m u m e n te c o m e tid o s a c e rc a d a ascese e d o


a sc e tism o . E tim o ló g ic a e o rig in a lm e n te n ã o se tr a t a d e u m rig o ris m o e m e n o s a in d a
d e u m a esp écie d e c u lto d o s o frim e n to , l í T r a ta -s e , em p rim e iro lu g a r, d a a p lic a ç ã o
d a s leis m o ra is ; c o m e fe ito , d e sd e q u e n ã o fiq u e m o s n o p u r o n a tu r a lis m o d o “ d e ix a r
c o r r e r ” , o u n o p u r o id e a lism o q u e fa z d a é tic a u m a C iê n c ia d o b e m o u d o d e v e r, sem
le v a r em c o n ta as re sistê n c ia s a u ltr a p a s s a r , o s h á b ito s a c o n tr a ir , a lei d o e s p írito
a a c lim a ta r n o s p ró p r io s m e m b ro s , é p re c iso d e s lig a rm o -n o s d o p a r a d o x o s o c rá tic o
e re c o rre r a o s m e io s de to r n a r v iáv eis e p ra tic á v e is a s ex ig ên cias d a v irtu d e , c o m o o
e x ig ia A ris tó te le s ; a ssim , a m e n o s q u e se c re ia q u e o s p re c e ito s tê m u m a e fic ác ia im e ­
d ia ta , e q u e " o e x ercício m e tó d ic o ” n ã o é in d isp e n sá v e l p a r a a c o n q u is ta d a p e ss o a
m o ra l, u m a asc e se p ro lo n g a , p o is , e c o m p le ta n o rm a lm e n te a é tic a . M esm o le v a d a
a o e x tre m o rig o r , a asce se , n a m o ra l re lig io sa e e sp e c ia lm e n te c ris tã , n ã o é a p ro c u ra
d a d o r p ela d o r (c o m o d ã o o e x e m p lo c e rto s e s ta d o s p a to ló g ic o s ); e la ta m b é m n ã o
é e ss e n c ia lm e n te e x p ia ç ã o p e n ite n c ia l e m o rtific a ç ã o serv il c o m b a se n o m e d o , m a s
é lib e rta ç ã o e c re sc im e n to d a s p o tê n c ia s s u p e r io re s , p r o v a d e a m o r e m e io d e u n iã o ,
d e s lig a n d o o h o m e m d o seu e g o ísm o , d o s seus lim ites n a tu ra is p a r a o fa z e r p a rtic ip a r
d a o rd e m d a c a rid a d e . A " v id a p u r g a tiv a ” é c o n d iç ã o in trín s e c a da “ vida ilum inati­
v a " e d a “ v id a u n itiv a ” . (Mauríce Blondel)
A S E ID A D E o u A S S E ID A D E 92

Ã
I E I , 47). D . A sketik; E . Ascetism, A s - q u e co n siste e m d iz er q u e , se h o u v esse d e ­
ceticism ; F . Ascétisme', I. Ascetismo. te rm in is m o , u m a s n o , c o lo c a d o a ig u a l
A . É « T τ . M é to d o m o ra l q u e c o n sis­
I d istâ n cia de u m b ald e de á g u a e de u m m o ­
te e m n ã o te r em n e n h u m a c o n ta o p ra z e r lh o de fe n o , m o rr e r ia de fo m e e de sede
e a d o r e em sa tisfa z e r o m e n o s po ssív el sem p o d e r d e cid ir-se .
o s in s tin to s d a v id a a n im a l o u as te n d ê n ­
cias n a tu r a is d a se n s ib ilid a d e . (E sta d o ­ NOTA
m in a ç ã o d a v o n ta d e so b re os im p u lso s es­ E x istem n u m e ro sa s v a ria n tes d e ste a r ­
p o n tâ n e o s fa z p a r te de q u a se to d a s as m o ­ g u m e n to ; n ã o o e n c o n tr a m o s , fa z n o ta r
r a is , m a s só te m o n o m e d e a sc e tism o se P r a n t l , n o s e sc rito s c o n h e c id o s d e Bu-
fo r le v a d a a o e x tre m o o u c o n s id e ra d a c o ­
r id a n , m a s p o d e r e m o n ta r a o seu e n sin o
m o o essen cial d a m o ra lid a d e .)
o ra l. A o rig e m e stá p ro v a v e lm e n te em
B . E s p e c ia lm e n te , n a m o ra l re lig io sa , A r i s t ó t e l e s , «-«el o v q o c v o v , 259b 33.
p r o c u r a d a d o r c o m o e x p ia ç ã o o u m o r ti­
C f. D a n t e , Paraíso , c a n to IV , in ício .
fic a ç ã o , ju lg a d a ú til p a r a o p ro g re s s o d a
a lm a e a g ra d á v e l a D e u s. A S S E N T A R F . Asseoir, v er Fundar.
V er Dolorismo. R e p a ra r-s e -á q u e a m e tá f o r a é a m e sm a .
Rad. i n t A s k e tis m . D iz -se, a liá s , m u ita s v e ze s, a s s e n ta r o s
fu n d a m e n to s (d e u m a te o ria , d e u m a d o u ­
A S E ID A D E o u A S S E ID A D E (L . es-
c o l. A sei tas). D . Aseitaf, E . Aseity; F . tr in a ) . C f . Assiette.
Aseite; I. Aseita. A S S E N T IM E N T O D . Fürwahrhalten
Q u a lid a d e d e u m se r q u e p o s s u i em si (K τ Ç
I ), Zustim m ung; E . Assenf, F. A s ­
m e sm o a ra z ã o e o p rin c íp io d a s u a p r ó ­
senti m enf, I. A ssenso.
p ria existência. O p õ e-se, n o s E sco lástico s,
(D e assentiri, assansio, assensus, p r i­
à p a la v r a a b a iie d a d e , abalietas , q u a lid a ­
m itiv a m e n te u tiliz a d o p a r a tr a d u z ir o G .
d e de u m ser c u ja e x istê n c ia d e p e n d e de
ovyMccTá&eois d o s e sto ic o s .)
u m o u tro .
A to d o e s p írito q u e a d e re a u m a p r o ­
A se id a d e fo i u tiliz a d o p o r ST7 Ãú E Ç -
7 τ Z 2E q u a n d o fa la d a Vontade* n o s e n ­ p o s iç ã o o u e s ta d o q u e re s u lta desse a to .
tid o em q u e e n te n d e e s ta p a la v r a . C RÍTIC A
Rad. int.: A se e s.
E s te te r m o é m a is g e ra l d o q u e certe­
“ A S N O D E B U R I D A N ” A rg u m e n ­ za: c o m p o r ta g ra u s d e q u e o s m ais fra c o s
to em fa v o r d a lib e rd a d e d e indiferença*. s ã o a s opiniões e o s m a is fo rte s as

S o b re A s s e n tim e n to — Maurice Blondel p e n sa q u e a u tiliz a ç ã o p r ó p r ia d e assenti­


mento é “ a d e in d ic a r o q u e h á d e e s p o n tâ n e o o u m e sm o d e in v e n cív el n a a d e s ã o d o
e s p ír ito a o q u e ele vê. O assensus d istin g u e -se d o consensus, q u e im p lic a u m a p a r te
d e v o n ta d e , a q u a l r e d o b r a e c o n f ir m a , m a s p o d e r ia c o n tr a d iz e r o assensus. D e sc artes
tin h a te n d ê n c ia p a r a lig a r u m a o o u t r o ” .
P o d e ser q u e e s ta d is tin ç ã o te n h a e x istid o a n te r io r m e n te e n tre assensus e consen­
sus. M as o c a m b ia n te a o q u a l e la c o rre s p o n d e j á n ã o se e n c o n tr a c e rta m e n te n a u tili­
z a ç ã o a tu a l d a p a la v r a assentiment em fra n c ê s , n e m assent em in g lês: p ro v a d is so ,
e n tre o u tr a s , a u tiliz a ç ã o q u e fo i fe ita d e s ta p a la v r a p o r N e w m a n , p elo s seu s t r a d u t o ­
res e os seu s c o n tin u a d o re s . C f. ta m b é m a u tiliz a ç ã o c o n s ta n te q u e d e la é fe ita p a r a
tra d u z ir a ovyxctTádecns d o s esto ico s, o Fürwahrhalten d e K a n t, q u e c o m p o rta m g ra u s
b em c o n h e c id o s ; assim c o m o as ex p re ssõ es c o rre n te s “ p e d ir, o b te r o a s s e n tim e n to ”
de u m c rític o , de u m a a ss e m b lé ia , de u m a a u to r id a d e , e tc . (G . Belot — L. Brunsch-
vicg — A . L.)
93 A SSIM

certezas. S u p õ e , além d o m a is , q u e a p r o ­ E m Kτ ÇI o s ju íz o s assertóricos sã o


p o siç ã o à q u a l d am o s o u recu sam o s o n o s­ aqueles em q u e a m o d alid ad e* c o rre sp o n ­
so a s s e n tim e n to n o s é a p r e s e n ta d a , d e a l­ d e à c a te g o ria de existência (d is tin ta d a
g u m a m a n e ira , d e f o r m a o b je tiv a , q u e r necessidade). S ão o s ju íz o s v erd ad eiro s de
p o r o u tre m , q u e r a tra v é s d e u m tr a b a lh o f a to , m a s n ã o n e ce ssá rio s; a q u ilo a q u e
e s p o n tâ n e o d a n o s s a in te lig ê n c ia , à q u a l se c h a m a verdades de fa to .
a p lic am o s u lte rio rm e n te a n o s sa reflex ão . Rad. int.: A s e rto ri.
V er K τ Ç , Krít. der reinen Vern., 2? p a r ­
I

te , c a p . II, seção I I I ; N E ç Oτ Ç , A n Essay A S S IE T T E F . A ssiette (sem e q u iv a ­


in A id o f a Grammar o f A ssent1, o n d e le n te s s u fic ie n te m e n te a p ro x im a d o s ): D .
ele d is tin g u e o a s s e n tim e n to c o n c e p tu a l (a p ro x im a tiv a m e n te ) Sitz: m a n e ira de es­
( notional o u conceptual assent) e o s seus ta r s itu a d o , s ito o u s e n ta d o . A p a la v ra
d iv e rso s g ra u s (p ro fis s ã o v e rb a l, c ré d ito , fr a n c e s a , d e e tim o lo g ia o b s c u r a , vem
o p in iã o , p re s u n ç ã o , a sse n tim e n to esp ecu ­ q u e r d e ad e d e situs, s itu a d o (L « 2 é ), I I

la tiv o ) d o a ss e n tim e n to real (real assent), q u e r, de p re fe rê n c ia , d o fra n c ê s asseoir


p e lo q u a l se a d e re a u m a p ro p o s iç ã o d a ­ de q u e seria o su b sta n tiv o verbal (D τ RM.,
d a c o m to d a s a s fo r ç a s d o e sp írito . H τ U . e T Ã Oτ è ). Q u a n d o a p a la v r a é
I 7

Rad. int.\ A se n t. u tiliz a d a s o z in h a , im p lic a q u a s e s e m p re


a id é ia d e u m a p o s iç ã o e stá v e l, s ó lid a ,
A S S E R Ç Ã O D . Behauptung ; E . A s ­ “ b e m a s s e n ta d a ” : “ A v o ir d e T a ssie tte ,
sertion; F . A ssertion ; I. Assezione, Asse- m a n q u e r d ’a s s ie tte , n ã o e s ta r n a s u a p o ­
verazione. s iç ã o .”
A . A firm a ç ã o * n o s e n tid o A : a to d o F o i u tiliz a d a e m m u ita s o c a siõ e s p o r
e sp írito q u e d e c la ra v e rd a d e ira u m a p r o ­ RE ÇÃZ â« E 2 , q u e fa z d e la u m a espécie d e
p o s iç ã o (u m a iexis) d e sd e q u e e s ta e s te ja te rm o té c n ic o : “ A c e rte z a é e m in e n te ­
n a s u a fo r m a , a f ir m a tiv a n o s e n tid o B o u m e n te u m a p o s iç ã o ( assiette) m o r a l...
n e g a tiv a . R e sta -n o s c o n s id e ra r e sta p o s iç ã o (assiet­
B . P r o p o s iç ã o a f ir m a d a . te) m a is d e p e rto n a s u a re la ç ã o c o m a li­
Rad. i n t A . A s e « ; B . A s e rta j . b e r d a d e .” Psychologie rationelle, 2? p a r­
te , c a p . X IV . “ O s e s to ic o s ... fizeram u m
A sse rç ão * in d e p e n d e n te — (P rin c íp io e s fo rç o m a is feliz (d o q u e E p ic u ro ) p a r a
d e ) o u m ais b re v e m e n te “ Principio de as­ e x p lic a r a s itu a ç ã o (assiette) d a c o n sc iê n ­
serção” . P r in c íp io ló g ic o assim fo r m u la ­ c ia n a c e r te z a .” fb id . , c a p . X V .
d o p o r C ÃZ Z 2 τ
I I : “ S e , n u m a im p lic a ­
ç ã o , a h ip ó te s e é v e rd a d e ir a (c a te g o ric a ­ A S S IL O G ÍS T IC A S (C o n s e q u ê n c ia s )
m e n te ), a te se ta m b é m é v e rd a d e ir a (c a ­ D . Asyllogistisclr, E . Asyllogistic; F .
te g o ric a m e n te ) e p o d e -s e a f ir m a r a b s o lu ­ Asyilogistique', I. Asillogistico.
ta m e n te (q u e r d iz er in d e p en d e n te m e n te d a C o n seq ü ên cias lógicas válid as q u e n ã o
h ip ó te s e ).” “ L es p rin c ip e s d es m a th é m a ­ p o d e m s e r p o s ta s so b a f o r m a d e u m si­
tiq u e s ” , c a p . I. Revue de ntétaph., 1904, lo g ism o re g u la r. “ E x istem co n seq ü ên cias
p . 4 8 . F o i ta m b é m c h a m a d o “ p rin c ip io a ssilo g ístic as b o a s e q u e n ã o s a b e ría m o s
de dedução” . d e m o n s tr a r c o m rig o r p o r in te rm é d io de
q u a lq u e r silo g ism o sem lh es m o d ifica r u m
A S S E R T Ó R IC O D . Assertorisch; E . p o u c o os te r m o s .” L E « ζ Ç« U , N ovos en­
Assertoric; F . Assertorique; I. Assertorico. saios , IV , X V II (ed . J a n e t , p . 445).
A S S IM D . So, also ; E . Thus, so ; F .
Ainsi; I. Cosi.
1. Ensaio d e um a contribuição p a ra um a gram á­
tica d o assentim ento. Sentido geral: sendo assim , desta m a­
neira.
A S S IM B O L IA 94

N o início das frases, ligação vaga mui­ A . F « Â Ãè . G E 2 τ Â . T r a n s f o r m a ç ã o


to utilizada em filosofía, quer para anun­ q u e v ai d o d ife re n te p a r a o s e m e lh a n te ,
ciar o resum o daquilo que precede, quer d o o u tr o p a ra o m e sm o ; o p õ e -se a dife­
para daí tirar um a consequência (form a renciação* .
enfraquecida de portanto*), quer m esm o S o b re o sen tid o m ais esp ecialm en te re ­
algum as vezes c o m o um a sim ples transi­ lig io so d e s ta a ss im ila ç ã o v e r as o b s e r­
ção. E sta utilização am pla é p o u co favo­ v açõ es.
rável para a precisão da relação entre as
B . P è « TÃÂ . A to d o e s p írito q u e a f i r ­
idéias.
m a (c o m o u sem r a z ã o ) u m a s e m e lh a n ç a
A S S IM B O L IA D . Asym bolie; E. m a is o u m e n o s e s tre ita e n tre co isas n u ­
Asymbolia; F . Asym bolie; I. Asim bolia. m e ric a m e n te d ife re n te s .
( C ria d o p o r F in c k e ln b u rg , 1870; c f. C . F « è « ÃÂ . P ro ce sso p elo q u a l a co m i­
Agnosia.) d a d ig e rid a é “ a s s im ila d a ” , q u e r d iz e r,
T e rm o g e n é ric o q u e se a p lic a a to d a s tr a n s f o r m a d a em e le m e n to s v iv o s d e u m
as p e rtu rb a ç õ e s in te le c tu a is n a s q u a is o tip o d e te r m in a d o e c o n f o r m e à n a tu re z a
s u je ito já n ã o c o m p re e n d e o s e n tid o d o s
d o ser q u e se a lim e n ta .
sig n o s o u d e c e rta s c a te g o ria s d e sig n o s:
cegueira* e surdez* verbais, amusía* (sen­ D . P e d a g o g í a . A to d e se a ss im ila r o
s o ria l), in in te lig e n c ia d o s s in a is, d a s ce­ q u e se a p r e n d e , n u m s e n tid o p ró x im o a o
rim ô n ia s o u d o s g e sto s s im b ó lic o s , etc. s e n tid o fisio ló g ic o , e q u e dele fo i r e tir a ­
D iz-se ta m b é m d a s p e rtu rb a ç õ e s n a s d o p o r m e tá f o r a . R e s u lta d o d e s te a to .
q u a is o s u je ito j á n ã o p o d e re c o n h e c e r e G e ra lm e n te o p o s to , n e s te s e n tid o , a
n o m e a r o s o b je to s q u e vê (a s sim b o lia v i­ In v e n ç ã o , p o r u m la d o e , p o r o u tr o , a
su a l), q u e to c a (a ssim b o lia tá til), etc. V er M e m ó ria p u r a e sim p le s. V er EGGER, La
A . M Ã T « , L e asimbolie , S ie n n e , 1914.
7 parole intérieure , c a p . V I, § 11.
Rad. int.: A sim b oli.
CRÍTICA
A S S IM E T R IA V er Simetria e (n o Su­ O s e n tid o g e ra l A e s tá m a l e sta b e le c i­
plem ento) Anti-simetria. d o em f ilo s o fia . H . S p e n c e r , q u e o p õ e
A S S IM I L A Ç Ã O D . Assimilation, d is s o lu ç ã o a e v o lu ç ã o , e d e s in te g ra ç ã o a
Angleichung, Verahnlichung (E i s l e r ); in te g ra ç ã o , n ã o o p õ e o te r m o a d if e r e n ­
E . Assim ilation ; F . Assim ilation ; I. A s· c ia ç ã o . P e lo c o n tr á r io , assimilação é u t i ­
similazione. liz a d a p o r ele c o m o o o p o s to d e usura,

S o b re A ss im ila ç ã o — A p a la v r a te m ta m b é m u m s e n tid o m e ta fís ic o e re lig io so .


“Omnia intendunt assimilari D e o " , d iz S. T ÃOá è (S. contra Gentiles, I I I , 19, 21).
E s te te rm o assimilado c o m p o r ta , a liá s , d u a s in te rp re ta ç õ e s m u ito d ife re n te s. P a r a
u n s , tr a ta - s e d e u m a s e m e lh a n ç a p a rc ia l e f o r m a l; as c ria tu ra s a sse m e lh a m -se m ais
o u m e n o s a D e u s q u e n ã o se a ss e m e lh a e n ã o p o d e ser a ss im ila d o a n e n h u m a : aí
a a ss im ila ç ã o n ã o é re c íp ro c a ; c o n sis te n u m a esp écie d e m im e tis m o e x trín s e c o , de
c ó p ia , de c o n fo rm is m o , q u e m u ltip lic a o s e x e m p la re s d o s seres e e x p lic a a p o ssib ili­
d a d e d o c o n h e c im e n to a tra v é s d e s ta u n iv e rs a l im ita ç ã o e s im ilitu d e s e g u n d o u m p la ­
n o id eal, de p re fe rê n c ia a u m a p a rtic ip a ç ã o o rg â n ic a . P a r a o u tro s , a a ssim ila ç ão c o m ­
p o r ta u m s e n tid o m a is p r o f u n d o , m a is v ita l, m ais e sp iritu a l: e la é in tu s s u s c e p ç ã o ,
h a b ita ç ã o , c o o p e r a ç ã o , u n iã o . U n iã o n ã o d e n a tu r e z a m a s d e a ç ã o e d e a m o r , assim
c o m p re e n d id a a a ss im ila ç ã o já n ã o é a p e n a s c ó p ia e r e p ro d u ç ã o ; e la é p r o d u ç ã o ,
sín te se , fa z e n d o d a v id a d o s seres in fin ita m e n te d iv e rso s e in fin ita m e n te so lid á rio s
u m a re a lid a d e se m p re o rig in a l e u m a c ria ç ã o c o n tín u a . (Maurice Blondel)
95 A S S O C IA Ç Ã O

p o r g e n e ra liz a ç ã o d o s e n tid o C : d e sig n a , c o n tra -s e s o m e n te e m P ie rre J a n e t u m


p o is , u m a in te g ra ç ã o e c o n s e q u e n te m e n ­ s e n tid o q u e r e p o u s a s o b re u m a m e tá f o r a
te u m a d a s fo r m a s d a d ife re n c ia ç ã o (Pri­ a n á lo g a . E le c h a m a “ a n e s te sia s p o r d e ­
meiros princípios, II , X I I , § 96). fe ito d e assimilação' ’ as q u e p ro v ê m d o
J. M . B a l d w i n , n o seu d ic io n á rio , f a to d e c e rta s sen sa ç õ e s re a lm e n te e x p e ­
a p e n a s d á à p a la v ra in g le s a assimilation rim e n ta d a s n ã o serem “ assim ilad as à p e r­
o s e n tid o A em lin g ü ístic a (Affero p o r ad- s o n a lid a d e ” , q u e r d iz e r, in c o rp o ra d a s n o
fero, alloquor p o r ad-loquor); n a p sic o lo ­ s iste m a fo r m a d o p elo s e s ta d o s c o n sc ie n ­
g ia ele in d ic a e d e sa p ro v a o seg u in te se n ­ te s. T r a ta r - s e - ia , p o is, d e u m a esp écie de
tid o d a d o a e sta p a la v ra p o r W Z Çá I : “A s­ n u tr iç ã o d o espírito, a n á lo g a à d o c o rp o
so c ia ç ã o d e id é ia s e n tre e le m e n to s e c o m ­ (P . J a n e t e m Rj c h e t , VÃ Anestesia, I ,
p o s to s sem e lh a n te s!’ R e c o m e n d a, c o m G . 510-5 11).
F. S t o u t , e n te n d e r o seg u in te p o r assim i­ P r o p o m o s , p o is , d a r à p a la v r a ex clu ­
la çã o : “ Q u a n d o se c o n s id e ra u m a o p e ra ­ s iv a m e n te , em filo s o fia , o s e n tid o A . O
ç ã o in te le c tu a l n o seu c o n te ú d o e n ã o n a s e n tid o B , q u e é m u ito c o m u m e n tr e o s
s u a fo rm a , o m o v im e n to d e c o m p o s iç ã o p sic ó lo g o s (v er n o m e a d a m e n te J a m e s
p e lo q u a l c e rto s e s ta d o s d e c o n sc iê n c ia S u l l y , The H um an M ind, 1 ,405), p o d e
(q u e s ã o a ssim ila d o s) to m a m a fo r m a d e aliás ser c o n s id e ra d o c o m o um sen c a so
o u tro s e sta d o s o u c o n trib u e m p a ra a fo r­ p a rtic u la r: o q u e e s ta v a d e in icio p re s e n ­
m a ç ã o d estes (q u e a ssim ila m o s p rim e i­ te a o e sp írito e n q u a n to su b jetiv am e n te d i­
ros)!’ É p o is u m a espécie d e u tilização m e ­ fe re n te e se to r n a s u b je tiv a m e n te sem e­
ta fó ric a d o se n tid o C , c o m p re e n d e n d o , se­ lh a n te . S e ria , c o n tu d o , ú til a s s in a la r , to ­
g u n d o o s a u to re s, a s sín teses m e n ta is p o r d a s as vezes em q u e p o s s a h a v e r d ú v id a s,
c o n tra ste , p o r fu sã o , p o r re c o n h ec im e n to , se se p re te n d e u tiliz a r o s e n tid o g e ra l o u
to d a s as asso ciaçõ es d e id éias, e tc E s ta u ti­ o s e n tid o re s trito .
liz a ç ã o e n c o n tra -s e j á em H e r b a r t , o n ­ Rad. in t . : A . S im il(esk ); B . K o m p a r;
de assim ilação é d e fin id a co m o o la d o m a ­ C . D . A sim il.
te ria l d o a to q u e p elo seu la d o fo rm a l se
c h a m a Apercepção*. A S S O C IA Ç Ã O D . Assoziation; E .
E ste s e n tid o p a re c e -n o s ser d e m a s ia ­ Association; F . Association; I. Asso-
d o m e ta fó ric o e c o n te r c o isas d e m a s ia d o ciazione.
d iv e rsas p a r a ser u tilm e n te e m p re g a d o . P s i c o l . A . P r o p r ie d a d e q u e têm os
M ais a in d a , é p reciso n o ta r q u e n u n c a foi fe n ó m e n o s p s íq u ic o s d e se a tra íre m u n s
u tiliz a d o p e lo s p s ic ó lo g o s fra n c e se s. E n ­ ] a o s o u tro s n o c a m p o d a c o n sc iê n cia sem

S o b re A s s o c ia ç ã o — D e fin iría associação c o m o a p ro p r ie d a d e q u e tê m o s fe n ô ­


m e n o s p s íq u ic o s d e se r e u n ire m n a c o n s c iê n c ia , se ja n o m esm o m o m e n to , se ja su ce s­
s iv a m e n te , e m v irtu d e d e c e rta s re la ç õ e s (c o n tig ü íd a d e , s e m e lh a n ç a , c o n tra s te ) sem
a in te rv e n ç ã o d a v o n ta d e . ( K Egger) S im , m a s c o m a c o n d iç ã o de a la r g a r m u ito a
lista d e sta s re la ç õ e s: o s te rm o s a q u i in d ic a d o s e n tre p a rê n te s e s p o r V. Egger e q u e
f o r m a r a m d u r a n te m u ito te m p o a lista c lássica d a s c a u s a s de a s s o c ia ç ã o fo ra m to ­
m a d o s de u m a o b s e rv a ç ã o d e A ris tó te le s s o b re o s m e io s p elo s q u a is v a m o s à c a ta
d as n o s sa s re c o rd a ç õ e s ( I le e i I I ; 4 5 l b 18-20) e fo i a d o ta d a c o m u m a lig e ira
m o d ific a ç ã o p o r H u m e (Ensaio sobre o entendim ento humano, I I I) o n d e ele e n u m e ­
ra c o m o ú n ic a s c au sa s d a a ss o c ia ç ã o a semelhança, a contiguidade e a causalidade,
lig a n d o -se e s ta ú ltim a , c o m o s a b e m o s , à su cessão in v a riá v e l. E s ta c la ssific a ç ã o p a s ­
so u c o m a lg u m a s v a ria ç õ e s p e la m a io r p a r te d o s tr a ta d o s d e p sic o lo g ia d o séc u lo
X IX . Mas o s trabalhos modernos q u e p u s e ra m em relevo a lei de interesse n a a sso -
A S S O C IA C IO N IS M O 96

in te rv e n ç ã o d a v o n ta d e o u m e sm o a p e ­ A . P è « TÃÂ . E m g e ra l, d o u tr in a se­
s a r d a su a re s istê n c ia . V er Indutor, Inte­ g u n d o a q u a l a a ss o c ia ç ã o * , s e g u n d o c er­
resse, Reintegração. ta s leis, d e c e rto s e sta d o s d e c o n sc iê n cia
B. G ru p o f o r m a d o em v irtu d e d e stae le m e n ta re s é o p rin c íp io g e ra l d o d e se n ­
p ro p rie d a d e p o r d o is ou m ais e sta d o s p sí­ v o lv im e n to d a v id a m e n ta l.
q u ic o s. B . E m p a rtic u la r: l f em L ó ; « Tτ ,
É c o stu m e u tiliz a r nestes dois sen tid o s te o ria e m p iris ta * s e g u n d o a q u a l os p r in ­
a fó r m u la Associação de idéias (Ideen- cípio s d ire to re s d o c o n h e c im e n to n ã o são
Association, Association o f ideas, A sso­ c o n s titu tiv o s d o e sp írito em g e ra l, m a s
ciation des idées), se b em q u e a p a la v ra s ã o fo r m a d o s n o d e c u rs o d a e x p e riê n c ia
id é ia a p re s e n te n a lin g u a g e m filo só fic a p o r a s s o c ia ç ã o de id é ia s; 2? em E è I é I « ­
u m se n tid o p u ra m e n te in te le ctu a l q u e p a ­ Tτ , te o ria q u e ex p lica o b elo p e la e v o c a ­
rece re s trin g ir a r b itr a r ia m e n te a g e n e ra ­ ç ão d e idéias a g rad áv eis asso ciad as às sen ­
lid a d e d e sta lei p s ic o ló g ic a . saçõ es d a d a s (q u e r se tra te de associações
Associação sistemática, fe n ô m e n o es­ in d iv id u a is , p . e x ., s e g u n d o J E E E 2 E à ;
tu d a d o p a r tic u la rm e n te p o r P τ Z Â 7 τ Ç q u e r se tr a te de p ro p r ie d a d e s g e ra is, p .
(L ’activité mentale et ies elements de I'es­ ex. s e g u n d o R E à ÇÃÂ á è ). V er s o b re e s ta
prit, 18), n a q u a l ele vê u m a lei f u n d a ­ f o r m a d e a ss o c ia c io n is m o Bτ Â á ç « Ç , p .
m e n ta l d a v id a in te le ctu a l (lei da associa­ 77.
ção sistemática). C o n sis te n a te n d ê n c ia Rad. int.: A ss o c ia c io n is m .
d o s e le m e n to s p s íq u ic o s p a r a se a g r u p a ­
rem e s p o n ta n e a m e n te , n ã o só se g u n d o a A S S O C IA T IV ID A D E D . Assoziati-
c o n tig u id a d e o u a se m e lh a n ç a , m a s ta m ­ vitàt; E . Associativity; F . Associativité;
b é m f o r m a n d o sín teses o rg â n ic a s , q u e I. Associatività.
tê m u m c a r á te r de fin a lid a d e in te rn a , L Ã; . P r o p r ie d a d e d e u m a o p e ra ç ã o
SÃT« ÃÂ Ã; « τ C . O e s ta d o de v id a so ­ a ss o c ia tiv a * n o s e n tid o B.
cial e n q u a n to re c o n h e c id o e q u e rid o p e ­ Rad. int.: A so c ia n te s.
los in d iv íd u o s q u e dele p a rtic ip a m . “ O fa ­ A S S O C IA T IV O D , Assoziativ; E .
to de os h o m e n s d isp e rso s serem s u b ju ­ Associative ; F . Associai if; I. Associativo.
g a d o s p o r u m s ó ... é, se se q u is e r, u m Q u e c o n c e rn e à a s s o c ia ç ã o o u q u e
a g re g a d o , m a s n ã o u m a a s s o c ia ç ã o ,” J .- consiste n u m a asso ciação . E specialm ente:
J . R ÃZ è è E τ Z , Contrato social, 1, 5. A . P è « TÃÂ . R elativ o à a sso c iaç ã o d as
D . A to de se a ss o c ia r, n o s e n tid o C . id é ia s. V er a trá s Associação, A . “ L a ç o
Rad. int.: A so c i. a ss o c ia tiv o .” E ste sen tid o é ra ro em f r a n ­
A S S O C IA C IO N IS M O D . Assozia- cês.
tionspsychologie·, E , Associationism; F. B. L ó ; . C h a m a -s e propriedade (o u
Associationnism e ; I. Dottrina deli’asso- alg u m as vezes lei) associativa de u m a o p e ­
ciazione, Associazionismo. ra ç ã o o u re la ç ã o q u a lq u e r R à eq u iv alên -

c ia ç ã o (já n o ta d a p o r H a m ilto n e p o s ta a p a r d a lei d e reintegração*) e a id éia g e ra l


d a associação sistemática n ã o p e rm ite m a re s triç ã o à e n u m e ra ç ã o a tr á s e sta b e le c id a .
V er em p a rtic u la r, H õ FFDING, Psychologie, V , B, 8, e a o b r a d e P a u lh a n c ita d a m ais
a tr á s . (A. L.)

S o b re A ss o c ia c io n ism o — V er G « á E e RlST, Histoire des doctrines économiques,


liv ro I I , c a p . I I I: “ O s so c ia lis ta s a s s o c ia c io n is ta s ” ; e P ë è è ÃÇ , Fourier, Extraits,
p . 7: “ E is o e s ta d o de a lm a q u e le v o u a o a s s o c ia c io n is m o , e , e m g ra n d e p a r te , n o s
in c lin o u a in s p ira rm o -n o s em F o u r ie r .” (M. Marsal)
97 A SSUNÇÃO

c ia fo rm a l e in c o n d ic io n a d a : A . A to de a d m itir* , n u m d o s sen tid o s


d e s ta p a la v r a .
(a R b )R c = a R (b R c)
B . P ro p o s iç ã o a d m itid a * a fim de d e­
É u m a p ro p rie d a d e d a ad ição e d a m u l­
m o n s tr a r u m a o u tr a . E s ta p a la v r a é u t i ­
tip lic a ç ã o a ritm é tic a s , d a a d iç ã o e d a
liz a d a p o r J . S . M « Â Â ( Lógica , liv ro II,
m u ltip lic a ç ã o ló g ic a s, e tc ., q u e s ã o elas
c a p . V ) p a r a d e sig n a r a s v e rd a d e ira s m a ­
p r ó p r ia s c h a m a d a s , n e ste s e n tid o , “ o p e ­
te m á tic a s q u e serv em d e p o n to d e p a r t i ­
ra ç õ e s a s s o c ia tiv a s ” .
d a p a r a o racio cín io e g e ra lm en te p a r a to ­
Rad. int.: A s o c i(a n t).
d o o p rin c íp io * {principie or assumption)
A S S U N Ç Ã O D . Voraussetzung, A n ­ d e o n d e se d e d u z e m as c o n se q ü ê n c ia s,
nahme; E . Assum ption; F . Assom ption; a b s tr a ç ã o fe ita d a s u a v e rd a d e ou d a su a
1. Assunzione. n ã o -v e rd a d e in trín s e c a .

S o b re A s s u n ç ã o — A n o ta s o b re A nnahm e fo i lig e ira m e n te m o d if ic a d a se g u n d o


u m a o b s e rv a ç ã o d e De Laguna.
A p a la v r a in g le sa assumption é u tiliz a d a e m d ife re n te s s e n tid o s , e a a m b ig ü id a d e
q u e d a í re s u lta é m u ita s vezes g ra v e :
1 ? U m a assumption é p o r vezes u m a p ro p o s iç ã o to m a d a c o m o p re m is s a n u m r a ­
c io c ín io , sem a te n d e r à q u e s tã o d e s a b e r se e la é v e rd a d e ir a o u p ro v á v e l, e m e sm o
a lg u m a s vezes s a b e n d o -s e q u e é fa ls a . A assumption é m u ita s vezes u m a sim p lific a ­
ç ã o d o s f a to s c o n h e c id o s , c o m v is ta a p e rm itir d eles r e tir a r c o n c lu sõ e s m ais fa c il­
m e n te . N e ste s e n tid o p o d e m o s a d m itir ( assume ) q u e a ó r b ita d a T e r r a é u m c írc u lo ,
e p a ra certas u tilizaçõ es os erro s q u e se in tro d u zissem dessa m a n e ira n ã o seriam grav es.
A lg u m a s v ezes, p a ra fa z er s e n tir a im p o r tâ n c ia d e u m f a to , m o s tra m o s q u a is se­
ria m as c o n se q ü ê n c ia s se o c o n tr á r io fo sse v e rd a d e iro . M a s n e ste caso seríam o s a n ­
tes lev ad o s a se rv irm o -n o s d o v e rb o to suppose e d o s u b s ta n tiv o supposition.
2? A lg u m a s vezes u m a assumption é u m a s u p o s iç ã o q u e , sem ser c o n h e c id a co ­
m o v e rd a d e ir a , te m o seu lu g a r n u m a te o ria e x p lic a tiv a . N este s e n tid o , a p a la v r a hi­
pótese é ta lv e z p re fe rív e l. E ste s e n tid o d ife re d o p rim e iro n a m e d id a em q u e a p r o p o ­
sição d e q u e se tr a ta n ã o deve ser c la r a m e n te im p ro v á v e l, o q u e lh e re tira ria to d o
o v a lo r e x p lic a tiv o .
3? A lg u m a s vezes u m a assumption é u m a p ro p o s iç ã o q u e se crê v e rd a d e ira e q u e
se a c e ita sem e sp e c ific a r n e n h u m a p ro v a em seu a p o io . E sp e ra -se q u e o a u d ito r o u
o le ito r “ c o n c o r d a r á com e sta a s s u n ç ã o ” . A p ro p o s iç ã o p o d e ser e n c a ra d a q u e r c o ­
m o e v id en te p o r si m e sm a , q u e r c o m o s u fic ie n te m e n te e sta b e le c id a p ela e x p e riê n c ia
u n iv e rsa l.
4? U m a assumption p o d e ser u m a p ro p o s iç ã o c u ja v e rd a d e é d e m o n s tra d a p o r
p ro v a s su fic ie n te s e q u e se u tiliz a p a r a explicar o u tro s f a to s , m a s q u e ela p ró p r ia
n ã o é e x p lic a d a .
A ssim , n o p rim e iro s e n tid o , a assumption p o d e se r v e rd a d e ira o u fa ls a , p ro v á v e l
o u im p ro v á v e l; n o s e g u n d o , é p re c iso q u e e la n ã o se ja c la r a m e n te im p ro v á v e l; n o
te rc e iro , ela e stá s im p le sm e n te s e p a ra d a d a s su a s p ro v a s ; n o q u a r to , é a p e n a s inex-
p lic a d a , a in d a q u e se ja a d m itid a (assumed ) c o m o e n u n c ia n d o q u a lq u e r c o isa q u e n ã o
c a u s a d ú v id a , e u tiliz a d a p a r a e x p lic a r o u tr o s fa to s . A m e sm a a m b ig ü id a d e existe
n a p a la v r a fra n c e s a A ssom ption ? {Th. de Laguna )
A p e n a s ex iste v irtu a lm e n te , p o is a p a la v r a é m u ito m e n o s u su al em fran cês d o
q u e em inglês. M as estes eq u ív o co s e n c o n tra m -se q u ase to d o s n o v erb o admitir *, a p re ­
s e n ta n d o ta m b é m g ra v e s in c o n v e n ie n te s . {A. L.)
“ A S T R O B IO L O G IA ” 98

NOTA liz a d a e m s e g u id a n o m e sm o s e n tid o p e ­


lo s e p ic u ris ta s e p e lo s e stó ic o s n o s e n ti­
1. E m B o É c io , assumptio d e sig n a a
d o d e a p a tia * , A . A tham bie (à0aqt/3úx),
m e n o r d o s ilo g is m o .
a u s ê n c ia d e m e d o , p e rte n c e à s m e sm a s
2 . ME « ÇÃÇ; u tiliz a A nnahm e (q u e se
d o u tr in a s , m a s é m u ito r a r a em fra n c ê s .
c o s tu m a tr a d u z ir p o r Assunção) p a r a d e ­
s ig n a r a m a té ria d e u m ju íz o c o n s id e ra d a A T A V IS M O D . A tavism us ; E . A ta ­
em si m e sm a e sem n o s p ro n u n c ia rm o s s o ­ vismo F . A tavism e; 1. Atavism o.
b re a q u e s tã o d e sa b e r se ela é v e rd a d e ira A . A p a r iç ã o n u m in d iv íd u o d e u m a
o u f a ls a ( = /e x ís ) . UeberAnnahmen, 1902 c a r a c te rís tic a o u d e u m fe n ô m e n o q u e os
(Z eitsch r. fu r P sy c h . u n d P h y sio l. der Sin- seu s a n c e s tra is im e d ia to s n ã o a p r e s e n ta ­
n es o rg a n e n ). Erganzungsband, 2 . E s ta ra m , m as q u e p e rte n ce u a an ce stra is m ais
u tiliz a ç ã o líga-se à d e MlLL. re c u a d o s .
Rad. in t .: P r in c ip , L ex is. M a is e sp e c ia lm e n te :
B . “ Q u a lq u e r q u e se ja a c o n s tâ n c ia
“ A S T R O B IO L O G I A ” N o m e d a d o
q u e e la (u m a ra ç a m estiça) a d q u ire n o seu
p o r R en é B 2 E I 7 EÂÃ I a o s iste m a d e
c o n ju n to , a c o n te c e q u a s e s e m p re q u e a l­
id éias q u e co n siste em c o n c e b e r a m a rc h a
g u n s in d iv íd u o s re p ro d u z e m em g ra u s d i­
d o s a s tr o s , o c re sc im e n to d a s p la n ta s , a
v e rso s, p o r vezes c o m u m a s u rp re e n d e n ­
v id a d o s a n im a is c o m o f o r m a n d o u m t o ­
te e x a tid ã o , a s c a r a c te rís tic a s de u m d o s
d o e lig a d o s p o r re la ç õ e s in te r n a s , q u e a
a n c e s tra is p rim itiv a m e n te c ru z a d o s . É is­
re g u la rid a d e d o s fe n ô m e n o s celestes d o ­
so q u e o s filó s o fo s fra n c e se s d e s ig n a ra m
m in a . “ P o r u m la d o , tu d o e s ta ria v iv o , p e la p a la v r a atavism o , a q u ilo q u e o s a le ­
m e sm o o céu e os a s tro s ; p o r o u tr o , tu d o m ã es c h a m a m ... R ückshlag .” D E Q Z τ -
e sta ria su b m etid o a leis n u m éricas, leis p e­ I2 Eτ ;
E E è , Darwin, p p . 197-198.
rió d ic a s q u e se ria m ta n to leis de n e ce ssi­ C . P re s e n ç a n u m a r a ç a d e u m a c a r a c ­
d a d e c o m o leis d e h a r m o n ia .” La pensée te rís tic a o u d e u m a f u n ç ã o q u e n ã o te m
de l ’Asie et Vastrobiologie (1938), p r e f á ­ ra z ã o d e ser n o seu e s ta d o a tu a l, m a s q u e
c io , p p . 7-8. p o d e ria ex p lic ar-se c o m o p e rs istê n c ia d e
A T A R A X IA (G . ’A ra ça ^ía ). D . u m e s ta d o a n te r io r (cão q u e a n d a e m c ír­
c u lo s a n te s d e se d e ita r; n o h o m e m , p re ­
Ataraxie-, E . Ataraxia ; F . Ataraxie; I.
sen ç a d e u m a b d u to r n o q u in to m e ta ta r -
Atarassia.
s o , q u e é im ó v el).
P r im itiv a m e n te , e m D E Oó CRITO,
Rad. int.: A ta v ism .
tra n q u ilid a d e d a a lm a q u e re s u lta d a m e ­
d id a n o p r a z e r , d a h a r m o n ia n a v id a , d o A T E ÍS M O D . A th e is m u s : E.
“ eg o ísm o filo só fic o q u e e n tre g a sem m á ­ Atheism-, F . Aihéism e\ I. Ateísm o.
g o a o m u n d o à lu ta d a s p a ix õ e s ” . R E - D o u trin a q u e consiste em n e g ar a exis­
ÇÃZ â « E 2 , Philos, ancienne, I , 262. U ti­ tê n c ia de D e u s* .

S o b re “ A s tr o b io lo g ía ” — E s ta c o n c e p ç ã o d e o rig e m p ro v a v e lm e n te c a ld a ic a
e ste n d e u -s e so b fo r m a s d iv e rsas d esd e a C h in a a té a G ré c ia , o n d e e la serv iu d e p o n to
de p a r tid a p a r a a c iên c ia p ro p r ia m e n te d ita . R ené Berthelot re s s a lta ig u a lm e n te a
in flu ê n c ia q u e e la ex erceu s o b re c e rta s id é ia s c ris tã s (ibid., c a p . V III a X ).

S o b re A te ísm o — O q u e v a ria é m e n o s o c o n te ú d o filo só fic o d e s ta id é ia d o q u e


a u tiliz a ç ã o m a is o u m e n o s m a lé v o la q u e se fa z d a p a la v r a c o n tr a ta l d o u tr in a e ta l
p e sso a . (J . Lachelier)
N ã o so m o s de o p in iã o d e q u e e ste te rm o d ev a d e s a p a re c e r d a lin g u a g e m n em m es­
m o d a d is c u s s ã o filo s ó fic a , n e m a in d a d e q u e se lh e p o s s a d a r a p e n a s u m a d e fin iç ã o
99 ATEN ÇÃ O

“ C e rtis sim u m e st, a tq u e e x p e rie n tia d o m ín io d a ciência p u ra , esta p a la v ra n ão


c o m p ro b a tu m , leves g u stu s in p h ilo so p h ia ex clu ísse n e n h u m a c re n ç a le g ítim a e
m o v e re fo rta sse in a th e ism u m , sed p len io - n ã o serv isse p a r a e n g lo b a r d o u tr in a s tâ o
res h a u s tu s a d re lig io n e m r e d u c e r e .” F . p o u c o f u n d a m e n ta d a s q u a n to as q u e p re ­
Bτ TÃÇ , D e D ignit . , liv ro I, c a p . I , § 5. te n d e n e g a r ... M a s o a te u d e c la ra d o s a ­
c rific a q u a s e s e m p re a o m a te ria lis m o e o
C RÍTIC A p a n te is ta , p o r se u la d o , v ê se r-lh e a p lic a ­
A d e fin iç ã o d e s te te rm o p o d e a p e n a s d o esse n o m e d e a te u c o n tr a o q u a l p r o ­
ser v e rb a l, v a r ia n d o o c o n te ú d o d a id é ia te s ta , N e ste s e n tid o , o a te ís m o é u m e r r o
d e a te ís m o n e c e s s a ria m e n te e m c o r r e la ­ p r o f u n d o , m o rta l p a r a a h u m a n id a d e .”
ç ã o co m a s d iv e rsas c o n ce p ç õ es p o ssív eis Lógica , 4? p a r te , c a p . L IV (3? e d ., I I ,
d e D e u s e d o seu m o d o d e e x istê n c ia . 355-3 57).
“ N e n h u m a a c u s a ç ã o ” , d iz F 2 τ ÇT 3 , E ste te r m o p a re c e -n o s p o is c o m p o r ­
“ fo i m ais p ro d ig a liz a d a d o q u e a de a teís­ ta r a p e n a s u m v a lo r h is tó ric o a ser d e te r ­
m in a d o em c a d a c a s o p a r tic u la r , d e p re ­
m o . D a n te s , e r a s u fic ie n te p a r a ser a tin ­
fe rê n c ia a u m a s ig n ific a ç ã o te ó ric a d e fi­
g id o p o r e la n ã o p a rtilh a r, p o r m ais g ro s ­
n id a ; o q u e p a r a u m é a f ir m a ç ã o d a d i­
se ira s e m e s m o ím p ia s q u e p u d e ss e m s e r,
v in d a d e p o d e ser a te ísm o p a r a o u tr o . E le
a s o p in iõ e s d o m in a n te s , a s c re n ç a s o f i­
c o n v é m , p o is , m a is p a r a a s p o lê m ic a s re ­
c iais d e u m a é p o c a .” F 2 τ ÇT 3 , Dict. des
lig io sas d o q u e p a r a a d is c u s s ã o filo s ó fi­
sc. philos . , s u b V».
c a , d e o n d e te n d e , a liá s, a d e s a p a re c e r.
S e g u n d o R ÇÃ Z â « 2 : “ A te o lo g ia ”
E E
Rad. i n t A te ism .
( e n q u a n to p r e te n s a te o r ia d e u m s e r q u e
s e ria a o m e sm o te m p o o A b s o lu to e u m a A T E N Ç Ã O D . A u fm erksa m keit ; E .
p e s s o a m o ra l) “ d e sv a n e ce -se e m p re s e n ­ Attention', F . Attention·, I. A ttenzione.
ç a d a C rític a , c u jo v e rd a d e ir o n o m e , s o b C re s c im e n to d a a tiv id a d e in te le c tu a l,
este â n g u lo , seria Ateísm o , se, lim ita d a a o q u e r e s p o n tâ n e o * , q u e r v o lu n tá r io , e d i-

e s tr ita m e n te v e rb a l. É im p o ssív e l q u e a u m a p a la v r a q u e d u r a n te ta n to te m p o o c u ­
p o u o p e n s a m e n to d o s h o m e n s n ã o c o r r e s p o n d a , m e sm o h o je , a lg u m se n tid o . D e
f a to , a p a la v r a te m d u a s s ig n ific a ç õ e s: 1? u m a sig n ific a ç ã o te ó ric a : o a te ísm o é a
d o u tr in a d o s q u e n ã o s e n te m a n e c e ssid a d e d e r e m o n ta r n a v ia d a c a u s a lid a d e e q u e
e stã o p o u c o fa m ilia riz a d o s c o m as e x p lic a ç õ e s re g re ssiv a s. É ta lv e z p e n s a n d o n isso
q u e P a s c a l escrev ia: “ Ateísm o , marca de força do espírito, mas apenas até certo p o n ­
to . ” Pensam ento , seç ã o I I I , 225; o u a in d a : “ Os ateus devem dizer coisas perfeita -
m ente claras,” Id., ibid., 221; 2? u m a sig n ific a ç ã o p r á tic a : é a a titu d e d a q u e le s q u e
viv em c o m o se D e u s n ã o ex istisse. C f. o te x to im p o r ta n te de B o ssu e t: ltH á um ateís­
mo escondido em todos os corações que se difunde em todas as ações: não se conta
com Deus para nada.” Pensamentos isolados, II . A q u i o a te ís m o n ã o c o n siste em
n e g a r a e x istên c ia d e D e u s, m a s o v a lo r d a s u a e fic á c ia s o b re a c o n d u ta h u m a n a .
E s ta s d u a s sig n ific a ç õ e s s ã o , n u m s e n tid o , in d e p e n d e n te s d a s d iv e rsa s c o n c e p ç õ e s
q u e se p o d e m te r d a d iv in d a d e , e a d e fin iç ã o d e ste te rm o n ã o v a ria n e c e s sa ria m e n te
s e g u n d o o seu c o n te ú d o . (Louis Boissé)

S o b re A te n ç ã o — H o je e u e sc re v e ria n o te x to c ita d o “ c o n c e n tra ç ã o d a c o n sc iê n ­


c ia ” d e p re fe rê n c ia a “ c o n c e n tra ç ã o d a a tiv id a d e in te le c tu a l” . (V. Egger)
A s te o ria s d a a te n ç ã o v isa m , u m a s , d a r c o n ta d o m e c a n is m o o b je tiv o q u e o c a s io ­
n a o a u m e n to c a ra c te rís tic o de p re c isã o e , em g e ra l, de ra p id e z n o s p ro c e sso s m e n ­
tais e s e n s o rim o to re s ; o u tr a s , e x p lic a r o a sp e c to s u b je tiv o , a c o n sc iê n cia d o proces­
s o , o s e n tim e n to d a a te n ç ã o . (H . Piéron)
A T IT U D E 100

re ç â o d e s ta p a r a u m o b je to o u p a ra u m q u ic o s e fa z e r b a ix a r c o rre la tiv a m e n te to ­
c o n ju n to d e o b je to s q u e , n a a u sê n c ia d es­ d o s os e s ta d o s d e c o n sc iê n c ia a p r e s e n ta ­
te fe n ô m e n o , e s ta ria m a u se n te s d o c a m ­ d o s s im u lta n e a m e n te .” J a m e s S Z Â Â à ,
p o d a c o n sc iê n c ia o u a p e n a s o c u p a r ia m The H um an M ind, I, 142. “ A a te n ç ã o
n ele u m a p a r te m ín im a . co n siste n u m e sta d o in te le c tu a l ex clu siv o
C h a m a -s e atenção espontânea (o u o u p r e d o m in a n te co m a d a p ta ç ã o e s p o n ­
atenção automática , P ie rre J τ Ç ) à q u e ­ E I tâ n e a o u a rtific ia l d o in d iv íd u o .” R « ζ Ã , I

la q u e d e riv a d e u m in te re sse a tu a l e d i­ Psychologie de Tattention , p . 9 . “ C o n ­


re to , d e sp e rta d o n o su jeito p elo o b je to a o c e n tra ç ã o d a a tiv id a d e in te le c tu a l, o u m e­
q u a l p r e s ta a te n ç ã o (a te n ç ã o d o g a to a o lh o r , d a c o n sc iê n c ia s o b re u m o b je to es­
r a t o , a te n ç ã o d a d a a u m a p e rc e p ç ã o q u e pecial su b stitu in d o p o r u m esfo rço v o lu n ­
n o s s u rp re e n d e ); atenção voluntária o u tá r io a d is p e rs ã o n a tu r a l d a in te lig ê n c ia
refletida (o u atenção artificial , T h . Ri- s o b re d ife re n te s o b je to s .” D e fin iç ã o c o ­
BOT) a q u e la q u e se a p lic a , g ra ç a s à re fle ­ m u n ic a d a p o r V. E ; ; 2 . C f . Dictionnai-
E

x ã o , so b re u m o b je to q u e n o s o ferece a p e ­ re usuel des Sciences medicales d e D E -


n as u m in te re sse in d ir e to e q u e n e c e ssita , C τ Oζ 2
7 E , V o. “ Q u a n d o a n o s sa in te li­
p o r c o n s e q ü ê n c ia , d e u m e s fo rç o v o lu n ­ g ê n cia é u tiliz a d a n o e s tu d o de um o b je ­
tá r io (a te n ç ã o d o a lu n o a u m tr a b a lh o to p a r tic u la r , q u a n d o e la é d irig id a p a r a
ú til, m a s a b o rre c id o ). este o b je to c o m e x c lu sã o d o s o u tr o s ,
A tenção sensorial e atenção motriz c o n s ta ta m o s n o n o s so e s p ír ito u m f e n ô ­
d izem -se, re s p e c tiv a m e n te , n o sen tid o la ­ m e n o p a rtic u la r q u e se d e sig n a co m o n o ­
to d a a te n ç ã o às sen sa çõ e s e d a a te n ç ã o m e d e a te n ç ã o .” P ie rr e J τ ÇE I , L ’atten-
ao s m o v im e n to s . M as estes te rm o s t o ­ tion, Dictionnaire de physiologie d e C h .
m a m u m s e n tid o e sp ecial q u a n d o se t r a ­ R«T 7 E I , I, 831.
ta de u m a to q u e deve ser e x e c u ta d o a u m N o te -s e q u e se d ev e d e f in ir a a te n ç ã o
d a d o sin al: c h a m a -s e e n tã o atenção sen­ n ã o c o m o e fe ito d a v o n ta d e , m a s c o m o
sorial à q u e la q u e é d irig id a à p e rc e p ç ã o fenôm eno voluntário , te n d o m u ito s p si­
d o sin al e s p e ra d o e atenção m otriz à q u e ­ c ó lo g o s s u s te n ta d o q u e a a te n ç ã o é a f a ­
la q u e se fix a n a p re p a ra ç ã o d o a to a exe­ c u ld a d e v e rd a d e ir a m e n te p rim o rd ia l ” e
c u ta r . q u e a v o liç ã o é p a rc ia lm e n te u m seu d e ­
se n v o lv im e n to u lte rio r , n o q u a l to d a v ia
C R ÍT IC A o p ro c e s s o p rim itiv o se d e ix a c la r a m e n te
T e n ta m o s re u n ir n a s fó rm u la s a cim a d e s c o b rir” . C τ 2 Â Ã Ç
7 I B τ è í τ Ç , “ A t-
I

o q u e têm de c o m u m as p rin c ip a is d e fi­ te n tio n e t V o litio n ” , Revue philosophi-


n iç õ es d a a te n ç ã o d e q u e c ita m o s a q u i o que , 1892, I, 357. C f . W . J τ OE è , “ Le
p o r m e n o r : “ F a c u lta s e ffic ie n d i u t in p e r- s e n tim e n td e P e f f o r t” , Crit. philos., 1880.
c e p tio n e c o m p o sita p a rtia lis u n a m a jo re m Rad. i n t A te n c .
c la rita te m c ete ris h a b e a t, d ic itu r a tte n -
A T I T U D E D . Lage, Standpunkt; E.
t i o . ” W Ã Â E E , Psychologia empírica , se­
Altitude', F . A ttitu d e ; I. A ttitudine.
ç ã o I I I , c a p . I I , p . 168. “ A fa c u ld a d e de
p r o d u z ir u m c re sc im e n to d a re p re s e n ta ­ A . F is ic a m e n te , p o s iç ã o d e u m ser v i­
ç ã o (ein en z u w a c h s d es V o rte lle n ).” v o , n a m e d id a em q u e ela é q u e r id a p o r
H 2 ζ τ 2 , Psychologie, I I , § 128. “ A
E I
ele o u , p e lo m e n o s, d e te r m in a d a sem
a te n ç ã o a p e n a s p o d e ser d e fin id a s u b je ­ c o n s tr a n g im e n to e x te r io r p e la s s u a s r e a ­

tiv a m e n te : c o n siste n u m a a tiv id a d e m e n ­ ções.


ta l q u e te m p o r e fe ito im e d ia to e sta b e le ­ B . S itu a ç ã o de p e n s a m e n to e de v o n ­
c e r, d o p o n to de v ista d a su a in te n s id a ­ ta d e , p o siç ã o a d o ta d a p o r u m e sp írito em
d e , d o seu a c a b a m e n to e d a su a p re c isã o re la ç ã o a u m p ro b le m a o u a u m a d o u tr i­
certas sensações o u o u tro s fe n ô m e n o s psí­ n a . “ A a titu d e p r a g m á tic a .”
101 A T IV ID A D E

C R ÍT IC A c a d e A tivo n o Suplem ento n o fin a l d e s ­


E s ta p a la v ra te v e d u r a n te m u ito te m ­ te liv ro .
p o , n a su a u tiliz a çã o m e ta fó ric a , u m a tô ­ A T I V A Ç Ã O D A S T E N D Ê N C IA S
n ic a n itid a m e n te p e jo ra tiv a : a titu d e exigi­ (P ie r re J τ ÇE I ), v e r m a is a d ia n te o a r ti­
d a e p o u c o sin cera o u p e lo m e n o s c alc u la ­ g o Espera.
d a p a r a p ro d u z ir so b re o u tre m u m a c e rta
A T I V I D A D E D . A ktivität, Tãttig-
im p ressão : “ U m a co isa é u m a a titu d e , o u ­
tra co isa é u m a a ç ã o ; to d a a titu d e é fa lsa
keit; fa c u ld a d e : W irkungsfähigkeit (E « è ­
 2 ); E . A ctivity (m a is a m p lo : s ig n ific a
E
e m e sq u in h a ; to d a a ç ã o é b e la e v e rd a d e i­
ig u a lm e n te ação o u conjunto de atos); F .
r a . ” D « á 2 Ã , Essai sur la peinture, c a p .
E I
Activité; I . A ttività.
I. M as e sta tô n ic a te n d e a d e sa p a re c e r n o
A . C a r a c te rís tic a d o s e r q u e é a tiv o * ,
u so fran c ês c o n te m p o râ n e o e a e x p re ssão
n o s d iv e rso s s e n tid o s d e s ta p a la v r a .
to rn o u -s e in te ira m e n te c o rre n te : e sta u ti­
B . S in ô n im o d e ação n o se n tid o D , E ,
lização liga-se, p o r um la d o , à id éia d a im ­
c o m c a m b ia n te s : ação é m a is c o n c r e ta e
p o rtâ n c ia q ue têm a ação , a escolh a, a p ró ­
te m u m a s p e c to m a is m o d e rn o ; ativida­
p ria d e cisã o n o p e n sa m e n to c ien tífico o u
de é m a is e s c o la r e m a is n e u tr a . E s ta p a ­
filo só fico ; p o r o u tr o , a o esp írito h is tó ri­
la v ra serv e, h á c e rc a d e c in q ü e n ta a n o s ,
c o , p a ra o q u a l as so lu çõ es tê m m e n o s in ­
n a m a io r p a r te d o s c u rs o s d e filo s o fia
teresse d o q u e a re lação d a s d o u trin a s co m
fr a n c e s a , p a r a d e s ig n a r o g ru p o d e fe n ô ­
o seu a m b ie n te e co m as circ u n stâ n c ias d o
m en o s p sicológicos q u e c o n stitu em a v o n ­
seu d esen v o lv im en to . A in d a q u e n ã o se
ta d e , o in s tin to , a s te n d ê n c ia s , o h á b ito
aceite u m o u o u tr o destes p o n to s d e v ista,
e o u tro s fa to s d o m e sm o g ê n ero ; s u ce d e u
a p a la v ra a in d a p e rm a n ec e c o m o u m a ex­
n e ste u so à p a la v r a vontade q u e f o r m a ­
p re ssã o ú til e difícil d e su b stitu ir p o r u m v a a n te r io rm e n te (co m sensibilidade e in­
eq u iv alen te. teligência) u m a d a s trê s divisões c o n sa g ra ­
Rad. int.: P o s tu r . d a s d a p s ic o lo g ia 1.
A T IV A (E sco la) “ C h a m a -se assim em
p e d ag o g ia a e sco la f u n d a d a s o b re o p r in ­ 1. Ver p o r exem plo o M anuel d e p h ilosoph ie de
c íp io d a e d u c a ç ã o f u n c io n a l.” (E á . C Â τ Amédée J a c q u es , Jules Si mo n , Émile Sat sset (1846).
A 4f edição (1863) traz ain da a m esm a divisão, m as
PARÈDE.) V e r Funcional, A .
contém o p rogram a de 10 de ju lh o de 1863, onde se
P a r a os e q u ív o co s d a p a la v ra “ a tiv a ” diz: “ Das faculdades d a alm a: sensibilidade, facul­
n e s ta e x p re s s ã o , v e r as o b s e rv a ç õ e s a c e r­ dades intelectuais, a tivid a d e."

S o b re A titu d e — “ H á u m a d e z e n a d e a n o s , e s tu d o u -s e so b o n o m e d e atitude
u m a m a n ife s ta ç ã o d a v id a p s íq u ic a c u jo v a lo r h a v ia s id o in s u fic ie n te m e n te a p re c ia ­
d o e m e sm o fr e q u e n te m e n te d e s c o n h e c id o . M a r b e fo i o p rim e ir o q u e , n a s s u a s in ­
v estig açõ es e x p e rim e n ta is s o b re o ju íz o (1 9 0 1 ), u tiliz o u a p a la v r a Bewusstseinlage
(p o siç ão d a c o n sciên cia), q u e d e p o is prev aleceu e n tre o s p sicó lo g o s alem ães. N a A m é ­
ric a , a d o to u -s e o te rm o e q u iv a le n te attitude, q u e se to r n o u d e u s o c o r r e n te n a q u e le
p a ís ... C o n s id e ra d a s a n a litic a m e n te , a s a titu d e s sã o fo r m a s sem m a té ria , sem c o n ­
te ú d o . .. D e u -se c o m o tip o d e atitude a d ú v id a , a c o n v ic ç ã o , a s u rp re s a , o e s p a n to ...
S e n d o a a titu d e u m a f o r m a , a p e n a s se to r n a c o g n o scív el a tra v é s d a s u a a ss o c ia ç ã o
c o m as sen sa çõ e s, a s im a g e n s, a s id é ia s, as e m o ç õ e s ... P a r a n ó s , ela é u m m o d o d a
a tiv id a d e m o tr iz .” R « ζ ÃI , La vie inconsciente et les m ouvem ents (1914), p p . 34-37.

S o b re A tiv id a d e — Th. de Laguna p re c is a o s e n tid o d a p a la v r a in g le sa activity'.


“ P o d e m o s f a l a r ” , esc re v e-n o s ele, “ d a s charitables activities de u m h o m e m e a p a ­
la v ra n e ste c aso n ã o se a p lic a a c a d a a to p a r tic u la r d e c a r id a d e , m a s às d iv e rsas d ire ­
ç õ es n a s q u a is a c a r id a d e se m a n if e s ta .”
“ A T IV IS M O ” 102

C RÍT IC A g a in e d in tu itiv e ly th ro u g h a life o f ac-


V er Ação. E s ta p a la v ra p arece im p o s ­ t i o n . ” 12 A . J. J ÃÇE è , R u d o lf Eucken, a
sível d e ser s u b s titu íd a p o r o u tro s te rm o s Philosophy o f L ife , p . 41.
m a is esp eciais e p re c iso s n a lin g u a g e m d a A T IV O D . Tatig, A ktiv; E . Active; F.
filo s o fia a tu a l. S ó p o d e ria re c e b e r d e te r ­ A ctif; I. A ttivo .
m in a ç ã o e x a ta n u m a lin g u a g e m a rtific ia l P s ic . A . Q u e e stá r e a liz a n d o u m a to
c o m s u fix o s b e m d e te r m in a d o s : “ A g a d , — A* (o p o s to a in a tiv o ).
a g a n te s , ag i ves, a g em e s; a g o f a k u lta t; la ­
B . Q u e fr e q u e n te m e n te o u de b o m
b o r , I a b o ra d , e tc.* ’
g r a d o re a liz a a to s — A * (o p o s to a p r e ­
“ A T IV IS M O ” D . Aktivismus; E . A c ­ g u iç o so ).
tivism; F . Activisme; I. A ttivism o. C . Q u e e s tá r e a liz a n d o u m a a ç ã o n o
A . “ T o m a r o lu g a r im e d ia to , e s tu d a r s e n tid o A o u n o s e n tid o B .
o p a s s a d o q u e a g e d e u m a m a n e ira d is­ D . C a p a z d e ex ercer u m a a ç ã o n o se n ­
tin ta e c o n tín u a s o b re n ó s , c o lo c a r-se n o tid o B. O p õ e -se n e ste s s e n tid o s a p a ss i­
p o n to d e v is ta d o p re s e n te é o atualismo v o . A s “ fa c u ld a d e s a tiv a s (active po-
o u , se se q u is e r , o ativismo q u e a c r e d ita ­ wers) ” , o p o s ta s p o r R e id às “ fa c u ld a d e s
m o s ju s tif ic a d o n a s in v e stig a ç õ e s m o ­ c o g n itiv a s (cognitive powers)”, c o m ­
r a is .” F . R τ Z 7 , Etudes d e morale , p . p reen d em p a r a ele o s sen tim en to s* e a a ti­
204. v id a d e , B . V e r o Suplemento.
B . E Z T 3 Ç , n o s Geistige Stromungen
E H ábitos ativos, v e r H ábito.
der Gegenwarfl , d is tin g u iu d o p r a g m a ­
I n te le c to a tiv o (intellectus agens) —
tis m o a q u ilo q u e ele c h a m a ativismo.
T r a d u ç ã o c o n s a g ra d a d e ú Ãí è ¿¡iraflijs d e
“ T h e p o s itio n E u c k e n a d o p ts is o n e o f
A ris tó te le s ( I J e e t ^vxrjs, I I I , 4 2 9 b23) e
A ctivism . In c o m m o n w ith p ra g m a tis m ,
d o p o is TTotTjTtxds d o s seus c o m e n ta d o -
it m a k e s tr u th a m a tte r o f life a n d a c tio n
r a th e r th a n o f m e re in te lle c t, a n d c o n si­
d e rs fr u itfu ln e s s f o r a c tio n a c h a r a c te ris ­ 2. " A posição adotada por Eucken é a do a ti­
vism o. C om o o pragm atism o, faz da verdade um a
tic o f tr u t h . H e d iff e r s fr o m th e p r a g m a ­
questão de vida e de ação m ais do que de puro inte­
tic p o s itio n in th a t h e c o n te n d s tr u th is lecto, e considera a fecundidade para a ação como
s o m e th in g d e e p e r th a n m e re h u m a n d e ­ um a característica essencial da verdade. Difere de­
c isio n , th a t tr u th is tr u th n o t m e re ly b e ­ la porq ue defende que a verdade é qualquer coisa
de m ais pro fundo do que a p u ra decisão hum ana,
c a u s e it is u s e f u l, th a t re a lity is in d e p e n ­
que a verdade não é verdade apenas porque é útil, que
d e n t o f o u r e x p erie n c e o f it, a n d tr u th is a realidade é independente d a experiência que dela
possam os ter, e que se obtém a verdade intuitivamen­
1. A s corren tes espiritu ais contem porâneas. te, por u m a vida de aç ã o .”

S o b re “ A tiv is m o ” — T e x to d e A . J . J o n e s c o m u n ic a d o p o r C. C. J. Webb.

S o b re A tiv o — M . Marsal o b s e rv a q u e a c o n f u s ã o é g ra n d e n a u tiliz a ç ã o d e s ta


p a la v r a : a s m e sm a s o p e ra ç õ e s d a p e rc e p ç ã o , p a ssiv a s a o s o lh o s d e R e id , e n q u a n to
c o g n itiv a s , s ã o a tiv a s a o s o lh o s d e B ira n e n q u a n to o p e ra ç õ e s .
Ed. Claparède d e n u n c ia a m e s m a c o n f u s ã o e d is tin g u e : 1? ativo n o s e n tid o d e
e s p o n tâ n e o , q u e te m a s u a o rig e m n o in d iv íd u o c o n s id e ra d o ; o p õ e -s e a o q u e v em
d e fo r a ; 2? ativo n o s e n tid o d e p ro d u tiv o , d e c a u s a d o r d e u m g a s to d e e n e rg ia . V er
n o Suplemento, n o fim d e sta o b ra , a an álise d e ta lh a d a q u e ele d eu destes dois sen tid o s.

S o b re In te le c to a tiv o — C f. R E Çτ Ç , A v e n o é s e t 1‘Averroisme, l í p a r te , c a p . I I .
(/?. Berthelot)
103 ATO

re s, p r i n c ip a lm e n te A Â E 7 τ Çá 2 E áE a p lic a-se ig u a lm e n te a o s a to s re fle x o s,


AE2 Ãá í SIτ , e x p re ssõ e s c u ja s in o n im ia é in s tin tiv o s , a u to m á tic o s , in v o lu n tá rio s ,
a liá s ju s tif ic a d a p e la p a ss a g e m c ita d a etc. A p a la v ra n o m e ia se m p re , p o ré m , es­
a tr á s . O p o e -se a vovs ir a & jn x o s , “ in te ­ ta id é ia de q u e o a to e m q u e s tã o , m e sm o
lecto p a s s iv o ” . Ibid., 4 3 0 a24. q u a n d o n ã o v o lu n tá r io n a s u a c a u s a ,
E s ta o p o s iç ã o fo i a la r g a d a em s e n ti­ a p re s e n ta u m a a p a r ê n c ia se m e lh a n te o u
d o s d iv e rs o s p e lo s filó so fo s p o s te rio re s . p e lo m e n o s a n á lo g a à q u e la d o s a to s v o ­
V er e sp e c ia lm e n te L E « ζ Ç« U , Considera­ lu n tá rio s .
ções sobre a doutrina de um espirito uni­ B . O ÇI ÃÂ Ã; « τ . O S e r e n q u a n to
versal; M τ Â ζ 2 τ ÇT HE, Rech. de la véri-
E
c o n s titu íd o p e la s u a a ç ã o . “ O a to n ã o é
té ; I I I , c a p . I I , 1. d e m a n e ira n e n h u m a u m a o p e ra ç ã o q u e
Rad. int.: A , C . A g a n t; B . A g e m ; D . se a c re sc e n ta a o ser m a s a s u a p r ó p r ia es­
A g iv . s ê n c ia .” L. L τ â E Â Â E , De ¡‘acte, liv ro I,
1. A T O D . Tat, Handlung; Tathan- c a p . IV , p . 65. E le o p õ e a ssim o a to d o ­
dlung (F « T 7 I E ) em o p o s iç ã o a Tatsache; ta d o de u m a p e rfe ita u n id a d e à p lu r a li­
n o se n tid o leg al, A kt; E . Act, Action, so ­ d a d e de a ç õ e s q u e o e x p rim e m . Ibid., li­
b r e tu d o n o s e n tid o B ; F . Acte; I. A tto. v ro I I I , c a p . X X , p . 363. V er as o b s e r v a ­
V er Ação*. çõ es.
A. P s i c . N u m ser v iv o , m o v im e n to C . É I « Tτ . A c o n te c im e n to d e v id o à
d e c o n ju n to d e m a s ia d o rá p id o p a ra ser in te rv e n ç ã o d e u m ser su scetív el d e q u a ­
perceptível co m o ta l e a d a p ta d o a u m fim . lific a ç ã o m o ra l e n ã o a p e n a s a c a u s a s fí­
S em e p íte to , d e sig n a m ais e sp e c ia lm e n te sicas: u m a to de c o ra g e m . U m a to , n e ste
a e x ec u ç ão de u m a v o liç ã o ; c o m e p íte to , s en tid o , p o d e n ã o ser u m m o v im e n to p e r-

S o b re A to — E s te a rtig o fo i c o n s id e ra v e lm e n te m o d if ic a d o e m d e c o rrê n c ia d a
d is c u s s ã o q u e o c o rre u n a sessã o d e 2 6 d e ju n h o d e 1902.
A id é ia a ris to té lic a d o ato é p r o f u n d a m e n te e s tr a n h a à filo so fia m o d e rn a . P o d e ­
r ía m o s ta lv e z to r n á - la m a is acessív el e x p re s s a n d o -a e m te rm o s d e c o n sc iê n c ia d iz e n ­
d o , p o r e x e m p lo : e s tá e m a to a q u ilo q u e é p a r a si m e sm o o u , ta lv e z , p a r a u m s u je ito
e s tr a n h o , o b je to d e p e rc e p ç ã o (n o s e n tid o le ib n iz ia n o d a p a la v r a ) . (J. Lachelier)
A to d e sig n a e sse n c ia lm e n te a q u ilo q u e f a z s e r, a q u ilo q u e s u sté m a re a lid a d e em
to d o s o s s eu s g ra u s e e m to d a s a s su a s fo r m a s . É o a s p e c to in te r io r e u n if ic a d o r d a ­
q u ilo q u e n o s re p re s e n ta m o s c o m o c a u s a o u c o m o f a to , o p rin c íp io a o m e sm o te m ­
p o re a l e fo r m a l d o q u e c o n c e b e m o s c o m o s u b s is te n te e c o m o c o g n o sc ív e l. O p r ó ­
p r io fa to é a p e n a s p e rc e b id o e m f u n ç ã o d e u m a to q u e q u e r em q u e m c o n h e c e q u e r
n o c o n h e c id o e x p rim e o u s u p õ e u m a u n id a d e o rg a n iz a d o r a . {Maurice Blondel)
A n o ç ã o d e a to te m , e m A ris tó te le s , d o is s e n tid o s p rin c ip a is (é a e s ta d is tin ç ã o
q u e fa z a lu s ã o o te x to d a M e ta fís ic a c ita d o n a le tr a E ): 1 ? O ato é o próprio exercício
da atividade e m o p o s iç ã o à p o tê n c ia d a a tiv id a d e . A ris tó te le s e sta b e le c e u m a d is tin ­
ç ã o e n tre a a tiv id a d e q u e te n d e p a r a u m o b je tiv o e x te r io r (p . ex . a c o n s tr u ç ã o ) e a
a tiv id a d e q u e é e la p r ó p r ia o se u fim (p . ex . a v isão o u o p e n s a m e n to ). M eta f ., IX ,
8; 1050a 23-2 7. É ta m b é m c o m e s ta d is tin ç ã o q u e se re la c io n a o te x to b e m c o n h e c i­
d o d a Ética a Nicômaco s o b re a tviQytia. ccxivriouxs, I I , 15; 1 154b 2 7 , o n d e A r is tó ­
teles d istin g u e a s e g u n d a a tiv id a d e d a p rim e ira c o m o o a to p ro p r ia m e n te d ito d o m o ­
v im e n to . 2? O ato é a fo rm a e m o p o s iç ã o à m a té ria . C o n s id e ra d a e m re la ç ã o à a tiv i­
d a d e a f o r m a é a s u a p o tê n c ia . A s s im , ta m b é m A ris tó te le s d is tin g u e d o is g ra u s d o
a to : é n e ste s e n tid o q u e d iz q u e a a lm a , q u e é a f o r m a c o n s titu in te d o c o rp o o r-
ATO 104

c e p tív e l, m a s p e lo c o n tr a r io u m a p a r a ­ Teívti v q ò s τ η ν evTekéxeiav.” C f. BO-


g e m , u m a in ib iç ã o * . C f . Vontade . NiTz, Index , su b Vo.
D . SÃT« ÃÂ . O p e r a ç ã o q u e tem u m F. A p a la v r a ato a p lic a -se ta m b é m a o
e f e ito leg al: u m a to ju d ic iá r io ; c o is a fe i­ m o m e n to c d e fin id o m ais a trá s e serve p a ­
ta , e sta b e le c id a , p ro d u z in d o o u p o d e n d o ra tr a d u z ir evéq yeia e hvTeXexeia n e s ta
p ro d u z ir u m c e rto r e s u lta d o ; p e ç a q u e sig n ificação q u e lhes é c o m u m : a q u ilo q u e
c o n sta ta u m fa to r em fran cês: Donner ac- é p o s to a títu lo d e f a to , a q u ilo q u e c o n s ­
te (v e rific a r le g a lm e n te ). titu i u m a d e te r m in a ç ã o p re s e n te o u u m a
2. A to , L . e sco lástico A ctas, tra d u ç ã op ro p rie d a d e efetiv a q u e se p o d e to m a r c o ­
c o n s a g ra d a d o s te rm o s a risto té lico s h tq - m o d a d a . “ ’EvtQ yeiot X éyerat τ α μ έ ν ώ ϊ
y tta e evreXexeia. Μ ί ν η σ ί ϊ it q ò s δ ν ν α μ ι ν (é o m o m e n to b d e­
E . S e n d o d a d o q u e to d a a m u d a n ç a fin id o m a is a tr á s ) r à δ ί ¿>s ο υ σ ί α I I IÃè
p o d e ser: (a) possível; (b) e n q u a n to se está r i r a ί /λ η μ .” M e ta /., Θ , 6 ; 1 0 4 8 b8.
re a liz a n d o ; (c) fin a liz a d a , a e x p re ssão em ti7E vtQ ytia p r o s y n o n y m o c o n ju n g itu r
ato a p lic a-se p rim e iro a o m o m e n to b p o r c u m iis n o m in ib u s q u a e fo rm a m s ig n ifi­
o p o s iç ã o : p o r u m la d o , a o m o m e n to a c a n t, eíòos, μ ο ρ φ ή , \ó y o $ , t ò τ ι ή v t l va i,
q u e a e x p re ssão em potência d e sig n a ; p o r ο υ σ ί α , δ τ τ β ρ τ t . ” M etaf., H , 2; 1042 ss.
o u tr o , a o m o m e n to c , q u e r d iz e r, a o ser B o n i t z , Index, su b V o. A p a la v r a ato
re a liz a d o e d u rá v e l q u e re s u lta d e ssa m u ­ n e ste s e n tid o n ã o in d ic a n e m u m m o v i­
d a n ç a . A ristó te le s d esig n a freq ü e n te m e n - m e n to n e m u m a p a s s a g e m , m a s, p elo
te (m as n e m sem p re) o m o m e n to b p o r c o n tr á r io , u m a re a lid a d e d a d a .
ív é ç y u a e o m o m e n to c p o r IvTtKtxeia. E s ta o p o s iç ã o d e s a p a re c e n as e x p re s­
V er Metafísica 0 , 8; 1050*22: “ ’E ^ e - sõ es in actu, em ato; isso c ria fr e q u e n te ­
yeta Xéyerai xocrà ró egyov xai avv- m e n te u m e q u ív o c o .

g a n iz a d o , é a primeira e n te lé q u ia d o c o r p o , s e n d o o s e g u n d o g r a u d o a to o p r ó p r io
e x ercíc io d a s e n s a ç ã o o u d o p e n s a m e n to . (De anima, I I , 1; 412*27)
P o r o u tr o la d o , q u a n d o se tr a ta d a a tiv id a d e q u e te n d e p a r a u m fim e x te rio r,
a f o r m a é p re c isa m e n te este fim e id e n tific a -s e , e m c e rto s e n tid o , c o m a p r ó p r ia a ti­
v id a d e : a c a s a , q u e é o o b je tiv o p a r a o q u a l te n d e a c o n s tr u ç ã o , c o n té m e m si a c o n s ­
tr u ç ã o . (M et ., I X , 8; 1050a 28-3 4) Q u a n to à a tiv id a d e q u e é e la p r ó p r ia o se u fim
n ã o d e ix a d e se r e la ta m b é m id ê n tic a ¿ f o r m a , d a d o q u e o in te lig e n te se c o n f u n d e
c o m o in teligív el, e o p e n sa m e n to p e rfe ito é p e n s a m e n to d o p e n s a m e n to . ( Ch . Werner)
E s ta s ú ltim a s n o ta s de W e r n e r p a re c e m re s ta b e le c e r a u n id a d e e n tre a to , e x ercí­
cio d a a tiv id a d e , e ato, fo r m a . A d is tin ç ã o c a p ita l p a re c e -m e ser a q u i a q u e la e n tre
o re a l e o p o ssív el e o s seu s d iv e rso s m o m e n to s : u m a p o s s ib ilid a d e in d e te rm in a d a ,
q u a n d o se d e te r m in a , to r n a - s e n u m ato d o g ra u m a is b a ix o , m a s e s ta esp écie de p o ­
tência atual te r m in a p o r fim n u m a r e a lid a d e q u e é o ato d o m a is a lto g ra u . O m o ­
m e n to in te rm e d iá rio é a q u e le n o q u a l a d e te r m in a ç ã o se fa z a tra v é s d a a p lic a ç ã o d e
ta l f o r m a a ta l m a té ria . E le f a z a p a r e c e r u m a n a tu r e z a que possui ta is q u a lid a d e s ,
u m v iv e n te que possui ta is fu n ç õ e s, u m a g e n te que possui ta is a p tid õ e s : é o m o m e n to
a q u e A ristó te le s c h a m a d e eÇts (habitus). É u m ato a o q u a l a in d a fa lta m a n ife s ta r-
se a tra v é s d o s e fe ito s o u d e e x erce r-se a tra v é s d a e s p e c u la ç ã o o u d a a ç ã o ; a c o isa
o u o a g e n te re a liz a m e n tã o a p e rfe iç ã o d a s u a fo r m a . E x e m p lo s: h á n o a r u m a p o s s i­
b ilid a d e in d e te rm in a d a de fo g o ; se ela se re a liz a r n u m a “ n a tu r e z a ” d e te rm in a d a te n d o
ta is q u a lid a d e s é o f o g o , m a s e s ta n a tu r e z a só é v e rd a d e ir a m e n te e la m e sm a q u a n d o
o fo g o e stiv e r n o seu lu g a r p r ó p r io ; a a lm a p õ e o c o r p o o rg a n iz a d o q u e te m a v id a
e m p o tê n c ia e m estado de viver (e la é o ato primeiro o u a enteléquia primeira), m a s
105 ATO

3. “ A to p u r o . ” 1? evtQ ytia i¡ xot$'b re tu d o d o n e u tro actum , c u jo tip o es­


aíiTtjV, e s ta d o d o D eus de A 2 « è I ó I E Â E è sen c ia l é o se n tid o C :
CMetafísica , A, 7 ; 1072 a -b ) c u ja n a tu r e ­ 1? M o v im e n to v o lu n tá rio de u m ser;
za n a d a c o n té m em p o tê n c ia e c u jo p e n ­ m u d a n ç a e n q u a n to c o n s id e ra d a em re la ­
s a m e n to é o p e n s a m e n to d o seu p e n sa ­ ç ã o a u m in d iv id u o q u e a p ro d u z (p o d en -
m e n to . (.Ibid ., 1074a34.) d o ser este in d iv íd u o u m a p e sso a m o ra l,
2? A ctu s purus , Ba co n , N ovum or- d e o n d e o s e n tid o B).
ganum , I I , 2 e 17. P ro c e s s o c u ja p o te n ­ 2? R e s u lta d o d a a ç ã o , c o isa p re s e n ­
cia d e tra n s fo rm a ç ã o é re a liz a d a c o m p le ­ te , a d q u ir id a , “ a tu a l” , d e o n d e se p o d e
ta m e n te em c a d a m o m e n to d o te m p o ; es- p a rtir c o m o de u m d a d o , q u e r seja n a te o ­
s e n c ia lm e n te , p o r c o n s e q u ê n c ia , e ta lv e z ria q u e r n a p rá tic a .
e x c lu siv a m e n te , o m o v im e n to m e c â n ic o : É d e n o ta r q u e estes sen tid o s c o rre s ­
“ A c tu s siv e m o tu s .” (Ibid., 1, 54.) p o n d e m c o m b a s ta n te e x a tid ã o às d u a s
g ra n d e s d iv isõ es q u e A 2 « è I ó I E Â E è e s ta ­
CRÍTICA belece n o s sen tid o s d e z v i ñ e t a (ver a trá s
V ê-se p o r a q u ilo q u e p re c e d e de q u e F ) e q u e se a p lic a m ig u a lm e n te a o s d o is
fo n te s m ú ltip la s d e riv a a u tiliz a ç ã o q u e s e n tid o s d e Ôvvatus, s e g u n d o BÃÇ« I U ,
fa z e m o s h o je d a p a la v ra a to . P o d e -s e d i­ Index , s u b V°, 2 0 6 a). N ã o se deve e sq u e ­
zer, c o n tu d o , q u e e sta p a la v r a a p re s e n ta cer c o n tu d o q u e estes d o is sen tid o s tê m
a p e n a s n a lin g u a g e m c o n te m p o râ n e a fr e q iie n te m e n te re a g id o u m s o b re o o u ­
d u as g ran d es classes de sig n ificação : u m a tr o e p ro d u z id o c o n ce p ç õ es in te rm e d iá ­
q u e se liga a o la tim actus e c u jo tip o es­ rias o u c o m p ó sitas q u e n ã o co rresp o n d em
sen cial é o s e n tid o A ; a o u tr a d e riv a s o ­ a n a d a d e s ó lid o .

o p ró p r io ex ercício d a s fu n ç õ e s d a v id a é u m a to m a is e le v a d o ; h á n o ser a n im a d o
u m a p o tê n c ia sen sitiv a in d e te rm in a d a q u e o c a ra c te riz a ; ela d e te rm in a -se p o r ex em ­
p lo em fu n ç ã o v is u a l (oi^ts), a q u a l p o r s u a v e z se ex erce e d á lu g a r a u m a v isão de
f a to ( o g tm s ) ; h á n o fe rro u m a p o tê n c ia in d e te rm in a d a d e c o r ta r ; ela é d e te rm in a ­
d a n a fig u ra d o m a c h a d o , m a s a p e rfe iç ã o d o a to d o m a c h a d o é o in s ta n te em q u e
ele c o rta ; h á n o h o m e m u m a p o tê n c ia in d e te rm in a d a d e a p re n d e r ta l c iê n c ia o u ta l
té c n ic a ; e sta p o tê n c ia d e te rm in a -se a tra v é s d e u m a in s tru ç ã o a p r o p r ia d a e d e u m s a ­
b e r o u u m a c a p a c id a d e , m a s ta l a p tid ã o só é p le n a m e n te a tu a l q u a n d o se ex erce.
E is p o r q u e o m o v im e n to é um ato , m a s u m ato imperfeito, o ato d a q u ilo q u e e s tá
em p o tê n c ia e n q u a n to p re c isa m e n te isso e s tá em p o tê n c ia ; e m re s u m o , u m a “ re a li­
d a d e ite r a tiv a ” , a re a lid a d e da passagem à re a lid a d e d a f o r m a a c a b a d a . (L . Robin)
E m Kτ ÇI , em F « T7 I E , as p a la v ra s Tat e s o b r e tu d o Tathandlung s ã o u tiliz a d as
n o s e n tid o B e im p lic a m s e m p re a id é ia d e lib e rd a d e . (Xavier Léon — F. Rauh )
O se n tid o C n ã o é e s tr a n h o à filo so fia ? (M. Bernès) É b a s ta n te p ró x im o d o de
eVreXe'xetoí, e in flu i p o r a ss o c ia ç ã o s o b re as o u tra s u tilizaçõ es filo só fic a s d a p a la v ra .
N esse a sp e c to su g ere n ã o so m e n te a id éia d e u m a a ç ã o A , m as ta m b é m de u m a a çã o
q ue p ro d u z um re s u lta d o , q u e c ria u m real: “ P re fe rir o s a to s às p a la v ra s, e tc .” (A . L .)

S o b re A to e A tiv id a d e — “ P o d e -se p e r g u n ta r o p o rq u ê de se u tiliz a r a p a la v ra


ato q u e p a re c e d e sig n a r se m p re u m a o p e ra ç ã o p a rtic u la r e lim ita d a , d e p re fe rê n c ia
à p a la v r a atividade q ue d esig n a a p o tê n c ia m e sm a d e o n d e d e riv a m to d o s os a to s.
H á a í u m a q u á d ru p la ra z ã o , q u e s e rá c o m p re e n d id a m u ito ra p id a m e n te p o r to d o s
aq u eles q u e te n h a m a p re e n d id o a sig n ific a ç ã o d a n o s sa a n á lise : é q u e a p a la v r a ativi­
dade é a b s tr a ta , e n q u a n to q u e a p a la v r a alo é c o n c r e ta (ele é a essên cia d a a tiv id a d e
A T Ô M IC O 106

P a r a os d ife re n te s c a m b ia n te s de A to W Z 2 U , Histoire des doctrines chimi-


I

n o p rim e iro s e n tid o , c f. Açâo. ques, p . 40. C f . P 2 2 « Ç , Les atomes


E

Rad. ¿ni.: A . B . (A ç ã o ): A g ; C . A k t; (1913).


D . A g ; E . A k tu a l. A n o ta ç ã o a tô m ic a é a n o ta ç ã o q u e
s u b s titu i a n o ta ç ã o p o r e q u iv a le n te s d e
A T Ô M IC O D . A tom istisch ; E . A to-
W ÃÂ Â τ è I ÃÇ , c o m v ista a p ô -la d e a c o r ­
mic\ F . Atom ique; I. A tóm ico.
d o co m a h ip ó te s e d e A â Ã; 2 τ á Ã . C f.
R elativ o ao s á to m o s , q u e tem a c a ra c ­
Molecular.
te rís tic a d e u m á to m o o u q u e é fo r m a d o
d e á to m o s . “ P e s o a tô m ic o ,” “ A e s tru ­ B. P o r a n a lo g ia , te o ria q u e a d m ite
t u r a a tô m ic a d a e le tric id a d e .” (v irtu a lm e n te ) “ á to m o s p s íq u ic o s ” . V er
V er a s c ita ç õ e s de W . J a m e s n o Su­ Á to m o , D .
plem ento. (O b se rv a ç õ e s s o b re A to m is­ N u m s e n tid o a in d a m a is m e ta fó ric o ,
mo* psicológico.) c h a m o u -s e “ te o ria a tô m ic a d a S o c ie d a ­
d e ” à q u e a ju lg a c o m p o sta de in d iv íd u o s,
T e o ria a tô m ic a — D . Atomenlehre, ú n ic a c o isa re a l, em o p o s iç ã o à te o ria
A to m istik ; E . A tom ic theory; F . Théo- “ o r g â n ic a ” , o u “ o r g a n ic is ta ” , q u e d á
rie atomique ; 1. Teoria atómica. m ais re a lid a d e a o to d o . E sta s ex p ressõ es,
A. C h a m a -s e a ssim , n a Q u ím ic a , à h i­de c a r á te r s o b re tu d o p o lê m ic o , n ã o sã o
p ó te se d e fin id a p o r Dτ Â I ÃÇ . “ E le su p ô s fa v o rá v e is à p re c isã o d o p e n s a m e n to .
q u e os c o rp o s e ra m fo r m a d o s p o r p e q u e ­
A T O M IS M O D . Atom istik', E . A to ­
n as p a rtíc u la s in d iv isív eis a q u e c h a m o u
m ism ; F . Atom ism e; I. A tom ism o.
á to m o s . A e s ta n o ç ã o a n tig a e v a g a ele
d e u u m s e n tid o p re c iso a o a d m itir , p o r A . D o u tr in a d o s filó so fo s q u e s u s te n ­
u m la d o , q u e p a r a c a d a esp ecie d e m a té - ta m q u e a m a té ria é f o r m a d a p o r áto­
r ía os á to m o s p o ssu e m u m p e so in v a r iá ­ m os *, n o s e n tid o A , c u ja s p ro p r ie d a d e s
vel e, p o r o u tr o la d o , q u e a c o m b in a ç ã o e n g e n d ra m p o r c o m p o s iç ã o to d o s o s fe ­
n ô m e n o s d o s c o rp o s sen sív eis.
e n tre d iv e rsa s esp écies d e m a té ria re s u l­
t a n ã o d a p e n e tr a ç ã o d a s u a s u b s ta n c ia , B . T e o r ia c o rp u s c u la r d a m a té ria
m a s d a ju s ta p o s iç ã o d o s seu s á to m o s .” (B Ã à Â , D τ Â Ã Ç , e tc .) C f. J τ ; ÇÃ Z 7 ,
E I

q u e é ela p r ó p r ia a p e n a s o n o m e g e n é ric o d o s a to s p a rtic u la re s ); a p a la v r a atividade


e x p rim e a p e n a s u m a p o s s ib ilid a d e , e n q u a n to q u e a p a la v r a ato e x p rim e u m a c a b a ­
m e n to ; a atividade te ria n e c e s sid a d e d e u m a b a lo e x te rio r a e la p a r a se ex erce r e n ­
q u a n to q u e o ato é g e ra d o r d e si m e s m o ; a atividade a p e la p a r a o seu c o n tr á r io , q u e
é a p a s s iv id a d e , m as o ato n ã o tem c o n tr á r io , d e ta l m o d o q u e o s a to s n ã o d ife re m
u n s d o s o u tr o s e n q u a n to a to s , m a s ju s ta m e n te p e la m is tu ra d e a tiv id a d e e d e p a ssiv i­
d a d e à q u a l eles se p o d e m r e d u z ir .” L . L τ â Â Â , D e 1’acte , liv ro I, c a p . I, p . 13.
E E

S o b re as p a la v ra s A to, Ação, Atividade, Agente, v e r o e s tu d o d e R . B o u v ie r n a


Revue de synthèse, to m o X I I I (1 937), p p . 191-197.
S o b re A tô m ic o — A to m á -la à le tra , a s e g u n d a p a r te d a fra s e d e W u rtz c ita d a
n o te x to s e ria in e x a ta . H á u m a esp é c ie d e c o n fu s ã o r e s u lta n te sem d ú v id a de u m a
re d a ç ã o d e m a s ia d o r á p id a : a q u ilo a q u e W u rtz q u e r o p o r a te o ria d e D a lto n n ã o
é so m e n te o a to m is m o a n tig o (o n d e j á se a d m itia q u e o s c o m p o s to s re s u lta m d a ju s ­
ta p o s iç ã o d o s seu s á to m o s ), m a s a te o ria to ta lm e n te d ife re n te d o s mistos, o n d e se
a d m itia u m a c o m b in a ç ã o m a is ín tim a d o q u e a sim p les a d iç ã o . ( R . Berthelot)
V er ta m b é m n o Suplemento as o b s e rv a ç õ e s de Rene' Berthelot s o b re a u tiliz a ç ã o
d a s e x p re ssõ es “átom os p s íq u ic o s ” (n o s e n tid o D ) e “ a to m is m o p sic o ló g ic o ” .
HI7 A TO M ÍST ICO

Histoire de Ia chimie, 1? p a rte , cap. I, II: n h a d ito das suas M ó n ad as q u e elas eram
“ A to m ism o ” . os “ v e rd ad eiro s á to m o s d a n a tu re z a ”
C h am a-se, p o r ex ten são , atomismo {Monadologie, th . 3), e sta a p ro x im a çã o
matemático o u pitagórico à d o u trin a q ue freq ü e n te m en te p e rtu rb a m u ito o s espí­
co m p õ e a m ateria de p o n to s in extensos rito s que a in d a n ã o co n h ecem bem a su a
considerados com o centros de fo rça (p o n ­ d o u trin a e sugere-lhes associações de
to s d e B oscovich); atomismo metafísico, idéias m u ito e n g a n a d o ra s.
o m o n ad ism o * de LE « ζ Ç« U ; atomismo Rad. int .: A to m ism .
psicológico, a d o u trin a segundo a q ual to ­
dos os fen ó m en o s p síq uicos se re d u z i­ A T O M ÍS T IC A D . Atomistik; E . A .
ria m , em ú ltim a análise, às co m b in açõ es Atom istic theory; B. Molecular physics;
de elem en to s sim ples o u m esm o a a g re ­ F. Atomistique", I. Atomística (?).
g ad o s de um elem en to ú n ico e in d e fin i­ A . S in ô n im o de a to m ism o , so b re tu ­
d a m en te rep etid o (p o r ex em p lo , n a te o ­ do n o se n tid o B. (A p a la v ra alem ã A to ­
ria d o s choques n erv o so s de Sú E ÇTE 2 ). mistik parece ter geralm ente este sentido.)
V er m ais a d ian te Átom o, D . C f. as o b ­ B. Física dos áto m o s. “ Se atribuirm os
servações so b re esta p a la v ra e o A p é n d i­ à m a té ria a e s tru tu ra in fin itam en te g ra ­
ce no fim deste Iivro. nulo sa q u e os resu ltad o s o b tid o s em A to ­
CRÍTICA m ística su g erem ... verem os m odificarem -
A expressão atomismo matemático ou se m u ito sin g u larm en te as p o ssib ilid ades
pitagórico (diz-se a in d a alg u m as vezes de um a aplicação rig o ro sa d a co n tin u id a­
atomismo dinâmico ) tem o d u p lo d e fe i­ de m a te m á tic a à re a lid a d e .” J . P 2 2 « Ç ,
E

to de desviar m u ito a p a lav ra d o seu sen ­ Les atomes, p re fá cio , p . X II.


tid o original e ain d a de estar em d e sa c o r­ Rad. int.: B. A t o m i s t i k .
d o com o fa to h istó rico de que a d o u tr i­
na em questão foi precisam ente o p o sta ao A T O M ÍS T IC O D . Atomistisch; E. A .
B. Atomistic; B. Atomistical; F . Atomis­
ato m ism o restrito, no sentido B. Atomis­
mo metafísico , fala n d o de L eib n iz, tem tique; 1. Atomístico.
tam bém grandes inconvenientes, pelo m e­ A . S in ô n im o de a tô m ico * .
nos no en sin o d a filo so fia: em b o ra ele B. Q u e p ro fessa o ato m ism o * .
m esm o, com seu espírito de ecletism o, te­ Rad. int.: A to m a l, ato m ism .

S obre A to m ístico — V er no fim deste livro os ap ên d ices já m en cio n ad o s a trá s .


René Berthelot co m u n ica-n o s ad em ais (a p ro p ó sito da p a la v ra “ atômica ” u tilizad a
p a ra desig nar um a filosofia social) um tex to inglês re tira d o d o Times Literary Sup­
plement de 16 de ag o sto de 1923, p. 539. 0 a rtig o é a n ô n im o , seg u n d o o uso inglês.
“ T h e in d u strial re v o lu tio n h ad been bu t o ne asp ect o f th e atomic p h ilo so p h y th a t
by th e beginning o f the n in eteen th cen tu ry had p erv ad ed alm o st th e w hole o f English
life ... T h e econom ics o f co m p etitio n a n d laisser-faire, th e eth ics o f p riv a te pleasu re
a n d p ain , th e psycholo gy o f ‘a sso c ia tio n s’ reducin g even th e m in d to a co llo catio n
o f disconnected id eas, w ere all p a rts o f a d rift to w ard s d isin te g ra tio n ... T he first h alf
o f th e new cen tu ry saw m any e ffo rts to su b stitu te c o rp o ra te an d o rg an ic fo r in d iv i­
d u alist s ta n d a rd s .” 1 “ O in teresse d e sta p assag em ” , acrescen ta R ené B 2 E- I 7 E

1. “ A revolução industrial foi apenas um dos aspectos desta filosofia ‘atômica' que, no inicio do Stic.
XIX, se tinha estendido à quase totalidade da vida inglesa... A economia política da concorrência e do la ts s e r -
f t i i r p , a moral do prazer e da dor individuais, a psicologia da associação, que reduz o próprio espirito a uma
justaposição de idéias independentes, tudo fazia parte de um movimento geral no sentido da desintegração..
A primeira mciudc do século seguinte assistiu a numerosos esforços para substituir às formas de ideal indivi­
dualistas formas dc ideal corporativas e orgânicas.”
A TOM O 1 08

Á T O M O (G . aTo/ xos, in d iv isív e l; L, reações q u ím ic a s e q u e sã o to d o s q u a li­

Individuum corpus, L U C R EC IO ). D . e E. ta tiv a m e n te id ê n tic o s (n a m e d id a d o s n o s ­

Atom \ F . Atóme; I . Atom o. sos m e io s d e o b se r v a ç ã o ) para u m m es­

A . S e n tid o p r im itiv o (L E Z C« ú Ã, D - E
m o co rp o sim p le s. D iz -se v u lg a r m e n te

n este se n tid o , “ á to m o q u ím ic o ” . V er
Oó T2 « I Ã , Eú « TZ 2 Ã , LZ T2 E T« Ã ): e l e m e n ­
Teoria atômica.
to s d e m a té r ia a b s o lu ta m e n te in d iv is ív e is
E sta c a r a c te r ístic a d e in d iv is ib ilid a d e
e d e u rn a p e q u e n e z tal q u e n ã o p o d e m ser
e d e im u ta b ilid a d e r e la tiv a s n ã o e x c lu i e v i­
p e r c e b id o s se p a r a d a m e n te . E le s s ã o , se ­
d en tem en te n em a p o ss ib ilid a d e d e u m a
g u n d o D e m ó c r ito , etern os, in v a r iá v e is,
a n á lise u lte r io r , n e m a de u m a d eco m p o
h o m o g ê n e o s e n tr e si, a p e n a s d ife r in d o p e ­
siç ã o físic a q u e se r e a liz a d e fa to e m cer­
la s s u a s f o r m a s , a s su a s p o s iç õ e s e o s se u s
tos casos. V er Molécula.
m o v im e n to s. “ N ã o p od em e x istir á to ­
C . P o r e x te n s ã o , a p a la v r a átomo foi
m o s , q u e r d iz e r , p a r te s d o s c o r p o s o u da
a p lic a d a , h á u m a d ezen a de a n o s, a cer­
m a te r ia q u e s e ja m p o r su a n a tu reza in d i­
to s e le m e n to s físic o s c o n s id e r a d o s c o m o
v is ív e is .” D E è Tτ 2 I E è , Princípios, II, 20. fin ito s, d e s c o n tín u o s , in d iv isív e is e r e p e ­
B . S e n tid o m od ern o: e le m e n to s m a ­ tid o s n u m g r a n d e n ú m e r o d e e x e m p la r e s

te r ia is q u e se c o n s e r v a m se m a lte r a ç ã o n a s se m e lh a n te s: c h a m a m -s e a ssim átomos de

l.OT, “ é o d e n o s m ostrar o term o ‘f ilo s o f ia a t ô m ic a ’ u tiliz a d o p a r a d e s ig n a r , a o m es­


m o tem p o , co m o a p lic a ç õ e s d e u m p r in c íp io c o m u m , u m a te o r ia so c ia l e u m a teo ria

p sic o ló g ic a . E sta u tiliz a ç ã o d o term o n ão é rara n o s filó s o fo s in g le se s c o n te m p o r â ­

n eo s e testem u n h a a in flu ê n c ia e x e r c id a sob re e le s (p r in c ip a lm e n te p or in te r m é d io

d o h e g e lia n ism o ), ta n to p ela lin g u a g e m , c o m o p e la s id é ia s, d a F ilo s o fia r o m â n tic a

a le m ã d os co m eço s d o séc. X I X .”

L. Brunschvicg é d e o p in iã o q u e c o n v ir ia reservar Atomística (s u b s t.) p a r a a físi­

ca d o s á to m o s (n o se n tid o B , o n d e e s ta p a la v r a p e r d e u o s e n tid o o r ig in a l d e e le m e n ­

to in d iv is ív e l e a b s o lu t o ), d e s ig n a n d o Atom ismo a m e ta físic a d o s á to m o s (n o se n ti­

d o A , o n d e o v a lo r o rig in a ! d a p a la v r a é m a n tid o ).

S ob re Á to m o — Á to m o a p a r e c e q u a s e s e m p r e n o p lu r a l n o s te x to s a n tig o s : ά τ ο ­

μ ά , α τ ο μ ο ι ο ΰ σ ίο α , e n c o n tr a m -se p r im e ir o n o s fr a g m e n to s d e D e m ó c r ito ; n ã o se sa ­

b e se esta e x p r e ssã o foi u tiliz a d a a n te r io r m e n te p or L e u c ip o . V er Z E «I . E 2 , Philos.


des grees, 1, 7 7 2 , n o ta 1 (tra d . fr ., II, 289).

“ O s n o s s o s á t o m o s a tu a is e r a m ch a m a d o s p or A v o g ra d o , o seu v e r d a d e ir o p a i,

‘m o lé c u la s e le m e n ta r e s ’, e a s n o s s a s m o lé c u la s , ‘m o lé c u la s c o n s titu in te s ’ p a r a o s c o r p o s

s im p le s e ‘m o lé c u la s in te g r a n te s ’ p a r a o s c o r p o s c o m p o s t o s . D u m a s u tiliz a v a in d ife ­

ren tem en te as ex p ressõ es moléculas, átomos e partículas, p e r m u ta n d o freq u en tem en te

estes term o s n u m a m e sm a frase p o r m o tiv o d e e u fo n ía ... A d istin ç ã o a b so lu ta en tre

o á to m o e a m o lé c u la , se b em q u e n itid a m e n te fo r m u la d a p o r A v o g r a d o , a p e n a s foi

d e fin itiv a m e n te c o m p r e e n d id a e a d o ta d a p e lo s q u ím ic o s c in q u e n ta a n o s m a is tar­

d e .” L E C 7 τ I E ,
Molécules, atom eset notations chimiques, e m “ Les
 «E 2 P r e fá c io a

classiques de la Science” . V e r A v o g r a d o , Essai d ’une maniere de determiner les mas-


ses relatives des molécules élémentaires des corps ( 1 8 1 1 ) , r e p r o d u z i d o n o m e s m o
v o lu m e .
N o s c ie n tista s m o d e r n o s a id é ia d e in d iv is ib ilid a d e d e s a p a r e c e fr e q ü e n te m e n te d e

m o d o c o m p le to n o se n tid o B: o s q u ím ic o s d o in íc io d o sé c u lo X I X fa la m sem escrú ­

p u lo d e “ m e io - á t o m o ” , p o r e x e m p lo , J .-B . D u m a s, cita d o em HÃ E E E 2 , Histoire de


la physique et de la chimie, p. 5 47. {A. L.)
109 A T R IB U IÇ Ã O

eletricidade a o s e l é t r o n s ; átomos de ener­ lei segu n d o a qual se p rod u z este m o v i­

gia o u átomos de ação ( n o s e n t i d o C d a m en to . “ A a tr a ç ã o u n iv e r sa l.” “ A s atra­

p a l a v r a a ç ã o * ) a o s quanta * d e P l a n c k ; ções e r e p u lsõ e s e lé tr ic a s.”

e t c . “ O s quanta a p a r e c e m - n o s c o m o á t o ­
B . T e n d ê n c ia in te rn a , c o n sid e r a d a c o ­
m o s d e e n e r g i a . ” H , P Ã « ÇT τ 2 é , Derniè- m o ca u sa d a a tra çã o o b se r v á v e l. “ É m u i­
res pensées ( 1 9 1 3 ) , p . 1 8 2 . A p a l a v r a to im p o r ta n te sab er se é p o r im p u lso o u
“ á t o m o ” , n e ste se n tid o , n ã o é n u n c a u ti­
por atra çã o que o s co rp o s c e le ste s a g e m
liz a d a is o la d a m e n te , e n ã o d e v e sê -lo , se
u n s so b r e o s o u tr o s , se é a lg u m a m a té r ia
q u ise r m o s e v ita r os e q u ív o c o s.
su til e in v isív e l q u e o s im p e le , o u se e ste s
D . F i n a l m e n t e , p o r a n a l o g i a , c h a m a c­ o r p o s s ã o d o t a d o s d e u m a q u a l i d a d e e s ­

ra m -se átomos psíquicos aos e le m e n to s c o n d id a e o c u lta p e la q u a l e le s se a tr a e m


q u a lita tiv o s in d iv is ív e is d e n a tu r e z a m e n ­ m u tu a m en te. O s filó so fo s estã o d iv id i­
ta l, p e lo a gru p am en to d o s q u a is se r ia m d o s: o s q u e s ã o p e lo im p u ls o c h a m a m -se
fo r m a d o s, se g u n d o certa s e sc o la s, o s e s­ impulsionistas, e os p a r tid á r io s d a atra­
tad os p síq u ic o s c o m p le x o s. ção alracionistas." E Z Â 2 ,
ch a m a m -se E

Lettre à une princesse d ’AHemagne, L I V .


N OTA SOBRE O S E N T ID O D
C. P è « TÃÂ . P or m etá fo ra , a rra sta ­
N em L o c k e , nem M ili, n em T a in e
m en to esp o n tâ n eo d o ag en te em d ir e ç ã o
u tiliz a m esta exp ressão, que foi c r ia d a ,
a um ser o u a u m fim d o q u a l se d iz q u e
co m o a con tece fr e q u e n te m e n te , p o r c r í­
o “ a tra em ” . “ A atra çã o d a g ló r ia .”
tic o s c o n tr á r io s à m a n e ir a de ver d e le s.
“ N e w t o n ... d e t e r m in o u a s le is d a a t r a ç ã o
C f. Atomismo, B , e a d i ç ã o a este a rtig o
m a te r ia l, e eu a da atração amorosa d e
n o Suplemento.
q u e n en h u m h o m em a n te s d e m im tin h a
Rad. int.\ A t o m .
a b o r d a d o a te o r ia .” F ÃZ 2 «E 2 , Lettre au
A T R A Ç Ã O Anziehung, Attrak-D . Grand-Juge (em BÃ Z 2 ; «Ç , Fourier, p .
tion; E . Attraction·, F . Attraction·, I . At- 73).

trazione. Rad. int . : A tra k t.

A . F en ô m en o físic o q u e c o n siste em
1. A T R IB U IÇ Ã O (J u íz o o u p r o p o si­
q u e d o is o u m a is c o r p o s , a b a n d o n a d o s a
çã o d e). V er Atributiva.
si m e s m o s sem im p u lso in ic ia l, se a p r o ­

x im a m um d o o u tr o . F o r ç a m e c â n ic a c o n ­ 2. A T R IB U IÇ Ã O (A n a lo g ia d e) V er

sid e r a d a co m o a exp ressão n u m é r ic a da Analogia, C r ític a .

S ob re A tra çã o — É tie n n e G e o ffr o y S a in t-H ila ir e p ro p õ e ch am ar “ atração de si


por si" u m a lei u n iv e r s a l o u u m a e sp é c ie d e c h a v e a p lic á v e l à in te r p r e ta ç ã o d e to d o s

os fen ô m en o s d a filo so fia n a tu r a l. E la e stá no seu e sp ír ito d e s tin a d a a su b stitu ir t o ­

d a s a s e x p lic a ç õ e s v ita lis ta s . T o d a m o lé c u la d irig e-se se m p r e p a r a o u tr a m o lé c u la d a

m esm a ord em , em v ir tu d e d a q u ilo q u e o u tr o s c h a m a r a m afinidade e G e o f f r o y S a in t-

H ila ir e afrontamento. S ó a a tr a ç ã o d ir ig e o m u n d o e G eo ffro y esten d e a to d o o sis­

te m a d o s seres o s p r in c íp io s q u e N e w to n tin h a im a g in a d o p a r a a e x p lic a ç ã o d o m u n ­

d o p la n e tá r io : “ Natura semper sibi consona." O n a tu r a lis ta , d iz e le , c h e g a in e v ita ­

v e lm e n te a e sta s c o n c e p ç õ e s o u s a d a s to d a s a s v e z e s e m q u e n ão se r e d u z e le p r ó p r io

a o p a p el su b a lte r n o d e "descritor". V e r Études progressives d ’un naturaliste ( 1 8 3 5 ) ,


ú ltim o estu d o : “ L ei u n iv e r sa l (a tr a ç ã o d e si p o r s i) o u c h a v e a p lic á v e l à in te r p r e ta ­

Notions synthétiques, histori­


ç ã o d e to d o s o s fe n ô m e n o s d e filo s o fia n a tu r a l” ; e c f.

ques et physiologiques de philosophie naturelle ( 1 8 3 8 ) , n o t . p p , 4 , 2 5 , 3 0 , e tc . ( Louis


Boisse)
A T R IB U T IV A u n

A T R I B U T I V A ( P r o p o s i ç ã o ) D . At tri­ g e r a lm e n te q u e estes m o d o s o u q u a lid a ­

bu tiver (Satz); E . Attributive (proposi­ d e s e stã o n a su b stâ n c ia , a p e n a s o s c o n s i­

tion); F . Attributive (proposition); I . A t ­ d era n d o c o m o as d ep e n d ê n c ia s d esta

tribut iva (proposizione). su b stâ n c ia , c h a m o -lh e s atributos.” DE è ­


P r o p o siç ã o q u e a fir m a ou n ega u m a Tτ 2 I E è , Principios, I, 5 6 . “ P er a ttrib u -

q u a lid a d e d e u m su je ito , por o p o siç ã o tu m in te llig o id , q u o d in te lle c tu s d e s u b s ­

ran to à p r o p o siç ã o c o n c e b id a co m o d e­ ta n c ia p e r c ip it, ta n q u a m eju sd em essen-

com p osta n u m su je ito * e n u m p r e d ic a d o * tia m c o n s titu e n s .” Eè ú « ÇÃè τ , Ética, I,

(c o m p r e e n d e n d o a có p u la * ) q u a n to à p r o ­ D ef. 4.

p o siç ã o fo r m a d a p o r d o is te r m o s u n id o s D iz -se p a r tic u la r m e n te d os atributos


por u m a relação*. S i n ô n i m o d e proposi­ de Deus*.
ção de inerência*, n o s e n t i d o B (L τ T7 E - CRÍTICA
LIER). C f . Inerência, Predicação.
N o se n tid o A , é p r e c iso d istin g u ir o
Rad. int . : A t r i b u t i v .
atributo ( o q u e e s t á l i g a d o a o s u j e i t o p e ­
A T R IB U T O D . Attribut; E . Attribu­ l a c ó p u l a é, n o s e n t i d o c l á s s i c o d e i m p l i ­
te; F. Attribut ; I. Attributo. c a ç ã o ) d o predicado, e n t e n d i d o g e r a l m e n -

A . LÃ; . D iz -se de to d a c a r a c te r ísti­ te p e lo s ló g ic o s m o d ern o s n u m se n tid o

ca en q u a n to a fir m a d a ou n egad a d e um m a is a m p io (o que é a fir m a d o d o su je i­

su je ito . V er Predicado, B , e Predicação, to ). P or e x e m p lo em : “ O h o m em é m a ­

A . “ O a tr ib u to d e um a p r o p o siç ã o a fir ­ m ífe r o ” , mamífero é a tr ib u to ; e m “ O h o ­

m a tiv a n ã o é d e n e n h u m m o d o a fir m a d o m em p en sa” , pensa é p r e d ic a d o . M a s esta

seg u n d o to d a a su a e x t e n s ã o , se e la fo r, d istin ç ã o n ã o está b em e sta b e le c id a .

p or si m esm a , m a io r d o q u e a d o su je i­ Rad. int.: A tr ib u t.

t o .” Logique de Port-Royal, II, cap .


A T U A L D . Aktuell ( WirkUch d e sig ­
X V II.
n a s o b r e tu d o a id é ia d e r e a lid a d e ); E . Ac-
D isse -se o u tr o r a , n esse se n tid o , atri­ tual; F . Actuel; I. Atiuale.
butos dialéticos p a r a d e sig n a r o s “ cin c o
A . Q u e está em a to , n o s se n tid o s D
u n iv e r sa is” : o g ên ero , a e sp é c ie , a d ife ­
e E , em o p o siç ã o a o q u e está em p o ten ­
rença, o p r ó p r io e o a c id e n te .
c ia e q u e se d e sig n a p or v ir tu a l* ou p o ­
B . N u m s e n t id o m a is r e str ito , m a s q u e
te n c ia l* . A e n e r g ia * atu al o u c in é tic a é
n ão p erten ce p r o p r ia m e n te à lin g u a g e m
a q u e la q u e c o n siste n u m a força v iv a ; a
filo s ó fic a : p r o p r ie d a d e ca r a c te r ístic a o u
en e r g ia p o te n c ia l c o n siste n u m esta d o n o
sig n o d istin tiv o d e u m a c o isa .
q u a l n ã o d isc e r n im o s m o v im e n t o p e r c e p ­

C . M E I τ E . C a r a c te r ístic a e sse n c ia l d e tív el (e n e r g ia q u ím ic a , e n e r g ia c o m id a n o

u m a su b stâ n c ia * . “ Q u a n d o p en so m a is siste m a d e d o is c o r p o s im o b iliz a d o s q u e

S o b re A tr ib u to — D e $ ig n a m -se ta m b é m a lg u m a s v ezes so b o n o m e de atributos


dialéticos o s “ q u a tr o u n iv e r sa is” d e A r istó te le s o u , m a is e x a ta m e n te , a s q u a tr o es­

p é c ie s de p r o p o siç õ e s o u d e q u estõ es q u e e le d istin g u e nos Tópicos, I, cap . IV :

“ híXTtov 6è Ti oQos , rí lòiov, rí yevos, f í ovtißtßrjxos.” 1 0 1 b3 8 ss. E le s fiz e r a m

p r o v a v e lm e n te n a scer o s c in c o u n iv e r sa is d e P o r fír io , m a is c o n h e c id o s, e q u e tiv e ­


ram um im p o r ta n t e lu g a r n a e s c o lá s tic a : y evos, eiòos, ÒLa<poQá, l õl ov , ovnßtßi)H0s.
(J. Lachelier)
A exp ressão atributos de Deus é p r o v a v e lm e n te a o r ig e m d a u tiliz a ç ã o q u e E sm

ÇÃ è τ faz d este term o . V er G . T . R«T 7 I E 2 , Spinoza’s Philosophische Terminologie


(L e ip z ig , 1 9 1 3 ), p . 2 6 , e a s p a ss a g e n s d o s e s c o lá s tic o s , te ó lo g o s , e tc ., c ita d a s e m n o ­

ta. (C . C . J. Webb)
11 A URA

se r e p e le m o u se atraem segu n d o u m a cer­ to s so n s e certa s c o r e s, lo c a liz a d a s h a b i­

ta le i). t u a lm e n te p o r e la s m a is o u m en o s v a g a ­

m en te n o s o b je to s so n o r o s q u e o s p r o v o ­
B . P resen te, q u e e x iste o u se faz n o
cam .
m o m en to em q u e d e le se fa la .
Rad. int.: A u d .
C S e n tid o d iv e r so : “ G r a ç a a tu a l” e m

te o lo g ia o p õ e - s e a g r a ç a h a b itu a l; “ p e c a ­ A U R A (L . M esm a p a la v r a nas q u a ­

d o a tu a l” a p eca d o o rig in a l; “ v o n ta d e tro lín g u a s).

a tu a l” a v o n ta d e p o te n c ia l; “ in te n ç ã o A . T e r m o a p lic a d o a p r in c íp io s su tis,

a t u a l” a in te n ç ã o v ir tu a l. L « I I 2 é , s u b V o. o u m e s m o se m im a te r ia is , q u e in te r v ê m n a

Rad. iiU.: A k tu a l. v id a . Bτ TÃÇ c h a m a a o s e sp ír ito s a n im a is

“ aura c o m p o sita ex fla m m a et aere” .


A T U A L IS M O V er Ativismo, A .
Historia vitae et mortis, E d . E l i . e S p e d d . ,
I I , 2 1 5 . Aura vitalis d e s i g n a e m Vτ Ç
A T U A L IZ A Ç Ã O Actualizing;
D . E .
H Â OÃ Ç o p r i n c i p i o v i t a l ; aura semina-
F . Actualisation; I. Attualizzazione. E I

F a to d e to rn a r a tu a l, n o se n tid o A , d e
lis u m p r i n c í p i o n ã o m a t e r i a l , o u p e l o m e ­
n o s in v isív e l, lig a d o à sem en te q u e p ro ­
fazer passar d a p o tê n c ia a o ato.
d u z a o r g a n iz a ç ã o d o feto .
Rad. int.: A k tu a lig .
B . N a p a to lo g ia : p r o p r ia m e n te , se n ­
A U D IÇ Ã O Hören', E . Audition,
D .
s a ç ã o s u b je tiv a d e u m a c o r r e n te d e ar o u
Hearing·, F. Audition·, I . Udizione. de u m v a p o r e le v a n d o -$ e d o co rp o p ara
F u n çã o d o se n tid o d o o u v id o .
a cab eça: p r ó d r o m o d a s cr ise s e p ilé tic a s.
A audição colorida (D . farbiges H ö­
C R ÍT IC A
ren) é a a sso c ia ç ã o fix a q u e u m gran d e

n ú m ero de p essoas e sta b e le c e en tre cer­ E sta p a la v r a foi u tiliz a d a p or exten -

S ob re A tu a l — O In g lê s c o n s e r v o u n o a d je tiv o actual e n o a d v é r b io actually u m

se n tid o ao m esm o tem p o m u ito u su al e m u ito p r ó x im o d o se n tid o a r isto té lic o . (7 .


LacheUer)
E n co n tra m -se ta m b ém a lg u n s tr a ç o s e m fr a n c ê s fo ra d a u tiliz a ç ã o p r o p r ia m e n te

filo s ó fic a : “ Será b o n d a d e de um p r ín c ip e : 1? dar a cem m en sa g e ir o s ta n to d in h e ir o

q u a n to o n e c e ssá r io p ara u m a v ia g e m d e d u z e n ta s lé g u a s ... 4? a p r isio n a r atualmente


o ite n ta e o ito d e s s e s m e n s a g e ir o s d e s d e q u e e le s v o lt a s s e m ? e tc .” B a y l e ,Respostas
às perguntas de um provincial, c a p . 9 4 , c i t a d o e m L « ζ Ç « U , Teodicéia, § 1 6 1 . C o m - E

TE ta m b é m u t i l i z a atualidade c o m o s e n t i d o d e r e a l i z a ç ã o e f e t i v a : “ E s t e m e i o . . . n ã o

p o d e r i a n u n c a c o m p o r t a r t o d a a atualidade n e c e s s á r i a p a r a q u e e l e p u d e s s e s e r i n t e i ­

r a m e n t e s u f i c i e n t e . . . ” ( T r a t a - s e d a m e d i ç ã o d o t e m p o p e l a p o s i ç ã o d a s e s t r e l a s . ) Cours

de philos. positive, 2 0 ? l i ç ã o . {A. L.)


S ob re A u d iç ã o — A s q u a lid a d e s d isc e r n ív e is na sen sação a u d itiv a são: 1? a in­
tensidade d o s d o s r u í d o s ; 2 ? a altura o u t o n a l i d a d e d o s s o n s , p o r v e z e s d i s ­
son s ou

so c ia d o s; 3? o timbre d o s s o n s o u d o s r u í d o s , a t u a l m e n t e d e c o m p o s t o e m q u a l i d a d e s
m a i s s i m p l e s , clareza ( s o n s c l a r o s e s u r d o s ) , volume ( s o n s a m p l o s e f r a c o s ) e , p a r a

c e r t o s a u t o r e s , vocalidade ( q u e s e r i a u m a q u a l i d a d e p r ó p r i a , i r r e d u t í v e l , d a s d i f e ­

r e n t e s v o g a i s ) . ( / / . Piéron)

N o q u e c h a m a m o s timbre, n ã o d e u m s o m p u r o m a s d e u m r u í d o o u d e u m i n s ­

tr u m e n to d e m ú s ic a , é c o n v e n ie n te lev a r e m con ta ta m b ém a c o m p le x id a d e d o s so n s

p r o p r ia m e n te d ito s q u e se p rod u zem sim u lta n e a m e n te (a co rd es c o n so n a n te s o u d is­


son an tes, h a r m ô n ic o s). ( A . L.)
A U SÊ N C IA 112

são co m u m se n tid o m u ito v a g o . A p lic o u - ta çã o às cir c u n stâ n c ia s.

se: 1? a to d a s as sen sa çõ es e a to d o s os Rad. int.: D istr a k t.

m o v im e n to s ilu só r io s q u e se p rod u zem

nas c r ise s n e r v o s a s ; 2? a to d o s os sin to ­


A U T Ê N T IC O (d o G . avBévrr¡s, q u e

a ge co m a u to r id a d e , o u q u e é fe ito por
m a s in ic ia is d a h iste r ia e d a e p ile p sia (v er

so b r e esta s d u a s u tiliz a ç õ e s B a l d w j n , p.
Authentisch. echt ; E . Au­
si m e s m o ). D .

92); 3? em p a r tic u la r c h a m o u - s e aura in­ thentic, authentical·, F . Aulhentique·, I .


telectual (H Z ; 7 Â « Ç; è Jτ T3 è ÃÇ , Brain,
Autentico.
ju lh o d e 1888) ao fen ô m en o d e paramne­ A . N o se n tid o p r ó p r io , d iz -se d e um

sia*', d esig n a ç ã o ta n to m a is in a d m issív e l d o cu m e n to o u de u m a o b ra q u e em a n a


q u a n to este fe n ô m e n o n ã o a p resen ta ne­ r e a lm e n te d o a u to r a o q u al sã o a tr ib u í­
n h u m a lig a ç ã o p a r tic u la r c o m as d oen ças d os. O p õe-se a suposto, falso. “ U m R em ­
n ervosas a c im a c ita d a s. brandt a u tê n tic o .”

1. A U S Ê N C IA Abwesenheir,
D . E. B. E sp e c ia lm e n te , e m D«2 E «I Ã : d iz -se

Absence\ F. Absence; I . Assenza. d e u m a a ta e sc r ita , a fim d e fa zer fé, p o r

C a r a c te r ís tic a d o q u e n ã o es tá n u m lu ­ um o fic ia l p ú b lic o o u m a g istr a d o c o m p e ­

g a r o u n u m su jeito d e te rm in a d o , e n q u a n ­ ten te. (A ta n o tá r ia , ata d o esta d o c iv il,

to q u e a su a p re s e n ç a nesse lu g a r o u n es­ ju lg a m e n to , e tc .)

se s u j e i t o é c o n s i d e r a d a c o m o n o r m a l , c o ­ C . N o s e n tid o c o r r e n te e v a g o : le g íti­
m o h a b itu a l o u , p elo m e n o s , c o m o re a li­ m o; o r ig in a l; sin c e r o ; co n fo r m e c o m a
z a d a em o u tra s circ u n stâ n c ia s. su a a p a r ê n c ia , q u e m e r e c e o n o m e q u e se
Tábua de ausência. V e r Tábua. lh e d á ; a lg u m a s v e z e s a té , p o r e x t e n s ã o ,
Rad. int.: A b s e n t . v e r d a d e ir o . “ U m a n o tíc ia a u tê n tic a .”

2. A U S Ê N C IA D . Zerstreutheif, E . V er a a n á lise d o s v a r ia d o s s e n tid o s d a d o s

Absent-mindedness, Abstraction\ F . A b­ a e sta p a la v r a n a lite r a tu r a c o n t e m p o r â ­

sence; 1. Distrazione. nea (P a u l V a lé r y , M a r c e l P r o u st, A n d r é

Pè « TÃÂ . F o rte d istra ç ã o m o m e n tâ n e a G id e ) e m Eè â , Études philosophiques


I E E

t o r n a d a se n s ív el p o r u m a f a l t a d e a d a p ­ sur ¡ ‘expression litteraire, p p . 1 2 3 - 1 2 9 .

S o b r e A u sê n c ia — A id é ia d e a u s ê n c ia é im p o r ta n te e m p sic o lo g ia e n ã o fo i a in ­

da su fic ie n te m e n te e x p lic a d a até a g o ra . N a r e a lid a d e , há u m a conduta da ausência


q u e é um d o s p o n to s d e p a r tid a d a n o ç ã o d o te m p o e d a n o ç ã o d o p a s s a d o . A c o n d u ­

ta d a a u s ê n c ia co m p o rta u m a certa fo r m a d a c o n d u ta d a esp era , c o m u m a a g ita ç ã o

e sp e c ia l por d e r iv a ç ã o . (Pierre Janet) C f. Espera.

S ob re A u tê n tic o — C erta m en te q u e u m d o cu m e n to a u tê n tic o n ã o é u m d o c u ­

m en to v e r íd ic o ; sã o d o is v a lo r e s d istin to s, q u e é n e c e ssá r io n ão c o n fu n d ir , e o se­

g u n d o p r e v a le c e s o b r e o p r im e ir o . M as n o ca so de u m q u a d ro o u dc u m a jó ia “ a u ­

tê n tic o s” , o se n tid o é q u e e le s tê m d e fa to to d o o v a lo r q u e p arecem ter, q u e n ã o

d e c e p c io n a r ã o q u a n to à r iq u e z a q u e p ro m etem . N este se n tid o , o e p íte to n ã o p o d e r á

a p lic a r -se u tilm e n te a o p en sa m en to e às p essoas? A p e s s o a sin c e r a m o s tr a -s e ta l c o ­

m o a c r e d ita ser; a p essoa a u tê n tic a tal c o m o é p ro fu n d a m en te. “ A fé q u e n ã o a ge


é u m a fé sin c e r a ? ” C e r ta m e n te , s o b r e tu d o a n te s d e a q u e s tã o lh e ter s id o p o sta ; m a s

n ã o é u m a fé a u tê n tic a . A a u te n t ic id a d e se r ia o lim ite p a r a o q u a l te n d e a sin c e r id a d e


q u a n d o e la é a co m p a n h a d a de sin c e r id a d e em r e la ç ã o a si m e s m a , q u e p ressu p õe

b em m a is d o q u e a in tr o sp e c ç ã o im p a r c ia l: o e stu d o d a c o n d u ta , a c o e r ê n c ia d o s a to s

e d o s p en sa m en to s. O q u e P ascal rep rova em E p ic te to e V a lé r y em P ascal é u m a


certa “ in a u te n tic id a d e ” . (M. Marsal)
113 A U T O M Á T IC O

CRÍTICA A U T O M Á T IC O ( d o G . avrogaTov,

O sen tid o C n ã o é ac o n selh áv el, nem ver m a is a d ia n te). D . Automatisch; E. Au­


d o p o n to d e v ista d a p re c is ã o d a lin g u a ­ tomatic, F. Automatique; I . Automático.
g e m , n e m d o p o n to de v ista d a e tim o lo ­ A , E tim o ló g ic a m e n te , d iz -se d o s m o ­
g ia. “ A e x p r e s s ã o autêntico, t o m a d a d a v im e n to s c u ja c a u sa é in te r io r a o ser q u e
lin g u a g e m ju d ic ia l..., a p e n a s se re la c io ­ se m o v e , c o n sid e r a d o c o m o um tod o p ra­
na com a proveniência e n ã o c o m o con­ tic a m e n te iso la d o . U m a r e g u la ç ã o é c h a ­
teúdo'. d i z e r q u e u m d o c u m e n t o é a u t é n ­ m a d a automática s e r e su lta r d a s p r ó p r ia s
tic o é d izer a p e n a s q u e a s u a p ro v e n ie n ­ v a r ia ç õ e s q u e e la te m p o r o b je to co rr ig ir .
c ia é c e rta , n ã o q u e o seu c o n te ú d o seja “ D iz -se freq ü en tem en te automático n o
e x a to . M as a a u te n tic id a d e p ro d u z u m a se n tid o d e m e c â n ic o o u d e m a q u in a l. P r o ­
im p re s s ã o d e re sp e ito q u e p re d is p õ e a p o n h o reservar esta p a la v r a , q u e tem d u ­
a c e i t a r o c o n t e ú d o s e m d i s c u s s ã o . .. A es­ p la u tiliz a ç ã o n esta a cep çã o d e m a sia d o
tes in s tin to s n a t u r a i s é p re c is o res istir m e ­ g e r a l, p a r a o s m e c a n is m o s q u e fu n c io n a m
to d ic a m e n te .” Lτ Ç;  ë è e SE « ; ÇÃζ Ãè , sem q u e u m a v o n ta d e in te lig e n te te n h a d e
Introduction aux études historiques, p p . in te r v ir u m a vez p o sto s em m a r c h a .” E .
1 3 3 -1 3 4 (S ). G Ãζ Â ÃI , Ciass. des Sciences, 1 6 7 . C f .
Rad. i n t A . B . A u t e n t i k . Logique, 355.

“ A U T I S M O ” D . Autismus; F. l 'Au- B . C a r a c te r ístic a d o s fen ô m en o s q u e

tisrne"-, P e n s a m e n t o a u t í s t i c o * . a p resen ta m u m a r e g u la r id a d e b e m d eter­

C f . Egocentrismo. m in a d a . O a u to m a tism o n este se n tid o

o p õ e -se à in d e te r m in a ç à o , a o c a p r ic h o o u
“ A U T ÍS T IC O ” (a d j.) D . Autistisch. à v o n ta d e, en q u a n to esta im p lic a , m es­
F. “ Autistique” . N o m e d a d o por BÂ E Z - m o para o d e te r m in is ta , u m a g r a n d e vo-
 E 2 , n o s seu s tr a b a lh o s so b r e a p sic a n á ­
riedade n a s r e a ç õ e s p o ssív e is e m face de
lise , a o p e n sa m e n to a sso c ia tiv o e s im b ó ­
c ir c u n stâ n c ia s d ad as.
lic o d o s o n h o e d o d e v a n e io (p o r q u e a su a

ca r a c te r ístic a é a d e ser e str ita m e n te in ­ C R ÍT IC A


d iv id u a l).
A s d u a s sig n ific a ç õ e s p o d em d is-

so c ia r -se : é a ssim q u e se d ir á de u m re­


A U T O D o G . aÔTÓs, si m esm o , ele

m e sm o e n ão um o u tr o . S i, p r o n o m e re­
fle x o , n o se n tid o B , q u e é automático, e n ­
a o automatismo,
fle x o d iz -se éα υ τ ό ν , o u por con tração
q u a n to q u e o o p o m o s

otvTÓP. M as e x iste a lg u m a c o n fu sã o d os n o se n tid o A . C o n tu d o , o u so m a is g era l

d o is se n tid o s n o s d e r iv a d o s d e avrós. é a p lic a r e s te term o a o s fen ô m en o s q u e

P r e fix o u tiliz a d o n a fo r m a ç ã o d e u m a p resen ta m a o m esm o tem p o as duas o r­

n ú m e r o in d e fin id o d e te r m o s o n d e en tra d en s d e ca r a c te r ístic a . T a l é a u tiliz a ç ã o

esta id é ia . P o r ex e m p lo : “ O s a n tig o s ... q u e fazem Eè ú « ÇÃè τ e L E « ζ Ç« U , q u a n d o

tin h a m d e fin id o a a lm a c o m o u m a c o isa d iz e m d a a lm a h u m a n a q u e e la é u m a u ­

q u e se m o v e p o r si m e s m a . E s t a a u t o m o - tô m a to e s p ir itu a l: “ C o m o o feto se fo r­

liv id a d e da rep resen tação é, co m o ap a­ m a n o a n im a l, c o m o m il o u tr a s m a r a v i­

r ê n c ia , a b so lu ta m e n te in c o n te stá v e l.” lh a s d a n a tu reza são p r o d u z id a s p o r u m

Hτ OE « .IN, “ S ob re a v o n ta d e, a lib erd a ­ certo in stin to q u e D eu s lá c o l o c o u , q u e r

d e e a certeza em R e n o u v ie r ” , Revue de d iz e r , e m v ir tu d e d a p r e fo r m a ç ã o d iv in a

niétaphysique, n o v em b ro d e 1919. q u e fa z estes a d m ir á v e is a u tô m a to s p ró -

S o b r e “ A u t í s t i c o ” — V e r M « Ç3 ÃÇè 3 « , “ O a u t i s m o ” , Journal de psychologie,


1 9 2 7 , 1, p , 6 9 , e L τ T 2 ÃU E , Les fonctions de l ‘imagination, cap . V I I : “ L ’a u t i s m e ” .
A L T O M A T O 114

p r io s para p r o d u z ir m e c a n ic a m e n te tão tu d e d a v o n ta d e .” C h . R«T 7 E I , L 'auto-


b e lo s e fe ito s; é fá c il ju lg a r ig u a lm e n te a matisme, em R«T 7 E I , I, 945.

a lm a u m a u t ô m a t o e sp ir itu a l a in d a m a is A d e fin iç ã o p arece d e m a sia d o es­


a d m ir á v e l, e q u e é p e la p r é - fo r m a ç ã o d i­ tr e ita : p or e x e m p lo , c h a m a r -se -ia auto­
v in a q u e e la p r o d u z e s ta s b e la s id é ia s o n ­ maticei , b em m a is d o q u e maquinai, a o
d e a n ossa v o n ta d e n ão tem p a r tic ip a ­ tr a b a lh o d e refle x ã o o u d e in v e n ç ã o q u e
ç ã o ... A o p era çã o d o s a u tó m a t o s e sp ir i­ c o n t in u a p o r si m e s m o d e p o is d e ter s id o
tu a is n ã o é m e c â n ic a , m as co n tém e m i­ d esen ca d ea d o p e la v o n ta d e e p e la a ten ­
n en tem en te o q u e há d e b e lo n a m e c â n i­
ç ã o c o n sc ie n te s, o q u e é p r e c isa m e n te a
c a .” Leibn iz , Teodiceia, § 403. Da m es­
c la sse d o s a to s c la s sific a d o s so b o n o m e
m a form a, P ie r r e Jτ ÇE I d e fin e este ter­
d e a tos “ m a q u in a is” 7 . R e u n in d o esta s
m o p e la s c a r a c te r ístic a s se g u in te s: “ T er
d u a s c la sse s, e a c r e sc e n ta n d o às c a r a c te ­
a su a o r ig e m n o p r ó p r io o b jeto q u e se
r ístic a s c o m u n s a c a r a c te r ís tic a d o d e te r ­
m o v e e n ã o p r o v ir de um im p u lso ex te­
m in ism o a p r e e n sív e l e n u n c ia d o a trá s, n ó s
rio r; p e r m a n e c e r co n tu d o m u ito r e g u la r
ch a m a rem o s, p o is, automatismo a to d o
e su b m e tid o a um d e te r m in ism o r ig o ro ­
sis te m a d e fe n ô m e n o s q u e se d e se n v o lv a m
so, sem v a r ia ç õ e s n em c a p r ic h o s .” L ’au-
se g u n d o le is fix a s e c o m u m a c a r a c te r ís­
(omatismepsychologique, p. 2. M a s d eve-
tic a d e in d e p e n d ê n c ia rela tiv a , se m in te r­
se a fa sta r “ a id é ia d e u m a a tiv id a d e p u ­
v en çã o atu al de u m e stím u lo e x te r io r
ra m en te m e c â n ic a ” q u e co n sista só n o j o ­

g o “ d e e le m e n to s e x te n so s e in se n sív e is” . a tu a l, o u da v o n ta d e c o n sc ie n te .

Ibid., p. 2 . E sta d e f in iç ã o c o n c o r d a a liá s Rad. inf.: A u to m a t.

c o m a de G Ãζ Â ÃI , que n ão e x c lu i o m e ­
A U T Ô M A T O (d o G . aiirófictTos, a d ­
c a n ism o , m a s a e le a c r e s c e n ta m a is u m a
je tiv o ); n o se n tid o g e r a l, q u e a ge por si
c a r a c te r ístic a .
m e s m o , e sp o n ta n e a m e n te ; m a s o se n tid o
C h . R « T7 E I p ro p ô s d iv id ir a ssim os
m o d e r n o e x iste já e m H o m e r o (p o rta s q u e
m o v im e n to s:
se ab rem p o r si m e s m a s , tr íp o d e s q u e m u ­
“ a . M o v im e n to s r e fle x o s, d e te r m in a ­
d am d e lu g a r por u m m e c a n ism o in te ­
d o s por um e stím u lo e x te r io r ;

“ 0 . M o v im e n to s a u to m á tic o s, d eter­
r io r ). O su b sta n tiv o avrófiarov, n o m es­

m in a d o s p o r u m e s tím u lo in te rio r q u e n ã o m o se n tid o , e n c o n tr a -se e m A r istó te le s e

a v o n ta d e; e m H erã o , cu jo tra ta d o Dos autômatos


“ 7. M o v im e n to s m a q u in a is, d e te r m i­ se r v iu para lh e a la r g a r a u tiliz a ç ã o . M a s

n a d o s p e la v o n t a d e m a s q u e s e c o n t in u a m e m A r istó te le s, rò o tv ró fic tT O P d e sig n a

sem q u e e la in te r v e n h a ; q u a se sem p re o acaso*. ( V e r a s o b s e r v a ­


“ ¿. M o v im e n to s v o lu n tá r io s, d e te r m i­ ç õ e s . ) D . Automat ; E . Automaton·, F .

n a d o s p e la v o n ta d e e c o n tin u a n d o e m v ir ­ Automate·, I . Automa, Automato.

S o b re A u tô m a to e A u to m a tism o — Bo n i t z r e ssa lta três s e n tid o s de avrófiaTcn


em A r istó te le s: 1? 0 acaso, p or o p o siç ã o q u er à n a tu reza (o q u e o co rre sem p re o u ,

p e lo m en o s, em regra g e r a l), q u er à v o n ta d e r e fle tid a (ctvò Tavrouárov òçã e, a g ir

a o a c a s o = < rx íj; Ret. 1 3 5 4 a 10); 2 ? o espontâneo, em o p o siç ã o à arte, a o a r tific ia l:

c e r t a s d o e n ç a s i n c u r á v e i s p e l a a r t e m é d i c a c u r a m - s e a l g u m a s v e z e s av ro jtta rT w s. “ G e ­
ração esp o n tâ n ea ” {yiveots avróuaro s ) lig a -se a o m e sm o tem p o a estes d o is se n ti­

d o s: é u m a g e r a ç ã o ir r e g u la r , q u e e s c a p a à s le is o r d in á r ia s d a r e p r o d u ç ã o ; e m la tim

generatio aequivoca*·, 3? os a u tô m a to s à m a n e ir a d e H erã o d e A le x a n d r ia . (A. L . )


O e q u ív o c o d e sta p a la v r a p e r p e tu a -s e p r im e ir o d e v id o à a r b itr a r ie d a d e q u e e x iste

em p r e ten d er d e lim ita r n o e s p a ç o e n o t e m p o “ u m to d o p r a tic a m e n te is o la d o ” ; u m

a u tô m a to de H erã o o u de V a u ca n so n n ã o n asce p or gera çã o esp o n tâ n ea e é p r e c iso


1 15 A U TO N O M IA

A p a r e lh o q u e im ita , atra v és de um se o r g a n iz a r e d e s e a d m in is tr a r e le m e s ­

m e c a n ism o in te r io r , os m o v im e n to s de m o , p e lo m en o s sob certas c o n d iç õ e s e

um ser v iv o . P o r c o n s e q ü ê n c ia , o p r ó p r io d e n tr o d e c e r to s lim ite s . (S e m esta s reser­

ser v iv o e n q u a n to c o n s id e r a d o c o m o u m vas a a u to n o m ia se r ia soberania*.) E x .:

siste m a q u e co n tém em si to d a s as ca u ­ A u to n o m ia c o m u n a l, co lo n ia l.

sa s q u e o d e te r m in a m : “ A ssim , cad a co r­
B. É « Tτ . A autonomia da vontade
I

p o o r g â n ic o de u m ser v iv o é u m a esp é­
para Kτ Ç é a c a r a c t e r í s t i c a d a v o n t a d e
I
cie d e m á q u in a d iv in a o u d e a u t ô m a t o n a ­
pura en q u a n to e la ap en a s se d e te r m in a
tu ral q u e u ltr a p a ssa in fin ita m e n te to d o s
em v ir tu d e d a s u a p r ó p r ia e s sê n c ia , q u e r
o s a u tô m a to s a r tific ia is .” L E « ζ Ç« U , Mo - d iz e r , u n ic a m e n te p e la f o r m a u n iv e r sa l d a
nadologia, § 64.
lei m o r a l , c o m e x c lu sã o d e to d o m o tiv o
C f. DE è Tτ 2 I E è , Tratado do homem, se n sív e l. Kritik derprakt. Vern., liv r o I,
ad . fin e m ; Eè ú « ÇÃè τ , De emendatione cap. 1, p r o p o siç ã o IV .
inteilectus ( e d . V a n V l o t e n , I , 2 7 ) ; e
C . L ib e r d a d e m o r a l, en q u a n to esta ­
K τ Ç , Krit. der praktischen Ver/ ?., E x a ­
I

d o de fa to , o p o sto , p or u m la d o , à e s c r a ­
m e crític o d a a n a lític a , § 10 e § 14, o n d e
v id ã o d o s im p u lso s, p o r o u tr o , à o b e d iê n ­
e le d isc u te a r e la ç ã o en tre a lib e r d a d e e
c ia s e m crític a à s reg ra s d e c o n d u ta s u g e ­
o a u to m a tism o d o e s p ír ito en q u a n to fe­
r id a s p o r u m a a u to r id a d e e x te r io r . “ É e s ­
n ô m en o .
ta se r v id ã o q u e o s h o m en s ch a m a m h e ­
Rad. i n t A u to m a t.
te r o n o m ia ; e e le s lh e o p õ e m , c o m o n o ­
A U T O N O M IA Autonomie; E .
D . m e de autonomia, a lib e r d a d e d o h o m e m
Autonomy; F. Autonomie; I . Autono­ q u e , p e lo e s fo r ç o d a su a p r ó p r ia r e fle x ã o ,
mia. d á a si m e s m o o s s e u s p r in c íp io s d e a ç ã o .
E tim o ló g ic a m e n te c o n d iç ã o d e u m a O in d iv íd u o autônomo n ã o v iv e se m re­
p e sso a o u d e u m a co le tiv id a d e autônoma, gras, m as ap en as o b ed ece às regras q u e
q u e r d iz e r , q u e d e t e r m i n a e l a m e s m a a lei e le e s c o lh e u d e p o is d e e x a m in á -la s .” B .
à qual se su b m ete. C f. Heteronomia. Jτ TÃζ , Devoirs, p . 2 5 . “ D e fin a m o s o in ­

A . S ÃT« ÃÂ Ã; íτ . P o d er de u m g ru p o , d iv íd u o a u tô n o m o ” (em o p o siç ã o à a u ­

p rin c ip a lm e n te de u m g r u p o p o lític o , d e to n o m ia a b so lu ta d e K a n t) “ c o m o a q u e le

de tem p o s em te m p o s d a r -lh e c o r d a . D e p o is , p e la a p r e c ia ç ã o o r a la u d a tiv a , o r a p e ­

jo r a tiv a q u e se lig a ao a u to m a tism o : se se fa la d a rep ressão a u to m á tic a d e tal o u

ta l d e lito , iss o p o d e q u e r e r d iz e r : c e r ta , s e m o m issã o n em c o m p r o m isso ; o u : sem ca m ­

b ia n te s, sem c o n sid e r a ç ã o p e la s c ir c u n stâ n c ia s o u p e lo s in d iv íd u o s. S e n os n o sso s

d ia s autômato é g e r a lm e n te p e jo r a tiv o , é p o r q u e se a p lic a o term o só a o s seres c o n s­

cie n te s p o r c o m p a r a ç ã o c o m o s m e c a n ism o s su m á r io s e a in d a g r o sse ir o s q u e s ã o o s

ú n ic o s q u e s a b e m o s fa b r ic a r . N o s a p a r e lh o s q u e tê m a p e n a s u m a fin a lid a d e sim p le s

e b em d e fin id a c o m o , p o r e x e m p lo , o te le fo n e , o a u to m a tis m o é, p e lo c o n tr á r io , u m a

p e r fe iç ã o : n ã o m a is e n g a n o s , n ã o m a is c a p r ic h o s , n ã o m a is d istr a ç õ e s . M a s , p o r o u ­

tro la d o , d e sta p r ó p r ia su p e r io r id a d e d e r iv a u m a in fe r io r id a d e a o s o lh o s d o s q u e v ê e m

n o ca p r ic h o e n o erro, a o m e sm o títu lo q u e na in v e n ç ã o e n o p rogresso, a m arca

da lib e r d a d e . É a ssim q u e s e c r itic a tra d ic io n a lm e n te n o m a q u in ism o : I? su b stitu ir

p o r a u tô m a to s o s seres c o n sc ie n te s q u e se to r n a m su p é r flu o s; 2? f a z e r c o m q u e esses

a u tô m a to s seja m se r v id o s p o r seres c o n sc ie n te s ; 3? tra n sfo rm a r a lo n g o p ra zo estes

ú ltim o s em a u tô m a to s. M a s o ser c o n sc ie n te o r g u lh a -se : 1? d e c r ia r a u tô m a t o s ; 2?


d e o s c o m a n d a r ; 3 f d e se to rn a r u m a u tô m a to , c o m o u m b o m c o n ta d o r q u e tr a b a lh a
d ep ressa sem fazer m a is erros d o q u e a m á q u in a d e c a lc u la r . O q u e está cm jo g o
n e ste s e q u ív o c o s é a p r ó p r ia n a tu r e z a d a lib e r d a d e e d a in d iv id u a lid a d e . ( M . Marsat)
A U TO N O M O 116

q u e se d e te r m in a , n ão ap en as p e la sua há d e m a is e sc o n d id o n o o b je to ” (q u er

r a z ã o , m a s a o m e s m o te m p o p e la su a r a ­ a s le is d o s fe n ô m e n o s m e n o s ap aren tes,

z ã o e p o r a q u e la s d a s su a s te n d e n c ia s q u e ou as m a is c o m p le x a s , q u e r , m u ita s v e­

co n co rd a m co m e la .” Ibid., p. 29. V er zes, as a p lic a ç õ e s q u e se p o d em e x tr a ir

to d o o ca p ítu lo II: “ A a u to n o m ia .” d o s p o n to s d e v ista p r e c e d e n te s: to d a s a s

Rad. int.: A m o n o m ( e s ) . artes, n a o p in iã o d e A m p è r e , p erten cem

A U T Ó N O M O avTÓvotíos , m e s m o
(G .
a o p o n to d e v ista c r ip to ló g ic o ). Essaisur
la philosophie des Sciences. In tro d u çã o ,
s e n t i d o ) . D . Auiononr, E . Autonomous;
p p. 42-43.
F . Autonome\ I . Autonomo.

V er o a rtig o an te rio r. A U T O R ID A D E Autoritat; E . Au-


D .

“ A U T Ó P T IC O ” T e rm o a p lica d o p o r
thorithy:; F . Autorité; 1 . Autorità.
A Oú è 2 E n o p rim e iro d o s q u a tro p o n to s A. P è « TÃÂ Ã; « τ . S u p e r io r id a d e o u as­

d e v ista q u e f o r m a m a c h a v e d a s u a c la s ­ cen d en te p e sso a is, e m v ir tu d e d o s q u a is

s ific a ç ã o d a s ciên cias: é a q u e le d o s fa to s u m a p e ss o a s e fa z crer, o b e d e c e r , r e sp e i­

o u d as re la ç õ e s e stá tic a s q u e a p a re c e m tar, se im p õ e a o ju íz o , à v o n ta d e , a o s e n ­

i m e d i a t a m e n t e , à sim p le s in s p e ç ã o d o o b ­ tim e n to d e o u trem .

je to estu d ad o . B . SÃ T« ÃÂ Ã; « τ . D ire ito (o u p elo m e ­


O s trê s o u t r o s p o n t o s d e v is ta s ã o o n o s p o d e r e sta b e le c id o ) d e d e c id ir o u d e
criptorístico, q u e t e m p o r c a r a c t e r í s t i c a co m an d ar.
d e s c o b r i r o q u e e s t á e s c o n d i d o ; o tropo- P o r c o n s e q ü ê n c ia , d o p o n to d e v ista
nômico, q u e c o n s i s t e e m e s t u d a r a s m u ­ p rá tic o , o p õ e-se:
d a n ç a s p a r a l he s d e t e r m i n a r a s leis; o crip- 1 ? O Método de autoridade, por u m

to/ ógico, q u e “ c o n s e g u e d e s c o b r i r o q u e la d o , a o a s s e n tim e n to u n iv e r sa l o u a o se n -

S ob re “ A u tó p tic o ” — B roch ard em Lessceptiques grecs ( 2 ? e d iç ã o , p . 3 6 4 ) a ssi­

n a la e m G a le n o o term o abroóla (to m a d o a liá s, se g u n d o p a rece, d o s m é d ic o s e m p í­

r ic o s c u ja te o r ia e le r e s u m e ) p a r a d e sig n a r a o b s e r v a ç ã o im e d ia ta . De subfiguratione
empírica, p. 36. C f. De sectis, ed . K u h n , v o l. I, p . 66 (L. Brunschvicg)

S o b re A u to r id a d e — F o r n e c e m o s a se g u ir a lg u n s tr e c h o s d e m a s ia d o lo n g o s p a ra

serem c ita d o s n o tex to , d e d u a s ob ras m e n c io n a d a s n a Crítica d esta p a la v r a .

“ T o m a m o s, n o q u e fic o u d ito , a p a la v r a autoridade n o se n tid o d esta d e fin iç ã o

d a d a por E d m o n d Scherer: ‘T u d o o q u e d e te r m in a u m a a çã o o u u m a o p in iã o p or

c o n s id e r a ç õ e s e s tr a n h a s a o v a lo r in tr ín s e c o d a o r d e m in tim a d a o u d a p r o p o siç ã o e n u n ­

c ia d a ’.” (Revue de théologie et de philosophie chrétienne, t o m o 1, 1 8 5 0 , p . 66.) N u m

s e n t id o m a is g e r a l, a a u to r id a d e é , s e g u n d o L ittr é , o p o d e r d e se fa z e r o b e d e c e r . C o n ­

vém s o m e n t e in tr o d u z ir n e s ta d e f in iç ã o a id é ia d o direito, sem esq u ecer q u e o p od er

p o d e ex ercer-se sem o d ir e ito , p o is e x iste m a u to r id a d e s u su rp ad as, e o d ir e ito p o d e

ex istir s e m o p o d e r , p o is e x iste m a u to r id a d e s n ã o r e c o n h e c id a s. N o d o m ín io e sp ir i­

tu a l e x iste m ta m b ém a u to r id a d e s à s q u a is n ã o so m e n te a v o n ta d e é o b r ig a d a a o b e ­

d ecer, m a s q u e o p r ó p r io p e n sa m e n to d e v e reco n h ece r? In c o n te sta v e lm e n te . U m p en ­

s a m e n to a b s o lu ta m e n te in d e p e n d e n te p e r d e a d ig n id a d e in e r e n te a o p e n s a m e n to , n à o
é m a is d o q u e u m jo g o ... S em su b m issã o à verdade te r ía m o s, se se q u ise r , fo g o s d e

a r tifíc io de id é ia s m as n ad a m a is.

“ O n d e está a verdade? P o d e m -se n o m ear a u to r id a d e s d e ca rá ter m en o s v a g o e

m a is a ce ssív e l? P a r e c e -m e q u e sim . A a u to r id a d e d a v e r d a d e a fir m a -se n a a u to r id a ­

d e d a razão, na d o Jato, na da obrigação m o r a l.” L é o p o ld M Ã ÇÃ á , Le problème


de ¡’autorité ( 3 “ e d .), p p . 53-55.
1 17 A U T O R ID A D K

so c o m u m ; p o r o u tr o la d o , à crític a in d i­ e d . B r u n sc h v ic g , p . 7 5 . C f. ibid., n? 2 60,

v id u al; p. 453.

2? O Argumento de autoridade à s r a ­ D. A Autoridade o u As Autoridades'.


z õ e s q u e se t i r a m d a e x p e r i ê n c i a o u d a d e ­ as p esso a s q u e ex e rce m a a u to rid a d e n o
m o n s t r a ç ã o ló g ica; s e n tid o B. “ A s a u t o r i d a d e s s o c ia is ” , e x ­
p re ssã o c ria d a p o r LE P Â τ à . V er as o b ­
3? O Regime de autoridade ( p o l í t i c o
servações.
o u e c o n ô m ic o ) , p o r u m la d o , a u m siste­
m a q u e se b a s e i a n o p r i n c í p i o d a s o b e r a ­ C R ÍT IC A

n ia n a c io n a l, em p a rtic u la r n o c o n tro le P ara a d isc u ssã o c r ític a da n o çã o de


d o s g o v e rn a n te s p elo s g o v e r n a d o s ; p o r a u to r id a d e , ver L . Lτ ζ E 2 I 7 Ã ÇÇ« é 2 E , La
o u t r o la d o , a o re g im e d a lib e r d a d e c o n ­ théoriede Peducation ( 1 9 2 3 ) , c a p . III: “ A

tra tu a l. a u to r id a d e e d u c a d o r a .” D o p o n to d e v is­
ta in te le c tu a l (a u t o r id a d e d a r a z ã o , d o f a ­
C. E s p e c i a l m e n t e , e m m a t é r i a r e l i g i ot­ o , e tc .) e s o b r e tu d o d o p o n to d e v ista r e ­
sa, a re v e la ç ã o c ristã e n q u a n to q u e f o r ­ lig io so , L e o p o ld M Ã ÇÃ á , Le probléme
m u la d a sob a in sp iraçã o d e D eus nas E s­ de l ’autorité ( 1 8 9 1 ; 3 .a e d i ç ã o , p r e f a c i o d e
c ritu ra s , e tra n s m itid a p ela tra d iç ã o do R aou l A Â Â « E 2 , 1923). C f . a s o b se r v a ç õ e s
te ste m u n h o a p o stó lico . V e r P τ è Tτ Â , a se g u ir .
Fragment d ’un traite du vide [ D a a u t o r i ­ Rad. int.: A . B . C . A u to ritä t; D . Au-
d a d e em m a té ria de filo so fia], Pensées, to ritat(o z).

“ ...O q u e se d e p r e e n d e d o q u e se d iz o u d a s a titu d e s q u e se t o m a m ” (n a s d isc u s­

sões co rren tes sob re a a u to r id a d e em m a te r ia de ed u ca çã o ) “ é q u e a a u to r id a d e é

c o n c e b id a u n ic a m e n te c o m o urna potencia q u e se im p õ e o u p or c o n str a n g im e n to o u

p o r h a b ilid a d e e q u e , p e la p r ó p r ia e s s ê n c ia , se e n c o n tr a ir r e m e d ia v e lm e n te e x te r io r

e estra n h a à q u ilo so b r e o q u e se ex erc e. Q u e a a u to r id a d e p o s s a , c o m e fe ito , a ssu m ir


e sta ca r a c te r ístic a n ã o h á certa m en te razões p ara o c o n te sta r ... m as n ã o p od erá e la
a ssu m ir u m a o u tra , e m e sm o u m a ou tra a b so lu ta m e n te o p o sta ? A a u to r id a d e q u e

a g e n ã o é u m a a b stração. E la é e n c a r n a d a n u m a p e s s o a q u e v iv e ; é u m a p essoa. A o

ex e r c e r -se , d ir ig e -se c o n fo r m e in te n ç õ e s. E d a í r e su lta q u e ela muda completamente


de natureza seg u n d o a intenção que a anima.
“ H á a a u to r id a d e q u e u sa o p o d er e o savoir-faire d e q u e d isp õ e p a ra su b o r d in a r

o s o u tro s ao s seus fin s p a r tic u la r e s e ap en as procu ra ap od erar-se d e le s para d e le s


se a p r o v e ita r : e ssa é e s c r a v iz a d o r a . H á a a u to r id a d e q u e u sa o p o d e r e o savoir-faire
d e q u e d isp õ e para se su b o r d in a r e la p r ó p r ia , n u m certo se n tid o , a o s q u e lh e e s t ã o

su b m e tid o s , e, lig a n d o a su a so r te à so r te d e le s, p e r s e g u e c o m e le s u m fim co m u m :


e s sa é lib e r ta d o r a . E n tre e s ta s d u a s m a n e ir a s d e c o n c e b e r e d e p r a tic a r a a u to r id a d e ,
n ã o e x iste so m en te d ife ren ça , m as sim u m a c o n tr a d iç ã o .” L. Lτ ζ E 2 I 7 Ã ÇÇ« é 2 E ,
Théorie de Peducation, p p . 2 8 - 3 8 . {A. L.)
“ As autoridades sociais.” E s t a e x p r e s s ã o d e sig n a , em L e P la y , “ fo ra d e q u a l­

q u er d istin ç ã o e x c lu s iv a d e ca sta o u d e c la sse , o s v er d a d e ir o s a u to r e s d o p rogresso

e co n servad ores d a ord em n u m p a ís. A s autoridades sociais s à o o s h o m e n s q u e , a p li­

c a d o s a o tr a b a lh o , e s tr e ita m e n te u n id o s a o s se u s se r v id o r e s e s u b o r d in a d o s p e la a fe iç ã o

e o r e sp e ito , têm a in d e p e n d ê n c ia , o ta le n to e a v ir tu d e n e c e ssá r io s p a ra m an ter o s

b on s co stu m es, quer n o la r , q u e r n o lo c a l d e tr a b a lh o q u e d ir ig e m o u n a lo c a lid a d e


o n d e h a b ita m , p a ra o s fa zer o b ser v a r, a tra v és d o p od er d o e x e m p lo , e o s tr a n sm itir
a o s seus d escen d en tes” . D E R«ζ ζ E , Le Play, p. 16. D eu lu g a r, a lg u m a s v e z e s, a m a l­
e n te n d id o s n a s d isc u ssõ e s filo s ó fic a s. V er Bulletin d a S o c ie d a d e d e F ilo so fia , 1947.
pp. 90-94 (sessão d e 25 dc m a io de 1946).
A U T O R IZ A R IK

A U T O R I Z A R D . A . Berechtigen, be­ se n tid o A , q u e “ fa z a u to r id a d e ” . N ã o é

gründen; B . Gestatten; E . To authorize; u m a lin g u a g e m co rreta .

F . Autoriser; I . Autorizzare. Rad. int . : A . (n o se n tid o fig u r a d o )

A . D e le g a r u m a p arte d a a u to r id a d e Y u r iz ; B . P e r m is.

q u e se p o ssu i. P o r c o n se q u ê n c ia , fo rn e­
A U T O S C O P IA D . Autoskopie; E .
cer u m a p o io , d ar u m v a lo r , fu n d a r * n o
Autoscopy; F . A utoscopie; I . A urosco­
se n tid o A . “ Q u e p o sso esperar m a is da
pia.
r a z ã o p a ra a u to r iz a r a m in h a c r e n ç a n u m

d e stin o b em -a v en tu ra d o d o s seres m o ­ A . Autoscopia externa, a lu c in a ç ã o

r a is? ” R E ÇÃ Z â « E 2 , Psychologie rationel­ q u e c o n siste e m se ver a si m e s m o d ia n te

le, cap . X X II (3? e d ., II, p. 237). “ S u ­ d e si.

c e ssiv a m e n te o u sim u lta n e a m e n te , a n o s ­


B . Autoscopia interna, a p e r c e p ç ã o p e­
sa v id a c o n siste q uer em su b m eter a to ­
lo su je ito d o s seu s ó rg ã o s in te rn o s.
ta lid a d e d e n ó s m e s m o s a d ir e ç õ e s c la r a
V er S o l l i e r , Les phénotnènes d ‘au-
e d istin ta m e n te p e n sa d a s, q u er e m as a u ­
toscopie ( 1 9 0 3 ) .
to r iz a r p e la su a c o n v e n iê n c ia c o m a v o ­
Rad. int.: A u t o s k o p i .
c a ç ã o in d iv is a d e n ó s m e s m o s , q u e u ltr a ­

p assa tu d o o q u e n ós p o ssa m o s p ensar a A U T O -S U G E S T Ã O D . E . F. Auto-


r e s p e ito .” R. L E S E ÇÇE , Traite de mora­ suggestion; I. Auto-suggestione.
le, p. 30. S u g estã o q u e d a m o s a n ó s m esm o s.

B . (N u m s e n tid o m a is fr a c o , m a s m a is
A . In flu ê n c ia a u to m á tic a e x e r c id a s o ­
u su a l): c o n s e n tir n o q u e t e r ía m o s o d ireito
b re a n o ssa c o n d u ta , o s n o ss o s ju íz o s o u
d e p r o ib ir .
m esm o a n ossa p ercep ção p or u m a repre­

NOTAS sen ta çã o , u m a p rev en çã o o u um d esejo .

1. Permitir, q u e corresp on d e em g e ­ B . I n flu ê n c ia e x e r c id a s o b r e o c o n j u n ­

ral ao se n tid o B de autorizar, u tiliz a -se to d a n o ssa v id a m e n ta l o u a tiv a p o r u m a

t a m b é m , a in d a q u e m a is r a r a m e n te , n u m id é ia q u e e stá e m n ó s, m a s q u e n os é re­

se n tid o p r ó x im o d o se n tid o A . “ O s fa ­ la tiv a m e n te e s tr a n h a , q u e n ã o s e in te g r a

to s o b se r v a d o s p e r m ite m c o n c lu ir q u e ...” n o siste m a d a s n o ssa s r e p r e se n ta ç õ e s e d a s

2. “ A u to r iz a d o ” d iz -se a lg u m a s v e­ n o ssa s te n d ê n c ia s p e sso a is. (E ste se n tid o

zes, so b retu d o na lin g u a g e m fa la d a , n ã o é m a is r a r o .)

d o q u e recebeu o d ir e ito o u a p e r m issã o V erSugestão.


d e a g ir , m a s d o q u e tem a a u to r id a d e no Rad. int.: A u t o s u g e s t .

S o b re A u to sc o p ia — A r tig o acrescen ta d o por L éon B r u n sc h v ic g .

S ob re A u to -su g estã o — E u tin h a a p r in c íp io e scrito : “ In flu ê n c ia in c o n s c ie n te e x e r ­

cid a so b re a n o ss a c o n d u ta , e tc .” E. Leroux o b servou q u e e sta p a la v r a c o n c o r d a r ia

m al co m a e x istê n c ia d a a u to -su g e stã o v o lu n tá r ia , e cito u c o m o e x e m p lo P a u l-É m ile

LÉVY, L'education rationellede la volonté, e sp e c ia lm e n te 1 1.a e d i ç ã o , p . 4 2 : “ A a u lo -

su g estã o fu n d a d a em ra zõ es e c o n sc ie n te ” , e A . D o l o n n e , A cura de si mesmo pela


auto-sugestão, cap . III. R e c o n h e ç o q u e a e x p r e s s ã o se p r e sta r ia a o e q u ív o c o : o q u e
é in c o n sc ie n te n ã o é o p ro cesso n o seu co n ju n to (q u e p o d e, co m e fe ito , em certos

c a s o s , ser m o t iv a d o p e la v o n ta d e e d e m a n e ir a c o n s c ie n te ), m a s a o p e r a ç ã o p e la q u a l

a im a g e m o u o d esejo p rod u zem e fe ito s que a v o n ta d e n ã o p o d e r ia d ir e ta m e n te o b ­

ter. S u b stitu í, p o is , este te r m o p e la p a la v r a automática n o se n tid o p r e c iso d e fin id o

por G o b lo t n o tex to c ita d o m a is a trás, sub V o, § A . (d . L.)


119 A X IO M A

“ A U T O T É L ÍC O ” E . Autotelic, ter­ Rad. int.\ A x io lo g i.


m o c r ia d o p or J. M . B a ld w in : “ H a v in g

n o end or p u rp ose b ey o n d o r o u t s id e it-


A X IO L Ó G IC O Axiologisch; E .
D .

s e lf... E x a m p le s: p la y fo r p la y sa k e , art
Axiological; F . Axiologique; I . Assio-
fo r art s a k e .” Genetic Theory of ReaUty, logico.
p . 3 1 4 . ( ‘ ‘Q u e n ã o t e m n em fim n em o b ­ A . Q u e c o n stitu i o u que con cern e a

je tiv o fora o u p a ra a lé m d e si m e s m o ; p . u m a a x io lo g ia * quer n o se n tid o A quer

ex. o jo g o p e lo j o g o , a a rte p e la a r te .” ) no se n tid o B.

O term o o p o sto heterotelic o u instru­


é
B. Q u e c o n stitu i o u q u e c o n c e r n e a u m
mental. C f. Categórico. v a lo r . “A d m it a m o s p o i s q u e a verdade é

u m v a lo r o u , p a ra u tiliz a r o a d je tiv o d e s ­
À V A T A R T e r m o sâ n sc r ito q u e sig n i­

fic a p r o p r ia m e n te d e s c id a e se d iz s o b r e ­
ta p a la v ra , a x i o l ó g i c a ” R . L E S E ÇÇE , In­
tu d o d as r e e n c a r n a ç õ e s d e V ish n u . U tili­
troduction à la philosophic, p. 373.

za -se n o se n tid o fig u r a d o para d e sig n a r


C R ÍT IC A
a s e n c a r n a ç õ e s su c e ssiv a s o u o s p a p é is d e
E ste d u p lo s e n tid o é a c e itá v e l, p o is a
um m e s m o in d iv íd u o , a s s it u a ç õ e s s o c ia is
m esm a d u a lid a d e é c o n sa g r a d a p e lo u so
d iv e r s a s q u e e le o c u p o u . (E sta p a la v r a é

to m a d a , por vezes, em se n tid o c o n tr á r io


para fisiológico, psicológico, etc.

em c o n se q u ê n c ia , sem d ú v id a , d a su a se ­
A X IO M A ( G . ’A q u e sig n ific a :
m e lh a n ç a co m aventura.) 1? c o n sid e r a ç ã o , e s tim a , d ig n id a d e ; 2? o

A V E R S Ã O V er Desejo. que é ju lg a d o v e r d a d e ir o o u bom : o p i­

n iã o , d o g m a de u m a e sc o la filo s ó fic a ,
A X IO L O G IA D . Axiologie; E. Axio- placitum ; 3? p r o p o siç ã o g e r a l, e n u n c ia ­
logy; F. Axiologie; I. Assiologia. ç ã o , te o r e m a ; 4? p r in c íp io c o n h e c id o c o ­
A . E stu d o ou te o r ia d e tal o u tal e s ­ m o v e r d a d e ir o de o n d e p arte u m a d e­
p é c ie d e v a lo r . ‘‘ [O m istic o ] o b r ig a -sc a Axiom;
m o n stra çã o ). D . E . Axiom; F.
r e n u n c ia r a to d a m oral e a to d a a x io lo - Axiome; I . Assioma.
g ia da r a z ã o .” R . P o l i n , Essat sur la V e r Máxima.
compréhension des valeurs, p. 11 1 .
A , S e n tid o m a is u su a l: p r e m issa c o n ­
B. T e o r ia crítica d a n o ç ã o d e v a lo r e m sid e r a d a e v id e n te e a d m itid a c o m o ver­
g e r a l. d a d e ir a sem d em o n stra çã o por to d o s os

S o b re A x io lo g ia — Axiologia en co n tra -se já em P. Lτ ú « E , Logique de la volon-


té ( 1 9 0 2 ) , m a s n o se n tid o r e s tr ito d e c iê n c ia d o v a lo r m o r a l. V er p a r tic u la r m e n te p p .

385 e 389-392.

A a x io lo g ia , n o se n tid o B , e sta r ia p a r a a c iê n c ia d o s v a lo r e s m o r a is o u d o s v a lo ­

res ló g ic o s o u d o s v a lo r e s e sté tic o s c o m o a m e to d o lo g ia geral para o estu d o d o s m é ­

to d o s das m a te m á tic a s, d a físic a , da fisio lo g ia , da h istó r ia , etc. (Ed. le Roy — E.


Bréhier — A. L.)
S o b re A x io m a — 'A ( m í m , enunciado, n o s e sto ic o s e q u iv a le n te a à-KÓipavots d e
A r istó te le s. C f. C íc e r o , D e Fato, 20-21; D ió g e n e s d e L a é r c io , V IH , I, § 48; A u lo -

G é lio , X II, 8. R eto m a d o p or R am u s e u tiliz a d o p o r e le na su a L ó g ic a ; m a is a in d a

p e lo s se u s su c e sso r e s im e d ia to s (cf. D o n n a m u s, In Rami dialecticam comentara, 11.

2 , e tc .). B a c o n t o m o u e s ta p a la v r a a o s r a m ista s e d e u -lh e u m s e n t id o p a r tic u la r : u m a

le i d a n a tu reza , u m a p r o p o siç ã o u n iv e r sa l tir a d a d a s p r o p o s iç õ e s p a r tic u la r e s e q u e


se rv e p a ra e x p rim ir u m a v e r d a d e c ie n tífic a . C f. i g u a l m e n t e H a m i l t o n , D iss. o n R e h l
p. 764. (C . C . J. Webb) ·
A X IO M A 120

q u e lh e co m p reen d em o se n tid o . “ E sta d e sta p a la v r a . D ir -se -ia , a n te s , n e ste s d i­

id e n tid a d e é a d m itid a p ela e sc o la co m o versos ca so s, princípio*.


u m p o s tu la d o o u , p a ra m e lh o r d iz e r , c o ­ 2. N a m e to d o lo g ia m o d ern a , a u tili­

m o u m a x io m a . E la n ã o te m n e c e ssid a d e za çã o d e axioma é b a sta n te ir r e g u la r e


d e ser d e m o n s tr a d a :... É u m p r in c íp io ... c o n fu s a . P a r tiu -se d o n o m e axiomas, d a ­

d e m a sia d o e v id e n te p a ra q u e se ja p r e c i­ d o a o s p r in c íp io s q u e se in sc r e v ia m a m i­
so parar para c o n sid e r á -lo .” Lé âà - g a m e n te n o in íc io d o s tr a ta d o s d e g e o m e ­

B r Les fonctions mentales dans les


u h l , tria (o u das o b r a s e sc r ita s more geomé­
sociétés inférieures, p . 7 . E s p e c i a l m e n t e , trico, c o m o a Ética de Eè ú « ÇÃè τ )e aos
as p r o p o siç õ e s d este g ê n ero q u e estã o n a q u a is se a tr ib u ía a tr ip la c a r a c te r ís tic a d a

b a se d a g e o m e tr ia . “ O s filó so fo s d a E s­ e v id ê n c ia p sic o ló g ic a , da p r im a z ia ló g i­
c o la d isse r a m q u e esta s p r o p o siç õ e s (os ca e, m a is v u lg a r m e n te , d a fu n çã o d e re­
axiomas o u máximas) são e v id e n te s ex gra g eral e fo r m a l, e m o p o s iç ã o a o s p r in ­
lerminis, d e s d e q u e s e en ten d am os ter­ c íp io s e s p e c ia is, r e la tiv o s a u m a fig u r a o u
m os; de m a n e ir a q u e esta v a m p e r su a d i­ a u m a d e fin iç ã o d e te r m in a d a . E sta ú lti­
d o s de q u e a força da c o n v ic ç ã o e sta r ia m a c a r a c te r ístic a d istin tiv a axioma é d o
fu n d a d a n a in te lig ê n c ia d o s te r m o s , q u e r in d ic a d a p or A 2 « è I ó I E Â E è , Segundos
d iz e r , n a lig a ç ã o d a s su a s id é ia s. M a s o s analíticos, 1, 2 , 7 2 a17: “ ή ν (c/ ρ χ η ν ) δ ’
geô m etra s fiz e r a m m a is: ten ta ra m m u i­ ά ν ά χ χ η t\ ( i v τ ο ν ό τ ι ο ύ ν μ α θ η σ ό μ ί ν ο ν ,
tas v ezes d e m o n s tr á -lo s .” L E « ζ Ç« U , N o­ ¿ι ζ ί ^μ ο ι ,” ( O t e r m o o p o s t o p o r ele a axio­
vos ensaios, IV , V II, 1. ma n e s t a p a s s a g e m é θ ε ο ιτ , q u er d iz e r , o

B . M u ito g e r a lm e n te , n u m sis te m a h i­ q u e é p o sto “ p o r h ip ó te se ” p a r a tal p r o ­

p o té tic o -d e d u tiv o , to d a p r o p o siç ã o , e v i­ b le m a o u tal d e m o n s t r a ç ã o .) E le d iz t a m ­ í


d en te ou n ão, q u e n ã o se d ed u z de o u ­ b é m , fa la n d o d o s a x io m a s p r o p r ia m e n te

tra, m as q u e é p osta por um ato d e c isó ­ d ito s, para m a io r p r e c isã o , κ ο ιν ά α ξ ιώ ­


r io d o e s p ír ito n o in íc io d a d e d u ç ã o . ( E s ­ μ α τ α , p. ex. 7 6 b14. E sta exp ressão foi

te se n tid o é r a r o .) C f. Axiomático. freq u en tem en te tr a d u z id a p or notiones


C . M a is p r o p r ia m e n te : a s p r o p o s iç õ e s
communes, noções comuns: “ A x io m a s

a ssim p ostas q u e co n stitu e m u m a regra


o u n o çõ es c o m u n s” (D E è Tτ 2 IE è ), títu lo

d e d e z p r in c íp io s p o s to s p o r e le p a r a a d e ­
geral de p en sa m en to ló g ic o e m o p o siç ã o
m on stração em fo r m a g e o m é tr ic a d a e x is­
aos postulados* r e la tiv o s a tal o u tal m a ­
tê n c ia d e D e u s e d a d istin ç ã o en tr e a a l­
té r ia e sp e c ia l.
m a e o co rp o , n o fin a l d a s Respostas às
CRÍTICA segundas objeções.
1. E n c o n t r a m - s e e m a l g u n s a u t o r e s d o A m e s m a d istin ç ã o é fe ita p o r L«τ 2 á ,
séc. X V II v estíg io s d o s s e n tid o s d a p a l a ­ a p o ia n d o -s e n a s p a ssa g e n s d e A r istó te le s

v ra g rega q u e re c o rd a m o s n o s n ú m e ro s c ila d a s m a is a trás, e e m R e n o u v ie r . M a s

2 e 3: “ A l t e r a a s e n s u e t p a r t i c u l a r i b u s e le a situ a en tre os se n tid o s da p a la v r a

a d v o l a t a d axiomata maxime generalia, axioma: c o n s i d e r a q u e e x i s t e m “ axiomas


a t q u e e x iis p r i n c i p i i s . . . j u d i c a t et i n v e n i t analíticos, q u e d e r i v a m t o d o s d o s p r i n c í ­
axiomata media; a l t e r a a s e n s u et p a r t i ­ p io s d e id e n tid a d e e d e c o n tr a d iç ã o ” : p o r

c u la rib u s ex c ita t a x io m a ta , a s c e n d e n d o e x e m p lo , “ se a d u a s q u a n tid a d e s ig u a is

c o n t i n e n t e r et g r a d a t i m . . . ” B τ TÃÇ , N o v . se acrescen tarem ig u a is q u a n tid a d e s , as

org., I, 19. “ Q u o d a x i o m a (a d o u t r i n a s e ­ s o m a s se rã o ig u a is” ; e axiomas sintéticos


g u n d o a q u al o h o m e m é p o r n a tu re za um q u e se a p lic a m a u m a matéria e s p e c i a l :

a n i m a l s o c i á v e l ) q u a n q u a m a p l u r i m i s re - p . e x ., e m g e o m e tr ia , o s a x io m a s q u e c o n ­

c e p t u m , f a l s u m t a m e n . ” HO B B ES, De ei­ cernem à reta , a o p la n o , à p e r p e n d ic u la r ,

ve, I , c a p . I , § 2 . N ã o p a r e c e q u e n a l i n ­ ao p a r a le lo (La science positive et la mé­


g u a g e m a tu a l p e r m a n e ç a a lg u m a co isa taphysique, 2? p arte, cap . V , 2 3 7 -2 4 2 ).
121 A X IO M Á T IC O

É p r e c iso ob servar q u e esta asserção in ­ “ A x i o m a s d a i n t u i ç ã o — D . Axiomen

cid en te, se g u n d o a q u a l to d o s o s a x io m a s der Anschauung" ( K τ Ç , Kritik der rei­ I

p ro p ria m en te d ito s sã o “ a n a lític o s” , q u er nen Vem., T r a n s e , a n a l y t . , l i v r o I I , c a p .


d iz e r , r e d u tív e is a o p r in c íp io de co n tra­ II, 3? seção) P r in c íp io s a priori d o
d iç ã o , a in d a q u e d e r iv e d e A r istó te le s e n te n d im e n to * p u r o , re la tiv o s à c a te g o ­

( MetaJ. , III, 3; 1 0 0 5 b3 3 ) e t e n h a s i d o a d ­ ria d a q u a n t i d a d e , e q u e têm c o m o fó r­

m itid a p or L e ib n iz , é con testad a p e la m u la g e r a l: “ T o d o s os fen ô m en o s sã o ,

m a io r p arte d o s ló g ic o s c o n te m p o r â n e o s . q u a n to à sua in tu iç ã o , g ra n d eza s e x te n ­

M a s e s ta r eserv a n ã o d e str ó i, a liá s, a d is ­ siv a s” (A . 162); o u “ T o d a s a s in tu iç õ e s

tin ç ã o c o n sid e r a d a em si p r ó p r ia . são gran d ezas e x te n siv a s” (B . 2 03).

3. T en d o sid o d isso c ia d a s as três c a ­ A s “ g ra n d eza s e x te n siv a s” sã o d e fi­

r a c te r ístic a s q u e a c a b a m o s d e a n a lisa r , e n id a s p o r e le c o m o s e n d o a q u e la s e m que

q u e r e u n ir ia m o s a x io m a s g e o m é tr ic o s a rep resen tação das p a rtes é a c o n d iç ã o

c lá s s ic o s , p e la a n á lise m a is a p r o fu n d a d a d a rep resen tação d o to d o ( ibid. ) .


q u e os m a te m á tic o s e o s ló g ic o s m o d e r ­
A X IO M Á T IC A D . Axiomatik', E .
n os fiz e r a m d os p r in c íp io s, a p a la v r a
Axiomalics ( ? ) ; F. Axiomalique; I . As-
axioma é a p lic a d a n o s d ia s d e h o je , a le a ­
si oma tica ( ? ) .
to r ia m e n te , a u m a q u a lq u e r d a s d iv ersa s

e s p é c ie s d e p r o p o s iç õ e s q u e r e su lta m d es­ A . P r im it iv a m e n t e , e s tu d o crític o d o s

a x io m a s* , n o s d iv e r so s se n tid o s d esta p a ­
te d e s m e m b r a m e n t o . P o d er-se-á a co n se­
la v r a , q u e s ã o to m a d o s co m o p r in c íp io s
lh a r p a r a e s ta p a la v r a u m se n tid o d eter­
n o in íc io da g e o m e tr ia .
m in a d o ? É b a sta n te fá cil a fa sta r o se n ti­

d o B, in ú til, p o is é sin ô n im o de P r in c í­ B . C o n ju n to d o s p r in c íp io s* p o sto s

p io * , d ê H ip ó te s e , n o se n tid o B , ou a in ­ n o in íc io de u m a c iê n c ia d e d u tiv a q u a l­

d a de P r o p o siç ã o p r im e ir a (Ppr) e q u e, quer.

a liá s, ap en as recen tem en te foi u tiliz a d a


C R ÍT IC A
n esta a c e p ç ã o . M a s, en tre o se n tid o A e

o se n tid o C , que n ã o têm o u tro s n o m es E ste te r m o fo i m a l e s c o lh id o , e m con-

q u e lh e s s e ja m p r ó p r io s , é d ifíc il e s c o lh e r . se q ü ê n c ia d as d iv e r sa s u tiliz a ç õ e s, fre­

P arece, co n tu d o , que v a le m a is con ser­ q u en tem en te m al d e fin id a s, da p a la v r a

v a r n a p a la v r a axioma o s e n t id o s e m ¡p si­ axioma*. M a s p arece d ifíc il fazer com

c o ló g ic o A , o ú n ic o q u e p erten ce à lin ­ q u e se a d o te ou tro em vez d e le .

g u a g em corren te e a q u e le m esm o q u e Rad. int.·. A x io m a tik .

L e ib n iz te m em v ista q u a n d o fa la , tã o fr e ­
A X IO M Á T IC O D . Axiomatisch·, E .
q u en tem en te, da n e c e ssid a d e de “ d e­
Axiomatic, axiomática!·, F . Axiomalique·,
m o n stra r até o s a x io m a s” (q u er d iz e r , d e ­
1 . Assiomatico.
d u z ir d e p r in c íp io s m a is sim p le s m esm o

o q u e nos parece e v id e n te ). O se n tid o C A . Q u e tem o caráter d e u m a x io m a ,

p o d e ser d e s ig n a d o p e lo n o m e d e princí­ so b retu d o n o se n tid o A .

pios formais o u de princípios lógicos, B . Q u e p ro ced e p o r a x io m a s, e d e d u ­


q u a n d o for c o n v e n ie n te d istin g u i-lo . çã o a p a r tir d esses a x io m a s. “ A form a

Rad, int.: A . A x io m ; B . P r in c ip ; C . a x io m á tic a .”

L o g ik a l(a ) p r in c ip (i). Rad. int.·. A x io m a l.


B

B C o lo c a d a n o in íc io d e u m n o m e d e V er m a is a d ia n te n o s Apêndices, sub

silo g ism o , esta letra a s s in a la q u e e le p o ­ V o Figura*, a d isc u ssã o re la tiv a à 4 ? fi­


d e ser r e c o n d u z id o a Barbara*. gura e ao s m o d o s in d ir e to s.

B A C O N IA N A (In d u ção) V e r Ampli­ B A R B A R A P r im e ir o m o d o * da p r i­


ficante. m e ir a fig u r a * d o silo g ism o .

B A C U L IN U M (A rg u m en tu m ) V er T o d o M é P .
Argumento. T o d o S é M .

L o g o , to d o S é P .
B A E R (L ei d e) “ O d e se n v o lv im e n to

d o o r g a n ism o n a su a to ta lid a d e e o de ca ­ É c o n sid e r a d o o silo g ism o m o d e lo , e


d a órg ã o vai d o sim p le s a o c o m p le x o e a f ó r m u la a lg o r ítm ic a q u e lh e c o r r e s p o n ­
d o n ã o -e sp e c ia liz a d o a o e s p e c ia liz a d o .” d e escreve-se:
VÃÇ Bτ E 2 , Beobachtungen über die
Entwickelungs-Geschichte der Thiere', s D m. m D p : D. s D p
1829. B A R B A R I M o d o su b a lte r n o * da 1?

fig u r a , o b tid o p e la su b a lte r n a ç ã o d a c o n ­


B A M A L IP M o d o da 4? fig u r a , q u e

d e r iv a d e

p r e m issa s e
Barbara *
a con v ersã o
p ela tr a n sp o siç ã o d a s

p a r c ia l d a c o n ­
c lu sã o d e Barbara·.
T o d o M é P .
i
c lu sã o :
T o d o S é M .

T o d o P é M . L o g o , a lg u m S é P .

T o d o M é S.

L o g o , a lg u m S é P . NOTA

V er o a r tig o se g u in te .
A Lógica d e P Ã2 I - R Ãà τ Â (3? p arte,

ca p . V III) d á o n o m e de Bar ba ri a o m o ­
B A R A L IP T O N M o d o in d ir e to d a 1? d o d a 4? fig u r a e m A A I {Bamalip*)·. “ T o ­
fig u r a , o b tid o p e la c o n v e r s ã o d a c o n c lu ­ d o s os m ila g r e s da n a tu reza sã o o r d in á ­
sã o d o silo g ism o co rresp o n d en te em
r io s; o r a , t u d o o q u e é o r d in á r io n ã o n o s
Barbara*. im p r e ssio n a ; lo g o , há c o isa s que n ã o

T o d o M é P . n o s im p r e ssio n a m e são m ila g r e s d a n a ­

T o d o S é M . tu r e z a .” É u m erro , p o is a tr a n sp o siç ã o

L o g o , a lg u m P é S. d a s p r e m issa s (M ) e a c o n v e r s ã o d a c o n ­

c lu sã o (P ) s ã o n e c e ssá r ia s p a r a p a ssa r d e

CRÍTICA Barbara para u m m o d o a ssim c o n stitu í­

d o. L e i b n i z , p e lo c o n tr á r io , u tiliz a este
É e q u iv a le n te a Bamalip* , p o is se n ­
n o m e n o se n tid o atrás d e fin id o .
d o o term o p e q u e n o , p o r d e fin iç ã o , o su ­

je ito da c o n c lu sã o , seg u e-se q u e as d u as B A R O C O , ou a lg u m a s v ezes B A R O -


p r e m issa s tr o c a m a sua fu n çã o , torn an d o- K O M o d o da 2? fig u r a que sc reduz a
se a p r im e ir a a m e n o r , e m c o n se q ü ê n c ia Barbara * p or regressão* ou red u ção a o
d esta co n versão, e a segu n d a to rn a n d o - ab su rd o*.
se a m a i o r . .I
T o d o P é M .

I . Observações sobre a história da evolução d o s A lg u m S n ã o é M .


animais « L o g o , a lg u m S n ão é P.
1 23 “ B E H A V IO R ISM O ”

B A T O L O G IA G. (3ctTTo\oy(Sí, CRISl- (S é Ç E Tτ , De vita beata)·, s e g u n d o E è ­


ú «

ú Ã ; cf. $aTT0hoyH·*· na versão grega de S. ÇÃè τ (Ética, l i v r o V ); e t c .


Mτ Z è , V I, 7 (o p o siç ão en tre o Pater e
I E
B. N a p a to lo g ia m en tal c o n te m p o rá ­
as o raçõ es dos p ag ão s, rep etid as em m ú l­ n e a, e u fo ria p e rm a n e n te , a co m p a n h a d a
tiplo s estrib ilh o s nos m esm os term o s); D.
de in d ifere n ç a em relação às c irc u n sta n ­
Battologie\ E . Battology (p arece m ais
cias e ao s aco n te c im e n to s ex terio res. O s
u su al d o q u e em fran cês; en co n tra-se em
d o en tes q u e e stã o nesse e sta d o são c h a ­
M Z 2 2 τ à , além de Battology , as p alav ras
m a d o s alg u m as vezes “ b e a to s ” .
Battological, Battologisl, Battologize)·, F.
Battologie·, I. Battologia. T2 í I « Tτ
A b u n d â n c ia de p alav ras in ú teis, seja
E sta últim a utilização é a in d a b astan te
p o rq u e se re p e te m , ou rep etem a m esm a
recen te p a ra q u e se p o ssa d esejar q u e ela
id éia sem p ro g resso , seja p o rq u e se expli­
n ã o se gen eralize, p o is a p a lav ra to m a aí
cam as p alavras p o r o u tras q u e n ão se en ­
um a característica to talm en te diferente da
ten d em m elh o r. D è Tτ 2 è to m a -o n es­
E I E
q u e a p re se n ta n o sen tid o A . N este, com
te ú ltim o sen tid o : “ T a n d e m q u e o m n es
efeito , e stá q u a se sem p re lig ad a a u m a
hasce egregias q u aestio n es in m eram b at-
concepção religiosa. Im plica n o rm alm en ­
to ío g ia m ... fore u t d e sin e re n t.” Inquisi-
te a id éia de u m o u tro m u n d o o u , pelo
tio veritatis per lumen naturale, A d . et
T a n n ., X , 516. C f. Respostas às sétimas m en o s, n o e sta d o a tu a l d o h o m e m , de
objeções, a d fin em , etc. u m a v id a, de u m a o u tra o rd e m . U tiliza-
E sta p alav ra deriva provavelm ente d o se em p a rtic u la r n a teo lo g ia cristã p a ra
n o m e de B atto s, fu n d a d o r d e C iren e q ue d esig n ar a b e m -a v en tu ran ç a d o s eleito s.
era g ag o . Ver H 2 ó á Ã Ã , IV , 155 ss.
E I
T en d e a d esa p a rec e r d a linguagem filo ­
só fica u su al d ev id o à su a característica
B E A T IT U D E (L . Beatitudo seu feli­ teo ló g ica. A id éia q ue rep resen ta seria
citas, E è ú « ÇÃè τ ). D . Seligkeit; E . Bles­ c o n tu d o ú til de co n se rv a r. (V er Felici­
sedness·, F . Béatitude-, I. Beatitudine. dade*.)
A. S atisfação c o n sta n te e à q u al n a ­
d a fa lta . E s ta d o ideal d o sáb io seg u n d o “ B E H A V IO R IS M O ” T erm o de o ri­
A 2 « è ó Â è (M axapteix os, Ética a Ni -
I I E E gem a m e ric a n a (d o inglês behaviour, o r ­
cômaco, 1101 a .b .) ; seg u n d o os esto icos to g ra fia a m e ric a n a behavior: c o n d u ta ,

S o b re B ea titu d e — Q u a n d o b e atitu d e é u tilizad a sem a id éia d e um o u tro m u n d o


(p o r exem plo em E è ú « ÇÃè τ ), a p a la v ra c o rre sp o n d e n te em a lem ão é Glückseligkeit.
A p a la v ra Seligkeit tem u m sen tid o q u ase exclu siv am en te religio so. (F . Tönnies)
Beatitude n ão tem o m esm o em p reg o q ue Felicidade. P o r um la d o , esta p alav ra
evoca a idéia de u m a aleg ria e sp iritu a l, ativ a, c o n q u ista d a pelo p e n sa m e n to a d e q u a ­
d o q ue é a su a co n d içã o , o u pelo esfo rço q ue a to rn a d ig n a; p o r o u tro la d o , aplica-se
à vid a su p erio r ou à vida fu tu ra e im plica a in terv en ção de D eus o u o to m a r posse
d o d iv in o . A b e atitu d e é, pois, m enos a satisfa ç ão d a s n o ssas in clin açõ es do q ue a
d o ser tra n sce n d e n te ou n u m en al q ue está em n ós. (A/. Blondel)
A p a la v ra Beatitude p arece-m e útil d e co n serv ar p a ra d esig n ar c erto s sen tim en ­
to s q u e a co m p a n h a m os esta d o s p ato ló g ico s, o êx tase, c ertas c ata le p sias, a ag o n ia
em alg uns caso s. É um sen tim en to de aleg ria in te ira m e n te c o m p le to , com esqueci­
m en to d a re a lid ad e . (Pierre Janet)
S o b re " B e h a v io ris m o ” — A n d ré T « Â I Z « Ç , q ue p u b lico u so b re este assu n to um
vo lu m e m u ito extenso e m u ito d o c u m e n ta d o , n o ta q ue o b eh av io rism o n ã o é, com o
o diz freq u e n te m en te o seu p ro ta g o n is ta Jo h n B. W atso n , “ a ciência d o c o m p o rta -
BELO 124

co m p o rtam en to ); freq ü en tem en te utiliza­ t o . ” (Critica do juízo, I, § 9.) D esigna-se


do d este m o d o em fran cês o u so b a fo r­ assim (definição aliás com p letam en te fo r­
m a behaviorisme. m al) a q u ilo q ue p ro v o ca nos h o m en s um
D esigna a d o u trin a q u e lim ita a p si­ certo sen tim en to sui generis c h am a d o
co lo g ia ao estu d o do c o m p o rta m e n to ou em o ção estética.
das reaçõ es. V er as o b serv açõ es a b aix o e E ste co n ceito e o seu c o n trá rio apli-
cf. Comportamento, Psicologia, Reação. cam -se m ais o u m enos na o rd em d a sen ­
B E L O D . Schorr, E. Beautiful·, F. sibilidade afetiv a com o o Bem e o M al na
Beau-, I. Bello. T o d as estas palavras se u ti­ da a tiv id ad e, o V erd ad eiro e o F also na
lizam ig u alm en te co m o su b sta n tiv o s. da in teligência.

A. U m dos três co n ceito s n o rm a tiv o s B. M ais especialm ente: o que c o rre s ­


fu n d a m e n tais aos q u ais se p o d em re d u ­ p o n d e a certas n o rm as de e q u ilíb rio , de
zir os ju ízo s de a p re c ia ç ã o ’". É neste sen ­ p lástica, de p ro p o rçõ es h a rm ô n ic as, de
tid o que ele é d efin id o p o r Kτ ÇI : “ O p erfeição no seu gênero e o u tra s q u a lid a ­
q u e a g ra d a u n iv ersalm en te e sem co n cei­ des sim ilares. N este sen tid o , a beleza é al-

m e n to ” (que aliás d ev eria ch am a r-se behaviórica), m as u m a d o u trin a filo só fica e até


m etafísica c aracterizad a p o r cin co teses fu n d am en tais: 1? m o nism o m aterialista e d e­
term in ism o ; 2? red u ç ão do fa to psicológico à in te ra ç ã o en tre o o rg a n ism o e o m eio ,
e co n cep ção de to d o c o m p o rta m e n to co m o um a “ a d a p ta ç ã o ” , sen d o esta d e fin id a
n ão só co m o u m a reação a u m a ação rea liza d a , m as tam b ém co m o u m a resp o sta
a tiv a cu ja fu n ç ã o é n e u tra liz a r essa ação , q u e r a tra v és de um a m o d ific a ç ã o d o o b je ­
to q u e a p ro d u z , q u e r a tra v és de u m a m o d ificação do p ró p rio o rg a n ism o ; 3? a firm a ­
ção de q ue o sistem a n erv o so fu n cio n a sem pre “ p o r a rc o s in te iro s ” , sem q u e a e n e r­
gia aferen te p o ssa ser d issip a d a nos c en tro s e sem q u e se p ossam aí p ro d u z ir fe n ô m e ­
n o s que façam surgir u m a co rren te n erv o sa eferen te; 4? co n cep ção d a psico lo g ia co ­
m o u m a ciência p rá tic a , q ue fo rm u la leis pelas q u a is se p ossa prev er a re a çã o ao
co n h ecerem -se os estím u lo s o u d e te rm in a r o estím u lo ao con h ecer-se a re a çã o ; 5?
c o n tin u id a d e e n tre a v id a a n im a l e a v id a h u m a n a e p assag em de u m a a o u tra atrav és
d a ev o lu ção . Le behaviorisme; origine et développement de ia Psychologie de réac-
tion en Amérique (1942), p p . 13-29.
S o b re Belo — C o n serv am o s no te x to d este a rtig o a tra d u ç ã o c o n sa g ra d a d a f ó r ­
m u la de K ant: “ S chön ist, d as w as o h n e B eg riff allgem ein g e fä llt.” M as a p a lav ra
“ a g ra d a r” {gefallen) n ão deve ser en ten d id a n o sentido de “ p ro p o rcio n ar prazer ( Verg­
nügen)” , dev er-se-ia dizer d e p referên cia: “ É belo a q u ilo q u e, sem co n ce ito , é o o b ­
je to de u m a sa tisfa ç ão d o e s p írito .” V er m ais a d ia n te a d efin ição de D u ra n d de G ro s
e a su a crítica.
A fó rm u la acim a é a p en a s, aliás, u m a d a s q u a tro defin içõ es p a rc iais q u e K ant
d á d o Belo, a q u e la q u e c o rre sp o n d e ao seg u n d o m o m e n to da su a an álise. A q u ela
q u e c o rre sp o n d e ao te rc eiro g rau é: “ A b eleza é a fo rm a de fin a lid a d e de um o b je to
e n q u a n to q u e é p erceb id a nele sem rep resen tação de u m fim .” Kτ ÇI , Critica do ju í­
zo, § 17. E sta fó rm u la en u n cia-se freq ü e n te m en te de fo rm a a b re v ia d a : “ O Belo é
u m a fin a lid a d e sem fim .” S ig nifica q u e u m o b je to é ju lg a d o belo q u a n d o os seus
elem en to s e stã o em re la çã o ao to d o na m esm a relação q u e as p a rte s d e um o rg a n is­
m o em re la çã o ao o rg a n ism o n o seu to d o , o u os m eio s em relação ao fim , m as sem
q u e se co n sid ere q u e esta a d a p ta ç ã o sirv a, n a re a lid a d e , p a ra alg um fim , seja u tilitá ­
rio , seja m o ral.
125 BEM

guiñas vezes oposta a o v alo r estético. Ver n aria m ais, neste caso , d o q u e o que a g ra ­
Anestético*, Estético*, Feio*. C f. Abso­ d a a tal classe social o u tal ép o ca. T al é
luto*. p o r ex em p lo o ceticism o estético de
T àè I ë em O que é a arte?
CRÍTICA
Rad. i n t Bei.
N ã o se p o d e d ar a priori d o Belo u m a
“ B e l a n a t u r e z a ” (A ), “ a im itação da
defin ição material, sendo o o b je to da E s­
Bela N a tu re za ” . F órm ulas estéticas m u i­
tética te ó ric a p recisam en te o de d e term i­
to usuais nos séculos X V II e X V III (cf.
n a r q u al c arac te rístic a, ou q u al c o n ju n to
F Ç Â ÃÇ , Lettre à ¡’Académie, V) e p a r­
E E
de características com uns se encontram na
ticularm ente desenvolvidas na obra do a b a­
p ercep ção de to d o s os o b je to s q u e p ro ­
de Bτ I I E Z 7 , Les beaux-arts reduits à un
vocam a em o ção estética e ao s q u ais se
seul principe, 1746. Parece que sob estas
ap lica esta m esm a q u a lific a çã o . É assim
expressões os num erosos autores que as uti­
que a Beleza é co n sid erad a p o r Kτ ÇI c o ­
lizaram lhe introduziram um conteúdo bas­
m o “ a fo rm a da fin alid ad e de um o b je to
ta n te variável. Ver MÃè I Ã7 « á« , Systèmes
e n q u a n to ele é p erceb id o sem rep resen ­
esthétiquesen France, cap . I, § 3. “ Fala-
ta çã o de fim ” ; por S T Ãú Ç τ Z 2
7 E 7 E co­
se m u ito d a Bela Natureza ; até n ão existe
m o o reco n h ecim en to da id éia geral no
gente ed u cad a que n ão tra ta de a im itar;
p a rtic u la r p o r um ser q u e conhece, n ão
m as cad a um crê e n co n trar dela o m odelo
e n q u a n to in d iv íd u o , m as e n q u a n to su jei­
na sua m an eira de s e n tir.” C ÃÇá« Â Â τ T ,
to p u ro isento de v o n ta d e. (O mundo co­
Origine des connaissances humaines, 2?
mo vontade e como representação, livro p arte, seção I, cap. V III, § 78.
III, § 38); p o r J ÃZ E E 2 Ãà com o “ a v irtu ­
de q u e tem o invisível de n o s cau sar um 1 . B E M (a d v ., p o d e n d o ser utilizad o

p ra z er d e sin te re ssa d o ” . Cours d ’esthéti- a d jetiv a m e n te co m o a trib u to ). D. Gut;


que, lição 32; etc. A lguns filósofos negam Wohl\ E. Good, well; F . Bien I. Bene. Ver
m esm o que seja possível e n c o n tra r alg u ­ Mal.
m a característica objetiv a com um das coi­ D iz-se de tu d o o q u e é o b je to de s a ­
sas d itas b elas; e sta p a lav ra n ã o desig ­ tisfação ou de ap ro v ação em q u alq u er or-

D Z 2 τ Çá á G 2 Ãè pensa q u e seria co n v en ien te a la rg a r o sen tid o d a p a lav ra Belo


E

p a ra d esig n ar to d o s os o b je to s d o p ra z e r, re strin g in d o -o p o r um e p íte to q u a n d o se


tr a ta r d o belo estético . Nouvelles recherches sur 1’esthétique et la morale, p. 69. (M.
Marsaf) De fa to , belo utiliza-se freq ü e n te m en te na linguagem c o rre n te , fo ra do d o ­
m ín io p ro p ria m e n te estético: “ U m a bela o casião , um belo g o lp e, um belo exem plo,
e tc .” M as a idéia é m enos a d o p razer d o q u e a de p erfeição no seu g ên ero . ( E. Bré-
hier — Ed. le Roy) “ U m a bela a ç ã o ” n ão tem o m esm o sentido que “ u m a boa a ç ã o ” :
neste caso , o que se q u e r ex p ressar n ã o é nem a idéia de a g ra d o , nem a de valo r a rtís ­
tico , m as a de co rag em m o ral ou de n o b reza dos sen tim en to s. (D. Parodi) A p ro p o s ­
ta de D u ran d de G ro s tem além d o m ais O d e fe ito d e p re ssu p o r q ue o essencial d o
v alo r estético é p ro v o c a r p ra z e r, o q u e n ã o é n a d a evid ente. {A. L.)
S o b re Bem — A p rim eira re d a çã o d este a rtig o dizia q u e o bem no sen tid o m oral
\ é a q u ilo q u e n a o rd em d a a ç ã o é p referív el a o seu c o n trá rio . “ O ag rad áv el e o ú til” ,
o b serv o u J. Lachelier, “ são ta m b é m preferív eis ao s seus c o n trá rio s e, c o n tu d o , n ão
são bens m o ra is. A idéia d o Bem m o ral n ã o é sep aráv el d a de o b rig a ç ã o .” E v itam o s
na nova re d a çã o d este a rtig o o q u e p o d e ria d a r lugar a esta crítica. P ode-se co n tu d o
o b serv ar q u e, se o q ue é ag rad áv el ou útil po d e ser feito sem negligenciar ou sacrifi­
car n ad a de melhor, é bem , m esm o m o ra lm e n te , agir assim .
BEM 126

dem de fin alid ad e: p erfeito no seu gêne­ relação aos ato s fu tu ro s o que se deve fa ­
ro , fav o ráv el, bem -su ced id o , útil p a ra a l­ zer. E sta p alav ra difere, c o n tu d o , b a sta n ­
g u m fim ; é o te rm o la u d ativ o univ ersal te d a de Dever : 1? p o rq u e ela n ã o im p li­
dos ju ízo s de a p re cia ç ão . A plica-se ao ca n enhum a idéia de o b rig ação ou de o b e ­
p a ssa d o e ao fu tu ro , ao co n scien te e a o diên cia a um a a u to rid a d e , m as ap en as de
in co n scien te, ao v o lu n tá rio e ao in v o ­ n o rm a o u de p erfeição ; 2? p o rq u e ela
lu n tá rio . concerne a o p ró p rio a to q u e deve ser co n ­
seg u id o e n ão à in ten ção .
2. BEM (su b st.) D . Gut, das Guie; no Rctd. int .: no sentido A , B, b o n ; no
sen tid o de b em -estar, Wohl; E. Good; F. sentido C , benign.
Bien; I. Bene. C f. Bom, C rítica.
A. R elativ am en te: a q u ilo q u e é útil
B EM (S o b eran o ) (G . TÒcyaddv.; L.
p a ra um d a d o fim , p a ra um ser. “ O bem
Summum bonum) D . Das höchste Gut;
d o E s ta d o .” ‘‘E n g a n a r um d o e n te p a ra
E. “Summum bonum"; F . Bien souve-
seu b e m .” E m p a rtic u la r (so b re tu d o no
rain; 1. Som mo bene.
p lu ra l): riq u e z a, coisa p o ssu íd a.
A. N a filosofia g reg a, o Bem p o r ex­
B. B em -estar.
celência, q u e é o único b o m p o r si m es­
C . C o n ceito n o rm a tiv o fu n d a m e n ta l m o e em relação ao q u a l to d o s o s o u tro s
da o rd em ética: aq u ilo q u e possu i um v a­ são ap en as m eios. S ecundariam ente, e em
lo r m o ra l, q u er categ ó rico (o Bem ), q u e r p a rtic u la r, em A 2 « è ó Â è , o o b je tiv o
I I E E

d e riv ad o (um bem ). E m relação ao s a to s de to d a a ativ id ad e n o m u n d o (£7. a M -


ex ecu tad o s é, pois, o q ue se ap ro v a ; em cômaco, l, 2, 1094a).

Este caso n ã o su p rim e a referên cia à idéia de o b rig a ç ã o se de resto a c o n sid e ra r­


m os co m o u m a das carac te rístic as essenciais da m o ra lid a d e : eia in terv ém e n tã o p a ra
d e te rm in a r se a q u ilo q ue se tr a ta de fazer p o d e sê-lo sem ferir q u a lq u e r regra o b rig a ­
tó ria . N este caso , ela in terv ém de u m a m an eira n eg ativ a e, p o r co n seq íiên cia, in d ire­
ta . M as, p o r o u tro la d o , n ão p o d em o s fazer com q ue esta idéia e n tre na p ró p ria d e fi­
nição do Bem m o ra l, p o rq u e este c c o n ceb id o p o r certo s filó so fo s c o m o um v a lo r,
m as n ão co m o um im p erativ o . (A. L.)
Ver Bom, o b serv açõ es, e Obrigação.
A p a lav ra Bem evoca u m a idéia estética de o rd em (ordo) m ais d o q u e de c o m a n ­
do. P o r o u tro la d o , n ão m e parece exclu ir a b so lu ta m e n te a in te n ç ão , m as im p licar
de p referên cia a sím ese d o p o n to de vista fo rm al e d o p o n to de v ista m aterial na
m o ra lid a d e , (M . Blondel)

S o b re S o b e ra n o Bem e Crítica geral — P arece-m e q u e h á em to d a s as utilizações


da p alav ra Bom e dos seus d eriv ad o s u m a d u a lid a d e fu n d a m e n tal de sen tid o : o bem
é perfeição (em si) ou felicidade (p a ra aq u ele q ue o p o ssu i). H isto ric am en te , é certa-
m en te este últim o sen tid o q ue é o p rim eiro : o bem é a q u ilo de que tem o s necessid a­
d e, o q u e nos satisfaz. O bem p o r excelência é a te rra ; é, depois, u m a posse q u a l­
q u er: ter um bem (MOUÉRE), comerciante de bens, bens-de-raiz; um trem d e m er­ 1
cad o rias ch am a-se em alem ão e em inglês um trem de bens, Güterzug, goodstrain.
O bem , no sen tid o de p e rfe iç ã o , é p ro v av elm en te a q u ilo q u e nos c a u sa u m a s a tis fa ­
ção o b je tiv a , o q u e nos satisfa z c o m o seres ra c io n ais: o hom em b o m é p rim itiv a m e n ­
te , e é sem p re p o p u la rm e n te , aq u ele que nos faz o bem; é, em seg u id a, aq u ele cu ja
c o n d u ta nos satisfa z o b je tiv a m e n te , aquele que faz o bem. ( J . Lachelier)
127 “ B IO M O R I IC O , B IO M O R F ISM O "

B. N a filosofia m o d ern a, e em p a rti­ju stiça, e que se cham am m ais com um en-


cular em K τ Ç , um bem tal q u e satisfaça
I te caridade*.
o hom em inteiram ente, tan to em relação
BER K ELEY (A rg u m cn lo de) Ver A r­
à razão com o em relação à sensibilidade
e à atividade. “ Der G egenstand des Begeh-
gumento.
rungsverm ogens v e rn ü n ftig e r endlicher B IO G E N É T IC A (L ei) “ O desen v o l­
W esen .” 1 {Kritik der prakt. Vernunft. vim ento em brio gênico rep ro d u z a série
Dialektik, cap. II, ed. K irchm ann, 133.) a n im a l.” SE 2 2 E è (1860). “ A onto gênese
CRITICA reproduz a filogênese” : o desenvolvim en­
to , e p a rtic u la rm e n te o d esenvolv im ento
Kτ ÇI c ritic a e s ta e x p r e s s ã o e n o t a q u e
e l a é a m b í g u a , p o d e n d o s o b e r a n o (höchs­
em b rio n ário de cada indiv íd uo, rep ro d u z
te) s i g n i f i c a r q u e r o m a i s e l e v a d o e m d i g ­ de m an eira a b re v iad a os e stád io s p e rc o r­
n id ad e (oberste), quer ab so lu tam en te rid os p ela espécie n a su a ev o lu ção . Fritz
c o m p l e t o ( vollendete), q u e r d i z e r , q u e n ã o MÜÂ Â E 2 (1864); H τ E T3 E Â (1866).
é u m a p a rte d e u m to d o m ais a m p lo e q u e Esta “ lei” foi frequentem ente co n tes­
n ã o t e m n a d a d e p a r c ia l; é es te, s e g u n d o tad a. Seria, em to d o caso , ap en as um p a ­
ele, o v e r d a d e ir o s e n tid o d e s ta e x p r e s s ã o , ralelism o nas g ran d es linhas.
p o is n o p rim e iro c a so s eria a p e n a s a p li­ B IO L O G IA D. Biologie; E. Biology;
c á v e l a o B e m m o r a l (ibid., K i r c h m . , 132).
F. Biologie·, I. Biologia.
M a s : 1? a u t i l i z a ç ã o e m e s m o e s t a c r í t i c a
T erm o c riad o p o r L τ Oτ 2 T3 (ver
d e te rm in a ra m com ex a tid ã o o sen tid o d a
Phil. zoologique, A v ertisse., p. 14) p a ra
e x p r e s s ã o ; 2 ? a d i s t i n ç ã o q u e ele e s t a b e ­
desig nar em geral a ciência dos seres vi­
l ec e p e r d e m u i t o d a s u a i m p o r t â n c i a se
vos, q u er dizer, d o p o n to de v ista d o o b ­
n ã o se a d m i t i r c o m e l e q u e e x i s t e u m i m ­
je to , a B o tâ n ica e a Z o o lo g ia; d o p o n to
p e ra tiv o c a te g ó ric o e u m b e m m o ra l a b ­
de vista d o s p ro b le m a s, a M o rfo lo g ia e
so lu to s, in d ep en d e n tes de q u a lq u e r c o n ­
a F isio lo g ia com to d a s as suas su b d iv i­
sid eração de se n sib ilid a d e ou de in ­
sões. B τ « . á ç « Ç ch am a ao p rim eiro p o n ­
clin aç ão .
to de v ista Special Biology e ao seg u n d o
O c o n c e ito é, p o is, b o m e a f ó r m u la
ú t i l d e se c o n s e r v a r .
General Biology (Vo Blological).
Rad. int,\ S u p reg (a) b o n (o ).
Rad. i n t Biologi.

B E N E F IC Ê N C IA D . Wohltätigkeit; B IO L O G IS M O V er Biomorfismo,
E . Beneficence·, F. Bienfaisance', 1. Bene- o bservações.
ficenza. “ B IO M Ó R F1C O , B IO M O R F IS M O ”
A ç ã o d e fazer o b em a o s o u tro s ; esta
T erm o s q u e designam o c a rá te r geral d as
p a la v ra é m u ita s vezes e m p re g a d a , s e g u n ­
tendências o u d as d o u trin as q ue in terp re­
d o a u tiliz a ç ã o d e H .S ú E ÇT E 2 n o s s e u s
tam os fenôm enos psicológicos ou sociais
Principies o f Ethics, p a ra d esig n ar os d e ­
(e p o d em o s acrescen tar, em certo s casos,
v e r e s o u a s a ç õ e s m o r a i s q u e v ã o a l é m cia
os fen ô m en o s físicos), c o n sid eran d o -o s
1. “ O soberano Bem é o objeio que satisfaria to­ com o um a fo rm a especial d a V ida* nos
da a faculdade de desejar de seres razoáveis finitos.” sentidos C e D.

Sobre “ B io m ó rfico , B io m o rfism o ” — P erm iti-m e p ro p o r n a 4? ed ição d o Voca­


bulário estes neolo gism os de que me te n h o freq ü en tem en te serv id o h á alg uns anos
nos m eus cursos e alg um as vezes nas m in has publicações (p. ex. Notice sur la vie
et les travaux d ’Espinas).
Eles parecem -m e m uito cô m o d o s p o r p erm itirem ev itar um a p erífrase cuja neces­
sidade se ap resen ta freqüentem em e q u an d o se fala das teorias co n tem p o rân eas. “ Bio-
“ B IO N O M IA " 1 28

“ B IO N O M IA ” D. Bionomie ; H. Bio- “ BOA F O R M A ” D . Guie Gestali.


nomics-, F. Bionomie ; I. Bionomia. N o ção essencial na “ teo ria da fo r­
Ciência das relações que têm os o rg a ­ m a ” , in tro d u zid a por W 2 «O 2
E , Un-
I 7 E E

nism os entre si e com os seus meios. Ter­ tersuchungen uber die Lehre von der
m o pro p o sto por R τ à L τ Ç3 è 2 e a d o ­
E I E
GestalL, 1922. S endo d a d o q ue to d a
tado por m uitos biólogos contem porâneos. fo rm a* , física, b io ló gica ou p sicológica,
Rad. int.\ B io nom i. c o n sid e ra d a co m o suscetível de v a ria r,
B IU N IF O R M E , B IU N ÍV O C O V er tende p a ra um estad o o u p a ra um regim e
Uniforme e Unívoco. de equilíb rio que n ão m u d a m ais u m a vez
atin g id o , e n q u a n to as circu n stân cias p er­
“ B L A S T O D E M O ” (G. &\aoTo\ g o ­
m anecerem as m esm as, ch am a-se “ boa
m o; ¿ifihos, povo).
fo rm a ” àq u ela que c o n stitu i este estad o .
T erm o p ro p o s to p o r E è ú « Çτ è p a ra
d esig n ar os in d iv íd u o s c o m p o sto s de ele­ E , em geral, a m ais sim ples, a m ais reg u ­
m en to s q ue são eles m esm os sociedades lar ou a m ais sim étrica das q ue se podem
de célu las, c o n stitu íd as no e sta d o de seg­ p ro d u z ir, sendo d ad as as con d içõ es ex­
m en to ou de ó rg ã o s d iferen ciad o s: “ U m trínsecas do fen ô m en o . Ver P a u l GuiL-
blastodemo, q u er dizer, u m a so cied ad e LAUME, “ La th éo rie de la fo rm e ” , Jour­
dup lam en te co m p o sta, cuja fu nção de n u ­ nal de psychologie, 1925; La psychologie
triç ã o é o laço de lig a ç ã o .” Sociétés ani­ de !a form e, 1937.
males, 1? e d ., p. 105. C f. “ E tre ou ne pas
BO A V O N T A D E Ver Vontade.
é tre ” , Revue philos., 1901, I, 465, o n d e
ele reto m a o sen tid o deste term o e c o n ­ B O C A R D O (ou B o k ard o ) M o d o da
co rd a (contrariam ente à sua utilização a n ­ 3? fig u ra que se reduz a Barbara* p o r
terior) que é m elh or reservar a palavra so ­ regressão* (red u ção ao a b su rd o ):
\
ciedade p ara os sistem as fo rm ad o s p o r in­
div íd u o s liv rem ente m óveis. A lgum M n ão é P .
E ste term o n ã o teve sucesso, p ro v a ­ T o d o M é S.
velm ente p o rq u e se assem elh a d e m a sia ­ L o g o , alg um S n ão é P .
do a blastoderme, em francês.
BO M D . Gu{\ E. Good\ F. Bon\ I.
BO A C O N S C IÊ N C IA C o n sciên cia Buono..I
m o ra l q u e ex p erim en ta (com ra z ão ou
sem ela) o sen tim en to de n ão ter n a d a a
rep ro v ar-se. I. Investigações sobre a teoria da form a.

lo g ism o ” foi alg u m as vezes u tilizad o n este sen tid o , m as falta a in d a um ad jetiv o c o r­
resp o n d en te, p o is biológico, m u ito u s u a l, q u e r dizer: “ relativ o à b io lo g ia ” (p. ex.
investigações bioló gicas) o u “ q u e a p re se n ta m as c aracterísticas d a v id a ” (p. ex. “ fe­
n ô m en o s b io ló g ic o s” ). (A. L.)
S o b re “ Boa fo rm a ” — A id éia e v o cad a p o r esta ex p ressão é d esig n ad a fre q u e n ­
te m e n te p elo n o m e de lei da b o a fo rm a , lei da fo rm a m elh o r (Geseiz der guien Ges­
tad, der besten Gesialt). N ã o é u m a lei p ro p ria m e n te d ita , pois a b o a fo rm a n ã o é
d efin id a in d e p en d en tem en te d a te n d ên c ia p a ra a su a realização , c o m o n o p rin cíp io
de C a rn o t o u n o p rin cíp io de C u rie, q u e, aliás, ex p rim em casos especiais, m as é a
a firm a ç ã o de u m a vecçâo n a tu ra l nas coisas o u nos fen ô m en o s p sicológicos. (A. L.)
S o b re Bom — É preciso a b rir u m a exceção p a ra a fó rm u la o bem público, q ue
é u su al, expressiv a e q u e n ão c o m p o rta eq u ív o co . (J. Lachelier, V. Egger)
N ão é necessário a fa sta r a q u e stã o de sab er se o bem de um ser é id ên tico ao
129 B O M SEN SO

A . T e rm o la u d a tiv o g e ra l: “ U m b o m d o p r o p o r a s seg u in tes re g ra s , q u e c la ri­


racio cín io ; u m b o m q u a d ro ; um b o m in s­ fic a ria m a lin g u a g e m :
tru m e n to ; e tc .” “ A c h a r b o m .” “ N ã o é I ? N o s e n tid o F , u tiliz a r d e p re fe rê n ­
s u fic ie n te te r e s p írito b o m , m as o p rin c i­ c ia as p a la v ra s perfeito, fiel, verdadeiro,
p a l é a p lic á -lo b e m .” D e s c a r t e s , Disc. o u ex p re ssõ es tais c o m o no sentido pró ­
do m étodo, I, 1. C f. Bem. prio da palavra... to d a s as vezes em q u e
E s p e c ia lm e n te : p o s s a h a v er c o n fu s ã o c o m o s e n tid o B.
B. M o ralm en te b o m . V er Bem, su b st., 2? N ã o u tiliz a r bom n o se n tid o C o u
B. E , sem q u e n a d a assin ale a q u ilo a q ue esta
u tilid a d e o u e sta a p tid ã o é re la tiv a .
C . Útil para um ser ou para um dado 3? R e se rv a r a e x p re ss ã o o bem p a r a
fim p ara,.. “ M usica bona est m elancho- o se n tid o é tic o B. E v ita r, p o r c o n se q ü ê n -
lico, m ala lu gen ti.” E s p i n o s a , Ética, 4? cia, as fó rm u las em q u e esta p a la v ra é u ti­
parte, Prefácio. liz a d a n u m se n tid o v a g o : o b e m d e u m
D . B o n d o s o , q u e g o s ta de d a r p ra z e r s e r. A q u e s tã o e sc o lá stic a : “ S e o b em de
a o s o u tr o s e d e lh es e v ita r o q u e é p e n o ­ u m ser é id ê n tic o a o seu f im ” , é u m a ta u ­
so . O s u b s ta n tiv o c o rre s p o n d e n te , n este to lo g ia n o s e n tid o C ; p o d e c o m p o r ta r
s e n tid o , é bondade *. u m a re s p o sta a firm a tiv a n o sen tid o B sem
E . A p to p a r a fa z e r o u p a r a re c eb e r a a d m itir n o se n tid o C , etc.
u m a a ç ã o ( bom para...). “ B o m p a r a f a ­ Rad. int.: A . Bon; B. Etike b o n ; C U til;
z er t u d o . " “ B o m p a ra fa z e r u m liv r o .” D. B enign; E. A p t.; F. P erfek t, fidel.

F . R ea liz a n d o d e u m a m a n e ira p e rfe i­ B O M S E N S O D . Gesunder Verstand,


ta , o u p elo m e n o s a p ro x im a d a , o tip o Gescheidtheidt: a m b o s n o se n tid o p o s i­
id e al d o seu g ê n e ro . “ U m b o m e sc rito r; tiv o B e m a is fo rte s q u e bom senso (cf.
u m b o m c id a d ã o .” E m p a rtic u la r, fiel aos h o m e m de m u ito sen so ); E . Goodsense,
p rin c íp io s d e u m a re lig iã o , d e u m a d o u ­ sound sense, right sense (estas p a la v ra s
trin a , de u m g ru p o social. “ U m b o m m u ­ d istin g u e m -se , c o m o em fra n c ê s , de sen­
ç u lm a n o .” “ U m b o m c a r te s ia n o .” so com um *, com m on sense ; a e x p re ssão
A lg u m a s vezes u tiliz a d o n este sen tid o good com m on sense e q u iv ale a grande
co m u m a p o n ta de iro n ia . bom senso). D iz-se a in d a sense , sem a d ­
je tiv o , e m e sm o m ais c o m u m e n te d o q u e
C RÍTIC A
em fra n c ê s. C f. Senso ; F . Bon sens; I.
A p a la v r a bom e os seus d e riv a d o s Senno.
a p re se n ta m , p o is, acepções m ú ltip las e d i­ E m D è T τ 2 è : “ A p o tê n c ia de bem
E I E

v erg e n tes. S e ria im p o ssív el e sp e c ializa r ju lg a r e d is tin g u ir o v e rd a d e iro d o fa lso ,


u m a p a la v r a tã o u s u a l. P o d e m -s e c o n tu ­ q u e é p ro p ria m e n te o q u e se c h am a o b o m

seu fim : deve ser p e rm itid o p r o c u ra r se a id é ia d e fim n ã o e stá la te n te n o s c o n c e ito s


A , B, D, F. (V. Egger) A q u e s tã o em si m e sm a p o d e, sem d ú v id a , ser c o lo c a d a , m a s o
e n u n c ia d o c ita d o n o te x to n ã o fica m e n o s o b s c u ro e e q u ív o co , co m o o p ro v a o p ró p rio
fa to de q u e ele p o d e c o rre s p o n d e r a estes d iv erso s c o n ce ito s. (Louis Couturat — A. L.)
P a re c e -m e q u e n ã o ex iste sim p le sm e n te a m b ig iiid a d e v erb al e n tre os co n ceito s
A , B, p o r u m la d o , e D , p o r o u tr o , m a s u m a re la ç ã o real d e id éias q u e se p o d e p r o ­
c u r a r e sta b e le c e r. (C . Webb) S em d ú v id a , e n ó s a d m itim o s ig u a lm e n te q u e u m u tili­
tá r io p ro c u ra re d u z ir A , B , F a C , m as e sta s são q u e stõ e s q u e a p e n a s se d ev em c o lo ­
c a r d ep o is de a n te s s e te r fe ito a d is tin ç ã o a n a lític a d o s c o n c e ito s. V er Critique et
fixation du langage philosophique , A n a i s d o C o n g r e s s o d e F i l o s o f i a , 1 9 0 0 , t o m o I .
(A. L )
BONDADE 130

se n so o u a ra z ã o , é n a tu ra lm e n te ig u al em B O N U N V A C A N S E x p ressão ju r í d i­
to d o s os h o m e n s ” (Disc. do método., 1 , 1.) c a q u e d e sig n a u m b e m sem p ro p r ie tá r io
E s ta s d u a s p a la v ra s e s tã o a tu a lm e n te n e m p o s s u id o r . A p lic a-se p o r m e tá fo ra
d ife re n c ia d a s : a p a la v r a razão* to m o u em filo s o fia a o q u e é o m itid o p o r u m a
u m se n tid o m ais té cn ico e é s o b re tu d o c a ­ c la s s ific a ç ã o , a o q u e n ã o cai n o d o m ín io
ra c te riz a d a p ela n o ç ão d o u n iv ersal; bom de n e n h u m a ciên cia j á c o n h e c id a , etc.
senso d e ix o u , p e lo c o n trá rio , de d e sig n a r
a q u ilo q u e é “ n a tu ra lm e n te ig u a l” em to ­ “ B O V A R 1 S M O ” T e rm o c ria d o p o r
Jules de G a u l t i e r (Le bovarysme , 1902)
d o s o s e sp írito s , e d e sig n a e sp e c ia lm e n te
p a ra d esig n ar “ o p o d e r q u e tem o h o m em
a p o tê n cia de bem ju lg a r, co m san g u e-frio
de se c o n c e b e r d ife re n te d a q u ilo q u e é ”
e ju s te z a , a s q u e s tõ e s c o n c re ta s q u e n ã o
e, p o r c o n s e q ü ê n c ia , d e c r ia r u m a p e rs o ­
c o m p o rta m u m a evid ência lógica sim ples.
O p õ e -se , p o is , s e g u n d o a f o r m a d a s ex­ n a lid a d e fic tíc ia , d e re p re s e n ta r u m p a ­
p re ssõ e s em q u e e n tra : p el q u e ele p r o c u r a s u s te n ta r a p e s a r d a
s u a v e rd a d e ira n a tu re z a e a p e s a r d o s f a ­
A : à lo u c u ra e a o s e sta d o s a n á lo g o s ,
to s . E s te te rm o é r e tir a d o d o n o m e d e
p a ix ã o , có lera: não estar n o seu b o m sen ­
E m m a B o v a ry q u e J . d e G τ Z Â « 2 c o n ­
I E

so . (F ic a e n tã o b a s ta n te p ró x im o d e sen­
s id e ra v a u m e x em p lo c a ra c te rís tic o d e s­
so comum*.) ta ilu s ã o (F l a u b e r t , M adame Bovary ,
B: à fa lta de ju íz o , à c arac te rístic a d o s 1857). N a s s u a s o b ra s u lte rio re s , J . de
e sp írito s lig eiro s o u d o s fa lso s e sp írito s: G a u ltie r a la rg o u a in d a m ais o sen tid o d es­
ter o u não ter b o m se n so . te te r m o a o a p lic á -lo a to d a s as ilu sõ e s
q u e o s in d iv íd u o s o u o s p o v o s c o n stro e m
B O N D A D E D . Güte\ n o s e n tid o B,
so b re si m e sm o s.
Gütigkeit ; E . Goodness; B . Kindness; F .
Bonté; I. B o n tà ; B . Benignità. B R A M A N T IP O u tr o n o m e d e Ba-
A . C a r a c te rís tic a d o q u e é bem ou malip.
b o m no s e n tid o m o ra l, q u e r q u a n d o se
B R U T A (M e m ó ria ) V er Memória.
fa la d as p esso as, q u e r q u a n d o se fa la d as
c o isa s. “ A q u e les q u e im a g in a m q u e se “ B R U T IS M O ” T e rm o c ria d o p o r
D eu s fo i d e te r m in a d o a ag ir p e la b o n d a ­ Sa in t -S i m o n p a r a d e s ig n a r a c o n c e p ç ã o
de d as p ró p ria s co isas, E le seria u m a g e n ­ p u ra m e n te m ecân ica d o s fen ô m en o s e u ti­
te in te ira m e n te n e c e s sita d o n as su as liz a d a p o r E s p i n a s , p a rtic u la rm e n te a o
a ç õ e s ...” L « ζ Ç« U , Teodicéia, 2.a p a rte , §
E
f a la r d a te o r ia d o s a n im a is - m á q u in a s o u
180. “ b ru tis m o a n im a l” . A id é ia in ic ia l d a f i­
B. E sp ecialm en te (D . Guíe, Gütigkeit; lo s o fia d e D e s c a rte s , Rev. de m étaph.,
E . Kindness', I. Benignità), C a r a c te rís ti­ m a io d e 1917, p . 2 6 5 . C f. Descartes et la
c a d e u m s e r sen sív el a o m al d o s o u tr o s , morale , I, I I 0 . “ Brutista ” , ibid . , 112.
d e se jo s o d e p r o p o r c io n a r a o s o u tro s o S a in t-S im o n d iz ta m b é m , em fra n c ê s ,
b e m -e sta r o u e v ita r tu d o o q u e o s p o ssa “ b ru tie rs ” p a r a d e sig n a r o s c ien tistas q ue
fa z er s o fre r; “ d o ç u ra , in d u lg ê n c ia, b e n e ­ a p e n a s se o c u p a m d a m a té ria b r u ta (físi­
v o lê n c ia ” . (L ittré ) co s e q u ím ic o s) em o p o s iç ã o à v id a.
c
C C o lo c a d a n o in íc io d e u m n o m e d e 2. “ C A B A L IS T A ” * (su b st. fem .) E m
silo g ism o , e s ta le tr a a s s in a la q u e ele p o ­ Ch. FÃZ 2 «E 2 : um a d a s trê s p aix õ es “ d is­
d e s e r re c o n d u z id o a Ceiarent *; n o c o r­ trib u tiv a s ” e d as d o ze p a ix õ es “ ra d ic a is ”
p o d o n o m e , q u e ele só se p o d e lig a r à o u essen ciais q u e s ã o , p a r a ele, as m o la s
p rim e ir a fig u ra a tra v é s d e u m ra c io c ín io d a a ç ã o h u m a n a . Ê o e s p írito d e p a rtid o ,
p o r a b s u r d o . V e r K. e n q u a n to te m a f o r m a d a in trig a e se m a ­
n ife s ta p o r u m a r d o r a o m e sm o te m p o
C A B A L A o u K A B B A L A H (h e b ra i­
a p a ix o n a d o e c a lc u lis ta . V er H . B ÃZ 2
c o ) C o isa (re c e b id a ); D . Kabbala ; E . Ca­
GIN, Fourier, p p . 204 -2 0 5 .
bala; F . Cabale o u Kabbale ; I. Cabala.
A . O b r a de filo s o fia h e b ra ic a , c o m ­ “ C A Ç A D E P Ã ” L . Venatio Pañis
p o s ta n u m a d a ta d e s c o n h e c id a e q u e se (Bτ TÃÇ , De Dignit , liv ro V , c a p . I I I).

a p re s e n ta c o m o o re s u m o d e u m a tr a d i­ C o n ju n to d e p ro c e d im e n to s e x p e ri­
ç ã o se c re ta q u e te ria c o ex istid o co m a r e ­ m e n ta is q u e serv em p a r a a e x p lo ra ç ã o d a
lig ião p o p u la r d e sd e as o rig e n s d o p o v o n a tu r e z a , p a r a c o n s ta ta r f a to s , a n te s d e
h e b re u . se c h e g a r à “ in te rp re ta ç ã o d a n a tu r e z a ”
e às “ tá b u a s * d e in d u ç ã o ” .
B . D o u trin a e x p o sta n e ssa o b ra e
cu jo s tra ç o s essenciais s ã o : o eso terism o * C A C O L A L IA V e r Coprolalia.
e, em p a rtic u la r, a p o ssib ilid ad e d e d eci­
f r a r u m se n tid o secreto n a B íb lia; a te o ria C A L E I D O S C Ó P IC O C a r á te r d e c e r­
d o d esen v o lv im en to d e D e u s, q u e to m a ta s m u d a n ç a s e, e m p a r tic u la r , d e c ertas
co n sciên cia d e si m e sm o m a n ife sta n d o -s e tra n s fo rm a ç õ e s d o s tip o s d e seres v iv o s.
p o r e m an a ç õ es su cessiv as, q u e r d iz er, e n ­ E s ta e x p re ssão a p lic a -se a o c a r á te r d e v a­
g en d ran d o g rad u alm en te to d a s as coisas d a ria ç ã o b ru s c a e c o o rd e n a d a q u e se o b s e r­
s u a su b stâ n c ia ; a e n u m e ra ç ã o d a s m ilícias v a em c e rto s c a so s, a n á lo g o à q u ilo q u e
celestes, q u e r d iz e r, d o s e sp írito s d ir e to ­ a c o n te c e n u m c a le id o s c ó p io , e m q u e u m
re s q u e a n im a m u m a p a r te d o m u n d o e c o n ju n to d e p e q u e n o s e lem en to s m ó v eis
p o r in te rm é d io d o s q u a is se p o d e m d o ­ re fle tid o s p o r e sp e lh o s p a ss a m b ru s c a ­
m in a r a s fo rç a s d a n a tu re z a ; a te o r ia d o m e n te d e u m p a r a o u tr o d o s siste m a s d e
s im b o lis m o d o s n ú m e ro s e d a s le tra s; e, e q u ilíb rio q u e p o d e m r e a liz a r e n tre s i, e
p o r fim , a correspondência* u n iv e rs a l, à a ssim se o rd e n a m e m n o v o s d e se n h o s,
q u a l se lig a a c o n c e p ç ã o d o h o m e m c o ­ q u a n d o se a g ita o u g ira o a p a re lh o .
m o u m m ic ro c o sm o s. E s ta e x p re ssã o é d e v id a , p a re ce , a E u
Rad. inl.: K a b a l. MER, Orthogenesis der Schmetterlinge, p.
24. F oi c ita d a p o r H . B erg so n n a Évolu-
1. C A B A L IS T A (s u b st. m a sc .) D . tion créatice, p. 80, e d esd e e n tã o to rn o u -
Kabbalist ; E . Cabalista; F . Cabaliste; I. se m u ito u s u a l.
Cabalis ta. C f. Ortogênese.
F iló s o fo q u e c o m e n to u o u d e se n v o l­
veu a c a b a la . E s ta p a la v ra c o n té m n ã o só C A L E M E S O u tr o n o m e d e Came-
a id éia de u m a d o u trin a te ó ric a , m a s ta m ­ nes*. E n c o n tr a - s e ta m b é m Calentes
bém d e u m a espécie d e m a g ia q u e d e la re­ (PÃ2 -RÃà
I τ Â , II I, V IH ), m as esta fo rm a
s u lta . R eú n e m -se fre q u e n te m e n te u m a e não se justifica, pois só se pode reduzir
o u tr a n a e x p re ss ã o ars cabalística. u m silo g ism o d e ste tipo a Ceiarent, d e ­
CAM ENES 132

p o is d a co n v ersão d a c o n clu são tra n s p o n ­ O c o n ju n to d o s fe n ô m e n o s q u e a p a ­


d o as p re m issa s. re c e m , n u m d a d o m o m e n to , a u m a m e s­
m a co n sciên cia p esso al, p o r o p o siç ã o ao s
C A M E N E S M o d o d a 4? fig u ra q u e se
fe n ô m e n o s su b c o n sc ie n te s o u in c o n s ­
re d u z a Celarent p e la tra n s p o s iç ã o d a s
c ien tes.
p re m is sa s e a c o n v e rs ã o d a c o n c lu s ã o .
CRÍTICA
Todo P é M .
N e n h u m M é S. E x iste p a r a c a d a in d iv íd u o to d a u m a
L ogo, nenhum S é P. classe d e fe n ô m e n o s q u e n ã o sâ o a p re s e n ­
ta d o s a o c a m p o d a c o n s c iê n c ia n u m d a ­
C A M E N O S F o r m a fra c a * (o u s u b a l­ d o m o m e n to , m a s q u e n ã o o b s ta n te es­
te r n a ) d e Camenes*. tã o à s u a d is p o s iç ã o , n o s e n tid o d e q u e
ele p o d e tra z ê -lo s a tra v é s d e u m sim p les
C A M E S T R E S M o d o d a 2? fig u ra q ue
a to d e v o n ta d e : p o r e x e m p lo , p a r a to d o
se re d u z a Celarent p e ia tra n s p o s iç ã o d as
in d iv íd u o n o r m a l, o se u n o m e , o se u e n ­
p re m is s a s e a c o n v e rsã o sim p le s d a m e ­
n o r e d a c o n c lu s ã o : d e re ç o , o s c o n h e c im e n to s té c n ic o s o u
c ien tífic o s d e q u e h a b itu a lm e n te fa z u so ,
Todo P é M . etc. F o r a d e ste c a m p o e s tã o a in d a o u tro s
N enhum S é M . e sta d o s de co n sciên cia: reco rd aç õ e s to ta l­
Logo, nenhum S é P . m e n te im p o ssív eis d e e n c o n tr a r , m a s q u e
n ã o o b s ta n te p o d e m re a p a re c e r, etc. P r o ­
C A M E S T R O S F o r m a frac a* (o u s u ­
p o m o s c h a m a r campo atual o c o n ju n to
b a lte rn a ) d e Camestres*.
d o s fe n ô m e n o s ¡m e d ia ta m e n te p re se n te s,
CAM PO DA
C O N S C IÊ N C IA D . e campo virtual o c o n ju n to d o s fe n ô m e ­
Umfang des Bewussteins; E . Field o f n o s q u e p o d e m o s fa z e r re a p a re c e r à v o n ­
consciousness o u area o f consciousness; ta d e .
F. Champ de la conscience; I. Campo del­ E n te n d a -s e q u e u m e o u tr o n ã o s ã o
la coscienza. lim ita d o s d e m a n e ir a rig o r o s a .

S o b re C a m p o d a c o n sc iê n c ia — É p re c iso o b s e r v a r q u e o c a m p o d a c o n sc iê n cia
n ã o é fix o , m a s v a riá v e l p a r a u m in d iv íd u o , e q u e c e rta s d o e n ç a s c o m o a h is te ria
s ã o p re cisam en te c arac te riz ad a s p elo “ e stre ita m e n to d o c a m p o d a co n sciên cia” . ( Pierre
Janet )
S o b re C a m p o p sic o ló g ic o — E s ta e x p re ss ã o e e sta n o ç ã o u tiliz a d a s p o r v á rio s
p sic ó lo g o s c o n te m p o râ n e o s (n o m e a d a m e n te L ew in ) fo r a m p o s ta s e m d is c u s s ã o p o r
R a y m o n d R u y e r n a sessã o d a S o c ie d a d e d e 2 6 d e n o v e m b ro d e 1938 (v er Bulletin,
ja n e ir o d e 1939). E is o re s u m o q u e ele n o s d e u d a s u a c rític a : “ A n o ç ã o d e c a m p o ,
q u e r se tr a te d e u m c a m p o físic o o u d e u m c a m p o p s ic o ló g ic o , im p lic a n e c e ssa ria ­
m e n te u m a c e r ta u n id a d e e s p a ç o -te m p o ra l, q u e to r n a o c a m p o p r ó p r io p a r a ser u m
lu g a r d e f o r m a s . M a s e sta u n id a d e é d e u m a o rd e m to ta lm e n te d ife re n te c o n fo rm e
se tr a te d e u m o u d e o u tr o c a s o . N o c a m p o físic o , p e lo m e n o s p a r a a física clássica,
a u n id a d e é re a liz a d a a tra v é s de in te ra ç õ e s g r a d u a is , e a s fo rm a s o b e d e c e m a p rin c í­
p io s d e ‘e x tre m u m ’ . N o ‘c a m p o ’ p s ic o ló g ic o , a u n id a d e é p r im á r ia , o b tid a p o r u m a
esp écie de ‘s o b re v o o a b s o lu to ’ e as fo r m a s são te m á tic a s : elas o b e d e c e m a u m a n o r-
m a tiv id a d e e c o n ô m ic a o u e sté tic a , etc. A lin h a re ta d e u m a n im a l em d ire ç ã o a su a
p re s a n ã o é u m a tr a je tó r ia ‘e x tr e m a i’ à m a n e ira d e u m a g e o d é s ic a , é u m a tr a je tó r ia
e c o n ô m ic a . A Gestalttheoríe c o n siste em d e sc o n h e c e r e sta d is tin ç ã o .” (R. Ruyer)
133 CÂNONE

CAM PO D E UM A RELAÇÃO D vés de e p íte to s a c re s c e n ta d o s à p a la v r a


Umfang-, E . Field\ F . Champ d ’une rela- Sehfield (ver G nw dzuge der physiol.,
tion; I. Campo. psychol. , 4? e d ., I I , 108, 124, 186).
C o n ju n to d o s te rm o s e n tre o s q u a is es­ B a l d w i n , Vo, d e fin e campo visual e o s
ta re la ç ã o p o d e ser a firm a d a . N u m a re la ­ seus e q u iv alen tes c o m o “ a s o m a to ta l d as
ç ão b in á ria (o u d iá d ic a) c h am a -se dom í­ sen sa çõ e s v isu ais e x c ita d a s p elo s e s tím u ­
nio d a re la çã o a o c o n ju n to d o s te rm o s a n ­ lo s q u e ag em s o b re u m a re tin a im ó v el
tece d e n tes e co-domínio (o u domínio con­ n u m d a d o m o m e n to . O c a m p o v is u a l,
verso) a o c o n ju n to dos te rm o s c o n se q u e n ­ a c re s c e n ta ele, se g u n d o H e l m h o l t z , é,
tes. S eja, p o r ex em p lo , R - marido de, o p o r assim d iz e r, a p r o je ç ã o e x te rio r de
d o m ín io é o c o n ju n to d o s m a rid o s , o co- u m a r e tin a , co m to d a s as su as im ag en s
d o m ín io o c o n ju n to das m u lh e re s, o c a m ­ e as su a s p a rtic u la rid a d e s ; ele p r o p õ e
p o o c o n ju n to d as p esso as casa d as. V er campo do olhar (D . Blickfe!d\ E . Field
Co ut ur at , Principes des mathématiques, o f regará ; F . Champ de rega rd \ I. Cam­
c a p . I, e Revue de métaph., 1904, 41-42. po di sguardó) p a r a d e s ig n a r “ o e sp a ç o
Rad. int.: F e ld . q u e p o d e ser a tra v e s s a d o p elo o lh a r d o
o lh o em m o v im e n to ” . E s ta d is tin ç ã o
C A M P O V IS U A L D . Sehfeld; E .
p a re c e -n o s p o u c o ú til. P a re c e q u e se p o ­
Field o f visión; F . Champ visuel; 1. Cam­
d e ria c o n se rv a r u tilm e n te os dois te rm o s
p o visivo.
A . C o n e n o q u a l deve esta r c o m p re en ­ in d ic a d o s, m as a p lic a n d o campo de olhar
d id o u m o b je to p a ra d a r u m a se n sa ç ã o a o sen tid o B e campo visual a o sen tid o A ,
v isu al, e sta n d o o o lh o im ó v el. C Â N O N E (d o G , Κ α ν ώ ν , re g ra ; de
B . C o n ju n to p s ic o ló g ic o d o s o b je to s in íc io , ré g u a ). D . Kanon\ E . Canon·, F.
q u e c aem so b o o lh a r n u m d a d o m o m e n ­ Canon·, I. Cânone.
to (e s ta n d o este c o n ju n to lim ita d o a o
A . C i ê n c i a s n o r m a t i v a s em g eral:
m e sm o te m p o p elo â n g u lo m á x im o so b
o q u a l a v isão é p o ssív e l, a d is tâ n c ia m á ­ E s ta p a la v r a é p o u c o m a is o u m e n o s si­
x im a q u e ela c o m p o r ta e o s o b s tá c u lo s n ô n im a d e norma*, m a s a p re s e n ta c o n ­
q u e o s d ife re n te s o b je to s o p õ e m à v is ã o tu d o a m a is a id é ia d e u m a re g ra p rá tic a ,
u n s d o s o u tro s ). o u d e u m m o d e lo a s e g u ir. P o r e x e m p lo ,
J . S. M ã Â Â c h a m a c o m este n o m e a s c in ­
CRÍTICA co fó rm u la s q u e re su m e m c a d a u m d o s
A lém d e ste s d o is s e n tid o s f u n d a m e n ­ m éto d o s d e c o n c o rd ân c ia * , d e d ife re n ç a * ,
tais, é a in d a c o n v en ien te d istin g u ir o c am ­ d e c o n c o r d â n c ia e de d ife re n ç a re u n id a s ,
p o v isu al d e u m o lh o e o d o s d o is o lh o s ; d a s v a ria çõ e s* c o n c o m ita n te s e d o s resí­
o c a m p o v isu a l de u m o lh o (o u d o s d o is d u o s * . E le in clu i ta m b é m a re g ra q u e
o lh o s ) fix o s, e o d e u m o lh o (o u d o s d o is p ro íb e explicar o m ais c o n h ecid o pelo m e ­
o lh o s) m ó v eis. W u n d t d istin g u e -o s a tr a ­ n o s c o n h e c id o e n tre “ th e tru e Canons o f

S o b re C â n o n e — S e n tid o A . E sp e c ia lm e n te em K a n t : “ Ich v e rste h e u n te r ein em


K a n o n d en I n b e g r if f d e r G rü n d s a tz e a priori des ric h tig e n G e b ra u c h s gew isser E r-
k e n n tn is sv e rm o g e n ü b e r h a u p t.’ ’1 Krit. der reinen Vern., M e th o d e n lh e re , A 796; B
824. N este s e n tid o , o cânone o p õ e -s e à disciplina, q u e d e te r m in a a p e n a s os lim ites
d a u tiliz a ç ã o de u m a fa c u ld a d e ; c o n s titu i u m organon q u e p o d e serv ir p a r a o a la r g a r
(ibid., c a p . I I , Kanon der reinen Vern., n o p rin c íp io ). O “ c â n o n e d a ra z ã o p u r a ” ,

I . “ Entendo pelo nome Cânone o conjunto dos princípios a p rio ri que fixam o legítimo uso de certas
faculdades de conhecer em g e ra l.’’
“ C A N Ô N IC A ” 134

in d u ctiv e p h ilo s o p h y ” 1. Lógica , V I, c a p . m e n te , o q u e se e n te n d e v u lg a rm e n te p o r


IV , § 2 . norm ativo , p o r u m la d o , e p o r tecnoló­
B . E m L « ζ Ç« U : “ C h a m o cânones às
E
gico , p o r outTO. A ss im , p a r a A . N a v ille
fó r m u la s g e ra is q u e d ã o d e in íc io o q u e a s re g ra s d e c á lc u lo fa z e m p a r te d a C a ­
se p ed e” (M ath. Schriften, V III, 217): p o r n ô n ic a .
e x em p lo , a f ó r m u la g e ra l q u e d á d o is n ú ­
D ire ito c a n ô n ic o D . Kanonisches
m e ro s q u a n d o se c o n h e c e a s u a s o m a e
a s u a d ife re n ç a , a fó r m u la q u e d á a s r a í­ R echt; E . Canon Law; F . D roit canon ;
zes d a e q u a ç ã o d e s e g u n d o g r a u , etc. I. D iritto canónico.
D ire ito e cle siástic o c a tó lic o (d ecisõ es
NOTA d o s c o n c ílio s e d o s p a p a s ) .
E s te te r m o re c e b e a in d a d iv e rso s s e n ­
tid o s esp e c iais: 1? u m d e s e n h o q u e in d i­ C A O S G . xctas (v o ra g e m , a b ism o );
c a q u a n ta s vezes u m d e te r m in a d o c o m ­ D . E . F . Chaos ; I. Caos.
p r im e n to to m a d o c o m o u n id a d e se d ev e
A . P rim itiv a m e n te , v a zio o b s c u ro e
e n c o n tr a r e m c a d a d im e n s ã o d e u m c o r ­
sem lim ites q u e p reex istia a o m u n d o a tu a l,
p o o u d e u m m o n u m e n to ; 2? a lista o r ­
m a s n ã o , p are ce , a títu lo d e re a lid a d e e te r­
g a n iz a d a p o r A 2 « è τ 2 T Ã d o s a u to re s
n a . V er P Â τ I ã Ã , Banquete., 178 B.
I

clássico s d ig n o s d e serem to m a d o s c o m o
m o d e lo s ; 3? o c o n ju n to d o s te x to s b íb li­ B . P o s te r io r m e n te (e ta lv e z s o b a in ­
c o s c o n s id e ra d o s c o m o a u tê n tic o s e f a ­ flu ê n c ia d a s id é ia s o rie n ta is ; cf. Gene-
z e n d o a u to r id a d e , e tc . sis, 1 , 2), m is tu ra c o n fu s a d e to d o s o s ele­
m e n to s d o m u n d o , a n te s d e eles serem
“ C A N Ô N I C A ” (G . KavovLxtí).
o r d e n a d o s p o r u m a p o tê n c ia o rg a n iz a ­
A . A L ó g ic a , e n tre o s E p ic u ris ta s . d o ra .
(D «  ;E ÇE è L τ é 2 T« Ã , X , 3 0 .)
C. P o r c o n se q u ê n c ia , c o n ju n to d e so r­
B . E m A d rie n Nτ â« Â Â E ( Nouveile
d e n a d o e sem n e x o . “ A d iv e rs id a d e a b ­
classification des Sciences) e em J . J .
s o lu ta d e u m c ao s n ã o p o d e ria re c e b e r a
GÃZ 2 á (Phüosophie de la religión, p . 30)
o c a s iã o d e n e n h u m a a ç ã o e p o r c o n se ­
serve p a r a d e sig n a r q u e r s u b s ta n tiv a m e n ­
q u ê n c ia d e n e n h u m p e n s a m e n to .” G .
te as ciên cias “ d e r e g r a ” , q u e r, a d je tiv a -
B τ T Â τ 2 á , Essai sur la connaissance
7 E

I. “ os verdadeiros cânones d a filosofia in­ approchée, p . 277.


du tiv a” . Rad. int.: K ao s.

q u e n ã o te m q u a lq u e r u tiliz a ç ã o e s p e c u la tiv a , s e rá p o is a re g ra d a s u a u tiliz a ç ã o p r á ­


tic a , q u e r d iz e r, d o e m p re g o le g ítim o q u e d e la se p o d e fa z e r p a r a re s p o n d e r à s q u e s ­
tõ e s d e D e u s, d a v id a f u tu r a e d a lib e rd a d e .
N a s u a Logik ( I n tr o d u ç ã o , § 1) ele o p õ e , p e lo c o n tr á r io , Organon e Kanon d a
s e g u in te m a n e ira : a ló g ic a n ã o é u m Organon d a s c iên c ia s, c o m o o s ã o p o r e x em p lo
a s m a te m á tic a s , p o r q u e e la n ã o fo rn e c e in d ic a ç ã o (Anweisung ) s o b re a m a n e ir a d e
a tin g ir c e rto s c o n h e c im e n to s e de a la r g a r o d o m ín io d a s v e rd a d e s c ie n tífic a s ; e la é
a p e n a s u m cânone, n a m e d id a e m q u e f o r m u la a s leis n e c e ssá ria s q u e o p e n s a m e n to
d ev e r e s p e ita r, e v e rific a se o e n te n d im e n to , n a s su as a p lic a ç õ e s , p e rm a n e c e d e a c o r ­
d o c o m ele p r ó p r io . É , a ssim , d iz ele, “ ein e allg e m ein e V e rn u n ftk u n s t ( canônica Epi-
cu ri)"'. Logik, e d . K irc h m a n n , p . 1 4 ./

1. “ U m a arte racional universal (a canônica de E picuro).”


135 C A P IT A L

C A P I T A L D . Kapital; E . Capita!; F . ren d im en to é c h a m a d o p o r ele renda (ren­


Capital; I. Capitale. te o f ¡and), p a re c e n d o -lh e de le g itim id a ­
S en tid o etim o ló g ico : capitalispars de- d e d u v id o s a (Riqueza das nações, I, 6).
biti (a s o m a d e v id a , em o p o s iç ã o a o s j u ­ B. T o d a riq u e z a , e n q u a n to n ã o serve
ro s). B Ã O -B τ ç 2 3 , Geschichte der Ka-
7 E
p a r a o c o n s u m o im e d ia to , m a s e n q u a n ­
pitalzinstheorien 1. to é d e stin a d a a to r n a r a p ro d u ç ã o d a s r i­
T e rm o u tiliz a d o n u m g ra n d e n ú m e ro
q u e z a s m a is a b u n d a n te o u m ais fácil.
de sen tid o s a p ro x im a d o s, d iferen tes e m al
d e fin id o s , m a s q u e a p re s e n ta m a c a r a c ­ CRÍTIC A
te rís tic a d e se a p lic a re m to d o s a u m c e r­ O e sfo rço d a m a io r p a rte dos e c o n o ­
to n ú m e ro d e riq u e z a s ta is c o m o h e rd a ­ m ista s fo i o d e re d u z ir estas d u a s co n cep ­
d e s, casas d e re n d a , v a lo re s em c a r te ir a , ções à u n id a d e p a ra ju s tific a r os ju ro s d o
fá b ric a s, m á q u in a s, in stru m e n to s, fu n d o s c ap ital p ela s u a p ro d u tiv id a d e . M as se es­
de c o m ércio , em o p o siçã o a o s a lim e n to s ta s d u a s d efin içõ es c o rre sp o n d e m c a d a
e ro u p a s de u so im e d ia to , casas d e h a b ita ­ u m a a co nceitos reais e p reciso s, e se é ver­
ç ã o , o b je to s d e a d o rn o , etc. (C h . G « á E , d a d e q u e elas co n v êm sim u lta n ea m e n te a
Principies d ’economie politique , 151.) u m g ra n d e n ú m e ro d e o b je to s, devem os
S em e n tr a r n e ssa s c o n tro v é rs ia s c u jo
c o n tu d o n o ta r q u e n ã o as p o d e m o s to m a r
c a r á te r n ã o é essencial m e n te filo só fic o ,
c o m o equiv alentes em extensão. C o m efei­
p o d e m -s e re d u z ir a d o is tip o s p rin c ip a is
to , as a rm a s , u ten sílio s, a p ro v isio n a m e n ­
as n u m e ro sa s d efin içõ es q u e fo ra m d a d a s
to s de u m h o m e m iso la d o , freq ü e n te m en -
d o c a p ita l (cf. B ald w in , V o).
te c ita d o s c o m o a fo rm a p rim itiv a d o c a ­
A. T o d a riq u eza e n q u a n to p ro p o rc iop­ ita l, são cap itais n o sen tid o B, m as n ã o
n a , o u está d e stin a d a a p ro p o rc io n a r, u m n o sen tid o A ; e, in v ersam en te, u m a s o m a
ren d im en to a o seu p ro p rie tá rio ; sendo to ­ a p lic a d a o u u m a c a s a a lu g a d a , se n ã o são
m a d o aq u i re n d im e n to n u m sen tid o m u i­ utilizadas n a p ro d u ção , são capitais n o sen­
to a m p lo : lu c ro s, re n d a s , ju r o s , etc. tid o A , m a s n ã o n o sen tid o B.
A áτ O SO« I 7 , de q u e m vem e sta d e fin i­ N ã o n o s c o m p e te fix a r a q u i o c o n c e i­
ç ã o , re strin g e o c a p ita l às riq u e z a s p ro ­
to q u e será d e sig n a d o p o r e s ta p a la v ra ,
duzidas, a fim de ju s tific a r m o ra lm e n te
m as o b serv am o s q ue dev id o a estas d iv er­
o s ju ro s e a re n d a . E le exclui a te rra , c u jo
gências n ão se deve n u n c a in tro d u zi-la nas
d iscu ssõ es de É tic a sem e sp e c ific ar e x a ­
1. H istória das teorias sobre o rendim ento d o ta m e n te em q u a l se n tid o ela é to m a d a .
capital. Rad. i n t K a p ital.

S o b re C a p ita l (d e fin iç ã o ) — J a c q u e s R u e f f p ro p õ e d e fin ir e sta p a la v ra de a c o rd o


co m as id éias d e Irv in g F « è T7 E 2 : “ T o d o o b je to , m a te ria l o u im a te ria l, su scetív el de
p ro d u z ir s e rv iç o s .” P o r “ se rv iç o s ” é p re c iso e n te n d e r “ as in flu ê n c ia s p ro c u ra d a s
pelo s h o m e n s ” , q u e r d izer, a u tilid a d e q u e se re tira o u q u e se p o d e re tira r de u m
b em p o s su íd o : p o r ex em p lo , o serv iço de u m a c a s a é p ro te g e r c o n tra as in te m p é rie s,
o serviço de u m q u ilo de p ã o a lim e n ta r, o serv iço d o n o sso c o rp o é o tra b a lh o q u e
ele p o d e p ro d u z ir, o serv iço de u m a p a te n te de in v e n çã o é to r n a r p o ssív el a p r o d u ­
ção d a c o isa in v e n ta d a . O ren d im en to d e u m c a p ita l p a ra um c e rto p e río d o é “ o f lu ­
xo d o s serv iço s fo rn e c id o s p o r ele d u ra n te este p e r ío d o ” . V er J. R Z E E E , V o r d r e so ­
cial, c a p . V I, to m o I, 70-71.

S o b re C a p ita l (etim o lo g ia) — D iz-se, ta m b é m , principa! em o p o s iç ã o aos ju r o s .


(L . W eber) P o d e r-se -ia a d o ta r s e m p re p rin cip a ! n e ste s e n tid o e e sp e c ializa r capital
co m o te rm o a n tité tic o de trabalho. (C . H ém ori)
C A P IT A L IS M O 136

C A P IT A L IS M O D . Kapitalismus; E . C. P è « TÃÂ Ã; « τ . C o n ju n to d as m a n e i­
Capitalism; F . Capitaiisme; I. Capitalis­ ra s h a b itu a is d e se n tir e d e re a g ir q u e d is­
mo. tin g u e m u m in d iv íd u o d e o u tr o (o u a lg u ­
A . R egim e social n o q u a l os cap itais* , m a s vezes u m g ru p o d e o u tr o : o c a r á te r
n o se n tid o B, n ã o p e rte n c e m a o s q u e os fra n c ê s). Kτ ÇI d e fin e o c a r á te r d e a c o r ­
to m a m p r o d u tiv o s p e lo seu tr a b a lh o . d o co m s u a d e fin iç ã o d e c au sa * ( c f . su b
E sp e c ia lm e n te , n o s e n tid o h is tó ric o , V o, B , 2 ? ) c o m o : “ E s m u s s ein e je d e
o reg im e de g ra n d e in d ú s tria e de p ro p rie ­ w irk en d e U rsach e ein en Charakter h ab en ,
d a d e p riv a d a d e se n v o lv id o n o s p aíses d . i. ein G esetz ih rer C a u s a litä t, o h n e w el­
m a is civ ilizad o s n o d e c u rso d o s sécu lo s ches sie g a r n ic h t U rs a c h e sein w ü rd e ” 1
X IX e X X . (Criticada razão pura, D ial, tr a n s e ., ed .
B, Doutrina se g u n d o a q u a l este e s ta ­ K e h rb ., 4 3 2 , liv ro II , c a p . II, 9? seção ,
d o é s u p e rio r a o e s ta d o c o n tr á r io , q u e r § 3b). C o n c lu i d a í q u e é c o n v e n ie n te d is­
d o p o n to d e v ista d a p ro d u tiv id a d e (ver tin g u ir n u m s e r o seu caráter empírico,
Crematística ), q u e r d o p o n to d e v ista d a o u fe n o m e n a l “ w o d u rc h sein e H a n d lu n ­
fe lic id a d e , q u e r d o p o n to d e v ista d a g en , als E rsc h e in u n g e n , d u rc h u n d d u rc h
ju s tiç a .
m it a n d e r e n E rsc h e in u n g e n n a c h b e s tä n ­
Rad. int.: K a p ita lism . d igen N a tu rg e se tz e n im Z u s a m m e n h ä n ­
C A R A T E R D . Charakter em to d o s o s ge s te h e n ” 12; e o seu caráter inteligível
sen tid o s; diz-se ig u alm en te, n o sen tid o ló ­ “ d a d u r c h es z w a r d ie U rs a c h e je n e r
gico , M erkmal ; E . Character em to d o s os H a n d lu n g e n als E rsc h e in u n g e n is t, d e r
sen tid o s e m esm o m ais ex ten so d o q u e em a b e r selb st u n te r k ein en B ed in g u n g en d e r
fran c ês; c o n tu d o Temper é s o b re tu d o S in n lich k eit steh t u n d selbst n ich t E rschei­
u s u a l n o s e n tid o C ; F . Caractere; 1. Ca n u n g is t” 3 (ibid., 4 3 3 . A d m itid o p o r
ra itere. ST Ãú Ç τ Z 2
7 E 7 E , O m undo como vonta­
A . S e n tid o geral e e tim o ló g ic o (G . de, e tc ., I, § 55).
XaQotxTtíe, u m a le tra ): sig no d is tin tiv o
q u e serve p a ra reco n h ecer u m o b je to . E m 1. “ Ê necessário que qualquer causa agente te ­
nha um caráter , quer dizer, um a lei da sua causali­
p a rtic u la r, tu d o a q u ilo q u e d is tin g u e u m
dade sem a qual não poderia ser de modo algum
ser, q u e r n a s u a e s tr u tu r a , q u e r n as suas causa” .
fu n ç õ e s (cf. Característica, C ). 2. “ pelo qual as suas ações, enquanto fenôme­
B . L ó g i c a . T o d o e lem en to co n ceitu ai nos, sào ligadas integralm ente a outro s fenômenos
segundo as leis constantes da natureza” .
q u e p o d e ser a firm a d o com v erd ad e de u m
3. “ pelo qual é, de fato, a causa dessas ações en­
ser o u d e u m a n o ç ã o . Compreensão* to­ quanto fenôm enos, mas não caindo ele próprio sob
tal. D istinguem -se os caracteres essenciais* as condições da sensibilidade, e não é ele próprio um
e acid en tais* , co m u n s* e p ró p rio s* . fenôm eno” .

S o b re C a r á te r — A h is tó ria d o c o n c e ito é in te re s s a n te . V er R . E Z T3 Ç , Grund­ E

begriffe der Gegenwart, 2.a e d ., e R . H « Â á ζ 2 τ Çá : “ Charakter ” in der Sprache des


E

vorigen Jahrunderts (Z e itsc h rift fu r d en d e u tsc h e n U n te rric h t, V I, 1).


S o b re C a r á te r , C — A p a ssa g em d o se n tid o ló g ic o p a r a o s e n tid o p sico ló g ico p o ­
de ex p licar-se p e la u tiliz a çã o d a p a la v ra n o s caracteres d e T E ÃE 2 τ è I Ã , c a rac te re s es­
p e c ífic o s, r e tra to s de u m tip o . (J. Lachelief)
É c o n tro v e rs o sab e r se se d ev e fa z e r e n tr a r n a d e fin iç ã o d o c a r á te r os fe n ô m e n o s
in te le c tu a is. P a re c e -m e q u e o s e n tid o d a p a la v r a fica u m p o u c o fo rç a d o q u a n d o se
vai a té aí. P o d e -s e d is tin g u ir a individualidade, q u e c o m p re e n d e to d a s as p a r tic u la r i­
d a d e s d e u m ser, e o caráter n o se n tid o re s trito d e fin id o m ais a tr á s . ( G . Dumas )
137 C A R ID A D E

D. É I « Tτ . N Ã sentido laudativo p o s ­ C h a m a m -se v u lg a rm e n te assim as


se de si, firm eza e a c o rd o consig o m esm o. q u a tr o v irtu d es* q u e P Â τ I ã Ã c o n sid e ra ­
Rad. int.: K a ra k te r. v a q u e c o n stitu ísse m a p e rfe iç ã o m o ra l
(s a b e d o ria , c o ra g e m , te m p e ra n ç a e j u s ­
C A R A C T E R Í S T I C A L . A rs charac-
tiç a ). C ;TE 2 Ã segue e s ta m e sm a d iv isã o
teristica ; D . Characteristik ; E . Characte­
e a p re se n ta -a c o m o a d m itid a pelos epicu-
ristic, F . Caractérístique; I . Caratterística. ris ta s e p elo s estó ico s {De Finibus, I, 13
A . A rte de re p re s e n ta r as id é ia s e as
a 16; I I , 16; e tc .).
su as re la çõ e s a tra v é s de sig n o s o u “ c a ­
E s ta ex p ressão vem de S an to A Oζ 2 Ã -
ra c te r e s ” .
è « Ã , m a s ele a a p lic a a o u tr a s v irtu d es
B . S istem a de tais sig nos: a Caracte­ (p ie d a d e , c iên c ia , e tc .). De Sacramentis,
rística universal de L E « ζ Ç« U (ta m b é m c h a ­ I I I , 2. E le c ita em m u ita s o u tr a s p a s s a ­
m a d a Especiosa [q u er d izer, Á lg eb ra] ge-
g en s as q u a tr o v irtu d e s p la tô n ic a s c h a ­
ral) d evia ser a o m esm o te m p o u rn a lin gua
m a n d o -a s virtutes principales (De o/ficiis
u n iv ersal filo só fica e u rn a ló g ica a lg o ­ ministrorum I, X X X IV , De Paradiso, II I,
rítm ica.
18, e tc .). M as as d u a s e x p re ssõ es são p a ­
C . S in ô n im o d e caráter* n o s en tid o A . ra ele s in ô n im a s , p o is se lê n o te x to d o
“ C A R A C T E R O L O G I A ” D . Cha- De Sacramentis c ita d o m ais a trá s : “ O m -
rakterologie (WZ Çá I , Logik, 3.a e d ., i l l , nes q u id e m v irtu tes a d S p iritu m p e rtin e n t;
61, e tc .). P s ic o lo g ia a p lic a d a à d e te r m i­ sed istae q u asi card in ales s u n t, quasi p rin ­
n a ç ã o d as c a ra c te rístic a s in d iv id u a is. C f. c ip a le s .”
Etologia. C A R I D A D E G . ccyavr}; L. Charitas,
“ C A R D E A I S (V irtu d e s )” L . Cardi­ o u m e lh o r, Caritas; D . Liebe, Wohltàtig-
nales virtutes ; D . Cardinaltugenden; E . keit; E . Charity; F . Charité ; I. Carità.
Cardinal virtues; F . Vertus cardinales; I. A. N a lin g u ag em d a te o lo g ia e d a m o ­
Virtu cardinalL ra l c ris tã s , e sta p a la v ra d e sig n a a m a io r

S o b re “ C a r a c te r o lo g ía ” — L E SE ÇÇE , q u e d e u este títu lo a u rn a o b r a re c e n te


(1 9 4 5 ), d is tin g u e d o is se n tid o s d a p a la v r a :
“ 1? N o s e n tid o e s trito a c a r a c te ro lo g ía é o c o n h e c im e n to d o s c a ra c te re s , se se
e n te n d e r p o r e sta p a la v r a o e sq u e le to p e rm a n e n te d e d isp o siç õ e s q u e c o n stitu i a es­
t r u t u r a m e n ta l d e um h o m e m ...
2? N o s e n tid o a m p lo , fr e q u e n te m e n te u tiliz a d o p e lo s a le m ã e s, a c a ra c te ro lo g ía
t r a t a n ã o a p e n a s d o q u e h á d e p e rm a n e n te , d e in icial e p e rp e tu a m e n te d a d o n o e sp i­
r ito d e u m h o m e m , m as ta m b é m d a m a n e ira c o m o este h o m e m e x p lo ra o fu n d o c o n ­
g ê n ito de si m e s m o , o e sp e c ific a , o c o m p e n s a , re a g e s o b re e le .” {Ch. Serrus)

S o b re C a r i d a d e , B — E n c o n tra -s e e m v á ria s p a ss a g e n s d e L E «ζ Ç« U e s ta fó rm u la :
“ A ju s tiç a é a c a rid a d e d o s á b io .” ( L . Couturat)

S o b re C a r id a d e (C rític a ) — A p e s a r d a e x a tid ã o d e s ta s d istin ç õ e s p e n s o q u e a p a ­


la v ra c a rid a d e n ã o é e q u ív o c a , e p o d e ser c o n s e rv a d a n a s u a u tiliz a ç ã o a tu a l. E n tre
e sta s trê s sig n ific a ç õ e s a p e n a s e x istem c a m b ia n te s , o s q u a is s ã o re fle x o s d a s d o u tr i­
n a s s o b re a id é ia . A caridade o p õ e -s e , s o b r e tu d o , à beneficência , p o r q u e se p o d e
se r b e n e fic e n te p o r in te re sse o u v a id a d e , m a s n ã o c a r id o s o ; à bondade p o rq u e e sta
ú ltim a p a l a v r a é e q u ív o c a , e se a p lic a fr e q ü e n te m e m e a o a ltru ís m o in in te lig e n te e
in a tiv o . (V. Egger)
CARNE 138

d a s trê s v irtu d e s te o lo g a is ( P a u lo , I Co- tátigkeit, Beneficence, S ú ÇT 2 , Princ. E E

rint ., X I I I , 13). E s ta v irtu d e c o n sis te n o o f Ethics, p a r te V e V I. C f . Deveres am ­


a m o r a o p ró p r io D eu s e a o p ró x im o e m pios, Deveres estritos).
D eu s. P o r co n seg u in te, a p a lav ra a p re se n ­ 2? Ou então se encara a antítese da ca­
ta u m a c a r a c te rís tic a re lig io sa q u e a d is ­ ridade e da justiça com o a de um princí­
tin g u e d e to d a fo r m a d e f ila n tr o p ia p u r a pio geral, subjetivo, afetivo, e de uma re­
e sim p les. gra prática, objetiva, social da moralida­
V ê-se a o m e sm o te m p o q u e ela n ã o de. A justiça e a caridade nâo são mais,
d e sig n a ta n to u m a c a te g o ria de a to s , u m
então, duas regras justapostas e comple­
mentares entre as quais se partilha o cam­
m o d o de c o n d u ta c o m o o p r ó p r io p r in ­
p o da moralidade, pois é possível que um
c íp io d a v irtu d e , a in s p ira ç ã o d e o n d e
princípio de dedicação e de am or seja o
e m a n a a m o ra lid a d e .
próprio m otor d a s a ç õ e s sim p le sm e n te
B. F o r a d e t o d a a a c e p ç ã o te o ló g ic aju s ta s ; p o is, in v e rsa m e n te , a regra d a ju s ­
o te rm o caridade é c o rre n te n o s d ia s d e tiç a p o d e esten d er-se a to d o o d o m ín io d o
h o je em m o r a l, o n d e é v u lg a rm e n te c o ­ d e v er, d e te r m in a n d o em q u e lim ites e em
lo c a d o em a n títe s e co m ju s tiç a . M as e sta q u e f o r m a s a n o s s a c a r id a d e p o d e le g íti­
a n títe s e p o d e e n te n d e r-s e d e d u a s m a ­ m a m e n te exércer-se. A c a rid a d e é, e n tã o ,
n e ira s: a m o r ( ’A 7arrTj, Liebe).
1 ? O u se e n c o n tr a aí u m a d iv is ã o d o CRÍTICA
p ró p r io d o m ín io d a m o ra lid a d e , u m a d is­
P r o p o m o s re strin g ir a p a la v ra a o se n ­
tin ç ã o de d u a s esp écies de a to s : o s d ev e­
tid o A e u tiliz a r n o s e n tid o B , 1?: Bene­
res d e c a rid a d e , o u positivos , o p õ e m -s e ficência·, n o s e n tid o B , 2 ? : Bondade.
e n tã o a o s d ev eres de ju s tiç a , o u n e g a ti­ Rad. in t.: K a rita t.
v o s, n a m e d id a em q u e o s p rim e ir o s n ã o
C A R N E V er Espirito.
s ã o exigíveis c o m o o s s e g u n d o s ; o s p r i­
m e iro s c o n s is te m em fa z e r p o s itiv a m e n ­ C A R N O T (P rin c íp io d e ) V er E ntro­
te o b e m a o u tr o s d a n d o a lg u m a c o isa d e pia, Involução.
si, o s s e g u n d o s re d u z e m -se a e v ita r fa z e r C A R T E S I A N I S M O D . Cartesianis­
o m a l a o u tr e m , e a p ie d a r- s e d o s o u tr o s . m o ; E . Cartesianism; F . Cartésianisme;
A c a rid a d e é e n tã o beneficência* (W ohl- I. Cartesianismo.

O A m o r d e s ig n a d o p o r ¿cyá-nij, q u e u n e o a m a n te e o a m a d o , e q u e c o m p o r ta
e m g e ra l re c ip ro c id a d e , é m u ito d ife re n te d o a m o r d e s ig n a d o p o r e g u s , esp écie de
g ra v ita ç ã o d o a m a n te e m re la ç ã o a o a m a d o , q u e d e ix a e m p rin c íp io o a m a d o in d if e ­
re n te , c o m o n o c a s o d o M o to r Im ó v e l. (E . Bréhier)
C f. A m o r , C rític a .
S o b re C a r te s ia n is m o — A p ro v o in te ira m e n te a e x c lu s ã o de p rin c íp io d irig id a p e ­
lo s a u to re s d o v o c a b u lá r io c o n tra a u tiliz a ç ã o d o s n o m e s de d o u tr in a n o ra c io c ín io
e n a d isc u s s ã o filo só fic a s. (F. TÔnnies)
N e ste a r tig o fig u ra v a e m p rim e ira r e d a ç ã o u m a te n ta tiv a d e re s u m o d a s teses es­
senciais c o m u n s aos c artesia n o s q u e fo i n ecessário s u p rim ir, n â o p o d e n d o estabelecer-
se o a c o r d o e n tre o s m e m b ro s d a so c ie d a d e , n em s o b re a q u e s tã o d e s a b e r se o te rm o
c a rte s ia n is m o se d ev e a p lic a r u n ic a m e n te a o s iste m a de D e sc a rte s o u e ste n d e r-se a
to d o o seu g r u p o , n e m s o b re a q u e s tã o d e s a b e r p re c is a m e n te o q u e , d o p e n s a m e n to
de D e sc a rte s , se to r n o u o p e n s a m e n to c o m u m d o s seu s d isc íp u lo s e d o s seu s s u c e sso ­
res. (Notas d e J. Lachelier, V. Egger, M. Biondel ; discussão d a s e ssã o d e 7 d e m a io
d e 1903) E ste d e s a c o rd o p a re c e c o n firm a r o f a to d e q u e o s n o m e s d e siste m a s a p e n a s
serv em p a r a e s ta b e le c e r a c o n f u s ã o . C o n tu d o , c o m o o b s e rv a M . B Â Ã Çá Â , “ sem -
E
139 C A S U ÍS T IC A

A . Filosofía de DESCARTES. fe re d a classe*: 1?, p o r q u e e sta é m e n o s


B . F ilo s o fía d o s d is c íp u lo s e d o s su ­ fe c h a d a ; 2 ? , p o r q u e e la te m a p e n a s u m
c e sso res d e D è T τ 2 è (B o ssu e t, F é n e ­
E I E v a lo r d e o p in iã o , e n q u a n to q u e a c a s ta
lo n , M a le b ra n c h e , E s p in o s a , P o rt-R o y a l, p o ssu i u m a e x istê n c ia le g a l e p riv ilég io s
o P . A n d ré , e tc .). p re c iso s ; 3 ? , p o r q u e a c a s ta im p lic a u m a
d is tin ç ã o re lig io s a . E s te te r m o , a p lic a d o
C RÍTIC A d e in íc io à s d iv isõ es so ciais d a ín d ia , t o ­
C o m to d o s o s n o m e s d e s iste m a s , a m o u n o s n o s so s d ia s u m v a lo r g e ra l, e
p a la v r a c a rte s ia n is m o é fr e q ü e n te m e n te m e sm o fr e q ü e n te m e n te m e ta f ó r ic o , co m
u tiliz a d a n a d iscu ssão filo só fica c o m u rn a u m to m g e ra lm e n te p e jo r a tiv o .
c o n o ta ç ã o m a l d e fin id a . P ro p o m o s , p o is, A s ordens d o a n tig o e s ta d o so cial
u tiliz á -la a p e n a s e m e x te n s ã o p a r a d esig ­ fra n c ê s d ife re m d a s c a s ta s p o r u m m o d o
n a r o g ru p o d e D e sc a rte s e d o s cartesia­ d e re c r u ta m e n to m a is a m p lo (c o o p ta ç â o
nos , q u e r d iz e r, d o s seu s d is c íp u lo s, n o d o c le ro , e n o b re c im e n to s re a is , e tc .).
s e n tid o a m p lo d a p a la v r a . V er BÃZ ; Â é , Ensaio sobre o regime
das castas (1908); J . L 7 ÃOOE , a r tig o
“ C A R T I S T A ” S in ô n im o a n tig o de “ C a s ta ” n a Revue de synthèse, to m o
c a rte s ia n o (em d e su s o ). A 2 Çτ Z Â á , Exa­ X V III (1939), o n d e Casta é d istin g u id a de
men du traité de 1‘essence du corps, Œ u ­ clã, classe, ordem, estado.
vres, t . X X X V III, 139. Rad. int.: K a st.
C A S T A P a la v r a to m a d a p o r v o lta d e “ C A S U A L IS M O ” V er Tiquismo ,
1740 a o p o rtu g u ê s : casta, d o la tim cas- o b s e rv a ç õ e s .
tus, n ã o m is tu ra d o , d e ra ç a p u ra ; D . Kas- C A S U ÍS T IC A D . Casuistic; E . Ca-
te; E . Caste; F . Caste; I. Casta. suistry; F . Casuistique; 1. Casistica.
G ru p o so cia l fe c h a d o , r e c ru ta n d o -s e E s tu d o d o s casos de consciência, q u e r
p o r h e re d ita r ie d a d e o u p o r a d o ç ã o . D i- d iz er, d o s p ro b le m a s d e p o rm e n o r q u e re-

p re se c h a m a ra m e s p o n ta n e a m e n te as d o u tr in a s a p a r tir d o n o m e d o seu c r ia d o r ,
e é ju s to , p o is a d o u tr in a im p lic a , a lé m d a p a r te in te le c tu a l, e m a is o u m e n o s c o m u ­
n icáv eis p e lo e n s in o a b s tr a to , u m e le m e n to v ital: é u m a o b r a d e a r te , u m ê x ito in d i­
v id u a l ...” E le c o n c o r d a , a liá s , q u e a s id é ia s a ssim n a s c id a s “ se in c o r p o r a m e m se­
g u id a n o p a tr im ô n io c ie n tífic o e c o le tiv o ” e q u e se p r o d u z d e v id o a isso “ u m p r o ­
g re sso d a filo s o fia g e ra l s o b re a s ru ín a s d a s d o u tr in a s p a r tic u la r e s ” . É n e ste ú ltim o
p o n to d e v is ta q u e n o s c o lo c a m o s n e ste v o c a b u lá rio . {A. L .)
S o b r e C a s u ís tic a — I m p o r ta a q u i d is tin g u ir d u a s id é ia s c o n f u n d id a s o r d in a r ia ­
m e n te d e m a is. E x iste u m a “ c a s u ís tic a o b je tiv a ” q u e , sem c o n s id e r a r o e s ta d o ín ti­
m o d e s ta o u d a q u e la c o n sc iê n c ia , e s tu d a n o a b s tr a to ta is o u ta is c o n f lito s d e d ev eres
n a s c id o s d o e m a r a n h a d o d e f a to s a c id e n ta is . E q u a n d o c o n s id e ra m o s u n ic a m e n te
este a s p e c to d o p r o b le m a , a rris c a m o - n o s a s u b s titu ir a v id a m o ra l p o r u m m e c a n is ­
m o e n g e n h o s o , m a s p e rig o s o , p o is s u p o m o s e n tã o q u e o m a te ria l d o s f a to s p o d e ,
m e sm o in concreto, d e te r m in a r o v a lo r d o s a to s e a b a r c a r o f o r m a l d a s in te n ç õ e s;
e p a re c e m o s d a r u m p rê m io d e isen ç ã o à h a b ilid a d e d o u ta q u e d e v e , p elo c o n tr á r io ,
a u m e n ta r a re s p o n s a b ilid a d e . M a s e x iste u m a “ c a s u ís tic a s u b je tiv a ” q u e to r n a p r o ­
p o rc io n a is as o b rig a ç õ e s , o s c o n s e lh o s , a s e x ig ên cias m o ra is a o g ra u d e lu z e d e f o r ­
ç a d e c a d a a lm a , a fim d e a e le v a r p er gradus débitos a re so lv e r os c a so s d e c o n sc iê n ­
c ia d e u m a m a n e ira c a d a vez m a is d e lic a d a . (M. Blondel)
A p a la v r a c a s u ís tic a c o n v ém a p e n a s a o q u e M . B lo n d e l c h a m a a c a s u ís tic a o b je ­
tiv a . O q u e ele c h a m a c a s u ís tic a s u b je tiv a é a d ire ç ã o d e c o n sc iê n c ia ; a v e rd a d e ira
c a s u ís tic a é u m a c iên c ia . (P . Malapert — L. Brunschvicg)
C A T A L E P S IA 140

su ltam da a p lic a ç ã o das reg ras éticas a ca­ a n im a is fe n ô m e n o s c a ta lé p tic o s. F o i a p li­


d a c irc u n stâ n c ia p a rtic u la r (esto ico s, m o ­ c a d a s e c u n d a ria m e n te a o e n to rp e c im e n ­
ra lista s c ris tã o s , K a n t). to s o frid o , p ro d u z id o n o h o m e m p o r u m a
T e n d o sid o os casu istas, em g e ra l, te ó ­ a g ita ç ã o f o r te , u m s u s to , u m a se n sa ç ã o
lo g o s, a p a la v ra ap lica-se so b re tu d o à é ti­ b ru s c a d e so m o u d e lu z , e tc . A c e ita p o r
ca n a s su as re la çõ e s co m a re lig iã o . L« I I 2 é .
T o m a -s e fr e q u e n te m e n te em s e n tid o p e ­
“ C A T A R S E ” D o G . xáOagots, p u ­
jo r a tiv o , p o r q u e se re p ro v a a o s c a su ista s
rific a ç ã o , e v a c u a ç ã o o u , c o m o se d iz fre ­
p re te n d e re m , a tra v é s de s u tile z a s de ló ­
q u e n te m e n te , “ p u r g a ç ã o ” *, q u a n d o se
g ica, ju s tific a r n ã o im p o r ta q u a is a to s.
fa la d e x á f l a p w râv ira$i}fiáT<j}p d e A ris ­
C A T A L E P S I A D . Katalepsie; E . Ca­ tó te le s (a p u rg a ç ã o d a s p a ix õ e s). Poéti­
talepsy; F . Catalepsie ; I. Catalessia. ca, V I, 1449*28.
E s ta d o p a to ló g ic o d e fin id o p o r u m T e rm o u tiliz a d o p e lo s p s ic a n a lis ta s ,
c o n ju n to de sin to m as m en tais e físicos: d e­ em esp ecial p o r B 2 Z 2 e p o r F 2 Z á ,
E E E

s a p a re c im e n to d o m o v im e n to v o lu n tá rio , p a ra a o p e ra ç ã o p s iq u iá tric a q u e c o n s is ­
conserv ação das atitu des m usculares im p ri­ te em tr a z e r d e v o lta à c o n sc iê n c ia u m a
m id as ao co rp o {flexibilitas cerea); algum as id é ia o u u m a re c o rd a ç ã o c u jo re c a lc a ­
vezes c o n tin u a ç ã o in d e fin id a d o s m o v i­ m e n to p r o d u z p e rtu rb a ç õ e s físicas o u
m e n to s q u e se fez o su jeito c o m eçar; re ­ m e n ta is e a ssim d e s e m b a ra ç a r o s u je ito .
d u ç ã o co n sid eráv el do n ú m e ro de idéias
C A T E G O R E M A G . xocTijyÓQrnia (p .
co n tid as no c am p o d a consciência {monoi-
ex. A 2 « è I ó I E Â E è , v ^q U q u ., 20*32). N a
deísmo de O T7 Ã2 Ãâ « TU , R « ζ ÃI , P « E 2 2 E
lin g u a g e m c lássica q u e r d iz e r p rim itiv a ­
J τ ÇE I ); g ra n d e su g estib ilid ad e p a ra as
m e n te a c u s a ç ã o .
id éias m ais sim p les, q u e p e n e tra m d ire ta ­
m e n te n o esp írito p o r in te rm é d io das se n ­ A . A q u ilo q u e é a f ir m a d o d e u m s u ­
sações e n ã o p o r in te rm é d io d a lin g u ag em , je ito . C f . A trib u to , Predicado.
c o m o no so n am b u lism o ; esq u ecim en to d e­ B. T e rm o c a te g o re m á tic o * .
p o is d a crise. C A T E G O R E M Á T IC O D . Kategore-
A catalep sia é natural q u a n d o se a p re ­ matisch; E . Calegorematic; F . Categore-
s e n ta e s p o n ta n e a m e n te ; a rtific ia l, n o c a ­ m atique ; I. Categoremático.
so d e s o n a m b u lis m o p ro v o c a d o . T e rm o e s c o lá s tic o , h o je e m d ia c a íd o
“ C A T A P L E X I A ” D . Kataplexie. em d e su so , salv o em a lg u m a s e x p ressõ es,
P a la v r a c ria d a p o r P r e v e r : A d o rm e c i­ elas p r ó p r ia s p o u c o u s a d a s .
m e n to d o s a n im a is p o r p ro c e d im e n to s A. Q u a n d o se fa la d o in fin ito : a q u e ­
a n á lo g o s ao s d a h ip n o s e , p a r tic u la r m e n ­ le c u jo s elem en to s ex istem n ã o só em a to ,
te p e la im o b iliz a ç ã o , q u a n d o este a d o r ­ m a s ta m b é m s ã o d is tin to s e s e p a ra d o s (de
m e c im e n to d e te r m in a n o s m e m b ro s d o s m a n e ira q u e se p o d e m c o m e ç a r a en u m e-

S o b re C a ta le p s ia — A e x p re ss ã o cataléptico a p lic a -s e a u m m e m b r o , a u m m o v i­
m e n to o u a u m a a titu d e q u a n d o se c o n s ta ta n eles a s c a ra c te rís tic a s d e fin id a s m ais
a tr á s , m e sm o se o e sp írito d o s u je ito n ã o tiv e r s id o in v a d id o in te ira m e n te p e la c a ta ­
le p sia c o m p le ta . (Pierre Janet)

S o b re C a te g o re m a — D a m e sm a m a n e ira q u e categoria p a ss o u d o se n tid o d e p re ­


d ic a d o p a r a o de classe de p re d ic a d o s , categorema p a s s o u a d e sig n a r a lg u m a s vezes
as d iv e rsas esp écies d e re la ç ã o ló g ic a q u e p o d e m a n te r o p re d ic a d o c o m o su je ito :
g ê n e ro , esp écie, d ife re n ç a , p ró p r io e a c id e n te . C f . Quinqué voces e Universais.
141 C A T E G O R IA

ra r) e c o n stitu e m o to d o p e la s u a a d iç ã o , c h am e categorias do ser (xcmjyoçCat τ ο υ


“ É v e rd a d e q u e existe u m a in fin id a d e de ouros) e, p o r a b re v ia ç ã o , categorias à s d i­
co isas, q u er d iz er, q u e existe sem p re m ais fe re n te s classes d o ser o u às d ife re n te s
d o q u e se p o d e a ss in a la r. M as n ã o ex iste classes de p re d ic a d o s q u e se p o d e m a f ir ­
n ú m e ro in fin ito d e lin h a s o u o u tr a q u a n ­ m a r d e u m s u je ito q u a lq u e r . Ele as e n u ­
tid a d e in fin ita se as to m a r m o s p o r v e r­ m e ra em n ú m e ro v a riá v e l; a lista m a is
d a d e ira s to d a s ... A s E sco las q u is e ra m d i­ c o m p le ta c o m p re e n d e dez: ο υ σ ί α , χ ο σ ά ν ,
z er is to a o a d m itire m u m in fin ito sinca- π ο ώ ν , t q ó s τ ι , πο υ , τ ο τ ζ , x d a 6 at, €X€l v ,
tegoremático, c o m o elas d iz e m , e n ã o o πο κ ΐ υ , ν ά ο χ ε ι ν ([Categorias, IV , l b.
in fin ito categoremático . ” L « ζ Ç « U , No v o
E M e s m a lis ta , ex ceto t í ί σ τ ι ν em lu g a r de
en$., II, X V II, 1. V er Sinca tegoremático, ο υ σ ί α , Tópicos , IX , 103b).
te x to e c rític a . A p a la v r a fo i to m a d a n o m esm o s e n ­
tid o , m a s u m a lista d ife re n te fo i d a d a p e ­
B. Q u a n d o se fa la d as p a la v ra s , a q u e ­
lo s e sto ico s e p elo s n e o p la tô n ic o s .
las q u e têm u m s e n tid o p o r si m e sm a s, e
n ã o são a p e n a s a m a rc a d e u m a re la ç ã o B . E m Kτ ÇI , e na esco la k a n tia n a , as
e n tre te rm o s s ig n ific a tiv o s. P 2 « è T « τ Ç Ã c ate g o ria s são os co n ce ito s fu n d a m e n ta is
re la ta q u e s e g u n d o o s dialectici (q u e ele d o e n te n d im e n to p u ro , “ S ta m m b e g riffe
o p õ e ao s E sto ico s) “ p a rte s o ra tio n is s u n t des re in e n V e rs ta n d e s ” ( Crítica da razão
d u a e , n o m e n et v e rb u m , q u ia h a ec s o la e pura, 97), fo rm a s a priori d o n o sso c o ­
et ja m p e r se c o n ju n c ta e p le n a m fa c iu n t n h e c im e n to , re p re s e n ta n d o to d a s as fu n ­
o ra tio n e m ; alias a u te m p a rte s syncatego- ções essenciais d o p e n sa m e n to d iscu rsiv o .
remata, h o c e st, c o n s ig n ific a n tia , a p p e ­ E las d e d u ze m -se d a n a tu re z a do ju íz o ,
la n t ” . Institutionesgrammaticae, II, IV , c o n s id e ra d o n a s su as d ife re n te s fo rm a s e
15; se g u n d o P 2 τ Ç Â , Gesch . d e rL o g ik ,
I
lig a n d o -se às q u a tr o g ra n d e s classes:
II, 148. Quantität, Qualität, Relation , M odalität
0ibid ., 96).
C A T E G O R IA G . xarrfyoQÍa, d e R ÇÃ Z â « 2
E E d á u m a e n u m e ra ç ã o d ife ­
xarrtyoQtlv, a f ir m a r ; L . Praedicamen- re n te d a s c a te g o ria s e d e fin e -a s n u m se n ­
tu m ; D . Kategorie; E . Category ; F . Ca­ tid o u m p o u c o d ife re n te : “ A s c a te g o ria s
tégorie; I. Categoria. s ã o as leis p rim e ira s e irre d u tív e is d o c o ­
A . P rim itiv a m e n te , em A 2 « è ó Â è ,
I I E E n h ecim en to , as relaçõ es fu n d a m e n tais q ue
p re d ic a d o * d a p ro p o s iç ã o ; d a í q u e ele lh e d e te r m in a m a fo r m a e lh e reg em o

S o b re C a t e g o r i a , A — A s c a te g o ria s e stó ic a s sã o d is c u tid a s p o r P Â Ã « Ç Ã , Enéa-


I

das, V I, I, 25 ss. O p ró p r io P lo tin o a d o ta as c in c o n tytora yevr¡ d e fin id a s n o Sofista


d e P Â τ ã Ã , m a s n ã o sem a lte r a r c o n sid e ra v e lm e n te o seu se n tid o ( Enéadas, V I, II ,
I

e I I I). (J. Lachelier)


C o m o d iv erso s o u tro s te rm o s filo só fico s p rim itiv a m e n te técn ico s, categoria e n tro u
n a lin g u ag em c o rre n te , em q u e é fre q ü e n te m e n te u tiliz a d o , a o c o n trá rio d o seu sen tid o
e sco lástico , p a ra d e sig n a r a s d ife re n te s espécies d o m e sm o g ên ero : “ E x istem v árias c a ­
teg o rias d e im ó v eis. E m p rim e iro lu g a r, e n tre as coisas c o rp o ra is , a lei estab elece d u a s
classes d e im óveis, e tc .” C Ã Â í Ç e C τ ú « τ Ç , Cours de droit civil, I, 679. E s te uso liga-
I I

se talv ez ao sen tid o g eral d e atributo, m a s m ais p ro v a v e lm en te a o f a to d e q u e o sistem a


d a s c ateg o rias (categ o rias d o ser) fo rn e c ia u m ex em p lo c ara c te rístic o d e d iv isão p rees­
tab elecid a. A ssim , a p a la v ra é u tiliz a d a s o b re tu d o n este sen tid o q u a n d o se tr a ta d e d is­
tin çõ es estab elecid as p o r u m a a u to rid a d e e n tre p esso as o u coisas q u e a p re se n ta m u m a
m e sm a c arac te rístic a g e ra l, a fim de tra tá -la s d ife re n te m e n te . M as e sta u t i l i z a ç ã o n ã o
é c o rre ta n a lin g u ag em filo só fica. (C . Hem on — Ch. Serras — A . L .)
C A T E G O R IA L 142

m o v im e n to ” (Logique, 1 , 184). E la s c o m ­ C a teg ó rico -d e d u tiv o (M éto d o ) V er De­


p re e n d e m , p a r a ele, o te m p o e o e sp a ç o . dutivo e Hipotético.
C. D e u m a m a n e ira m e n o s té cn ica , C a te g ó ric o (Im p e ra tiv o ) V er Impe­
entendem -se p o r categorias os conceitos ge­ rativo.
ra is c o m o s q u a is u m e sp írito ( o u u m g ru ­
p o d e esp írito s) te m o h á b ito d e re la c io n a r C A T Ó L IC O D . Katholisch; E . Catho-
o s seus p e n sa m e n to s e o s seus ju íz o s. lic (m u ito u s u a l n e ste sen tid o ); F . Catho -
L E âà -B2 Z 7 Â ch eg o u a c h a m a r d e ‘‘c a ­ fique; I. Cattolico.
teg o ria afetiv a” u m a to n alid ad e afetiv a co ­ A lém d o s en tid o esp ecial, m a s m ais d i­
m u m , “ p rin c íp io d e u n id a d e n o esp írito f u n d id o , q u e d e sig n a as Ig reja s d este n o ­
p a r a a s re p re se n ta ç õ e s q u e , d ife rin d o e n ­ m e , esta p a la v ra ta m b é m é u tilizad a n o seu
tre si n o to d o o u e m p a rte d o se u c o n te ú ­ sen tid o etim oló gico c o m o sin ô n im o d e u n i­
d o , o a fe ta m , c o n tu d o , d a m e sm a m a n e i­ versal (G . xafloX iK os, d e xadóhov, g e ra l­
ra ” . L e surnaturel et la nature dans la men­ m e n te , u m v e rsa lm e n te ). V e r p o r ex em p lo
talité' primitive, X X X V I. o tex to d e C la u b erg c ita d o m ais a d ia n te em
Rad. int.: K a teg o ri. Ontologia e o d e V in et n o Suplemento so ­
b re Socialismo.
C A T E G O R IA L V er Suplem ento .
C A U C H Y (A rg u m e n to d e) V er A r ­
C A T E G Ó R IC O G . xotTttyoQtxós; D .
gumento.
Kategorisch-, E . Categorical; F . Catégori­
que; I. Categórico. C A U S A L. Causa [d e cavere?]; D . Ur-
A . U m ju ízo categórico c o n siste — em sache; E . Cause; F . Cause ; I. Causa.
o p o s iç ã o a u m ju íz o h ip o té tic o * o u a u m E sta p a lav ra é sem p re co rrelativa a efei­
ju íz o d isju n tiv o * — n u m a asserção * q u e to. E x istiu n a A n tig ü id a d e e n o s c a rte s ia ­
n ã o c o n tém n em c o n d iç ã o n em a lte rn a ti­ n o s u m se n tid o m ais a m p lo d o q u e o seu
v a . A fo rm a m ais sim ples é a a firm a ç ão o u sen tid o a tu a l e q u e é n ecessário m e n cio n ar
a neg ação de um a trib u to * em relação a um de in ício p a r a ex p licar este ú ltim o .
su je ito . A . A s q u a tr o c au sa s de A 2 «è I ó I E Â E è

B , U m silogismo categórico é u m silo ­ (Metafísica, I, 3, 983a) são : 1?, a c a u sa


g ism o c o m p o sto d e trê s ju íz o s categ ó rico s fo rm a l, ij o vaia, t o t í ijv d vai (aliás, ò I

(v er Silogismo, Hipotético). eíòos, ò iraQ áòtiyíia, ibid., V , 2, 1013a);


I

S o b re C a te g ó ric o — Κ α τ η φ ο ρ ι κ ο ί , em A ris tó te le s , é m u ito u s u a l, m a s q u e r d iz er


a p e n a s a firm a tiv o (o p o sto q u e r a n eg ativ o , α πο φ α τ ι κ ό ν , q u e r a p riv a tiv o , σ τ ε ρ η τ ι κ ό ν ).

S o b re C a u s a (e tim o lo g ia ) — “ E tim o lo g ia in c e r ta ” (F 2 E Z á e T 7 E « Â ): “ E ty m o n
ig n o tu m ; q u id a m a cavillor, a lii a casus d e d u c u n t (q u o d h a u d im p r o b a n d u m ) ; n o n -
n u lli a quaeso, vel a b α ι 'σ α , a eo lic e α ν σ α , s o rs , p o r tio . S ed fo r te d e riv a n d u m est a
caveo, n a m ju r is c o n s u lto r u m im p rim is e s t cavere, q u o r u m causae q u o q u e s u n t, u n -
d e e t causidici a p p e lla n tu r ” (F Ã2 TE Â Â « Ç« , Vo, 417).
Causa v em c e r ta m e n te d e cavere; o s e n tid o p rim itiv o d a p a la v r a é ju r íd ic o , o q u e
c o n c o r d a b e m c o m a C rític a m a is a tr á s . S ó q u e o s g re g o s e n c a r a r a m a a ç ã o ju r íd ic a
d o p o n to d e v is ta d a a c u s a ç ã o o u d o p ô r e m c a u s a ( a m a ) . O s la tin o s c o lo c a ra m -s e
d o p o n to d e v is ta d a d e fe s a (cavere, causa). E m a le m ã o , a o rig e m d e Sache p a re c e
ig u a lm e n te ju r íd ic a : s e ria o “ d iz e r ” . Chose e m fr a n c ê s e cosa e m ita lia n o sã o u m
d u p lo d e causa, d a m e sm a f o r m a q u e e m a le m ã o Sache n e ste s e n tid o (Ursaché) d ev e
ig u a lm e n te d e riv a r d o te r m o ju r íd ic o . A ss is tim o s n o s n o s so s d ia s a u m a tr a n s f o r -
143 CAUSA

2 ? , a c a u s a m a te ria l, ή ϋ λ η τ ο ύ πο κ ε ί μ ε ­ causa principalis e causa instrumentalis (o


ν ο ν ; 3 ? , a c a u s a e fic ie n te , ή ¿χ ρ χ η τ ή s tr a b a lh a d o r e o u te n sílio ); causa directe
χ ι ν η σ &α ς ; 4 ? , a c a u s a f in a l, t ò ol· (ve­ e causa indirecte , T ÃOá è d e A I Z « ÇÃ
xa , Tccyα θ ό ν , t ò reX os. A ris tó te le s n ã o (a q u e la q u e p r o d u z e a q u e la q u e d e ix a f a ­
se serv e d e e p íte to s , m a s d iz s im p le sm e n ­ z er); causa unívoca e aequívoca (a q u e la
te n u m a e n o u tr a p a s s a g e m q u e a p a la ­ q u e a p e n a s c o n té m ta n to q u a n to e a q u e ­
v ra c a u sa (α ι τ ί α , 1 , 3; α ί τ ι ο ι /, V , 2) se u ti­ la q u e c o n té m m a is d o q u e o e fe ito ); cau­
liza e m q u a tr o s e n tid o s d ife re n te s . sa adductiva (q u e c o n d u z a c a u s a p rin c i­
A s e x p re ssõ e s causa form alis, mate- p a l a o a to ) , e tc . (G ÃTÂ E Ç« Z è , 356*-359*.
rialis, efficiens, finalis p e rte n c e m à e sc o ­ V er m ais a d ia n te a c rític a .)
lá s tic a . Causa form alis to m a e m F r . Bτ ­
B . E m D E è Tτ 2 I E è e n o s c a rte s ia n o s
TÃÇ u m s e n tid o m u ito e sp e c ia l (v e r For­
a p a la v r a causa é u tiliz a d a n o s m e sm o s
ma). S o m en te as expressões causa eficien­
te e causa fin a l p e rm a n ec e ra m em uso n o s s e n tid o s , m a s é ta m b é m e ste n d id a à re la ­
n o s so s d ia s , a p rim e ir a p a r a d e s ig n a r o ç ã o ló g ic a (q u e , a liá s , é c o n s id e ra d a p e lo
fe n ô m e n o q u e p ro d u z u m o u tr o (ver m ais e sp írito d a d o u tr in a c o m o in e re n te à p r ó ­
a d ia n te o s d ife re n te s s e n tid o s q u e se p o ­ p r ia re a lid a d e d o s fe n ô m e n o s p e rc e b i­
d e m a tr ib u ir a e s ta re la ç ã o ) o u a lg u m a s d o s ). “ C a u s a siv e r a tio ” (D E è Tτ 2 I E è ,
vezes o ser q u e p r o d u z u m a a ç ã o ; a se­ Resp. 2 v obj., a x io m a I). “ C a u s a seu r a ­
g u n d a , p a r a d e s ig n a r o o b je tiv o e m v ista tio ’’ (E è ú « ÇÃè τ , Ética , I, 11). A c a u s a ,
d o q u a l se re a liz a u m ato*. n e s te s e n tid o , é a q u ilo q u e fa z a v e rd a d e
O s e sc o lá stic o s d is tin g u ira m a in d a : d e u m a p ro p o s iç ã o , a p re m is s a d a q u a l
Prim a causa, s e g u n d o A 2 « è I ó I E Â E è a p o d e m o s d e d u z ir e, a títu lo d e a p lic a ­
(a q u e la q u e n ã o te m e la p r ó p r ia c a u sa ); ç ã o p a rtic u la r, o fa to d e o n d e resu lta logi-

m a ç ã o an álo g a : affaire p a sso u pela lin g u ag em d o P a lá c io e to rn o u -se ao m esm o te m p o


s in ô n im o d e cause e d e chose, q u a n d o o s e n tid o p rim itiv o e r a a p e n a s “ o c u p a ç ã o ” .
(Paul Tannery)
O u tro s e tim ó lo g o s lig am Sache (p rim itiv a m e n te n o s e n tid o ju ríd ic o ) a Suchen,
p r o c u r a r , p e rs e g u ir.

S o b re C a u s a , A — V er ta m b é m a s d ife re n te s d istin ç õ e s e sta b e le c id a s p e la e sc o ­


lá s tic a e n tre as c a u s a s em B o s s u e t , Traité des causes (p u b lic a d o e sp e c ia lm e n te d e ­
p o is de La connaissance de Dieu et de soi-même, E d itio n D e L ens d e 1875). (V. Egger)
A e x p re ssã o Causa sui a p a re c e n o s éc u lo X I I , p o r e x e m p lo , e m A la in d e L ille,
m a s e la n ã o se a p lic a lo g o d e in ício a D e u s; e n c o n tr a m o - la s o b a f o r m a N ihil est
causa sui. V er B τ Z O; τ 2 Ç 2 I E, “ D ie P h ilo s o p h ie d e s A la n u s d e In s u lis ” , p . 108, n o s
Beitrâge zur Gesch, des Phil. im Mitteialter1. N o g ra n d e p e río d o d a e sc o lá stic a D e u s
é a p e n a s c h a m a d o principian} sui , n ã o causa sui. (R. Eucken)

S o b re C a u s a , B — Q u a n d o se diz: “ A é c a u s a d e B ” q u e r-se d iz er: “ A e x istên c ia


d e A é c a u s a d a e x istên c ia d e B .” L o g o , a s c a u s a s e o s e fe ito s sã o proposições : s ã o
a q u ilo q u e M e in o n g c h a m a “ A nnahm en ” (Ueber A nnahm en, L e ip z ig , 1902). E s ta
o b s e rv a ç ã o é im p o r ta n te p o r m o s tr a r q u e u m a c a u s a é u m c a so p a r tic u la r d e u m a
r a z ã o ; p o r o n d e se re d u z a u m d o s p o s tu la d o s d o ra c io n a lis m o c a r te s ia n o . U m a p r o ­
p o siç ã o c au sa i p o d e e n u n c ia r-se : A e x iste n o te m p o t. D . B e x istirá n o te m p o t + At.
(B. Rusself)

1. C on tribuições p a ra a história da ftio s o fta na Idade M édia.


CAUSA 144

cam en te u m o u tro fato : “ Inferem , q u o p ó ­ e n te n d e -s e n o s m o d e rn o s em m ú ltip lo s


sito a liq u id p o n itu r ; suspendens, q u o n o n s e n tid o s:
p o sito a liq u id n o n p o n itu r (d ic itu r et Con­
C . O f a to d e u m ser q u e ex erce u m a
dido). Requisitum est su sp e n d e n s n a tu r a ação, H , C , q u e r d iz er, q u e m o d if ic a u m
p riu s . Causa suficiens est in feren s n a tu ra
o u tr o ser (in c lu siv e o c a s o e m q u e .e s ta
p riu s illa to ; causa est c o in fe re n s n a tu r a
m o d ific a ç ã o é a n iq u ila m e n to o u c ria ç ã o )
p riu s illa to ” (L E « ζ Ç« U , Inédits, e d . C o u tu -
sem n a d a p e r d e r n e m c e d e r d a s u a p r ó ­
ra t, 471). (Natura prius a ssin a la a q u i a a n ­
p r ia n a tu r e z a o u d o se u p o d e r d e a g ir u l­
te rio rid a d e ló g ica, n ã o c ro n o ló g ic a .)
te r io r m e n te . É o q u e M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E
C o n tu d o o p ró p r io L E « ζ Ç« U in d ic a
c h a m a eficácia {Entretiens métaphysi­
em o u tr o te x to o s e n tid o m a is e sp e c ia l­
ques, V II, 162 ss.). E le a o p õ e à c a u s a
m e n te re al d a p a la v ra c au sa: “ N ih il aliu d
ocasional, n a m e d id a e m q u e e s ta n ã o
e n im c a u s a est, q u a m re a lis r a tio ” {ibid.,
p re s s u p õ e n o s p ró p r io s o b je to s n e n h u m a
p . 5 33). E s ta d is tin ç ã o fo i f o r m u la d a d e
lig a ç ã o in tr ín s e c a q u e f a ç a a re la ç ã o e n ­
fo r m a m ais ex p re ssa p o r W ÃÂ E E e so b re ­
tr e o e fe ito e a c a u s a (ibid., V II, 159 s s.).
tu d o p o r ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , Quádrupla
raiz do princípio da razão suficiente , c a p . D . “ D e r B e g riff d e r U rs a c h e b e d e u ­
11. O sen tid o lógico d a p a la v r a causa a p e ­ te t e in e b e s o n d e re A r t d e r S y n th e sis, d a
n a s se c o n se rv o u em a lg u m a s lo cu çõ es d o a u f e tw a s A w as g a n z v e rsc h ie d e n e s B
c á lc u lo d a s p r o b a b ilid a d e s (p r o b a b ilid a ­ n a c h e in e r R egel g e se tz t w ir d ” 1 (Kτ ÇI ,
de d a s c a u s a s ). T e m , e n tã o , c o m o c o r r e ­
1. “ O conceito de causa designa um a espécie par­
la tiv o , consequência.
ticular de símese que consiste em q u e a algum a co i­
A c a u s a p ro p r ia m e n te d ita o u c a u s a sa, A, o u tra coisa com pletam ente diferente, B, se
e fic ie n te (n o s e n tid o a m p lo d e ste te rm o ) acrescenta segundo um a re g ra .”

S o b re a p a ssa g e m d o s e n tid o ló g ic o p a ra o s e n tid o físico e in v e rs a m e n te , n o ta r


o se g u in te te x to de H Ãζ ζ E è : “ S o le n t p r o p o s itio n e s d u a e a n te c e d e n te s p ro p o s itio n is
ilia ta e , siv e c o n s e q u e n tis , causas a p p e la ri. E t fe rri q u id e m p o te s t h o c , e tsi lo c u tio
ea p r o p r ia n o n sit: cu m in te lle c tio n is in te lle c tio , sed n o n o r a d o o ra tio n is c a u s a s i t . ”
Lógica, c a p , III (ed . M o le s o w rth , I, 38).
S o b re C a u s a , D — P o d e -s e a p r o x im a r d e sta d e fin iç ã o o se g u in te te x to de C ic e ro :
“ C a u s a ea est q u a e id e ffic it c u ju s e st c a u s a , u t v u ln u s m o rtis , e ru d ita s m o rb i, ig nis
a r d o r is . Ita q u e n o n sic c a u s a in te llig i d e b e t u t q u o d c u iq u e a n te c e d a t, id ei c a u s a
sit, sed q u o d c u iq u e e ffic ie n te r a n te c e d a t; n ec q u o d in c a m p u m d e sc e n d e rim id fu is-
se c a u sa e c u r p ila lu d e re m , n e c H e c u b a m c a u s a m in te ritu s fu isse T r o ja n is q u o d A le-
x a n d ru m g e n u erit, nec T y n d a re u m A g a m em n o n i q u o d C ly tm n e stram : h o c enim m o d o
v ia to r q u o q u e b e n e v e stitu s c a u s a g ra s s a to ri fu isse d ic e tu r, c u r a b e o s p o lia r e tu r ”
{De fa to , X V ). E s te te x to é, além d o m a is , in te re s s a n te , d a d o q u e d e ix a in d e te r m in a ­
d a a n a tu re z a d e ss a eficiência in a p re e n sív e l e p o r q u e nele se p e rc e b e a p a ssa g e m d a
d e fin iç ã o p o r re s p o n s a b ilid a d e à d e fin iç ã o p o r id e n tid a d e . V er m a is a tr á s a C rític a .
N o ta r q u e Kτ ÇI a d m ite ig u a lm e n te o s e n tid o C d a p a la v r a c a u sa . V er m ais a trá s
a d e fin iç ã o d e Caráter inteligível e c f. Razão prática , I n tr o d ., § 1. {A. L.)

S o b re C a u s a (C rític a ) — “ J . L τ T7 E Â « E 2 . N ã o v e jo , d e to d o e m to d o , a n e ce ssi­
d a d e d e s ta id e n tid a d e . P a re c e -m e q u e é q u e re r fa z e r físic a c o m a ló g ic a . A p o s iç ã o
d e u m p r o jé til e m d o is p o n to s d ife re n te s d a s u a tr a je tó r ia n ã o é a m e sm a p o s iç ã o .
C o m m a is f o r te ra z ã o se se t r a t a d e c o isa s q u e tê m n a tu re z a s , q u a lid a d e s , n ã o h á
n e n h u m a id e n tid a d e e n tre o q u e p r o d u z e o q u e é p ro d u z id o . N ã o h á m e sm o , q u a li-
145 CAUSA

Razão pura , A 89; B 122; Princípio da su ce ssã o n ã o d e ix a d e s e r o ú n ic o c rité ­


causalidade *). A d e p e n d ê n c ia “ a b so lu ta ­ r io e m p íric o p a r a re c o n h e c e r a c a u s a e o
m e n te g e ra l e m e sm o n e ce ssá ria ” q u e exi­ e fe ito {ibid. , A 203; B 247 $s.).
g e a c a u s a lid a d e é mais , s e g u n d o K τ Ç , I
E. “ O a n te c e d e n te o u o c o n ju n to de
d o q u e u m a sim p les s u c e ssã o in v a riá v e l, a n te c e d e n te s d e q u e o fe n ô m e n o c h a m a ­
p o is ta l s u c e ssã o n ã o c o n s titu ir ia as n o s ­ d o e fe ito é in v ariáv el e in c o n d ic io n a lm e n ­
sas re p re s e n ta ç õ e s em objetos. “ D a h e r te o c o n s e q u e n te ” (J. S. M « Â Â , Lógica,
d e r S y n th e sis d e r U rs a c h e u n d W irk u n g liv ro I I I , c a p . V , e Filos. de Ham ilton,
a u c h ein e D ig n itä t a n h ä n g t, d ie m a n g a r X V I, 355). E s ta d e fin iç ã o é, e m c erto s a s ­
n ic h t e m p irisc h a u s d r ü c k e n k a n n , n ä m ­ p e c to s , u m c a s o p a r tic u la r d a d e K a n t.
lich d a sz d ie W irk u n g n ic h t b lo ss z u d e r M as o m ite s iste m a tic a m e n te a lig a ç ã o
U rs a c h e h in z u k o m m e , s o n d e rn durch re a l, ló g ic a e n e c e s sá ria d e q u e a su ce s­
d e rse lb e g esetzt sei, u n d aus ih r e r f o l­ s ã o in v a riá v e l é o sig n o . N is so e la a p r o ­
g e .” 1 Ibid., A 9 2; B 104. E le o b s e rv a , x im a -se d a c a u s a o c a s io n a l e m M τ Â E -
ta lv e z sem r a z ã o , q u e o e fe ito p o d e ser BRA N CH E.
c o n te m p o râ n e o d a c a u s a (e x e m p lo s d o
CRÍTICA
a q u ec e d o r e d a a lm o fa d a d e fo rm a d o s p o r
u m p eso ); m a s c o m a re s e rv a de q u e a 1. A s p a la v ra s causa e lei fo r a m o p o s ­
ta s p o r A u g u ste C o m te q u e c o n fu n d e s o b
1. “ É por isso que â síntese da causa e do efeito a p rim e ira tu d o o q u e n e s ta o rd e m d e re ­
se acrescenta além disso um a dignidade que é abso­ lações lh e p a re c e n ã o p o d e r c a ir so b a o b ­
lutam ente impossível exprim ir empiricamente: co n ­
s erv aç ão : q u e r d iz er, p o r u m la d o , as p o ­
siste no fato de o efeito nào acontecer apenas no se­
guim ento da causa, mas que é colocado p o r ela e d e ­ tências m etafísicas (causas eficazes) e, p o r
la resulta.*’ o u tr o , as e s tr u tu ra s o u o s m ecan ism o s in-

ta tiv a m e n te , e q u iv a lê n c ia . H a v e r á a í m e n o s c a u s a lid a d e ? A q u e le q u e a b r e as p o r ta s
d e u m a re p re s a n ã o é re a lm e n te c a u s a d a p a s s a g e m d a á g u a ?
“ A . L ALτ Çá . P o d e -s e q u a lific á -lo a ssim , se o q u is e rm o s . M a s a s u a c a u s a lid a ­
E

d e e stá s u b o r d in a d a à c a u s a lid a d e m u ito m a is e fic a z d a m a ss a e d o p e so d a á g u a ,


sem o s q u a is n a d a se p r o d u z ir ia e q u e c o n tê m p re c is a m e n te , s o b f o r m a d e e n erg ia
d e p o s iç ã o , to d a a ra z ã o d o s e fe ito s q u e p o d e r á p r o d u z ir a c o rre n te . D e m a n e ira ge­
r a l, pode-se c h a m a r c a u s a a to d a a c o n d iç ã o sem a q u a l u m fe n ô m e n o n ã o o c o rre ria ;
e e sc o lh e m -se, e n tr e essas c o n d iç õ e s , p a r a a c h a m a r a s s im , a q u e la q u e d e sig n a u m
in te re ss e p rá tic o . C o n s o a n te q u is e rm o s p ô r em causa ta l p e ss o a o u ta l c irc u n s tâ n c ia ,
d ir-se -á q u e u m a c id e n te te v e por causa a d e s o b e d iê n c ia d e u m a c ria n ç a , o u a im p r u ­
d ê n c ia d e te r d e ix a d o p e rto d e la u m a e s p in g a rd a c a r re g a d a , e tc . M a s n e m u m a n e m
o u tr a é e ss e n c ia lm e n te e p o r n a tu r e z a a c a u s a d o a c o n te c im e n to .
“ J. L τ T7 E Â « E 2 . P o r o u tr o la d o , se se c o n s id e ra r n a s c o isa s a q u ilo q u e elas têm
d e id ê n tic o , n ã o h á m a is d e v ir e , p o r c o n s e q u ê n c ia , n ã o h á m ais c a u s a lid a d e .
“ A . L τ Â τ Çá E . Isso é v e rd a d e , m a s a c a u s a lid a d e p o d e ser ju s ta m e n te d e fin id a ,
a esse re s p e ito , c o m o a u n iã o ín tim a n a s re p re s e n ta ç õ e s sen sív eis c o n c re ta s , ‘in te ­
g r a is ’, d iria H a m ilto n , e n tre u m o u m a is e le m e n to s id ê n tic o s q u e a s lig a m e os ele­
m e n to s d ife re n te s q u e as d is tin g u e m .” Resumo da discussão n a s e ssã o de 7 de m a io
de 1908. C f. Condição.
V. Egger a p r o v a in t e u a m e n te a c rític a d a p a la v r a Causa e p r o p õ e d e sig n a r assim
o s d ife re n te s s e n tid o s: C , cau sa ativa\ D e E , c a u s a legal (n o s e n tid o d a p a la v ra a le ­
m ã Gesetzmassig)\ p o r fim , a c a u s a e n q u a n to id ê n tic a a o seu e fe ito p o d e ria ser c h a ­
m a d a c a u s a mecânica . E le p e n s a q u e seria c o r r e to e c ô m o d o o p o r a causalidade ver*
CAUSA 146

c o m p re e n sív e is p a r a o s n o sso s s e n tid o s p a r a o e s p e c ta d o r); o e fe ito to rn a -s e , p o r


d e v id o à su a escala, o u às su b stân cias m a ­ c o n s e q ü ê n c ia , id ê n tic o à c a u s a e
te ria is im p o ssív eis d e se p e rc e b e r, e q u e d is tin g u e -s e d e la a p e n a s p e lo fa to d e ser
se a d m ite m p o r h ip ó tese p a ra explicar cer­ a p re s e n ta d o c o m o e le m e n to de um o u tr o
to s e fe ito s físico s. V e r em p a rtic u la r a to in te le c tu a l p a ra o s u je ito c o g n o sc e n ­
Cours , 28 f liç ã o , Teoria fundam ental das te . L E « ζ Ç« U fo i o p rim e iro a f o r m u la r d o
hipóteses, o n d e ele cita c o m o e x em p lo os p o n to de v ista m e c â n ic o e s ta e q u iv a lê n ­
flu id o s, os tu rb ilh õ e s , o s “ siste m a s so b re c ia “ d a c a u s a p le n a e d o e fe ito t o t a l ”
a s c a u sa s d a q u e d a d o s c o r p o s ...” . E le {Gerh. Phil., 4 5 . C f. De equipollentia
d iz ta m b é m , n o m e s m o s e n tid o , “ m o d o causae et effectus. M ath., V I, 437).
d e p r o d u ç ã o ” . J . S . M ã Â Â, sem c o n te s ­ É d e n o ta r q u e a c a u s a e o efeito , deste
ta r a d is tin ç ã o , n e m o f u n d o d a te se , o b ­ p o n to d e v is ta , n ã o d ev em ser d e fin id o s
serv o u q u e e sta u tiliz a ç ã o d a p a la v ra cau­ c o m o p a rc ia lm e n te , m a s c o m o to ta lm e n te
sa é c o n tr á r ia a o u s o e le v a a c o n fu s õ e s . id ê n tic o s , p o is , n e ste em que ele n ã o é
C ita B τ « Â à (Phi. o f the H um an M ind,
E id ê n tic o a A , o o b je to d e p e n s a m e n to B
I, 2 1 9 ), q u e fe z a m e sm a c ritic a . não é e fe ito d e A . É a ssim q u e , p a r a H a ­
C o n tu d o , e s ta u tiliz a ç ã o d e C ÃOI E é m ilto n , o p rin c íp io d e c a u s a lid a d e sig n i­
a in d a m u ito c o rre n te . V er em p a rtic u la r fic a q u e “ all th a t n o w is seen to a ris e u n ­
to d a s as c itaçõ es e d iscu ssõ es c o n tid a s em d e r a n e w a p p e a re n c e h a d p re v io u s ly a n
M E à E 2 è ÃÇ , Identité et réalité, c a p . I: “ A e x iste n c e u n d e r a p r io r f o r m ... T h e n is
lei e a c a u s a .” th u s c o n ceiv ed a n a b so lu te ta u to lo g y b e t­
2. P rim itiv a m e n te a re la ç ã o e n tre c a u ­ w e en th e e ffe c t a n d its c a u s e s ” 1 ( Lectu­
sa e e fe ito p a re c ia ser a d e u m ser in te li­ res on Metaphysics, X X X I X , v o l. II ,
g e n te co m o a to q u e ele quis e d e q u e é, 377-378. C f . R τ BIER, Psychologie, p .
p o r c o n s e q u ê n c ia , re s p o n sá v e l [ctlría, 3 5 5 , n o ta ; L τ Â τ Çá E , “ P r in c ip e d e c a u -
causa, a í n o s , responsável, culpado, de s a lité ” , R evuephiios., 1890, II, 233). É
a tre w , questionar). p reciso , c o n tu d o , o b s e rv a r q u e n a lin g u a ­
P o r a n tro p o m o rf is m o , c o n sid e ra n d o - g em u s u a l e fa la n d o sem p re c is ã o , h á o
se q u e to d o s o s seres d a n a tu re z a ag em h á b ito d e c h a m a r e fe ito a to d o g ru p o de
a tra v é s de v o liç õ e s, c a d a fe n ô m e n o n a ­ fe n ô m e n o s q u e a p re se n te c e rta u n id a d e
tu r a l é re la c io n a d o co m u m a causa, q u e r p a r a os n o sso s s e n tid o s e n o q u a l u m a
d iz e r, c o m u m e s p írito q u e o p e n s o u e o p a r te n o tá v e l é efeito (n o s e n tid o r e s tr i­
q u is (A u g u ste C Ã O I E , M τ Çè E L , J a m e s e to ) d e o u t r o g ru p o d e fe n ô m e n o s a q u e
J . S. M « Â Â ; cf. Exame da filosofia de se c h a m a e n tã o a s u a c a u s a . P o r ex em ­
H am ilton, X V I, 355). p lo , o v e n to é causa d a q u e d a d a s fo lh a s.
M a s, à m e d id a q u e a c re n ç a n e sta s a l­ D a í d e riv a q u e u m a m e sm a c a u s a p o d e
m a s in d iv id u a is d e s a p a re c e , a c o n c e p ç ã o p ro d u z ir d ife re n te s efeito s (n o sen tid o v a ­
d a re la ç ã o e n tre c a u s a e e fe ito m o d if ic a ­ g o ; q u e u m m esm o efeito p o d e resu ltar de
se. N ã o p o d e n d o este e s ta r c o n tid o n a
1. “ tu d o aquilo que vemos aparecer sob um no­
vontade d a c a u s a , e n q u a n to p e n s a m e n ­ vo aspecto tinha um a existência anterior sob um a o u ­
to , é c o n c e b id o c o m o c o n tid o n a nature­ tra fo rm a. Conçebe-se assim um a absoluta tau to lo ­
za d a c a u s a (q u e é o b je to d e p e n s a m e n to gia en tre o efeito e suas causas” .

dadeira, C , c a r a c te riz a d a p e la v o n ta d e , à legalidade d e su ce ssã o o u d e s im u lta n e id a ­


d e, D e E . P o d e -s e p o ré m o b je ta r q u e m e sm o f o r a d a v o n ta d e h á lu g a r p a r a p r o c u ­
ra r u m a lig a ç ã o re a l, u m a causalidade verdadeira e n tr e o s fe n ô m e n o s , c o m o o o b ­
serv am C í TE 2 Ã e Kτ ÇI n o s te x to s c ita d o s m ais a tr á s . É a e sta q u e a p lic a m o s o n o ­
m e d e causa eficiente. O te rm o cau sa constituinte p a re c e -n o s a in d a m ais e x ato . (A. L.)
147 C A U S A L ID A D E

d ife re n te s c a u s a s, q u e r c o n c o rre n te m e n ­ A . Q u a lid a d e de c a u sa .


te, q u e r s e p a ra d a m e n te , e tc .). E s ta d e f i­ B . R ela ç ã o a tu a l e n tre u m a c au sa* e
n iç ã o u s u a l fo i em p a rtic u la r o p o s ta à d e u m e fe ito . S e n d o e s ta re la ç ã o c o n c e b id a
H τ O« Â Ã Ç
I p o r J . S. M « Â Â , E xam e , c a p . o u n ã o c o m o u m a a ç ã o n o s e n tid o D .
X V I: D a c a u s a lid a d e . A s c o n se q ü ê n c ia s
fo r a m d e se n v o lv id a s n a Lógica d o m e s ­ C a u s a lid a d e (P rin c íp io o u lei d e) U m
m o a u to r , liv ro I I I , c a p . V. d o s a x io m a s fu n d a m e n ta is d o p e n sa m e n ­
A o d e sfa z e rm o -n o s d este se n tid o v u l­ to , o u princípios racionais*. O e n u n c ia ­
g a r e in d e te rm in a d o , p o d e m o s c o n s id e ­ d o m ais u s u a l é este: “ T o d o fe n ô m e n o
r a r to d a s as d e fin iç õ e s d a c a u s a c o m o te m u m a c a u s a ” (e n ã o to d o efeito tem
u m a c o m b in a ç ã o em p ro p o rç õ e s d ife re n ­ u m a c a u s a , o q u e é ta u to ló g ic o , n o se n ­
tes d o s d o is s e n tid o s lim ites d e fin id o s tid o a tu a l d a p a la v r a efeito*).
m a is a trá s . O p rim e iro re p re s e n ta as o r i­ O u tr o s e n u n c ia d o s : “ E x d a ta c a u s a
gens p sico ló g icas deste c o n ceito ; o seg u n ­ d e te rm in a ta n ecessário se q u itu r e ffe ctu s;
d o c o rre sp o n d e a o seu v a lo r lógico e à d i­ et c o n tra si n u lla d e tu r d e te r m in a ta c a u ­
re ç ã o n a q u a l ele se d ese n v o lv e u p elas sa , im p o ssib ile est u t e ffe c tu s s e q u a tu r .”
su as ap licaçõ es m ecân icas: p o d e-se o b s e r­ E è ú « ÇÃ è τ , Ética, I, A x io m a 3. “ C u ju s-
v a r, c o m e fe ito , q ue a n o ç ão de c a u s a n as c u m q u e rei a ss ig n a ri d e b e t causa seu ra-
ciên cias é de u m u so ta n to m a is ra ro tio, tarn c u r existit q u a m c u r n o n e x is tit.”
q u a n to m ais elas são d esen v o lv id as, e q u e Ibid., I, 11, 2 ? .
ela te n d e a ser s u b s titu íd a p o r leis q u e “ N a d a a c o n te c e sem q u e h a ja u m a
e n u n c ia m a p e rm a n ê n c ia o u a e q u iv a lê n ­ c a u s a o u , p elo m e n o s, u m a ra z ã o d e te r­
cia de c ertas g ra n d e z a s . m in a n te , q u e r d iz e r, a lg u m a c o isa q u e
P ro p o m o s , p o is, co n se rv a r n a p a la v ra p o s sa s e rv ir p a r a d a r u m a ra z ã o a priori
os d o is s e n tid o s , d is tin g u in d o -o s a tra v é s p o r q u e isso é e x iste n te e n ã o n ã o -
d a s e x p ressõ es causa eficaz e causa efi­ e x iste n te e p o r q u e isso é a ssim e n ã o de
ciente (S). o u tr a m a n e ir a .” (L « ζ Ç« U , Teodiceia , §
E

Rad. i n t K a u z . 44. V er Razão suficiente e Causa, § B .)


K τ Ç , q u e c lassific a este p rin c ip io
I

C a u s a fin a l V er Finalidade.
c o m o s e g u n d a analogia* da experiência,
C A U S A Ç Ã O D . Causation; E . Cau- d e u dele d o is e n u n c ia d o s d ife re n te s . 1?:
sation; F . Causation; I. Causazione. “ G r u n d s a tz d e r E rz e u g u n g : A lles, w as
A ç ã o de c a u s a r. V er Causa e Causa­ g e sc h ie h t (a n h e b t zu se in ) setz t etw as v o ­
lidade. ra u s , w o ra u f es n a ch e in er Regel fo lg t.” 1
Crítica da razão pura, 1? e d iç ã o , A n a lí­
C A U S A L D . Causal; ursachlich; E . tic a tr a n s c e n d ., liv ro I I , c a p . II .
Causal; F . Causal; 1. Causale. 2? “ G ru n d s a tz d e r Z e itfo lg e n a ch
R elativ o à causa*, q u e p e rte n c e à c a u ­ d e m G e se tz e d e r C a u s a litä t: A lle V e rä n ­
s a o u c o n s titu i a c a u s a (S). d e ru n g e n g esc h e h en n a c h d e m G esetze
C A U S A L ID A D E D . Causalitàt; E .
1. “ Princípio da produção: tudo o que acontece
Causality, causation ; F . Causalité; I. (ou começa a ser) supõe antes de si algo de que re­
Causalità. sulta segundo um a reg ra.”

S o b re C a u s a lid a d e — N ã o se d e v e d iz e r , c o m o o u v im o s fre q ü e n te m e n te : “ T o d o
fe n ô m e n o tem a sua c a u s a ” , o q u e d e te rm in a o p rin c íp io d e c a u s a lid a d e em p rin c í­
p io d a s leis d e su c e ssã o , o u lei g e ra l d a su c e s sã o . (F . Egger) E s o b re tu d o o q u e p a r e ­
ce im p lic a r q u e u m d e te rm in a d o e fe ito a p e n a s p o s sa ser p ro d u z id o d e uma ú n ic a for­
ma, o q u e é in e x a to . (A. L.)
CA USA SU I 148

d e r V e rk n ü p fu n g d e r U rs a c h e u n d W ir ­ B. íd o lo s d a c a v e rn a (Jdola specus,
k u n g .M| Ib id ., 2? e d iç ã o . Bτ TÃÇ ). E le c h a m a a ssim , r e c o rd a n d o a
S egu n d o ST Ãú Ç τ Z 2
7 E 7 E : “ In d e r a le g o ria d a c a v e rn a p la tô n ic a , a o s e rro s
n u n m e h r d a rg e ste llte n K lasse d e r O b je k te “ q u a e o r tu m h a b e n t ex p r ó p r ia c u ju sq u e
fü r d a s S u b je k t, tr itt d e r S atz v o m z u re i­ n a tu r a et a n im i et c o r p o r is , a tq u e e tia m
c h e n d e n G ru n d e a u f als Gesetz d e r C au - ex e d u c a tio n e e t c o n s u e tu d in e , et fo rtu i-
s a litä t, u n d ich n e n n e ih n als so lch es den tis re b u s q u a e sin g u lis h o m in ib u s acci-
d u n t ” (De Dignitate, V , 4).
S atz v o m zu reich e n d e n G ru n d e des W e r­
d e n s, principium rat ionis su ffid en t isfien- C A V IL A Ç Ã O D . Spitzfindigkeit; E .
di... E r ist fo lg e n d e r: w e n n ein n e u e r Z u s ­ Caviliing, quibbling ; F . Cavillation; I.
ta n d eines o d e r m e h re re r realen O b je k te Cavillazione, cavUlo.
' A rg u m e n to v e rb a l q u e n ã o to c a n o
e in tritt, so m u ss ih m ein a n d e re r v o rh e r­
fu n d o sério d a s co isas. “ O b je to u -se a esta
geg an g en sein , a u f w elchen d e r neue regel­
d e fin iç ã o a e x istê n c ia d e d e se jo s s e m n e­
m ässig , d .h . allem all, so o ft d e r e rste d a
n h u m p o d e r c o rre s p o n d e n te , e K a n t a p e ­
ist fo lg t.” 12 Ueber die vierfache Wurzel des n a s re s p o n d e u a tra v é s d e u m a c a v ila ç ã o
Satzes vom zur. Grunde, c a p . IV , § 20, lite r á r ia .” R ÇÃ Z â « 2 , Psychol. ratio-
E E

F ra u e n s tä d t, I, 34. O m e sm o p a rá g ra f o nelle, 2? e d ., I, 320.


co n tém : 1?, u m a c rítica d a s relaçõ es e n tre
C E G U E I R A D . Blindheit; E . Blind-
causa e condição', 2 ? , u m a c rític a d a s d e­ ness ; F . Cécité ; 1. Cecità.
finições d a c a u s a d a d a s p o r W Ã Â E E e p o r E s ta d o d a q u e le q u e n ã o te m u s o d a
B 2 Ãç Ç . v is ta .
V er ig u a lm e n te m ais a trá s n o a rtig o A cegueira mental (D . Seelenblind-
Causa o e n u n c ia d o de H τ O« Â Ã Ç , q u e é
I heit; E . M in d blindness ; F . Cécité m en-
a o m esm o te m p o u m a d e fin iç ã o d a id éia tale ; I. Cecità psichica ), te rm o c ria d o p o r
de c a u sa . C 7 τ 2 TÃI , é u m e s ta d o n o q u a l a v isã o
b r u ta n ã o é a lte r a d a , m a s em q u e a s im a ­
C A U S A S U I V er Causa.
gens p e rc eb id a s n ã o são re c o n h ec id a s p o r
C A V E R N A ( x a r á y d o i o tx ija is m a is fa m ilia re s q u e elas s e ja m (u m a m i­
P Â τ ã Ã ).
a ir tjX a iM Ô tji, I g o , u m liv ro , u m a lâ m p a d a ).
A. A le g o ria d a c a v e rn a (P Â τ I ã Ã , Re­ A cegueira verbal o u alexia (D . Wor-
pública, V II, 1-2). C o m p a ra ç ã o d a a lm a terblindheit, Alexia', E . Word-blindness,
h u m a n a n o seu e s ta d o a tu a l, q u e r d iz er, Alexia', F . Cécité verbale, Alexie; I. Ce­
u n id a a o c o rp o , c o m u m p risio n e iro ag ri- cità verbale, Alessia ) é a in c a p a c id a d e d e
Ih o a d o n u m a c a v e rn a , d e c o stas v o lta d a s re c o n h e c e r n a le itu ra o s e n tid o d a s p a la ­
v ra s e sc rita s o u im p re ssa s.
p a ra a lu z, e n ã o ven d o as co isas reais, m as
A “cegueira moral” (R « ζ Ã , Psycho- I
a p e n a s as so m b ra s q u e d iv erso s o b je to s
logie dessentim ents, 295, 394) é a a u s ê n ­
m óveis ilu m in a d o s p o r u m a fo g u e ira p ro ­
cia d o sen tim en to m o ra l, a in d istin ção en ­
je ta m so b re o fu n d o d o s u b te rrâ n e o .
tr e o b e m e o m a l. C f . Loucura moral.
Cegueira das cores, ver Acroma-
1. “ Princípio da sucessão no tem po segundo a lei
de causalidade: todas as mudanças acontecem segun­
topsia.
do a lei de ligação entre a causa e o efeito.” Rad. i n t B lin d .
2. “ N a classe de objetos que consideramos neste C E L A N T E S N o m e d e Camenes* c o n ­
m om ento (as representações integrais dos sentidos) o
princípio d a razão suficiente apresenta-se como lei de
sid erad o c o m o m o d o in d ire to d a 1? fig u ra.
causalidade, e chamo-lhe. com o tal, principio da ra­ C E L A N T O S M o d o s u b a lte rn o * de
zão suficiente do devir, principium rationis sa fjtd e a - Celantes*.
íisfie n d i... Enuncia-se deste m odo: quando se produz
um novo estado de um ou de vários objetos reais, é ne­ C E L A R E N T M o d o d a 1? fig u ra .
cessário que ele tenha sido precedido por um outro es­
tado do qual regularmente resulta, quer dizer, todas
N enhum M é P.
as vezes que o primeiro aconteça.” Sobre a quádrupla Todo S é M.
raiz d o princípio da razão suficiente. Logo, nenhum S é P.
149 , C E P T IC IS M O

C E L A R O ou C E L A R O N T M odo su b je c tiv e n C h a r a k te r b e w a h re n , u n d
s u b a lte rn o * de Celarent*. dardurch w esentlich B estan d th eile des G e-
m e in g e fü h ls b ild e n .” 1 Grundzüge der
C E N E S T E S IA D o G . xotvq, cttodrj-
physiol. Psychol., 4? e d ., I, 434.
a is (D . Gemeinempfindung, Coenesthe-
P o r o u tr o la d o , se b e m q u e a p a la v r a
sis; E . Common sensation, coenesthesis
c en e stesia d esig n e o e s ta d o p síq u ic o to ­
[H τ O« Â Ã Ç ]); F . Coenesthésie·, I. Cenes-
I
ta l re s u lta n te d a a ç ã o s im u ltâ n e a e c o n ­
tesi. E m fra n c ê s escrev e-se ta m b é m cé-
fu s a d e sta s im p re ssõ e s in te rn a s , é n ã o
nesthésie.
o b s ta n te le g ítim o f a la r , d is tin g u in d o -a s ,
C o n ju n to d a s sen sa ç õ e s p ro v e n ie n te s
d e s ta o u d a q u e la “ se n sa çã o c en e stésic a ”
d o s ó rg ã o s in te r n o s , d o e s ta d o d a c irc u ­
p a rtic u la r; a d o c o ra ç ã o , p o r ex em p lo , o u
la ç ã o , d a n u triç ã o c e lu la r, etc. “ E o cao s
a d o in te s tin o .
n ã o e sc la re cid o d a s sen sa çõ e s q u e , de to ­
Rad. inl.: K en estesi.
d o s o s p o n to s d o c o r p o , s ã o sem cessar
tra n s m itid a s a o s e n s ó rio ” (H E ÇÂ E em C E N S U R A D . Censur.
R « ζ ÃI , Maladies de la personalité, 2 3 ). S. F 2 E Z á d e u este n o m e à f u n ç ã o
m e n ta l q u e fa z o b s tá c u lo à m a n ife s ta ç ã o
C RÍTIC A
n a tu r a l e s in c e ra d o s d e s e jo s o u d as im a ­
D e v id o à te o r ia d e T h . R « ζ ÃI {ibid., g en s s u b m e tid a s a o re c a lc a m e n to * e q u e
c a p . I), q u e a trib u i à c en e stesia o p a p e l se m a n ife s ta p ro p r ia m e n te a tra v é s d e la ­
essen cial n a f o r m a ç ã o d a id é ia d o eu in ­ c u n a s , d e d is fa rc e s , de tra n s fo rm a ç õ e s
d iv id u a l, d e fin iu -s e a lg u m a s vezes a ce­ s im b ó lic a s n o s f a to s c o n sc ie n tes q u e lh e
n e ste s ia c o m o “ a se n sa ç ã o d a n o s s a p r ó ­ c o rre s p o n d e m .
p r i a e x is tê n c ia ” (R « T7 E I , V o). M as
tra ta -s e de u m a h ip ó te s e , n ã o d e u m a d e­ C E P T IC IS M O (d o G . oxetrnxós, q u e
fin iç ã o . e x a m in a ; u lte rio r m e n te a p lic a d o a o s
H á ig u a lm e n te a lg u m a in e x a tid ã o a o P ir ró n ic o s * ) . D . Skepticism us] E . Scep­
se d e fin ir a c e n e ste sia c o m o “ a percep­ ticism (C . Cynism); F . Scepticisme; I.
ção d o n o s so ser o r g â n ic o ” (G Ãζ Â ÃI , Scetticismo. C f . Dogmatismo.
V o). A c e n e stesia , c o m e fe ito , p e rm a n e ­ A. N o s e n tid o m ais a m p lo , d o u tr in a
ce n o e s ta d o d e s e n s a ç ã o e n ã o p a s s a a o seg u n d o a q u a l o esp irito h u m a n o n ã o p o ­
d e p e rc e p ç ã o , e W Z Çá I c o m p re e n d e d e a tin g ir c o m c e rte z a n e n h u m a v e rd a d e
m e s m o so b e ste te rm o c e rta s sen sa çõ e s d e o rd e m g e ra l e e s p e c u la tiv a , n em m es-
té rm ic a s , m u s c u la re s , e tc ., q u a n d o elas
sã o v ag as, in d is tin ta s e a p re se n ta m so b re­ 1. “ Pom os na classe das sensações cenesiésicas to­
das as sensações que conservam um caráter exclusiva­
tu d o u m c a r á te r a fe tiv o . “ W ir re c h n e n
mente subjetivo, e que p o r isso formam essencialmen­
z u r C la sse d e r G e m e in -E m p fin d u n g e n a l­ te partes constitutivas desse sentimento.” Princípios d e
ie E m p fín d u n g e n die e in en ausschliesslich psicologia fisiológica.

S o b re C e n e s t e s i a — D izia-se a n tig a m e n te em fran cês coenesthèse. É m ile S τ ã è è E I

(Revue des Deux-M ondes, 15 d e a g o s to d e 1862, p . 974) a tr ib u i a c ria ç ã o d a p a la v r a


a o filó s o fo J . C . R « Â (1759-1813).
E

S o b re C e p tic is m o — P o d e r á ta lv e z a firm a r- s e q u e h á c e p tic ism o e m K a n t, n ã o


c e rta m e n te q u a n to a o v a lo r o b je tiv o d o s fe n ô m e n o s e d a s leis d a n a tu r e z a q u e , p elo
c o n tr á r io , ele q u is e sta b e lec e r c o n tr a H u m e , m a s q u a n to a o v a lo r, p e lo m e n o s s im ­
b ó lic o , d o s p o s tu la d o s d a ra z ã o p r á tic a . P a r a ele é c la ro q u e D e u s e a v id a f u tu r a
n ã o tê m , ta l c o m o os re p re s e n ta m o s , s e n ã o u m v a lo r s u b je tiv o ; q u e ro d iz e r, n ã o são
s e n ã o u m a s a tis fa ç ã o , a ú n ic a p o ssív el s e g u n d o a n o ssa fa c u ld a d e d e c o n h e c e r, d a d a
a c e rta s n e ce ssid a d e s d o n o s s o p e n s a m e n to e sp e c u la tiv o {teologia física) o u d a n o ssa
C E P T 1C O 15(1

m o a certeza de q ue u m a p ro p o siç ã o deste F ra n ç a d u ra n te a p rim e ira m e ta d e d o séc.


g ê n e ro s e ja m a is p ro v á v e l q u e u m a o u ­ X IX e d e p e rs is tir a in d a e m c e rto s m eio s
t r a q u a lq u e r . “ N a o q u e eu im ita sse n is ­ filo só fic o s , a p a la v r a é to ta lm e n te c o n ­
so o s C é p tic o s , q u e só d u v id a m p o r d u ­ tr á r ia a o e s p ir ito k a n tia n o e n ã o d ev e ser
v id a r e se m o s tra m s e m p re in d e c is o s ...” a p lic a d a a essa d o u tr in a .
D e s c a r t e s , M étodo, III, 6. C f. Ejético, E m in glês, este te rm o , sem o u tra q u a ­
Suspensão, Tropo. lific a ç ã o , serv e fr e q ü e n te m e n te p a r a d e ­
B . (co m u m a d je tiv o q u a lific a tiv o ): s ig n a r a filo s o fia d e H Z OE e e sp e c ia l­
D o u trin a q u e n eg a a p o ssib ilid ad e d e a tin ­ m e n te a d o u tr in a seg u n d o a q u a l “ to d o s
g ir u m a v e rd a d e s e g u ra em a lg u m d o m í­ os n o sso s ra c io c ín io s re fe re n te s às c au sa s
n io d e te r m in a d o : “ O c e p tic ism o m e ta f í­ e a o s e fe ito s n ã o tê m o u tr a o rig e m sen ã o
sico , o c e p tic ism o m é d ic o .” o c o s tu m e ” ( Tratado , 4? p a r te , seç ã o 1).
E m fran cês diz-se ta m b é m “ cep ticism o de
C . M en ta lid a d e carac te riz ad a n a o pela
H u m e ” ; p o ré m , a p a la v r a , e m p re g a d a
d ú v id a p ro p ria m e n te d ita , m a s pela in cre­
is o la d a , n ã o é s u fic ie n te p a r a d e n o ta r a
d u lid a d e e p o r u rn a te n d e n c ia p a r a d e s­
s u a d o u tr in a .
c o n f ia r d a s m á x im a s m o ra is q u e os h o ­
Rad. int.: S k e p tik ism 0doutrina );
m e n s p ro fe s s a m .
S k e p tik e s ( estado de espírito).
CRÍTICA
C É P T I C O D . Skeptisch (a d j.); Skep·
A s p a la v ra s céptico e cepticismo são tiker (s u b s t.); E . Sceptikal (a d j.); Scep-
fr e q ü e n te m e n te e m p re g a d a s de u m a m a ­ tic (a d j. e s u b s t.) ; n o s e n tid o C d a p a la ­
n e ira a b u siv a n a lin g u a g e m c o rre n te , e v ra cepticismo *: Cynic, cynica /; ver
m e sm o p o r vezes n a lin g u a g e m filo s ó fi­ Cínico *, o b s e rv a ç õ e s ; F . Sceptique; I.
ca. “ D á-se fre q ü e n te m e n te o n o m e de Scettico.
cepticismo à n e g a ç ã o d e c e rto s p rin c íp io s A . (fa la n d o d o s h o m en s). Q u e p ro fe s­
g e ra lm e n te a d m itid o s , s o b re tu d o à n e g a ­ sa o c e p tic is m o , s o b r e tu d o n o s e n tid o A ,
ç ã o d e c e rto s d o g m a s re lig io so s; isso é o u c u jo c a r á te r se in c lin a p a r a o c e p tic is­
a b u s a r d a s p a la v ra s e c o n f u n d ir as m o , n o s e n tid o C (v er a c im a ). P o r v ezes,
id é ia s .” S a i s s e t , a r t. Scepticism em q u e d u v id a d e ta l o u ta l te se p a rtic u la r.
Franck, 1530 A . E s ta c rític a é m u ito ju s ­ B. (f a la n d o d a s c o isa s). Q u e c o n siste
ta , a in d a q u e se e n c o n tre e m V o lta ire e o u le v a a s u s p e n d e r o ju íz o . “ O s a r g u ­
em D id e ro t céptico to m a d o n o sen tid o de m e n to s , as c o n c lu s õ e s c é p tic a s .”
d e sc re n te , a d v e rs á rio d a fé. V er L ittré , H Z OE c h a m a “ d ú v id a s c ép ticas re fe ­
su b V o. O m e sm o se deve d iz e r d o e m ­ re n te s às o p e ra ç õ e s d o e n te n d im e n to ”
p re g o fa m ilia r d e s ta p a la v r a p a r a d e sig ­ (Ensaio , se ç ã o IV ) à q u e s tã o d e s a b e r s o ­
n a r u m a o p in iã o d e s fa v o rá v e l q u a n to a o b re q u e ra c io c ín io o u s o b re q u e p rin c íp io
sucesso d e u m a e m p re sa . P o ré m , n o m es­ teórico se a p ó ia a o p e r a ç ã o p e la q u a l in ­
m o a rtig o , S aisset p o r seu la d o a p lic a este d u z im o s d o c o n h e c id o o d e sc o n h e c id o e
te rm o a o criticism o d e K a n t a q u e c h a m a d o p a s s a d o o f u tu r o ; o p e ra ç ã o q u e ele,
“ o m ais p r o f u n d o , o m ais sério e o m ais a liá s, c o n s id e ra le g ítim a e c u jo v a lo r, d iz
origina] d o s cép tico s m o d e rn o s ” (1531 B). ele, n ã o p o d e ser p o s to em d ú v id a d o
A p e sa r d e este u so te r sid o c o rre n te n a p o n to d e v ista prático.

c o n sc iê n cia m o r a l ( teologia morai, n a Crítica do juízo); o q u e j á fa z d e la s a lg o to ta l­


m e n te d ife re n te de ilu sõ e s. M as c o rre s p o n d e rá e sta re p re s e n ta ç ã o a a lg u m a c o isa ,
o u n ã o c o rre s p o n d e a n a d a ? P o d e ria h a v e r, p a re c e -m e , u m a d ire ita e u m a e sq u e rd a
k a n tia n a s . (J . Lachelier)
A o b s e rv a ç ã o so b re o s e n tid o in g lês d a p a la v r a cepticismo, e n q u a n to a p lic a d a
e sp e c ia lm e n te à filo so fia de H u m e , fo i-n o s c o m u n ic a d a p o r H. Wildon Carr.
151 CERTEZA

Kτ ÇI c h a m a “ re p re s e n ta ç ã o c é p tic a tuitiva *; n o s e g u n d o c a s o mediata* o u


d a s a n tin o m ia s “ ( Skeptische Vorsteilung discursiva*.
der kosmologischen Fragen) a o m é to d o Certeza moral , ver m a is a d ia n te .
q u e consiste em m o s tra r q u e q u e r se a d o te
B. (n u m s e n tid o m a is e stre ito e m ais
a te se , q u e r se a d o te a a n títe s e , se c h eg a
c o m p le x o ). E s ta d o d o e sp írito q u e a d e re
a u m não-sentido , p o rq u e o m u n d o a s ­
a u m a a ss e rç ã o verdadeira re c o n h e c e n d o
sim c o n c e b id o é sem p re q u e r m a io r, q u e r
c o m e v id ên c ia q u e e la o é.
m e n o r d o q u e o c o n c e ito p e lo q u a l n ó s
o p e n sa m o s (Antin. da razão pura, s e ­ C . (f a la n d o d a s p ro p o s iç õ e s o u d o s
ç ã o 5). racio cín io s). C arac te rístic as d o q u e é c e rto
Rad. int.: S k e p tik . n o s e n tid o C .

C E R T E Z A D . Gewissheit; E . Certi- C RÍTIC A


tude (a p e n as n o se n tid o p sico ló g ico ); cer- 1. D ev e-se e v ita r a fó r m u la u su al “ A
tainty (n o s e n tid o p sic o ló g ic o e ló g ic o ); c e rte z a é o e s ta d o d o e sp írito q u e acredi­
F . Certitudex I. Certezza. ta p o s su ir a v e rd a d e ” , p o rq u e acreditar
A. P s ic . E s ta d o d o e s p írito em re la tem
­ u m s e n tid o d e m a s ia d o v a g o , q u e vai
ç ã o a u m ju íz o q u e ele te m p o r v e rd a d e i­ d a o p in iã o m a is in d e cisa a té o a s s e n ti­
ro sem m escla d e d ú v id a . m e n to m a is a b s o lu to .
E s te e s ta d o p o d e d iz e r re s p e ito q u e r 2. O s te rm o s q u e d e sig n a m o s g ra u s
a u m ju íz o tid o p o r e v id en te em si m e s­ e o s c a m b ia n te s d o a ss e n tim e n to são u ti­
m o , q u e r a u m ju íz o d e m o n s tra d o o u liz a d o s sem n e n h u m a p re c is ã o . Certeza
c o n s id e ra d o c o m o ta l. A c e rte z a é c h a ­ e n q u a n to “ te rm o f ilo s ó fic o ” é d e fin id a
m a d a n o p rim e ir o caso imediata* o u in~ p o r Littré c o m o “ c o n v icção q u e te m o es

S o b r e C e rte z a — N a r e d a ç ã o p rim itiv a d e s te a r tig o , tín h a m o s a d m itid o o s d o is


s e n tid o s a tu a lm e n te d e s ig n a d o s p o r A e B e c ita d o c o m o e x em p lo d o p rim e iro o M e­
morial d e P a s c a l: “ A le g ria . A le g ria . C e r te z a .” M a s e s ta u tiliz a ç ã o d a p a la v r a fo i
c o n d e n a d a n a s essã o d e 7 d e m a io d e 1903 p e la g r a n d e m a io ria d o s m e m b ro s d a s o ­
c ie d a d e p re s e n te s n a d is c u s s ã o , p a r tic u la r m e n te J. L a c h e l i e r , q u e d isse d e s ta ex ­
p re s s ã o d e P a s c a l: “ D o p o n to d e v ista lite rá rio é a d m irá v e l, m a s d o p o n to d e v ista
filo s ó fic o é im p r ó p r ia .” B e l o t , R a u h , C o u t u r a t , B r u n s c h v i c g a sso c ia ra m -se a
e s ta o p in iã o e se le m b ro u q u e V . B r o c h a r d p a r tilh a v a ig u a lm e n te e sta m a n e ira d e
v e r: “ A a d e s ã o d a a lm a a p e n a s m e re ce o n o m e d e certeza se a c o isa p e n s a d a fo r
v e rd a d e ira . P o r esse m o tiv o , d if e r e d a c re n ç a ” (De L ’erreur , c a p . VI, p. 95). “ A
c erte z a ou conhecimento... [opõe-se à c re n ç a ]” (ibid. , 96). P a re c ia , p o is , h a v e r a c o rd o
s o b re e sta re s triç ã o e n a p u b lic a ç ã o d o p re s e n te a rtig o e m fa s c íc u lo (Bulletin d e la
S o c ié té d e P h ilo s o p h ie , ju n h o d e 1903), a ssim c o m o n a s trê s ed içõ es s e g u in te s , o s e n ­
tid o a tu a lm e n te d e fin id o s o b a le tr a A n ã o se e n c o n tr a v a n o c o rp o d o Vocabulário.
C o n tu d o , d e p o is d isso m u ita s c o n te s ta ç õ e s n o s c h e g a ra m c o n tr a e s ta c o n d e n a ­
ç ã o d o s e n tid o A d a s p a la v ra s certo e certeza. Frank A bauzit s o b r e tu d o escrev ia-
n o s , e m 21 d e ju n h o d e 1931 , q u e e sta e sp e c ific a ç ã o d e ix a v a a id é ia d e adesão fo rte
do espirito sem mescla de dúvida d e s p ro v id a d e te r m o p r ó p r io ; e q u e , j á q u e P a sca l
tin h a to m a d o a p a la v r a n o s e n tid o a m p lo , a ssim c o m o R e n o u v ie r, n ã o d e v ia ser c o n ­
s id e ra d o in c o rre to im itá -lo s . H. Delacroix e r a d a m e sm a o p in iã o . E s c re v e u (n o N o u ­
veau traité de psychologie, p u b lic a d o s o b a d ire ç ã o d e G. Dumas): “ A n o s sa d o u tr i­
n a n ã o d im in u i o a f a s ta m e n to q u e constatam os entre a c e rte z a e a verdade... A d ú v i­
d a im p õ e -se à c e rte z a c o m o u m a in d isp e n sá v e l re v is ã o , c o m o c o n d iç ã o d o seu
CERTEZA 152

p írito de q u e os o b je to s s ã o ta is c o m o ele N ó s d e fin im o s , p o is , a p e n a s in abs-


o s c o n c e b e " . A convicção, p o r seu la d o , tracto a s trê s seg u in te s id é ia s, p a r a as
é d e fin id a p o r ele c o m o “ c e rte z a ra c io c i­ q u a is p ro p o m o s ra d ic a is in te rn a c io n a is .
n a d a ” . A crença è u m a “ o p in iã o ” ; m a is a. A d e sã o f o r te d o e s p írito p o r m o ti­
a d ia n te u m a “ p e rs u a s ã o o u co n v icção ín ­
vos d e o rd e m in te le c tu a l, o u p elo m e n o s
tim a ” . E a opinião é d e fin id a c o m o “ te r­
o b je tiv a ; q u e r d iz er, ev id ên cia a tu a lm e n ­
m o d e ló g ic a ” , u m a “ c re n ç a p r o v á v e l” .
te* c o m u m a to d o s o s h o m e n s o u lo g ic a ­
E ste s te rm o s tê m p o is u m d o m ín io m u i­
m en te co m u n icáv el atrav és d a d e m o n stra ­
to m al d e fin id o , s u b s titu in d o -s e u m a o
ç ã o : cert.
o u tr o n u m g r a n d e n ú m e ro de c a so s se ­
g u n d o as n ecessid ades eu fó n icas o u as co ­ b . A d e s ã o fo r te d o e sp irito p o r c a u ­
m o d id a d e s g ra m a tic a is e a p e n a s se d e te r ­ sas n ã o in te le c tu a is , in d iv id u a is: kred.
m in a n d o a tra v és d o c o n te x to , q u a n d o ele c. A d e s ã o fra c a d e ix a n d o lu g a r à d ú ­
é su fic ien te. v id a : opini.

p ro g re s so p e la e lim in a ç ã o c re sc e n te d a s u b je tiv id a d e .” T o m o V , fa s c íc u lo III, 192.

M. Marsal p r o te s ta ta m b é m c o n tr a a re s triç ã o d e sta p a la v r a a o s c o n h e c im e n to s in ­


d u b itá v e is de o rd e m in te le c tu a l. “ L o n g e d e q u e a c e rte z a d o M em orial d e P a s c a l” ,
d iz ele, “ se ja a p e n a s a c o n tr a f a c ç ã o d a c e rte z a a u tê n tic a , é a c e rte z a ló g ic a q u e é
fa c tíc ia (n o s e n tid o c a r te s ia n o ) em re la ç ã o à c e rte z a p sico ló g ica e s u b je tiv a .”
E x iste m te x to s a n tig o s e m o d e rn o s q u e se p o d e m in v o c a r n o m e sm o s e n tid o . L ê-
se, p o r e x e m p lo , em M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E : “ A q u e les q u e n ã o se c o n te n ta m co m a certe­
za, d e v id o a e la a p e n a s c o n v e n c e r o e s p írito sem o e sc la re c e r, d e v e m m e d ita r a te n ta ­
m e n te s o b re estas leis e d e d u z i-la s d o s seu s p rin c íp io s n a tu ra is a fim d e c o n h e c e re m
p e la ra z ã o co m e v id ê n c ia o q u e j á s a b ia m p e la fé c o m um a inteira certeza . ” Recher­
che de la vérité, V I, 2 Í p a r te , c a p . V I, ad fin e m . D a m e sm a f o r m a E è ú « Çτ è , c u jo
e stilo é m u ito c a s tig a d o , n ã o h e s ito u e m e sc re v er: “ C e ssem o s d e n o s la n ç a r o a n á te ­
m a c o m o se fô s se m o s ra z õ e s in fa lív e is , c o m o se p o s su ísse m o s a ú ltim a p a la v r a a c e r­
c a d a s c o isa s e o s n o sso s a d v e r s á rio s fo sse m c rim in o s o s o u in s e n s a to s . M as n ã o d is­
s im u lo q u e o entusiasmo sempre engrendrou a certeza e o e s tu d o d a s c o isa so ciais
a p e n a s m o s tr a c la ra m e n te a im o r ta lid a d e d a i l u s ã o ...” La philosophie sociale au
XVI1P siècle, p . 103.
N o q u e c o n c e rn e a R ÇÃ Z â « 2 , é v e rd a d e q u e ele e screv e, p o r e x e m p lo , q u e “ a
E E

c e rte z a é u m a p o s iç ã o m o r a l” , etc. M a s , p o r o u tr o la d o , a o d iz er: “N ão há certeza ,


a p e n a s h o m e n s c e r to s ” (v e r, m a is a d ia n te , Certo), ele p a re c e r e c o n h e c e r q u e o s e n ti­
d o clássico d a p a la v r a im p lic a , d e f a to , u m a p ro p r ie d a d e o b je tiv a d a s v e rd a d e s c e r­
ta s (n o s e n tid o C ), v e rd a d e s d e q u e ele n ã o a d m ite a e x istên c ia . S ó d e p o is d e te r,
p o r assim d iz e r, to r n a d o a p a la v r a in ú til n e ste s e n tid o ele a r e to m a n u m a o u tr a
acepção.
B 2 ÃT7 τ 2 á d isse n o seu liv ro O erro : “ A crença é u m g ê n e ro q u e c o m p re e n d e
a certeza o u conhecim ento” (p . 98). M a s , e n tã o , se “ c o n h e c im e n to ” eq u iv ale a “ c er­
te z a ” , assim e n te n d id a , u m a b o a e c o n o m ia d a lin g u a g e m n ã o fa v o re c e ria a u tiliz a ­
ç ã o d e s ta últim a palavra no sentido amplo? Deve-se reconhecer, em to d o c a s o , q u e
a q u e le s q u e a a d o ta m tê m a seu f a v o r e x ce le n tes a u to re s .

S o b re C e rte z a (C rític a ) — A lé m d a s c a u s a s in te le c tu a is de a d e s ã o h á o u tr a s q u e ,
p o r n ã o se re m o b je to d o e n te n d im e n to , n ã o s ã o m e n o s g en éricas o u g e ra is, q u e r d i­
zer, c o m u n s a to d o s a q u e le s q u e to m a r e m o s m e io s c o n v en ie n te s p a r a os a d q u irir,
v e rific a r e c o m u n ic a r. ( M . Blondel )
153 C IC L O T IM IA

C e rte z a m o ra l L . Certitudo moralis. 2? Quando se fala das proposições ou


A . N o séc. X V II: e s ta d o d o e sp írito dos raciocínios:
em re la ç ã o à q u ilo q u e , sem ser c e rto n o C , V e rd a d e iro , c o n h e c id o c o m o ta l,
s e n tid o rig o ro s o d a p a la v r a , a p re s e n ta e q u e d á to d a s e g u ra n ç a a o p e n s a m e n to .
c o n tu d o u m a tã o a lta p r o b a b ilid a d e q u e “ A lg u m a s ra z õ e s c e rta s e e v id e n te s ...”
n ã o seria ra z o á v e l c o n s id e rá -lo fa ls o . D e s c a r t e s , Disc. do m étodo , I I , 11.
“ D is tin g u iria a q u i d u a s esp écies de c e r­ “ M u ito v e rd a d e ira s e m u ito c e r t a s ...”
te z a . A p rim e ira é c h a m a d a m o ra l, q u e r Ibid., I I I , 3. “ O q u e se re q u e r d e u m a
d iz e r, s u fic ie n te p a r a o r d e n a r o s c o s tu ­ p ro p o s iç ã o p a r a ser v e rd a d e ir a e c e r t a .”
m e s, o u tã o g ra n d e q u a n to a d a s c o isa s,
Ibid., IV , 3, e tc .
D iz-se fisicamente certo n o cálculo d a s
d e q u e n ã o te m o s o c o stu m e de d u v id a r,
p r o b a b ilid a d e s d o a c o n te c im e n to “ c u jo
c o m re la ç ã o à c o n d u ta d a v id a , se b em
c o n tr á r io é fis ic a m e n te im p o ssív el, o u ...
q u e s a ib a m o s q u e , a b s o lu ta m e n te f a la n ­
c u ja p r o b a b ilid a d e n ã o d ife re d a u n id a ­
d o , p o d e ser q u e elas seja m fa ls a s .” D è ­ E

d e p o r n e n h u m a f r a ç ã o a ssin a lá v e l, p o r
Tτ 2 I Eè , Princípios , 4? p a r te , § 205. O
p e q u e n a q u e a p o s s a m o s s u p o r: a c o n te ­
m e sm o s e n tid o n a Lógica d e P Ã 2 - I
c im e n to q u e n ã o se d e v e to d a v ia c o n f u n ­
R Ã à τ Â , 4? p a r te , c a p . X I I I . L e ib n iz
d ir c o m a q u e le q u e re ú n e a b s o lu ta m e n te
(Inédits p u b lic a d o s p o r C o u tu r a t, p . 515)
to d a s as c o m b in a ç õ e s o u to d a s as h ip ó ­
d efin e d a m e sm a fo rm a o principium cer-
teses em seu fa v o r, e q u e é c e rto com u m a
titudinis moralis; cf. N ovos ensaios, IV .
c e rte z a m a te m á tic a ” . C o u r n o t , Essai,
N o séc. X V III , B Z E E Ã Ç , CONDORCET,
c a p . I I I , § 34. N u m s e n tid o m a is f r a c o ,
e tc ., u tiliz a m -n a ig u a lm e n te .
e s ta e x p re ssã o a p lic a -se a lg u m a s vezes
B. I^ara E Z ÂE 2 o s e n tid o é d ife re n te à q u ilo c u jo c o n tr á r io a p e n a s te m u m a
(p e lo m e n o s e m p rin c íp io , se b e m q u e as p r o b a b ilid a d e tã o p e q u e n a q u e n u n c a le ­
a p lic a ç õ e s p o s sa m c o in c id ir): “ A c erte ­ v a m o s e m c o n ta , n a a ç ã o , u m a h ip ó te s e
z a q u e te m o s d a v e rd a d e d a s c o isa s q u e desse n ív el.
a p e n a s sa b e m o s p o r in te rm é d io d o s o u ­ D . P o r u m a s in g u la r a n o m a lia , certo
tr o s é c h a m a d a certeza moral , p o r q u e é o u um certo, c o lo c a d o antes d a p a la v r a
f u n d a d a s o b re a fé q u e m e re ce m a q u e le s co m a q u a l se re la c io n a , m a rc a , p elo c o n ­
q u e a s c o n ta m .” Cartas, 51. tr á r io , q u e r u m a a te n u a ç ã o d a id é ia ex ­
C . E m O Â Â é -L τ ú 2 Z Ç {De la certitu­
E p re s sa : “ u m a c e r ta c o r a g e m ” ; q u e r u m a
de morale, 1880) e co m freq ü ê n cia n o séc. in d e te rm in a ç ã o n a s c o n d iç õ e s e n u n c ia ­
X IX : c re n ç a fo r te n o s e n tid o B o u c o n ­ d a s : “ e n tre c e rto s lim ites; e m c e rto s c a ­
v ic ç ã o n o s e n tid o A . s o s ” ; q u e r u m a p a rtic u la riz a ç ã o in d e te r ­
m in a d a d e u m a classe: “ c e rta s d o u trin a s ,
C E R T O D . Gewiss; E . Certain; F .
c e rto s p o v o s ” .
Certain; I. Certo.
Rad. in t .: A . B . C . C e rt; D . U l.
1 ? Quando se fa la dos espíritos;
C E S A R E M o d o d a 2.a fig u ra q u e se
A . (s e n tid o a m p lo ). Q u e a d e re a u m a
re d u z a Celarent p e la c o n v ersão d a m a io r.
a s s e rç ã o sem re s q u íc io d e d ú v id a : “ P r o ­
p ria m e n te fa la n d o , n ã o h á c e rte z a , h á N enhum P é M .
a p e n a s h o m e n s c e r to s .” RE ÇÃZ â« E 2 , Todo S é M.
Psychol, rationelle, c a p . X IV , 3? e d ., I, L ogo, nenhum S é P.
36 6. A le g itim id a d e d e ste s e n tid o é c o n ­ CESARO M odo s u b a lte r n o * de
te sta d a . V er as o b serv açõ es so b re Certeza. Cesare*.
B . (sen tid o e streito ). Q u e a d e re a u m a C IC L O T I M I A D . Zyclothym ie ; E.
a ss e rç ã o v e rd a d e ira re c o n h e c e n d o com Cyclothym ia ; F . Cyclothymie; I. Ciclo-
e v id ê n c ia q u e ela o é. timia.
C IE N C IA 154

F o r m a a te n u a d a d a “ lo u c u ra c irc u ­ n o s p o d e vir ao e s p írito q u a n d o j á n ã o


l a r ” (F a l r e t ) o u “ p sico se p e r ió d ic a ” e sta m o s p e n s a n d o n a s ra z õ e s d e o n d e a s
(G . D u m a s , Traite de psychologie, II, tir a m o s .” D e s c a r t e s , Resp. às 2? obj.,
946 s$.; v er p a rtic u la rm e n te 9 6 6 ); c o n sis­ 1.a p a rte . “ Q u o d e s c u m q u e d u o r u m d e
te n a a lte rn a n c ia de p e río d o s de e x cita ­ e a d e m re ju d ic ia in c o n tr a r ia s p a rte s fe-
ç ã o , p o d e n d o ir, n o e s ta d o a g u d o , a té o r u n t u r . . . n e u n u s q u id e m v id e tu r h a b e re
a cesso m a n ía c o , e de p e río d o s de d e p re s ­ scientiam: si e n im h u ju s ra tio esset c e rta
et e v id e n s ita illam a lte ri p r o p o n e r e p o s-
s ã o o u de m e la n c o lia m ó r b id a . E ste t e r ­
s e t, u t e tia m in te lle c tu m ta n d e m c o n v in -
m o p a re c e te r s id o u tiliz a d o d e in ic io p o r
c e r e t.” Id ., Regulae, I I , 2.
K ra e p e lin , s o b a fo r m a “ c o n s titu iç ã o ci-
“ C e r titu d o s c ie m ia ru m o m n iu m ae-
c lo tím ic a ” , ib'td., 960. C f. o a rtig o de
q u a lis e s t, a lio q u i e n im sc ie n tia e n o n es-
R E à so b re L ’invention, ibid., 4 5 6 , e sen t: cu m scire n o n su sc ip ia t m agis et m i-
K a h n , La cyclothymie (1909). n u s.” H o b b e s , De principas et ratiocina-
Rad. i n t C ic lo tim i. tione geomelrarum, In tr o d .
C IE N C IA D . Wissen, Wissenschaft; B. P o r e x te n s ã o (e u m p o u c o a b u s i­
E . Science; F . Science; I. Scienza. v a m e n te ) o q u e d irig e a c o n d u ta d e m a ­
n e ira co n v en ien te co m o o fa ria um c o n h e ­
A. S in ó n im o d e saber . “ E m te rc e iroc im e n to c la ro e v e rd a d e iro . “ C o m o ex ­
lu g a r, q u a n d o eu disse q u e n a d a p o d e m o s p lic a r q u e e x iste e m n ó s u m a tal ciên c ia ,
s a b e r c e r ta m e n te , se n ã o c o n h e c e rm o s tã o v a sta , tã o p ro f u n d a , m u ita s vezes tã o
p rim e ir a m e n te q u e D eus ex iste, d isse em c e r ta , c o m o o s ã o , em g e ra l, o s in s tin ­
te rm o s exp resso s q u e n ã o fa la v a sen ão d a to s ? ” R a v a i s s o n , “ T e s ta m e n t p h ilo s o -
c iên c ia d e sta s c o n c lu s õ e s c u ja m e m ó ria p h iq u e ” , Rev. de m ét ., 1901, p . 11.

S o b re C iê n c ia — 1 ? História da palavra. E m to d o o d e se n v o lv im e n to q u e p re c e ­
de o te x to c ita d o d a República (a p a r tir d e 521 C ) d ev e n o ta r-s e q u e o te rm o m a is
fr e q u e n te m e n te e m p re g a d o , e de lo n g e , p a r a d e s ig n a r o q u e é c h a m a d o d e p o is δ ι ά ­
ν ο ι α ;, q u e r d iz e r, a s ciên cias (a ritm é tic a , g e o m e tria , a s tr o n o m ia , h a r m o n ia ) p r e p a r a ­
tó ria s à ε ιπ σ τ ή μ η p r o p r ia m e n te d ita (a d ia lé tic a ), é a p a la v ra μ ά θ η μ α , o b je to d e in s­
tru ç ã o . P o r vezes P la tã o serve-se de ε ιπ σ τ ή μ η (527 A , 529 B, 530 D , 533 C ) ju n ta n d o -o
u m a vez a τ έ χ ν η (533 D ). P o r vezes, serv e-se d e τ έ χ ν η , d is tin g u in d o e n tre u m a a c e p ­
ç ã o s u p e rio r e u m a a c e p ç ã o in fe rio r d e ste te rm o (532 C , 533 B, 522 B ), o u tra s vezes
d e πρ α χ μ α τ ε ί α (532 C , 528 D ). N o Filebo, q u e é m u ito p ro v a v e lm e n te b a s ta n te p o s ­
te r io r à República, as p a la v ra s T e x m i , è π ι σ τ ή μ α ι OU η π ε ρ ί τ α μ α θ ή μ α τ α ε πι σ τ ή μ η
s ã o e m p re g a d o s in d is tin ta m e n te p a r a d e sig n a r to d a a in s tru ç ã o , q u e r o r ie n ta d a p a ra
a p rá tic a , q u e r p a r a a te o ria (55 D , 58 E ; c f. 62 A -D ). M as u m a τ έ χ ν η p o d e ser m ais
c la ra n is to d o q u e n a q u ilo u m a ε πι σ τ ή μ η m a is p u r a n is to d o q u e n a q u ilo (57 B). Se
c o n s id e ra rm o s u m a τ έ χ ν η p rá tic a , p o d e re m o s c h a m a r p ro p r ia m e n te h τ ι σ τ η μ η o q u e
ela tem de m a is e x a to (o e m p re g o d o n ú m e ro e d a m e d id a ); se c o n s id e ra rm o s u m a
τ έ χ ν η te ó ric a (a ritm é tic a , g e o m e tria , e tc .) p o d e re m o s n e la d is tin g u ir u m u so p rá tic o
e u m u s o filo s ó fic o , κ α τ ά φ ι λ ο σ ο φ ί α ν (56 E , 57 C -D ), a o q u a l co n v ém o n o m e
ε ιπ σ τ ή μ η (57 E ). E m s u m a , a te rm in o lo g ia p re c isa d a República n ã o é m a n tid a . N o
Político, q u e é ta l c o m o o Filebo d a v elh ice de P la tã o , a a ritm é tic a é u m a τ έ χ ν η d e s ­
p o ja d a d e p r á tic a (528 D ), e p o r o u tr o la d o ε πι σ τ ή μ η c o m p re e n d e d u a s fo rm a s , u m a
p rá tic a , o u tr a te ó ric a (528 C , D , E ). V ê-se p o r ta n to q u e , p a r a P la tã o , a p a la v r a
ε πι σ τ ή μ η , a p e s a r de h a v e r u m a te n d ê n c ia p a ra q u e sig n ifiq u e a c iên c ia te ó ric a , n ã o
tem u m s e n tid o d e te r m in a d o n em c o n s ta n te , e o s e n tid o fo rte q u e lh e é a trib u íd o
n o te x to c ita d o d a República n ã o se e n c o n tr a e m to d o s o s d iá lo g o s .
155 C IÊ N C IA

C . D e stre z a té c n ic a (p a rtic u la rm e n te d a ciên cia m o d e r n a ” ; q u e r, in abstracto,


em m a té ria d e p in tu r a , d e m ú sica, de v er­ u m a ciência in d e te rm in a d a , s o b re tu d o en ­
sific aç ã o ); c o n h e c im e n to d a p ro fis s ã o . q u a n to se c o n sid e ra a su a a u to rid a d e e o
D . C o n ju n to de c o n h e c im e n to s e de seu v alo r: “ A c iên c ia p ro v o u q u e as e s ­
in v e stig aç õ e s co m u m s u fic ie n te g ra u de tre la s são só is ” ; q u e r, p o r fim , a a titu d e
u n id a d e , d e g e n e ra lid a d e , e suscetíveis d e d e e s p írito q u e lh es é c o m u m : “ A c iên ­
tra z e r a o s h o m e n s q u e se lh es c o n s a g ra m c ia d e se m p e n h a o seu p a p e l n ã o r e c o n h e ­
co n clu sõ e s c o n c o r d a n te s , q u e n ã o re s u l­ c e n d o o u tr o ser, o u tr a re a lid a d e , se n ã o
ta m n e m de c o n v en ç õ e s a r b itr á r ia s , n em a q u e la q u e e n c e rra n as su as f ó r m u la s .”
de g o sto s o u d e in teresses in d iv id u a is q u e BÃZ I 2 ÃZ 7 , Science et religión , p. 354.
lh es sã o c o m u n s , m as d e re la ç õ e s o b je ti­
E. M a is e sp e c ia lm e n te , p o r o p o s iç ã o
v as q u e se d esco b rem g ra d u a lm e n te e q ue
às “ L e tra s ” (e à filo so fia c o n sid e ra d a co ­
se c o n firm a m a tra v é s d e m é to d o s d e v e­
rific a ç ã o d e fin id o s . “ A D ip lo m á tic a e a m o p a rte d a s “ L e tra s ” ), assim c o m o a o
H is tó ria lite rá ria n ã o s ã o sen ão r e p e r tó ­ D ire ito e à M ed ic in a : a s m a te m á tic a s , a
rios m e tó d ic o s de f a to s ... P e lo c o n trá rio , a s tr o n o m ia , a física, a q u ím ic a e as c iên ­
a F ilo lo g ia é u m a ciência o rg a n iz a d a q u e cias d itas “ n a tu ra is ” . E sta o p o sição , c o n ­
te m le is .” L τ Ç;  ë è e SE « ; ÇÃζ Ãè , In - s a g ra d a n a F r a n ç a p e la o rg a n iz a ç ã o d as
trod. aux études historiques , p . 34. F a c u ld a d e s , n ã o p a re c e re p o u s a r s o b re
C a d a u m d o s siste m a s q u e a c a b a m o s ra z õ es ju stific á v eis te o ric a m e n te : “ A a b ­
d e d e fin ir é “ u m a c iê n c ia ” ; a e x p re ss ã o s u r d a e d e p lo rá v e l cisão d a s letras e d as
“ a ciência” , n o sin gular (e, p o r vezes, com ciências n ã o c o m p ro m e te so m en te o f u ­
m a iu s c u la ), d e sig n a q u e r o c o n ju n to d a s tu r o d a filo s o fia ; ela fa lse ia a s u a h is tó ­
ciências assim en ten d id as: “ O s p ro g resso s ria e to rn a o seu p a ssa d o inin teligív el, iso-

Q u a n to a A ris tó te le s, é bem v e rd a d e q u e ele a d m ite u m a d iv e rsid a d e de ciências;


m a s será n u m se n tid o p ró x im o a o d o s m o d e rn o s ? S im , ta lv e z , se c o n sid e ra rm o s a
n o ç ã o de h ie ra rq u ia (s u b o rd in a ç ã o d as “ ciên cias p o é tic a s ” às “ ciên cias p r á tic a s ”
e estas às “ ciên cias te ó ric a s ” ; s u b o rd in a ç ã o d a s ciên cias em c a d a g ru p o : n o ú ltim o ,
p o r ex em p lo , d a físic a, ¡pi\ooo<pia bevreça, em re la ç ã o à c iên c ia d a s u b s tâ n c ia im ó ­
vel, à te o lo g ia, ipiKooo<pia x q ú t t i ÃZ x q o t ç q o l ’, cf. M etaf., E 1 , 1 0 , 2 6 a27; Z 1 1 , 1037a 14
ss.). M a s , p o r o u tr o la d o , n ã o , se c o n s id e ra rm o s q u e a filo so fia p rim e ira , ciên cia
d o ser e n q u a n to se r, é u m a c iên c ia d a m e sm a esp écie q u e as o u tr a s . P o r fim , o f a to
de A ristó te le s re je ita r a p o s sib ilid a d e de p a s s a r, n a d e m o n s tra ç ã o , d e u m g ê n ero de
ciên cia a u m o u tr o (d este m o d o , d a a ritm é tic a à g e o m e tria ) a m e n o s q u e n ã o se tra te
de u m g ê n ero s u b o rd in a d o a o g ê n e ro s u p e r io r (d a ó p tic a à g e o m e tria , A n . post.,
I, 7) im p lic a u m a c o n c e p ç ã o d a d iv e rs id a d e d a s ciên cias to ta lm e n te d ife re n te d a d o s
m o d e rn o s , s e g u n d o p a re ce . E m s e g u n d o lu g a r, é b em v e rd a d e q u e a ciên c ia , s e g u n ­
d o A ris tó te le s , tr a ta d o n e ce ssá rio e d o e te rn o , a ssim c o m o d o s x g ú r a . M as, p o r
u m la d o , A ris tó te le s d iz ta m b é m q u e a c iên c ia , e n q u a n to o p o s ta à se n s a ç ã o , tem p o r
o b je to o u n iv e rsa l, q u e o e te rn o é o u n iv e rsa l e q u e o u n iv e rsa l n o s d á a c a u s a {An.
post., 1 ,3 1 , s o b re tu d o 87b, 32, 38; 8 8 a , 5); q u e , à fa lta d e u n iv e rsalid ad e , e la se c o n ­
te n ta c o m a fr e q ü ê n c ia , ws éiri t ò iroXii (ibid., I , 30; M etaf., K 8, 1065a , 4 ). O ra ,
o p r ó p r io A ris tó te le s in d ic o u a d is tin ç ã o d e d u a s espécies d e u n iv e rsa lid a d e , u m a q ue
é to ta lm e n te ex trín seca, sim ples sin al d a n ecessid ad e, p u ra e x ten sã o x a ra xavrós; a
o u tr a , in te rn a , q u e d e p en d e d a necessid ad e c o m o d o seu fu n d a m e n to seg u ro , q u e ex­
p rim e a essência n a su a c o m p re e n sã o , x<x6' ctvró e íj avró (An post., I 4, 73·», 25 ss.,
e De a n I i , 4 0 2 b , 7 s s . ) . N u n c a se sab e a o c e rto a q u al destes d o is p o n to s de vista
C IÊ N C IA 156

la n d o -o d a s e sp e c u la ç õ e s c ie n tífic a s , o n ­ g u n s a sp e c to s, a o d o s m o d e rn o s , ciências
d e e la s e m p re se e n r a iz o u .” C ÃZ I Z 2 τ I , q u e n ã o s ã o to d a s p e rfe ita s ; m a s a c iê n ­
Logique de Leibniz, p re fá c io , V III ( a p ro ­ c ia p r o p r ia m e n te d i t a , ^ ftáXiarce
p ó sito d a d istrib u iç ã o a rb itrá ria d a s o b ra s ¿Trtariifir¡, é a q u e la q u e te m p o r o b je to r à
d e L e ib n iz , n a e d iç ã o G e r h a r d t, n a Ope­ vQüSTa x c d r à a l n a (Metafísica , I, 2;
ra philosophica e n a Opera mathematicà). 9 8 2 bl) . S ó h á c iê n c ia , d iz ele a in d a ,
C f. Arte, Filosofia, História. q u a n d o sab em o s q u e as coisas n ã o p o d e m
ser d e o u tr a m a n e ira ; a ciên cia d iz re sp e i­
C RÍTIC A
to a o n e c e s sá rio e a o e te r n o {Éti. a Ni-
A p a la v r a c iên cia (G . 'E T to n ú u j: L . côm ., V I, 3; 1 139b20-24; n o e n ta n to , ver
Scientia ) te v e d u r a n te m u ito te m p o u m a s o b se rv a ç õ e s ).
s e n tid o f o r te q u e q u a s e d e s a p a re c e u n a O s e n tid o fo r te d e scientia é fre q ü e n -
n o s s a é p o c a c o m o d e se n v o lv im e n to “ d as te n a Id a d e M é d ia : “ S c ie n tia est assim i-
c iê n c ia s” . P la tã o e m p re g a e s ta p a la v r a la tio m e n tis a d re m s c ita m .” S . T ÃOá è
e m d iv e rso s se n tid o s; p o r é m , n a c la s s ifi­ áE A I Z « ÇÃ , Sum m a contra gentiles , 1,
c a ç ã o q u e ele d á d o s g ra u s d e c o n h e c i­ I I , c a p . 6 0 . D o m in a ig u a lm e n te n a filo ­
m e n to {República, V II, 534 A ), ele a a p li­ s o fia d o sécu lo X V II. “ S c ie n tia , q u a e est
c a a o g ra u m a is e le v a d o : faápoia d e sig ­ e ss e n tia im a g o .” Bτ TÃÇ , N o v . Org., I,
n a o p e n s a m e n to d is c u rs iv o , hnoTi)p.y\ o 120. “ Q u e u m a te u p o s s a c o n h e c e r c la ­
c o n h e c im e n to p e rfe ito ; e o s d o is e stã o ra m e n te q u e o s trê s â n g u lo s d e u m tr iâ n ­
re u n id o s s o b o n o m e d e váijon. E m A 2 « è ­ g u lo s ã o ig u ais a d o is r e to s , n ã o o n e g o :
I ó I E ÂE è , a p a la v ra é e m p re g a d a d e m a ­ a f ir m o s o m e n te q u e o c o n h e c im e n to q u e
n e ira a m p la ; ele a d m ite u m a d iv ersid ad e ele te m n ã o é u m a v e rd a d e ira ciên cia p o r ­
de ciências, n u m se n tid o p ró x im o , s o b a l­ q u e to d o co n h ecim en to q u e p o d e to rn ar-se

se re fe re a c o n c e p ç ã o a ris to té lic a d a ciên c ia . P o r o u t r o la d o , e n c o n tr a - s e u m a c o r­


re s p o n d e n te in c e rte z a n a n o ç ã o de t t qu t os e n a d e c a u s a . U m a s vezes as c a u s a s p r i­
m e ira s d a n a tu re z a são c a u s a s m u ito a f a s ta d a s d o s f a to s , p rin c íp io s g e ra is d o d e v ir,
p rim e iro m o to r {M eteór., in íc io e I 2 , 2 3 9 a , 23), o u tr a s vezes s ã o as c a u s a s mais p ró ­
xim as q u e se tr a ta d e e x p lic a r {Meta., H 4, 1044b, 32) e ta is c a u s a s s ã o , co m e fe ito ,
p rim e ira s assim c o m o im e d ia ta s (c f. M eta., à , 4 1 0 1 5 a , 17-20). Se, to d a v ia , o U n i­
v e rsal n o s d á a c a u s a , e s ta cau sa n ã o p o d e ser u m a c a u s a p ró x im a , p o rq u e é ta n to
m a is c a u s a q u a n to m a is a f a s ta d a estiv e r d a e x p e riê n c ia sensív el {An. p o st., I 2 , 7 2 a ,
3 ss.). T a is p rin c íp io s s e rã o o s p rin c íp io s próprios d e q u e d ev e p a r tir a d e m o n s tra ç ã o
c ie n tífic a (ibid., 7 2 a , 5)? N ã o s e rá d e m o n s tr a r o m a is c o n c re to p e lo m a is a b s tr a to ,
c o n tr a r ia m e n te a o d o g m a q u e c o n d e n a a ¿leráiS am s de u m g ê n e ro s u p e rio r a o g ê n e ro
in fe rio r ? (C f. H τ OE Â « Ç , tr a d . d o liv ro II d a Física, p p . 9 8 -1 0 5 .) D o p o n to de v ista
d a d is tin ç ã o e n tre e V u r n ? ^ e Te'xvrj, a lin g u a g e m d e A ris tó te le s n ã o e stá m e lh o r d e ­
te rm in a d a q u e a de P la tã o : ele serv e-se, p o r vezes, d o p rim e iro p a r a d e s ig n a r té c n i­
c as, d o s e g u n d o p a r a d e s ig n a r c iên c ia s te ó ric a s , e m e sm o a filo s o fia . N ele, a s a rte s
s ã o as ciências p o é tic a s . T o d a v ia , ele Ín d ic a u m a d is tin ç ã o : a rf\t>n é re la tiv a à y ¿ve-
oís, (iriarijvr) a ov (B ÃÇ« I U , Index arist., 7 5 9 a , 21 ss.). {L. Robin)
E m g e ra l, q u a n d o ê ru m jtn j é e m p re g ad o p o r A ristó teles sem q u a lific a çã o , é o p o sto
a vov s, e n q u a n to se a p lic a s o b re tu d o à q u ilo q u e é o b je to de d e m o n s tra ç ã o ( á ir d ô a -
£is) e de ra c io c ín io d isc u rsiv o : v er Segundos Analíticos, II, 3. (C . C . J. Webb )
2? Sobre o sentido atual. O s s e n tid o s A , B , C têm s o b r e tu d o u m c a r á te r s u b je ti­
v o (a in d a q u e h a ja ta m b é m n as a rte s , p a rtic u la rm e n te n a m ú s ic a , u m e le m e n to de
c iê n c ia o b je tiv a , q u e é o o b je to d a c iê n c ia s u b je tiv a d o a r tis ta ); estes s e n tid o s c o rre s-
157 C IÊ N C IA

d u v id o so n ã o d ev e ser c h a m a d o c iê n c ia .” tliche Wissenschaft) a q u ilo q u e é o b je to


D e s c a r t e s , Respostas às 2? obj., 1? d e u m a c e rte z a a p o d ític a ; p o ré m , ele d e­
p a rte . Ciência, n a lin g u ag em te o ló g ic a , é fin e a c iê n c ia e m g e ra l c o m o s e n d o q u a l­
o te r m o m a is u s u a l p a r a d e sig n a r o c o ­ q u e r d o u tr in a q u e fo rm e u m siste m a ,
n h ecim en to q u e D eus tem d o m u n d o . V er q u e r d iz e r, q u a lq u e r c o n ju n to d e c o n h e ­
Ciência média e c f. Presciência. c im e n to o r d e n a d o seg u n d o p rin c íp io s
W o l f f d e fin e a ciên cia ‘‘h a b itu m as- (Met. Anfangsgründe der Naturwiss.,
s e rta d e m o n s tr a n d i, h o c est e p rin c ip iis P r e f á c io , § 2 e § 3). E s ta ú ltim a d e fin i­
c e rtis e t im m o tis p e r le g itim a m co n se- ç ã o é h o je clássica. S p e n c e r , c o n sa g ra n ­
q u e n tia m in f e r e n d i” {Lógica, D isc u rso d o e sta a c e p ç ã o , o p ô s n u m a fó rm u la c é ­
p re lim in a r, I I , § 30). E sta d e fin iç ã o , m u i­ le b re o c o n h e c im e n to v u lg a r, a c iê n c ia e
ta s vezes c ita d a , r e p ro d u z u m a f ó r m u la a filo so fia : o p rim e iro é o c o n h e c im e n to
c o r r e n te n a e sc o lá stic a (v er G o c l e m u s , (knowledge) n ã o u n ific a d o ; a s e g u n d a , o
s u b V o, 1010 A ; E u s t á q u i o d e S . P a u ­ c o n h e c im e n to p a rc ia lm e n te u n ific a d o ; a
l o , Sum m a p h il. , I , 231-233, c ita d o em ú ltim a , o c o n h e c im e n to to ta lm e n te u n i­
G i l s o n , Index scol.-caríesiana , su b Vo) fic a d o {Primeiros princípios , 2 f p a r te ,
e q u e se lig a à p a ss a g e m d a Ética a Nicô- c ap . I, § 37). S ab em o s q u e v ário s dos n o s ­
maco q u e c ita m o s m ais a cim a. M a s , co m s o s c o n te m p o râ n e o s v ã o a in d a m ais lo n ­
K a n t , o q u e G o c len iu s c h a m a v a scientia ge e n ã o v êem n a c iê n c ia s e n ã o u m siste ­
improprie dieta c o m e ç a a o c u p a r o p r i­ m a d e n o ta ç õ e s q u e p e rm ite c la s s ific a r e
m e iro lu g a r. Sem d ú v id a , K a n t c o n sid e ­ p re v e r o s fe n ô m e n o s.
r a c o m o ciência p ro p ria m e n te d ita (eigen· Rad. int.: A . B . C . S á v ; D . E . S cien c.

p o n d e m à Scientia; o s se n tid o s D e E sã o m a is o b je tiv o s , e c o rre s p o n d e m à Doctri­


na. (J. Lachelier )
N o sen tid o re s trito e m ais m o d e rn o , o c o n h e c im e n to cien tífico p a re ce c o m p o rta r
estas c arac te rístic as essenciais: 1?, esp ecificação (in d e p e n d en te m e n te d e q u a lq u e r c o n ­
sid eraç ã o o n to ló g ic a ) p elo sim p les elem en to fo rm a l , q u e r d iz er, p o r u m p o n to de v ista,
p o r u m m é to d o , d a matéria d e ta l o u ta l ciência: p o rq u e as ciências d ife re m , n ã o p ela
d iv ersid ad e de o b je to s , m as pela fo rm a d e o s e n c a ra r, so b u m a sp e c to d e te rm in a d o ,
a lg u m a co isa d o p ro b le m a to ta l: h e tero g en e id a d e e so lid a rie d a d e crescen tes; 2 ?, o r g a ­
n ização siste m á tic a d a s id éias o u d o s fa to s c u jo ser cien tífico é c o n stitu íd o pelas su as
relaçõ es seriad as, a p a r tir d e sím b o lo s in iciais e n a m e d id a em q u e essa lin g u ag em o r g a ­
n iz a d a e p ro g ressiv a se a d a p ta a o s fe n ô m e n o s, os tra d u z e p e rm ite p rev ê-lo s e m an ejá-
los; 3?, rig o r d a p ro v a ta l q u e , e n q u a n to o c o n h ec im e n to v u lg ar e p rá tic o te n d e a a d m i­
tir co m o v e rd a d e iro o q u e n ã o é re c o n h e c id o c o m o fa ls o , “ o C ie n tista é alg uém q u e
d u v id a ” , q ue p õ e d e q u a re n te n a tu d o o q u e n ã o é d e m o n stra d o v erd ad eiro . {M. Blondel)
N a d e fin iç ã o d e c iên c ia , n o s e n tid o D , n ã o seria n e c e s sá rio in c lu ir a id é ia de c a u ­
sa o u de lei? C a b e ta lv e z fa z e r u m a d is tin ç ã o : n o s e n tid o e s tr ito , a p a la v r a ciência
im p lic a , c o m e fe ito , o c o n h e c im e n to d e leis g e ra is ap licáv eis à q u ilo q u e é o seu o b je ­
to , e, p o r c o n se q u ê n c ia , d a lig a ç ã o c a u sa l e n tre os f a to s ; p o ré m , a d m ite -s e g e ra l­
m e n te q u e ex istem ta m b é m “ ciên c ia s r e c o n s tr u tiv a s ” , ta is c o m o a h is tó ria o u a g e o ­
lo g ia , n as q u a is u m p ro c e d im e n to m e tó d ic o e o b je tiv a m e n te v á lid o le v a à d e te rm i­
n a ç ã o d e fa to s s in g u la re s. E s ta q u e s tã o fo i fre q ü e n te m e n te d e b a tid a s o b e sta fo rm a :
“ S e rá a h is tó ria u m a c iê n c ia ? ” C f. ta m b é m n o Ensaio d e C o u r n o t o c a p ítu lo X X
s o b re “ Vhistoire e t la S cience ” e n o c a p ítu lo X X II a s u a d iv isã o d a s ciên cias em
trê s séries p a r a l e l a s : te ó ric a (c iê n cia s p ro p r ia m e n te d ita s ); c o sm o ló g ic a e h istó ric a ;
té c n ic a o u p r á tic a . {D. Parodi — A . L.)
C IÊ N C IA 158

C iê n cia s a p lic a d a s E s tu d o s q u e têm m e n s, q u e r in d iv id u a lm e n te , q u e r c o le ti­


p o r o b je to a p lic a r leis a u m fim p rá tic o v a m e n te .
(leis q u e p e rte n c e m , em g e ra l, a d iv ersas D eve n o ta r-se q u e as “ ciências h u m a ­
o rd e n s de c o n h e c im e n to te ó ric o ), p o r n a s ” n ã o são to d a s as q u e se re fe re m ao
ex em p lo , a te ra p ê u tic a , a “ eletricid ad e in ­ h o m e m ; p o r e x e m p lo , a a n a to m ia o u a
d u s tr ia l’’, a “ e c o n o m ia r u r a l ” . fisio lo g ia d o h o m e m n ã o se d esig n am p o r
C iê n cia s h u m a n a s E x p re s s ã o recen te, esse n o m e: são as ciências d a q u ilo q u e ca­
m a s q u e se d ifu n d e c a d a vez m a is , p a ra ra c te riz a o h o m e m , p o r o p o s iç ã o a o res­
d e sig n a r o q u e e ra a n te s u s u a l c h a m a r to d a n a tu re z a . V er Natureza , G .
“ c iên cias m o r a is ” (e n te n d e n d o -se moral C iê n c ia m é d ia L . es co l. Scientia me­
n o s e n tid o E ). E sta e x p re ss ã o a c e n tu a dia.
m a is as c a ra c te rís tic a s e x te rio rm e n te o b ­ N a d o u tr in a m o lin is ta , q u e a d m ite o
serv áv eis d o c o m p o rta m e n to d o s h o ­ in d e te rm in is m o d a s açõ e s h u m a n a s , co -

Sobre a oposição das “Letras” e das “C i ê n c i a s A o p o s iç ã o d a s L e tra s e d as


C iên cias é, n o fu n d o , a d a s u b je tiv id a d e h u m a n a e d a o b je tiv id a d e d a n a tu re z a . O
e stu d o e x clu siv o , ou m e sm o p r e d o m in a n te , d a s c iên c ia s d a n a tu r e z a , e p a r tic u la r ­
m e n te d a s m a te m á tic a s , p o d e ria lev ar a v er a p e n a s em to d a p a r te e sp a c ia lid a d e , ex ­
te rio rid a d e re c íp ro c a , m e c a n is m o ; o e sp írito d e sta s c iên c ia s é e m p iris ta e m a te ria lis ­
ta . P e lo c o n tr á r io , é o h o m e m m o ra l e in te r io r q u e se tr a t a de f o r m a r , se q u is e rm o s
q u e o filó s o fo c o m p re e n d a q u a l o v e rd a d e ir o fu n d o d a s c o isa s , o e s p ír ito e a lib e r d a ­
d e. A filo so fia é e sse n c ia lm e n te a c iên c ia d o s u je ito e só se in te re s s a , n o o b je to , p o r
a q u ilo q u e n e le se e n c o n tr a d o s u je ito . P a r a a e d u c a ç ã o d o f iló s o f o , o e s tu d o q u e
deve ser le v ad o m ais lo n g e, e s o b re tu d o a q u e le d e q u e d ev e s o b re tu d o a lc a n ç a r e re ­
te r o e sp írito , é p o r ta n to o e s tu d o d a s L e tra s . (7. Lachelier)
A d istin ç ão e n tre as “ L e tra s ” e as “ C iê n cia s” é c o n s a g ra d a p e la o rg a n iz a ç ã o a tu a l
d as U n iv e rs id a d e s fra n c e s a s , m a s n ã o é, c o m o se disse a lg u m a s v ezes, p a r tic u la r à
F r a n ç a . F o i a A c a d e m ia de B erlim q u e p r o p ô s e fez a d o ta r , n a Associação interna­
cional das Academias, a d iv isão em d u a s seções, lite rá ria e cien tífica (D τ 2 ζ ÃZ 7 , Élo-
ges académiques etdiscours, p . 328; cf. ibid., 320; E s ta tu to s d a A ss o c ia ç ã o , a r t. 5).
(A. L.)
S o b re C iên cias ap licad as — A A c ad e m ia d as C iências co m p reen d e, d esd e 1918,um a
seç ã o q u e te m p o r títu lo : “ A p lic a ç õ e s d a ciên cia à in d ú s tr ia ” ; m a s ela c o n tin h a já
seçõ es d e “ G e o g ra f ia e n a v e g a ç ã o ” , de “ M e d ic in a e c iru rg ia ” , q u e re le v am em p a r ­
te d as ciên cias a p lic a d a s , e u m a se ç ã o d e “ E c o n o m ia r u r a l ” , q u e a p re s e n ta esse c a ­
r á te r d e m a n e ira m ais n ítid a .
René Daude a ssin a la q u e E d . G Ãζ Â ÃI to m o u a ex p re ssão Ciências aplicadas n u m
s e n tid o b a s ta n te d ife re n te . N o seu Ensaio sobre a classificação das ciências (1898),
ele o p õ e as “ ciên cias te ó ric a s p u r a s ” às “ ciên cias te ó ric a s a p lic a d a s (ou c o n c re ta s )” ,
e s u b d iv id e estas ú ltim a s em ciên cias “ e sp e c ia is” (q u e r d iz e r, re fe re n te s à c la s s ific a ­
ç ã o em esp écies d o s o b je to s d o seu e stu d o ); “ d e s c ritiv a s ” (d is trib u iç ã o n o e sp a ç o );
“ h is tó ric a ” (tra n s fo rm a ç õ e s n o t e m p o ) : p o r e x e m p l o , n o caso d a física: 1 ? a Q u ím i­
ca e a m in e ra lo g ia ; 2? a A s tr o n o m ia e a g e o g ra fia física; 3? a C o s m o g o n ia e a g e o lo ­
g ia. A q u ilo q u e c h a m a m o s g e ra lm e n te ciên cias a p lic a d a s fig u ra à p a rte n o m e sm o
q u a d r o so b o n o m e d e a rte s m e c â n ic a s, o u ciên cias p rá tic a s . N o seu Sistema das ciên­
cias (1922), ele c o n se rv o u a m e sm a d iv is ã o , m a s d e ix a n d o de e n g lo b a r as ciên cias
a p lic a d a s n a s ciên cias te ó ric as e re s e rv a n d o este n o m e p a ra as ciên cias “ p u ra s , a b s ­
tra ta s o u g e r a is ” .
159 C IE N C IA

n h e c im e n to q u e D eu s tem d o q u e a c o n ­ c re to s d e D eu s: a ciên cia m éd ia o u c o n ­


te c e rá se o s h o m e n s , n a s u a p le n a lib e r­ d ic io n a d a . F ra q u e z a d e sta o p in iã o .” V er
d a d e, ag irem de ta l o u ta l m a n e ira , “ [M o- Premoção.
lina] c o n sid e ra q u e h á trê s o b je to s d a
ciên cia d iv in a , o s p o ssív e is, o s a c o n te c i­ C iên cias m o rais D . M o ralw issen sch af-
m e n to s a tu a is e os a c o n te c im e n to s c o n ­ te n , G e iste sw isse n sc h a fte n ; E . Moral
d ic io n a is q u e a c o n te c e ria m em co n se- phyiosophy, moral Sciences; F . Sciences
q ü ên cia d e u m a certa c o n d iç ã o , se ela fo s­ morales; I. Scienze morale.
se c o n v e rtid a em a to . A c iên c ia d as p o s ­ (A e x p re ss ã o , em fra n c ê s , n ã o se e m ­
sib ilid a d es é o q u e se c h a m a a ciência da p re g a n o s in g u la r.)
simples inteligência ; a d o s a c o n te c im e n ­ C iê n cia s q u e têm p o r o b je to o e s p ír i­
to s q u e se d ã o a tu a lm e n te n o a n d a m e n to to h u m a n o e as re la çõ e s so ciais.
d o u n iv erso é c h a m a d a a ciência de visão . E ste te rm o re p re se n ta u m g ru p o de es­
E , u m a vez q u e h á u m a esp écie de m eio tu d o s c u ja u n id a d e in trín se c a é m u ito d is­
e n tre o sim p les p o ssív e l e o a c o n te c im e n ­ cu tív el. A te n ta tiv a m a is s iste m á tic a p a r a
to p u r o e a b s o lu to , a s a b e r, o a c o n te c i­ re u n i-la s so b u m ú n ic o p rin c íp io fo i a d e
m e n to co n d icio n al, p o d er-se-ia dizer ta m ­ A Oú è RE, n o seu Ensaio sobre a filosofia
b é m , s e g u n d o M o lin a , q u e h á u m a ciên­ das ciências, o n d e to d o s os c o n h e c im e n ­
cia média e n tre a d a v isão e a d a in te li­ to s h u m a n o s s ã o re p a rtid o s e m d u a s sé­
g ê n c ia .” L « ζ Ç« U , Teodiceia , I, 40. C f.
E ries p a ra le la s c u ja s ru b ric a s sã o re s p e c ti­
BO SSU ET , Tratado do livre-arbítrio , c ap . v a m e n te M unduseM ens. C f. Noológico.
V I: “ S eg u n d o m eio p a ra fazer c o n c o rd a r
a n o s sa lib e rd a d e c o m a c e rte z a d o s d e ­ C iê n c ia n o r m a tiv a V er Norm ativo.

S o b re C iê n c ia n o r m a tiv a — A e x p re ss ã o “ C iê n c ia n o r m a tiv a ” é c o n tr a d itó r ia


n o s seus te rm o s . T o d a s as a sse rçõ e s c ie n tífic a s e s tã o n o in d ic a tiv o . {H. Poincaré)
A s ciên c ia s n ã o sã o n em té c n ic a s n em te le o lo g ía s; elas n ã o c o m p o rta m ju íz o s d e v a ­
lo r. (F . Mentré)
S ó h á c o n tr a d iç ã o se se e n te n d e r p o r c iê n c ia n o r m a tiv a u m siste m a n o q u a l as
p re m issa s s e ja m e x c lu siv a m e n te c o n s ta tiv a s e c u ja s c o n c lu sõ e s s e ja m n o rm a tiv a s .
T e m o s ra z ã o a o d e n u n c ia r u m a c o n s tr u ç ã o d este g ê n e ro c o m o iló g ic a , e a q u ele s q u e
c rê em p o d e r “ f u n d a r ” a l ó g i c a , a e sté tic a o u a m o ra l s o b re “ f a to s ” sã o se g u ra m e n ­
te v ítim a s d e u m a ilu s ã o . M a s se e n te n d e rm o s c iê n c ia n o s e n tid o q u e a d e fin im o s
a c im a , n o § D , n a d a im p e d e q u e e x ista m c e rta s c iên c ia s q u e te n h a m p o r o b je to d e ­
te rm in a r a s re la ç õ e s ló g ic a s o u p sico ló g ica s q u e lig u em p ro p o s iç õ e s n o rm a tiv a s e n ­
tre si, d a s q u a is u m a s se ria m a$ p re m is sa s e o u tra s as c o n s e q u ê n c ia s , q u e c o n s ta te m
e v id ên c ia s n o rm a tiv a s o u c o lo q u e m p o s tu la d o s n o rm a tiv o s , ta l c o m o se c o n s ta ta m
e v id ên c ia s g e o m é tric a s e físicas, e se p o s tu la m p rin c íp io s n e sta s m e sm a s ciên c ia s. A
h o m o g e n e id a d e e n c o n tr a - s e e n tã o e sta b e le c id a (v er “ S u r u n e fa u sse ex ig en ce d e la
ra iso n en m a tiè re d e Sciences m o ra le s ” , n a Revue de métaphysique d e ja n e iro de 1907).
N ã o só ex iste u m a c iê n c ia p o ssív el d o s ju íz o s d e v a lo r q u e r d o p o n to d e v ista e m p íri­
c o , q u e r d o p o n to d e v ista ló g ic o , m a s lo n g e d e n ã o c o m p o rta re m a s c iên c ia s “ te le o ­
lo g ía n em ju íz o s d e v a lo r ” p o d e -se d iz e r, s o b a lg u n s a s p e c to s , q u e n em to d a ciên cia
é u m siste m a fin a lis ta e é c o m p o s ta p o r ju íz o s d e v a lo r: p o r q u e a ciên cia n ã o é u m a
sim p le s re c e p ç ã o p a ssiv a d a re a lid a d e , e la só se c o n s titu i a tra v é s d a e x istên cia de um
o b je tiv o p a r a o q u a l te n d e , se n d o os seu s c rité rio s c ie n tífic o s d e te rm in a d o s p o r esse
o b j e t i v o ; o o b j e t i v o , q u e r d iz e r, o q u e é válido p a r a t o d o s , n ã o é o q u e é a tu a lm e n te
a d m itid o p o r to d o s ; c o m p o r ta u m a esp écie de o b rig a ç ã o sui generis. A o p o si-
C IE N T IF IC IS M O 160

C iê n c ia o c u lta V er Oculto. 1911, p . 826), e sta a p re c ia ç ã o q u e m e d e ­


s o la : ‘L e D a n te c e stá a m il lég u as d o ho-
C iê n c ia p o s itiv a V er Positivo. maisismo cientificista. O e x em p lo d e ste
C IE N T I F I C I S M O e C I E N T I F I C I S - v e rd a d e ir o c ie n tis ta m o s tr a q u e o cienti­
T A N eo lo g ism o s e m p reg ad o s (em p rim ei­ ficism o e o espírito científico são d u a s c o i­
ro lu g a r n u m se n tid o p e jo ra tiv o ) p a ra d e­ sas d if e r e n te s .’ D e c id id a m e n te , as p a la ­
s ig n a r q u e r: 1?, a id é ia d e q u e a c iên cia v ra s em ista sã o d e m a s ia d o p e rig o sa s;
(n o s e n tid o D ) fa z c o n h e c e r as c o isa s tais m ais vale re n u n c ia r a e la s .” Ibid., p. 51.
c o m o elas s ã o , re so lv e to d o s o s p ro b le ­ T a m b é m se d iz em fran cês scienàsme,
m a s reais e é su ficien te p a r a sa tisfa z e r to ­ m as e ste te r m o n ã o se to r n o u c o rre n te .
das as necessid ad es leg ítim as d a in telig en ­ C IE N T ÍF IC O D .Wissenschaftlich ;
cia h u m a n a ; 2? (m e n o s ra d ic a lm e n te ), a E . Scientific, scientifical; F . Seientifique·,
id é ia de q u e o e s p irito e o s m é to d o s cien ­ I. Seien tífico.
tífic o s d ev em e ste n d e r-se a to d o s os d o ­
A . P r o p r ia m e n te , q u e serve p a ra
m in io s d a v id a in te le c tu a l e m o ra l, sem
c o n s tr u ir a ciên cia. G e ra lm e n te e n u m
ex ce ç ão .
s e n tid o m a is a m p lo : q u e d iz re s p e ito à
E s ta p a la v r a fo i em s e g u id a a ce ita
c iê n c ia o u q u e p e rte n c e à ciên c ia . “ M é ­
n u m s e n tid o m a is o u m e n o s e x te n s o , p o r
to d o c ie n tífic o . C o n h e c im e n to s c ie n tífi­
a lg u n s d a q u e le s q u e c o n c e d e m a m a io r
c o s .”
a u to r id a d e à c iê n c ia . “ A ú n ic a e tiq u e ta
em ista q u e m e p arece co n v ir a o m eu te m ­ B . P o r c o n s e g u in te , c o m u m a in te n ­
p e r a m e n to , e n c o n tre i-a a g o ra m e sm o ao ç ã o la u d a tiv a , d iz-se d e um m é to d o se­
fa z e r-v o s a m in h a p ro f is s ã o de fé: é a de g u r o , n o q u a l se p o d e c o n fia r; d e u m a
cientificista. ’1 L D τ Ç T , Contre la mé-
E I E
v e rd a d e q u e se ju lg a s o lid a m e n te e s ta b e ­
taphysique, c a p . I I I: “ P r a g m a tis m e et lecida, a tra v és d e p ro v a s válid as. E ste se n ­
scie n tism e ” , p . 51. “ [A ciência] n ã o c o n ­ tid o é u m p o u c o a b u s iv o , m a s m u ito f r e ­
s e r v í n e n h u m tra ç o da s u a o rig em h u m a ­ q u e n te n a lin g u a g e m c o n te m p o râ n e a :
n a ; e ela te m , p o r c o n s e q ü ê n c ia , a p e s a r unscientific (a n tic ie n tífic o ) é u m te rm o
d o q u e p o s s a p e n s a r a m a io r p a r te d o s m u ito u s u a l e m in glês p a r a d e sig n a r o c a ­
n o sso s c o n te m p o râ n e o s , u m v a lo r a b s o ­ r á te r o p o s to . T a l c o m o unwissenschaf­
lu to . A liá s, é só a ciên cia q u e tem esse v a­ tlich em a le m ã o .
lo r, e é p o r isso q u e eu m e p ro c la m o cien ­ C . N u m s e n tid o e sp e c ial (p o r o p o s i­
tif ic is ta .” Ibid., p . 68. ç ã o a filo s ó f ico, literário, moral, social ,
P o r é m , ele a c re s c e n ta e m n o ta , a o e tc .): q u e d iz re s p e ito à s m a te m á tic a s o u
re e d ita r o a rtig o , p u b lic a d o n a Grande re­ às ciên cias e x p e rim e n ta is d a n a tu re z a .
vive de 25 de d e z e m b ro de 1911: “ P a ­ Espírito cientifico, diz-se a m a io r p a r­
rece q u e a p a la v r a cientificismo já existe te d as vezes, n u m s e n tid o g eral e f a v o r á ­
e fo i e m p re g a d a em ace p ç õ es m u ito d i­ v el, d o e s p írito d e o r d e m , de c la re z a , d a
v e rsas. E n c o n tro m esm o a m e u re s p e ito , n e c e ssid a d e d e v e rific a ç ã o p re c isa e c o n ­
n o Mercare de France (16 de a g o sto d e tr o la d a ; d iz-se ta m b é m , p o r v ezes, m as

ç ã o d o v e rd a d e iro e d o fa ls o a p r e s e n ta u m c a r á te r n o r m a tiv o , ta l c o m o o d o bem


e d o m a l, d o b e lo e d o fe io : o c o n s t a t i v o é m ais u m c a s o p a r tic u la r d o n o rm a tiv o
d o q u e u m a c a te g o ria c o n tr a d ito r ia m e n te o p o s ta . (A. L.)

S o b re C ie n tific ism o e C ie n tific ista — A rtig o a c re s c e n ta d o a p e d id o d e v ário s m e m ­


b ro s d a Société.
A p a la v ra é ig u a lm e n te to m a d a n u m s e n tid o fa v o rá v el n a p a ssa g em seg u in te (A bel
R E à , La philosophie moderne, p. 80; F la m m a rio n , 1919) e aí ta m b é m se vê q u e .
161 C IN IS M O

m a is r a ra m e n te , n u m s e n tid o re s trito e R elativo à sen sação de m o v im e n to das


p e jo ra tiv o , d o e sp írito de g e o m e tria e n ­ p a rte s d o c o rp o (sem to c a r n a q u e stã o de
q u a n to exclu i o e s p írito d e f in u r a , o u de s a b e r se e sta se n sa ç ã o d e p e n d e d a in e r-
in te re sse e x clu siv o a tr ib u íd o às q u e stõ e s v ação * o u d a s ex citaçõ es em re to rn o p r o ­
d e p o r m e n o r , às e x p e riê n c ia s d e la b o r a ­ v e n ie n te s d a m a s s a m u s c u la r, d as a r tic u ­
tó rio , em o p o siç ã o às p ersp ectiv as d e c o n ­ la ç õ e s , d a p ele, e tc .): “ Im a g e n s a n e s t é ­
ju n to e à re fle x ã o s o b re a u tilid a d e re s ­ sica s; s e n tid o a n e s té s ic o .”
p e c tiv a d a s d ife re n te s esp écies de in v e sti­
NOTA
g a ç ã o . E ste ú ltim o u s o d ev e ser e v ita d o .
Rad. iní.: S cien cal. N ã o é u s u a l, em fra n c ê s , a p lic a r e sta
p a la v r a à s sen sa ç õ e s p ro p o r c io n a d a s p e ­
“ C I F R A ” V er Suplemento. lo d e slo c a m e n to d o c o rp o n o seu to d o o u
pelo s o b je to s p e rc e b id o s q u e se d eslo cam
C IN E M Á T IC A D . Kinematik; E . Ki­ em re la ç ã o a o c o rp o . S ó se d iz d as s e n sa ­
nematics', F . Cinématique; I. Cinemática. ções “ in te r n a s ” q u e c o rre s p o n d e m a o
T e rm o c ria d o p o r A m p è r e (Essaisur m o v im en to dos m ú scu lo s e a o esfo rço exi­
la philosophie des sciences, 1834). g id o p o r ele (p eso , re s istê n c ia , e tc .). E ste
P a r te d a M ec â n ica : ciên cia d o d e slo ­ sen tid o é , a liá s, o de B τ è í τ Ç , q u e crio u
I

c a m e n to , q u e r d izer, d o m o v im e n to , a b s ­ a p a la v ra {The Brain as an Organ o f


tr a ç ã o fe ita d as fo rç a s q u e s u p o s ta m e n te M ind, 1880).
o p ro d u z e m . N ela e stu d a m -se as po sições M as p a re c e , s e g u n d o a d e fin iç ã o d a ­
sucessiv as d o s c o rp o s m ó v eis n as su as re ­ d a p o r B τ Â á ç « Ç (Dict., 600 A ), q u e a
la çõ e s de d e p e n d ê n c ia e de s im u lta n e id a ­ s u a u tiliz a ç ã o é m a is a m p la em in g lês.
d e. A p a rte p r á tic a d e sta ciên cia é a te o ­ D iz-se ta m b é m , m a s m ais r a ra m e n te ,
ria d o s a p a r e lh o s m e c â n ic o s d o p o n to de Cinésico.
v ista d a tra n s fo rm a ç ã o d o s m o v im e n to s. Rad. int.: K in estesial.
C f. Dinâmica. S in ô n im o a n tig o : F o ro n o -
m ia (L e ib n iz , K a n t). C I N É T I C A (E n e rg ia ) V er Energia.

C IN É S IC O (ra ro ) O m e sm o sen tid o C IN IS M O D . Zynísm us ; E. Cynism,


q u e anestésico.
cynicism; F . Cynisme; l . Cinismo.
A. H i s t ó r i a . A d o u tr in a d a E sc o la
C IN E S T É S IC O D . Kinaesthetisch; E . d e A n tís te n e s , o u E sc o la C ín ic a , assim
Kinaesthetic ; F . Kinesthésique; I . Cines- c h a m a d a d e v id o ao g in á sio o n d e ele m i­
tetico. n is tra v a o seu e n sin o (O Cynosarge ) e a o

n e ssa é p o c a , a p a la v r a a in d a e ra n o v a : “ A s c o n c lu sõ e s d e s te liv ro s e r ã o r a c io n a lis ­


ta s , in te le c tu a lis ta s . M ais p re c is a m e n te , elas s e rã o eientifiástas p a r a a p ro v e ita r , de
c e rto s a d v e rs á rio s , um b a r b a r is m o e x p re ssiv o . P e n s o , co m e fe ito , q u e o ra c io n a lis ­
m o e o in te le c tu a lis m o , p e lo f a to de serem a ju s tific a ç ã o a b s o lu ta d a ciên c ia , d ev em
a p o ia r-s e s o b re e la , e n ã o a d ev em u ltr a p a s s a r. D evem ser, eles ta m b é m , rig o r o s a ­
m e n te cientificistas." {I. Benrubi)
O cien tificism o n ã o a ceita c o m o c o n h e c im e n to v álid o sen ã o as aq u isiçõ es das c iên ­
cias p o sitiv a s e, p o r c o n s e q u ê n c ia , n ã o re c o n h e c e à ra z ã o o u tr o p a p e l se n ã o aq u ele
q u e e la d e se m p e n h a n a c o n s titu iç ã o d as ciên c ia s. O p o sitiv ism o seria u m c ie n tific is­
m o , O c ie n tific ism o c o n s titu i, em s u m a , u m a tese m e ta fís ic a . (£ . Van Biêma)

S o b re C in ism o — Ê p r o v á v e l q ue a E s c o l a d e A Ç í è Ç èIt e n h a sid o c h a m a d a cí­


I E E

nica, m en o s d ev id o ao C y n o sa rg e d o q u e em re c o rd a ç ã o de Aio-yíVrçsó x v w , e de-


C ÍR C U L O K.2

fa to de q u e eie se q u a lific a v a deàTrXo- d a u m a p e rm ite u m a co isa co m a c o n d i­


x v w ( D ió c . L τ é 2 T« Ã , V I , 1 3 ) . A 2 « è I ó ­ ç ã o de q u e a o u tr a n ã o se lh e o p o n h a ),
I E ÂE è (Meta/., V III, 3, 1043b, 24) desig ­
C írc u lo v icio so L . Circulus vitiosus,
n a a in d a e sta esco la a p e n a s p e lo n o m e de
circulus logicus; D . id. ou Zirkel: Zirkel-
A tmoBtveioi. P a re c e , c o n tu d o , q u e c e d o
beweis; Zirkeldefinitiorr, E . Circle ; F.
o te rm o cín ico lh e fo i a p lic a d o e v isav a Cercle vicieux ; I. Circolo vizioso.
o g ê n e ro de v id a d estes filó so fo s . D ió ge- E r ro de ló g ica q u e c o n siste em d e fi­
nes c h a m a v a a si m esm o e e ra c o rre n te - n ir o u em d e m o n s tr a r u m a c o isa A p o r
m e n te c h a m a d o de A.ioyèv-qs ò xva>v. in te rm é d io d e u m a c o isa B , q u e apenas
{D« ó ; . L τ é 2 T« Ã , â « , 60, 61.) p o d e se r d e fin id a o u d e m o n s tra d a a t r a ­
B. É I « Tτ . D esp rezo pelas co n v en çõ es d a c o isa A .
vés
sociais, pela o p in iã o pública e m esm o pela C R ÍT IC A
m o ra l c o m u m e n te a d m itid a , seja n o s
D iz-se fre q u e n te m e n te , p o r a b re v ia ­
a to s , se ja n a e x p re ssã o d as o p in iõ e s . E s ­
ç ã o , circulo em vez de circulo vicioso: m as
ta a c e p ç ã o do te rm o re s u lta d o fa to de os
n e m to d a re c ip ro c id a d e ló g ica é v icio sa.
filó so fo s cín icos e stab elecerem u m a o p o ­
H á c aso s em q u e B p o d e ser d e fin id o o u
siçã o ra d ic a l e n tre a lei o u a c o n v e n ç ã o d e m o n s tra d o q u e r p o r A , q u e r in d e p e n ­
(vòixos) e a n a tu re z a (^ucus)» a q u a l eles d e n te m e n te d e A . N e ste c a s o , h á u m cír­
p re te n d ia m v o lta r, e c o n fo rm a re m a su a culo, m as n ã o é vicioso-, tais círculo s a p re ­
c o n d u ta p rá tic a a este p rin c íp io . O te r ­ se n ta m -se fre q ü e n te m e n te em to d a s as
m o tem , n este s en tid o , u m a a cep ção q u a ­ ciências d e d u tiv a s, p o r ex em p lo , to d a s as
se se m p re p e jo ra tiv a . vezes em q u e u m te o re m a e su a re c íp ro ­
c a s ã o v e rd a d e iro s , e p o d e m ser d e d u z i­
C ÍR C U L O D . Zirkel ; E . Grele; F . d o s u m d o o u tr o .
Cercle ; I. Circolo. N o c a s o d e d u a s a u to riz a ç õ e s , h a v e ­
E m L ó ; « Tτ A . R e la ç ã o d e d o is te r ­ ria c írc u lo v ic io so se c a d a u m a exig isse
m o s em q u e c a d a u m se p o d e d e fin ir p e­ q u e a o u tr a fo sse p re v ia m e n te d a d a , sem
lo o u tr o , o u de d u a s p ro p o s iç õ e s em q u e c o n d iç õ e s n e m re se rv a .
c a d a u m a p o d e d e d u z ir-s e d a o u tra . Rad. int.: C irk l.
B. M ais g e ra lm e n te : re la ç ã o d e d u a s “ C IV IL (E sta d o )” E s ta d o de so cie d a ­
c o n d iç õ e s tais q u e a v a lid a d e d e u m a d e ­ d e o p o s to a o e s ta d o d e n a tu re z a e re s u l­
p e n d e d a v a lid a d e d a o u tr a ( p o r ex em p lo ta n te d o c o n tr a to s o c ia l e m J . - J . R o u s ­
n o c a so d e d u a s a u to r id a d e s em q u e c a ­ s e a u , S a in t- J u s t, e tc .

p o is d ele; p o is O r a t e s , d is c íp u lo e su c e s so r “ d o c ã o ” ( D i ó g . L a é r c i o , V I, 85), e ra
c h a m a d o ò x v v i x ó s p elo p o e ta c ô m ic o M e n a n d r o , seu c o n te m p o râ n e o (D i ó g .
L a é r c i o , IV , 9 3 ). C f. a lista I, 15: ’Apnaflcptjs, o& Ato-yeVijió x v u r , o v K q ó t t j s ó
©7jj3cuos, e tc ., o n d e se vê q u e este e p íte to serv ia p a r a o d is tin g u ir d o s o u tr o s D ió g e-
n e s. E le é c o n s ta n te m e n te d e sig n a d o assim em DlóGENES e , n a m in h a o p in iã o , n o
seu p r o tó tip o S o t i o n (séc. II a .C .) . (V. Egger)
É p re c iso p r e s ta r a te n ç ã o a o fa to d e q u e Cynic , s u b s t., o a d je tiv o cynical e as
p a la v ra s cynism, cynicism d e sig n a m fr e q ü e n te m e n te em in g lês u m a c o isa to ta lm e n te
d ife re n te d a q u ilo q u e e n te n d e m o s p e la s p a la v ra s c o rre s p o n d e n te s . O d ic io n á rio de
M Z 2 2 τ à d e fin e Cynic , s u b s t.: “ U m a p e sso a d is p o s ta a rid ic u la riz a r o s o u tr o s o u
a a p a n h á -lo s e m fa lta ; q u a lq u e r u m q u e m o s tre u m a te n d ê n c ia p a r a d e s c o n fia r d a
s in c e rid a d e o u d o v a lo r d o s m o tiv o s e d a s açõ es d o s h o m e n s , e q u e te m o h á b ito
d e o e x p rim ir a tra v é s d e z o m b a r ia s e d e s a r c a s m o s .” Cépíico s e ria fre q ü e n te m e n te
a tra d u ç ã o e x a ta , e cínico d a r ia lu g a r a u m g rav e c o n tra -s e n s o .
163 CIVILIZAÇÃO

C ivil (L ib e rd a d e ) V er o b se rv a ç õ e s a lizações so b re p o sta s u m as às o u tra s n u m a


seg u ir e Suplemento. m esm a á re a g e o g rá fic a , e tais q ue os m o ­
n u m e n to s o u as in stitu içõ es da m ais an tig a
C IV IL IZ A Ç Ã O D . Kultur, Civilisa­ sobrevivem na m ais recente. Línguas de ci­
tion·, E. Civilization; F. Civilisation; I. Ci- vilização (D . Kultursprachen), aq u elas qu e
vilitá. S o b re a h is tó r ia d e s ta p a la v r a ver possu em u m a lite ra tu ra e são utilizadas c o ­
L uden F ζ â 2
E E , Civilização, evolução de m o m eio d e ex p ressão d e id éias p o líticas,
uma palavra e de um grupo de idéias, n o h istó ric a s o u cien tificas. V er s o b re o c o n ­
fa s c íc u lo II d a s Publications du Centre ju n to d o sen tid o A , M . M τ Z è è , A s civili­
International de Synthèse (1930); e cf. zações, elementos e form as, n a co letân e a
m a is a d ia n te Cultura . C f . H . M τ 2 2 Ã Z , d o Centre de Synthèse c ita d a m ais a trá s.
“ C u ltu r a , c iv iliz a ç ã o , d e c a d ê n c ia “ , Re­ B. A civ ilização (o p o s ta a o e sta d o sel­
vue de synthèse , d e z e m b ro d e 1938. vag em o u à b a rb á rie ) é o c o n ju n to d a s c a ­
A, Uma c iv iliz aç ã o é u m c o n ju n tora c te rís tic a s c o m u n s às civ ilizaçõ es (n o
c o m p le x o d e fe n ô m e n o s so ciais, de n a tu ­ se n tid o A ) ju lg a d a s m a is e le v a d a s, q u e r
re z a tra n s m is sív e l, a p re s e n ta n d o u m c a ­ d iz e r, p ra tic a m e n te a d a E u r o p a e d o s
rá te r relig io so , m o ra l, e stético , técn ico o u p aíses q u e a a d o ta r a m n o s seus tra ç o s es­
c ie n tífic o , e c o m u n s a to d a s a s p a rte s d e sen ciais. “ Se u m ta l e s p írito (o e sp irito
u m a v a sta so c ie d a d e , o u a v á ria s so cie ­ d e p o d e r in d iv id u a l) v iesse a re in a r e n tre
d a d e s em re la ç ã o . “ A civ iliz aç ã o c h in e ­ n ó s s e ria o fim d e to d a c iv iliz aç ã o , d e t o ­
sa , a civ ilização m e d ite r r â n ic a .” d a te n d ê n c ia p a r a a r a z ã o . . . ” R Ç τ Ç ,
E

Á rea de civilização (D . Kulturkreis), Dialogues philosophiques , p . 65. A p a ­


su p e rfíc ie g e o g rá fic a n a q u a l se e ste n d e la v ra n e ste s e n tid o a p re s e n ta u m a c a r a c ­
u m a civ ilização . Camadas de civilização te rís tic a n itid a m e n te a p re c ia tiv a . O s p o ­
(D. Kulturschichten) diz-se p rim itiv a m en ­ vos “ civ ilizad o s” o p õ em -se a o s p o v o s sel­
te d as c a m a d a s m a te ria is so b re p o sta s q u e v ag en s o u b á r b a r o s m e n o s p o r ta l o u ta l
m o stra m nas escavações a rq u e o ló g ica s os tr a ç o d e fin id o d o q u e p e la s u p e rio rid a d e
re s to s de civ ilizaçõ es su cessiv as; d e p o is, d a s u a c iên cia e d a su a té c n ic a , assim c o ­
de u m m o d o m ais g e ra l, é a p lic a d a a civi­ m o p elo c a r á te r ra c io n a l d a su a o rg a n i-

S o b re C iv il (L ib e rd a d e ) — A lg u n s c o rre s p o n d e n te s p e d ira m -n o s p a r a m e n c io n a r
e d e fin ir e sta e x p re ssã o a tu a lm e n te em d e su so : H. Capitant e C. Davy, q u e c o n su lte i
s o b re este p o n to , e stiv e ra m d e a c o r d o em re s p o n d e r q u e ela j á n ã o se e n c o n tra n o s
ju ris c o n s u lto s c o n te m p o râ n e o s . J á o a r tig o Liberdade, d e É m ile S a isse t, n o Diction­
naire des sciences philosophiques d e F r a n c k (1843; 2? e d iç ã o , 1875) se lim ita a d is­
tin g u ir e n tre a “ lib e rd a d e m o r a l” e “ lib e rd a d e p o lític a ” . V er n o Suplem ento a h is ­
to r ia d este te rm o .

S o b re C iv iliz a ç ã o — O s e n tid o B é a p re c ia tiv o , é a m b íg u o ; a a p re c ia ç ã o p o d e


re fe rir se a u m e s ta d o d e c o isa s j á re a liz a d a s , o u e n u n c ia r u m id e a l ta lv e z lo n g ín q u o .
O títu lo d o p rim e iro liv ro d e G . D u h a m e l, p u b lic a d o d u r a n te a g u e rra de 1914-18,
jo g a v a co m este d u p lo s e n tid o , c o m o m a is ta r d e m u ita s s á tira s s o b re a c o lo n iz a ç ã o .
A a p re c ia ç ã o fa v o rá v e l d a n o s sa c iv iliz aç ã o o c id e n ta l é ta lv e z a p e n a s fa v o rá v e l p o r
idolon tribus. E m F o u rie r, a c o n o ta ç ã o d e civilização é p e jo ra tiv a ; ele en v o lv e n u m
m e sm o d e sp re z o a b a rb á rie e a c iv iliz a ç ã o . A civ ilização é o q u a r to lim b o p re c e d id o
p o r 1) a s e lv a g e ria ; 2) o p a tr ia r c a d o ; 3) a b a r b á r ie ; e se rá se g u id a , co m a a ju d a de
F o u rie r e d e D e u s, p elo q u in to lim b o , o g a ra n tis m o . (M. Marsal )
E m a le m ã o , a p a la v r a civilização q u a n d o é o p o s ta à cultura d e sig n a o p ro g re sso
e x te rio r e m a te ria l. ( £ . Bréhier)
C LA 164

z a ç ã o so cia l. V er n a c o le tâ n e a já c ita d a , e p o lític o o n d e , v u lg a rm e n te , existe a en-


NiCEFORO, A civilização , o problema d o g a m ia (cf. D Z 2 3 7 E « O , A nn. Socio-
dos valores; L o u is W E ζ E 2 , Civilização e log., I, 9 e 31; P Ãç E 2 , S o c io lo g y , em
técnica. Année Soc., IV , 125). O clã c a ra c te riz a -
A ssim e n te n d id a , civilização im plica se, a lém d isso , q u e r d o p o n to d e v ista re ­
ta m b é m , n u m a m e d id a b a s ta n te a m p la , lig io so p e la u n id a d e d o T o te m (clãs a u s ­
a id é ia d e q u e a h u m a n id a d e te n d e a t r a l i a n o s , p e le s - v e r m e lh a s , s e g u n d o
to rn a r- s e m a is u n a e m a is s e m e lh a n te n a s DZ 2 3 7 E «O , ibid.; F 2 τ UE 2 , Totemism),
suas d iferen tes p a rte s. “ A h istó ria m o stra - q u e r, d o p o n to d e v ista ju r íd ic o , p ela s o ­
n o s a c iv iliz a ç ã o a la rg a n d o -s e p o u c o a lid a rie d a d e q u e u n e o s m e m b ro s p a ra a
p o u c o a to d o s o s p a íse s e a to d o s os p o ­ v in g a n ç a d o s a n g u e e q u e a p ro íb e e n tre
v o s .” G . M ÃÇÃá , Histoire; De la métho- eles (o H ajj á r a b e s e g u n d o R o b e r ts o n
de dans les Sciences, 1 * e d ., I, 355. SO« I 7 e P 2 Ã3 è T7 , Ueber die Blutrache
C. (m a is r a r o ) A ç ã o d e c iv iliz ar, debei den vorislamischen Araben), q u e r d o
p ro d u z ir o u de a u m e n ta r a civ ilização n o p o n to d e v is ta m ilita r p e la s u a c o n s titu i­
s e n tid o B. A ç ã o d e se c iv iliz ar. ç ã o em u n id a d e g u e rre ira o u , fin a lm e n ­
te , d o p o n to d e v ista e co n ô m ic o , p ela p ro ­
NOTA
p rie d a d e c o m u m (Z a d ru g a serv ia, T o w n -
C la ss ific a m o s os s e n tid o s n a o rd e m sh ip e sc o c ês, s e g u n d o L τ â E Â E à E , La
e m q u e s e ria m ais fácil d e fin i-lo s u n s p e ­ propriété et ses fo rm es primitives, c a p .
lo s o u tr o s , m a s h is to ric a m e n te os s e n ti­ X V I, X X IX ss.).
d o s B e C sã o os m ais a n tig o s ; a m b o s p a ­
re c em d a ta r d a s e g u n d a m e ta d e d o séc. C L A R O L . Clarus; D . Klar; E . Clear;
X V III; o se n tid o A d o s ú ltim o s a n o s d o F . Clair; I. Chiaro. V e r D istinto .
séc. X IX . A . P a r a DESCARTES, c o n h e c im e n to
Rad. int.: A . C ivilizado; B. C ivilize- “ q u e e stá p re s e n te e m a n ife s to n u m es­
so; C . C iv ilizig o , civ ilizijo . p írito a te n to ” , d e ta l m a n e ira q u e n ã o h á
o c a s iã o p a r a p ô r em d ú v id a a su a re a li­
C L Ã D . Sippe; E . Clan ; F. Clan; 1. d a d e e v a lo r (Princípios , I, 45).
Clan. B. P a r a L E « ζ Ç« U , id é ia tal q u e é s u fi­
T e rm o c éltico r e tira d o d o siste m a fa ­
cien te p a r a fa z e r re c o n h e c e r o seu o b je ­
m ilia r d a I r la n d a , de G ales e d a E scó cia
to e fazê-lo d is tin g u ir d e q u a lq u e r o u tr o
e a d o ta d o pelo s so ció lo g o s p a ra d esig n a r
{Cerh. Phil. Schriften, IV , p . 422).
de u m a m a n e ira g eral o a g ru p a m e n to s o ­
É a q u ilo a q u e D E è Tτ 2 I E è c h a m a v a
cial d ito “ p r im itiv o ” . E ste a g ru p a m e n to
Distinto *.
d e fin e -se e ss e n c ia lm e n te p e la in te rd iç ã o
Rad. int.: K lar.
d o c a s a m e n to n o in te r io r d o g ru p o (ex o ­
g a m ia ). O clã é, p o is , m e n o s e x ten so q u e C L A S S E D . Klasse; E. Class; F. Clas­
a trib o , q u e é u m a g ru p a m e n to te rrito ria l se; I. Classe.

S o b re C la sse — “ T o d a a h is tó ria d a s o c ie d a d e h u m a n a a té h o je é a h is tó ria de


lu ta s d e classes (Klassenkàm pfen ) ... N a s é p o c a s d a h is tó ria q u e p re c e d e ra m a n o s s a ,
v em o s q u a se q u e p o r to d a p a r te a s o c ie d a d e o fe re c e r to d a u m a o rg a n iz a ç ã o c o m p le ­
x a d e classes d is tin ta s , e e n c o n tr a m o s u m a h ie ra rq u ia d e n íveis so cia is m ú ltip lo s ...
A n o ssa é p o c a , a é p o c a d a b u rg u e s ia , te m p e lo m e n o s u m a c a r a c te rís tic a p a rtic u la r:
sim p lific o u o s a n ta g o n is m o s de classe. C a d a vez m a is a so cie d a d e n o seu to d o se p a r ­
tilh a em d o is g ra n d e s c a m p o s in im ig o s , em d u a s g ra n d e s classes d ire ta m e n te o p o s ­
tas: a b u rg u e s ia e o p r o le ta r ia d o .” M τ 2 7 e E Ç; E Â è , M anifesto comunista (1872).
T e x to c o m u n ic a d o p o r M. Marsal.
165 “ C L IN A M E N ”

A . L ó ; « T τ . C o n ju n to d e o b je to s d e ­ C L A S S IF IC A Ç Ã O D . Klassification;
fin id o p e lo f a to d e esses o b je to s p o s s u í­ E . Classification; F . Classification; I.
re m to d o s , e só eles, u rn a o u v a ria s c a ­ Classißcazione.
ra c te rís tic a s c o m u n s . R e p re s e n ta -se n a A . R e p a rtiç ã o d e u m c o n ju n to d e o b ­
L ó g ic a s im b ó lic a p e la a b r e v ia tu r a Cls. je to s n u m certo n ú m e ro d e c o n ju n to s p a r ­
(P E τ ÇÃ , Formulário de lógica matemá­ ciais c o o rd e n a d o s e s u b o rd in a d o s .
tica, § 2). T e rm o g e ra l q u e d esig n a a id éia B . M a n e ira d e o rd e n a r e n tre si o s c o n ­
s e g u n d o a q u a l o género e a especie s ã o ceitos, seg u n d o c ertas relaçõ es q u e se q u e ­
o s caso s p a rtic u la re s (S ). re m p ô r em e v id ê n c ia : re la ç ã o d o g ê n e ro
B. M Ãá ÃÂ Ã; íτ E I . E s p e c ia lm e n te ,
co m a espécie; re la çã o d o to d o com a p a r ­
c h a m a -s e classe e m b io lo g ia à d iv is ã o in ­ te ; re la ç õ e s d e g e n e a lo g ia , d e h ie ra rq u ia ,
etc. (D u r a n d d e G r o s , Aperçus de taxi­
te rm e d ia ria e n tre as ramificações e as or­
nom ie générale).
dens (classes d o s mamíferos, pássaros,
C h am a-se classificação artificial aq u ela
peixes, e tc .).
q u e d e p e n d e d e c a ra c te rístic a s a r b itr a r ia ­
C . SÃT« ÃÂ Ã; í τ . U m a classe é u m
m e n te e sc o lh id a s, e q u e tem a p en a s co m o
c o n ju n to d e in d iv id u o s c o lo c a d o s n u m
o b je tiv o p e rm itir e n c o n tr a r ra p id a m e n te
m e sm o nív el so cial p e la lei o u p e la o p i­
c a d a o b je to p elo lu g ar q u e ele o c u p a , o u
n iã o p ú b lic a (c f. Casta), E s ta p a la v r a re c ip ro c a m e n te ; classificação natural,
a p re s e n ta a tu a lm e n te u m a te n d ê n c ia p a ­ a q u e la q u e te m c o m o o b je tiv o a p ro x im a r
ra se a p lic ar s o b re tu d o , em ra z ã o d o a p a - o s o b je to s q u e têm m ais sem elh anças n a tu ­
g a m e n to g ra d u a l d as d is tin ç õ e s so cia is rais e p re p a ra r assim a d e s c o b e rta d a s leis.
q u e n ã o a s e c o n ô m ic a s , à d is tin ç ã o d o s
C L A U S T R O F O B IA D . Klaustropho­
c id a d ã o s c o n f o r m e o nív el d o s seu s r e n ­
d im e n to s e c o n f o r m e a d ife re n te m a n e i­
bie; F . Claustrophobie , etc.
P e rtu r b a ç ã o m e n ta l q u e co n siste n u m
r a de eles os o b te re m : c u ltiv a d o re s , o p e ­
re c e io d o lo r o s o , c h a m a d o angústia,
rá rio s, e m p re g ad o s, in d u stria is, p eq u en o s
a c o m p a n h a d o fr e q u e n te m e n te d e fe n ô ­
c o m e rc ia n te s , g ra n d e s n e g o c ia n te s , p r o ­
m e n o s im p u lsiv o s, q u e se m an ifesta q u a n ­
fissõ es lib e ra is , p r o p r ie tá r io s , c a p ita lis ­
d o o s u je ito se e n c o n tr a fe c h a d o , m e sm o
ta s , etc.
q u a n d o a o a b rig o d e to d o s os p e rig o s o u
F in a lm e n te , o s e n tid o d e s ta p a la v r a
d e q u a lq u e r in c o n v e n ie n te .
fo i a in d a m a is e sp e c ia liz a d o p e la te o r ia
c o m u n ista * , seg u n d o a q u a l a s classes s o ­ C L E P T O M A N I A D . Kleptomanie;
ciais e sta ria m e m v ia s d e se re d u z ire m a F . Cleptomanie, etc.
a p en a s d u as: p ro le ta ria d o e b u rg u e sia (ver Im p u ls o m ó r b id o p a r a o r o u b o sem
o te x to c ita d o n a s o b s e rv a ç õ e s ). É s o b re ­ q u a lq u e r in te re sse n a a p ro p ria ç ã o d o o b ­
tu d o a e sta ú ltim a a c e p ç ã o q u e se H gam , je to r o u b a d o .
a tu a lm e n te , as e x p re ssõ e s “ lu ta d e c la s ­ “ C L I N A M E N ” T r a d u ç ã o la tin a d o
s e s ” , “ p a r tid o d e c lasse ” , “ c o n sc iê n c ia g re g o èxvX t<m o u ir<XQtyx\Lots.
d e c la sse ” , etc. E s ta p a la v r a d e sig n a o d e sv io e s p o n ­
tâ n e o q u e , n o s iste m a d e E p ic u ro , p e rm i­
CRÍTICA
tia a o s á to m o s q u e c a ía m n o v azio e n c o n ­
E m ra z ã o d a s tr a n s f o r m a ç õ e s d e s e n ­ tra re m -s e e a g lo m e ra re m -s e , em v irtu d e
tid o s q u e a c a b a m d e ser r e fe rid o s , a u ti­ d e seu p e so e v e lo c id a d e ig u ais (E p i c u -
liz a ç ã o d e sta p a la v r a em m a té r ia so cial r o , Carta a H eródoto a p . D i ó g . l a é R-
p re s ta -se fa c ilm e n te a o s o fis m a q u a n d o CIO, liv . X ).
a a c e p ç ã o n ã o é e x p re s s a m e n te e sp e c i­ O clinamen era ao m esm o te m p o
fic a d a . o p rin c íp io d o liv re -a rb ítrio (L Z T2 E T« Ã ,
Rad. int.: K la s, II, 289).
CO-DOM INIO 166

C O -D O M ÍN IO (de u m a re la ç ã o ) L ó ­ “ C o g ito , e rg o sum et est” (A. R « Â , E 7

; « Tτ . V er Campo e Domínio. Der philosophische Kriticismus, liv ro II,


2? v o l., p. 147). “ C o g ito , erg o res s u n t ”
C O E R Ê N C IA D . S em e q u iv a le n te (re s u m o d a d e d u ç ã o tra n s c e n d e n ta l k a n ­
e x a to ; E . Consistency ; F . Coherence ; I. tia n a s e g u n d o E m . BÃZ I 2 ÃZ 7 , Revue
Coerenza. des cours , 1894-95, II , 370).
A u sê n c ia d e c o n tr a d iç ã o e de d is p a r i­
d a d e e n tre as p a rte s de u m a rg u m e n to , d e C O G N I Ç Ã O T e rm o in glês in u s ita d o
u m a d o u tr in a , d e u m a o b ra . E s ta p a la v ra em a le m ã o : n ã o f ig u r a em E « è Â E 2 ; F.
e v o ca o te rm o o p o s to , incoerência, q u e é Cognition; I. Cognizione.
q u ase sin ô n im o de lo u c u ra . A ssim ele ap e­ E s ta p a la v r a é a lg u m a s vezes u tiliz a ­
nas assin ala, de o rd in á rio , u m g ra u de e lo ­ d a q u e r p a r a d e s ig n a r o a to d e c o n h e c e r,
g io m e d ío c re . N ã o se p a ss a a m e s m a c o i­ q u e r p a ra d e sig n a r o co n h ec im e n to em ge­
sa co m as p a la v ra s in glesas coherency, co­ ra l. A p a la v ra in g lesa é d e fin id a p o r F Â E ­
herence, q u e c o rre s p o n d e ria m de p r e f e ­ O« Ç; e C τ Â á E 2 ç ÃÃá : “ K n o w led g e in its
rê n c ia a coesão* ou consistência-, ver w id e st sen se; sp ec ia lly , I n te rp r e ta tio n o f
a d ia n te Consistência, n o ta . s e n so ry im p r e s s io n .” 1 M E « 3 Â E ã Ã7 Ç , n a
Rad. int.: K o h e res. tr a d u ç ã o in g le sa d a Crítica da razão p u ­
ra, serv e-se d e sta p a la v r a p a r a tr a d u z ir
C O E S Ã O D . Kohasion, Zusammen- Erkenntniss.
hang ; E . Coherence, coherency; F . Co­ P o d e r-s e -ia u tilm e n te c o n se rv á -lo p a ­
hesion; 1. Coesione. ra d e sig n a r u m a to p a r tic u la r d e c o n h e ­
P ro p ria m e n te , fo rça q u e m a n té m u n i­ c im e n to * , em o p o s iç ã o a o c o n h e c im e n to
d as as m o lé c u la s d e u m c o rp o ; p o r c o n ­ e m g e ra l. A s d u a s p a la v r a s e s ta ria m e n ­
seg u in te, m e ta fo ric a m e n te : 1?, u n iã o d o s tã o n a m e sm a re la ç ã o q u e volição e
in d iv íd u o s n u m a so c ie d a d e ; 2 ? , c a ra c te ­ vontade.
rís tic a d e u m p e n s a m e n to , d e u m a e x p o ­
siçã o em q u e to d a s as p a r te s e stã o so li­ C O G N O S C IB IL ID A D E N e n h u m te r ­
d a m e n te u n id a s e n tre si. V er Coerência m o e q u iv a le n te em E « è Â E 2 ; Cognoscibi-
e Consistência. tity fo i u tiliz a d o p o r C Z á ç Ã2 I 7 , m a s
Rad. int.; K o h e r. n ã o f ig u r a n e m e m Bτ Â á ç « Ç n e m em
F Â E O« Ç; e C τ Â á .; F . Cognoscibilité; \.
C O G I T A T I V O V er Suplemento. Cognoscibilità.
Q u a lid a d e d o q u e p o d e ser c o n h ecid o .
“ C O G I T O ergo su m ” (D E è Tτ 2 I E è ,
T e rm o r a r o . G Ãζ Â ÃI d is tin g u e -o de
Discurso do método, IV ) e p o r a b re v ia ­
in te lig ib ilid ad e n a m e d id a em q u e este ú l­
ç ã o “ o C ogito” . A rg u m e n to q u e e x tra i
tim o c o n té m a m a is a id é ia d e u m c o n h e ­
d a e x istê n c ia d o p e n s a m e n to a tu a l a r e a ­
c im e n to ra c io n a l, p r e s s u p o n d o a co g n o s-
lid a d e d a a lm a e n q u a n to s u b s tâ n c ia in ­
c ib ilid a d e a p e n a s q u e o o b je to e stá p r e ­
d iv id u a l. “ S o u u m a c o is a q u e p e n s a ”
s e n te n o p e n s a m e n to .
{id., Meditações , II , 6). P o r isso , e sta f ó r ­
m u la foi fre q ü e n te m e n te c o rrig id a n o sen ­
tid o d e u m a m a io r im p e s so a lid a d e : “ C o ­
t. “ Conhecim ento, no sentido mais am plo; es­
g ito e rg o est” (ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , Die pecialmente, interp retação de um a impressão senso­
W elt, e tc ., Suplem entos, c a p . IV ). ria l.”

S o b re C o g n iç ã o — E s ta p a la v ra tem e m a le m ã o u m s e n tid o esp ecial n o uso ju r íd i­


co , p o r ex em p lo u m c rim e kom m t zur Cognition eines Richters (ch eg a a o c o n h ec im e n ­
to d e u m ju iz ): a m esm a u tiliz a ç ã o n a fó r m u la fra n c e s a connaître de... {F. Tõnnies )
167 C O IS A

C O IS A D . Ding, Sache; E . Thing ; F . M a s , rig o r o s a m e n te , este ú ltim o te rm o é


Chose; I. Cosa. m a is e x te n s o , p o is a p lic a -se a tu d o o q u e
A . A lin g u a g e m c o rre n te d esig n a p o r é suscetível d e ser p e rc eb id o , ta n to a o s fe ­
e sta p a la v r a o q u e p o d e ser p e n s a d o , s u ­ n ô m e n o s e à s re la ç õ e s q u a n to às co isas.
p o s to , a f ir m a d o o u n e g a d o . É o te rm o 2? Sentido metafísico. ‘‘C o isa e m s i”
m ais g e ra l, p o d e n d o su b stitu ir tu d o a q u i­ (Ding an sich; thing in itseif; chose en soi;
lo d e q u e se p õ e a e x istê n c ia , fix a o u p a s ­ cosa in se). A q u ilo que su b siste em si m es­
s a g e ira , re a l o u a p a r e n te , c o n h e c id a o u m o sem p re s s u p o r o u tr a c o isa . É a ssim
d e sc o n h e c id a . q u e K a n t ra c io c in a fre q ü e n te m e n c e p a r ­
tin d o d e s ta h ip ó te s e : Se os fenôm enos
B. T E Ã2 « τ áà T à Ç7 E . I?
T « OE ÇI Ã
fossem coisas em si... q u e re n d o dizer co m
Sentido empírico. E ste te rm o e x p rim e a
isso : se o s fe n ô m e n o s fo sse m q u a lq u e r
id é ia d e u m a re a lid a d e e n c a r a d a n o e s ta ­
co isa q u e sub sistisse f o r a d a m in h a re p re ­
d o e s tá tic o , e c o m o q u e s e p a r a d a o u se­ sen ta ç ão (co m o o realism o in g ên u o o im a ­
p a rá v e l, c o n s titu íd a p o r u m s iste m a s u ­ g in a ). D a í d e c o rre q u e e sta e x p re ss ã o , a
p o s ta m e n te fix o d e q u a lid a d e s e d e p r o ­ p rin c íp io n e g a tiv a , s e ja e m seg u id a a p li­
p rie d a d e s . A c o isa o p õ e -s e , e n tã o , a o f a ­ c a d a a o n ú m e n o * , e n q u a n to g o z a d e s ta
to o u a o fe n ô m e n o . “ A lu a é u m a c o isa , in d ep en d ên cia em relação à ap resen tação .
o eclip se é u m f a t o . ” V er Em si.
N e ste s e n tid o , coisa e objeto s ã o fre- C. ÉTICA. A c o isa o p ò e-se à p esso a* .
q ü e n te m e n te u tiliz a d o s c o m o sin ô n im o s. A c o isa n ã o se p e rte n c e a si m e sm a, p o d e

S o b re C o is a , B, 1 ? — M e s m o n o u s o v u lg a r, e f o r a de q u a lq u e r te o ria filo s ó fic a ,


se d istin g u e m d o is se n tid o s d a p a la v r a c o isa : a ) q u a lq u e r o b je to d e u m p e n s a m e n to ;
b) o s u je ito em o p o s iç ã o a o s p re d ic a d o s . ( / . Lachetier )
S o b re C o is a , B, 2? — ‘‘S in d E rs c h e in u n g e n D in g e a n sich selbst, so ist die F re i­
h eit n ic h t zu r e tte n ... W e n n d a g eg e n E rs c h e in u n g e n f ü r n ic h ts m e h r g elten als sie
in d e r T h a t s in d , n ä m lic h n ic h t fü r D in g e a n sich sondern blosse Vorstellungen , ...
so , e t c .” 1 K τ Ç , Crítica da razão pura, A n tin o m ia s , seção IX , § 3.
I

S o b re C o is a , B , 1? — A c o isa (e m p íric a ) a p a re c e c o m o u m s u je ito fix o d e f e n ô ­


m e n o s a c id e n ta is . M a s a s p r ó p r ia s q u a lid a d e s q u e , p a r a a e x p e riê n c ia im e d ia ta , p a ­
re c em m ais o u m e n o s p e rm a n e n te s s ã o re c o n h e c id a s c o m o m u tá v e is. L e v a n d o a té
o lim ite a id éia d e u m su jeito p e rm a n e n te de to d o s o s fe n ô m e n o s o u q u a lid a d e s, chega-
se, p o is , à id é ia d e u m s u b s tr a to a b s o lu ta m e n te fix o q u e s e ria a C o is a em si.
P o r o u tr o la d o , c o m o a a n á lise re d u z a s q u a lid a d e s im e d ia ta m e n te p e rc e b id a s ,
o b je to d o c o n h e c im e n to a tu a l, a sim p le s a p a rê n c ia s q u e tem c o m o fu n d a m e n to as
p ro p r ie d a d e s m a is p r o f u n d a s , m a is g e ra is e m ais fix as, lo g o m a is reais, fo rm a -se n o
lim ite o c o n c e ito d o q u e s e ria a c o isa em si mesma em o p o s iç ã o à q u ilo q u e e la é p a ra
n ó s , d o q u e e la seria in d e p e n d e n te m e n te d as aparências, q u e r d iz e r , f o r a d e to d o
c o n h e c im e n to a tu a l o u possível.
N e ste s e n tid o , a e x p re ssã o c o isa e m si o p õ e -s e a o te r m o fe n ô m e n o (n o se n tid o
m ais e x ten so ) e é m ais o u m e n o s s in ô n im a d e s u b s tâ n c ia (n o se n tid o m e ta físic o ). M as
e sta ú ltim a é m ais g e ra l. O te rm o c o isa em si, d e v id o à s u a p r ó p r ia o rig e m , im p lic a
c e rta id é ia d e o b je tiv id a d e q u e im p e d e q u e ele s e ja a p lic a d o a o e s p ír ito , c o m o a c o n ­
tece c o m o te rm o substância. (G. Belot)

1. “ Se os fenôm enos são coisas em si, a liberdade é impossível de ser salva... se, pelo contrário, só são
tom ados por aquilo que realm ente são. não coisas em si, mas simples representações, então, e tc .”
“ COISISM O” 168

r e p r e s e n ta d o s o b r e tu d o p elo s d e le g a d o s
s e r p o s s u íd a , n ã o p o d e ser c o n c e b id a c o ­
m o o s u je ito d e n e n h u m d ire ito . A p e s ­ fra n c e s e s , b e lg a s , s u íç o s , etc, F o i u tiliz a ­
s o a é suijuris·, p o d e p o s s u ir a c o isa , p o ­ d o p e la p rim e ir a vez p e lo jo r n a l su íç o Le
d e te r d ire ito s . progrès , d o L o c le , d a ta d o d e 18 de s e te m ­
Rad. int .: R es. b r o d e 1869.
B . F o i d e sv ia d o d este se n tid o e sp ecial
“ C O IS IS M O ” A lg u m a s vezes u tiliz a ­
d e v id o a c a u s a s in d iv id u a is : Ju le s G ü E è -
d o c o m o s in ô n im o d e re a lism o * in g ê n u o .
á , d e in ício filia d o n a e sco la c o letiv ista-
E
V er Realismo , c rític a (S ).
A d o J u r a , c o n tin u o u a d e sig n a r a s u a
C O L E T IV IS M O D . Kollecíivismus; d o u tr in a p e lo m e sm o n o m e , se b e m q u e
E . Collecíivism ; F . Collectivisme ; m a is ele a te n h a p e s s o a lm e n te tr a n s f o r m a d o
u s a d o s o b r e tu d o n a F r a n ç a ; I. Colet- c o n sid e ra v e lm e n te n o s e n tid o d o m a rx is ­
tivismo. m o . E , em ra z ã o d a in flu ê n c ia e x e rc id a
A. N eo lo g ism o . O te rm o fo i c ria d o n on a F r a n ç a p e la su a p r o p a g a n d a , o s o c ia ­
C o n g re ss o d e B asiléia (1869) p a ra o p o r lism o m a rx is ta re v o lu c io n á r io foi c o n h e ­
?.o so cialism o d e E s ta d o , re p re se n ta d o pe­ c id o p elo n o m e d e c o le tiv ism o .
lo s m a rx is ta s , a le m ã e s s o b r e tu d o , o s o ­ C . D a í re s u lto u q u e a p a la v r a te n d e
c ialism o n ã o e s ta tis ta , n ã o c e n tra liz a d o r, a s u b s titu ir n a lin g u a g e m c o rre n te o ter-

S o b re C o le tiv ism o , A — D e v o estes e n sin a m e n to s à b o n d a d e d e J a m e s G u i l l a u *


OE , m e m b ro d o C o n g re s s o d e B asiléia. N a s n o ta s q u e ele m e q u is c o m u n ic a r c ita
a seg u in te c a r ta a ele d irig id a e m d e z e m b ro de 1869 p e lo seu c o le g a V τ 2 Â « Ç : “ O è
p rin c íp io s q u e d e v em o s e s f o rç a r- n o s p o r fa z e r p re v a le c e r (n o jo r n a l La Marseillaise)
s ã o a q u e le s d a q u a se u n a n im id a d e d o s d e le g a d o s d a In te rn a c io n a l n o C o n g re s s o de
B asiléia, q u e r d iz er, o c o le tiv ism o o u o c o m u n is m o n ã o a u t o r i t á r i o .” (A. L .)
S o b re C o le tiv is m o , C — “ A p a la v r a c o le tiv ism o s u b s titu iu p rim itiv a m e n te n ã o
a p a la v r a socialismo, m a s a p a la v r a com unism o , ta lv e z p o r receio de a s s u s ta r o s tí­
m id o s . O s so c ia lis ta s d a In te r n a c io n a l fo r m a v a m e m 1869 trê s e sc o la s: m u tu a lis m o
(p r o u d h o n ia n o ) , m a rx is m o o u c o m u n is m o de E s ta d o e c o le tiv ism o . A p a r tir de 1878
o u 1880 a p e n a s se e n c o n tr a m n o so c ia lis m o d u a s e sc o la s b em s e p a ra d a s : m a rx is m o ,
c h a m a d o d o r a v a n te c o le tiv ism o (p e rm a n e c e n d o fiel à d o u tr in a d o s o c ia lism o de E s ­
ta d o ) , e c o m u n is m o a n a r q u is ta o u , em a lg u n s , a n a r q u is m o (a n tig o c o le tiv ism o ). E n ­
tre o s d o is e n c o n tra m -s e os a g ru p a m e n to s c o m te n d ê n c ia s m al d e fin id a s q u e se p o ­
d em d e sig n a r so b o n o m e de s in d ic a lis m o .” ( Carta de James Guillaume )
S o b re C o le tiv ism o , C rític a — É f r e q u e n te n o s c o n te m p o r â n e o s e n c o n tr a r a p a la ­
v ra coletivismo o p o s ta à p a la v ra comunismo. E n te n d e -s e e n tã o p e la p rim e ir a a p e n a s
o p ô r em c o m u m e a o rg a n iz a ç ã o d o s m e io s e d o s in s tru m e n to s de p r o d u ç ã o ; p e la
s e g u n d a , o p ô r em c o m u m os p r o d u to s e o s m e io s d e fru iç ã o . A p rim e ira d o u tr in a
seria re la tiv a , e n tã o , ao s m é to d o s d e p r o d u ç ã o , a s e g u n d a à s fó r m u la s d e re p a rtiç ã o .
E s ta o p o s iç ã o seria ú til de se c o n se rv a r c o m e s ta s ig n ific a ç ã o . {E. Halévy — M.
Sembat — C. Hémori)
A m e sm a o p o s iç ã o , m a s in te r p r e ta d a u m p o u c o d ife re n te m e n te , e n c o n tra -s e em
E . V τ Çá 2 â Â á
E E E: “ P a r tin d o d a n o ç ã o de n e ce ssid a d e , d o v a lo r de u s o , e fu n d á n d o ­
se s o b re o d ire ito à e x istê n c ia , os comunistas d iz em : D e c a d a u m s e g u n d o as su as
c a p a c id a d e s , a c a d a u m s e g u n d o as su a s n e c e s sid a d e s. F u n d a n d o -s e p e lo c o n tr á r io
s o b re a n o ç ã o d o tr a b a lh o , d o v a lo r d e tr o c a , o s coletivistas (n o s e n tid o e stre ito d a
p a la v ra ) re s p o n d e m : A c a d a tr a b a lh a d o r o p r o d u to in te g ra l d o seu tr a b a lh o ” {Le
collectivisme et l ’evolution économique, 191).
169 COLETIVO

m o s o c ia lism o , p re c isa n d o -o e re strin g in - este reg im e te n d e n e c e ssa ria m e n te , d e f a ­


d o -o . E m o p o s iç ã o a o s o c ia lism o n o s e n ­ to , a s u b s titu ir o re g im e c a p ita lis ta ; 3 ? ,
tin d o a m p lo (L 2 Ã Z 7 , F Ã Z 2 « 2 , O ç Ç ,
E E E a d o u tr in a s e g u n d o a q u a l este re g im e é
e tc .) a p lic a -se a u m re g im e so cial c a r a c ­ s u p e r io r , d e d ire ito , à p ro p r ie d a d e c a p i­
te riz a d o d o p o n to d e v ista p o lític o p e lo ta lis ta , s e ja d o p o n to d e v ista d a felici­
p rin c íp io d e m o c rá tic o e d o p o n to d e v is­ d a d e , s e ja d o p o n to d e v ista d a ju s tiç a .
ta e c o n ô m ic o p e lo f a to d e a p ro p r ie d a d e Rad. int .: 1? K o le k tiv a j; 2? K lo e k ti-
d o s m eio s e d o s in s tru m e n to s d e p r o d u ­ v ig ; 3? K o le k tiv is m .
ç ã o ser c o le tiv a , q u e r d iz e r, p e rte n c e r
q u e r às s o c ie d a d e s de p r o d u ç ã o , q u e r à s C O L E T IV O D . Gesammt, Kollektiv\
c o m u n a s , q u e r m esm o a o E s ta d o (a p e sa r E . Collective (m ais a m p lo ; q u e r d izer
d a o rig e m d a p a la v r a ) . V er V τ Çá 2 â Â -
E E
ta m b é m in d u tiv o ) ; F . Collectif\ I. Coi-
áE , Le coUectivisme et 1’evoiution écono- letivo.
mique. O c a r á te r re v o lu c io n á rio , p o r su a A . D iz-se d e u m te rm o sin g u la r e c o n ­
vez, se a p a g o u : é a ssim q u e n a s u a o b r a c re to q u e re p re s e n ta u m a p lu ra lid a d e de
Le socialisme reformiste français, ex p re s­ in d iv íd u o s : “ A e sco la d e E le ia ; o S e n a ­
s a m e n te c o n s a g ra d a a a s s in a la r o q u e o d o ro m a n o ; o I n s titu to ” e, p o r c o n s e ­
s e p a ra d o s re v o lu c io n á r io s , A . M « Â Â - E q u ê n c ia , de u m a p r o p o s iç ã o q u e te m c o ­
2 τ Çá se d e c la ra c o letiv ista e d e fin e o co ­ m o s u je ito u m te rm o c o le tiv o .
le tiv ism o p e la s u b s titu iç ã o n e c e ssá ria e B . “ T o m a d o n o s e n tid o c o le tiv o ” o u
p ro g ressiv a d a p ro p rie d a d e ca p ita lista p e ­ “ to m a d o c o le tiv a m e n te ” d iz-se d e u m
la p ro p rie d a d e so cia l (q u e r se ja n a c io n a l, te r m o p lu r a l, o u d e v á rio s te rm o s re u n i­
q u e r se ja m u n ic ip a l; p p . 25-2 7). d o s q u a n d o sã o s u je ito s d e u m a p r o p o s i­
ç ã o in d iv isa * : “ A s e strela s s ã o n u m e ro ­
C R ÍT IC A s a s .” “ P e d ro e P a u lo sã o irm ã o s .” A ex­
S e ria p re c is o d is tin g u ir: 1?, o re g im e p re ssã o o p o s ta é “ to m a d o n o sen tid o d is­
c o letiv ista; 2 ?, a d o u tr in a s e g u n d o a q u a l tr ib u tiv o ” .

S o b re C o le tiv a (C o n s c iê n c ia ) — N e s ta lo c u ç ã o , tã o c o r r e n te em D u rk h e im e seu s
d is c íp u lo s, s e ria c o n v e n ie n te p e r g u n ta r o q u e su b sis te d o s e n tid o p r ó p r io d a p a la v r a
consciência. D u rk h e im a tr ib u i à c o n sc iê n c ia c o le tiv a u m conhecimento d o s seus p r ó ­
p rio s esta d o s? P o d e -se d u v id a r. Consciência p a re ce sig n ificar a q u i sim p lesm en te “ lu g ar
d e fe n ô m e n o s p s íq u ic o s ” (ta lv e z in c o n sc ie n te s); é c o m o u m s in ô n im o p o s itiv is ta de
alma. N o ta r a in d a q u e D u rk h e im e sta b e le c e u u m à d is tin ç ã o e n tre consciência coleti­
va e consciência social: v er División du travail, 2? e d ., p . 4 6 . ( £ . Leroux)
D u rk h e im u tiliz o u a e x p re s s ã o “ c o n sc iê n c ia c o le tiv a ” p a r a d e s ig n a r d o is fa to s :
1?, q u e re p re s e n ta ç õ e s e s e n tim e n to s s ã o e la b o r a d o s em c o m u m , e p o r c o n se q ü ê n -
cia, d ife re n te m en te d o s e sta d o s q u e e la b o ra u m a co n sciên cia iso la d a; p o r co n seq u ên cia,
s ã o ta m b é m d e a lg u m a m a n e ira e x te rio re s a c a d a u m a d a s su a s c o n sc iê n c ia s in d iv i­
d u a is to m a d a s is o la d a m e n te . N e s te c a s o é a c o n sc iê n c ia , e n q u a n to s u je ito c o n sc ie n ­
te , q u e é d ita coletiva. C f. s o b r e tu d o o a rtig o Representações individuais e represen­
tações coletivas (1898) re c o lh id o em Socioiogie et philosophie, p rin c ip a lm e n te p p .
3 5-36. 2 ? , q u e p e lo seu o b je to e sta s re p re s e n ta ç õ e s e s e n tim e n to s p o d e m ig u a lm e n te
ser coletivos q u a n d o é o p r ó p r io g ru p o , o u o q u e se p a s s a n ele, q u e é c o n fu s a m e n te
p e rc e b id o . T al seria em p a r tic u la r o c a so d a s re p re s e n ta ç õ e s re lig io sa s; v e r em p a r t i ­
c u la r Formes elementaires, 1? e d iç ã o , p p . 295 s s., 329 ss. Q u a n to à d is tin ç ã o e n tre
a “ c o n sc iê n c ia c o le tiv a ” e a “ c o n sc iê n c ia s o c ia l” n â o m e p a re c e d e s e m p e n h a r n e­
n h u m p a p e l n as su as c o n c e p ç õ e s u lte rio re s . ( P . Fauconnet )
COLIGAÇÃO 170

C. Q ue tem c o m o o b je to u m c o n ju n ton u m a c o n c e p ç ã o sin té tic a ú n ic a u m c o n ­


de in d iv íd u o s s e m e lh a n te s e n q u a n to f o r ­ ju n to de fa to s s e p a ra d a m e n te o b serv ad o s:
m a m u m to d o : “ A p s ic o lo g ia c o le tiv a .” p o r ex em p lo , a id éia de “ ó r b ita e líp tic a ” ,
D - Q u e é p ro p r ie d a d e d e u m c o n ju n ­ q u e c o n d e n s a to d a s as o b se rv a ç õ e s fe itas
to d e in d iv íd u o s e n q u a n to e stã o reu n id o s. s o b re as p o siçõ e s de u m p la n e ta . V e r, e n ­
D iscu te -se s o b re o g ra u d e re a lid a d e q u e tr e o u tr o s te x to s , Philosophy o f the In-
p o d e m te r as tendências coletivas o u m es­ ductive Sciences, I, “ A p h o ris m s c o n c e r-
m o as representações coletivas in d e p e n ­ n in g Science” , n? 1.
d e n te m e n te d a s te n d ê n c ia s o u d as r e p r e ­ B. J. S. M « Â Â , a o d is c u tir a id é ia de
sen taçõ es co n scien tes em c a d a u m d o s in ­ W h ew ell, fez q ue esta ex p ressão assum isse
d iv íd u o s q u e fo rm a m u m g ru p o . A alma u m s e n tid o u m p o u c o d ife re n te : e n q u a n ­
coletiva é u m co n ceito m u ito u tilizad o pe­ to q u e p a r a a q u e le a c o lig a ç ã o se c o n f u n ­
lo s p s ic ó lo g o s a lem ãe s s o b o n o m e de d ia c o m a in d u ç ã o , M « Â Â p r e te n d e
Volkgeist. Consciência coletiva é s o b re ­ d istin g u i-la s n itid a m e n te . P a r a ele, a p r i­
tu d o fre q ü e n te n o s s o c ió lo g o s fran c ese s. m e ira reduz-se a u m a sim ples “ d e sc riç ã o ”
Rad. int.: K o le k tiv , d o s f a to s o b s e rv a d o s “ w ich en ab le s a
n u m b e r o f d e ta ils to b e s u m m e d u p in a
C RÍTIC A sin g le p r o p o s itio n ” 1. Logic, I I I , II, § 4.
(E x em p lo d o n a v e g a d o r e d a ilh a d a d o n o
J . L τ T7 E Â « E 2 {Études sur le syllogis- p a r á g r a f o p re c e d e n te .) A s e g u n d a p re s ­
m e, 47-57) e s o b a su a in flu ê n c ia Rτ ζ « E 2 s u p õ e a m a is u m a e x te n s ã o a o d e s c o n h e ­
(Logique, 46) c h a m a ra m “ p ro p o siç ã o c o ­ c id o e a o fu tu r o . A c o lig a ç ã o faz-se a tr a ­
le tiv a ” a p ro p o s iç ã o e m p iric a m e n te u n i­ vés d e u m “ g u e s s ” o u d e u m a série d e
v e rsa l, o b tid a p o r sim p les to ta liz a ç â o d e “ guesses” (ato s a n á lo g o s àq u ele pelo q u a l
e x p eriê n c ia s in d iv id u a is , p o r e x em p lo : se a d iv in h a a p a la v ra d e u m en ig m a) c o n ­
“ T o d o s o s m e m b ro s d esta fam ília são in s­ tin u a d o s a té q u e se cai n a in te rp re ta ç ã o
tr u íd o s .” O p Õ em -n a ao s v e rd a d e iro s u n i­ q u e c o n v é m ; eia p o d e a d m itir , p o r c o n ­
v ersais em q u e , se g u n d o eles, a re la ç ã o s e q u ê n c ia , d iv e rs a s so lu çõ e s e ig u a lm e n ­
d o s u je ito c o m o p re d ic a d o seria n eces­ te s a tis f a tó r ia s ; a in d u ç ã o p ro p r ia m e n te
sária q u e r categ o ricam en te, q u e r ex hypo· d ita , p e lo c o n trá rio , faz-se m e to d ic a m e n ­
thesi. E sta d e sig n a ç ão te m o in c o n v en ien ­ te e v isa a e x p lic a ç ã o assim c o m o a p re ­
te de c ria r u m e q u ív o c o d e v id o a o s e n ti­ v isão d o s fe n ô m e n o s ; ela c o m p o r ta u m a
d o A , m u ito u s u a l q u a n d o se fala d o s te r­ prova e p o r ta n to n ã o p o d e ria a d m itir h i­
m o s (ver L « I I 2 è ) e, p o r c o n se q u ê n c ia , p ó te se s e q u iv alen te s (n o s e n tid a B d a p a ­
n e ce ssá rio q u a n d o se fa la d a s p ro p o s i­ la v ra hipótese*).
çõ es. A liá s, o s e n tid o v is a d o p o r L a c h e ­ D esta lo n g a p assag em de M ill e d a su a
lie r é r e p re s e n ta d o sem c o n fu s ã o p o s s í­ d is c u s s ã o c o m W h e w e ll, b a s ta n te m ais
vel p o r totalizante * c o m p le x a d o q u e p o d e m o s in d ic a r n o r e ­
É , p o is , p re fe rív e l re s e rv a r o n o m e de s u m o p re c e d e n te , r e s u lto u q u e a p a la v r a
coletivo p a r a o s te rm o s q u e d esig n am u m coligação fo i freq u e n te m e n te to m a d a d es­
c o n ju n to d e in d iv íd u o s c o n s id e ra d o s in ­ d e e n tã o p a r a d e sig n a r a sim p les re u n iã o
d iv is a m e n te c o m o f o r m a n d o u m to d o . d o s f a to s , a in d u ç ã o c o m p le ta , o u tota-

C O L IG A Ç Ã O D . Kolligation ; E .
Colligation ; F . Colligation; I. Colli- I . " q u e perm ite resum ir um a m ultiplicidade de
gazione. observações parciais num a proposição única". É pre­
A. T e rm o u s u a l em in g lês (r e u n iã o ,ciso sublinhar que as palavras description, descripti­
ve o p era tio n , utilizadas aq ui por Mill, n ão têm exa­
co leção , a lia n ça ) m as q u e foi to m a d o p o r
tam ente o mesmo sentida em inglês e em francês:
W 7 E ç E Â Â n u m s e n tid o té cn ico : d e sig n a aproxima-se bastante da idéia de defin ição , de carac­
a ssim a o p e ra ç ã o d o e s p írito q u e re ú n e terização.
171 C O M PA R AD A

tizante, em o p o s iç ã o à indução am plifi­ B. P a r a L E « ζ Ç« U , e s ta m e sm a ciên cia,


cante* o u baconiana. M as n ã o e ra essa a p lic a d a a o s c o n c e ito s d e to d a a o rd e m
a in te n ç ã o p rim itiv a d e W h ew ell ao in tr o ­ e c o n s titu in d o a ssim a p a rte s in té tic a d a
d u z ir a u tiliz a ç ã o d e sta p a la v r a n a m e to ­ ló g ic a , d e m a n e ira q u e e la se c o n fu n d e
d o lo g ia . c o m a a r te d e in v e n ta r.
Rad. int.: K o m b in a to ri.
C O L O C A Ç Ã O D . E . F . Collocation;
I. Cotloeazione. C O M P A R A Ç Ã O D . Vergleíchung;
P o s iç ã o d e u m c o rp o m a te ria l em r e ­ E. Comparison; F . C o m p a riso n ; I.
la ç ã o a o s c o rp o s v iz in h o s. D iz-se p a r ti­ Comparazione.
c u la rm e n te d a s c o n d içõ e s in iciais de p o ­ O p e ra ç ã o pela q u a l se re ú n e m dois o u
sição q u e , re u n id a s a u m a lei de m o v i­ m a is o b je to s n u m m e sm o a to d e p e n s a ­
m e n to , d e te rm in a m u m a su ce ssã o d e p o ­ m e n to p a r a lhes iso lar a s se m e lh a n ça s o u
siçõ es u lte rio re s . C f. Lugar. as d ife re n ç a s.
T e rm o fre q u e n te m e n te u tiliz a d o p o r
C O M B IN A Ç Ã O L . Com binatio ; D . C ÃÇá « Â Â τ T e p e la s u a e sc o la . “ C o m o
Kombination ; E . Combination; F . Com­ d a m o s a n o s sa a te n ç ã o a u m o b je to , p o ­
binaison ; I. Combinazione. d e m o s d á -la a d o is a o m esm o te m p o . E n ­
A . S e n tid o p rim itiv o e e tim o ló g ic o : tã o , em lu g a r de u m a só se n sa ç ã o e x c lu ­
a ss o c ia ç ã o de o b je to s d o is a d o is (L E « ζ - siv a e x p e rim e n ta m o s d u a s e d iz em o s q u e
Ç« U , De arte combinatoria , 1666, e sc rito o s c o m p a r a m o s , p o r q u e a p e n a s os e x p e ­
p o r a n alo g ia co m esta p a la v ra : con3natio rim e n ta m o s p a r a os o b s e rv a r u m a o la ­
p a r a contem atio1, e tc.) d o d o o u tr o , sem serm o s d is tra íd o s p o r
B . S e n tid o g eral e u s u a l: c h am a -se o u tr a s sen saçõ es: o r a , é p ro p r ia m e n te is­
c o m b in a ç ã o de m o b je to s Ç a n ( w > » ) to q u e s ig n ific a a p a la v r a c o m p a r a r . A
a to d o s o s c o n ju n to s q u e se p o d e m f o r ­ c o m p a r a ç ã o é p o is a p e n a s u m a d u p la
m a r to m a n d o n d esses o b je to s , sem lev ar a te n ç ã o .” C ÃÇá « Â Â τ T , Lógica , p a rte I,
em c o n ta a s u a o rd e m , d e m a n e ira q u e c a p . V II.
d u a s c o m b in a ç õ e s q u a is q u e r d ife re m p e ­ Rad. int.: K o m p a r.
la n a tu re z a d o s o b je to s q u e elas c o n tê m .
C O M P A R A D A D . Vergleichend
Rad. int.: K o m b in . (c o m p a ra n te ) ; E . Comparative; F . Com­
C O M B IN A T O R IA L . A rs combina­ paré; I. Compar at o.
toria; D . Combinatorik; F . Combinatoi­ D iz-se d a s c iên cias c u jo m é to d o é
re; n ã o h á n e n h u m te rm o esp ecial n a s c o m p a ra tiv o * n o s e n tid o d e fin id o m ais
d u a s o u tr a s lín g u a s. a d ia n te . “ A n a to m ia c o m p a r a d a .” “ P s i­
A. C iê n c ia m a te m á tic a q u e te m p o r o lo g ia c o m p a r a d a ” (v er Psicologia).
c
o b je to f o r m a r p o r o rd e m to d a s as
CRÍTICA
c o m b in a ç õ e s* p o ssív e is d e u m d a d o n ú ­
m e ro d e o b je to s , e n u m e rá -lo s e e s tu d a r A utilização d e sta p a lav ra parece d e in í­
as su as p r o p r ie d a d e s e as s u a s re la çõ e s. cio b a s ta n te im p ró p ria n este sen tid o .
E sp e ra r-se-ia d e p re fe rê n c ia comparativa
o u comparante. Comparada explica-se p ela
1. Com binação de très a três. d u p la u tiliz a çã o d o s n o m e s d a s ciências

S o b re C o m p a ra ç ã o — É co n v en ie n te n o ta r q u e a d u p la a te n ç ã o d e fin id a p o r C o n ­
d illa c n ã o é s u fic ie n te p a r a p ro d u z ir a c o m p a r a ç ã o , m as é p re c iso além d o m ais a
in te n ç ã o de c o n s id e ra r, c o m o se disse m a is a tr á s , as s e m e lh a n ç a s e a s d ife re n ç a s . (M.
Bernès)
COM PARATIVA 172

q u e a c a b a m p o r d e sig n a r ta m b é m o seu n o d e term in ism o d o s fen ô m e n o s e n a h a r ­


o b je to : “ A a n a to m ía d o s m a m ífe ro s ” , m o n ia d o m u n d o m o r a l.” L . L τ â E Â Â E ,
p o r e x e m p lo , d iz-se ta m b é m d a s e s tr u tu ­ L a presence totale, 217.
ra s a n a tô m ic a s q u e lh es sã o p r ó p r ia s .
“ C O M P E N S A Ç Õ E S (T e o ria d a s ) ”
C O M P A R A T I V A ( P ro p o s iç ã o ) D . D o u tr in a d e fe n d id a p elo filó so fo fran c ês
Vergleichend’, E . Comparative; F . Com ­ A Uτ « è e s e g u n d o a q u a l a s o m a to ta l d a
para tive; 1. Comparativa . fe lic id a d e e d a in fe lic id a d e é n e c e s s a ria ­
P r o p o s iç ã o q u e e n u n c ia q u e u m s u ­ m e n te a m e sm a p a r a c a d a in d iv íd u o e
je ito p o s su i ta l o u ta l c a ra c te rís tic a a u m m esm o p a ra c a d a so cied ad e (Les compen­
m a io r o u m e n o r g ra u d o q u e o u tr o s u je i­ sations dans les desünées, 1808; e tc .).
to . C f. Composto, Exponível.
C O M P L E T A U m a n o ç ã o , em L « ζ ­ E
A n a l i s a d a n a L ó g ic a d e P Ã2 I -
Ç« U , é d ita completa q u a n d o re p re s e n ta
R Ãà τ Â , 2? p a r te , c a p . X , § 3.
in te ira e e x a ta m e n te o seu o b je to in d iv i­
C O M P A R A T IV O (M é to d o ) M esm o s d u a l. U m a n o ç ã o in c o m p le ta é s e m p re
e q u iv a le n te s e s tra n g e iro s . a b s tr a ta (S ).
A q u e le q u e p ro c e d e a tra v é s d e c o m ­
1. C O M P L E X O (a d j.) D . Zusam-
p a ra ç õ e s e n tre as d iv ersas fo rm a s d e u m a
mengesetz, complex; E . Complex; F .
m e sm a classe d e fe n ô m e n o s, d e u m a m es­
Complexe; I . Complesso.
m a espécie de seres, de u m m e sm o ó rg ã o ,
A . Q u e c o m p re e n d e v á rio s e lem en to s
de u m a m e sm a f u n ç ã o , etc. “ O m é to d o
e m e sm o , e m g e ra l, u m g ra n d e n ú m e ro
c o m p a ra tiv o é o in s tru m e n to p o r excelên­
d e e le m e n to s.
cia d o m é to d o so c io ló g ic o . A h is tó ria n o
B . L ó ; « Tτ . U m te rm o é d ito c o m p le ­
s e n tid o u s u a l d a p a la v r a e stá p a ra a s o ­
x o se a p a la v r a p rin c ip a l q u e o c o n s titu i
c io lo g ia c o m o a g ra m á tic a g re g a , o u a
é a c o m p a n h a d a q u e r p o r u m a explicação ,
g ra m á tic a la tin a , o u a g ra m á tic a f r a n c e ­ q u e r p o r u m a determinação (ex.: 1 . 0 h o ­
sa, tr a ta d a s s e p a ra d a m e n te u m a d as o u ­ m em q u e é u m a n im a l r a c io n a l... 2. U m
tra s , e stã o p a ra a ciência n o v a q u e to m o u c o rp o q u e é tr a n s p a r e n te ...) . Lógica d e
o n o m e de g ra m á tic a c o m p a r a d a .” E . P Ã2 I -R Ãà τ Â , I, 8, e d , C h a r le s , p . 81.
DZ 2 3 7 E « O , “ S o c io lo g ia e ciên cias s o ­ U m a p ro p o s iç ã o é d ita c o m p le x a se o
c ia is ” , em La m èthode dans les Sciences , s u je ito o u o a tr ib u to s ã o c o m p le x o s (v er
to m o I, 282 (2? e d iç ã o , 329). Modal*). Ibid., I I , 5 , p . 158.
U m s ilo g ism o é d ito c o m p le x o q u a n ­
C O M P E N S A Ç Ã O (Lei o u p rin cíp io
d o , s e n d o c o m p le x o p e lo m e n o s u m d o s
de)
te rm o s d a c o n c lu s ã o , a s p a rte s q u e c o m ­
A . O u tr o n o m e m ais r a r o d a lei d ita
p õ e m esse te r m o se e n c o n tr a m s e p a ra d a s
“ d o s g r a n d e s ” . “ [Os A n tig o s] n ã o p a r e ­
n a s p re m is sa s (e x .: A lei d iv in a m a n d a
cem te r s u s p e ita d o d a ex istên c ia de u m
h o n r a r o s reis; L u ís X IV é re i; lo g o , a lei
p rin c íp io de c o m p en sa çã o q ue a c a b a sem ­
d iv in a m a n d a h o n r a r L u ís X IV ). Ibid.,
p re p o r m a n ife s ta r a in flu ê n c ia d a s c a u ­
I l l , 9 . p . 269.
sas re g u la re s e p e rm a n e n te s a te n u a n d o
P o r t- R o y a l em to d o s estes caso s u ti­
c a d a vez m ais a d a s c a u s a s irre g u la re s e
liz a c o m o s u b s ta n tiv o complexo e n ã o
f o r tu ita s .” C ÃZ 2 ÇÃI , Thèorie des chan­
complexidade.
ces et des probabilités , c a p . I X , § 103.
B . N o m e d a d o p o r L τ â E Â Â E à s o lid a ­ 2. C O M P L E X O (s u b st.) D . Komplex ;
rie d a d e d e to d a s a s a ç õ e s p a rtic u la re s n o E . Complex; F . Complexe; I. Complesso.
seio d o S e r to ta l: “ R ein a n o m u n d o u m a A. S is te m a físico o u ló g ico c o m p o s to
lei m a ra v ilh o s a d e u n iv e rs a l c o m p e n s a ­ d e e lem en to s d istin to s o rg a n iz ad o s p o r re­
ç ã o , q u e e n c o n tr a u m a d u p la e x p re ss ã o la çõ e s d e fin id a s.
173 COMPOSSÍVEL

B. E s p e c ia lm e n te n a te rm in o lo g ia d ap rin c ip a is , l e i , c a ra c te riz a d o s p e la s e ­
Psicanálise*, te rm o c ria d o p e lo D r . J Z Ç; g u in te lei m u ltip lic a tiv a :
d e Z u riq u e : “ e in e G ru p p e v o n z u sa m m e n
i2 = - 1
g e h ö rig e n , m it A f f e k t b e s e tz te n V o rste l-
lu n g selem en tem ” 1, q u e p e lo re c a lc a m e n ­ (d e o n d e a f o r m a a tr ib u íd a a n tig a ­
to assu m e u m a espécie d e a u to n o m ia e d e ­ m e n te à u n id a d e “ im a g in á r ia ” /).
te r m in a o s s o n h o s , a s n e u ro s e s , etc. S. Rad. int.: K o m p íe k s.
F 2 E Z •á , Deber psychoanalyse, p . 30. C O M P O R T A M E N T O D . Verhalten ;
N ú m e ro c o m p le x o C h a m a -s e a ss im , E . Behaviour, F . Comportement; I. Com­
n o s e n tid o g e ra l, u m n ú m e ro c o m p o sto portam ento.
(p o r u m a o p e ra ç ã o s e m e lh a n te à a d iç ã o T e rm o re c e n te m e n te in tr o d u z id o n a
aritm ética) d e n n ú m e ro s em q u e c a d a u m lin g u a g e m filo s ó fic a p a r a d e sig n a r o o b ­
é re la tiv o a u m a u n id a d e e sp e c ial (h e te ­ je to d a “ p s ic o lo g ia d e r e a ç ã o ” (f re q u e n ­
ro g ê n e a ) q u e ele s u p o s ta m e n te m u ltip li­ te m e n te c h a m a d a , c o m u m te rm o im p r ó ­
c a . Se se p u s e r e m e v id ê n c ia e sta s u n id a ­ p r io , “ p s ic o lo g ia o b je tiv a ” . V er Objeti­
d e s , o n ú m e ro c o m p le x o d e n u n id a d e s vo e Psicologia). O comportamento d e
p rin c ip a is to m a a f o r m a g e ra l: u m ser é o c o n ju n to d a s re a ç õ e s g lo b a is
d o seu o r g a n is m o , t a n t o c o m u n s à e sp é ­
u , u l + a2 u 2 + . . . + a „ u „
cie c o m o p a rtic u la re s a o in d iv íd u o .
s e n d o a,, a2, . . . an os n ú m e ro s o r d in á ­ Ed. CÂ τ ú τ 2 è á E p r o p ô s re s e rv a r o
rio s e « 2, . . . un o s s ím b o lo s d a s n n o m e d e conduta p a r a a s re a ç õ e s n ã o es­
u n id a d e s . te r e o tip a d a s n a e sp é c ie , m a s in c lu in d o
N u m s e n tid o m a is e sp e c ia l o s n ú m e ­ a q u e la s q u e s ã o e s te re o tip a d a s n o in d iv í­
r o s c o m p le x o s d a á lg e b ra v u lg a r (c h a ­ d u o p e lo h á b ito (N ota s o b re a 3 a e d iç ã o
m a d o s ta m b é m n ú m e ro s imaginários*) d o Vocabulário). E s ta d istin ç ão p arece te r
s ã o o s n ú m e ro s co m p lex o s d e 2 u n id a d es a tu a lm e n te e n tr a d o e m u s o .
Rad. int .: K o m p o rt.
I . “ um grupo de elementos de representação as­ C O M P O S S ÍV E L T e rm o re la tiv o , u ti­
sociados num to do e providos de um poder afetivo'’. lizad o p a rtic u la rm e n te n o sistem a de L E « ζ -

S o b re C o m p o r ta m e n to — O s e n tid o d a d o p o r C la p a rè d e p a ra conduta n ã o se rá
u m p o u c o e s tre ito ? E x iste m c o n d u ta s q u e n ã o são e x c lu siv a m e n te in d iv id u a is . (C .
Parodi)
Comportamento é m ais a m p lo d o q u e c o n d u ta ; p o d e d izer-se d o m o v im e n to d o s
in s e to s a tr a íd o s p e la lu z , d o m o v im e n to c irc u la r d a s la g a r ta s p ro c e s s io n á ria s , e tc .
É s o b r e tu d o u m te rm o té c n ic o , o q u e fa z c o m q u e a u tiliz a ç ã o a m p la d a p a la v r a con­
duta n ã o te n h a n a d a d e c h o c a n te . É a q u e le q u e co n v ém m e lh o r a o p o n to de v ista
d a s d is tin ç õ e s f u n d a d a s n a p re d o m in â n c ia de c e rta s açõ e s p a rtic u la re s : é a ssim q u e
h á c o n d u ta s de e sp e ra , c o n d u ta s d e tr iu n f o , e tc . ( Pierre Janet )
D an iel Lagache , n o seu curso sobre a Conduta humana n a S o rb o n n e (1948-1949) cri­
tic o u to d a s a s d istin çõ es feitas e n tre conduta e comportamento e a p e n a s reteve a p rim ei­
ra destas d u a s p alav ras. Ver Bulletin du groupe d ’é tudes de psychologie, 3? an o , n ? 1.
N a conduta, n o s e n tid o u s u a l, e x iste se m p re u m c a m b ia n te p ro v e n ie n te d o s e n ti­
d o p rim itiv o d e conduzir: g o v e rn a r, d irig ir. C f . “ c o n d u to r ” , “ a c o n d u ç ã o d e u m
n e g ó c io , d e u m a d e m o n s tr a ç ã o ” . “ C o n d u z ir-s e ” é g o v e rn a r-s e , n ã o se d e ix a r le v a r
p e lo s in s tin to s o u p e lo s im p u ls o s ; inconduite, e m fra n c ê s , é p r o p r ia m e n te a a u sê n c ia
d e s ta d ire ç ã o d e si m e sm o . (A. L .)
S o b re C o m p o ss ív e l — Léon Robin p e n s a q u e e s t a p a l a v r a p o d e t e r s i d o c r i a d a
t e n d o c o m o m o d e l o confatal* (avveificxQfievov, C 2 « è « ú Ã).
COM POSTO 174

N iz . Todos o s possíveis* n ã o s ã o A passagem do sentido com posto pa­


compossiveis* , q u e r d iz e r , ta is q u e eles ra o sentido dividido, assim e n te n d id a (ou
p o s s a m ser re a liz a d o s a o m e sm o te m p o re c ip ro c a m e n te ), é u m d o s so fis m a s d is­
(n o m e sm o m u n d o ). Compossibüiías e tin g u id o s p o r A ris tó te le s , q u e fa la d a s
compossibilis (avvSvvctTÓs) são in d ic a d o s a m b ig u id ad es i r a ç à rqv ôtaígeaiv (secun­
p o r G ÃTÂ E Ç« Z è c o m o te rm o s b á r b a r o s dum divisionem) e a c re s c e n ta : “ o yá g
de e sc o lá stic a a e v ita r. Verbo, 4 2 5 ?. a vròs X070 S òtrjQTffiéj/os x a i ouyxeífievos
ovx aei TCtvTÒ tt^fuxíveiv ou> ò ó ^iev.” So­
C O M P O S T O D . Zusamm engesetzt ; fism as, 166a35. A Lógica d e P o r t-R o y a l
E . C om pound ; F . Composé\ I. Com­
d e fin e -a a tra v é s de e x e m p lo s. “ R a c io c i­
posto. n a r ã o m a l aq u ele s q u e se p ro m e te re m o
A , F o rm a d o p o r v á ria s p a rte s (utiliza- céu p e rm a n e c e n d o n o s seu s c rim e s p o r ­
se ta m b é m s u b s ta n tiv a m e n te ). q u e J e su s C ris to veio p a r a s a lv a r o s p e ­
B . Ló ; « Tτ . U m te r m o é d ito c o m ­ c a d o re s e d isse n o E v a n g e lh o q u e a s m u ­
p o s to se ele é fo r m a d o d e v á rio s te rm o s lh e re s d e m á v id a p re c e d e rã o os F a rise u s
u n id o s p o r e o u p o r ou. U m a p ro p o s iç ã o n o re in o d e D e u s; o u q u e , p e lo c o n tr á ­
é d ita c o m p o s ta : 1?) q u a n d o o s u je ito , o rio , te n d o v iv id o m a l, d e se sp e re m d a su a
a trib u to , o u a m b o s em c o n ju n to são c o m ­ s a lv a ç ã o ... p o r q u e é d ito q u e a c ó le ra d e
p o s to s ; 2?) q u a n d o o v e rb o é c o m p o s to , D eu s e s tá re s e rv a d a p a r a to d o s a q u ele s
p o r e x e m p lo : A m ic itia p a re s a u t a c c ip it, q u e v iv em m a l. O s p rim e ir o s p a s s a ria m
a u t fa c it; 3 ?) q u a n d o e la é c o n d ic io n a l, d o sentido dividido p a r a o sentido com­
c a u s a l, re la tiv a , d is c re tiv a , e x clu siv a , ex ­ posto a o p ro m e te re m -s e , e m b o r a c o n ti­
c e p tiv a , c o m p a r a tiv a , in c e p tiv a o u d esi- n u a n d o p e c a d o re s , o q u e a p e n a s é p r o ­
tív a . Lógica d e P Ã2 I -R Ãà τ Â , I I , 9 e 10. m e tid o a o s q u e d eix em d e o se r; e o s ú lti­
Rad. int.: K o m p o s it. m o s p a s s a ria m d o sentido com posto p a ­
r a o sentido dividido a o a p lic are m a o s q u e
S e n tid o c o m p o s to A q u e le em q u e
fo r a m p e c a d o re s e o d e ix a r a m d e s e r ...
d u a s p a rte s d e u m a m e sm a e x p re s s ã o d e ­
v em ser e n ten d id as co m o a p lic an d o -se em
0 q u e a p e n a s d iz re s p e ito a o s p e c a d o re s
q u e p e rs iste m n o s seus p e c a d o s ” (3? p a r ­
c o n ju n to a o m e sm o s u je ito : o p õ e -se ao
te , c a p . X I X , § 6).
sentido dividido, n o q u a l elas se a p lic a m
s e p a ra d a m e n te . P o r e x em p lo em “ O s ce­ C O M P R E E N D E R D . Verstehen; E .
g o s n ã o v ê e m ” a fra se é to m a d a n o se n ­ To c o m p re h en d to understand’, F . Com-
tid o c o m p o s to ; n a p a ss a g e m d o E v a n g e ­ prendre; I. Comprendere.
lh o : “ O s ceg o s v ê em , o s s u rd o s o u v e m , A o fa la r-s e d o e s p írito :
e t c .” a fra se é to m a d a n o s e n tid o d iv i­ A. C o lo c a r u m o b je to d e p e n s a m e n ­
d id o . to c o m o d e fin id o e, p rin c ip a lm e n te , p e n -

S o b re S e n tid o c o m p o s to — N o ta r q u e a fó r m u la d e A ris tó te le s c o b re u m s e n tid o


m a is a m p lo d o q u e o s e x e m p lo s d e P o r t- R o y a l.

S o b re C o m p r e e n d e r — A s s in a la ra m -n o s q u e n ã o e n tr a r a m n e s ta s d iv e rsa s d e fi­
n iç õ es o f a to d e c o m p re e n d e r a a ç ã o d e u m h o m e m s a b e n d o q u a l é o seu o b je tiv o
{J. Lachelier) e o d e lig a r u m f a to c o m o u tr o c o n s id e ra d o c o m o c a u s a . (P. Lapie)
M a s a c a u s a f in a l e s tá c o n tid a n a fó r m u la B , p o is se o g a n h o e x p lic a e fa z c o m p re e n ­
d e r o a to d o a v a r e n to , is to o c o r r e n a m e d id a em q u e c o n h e c e m o s j á a tra v é s d e u m a
g e n e ra liz a ç ã o a n te r io r a a tr a ç ã o d a riq u e z a ; e, q u a n to à c a u s a e fic ie n te , o u e la se
re d u z à id e n tid a d e e e n tr a e n tã o n o c a so C , o u e la é u m a g e n e ra liz a ç ã o e m p íric a e
a p e n a s e stá c o m p re e n d id a s o b a f o r m a B. {A. L .)
175 CO M PREEN SÃ O

sa r u m sig no e n q u a n to a p re se n ta u m a sig­ prehension, a lg u m a s vezes Signification


n ific a ç ã o . V êem -se o s c a ra c te re s d e u m a (re c o m e n d a d o p o r Bτ Â á ç « Ç ); F. Com-
lín g u a d e sc o n h e c id a m a s eles n ã o s ã o prekension ; 1. Comprensione. C f. Exten­
c o m p re e n d id o s . são, Intensão.
B. R e c o n h e c e r q u e u m f a to o u u m a C o n ju n to d a s c a ra c te rís tic a s q u e p e r­
p ro p o s iç ã o e s tã o lo g ic a m e n te c o n tid o s te n c e m a u m c o n c e ito ; o q u e p o d e
n u m a f ó r m u la g e ra l j á a d m itid a . e n te n d e r-s e em d iv e rso s se n tid o s:
C ! N o s e n tid o m a is f o r te , re c o n h e c e r A . C o n ju n to d e to d a s as c a ra c te rís ti­
q u e o q u e se d e c la ra “ c o m p re e n d e r” é tal cas c o m u n s a to d o s os in d iv íd u o s q u e p e r­
q u e n ã o p o d e ria ser d e o u tr a m a n e ira e te n cem a u m a d a d a classe*: compreensão
q u e a s u a c o n tr a d itó r ia seria a b s u r d a . total. P o d e -s e ta m b é m d e fin i-la c o m o o
P a r a estes trê s p rim e iro s s e n tid o s , c f . c o n ju n to d o s p re d ic a d o s d e to d a s as p r o ­
Explicar. p o siçõ e s v e rd a d e ira s q u e te n h a m c o m o
D . E m r e la ç ã o ao s s e n tim e n to s o u à s u je ito u m te rm o d a d o .
c o n d u ta d e o u tre m : c o lo c a r-se n o seu lu ­ B . C o n ju n to d as c a r a c te rís tic a s q u e
g a r, se n tir s im p a tic a m e n te o q u e h á n e ­ c o n s titu e m a definição* d o c o n c e ito :
les d e ju s tific á v e l. E ste s e n tid o p e rte n c e compreensão decisória.
C . C o n ju n to d a s c a ra c te rís tic a s c o m ­
m a is à lin g u a g e m c o rre n te d o q u e à d a fi­
p re e n d id a s n a d e fin iç ã o e d a q u e la s q u e
lo s o fia . V er, c o n tu d o , a s o b s e rv a ç õ e s .
d e la d e c o rre m lo g icam en te: compreensão
A o fa la r-se d a s co isas o u d a s id éias:
E . C o n te r c o m o p a rte s .
implícita.
D . C o n ju n to d as c a ra c te rís tic a s q u e a
Rad. int.: A . K o m p re n ; B . C . In te -
u tiliz a ç ã o de u m te rm o d a d o e v o c a n u m
le k t; E . In k lu s .
d e te r m in a d o e s p írito , o u n a m a io r p a rte
1 . C O M P R E E N S Ã O L . Comprehen­ d o s m e m b ro s d e u m g ru p o : compreensão
sion D . Comprehension, Inhalt; E . Com- subjetiva .

U m a d is tin ç ã o , e m e s m o u m a o p o s iç ã o , fo i fe ita e n tre os te rm o s compreender


e explicar s o b a in flu ê n c ia d a s te o ria s d o E infühlung e d o e x iste n c ia lism o . R ic k e rt
d is tin g u e “ a explicação, q u e p r o c u r a d e te r m in a r as c o n d iç õ e s d e u m fe n ô m e n o , e
a compreensão, p e la q u a l o e s p ír ito q u e c o n h e c e c o n se g u e id e n tific a r-s e c o m as sig ­
n ificaçõ es in ten cio n ais, essenciais p a r a a a tiv id a d e h istó ric a , c o n c re ta , de u m h o m e m ” .
L E SE ÇÇE , Caracterologie , 27. “ Se a lg u é m n u n c a tivesse s id o c a p a z d a m e n o r m a l­
d a d e n ã o s a b e ría o q u e é a m a ld a d e ; e se n ã o so u b e sse o q u e é a m a ld a d e seria in c a ­
p a z , m esm o c o n tin u a n d o a ser sen siv e lm e n te in c o m o d a d o p elo s e fe ito s d a m a ld a d e ,
c o m o e le o s e ria , p o r e x e m p lo , p e las p ic a d a s d e v e sp a , de e x p e rim e n ta r em re la ç ã o
a o s m a lic io so s , os a lte rc a d o re s , os in trig u is ta s in s id io so s e o s e n v e n e n a d o re s p é r f i­
d o s o m e n o r ó d io , o m e n o r d e s p r e z o .” KÂ τ ; E è , Lespríncipes de la caracterologie,
3 1 . E x p lic a r u m d e lírio n ã o é a in d a c o m p re e n d ê -lo e in v e rs a m e n te . A o p o s iç ã o p a r e ­
ce, p o is , re u n ir-se c o m a d a in tu iç ã o s im p á tic a e d o e n te n d im e n to d is c u rsiv o , d o a b s ­
tr a t o ra c io n a l e d o c o n c r e to e x iste n c ia l. (M. Marsaí) C f . E . B 2 é 7 « E 2 , Transforma­
tion de la Philosophie française, p . 150. M a s é p re c iso n o ta r q u e e m a le m ã o erklären
te m u m s e n tid o m e n o s f o r te d o q u e explicar, e q u e r d iz e r ta m b é m e x p o r o u d e c la ra r.

S o b re C o m p re e n s ã o — E is, in extenso, o te x to d e E d m o n d G Â Ãζ ÃI m e n c io n a ­
d o a tr á s : “ U m v e rte b ra d o n ã o é u m a n im a l q u e n ã o tem p ê lo s , n e m p lu m a s , n em
e sc a m a s: é u m a n im a l c u jo s a p ê n d i c e s te g u m e n tá rio s p o d e m te r a s f o r m a s d e p ê l o s ,
p lu m a s, e scam as. U m m a m ífe ro n ã o é u m a n im a l q u e n ã o te m n e m u n h a s, n em d e d o s,
C O M PREEN SÃ O 176

E. C o n ju n to f o r m a d o n ã o a p e n a s p e ­ A . A to de c o m p re e n d e r* , em to d o s os
las c a ra c te rístic a s q u e são c o m u n s a to d o s se n tid o s.
o s in d iv íd u o s d a ciasse, m a s ta m b é m p e ­ B . F a c u ld a d e d e c o m p re e n d e r* , em
lo s g r u p o s d e c a ra c te rís tic a s q u e p e r te n ­ to d o s o s s e n tid o s .
cem d e u m a m a n e ira a lte rn a tiv a a estes: E ste te rm o é e q u ív o c o , d e v id o a estes
c o m o p o r ex em p lo , p a r a u m triâ n g u lo , a d iv erso s s e n tid o s e a in d a m a is d e v id o à
d e ser n e c e s sa ria m e n te q u e r a c u tâ n g u lo , u tiliz a ç ã o ló g ic a d a p a la v r a . N ã o é, p o is ,
q u e r re tâ n g u lo , q u e r o b tu s o ; p a r a u m ver­ re c o m e n d á v e l.
teb rad o , s e r q u e r m am ífero , q u e r ave, q u e r
C O M P R O M E T IM E N T O /C O M P R O -
rép til, q u e r b a trá q u io , q u e r peixe. Ver H τ -
M IS S O , E N G A J A M E N T O /E N G A JA D O
M E L iN , Ensaio, c ap . IV, § 1, e d e u m a m a ­
E . Commitment; F . Engage, engagement.
n e ira in d e p e n d e n te d e to d a te o r ia G o -
T e rm o s d a lin g u ag em c o rre n te to r n a ­
BLOT, Lógica, c ap . I I I , § 71. P e n s a m o s
d o s m u ito u su ais em filo so fia h á alg u n s
q u e p a r a e v ita r q u a lq u e r e q u ív o c o s e ria
a n o s , n o sen tid o em q u e se d iz de u m h o ­
b o m a d o ta r a in d a a q u i u m a d je tiv o d is ­
m em q u e ele tem u m co m p ro m isso co m u m
tin to e d izer: compreensão eminente.
a ssu n to , u m em p reen d im en to , u m p artid o .
Rad. int .: K o n te n a j ( to ta l, d e c id a l,
U m “ p e n s a m e n to e n g a ja d o ” é, p o r
e tc .)
u m la d o , a q u e le q u e lev a a sé rio a s c o n ­
2 . C O M P R E E N S Ã O D . Verständnis-, seq u ên cias m o ra is e so ciais q u e ele im p lica
E . Comprehension; F . Comprehension; e, p o r o u tro , aq u ele q u e reco n h ece a o b ri­
I. Compressione. g a ç ã o d e ser fiel a u m p ro je to * (o m a is

m a s u m a n im a l c u jo s d e d o s e u n h a s são o u se p a ra d o s o u d o ta d o s d e m o v im e n to s m ais
o u m e n o s in d e p e n d e n te s o u d iv e rsam e n te re u n id o s e m d o is g ru p o s o u n u m só . A gene­
ra lid a d e n ã o re s u lta d a a u sê n c ia d e u m a c a ra c te rís tic a n o c o n c e ito , m a s d a su a in d e te r-
m in a ç ã o . E e sta in d e te rm in a ç ã o , q u e o silêncio d a d e fin iç ã o re serv a , é, n a compreen­
são d o c o n c e ito , a p o ssib ilid ad e d e ta is o u tais d e te rm in a ç õ e s e a s u a possibilidade con­
dicional, q u e r d iz e r, a s c o n d iç õ e s p o sitiv a s e d e fin id a s d e c a d a u m a dessas d e te rm in a ­
çõ es p o ssív e is.” G Ãζ Â ÃI , Tratado de lógica, c ap . I I I , § 71. E le p ro p õ e re se rv a r p a r a
este se n tid o o te rm o compreensão (d as id éias) e d iz er n o se n tid o A , B , C , conotação
(d o s c o n ce ito s). M a s estas p a la v ra s s ã o j á to m a d a s e m ta n to s se n tid o s q u e p a re ce im ­
p o ssív el fa z e r a c e ita r e sta e sp e cialização n o u so c o m u m ; e, se b em q u e e la d a te d e v in te
e cin co a n o s a tr á s , a p r o p o s ta p a re c e te r fic a d o sem e fe ito . A u tiliz a ç ã o d e a d je tiv o s
a c re sc e n ta d o s à p a la v ra c o m p re e n s ã o é, p o is , b e m p re fe rív e l.
L . Couturat tin h a p r o p o s to , n o fascícu lo 4 d o p re s e n te v o c a b u lá rio , p u b lic a d o em
1903, c h a m a r compreensão de uma proposição o c o n ju n to d a s p ro p o siç õ e s c u ja asse r­
ç ã o e stá im p lic a d a n a a sse rç ã o d e sta , o u p o r o u tr a o c o n ju n to d a s su a s co n se q u ê n cia s
ló g icas. E ste s e n tid o , d iz ia ele, deve ser a d o ta d o a o m e sm o títu lo q u e o se n tid o A , em
v irtu d e d a a n a lo g ia c o m p le ta e n tre o s c o n ce ito s e a s p ro p o siç õ e s (cf. d o m e sm o a u to r
A álgebra da lógica, § 2 ). / . Lachelier tin h a r e s p o n d id o q u e este s e n tid o n o v o n ã o d e i­
x a ria d e ser in co n v en ien te, p o d e n d o as conseq u ên cias ló gicas serem tira d a s q u e r d a c o m ­
preensão d o atributo (P e d ro é h o m e m , logo ra c io n a l), q u e r d a e x ten sã o d o su je ito (to ­
d o h o m e m é r a c io n a l, lo g o P e d r o o é). N ã o te n d o o b tid o o sen tid o em q u e stã o d esd e
e n tã o n e n h u m lu g a r n a lin g u ag em filo só fic a c o n te m p o râ n e a , p a re c e u q u e s e ria c o n v e ­
n ie n te tirá -lo d o c o rp o d o v o c a b u lá rio e o m e n c io n a r a p e n a s a q u i.

S o b re C o m p ro m is s o — E s ta p a la v ra fo i to m a d a s o b re tu d o n o s e n tid o esp ecial in ­


d ic ad o a trá s n o g ru p o d a re v ista Esprit, fu n d a d a em 1932. V er E m a n n u e l M ÃZ Ç« E 2 ,
177 C O M U N IC A Ç Ã O D A S C O N S C IÊ N C IA S

d a s vezes c o le tiv o ) d e q u e ele p re c e d e n ­ fu n d ir ia m n a h ip ó te s e p la tô n ic a d e q u e


te m e n te a d o to u o p rin c íp io . P o d e -se a es­ to d a s e m e lh a n ç a d e r iv a r ia d e u m a parti­
te r e s p e ito a p r o x im a r a id é ia d e c o m p ro ­ cipação e fe tiv a d e u m a ú n ic a id éia q u e se­
m isso co m a d e lealismo*. ria , p o r c o n s e q ü ê n c ia , c o m u m n o s e n ti­
M a s e s ta e x p re ss ã o a p lic a -se ta m b é m d o a.
à c a r a c te rís tic a q u e te m a re fle x ã o filo ­ L Ã; è I « Tτ . A classe com um à s clas­
s ó fic a d e n a s c e r s e m p re n o m e io de u m a ses a e b é, p o r d e fin iç ã o , o p r o d u to ló g i­
s itu a ç ã o d a d a q u e lh e d e te r m in a c e rta s c o ab (PE τ ÇÃ ) (S).
c o n d iç õ e s. C f . P τ è Tτ Â , Pensamentos,
C o m u m (S en so ) V e r Senso.
n? 233 (ed . B ru n sch v ic g ).
O p rim e iro a s p e c to d o c o m p ro m is s o C O M U N H Ã O D . S em e q u iv a le n te
é, p o is , s o b r e tu d o p ro s p e c tiv o , n o r m a ti­ e x a to ; p o r a p r o x im a ç ã o , Übereinstim­
v o ; o s e g u n d o , r e tro s p e c tiv o e fa c tu a l. m ung, n o s e n tid o A ; Gemeinschaft, n o
s e n tid o B ; E . Comm union; F . Comm u-
C RÍTIC A
nion; I. Comm unione.
O “ c o m p r o m is s o ” p o d e a ss im o p o r - A . S e m e lh a n ç a d e s e n tim e n to s , de
se, e m u m e o u tr o c a s o , q u e r à v o n ta d e id é ia s, d e c re n ç a s e n tre d u a s o u m ais p e s­
d e v iv er in te le c tu a lm e n te n u m a to r r e d e so a s q u e tê m c o n sc iê n c ia d e ss a sem e­
m a r f im , q u e r à “ d is p o n ib ilid a d e ” * lo u ­ lh a n ç a .
v a d a p o r A n d r é G id e , q u e r à p r e te n s ã o B . I n te r a tr a ç ã o o u a g ru p a m e n to f u n ­
d e c o m e ç a r a filo s o fía sem p re s s u p o s to s . d a d o so b re e ssa sim ilitu d e: “ N estes a g ru ­
É c o n v e n ie n te , s o b r e tu d o d e v id o à g r a n ­ p a m e n to s , q u e s ã o c o m u n h õ e s , é a tra v é s
d e v o g a d e ste te r m o , e x a m in a r de p e r to d e to d a a s u a h u m a n id a d e q u e o s h o m e n s
c a d a vez q u e a p a re c e o q u e p re te n d e o a u ­ se lig am e n tre si; n ã o e x iste , c o m o n a s o ­
t o r q u e o u tiliz a . cied ad e, tro c a de serv iço s n o sen tid o p r ó ­
p rio d a p a la v r a , m a s c ria ç ã o de u m a a t ­
C O M U M D . Gemein ; E . Com m on\
m o s f e r a q u e d á a c a d a u m d o s a s s o c ia ­
F . C om m un ; I . Comune. d o s u m a espécie d e b e m -e s ta r m o r a l.” E .
Q u e p e rte n c e a o m e sm o te m p o a v á ­ B2 é 7 « E 2 , Sociedade e comunhão, c o m u ­
rio s s u je ito s . C f. Próprio. É p re c iso d is ­ n ic a ç ã o à A c a d e m ia d a s C iê n c ia s M o ra is
tin g u ir : a) a c o m u n id a d e física o u re a l (o e P o lític a s , 30 d e o u tu b r o d e 1944, p . 5.
c e n tr o é o p o n to c o m u m d e to d o s os
Rad. i n t K o m u n i.
ra io s ); b) a c o m u n id a d e lógica o u id eal
(a s e n s ib ilid a d e é c o m u m a o h o m e m e ao C O M U N IC A Ç Ã O D A S CO NS­
a n im a l). O s d o is s e n tid o s a p e n a s se co n - C IÊ N C IA S V er Suplemento.

Révolution personaliste et communautaire (1935), em e sp e c ia l p p . 33, 7 0 ,7 3 e 9 0 -9 1 ,


em q u e “compromisso” é a p ro x im a d o d a “ fid e lid a d e ” . “ A p a la v ra s e p a ra d a d o c o m ­
p ro m iss o d esliza p a ra a elo q ü ê n c ia , e o fa risa ísm o e stá , a in d a q u e im p e rc ep tiv elm en te ,
n o c o ra ç ã o d e to d a e lo q ü ê n c ia m o r a l.” Ibid., 255. M as e la to r n o u - s e m u ito u su al
n a lite r a tu r a filo s ó fic a c o n te m p o r â n e a .

S o b re C om un h ão — L i t t r é d e fin e a “ c o m u n h ã o ” c o m o a “ c re n ç a u n ifo r m e
d e v á ria s p e sso a s q u e a s u n e so b u m m e sm o c h efe n u m a m e sm a I g r e ja ” . (A lé m d e ste
s e n tid o , ele a p e n a s in d ic a a q u e le q u e c o n c e rn e à E u c a r is tia .) D a r m . e H a t z . d iz e m
m a is a m p la m e n te “ u n iã o d a q u e le s q u e p ro f e s s a m a m e s m a c re n ç a ” . O Dictionnaire
d a A c a d e m ia (1932): “ U n iã o d e v á ria s p e sso a s n u m a m e sm a fé. P o r e x te n s ã o , d iz-se
ta m b é m : estar em comunhão de idéias, de sentim entos com alguém, p a r tilh a r as m es­
m a s id é ia s, o s m e sm o s s e n tim e n to s .”
C O M U N ID A D E 178

1 . C O M U N ID A D E D . Gemeinschaft 9 6 . E la c o rre s p o n d e a o ju íz o d is ju n tiv o


(n o s e n tid o d e “ s o c ie d a d e ” , Gemeinde ); (100) e f u n d a m e n ta a te rc e ir a analogia*
E . C om m unity ; F . C om m unauté ; I. Co­ da experiência o u p rin c íp io d a c o m u n i­
m anda. d a d e , Grundsatz der Gemeinschaft: “ A lie
A . C a r a c te r ís tic a d a q u ilo q u e é S u b s ta n z e n , s o fe rn sie zu g leich s in d , s te ­
com um . h e n in d u rc h g ä n g ig e r G e m e in s c h a f t, d .i.
E s p e cia lm e n te , re la ç ã o so cial q u e c o n ­ W e c h s e lw irk u n g u n te r e in a n d e r .” 2 Ra­
siste em q u e o s b e n s , m a te ria is o u e s p iri­ zão pura, A n a lít. tr a n s e ., 196.
tu a is , s ã o p o s s u íd o s em c o m u m : “ A c o ­
C O M U N IS M O D . Kommunismus-, E .
m u n id a d e d a s m u lh e re s e d a s c ria n ç a s ” ,
em P la tã o ; o “ re g im e d e c o m u n h ã o ” ,
C om m unism ; F . Communisme; I. C om ­
munis mo.
o p o s to , n o d ire ito m a trim o n ia l, à s e p a ra ­
A . O e s ta d o so cial d e sc rito n a R epú­
ç ã o d o s b e n s o u a o re g im e d o ta l; “ u m a
blica d e P l a t Âo , n o q u e co n ce rn e à clas­
p e rfe ita c o m u n id a d e de s e n tim e n to s” , etc.
se d o s G u a rd iõ e s d o E s ta d o (g u e rre iro s
B . G ru p o social c a ra c te riz a d o p elo fa ­
e m a g is tra d o s ).
to de v iv er em c o n ju n to , co m b en s o u re ­
B . T o d a a o rg a n iz a ç ã o e c o n ô m ic a e
c u rs o s q u e n ã o s ã o p r o p r ie d a d e in d iv i­
so cia l c u ja b a se é a p r o p r ie d a d e c o m u m
d u a l. “ U m a c o m u n id a d e re lig io s a .”
e m o p o s iç ã o à p r o p r ie d a d e in d iv id u a l e
C . Bens p o ssu íd o s in d iv isam en te, p a r ­
a in te rv e n ç ã o a tiv a d a so c ie d a d e n a v id a
tic u la rm e n te e n tre e sp o so s (v er, m ais a ci­
d o s in d iv íd u o s .
m a , A ).
C . E sp ecialm en te ( Manifesto comunis­
Rad. int.: A . K o m u n e s; B . K o m u n e -
yo ; C . K o m u n a j. ta de M a r x e E n g e l s , 1847): d o u tr in a ca­
ra c te r iz a d a p e la a b o liç ã o d a p ro p r ie d a d e
2. “ C O M U N ID A D E ” D. Ge­ d e ra iz in d iv id u a l e d a h e ra n ç a ; a s o c ia li­
meinschaft. z a ç ã o d o s m e io s de tra n s p o rte e d e p ro d u ­
E m K τ Ç , u m a d a s categorias* d o
I ç ã o ; a e d u c a ç ã o p ú b lic a ; a o rg a n iz a ­
e n te n d im e n to , a te rc eira d as categ o rias de ç ã o d o c ré d ito p elo E s ta d o e o a lis ta m e n ­
re la ç ã o . É d e fin id a c o m o : “ W e c h se lw ir­ to d o s tr a b a lh a d o r e s s o b a s u a d ireção .
k u n g zw ischen d em H a n d e ln d e n u n d L ei­
d e n d e n .” 1 Razão pura , A n a lít. tr a n s e .,
2. " T o d a s as substâncias, enquanto existem si­
m ultaneam ente, têm em co n junto um a com unidade
1. “ Ação recíproca entre o agente e o paciente.” universal, quer dizer, um a ação recípro ca.”

S o b re C o m u n id a d e , 1 — F e rd in a n d T ö ÇÇ« è (K iel) o p ô s n u m o u tr o s e n tid o co­


E

munidade (Gemeinschaft ) e sociedade (Gesellschaft). “ É comunidade o q u e n as c ria ­


çõ es d o p e n s a m e n to o u d a r e p re s e n ta ç ã o so cia l d o s h o m e n s é n a tu r a l o u e s p o n tâ ­
n e o ; sociedade tu d o o q u e é e fe ito d a a r te (n o s e n tid o d e té c n ic a so c ia l, o rg a n iz a ­
d a ) ... T a l é , p o r e x e m p lo , a d ife re n ç a e n tre a tr o c a e o c o m é rc io , a h o s p ita lid a d e
a m ig á v el e a in d ú s tr ia h o te le ir a , a p r o d u ç ã o e x e rc id a p e la s n e c e ssid a d e s d o p r o d u to r
e a p r o d u ç ã o c a p ita lis ta .” E x tr a íd o d e u m a c a r ta e d e u m a n o ta d e F. Tönnies. N a
s u a o b r a Gemeinschaft und Gesellschaft (1887; 3 a e d ., 1919) d á c o m o tip o d e “ c o ­
m u n id a d e ” o s a to s d e hostilidade ou de socorro m ú tu o d e te r m in a d o s p o r relaçõ es
p e rm a n e n te s e p re e x iste n te s, ta is c o m o o p a re n te s c o , a su je iç ã o p o lític a , e tc .: h á “ so ­
c ie d a d e ” , p e lo c o n tr á r io , se esses m e sm o s a to s s ã o d ita d o s p e la re c ip ro c id a d e q u e
se o b té m , o u se c o n se g u e , d e ste s o u d a q u e le s in d iv íd u o s .

S o b r e C o m u n is m o — N ã o m e p a re c e m u ito e x a to fa z e r in te rv ir o E s ta d o p a ra
a -o rg a n iz a ç ã o d o c ré d ito , d o tr a b a lh o , d a e d u c a ç ã o , n a d e fin iç ã o d o c o m u n is m o .
179 C O M U T A T IV A

C R ÍT IC A C O M U N S (N o ç õ es) xoivai tvvoLCu,


E U C L ID E S .
E ste te rm o n o se n tid o g e ra l é a o m e s­
m o te m p o v ag o e enérgico; ev o ca u m a so ­ A x io m a s * , p r in c íp io s r a c io n a is * .
cialização c o m p le ta n ã o a p en a s d o s m eio s “ T ra ta -s e de s a b e r ... se a a lm a c o n té m
d e p ro d u ç ã o , m a s d o s o b je to s d e c o n s u ­ o rig in a ria m e n te o s p rin c íp io s d e v á ria s
n o ç õ e s e d o u tr in a s q u e o s o b je to s e x te r­
m o ; a sso c ia-se m e sm o fo r te m e n te ( a tr a ­
n o s re v e la m a p e n a s em c e rta s o c asiõ e s,
vés d o p la to n is m o , ta lv e z m a l c o m p re e n ­
c o m o o creio ju n ta m e n te com P la tã o , etc.
d id o o u e x a g e ra d o ) à id é ia d e u m a d is s o ­
O s m a te m á tic o s c h a m a m -lh e s noções co­
lu ç ã o d a fa m ília , às de u m a se p a ra ç ã o to ­
ta l d o s p a is e d o s filh o s e d e u m a e d u c a ­
m uns ” (LE « ζ Ç« U , N o v . ens., P r e f á c io , §
2). É ta m b é m u tiliz a d o em lu g a r d e con­
ção c o m u m d a d a a estes p elo E sta d o . E s ta
ceitos. V er Idéia, c rític a .
s ig n ific a ç ã o n ã o é c o n tu d o c o n s ta n te :
F 2 τ ÇT 3 o p õ e o s comunistas , q u e a p e n a s 1. C O M U T A T IV A (Ju stiç a ) L. C om ·
re fo rm a m a p ro p rie d a d e , a o s falansteria- mutativa ju stitia , S. TÃOá è áE AI Z « ÇÃ ;
nos q u e d e s tro e m ta m b é m a fa m ília (V o D . Ausgleichende Gerechtigkeit , E « è Â E 2
Societé, 1625b). M a s e sta d is tin ç ã o p a re ­ (traduzido o rò ev r o ís auvaWáyfiocoi
ce p o u c o u s u a l. A tu a lm e n te a p a la v r a é ôioQ$<ji7txó v de A 2 « è I I E Â E è ; ver mais
s o b re tu d o u tiliz a d a p a ra d esig n a r a s d o u ­ abaixo).
trin a s de o rig e m m a rx is ta , d a R ú ssia s o ­ D is tin g u e m -se c o m u m e n te a ju s tiç a
v ié tic a (S). d is trib u tiv a e a ju s tiç a c o m u ta tiv a . A p r i­
R ad int.: K o m u n is m . m e ira , e x e rc id a p e la a u to r id a d e , co n sis-

O id e al c o m u n is ta , em M a rx e L e n in , é a n a r q u is ta , p o r m ais im p o r ta n te q u e se ja
o p a p e l q u e te m a d e s e m p e n h a r o a p a r e lh o d o E s ta d o n o p e río d o de tr a n s iç ã o , p r o ­
p ria m e n te s o c ia lista . “ O s o c ia lis m o é a p e n a s o e s tá d io im e d ia ta m e n te c o n se c u tiv o
a o m o n o p ó lio d e E s ta d o c a p ita lis ta . P o r o u tr a s p a la v r a s , o so c ia lism o é a p e n a s o
E s ta d o c a p ita lis ta m o n o p o liz a d o r p o s to a o serv iço d e t o d o o p o v o d e ix a n d o p o r isso
d e s e r m o n o p ó lio c a p ita lis ta .“ “ O c o m u n is m o é o m a is a lto g ra u d e d e se n v o lv im e n ­
to d o s o c ia lis m o , p o is e n tã o o s h o m e n s tra b a lh a m p o rq u e c o m p re e n d e m a n e ce ssi­
d a d e d e tr a b a lh a r p a r a o b e m d e t o d o s .” “ O q u e se c h a m a h a b itu a lm e n te so cia lis­
m o , M a rx c h a m o u - lh e a p r im e ir a fa se o u fa se in fe rio r d a s o c ie d a d e c o m u n is ta . N a
m e d id a em q u e os m e io s d e p r o d u ç ã o se to r n a m p r o p r ie d a d e c o m u m , p o d e -se c h a ­
m a r a isso com unism o , c o m a c o n d iç ã o d e n ã o e sq u e c e r q u e se tr a t a d e u m c o m u n is ­
m o in c o m p le to .” T e x to s d e LE Ç« Ç , c ita d o s e m Z« ÇÃâ« E â , Le léninisme, p p . 205, 245.
(M. Marsal)
M a s em q u e m e d id a se te m o d ire ito d e fa la r d e u m “ id e a l c o m u n is ta ” c o m o
d e u m re g im e a a tin g ir? M a rx fez n o ta r q u e o so c ia lism o c ie n tífic o ta l c o m o ele o
e n te n d ia é a c o n s ta ta ç ã o d e u m a tr a n s f o r m a ç ã o e a p re v is ã o d a s u a p ró x im a fa se ,
n ã o o e sfo rç o em d ire ç ã o a u m a s o c ie d a d e id e a l, e q u e to d a a e sp e c u la ç ã o so b re esta
ú ltim a é u m a ilu s ã o re a c io n á ria , p o is e la vai b u s c a r o s seus m a te ria is à im ag em d a s
so cie d a d es a n te r io re s . (A. L .) C f. Coletivismo, o b s e rv a ç õ e s .

S o b re C o m u ta tiv a (J u s tiç a ) — D aí re s u lta q u e fa la r de u m id e al de ju s tiç a é e q u í­


v o c o . O u a a u to r id a d e é p o s ta d e in íc io c o m o f a to n a tu r a l e q u e e s c a p a a q u a lq u e r
a p re c ia ç ã o ; o id e al será e n tã o o d a ju s tiç a d is trib u tiv a . O u e n tã o p o r u m in d iv id u a ­
lism o c o n tr a tu a l, se se c o n s id e ra m d e in íc io a s re la ç õ e s e n tre as p e ss o a s, e s ta n d o a
a u to r id a d e m a n d a ta d a e p re sa às f u n ç õ e s s o c ia is , n ã o às p e sso a s: o id e al é, e n tã o ,
o d a ju s tiç a c o m u ta tiv a . (M. Marsal)
C O M U T A T IV A 180

te n a re p a rtiç ã o d o s b en s e d o s m ales c o n ­ re n tia m c o m m u ta tio n u m ... q u a e d a m enim


fo rm e o m é rito d a s p e sso a s. A ju s tiç a co ­ s u n t v o lu n ta ria e , q u a e d a m in v o lu n ta ria e ”
m u ta tiv a , p e lo c o n tr á r io , c o n siste n a (S. T ÃOè áE A I Z « ÇÃ , CEuvres, e d iç ã o
ig u a ld a d e d a s c o isa s tr o c a d a s , n a e q u iv a ­ d e A n v ers, 1612, to m o V, 6 2 , D .E .).
lê n c ia d a s o b rig a ç õ e s e d o s e n c a rg o s es­ A 2 « è I ó I E Â E è e S. TÃOá è apenas con­
tip u la d o s n o s c o n tr a to s . E la c o m p o r ta a sideram aqui a ju stiça efetu ad a p o r um a
re c ip ro c id a d e e , se fo sse re a liz a d a n o es­ autoridade , e não a justiça enquanto prin­
ta d o p u r o , e x c lu iria a in te rv e n ç ã o d e u m cípio m oral presidindo às relações dos ho­
te rc e iro e n q u a n to e ssa in te rv e n ç ã o é a m ens. A ju stiça com utativa, tal com o a
p r ó p r ia c o n d iç ã o d o e x ercíc io d a ju s tiç a definim os no sentido m oderno, encon­
d is trib u tiv a . trar-se-ia de preferência naquilo que
A 2 « è I )I E Â E è cham a, à m aneira dos P i­
C R ÍT IC A tagóricos, o ÁvTiirÓTTovdoi (Nie., V, 8),
im plicado, diz ele, em to d a x o iv w v ía e,
E s ta p a la v r a te m o rig e m n o c o m e n ­ em particular, nos xoiv<avíat cèKKaxrixaí
tá r io d e S. T ÃOè áE A I Z « ÇÃ s o b re a (cf. T 2 E Çá E Â E Çζ Z 2 ; , Historische Bei­
Ética d e A 2 « è I )I E Â E è . E s te d iv id e a träge, I I I , 399).
“ ju s tiç a p a r tic u la r ” c o m o se segue: O s e n tid o e tim o ló g ic o d a p a la v r a
I o TÒ δ ια ν ε μ η τ ικ ό ν δ ί κ α ι ο ν = rò ε ν Com m utativa fe z e sq u e c e r g ra d u a lm e n ­
Toth δ ι α ν ο μ α ΐ ς τ ι μ ή ς η χ ρ η μ ά τ ω ν η τ ω ν te o s e n tid o a c id e n ta l q u e lh e tin h a s id o
α Κ Κ ω ν oca μ ε ρ ι σ τ ά roh χ ο ιν ω ν ο ν σ ι τ ή ς d a d o n e s ta p a ssa g e m , e e n g e n d ra r a a ce p ­
πο λ ι τ ε ί α ς ( E ti. N ic ., V , 5 , 1 1 3 0 b). ç ã o u s u a l; e is to t a n t o m a is fa c ilm e n te
A p lic a -se a p e n a s à d is trib u iç ã o d a s v a n ­ q u a n to a ju s tiç a c o m u ta tiv a (n o s e n tid o
ta g e n s e d a s riq u e z a s s o c ia is. O te x to la ­ m o d e rn o ) é a o m e sm o te m p o o princípio
tin o e o c o m e n tá rio d e s ig n a m -n a s o b o q u e p re s id e à p a r te civ il d o ò io q Ôu t l k ó v .
n o m e de justitia distributiva. P o d e -s e v e r e m C7 τ Z â« Ç , Lexicón phi-
• 2 o rò èv T o ii σ ν ν ά λ λ ά γ μ α ο ι δ ι ο ρ θ ω ­ losophicum (1 713), u m a u tiliz a ç ã o in te r ­
τ ι κ ό ν “ [ju s titia ] q u a e in c o m m u ta tio n i- m e d iá r ia d a e x p re ss ã o Justitia C om m u­
b u s d ir e c tiv a ” . P e lo te r m o σ υ ν ά Κ Κ α ·γ μ α , tativa u tiliz a d a c o n c o r re n te m e n te c o m
A ris tó te le s e n te n d e : 1?, a s re la ç õ e s j u r í ­ Justitia Distributiva e Justitia Correctrix
d ic as v o lu n tá ria s o u c o n tr a to s , ta is c o m o (p p . 340b $s.).
v e n d a , e m p ré stim o s, a rre n d a m e n to s , etc.
2 ? , as relações ju ríd ic a s in v o lu n tá ria s (p a ­ 2 . C O M U T A T IV A (L ei) O u m e lh o r,
r a u m a d a s p a rte s ) q u e re s u lta m d e u m propriedade. D . Kommutationsgesetz ; E .
crim e: ro u b o , a d u lté rio , m o rte , vio lência, C om m utative law; F . L o i com m utative ;
e tc . Ο δ ι ο ρ θ ω τ ι κ ό ν c o m p re e n d e , p o is , a I. Legge (o u proprieta) commutativa.
r e p a ra ç ã o d a s in ju s tiç a s , c o n sis tin d o nos P r o p r ie d a d e d e u m a o p e ra ç ã o o u re ­
b e n efício s o u n as p e rd a s ileg ítim as d e c o r­ la ç ã o q u a lq u e r R q u e c o n sis te n o f a to d e
re n te s d e u m c o n tr a to e a r e p a r a ç ã o d a s o r e s u lta d o d e s ta o p e ra ç ã o ser o m e sm o ,
in ju s tiç a s p ro v e n ie n te s d e u m c rim e . q u a lq u e r q u e se ja a o rd e m d o s te rm o s :
N o com entário, S. T ÃOá è áE AI Z « ÇÃ [a R b = b R a]
substitui o term o justitia directiva, pelo E s ta p ro p r ie d a d e p e rte n ce , p o r ex em ­
qual é traduzid o δ ι ο ρ θ ω τ ι κ ό ν no seu texto p lo , à a d iç ã o e à m u ltip lic a ç ã o ló g icas, à
latino, p o r justitia commutativa (tirada da a d iç ã o e à m u ltip lic a ç ã o a ritm é tic a s , etc.
palavra c o m m u ta tio pela qual é traduzi­ R a d . in t.: Komutativ.
do σ υ ν ά Χ Κ α -γ μ α ): “ Subdividit [Aristóteles]
justitiam com m utativam secundum diffe- C O N A Ç Ã O D . Streben [E q u iv alên -

S o b re C o n a ç ã o — C o n a ç ã o é m ais e stre ito d o q u e ação, p o is a p a la v r a ação d esig n a


ta n to o q u e é e s p o n tâ n e o c o m o o q u e é la b o rio s o . Conação p a re c e d esig n ar a ação
181 C O N C E IT O

cia im p e rfe ita : c f. Bτ Â áç « Ç , s u b V o]; E . u m d o s trê s s e n tid o s in d ic a d o s n o a rtig o


Conation; F . Conation; I. Conato. Concepção. A p a la v r a é s o b re tu d o in te ­
P a la v r a r a r a e m fra n c ê s . É p o u c o re s s a n te n a s u a u tiliz a ç ã o n e g a tiv a , d e v i­
m a is o u m e n o s s in ô n im a de esforço* o u d o à te o ria d e H τ O« Â I ÃÇ , a c e ita p o r J.
de tendência *, m a s esforço p e rte n c e de S. M « Â Â , s e g u n d o a q u a l “ a im p o s sib ili­
p re fe rê n c ia a o v o c a b u lá rio d o s filó so fo s d a d e d e c o n c e b e r u m a c o isa n ã o p r o v a a
d a a ção * (ver te x to e a p ê n d ic e n o fim d es­ s u a fa ls id a d e ” . Filosofia de H am ilton,
ta o b r a ) e tendência a p lic a -s e m a is e s p e ­ c a p . V I. C f. Inconcebível.
c ia lm e n te à s in c lin a çõ e s e p a ix õ e s . Cona-
çõo a p r e s e n ta d e p r e fe rê n c ia a id é ia d o C O N C E I T O D . Begriff, m ais a m p lo
e s f o rç o c o m o u m f a to q u e p o d e re c eb e r q u e co n ceito ; E . Conception ; F . Concept;
q u e r u m a in te rp re ta ç ã o v o lu n ta ris ta , q u er I. Conceito.
u m a in te r p r e ta ç ã o in te le c tu a lis ta — ta l­ A id é ia n o s e n tid o B , e n q u a n to
vez em d e co rrên c ia de seu p a ren tesco com a b s tr a ta * e g e ra l* , o u p e lo m e n o s su sc e ­
conatus, u tiliz a d o n e ste s e n tid o p o r Eè ­ tív e l de g e n e ra liz a ç ã o . A s d iv e rsas e sc o ­
ú « ÇÃè τ : “ C o n a tu s , q u o u n a q u a e q u e res las d ife re m s o b re a m a n e ir a d e c o n c e b e r
in s u o esse p e rs e v e ra re c o n a tu r , n ih il est e d e e x p lic a r a fo r m a ç ã o d o s c o n c e ito s .
p r a e te r ip siu s re i a c tu a le m e s s e n tia m .” D is tin g u e m -s e a este re s p e ito :
Ética, I I I , p r o p . 7. 1? Os conceitos a priori ou puros ( Rei­
ne Begriffe, Kτ ÇI ), q u er dizer, os co n ­
CRÍTICA ceitos q u e se consideram com o n ã o te n ­
S e ria b o m c o n s e rv a r e s ta p a la v r a p a ­ do sido retirad o s d a experiência; p o r
r a d e sig n a r o e s f o r ç o , a te n d ê n c ia o u a exem plo, em Kτ ÇI os conceitos d e u n i­
v o n ta d e , s e n d o c o n v e n ie n te u tiliz á -la co ­ dade, de pluralidade, etc.
m o u m te rm o c o m u m e n e u tro , n ã o p re s ­ 2? O s c o n c e ito s a posteriori o u em pí­
s u p o n d o d e n e n h u m a m a n e ira a te o ria ricos , q u e r dizer, as n o ç õ e s g erais q u e d e ­
m e ta fís ic a p e la q u a l se in te rp re ta m os f a ­ fin e m as classes d e o b je to s d a d a s o u c o n s ­
to s p sico ló g ico s d a a tiv id a d e . tr u íd a s , e c o n v in d o d e m a n e ira id ê n tic a e
Ra d. int.: P e n . to ta l a c a d a u m d o s in d iv íd u o s q u e fo r­
m a m essas classes p o d e n d o -s e o u n ã o
C O N A T U R A L e C O N A T U R A L IS - se p a rá -la s deles. P o r ex em p lo , o c o n c e ito
M O V er Suplemento. d e v e rte b ra d o , o c o n c e ito d e p razer, etc.
S e g u n d o os e m p iris ta s, n ã o ex istem
C O N C A T E N A Ç Ã O V er Suplemento.
c o n ceito s a priori·, seg u n d o alg u n s filó so ­
C O N C E B E R V e r Concepção. fo s ( p o r e x em p lo DZ Çτ Ç , Essais de phi-
losophie générale, c a p ítu lo V III) o s c o n ­
C O N C E B ÍV E L D . Begreiflich; E . ceitos a priori sã o , p elo c o n trá rio , o s únicos
Conceivable; F . Concevable ; I. Conce- rig o ro so s; to d o co n ce ito a posteriori a p e ­
pibile. n a s re p o u s a ria s o b re a s e m e lh a n ça e n ã o
Q u e p o d e ser c o n c e b id o em q u a lq u e r so b re a id e n tid a d e . V er Pseudoconceitos.

e n q u a n to te m q u e v e n ce r u m a re s istê n c ia o u re a ç ã o p a r a se c o lo c a r e la p r ó p r ia p r o ­
g re ssiv a m e n te e in fieri. (M . Blondel)

S o b re C o n c e ito — É u m p ro b le m a s a b e r se ex istem g e ra is c o m p o s to s d e e lem en ­


to s d a d o s ta is q u a is p e la s e n s a ç ã o , re s u lta n d o a g e n e ra liz a ç ã o d o sim p le s f a to d e eli­
m in a r u m a p a r te d o s e lem en to s q u e fo r m a m o c o n c re to sensív el. Q u a n to a m im , a cre ­
d ito q u e o s c o n c e ito s e m p íric o s tê m c o m o c o n te ú d o n ã o u m a im a g e m o u u m f r a g ­
m e n t o de im a g e m , m a s u m esquema. V er K τ Ç , Crítica da razão pura, “ V o n dem
I
CO N CEPÇÃ O 182

T o d o c o n c e ito p o ssu i u m a e x te n sã o * p e n s a m e n to q u e d e te r m in a u m o b je to , e
q u e p o d e ser n u la ; in v e rs a m e n te , a to d a P Ã2 I -RÃà τ Â e n te n d e -o assim : “ C h a m a -
classe d e fin id a de o b je to s c o rre sp o n d e u m se conceber a sim p les visão q u e tem o s d as
c o n ce ito , p o is n ã o se p o d e d e fin ir u m a tal co isas q u e se a p re s e n ta m a o n o sso e sp i­
classe sem in d ic a r u m c o n ju n to d e c a r a c ­ rito , c o m o q u a n d o n o s re p re se n ta m o s u m
terísticas* q u e p erten cem ao s o b je to s d es­ so l, u m a te r r a , u m a á rv o re , um c írc u lo ,
sa classe, e s o m e n te a eles, q u e p e rm ite m u m q u a d ra d o , u m p e n sa m e n to , o ser, sem
d istin g u i-lo s d e to d o s o s o u tro s . fo r m a r n e n h u m ju íz o e x p re ss o .” Lógica ,
Rad. i n t K o n c e p t. In tr o d u ç ã o (ed . C h a rle s, p . 38). E la c o m ­
p reen d e a im ag in ação co m o u m a d as suas
C O N C E P Ç Ã O D . Konzeption, Be su b d iv isõ e s {ibid., I, 1).
griffsbildung n o s trê s s e n tid o s , s e n d o Be- E ste sen tid o te n d e a restrin g ir-se. Tτ «-
g r i/f m ais a m p lo em a le m ã o d o q u e c o n ­ ÇE fa la a in d a d a c o n c e p ç ã o d e u m c o rp o
c e ito em p o rtu g u ê s ; E . Conceptiorr, F . p a rtic u la r, p o r ex em p lo , d e sta á rv o re , m as
Conception; I. Concezione. p o r q u e , n a p e rc e p ç ã o , a im a g e m é c o m ­
1? E n q u a n to o p e ra ç ã o : p le ta d a p o r u m a o p e r a ç ã o ló g ic a . “ E m
A . T o d o a to d e p e n s a m e n to q u e se q u e c o n siste esse fa n ta s m a in te rn o (d e u m
a p lic a a u m o b je to . c o r p o p e rc e b id o )? E n tr e o u tr o s e lem en ­
B . M ais e sp e c ia lm e n te , o p e r a ç ã o d o to s , é m a n if e s to q u e ele e n c e rra u m a con­
e n te n d im e n to o p o s ta às d a im a g in a ç ã o cepção afirm ativa ... C o n c e b o e a f ir m o
q u e r r e p ro d u to r a , q u e r c ria d o ra (co n cep ­ q u e a d e z p a s s o s d e m im h á u m ser d o t a ­
ção d e u m a d ife re n ç a ; c o n c e p ç ã o d o d o d e ta is p r o p r ie d a d e s , e tc .” De 1’intel-
m u n d o ). ligence , I I , 76. “ F ic a a in d a p o r c o n s titu ir
C . M ais e sp e c ia lm e n te a in d a , o p e r a ­ a p e rc e p ç ã o d e u m c o r p o , d e in ício u m a
ç ã o q u e c o n siste em a p o d e r a r - s e d e o u s e n s a ç ã o a tu a l e u m g ru p o a s s o c ia d o de
f o r m a r u m c o n c e ito * . im ag en s, em seg u id a a concepção , q u e r d i­
2? D . E . F . R e s u lta d o re s p e c tiv o de z e r, a e x tra ç ã o e a n o ta ç ã o p o r in te rm é ­
c a d a u m a d e sta s o p e ra ç õ e s. d io de u m sig n o d e u m a c a ra c te rís tic a c o ­
m u m a to d a s as s e n sa ç õ e s re p re s e n ta d a s
CR ÍTICA
p o r estas im a g e n s .” Ibid., I I , 121.
N a lin g u a g e m c o rre n te concepção e N este c a s o , concepção im p lic a já es­
conceber d iz em -se de to d a o p e ra ç ã o de s e n c ia lm e n te a id é ia de g e n e ra lid a d e .

S c h e m a tism u s d e r rein en V e rs ta n d e s b e g rif fe ” . E s te c a p ítu lo tr a ta e ss e n c ia lm e n te d o


e s q u e m a tis m o d o s c o n c e ito s ra c io n a is p u r o s , m a s t r a t a ta m b é m d o s e sq u e m a s d o s
c o n c e ito s e m p íric o s , p o r e x e m p lo , o e s q u e m a de u m c ã o . ( / . Lachelier)
P a re c e -m e q u e u m a d is tin ç ã o m a is im p o r ta n te e m a is re a l d o q u e a q u e la e n tre
o a priori e o a posteriori é a q u e la e n tre os c o n c e ito s d e v id o s à e x p e riê n c ia s u b je tiv a ,
à in ic ia tiv a d a n o s s a a tiv id a d e e x e rc id a e s p o n ta n e a m e n te o u d e lib e ra d a m e n te (u n i­
d a d e , id e n tid a d e , lib e rd a d e , f o r ç a , e tc .) e os c o n c e ito s e x tra íd o s d a e x p e riê n c ia o b je ­
tiv a (c o r, c a lo r , e tc .). E m re la ç ã o a e sta d is tin ç ã o as p a la v ra s a priori e a posteriori
tê m o in c o n v e n ie n te de d e te r a in v e stig a ç ã o n a id e o lo g ia a b s tr a ta , q u e a n a lisa os p r o ­
d u t o s d o e n te n d im e n to sem m o s tr a r o p ro b le m a id e o g ê n ic o , q u e d e sc o b re o p ro c e s ­
so d a a ç ã o p r o d u to r a d o s c o n c e ito s . N o fu n d o , to d o c o n c e ito é a o m e sm o te m p o
a priori e a posteriori p o r q u e em to d o c o n c e ito o e le m e n to re p re s e n ta tiv o é a p e n a s
o c a m p o d e e n c o n tr o de u m a a ç ã o e de u m a re a ç ã o . (M . Biondel)

S o b re C o n c e p ç ã o — A p a la v r a u tiliz a -se ta m b é m e m a le m ã o n o s e n tid o a rtís tic o ;


Concepíion einer Idee. (R . Eucken)
183 C O N C O M IT A N C IA

B τ Â á ç « Ç , a in d a q u e re c o n h e c e n d o a ra r o c o n ce p tu a lism o co m o u m a d o u trin a
g ra n d e e x te n sã o d o te rm o in g lês concep­ d o ju s to m eio, in te rm e d iá ria entre o re a ­
tion, p ro p õ e re s trin g i-lo a o se n tid o C e lism o e o nom inalism o. N a realidade, opõe-
d e fin i-lo c o m o “ o c o n h e c im e n to d o ge­ se q u e r a u m q u e r a o u tro , m as e n q u a n to
ra l e n q u a n to d is tin to d o s o b je to s p a r ti­ resp o sta a q u e stõ e s b em diferentes.
c u lares aos qu ais se ap lica. Enquanto dis­ Rad. int.: K o n c e p tu a lis m .
tinto é u m a re striç ão n ecessária, pois sem
C O N C L U S Ã O L . Conclusio ; D .
isso to d o co n h ecim en to seria u m a co n cep ­
ç ã o ” . S u b V o, 208 (c f. m a is a c im a o te x ­
Schluss, Schlussatz, Conclusion·, E . Con­
clusion·, F . Conclusion·, I. Conclusione.
to de T τ E ÇE ). W. J τ OE è e n te n d e d o m es­
A . P ro p o siç ã o cu ja v erd ad e resu lta d a
m o m o d o p o r concepção o p e n sa m e n to
v e rd a d e d e o u tra s p ro p o s iç õ e s (d ita s pre­
d o id ê n tic o (Text Book, c a p . X IV : C o n ­
missas) d e ta l m a n e ira q u e as p re m issa s
c e p tio n ).
n ã o p o d e m ser v erd ad eiras sem q u e a c o n ­
S em ir tã o lo n g e , s e ria d e se já v el to ­
c lu sã o o se ja .
m a r e sta p a la v r a n o s e n tid o B e u tiliz a r
B . E m p a rtic u la r, c o n c lu s ã o d e u m
conceber n o m e sm o s e n tid o . N o ta r-s e -á silo g ism o * .
c o m e fe ito q u e , e s ta n d o em d e su s o em
C . P a r te d e u m a o b r a , de u m a a r g u ­
fran cês a p a la v ra entendre , n o s en tid o q u e
m e n ta ç ã o , e tc ., q u e e x p õ e o essen cial d o
lh e d ã o o s cartesia n o s (ver n o m e a d a m e n te q u e se p e n s a te r p r o v a d o (o u , m ais r a r a ­
s o b re a o p o s iç ã o e n tre e n te n d e r e im a g i­ m e n te , d o q u e se p r o p õ e p ro v a r).
n a r , BÃè è Z E I , Connaissance de Dieu, I, D . A ç ã o d e c o n c lu ir, d e p a ss a r lo g i­
9 ), s e ria ú til p o s s u ir u m te rm o p a r a a c am e n te d a s p re m issa s às c o n se q ü ê n cia s.
s u b s titu ir n e s ta u tiliz a ç ã o b a s ta n te p re c i­ “ U m a c o n c lu sã o in c o rre ta ” (q u e r a c o n ­
sa . A concepção se ria , e n tã o , em o p o s i­ c lu sã o , n o s e n tid o A , a q u e c h eg a se ja
ç ã o à m e m ó ria o u à im a g in a ç ã o , a o p e ­ v e rd a d e ira o u fa ls a em si m e sm a ). E ste
ra ç ã o d o e n te n d im e n to ; e conceber re c e ­ s e n tid o é p o u c o u s a d o .
b e ria o sen tid o c o rre s p o n d e n te . Rad. int.: A . B. C . K o n k lu z u r; D .
Rad. int.: 1? K o n c e p ta d (a to ); 2? K o n k lu z .
K o n c e p tu r (a q u ilo q u e é c o n c e b id o ).
C O N C O M IT Â N C IA D . Konkomi-
C O N C E P T U A L I S M O D . Concep- tanzo E . Concomitance ; F . Concomitan­
tualismus; E . Conceptualisme F . Concep­ ce ; I. Concomitanza.
tualisme; I. Concettualismo. C a ra c te rís tic a de d o is fa to s q u e a p r e ­
A . D o u trin a se g u n d o a q u a l os u n i­ s e n ta m u m a re la ç ã o re g u la r, seja (A ) de
v ersais* n ã o ex istem em si m e sm o s (nem s im u lta n e id a d e , seja (B) de v a ria ç ã o em
a n te r io rm e n te às c o isa s, n em n as essên ­ fu n ç ã o u m d o o u tr o (u tiliza -se a in d a em
cias q u e c o n stitu e m estas ú ltim a s ), m a s alem ão no seg u n d o sen tid o o term o Func-
são a p en as co n stru çõ es d o esp írito . O põe- tionsverhàltniss).
se, n e ste s e n tid o , a realismo*, n o s e n tid o
A o u n o sen tid o B. CRÍTICA
B . D o u tr in a q u e c o n c e rn e à n a tu re z a E ste seg u n d o sen tid o p arece p ro v ir d o
das idéias gerais*, e n q u a n to co n cep ção d o m é to d o d escrito p o r J . S. M « Â Â sob o n o ­
e sp írito e s e g u n d o a q u a l estas id éias são m e de método das variações concomitan­
fo rm a s ou o p e ra ç õ e s p ró p r ia s d o p e n sa ­ tes: é pois ap en as o resu ltad o de u m a elip ­
m e n to e n ã o sim p les sig n o s q u e se a p li­ se. C o m o p o d e p ro v o c a r u m e q u ív o co
cam ig u a lm e n te a v á rio s in d iv íd u o s. c o m o p rim e iro , p ro p o m o s ev itá-lo e
s u b s titu ir n este sen tid o concomitante e
NOTA
concomitância p o r função e funciona­
U m erro d ifu n d id o que resulta d a c o n ­ lidade.
fu s ã o destes d o is s e n tid o s é o de c o n sid e ­ Rad. int.: A . K onkom itant; B, Funció n.
“ C O N C O R D Â N C IA (M éto d o d e)“ 184

“ C O N C O R D Â N C IA (M é to d o d e )“ to d o q u e te m p o r re g ra : “ I f tw o o r m o re
D . M ethode der Ueberreinstimmung·, E. in s ta n c e s in w h ich th e p h e n o m e n o n o c ­
M ethod o f agreement ; F . M éthode de c u rs h a v e o n ly o n e c irc u m s ta n c e in c o m ­
concordance ; I. M étodo di concordanza. m o n , w h ile tw o o r m o re in s ta n c e s in
U m d o s m é to d o s d e in d u ç ã o p r o p o s ­ w h ic h it d o e s n o t o c c u r h a v e n o th in g in
to s p o r J . S. M « Â Â n a s u a Lógica. c o m m o n save th e absence o f th a t circu m s­
“ I f tw o o r m o re in s ta n c e s o f th e p h e ­ ta n ce ; th e circu m stan ce in w hich alo n e th e
tw o sets o f in s ta n c e s d iffe r is th e e ffe c t,
n o m e n o n u n d e r in v e stig a c ió n h a v e o n ly
o r th e c a u se , o r a n e c e ssa ry p a r t o f th e
o n e c irc u m sta n c e in c o m m o n , th e c ir ­
c a u se o f th e p h e n o m e n o n .” 2 System o f
c u m s ta n c e in w h ic h a lo n e all th e in s ta n ­
Logic , I I I , c a p . 8 , § 4.
ces a g re e is th e c a u se (o r e ffe c t) o f th e g i­
v en p h e n o m e n o n .” ' System o f Logic, C O N C O R D IS M O D . Konkordismus ;
I I I , c a p . 8 , § 1. E . Concordism ; F . Concordisme\ I. Con-
E s te m é to d o não é id ê n tic o à Tabula cordismo.
praesentiae d e Bτ TÃÇ c o m o se d iz v u l­ “ C h a m a -s e a ss im e m te o lo g ia à te o ­
g a rm e n te (p. ex. F Ãç Â E 2 , N o ta s a o N o ­ ria seg u n d o a q u a l a fé e a c iên c ia , s e n d o
vum Organum; A áτ Oè ÃÇ em BALDWIN, a s d u a s d iv in a s à s u a m a n e ir a , n ã o p o d e ­
V o Agreement). V e r s o b re e s ta d is tin ç ã o ria m e s ta r em d e s a c o r d o .” G . BE Â ÃI ,
“ O v a lo r m o r a l d a c iê n c ia ” , Revue de
A. Lτ Â τ ÇáE , Les theories de Tinduction
m étaph ., ju lh o d e 1914, 433.
et de Texperimentation , c a p . I l l e IX .
C O N C O R R Ê N C I A D . M itbewer­
“ C o n c o r d a n c ia (M é to d o r e u n id o d e
bung , K onkurrenz ; E . C om petition ; F .
c o n c o r d â n c ia e d e d if e r e n ç a ) “
Concurrence ; I. Concorrenza.
J . S. M « Â Â c h a m a a s s i m (Joint me­
thod o f agreement and diference ) a o m é -
2. “ Se dois o u vários casos nos quais o fenôm e­
no se pro duz têm apenas um a circunstância com um ,
enquanto dois ou vários casos nos quais n ão se pro­
]. "Se dois ou vários casos do fenômeno que se duz só têm em com um a ausência d a m esma circuns­
estuda possuem uma circunstância com um , esta cir­ tância, esta circunstância única pela qual diferem os
cunstância única pela qual todos os casos são seme­ dois grupos de casos é o efeito , a causa, ou um a par­
lhantes é a causa (ou o efeito) do fenôm eno d a d o ." te necessária da causa do fenôm eno.”

S o b re C o n c o r d â n c ia ( M é to d o ...) — S e ria d e se já v e l in d ic a r em a lg u m a s p a la v ra s
a d ife re n ç a e n tre as tá b u a s de Bτ TÃÇ e o s m é to d o s d e M « Â Â. (P . Lapie) E la c o n siste
n is to : as tá b u a s d e Bτ TÃÇ , 1?, são c o le tâ n e a s o r d e n a d a s d e f a to s o b se rv á v e is , s o ­
b re o s q u a is se d ev e em s e g u id a e x erce r a in d u ç ã o ; e, 2°, e sta te m p o r o b je to d e te r ­
m in a r a f o r m a o u c a u sa f o r m a l , q u e r d iz e r, a e ss ê n c ia d e u m fe n ô m e n o , o q u e o
c o n s titu i em si (in o r d in e a d U n iversu m , non in ordine a d hom inem ), n o s e n tid o em
q u e o s físico s d iz e m q u e o q u e é u m so m p a r a o s n o s so s s e n tid o s é, n a re a lid a d e ,
u m a v ib ra ç ã o d e a r. T r a ta -s e , p o is , d e d e te r m in a r o c a r á te r o b je tiv o c o m u m a to d o s
o s c aso s o b s e r v a d o s , e n ã o a c a u s a e fic ie n te , q u e é s o m e n te vehiculum form ae. P a r a
J . S. M lLL, p elo c o n tr á r io , 1?, o s “ c â n o n e s ” sã o re g ra s ló g icas, 2 ? , e sta s re g ra s têm
p o r o b je to determinar a c a u s a e fic ie n te , is to é , o antecedente in v a riá v e l, in c o n d ic io ­
n a l, etc.· V e r m a is a trá s C a u sa . D a í re s u lta q u e o s d o is m é to d o s ta m b é m n ã o c o in c i­
d e m n a a p lic a ç ã o , c o n s id e ra n d o u m o s fe n ô m e n o s p o r g ru p o s su cessiv o s e o o u tr o
c o n s id e ra n d o -o s n a s su a s re la ç õ e s d e s im u lta n e id a d e . (A. L.)
S o b re C o n c o rrê n c ia e C o n c u rso — Concurso im p lic a o p o s iç ã o se se te m em v ista
s o b re tu d o o o b je to e x te rio r, m a te ria l, c u ja p o sse to d o s os c o n c o rre n te s p ro c u ra m ,
185 “ CONCREÇÃO”

S Ã T « Ã Â . E s ta d o d e d o is seres o u de curso, concorrente, q u e n o m a is d a s v e ­


d u a s fu n ç õ e s q u e te n d e m a s u p la n ta r- s e zes a s s in a la m p e lo c o n tr á r io u m a a ç ã o
re c ip ro c a m e n te . c o n v e rg e n te , d irig id a p a r a u m m e sm o r e ­
O te rm o é s o b re tu d o e c o n ô m ic o e diz- s u lta d o .
se e sse n c ia lm e n te d a re la ç ã o d e d o is p r o ­ Concurso, n o s e n tid o e m q u e im p lic a
d u to re s o u d e d o is c o m e rc ia n te s q u e d is­ a id é ia d e c o m p e tiç ã o , d ife re d e concor­
p u ta m u m a clie n te la . (Se eles a partilhas­ rência n a m e d id a e m q u e d e s ig n a a c o m ­
sem d e u m a m a n e ira fix a , n ã o h a v e ria p e tiç ã o o r g a n iz a d a s e g u n d o a s c o n d iç õ e s
m a is c o n c o rrê n c ia .) A p a la v r a esten d e-se e a s f o r m a s re g u la re s c o m v is ta a e s c o ­
d a í a té a re la ç ã o de c a n d id a to s q u e b ri­ lh e r o u a c la s s ific a r o s c o n c o rre n te s c o n ­
g a m s im u lta n e a m e n te p o r u m a m e sm a f o r m e o m é r i t o . O r e g i m e d e livre con­
fu n ç ã o o u u m m e sm o títu lo , d e p ro c e d i­ corrência o p õ e - s e n e s t e s e n t i d o a o d e
m e n to s d iv erso s o fe re c e n d o -s e u m e o u ­ concurso.
tr o p a r a c h e g a r a o m e sm o re s u lta d o , de Rad. int.: K o n k u r e n c .
s e n tim e n to s o p o s to s q u e te n d e m , c a d a
u m p o r seu la d o , a c o n q u is ta r o e sp írito
“ C O N C R E Ç Ã O ” (s e m e q u iv a le n te s ;
n o seu to d o , etc.
c o n tu d o H E 2 ζ τ 2 I s e rv iu -s e , n o s e n tid o
C h a m a -se e sp e c ia lm e n te Concorrên­
A , d a p a la v ra complication, q u e fo i a d o ­
cia vital a o e s fo rç o d e to d o s o s se re s p a ­ t a d a p o r W U N D T ).
ra se m a n te re m e se d e se n v o lv e re m , e n ­
A . Em A Oú è 2 E , p r o c e s s o p e lo q u a l
q u a n to esse e s fo rç o os to r n a a n ta g o n is ­
a im a g e m (re c o rd a ç ã o ) d e u m o b je to se
ta s e p ro v o c a e n tre eles u m a lu ta p e la v i­
fu n d e c o m a se n sa ç ã o a tu a l q u e esse o b ­
d a e p e la s u p e r io rid a d e n a v id a .
je to n o s d á q u a n d o e le c a i d e n o v o s o b
o s n o s s o s s e n tid o s . E s ta f u s ã o e x p lic a p a ­
CRÍTICA
r a e le : 1 ? , o r e c o n h e c i m e n t o ; 2 ? a i n c o r ­
É de n o ta r q u e a c a ra c te rís tic a d e lu ­ p o r a ç ã o d a s im a g e n s n a p e rc e p ç ã o a tu a l,
ta , q ue é m u ito a c e n tu a d a n a p a la v ra con­ p o r e x e m p lo e s te f a to , o b s e r v a d o já por
corrência, n ã o existe sem p re n a p a la v r a L a p la c e , d e q u e a o o lh a r o liv re to d e u m a
concorrer (p . ex. concorrer para um mes­ ó p e r a se o u v e m d is tin ta m e n te a s p a la v ra s
mo fim ), n em m e sm o n as p a la v r a s con­ de um c a n to r, q u e a n te rio rm e n te e ra m

m a s ele im p lic a a c o r d o , p e lo m e n o s p o ssív e l, se se te m e m v is ta n ã o o p ró p r io o b je ­


to , m a s a te n d ê n c ia c o m u m , a d ire ç ã o , n ã o se n d o o o b je to m ais d o q u e o lim ite id eal
d e e sfo rç o s n o mesmo s e n tid o . D a í se tir a m fa c ilm e n te a s d iv e rsas a p lic aç õ es d e sta
p a la v r a . (M. Bernes)

S o b re “ C o n c r e ç ã o ” — Isso p re s su p õ e u m a a n te rio rid a d e , p elo m en o s ló g ica, dos


p re d ic a d o s e p a rtic u la rm e n te d a s q u a lid a d e s sensív eis de u m a c o isa em re la ç ã o a essa
m e sm a co isa. M as e sta a n te r io r id a d e p a re c e -m e b em c o n te s tá v e l. ( / . Lachelier) N ã o
se tr a ta a q u i d e u m a a n te r io r id a d e ló g ic a , q u e s e ria , c o m e fe ito , m u ito d u v id o sa ,
m a s de u m a a n te r io rid a d e p s ic o ló g ic a de q u e n ã o se p o d e d u v id a r. V ê-se c o m e fe ito ,
p e la o b s e rv a ç ã o d as p e rtu rb a ç õ e s d a p e rc e p ç ã o , p e la d a s c ria n ç a s , d o s ceg o s de n a s ­
c e n ç a o p e r a d o s , e tc ., q u e as sen saçõ es e as im a g e n s ex istem d e in íc io n o e s ta d o s e p a ­
r a d o a n te s de se a g ru p a re m e d e f o r m a r e m a ssim o b je to s d e fin id o s , c h a m a d o s coisas
o u in d iv íd u o s . (V. Egger — A . L .)

S o b re “ C o n c re ç ã o ” (C ritica ) — A p a la v ra concreção n ã o d esig n a ta m b é m alg u m as


vezes u m a re u n iã o m ais o u m en o s h e tero g ên e a de idéias o u de h á b ito s c u jo s elem en to s
CONCRETO 186

a p e n a s u m s o m c o n fu s o . PhUos. des sentiendi, libido dominandi; D . Begierde ;


Sciencesy I n t r o d ., p p . L I X -L X . E . Concupiscence; F . Concupiscence; I.
B. P a r a V íc to r E g g e r , q u e u tü iz o uConcupiscenza.
p a r tic u la rm e n te este te r m o : ‘‘O p e ra ç ã o D e se jo e g o ísta fo r te . V er m a is a d ia n ­
p e la q u a l o e s p irito n o s seus in ic io s, e de te a u tiliz a ç ã o d a p a la v r a n a lin g u a g e m
m a n e ira g e ra lm e n te in c o n s c ie n te , c o n s ­ d a te o lo g ia m o ra l. A p a la v r a d iz-se e sp e ­
tr u iu o to d o d ito c o n c r e to q u e a A b s tr a ­ c ia lm e n te d o s a p e tite s * .
ç ã o A e a A n álise B d e c o m p o rã o m ais ta r ­ Rad. i n t K o n k u p isc e n c (no sentido
d e .” Definição comunicada pelo autor. vulgar, av id ).
A p lic a-se q u e r a o s o b je to s in d iv id u a is , “ C O N C U P 1 S C ÍV E L ” L . Concupis-
q u er às id éias gerais e sp o n ta n e a m e n te fo r­ cibilis (clássico, m as no sen tid o de que p o ­
m a d a s , p o r e x e m p lo , a o tip o d o h o m e m . de ser cobiçado) e n ã o , c o m o n o s e sc o ­
U m Juízo de concreção é u m ju íz o s in té ­ lá stic o s, que é o princípio do desejo (S.
tic o q u e a u m e n ta a c o m p re e n s ã o d e u m T ÃOá è á A I Z « ÇÃ ). D . Sem e q u iv a le n ­
E

con ceito ; p o r exem plo: “ D e sc o b rin d o que te; E . Concupiscible; F . Concupiscible; I.


a q u a lid a d e mortal a c o m p a n h a sem p re as Concupiscibile. (A ex p ressão apetite con-
q u a lid a d e s , q u e , p re s e n te m e n te , p a r a o cupiscivel fo i tr a d u z id a em a le m ã o p o r
m eu e sp írito , são o h o m e m , ...in c o rp o ro - Begehrungstrieb .)
a n o g ru p o q u e elas fo rm a m so b o n o m e N a lin g u a g e m d a E sc o la a d o ta d a p o r
d e h o m e m .” V . E g g e r , “ C o m p ré h e n - B o s s u e t , a s p a ix õ es (n o s e n tid o a n tig o

sio n et c o n tig u ité ” , Revue philos., o u tu ­ d a p a la v r a , q u e r d iz e r , o s se n tim e n to s )


b ro de 1894. ligam -se q u e r ao apetite irascível, q u e r a o
apetite concupiscivel. “ A s seis p rim e ira s
C R ÍT IC A
p aix õ es (a m o r, ó d io , d e se jo , a v e rsã o , ale­
T e rm o ú til e preciso so b re tu d o n o sen­ g ria, tristeza), q ue a p en a s p re ssu p õ e m n o s
tid o A . N o ta r-s e -á q u e a g e n e ra liz a ç ã o seus o b je to s a presen ça o u a au sên cia, são
p ro p o s ta em B c o rre sp o n d e b a s ta n te exa­ re la c io n a d a s p elo s a n tig o s filó so fo s com
ta m e n te a o q u e W h e w e ll c h a m a v a o a p e tite q u e eles c h a m a m de c o n c u p is ­
coligação*. c iv e l...” B o s s u e t , Connaissance de Dieu
C O N C R E T O D . Konkret; E . Concre­ et de soi-même, I, 6 . C f. Irascível.
te; F, Concret; I. Concreto. E s ta d is tin ç ã o lig a -s e à de P Â τ I ã Ã

Ver Abstrato. Universal concreto, ver e n tre dv p o t e (tiOvnbn.


Universal. C O N C U R S O V er Concorrência.
“ F u n ç õ e s c o n c r e ta s .” N a s m a te m á ­
“ C o n c u rso o rd in á rio de D e u s”
tic a s, a q u e la s q u e re s u lta m d e u m m e ca ­
C h a m a -s e a ssim , n a e sc o lá stic a e n a es­
n ism o cin em átic o . R e n o u v i e r , Logique,
c o la c a r te s ia n a , à o p e ra ç ã o a tra v é s d a
2* e d ., I, 174. A í, ele c o m p re e n d e a s f u n ­
q u a l D e u s c o n se rv a o m u n d o n a e x istê n ­
ções circu lares, g e o m etricam en te co n sid e­
c ia; a in d e p e n d ê n c ia a d m itid a p o r c ertas
ra d a s , m a s e stas fu n çõ es to rn a m -s e “ a b s­
esco las e n tre o s m o m e n to s d o te m p o tem
t r a t a s ” se fo re m e x p re ssa s a tra v é s d e u m
c o m o c o n s e q u ê n c ia q u e o u n iv e rs o d e i­
d e se n v o lv im e n to em série.
x a ria d e e x istir a ssim q u e D eu s d eix asse
“ C O N C U P IS C Ê N C IA ” L . Concupis- de q u e r e r a tu a lm e n te m a n te r a s u a re a li­
centia e s o b re tu d o libido*, as “ três c o n ­ d a d e (Discurso do método*, V p a rte , § 3).
c u p isc ê n cia s” são libido sciendi, libido V er Criação contínua e Causas ocasionais.

re tira d o s de d iv ersas o rig en s h istó ric a s e stã o ju s ta p o s to s sem u n id a d e real? (M. Blon-
def) E is u m a m e tá f o r a m u ito ex p re ssiv a e sem d ú v id a p e rfe ita m e n te a d m issív e l, m as
n ã o m e p a re c e m u ito u s u a l e em to d o c a s o n ã o te m n a d a d e té c n ic o . (A. L.)
187 C O N D IÇ Ã O

1 . C O N D I Ç Ã O L . e sc o l. Conditio; E . (S em p re n o p lu ra l n e ste s e n tid o .)


D . N o se n tid o A , Voraussetzung ; n o sen ­ C irc u n stân c ia s n a s q u a is u m a c o isa se fa z ,
tid o B e C , Bedingung ; E . Condition; F . e n q u a n to elas a g e m s o b re a s u a p r o d u ­
Condition; I. Condizione. ç ã o , e n q u a n to , p o r e x e m p lo , elas a fa c i­
A . N u m s e n tid o m u ito g e ra l, a n te c e ­ lita m , o u a e n tr a v a m o u lh e m o d ific a m
d e n te d e u m a re la ç ã o h ip o té tic a ta l q u e o c a r á te r . D o m ín io n o q u a l u m te rm o é
se a f o r v e rd a d e ir a , b ta m b é m o é; e se d e fin id o , o u n o q u a l u m a tese é a f ir m a ­
b é f a ls a a è fa lsa . d a (sem e x clu ir q u e e s ta d e fin iç ã o o u es­
B . A sserção d a q u a l u m a o u tr a d ep en ­ ta tese p o s sa m s e r u lte rio r m e n te e ste n d i­
d e d e ta l m a n e ira q u e se a p rim e ira fo r d a s a o u tr o s d o m ín io s ).
fa ls a a s e g u n d a ta m b é m o é . V er Causa, F . Na linguagem das matemáticas: as
B , e Condicional. D iz-se a in d a Condição condições d e u m p ro b le m a s ã o “ tu d o o
necessária, ou conditio sine qua non ( Z τ - q u e particulariza u m a s o lu ç ã o g e ra l. T o ­
ζ τ 2 E ÂÂτ , em Goclenius, 4 3 5b). O s e n ti­ d a s a s vezes q u e se u tiliz a a p a la v r a con­
d o B é u m a a b re v ia ç ã o d e s ta s f ó r m u la s . dição su p õ e -se , p o is , q u e , p e rm a n e c e n d o
Condição necessária e suficiente: o p r o b le m a o m e sm o n a s u a e ssên cia,
a q u e la q u e a c a r r e ta s e m p re u m a c o n se ­ p o d e r-s e -ia m r e s trin g ir as so lu ç õ e s a tr a ­
q u ê n c ia q u a n d o é p o s ta e q u e a ex clu i vés d e o u tr a s p ro p o s iç õ e s lim ita tiv a s ” .
s e m p re q u a n d o e la f a z fa lta . V e r a s o b s e rv a ç õ e s .
C . N o sentido real: c irc u n s tâ n c ia d e U m a c o n d içã o é d ita necessária e m re ­
q u e u m a o b r a d e p e n d e d e ta l m a n e ira q u e la ç ã o a u m a s o lu ç ã o d e te r m in a d a se e sta
se a p rim e ira e s tá a u s e n te o u s u p rim id a
f o r u m a c o n s e q ü ê n c ia ló g ic a , q u e r d iz e r,
a se g u n d a ta m b é m o e s tá .
se e la n ã o p u d e r s e r s u b s titu íd a p o r n e­
D . E m particular: o te m p o e o e s p a ­
n h u m a o u tr a h ip ó te se, p e rm a n e c e n d o es­
ço s ã o c h a m a d o s p o r K τ Ç co n d içõ e s d a
I
t a s o lu ç ã o a m e s m a ; e la é d ita suficiente
e x p e riê n c ia , Bedingungen aller Erfah-
se a c a rre ta r n e cessariam en te e sta so lu ção .
rung . “ T e m p u s n o n e st o b je c ü v u m ... sed
subjectiva conditio p e r n a tu r a m m e n tis C RÍTIC A
h u m a n a e n e c e s sá ria q u a e lib e t se n sib ilia
c e r ta lege sib i c o o r d in a n d i.” D e m undi A p a la v r a c o n d iç ã o , n o s e n tid o C ,
sensibilis , e tc ., I I I , 14, § 5. o p õ e -s e d e o r d in á r io à p a la v r a c a u sa .

S o b r e C o n d iç ã o , A e B — N o ta r a u tiliz a ç ã o b a s ta n te a m p la q u e fe z Kτ ÇI d e s ta
p a la v r a n a d is c u s s ã o d a s a n tin o m ia s . É condição o te r m o d o q u a l o e s p írito p a s s a
a u m o u tr o n u m a sín te se p ro g re s s iv a , o u a o q u a l ele r e m o n ta a p a r tir d e u m o u tr o
n u m a sín te se re g re ssiv a . (7. Lachetier) V er a d ia n te Condicionante.

S o b r e C o n d iç ã o , C — O u s o ju r íd ic o d is tin g u e a condição, q u e p o d e n u n c a
a p re s e n ta r-s e , e o term o , q u e se a p r e s e n ta r á n e c e s s a ria m e n te , a in d a q u e n u m a d a ta
in d e te rm in a d a ( p o r e x e m p l o , o fa le c im e n to d e c e r to s u je ito ). P Â τ Ç « Ã Â , Traité élém,
de droit civil, I , § 310. C f. Code civil, 1168, 1184, e v e r Contingente*, o b se rv a ç õ e s.
S o b re C o n d iç ã o , F — E s ta p a ss a g e m d o a r tig o fo i m o d if ic a d a p a r a re s p o n d e r
às o b je ç õ e s d e H . Bouasse. A p a r te d o te x to q u e e s tá e n tre a sp a s é e x tra íd a d a su a
c a r ta . É d e n o ta r q u e P τ Ç Ã d á à p a la v r a ita lia n a Condizione u m s e n tid o m ais ex ­
E

te n so : “ C o n d iz io n e = p ro p o siz io n e c o n te n e n te v a ria b ili.” 1 A ssim , s e ja a u m a classe,


a p ro p o s iç ã o “x é u m <z” é u m a “ c o n d iç ã o e m x ” . Dizionario di matemática, p . 7.

1. “ Proposição que contém variáveis.”


C O N D IÇ Ã O 188

E s ta o p o s iç ã o n ã o re p re s e n ta de n e n h u ­ tu d o d á em certas ex p ressõ es u m sen tid o


m a m a n e ira u m a d is tin ç ã o d e f a to , m a s m u ito preciso. E x.: A c o n d iç ã o d o s escra­
u m a d is tin ç ã o d e p o n to d e v ista (v er a vos em R o m a (c o n ju n to d o s d ireito s e d e­
C rític a d e Causa). A ssim , p o r e x em p lo , veres p erte n ce n te s a o s escravos de R o m a
n a q u e d a d e u m o b je to q u e se p a r te , c o n fo rm e as leis e o s co stu m es). U m h o ­
c h a m a r-s e -á “ c a u s a ” , adlibitum , e c o n ­ m em de c o n d iç ã o (q u e r dizer, de u m nível
fo r m e o in te re ss e p r á tic o d o m in a n te s e ja social q ue o co lo ca acim a d a m u ltid ão ), e tc
o p e s o , s e ja o f a to d e este o b je to ser d e
g esso e n ã o de b ro n z e , s e ja o m a u je ito 1. “ C O N D I C I O N A D O ( O ) ” D . Das
d a q u e le q u e o d e ix o u c a ir , s e ja a p o s iç ã o Bedingte ; E . The Conditioned; F . Le
a n o rm a l q u e ele o c u p a v a , etc. V ê-se, co m Conditionné; I. li Condizionato.
e fe ito , q u e , c o n fo rm e o p o n to de v ista O C o n d ic io n a d o , s e g u n d o H τ O« Â ­
a d o ta d o , ta l o u ta l circu n stân cia d ife re n te I ÃÇ e a s u a e sc o la , é “ th a t w h ic h d e-
s e r á posta como causa e o s o u tr o s fe n ô ­ p e n d s o n s o m e th in g else f o r its b e in g ” 1.
m e n o s q u e c o n c o r re r a m p a r a o e fe ito t o ­ V « T , M em oir o f Sir W. Ham ilton,
E I 7

ta l s e rã o e n tã o condições (v e r J . S. A p . A , 409. E ste te r m o é tr a d u z id o d e


M « Â Â , Lógica, I I I , c a p . V , seç ã o 43). K τ Ç , p a r a q u e m o p rin c íp io d e to d a s as
I

N ã o h á , p o is, n a d a de explicativo* n a dis­ a n tin o m ia s * é a p o s iç ã o s e g u in te d a R a ­


tin ç ã o e n tre as condições e as causas. É zão : “ W e n n d as B e d in g te g eg eb e n ist, so
o ju íz o a p re c ia tiv o * (q u e c o n c e rn e à im ­ ist a u c h d ie g a n z e S u m m e d e r B e d in g u n ­
p o r tâ n c ia d as co isas o u à re s p o n s a b ilid a ­ g e n , m ith in d a s s c h le c h th in Unbedingte
d e d a s p e ss o a s) q u e d e te rm in a a tu a lm e n ­ g e g e b e n , w o rd u rc h je n e s allein m ö g lich
te a o c o rrê n c ia d e u m a o u de o u tr a p a la ­ w a r .” *2 Crítica da razão pura, D ia lé t.
v ra n o u so c o rre n te . C f. Ocasião , C rític a . tr a n s e ., liv ro I I , c a p . 2.
Rad. int.: K o n d id o n . A “ L ei d o C o n d ic io n a d o ” , q u e é u m
d o s p rin c íp io s fu n d a m e n ta is d o p e n sa -
2 . C O N D I Ç Ã O D . Zustand; E . Con-
dition\ F . C ondition ; I. Condizione.
t . “ o q u e depende de qualquer coisa diferente
M a n e ira d e ser d e u m a c o isa o u de quanto ao seu s e r" .
u m a p e sso a e, em p a r tic u la r , s itu a ç ã o 2. “ P ô r um condicionado com o dado é p ô r ta m ­
so cia l. T e rm o v ag o , a o q u a l o u so c o n ­ bém como dada to da a soma de condições e, por con-

S o b re C o n d iç ã o (C rítica ) — P a re c e q u e n o u s o c o m u m se c h a m a m s o b re tu d o con­
dições c e rta s c irc u n s tâ n c ia s m u ito g e ra is q u e c o n c o r re m m a is p a s s iv a d o q u e a tiv a ­
m e n te p a r a a p r o d u ç ã o d e u m fe n ô m e n o , o u c u ja a ç ã o , p elo m e n o s , é c o n s id e ra d a
c o m o s e c u n d á r ia (c o m o ta l te m p o , ta l lu g a r , ta l te m p e r a tu r a , ta l p re s s ã o a tm o s f é r i­
c a ). U m fe n ô m e n o é p r o d u z id o p o r c a u s a s sob c o n d iç õ e s . ( / . Lacheiier )
D. Parodi a s s in a la e m R ÇÃ Z â « 2 , Essais, logigue genérate, 3 ! p a r te , c a p .
E E

X X X V I I , o b s . A , u m a te n ta tiv a im p o r ta n te d e d is tin g u ir as c a u s a s e as c o n d iç õ e s
d e u m fe n ô m e n o . A s condições n ã o s ã o e x p re ss a m e n te d e fin id a s , m a s p a re c e re s u l­
t a r d o c o n te x to , e n o m e a d a m e n te d a re fe rê n c ia a J . S . M ili, q u e R e n o u v ie r e n te n d e
p o r isso to d o s o s a n te c e d e n te s o u c o n c o m ita n te s q u e in te rv ê m d e a lg u m a m a n e ira
n a p r o d u ç ã o d e u m fe n ô m e n o ; a c a u s a “ é u m a c o n d iç ã o , p rim e ir o , n e c e s s á ria , q u e r
d iz e r, sem a q u a l u m fe n ô m e n o n ã o a c o n te c e r ia , e s ta n d o to d a s a s c o isa s ig u a is a liá s;
s e g u n d o , s u fic ie n te , q u e r d iz e r, q u e s e n d o d a d a (sic) d á lu g a r a esse fe n ô m e n o ; te r ­
c e iro , e fe tiv a m e n te d e te r m in a n te . E s ta id é ia a c r e s c e n ta d a à d o q u e é s u fic ie n te e n e ­
c e ssá rio fix a o p e n s a m e n to n o m o m e n to e n o p r ó p r io a to e m q u e o e fe ito se d e te r m i­
n a n a re a lid a d e a tra v é s d a in te rv e n ç ã o d e a lg o q u e p ro v o c a m u d a n ç a s n u m e s ta d o
j á c o n h e c id o ” . Ibid., 3? e d iç ã o , p p . 7 8 -79.
S o b re a re la ç ã o e n t T e e s ta id é ia e a d e f o r ç a , v e r o m e sm o c a p ítu lo , p . 56.
189 “ CO NFA TA L”

m e n to d e H a m i l t o n , e n u n c ia -s e assim : B . Q u e d e p e n d e d e u m a c o n d iç ã o , n o
“ T o th in k is t o c o n d itio n .’ ’1 E la sig n ifi­ s e n tid o B (c o n d iç ã o sine qua non). A n e­
c a: “ T h a t a ll th a t is c o n c e iv a b le in g a ç ã o d o a n te c e d e n te a c a r r e ta , n e ste c a ­
th o u g h t lies betw een tw o ex trem es, w hich so , c o n tr a r ia m e n te a o a n te r io r , a n e g a ­
a s c o n tra d ic to ry o f e a c h o th e r, c a n n o t ç ã o d o c o n s e q ü e n te .
b o th b e tru e , b u t o f w h ic h , as m u tu a l c o n ­ C . S in ô n im o d e hipotético, B , 1?; c a ­
tra d ic to rie s , o n e m u s t .” 2 Lectures, I I , racterística d e u m a p ro p o siç ã o hip o tética*
3 6 9 . “ T h e law o f m in d t h a t th e c o n c e i­ n a q u a l o a n te c e d e n te sig n ific a Todas as
v a b le is in e v e ry re la tio n b o u n d e d b y th e
vezes que . . . e n ã o Se é verdade que...
in c o n c e iv a b le , I c a ll th e L a w o f th e C o n ­ c r ít ic a
d itio n e d .” 3 Ibid., 373.
O e q u ív o c o e n tre o s e n tid o A e B d á
N a m e d id a em q u e este p rin c ip io é fre q u e n te m e n te m a rg e m a so fism a s: d o
a p lic a d o p a ra le g itim a r a cre n ça , é o f u n ­ q u e é co n d içã o n ecessária p assa-se a o q u e
d a m e n to d a “Filosofía do condicionado” é c o n d iç ã o su fic ie n te , o u in v e rsa m e n te .
(cf. a d e fe sa d e H a m i l t o n e d a s u a filo ­
s o fia re lig io sa c o n tra M i l l em M a n s e l : C O N D IC IO N A M E N T O V er Su­
The Philosophy o f the Conditioned). A f i ­ plem ento.
losofía do Incondicionado d e sig n a , p elo C O N D IL L A C IS M O D o u trin a de C o n ­
c o n trá rio , n a m e sm a esco la, a d o u tr in a d e dillac caracterizad a pelas teses seguintes; A
C o u s i n , s e g u n d o a q u a l e x iste u m a lm a é u m a s u b stâ n c ia sim ples, d iferen te­
“A b s o lu to -In f in ito ” acessív el à ra z ã o e à m en te m o d ifica d a p o r o casiã o d as im p res­
filo s o fia . H a m i l t o n , On the Philosophy sões q u e se fa zem n as p a rte s d o c o rp o ; to ­
o f the Unconditioned, D iscu ssõ es, 1-38. d o s o s fen ô m en o s e to d as as facu ld ad es d o
e sp írito re su ltam de u m ú n ic o fen ô m e n o
2 . C O N D I C I O N A D O (R eflex o ) V er elem en tar, a o m esm o te m p o afetiv o e re­
Reflexo. p resen tativ o , a sensação; a re a lid ad e q u e
u m a id éia geral te m n a in telig ên cia co n sis­
C O N D I C I O N A L D . Dedingt; E .
te a p en a s n u m n o m e ; to d a ciência é u m a
Conditional·, F . Conditionnel; I. Condi- lin g u ag em b em -feita; a an álise é o seu in s­
zionale. tru m e n to essencial. Ver Sensualismo.
A . Q u e d e p e n d e d e u m a c o n d iç ã o n o
s e n tid o A : p o r e x e m p lo , a lexis q u e f o r ­ C R ÍT IC A

m a o c o n se q u e n te d e u m ju íz o h ip o té ti­ E ste te rm o p a re c e -n o s d e p o u c a u tili­


co q u a lq u e r. d a d e ; h á u m in te re ss e m e d ío c re e u m p e ­
rig o re a l em e sp e c u la r s o b re a d o u tr in a
d e u m filó s o fo c o m o s o b re u m to d o in ­
sequência, o absolutam ente incondicionado, o úni­ div isív el. E s te in c o n v e n ie n te é p a rtic u la r­
co pelo qual ele era possível.”
L. “ Pensar é co n dicionar.”
m e n te sensív el p a r a a filo s o fia de C o n ­
2. “ T udo aquilo que é concebível no pensam en­ d illa c , c u ja u n id a d e ló g ica e stá lo n g e d e
to encontra-se entre dois extrem os inconcebíveis que ser e v id e n te .
não podem ser sim ultaneam ente verdadeiros, já que
são contraditórios entre si, m as um deles deve neces­ “ C O N D U T A ” V er Comportamento.
sariam ente sê-lo, em virtude de sua m útua co ntradi­ “ C o n d u ta d a e sp e ra * , d o tr iu n f o * .”
ç ã o .’’
3. “ A esta lei do espirito, segundo a qual o con­ “ C O N F A T A L ” G . ovvtLiuxQitévov;
cebível está, de todos os pom os de vista, limitado pelo n e c e s sá rio a o m e sm o te m p o q u e u m o u ­
inconcebível, cham o a lei d o condicionado.” tr o te rm o .

S o b re “ C o n f a ta l” — T e x to a s s in a la d o p o r Léon R obin, q u e lh e a c re s c e n ta a r e ­
fe rê n c ia a C í c e r o , De fa to , 13 (30): “ H a e c u t dix i, c o n fa ta lia C h ry sip p u s a p p e lla t.”
C f . Stoic. vet. fragm . I, n ? 5, 957, 958.
C O N F IG U R A Ç Ã O 190

“ A h esita ç ã o , desde q u e ela seja, co ­ id e n tific a d a s : “ P a r a E s p in o s a , v o n ta d e


m o d iriam os E sto ico s, c o n fa ta l à reso ­ e in te lig ê n cia c o n f u n d e m - s e .”
lu ção , n ão se c o m p re e n d e .” H τ OE Â « Ç , B . (n u m s e n tid o p e jo ra tiv o ). N ã o d is­
Essai, cap. V, § 2, A , b (2? ed ição , p. tin g u ir o q u e se d e v e ria d is tin g u ir: to m a r
423). u m p e lo o u tr o , p o r e r r o , d o is o b je to s d e
p e n s a m e n to re a lm e n te d is tin to s .
C O N F IG U R A Ç Ã O , C O N F IG U R A -
C . E s p a n ta r m a x im a m e n te p o r seu c a ­
C IO N IS M O V er Form a , o b s e rv a ç õ e s .
r á te r in e s p e ra d o .
C O N F L IT O L . C onflictus [legum], D . P r o v a r p u b lic a m e n te a a lg u é m ,
ju r íd ic o ; D . Widerstreit ; E . Conflict; F . a p e s a r d a s u a re s istê n c ia , q u e ele e s tá e r­
Conflif, I. Conflitto. r a d o o u d e m á fé. “ T r a ta - s e d e o te n ta r
R e la ç ã o e n tre d o is p o d e re s o u d o is (de o p ô r à p ro v a ) e n ã o d e o c o n f u n d ir .”
p rin c íp io s c u ja s a p lic a ç õ e s exig em n u m L « ζ Ç« U , N ovos ensaios, IV , V II, I I ( f a ­
E

m e sm o o b je to d e te rm in a ç õ e s c o n tr a d itó ­ la n d o d a q u e le q u e d e fe n d e a s u a te se de
ria s . H á , e m p a r tic u la r , conflito de de­ d o u to r a m e n to ) .
veres q u a n d o , n a m o r a l a p lic a d a , u m E . L a n ç a r a d e s o rd e m n u m a e m p re s a
m e sm o a to p a re c e a o m e sm o te m p o legi­ (p a rtic u la rm e n te n u m a e m p re sa d e m a s ia ­
tim o e ile g ítim o c o n fo rm e a re g ra co m a d o a m b ic io s a o u n o c iv a ) e fa z ê -la assim
q u a l se r e la c io n e . P o d e h a v e r c o n flito de fa lh a r. D izia-se s o b re tu d o a n tig a m en te de
u m a ú n ic a a u to r id a d e com eia mesma se D e u s o u d o s D e u se s. ( C ounfounded , em
e la n ã o p u d e r a p lic a r-s e a u m o b je to d a ­ in g lês, a in d a q u e r d iz e r m a ld ito . C f. as
d o sem d e s e m b o c a r n u m a c o n tra d iç ã o . id é ia s g re g a s d e fyôets e d e ve/tetns1.)
“ O c o n flito d a ra z ã o c o n sig o m e s m a ”
(Ká ÇI ) é o c o n ju n to d as c o n tra d iç õ e s em NO TA S
q u e a ra z ã o se c o m p ro m e te q u a n d o se e s­ D e p o is d e te r sid o fre q ü e n te n o séc.
fo r ç a p o r e n c o n tr a r n o s fe n ô m e n o s u m X V II, e m p a rtic u la r n o s p o e ta s , e ste t e r ­
in c o n d ic io n a l de q u e d e p e n d e ria m to d o s m o a p e n a s se a p lic a a tu a lm e n te , c o m ex­
o s c o n d ic io n a d o s . Crít. da razão pura, c e ç ã o d o s e n tid o B , em c e rta s e x p ressõ es
D ia lé t. tr a n s c e n d ., c a p , II. C f. A n ­ c o n s a g ra d a s . A s d e fin iç õ e s a c im a d ev em
tinomia. ser e n te n d id a s c o m e s ta re se rv a .
A ex p re ssão “ c o n flito de te n d ê n c ia s ” L « 2 é in d ic a a in d a v á rio s o u tr o s
I I

é u su al em p sico lo g ia e em p sica n á lise, es­ s e n tid o s d e “ c o n f u n d ir ” (e s tra g a r, a r r u i­


p e c ia lm e n te n o q u e c o n c e rn e a o s c o n fli­
n a r) o u “ c o n f u n d ir - s e ” (c a ir n a d e s o r­
to s e n tre o consciente e o in co n scien te n o s
d e m , h u m ilh a r- s e , e n g a n a r-s e ; “ c o n f u n ­
fe n ô m e n o s d e re c a lc a m e n to .
dir-se em d e sc u lp a s” , etc.). M as, salv o es­
Rad. /« /.: K o n flitk t. ta ú ltim a e x p re s s ã o , e ste s se n tid o s p a r e ­
C O N F U N D I R D . A . Vermengen; cem te r s id o r a r o s e n ã o ser u s a d o s n o s
Verwirren (se m p re p e jo r a tiv o ) ; B . Ver- n o s s o s d ia s.
wechsein; C. D . E . S em e q u iv a le n te s g e ­ Rad. int .: A . K u n fu z ; B . K o n fu n d ; C .
ra is : Verwirren em c e rto s c a s o s ; E . To A s to n e g ; D . K o n fu z ig ; E . P e r tu r b .
confound (em to d o s o s s e n tid o s e m esm o
C O N F U S Ã O D . l.° Verworrenheit,
co m acep çõ es d e sa p a re c id a s em fran c ês);
Schamgefuhi ; 2? Vermengung, Verwech-
F . Confondre\ I. Confondere.
A. R e u n ir d u a s o u v á ria s co isas d e ta l
m a n e ira q u e elas n ã o s e ja m m ais d isce r- 1. Excesso pelo qual o hom em ultrapassa aquilo
n íveis (c o m o d o is rio s q u e “ c o n fu n d e m que convém à natureza h um an a; reação do poder di­
as suas á g u a s ” ) o u m esm o q u e elas sejam vino, guardião das leis da natureza física e m oral.
191 C O N G Ê N IT O

seiung, Verwirrung; E . 1? Confusión, D. N a lin g u a g e m ju r íd ic a e sta p a la ­


confusedness; sham e ; 2? Confusión, v ra u sa-se ta m b é m co m o confundido * n o
blending\ mistake , bewilderment; F . Con­ s e n tid o A .
fusión; I. C onfusione.
1? E s ta d o d o q u e é confuso *, o u d a ­ C RÍT IC A
q u e le q u e é c o n fu s o e m to d o s o s s e n tid o s C o n f u s o , n o s e n tid o A , é q u a se s e m ­
d e s ta p a la v r a (in clu siv e o s e n tid o ju r í d i­ p re n itid a m e n te p e jo r a tiv o . C o n tu d o
c o : v e r Code civil, 1300). L « ζ Ç« U , q u e d e le fe z u m te rm o té c n ic o ,
E

2? A to d e c o n fu n d ir* o u c a r a c te rís ti­ o p o s to a d is tin to * , to m a - o a lg u m a s v e­


c a d o q u e é c o n f u n d id o (n o s e n tid o A , B zes n u m s e n tid o d e p u r a c o n s ta ta ç ã o , q u e
o u E ); e s ta d o d a q u e le q u e é c o n f u n d id o m a rc a sem d ú v id a u m g ra u in fe rio r d e c o ­
(n o s e n tid o C e D ). n h e c im e n to , m a s sem lig a r a ele q u a lq u e r
Rad. int.: v e r a c im a . re p ro v a ç ã o : “ Q u a n d o p o s s o re c o n h e c e r
u m a c o is a e n tre a s o u tr a s , sem p o d e r d i­
C o n f u s ã o m e n ta l E s ta d o p a to ló g ic o ,
z e r e m q u e c o n sis te m a s s u a s d ife re n ç a s
q u e r a c id e n ta l, q u e r c rô n ic o , n o q u a l o
o u p r o p r ie d a d e s , o c o n h e c im e n to é con­
s u je ito a p e n a s f o r m a p e n sa m e n to s p e rtu r­
fu s o . ” (E x e m p lo : a b e le z a d e u m p o e m a
b a d o s , in a c a b a d o s e m a l d e fin id o s . C o n ­
o u d e u m q u a d r o .) “ Q u a n d o o m e u es­
s id e r a d o p o r a lg u n s a lie n ista s c o m o u m a
p írito c o m p re e n d e a o m esm o te m p o e d is­
d o e n ç a e sp e c ia l ( C τ è Â « Ç ). C f. J τ Ç
7 E I ,
tin ta m e n te o s in g re d ie n te s p rim itiv o s d e
Obsessions et psychasthénies , 661 ss.
u m a n o ç ã o , te m d e ta l n o ç ã o u m c o n h e ­
C O N F U S O D . Verworren; E . A . c im e n to intuitivo, q u e é b e m r a r o , s e n d o
Confused ; B . C . A sham ed ; F . Confus; I. a m a io r p a r te d o s c o n h e c im e n to s h u m a ­
Confuso. n o s a p e n a s c o n fu s o s o u s u p o s itiv o s .”
A . E m a ra n h a d o c u jo s elem en to s estão Discurso de metafísica , X X IV .
m is tu ra d o s sem o rd e m e s ã o im p o ssív eis N a n o s s a é p o c a , a c e n tu o u -s e freq ü e n -
o u d ifíceis d e d isce rn ir. “ Fez-se (d a Á lg e­ te m e n te o in teresse d a s id éias c o n fu sas c o ­
b ra ) u m a a rte c o n fu s a e o b s c u r a q u e e m ­ m o e ta p a p r e p a r a tó r ia p a r a a a q u is iç ã o
b a ra ç a o e sp írito , e m lu g a r d e u m a ciência de id é ia s n o v a s , o u c o m o in s tr u m e n to d e
q u e o c u ltiv e .” D è T τ 2 è , Discurso do
E I E a çõ e s q u e n ã o p o d e m s e r a d ia d a s . M as
método , II, 6. P o r co n seq u ên cia, m ais a m ­ é p re c iso p r e s ta r a te n ç ã o p a r a q u e e s ta
p la m e n te , v a g o , in c e rto , m a l d e fin id o : u tiliz a ç ã o fa v o rá v e l n ã o a c a b e a ju d a n d o
“ U m p e n sa m e n to , u m a e x p licação c o n fu ­ a p re g u iç a in te le c tu a l, q u e q u e r e v ita r o
s o s .” “ E sta s q u e stõ e s c o n fu s a s e in d e te r­ tr a b a lh o d e p re c is a r a s s u a s id é ia s, o u a
m in a d a s: se o fo g o é q u e n te , se a e rv a é m á fé , q u e d e la s a p r o v e ita a in d e te r-
v e rd e , se o a ç ú c a r é d o c e, e tc .” M τ Â - E m in a ç ã o .
ζ 2 τ ÇT7 E , Rech. de la venté, V I, I I . Rad. int.: A . K o n fu s ; B . C . S h a m o z .
B . Q u e e x p erim en ta u m sen tim en to de
p e r tu r b a ç ã o , de d e s c o n te n ta m e n to d e si C O N G Ê N IT O D . Angeborem ; E .
m e sm o e d e in ib iç ã o , p o r q u e fo i c o n f u n ­ Congenital; F . Congenital ; I. Congênito.
d id o , n o s e n tid o D . É congênita to d a c a ra c te rístic a p o ssu í­
C . P e r tu r b a d o p o r a lg u m a c o isa q u e d a p o r u m in d iv íd u o d e sd e o seu n a s c i­
c h o c a a s u a m o d é s tia , a s u a d is c riç ã o o u m e n to e n a o a d q u ir id a n o d e c u rso d o seu
o seu p u d o r . d esen v o lv im en to . U m a c aracterística p o d e

S o b re C o n f u s ã o — Confundir, confusão, confuso. A rtig o s a c re s c e n ta d o s o u re ­


fu n d id o s c o n f o r m e as o b s e rv a ç õ e s c rític a s d e M . Marsal.
C O N G R U Ê N C IA 192

s e r c o n g ê n ita a in d a q u e a p e n a s se to r n e d o q u e filo s ó fic o , e u m pouco an­


visível n u m a é p o c a a v a n ç a d a d o d e se n ­ tiq u a d o ) .
v o lv im e n to . T a m b é m fo i p r o p o s to u ti­
C R ÍT IC A
liz a r em in g lês a p a la v r a connote p a r a
d e s ig n a r a s c a ra c te rís tic a s c o n g ê n ita s S e ria ú til c o n v ir q u e a p a la v r a u tili­
q u e são a p a r e n te s d e s d e o n a s c im e n to . z a d a s o z in h a e sem o u tr a d e te r m in a ç ã o
L l o y d M o r g a n , H abit and Instinct , e m a r c a r á se m p re a a p re s e n ta ç ã o le g ítim a
B a l d w i n , V o . d e u m o b je to a o p e n s a m e n to , sem im p li­
c a r n e c e s sa ria m e n te q u e se ja p e n e tr a d a a
T2 íI «Tτ
s u a n a tu r e z a e a s su as leis, m a s n a tu r a l­
E s ta p a la v r a p a re c e -n o s p o u c o ú til: a m e n te sem ex clu ir e sta p e n e tra ç ã o . É n e s­
p a la v r a inato * a p re s e n ta u m s e n tid o a n á ­ te s e n tid o q u e se tra d u z e m p o r conhecer
lo g o , q u e fez p re c is a m e n te a b a n d o n a r a e conhecim ento as p a la v r a s percipere e
e x p re s s ã o idéias inatas. perceptio (o u cognitio) de E è ú « Ç Ã è τ , q u e
R ad int.: K u n n a s k it. ele a p lic a a to d o s o s g ra u s d o p e n s a m e n ­
to d e sd e a perceptio ex auditu a té a per­
C O N G R U Ê N C IA V er Igualdade.
ceptio per solam essentiam (cognitio ter-
C O N H E C E R D . K ennen ; E . To tii generis). De emendatione, V a n V lo te n ,
know; F . Connaître ; I, Conoscere. 2 f e d ., I , 16. C f. Ética, I I , 40 ss.
A . T e r p re s e n te n o e s p ír ito c e rto o b ­ M a s , s e ja q u a l f o r o g ra u d e c o n h e c i­
je to d e p e n s a m e n to v e rd a d e ir o o u re a l. m e n to q u e te m o s d e u m o b je to , a p a la ­
E s te o b je to p o d e ser q u e r d ife re n te d o es­ v r a im p lic a s e m p re q u e esse o b je to s e ja
p ír ito , q u e r o p r ó p r io e s p írito (o u u m a p e n s a d o ta l c o m o d e v e ser (se ja e m r e la ­
d a s s u a s p r o p r ie d a d e s , o u u m d o s seus ç ã o a u m a re a lid a d e e x te r io r, s e ja in tr in ­
a to s ) , m a s c o m a c o n d iç ã o d e e ste o b je to sec a m en te ), d e u m a m a n e ira q u e p o d e ser
d e p e n s a m e n to s e r c o n s id e ra d o , e n q u a n ­ p a r c ia l, m a s q u e e m to d o c a s o é v e ríd ic a.
to conhecido , c o m o d is tin to p e lo m e n o s Conhecer e conhecim ento d e s ig n a m ,
fo r m a lm e n te d o p e n s a m e n to q u e o co­ p o is , u m g ê n e ro c u ja s e sp é c ies s ã o c o n s ­
nhece. C f . Objeto. t a t a r , c o m p re e n d e r* , p e rc e b e r, c o n c e ­
B . M a is r a r o e m f r a n c ê s , m a s m u ito b e r* , e tc . E les o p õ e m -s e a crer e a cren­
f r e q ü e n te p a r a a p a la v r a in g le sa to know ça, n ã o p e la f o r ç a d a a d e s ã o , m a s p e lo
q u e q u e r d iz e r a o m e sm o te m p o conhe­ f a to d e e ste s d o is ú ltim o s te rm o s n ã o im ­
cer e saber : te r n o e s p írito c e r to o b je to p lic a re m necessariamente a id é ia d e v e r­
d e p e n s a m e n to n ã o a p e n a s e n q u a n to d a ­ dade.
d o , m a s e n q u a n to b e m c a p ta d o n a s u a Rad. int.: A , N o s k ; B . K o n o s k .
n a tu r e z a e n a s s u a s p r o p r ie d a d e s . E s te
s e n tid o é m u ito fr e q ü e n te n o s u b s ta n ti­ C O N H E C I M E N T O D . Erkenntnis
v o conhecimento*. n o s s e n tid o s A e B , K enntnis n o s s e n ti­
C . R e c o n h e c e r (s e n tid o m a is lite rá rio d o s C e D ; E . Cognition n o s e n tid o A ,

S o b re C o n h e c im e n to — E u d is tin g u iria : 1?, o ato d e c o n h e c e r, s u b je tiv o ; 2?, o


fa to d e c o n h e c e r (re la ç ã o d o s u je ito c o m o o b je to ) ; 3 ? , o re s u lta d o d e s ta c a d o p o r
a b s tr a ç ã o (o b je to c o n h e c id o ). (M. Blondel) N ã o n o s p a re c e q u e a p a la v r a conhecer
se u tiliz e a lg u m a vez n u m s e n tid o p u r a m e n te s u b je tiv o : p e lo c o n tr á r io , p a re c e im p li­
c a r s e m p re a r e la ç ã o d o s u je ito c o m o o b je to , s e n ã o m e s m o u m a c e r ta s u b o r d in a ç ã o
d o p rim e ir o a o s e g u n d o . F ic a m , p o is , a p e n a s o s s e n tid o s s e g u n d o e te rc e ir o q u e c o r ­
re s p o n d e m re s p e c tiv a m e n te a A -B e C -D . (L. C outurat — A . L .)
O s e n tid o C p a re c e m e s m o e s ta r em c o m p le to d e su s o . (J . Lachelier)
193 C O N JU N T IV O e D IS JU N T IV O

knowledge em to d o s o s s e n tid o s e a té o u c o n fu s o n a c o is a c o n h e c id a ; o u q u e ,
m a is a m p la m e n te d o q u e em fra n c é s e o b je tiv a m e n te c o n s id e ra d o , n ã o deix a fo ­
p o r tu g u ê s 1; F . Connaissance; I. Cogni- r a d ele n a d a d o q u e ex iste n a re a lid a d e
zione; conoscimento s o b r e tu d o n o s se n ­ à q u a l se a p lic a . V e r Adequado.
tid o s A e B (a to o u fa c u ld a d e ), conoscen- É n e s te s e n tid o q u e a s c o is a s e m si s ã o
za, s o b r e tu d o n o s s e n tid o s C e D (co isa d ita s por Sú E ÇT E 2 in c o g n o s c ív e is (un­
c o n h e c id a ). knowable) a in d a q u e p o ssa m ser co n h e­
E s ta p a la v r a d e s ig n a , p o r u m la d o : c id a s n o p r im e ir o s e n tid o ( = c o n h e c e r-
I ?, o a to d e c o n h e c e r; 2 ? , a c o is a c o n h e ­ lh e s a e x is tê n c ia ) e m e s m o s e r d e f in id o o
c id a ; e , p o r o u tr o la d o , ap lica-se: a) à sim ­ se u d o m ín io .
p les a p re s e n ta ç ã o * d e u m o b je to ; b ) a o C . C o n te ú d o d o c o n h e c im e n to n o
f a to d e o c o m p re e n d e r* . D e o n d e q u a tr o s e n tid o A (p o u c o u s a d o ).
s e n tid o s f u n d a m e n ta is : D . C o n te ú d o d o c o n h e c im e n to n o
A . A to d o p e n s a m e n to q u e p õ e leg í­ se n tid o B. M u ito fre q ü e n te , s o b re tu d o n o
tim a m e n te u m o b je to e n q u a n to o b je to , p lu ra l: os c o n h e c im e n to s h u m a n o s , e tc .
q u e r se a d m ita o u n ã o u m a p a r te d e p a s ­ Rad. int.: A . N o s k ; B . K o n o s k ; C .
s iv id a d e n e ste c o n h e c im e n to ( = mentem N o s k a t; D . K o n o s k a t.
ab objecto pati, E è ú « Ç Ã è τ , Ética , I I , d e f.
3). V e r m a is a d ia n te Realismo*, te x to e 1 . C O N J U N T IV O D . K onjunktiv, E .
o b s e rv a ç õ e s .
C onjunctive; F . C onjonctif ; I. Co­
A teoria do conhecimento é o e s tu d o njuntivo.
d o s p ro b le m a s q u e a re la ç ã o e n tr e o O s silogism os c o n ju n tiv o s São “ a q u e ­
su je ito * e o o b je to * le v a n ta ; v e r m ais les c u ja p re m issa m a io r é c o m p o s ta d e ta l
a d ia n te a a n á lise d e s ta e x p re ssã o d e p o is m o d o q u e c o n té m to d a a c o n c lu sã o ” (Ló­
d o a rtig o Teoria. gica d e Po r t - Ro y a l , 111, X II) c o m o são
B . A to d o p e n s a m e n to q u e p e n e tr a e o s silo g ism o s h ip o té tic o s* , d isju n tiv o s* e
d e fin e o o b je to d o seu c o n h e c im e n to . O c o p u la tiv o s* .
c o n h e c im e n to perfeito de u m a c o isa é, C R ÍT IC A
n e ste s e n tid o , a q u e le q u e , s u b je tiv a m e n ­
E stes n ã o são v e rd a d e iro s silo g ism o s,
te c o n s id e ra d o , n ã o d eix a n a d a o b s c u ro
m a s rac io cin io s em q ue a q u ilo q u e se c h a­
m a a prem issa m a io r é u m ju ízo com posto*
1. Sobre K n o w ledge e K n ow ledge a b o u t, ver q u e tr a ta d e d u a s o u v á ria s p ro p o siç õ es.
G ro te citado por W . J a m e s , The M eaning o f Truth
(O sentido de verdade), p. 11, e observação sobre 2 . C O N J U N T I V O e D IS J U N T IV O
Saber*, onde este texto é analisado. E p íte to s a p licáv eis à ad iç ã o * ló g ic a , con-

S a b e r, o u d e p re fe rê n c ia a f ir m a r , o quod, sem n e n h u m q u id ( a e x istê n c ia d e u m a


c o isa sem q u a lq u e r d e te r m in a ç ã o , q u a lq u e r a tr ib u to ) , s e rá is so conhecer ? E , p o r o u ­
tr o la d o , d e sd e q u e se t r a t a d e penetrar , é j á m a is c o m p re e n d e r d o q u e c o n h e c e r;
é, p e lo m e n o s , c o m e ç a r a c o m p re e n d e r. (J. Lachelier) P a re c e -m e q u e se p o d e d is tin ­
g u ir conhecer, n o s e n tid o d e s a b e r, d e compreender , n o s e n tid o d e se e x p lic a r p o r
q u e a q u ilo é a ss im . P o r e x e m p lo , c o n h ec e -se , sem a c o m p re e n d e r a in d a , a a n a to m ia
d e u m a n im a l, e n q u a n to n ã o se e x p lica a re la ç ã o e a u tiliz a ç ã o d a s d ife re n te s p a rte s
q u e a c o n s titu e m . P o r o u tr o la d o , c o m o fiz e m o s n o ta r n o te x to , conhecer o p õ e-se
s o b r e tu d o a compreender c o m o o g ê n e ro se o p õ e à esp écie. (A. L .)
Conhecer e conhecimento d ife re m s o b r e tu d o d o crer e d a crença p e lo f a to de e s ­
tes ú ltim o s im p lic a re m q u e o m o tiv o d a a d e s ã o n ã o resid e n a c la re z a d ire ta e in tr ín ­
seca d o o b je to c o n s id e ra d o . (M. Blondel)
C O N JU N T O 194

fo rm e se c o n sid e re m o s te rm o s a c re s c e n ­ E m J . S. M « Â Â , u m te rm o é d ito co -
ta d o s c o m o p o d e n d o te r e le m e n to s c o ­ n o ta tiv o se ele d e sig n a (em e x te n s ã o ) u m
m u n s o u , p e lo c o n tr á r io , c o m o d e v e n d o o u v á rio s seres, m a s fa z e n d o -o s c o n h e c e r
ex clu ír-se. a tra v é s d e c e rta s c a ra c te rís tic a s e , p o r
C O N J U N T O V e r Suplemento. c o n se q u ê n c ia , e n s in a n d o -n o s a lg u m a c o i­
s a so b re as su as p ro p rie d a d e s. “ T h e w o rd
C O N L U IO L . Collusio (d e cum, lu- white d e n o te s a ll w h ite th in g s , a s s n o w ,
dere): a c o r d o s e c re to p a r a e n g a n a r a l­ p a p e r, th e fo a m th e sea, e tc .; a n d im p lies,
g u é m ; c o n iv ê n c ia ; D . E . Collusion ; F . o r as it w as te rm e d b y th e s c h o o lm e n ,
Collttsion; I. Collusione. connotes th e a ttr ib u te w h ite n e s s .” 1 L o ­
A . P r im itiv a m e n te , te r m o ju ríd ic o : gic, I, § 5. P e lo c o n trá rio , u m sim ples n o ­
tre g u a (s o b re tu d o e n tre a d v e rs á rio s a p a ­ m e p r ó p r io , o u u m a tr ib u to a b s tr a to
re n te s) c o m v ista a e n g a n a r u m te rc e iro (brancura ) s ã o d ito s “ n ã o c o n o ta tiv o s ” .
n u m caso ju d ic iá r io . P o r c o n se q u ê n c ia , a conotação d e u m
B . M u ito re c e n te m e n te (to m a n d o lu- te r m o é p a r a ele o seu s e n tid o o u a s u a
dere n u m o u tr o s e n tid o , a q u e le em q u e c o m p re e n s ã o s u b je tiv a m ais e s p a lh a d a , e
se f a la , p o r e x e m p lo , d o s jo g o s d e lu z e ele in siste s o b re a n e c e ssid a d e p a r a o s f i­
d e s o m b ra ): u n iã o d e d u a s fo r ç a s o u d e ló s o fo s d e s u b s titu ir essa c o n o ta ç ã o f r a ­
d u a s a tiv id a d e s n u m e fe ito c o m u m q u e c a p o r “ a fix ed c o n o ta t io n ” q u e s e r á ex ­
te m q u a lq u e r c o is a d e ilu s ó rio . “ T r a ta -
p re ssa a tra v é s d e u m a definição (ibid.; c f.
se a q u i d o c o n lu io d e u m d e v ir e x te r io r, I, c a p . V I I I , § 1).
fe ito d e e s ta d o s q u e n ã o cessam d e p a s ­ P a r a J . N . K e y n e s (Formal Logic , I,
s a r ... e d e ste d e v ir in te r io r , fe ito d e o p e ­
c a p . I I , 4.a e d ., p p . 26-2 7) a c o m p re e n s ã o
raçõ es q u e in te g ra m su cessiv am en te to d o s
o s seu s m o m e n to s ." L . L τ â Â Â , D u
E E

temps et de Veternité , p . 110. 1. “ A palavra branco d en o ta todas as coisas


brancas, tais com o a neve, o papel, a espum a das on­
“ C O N O T A Ç Ã O ” E . Connotation; das, etc.; e im plica ou, com o diziam os escolásticos,
F . Connotation. con ota o atrib u to da b ra n c u ra .”

S o b re C o n lu io — D e v id o à s u a o rig e m , a p a la v r a te m u m s e n tid o p e jo r a tiv o : v e i­


c u la u m a id é ia de e rro p r o v o c a d o , o u d e s o fis m a . F o i m e sm o u tiliz a d a o u tr o r a em
in g lê s p o u c o m a is o u m e n o s n o m e s m o s e n tid o q u e fallacy, m a s e ste s e n tid o d e s a p a ­
re c e u ( M u r r a Y , s u b V o ) . N o te x to c ita d o , L a v e l l e c o n s e rv a e s ta c o n o ta ç ã o ,
“ p o is ” , d iz ele, “ o d e v ir e x te rio r em q u e o s e s ta d o s n ã o c e ssa m d e p a s s a r ” é a q u i
e v o c a d o , e em to d o o liv ro , c o m o u m a fo r m a d e e x istê n c ia d e g r a d a d a em re la ç ã o
a o “ d e v ir in te rio r , fe ito d e o p e ra ç õ e s q u e in te g ra m su c e ssiv a m e n te to d o s o s seus m o ­
m e n to s ” ; d e ta l m a n e ira q u e a v id a , p a r tic ip a n d o a o m e sm o te m p o d e u m e d e o u ­
tr o , tr a z c o m e la u m c a r á te r de a m b ig ü id a d e q u e o r a lh e p e rm ite d e sc e r a té o nív el
d a m a té r ia , o r a to r n a r - s e o v e ícu lo d o e s p írito (e x tra to d e u m a c a r ta d e Louis Lavel­
le a L a la n d e , a re s p e ito d e s te a rtig o ).
S o b re C o n o ta ç ã o — E tim o ló g ic a m e n te e s ta p a la v r a a p lic a v a -s e a o s te rm o s a tr i­
b u tiv o s n a s u a re la ç ã o c o m os s u b s ta n tiv o s . A s s im , d iz ia -se q u e a p a la v r a “ j u s t o ”
c o n o ta v a (com e além d e o a tr ib u to q u e ele d e sig n a diretamente ) o s u je ito , “ h o m e m ”
o u “ D e u s ” , a o q u a l e ste a tr ib u to é in e re n te . E s te s e n tid o e tim o ló g ic o ex erceu s o b re
M i l l u m a in flu ê n c ia in fe liz a o le v á -lo a n e g a r q u e o s n o m e s p r ó p r io s tiv essem u m a

c o n o ta ç ã o , p o is eles n ã o d e sig n a m n a d a além d o s u je ito a o q u a l eles se a p lic a m : “ S o­


fro n is c o ” p o r e x e m p lo n ã o c o n té m a id é ia de “ p a i de S ó c ra te s ” . (C. Webb)
195 C O N S C IÊ N C IA

d e cisó ria (conventional intension) é o q u e d o r e a c o m p re e n s ã o to ta l s o b o n o m e de


c o n v iria d esig n ar p o r conotação, q u e r nos conotação: " D ir e m o s p o is ” , c o n clu i ele,
r e fir a m o s a u m a d e fin iç ã o c o m u m e n te " a conotação d o s co n ceito s e a compreen­
a c e ita o u s u b e n te n d id a , q u e r s e ja d a d a são d a s id é ia s .” Ibid., p . 115.
u m a d e fin iç ã o e x p líc ita d o te r m o , c o m E ste s u so s tã o d iv e rso s to r n a m bem
v ista a u m a u tiliz a ç ã o d e te rm in a d a . O ter­ d ifícil a a d o ç ã o d e u m a d e fin iç ã o ú n i­
m o o p o r-se-ia ao d e " c o m p re e n s ã o ” , q ue c a . V er as e x p ressõ es sem a m b ig ü id a d e n o
d e s ig n a ria a compreensão total, q u e é a r tig o Compreensão *: to ta l, d e c is ó ria ,
m a is a p ro p r ie d a d e d a classe d o q u e a d o e tc .
n o m e q u e a d e sig n a . 1. C O N S C IÊ N C IA p sicológica D . Be­
M a s é p re c iso n o t a r q u e S ta n le y JE- wusstsein, Selbstbewusstsein ; E . Cons­
â ÃÇè (Pure Logic, p . 6) e E . C . BENEC- ciousness·, F. Conscience·, I. Coscienza.
3 E (M in d , 1881, p . 532) to m a r a m cono­ A. In tu iç ã o (m a is o u m e n o s c o m p le ­
tação n o s e n tid o d e c o m p re e n s ã o to ta l. ta , m a is o u m e n o s c la ra ) q u e o e sp írito
P a r a E d . G Ãζ Â Ã
I conotação e com ­ te m d o s seu s e sta d o s e d o s seus a to s . E s ­
preensão s ã o , d e in íc io , to m a d a s n u m ta d e fin iç ã o a p e n a s p o d e ser a p r o x im a ti­
s e n tid o m u ito g e ra l e c o m o s in ô n im o s : é v a , s e n d o o fa to d a c o n sc iê n c ia , c o m o
a ssim q u e ele fa la d a " c o n o t a ç ã o (o u ju s ta m e n te n o ta H τ O« Â Ã Ç , u m d o s d a ­
I

c o m p re e n s ã o s u b je tiv a ) d e u m n o m e ” . d o s fu n d a m e n ta is d o p e n s a m e n to , q u e
Logique, p . 105. M a s , m a is ta r d e , a fim n ã o se p o d e re s o lv e r em e le m e n to s m a is
d e d is tin g u ir n itid a m e n te o q u e c h a m a ­ sim p le s. " C o n s c io u s n e s s c a n n o t be d e fi­
m o s m a is a tr á s “ c o m p re e n s ã o * e m in e n ­ n e d : w e m a y b e o u rse lv e s fu lly aw are
t e ” d o s se n tid o s p u r a m e n te ló g ic o s de w h a t c o n sc io u sn e ss is, b u t w e c a n n o t w i­
“ c o m p re e n s ã o ” , p ro p õ e re serv a r este te r­ th o u t c o n fu s io n c o n v ey to o th e rs a d e fi­
m o p a r a o p r im e ir o e re u n ir o d e f in i­ n itio n o f w h a t w e o u rselv es clearly a p p re -

S o b re C o n sciên cia — Bewusstsein (consciência psico ló g ica) e Gewissen (consciência


m o ra l), c o rre s p o n d e n d o a o in g lês consciousness e conscience, fo r a m p e la p rim e ira
v e z d istin g u id o s em a le m ã o p o r W Ã Â E E . S o b re a h is tó ria d e sta s p a la v ra s p o d e-se co n ­
s u lta r c o m p r o v e ito S « ζ T 3 , Geschichte der Psychologie, t. I. (/?. Eucken)
E E

S o b re C o n sc iê n c ia p sic o ló g ic a — A rtig o c o m p le ta d o s e g u n d o as in d ic a çõ e s de
Daude.
O u so a m p lo d a p a la v ra consciência n ã o é e q u ív o c o . P o d e -s e m u ito b e m d iz e r
uma consciência p a r a u m s u je ito q u e p erceb e (u m a m ó n a d a le ib n iz ian a ). ( / . Lachelier)
N a re a lid a d e , a p a la v r a consciência, n o s e n tid o A , d e sig n a o p r ó p r io p e n s a m e n ­
to , a n te r io r à d is tin ç ã o e n tre c o n h e c e d o r e c o n h e c id o ; c o m o ta l ela é o d a d o p rim e i­
r o q u e a re fle x ã o a n a lisa em s u je ito e o b je to . ( M . Blondel — M . Bernès)
S e rá c e rto q u e a p a la v r a consciência tra g a c o n sig o a id é ia d e certeza ? Se e sta a s ­
s o c ia ç ã o e x iste, ela é a p e n a s u m p re c o n c e ito a c o m b a te r m ais d o q u e a re s p e ita r; e,
a liá s, este p re c o n c e ito n ã o é u n iv e rs a l. ( P . Lapie ) O q u e consciência im p lic a é a n te s
a id é ia de p o s itiv id a d e , de d a d o d e f a to , e n ã o a de c e rte z a . (A/. Bernès)
A p e s a r d as d iv erg ên cias d estas o b serv aç õ es (às q u ais co n v ém a c re sc e n ta r u m a n o ta
de V íc to r E ; ; 2 , a p r o v a n d o a c ritic a ta l c o m o e s tá e n u n c ia d a n o te x to d o Vocabu­
E

lário), é c o n v e n ie n te n o ta r q u e elas se a p lic a m n a re a lid a d e a d u a s u tiliz a ç õ e s d if e ­


re n te s d a p a la v r a consciência q u e n ã o c a ra c te riz a m s u fic ie n te m e n te o s te rm o s clássi­
co s consciência espontânea e consciência refletida. 1? A c o n sc iê n c ia e n q u a n to dada
p rim itiv a , in d if e re n c ia d a , s e rv in d o d e m a té ria p a r a to d a a v id a p s íq u ic a , e p o r c o n ­
se q u ê n c ia , c o lo c a d a so b c e rto s a sp e c to s p a r a além de to d a a d is c u s s ã o ; 2? A c o n s-
C O N S C IE N C IA 196

h e n d . T h e r e a s o n is p la in : c o n sc io u s n e s s o p o s iç ã o n ítid a e n tr e o q u e c o n h e c e e o
lies a t th e r o o t o f a ll k n o w le d g e .” 1 Lec­ q u e é c o n h e c id o e u m a a n á lise d o o b je to
tures, M e ta p h y s ic s , I , 191. d e s te c o n h e c im e n to ) a c o n sc iê n c ia é d ita
“ W h a t w e a r e less a n d less a s w e sin k consciência refletida*.
g r a d u a lly d o w n in to d re a m le s s s le e p ... C . O q u e a c o n sciên cia n o s e n tid o A
a n d w h a t w e a r e m o re a n d m o r e , a s th e a p re e n d e : o c o n ju n to d o s f a to s p sico ló g i­
n o ise ta rd ily a ro u s e s u s , t h a t is c o n sc io u s­ co s q u e p erten cem a u m in d iv íd u o o u a u m
n e s s .” 2 B τ Â á ç « Ç , se g u n d o L τ á á , c o n ju n to d e in d iv íd u o s n a m e d id a e m q u e
Psychology, V o 2 1 6 b. tê m u m a c a ra c te rís tic a c o m u m . “ A c o n s ­
E s ta s d e fin iç õ e s d e ix a m in ta c ta a ciên cia d a c r ia n ç a .” “ A c o n sciên cia de
q u e stã o d e s a b e r se o e sp írito humano te m classe” (d o p o n to d e v ista so cial).
c o n sc iê n c ia d e tu d o o q u e o c o n s titu i o u A e x p re ss ã o “ u m a c o n s c iê n c ia ” p o r
se existem p a ra o e u in d iv id u al d o h o m e m “ u m e s ta d o o u u m a to c o n s c ie n te ” fo i
fe n ô m e n o s p s íq u ic o s in c o n sc ie n te s. E las u tiliz a d a a lg u m a s vezes n e ste s ú ltim o s
d e ix a m d e la d o ig u a lm e n te a q u e s tã o d e a n o s , s o b re tu d o c o m v ista a e v ita r q u e “ a
s a b e r se a c o n s c iê n c ia c o n té m o u n ã o a c o n s c iê n c ia ” n ã o fo s s e r e p r e s e n ta d a c o ­
a f ir m a ç ã o d o s u je ito e n q u a n to s u b s ­ m o u m q u a d r o o u u m c o n tin e n te n o q u a l
tâ n c ia . o s fe n ô m e n o s p síq u ico s seriam c o lo ca d o s.
A . S e e ste c o n h e c im e n to * d o e s p írito D . U m s e r c o n sc ie n te .
se e n te n d e n o s e n tid o A e se o f a to c o n s ­ E . C o n h e c im e n to im e d ia to ( n ã o a p e ­
c ie n te n ã o é c o n s id e ra d o d ife re n te d o fa ­ n a s d e si m e s m o , m a s d e o u tr a s c o isa s).
to d e q u e ele é c o n s c ie n te , a c o n sc iê n c ia “ C o n sc iê n c ia d e . . . ” é u tiliz a d a p o r
é d ita consciência espontânea. K τ Ç , H τ O« Â Ã Ç , S T Ã ú Ç τ Z 2
I I 7 E 7 E , etc.
B . Se e ste c o n h e c im e n to * se e n te n d e “ B e w u s s te in v o n a n d e r e n D in g e n ” 3,
n o s e n tid o B (q u e r d iz e r, p re s s u p õ e u m a “ C o n sc io u sn ess o f th e e x tern ai re a lity ” 4.

T2 íI «Tτ
1. “ A consciência não pode ser definida. N ós sa­
bemos m uito bem o que é a consciência, m as n ã o po­ A le g itim id a d e d e s ta ú ltim a a c e p ç ã o
dem os sem co nfusão com unicar aos outros um a de­ é c o n te s tá v e l. Consciência n ã o é u m te r ­
finição daquilo que claramente sabemos. A razão dis­
so é simples: a consciência está na raiz de todo co­
m o n e u tr o : e v o c a , ta lv e z e r ra d a m e n te ,
nhecim ento.” u m a im p re s s ã o de c e r te z a e de a u to r id a ­
2, “ A quilo que som os cada vez m enos quando d e; a s u a h o m o n ím ia c o m consciência,2
gradualmente caímos num sono sem sonhos... A quilo
que somos cada vez mais quando um ruído nos des­
p erta pouco a pouco, c a isso que cham am os cons­ 3. " T e r consciência de o utras co isas.”
ciência.” 4. “ A consciência de um a realidade exterior.”

ciên cia e n q u a n to construída p e la o p o s iç ã o e n tre o o b je to e o s u je ito e re d u z in d o -se en ­


tã o a este ú ltim o p o r o p o s iç ã o a o o b je to . M a s m e sm o a q u i a p a la v r a to m a a in d a d u a s
sig n ificaçõ es m u ito d ife re n te s: a) c o n sid e ra m o s o q u e fic a a in d a no s u je ito a p ó s e sta
d ife re n c ia ç ã o , d e te m o -n o s e m s u a a tiv id a d e p r ó p r ia , n a s v irtu a lid a d e s d e n o v a s o b ra s
q u e ele a in d a p o d e r á p ro d u z ir, n a s leis s e g u n d o as q u a is ele se d esen v o lv e, n a s reserv as
d e p o d e r p e n s a n te q u e p o d e rã o le v ar a o p ro g re s so o u m esm o a rev o lu ç õ es n o c o n h ec i­
m e n to ; b ) c o n sid e ra m o s , p e lo c o n trá rio , o c o n h e c im e n to a tu a l d o o b je to , n o q u e ele
g a n h o u d e v id o a e sta d ife re n c ia ç ã o e m n itid e z e e m d is tin ç ã o , n a p o sse m ais c o m p le ta
q u e to m a m o s p elo n o sso tr a b a lh o d e o p o s iç ã o e d e an álise (p o r e x em p lo , n a clareza
d as n o ssa s p ercep çõ es, n a p re c isã o d o s p rin c íp io s d o s n o sso s ra c io cín io s), e é n e ste ú lti­
m o s en tid o , s o b re tu d o n a lin g u ag em v u lg a r, q u e ju lg a m o s u m e sp írito m a is o u m e n o s
co n scien te o u in co n sc ie n te . S e ria , p o is, c o n v e n ie n te d istin g u ir consciência primitiva e
consciência refletida, consciência subjetiva e consciência objetiva, (A. L.)
197 C O N S C IE N T E

a c re s c e n ta a in d a este a c e n to la u d a tiv o , e 2. C O N S C IÊ N C IA m o ra l D . Gewis-


os a u to re s q u e a u tiliz a m q u e re m assim sen; E . Conscience ; F . Conscience·, 1.
m a rc a r co m isso q u e a q u ilo a q u e eles a Coscienza.
a p lic a m n ã o é m e n o s u m a re a lid a d e d o A . P r o p r ie d a d e q u e o e sp irito h u m a ­
q u e o n o s so p r ó p r io p e n s a m e n to . Q u e r n o te m d e fazer ju íz o s n o rm a tiv o s e s p o n ­
eles te n h a m r a z ã o o u n ã o , é u m m a u m é ­ tâ n e o s e im e d ia to s so b re o v a lo r m o ra l de
to d o p o s tu la r assim im p lic ita m e n te o q u e c e rto s a to s in d iv id u a is d e te rm in a d o s .
d e v e ria ser d ito e x p re ss a m e n te . Q u a n d o e sta co n sciên cia se a p lic a ao s a to s
E m s e n tid o in v e rs o , c o n v é m e v ita r o f u tu r o s d o a g e n te , e la to m a a fo r m a de
se n tid o d e m a sia d o re s trito q u e os p rim e i­ u m a “ v o z ” q u e c o m a n d a o u p ro ib e ;
ro s escoceses e o s eclético s d ã o a e sta p a ­ q u a n d o se a p lic a a o s a to s p a s s a d o s ,
la v ra , a o estab elecerem u m a o p o siç ã o su ­ tra d u z -s e p o r s e n tim e n to s de a le g ria (sa ­
p e rfic ia l e n tre os sentidos e a consciên­ tisfação ) o u de d o r (rem o rso s). E sta co n s­
cia , c o n s id e ra d o s c o m o d u a s fa c u ld a d e s c iê n c ia é d ita c o n fo rm e o s caso s ciara,
p a ra le la s a d a p ta d a s a d ife re n te s o b je to s . obscura , duvidosa , errônea , etc.
Rad. int.: K o n scies. E s ta d e fin iç ã o c o n v é m ig u a lm e n te às
d o u tr in a s q u e ju lg a m e s ta fa c u ld a d e p r i­
C o n sc iê n c ia c o le tiv a V er Coletivo. m itiv a e a o s q u e c rê em q u e ela seja d e ­
riv a d a .
C o n sc iê n c ia in fe liz , m á c o n sc iê n c ia B . “ U m a c o n sc iê n cia ” : diz-se d e u m a
V er Suplemento. p e ss o a c u ja c o n sc iê n cia m o r a l é p a r tic u ­
la rm e n te firm e e q u e a seg u e sem c o m ­
L ei d e to m a d a d e c o n sc iê n c ia “ O in ­ p ro m is s o s . O a d je tiv o c o rre s p o n d e n te é
d iv íd u o to m a c o n sc iê n cia d e u m a re la ç ã o consciencioso (S).
ta n to m ais ta rd e e m ais d ificilm en te q u a n ­ Rad. int.·. K o n sc ie n c .
to a s u a c o n d u ta im p lic o u m ais c e d o , d u ­
B o a c o n sc iê n c ia , m á c o n sc iê n c ia V er
ra n te m ais te m p o o u m a is fre q ü e n te m e n -
Boa e Má.
te , a u tiliz a ç ã o a u to m á tic a d e ssa re la ­
ç ã o . ” L ei f o r m u la d a p o r E d . C Â τ ú τ 2 è - C O N S C IE N T E D . Bewusst ; E . Cons­
áE n o s Archives de psychologie em 1918, cious ; F . Conscient', I. Cosciente.
t. X V II, p . 7 1 . V er m ais a d ia n te Menta- D iz-se q u e r de u m ser q u e tem
lização. c o n sc iê n cia * n o sen tid o A o u n o se n tid o

S o b re C o n sc iê n c ia m o ra l — A q u e s tã o de sab e r se o ju íz o é a n te r io r o u p o s te rio r
a o s e n tim e n to , n a c o n sc iê n c ia m o ra l, é c o n tro v e rs a : s e g u n d o J. Lachelier “ o p r ó ­
p rio d a c o n sc iê n cia é a p r o v a r o u d e s a p ro v a r, a a le g ria e a d o r v êm a p e n a s d e p o is
d o ju íz o m o r a l” ; s e g u n d o M . Bernès s e ria p re c iso p elo c o n trá rio d e fin i-la c o m o a
“ p ro p r ie d a d e q u e o e sp írito h u m a n o te m d e sentir o v a lo r m o ra l, e d e to r n a r ex p líci­
to esse s e n tim e n to p o r m e io d e ju íz o s n o r m a tiv o s ” .
M. Bernès a c re s c e n ta q u e a e x p re ss ã o c lássica “ a v oz d a c o n s c iê n c ia ’ ’ é u m a im a ­
g em q u e n a d a te m de esse n cia l. E la a p e n a s e x p rim e o c a r á te r im e d ia to e e s p o n tâ n e o
d a c o n sc iê n c ia , m a s fa z d e s a p a re c e r a s u a in te rio r id a d e . E la se lig a à c o n c e p ç ã o te o ­
ló g ic a d e u m D e u s e s tr a n h o q u e se fa z o u v ir n a a lm a e n ã o a o d a d o p sico ló g ico de
u m a v id a in te rio r q u e so m o s n ó s p r ó p r io s .
P o d e -s e n o ta r , p o r o u tr o la d o , em f a v o r d e s ta im a g e m , q u e e la c o rre s p o n d e a
u m f a to re a l d e o b je tiv a ç ã o fr e q ü e n te m e n te o b s e r v a d o n a p s ic o lo g ia ; p o r ex em p lo ,
n o s d e s d o b r a m e n to s d a c o n sc iê n c ia , a in s p ira ç ã o a r tís tic a , etc. (A. L .)
“ CONSECUÇÃO” 198

B, q u e r d e u m e s ta d o o u d e u m a to c u jo E m a le m ã o , d esíg n a-se o se g u n d o sen ­


s u je ito te m consciência. tid o p o r Nachbild. S e ria ú til e s p e c ia liz a r
d a m e sm a f o r m a imagem consecutiva
NOTA
n e s te s e n tid o ; n o p rim e iro c a s o d ir-se -ia
Consciente d iz-se fr e q ü e n te m e n te de sensação consecutiva.
f a to s e x te rio re s d e q u e , p ro p r ia m e n te fa ­ R ad. in t.: P o s t . . . ( im a g e m ou
la n d o , se te m o c o n h e c im e n to o u a p e r­ s e n s a ç ã o ).
c e p ç ã o : q u e r-s e e n tã o a s s in a la r co m este
te r m o q u e se to m o u c o n sc iê n c ia , n o se n ­ 1. C O N S E N S O T e rm o u m p o u c o v a ­
tid o B , d o c o n h e c im e n to o u d a p e rc e p ­ g o q u e se a p lic a de o r d in á r io à c o o p e r a ­
ç ã o de q u e se tr a ta : “ C o n s c ie n te d o p e ri­ ção e à in te rd e p e n d ê n c ia * d a s p a rte s d o
g o ; c o n sc ie n te d o seu s u c e s s o .” o rg a n is m o .
Rad, int.: K o u sc i.
2. C O N S E N S O (Consensus om nium ,
“ C O N S E C U Ç Ã O ” A lém d o seu sen ­ C í T 2 Ã , Tusculanos , I, 15; Consensus
E

tid o u s u a l e g e ra l (su c essã o im e d ia ta ) e s ­ nationum , ibid ., I, 16) o u consentimen­


ta p a la v ra é a lg u m as vezes u s a d a p a r a d e ­ to universal. O a c o r d o d e to d o s o s h o ­
s ig n a r os h á b ito s e m p íric o s d a in te lig ê n ­ m en s s o b re c e rta s p ro p o s iç õ e s , n a m e d i­
c ia e d a a tiv id a d e . E s ta u tiliz a ç ã o p a re c e d a em q u e é c o n s id e ra d o c o m o p r o v a d a
te r p o r o rig e m u m a p a ssa g em de L « ζ ­ E
s u a v e rd a d e . ” A j ò q τ ά σ ι Ò o x ü τ α ν τ *
Ç « U : “ A m e m ó ria fo rn e c e u m a espécie de ε ί ν α ι φ ά μ ε ν ; ο δ ’ά ν ο α ρ ώ ΐ ' τ α υ τ η ν τ η ν
c o n se c u ç ã o às a lm a s , q u e im ita a ra z ã o , τ ι σ τ ι ν Ο υ πά ν υ πι σ τ ό τ ε ρ α ε ρ ε ι . A R IS T Ó ­
m a s q u e d ev e ser d e la d is tin g u id a ... P o r TE L E S , Éti. N icôm ., X , 2 , 1 173a.
e x e m p lo , q u a n d o se m o s tra o b a s tã o a o s Rad. int.: K o n s e n t.

c ãe s, eles re c o rd a m -s e d a d o r q u e lhes
C O N S E N T I M E N T O D . A . B . Zus-
c a u s o u , e g rita m , e fo g e m ” (M onadolo-
tim m ung ; C - Einwilügung; E . Assent,
gia, 26).
consent; F . Consentem ent ; I. Consen­
C O N S E C U T IV A (Im a g e m ) D . Na- tim ento.
chem pfindung, NachbÜd ; E . A fte r - A . (s e n tid o a n tig o ) A s s e n tim e n to d a ­
image, after-sensation; F . Image consé- d o a u m a a s s e rç ã o . “ A p e n a s se d e v e d a r
cutive ; I. Imagine consecutiva. o in te iro c o n s e n tim e n to à s p ro p o s iç õ e s
E ste te rm o é a p lic a d o : 1?, à p e rs istê n ­ q u e p a re c e m tã o e v id en tem e n te v e rd a d e i­
c ia a lu c in a tó r ia d e u m a se n sa çã o * d e p o is ra s q u e n ã o se p o d e m re c u s a r sem s e n tir
d e c e ssa d o o e x c ita n te * q u e a p ro v o c o u , u m a d o r in te r io r e c e n s u ra s se c re ta s d a
q u e r h a ja o u n ã o e n tre o s d o is e s ta d o s r a z ã o .” M τ Â ζ 2 τ ÇT
E , Recherche de la
7 E

u m a la c u n a a p re c iá v e l. E s te s e n tid o é r a ­ vériié, liv ro I , c a p . I I , § 4.


r o ; 2 ? , esp e c ialm en te , e é o s e n tid o u s u a l, B . Consenso*, a c o r d o : “ O c o n s e n t i ­
a c e rto s f e n ô m e n o s d a visão, c o n s e c u ti­ m e n to u n iv e r s a l.” ( P o d e s e r q u e n e s ta e x ­
v o s à d e s a p a riç ã o de u m a s e n s a ç ã o , e q u e p re s s ã o a id é ia d e c o m u n id a d e te n h a e s ­
a p re s e n ta m a c a r a c te rís tic a d e u m nega­ ta d o de in íc io in te ira m e n te c o n tid a no
tivo (os b r a n c o s s e n d o s u b s titu íd o s p elo s “ u n iv e rs a l” e q u e “ c o n s e n tim e n to ” fo sse
n e g ro s e a s c o re s p e lo s seu s c o m p le ­ e n te n d id o o rig in a lm e n te n o s e n tid o d e a s ­
m e n ta re s ). s e n t i m e n t o , c o m o e m A . M a s L iT T R É d á

S o b re C o n s e c u tiv a (Im a g e m ) — M e s m o q u a n d o é n e g a tiv a , a re p re s e n ta ç ã o c o n ­


se c u tiv a d e v e ria a in d a se r c h a m a d a s e n s a ç ã o , e n ã o im a g e m , p o is e la p e rm a n e c e so b
a d e p e n d ê n c ia e s tre ita e d ir e ta d a m o d if ic a ç ã o d o ó r g ã o , e sem d ú v id a d o s p ro c e sso s
d e re g e n e ra ç ã o d e q u e é a sed e. (M. Marsal )
199 C O N S IS T E N T E

à p a la v r a consentimento o s e n tid o “ d e C O N S E Q U E N T E A . (su b st.) L . Con-


u n if o r m id a d e d e o p in iã o ” .) sequens ; D . Konsequent; E . Consequent·,
C. A to d e v o n ta d e p elo q u a l d e c id i­ F . Conséquent·, I. Consequente. S e n tid o
m o s o u m esm o d eclaram o s ex p ressam en te re la tiv o c o rre la tiv o d o te rm o A n te ­
q u e n ã o n o s o p o m o s a u m a a ç ã o d e te r ­ c e d e n te .
m in a d a c u ja in ic ia tiv a é to m a d a p o r o u ­ B. ( a d j.) S e n tid o a b s o lu to . D . Folge­
tre m . “ D a r o seu c o n se n tim e n to a u m ca­ recht ; E . Consistem , F . Consequént; I.
s a m e n to .” S em e q u iv a le n te . U m ra c io c ín io c o n s e ­
E s te ú ltim o s e n tid o é o ú n ic o q u e é q u e n te é u m ra c io c ín io c o n fo rm e às re ­
c o rre n te m e n te u s a d o n a lin g u a g e m c o n ­ g ra s d a ló g ic a .
te m p o r â n e a . Consentim ento é m a is f r a ­ Rad. int.: K o n s e q u a n t(o ) o u — (a).
c o d o q u e aprovação. “ C o n s e n tir ” m a r ­
C O N SE R V A Ç Ã O D A M ASSA
c a , ta n to n a o rd e m d o p e n s a m e n to co m o
(P rin c íp io d a ) e C O N S E R V A Ç Ã O D A
n a d a a ç ã o , u m c a m b ia n te d e re s e rv a , o u E N E R G I A (P rin c íp io d a ) V er Massa e
p e lo m e n o s u m a te n d ê n c ia p rim itiv a p a ­ Energia.
ra re c u s a r.
C O N S E R V A Ç Ã O D O C O N H E C I­
C O N S E Q Ü Ê N C IA A . D . Folgerich­ M E N T O V er Elaboração.
tigkeit·, E . Consistency, F . Consequence',
I. S em e q u iv a le n te . Q u a lid a d e d e u m r a ­ C O N S IS T Ê N C IA D . A . Zusamm en­
c io c ín io c o n fo rm e à s re g ra s d a ló g ica. hang, Widerspruchsfreiheit·, B . Konsis­
B . L . Consequential D . Folgerung, tenz, Festigkeit, Gewicht-, E . A . Coheren­
K onsequenz ; E . Inference, consequence; ce, coherency ; B . Consistency, firmness·,
F . Consequence·, I. Conseguenza. Termo F . Consistance ; I. Consistenza.
absoluto , s o b r e tu d o e m L . e e m E .: a re ­ A . L ó ; . C a r a c te rís tic a d e u m p e n s a ­
la ç ã o ló g ic a q u e u n e os p rin c íp io s à p r o ­ m e n to q u e n ã o é n em fu g a z o u in e fá v el,
p o s iç ã o q u e d eles re s u lta . n em c o n tra d itó rio ; firm e z a ló g ic a d e u m a
d o u tr in a o u de u m a rg u m e n to . D e m a ­
C . L . Consequential D . Folge·, E .
n e ira m a is e sp e c ia l, u m s iste m a d e a x io ­
Consequence ; F, Consequence ; I. Conse­
m a s é d ito c o n sis te n te se f o r n ã o c o n tr a ­
guenza. Termo relativo: u m a p ro p o s iç ã o
d itó r io .
A é a c o n se q u ê n c ia de u m a p ro p o s iç ã o
B . C a r a c te rís tic a d a q u ilo q u e é s ó li­
(o u siste m a d e p ro p o s iç õ e s ) B, se, s en d o
d o e n ã o d e p e n d e d o a r b ítr io o u de c ir­
B v e rd a d e iro , A p o d e ser d e m o n s tr a d a
c u n s tâ n c ia s a c id e n ta is , m a s p o ssu i q u a ­
v e rd a d e ir a em v irtu d e d a s leis ló g icas.
lid ad es d e p e rm a n ê n c ia e de o b je tiv id a d e.
O p õ e -se a principio (n o sen tid o re la tiv o ).
Rad. int.: A . K o h e re s ; B . F erm es.
Rad. int.: A . K o n se q u e s; B . K o n se-
q u ; C . K o n se q u e n t. C O N S IS T E N T E V er Suplemento.

S o b re C o n sis tê n c ia — A p a la v r a in g le sa consistency, n o s e n tid o ló g ic o , visa u n i­


c a m e n te a c o n c o r d â n c ia d o p e n s a m e n to c o n sig o m e sm o (to consist, c o n c o r d a r) . A
p a la v r a fra n c e s a e v o c a m a is a id é ia de u m c o n te ú d o d e p e n s a m e n to b e m d e te r m in a ­
d o , d e u m a te se q u e se s u s te n ta , p o r a n a lo g ia c o m o s e n tid o físico d a p a la v r a consis­
tência, q u e é a m a is f u n d a m e n ta l e m n o s s a lín g u a . T a lv e z a té a id é ia d e sim p les c o e ­
rê n c ia lógica só se te n h a in tro d u z id o p o r im ita ç ã o d a s p a la v ra s to consist, consistency.
R. B. Perry , q u e n o s a s s in a lo u a a u s ê n c ia d e ste a rtig o n a p rim e ira e d iç ã o d o Vo­
cabulário, n o ta q u e consistency é m e n o s f o r te em in g lês d o q u e coherence o u cohe­
rency (q u e ta m b é m q u e re m d iz e r coesão, n a físic a ). V e r Coerência e Coesão.
“ C O N S T A T IV O ” 200

“ C O N S T A T I V O ” O p o n d o -s e cons­ a h ip ó te s e .” 1 G Ã ζ Â Ã , Lógica, c a p . X I,
I

tatara apreciar, p o d e ria o p o r-se a ex p res­ p . 272.


s ã o “ ju íz o c o n s ta tiv o ” a “ ju íz o a p re c ia ­ É c lássico o p o r construído a dado*.
tiv o ” p a r a d e s ig n a r m u ito c la r a m e n te o B . M a is e s p e c ia lm e n te , d e d u z ir to d o
q u e sé c h a m o u , p o r u m d e c a lq u e in e x a to u m c o n ju n to d a d o d e u m p rin c íp io o u de
d e u m a e x p re ss ã o d e W u n d t, “ ju íz o s ex­ u m p e q u e n o n ú m e r o d e p rin c íp io s . C h a ­
p lic a tiv o s” (erklärende Urteile: e x a ta m e n ­ m a -se , n e ste s e n tid o , “ c o n s tr u ç ã o ju r íd i­
te ju íz o s d e c la ra tiv o s ). V e r Explicativo. c a ” , p o r e x e m p lo , à o p e ra ç ã o p e la q u a l
D isse-se a lg u m a s v ezes “ c o n s ta ta ti- to d a s a s re g ra s d o d ir e ito ro m a n o re la ti­
v o ” , m a s s e n d o o v e rb o la tin o constare v as à h e ra n ç a sã o re u n id a s n a fó r m u la
ú n ica: “ H a e re s su stin et p e rs o n a m d efu n c-
(constai, é c o n s ta n te q u e ...; d e o n d e : f a ­
ti” (o h e rd e iro d e se m p e n h a o p ap el d o d e­
z er u m a c o n s ta ta ç ã o , c o n s ta ta r) a fo r m a
fu n to ) .
d o a d je tiv o v e rb a l se tiv e sse e x istid o te ­
C . D iz -se , m ais e sp e c ia lm e n te a in d a ,
r ia sid o constativus, c o m o stativus, de
d a o p e ra ç ã o d ia lé tic a (n o sen tid o E ) a tr a ­
stare.
v és d a q u a l to d o o s iste m a d a s id é ia s, e
C O N S T I T U I N T E V er Suplem ento. m e sm o d o s f a to s , s a ir ía p o r u m a n e c e s­
s id a d e in telig ív el d o s p ró p r io s p rin c íp io s
C O N S T IT U T IV O D. C o n stitu tif in te lig ív e is. “ S e ria m p re c isa s in v e stig a ­
(K τ ÇI ). V e r Regulador. çõ es b a s ta n te m ais p r o f u n d a s p a r a e s ta r
e m e s ta d o d e construir d e u m a m a n e ira
C O N S T R A N G IM E N T O D . Zwang;
u m p o u c o p la u sív el... a q u a lid a d e co n cre­
E . Constraint; F . Contrainte; 1. Coer-
ta m a is s im p le s .” H τ O Â « Ç , Essai, c a p .
E

cizione. I I I , p p . 123-124.
A . E m g e ra l, tu d o o q u e e n tra v a a li­
D . E m K τ Ç , construir s ig n ific a re ­
I

b e rd a d e de a ç ã o de u m s e r, q u e r s e ja d o p re s e n ta r n u m a in tu iç ã o a priori a lg u m a
e x te rio r, q u e r se ja m e sm o d o in te rio r . c o isa de a b s tr a to (u m c o n c e ito , u m a re ­
B . E sp ecialm en te, o c o n stra n g im e n to - la ç ã o ): “ D ie p h ilo s o p h is c h e E r k e n n tn is
A q u e to d o in d iv íd u o e x p e rim e n ta p e lo ist d ie V e rn u n fte rk e n n tn is au s B eg riffe n ,
fa to de viver em so cied ad e. Esse c o n s tra n ­ d ie m a th e m a tis c h e a u s d e r Consiruction
g im e n to é, n e ste c a s o , q u e r organizado d e r B eg riffe. E in en B e g riff a b e r construi-
(leis, re g u la m e n to s, e tc .), q u e r difuso (h á ­ ren h e isst die ih m c o rre s p o n d ire n d e A n s-
b ito s , c o s tu m e s , s itu a ç ã o m a te ria l e m o ­ c h a u u n g a p rio ri d a r s te lle n .” 21 Krít. der
r a l, o p in iã o , e tc .) reinen Vern., M e to d o lo g ia , 1.a p a r te , 1?
Rad. int.\ K o a k t,
C O N S T R U Ç Ã O , C O N S T R U T IV O 1. M as na utilização desta palavra em E dm ond
V er Suplemento e Construir. Construti­ G oblot acrescenta-se qualquer coisa do sentido k an ­
vo, v er D e fin iç ã o , c rític a . Construtivida- tiano D. P orque nota que, para ele, a construção não
é apenas construção de silogismos, mas construção
de, Suplemento. do objeto ao qual aqueles se aplicam, “ O que se cons­
trói é a pró pria consequência que se pretende de­
C O N S T R U IR D . Konstruieren; E . To m onstrar; é, por exemplo, a som a dos ângulos de um
construct; F . Construiré; I. Construiré, triângulo. Esta soma não è um a reunião de silogis­
costruire. m os, m as um a reunião de ângulos. Em aritm ética e
na álgebra, o que se com bina sào os números ou sím­
A. N o s e n tid o m e ta fó ric o g e ra l, e n ­bolos que os representam e as relações entre estes n ú ­
g e n d ra r u m o b je to d e p e n s a m e n to a t r a ­ m eros e estes sím bolos.” T raité d e logique, p. 22.
vés d a sín te se d o s seus e le m e n to s . “ D e­ 2. “ O conhecim ento filosófico é o conhecim en­
to racional por conceitos; o conhecim ento m atem á­
m o n s tr a r é c o n s tr u ir ... P a r a d e m o n s tr a r
tico procede por construção de conceitos. C onstruir
q u e u m a h ip ó te s e a c a r r e ta u m a c o n se - um conceito quer dizer apresentar a intuição a p rio ri
q ü ê n c ia c o n stró i-s e a c o n se q ü ê n c ia co m que lhe corresponde.”
201 C O N T A M IN A Ç A O

s e ç ã o , A 713; B 741. E ste s e n tid o é a p e ­ ta ç ã o o u , de p re fe rê n cia , d o co n tág io . T o ­


n a s u s a d o q u a n d o se fa la d a d o u tr in a de d a g ente sab e q u a n to o riso , o b o c e jo , a
K a n t. to sse , o s o ta q u e , os tiq u es são c o n ta g io ­
Rad. int.: K o n s tru k t. s o s .” D . R ÃZ è I τ Ç , Psychologie, p. 179.
B. Sentido especial: “ A m a io r p a r te
C O N S U M O D A S R IQ U E Z A S D .
d o s a lie n ista s e n e u ro lo g is ta s q u e t r a t a ­
Konsumption, Verzehrung ; E . Comsump-
ra m d o c o n tá g io m e n ta l o u n e r v o s o ...
tion; F . Consommation ; I. Consumo. O
c o n c e b e ra m -n o c o m o a c o n ta m in a ç ã o
c o n su m o das riq u e z as é o fa to q ue as d es­
(p sico ló g ica) de u m s u je ito são o u r e p u ­
tró i e n q u a n to riquezas* . N ã o é a p en a s a ta d o c o m o ta l a té esse m o m e n to p o r u m
u tilização d elas, m as ta m b é m a su a p e rd a . s u je ito d o e n te . A id éia d e d o e n ç a , o u p e ­
Rad. int.: K o n su m . lo m e n o s de p e r tu r b a ç ã o m e n ta l, de a c i­
C O N T Á G IO M E N T A L D . Gemut- d e n te n e rv o s o , d e to d o a u se n te n a c o n ­
sansteckung ; E. Mental contagion; F . Con­ c e p ç ã o p re c e d e n te , e s tá n o p rim e iro p la ­
tagion mentale ; I. Contagione mentale. n o n e s ta .” G . D u m a s , Traité de Psycho­
A. Sentido amplo: to d a tran sm issão delogie, to m o 11, p. 7 6 0 . V e r to d a s as p á g i­
estados o u de tendências psicológicas d e in ­ n a s , 759-7 62, c o n s a g ra d a s à c o m p a ra ç ã o
div íduo p a ra in d iv íd u o , sem q u e esta tra n s­ e n tre estes d o is sen tid o s e a in d ic a çã o d o s
m issão se ja u m re s u lta d o de a to s v o lu n tá ­ a u to re s q u e os u s a ra m . A c o n c lu s ã o é fa ­
v o rá v e l a o u so d e contágio n o s e n tid o A
rio s e fe tu a d o s p o r q u e m c o n ta g ia o u p o r
e d e contaminação n o s e n tid o B.
q u em é co n tag iad o . “ P o d e -se ex p licar esta
a titu d e d e p a rtilh a r as em o çõ es d o s o u tro s C O N T A M I N A Ç Ã O (n o s e n tid o A )
lig an d o -a ao fen ô m e n o m u ito geral d a im i­ D . Ansteckung; E . Contamination ; F .

S o b re C o n s u m o d a s riq u e z a s — O s e n tid o té c n ic o d e fin id o a tr á s p o d e d a r lu g a r


a e q u ív o c o : a s p a la v r a s consumir e consum o , n o s e n tid o u s u a l, e v o c a m a id é ia de
u tiliz a ç ã o , de d e s tr u iç ã o p e lo u s o n o r m a l; o v e rb o consumir e o a d je tiv o consumi-
vel, p e lo c o n tr á r io , d izem -se d e p re fe rê n c ia d a q u ilo q u e se p e rd e in u tilm e n te . (M.
Marsal — A . L .)
S o b re C o n ta m in a ç ã o — O v e rb o la tin o contaminare p a re c e te r tid o p rim itiv a ­
m e n te o s e n tid o B: “ C o n ta m in a r e f a b u la s ” (T E 2 ê ÇT« Ã , Andriana, 16), q u e r d iz e r,
fu n d ir v á ria s c o m é d ia s . N a é p o c a c lá ssic a , to m o u n itid a m e n te u m s e n tid o p e jo r a ti­
v o , e o s u b s ta n tiv o contaminatio só se d iz q u a n d o se fa la d e u m a m á c u la o u d e u m a
im p u r e z a . O m e sm o a co n te c e c o m contamination, to contamine em in glês.
O sen tid o p rim itiv o v o lto u a ser u su al p rim eiro em filo lo g ia (p rec isam e n te ao falar-
se d as fabulae contaminaiaé) e d e p o is p a s s o u p a r a o u so filo só fic o . C o n tu d o , conta­
minar c o n se rv a se m p re o seu s e n tid o p e jo ra tiv o q u a n d o se d iz q u e u m a c o isa ou u m
ser c o n ta m in a u m o u tr o , m a s n ã o q u a n d o se d iz q u e u m a u to r c o n ta m in a d u a s teses
o u d u a s d o u tr in a s p a r a as re u n ir n u m a só , o q u e m u d a a s re la çõ e s d o s te rm o s c o n ti­
d o s n o q u e é a ssim c o n ta m in a d o , (tf. Le S e m e )
J e a n G Z « Ã Ç d e u re c en te m e n te a e sta p a la v ra um o u tro s en tid o , m as ig u alm en te
I I

p e jo ra tiv o : “ E x iste m d u a s a titu d e s m e n ta is q u e d e fo rm a m n o h o m e m a e s tr u tu r a


d o ser. U m a c o n siste em c o n f u n d ir q u a n d o seria p re c iso u n ir sem v io le n ta r e sem
m is tu ra r; a o u tr a c o n siste em d is so c ia r a í, o n d e s e ria p re c iso c o n te n ta r- s e em d is c e r­
n ir. C h a m a m o s à p rim e ira te n d ê n c ia contaminação e a lig a m o s à v id a ; a o u tr a , q u e
é de dissociação, c a ra c te riz a a q u ilo q u e c h a m a re m o s d o r a v a n te , à fa lta de m e lh o r
p a la v r a , o espírito . ” L*existence temporelle (1949), p . 75. T o d o o c a p ítu lo IV é c o n ­
s a g ra d o a o e stu d o d o jo g o d e sta s d u a s ten d ên cias n a filo so fia, n a p o lític a e n a relig ião .
CONTATO 202

C ontam ination ; I. Contaminazione. ta m e n te , c o m o p e rc e p ç ã o r e la c io n a d a


A . C o m u n ic a ç ã o d e u m a m a n c h a e c o m u m o b je to e m g e ra l.
p a rtic u la rm e n te d e u m a d o e n ç a c o n ta g io ­ Rad. int.: K o n ta k t.
sa . E s te s e n tid o é o ú n ic o c lássico em C O N T E M P L A Ç Ã O D . Kontem pla-
fra n c ê s . C f . a tr á s Contágio. tion; E . Contem plation; F . Contempla-
B . (s e n tid o m u ito re c e n te ) Contami­ tion; I. Contemplazione.
nar e contaminação d iz em -se d e to d o o A . D e início serviu p a r a tra d u z ir rd 0ew-
c o n ta t o p e lo q u a l n a tu r e z a s d iv e rsa s se Qelv d e A ris tó te le s, o p o s to a ró ■ KQctrTtiv
m is tu ra m a o re a g ire m u m a s o b re a o u ­ e a rò TroifiV. A plica-se e n tã o a o p en sa m e n ­
t r a . “ E m v ez d e as c o n ta m in a r o n d e é to em g eral e n q u a n to o p o s to à a tiv id a d e ,
p re c iso (a d e te r m in a ç ã o e a in d e te rm in a - B: a v id a c o n te m p la tiv a , a v id a a tiv a .
ç ã o ) , K a n t a s j u s t a p ô s .” R . L E Sen n e , B . E s ta d o d e e s p ír ito q u e se a b s o rv e
Obstacle et valeur, 112. “ A s id é ia s c o n ­ n o o b je to d o seu p e n s a m e n to a p o n to d e
s id e ra d a s in d e p e n d e n te m e n te d a s u a c o n ­ e sq u e c e r as o u tr a s c o isa s e a s u a p r ó p r ia
ta m in a ç ã o c o m a e x is tê n c ia .” Ibid., 89. in d iv id u a lid a d e .
“ U m a c e r ta c o n ta m in a ç ã o q u e se e s ta b e ­ Rad. in t .: K o n te m p l.
lece em m im e n tr e d u a s p e rs p e c tiv a s d i­
C O N T E Ú D O D . Inhalt; E . Content;
f e r e n te s .” L . L a v e l l e , “ L ’e x p e rie n c e
F . C ontenu ; I. C ontenuto.
p s y c h o lo g iq u e d u te m p s ” , Rev. de mé-
A . Ps ic o l . O q u e e stá em o u tr a c o i­
taph., a b r il d e 1941, 87.
sa. O c o n te ú d o d a co n sciên cia n u m d a d o
Rad. int.: A . K o n ta m in ; B . J u n t.
m o m e n to é o c o n ju n to d o s fa to s de c o n s ­
C O N T A T O D . Berührung, Konlakt; ciência q u e a p re e n c h e m o u a c o n stitu e m .
E. Contact, to u ch ; F . Contact; I. B . T eo r i a d o c o n h ec i m en t o .
Contatto. P o d e m -s e d is tin g u ir n a m a io r p a r te d a s
A . P o s iç ã o relativ a d e d o is co rp o s q u e o p e ra ç õ e s d o p e n s a m e n to u m a fo r m a ,
se to c a m . q u e r d iz e r , u m q u a d r o g e ra l d e o rg a n i­
B. P è « TÃÂ . N o c o n ju n to d as s e n s a ­ z a ç ã o e u m conteúdo (o u matéria*), q u e r
çõ es d o t a to , n o s e n tid o g e ra l d e s ta p a la ­ d iz e r, c e rta s d e te rm in a ç õ e s p a rtic u la re s
v r a , c h a m a m -s e e sp e c ia lm e n te sensações q u e d ã o a e s ta fo r m a u m a a p lic a ç ã o c o n ­
de contato a q u e la s q u e n ã o são n em m u s ­ c re ta . A ssim , n o ju íz o : Todos os homens
c u la re s , n e m té rm ic a s , n e m a fe tiv a s . são mortais, a fo r m a é o e sq u e m a d o u n i­
v e rs a l a firm a tiv o : Todos os A são B ; o
CRÍTICA c o n te ú d o é f o r m a d o p e las id é ia s d e ho­
S e n d o o p r ó p r io ta to s o b r e tu d o d e fi­ m em e d e mortalidade.
n id o p e la e x clu sã o d o s s e n tid o s esp eciais C . L ó g i c a . O conteúdo d e u m c o n ­
(v ista , o u v id o , g o s to , o d o r ) , a sensação c e ito é a s u a c o m p re e n s ã o * . E ste s e n tid o
de contato p a re c e ser p ro p ria m e n te a sen ­ é s o b r e tu d o u s u a l p a r a a p a la v r a a le m ã
s a ç ã o in d if e r e n c ia d a , e n q u a n to se a p r e ­ Inhalt.
s e n ta ap e n a s co m o sen sação o u , m ais ex a ­ I Rad. int.: K o n te n .

S o b re C o n te m p la ç ã o — N o s m ís tic o s d a I d a d e M é d ia , n o m e a d a m e n te H u g o d e
S. V i c t o r , a contem plado é o te rc e iro g r a u d o e x e rc íc io e s p ir itu a l; o s d o is p rim e i­
r o s sã o a cogitatio e a m editado. ( R . E ucken )

S o b r e C o n te ú d o — Inhalt o p õ e -s e a Gegenstand, o b je to . V e r M e i n o n g , Über


A nnahm en (L e ip z ig , 1902) e “ Ü b e r G e g e n s tä n d e h ö h e re r O r d n u n g ” , Zeitschr. f ü r
Psych. u n d p h ys. der Sinnesorganen, t . X X L N a m in h a o p in iã o e s te s e n tid o é o m a is
im p o r ta n te . (B. Russell ) C f. A ssunção, n o ta 2.
203 C O N T IN G Ê N C IA

C O N T E X T O D . Kontext; E . Con- C O N T I G Ü I D A D E (A s so c ia ç ã o p o r
(ext; F . Contexte; I. Contesto. o u d e) D . Berührungsassoziation’, E . A s ­
A . P rim itiv a m e n te , n a lin g u a g e m j u ­ sociation by contiguity; F . Association
ríd ic a , c o n ju n to in in te r r u p to d a s d is p o ­ par o u de contiguité; 1. Associazione di
sições d e u m ato : “ U n id a d e d e c o n te x to .” contiguità.
B. E n c a d e a m e n to d e id é ia s q u e u m U m a d a s trê s fo r m a s d a a ss o c ia ç ã o
te x to a p re s e n ta e , e sp e c ia lm e n te , c o n ju n ­ d a s id é ia s d is tin g u id a s p o r A r i s t o t el es
to d o te x to q u e e n v o lv e u m a fra s e c ita d a (ofTTÒ τ ο υ aweyyus, D e memoria, II,
e d e q u e d e p e n d e a v e rd a d e ir a s ig n ific a ­ 4 5 1 b20). E la c o n sis te n o f a to d e o s e s ta ­
ç ã o d e s ta . E s te s e n tid o é o m a is u s u a l; é d o s d e c o n sc iê n c ia se re m e te re m u m a o
té c n ic o em m e to d o lo g ia , “ U m a e x p re s­ o u tro q u a n d o fo ra m im e d ia ta m e n te a p re ­
s ã o m u d a d e s e n tid o c o n f o r m e a p a s s a ­ s e n ta d o s o u im e d ia ta m e n te su ce ssiv o s; é
g e m o n d e e la se e n c o n tr a : d e v e-se , p o is , d iv id id a , p o r e s ta r a z ã o , p e lo s E sco ceses
in te r p r e ta r c a d a p a la v r a e c a d a fra s e n ã o e o s E c lé tic o s em “ c o n tig ü íd a d e n o te m ­
is o la d a m e n te , m a s le v a n d o e m c o n ta o p o ” e “ c o n tig u id a d e n o e s p a ç o ” . F oi fre-
s e n tid o g e ra l d o e x c e rto (o contexto). É q ü e n te m e n te c o n s id e ra d a c o m o o tip o
a regra do contexto, re g ra fu n d a m e n ta l ú n ic o d e o n d e d e riv a v a m a s o u tr a s f o r ­
d a in te r p r e ta ç ã o .” L a n g l o is e Seig n o - m a s d e a s s o c ia ç ã o ; v e r Reintegração.
bo s , Introd. aux études historiques, p .
Rad. int.\ K o n tig u .
124, C O N T IN G Ê N C IA D . Kontingenz ,
C . P o r m e tá f o r a , e m u ito g e ra lm e n ­ Zufälligkeit', E . Contingency; F . Contin-
te : c o n ju n to d as circ u n stâ n c ia s u n id a s e n ­ gence ; I . Contigenza .
tr e si n a s q u a is se in se re u m d a d o f a to . A p a la v r a o p õ e -s e e m to d o s o s s e n ti­
E s ta e x p re s s ã o e n c o n tr a - s e já e m K a n t d o s a necessidade.
(Krit. der reinen Vern., A n tin o m ia , 61 se­ A. Sentido geral (Ι ν &ί χ ά μ ^ν ο ν , A r is ­
ç ã o , A 493; B 521). É fr e q u e n te n o s filó ­ t ó t el es ): é c o n tin g e n te tu d o a q u ilo q u e
so fo s a m e ric a n o s, p a rtic u la rm e n te e m W . é co n ceb id o co m o p o d e n d o ser o u n ã o , so b
Jam es. q u a lq u e r a s p e c to e so b q u a lq u e r reserv a
Rad. int.: K u n te x t. q u e se ja . “ R es sin g u la res v o c o contingen-

S o b re C o n tin g ê n c ia — A s e x p re ssõ e s c o n c re ta s “ u m a c o n tin g ê n c ia ” , “ a s c o n ­


tin g ê n c ia s ” s ã o a in d a d e m a s ia d o in d iv id u a is e n u la m e n te c o n s a g ra d a s , m e sm o n a
lin g u a g e m c o n te m p o r â n e a . E la s p a re c e m -n o s in ú te is e d e m a u e s tilo . (M. Bernès —
L . Couturat — A . L .)
A s p a la v r a s in g le sas contingent, contingency tê m e m p rim e ir o lu g a r o s m e sm o s
sen tid o s q u e e m fran c ês, e s o b re tu d o o se n tid o B , contingence e contingency u tilizam -se
c o rre n te m e n te n o s e n tid o c o n c r e to p a r a d e s ig n a r u m fa t o contingente. O s te rm o s in ­
g leses a p lic a m -se , p o r o u tr o la d o , a o q u e é co n d icion al (a o q u e a p e n a s a c o n te c e r á
s o b u m a c e r ta c o n d iç ã o ). E ste s e n tid o s e ria a té o m e lh o r a r e te r , s e g u n d o Ba l d w in .
M a s n ã o é u s a d o e m fra n c ê s , o n d e te r ia u m d u p lo e m p re g o .
A u tiliz a ç ã o in g le sa d a p a la v r a contingent p o r co n d icion al é d e la s tim a r . P a re c e
d e riv a r d e u m a c o n f u s ã o . “ A contingent rem ainder ” , n a lin g u a g e m ju r íd ic a , é o d i­
re ito d e h e r d a r u m b e m n o c a s o d e u m a c o n te c im e n to q u e pode n ã o a c o n te c e r (q u e ,
p o r c o n s e q ü ê n c ia , é contingente n o s e n tid o p r ó p r io d a p a la v r a ) — p o r e x e m p lo , n o
c a s o d a m o r te d o p r o p r ie tá r io sem d e sc e n d e n te s . U m a ta l su c e ssã o é a o m e sm o te m ­
p o contingente (q u e r d iz er, in c e rta ) e con d icion al ( q u e r d iz er, d e p e n d e n te d e ta l a c o n ­
te c im e n to p a r tic u la r ) ; d a í os d o is s e n tid o s te re m sid o c o n fu n d id o s . (C. Webb )
A s s in a la ra m -n o s n o a r tig o a c im a a a u s ê n c ia d o s e n tid o d a d o p o r É m ile B o u -
C O N T IN G E N T E 204

tes q u a t e n u s d u m ad ea ru m s o la m essen - r e la ç ã o q u e e la e n u n c ia é c o n h e c id a u n i­
tia m a tte n d im u s , n ih il in v e n im u s q u o d c a m e n te p e la e x p e riê n c ia e n ã o p e la r a ­
ea ru m e x is te n tia m necessário p o n a t, v el z ã o . (P o r q u e , em re la ç ã o a o s sim p les d a ­
q u o d ip s a m n e c e s s á r io s e c lu d a t .” E s p i ­ d o s d a r a z ã o , e s ta re la ç ã o p o d e s e r v e r­
n o Ética, IV , d e f i n . 3 .
s a , d a d e ir a o u f a ls a .) C f. Modalidade.
B . Sentido absoluto. U m a c o n te c i­
m e n to fu tu r o , o u , p o r a b re v ia ç ã o , um f u ­ C R ÍT IC A

turo é c o n tin g e n te se, s e n d o to d a s a s c o i­ A p a la v r a contingência e as p a la v r a s


sas a q u ilo q u e s ã o , esse f u tu r o se p o d e necessidade o u impossibilidade, e n q u a n ­
p r o d u z ir o u n ã o ; e m o u tr a s p a la v r a s , se to se o p õ e m a c o n tin g ê n c ia , têm p o is a p e ­
a s u a re a liz a ç ã o o u a s u a n ã o -re a liz a ç ã o n a s u m s e n tid o p re c iso em relação a c er­
sã o ig u alm en te “ co m p o ssív eis” neste p re ­
to s d a d o s : o o b je to c o n s id e ra d o ( f a to o u
s e n te e s ta d o d e c o isa s . V er Futuro.
p ro p o s iç ã o ) é d ito necessário se fo r o ú n i­
C . Sentido relativo. U m f a to é c o n ­
c o co n ciliáv el co m esses d a d o s , se ele fo r ,
tin g e n te em relação a uma certa lei geral,
p o r c o n s e q ü ê n c ia , a ú n ic a s o lu ç ã o p o s s í­
o u a u m c e rto tip o , q u a n d o c o n sis te n ã o
vel d o p ro b le m a q u e eles e n u n c ia m ; c a s o
n a a p lic a ç ã o d e s s a lei o u d e sse tip o , m a s
e m a lg u m a c irc u n s tâ n c ia p a r tic u la r a ta l c o n tr á r io , é d ito contingente. U m o b je to
o u ta l o b je to in d iv id u a l a o q u a l eles se d e p e n sa m e n to is o la d o n ã o é, p o is, em si,
a p lic a m . M ais g e ra lm e n te , é c o n tin g e n te n e m c o n tin g e n te n e m n e c e s sá rio ; a p e n a s
to d a c o in cid ên c ia q u e n ã o é n em c o n s ta n ­ se to r n a u m o u o u tr o n a s u a re la ç ã o c o m
te , n e m m e s m o g e ra l. C f . Acaso. E s te o u tr o s o b je to s d e p e n s a m e n to , e n tre o s
s e n tid o d e riv a d e q u e n u m c a s o p a re c id o q u a is se p o d e e n c o n tr a r a n a tu r e z a d o
im a g in a m o s q u e esta c o in c id ê n c ia te ria p e n sa m e n to e n q u a n to expressa a tra v é s de
p o d id o n ã o o c o r r e r o u q u e o f a to p o d e ­ u m a o u d e v á ria s leis. M a s se e sta s m e s­
r ia d ife rir em a lg u m a c o isa , p e rm a n e c e n ­ m a s leis p o d e m ser d ita s necessárias , é
d o a lei o u a id éia p rin c ip a l a m e sm a , m as n u m s e n tid o d ife re n te e s in ô n im o d e in ­
e l e n ã o ex clu i a id é ia d e u m d e te r m in is ­
v a riá v e l o u de u n iv e rs a lm e n te d a d o .
m o q u e reg e “ as c o n tin g ê n c ia s ” . Rad. int.: K o n tin g e n t.
D. L ó g i c a . U m a p r o p o s iç ã o é d ita
contingente s e a v e r d a d e o u a f a l s i d a d e d a C O N T I N G E N T E V e r Contingência.

TROUX a e s ta p a la v r a n o seu c éleb re liv rin h o De la contingence des lois de la nature


(1874). E ste s e n tid o p a re c e -n o s d u p lo ; e le visa a o m e s m o te m p o : 1?, a tese s e g u n d o
a q u a l as leis n ã o são necessárias e p o d e r ia m ser d ife re n te s sem q u e h o u v e sse n isso
n a d a de c o n tr á r io à n a tu r e z a d o p e n s a m e n to h u m a n o ; 2 ? , a tese de q u e e sta s leis
n ã o sã o rig o r o s a m e n te determinantes e o sã o c a d a v ez m e n o s à m e d id a q u e se vai
d a o rd e m p u r a m e n te fís ic a a té à o rd e m b io ló g ic a e à o rd e m h u m a n a , de m a n e ira
q u e a s u a a p lic a ç ã o d á c a d a vez m a is lu g a r à f in a lid a d e e à lib e r d a d e , q u e é a s u a
c o n d iç ã o . E s te d u p lo s e n tid o e x p lic a -se p e la r e c u s a em a d m itir a n o ç ã o d e lei n a tu r a l
c o r r e n te n e ssa é p o c a , q u e a c o n s id e ra v a a o m e sm o te m p o c o m o n e c e s s á ria e necessi-
ta n te , c o m o e x p rim in d o u m a o r d e m d a n a tu r e z a q u e n ã o p o d e r ia se r d ife re n te d o
q u e é, ta n to n a s su as f o r m a s g e ra is c o m o e m c a d a f a to s in g u la r. T a l c o m o R av a is-
so n , ele assim ila as reg u la rid a d es o b serv áv eis a o s h á b ito s c o n tra íd o s p elo s seres. (A. L.)

S o b re C o n t i n g e n t e — “ [A b so lu te ] necessária p r o p o s itio est q u a e re so lv i p o te s t


in id ê n tic a s , seu c u ju s o p p o s itu m c o n tr a d ic tio n e m in v o lv it... Q u o d ta li n e c e s sita te
c a re t v o co contingens; q u o d v e ro im p lic a t c o n tr a d ic tio n e m , seu c u ju s o p p o s itu m est
n e c e s sa riu m , i d impossibile a p p e ll a tu r .” L « ζ Ç « U , Inéditos, p u b lic a d o s p o r C o u tu -
E

r a t, p . 17.
205 C O N T R A D IT Ó R IO

C O N T IN G E N T L Y P r o v a d a e x istê n ­ IA*) -/( «) !<«


c ia d e D e u s a o u e contingentia mundi.
E la se b aseia n a id éia de q u e o m u n d o e m ­ e m o u tr a s p a la v r a s q u a n d o f{x) te m p o r
p iric a m e n te d a d o , n ã o s e n d o n e c e s sá rio , lim ite f(a) q u a n d o a v a riá v e l x te n d e p a ­
d e v e te r u m a ra z ã o d e se r e x te r io r a si. r a o v a lo r a (a p ro x im a -se in d e fin id a m e n te
C f. Cosmológico. d ele).
V er a a n á lise d a s n o ç õ e s d e continuo
C O N T ÍN U A ( C ria ç ã o ) V e r Criação e matemático e d e continuo físico em P ë Ç ­
Concurso. T τ 2 é , La scien ce et Vhypothèse , c a p . II.

Rad. int .: K o n tin u .


C O N T ÍN U O , C O N T IN U ID A D E L.
Continuum, -itasi D . Steig, -keit; E . Con­ C O N T R A D I Ç Ã O G . ctPTÍipoiats', L .
tinuous, - ity ; F . Continu, -ité ; I. Conti­ Contradiction D . Widerspruch, ¡Contra­
nuo, -ità. diction ; E . Contradiction ; F . Contradic­
A . Sentido vulgar: in c e ssa n te , in in te r­ tion ; I. Contradizione.
r u p to , sem la c u n a s . A . R e la ç ã o q u e e x iste e n tr e a a f ir m a ­
B . Filosoficamente , é c o n tín u a to d a ç ã o e a n e g a ç ã o d e u m m e sm o e le m e n to
g ra n d e z a q u e n ã o é atualmente* c o m p o s ­ d e c o n h e c im e n to ; e m p a rtic u la r:
ta d e e lem en to s d is tin to s , q u e r d iz e r, q u e 1? E n tr e d o is te r m o s , d o s q u a is u m
n ã o é a p r e s e n ta d a a o e s p ír ito p o r in te r ­ é a n e g a ç ã o d o o u tr o , c o m o A e n ã o -A ;
m éd io d o s seus elem en to s, m as q u e o s p o ­ 2 ? E n tr e d u a s p ro p o s iç õ e s c o m o : “ A
d e re c eb e r p o r u m a o p e ra ç ã o d o e sp írito . n ã o é v e rd a d e iro ” (o u “ A é fa lso ” ). M ais
C . C o n s e q u e n te m e n te , do ponto de e sp e c ia lm e n te , esp é c ie d e o p o s iç ã o q u e
vista da análise matemática, u m conjun­ existe e n tre a u n iv e rsal a firm a tiv a e a p a r ­
to o r d e n a d o a u m a d im e n s ã o E é d ito tic u la r n e g a tiv a , e e n tre a u n iv e rsal n e g a ­
c o n tín u o q u a n d o : 1?, é p e rfe ito (q u e r d i­ tiv a e a p a r tic u la r a f ir m a tiv a (te n d o o s
z e r, id ê n tic o a o seu d e riv a d o ); 2 ? , c o n ­ m e sm o s te rm o s ).
té m u m a su c e ssã o e n u m e rá v e l S ta l q u e B . C a r a c te rís tic a d e u m te rm o o u d e
te n h a sem p re u m elem en to de S e n tre d o is u m a p ro p o s iç ã o q u e re ú n e e le m e n to s in ­
e le m e n to s d e E (G . Ca n t o r , M ath. A n- c o m p a tív e is (c o n trá rio s o u c o n tr a d i­
nalen, t. X L V I). D e o n d e , em p a rtic u la r: tó rio s ).
1 ? U m a g ra n d e z a ex ten siv a é c o n tín u a C . E s ta d o d o e sp írito q u e a firm a u m a
q u a n d o p e rte n c e a u m c o n ju n to d e g r a n ­ c o n tr a d iç ã o n o s e n tid o B .
d e z a s, c o n tín u o n o s e n tid o C , q u e c o m ­ D . A to d e c o n tra d iz e r. “ O e sp írito d e
p re e n d a to d a s as g ra n d e z a s m a is p e q u e ­ c o n tr a d iç ã o .”
n as d a m e sm a esp écie. T o d a g ra n d e z a ex ­ V er Principio de contradição.
te n s iv a c o n tín u a é div isív el a o in f in ito ,
Rad. int. : K o n tr a d ik .
m a s a re c íp ro c a n ã o é v e rd a d e ira .
C o n tr a d ic tio in a d je c to C o n tra d iç ã o
2? U m a e x te n s ã o é c o n tín u a q u a n d o
q u e o c o rre e n tre u m te r m o e a q u ilo q u e
c o n s titu í u m c o n ju n to d e p o n to s c o n tí­
se lh e a c re s c e n ta (e n tre u m s u b s ta n tiv o e
n u o s n o s e n tid o C .
o seu a d je tiv o , p o r e x e m p lo ).
3? U m a d u r a ç ã o é c o n tín u a q u a n d o
c o n s titu i u m c o n ju n to d e in s ta n te s c o n ­ C o n tra d ic tio in te rm in is C o n tra d iç ã o
tín u o s n o s e n tid o C . q u e se m a n ife s ta p e la p r ó p r ia fo r m a d o s
D . U m a f u n ç ã o * /( x ) é contínua (p a ­ te rm o s e n tr e o s q u a is e la e x iste o u q u e a
r a o v a lo r a d a v a riá v e l x ) q u a n d o a c a d a e n c e rra m .
n ú m e ro p o sitiv o t c o rre sp o n d e u m n ú m e ­
r o p o s itiv o i), ta l q u e se x d ife re d e a m e ­ C O N T R A D IT Ó R IO G . C C V T K p C tT lX Ó s n
n o s d e 7} se te m : L . Contradictorias; D . Widersprechend,
C O N T R A -H Á B IT O 206

kontradiktorisch ; E . Contradictory ; F. p r o p o s i ç ã o o u d e u m a in f e r ê n c i a
Contradictoire-, I. Contradditorio. n e g a n d o - o s , s e g u n d o a fó rm u la :
A . C arac te rístic a (relativ a) de dois ele­
O ó O i'D a ’
m e n to s e n tre os q u a is ex iste u m a c o n tr a ­
d iç ã o , A . 1? caso : D e “ T o d o A é B ” d e d u z-se :
B . C arac te rístic a (a b so lu ta ) de u m ele­ “ T o d o n ã o -B é n ã o - A .”
m e n to q u e a p re se n ta u m a c o n tra d iç ã o , B. 2? c a so : D e “ Se A é v e rd a d e ir o , B é
C . (J u íz o o u ex am e) c o n tr a d itó r io : v e r d a d e ir o ” d ed u z-se: “ Se B é fa ls o , A
a q u e le n o q u a l c a d a u m a d a s d u a s teses é f a ls o .”
o p o s ta s fez v a le r as su as ra z õ e s . Rad. int.: K o n tra p o z .

C O N T R A -H Á B IT O F o i u tilizad o p o r C O N T R Á R I O G é m i m o s ; L, Con-
V . E ; ; E 2 n o seu e n sin o p a r a d e s ig n a r o trarius; D . Kontrar ; E . Contrary, F . Con­
f a to d e c e rta s im p re s s õ e s , em lu g a r d e se trairei I. Contrario.
a te n u a re m a o serem re p e tid a s , se t o r n a ­ T e rm o re la tiv o q u e in d ic a u m a e sp é ­
re m , p elo c o n tr á r io , c a d a vez m a is d o lo ­ cie d e o p o s iç ã o * , diz-se:
ro s a s o u ir r ita n te s . V er as su as o b s e r v a ­ A. D e d o is c o n c e ito s q u e fazem p a rte
çõ es s o b re Hábito. d e u m m e sm o g ê n e ro e d ife re m o m á x i­
m o e n tr e si ( A 2 « è ó Â è , Categorias,
I I E E

C O N T R A P O S I Ç Ã O L . Contraposi­ V I, 6 a 18) o u q u e , a p re s e n ta n d o u m a c a ­
tion D . Contraposition·, E . Contraposi­ ra c te r ís tic a e sp e c ífic a su scetív el d e g r a ­
tion·, F . Contraposition-, I. Contrapo- d u a ç ã o , p o s su e m re s p e c tiv a m e n te o seu
sizione. m á x im o e o seu m ín im o ; o u q u e c o rre s ­
E sp é cie d e d e d u ç ã o * im e d ia ta q u e p o n d e m a d o is m o v im e n to s em s e n tid o s
c o n sis te em p e r m u ta r o s te rm o s de u m a o p o s to s ; p o r fim , d e d o is c o n c e ito s q u a -

S o b re C o n tr á r io e C o n tr a d itó r io — A rtig o c o m p le ta d o s e g u n d o às in d ic a ç õ e s de
Bréhier e R. D aude .
S eria p re fe rív e l d e fin ir a c o n tra d iç ã o co m o a re la ç ã o e n tre d u a s asserçõ es ta is q u e
s en d o u m a p o s ta c o m o fa ls a a o u tr a se ja n e c e s s a ria m e n te c o n c e b id a c o m o v e rd a d e i­
ra . P o d e ría m e v ita r-se a ssim to d o s os p a ra lo g is m o s q u e n a sc e m d o f a to de se to m a ­
re m u m a s p e las o u tr a s a s id é ia s de contrário, subcontrário e contraditório. E s ta ú lti­
m a p a la v r a p a re c e d e v er ser re s e rv a d a p a r a a ló g ic a fo r m a l. In v e rs a m e n te , em con­
trário, d e v er-se -ia m d is tin g u ir d o is se n tid o s: o s e n tid o f o r m a l (d u a s u n iv e rsais o p o s ­
ta s ) e o s e n tid o m a te ria l (os e x tre m o s de u m m e sm o g ê n ero ). (M . Blondel)
A d is tin ç ã o e n tre contrário e contraditório fo i fe ita p o r A ris tó te le s de m a n e ira
m u ito n ítid a e d e cisiv a . (R . Eucken) P a r a ele o àvrí'<paats (contradictio), to m a d o
em g e ra l, é a o p o s iç ã o e n tre a a f ir m a ç ã o e a n e g a ç ã o de u m a m e sm a lexis (T lept
' B e r m a s , 17a33), o u , o q u e é o m e s m o , a o p o s iç ã o de d u a s p ro p o s iç õ e s e n tre as
q u a is n ã o existe m e io -te rm o ( M etafísica, 1057a34). Q u a n d o ele c o n s id e ra a p r o p o ­
siçã o e n q u a n to a n a lis a d a , d e fin e -a c o m o a o p o s iç ã o e n tre o u n iv e rs a l e o p a rtic u la r
d o s m e sm o s te r m o s , e de q u a lid a d e d ife re n te , o u e n tr e d u a s s in g u la re s em q u e u m a
a f ir m a e a o u tr a n e g a o m e sm o p re d ic a d o d o s u je ito ( I l e e i 'E ç /íã ãv e ia s , 17b16 ss.).
A e x p re ssã o m a is filo s ó fic a d a c o n tr a d iç ã o p a re c e ser a q u e la q u e se e x tra i im e ­
d ia ta m e n te d a s id é ia s ló g ic a s fu n d a m e n ta is o v e rd a d e ir o e o fa lso : s ã o c o n tr a d itó ­
ria s d u a s p ro p o s iç õ e s q u e n ã o p o d e m ser n e m v e rd a d e ir a s n em fa ls a s a o m e sm o te m ­
p o ; c o n trá ria s d u a s p ro p o s iç õ e s q u e n ã o p o d e m s e r a m b a s v e rd a d e ir a s , m a s q u e p o ­
d e m ser u m a e o u tr a fa ls a s . (A. L .)
207 CONTROLAR

lita tiv a m e n te d ife re n te s , c u ja o p o s iç ã o é B. M ais e sp e c ia lm e n te , c h am a -se


in tu itiv a m e n te s e n tid a c o m o ta l (q u e n te , Contrato em filo so fia à q u e le q u e é b ila ­
frio ; a ç u c a r a d o , s a lg a d o , e tc .) . te ra l o u m u ltila te ra l, q u e r d izer, q u e c o n ­
B . D e d u a s p ro p o s iç õ e s q u e n ã o p o ­ té m c o m p ro m is s o s re c íp ro c o s.
d e m ser a m b a s v e rd a d e ira s , m a s q u e p o ­ O contrato social o u pacto social ( s e ­
d em ser a m b a s fa ls a s ; em p a r tic u la r , de gundo J .- J . R Ã Z è è E τ Z ) é o c o n ju n to d a s
d u a s p ro p o s iç õ e s u n iv e rsa is* q u e tê m o s convenções fu n d a m e n ta is que, “ a in d a

m e sm o s te r m o s , e d e q u e u m a é a f ir m a ­ q u e ta lv e z n u n c a te n h a m s id o f o r m a lm e n ­
te e n u n c ia d a s ” , s ã o , c o n tu d o , im p lic a d a s
tiv a e a o u tr a n e g a tiv a . E x .:
p e la v id a e m s o c ie d a d e ; s u a fó rm u la é a
T odo S é P ; nenhum S é P.
s e g u in te : “ c a d a um d e nós p õ e em co­
V e r Contraditório.
m um a s u a p e s s o a e to d a a s u a p o tê n c ia
C . D e d u a s m u d a n ç a s em q u e c a d a
s o b a s u p re m a d ire ç ã o d a v o n ta d e g e ra l;
u m a te m p o r p o n to d e c h e g a d a , o u d e d i­
e re c e b e m o s e m b lo c o c a d a m e m b ro c o ­
re ç ã o , a q u ilo q u e p a r a a o u tr a é p o n to d e
Contrato
m o p a r te in d iv is ív e l d o t o d o ” .
p a r tid a o u o rig e m (rea l o u v irtu a l).
social, I, 6.
Rad. int.: K o n tr a r i. O contrato , tip o id e a l d e to d a s as re ­
C O N T R A S T E D . Kontrast; E . Con- la ç õ e s so c ia is. S ú Ç T 2 , Sociologie, t .
E E

trast ; F . Contraste·, I. Contrasto. I I I , 5? p a r te .


E s ta d o de d o is o b je to s de p e n s a m e n ­ O c o n trá rio d o c o n tra to é o status o u
to s im u ltâ n e o s o u su cessiv o s q u e se
estatuto social, q u e r d iz e r , a s re la ç õ e s le ­
g a is q u e se e s ta b e le c e m e n tr e o s h o m e n s
o p õ em e q ue g a n h a m m ais relevo n a co n s­
p e lo s im p le s f a t o d e q u e e le s p e r te n c e m
ciên cia a tra v é s d e sta o p o s iç ã o . E x .: C o n ­
a ta l c la s s e s o c ia l, o u se e n c o n tr a m e m ta l
tra s te s im u ltâ n e o o u su cessiv o d a s c o re s
s itu a ç ã o (h o m e m ou m u lh e r, m a io r o u
c o m p le m e n ta re s .
m e n o r , p a i o u f ilh o , e tc .) , n a q u a l a v o n ­
A associação* p o r c o n t r a s t e é u m d o s
ta d e d e le s n a d a p o d e m o d if ic a r .
trê s c a s o s fu n d a m e n ta is d e a s s o c ia ç ã o d e
Rad. int.: K o n tr a k t.
id é ia s d is tin g u id o s p o r A 2 «è I ó I E Â E è . C f.
Contiguidade. C O N T R O L A R S e m e q u iv a le n te s
Rad. int.: K o n tra s t. n o u tr a s lín g u a s q u e n ã o o fra n c ê s ; a p r o ­
x im a tiv a m e n te D . Prüfen , untersuchen;
C O N T R A T O D . Vertrag ; K ontrakt ; E . To check, to control (n u m d o s s e n ti­
E . Contract·, F . Contraí; I. Contratto. d o s d e s ta p a la v r a ) ; F . Contrôler ; I. Veri­
A. “ O c o n tr a to é u m a c o n v e n ç ã o p eficare,
­ criticare.
la q u a l u m a o u v á ria s p e sso a s se c o m p ro ­ P r o p r ia m e n te , c o n f e r ir , v e rific a r. O
m e te m em re la ç ã o a u m a o u v á ria s o u ­ controle (contróle, contre-rôle, em f r a n ­
tr a s a d a r, a fa z e r, o u a n ã o fa z e r, a lg u ­ cês) é p rim itiv a m e n te u m se g u n d o re g is­
m a co isa.* ' Code civil, títu lo I I I , 1101. tr o , m a n tid o à p a rte p a r a v e rific a ç ã o d o

S o b re C o n tr a to — Contrato n o s e n tid o A n ã o será so m e n te u m s in ô n im o fo rte


de p ro m essa? Engajar-se sig n ifica lite ra lm e n te d ar-se em p e n h o r o u d a r q u a lq u e r co isa
de si em p e n h o r , e e n tã o a p ro m e s s a to rn a -s e b ila te ra l. (V. Egger) E x iste n a p a la v ra
engajamento a id é ia d e u m a garantia q u e a p ro m e s s a n ã o im p lic a . E ssa g a r a n tia é,
a liá s, alg o in d e p e n d e n te d a a c e ita ç ã o o u d a re c ip ro c id a d e , q u e c o n fe re m a o c o n tra to
o c a r á te r b ila te ra l. {A. L.)
R ÇÃ Z â « 2
E E u tiliz o u b a s ta n te a p a la v r a contrato n u m s e n tid o p ró x im o d a q u e le
q u e P o in c a ré d e u m a is ta r d e a convenção*. V er p o r e x e m p lo Psychologie rationelle,
3? e d ., I, 193-203.
C O N T U IÇ Ã O 208

p rim e iro . D e o n d e , p o r e x te n s ã o , a sse g u ­ jo r n a lis m o ( “ o c o n tro le de u m a e m p re sa


ra r-s e d e q u e u m a a sse rç ã o é e x a ta o u de in d u s tr ia l’' , “ o c o n tr o le d as tr o c a s ” ,
q u e u m t r a b a lh o fo i e x e c u ta d o c o m o d e ­ e tc .) , d e m a n e ira q u e q u a n d o e sta p a la ­
v e ria ser. v ra é u tiliz a d a n u m c o n te x to filo só fic o
c o n v é m v e rific a r se e la é e n te n d id a n o
C R ÍT IC A
s e n tid o fra n c ê s , n o s e n tid o in glês o u se
E ste s e n tid o é o ú n ic o c o rre to em o a u to r se a p ro v e ito u (v o lu n ta ria m e n te o u
fran c ês, o n d e p e rm a n e c e m u ito viv o. M as
n ã o ) d a a m b ig ü íd a d e d a p a la v r a p a r a n ã o
fre q ü e n te m e n te a d ific u ld a d e d e tr a d u z ir
p re c is a r o seu p e n s a m e n to .
o inglês to controt11o u m e sm o a ig n o râ n ­
Rad. int.: K o n tro l.
cia d o s e n tid o e x a to d e s ta e x p re ssã o le­
v a ra m os tra d u to re s fran ceses a serv irem - C O N T U IÇ Ã O V er Suplemento.
se d e contrôler, e m e s m o d e controle , em
frases q u e n ã o c o m p o rta v a m a u tiliz a ç ã o C O N V E N Ç Ã O D . Vortrag, Uberein-
d e s ta p a la v r a . kom m en, - k u n ft, ^Convention; E . Con­
E s te e n g a n o g e n eraliz o u -se n a lin g u a ­ vention ; F . C onvention; I. Convenzione.
g em d o s n e g ó c io s , d a a d m in is tr a ç ã o , d o T e rm o u s a d o p o r H e n ri P Ã « ÇT τ 2 é e,
n a s u a e s te ira , p o r u m g ra n d e n ú m e ro de
filó s o fo s c o n te m p o r á n e o s p a r a d e s ig n a r
I. Q ue qu er dizer n âo som ente co ntrolar, m as o s p rin c ip io s d a s c iên c ia s q u e n ã o s ã o
m andar, dirigir, ter o dom ínio de um negócio, con­
n e m ev id ên cias, n em g en eralizaçõ es expe­
ter, reprimir, dom inar. Cf- as expressões Self-control,
dom ínio de si; b irth -con trol, lim itação v oluniária de rim e n ta is , n e m h ip ó te s e s p o s ta s p o r c o n ­
nascim entos, etc, je c tu r a c o m v is ta a fa z e r a su a v e rific a -

S o b re C o n v e n ç ã o — D a v id H Z O fa z a lu sã o a o s m o ra lis ta s a n te rio re s a ele, q u e


E

d isse ra m “ th a t ju s tic e a rise s fro m H Z Oτ Ç C Ã Çâ Ç « Ã ÇèE I (sic, em V 2 è τ Â


E ) and
E I E

p ro c e e d s fro m th e v o lu n ta r y c h o ic e , c o n s e n t, o r c o m b in a tio n o f m a n k in d ” 1. E ele


re s p o n d e : “ I f by convention b e h e re m e a n t a p ro m is e (w ich is th e m o s t u s u a l sen se
o f th e w o rd ) n o th in g c a n be m o re a b s u r d th a n th e p o s itio n ... B u t if b y convention
b e m e a n t a sen se o f c o m m o n in te r e s t, w h ic h sen se e a c h m a n feels in h is o w n b re a s t,
w h ich he o b s e rv e s in his fe llo w s, a n d w h ic h c a rrie s h im , in c o n c u rre n c e w ith o th e rs ,
in to a g e n e ra l p la n o r sy ste m o f a c tio n s w h ic h te n d to p u b lic u tility , it m u st b e o w ­
n e d th a t, in th is sen se, ju s tic e a rise s fro m h u m a n c o n v e n tio n s ... T h u s tw o m e n p u ll
th e o a rs o f a b o a t, b y c o m m o n c o n v e n tio n , fo r c o m m o n in te re s t, w ith o u t a n y p r o ­
m ise o r c o n tr a c t... th u s sp ee c h a n d w o rd s a n d la n g u a g e a re fix ed by h u m a n c o n v e n ­
tio n a n d a g r e e m e n t.” 2 “ A n e n q u iry c o n c e rn in g th e p rin c ip le s o f m o r a ls .” A p ê n d i­
ce II e m Essays and Treatises on Several Subjects , p . 474.

1. “ O fato de a justiça resultar de C o n v en ç õ es H u ma n a s e proceder da escolha voluntária, do consen­


tim ento, ou de um co ntrato da hum anidade.” O texto visado é. talvez, H o b b es , D e H om ine, cap. XV: “ At-
que in hac lege {praestanda esse p a cta ) consistit n a tu ra justitiae. Ubi enim non praecessit pacium , ibi jus
nullum , sed om nia om nium sunt: nihil ergo in ju stu m .” O texto inglês diz: ” ... that men perform their con-
venants m ad e” (que os hom ens cum prem as convenções feitas).
2. " S e por con venção se en tender aqui um a prom essa (que é o sentido m ais vulgar desta palavra), nada
m ais absurdo do que esta te se ... M as se por con ven ção se entender um sentim ento d o interesse com um , senti­
m ento que cada um experim enta no seu intim o, que constata nos seus sem elhantes, e que o faz en tra r, con-
correntem ente com outro s, num plano geral ou num sistema de ações q u e tendem p ara a utilidade pública,
é preciso concordar que, neste sentido, a Justiça resulta de convenções hum anas... É assim que dois hom ens
remam juntos num barco, através de um a convenção com um , sem qualquer prom essa ou c o n tra to ... É assim
que a fala, as palavras e a língua são fixadas por um a convenção e um acordo h u m an o s.”
209 C O N V E N IE N C IA

ç ã o . “ O s a x io m a s g e o m é tric o s n ã o s ã o , m erece s e r r e s p e ita d o . O r a , é ev id en te


p o is , n e m ju íz o s sin té tic o s a priori nem q u e , s e g u n d o as e x p lic aç õ es e os e x e m ­
fa to s e x p e rim e n ta is . S ão c o n v e n ç õ e s; a p lo s d o p ró p r io P Ã « ÇT τ 2 é , n ã o é isso
n o s sa e sc o lh a e n tre to d a s a s c o n v en çõ es q u e ele q u e r s u g e rir; e ele p ro te s to u em
possíveis é g u id a p o r fa to s e x p erim en tais, d iv e rsa s c irc u n s tâ n c ia s , p a rtic u la rm e n te
m a s ela p e rm a n e c e liv re e a p e n a s é lim i­ em La valeur de la science (3? p a rte : “ O
ta d a p e la n e ce ssid a d e d e e v ita r to d a c o n ­ v a lo r o b je tiv o d a c iê n c ia ” ) c o n tr a o s fi­
t r a d i ç ã o . '’ La Science et 1’hypothèse, 2?
ló so fo s c u jas ex p ressõ es lhe p arecem e x a­
p a r te , c a p . I I I . E x p re s s a a in d a e s ta id éia
g e ra r o c a r á te r a rtific ia l. N ã o h á n e n h u ­
a o d iz e r q u e a g e o m e tria e u c lid ia n a n â o
m a ra z ã o p a r a d e p re c ia r a p a r te de e sc o ­
é a m ais v e rd a d e ira , m a s a m a is cômoda
{ibid., c a p . IV , ad fin em . C f. c a p . V , ad lh a liv re , m a s n ã o p u r a m e n te a r b itr á r ia ,
q u e e n tra n a c o n s titu iç ã o d a ciên cia, nem
fm .\ V l-V ll, passim , e tc .). M as ele in sis­
te ta m b é m n o fa to d e as c o n v en iên cias de p a r a d e p re c ia r a c iê n c ia , p o r q u e ela c o n ­
q u e se t r a ta n ã o serem “ a r b itr á r ia s ” e d e tém n ecessariam en te u m a in terv en ção a ti­
p o s s u íre m “ u m a o rig e m e x p e r im e n ta l” v a d o e s p írito . V er e m p a r tic u la r E . D u -
{ibid. , 134). V e r Hipótese. P R É E L , “ C o n v e n tio n e t r a is o n ” , Revue
de métaphysique , ju lh o d e 1925.
CRIT ICA
S e ria , p o is , p re fe rív e l n ã o re te r, p a r a
A s p a la v ra s convenção , convencionai
e x p re ss a r e sta id é ia , a p a la v r a convenção
to m a d a s neste se n tid o têm g rav es in c o n ­
e fa la r de p re fe rê n c ia e m d e c isã o v o lu n ­
ven ien tes: 1?, elas d esig n am j á n a lin g u a ­
tá r ia o u e m escolha decisoria*.
gem c o rre n te , e n a d a ciên cia, u m a deci­
são refletid a to m a d a em co m u m c o m o fo i, C O N V E N C I O N A L IS M O D Kon-
p o r ex em p lo , a “ C o n v e n ç ã o d o m e tr o ” ventionalismus ; E . Conventionalism ; F .
(1875); o ra , u m ú n ico in d iv íd u o p o d e m u i­
C o n v e n tio n n a lism e ; I . C o n ven zio -
to b em to m a r, e to m a e fe tiv a m e n te em
nalismo.
m u ito s casos, p a ra seu uso pessoal decisões
D o u tr in a q u e c o n s id e ra to d o s os
ló gicas d este g ê n ero ; de so rte q u e fo m o s
p rin c ip io s* c o m o c o n v e n ç õ e s* .
lev ad o s, p a ra co n se rv a r a p a la v ra , a fa la r,
de u m m o d o m u ito e stran h o , em “ c o n v en ­ C O N V E N IE N C IA D . A . Übereins­
ções co n sig o p r ó p r io ” ; 2 ?, m esm o q u a n ­ timmung; B . Angemessenheit, Konve-
d o se tr a ta d e v ário s in d iv íd u o s, a co n te c e
nienz; E . A . Agreement (L ÃT3 ); B. E

fre q u e n te m e n te n ã o te r h a v id o n e n h u m
Propriety ; F . Convenance ; I. A . Conve-
a c o rd o v o lu n tá rio e n tre eles, m a s q u e as
nenza; B . Convenienza.
decisões se v ira m to m a d a s p o r u n s e o u ­
A. A c o rd o , h a rm o n ia , a d a p ta ç ã o e n ­
tro s , p o rq u e , sem serem n ecessárias, elas
tre d o is o u m ais te rm o s .
eram ra c io n a is e n a tu ra is; 3 ?, p o r fim , es­
ta s p a la v ra s im p lic a m a id éia, fre q ü e n te - uRaciocinio por conveniencia comple­
m e n te p e jo ra tiv a , de u m a re g ra a c id e n ta l, xa ”: E d . G Ãζ Â Ã c h a m a assim (Logique ,
I

a r b itr á r ia , q u e n ã o tem q u a lq u e r f u n d a ­ c ap . X V I) àq u ele p elo q u a l se p ro v a q u e


m e n to n a n atu reza das coisas: o q ue se ch a ­ u m efeito n ão é som ente um resu ltad o , m as
m a “ c o n v e n c io n a l” é de o rd in á rio aq u ilo u m fim : p o r ex em p lo , o a rg u m e n to clássi­
q u e se im p õ e a p e n a s ao s esp írito s sem p e r­ co so b re as letras a tira d as a o acaso que n ão
s o n a lid a d e , sem c rític a , e, n o fu n d o , n ã o te ria m p o d id o fo rm a r o te x to d a Ilíada.

S o b re C o n v e n iê n c ia — A d e fin iç ã o d o ju íz o c ita d a c o m o e x em p lo c o n s titu i co m


e fe ito u m m u ito m a u u so d a p a la v r a , m a s o s e n tid o p r ó p r io e g e ra l d e c o n c o rd â n c ia ,
d e a d a p ta ç ã o re c íp ro c a de v á ria s c o isa s p a re c e -m e m u ito n ítid o e m u ito c o r r e to . {J.
Lachelier)
C O N V E R G Ê N C IA 21(1

B. C a r a c te rís tic a d o q u e é convenien­U m c o n ju n to d e tr a n s f o r m a ç õ e s é d ito


te , q u e r d iz er, d o q u e c o n v é m em v ir tu ­ convergente q u a n d o te m c o m o e fe ito p r o ­
de d e u m a re g ra o u d e u m id e a l. “ N e c e s­ d u z ir u m a s e m e lh a n ç a c re sc e n te d o s e le ­
sid ad e de c o n v e n iê n c ia ” (o p o s ta à n eces­ m e n to s q u e se tr a n s f o r m a m . N e ste s e n ti­
s id a d e físic a o u ló g ica). d o , convergência o p õ e -se a diferencia­
ção*. V er Assimilação, A .
C RÍTIC A V á ria s séries d e tra n s fo rm a ç õ e s in d e ­
Conveniência e convir fo ra m u tiliz a ­ p en d en tes e p a ra lela s são d itas co n v erg en ­
d o s d e m a n e ira m u ito v a g a em p a r tic u ­ te s q u a n d o te n d e m p a r a o m e sm o r e ­
la r n o q u e c o n c e rn e à d e fin iç ã o d o ju íz o s u lta d o .
t Lógica d e P Ã 2 -R Ã à τ Â , I I I , c a p . I I I ;
I
Rad. int.: K o n v e rg .
L ÃT3 E , Ensaio , I V , cap . V ) . L « ζ Ç« U c ri­
E
C O N V E R S A (a d j. o u s u b s t.) D . Um­
tic o u esta ex p ressão : “ A co n v en iên cia ou
gekehrt ; der Umgekehrte (S o/z); E . Con­
a in c o n v e n iê n c ia n ã o é p ro p r ia m e n te
verse; F . Converse; l. Conversa.
a q u ilo q u e se e x p rim e p e la p ro p o s iç ã o . A . F a la n d o d e p ro p o s iç õ e s , a q u e la
D o is o v o s tê m a c o n v e n iê n c ia e d o is in i­ q u e é in f e r id a de u m a o u tr a p o r
m ig o s a in c o n v e n iê n c ia . T r a ta -s e a q u i d e c o n v e rsã o * .
u m a m a n e ira d e c o n v ir e d e d e sc o n v ir B . M ais g e ra lm e n te , fa la n d o d a s
m u ito p a r tic u la r .” N ovos ensaios, I V , V . re la ç õ e s * , a c o n v e rsa (R o u R c) d e u m a
Rad. int.: K o n v e n . re la ç ã o R é a re la ç ã o ta l q u e se c R è é v er­
d a d e ir a , ÒRC o ta m b é m o seja. E la p o d e
C O N V E R G Ê N C I A D . Konvergenz,
ser o u n ã o id ê n tic a a R : é-o p a r a a = b;
Zusammenlaufen, -strahlen , e tc .; E . Con-
n ã o o é p a r a a > b . V e r Reciproca.
vergency; F . Convergence; I. Con-
O d o m ín io c o n v e r s o d e u m a re la ç ã o
vergenza. é o c o d o m ín io d e s ta . V er Campo.
C a r a c te rís tic a d e d u a s o u m a is tr a j e ­
Rad. int.: K o n v e rta t.
tó r ia s q u e se re ú n e m n u m p o n to : p . e x .,
n a ó tic a , c o n v e rg ê n c ia d e ra io s . D e o n ­ 1. “ C O N V E R S Ã O ” ’E ir k j t q o w ; D .
d e , n o s e n tid o f ig u r a d o , o f a to d e c h e g a r Bekehrung ; E . Conversion ; F . Conver­
a o m e sm o r e s u lta d o : “ A c o n v e rg ê n c ia sion; I. Conversione.
d o s re s u lta d o s e x p e rim e n ta is o b tid o s p o r N a d o u tr in a n e o p la tô n ic a m o v im e n to
m é to d o s d if e r e n te s .” in v e rso d a p ro c e ssã o (t t q ô o ò o s , Tadoôos).
N as m a te m á tic a s : A “ p ro c e s s ã o ” é a e m a n a ç ã o p e la q u a l o
U m a série convergente é a q u e la c u ja U n o o u o B em p ro d u z a In telig ên cia, d e­
s o m a te n d e p a r a u m lim ite fin ito q u a n ­ p o is a A lm a , em seg u id a o M u n d o e os o u ­
tro s in d iv id u a is; a “ c o n v e rs ã o ” é o re to r ­
d o o n ú m e ro d o s seus te rm o s a u m e n ta in ­
n o deles a o seu p rin c ip io o rig in al.
d e fin id a m e n te . (E x .: 1 + — + — + —
2 4 8 1. C O N V E R S Ã O D. Bekehrung ; E.
N u m sen tid o bio ló g ico o u socio lógico: Conversion; F. Conversion; I. Conversione.

S o b re C o n v e rg ê n c ia — P o d e -s e d iz e r m e lh o r a in d a : “ U m a série é c o n v e rg e n te
q u a n d o existe u m n ú m e ro N ta l q u e a s o m a d o s n p rim e iro s te rm o s d a série, q u a l­
q u e r q u e seja n, se ja m e n o r q u e N . ” (B. Rusself)

S o b re C o n v e rs ã o , 1 — Bréhier n o ta q u e em P Â ÃI « ÇÃ a c o n v e rsã o é a p e n a s o a to ,
p a r a u m a h ip ó s ta s e , de se v o lta r p a r a a h ip ó s ta s e d e o n d e ela vem p a r a d e la re c eb e r
a ilu m in a ç ã o ; n ã o é u m r e to r n o e fe tiv o (a*<oôos); ta m b é m q u e e s ta m e tá f o r a é p r o v a ­
v e lm e n te d e riv a d a d a a le g o ria p la tô n ic a d a c a v e rn a .
211 C O N V IC Ç Ã O

n o s e n tid o B; E . Conviction; F . Convic­


M u d a n ç a ra d ic a l n a c o n d u ta e n a d is­
tion; I. Convinzione.
p o s iç ã o m o ra l d o c a r á te r. D iz -se s o b re ­
tu d o , m as n ã o ex clu siv am en te, d a a d esã o A . E m p r in c íp io , te rm o ju ríd ic o : n e ­
d a d a a u m a re lig iã o . c e ss id a d e em q u e s e c o lo c a a lg u é m d ev i­
Rad. int.: K o n v e rt. d o às p ro v a s o u a o s te s te m u n h o s (Zeu­
3. C O N V E R S Ã O G . àvTioTQo<pri; Lgen)
. d e re c o n h e c e r a lg u m a c o isa c o m o
Conversio ; D . U m kehrung ; E . Conver­ v e rd a d e ira .
sión ; F . Conversión; I. Conversione. B . E m g e ra l, c e rte z a firm e e su fic ie n ­
E sp é cie de d e d u ç ã o * im e d ia ta q u e te p a r a a a ç ã o , m a s n ã o d e to d o rig o ro s a
c o n sis te em in f e r ir d e u m a p ro p o s iç ã o (se ja p o r q u e re p o u s a s o m e n te s o b re u m a
u m a o u tr a p ro p o s iç ã o em q u e o s te rm o s p ro b a b ilid a d e m u ito g ra n d e ; se ja p o rq u e
d a p rim eira sejam p e rm u ta d o s. A d m item - re p o u s a so b re u m a m is tu ra de ra z õ es e d e
se d u a s esp écies d e c o n v ersõ e s: sen tim en to s fo rte s. E ste ú ltim o c am b ian te
A . A Conversão simples, q u e se a p li­ é so b re tu d o o d o p lu ral: convicções). D iz-
ca à u n iv e rsa l n e g a tiv a e à p a r tic u la r a f ir ­ se fre q ü e n te m e n te , n e ste s e n tid o , convic­
m a tiv a . ção intima.
N e n h u m S é P ; n e n h u m P é S. C . S e n tid o f o r te (r a r o ) . C e rte z a ló g i­
A lg u m S é P ; a lg u m P é S. c a . É o s e n tid o d a d o p o r K τ Ç à p a la ­
I

B . A Conversão parcial o u p o r aciden­ v ra Überzeugung n o in íc io d o c a p ítu lo


te, q u e d ed u z d a u n iv e rsal a firm a tiv a u m a “ M e in e n , W isse n , G la u b e n ” : “ W e n n es
p a r tic u la r a firm a tiv a :
f ü r je d e r m a n n g ü ltig ist, s o fe rn e r n u r
T o d o S é P ; a lg u m P é S.
V e r n u n f t h a t, so is t d e r G r u n d d e sse lb en
E s ta c o n v e rsã o é d ita “ p o r a c id e n te ” ,
o b je c tiv h in re ic h e n d , u n d d a s F ü r w a h r ­
p o r q u e S n ã o e stá c o n tid o n a e ssê n c ia d e
h a lte n h e isz t a ls d a n n Ü b e r z e u g u n g .” !
P . C f . Acidente.
C f. Contraposição. Reine Vern., M e to d o lo g ia , K e h r b ., 620;
Rad. int.: K o n v e rt. m a s ele u tiliz a u m p o u c o m a is a d ia n te a
m e sm a p a la v r a n o s e n tid o B (ibid . , 622)
N OTA
e c h a m a a c o n v ic ç ã o , C , Gewissheist.
A c o n v e rs ã o p o r a c id e n te n ã o é le g í­ D . S e n tid o f r a c o . O p in iã o p ro v á v e l. 1
tim a se se d á à s p ro p o s iç õ e s u m v a lo r
e x isten c ia l* q u e os u n iv e rs a is n ã o tê m
(S P ’ = 0 ). 1. “ Q uando a adesão é válida para todo ser, com
a condição apenas d e ter um a razão, o fundam ento
C O N V I C Ç Ã O D . Überzeugung, desta adesão é objetivam ente suficiente, e ela chama-
Überführung n o s e n tid o A ; Überredung se co n vicção."

S o b r e C o n v ic ç ã o — O s e n tid o B é u s u a l, m a s im p r ó p r io ; o s e n tid o D é a in d a
m e n o s c o r r e to ; o v e r d a d e ir o s e n tid o é o s e n tid o C , q u e e n g lo b a o s e n tid o A : convic­
ção o p õ e -s e a persuasão c o m o razão a o sentim ento. O f a to d e im p lic a r u m a p o s s ib i­
lid a d e d e e r r o o u u m g r a u d e p r o b a b ilid a d e in f e r io r a o d e c e rte z a é c o n s a g r a d o p elo
u s o , m a s é u m a la r g a m e n to u m p o u c o a b u s iv o d o s e n tid o p r ó p r io . (J. Lachelier)
A c re n ç a n ã o ex iste sem r a z õ e s e s e ria fa ls o d iz e r q u e ela se f u n d a em s e n tim e n to s
c o m o a p e rs u a s ã o . A p a la v r a convicção p a re c e in d ic a r o aspecto intelectual de uma
crença fo rte, q u e r d iz e r, o la d o lu m in o s o d e u m a a d e s ã o firm e , sem d ú v id a , m as
c u ja ju s tif ic a ç ã o n ã o é to ta lm e n te ra c io n a l. P o r isso m e s m o , c o n v ic ç ã o d e s ig n a u m a
sín te se d e ra z õ e s te ó ric a s e im p e s so a is insuficientes c o m ra z õ e s p rá tic a s e p esso ais
d ecisiv as. (M. Slondel)
COORDENAÇÃO 212

C RITIC A f o r m a d e c e n te , p ro d u z in d o -s e s o b a in ­
É preciso d istin g u ir n e sta p a la v ra d u a s flu ê n c ia d e c e rta s d o e n ç a s n e rv o s a s .
s ig n ific a ç õ e s: u m a q u e m a rc a u m a m u ­ C R ÍT IC A
d a n ç a , a o u tr a u m r e s u lta d o . A p rim e ir a
O te r m o é d e m a s ia d o e s tre ito . C e r to s
é m a is c lá ssic a : é o f a to d e c o n v e n c e r o u
n e u r ó p a ta s u s a m n a s su a s crises o u n o s
d e se c o n v e n c e r. A s e g u n d a é m a is m o ­ seus p e río d o s d e e s ta d o m ó rb id o u m a lin­
d e r n a : é o p r ó p r io ju íz o d e q u e s e e s tá g u a g em esp ecial: à s vezes o b s c e n a , à s v e­
c o n v e n c id o . zes in ju r io s a , p a rtic u la rm e n te e m re la ç ã o
A p rim e ira a c e n tu a s o b re tu d o o c a r á ­ às c o isa s o u à s p e ss o a s h a b itu a lm e n te
te r in te le c tu a l e ló g ico ; a se g u n d a d á lu ­ c o n s id e ra d a s c o m o re s p e itá v e is, às vezes
g a r à in te rv e n ç ã o d a c re n ç a * (fid). a p e n a s p e jo r a tiv a (u tiliz a ç ã o d e p a la v ra s
L e v a n d o em c o n ta a o p o s iç ã o u su a l e d e te rm in a ç õ e s d ep re cia tiv a s). S e ria útil
e n tre convencer (a tra v é s d e ra z õ e s e em re u n ir to d a s estas m a n ife sta ç õ e s n u m te r­
g e ra l e m p ro v e ito d a v e rd a d e ) e persua­ m o c o m u m q u e p o d e r ia ser Cacolalia.
dir (a tra v é s d a im a g in a ç ã o o u d a e m o ç ã o Rad. int.: K o p ro la li, K a k o la li.
e a lg u m a s vezes e m p ro v e ito d o e r r o ) ,
C Ó P U L A L . Copula ; D . Kopula; E .
p r o p o m o s d e s ig n a r p o r convicção a a d e ­
Copula ; F . C opule ; I. Copula.
sã o d o e sp írito su fic ien te p a r a d e te rm in a r A . S e n tid o esp ecial: o v e rb o ser * n u m
e d e c id ir a a ç ã o , m a s d ife rin d o : 1 ?, d a ju íz o d e predicação* e n q u a n to ex p re ssa
c e rte z a * , p o r a d m itir u m a p a r te d e p r o ­ a re la ç ã o p a rtic u la r q u e este ju íz o a firm a
b a b ilid a d e e , p o r c o n se q ü ê n c ia , u m a p o s ­ e n tr e o p re d ic a d o e o s u je ito .
s ib ilid a d e d e e r r o p r a tic a m e n te n eg lig e n - B . S e n tid o g e ra l (D M Ã 2 ; τ Ç ): Ã
E

ciável, m a s n ã o te o ric a m e n te n u la ; 2?, d a v e rb o ; n u m ju íz o q u a lq u e r , e n q u a n to ex ­


c re n ça * (fid), p o r q u e a q u e le q u e é c o n ­ p re s sa a re la ç ã o q u e e ste ju íz o a f ir m a e n ­
v e n c id o o é p o r ra z õ e s in te le c tu a is e n ã o tr e o s seu s d iv e rs o s te rm o s . E x e m p lo :
p o r m o tiv o s p r á tic o s e p e sso a is. “ P e d r o c o m p ro u a P a u lo u m a fa c a p o r
Convicção e q u iv a le ria assim a o q u e u m f r a n c o .” O s q u a tr o te r m o s s ã o : Pe­
L e ib n iz c h a m a certitudo moralis. V er dro, Paulo , uma faca, um fra n c o ; a c ó ­
Certeza. p u la é: comprou, É n a c ó p u la q u e resid e
Rad. int.: B , K o n v in k e s. a a sse rçã o * q u e c o n s titu i p ro p r ia m e n te o
ju íz o .
C O O R D E N A Ç Ã O D . Beiordnung;
Nebenordnung, Koordination; E . Coor- T2 íI « Tτ

dination ; F . Coordinaron; I. Coordi- O s e n tid o B é n o v o , m a s ju s tific a -s e


nazione. co m o u m a g e n eraliz a çã o in d isp en sáv el d o
R e la ç ã o e n tre d o is o u v á rio s c o n c e i­ s e n tid o clássico A .
to s q u e se e n c o n tr a m n o m e sm o nív el n u ­ Rad. int.: K o p u l.
m a c la s s ific a ç ã o ; ta is s ã o em p a r tic u la r , C O P U L A T IV O D . Kopulativ; E . Co­
n u m a c la ssific a ç ã o p o r o rd e m d e g e n e ra ­ pulative ; F . C opulatif ; I. Copulativo.
lid a d e , d u a s esp écies d e u m m e sm o J u íz o c a te g ó ric o q u e te m v á rio s su jei­
g ê n e ro . to s e u m ú n ic o p re d ic a d o , d e m a n e ira q u e
D o is c o n ce ito s q u e e s tã o n e sta re la ç ã o ele a f ir m a o u n e g a este p re d ic a d o d e c a ­
d izem -se coordenados. C f. Subordinação. d a u m d o s seus s u je ito s .
C O P R O L A L I A D . Koproialie ; E . C O R A Ç Ã O D . Herz; E . H eart ; F .
Coprolalia; F. Coprolalie; I. Coprolalia. Coeur ; I. Cuore.
U so m o m e n tâ n e o d e te rm o s o b sce n o s A . (se n tid o a n tig o , c a íd o e m d e su so , e
e m p e ss o a s q u e f a la m n o r m a lm e n te de q u e d á lu g a r a fre q u e n te s c o n tra -sen so s)
213 C O R O L Á R IO

In te lig ê n c ia in tu itiv a , o p o s ta a o e n te n d i­ é p o c a é m u ito r a r o : liga-se c o n tu d o a o sen­


m e n to , a o ra c io c ín io d isc u rsiv o . “ C o n h e ­ tid o d e cor e m la tim , q u e p o d e ap licar-se
c e m o s a v e rd a d e n ã o a p e n a s a tra v é s d a a to d a a v id a in te rio r d o e s p írito , a tu d o
ra z ã o (o racio cín io ), m a s a in d a a tra v é s d o o q u e c h a m a ría m o s h o je in telig ên cia o u
c o ra ç ã o : é d e s ta ú ltim a m a n e ira q u e c o ­ se n tim e n to . “ E g reg íe c o rd a tu s h o m o ”
n h e ce m o s o s p rim e iro s p rin c íp io s ... É so ­ (E n n iu s, 1, 9 , c ita d o p o r C íc e ro n o s Tus-
b re estes c o n h e c im e n to s d o c o ra ç ã o e d o culanos): u m h o m e m d e in telig ên cia n o tá ­
in s tin to q u e é p re c iso q u e a r a z ã o $e vel. E r a u m a c re n ç a e s p a lh a d a n a A n tig ü i-
a p ó ie , e fu n d a m e n te aí to d o o seu d is c u r­ d a d e q u e o lu g a r d o p e n sa m e n to e stav a n o
s o . ” P τ è Tτ Â , Pensées, p e q u e n a e d iç ã o p e ito (v er o m e sm o te x to ). C f. a u tilização
B ru n sc h v ic g , p . 459. “ O c o ra ç ã o sen te de pectus n a c éle b re frase d e Q u in tilia n o
q u e h á trê s d im e n s õ e s n o e s p a ç o .” V er
{De inst. orai., X , 7): “ P e c tu s est en im
q u o d diserto s facit” , o n d e se tr a ta , p o r u m
n o ta .
la d o , d o s s e n tim e n to s, m a s s o b re tu d o da
B. [Em francês] C o ra g em , fidelidade
v iv a cid ad e co m a q u a l re p re se n ta m o s in ­
(sentido a n tiq u a d o , m as n ão desaparecido).
te rio rm e n te a q u ilo d e q u e se fa la ; c f. ta m ­
“ Terei m u ita fo rça te n d o b a sta n te c o ra ­
b ém a e x p re ssão re c ita r d e c o r.
ç ã o .” CÃ2 ÇE « Â Â E , Ed. Cid, a to II, cena 2.
N o p ró p r io P a s c a l, a p a la v r a coração
C . O c o n ju n to d o s se n tim e n to s , d a vi­
é ta m b é m to m a d a n o s e n tid o C ; p o r
d a a fe tiv a : e x em p lo , Passions de Tamour, ibid., 123;
1 ? E m o p o s iç ã o a o e s p ír ito , à in te li­ Lettres, ibid., 220; Pensées, p p . 3 9 9 ,4 5 8 .
g ê n c ia . " O h o m e m a c r e d ita fre q ü e n te - A lg u m a s vezes m e sm o ele re ú n e o s d o is
m e n te co n d u zir-se q u a n d o é c o n d u z id o e, s e n tid o s c o m o se eles fo sse m e q u iv a le n ­
e n q u a n to o seu e sp írito ten d e p a ra u m o b ­ te s, p o r e x em p lo p . 4 6 2 , o n d e o te rm o é
je tiv o , o seu c o ra ç ã o lev a-o in sen siv e l­ o p o s to a espírito, m a s se a p lic a a o m es­
m e n te p a r a u m o u t r o . ” Lτ RÃT7 E E ÃZ - m o te m p o a o c o n h e c im e n to d e D eu s sem
Tτ Z Â á , M áximes, X L I I l . C f . to d o o c a ­ p r o v a s , a t r a v é s d e u m a e v id ê n c ia
p ítu lo IV d o s Caracteres d e Lτ B 2 Z à è - im e d ia ta .
R E , q u e te m p o r títu lo “ O c o r a ç ã o ” e C f. Sentir, Sentimento, te x to e o b s e r­
t r a t a d a a m iz a d e , d o a m o r , d o re c o n h e ­ v a ç õ e s.
c im e n to , d o c iú m e , d o ó d io , d a fid e lid a ­ Rad. int.: K o rd i.
d e , d a a m b iç ã o , e tc .
2? E m o p o s iç ã o a o q u e a p a re c e d e fo ­ C O R A G E M G . ’A r ô p c ía ; L . Fortitu-
r a . “ A c o n s tâ n c ia d o s s á b io s é a p e n a s a do; D . M ut; E . Courage; F . Courage ; I.
a r te d e e n c e r r a r a s u a a g ita ç ã o n o c o r a ­ Coraggio.
A s e g u n d a d a s q u a t r o v i r t u d e s car­
ç ã o .” L τ R Ã T E Ã Z T τ Z Â á
7 E , M áxim es ,
X X . C f. a ex p ressão “ a c o n tra g o s to ” (em
deais* e m P Â τ ã Ã . I

Rad. int.: K u ra j.
fr a n c ê s “ à c o n tr e - c o e u r ” ).
D . M a is e sp e c ia lm e n te : o s s e n tim e n ­ C O R O L Á R I O L . Corollarium; D .
to s d e s im p a tia , d e c o m p a ix ã o , d e c a r i­ Koroiíar; E . Corolíary; F . Corolaire; I.
d a d e . “ U m a c a r ta c h e ia d e c o r a ç ã o .” E s ­ Coroliario.
te s e n tid o p e rte n c e m a is à lin g u a g e m c o r­ P r o p o s iç ã o q u e d e riv a im e d ia ta m e n ­
r e n te d o q u e à d a filo s o fia . te d e u m a o u tr a em v irtu d e a p e n a s d as leis
d a L ó g ic a ( p o r o u tr a s p a la v r a s , conse­
NOTA
quência form al). O p õ e -se a Teorema.
D e m o s a tr á s , p a r a o s e n tid o A , a s ci­ A p lic a se ig u a lm e n te à s p ro p o s iç õ e s
ta ç õ e s d e P a s c a l q u e sã o o s seus ex em p lo s d e m e n o r im p o r tâ n c ia o u d e m e n o r ex ­
m ais c a ra c te rístic o s. E ste se n tid o v em -lh e te n s ã o q u e s ã o d e d u z id a s d e u m a p r o p o ­
d e M éré (v er B ru n sc h v ic g , p e q u e n a e d i­ s iç ã o p rin c ip a l.
ç ã o d o s Pensées, p . 116). M e s m o n a s u a Rad. int.: K o ro la ri.
CORPO 214

C O R P O D . Korper ; E . B ody ; F . B . E m B io lo g ia , P s ic o lo g ia , S o c io lo ­
Corps ; I. Corpo. g ia , e tc ., c a ra c te rís tic a d e d u a s c o isa s q u e
A . T o d o objeto m a te r ia l c o n s titu íd o v a ria m s im u lta n e a m e n te c o m m a io r o u
p e la n o s s a p e rc e p ç ã o , q u e r d iz e r, to d o m e n o r re g u la rid a d e: “ A c o rre la ç ã o d o t a ­
g r u p o d e q u a lid a d e s q u e r e p re s e n ta m o s m a n h o e d o p e s o , d a d iv is ã o d o tr a b a lh o
c o m o e s tá v e l, in d e p e n d e n te de n ó s e si­ e d a d e n s id a d e d a p o p u la ç ã o , e t c . ” D iz-
tu a d o n o e s p a ç o . A e x te n s ã o em tr ê s d i­ se, e n tã o , q u e o s d o is te rm o s c o n s id e ra ­
m e n sõ e s e a m a ss a s ã o a s su as p r o p r ie ­ d o s e s tã o “ em c o r r e la ç ã o ’1.
d a d e s f u n d a m e n ta is .
O coeficiente (o u índice) de correla­
B . E s p e c ia lm e n te , o c o r p o h u m a n o
ção é u m n ú m e ro v a riá v e l d e — 1 a + 1
e m o p o s iç ã o a o e s p ir ito .
q u e re p re s e n ta c o n v e n c io n a lm e n te a lig a­
Corpo de números V e r n o ta a o a r t i ­ ç ã o ( d ir e ta o u in v e rs a ), e m a is o u m e n o s
g o Número real. e s tr e ita , e n tr e a s v a ria ç õ e s d e d o is d a d o s
R ad . int .: K o rp . e m p íric o s . S o b r e a s d ife re n te s fó r m u la s
C O R P O R A L IS M O V er Materialis­ u s a d a s p a r a r e p re s e n ta r n u m e ric a m e n te
m o, o b s e rv a ç õ e s . as co rre la çõ e s ver Suplemento n o fim d es­
C O R P Ú S C U L O D . K orpuskel; Cor - ta o b r a .
pusculum , Kõrperlein ( W Ã Â E E ); E . Cor­ C . L ig ação d e d o is fe n ô m e n o s tais q u e
puscle; F . Corpuscule; I. Corpúsculo. u m v a ria em fu n ç ã o d o o u tr o , p o r q u e
T e rm o v a g o : p e q u e n o s c o rp o s * n o existe u m elo de c a u s a lid a d e re a l e n tre a l­
s e n tid o A . S o b r e tu d o n o s sécu lo s X V II g u n s d o s seu s e le m e n to s , o u p o r q u e eles
e X V III , d isse -se d a s m o lé c u la s* e d o s dependem de causas co m u n s.
á to m o s (ver Atom ism o, Atómico); a p lic a ­
T2 íI «Tτ
se h o je ao s p e q u e n o s elem en to s c o rp o ra is ,
m a s d e o rd e m s u p e r io r e m e sm o v isív eis P o d e r-s e -ia d is tin g u ir p e la p a la v ra co-
(p o r e x e m p lo n a a n a to m ia o s corpúscu­ variação o s e n tid o B (lig a ç ã o n u m é ric a
los do tato). e m p iric a m e n te c o n s ta ta d a ) re s e rv a n d o
C h a m a -s e filo so fia corpuscular ( a n ti­ correlação p a r a o s e n tid o C , q u e s u p õ e
q u a d o ) (D . Corpuskularphilosophie , Cor- u m elo in trín s e c o e sta b e le c id o , a liá s , e n ­
puskulartheorie; E . Corpuscular p h ilo ­ tre o s d o is f a to s o b s e r v a d o s .
sophy; F . Philosophie corpusculaire) a Rad. int.: K o re la t.
te o r ia q u e c o n s is te , n a físic a , em ex p li-
c a r o s fe n ô m e n o s d e c o n ju n to a tra v é s d e C O R R E L A T I V O D . Entsprechend,
c e rto s a g r u p a m e n to s o u c e rta s p o siç õ e s korrelativ; E . Correlative; F . Correlatif;
d e p a rtíc u la s in visíveis d ev id o à s u a p e q u e ­ I. Correlativo.
n e z ( B τ T Ã Ç , D è T τ 2 è , B Ã à Â , e tc .).
E I E E Q u e e s tá em correlação* c o m o u tr a
Rad. int.·. K o rp u s k u l. c o isa . C h a m a -s e e s p e c ia lm e n te a ss im a o
C O R R E L A Ç Ã O D . {Correlation; E . f a la r d a te o r ia d a s re la ç õ e s ( r ò irg o s n )
Correlation; F . Corrélation; I. Corre- e m A 2 « è ó Â è o te rm o o p o s to a u m
I I E E

lazione. re la tiv o d a d o : “ U m re la tiv o é a p e n a s


A . N a d o u trin a d e A 2 « è ó Â è , o p o ­
I I E E a q u ilo q u e é e m re la ç ã o a o seu c o r r e la ti­
sição en tre d o is te rm o s relativos u m a o o u ­ v o ... O d u p lo é o d u p lo d a m e ta d e ; o c o ­
tr o . V er Correlativo. n h e c im e n to é o c o n h e c im e n to d o co g n o s-

S o b re C o r p o — É p re c iso d is tin g u ir, c o m a lin g u a g e m e o p e n s a m e n to e s p o n tâ ­


n e o s, o s fe n ô m e n o s p e rc e b id o s d o s c o rp o s p ro p r ia m e n te d ito s . N e ste a s p e c to , o c o r­
p o é c o n c e b id o c o m o u m g r u p o n a tu r a l d e fe n ô m e n o s s o lid á rio s ; ( M . Blondef) c o m o
u m c o n ju n to u n id o , o u p e lo m e n o s e s tá v e l, u m complexo d e o b je to s fo rn e c id o s pela
p e rc e p ç ã o . (M. Bernès)
215 “ C O SM O D 1C É 1A ”

cív el; o c o n h e c im e n to é c o g n o sc ív e l p a ra “ C o rre s p o n d ê n c ia s (T e o ria d a s )” L .


o c o n h e c im e n to .’' H τ O Â « Ç , Système
E Correspondendo; D . Entsprechung, Übe­
d'Aristote, p . 132. N o p r ó p r io H τ O Â « Ç E reinstimmung, Korrespondenz; E . Cor­
este te rm o é fre q ü e n te m e n te u tiliz a d o p a ­ respondence; F . Theorie des correspon­
r a d e s ig n a r os te rm o s o p o s to s q u e ele dances; I. Corrispondenza.
s u b s titu i n o seu “ m é to d o s in té tic o ” ao s D o u tr in a s e g u n d o a q u a l o u n iv e rso
c o n tr á r io s d e H e g el. V er Ensaio sobre os se c o m p õ e d e u m c e rto n ú m e ro de re in o s
elementos principais da representação , a n á lo g o s * c u jo s e le m e n to s re sp ec tiv o s se
c a p . I, § 1. c o rre sp o n d e m u m a u m e , p o r c o n se g u in ­
C O R R ELA TO L ó ; . S e ja m d u a s te , p o d e m r e c ip ro c a m e n te serv ir d e sím ­
classes A e B , s e n d o A u m a espécie d o gê­ b o lo s u m d o o u t r o , re v e la r as su as p r o ­
n e ro B. A e x p ressão “ N ã o -A ” (-A o u A ’) p rie d a d e s o u a té a g ir u m s o b re o o u tr o
d e s ig n a rá n a c la s s ific a ç ã o “ o s B q u e n ã o p o r “ s im p a tia ” . E s ta p a la v r a fo i p a r t i ­
s ã o A ” . N ã o -A c o n s titu i o correlato c u la r m e n te u s a d a p o r S ç á Çζ Ã 2 ;
E E

(ta m b é m se d iz em fra n c ê s négat , d o L . (Clavis hieroglyphica arcanorum per viam


Negation, c o isa n e g a d a ) d e A n a classe representationum et correspondentiarum,
B . A n e g a ç ã o n ã o te m a q u i a s u a sig n ifi­ 1784). E n tr o u n a lin g u a g e m lite ra ria
c a ç ã o h a b itu a l, u m a vez q u e d e te rm in a (B τ Â U τ T , B τ Z á Â τ « 2 , V 2 Â τ « Ç , e tc.).
E E E E

u m a su b cla sse e fe tiv a de B. Rad. int.: K o re s p o n d .


G e n e ra liz a n d o , p o d e m o s c o n s id e ra r
n ã o -A to m a d a a b s o lu ta m e n te , c o m o o C O R R U P Ç Ã O G . φ θ ο ρ ά ; L . Corrup-
correlato , q u e r d iz e r, o c o m p le m e n to d e tio; D . Vergehen; E . Corruption; F . Cor­
A n o U n iv e rso * d o d is c u rso . ruption; I. Corruzione.
C f. Indefinido , Lim itativo. U tiliz a -se esse te rm o e m filo so fia
(a lé m d o s seus d ife re n te s sen tid o s u su ais)
C O R R E S P O N D Ê N C IA D , Entspre-
p a r a d e s ig n a r o c o n c e ito g re g o φ θ ο ρ ά ,
chen, Korrespondenz; E . Corresponden­
o p o s to a yéveats (g e ra ç ã o , p ro d u ç ã o ):
ce ; F . C orrespondence; 1. C orns-
a c o n te c im e n to p e lo q u a l u m a c o isa d e i­
pondenza.
x a d e ser d e ta l m a n e ira q u e p o s sa a in d a
R e la ç ã o ló g ic a f u n d a m e n ta l q u e c o n ­
ser d e s ig n a d a p elo m e s m o n o m e .
siste em q u e , s e n d o d a d o u m te r m o , u m
o u v á rio s o u tro s te rm o s d e fin id o s s ã o p o r C RÍTIC A
isso m e sm o a s s in a la d o s em v irtu d e q u e r
U m a tr a d iç ã o m a is e x a ta s e ria des­
d e u m q u a d r o p re e x is te n te , q u e r d e u m a
truição.
fó r m u la g e ra l q u e c o n s titu i a s u a lei de
correspon dência. C Ó S M IC O D . Kosmisch; E . Cosm ic;
A c o rre s p o n d ê n c ia é d ita unívoca * se F . Cosmique; I. Cósmico.
a c a d a a n te c e d e n te a p e n a s c o rre s p o n d e R elativ o a o u n iv e rs o n o seu c o n ju n ­
u m ú n ic o c o n se q u e n te ; recíproca *, se c a ­ t o , e e sp e c ia lm e n te n a s u a e s tr u tu r a sid e ­
d a c o n s e q u e n te , to m a d o p o r a n te c e d e n ­ r a l. S e n tid o a n á lo g o a o d o m e sm o r a d i­
te , te m c o m o c o n s e q u e n te , p o r seu la d o ,
c a l n a p a la v r a cosmografia.
o te rm o q u e e ra o se u a n te c e d e n te , e tc .
Rad. int.: K o sm .
C f. Relação.
Rad. int.: K o re s p o n d e . “ C O S M O D IC É IA ” V er o bservações.

S o b re C o rre la to — (Négat) A rtig o d e v id o a Ch. Serrus.

S o b re “ C o s m o d íc é ia ” — T e rm o c ria d o p o r R e n o u v ie r, q u e o e x p lica assim : “ O


p ro b le m a q u e se co lo ca to d a filo s o fia te ís ta s o b o n o m e de te o d ic é ia a ss u m e p a ra a
C O S M O G O N IA 216

C O S M O G O N IA D . Kosmogonie; E . lógicas , re la tiv a s a o m u n d o , e as ciên c ia s


Cosmogony; F . Cosm ogonie ; I. Cos­ noológicas, re la tiv a s a o e sp írito . E m
mogonia. C Ã Z 2 ÇÃ e s ta p a la v r a d e sig n a as c iê n ­
I

E x p o s iç ã o (o m a is d a s vezes le n d á ria cias q u e A . C o m te c h a m a v a “ c o n c re ta s ” .


o u m ític a ) d a s o rig e n s e d a f o r m a ç ã o d o V er A bstratas (C iê n c ia s).
m undo. C O S M O S (a lg u m a s v ezes, m a s m u i­
Rad. int.\ K o sm o g o n i. to r a r a m e n te , em fra n c ê s , Cosme [RE -
C O S M O L O G IA D . Kosmologie; E . ÇÃ Z â « 2 E ]; G . κ ό σ μ ο ν , u tiliz a d o n as q u a ­
Cosm ology ; F . Cosmologie ; I. Cos­ t r o lín g u a s .)
O u n iv e r s o c o n s id e r a d o c o m o u m s is ­
mologia.
A . E m W Ã Â E E , e s tu d o d a s leis g e ra is te m a b e m o r d e n a d o (χ ο σ μ ο τ s i g n i f i c a p r i ­
d o u n iv e rso e d a s u a c o n s titu iç ã o d e c o n ­ m itiv a m e n te ordem); f o i a p l i c a d o a o u n i ­
ju n to , ta n to d o p o n to d e v ista e x p e rim e n ­ v e r s o p e l o s p i t a g ó r i c o s ( R ÇÃ Z â « 2
E E , M a­
ta l c o m o d o p o n to de v ista m etafísico . E s ­ nuel de phil. anc., I , 2 0 0 ), m a s n ã o e r a
te s e n tid o c o n s e rv o u -s e em c e rto s filó s o ­ a in d a u s u a l n e s te s e n tid o no te m p o de

fo s c o n te m p o râ n e o s ( D . M E R C I E R , E s c o ­ X E ÇÃ E Ã ÇI E , q u e o c ita c o m o u m a e x p re s ­
la d e L o v a in a ). s ã o té c n ic a :... “ ... ο π ω ϊ ό χ ο ί \σ ύ μ α >ο % vitó
B . P a r tin d o d a í, K τ Ç c h a m a cosmo­
I
τω ν σ ο φ ισ τώ ν κ ό σ μ ο s ε χ ε ι ” (M em orá­
logia racional ao c o n ju n to d o s p ro b le m a s veis, I, 1).
re la tiv o s à o rig e m e à n a tu r e z a d o m u n ­ “ C O S M O T É T IC O (I d e a lis m o )” E .
d o , c o n sid e ra d o c o m o u m a re a lid ad e . São cosmothetic idealism; F , Idéalisme cos-
estes p r o b le m a s q u e e n g e n d ra m a s anti­ m othétique.
nom ias . T e r m o c ria d o p o r H τ O« Â Ã Ç p a ra
I

Rad. int.\ K o sm o lo g i. d e s ig n a r a d o u tr in a q u e re c u s a a d m itir


u m a c o n sc iê n c ia im e d ia ta d o n â o -e u .
1. C O S M O L Ó G IC A (Prova) D a exis­
“ W e m a y s ty le th o s e d u a lis ts w h o d e n y
tê n c ia d e D e u s. D . Kosmologischer Be-
th e e v id e n c e o f c o n s c io u s n e s s to o u r im ­
weis; E . Cosmological argument; F . Preu-
m e d ia te k n o w le d g e o f a u g h t b e y o n d th e
ve cosmologique; L A rgom ento cosm o­
s p h e re o f m in d H ypothetical Dualists o r
lógico.
C osm othetic I d e a l i s t s L e c t u r e s , I ,
A r g u m e n to r e tir a d o d a e x istê n c ia d o
29S. E s te s ú ltim o s d iv id e m -s e e m d u a s
m u n d o e q u e p r o v a a e x istê n c ia d e D e u s
classes: I ? A q u e le s q u e a d m ite m “ a re ­
(c h a m a -se a in d a p r o v a a contingentia
p re s e n ta tiv e e n tity p re s e n t to th e m in d ,
m undi). K τ Ç o p õ e - n a à p ro v a ontolo-
I
b u t n o t a m e re m e n ta l m o d if ic a tio n ” 21
gica e à p ro v a físico-teológica ( Crítica da
r. p ., Id e a l d a r. p ., 4 ? , 5? e 6? seçõ es).
1. “ A os dualistas, que negam o testem unho da
2 . “ C O S M O L Ó G IC A S ” (C iê n c ia s) consciência em favor de um conhecim ento im ediato
de algum a coisa fo ra d o espírito, podem os cham ar
Em A Oú è 2 E ( Ensaio sobre a filo so fia D ualistas h ip o tético s o u Idealistas co sm o té tico s."
das ciências) o c o n ju n to d a s ciên cias é d i­ 2. “ um a en tidad e representativa presente a o es­
v id id o e m d o is g ru p o s : a s ciên cias cosmo- pírito, m as n ão um a simples m odificação m ental’’.

r a z ã o , in d e p e n d e n te m e n te d a c re n ç a n a p e rs o n a lid a d e d iv in a , u m a g e n e r a lid a d e ir ­
recu sáv el, p o is o m u n d o te m n ece ssid a d e d e ser ju s tific a d o lo g ic a m e n te p o r u m a c o rd o
e n tr e o s s e u s f e n ô m e n o s , a s s u a s leis d e o rd e m n a tu r a l e as leis d o e s p ír ito d o d e se jo
e d a v o n ta d e , q u e ta m b é m c o n ta m e n tr e estes fe n ô m e n o s , d e ta l m a n e ira q u e o a n i­
q u ila m e n to d o s ú ltim o s f a r ia d e s a p a re c e r o s o u tr o s . E x iste , p o r a ssim d iz e r, u m a
cosmodicéia, p r o b le m a ló g ico e m o r a l, a n te s d a te o d ic é ia , p r o b le m a te o ló g ic o .” La
nouvelle monadologie, a r t. C X X V I I I , p . 454. C f . C X X IX .
217 C R E D IB IL ID A D E

(D e m ó c rito , o s escolásticos, M aleb ran ch e, ro s e in s tin tiv o s , o c o rre la tiv o d a m o ra l


C lark e, N ew to n , A b ra h a m , T u ck er); e, 2?, n a o rd e m das id é ia s .” C ÃZ 2 ÇÃI , Trata­
a q u ele s q u e n ã o re c o n h ec em o u tr o o b je to do do encadeamento das idéias fu n d a ­
im e d ia to d a p e rc e p ç ã o a lé m d e u m e sta d o mentais, § 4 1 8 . E m p a r tic u la r , c o n ju n to
de e sp írito (L eib n iz, A rn a u ld , C o n d illa c, d e reg ras d e c o n d u ta sexual: “ U m h o m e m
K a n t e D e sc artes, c o m c ertas reserv as). sem c o s tu m e s .” “ T o d o a q u e le q u e ex ci­
íbid., 296. C f. D iscussions,l\ ss.; J o h n S. ta , fa v o re c e o u fa c ilita h a b itu a lm e n te o
M « Â Â , Filosofia de H am ilton, c a p . X . d e b o c h e , etc. atenta contra os costumes."
C O S T U M E S D . Sitie, Sitien; E . A . C ó d ig o p e n a l fra n c ê s , a r t. 334.
Behaviour, manners, habits, customs, C. P o r c o n se g u in te , “ m o r a l” n o s e n ­
character (n ã o ex iste te r m o tã o g e ra l co ­ tid o B : c o n ju n to d e ju íz o s s o b re a c o n ­
m o o fra n c ê s moeurs: morais, q u e n ã o é d u ta a d m itid o s n u m m e io , n u m a d e te r ­
n e c e s s a ria m e n te la u d a tiv o , só se d iz d a m in a d a é p o c a . É n e ste s e n tid o q u e L .
c o n d u ta e d o s p rin c íp io s m o ra is , b o n s o u Lé â« -B 2 Z 7 Â o p õ e à M o r a l (n o se n tid o
m a u s); B . G ood morais; F. Moeurs; I. A . A ) a C iê n c ia d o s c o s tu m e s , q u e r d iz er, a
Costumi; B . B uoni costuml. c iên c ia d a s c re n ç a s m o ra is a d m itid a s d e
A . C o n d u ta o r d in á r ia , h á b ito s (sem f a to e h is to ric a m e n te d e te rm in á v e is .
id é ia d e b em o u m a l); u so s d e u m p a ís , Rad, int.: A M o r ( i) , p lu r.; B .
d e u m a classe d e h o m e n s ; c o n ju n to d as B o n m o ri.
a ç õ e s q u e se o b s e rv a m d e f a to n u m a es­ C R E D I B I L I D A D E D . Glaubhaftig­
p é cie a n im a l. keit ; E . Credibility, credibleness; F . Cré­
B . (p ro v a v e lm e n te p o r a b re v ia ç ã o de dibilité; I. Credibilità, credulità (q u e r d i­
bons costumes) [E m fran cês] c o n d u ta ju l­ z er ta m b é m c re d u lid a d e ).
g a d a d ig n a d e a p ro v a ç ã o ; “ m o r a l” n o A . C a r a c te rís tic a d o q u e é crív el n o
sen tid o A (c o m p a ra r D . Sittenlehre). “ N a s e n tid o f r a c o d a p a la v r a crer * (v e r Cren­
a c e p ç ã o m ais a m p la d a p a la v r a , os cos­ ça, A ).
tumes c o m p re e n d e m q u a s e tu d o o q u e B . N u m s e n tid o f o r te , c a ra c te rís tic a
c o n s titu i o â m b ito d a e tn o lo g ia ; m a s e n ­ d o q u e m e re ce s e r c rid o , o u d a q u e le q u e
te n d em o s a q u i p o r co stu m es a p e n a s a q u i­ m e re c e se r c rid o .
lo q u e é , n a o r d e m d o s f a to s c o stu m e i­ Rad. int .: A . K red eb les; B . K red in d es.

S o b r e C o s tu m e s — O s e n tid o C n ã o m e p a re c e c o r r e to . Costumes im p lic a s e m ­


p re q u e se tr a te d e c o n d u ta , d e a ç õ e s , n ã o d e ju íz o s o u d e id é ia s. H á u m a g ra n d e
d ife re n ç a e n tre a História dos costumes, ta is c o m o eles e fe tiv a m e n te f o r a m , e a H is­
tória das crenças morais. (R. Berthelot )
E is a q u i o r e s to d o te x to d e C ÃZ 2 ÇÃI c u ja s p rim e ir a s lin h a s f o r a m a s ú n ic a s a
p o d e re m se r c ita d a s n o c o r p o d o a r tig o . P a re c e u -n o s ú til p re c is a r o q u e ele q u e ria
d iz e r: " . . . A ss im , o f a to d e u m p o v o te r o u n ã o o u s o d e c o n tr a ta r c a r p id e ir a s p a ra
u m e n te r r o o u d e fa z e r b a n q u e te s f u n e rá rio s , d e te r o u so d e in c in e ra r o s seu s m o r ­
to s o u d e o s e n te r r a r , isso se rá , d o n o s s o p o n to de v is ta , u m a q u e s tã o d e usos (coutu-
me) e n ã o d e costumes {moeurs); e, co m e f e ito , se esses u s o s se p o d e m lig a r a c e rta s
id é ia s re lig io sa s o u a elas c o n d u z ir , n ã o v em o s c o m o é q u e eles se lig a ra m à s id éias
q u e s ã o p ro p r ia m e n te d o â m b ito d a m o ra l o u a í c o n d u z e m . P e lo c o n tr á r io , a s h o n ­
ra s p r e s ta d a s a o s m a is v e lh o s, o re s p e ito d a h o s p ita lid a d e , a s o lid a rie d a d e d o s m e m ­
b r o s d a fa m ília p a r a a v in g a n ç a d o s m a le s o u d a s a f r o n ta s , s ã o tr a ç o s d e c o stu m e s
em re la ç ã o e v id e n te c o m c e rta s id é ia s m o r a is , e q u e u m a c u ltu r a m o r a l m a is a v a n ç a ­
d a d e p u r a r á , r e f o r ç a r á o u a p a g a r á .” N ã o e x is tirá n e ste te x to j á u m a te n d ê n c ia p a r a
d e sliz a r d o s e n tid o B p a r a o s e n tid o C ? O títu lo d o c a p ítu lo (V III) é: ‘ ‘D o s c o stu m e s
e d a s id é ia s m o ra is propriamente ditas."
C R E M A T ÍS T IC A 218

C R E M A T ÍS T IC A (do grego x y r u x a n o - D esd e Kτ ÇI , e s o b a su a in flu ê n c ia ,


T ix ij, A 2 « è I I E Â E è : ciência d a riqueza). a p a lav ra é e n ten d id a a in d a em o u tro s dois
C h a m a -s e concepção crematística d a sen tid o s:
ciên cia e c o n ô m ic a à q u e la q u e tem p o r o b ­ C. “ Ist d a s F ü rw a h rh a lte n n u r su b jek ­
je tiv o p ro c u r a r “ a m u ltip lic a ç ã o m a io r tiv z u re ic h e n d u n d w ird zugleich fü r o b -
possível d as riq uezas, sem q u e seja feito ca­ jeck tiv U n zu reich en d g e h alten , so heisst es
so d a utilid ad e m aio r o u m e n o r q u e to m a m G la u b e n .” 1 Crítica da razão pura , M e-
essas riq u ezas, c o n fo rm e elas v en h am a ser to d . tr a n s e ., c a p . II, seção III (V o n M ei­
co n su m id as p o r ta l in d iv íd u o o u p o r tal o u ­ n e n , W issen , G la u b e n ). A p a la v ra d esig ­
tr o ” (Lτ Çá2 à , “ L ’idée d e justice d istrib u ­ n a , e n tã o , u m a s s e n tim e n to p e rfe ito n o
tiv e ” , Revue de m étapk., IX , 741). sen tid o d e q u e e la e x clu iria a d ú v id a sem
E s te te rm o é g e ra lm e n te p e jo r a tiv o . c o n tu d o te r o c a r á te r in te le ctu a l e lo g ica­
V er as o b s e rv a ç õ e s . m e n te c o m u n ic á v e l d o sab e r:
C R E N Ç A D . Glauben ; E . Belief, F . a ) e n q u a n to e sta a d esã o tem c o m o b a ­
Croyance; I. Credenza. se m o tiv o s in d iv id u a is d e se n tim e n to , de
A . N o sen tid o fra c o e a m p io , é o e q u i­ in teresse p rá tic o u tilitá r io , e tc .;
v a len te d e opinião , e d e sig n a u m a sse n ti­ b ) e n q u a n to te m p o r b a se u m p rin c í­
m en to im p erfeito , q u e, ta l co m o a o p in iã o , p io a o q u a l se re c o n h ec e u m v a lo r u n iv e r­
c o m p o rta to d o s os g rau s d e p ro b a b ilid a d e . sal (p o r ex em p lo a m o ra lid a d e ) e e n q u a n to
B . “ N o se n tid o re s trito , literal e esco ­
lástico d a p a ia v ra , é d a r c ré d ito a u m a tes­
I . “ Q u a n d o o assentim ento só i suficiente do
te m u n h a (credere), fia r-se sem v isão d ire ­
ponto de vista subjetivo, e é tido com o insuficiente
ta n a q u e la q u e sab e, e fiar-se nele d e v id o do ponto de vista objetivo, cham a-se crença" (G lau­
a razõ es ex trín secas a o q ue é a f ir m a d o .” ben·, esta palavra só se pode traduzir por fé ).

S o b re C re m a tístic a — XQ^fianarixij em A ristó te le s q u e r d iz e r a a rte de g a n h a r d i­


n h e iro . L ig a-se já a ela u m c e rto d e sfa v o r: é assim q u e n a Política , I, I I I , ele n o ta q u e
o d in h e iro em m o e d a (vófuou a ) n ã o é u m a riq u e z a p o r n a tu re z a , m a s a p en as p o r c o n ­
v e n çã o (vófiu o p o s to a ipvaet): “ É u m a e s tra n h a riq u e z a e sta c u jo p o s s u id o r, a in d a qu e
dela e steja p ro v id o , m o rre rá de fo m e co m o o M id as d a fá b u la , q u e em ra z ã o d o seu
desejo c ú p id o via tra n sfo rm a r-se em o u ro tu d o o q u e lh e serv iam ” (1257b14-17). O m es­
m o em S ism o n d i: “ A in d a q u e (a e c o n o m ia p o lític a o rto d o x a ) te n h a re fu ta d o d e fin iti­
v a m en te o e rro d o m e rc a n tilism o , c o n stitu i u m m e rc a n tilism o de u m tip o n o v o , a p en a s
c o n sid e ra o s in teresses d o c o m e rc ia n te e p en sa te r a ss e g u ra d o c o m isso os d a c o letiv id a ­
de in te ira , o q u e a p e n a s seria v e rd a d e se ela se c o m p u sesse só de c o m e rc ia n te s. E la n ã o
é e c o n o m ia p o lític a v e rd a d e ira , a rte de g o v e rn a r a c id a d e n o in teresse g e ra l, m as a rte
d o e n riq u e c im e n to in d iv id u a l, ‘c re m a tís tic a ’ c o n fo rm e a p a la v ra c ria d a p o r S ism o n ­
d i . ” Elie H a l e v y , Sismondi, I n tr o d ., p. 15. N este te x to “ c r ia d a ” seria v a n ta jo s a m e n ­
te s u b s titu íd a p o r “ r e to m a d a ” . (M . Marsal)
S o b re C re n ç a — A rtig o m o d ific a d o d ep o is d a d iscu ssão n a sessão de 28 d e m aio
d e 1903 e u lte rio rm e n te c o n fo rm e a s o b serv aç õ es d e R ené Daude (a d iç ão d o se n tid o
D q u e se to r n o u fre q ü e n te n a p sico lo g ia c o n te m p o râ n e a ). O s sen tid o s B e C , p rim itiv a ­
m e n te re u n id o s n u m a ú n ic a ru b r ic a , f o r a m d istin g u id o s u m d o o u tr o e o sen tid o C foi
d iv id id o seg u n d o u m a in d ic a çã o d o p ró p rio te x to d e K a n t . A lg u m a s m o d ificaçõ es c o r­
relativ as fo ra m in tro d u z id a s n a re d a ç ã o , m a s n ã o n a s co n clu sõ e s d a c rític a . A d e fin i­
ção d o sen tid o B e o c o m e n tá rio d o se n tid o C , b , d ev em -se a M . B Â ÃÇá E Â . E le a c re s­
c e n to u a d e fin iç ã o de u m q u in to s e n tid o , q u e fo i ju lg a d o d e m a s ia d o d iscu tív el p a ra
ser in se rid o n o p r ó p r io c o rp o d o a rtig o , m a s q u e a S o c ie d ad e o u v iu co m g ra n d e in te re s ­
se e d e cid iu u n á n im e m e n te c ita r n a s o b serv açõ es:
219 CRENÇA

é tid a , p o r c o n s e q ü ê n c ia , c o m o le g itim a . Se se a d m ite q u e e n tre essas causas de


“ A a f ir m a ç ã o r e p o u s a , e n tã o , s o b re u m a firm a ç ã o a lg u m a s p o s su e m u m v a lo r
a to de v o n ta d e q u e n ã o d e ix a d e te r m o ­ p r ó p r io , c o m o o a d m ite m os p a rtid á rio s
tiv o s v á lid o s , o u m e sm o m o tiv o s c o m u ­ d a “ fé m o r a l ” , h a v e r á e n tã o c re n ç a s (C )
n ic áv e is, m a s c u jo s m o tiv o s sã o h e te r o ­ legítim as e, c o n tu d o , su b jetiv as e in c o m u ­
g ê n e o s a o c o n te ú d o d a c o isa a f ir m a d a , nicáveis lo g ic a m en te q u e , p o r c o n se q ü ê n ­
(p o r e xem plo os p o s tu la d o s d a R a z ã o p rá ­ c ia , n ã o s e rã o certezas*.
t ic a ) .” (M . Blondel ) Se se a d m ite , com H τ O« Â I ÃÇ , q u e ,
D. A ss e n tim e n to , e n q u a n to o p o s to re p o u sa n d o to d a a certeza so b re a firm a ­
q u er à sim ples representação* q u e r à texis*. ções indem onstráveis, a crença está n a b a ­
“ O s ju íz o s v irtu a is ... são ju íz o s c o m p le ­ se d a p ró p ria certeza ló gica*, ela d istin-
to s: eles têm o seu su je ito , o seu a tr ib u to , gue-se ain d a dela.
a s u a có p u la, to d a s as suas c arac te rístic as Se, fin a lm e n te , se a d m ite com RE -
fo rm a is: a p e n a s lhes fa lta a c r e n ç a .” E d . NOUViER q u e n en h u m a a firm a ç ã o se p o ­
GÃζ Â ÃI , Lógica, c a p . II, § 50. C f . D E Â τ - de pro d u zir sem m otivos afetivos e v o lu n ­
CROIX, A crença, n o Novo tratado de psi­
tá rio s , a cren ça e s ta rá sem p re m istu ra d a
cologia,
co m a certeza*, a certeza* p u ra será im ­
CRÍTICA possível de fa to , m as p o d erá, con tu d o , ser
c o n sid e ra d a co m o o lim ite ideal em d ire ­
N e sta s d iv e rsa s ace p ç õ es o te rm o
c re n ç a tem u m a lc a n c e m ais p sico ló g ico
ção ao q u a l ten d e o asse n tim e n to p erfei­
d o q ue ló g ico , d e sig n a n d o m e sm o n o sen ­ to à m ed id a q u e a ra z ã o vai ten d o u m a
tid o C m a is o f a to s u b je tiv o , u m e s ta d o p a rtic ip a ç ã o m a io r.
de a lm a in d iv id u a l, d o q u e u m a a f ir m a ­ V ê-se, p o is, q u e em to d o s os caso s: 1?
ç ã o e m q u e se p o s sa m d a r ra z õ e s ló g ic a s A c re n ç a é s e m p re d is tin ta d a c e rte z a o u
a d e q u a d a s e c o m u n ic á v e is . d o s a b e r, p e lo m e n o s d o p o n to d e v ista
Se se c o n s id e ra r a a f ir m a ç ã o c o m o d a d e fin iç ã o n o m in a l.
sim p le s f a to p s ic o ló g ic o , este f a to p o d e 2 f A s a c e p ç õ e s B e C d o te rm o cren­
e v id e n te m e n te te r causas f o r a d a s razões ça tê m b a s ta n te p a re n te s c o p a r a q u e este
e c o n c e b e r-s e -á q u e u m a a f ir m a ç ã o sem d u p lo e m p re g o d o te r m o s e ja m a n tid o .
re se rv a s se p o s sa p ro d u z ir f o r a d o s caso s V e r a c rític a d e Certeza.
o n d e ela se c a r a c te riz a r ia c o m o certeza* Rad. int.: 1? N o s e n tid o A , O p in i; 2?
o u saber. N o sen tid o B, F id ; 3? N o sen tid o C , K red.

“ C re r, n u m s e n tid o m a is re c e n te e m a is f o r te , é s o m a r a o s m o tiv o s q u e p a re c e m
su fic ie n te s p a r a ju s tif ic a r u m a s s e n tim e n to in te le c tu a l e s ta p a r te d e c o n v ic ç ã o q u e
v a i, n ã o d o s u je ito c o g n o sc e n te a u m o b je to c o n h e c id o , m a s d e u m ser a o u tr o ser;
q u e , p o r c o n s e q ü ê n c ia , p ro c e d e d e o u tr a s p o tê n c ia s além d o e n te n d im e n to e se liga
m e n o s à in te lig ib ilid a d e d o q u e à a tiv id a d e o u à b o n d a d e d a q u ilo e m q u e se crê. A s ­
sim e n te n d id a , a c re n ç a é o c o n s e n tim e n to e fe tiv o e p r á tic o q u e c o m p le ta o a ss e n ti­
m e n to ra c io n a l d a d o às v e rd a d e s , a o s seres c u jo c o n h e c im e n to n ã o e s g o ta a p le n itu ­
d e in te rio r ; ela é , p o is , in trín s e c a e n ã o e x trín s e c a , e u lte rio r à p r ó p r ia v isão d o esp í­
r ito , p o is , n o a to d o c o n h e c im e n to , o c o n h e c im e n to n ã o é o to d o d o a to e, n o o b je to
c o n h e c id o , se ele n ã o fo r u m p u r o a b s tr a to , o c o n h e c id o n ã o é a m e d id a a tu a l d o
re a l. N e sta a c e p ç ã o , a p a la v r a crença d e sig n a tu d o a q u ilo q u e n as n o s sa s a firm a ç õ e s
p ra tic a m e n te o u m e sm o e sp e c u la tiv a m e n te c e r ta s im p lic a , ta n to n o s u je ito c o m o n o
o b je to , u m e le m e n to c o m p le m e n ta r e s o lid á rio d a re p re s e n ta ç ã o in te le c tu a l, m a s q u e
n ã o é a ela im e d ia ta m e n te re d u tív e l.” (M . Blondel)
C R IA Ç Ã O 220

C R IA Ç Ã O D . Schöpfung, Schaffen; m étodo , V p a r te , § 3. “ Se D eus n ã o q u i­


E . Creation; F . Création; I. Creazione ser q u e e x is ta o m u n d o ; e i-lo , p o is , r e d u ­
(utilizam -se ig u alm ente n o sentido geral, n o z id o a n a d a ... Se o m u n d o su b sis te é,
se n tid o a rtís tic o e n o s e n tid o te o ló g ic o ). p o is , p o r q u e D e u s c o n tin u a a q u e re r q u e
A . P r o d u ç ã o d e u m a c o isa q u a lq u e r , o m u n d o s e ja . A c o n s e rv a ç ã o d a s c r ia tu ­
e m p a r tic u la r se e la é n o v a n a su a fo r m a ,
ra s é, a p e n a s , p o is , d a p a r te de D e u s, a
m as p o r in te rm é d io de e lem en to s p reex is­
su a criação c o n t í n u a M τ Â ζ 2 τ ÇT E 7 E ,
te n te s: c ria ç ã o de u m a o b r a de a r te , c r ia ­
Entretiens métaphysiques, V II, 7 (ed .
ç ã o de u m c am in h o ; im a g in a ç ã o c ria d o ra ,
F o n ta n a , I, 150). C f. Concurso.
É neste sen tid o , m as ta m b é m p o r u m a
esp écie d e c rític a em re la ç ã o a o se n tid o Rad. int.\ K re.
B , q u e H τ E T3 E Â in titu lo u a su a o b ra ; C R I M E D . Verbrechen; E. Crime; F.
Natürliche Schöpfungsgeschichte. Ele ex­ Crime ; I. Delitto e m a is ra ra m e n te
p l i c a i s ? e d ., p p . 7-9) q u e se p o d e e n te n ­
crimine.
d e r p o r Schöpfung ta n to a p ro d u ç ã o d a
A . T o d o a to c o n s id e ra d o c o m o u rn a
m a té ria , die Entstehung der Materie (o
f a lta g ra v e à s re g ra s d e m o r a l a d m itid a s
q u e está em to d o o c a so fo ra d a e x p erien ­
cia e , p o r c o n s e q ü ê n c ia , d a c iê n c ia ), p o r u m a so c ie d a d e . Se o a to fo r m e n o s
q u a n to die Entstehung der Form (o q u e g ra v e c o n s titu í a p e n a s u rn a falta.
é o o b je to d o seu tr a ta d o ) . “ S o w ird es B . N o sentido legal, mais restrito : a to
in Z u k u n f t w o h l b e sse r sein d e n se lb e n q u e é; 1?, p e rs e g u id o e m n o m e d e to d a
d u r c h d ie s tre n g e re B ez e ic h n u n g d er E n t­ a s o c ie d a d e e n ã o s ó e m n o m e d o p a r t i ­
w ic k e lu n g zu e r s e tz e n .” 1 fb id ., 9. c u la r q u e fo i le sa d o p o r esse a to ; 2 ? , p a s ­
B . Especialmente e absolutamente: se sível d e u rn a p e n a a flitiv a o u in f a m a n te
se a d m itir q u e o m u n d o n ã o é e te rn o , m as e n ã o s ó c o rre c io n a l (o a to p assív el d e
q u e teve in icio n o te m p o , ch am a -se cria­ u rn a p e n a c o rre c io n a l é u m d e lito ). Code
ção o u criação ex nihilo ao fa to pelo qual penal, a r t. 1.
ele a d q u iriu a ex istên cia. “ C re a tio est fac- A e n u m e r a ç ã o d a s p e n a s a flitiv a s o u
tio alicujus de n ih ilo ... nihil aliud est q u am in fa m a n te s é d a d a p e lo m e sm o C ó d ig o ,
re la tio q u a e d a m ra tio n is q u a e est in crea- a rtig o s 7 e 8; a e n u m e ra ç ã o das p en as co r-
tu r a ex h o c q u o d in c ep it esse p o st n ih il.”
re c io n a is c o n s titu i o a r tig o 9 . N ã o é d a ­
A Â ζ 2 Ã , Ã G2 τ Çá , Summa de creatu-
E I E
d a n e m d e u m a s n e m d e o u tr a s u m a d e ­
ris, I, q u aest. 1, a rt. 2, (O p. X V II, p p . 2-3.)
fin iç ã o g e ra l.
C . A criação continua , n o s esco lásti­
co s e n o s c a rte s ia n o s, é a a ç ã o p e la q u a l
Rad. int.: K rim in .
D eus co n serv a o m u n d o n a existência, ação C R I M I N A L I D A D E D . Kriminalität
q u e é a m e sm a q u e a q u e la p e la q u a l E le {Verbrecherische Anlage n o s e n tid o A J;
o p ro d u z iu p rim itiv a m e n te . Discurso do
E . Criminality; F . Criminalité; I . Crimi-
nalità.
1. “ P or isso, será m uito preferível daqui para
a frente m elhor designar esta (a produção das fo r­ A . (p o u c o u s a d o ) C a r a c te rís tic a d e
mas) pela expressão mais precisa evo lu çã o ." u m a to o u d e u m in d iv id u o c rim in o s o .

S o b re C r ia ç ã o — P a re c e -m e q u e criação n ã o se p o d e r ia d iz e r d e u m c o m e ç o sem
c r ia d o r e, em c o m p e n s a ç ã o , n ã o im p lic a n e c e s s a ria m e n te a id é ia d e c o m e ç o . (J . La-
chelier) A id é ia d e c o m e ç o n o te m p o e stá a p e n a s lig a d a a u m a f o r m a d a id é ia de
c ria ç ã o ex nihilo. M a is g e ra lm e n te , n e ste s e n tid o , a p a la v r a criação d e sig n a u m a d e ­
p e n d ê n c ia ra d ic a l, n ã o só de e ssên cia, m as de e x istê n c ia , n ã o só d e f o r m a , m a s d e
m a té r ia , se ja q u a l f o r a m a n e ira p e la q u a l se re p re s e n te e sta d e p e n d ê n c ia e m esm o
f o r a d o te m p o . (M . Bernès )
221 C R ÍT IC A

B. F r e q u ê n c ia e n a tu re z a d o s crim es Critério da verdade a u m s in a l e x trín s e ­


re la tiv a m e n te a u m te m p o , u m p a ís , u m a co o u a u m a c a r a c te rís tic a in trín se c a q u e
classe d e h o m e n s , etc. p e rm ite m re c o n h e c e r a v e rd a d e e d istin -
C R I M I N O L O G IA D . Kriminologie g u i-Ia s e g u ra m e n te d o e r r o (Eè I ë TÃè ,
[raro ]; E . Criminology ; F . Criminologie;
D E è Tτ 2 I E è , e tc .).
I. Criminologia.
Rad. int.: K rite ri.
C iência d a crim in alidade n o s d o is senti­ “ C R I T E R I O L O G I A ” P a r te d a L ó ­
d o s: c aracterísticas c o m u n s a p re se n ta d as gica re la tiv a a o s c rité rio s . N e o lo g ism o ,
pelo s crim es, psicologia d o s crim in osos, e tc p a rtic u la rm e n te n a E sc o la d e L o v a in a .
Rad. int.: K rim in o lo g i. Rad. int.: K rite rio lo g i.
“ C R IP T O L Ó G IC O , C R IP T O R ÍS T I-
C R Í T IC A D . K ritik ; E . Critique e s o ­
C O ” E m A Oú è 2 E . V er Autóptico.
b re tu d o n o s e n tid o B, criticism; F . Criti­
“ C R IP T O S IQ U 1 A , F E N Ô M E N O S que; I. Critica.
C R IP T O P S ÍQ U 1 C O S ” T erm o s p ro p o sto s P rim itiv a m e n te (d e x q Cm , julgar) a
p o r Bë 2 τ T p a ra s u b stitu ir as p a la v ra s p a r te d a L ó g ica q u e tr a ta d o ju íz o . “ C ri­
“ in c o n sc ie n te ” (s u b st.), “ fe n ô m e n o s psí­ tic a , p a rs d ia lecticae de ju d ic io , q u asi j u ­
q u ico s in co n scien tes” . V er “ L a cry p to p sy - d ic ia r ia .” GÃTÂ E Ç« Z è , 4 9 2 a . (A p e n as in ­
c h ie ” , Revue philos ., a g o sto d e 1907. d ic a este s e n tid o e o d e criticus dies , t e r ­
C R IS T A L IZ A Ç Ã O T e rm o a d o ta d o m o m é d ic o , “ in quo m orbiJudicium seu
p o r SI E Çá 7 τ Â , q u e se to rn o u c o rre n te n a crisis“.) A p a la v ra j á n ã o é u tilizad a n esta
p sico lo g ia c o n te m p o râ n e a p a r a re p re se n ­ acepção.
ta r o fen ô m e n o d e tra n s fig u ra ç ã o d o “ o b ­ A . E x a m e d e u m p rin c íp io o u d e u m
je to a m a d o ” so b a in flu ê n c ia d a p a ix ã o , f a to , a fim d e p r o d u z ir s o b re ele u m ju í­
ta l co m o ele é d e sc rito p o r MÃÂ « è 2 E , se­
zo de apreciação*. E x iste e sp e c ia lm e n te
g u n d o L ucrécio , n o Misantropo , a to II, ce­ u m a crítica de arte (estética) e u m a críti­
n a V (155-174). A p ró p ria passagem de L u ­
ca da verdade (ló g ica). E la é d e fin id a p o r
crécio é, aliás, v isiv elm ente in s p ira d a em
Kτ ÇI neste s e n tid o a m p lo : “ u m livre e
p ú b lic o e x a m e ” ( eine freie und öffentli­
P Â τ I ã Ã , República , liv ro V , 474, D -3.
che Prüfung) (Crit. razão pura , P refác io ,
S o b re a o rig e m e o s e n tid o m e ta f ó r i­
1? e d iç ã o , n o ta ). C h a m a -s e , n e ste s e n ti­
co d e Cristalização ver SI E Çá 7 τ Â , Do
d o , espírito crítico à q u e le q u e n ã o a c e ita
am or , c a p . II ss. e A pêndice {Le rameau
n e n h u m a a ss e rç ã o sem se in te rro g a r p r i­
de Salzbourg).
m e iro s o b re o v a lo r d essa a ss e rç ã o , q u e r
C R I T É R I O G . K q i t t ¡q i o v ; D . Krite­ d o p o n to d e v ista d o seu c o n te ú d o (c ríti­
rium, Merkmal; E . Criterion ; F . Critère ca in te rn a ), q u e r d o p o n to de v ista d a su a
o u critérium; I. Criterio. o rig e m (c rítica e x te rn a ). A p lic aç õ e s p a r ­
A . S in a l a p a r e n te q u e p e rm ite re c o ­ tic u la re s: Crítica histórica, crítica verbal.
n h e c e r u m a c o isa o u u m a n o ç ã o . B. R estrin g in d o este sen tid o ao ju ízo
B. C a r a c te rís tic a o u p ro p r ie d a d e de desfavorável, cham a-se crítica quer a um a
u m o b je to (p e sso a o u co isa) seg u n d o a o b jeção o u u m a d esap ro v açã o que visem
q u a l se fa z s o b re ele u m ju íz o de um p o n to especial, q u er a um estu d o de
a p re c ia ç ã o * . E m p a r tic u la r , c h a m a -se c o n ju n to q u e vise re fu ta r ou co n d en ar

S obre C ritério — é p o ste rio r a A 2 « è I ó I E Â E è . {R. Euckerí) É de uso


co rre n te nos esto ico s. D « ó ; E ÇE è Lτ é RC« Ã , V II, 54.
R. B. Perry assin ala-n o s q u e esta p a la v ra , em inglês, é fre q u e n te m e n te u tilizada
n o sen tid o de “ s ta n d a rd ” , o u d e p rin c íp io d e m ed id a.
C R IT IC IS M O 222

u rn a o b ra . A in d a q u e este s e n tid o p e rte n ­ C R Í T I C O D . Kritisch; E . Criticai; F .


ç a s o b re tu d o à lin g u a g e m c o r r e n te , e n ­ Critique ; I. Critico.
c o n tra -s e n a filo s o fia : “ J o u f f r o y d irig e A . C o m o o s e n tid o A d o s u b s ta n tiv o .
c o n tr a a d o u tr in a e sc o c esa a p e n a s d u a s E s p írito crítico (so b u m asp ecto p o sitiv o ):
c rític a s ” (ela é d e m a s ia d o c irc u n s p e c ta a q u e le q u e n ã o a c e ita n e n h u m a a ss e rç ã o
e m m e ta fís ic a ; sa tisfa z -s e d e m a s ia d o f a ­ sem se in te r r o g a r p rim e iro s o b re o v a lo r
c ilm e n te a o in v o c a r a s “ cre n ça s n a t u ­ d e ssa a ss e rç ã o , ta n to d o p o n to de v ista
r a is ” ). E. BÃZ I 2 ÃZ 7 , Études cThistoire d o seu c o n te ú d o (c rític a in te rn a ) q u a n to
de la P h i l o s o p h i e , p . 431. d o p o n to d e v is ta d a s u a o rig e m (critica
E s te s e n tid o é o m a is fr e q u e n te p a ra e x te rn a ); b a s ta n te m a is r a r a m e n te (so b
o v e rb o criticar. u m a s p e c to n e g a tiv o ): a q u e le q u e é m ais
Rad. int.\ K ritik . in c lin a d o a n o ta r o s d e fe ito s d o q u e as
q u a lid a d e s, o u d o q u e a p ro d u z ir ele m es­
C R IT IC IS M O D . Kritizismus; E . Cri­
m o q u a lq u e r c o isa d e p o s itiv o .
ticism ( m u ito a m p lo , s ig n ific a ta m b é m
B . Q u e c o n s titu í u m a crise (v er a trá s ,
crítica); F . Criticisms; I. Criticismo. Crítica, e tim o lo g ia ) o u q u e se re la c io n a
A . D o u tr in a d e K a n t.
c o m u m a crise. É a ssim q u e S a i n t -
B . N o s e n tid o a m p lo , c h a m a -s e c riti­
S i m o n e A u g u ste C o m t e o p u s e ra m o pe­
cism o a to d a d o u tr in a s e g u n d o a q u a l o
ríodo crítico a o s períodos orgânicos e n ­
e sp írito c o n stitu i o c o n h e c im e n to em v ir­
tre o s q u a is e la se in sere.
tu d e de fo rm as* o u de categorias* q u e lhe
P o r c o n se q ü ê n c ia , a o fa la r d e u m a si­
são p ró p ria s e q u e , p o r c o n se q ü ê n c ia , são tu a ç ã o m a te ria l o u in te le c tu a l p e rig o s a a
a o m e sm o te m p o in falív eis n o s lim ites d a
o u , p elo m e n o s, in stá v e l, n a q u a l n ã o nos
e x p e riê n c ia e sem v a lo r f o r a d e la . “ K ri-
p o d e m o s m a n te r. “ N a d a é m ais c u rio s o
tic is m u s ” , d iz de fo r m a a in d a m ais g e ra l
d o q u e a situ a ç ã o c rític a a q u e R en o u v ie r
E « è Â E 2 , “ h eisst seit K a n t je d e P h ilo s o ­ se e n c o n tr a r e d u z id o .” F o u i l l é e , Lm l í ­
p h isc h e R ic h tu n g , w elche d ie T h e o rie d es berté et le determinism e , p . 4 4 6 .
E rk e n n e n s z u r G ru n d la g e a lle s P h ilo s o - Rad. i n t A . K ritik e n ; B . K ritik ,
p h ire n s m a c h t, — im b e so n d e re n a b e r die K ritik a l.
K a n t’sch e L e h re s e lb s t.” 1 V o, 4 2 2 . V er
Crítica. “ C R U C IA L (E x p e riê n c ia )” In s ta n tia
Rad. int.: K ritic is m . c ru c is, B a c o n , N o v . org., I I , 36.
B a c o n c o lo c a n o d é c im o q u a r to nív el
d o s “ fa to s p riv ile g ia d o s” o s exemplos da
1. " K riticism u s, desde K a n t , diz-se de toda ten­ cruz; o seu n o m e é r e tir a d o d o s m a rc o s
dência filosófica que consiste em fazer da teoria do
in d ic a d o re s d a s e n c ru z ilh a d a s (cruces).
conhecimento a base de toda investigação filosófica
— mas, sobretudo, em part icular, da doutrina do E les c o n s is te m , q u a n d o o e sp írito e s tá
próprio K a n t .” s u s p e n s o e n tre d u a s c a u s a s , em e n c o n -

S o b re C ritic is m o — N o s e n tid o a m p lo B, criticismo d e sig n a : 1?, u m a d is p o s iç ã o


m e tó d ic a d o e s p írito e , p o r a ssim d iz e r, u m estado (n o s e n tid o c o m tia n o d a p a la v ra );
2 ? , u m a d o u tr in a filo s ó fic a c a r a c te riz a d a p o r te o ria s q u e p o d e m s e r c o m u n s a d iv e r­
so s siste m a s . E m p rim e ir o lu g a r, o c ritic is m o c o n s is te n e ssa a titu d e s is te m á tic a : em
vez d e se c o n s id e r a r d ire ta m e n te o s o b je to s c o n h e c id o s , c o lo c a r-se p rim e iro (e q u a l­
q u e r q u e s e ja a r e s p o s ta u lte rio r q u e a ela se d e r) a q u e s tã o d e s a b e r c o m o c o n h e c e ­
m o s o q u e p o d e m o s c o n h e c e r. E m s e g u n d o lu g a r , c ritic is m o d e sig n a as d o u tr in a s
q u e d ã o à q u e s tã o p re c e d e n te u m a s o lu ç ã o id e a lis ta o u s u b je tiv is ta , m a s sem q u e
p o s siv e lm e n te o problem a c ritic is ta c o m p o r te e x c lu siv a m e n te ta is s o lu ç õ e s. (M.
Blondef)
223 C U R IE (P rin cip io de)

tr a r u m c a so q u e e lim in a o u q u e d e sig n a N OTA S


n itid a m e n te u m a d e n tr e e las. 1. A p a la v r a cultura, n o s e n tid o B ,
P o r g e n e ra liz a ç ã o , to d a a e x p eriên cia te m s e m p re u m m a tiz e lo g io so . O q u e
d e cisiv a p o r o u c o n tr a u m a h ip ó te s e : ex­ ta m b é m a co n te c e fre q u e n te m e n te n o sen ­
p e rie n c ia d e P τ è Tτ Â d o P u y d e D ó m e ; tid o A : s u b e n te n d e -s e e n tã o q u e a c u ltu ­
e x p e riê n c ia d e F 2 E è ÇE Â e A 2 τ ; Ã p r o ­ r a d e q u e se t r a t a n ã o v a i a té o p o n to d e
v a n d o q u e a v ib ra ç ã o lu m in o s a é tr a n s ­ p r o d u z ir u m a h ip e r tr o f ia . O tre in o e sp e ­
v e rsa l p e lo f a to d e o s ra io s p o la riz a d o s c ia liz a d o d e u m ciclista n ã o é ‘‘c u ltu r a fí­
e m á n g u lo r e to n ã o in te r f e r ir e m , e tc . s ic a ” . C o n tu d o , n e ste s e n tid o , a c u ltu ra
C U L T U R A D . K ultur e m to d o s o s p o d e se r c o n s id e ra d a a lg u m a s vezes c o ­
s e n tid o s ; A . B . Bildung; E . Culture em m o d e m a s ia d o p a rc ia l e c o m o ta l n ã o es­
c a p a r a u m ju íz o d esfav o ráv el: “ U m a c u l­
to d o s o s s e n tid o s; A . Improvement; F .
t u r a p u ra m e n te liv re s c a .”
Culture; I. Coltura, cultura.
2 . Cultura seg u id a d e u m c o m p le m en ­
A . N o s e n tid o m a is e s tr e ito e m ais
t o (c u ltu ra d a m e m ó ria , c u ltu r a d o e sp í­
p ró x im o d o s e n tid o m a te ria l, d e se n v o lv i­
r ito ) e o v e rb o cultivar , to m a d o n o m es­
m e n to (o u r e s u lta d o d o d e se n v o lv im e n ­
m o s e n tid o , e n c o n tr a m - s e d e sd e o séc u lo
to ) d e c e rta s fa c u ld a d e s d o e sp irito o u d o
X V I, m as a p a la v r a u tiliz a d a s e p a ra d a ­
c o r p o a tra v é s d e u m ex ercício a p r o p r ia ­
m e n te n o s e n tid o A o u B n ã o p a re c e te r
d o . “ A c u ltu ra f ís ic a .” “ U rn a c u ltu ra ex-
s id o u s u a l a n te s d o fim d o séc u lo X V III.
cl u s iv a m e n te m a te m á tic a . ’ ’
V a u v e n a rg u e s u tiliz a -a assim (Reflexions
B . M ais g e ra lm e n te e m ais c o n m ín e n ­
et máximes, e d . D id o t, 585 e 5 8 6 ), m a s
te: 1 ?, c a r a c te rís tic a d e u m a p e ss o a in s­
D e F o r tia , n a e d iç ã o q u e fe z d a s su as
tr u íd a e q u e d e se n v o lv e u d e v id o a essa
o b r a s , em 1797, s e n tiu a n e c e ssid a d e de
in s tru ç ã o o seu g o s to , o seu s e n tid o c ríti­
a c r e s c e n ta r e m n o ta : “ E s ta p a la v r a cul­
c o e o seu ju íz o ; 2 ? , e d u c a ç ã o q u e te m
tura d esig n a, c o m o se vê, n este p en sam en ­
p o r e fe ito p ro d u z ir essa c a r a c te rís tic a .
t o e n o s e g u in te , o estado de um espírito
“ O sab er é a c o n d iç ã o n ecessária da
cultivado pela instrução . ”
c u ltu ra , n ã o é su a co n d ição su ficien te...
S o b re a p a ssa g e m d a p a la v r a cultura
É so b re tu d o n a qualidade d o espírito que
à fo r m a alem ã Kultur , s o b re a h istó ria d a
se p e n sa q u a n d o se p ro n u n c ia a p a lav ra
p a la v r a n a A le m a n h a , e p a rtic u la rm e n te
c u ltu ra , n a q u a lid a d e d o ju ízo e d o sen­
s o b re a u tiliz a ç ã o q u e d e la fo i fe ita c o ­
tim e n to .” D . R ÃZ è I τ Ç , La culture au
m o sin ô n im o de A ufklärung (c f, Kultur­
cours de la vie, p . 15.
kam pf), v er T o n n e l a t , K ultur e m Civi­
D iz-se fr e q u e n te m e n te n e ste se n tid o
lisation, le m ot et l ’idée , P u b lic a ç õ e s d o
cultura geral.
“ C e n tre I n te r n a tio n a l de S y n th e se ” , fa s­
C. (m u ito m ais ra ra m e n te , e p o r tra n s ­ c íc u lo II.
p o s iç ã o em fra n c ê s d e u m s e n tid o a d q u i­
Rad. int.: K u ltu r.
rid o p e la p a la v r a em s u a fo r m a a le m ã ) Si­
n ô n im o de civilização * n o s e n tid o B. C U R IE (P rin c ip io de) V er Simetría.
D

D E s ta le tra c o lo c a d a n o in ício de u m g e ra l e re la tiv a m e n te à s u a h is tó ria b io ­


n o m e de silo g ism o a s s in a la q u e ele p o d e ló g ic a .
re d u z ir-s e a Darii . B . Sentido absoluto (d e riv a d o d o p re ­
c ed e n te ): “ F ilo s o fía d o d a d o ” (V , E ;
D A B IT IS N o m e de Ditnaris* c o n sid e ­
; E 2 , C u rso d a d o n a S o rb o n n e,
r a d o c o m o u m m o d o in d ir e to d a p rim e i­
1901-1902 e 1902-1903). V er as o b s e r ­
r a fig u ra , r e s u lta n te d e Darii* p o r c o n ­
v a ç õ e s.
v e rsã o d a c o n c lu s ã o :
Rad. int.: D o n a t.
Todo M é P.
A lg u m S é M . D A D O S D . Data , Annahmen·, E . Da­
L o g o , a lg u m P é S. ta-, F . Données ; I. Dati.
S en d o to d o p ro b le m a , n o sen tid o m ais
D A D O D . Gegeben ; E . Given ; F . a m p lo d a p a la v ra , c o n stitu íd o p o r u m c er­
Donné; I. Dato. (U tiliza-se a d je tiv a m e n ­ to n ú m e ro d e assu n ç õ es* q u e o d e fin e m
te e s u b s ta n tiv a m e n te .) e q u e , p o r c o n s e q u ê n c ia , n ã o p o d e m ser
A . Sentido relativo : o q u e é ¡m e d ia ­ p o s ta s em d ú v id a n o d e c u rs o d a d is c u s ­
ta m e n te a p re se n ta d o a o e sp irito an tes q u e sã o sem g e ra r u m p ro b le m a n o v o , estas
este lh e a p liq u e os seus p ro c e d im e n to s de a ss u n ç õ e s re c eb e m o n o m e d e dados.
e la b o r a ç ã o . U m a id é ia p o d e ser dada re ­ E m p a rtic u la r, ch am am -se d a d o s de
la tiv a m e n te a u rn a c e r ta o rd e m d e p r o ­ u m a ciên cia o u de u m a in v estig ação ex­
c u ra s o u a u m c e rto e s ta d o d e e s p ir ito , p e rim e n ta l o s fa to s e o s p rin c íp io s n ã o
e c o n tu d o ser construida * se se c o n s id e ­ d iscu tid o s q u e lhes servem de p o n to d e
r a r u m a o rd e m o u e s ta d o d ife re n te s . A s­ p a rtid a . É assim q u e H . Sú E ÇTE 2 opõe
sim , a id é ia d e c o r v e rm e lh a é dada n u m os Dados da biologia às Induções da bio­
h o m e m a d u lto e re la tiv a m e n te à s su as logia, os D ados da Ética às Induções da
ap lic aç õ es físicas, m a s p o d e -s e p e rg u n ta r Ética , etc.
se ela n ã o é c o n s tr u íd a n o h o m e m em Rad. int.: D o n a t.

S o b re D a d o — U tilizo e sta p a lav ra c o m o sin ô n im o de im ed iato , de p rim eiro, d e co n s­


ciente. O d a d o o p õ e-se ao in fe rid o , a o c o n stru íd o , a o h ip o té tic o , lo g o a to d o o b je to en ­
q u a n to o b jeto , a to d o n â o -e u , a o e sp a ç o e n q u a n to c o n stru íd o , a o fu tu r o e n q u a n to h i­
p o tético . U m a filo so fia q u e c o m eç a p ela p sico lo g ia to m a p o r b ase o dado. (V. Egger)
H τ OE Â « Ç re ú n e , p elo c o n trá rio , a s id é ia s d e d a d o e d e objeto: “A o m esm o te m p o
q u e a p a re c e c o m o a tiv o e c ria d o r, a o s u je ito o p õ e -s e u m o b je to q u e é o b je to a o m a is
a lto g ra u , q u e é p a ra o s u je ito c o m o q u e u m a re a lid a d e in d e p e n d e n te dele, c o m o u m
d a d o q u e p re c isa m e n te se o fe re ce à a ç ã o d o s u je ito e so b re o q u a l é n e ce ssá rio a g id ’
Essai sur les élém entsprincipaux de la représentation , c a p . V, § 2, A (2? e d ., p. 383).
(L. Robin)

S o b re D a d o s — É provável q u e o p rim e iro s e n tid o d e sta p a la v ra te n h a s id o o de


quantidades dadas (n o e n u n c ia d o d e u m p ro b le m a ) e é isto q u e ex p lica a u tiliz a ç ã o
d o fe m in in o ( données em fran c ês). N ã o sei se se p o d e d iz e r q u e u m p rin c íp io é d a d o
o u se é u m d a d o . P a re c e-m e q u e e sta p a la v ra d e s p e rta sem p re a id é ia d e u m fato ,
s u p o s to o u c o n s ta ta d o . (J. Lachelier)
225 D A T IS I

D A L T O N IS M O D . Daltonismos; E . 1? E m o p o s iç ã o a o evolucionismo*
Daltonism; F . Daltonisme ; I. Daltonismo. em g eral d e sig n a a d o u tr in a transfor­
A n o m a lia d a v isã o q u e c o n siste n a mista*, s e g u n d o a q u a l as esp écies saem
c o n fu s ã o d e d u a s c o re s, m a is fr e q u e n te ­ u m a s d a s o u tr a s e s e g u n d o a q u a l, em
m e n te d o v e rm e lh o e d o v e rd e . (D o n o ­ p a rtic u la r, a esp écie h u m a n a d e sc e n d e d e
m e d e J . D τ Â Ã Ç , q u e f e z c o n h e c e r este
I esp écies a n im a is, m a s sem h ip ó te se so b re
fe n ô m e n o a tra v é s d e u m a c o m u n ic a ç ã o a o rig e m d a v id a , o u o s e n tid o g e ra l d o
à Sociedade literária e filosófica de Man- seu d e se n v o lv im e n to .
chester, A ta s , to m o I, o u tu b r o de 1794.) 2? E m o p o sição à te o ria de Lτ Oτ 2 T3
Rad. int .: D a lto n is m . e de Sú E ÇTE 2 so b re a adaptação através
do exercício e da hereditariedade ( Prin­
D A R A P T I M o d o d a 3? fig u r a q u e se cípios de biologia , 2? p a rte , cap . V III),
lig a a Darii* p e la c o n v e rs ã o p a rc ia l d a d esig n a a te o ria seg u n d o a q u a l a tra n s ­
m e n o r: fo rm a ç ã o das espécies é devida essencial­
Todo M é P. m ente à seleção natural .
T o d o M é S.
C R ÍT IC A
L o g o , a lg u m S é P .
E ste segu n d o sentido é o único útil, pois
D A R I I 3? m o d o d a I ! Figura: o p rim eiro é j á m u ito b em re p resen tad o p e­
T odo M é P. la p a lav ra transformismo . E le é, aliás, re ­
A lg u m S é M . c o m e n d a d o p o r B τ Â á ç « Ç , â °, 2 5 3 a.
L o g o , a lg u m S é P . Rad. int.; D a rw in is m .

D A R W IN IS M O D. Darwinismus; E . D A T IS I M o d o d a 3 ? fig u ra q u e se r e ­
Darwinism; F. Darwinisme; 1. Darwinismo. d u z a Darii p e la c o n v e rs ã o sim p le s d a
S istem a b io ló g ico e filo só fic o de m e n o r:
Dτ « Ç . E sta p a lav ra utiliza-se, além do
2 ç Todo M é P.
seu se n tid o g e ra l, em d o is sen tid o s p a rti­ A lg u m M é S.
cu lares: L o g o , a lg u m S é P .

E tim o ló g ic a m e n te isso n ã o p a re c e d u v id o s o , m a s o u s o a tu a l é m a is a m p lo e p a r e ­
ce ju s tif ic a d o p e lo f a to d e q u e é m u ito ú til h a v e r u m te r m o q u e d e sig n e o c o n ju n to
d e tu d o o q u e é n e c e s sá rio p a r a re so lv er u m p ro b le m a o u p a r a r e s p o n d e r a u m a q u e s ­
tã o , ta n to as c o n d iç õ e s p a rtic u la re s q u e c o n s titu e m o se u e n u n c ia d o c o m o o s p rin c í­
p io s g erais seg u n d o o s q u a is este e n u n c ia d o d e te rm in a u m a c e rta so lu ção . (L. C — A . L.)
S o b r e D a lto n is m o — O s e n tid o d e s ta p a la v r a n ã o e stá b e m fix a d o . A lg u m a s v e­
zes e la se e s te n d e a to d a s a s f o r m a s d e discromatopsia* , e fo i o q u e n ó s p ró p r io s
fiz e m o s n a p r im e ir a r e d a ç ã o d e s te a r tig o . E le fo i m o d if ic a d o d e v id o às o b s e rv a ç õ e s
d o D r . P ie rre J τ ÇE I e d e C . Rτ ÇUÃÂ « . E s te ú ltim o re s trin g e a in d a m a is o s e n tid o
d e s te te r m o e a p lic a -o s o m e n te “ à c e g u e ira p a r a o v e rm e lh o , à d ific u ld a d e d e o p e r ­
c e b e r o u à d ific u ld a d e d e o d is tin g u ir d o v e rd e ” . M a s e x iste a í u m d u p lo fe n ô m e n o :
e n o p rim e ir o c a s o e s ta p a la v r a te r ia d u p lo e m p re g o c o m aneritropsia. É p o r isso
q u e p e rm a n e c e m o s fiéis à f ó r m u la p r o p o s ta p o r P « E 2 2 E J τ ÇE I . (A. L .)
S o b re D a rw in is m o — D τ 2 ç « Ç c o n s id e ra v a a seleção n a tu r a l c o m o o f a to r es­
sen c ia l d o tr a n s f o r m is m o , m a s n ã o c o m o o f a to r ex clu siv o . E m p a r tic u la r , ele e sta v a
lo n g e de n e g ar a h e re d ita rie d a d e d as q u a lid a d e s a d q u irid a s . O s a d e p to s d e WE « è Oτ Ç ,
p a r a s u b lin h a r e ste f a to , d e sig n a m -se c o m o A feo -D arw in istas. E este p r ó p r io n o m e
D E C A D Ê N C IA 226

D E C A D Ê N C IA D . Verfall; E . Deca­ em n ã o p ro lo n g a r in u tilm e n te a d e lib e ra ­


dence; decay, decline, m a is u s a d o s ; F. ção e em n ã o m u d a r sem ra z ã o séria a q u i­
Décadence ; I. Decadenza, decadimento. lo q u e se re s o lv e u .
S ucessão d e tra n sfo rm a ç õ e s d e sen ti­ Rad. int.\ D e c id ( Boirac ).
d o inverso àq u e la s que co n stitu em o p r o ­
D E C IS Ó R IA (C o m p re e n sã o ) V er
gresso; e sta d o q u e d aí re su lta . P a r a u m a
Compreensão.
an álise a p r o fu n d a d a e c rítica d e sta idéia
ver H . I. M τ 2 2 ÃZ , “ C u ltu re , civilisa­ “ D E C IS Ó R IO ” E ste te rm o , u s a d o n a
tio n , d écad en ce” , n a Revue de Synthèse, lin g u a g e m d o D ire ito , p o d e p r e s ta r g r a n ­
d e z e m b ro de 1938. d es serv iço s n a L ó g ica e n a M e to d o lo g ia
D E C IS Ã O D . Entscheidung; E . D e­ p a r a c a r a c te riz a r o s a to s d o e s p ír ito q u e
cision; F . Decision; I. Decisione. p õ e m u m a d e fin iç ã o , u m a p r o p o s iç ã o ,
A . T e rm o n o rm a l d a deliberação *, u m a re g ra q u e n ã o se im p õ e n e c e s s a ria ­
n u m a to v o lu n tá r io . (Q u e r este fim se m e n te , m a s q u e é ra z o á v e l a d m itir p o r
c o n stitu a sim p lesm en te a tra v és d a c o n clu ­ u m a d e c isã o d o e sp írito c o m v ista a o t r a ­
são lógica d a d e lib e raç ã o co n scien te, q u e r b a lh o u lte rio r d o p e n s a m e n to .
aí in te rv e n h a a lg u m a c o isa m a is .) Rad. int.: D é c id a i.
D iz em o s “ te r m o n o r m a l” 1 ?, e m D E C L A R A T I V O V e r Explicativo.
o p o siç ã o a o s te rm o s a n o rm a is , tais c o m o
a c essa ç ã o d a d e lib e ra ç ã o in c o m p le ta o u D E C L I N A Ç Ã O D . Abweichung; E .
a s u a in te r r u p ç ã o p o r u m a to im p u ls iv o ; Déclination ; F . Déclinaison ; I. Declina-
2 ? , em o p o s iç ã o às v o liç õ e s b e m firm e s , zione.
m a s q u e a p e n a s s ã o e x p re s s ã o de u m a E s ta p alav ra é usada p a ra trad u zir: 1?,
te n d ê n c ia f o r te fix a d a sem d e lib e ra ç ã o . as p alav ras fyxX im s, TraeéyxXiais, decli­
A d m itim o s , p o is , q u e a p a la v r a decisão nado clinamen a o falar-se d o desv io es­
é im p r ó p r ia em to d o s o s c aso s em q u e o p o n tâ n e o dos á to m o s n a filo so fia epicu-
a to a e x e c u ta r n ã o te n h a s id o de in íc io rista; ver Clinamen.
p o s to e m q u e s tã o e d e lib e ra d o . 2 ? , Declinado , n o n o m e d a tabula dé­
B . Q u a lid a d e d o c a r á te r q u e c o n siste clinât ionis d e Bτ TÃÇ . V er Tábuas.

fo i-lh e s c o n te s ta d o p o r u m p r o p a g a d o r d o d a rw in is m o tã o c o n h e c id o e p o p u la r c o ­
m o H a e c k e l . ( F Tonnies)
T e m o s a q u i m a is u m ex em p lo d o s in c o n v e n ie n te s q u e o s n o m e s d e d o u trin a s a p re ­
s e n ta m .
S o b re D e c is ã o — Termo norm al n ã o é p ro p r ia m e n te u m a d e fin iç ã o . N ã o se p o ­
d e ria d izer: “ E s c o lh a r e f le tid a d e u m d o s a to s p o s sív e is ” — q u e r d iz e r, e lim in a ç ã o
d e u m a d a s te n d ên c ia s e co n se n tim e n to d a o u tra ? (C. Mélinand) R eco n h eço q u e Termo
normal é u m a d e fin iç ã o in d ir e ta e “ a c id e n ta l” d o a to e m c a u s a , m a s , p o r o u tr o la ­
d o , a p a la v r a escolha é, n e ste c a s o , a p e n a s u m s in ô n im o in d e fin ív e l d o te rm o a d e f i­
n ir , e é p o r isso q u e ju lg u e i ser p re fe rív e l e x p lic a r a p a la v r a e m re la ç ã o a o c o n ju n to
p s ic o ló g ic o to ta l d e q u e a d e c isã o fa z p a r te e d e q u e n ã o se p o d e s e p a r a r . C f . a c ríti­
c a d a p a la v r a Deliberação. (A. L .)
S o b re D e c is ó rio — A d o te i e s ta p a la v r a n as m in h a s a u la s d e s d e 1906, n o s e n tid o
in d ic a d o m a is a tr á s , e fr e q ü e n te m e n te e x p e rim e n te i a s u a u tilid a d e ; e n c o n tr a m o - la
a tu a lm e n te c o m m u ita fre q ü ê n c ia . C o m e fe ito , é d ifícil a c e ita r n e ste s e n tid o arbitrá­
rio, q u e , salv o n as m a te m á tic a s , te v e s e m p re u m a c e n to m u ito p e jo r a tiv o ; a ssim c o ­
m o arbitrai alg u m a s vezes u tiliz a d o , m a s q u e se a s s e m e lh a d e m a s ia d o a o p re c e d e n te .
Convenção*, de q u e H . P o ín c a ré se serv iu b a s ta n te n e ste s e n tid o , te m o d u p lo d e fe i­
to d e p re s s u p o r o a c o r d o de v á ria s p e sso a s p a r a to m a r a d e c is ã o e m c a u s a e , além
227 DEDUÇÃO

D E D U Ç Ã O D . Deduktion , Ableitung ; P o d e -s e ta m b é m n o ta r q u e e sta c o n ­


E . Deduction; F. Déduction·, I. Deduzione. c e p ç ã o d a d e d u ç ã o n ã o te m se n tid o n a ló ­
A . LÓG. O p e ra ç ã o p e la q u a l se c o n ­ gica p ro p o s ic io n a l p ro p ria m e n te d ita q u e
c lu i rig o r o s a m e n te d e u m a o u d e v á ria s to m a o s ju íz o s e m b lo c o (p, q, r . . . ) e c o n ­
p ro p o s iç õ e s to m a d a s c o m o p re m issa s s id e ra a p e n a s o seu v a lo r d e v e rd a d e o u
u m a p ro p o siç ã o q u e é a su a c o n clu sã o n e­ d e fa ls id a d e e n ã o a s u a q u a n tid a d e ; p o r
cessária em v irtu d e d a s re g ra s ló g icas. C f. e x em p lo , n u m silo g ism o h ip o té tic o p D q .
Implicação, Demonstração, Raciocínio. q D r .D .p D r ,
B . S in ô n im o d o m é to d o d e d u tiv o . V er Se se t r a t a d e p a s s a r d o m a is g e ra l a o
a d ia n te Dedutivo, B. m a is e sp e c ia l, n o ta r-s e -á q u e o m é to d o
C . C o n ju n to d e p ro p o s iç õ e s lig a d a s m a te m á tic o , m o d e lo in d iscu tív el de d e d u ­
d e d u tiv a m e n te . ç ã o , q u e r n a s su a s o p e ra ç õ e s e lem en ta re s,
q u e r n o seu p ro c e d im e n to g e ra l, se elev a
C R ÍT IC A
fr e q u e n te m e n te d o m a is e sp e c ia l a o m ais
1. A d e d u ç ã o n o s e n tid o A fo i fre- g e ra l, p o r e x e m p lo , q u a n d o se " g e n e r a li­
q ü e n te m e n te id e n tif ic a d a c o m o silo g is­ z a " u m a p ro p rie d a d e o u u m a d e m o n stra ­
m o (n o sen tid o clássico d e sta p a la v ra ): ele ç ã o e sta b e le c id a d e in íc io p a r a u m c aso
é a p e n a s u m a d a s s u a s f o r m a s , a m a is p riv ile g ia d o , q u e r d iz e r , q u a n d o se e x tra i
u s u a l. a tra v é s d e u m ra c io c ín io rig o r o s o a fó r­
2. N ã o é e x a to d e fin ir a d e d u ç ã o c o ­ m u la g e ra l d e q u e ele e ra u m c a s o esp e ­
m o o ra c io cín io q u e v a i " d o g e ra l a o p a r ­ c ia l. E s a b id o q u e o s p ro g re s s o s d e u m a
tic u la r " , q u e r se e n te n d a p o r e sta fó rm u la c iên cia d e d u tiv a co n siste m fre q u e n te m e n ­
e q u ív o c a e c o rre n te : " D o u n iv e rs a l a o t e e m c o n s tr u ir c o n c e ito s c a d a vez m a is
p a r t i c u l a r " , q u e r se e n te n d a : “ D o m a is g e ra is c o n s e rv a n d o a s p ro p r ie d a d e s de
g e ra l a o m a is e s p e c ia l." (V er Geral.) Is ­ classes m a is e sp eciais p e la s q u a is se c o m e ­
so é e v id e n te n o p rim e ir o s e n tid o : Bar­ ç o u (p o r exem plo o s n ú m e ro s in te iro s, fra ­
bara, Clarent, Cesare, e tc ., são fo rm a d o s c io n á rio s , q u a lific a d o s , irra c io n a is , e tc .).
só d e u n iv e rsa is; além d is s o , a d e d u ç ã o A id é ia v e rd a d e ir a c o n tid a c o n fu s a m e n ­
p o d e co n sistir em c o n clu ir d a fa lsid ad e d e te n a fó rm u la c o n trá ria é, sem d ú v id a , q ue
u m p a r tic u la r a fa ls id a d e d o u n iv e rs a l a p a s s a g e m d e u m a re g ra à s su a s a p lic a ­
c o rre s p o n d e n te , o u d a v e rd a d e d e u m ç õ e s , d e u m a v a riá v e l a o s seu s v a lo re s, é
p a r tic u la r a fa ls id a d e d o u n iv e rs a l c o n ­ u m a d a s o p e ra ç õ e s m a is fu n d a m e n ta is d o
tr a d itó r io ; p o r f im , n a s o p e ra ç õ e s ló g i­ ra c io c ín io d e d u tiv o .
cas e le m e n ta re s q u e n ã o o silo g ism o (c o ­ 3. S en d o a fa sta d a a d efin ição preceden­
m o , p o r e x e m p lo , a D b , aD c. D a Dbc) te, j á n ã o h á ra z ã o p a ra fazer d a d e d u ç ã o
n ã o h á n e n h u m a p a rtic u la rid a d e , n o se n ­ e d a in d u ç ã o d u a s espécies a n tité tic a s en ­
tid o p re c is o q u e e s ta p a la v r a te m e m ló ­ tre a s q u a is se d iv id iria d e m a n e ira ex au s­
g ic a ; e o m e sm o se p a s s a c o m to d o s o s tiv a o gênero raciocínio. Ver as observações.
c á lc u lo s a ritm é tic o s o u a lg é b ric o s. Rad. in t .: D e d u k t.

d o m a is , d e te r ta m b é m e la fr e q u e n te m e n te u m c a m b ia n te d e d e s a p ro v a ç ã o o u de
d e p re c ia ç ã o (c f. Convencional)· (A . L .)
S o b re D e d u ç ã o — N o v a re d a ç ã o c o m u m a c ré s c im o d e Ch. Serrus e c o rre çõ e s
in d ic a d a s p o r René Daude.
N ã o sei q u a n d o fo i in tr o d u z id o e ste u so d a p a la v r a dedução e n q u a n to o p o s ta
a in d u ç ã o , p a r a d e s ig n a r a p a ssa g e m d o g e ra l p a r a o p a r tic u la r . E le é a g o ra u su al
n o s tr a ta d o s in g leses (p o r e x e m p lo B a i n , F o w l e r , J e v o n s ); m a s p a re c e -m e m u ito
s u je ito a p r o v o c a r e rro s e, c o m o fo i d ito a q u i ju s ta m e n te , n ã o se ju s tif ic a p e la tr a d i­
ç ã o . (Ch. Webb)
DEDUÇÃO 228

“ D e d u ç ã o tra n s c e n d e n ta l” D . Trans­ reito , a ju stificação d o fa to de que os c o n ­


cender} taie Déduction, K τ Ç ; F . D éduc­
I ceitos a priori são ap licad o s ao s o b je to s
tion transcendentales d a experiência (K ritik der reinen Ver­
Kτ ÇI c h a m a a s s im , a tra v é s d e u m a n u n ft , B, 117), E sta d e d u ç ã o ch am a-se
m e tá f o r a r e t i r a d a d a lin g u a g e m d o d i­ transcendental* em o p o siçã o à d ed u ção

H á sem d ú v id a um c o n tra ste e n tre a d ed u ç ã o , n o sen tid o d e m é to d o d e d u tiv o ,


ta l c o m o , p o r exem plo, se a p re se n ta n u m a o b ra m a te m á tic a , e o m é to d o ex p e rim e n ­
ta l, q u e se ch a m a com ra z ã o m éto d o in d u tiv o ou in d u ç ã o , e n q u a n to se eleva d o s
fato s às leis, F o i isso ta m b é m re p re se n ta d o p e la d istin ç ã o e n tre as “ ciências d e o b ­
se rv a ç ã o ’’ e as “ ciências d e ra c io c ín io ” . (Duhamel) V er RÃZ è I τ Ç , “ D e d u c tio n et
ín d u c tio n ” , Revue de Métaphysique, jan eiro de 1911; Lτ Â τ Çá E , Les théories de Tin-
duction et de l 'experimentation, cap . I.
M as, em p rim e iro lu g a r, este c o n tra ste é ap e n a s p arcial: p assa-se de u m a p a ra
a o u tra atrav és do sim ples d esen v o lv im en to d o s co n h ecim en to s: e n c a d e a m e n to s de
idéias d ed u tiv as in c o rp o ra m -se c a d a vez m ais n a c o n d u ta d a ex p e rim e n ta ç ã o e no
“ racio cín io e x p erim en tal” . V er C lau d e B e r n a r d , Introd. à la m édeáne expérímen-
tale , 1? p a rte , cap. II, § S. M ais a in d a , p o r m ais q u e ex ista, e sta o p o siç ã o está longe
d e ser d ic o tô m ic a : a o la d o destes d ois tip o s de c o n d u ta in te le c tu a l, ex iste a in d a o
m é to d o re c o n stru d v o * (h istó ria , geologia, in q u é rito s ju d ic iá rio s) e o m é to d o
polêm ico*. A divisão d o raciocínio em d ed u ção e in d u ção en co b re pois idéias confusas.
A fo rm a d as p a la v ra s c o n trib u iu p ro v a v e lm e n te p a r a a su g erir, m as n ã o a im p li­
ca de m a n e ira n e n h u m a : declinação n ã o é o c o n trá rio de inclinação , n em involução
d e devolução , nem deformação d e inform ação , etc. N ão h á , p o is, necessid ad e a n a ­
lógica p a r a que a d e d u ç ã o seja o c o n trá rio de in d u ç ã o .
J o h n S. M « Â Â fa la d a a n títe se e n tre o ra c io c ín io d o p a rtic u la r p a ra o g eral e o
racio cín io d o geral p a r a o p a rtic u la r c o m o de u m a id éia e sp a lh a d a , m as in e x a ta {Lo­
gic, 2? p a rte , cap. I, § 3), e ele p ró p rio o p õ e em p rin c íp io à In d u ç ã o n ã o a D ed u ção
m as Raciocínio o u Silogismo, sen d o a p rim eira a passagem a u m a g en eralid ad e maior
(pois ele exclui a in d u ção co m p leta) e a segunda a passagem a u m a g en eralid ad e igual
o u menor. P a r a ele a Dedução, o u m é to d o d e d u tiv o , co n siste n a u tiliz a ç ã o de c a ­
deias de racio cín io s {trains o f reasoning): “ T h e o p p o sitio n is n o t betw een th e term s
Deductive an d Inductive, b u t b etw een Deductive a n d Experimental . ” ' Logic, I, cap.
IV , § 5. C f. ibid., § 4 e cap . I, § 3. É , p o is, o seg u n d o sen tid o d e fin id o m ais a trá s.
E le a d m ite c o n tu d o (p o r exem plo c a p . III, § 7, a d fin em ) q u e se p o d e c h a m a r Indu­
ção à fo rm a ç ã o d e u m a fó rm u la g e ra l, e Dedução à o p e ra ç ã o pela q u a l se in te rp re ta
esta fó rm u la , s u p o n d o -a a d m itid a e a p lic a n d o -a a um caso d a d o .
E sta a n títe se , e n q u a n to divisão geral d a L ó g ica, en c o n tra -se na o b ra d e B a i n ,
Logic Deductive and Inductive (1870), cu ja tra d u ç ã o fra n c e sa d e C o m p a y ré (1875)
m u ito p a rece te r c o n trib u íd o p a ra a d ifu n d ir n o en sin o . (A. L .)
A d e d u ç ã o é d e fa to a m esm a co isa q u e o σ υ λ λ ο γ έ α * , d e fin id a p o r A 2 « è I ó I E ­
 E è (Anal. príora, 1, 1, 24b18s.), m as d am o s à p a la v ra silogismo um sen tid o m ais es­
tre ito . ( J . Lachelier) O q u e c h a m a m o s dedução é a in d a m ais am p lo d o q u e o p ró p rio
σ υ λ λ ο γ ι σ μ ο ί de A 2 « è I ó I E Â E è , p ois seg u n d o ele ο σ υ λ λ ο γ ι σ μ ο ί tem sem p re duas p re ­
m issas, n em m ais nem m en o s (Anal. priora, I, 23; 40b, etc.) e a d e d u ç ã o m o d e rn a ,
p o r exem plo n as m atem áticas, p o d e to m a r fo rm as b a sta n te m ais variadas. (L. Couiurat)l.

l. “ A oposição n ão é entre os term os d ed u tivo e in d u tivo , mas entre d ed u tivo e experim en tal."
229 D E F E IT O

e m p íric a q u e c o n s is tiria em d e s c o b rir es­ D E F E I T O D . Mangei ; n o s e n tid o pe


ses co n ceito s a tra v és d e u m a reflex ão feita jo r a tiv o , Fehter, E . Defect (C , Fault)\ F .
s o b re a p r ó p r ia e x p e riê n c ia (e n ã o so b re D éfaut ; I. D ifetto.
o seu p rin c íp io ). A . E m fra n c ê s , d ife re n ç a p a r a m e n o s
de u m a q u a n tid a d e e m re la ç ã o a u m a o u ­
D E D U T IV O D . D eduktiv ; E . Deduc­ t r a q u a n tid a d e q u e serv e d e re fe rê n c ia .
tiva ; F . D éductif\ I. D eduttivo. “ V a lo r a p r o x im a d o p o r d e f e ito .”
Q u e c o n s titu i u m a d e d u ç ã o * n o s d i­ B . E m f r a n c ê s , a u s ê n c ia d a q u ilo c u ja
fe re n te s se n tid o s d e s ta p a la v r a . E m p a r ­ p re s e n ç a é e s p e ra d a o u d e se já v e l: “ F a z er
tic u la r: fa lta .” “ À fa lta d e . . . ” ( / aire défaut; a de-
A . A o fa la r-s e d e u m ra c io c ín io ele­ fa u t de...).
m e n ta r: a q u e le q u e a p re s e n ta u m c a r á ­ C . P o r m e n o r irr e g u la r, p o n to so b re
te r r ig o r o s o e d á u m a c o n c lu s ã o n e c e ssá ­
o q u a l u m a c o isa n ã o é c o m o d e v eria ser;
ria .
“ U m d e fe ito d e p e r s p e c tiv a .” “ U m d e ­
B . A o fa la r-s e d e u m a c o n d u ta g e ra l
fe ito d e ra c io c ín io , d e c o m p o s iç ã o .” “ O
d e p e n sa m e n to : a q u e la q u e u tiliz a a p e n a s
d e fe ito d e u m a t e o r i a .”
o ra c io c ín io (c o m o n a s m a te m á tic a s p u ­
P o r lito te s , m a s n u m s e n tid o q u e se
ras) sem fa z e r a p e lo à e x p e riê n c ia n o c u r­
to rn o u o m ais u su al: tra ç o d e c a rá te r, m a ­
so d o se u d e se n v o lv im e n to , “ O m é to d o
n e ira d e a g ir o u d e p e n s a r h a b itu a l q u e
d e d u tiv o .”
s e ria d e se já v el c o rrig ir . E s ta p a la v r a só
E s te m é to d o é d i t o categórico-
dedutivo se p a r tir de p ro p o s iç õ e s d a d a s se ap lic a m esm o q u a n d o se tr a ta de “ g ra ­
c o m o v e rd a d e ira s ; hipotético *-dedutivo ves d e fe ito s ” , p a r a as im p e rfe iç õ e s m e ­
se essas p ro p o s iç õ e s in iciais s ã o a p e n a s n o s c o n d e n á v e is d o q u e os vícios* e so ­
s u p o s ta s a títu lo p ro v is ó rio o u c o n sid e ­ b r e tu d o m a is e x te rio re s , p e n e tr a n d o m e ­
r a d a s c o m o sim p le s texis. n o s p ro f u n d a m e n te a p e rs o n a lid a d e : “ O s
C. S in ô n im o d e discursivo*. v ício s p a r te m d e u m a d e p r a v a ç ã o d o c o ­
D . A o fa la r-s e d o s e sp írito s : in c lin a ­ r a ç ã o ; o s d e fe ito s d e u m v íc io d e te m p e ­
d o a p e n s a r d e u m a m a n e ira d e d u tiv a , so ­ r a m e n to .” L τ B2 Z à E 2 E , Caracteres,
b r e tu d o n o s e n tid o B . cap. X II.
Rad. int.: A . D e d u k tiv ; B . D e d u k til; Rad. int.: M a n k ; D e fe k t (n o se n tid o
C . D is k u rsiv ; D . D e d u k te n . p e jo ra tiv o ).

P a re c e -m e ju s ta e s ta o b s e rv a ç ã o (se g u n d o a q u a l a d e d u ç ã o n ã o vai n e c e s sa ria ­


m e n te d o g e ra l p a r a o p a rtic u la r) m a s seria e n tã o p re c iso d is tin g u ir d u a s espécies
d e d e d u ç ã o : analítica, q u e p õ e p re m is sa s c o m p le x a s e m o s tr a a s u a d e p e n d ê n c ia em
re la ç ã o a u m o u v á rio s e le m e n to s q u e e s tã o aí c o n tid o s ; e sintética, q u e p a r te , p e lo
c o n tr á r io , d e p rin c íp io s sim p le s e p e la s u a c o m b in a ç ã o c o n s titu i c o n s e q u ê n c ia s c o m ­
p le x as. (C . Ranzoli) C f . W Z Çá I , Logik, I I , 29.
C o n tu d o , m e sm o n o c a s o e m q u e a d e d u ç ã o n ã o vai d o g e ra l p a r a o p a r tic u la r
q u a n to a s eu s re s u lta d o s , p a re c e q u e im p lic a s e m p r e u m a p a ss a g e m p e lo m e n o s v ir­
tu a l e e n v o lv id a p e lo g e ra l. A u n iv e rs a lid a d e , a n e c e s sid a d e , o c a r á te r a n a lític o e f o r ­
m a l p a re c e m se r o s tr a ç o s e sp e c ífic o s d e s te ra c io c ín io . (A/. Blondef)

S o b re D e fe ito — A o p o s iç ã o e n tre o ex cesso (inreQoxij q u e q u e r d iz e r ta m b é m


s u p e rio rid a d e o u faeQftoXij, m ais fre q u e n te m e n te p e jo ra tiv o ) e o d e fe ito ( ¿ 'W a ^ ts ) ,
n o s e n tid o A , fo i u m te m a im p o r ta n te n a filo s o fia p ita g ó ric a ; e n c o n tr a v a -s e , s e g u n ­
d o e s ta e sc o la , n u m g r a n d e n ú m e ro d e a n títe se s m a is esp eciais q u e fo r m a v a m u m a
d u p la série a n a ló g ic a .
D E F IC IE N T E 230

D E F IC IE N T E (C a u sa ) L . escol. Cau­ fin itio ; D . Definition, Begriffsbestim ­


sa deficiens. mung', E . Definition; F . Définition; I. De-
A q u e la q u e ag e p e la s u a a u sê n c ia o u fin izio n e .
a s u a a b s te n ç ã o . “ E s ta re g iã o (a re g iã o L ó ; . ; 2 τ Â . A . A d efin ição , c o n si­
E

d as v e rd a d es e te rn a s n o e n te n d im e n to d i­ d e ra d a c o m o o p e ra ç ã o d o esp írito , c o n sis­


v in o ) é a c a u s a id e a l d o m a l, p o r a ssim te e m d e te rm in a r a c o m p re e n sã o q u e c a ­
d iz e r , ta n to c o m o d o b e m ; m a s p r o p r ia ­
ra c teriza u m co n ceito . “ D e fin itio n a n d d i­
m e n te fa la n d o o fo r m a l d o m a l n ã o te m
visio n a re severally th e re so lu tio n o f th e
n a d a d e eficiente, p o is c o n sis te n a p r iv a ­
co m p reh en sio n a n d o f th e extensio n o f n o ­
ç ã o ... q u e r d iz er, n o f a to de a c a u s a e fi­
tio n s in to th e ir p a rts!’ 1 H τ O« Â I ÃÇ , Led.
c ien te n ã o fa z e r n a d a . É p o r isso q u e os
on Logic, V III, 26.
e sc o lá stic o s tê m p o r c o s tu m e c h a m a r de­
L Ã; . E Ã2 Oτ Â . P o r conseguinte^ defini­
ficiente à c a u s a d o m a l .” L E « ζ Ç« U , Teo-
ção d e sig n a d o p o n to d e v ista fo rm al:
dicéia, 1? p a r te , § 20.

D E F IN IÇ Ã O G . ^ O g o s, ó q l o ¡i Ós u ti­ 1. " A definição e a divisão são respectivameiue


lizad o s q u a s e in d ife re n te m e n te p o r A 2 « è ­ a resolução da extensão e a com preensão de um con­
I ó I E ÂE è , s e g u n d o BÃÇ« I U ; L. Finís, de- ceito nas suas p artes.’1

S o b re D e fic ie n te (C a u s a ) — A id é ia de u m a “ c a u s a q u e a g e p e la s u a a u s ê n c ia ”
s e rá f u n d a d a s o b re o c â n o n e “ S u b la ta c a u s a , to llitu r e f f e c tu s ” ? U m m o d e r n o d iria
q u e a d e fic iê n c ia d a c a u s a é c a u s a d a p riv a ç ã o d o e fe ito . P a r a o s e sc o lá stic o s a c a u s a
p a re c e ser u m s u je ito re a l e m itin d o o u n ã o e fe ito s c o n fo rm e o seu liv r e -a rb ítrio ; p a ­
r a o s m o d e rn o s a c a u s a é u m fe n ô m e n o in s e rid o n u m d e te r m in is m o . D iz e r q u e a o
a b s te r-m e d a c a r id a d e so u a c a u s a d e fic ie n te d a m is é ria d a q u e le q u e n ã o s o c o r ri, e
q u e a s u a m is é ria é a p e n a s a p r iv a ç ã o d a a ju d a , n ã o se v ê b e m e m q u e is so m e ju s tif i­
c a . O a d v o g a d o q u e d e fe n d e a n ã o - c u lp a b ilid a d e a o d e m o n s tr a r q u e o se u c lie n te
a p e n a s a g iu p o r o m is s ã o f a z f r a c a fig u ra . (Maurice Marsal)
S o b r e o s e n tid o d a n o ç ã o d e c a u s a , a s su a s v a ria ç õ e s e o s seu s e q u ív o c o s , v er
m ais a tr á s Causa , c rític a e o b s e rv a ç õ e s . Q u a n to a o a d á g io “ S u b la ta c a u s a , to llitu r
e ffe c tu s ” , n ã o p o d e ria se r a d m itid o c o m o u m v e rs a lm e n te v á lid o ; é so lid á rio d a id éia
n ã o -c rític a d e q u e to d o e fe ito te m a sua c a u s a , u m a c a u s a ú n ic a e s e m p re a m e sm a ,
e n q u a n to d e f a to u m d a d o r e s u lta d o p o d e p r o v ir d e v á rio s siste m a s d ife re n te s d e
a n te c e d e n te s , d o m e s m o m o d o q u e 6 0 p o d e r e s u lta r d e 5 0 + 1 0 , d e 45 + 15, d e 3 3 + 2 7 ,
e tc . A lé m d is so , n o q u e c o m u m e n te se c h a m a c a u s a e e fe ito , a c o n te c e q u e o s e g u n d o
p e rs is te e n q u a n to a p rim e ir a d e s a p a re c e ; p o r e x e m p lo , o b u r a c o p ro d u z id o p o r u m a
b a la n o a lv o , a f o r m a d a d a a o m e ta l p o r u m m o ld e q u e e m s e g u id a fo i d e s tr u íd o ,
e tc . (A. L.)

S o b r e D e fin iç ã o — A re d a ç ã o d e s te a r tig o fo i p r o f u n d a m e n te m o d if ic a d a q u a n ­
to à s u a f o r m a e c o m p le ta d a q u a n to a o seu f u n d o n a s sessões d e 2 6 d e m a io e 16
d e ju n h o d e 1904.
N a sessã o d e 2 6 d e m a io , J. Lachelier o b s e r v o u q u e a Lógica d e P Ã2 I -R Ãà τ Â
e s tá lo n g e d e r e p r e s e n ta r a Lógica clássica. E la é m a is u m a c r itic a d a ló g ic a esc o lá sti­
c a e tra d ic io n a l fe ita d o p o n to d e v is ta d e D e sc a rte s e d e P a s c a l; e s ta c rític a é f r e ­
q u e n te m e n te d e c e p c io n a n te p o r a q u ilo q u e n e la e stá im p líc ito : o s te rm o s e sc o lá sti­
co s s ã o to m a d o s n u m a a c e p ç ã o n o v a q u e fa ls e ia , o u d e ix a n a s o m b ra , o s e n tid o v e r­
d a d e iro d o s p ro b le m a s e sc o lá stic o s . N o f u n d o , P Ã2 I -R Ãà τ Â n ã o a c r e d ita v a n a v e­
lh a L ó g ica e d e s fig u ro u -a m a is o u m e n o s v o lu n ta ria m e n te . Lachelier, p o r c o n se q ü ê n -
231 D E F IN IÇ Ã O

B . O c o n ju n to d o s te rm o s c o n h ec id o s C . A e x p re ssã o q u e e n u n c ia a e q u iv a ­
c u ja c o m b in a ç ã o d e te r m in a o c o n c e ito lê n c ia de u m d e fin id o e d o seu d e fin id o r
d e fin id o e é re p re s e n ta d o p o r u m te rm o (M embrum definitum , m em brum defi-
ú n ic o . E x .: “ P r o v a r tu d o , s u b s titu in d o niens. H τ O« Â ÃÇ , Logic, X X IV , 82);
I

m e n ta lm e n te a s d e fin iç õ e s p e lo s d e fin i­ q u e r d iz e r, n o c a s o d e e s ta e x p re ss ã o ser


d o s .” P τ è Tτ Â , Esprit géométrique, II, rig o ro s a m e n te fo r m u la d a , u m a id e n tid a ­
E d . B ru n sc h v ic g , 191, E ste u s o é c o rre n ­ d e em q u e o p rim e iro m e m b ro é o te rm o
te n a esc o lá stic a e m q u e a p a la v r a p a re c e a d e fin ir e o s e g u n d o se c o m p õ e u n ic a ­
m e sm o te r tid o fu n d a m e n ta lm e n te este m e n te de te rm o s e d e sig n o s c o n h e c id o s.
s e n tid o d e p re fe rê n c ia a o se g u in te . D ir- D . P o r e x te n s ã o , m a s im p r o p ria m e n ­
se-ia h o je , de p re fe rê n c ia , o definidor*. te , a p lic a-se o n o m e de Definição a to d a

c ia , c o n v id a v a o s a u to re s d a re d a ç ã o a p r o c u r a r e m o s s e n tid o s a n te rio re s d a s d is tin ­


çõ es m e n c io n a d a s e a s s in a la v a -lh e , em p a r tic u la r , H τ O« Â I ÃÇ c o m o te n d o c o n se rv a ­
d o n a s s u a s Lições de lógica u m a te rm in o lo g ia m a is c o n f o r m e c o m o u so a n tig o ,
E s te tr a b a lh o fo i fe ito , e a s u a le itu ra fo i fe ita p o r Laiande n a sessã o d e 16 de
j u n h o , P o d e m o s e n c o n tr á - lo m a is a d ia n te em a p ê n d ic e a u m e n ta d o c o m a lg u n s d o ­
c u m e n to s n o v o s. A í se vê q u a n to s sen tid o s d ife re n te s e a lg u m as vezes to ta lm e n te o p o s ­
to s f o r a m d a d o s n o d e c u rs o d a h is tó r ia d a filo s o f ia à o p o s iç ã o e n tre a s “ d e fin iç õ e s
d e p a la v r a s ” e a s “ d e fin iç õ e s d e c o isa s ” .
S o b re o m e lh o r u s o a seg u ir n a u tiliz a ç ã o a tu a l d e sta s e x p ressõ es teve lu g a r u m a
lo n g a d isc u s s ã o n a q u a l to m a ra m p a r te M. Bernès, G. Belot, Brunschvicg, Couturat,
Delbos, E. Halévy, 1 Lachelier, A . Laiande e Malapert, d is c u s s ã o e ssa q u e o c o rre u
n a sessã o d e 2 6 d e m a io d e 1904; Chartier, Couturat, E. Halévy, A . Laiande, Le Roy
e Rauh n a sessã o d e 16 d e ju n h o . E s s a d is c u s s ã o tra v o u -s e s o b re a id é ia , d e m o n s tra d a
d e sd e e n tã o d e m a s ia d o sim p les, d e q u e a s d u a s u tiliz a ç õ e s a d ia n te d is tin g u id a s eram
as ú n ic a s e m jo g o . A d is c u s s ã o c e n tro u -s e s o b re as d u a s q u e s tõ e s seg u in tes:
1? N o u s o c o n te m p o r â n e o a s e x p re ssõ e s definição de coisas e definição de pala­
vras s ã o to m a d a s n o s e n tid o e sc o lá stic o (e n u n c ia ç ã o d a e ssê n cia , d e s ig n a ç ã o s u fi­
c ien te a tra v é s d e a lg u m a s p r o p r ie d a d e s ) o u n o s e n tid o d e P o r t- R o y a l (a n á lise d e um
c o n c e ito p re e x iste n te , c ria ç ã o d e u m c o n c e ito n o v o )? F o i c o n s ta ta d o q u e o u s o e ra
m u ito d iv e rs o n e s te p o n to e n tr e o s p ro fe s s o re s d e filo s o fia e q u e se d a v a m m e sm o
a lg u m a s vezes a e s ta s p a la v ra s o u tr o s se n tid o s a in d a . A ssim F. R auh c o n s id e ra as
definições de coisas c o m o p ro p o s iç õ e s q u e a u m e n ta m a id éia q u e te m o s d e u m s u je i­
to e q u e , p o r c o n s e q u ê n c ia , p o d e m ser v e rd a d e ira s o u fa lsa s; as d e fin iç õ e s d e p a la ­
v ra s a p e n a s c o n siste m n a im p o s iç ã o d e u m n o m e (d e s ig n a ç ã o ) e a s u a ú n ic a c o n d i­
ç ã o é q u e esse n o m e p e rm a n e ç a s e m p re o m e sm o c o m v ista a u m o b je to c ien tífic o
a p e rs e g u ir. Chartier e n te n d e p o r definição de palavras a q u e la q u e a p e n a s c o n sid e ­
r a r ia os sig n o s e a s u a re la ç ã o , a b s tr a in d o to ta lm e n te d o q u e eles r e p re s e n ta m , n ã o
só n o d e fin id o , m a s ta m b é m n o d e f in id o r . C o n s e q ü e n te m e n te , c o n s id e ra e sta e sp é ­
cie de d e fin iç ã o c o m o u m lim ite em d ire ç ã o a o q u a l te n d e a definição de coisas à
m e d id a q u e e la se a f a s ta d o re a l, m a s q u e ela n ã o p o d e r á n u n c a a tin g ir s e m c a ir n u m
p u r o n ã o -s e n tid o .
2 ? D ev e-se c h a m a r definição a to d a p ro p o s iç ã o c u jo a tr ib u to c o n v é m uni defini­
do et totP. P . e x .: “ O h o m e m é u m b íp e d e im p lu m e ; o re ló g io é o o b je to q u e a q u i
e s tá s o b re a p a re d e e n tr e a s d u a s ja n e la s , e t c .” N ã o fo i p o ssív el e sta b e le c e r-se u m
a c o r d o s o b re este p o n to e m ra z ã o d o p r ó p r io f a to d e q u e v á rio s m e m b ro s d a S o cie­
d a d e v ia m p re c is a m e n te aí e x em p lo s d e definições nominais. M a n tiv e ra m -s e , p o is ,
o s d o is s e n tid o s n o te x to a c im a , d is tin g u in d o -o s p e lo s e p íte to s essencial e acidental.
D E F IN IÇ Ã O 232

a p r o p o s iç ã o re c íp ro c a , u n iv e rs a l o u sin ­ te m p e ra tu ra , o p o te n c ia l elétric o , e tc ., in ­
g u la r. E x .: “ A L u a é o satélite d a T e r r a .” d ic a n d o as c o n d iç õ e s de ig u a ld a d e dessas
E. A d m ite m -s e , além d is s o , n a ló g ic ga ra n d e z a s.
a lg o rítm ic a e n a s M a te m á tic a s , so b o n o ­ 2 o A definição p o r postulados co n siste
m e d e definições indiretas , d u a s esp écies e m “ d e f in ir ” u m c o n ju n to de n o ç õ e s
d e o p e ra ç õ e s q u e n ã o s ã o d e fin iç õ e s n o e n u n c ia n d o c o m o a x io m a s o u p o s tu la d o s
s e n tid o p r ó p r io d a p a la v r a , m a s q u e tê m as relaçõ es fu n d a m e n ta is q u e estes te rm o s
a s u a f u n ç ã o d e v id o a o p a p e l q u e d e se m ­ v e rific a m e q u e c o n s titu e m o s fu n d a m e n ­
p e n h a m n a c iên c ia : to s n e c e ssá rio s e s u fic ie n te s d a su a te o ­
1 ? A definição p o r abstração d e u m a ria . P o r e x e m p io , p o d e -s e c o n s titu ir a to ­
f u n ç ã o ló g ic a c o m o F (x) c o n siste em in ­ d a a g e o m e tria p o r m e io d e um c e r to n ú ­
d ic a r em q u e c o n d iç õ e s se te m a ig u a ld a ­ m e ro d e a x io m a s o u p o s tu la d o s q u e c o n ­
d e (ló g ica o u m a te m á tic a ): tê m as n o ç õ e s p rim e ir a s d e po n to o u d e
F(x)= FO0 segm ento , o u d e po n to e de m ovim ento.
s e n d o x e y o s v a lo re s q u e p e rte n c e m a E s ta s n o ç õ e s in d e fin ív e is s ã o c o n s id e ra ­
u m a c e rta classe re la tiv a m e n te à q u a l a d a s c o m o d e fin id a s p e lo c o n ju n to d o s
fu n ç ã o F é d e fin id a . P o r e x e m p lo , p o s tu la d o s .
“ d e fin e -s e p o r a b s tr a ç ã o ” a m a s s a , a O s m a te m á tic o s e sfo rça m -se p o r su b s-

A c re s c e n ta m o s a d ia n te a lg u m a s o u tr a s o b s e rv a ç õ e s q u e n o s fo r a m tra n s m itid a s
p e lo s m e m b ro s o u p e lo s c o rre s p o n d e n te s d a S o c ie d a d e :
O te rm o “d e fin iç ã o e m p íric a ” é, c o m efeito , c o rre n te , m a s n ã o s e ria m e lh o r d izer
“ d e fin iç ã o e x p e rim e n ta l”, c o m o se d iz “ciên c ia s e x p e rim e n ta is ”, p a r a e v ita r a c a rg a
p e jo ra tiv a d a p a la v ra “e m p íric a ” e a f a s ta r a id é ia d e q u e ta is d e fin iç õ e s s à o p e rfe ita ­
m e n te e x p lic a d a s p e la te o r ia “ e m p iris ta ” d o c o n h e c im e n to ? (/?. Daude ) C e r ta m e n te
q u e sim , se se p u d e sse m u d a r u m u s o tã o g eral. N e ste c a s o talv ez fo sse a in d a m e lh o r
d iz e r “d e fin iç ã o e x p e rie n c ia l” p a r a e v ita r u m o u tr o falso s en tid o . (A. L.)
D e fato , to d a d e fin iç ã o e x p líc ita e su fic ien te im p lica: 1 u m a d e te rm in a ç ã o d o c o n ­
c eito p a ra o p e n s a m e n to ( q u e r o s e le m e n to s d e s s a d e te rm in a ç ã o s e ja m re tira d o s d e
n o ç õ es e m p íric a s o u d e in tu iç õ e s ra c io n a is p reex isten tes, q u e r eles re su lte m d e sim p le s
posições [p o s tu la d o s] p rév ias); e 2? a a p lic a ç ã o d e u m signo a esse c o n ju n to d e ele­
m e n to s ; a f o r m a liz a ç ã o d a d e fin iç ã o a tra v és d e u m a e q u a ç ã o e n tre o sig n o e sc o lh id o
e o s c o n c e ito s e le m e n ta re s q u e c o n s titu e m a sig n ific a çã o .
D a í u m a d u p la te n d ê n c ia n a in te rp re ta ç ã o d a s d e fin iç õ e s: 1? a te n d ê n c ia psicoló­
gica , q u e in te g ra a d e fin iç ã o n a v id a d o e s p írito e in s iste s o b re as o p e ra ç õ e s q u e c o n s ti­
tu e m a g ê n ese d a d e fin iç ã o ; e la p o d e c o n d u z ir a c h a m a r d e fin iç ã o a to d a a trib u iç ã o
d e u m sen tid o , m e sm o q u e m a l d e lim ita d o e vago, a u m co n ceito ; a esta te n d ê n c ia lig am -
se as d iv e rsas c o n c e p ç õ e s c o rre n te s d a p a la v ra .
2? A te n d ê n c ia lógica pura o u fo rm a l (C ), q u e a p e n a s c o n se rv a d a o p e ra ç ã o a su a
fo r m a , a e q u a ç ã o d e d o is m e m b ro s, a b s tr a in d o a s u a o rig e m , e q u e a p e n a s e stá su b ­
m e tid a a estas c o n d iç õ e s: 1) a u s ê n c ia p re s su p o s ta d e to d a a flu tu a ç ã o n o s te rm o s e m ­
p re g a d o s; 2) d is tin ç ã o fo rm a l d o s d o is m e m b ro s d a e q u a ç ã o . É d e a lg u m m o d o u m a
n o ç ã o limite d a d e fin iç ã o q u e p re s s u p õ e a p o s s ib ilid a d e ra d ic a l d e s e p a ra r o re s u lta d o
d a o p e ra ç ã o d a p r ó p r ia o p e r a ç ã o ( p o r a b s tr a ç ã o ) e resid e a í o p o n to c o n te stá v e l d a
tese. A o p e rs e g u ir o a b s o lu to r ig o r ló g ico , in acessív el e n q u a n to p e rm a n e c e u m dado,
a p e n a s se d eix a s u b s is tir o q u a d ro v e rb a l, a r b itr á r io ; e» se u m a sim p le s d e sc riç ã o em p í­
ric a n ã o é a in d a ( p o r fa lta d e rig o r) u m a d e fin iç ã o , a ig u a ld a d e ló g ic a a r b itr á r ia n ã o
é m a is u m a d e fin iç ã o , p o r m a is rig o ro s a q u e se ja , p o r fa lta d e c o n te ú d o .
233 D E F IN IÇ Ã O

titu ir ta n t o q u a n to p o ssív el essas d e fin i­ tic a à d is tin ç ã o e n tr e as def miñones quid


çõ es in d ire ta s p o r d e fin iç õ e s C , as ú n icas rei e a s definitiones quid nominis (d e fi­
q u e p e rm ite m e sta b e le c e r a e x istê n c ia e a n iç õ es d e c o isa s o u reais e d e fin iç õ e s d e
u n ic id a d e d a n o ç ã o d e fin id a (cf. BZ 2 τ Â «- p a la v ra s o u n o m in a is ). S o b re os sen tid o s
F Ã2 « , Sobre os diferentes m étodos lógi­
I m u ito d iv e rso s d a d o s a e s ta d is tin ç ã o ver
cos para a definição do número real, C o n ­ o Suplem ento , n o fim d a p re s e n te o b ra .
g re s so d e F ilo s o fia , 1900, I I I , 289). P a r a o c a r te s ia n is m o , re p re s e n ta d o
p a r tic u la r m e n te n e s te a s s u n to p e lo Espi­
CRÍTICA
rito geométrico d e P τ è Tτ Â e p e la Lógi­
A o rig e m h is tó ric a d o s e n tid o q u e ca d e P Ã2 I -R Ãà τ Â , a d e fin iç ã o é s o b re ­
a trib u ím o s à p a la v r a Definição e d a s d is­
tu d o c o n sid e ra d a c o m o “ u m re m é d io p a ­
tin ç õ e s q u e a í fa z e m o s r e m o n ta a A 2 « è ­
r a a c o n f u s ã o q u e n a sc e n o s n o s so s p e n ­
I ó I E ÂE è . A d e fin iç ã o é p a r a ele a fó r m u ­ sa m e n to s e n o s d iscu rso s d a c o n fu s ã o das
la q u e e x p rim e a essê n cia d e u m a c o isa .
p a la v r a s ” . P Ã2 I -R Ãà τ Â , 1? p a r te , c a p .
“ ’Έ σ τ ι δ ’Ε ρ ο ϊ μ ε ντ ό rí
Χ ο γ ο $e iv a i
XIL. T e m p o is u m v a lo r n ã o m a is m e ta ­
α η μ α ί ν ω ν .” Tópicos,
I, 4 , 101b.
fís ic o , m a s e s s e n c ia lm e n te p s ic o ló g ic o e
“ 'Ο ρ ι σ μ ο ί μ ε ν γ ά ρ τ ο ν τ ί ε σ τ ί xai
m e to d o ló g ic o . A este re s p e ito a d istin ç ã o
o ò o ia s .” 2 ? s Analit. I I , 3 , 9 0 b. E s ta e s­
m a is im p o r ta n te é, p a r a estes a u to r e s ,
s ê n c ia c o m p õ e -s e d o g e n ê r o e d a s
a q u e la d o s caso s em q u e se d e fin e u m te r­
d ife re n ç a s * , e is to v a le rá p o r ta n to ta m ­
m o n o v o (o u u m te rm o a n tig o d e s titu íd o
b ém p a r a a d e fin iç ã o [Tópicos, I, 6 ,
d e q u a lq u e r o u tr o s e n tid o a lé m d a q u e le
103a). D e o n d e a re g ra esc o lá stica s eg u n ­
d o a q u a l a d e fin iç ão se faz per genus pro- q u e se lh e d á ) e d o s c a s o s e m q u e a tra v é s
xim um et differentiam specificam. d a d e fin iç ão se p re te n d e e x p lic ar u m a sig­
P o r o u tr o la d o , c o m o o o b je to q u e n ific a ç ã o p re e x iste n te s e m n a d a m u d a r
n o s p r o p o m o s d e fin ir p o d e se r a s ig n ifi­ n e la (v e r Suplemento).
c a ç ã o d e u m a p a la v r a , seg u e-se q u e c e r­ H τ O« Â I ÃÇ a d m ite , n a e s te ira d e
ta s d e fin iç õ e s te rã o p o r o b je to a re la ç ã o K 2 Z ; , trê s esp écies d e d e fin iç õ e s : n o m i­
de u m te r m o c o m o q u e ele d e sig n a : n a is , reais e g en éticas (Lectures on Logic ,
“ Φ α ι δ ρ ό ν 8 τ ι ό μ £ν I « è tu ro ti λ ο γ ο $ τ ο ν X X I V , 8 3 ). P a r a a s d u a s p rim e ira s v er
τ ί σ η μ α ί ν ε ι τ ο ο ν ο μ α ... ο ΐ ο ν τ ό τ ί σ η μ α ί ­ ig u a lm e n te o Suplemento. A te rc e ira c o n ­
ν ε ι , τ ί ε σ τ ι η τ ρ ί γ ω ν ο ν .” 2 ? s A nalit., I I , siste e m c o n s id e ra r o d e fin id o n o seu p r o ­
10, 94a. A q u e le q u e d e fin e p o d e , p o is , g re s so e n o seu d e v ir, e m d a r a c o n h e c e r
te r em v is ta q u e r u m a p a la v r a , q u e r u m a a s u a g e ra ç ã o . A o rig in a lid a d e d e s ta clas­
c o is a : “ Ό ¿ ρ ι ^ ό μ ε ν ο ί b tíx v v o iv η τ ί se d e d e fin iç õ e s é g e ra lm e n te re c o n h e c i­
ε σ τ ι ν η τ ί σ η μ α ί ν ε ι τ ο υ ν ο μ α Ib id ., I I , d a , m a s e la p r ó p r ia p o d e s u b d iv id ir-se e
7 , 92b. re c e b e r se n tid o s b a s ta n te d ife re n te s .
E s ta o b s e rv a ç ã o d eu lu g a r n a e sc o lá s­ P a r a C ÃOI E , a s d e fin iç õ e s s ã o “ sim -

T a m b é m , n a a p lic aç ão , m esm o as m a te m ática s p u ra s n ã o atin g em este rig o r e d ão -se


u m a m a té r ia , q u e elas a d a p ta m à f o r m a p u r a , ta n t o q u a n to p o ssív e l, c o lo c a n d o -a p o r
v ia d e p o s tu la d o s . (Aí. Bernès)
E m to d a s as c iên c ia s, a d e fin iç ã o per generationem te n d e a s u b s titu ir a d e fin iç ã o
essencial o u real, p o is é o fieri q u e e sclarece o esse fa z e n d o c o m p re e n d e r “ a q u ilo
q u e é ” p e la lei d o d e se n v o lv im e n to q u e p e rm ite v er a p o s s ib ilid a d e , re c o n s tr u ir a
re a lid a d e e re p ro d u z ir o u a tin g ir a fe c u n d id a d e . (Aí. Blondet) A a s s e rç ã o d e M . B lo n -
d e l: “ é o fie ri q u e e x p lica o esse” , sem c o n tr a p a r tid a , n ã o é re c o rre n te ? A p líc a r-se -
ia à p r ó p r ia d e fin iç ã o d o fieri, à id e n tid a d e , a o s c o n c e ito s p u r o s a priori , a D eus?
(Aí. Marsal)
D E F IN ID O R 234

p le sm e n te características” q u a n d o in d i­ essenciais e definições acidentais (te rm o s


c a m “ u m a p r o p r ie d a d e q u e , a in d a q u e já p ro p o s to s n este s e n tid o p o r J . S. M « Â Â
v e rd a d e ir a m e n te e x clu siv a , n ã o f a z c o ­ [Logic, liv ro I, c a p . V III , § 3-4] e p o r E .
n h e c e r a g e ra ç ã o d o o b j e t o ” o u “ r e a l­ G Ãζ Â Ã ).
I

m e n te explicativas, q u e r d iz er, q u e c a ra c ­ 3? A ex p ressão definição po r geração,


te riz a m o o b je to a tra v é s d e u m a p r o p r ie ­ q u e é c la ra e u s u a l, p arece-n o s ig u a lm e n te
d a d e q u e e x p re s s a u m d o s seu s m o d o s d e d e v e r s e r r e tir a d a . S e ria u m a esp é c ie d o
g e r a ç ã o ” . Cours, X I I liç ã o , ed . S ch lei- g ê n e ro definição essencial.
c h e r, p . 243. 4 ? P o d e -s e ig u a lm e n te re te r os te rm o s
P o r fim . L . L « τ 2 á d is tin g u iu , p o r u m definições empíricas e definições geomé­
la d o , as definições geométricas q u e s e r­ tricas e n q u a n to se a p lic a m a o s d o is p a ­
v e m p a r a c o n s titu ir a m a té ria d e u m a péis d a d e fin iç ã o d is tin g u id o s m a is a trá s ,
c iê n c ia e , p o r c o n s e q u ê n c ia , c o n s titu e m m a s n ã o se p a ssa o m e sm o c o m o s o u tr o s
o seu in íc io e , p o r o u tr o la d o , a s defini­ te rm o s in d ic a d o s p o r L « τ 2 á c o m o s e n d o
ções empíricas, q u e re s u m e m o s c o n h e ­ seu s e q u iv a le n te s e q u e s ã o , p e lo c o n tr á ­
cim en to s a d q u irid o s in d u tiv a m e n te e, p o r rio , d e n a tu re z a a c r ia r c o n fu s õ e s .
c o n se g u in te , têm o seu lu g a r n o fim d e N a ló g ica fo rm a l rig o ro sa , a p e n a s p o ­
u m a ciência. A s p rim e ira s, diz ele, p o d e m d e ria m h a v e r d e fin iç õ e s construtivas, n o
s e n tid o e x p lic a d o m a is a tr á s , e aí a s d e fi­
a in d a ser c h a m a d a s form ais, sintéticas ou
n iç õ es s ã o se m p re essenciais, v isto q u e os
p o r geração, as s e g u n d a s materiais, ana­
c o n c e ito s n ã o tê m o u tr a e x istê n c ia p a r a
líticas, o u p o r composição (Des défini­
a lé m d a q u e la q u e lh es é c o n fe rid a pela
tions géométriques et des définitions em ­
s u a d e fin iç ã o . O f a to d e p re e x istire m o u
piriques, p p . 20 5-2 06).
n ã o a e s ta o p e ra ç ã o c o n s titu i u m a d is tin ­
P o r a q u ilo q u e p re c e d e vê-se q u a n to
ç ã o m u ito im p o r ta n te d o p o n to d e v is ta
o u s o d e sta s d iv isõ es fo i v a riá v e l n a f ilo ­
p s ic o ló g ic o , m a s q u e n ã o d ev e s e r le v a d a
s o fia m o d e rn a . D a í r e s u lto u q u e n a lin ­
e m c o n ta d o p o n to d e v is ta d a ló g ic a f o r ­
g u a g e m e n o e n s in o c o n te m p o r â n e o s as
m a l. K a n t re c o n h e c e , n e s te s e n tid o ,
m e sm a s fó r m u la s (e m p a r tic u la r as ex ­
q u e , p a r a f a la r rig o r o s a m e n te “ b le ib e n
p re ssõ e s definições de palavras e defini­
k e in e a n d e re n B e g riffe ü b rig , d ie zu m de­
ções de coisas) s e ja m to m a d a s e m s e n ti­
finirem ta u g e n , a is s o lc h e , d ie e in e w ill-
d o s to ta lm e n te d ife re n te s e n tr e o s q u a is
k ü rlic h e S y n th e sis e n th a lte n , w elch e a
se e sta b e le c e m in e x trin c á v e is c o n fu s õ e s
priori c o n s tr u irt w e rd en k a n n : m ith in h a t
(v er as o b serv açõ es e o Suplemento). P r o ­
n u r M a th e m a tik D e fin itio n e m ” . 1* Razão
p o m o s , p o is , d eix á-las in te ira m e n te de la ­
pura, A . 730. B. 757.
d o e re te r a p e n a s a s seg u in tes d is tin ç õ e s ,
Rad. int.\ A . D e fin ; B . D e fin a n t; C .
q u e p a re c e ra m a s m a is ú te is d o p o n to d e
D e f in a j.
v is ta d o s p ro b le m a s q u e se p õ e m a tu a l­
m e n te n a ló g ic a e n a m e to d o lo g ia : D E F IN ID O R V er D efinição , B e C .
1? P a r a a d is tin ç ã o e n tre a d e fin iç ã o A p lic an d o -se q u a se sem p re, d e p o is d e
d o s c o n c e ito s d a d o s a n te c ip a d a m e n te W o lff, a p a la v r a definição a o e n u n c ia d o
(p o r ex em p lo a tra v é s d o c o n h ec im e n to d a d e u m a e q u iv a lê n c ia e n tr e u m te rm o d e ­
s u a e x ten sã o ) e a d o s c o n ceito s c ria d o s p e­ fin id o e u m c o n ju n to d e te rm o s q u e c o n s-
lo p ró p rio a to d a d e fin iç ão : definições ex­
plicativas e definições construtivas.
2? P a r a a d is tin ç ã o e n tre as d e fin iç õ es 1. ‘'O s conceitos que contêm u m a síntese deci­
sória que pode ser construída a p rio r i são os únicos
q u e e x p rim e m o*essencial d e u m c o n c e i­ através dos quais se pode verdadeiram ente definir.
to e a q u e la s q u e a p e n a s d ã o o m e io de re­ apenas a m atem ática possui, p o rtan to , tais defini-
c o n h e c e r a o q u e e la se a p lic a: definições I çõ e s."
235 D E G R A D A Ç Ã O D A E N E R G IA

titu e m a definição (n o s e n tid o B ), p r o ­ m e n ta l, c a r á te r im p u ls iv o e in c lin a d o a o


p o m o s a d o ta r p a r a este s e n tid o B o ex cesso , d e fe ito s d a lin g u a g e m , lo u c u ra
te r m o definidor. P o r e x e m p lo : “ U m n ú ­ m e n ta l, c rim in a lid a d e , etc.
m e ro p a r (d e fin id o ) é u m n ú m e ro d iv isí­ Rad. int.: D e g en e re s (e s ta d o ); a d
vel p o r d o is ( d e f in id o r ) .” (p ro c e sso ).
Rad. ini.: D e fin a n t. D E G R A D A Ç Ã O D A E N E R G IA
D E G E N E R A Ç Ã O D . Entartung; E. V er, p a r a os e q u iv a le n te s e s tra n g e iro s , a
Degeneration ; F . Dégénérescence; 1. De­ c rític a .
generazione. P r o p r ie d a d e q u e a en erg ia* te m d e,
N o s e n tid o g e ra l, a lte r a ç ã o d e u m o r ­ p e rm a n e c e n d o c o n s ta n te em q u a n tid a d e ,
se r e p a r tir e n tre os c o rp o s d e m a n e ira
g an ism o o u d e u m ó rg ã o q u e o leva a u m a
s e m p re m a is u n ifo r m e e assim se to r n a r
fo rm a julgada inferior. (E sta in fe rio r id a ­
c a d a v ez m e n o s m a n ife s ta p a r a o s s e n ti­
d e co n siste , n o m a is d as vezes, n o fa to de
d o s , c a d a vez m e n o s u tiliz á v el p a r a a
o o rg a n is m o o u o ó r g ã o em q u e s tã o n ã o
ação.
p o d e re m m ais c u m p rir to d a s o u p a rte d as
fu n ç õ e s à s q u a is e sta v a m a d a p ta d o s . CRITICA
C o n sis te ta m b é m , m a s e x c e p c io n a lm e n ­ E s ta lo c u ç ã o é de in tr o d u ç ã o recen te
te , n o re to r n o d o s u je ito c o n s id e ra d o a n a lin g u a g e m d o s físico s. E n c o n tra -s e
u m e s ta d o d e e v o lu ç ã o a n te r io r .) p a rtic u la rm e n te em J ÃZ E E 2 E I , Introduc-
C h a m a m -s e e sp e c ialm en te Degenera­ tion à la théorie de rénergie (1883) e em
dos {MÃ2 E Â , 1857, te rm o p o p u la riz a d o B e r n a r d B 2 Z Ç7 E è , La dégradation de
p o r Mτ ; Çτ Ç , 1890) a o s in d iv íd u o s c a ­ 1’énergie (1 899), S ir W . THOMPSON (lo r­
ra c teriza d o s p o r u m c e rto n ú m e ro de a n o ­ d e KE Â â « Ç ) tin h a c r ia d o , p a r a d e s ig n a r
m alias a n a tô m ic a s o u fu n c io n a is: assim e­ e s ta p ro p r ie d a d e , a e x p re ssã o dissipation
tr ia n o tá v e l d a fa c e , d e f o r m a ç ã o d a o re ­ o f energy, q u e v isa p a rtic u la rm e n te a o ca­
lh a , irr e g u la rid a d e d a d e n tiç ã o , r a q u itis ­ so d e u m g á s c u ja s m o lé c u la s se e x p a n ­
m o , p e rtu rb a ç õ e s s e x u a is , in s ta b ilid a d e d e m p o r d ifu s ã o o u a o d e u m siste m a n ã o

S o b re D e g e n e ra ç ã o — “ D esv io doentio d e u m tip o p rim itiv o . E ste d e sv io e n c e r­


ra e le m e n to s d e tra n s m is s iv id a d e d e ta l n a tu re z a q u e a q u e le q u e tr a n s p o r ta o g erm e
se to r n a c a d a vez m a is in c a p a z d e c u m p rir a s u a fu n ç ã o n a h u m a n id a d e e o p ro g r e s ­
so in te le c tu a l j á e n ra iz a d o n a s u a p e s s o a e n c o n tra -s e a in d a a m e a ç a d o n a d o s seus
d e s c e n d e n te s .” M Ã2 E Â , Traité des dégénérescences physiques, intelectuelles et m o­
rales de l'espèce humaine, p . 5. T e x to c o m u n ic a d o p o r Georges Sorel , q u e a c re s c e n ­
t a is to : “ M o re l o p õ e a s u a c o n c e p ç ã o à d o s n a tu r a lis ta s q u e u tiliz a ra m a p a la v r a
degeneração p a r a in d ic a r o re g re sso d a s v a rie d a d e s , o b tid a s pO T se le ç ã o , a o tip o a n ­
tig o . O te rm o d a d eg en erescên cia é o ser q u e j á n ã o p o d e se re p ro d u z ir (p . 15 e p . 3 4 ).”
É in te re s s a n te n o ta r , p o is isso m o s tr a a in e x a tid ã o d o te r m o , q u e os id io ta s e os
im b ecis n ã o e s tã o c o m p re e n d id o s e n tre o s degenerados, n o s e n tid o p r ó p r io d a p a la ­
v ra n a e sc o la d e Mτ ; Çτ Ç . E s ta p a la v r a é s o b r e tu d o a p lic a d a a o s o b sessiv o s e a o s
im p u ls iv o s , q u e r d iz e r , a o s p s ic a s tê n ic o s . (Pierre Janet )

S o b re D e g ra d a ç ã o d a e n e rg ia — E s ta e x p re ss ã o é a in d a e v ita d a p e lo s físic o s q u e
p re fe re m f o r m a s p re c isa s d e lin g u a g e m e n ã o c o rre s p o n d e , a té o p re s e n te , a u m a
c o n c e p ç ã o c la ra e d is tin ta . (P. Tannery)
E s ta c rític a p a re c e ser d e m a s ia d o sev era. C o n su lte i s o b re e ste p o n to Henri Pel-
lat, q u e c o n s id e ra v a , p e lo c o n tr á r io , e ste te rm o c o m o m u ito ú til e a n o ç ã o q u e ele
re p re s e n ta c o m o bem d e fin id a . (A . L.)
D E ÍS M O 236

is o la d o q u e p e rd e a s u a e n e rg ia p o r ir r a ­ (Deist) g ib t z u , d ass w ir a lle n falls d a s Da­


d ia ç ã o á m e d id a q u e a s re a ç õ e s in te rio ­ sein e in e s U rw e se n s d u r c h b lo sse V e r­
res a tr a n s f o r m a m e m c a lo r . M a s c o m o n u n f t e rk e n n e n k ö n n e n , a b e r u n s e r B e­
a p ro p r ie d a d e e m q u e s tã o n â o s u b sis te g r if f v o n ih m b lo s s transcendental sei,
m e n o s n u m siste m a in te ira m e n te iso la d o , n äm lich n u r als v o n ein em W esen , d a s alle
é p re fe rív e l u tiliz a r a e x p re ss ã o m a is ge­ R e a litä t h a t, die m a n a b e r n ic h t n ä h e r
ra l in d ic a d a a trá s . b e stim m e n k a n n ; d e r zw eite (Theist) b e ­
Rad. i n t D e g ra d a d . h a u p te t, d ie V e rn u n ft sei im S ta n d e , d e n
G e g e n s ta n d n a c h d e r A n a lo g ie m it d e r
D E ÍS M O D . D eism us ; E . Deism; F .
N a tu r n ä h e r zu b e s tim m e n , n ä m lic h als
Deisme ; I. Deísmo.
E s ta p a la v r a fo i to m a d a em s e n tid o s e in W e se n , d a s d u rc h V e rs ta n d u n d F re i­
m u ito v a ria d o s : fo i c ria d a n o séc u lo X V I h e it d e n U rg ru n d a lle r a n d e r e n D in g e in
pelo s so c in ia n o s p a r a se d istin g u ire m d o s sich e n th a lte .” 1 Razão pura, “ C rític a de
a te u s . P τ è T τ Â a o p ô s a o m e sm o te m p o to d a a te o lo g ia ” . A . 6 3 1 , B. 659.
a o c ris tia n is m o e a o a te ís m o , m a s c o n ­
clu iu q u e ateísm o e d eísm o “ são d u a s coi­ 1. " O prim eiro {deista) aceita q u e podem os a d ­
sas q u e a religião c ristã o d e ia q u ase ig u a l­ quirir só pela razão o conhecim ento da existência de
m e n te “ ; Penseés, p e q . e d . B ru n sc h v ic g , um $er prim itivo, m as o conceito que dele possuímos
p p . 579-581. C l a r k e , q u e d istin g u iu m e ­ perm anece sim plesmente transcendental, quer dizer,
to d ic a m e n te a s s u a s d ife re n te s f o r m a s , o de um ser que tem to d a realidade, m as que não se
a p lic a -a a to d a s a s c o n c e p ç õ e s filo só fic a s pode determ inar m ais estreicamente; o segundo (teís­
ta ) pretende que a razão é capaz de determ inar mais
d e D e u s, seja m elas q u a is fo re m ( Trata­ estreitam em e este objeto de pensam ento p o r a n a lo ­
do da existência e dos atributos de Deus , gia com a natureza, quer dizer, de o conceber com o
t. II, c a p . II). Kτ ÇI o p õ e , p e lo c o n tr á ­ um ser que contém em si, pelo seu entendim ento e
rio , o deísmo a o teísmo. “ D e r e rste re pela sua liberdade, o principio prim eiro das co isa s."

S o b re D eísm o — P a sc a l n o a rtig o d o s Pensamentos citad o m ais a trá s seg u ia, aliás,


o u so d o seu te m p o . E m 1642 o P a d r e M e rse n n e p u b lic o u u m liv ro in titu la d o L ’im­
piété des déistes, athées et libertins du temps. A í c o m b a tia u m p o e m a in titu la d o L'an­
tibigot o u Les quatrains du déiste q u e c o rria o m u n d o p o r v o lta d e 1622-23, e c u jo
a u to r o p u n h a o “ D e ís ta ” a o m e s m o te m p o a o “ A te u ” e a o “ B e a to ” : o D e í s t a crê
n a ex istên cia d e u m D eu s, m as q u e n ã o in te rv é m n o s a ss u n to s h u m a n o s (v er S 2 Ã ç è - I

3 « , Pascal et son temps, I, p p . 205 -2 0 7 ). (E . Leroux)

Deísmo e n c o n tra -s e já em V « 2 E I , n a Epístola dedicatória d a s e g u n d a p a rte d o


seu Instruction chrétienne (p u b lic a d o em 1564): “ H á v á rio s q u e c o n fe s s a m q u e a c re ­
d ita m q u e e x iste u m D eu s e u m a D iv in d a d e , c o m o o s T u rc o s e o s J u d e u s . O u v i d iz er
q u e h á nesse b a n d o a q u e le s q u e se c h a m a m Deístas , u m a p a la v r a to ta lm e n te n o v a
q u e eles q u e re m o p o r a o A te ís m o .”
Teísta é d e o rig e m in g le s a . V er B τ à Â , Réponse aux questions d ’un provincial ,
E

I I I , 13: “ S irv o -m e d e s ta p a la v r a , à im ita ç ã o d o s in g le ses, p a r a sig n ific a r e m g e ra l


a f é n a e x istê n c ia d iv in a .” E n tr e o s in g leses p a re c e q u e e s ta p a la v r a fo i p o s ta em
u so n o m e a d a m e n te p o r C Z á ç Ã 2 I 7(te x to s e in fo rm a ç õ e s c o m u n ic a d a s p o r Eucken.
V e r d o m e s m o a u to r u m e stu d o s o b re a p a la v r a Deísmo n o s Beitràge zur Geschichte
der neuren Philosophie, 1886, p . 171).
“ E r a u m a te u d e p ro fis s ã o e de f a to , se ta l p o d e e x istir, a o m e n o s u m v e rd a d e iro
,
d e í s t a .” S τ « Ç - S « O Ã Ç , M ém oires a n o 1708. E d . de B o islile, X V , p. 417. T e x to c o ­
I

m u n ic a d o p o r L. Brunschvicg.
A d is tin ç ã o fe ita p o r K τ Ç é r e tir a d a d e H u m e , e e ra j á u s u a l n a s u a é p o c a . V er
I

U ζ 2 ç ; , Die N eue Zeit, I , 153 (ed . d e 1896). (F. Rauh)


E E E
237 D E M Ê N C IA

Deísmo, em fran c ês, c o n se rv o u d a su a se deve o u n ã o e x e c u tá -lo . O p õ e -se a


o rig em u m c a m b ia n te fre q ü e n te m e n te p e ­ impulso.
jo ra tiv o ; fo i u tiliz a d o c o m o u m te rm o d e
CRÍTICA
cen su ra pelo s o rto d o x o s em re lação à q u e ­
les q u e se lim ita m a c re r em D e u s sem M a is v u lg a rm e n te d e fin e -se a d e lib e ­
a c e ita r o s d o g m a s e p rá tic a s d e u m a re li­ r a ç ã o c o m o u m a c o m p a r a ç ã o d o s m o ti­
g iã o d e te r m in a d a . E le é , p e lo c o n tr á r io , v o s p o r o u c o n tr a u m d a d o a to . M as es­
to m a d o p o s itiv a m e n te p elo s e clético s e t a d e fin iç ã o , m e sm o se se a c resce n ta m ao s
ap lica-se à " re lig iã o n a tu r a l” , q u e r d iz er, m o tiv o s in te le c tu a is o s m ó b ile s a fe tiv o s,
à d o u tr in a d o s filó s o fo s q u e , " a d m itin ­ te m o d e fe ito d e a p r e s e n ta r o e u q u e d e ­
d o a p e n a s a ex istên c ia de D e u s, a im o r ­ lib e ra c o m o u m e s p e c ta d o r q u e c o n te m ­
ta lid a d e d a a lm a e a re g ra d o d e v e r, re ­ p la a s fo rç a s o u a s ra z õ e s q u e lh e são ex ­
te rio re s e n q u a n to d e las só se d is tin g u e n a
je ita m o s d o g m a s re v e la d o s e o p r ó p r io
re a lid a d e p o r a b s tr a ç ã o .
p rin c íp io d a a u to r id a d e em m a té ria re li­
g io s a ” . F r a n c k , su b V o .
Rad. int.: D e lib e r.
D E L IR IO D . Delirium ; E . Delirium;
CRÍTICA
F . Délire ; I. Delirio.
E s te te rm o p re s ta -se à c o n fu s ã o e n ã o E s ta d o m e n ta l te m p o r á r io c a r a c te ri­
n o s p a re c e ú til c o n se rv á -lo f o r a d a s su as z a d o p e la c o n f u s ã o d o s e s ta d o s de c o n s ­
a p lic a ç õ e s h is tó ric a s . ciên cia, a s u a d e so rd e m , a in te n sid ad e d as
Rad. int .: D e ism . im a g e n s q u e se to r n a m o m a is d a s vezes
a lu c in a tó r ia s e d e te r m in a m a lg u m a s ve­
D E L I B E R A Ç Ã O D . Überlegung
zes a to s v io le n to s e a n o rm a is .
(m a is g e ra l); E . Deliberation ; F . Délibé­
R ad . in t.: D e lir.
ration-, I . Deliberazione.
E s ta d o p sico ló g ico n o q u a l n o s e n c o n ­ D E M Ê N C IA D . Blödsinn, Schwach­
tr a m o s q u a n d o , te n d o c o n c e b id o u m a to sinn-, E . Dementia; F . Démence; I.
v o lu n tá r io c o m o p o s sív e l, su sp e n d e m o s Demenza.
a s u a e x e c u ç ã o a té n o v a o rd e m p a r a e x a ­ P r o p r ia m e n te , d iz -se d e u m a lie n a d o
m in a r d e m a n e ira c o n sc ie n te e r e f le tir se q u e é d e m e n te q u a n d o , d e p o is d e te r

S o b re D e lib e ra ç ã o — E r ra ría m o s a o ju n ta r a o s m o tiv o s in te le ctu a is o s m ó b iles a f e ­


tiv o s, em g ra n d e p a r te in c o n sc ie n te s o u , n o m á x im o , sem ico n sc ie n te s e q u e n ã o e n ­
tra m em n e n h u m caso n a d e lib e ra ç ã o p ro p r ia m e n te d ita (se b e m q u e eles p o s s a m exer­
cer so b re e la u m a in flu ê n c ia o c u lta e m u ito g ra n d e ). (/. Lachelier) E n te n d e r-s e -ia , n es­
te c aso , p o r m ó b ile s as c a u s a s d e a ç ã o q u e re p o u s a m so b re u m e s ta d o a fe tiv o a tu a l,
e p o r m o tiv o s a q u e la s q u e re p o u s a m s o b re u m a id é ia o u u m e s ta d o lo n g ín q u o m a is
c o n h e c id o q u e re p re se n ta d o . U n s e o u tr o s p o d e m e n tr a r n a d e lib e ra ç ã o : p o d e -s e d eli­
b e ra r e n tre o d e s e jo a tu a l d e r e p o u s o e a id é ia d e u m dever a c u m p rir. (A. L.)

S o b re D e m ê n c ia — D iz-se, s o b r e tu d o , q u e ex iste demência q u a n d o e s ta fr a q u e z a


d e e sp írito é c o n s id e ra d a in c u rá v e l, q u a n d o n ã o se tr a t a d e u m e n fra q u e c im e n to fu n ­
c io n a l, m a s d e u m a d e s tr u iç ã o o rg â n ic a e d e fin itiv a d a in te lig ê n c ia . D a í a d ific u ld a ­
d e d o d ia g n ó s tic o d a d e m ê n c ia . ( Pierre Janet )
S u p rim im o s n a re d a ç ã o d e fin itiv a d e ste a r tig o u m p a r á g r a f o s o b re a demência
precoce, c u ja d e fin iç ã o e n v o lv e d isc u ssõ e s a in d a p e n d e n te s e n tr e o s a lie n ista s . R τ Ç -
Z O L I a s s in a la -n o s , p o r o u tr o la d o , a demência senil c o m o c o n tr a p a r tid a d a demên­
cia precoce. (A . £ . )
DEMÉRITO 238

a p re s e n ta d o d u r a n te u m te m p o m ais o u B . P a r tid o p o lític o q u e s u s te n ta a d e ­


m e n o s lo n g o p e rtu rb a ç õ e s m e n ta is c a r a c ­ m o c ra c ia n o s e n tid o A .
te riz a d a s , cai n u m e s ta d o d e f r a q u e z a d e Rad. int.: D e m o k ra ti.
e s p írito e de in c o e rê n c ia m e n ta l.
D E M Ô N IO G . Òçei(Mv, t o ôaifióvíov,
Rad. i n t D e m en t (a d je tiv o ).
p o tê n c ia e s p iritu a l in fe rio r a u m d e u s ,
D E M É R I T O V er Mérito. m a s s u p e r io r a o s h o m e n s; D . Damon; E .
D em on\ F . D ém on; I. Demonio.
D E M IU R G O G . A yiuovQyo*, lite ra l­ A . N o s e n tid o d a p a la v r a g re g a d e fi­
m e n te a r te s ã o , tr a b a lh a d o r . n id a a c im a . D iz-se em p a rtic u la r d o “ d e ­
T e rm o p e lo q u a l n o Timeu P Â τ I ã Ã m ô n io d e S ó c ra te s” (Socratis genius). V er
d e sig n a o d e u s q u e fa b ric a o u n iv e rs o . A em L é Â Z I , L e démon de Socrate (I ? e d i­
m e sm a p a la v r a h a v ia s id o j á to m a d a c o ­ ç ã o , 1836; 2? e d ., a u m e n ta d a , 1856), o s
m o te rm o d e c o m p a r a ç ã o p o r Só T2 τ I E è te x to s d e P Â τ I ã Ã , d e X E ÇÃE ÃÇI E e de
a o fa la r d a fa b ric a ç ã o d o c o rp o h u m a n o P Â Z I τ 2 TÃ re la tiv o s a e s ta q u e s tã o .
(s e g u n d o X E ÇÃE ÃÇI E , Memoráveis, I, A p a la v r a é ig u a lm e n te to m a d a p o s i­
iv , 7 ). P Â τ I ã Ã , to d a v ia {Timeu, 4 1 , A ), tiv a m e n te p o r BAL2 τ T , Seraphita, II e
d istin g u e o d e m iu rg o o u fa b ric a n te su p re ­ H l (E d . C a lm a n n -L é v y , p p . 83 e 107).
m o , q u e fa z ele p r ó p r io a A lm a d o m u n ­ B . “ O D e m ô n io ” , p rin c íp io a tiv o d o
d o , d o s d eu ses in fe rio r e s c ria d o s p o r ele m a l, c o n sid e ra d o c o m o u m ser p e sso a l n o
e e n c a rre g a d o s d a c ria ç ã o d o s seres m o r ­ A n tig o e n o N o v o T e s ta m e n to ; ele é t a m ­
tais (cf. u m a d istin ç ã o a n á lo g a em X E ÇÃ ­ b é m c h a m a d o “ o M a u ” o Uovrfçôi (o
E ÃÇI E , M em ., IV , iii, 13). q u e se tr a d u z fre q ü e n te m e n te p o r “ o M a ­
P Â ÃI « ÇÃ u tiliza ig u a lm e n te o s te rm o s lig n o ” , n o s e n tid o a n tig o d e sta p a la v r a ) .
C . M a u e sp írito ; s e r m a lé fic o q u e
òrjixiovgyúv, ô t u il o v q j ó í, a o fa la r d a A l­
a g in d o so b re o h o m e m o u p e n e tra n d o n e ­
m a d o m u n d o (En, II , 9). A lg u n s g n ó s ti­
le é c a u s a de v ício , de p e r tu r b a ç ã o m e n ­
cos fazem ta m b é m d o D e m iu rg o u m c ria ­
ta l o u d e d o e n ç a . N e ste s e n tid o I ò òaifió-
d o r o u u m o rg a n iz a d o r d o m u n d o d is tin ­
vtov é to m a d o p ro p r ia m e n te n o s E v a n ­
to d o D e u s s u p re m o e c u jo a to é m e sm o
g e lh o s (p o r e x e m p lo M a te u s , X I I , 37;
c o n s id e ra d o , p o r a lg u n s d e n tre eles, c o ­
X V II, 17; L u c a s, IV , 33; V III , 27-38;
m o u m e rro .
e tc.). M as “ d e m ô n io ” é fre q u e n te n o s e n ­
D E M O C R A C IA G . A rj/io x ecm ct; D . tid o fig u ra d o en tre o s m o ralistas: o d e m ô ­
Demokratie ; E . Democracy\ F . Démocra­ n io d o jo g o , o d e m ô n io d a a m b iç ã o , etc.
tie ; I, Democrazia. (L ã I I 2 é faz n o ta r q u e “ d ia b o ” , sin ô n im o
n o sentido p ró p rio , n ão se utiliza n u n ca nas
A . E s ta d o p o lític o n o q u a l a s o b e r a ­
ex p ressõ es fig u ra d a s d este g ê n e ro .)
n ia p e rte n c e à to ta lid a d e d o s c id a d ã o s ,
Rad. int.: D ém o n .
sem d is tin ç ã o de n a s c im e n to , de f o r tu n a
o u d e c a p a c id a d e . D E M O N S T R A Ç Ã O D . Demonstra-

S o b re D e m o n s tra ç ã o — P a re c e-m e q u e a d e m o n s tra ç ã o p re ssu p õ e a v e rd a d e já co ­


n h e c id a , e n q u a n t o q u e a d e d u ç ã o fa z e n c o n tr a r o u re e n c o n tr a r a v e rd a d e a p o ia n d o -se
so b re ra z õ es em v irtu d e d a s q u a is n ó s a c o n h e c e m o s, o u m e sm o em v i r t u d e d as q u ais
ela e x iste. (J. Lachelier) J á conhecida d o p o n to d e v ista p sico ló g ic o , sem d ú v id a , m a s
n ã o reconhecida c o m o v e rd a d e d o p o n to d e v ista ló g ico ; d e m a n e ira q u e em re la ç ã o
a isto a d ife re n ç a esp ecífica d a demonstração, n o g ê n ero dedução, co n siste s o m e n te n o
fa to d e p ro v a r q u e a s u a c o n c lu sã o é verdadeira, e n ã o a p e n a s q u e e la e stá implicada
p o r ta is o u tra s p ro p o siç õ e s v e rd a d e ira s o u fa lsas. (L. Couturat)
239 D E R IV A Ç Ã O

tion, Beweis; E . Demonstration; F . De­ te r m o é


a q u ilo q u e c o r r e s p o n d e à
m onstration ; I. Dimostrazione. extensão* d e u m c o n c e ito . J o h n S tu a rt
U m a d e m o n s tra ç ã o é u m a d e d u ç ã o M « Â Â, Lógica, I , c a p . II, § 5.
d e s tin a d a a p r o v a r a v e rd a d e d a s u a c o n ­
D E O N T O L O G I A D . Déontologie,
c lu sã o a p o ia n d o -s e so b re p re m issa s re c o ­
Pflichteniehre; E . Deontology; F . Déon­
n h ecid as o u a d m itid a s c o m o v erd a d eiras.
C f . Prova,
tologie; I. Deontologia.
Demonstração pelo absurdo ; v er A b ­ É I « Tτ (te rm o c ria d o p o r BE ÇI 7 τ O :
surdo. Deontology or the Science o f M oraiity,
1834, p ó s tu m a ): T e o ria d o s d e v eres. E s ­
Rad. i n t D e m o n s tr .
te te r m o n ã o se a p lic a à ciên cia d o d e v e r
D E N O M IN A Ç Ã O L . Denominado. e m g e ra l, n o s e n tid o k a n tia n o : tr a z c o n ­
N a E s c o lá s tic a , t o d a d e te rm in a ç ã o * s ig o , p e lo c o n tr á r io , a id é ia d e u m e s tu ­
d e u m o b je to q u e p e rm ite a trib u ir-lh e u m d o e m p íric o d o s d ife re n te s d e v e re s, r e la ­
n o m e (s u b s ta n tiv o o u a d je tiv o ). D is tin ­ tiv a a ta l o u ta l s itu a ç ã o so c ia l. É p a r ti­
g u ia m -se as d e n o m in a ç õ e s intrínsecas, c u la r m e n te u tiliz a d o n a e x p re ss ã o Deon­
q u e r d iz e r, as q u a lid a d e s (essen ciais) in e ­ tologia médica (te o ria d o s d ev eres p ro f is ­
re n te s a o s u je ito e a s d e n o m in a ç õ e s ex- s io n a is d o m é d ic o ).
. trínsecas, q u e r d iz er, as relações q u e m a n ­ Rad. int.: D e v o sc ie n c.
tê m c o m o u tr o s s u je ito s . É n e ste s e n tid o
q u e LE « ζ Ç« U su ste n ta q u e n ã o existem d e­ D E R E Í S T I C O D . Dereistisch; F . Dé-
n o m in a ç õ e s p u ra m e n te e x trín s e c a s, q u e r réistique (m u ito r a r o e m fra n c ê s ).
d iz e r, irre d u tív e is a d e n o m in a ç õ e s in ­ F a la n d o d o p e n sa m e n to : s e p a ra d o d o
trín se c a s. re a l, a u tís tic o * (BÂ E Z Â E 2 , P « E 2 ÃÇ ).
C f. E è ú « ÇÃè τ , Ética, I I , d e f. 4; e L ó ­
D E R IV A Ç Ã O D . Ableitung; E. Dé­
gica d e F Ã2 I -R Ãà τ Â , I, c a p . II.
rivation; F . Dérivation; 1. Derivazione.
D E N O T A Ç Ã O E . Denotation; F . A o s se n tid o s d e s ta p a la v r a n a lin g u a ­
“Dénotation g em c o r r e n te , n a s m a te m á tic a s , e m filo ­
V er Conotação. A d e n o ta ç ã o d e u m lo g ia , h á q u e a c re s c e n ta r:

S o b re D e riv a ç ã o — N o s e n tid o A : “ Q u a n d o e s ta d e p re s s ã o se p r o d u z (o a b a ix a ­
m e n to d a te n s ã o p s ic o ló g ic a ), o s fe n ô m e n o s in fe rio r e s , a ç ã o e p e rc e p ç ã o d e sin te re s ­
s a d a s , ra c io c ín io , d e v a n e io , a g ita ç ã o m o tr iz e v isc e ra l, s u b siste m p e rfe ita m e n te e a té
se d e se n v o lv e m n o lu g a r d o s s u p e r io r e s ... É p o r isso q u e e s to u d is p o s to a c o n s id e ra r
e s ta a g ita ç ã o c o m o u m a s u b s titu iç ã o , u m a derivação, q u e s u b s titu i o s fe n ô m e n o s
s u p e rio re s s u p r im id o s .” P ie r r e J τ ÇE I , L e s névroses, 2? p a r te , c a p . IV , § 4 . N o sen ­
tid o B : e ste s e n tid o fa z p a r te , em V . P a r e to , d e u m jo g o s is te m á tic o d e ex p ressõ es:
resíduo, derivação, derivada . É a q u ilo q u e , n a s c iên c ia s q u e n ã o a tin g ira m a p re c i­
s ã o “ ló g ic o -e x p e rim e n ta l” , c o rre s p o n d e re s p e c tiv a m e n te ao s p rin c íp io s , a o s ra c io ­
cín io s e às c o n se q u ê n c ia s d as c iên cias b e m c o n s titu íd a s . V er V . P τ 2 E I Ã , Tratado
de sociologia geral, c a p . V I a X I. A ssim , o s resíduos são p s e u d o p r in c íp io s , m al d e fi­
n id o s e d ita d o s p e lo s s e n tim e n to s (o a u to r to m a m e sm o a lg u m a s vezes e s ta p a la v ra
pelo s p ró p r io s s e n tim e n to s de o n d e n a sc e m estas fó r m u la s , p o r e x e m p lo n o c a p . IX );
a s derivações s ã o o s p re te n so s a rg u m e n to s q u e d eles se e x tra e m (e p o r c o n se g u in te ,
ta m b é m , as c o n s tru ç õ e s lógicas s u p e rfic ia is q u e m a s c a ra m te n d ê n c ia s o u s e n tim e n ­
to s m a is p r o f u n d o s , a té m e sm o in c o n sc ie n te s); p o r fim , as derivadas s ã o a s a f ir m a ­
ções q u e se a c r e d ita j u s t a m e n t e r e t i r a r d eles. E s te s te rm o s fo r a m a d o ta d o s p o r a l­
g u n s a u to r e s d e lín g u a fra n c e s a .
D E R R E L IÇ Ã O 240

A . S u b s titu iç ã o d e a to s o u d e re a çõ e s n u m e ro so s c o m o n o s in d iv íd u o s n o rm a is,
fá c eis, m a s in ú te is o u m a l a p r o p r ia d a s , m a s n ã o p u d essem , d ev id o a u m a fra q u e ­
p o r u m a to a d a p ta d o à s c irc u n s tâ n c ia s , z a p a r tic u la r d a s ín te se , re u n ir-se n u m a
m a s q u e e x ig iria u m a te n s ã o * p sico ió g i· ú n ic a p e rc e p ç ã o , n u m a ú n ic a c o n sc iê n ­
c a m a is e le v a d a , q u e o s u je ito n ã o c o n ­ c ia p e s s o a l... e d e sse m o rig e m a d o is o u
seg u e re a liz a r. m a is g r u p o s d e fe n ô m e n o s c o n sc ie n te s ,
B. E m P τ 2 E I Ã , p s e u d o -ra c io c ín io g r u p o s s im u ltâ n e o s , m a s in c o m p le to s ,
q u e d á o rig e m a u m a id e o lo g ia su p erficial, f u r ta n d o - s e u n s a o s o u tr o s a s sen sa çõ e s,
q u e d is sim u la a s v e rd a d e ira s ra z õ e s d e ser a s im a g e n s e , p o r c o n s e q ü ê n c ia , o s m o ­
d e u m a d o u tr in a . V er a s o b serv aç õ es. v im e n to s q u e d ev em s e r re u n id o s n o rm a l­
C . C h a m o u -se a lg u m a s vezes a o tra n s ­ m e n te n u m a m e s m a c o n s c iê n c ia e n u m
fo rm is m o “ te o r ia d a d e riv a ç ã o d a s f o r ­ m e s m o p o d e r .” A utom atism e psycholo­
m a s o r g â n ic a s ” . M a s a in d a q u e derivar gique^ 364.
d e ... s e ja m u ito u s u a l n e s te s e n tid o a ex ­ R ad. in t.: D e sa g re g e s, a d .
p re s s ã o é p o u c o u tiliz a d a .
Rad. in t.: A . D e tu r n . D E S C O B E R T A , d e s c o b rir V e r Inven­
ção e c f. R o b in W τ â2 E , L ’imagination
D E R R E L IÇ Ã O D o L . D erelictio, du réel (1984).
a b a n d o n o ; D . Geworfenheit.
E s ta d o d o h o m e m la n ç a d o n o m u n ­ D E S C O N T Í N U O D . U nstetig ; E .
d o q u e s e s e n te a b a n d o n a d o à s s u a s p r ó ­ Discontinuous', F . D iscounting, l. D is­
p ria s f o r ç a s , s e m lu z n e m s o c o r r o s a e s ­ continuo.
p e r a r d e u m a p o tê n c ia s u p e r io r n a a ç ã o A . D o p o n to d e v is ta f ilo s ó fic o , u m a
o u m e sm o n a e x istên cia n a q u a l ele j á n ã o g ra n d e z a é d e s c o n tin u a se f o r c o m p o s ta
a c r e d ita . d e e lem en to s d a d o s (e n ã o a rb itra ria m e n ­
te d e fin id o s ) p o r in te rm é d io d o s q u a is ela
NOTA é c o n s tr u íd a n o p e n s a m e n to .
O u s o c o r r e n te d e ste te r m o é re c e n te ; B . D o p o n to d e v is ta d a a n á lis e m a ­
fo i so b re tu d o e m p re g a d o p elo s ex isten cia­ te m á tic a , descontínuo é a n e g a ç ã o d e
lis ta s, m a s o s e n tim e n to q u e e le d e sig n a contínuo* em to d o s o s s e n tid o s .
fo i já fre q ü e n te m e n te ex p resso n o ro m a n ­ Rad. int.: N e k o n tin u .
tis m o ; v e r e sp e c ia lm e n te V« ; Çà , “ L e
D E S C R IÇ Ã O D . Beschreibung', E.
m o n t d e les O liv ie rs ” em L es destinées.
Description; F . Description; I . Des-
D E S A G R E G A Ç Ã O P S IC O L Ó G IC A crizione.
E s te te r m o , c ria d o p o r P ie rre J τ ÇE I , e n ­ LÃ; . E n tre a s “ d e fin iç õ e s * d e c o i­
tr o u n a lin g u ag em p sico ló g ica c o n te m p o ­ s a s ” P Ã2 I -RÃà τ Â d is tin g u e d u a s e sp é ­
r â n e a . O a u t o r e n u n c ia a ss im q u e e x p lo ­ cies: “ u m a , m a is e x a ta , q u e te m o n o m e
r a a s u a hipótese da desagregação psico- d e definição; a o u t r a , m e n o s e x a ta , q u e
lógica , q u e serv e p a r a e x p lic a r a s a n e s te ­ s e c h a m a descrição ” . E s ta ú ltim a “ é
s ia s, a s a m n é s ia s , a s p a ra lis ia s e a s p e r ­ a q u e la q u e d á a lg u m c o n h e c im e n to d e
so n a lid a d e s m ú ltip la s d o s h istérico s: “ A s u m a c o is a a tra v é s d o s a c id e n te s , q u e lh e
c o isa s p a ss a m -s e c o m o se o s fe n ô m e n o s s ã o p r ó p r io s e q u e a d e te r m in a m o b a s ­
psíquicos e le m e n ta re s fo sse m re a is e tã o ta n te p a r a d a r d e la a lg u m a id éia q u e a dis-

S o b re D e sc riç ã o — S o b re a e x p lic a ç ã o , a e x p o s iç ã o e a d e sc riç ã o , c f. Hτ O« Â I ÃÇ ,


Lectures on L ogic, liç ã o X X IV , p á g in a s 12 e 2 0 . ( / . Lachetíer)
E s te s e n tid o d a p a la v r a d e sc riç ã o é m u ito p ró x im o d a s D efinições nom inais ta is
c o m o s ã o e n te n d id a s p o r LEIBNIZ. (A . L .)
241 D Esm v o

tin g u e d a s o u t r a s ” . Logique de Pori- D E S E N C A D E A R (V er a s o b s e rv a ­


R o y al, 2 ? p a r te , c a p . X V I, E d . C h a r le s , ç õ e s s o b re o te x to d e B 2 ; è Ã Ç c ita d o n a
E

215. p a la v ra Anim alidade -) D . A usklinken ; E .


Rad. int.: D e s k rip t. To unclench ; F . Déclencher o u déclan­
cher ; I . Scoccare; n o s e n tid o f ig u r a d o ,
DESDOBRAM ENTO DA PERSO ­
scatenare.
N A L I D A D E V e r Personalidade.
A . N o s e n tid o p r ó p r io , s u p rim ir u m
D E S E J O D . Begehren, Begehrung. o b s tá c u lo q u e im p e d ia u m a f o r ç a d e p ro ­
E s ta s p a la v ra s n ã o tê m n a lin g u a g e m fi­ d u z ir o seu e fe ito : d e s e n c a d e a m e n to d o
lo s ó fic a o s e n tid o p e jo r a tiv o q u e v u lg a r­ a la r m e n u m re ló g io (I . Scocco), d o g a ti­
m e n te receb em n a lin g u a g e m c o rre n te . F . lh o n u m fu z il a r m a d o .
T Õ N N I E S ; E . Desire\ F . Désir; I, De­ B . M a is g e ra lm e n te : d e te r m in a r , p o r
siderio. u m d is p ê n d io m ín im o d e e n e rg ia re la ti­
T e n d ê n c ia e s p o n tâ n e a e co n sc ie n te em v a m e n te a o e f e ito c a u s a d o , a p r o d u ç ã o
d ire ç ã o a u m fim c o n h e c id o o u im a ­ d e u m fe n ô m e n o (físic o , p s ic o ló g ic o , so ­
g in a d o . c ial) d e q u e to d a s a s o u tr a s c o n d iç õ e s es­
O d e s e jo r e p o u s a , p o is , s o b r e a ta r ia m re u n id a s .
te n d ê n c ia * , d e q u e ele é u m c a s o p a r tic u ­ Rad. int.: K le n k .
la r e m a is c o m p le x o . O p õ e -s e , p o r o u tr o
la d o , à v o n ta d e * (o u à v o liç ã o * ) n a m e ­ D E S E N V O L V IM E N T O V er Gênese.
d id a em q u e e s ta p re s s u p õ e a m a is: 1? a D E S IN T E G R A Ç Ã O D . Desintegra­
c o o r d e n a ç ã o p e lo m e n o s m o m e n tâ n e a tion; E . Disintegration ; F . Désintégration ;
d a s te n d ê n c ia s ; 2°, a o p o s iç ã o e n tr e o su ­ 1. Disintegrazione.
je ito e o o b je to ; 3? a c o n sc iê n c ia d a s u a
T r a n s f o r m a ç ã o d e s e n tid o in v e rs o
p r ó p r ia e fic á c ia ; 4 ? o p e n s a m e n to d o s
à q u e le q u e c o n s titu i a integração*.
m e io s p e lo s q u a is s e re a liz a rá o f im p r e ­
R ad. int.: D e s in te g ra d .
te n d id o . P o r fim , s e g u n d o c e rto s filó s o ­
fo s , e x iste a in d a n a v o n ta d e u m fia i* d e D E S m v O (PÃ2 I -RÃà τ Â , I I , x , § 4).
u m a n a tu r e z a e sp e c ia l, irre d u tív e l à s te n ­ A s p ro p o s iç õ e s desitivas o p õ e m -s e às
d ê n c ia s e q u e c o n s titu i a liberdade. inceptivas\ e la s tê m c o m o c a r a c te rís tic a
O c o n tr á r io d o Desejo é a Aversão. in d ic a r q u e u m a c o isa o u u m e s ta d o ces­
Rad. int.: D ezir. s o u d e ser: ” 0 la tim j á n ã o é a lín g u a

S o b r e D e se jo — E s te a rtig o fo i in te ira m e n te m o d if ic a d o c o n f o r m e a s o b s e r v a ­
ç õ e s d e M . Bernes, Chartier, V. Egger, J. Lachelier, F. Pécaut e Rauh.
A d e fin iç ã o d o desejo ‘‘n o s e n tid o f r a c o ” fo i e lim in a d a . E s te s e n tid o p e rte n c e
à lin g u a g e m u s u a l, m a s é d e m a u u s o filo s ó fic o n a o p in iã o d e to d o s a q u e le s q u e t o ­
m a r a m p a r te n a d is c u s s ã o . D ev e-se d iz e r , n e ste s e n tid o , veleidade ; o d e s e jo p r o p r ia ­
m e n te d ito é u m a te n d ê n c ia q u e p o d e te r to d o s o s g ra u s d e in te n s id a d e , d e sd e o s
m a is fra c o s a t é o s m a is irre sistív e is.
A te n d ê n c ia e stá s o b o d e se jo e o d e se jo s o b a v o n ta d e . ( / . Lachelier — E. Chartier)
“ O d e s e jo é a te n d ê n c ia p a r a se o b te r u m a e m o ç ã o j á e x p e r im e n ta d a o u im a g in a ­
d a . É a vontade natural de um prazer . ” Rτ Z 7 e R E âτ Z Â I D’A Â Â ÃÇE è , Psychologie
appliqué, 4 3 . E s ta d e fin iç ã o p a re c e -n o s d e m a s ia d o e s tr e ita , p o r q u e e la n ã o lev a s u fi­
c ie n te m e n te e m c o n ta a a n te r io r id a d e d e c e rta s te n d ê n c ia s em r e la ç ã o à s e m o çõ e s
c o rre s p o n d e n te s . O d e s e jo p a re c e -n o s s e r e s s e n c ia lm e n te o d e s e jo d e u m a to o u d e
u m e s ta d o s e m q u e n e le h a j a n e c e s s a ria m e n te , e e m to d o s o s c a s o s , a re p re s e n ta ç ã o
d a c a r a c te r í s t ic a a f e tiv a d e sse fim . (F. Pécaut — A . L .)
DESORDEM 242

v u lg a r d a I t á l i a . ” E la s c o n tê m p o r c o n ­ D E S T IN A Ç Ã O D . Bestimmung; E .
s e q u ê n c ia d u a s p ro p o s iç õ e s , u m a re la ti­ D estination; F . Destination; I. Desti-
v a a o e s ta d o a n te r io r e a o u tr a a o e s ta d o nazione.
p o s te rio r e q u e p o d e m ser c o n te s ta d a s se­ F in a lid a d e de u m ser; a q u ilo q u e p a ­
p a r a d a m e n te (ibid.) r a ele é fe ito . D iz -se o m a is d a s vezes d e
D E S O R D E M C f . Ordem e v er B E 2 ; - u m in s tr u m e n to , d e u m e d ifíc io , e tc .; a
è ÃÇ , Evolução criadora , c a p . I I I , § 3: p a la v r a é a té té c n ic a n e ste s e n tid o n a lin ­
“ E s b o ç o d e u m a te o r ia d o c o n h e c im e n ­ g u a g e m ju r íd ic a . N a lin g u a g e m te o ló g i­
to f u n d a d a s o b re a id é ia d e desordem ” ca e filo s ó fic a a p lic a -s e ta m b é m à s p e s­
(este s u b títu lo a p e n a s fig u ra n o ín d ice d a s so a s c o n s id e ra d a s n ã o in d iv id u a lm e n te
m a té ria s ). (fa la -s e n e ste s e n tid o d e vocação*), m a s
e n q u a n to p erten cem a u m a espécie, a u m a
“ D E S P E R S O N A L I Z A Ç Ã O ” F . Dê- classe g e ra l. É o te rm o c o n s a g ra d o p a r a
personnalisation (sem eq u iv alen tes em o u ­ tr a d u z ir as e x p re ssõ es c o m o Die Bestim ­
tr a s lín g u a s).
mung des Menschen, Die Bestimmung des
C o m e ste te r m o d e sig n o u -se u m a ilu ­
Gelehrten (F « T : A destinação do ho­
7 I E
s ã o sui generis, d is tin ta d o q u e v u lg a r­
m e n te se c h a m a desdobramento da per­
mem, a destinação do sábio).
sonalidade, e q u e c o n sis te s o b r e tu d o em Rad. int.\ D e stin .
p e rc e b e r as su as p r ó p r ia s p a la v ra s e os 1, D E S T IN O G . M o íç a , ttnaçpúvn,
seus p r ó p r io s a to s c o m o se p e rc e b e ria TreTTQWftèpr); L . F atum ; D . Geschick,
q u a lq u e r c o isa de a n o rm a l e de e s tr a n h o . Schicksal ; E . Fate, destiny; F . Destin; I.
E ste fe n ô m e n o é ig u a lm e n te d is tin to d a
Destino; fa to .
paramnesia, se b e m a lg u m a s vezes a
A . P r o p r ia m e n te , p o tê n c ia p e la q u a l
a c o m p a n h e (D Z ; τ è , “ U m c a s o d e d es-
c e rto s a c o n te c im e n to s s e ria m fix a d o s a n ­
p e rs o n a liz a ç ã o ” , R é v u e p hilos., m a io de
te c ip a d a m e n te in d e p e n d e n te m e n te d o q u e
1898; B 2 Çτ 2 á -L 2 Ã à , “ S o b re a ilu s ã o
E E
p u d e sse a c o n te c e r , e d o q u e o s seres d o ­
d ita d e s p e rs o n a liz a ç ã o ” , ibid., a g o s to de
ta d o s de in te lig ê n c ia e d e v o n ta d e p u d e s ­
1898).
sem fa z e r c o m v is ta a e v itá -lo s . “ O m eu
P ie rr e J τ ÇE I e R τ à OÃÇá in c lu e m n a
m e sm a classe u m c a s o m a is c o m p le x o : d e s tin o s eg u e -m e p o r to d a p a r t e . ” V o l ­
t a i r e , Carta a M adame Denis, 24 de
u m o b sessiv o tem a im p re s sã o de ele p r ó ­
p rio se p e rd e r, d e s e n tir o seu eu e c lip sa r­ a g o s to d e 1750. C f. Fatalismo.
se, de ser d o m in a d o p o r u m a p e r s o n a li­ B . S o rte de u m ser. “ O d e stin o d e um
d a d e d ife re n te , d e q u e im ita o c a r á te r e liv r o .” C o n ju n to d a v id a d e u m ser p e s­
a s a titu d e s . “ D e sp e rs o n a liz a ç ã o e p o sse s­ s o a l n a m e d id a e m q u e o s a c o n te c im e n ­
s ã o n u m p s ic a s tê n i c o ” , Journ. de to s q u e a c o m p õ e m , c o n tin g e n te s o u n ã o ,
psychoL, I, 28. s ã o c o n s id e ra d o s c o m o re s u lta d o d e f o r ­
Rad. int .: D e p e rs o n ig . ças e x te r io re s e d is tin ta s d a s u a v o n ta d e .

S o b re “ D e s p e rs o n a liz a ç ã o ” — E n c o n tr a r - s e - á p ro v a v e lm e n te Entpersönlichung
n o s e sc rito re s q u e se o c u p a m d e p s iq u ia tria . (F . Tönnies)
A despersonalização, a o c o n tr á r io d o v e rd a d e iro d e s d o b r a m e n to d a p e r s o n a lid a ­
d e , a p re s e n ta -s e s o b r e tu d o s o b a f o r m a d e s e n tim e n to s a n o rm a is q u e o s u je ito e x p e ­
rim e n ta a re s p e ito d e si p r ó p r io : s e n tim e n to s d e e s tr a n h e z a , d e irr e a lid a d e , d e a u s ê n ­
cia to ta l d a p e s s o a . V er Obsessions et psychasthenies, p . 3 0 5 . O s e g u n d o c a s o e n tr a
n o m e sm o g r u p o q u e o s p re c e d e n te s , p o r q u e é ta m b é m , s o b r e tu d o , c a ra c te riz a d o
p e lo se n tim e n to d e incompletude, so b re o q u a l se vem e n x e rta r u m a o b se ssã o d e p o s ­
sessã o . (P, Janet)
243 D E T E R M IN A Ç Ã O

C RÍTIC A II I), a u tiliz a a o m e sm o te m p o n o s e n ti­


E s te te rm o é m a is p o é tic o d o q u e fi­ d o B e n o s e n tid o C . 1? N o s e n tid o B: “ É
lo só fic o . C o n s titu i u m a esp écie d e p e rs o ­ 0 p riv ilég io d o s p o v o s q u e m a rc h a m à
n ific a ç ã o d a f a ta lid a d e o u d o s a c o n te c i­ fr e n te d a c iv iliz a ç ã o , q u e n a d a de g ra n ­
m e n to s fatais* (n o s d iv e rso s s e n tid o s d a de se p o s sa p a ss a r n o seu seio q u e n ã o in ­
p a la v ra ). P a re c e-n o s in ú til a trib u ir-lh e p a ­ flu en cie os su p erio re s d e stin o s d a p ró p ria
ra o u so filo só fic o u m Rad. int. p a r tic u ­ e sp é c ie .” E d . H a c h e tte , 298. 2? N o sen ­
la r. V er Fatalidade. tid o C : “ É p o r q u e o h o m e m é c a p a z d e
c o m p re en d e r q u e tu d o fo i c ria d o p a ra um
2 . D E S T IN O N o s s e n tid o s A e B, c o ­ f im ,., q u e o h o m e m se in q u ie ta c o m seu
m o D e s tin o * . N o s e n tid o C : D . Bestim - p ró p r io d e stin o e c o m as s u a s relaçõ es
tnung; E . Destination, destiny; F . Desti- c o m o d e s tin o d o m u n d o .” Ibid., 308.
née; 1. Destinazione. V er ig u a lm e n te o a rtig o m u ito d e se n v o l­
À . M e sm o s e n tid o q u e Destino 1 — v id o d e F 2 τ Ç T 3 n o Diet, des sciences
A : “ A c u s a r o d e s tin o .” philos., V o .
B . M esm o s e n tid o q u e Destino 1 — Rad. int.: D e stin .
B: N e s ta a c e p ç ã o u tiliz a -se ta m b é m n o
p lu ra l: “ O s d e s tin o s de R o m a .” D E T E R M I N A Ç Ã O D . A . Bestim-
C . M e sm o s e n tid o q u e d e s tin a ç ã o * , men,-ung\ B . Entschluss ; C . Bestim-
m a s a p e n a s a o f a la r d o s seres p e sso a is. m ung ; D . Bestimmtheit; E . Determina­
Mτ 2 Â « ÇT 3
E I E o p ô s e ste s e n tid o e o p re ­ tion; F . Determination ; I. Determi-
cedente s o b o s n o m es resp ectiv o s de “ d e s­ nazione.
tin o m o r a l” e “ d e s tin o e x te r io r ” . N o sentido ativo:
Rad. int.: A . F a t; B . D e s tin a j; C . A . A to d e d e te r m in a r , n o s e n tid o A ;
D e stin . r a r a m e n te n o s o u tr o s s e n tid o s .
N o sentido neutro ou passivo:
C R ÍT IC A
B . R e s u lta d o p sic o ló g ic o d a d e cisã o :
E s ta p a la v r a p e r te n c e s o b r e tu d o à Fi­ a q u ilo a q u e n o s d e c id im o s.
lo s o fia d o séc. X V III e à e sco la e clé tic a . C . A q u ilo q u e c o n s titu i u m m e io de
É d e n o ta r q u e J Ã Z E E 2 Ã à , n o seu céleb re d e te r m in a ç ã o , n o s e n tid o A , c o m o , p o r
a r tig o , “ D o p ro b le m a d o D e s tin o h u m a ­ e x e m p lo , u m a c a ra c te rístic a * o u u m a tr i­
n o ” (Mélanges philosophiques, M o r a le , b u to * .

S o b re D e stin o (2) — N o s e n tid o C , Destinação é m e lh o r e d e v e m e sm o ser ex clu ­


s iv a m e n te u tiliz a d a se se p re s s u p õ e essa fin a lid a d e c o n h e c id a e q u e rid a p o r u m a in ­
te lig ê n c ia . P o r o u tr o la d o , destinação d e s p e rta n o rm a lm e n te a id é ia de u m a fin a li­
d a d e e x te rn a , c o m v ista a o u tr a c o isa . É s o b re tu d o u m in s tr u m e n to q u e te m u m a
d e s tin a ç ã o . T a lv e z s e ja p o r e s ta r a z ã o q u e J Ã Z E E 2 Ã à u tiliz o u destino n a p a ssa g em
c ita d a . (J. Lachelier )

S o b re D e te r m in a ç ã o — E s ta p a la v r a , p o r a p lic a ç ã o d o s e n tid o A , 1? d e determi­


nar, o p õ e -s e a abstração e tra d u z -s e p e l a m u ltip lic a ç ã o ló g ic a . C f. K à Ç è , Formal
E E

Logic, q u e se serv e d o s te rm o s alternação e determinação em lu g a r d e a d iç ã o ló g ica


e m u ltip lic a ç ã o ló g ic a . (L. Couturat )
M rs. Ladd-Franklin re c o m e n d a m u ito o e m p re g o d e Determinação e m lu g a r de
Multiplicação lógica.
O sen tid o decisão, d a d o a lg u m as vezes a esta p a la v ra , é de m a u estilo filosófico. P a ­
rece ser u m a ex ten são ileg ítim a d a expressão: determinarse a... (E. Charder) M ais a in ­
d a , h av eria v a n tag e m em ev itar a sin o n im ia d e determinação e de decisão. ( Th. Ruyssen)
D E T E R M IN A D O 244

D. R e la ç ã o e n tre d o is e le m e n to s d e(q u e r d iz e r ta m b é m : d e s tin a r a ...) ; C . Er-


c o n h e c im e n to ta l q u e se o p rim e ir o é d a ­ zeugen; D . Veranlassen; E . To determi­
d o o s e g u n d o ta m b é m o é. E x iste , p e lo ne ; F . Déterminer ; I. Determinare.
c o n trá rio , Indeterminação se, sen d o o p ri­ (N o s e n tid o p r im itiv o , q u e j á n ã o es­
m e iro d a d o , o s e g u n d o p u d e r s e r d e d i­ tá e m u s o , d e lim ita r, fix a r os lim ite s ; d e
fe re n te s m a n e ira s o u m e s m o n ã o s e r. o n d e e lim in a r to d a a m b ig ü id a d e , q u e r a b ­
s o lu ta m e n te , q u e r e m c e rto s a s p e c to s .)
T2 í « Tτ
I
A . F ix a r p re c is a m e n te a n a tu r e z a o u
É d e n o ta r q u e se p o d e d e fin ir a d e ­ o s lim ite s d e u m o b je to d e p e n s a m e n to .
te rm in a ç ã o , n o se n tid o D , sem a p e la r p a ­ P a r tic u la r m e n te :
r a a n o ç ã o d e lei. N a d a im p õ e o u r e je ita 1? P a r a u m c o n c e ito : e sp e c ific a r as
a priorí a h ip ó te s e s e g u n d o a q u a l p o d e c a ra c te rís tic a s q u e o d istin g u e m d e o u tr o
h a v e r u m a lig a ç ã o d e n e c e s sid a d e e n tre c o n c e ito d o m e sm o g ê n e ro ; re s trin g ir u m
essências p a rtic u la re s , sem q u e e sta d e te r­ c o n c e ito d a d o p o r a d iç ã o d e u m a o u d e
m in a ç ã o re su lte d e u m a p ro p o s iç ã o g e ra l v á ria s c a ra c te rístic a s n o v a s. C f. Multipli­
(c o m o n o c o n h e c im e n to d o q u a r to g ê n e ­ cação* lógica.
r o em E è ú « ÇÃ è τ ). 2 ? P a r a u m o b je to d a d o : a s s in a la r a
Rad. int.: A . D e te rm in ; B . D e c id a j; classe à q u a l ele p e rte n c e . E ste te rm o , nes­
C . D e te r m in a j; D . D e te rm in e s . te s e n tid o , é d e u s o té c n ic o n a s c iên cias
d a n a tu r e z a , s o b r e tu d o em b o tâ n ic a : re­
D E T E R M I N A D O D . Bestimmt; E . c o n h e c e r o g ê n e ro e esp écie d e u m a p a la ­
Determínate; F . Dêterm inê; I. Deter­ v ra q u e se te m d ia n te d o s o lh o s .
mínalo. 3? P a r a u m o b je to o u u m a g e n te d e s­
A lé m d e seu u s o e n q u a n to p a r tic ip io c o n h e c id o : id e n tific á -lo a tra v é s d a s c o n ­
de determinar ■ *, e le a p re s e n ta d o is s e n ti­ d iç õ es à s q u a is e le d e v e s a tis fa z e r . “ D e ­
d o s e sp e c iais. te r m in a r as ra íz e s de u m a e q u a ç ã o .
A . D a d o , d e fin id o : “ E m c ir c u n s tâ n ­ D e te r m in a r o a u to r d e u m t e x to .”
cias d e te r m in a d a s .” B . P s ic . O c a s io n a r a d e cisã o d a v o n ­
B . S u b m e tid o a o determ inism o*. ta d e . “ U m m o tiv o d e te r m in a n te .” C f. as
ex p ressõ es: “ D eterm in ar-se a . . . ” , “ d e ter­
1. D E T E R M I N A N T E (s u b s t.) A lé m
m in a d o ” ( n o s e n tid o d e decidido).
d o seu sen tid o m a te m á tic o , d e m a sia d o es­
C . A o fa la r d e fe n ô m e n o s físicos: c a u ­
p ecial p a r a ser e x p o s to a q u i, e s ta p a la v r a
s a r , n o se n tid o fo rte ; p r o d u z ir e n ã o sim ­
é u tiliz a d a a lg u m a s vezes p a r a d e s ig n a r
p le sm en te c o n d ic io n a r o u p re c e d e r d e m a ­
c a d a u m d o s e le m e n to s q u e “ d e te rm i­
n e ira c o n sta n te . “ E sta sim p lific a çã o ” (re­
n a m ” u m f a to o u u m re s u lta d o : “ O o b ­
d u z ir a id é ia d e c a u s a lid a d e à id é ia d e lei)
je tiv o a q u e o s cien tistas se p ro p õ e m é d u ­
d e s p o ja a n o ç ã o d e c a u s a n a m e d id a e m
p lo : e n c o n tr a r a s d e te rm in a ç õ e s d o s fe ­
q u e in te rv é m n a s ciên c ia s p o s itiv a s “ d e
n ô m e n o s , e n c o n tr a r as leis in v a riá v eis d e
to d a a id éia d e determinação, d e e fic ác ia ,
s u c e s s ã o .” R τ ζ « E 2 , Logique, p . 119.
r e s to e te s te m u n h a d a s u a o rig e m p s ic o ­
2 . D E T E R M I N A N T E ( a d j.) O Juízo ló g ic a , p a r a a re d u z ir a p e n a s à q u ilo q u e
determinante (D . bestim mende Urteils- p o d e ser c o n s ta ta d o p e la o b s e rv a ç ã o , a
kraft, Kτ ÇI ) é a fa c u ld a d e d e s u b s u m ir s a b e r , a s s im p le s re la ç õ e s d e s u c e s s ã o ” .
s o b u m u n iv e rs a l d a d o o sin g u la r o u o Rτ ζ « E 2 , Logique, p . 117. V e r o s a rtig o s
p a r tic u la r (das Besondere ) a o q u a l c o n ­ Causa e Causalidade.
v ém . O pÕ e-se a o ju íz o re fle x iv o (v e r e sta D . P r o v o c a r , d e se n c a d e a r* . “ D e te r­
p a la v r a ) . Krit. der Urteilskra/t, I n tr o d ., m in a r u m a a v a la n c h e .” “ D e te rm in a r u m
§ 4 . C f. a d ia n te Determinar. a c e sso d e c ó le r a .”
Rad. int.: A . D e te rm in ; B . D e cid ; C .
D E T E R M IN A R D . A . B . Bestimmen E f e k tig o ; D . D e sk le n k .
24S D E T E R M IN IS M O

D E T E R M IN A T IV O D . Bestimmend ; p e d id o c o m c e rte z a c o n f o r m e se c o n h e ­
E . Determinative., F . D éterm inatif, 1. D e­ ç a m , se p r o d u z a m o u se im p e ç a m estes
term inativo. ú ltim o s . “ A c rític a e x p e rim e n ta l p õ e t u ­
U m a p ro p o s iç ã o in c id e n te é d e te rm i­ d o e m d ú v id a , e x c e to o p rin c íp io d o d e ­
n á v e l o u ex p licativ a c o n fo rm e ela re s trin ­ te rm in is m o c ie n tíf ic o .” Ib id . , 303.
j a o u n ã o o te r m o c o m o q u a l se re la c io ­ “ D e te r m in is m o e s ta tís tic o ” , v e r Es­
n a (P Ã 2 -R Ã à τ Â , II, c a p . V I). E x .: “ A
I tatística.
á g u a q u e fe rv e c o n s e r v a u m a te m p e r a tu ­ C . D o u trin a filo só fic a seg u n d o a q u al
r a c o n sta n te (determinativa ). A á g u a , que to d o s o s a c o n te c im e n to s d o u n iv e rs o , e
é líquida acim a dos 0 o, é o s o lv e n te m a is e m p a r tic u la r as a ç õ e s h u m a n a s , e s tã o li­
u tiliz a d o (explicativa).” g a d o s d e ta l f o r m a q u e , s e n d o a s c o isa s
R ad . int. : D e te r m in a n t. o q u e s ã o n u m m o m e n to q u a lq u e r d o
te m p o , a p e n a s e x iste p a r a c a d a u m d o s
D E T E R M I N IS M O D . Determ inis­ m o m e n to s a n te rio re s o u u lte rio re s u m es­
m us; E . D eterm inism ; F . D éterm inism e ; ta d o e u m s ó q u e é c o m p a tív e l c o m o
I. Determ inism o. p rim e ir o .
A . S e n tid o c o n c r e to : c o n ju n to d a s D . I m p r o p r ia m e n te , fa ta lis m o : d o u ­
c o n d iç õ e s n e c e s sá ria s p a r a a d e te r m in a ­ tr in a seg u n d o a q u a l c e rto s a c o n te c im e n ­
ç ã o ( n o s e n tid o D ) d e u m d a d o fe n ô m e ­ to s s ã o fix a d o s p re v ia m e n te p o r u m a p o ­
n o . “ O m é d ic o e x p e r im e n ta d o r e x e rc e rá
tê n c ia e x te r io r e s u p e r io r à v o n ta d e , d e
su c e ssiv a m e n te a s u a in flu ê n c ia s o b re a s m a n e ir a q u e faça-se o que se fiz e r eles
d o e n ça s d e sd e q u e ele c o n h e ç a ex p erím en - a c o n te c e r ã o in fa liv e lm e n te . P o r v ezes,
ta lm e n te o se u d e te r m in is m o e x a to , q u e r d iz -se, n e s te s e n tid o , “ d e te rm in is m o e x ­
d iz e r, a c a u s a p r ó x im a .” C la u d e B E 2 ­ te r n o ” , e é o p o s to , e n tã o , a o " d e t e r m i­
Çτ2 á , Introd. à la m édecine experimen­
n is m o in te r n o ” o u lig a ç ão e n tr e a s c a u ­
tale , 376. sas e o s e fe ito s q u e c o n stitu e m a v o n ta d e .
B . S e n tid o a b s tr a to : c a ra c te rís tic a d e
u m a o rd e m de fa to s n a q u a l c a d a elem en ­ CRÍTICA
to d e p e n d e de certo s o u tro s de ta l m a n e ira H istória — O te r m o d e te rm in is m o é
q u e p o d e ser p re v is to , p r o d u z id o o u ím - re c e n te . N ã o se e n c o n tr a e m L « ζ Ç « U ,
E

S o b r e D e te rm in is m o — H istória — A p a la v r a D eterm inism o e n c o n tr a - s e n u m a


p a ss a g e m d e Kτ ÇI , A religião nos lim ites da sim ples razão, 1? d iv is ã o , ad fin em .
E le a c ita c o m o u m te r m o n o v o e p r ó p r io p a r a ilu d ir , p o is , d iz e le , a q u e s tã o d ifícil
n ã o e s tá n a o p o s iç ã o e n tr e u m a in d e te r m in a ç ã o d o s a to s e u m a a p lic a ç ã o d o p rin c í­
p io d a r a z ã o s u fic ie n te , q u e s e r e p r e s e n ta p o r e s ta p a la v r a determ inism o (se m d ú v id a
n o s a d e p to s d e W o lf f ) , m a s n a o p o s iç ã o e n tr e o f a to d e o a to d e v e r e s ta r , n o m o ­
m e n to d a a ç ã o , ta n to q u a n to o se u c o n tr á r io , e m p o d e r d o s u je ito , e n q u a n to q u e ,
p o r o u tr o la d o , e n q u a n to f e n ô m e n o , ele te m a s s u a s ra z õ e s n e c e s sá ria s no tem po
precedente , o q u e é , d iz e le , o Predeterm inism o (R o s e n k r a n z , 57. H a r t. V I, 144).
A p a la v ra e n c o n tra -se tam bém em H e g e l : p o r ex em p lo Obras com pletas , V , 183.
(R. Eucken)
A lé m d a p a ssa g e m d e Kτ ÇI (c ita d a a tr á s ) e n c o n tr e i, a lg u n s a n o s m a is ta r d e
(1 7 9 9 -1 8 0 0 ), a s p a la v r a s Determ inism us e D eterm inisten n u m a o b r a s o b r e a filo s o fia
d o d ire ito : Revision der G rundsätze und G rundbegriffe des positiven peinlichen
R echtes l, d e P . J . A n se lm F E Z E 2 ζ τ T7 , p a r tic u la r m e n te I I , 134, n o t a “ D e te rm in is ­
te n ” . A p a la v r a é a í a p r e s e n ta d a c o m o c o n h e c id a e c o rre n te . (F. Tönnies)

1. Revisão dos princípios e dos conceitos gerais do direito penal positivo


D E T E R M IN IS M O Î-U t

se b em q u e to d o s os crítico s co n c o rd e m c riç õ e s e e m fa s c íc u lo s , 1844), m a s co m


em u tilizá-lo p a ra d esig n a r a su a d o u tri­ u m a s im p le s re m is s ã o p a r a a p a la v r a Fa­
n a d a n ecessid ad e, e se b em q u e ele p r ó ­ talism o ; n ã o se e n c o n tr a , c o n tu d o , n em
p rio se sirva fre q u e n te m e n te n este sen ti­ n o a rtig o Fatalismo ( J Ã Z 2 á τ « Ç ), n e m n o
d o d as p a la v ra s determinação e razão de­ a rtig o Necessidade (V τ ú 2 τ Z ), n em E E

terminante ( Teodicéia , 1 ,4 4 ,5 2 ,2 8 8 : N o ­ n o s a r tig o s Destino e Leibniz (F 2 τ ÇT 3 ).


vos ensaios, 11, 21, etc.)· H . Lτ T7 E Â « E 2 A p e n a s f ig u r a n o a rtig o Liberdade (E m .
n o to u q u e se ele p ró p rio tivesse d a d o u m S τ « è è ), o n d e é a ss im d e fin id a : " . . . o s
E I

n o m e a o seu sistem a tê-lo -ia, sem d ú v i­ d o is siste m a s d o determinismo e d a liber­


d a , c h a m a d o m ais co rre ta m e n te determi- dade de indiferença, siste m a s c o n tr a d itó ­
nacionismo. r io s , d o s q u a is o ú ltim o p re s s u p õ e q u e o
E s ta p a la v r a fo i to m a d a , p o r v o lta d e h o m e m se p o d e d e te r m in a r sem m o tiv o s
1830-1840, d a filo so fia a le m ã n a q u a l ela e o o u tr o q u e o s m o tiv o s d e te r m in a m in ­
e ra ig u a lm e n te de u so recen te. (P a re c e te r v e n c iv e lm e n te a v o n ta d e ; d o is excessos
s id o d e in ício u m a a b re v ia ç ã o d e praede- ig u a lm e n te n ã o ra z o á v e is ” . E m 1865 fo i
terminismus , m ais a n tig o . E n c o n tra -se em p u b lic a d a a Introdução d e C l . B 2 Çτ 2 á E

L « ζ Ç« U praedelineatis.) F ig u r a n a Enci­
E e e m 1873 A liberdade e o determinismo
clopédia d e E 2 è T e G 2 Z ζ 2 (L e ip z ig ,
7 E d e F Ã Z « Â Â é . O te r m o to rn o u - s e d e sd e
E

1832) e n a tá b u a a lf a b é tic a d a e d iç ã o de e n tã o u s u a l e e n tr o u n o Dicionário d a


L e ib n iz p o r E 2 á Oτ ÇÇ (1840) o n d e é, A c a d e m ia e m 1878.
aliás, e n u n c ia d a so b a fo r m a fran c esa Dé- (R e su m o d e Recherches sur l ’origine
terminisme. N a F r a n ç a , e n c o n tr a m o - la , du m ot déterminisme, c o m u n ic a d a s p o r
d e in íc io , n a s c ita ç õ e s d e o b ra s a le m ã s e E ; ; 2 .) C f. Predeterminismo.
E

n o s a u to r e s q u e lia m h a b itu a lm e n te e sta Uso contemporâneo — É p re c is o de


lín g u a . É m e n c io n a d a n o seu lu g a r a lf a ­ in íc io e lim in a r o s e n tid o D , q u e se to rn o u
b é tic o n a 1! e d iç ã o d o D ic io n á r io d e r a r o e a ju s to titu lo . O f a to q u e ele re ­
F 2 τ ÇT 3 ( p u b lic a d o a tr a v é s d e s u b s ­ p re s e n ta c h am a -se já , sem eq u ív o co , fata-

F Ã Z « Â Â é to m a d e te r m in is m o n u m s e n tid o a m p lo : “ N o m e c a n is m o e n a fin a li­


E

d a d e , esses d o is g ra n d e s d o m ín io s d o d e te r m in is m o ...” L a liberté et le déterminis­


m e, p . 2 6 1 . (M. Marsal) N o Fundam ento da indução , c a p . V II, L τ T Â « 2 c h a m a 7 E E

determinismo a tu d o o q u e n ã o é a “ lib e r d a d e ” ta l c o m o ele a e n te n d e . P o r ta n t o ,


a p a la v r a é ta m b é m p a r a ele m a is a m p la q u e “ m e c a n is m o ” , q u e a p e n a s re p re s e n ta
u m a d a s su a s e sp é c ies. (A. L .)
Sobre a Crítica. P a re c e -m e q u e determinismo s e ria im p r ó p r io a o f a la r d o s iste m a
d e E s p in o s a : e sta p a la v r a d e s p e rta a id é ia d e u m a d e te r m in a ç ã o através de um ante­
cedente, e p o r c o n s e q u ê n c ia s e m p re re la tiv a . O siste m a d e E s p in o s a é o d a n e c e ssid a ­
de absoluta e ta lv e z n ã o se ja p re c is o o u tr o n o m e p a ra o d e s ig n a r. {J. Lachelier)
A d is tin ç ã o e n tre a d e te r m in a ç ã o n o s e n tid o d o p re s e n te p a r a o f u tu r o , sem re c i­
p r o c id a d e , n o s e n tid o d o p re s e n te p a r a o p a s s a d o , sem re c ip ro c id a d e , o u n o s d o is
s e n tid o s , é in te re s s a n te . N ã o c re io q u e s e ja n o v a ; e c o rre n te m e n te u tiliz o u m a d is tin ­
ç ã o d e ssa esp écie a o s u s te n ta r q u e p ra tic a m e n te a d e te rm in a ç ã o p o d e s e m p re ser c o n ­
s id e r a d a c o m o c o m p le ta , d o p re s e n te (o u d e p re fe rê n c ia d o p a s s a d o im e d ia ta m e n te
e sc o a d o ) p a r a o p a s s a d o a n te r io r , p o r q u e , p o r h ip ó te s e , esse p a s s a d o e s tá p a r a o
p e n s a m e n to to ta liz a d o , e p o r c o n s e q u ê n c ia a c a b a d o ; e n q u a n to q u e n ã o p o s s o n u n c a
c o n s id e rá -la s e n ã o c o m o p a rc ia l d o p re s e n te p a r a o f u tu r o (o u n o p r ó p r io p re s e n te ,
d o seu p o n to de p a r tid a a o seu te r m o ) , p o r q u e se tr a t a a q u i d e u m a o p e r a ç ã o n ã o
a c a b a d a , e q u e se e fe tu a . ( M . Bernes)
247 D E T E R M IN IS M O

lidade\ e a d o u tr in a q u e a d m ite a o n ip o ­ K τ Ç , ST Ãú Ç τ Z 2
I 7 E 7 E , J . S . M « Â Â , etc.
tê n c ia , o u p e lo m e n o s a g ra n d e p r e p o n ­ M as p o d e -se a d m itir:
d e râ n c ia d a fa ta lid a d e s o b re a v o n ta d e , 1 ° Q u e o m u n d o a ssim d e te rm in a d o
c h a m a r-s e -á n a tu r a lm e n te fatalism o (es­ e so lid á rio é o ú n ic o m u n d o possív el (E s
te u so d a p a la v r a é, a liá s , o m a is g e n e ra ­ ú « ÇÃ è τ ); ÃZ q u e é c o n tin g e n te n o seu
liz a d o n a lín g u a ). E le d e ix a lu g a r à q u e s ­ c o n ju n to , a p e s a r d o d e term in ism o q u e li­
tã o d e s a b e r se o d e te rm in is m o n ã o d e ­ ga to d a s as p a rte s (L « ζ Ç« U , K τ Ç ).
E I

se m b o c a n o fa ta lis m o , m a s e s ta q u e s tã o S erv im o -n o s p a ra o p o r estas d u as co n cep ­


n ã o d ev e ser p re v ia m e n te re s o lv id a p o r çõ es d a s p a la v ra s fatalism o e determinis­
u m u so in d is tin to d o s d o is te rm o s . C f. mo: “ N ã o se d ev e c o n fu n d ir o fa ta lis m o
Fatalismo. ló g ic o d e E s p in o s a c o m o d e te rm in ism o
P o d e r-se -á p e r g u n ta r a té q u e p o n to m o ra l d e L e ib n iz .” J τ Ç E I e Sé τ « Â Â è ,
E

d ife re m o s d o is s e n tid o s B e C : C la u d e Histoire de la philosophie , 350. E s ta u ti­


B 2 Çτ 2 á n ã o só d istin g u iu a s u a d o u tr i­
E liz a ç ã o d a p a la v r a fatalism o p a re c e -n o s
n a c ie n tífic a d a d o u tr in a filo s ó fic a d e im p r ó p ria : ex iste sem d ú v id a fatalism o
L « ζ Ç« U , c o m o a s o p ô s e n ã o sem d e p re ­
E em E s p in o s a , m a s ele c o n sis te n a “ e sc ra ­
ciar esta ú ltim a (Leçons sur lesphénomè- v a tu ra d o h o m e m ” em re la ç ã o às paix ões
nes de la vie com m uns aux animaux et e n ã o n a d e te rm in a ç ã o g eral d o s a to s que
aux végétaux, I, p p . 55-56 e 60). P a re c e p e rm ite e sc a p a r a essa e sc ra v a tu ra .
q u e , n a re a lid a d e , ele c o m p re e n d e u m a l 2? Q u e h á d e term in a çã o n o sen tid o d o
o a lc a n c e d o s iste m a le ib n iz ia n o e q u e B p re s e n te p a ra o f u tu r o , sem re c ip ro c id a ­
se ja u m a c o n se q u ê n c ia p a r tic u la r d e C : d e ; o u q u e h á d e te rm in a ç ã o n o sen tid o
o p r ó p r io L « ζ Ç« U tir a v a d o seu d e te rm i­
E d o p re s e n te p a r a o p a s s a d o sem re c ip ro ­
n ism o e s ta a p lic a ç ã o , p e la q u a l d o m in a ­ c id a d e ; o u , p o r fím , q u e h á d e te r m in a ­
m o s o s fe n ô m e n o s q u a n d o s a b e m o s c o ­ ç ã o n o s d o is s e n tid o s.
m o eles se p ro d u z e m , e o p u n h a - o a o so­ T o m a n d o o c éle b re e x em p lo d e D u
fism o preguiçoso: “ A lig a ç ã o e n tre os B o is -R a y m o n d , p o d e r-s e -ia c o n c lu ir d o
e fe ito s e a s c a u s a s , b e m lo n g e d e e s ta b e ­ e sta d o a tu a l d o m u n d o quer “ e m q u e m o ­
lecer a d o u tr in a d e u m a n e ce ssid a d e p re ­ m e n to q u e im a rá a In g la te r r a o seu ú lti­
ju d ic ia l à p r á tic a , serv e p a r a d e s tr u í- la ” m o p e d a ç o d e h u lh a ” , quer “ q u e m e ra
( Teodiceia , P r e f á c io ). M a s c o m o é p o s ­ o M á s c a ra d e F e r r o ” , quer, e n fim , as
sív el, e m s e n tid o in v e rs o , a d m itir a tese d u a s c o isa s a o m e sm o te m p o .
d e C la u d e B 2 Çτ 2 á sem a d e L « ζ Ç« U
E E E s ta s d istin ç õ e s n ã o sã o u s u a is ; c o n ­
(seja e sta d is ju n ç ã o ju stific á v e l o u n ã o lo ­ tu d o , a p rim e ira o p in iã o p a re c e su g e rid a
g ic a m e n te ), p a re c e -n o s q u e o s d o is s e n ti­ p o r c e rto s físico s (V . C Ã Z 2 ÇÃ I , Ensaio ,
d o s d e v e m p e rm a n e c e r s e p a ra d o s . § 302) e a seg u n d a p o r e sta tese de BE 2 ; -
O p r ó p r io s e n tid o C d e v e a in d a re c e ­ è ÃÇ d e q u e o te m p o p a s s a d o só p o d e
b e r s u b d iv is õ e s . D e m o s a f ó r m u la m a is “ re p re s e n ta r-s e a d e q u a d a m e n te a tra v é s
u sual q u e convém a E è ú « ÇÃ è τ , L E « ζ Ç« U , 1 d o e s p a ç o ” . P o d e r-s e -á d esig n á-las pelas

P a re c e -m e , p e lo c o n tr á r io , q u e a d e te rm in a ç ã o física e o b je tiv a p o d e ir a p e n a s
d o a n te s p a r a o d e p o is. M a s p o d e r-s e -á , d o d e p o is, r e m o n ta r logicamente e s u b je ti­
v a m e n te a o a n te s ? T a lv e z s e ja , e é, d e f a to , assim q u e c o n c lu ím o s d a cin za p a r a o
fo g o . M as p a re c e -m e q u e isso a p e n a s se p o d e rá fa z e r d e m a n e ira rig o r o s a e c o m p le ta
a tra v é s d e u m c á lc u lo d e u m a c o m p lic a ç ã o in f in ita , m o s tr a n d o q u e to d a h ip ó te s e
s o b re o p a s s a d o , q u e n ã o s e ja a v e rd a d e ir a , c o n d u z ir ía a u m outro p re s e n te . A re ­
g re ssã o p o r ta n to a p e n a s s e ria in d ir e ta e c o n s is tiria em e lim in a r to d a s a s p ro g ressõ e s
p o ssív eis salv o u m a . ( J . Lachelier )
D EU S 248

e x p re ssõ e s seg u in tes: determinismo pro ­ 2 ? Q u e r c o m o c a u s a tra n s c e n d e n te


gressivo, determinismo regressivo, deter­ q u e c r ia o m u n d o f o r a d e si. “ C re d o in
minismo recíproco. C f . A . L τ Â τ Çá , E u n u m D e u m , P a tre m o n m ip o te n te m , fac-
“ N o te s u r F in d e te r m in a tio n ” , Revue de to re m c o eli e t te r r a e , v isib iliu m o m n iu m
m é t a p h 1900, p . 94. e t in v is ib iliu m .” Sím bolo do Concilio de
P r o p o m o s , p o is , r e te r a p a la v r a n e s­ Nicéia.
te ú ltim o s e n tid o C ; r e je ita r c o m p le ta ­ 3? Q u e r c o m o fim d o u n iv erso . O m o­
m e n te o s e n tid o D ; e v ita r o s e n tid o c o n ­ tor imóvel d e A2 «è I ó I E Â E è . (M e te/., X I,

c r e to A , a liá s p o u c o u s u a l n o s filó s o fo s , 7 , 1072*) “ D e u s e s t s u m m u m b o n u m


e p a r a a f a s ta r to d o e q u ív o c o a p e n a s u ti­ s im p lic ite r, e t n o n s o lu m in a liq u o g e n e ­
liz a r a p a la v r a n o s e n tid o B c o m o c o m ­ re vet o rd in e re ru m . Sic e n im b o n u m D eo
p le m e n to : “ d e term in ism o experimenta /” , a ttr ib u it u r in q u a n tu m o m n e s p e rfe c tio -
c o m o o fe z fr e q u e n te m e n te o p r ó p r io n es d e sid e ra ta e e fflu u n t a b eo , sicu t a p r i­
C la u d e B 2 Ç τ 2 á .
E
m a c a u s a .” S. T ÃOá è d e AI Z «ÇÃ , Sum-
Rad. in t . i A . D e te rm in a j; B . D e te r- m a theol . , I, q u . 6, a r t. 2.
jm in e s ; C . D e te rm in is m . A s trê s id é ia s a n te r io re s s ã o re s u m i­
d a s assim p o r V τ T 2 Ã : “ D e u s é o ser
7 E I

D E U S G . © eos; L . Deus; D. G o tt ; E . d o s seres, a c a u s a d a s c a u s a s , o F im d o s


God; F . D ieu ; I. Dio. fin s : eis c o m o ele é o v e rd a d e iro A b s o lu ­
I. C o n s id e ra d o c o m o u m p rin c íp io de t o . ” Le nouveau spiritualism, p . 389.
e x p lic a ç ã o . B . D o ponto de vista lógico. P r in c í­
À . Do po n to de vista ontológico. p io s u p re m o d a o r d e m n o m u n d o , d a r a ­
P rin c íp io ú n ic o e s u p re m o d a e x istê n c ia z ã o n o h o m e m e d a c o rre s p o n d ê n c ia e n ­
e d a a tiv id a d e u n iv e rs a is : tr e o p e n s a m e n to e a s c o isa s. “ S o u o b r i­
1? Q u e r c o m o s u b s tâ n c ia im a n e n te g a d o a a c e ita r u m s e r em q u e a v e rd a d e
d o s seres. “ P e r D e u m in te llig o en s a b so - é e te r n a m e n te s u b s is te n te e e m q u e e la é
lu te in f in itu m , h o c e st s u b s ta n tia m c o n s- s e m p re e n te n d id a ... E s te o b je to e te r n o é
ta n te m in fln ltis a ttr ib u tis , e tc .” E è ú « Ç Ã ­ D eu s e te rn a m e n te su b sisten te, e te rn a m e n ­
è τ , Ét ica , I, d e f. 6. “ Q u ic q u id e s t, in te v e rd a d e iro , e te r n a m e n te a p r ó p r ia v er­
D e o e s t, e t n ih il sin e D e o esse ñ e q u e c o n - d a d e .” B Ã è è Z E I , Conh. de Deus e de si
d p i p o te s t .” I b id ., p r o p . 15. m esm o, IV , 5.

S o b re D e u s — A re d a ç ã o p rim itiv a d o s p a r á g r a f o s C e D e s ta v a a ssim c o n c e b id a :


“ C . Com o conceito social. S er p e s s o a l, s u p e r io r à h u m a n id a d e , a lia d o e p r o te to r
d e u m g ru p o s o c ia l q u e lh e p r e s ta c u lto , e em p a r tic u la r lh e d irig e o ra ç õ e s . S e c u n d a ­
r ia m e n te , a n c e s tra l, le g is la d o r, e d u c a d o r , e tc ., d e ste g ru p o so cia l. ‘D e u s d e A b r a ã o ,
D eu s d e Is a a c , D e u s d e J a c ó , n ã o d o s filó so fo s e d o s d o u to s ’. P a s c a l , Papier (Pen-
se a s, E d . B ru n sch v ic g , p . 1 4 2 ).”
“ D . Como conceito ético. S er p e sso a l ta l q u e se ja p e la s u a in te lig ê n c ia e v o n ta d e
o p rin c íp io s u p re m o e a g a r a n tia d a m o ra lid a d e : p o d e n d o este s e r s e r c o n s id e ra d o
q u e r c o m o c a u s a , q u e r c o m o fim d a o rd e m m o r a l, m a s m ais c o m u m e n te c o m o u m
e o u tr o a o m e sm o t e m p o ...”
E s te te x to fo i m o d if ic a d o p e las ra z õ e s q u e se seg u em (se ssã o d e 16 d e ju n h o d e
1904):
“ A . Lalande. R ec e b i o b s e rv a ç õ e s m u ito in te re s s a n te s d e M . B Â Ã Çá Â E s o b re o
te x to d e P τ è T τ Â c ita d o n o a r tig o Deus, p a r á g r a f o C . O s e n tid o d e sse te x to , d iz ele,
é b em m a is c o m p le x o d o q u e se in s in u a a q u i. E p a re c e -m e q u e , p a r a n ã o d e ix a r e sca­
p a r o p rin c ip a l d a n o ç ã o d e D e u s, s e ria p re c iso a c r e s c e n ta r à s a c e p ç õ es A , B , C , D
e sta s in d ic a ç õ e s, q u e s e ria m o c o m e n tá r io d e sta p a ss a g e m d o s Pensamentos ;
249 D EUS

II. C o n s id e ra d o c o m o u m ser a tiv o . ra liz a ç ã o d o m o n o te ís m o * o g ru p o a lia ­


C. Do p o n to de vista físico. S er p e sd­ o a D eu s (to m a d o n e ste s e n tid o ) é d e
s o a l, s u p e rio r à h u m a n id a d e q u e d á o r ­ p re fe rê n c ia eleito e c o n s titu i u m a Ig re ja .
d e n s e fa z p ro m e s s a s , a o q u a l se d irig em “ O q u e é a Ig re ja ? É a a sse m b lé ia d o s fi­
o ra ç õ e s e q u e a s a te n d e se as ju lg a r b o a s. lh o s d e D e u s, o e x é rc ito d o D eu s v iv o , o
E le é g e ra lm e n te c o n c e b id o c o m o o a lia ­ seu re in o , a s u a c id a d e , o seu te m p lo .”
d o e o p r o te to r d e u m g r u p o so cia l a o B Ãè è Z , Pensamentos cristãos, V .
E I

q u a l ele se m a n ife sta e q u e lhe p re sta cu lto D. D o ponto de vista moral. Ser p e s­
(a n c e s tra l, c h e fe g u e rre iro , le g isla d o r, so al ta l q u e é , pela su a in telig ên cia e a s u a
ju iz , lib e rta d o r, etc.). N a A n tig ü id a d e es­ v o n ta d e , o p rin c íp io s u p re m o e a g a r a n ­
te g ru p o é é tn ic o o u fa m ilia r. E x : D eu ses tia d a m o ra lid a d e . “ A o rd e m m o ra l, o
g re g o s e d eu ses tr o ia n o s ; D eu ses L a re s; m u n d o m o ra l, q u e p o d e ria s e r se n ã o ti­
D e u s de Isra el (v er p a r tic u la rm e n te Deu - vesse o seu fu n d a m e n to , o seu a p o io e,
teronômio, c a p . V, V I, V II). N e ste s e n ­ e n fim , a s u a re a liza ç ão , a ú n ic a v iv a e so ­
tid o d a p a la v ra , o s d eu ses p o d e m , p o is , b e ra n a , n a P e s so a q u e é D e u s ? ” R ÇÃ Z -
E

ser m ú ltip lo s e em lu ta u n s c o m os o u ­ viER e P r a t , N ova monadologia, 460.


tro s , p o d e h av er deuses e d e u sa s, etc. V er C f . Personalismo.
Henoteísmo, Politeísmo, Maniqueísmo
(m as n o ta r q u e n e ste só o b o m p rin c íp io CRÍTICA
é D e u s e q u e o seu a d v e rs á rio n ã o é c h a ­ A s d e fin iç õ e s a n te r io re s n ã o d e v em
m a d o assim ). ser c o n sid e ra d a s c o m o re p re se n ta tiv a s de
N o s te m p o s m o d e rn o s e c o m a g en e­ to d o s o s s e n tid o s d a d o s à p a la v r a D e u s,

O D eu s d o s filó so fo s e d o s d o u to s é o ser d e r a z ã o , a tin g id o o u s u p o s to p o r u m


m é to d o in te le c tu a l, c o n s id e ra d o c o m o u m p rin c íp io d e e x p lic a ç ã o o u d e e x istên cia
q u e o h o m e m te m a p re s u n ç ã o d e d e fin ir o u m esm o d e in flu e n c ia r c o m o u m o b je to
q u e ele p o ssu ísse n a re p re s e n ta ç ã o q u e d ele faz. O Deus de Abraão é o ser m iste rio so
e b o m q u e rev ela liv re m e n te a lg u m a c o isa d a s s u a s in so n d á v e is p e rfe iç õ e s , q u e n ã o
se a lc a n ç a a p e n a s p e lo e s p írito , n o q u a l se re c o n h e c e p ra tic a m e n te u m a ín tim a R ea li­
d a d e in acessív el ao s n o sso s m e io s n a tu r a is , e em re la ç ã o a o q u a l o c o m e ç o d a s a b e ­
d o ria a p e n a s p o d e ria ser te m o r e h u m ild a d e , m as a o m e sm o te m p o é o D eu s q u e
a o re v e la r a o h o m e m os se g re d o s d a s u a v id a o c o n v id a p a r a a s u a p r ó p r ia d iv in d a ­
d e , o c h a m a a tr a n s f o r m a r a s u a c o n d iç ã o n a tu r a lm e n te servil d e c r ia tu r a n u m a a m i­
z a d e , n u m a a d o ç ã o s o b re n a tu ra lm e n te filial, lhe o rd e n a a m á-lo e a p e n a s se d á a q u e m
a E le se d á . A id é ia f u n d a m e n ta l, q u e im p o r ta n ã o n e g lig e n c ia r, p o r q u e e la é, n a
p r ó p r ia v isão d o filó s o fo , a a lm a d a v id a relig io sa (v e rd a d e ira o u fa ls a , m a s h is to ri­
c a m e n te e p s ic o lo g ic a m e n te c e rta ), é , p o is , e s ta : tr a ta m o s D eus c o m o u m íd o lo se
n o s lim ita m o s a fa z e r d e le u m o b je to d e c o n h e c im e n to e se n ã o re s e rv a m o s a n o s sa
a ç ã o o rig in a l n a re c ip ro c id a d e d a s re la çõ e s q u e n o s u n e m a E le. O Deus de Abraão
é, a o m e sm o te m p o , o m is té rio viv o q u e se m a n ife s ta a tra v é s d a re v e la ç ã o , q u e se
c o m u n ic a a tra v é s d a tr a d iç ã o , q u e se a p ro x im a d o h o m e m a tra v é s d a A lia n ç a , q u e
lh e p ro m e te e lh e p e d e o A m o r na A doção deificante.”
É e sc u sa d o d iz er q u e M . B lo n d el se e n g a n o u ao ver n o fa to de se c ita r este te x to
u m a “ in s in u a ç ã o ” d e sfa v o rá v e l. P e lo c o n tr á r io , c o n s id e ra ria o s e n tid o C co m o o
s e n tid o m a is im p o r ta n te e o m a is re a l d a p a la v r a Deus h is to ric a m e n te , so cia lm e n te
e p s ic o lo g ic a m e n te ; e n ã o c re io q u e s e ja a te n u a r o v a lo r d o te x to de P a s c a l to m á -
lo c o m o ex em p lo d este s e n tid o . D e re s to , o c o m e n tá rio de M . B lo n d e l p a re c e -m e
ser de g ra n d e in teresse e p r o p o n h o fa z ê-lo fig u ra r n as o b se rv a ç õ e s. [Assentimento)
DEUS 250

m a s c o m o c a r a c te r iz a n d o ta n to q u a n to c o m e fe ito , p r o c u r a r a s u b s tâ n c ia o u a
p o ssív el d u a s id éias f u n d a m e n ta is d e q u e c a u s a s u p re m a d o u n iv e rso é p ro c u ra r sa­
o s d iv e rso s u so s filo só fic o s d e s te te rm o tis fa z e r u m a n e c e s sid a d e re s u lta n te d a s
p o d e m s e r c o n s id e ra d o s c o m o c o m b in a ­ leis d a r a z ã o , e a o rd e m o n to ló g ic a a p a ­
çõ es. M a is d o q u e q u a lq u e r o u tr a , ta l p a ­ re c e , e n tã o , c o m o u m a tra n s p o s iç ã o d a
la v r a é a tiv a d e v id o a tu d o o q u e e la fa z o rd e m ló g ic a . T a l é a id é ia f e r a l d a c ríti­
d e sp e rta r n o e sp írito e a p e n a s se p o d e te n ­ c a d a s p ro v a s d a e x istê n c ia d e D eu s em
ta r esco lh er, n o n ú m e ro q u a se in fin ito d o s K τ Ç , Crítica da razão p u ra , D ia l.
I

seu s a s p e c to s , a lg u n s p o n to s d e v ista tí­ tra n s e , c a p . I I I: “ Id e a l d a r a z ã o p u r a ” .


p ic o s e m re la ç ã o a o s q u a is se p o d e m o r ­ P o r o u tr o la d o , se o s e n tid o é tic o n ã o d e ­
d e n a r o s o u tr o s . riv a in te ira m e n te d o s e n tid o so cial, c o m o
N o ta r-s e - á q u e Os se n tid o s A e B, p o r fr e q ü e n te m e n te se d e fe n d e u , é p elo m e ­
u m la d o , e C e D , p o r o u tr o , tê m e n tre n o s c e rto q u e se lig a a e le h is to ric a m e n te
si u m e s tre ito p a re n te s c o . P o r u m la d o , d e f o r m a m u ito e s tr e ita , e é s u fic ie n te ,

L . Brunschvicg. S o u to ta lm e n te d e ssa o p in iã o , m a s o s e n tid o C p a re c e -m e m al


d e s ig n a d o . S e se e n te n d e r e ssa p a ssa g e m c o m o o e x p lic a M . B Â Ã Çá Â E (e<com r a z ã o ,
a m e u v er), o q u e é q u e fic a d e so cial o u d e é tn ic o ? É a p e n a s o D e u s p e ss o a l e m o ra l
o p o s to ao D e u s ló g ic o . O c re n te e n tr a sem d ú v id a e m re la ç ã o c o m ele p o r u m a a ç ã o
d ir e ta , m a s is so n ã o é s u fic ie n te p a r a c o n s titu ir u m a sociedade.
A . Lalande. H á q u a lq u e r c o is a m a is a lé m d e ssa re la ç ã o in d iv id u a l. N ã o é sem
r a z ã o q u e ele é c h a m a d o D e u s d e A b r a ã o , d e Is a a c e d e J a c ó . E s ta s fó r m u la s r e c o r ­
d a m q u e o D e u s d e P a s c a l é o m e sm o q u e o D e u s d o G ên esis e d o D e u te r o n ô m io ,
D e u s d o p o v o e le ito q u e fez a lia n ç a c o m A b r a ã o e a s u a p o s te r id a d e . A o in v o c a r
estes n o m e s, P a s c a l re iv in d ic a e s ta a d o ç ã o , d e c la ra -se u m h e rd e iro d e s ta a lia n ç a , c o n ­
tin u a d a a tra v é s d o s c ris tã o s d e p o is de o p o v o ju d e u a te r d e s p re z a d o .
Ed. L e R oy. Isso é v e rd a d e , e é p re c iso n ã o e sq u e c e r q u a l é n o c ris tia n is m o a
im p o r tâ n c ia d a n o ç ã o de Ig r e ja , q u e r d iz e r, d e u m a so c ie d a d e sem a q u a l o h o m e m
n ã o p o d e e n tr a r em c o m u n ic a ç ã o c o m D e u s. N ã o c o n s id e ro q u e este te r m o “ c o n c e i­
to s o c ia l” se ja in e x a to , s o b r e tu d o a o c o m p le tá -lo c o m “ c o n c e ito m o r a l” q u e m o s tra
u m o u tr o a s p e c to d a id é ia .
J. Lachelier. P a re c e -m e q u e o s e n tid o C d ev e ser p o s to to ta lm e n te d e p a r te , c o ­
m o p e rte n c e n d o a o p a s s a d o o u a fo r m a s in fe rio re s d a h u m a n id a d e , a in d a q u e seja
m u ito po ssív el q u e h is to ric a m e n te se ja o D e u s d e Isra e l q u e se to m o u Deus. S eria
p re c iso a in d a in v e s tig a r se n o p e n s a m e n to d o p o v o d e q u e ele e ra o D e u s, ele n ã o
e ra Deus, p elo m e n o s v irtu a lm e n te .
E. Chartier. O s e n tid o C n ã o s e rá u m a c o n c e ssã o às te o ria s em m o d a , seg u n d o
a s q u a is a p e n a s a r e u n iã o d o s h o m e n s em so c ie d a d e p ro d u z iria fe n ô m e n o s n o v o s ,
id é ia s n o v a s , to ta lm e n te e s tr a n h a s a c a d a u m d o s in d iv íd u o s q u e a c o m p õ e m ? D e
m in h a p a r te , é u m a h ip ó te s e q u e c o n sid e ro e n g e n h o s a , m a s sem f u n d a m e n to sério .
É visív el q u e v á rio s m ito s a n tig o s , p o r e x e m p lo o d e S a tu r n o q u e d e v o ra o s seus f i­
lh o s , te s te m u n h a m , p e lo c o n tr á r io , id é ia s filo só fic a s a n te r io re s d e f o r m a d a s p e la t r a ­
d iç ã o p o p u la r.
A . Lalande. N ã o e x iste a q u i s a c rifíc io à a tu a lid a d e . E sem d is c u tir a te o r ia d e
D u rk h e im à q u a l se fa z a lu s ã o , o b s e rv a re i q u e n ã o s e t r a t a n e ste m o m e n to d a s o r i­
g e n s. A c a r a c te rís tic a s o c ia l e é tn ic a d o s D eu ses a n tig o s p o d e s e r e x p lic a d a p o r e ste
m é to d o , o u p e lo ev em e rism o , o u a in d a d e o u tr a m a n e ira . P o u c o im p o r ta . A s u a ex is­
tê n c ia é u m f a to m a n ife s to n a B íb lia , n a re lig iã o g re g a e ro m a n a , e tc .
251 D EU S

a liá s , c o n s id e ra r o g ru p o so cia l d e fin id o e D a tra v é s d e u m a c o n c e p ç ã o r a c io ­


em C c o m o e ste n d e n d o -s e a to d a a H u ­ n a lis ta d a m o ra l ( è Ã « T Ã è , E è ú « ÇÃ è τ ),
E I

m a n id a d e p a r a c h e g a r a o p rin c íp io “ d a q u e r, p e lo c o n tr á r io , se in s is ta s o b re a
p a te r n id a d e d iv in a e d a fr a te r n id a d e h u ­ p e rs o n a lid a d e d iv in a , e se e n ca re m as
m a n a “ ( Congresso das religiões , 1893), leis ló g icas e m o ra is c o m o o efeito d o seu
q u e é a fo rm a m ais g eral d a id éia d e D eu s liv re -a rb ítrio a b so lu to (D Z Çè S T Ã , D è ­
I E

c o m o p rin c íp io m o ra l. Tτ 2 è
I E , S T 2 τ Ç ). A d e fin iç ã o d e
E E I

A e x istê n c ia d e sta s d u a s o rd e n s f u n ­ D è Tτ 2 è , “ D e u s é o ser p e rjejw ^tep i


E I E

d a m e n ta is de c o n ceito s, u m a in te ira m e n te p o r tra ç o m a is salie n te u m a id e n tific a ç ã o


d o m in a d a p e la s id é ia s d e ló g ic a e d e r a ­ e n tre a o rd e m m o ra l e a o rd e m o n to ló g i­
z ã o , o u tr a p e las id é ia s de a ç ã o e d e v o n ­ ca, a tra v és d o te rm o e q u ív o c o de p e rfe i­
ta d e , e x p lic a p o r q u e é q u e o p ro b le m a ção , q u e p o d e ap licar-se q u e r a to d a a re a ­
d a id éia de D e u s n o s c o n te m p o râ n e o s to ­ lid ad e, q u e r u n ic a m e n te a o q u e a p re se n ta
m o u a fo rm a d e sta q u e stã o : “ D eu s é p es­ u m v a lo r ético . M as p o d e -s e to m a r c o m o
s o a l? ” Q u e r d izer: E x iste u m a id e n tific a ­ m o d e lo d o e sfo rço m a is c o m p le to em d i­
ç ã o p o ssív e l e n tre estes d o is s e n tid o s d e reção a essa co n ciliação a M om dologia d e
o rig e m d ife re n te ? L « ζ Ç« U , em q u e o s q u a tr o s e n tid o s d e fi­
E

P o d e -s e c o n s id e ra r a m a io r p a r te d a s n id o s m a is a trá s s ã o n itid a m e n te c o lo c a ­
d o u tr in a s te ístas a p re s e n ta d a s p e la h is tó ­ d o s e a c u m u la d o s n u m m e sm o ser: A . “ E
ria d a filo s o fia c o m o u m e s f o rç o em d i­ é assim q u e a ú ltim a ra z ã o d as co isas
re ç ã o à sín tese d e sta s d u a s o rd e n s de c o n ­ deve e sta r n u m a s u b s tâ n c ia n e c e ssá ria
c e ito s, q u e r se a te n u e ta n to q u a n to p o s ­ n a q u a l o p o r m e n o r d a s m u d a n ç a s e ste ja
sível o s e n tid o s o c ia l, e se a p ro x im e d e B e m in e n te m e n te c o m o n a s u a fo n te: e é

E. H alévy . N ã o v e jo r a z ã o s é ria p a r a e s ta b e le c e r u m a s e p a r a ç ã o tã o ra d ic a l e n tre


o s e n tid o C e o s e n tid o D . E n tr e u m D e u s c u jo s a tr ib u to s sã o “ s o c ia is ” e u m D e u s
c u jo s a tr ib u to s s ã o “ m o r a is ” , q u a l é a d ife re n ç a ? Se A b r a ã o , ls a a c e J a c ó tiv essem
s id o c a p a z e s d e d e fin ir filo s o fic a m e n te o seu D e u s, eles tê -lo -ia m , s e m d ú v id a , d e fi­
n id o n o s e n tid o D c o m o “ u m s e r p e sso a l t a l q u e s e ja , p e la s u a in te lig ê n c ia e v o n ta ­
d e , o p rin c íp io e a g a r a n tia d a m o r a lid a d e ” . A d ife re n ç a é q u e n o s e n tid o D D e u s
é a conclusão d e u m ra c io c ín io filo s ó fic o , n o s e n tid o C , u m s e r q u e se re v e la d ire ta -
m e n te . M a s e n tã o , se se q u is e r in tr o d u z ir o s e n tid o C d a n o ç ã o “ D e u s ” , p o r q u e
n ã o in tr o d u z ir a in d a u m o u tr o s e n tid o q u e se c h a m a r ia o s e n tid o m ito ló g ic o , e q u e
e s ta ria p a r a o s e n tid o A a ssim c o m o o s e n tid o C e s tá p a r a o s e n tid o D ?
A . Lalande. A p e n a s to m a m o s o s s e n tid o s a n tig o s n a m e d id a em q u e eles s ã o n e ­
c e ssá rio s p a r a a e x p lic a ç ã o d o s s e n tid o s a tu a is d e u m a p a la v r a (v er Advertência , re ­
g ra IV ). O D e u s so cial e stá a in d a v iv o , o s D eu ses d a n a tu re z a n ã o o e stã o m a ís. A liá s,
o s D e u se s m ito ló g ic o s n ã o s ã o eles m e sm o s c o n c e b id o s c o m o u m p o v o q u e m a n té m
re la ç õ e s q u a s e legais c o m o s h o m e n s (NoV>s, ^ e c n s ) ?
E. Chartier. M a s as d iv isõ e s p r o p o s ta s n ã o s ã o h o m o g ê n e a s : o Deus lógico é o
D eu s a d m itid o p e lo s ló g ic o s, o Deus ontológico é o d o s m e ta fís ic o s , o Deus social
se rá , n o m e sm o s e n tid o , o D e u s d o s s o c ió lo g o s? E v id e n te m e n te q u e n ã o . É c o m o
se se d iv id isse a g e o m e tria em g e o m e tria p la n a , g e o m e tria n o e sp a ç o e g e o m e tria e u ­
c lid ia n a .
A . Lalande. D iz e m o s c o n c e ito s o c ia l, e n ã o c o n c e ito so c io ló g ic o . O “ D e u s s o ­
c ia l” n ã o é , c o m e fe ito , o D e u s d o s s o c ió lo g o s, m a s é o D e u s d o s h o m e n s q u e vivem
em s o c ie d a d e , q u e o re p re se n ta m c o m o p a rtic ip a n d o d e ssa so c ie d a d e , p resid in d o a o s
seu s d e stin o s e g o v e rn a n d o -a . Se a p a la v r a social c ria u m e q u ív o c o , p o d e -se p ro -
D E V A N E IO 252

a q u ilo a q u e c h a m a m o s D eu s." M onad q u e r d iz e r, d a q u e le s ... q u e a m a m e im i­


38. B . " D e u s é n ã o s o m e n te a fo n te d a s ta m c o m o se d ev e o a u to r d e to d o b e m .”
e x istên cias, m a s a in d a a d a s essên cias e n ­ “ S e e s ta m o s lig a d o s c o m o se dev e a o a u ­
q u a n to re a is o u d o q u e h á d e re a l n a p o s ­ to r de T u d o , n ã o a p e n a s c o m o a o a r q u i­
s ib ilid a d e . É p o r q u e o e n te n d im e n to d e te to e à c a u s a e fic ie n te d o n o sso s e r, m a s
D e u s é a re g iã o d a s v e rd a d e s e te r n a s , a in d a c o m o a o n o sso S e n h o r e à c a u s a fi­
e tc .” Ibid., 43. C . " É a q u ilo q u e fa z co m n a l q u e d ev e ser to d o o o b je tiv o d a n o s ­
q u e o s e sp írito s seja m c a p a z e s d e e n tr a r sa v o n ta d e , e é o ú n ic o q u e p o d e fa z e r a
n u m m o d o de so cie d a d e c o m D e u s, e q u e n o s s a fe lic id a d e .” Ibid., 90.
ele é em re la ç ã o a eles n ã o a p e n a s o q u e Rad. int.: D e.
u m in v e n to r é em re la ç ã o à s u a m á q u i­
n a , m a s a in d a o q u e u m P rín c ip e é em re ­ D E V A N E IO D . Träumerei ; E . Drea­
la ç ã o ao s seu s s ú d ito s , e m e sm o u m p a i ming, day-dream ; F . Rêveríe; I. (sem
em re la ç ã o ao s seu s f ilh o s .” Ibid., 84. D . e q u iv a le n te ).
“ E n f im , s o b e ste g o v e rn o p e r f e ito , n ã o E s ta d o de d is tr a ç ã o em re la ç ã o à si­
h a v e ria n e n h u m a b o a a ç ã o sem re c o m ­ tu a ç ã o p re s e n te d u ra n te a q u a l p ro sse g u e
p e n s a , n e n h u m a m á a ç ã o sem c a s tig o ; e u m a a tiv id a d e m e n ta l q u e já n ã o é d ir i­
tu d o d ev e r e s u lta r n o b e m d o s b o n s , g id a p e la a te n ç ã o . “ O e s ta d o d e d ev a-

c u r a r u m a o u tr a fó r m u la . M a s , em to d o c a s o , o s e n tid o C seria m u ito in e x a ta m e n te


in te rp re ta d o se se visse n ele, c o m o te m o q u e te n h a s id o ta m b é m o c aso d e M . B Â ÃÇ -
á Â , u m s e n tid o h is tó ric o -c rític o e , p o r c o n s e q u ê n c ia , n e g a tiv o d a id é ia d e D e u s. A
E

id é ia de D e u s e a c re n ç a em D e u s assim c o n c e b id a p a re c e m -m e , p e lo c o n tr á r io , as
m a is vivas de to d a s . É a este títu lo q u e se p e d e a D e u s, c o m o a u m c h e fe e a u m
p a i, a s a ú d e , o s u ce sso , a s a tis fa ç ã o d a s n e c e s sid a d e s, a d e fe s a c o n tr a a in ju s tiç a ,
u m a in te rv e n ç ã o a n á lo g a à q u e la d o m é d ic o o u d o m a g is tra d o . N ã o é, c o m o se p r e ­
te n d e a lg u m a s v ezes, u m e s ta d o de e sp írito u ltr a p a s s a d o . C o n tin u a a ex istir n o s n o s ­
so s d ia s, m e sm o n o s filó s o fo s , q u e r eles se p re o c u p e m o u n ã o e m c o n c ilia r este s e n ti­
m e n to e e sta p r á tic a co m o r e s to d a s su as id é ia s. V e ja m a o b r a d e W . J τ O è s o b re E

a Experiência religiosa. O M onist p u b lic o u h á trê s a n o s u m a p e s q u is a d a s m a is in s­


tru tiv a s s o b re a c re n ç a re lig io sa q u e m o s tr a q u a n to e s ta a titu d e é g e ra l. J . H . L Z - E

BA re s u m iu -a a o d iz e r: “ D eu s n ã o é c o n h e c id o , ele é u tiliz a d o : he is used."


F. Rauh. R e c o rd o -m e d e ssa p e s q u is a , q u e m e im p r e s s io n o u . C re io , c o m e fe ito ,
q u e este s e n tid o é o m a is viv o d e to d o s : n o fu n d o , é o v e rd a d e ir o s e n tid o d a p a la v r a
D e u s. C o n tu d o , d o p o n to d e v ista ló g ic o , seria m e lh o r s u b o rd in á -lo a o s e n tid o D .
A . Lalande. N o te i o p a re n te s c o n a Crítica. M as n ã o é p re c iso , a liá s , p r o c u r a r
e sta b e le c e r u m a e x a ta s im e tria , n em m e sm o u m a d iv is ã o d e m a s ia d o s is te m á tic a e n ­
tr e o s s e n tid o s in d ic a d o s . T r a ta -s e a p e n a s d e s e p a ra r d o u s o a tu a l as te n d ê n c ia s típ i­
c a s , q u e p o d e m n ã o te r u m a u n id a d e p e rfe ita .

S o b re D e u s , Crítica — T u d o isso , de u m a m a n e ira g e ra l, m e p a re c e v e rd a d e . É


c e rto q u e o c o n c e ito c a r te s ia n o d o ser p e rfe ito n ã o é s u fic ie n te m e n te d e fin id o , p o is
em q u e é q u e c o n siste a p e rfe iç ã o d iv in a ? O ú n ic o c o n c e ito a d e q u a d o d e D e u s n ã o
é o d e lib e rd a d e a b s o lu ta (d e n e g a ç ã o d e to d a natureza, c o n c e i t o , p o r c o n s e q u ê n c i a ,
s o b re tu d o n e g a tiv o e b em p e r to de ser v a zio ) e n tre v is to p o r P Â Ã « ÇÃ e D è T τ 2 è
I E I E

e n itid a m e n te f o r m u la d o p o r S T 2 é τ Ç ? O Z n ã o s e ria a n te s p re c iso c o m b in a r co m


E I

a id é ia d o v a z io d e tu d o o q u e é p a r a n ó s ser o u n a tu r e z a a q u e la d e u m a p le n itu d e
in f in ita , m a s d e u m a o u tr a o rd e m , e p a r a n ó s , p o r c o n s e q u ê n c ia , to ta lm e n te in c o m ­
p reen sív el? {J. Lachelier )
253 D ÍA D E

n eio a d m ite n u m e ro s o s g ra u s , d e sd e a in te rp re ta ç ã o filo só fic a d o fa to m o ra l a s ­


ev o cação passiv a d e reco rd açõ es e d e im a ­ sim d e s ig n a d o .
gens a té a c o n s tru ç ã o q u a se v o lu n tá ria de
D E V IR L . Fieri (u tiliza -se a in d a n as
u m siste m a de r e p re s e n ta ç õ e s .” H . D E -
lín g u a s m o d e rn a s p a rtic u la rm e n te n a ex­
 τ T 2 O « 7 , “ O d e v a n e io ” , n o Nouveau
p re s sã o in fieri); D . Werden; E . Beco-
traite de psychoiogie, to m o V , p . 401.
Rad. int.: R ev a d . m ing ; F. Devenir, I. Divenire.
A . (em o p o siçã o a o ser e n q u a n to im u ­
1, D E V E R (v e rb o ) D . A . Müssen; B . tá v el): a série d a s m u d a n ç a s .
Solien; E . Ought; F . Devoir, I. Dovere. B . (em o p o s iç ã o a o s e s ta d o s e stá tic o s
A . M a rc a u m a n ecessid ad e: o q u e d e ­ q u e servem d e p o n to s d e referên cia n o d e­
ve a co n te c e r, n o sen tid o de q u e não é p o s­ v ir, n o s e n tid o A ): a m u d a n ç a c o n sid e ­
sível ( a b s o lu ta m e n te o u re la tiv a m e n te a r a d a e n q u a n to m u d a n ç a , q u e r d iz e r, e n ­
c e rto s d a d o s ) q u e isso n ã o a c o n te ç a . q u a n to p a ssa g e m d e u m e s ta d o a o u tr o .
B . M arca u m a conv en iên cia: o q u e de­ In fieri, em d e v ir, em e sta d o de m u d a n ç a .
ve a c o n te c e r (n o s e n tid o d e q u e é p r e f e ­ Rad. int.: A . F ia d ; B . F iac.
rível q ue isso seja d o q ue n ã o seja). O põe-
D E V O T A M E N T O D . A . A u fo p fe-
se, n este s e n tid o , q u e r a o q u e é, q u e r ao
rung; B . Ergebenheit ; E . A . Self-sacrifi-
q u e não deve ser : p o r ex em p lo o b em a o
ce, self-im m olation ; B . Devotion; F . Dé-
m al, o v e rd ad eiro ao falso , o belo a o feio ,
vouetnent; I. A . Abnegazione; B . D e­
o útil a o p re ju d ic ia l, o legal ao ilegal. E ste
vo zione.
c o n c e ito n ã o p o d e ser d e fin id o d e o u tr a
(E tim o ló g ic a m e n te , d e v o ta r sig n ific a
m a n e ira . E le c o n stitu i u m a id éia f u n d a ­
c o n s a g ra r o u s a c rific a r u m ser a u m a p o ­
m e n ta l lig a d a à d e a tiv id a d e . C f. A pre­
tê n c ia s o b r e n a tu r a l, d e o n d e , p a r tic u la r ­
ciação e Direito.
m e n te , n o la tim devovere, o se n tid o de
C . E s p e c ia lm e n te a p lic a -se à o b r ig a ­
v o ta r à m o r te , d e s u b m e te r a u m a p o tê n ­
ç ã o m o ra l: “ T u d ev es, lo g o tu p o d e s .”
c ia m á g ic a o u sim p le sm e n te m a ld iz e r.)
Rad. int.: A . M u s t; B . C . D ev.
A . N o s e n tid o m a is f o r te , a to d e s a ­
2 . D E V E R (s u b s t.) D . Pfücht; E . c rific a r a v id a o u os in te re sse s m a is u r ­
Duty; F . Devoir, 1. Dovere. gen tes a u m a p esso a , u m a co letiv id ad e o u
A . S e n tid o a b s tr a to : o d e v e r é a o b r i­ u m a cau sa ju lg a d a s d e a lto v alo r. C f. A b ­
g a ç ã o m o ra l c o n s id e ra d a em si m e sm a e, negação, Sacrifício.
em g e ra l, in d e p e n d e n te m e n te d e u m a r e ­ B . N o s e n tid o m ais f r a c o , d isp o siç ã o
g ra d e a ç ã o p a rtic u la r. D iz-se s o b re tu d o , p a ra te r o tr a b a lh o de p r e s ta r serv iço o u
m a s n ã o u n ic a m e n te , d o “ im p e ra tiv o c a ­ m esm o sim p les b e n e v o lê n c ia .
te g ó r ic o " k a n tia n o . A p a la v r a é u tiliz a d a c o m to d o s os
B . S e n tid o p a r tic u la r e c o n c re to : um g ra u s d e v a lo r e n tre estes d o is e x tre m o s.
d ev er é u m a re g ra de a ç ã o d e te r m in a d a , Rad. int.: A . S a k rifik ; B . D ev o tes.
u m a o b rig a ç ã o d e fin id a (q u e r g e ra l, q u e r
D f . A b re v ia ç ã o u s u a l d e Definição*.
esp ecial p a r a a fu n ç ã o , a p ro fis s ã o , e tc .),
D ÍA D E Á u á s, ô u á áo s (p a r, d u a ­
T2 íI « Tτ
lid a d e ).
N o sen tid o A a ex p re ssão “ o D e v e r” , É u s a d a a p e n a s p a ra tra d u z ir e sta p a ­
se b e m q u e se p o s s a lig ar a id é ia a u m a la v ra , n a u tiliz a ç ã o q u e d e la fa zem os f i­
c ate g o ria m ais geral de a ç ã o , ao d ev er fa ­ ló so fo s g reg o s, p a ra d e sig n a r q u e r a Id éia
zer (cf. F Ã Z « Â Â é , Rev. de M etaph.,
E d e d u a lid a d e , q u e r c e rto s p a re s de c o n ­
m a rç o d e 1904, p . 259), u s u a lm e n te a p e ­ trá rio s u tiliz a d o s c o m o p rin c íp io s d e ex ­
n a s te m u m a sig n ific a ç ã o é tic a . E sta sig ­ p lic a ç ã o , e m p a r tic u la r , e n a m a io r p a r te
n ific a ç ã o é, a liá s, in d e p e n d e n te d e to d a d o s c a so s, a “ D ía d e in d e f in id a ” (ôu«s
D lA U rC O 25-1

ècÓQicTos) o u “ D ia d e d o G ra n d e e d o P e ­ ¿c t o x q ί ρ ί σ θ α ι
¿πι σ τ ά μ ε ν ο ν ά λ λ ο τ ι α ν
),
q u e n o ” (fxeyákov xai (u x q o v q u e r d i­ xaX ets Tj b ia \tx T ix ó v ” \ P Â τ ã Ã , Cráti- I

zer, a m a té r ia e n q u a n to p rin c íp io d e in - lo, 390 C .


d e te rm in a ç ã o o p o s ta a o U n o . V er L. R Ã ­ 2? A rte d e d iv id ir a s co isas em g ê n e ­
b í n , L a théorie platoniciènne des Idees et ro s e e m esp écies (d ito d e o u tr a m a n e ira ,
des N om bres d'aprés Aristote, p rin c ip a l­ d e c la s s ific a r o s c o n c e ito s ) p a r a p o d e r
m e n te p p . 282-2 86 e 6 3 5 -660. e x a m in á -lo s e d is c u ti-lo s : Òiàkéyav, òia-
Xéy€<x0m a p re s e n ta m 0 d u p lo s e n tid o de
D 1Á D ICO G. Svaôixos; D . Dyadisch ; c o n v e rs a ç ã o e d e d iv is ã o ló g ic a . “ ’Έ φ η
E . Dyadic ,; F . Dyadique; I. Diadico.
òè x a i τ ο &ioc\€yta6ai ο ν ο μ α σ θ ή ν α ι èx
Q u e se re la c io n a c o m u m p a r , co m τ ο υ σ υ ν ίο ν τ α τ xotvrj 0 o u \eveo 6 a i
u m a d u a lid a d e . A p e n a s é u s a d o q u a n d o ÒiaXtyovras κ α τ ά τ α π ρ ά γ μ α τ α .”
se f a la d a s re la çõ e s* ló g ic a s e n tre d o is X ÇÃE ÃÇ
7 I E , M em or ., IV , 5 , 12. “ T ò
te rm o s (c h a m a d o s ta m b é m binarios ) χ α τ ά y e V i) δ ι ο α ρ έ ϊ ο θ α ι x a i μ ή τ ( τ α υ τ ό ν
e m o p o s iç ã o à s re la ç õ e s triádicas, tetrá- cióos ( π ρ ο ρ ή γ η ο α σ θ α ι , μ ή θ ’ í t í q o v ο ν
dicas , etc. τ α υ τ ό ν , μ ύ ΐν ο υ δ ια λ ίχ τ ιχ ή ί φ ή σ ο μ ε ν
D 1A L EL O G. AiáXX>?Xos (X070S, rpt>- (τ τ ι σ τ η μ η $ ti ν α ι — Φ ή σ ο μ ί ν .” P L A T Ã O ,
iros); D . Diallele; E . Diallelon, dialielus ; Sofista, 2 5 3 , C D . C f . Fedro, 2 6 6 , B C .
F . Diallele; I. Diallelo. T e n d o a Dialética, s e g u n d o P Â τ ã Ã , I

A . N o m e g re g o d o círculo vicioso*. c o m o e fe ito r e m o n ta r d e c o n c e ito s em


B . P o r c o n s e g u in te , e m a is e sp e c ia l­ c o n c e ito s , d e p ro p o s iç õ e s e m p r o p o s i­
m e n te , u m d o s cin co tropos * d e A ; 2 « ú τ , çõ es, a té o s co n ce ito s m ais g erais e os p ri­
q u e c o n siste em d iz e r q u e to d o s os n o s- m e iro s p rin c íp io s q u e tê m p a r a ele v a lo r
sos c o n h e c im e n to s se p ro v a m u n s p e lo s o n to ló g ic o (Rep., 533 E -5 3 4 B; Filebo,
o u tro s (S i' àXXrçXwt'), d e m a n e ira q u e to ­ 57-5 8), a p a la v r a fo i u tiliz a d a p e lo s c r íti­
d o o n o sso c o n h e c im e n to r e p o u s a so b re c o s m o d e rn o s a o fa la re m d a s u a d o u tr i­
u m c írc u lo v ic io so . SE 7 I Ã E Oú í 2 « TÃ , n a p a r a d e s ig n a r d e u m a m a n e ira g e ra l
Hip. pirró., liv ro I. 0 m o v im e n to d o e s p írito q u e se e lev a d as
sen sa çõ e s a té as id é ia s, d a b e lez a c o n c r e ­
^ D IA L É T IC A G . Ata Xe xT ixy [rexvij]; ta a té o p rin c íp io d o B elo (c o m o n o Ban­
D . D ialektik ; E . Dialectic n o s e n tid o ge- quete, 211), d o s fin s in d iv id u a is a té a ju s ­
ra l, Dialectics n o s e n tid o p e d a g ó g ic o d o tiça u n iv ersal: Dialética dos pensamentos,
e n sin o a tra v é s d a d isc u ssã o [Bτ Â á ç « Ç ]; dialética dos sentimentos, dialética das
F . Dialectique; I. Dialettica. ações. F ÃZ í Â Â é , Histoire de la phüoso -
E

A . P r im itiv a m e n te , a rte d o d iá lo g o e phie, 85-8 6; Philosophie de Platón, liv.


d a d is c u s s ã o ; p o r c o n se g u in te : V I, c a p . I: “ D a D ia lé tic a ” , p a r tic u la r ­
1 ? H a b ilid a d e p a ra d is c u tir p o r p e r­ m e n te 1, 288.
g u n ta s e re s p o s ta s : “ ró ó 'I q u t &v xa i B. A 2 « è I ó I E Â E è d is tin g u e a Dialética

S obre D ia lética — Z E Çã Ã á E E Â é « τ é c h a m a d o p o r A 2 « è I I E Â E è €i>Qerr\s n js òta-


\ t x n x r}s (seg u n d o DiOG. L τ E 2 T ., Fragm. Arist. 1484b26), sem d ú v id a devid o à s u a dis­
cu ssão das d ificuld ades c o n tid as n as no çõ es de m o v im en to e de m u ltip licid ad e (C Webb)
O u so d e P Â τ I ã Ã é , sem d ú v id a , a o rig e m d o u s o d a p a la v r a Dialética n u m s e n ti­
d o fa v o rá v e l, m a s nele p r ó p r io e la a p lic a -se s o b r e tu d o à v e rd a d e ira d is tin ç ã o d o s g ê­
n e ro s e d a s e sp é c ie s, à v e rd a d e ir a e x p lic a ç ã o d as c o isa s a tra v é s d a s Id é ia s; e ig u a l­
m e n te em A 2 « è I ó I E Â E è 0 s e n tid o p e jo ra tiv o n ã o é d e in icio o de v ã s u tile z a , m a s a n ­
tes o d e a rg u m e n ta ç ã o f u n d a d a s o b re ra z õ e s d e m a s ia d o g e ra is, s u p e rfic ia is e n ã o r e ti­
ra d a s d a p r ó p r ia n a tu r e z a , d a p r ó p r ia essên cia d a c o isa d e q u e se tr a ta . (J . Lachelier )
255 D IA L É T IC A

d a Analítica*; e n q u a n to e s ta te m p o r o b ­ d o s seu s ra c io c ín io s te ó ric o s, a n a tu re z a


je to a d e m o n s tr a ç ã o , q u e r d iz e r, a d e d u ­ d a a lm a , d o m u n d o e d e D eu s. O estudo
ç ã o q u e p a r te d e p re m issa s v e rd a d e ir a s , d e s ta “ ilu s ã o n a tu r a l e in ev itáv el”, a in d a
a Dialética te m p o r o b je to o s ra c io c ín io s q u e p o ssív el d e re co n h ecer c o m o u m a ilu ­
q u e a s s e n ta m s o b re o p in iõ e s p ro v á v e is são , f o r m a a “ D ia lé tic a tra n s c e n d e n ta l”,
(c f. A nalíticos , 1, IV , 4 6 ; M etafísica, I I , s e g u n d a p a r te d a Lógica transcenden­
1, 9 9 5 b, etc.)- É u m a a r te in te rm e d iá ria tal (Kritik der rein. Vernunft, T ranse. L o ­
e n tr e a Retórica e a Analítica e à q u a l g ik , II A b th e ilu n g , A . 293 s.; B. 349 s.).
A 2 « è I ó I E Â E è c o n s a g ro u o seu tr a ta d o P o r c o n s e g u in te , e s ta p a la v r a é u tiliz a ­
d o s Tópicos. E s te s e n tid o d e riv a d o de d a p o r K a n t n ã o a p e n a s p a r a d e sig n a r a
S ó T2 τ I E è e d e P Â τ I ã Ã , p o is as p re m is ­ p r ó p r ia ilu s ã o , m a s ta m b é m p a r a d e sig ­
sas s o b re a s q u a is estes ra c io c in a v a m n a r o e stu d o e a crítica d essa ilu são (ibid.,
e ra m as o p in iõ e s c o rre n te s s u s c ita d a s e ú ltim o p a r á g r a f o , 263 -2 6 4 ). E le a c a b a
p re c is a d a s p e lo m é to d o d o d iá lo g o e d a m e sm o p o r a to m a r n o s e n tid o s im p le s­
in te r r o g a ç ã o (A nalíticos , I , V , 7 7 a). m e n te p e jo r a tiv o d e s o fis m a : “ H ie ra u s
A p a la v r a te v e em s e g u id a , d e sd e a e n tsp rin g t a b e r ein e natürliche Dialektik,
é p o c a g re g a clássica, d o is sen tid o s q u e re ­ d . i. ein H a n g , w id e r je n e stre n g e n G e ­
tev e e n tre o s m o d e rn o s : 1?, u m s e n tid o setze d e r P flic h t zu v e rn ü n fte ln , u n d ih ­
e lo g io so : ló g ic o , à fo r ç a d e ra c io c ín io ; re G ü ltig k e it, w e n ig ste n s ih re R ein ig k e it
u n d S tre n g e in Z w eifel zu z ie h e n ...” 1
u m a “ d ia lé tic a c e r r a d a ” . P Â τ I ã Ã n a
Kτ ÇI , Grundleg. zur M etaph , der S it­
p a ssa g em d o Sofista, c ita d a a n te rio rm e n ­
ten, I , ad fin em . A p a la v r a p e rm a n e c e u
te , assim ila o d ialético a o filó so fo ; 2?, u m
u s u a l s o b r e tu d o n a p rim e ir a d e s ta s sig ­
s e n tid o p e jo ra tiv o : s u tile z a s , d is tin ç õ e s
n ific a ç õ e s .
e n g e n h o s a s e in ú te is . “ Δ ι α λ ^ χ τ ι χ ώ ϊ κ α ί
E. H E ; E Â , re to m a n d o a p a la v ra Dia­
x tv ò s .” A 2 « è I ó I E Â E è , Da alma , I, 1,
lética n u m s e n tid o favorável, d e fin e -a :
4 0 3 a. E s te c a m b ia n te f o i r e f o r ç a d o n o s
“ D ie w isse n sc h a ftlic h e A n w e n d u n g d e r in
m o d e rn o s p e lo s e n tid o k a n tia n o D .
d e r N a tu r d e s D e n k en s lie g e n d en G e se tz ­
C . N a I d a d e M é d ia (u s o to m a d o de m ä ssig k e it !’I.2Encycl, § 10. M a s e sta m a r ­
c e rto s e sto ic o s ) Dialética d e s ig n a a L ó g i­ c h a d o p e n s a m e n to s e g u n d o a s s u a s p r ó ­
c a fo rm a l e o p õ e -s e à R e tó ric a . E la f o r ­ p ria s leis é ta m b é m c o n f o r m e a o p ró p r io
m a c o m e s ta e c o m a g r a m á tic a o s trê s d esen v o lv im en to d o ser, d e m a n e ira q u e o
r a m o s d o Trivium *. A r e c o r d a ç ã o d e s ta m o v im e n to d ia lé tic o é d e fo rm a g eral “die
s ig n ific a ç ã o c o n fu n d e -s e n a lin g u a g e m eig ene w a h rh a fte N a tu r d e r V erstandesbes­
m o d e r n a c o m o s e n tid o A . tim m u n g e n , d e r D inge, u n d d es E n d lich en
D . P o r u m a im ita ç ã o d o se n tid o B (de ü b e r h a u p t” 3. Ibid., § 81. E la c o n siste es­
A ris tó te le s ) K a n t c h a m a dialéticos a to ­ s e n c ia lm e n te e m re c o n h e c e r a in s e p a ra ­
d o s o s ra c io c ín io s ilu s ó rio s , e d e fin e a b ilid a d e {Einheit) d o s c o n tra d itó rio s , e
Dialética e m g e ra l c o m o u m a “ ló g ic a d a e m d e s c o b rir o p rin c íp io d e s ta u n iã o n u ­
a p a r ê n c ia ” . A s a p a r ê n c ia s s ã o : o u ló g i­ m a c a te g o ria su p e rio r. C f. M omento.
c a s (logischer Schein ), p o r e x e m p lo o s o ­
fis m a d a p e tiç ã o d e p rin c íp io s ; o u e m p í­
ric a s ( empirischer Schein), p o r e x e m p lo I . “ M as daí resulta um a d ia té tk a natural, quer
dizer, um pendor p a ra sofism ar co n tra as regras es­
o crescim en to d a lu a n o h o riz o n te ; o u , e n ­ tritas do dever, p a ra pôr em dúvida a sua validade,
fim , tra n s c e n d e n ta is ( transcendentaler pelo m enos a sua pureza e o seu vigor, etc.” F u n d a­
Schein), q u e r d iz er, re su ltan tes d a p ró p r ia m entos d a m etafísica dos costum es.
n a tu r e z a d o n o s s o e s p ír ito e n q u a n to ele 1 . “ A aplicação científica d a co nform idade às
leis, inerentes à natureza d o pensam ento.”
a c r e d ita p o d e r u ltr a p a s s a r , a tra v é s d o s 3. “ A verdadeira natureza p ró p ria das determ i­
seu s p rin c íp io s , o s lim ites d e to d a a e x ­ nações do entendim ento, das coisas e, de um a m a­
p e riê n c ia p o ssív el e d e te r m in a r, a tra v é s neira geral, d o fin ito .”
D IA L É T IC O 256

D a í o u s o m u ito a m p lo d e “ d ia lé tic a ” 101b, 103b). E s ta te o r ia fo i a lte r a d a p e la


d e p o is d e H eg el, p rim eiro e m a le m ã o , d e ­ d o s c in co p re d ic á v e is d e P Ã2 E « 2 « Ã (cf.
p o is , m a is re c e n te m e n te , e m fra n c ê s , p a ­ Vτ « Â τ I « , “ L a te o ria a ris to té lic a d e lia d e-
r a d e s ig n a r to d o s o s e n c a d e a m e n to s d e fin izio n e” , Rivista de filosofia , n o v .-d e z .,
p e n s a m e n to s n o s q u a is o e s p ír ito se a r ­ 1903).
ra s ta g ra d u a lm e n te sem se p o d e r d e ter em N o s e n tid o B : S ilo g ism o dialético
n a d a d e s a tis f a tó r io a n te s d a ú ltim a e ta ­ o p o s to p o r A 2 « è I ó I E Â E è a o silo g ism o
p a . E s ta id é ia lig a-se, p o r c o n se g u in te , apodítico, n a m e d id a e m q u e as su as p re ­
fr e q u e n te m e n te à d e inquietude * n o se n ­ m issas s ã o a p e n a s p ro v á v e is : “ Δ ι α λ ε χ -
tid o B , v er p o r e x e m p lo J . W a h l , E lu ­ Ií 7 Òí δ ε σ υ λ λ ο γ ι σ μ ό só έ ξ έ ν δ ο ξ ω ν σ υ \-
des kirkegaardiennes, c a p . IV , 140-148. Χ ο γ ι f ó g e ú Ãè .” Tópicos , I , 1, 100b.
F. M a is a m p la m e n te a in d a , to d a se­ N o s e n tid o E: H E ; E Â c h a m a “ m o ­
q u ê n c ia d e p e n s a m e n to s , o u m e sm o de m e n to d ia lé tic o ” , dialektisches M om ent,
f a to s q u e d e p e n d e m lo g ic a m e n te u n s d o s à p a ss a g e m d e u m te r m o p a r a o te r m o
o u tr o s . q u e lh e é a n tité tic o , e a o im p u ls o q u e d á
“ A o c o n tr á r io d a d ia lé tic a d a c o n tr a ­ a o e s p ir ito a n e c e s sid a d e d e u ltr a p a s s a r
d iç ã o , a d ia lé tic a d a p a r tic ip a ç ã o , em lu ­ e s s a c o n tr a d iç ã o .
g a r d e p r o c u r a r c o n q u is ta r o m u n d o a tr a ­ F. A lé m d is so , p o r e x te n s ã o d e s ta
v és d e u m a série d e v itó ria s a lc a n ç a d a s id é ia d e a v a n ç o d ialético , a p a la v ra to m o u
c o n tr a a s re s istê n c ia s s u c e ssiv a s, e n s in a ­ n o s n e o -h e g e lia n o s, e p a rtic u la rm e n te n o
m o s a p e n e tr á - lo fa z e n d o b r o t a r e m n ó s
m a rx ism o , o sen tid o d e m o v en te, p ro g res­
u m a p lu r a lid a d e d e p o tê n c ia s à s q u a is o
s iv o , e m e v o lu ç ã o * (n o s e n tid o C d e sta
re a l n ã o c essa d e r e s p o n d e r .” L . L a v e l -
p a la v ra ). V e r m ais a d ía n xeMaterialismo*
L E , D e racte, 48.
dialético, te x to e a p ê n d ic e . N e ste c a s o , é
J . - J . G o u r d d e sig n o u p o r Dialética a
fr e q u e n te m e n te o p o s to a “ m e ta f ís ic o ”
su ce ssã o d a s e ta p a s p e rc o rrid a s p e lo e s ­
to m a d o n o s e n tid o d e im u tá v e l.
p írito q u e, a fa s ta n d o -s e g ra d u a lm e n te d a
E s te u s o d e u m e s m o o rig e m à p a la ­
c o n sc iê n c ia p rim itiv a , c o n s tró i p ro g re s si­
v r a " dialeüzar" \ t o r n a r m a is ág il (u m
v a m e n te o m u n d o d a ciên c ia , o d a m o ra l
c o n c e ito ), p a s s a r d o p o n to de v ista d o
e o d a religião (“ Les trois dialectiq u es”, Re-
p e rm a n e n te p a r a o d o m u tá v e l, su b stitu ir
vue de métaphysique, 1877, p p , 1-9).
u m a n o ç ã o fix a e b e m d e f in id a p o r u m a
CRÍTICA n o ç ã o m a is m ó v e l e em d e v ir.
E s ta p a la v r a re c e b e u a c e p ç õ e s tã o d i­ D IA M E T R A L M E N T E O P O S T A S
v e rsas q u e a p e n a s p o d e ser u tilm e n te u t i ­ D iz -se, e m ló g ic a , d e d u a s p ro p o s iç õ e s
liz a d a in d ic a d o c o m p re c isã o em q u e se n ­ c o n tr a d itó r ia s * q u e o c u p a m , n o q u a d r o
tid o é e n te n d id a . C a b e d e s c o n fia r, m e s­ d a s p ro p o s iç õ e s o p o s ta s , d o is lu g ares c o ­
m o so b e s ta re s e rv a , d a s a sso c ia ç õ e s im ­ lo c a d o s n a s e x tre m id a d e s d e u m a m e sm a
p ró p ria s q u e se c o rre o risco de p ro v o c a r.
d ia g o n a l (δ ι ά μ ε τ ρ ο ί ).
Rad. int.: D ia le k tík .
O te r m o e n c o n tra -s e e m A 2 « è I ó I E ­
D I A L É T I C O G . A ia X e x n x ó s ; D . ÂE è : “ ò è κ α τ ά
I δ ι ά μ ε τ ρ ο ν (τ τ ρ ο τ ά σ ε is ).”
Dialeküsch; E . Dialéctica F . Dialectique', Ile p i ε ρ μ η ν ., X ; 19b35, m a s a í se a p lic a
I. Dialettico. a o s c o n trá rio s * e a o s s u b c o n tr á r io s * , o
U tiliz a -se em to d o s o s s e n tid o s d e fi­ q u e d á lu g a r p a r a a c r e d ita r q u e a fig u ra
n id o s n o a rtig o p re c e d e n te e p a r tic u ­ q u e a c o m p a n h a v a o seu te x to n ã o e sta v a
la rm e n te : d is p o sta c o m o a q u e la q u e q u a s e to d o s os
N o s e n tid o A : A tr ib u to s d ia lé tic o s ló g ico s u lte rio re s a d o ta r a m .
c o m o n ú m e ro d e quatro : a d e fin iç ã o , o E s ta e x p re ss ã o p a s s o u p a r a a lin g u a ­
g ê n e r o , o p r ó p r io e o a c id e n te ( Tópicos , gem c o rre n te , em q ue se d iz m ais d o s co n -
257 D IF E R E N Ç A

tr á r io s d o q u e d o s c o n tr a d itó r io s , m a s la d o p o r A 2 I«è ó
I E Â è ; “ Α
E γ ο ρ ά ν δ έ rò
n ã o se a p lic a n u n c a a o s s u b c o n tr á r io s . κ α τ ά π α ι /τ ό ς χ α τ η γ ο ρ ε ΐα θ α ι, ό τ α ν
μ η δ έ ν ή λ α β ε ϊ ν τ ω ν τ ο υ υ πο κ ε ι μ έ ν ο υ
D IB A T IS , D I R A T I S O u tro s n o m e s κ αθ ', ο υ θ ά τ ε ρ ο ν ou Χ ε χ θ ή σ β τ α ι · κ α ι τ ο
d e Dimaris*, m a s in e x a to s , p o is u m s ilo ­ κ α τ ά μ η δ ε ν ό ϊ , ω σ α ύ τ ω ς .” Prim eiros
g ism o d e ste m o d o n ã o p o d e re d u z ir-s e a analíticos, I, l:2 4 b 28-30. C f. Categorias,
Darii sem tra n s p o s iç ã o d a s p re m is sa s . 3 ; l b I0 . A p lic a-se a o silo g ism o no q u a l o
te rm o m é d io re p re s e n ta p a r a o e sp írito
D IC O T O M IA (G . AixoTo/ita).
u m a classe c o n s id e ra d a n a su a e x te n sã o
A . D iv is ã o ló g ic a d e u m c o n c e ito em
e o p õ e -s e à fó r m u la “ N o ta n o ta e e st n o ­
d o is c o n c e ito s (g e r a lm e n te contrários*),
ta rei ip s iu s ” , em q u e o m é d io é c o n sid e ­
d e m a n e ir a q u e e le s e sg o te m a ex ten sã o
r a d o c o m o u m a c a ra c te rís tic a in eren te ao
d o p r im e ir o .
s u je ito q u e d e sig n a o m e n o r.
B. U m d o s a r g u m e n to s d e Z E N Ã O d e

E l é i a (c f. A q u ile s ). “ T e r r a je s 5'eiai D ID Á T I C A D . Didaktik; E . Didac­


X07ot iregl xivijotox Zr?va>vo$... I l p i r o s tics', F. Didactique ; I. Didattica.
P a r te d a p e d a g o g ia q u e te m p o r o b ­
fièp 6 T r e g i TOV xiveíoQcn, ò i à r ò 7 r e o -
je to o e n s in o .
Ttqov e i s r ò íjfiiav òtiv cuptxeodat r ò
Rad. int.\ D id a k tik .
tpíQÓfievov h I I I ò è t o r e X o s .” A R IS T Ó T E ­

LES, Física, V I, 9. U m m ó v e l p a r a ir d e A D IF E R E N Ç A G . Δ ι α φ ο ρ ά ; L. D iffe­


p ara B d ev e p r im e ir o ch egar a o m e io da rentia; D . Differenz > Unterschied; E . D if­
lin h a A B , s e j a , p o r e x e m p lo , C; d e p o i s , p e ­ ference; F . Difference; I. Differenza.
la m esm a ra zã o , ao m e io d e A C , s e j a D, A . R elaç ão de a lte rid a d e * (¿rcp o rijs)
e a s s im p or d ia n te , in d e fin id a m e n te . E le e n tre c o isas q u e sã o id ê n tic a s so b u m o u ­
te r ia , p o is , p a r a se m o v e r , q u e p a s s a r p o r
t r o a s p e c to . (“ Δ ι α φ ο ρ ά λ έ γ ί τ α ι h a ’
u m n ú m ero in fin ito d e p o s iç õ e s .
έ τ ε ρ ά earι τ α α υ τ ό τ ι ο ν τ α * μ η μ ό ν ο ν
α ρ ι θ μ ώ ά λ λ ’ η ε ι δ ε ι , η y á v ti η α ν α λ ο γ ί α .
D IC T U M L . e sc o l.; D . E . I. F . Id e m . A 2 « è ó Â è . M etaf., IV , 9, 1018a. D e
I I E E

A . B rev e e n u n c ia d o d e u m a tese o u o n d e a d is tin ç ã o esc o lá stica e n tre as c o i­


re g ra . V er a se g u ir D ictum de om ni et sas n u m ericam en te d iferen tes (numero dif­
nullo. ferentia ), q u e r d iz e r, q u e n ã o d ife re m em
B . E s p e c ia lm e n te n a te o r ia d o s n e n h u m a c a ra c te rístic a in trín se c a, m a s
m o d a is * , c h a m a -s e dictum à p ro p o s iç ã o a p en a s p e lo fa to d e serem m u ito s; e as c o i­
(texis) c u jo m o d o a f ir m a q u e a q u ilo q u e sa s esp e c ífic am e n te d ife re n te s (specie d if­
ela e n u n c ia é p o ssív el o u im p o ssív el, n e ­ ferentia), q u e r d iz e r, q u e d ife re m p e la su a
c e s s á rio o u c o n tin g e n te . p ró p r ia essên cia o u p ela su a d e fin iç ão .
B . Característica q u e d istin g u e u m a es­
D ic tu m “ d e o m n i et n u llo ” O s esc o ­ p écie d as o u tra s espécies d e u m m esm o g ê­
lá s tic o s d e sig n a m c o m e ste n o m e o p r in ­ n e ro . “ Έ χ γ ά ρ τ ο υ yevovs κ α ι τ ώ ν
c íp io d o silo g ism o ta l c o m o ele é f o r m u ­ δ ι α φ ο ρ ώ ν τ α ε ί δ η .” A R IS TÓ TE LE S, Meta-

S o b re D ib a tis , d ira tis — Dibatis p a re ce te r sid o c ria d o pelo s a u to re s d a Lógica de


P Ã2 I -R Ãà τ Â (3 a p a rte , c a p . V III) a o tra n s p o re m as d u a s p rim eiras sílab as d e Dabitis.
C f. H τ O« Â I ÃÇ , Logic., I, 240. (L. Couturat — J. Lachelier)

S o b re D ife re n ç a , Crítica 2 — A d is tin ç ã o e n tre d ife re n ç a numero e d ife re n ç a specie


n ã o é a p e n a s p ro v is ó ria . Se d ig o duas maçãs n ã o é p o rq u e elas seja m d ife re n te s, m a s
ainda que sejam d ife re n te s. A a lte rid a d e q u a lita tiv a o u in trín se c a é u m o b s tá c u lo p a ra
a n u m e ra ç ã o . A tin g e-se o ideal n as m a te m á tic a s: d o is p o n to s , d u a s re ta s. (V. Egger)
IJIF L R E N C IA Ç A O 258

física, I X , 7 , ]0 5 7 b. O s e sc o lá stic o s d i­ th e c irc u m sta n c e in w h ic h a lo n e th e tw o


z e m , n e s te s e n tid o , D ifferentia specifica in s ta n c e s d iff e r is th e e ffe c t, o r th e cau se,
( B o e c i o ) ; d ô o x o iò s é, c o m e fe ito , u tili­ o r a n in d is p e n s a b le p a r t o f th e c a u s e o f
z a d o p o r A r i s t ó t e l e s c o m e s ta s ig n ifi­ th e p h e n o m e n o n ”1(liv ro III, cap . V III, §
c a ç ã o , e m b o r a r a r a m e n te ( Tópicos , IV , 2). C f. Concordância, Variações, etc.
6, I4 3 b 8; Éti. M c . , X , 3 1174b 5). C f .
D iferenças perceptíveis (M étodo das
Distinção.
menores) D . M ethode der enbenmerkii-
C. N o s m o d e r n o s , to d a característi­
chen Unterschiede o u der Minimalànde-
ca q u e d is tin g u e u m c o n c e ito d e u m o u ­
t r o o u u m a c o isa de o u tr a .
rungen ; E . M ethod o f ieast noticeable dif­
ference o u o fju s t perceptible différence;
C R ÍT IC A F . M ethode des plus petites différences
1. V ê-se p e lo q u e p re c e d e q u e a p a la ­ perceptibles ; 1. M etodo delle differenze
v ra te m d o is s e n tid o s f u n d a m e n ta is , d e ­ (o u variazioni ) minime.
s ig n a n d o u m u m a re la ç ã o e n tre o b je to s U m d o s q u a tr o m é to d o s fu n d a m e n ­
d e p e n s a m e n to d ife re n te s , o o u tr o a o u ta is d a p sico físíca* . C o n siste em fa z e r v a ­
a s características q u e c o n s titu e m e s ta d i­ ria r u m a e x c ita ç ã o E a p a r tir d e Eo e em
feren ça. E stes d o is sen tid o s d ev em ser d is­ n o ta r o s c re sc im e n to s m ín im o s n e c e ssá ­
tin g u id o s p e la f o r m a d a s fra se s: 1?, d i­ rio s p a r a q u e o s u je ito re c o n h e ç a u m a d i­
feren ça entre...; 2°, d ife re n ç a própria a... fe re n ç a e n tre a s e x c ita ç õ e s Eo E i , E i,
o u característica de...] d ife re n ç a in trín s e ­ E 2..., E r E n + i. A d m itin d o e n tã o q u e as
c a , q u a n d o é o c a s o . E m lín g u a in te r n a ­ p a ssa g e n s su cessiv as d a s e n s a ç ã o Si à
c io n a l, o s d o is s e n tid o s d e v em ser d is tin ­ s e n sa ç ã o S 2, d a s e n s a ç ã o S 2 à se n s a ç ã o
g u id o s p e lo s seu s s u fix o s : 1? es; 2? aj. S3, e tc ., c o n s titu e m p o r d e fin iç ã o “ c re s­
2. É ú til c o n s e rv a r a d is tin ç ã o e n tre c im e n to s ig u a is d a s e n s a ç ã o ” , p r o c u r a -
a d ife re n ç a numero e specie, m a s a títu lo se q u e f u n ç ã o m a te m á tic a p o d e re p re se n ­
p ro v is ó rio , e so b a c o n d iç ã o d e e x a m in a r ta r o s c re sc im e n to s E i — Eo, E 2 — E |. . .
e sta tese d e L « ζ Ç « U d e q u e d o is seres
E q u e s ã o fo rn ecid o s p e la ex p eriên cia. Fech-
re a is n ã o p o d e m d if e r ir n u m e ric a m e n te n e r p e n s a v a q u e e ste s c re sc im e n to s e ra m
sem d if e r ir ta m b é m in tr in s e c a m e n te p r o p o r c io n a is a E , d a í, in v e rte n d o a f ó r ­
(Princípio dos indiscerníveis). E le o b s e r ­ m u la , seg u n d o q u e a sen sa çã o v ariasse c o ­
v a a e ste re s p e ito e co m r a z ã o q u e a ex ­ m o o lo g a r itm o d a e x c ita ç ã o . V e r Psico-
p re s s ã o diferença específica é d e m a s ia d o física (lei).
e s tr e ita p a r a este s e g u n d o s e n tid o , p o is a Rad. int .: D ife r. A . D ife re s; B . D ife -
d ife re n ç a d o s in d iv íd u o s d a m e sm a e sp é ­ r a j.
cie é q u a lita tiv a e in tr ín s e c a , n ã o se p o ­
D I F E R E N C I A Ç Ã O D . Differenzie-
d e n d o , to d a v ia , f a la r d e específica (N o ­
rung; E . D ifférentiation ; F . Différencia­
vos ensaios, c a p . I). P ro p o m o s , p o is, n e s­
te s e n tid o , o u s o d o s te r m o s o p o s to s nw-
tion; I. D ifferenziam ento.
N ã o c o n f u n d ir c o m a o p e r a ç ã o m a ­
mérica e intrínseca. C f . Distinção.
te m á tic a c h a m a d a em fra n c ê s différentia­
‘‘D ife re n ç a (M étodo de)” E . M ethod tion, c o m t .
o f difference; F . M éthode de différence.
J . S. M « Â Â c h a m a a s s i m a o s e g u n d o
d o s m é to d o s d e in d u ç ã o q u e fo rm u la n o 1. “ Se um caso em que o fenômeno acontece e
s e u System o f Logic: “ I f a n i n s t a n c e i n um caso em que ele não acontece possuem todas as
w h ic h th e p h e n o m e n o n o c c u rs , a n d a n
circunstâncias em comum, exceto uma, não se encon­
trando esta senão no primeiro caso: a circunstância
in s ta n c e in w h ic h it d o e s n o t o c c u r , h a v e
única pela qual os dois casos diferem é o efeito, ou
e v e r y c ir c u m s t a n c e in c o m m o n , s a v e o n e , a causa, ou uma parte indispensável da causa do fe­
t h a t o n e o c c u r r in g o n ly in th e f o r m e n nômeno.”
259 D IG N ID A D E H U M A N A

A . “ P assag em d o h o m o g ên eo ao h e­ 2 . D e v id o à c o n f u s ã o c o rre n te e n tre


te r o g ê n e o .” S ú ÇT 2 , Primeiros princí­
E E a id é ia s p e n c e ria n a d e “ e v o lu ç ã o * ” e a
pios, c ap . X V . T ra n s fo rm a ç ã o d e elem en ­ d e p ro g r e s s o “ d if e r e n c ia d o ” é to m a d o
to s sem e lh a n te s e m e le m e n to s d ife re n te s, ta m b é m , a lg u m a s v ezes, p o r s u p e r io r ,
o u d e e le m e n to s m e n o s d ife re n te s e m ele­ m a is p e r f e ito , n o c a so d e n ã o h a v e r n e s­
m e n to s m a is d ife re n te s . E m p a r tic u la r ,
te a p e r f e iç o a m e n to n e n h u m c re sc im e n to
divisão* do trabalho e n tr e c é lu la s, ó r ­
d e e s p e c ia liz a ç ã o . É ig u a lm e n te u m fa l­
g ã o s , in d iv íd u o s , g ru p o s s o c ia is. A d ife ­
so s e n tid o a e v ita r.
re n c ia ç ã o p o d e a p o ia r -s e s o b re as e s tr u ­
Rad. int.: D ife re n c i.
tu r a s ( diferenciação morfológica) o u s o ­
b re as fu n ç õ e s (d if funcional). “ D I F L U E N T E (I m a g in a ç ã o ) ” T h .
B . R e s u lta d o d e s ta o p e ra ç ã o . N e ste R«ζ ÃI d e s ig n o u a ssim , e m o p o s iç ã o à s
s e n tid o , d iz -se p o r vezes Diferenciação o u tr a s f o r m a s d e im a g in a ç ã o c r ia d o r a , e
adquirida. p a r tic u la r m e n te à im a g in a ç ã o p lá s tic a , a
R ad. int.: A . D ife re n c ig ; B . D ife -
q u e u tiliz a im a g e n s d e c o n to r n o s v a g o s,
re n c a j.
in d e c is o s , m ó v e is, q u e c o n siste m n a
D I F E R E N C I A R D . Differenzieren; m a io r p a r te d o s caso s e m “ a b s tra to s e m o ­
E . To differentiate ; F . Différencier, I. c io n a is ” e o s a ss o c ia m d e u m a m a n e ira
Differenziare. s o b r e tu d o s u b je tiv a e a fe tiv a . E la p o d e
T o r n a r d ife re n te a q u ilo q u e e ra sem e­ e n c o n tr a r - s e e m to d a s a s fo r m a s d e a r te ,
lh a n te ; p r o d u z ir o u a u m e n ta r a d iv e rs i­ m a s d o m in a s o b r e tu d o n a m ú s ic a . (A
d a d e e n tre as p a rte s d e u m m e s m o to d o . imaginação criadora, 3? p a r te , c a p . I I .)
“ P o r m a is lo n g e q u e se r e m o n te e m d i­
Rad. int.: D if lu a n t.
re ç ã o às o rig e n s (d a v id a ), s e m p re a e n ­
c o n tr a m o s j á m u ito d if e r e n c ia d a , lo g o D I G N I D A D E H U M A N A (P rin c íp io
m u ito a n tig a .” E d . L E R Ãà , L ’éxigence d a ) D . Würde e m e lh o r Menschenwürde ;
idealista et le fa it de Involution, 92. E . D ignity ; F . Dignité] 1. Dignità.
C R ÍT IC A D esig n a-se c o m este n o m e o p rin c íp io
m o r a l q u e e n u n c ia q u e a p e ss o a h u m a n a
1. Diferenciar e q u iv a le a distinguir*
n ã o d ev e n u n c a ser t r a t a d a a p e n a s c o m o
a p e n a s n o c a s o e m q u e e s ta p a la v r a q u e r
u m m e io , m a s c o m o u m fim e m si m e s­
d iz e r to r n a r d is tin to o q u e a n te s e r a in d i­
m a ; o u s e ja , q u e o h o m e m n ã o d ev e j a ­
v is o o u in d is c e rn ív e l. É d e m a u e stilo
u tiliz á -lo , c o m o se fa z a lg u m a s vezes re ­ m a is se r u tiliz a d o c o m o m e io sem se le ­
b u s c a d a m e n te , a o fa la r-s e d e d ife re n ç a s v a r e m c o n ta q u e ele é, a o m e sm o te m ­
e stá tic a s, p re e x iste n te s. “ D ife re n c ia r-se ” p o , u m fim em si (K τ Ç , Fund. da me-
I

q u e r d iz e r tornar-se d ife re n te e n ã o d ife ­ taf. dos costumes, 2a se ç ã o ).


r ir p o r ta l o u ta l c a ra c te rís tic a . Rad. int.: D ig n e s.

S o b re D ife re n c ia r — Diferenciado fo i m e sm o to m a d o p o r a p e r f e iç o a d o a o fa la r-
se d o q u e é , p e lo c o n tr á r io , s u p e r io r e n q u a n to m enos e sp e c ia liz a d o . V er p o r e x e m ­
p lo o te x to c ita d o p o r L é â à -B 2 Z Â (q u e n ã o p a re c e c h o c a d o c o m isso ) e m Les fo n c-
7

tions mentales chez les sociètes inférieures , p . 228: “ N a s lín g u a s ín d ia s n ã o s a b e r ía ­


m o s e n c o n tr a r u m a p a la v r a tã o diferenciada q u a n to ‘c o lo c a r ’ : e n c o n tr a m o s u m a sé ­
rie d e p a la v r a s c o m v e rb o s o u a d v é r b io s indiferenciados q u e sig n ific a m c o lo c a r d e
u m a c e r ta m a n e ir a , p . e x . eu c o lo c o s o b r e ..., e u c o lo c o a o lo n g o d e . . . , e tc .” P o -
W E L L , The Evoluí ion o f Language , E . B. R e p o r ts , I, p . X X I. H á ali u m c u rio s o
e x e m p lo d a s u g e s tã o c a u s a d a p o r este p re c o n c e ito d e q u e to d o p ro g re s s o é “ p a s s a ­
g em d o h o m o g ê n e o a o h e te r o g ê n e o ” . (A. L .)
D IL E M A 260

D IL E M A G . At\n]nfia; D . Dilemma :; D IM E N S Ã O D . D im ension ; E . Di­


E . D ilem m a ; F . Dilem me ; I. Dilemma. m ension; F . D im ension ; I. Dimensione.
A . R a c io c in io d e q u e u m a p re m is sa A . N a A r itm é tic a g e ra l, n ú m e ro re a l
c o n té m u m a a lte rn a tiv a c o m d o is te rm o s , q u e é u m d o s e le m e n to s c o n s titu in te s d e
e c u ja s o u tr a s p re m is s a s m o s tr a m q u e o s u m n ú m e r o c o m p le x o (d e n u n id a d e s o u
d o is caso s d a a lte rn a tiv a im p lic a m a m es­ d im e n sõ e s).
m a c o n s e q ü ê n c ia . A a lte r n a tiv a p o d e ser B . N a G e o m e tr ia , g ra n d e z a re a l q u e ,
c a te g ó ric a o u h ip o té tic a . N o p rim e iro c a ­ q u e r s o z in h a , q u e r c o m o u tr a s , d e te r m i­
s o , o d ile m a te m a fo r m a : n a a p o s iç ã o d e u m p o n to (s o b re u m a li­
A o u B é v e rd a d e ir a ; n h a , s o b re u m a s u p e rfíc ie , n u m e s p a ç o ).
S e A é v e r d a d e ir a , K é v e rd a d e ira ; P o r c o n s e g u in te , d iz -se q u e u m e sp a ç o
S e B é v e r d a d e ir a , K é v e rd a d e ira ; te m n d im e n s õ e s , q u a n d o s ã o p re c isa s n
L o g o , K é v e rd a d e ir a . d im e n s õ e s p a r a d e te r m in a r c a d a u m d o s
N o s e g u n d o c a s o , a p r im e ir a p re m is ­ seu s p o n to s .
sa e a c o n c lu s ã o s ã o h ip o té tic a s e to m a m C . N a G e o m e tr ia e n a F ísic a , g r a n d e ­
re s p e c tiv a m e n te a s fo r m a s se g u in te s: z a real* q u e q u e r s o z in h a , q u e r c o m o u ­
Se A é v e rd a d e ir a , B o u C é v e rd a d e ir a ; tr a s , d e te r m in a a g r a n d e z a d e u m a fig u ­
Se B é v e rd a d e ir a , K é v e rd a d e ira ; r a m e n su rá v e l (c o m p rim e n to , á r e a , v o lu ­
Se C é v e rd a d e ir a , K é v e rd a d e ira ; m e, e tc .). E x .: “ A s d im e n sõ es d e u m c o r­
L o g o , se A é v e rd a d e ir a , K é v e rd a d e ira . p o .”
D . N a M e c â n ic a e n a F ís ic a , esp écie
M ais g e ra lm e n te , c h a m a -s e d ile m a a
d e g ra n d e z a d e q u e d e p e n d e a m e d id a de
to d o ra c io c ín io d o m e sm o tip o em q u e a
u m a o u tr a g ra n d e z a c o m a in d ic a ç ã o d a
a lte r n a tiv a c o m p re e n d e m a is de d o is c a ­
re la çã o alg éb rica q u e u n e e sta s d u a s g ra n ­
s o s. (N . B. A a lte r n a tiv a n ã o é n e c e ssa ­
d e z a s . P o r e x e m p lo , u m a v e lo c id a d e é a
r ia m e n te d is ju n tiv a * , n o s e n tid o B .)
re la ç ã o (o q u o c ie n te ) e n tr e u m c o m p ri­
B . S is te m a d e d u a s p ro p o s iç õ e s c o n ­ m e n to e u m te m p o . E sc re v e-se sim b o li-
tr a d itó r ia s , e n tr e a s q u a is se é c o lo c a d o
n a o b rig a ç ã o d e e sc o lh e r. c a m e n te : V = . É o q u e se c h a m a
C . E m R ÇÃ Z â « 2 : “ O te rm o dilema ,
E E
u m a fó rm u la de dimensões.
p o r u m a e x te n s ã o d o s e n tid o h a b itu a l d a
p a la v r a q u e a e tim o lo g ia p e rm ite , é a p li­ C R ÍT IC A
c áv e l à o p o s iç ã o m ú tu a e n tre d u a s teses O s e n tid o p rim itiv o é o s e n tid o C , de
filo só fic a s tais q u e a a c e ita ç ã o o u o r e p ú ­ o n d e fo r a m d e riv a d o s o s se n tid o s B e A ,
d io d e u m a , c o m o s seu s c o ro lá rio s , lev a p o r u m la d o , e D , p o r o u tr o .
à n e g a ç ã o o u à a f ir m a ç ã o d a o u t r a sem Rad. intr. D im e n s.
q u e n e n h u m a d a s d u a s p o s s a s e r r e f u ta ­
d a c o m a a ju d a d o s p rin c íp io s p ro f e s s a ­ D I N Â M I C A D . D ynam ik; E . Dyna­
d o s p elo s d o is p a rtid o s q u e as s u s te n ta m .” mics', F . Dynamique', I. Dina mica.
Les dilemm es de la m étaphysique , p . 11: A . P a r t e d a M e c â n ic a q u e t r a t a d o
“ D e fin iç ã o d o d ile m a m e ta f ís ic o .” m o v im e n to físico e real c o m to d a s as suas
Rad. int.: D ile m . p ro p r ie d a d e s , p a r tic u la rm e n te a força vi­
va e ( p a r a as d o u tr in a s q u e u tiliz a m este
D IM A R 1 S (o u D im a tis ) M o d o d a c o n c e ito ) as forças n a s u a re la ç ã o c o m os
q u a r ta fig u ra q u e se re d u z a Darii pela c o r p o s e m m o v im e n to .
tra n s p o s iç ã o d a s p re m issa s e a c o n v e rsã o É u s u a l d iv id ir a M e c â n ic a e m trê s
s im p le s d a c o n c lu s ã o : p a r te s : a estática, te o ria d o e q u ilíb rio em
A lg u m P é M . re p o u s o ; a cinemática*, te o r ia d o s m o v i­
T o d o M é S. m e n to s , a b s tra ç ã o fe ita d a s cau sa s q u e os
L o g o , a lg u m S é P . p r o d u z e m ; e a dinâmica.
261 D IN A M IS M O

B . M e ta fo ric a m e n te : 1? E m H 2 - E fo r ç a e p re s s u p õ e u m a fin a lid a d e (o q u e


ζ τ 2 I a estática d o s e s ta d o s de c o n s c iê n ­ re s ta p r o v a r ) , é, em to d o c a s o , c o n tr á r io
cia (as su as relaçõ es com o e sta d o de eq u i­ a o m é to d o c o n f u n d ir a priori estas d u a s
líb rio ) o p õ e-se à dinâmica d o s e s ta d o s de id éias so b u m ú n ic o te rm o . E s ta p r u d ê n ­
c o n sc iê n c ia (as su as re la ç õ e s c o m o e s ta ­ cia é ta n to m a is n e c e s sá ria q u a n to a p r ó ­
d o de tra n s fo rm a ç ã o e de m o v im en to ); 2o p ria n o ç ã o d t força e stá s u je ita a c a u ç ã o
E m A u g u ste C ÃO e S ú ÇT 2
I E a estáti­
E E e d á lu g ar a g ran d es d ificu ld ad es n o s p rin ­
ca sociai (eq u ilíb rio d as so cied ad es) o p õ e - c íp io s d a m e c â n ic a .
se à dinâmica sociai (p ro g re sso d a s so cie­ Dinâmica fo i u tiliz a d a em c e rto s c a ­
d a d e s ), etc. sos d e m a n e ira ju s ta e feliz, é s e d u to ra p e­
Rad. int .: D y n a m ik . lo seu a s p e c to c ie n tífic o , m a s n ã o d e ix a
d e s e r (s o b r e tu d o c o m o a d je tiv o ) c o m o
D I N Â M I C O D . D ynam isch; E . u m a d a s p eças d e falso d in h e iro m ais c o r­
Dynamic; F . D ynam ique ; I. Dinâmico. re n te s n a lin g u a g e m filo s ó fic a d o s e s tu ­
A . E m o p o s iç ã o a e s tá tic o : o q u e im ­ d a n te s e d o s e sc rito re s m e io -filó s o fo s .
p lic a u m a tr a n sfo r m a ç ã o o u u m d e v ir .
Rad. int.: D ïn a m ik .
F r e q u e n te em A u g u ste C O M TE.

B . E m o p o s iç ã o a m ecân ico : o q u e im ­ D IN A M IS M O D . D ynam ism us ; E .


p lic a n ã o s ó m o v im e n to s n e c e s s a ria m e n ­ D ynam ism ; F . D yn a m ism e ; I. D i­
te lig ad o s seg u n d o leis, m a s ta m b é m u m a namismo.
f o r ç a a tiv a (n o s e n tid o D d a p a la v r a O p õ e -s e a M ecanismo*.
ação*) e u m a fin a lid a d e . C f. Dinamismo. A . D e s ig n a m -s e a s s im o s s is te m a s f i­

lo s ó f ic o s q u e a d m ite m n o s p r in c íp io s d a s
CRÍTIC A c o is a s a e x is tê n c ia d e “ fo r ç a s” ir r e d u tí­

O h á b ito de o p o r m e ta fo ric a m e n te es­ v e is à m a s s a e a o m o v im e n t o . É a s s im q u e

tático a dinâmico sem te rm o in te rm e d iá ­ a d o u tr in a fís ic a d e L e i b n i z é ch a m a d a

rio p ro v é m d o fa to de a p a la v r a cinemá­ dinam ism o em o p o s iç ã o a o m e c a n is m o

tica* ser re c e n te e a p e n a s te r sid o in tr o ­ c a r te s ia n o .

d u z id a n a c iên c ia p o r A Oú è 2 (1 8 3 4 ). E B . A p lica-se ig u a lm e n te este te rm o à s


M as é de la m e n ta r , p o is le v a a n e g lig e n ­ d o u tr in a s q u e c o lo c a m o m o v im e n to o u
c ia r o p o n to d e v is ta d a sim p les transfor­ o d e v ir c o m o p rim itiv o e q u e c o n sid e ra m
mação q u e se c o lo c a e n tre a id é ia d e r e ­ a m a té ria c o m o d e fin id a p o r c ertas c a r a c ­
p o u s o e a de fo r ç a o u de fin a lid a d e , q u e te rís tic a s d o m o v im e n to ( L o rd K Â â « Ç ) E

e v o ca a p a la v r a dinâmica n a s u a o p o s i­ o u a coisa c o m o u m a e ta p a d o progresso


ç ã o a mecânica. O ra , m esm o q u e seja v e r­ (v e r B e r g s o n , Os dados imediatos da
d a d e q u e to d a a m u d a n ç a re s u lta d e u m a consciencia).

S o b re D in â m ic o — A d e fin iç ã o d e ste te r m o fo i m o d if ic a d a e a m p lia d a p a r a re s ­


p o n d e r às o b s e rv a ç õ e s fe ita s n a sessã o de 16 d e ju n h o p o r Le Roy. E le o b s e rv o u q u e ,
a p e s a r d a e tim o lo g ia , n ã o se p o d ia d e fin ir a tu a lm e n te a D in â m ic a p e la a p lic a ç ã o d a s
forças a o s c o rp o s em m o v im e n to , v isto q u e v á ria s d o u tr in a s , e m p a r tic u la r a m e c â ­
n ic a d e H 2 U , n ã o u tiliz a m a n o ç ã o d e fo r ç a e tê m , c o n tu d o , u m a D in â m ic a .
E I

E o m e sm o se p o d e d i 2e r p a r a o a r tig o D inam ism o, a o q u a l fo i a c re s c e n ta d o o


p a r á g r a f o B.
L « ζ Ç« U fa la d a p a la v r a Dinâmica n o s e n tid o d e C iê n c ia d a s fo r ç a s c o m o se ele
E

a tiv esse c ria d o : “ D ic am ín te rim n o tio n e m v iriu m seu v irtu tis (q u a m G e rm a n i vo-
c a n t K raft , G a lli la force) c u i e g o e x p lic a n d a e p e c u lia re m Dynamices sc ie n tia m des-
tin a v i, p lu rim u m lu cis a f f e r r e a d v e ra m n o tio n e m s u b s ta n tia e in te llig e n d a m .” De
primae phiiosophiae emendatione, § 2 (E d . J a n e t, I, 633).
D IN A M 0 G Ê N 1 C 0 262

C R ÍT IC A E s ta u tiliz a ç ã o d a s p a la v r a s n ã o n o s
A id é ia d o d in a m is m o e s tá e s tr e ita ­ p a re c e feliz. É c o n tr á r ia à s u a e tim o lo ­
m e n te lig a d a a to d a s a q u e la s q u e se g ia , q u e d e sig n a n itid a m e n te u m aum en­
o p õ e m ig u a lm e n te a o m e c a n is m o , e p a r ­ to d e f o r ç a e n ã o u m a v a r ia ç ã o q u a lq u e r
tic u la rm e n te à d e fin a lid a d e . d e e q u ilíb rio . M a is a in d a , a g e n e r a lid a ­
C o m o to d o s o s n o m e s d e d o u trin a , es­ d e d o “ p r in c ip io ” e m q u e s tã o é n e g a d a
te te r m o p re s ta - s e fa c ilm e n te a o v a g o e p o r a lg u n s, p a rtic u la rm e n te p o r S t u m p f .
a o e q u ív o c o . P o r fim , a p a r te m a is in c o n te s tá v e l d o s
Rad. in t .: D in a m is m . fe n ô m e n o s a o s q u a is e la se a p lic a ria é já
d e s ig n a d a d e m a n e ira c la r a e m u ito u s u a l
D IN A M O G Ê N IC O D . Dynamogene- p e lo s te r m o s d e f o r ç a ideomotriz* e
tisch\ E . Dynamogenic; F . Dynamogene, idéia-força * ,
dynamogénique; I. Dinamogenico. P r o p o m o s , p o is , re s e rv a r dinamogê-
D iz-se d a s s e n s a ç õ e s, s e n tim e n to s o u nico p a r a o p rim e iro s e n tid o a tr á s d e f i­
id é ia s q u e a u m e n ta m o tonus v ita l, e es­
n id o , q u e é m u ito ú til e m u ito p re c is o .
p e c ia lm e n te o p o d e r m o to r (p o r ex em p lo
Rad. intr. D in a m o g e n .
a m ú s ic a p a r a a m a io r p a r te d o s in d iv í­
d u o s ). O p õ e -s e a inibitório*. D I P L O P I A D . Doppelsehen ; E . D i­
U tiliz a -se c o m o s u b s ta n tiv o c o rre s ­ plopia; F . Diplopie; I. Diplopia.
p o n d e n te dinamogênese e dinamogenia. F a to d e p e rc e b e r u m a d u p la im a g e m
A fo r m a m a is b re v e p a re c e -n o s m e lh o r v isu al d e u m o b je to q u e é n o r m a lm e n te
n o s d o is c a so s. p e rc e b id o c o m o u m a im a g e m ú n ic a . D i­
p lo p ia m onocular , p e rc e p ç ã o d e u m a
C R ÍT IC A
im a g e m d u p la a tra v é s d e u m ú n ic o o lh o .
W . J a m e s e J . M . B a l d w i n a p lic a m
D ip lo p ia binocular (a m a is e s tu d a d a , c o ­
d e u m a m a n e ir a g e ra l a p a la v r a dynamo- n m ín e n te c h a m a d a diplopia, sem a d je ti­
genesis a e ste “ p r in c íp io ” d e q u e “ to d a v o ), p e rc e p ç ã o s e p a ra d a e s im u ltâ n e a das
m u d a n ç a n as co n d içõ es de estim u laç ã o d o d u a s im a g e n s re la tiv a s a o s d o is o lh o s ,
s is te m a n e rv o s o é s e g u id a p o r u m a m u ­ im a g e n s q u e se fu n d e m n o rm a lm e n te .
d a n ç a c o rre s p o n d e n te d a te n s ã o m u s c u ­ Rad. int.: D ip lo p i.
la r e d o m o v im e n to ” . D ynam ogeny d e ­
s ig n a , e n tã o , a a p lic a ç ã o n u m caso p a r ­ 1. D I R E I T O (U m ), o s d ire ito s D .
tic u la r d o p rin c íp io de dynamogenests. O s Recht; E . R ig h t ; F . Droit; I. Diritto.
m e sm o s a u to re s c h a m a m , e n fim , dyna­ E s ta p a la v r a a p re s e n ta d ife re n te s sen ­
mogenic a o fe n ô m e n o n e rv o s o a fe re n te tid o s c o n f o r m e a f o r m a d a s ex p re ssõ es
q u e c a u s a a dinamogenia e dynamogene- em q u e é u tiliz a d a . P o d e m -s e c o n g re g a r
tic a o fe n ô m e n o m o to r q u e c o n stitu i o seu em d u a s id é ia s fu n d a m e n ta is :
e fe ito . V er B a ld w in , s u b Vo, I, 302. A . U m d ire ito , o u a in d a “ O q u e é d e

S o b re D ip lo p ia — C a d a u m d o s d o is o lh o s p o d e d a r q u e r u m a im a g e m s im p le s,
q u e r u m a im a g e m d u p la , e a s im a g e n s d o s d o is o lh o s p o d e m fu n d ir -s e o u n ã o . P o ­
d e m , p o is , a c re s c e n ta r-s e o s q u a tr o c a so s seg u in tes:
A . M onopia p a r a c a d a o lh o e m onopia p a r a o s d o is .
B . M onopia p a ra c a d a o lh o , diplopia p a r a o s d o is.
C . M onopia p a r a u m o lh o , diplopia p a r a o o u tr o ; o q u e p r o d u z ir á n a v isã o b in o ­
c u la r diplopia o u triplopia .
D . Diplopia d o s d o is o lh o s , o q u e p r o d u z ir á n a v isã o b in o c u la r diplopia, triplo­
pia o u tetraplopia. (Paul Tannery)
O c a s o B é a q u ilo q u e v u lg a rm e n te se c h a m a diplopia. (A. L .)
2(>3 D IR E IT O

d ir e ito ” , é a q u ilo q u e e stá c o n fo rm e a ser o u a q u ilo q u e legitim a m e n te p o d e ser,


u m a re g ra p re c is a e, p o r c o n s e q u ê n c ia , é p o r o p o s iç ã o a o q u e n ã o d ev e ser. O a d ­
le g ítim o ex ig ir. D iz-se, em g e ra l, n e ste je tiv o in g lês right c o n se rv a este sen tid o
se n tid o : ler direito a, ter direitos sobre. em to d a a s u a e x te n s ã o (lin h a re ta , a çã o
1? E xigív el p o r q u e a s leis o u re g u la ­ ju s ta , p e n sa m e n to v e rd a d e iro , b o n s p r in ­
m e n to s o p re s c re v e m , o u p o r q u e isso re ­ cíp io s a rtístic o s; the right man in the right
s u lta d o s c o n tra to s e sta b e lec id o s em c o n ­ place', e tc .) . C f. em a le m ã o Recht, ge-
fo r m id a d e co m essas leis. E x .: “ O d ire i­ recht, richtig, etc. E m fra n c ê s , este s e n ­
to de r e s p o s ta ” e m e sm o , p o r d e riv a ç ã o , tid o é m a is r a r o ; e n c o n tr a - s e , c o n tu d o ,
“ o s d ire ito s d a a lf â n d e g a ” . em a lg u m a s e x p re ssõ es j á fe ita s: as ciên­
2? E xigív el p o rq u e isso é c o n fo rm e à cias de direito o u n o rm a tiv a s (ló g ica, é ti­
o p in iã o p ú b lic a em m a té ria m o ra l. E x .: c a , e sté tic a ) o p õ e m -s e às ciências de fa to
“ T o d o s os c id a d ã o s tê m d ire ito de c o n ­ o u c o n stativ as (física, p sico lo g ia, etc.). D e
c o rre r p e s s o a lm e n te o u a tra v é s d o s seus o n d e as fó rm u la s : “ de d ire ito e de f a to ,
re p re s e n ta n te s p a r a a f o r m a ç ã o d a L e i.” d e d ire ito s e n ã o de f a to , e t c .” n as q u a is
Declaração dos direitos do hom em , 1789, de direito p o d e to rn a r-se q u ase e x a ta m e n ­
a r t, V I. te sin ô n im o de logicamente o u moratmen-
B . U m d ire ito é a q u ilo q u e é p e rm iti­ te. É p re c iso , c o n tu d o , n o ta r q u e estas d i­
d o . D iz-se, em g e ra l, n este s e n tid o , te r o fe re n te s e x p re ssõ es re c e b e m a in flu ê n c ia
direito de. d e u m a d is tin ç ã o p ró x im a , m a s d ife re n ­
1? P e rm itid o p e las leis e sc rita s o u p e ­ te : quid juris, quid fa cti q u e se a p lic am
las re g ra s q u e c o n c e rn e m ao s a to s c o n s i­ à d isc u s s ã o de u m a s s u n to ju ríd ic o , à
d e ra d o s se ja em v irtu d e d e u m a d e c la ra ­ questão de direito e à questão de fa to (p .
ç ã o e x p re ssa , s e ja em v irtu d e d o p rin c í­ ex. as d u a s p a r te s d o Pro Milone). V er
p io s e g u n d o o q u a l o q u e n ã o é p ro ib id o m a is a d ia n te Direito-2: o Direito.
P o r o u tr o la d o , a id é ia d o d ire ito
é p e rm itid o . E x .: “ O d ir e ito d e te s ta r; o
re d u z -se à d e u m b em p o r o u tr a v ia . O s
d ire ito de r o ç a r (n o x a d r e z ) .”
d ire ito s são a q u ilo q u e a lei p e rm ite . O ra ,
2? P e rm itid o m o ra lm e n te , sen d o o a to
em q u e s tã o b o m o u m o ra lm e n te in d if e ­ a co n tece v u lg arm en te q u e a lei está em d e­
s a c o rd o e m a lg u n s p o n to s c o m a o p in iã o
re n te . E x .: “ A liv re c o m u n ic a ç ã o d o s
m o ra l q u e lh e é c o n te m p o r â n e a : e n u n c ia
p e n s a m e n to s e d a s o p in iõ e s é u m d o s d i­
p ro ib iç õ e s o u sa n c io n a d e sig u ald ad es q u e
re ito s m ais p re c io so s d o h o m e m .” Decla­
a m o ra l j á n ã o a d m ite . D e o n d e a re iv in ­
ração d e 1789, a r t. X I.
d ic a ç ã o d a s liberdades o u d o s direitos na­
CRÍTIC A turais, q u e r d iz er, dos p o d e re s d e a g ir, o u
D ire ito é u m a m e tá f o r a g e o m é tric a d e n ã o ser c o n stra n g id o , q u e d ev eriam ser
q u e se e n c o n tr a em g re g o (hçdós), em la ­ legais e n ã o o s ã o a in d a . P o r ex em p lo , n a
tim e n a s lín g u a s d e riv a d a s d o la tim , n as F ra n ç a n o s fin s d o see. X V III: “ E stes d i­
re ito s sã o a lib e rd a d e , a p ro p r ie d a d e , a
lín g u a s g e rm â n ic a s e m esm o n a s lín g u a s
s e m ític a s (RE Çá Ç , Langues sémitiques, s e g u ra n ç a , a resistên cia à o p r e s s ã o .” De­
p. 23). O c o n tr á r io é t o r t o , to r c e r e, d a
claração dos direitos , 1789, a r t. II . “ A
m e sm a f o r m a , falso, falsear. ig u a ld a d e , a lib e rd a d e , a s e g u ra n ç a , a
p r o p r ie d a d e .” Declaração, 1793, a rt. II.
O s e n tid o f u n d a m e n ta l p a re c e , p o is,
A p a la v ra re to m a assim u m a sig n ificação
ser o de c o n fo rm id a d e a u m a re g ra (n o ­
p o s itiv a . Q u a n d o u m a “ tir a n ia ” in ju s ta
ta r a id e n tid a d e de raiz e n tre rectum e re­
p ro ib iu p o r lo n g o tem p o o s a to s o u as g a ­
gula). “ E s ta r n o seu d ir e ito ” é n ã o e s ta r
r a n tia s q u e a o p in iã o m o ra l ju lg a legí- I.
em d e s a c o rd o c o m a re g ra , “ e sta r e m r e ­
g r a ” . O d ire ito , d e s te p o n to d e v is ta , é,
p o is , d e m a n e ira g e ra l, a q u ilo q u e d ev e I. “ O homem certo no lugar ce rto .”
D IR E IT O 264

tim o s, estas lib e rd a d es, m e sm o in d ife re n ­ B . O d ire ito é o c o n ju n to d o s Direi­


tes em si (n e m b e m , n e m m a l), re a d q u i­ tos-], A e B , q u e reg em as re la ç õ e s d o s
re m , p o r o p o s iç ã o , u m a lto v a lo r m o r a l, h o m e n s e n tr e si.
e o direito de os u s u f r u ir a p a re c e c o m o 1? Direito positivo, a q u e le q u e re s u l­
u m bem. O q u e n ã o é a p e n a s u m a ilu s ã o ta d a s leis e sc rita s o u d o s c o stu m e s p a s ­
e u m a a s s o c ia ç ã o d e id é ia s, m a s ta m b é m s a d o s co m fo rç a d e lei. E x .: “ D ire ito c i­
u m f a to re a l: s e n d o o a c o r d o e n tre a lei
vil; D ire ito r o m a n o . C iê n c ia d o D ire ito
e a m o ra l u m b em p o s itiv o .
e, p o r a b re v ia ç ã o , o Direito ”
Rad. int.: Y u r (o o b je to d o d ire ito de
2? Direito natural, a q u e le q u e é c o n ­
q u e se f a la m a rc a s u fic ie n te m e n te se se
tr a ta d e u m a p e rm is s ã o o u d e u m a e x i­ s id e ra d o c o m o re s u lta n te d a n a tu re z a d o s
g ê n cia ). h o m e n s e d a s su as re la ç õ e s , in d e p e n d e n ­
te m e n te d e to d a c o n v e n ç ã o o u leg islação .
2 . D I R E I T O (O ) D . R echt ; E . Right,
3? Direito das gentes (Jus gentium)
iaw; F . Droit; I. D iritto .
d e s ig n o u , d e in íc io , em R o m a , o d ire ito
A . O D ireito , em o p o s iç ã o a o Fato,
é e m to d a o rd e m d e co isas o le g ítim o , em f u n d a d o s o b re a e q u id a d e * e a p lic á v e l
o p o s iç ã o a o re a l, n a m e d id a em q u e este a o s e stra n g e iro s q u e n ã o e sta v a m s u b m e ­
p o d e ser ile g ítim o . (N ã o c o n f u n d ir e sta tid o s a o d ire ito r o m a n o . P o r c o n s e g u in ­
d is tin ç ã o co m a q u e la e n tre a questão de te , c o n fu n d ia -s e co m o d ire ito n a tu r a l.
direito e a questão de fa to \ ver a tr á s “ Q u o d v e ro n a tu ra lis r a tio in te r o m n e s
Direito-1, crítica.) h o m in e s c o n s titu it, id a p u d o m n e s p o -

S o b re D ire ito (2) — K a n t d e fin e a p a la v r a direito (Recht): A . E n q u a n to a d je ti­


vo e n o s e n tid o a m p lo “ Recht o d e r Unrecht (re c tu m a u t m in u s re c tu m ) ü b e r h a u p t
ist ein e T h a t, so fe rn sie p fh 'ch tm ässig o d e r p flic h tw id rig ist (licitum aut ilficitum)” 1.
M etaphysik der Sitten, Einleitung, IV . B . (s u b s ta n tiv a m e n te ): “ D a s R e c h t ist d e r I n ­
b e g r if f d e r B e d in g u n g e n , u n te r d e n e n d ie W illk ü r d es E in e n m it d e r W illk ü r d es A n ­
d e rn n a ch ein em a llg e m ein e n G esetze d e r F re ih e it z u sa m m e n v e re in ig t w e rd e n
k a n n .“ 1 2 Ib id ., Einleitung in die Rechtslehre, § B.
E n c o n tra -s e u m a c o le tâ n e a de u m g ra n d e n ú m e ro de d e fin iç õ e s c lássicas d o d i­
re ito e u m a d isc u s s ã o d e sta s f ó r m u la s em L é âà -U Â Â Oτ ÇÇ , La definition du droit,
1917.
S o b re as a m b ig ü id a d e s d a p a la v r a in g le sa Right e d a s e x p re ssõ es q u e d e la se o r i­
g in a m , p a rtic u la rm e n te to have a right to do a thing (te r o d ire ito a fa z e r u m a c o isa
— a m b ig ü id a d e s q ue se e n c o n tr a m ta m b é m em fra n c ê s — , v er J . S. M « Â Â , Logic,
liv ro V , c a p . V II, § 1.
N o s e n tid o A , “ o q u e é d e d ir e ito “ ’ é sem d ú v id a le g ítim o , q u e r d iz er, p e rm iti­
d o , m a s ta lv e z , a lé m d is so , u m c e r to c o n v ite p a r a u s a r a p e rm is sã o q u e re s u lta d a
p re c is ã o d a r e g ra e d o s seus m o tiv o s im p líc ito s . (V. Egger)
F. TÖnnies te r ia s id o d e o p in iã o d e c o n s e rv a r direito natural c u jo s e n tid o lh e p a ­
re ce s u fic ie n te m e n te fix a d o p e lo u s o .
E m lu g a r d e Direito natural, n a s d u a s a p lic a ç õ e s d e s te te rm o (d e s ig n a d o n o te x to
d o Vocabulário so b os n ú m e ro s 2 e 3), s e ria p re fe rív e l d iz e r Direito ideal o u Direito
humano. ( L . Couturat)

1. “ Um ato é recht ou unreeht ( = tem-se o direito, não se tem o d ireito de com eter um ata), consoante
ele é conform e ou contrário ao dever.” M etafísica dos costum es, Intro d.
2. " O Direito é o conjunto das condições sob as quais a vontade individual se pode unir e associar à
vontade individual de outrem conform e uma lei universal da liberdade.” Introdução à Teoria do Direito.
265 D1SAM IS

p u lo s p era eq u e c u sto d itu r, v o c a tu rq u e ju s r a l ” n o s p a re c e c a p c io s a e a e v ita r. P o d e


g e n tiu m .” Institutes, livro l, títu lo 11, § 1. ser s u b s titu íd a , c o n fo rm e o se n tid o , q u e r
E sta ex p ressão to m o u , nos m o d e rn o s , u m p elo te rm o lei (b io ló g ic a , p sico ló g ica , s o ­
se n tid o d ife re n te d esd e P u f f e n d o r f , D e c ia l), q u e r p e la e x p re ssã o direito moral
ju re naturae et gentium , 1672: d e sig n a o (q u e r d iz e r, r e s u lta n te d a o p in iã o m o ra l
c o n ju n to d o s d ire ito s q u e reg em a s re la ­ e n ã o d a le g islaç ã o ).
çõ es d o s E s ta d o s e n tre si o u d o s in d iv í­ Rad. int.: Y u r ( Ciência do direito:
d u o s p e rte n c e n te s a E s ta d o s d ife re n te s y u rs-sc ie n c o ).
(p o rq u e estes d ireito s estão p rim itiv a m e n ­
te d e s p ro v id o s d e q u a lq u e r le g islaç ã o e s ­ D IR I G I D O D . A . GerichteV, B . Ge-
c rita ). leitet; E . Directed ; F . Dirigé\ I. D ireito,
A . Q u e p o s s u i u m a d ire ç ã o d e fin id a .
C R ÍT IC A “ U m se g m e n to d ir ig id o .”
B . G o v e rn a d o p o r u m se r d o ta d o de
E lim in a m o s n e ste a rtig o e n o p re c e ­ p re v id ê n c ia e de v o n ta d e (m e sm o se e sta
d e n te to d a s a s d e fin iç õ e s q u e p re te n d e m v o n ta d e n ã o se ex erce c o n s ta n te m e n te e m
d a r n ã o o s e n tid o d a p a la v r a , m a s a ex­ d ire ç ã o a o m e sm o o b je tiv o o u n o m esm o
p lic a ç ã o d a n a tu r e z a d o direito e a s u a s e n tid o ).
o rig em m e ta física , p o r exem plo a fó rm u la
de K τ Ç , q u e d e fin e o d ire ito p e la s c o n ­
I NOTA
d iç õ es n e ce ssá ria s a o a c o r d o d a s v o n ta ­ N o s e n tid o p re c is o e té c n ic o ,
d es s e g u n d o u m a lei de lib e rd a d e . A e s ta d is tin g u e m -s e a direção e o sentido (v er
c o n c e p ç ã o o p õ e -se a c o n c e p ç ã o d a lib e r­ Sentido, 3 ): u m m o v im e n to d irig id o se­
d a d e c o m o re s u lta n te , p e lo c o n tr á r io , d a g u n d o o m e rid ia n o p o d e te r d o is sen tid o s
re la ç ã o d o s d ireito s: “ A lib e rd a d e é o p o ­ c o n tr á r io s : s u l-n o rte o u n o rte -s u l. M as a
d e r q u e p e rte n c e a o h o m e m d e fa z e r tu ­ p a la v r a dirigido é u tiliz a d a m u ito fre-
d o o q u e n ã o p r e ju d ic a o d ire ito d o s o u ­ q ü e n te m e n te p a r a in d ic a r o m o v im e n to
t r o s .*’ Declaração dos direitos , 1793, a r t. o u a c o n d u ta o rie n ta d o s n u m se n tid o d e ­
V I. S ã o d u a s te o ria s e x p lic a tiv a s o u ju s ­ te rm in a d o .
tific a tiv a s q u e n ã o te m o s q u e d is c u tir Rad. int.: A . D ire c io n a t; B . D ire k t.
a q u i.
O m e sm o a c o n te c e c o m o s siste m a s D I S . „ T r a n s c riç ã o d o p re fix o g reg o
q u e d e fin ira m o d ire ito n a tu r a l p e la f o r ­ Ô vs... q u e a s s in a la d if ic u ld a d e , d e fe ito , e
ç a , e n te n d e n d o p o r isso q u e n a a u s ê n c ia n o rm a lm e n te os d o is a o m e sm o te m p o .
de u m a leg islação p o sitiv a n ã o existe nem U tiliz a -se, c o m ra d ic a is g re g o s, p a ra f o r ­
b em n e m m al e , p o r c o n s e q u ê n c ia , tu d o m a r te rm o s n o v o s . P . e x .: disartria, d if i­
o q u e é possív el é p e rm itid o . “ P e r ju s n a ­ c u ld a d e e d e fe ito d a a r tic u la ç ã o (d a fa la
tu r a e in te llig o ip sa s n a tu r a e le g e s ... h o c a rtic u la d a ); discromatopsia, n o m e g e n é ­
e st ip s a m n a tu r a e p o te n tia m .” E s p i n o ­ rico d e to d a s as a n o m a lia s d a v isão q u e
s a , Tractatus poliíicus, II, 4. c o n sistem n u m d isce rn im e n to n u lo o u in ­
E s ta m a n e ira de fa la r, q u e se p re s ta c o m p le to d a s d ife re n te s c o re s (ver Acro-
a m u ita s c o n fu s õ e s e so fis m a s (ver J . - J . matopsia, Daltonismo), e tc .
R ÃZ è è τ Z , Contrato social, I, 3), r e p o u ­
E

sa s o b re o tr ip lo s e n tid o d a p a la v r a D IS A M IS M o d o d a te rc e ira fig u ra


natureza*: 1? , o u n iv e rso sem e x ceção ; q u e se re d u z a Darii p ela tra n s p o siç ã o d a s
2?, a o rd e m norm al , p o r o p o s iç ã o a o s p re m issa s e c o n v e rsã o sim p les d a m a io r
d esv io s e m o n s tru o s id a d e s ; 3 ? , a v id a es­ e d a c o n c lu s ã o :
pontânea e in c o n sc ie n te , p o r o p o s iç ã o a A lg u m M é P .
tu d o q u e é a rtific ia l, re fle tid o e q u e rid o . T o d o M é S.
P o r isso , a e x p re ss ã o “ d ire ito n a tu ­ L o g o , a lg u m S é P .
D IS C R E T IV A 266

D IS C R E T IV A ( P o r t - R o y a l , I I , 9 ) . E m K a n t , discursivo o p õ e -se a intui­


C h a m a -s e p ro p o s iç ã o discretiva a tivo, c o m o o c o n h e c im e n to d o g e ra l a o
u m a p ro p o s iç ã o c o m p o sta * c u ja s d ife re n ­ c o n h e c im e n to d o p a r tic u la r (L o g ik , § 1).
tes p a r te s s ã o a f ir m a d a s a o m e sm o te m ­ Rad. int.: D is k u rs ,
p o , m a s a o m e sm o te m p o o p o s ta s e n tre
si p e lo e s p írito (n o m e a d a m e n te q u a n d o D IS C U R S O L . Discursus; D . (sem
u m a é a f ir m a tiv a e a o u t r a n e g a tiv a ). e q u iv a le n te g e ra l); B . Rede; E. Discour­
E x e m p lo : O c rim e e n v e rg o n h a , e n ã o o se; B . Speech; F . Discours; I. Discorso.
c a d a fa ls o . A . O p e ra ç ã o in te le c tu a l q u e se e fe tu a
a tra v é s de u m a su cessão d e o p e ra ç õ e s ele­
D IS C R E T O D . D iskret ; E . Discrete; m e n ta re s p a rc ia is e su cessiv as. “ D is c u r­
F . Discret; I. Discreto.
su s e st tra n s itu s c o g ita n tis a s e n te n tia a d
D e sc o n tín u o * n o s e n tid o A .
s e n te n tia m o rd in e q u a d a m , sive c o n se -
D IS C R IC IO N Á R IO (P o d e r) V er A r ­ q u e n tia r u m , sive a lio u t in m e th o d o .”
bitrário. L e i b n i z , Opuscules et fragm ents inédits,
E d . C o u tu r a t, 495. C f . Discursivo e In­
D IS C R IM IN A Ç Ã O D . Unterschei­
tuição.
dung; E . Discrimination; F . Discrimina­
B . E s p e c ia lm e n te , e x p re ss ã o e d e s e n ­
tion; I. Discriminazione.
v o lv im e n to d o p e n s a m e n to a tra v é s d e
A to d e d is tin g u ir u m d o o u tr o d o is
u m a s u c e s sã o d e p a la v r a s o u d e p r o p o s i­
o b je to s d e p e n s a m e n to concretos, q u e r
çõ es q u e se e n c a d e ia m .
p s ic o ló g ic o s , q u e r sen sív eis. C f. Dis­
tinção. U n iv e rs o d o d is c u r s o , v er Universo.
Rad. int.: D ic e rn . Rad. int.; A . D is k u rs ; B . P a r o la d .
D IS C U R S IV O D . Discursiv; E . Dis­ D IS J U N Ç Ã O D . Disjunktion ; E . Dis­
cursive; F . D iscursif ; I. Discursivo. junction; F . Disjonction; I. Disgiunzione.
U m a o p e ra ç ã o de p e n s a m e n to é d ita A . C a r a c te rís tic a d o s ju íz o s d is ju n ti­
discursiva q u a n d o a tin g e o o b je tiv o p a r a v o s * , q u e r n o s e n tid o A , q u e r n o s e n tid o
o q u a l te n d e a tra v é s d e u m a série d e o p e ­ B . D iz-se a lg u m a s vezes n o s e g u n d o d e s ­
ra ç õ e s p a rc ia is in te rm e d iá ria s ( p o r ex em ­ tes casos: disjunção completa, o u m e lh o r,
p lo , e s o b r e tu d o , o ra c io c ín io ). Discursi­ exclusiva.
vo o p õ e -se a intuitivo. B . J u íz o d is ju n tiv o , q u e r n o s e n tid o
O c o n ju n to d a s o p e ra ç õ e s d e sta n a ­ A , q u e r n o s e n tid o B,
tu r e z a c o n s titu i o pensam ento discursivo
Rad. int.: A . D is ju n k te s ; B . a j.
o u , a lg u m a s v ezes, a faculdade discursi­
va (s o b re tu d o u su al e m 1„ facoltà discor- D I S J U N T I V O D . D isjunktiv; E . Dis­
siva ). C o n s e q u e n te m e n te , e sta s e x p re s ­ junctive; F . Disjonctif; I. Disgiuntivo.
sõ es to m a m -s e c o m o s in ô n im o d e enten­ V er Conjuntivo.
dim ento. A . D iz-se g e ra lm e n te d e u m ju íz o q u e

S o b re D is c rim in a ç ã o — T e rm o de o rig e m in g le s a , m a s q u e a c r e d ita m o s te r s u f i­


c ie n te m e n te e n tr a d o n a lin g u a g e m filo s ó fic a f r a n c e s a . (L. C. — A . L.)

S o b re D is c u rsiv o — A a p r o x im a ç ã o e n tr e d is c u r s iv o e g e r a l, in tu itiv o e p a r tic u ­

la r é m u it o m a is a n t ig a d o q u e K a n t . É j á m u ito u s u a l e m W o l f f e r e m o n ta à e s c o ­

lá s tic a . K a n t n ã o fe z m a is d o q u e s e g u ir u m v e lh o u so c lá s s ic o . (R. Eucken )


S o b re D is ju n tiv o — P a r a h a v e r u m v e rd a d e iro ju íz o disjuntivo n ã o é s u fic ie n te
q u e o s te rm o s d a alte rn a tiv a se ex clu am re c ip ro c a m e n te , m a s é n ecessário a in d a q u e n ã o
267 “ D IS P O N ÍV E L ”

a f ir m a u m a a lte rn a tiv a * . E s t a a lte r n a ti­ T e rm o re la tiv o : A . E m B o É c to te r ­


v a p o d e e x is tir, e m p a r tic u la r , e n tre v á ­ m o s d ís p a re s s ã o te rm o s d iv e rso s n ã o
rio s ju íz o s d o m e s m o s u je ito e m c u jo c a ­ c o n tr á r io s : “ d is p a r a ta ... q u a e ta n tu m a
so se r e d u z (g ra m a tic a lm e n te ) à a lte r n a ­ se d iv e rsa s u n t, n u lla c o n tr a r ie ta te p u g -
tiv a d o s p re d ic a d o s * , n o s e n tid o A . n a n t i a . . . ” (E m P 2 τ Ç Â , I, 686.)
I

B . D iz-se ta m b é m , m a is e sp e c ialm en ­ B . E m L « ζ Ç« U d iz -se d e d o is c o n c e i­


E

te , d e u m ju íz o q u e a f ir m a u m a a lte r n a ­ to s d o s q u a is n e n h u m c o n té m o o u tr o ,
tiv a ex clu siv a, q u e r d iz e r, em q u e u m d o s q u e r d iz e r, q u e n ã o e s tá n a re la ç ã o d e g ê­
m e m b ro s é n e c e s s a ria m e n te v e r d a d e ir o e n e r o a e sp écie. L « ζ Ç« U , Inédits , E d .
E

em q u e to d o s os m e m b ro s se ex clu em m u ­ C o u tu r a t, p . 5 3 , “ Si n e u te r te rm in o r u m
tu a m e n te (n ã o p o d e m c o e x is tir d o is a in a lte ro c o n tin e tu r , a p p e lla n tu r Dispa-
d o is ). A d is ju n tiv a é d ita , e n tã o , ex­ rata*\ e m a is a d ia n te : in d is p a r a tis ,
clusiva. se u q u o r u m n e u tr u m e s t g e n u s vel spe-
C . D iz -se d e u m ra c io c ín io e m q u e c ie s .”
u m a d a s p re m is sa s é d is ju n tiv a . E m p a r ­ C . C h a m a m - s e m a is g e ra lm e n te dis­
tic u la r, c h a m a m -s e silogismos disjuntivos pares d o is c o n c e ito s q u e n ã o e s tã o n e m
a o s ra c io c ín io s d o s d o is tip o s seg u in tes: n a re la ç ã o d e g ê n e ro a esp écie n em n a re ­
M odus tollendo-ponens: la ç ã o d e u m a esp écie a u m a o u tr a e sp é ­
O u A é v e rd a d e ir o , o u B é v e rd a d e ir o ; cie d e u m m e s m o g ê n e ro .
O ra A n ã o é v e rd a d e ir o ; K i r c h n e r , s u b v°, a c re s c e n ta a lé m

L o g o B é v e rd a d e ir o ; d is s o a c o n d iç ã o d e q u e o s d o is c o n c e i­
M odus ponendotollens: to s s e ja m c o n s id e ra d o s c a ra c te rís tic a s d e
O u A é v e rd a d e ir o , o u B é v e rd a d e iro ; u m m e s m o s u je ito . M a s e s ta ú ltim a c o n ­
O r a A é v e rd a d e ir o ; d iç ã o n ã o p a re c e c o n f o r m e a o u s o ; e o
L o g o B n ã o é v e rd a d e ir o . s e g u n d o e x e m p lo q u e ele d á n o m e sm o
a r tig o a s s e n ta s o b re te r m o s q u e n ã o a
E s ta seg u n d a f o r m a exig e q u e a m a io r
p re e n c h e m .
s e ja ex clu siv a.
U m a o u tr a f o r m a d e ra c io c ín io d is­ c r í t i c a
ju n tiv o n o s e n tid o C é o dilema * , o n d e
se m o s tr a q u e o s d o is te rm o s d e u m a a l­ S e rá c o r r e to c o n s e rv a r n o s e n tid o C .
te r n a tiv a le v a m a u m a m e s m a c o n s e ­ Rad. int.: D is p a r a t.
q u ê n c ia .
“ D IS P O N ÍV E L ” T e rm o recen tem en ­
Rad. int.: D is ju n k tiv .
te in tro d u z id o n a lin g u ag em filo só fica p a ­
D ÍS P A R L . Disparatus ; D . Disparai; r a in d ic a r o e s ta d o d e e s p ír ito n o q u a l o s
E . Disparate ; F . Disparate; l. Disparato. s e n tim e n to s , a a ç ã o o u o ju íz o n ã o e s tã o

h a ja o u tr a p o s s ib ilid a d e a lé m d a q u e la e x p re s s a n a d is ju n ç ã o ; n o u tr o s te rm o s , q u e
a d iv isã o d a e x te n s ã o s e ja c o m p le ta . À f a lta d o q u e n ã o h á u m ju íz o d is ju n tiv o , m a s
u m ju íz o sim p le sm e n te partitivo. (C. Ranzoli)

S o b re D ís p a r — H a v e r á trê s s e n tid o s re a lm e n te d ife re n te s ? L e i b n i z , e m p a r ti­


c u la r , q u is fa z e r o u t r a c o is a q u e n ã o d e fin ir c o m u m a p re c isã o n o v a e e s c la re c e d o ra
(p e la d is tin ç ã o d o s c a so s e m q u e o g ê n e r o é m a is o u m e n o s p ró x im o ) o s e n tid o d e
u m te rm o e s c o lá s tic o ? (7. Lachelier )
T a lv e z , m a s a d e fin iç ã o d e L e ib n iz é m u ito m a is r ig o r o s a d o q u e a d o s e sc o lá sti­
c o s e s o b r e tu d o a d m ite e n tre d ís p a r e s a r e la ç ã o d e c o n tr a r ie d a d e q u e a q u e la ex clu i.
D e o n d e a n e c e s s i d a d e d a f ó r m u l a C q u e p r e c i s a a in d a m a is o s e n tid o f u n d a m e n ta l
(L. C. — A . L .)
D JS S IM E T R IA 268

re s trin g id o s p o r n e n h u m c o m p ro m is s o B . N o s e n tid o c o n c r e to , s e p a ra ç ã o
a n te r io r , “ Sê d isp o n ív e l co m to d o o teu efetiv a d e e le m e n to s q u e e stav am u n id o s .
fe rv o r p a r a to d a s a s c o is a s ... Sê d is p o n í­ E sp e cia lm e n te , e m q u ím ic a c h a m a -se dis­
v el: re c u sa o te u c o ra ç ã o à fix id e z , n ã o sociação a u m a d e c o m p o s iç ã o lim ita d a ,
te p re n d a s a n a d a n e m a n in g u é m , n em q u e r d iz e r, q u e c o n d u z a u m e s ta d o de
a ti m e sm o . Sê in fiel e s e m p re a p a ix o n a ­ e q u ilíb rio q u e é o lim ite c o n h e c id o d e ssa
d o . D e s e m b a ra ç a -te d o p a s s a d o . Q u e as re a ç ã o e d a re a ç ã o in v e rs a .
tu a s p a ix õ e s s e ja m e x cessiv as, m a s n u n ­ Rad. i n t A , D isso c ía d ; B . D isso ciig .
c a e x c lu s iv a s .” C L . E è I E â E (re s u m in ­
d o A n d ré G « á E ), Études philosophiques D IS S O L U Ç Ã O D. A uflösung ; E . Dis-
sur (’expression littéraire (1939), p. 31. solution; F. Dissolution; I. Dissoluzione.
A . D e c o m p o s iç ã o de u m a g re g a d o e,
D IS S ÏM E T R IA V er Simetria e (S)
e sp e c ia lm e n te , reg resso a o e s ta d o in d e ­
Anti-simetria.
p e n d e n te d e e le m e n to s in d iv id u a is a g r u ­
D IS S O C IA Ç Ã O D . Dissoziation ; E . p a d o s n u m o rg a n is m o .
Dissociation ; F , Dissociation; I. Disso- B. S e g u n d o o u s o d e H . S p e n c e r a
ciazione. d is s o lu ç ã o é o p ro cesso in v e r s o d o q u e
A . V á rio s p sicó lo g o s m o d e rn o s c h a ­ c o n s titu i a evolução (c a r a c te r iz a d a n e s te
m a m assim à o p e r a ç ã o d o e sp írito q u e a u to r p e lo p ro g resso d a d ife r e n c ia ç ã o e
is o la o s e le m e n to s q u e lh e fo r a m d a d o s d a in te g r a ç ã o ). É , p o is , n ã o só o reg res­
p rim itiv a m e n te co m o u m to d o . " W h a t is so à in d e p e n d ê n c ia d o s e le m e n to s a g re­
a ss o c ia te d n o w w ith o n e th in g a n d n o w g a d o s, m a s ta m b é m o reg resso à se m e ­
w ith a n o th e r, ten d s to be d isso ciated fro m lh a n ç a d o s e le m e n to s d ife r e n c ia d o s . Pri­
e ith e r a n d to g ro w in to an o b je c t o f a b s ­
meiros princípios , ca p . X X III.
tr a c t c o n te m p la tio n b y th e m in d . O n e
m ig h t call th is th e law o f d is so c ia tio n C R ÍT IC A

by v a ry in g c o n c o m ita n ts .” 1 W . J τ O è , E
E s ta p a la v r a a p r e s e n ta o m ais d a s ve­
Principles o f Psychol., I, 506. zes u m s e n tid o p e jo r a tiv o (r u ín a , d e c a ­
d ê n c ia , c o rru p ç ã o ) : 1° , d e v id o a q u e o
]. “ A quilo que se associa ora a um a coisa ora ex em p lo m a is fo rte d e d is so lu ç ã o n o se n ­
a o utra tende a dissociar-se de um a e d a outra e tid o A é a d is so lu ç ã o q u e se seg u e à m o r ­
tornar-se um objeto de contem plação abstrata para
o espírito. Poder-se-ia cham ar a isso lei da dissocia­ te ; 2? , d e v id o a o u so q u e se fa z e m f r a n ­
ção pela variação dos concom itantes.” cês, in g lês e p o rtu g u ê s d o a d je tiv o dis-

S o b re D is so c ia ç ã o — H a v e ria in te re ss e em d is tin g u ir n itid a m e n te a dissociação


d a abstração: W . J a m e s in c lu i a “ lei de d is s o c ia ç ã o ” n o Process o f abstraction.
D ev er-se-ia d is tin g u ir a abstração, o p e r a ç ã o ló g ic a p e la q u a l o e s p írito c o n s id e ra
o a tr ib u to o p o n d o - o a o s u je ito , d a dissociação, a n á lise p sico ló g ic a o p e r a d a em v ir­
tu d e d a fu n ç ã o d is c rim in a tiv a p r ó p r ia à a te n ç ã o . É , a liá s , e sta sim p lific a ç ã o d o re a l
p e la a te n ç ã o q u e to r n a p o ssív el a a s s o c ia ç ã o e a ssim n o s d a m o s c o n ta d o e stre ito
elo q u e u n e o s d o is p ro c e sso s: d is so c ia ç ã o -a s so c ia ç ã o . {Th. Ruyssen)

S o b re D is so lu ç ã o — O te rm o é in fe liz e a rre p e n d o - m e d e o te r u tiliz a d o n a e ste i­


r a de S ú Ç T 2 p a r a d e s ig n a r o p ro c e s s o c o n tr á r io à e v o lu ç ã o ta l c o m o ele a e n te n ­
E E

d e . E ste u s o d e u , e d á , o rig e m a n u m e ro s o s m a l-e n te n d id o s d e q u e fre q u e n te m e n te


c o n sta te i o s g rav es in c o n v e n ie n te s . S e n d o d a d o q u e a e v o lu çã o * n o s e n tid o sp en ce-
r ia n o é s o b re tu d o c a r a c te riz a d a p e la d ife re n c ia ç ã o , o m e lh o r te rm o a o p o r à q u e la
p a re c e -m e ser assimilação* o u p a r a c o rre s p o n d e r à “ e v o lu ç ã o ” e n q u a n to c a r a c te r i­
z a d a a o m e sm o te m p o p e ia d ife re n c ia ç ã o e p e la in te g ra ç ã o , involuçâo. V er A s ilu­
sões evolucionistas. (A. L.)
269 D IS T IN G U IR

soluto í Dissolute, dissolu): d e b o c h a d o , c u te , a q u ilo q u e se a d m ite d o q u e n ã o se


c o n trá rio a o s b o n s c o stu m e s; 3 ? , d e v id o à a d m ite . V e r Distinguo.
associação m u ito geral q u e existe en tre evo­ B . C arac te rístic a q u e d istin g u e u m o b ­
lução e progresso. C o n tu d o , a p a la v ra fo i j e t o d e p e n s a m e n to , q u e r d iz e r, q u e p e r ­
ta m b é m e n te n d id a n u m se n tid o fa v o rá v el m ite re c o n h e c ê -lo c o m o o u tr o . E s p e c ia l­
co n sid erando-se q u e a m a io r p a rte dos p ro ­ m e n te , n o s e n tid o la u d a tiv o : o q u e c o lo ­
g r e s s o s m o r a i s se r e a l i z a m p e la c a o h o m e m a c im a d o c o m u m (s u p e rio ­
assim ilação * d o s in d iv íd u o s e p e lo a b r a n ­ r id a d e d e in te lig ê n c ia o u d e e d u c a ç ã o , tí­
d a m e n to o u m esm o p e la d e stru içã o d a s es­ tu lo h o n o r íf ic o , e tc .) .
tr u tu r a s sociais ríg id as q u e te n d e m a C . P r o p r ie d a d e q u e tê m d o is o u m a is
tra n s fo rm á -lo s em ó rg ã o s in v a ria v elm en ­ o b je to s d e p e n sa m e n to d e serem d istin to s.
te d ife re n c iad o s* . A . L τ Â τ Çá , Ladisso-
E N OTA S
lution opposée à l ’évolution , c ap . I. 1. A d is tin ç ã o é d ita numérica (nume­
Rad. int.: A . D isso lv ; B . D is so lv a d . ro) se co n siste a p en a s n a rep etição d e u m a
D IS T A N C I A D . A bstand ; E . Distan- a p re se n ta ç ã o , ju lg a d a id ê n tic a q u a n to a o
ce ; F . Distance ; I. Distanza. seu c o n te ú d o ; é d ita específica (specie),
V e r Espaço , Extensão , Inatismo. o u m e lh o r, intrínseca, n o c a so c o n trá rio .
Rad. int.: D is ta n c . C f . Diferença.
2. Distinção real, a q u e la q u e existe e n ­
D IS T E L E O L O G IA D . Dysteleologie; tr e d o is seres q u e p o d e m se r e fe tiv a m e n ­
E . Dysteleologia; F . Dystéléologie ; I. Dis- te s e p a ra d o s , o u p e lo m e n o s q u e se p o d e
teleologia. c o n c e b e r c o m o p o d e n d o ser e fe tiv a m e n ­
A . H a e c k e l d e sig n o u c o m e s ta p a la ­ te s e p a ra d o s p o r u m a p o tê n c ia s u p e rio r
v ra (Generelle Morphologie, 1866; cf. Die a n o ssa; distinção form al, a q u e la q u e a p e ­
Welträtsel [O s enigmas do mundo], c a p . n a s p o d e s e r fe ita em p e n s a m e n to , c o m o
X IV , p . 106) a c iê n c ia d o s f a to s b io ló g i­ a a b s tr a ç ã o . V e r A 2 Çτ Z Â á , Quartas ob­
co s q u e c o n tra d iz e m a c o n c e p ç ã o d e u m a jeções contra Descartes, se ç ã o I.
fin alid ad e in telig en te na fo rm a ç ã o d o s o r ­ 3. Distinção, e m L ó G ., a p lic a -se , em
g a n ism o s: in d iv íd u o s a b o r ta d o s , a tr o f ia ­ p rin c íp io , a o s in d iv íd u o s; diferença, às es­
d o s , m o n s tr u o s o s , etc. p écies; diversidade, a o s g ê n e ro s. M a s o
B . D iz-se o b je tiv a m e n te , e n u m s e n ­ u s o c o rre n te , m e sm o n a s o b ra s filo s ó fi­
tid o m u ito a m p lo , d e tu d o a q u ilo q u e cas, p a ss a p o r c im a d e sta s especificaçõ es,
c o n s titu i u m a im p e rfe iç ã o d a fin a lid a d e ta n to m a is q u e a r e g ra f r a n c e s a d e e stilo ,
n a tu ra l: te ra to lo g ía , in stin to s n o civ o s, ó r ­ q u e d e s a p ro v a a re p e tiç ã o d e u m m e sm o
g ã o s in ú te is , etc. te rm o , c o n d u z fr e q ü e n te m e n te a s u b s ti­
tu ir u m p e lo o u tro .
D IS T IN Ç Ã O D . Unterscheidung, n o Rad. int.: A . D istin g (Boirac); B . D is-
s e n tid o A , Unterschied, n o s e n tid o B, tin g a j; C . D istin g e s.
Verschiedenheit, n o sen tid o C ; E . Distinc-
tion; F . Distinction; I. Distinzione. D IS T IN G U IR D . A . B . Auszeichen
A . A to d e d is tin g u ir, q u e r d iz e r, de C . Unterscheiden; D . Erkennen ; E . To
re c o n h e c e r c o m o o u tr o . E s p e c ia lm e n te , distinguish, to discrimínate; F . D istin­
a to d e s e p a ra r, n u m a a sse rçã o q u e se d is­ guen 1. Distinguere.

S o b re D is tâ n c ia — T e rm o o m itid o n a p rim e ira re d a ç ã o d e ste tr a b a lh o . F o i p o s to


n o seu lu g a r a lfa b é tic o d e v id o às o b s e rv a ç õ e s d e Ranzoli, q u e fez n o ta r c o m ju s tiç a
q u e a percepção de distância é u m d o s p ro b le m a s im p o r ta n te s d a te o r ia d a v is ã o .
E la fo i o c a m p o de b a ta lh a d a s te o ria s Empiristas e Inatistas q u e s e rã o d e fin id a s n o
d e v id o lu g a r. (A. L .)
“ D IS T IN G U O 0 270

(E tim o ló g ic a m e n te , p in ta r d e c o r d i­ B . N o sentido objetivo', d ife re n te , q u e


fe re n te ; o p o r a tra v é s d e tin ta s d iv e rs a s .) deve ser tid o c o m o o u tr o . E x .: “ C o n f u n ­
A . E sta b e le c e r o u m a r c a r u m a d ife ­ d es d o is p ro b le m a s d is tin to s ."
r e n ç a ; to r n a r d istin to * n o s e n tid o A . 2? E n q u a n to te rm o a b s o lu to q u e se
“ D escartes d istin g u iu as in c ó g n ita s p elas a p lic a a u m ú n ic o o b je to .
le tra s x, y, z . ” C . Extrínsecamente , e p o r u m a e lip ­
B . C o n s titu ir a c a ra c te rís tic a d is tin ti­ se: distinto , n o sen tid o A , de todas as ou­
va de u rn a c o isa o u de u m o b je to d e p e n ­ tras coisas, d istin g u id o p elo e sp írito e c o ­
s a m e n to , o q u e p e rm ite re c o n h e c ê -lo s. lo c a d o p o r e le c o m o u n ív o c o . A p e n a s se
Q u a n d o se tr a ta d e u m a p e s s o a o u d o s d iz n este se n tid o d o p ró p r io c o n h e c im e n ­
seus a to s , e sta p a la v r a te m q u a s e se m p re to o u d e u m o b je to d e c o n h e c im e n to e n ­
u m a c e n to la u d a tiv o ; d e o n d e o s e n tid o q u a n to id é ia .
d e “ d is tin g u id o ” to m a d o d e m o d o a b ­ E s p e cia lm e n te , em D è Tτ 2 è , o c ri­
E I E

s o lu to . té r io d a v e rd a d e e s tá n o c o n h e c im e n to
C . R e c o n h e c e r u m a c o isa co m o d is­ claro e distinto·. “ C h a m o [co n h ecim en to ]
tin ta de o u tr a . d is tin to à q u e le q u e é tã o p reciso e d if e ­
D . P e rc e b e r o u p e n sa r de u m a m a n e i­ re n te de to d o s o s o u tr o s q u e a p e n a s c o n ­
r a d is tin ta * n o s e n tid o C. té m em si a q u ilo q u e a p a r e c e m a n if e s ta ­
Rad. int.: A . B. D istin g ; C . D . m en te àq u ele q u e o c o n sid e ra c o m o se d e ­
D ic e rn . v e . " 1 Princípios, I, 45.
U m a id éia p o d e ser clara* sem ser d is­
“ D IS T IN G U O ” N a discu ssão (p rim i­ tin ta , p . ex. a d e u m a d o r ; m a s n ã o re c i­
tiv a m e n te , n a d iscu ssão esco lástica), f ó r ­ p ro c a m e n te (D è T τ 2 è , Princípios, I,
E I E

m u la q ue serv e p a ra re s p o n d e r a u m a o b ­ 46). E s ta a firm a ç ã o de D è T τ 2 è é re ­


E I E

je ç ã o a tra v és de u m a d istin ç ão * . E m c o n ­ p ro d u z id a p o r P Ã 2 -R Ã à τ Â , m as c o m
I

seq u ên cia, su b sta n tiv a m e n te, e m u itas ve­ re se rv a s (L o g ., p rim e ir a p a r te , c a p . IX ).


zes c o m u m c a m b ia n te p e jo ra tiv o , a p r ó ­ D . Intrínsecamente, a q u ilo d e q u e o
p r ia d is tin ç ã o . e s p írito vê n itid a m e n te to d o s o s e le m e n ­
to s c o n s titu tiv o s .
D IS T IN T O D . Verschieden, deuUich', P a r a L « ζ Ç« U , o c o n h e c im e n to d is tin ­
E

E . Distinct; F . Distinct; I. Distinto. O te r­ to é a q u e le q u e n ã o só é s u fic ie n te p a ra


m o o p o sto é confundido p a ra A e B, con­ fa z e r re c o n h e c e r o seu o b je to , m a s n o
fu so p a r a C e D . q u a l se p o d e m e x p lic a r “ as m a rc a s q u e
1 ? E n q u a n to te rm o r e la tiv o , re la tiv o dele se t e m " . Disc. d e M e ta f., § X X IV .
a v á rio s o b je to s c o m p a r a d o s e n tre si.
A . N o sentido subjetivo : d is tin g u id o ,
1. A palavra preciso é to m ad a aqui no seu sen­
q u e é tid o c o m o outro p o r u m d a d o e sp í­ tido am igo: Cf. P o r t -Ro y a l , Lógica, cap. 5, “ O n­
r ito . E x .: “ P a r a B a c o n , a filo so fia n ã o de se fala da m aneira de conhecer por abstração ou
é d is tin ta d a c iê n c ia ." precisão" .

S o b re D is tin to — Verschieden u tíliz a -se n o s se n tid o s A e B , Deutlich n o s e n tid o


C . Unterschieden, co m o a d je tiv o , n ã o é r a r o n o s a u to re s c lássic o s, p a r tic u la rm e n te
n o s e n tid o A (s u b je tiv o ). ( F Tonnies )
Distinto d iz-se p ro p r ia m e n te d a v is ã o e d a s im a g e n s v is u a is, m a s d iz-se m e ta f o r i­
c a m e n te d a v is ã o d o e s p ír ito e d a s c o isa s q u e o e s p írito vê co m p e r f e ita n itid e z ; e
fo i este s e n tid o m e ta fó ric o q u e m e p a re c e q u e se t o r n o u , e m D è T τ 2 è e L « ζ Ç« U ,
E I E E

o s e n tid o filo só fic o (m ais d o q u e o s e n tid o d e distinguido, d e não-confundido, se


b e m q u e a n itid e z d e u m a im a g e m v is u a l d e p e n d a d e e la n ã o se c o n f u n d ir c o m o u tra s
e de q u e os seu s tra ç o s n ã o se c o n fu n d a m e n tr e si). ( / . Lachelier)
271 D IS T R IB U T IV O

U m a id é ia p o d e ser clara se f o r s u fi­ p rim e iro c a s o dispersão e o s e g u n d o dis­


c ie n te p a r a fa z e r re c o n h e c e r o seu o b je ­ tração.
to , m a s , to d a v ia , c o n f u s a se n ã o f o r r e ­ Rad. int.: A . D is p e rs; B . D is tr a k t.
c o n h e c id a p o r “ u m n ã o sei q u ê ” . Ibid.
D IS T R IB U ÍD O L . Distribuais; D .
C f . Adequado.
Rad. int.: D is tin g (Boirac ); A . C . D . Verteilt; E . Distributed; F . Distribué; I.
D is tin g a t; B . D is tin g in d .
Distributo.
L ó ; . D iz ia-se a m ig a m e n te d o s te r ­
D IS T R A Ç Ã O D . Zerstreutheil ; E . m o s to m a d o s u n iv e rs a lm e n te . G Ã T Â - E

D istraction ; F . D istraction ; I. Dis- Ç« Z è , s. Vo: “ D is trib u í est accip i u n iv e r­

trazione. s a li té s ” V e r a d ia n te Distributivo e E x­
A . D iv isão d o p e n s a m e n to e n tr e v á ­ tensão, o b s .
rio s o b je to s d iv e rs o s, d e ta l m a n e ira q u e
1. D IS T R IB U T IV A (L e í, o u , m a is
n ã o e s tá a te n to a n e n h u m d eles.
e x a ta m e n te , p r o p r ie d a d e ) D . Distribu-
B . A u sê n c ia d e p e rcep ção d e u m a sen ­
s a ç ã o q u e d e v e ria se r n o rm a lm e n te p e r­
tionsgesetz; E . Distributive law; F . L o i
(o u propriété) distributive; I. Legge (o u
c e b id a , o u f a lta d e a d a p ta ç ã o à s c irc u n s ­
tâ n c ia s p re s e n te s , d e v id o a o f a to d e a
propriété) distributiva.
U m a o p e ra ç ã o o u re la ç ã o R t é distri­
a te n ç ã o e s ta r c o n c e n tr a d a n u m p o n to
p a rtic u la r (em g e ra l, n u m p e n sa m e n to in ­
butiva em re la ç ã o a u m a o u tr a o p e ra ç ã o
o u re la ç ã o R 2 q u a n d o se te m se m p re .
te rio r) .
E s ta p a la v r a a p lic a -se n o s d o is s e n ti­
(ü R2 b) R 2 T = (a R i b) R 2 (Zd*! c).
P o r e x e m p lo , a a d iç ã o e a m u ltip lic a ­
d o s q u e r a u m a d is p o s iç ã o g e ra l d o esp i­
ç ã o ló g icas sã o d is trib u tiv a s u m a e m re ­
r ito , q u e r a u m e s ta d o m o m e n tâ n e o ; e ,
la ç ã o à o u tr a ; a m u ltip lic a ç ã o a ritm é tic a
além d isso , n o se n tid o B , u tiliz a -se ig u a l­
é d is trib u tiv a em re la ç ã o à a d iç ã o a ritm é ­
m e n te d e m a n e ir a c o n c re ta : a to o u o m is ­
tic a , m a s n ã o e sta e m re la ç ã o à q u e la .
s ã o c a u s a d o p e la d is tr a ç ã o .
Rad. int.: D is tr ib u tiv .
C RÍTIC A
2 . D IS T R IB U T IV A (J u stiç a ) V er Co­
O s d o is s e n tid o s d a p a la v r a s ã o m e ­
mutativa.
n o s d ife re n te s d o q u e p a re c e m a p rin c í­
p io , se n d o o tr a ç o c o m u m q u e os re ú n e D IS T R IB U T IV O L . Distributivus; D .
a d e s a te n ç ã o a c e rto s fe n ô m e n o s . C o n ­ Distributiv; E . Distributive; F . Distribu­
tu d o , seria b o m c h a m a r d e p re fe rê n c ia o tif; I. Distributivo.

S o b re D is tra ç ã o — Distrahi , ser e m p u r r a d o em d iv e rso s s e n tid o s ; é n e ste s e n tid o


e tim o ló g ic o q u e L « ζ Ç« U se d iz ia distractissimus em ra z ã o d a s su as n u m e ro s a s o c u ­
E

p a ç õ e s . A d is tin ç ã o A e B é m u ito ju s ta : te m o s d u a s p a la v r a s p a r a A , distração, dis­


persão, e n e n h u m a p a r a B , a m e n o s q u e se d ig a estar absorvido, concentrar-se, m a s
n ã o s ã o s u b s ta n tiv o s . N a re a lid a d e c re io q u e distração se o p õ e n o s e n tid o c o m u m
a presença de espírito. E s ta é u m e s ta d o in te r m e d iá r io e n tre a d is s ip a ç ã o e a c o n c e n ­
tr a ç ã o ; s e n d o distração p e jo r a tiv a , c o n f u n d e os d o is ex cesso s, isso e q u iv a le a d iz e r
q u e este te rm o é de o rig em fa m ilia r, p ed ag ó g ica e social. É c h a m a d a distraída a c rian ça
o u o a d u lto q u e , e s p e rto d e m a is o u d e m a s ia d o re fle tid o , n ã o p r e s ta a te n ç ã o n o q u e
deveria s e g u n d o o p o n to d e v ista p rá tic o d o s e d u c a d o re s o u d o b o m sen so v u lg a r.
(V. Egger)

S o b re D is tr ib u íd o , D is trib u tiv o — Distributed d iz -se sem p re em in g lês d a s p r o ­


p o siç õ e s u n iv e rs a is ; undistributed a p lic a -se q u e r à s p a rtic u la re s q u e r à s in d iv isa s.
D IV E R SO 272

D iz-se d e u m te r m o g e ra l q u e d e sig n a C. E s p e c ia lm e n te : d is tin g u iu -s e a lg u ­


in d iv id u a lm e n te e à v o n ta d e c a d a u m dos m a s vezes a Divindade o u essên cia d iv i­
o b je to s d a s u a e x te n s ã o (R e la ç ã o D ) . n a e Deus, e n q u a n to ser p e sso a l ( p o r
O pÕ e-se a coletivo* o u a indiviso'* (R ela­ e x e m p lo em E T 3 τ 2 ). P o d e -s e a p ro x i­
7 I

ção S ) . m a r d e ste u s o a seg u in te p a ssa g e m de


L « ζ Ç« U : “ A ss im , D e u s só é a u n id a d e
E
D IV E R S O G . 'Έ τ 6 ρ ο ί ; L . Diversus;
D . Verschieden ; E . Divers ; F . Divers ; I. p rim itiv a ... d e q u e to d a s as m ó n a d a s c ria ­
Diverso. d a s o u d e riv a tiv a s s ã o p ro d u ç õ e s ; e n a s ­
A . A s p a la v r a s diversas, diverso f o ­ cem , p o r a s s im d iz er, a tra v é s de F u lg u ­
r a m fre q u e n te m e n te u tiliz a d a s p a r a t r a ­ ra ç õ e s c o n tín u a s d a D iv in d a d e .” Mona-
d u z ir o te rm o a ris to té lic o è re ç o r. N e ste dologia, 47.
s e n tid o , é d iv e rso tu d o o q u e , s e n d o re a l, Rad. int.: A . D ees; B . C . D e a j.
n ã o é id ê n tic o . “ Π α ν γ ά ρ ή ’ tregov rj
D IV IS Ã O G . ó i a i p e m s ; L . Divisio;
Tauro, o 7t civ ή ο ν .” M etaf. IX , 3.
D . Einteilung; E . D ivision ; F . Division;
1054b. E s ta d iv e rs id a d e a d m ite v á rio s
1. Divisione.
g ra u s (ibid., IV , 10, 1018b) e n tre os q u ais
A ris tó te le s d is tin g u e %πρ α τ ώ yévei e L ó ; . O p e r a ç ã o p e la q u a l se d i­
έ τ £ ρ α τ ώ tíõ a . v id e a e x te n s ã o d e u m c o n c e ito (d ito
D o m e sm o m o d o , L « ζ Ç« U d e fin e
E
gênero ) e m v á ria s classes q u e s ã o a s ex ­
sem p re diversa c o m o a n e g aç ã o d o eadem. te n sõ e s re s p e c tiv a s d e o u tr o s c o n c e ito s
B . N a lin g u ag em m o d e rn a as p a la v ra s (c h a m a d o s espécies). V er o te x to d e H τ ­
diverso e diversidade im p lic a m s e m p re O« Â ÃÇI c ita d o m ais a trá s , v°, Definição,
q u e o s te rm o s o u o s o b je to s tê m u m a d i­ e to d a a 25? liç ã o d a s u a Lógica ( I I , 2 2 ,
fe re n ç a in tr ín s e c a e q u a lita tiv a (o p o s ta à S . ) . C f. Classificação e Participação.

sim p les m u ltip lic id a d e n u m é ric a ).


D iv is ã o d o tr a b a lh o D . Arbeitstei-
C RÍTIC A lung; E . Division o f labour, F . Division
E s te ú ltim o u s o , em r a z ã o d o princi­ du travail·, I. Divisione del lavoro.
pio dos indiscerníveis, a p e n a s d ife re d o A . P r im itiv a m e n te (A d a m S O « I 7 ,

de L « ζ Ç« U n a q u ilo q u e c o n c e rn e a o s se­
E
Riqueza das nações , I , 1), o rg a n iz a ç ã o
res a b s tr a to s (c f. Diferença). P a r a e v ita r e c o n ô m ic a q u e c o n sis te n o f a to d e o
q u a lq u e r e q u ív o c o , seria b o m u tiliz a r n o tr a b a lh o to ta l a e f e tu a r s e r r e p a r tid o e n ­
s e n tid o g e ra l A , outro * e alteridade*, n o tr e os c o o p e r a d o re s de ta l m o d o q u e c a ­
s e n tid o q u a lita tiv o B , diverso e diver­ d a u m re a lize s e m p re u m m e sm o g ê n e ro
sidade. d e tr a b a lh o , p a r a o q u a l a d q u ire a ssim
Rad. int.: A , A ltr .; B . D iv ers. u m a h a b ilid a d e e u m a fa c ilid a d e p a r ti­
c u lares.
D IV ID ID O (S e n tid o ) V er Sentido
B . P o r a n a lo g ia , c h a m o u -s e divisão
composto.
do trabalho psicológico à e sp e c ia liz a ç ã o
D IV IN D A D E D . Göttlichkeit n o sen­ d a s fu n ç õ e s e n tre os d ife re n te s ó rg ã o s de
tid o A , G ottheit n o s e n tid o B ; E . God- u m c o rp o viv o.
head, Divinity, D eity ; F . Divinité; I. Di- Rad. int.: L a b o rd iv id .
vinità.
A . N o s e n tid o a b s tr a to , c a ra c te rís ti­ D IV IS IB IL ID A D E D . Teilbarkeif, E .
ca do q u e é d iv in o . Divisibility; F . Divisibilité; I. Divisibilità.
B . N o s e n tid o c o n c re to : Uma D ivin­ P r o p r ie d a d e q u e te m u m to d o d e ser
dade, A Divindade , s in ô n im o s d e D eu s d e c o m p o n ív e l, q u e r m a te ria lm e n te , q u er
q u e r n o s e n tid o p a g ã o , q u e r n o se n tid o id e a lm e n te , n u m c e rto n ú m e ro de p a rte s.
c ris tã o . Rad. int.: D iv id e b le s.
273 DOGMATISMO

D O G M A G . hóyixct; D . D ogm a ; E . D O G M Á T IC O (a d j. e s u b s t.) Q u e


Dogma; F, Dogme; I. Dogma. a p re s e n ta a c a ra c te rís tic a d o d o g m a tis ­
A . O p in iã o filo só fic a a d m itid a n u m a m o * n o s d iv e rso s se n tid o s d e s ta p a la v r a .
esco la (cf. Ôo«etJ'> ô d £ a ). A in d a u tiliz a ­ S o b a fo r m a d e s u b s ta n tiv o u tiliza-se fre-
d o n e ste s e n tid o em B a c o n : “ G ilb e rtu s , q ü e n te m e n te n o p lu ra l: “ O s D o g m á ti­
q u i P h ilo la i d o g m a ta r e p o s s u it...” De c o s .”
dignitate, I I I , 4. N a lin g u a g e m e sc o la r c h a m a -s e fre-
B. D o u trin a re c o n h e c id a e e sta b e lec i­ q ü e n te m e n te “ filo so fia d o g m á tic a ” a tu ­
d a p e la a u to r id a d e d e u m a Ig re ja (g e ra l­ d o o q u e n o e n s in o n ã o é h is tó ria d a filo ­
m e n te d e u m a d a s Ig reja s cristãs) e à q u al s o fia : é u m u so im p r ó p r io d a p a la v r a , a
o s m e m b ro s d e ssa Ig re ja s ã o o b rig a d o s e v ita r.
a a d e rir. E ste sen tid o é u s u a l desd e o s p ri­
m e iro s séc u lo s d o c ris tia n is m o . D O G M A T IS M O D . Dogm atism us ;
C . S e n tid o p a rtic u la r a K a n t : “ Ich E . Dogmatism; F . Dogm atism e ; I. Dog­
th e ile alle a p o d ik tis c h e n S a tz e ... in Dog­ matismo.
mata u n d M athemata ein . E in d ire c t A . P rim itiv a m e n te , to d a filo so fia q u e
sy n th e tisc h e r S a tz au s B eg riffe n ist ein a firm a c ertas v erd ad es e se o p õ e assim ao
D o g m a , d ag eg e n ein d e rg le ich e n S a tz c ep ticism o . àóypctra e ôoyncenxCti sâo
d u rc h C o n s tr u c tio n d e r B eg riffe ist ein u tiliz a d o s n este s e n tid o p o r D i ó g e n e s
M a th e m a .” 1 Razão pura, M e to d ., I, 1. L a é r c i o , 7 4 . “ D o g m a tid s u n t qu i veri-

A . 7 3 6 , B. 746. C f. Dogmatismo*. ta te s u n iv ersales d e fe n d u n t, seu qu i a ffir-


Rad. int.: D o g m . m a n t vel n e g a n t in u n iv e rs a li.” W o l f f ,
Psic. rac., § 40.
1. “ Divido todas as proposições apodíticas em
B . S e c u n d a ria m e n te , e d e p o is de
D o g m a ta t M athem ata. Um D ogm a é um a p ro p o si­ K a n t , a p a la v ra é e n te n d id a fre q ü e n te -

ção diretam ente sintética p o r conceitos; um M ath e­ m e n te n u m sen tid o p e jo ra tiv o . E la n ã o se


m a é uma proposição sintética por construção de con­
o p õ e e n tã o a o c ep ticism o , m as à crítica,
ceitos.” (Q uer dizer, pela intu ição que pode ser da­
da a p r io r i como correspondente aos conceitos.) Ibid. B* e a o criticismo*. “ D e r D o g m a tism u s
A . 713, B. 741. d e r M e ta p h y s ik , d . i, d a s V o ru rth e il, in

S o b re D o g m a — A sig n ific a ç ã o p rim itiv a d a p a la v r a g re g a òóypa p a re c e te r sid o


a de d e cisã o p o lític a d e u m s o b e r a n o o u d e u m a a ss e m b lé ia . C f . S a b a t i e r , Esquis­
se d ’une philosophie de la religion, p . 2 7 4 (1898). A s ig n ific a ç ã o d e “ o p in iã o filo só ­
f ic a ” s e ria , p o r ta n to , d e riv a d a , e p ro v a v e lm e n te d e v id a ao f a to d e a s esco las filo ­
s ó fic a s a n tig a s te re m m u ita s v ezes u m c a r á te r d e s e ita re lig io s a d a n d o à s s u a s d o u tr i­
n a s , p e r a n te seu s a d e p to s , a m e sm a a u to r id a d e im p e ra tiv a q u e p o s su ía u m d e c re to
p o lític o p a ra o s c id a d ã o s d e u m E s ta d o . V e r, e m p a r tic u la r , S ê n e c a , Epístola, 95
e C í c e r o , Acadêm icos IV , 9. (C . Ranzoli )

S o b re Dogm atism o — U tiliz a -s e fre q u e n te m e n te a e x p re ss ã o dogm atism o nega­


tivo p a r a d e s ig n a r o c e p tic is m o , em o p o s iç ã o a o dogmatismo positivo, d e fin id o em
A . E s ta s ex p re ssõ es p a re c e m ú te is d e c o n se rv a r n a s u a o p o s iç ã o : 1?, p o r q u e elas m a r ­
c a m b e m os d o is a sp e c to s c o n tr á r io s d e u m a mesma d is p o siç ã o d e e s p írito , q u e é
tã o d o g m á tic o a o n e g a r a c iên c ia q u a n to a o a f ir m á - la ; 2 ? , p o r q u e elas se o p õ e m a m ­
b a s a o c ritic is m o , n a m e d id a em q u e ele re p re s e n ta u m a a titu d e in te rm e d iá ria e n tre
a a f ir m a ç ã o a b s o lu ta e a n e g a ç ã o a b s o lu ta d o v a lo r o b je tiv o d o n o s s o c o n h e c im e n ­
to . (C. Ranzoli ) M a s o v e rd a d e iro c e p tic is m o n ã o é p re c isa m e n te a q u e le q u e é eféti-
co, e q u e d u v id a d a s u a p ró p r ia d ú v id a ? N e ste s e n tid o o dogmatismo negativo p o d e ­
ria ser o p o s to a o p r ó p r io c e p tic is m o . {A. L.)
D O G M A T IS T A 274

ih r o h n e K ritik d e r re in e n V e r n u n f t f o r t ­ rai à filo so fia q u e ex plica e leg itim a a c e r­


z u k o m m e n .” 1 K τ Ç , Razão pura , p re fá ­
I te z a p e la “ a ç ã o ” (n o s e n tid o E ).
c io à s e g u n d a e d iç ã o , B . 30. E le o p õ e , a D. M o d o d o e s p ír ito q u e c o n siste em
este r e s p e ito , o procedimento dogmático a f ir m a r a s s u a s d o u tr in a s c o m a u to r id a ­
a o dogmatismo: “ D ie K ritik ist n ic h t d e m d e e sem a d m itir q u e elas p o ssa m te r q u a l­
dogmatischen Verfahren d e r V e rn u n ft in q u e r c o is a d e im p e rfe ito o u d e e rrô n e o .
ih re m re in e n E r k e n n tn is , a ls W isse n s­ Rad. int,: D o g m a tis m .
c h a f t, e n tg e g e n g e s e tz t... s o n d e rn d em
D O G M A T IS T A , c o m o D o g m á tic o
Dogmatism, d . i. d e r A n m a s s u n g , m it ei­ (o p o s to a C ép tico ). “ D e ten h o -m e n o ú n i­
n e r re in e n E rk e n n tn is a u s B eg riffe n (d er c o fo r te d o s d o g m a tis ta s q u e é, a o fa la r
p h ilo so p h isc h e n ), n a ch P rin c ip ie n , so w ie d e b o a fé e s in c e ra m e n te , n ã o se p o d e r
sie die V e rn u n ft lä n g st im G e b ra u c h e h a t, d u v id a r d o s p rin c íp io s n a tu r a is .” P a s ­
o h n e E rk u n d ig u n g d e r A rt u n d d es R ech ­ c a l , Pensées , p e q u e n a e d . B ru n sch v ic g ,

te s, w o d u rc h sie d a z u g e la n g e t is t, a lle in n? 434, p . 530. E s ta fo r m a to m o u -s e ra ra .


f o r tz u k o m m e n .” I.2 Ibid., B. 35.
C . D eu-se o n o m e de dogmatismo mo- D O L O R IS M O T e rm o c ria d o p o r
P a u l SÃZ áτ à c o m u m a c e n to p e jo ra tiv o ,
n u m a r tig o d o Temps s o b re A posse do
I. “ O dogm atism o da m etafísica, quer dizer, o m undo d e G e o rg e s D u h a m e l (6 de m a r ­
preconceito de avançar sem um a crítica d a razão p u ­
ç o de 1919): “ E le e n tr a em c h e io n a q u ilo
r a ...”
2. “ A crítica não se opõe ao processo dogm ático a q u e c h a m a re i d o lo ris m o , q u e r d iz e r, a
d a razão no conhecim ento p u ro en quanto ciência..., te o ria d a u tilid a d e , d a n e ce ssid a d e , d a ex ­
m as ao Dogm atism o, quer dizer, à pretensão de p ro ­ c elê n c ia d a d o r . ”
ceder com a ajuda de um conhecim ento puro extraí­
do de simples conceitos (o conhecim ento filosófico),
apoiando-se sobre princípios tais que a razão os u ti­ C f. no P refácio d a prim eira edição: " D e r a t te,
liza há m uito tem po, sem investigar de que m an eira w urm stichige D o g m a tism ” , o velho e apodrecido
e com que direito chegou ela à sua afirm ação.” dogm atism o.

O dogmatismo moral o p õ e -s e a o dogmatismo intelectual B , d e q u e p re te n d e m o s ­


tr a r o c a r á te r ile g ítim o e ilu s ó r io , a ssim c o m o a o c ritic is m o . E le c o n sis te n e s ta s trê s
teses lig a d a s: 1? T o d o s o s n o s s o s c o n h e c im e n to s e s p o n tâ n e o s s ã o e x p re ss ã o s o lid á ­
r ia d o q u e d e s e ja m o s , d o q u e fa z e m o s , d o q u e s o m o s j á n a n o s s a a d a p ta ç ã o à re a li­
d a d e e m q u e e sta m o s m e rg u lh a d o s . 2® O s c o n h e c im e n to s p ro c e d e n te s d e s ta assim ili-
ç ã o n a tu r a l serv em p a r a p r o p o r à n o s s a a tiv id a d e m o ra l p r o b le m a s q u e , c o n fo rm e
a s o lu ç ã o v o lu n ta ria m e n te e s c o lh id a , d e te rm in a m n o v o s e s ta d o s , u m a n o v a a titu d e
in te le c tu a l. 3? O v a lo r m e ta fís ic o o u r e a lis ta d o n o s s o c o n h e c im e n to e s tá , p o is , lig a ­
d o à m a n e ira n o r m a l, m o ra l c o m o n o s c o m p o r ta m o s e m re la ç ã o a o s seres q u e , lo n g e
d e s u b o r d in a r a o n o s s o e g o ís m o , tr a ta m o s c o m o fin s e m si, o u m e io s m o ra is . E s p e ­
c u la tiv a m e n te , o d o g m a tis m o m o ra l é a e x p lic a ç ã o d a c e rte z a p e la a ç ã o ; p a r a c o n h e ­
cer o ser e p a r a a c r e d ita r n ele é p re c iso c o o p e r a r e m d a r-s e o ser a si m e sm o . P r a tic a ­
m e n te , é o p ô r em a ç ã o o m é to d o c rític o e o m é to d o a sc é tic o p a r a se d e s p o ja r de
to d a re la tiv id a d e n a m a n e ira d e ser e n a m a n e ira d e p e n s a r . D istin g u e -se n itid a m e n te
d o c e p tic is m o , s e g u n d o o q u a l e s ta m o s in v e n c iv e lm e n te m e rg u lh a d o s n o re la tiv o e
d o d o g m a tis m o ilu s ó rio s e g u n d o o q u a l é s u fic ie n te p e n s a r e te r id é ia s p a r a e s ta r n o
a b s o lu to . C f. L a b e r t h o n n i è r e , “ L e d o g m a tis m e m o r a l” , p . 7 6 , em Essais de p h /-
losophie religieuse. (M . Blondel)
S o b re D o lo ris m o — A d e fin iç ã o q u e se e n c o n tr a e n tre a sp a s fo i re v ista e p a rc ia l­
m e n te re fe ita p o r Julien Teppe.
275 DOR

A p a la v r a Foi r e to m a d a n u m s e n tid o m o s a n te c e d e n te s a lt a2, a3... e domínio


fa v o rá v e l p o r J u lie n T ú ú , q u e m u ito
E E converso o u co-domínio a o c o n ju n to d o s
c o n tr ib u iu p a r a a to r n a r u s u a l; ele d e ­ te rm o s c o n s e q ü e n te s b x, b2, by .. C f.
fin e -a : “ D o u trin a q u e a trib u i u m a lto v a ­ Campo.
lo r m o ra l, e stético e s o b re tu d o in te le ctu a l 2? E m P è « TÃÂ ., c h a m a -s e “ d o m ín io
à d o r — p rin c ip a lm e n te à d o r fís ic a , n ã o d a v o n ta d e ” a o c o n ju n to d a s açõ es q u e
só p o rq u e ela to r n a o h o m e m sensível ao s d e p e n d e m d e la . V er P τ Z Â τ Ç , A vonta­
7

so frim e n to s d o s o u tro s, m as ta m b é m p o r­ de, c a p . V III: “ O d o m ín io d a v o n ta d e ” ,


q u e ela su sp en d e o s im p u lso s d a v id a a n i­ e IX : “ A e x te n s ã o d o d o m ín io d a v o n ta ­
m a l e p e rm ite a ssim a o e s p irito a d q u ir ir de” .
u m a h e g e m o n ia p a r tic u la r m e n te eficaz
D O R D . Schm erz ; E . Pain; F . Dou-
p a r a a c ria ç ã o a r tís tic a e lite r á r ia .’* V er
leur\ I. Dolore. V er m ais a d ia n te os e q u i­
Apologia do anormal , manifesto do do­
v a le n te s m a is p re c iso s.
lor ismo (1935); Ditadura da dor ou ex­
U m d o s tip o s f u n d a m e n ta is de afec-
plicações sobre o dolorismo (1936). J .
ç ã o * . Im p o ssív el d e d e f in ir , s en d o o seu
T e p p e re s sa lta ta m b é m o p a p e l d a d o e n ­
c o n c e ito o d e u m e s ta d o p síq u ic o sui ge-
ç a e a u tilid a d e e s p iritu a l d a in ib iç ã o q u e
neris d e q u e a p e n a s se p o d e m in v e stig a r
e la p ro d u z .
as c o n d iç õ e s m e n ta is o u fisio ló g ic a s.
O a d je tiv o dolorista e stá ig u a lm e n te
A . A p a la v r a tem u m s e n tid o re s trito
em u so : e n c o n tra -s e n o títu lo d a Revue
e p reciso n o q u a l se d is tin g u e n itid a m e n ­
doloriste , f u n d a d a em 1936 p e lo m e sm o
te n ã o só de d e s g o s to , tris te z a , e tc ., m a s
a u to r .
ta m b é m de s e n s a ç ã o p e n o s a o u d e s a g ra ­
D O M IN A D O R A ou D O M IN A N T E d á v e l. E x .: a d o r d e u m g o lp e , d e u m a
(C a rá te r ) V er Subordinado . q u e im a d u r a , d e u m a n e v ra lg ia , etc.
B . A lé m d e sse , h á u m s e n tid o a m p lo
D O M Í N IO D . Bereich, Gebiet (a lg u ­ q u e c o n té m to d a s as v a rie d a d e s e n u m e ­
m a s vezes Umfang ); E . Domain; F . Do- r a d a s a c im a .
maine ; I. D om inio.
P a rte d o U n iv erso * d o d iscu rso à q u al C RITIC A
se a p lic a m u m a id é ia , u m a re la ç ã o , u m a E s ta n d o p o u c o d e se n v o lv id a a p s ic o ­
fu n ç ã o , u m a fa c u ld a d e . lo g ia d a s e n s ib ilid a d e a fe tiv a , p e rm a n e ­
E sp e cia lm e n te : 1? A o fa la r-s e d e u m a ce u m a g ra n d e in d e c isã o n a u tiliz a ç ã o d a
relação * ló g ica b in á ria aRb c h am a -se do­ p a la v r a . É d e n o ta r q u e n ã o só a d o r n ã o
mínio d e s ta re la ç ã o a o c o n ju n to d o s te r ­ p o d e ser definida c o m o “ o c o n tr á r io d o

S o b re D o r — S em p r e te n d e r d e fin ir a d o r p o d e r-s e -ia d a r d e la u m a id é ia b a s ta n te


p re c isa d iz e n d o q u e e la é o s e n tim e n to d e u m a lesão (p o is q u a n d o se tr a ta d e u m a
d o r m o ra l, a p e r d a d a s p e sso a s o u d as c o isa s q u e e s tã o e s tr e ita m e n te lig a d a s a n ó s
é d e f a to u m a esp écie de le sã o ). E m c o n tr a p a r tid a , n ã o c re io q u e se p o s sa e ste n d e r
o n o m e d e d o r a o s e s ta d o s q u e c o rre s p o n d e m a u m in c ô m o d o , a u m sim p les m e lin ­
d re de o rd e m físic a o u m o ra l. A in d a m e n o s à q u e le s q u e , c o m o o desgosto o u a tris­
teza, p re s s u p õ e m a in te rv e n ç ã o d a re fle x ã o . (J . Lachelier)
C h a m o dor à sen sa ç ã o p e n o s a , m a is o u m e n o s lo c a liz a d a ; tristeza a o s e n tim e n to
p a ss iv o p e n o s o , e cre io ser v e ro ssím il q u e a tris te z a é a imagem d a d o r . P e n s o q u e
d iz er dor p o r tristeza é u m a b u s o e q u e a d is tin ç ã o a tra v é s d a s p r ó p r ia s p a la v ra s é
im p o r ta n te .
E m lu g a r de o agradável e o desagradável s e ria m e lh o r d iz e r mal-estar e bem-
estar. ( V. Egger)
D O U T R IN A 276

p r a z e r ” , m a s ta m b é m q u e é m e sm o d u ­ e q u e se p o d e c h a m a r ta m b é m m é to d o d e
v id o s o q u e s e ja le g ítim o c o n s id e rá -la as­ in v e n çã o ; o o u tr o , p a ra fazer co m q u e se­
sim : a o p o s iç ã o a n tité tic a d e ste s d o is te r ­ j a e n te n d id o p e lo s o u tr o s q u a n d o é e n ­
m o s é ju lg a d a s u p e rfic ia l p o r m u ito s p s i­ c o n tr a d o , q u e se c h a m a s ín te s e ... e q u e
c ó lo g o s c o n te m p o râ n e o s . se p o d e ta m b é m c h a m a r método de dou­
J. M . B τ Â á ç « Ç , P . M Z Çè 2 ζ 2
I E E ; ,
trina . ” Lógica d e P o r t - R o y a l , 4 ? p a r ­
T h . F Â Ã Z 2 ÇÃ à , G . V « Â Â τ e stã o de a c o r ­ te , c a p . II.
d o em p ro p o r a sin o n im ia seg u in te (B ald ­ B. O q u e e n sin a ; e , p o r g e n eraliz a çã o ,
w in , I I , 678), à q u a l a c re s c e n ta m o s a in ­ o q u e se a f ir m a ser v e rd a d e ir o em m a té ­
d ic a ç ã o d e ra d ic a is in te rn a c io n a is c o rre s­ ria te o ló g ic a , filo só fic a o u c ie n tífic a , im ­
p o n d e n te s : p lic a n d o este te rm o sem p re a id éia de um
1. S e n tid o g eral (a tr á s , B) c o rp o de v erd a d es o rg a n iz a d a s , so lid árias
e m e sm o o m ais d a s vezes lig a d a s à a ç ã o ,
D. : U n lu s t — L u st.
n ã o d e u m a a ss e rç ã o is o la d a o u de p u ra
E. : P a in — P le a s u r e .
te o ria . “ C iê n c ia e d o u tr in a têm fin s d i­
F. : D o u le u r — P la is ir.
fe re n te s: u m a c o n s ta ta e e x p lic a , a o u tr a
1. : D o lo re — P ia c e re .
ju lg a e p re sc re v e ... A d o u tr in a tem neces­
P .:D o r — P ra z e r.
sid ad e d e lin h as sim ples e de in ten çõ es d e­
Rad. int.\ D o lo r (Boirac) — P le z u r
lib erad as b em m a r c a d a s ...” G . P iro u , Les
2. S e n tid o p r ó p r io (a trá s , A ) doctrines économiques en France depuis
D. : S c h m e rz e m p fin d u n g — L u ste m¡870.
- V er ta m b é m a o p o siçã o en tre “ d o u ­
p fin d u n g . tr in a a r tís tic a ” e “ siste m a e s té tic o ” em
E. : S en satio n o f p a in — Sens, o f p leH a ­ istoirede ¡‘esthétique française, p o r T .
su re . M . M u s to x id i, p p . 2-7 e cf. Dogma,
F. : S e n s a tio n de d o le u r — S en s, de Teoria.
p la isir. C . E sp e c ia lm e n te , n a m e to d o lo g ia d o
I.: S e n sa z io n e d i d o lo re — S en s, di d ire ito : 1?, a e x p re ssã o a doutrina d e sig ­
p ia c e re . n a o c o n ju n to d o e n s in o d o d ir e ito , em
P .: S e n s a ç ã o de d o r — S en s, de o p o s iç ã o , p o r u m la d o , a o te x to d a lei e,
p ra z e r. p o r o u tr o , à ju r is p r u d ê n c ia ; 2 o , c h a m a -
Rad. in t. : D o lo rs e n to — P le z u rs e n to . se doutrina à tese s u s te n ta d a p o r u m j u ­
3. E s ta d o d e sa g ra d á v e l o u a g ra d á v e l. ris ta d e re n o m e s o b re u m p o n to c o n tr o ­
verso; p o r ex em p lo : “ A d o u trin a d e B lon-
D . : M issfa lle n — W o h lg e fa lle n .
d e a u ” (s e g u n d o a q u a l em c a so d e in s u ­
E . : U n p le a s a n tn e s s — P le a s a n tn e s s .
fic iê n cia d a lei n ã o se d ev e fa z e r a p e lo à
F . : P e in e — A g ré m e n t.
e q ü id a d e , m a s in d e fe rir a d e m a n d a ).
I .: D is p ia c e re — (S e n tim e n to d i)
p ia ce re . NOTA
P .: D e s a g ra d o — A g ra d o .
Rad. int.: D e s a g ra b l — A g ra b l. D o s e n tid o A se d e riv o u , em o u tr a d i­
P a re c e -n o s , to d a v ia , q u e as p a la v r a s re ç ã o , o u s o a n tig o d e doutrina p o r in s­
Desagrado e agrado, n o s e n tid o 3, e stã o tru ç ã o a d q u ir id a , c o n h e c im e n to s p o ssu í­
d e m a s ia d o a f a s ta d a s d o seu u s o v u lg a r e d o s. M a s e sta a c e p ç ã o e s tá h o je in te ir a ­
c o rre m o risco de c ria r c o n fu s õ e s . S e ria m e n te em d e su so .
m ais claro u tilizar su b sta n tiv a m e n te as ex­ Rad. int.: D o k trin .
p re ssõ e s o agradável e o desagradável.
D Ó X IC O V er Suplem ento.
D O U T R IN A D . Lehre\ E . Doctrine',
F . Doctrine ; I. Dottrina. D O X O L O G IA O u p ra tico lo g ia
A . S e n tid o p rim itiv o : e n sin o . “ H á (L e i b n i z , Discurso de metafísica, §
d u a s esp écies d e m é to d o s ; u m p a r a d e s­ X X V II); m a n e ira de fa la r q u e se a p lic a
c o b rir a v e rd a d e , q u e se c h a m a análise... à a p a r ê n c ia , à o p in iã o o u à p rá tic a .
277 D U A L IS M O

D O X O M E T R IA D . D oxom etrie ; E . 2 ? , o p rin c ip io s e g u n d o o q u a l p a r a


D oxom etry; F . D oxom étríe ; I. Doxome- a s p ro p o s iç õ e s p rim á ria s , q u e r d iz e r, q u e
tria. E tim o ló g ic a m e n te , m e d id a d a s o p i­ a p e n a s c o n tê m u m a só c ó p u la , se p o d e
n iõ e s (ôoífat). s e m p re p a s s a r d e u m a f ó r m u la re la tiv a à
m u ltip lic a ç ã o p a r a u m a fó r m u la re la tiv a
M é to d o d e d e te rm in a ç ã o d a s o p in iõ e s à a d iç ã o , e re c ip ro c a m e n te , p e rm u ta n d o
p ú b lic a s p o r m e io d e s o n d a g e n s e sta tís ti­ o s sig n o s + e x , 0 e 1 e m u d a n d o o s e n ti­
cas e m q u e o “ I n s titu to G a llu p ” se e sp e ­ d o d a im p lic a ç ã o (C o u t u r a t , A álgebra
cializo u . “ O p in iõ e s ” ’ é e n te n d id o a q u í n o da lógica, § 14);
s e n tid o m ais a m p lo : é q u a s e s in ô n im o d e 3 ? , o f a to d e a m a io r p a rte d a s f ó r ­
“ c a ra c te rís tic a s ” n o s e n tid o em q u e as es­ m u la s lo g ístic as serem su scetív eis d e d u a s
ta tís tic a s u tiliz a m este te rm o (p o r exem ­ in te rp re ta ç õ e s , d ita s “ in te rp re ta ç ã o c o n ­
p lo a p e rc en ta g e m d o s eleito res favoráveis c e p tu a l” e “ in te r p r e ta ç ã o p r e p o s ic io ­
a ta l c a n d id a tu ra , a d o s in d iv id u o s q u e h a ­ n a l” , c o n fo rm e se c o n s id e re m o s te rm o s
b itu a lm e n te fu m a m o u m e s m o d a q u e le s q u e c o n tê m c o m o re p re se n ta tiv o s d e c las­
c u ja re n d a é s u p e r io r a u rn a c e rta s o m a ). ses o u d e p ro p o s iç õ e s (ibid.).
Rad. int.: D u a le s.
D U A L ID A D E D . Dualitàt ; E . Dua-
lity\ F . Dualité ; I. Dualitá. D U A L IS M O D . Dualismus; E . Dua-
C a r a c te rís tic a d o q u e é d u p lo o u d o lism ; F . Dualisme, I. Dualismo.
q u e c o n té m d o is e le m e n to s . A . D u a lid a d e , re la ç ã o d e te rm o s q u e
E sp ecialm en te em L ó ; ., c h am a -se lei se c o rre s p o n d e m u m a u m . “ T a is s ã o o s
de dualidade. 1?, o p rin c íp io d e c o n tra d i­ trê s d u a lis m o s c u ja s u c e ssã o n e ce ssá ria
ç ão so b a fo rm a em q u e ele e n u n c ia q u e c o n s titu i... a te o r ia f u n d a m e n ta l d a e v o ­
n e n h u m su jeito p o d e ser a o m e sm o te m p o lu ç ã o h u m a n a .” A u g . C o m t e , Polit. po-
a e nao-a (B o o l e , Laws o f Thoughl, cap. sií ., t. I I I , 6 7 . (T ra ta -s e d a lig a ç ã o e n tre
III, § 16. E le re p re se n to u -a s im b o lic am en ­ as c a ra c te rís tic a s d o p e n s a m e n to e a s d a
te p o r (x) x (1 - x) = 0 o u x - x 2 = 0, a ç ã o n o s três p e río d o s d a v id a social: te o ­
s en d o esta fó rm u la ela p ró p ria ju s tific a d a ló g ico e m ilita r ; m e ta fís ic o e fe u d a l; p o ­
p o r x 2 = x, o u seja, p elo fato de a m u lti­ sitivo e in d u stria l. Ibid., p. 63.) C o m u m a
p licação lógica de u rn a característica o u de id é ia m ais a c e n tu a d a de o p o s iç ã o : “ O
u m a p ro p o siç ã o p o r si m esm a eq u iv aler à d u a lis m o ló g ic o ” títu lo d o c a p . I de G o -
a firm a ç ã o p u ra e sim ples dessa caracterís­ BLOT, Essai sur la classification des Scien­
tica o u dessa p ro p o siç ão ); ces. T ra ta -s e d a “ o p o s iç ã o ra d ic a l” q u e

S o b re D u a lid a d e — O s e g u n d o s e n tid o d a q u ilo q u e se c h a m a em L ó g ica lei de


dualidade é f o r m u la d o p o r H ilb e r t de u m a m a n e ira m a is fa c ilm e n te c o m p re e n sív e l:
“ Q u a n d o u m a e x p re ss ã o c o n té m a p e n a s c o n ju n ç õ e s e d is ju n ç õ e s , a firm a ç õ e s e n e ­
g a ç õ e s, o b té m -s e a u to m a tic a m e n te u m a e x p re ssã o c o n tr a d itó r ia d a p re c e d e n te
s u b s titu in d o -s e as c o n ju n ç õ e s p o r d is ju n ç õ e s , a s a firm a ç õ e s p o r n e g aç õ e s e in v e rs a ­
m e n te .” {Ch. Serrus)

S o b re D u a lism o — E s ta p a la v ra a p a re c e p rim e iro em T h o m a s H y d e , Historia re-


ligionis veterum Persarum (1700), p o r ex em p lo c a p . IX , p. 164. E le serve-se d ela p a ra
d e sig n a r a d o u tr in a relig io sa q u e a d m ite a o la d o d o p rin c íp io d o b e m u m p rin c íp io
d o m a l q u e lh e é c o e te rn o . É a ssim q u e a e n te n d e m ta m b é m B τ à Â ( c f . Dicionário,
E

Vo Z o r o a s tro ) e L « ζ Ç « U n a Teodicéia. W Ã Â E E d e slo c o u essa e x p re ssão p a ra a re la ç ã o


E

e n tre a a lm a e o c o rp o , e o p ô s a este re s p e ito o m onism o a o dualismo. ( R. Eucken )


A s m e sm a s o b s e rv a ç õ e s fo r a m c o m u n ic a d a s p o r C . W e b b . C f . E Z T 3 Ç , Geisti­
E

ge Strömungen der Gegenwart, 3? e d . (1 9 0 4 ), p p . 167 s$.


D L IL IA 278

p a re c e m a p r e s e n ta r as c iên c ia s de ra c io ­ d o n o seu c o n ju n to . E x .: “ A d u ra ç ã o de
c ín io e a s c iên c ia s de o b s e r v a ç ã o , e q u e u m ra c io c ín io ; u m a d u r a ç ã o d e 30 s e g u n ­
se p o d e a p r o x im a r d o s “ o u tr o s d u a lis ­ d o s .” (A p a la v ra tempo utiliza-se ta m b é m
m o s: a ra z ã o e a e x p e riê n c ia , o id e a l e o n e s te s e n tid o a in d a q u e m e n o s c o r r e ta ­
re a l, o p o ssív el e o ser, o d ire ito e o f a to , m e n te : E x .: “ T e m p o de r e a ç ã o .” )
o e sp írito e a m a té r ia .” Ibid., p . 22. C f. B. BE 2 ; è ÃÇ o p õ e ig u a lm e n te a dura -
Realismo. ção a o tem po , s en d o a p rim e ira a p ró p r ia
B . D o u tr in a q u e , n u m d o m ín io d e te r­ c a r a c te rís tic a d a s u c e ssã o ta l c o m o e la é
m in a d o , n u m a d a d a q u e s tã o , q u a lq u e r im e d ia ta m e n te s e n tid a n a v id a d o e s p íri­
q u e s e ja e la , a d m ite d o is p rin c íp io s essen­ to , “ d u ra ç ã o p u ra , d u ra ç ã o c o n c re ta , d u ­
c ialm en te irred u tív eis (ex .: D u a lism o m o ­ ra ç ã o re a lm e n te v iv id a ” ; o s e g u n d o , a
ra l d a n a tu r e z a e d a g ra ç a , d a p a ix ã o e id é ia m a te m á tic a q u e fa z e m o s d e la p a ra
d a lib e rd a d e , d u a lis m o p s ic o ló g ic o d a ra c io c in a r e c o m u n ic a r co m o s n o sso s se­
v o n ta d e e d o e n te n d im e n to , e tc .) m e lh a n te s , tr a d u z in d o - a e m im a g e n s es­
C . M ais e sp e c ia lm e n te , M E I τ E .: A p a c ia is . Donées immed. de la conscien-
d o u tr in a q u e a d m ite d o is p rin c íp io s p r i­ ce, 74 e s.
m e iro s irre d u tív e is d a s c o isa s ( p o r ex em ­ Rad. in t .: D u r, a d .
p lo a Id é ia o u o B em e a M a té ria em D Ú V ID A D . Zweifel·, E . D oubt\ F .
P Â τ I ã Ã , A h u r a - M a z d a e A n g ra -M a in iu D oute ; I. Dubbio.
n a D o u tr in a d o A v e s ta , e tc .). A . E s ta d o d e e sp írito q u e se c o lo c a a
Rad. int.\ D u a lism . q u e stã o de sab e r se u m a e n u n cia ç ão é v er­
D U L IA V er Suplemento. d a d e ir a o u fa ls a , e q u e n ã o re s p o n d e a
e la a tu a lm e n te (s e ja p o r q u e n ã o c o n sig a ,
D U R A Ç Ã O D . Dauer, E . D uration ; s e ja p o r q u e n ã o q u e ira e x a m in a r o pró
F . Durée ; I. Durata. e o contra ; s e ja p o rq u e a d ia a re s p o s ta ,
A . P a r te f in ita d o T e m p o c o n s id e ra ­ s e ja p o r q u e re n u n c ia a ela). S o b re as di-

S o b re D u ra ç ã o — “ O te m p o , q u e d is tin g u im o s d a d u ra ç ã o , to m a d a em g e ra l, e
q u e d iz em o s s e r o n ú m e ro d o m o v im e n to , é a p e n a s u m a c e r ta m a n e ira d e p e n s a r e sta
duração.” D es c a r t es , Princípios da filós., 1 ,5 7 . O te m p o é a m e d id a d a d u ra ç ã o “a in ­
d a q u e a q u ilo q u e c h a m a m o s a ssim n ã o se ja n a d a fo ra d a v e rd a d e ira d u r a ç ã o d a s c o i­
sas além d e u m a m a n e ira d e p e n s a r”. C f. Es pin o s a , Cog. M elaph ., 1 ,4: De duratione
et tempore e Carta a Louis Meyer, X I I (o lim X X IX ). (L. Brunschvicg)
L E « ζ Ç« U o p õ e o te m p o à d u r a ç ã o c o m o o e s p a ç o à e x te n s ã o : a d u r a ç ã o é a o r ­
d e m d e s u c e ssã o e n tre p e rc e p ç õ e s re a is , c o m o a m a s s a e x te rn a é ens per aggregatio-
nem, sed ex unitatibus infinitis. O te m p o é, p e lo c o n tr á r io , u m continuum quod-
dam, sed ideale, n o q u a l p o d e m ser to m a d a s fractiones pro arbit rio. A g ên ese d a
n o ç ã o d e d u r a ç ã o e a d a n o ç ã o d e te m p o s ã o in v e rs a s : “ In a c tu a lib u s sim p lic ia s u n t
a n te r io r a a g g re g a tis ; in id e a lib u s to tu m est p riu s p a r t e . ” E d . G e r h a r d t, I I , p . 379.
(M . Blondel)

S o b re D ú v id a — P o d e r- s e -ia d e fin ir d e u m a m a n e ir a m ais g e ra l: E s ta d o d o e s p í­


r ito q u e , s o lic ita d o p e lo s d a d o s (se n sa çõ e s o u p ro p o s iç õ e s ) o u p elas p o s sib ilid a d e s
d e a ç ã o n ã o c o n c o r d a n te s , o sc ila e n tre eles sem c h e g a r a fix a r a s u a a te n ç ã o so b re
u m d eles d e m a n e ira d e fin id a . (Th. Ruyssen )
E s ta d e fin iç ã o é in te re s s a n te p o r q u e ela m o s tr a a d ú v id a s o b u m a f o r m a m u ito
c o n c r e ta . M as e la p a re c e -m e te r o in c o n v e n ie n te : 1 ?, d e r e p re s e n ta r o e sp irito c o m o
p assiv o em face d e a lte rn a tiv a s q u e lh e v êm de fo r a ; 2 o , de im p lic a r u m a te o ria p a r ti­
c u la r so b re a re d u ç ã o d a v o n ta d e à a te n ç ã o . (A. L .)
279 D Ú V ID A

fe re n te s v a rie d a d e s d a d ú v id a filo só fic a , d o a e x p re ssã o m a is p re c isa : “ S u sp e n d e r


c f. H Z OE , Inquiry Cone. H um an Un­ o ju í z o .” É d e se já v e l q u e a p a la v r a c o n ­
derstanding, c a p . X I I . serv e n o u s o filo só fic o o seu s e n tid o p r ó ­
B . Dúvida metódica, o p e ra ç ã o f u n d a ­ p rio A , e é n e ste s e n tid o q u e d e fin im o s
m e n ta l d o m é to d o filo só fic o s e g u n d o o ra d ic a l a seg u ir.
D E è Tτ 2 I E è : “ P e n se i q u e s e ria p re c iso Rad. int.: D u b .
q u e re je ita s s e c o m o a b s o lu ta m e n te falso
tu d o a q u ilo em q u e p o d e ria im a g in a r a D Ú V ID A (M a n ia d a ) D . Zweifel-
m e n o r d ú v id a , a fim d e v er se m e r e s ta ­ sucht; E. D oubting mania; F . Folie du
ría d e p o is d isso q u a lq u e r c o isa em m eu doute ; I. Follia dei dubbio.
p o d e r q u e fo sse in te ira m e n te in d u b itá ­ P e rtu rb a ç ã o m en tal cara c te riz a d a pela
v e l.” Discurso do método, IV , I. C f. Pri­ d ific u ld a d e , o u m e sm o a im p o s s ib ilid a ­
meira meditação: “ D as c o isa s q u e se p o ­ d e , d e c h e g a r a a sserçõ es* o u a d ecisões*
d e m p ô r em d ú v id a .” firm es n o s caso s em q u e n o rm a lm e n te es­
ta s fu n ç õ e s d o ju íz o e d a v o n ta d e se f a ­
CRÍTICA zem sem re sistê n c ia.
A p a la v ra dúvida, e s o b r e tu d o a p a ­ A plica-se este n o m e à ru m in aç ão a n o r ­
la v ra duvidoso, n o seu uso v u lg ar tem fre­ m a l d e p ro b le m a s m e ta fís ic o s , à p ro c u ra
q u e n te m e n te o s e n tid o “ h ip e r b ó lic o ” e in d e fin id a d o p o r q u ê n as co isas in s ig n ifi­
n e g a tiv o q u e ela receb e n a d ú v id a c a r te ­ c a n te s , a o re ceio d o s a cid e n te s ou d o s m i­
sia n a . A ssim se lh e s u b s titu i de b o m g r a ­ c ró b io s , à d o e n ç a d o e s c rú p u lo , etc.

S o b re D ú v id a (M a n ia d a ) — E x iste m d u a s fo rm a s p sic o lo g ic a m e n te b em d is tin ­


ta s d a s ín d ro m e : 1? O s u je ito é in c a p a z d e a f ir m a r ; é u m a f o r m a d e a b u lia ; 2? O
s u je ito te m a a g ita ç ã o m e n ta l q u e se a p re s e n ta c o m o u m a d e riv a ç ã o em lu g a r d a a f ir ­
m a ç ã o a u s e n te , e q u e d e te r m in a to d a s a s m a n ia s m e n ta is d e o s c ila ç ã o , d a p r o c u r a
d o a lém , d a re p a r a ç ã o ; c h e g a m e sm o a lg u m a s vezes às o b sessõ e s p a rtic u la re s . C f.
Obsessions et psychasthénie, c a p . II e I I I . ( P. Janet)
E

E E m Ló ; « Tτ: 1? S ím b o lo d a propo­ E C L E T I S M O D . Eklektizismus; E.


sição universal negativa. V er A . Edecticism ; F . Éclectisme; 1, Eclettismo.
2? S ím b o lo d a p ro p o s iç ã o m o d a l em E ste te rm o d e s ig n a q u e r u m m é to d o ,
q u e o m o d o * é a f ir m a d o e em q u e o dic- q u e r u m a e sc o la .
tum é n e g a d o . 1? E n q u a n to m é to d o :
E C C E ID A D E o u H A E C C E ID A D E A . R e u n iã o d e teses c o n ciliáv e is r e ti­
G . TÓôe « , A 2 « è I ó I E Â E è ; L. esco l. Eccei- r a d a s d e d ife re n te s s iste m a s d e filo s o fia
tas e Haecceitas; D . Diesheit, W ÃÂ E E ; E. e q u e s ã o ju s ta p o s ta s , n e g lig e n c ia n d o -s e
This-ness, Bτ Â á ç « Ç ; F . Eccéité o u Haec- p u r a e s im p le sm e n te a s p a rte s n ã o c o n c i­
céité; I. Ecceità, R τ ÇUÃÂ « . liáveis d esses sistem as.
T e rm o c ria d o p o r D Z Çè STÃI . O q u e B . C o n c ilia ç ã o a tra v é s d a d e s c o b e rta
fa 2 c o m q u e u m in d iv íd u o s e ja ele m e s­ d e u m p o n to de v ista s u p e r io r d e teses f i­
m o e se d is tin g a de q u a lq u e r o u tr o . “ B a r­ lo s ó fic a s , a p r e s e n ta d a s d e in ício c o m o
b a n Haecceitas d ic u n t a b Haec p ro d if- o p o sta s p elo s a u to re s q u e as su ste n ta v am .
fe re n tia in d iv id u a n te ... S co tu s Ecceitatem “ O e cle tism o c r ia d o r ... (a q u e le ) d o s h o ­
a p p e lla v it e a m e s s e n tia m q u a e est in d iv i- m e n s d e g ê n io , d e P la tã o , d e A ris tó te le s ,
d u o ru m p ró p r ia , cu ju s m é rito Ecce ipsum d e L e ib n iz ... c o n sis te em re c o lh e r to d a s
d e ó m n ib u s d íci p o te s t . ” G ÃTÂ E Ç« Z è , VÃ a s g ra n d e s id éias s u sc ita d a s p e lo p ro g r e s ­
Haecceitas , 6 2 6 a. E le in d ic a a in d a c o m o so d o s te m p o s e em fu n d i-la s p a r a a s u n ir
s in ô n im o Ipseitas. n o c a d in h o d e u m a id é ia n o v a . " E m
Rad. in t .: Ip ses. Sτ « è è E I , a u la d e a b e r tu r a d o c u rs o d e fi-

S o b re E c c eid a d e — Ipseitas é o m ais feliz d estes trê s te rm o s. É p re c iso , a liá s, a c re s­


c e n ta r q u e n e s te s e n tid o d iz e m o s u s u a lm e n te individualidade. (V. Egger) É n e c e ssá ­
r io to d a v ia n o ta r q u e individualidade se e n te n d e ta m b é m fr e q u e n te m e n te n u m s e n ti­
d o m e n o s re s tr ito q u e a differentia individuaos ; c o m isso e n te n d e -s e , e n tã o , o c o n ­
j u n t o d e to d a s a s p r o p r ie d a d e s ú n ic a s o u n ã o q u e c a r a c te riz a m u m in d iv íd u o ; e m e s­
m o , p o r a b u s o , a p lic a -se a o p r ó p r io in d iv íd u o c o n c r e to . (A. L .)

S o b r e E c le tis m o — A rtig o in te ira m e n te m o d if ic a d o e m ra z ã o d e d iv e rs a s o b s e r ­


v a ç õ e s, e p rin c ip a lm e n te e m v irtu d e d a s c rític a s e d o s d o c u m e n to s c o m u n ic a d o s p o r
V. Egger.
1? S o b re a o rig e m d a p a la v r a e c le tis m o .
“ ’E *X e*rix rç c¿pe<m , n u m te x to a tr ib u íd o a G τ Â E ÇÃ , d e sig n a u m a s e ita d e
m é d ic o s (Thesaurus d e H . E è I « E ÇÇE [H a a s e ], Vo, 4 4 7 a). A m e sm a p a la v r a é a p lic a ­
d a à filo s o fia n u m ú n ic o te x to (D « ó ; E ÇE è L τ é 2 T« Ã , Proaemium, 21) q u e n e n h u m
o u tr o te x to a n tig o vem c o n f ir m a r : ‘R ec e n tem en te P o ta m o n de A le x a n d r ia c rio u u m a
n o v a s e ita , d ita e c lé tic a , e s c o lh e n d o o q u e lh e a g ra d a v a n a s d o u tr in a s d a s o u tr a s sei­
t a s . ’ S eg u e-se u m a c u r ta e x p o siç ã o d e ss a d o u tr in a sem in te re ss e . P o ta m o n é u m c o n ­
te m p o râ n e o d e A u g u s to , s e g u n d o S u id a s , q u e n ã o o c h a m a e c lé tic o . E m c o m p e n s a ­
ç ã o , h á em C Â E OE ÇI E áE A Â E 7 τ Çá 2 « τ [Stromata, I, 288) u m a d e fin iç ã o de ecletis­
m o , sem n o m e de a u to r .
“ A p a la v r a fo i a d o ta d a p o r C o u s in em 1817 e d iv u lg a d a p o r ele n a s u a a u la d e
a b e r tu r a d o c u rs o d ito de 1818 (d e z e m b ro d e 1817). E le p ro v a v e lm e n te a e n c o n tr o u
281 E C L E T IS M O

lo s o fia n a S o r b o n n e , 19 d e ja n e iro d e m o n de A le x a n d ria é q u a lific a d a assim


1857. n a s fo n te s g re g a s).
2? E n q u a n to esco la: D · A E s c o la de V ic to r C ÃZ è « Ç . N a
C. A p lic a d a a lg u m a s vezes à E sc o laF r a n ç a , e n a lin g u a g e m c o n te m p o râ n e a ,
de A le x a n d ria (m as só a E sc o la de P o ta - é q u a s e se m p re p a r a d e s ig n a r e s ta e sc o la

n o d e c u rso d o s seus e s tu d o s d e h is tó ria d a filo s o fia n o s e sc rito re s a le m ã e s q u e a a p li­


c a v a m , s u p o n h o , a o s A le x a n d r in o s , s o b o p re te x to d e P o ta m o n , e sem d ú v id a ta m ­
b é m a L e ib n iz .” (V. Egger)
É m ile B 2 é 7 « E 2 , n a in tr o d u ç ã o à s u a Histoire de la P h ilo so p h ie , to m o I, p . 18,
c ita u m a p a ss a g e m d e J u s to - L ip s io q u e fa z o e lo g io d a “ s e ita e c lé tic a , a q u e la q u e
lê c o m a p lic a ç ã o e esco lh e c o m ju íz o ” ; ele d á ta m b é m o s títu lo s d e d u a s o b ra s de
J . C . S tu r m , Philosophia ecléctica (1686) e Physica ecléctica (1 6 9 7 -1 7 9 2 ). A p ro x im a
d e la s a g ra n d e Historia critica philosophae d e B rü c k e r (1 7 4 2 -1 7 4 4 ), to d a a n im a d a
p o r este e s p ír ito , e r e c o rd a q u e ex iste n a Enciclopédia u m a rtig o d e D id e ro t c o m o
títu lo Ecletismo, e m u ito fa v o rá v e l a e s ta m a n e ira d e p e n s a r.
R E « Ç7 ÃÂ á c ritic o u , p e lo c o n tr á r io , c o m d e sp re z o o s “ P o p u la r - p h ilo s o p h e n ” d o
seu te m p o , q u e se d iz ia m e clé tic o s. “ D e r S a tz : Diesz sagt der gemeine M enschen­
verstand w u rd e n u n d e r e rste G ru n d s a tz ein e r n e u e n a n g eb lich e n P h ilo s o p h ie die v o n
ih re n A n h ä n g e rn d ie e k le k tisc h e g e n a n n t w ir d .” 1 À p a r te e ste p rin c íp io , a c re s c e n ta
ele, os seus a d e p to s n ã o se e n te n d e m s o b re n a d a , c re n d o c a d a u m te r o d ire ito de
e x tra ir de to d o s o s siste m a s p o ssív e is o q u e se d e c la ra c o n fo rm e a o se n so c o m u m
d a h u m a n id a d e , o q u a l ra p id a m e n te f a z s u b s titu ir p e lo seu . C o m o e x em p lo d isso
ele c ita , p o r u m la d o , os p ro fe s s o re s d a U n iv e rs id a d e , q u e e x tra e m d e le a e x istên cia
de D e u s, a im o r ta lid a d e d a a lm a e o liv r e -a rb ítrio , e n q u a n to q u e o s e sp írito s fo rte s
fra n c e s e s {die französischen Starkgeister) se serv em d ele p a r a p ro v a r as te se s d ia m e ­
tra lm e n te o p o s ta s . Über das Fundam ent des philosophischen Wissens1 2 (1 791), p p .
53-55. C f. d o m e sm o a u to r Versuch einer Beantwortung der Frage: was hat die M e­
taphysik seit Leibniz und W o lff gewonnen?*, o n d e ele fa la d o “ ‘in te r r e g n o ’ e n tre
L e ib n iz e W o lf f , p o r u m la d o , e K a n t, p e lo o u tr o , in te rre g n o q u e d e ix a o c a m p o
livre p a r a o e c le tis m o , o u tro s d izem p a r a o s in c r e tis m o ” .
L e ó n B 2 Z Çè T â « T ;
7 , em Le progrés de la conscience (to m o II, n o ta d as p á g in a s
611 -6 1 2 ), m e n c io n a q u e a p a la v r a Ecletismo se e n c o n tr a n a M em oria de M a in e de
B ira n s o b re a d e c o m p o s iç ã o d o p e n s a m e n to , a in d a in é d ita n a é p o c a em q u e C o u sin
c o m e ç o u a serv ir-se d e ste te rm o , m a s de q u e p o d e m u ito b e m te r tid o c o n h e c im e n to .
A í se vê ta m b é m q u e ele p r e te n d ia , p ro v a v e lm e n te sem ra z ã o , n ã o te r id o b u s c a r a
n in g u é m n e m a p a la v r a , n e m a d o u tr in a , m a s tê -la s tir a d o de si m e sm o n u m a é p o c a
em q u e , diz ele, c o n h e c ia p o u c o L e ib n iz e ig n o ra v a q u e h o u v e sse n a A le m a n h a siste ­
m a s a o s q u a is o a c u s a v a m d e te r id o b e b e r. Premiers essais de Philosophie, 3? e d i­
ç ã o , n o ta à p . 227.
2? S o b re as teses p rim itiv a s d o e c le tis m o em V ic to r C o u s in e s o b re o u lte rio r u so
d e s ta p a la v r a , v er u m e s tu d o p o r m e n o r iz a d o d e Victor Egger n o Suplem ento n o fim
d a p re s e n te o b ra .

1. “ A fórmula aquilo q u e o senso com um da hum anidade aceita tornou-se nos nossos dias o primeiro
principio de uma pretensa filosofia nova a que os seus adeptos chamam filosofia eclética.”
2. S obre o fu n d a m en to d o sa b er filo só fic o .
3 Ensaio de resposta à questão: o q u e é que a m etafísica ganhou d ep o is d e L eibn iz e W otff!
E C O L A L IA 282

q u e a p a la v r a é u tiliz a d a . “ E s ta filo so fia lo n g e se a s s e m e lh a a o s in c r e tis m o .” Vτ -


re c e b e u d e le (C o u s in ) o n o m e d e ecletis­ T7 E 2 ÃI , a u la d e a b e r tu r a , 5 d e d e z e m ­
m o s o b o q u a l... p e rte n c e , a p a r tir d esse b r o d e 1838. O s in c re tism o é d e fin id o :
m o m e n to , à h is to ria d a s id é ia s d o s é c u lo “ A p ro x im a ç ã o m ais o u m en o s fo rç a d a de
X IX . U m o u tr o ta lv e z se tiv esse p r e s ta ­ d o u t r i n a s i n te ir a m e n te d i f e r e n t e s . ”
d o m e n o s às in te rp re ta ç õ e s e r r ô n e a s ... F 2 τ ÇT3 , V o, 1697b. “ V erein ig u n g o h n e
N ã o se im a g in o u q u e o e cle tism o c o n sis ­ V e r a r b e itu n g .” 1 E « è Â E 2 , V o, 751. “ U n ­
tia em re c o lh e r em to d o s os siste m a s s u ­ m e th o d is c h e u n d k r itik lo s e V e rm is ­
cessiv am ente a d o ta d o s e a b a n d o n a d o s p e ­ c h u n g .” 12 K « 2 T7 ÇE 2 , V<\ 504. “ A b o u t
lo e sp írito h u m a n o , alg u n s fra g m e n to s de th e sam e as eclecticism , b u t used u p o n th e
d o u tr i n a ... q u e se a ju s ta v a m em seg u id a w h o le , in a so m e w h a t m o re d is p a ra g in g
m e lh o r o u p i o r ... sem m e d id a p re c isa d a s e n s e .” 3 J . D E ç E à , em Bτ Â á ç « Ç , V o,
v e rd a d e e d o e r r o , n u m a esp écie d e m o ­ 655b.
s a ic o filo s ó f ic o ? ... [O e cle tism o de C o u ­ C o n v iria , p o is, serv irm o -n o s d?. p a la ­
sin r e p o u s a , p e lo c o n trá rio ] s o b re este v ra e cle tism o n o s e n tid o g e ra l, n e g lig e n ­
p rin c íp io in c o n te stá v e l e in c o n te s ta d o ... c ia n d o o c a r á te r d e s fa v o rá v e l q u e ela to ­
d e q u e o s siste m a s sã o c o n s tr u íd o s co m m o u d e u m a m a n e ira lo c al e a c id e n ta l, e
e lem en to s p re e x iste n te s n o e sp írito h u m a ­ u s a r s e m p re a p a la v r a sincretismo p a r a
n o , c o m o as o b r a s d a in d ú s tr ia e d a a r te d e s ig n a r a ju s ta p o s iç ã o sem c rític a de
c o m e lem en to s p reex isten tes n a n a tu re z a . d o u tr in a s in c o e re n te s . Se se q u is e r m a r ­
Se n ã o fo sse a ssim , u m siste m a filo s ó fi­ c a r a d ife re n ç a e n tre o s s e n tid o s A e B
c o n ã o p o d e ria n u n c a fa z e r a p e lo à a u to ­ p o d e r-s e - á c h a m a r o p rim e ir o Ecletismo
r id a d e d a r a z ã o e d a c o n s c iê n c ia .” e o s e g u n d o Ecleticismo. E s ta ú ltim a f o r ­
F 2 τ Çí CK, VO Cousin, 3 1 1 a. m a s e ria ta n to m ais a p r o p r ia d a q u a n to
prev aleceu n as línguas em q u e c irc u n stâ n ­
C RÍTIC A
cias h is tó ric a s n ã o e n fra q u e c e ra m o v a ­
Eclético d iz-se c o m u m e n te n u m s e n ­ lo r filo só fic o d a p a la v r a .
tid o fa v o rá v e l, o u p e lo m e n o s n e u tr o , Rad. int.\ A . E k le k tis m ; B . E k le k -
m a is d o q u e em s e n tid o d e s fa v o rá v e l. tic ism .
C o n tu d o , g a n h o u u m to m p e jo r a tiv o n a
F r a n ç a n a s e g u n d a m e ta d e d o s é c u lo E C O L A L IA D . Echo!alie, Echospra­
X IX , r e p ro v a n d o -a os a d v e rs á rio s d a e s­ che ; E . Echolalia, echochasia ; F . Echo-
c o la e clética (T τ « ÇE , R E ÇÃZ â « E 2 ), p o r lalie; 1. Ecolalia, lalotnimesi.
p ro c e d e r a u m a e sc o lh a a r b itr á r ia e sem F e n ô m e n o q ue consiste em q u e u m su ­
c rité rio p re c iso . E ste to m de d e sp rez o p a ­ je ito a tin g id o p o r c ertas d o e n ça s m en tais,
re c e d e v e r ser la m e n ta d o , d a d o q u e e x is­ o u em e s ta d o de c a ta le p s ia , re p e te “ co -
te m p a r a o e x p rim ir o s te rm o s sincretis­
mo* e sincrético, c u ja c a ra c te rís tic a p e ­
1. “ Reunião $em nova elaboração.”
jo r a tiv a é u n iv e rs a lm e n te re c o n h e c id a . 2. “ Mistura sem método e sem crítica.”
“ O e cle tism o d e sp re z a a a r te d a s c o m b i­ 3. “ Quase o mesmo sentido que ecletismo, mas
n a ç õ e s e d a s a p ro x im a ç õ e s contra natu­ utilizado, tudo bem considerado, de uma maneira
ra; ele r e p u d ia tu d o o q u e d e p e rto o u de sensivelmente mais pejorativa.”

S o b re E c o la lia — N a lin g u a g e m d a p s iq u ia tr ia ita lia n a e a le m ã u tiliz a -se ig u a l­


m e n te o te r m o Ecoprassia (Ecopraxia) p a r a d e s ig n a r a re p e tiç ã o a u to m á tic a p o r p a r ­
te d e c e rto s s u je ito s d e a to s q u e eles v êem e x e c u ta r. (C . Ranzoli) E s te te rm o n ã o é
u s u a l em fra n c ê s e n ã o p a re c e q u e s e ja b em f o r m a d o , n ã o p o d e n d o a p a la v ra eco
a p lic a r-se d e fo r m a c o r r e ta ao s g e sto s, m a s sim à p a la v r a . {A, L .)
283 E C O N O M IA P O L ÍT IC A

m o u m e c o ” as p a la v ra s q u e lh e d irig em d a p a la v r a , a tu d o o q u e é su scetív el d e
sem p a re c e r c o m p re e n d ê -la s . u tiliz a ç ã o .
T e rm o c ria d o p o r R ÃOζ E 2 ; , 1853
(Baldwin). CRÍTICA
A d e fin iç ã o c lá s s ic a , q u e d a ta d e J .-
“ E C O N O M IA D E P E N S A M E N ­
B . Sτ à , é e sta : C iê n c ia d as leis d a p r o ­
T O ” D . D enkoekonom ie, CEkonomie
d u ç ã o , d a d is trib u iç ã o e d o c o n s u m o d as
des Denkens (E. M τ T7 ); F . É conom iede riq u ezas. Q u a se to d o s os tra ta d o s d e eco ­
pensée. V er Parcimônia. n o m ia p o lítica lh e a crescen tam u m a q u a r­
E C O N O M IA P O L Í T I C A D . Volks­ ta p a rte : a c irc u la ç ã o d a s riq u e z a s . M a s :
wirtschaftslehre; Nationalökonomie, CE- a) E s ta ú ltim a a d ju n ç ã o é inútil. A cir­
konom ik, m a is u tiliz a d a s p elo s c o n te m ­ c u laç ã o é u m caso p a rtic u la r d a d is trib u i­
p o râ n e o s; a lg u m a s vezes ta m b é m Politis­ ç ã o , q ue p o d e ser c o n sid e ra d a q u e r n o seu
che CEkonomie ; E . Political economy, e s ta d o , q u e r n as su as m u d a n ç a s . É v e r­
economics; F . Economie politique\ I. d a d e q u e a n o ç ã o d e troca d e s e m p e n h o u
Economia politica. u m p a p e l c a p ita l n a n o ç ã o h is tó ric a d o
C iê n c ia q u e te m p o r o b je to o c o n h e ­ d o m ín io e d o o b je to d a ciên cia e c o n ô m i­
c im e n to d o s fe n ô m e n o s , e (se a n a tu re z a ca. M as essa im p o r tâ n c ia é c a d a vez m ais
destes fe n ô m e n o s o c o m p o r ta , o q u e é c o n te s ta d a (S « O« τ Çá n ã o a crê ju s tif ic a ­
d iscu tív el) a d e te rm in a ç ã o d a s leis q u e d a ; em tro c a , L τ Çá2 à e Kτ 2 O« Ç to m a m
c o n cern em à d istrib u ição das riq u ezas, a s ­ a s u a d e fe sa . V er m ais a d ia n te ).
sim c o m o à su a p r o d u ç ã o e a o seu c o n ­ b) A produção e o consumo a p e n a s
s u m o , n a m e d id a em q u e estes fe n ô m e ­ s ã o e c o n ô m ic o s e m p a r te . T o m a n d o -o s
n o s e stã o lig a d o s ao d a d is trib u iç ã o . n a s u a to ta lid a d e , im p lic a m u m g ra n d e
C h a m a m -s e riq u e z a s , n o s e n tid o té c n ic o n ú m e ro d e n o ç õ e s e s tr a n h a s à e c o n o m ia

S o b re E c o n o m ia p o lític a — A rtig o re d ig id o p o r E. Halévy e m o d if ic a d o s e g u n d o


as o b se rv a ç õ e s d e Simiand, Landry, Tònnies, O. Karmin, Van Biéma.
1 ? Sobre a definição da economia politica.
Halévy tin h a p r o p o s to d e in íc io re d u z ir essa d e fin iç ã o a e sta : “ C o n h e c im e n to d o s
fe n ô m e n o s q u e c o n c e rn e m à d is trib u iç ã o d a s riq u e z a s .” S o b re o q u e fo ra m fe ita s
as o b s e rv a ç õ e s seg u in tes:
a. A c a ra c te rís tic a m a is n itid a m e n te e sp e c ífic a d o e s tu d o em q u e s tã o n ã o é s u fi­
c ien te p a r a p r o v a r q u e as o u tr a s p a rte s d a e c o n o m ia p o lític a s e ja m a p e n a s a ce ssó ­
ria s . In v o c o , sem ir m ais lo n g e , a s e g u in te c o n s id e ra ç ã o : a arte q u e se fu n d a m e n ta
s o b re a c iên c ia e c o n ô m ic a , e q u e d u r a n te ta n to te m p o p e rm a n e c e u u n id a a e sta c iên ­
c ia , v isa so m e n te m e lh o ra r a d is trib u iç ã o d a s riq u e z a s ? N ã o v isa ta m b é m a u m e n ta r
a s u a q u a n tid a d e ? (A. Landry)
A organização d a p ro d u ç ã o , c o n s id e ra d a d o p o n to d e v ista u n ic a m e n te e c o n ô m i­
c o , é u m p ro b le m a e ssen cial. P o r o u tr o la d o , o c o n s u m o , s e n d o o fim q u e a p r o d u ­
ç ã o e a d is trib u iç ã o to r n a m p o ssív e l, d ev e te r o seu lu g a r n a d e fin iç ã o . (Van Biéma )
P a re c e -m e e x a to q u e , s e n ã o to d o s os fe n ô m e n o s d a p r o d u ç ã o e d o c o n s u m o , p e ­
lo m e n o s m u ito s d e n tre eles s ã o , p o r u m la d o , te c n o ló g ic o s o u ju ríd ic o s o u é tic o s,
o u fe n ô m e n o s d e “ c iv iliz a ç ã o ” , m a s isso n ã o im p e d e q u e eles s e ja m a o m e sm o te m ­
p o e c o n ô m ic o s. O u , de p re fe rê n c ia , n u m a m e sm a re a lid a d e c o n c re ta v á ria s ciên cias
so cia is e n c o n tr a m c a d a u m a u m fe n ô m e n o q u e lh e c a b e ; a ss im , a e le tró lise é u m fe ­
n ô m e n o físic o , n u m s e n tid o , e q u ím ic o , n u m o u tr o . V er, p o r e x e m p lo , em S τ O O -
I

ÂE 2 , Wirtschaft und Recht (p p . 247, 599), u m a d istin ç ão e n tre o fe n ô m e n o eco n ô m ico


E C O N O M IA P O L ÍT IC A 284

p o lític a , n o ç õ e s p e d id a s , n o q u e re s p e ita le o n i). U m a o u tr a e sc o la n ã o a c r e d ita n a


à p r o d u ç ã o , à te c n o lo g ia , n o q u e re s p e i­ p o s s ib ilid a d e d e d e te r m in a r re la ç õ e s n e ­
ta a o c o n s u m o , à p s ic o lo g ia , à e tn o g r a ­ c e ssárias e u n iv e rsa is n o e s tu d o d o s fe n ô ­
fia e à ciên c ia d o s c o stu m e s . A e c o n o m ia m en o s q u e se re la cio n a m co m a d is trib u i­
p o lític a tr a ta d a p ro d u ç ã o e d o c o n s u m o , ç ã o d a s riq u e z a s e lím ita -se a d e sc riç ã o
m a s a p e n a s n a m e d id a e m q u e eles e stã o d e re la ç õ e s q u e s ã o d ife re n te s , c o n f o r m e
e m re la ç ã o c o m a d is trib u iç ã o , c o m o c a u ­ o te m p o e o s lu g a re s (historicismo d o s
s a o u e fe ito . e c o n o m ista s a lem ãe s: R o sc h e r e, n o s n o s ­
c) D issem o s “ c o n h e c im e n to d o s fe n ôsos
­ d ia s , S c h m o lle r).
m e n o s o u d e te r m in a ç ã o d a s leis” p a r a A e x p re ss ã o “ e c o n o m ia p o lític a ” es­
c o m p re en d e r so b a n o ssa d efin ição o s m é­ t á m a l c o n s tr u íd a . U tiliz a d a , a o q u e p a ­
to d o s m u ito d ife re n te s q u e s ã o p re c o n i­ rece, p e la p rim e ir a vez p o r A n to in e d e
z a d o s e m e c o n o m ia p o lític a p elas esco las M ÃÇI T7 2 é I « E Ç ( Traicté de ¡’oeconomie
riv a is . U m a e sc o la c o n c e b e a e c o n o m ia politiquey 1615), e la s ig n ific a , p rim itiv a ­
p o lític a c o m o u m a c iê n c ia d e d u tiv a q u e m e n te , u m a a r te , n ã o u m a c iên c ia , a a r te
p e rm ite re c o n s tr u ir , a p a r tir d e u m n ú ­ d e bem g erir as fin a n ç as d o E s ta d o . É a in ­
m e ro lim ita d o d e n o ç õ e s sim p le s, o c o n ­ d a n e ste s e n tid o , o u n u m s e n tid o m u ito
ju n to d o s fe n ô m e n o s c o n sid e ra d o s (os fi­ p ró x im o d e le , q u e A d a m SO« I 7 a u tili­
s ió c r a ta s fra n c e se s d o séc u lo X V III ; R i­ z a n a s u a Riqueza das nações (liv ro IV ,
c a r d o ; a e sc o la a u s tr ía c a : K . M e n g e n , in tr o d u ç ã o ) e é o s e n tid o q u e c o n v é m e ti­
B õ h m -B a w e rk . A lg u n s d o s e c o n o m is ta s m o ló g ic a m e n te às d u a s p a la v ra s c u ja re u ­
d e s ta e sc o la te n ta r a m a p lic a r o m é to d o n iã o c o n s titu i a e x p re ss ã o c o n s id e ra d a .
p r o p r ia m e n te m a te m á tic o , a a n á lise , a o s “ P o lític a ” s ig n ific a “ a d m in is tr a tiv a ” .
fe n ô m e n o s q u e e s tu d a v a m : C o u r n o t, “ E c o n o m ia ” sig n ifica a a r te d e b em c o n ­
S ta n le y J e v o n s , W a lr a s , P a r e to , P a n ta - d u z ir u m a c a s a e, p o r e x te n s ã o , a a r te d e

e o fe n ô m e n o te c n o ló g ic o , n a d iv is ã o d o tr a b a lh o , e o u tr o s e x e m p lo s. A e c o n o m ia
p o lític a n ã o t r a t a d o s fe n ô m e n o s d e p r o d u ç ã o e d e c o n s u m o e n q u a n to e s tã o e m re la ­
ç ã o c o m a d is trib u iç ã o c o m o c a u s a e e fe ito : eia trata deles enquanto são econômicos.
E m q u e é e c o n ô m ic o u m fe n ô m e n o ? E m lu g a r d e d e fin ir e s ta c a r a c te r ís tic a a t r a ­
v és d a c o n s id e ra ç ã o d a s “ r iq u e z a s ” (te rm o c lássico n a tr a d iç ã o fr a n c e s a , m a s q u e
n ã o é o m e lh o r) p a re c e -m e p re fe rív e l se g u ir o s e c o n o m is ta s re c e n te s q u e to m a m c o ­
m o n o ç ã o c e n tr a l a id é ia d e s a tis fa ç ã o d a s n e c e ssid a d e s m a te ria is . P o r e x e m p lo G t-
D E , Principes d ’économ ie politique , p . 7 d a 5? e d iç ã o : “ A e c o n o m ia p o lític a te m

p o r o b je to a s re la ç õ e s d o s h o m e n s q u e v iv em em s o c ie d a d e , n a m e d id a em q u e essas
re la ç õ e s te n d e m p a r a a s a tis f a ç ã o d a s su a s n e c e ssid a d e s m a te ria is e ” , a c re s c e n ta G i-
DE (m a s este fim d e frase p o d e r ia s e r s u p rim id o , p o is a trib u i a n te c ip a d a m e n te à c o n ­
d u ta h u m a n a u m c a r á te r fin a lis ta q u e d e v e ria s e r e sta b e le c id o a posteriori), “ a o d e ­
se n v o lv im e n to d o seu b e m - e s ta r .” N ã o d ig o , a liá s, q u e ta l d e fin iç ã o m e p a re ç a te r
o c a r á te r e x a to d e u m a d e fin iç ã o d e s ta o r d e m , e ta lv e z se d e v a p r o c u r a r d e te r m in a r
u lte rio r m e n te o u tr a s c a ra c te rís tic a s . (F. Simiand)
b. A d m itim o s in te ira m e n te a p r im e ir a p a r te d e s ta d e fin iç ã o , m a s a d e fin iç ã o d a
riq u e z a n ã o n o s p a re c e a c e itá v e l. S e p o r utilização se e n te n d e , c o m o se fe z n a p r i­
m e ir a re d a ç ã o d e s te a r tig o , “ a c u m u la ç ã o e c o n s u m o ” , p a re c e -n o s q u e a d e fin iç ã o
n ã o e stá c o m p le ta : 1?, e la o m ite o s o lo ; 2?, e la n ã o le v a e m c o n ta o s p ro d u to s de
u m g ê n e ro ú n ic o (o R e g e n te , a G io c o n d a , e tc .). O q u e n o s p a re c e c a ra c te rís tic o d e
u m a riq u e z a é a s u a p e rm u ta b ilid a d e . P r o p o m o s , p o is , d e fin ir a e c o n o m ia p o lític a
m a is o u m e n o s assim : “ C o n h e c im e n to d o s fe n ô m e n o s q u e se re la c io n a m c o m a dis-
285 E C O N O M IA P O L ÍT IC A

b e m d is p o r as d iv e rsas p a rte s d e u m t o ­ c r a ta s , ta lv e z p o r in te rm é d io d e C o n d o r-
d o c o m v ista a u m fim c o n c e b id o p re v ia ­ cet, q u e J .-B . Sτ à v ai b u s c a r a s u a d e fi­
m e n te . F o r a m o s fis ió c ra ta s fran c e se s o s n iç ã o . A d e fin iç ã o d e J .-B . S a y , a d o ta d a
p rim e iro s a u tiliz a r e s ta e x p re ss ã o p a r a e m seg u id a p o r J a m e s M « Â Â e Mτ T C Z Â -
d e s ig n a r u m a c iê n c ia te ó ric a . F o r a m le­ LOCH, d is c íp u lo s d e R ic a r d o , to rn o u - s e
v a d o s a isso p ro v a v e lm e n te p e la s u a filo ­ c lássica .
s o fia fin a lis ta . E les p e n sa v a m q u e a P r o ­ N ã o é s u fic ie n te p a r a m e lh o ra r a ex ­
v id ê n c ia o u a N a tu r e z a d is p u n h a os fe­ p re s sã o s u b s titu í-la p o r u m o u tr o a d je ti­
n ô m e n o s d o m u n d o e c o n ô m ic o c o m v is­ v o , o u p u ra e sim p lesm en te su p rim ir o a d ­
ta à h a rm o n ia d o s in teresses: a “ e c o n o ­ je tiv o “ p o lític a ” . D ir-se-ia, p o r ex em p lo ,
m ia p o lític a ” p ro p u n h a -s e e s tu d a r a s re ­ “ e c o n o m ia s o c ia l” ? H o je e sta e x p re ssão
laçõ es d e c a u s a lid a d e o u d e n e c e ssid a d e é c o rre n te m e n te u tiliz a d a n a F r a n ç a e n a
q u e e ra m a o m e sm o te m p o relaçõ es d e fi­ A le m a n h a p a r a d e sig n a r u m c o n ju n to
n a lid a d e o u d e h a r m o n ia . É a o s fis io c ra - b a s ta n te c o n fu s o d e c o n h e c im e n to s re la -

tr ib u iç à o d a s riq u e z a s . C h a m a -s e riq u e z a s a tu d o o q u e p o s su i u m v a lo r d e t r o c a .”
(O . Karmiri)
A s riq u e z a s s ã o c o isa s que podem ser objeto de trocas (p o u c o im p o r ta , a liá s , q u e
essas tr o c a s s e ja m o u n ã o p e rm itid a s p e la s leis). Sei m u ito b e m q u e e x iste u m a e c o ­
n o m ia d o h o m e m is o la d o , d e R o b in s o n . M a s e s ta e c o n o m ia o c u p a - s e d e R o b in s o n ,
n a m e d id a em q u e ele p r o c u r a a lim e n to s , r o u p a s , n ã o n a m e d id a e m q u e ele a d q u ire
a v irtu d e o u a s a ú d e , e o fu n d a m e n to d e s ta d is tin ç ã o e s tá n a id é ia d a troca q u e R o -
b in s o n p o d e ria fa z e r d o s seus a lim e n to s , d a s su a s r o u p a s se ele viesse a e n c o n tr a r
o u tro s h o m e n s. (A . Landry)
c. A s u b stitu iç ã o d a p a la v ra “ ciên cia” p e la p a la v ra “ c o n h e c im e n to ” p arece-m e d e ­
p lo rá v e l. C re io eu q u e é n itid a m e n te in e x a to c o n sid e ra r q u e a esco la dita h istó ric a n ã o
p en sa em c h eg a r a leis. (V er o p re fá c io d o 2? v o lu m e d o Grundriss d e S T OÃ Â Â 2 7 E em
q u e ele p ró p rio se o p õ e ta n to a o s h is to ria d o re s p u ro s c o m o a o s e c o n o m ista s o r to d o ­
x o s; e o c a p ítu lo m e to d o ló g ic o desse m e sm o m a n u a l, I, p p . 99-111.) Sem d ú v id a as
leis às q u a is os e c o n o m ista s c h e g a m , o u p o d e m c h e g a r, n ã o s ã o u n iv ersais n o sen tid o
d e q u e elas e x p re ssariam a v id a e c o n ô m ic a d e to d o s os te m p o s e d e to d o s o s p aíses;
s ã o leis d e e v o lu çã o e leis re la tiv a s, m a s tr a z e r a n o ç ã o d e e v o lu çã o n u m a m a té ria de
c iên cia e x p e rim e n ta l n ã o é re n u n c ia r à c iên cia d e ssa m a té ria ; p elo c o n trá rio . A d istin ­
ç ã o c o n fo rm e à d iv isã o real d o s e c o n o m ista s seria a n te s u m a d istin ç ão e n tre a te n d ê n ­
cia p a r a u m a ciên cia c o n c e p tu a l, id e o ló g ic a, p o r u m la d o , e a te n d ê n c ia p a r a u m a ciên ­
cia p o sitiv a , e x p erim en tal, p o r o u tr o . M as, d e re s to , é r a r o q u e a lg u m a d e sta s d u a s te n ­
d ên cias s e ja p u r a e s u s te n ta d a até o fim em q u a lq u e r d as escolas p a s s a d a s . (F. Simiand)
M esm as o b s e rv a ç õ e s d o p a d r e Ackerm ann.
Q u e a e c o n o m ia p o lític a se ja c ie n tífic a — p re te n s ã o m u ito le g ítim a — n ã o a t o r ­
n a u m a ciên cia: c f. a trá s n a s o b s e rv a ç õ e s s o b re Crematística o te x to de E . H alèv y
s o b re Sismondi. D e f a to , to d o s o s e c o n o m ista s c lássico s, p o s ta de p a r te a e c o n o m ia
p u r a , p e sa m c o n s ta n te m e n te a s v a n ta g e n s e o s in c o n v e n ie n te s . A d a m S m ith p r o c u r a
a s c a u sa s d a riq u e z a d a s n a ç õ e s , m a s d is c u te ta m b é m c a s o s d e o p o r tu n id a d e e c o n ô ­
m ic a d o s d ire ito s d e a lfâ n d e g a . O a d á g io “ L aissez fa ire , L a isse z p a s s e r ” e stá n o im ­
p e r a tiv o , n ã o n o in d ic a tiv o , e d e v e ria se r b a n id o d a e c o n o m ia p o lític a d e fin id a c o ­
m o c iên c ia . (M. Marsal)
A o b s e rv a ç ã o p re c e d e n te c h a m a m u ito ju s ta m e n te a a te n ç ã o p a r a a m is tu ra d a s
p ro p o s iç õ e s c o n s ta ta tiv a s e d as p ro p o s iç õ e s a x io ló g ic a s q u e se e n c o n tr a n a m a io r
E C O N Ô M IC A 286

ti vos à c o n d iç ã o m a te ria l e m o ra l d a clas­ cânica, ta l c o m o o s in g leses d iz e m Eco­


se o p e rá ria e ao s m eio s m ais p ró p rio s p a ­ nomics p o r a n a lo g ia a M athematics ,
r a a m e lh o ra r: n ã o é a e c o n o m ia p o líti­ Ethics o u Aesthetics.
c a, n ã o é s e q u e r u m a c a te g o ria c ie n tífi­ Rad. int.: E k o n o m ik .
c a . E la é to m a d a n u m s e n tid o m a is p r e ­
ciso p o r W τ Â 2 τ è , q u e c h a m a economia E C O N Ô M I C A (s u b s t.) V er a tr á s a
política a o e s tu d o d o s f a to s e c o n ô m ic o s , C rític a de Economia política e as o b s e r­
e economia social a esse e s tu d o q u e p r o ­ v a çõ e s s o b re e sta p a la v r a .
c u ra d e te r m in a r u m id e a l p a ra a o rd e m E C T E S E D . Ekthese; E . Echtesis ; F.
eco n ô m ica, assim co m o os m eio s p ró p rio s Echtèse; I. Ectesi.
p a r a re a liz a r esse id e a l. V er o s seu s Ele­ “ O s g e ó m e tra s n a s su a s d e m o n s tr a ­
m entos de economia política pura, E stu­ ções co lo ca m p rim e ira m e n te a p ro p o siç ão
dos de economia social. E s ta s d e fin iç õ e s q u e d ev e ser p r o v a d a e p a r a c h e g a r à d e ­
f o r a m a d o ta d a s p o r C h . G « á n o seu
E
m o n s tra ç ã o ex p õ em a tra v é s d e a lg u m a fi­
Tratado de economia social. D ir-se -á g u ra a q u ilo q u e é d a d o : é o q u e se c h a ­
“ e c o n o m ia ” , sem m ais? N ã o d iscu tam o s m a e c te s e .” L « ζ Ç « U , N o v o s ensaios, li­
E

a ra iz d a p a la v ra , m al e sc o lh id a , m as q u e v ro IV , c a p . X V II, § 3.
se fix o u p e lo u s o . M as a “ e c o n o m ia ” sig ­
n ific a o o b je to d a ciên cia e c o n ô m ic a , É C T I P O D . E ktyp; E . Ectype·, F .
m a is d o q u e s ig n ific a essa p r ó p r ia c iên ­ Ectype; I. Ectipo.
cia, sig n ifica m a is Volkswirtschaft d o q u e O p õ e -se a A rquétipo, em p a rtic u la r
Volkswirtschaftslehre. O m e lh o r p a r tid o em B 2 3 Â à ; as c o isa s tais c o m o s ã o
E E E

a to m a r , a fin a l d e c o n ta s , é d iz er Ciên­ re p re se n ta d as ao s d iv erso s esp írito s: “ A d ­


cia econômica o u , m e lh o r a in d a , a Eco­ m ito .. . u m d u p lo e s ta d o d e co isas, u m ec-
nômica p o r a n a lo g ia c o m a Física e a M e­ tipico o u n a tu r a l, o o u tr o a rq u e típ ic o e

p a r te d a s o b ra s d e e c o n o m ia p o lític a . É c e r ta m e n te s o fis tic o n ã o d is tin g u ir u m a s d as


o u tr a s . M as fe ita a d is tin ç ã o , re c o n h e c id a a c a r a c te rís tic a a x io ló g ic a d a s p r o p o s i­
ç õ e s , ta l n ã o m e p a re c e e x clu í-las d e u m tr a ta m e n to c ie n tífic o . S o b re a le g itim id a d e
e o m é to d o d a s ciências normativas, v e r La raison et les normes, c a p . V I. (A. L .)
2 ? Sobre a historia e o uso do termo “economia política ” .
a. A o rig e m d e s ta e x p re ss ã o d e v e ser p r o c u r a d a n o s e sc rito s d a E s c o la q u e t r a t a ­
v a m d a “ e c o n o m ia ” n o s e n tid o d e A ris tó te le s e d is tin g u ia m d e la a “ e c o n o m ia p o lí­
tic a ” . {F. Tõnnies)
“ E c o n o m ia s o c ia l” é, c o m e fe ito , b a s ta n te v a g o n a a c e p ç ã o a tu a l. T a lv e z h o u ­
vesse in te re ss e e m a n a lis a r m a is as n o ç õ e s re u n id a s so b e sta r u b r ic a ; n a o p o s iç ã o q u e
é a lg u m a s vezes fe ita e n tr e “ e c o n o m ia p o lític a ” e “ e c o n o m ia s o c ia l” re c o n h e c e r-
se -á s o b r e tu d o , s e g u n d o c re io , a d is tin ç ã o e n tre d u a s fa c es d o s fe n ô m e n o s e c o n ô m i­
co s ( p r o d u ç ã o e d is trib u iç ã o ) e n ã o a d is tin ç ã o e n tr e d u a s c iên c ia s. (F. Simiand)
b . Econômica é a c e itá v e l. S e ria , a liá s , v o lta r à lin g u a g e m d e A ris tó te le s a in d a
q u e a p a la v r a p a re ç a d e sig n a r nele u m a a rte , u m a m a n e ira d e a g ir e m vez d e u m a
te o r ia o u u m a c iên c ia . {J. Lachelief)
Econômica p a re c e -n o s m u ito feliz. S e g u in d o o c o n se lh o de A d rie n N a v ille , v i­
m o s u tiliz a n d o -a h á u m a n o n o n o sso c u rs o n a U n iv e rsid ad e d e G e n e b ra . (O . Karmiri)

S o b re É c tip o — B erk eley f a la a q u i c o m o p la tô n ic o , e n te n d e n d o p o r e s ta d o a r ­


q u e típ ic o a ex istên cia d a s co isas n o e n te n d im e n to d iv in o , e p o r e s ta d o ectip ico a exis­
tê n c ia d e ssa s m e sm a s c o isa s n o s e sp írito s c ria d o s . E s ta s d u a s p a la v r a s , a m b a s a n ti­
g a s n a lín g u a g re g a , só m u ito ta r d e to m a r a m u m s e n tid o filo só fic o . (7. Lachelier)
287 “ E D U C A C IO N IS M O '·

e te rn o . ’ ’ Diálogos entre Hilas e Filonous, las q u a is o s a d u lto s (g e ra lm e n te o s p a is)


3? d iá lo g o , E d . F r a s e r , I, p . 351. e x e rc ita m o s jo v e n s d a s u a esp écie e f a ­
v o re c e m n eles o d e se n v o lv im e n to d e c er­
E D E N T U L I V er Am abim us. ta s te n d ê n c ia s e d e c e rto s h á b ito s . Q u a n ­
E D U C A Ç Ã O D . Erziehung’, E . E du­ d o a p a la v r a é u tiliz a d a is o la d a m e n te
cation, culture ; F . E ducation ; I. Edu- a p lic a -s e , o m a is d a s v ezes, à e d u c a ç ã o
cazione. d a s c ria n ç a s n a esp é c ie h u m a n a .
A . P ro c e s so q u e c o n siste e m q u e u rn a Educação dos sentidos. C h a m a -s e a s ­
o u v á ria s fu n ç õ e s se d e se n v o lv a m g r a ­ sim a o p ro c e ss o p e lo q u a l a s p e rc e p ç õ e s
d u a lm e n te a tra v é s d o e x ercíc io e se a p e r ­ c o n s tru íd a s p o r in te rm é d io d a s sen saçõ es
se t r a n s f o r m a m , se p re c is a m , se c o m p le ­
fe iç o em .
ta m e se o rg a n iz a m c o m o re s to d o s fe­
B . R e s u lta d o d e sse p ro c e s s o .
n ô m e n o s p s íq u ic o s ( p o r e x em p lo n a
A e d u c a ç ã o a ssim d e fin id a p o d e re ­
c ria n ç a , o u n o a d u lto , q u e e x p e rim e n ta
s u lta r q u e r d a a ç ã o d e o u tr e m (é a a c e p ­
u m n o v o g ê n e ro d e sen sa ç õ e s). C f . A d ­
ç ão p rim itiv a e a m a is g eral), q u e r d a a ç ã o
quirido.
d o p r ó p r io s e r q u e a a d q u ire . U tiliz a v a -
Rad. int.: Sentido geral·. E d u k ; A .
se a lg u m a s v ezes n e ste ú ltim o c a s o a e x ­
E d u k a d ; B . E d u k ite c .
p re s s ã o in g le sa self-education (Goblof).
Especialmente'. “ E D U C A C I O N IS M O ” D iz-se a lg u ­
Educação dos jo ven s o u Educação m a s vezes d a s d o u tr in a s q u e a trib u e m à
(sem m a is). S e q ü ê n c ia d e o p e ra ç õ e s p e ­ e d u c a ç ã o o p o d e r d e m o d e la r q u a n to q u i-

K τ Ç o p õ e a u m e n te n d im e n to arquetípico, q u e r d iz e r, q u e p r o d u z ir ia ele m e s­
I

m o o o b je to d o s seu s c o n c e ito s , o n o s so e n te n d im e n to ectípico, q u e se c o n te n ta c o m


re fle tir s o b re o q u e lh e é d a d o : “ u n s e r d is c u rsiv e , d e r B ild e r b e d u rftig e V e rs ta n d (in -
te lle c tu s e c ty p u s )” 1. K ritik der Urtheilskraft , I I , § 7 7 . (L. Brunschvicg )
E s ta d is tin ç ã o e x p lic a sem d ú v id a o u s o , à p rim e ir a v ista b a s ta n te s in g u la r, q u e
fa z ST Ãú Ç τ Z 2
7 E 7 E d e s ta e x p re s s ã o q u a n d o c e n s u ra a K a n t o a d m itir “ d a ss d ie R e-
flex io n d e r E k ty p o s a lle r A n s c h a u u n g sei” 2. D ie Welt ais Wille u nd Vorst . , ed . G ri-
s e b a c h , I, 5 7 8 . {L. Lapie — E. Van Biéma )

S o b re E d u c a ç ã o — T e m o s e m ita lia n o a s p a la v ra s autodidattica e autodidatta


q u e s ã o d e u s o m u ito c o m u m . ( C. Ranzoli) A utodidata (Autodidacte) e x iste ta m b é m
em fran cês m as te m u m sen tid o m u ito m ais re strito q u e self-education , ap lica-se a p en a s
à in s tru ç ã o . A in d a p o r c im a , h á a lg u m a s v ezes u m s e n tid o p e jo ra tiv o q u e , a liá s, n ã o
e x iste n o g re g o avToòíòaxTos. ( J.-C . Macris)
O s e n tid o B p a re c e -m e te r s id o in u tilm e n te d is tin g u id o d o s e n tid o A . E le p a re c e
te r s id o s u g e rid o p o r e x p re ssõ e s c o m o “ ele re c e b e u u m a b o a e d u c a ç ã o ” ; m a s u m a
e x p re ss ã o d e ste g ê n e r o v isa m e n o s o r e s u lta d o q u e o p ro c e s s o ; e la e q u iv a le a d iz er:
“ D irig im o s b em o d e se n v o lv im e n to d e su a s f a c u ld a d e s .” {L. Lapie)
E s te s e n tid o é , c o m e f e ito , p o u c o filo s ó fic o . M a s e x iste n a lín g u a fra n c e s a e é
m e n c io n a d o n o Dicionário d e L i t t r é , a ssim c o m o n o de D a r m e s t e t e r , H a t z f e l d
e THOMAS. (A. L .)

S o b re E d u c a ç ã o d o s se n tid o s — D e v er-se -ia d iz e r lo g ic a m e n te “ e d u c a ç ã o d a p e r­


c e p ç ã o ” . A d e n o m in a ç ã o u s u a l d e riv a d e u m p re c o n c e ito s e n s a c io n is ta . (M. Marsal)

1. ... o nosso entendimento discursivo, que tem necessidade de imagens”


2. ... que a reflexão é o éctipo de qualquer intuição” .
EDUCÇÃO 288

s e r a s n o v a s g e ra ç õ e s , c o m o se p e n s a v a efeito , q u e r d iz e r de fa to . É a n tiq u a d o
v u lg a rm e n te no s é c u lo X V III ( H E Â â E - n e sta a c e p ç ã o .
I «Z è ; C Ã Çá Ã 2 T E I , e tc .) .
C RÍTIC A
E D U C Ç Ã O L . esco l. E ductio. A u tiliz a ç ã o p r ó p r ia d a p a la v r a p re s ­
A . LÓC. In feren cia* im e d ia ta* (ra ro ). s u p õ e q u e se tr a t a d e u m a causa eficaz*
B . A ç ã o p e la q u a l u rn a c a u sa eficien te o u eficiente *. A p lica-se m e n o s e x a ta m e n ­
q u e age s o b re u m a m a té ria fa z ai a p a re c e r te a u m a c a u s a o c a s io n a l o u a u m a c a u s a
u rn a fo rm a d e te rm in a d a . fin a l; n ã o é n u n c a c o rre la tiv o d a s id éias
“ A o p in iã o c o m u m fo i q u e as fo rm a s d e c a u s a m a te ria l o u f o r m a l.
e ra m tir a d a s d a p o te n c ia d a m a té ria , E m s e n tid o p r ó p r io , d e sig n a a q u ilo
a q u ilo a q u e se c h a m a educção\... e x p li- q u e a c o n te c e efetivam ente, o q u e é d a d o
c av a -se isso a tra v é s d a c o m p a r a ç ã o d as e de q u e o p e n sa m e n to tem p o r ta r e f a e n ­
fig u ra s , p o is a d e u m a e s tá tu a é p r o d u z i­ c o n tr a r a r a z ã o o u a e x p lic a ç ã o . “ D eveis
d a a p e n a s r e tir a n d o o m á r m o r e s u p é r­ ju lg á -lo c o m ig o ab effectu, p o r q u e D eu s
f l u o .” L « ζ Ç« U , Teodicéia, I, § 88. C f.
E e sc o lh e u e ste m u n d o ta l c o m o ele é . ”
§ 89. L « ζ Ç« U , Teodicéia, P rim e ira p a rte , § 10.
E

Rad. int.: E f e k t.
C R ÍT IC A
E F E R E N T E D . Centrifugai-, E . Effe-
T e rm o p o u c o u tiliz a d o , ta n to n o se n ­
renv, F . Efférenv, I. Efferente.
tid o A , c o m o n o s e n tid o B, m a s q u e n o s
D iz-se d o s n e rv o s q u e v ã o d o c e n tro
p areceu útil re te r em ra z ã o d o fa to d e c er­
p a r a a p e r if e r ia , d a s a ç õ e s n e rv o sa s q u e
to s físico s c o n te m p o râ n e o s to m a re m a se p ro p a g a m n esses n e rv o s e, p o r e x te n ­
co n cep ção p e rip a té tic a da cau salid ad e em sã o , d o s fe n ô m e n o s p síq u ic o s q u e lhes es­
o p o s iç ã o à c o n c e p ç ã o d a c a u s a c o n c e b i­ tã o lig a d o s . M a s d isc u te -se s o b re a q u e s ­
d a c o m o id e n tid a d e . V er Causa, C rític a . tã o d e s a b e r se to d o s os fe n ô m e n o s p sí­
Rad. int.: E d u k c i. q u ic o s n ã o e s tã o lig a d o s a p ro c e sso s a f e ­
re n te s , q u e r d iz e r, in d o , p elo c o n tr á r io ,
E F E I T O D . tVirkung, E ffekt; E . Ef-
d a p e rife ria p a r a o c e n tro .
fect; F. Effet; I. E ffetto.
Rad. int.: E lp o r ta n t.
A . T o d o fe n ô m e n o e n q u a n to é c o n ­
c eb id o co m o p ro d u z id o p o r u rn a cau sa* . E F É T IC O G . ’EyjexTixds, q u e su sp e n ­
B . F a to real (n a o a p e n a s c o n c e b id o , de o seu ju íz o , d e èirtxuv; D . Ephektiker,
m a s a tu a liz a d o p o r u rn a c a u s a ). Com E . Ephectic, F . Éphectique; I. E ffettico.

S o b re E f e ito — O s e n tid o f u n d a m e n ta l p a re c e , d e f a to , ser realidade ; o u m e lh o r,


ta lv e z , realização (sem id é ia d e c au sa ): “ A re a liz a ç ã o (effet) d e s ta s m e ta m o rfo s e s
é b e m d u v id o s a .” C o r n e i l l e , Polyceucte, a to IV , c e n a 6. “ A re a liz a ç ã o (effet) d a s
p r e d iç õ e s .” R a c i n e , A thalie, I I , c en a 7. P a re c e q u e se d iria b em a in d a h o je : “ E s ­
p e ra r a re a liz a ç ã o (effet) d a s p ro m e s s a s d e a lg u é m .” (J. Lachelier)
C f. P a s c a l : “ Q u a n d o u m d is c u rso pinta u m a p a ix ã o o u u m e f e ito .” Pensamen­
tos, I, 14. “ E s te e fe ito d a n a tu r e z a .” Ib id ., I I I , 231 e o títu lo g e ra l: Razão dos efei­
tos, q u e r d iz e r, d o s fa to s (ibid., V , 328, 33 4 ; V I I , 4 6 7 ). (L. Brunschvicg)
S o b r e E f e r e n te — T e r m o a a b a n d o n a r : in ú til e b á r b a r o . Ê p re c is o u m e s fo rç o
d e fa la e d e p e n s a m e n to p a r a d is tin g u ir aferente e eferente. ( V. Egger)

S o b re E fético — Ephektiker fig u ra em E i s l er ; m as Tõnnies fa z -n o s s a b e r q u e


e s ta p a la v ra q u a s e n ã o é u s a d a .
289 E F IC IE N T E (C ausa)

“ O s discípulo s de P « 2 2 Ã fo ram c o n h e­ tá v e l.” MALEBRANCHE, Entr. m etaph.,


cidos sob q u a tro no m es p rin cip ais, q u e no s V II, § 13.
a p re se n ta m u m a a b re v iaç ã o d a su a d o u ­ B . P r o p r ia m e n te , a o a p lic a r-se à
trin a . C h am o u -se-lh es filó so fo s zetético s, causa*, p re c is a e s ta p a la v r a a o re strin g i-
cépticos, eféticos e ap o rético s. P elo prim ei­ la à a ç ã o de u m ser q u e m o d ific a u m o u ­
ro n o m e conhecem o-los co m o in v estig ad o ­ tr o ser sem n a d a p e rd e r o u ced er d a su a
res: p erseg u em a ciên cia; o s e g u n d o , c o ­ p r ó p r ia n a tu re z a o u d o seu p o d e r de agir
m o e x a m in a d o re s: eles c o m p a r a m , e stu ­ u lte rio rm en te . V er Causa, C , C rítica e o b ­
d a m ; é o seg u n d o e s ta d o d a in v e stig aç ã o , s erv aç õ es.
a q u ele em q u e o in v e stig ad o r se d á c o n ta 2? Substantivo fem inino:
d e q u e n ã o e n c o n tro u ; o te rc e iro , co m o en C . A p ro p rie d a d e d e ser causa eficaz
suspens: è o estad o de eq u ilíb rio , o u de sus­ tal co m o ela foi d efin id a m ais a trá s. “ C o n ­
p e n sã o , q u e se segue à in v e stig a ç ã o sem s id e ro ... q u e u m c o rp o m o v id o seja a c a u ­
fru to s; o q u a r to , p o r fim , c o m o q u e m d u ­ sa v erd a d eira d o m o v im en to d aqueles com
v id a : é o e sta d o fin a l d o p o n to d e v ista d o q u e ele se e n c o n tr a ... M a s e sta a ç ã o , esta
s a b e r.” R e n o u v i e r , Philosophic ancien- fo rç a m o v e n te , n ã o p e rte n ce a o c o rp o : é
ne, II, 3 1 4 . D i ó g e n e s L a é r c io , Vida de a eficácia d a v o n ta d e d a q u ilo q u e os cria
Pirro, IX , 6 9 e 70. o u os co n serv a sucessiv am ente em d iferen ­
tes lu g a re s.” M a l e b r a n c h e , Entretiens
E F E T IV O D . Wirklich ; E . Actual·, F . sur la mélaphysique, V II, § 12. E ste c o ló ­
E ffect if\ I. Effetuale. q u io tem c o m o títu lo : “ D a ineficácia d as
Q u e existe re a lm e n te , em o p o s iç ã o a o cau sas n a tu ra is, o u d a im p o tê n c ia d as c ria ­
q u e só é p o ssív e l. V er E feito , B. tu r a s .” E le o p õ e o esforço d o h om em à efi­
Rad. int.·. E fe k tiv . cácia de D eu s. Ibid. , § 14.
Rad. int. (n o s e n tid o B): K re a n t.
E F I C A Z , E F IC Á C I A D . Wirksanv,
E . Efficacious , effective', F . Efficace; I. E F I C I Ê N C I A D . Wirksamkeit; E .
Efficace. Efficience, -ency, F . Efficience·, I. E ffi-
1? A djetivo: cienza.
A . S e n tid o g e ra l: q u e p r o d u z o e fe ito C a ra c te rís tic a d a q u ilo q u e é eficien te.
p a r a o q u a l te n d e (em o p o s iç ã o a inefi­ Rad. int.: E fe k tig e c .
caz). “ D eu s q u is q u e o m eu b ra ç o se m o ­ E F IC IE N T E (C a u sa ) D . Bewirkende;
v esse ... A su a v o n ta d e é e fic az , e la é im u ­ E . EfficienV, F . E ffiá en te; I. Efficiente.

J. Lachelier não acredita que a fórm ula citada de R e n o u v i e r traduza exatam ente
a ¿t t o xt ) dos cépticos. “ C ícero” , diz ele, “ d efin e form alm ente a ciroxr/ com o assen-
sionis retentio (Prim. A cadêm ., livro I I , cap. X V I I I , § 59). ’Eiroxjj é exatam ente re­
produzida em Inhibido, que lhe dá o se n tid o .”

S o b re E ficaz (B) — V. Egger, p a ra ev itar q u a lq u e r a m b ig u id a d e, a c o n se lh av a neste


s e n tid o a e x p re ss ã o Causa ativa.

S o b re E fic ie n te (C a u sa ) — Eficiente em vez de eficaz n o s e n tid o B é m u ito fre ­


q u e n te em in glês. “ T o a d o p t a d is tin c tio n fa m ilia r in th e w ritin g s o f th e s c o tc h m e ­
ta p h y sic ia n s , a n d esp ecially o f R eid , th e cau se s w ith w h ich I c o n c e rn m y s e lf a re n o t
efficient, b u t p h y sic a l c a u s e s .” 1 J . S. M i l l , Logic, III, V , § 2 e em d iv e rsa s o u tra s
p a ss a g e n s .

1. “ Para adotar uma distinção corrente nas obras dos metafísicos escoceses, c particularmente de Reid,
direi que as causas de que me ocupo aqui não são a$ causas eficazes, mas as causas físicas."
“ E G O -A L T R U ÍS T A ” 290

E s ta e x p re ss ã o serv e, d e in íc io , p a ra s o b re a a s s o c ia ç ã o d a s id eias c h a m a -se


tr a d u z ir o te rc e iro d o s s e n tid o s d a p a la ­ “ a sso c iaç ã o e g o c ê n tric a ” a o fa to d e o s u ­
v ra o r i n a d is tin g u id o s p o r A 2 « è ó Â è : I I E E je ito re a g ir à p a la v r a in d u to r a a tra v é s de
“ :'08evri cxQxi) 7T¡\ x iv y o e m .” Meta / . , u m a id é ia re la tiv a à s u a p r ó p r ia p e sso a :
I, 3, 9 8 3 a. P o r c o n s e g u in te , fo i a p lic a d a d á -se -lh e a p a la v r a “ c ã o ” e ele r e s p o n ­
d e u m a m a n e ir a g e ra l a to d a a e x te n s ã o d e rá : “ g o sto d eles” (fo rm a d e asso c iaç ã o
m o d e rn a d a p a la v ra causa, q u e fico u p r a ­ p a rtic u la rm e n te freq iie n te n o s ep ilético s).
tic a m e n te re s trin g id a a e ste te rc e iro s e n ­ B . N u m s e n tid o b a s ta n te d ife re n te , J .
tid o . (C f. B τ Â á ç « Ç , VÃ Causa, I, 165b; P «τ ; E I a p lic o u este te rm o à c a r a c te rís ­
m e sm a o b s e r v a ç ã o em G Ã ζ Â Ã , 199.) I
tic a p sico ló g ica d a c ria n ç a q u e con siste no
f a to d e ela n ã o e x p e rim e n ta r a n e ce ssid a ­
C RÍTIC A
d e d e c o m u n ic a r o seu p e n s a m e n to a o s
A o fa la r-s e d a c a u s a , eficaz e eficien­ o u tr o s , n e m d e se c o n f o r m a r a o p e n s a ­
te s ã o p o r vezes to m a d o s in d is tin ta m e n ­ m e n to d o s o u tr o s . “ C h a m a m o s egocên­
te e , n esse c a s o , o p õ e m -s e o m a is d a s ve­ trico a o p e n s a m e n to d a c r ia n ç a , q u e r e n ­
zes a fin a i , m a s a lg u m a s vezes ta m b é m d o in d ic a r co m isso q u e esse p e n s a m e n to
a ocasionai ( M τ Â ζ 2 τ Ç T E 7 , G Z ­
E E
p e rm a n e c e a in d a a u tís tic o n a s u a e s tr u ­
 « ÇT 7 ) . R e c o rd a m o s q u e p ro p u s e m o s
t u r a , m a s q u e o s seu s in te re sse s n ã o vi­
a tr á s d ife re n c ia r o seu u s o c h a m a n d o efi­
s a m m a is a p e n a s à s a tis fa ç ã o o rg â n ic a ,
caz à c a u s a q u e p r o d u z o seu e fe ito sem
o u lú d ic a , c o m o o a u tis m o p u r o , m a s j á
n a d a p e rd e r n e m d is p e n s a r d e si m e s m a ;
à a d a p ta ç ã o in te le c tu a l c o m o p e n s a m e n ­
eficiente à c a u s a q u e p r o d u z o seu e fe ito
to a d u lto .” J . P « τ ; , Le jugem ent et le
E I

tr a n s f o r m a n d o - s e n e le p a rc ia lm e n te o u
raisonnement chez Venfant, p . 272.
to ta im e n te . V er Eficaz e Causa ( p a rtic u ­
N ã o se dev e, p o is , c o n fu n d ir, egocen­
la rm e n te A e C rític a ).
trismo n em c o m e g o ís m o , n em co m
Rad. int. (n o s e n tid o a trá s d e fin id o ):
egotismo.
E fe k tig .
E G O ÍS M O D . A . D . Egoismus; B
“ E G O -A L T R U ÍS T A " E . Ego-
Seibstiiebe; C . Selbstsucht; E. A . B . D
altruistic (s e n tim e n to s), S ú Ç T 2 , Prin­
E E

Egotism o u egoism\ C . Seifishness ; F


cipies o f Psychology, 8? p a r te , c a p . V II;
Égoisme; I. Egoísmo.
F . Ego-altruiste. V er Aitruísm o, o b s e r ­
A. M E I τ E íè «Tτ . A d o u trin a q u e c o n ­
v a çõ e s.
s id e ra a e x is tê n c ia d o s o u tr o s s e re s c o m o
E G O C E N T R I S M O D . Egozentris- ilu s ó ria ou d u v id o s a . W ÃÂ E E d iv id e os
mus\ F . Égocentrisme. id e a lis ta s e m egoístas e pluralistas: te n ­
À . T e n d ê n c ia p a r a re la c io n a r tu d o a d o e s ta u tiliz a ç ã o c a íd o em d e s u s o , a p e ­
si m e sm o ; p o r e x e m p lo , n a s e x p eriê n c ia s n a s n o s s e rv im o s h o je d o te r m o n e s te se n -

S o b re E g o c e n tris m o — A rtig o d e v id o a Éd. Claparède. S o b re a d ife re n ç a e n tre


egocentrismo e egotismo v e r a a n á lise c o m p a r a d a d e s ta s d u a s p a la v r a s em D ζ è è , E E E

“ S itu a tio n d e P a d o le s c e n c e ” , Revue de métaphysique, a b ril d e 1941, p p . 127 ss.

S o b re E g o ísm o — C o lo c a m o s o s e n tid o A à fr e n te d e to d o s o s o u tr o s c o m b a se
n a s o b s e rv a ç õ e s d e F Tònnies, q u e n o s tin h a fe ito n o ta r q u e o e g o ísm o “ p r á tic o ”
tir o u in ic ia lm e n te o seu n o m e d o e g o ísm o m e ta fís ic o . E s ta p a la v r a a p a re c e n a F r a n ­
ça co m u m s e n tid o m o ra l n a Enciclopédia. E m 1777 e ra a in d a c o n s id e ra d a c o m o
u m n e o lo g is m o ( D τ 2 O . , H τ U . e T Ã Oτ è ).
I 7

N o s e n tid o D diz-se de p re fe rê n c ia “ m o ra l d o e g o ís m o ” . ( L . Lapie)


291 " E G O T IS M O ”

tid o a o dizer egoísmo metafísico e tende- “ E G O T IS M O ” E . Egotism , u tiliz a -


se m esm o a abandonar essa expressão pe­ se ta m b é m c o m o s in ô n im o d e e g o ís m o se ­
la de solipsismo. g u n d o Bτ Â á ç «Ç ; F. Égotisme.
B . P s i c o l o g i a . A m or de si, tendên­ A . T e rm o u tiliz a d o p o r SI E Çá 7 τ Â
cia natural para se defender, se m anter, p a r a d e sig n a r, em o p o s iç ã o a o e g o ísm o
se desenvolver. É neste sentido que, en­ n a c o n d u ta , o e stu d o p o rm e n o riz a d o fei­
tre os sentim entos, se opuseram as incli­ to p o r u m e s c rito r d a s u a p r ó p r ia in d iv i­
nações ou as em oções egoístas às inclina­ d u a lid a d e física e m en tal. “ Se este liv ro ...
çõ es o u as em oções altruístas , sem intro­ n ã o a b o rre c e r v er-se-á q u e o e g o tism o ,
duzir nestas palavras nenhum a intenção mas sincero , é u m a f o r m a d e d e sc re v e r
apreciativa (C o m t e , S p e n c e r ). este c o ra ç ã o h u m a n o n o c o n h ecim en to d o
A lg u n s p sicó lo g o s e v ita m c o n tu d o es­ q u a l d e m o s p a s s o s d e g ig a n te , d e p o is d e
te u s o d a p a la v r a d e v id o a o s e n tid o C , 1721, é p o c a d a s Cartas persas desse g r a n ­
q u e é o m ais u s u a l, e d iz e m inclinações d e h o m e m q u e ta n to e s tu d e i, M o n te s ­
pessoais o u individuais. q u ie u .” SI E Çá 7 τ Â , Souvenirs d ’égotis-
C . M Ã2 τ Â . A m o r exclu siv o o u exces­ me, 81.
siv o d e si; c a r a c te rís tic a d a q u e le q u e s u ­ B . T endência para pensar n o seu eu
b o rd in a o in teresse d e o u tre m a o seu p r ó ­ e referir a ele tod a a vida m ental. “ O ego­
p r io e ju lg a to d a s a s c o isa s d o se u p o n to tism o ju v e n il... é essa incessante referên­
d e v ista . cia a si que se observa nesse m om en to na
D . É t i c a . T e o ria q u e f a z d o in te re s ­ am izade, n o am or, n o d evan eio, nas re­
se in d iv id u a l o p rin c íp io e x p lic a tiv o d a s lações com o am biente, na percepção dos
id é ia s m o ra is e o p rin c íp io d ir e to r d a valores e até na dialética aparentem ente
c o n d u ta . m ais im p esso a l.” M. D e b e s s e , “ Situa­
Rad. i n t B . S u n a m a d ; C . E g o ism . tion de 1’adolescence” , Rev. de métaphy-

S o b re “ E g o tis m o ” — S e g u n d o A áá « è ÃÇ a p a la v ra Egotismo v iria d e P o rt-R o y a l.


“ T h e g e n tle m e n o f P o r t- R o y a l, w h o w e re m o re e m in e n t f o r th e ir le a rn in g a n d f o r
th e ir h u m ility th a n a n y o th e r in F r a n c e , b a n is h e d th e w ay o f s p e a k in g in th e first
p e rs o n o u t o f all th e ir w o rk s , as risin g f r o m v a in g lo ry a n d self-c o n ce it. T o sh o w th e ir
p a r tic u la r a v e rs io n o f it, th e y b r a n d e d th is fo r m o f w ritin g w ith th e n a m e o f an ego­
tism: a fig u re n o t to b e fo u n d a m o n g th e a n c ie n t rh e to ric ia n s .” 1 A áá « è ÃÇ , The Spec­
tator, n ? 562, 1714. E le p r ó p r io to m a a p a la v r a n u m s e n tid o u m p o u c o m a is a m p lo ,
n ã o c o m o u m a sim p le s f o r m a d e e stilo , m a s c o m o a te n d ê n c ia p a r a f a la r d e si, d o s
seu s g o s to s , d o se u c a r á te r e c ita , p o r e x e m p lo , M o n ta ig n e , q u e o s s e n h o re s d e P o r t-
R o y a l tin h a m sem d ú v id a e m v is ta q u a n d o fa la v a m d o s “ e g o tis m o s ” . A d d is o n n ã o
d iz o n d e a p a la v r a s e e n c o n tr a . P r o c u r e i- a s e m su ce sso n a Gramática d e P o r t-R o y a l,
n a Lógica (o n d e c o n tu d o M o n ta ig n e é v iv a m e n te q u e s tio n a d o s o b re esse p o n to ) e
e m v á ria s o b r a s d e N ic o le . (A. L .)
E m a lg u n s e sc rito re s de h o je a p a la v r a te m u m s e n tid o n itid a m e n te p e jo ra tiv o :
c u rio s id a d e d o e n tia , d ile ta n tis m o e n e rv a n te , a m o ro s a e p e rv e rsa c u ltu r a d a n o s s a in ­
d iv id u a lid a d e to ta l. (C . Hem on — L. Boisse)

1. “ Os senhores de Port-Royal, mais eminentes do que ninguém na França pelo seu saber e humildade,
baniram inteiramente de todas as suas obras o emprego da primeira pessoa, que eles julgavam ser um efeito
da vaidade e da opinião elevada demais acerca de si mesmo. Para mostrar a sua particular aversão a esse
defeito, estigmatizaram essa maneira de escrever com a palavra e g o t i s m o , figura de retórica que não se en­
contra nos tratados dos antigos.’’
E G O T IS T A 292

sique et de morale, a b ril de 1941, p . 127. sen ç a . A “ re d u ç ã o e id é tic a ” é p a r a ele a


S egue-se u m p a ra le lo e n tre o egotismo e su b stitu iç ã o d a c o n sid e ra ç ã o d a e x p e riê n ­
o egocentrismo*. c ia , n o s e n tid o c o m u m , p o r essa c o n s i­
C. C u lto d o eu; p re o c u p a ç ã o e x clu si­d e ra ç ã o d a s essê n cia s. Ele c h a m a eidetis­
v a c o m a c u ltu r a p e ss o a l, e rig id a em fim che o u Wesem Wissenschaften às ciên cias
ú n ic o d a c o n d u ta . q u e têm p o r o b je to c o n sid e ra r a s relaçõ es
E m to d o s os s e n tid o s , a p a la v r a im ­ e n tre fo r m a s id e a is, c o m o o fa z em a ló ­
p lic a u m a re fle x ã o c o n s c ie n te s o b re si g ic a o u a g e o m e tria . V er G a s to n B E R ­
m e sm o . G E R , Le Cogito dans la philosophie de
Rad. in t .: E g o tis m . Husserl, e sp e c ia lm e n te p p . 36-37 e 68.
E G O T IS T A U tiliza-se c o m o a d je tiv o NOTA
e m to d o s o s s e n tid o s d a p a la v r a e g o tis ­ N a a u sê n c ia de u m a d je tiv o d a m esm a
m o e c o m o s u b s ta n tiv o q u e r n o s e n tid o ra iz e d o m esm o sen tid o q u e imagem (pois
A , q u e r n o s e n tid o C . imaginado, imaginário, e tc ., têm sen tid o s
“ N u m a é p o c a m ais ta rd ia , e talv ez n o m ais o u m e n o s d ife re n te s) alg u n s e sc rito ­
h o m e m s ó , m a n ife s ta m -s e as te n d ê n c ia s res recentes utilizam eidético p a ra este uso.
e g o tistas {self-feeling, selbstgefühl, amor A e tim o lo g ia p e rm ite -o , m a s ele é c o n tr á ­
proptus) q u e e x p rim em o eu , a p esso a co ­ rio à s re g ra s d e u m a b o a te rm in o lo g ia d e­
m o te n d o c o n sc iê n c ia d e si m e sm a e se vid o a o sen tid o a n te rio r d e sta p a la v ra : ver
tra d u z e m n a e m o ç ã o d e o rg u lh o (ou o seu o re la tó rio d e Éd. Claparède n o V I C o n ­
c o n trá rio ) e n a s su as v a r ie d a d e s .” Ri- g resso In te rn a c io n a l de P sic o lo g ia (G en e­
B O T , La psychologie des sentiments, 2? b ra , 1909), re su m id o n o Nouveau traite de
p a r te , in tr o d u ç ã o , II (1 ? e d ., p . 195). psychologie, p u b lic a d o so b a direção de G .
D Z Oτ è , to m o I, p . 414.
E I D É T I C A (o) D . Eidetisch ( a d j.);
Eidetiker ( s u b s t.); F . Eidétique. E J E C T O E . Eject; F. Eject ; I. Ejetto.
A . T e rm o s criad o s em 1920 p o r E . R. T e rm o c ria d o p o r C Â « E E Ã2 á e a d o ta ­
Ja e n s c h (de M a rb u rg o ) p a ra d esig n ar d o p o r R Ã Oτ Ç è
E , M Ã2 è Â Â « e B τ Â á ç « Ç
E

u m a d isp o siç ã o (eidetische Anlage) p a ra p a r a d e s ig n a r u m o b je to de c o n h e c im e n ­


v er fa c ilm e n te co isas im a g in á ria s, em p a r ­ to e n q u a n to este é p ro je ta d o p a ra fo r a d o
tic u la r re c o rd aç õ e s recen tes, de ta l fo rm a eu e c o n c e b id o c o m o u m a re a lid a d e a n á ­
q u e elas se p ro je ta m no ex terio r, à m an eira lo g a à n o s s a , e p o ssív el d e d e sc re v er em
de u m a im agem co n secu tiv a. Ja e n sc h c h a ­ te rm o s d e co n sciên cia. O ejeclo é u m a es­
m a a estas im agens especiais A nschauungs- sên c ia im a te ria l e o p õ e -s e n esse a sp e c to
bilder, q u e se p o d e tra d u z ir p o r “ im agens a o objeto c o n c e b id o c o m o m a te ria l.
e id ética s” . E las e n c o n tra m -se s o b re tu d o
E K -S T A S E V er Suplemento.
n as c ria n ça s d o s dez ao s q u in ze an o s.
B . H Z è è 2 Â c h a m a eidética à q u i l o
E E L A B O R A Ç Ã O (d o c o n h e c im e n to )
q u e c o n c e r n e à s e rò ij, à s essências d a s c o i­ D . Verarbeitung; E. Elaboration ; F . Ela­
s a s e n ã o à s u a e x is tê n c ia o u à s u a p r e ­ boration-, I. Elaborazione.

S o b re E la b o r a ç ã o (d o c o n h e c im e n to ) — T e rm o e c la ssific a ç ã o e v id e n te m e n te a r ­
tificia is m a s ú te is . S e ria b o m re s e rv a r e sta e x p re ss ã o p a r a as o p e ra ç õ e s re fle tid a s d o
p e n s a m e n to (a te n ç ã o , fo r m a ç ã o d o s c o n c e ito s , ju íz o , ra c io c ín io ). {Th. Ruyssen )
P o d e r-s e -ia ta lv e z d iz e r, p a r a ju s tif ic a r a u tiliz a ç ã o d e s ta p a la v r a e m p sic o lo g ia ,
q u e ela a p e n a s se p o d e a p lic a r a u m tr a b a lh o c o n sc ie n te e re fle tid o d o e s p írito e q u e
p o r c o n s e q u ê n c ia n ã o p re c o n c e b e n a d a c o n tr a a s m o d ific a ç õ e s q u e j á p u d e ra m s o ­
f r e r , em v irtu d e d o tr a b a lh o in c o n sc ie n te , o s d a d o s q u e se a p re s e n ta m c o m o sim p les
n a e la b o r a ç ã o p ro p r ia m e n te d ita . (J . Lachelier)
293 ELEM ENTO

C h a m a -se a ssim , em o p o siç ã o à A q u i­ “ É L A N V IT A L ” V er Vital.


sição e à Conservação d o c o n h e c im e n to ,
E L E M E N T A R D . Elementar, E . Ele­
a o c o n ju n to d a s o p e ra ç õ e s p e las q u a is
tr a n s f o r m a m o s o s d a d o s im e d ia to s , q u e
mentary·, F . Élémentaire·, 1. Elementare.
sã o co n sid e ra d o s c o m o a m a té ria d este co ­ A . R e la tiv o a o s e le m e n to s em to d o s
n h ecim en to . E la c o m p re en d e a asso ciação o s s e n tid o s.
d a s id é ia s e a im a g in a ç ã o e n q u a n to c ria ­ B . E sp e c ia lm e n te , e m L ó ; « T τ , a
d o ra s (e la b o ra çã o e sp o n tâ n e a ); a a ten ç ã o , Teoria elementar o p õ e-se à Metodologia.
a c o n c e p ç ã o , o ju íz o e o ra c io c ín io (e la ­ K τ Ç segue esta d iv isão n a Crítica da ra­
I

b o ra ç ã o re fle tid a ). A crescen ta-se a isso a l­ zão pura.


g u m a s vezes m e sm o a m e m ó ria , e n q u a n ­ C. Espírito elementar o u Elementar,
to sele c io n a e m o d ific a a s re c o rd a ç õ e s . esp écie d e a lm a in fe rio r q u e se m a n ife s ta
n a s açõ es d a m a té ria in o r g â n ic a , s e g u n ­
C R ÍT IC A d o c e rto s filó s o fo s (a lq u im is ta s , P τ 2 τ -
E s ta s d iv isõ es s ã o u su a is e c ô m o d a s T Â è Ã , H . C . A T 2 « ú ú τ , o c u ltis ta s m o ­
E

p a r a o e n s in o (v er p o r e x e m p lo Bë 2 τ T , d e rn o s ). E s ta p a la v r a d e sig n a p rim itiv a ­


Cours de philosophie, c a p . IV ; ele exclu i m e n te o s e sp írito s q u e a n im a m os q u a
d a s fa c u ld a d e s de e la b o r a ç ã o a m e m ó ria tr o e le m e n to s (d e o n d e o seu n o m e ); p o r
e a associação d as idéias), m as p o d em criar e x te n s ã o , o s e sp írito s q u e a n im a m o sal,
ilu são a o te n d erem a a p re se n ta r c erto s es­ o e n x o fre , o m e rc ú rio ; a lg u m a s vezes
ta d o s p síq u ic o s c o m o e le m e n to s sim p les ta m b é m o s d o s m e ta is.
e ad e q u a d a m e n te co n h ecid o s. É c erto q u e N ã o d ev e ser c o n f u n d id o c o m o s
a s p e rc ep ç õ es n u m h o m e m a d u lto e n o r ­ “ E l e m e n t a i s 'T re s íd u o s d a s fo rm a s h u ­
m al c o n tê m u m a g r a n d e p a r te d e in te r ­ m a n a s c o n s e rv a d a s d e p o is d a m o rte n o
p r e ta ç ã o e d e e la b o r a ç ã o e q u e a m a io r flu id o a s tra l u n iv e rsa l, seg u n d o c ertas e s ­
p a rte d a s im ag en s e d a s re c o rd a ç õ e s, a p e ­ c o la s e s p ír ita s o u te o s ó f ic a s (B Â τ
s a r d a a u to rid a d e co m a q u a l se n o s a p re ­ V A T S K Y ).
s e n ta m , é a lte ra d a m ais o u m en o s p ro f u n ­ Rad. int.: E le m e n t.
d a m e n te pelo tra b a lh o in co n scien te d o es­
p írito . D a m e sm a f o r m a , a c a ra c te rís tic a E L E M E N T O D . Elem ent ; E . Ele­
d e d a d o p rim itiv o e c o m p le to q u e o s c a r ­ m en t ; F . Element', I. Elemento.
te sia n o s d a v a m à ra z ã o to rn o u - s e in su s­ A . S e n tid o g eral: u m a d a s p a rte s m ais
te n tá v e l: o s p rin c íp io s ra c io n a is , ta is c o ­ sim p le s d e q u e é fe ito u m c o m p o s to . E s ­
m o o s c o lo ca m o s a tu a lm e n te , c o m o ax io ­ p e c ia lm e n te :
m a s , n o p o n to d e p a r tid a d o s n o s so s ra ­ B . E m L ó ; « T τ , c h a m a - s e elemento
c io c ín io s, re s u lta m , p e lo m e n o s em p a r ­ de uma classe (o u conjunto ) c a d a i n d i v í ­
te , d e o p e ra ç õ e s a n te r io re s e m q u e in te r ­ duo q u e p e r te n c e a e s s a c la s s e .
v ie ra m o ju íz o , a m e m ó ria , etc. P o r e x te n s ã o , c e rto s ló g ico s c h a m a m
É p o is n e c e ssá rio u tiliz a r este te rm o ta m b é m elem en to ( a b r e v i a d a m e n t e
a p e n a s co m c irc u n sp e c ç ã o e u n ic a m e n te “ E lm ” , P τ ÇÃ ) à classe q u e c o n té m
E

n o s e n tid o a f ir m a tiv o , q u e r d iz er, fa z e n ­ a p e n a s u m e le m e n to . “ P o r e x e m p lo , d a ­


d o e n te n d e r bem q u e c o m isso n ã o se p re ­ d o q u e N a p o le ã o l teve u m ú n ic o filh o ,
c o n c e b e n u n c a o c a r á te r sim p les d o s fa ­ p o d e -se e x p rim ir este fa to e screv en d o :
to s d e co n sciên cia q u e se d eix am m o m e n ­ ‘ [F ilh o d e N a p o le ã o I] e E lm ’, q u e p o d e
ta n e a m e n te f o r a d e s ta ru b r ic a . se r lid o : ‘H á a p e n a s u m [filh o d e N a p o ­
Rad. int.: E lia b o r a d . le ão I ] .” ’ P τ á Ã τ , La logique deductive,

S o b re E le m e n to — O p rim e iro s e n tid o de Elementa em la tim p a re c e te r sid o as


letras d o a lfa b e to . LuCRÉcio u tiliza a p a la v ra nesse se n tid o ; II , 687 ss. (7. Lachelier)
ELENCUS 294

p . 39. P e a n o u tiliz a ta m b é m p a r a elem en ­ d o f o r m a s irre g u la re s e v a ria d a s e d e d i­


to a n o ta ç ã o i [X ], s e n d o X o n o m e p r ó ­ m e n sõ e s m u ito m a io re s d o q u e as “ p e ­
p r io d e u m in d iv íd u o e, re c ip ro c a m e n te , q u e n a s b o la s ” d o s e g u n d o e le m e n to .
ele r e p re s e n ta p o r i [x] o p r ó p r io in d iv í­ Princípios da filosofia* 3? p a r te , § 5 2 e
d u o , s e n d o x o n o m e d a classe d e q u e ele 86; 4? p a r te , § 5 a 9 . É p re c is o n ã o c o n ­
é o ú n ic o re p re s e n ta n te : “ R o m a = i [ca­ fu n d ir o “ p rim eiro e le m e n to ” com a q u ilo
p ita l d a I tá lia ] .” É o u s o ló g ico d o a r ti­ a q u e ele c h a m a “ a m a té r ia s u til” *.
g o d e fin id o . Rad. int.: E le m e n t (Boirac).
C . E m E ú «è OÃ Â Ã ; í τ
I E , c h a m a m -s e
E L E N C U S D o G . "EX Tà 7Ãè (p r o v a ,
elementos de conhecimento a o s c o n ceito s
re f u ta ç ã o ) .
e ju íz o s . O s elementos de um a ciência são
A s s u n to d e u m a a r g u m e n ta ç ã o o u d e
o s p rin c íp io s e a s p rim e ir a s p ro p o s iç õ e s
u m a d isc u ssã o . O s o fis m a Ignoratio elen-
d e u m a c iê n c ia , s o b r e tu d o d e u m a c iên ­
c ia d e d u tiv a c o m o a G e o m e tr ia .
chi c o n sis te e m d e m o n s tr a r o u em r e f u ­
t a r o u tr a c o is a d ife re n te d a q u e la q u e es­
D . E m Q u ím ic a c h a m a m -s e elemen­
t á e m q u e s tã o (Lógica d e P o r t- R o y a l, III
tos a o s c o rp o s s im p le s d e q u e o s o u tr o s
s ã o fo r m a d o s . A n tig a m e n te : “ O s q u a ­ p a r te , c a p . X IX ).
tr o e le m e n to s ” (o f o g o , a te r r a , o a r e a E L E T IV O D . Wahl — , wählerisch ; E .
á g u a ). Elective·, F . Électif; I. Elettivo.
E m D è T τ 2 è , Ã “ p rim e iro elem en ­
E I E C h a m a m -se inclinações eletivas a q u e ­
t o ” é o d e tr ito q u e d ev e te r se s e p a ra d o las q u e tê m c o m o o b je to n ã o u m a classe
d a s o u tr a s p a r te s d a m a té r ia q u a n d o elas d e s e re s, m a s u m in d iv íd u o e m p a r tic u ­
se a r r e d o n d a r a m , e q u e é d iv id id o p e lo la r: a m o r* e a m iz a d e * .
m o v im e n to “ n u m a in fin id a d e d e p e q u e ­ A finidades eletivas , v e r Afinidade.
n a s p a rte s q u e to m a m ta l fig u ra q u e Rad. int.: E le k t.
p re e n c h e m sem p re e x a ta m e n te o s re c a n ­
E L Í C I T O V er Suplemento.
to s o u p e q u e n o s in te rv a lo s q ue e n c o n tra m
em v o lta d o s c o r p o s ” . O “ s e g u n d o ele­ E L IM IN A Ç Ã O D . Elim ination; E .
m e n to ” é o re s to d o s p e d a ç o s p rim itiv o s Elim ination; F . Elimination; I. Elimi-
a r r e d o n d a d o s p e lo m o v im e n to . O “ t e r ­ nazione.
c e iro e le m e n to ” é c o n s titu íd o p o r p a rte s A . P ro c e d im e n to d e Á lg e b ra q u e c o n ­
d o p rim e iro q u e se a g lo m e ra r a m to m a n - siste em tra n s fo rm a r u m siste m a de eq u a-

S o b re E le tiv o — A e x p re ss ã o “ in c lin a ç õ e s e le tiv a s ” e stá m a l c o n s tr u íd a : p a re c e


in d ic a r q u e e sta s in c lin a ç õ e s s ã o livremente escolhidas , e n q u a n to q u e n ã o h á , ta lv e z,
in c lin a ç õ e s m a is fa ta is . (L. Boisse )
E s ta p a la v r a q u e r d iz e r a p e n a s q u e c e rto s in d iv íd u o s , o b je to s d e ssa s in c lin a ç õ e s,
sã o p re fe rid o s n o c o n ju n to d o s in d iv íd u o s d a m e s m a e sp écie. O te r m o é p r im itiv a ­
m e n te q u ím ic o (BE 2 ; Oτ ÇÇ , V . Afinidade); e n c o n tr a - s e a m e sm a r a iz e m seleção.
P a re c e , p o is , q u e e la n ã o tr a z c o n s ig o n e n h u m a id é ia d e lib e rd a d e . (A . L .)

S o b r e E lim in a ç ã o — A rtig o c o m p le ta d o a p a r tir d a s o b se rv a ç õ e s d e C. Webb e


d e C. R anzoli , q u e a c r e s c e n ta o se g u in te : “ A e lim in a ç ã o [n a in d u ç ã o ] c o n sis te em
m u ltip lic a r a s o b s e rv a ç õ e s e a s e x p e riê n c ia s n a s c irc u n s tâ n c ia s m a is d iv e rs a s d e m a ­
n e ira a o b te r a s e p a ra ç ã o d o s a n te c e d e n te s , q u e s ã o c a u s a s , e d a q u e le s q u e n ã o o s ã o ,
d a s c irc u n s tâ n c ia s e ssen ciais e d a s c irc u n s tâ n c ia s a c e s s ó ria s . T e m o seu f u n d a m e n to
n o a x io m a de c a u s a lid a d e q u e d iz , so b a f o r m a p o s itiv a : é c a u s a tu d o a q u ilo q u e n ã o
p o d e ser e lim in a d o sem e lim in a ç ã o to ta l o u p a rc ia l d o e fe ito ; s o b a f o r m a n e g a tiv a :
n ã o é c a u s a o q u e p o d e ser e lim in a d o sem q u e o e fe ito v arie o u d e s a p a r e ç a .”
295 “ E M E R G IR , E M E R G Ê N C IA , U M E M E R G E N T E ”

ç õ e s n u m o u tr o siste m a e q u iv a le n te , q u e n o te m p o ; a p e n a s c o n v é m , p o is , a c e rta s
é u m a s u a c o n s e q ü ê n c ia , e d e o n d e d e s a ­ fo r m a s d e p a n te ís m o . A p lic a-se p a r tic u ­
p a re ce ra m u m a o u m ais in c ó g n ita s d o p ri­ la rm e n te a o b ra m a n is m o , a o n e o p la to n is­
m e iro . E m L ó g ic a a lg o rítm ic a , p ro c e ss o m o , à c a b a la , à filo s o fia d e E c k h a r t e d e
a n á lo g o , re la tiv o às q u e s tõ e s ló g ic a s. J a c o b B o h e m e , m a s s e r ia im p r ó p r io a o
BÃÃÂ E fa z ia c o n sis tir a d e d u ç ã o e m g e­ fa la r-s e d e e sp in o s is m o .
r a l (e o silo g ism o em p a r tic u la r ) n a eli­ F o i to m a d o a lg u m a s vezes n o s e n tid o
minação dos termos médios. m a is a m p lo d e to d a a p r o d u ç ã o d iv in a :
B . E m m e to d o lo g ia , p ro c e ss o d e in ­ “ E m a n a tio in d i v in is d u p le x e s t, u n a ...
v e stig a ç ã o q u e c o n siste em c h e g a r à v e r­ g e n e ra d o , a lte ra p e r m o d u m v o lu n ta tis .”
d a d e a tra v é s d a n e g a ç ã o de to d a s as h i­ N ic o la u á E C Z è τ , e m Eucken, 197. D a
p ó te se s q u e o ra c io c ín io , o u a e x p e riê n ­ m e s m a f o r m a e m LE « ζ Ç« U , Discurso de
c ia , n ã o p e rm ite m a d m itir. P o r e x em p lo metafísica , X IV (G e rh . IV , 439): “ D e u s
a Tabula exclusionis sive rejectionis de o s p r o d u z c o n tin u a m e n te p o r u m a e sp é ­
Bτ TÃÇ ( N o v . org., II, 18). V er M« Â Â , c ie d e e m a n a ç ã o c o m o n ó s p ro d u z im o s
Lógica , I I I , 8, § 3. T τ « ÇE , Intelligence, o s n o sso s p e n s a m e n to s .” M a s este u s o
II, 320. n ã o p a re c e te r d e ix a d o r a s tro s .
C . N o p ro cesso de seleção n a tu ra l, d e­ Rad. int.: E m a n a d .
sa p a riç ã o d o s seres n ã o a d a p ta d o s o u m e ­ E M A N A C IO N IS M O o u E M A N A -
n o s a d a p ta d o s à s su as c o n d iç õ e s d e exis­ T IS M O D . Emanationslehre, Emanatis-
tê n c ia . mus\ E . Emanatism\ F . Émanationisme
Rad. int.: E lim in a d . o u émanatisme\ I. Emanatismo.
D o u tr in a d a e m a n a ç ã o * .
E M A N A Ç Ã O D . E m anation ; E .
Em anation; F . Emanation', I. Ema- “ E M E R G I R , E M E R G Ê N C IA , U M
nazione. E M E R G E N T E ” E . To emerge, emergen­
P ro c e s so q u e c o n siste em q u e , s e g u n ­ ce, an emergent ; F . Emerger, émergence·,
d o c ertas d o u trin a s , o s seres m ú ltip lo s q u e un émergent.
f o r m a m o m u n d o d e riv a m (emanam ) d o T e rm o s u tiliz a d o s h á a lg u n s a n o s em
ser u n o q u e é o seu p rin c íp io sem q u e h a ­ fra n c ê s , a e x e m p lo d o s b ió lo g o s e d o s fi­
ja d e s c o n tin u id a d e n e ste d e se n v o lv im e n ­ ló so fo s in g leses e a m e ric a n o s , p a r a c a ra c ­
t o . Emanação o p õ e -s e a criação*. “ E f- te riz ar o fa to d e q u e u rn a c o isa sai de u rn a
flu x u s rei n a tu ra lis a c a u s a p ro c re a n te si- o u tr a sem q u e e s ta a p r o d u z a d a m e sm a
n e tr a n s m u ta tio n e .” MlGREL, em Euc- m a n e ira c o m q u e u m a c a u s a p r o d u z n e ­
ken, 197. E s te te rm o im p lic a a re a lid a d e c essariam en te u m efeito , e é su ficien te p a ­
d o d e v ir e a p r o d u ç ã o su cessiv a d o s seres r a fa z e r c o m p re e n d e r a a p a r iç ã o (S ).

S o b re “ Emergência” — S e g u n d o u m a in d ic a ç ã o d a d a p o r C . L Io y d M o rg a n a
S. A le x a n d e r, e s ta a c e p ç ã o d a p a la v r a e n c o n tr a - s e j á in c id e n ta lm e n te e m LE ç E è ,
Problems o f L ife and M in d , to m o I I , p . 4 1 2 (1874). S . A le x a n d e r, q u e m u ito c o n tr i­
b u iu p a r a d iv u lg a r e s ta e x p re s s ã o , re m e te p a r a o ú ltim o c a p ítu lo d e L lo y d M o rg a n ,
Instinct and Experience, e p a r a o a rtig o d e ste : “ M in d a n d b o d y in th e ir re la tio n to
e a c h o th e r a n d to e x te rn a l th in g s ” , Scientia, 1915. E le p ró p r io a d e fin iu assim : “ T h e
e m e rg e n c e o f a n e w q u a lity fr o m a n y level o f e x isten ce m e a n s th a t, a t th a t lev el, th e ­
re c o m es in to b ein g a c e rta in c o n s te lla tio n o r c o llo c a tio n o f th e m o tio n s b e lo n g in g
to th a t lev el, a n d p o sse ssin g th e q u a lity a p p r o p r ia te to it; a n d th is c o llo c a tio n p o s ­
sesses a n e w q u a lity d is tin c tiv e o f th e h ig h e r c o m p le x . T h e q u a lity a n d th e c o n ste lla ­
tio n to w h ic h it b e lo n g s a re a t o n c e n e w , a n d e x p re ssib le without re sid u e in te rm s
o f th e p ro cess p ro p e r to th e level fro m w h ich th e y em erg e: ju s t as m in d is a new q u a lity
E M IN E N T E 296

E M IN E N T E D . Überragend e m elh o r “ e n tid a d e ” p o d e ex istir de três m a n eiras:


Hervorragend ; E . E m inent ; F . Éminent; objetivamente, n a id é ia q u e d ela te m o s;
I. Eminente. form alm ente , n o ser q u e re p re s e n ta esta
A . N o s en tid o etim o ló g ico e u su al, su­ id éia; eminentemente, n o p rin cíp io de o n ­
p e rio r e d is tin to p o r e s ta s u p e r io rid a d e . d e este ser e x tra i a s u a re a lid a d e . “ U m a
“ E m in e n te r est s u p ra o m n e m m e n su ra m , p e d ra a g o r a n ã o p o d e c o m e ç a r a s e r ... se
su p e r o m n es g r a d u s ...; E m in e n tia p e r m e- e la n ã o f o r p ro d u z id a p o r u m a c o isa q u e
ta p h o r a m est e x c e lle n tia .” G ÃTÂ E Ç« Z è , p o s s u a e m si fo r m a lm e n te o u eminente­
Vo, 146b, 174a. m ente tu d o o q u e e n tr a r n a c o m p o s iç ã o
B. Especialmente. O p õ e -se a fo r m a l. d a p e d r a , q u e r d iz e r, q u e c o n te n h a e m si
“ O p p o s itu m e ju s : c e rto m o d o et m e n s u ­ as m e sm a s c o isa s , o u outras mais exce­
ra , item fo r m a lite r ... [B o n itas, S ap ien tia] lentes, q u e e s tã o n a p e d r a . . . ” Terceira
s u n t in D eo u t illa ru m c a u s a ac p rin c ip io meditação, § 17. “ Se a re a lid a d e o b je ti­
e m in e n te r vel fo rm a lite r; m u lta , q u a e re ­ v a d e a lg u m a d a s m in h a s id éias é ta l q u e
bus p h y sicis tr ib u u n tu r , e m in e n te r a c n o - sei c la r a m e n te q u e n ã o e s tá em m im n em
b ilissim o m o d o , p e rfe ctissim e : D e u s m o - f o r m a lm e n te , n e m e m in e n te m e n te ...
vet se n o n h o c n o s tr o m o d o , sed a lio n o - seg u e-se d a í n e c e s s a ria m e n te q u e n ã o es­
b is in c o m p e r to .” G Ã T Â Ç« Z è , â Ã 146 B ,
E to u s o z in h o n o m u n d o , m a s q u e h á a in ­
147 A . d a a lg u m a o u tr a c o isa q u e ex iste e q u e é
E m D e s c a rte s , q u e seg u e n isso o u so a c a u s a d e s ta id é ia .” Ibid., § 18.
d o s e sc o lá stic o s, eminente o p õ e -s e a o C. C h a m a -s e dominio eminente (L a t.
m esm o te m p o a form al e a objetivo. U m a esco l. dom inium eminens) o d ire ito de

d is tin c t fro m life , w ith its o w n p e c u lia r m e th o d s o f b e h a v io u r ... n o t merely v ita l,


b u t also v ita l.” 1 Time, Space and Deity, p p . 14 e 4 5 -46.
A le x a n d e r, q u e vê n a D iv in d a d e o p ró x im o e m e rg e n te c h a m a d o a p ro d u z ir- s e a o
nível p s ic o ló g ic o m a is e lev a d o d o s seres c o n sc ie n te s , n ã o a d m ite q u e e ste D eu s te n h a
a tu a d o c o m o c r ia d o r d o E s p a ç o -T e m p o p rim itiv o n em d o s e m e rg e n te s q u e lh e são
a c re s c e n ta d o s . Emergência, m e sm o n ele, p e rm a n e c e , p o is , s im p le sm e n te o n o m e de
u m fe n ô m e n o a d m itid o p o r in d u ç ã o , m a s n ã o c o n s titu i u m a e x p lic a ç ã o , a ssim c o m o
a p a la v r a “ v id a ” n ã o ex p lica a n u tr iç ã o e a r e p r o d u ç ã o . É , p o is , im p o r ta n te n ã o
ver n e s ta d e n o m in a ç ã o u m a h ip ó te s e e x p lic a tiv a , n e m m e sm o u m a p ro m e s s a d e in te ­
lig ib ilid ad e . (A. L.)

S o b re E m in e n te — “ P e r e m in e n tia m esse d ic itu r e n s q u o d p ro p r ie lo q u e n d o n o n


est, u b i ta m e n q u id h a b e t in se q u o d v icem e ju s s u p p le t q u o d p ro p r ie e id em trib u i
r e p u g n a t” , C h r . W ÃÂ E E , Ontologia , 845. O s e sc o lá stic o s , d iz ele, a c re s c e n ta m q u e
é p reciso além d isso q u e o ser a o q u a l se a trib u i e s ta q u a lid a d e p er eminentiam te n h a
o p o d e r de p ro d u z ir f o r a d e si m e s m o o q u e ele p o s s u i e m in e n te m e n te , m a s e sta c o n ­
d iç ã o , s e g u n d o ele, n ã o e stá se m p re im p líc ita n a u tiliz a ç ã o d o te rm o .

I . “ A em ergência de um a nova qualidade a um certo nível dc existência significa que a c»sc nível vem
a ser um a certa constelação [no sentido alem ão: conjunto de posições c de m ovimentos] ou colocação de
m ovim entos que pertencem a esse nivel e possuem a qualidade que lhe é pró pria; e essa colocação possui
um a nova qualidade característica de um com plexo superior Essa qualidade e a constelação à qual pertence
são ao mesmo tem po qualquer coisa de novo e integralm ente exprimivel em term os de processos próprios
ao nível do qual emergem. É precisam ente desta m aneira que o espírito é um a nova qualidade distin ta da
vida, com os seus m étodos próprios e particulares de co m portam ento ... não p u ra m en te vital, mas tam bém
v ita l.”
297 EM OÇÃO

p ro p rie d a d e g eral e su p e rio r q ue teria, em g en d ra d a . W o l f f , Ontologia, § 8 4 5 ,


p rin c íp io , o E s ta d o (o u o s o b e r a n o ) s o ­ q u is s u p rim ir e s ta ú l t i m a c a ra c te rís tic a e
b re to d o s os b e n s p a rtic u la re s d o s c id a ­ re d u z ir a e x istê n c ia e m in e n te à p re se n ç a
d ã o s (o u s ú d ito s). A e x istê n c ia d este d i­ d e u m a c a ra c te rís tic a q u e o c u p a ria o lu­
re ito é, aliás, n e g a d a p e la m a io r p a rte d as gar d a q u ilo d e q u e se tr a ta . M as n ã o é
leg islaçõ es m o d e rn a s , q u e a trib u e m a o b a s ta n te d iz er q u e eminente d ife re d e vir­
E s ta d o a p e n a s o d ire ito d e e x p ro p ria ç ã o tual, p o r q u e o v irtu a l te m n e ce ssid a d e ,
d e v id o à u tilid a d e p ú b lic a , le g alm en te p a r a se a tu a liz a r , d e o u tr a c o is a q u e n ã o
c o n s ta ta d a e m e d ia n te u m a ju s ta e p ré ­ d a q u ilo d e q u e é v irtu a l; e n q u a n to o em i­
v ia in d e n iz a ç ã o (Declaração dos direitos n e n te n ã o te m essa n ecessid ad e. O v irtu a l
do hom em d e 1789, a r t . 17; C ó d ig o civil c o n té m , p o is , d o p o n to d e v is ta d a ex is­
fra n c ê s , a r t. 545). tê n c ia , a lg u m a c o isa a m e n o s q u e o re a l;
D. L ó ; « T τ . Compreensão eminente,e n q u a n to o e m in e n te c o n té m a lg u m a coi­
a q u e c o n siste n u m g ru p o d e c a ra c te rís ti­ s a a m a is.
cas q u e p e rte n c e m a o c o n c e ito d e u m a T em -se o d ire ito d e s u s te n ta r q u e o
m a n e ira ta l q u e ele d ev e n e c e s sa ria m e n te c o n c e ito d e existência eminente n ã o c o r­
p o s s u ir u m deles: p o r e x e m p lo , p a r a u m r e s p o n d a a n a d a d e r e a l, m a s n ã o o d e
m u d a r o s e n tid o tr a d ic io n a l d este te rm o
n ú m e ro in te iro a c a r a c te rís tic a d e se r p a r
re tira n d o d a s u a c o m p re e n sã o o p o d e r d e
o u ím p a r; p a r a u m a p ro p o s iç ã o d e ser
p r o d u z ir a q u ilo d e q u e se tr a ta .
q u e r in d iv is a * , q u e r p a r tic u la r * , q u e r
Rad. in t .: E m in e n t (Boirac).
u n iv e rs a l* . V e r Compreensão.
E M O Ç Ã O D . A ffe k t; Gemütsbewe-
CRÍTIC A
gung ; E . Emotion, m ais a m p io d o q u e em
O s s e n tid o s B e C sã o n a re a lid a d e fr a n c ê s ; F . Émotion; 1. Emozione.
m u ito p ró x im o s, s e n ã o m e sm o id ê n tic o s, A . “ E n te n d o p o r e m o ç ã o u m c h o q u e
p o is n o s d o is caso s se d iz q u e u m a c o isa b ru s c o , m u ita s vezes v io le n to , in te n s o ,
ex iste e m in e n te m e n te n u m a o u tr a q u a n ­ c o m a u m e n to o u p a ra d a d o s m o v im ento s:
d o e la n â o e stá a li e fe tiv a m e n te , m a s es­ o m e d o , a c ó lera, o a p a ix o n a r-se etc. N is­
ta ú ltim a p o ssu i a lg u m a p o tê n c ia o u p r o ­ so c o n fo rm o - m e à e tim o lo g ia d a p a la v ra
p rie d a d e pela q u a l a p rim eira p o d e ser en ­ emoção , q u e sig n ific a s o b r e tu d o movi-

S o b re E m o ç ã o — E ste te r m o é e n te n d id o n o s s e n tid o s m a is d iv e rso s:


E m o ç ã o sig n ific a e tim o ló g ic a m e n te a lg u m a c o isa a m a is d o q u e m o v im e n to : é
o m o v im e n to q u e fa z a lg u m a c o isa sair d o seu lu g a r, o u p e lo m e n o s d o e s ta d o em
q u e e sta v a a n te rio rm e n te , Em otiprocum bunt cardine postes. A p e n a s existe e m o ç ã o ,
p a re c e -m e , o n d e ex iste c h o q u e , a b a lo . D e v er-se -ia , p o r isso , c h a m a r e m o ç ã o à a ç ã o
e x e rc id a s o b re a v o n ta d e (em s e n tid o a m p lo ) a tra v é s d e u m a re p re s e n ta ç ã o , o u u m a
a fe c ç ã o sim p le s, a ç ã o q u e p r o v o c a em seg u id a a re a ç ã o d a v o n ta d e . P o r e x em p lo ,
h á , p rim e ir o , re p re s e n ta ç ã o de u m p e rig o , d e u m a ta q u e ; s e g u n d o , c h o q u e p ro d u z i­
d o p o r e s ta re p re s e n ta ç ã o s o b re a v o n ta d e , o re c e io , a c ó le ra ; te rc e iro , re a ç ã o d a
v o n ta d e , te n d ê n c ia p a r a fu g ir o u p a r a lu ta r. A e m o ç ã o s e ria p a r a m im o fe n ô m e n o ,
o m o m e n to n ú m e ro d o is. M as c o n fu n d e -se s e m p re este m o m e n to se ja c o m o p rim e i­
ro , se ja co m o te rc e iro . A s p ró p r ia s p a la v ra s re c e io e c ó le r a im p lic a m a te n d ê n c ia
p a r a fu g ir o u p a ra lu ta r. E u a ss im ila ria o p rim e iro a o e s ta d o de u m c o r p o elástico
q u e e n tra em c o n ta to co m u m o u tr o ; o s e g u n d o s e ria a q u e le em q u e ele se d e fo rm a
so b a p re s sã o ; o te rc e iro , a q u e l e e m q u e e l e r e t o r n a à s u a f o r m a e r e p e l e o o u tr o ,
o u re c u a d ia n te d ele. ( / . Lachelier)
EM OÇÃO 298

mento (motus, Gemüthsbewegung, etc.).” Emotions a ndthe Wili), aplicou-se tam b ém


R « ζ Ã , Logique des sentim ents, p. 67.
I a p a lav ra em o çã o ao s estados m ais elem en­
B. T o d o s o s fen ô m en o s preced en tes, tares e m ais g erais, tais c o m o o p ra z e r e a
e a in d a m ais o s esta d o s crô n ico s qu e se d o r . “ C h a m a re m o s em o çõ es às sensações
m an ifestam p o r u m a ren o v ação co n tín u a c o n sid e ra d a s d o p o n to d e v ista a fe tiv o ,
d a s p eq u en as em oções n o sen tid o A (diz- q u e r d iz e r, c o m o o p ra z e r e a d o r , e re ser­
se tam b ém n este sen tid o e sta d o d e em o­ v are m o s o n o m e d e sensações p a r a o s fe­
tividade). n ô m e n o s d e re p re s e n ta ç ã o .” P a u l J τ ÇE I ,
C . M ais g eralm en te a in d a , e p o r im i­ Traite de philosophie, 4? e d iç ã o , p . 42.
ta ç ã o d o inglês q u e a esten d e a to d o s os V e r s o b re as d ife re n te s d e fin iç õ es d as
fen ô m en o s afetivos* (cf. A l. Bτ « Ç , The e m o ç õ e s, L τ Ç; E , Les emotions , “ O b se r-

V e r, n a m e sm a o rd e m d e id é ia s, a c lassific aç ã o p r o p o s ta p o r F. Rauh em Psycho-


iogie des sentiments. A í, ele d is tin g u e a fe c ç õ e s e te n d ê n c ia s c o m o fo i fe ito a tr á s ; m a s
e n tre a s a fe c ç õ e s re c o n h e c e d u a s classes: o s e s ta d o s in d if e re n te s , c a ra c te riz a d o s p o r
s u a n a tu re z a u n ifo r m e e c rô n ic a ; o s e sta d o s a g u d o s , a o s q u a is d á o n o m e d e e m o ­
çõ es. E s ta ú ltim a classe c o m p re e n d e ta m b é m o p ra z e r e a d o r , t o d a s a s vezes e m q u e
eles p o ssu e m e s ta c a r a c te rís tic a d e a c u id a d e .
P. Maiapert p r o p õ e , p e lo c o n tr á r io , a p a g a r a d is tin ç ã o fe ita e n tr e a a fe c ç ã o sim ­
ples e a e m o ç ã o , a tra v é s d a c a r a c te rís tic a s e g u n d o a q u a l a e m o ç ã o é m a is m o m e n tâ ­
n e a . P o r o u tr o la d o , d iz ele, “ h a v e ria lu g a r p a r a te r e m c o n ta a d is tin ç ã o e n tre a s
emoções-choque e as emoções-sentimentos. A ssim c o m o n a e s p e ra n ç a , n o a b a tim e n ­
to , n a triste z a e n a a le g ria n ã o se m o s tra m o s e le m e n to s c a r a c te rís tic o s d a e m o ç ã o
n o s e n tid o A ” .
N ã o se p o d e ria d e fin ir a e m o ç ã o p o r u m a fó r m u la c o m o e s ta : “ É o e le m e n to
de p ra z e r o u d e d o r q u e se d e sta c a o u pode d e s ta c a r-s e — q u e r d o s fe n ô m e n o s d e
s e n s a ç ã o e d e s e n tim e n to , a m b o s receptivos , p o r q u e , c o m o eles in d ic a m u m a a ç ã o
d e f o r a p a r a d e n tr o , tê m a s u a o rig e m f o r a d e n ó s ; q u e r d o s fe n ô m e n o s d e in c lin a ­
ç ã o n o s seus d iv e rso s g ra u s (te n d ê n c ia , p e n d o r , p a ix ã o ), to d o s e s p o n tâ n e o s , p o rq u e ,
c o m o re s u lta m d e u m a re a ç ã o d e d e n tro p a r a f o r a , tê m a s u a o rig e m e m n ó s e n a
n o s s a p r ó p r ia a tiv id a d e .” É p o is a e m o ç ã o q u e d a r á a u n id a d e a o s fe n ô m e n o s sen sí­
veis. (F. Eveliin )
E n te n d e m o s p o r emoções , n o te x to visad o a trá s , to d o s os fen ô m en o s afetiv o s es­
tático s (q u er d izer, q u e n ã o são ten d ên cias p a ra u m o b je tiv o , qu e são estad o s e n ã o
ações o u direções d a ação ) excluindo to d a v ia d a p a la v ra , to m a d a n o sen tid o m ais
e strito , os fen ô m en o s d e p ra z e r e d e d o r, q u a n d o eles são bem lo calizad o s n u m a re ­
g iã o d e te rm in a d a d o c o rp o o u n u m a p a rte d e te rm in a d a d o esp írito , sem p ro v o c a r
u m a a titu d e o u reação d e c o n ju n to d e to d o o ser. C f. Bτ « Ç , T e o ria d a “ d ifu s ã o ”
d a s em oções; te o ria q u e fo i m en o s d e s tru íd a q u e revirada p ela h ip ó tese d e W . J τ ­
OE è e d e Lτ Ç; E . A e m o ção p arece-n o s, p o is, esta r p a ra a afe c ç ã o elem en tar assim
c o m o a p aix ã o e stá p a ra a in clin ação : am b as sã o c a ra c te riz a d a s an tes d e tu d o pela
su a n a t u r e z a g e r a l e av a ssa la d o ra . N ão tem o s o b je ç ã o rad ical q u a n to à d istin ç ã o d a
em oção-choque e d a em oção-sentim ento; p raticam en te elas distinguem -se bem . P ode-
se c o n tu d o n o ta r q u e a e m o ção d u ra d o u ra ap en as é em o ção e n q u a n to se m a n ife sta
em c a d a in sta n te atrav és d e p eq u e n a s p e rtu rb a ç õ e s, de p eq u en as em o çõ es-ch o q u e
q u e a b a la m lig eiram en te, m as n a su a to ta lid a d e , o c o n ju n to d o n o sso esta d o de co n s­
ciência. É , p o is, ú til m e n c io n a r estas duas fo rm as ex trem as dos fen ô m en o s sem as
o p o r, a n ã o ser em g rau . (A . L.)
299 E M P IR IC O

vaçòes p relim in ares” e “ A d d e n d a ” (tra d . P rim e iro — P o r q u e é u m e s ta d o m a is


fr a n c . D Z Oτ è , p p . 24-25 e 143 ss.). E le c o m p le x o , d ife re n c ia d o p o r c a m b ia n te s
m e sm o d is tin g u e s o b re tu d o a e m o ç ã o d a d e p ercep çõ es, d e re p re se n ta çõ e s e d e te n ­
p a ix ã o p e la m a io r c o m p le x id a d e d e sta d ên cias q u e c arac te riz a m a s u rp re sa , a es­
ú ltim a . p e ra n ç a , o a b a tim e n to , etc.
C RÍTIC A
S e g u n d o — P o r q u e è m ais m o m e n ­
tâ n e a .
P r o p o m o s a d o ta r o s e n tid o B, d e
T e rc e iro — P o r q u e re a liz a u m a u n i­
a c o r d o co m a c la s s ific a ç ã o p r o p o s ta n o
d a d e n a v id a d o e s p írito , s e n d o to d o s o s
a rtig o Afeição*.
e sta d o s d e c o n sc iê n cia a tu a is p e n e tra d o s
i p ra z e res p e la e m o ç ã o d o m in a n te .
a fecçõ es -j e d o r e s Rad. int.: E m o c.

{
I em oção
E M P IR 1 A V er Suplemento.
E M P Í R I C O G . *EfiTei(K *os; D . E m -
pirisch; E . Empirical·, F . Empirique ; I.
te n d ê n c ia s j in c lin a ç õ e s
Empírico. S o b re a e tim o lo g ia , ver as o b ­
a f e tiv a s [ p a ix õ e s serv açõ es.

A e m o ç ã o a ssim e n te n d id a d ife re d a s
a fe cç õ es sim p les:
S o b re E m p íric o — R e d a ç ã o n o v a q u e s u b stitu i a a n tig a , c o n fo rm e as n o ta s de
Lachelier, Egger, Ruyssen, Hémon, Iwanowski e a s o b s e rv a ç õ e s d e Rauh, Brunsch·
vicg, Pécaulí. E s ta n o v a re d a ç ã o , in c lu in d o as p ro p o siç õ e s q u e a te rm in a m , foi a p r o ­
v a d a n a sessã o d e 8 d e ju n h o d e 1905:
Etimologia. H o u v e n o s sé c u lo s II e II I d a e r a c ris tã u m a e sc o la d e m é d ic o s q u e
se c h a m a ra m ¿ ¿n re iç ix o i, em o p o s iç ã o a o u tr o s c h a m a d o s Xoyntoi; é p ro v a v e lm e n te
a p rim e ira u tiliz a ç ã o té c n ic a d e s ta p a la v r a e é d a í q u e S ex tu s E m p iric u s tiro u o n o ­
m e. C f. S 7 Z è , Hipotiposes pirronianas, I, c a p . 34; e Adversas Lógicos, II, § 191,
E I

3 2 7 . L « ζ Ç« U re c o rd a e g e n e ra liz a este s e n tid o em v á ria s p a ssa g e n s: Monadologia,


E

2 8 , N ovos ensaios, p re fá c io , e Discurso da conformidade, e tc ., n o in ic io d a Teodi-


céia, § 6 5 . ( / . Lachelier)
Equivalentes. E m a le m ã o d istin g u e-se, d ep o is d e Kτ ÇI , Empiriker (an tes d a ciên ­
c ia o u fo ra d a ciên cia) e Empirist (n o in te rio r d a c iê n c ia ). (R. Eucken)
J o h n S tu a rt M « Â Â ap lica especialm en te a p a la v ra Empirical a o m é to d o qu e p r o ­
cede “ te n ta n d o d iv ersas co m b in açõ es d e causas reu n id as artificialm en te ou en c o n ­
tra d a s n a n a tu re z a , e ten d o em c o n ta aq u ilo q u e se p ro d u z iu ... É preciso excluir tu ­
d o o q u e p erten ceria de algum m o d o à d e d u ç ã o ” . Lógica. ( C. H émon)
Crítica. C o n v iria re s trin g ir experimental a ser a p e n a s a d je tiv o d e experímentum,
experimentação. Sem isso n o s e x p o m o s a e q u ív o c o s sem n ú m e ro , ju s tific a d o s , a liá s,
p e lo u so de experimental n o s sécu lo s X V II e X V1I1. É la m e n tá v e l q u e R ib o t te n h a
in titu la d o a s u a c o n h e c id a o b r a : “ P s y c h o lo g ie a n g laise : éco le e x p e r im é n ta le S e ria
te m p o d e h a v e r d u a s p a la v ra s p a r a a p s ic o lo g ia de o b s e rv a ç ã o e a d e la b o r a tó r io .
( K Egger)
D ir-se -á , n e ste s e n tid o , d e a c o r d o c o m as p ro p o s ta s a n te r io re s , psicologia expe­
riencia! e experimental, sem p re ju íz o d a P s ic o lo g ia racional, d a P s ic o lo g ia p ro p r ia ­
m e n te empírica (n o s e n tid o A ) e d a P sic o lo g ia empirista (q u e r d iz e r, q u e n ã o a d m ite
n e n h u m a fo n te p r i m i t i v a d o c o n h e c im e n to além d a e x p e riê n c ia , q u e p e n sa q u e to d o
ju íz o é a posteriori). (A. L.)
E M P IR IS M O 300

E s ta p a la v r a u tiliza-se q u a s e sem p re v ra o s e n tid o A ; d iz e r, n o s e n tid o B , ex­


c o m o a n títe s e d e u m o u tr o te r m o ; c a b e periential e racional; n o sen tid o C a priori
d is tin g u ir trê s p a re s d e o p o s iç õ e s q u e ela e a posteriori. V e r A priori , C rític a .
serv e p a r a e x p rim ir. Rad. int.; A . E m p irik .
A . O p o s to a sistemático. O q u e é u m
re s u lta d o im e d ia to d a e x p e riê n c ia e n ã o E M P I R I S M O D . Empirismus; E .
se d e d u z d e n e n h u m a o u tra lei o u p ro p rie ­ Empiricism; F . Empirisme; I. Empirismo .
d a d e c o n h e c id a . “ U m p ro c e d im e n to e m ­ Empirismo é o n o m e g e n é ric o d e to ­
p íric o , u m a m e d ic aç ão e m p íric a .’' D iz-se d a s as d o u tr in a s filo só fic a s q u e n e g a m a
ig u a lm e n te d a s p e sso a s e n q u a n to os seus e x istê n c ia de a x io m a s* e n q u a n to p rin c í­
c o n h e c im e n to s e a s su as re g ra s de a ç ã o p io s de c o n h e c im e n to lo g ic a m en te d is tin ­
são empíricas n o sen tid o q u e a c a b a de ser to s d a e x p eriê n c ia .
d e fin id o : “ U m e m p ír ic o .” E ste se n tid o A . D o p o n to de vista psicológico, o em ­
p irism o o p õ e-se a o ra c io n a lism o in a tís ta ,
p a re c e m e sm o ser o m a is a n tig o .
q u e a d m ite a existên cia n o in d iv íd u o de
B . O p o s to a racional. O q u e exig e o
p rin cíp io s d e co n h ec im e n to evid entes. P o r
c o n c u rso a tu a l d a ex p eriên cia, c o m o a fí­
sica, em o p o siç ã o a o q u e n ã o o exige, c o ­ ex em p lo , L ÃT3 E c o n tra D è Tτ 2 è .
E I E

m o as m a te m ática s. E s ta o p o siç ã o ap lic a ­ B . D o p o n to de v ista g n o slo ló g ico , o


e m p irism o é a d o u trin a q u e , re c o n h e c e n ­
se a o e s ta d o p re s e n te d a s c iên c ia s, à su a
m e to d o lo g ia , n ã o à su a n a tu re z a n e m à d o o u n ã o a ex istên cia d e p rin c íp io s in a ­
to s n o in d iv íd u o , n ã o a d m ite q u e o espíri­
s u a o rig e m .
to te n h a leis p ró p ria s q u e d ifira m d as c o i­
C . O p o s to a puro (se n tid o s o b re tu d o
sas c o n h ecid as e, p o r c o n seg u in te, baseia
k a n tia n o ). O q u e n a ex p eriên cia to ta l n ã o
o c o n h ec im e n to d o v e rd a d e iro a p e n a s s o ­
vem d as fo rm a s o u d as leis d o p ró p rio es­
b re a experiência, fo ra d a q u a l a d m ite a p e­
p írito , m a s lh e é im p o s to d e fo r a : a in ­
n as definições o u hip ó teses a rb itrá ria s. P o r
tu iç ã o de u m triâ n g u lo g e o m é tric o é s e n ­
ex em p lo , S ú ÇT 2 c o n tra K τ Ç .
E E I
sível, m a s pura; a de u m c a r tã o b ra n c o
C . Sentido especial, relativ o ao p ro b le ­
tria n g u la r é sen sív el e empírica.
m a d a p e rc e p ç ã o v isu al. C h a m a m -se em-
C RÍTIC A piristas a o s p sicó lo g o s q u e c o n sid e ra m as
P ro p o m o s c o n s e rv a r p a r a e sta p a la ­ p ercep çõ es d e fo rm a e d e d is tâ n c ia c o m o

S o b re E m p iris m o — Empirismo r e p re s e n ta m u ito bem o h á b ito o u a m a n e ira d e


p ro c e d e r de u m e sp írito q u e se c o n te n ta c o m a e x p e riê n c ia . A filo s o fia q u e n ã o a d ­
m ite n a d a f o r a d a e x p e riê n c ia d e v e ria c h a m a r-s e em piritism o. (J. Lachelier)
S en d o o e m p irism o talv ez m ais u m método d o q u e u m a d o u tr in a , p o d e r-se-ia ta m ­
b é m d e fin i-lo d o p o n to d e v ista m o ra l: v er-se-ia e n tã o a ilu s tra ç ã o m a is p e rfe ita d a
te n d ê n c ia p a r a re c o n s titu ir a v id a p sic o ló g ic a o u m o r a l n o seu to d o p o r m e io d e a l­
g u n s e le m e n to s sim p les o u c o n s id e ra d o s c o m o ta is (s e n sa ç ã o , p ra z e r, in te re sse ) e p a ­
r a fa z e r sair o mais d o menos o u , c o m o g o s ta v a de d iz e r R a v a is s o n , o superior d o
inferior. (L. Boissé)
A u tiliz a ç ã o d a p a la v r a “ e m p ir is ta ” n o s e n tid o C é c o rre n te , m a s p a re c e -m e de-
sac o n se lh á v e l. P a re c e -m e q u e é p re c iso d is tin g u ir a c e rc a d o p ro b le m a d a p e rc e p ç ã o
d o e sp a ç o : te o ria s r a c i o n a l i s t a s (p o r e x e m p lo , a de K τ Ç ) e te o ria s e m p iris ta s , e n ­
I

te n d e n d o p o r isso to d a s a q u e la s q u e d e riv a ra m a p e rc e p ç ã o d o e sp a ç o d a s sen saçõ es;


e sta s ú ltim a s te o ria s , p o d e n d o ser q u e r g e n ética s, se a s sen sa çõ e s fo re m c o n s id e ra ­
d a s c o m o p rim itiv a m e n te in e x te n siv a s , a p e n a s p o d e n d o d a r a p e rc e p ç ã o d o e sp a ç o
a o c o m b in a re m -s e (e sco la in g le sa o u e sc o la a le m ã ), q u e r in a tis ta s , se a se n sa ç ã o fo r
c o n s id e ra d a c o m o p rim itiv a m e n te e x te n s iv a . U m in a tís ta c o m o J a m e s n ã o é m e n o s
e m p iris ta (n o s e n tid o A ) q u e S p e n c er. (J?. Daudé)
301 EM SI

a d q u irid a s p elo sen tid o d a v ista ; inatistas, lu to s d a r a z ã o ; ele é p o is em si p e rfe ita ­


aq u eles q u e as c o n sid e ra m c o m o in a ta s. m en te leg ítim o , e os n o sso s freq ü en tes e r­
ro s n ã o v êm d o p ro c e d im e n to , e t c .5'
C RÍTIC A F 2 τ ÇT3 , VÃ Erro, 464 B.
S en d o o in a tism o d o s p rin cip io s n o in ­ B . In d e p e n d e n te m e n te d a a p a rê n c ia *
d iv id u o u m p o n to a c e ito (c o m a s re s e r­ (m esm o u n iv e rsal e n tre o s h o m en s) e c o n ­
v as já fe ita s p o r L E « ζ Ç« U ) em v irtu d e d a fo rm e à re a lid a d e ; o q u e a d m ite a in d a v á­
h e re d ita r ie d a d e e d a a d a p ta ç ã o , c o n v iria rio s s e n tid o s , a sab er;
re s e rv a r e sta p a la v r a a o s e n tid o B. 1? In d e p e n d e n te m e n te d o c o n h e c i­
Rad. int.: E m p irism ; E m p irik (Boirac). m e n to sen sív el e c o n fo rm e m e n te a o e n ­
te n d im e n to p u ro ; a b so lu ta m e n te e n ã o re ­
E M P I R I S T A D . Em pirist ; E . E m pi­ la tiv a m e n te ; “ T r a te m o s p o is d e n ã o se­
ricist; F . Em piriste ; I. Empirista. g u ir as im p ressõ es d o s n o sso s sen tid o s n o
A p e n a s se d iz d a s p e sso a s o u d o s sis­ ju íz o q u e fa z e m o s d a g ra n d e z a . P o is n a ­
te m a s; a q u e le q u e a d m ite o e m p iris m o . d a é g ra n d e o u p e q u e n o em si . ” M τ Â ­ E

V er Empírico , te x to e o b s e rv a ç õ e s . ζ 2 τ ÇT7 E , Recherche de la verité, I, c ap .


V I: “ D o s e rro s d a v is ta em re la ç ã o à ex­
E M S I D . A n sich ; E . in itself ; F . En te n s ã o em s i .”
so i ; I. In se. 2? In d e p e n d e n te m e n te d o c o n h e c i­
E s ta e x p re ssã o o p õ e -se c o m u m e n te à m e n to h u m a n o ta l c o m o ele é c o n s titu í­
e x p re ss ã o para nós ; d e sig n a o q u e é u rn a d o p e la s sen sa çõ e s e p e la ra z ã o , m a s n ã o
c o isa n a s u a n a tu re z a p r ó p r ia e v e rd a d e i­ in d e p e n d e n te m e n te d e to d o c o n h e c im e n ­
r a , q u e r d izer: to e m g e ra l: “ D e r B e g riff ein es N o u m e -
A . In d e p e n d e n te m e n te d o s e rro s , d a s n o n , d . i. ein es D in g es w elch es g a r n ic h t
ilu sõ e s, d a s a p lic aç õ es in d iv id u a is e c o n ­ als G e g en sta n d d e r S in n e, so n d e rn als ein
fo rm e m e n te à su a d e fin iç ão o u à id éia c o ­ D in g an Sich selbst g e d a c h t w erd en so ll,
m u m q u e d e la têm os h o m e n s. “ O ra c io ­ ist n ic h t w id e rsp re c h e n d : d e n n m a n k a n n
c ín io a p ó ia -se s o b re o s p rin c íp io s a b s o ­ v o n d e r S in n lic h k e it n ic h t b e h a u p te n ,

S o b re E m si — T o d a e s ta q u e s tã o e s tá , m e sm o d o p o n to d e v is ta h is tó ric o , re p le ­
ta de d ific u ld a d e s . P a re c e -m e q u e K τ Ç , p a r tic u la rm e n te n a d is c u s s ã o d as a n tin o ­
I

m ia s , se te n h a p re o c u p a d o m e n o s em o p o r as s u b s tâ n c ia s , n o s e n tid o v u lg a r d a p a la ­
v ra , ao s fe n ô m e n o s , d o q u e em o p o r a s c o isas d a d a s em si m e sm as (q u a is q u e r q u e
elas seja m ) às re p re s e n ta ç õ e s in d iv id u a is e a tu a is . É v e rd a d e q u e o seu p e n s a m e n to
é, s e g u n d o c re io , n o f u n d o , q u e o s fe n ô m e n o s a p e n a s podem ser a re p re s e n ta ç ã o
a tu a l de u m a s e n sib ilid a d e in d iv id u a l, d e m a n e ir a q u e n ã o h á m e io -te rm o p a r a ele
e n tre essas re p re s e n ta ç õ e s e o e x tra -sen sív e l a b s o lu to . M « Â Â n ã o vê q u e a v e rd a d e ira
q u e s tã o e s te ja e n tre o e s ta d o p re s e n te e u m o u tr o e s ta d o p o ssív el d a n o s s a sen sib ili­
d a d e , m a s e n tre o c o n h e c im e n to sensív el em g e ra l e o d e sv a n e c im e n to de to d a a se n ­
s ib ilid a d e q u e f a r á d esv a n e ce r-se a o m e sm o te m p o tu d o o q u e c h a m a m o s fe n ô m e n o s
o u o b je to s q u a is q u e r. K τ Ç tr a n s f o r m o u t o d a e sta q u e s tã o , q u e e sta v a m al c o lo c a ­
I

d a p elo s c a rte s ia n o s . E le foi o p rim e iro a c o lo c a r o p rin c íp io d a ilu s ã o n ã o n o e x ercí­


cio d a v isã o o u d e o u tr o s e n tid o , m a s n a in tu iç ã o d o e sp a ç o e d o te m p o , q u e e ra m
p a r a o s c a rte s ia n o s o b je to s d o e n te n d im e n to e d e q u e ele fe z , p e lo c o n tr á r io , “ f o r ­
m a s d a s e n s ib ilid a d e ” , e n te n d e n d o c o m isso a s fo r m a s q u e rev estem n e c e s sa ria m e n ­
te a s m in h a s re p re se n ta ç õ e s atuais e q u e n ã o s ã o elas p r ó p r ia s n a d a f o r a d a s minhas
e destas re p re s e n ta ç õ e s , s u p rim in d o assim to d o m e io -te rm o e n tr e o meu m undo e
a b s o l u t a m e n t e n e n h u m m u n d o . (7. Lachelier )
“ E N A N T IO S E ” 302

d ass sie die ein zig m ö g lic h e A r t d e r A n s ­ Em si o p o s to a para si*-, ver Su­
c h a u u n g s e i ... A m E n d e a b e r ist d o c h d ie plem ento.
M ö g lic h k e it so lc h e r N oum enorum g a r
C RÍT IC A
n ic h t e in zu se h en u n d d e r U m fa n g a u sse r
d e r S p h ä re d e r E rsch ein u n g en ist (fü r uns) O sen tid o A e o sentido B, 1?, têm u m a
le er, d . i. w ir h a b e n ein en V e rs ta n d , d e r e stre ita re la ç ã o . C o m e fe ito , a ra z ã o o u o
sich p ro b le m a tis c h w e iter e rs tre c k t als j e ­ e n te n d im e n to p u r o (p a rtic u la rm e n te n o s
ne; a b e r k ein e A n s c h a u u n g ... w o d u rc h c a rtesia n o s) é o q u e h á d e c o m u m e n tre os
u n s au sser d em F eld e d e r S in n lich k eit G e ­ h o m e n s, e n q u a n to sensível é o q u e v a ria
g e n s tä n d e g eg eb en w e rd e n k ö n n e n .” 1 d e um h o m e m p a ra o u tro e, n o m esm o h o ­
m e m , d e u m m o m e n to p a ra o u tro .
K a n t , Crítica da razão p u ra , D a d is tin ­
O s e n tid o B, 3 ?, p a re c e ser o m ais
ção d e to d o s o s o b je to s em fe n ô m e n o s e
u su al n o s a u to re s c o n te m p o râ n e o s. P o d e-
em m ám en o s, A 2 5 4 /2 5 5 ; B 310.
se m e sm o s u s te n ta r q u e o s se n tid o s 1? e
3? In d e p e n d en te m e n te d e to d o c o n h e ­
2? se re d u z em a casos p a rtic u la re s d a q u e ­
c im e n to . “ In s o m e f u tu r e s ta te o f exis­
le: s en d o u m a co isa o q u e ela é em si m es­
te n c e it is c o n c e iv a b le t h a t w e m a y k n o w
m a , in d e p e n d e n te m e n te d e s u a re la ç ã o
m o re , a n d m o re m a y be k n o w n b y in te l­
c o m q u a lq u e r o u tr a c o is a e, p o r co n se-
lig en ces s u p e r io r to u s ... B u t all th is a d ­
q ü ê n c ia , c o m to d o c o n h e c im e n to , a c o n ­
d itio n a l k n o w le d g e w o u ld b e , lik e th a t te c e , to d a v ia , q u e , p o r u m a esp écie de
w h ic h we n o w p o sse ss, m e re ly p h e n o m e ­ h a r m o n ia , a n a tu re z a d e ssa c o isa é fiel-
n a l. W e s h o u ld n o t an y m o re th a n a t p r e ­ m e n te re p ro d u z id a pelo e n te n d im e n to o u
s e n t k n o w th in g s a s th e y a re in themsel­ p o d e ria ser re p ro d u z id a p o r q u a lq u e r o u ­
ves, b u t m e re ly a n in c re a s e d n u m b e r o f tr a fa c u ld a d e q u e a c id e n ta lm e n te n o s fa l­
re la tio n s b e tw ee n th e m a n d u s .” 12 J . S. te . E s ta p o s s ib ilid a d e d e c o n h e c im e n to
M i l Examination o f Sir W. H am il­
l , n ã o a c re s c e n ta o u n ã o tir a n a d a a o q u e
to n ’s Philosophy, c a p . II, § 10. é essa n a tu r e z a em si. M a s , p o r o u tr o la ­
d o , é o b s c u r o e talv ez m esm o c o n tr a d i­
tó r io p e n s a r q u a lq u e r c o isa c o m o in d e ­
1. " O conceito de um núm eno (quer dizer, de p e n d e n te d o p e n s a m e n to em g e ra l. T a l­
um a coisa que não seria de modo algum objeto dos
vez m e sm o este ú ltim o s e n tid o a p e n a s se
sentidos, mas que deve ser pensada com o uma coisa
em si m esm a) não é contraditório: porque não se po­ te n h a e sta b e le c id o p o r u m a p a ssa g e m ao
de pretender que a faculdade de experim entar sensa­ lim ite (cu ja legitim id ade é co n testáv el), le­
ções seja o único m odo possível de intuição,.. Mas v a n d o a té o a b so lu to a d istin ção usual e n ­
definitivam ente não possuímos qualquer meio para tre o ilu s ó rio e o re a l; e sta tra n s p o s iç ã o
penetrar a natureza desses N úm en os possíveis, e tu ­
p o d e , a liá s, te r sid o fa c ilita d a p e la r e la ­
do o que rodeia a esfera dos fenôm enos é (para nós)
vazio; dito de o utra form a, temos um entendim ento ção q ue assin alam o s a trá s en tre A e B, 1?.
que problem áticam ente se estende para além desta C a b e , p o is, c o n s id e ra r e s ta e x p re ssã o c o ­
esfera, m as nenhum a intuiç ão... pela qual os obje­ m o s u s p e ita e n ã o a u s a r sem u m a c rític a
tos nos possam ser dados fo ra do cam po do conhe­
p ré v ia d a q u ilo a q u e e la se a p lic a .
cim ento sensível.”
2. “ Em algum estado futuro de existência é con­ Rad. int.\ E n s u (em si); e n su a j (c o isa
cebível que possam os conhecer mais; e para inteli­ em si).
gências superiores às nossas esse conhecim ento pode
“ E N A N T I O S E ” V e r Suplemento.
ser m ais extenso... M as todo esse conhecim ento adi­
cional seria, com o aquele que possuím os agora, pu­ E N D O F A S IA D . Endophasie; E . En-
ramente fenomenal. N ão poderiam os, tal como agora
não podemos, conhecer as coisas tais com o elas são
dophasy; F . Endophasie; I. Endofasia.
em si mesmas', conhecemos apenas um m aior núm e­ S u c e ssã o d a s im a g e n s v e rb a is q u e
ro de relações entre essas coisas e nós.” a c o m p a n h a m o e x ercício e s p o n tâ n e o d o

S o b re E n d o f a s ia — T e rm o o m itid o n a 1? re d a ç ã o ; o a rtig o é de P. Malapert .


303 E N E R G IA

p en sam en to . E stas im agens p o d e m ser a u ­ Sentido físico:


d itiv a s, m o triz e s de a rtic u la ç ã o , v isu ais, C. C a p a c id a d e de p r o d u z ir tr a b a lh o
m o trize s g rá fic a s. P ro p ô s -s e c h a m a r fó r ­ m e c â n ic o p e rte n c e n te a u m c o rp o o u a
mula endofásica d e u m in d iv íd u o o tip o u m siste m a d e c o rp o s .
p a rtic u la r q u e a su a e n d o fa s ia a p re s e n ­ E m M ec â n ica esta p o tê n c ia p o d e exis­
ta . V er E ; ; 2 , La parole intérieure\E tir so b d u a s fo rm a s : a energia cinética o u
Sτ « ÇI -P τ ,
Le langage intérieur et les
Z Â atual, q u e é a m e ta d e d a s o m a d as fo rç a s
paraphasies {la fon ctio n endophasique).
viv as í l — m v A d o siste m a e q u e ap e-
Rad. int.: E n d o f a s i. \ 2 1
E N E R G É T IC A D . Energetik ; E . n a s d e p en d e, p a ra c a d a m o m e n to , d a s ve­
Energetics; F . Enérgétique ; I. Energismo, lo c id a d e s d a s d ife re n te s p a rte s d o siste ­
Rτ ÇUÃ Â « . m a; e a energia potencial o u o potencial
A , S iste m a de m e c â n ic a q u e e lim in a q u e é “ a fu n ç ã o d a s fo r ç a s ” de sin al m u ­
d o s p rin c íp io s a n o ç ã o de fo rç a su b s- d a d o , e q u e a p e n a s d e p e n d e , p a ra c a d a
titu in d o -a p ela de en erg ia. “ A s d ific u ld a ­ m o m e n to , d a s p o siçõ es o c u p a d a s p o r es­
des lev an tad as pela m ecânica clássica c o n ­ ta s p a rte s . A s o m a d e las é a energia total
d u z ira m certo s esp írito s a p re fe rir-lh e um d o s iste m a c o n s id e ra d o .
siste m a n o v o a q u e eles c h a m a m energé­ E m F ísica, a d m ite -se , além d as d u a s
tica. O sistem a en erg ético nasceu em co n - esp écies de e n erg ia m e c â n ic a , d iv ersas
seq ü ê n c ia d a d e sc o b e rta d o p rin c íp io d a fo rm a s de e n e rg ia (c a lo rífic a , e lé tric a ,
c o n se rv a ç ã o d a e n e rg ia . F o i H e lm h o ltz m a g n é tic a , e tc .) d e fin id a s p e la su a e q u i­
q u e m lh e d e u a s u a f o r m a d e f in itiv a .” v alên cia, q u e r d iz er, pela p o ssib ilid ad e de
P Ã « ÇT τ 2 é , La science et 1’hypoihèse, tr a n s f o r m a r u m a d e te r m in a d a q u a n tid a ­
cap . V IU , p . 148 (segue-se a d efin ição das d e de u m a d elas n u m a d e term in a d a q u a n ­
d u a s q u a n tid a d e s e o e n u n c ia d o d o s d o is tid a d e d e u m a o u tr a (s o b re tu d o d e e n e r­
p rin c íp io s s o b re o s q u a is se fu n d a e sta g ia m e c â n ic a ).
te o ria ).
B . S iste m a d e c o sm o lo g ia q u e c o n s i­ Princípio da conservação da energia.
d e r a a e n erg ia e n ã o já a m a té ria c o m o P rin c íp io d a física g e ra l seg u n d o o
a s u b stâ n c ia d o m u n d o físico ; s u s te n ta ­ q u a l u m siste m a q u e a p e n a s se m o d ific a
d a e m p a r tic u la r p o r O è ç τ Â á . D iz-se
I
p elo s m o v im e n to s d a s su a s p a rte s e p elas
ta m b é m energetismo. açõ es q u e elas exercem u m a s s o b re as o u ­
Rad. int.: E n e rg e tik .
tr a s c o n s e rv a u m a q u a n tid a d e c o n s ta n te
E N E R G I A G . ’E vêçyeta, ato, força, d e energia (se n d o e ssa q u a n tid a d e d e fi­
eficácia', D . Energies E . Energy ; F . Ener­ n id a c o m o a s o m a d a s e n erg ias m e c â n i­
gies I. Energia. c a s e físicas e n u m e ra d a s m ais a trá s ). E s ­
Sentido psicológico : te p rin cíp io a p en a s é v e rd ad eiro ex cetu an ­
A . C a p a c id a d e de fa z e r e sfo rç o * , do-se a s tra n sfo rm a ç õ e s possíveis d a e n er­
c a r á te r* , D . g ia em m a ssa o u in v e rs a m e n te .
B . V o n ta d e de u tiliz a r to d a a s u a D isse-se, d e in ício , neste sen tid o “ c o n ­
fo rç a . serv ação d a f o r ç a ” ( Erhaltung der Kraft,

S o b re E n e r g i a — E s te te rm o fo i c ria d o p o r T h o m a s Y Ã Z Ç ; , s e g u n d o R τ Ç 3 « Ç , E

a q u e m ele tin h a sid o a tr ib u íd o . (C . R. o f the Philosophical Society o f Glasgow, 23


d e ja n e ir o d e 1867. V er T τ « , Esquisse historique..., tr a d . M o ig n o , p . 73.)
I

S o b r e a g e n e r a l i z a ç ã o d o s e n t i d o d e s t e t e r m o v e r O è ç τ Â á , Die Energie, 1 9 0 8 .
I
E N E R G IA E S P E C ÍF IC A D O S S E N T ID O S 304

H Â O ÃÂ U
E 7 I ) ÃZ persistência da força ric o s o u d o s c e n tro s . C o n v é m , p o is , evi­
(v er H . S ú ÇT 2 , Primeiros princípios,
E E t a r a e x p re ss ã o , fr e q u e n te m e n te u s a d a ,
c a p . V I, em q u e ele d á a rg u m e n to s c o n ­ energia específica dos nervos, q u e é im ­
tr a a u tiliz a ç ã o d a s p a la v r a s conservação p ró p r ia .
e energia n e sta e x p re ss ã o ). M a s estas ex ­ Rad. int.: S p e c ifik en erg i.
p re ssõ e s s ã o im p r ó p ria s d e v id o a o u so
q u e , a liá s , é fe ito d o te r m o Força* e , d e E N G A J A M E N T O V er Comprome­
re sto , elas e stã o h o je q u a se c o m p le ta m e n ­ tim ento.
te a b a n d o n a d a s .
E N G L O B A N T E V er Suplemento.
Degradação da energia , v er De­
gradação. “ E N G R A M A ” F . “ Engramme ” , te r­
Rad. int.: E n e rg i. m o c ria d o p o r R . S O Ã Ç , Die Mneme*
E

(1904), p a r a d e s ig n a r a m o d if ic a ç ã o d o
E N E R G IA E S P E C ÍF IC A D O S S E N ­
sistem a n e rv o so c o rre sp o n d e n te à fix ação
T ID O S D . Spezifische Sinnesenergie; E .
de u m a re c o rd a ç ã o . A e v o ca ç ão d e sta , n a
Specific energy; F . Énergie spécifique; I.
m e sm a te rm in o lo g ia , é c h a m a d a ecforia.
Energia specifica.
E stes te rm o s n ã o e n tr a r a m n o u so
E x p ressão u tiliz a d a p ela m a io r p a rte
c o rre n te .
d o s p sicó lo g o s c o n te m p o râ n e o s p a ra d e ­
sig n ar esta tese d e J o h a n n M ü Â Â E 2 : “ A
E N L E V O L . Raptus; D . Entzückung;
sensação é a tran sm issão à consciência n ão E . Raptare', F . Ravissement.
de u m a qu alid ad e, o u de u m e sta d o de c o r­ A . P r o p r ia m e n te , n a lin g u a g e m d a
p o s ex terio re s, m a s d e u m a q u a lid a d e o u m ística, e s ta d o s u p e rio r a o êx tase*, e q u e
d e u m e sta d o d o s n o sso s n e rv o s, e sta d o se c o n s id e ra o c o rre r a p e n a s em c aso s r a ­
a c a rre ta d o p o r u m a c au sa e x te r io r.” M a­ ro s. (S ã o P τ Z Â Ã , S a n ta T 2 è τ , etc.
E E

nual de fisiologia. J . M üller, so b a in flu ên ­ V er, p o r ex em p lo , a an álise d o en lev o , e m


c ia d a d o u trin a de Kτ ÇI re la tiv a às f o r ­ S a n ta T e re s a , p o r D Â τ T 2 Ã « 7 , Études
E

m a s apriori d a sen sação , tin h a ele p ró p rio d ’histoire et de psychologie du m yst¿cis­


c h a m a d o “ e in g eb o ren e E n e rg ie ” 1 a e sta me, c a p . I I .)
p ro p rie d a d e q u e tê m os ó rg ã o s d o s sen ti­ B . N a lin g u ag em c o rre n te , p a rtic u la r­
d o s d e p ro v o c a r n a c o n sciên cia u m a c e rta m e n te e m m a té r ia e s té tic a , d iz-se h ip é r­
espécie de sensações, sem p re d a m esm a n a­ b o le d e u m e s ta d o d e p r a z e r m u ito v iv o
tu re z a (p o r ex em p lo , co res), m e sm o q u e o q u e p re e n c h e o e s p ír ito e lh e d á u m a im ­
e x citan te q u e os p õ e em a ç ã o v arie (lu z, p re s s ã o d e c o m p le ta s a tis fa ç ã o .
p re s sã o , e letric id ad e , e tc .) ( Zur Verglei- Rad. int.: R a v is.
chenden Physiologie des Gesichtsinnes,
1826). C f. E « è Â 2 , V o, s o b re o s p re c u rso ­
E E N T E e E X I S T E N T E V er Suple­
res d e s ta te o r ia e so b re as o b je çõ e s q u e lh e m ento.
sã o o p o s ta s , e m p a rtic u la r a s d e W Z Ç á .
I

É d u v id o so q u e e sta p ro p rie d a d e d e ­ E N T E D E R A Z Ã O A . (L . e sc o l. ens


p e n d a esse n cia lm e n te d o s ó rg ã o s p erifé­ raüonis). O b je to d e p e n sa m e n to a rtificia l­
m e n te c ria d o p e lo e s p ír ito p a r a a s n eces­
s id a d e s d o d is c u rs o e sem e x istê n c ia e m
I. “ Energia in a ta ” . si, n em n a re p re s e n ta ç ã o c o n c re ta . N este

S o b re E n te d e ra z ã o — P o d e -s e e n c o n tr a r em D e sc a rte s a s e g u in te p a ssa g e m :
“ T a m b é m n ã o m e p a re c e q u e v ó s p o ssa is p ro v a r a lg o c o n tra m im a o d iz e r q u e ‘a
id é ia de D e u s q u e e s tá e m n ó s é a p e n a s u m e n te de r a z ã o ’ , p o r q u e isso só s e ria v e r­
d a d e se p o r ente de razão se e n ten d e sse u m a c o isa q u e n ã o e x iste, m a s se to d a s
305 E N T E L É Q U IA

s e n tid o , to d a s a s id éias a b s tr a ta s e g erais rig in d o liv rem en te, seg u n d o as o b rig açõ es
fo ra m a lg u m as vezes c h a m a d a s “ entes d e m ú tu a s e c o n fo rm e m e n te a o c o m u m
ra z ã o ” ; m as este te rm o e m p reg a-se so b re ­ a c o r d o d o s e n te s de r a z ã o .” R e n o u v i e r
tu d o n u m s e n tid o p e jo r a tiv o , p a r a in s is ­ e P r a t , N ova monadologia, X C V . E s ta
tir s o b re o c a r á te r v e rb a l o u ir r e a l d a q u i­ e x p re ss ã o j á n ã o é u tiliz a d a ; c o n tu d o , é
lo q u e a ssim é c h a m a d o . V e r Ser*, C, e c o n fo rm e à a n a lo g ia d e ex p re ssõ es m u i­
a C rític a d e s ta n o ç ã o n o te x to c ita d o d e to c o rre n te s n a lite ra tu ra c o n te m p o râ n e a :
E s p in o s a ; Razão*, A ; e Entidade*. C f . “ U m e n te d e d e se jo ; u m e n te d e in s tin ­
B o s s u e t , Lógica, I , c a p . X I I I ; “ S o b re t o ” , e tc . C f . ta m b é m a e x p re s s ã o “ id a ­
a q u ilo a q u e se c h a m a e n te d e ra z ã o e q u e de d a ra z ã o ” .
id é ia se te m d e t a l . ”
E N T E L É Q U IÀ G . Έ ν τ € λ €χ « α ; L .
B . P a r a C o u r n o t , p e lo c o n tr á r io , a
esco l. Entelechia, Endelechia, id e n tific a ­
v e rd a d e ir a c rític a filo só fic a d a s c iên cias d a fr e q ü e n te m e n te c o m A ctu s e Forma;
c o n sis te “ e m f a z e r, ta n to q u a n to p o s s í­ D . Entelechia ; E . Entelechy ; F . Entélé-
v e l, a d is tin ç ã o e n tr e a s e n tid a d e s a r tif i­ chie; I. Entelechia.
c iais q u e c o n s titu e m a p e n a s sig n o s ló g i­ T e rm o c ria d o p o r A r i s t ó t e l e s . V em
c o s e a s e n tid a d e s f u n d a d a s s o b re a n a ­ d e tvrekm e d e extiv, “ e é p o r isso q u e
tu r e z a e a ra z ã o d a s c o isa s, os v e rd a d e i­ o c é le b re H e rm o la u s B a r b a r u s o e x p re s­
ro s entes de razão, p a r a e m p re g a r u m a so u em la tim , à le tra , p o r perfectihabia " .
e x p re ss ã o v u lg a r, m a s c o m u m s e n tid o L e i b n i z , Teodicéia, I, § 8 7 . D esig n a; 1?,
v e rd a d e iro e p r o f u n d o q u a n d o c o r r e ta ­ o a to c o n c lu íd o em o p o s iç ã o a o a to q u e
m e n te e n te n d id o ” . Ensaio sobre os fu n ­ e s tá se r e a liz a n d o , e a p e rfe iç ã o q u e re ­
damentos dos nossos conhecimentos, c a p . s u lta d e s ta c o m p le tu d e ( c f . o se n tid o la u ­
X I, § 159. E s ta a c e p ç ã o r e p o u s a s o b re a d a tiv o d a s p a la v ra s c o m p le tu d e , a c a b a ­
d is tin ç ã o q u e o a u to r e sta b e lec e u e n tre a d o ): “ Έ ν ί ρ γ ί t a . . . avvTCÍvcí ι τ ρ ό ί τ η ν eV
“ ló g ic a ” e a “ r a z ã o ” . Ibid., c a p . I I , p a r ­ reX exeiav.” Metafísica, I X , 8 , 1050»; 2 ? ,
tic u la rm e n te § 16-17. M as n ã o e n tr o u n a a fo r m a (eláos) o u a r a z ã o (λ ο γ ο ϊ ) q u e
lin g u a g e m u s u a l, e ele p r ó p r io p a re c e d e te rm in a a a tu a liz a ç ã o d e u m a p o tê n c ia :
serv ir-se d e la d e u m a f o r m a a p e n a s a c i­ “ Ή μ ε ν ν \η δ ύ ν α μ ή , τ ο δ ’ε ΐ δ ο τ eV rcX é-
d e n ta l. X íior.” Da alma , II, 2, 414*. “ ” E r t τ ο ν
C . N u m s e n tid o c o m p le ta m e n te d ife ­ ô u m jiÉ L Ã V I Ã è X Ã â Ã è η tvτ eKtχ ζ ta.,,
re n te , en te de r a z ã o fo i r e to m a d a p o r Ibid ., I I , 4 , 4 1 5 b. E a ss im q u e a a lm a é
R e n o u v i e r n o s e n tid o d e ente g o v e rn a ­ “ cvTtKexeta 1} πρ ώ τ η σ ώ μ ο ι τ os φ υ σ ι κ ο ύ
d o p e la ra z ã o . “ E le (o a lie n a d o ) p o d e δ υ ν ά μ ξ ΐ ζ ω ή ν €*χ ο ί »τ ο ί ” . Ibid., I I , 1,
p a s s a r p o r irresp o n sáv e l, c o m o n ã o se d i­ 412a. V er A to , D , e n o ta d e J. Lachelier.

a s o p e ra ç õ e s d o e n te n d im e n to fo re m to m a d a s c o m o entes de razão, q u e r d iz e r, c o ­
m o seres q u e p a r te m d a r a z ã o ; n e ste s e n tid o , to d o e ste m u n d o p o d e ta m b é m s e r c h a ­
m a d o u m e n te d e r a z ã o d iv in a , q u e r d iz e r, u m s e r c ria d o p o r u m sim p le s a to d o e n ­
te n d im e n to d iv in o .” Resposta às segundas objeções, § 10.

S o b r e E n te lé q u ia — L e ib n iz a b u s o u u m p o u c o d a p a la v r a enteléquia. D e re s to ,
é p re c is o n o ta r , n o § c ita d o d a Teodicéia, q u e e s ta p a la v r a te m em A ris tó te le s d o is
s e n tid o s e q u e a q u e le q u e L e ib n iz vai b u s c a r é o d e a to p e rm a n e n te (a ί ν τ Α έ χ α α
πρ ώ τ η , q u e , n o f u n d o , é a p e n a s u m a p o tê n c ia p ró x im a , c o m o o f a to d e te r o lh o s
c a p a z e s d e v e r, e n q u a n to o v e rd a d e iro ato d a v is ã o é ver is to o u a q u ilo ) . C re io q u e
A ris tó te le s n ã o te r ia a d m itid o q u e a fVreXexc«*, m e s m o ρπ ώ τ η , fo sse p rin c íp io d e
e s fo rç o e q u e lh e re s ta s s e u m e s fo rç o a f a z e r. N o f u n d o , a e n te lé q u ia d e L e ib n iz e s tá
n o te m p o e n q u a n to q u e a d e A ris tó te le s e s tá a c im a d e le . (7. Lachelier )
E N T E N D IM E N T O 306

E s ta e x p re s s ã o fo i r e to m a d a p o r Especialmente:
L « ζ Ç« U , q u e a a p lic a à M ô n a d a . “ M o s ­
E B . A fa c u ld a d e d e c o m p re e n d e r* , em
trei em o u tr a p a r te q u e a n o ç ã o de E n te - o p o siç ã o à s sen saçõ es: “ N o m eu p a re c e r,
lé q u ia n ã o é in te ira m e n te d e d e s p re z a r e o e n te n d im e n to c o rre sp o n d e à q u ilo q u e os
q u e , se n d o p e rm a n e n te , e la tr a z c o n sig o la tin o s c h a m a m intellectus, e o ex ercício
n ã o só u m a sim p le s fa c u ld a d e a tiv a , m a s d e s ta fa c u ld a d e c h a m a -se intelecção, q u e
ta m b é m a q u ilo q u e se p o d e c h a m a r f o r ­ é u m a p e rc e p ç ã o d is tin ta , u n id a à fa c u l­
ç a , e s f o r ç o , conatus , c u ja p r ó p r ia a ç ã o d a d e d e re fle tir, q u e n ã o ex iste n o s a n i­
deve p ro sse g u ir, se n a d a a im p e d e .” Teo-
m a is .” L « ζ Ç« U , N ovos ensaios, II, 21, §
E
dicéia , I, § 8 7 . “ P o d e r-s e -ia d a r o n o m e
5. “ P o r e sta p a la v ra , e n te n d im e n to p u ro ,
d e E n te lé q u ia a to d a s a s su b stâ n c ia s sim ­
a p en a s p re te n d e m o s d e sig n a r a fa c u ld a d e
ples o u m ô n a d a s c ria d a s , p o is elas têm em
q u e tem o e sp írito de c o n h e c e r os o b je to s
si c e r ta p e rfe iç ã o (¿'xouai I ò tvTthts)', h á
de fo r a , sem fo r m a r deles im ag en s c o rp o ­
u m a s u fic iê n c ia (otvTáQxeia) q u e a s t o r ­
n a fo n te d a s su as açõ es in te rn a s e, p o r as­ rais n o c é re b ro p a ra o s re p re s e n ta r.” M τ -
sim d iz e r, a u tô m a to s in c o r p o r a is .” M o - Â ζ 2 τ ÇT
E 7 E , Recherche de la verité, livro
nadologta, § 18. C f. ibid., § 48, 62, 63, III: “ D o e n te n d im e n to o u d o esp írito p u ­
6 6 , 7 0 , 74. r o ” , c a p . I, § 3. “ C h a m a -se sen tid o o u
Rad. int.: E n te le k i (Boirac). im a g in a ç ã o a o esp írito q u a n d o o seu c o r­
p o é cau sa n a tu ra l o u o c a sio n a l d o s seus
E N T E N D IM E N T O D . Verstand ; E . pen sam en to s; e cham a-se-lhe enten d im en to
Understanding ; F . Entendement·, I. Intel- q u a n d o ele ag e p o r si m e sm o , o u m e lh o r,
leto, intendimento. q u a n d o D eus age n ele.” fbid., livro V , 1 , 1.
A . F a c u ld a d e de c o m p re e n d e r* , n o
C . E m o p o s iç ã o , p o r u m la d o , à se n ­
sen tid o m ais geral d e sta p a la v ra : “ T h e p o ­
sa ç ã o e, p o r o u tr o , à r a z ã o (Vernunft):
w er o f th in k in g is called th e U n d e rsta n d in g
a) N o s en tid o k a n tia n o , o e n ten d im en ­
a n d th e p o w e r o f v o litio n is c a lle d th e
to é a f u n ç ã o d o e s p ír ito q u e c o n sis te e m
W ill.” 1 L o c k e , Essays, liv ro I I , c a p . V I.
lig a r a s se n sa çõ e s e m séries e e m siste m a s
c o e re n te s p o r in te rm é d io d a s c a te g o ria s* .
1. “ O poder de pensar chama-se Entendim ento e M as “ a n o s s a fa c u ld a d e d e c o n h e c e r ex ­
o poder de querer chama-se V ontade.” p e r im e n ta u m a n e c e s sid a d e m u ito m a is

S o b re E n te n d im e n to — A h is tó ria d a a n títe se e n tre R a z ã o (Ratio , Vernunft, Rea-


jo n ) e E n te n d im e n to (Intellectus, Verstand, Understandlng) p a re c e se r b re v e m e n te
e s ta . A o p o s iç ã o p rim itiv a é e n tre a Intuição o u c o n h e c im e n to direto e o c o n h e c i­
m e n to discursivo. A p rim e ir a (y oüs, vóriois d e P la tã o e d e A ris tó te le s ) a p lic a -se ao s
o b je to s superiores, c o m o n o ta A 2 « è ó Â è (p o r e x e m p lo Éti. M c . , X , 7, 2 ); o se­
I I E E

g u n d o u tiliz a -s e p a r a c o n s tr u ir a c iê n c ia (êidn>oia d e P la tã o , èirtortjfíi} d e A r is tó te ­


les), q u e u tiliz a o logos, o ra c io c ín io , o silo g ism o . T a l é a d is tin ç ã o a n tig a e n tre a
r a z ã o e o e n te n d im e n to , s u p e r io r e in fe rio r . E s ta re la ç ã o é in v e rtid a n a filo s o fia k a n ­
tia n a : 1 ?, p o r q u e n ã o a d m ite para nós o u tr a in tu iç ã o além d a q u e la de q u e o e sp a ç o
e o te m p o s ã o as fo rm a s ; 2 ? , p o r q u e , p a r a ele, o s o b je to s s u p e rio re s (D e u s, e tc .)
n ã o s ã o a p re e n d id o s p o r in tu iç ã o , m a s sugeridos p o r u m ra c io c ín io . O ra c io c ín io
to rn a -s e , a ss im , a f o r m a s u p e r io r, a in tu iç ã o a f o r m a in fe rio r d o p e n s a m e n to . E s ta
m u d a n ç a fo i sem d ú v id a fa c ilita d a p e la lín g u a a le m ã ; Vernunft p a re c e te r o se n tid o
de b o m sen so p r á tic o (c o m o poâs e m g re g o ), o q u e c o n c o r d a b e m c o m a c o n c e p ç ã o
d e K a n t s e g u n d o a q u a l a s id é ia s d a R a z ã o j á n ã o d e v em s e r c o n s id e ra d a s c o m o p r o ­
b le m a s d e e sp e c u la ç ã o , m a s c o m o p rin c íp io s p rá tic o s q u e p e rte n c e m à e s fe ra d a a ç ã o .
(C . Webb)
3»7 E N T ID A D E

e lev a d a d o q u e a q u e la d e s o m e n te d e c o m ­ que e m p iric a m e n te d a d o (v er K « 2 T ­


é 7

p o r o s fe n ô m e n o s s e g u n d o a s u a u n id a ­ Ç E 2 Vernunft). D a í re s u lta q u e o e n ­
, Vo
d e sin tética p a ra p o d e r lê-los e n q u a n to ex­ te n d im e n to é e ss e n c ia lm e n te o c o n ju n to
p e riê n c ia ” e é a e s ta n e ce ssid a d e q u e c o r­ d a s o p e ra ç õ e s d is c u rsiv a s d o e sp írito :
re s p o n d e a r a z ã o {Critica da razão pura, co n ceb er, ju lg a r , ra c io c in a r. “ Understan­
D ia l. tra n s e - , 1 , 1 , V o n d e n Id e e n ü b e r­ ding is d iscu rsiv e a n d h en ce b ased o n p re ­
h a u p t, A 314; B 371). O e n te n d im e n to é m ises a n d h y p o th e se s , th e m se lv e s n o t
a “ fa c u ld a d e d as re g ra s” ; a ra z ã o é a “ fa ­ s u b je c te d t o re fle x io n , w h ile ... Reason
c u ld a d e d o s p rin c íp io s ” , q u e r d iz er, a a p p re h e n d s in o n e im m e d ia te a ct th e w h o ­
a firm a ç ã o d e q u e e x iste p a r a to d o c o ­ le sy ste m , b o th p re m ises a n d in fe re n c e ,
n h e c im e n to c o n d ic io n a l u m e le m e n to in ­ a n d th u s h a s c o m p le te o r u n c o n d itio n e d
c o n d ic io n a l d e q u e ele d e p e n d e , e o e s ­ v a lid ity .” 2 B τ Â á ç « Ç , V Ã 7 2 5 b . O e n te n ­
f o r ç o p a r a d e te r m in a r esse e le m e n to d im e n to c o rre s p o n d e a ssim à δ ι ά ν ο ι α , a
(ibid., D ia le c t. tr a n s e ., in tr o d u ç ã o , I I , § ra z ã o à ν ό η ο ι ς d e P la tã o .
A , B , C ). “ A lle u n s e re E r k e n n tn is s h e b t
C R ÍT IC A
von d e n S in n en a n , g eh t v o n d a z u m V ers­
tä n d e , u n d e n d ig t bei d e r V e r n u n f t.” 1 E ste ú ltim o u so p arece-n o s a tu alm en te
Ibid., § A . o m ais d iv u lg a d o e o m e lh o r a c o n se rv a r,
b) N o s e n tid o d e S T Ã ú Ç τ Z 2 , Ã
7 E 7 E n a m e d id a e m q u e c o rre s p o n d e à d is tin ­
e n te n d im e n to é a f a c u ld a d e d e lig a r e n ­ ç ã o m u ito ú til q u e e x iste (p e lo m e n o s n o
tr e si a s re p re s e n ta ç õ e s in tu itiv a s c o n ­ e s ta d o a tu a l d o s n o sso s c o n h e c im e n to s )
fo rm e m e n te a o p rin c íp io de ra z ã o s u fi­ e n tre as fo rm a s in tu itiv a s e as fo rm a s d is­
c ien te; a ra z ã o é a fa c u ld a d e d e f o r m a r c u rsiv a s d o p e n s a m e n to .
c o n c e ito s a b s tr a to s e d e o s c o m b in a r em Rad. int.: In te le k t (Boirac).
ju íz o s e em ra c io c ín io s (Die Welt, I, § 4
e 8). E N T I D A D E L . e sc o l. Entitas ; D . A ,
c) M a s , p o r o u tr o la d o , a d is tin ç ã o Wesenheit ; B . C . Entität, a lg u m a s vezes
k a n tia n a d e u o rig e m a u m u s o d ife re n te . Seiendes; E . E ntity, F . Entité; I. Entità.
E le c o n sis te e m a tr ib u ir à ra z ã o o c o n h e ­
c im e n to d o e te rn o e d o a b s o lu to , e n q u a n ­
2. “ O entendimento é discursivo e tom a assim
to q u e o e n te n d im e n to se e x e rc e s o b re o
p o r p onto de p artid a premissas e hipóteses que não
são elas m esm as subm etidas à reflexão, enquanto a
Razão capta com um único a to im ediato um sistem a
I. “ T odo nosso conhecim ento com eça com os integral que com preende ao m esm o tem po as premis­
sentidos, daí passa ao entendim ento e acaba na ra ­ sas e a inferência, de m aneira que ela tem um a vali­
z ã o .” dad e com pleta ou in co ndicional.”

S o b re E n tid a d e — S e g u n d o L « ζ Ç« U (D eprincipio individui, G e r h ., IV , 18), este


E

p rin c íp io , s e g u n d o c e rto s e sc o lá stic o s — e a o p in iã o q u e o p r ó p r io L eib n iz a d o ­


ta — , e ra entitas tota, q u e r d iz e r, a re a lid a d e to ta l d o ser in d iv id u a l, em o p o s iç ã o
à s u a existentia o u à su a haecceitas. (J. Lachelier )
C Ã Z 2 ÇÃI te n to u re a b ilita r e r e s ta u r a r e s ta p a la v r a . C f. Essai sur ¡es fondem ents
de nos connaissances, c a p . X I: “ D a s d iv e rsas esp écies d e a b s tr a ç ã o e d e e n tid a d e s .”
E le d is tin g u e a s e n tid a d e s artificiais o u lógicas e as entidades racionais. E sta s ú lti­
m a s s ã o “ fu n d a d a s s o b re a n a tu re z a e a r a z ã o d a s c o is a s ” ; tê m u m v a lo r o b je tiv o ;
a ssim a s “ c o n s te la ç õ e s n a tu r a is ” d e H e rsc h e l, o s g ê n e ro s o u as esp écies d a s n o ssa s
c lassific a ç õ e s, u m a o n d a líq u id a , u m flu id o , u m a m o n ta n h a . S eria p re c iso d e fin i-lo s
E N T IM E M A 308

A . N a d o u tr in a r e a lis ta , o q u e c o n s ­ E N T IM E M A G . tv6vfiima\ D . Enthy-


titu i a e ssê n cia e a u n id a d e d e um g é n e ­ mem; E . E nthym em e; F . Enthym èm e; I.
r o . D e o n d e , p o r ir o n ia , o s e n tid o p e jo ­ Entim em a.
ra tiv o : a b s tr a ç ã o fa ls a m e n te to m a d a p o r A . Segundo A 2 «è ó Â è I {Prim.
I E E

u m a re a lid a d e . A n a l., I I , 27, 7 0 â10), silo g ism o f u n d a d o


B . U m o b je to c o n c r e to , m a s q u e n ã o s o b re as s e m e lh a n ç a s o u sig n o s.
te m u n id a d e o u id e n tid a d e m ateriais: u m a B . S e g u n d o B o é c i o e o s m o d e rn o s ,
o n d a , u m a c o rre n te d e a r, u m a m o n ta ­ silogism os de q ue se su b e n te n d e u m a p re ­
n h a . V er a d ia n te as o b s e rv a ç õ e s . m issa o u a c o n c lu s ã o .
C . U m “ a lg o ” ; u m o b je to de p e n s a ­ Rad. int .: E n tim e m .
m e n to q u e se c o n c e b e c o m o u m ser d e s­ E N T IT A T IV O V er Suplemento.
p ro v id o d e to d a d e te rm in a ç ã o p a rtic u la r.
E N T Ó P T 1 C A S V islu m b re s o u im a ­
CRÍTICA g en s. D iz -se d a s sen sa çõ e s v isu ais p r o v o ­
E ste te rm o é s o b r e tu d o u tiliz a d o n o c a d a s p o r u m o u tr o e x c ita n te q u e n ã o a
s e n tid o C p e lo s ló g ico s in g leses, e m r a ­ lu z (c o m p re s s ã o , c h o q u e , tr a u m a tis m o ,
z ã o d o f a to de q u e n a su a lín g u a a p a la ­ in f la m a ç ã o , e tc .).
v ra entity é de u so c o rre n te e p o ssu i u m E N T R O P I A D . Entropie; E. E n ­
s e n tid o c o n c re to : “ u m s e r, u m a c o is a ” . tropy; F . Entropie; I. Entropia.
S eria b o m n ã o seg u ir este u so a o q u a l fa l­ A e n tr o p ia é u m a f u n ç ã o c u ja s v a ria ­
ta c la re z a , e u tiliz a r de p re fe rê n c ia , c o n ­ ções p e rm ite m d a r u m a e x p re ssã o q u a n ­
fo r m e os c a s o s , as d e sig n a ç õ e s m a is p r e ­ tita tiv a a o s e g u n d o p rin c íp io d a te r m o ­
cisas de c la sse , in d iv íd u o o u re la ç ã o . d in â m ic a (P rin c íp io d e C τ 2 ÇÃ - C Â τ Z - I

Rad. iní.: A . E n te e ; B . E n t. è « Z è ). P o d e ser d e fin id a c o m o se seg u e:

n ã o p o r u m a c o m u n id a d e d e s u b s tâ n c ia o u d e e ssê n c ia , m a s p e la id é ia d e u m a “ s o li­
d a rie d a d e d a s cau sa s q u e as p r o d u z ir a m ” . U m a e n tid a d e é racional o u natural q u a n d o
c o n s titu i u m g r u p o d e o b je to s c u ja s s e m e lh a n ç a s n â o sã o f o r tu ita s , m a s re s u lta m
d e u m a m e s m a c a u s a o u d e u m a m e sm a esp écie d e c a u s a s. (D. Parodi)

S o b re E n tim e m a — A lig a ç ã o d o s d o is s e n tid o s p a re c e ser e s ta : e m m u ito s c aso s


(n ã o e m to d o s ) , o e n tim e m a a ris to té lic o (sim p les “ c o n s id e r a ç ã o ” d e ¿ ν θ υ μ έ ο μ α i) e ra
e x p re sso d e u m a f o r m a e líp tic a , s a lie n ta n d o o f a to d e o e n u n c ia r d e u m a m a n e ira
c o m p le ta a s u a in v a lid a d e f o r m a l. C o m a te n d ê n c ia p a r a tr a ta r a ló g ic a d e u m a m a ­
n e ira p u r a m e n te f o r m a l, e sta c a r a c te rís tic a v eio a ser c o n s id e ra d a c o m o o essencial
d o e n tim e m a , q u e , p a r a A ris tó te le s , e ra , p e lo c o n tr á r io , a su a c a r a c te rís tic a “ r e tó r i­
c a ” (ver Seg. A n a l., I I , I), e in v e n to u -s e , e n tã o , p a r a ju s tif ic a r este s e n tid o , a fa ls a
e tim o lo g ia l v θ υ μ ώ (u m a p re m is s a c o n s e rv a d a n o e sp írito ). A n o ta d e P τ T« Z è ao s
Prim. A n a l., I I , 2 7 , e m Comm entarius Analyticus in Aristotelis Organum, 1605, d á
c o n ta m u ito c o m p le ta m e n te d a s s ig n ific a ç õ e s d e s ta p a la v r a , in c lu siv e o s e n tid o p a r ­
tic u la r de Cícero e de Q u in tilia n o , q u e d ife re a o m e s m o te m p o d o d e A ris tó te le s e
d o d o s m o d e rn o s . (C . W e b b ) N o ta r c o n tu d o , n o te x to c ita d o d e A 2 « è ó Â è : I I E E

“ Έ ά ι> μ ξ ν ο ϋ ν η μ ί α λ ε χ θ ή κ ρ ό τ α σ ι τ σ η μ ε ϊο ν y tv tr a i μ ο ν ο ν , ¿ ctv Òè χ α ι . η ¿τ έ ρ α
■ πρ ο σ Κ η φ θ η , e sb o ç o d o s e n tid o e sco lástico . (A. L .)
σ υ λ λ ο γ ι σ μ ο ί ” (70a5), q u e p a re c e ο
V e r a e x p o siç ã o d o s d ife re n te s s e n tid o s d a p a la v r a em Q Z « Ç « Â « τ ÇÃ , InstituiçãoI

oratoria , liv ro V , c a p . X , § 1. (C . Ranzoli) Q u in tilia n o re c o n h e c e trê s se n tid o s


309 E N T R O P IA

1. C h a m a -s e variação da entropia de p o stas su ficien tem en te p eq u en as p a ra re a ­


u m siste m a e n tre u m e s ta d o A e u m e s ta ­ liz a r as c o n d iç õ e s d e re v e rsib ilid a d e .
d o B à fu n ç ã o
CRÍTICA
P a rtin d o -s e d a s d efin içõ es a n te rio re s,
e c o m o c o n se q u ê n c ia d o p rin c ip io d e C a r-
n o t, d em o n stra-se q u e n u m sistem a té rm i­
cam en te iso la d o (em q u e as d iferen tes p a r ­
n a q u a l T d e sig n a a te m p e r a tu r a a b s o lu ­
tes agem so zin h as co m o fo n tes calo ríficas,
ta d a s fo n te s c a lo rífic a s e Q a q u a n tid a ­
u m as em relação às o u tra s) to d o fen ô m en o
d e d e c a lo r fo r n e c id o p o r e la s , s en d o a
q u e se p ro d u z im p lica u m a u m e n to d e e n ­
in te g ra l to m a d a a o lo n g o d e u m a tr a n s ­ tro p ia . Segue-se, p o is, d a í q u e “ q u a n d o
fo r m a ç ã o reversível (q u e r d iz e r, ta l q u e u m a m u d a n ç a é isolável a m u d a n ç a in v er­
se p o s s a tra z e r o s iste m a d o e s ta d o A p a ­ sa n ã o o é ” o u a in d a “ q u e u m sistem a iso ­
r a o e s ta d o B , re p a s s a n d o m u ito a p r o x i­ la d o n ã o p assa n u n c a d u a s vezes p elo m es­
m a d a m e n te p o r to d o s os m esm o s esta d o s m o e s ta d o ” ( J . P E 2 2 « Ç , “ L e seco n d p r in ­
in te rm e d iá rio s ). E s ta in te g ra l te m o m e s­ cip e d e la th e rm o d y n a m iq u e ” , Rev. mé-
m o v a lo r p a ra to d a s as tra n s fo rm a ç õ e s re ­ taph.y 1903, 183). D aí re su lta esta c o n se ­
versív eis d e A em B. T e m u m v a lo r m e ­ q ü ê n cia im p o r ta n te d o p o n to d e v ista fi­
n o r p a r a to d a tra n s fo rm a ç ã o irreversível, lo só fico seg u n d o a q u al to d a s as m u d a n ­
te n d o o m esm o e s ta d o in icial e o m e sm o ças físicas e sp o n tâ n e a s se fazem n u m sen ­
e s ta d o fin a l, e, p o r c o n s e q ü ê n c ia , n e ste tid o q u e n ã o p o d e ser in v e rtid o (ver E vo­
caso já n ã o re p re s e n ta a v a ria ç ã o de en ­ lução*, B , e C ritic a ). É isso q u e ex p ressa
tr o p ia e n tre esses d o is e sta d o s . o n o m e entropia (d o g reg o èvTQoirr}, invo-
2. T o m a n d o a rb itra ria m e n te c o m o ze­ lução) p elo q u a l C Â τ Z è « Z è d esig n o u esta
fu n ç ã o a c resce n ta n d o a id éia d e q u e o sen­
ro a e n tr o p ia n u m e s ta d o O b em d e fin i­
tido natural n o q u a l se p ro d u z e m o s fe n ó ­
d o de u m s iste m a , c h a m a r-se -á entropia
m en o s é u m a espécie de re d o b ra r-s e so b re
de u m o u tr o e s ta d o A à v a ria ç ã o de e n ­
si m esm o e d e d im in u iç ã o das d e sig u a ld a ­
tr o p ia e n tre 0 e A . S e g u n d o a c o n d iç ã o
des (Uber eine veränderte Form des zwei­
de re v e rsib ilid a d e ex p ressa a tr á s , e sta d e ­
ten Hauptsatzes der mechanischen Wär­
fin iç ã o a p e n a s se a p lic a a u m siste m a e m metheorie1, A n n de Pogg., 1854, p. 481).
q u e to d a s as p a rte s e ste ja m em e q u ilib rio Rad. int.: E n tro p i.
c alo rífic o , elétric o , m ecân ico , etc. N o c a ­
so c o n tr á r io , a entropia de u m siste m a é 1. Sobre urna fo rm a m o dificada do segundo
a s o m a d as e n tro p ia s d as su as p a rte s su - prin cípio da teoria mecânica do calor.

ao s q u a is se p re n d e entimema: 1?, o q u e se te m n o e s p ír ito ; n este s e n tid o , a p a la v ra


n a d a tem de té c n ic o ; 2 ?, u m a a firm a ç ã o a p o ia d a n a ra z ã o q u e a ju s tif ic a ( “ se n te n -
tia , c u m r a tio n e ” ); 3?, u m a r g u m e n to n ã o rig o ro so tir a d o q u e r d o s c o n se q u e n te s ,
q u e r d o s c o n trá rio s (“ vel ex c o n s e q u e n tib u s , vel ex r e p u g n a n tib u s ” ), e a c re s c e n ta
q u e c erto s a u to re s a p e n a s lh e d ã o este ú ltim o s e n tid o , “ a r g u m e n to tir a d o d o s c o n ­
tr á r io s ” . E le s a b e , a liá s, q u e se lh e c h a m a “ silo g ism o r e tó r ic o ” , e m o p o s iç ã o a o si­
lo g ism o p ro p r ia m e n te d ito , m a s n ã o p a re c e c o n h e c e r a o rig e m a ris to té lic a d e s ta ex ­
p re s s ã o , n em a d e fin iç ã o d e A ris tó te le s .
A p a la v ra em g re g o p e rte n c ia à lin g u a g e m c o rre n te . A lé m d o p rim e iro se n tid o
re fe rid o p o r Q u i n t i l i a n o , ela q u e ria d izer ta m b é m r a c io c ín io , re fle x ã o , m o tiv o , c o n ­
se lh o , etc.
E N T U S IA S M O 310

E N T U S IA S M O E . Enthusiasm ; F. A in d u ç ã o per enumerationem simpíi-


Enthousiasme. cem (N o v . org., I, § 105) o u nudam (v er
E s ta p a la v r a é to m a d a n u m s e n tid o a d ia n te ), q u e r d iz er, n a q u e la em q u e n ã o
p e jo ra tiv o p o r L Ã T 3 E , Essay, liv ro IV , se faz c o n tr a p r o v a , é o p o s ta p o r Bτ TÃÇ
c a p . X V II e X IX , e n o s c a p ítu lo s c o rre s ­ a o v e rd a d e iro m é to d o e x p e rim e n ta l {ex -
p o n d e n te s d o s N o vo s ensaios de L « ζ ­ E
perimentia litterata): “ In d u c tio n e m soler-
Ç« U : m is tic ism o q u e p re te n d e p a s s a r sem
tiu s c o n fic e re [o p o rte t] q u a m q u a e des-
a r a z ã o e re c o n h e c e r sem e la a v e rd a d e
c rib itu r a d ia le c tic is: s iq u id e m ex nuda
d a re v e la ç ã o , o u m e sm o s u b s titu ir a re ­
v elação tra d ic io n a l p o r u m a re v elação in ­
enumeratione p a r tic u la r iu m , u t d ia le c ti-
d iv id u a l e a tu a l. ci so le n t, u b i n o n in v e n itu r in s ta n tia c o n ­
M a d a m e de SI τ ë Â serv e-se dele p a r a tr a d ic to r ia , v itio se c o n c lu d itu r; ñ e q u e
d e sig n a r u m a v id a m o ra l in te n sa, Da A le­ a liu d h u ju s m o d i in d u c tío p r o d u d t q u a m
manha, 5.a p a r te , c a p . X , X I , X II. c o n je c tu ra m p r o b a b ile m .” De Dignitate,
E ste te rm o a p e n a s se ap lic a a tu a lm e n ­ liv ro V , c a p . II . C rític a s re to m a d a s p o r
te p a ra in d ic a r u m a v iv a a d m ira ç ã o o u J . S. M Â Â Â , Lógica, liv ro I I I , c a p . 3, § 2.
u m g ra n d e élan m o r a l c o m v is ta à re a li­ Rad. int.: E n u m e ra d .
z a ç ã o de u m a id é ia . P e rd e u q u a lq u e r c a ­
r á te r té c n ic o em filo so fia . E N U M E R A Ç Ã O IM P E R F E IT A So
fism a q u e c o n siste em q u e n u m ra c io cín io
E N U M E R A Ç Ã O D . A ufzàhlung; E . o n d e fig u ra u m a a lte rn a tiv a * q u e su p o s ­
Enumeration; F . Énumération ; I. Enume- tam en te esgota to d o s os casos possíveis, um
razione. o u v á rio s desses casos são o m itid o s.
A . Definição por enumeração : co n sis­
te em d e fin ir u m c o n c e ito p e la s u a e x te n ­ E N U M E R Á V E L D . Abzahlbar ; E .
s ã o , e n u m e r a n d o os in d iv íd u o s o u as e s ­ Countable; F . Dénom brable ; I. Nume-
p écies q u e fa z e m p a rte d ele. rabile.
B . Indução p o r enumeração: c o n sis­ A . Q u e p o d e ser c o n ta d o e re p re s e n ­
te em e n u m e ra r as d iv ersas espécies de u m ta d o p o r u m n ú m e ro in te iro .
g ê n e ro p a r a c o n c lu ir u m a p ro p o s iç ã o re ­ B . Q u e te m a m e s m a p o tê n c ia q u e a
la tiv a a e ste g ê n e ro . Se a e n u m e r a ç ã o é s u c e ssã o d o s n ú m e ro s in te iro s p o s itiv o s .
completa, q u e r d iz er, se a b a r c a to d a s a s Rad. int.: K o n te b l.
esp écies d o g ê n e ro , a in d u ç ã o é comple­
ta e te m o v a lo r p r o v a n te d e u m a im p li­ E N U N C IA D O o u E N U N C IA Ç Ã O
c a ç ã o rig o ro sa . V er Indução e Coligação. L . Enuntiatio, Dictum; D . Aussage; E .

S o b re E n u m e ra ç ã o — E n u m e r a ç ã o e m D e s c a r t e s te m d o is s e n tid o s : 1?, o p e r a ­
ç ã o q u e c o n siste em e sta b e le c e r a c o n tin u id a d e e n tre o s p rim e iro s p rin c íp io s e as c o n ­
se q u ê n c ia s ; 2?, o p e r a ç ã o q u e c o n sis te em p a s s a r e m re v is ta to d o s o s e le m e n to s s im ­
p le s , o u to d a s a s p ro p r ie d a d e s irr e d u tív e is , n a s q u a is se d e c o m p õ e m u m to d o c o m ­
p le x o . V e r Regulae, V I I , e Discurso do m étodo, I I , R e g ra IV ; p a r tic u la r m e n te , a
a d iç ã o fe ita n a tr a d u ç ã o la tin a : “ T u m in q u a r e n d is m e d iis tu m in d if f ic u lta tu m p a r-
tib u s p e r c u r r e n d is .” (F. R auh — A . L .)

S o b re E n u m e r a ç ã o im p e rfe ita — D á -s e ta m b é m e ste n o m e a o ra c io c ín io v ic io so ,


q u e c o n siste e m se p re te n d e r q u e se p ro v o u u m a lei p o r q u e se e n u m e r o u m ais o u
m e n o s c a so s fa v o rá v e is , sem e s ta b e le c e r q u e n ã o h á c a so s d e s fa v o rá v e is . (C . Meli -
nand) Isso s e ria d e p re fe rê n c ia o inductio per enumerationen simplicem a s s in a la d o
p o r B a c o n c o m o u m m o d o in s u fic ie n te d e d e m o n s tr a ç ã o . N a in d u ç ã o e x p e rim e n ­
ta l, a e n u m e ra ç ã o n ã o p o d e ria ser p e rfe ita , m e sm o c o n s id e ra n d o o s n eg ativ o s. {A. L .)
311 E P IC U R IS T A

Enunciation; F . Énoncé o u énonciation; m o s , u m c o r o lá r io d a s re la çõ e s e n tre a


I. Enunciazione. R a z ã o e a V id a .” Ibid.
E x p re s s ã o n u m a lin g u a g e m q u a lq u e r
E P A G Ó G I C O D o G . «iroryciiyTÍ; D .
d e u m ju íz o (d e f a to o u de d ire ito ) de u m
Epagogik; E . Epagogic ; F . Épagogique ;
p ro b le m a , d e u m a o rd e m (n o s e n tid o E ),
I. Epagogico.
d e u m c o n se lh o , etc. C e r to s e n u n c ia d o s ,
S in ô n im o de in d u tiv o (è-n-aywyij = in ­
a in d a q u e re g u la rm e n te fo rm a d o s , p o d em
d u ç ã o ) , m a s a p lic a-se s o b re tu d o à in d u ­
ser to d a v ia d e s p ro v id o s de s e n tid o .
ç ã o a ris to té lic a o u fo rm a l.
CRÍTICA
E P I C U R I S M O A m ig a m e n te n o s e n ­
A lg u n s re se rv a m a p a la v ra enunciado tid o A , em fran c ês, Epicuréisme , m as esta
p a ra os e n u n c ia d o s d e c la ra tiv o s, em o p o ­ f o r m a e n c o n tra -s e c a d a vez m e n o s; D .
s iç ã o à q u e le s q u e A Z è I « Ç d e n o m in a Epikurism , Epikureism ; E . Epicurism,
e n u n c ia d o s p e rfo rm a tiv o s . epicureanismo; F . Epicurisme, epieu rcis­
Rad. int.: E n u n c . me; I. Epicurismo, epicureismo.
A . D o u tr in a de E ú « TZ 2 Ã .
E O N G . a lô v, lo n g o p e río d o de te m ­
B . C a ra c te rís tic a d o e p ic u rista n o sen ­
p o , d u r a ç ã o d a v id a , é p o c a , e ra , e te r n i­
tid o B.
d a d e ; a p lic a d o p elo s e sto ic o s a o G ra n d e
Rad. int.: E p ik u ris m .
A n o . C f. L. aevum.
A . E m c e rto s n e o p la tô n ic o s e n o s E P IC U R I S T A D . Epikureer (s u b st.);
g n ó s tic o s , d iz-se d a s p o tê n c ia s e te rn a s epikurisch (a d j.) ; E. Epicurean (su b st. e
e m a n a d a s d o S er s u p re m o e a tra v é s d a s a d j .); epicure (s u b s t.); F. Épicurean; I.
q u ais se exerce a su a a ç ã o so b re o m u n d o . Epicúreo.
B. T e rm o r e to m a d o p o r E u g e n io A . D e fe n s o r d a d o u tr in a d e E ú « TZ ­
D ’ORS p a ra d e sig n a r os “ siste m a s s u p ra - 2 Ã ; re la tiv o a e s ta d o u tr in a .

te m p o r á r io s ” ( tip o s , c o n s ta n te s ) q u e , B . N a lin g u ag em c o rre n te , aq u ele q u e


c o n tr a r ia m e n te à d o u tr in a d a e v o lu ç ã o a m a o s p ra z e re s , o c o n f o r to , a v id a a g r a ­
u n iv e rs a l, re a p a re c e m n a h is to r ia s e m e ­ d á v e l, a b o a c a r n e ; e m g e ra l, co m a id é ia
lh a n te s a eles m e s m o s , c o m a s u a e s tr u ­ a c e s s ó ria d e u m a c e r ta a r te e d e u m a c e r­
tu r a p ró p r ia : p o r e x em p lo , em m a té ria de ta d e lic a d e z a n a e sc o lh a d a s fru iç õ e s .
f o r m a s p o lític a s , a d ita d u r a , o siste m a A c o n f u s ã o d e s ta m u d a n ç a d e te o r
fe u d a l; em m a té ria d e a r te , o r a c io n a lis ­ c o m a s ó b ria e sev e ra d o u tr in a de E p ic u ­
m o c lá ssic o , o b a r r o c o (e n te n d id o n u m ro e d o s v e rd a d e iro s e p ic u ris ta s , ta is c o ­
s e n tid o a m p lo : p a n te ís m o e d in a m is m o ), m o L Z T2 E T« Ã , a c o n te c e u d e sd e a A n ti-
etc. V er e sp e c ia lm e n te Do barroco, 2? g ü id a d e ro m a n a , ta n to n o s d efen so res co ­
p a r te , c a p . II: “ O s e õ e s .” “ A s re la ç õ e s m o n o s a d v e rs á rio s d a q u ilo q u e assim se
e n tre o eon clássico e o eon b a rro c o c o n s­ cham ava.
titu e m a p e n a s u m c a p ítu lo o u , se q u is e r­ Rad. int.: E p ik u r.

S o b re E p ic u ris m o — A c o n f u s ã o e n tre o e p ic u ris m o p r o p r ia m e n te d ito e o


hedonismo *, o u a s d o u tr in a s q u e se lig a m a ele m ais o u m e n o s d e p e r to , e n c o n tra -s e
já e m C í T 2 Ã : “ E p ic u re n o s te r , ex h a r a p r o d u e te , n o n ex s c h o l a ...” In Pisonem ,
E

37. D a m e sm a m a n e ira , em H Ã2 á T« Ã : “ M e p in g u e m ac n itid u m b e n e c u r a ta c u te


vises cu m rid e re vo les E p ic u ri d e g reg e p o r c u m .” Epistolas , I, 4 , v erso s 15-16. E m
C íc e ro , p o d e ria ser u m e fe ito d o seu d e sp re z o p e la plebeia * philosophia , m as p a re c e ,
a n te s se g u n d o a se m e lh a n ç a d e ss a p a ss a g e m c o m o s v e rso s d e H o r á c io , q u e e x ista
aí u m a b rin c a d e ir a tr a d ic io n a l, e ta lv e z m u ito m a is a n tig a .
E P IF E N Ó M E N O 312

E P I F E N Ó M E N O D . Belgleiterschei- E P IM Ê N ID E S N o m e d a d o , n u m a
nung; E . Epiphenomenorr, F . Épiphéno- d a ta q u e n ã o p u d e m o s d e te rm in a r, a u m a
mène; I. E pifenóm eno. v a ria n te d o s o fis m a O M entiroso*: “Epi -
D e m a n e ir a g e ra l, fe n ô m e n o a ce ssó ­ mênides, o C re te n s e , d iz q u e os c re te n ­
rio c u ja p re sen ç a o u a u sê n c ia n ã o im p o rta ses m e n te m s e m p re ; o r a , ele é c re te n s e ,
n a p r o d u ç ã o d o fe n ô m e n o e ssen cial q u e lo g o e le m e n te . L o g o , o s c re te n se s n ã o
se c o n s id e ra : p o r e x e m p lo , o b a r u lh o o u s ã o m e n tiro s o s . M a s , se o s c re te n se s n ã o
a tre p id a ç ã o d e u m m o to r . C h a m a -s e es­ s ã o m e n tiro s o s , E p im ê n id e s diz a v e r d a ­
p e c ia lm e n te te o ria d a consciência epife­ d e , e tc .”
nóm eno à q u e la q u e s u s te n ta q u e a c o n s ­ E s te te rm o é u tiliz a d o a lg u m a s vezes
ciência está neste caso em re lação aos p ro ­ n o s n o sso s d ia s n u m s e n tid o m ais g eral
cesso s n e rv o s o s, q u e e la é “ tã o in c a p a z p a r a d e s ig n a r o a rg u m e n to d o M entiro­
de re a g ir s o b re eles q u a n to a s o m b r a s o ­ so m e sm o n a s u a f o r m a p rim itiv a e sem
re fe rê n c ia a o a d á g io d e E p im ê n id e s . V er
b re os p a ss o s d o v i a j a n t e '1 (M a u d s l e y ,
p o r e x e m p lo B r u n s c h v i c g , A s etapas
C l i f f o r d , H u x l e y , H o d g s o n , etc.).
da filosofia matemática , c a p . X IX , § 252.
V e r R i b o t , Máladies de la personalité,
in tr o d u ç ã o , e Maladies de la mémoire , CRÍTICA
c a p . I, 1.
A ris tó te le s , q u e fa la em v á ria s p a s s a ­
Rad. int.i E p ife n o m e n . gens d e E p im ê n id e s , o C re te n s e , n ã o a s ­
E P I G Ê N E S E D . Epigenese; E . Epi­ so cia em n e n h u m a p a r te o seu n o m e a o
génesis; F . Épigénése; I. Epigenesi. a rg u m e n to d o M e n tiro so . O m esm o a c o n ­
Se se a d m itir q u e a s d ife re n c ia ç õ e s* tece c o m o s seu s c o m e n ta d o r e s , p e lo m e ­
n o s d o n o sso c o n h ec im e n to . P o r o u tr o la­
de ó rg ã o s e de c a r a c te rís tic a s q u e a p a r e ­
d o , esse a rg u m e n to , so b a fo rm a m e n c io ­
cem n o d e c u rs o d o d e se n v o lv im e n to d o s
n a d a a trá s (e ele tem v a ria n te s a in d a m ais
seres e, p a r tic u la r m e n te , n o d e c u rs o d a
fra c a s ) te m to d o o je ito d e u m a b r in c a ­
s u a e m b rio g e n ia , se c o n stitu e m p o r g ra u s
d e ira d e e stu d a n te , p o is n ã o tem q u a lq u e r
e n ã o p re e x is tia m j á f o r m a d a s n o g e rm e ,
rig o r ló g ic o . E le d e v e ria c o n c lu ir a p e n a s :
d iz-se q u e e x iste epigenese; n o c a so c o n ­
“ L o g o , é fa ls o q u e o s c re te n se s m in ta m
tr á r io , d iz -se q u e h á pré-formação { an ti­
s e m p r e ” , o q u e d e ix a in d e te r m in a d o se
g a m e n te evolução). (E s ta p ré -fo r m a ç ã o
n este c a s o E p im ên id e s fa lo u a v e rd a d e o u
p o d e ser o u a b s o lu ta , n o s e n tid o d e q u e m e n tiu , e o ra c io c ín io p á r a aí.
o s ó rg ã o s p re e x iste m ta is q u a is , m a s em O a d á g io K g j j T í s oeei ipeüorcu, e tc . é
e s ta d o d e r e d u ç ã o p ro d ig io s a m e n te p e ­ u m v e rs o p ro v e rb ia l d e E p im ê n id e s re ti­
q u e n a ; é a a n tig a te o r ia d o encaixe dos r a d o p ro v a v e lm e n te d a in tr o d u ç ã o d a s u a
germes ; o u re la tiv a , n o s e n tid o d e q u e o s Teogonia. É c ita d o p o r S. P a u lo , Epís­
ó rg ã o s a d u lto s s ã o a p e n a s r e p re s e n ta d o s tola a Tito , 1 , 12, o q u e p o d e fa z e r s u p o r
p o r d ife re n c ia ç õ e s p re e x is te n te s n o g e r­ q u e e s ta f o r m a d o a r g u m e n to d a te d a
m e , q u e n ã o se lh es a s s e m e lh a m , m as d e ­ é p o c a c ristã : q u e r d a esc o lá stica (m as n ã o
te rm in a m o se u d e s e n v o lv im e n to .) a e n c o n tr a m o s em P r a n tl ) , q u e r m e sm o
Rad. in t .: E p ig e n e s. d e u m a d a t a m a is re c e n te .

S o b re E p ig e n e se — A e p ig e n e se n o s e n tid o a c im a d e fin id o fo i, e m p a r tic u la r , d e ­


fe n d id a p o r G a s p a r F rie d ric h W o l f f c o n tr a o s le ib n iz ia n o s . K a n t serv e-se ta m b é m
d e s ta p a la v r a . (R. Eucken)

S o b re E p im ên id es — A rtig o dev id o em g ran d e p a rte às in dicações d e Robin e Bréhier.


313 EPISTEMOLOGIA

E P I Q U E R E M A G . €TrixfiQîj/ta (sig ­ E P I S T E M O L O G I A D . W isse n s-


n ific a ta m b é m e m p re sa ); D . Epichéirem; c h a fts ie h r e ; E . E p is te m o lo g y , F . É p is té ­
E . Epicheirema', F . Épichérème; I. Epi~ m ologie·, I. E p is te m o lo g ía .
cherema. E s ta p a la v r a d e sig n a a filo s o fia d as
A . E m A r i s t ó t e l e s ( Tópicos , 162a ciên c ia s, m as c o m u m s e n tid o m ais p re ­
16), silo g ism o d ia lé tic o o u r e tó r ic o , q u e r
ciso . N ã o é p ro p r ia m e n te o e stu d o d o s
d iz er, re fe re n te à se m e lh a n ç a , o c o m u -
m é to d o s c ie n tífic o s , q u e é o o b je to d a
m e n te a d m itid o ; o p õ e -se a o silo g ism o
M e to d o lo g ia e q u e fa z p a r te d a L ó g ica.
a p o d ític o (filosofemà) e a o silogism o erís-
tic o (sofisma). N ã o é ta m p o u c o u m a sín tese ou u m a a n ­
B . N o s m o d e r n o s , silo g ism o s em q u e te c ip a ç ã o c o n je c tu ra l d a s leis c ien tífic as
c a d a p re m is sa é a c o m p a n h a d a d a s u a d e ­ (à m a n e ira d o p o s itiv is m o e d o e v o lu c io ­
m o n s tr a ç ã o . n ism o ). É e ss e n c ia lm e n te o e s tu d o c ríti­
Rad. int.: E p ik e re m . c o d o s p rin c íp io s , d a s h ip ó te s e s e d o s re­
s u lta d o s d a s d iv e rsa s ciên c ia s, d e s tin a d o
E P IS S IL O G IS M O D . Episyllogis-
m us ; E . EpisyUogism ; F . Episyüogism e; a d e te rm in a r a su a o rig em lógica (n ão psi­
I. Episiüogismo. c o ló g ic a ), o seu v a lo r e a s u a im p o r tâ n ­
S ilo g ism o em q u e u m a d a s p rem issas c ia o b je tiv a .
é a c o n clu sã o d e u m silo g ism o p re c ed e n te D ev e-se, p o is , d is tin g u ir a e p iste m o ­
n u m a cad eia d e d u tiv a . C f. Prossilogisnw. lo g ía d a te o r ia d o c o n h e c im e n to , se b e m
Rad. int.: E p isilo g ism . q u e ela c o n s titu a a su a in tro d u ç ã o e o seu

S o b re E piquerem a — ’EírixítpfÍK q u e r d iz e r e m p re e n d e r; m as j á em P la tã o , a r ­
g u m e n ta r. C f . a e x p re ss ã o fra n c e s a “ e n tr e p r e n d r e q u e lq u ’u n ” . A tr a n s iç ã o d e u m
p a r a o u tr o s e n tid o p a re c e re s u lta r d o f a to de o silo g ism o ju d ic ia l, c u ja s p re m issa s
são a c o m p a n h a d a s d a s su a s p ro v a s , ser a o m e sm o te m p o u m e x e m p lo d e silo g ism o
d ia lé tic o , q u e r d iz e r, de e p iq u e re m a n o s e n tid o A . (F. M en tré)
C f. u m a tr a n s f o r m a ç ã o a n á lo g a em E n tim e m a .

S o b re E p iste m o lo g ía — A p a la v r a in g le sa e p is te m o lo g y é fr e q u e n te m e n te u tiliz a ­
d a ( c o n tra ria m e n te à e tim o lo g ia ) p a ra d e s ig n a r o q u e c h a m a m o s “ te o ria d o c o n h e c i­
m e n to ” o u “ g n o s io lo g ía ” . V er e sta s p a la v r a s . E m fra n c ê s , a p e n a s se d e v eria d iz er
c o rre ta m e n te d a filo s o fia d as c iê n c ia s, ta l c o m o é d e fin id a n o a rtig o a tr á s , e d a h is­
tó r ia filo só fic a d a s c iên c ia s. “ A p re s e n te o b r a p e rte n c e p e lo m é to d o a o d o m ín io d a
filo s o fia d as c iên c ia s, o u e p is te m o lo g ía , c o n fo rm e u m te r m o s u fic ie n te m e n te a p r o ­
x im a d o , e q u e te n d e a to rn a r- s e c o r r e n te .” E . M a y e r s o n , I d e n tité e t r e a lité , p r e f á ­
cio , p. 1. C f. ta m b é m G o b l o t , S y s tè m e s d e s S ciences, p . 214. M as a in flu ê n c ia d o
in g lês (e ta lv e z ta m b é m d o c o n h e c im e n to c a d a vez m e n o s d ifu n d id o d o g reg o ) fa z
co m q u e se e n c o n tr e fr e q u e n te m e n te e s ta p a la v r a n o s e n tid o d o a le m ã o erk e n n tn is
th e o rie .
P a re c e -m e q u e a o d is tin g u ir a E p is te m o lo g ía d a T e o ria d o c o n h e c im e n to , seria
b o m a m p lia r, p o r o u tr o la d o , o s e n tid o d o p rim e iro te rm o d e m a n e ira a c o m p re e n ­
d e r nele a té a p s ic o lo g ia d as c iê n c ia s, p o is o e s tu d o d o seu d e se n v o lv im e n to real n ã o
p o d e , sem d a n o s , ser s e p a ra d o d a s u a c rític a ló g ica, s o b r e tu d o no q u e c o n c e rn e às
c iên cias q u e tê m o m á x im o de c o n te ú d o c o n c r e to , e m esm o p a ra a s m a te m á tic a s s o ­
m o s o b rig a d o s a lev á-la em c o n ta d e sd e q u e sa ia m o s d a p u r a lo g ístic a. (A. L.)
A d is tin ç ã o q u e se faz em fra n c ê s e n tre e p iste m o lo g ía e te o ria d o c o n h e c im e n to
(g n o sio lo g ía ) seria sem d ú v id a m u ito ú til, m a s n ã o é u s u a l n em em ita lia n o nem em
in g lês.
EPO CH E 314

a u x ilia r in d is p e n sá v e l, d e v id o a o f a to de q u e ela tem n a A s tr o n o m ia : equação do


e s tu d a r o c o n h e c im e n to em p o rm e n o r e tempo, d ife re n ç a e n tre o te m p o v e rd a d e i­
a posteriori n a d iv e rs id a d e d a s ciên cias e ro e o te m p o m éd io ; equação pessoal, co r­
d o s o b je to s , a n te s de o fa z e r n a u n id a d e re ç ã o q u e se fa z às o b s e rv a ç õ e s d o te m ­
d o e s p írito . p o , p a ra c o n sid e ra r o a tra s o (o u, alg u m as
Rad. int.\ E p is te m o lo g i. vezes, o c o n trá rio ), v a riá v e l c o n fo rm e os
in d iv íd u o s , c o m o q u a l c a d a o b s e r v a d o r
E p iste m o ló g ic o ( P a r a d o x o ) V er Pa­ a p o n ta u m fe n ô m e n o o b s e r v a d o .
radoxo.
E Q U A Ç Ã O P E S S O A L A p a r tir des
E P O C H È V er Suplemento. se s e n tid o p rim itiv o fo i e ste n d id a p o r m e ­
tá f o r a , d e m a n e ira m u ito a m p la , a d iv e r­
E Q U A Ç Ã O D . Gleischung, m a is g e­
sas d e fo rm a ç õ e s siste m á tic a s q u e o tip o
ra l, a p lic a-se ta m b é m a o q u e n a s m a te ­
d e e sp írito o u as id éias p re c o n c e b id a s im ­
m á tic a s se c h a m a u m a ig u a ld a d e ; E.
p rim e m in c o n s c ie n te m e n te à q u ilo q u e o
Equation; F . Équation ; 1. Equazione.
in d iv íd u o p e rc eb e .
Ig u a ld a d e gera] (co m te rm o s v a r iá ­
veis) q u e e x p rim e u m a c o n d iç ã o q u e as CRÍTICA
v a riá v e is d ev em p re e n c h e r (d iz-se e n tã o
É la m e n táv e l q u e o se n tid o im p r ó p rio
q u e elas a v e rific a m ). T o d a a e q u a ç ã o d o te rm o pessoal * se e n c o n tr e re f o r ç a d o
p r o p r ia m e n te d ita é, p o is , u m a fu n ç ã o * p e lo u so c o rre n te d e s ta e x p re ss ã o . D e v e ­
p ro p o s ic io n a l q u e d e te r m in a u m a g r a n ­ ria ser: “ e q u a ç ã o in d iv id u a l” .
d e z a (p . e x .: x ta l q u e a x 2 + b = 0 ). Rad. int.: E q u a c io n .
D e o r d in á r io , u m a e q u a ç ã o a p e n a s é
v e rd a d e ira p a ra a lg u n s v a lo re s d a s v a riá ­ E Q U I D A D E L. Aequitas·, D . Billig-
veis; ela é d ita impossível se n ã o f o r v e r­ keit; E . Equity; F . Équité; I. Equità.
d a d e ira p a ra n e n h u m a ; indeterminada st A . S en tim en to seg u ro e e sp o n tâ n e o d o
ela fo r v e rd a d e ira p a ra u m a in fin id a d e d e ju s to e d o in ju s to , s o b re tu d o e n q u a n to se
e n tre elas f o r m a n d o u m a s e q ü ê n c ia c o n ­ m a n ife s ta n a a p re c ia ç ã o d e u m caso c o n ­
tín u a (v er Igualdade, Identidade). c re to e p a rtic u la r.
E m L ó g ica a lg o rítm ic a e em Á lg e b ra , B . H á b ito d e c o n f o r m a r a s u a c o n d u ­
as v ariáveis são c o n sid e ra d a s c o m o incóg­ ta a e ste s e n tim e n to .
C . Especialmente, n o d ire ito , a equi­
nitas em re la ç ã o às q u a is se resolvem a s
e q u a ç õ e s, p a ra e n c o n tr a r o s v a lo re s q u e
dade o p õ e -se à le tra d a lei, o u à ju r i s p r u ­
d ê n c ia . E ste s e n tid o e x iste j á n o d ire ito
as v e rific a m . E m G e o m e tr ia a n a lític a e
ro m a n o : so b re a su a e tim o lo g ia v er S Z O -
em M e c â n ic a a s e q u a ç õ e s e x p rim e m re ­
n e r M a i n e , Ancient Law, c a p . III. O
laçõ es e n tre v a riá v eis; r e p re s e n ta m , e n ­
apelo à equidade c o n s titu i em v á rio s p a í­
tã o , fig u ra s (e q u a ç ã o de u m a c u rv a , de
ses u m p ro c e d im e n to e sp ecial (B a ld w ín ,
u m a su p e rfíc ie ) o u m o v im e n to s . E m F í­
V o, 3 3 8 b ).
sica, as e q u a ç õ e s re p re s e n ta m as leis de
Rad. int.: E q u ita t.
v ariaçõ es co n co m itan te s d as v ariáveis q u e
n e la fig u ra m . E Q U IL ÍB R IO D . Gleichgewicht, Ae-
N ã o se deve c o n f u n d ir o s e n tid o g e­ quilibrium·, E . Equilibrium ; F. Equilibre ;
ral d e sta p a lav ra com o s sen tid o s especiais I. Equilibrio.

S o b re E q u id a d e — D e fin iç ã o A m o d if ic a d a c o n fo rm e as o b s e rv a ç õ e s de Goblot,
de Lapie e de Ruyssen, q u e p r o p õ e ta m b é m a fó r m u la : “ S e g u ra n ç a d o ju íz o n a a p r e ­
c ia ç ã o d o q u e é d e v id o a c a d a u m . ”
315 EQUIVALENCIA

A . E m M e c â n ic a diz-$e q u e u m siste ­ D. P o r m e tá f o r a , c h a m a -s e em p s ic o ­
m a está em equilíbrio s o b a a ç ã o d e f o r ­ lo g ia equilíbrio das inclinações a o e s ta d o
ças d e te r m in a d a s q u a n d o é su scetív el d e n o q u a l n e n h u m a d e la s é b a s ta n te in te n ­
fic a r in d e fin id a m e n te e m r e p o u s o s o b a s a p a r a d irig ir s o z in h a to d a a a tiv id a d e d o
a ç ã o d essas f o r ç a s . P o r e x te n s ã o , d iz-se e sp írito ; vontade equilibrada, a q u e la q u e
q u e v árias fo rça s q u e ag em s o b re u m m es­ n ã o é nem im p u lsiv a n em h e sita n te em ex­
m o c o r p o , o u s o b re u m m e s m o siste m a cesso . D o p o m o d e v ista in te le c tu a l os
d e c o rp o s , se equilibram se se p u d e r s u ­ equilibrados ( P a u l h a n , Esprits logiques
p rim ir a o m e sm o te m p o to d a s e ssa s f o r ­ et esprits fa u x , 2? p a r te , c a p . I, § 1) s ã o
ças sem q u e e ssa s u p re s s ã o m u d e o e s ta ­ aq u eles “ em q u e a lógica é, d e a lg u m a m a ­
d o o u o m o v im e n to d o c o r p o o u d o sis­ n e ira , in a ta , n a tu r a l e in s tin tiv a ; d e v id o
te m a c o n s id e ra d o s . P o r e x e m p lo , p o d e - a isso eles o p õ e m -s e n ã o só a o s in c o e re n ­
se d izer q u e a c a d a in sta n te d o m o v im e n to te s , m a s ta m b é m , n u m m e n o r g r a u , a o s
d e u m p o n to m a te ria l existe e q u ilíb rio e n ­ ra c io c in a d o re s e a o s ló g ic o s. M ais g e ra l­
tre as fo rça s q u e lh e sã o a p lic a d a s e a f o r ­ m e n te a in d a , c h a m a -s e equilíbrio mental
ç a d e in é rc ia . Equilíbrio n ã o é , p o is , s i­ a o e s ta d o d e h a r m o n ia d e to d a s as fa c u l­
n ô n im o de repouso. d a d e s n o q u a l n e n h u m a é p r e d o m in a n te
B . E m F ísic a d iz-se ta m b é m q u e u m em d e trim e n to d a s o u tr a s .
siste m a está em equilíbrio n u m e s ta d o e Rad. int.: E q u ilib r.
s o b açõ es e x te rio re s d a d a s se p o d e p e r ­
E Q U I P O L E N C I A D . Aequipollenz,
m a n e c e r in d e fin id a m e n te n a p re s e n ç a
Gleichgeltung ; E . Aequipollency ; F. Équi-
d e ssa s a çõ e s.
pollence ; I. Equipollenza.
A p a la v ra u tiliz a -se , n a s m e sm a s c o n ­
C a ra c te rístic a d e d u a s p ro p o siçõ es q u e
d iç õ e s, em Q u ím ic a , m a s aí e la d e sig n a
tê m a m esm a sig n ific a çã o ; d ito de o u tr a
m a is e sp e c ia lm e n te :
m a n e ira , e n tre as q u a is ex iste u m a ig u a l­
C . O e s ta d o de um c o rp o o u d e u m
d a d e * ló g ica; p o r ex em p lo , n a lógica clás­
siste m a de c o rp o s q u e d e p en d e m d a s c o n ­
sica: S u P \ S r f \ P í S, P trS ’ . C f. Conver­
dições d o seu m eio (te m p e ra tu ra , p re ssã o ,
são, Contraposição, Obversão.
e tc .) de ta l m a n e ira q u e a c a d a e s ta d o d e ­
D izem -se ta m b é m , m as m ais ra ra m e n ­
fin id o d essas c o n d iç õ e s , c h a m a d a s fa to ­
te , “ e q u ip o le n te s ” os c o n ce ito s q u e tê m a
res do equilíbrio, c o rre s p o n d a u m e s ta ­
a m esm a ex ten são .
d o d e te r m in a d o , e se m p re o m e s m o , d o
c o rp o o u d o s iste m a c o n s id e ra d o s , s e ja E Q U IV A L Ê N C IA D . Aequivalenz; E.
q u a l fo r o s e n tid o n o q u a l se e fe tu o u a Equivalency', F . Equivalence', I. Equiva-
v a ria ç ã o d o m e io . lenza.

S o b re E q u ilíb rio — A rtig o m o d ific a d o , p a ra a p a rte m ecân ica, de a c o rd o co m as


in d icaçõ es de J. Hadamard e, p a ra a p a rte físic o -q u ím ic a , co m as in d icaçõ es de C. Ma-
tignon, q u e a c resce n ta a o b s e rv a ç ã o seg u in te: “ O u so d e sta p a la v ra é flu tu a n te em q u í­
m ica, m as o sen tid o C te n d e c a d a vez m ais a ser re c o n h ec id o co m o o sen tid o p ró p rio
e técn ico d a p a la v ra ; o sen tid o B é , e n tã o , c h a m a d o repouso químico (L e C h e t e l i e r ).
O s físicos u tilizam ta m b é m a p a la v ra n este s e n tid o , p o r ex em p lo a o a p lic á-la à relação
e n tre u m líq u id o e o seu v a p o r p a r a c a d a e sta d o d e fin id o de te m p e ra tu ra e de p re ssã o . ”

S o b re E q u iv alên cia — S t a n l e y J e v o n s p e n so u q u e a “ su b stitu içã o d o s e q u iv alen ­


te s ” (a m p lia d a de m a n eira a c o m p re e n d e r ta m b é m c ertas eq u iv alên cias p a rc iais, tais
co m o a d a espécie e d o g ê n ero ) e ra o p rin c íp io d e to d o ra c io cín io . The Substitution
o f Similars, the True Principie o f Reasoning 1, 1869.1

1. A su b s titu iç ã o d o s e q u iv a le n te s [ou dos similares], v e r d a d e ir o p r in c ip io d o r a c io c ín io .


E Q U IV O C ID A D E 316

D u a s c o isa s são d ita s e q u iv a le n te s B . Q u e p o d e ser e x p lic a d o d e v á ria s


q u a n d o n â o d ife re m em n a d a re la tiv a ­ m a n e ira s d ife re n te s ; c o n s e q u e n te m e n te ,
m e n te à o rd e m d as id éias o u a o fim p r á ­ de n a tu re z a in c e r ta , q u e n ã o p o d e ser c o ­
tic o q u e se c o n s id e ra . lo c a d o n u m a esp écie b em d e fin id a . D e
E m p a rtic u la r, c h a m a m -se e q u iv a le n ­ o n d e a e x p re ss ã o “ g e ra ç ã o e q u ív o c a ” .
tes: em G e o m e t r i a , à s fig u ra s q u e têm V er Geração.
a m e sm a á re a o u o m e sm o v o lu m e , sem
2. E Q U ÍV O C O (su b st.) D . Aequivok,
p o r isso serem n ecessariam en te iguais* n o
Zweideutigkeit; E. Equivocation ; F.
sen tid o g eo m étrico , q u e r d iz er, c o n g ru e n ­
E quivoque ; 1. Equivoco.
tes; em L ó g i c a , ao s te rm o s o u às p r o p o ­
A . P a la v r a , e x p re ssã o o u fra s e q u e se
siçõ es e n tre as q u ais ex iste ig u a ld a d e *
p re s ta m a v á ria s in te rp re ta ç õ e s .
ló g ica.
B . C a r á te r de ser e q u ív o c o , e q u iv o -
A “ s u b s titu iç ã o d o s e q u iv a le n te s ” é
c id ad e .
a o p e ra ç ã o q u e c o n siste em s u b s titu ir n u ­
Rad. int.; (A d j.) D u sen c; (S u b st.) D u-
m a f ó r m u la u m te rm o p o r u m o u tr o q u e
s e n c a j, -es.
lh e é lo g ic a m e n te ig u a l.
Rad. int.: E q u iv a l (E k v iv a le n t, Boi- E R ÍS T IC A G . D . Eristik;
rac). E. Eristic ; F . Éristique; I. Eristica.
A rte d a s d iscu ssõ es ló g ic a s; to m a -s e
E q u iv alên cia (P rin c íp io d a) O u tro n o ­
s o b re tu d o p e jo ra tiv a m e n te co m o a rte dos
m e d o p rin c íp io d a c o n s e rv a ç ã o d a
ra c io c ín io s e sp ecio so s e d a s a rg ú c ia s so ­
e n erg ia* ; v em d e q u e este p rin c íp io fo i
fístic a s.
d e s c o b e rto e f o r m u la d o p rim itiv a m e n te
so b esta fo r m a : E x iste equivalência e n tre
A Escola eristica é a E scola de M eg ara.
Rad. int.: E ristik .
o tr a b a lh o d is p e n d id o e o c a lo r d e s p r e n ­
d id o n u m a c e rta tr a n s f o r m a ç ã o d e u m E R O S D . E . I. F . f m e sm a f o r m a .
c o rp o o u de u m siste m a . V er o a rtig o se­ T r a n s c r iç ã o d o G . Ι 'ρ ω ϊ , p rim itiv a m e n te
g u in te . e p rin c ip a lm e n te d e s e jo a m o ro s o (o p o s ­
to a φ ι λ ί α , a m iz a d e , a à -y á m j, caritas);
E q u iv a le n te m e c â n ic o Do calor (o u
d e p o is , m a is a m p la m e n te , q u a lq u e r viv o
m e lh o r: da caloria).
d e s e jo , p a ix ã o , d e s e jo a r d e n te d e q u a l­
N ú m e ro d e q u ilo g râ m e tro s q u e é p r e ­
q u e r c o isa ; c o m o n o m e p r ó p r io E r o s ,
ciso d is p e n d e r n u m c o rp o , o u sistem a té r­
d eu s d o am o r.
m ic a m e n te is o la d o , p a r a se a u m e n ta r a
N a te rm in o lo g ia f r e u d ia n a , e em c er­
s u a q u a n tid a d e d e c a lo r d e u m a c a lo r ia ;
to s p s ic ó lo g o s q u e n e la se in s p ira m , a p a ­
m a is g e ra lm e n te , re la ç ã o e n tre o t r a b a ­
la v ra é e n te n d id a n u m s e n tid o m u ito a m ­
lh o d is p e n d id o (m e d id o e m q u ílo g râ m e -
p lo e m u ito v a riá v el q u e v a i d a a c e p ç ã o
tro s ) e o c a lo r d e s p re n d id o (em c a lo ria s ).
p ro p r ia m e n te s ex u a l a té o d e se jo em
E Q U IV O C ID A D E V er E quívoco g e ra l.
(su b st). V er A m o r; C rític a e o b s e rv a ç õ e s s o ­
b re Caridade.
1. E Q U ÍV O C O ( a d j.) D . A equivok,
zweideutig; E . Equivocai-, F . Equivoque; E R R O D . Irrtum; E . Error, F . Erreur;
I. Equivoco. 1. Errore.
A . Q u a n d o se f a la d a s p a la v ra s o u d a s A . N o s e n tid o a tiv o , a to de u m esp i­
e x p re ssõ e s: q u e te m v á rio s s e n tid o s . r ito q u e ju lg a como verdadeiro * a q u ilo

S o b re E rro — E sta p a la v ra teve em fran cês o sen tid o de errar m a te ria lm en te. E x e m ­
p lo s em L itt ré, em Darm., Hatz e Thomas, etc.
317 ESCOLA

q u e é fa ls o , o u in v e rs a m e n te . “ C o m e te r ria m e n te m e n c io n a d a sem m ais, n o a rtig o


um e r r o .” vetor*) p o rq u e o u v im o s m u ita s vezes usá-
B . N o s e n tid o p a ss iv o , e s ta d o d e u m la n u m sen tid o falso ( = v a rian d o p o r graus
e s p irito q u e te m p o r v e rd a d e ir o a q u ilo d e sc o n tín u o s), q u e , aliás, a e tim o lo g ia su ­
q u e é fa ls o , o u in v e rs a m e n te . “ E s ta r em gere facilm en te: escala, d e g ra u de escad a,
e r r o .” escalão , e, p o r e x ten sã o , esc a d a o u a e sca­
C . N o s e n tid o im p e s s o a l, a s s e rç ã o ’" la c o m o u m to d o . A p a la v ra p arece ter-se
fa lsa . d ito p rim e ira m e n te d as g ra n d e za s q u e se
m ed em p o r u m a escala g ra d u a d a : p o r
NOTA
ex em p lo o peso (lido n u m d in a m ó m e tro ),
A e tim o lo g ia p arece in d ic a r q u e o sen ­ a p ressão (n u m m a n ó m e tro ), o tem p o
tid o A é p rim itiv o : co n sid era-se o e rro co ­ (n u m reló g io ). M as a tu a lm e n te a p a la v ra
m o u m falso m o v im e n to , u m a fa ls a d i­ é ig u a lm e n te a p lic a d a a u m a su p erfície, a
re ç ã o to m a d a p e lo e s p írito n a seq ü é n c ia u m v o lu m e, a u m a d e n sid a d e , etc.
d a s su as o p e ra ç õ e s. Scalarius existe em la tim , m as q u er d i­
B r o CHa RD, De l'erreur (1 8 7 9 ). C f. zer c o n s tr u to r de e sc a las o u d e esc a d as.
A. La l a nde , La raison eí les normes Rad. int.: S k a la r.
(1948), c a p . V II, § 50.
Rad. int.: A . B . E r o r; C . N e v e ra j. E S C A T O L O G IA D . Eschatologie\ E,
Eschatology; F . Eschatologie: I. Esca-
E S C A L A R D . Skalar, E . Scalar, F . tologia.
Scalaire ; 1. Scalare. D o u trin a re la tiv a ao s fins ú ltim o s d o
D iz-se d as g ra n d e z a s n ã o d irig id a s , u n iv erso e d a h u m a n id a d e , u tiliz a d a esp e­
p o r o p o sição ao s v eto res*. “ E stes elem en ­ c ialm en te p elo s te ó lo g o s p a r a d e sig n a r o
to s in v a ria n te s são u n s e scalares, q u e r d i­ p ro b le m a d o “ fim d o m u n d o ” , d o “ ju íz o
z e r, n ã o d irig id o s , ta is c o m o o te m p o o u fin a l” e d o e s ta d o d e fin itiv o q u e ele deve
a m a s s a , os o u tr o s v e to ria is ta is c o m o a in a u g u ra r. E n co n tra-se, c o n tu d o , tam b ém
a c e le ra ç ã o o u a f o r ç a .” P . L a n g e v i n , n o s filó so fo s: ver p a rtic u la rm e n te R e n o u -
“ L e te m p s , l’e sp ace e t la c a u s a lité ” , Bul- v i e r e P 2 τ I , Nouvelle monadologie , 7?
lelin de la Soc. Fr. de Philosophie , 1912, p a rte , C X X X IX : “ A e sc a to lo g ia có sm i­
p . 9. c a ” , e C X L : “ A e sc a to lo g ia m o r a l.”
NOTA Rad. int.: E s k a to lo g i.
J u lg a m o s ú til a c re s c e n ta r a q u i a d e ­ E S C O L A D . Schule; E . School; F .
fin iç ã o d e s ta p a la v ra (q u e e sta v a o rig in a ­ École; I. Scuola.

S o b re E s c o la — E s ta p a la v r a , n o seu s e n tid o u su a l e m o d e rn o , é v a g a e e q u ív o c a .
E la fo rç a a a g r u p a r so b a m e s m a r u b r ic a filó so fo s q u e se c o m b a te r a m m ais d o q u e
se im ita ra m . Q u a n to s “ so c rá tic o s” c o m b a te ra m S ó crates e q u a n to s “ k a n tia n o s ” c o m ­
b a te r a m K a n t! C o lo c a m o s n a “ e sco la c a r te s ia n a ” filó s o fo s c o m o M a le b ra n c h e o u
L e ib n iz , q u e se d is tin g u ia m fo r m a lm e n te d o s “ c a r te s ia n o s ” . N ã o seria n e ce ssá rio
fa z er n o ta r q u e n o s e n tid o p ró p r io d o te rm o n ã o existem escolas filo só ficas? (L, La pie)
A p e n a s e x is tira m e sc o la s, n o s e n tid o e s tr ito , n a A n tig u id a d e . A esco la p o sitiv ista
o r to d o x a é u m a e x ceção e n tre a s d o u tr in a s m o d e rn a s . E s ta d ife re n ç a vem d a d ife ­
re n ç a n o m o d o de e n sin o . O filó s o fo a n tig o e n s in a o ra lm e n te ; o filó s o fo m o d e rn o
ag e a tra v é s d o liv ro s o b re u m p ú b lic o d is s e m in a d o . D a í d u a s c a te g o ria s de d is c íp u ­
los: os d isc íp u lo s fiéis, lig a d o s à le tra , e os d isc íp u lo s in d e p e n d e n te s , lig ad o s a o e s p í­
rito e a o m é to d o , d is tin ç ã o a s s in a la d a a lg u m a s vezes n a lín g u a fra n c e s a (Cartisans
e Cartésiens). (F. M entré)
E S C O L Á S T IC A 3IH

A . N o s e n tid o e s tr ito , g ru p o d e f iló ­ p ír ito e s c o la r, u m a te n d ê n c ia p a ra se fe­


s o fo s q u e têm n ã o só u m a d o u tr in a c o ­ c h a r em teses o u q u estõ es tra d ic io n a is fo r­
m u m , m a s ta m b é m u m a o rg a n iz a ç ã o , um m u la d a s de u m a vez p o r to d a s , em vez de
lu g a r d e r e u n iã o , u m c h e fe e m e s m o , o se r e n o v a r p e lo c o n ta to im e d ia to d a o b ­
m a is d a s v ezes, u m a su c e s sã o de ch efes s e rv a ç ã o e d a v id a .
(Ô iaáoxíj) e x p re s s a m e n te d e sig n a d o s . 2? Substantivo feminino·.
B . N o s e n tid o a m p lo , c o n ju n to d e fi­ C. A filo s o fia e sc o lá stic a , n o s e n tid o
ló s o fo s q u e p ro f e s s a m u m a m e sm a d o u ­ A . O c o n ju n to d o s filó s o fo s e sc o lá stico s.
tr in a o u p e lo m e n o s a d m ite m to d o s u m a D . F ilo so fia o u e n s in o e sc o lá stic o , n o
c e rta tese filo s ó fic a c o n s id e ra d a c o m o s e n tid o B.
c a p ita l. 3? Substantivo masculino:
C . A ex p re ss ã o a b re v ia d a “ a E s c o la ” E . F iló s o fo o u te ó lo g o e sc o lá stic o .
d esig n a e sp e c ialm en te a filo s o fia e sc o lá s­ Rad. int.: S k o la s tik (C . S k o la s tik is -
tic a . M u ito u s u a l n o s é c u lo X V II, te n d e m o , S k o la s tik a ro ).
a c a ir em d e s u s o .
E S C Ó L IO D . Scholie; E . Scholium;
\I Rad. i n t S k o l.
F . Scholie, scolie; I. Scolio.
Ç ! ESCOLÁSTICA ( o ) á . B. Scholas­ N o ta e x p lic a tiv a a c re s c e n ta d a a u m
tisch ',; C . D . Scholastik·, E . Scholastiker, te x to . P a r tic u la r m e n te , n a d e d u ç ã o , o b ­
E . A . B . Scholastic; C . Scholastic philo­ serv açõ es a c re sc e n ta d a s p e lo a u to r d ep o is
sophy; D . Scholasticism; E . Schoolman; d a d e m o n stra ç ã o d e u m te o re m a , p a r a s a ­
F . Scolastique e p o r vezes Scholastique; lie n ta r u m a q u e s tã o d e m é to d o , p a r a es­
p o ré m e s ta o r to g r a f ia e s tá e m d e s u s o ; I. c la re c e r a p ro p o s iç ã o d e m o n s tr a d a , o u
A . B , E . Seo las tico; C . D . Scolastica, La p a r a d e n o ta r a s u a lig a ç ã o co m o u tr a s .
Scuola. V er Suplem ento.
I? A d je tiv o : Rad. int.: S k o li.
A . Q u e p e rte n ce à “ E s c o la ” , q u e r d i­
E S C O T IS M O D . Scotismus; E . Sco-
z e r, a o e n sin o filo só fic o d a d o n a s e sc o ­
tism; F . Scotisme; I. Scotismo; e E sc o -
las e c le siástic a s e n a s U n iv e rs id a d e s d a
tis ta D . Scotist; E . Scotist; F . Scotiste; I.
E u r o p a e n tre o s séc u lo s X e X V II, a p r o ­
Scotista.
x im a d a m e n te . E sse e n s in o te m c o m o c a ­
E s te s te rm o s a p lic a m -se q u a s e e x c lu ­
ra c te rístic a s d is tin tiv a s , p o r u m la d o , o
s iv a m e n te à d o u tr in a e a o s p a rtid á rio s d e
e s ta r c o o r d e n a d o c o m a te o lo g ia , a d e
D u n s S c o t (1265(?) — 1308). Escotismo
p r o c u r a r u m _ a w r d o e n tre a re v e la ç ã o e.
o p õ e -s e e m g e ra l a Tom ism o.
a j u z n a tu r a l d a r a z ã o ; p o r o u tr o , te n £ q ;
Escotista d iz-se a in d a , s e g u n d o L i t -
m o m é to d o s p rin c ip a is a a rg u m e n ta ç ã o
t r é , d o s p a r tid á r io s d a d o u tr in a d e E s
silo g ística e a j e i t u r a c o m e n ta d a d o s au­
c o t o E r i g e n a (sécu lo IX ). M as este sen ­
tores a n tig o s c o n h e c id o s n essa é p o c a , SO:
tid o é p o u c o u s a d o .
b r e tu d o d e - A r i s t ó t e l e s .
S . T o m á s d e A q u i n o (1 2 2 7 -1 2 7 4 ) é E S C R Ú P U L O D . Skrupel (a p ro x im a ­
o seu r e p re s e n ta n te m a is c o n h e c id o . d a m e n te : A . Genauigkeit; B . Bedenken );
B . N u m s e n tid o p e jo r a tiv o , d iz-se E . A . Scrupulousness; B . Scrupule; F .
q u e r d a q u ilo q u e a p re s e n ta um c a r á te r Scrupule; I. Scrupulo.
e x a g e ra d o d e f o r m a lis m o (ex cesso d e d i­ À . A p re c ia ç ã o d e lic a d a d o q u e se d e ­
v isões, de d istin ç õ e s, d e ra c io c ín io in ver­ ve fa z er, q u e r em m a té ria m o ra l, q u e r em
dis); q u e r d o q u e m a n ife s ta u m a r d e es- m a té ria p ro f is s io n a l, le v a d a a té o m e n o r

S o b re E sc o lá s tic a — V er n o Suplem ento as o b s e rv a ç õ e s de F. Picavet e d o p a d re


L. Laberthonnière s o b re a d e fin iç ã o d e sta p a la v ra .
319 ESCRUPULOSO

p o rm e n o r e a n ã o d eix ar e sc a p a r n a d a d a- s a ú d e . ” M a r g u e r i t e d e N a v a r r e (e m
q u ilo q u e p o d e m o s lev ar em c o n ia , p r o ­ Li t t r ê , sub V o);
c u r a n d o a m a is c o m p le ta p e rfe iç ã o . 2? Scrupulus, p eq u en a ped ra q u e fe­
B . E m b a r a ç o , d ú v id a m o ra l; in q u ie ­ re o pé; o b stá c u lo q u e d e té m a m a rc h a
ta ç ã o de c o n sc iê n c ia q u e im p e d e a a ç ã o . (c f. L . “ S c r u p u l u m injicere a l i c u i . ” “ S o l -
“ Ser d e tid o p o r u m e s c rú p u lo .” “ T e r es­ lic itu d in u m acúleos o m n e s e t s c r u p u l o s . ”
c r ú p u lo em ag ir de d e te r m in a d a m a n e i­ C íT E 2 Ã , A A tticu s , I , 1 8 , e t c . ) L « 2 ê ,
I I

fa la n d o d o se n tid o B, d e fin e -o ; “ A q u ilo


r a . ” A m a io r p a rte d as vezes n u m s e n ti­
q u e e m b a r a ç a a c o n s c iê n c ia ta l c o m o u m a
d o p e jo ra tiv o ; “ A s m u lh e re s , o s jo v e n s ,
pedra d ific u lta a q u e le que c a m in h a .”
os e sp írito s fra c o s são o s m a is p ro p e n s o s
Scrupulus d á o r ig e m j á n o la tim a e stas
a e sc rú p u lo s e s u p e r s tiç õ e s .” M τ Â E -
d u a s m e tá f o r a s , e em c e rta s frases é d ifí­
B2 τ ÇT7 E , Rech. de la vérité, liv ro IV ,
cil s a b e r q u a l p r e d o m i n a .
c a p . X II.
Rad. ini.: S k ru p u l, -o zes.
Doença do escrúpulo , loucura o u de­
lírio do escrúpulo. E s ta d o p a to ló g ic o n o E S C R U P U L O S O D . Sem e q u iv a le n ­
q u a l se p ro d u z e m e sc rú p u lo s ex cessiv o s te e x a to ; A . Genau ; B . Bedenklich\ E.
e in ju s tific a d o s (n o se n tid o B), o b sessõ es Scrupulous; F . Scrupuleux ; I. Scru -
de a to s ou de im a g e n s v e rg o n h o s a s , em puloso.
o p o siç ã o ao c a r á te r e à v o n ta d e d o d o e n ­ A . Q u e c u m p re o seu d e v er, o seu t r a ­
b a lh o , as su as fu n çõ es co m a m a io r c o n s ­
te, te n d ê n c ia s p a r a lev ar tu d o p a r a o a b ­
ciên cia e sem n eg lig e n cia r o q u e q u e r q u e
s o lu to ou o e x tre m o . V er P . J a n e t , Les
s e ja . “ U m a r tis ta , um tr a b a lh a d o r e sc ru ­
obsessions et la psychasthénie, p p . 54-64.
p u lo s o .” D iz-se ta m b é m d a s m a n e ira s de
CRÍTICA a g ir: “ U m a e x a tid ã o e s c r u p u lo s a .”
“ U m a ju s tiç a q u e d e c id e ... so b re a h o n ­
O s e n tid o B p a re c e p ro v ir d ir e ta m e n ­
ra exige in vestig ações e sc ru p u lo sa s. A d e ­
te d o s e n tid o A : o ex cesso d e c o n sc iê n c ia
lic a d e z a d o ju iz a u m e n ta à m e d id a q u e
n a a p re c ia ç ã o , n a c o n s id e ra ç ã o d o s m o ­
ele te m u m a m a io r r e s p o n s a b ilid a d e ."
tiv o s q u e lev am à h e s ita ç ã o . P o r é m e ti­ M o n t e s q u i e u , Espirito das leis , V I, 1.
m o ló g ic a m e n te h á a í, s e g u n d o p a re c e , O a d v é rb io escrupulosamente tem q u a s e
d u a s m e tá fo ra s d ife re n te s, a in d a q u e a m ­ s e m p re este s e n tid o fa v o rá v e l.
b as e ste ja m lig a d a s a scrupulus (p e q u e ­ B. E m b a r a ç a d o p o r e sc rú p u lo s , n o
n a p e d ra ): sen tid o B. S u b sta n tiv a m en te: “ U m escru ­
1? Scrupulus , 24? p a r te d a o n ç a , o p u lo s o ” : 1?, a q u e le c u jo c a r á te r se in c li­
m e n o r d o s p eso s u tiliz a d o s : d e o n d e a n a p a ra o s e sc rú p u lo s : “ O m esm o a c o n ­
id éia de m e d id a , de a v a lia ç ã o le v a d a a o tece co m os e sc ru p u lo s o s ; sem ra z ã o a r ­
ú ltim o g rau d o rig o r. “ Sem nos d eix ar u m r a n ja m m o tiv o s d e m e d o e d e in q u ie ta ­
ú n ic o e s c rú p u lo de d ú v id a s o b re a v o ssa ç ã o . ” M a l e b r a n c h e , Rech. de la véri-

S o b re E s c rú p u lo (a rtig o a c re s c e n ta d o p o r p r o p o s ta de v á rio s c o rre s p o n d e n te s )


— Louis Boisse le m b ro u a este p r o p ó s ito a d e fin iç ã o de relig ião d a d a p o r S a lo m o n
R « Çτ T : “ U m c o n ju n to de e sc rú p u lo s q u e d ific u lta m o livre e x ercício d as n o ssa s
E 7

f a c u ld a d e s .” Orpheus, histoire générale des religions, p. 4 . “ O te rm o escrúpulo ” ,


a c re sc e n ta R e in a c h , “ tem o d e fe ito d e ser u m p o u c o vag o e, o u s a re i d izê-lo , d e m a ­
s ia d o la ic iz a d o . T e m o s e s c rú p u lo em fa la r n u m a c â m a r a m o r tu á r ia , m a s ta m b é m
te m o s e s c rú p u lo em e n tr a r co m u m g u a rd a -c h u v a n u m s a lã o . O s e sc rú p u lo s de q u e
se tr a ta n a d e fin iç ã o q u e p r o p u s sã o d e n a tu re z a p a r tic u la r ; a e x em p lo de m u ito s
a n tr o p ó lo g o s c o n te m p o râ n e o s , c h a m a r-lh e s -e i tabus.'’'
ESFO RÇO 320

té, liv ro IV , c a p . X II; 2 ? , a q u e le q ue so ­ E S F O R Ç O D . Streben, Anstrengung-,


fre d a doença do escrúpulo : “ E stes d o e n ­ E. E ffo rt ; F . E fforf, I. Sforzo,
tes são de c e rta m a n e ira fó b ic o s . T o d a ­ O e sfo rç o é o m o d o de a tiv id a d e de
v ia , p re firo c h a m a r-lh e s escrupulosos, e u m se r c o n sc ie n te q u e p ro c u ra u ltr a p a s ­
c re io q u e e sta p a la v r a p õ e em ev id ên cia sa r u m a resistên cia q u e r e x te rio r, q u e r in ­
u m o u tr o p o n to de v is ta . C h a m a a a te n ­ te rio r. D istin g u e m -se d e o rd in á rio d u a s
ç ã o p a ra os d is tú rb io s d a v o n ta d e e p a ra fo rm a s ( a trib u in d o a e sta d is tin ç ã o , se­
a s id éias q u e o d o e n te tem desses d is tú r ­ g u n d o o s a u to r e s , u m v a lo r m ais o u m e ­
b io s .” P . J τ ÇE I , Les obsessions et la n o s m e ta fís ic o ): o e s fo rç o m u s c u la r e o
psychasthénie, p p . 56-57. e s fo rç o in te le c tu a l. V er W . J τ O è , “ O
E

Rad. int.: S k ru p u io z . sen tim en to d o e sfo rç o ” , Crit. p h ii, 1880,

S o b re E s f o r ç o — A d e fin iç ã o d e s ta p a la v r a fo i lig e ira m e n te m o d if ic a d a s e g u n d o


as o b se rv a ç õ e s de E dm ond Goblot e Th. Ruyssen. N ã o p u d e to d a v ia c o n c o r d a r co m
Ruyssen s o b re a a firm a ç ã o d e q u e o e s fo rç o im p lic a s e m p re a representação do fim .
P a re c e -m e , co m e fe ito , q u e : 1?, n a o rd e m m u s c u la r, p o d e h a v e r, p o r e x e m p lo , es­
fo rç o p a ra re s p ira r d e u m a m a n e ira in te ira m e n te in s tin tiv a e sem o u t r a re p re s e n ta ­
ção c o n sc ie n te além d o in c ô m o d o e x p e rim e n ta d o ; 2 ? , n a o rd e m in te le c tu a l, o e s f o r ­
ço c o n siste p re c is a m e n te em p ro s s e g u ir u m a re p re s e n ta ç ã o q u e n ã o se fo rm a e s p o n ­
ta n e a m e n te (u m n o m e p r ó p r io e s q u e c id o , u m a s o lu ç ã o d e p ro b le m a ). O q u e c ritic a ­
va Goblot n a p rim e ira re d a ç ã o d este a rtig o e ra ju s ta m e n te a e x p re ss ã o “ c o m vista
a u ltra p a s s a r u m a re sistê n c ia ” . “ C o m vista a”, escrev eu -n o s ele, “ p a re c e in d ic a r u m a
fin a lid a d e c o n sc ie n te . É c e rto q u e o e sfo rç o te n h a s e m p re u m fim ? M esm o q u a n d o
ele o te m , é se m p re a id é ia d esse fim q u e o d e te r m in a ? ” P o r o u tr o la d o , F. M entré ,
m esm o a d m itin d o q u e e x istem “ p e n s a m e n to s e d e se jo s in c o n s c ie n te s ” , n ã o a c r e d ita
q u e p o ssa h a v e r esforços inconscientes: “ O q u e é u m e s f o r ç o ” , d iz ele, “ n o q u a l
a v o n ta d e n ã o p a r tic ip a ? A lém d is so , a v o n ta d e exig e c e rto g ra u de c o n s c iê n c ia .”
E ste a rg u m e n to n ã o m e p a re c e d e c isiv o , p o is p o d e r-s e -ia d iz er d a m e sm a m a n e ira
q u e n ã o se p o d e p e n sa r sem s a b e r a q u ilo em q u e se p e n s a e assim to d o fe n ô m e n o
in te le c tu a l in c o n sc ie n te é u m a c o n tr a d iç ã o . {A. L .)
E s ta p a la v r a tem u m a sig n ific a ç ã o e ss e n c ia lm e n te in te rn a e d in â m ic a . O e sfo rç o
é o a g e n te d o d e v ir, e co m o o d ev ir é u m a re a lid a d e e x c lu siv a m e n te p sico ló g ica im ­
p o rta reter p a rtic u la rm e n te a sig n ificação íntima, e m u ito freq u e n te m en te m o ra l, d esta
n o ç ã o . ( L . Boisse)
T e n d o C h . RlCHET p u b lic a d o n a Revue scientifique u m a rtig o in titu la d o “ O es­
fo r ç o p a r a a v id a e a te o ria d a s c au sa s fin a is ” {Rev. sc., 1902, I, 522), S Z Â Â à P 2 Z á -
H O M M E c ritic o u a u tiliz a ç ã o d e s ta p a la v r a p o r im p lic a r u m c a r á te r p sico ló g ico q u e
n ã o te m o s o d ir e ito , d iz ele, d e e ste n d e r sem p ro v a s à s fo rm a s in fe rio re s d a v id a:
“ O e sfo rç o p ro p r ia m e n te d ito p ro c e d e d o q u e re r e o q u e re r im p lic a in d iv id u a lid a d e
p s íq u ic a d o a g e n te . A p e n a s c o n h e c e m o s o q u e re r a tr a v é s d a c o n sc iê n c ia q u e d e le te ­
m o s em n o s so s a to s , e t c .” Le problèm e des causes finales, 2? c a r ta , p . 4 5 . Ch. Ri-
chet re s p o n d e c o n c o r d a n d o co m ele q u e n e ste c a s o a e x p re ss ã o é im p r ó p ria . “ V o cê
in siste c o m ra z ã o n o s e n tid o d a p a la v r a esforço , q u e é, sem d ú v id a , u m a p a la v r a
a n tr o p o m ó r f ic a c o m o to d a s as p a la v r a s h u m a n a s . M a s n ã o m e a c u se d e te r p re s s u ­
p o s to co m isso u m a c o n sc iê n c ia a n á lo g a à c o n sc iê n c ia h u m a n a , u m a v o n ta d e a n á lo ­
g a à v o n ta d e h u m a n a , u m a id éia p re c o n c e b id a a n te r io r a o a to ... A s u a a n á lise d este
p o n to é tã o ju d ic io s a q u e sin to a g o ra a lg u n s re m o rs o s p o r m e te r serv id o de u m a
p a la v ra q u e se p re s ta a e sta c o n f u s ã o .” Ibid., 132.
321 E S P A C IA L ID A D E

t. II; FÃZ « Â Â é E , “ O s e n tim e n to d o e sfo r­ d o a q u a l a c iê n c ia n ã o deve ser v u lg a ri­


ço e a co n sciên cia d a a ç ã o ” , Rev. philos., z a d a , m a s c o m u n ic a d a u n ic a m e n te ao s
1889, I I , 561; BE 2 ; è ÃÇ , “ O e s fo rç o in ­ a d e p to s c o n h e c id o s e e sc o lh id o s p e la su a
te le c tu a l” , ibid., 1902, I, 1. in te lig ê n c ia e p e la s u a m o ra lid a d e . C f.
Bτ TÃÇ , De A ugm ent is, liv ro V I, c a p . II;
CRÍTICA
Valerius Term inus , c a p . X I , X V I I I , etc.
O e sfo rç o p e rte n c e e sse n cia lm e n te a o C. N o s c o n te m p o râ n e o s , sin ô n im o de
ser c o n sc ie n te ; a p e n a s p o r m e tá f o r a se o c u lto : a p lic a-se à C a b a la , à M a g ia , às
p o d e a p lic a r a p a la v ra à p re s sã o de um ciên cias d iv in a tó ria s , etc. E n c o n tra -s e
gás n u m re c ip ien te c u jo v o lu m e d im in u i ig u a lm e n te n este sen tid o esoterismo em
o u m esm o “ aos esfo rço s d a te m p e sta d e ” , vez de ocultismo.
em fran cês. É v e rd a d e q ue se fa la co m r a ­
zão de esforços inconscientes, m a s n u m C RÍT IC A

ser c o n sc ie n te , e d a m e sm a m a n e ira q u e E s ta p a la v r a n ã o p a re c e e n c o n tra r-s e


se re c o n h e c e m nele a sso c iaç õ e s o u ju íz o s e m A 2 « è I ó I E Â E è . É c ita d a p o r E « è Â E 2 ,
in c o n sc ie n te s. P o d e -s e n o ta r q u e em to ­ c o m a re fe rê n c ia seg u in te: Política, V III,
d o e s fo rç o a re s istê n c ia a v e n c e r é s o b re ­ 1, 1323, 22. M as é sem d ú v id a u m e rro ,
tu d o in te rio r : a fa d ig a o u a d o r, e m p a r ­ p o is a ed ição B ek k er e a ed ição D id o t d ã o
tic u la r, te n d e m d e u m a f o r m a re fle x a a a m b a s n e sta p a ssa g em èfaTCQixoí \óyot,
d e te r a a ç ã o , q u e , p o r c o n s e g u in te , a p e ­ N ã o fig u ra ta m b é m em BÃÇ« I U (cf.
n a s p o d e ser m a n tid a a tra v é s d e u m a re ­ ibid., 1278 b , 3 2 , M eta/., 1076a 29).
n o v a ç ã o c o n tín u a d o a to v o lu n tá rio . A p a re c e s o m e n te e m C Â E OE ÇI E áE AÂ E ­
D o p o n to d e v ista p sic o fisio ló g ic o , o 7 τ Çá2 « τ , a p lic a d a a c e rta s o b ra s de
“ p ro b le m a d o e s f o r ç o ” c o n siste em se A ris tó te le s ( Strom ata , V , p . 681. S e g u n ­
p e rg u n ta r se o sen tim en to especial q u e ex­ d o H . E è I « E ÇÇ E, Theasurus, re v isto p o r
p e rim e n ta m o s está n este caso u n ic a m e n ­ H τ τ è E e D « ÇáÃ2 E ).
te lig a d o às açõ es p e rifé ric a s (tá te is, m u s­ Rad. int.: E s o te rik .
cu lares, a rtic u la re s ) o u se d e p e n d e s o b re ­
E S P A C IA L D . Räumlich ; E. Spatial·,
tu d o d a in e rv a ç a o c e n tra l o u , p o r fim , se
F . Spatial ; I. Spaziale.
c o n s titu i u m e s ta d o esp ecial d o e sp írito
Q u e p e rte n c e o u q u e é re la tiv o ao
sem c o rre s p o n d e n te n e rv o s o .
esp aço * . “ A s fo rm as espaciais pelas quais
Rad. int.: E s fo rc .
os c o rp o s nos a p arec em d elim itad o s — is­
E S O T É R IC O G . ’E o wt é q ih ô s , in te ­ to é, p eias ra z õ e s q u e d e m o s, o p ró p r io
rio r; D . Esoterisch; E . Esoteric; F . Éso- e sp a ç o — são c o n s tru ç õ e s c u ja n a tu re z a
térique\ I. Esotérico. d e p e n d e d o s n o sso s ó r g ã o s .” C h . D u-
A . T e rm o u tiliz a d o s o b re tu d o a o Çτ Ç , Teoria psicológica do espaço, c a p .

fa ia r-s e d as esco las a n tig a s d a G ré c ia . É V I, § 5.


esotérico o e n sin o q u e é fe ito a p e n a s n o Rad. int.: S p a c a l.
in te rio r d a E s c o la , p a r a d isc íp u lo s c o m ­
E S P A C IA L ID A D E D . Räumlichkeit ;
p le ta m e n te in s tr u íd o s . S in ô n im o :
E . Spatiality; F . Spacialité ; I. Spazialità.
acroamático *. É exotérico , p elo c o n tr á ­
C a r á te r d a q u ilo q u e é espacial*. “ A
rio , o q u e co n v ém ao en sin o p ú b lic o e p o ­
in te lig ê n c ia , ta l c o m o K an t n o -la r e p re ­
p u la r. V er s o b re a d is tin ç ã o d as o b ra s de
s e n ta , está m e rg u lh a d a n u m a a tm o s fe r a
A2 « è I ó I E Â E è em esotéricas e exotéricas,
d e e sp a c ia lid a d e à q u a l e stá tã o in s e p a ­
R E ÇÃZ â« E 2 , P h ii ancienne, II , 39.
ra v e lm e n te u n id a q u a n to o c o rp o vivo ao
B . P o r m e tá f o r a , d iz-se de to d o e n si­
a r q u e r e s p ir a .” H . B 2 ; è Ã Ç , L ’evotu -
E
n o re se rv a d o a u m c írc u lo r e s tr ito d e o u ­
tion créaírice, p. 233.
v in tes. O esoterismo é a d o u tr in a s e g u n ­
Rad. int.: S p aces.
K 5PA Ç O 322

E S P A Ç O D . Rau/n; E. Space; F . Es­ h o m o g ên eo , c o n tín u o , etc. (Esquisse d ’une


pace ; I. Spazio. psychologies V , C , 10). E rn st Mτ T fa z o 7

M eio id eal, carac te riz ad o p ela exterio* m e sm o , a in d a q u e em te rm o s u m p o u c o


rid a d e d as su as p a rte s , n o q u a l se lo c a li­ d iferen tes (On Physiological as Distinguis­
zam os n o sso s p e rc e p to s * e q u e c o n té m , hed fro m Geometrical Space, M o n ist, A p r.
p o r c o n se q u ê n c ia , to d a s as e x ten sõ es* 1901): ele d istin g u e d o esp aço g eo m étrico
fin ita s . q u e a p re se n ta to d a s as p ro p rie d a d e s a trá s
O e sp a ç o ta l c o m o o c o n sid e ra a in ­ e n u m e ra d a s , o “ e sp a ç o fisio ló g ico ” lim i­
tu iç ã o é c a ra c te riz a d o p elo fa to de ser h o ­ ta d o a o c a m p o d a p e rc e p ç ã o a tu a l, d ife ­
m o g ên eo (os elem en to s q u e nele se p o d em re n c ia d o p elas sen saçõ es d e a lto e d e b a i­
d is tin g u ir a í a tra v é s d o p e n s a m e n to sã o
x o , d e d ire ita e de e s q u e rd a , m ais e ste n d i­
q u a lita tiv a m e n te in d iscem ív eis), is ó tro p o
d o h o riz o n ta lm e n te d o q u e v erticalm en te,
(to d a s as d ireçõ es têm as m esm as p ro p rie ­
etc. C a d a sen tid o tem assim um espaço f i ­
d a d e s ), c o n tín u o * e ilim ita d o . E s ta s sã o
siológico q u e lhe é p ró p rio , m ais h o m o g ê ­
p ro p rie d a d e s m u ito g erais: m a s a g e o m e ­
n e o p a r a o ta to d o q u e p a r a a v isão , m ais
tr i a u s u a l a c re s c e n ta -lh e s as d u a s d e te r­
is ó tro p o p a ra a visão d o q u e p a ra os sen ­
m in a ç õ e s seg u in tes: 1?, tem trê s d im e n ­
s õ e s, q u e r d iz e r, p o r u m p o n to p o d e m tid o s m u scu lares, etc. A a p ro x im a r d a o p i­
p a s s a r trê s lin h a s Tetas p e rp e n d ic u la re s n iã o d e W . J τ OE è de q u e to d a s as sen sa ­
e n tre si, e a p e n a s trê s ; 2 ? , é h o m a lo id a l, çõ es são esp aciais.
q u e r d iz e r, nele se p o d e m c o n s tr u ir fig u ­ CRÍTICA
ras sem elh an tes em q u a lq u e r escala. A n e­
E ntende-se q ue, q u a n d o a p alav ra é u ti­
g a ç ã o d e sta s d u a s ú ltim a s p ro p r ie d a d e s
lizad a sem o u tra d e te rm in a ç ã o , se ap lic a
c o rre s p o n d e a o q u e se c h a m a h ip e re sp a -
a o e sp a ç o g e o m étric o eu clid ian o .
ços e e sp a ç o s n ã o e u c lid ia n o s .
Rad. int.: S p ac.
H ó E E á« Ç; d istin g u e e n tre o e sp aço
psicológico relativ o , ta l co m o é d a d o n a “ E s p a ç o -te m p o ” N a T eoria* d a R ela­
p e rc e p ç ã o , e o esp aço ideal absoluto o u tiv id ad e: sistem a d e q u a tro variáveis (x, y ,
m a te m á tic o , “ a b s tra ç ã o à q u al n a d a se z, t) so lid a ria m en te necessárias p a r a d e ­
c o n fo rm a n a in tu iç ã o ” , e d iz q u e só este é m a rc a r u m fe n ô m e n o d e u m a m a n eira

S o b re E sp a ç o — A p ro p rie d a d e d a p a la v ra ideal a o falar-se d o esp a ç o é p o s ta em


d ú v id a p o r J . Lτ T7 E Â « E 2 , E ; ; E 2 , R; è è E Â ; n ó s, c o n tu d o , a m a n tiv e m o s à fa lta d e um
te rm o m ais e x a to q ue a p u d esse su b stitu ir. E n te n d e m o s co m isso q u e q u a lq u e r q u e seja
a o p in iã o p ro fe s sa d a , n o q u e diz resp eito à n o ssa m a n e ira de co n h ec e r a e x ten são em
ta l o u ta l e x p eriên cia p a rtic u la r, o e sp a ç o , to m a d o n o seu c o n ju n to e co m o meio , n ão
é u m a co isa n em u m a sen sa çã o , m as u m a p ro d u ç ã o o u u m a c o n stru ç ã o d o esp írito :
p o r ex em p lo , u m a a b stra ç ã o p a r a M a c h , H ó ffd in g , u m a “ fo rm a a priori ” p a ra um
k a n tia n o , etc. (A. L.)
V. Egger p re fe riría a seg u in te d efin ição : “ M eio em q ue situ a m o s to d o s os co rp o s
e to d o s os m o v im e n to s .”
A d istin ç ão en tre o esp aço p sico ló g ico (o u fisio ló g ico ) e o e sp aço g eo m étrico foi
c o m p le ta d a seg u n d o as in d icaçõ es de Ranzoli e íwanowsky. Ranzoii critica a ex pressão
de M a c h , à q u al p re fe re a de H ó ffd in g ; n o ta , p o r o u tr o la d o , q u e p a ra m u ito s p sicó lo ­
g o s o ú n ic o e sp aço “ q ue p erceb em o s re a lm e n te ” é o esp aço visual ( ottico ). W. Iwa-
nowsky p e n sa , p elo c o n trá rio , q u e h á três fo rm a s fu n d a m e n ta is d a sen sação de esp aço :
o e sp aço visual, o e sp aço tá til, o esp a ç o m u scu lar. U m e o u tro a d m ite m q ue o esp aço
g eo m étrico saia p o r a b stra ç ã o destes espaços p rim itiv o s, q ue n ã o são nem h o m o g ên eo s,
n e m ilim ita d o s, n em c o n tín u o s. V er a d iscu ssão destes d iferen tes p o n to s de v ista n o
c a p ítu lo d a Psicologia de H ó ffd in g c ita d o m ais a trá s .
323 E S P É C IE S

c o m p le ta , n ã o s e n d o a p o s iç ã o q u e se lh e CRÍT5CA
d ev e a s s in a la r n o e sp a ç o (x, y , z) e a q u e ­ H á n a lin g u a g e m c o rre n te u m a c o n ­
la q u e se lh e deve a ss in a la r n o te m p o t o ­ fu são freq ü e n te e n tre singular*, especial*
ta lm e n te in d e p en d e n te s u m a d a o u tr a c o ­ e particular*. A q u ilo q u e é u m c a r á te r
m o n a físic a clássica. A e q u a ç ã o q u e re ­ singular o u especial é, e fe tiv a m e n te , p a r ­
p re s e n ta o in te rv a lo de e sp a ç o -te m p o é: tic u la r em relação ao gênero , p o rq u e n ã o
S 2=& (Í2—í «)2—t e - * i ) 2- t e ->>i)2- t e - zi)2 co n v ém a o g ê n e ro n o seu to d o . M as n ã o
é p a r tic u la r em re la ç ã o a o in d iv íd u o o u
n a q u a l c é a v e lo c id a d e d a lu z , í o in te r ­
à e sp é c ie, v isto q u e p o d e ser a firm a d o
v a lo d e te m p o m e d id o n o s d o is siste m a s
“ u m v e rs a lm e n te ” d a q u e le o u d e sta . V er
de re fe rê n c ia s d ife re n te s , x, y, z, a s c o o r ­
e sta s p a la v r a s , a ssim c o m o a C ritic a e as
d e n a d a s de e sp a ç o n o s d o is siste m a s: a in ­
o b s e rv a ç õ e s s o b re Geral.
d a q u e t, x, y, z, to m a d o s à p a r te , s e ja m
Rad. int.\ S p ecal.
d ife re n te s n o s d o is siste m a s, S2 te m o
m e sm o v a lo r em to d o s o s c aso s. E S P É C I E G . E fô o s; L . Species ; D .
O e sp a ç o -te m p o p o d e ser c o n s id e ra ­ A r t ; E . Species; F. Espèce; 1. Specie.
d o , p o r c o n se q u ê n c ia , co m o u m m eio * de A. L ó ; « Tτ . U m a classe* A , e n q u a n ­
q u a tro d im en sõ es, d a m esm a m a n e ira q u e to é co n sid e ra d a com o u m a p a rte d a ex­
só o esp a ç o é c o m u m e n te c o n s id e ra d o c o ­ ten são de u m a o u tra classe, B. B é, e n ­
m o u m m eio de trê s d im e n sõ e s e o te m p o tã o , o g ên ero de que A é a espécie.
c o m o u m m eio de u m a só d im e n s ã o . B . B « Ã Â Ã ; í τ . U m a espécie é um g r u ­
p o de in d iv íd u o s q u e a p re se n ta m u m tip o
E S P E C IA L D . Spezial..., speziell, be­ c o m u m , h e re d itá rio , bem d e fin id o e g eral
sonder, eigenartig ; E . Special; F. Special·, ta l q u e n o e sta d o a tu a l d a s coisas n ã o se
1. Speciale. p o d e m istu rá -lo p o r c ru z a m e n to , de m a ­
A , Q u e diz re sp eito à espécie* (ló gica) n eira d u rá v e l, co m o tip o de o u tra espécie.
em o p o siçã o ao gênero*. “ C o n sid e ra ç õ e s
CRÍTICA
especiais p a ra os seres v iv o s” (relativ am en ­
te a o c o n ju n to d o m é to d o ex p erim en tal). É im possível d a r u m a d e fin iç ã o rig o ­
C l. B 2 Çτ 2 á , Int. ao estudo da medie, ex-
E
ro sa d a espécie, s o b re tu d o n o q u e c o n c e r­
perim., V p a rte , c a p . 11. ne a o s vegetais; e as d ificu ld ad es q u e se en ­
B. (A b so lu ta m e n te ). L im ita d o , re s tri­ c o n tra ra m ao te n ta r fazê-lo lev aram p re ­
to . “ C ie n tista s e n c e rra d o s nos seu s e s tu ­ cisam en te a fazer cair em d escréd ito a co n ­
cep ç ã o d a fix idez d as espécies e d a su a se­
d o s p ro fissio n a is, p a cie n te s, e sp e c ia is ...”
p a ra ç ã o rad ical.
C ÃZ 2 ÇÃI , Traite de Tenchainement, V,
Rad. in t.: S pec (Boirac).
2, § 548.
P o r c o n s e q u ê n c ia , a lg u m a s vezes, d i­ E S P É C IE S (ra ro n o sin g u lar). G . E í‘-
fe re n te d o u so c o m u m o u d a m a io ria d o s ôtoXa; L. Species, simulacro, L Z T2 E T« Ã ;
c a so s. species intentionales, E scol. D . Species; E .

S o b re E sp é cie — D ev e-se, to d a v ia , n o ta r q u e e n q u a n to o s gêneros , ordens, clas­


ses, e tc ., p o r u m la d o , e p o r o u tr o a s variedades, são a g ru p a m e n to s a r b itr á r io s , a p e ­
n a s ú teis p a r a a c o n c e p ç ã o c la ra e a d e sig n a ç ã o d o s seres, a esp é c ie b io ló g ic a tem
u m fu n d a m e n to n a re a lid a d e . D iscu tir se u m a g ru p a m e n to é, n u m a d a d a é p o c a , u m a
esp écie o u u m a v a rie d a d e é d is c u tir u m p o n to d e f a to . (E. Goblot)

S o b re E sp é cie s — D iz-se ta m b é m “ p a g a r em esp écie, esp écies s o n a n te s ” . A lém


d is so , em fra n c ê s , a lin g u a g e m ju r íd ic a e m p re s to u à lin g u a g e m c o rre n te e à lin g u a ­
gem filo só fic a a e x p re ssã o : “ é u m c a s o d e e s p é c i e ” (c’est un cas d ’espèce), q u e se
liga a o m e sm o s e n tid o d o la tim species, c o m o n o to u C Ã Z 2 Ç Ã : “ P a r a e sta r d e aco r-
I
E S P E C IF IC A Ç Ã O 324

E . Species; F . Espèce$\ I. Specie. m a s vezes c o m o m e tá fo ra n a lin g u ag em


Sentido geral: o b je to im e d ia to d o c o ­ c o rre n te .
n h ecim en to sensível, c o n sid e ra d o co m o E S P E C IF IC A Ç Ã O D . Spezifikaüotr,
u m a realid ad e in te rm e d iá ria en tre o c o n h e ­ E . Spécification', F . Spécification', 1. Spe-
c im e n to e a re a lid a d e c o n h e c id a . “ A o p i­ cificazione.
n iã o m ais c o m u m é a d o s perip atético s, q u e A . O p e ra ç ã o p e la q u a l se d istin g u em
p re te n d em q u e o s o b je to s d o e x te rio r en ­ as espécies d e u m m e sm o g ê n ero . “ A es­
viam espécies q u e se lhes assem elh am e q u e p e cifica ç ão e a c o m p o siç ã o sã o u m a só e
essas espécies sã o tra n s p o rta d a s p elo s sen ­ m esm a co isa: esp ecificar é p ô r u m elem en ­
tid o s ex terio res a té o s e n tid o c o m u m ; eles to , o p o r-lh e u m a d eterm in a çã o q u e lh e fa l­
c h a m a m a essas espécies impressas, p o r ­ ta e, p e la sín tese desse elem en to e dessa d e ­
q u e o s o b je to s as im p rim em n o s sen tid o s te rm in a ç ã o , fo rm a r o c o m p o s to .” H τ O - E

ex terio res. S e n d o m a te ria is e sensíveis es­ Essai sur les éléments principaux de
L iN ,
sas espécies impressas, elas se to rn a m in­ la représentation , c a p . IV , p . 170. E le c h a ­
teligíveis a tra v és d o in telecto a g e n te e p o ­ m a lei de especificação {ibid ., 165 ss.) à ne­
dem ser recebidas n o in telecto paciente. E s­ cessidade q u e , seg u n d o ele, se im põe ao es­
p írito q u a n d o este p e n s a u m a q u a lid a d e ,
sas espécies, assim e sp iritu a liz a d a s, sã o
d e a c o n c e b e r c o m o u m g ê n e ro q u e exige
c h a m a d a s espécies expressas, p o rq u e elas
u m a d ife re n ç a esp ecífica.
são expressas das im pressas; e é atrav és d e­
K a n t c h a m a lei de e sp e c ific a ç ã o (Ge-
las q u e o in te le cto p a cie n te co n h ece to d a s
setz der Spécification) a o p re c e ito ló g ico :
as co isas m a te ria is .” M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 E , Re-
Entium varietates non temere esse mi-
cherchedela verité, livro III, 2.a p arte, cap . nuendas; ta l p re c e ito a s s e n ta , d iz ele, n a
I I . V er E « è Â 2 , V° Species.
E
lei tr a n s c e n d e n ta l de e sp e c ific a ç ã o o u
E ste te rm o a p e n a s p e rm a n ec e u u su al p rin cíp io d e esp ecificação , seg u n d o o q u a l
n a ex p re ssão “ S o b as espécies d e . . . ” u tili­ o e n te n d im e n to , p o r m a is lo n g e q u e vá
z a d a p elo s teó lo g o s p a r a c a ra c te riz a r a n a d iv isã o ló g ic a , c o n c e b e a in d a a p o ssi­
tra n s u b s ta n c ia ç ã o , e q u e é to m a d a alg u ­ b ilid a d e d e su b d iv isõ es, e assim p o r d ia n -

d o c o m a e tim o lo g ia s e ria p re c iso c h a m a r gênero à q u ilo q u e o s n a tu r a lis ta s c h a m a m


espécie, e espécies às in d iv id u a lid a d e s d e q u e em g e ra l eles n ã o se o c u p a m . S e ria p re ­
c is o , c o m o a in d a se fa z n o tr ib u n a l p o r u m re s to d e tr a d iç ã o e s c o lá stic a , c h a m a r d e
espécies o s c a so s in d iv id u a is e p a rtic u la re s ; s e ria p re c is o , c o m o o fa z e m o s filó so fo s
e o s m o ra lis ta s , q u a lific a r d e gênero hum ano o q u e o s n a tu r a lis ta s c h a m a m a espécie
hum ana . ” Traité de 1’enchainem ent..., liv ro I, c a p . V , § 47. (P. Marsal)
S o b re E s p e c ific a ç ã o — K a n t o p õ e a lei d e e sp e c ific a ç ã o à lei d e homogeneidade
(o u a n te s , d e p a rc im ô n ia ): entia praeter necessitatem non multiplicando. E le d is tin ­
g u e p a ra c a d a u m a d elas o a sp e c to “ ló g ico ” , isto é, n o rm a tiv o , e o fu n d a m e n to “ tra n s ­
c e n d e n ta l” , q u e c o n sis te , p a r a a lei d e e sp e c ific a ç ã o , n a im p o s s ib ilid a d e d e a tin g ir
o re a l d a in tu iç ã o a tra v é s d e u m n ú m e ro fin ito d e e sp e c ific aç õ e s re la tiv a s a u m c o n ­
c e ito d a d o .
E isler (sub V») c h a m a “ lei de e sp ecificação ” a e sta seg u n d a fo rm a d o p rin c íp io ,
a q u e l a q u e a f i r m a q u e to d o co n ceito é a in d a suscetível de u m a div isão em co n ceito s
inferiores; e cita, nesse sentido, u m a fó rm u la p o u co m ais o u m enos idêntica de F2 E è :
“ Je d e r w irklich gegebene B eg riff e n th à lt noch A rte n u m e r s ic h .” 1 Syst. der Logik,
p . 105. {A. L.)

t. “ T o d o conceito efetivam ente dado contém ainda espécies sob s i.”


325 E S P E C IO S O

te , a té o in fin ito . Krit. der reinen Vern., d e sig n a r a á lg e b ra , e n q u a n to m é to d o q u e


D o u so re g u la d o r d as id éias d a ra z ã o p u ­ co n siste em c a lc u la r c o m le tra s, a lg u m a s
ra , A 656; B 684. d a s q u a is re p re s e n ta m g ra n d e z a s d e s c o ­
B . N o s e n tid o c o rre n te d a p a la v r a <?s- n h e cid a s e d ã o lu g a r a e q u aç õ e s. “ L o g ís­
pecificar: a ç ã o d e bem d e te r m in a r u rn a tic a numerosa esc q u a e p er n u m e ro s; spe-
id é ia o u u m f a to , d e o s d is tin g u ir, a t r a ­ ciosa q u a e p e r sp ecies seu re ru m fo rm a s
vés d e u rn a c a ra c te rís tic a p re c isa , d a s n o ­ e x h ib e tu r, u tp o te p er a lp h a b e tic a d e m e n ­
ções o u dos o b je to s v izin h o s co m a s q u a is ta .” V«è , In artem analyticam Isago-
I E

se p o d e ria m c o n f u n d ir . ge, p. 8. “ A an álise o u a á lg eb ra esp ecio sa


Rad. int.: S p ecig . é s e g u ra m e n te a m ais b e la , q u e ro d iz e r,
a m ais c e rta e a m ais fe c u n d a de to d a s as
E S P E C IF IC ID A D E D. SpezifizitàV, E . c iê n c ia s.” M τ Â ζ 2 τ Ç T
E 7 , Recherche de
E

Specificity·, F . Spécificité] I. Specificitá. la verité, liv ro IV , c a p . X I, § 2.


C a ra c te rís tic a d a q u ilo que é
esp ecífico * n o s e n tid o B. “ A e sp ecifici­ “ E sp e cio sa geral o u u n iv e rs a l” Á lg e ­
d a d e d a s c ie n c ia s .” b ra ló g ica c u ja c o n s titu iç ã o L eib n iz te n ­
Rad. int.: Speciv es. to u . “ A a r te d a s c o m b in a ç õ e s p e rte n c e
a este n ú m e r o ” (d a s ciên cias d e q u e até
ESPECÍFICO G. « W OÃè ; L. Spe- e n tã o só se c o n h e c e ra a lg u m a c o isa p o r
cificus (B Ã T « Ã ); D . Spezifisch ; E . Spe-
E
a c a s o e sem q u e re r); “ ela sig n ific a , p a ra
cific ; F . Spécifique; 1. Specifico. m im , o m e sm o q u e a c iê n c ia d a s fo rm a s
A . Q u e c a ra c te riz a a esp écie, q u e a o u fó r m u la s , o u a in d a d a s v a ria ç õ e s em
d is tin g u e d as o u tr a s esp ecies d o m e sm o g e ra l; n u m a p a la v r a , é a e sp e c io sa u n i­
g ê n e ro . ‘‘D ife re n ç a e sp e c ífic a , ei&o-iroto's v e rsal o u a C a r a c té r ic a (sic)... P o d e -s e
ô i o ^ o p á ” (A 2 « è ó Â è , Tópicos , V I,
I I E E
m e sm o d iz er q u e a L o g ístic a * , o u a n te s ,
6; 143b 8, etc. V er Diferença). a Á lg e b ra lh e e stá s u b o r d in a d a n u m c e r­
B. Q u e fo rm a u m a esp écie, q u e n ã o to sen tid o , visto q u e q u a n d o n o s servim os
se re d u z a n e n h u m a o u tra classe já c o n h e ­ d e v á ria s n o ta s in d ife re n te s , ou q u a n d o
cid a de seres, de fe n ô m e n o s , etc. n o c o m eç o d o c álcu lo elas p o d e ria m ser
“ E n e rg ia e s p e c ífic a ” , v er Energia. m u d a d a s e s u b stitu íd a s m u tu a m e m e sem
p e rtu rb a r o racio cín io (se n d o p a ra isso as
NOTA
le tra s d o a lf a b e to b a s ta n te a p ro p ria d a s ),
E n q u a n to específico, específicamen­ e q u a n d o e sta s letras o u n o ta s sig n ificam
te se o p õ em a numérico , numericamen­ g ra n d e z a s o u n ú m e ro s g e ra is, su rg e e n ­
te, fa la n d o d as d ife re n ç a s e n tre as co isas, tã o a Á lg e b ra , o u a n te s , a esp ecio sa de
estes te rm o s (assim co m o a e x p re ssã o la ­ V iète. E é p re c isa m e n te n is to q u e c o n sis­
tin a c o rre s p o n d e n te , specie, o p o s ta a nu­ te a v a n ta g e m d a Á lg e b ra de V iète e de
mero) d e sig n a m a q u ilo q u e d istin g u e os D e sc artes s o b re a d o s A n tig o s , se rv in d o -
seres q u a lita tiv a m e n te , e n ã o só p e lo fa ­ n o s de le tra s em vez de n ú m e ro s , ta n to
to de serem d o is o u v á rio s , m a s sem d i­ c o n h e c id o s c o m o d e sc o n h e c id o s , c h e g a ­
fe re n ç a in trín s e c a . V er Diferença , te x to m o s a fó rm u la s em q u e h á a lg u m a lig a ­
e C rític a . ç ã o e o rd e m q u e p o ssib ilitem ao n o sso es­
Rad. int.: A . S p e c ig a n t; B . S p eciv . p ír ito n o ta r te o re m a s e re g ra s g e r a is .”
Opuscules et fragm ents inédits, p . 531.
E S P E C IO S A (A ritm é tic a o u A nálise)
C f. C Ã Z Z 2 τ
I I, La logique de Leibniz,
e s u b st. E sp e cio sa L . Arithmetica specio-
c a p . IV .
sa, logística spec., analysis spec., catcu-
lus speciosus. E S P E C IO S O (L . Speciosus , belo b ri­
E xpressões em p reg ad as p o r V « è I E e lh a n te , de u m b elo e fe ito ). D . Scheinbar
p elo s m atem ático s d o século X V II p a ra (m ais a m p lo ; n ã o é re s trito às o p in iõ e s
ESPECU LA ÇÃ O 326

e a o s ra c io c ín io s ); E. Specious ; F. Spe- Kτ ÇI a o “ in te re sse p rá tic o d a R a z ã o ” .


cieux\ I. Specioso. Krit. der reinen Vem ., A n tin o m ia , 3? se­
Q u e tem a p a rê n c ia de v e rd a d e , m a s ç ã o , § I, A 466-4 67; B 4 9 4 -4 9 5 . C f. Id eal
q ue talvez n ã o lhe c o rre sp o n d a . “ U m a h i­ d o s u p re m o B em , A 80 4 ; B 823.
p ó te se esp e c io sa ; um ra c io c ín io esp e c io ­ B. Q u e d iz re sp e ito a o s o b je to s in a ­
s o .” cessíveis à e x p e riê n c ia . “ E in e th e o re tis ­
Rad. int.: B on s e m b la n t. che E r k e n n tn is s ist s p e c u l a t i v , w en n sie
a u f ein en G eg en stan d o d e r solche B egriffe
E S P E C U L A Ç Ã O G . fle u g ía ; D . Spe-
v o n ein em G e g en stä n d e g e h t, zu w elchem
kuiation; E . Speculatiorr, F . Spéculation ;
m a n in k e in e r E r f a h r u n g g e la n g e n
I. Speculazione.
k a n n .” 1 O c o n h e c im e n to e sp e c u lativ o
A . P e n s a m e n to q u e te m c o m o o b je to
o p õ e -se p o r esta c a ra c te rís tic a a o c o n h e ­
a p e n a s c o n h e c e r o u e x p lic ar, p o r o p o s i­
c im e n to d a n a tu re z a {Natürerkenntniss)\
ção a o p e n s a m e n to q u e é u m m eio de
o u so e sp e c u la tiv o d a ra z ã o o p õ e -se ao
a ç ã o e te n d e à p rá tic a (q u e r à p r á tic a u ti­
seu u so n a tu ra l (sp e cu la tiv e r, n a tü rlic h e r
litá ria , q u e r à p r á tic a n o sen tid o m o ra l).
V e rn u n ftg e b ra u c h ). K τ Ç , i b i d . , A 635;
I
“ P a re c ia -m e q u e p o d ia e n c o n tr a r m u ito
B 663.
m a is v e rd a d e n o s ra c io c ín io s q ue c a d a
C . F a la n d o d o s e sp írito s : q u e tem in ­
q u a l faz re la tiv a m e n te ao s a ssu n to s q u e
clin ação p a ra a esp ecu lação (q u er no se n ­
lhe im p o r ta m , e c u jo a d v e n to o deve p u ­
tid o A , q u e r n o s e n tid o B).
n ir ¡m e d ia ta m e n te d e p o is, se ju lg o u m a l,
Rad. int.: A . T e o ria l; B . S p e k u la tiv ;
d o q u e n o s q u e u m h o m e m de le tra s faz
C . T e o rie m .
n o seu g ab in ete a resp eito de especulações
q u e n ã o p ro d u z e m n e n h u m e fe ito , s e n ã o E S P E R A D . Erwartung; E . Waiting·,
ta lv e z q u e deles se v e n h a a e n v a id e c e r, F . Atiente', 1. A spettazione.
ta n to m ais q u a n to m ais a f a s ta d o s e stiv e­ A p a r d o sen tid o u su al d a p a la v ra (1?,
re m d o senso c o m u m .” D è T τ 2 è , M é­
E I E
s itu a ç ã o d a q u e le q u e e s p e ra ; 2 ? , e s ta d o
todo, 1? p a r te , ad fin em . d e c o n sc ie n c ia c o rre s p o n d e n te a essa si­
B . P o r c o n se q u ê n c ia , c o m u m a c o n o ­ tu a ç ã o ) , P ie rre J τ Ç E I in tr o d u z iu este
ta ç ã o p e jo ra tiv a , c o n s tr u ç ã o a b s tr a ta e te r m o n o seu c u rs o d o C o llèg e d e F r a n ­
a r b itr á r ia , q u e n ã o se p o d e ria v e rific a r, ce, p a rtic u la rm e n te n a Análise das ten­
e c u jo v a lo r é d u v id o s o . dências (1909-1910) e n a Evolução da me­
V er Teoria. moria e a noção de tem po (1922-1923),
Rad. int.\ T e o ri. d a n d o -lh e o seg u in te s e n tid o té cn ico re ­
E S P E C U L A T IV O D . Spekuiativ ; E . la tiv o e x c lu siv a m e n te à p s ic o lo g ia d a
Speculative ; F . Spéculatif, I. Speculativo. re a ç ã o :
A . (e q u iv a le n te la tin o d o g re g o te o ­ “ A esp e ra é u m a ação m u ito especial,
ré tic o ). Q u e d iz re s p e ito à e s p e c u la ç ã o , q u e d e s e m p e n h a u m p a p e l co n sid e rá v e l
s o b re tu d o n o s e n tid o A . “ O p e ssim ism o em m u ito s d o s fato s p sicológicos, em p a r­
esp ecu lativ o ; o m isticism o e sp e c u la tiv o .” tic u la r n a c o n s tru ç ã o d a d u ra ç ã o e d o
“ A in c lin a ç ã o q u e te m o s p a r a os p ra z e ­ te m p o . P a ra c o m p reen d er esta a ç ã o é p re ­
res sen sív eis... n ã o é a p e n a s ... a cau sa ge­ ciso re c o rd a r o s e stá d io s de a tiv a ç ã o de
ral d o d e s re g ra m e n to d o s n o sso s c o s tu ­ u m a te n d ê n c ia , s en d o o s p rin c ip a is a la-
m es: ela n o s c o n d u z in sen siv e lm e n te p a ­ tê n c ia , o e re tis m o , o d e s e jo (a tiv a ç ã o da
ra o s e rro s m ais g ro s se iro s, m as m e n o s
perig o so s so b re a ssu n to s p u ra m e n te esp e­
1. “ Um conhecim ento teorético é especulativo
c u la tiv o s .” M τ Â ζ 2 τ Ç T
E 7 , Recherche
E
quando visa a um objeto ou a conceitos relativos a
de ¡a véri/é, liv. IV , c ap . X I. “ O in te re s ­ um o b jeto que n ão se pode atingir através de nenhu­
se e sp e c u la tiv o d a R a z ã o ” é o p o s to p o r ma experiência. ’’
327 E S P ÍR IT O

te n d ê n c ia su fic ie n te p a r a q u e a a ç ã o s e ja A . S o p ro , g ás, p r o d u to de d e stila ç ã o .


re c o n h e c id a p e lo s o u tro s e p o r n ó s m e s­ C o n se rv a e ste s e n tid o e tim o ló g ic o em
m o s), o e s fo rç o , a c o n s u m a ç ã o , o tr iu n ­ Bτ TÃÇ : “ S p iritu s v ita lis ” , e em DE è Tτ 2 ­
fo (a le g ria s e re s ta b e le c im e n to d o nív el IEè e n o s seu s su ce sso re s: ‘‘O s e sp írito s
m e n ta l c o n se c u tiv o s a o a to e x e c u ta d o a n im a is .” V er A lm a* sensível.
c o m s u ce sso , d e u m a m a n e ir a c o m p le ta B . P rin c íp io d a v id a e , c o n se q ü e n te -
e a c a b a d a ). Q u a n d o u m a te n d ê n c ia te m m e n te , a lm a in d iv id u a l* . C o n s e rv o u e s ­
n e c e ssid a d e , p a r a c h e g a r à c o n s u m a ç ã o , te s e n tid o , m a s s o b r e tu d o n a lin g u a g e m
d e m ú ltip lo s e stím u lo s su cessiv o s q u e se teo ló g ica o u m ística. “ O s Espíritos o u a l­
c o m p le ta m , c o m o sem p re a co n tece a p a r ­ m a s ra c io n a is ” s ã o “ im a g e n s d a D iv in ­
tir d o nível d a s te n d ê n c ia s su sp e n siv as d a d e , d o p r ó p r io A u to r d a n a tu re z a ; é o
(ten d ên cias c u ja a tiv a ç ã o p o d e ser su sp e n ­ q u e faz c o m q u e os E s p írito s seja m c a ­
sa em d iv e rso s g ra u s sem c a u s a de in ib i­ p a ze s de e n tr a r n u m a esp écie de so c ie d a ­
ç ã o e x terio r), ela p o d e ser d e sp e rta d a p o r de c o m D e u s, e tc .” L E « ζ Ç« U , Monadolo-
u m p rim e iro e stím u lo e c h e g a r a o e s tá ­ gia, 82, 83 ss. D e u s, o s a n jo s , o s d e m ô ­
d io d o e r e t i s m o , m a s n ã o p o d e n io s, a s a lm a s d o s h o m e n s d e se n c arn a d a s
u ltra p a s s á -lo p o r f a lta de o u tr o s e s tím u ­ d e p o is d a m o r te s ã o espíritos.
los. A espera co n siste em m a n te r e sta te n ­
C . N u m s e n tid o im p e s s o a l, o
d ê n c ia n o e s tá d io d o e re tis m o , em in ib ir
E s p írito * é a re a lid a d e p e n s a n te em g e­
as d e riv a çõ e s de t o d a esp écie e as d is p o ­
ra l, o s u je ito d a re p re s e n ta ç ã o c o m as
siçõ es p a ra c o n s u m a ç ã o p re c ip ita d a . E s ­
su as leis e a su a p r ó p r ia a tiv id a d e , e n ­
te tra b a lh o difícil d e term in a fad ig as, em o ­
q u a n to o p o s ta a o o b je to d a re p re s e n ta ­
çõ es, e to rn a -s e o c a s iã o d e m u ita s n e u ­
ç ã o . V er A im a (C rític a e o b se rv a ç õ e s).
r o s e s .” N o ta d e P ie rre J τ Ç . C f. o a r ­
E I

E s te ú ltim o s e n tid o é o m a is g e ra l n a lin ­


tig o d o m esm o a u to r n o Brítish Journal
g u ag em filo só fic a c o n te m p o râ n e a . C o m ­
o f Psychology, se ç ã o m é d ic a , 1920.
Rad. int.: V a rt. p re e n d e v á ria s a ce p ç õ es:
1? O Espírito é o p o s to à Matéria * , a
E S P I R I T I S M O D . Spiriíismus; E . a n títe s e é e n tã o e ss e n c ia lm e n te a d o p e n ­
Spirit ism; F . Spirit isme; 1. Spiritismo. s a m e n to e d o o b je to d o p e n s a m e n to , d a
D o u trin a seg u n d o a q u a l os esp írito s'1' u n id a d e in te le c tu a l e d a m u ltip lic id a d e
d o s m o rto s s o b re v iv e m c o n s e r v a n d o u m d o s e le m e n to s q u e e ia sin te tiz a .
c o r p o m a te ria l, m a s d e e x tre m a te n u id a - 2? O Espírito é o p o s to à Natureza *,
de (perispíríto) e, a in d a q u é n o r m a lm e n ­ a a n títese é e n tã o q u e r a d o p rin c íp io p r o ­
te in visív eis, p o d e m e n tr a r em c o m u n ic a ­ d u to r e d a p r o d u ç ã o , q u e r a d a lib e rd a ­
ç ã o co m os v iv o s g ra ç a s a c e rta s c irc u n s ­ de e d a n e c e s sid a d e , q u e r a d a re fle x ã o
tân cias, p a rtic u la rm e n te g raças à a ç ã o d o s e d a a tiv id a d e e s p o n tâ n e a .
m é d iu n s .
3? O Espírito é o p o s to à Carne, e n ­
A esta tese fu n d a m e n ta l lig a-se u m
q u a n to e s ta re p re s e n ta o c o n ju n to d o s
c o n ju n to d e c re n ç a s q u e p a s s a m p o r te r
in s tin to s d a v id a a n im a l; p rim itiv a m e n ­
s id o re v e la d a s p e lo s p r ó p r io s e sp írito s e
te , n a lin g u ag em teo ló g ica: “ A c a rn e tem
e s tã o e x p o stas d o g m a tic a m e n te e m d iv e r­
d e se jo s c o n tr á r io s a o s d o e s p ír ito , e o e s ­
sas o b ra s , d a s q u a is a m ais c éleb re é: A Â -
p írito te m d e se jo s c o n trá rio s a o s d a c a r ­
 τ Ç Kτ 2 á E T (H . R «â τ «Â ), O livro dos es­
n e .” S. P τ Z Â Ã , Epístola aos gaiatas, V ,
píritos, 1853.
17; e, c o n se q u e n tem e n te , n a lin guagem fi­
Rad. int.: S p iritism .
lo s ó fic a , p o r e x e m p lo , q u a n d o G a ssen d i
E S P ÍR IT O G . irvevua e ^Ãâ í ; L. Spi- e D e sc a rte s se c h a m a v a m iro n ic a m e n te
rítus e mens ; D . Ceist; E . Spirit; F . Es- u m a o o u tr o : O mens, O caro (Quintas
prít; l. Spirit o. objeções e respostas).
E S P IR IT U A L 328

D . N u m sen tid o m ais p a rtic u la r, o E s­ E S P IR IT U A L D . Geistig (n o se n tid o


p írito o p õ e -se à s e n s ib ilid a d e e to rn a -s e re lig io s o , Geistlich)', E . Spiritual·, F . Spi­
sin ô n im o de in telig ên cia. “ O e sp írito n ã o rituell I. Spirituale.
p o d e ria d e se m p e n h a r d u ra n te m u ito te m ­ A . O p o s to a material, corporal·, q u e
p o o p a p e l d o c o r a ç ã o .” L a R o c h e f o u - p e rte n c e a o e sp írito n o s e n tid o C ; q u e é
c a u l d , M áxim a , 108. e s p írito , e n ã o c o isa p e rc ep tív e l n o e s p a ­
Espíritos fracos d iz-se: 1?, d o s q u e ço . “ É fácil ju lg a r d o m e sm o m o d o q u e
n ã o são c a p a z e s de ra c io c in a r co m se- a a lm a é u m a u tô m a to e s p ir itu a l.” L E « ζ -
q ü ê n c ia e c o m ju s te z a ; 2? (n u m s e n tid o NlZ, Teodicéia, 3? p a r te , § 403.
b a s ta n te d ife re n te ), d o s e sp írito s fa c il­ B . O p o s to a carnal: q u e d iz re sp eito
m e n te su g e stio n á v e is. ao esp írito e n q u a n to o p o s to à c arn e, à vi­
A p a la v r a re strin g e -se f r e q u e n te m e n ­ d a a n im a l.
te m ais a in d a a o p a ss a r d a fu n ç ã o g eral C . Q u e p e rte n c e a u m a o rd e m d e c o i­
a u m a d as su as q u a lid a d e s : o e s p irito fi­ sas o u de id éias relig io sas, e, esp e c ialm en ­
te , m ístic as. “ E x ercício s e s p ir itu a is .”
lo s ó fic o , o e sp írito d e fin e z a , o e sp írito
O p o s t o em c e r ta s e x p re s s õ e s a
de g e o m etria (a o p o siç ã o u su al en tre d u a s
temporal *: q u e p e rte n c e à v id a ( s o b r e tu ­
expressões d eriv a de P τ è Tτ Â : ver os Pen­
d o à v id a re lig io sa ) d o e s p írito , p o r o p o ­
samentos, p e q . e d . B ru n s c h v ., se ç ã o I,
siç ã o a o s in teresses p r á tic o s , m u n d a n o s .
p p . 317-3 19); o e sp írito de a g u d e z a (o u
“ O p o d e r te m p o ra l, o p o d e r e s p ir itu a l.”
espírito, sem m a is), e tc .
“ O reg im e p o sitiv o to r n a r á o g o v e rn o c a ­
E , N o s e n tid o f ig u r a d o , id éia c e n tra l,
d a vez m a is e s p iritu a l e c a d a vez m e n o s
p rin c íp io (de u m a d o u tr in a , d e u m a in s­
te m p o ra l, s is te m a tiz a n d o a m a rc h a n a tu ­
titu iç ã o ): “ O E s p irito d a s le is .” N este ra l d a a s s o c ia ç ã o h u m a n a .” A u g . C ÃO -
s en tid o , o espírito o p õ e-se fre q u e n te m e n ­ TE, Polít. positiva , IV , 306-307.
te à letra. Rad. int.: S p ir itu a l.
Rad. int.: C . S p irit ( Boirac ).
E S P IR IT U A L ID A D E D . Geistigkeil·,
E sp írito s fo rte s E sp írito s e stra n h o s ou E . Spirituaiityi F. Spiritualité; I. Spiri-
m esm o h o stis às cren ças relig io sas. A o r i­ tualità.
gem d e sta e x p re ssã o e stá p ro v a v e lm e n te A . C a ra c te rís tic a d a q u ilo q u e é e sp i­
em C 7 τ 2 2 ÃÇ : ‘‘[A relig ião ] é bem m ais ritu a l (e n ã o m a te ria l, o u re la tiv o a o s in s­
fá c il e c ô m o d a , co m a p a r a to e o s te n ta ­ tin to s b io ló g ic o s ). “ A e sp iritu a lid a d e da
ç ã o p a ra o s esp írito s sim ples e p o p u la re s ; a l m a .”
(a p ro b id a d e ) é de u so m u ito m ais d ifícil B . V id a d o e sp írito (em g e ra l, n o se n ­
e la b o rio s o p o is tem m e n o s a p a r a to e é tid o re lig io so d e sta e x p re ssã o ).
p r ó p r ia d o s e sp írito s fo r te s , g e n e r o s o s .” E m p re g a d o no século X V II, e alg um as
Da sabedoria, II , c a p . V , § 27. C f. P τ è ­ vezes a in d a n o s n o ssos d ias, co m um to m
Tτ Â : “ A te ís m o , sin al de fo r ç a d o e s p ír i­ p e jo ra tiv o . V er L ittré , su b V o, q u e a ssin a ­
to , m a s só a té u m c e rto p o n t o .” Pensa­ la ig u a lm e n te n o século X V II u m e m p re ­
mentos, p e q . e d . B ru n s c h v ., seção II I, p . g o c o rre sp o n d e n te de espiritualismo.
431, e L τ B 2 ü à è 2 E : “ O è e sp írito s fo rtes Rad. int.: S p iritu ales,
s a b e rã o q ue são c h a m a d o s assim p o r ir o ­ E S P IR IT U A L IS M O D . Spiritualis­
n ia ? ... O e s p írito fo r te é o e s p írito f r a ­ mus; E . Spiritualism ; F . Spiritualisme ; I.
c o .,., e t c .” Spiritualismo,

S o b re E s p iritu a lis m o — P o d e -s e c h a m a r , d e m a n e ir a g e ra l, espiritualismo a to d a


d o u tr in a q u e re c o n h e c e a in d e p e n d ê n c ia e a p rim a z ia d o e s p ír ito , is to é, d o p e n s a ­
m e n to c o n sc ie n te . H á , p o r assim d iz e r, u m e s p iritu a lis m o d o p rim e iro g ra u q u e c o n ­
siste em c o lo c a r sim p le sm e n te o e s p írito a c im a d a n a tu re z a , sem e sta b e le c e r re la ç ã o
329 E S P IR IT U A L IS M O

A . D o u tr in a q u e c o n sis te e m d e fe n ­ c a d is to : q u e m o u s a r ia a c u s a r L e ib n iz d e

d er: 1?, d o p o n to d e v ista P è « T Ã Â ó ; « T Ã , se r m a te r ia lis ta ? ” E . B e r s o t , Materialis­


q u e as re p re se n ta ç õ e s , as o p e ra ç õ e s in te ­ mo ·, em F r a n c k , 1 0 4 8 a, 1049b.

le ctu a is e o s a to s de v o n ta d e n ã o são in ­ V er ta m b ém o te x to d e R e n á n c ita ­

te ira m e n te explicáveis pelo s fe n ô m en o s fi­ d o n a s o b se r v a ç õ e s so b r e Fenom e­


sio ló g ic o s; 2°, d o p o n to d e v is ta É « T Ã I nalismo.
e S Ã T « Ã Â ó ; « T Ã , q u e h á n o h o m e m e n as B . O n t o l o g i a . D o u tr in a s e g u n d o a

so cie d a d e s d o is siste m a s d e fin s d ife re n ­ q u al existem d u a s su b stâ n c ias ra d ic alm en ­


tes e m esm o p a rc ialm en te em c o n flito : u m te d is tin ta s p e lo s seu s a tr ib u to s , te n d o
re p re s e n ta n d o os in te re ss e s d a n a tu r e z a u m a , o e s p ír ito , c o m o c a ra c te rís tic a s es­
a n im a l, o o u tr o re p re se n ta n d o o s in teres­ senciais o p e n sa m e n to e a lib erd ad e; a o u ­
ses d a v id a p r o p r ia m e n te h u m a n a . tr a , a m a té ria , c o m o c arac te rístic as essen­
“ O h o m e m é d u p lo : a lm a e c o r p o , c iais a e x te n s ã o e a c o m u n ic a ç ã o to ta l­
s e n d o a a lm a s u p e r io r a o c o r p o p e la s fa ­ m e n te m e c â n ic a d o m o v im e n to (o u d a
c u ld a d e s , p e lo d e s tin o : eis a c re n ç a f u n ­ e n e rg ia ).
d a m e n ta l d o e s p ir itu a lis m o ... P r e te n d e ­ C . R a r a m e n te (p elo m e n o s e m f r a n ­
m o s n e g a r c o m isso q u e se se p u d e ss e ir cês): d o u tr in a s e g u n d o a q u a l tu d o é
a té o f u n d o , c o m p re e n d e r a n a tu re z a , a espírito *, n o sen tid o C . C f. Idealismo , A ,
e ssê n cia d o s ú ltim o s e le m e n to s n o s q u a is ¡materialismo. E s te s e n tid o é m u ito m ais
a s c o isa s m a te ria is se re so lv e m , se c h e g a ­ c o m u m em a le m ã o . V er E « è Â E 2 , sub V o.
r ia a u m e le m e n to s im p le s, u m a m ó n a ­ D . Im p ro p ria m e n te , p o r espiritismo*.
d a , u m a fo rç a ? D e m o d o n e n h u m . N à o D iz-se a lg u m a s v ezes, n e s te c a s o , “ n o v o
q u e re m o s n eg á-lo n em a firm á -lo . D e sc ar­ e s p ir itu a lis m o ” , “ e sp iritu a lis m o e x p e ri­
tes e L eib niz têm p osições c o n trá ria s a ce r­ m e n ta l” . E s ta a c e p ç ã o é b a s ta n te fre-

e n tre a m b o s . M as h á u m e s p iritu a lis m o m a is p r o f u n d o e m a is c o m p le to q u e co n siste


em p r o c u r a r n o e sp írito a e x p lic a ç ã o d a p r ó p r ia n a tu re z a , em c re r q u e o p e n sa m e n to
in c o n sc ie n te q u e tr a b a lh a n e la é esse m e sm o q u e se to r n a c o n sc ie n te em n ó s , e q u e
a p e n a s tr a b a lh a p a ra p ro d u z ir u m o rg a n is m o q u e lh e p e rm ita p a s s a r (a tra v é s d a re ­
p re s e n ta ç ã o d o e sp a ç o ) d a fo r m a in c o n sc ie n te à fo r m a c o n sc ie n te . E r a este seg u n d o
e s p iritu a lis m o , p a re c e -m e , o d e R a v a is so n .
D o p o n to d e v ista p u ra m e n te e s p e c u la tiv o , a o p o s iç ã o m ais p r o f u n d a e stá talv ez
e n tre o mecanismo e a vida-, d o p o n to d e v is ta m o r a l e p r á tic o (q u e é a o m esm o te m ­
p o o d a m a is a lta e sp e c u la ç ã o ), e s tá e n tre a natureza e o espírito; e a c o n c lu s ã o d a
v o ssa C rític a p a re c e -m e in íe ira m e n te v e rd a d e ira . D e re s to , n em u m a n e m o u tr a d e s­
ta s d u a s o p o siç õ e s é a b s o lu ta m e n te irre d u tív e l: a n a tu re z a e s tá p le n a de e sp írito , e
o m e c a n is m o é a q u ilo q u e fica d a n a tu re z a q u a n d o fa z e m o s a b s tr a ç ã o de to d a v id a
e d e to d a re a lid a d e .
N ã o se p o d e f a la r d e m a s ia d o s e v e ra m e n te d o m a l q u e D e sc artes fez à filo so fia
s u b s titu in d o a d o u tr in a d e A ris tó te le s p e la s u a . É c e rto q u e a s u a é, e n q u a n to e x p li­
c a ç ã o g e ra l d a n a tu r e z a , e re serv a fe ita a f a v o r d a s c o n sc iê n cia s h u m a n a s , u m v e rd a ­
d e iro e p u ro m a te ria lis m o . É v e rd a d e q u e é u m m a te ria lis m o a b s tr a to , e id e a lista
à s u a m a n e ira , m u ito d ife re n te d o d e E p ic u ro e d e G a s s e n d i. M as n â o d e ix a d e ser
u m m a te ria lis m o , n o s e n tid o d e q u e é u m m e c a n ic is m o , e D e sc a rte s p o d e se r c o n si­
d e r a d o c o m o re sp o n sá v e l em g r a n d e p a r te p e lo tr iu n f o d o m a te ria lis m o sem e p íte to
n o sécu lo X V III . ( / . Lachelier )
A vossa crítica en cerra m u itas coisas in tere ssan tes em to rn o de u m a id éia qu e m e
p arece ju s ta , m as d em asiad as co isas, o q u e a c a b a p o r o b scu recer essa idéia.
E S P IR IT U A L IS M O 330

q ü e n te em in glês, o n d e p e rte n c e , seg u n d o d o e s p írito e se lhes o p õ e m ? P a r a D è ­ E

J τ è 2 Ãç , à lin g u ag em p o p u la r. (Bald­
I Tτ 2 I Eè , p e rte n ce m in te ira m e n te à o rd e m
win's Dictionary, Vo Spiritism, 585 B .) d a s u b stâ n c ia ex ten sa e d o m e ca n ism o ; as
C o n tu d o , o a rtig o d a Enciclopédia Britâ­ n o ssa s n ecessid ad es e a s n o ssa s p a ix õ e s
nica c o n s a g ra d o a o esp iritism o e d ev id o a e x p rim e m a p e n a s o s m o v im e n to s d o s es­
M rs. H e n ry S iD G W iC K c h a m a -se “ S p iri­ p írito s a n im a is . E m L « ζ Ç« U , p a r a q u e m
E

tu a lism ”. Im m . H e rm a n n F « T 7 I E escreveu a e x te n s ã o j á n ã o é u m a s u b s tâ n c ia , a
u m a o b ra so b re o espiritism o q u e tin h a co­ c o n c e p ç ã o d a v id a o p õ e -se a o m e sm o
m o títu lo : Der neuere Spiritualismus. te m p o à v isã o p u ra m e n te m o n a d o ló g ic a ,
V er as o b serv açõ es.
p o r u m la d o , e, p o r o u tr o , à re p re s e n ta ­
T2 íI « Tτ ção d o m u n d o atrav és d o s fen ô m en o s m e­
c â n ic o s e g e o m é tric o s. E la é o re s u lta d o
P a re c e -m e n e c e s sá rio m a n te r u m a
d o fa to d e c ertas m ô n a d a s “ d o m in a n te s ”
o p o s iç ã o m a rc a d a e n tre o s e n tid o A e o
s e n tid o B . Q u a l é, c o m e fe ito , a a n títe s e te re m u m c o rp o “ c o m p o s to p o r u m a in ­
d o “ e sp írito ” ? A tra d iç ã o c arte sia n a q u e r fin id a d e d e o u tr a s m ô n a d a s ” , c u ja m ô -
q u e seja a e x te n s ã o , c o m o s fe n ô m e n o s n a d a c e n tr a l e x p rim e a s re la ç õ e s c o m o
g e o m é tric o s, m e c â n ic o s, sem fin a lid a d e , re s to d o u n iv e rs o (Princípios da nature­
a o s q u a is o n o s s o c á lc u lo e s tá e sp e c ial­ za e da graça, § 3-4). R τ â τ « è è ÃÇ , n a su a
m e n te a d a p ta d o (em p a r tic u la r , p o d e -se tese D o hábito, o p õ e ao e sp írito , p o r u m
dizer h o je , o n o sso cálculo d iferen cial, p a ­ la d o , a e s p o n ta n e id a d e d a n a tu r e z a , p o r
r a o q u a l to d a a ç ã o é e le m e n ta r). N e sta o u tr o , o m e c a n is m o d o re in o in o rg â n i­
o p o s iç ã o , c o m o fica a v id a b io ló g ic a , o c o , q u e a p a re c e m c o m o trê s te rm o s b em
c o n ju n to d o s in s tin to s e d o s im p u lso s o r ­ d is tin to s ; n o Relatório sobre a filosofia
g â n ic o s, n a m e d id a e m q u e se d istin g u e m na França , p a re c e , a n te s , re d u z i-lo s p o r

1? A v id a d e p e n d e só d a m a té ria o u d a a lm a ? E s ta q u e s tã o , b a s ta n te im p o r ta n te
p a r a o d e se n v o lv im e n to e a a p lic a ç ã o d o e s p iritu a lis m o , n ã o é d ecisiv a p a r a o p r ó ­
p r io p rin c íp io d a d o u tr in a .
2? D o m e s m o m o d o , a c o n e x ã o d o e sp iritu a lis m o e d o so c io lo g ism o p a re c e -m e
d e riv a r d o novo espiritualismo q u e to m o u c a d a v e z m a is im p o r tâ n c ia n o p e n s a m e n ­
to d e C o m te ; m a s n ã o s e rá a e x p re s s ã o , c o m o a c o n te c e tã o fr e q u e n te m e n te e m C o m -
te , d e u m a te rm in o lo g ia m u ito c a p ric h o s a ?
3? N ã o v e jo d e m o d o n e n h u m q u e h a ja a m e n o r r a z ã o p a r a e lim in a r o e sp iritis ­
m o c o m o u m a d a s sig n ific a çõ e s próprias d o e sp iritu a lism o . D e sc o n h e c e r-se -ia a ssim
a in flu ê n c ia p r o f u n d a e p e rs is te n te d a s c re n ça s e d a s p rá tic a s e s p írita s n a s cre n ça s
e n a s p rá tic a s re lig io s a s, d e sd e as m a is lo n g ín q u a s o u as m a is ru d im e n ta re s a té as
m a is re c e n te s . Se os c o m e n ta d o re s d e W . J a m e s n ã o tiv essem o c u lta d o a f r a n c a c o n ­
fissão c o m q u e te rm in a a Experiência religiosa, te r-se -ia v isto q u e a e v o lu ç ã o d o n o ­
v o e s p iritu a lis m o d e C o m te em d ire ç ã o a o n e o fe tic h is m o te m c o m o c o n tr a p a r tid a
a ev o lu ção d o n e o -e sp iritu alism o d e W . Ja m e s em d ire ç ã o à q u ilo q u e ele c h a m a , p en so ,
s o b re n a tu r a lis m o g ro s se iro .
D e m in h a p a r te , p e n s o q u e a d is tin ç ã o d a s d u a s fo r m a s fu n d a m e n ta is d o e sp iri­
tu a lis m o , A e B , d ev e ser p re c is a d a co m a a ju d a d a h is tó ria .
A . A c o n c e p ç ã o filo s ó fic a d o e s p iritu a lis m o , e n q u a n to p s iq u is m o , in tro d u z -s e
c o m A n a x á g o ra s . O r a , a in te lig ê n c ia é a p e n a s u m a p ro p r ie d a d e s e c u n d á ria d o vov s;
é, a m e s d e t u d o , a c a u s a d o m o v im e n to , e isso p o r q u e é o q u e h á d e m ais leve Xeirró-
t o l t o v (F o u illé e tra d u z , em Phil. de Platon , 1869, t. I I , p . 2 0 , p o r m a is s u til, o q u e
m a n ife s ta d e m o d o d iv e rtid o o e q u ív o c o c lá ssic o ). O ú Ãõ è d e A n a x á g o ra s é , p o r-
331 E S P IR IT U A L IS M O

g ra u s a o p rim e iro d e n tre eles. P a r a n e c e s s id a d e g e o m é tric a e n a e s p a c ia lid a -


B 2 ; è Ã Ç , a o c o n tr á r io d e D e sc a rte s , a
E de (.A evolução criadora, cap. III). T o­
v id a é, n o seu f u n d o , d a m e sm a n a tu r e ­ d a s e s ta s d o u tr in a s s ã o in c o n te s ta v e lm e n ­
z a q u e o e sp írito ; a p e n a s se lh e o p õ e a c i­ te e s p iritu a lis ta s ; m a s n ã o o s o m o s m e ­
d e n ta lm e n te , q u a n d o to m a o c a r á te r de n o s se a d m itirm o s q u e a o p o s iç ã o f u n d a ­
u m im p u ls o v ita l e n to rp e c id o p e lo h á b i­ m e n ta l e s tá e n tre o e s p írito e a v id a b io ­
to , o p rim id o p elo jo g o d o s m e c a n is m o s ló g ic a , a s s im c o m o o c ris tia n is m o o p õ e
q u e crio u ; de m o d o q u e , a p e s a r d isso , d e ­ a carne e o espírito. E q u a lific a -s e ig u a l­
fin itiv am en te, p a ra ele co m o p a ra D escar­ m e n te d e e s p iritu a lis m o a p e rs p e c tiv a d e
tes, a a n títese essencial d o e sp írito está n a D Z 2 3 7 E «O , q u e o p õ e a s re p re s e n ta ç õ e s

ta n to , a a lm a , is to é, o s o p ro . A o p o s iç ã o e n tr e o e s p írito e a m a té r ia d e te rm in a -se
a ssim c o m o o p o s iç ã o d e d u a s naturezas ig u a lm e n te d a d a s : u m a f lu id a e m ó v e l, a
o u tr a só lid a e in e rte . A a ç ã o d a n a tu r e z a s u p e rio r s o b re a in f e r io r co n v erte-se n u m
p ro b le m a d e o rd e m físic a.
B . E m g e rm e , em S ó c ra te s e em P la tã o , a c o n c e p ç ã o B é a q u e la q u e c h a m a is c a r ­
te s ia n a . M as n ã o é e x p rim i-la e x a ta m e n te fa z ê -la c o n sis tir n u m a d is tin ç ã o e n tre a
representação e o representado o u o representável·, e s ta te rm in o lo g ia tra i o e s p ir itu a ­
lism o c a r te s ia n o ; e la é tir a d a d e R e n o u v ie r q u e , p o r su a v ez, a tin h a e x tra íd o d o r e a ­
lism o p sic o ló g ic o d e B erk eley e d e H u m e . E la im p lic a e ssa tra n s p o s iç ã o im a g in a tiv a
d a in te lig ê n c ia d e q u e R e n o u v ie r n u n c a se d e s e m b a ra ç o u e q u e , d e p o is , foi e x p lo ra ­
d a p elo s p ra g m a tis ta s n a s u a p o lê m ic a c o n tr a a q u ilo q u e eles p e n s a m ser o in te le c ­
tu a lis m o . P a r a D e sc a rte s, m a is e x p líc ita m e n te , p a r a os C a r te s ia n o s , E s p in o s a e M a-
le b ra n c h e , o e s p írito é a u n ific a ç ã o in te rn a c u jo c o n tr á r io é a m u ltip lic id a d e d e s d o ­
b r a d a partes per partes. O e s p írito é c o n sc ie n c ia , m a s a c o n sc iê n c ia j á n ã o é d a d a ,
c o m o n a c o n c e p ç ã o A , já n ã o é u m s o p ro o u u rn a c h a m a e n c e rra d a n o s lim ites d a
caix a c ra n ia n a ou d o o rg a n is m o ; é um p rin c íp io de c o n h e c im e n to a d e q u a d o , em p r in ­
c íp io , a to d o o u n iv e rso e q u e e s p o n ta n e a m e n te , a p e n a s a tra v é s d a e x p a n s ã o d o s v ín ­
cu lo s in te le c tu a is , se to r n a te s te m u n h a d e to d o s os lu g a re s , c o n te m p o rá n e o d e to d o s
os te m p o s .
A e B n ã o s ã o c e rta m e n te in c o n c iliá v e is, j á P lo tin o , d e p o is L e ib n iz e, m ais ta r d e ,
C o u s in e R a v a is so n as c o n c ilia ra m : m a s é a in d a p re c is o , p a r a q u e o seu e cletism o
s e ja e n te n d id o c o m o ta l, q u e a s d u a s c o n c e p ç õ e s d o e s p iritu a lis m o , A (p siq u ism o
n a tu r a lis ta ) , B (id e a lism o in te le c tu a lis ta ) s e ja m n itid a m e n te d is tin g u id a s . Sem esta
d is tin ç ã o a h is tó r ia d a filo so fia e d a re lig iã o s e ria in c o m p re e n s ív e l. P o r u m la d o ,
c o m o te ria m p o d id o os c a rte s ia n o s id e n tific a r intelectual e espirituaP C o m o te ria p o d i­
d o M a le b ra n c h e c o n ceb er e m D eu s a e x te n sã o inteligív el? C o m o te ria p o d id o E sp in o sa
c o lo c a r a u n id a d e in te rn a d a e x ten são in divisível c o m o e x a ta m e n te p a ra le la à u n id a d e
in te rn a d o p e n sa m e n to p e rc e b id a so b a s u a fo rm a d e a tiv id a d e p u ra ? P o r o u tro lad o ,
desse p o n to de v ista em q ue o u n iv erso e x ten so é ele p ró p r io e sp iritu a liz a d o , a o p o sição
d o m ecan ism o e d o d in a m ism o d á lu g a r a p e n a s a u m a su b d iv isão n as filo so fias d a n a ­
tu re z a , sen ão d a m a té ria . O spiritus fía t ubi vult, o in flu x o d a g ra ç a, e n q u a n to ex p res­
sões sem elh an tes, n ã o p o d e m ser m e tá fo ra s , p o rq u e e n tã o n ã o lhes re s ta ria a b so lu ta ­
m en te n e n h u m a sig n ificação . A v e rd a d e é q u e elas e n c o b re m u m a im a g in a çã o tã o re a ­
lista , tã o m a te ria l c o m o a n o ç ã o d o s e sp írito s an im ais. C o m isso se vê a p a re c e r c la ra ­
m e n te a q u ilo q u e a lite ra tu ra clássica d a filo so fia ta n to se e sfo rç a p o r a p a g a r, o p a re n ­
tesco secu lar d o e sp iritu a lism o n o sen tid o A e d o e sp iritism o .
A c r e s c e n to q u e , n a p r á tic a , e s ta s d u a s c o n c e p ç õ e s A e B r e c o n h e c e m -s e fa c ilm e n te

p e la o p o s iç ã o d a su a d o u tr in a so b re a im o r ta lid a d e : A , s o b r e v iv ê n c ia n o tem p o ,
E S P IR IT U A L IS M O 332

e os interesses individuais às representações sentável; e aq u ilo q u e a p a la v ra “ esp iritu a­


e a o s in teresses coletiv os. O e sp iritu alism o lism o ” ev o ca co m as a sso ciaçõ es d e id éias
ético e p sico ló g ico é , p o r ta n to , u m a coisa q u e se lh e p re n d e m n ã o será s o b re tu d o o
c o m p le ta m e n te d ife re n te d a o p o siç ã o c a r ­ s e n tid o A , isto é, a o p o siç ã o en tre a vida
te sia n a e n tre o p e n sa m e n to e a e x ten são ; animal e a vida espiritual, m ais d o q u e a
ele n ã o d e p en d e d e u m a d istin ç ão e n tre a d o m e c a n ism o e d o p e n sa m e n to vivo?
re p re se n ta çã o e o re p re se n ta d o o u o rep re- Rad. int.\ S p iritu a lism .

a c o m p a n h a d a d a re s s u rre iç ã o d o c o rp o o u d a p e rs istê n c ia de u m a esp écie d e h ip e -


ro rg an ism o ; B, etern id ad e d o p e n sa m e n to , sem relação c o m o te m p o . (L. Brunschvicg)
A s d ific u ld a d e s de d e te r m in a ç ã o d o s s e n tid o s A e B, re la tiv o s às d iv e rsas o p o s i­
çõ es: e s p írito e m a té ria , e sp irito e v id a , e s p írito so cial e e sp írito in d iv id u a l, e sp írito
idea) e e sp írito n a tu r a l, d im a n a m d o fa to d e q u e a p e n a s se c o n sid e ra e d e fin e o e sp i­
ritu a lis m o p o r u m a o p o s iç ã o , is to é, re la tiv a m e n te , e in d ir e ta m e n te , e d e q u e a n o ­
ç ã o d e e sp írito p o d e e n tr a r em v á ria s o p o siç õ e s d ife re n te s.
O ra , esta id e n tific a çã o d o esp iritu alism o c o m o d u a lism o , historicamente freq ü en te,
n ã o tem n a d a de essen cial; p a re c e p ro v ir s o b re tu d o d o fa to de q u e a e x istên c ia o u
o v a lo r p r ó p r io d o e sp iritu a l fo r a m in ic ia lm e n te a f ir m a d o s c o m o lim ita ç ã o à te n d ê n ­
cia m ais m a te ria lis ta o u v ita lis ta d o p e n s a m e n to e m p íric o : o e sp iritu a lism o to rn o u -
se a ssim a d o u tr in a q u e in siste n a irr e d u tib ilid a d e d o e s p írito , o u de u m a fo rç a re a l
de a ç ã o q u e u ltr a p a s s a em v a lo r a re a lid a d e c o m u m e n te a d m itid a .
N u m a d e fin iç ã o , p a re c e ria m a is ra c io n a l fa z er s o b re s s a ir, p elo c o n tr á r io , a n te s
de m ais e d ire ta m e n te , as c a ra c te rís tic a s próprias d a id é ia : o e sp iritu a lis m o é a c im a
de tu d o , d e ste p o n to d e v is ta , a d o u tr in a q u e se a p lic a a d e se n v o lv e r o lu g a r d o e sp í­
r ito n o ser; p a r tic u la r m e n te a q u e la q u e n ã o re c o n h e c e o u tr o a b s o lu to a n ã o s e r o
e s p írito . É a q u ilo a q u e se c h a m o u m u ita s vezes o e s p iritu a lis m o a b s o lu to o u p u ro .
O se n tid o C d e v e ria , n a m in h a o p in iã o , p o r ta n to , ser c o lo c a d o a n te s d o s o u tr o s .
E s te e s p iritu a lis m o é , c o m e fe ito , a d o u tr in a p o s itiv a d e B erk ele y , m a s n ã o é o
im a te ria lis m o q u e em B erk eley é a p e n a s a s u a p r e p a r a ç ã o n e g a tiv a . É ig u a lm e n te
m al ex p resso p e la p a la v ra id e a lis m o , q u e n ã o e x p rim e a id é ia d o v o lu n ta ris m o r a c io ­
n a l im p lic a d a n a n o ç ã o d o e sp iritu a lis m o (D e sc a rte s e L e ib n iz s ã o e sp iritu a lis ta s , u m
relativ o , o o u tr o a b so lu to ; P la tã o e A ristó teles n ã o são esp iritu alistas). {Marcei Bernes)
N o ta r-s e - á a o p o s iç ã o e n tre e sta a p lic a ç ã o d a p a la v ra e a q u e la q u e L τ CHELIER
e B 2 Z Çè T â « T ;
7 fazem m a is a c im a . S eria c e rta m e n te c o n fo rm e à e tim o lo g ia de espi­
ritualismo, se o te rm o fo sse n o v o , a trib u ir -lh e c o m o p ro p r ie d a d e p a r tic u la r o s e n ti­
d o q u e M . B 2 Ç è è a n a lis a . M a s , de f a to , e sta p a la v r a só se to r n o u u s u a l n o sécu lo
E

X IX em c irc u n stâ n c ia s h istó ric a s q u e lhe d e te r m in a ra m o e m p re g o e o v a lo r; e n ã o


e ra n o s e n tid o C . A p e n a s p o d e m o s a c e itá -la ta l c o m o o u so a to r n o u o u , se a a c h a r ­
m o s im p r ó p ria e e q u ív o c a , r e n u n c ia r a s e rv irm o -n o s d e la . F o i e ste ú ltim o p a rtid o
q u e Maurice Blondei d e c id id a m e n te to m o u : “ N o s éc u lo X V I I ” , d iz ele, “ ra ra m e n te
e n c o n tra m o s este te rm o n a lin g u a g e m d o s te ó lo g o s , n u m s e n tid o p e jo r a tiv o , p a ra
d e sig n a r u m a b u s o d a e s p ir itu a lid a d e e u m a fa ls a m ís tic a . P o s to em ev id ên c ia p elo
E c le tism o p a r a d e s ig n a r o seu d u a lis m o su p e rfic ia l, ele e v o ca a tra v é s d e u m a n a tu r a l
su ce ssã o d e id éias a re c o rd a ç ã o d e s ta e sc o la e p a r tilh a o d e sc ré d ito b a s ta n te ju s tif i­
c a d o e m q u e ela c a iu . E is a g o ra q u e , p o r a c a s o , este te rm o de o rig e m eq u ív o ca e de
se n tid o su sp eito p arece c o n fis c a d o p o r a lg u n s d a q u e le s q u e c o m erciam c o m os ‘e sp íri­
to s ’ e j á n ã o se c o m e n ta m em ser e sp írita s, talv ez p o rq u e o títu lo d e e sp iritu a listas fo i
ju lg a d o m e lh o r. N ã o foi p reciso u s a r d e sta p a la v ra a té C o u sin p a ra d e sig n a r coisas m e-
333 ESPO N TÂ N EO

“ E S P IR IT U A L IZ A Ç Ã O ” D as te n ­ d a re fle x ã o , em q u e o h o m e m se o lh a , e
d ê n c ia s , d a s e m o ç õ e s (P τ Z Â 7 τ Ç ) . V er a s p o s s u i a si m e s m o , id a d e d e c o m b in a ç ã o
o b se rv a ç õ e s so b re Tendência e c f. Su­ e d e p ro c e d im e n to s p e n o s o s , d e c o n h e c i­
blimação. m e n to a n tité tic o e c o n tr o v e r s o .” R E Çτ Ç ,
L ‘avenir de la science, c a p . X V , p . 259.
E S P O N T A N E ID A D E D . A . Sponta­
Rad. int.: A . S p o n ta n e s ; B . S p rin g es.
neität, Selbsttätigkeif, B . Antrieb, Natur­
trieb; E . Spontaneity; F. Spontaneité; I. E S P O N T Â N E O D . A . Selbst...,
Spontaneità. Selbstatig; C . Trieb...; E . Spontaneous;
A . C arac te rístic a d a q u ilo q u e é e sp o n ­ F . Spontané; I. Spontaneo.
tâ n e o n o s e n tid o A . “ E s ta d e p e n d ê n c ia A . A q u ilo q u e se p r o d u z p e la in ic ia ­
d as açõ es v o lu n tá ria s n ã o im p e d e q u e tiv a p ró p r ia d o a g e n te (sponte sua), sem
e x ista n o fu n d o d as co isas u m a e s p o n ta ­ ser o e fe ito de u m a c a u s a e x te rio r, a re s ­
n e id a d e m a ra v ilh o sa em n ó s, a q u a l, n u m p o s ta d ire ta a u m a in citação o u a u m a im ­
c e rto s e n tid o , to r n a a a lm a in d e p e n d e n ­ p re ssã o a tu a is v in d a de fo r a . “ S p o n ta -
te n a s su as re s o lu ç õ e s d a in flu ê n c ia físi­ n e u m e s t, c u ju s p rin c ip iu m est in a g e n ­
c a de to d a s a s o u tr a s c r ia tu r a s .” L E I B ­ t e . ” L « ζ Ç « U (c ita n d o u m a tra d u ç ã o c o r­
E

N I Z , Teodicéia, § 59. “ A e s p o n ta n e id a ­ re n te d e A ris tó te le s ), Teodicéia, 3.a p a r ­


d e d e q u e g o z a m os seres d o ta d o s d e vi­ te , § 301. “ A im a g e m é u m a se n sa ç ã o e s ­
d a fo i u m a d a s p rin c ip a is o b je ç õ e s q u e p o n tâ n e a e c o n se c u tiv a q u e , p elo c o n fli­
se le v a n ta ra m c o n tra o e m p re g o d a ex p e­ to de u m a o u tr a se n sa ç ã o n ã o e s p o n tâ ­
rim e n ta ç ã o n o s e stu d o s b io ló g ic o s .” C l. n ea e p rim itiv a , s o fre u m a d im in u iç ã o ,
B 2 Ç τ 2 á , Jntr. ao estudo da medicina
E u m a r e s tr iç ã o .” T τ « Ç , Da inteligência,
E

experiment., 2 f p a r te , c a p . I. livro II, c a p . I. O p õ e-se m u itas vezes n este


B . C arac te rístic a d a q u ilo q ue é espon­ sen tid o a provocado. “ S o n a m b u lism o es­
tâneo n o s e n tid o B ou C . “ O p rim e iro p o n tâ n e o ; so n a m b u lism o p r o v o c a d o .” A
p a sso d a ciên cia d a h u m a n id a d e é d is tin ­ q u e s tã o de s a b e r se o s iste m a n e rv o so “ é
g u ir d u a s fases n o p e n s a m e n to h u m a n o : cap az de ações in te ira m e n te e sp o n tâ n e a s ”
a e ra p rim itiv a , e ra de e s p o n ta n e id a d e , fo i m u ita s vezes d is c u tid a pelo s fisio lo -
em q u e as fa c u ld a d e s , n a s u a fe c u n d id a ­ g istas.
de c ria d o ra , sem se e n c a ra re m a si m es­ B . O p o sto a refletido. A q u ilo que p e r­
m a s, p ela s u a te n s ã o ín tim a , a tin g e m u m te n ce a o c o m p le x o n a tu r a l de id éias o u
o b je to a q u e n ã o tin h a m v is a d o ; e a e ra de açõ es so b re o q u a l se ex erce a a ç ã o

lh o re s d o q u e a q u e la s q u e ela re s u m ia . É te m p o de v er q u e ela é a p e n a s u m a e tiq u e ta


de e s c o la .” M a u ric e B Â ÃÇá E Â , Lettre sur Tapologétique, 1896, p. 26. E le nos diz
q u e c o n tin u a a p e n s a r d o m e sm o m o d o . E s ta s o lu ç ã o r a d ic a l te ria sem d ú v id a , n o
m o m e n to em q u e M. Blondel e screv ia a s u a Carta, sid o a c e ita p o r m u ito s filó so fo s.
G. Séailles c o n to u -m e q u e , p o r v o lta de 1880, e n c o n tr a n d o - s e n u m a re u n iã o sem i-
filo só fic a , lh e tin h a m p e rg u n ta d o “ se ele e ra m a te ria lis ta o u e s p ir itu a lis ta ” . E le se
re c u so u e n e rg ic a m e n te a a d o ta r p a ra si m e sm o u m a o u o u tr a d e sta s d esig n a ç õ es, e
s u s te n to u , n ã o sem v iv a c id a d e , q u e elas c o n s titu ía m c a te g o ria s filo só fica s a rtific ia is
e a c id e n ta is , o q u e p a re c e u te r s u rp re e n d id o os seus o u v in te s . H o je , so b d iv ersas in ­
flu ê n c ia s, a p a la v r a re c u p e ro u p re s tíg io ; p o d e m o s a le g ra r-n o s c o m isso o u la m e n tá -
lo , m a s só o u so q u e d e la fo i fe ito p re c e d e n te m e n te e o s in teresses filo só fic o s q u e
ela re p re s e n ta n o s n o sso s d ia s lh e p o d e m d e te rm in a r a sig n ific a ç ã o . (A . L.)

S o b re E s p o n tâ n e o — O s e n tid o B fo i d is tin g u id o d o se n tid o C s o b p r o p o s ta de


Léon Robin, q u e n o s c o m u n ic o u o te x to c o rre s p o n d e n te d e H a m e lin .
ESPO N TÂ N EO 334

an alítica d o p en sam en to . “ C o nsciencia es­ d o ser o u d a fa c u ld a d e q u e age assim : “ A


p o n tá n ea , consciencia re fle tid a .” “ A cons­ a çã o e s p o n tâ n e a n ã o tem n ecessid ad e de
cien cia e s p o n tá n e a ... é o o b je to p a ra o s u ­ ser p re c e d id a p e la p ersp ectiv a a n a lític a ...
je ito ; ela é a sín tese d o s d o is te rm o s n u m a A s p a lav ras fá cil e difícil já n ã o tê m sen ti­
o p o siç ã o e a o m e sm o te m p o n u m a u n iã o d o ap licad as a o e s p o n tâ n e o ... O h o m e m
in d iv is ív e is...; a c o n sc iê n c ia re fle tid a e sp o n tâ n e o vê a n a tu re z a e a h is tó ria com
ap arece-n o s co m o u m reco m eço d o a to re­ os o lh o s d a in fâ n c ia .” R Ç τ Ç , L ’avenir
E

p re se n ta tiv o , c u jo alvo é in sistir o ra so b re de Ia science, c a p . X V , p . 259. Ele d istin ­


o su je ito , o ra so b re o o b je to ... D ito isto , g u e “ d u a s id a d es d a h u m a n id a d e ” : a id a ­
e a d istin ç ão tra d ic io n a l d e v id am en te c o r­ d e de e s p o n ta n e id a d e (ver acim a) e a id a ­
rig id a , a d m itim o s q u e a co n scien cia c o n ­ d e d e reflex ão .
tid a em to d o p e n sa m e n to é a co n sciên cia
e sp o n tâ n e a , n ã o a co n sciên cia re fle tid a .” CRÍTICA
H τ O Â « Ç , Essai, p . 330.
E E s p o n tâ n e o n ã o deve ser o p o sto a ne­
C. N u m se n tid o m u ito p ró x im o , m ascessário o u determinado (no sentido de que
m ais especial: a q u ilo q ue se p ro d u z p o r estas p a la v ra s dizem re sp eito à q u e stã o d o
u m a espécie de im p u ls o , de in stin to , n o d e term in ism o em p sico lo g ia). “ U m a a çã o
q u al as idéias a b stra ta s e o cálculo dos efei­ e s p o n tâ n e a ” , “ u m a to de b en eficên cia es­
to s n ão tê m q u a lq u er lugar. Diz-se tam b ém p o n tâ n e o ” sã o a q u eles q u e n ã o fo ra m so-

A d e fin iç ão d a Teodicéia c ita d a acim a e n co n tra-se ta m b é m , d e sta vez sem m en ção


de A ristó teles, n o s Opúsculos p u b lic a d o s p o r C o u tu r a t. V an B iém a le m b ra o u tra s d e fi­
nições d a e s p o n ta n e id a d e em LE IB N IZ : “ S p o n ta n e u m q u o d n ecessariu m nec c o a c tu m
e s t... S p o n ta n e ita s est c o n tin g e n tia sin e c o a c tio n e ” (p a ra c h eg a r à céleb re d e fin iç ão :
“ L ib e rta s est sp o n ta n e ita s in te llig e n tis” ). De libértate , E r d m ., 669. N ã o se d eve e sq u e ­
cer q u e a c o n tin g ê n cia , a au sê n c ia de n ecessid ad e d e q u e fa la L eib n iz sã o a q u ela s q u e
co n sistem a p e n a s n a p o ssib ilid a d e ló g ica d o c o n trá rio , e q u e , p o r c o n se q ü ê n c ia , n ão
exclu em o d e te rm in ism o m ais c o m p le to n u m m u n d o d a d o . A p a la v ra espontaneidade,
ta n to pela su a e tim o lo g ia co m o p elo seu sen tid o u s u a l, v isa essen cialm en te à iniciativa
d o ag en te, q u e r e s ta , p o r o u tr o la d o , se ja o u n ã o s e ja o re s u lta d o d e u m d e term in ism o
in te rio r. P o r ta n to , n u m a d e fin iç ã o d e sta p a la v ra , n ã o se d ev e in tro d u z ir o te rm o c o n ­
tin g ên cia, n o se n tid o m o d e rn o e in d e te rm in is ta d e s ta p a la v ra .
N o ta r-s e -á ta m b é m q u e n a d e fin iç ã o c ita d a em p rim e ir o lu g a r n o c o m e ç o d este
a rtig o , e c u jo o rig in a l p a re c e ser Ética a Nicôm aco, I I I , 3 , A ris tó te le s d e fin ia ¿xo ti­
enen', q ue diz u m p o u c o m a is d o q u e spontaneum : p o r isso ele a c re s c e n ta a lg o q u e
a tr a d u ç ã o a d o ta d a p o r L eib n iz su p rim e : “ ... a q u ilo c u jo p rin c íp io e s tá n o a g e n te
que sabe o que f a z .” C f. as o b s e rv a ç õ e s s o b re A u tô m a to .
E n co n tram -se bons exem plos de espontaneidade, n u m sentido co rresp o n d en te ao sen­
tid o C de espontâneo, n a te se de R τ â τ « è è ÃÇ ; p o r ex em p lo : “ A ssim , a c o n tin u id a d e o u
a re p etição d im in u i a sen sib ilid ad e; ela ex alta a m o b ilid a d e . M as ela e x a lta u m a e red u z
a o u tr a d a m e sm a m a n e ira , a tra v és de u m a só e m e sm a c au sa: o d esen v o lv im en to de
u m a e sp o n ta n e id a d e irre fle tid a q ue p e n e tra e se esta b elece cad a vez m ais n a p a ssiv id a ­
de d a o rg a n iz a ç ã o , e tc .” De Vhabitude , 1 ? e d ., p. 27. C f. R ÇÃZ â « 2 E E a o d iscu tir esta
passagem , nos seus Ensaios de crítica geral (Psicol. rac., 1? p arte, cap. V III, observações).
C la u d e B 2 Ç τ 2 á to m a a lg u m a s vezes espontâneo e espontaneidade n u m s e n ti­
E

d o q u e e q u iv ale q u a s e à id é ia d e liv re -a rb ítrio : “ N a s c iên c ia s b io ló g ic a s c o m o n as


ciên cias fís ic o -q u ím ic a s, o d e te rm in is m o é p o ssív el p o r q u e , ta n to n o s c o rp o s vivos
c o m o n o s c o rp o s in o rg â n ic o s , a m a té ria n ã o p o d e te r q u a lq u e r e s p o n ta n e id a d e .” In-
trod. ao estudo da medicina experimental, 2? p a r te , c a p . I, títu lo d o § V IIL
335 ESQ UEM A

lic ita d o s, q u a lq u e r q u e s e ja a liá s o c a r á ­ A . O fa to (n o rm al) d e deix ar, m o m e n ­


te r, d e te r m in a d o o u in d e te rm in a d o , d o tâ n e a o u d e fin itiv a m e n te , d e p e n s a r em
p ro cesso in te rio r q u e c o n d u z a esses a to s. a lg u m a co isa . “ C a ir n o e s q u e c im e n to .”
V er a b a ix o , as o b se rv a ç õ e s. B. F a lh a (a n o rm a l) d a m e m ó ria n a
e v o c a ç ã o de u m a re c o rd a ç ã o .
G e ra ç ã o e s p o n tâ n e a [ytveais α υ τ ό μ α ­ Rad. intr. O b liv i (a to d e e sq u e c er);
τ ο ί , A 2 « è ó Â è ) , v e r Geração* equi­
I I E E
o b liv ies (e s ta d o d o q u e é e sq u e c id o ).
voca.
Rad. int.: A . S p o n ta n ; B . S p rin g . 1 . E S Q U E M A D . Schema\ E . Sche-
m a; F . Schéma; I. Schema.
E S Q U E C IM E N T O D . Vergessen, A . F ig u r a s im p lific a d a q u e re p re se n ­
Vergessenheit; E . Forgetiing (esquecim en­ ta os tra ç o s essen ciais d e u m o b je to o u
to d e fin itiv o , Obiivion); F . Oubli; I. Ob- de u m m o v im e n to . T a m b é m se d iz m u i­
blio, oblivione, dimenticanza ta s vezes figura esquemática. E s ta fig u ra

A liá s, este s e n tid o m is tu ra -s e nele c o m o q u e a n a lisa m o s n o a rtig o espontâneo ,


§ A : a q u ilo q u e se p r o d u z d a p a r te d e u m a g e n te sem ser re s p o sta d ire ta a u m a e x ci­
ta ç ã o q u e ele a c a b a d e re c e b e r (c f. ibid., § II). M as h á a í c e rta m e n te u m a im p r o p rie ­
d a d e (o q u e n ã o é r a r o , a liá s, n o e m p re g o q u e ele fa z d o s te rm o s filo só fico s).

S o b re E s q u e c im e n to — E s te a r tig o , q u e n ã o fig u r a v a n a q u a r ta e d iç ã o , fo i a q u i
in s e rid o n a s e x ta , se g u n d o as n o ta s e n v ia d a s p o r R. Daude e p u b lic a d a s p rim e ira ­
m e n te em a p ê n d ic e n a q u in ta . D a u d e a c re s c e n ta v a aí a s seg u in tes n o ta s : “ E x e m p lo
d o se n tid o A : a o sa ir d o te a tr o , esq u ece-se d a p e ç a , p o r q u e u m a m ig o nos fa la d e
o u tr a co isa. H á u m re c a lc a m e n to n o rm a l q u e se p r o d u z a c a d a m o m e n to .
“ P a r a o s e n tid o B, c ab e d is tin g u ir o s seg u in te s caso s:
“ 1? N a ‘le m b ra n ç a e s p e r a d a ’: c h e g a d o s a c a sa , p e rc e b e m o s q u e ‘e sq u e c e m o s ’
de c o m p ra r selo s a o p a s s a r p elo c o rre io , c o m o q u e ría m o s;
“ 2? N a ‘le m b ra n ç a p r o c u r a d a 5: n ã o c o n se g u im o s e n c o n tr a r u m f a to , u m a d a ta ,
u m a fó r m u la , u m n o m e , u m e n d e re ç o , q u e p ro c u ra m o s , m as sa b e m o s q u e os c o ­
n h e ce m o s;
“ 3? N a ‘le m b ra n ç a e s p o n tâ n e a ’: p a s s a m o s , sem a re c o n h e c e r, p o r u m a p esso a
q u e j á n o s fo i a p re s e n ta d a e c u ja re c o rd a ç ã o n o s p o d e ria vir e sp o n ta n e a m e n te .
“ N o se n tid o A , a re p re s e n ta ç ã o s im p le sm e n te d e s a p a re c e u d a c o n sc iê n c ia c la ra ,
seria ta lv e z m e lh o r e m p re g a r a q u i a p a la v r a ‘re c a lc a m e n to ’, a in d a q u e e la se p re ste
a a lg u n s e q u ív o c o s (ver F re u d ).
“ N o s e n tid o B, q u e m e p a re c e o m e lh o r, a re p re s e n ta ç ã o d e sa p a re c e u , o u p a re c e
te r d e s a p a re c id o d a m e m ó ria .
“ O e s q u e c im e n to , n o s e n tid o B, p o d e ser o u re la tiv o a u m fa to is o la d o (é e n tã o
fr e q u e n te n as p e sso a s n o rm a is ), o u re la tiv o a c a te g o ria s m a is ou m e n o s ex ten sas de
re c o rd a ç õ e s (e tra ta -s e e n tã o d a s d iv e rsas a m n é s ia s). P o d e ser m o m e n tâ n e o , d u rá v e l
o u d e fin itiv o . P o d e ser d e v id o q u e r à d e s tru iç ã o de u m a r e c o r d a ç ã o 1, q u e r sim p le s­
m e n te a u m a d ific u ld a d e o u a u m a im p o s sib ilid a d e de e v o c a ç ã o .”

S o b re E s q u e m a (1) e (2) — K a n t, n a Critica da razão pura, só se o c u p a v a d o s


“ e sq u e m a s tra n s c e n d e n ta is ” : m a s o seu p e n s a m e n to , fo rm a lm e n te e x p re sso n o p a rá -

1. A lguns psicólogos, em particular Bergson, pensam que nunca acontece a destruição, mas apenas obs­
táculo à evocação.
ESQUEM A 336

p o d e s e r o u a e x p re s s ã o d e re la ç õ e s já c o ­ O esforço intelectual (L fenergie spirituel-


n h e c id a s o u u m e s b o ç o h ip o té tic o q u e re ­ le, p p . 172-188).
p re s e n ta d e u m a m a n e ira p ro v is ó ria a e s ­
tr u tu r a a in d a d e s c o n h e c id a d e u m o b je to
2 , E S Q U E M A D . Schema·, E . Sche-
(p o r e x e m p lo , o s e s q u e m a s d a e s te re o q u í­ ma (fre q iie n te , p e rte n c e a té m esm o à lin ­
m ic a ) o u o p r o c e s s o g e r a l d e u m f e n ô m e ­ g u ag em c o rre n te n o s e n tid o de projeto,
n o q u e a in d a n ã o e s tá a n a lis a d o (p o r e x e m ­ sistema, plano)·, F . Schème·, I. Schema.
p lo o s “ e s q u e m a s d a a f a s ia s e n s o r ia l” , e s ­ V er a c im a Esquema (1).
tu d a d o s p o r H . B 2 ; è ÃÇ
E e m Matéria e A . N o se n tid o k a n tia n o (transcenden­
memória). V er Esquema (2) (schème). tales Schema, esq u em a tran scen d en tal): re­
B . D ia g ra m a d e s tin a d o a re p re s e n ta r p re s e n ta ç ã o in te rm e d iá ria , h o m o g ê n ea ,
as relaçõ es e n tre id é ia s a b s tr a ta s o u e n ­ p o r u m la d o , a o c o n ceito p u r o , e n q u a n to
tre fe n ô m e n o s n ã o p ercep tív eis. “ R e p o r­ n a d a c o n té m de em p írico ; p o r o u tr o , às
te m o -n o s , c o m e fe ito , a o e sq u e m a q u e já percepções, e n q u a n to p erten ce à o rd e m d o
tra ç a m o s . E m S e s tá a p e rc e p ç ã o a tu a l sensível e p o r c o n se q ü ê n c ia p e rm ite a su b -
q u e te n h o d o m e u c o r p o , q u e r d iz er, de su n ção in d ireta d as percep çõ es ou d a s im a ­
u m c e rto e q u ilíb rio s e n s ó rio - m o to r. S o ­ gens s o b a s cate g o ria s. O tempo, n a q u a li­
b re a su p e rfíc ie d e b ase A B s e rã o d is p o s ­ d a d e d e fo rm a a priori d a sen sib ilid ad e,
ta s , se q u is e rm o s , as m in h a s re c o rd a ç õ e s fo rn e c e a m a té ria d estes e sq u em as. P o r
n a su a to ta lid a d e . N o c o n e a ssim d e te r­ exem plo, o esq u em a d a q u a n tid a d e é o nú­
m in a d o , a id é ia g e ra l o sc ila rá c o n tin u a ­ mero, c u ja s u n id a d e s se a cre sc e n ta m su ­
m e n te e n tre o cu m e S e a b a se A B . . . ” cessivam ente u m as às o u tra s; o esq u em a d a
B 2 ; è Ã Ç , Matéria e memória.
E
re a lid ad e é a sensação (em g e ra l, e n q u a n ­
Rad. int.: S k em . to o c u p a u m a d u ra ç ã o ); o e sq u e m a d a
s u b stâ n c ia é o q u e h á d e permanente e de
“ E sq u em a* d in â m ic o ” E x p ressão u sa­
invariável n as co isas, etc. (Krit. der reinen
d a p o r B 2 ; è ÃÇ p a ra d e sig n a r o e s ta d o
E

de e sp írito c o n fu s o , m a s o rie n ta d o e a ti­


Vern., S c h e m atism u s d e r rein en V erstan -
d e sb re g riffe 1. A 137 ss.; B 176 ss.)
v o , n o q u a l n o s v em o s q u a n d o p r o c u r a ­
K a n t a p lic a ta m b é m a p a la v ra e sq u e ­
m o s e n c o n tr a r u m a re c o rd a ç ã o , c o m ­
p re e n d e r o q u e se o u v e o u o q u e se lê, in ­ m a às “ Id é ia s d a ra z ã o p u r a ” . Krit. der
v e n ta r a s o lu ç ã o de u m p ro b le m a . N ã o reinen Vern., A 674; B 702 (E n d a b s ic h t
se p o d e , co m o ele p ró p r io o b se rv a v a , d a r d e r n a tü rlic h e n D ia le k tik *2). A q u i o s e n ­
u m a d e fin iç ã o p re c isa , m a s d a m o -n o s tid o é p ró x im o d e Esquema (1), B.
c o n ta d a s u a n a tu re z a a o e s tu d a r o t r a ­
b a lh o p e lo q u a l “ e sta re p re s e n ta ç ã o es­
]. Critica d a razão pura; esquematismo dos con­
q u e m á tic a , c u jo s elem en to s se in te rp e n e ­ ceitos puros do entendim ento.
tr a m ” , é c o n v e rtid a “ n u m a re p re se n ta çã o 2. Critica da razão pura; do objetivo final da dia­
com im ag en s, c u jas p a rte s se ju s ta p õ e m ” . lética natural.

g ra fo q u e c o m e ç a p o r In der That liegen unsern reinen sinniichen Begriffen... (A


140-141), é q u e os c o n c e ito s g e o m é tric o s , e m esm o os c o n c e ito s p u ra m e n te e m p íri­
c o s, c o m o o d e c ã o , ta m b é m têm o seu e s q u e m a , ú n ic o m e io p a r a n ó s de p e n sa r,
so b um c o n c e ito g e ra l, a lg u m a co isa q u e n ã o s e ja p a r tic u la r , de d a r a u m c o n c e ito
u m c o n te ú d o q u e lh e se ja a d e q u a d o . M as d ese n v o lv e u m u ito p o u c o este p e n s a m e n ­
to , m u ito fe c u n d o to d a v ia , p arece-m e, p a ra a su a te o ria d a s idéias gerais. (7. Lachelier)
S e ria b o m re s e rv a r, em fra n c ê s , a p a la v r a schéma p a r a o d e s e n h o , a fig u ra es­
q u e m á tic a , e a p a la v r a schème p a r a a re g ra q u e se g u im o s tr a ç a n d o e ssa fig u ra , e q u e
ex iste n o e s ta d o d e p u r a te n d ê n c ia n a n o s s a im a g in a ç ã o . (7. Lachelier)
337 ESQ UEM A

B . D e lin ea m e n to geral, m o v im e n to de p a la v r a in g le sa, a p lic a-se s o b re tu d o a re ­


c o n ju n to de u m o b je to o u d e u m p ro c e s ­ p re sen ta ç õ es pelas q u ais n o s a n tec ip a m o s
so . “ D esen h am o s co m u m tra ç o c o n tín u o a o f u tu r o , o u p e las q u a is p re p a ra m o s
d e p o is de te r o lh a d o p a ra o m o d e lo o u u m a a ç ã o q u e r in te le c tu a l, q u e r m a te ria l.
te r p e n sa d o n e le . C o m o e x p lic a r ta l f a ­
E s q u e m a m o t o r A q u e le q u e co n siste
c u ld a d e s e n ã o p e lo h á b ito de d is c e rn ir
em im ag en s o u em sen saçõ es cin estésicas.
im e d ia ta m e n te a o rg a n iz a ç ã o d o s c o n to r­
“ A ssim se d e se n ro la v a na n o ssa co n sciên ­
n o s m a is u s u a is , q u e r d izer, p o r u m a te n ­
cia, so b fo r m a de sen saçõ es m u scu lares
d ê n c ia m o to r a p a r a fig u r a r o e sq u e m a
n ascen tes, a q u ilo a q ue c h a m a re m o s o es­
c o m u m s ó t r a ç o ? ” B 2 ; è Ã Ç , Matéria e
E
quema m otor d a p a lav ra o u v id a . B 2 ; ­ E
memória, c a p . I I .
è ÃÇ , Matéria e memória , p. 115.
A p a la v r a , n e ste s e n tid o , é m a is o u
m e n o s s in ô n im a d e Esquema (1 ), n o se n ­ E s q u e m a o p e r a tó r io “ O u tr o s p e n s a ­
tid o A . T o d a v ia , ta lv e z p o r in flu ên c ia d a d o re s s itu a m -se de p re fe rê n c ia d o p o n to

U m e s q u e m a (schéma ) é u m a im a g e m (v isu a l o u n ã o ) sin g u la r e c o n c r e ta , d e s ti­


n a d a a to r n a r a p re e n sív e l p e la im a g e m u m o u v á rio s c o n c e ito s u n iv e rs a is e a b s tr a ­
to s . É u m exemplo fictício, id e a liz a d o e s im p lific a d o , c o m p o r ta n d o m u ita s vezes r e ­
p re s e n ta ç õ e s s im b ó lic a s d a q u ilo q u e n ã o p o d e s e r re p re s e n ta d o .
F o r a d a figura esquemática, tã o c ô m o d a c o m o p ro c e d im e n to d e in te r p r e ta ç ã o
e d e d e m o n s tr a ç ã o , o e s q u e m a te m u m e m p re g o m u ito g e n e ra liz a d o n o p e n s a m e n to .
A s fig u ra s d o g e ô m e tra , as fó rm u la s d o a lg e b r is ta sã o e sq u e m a s (schémas).
D o m e sm o m o d o q u e u m a c o isa c o n c re ta e s in g u la r p o d e ser s u b s u m id a s o b v á ­
rio s c o n c e ito s , ta m b é m o e sq u e m a (schéma) p o d e se r c o n s tr u íd o s e g u n d o c o n c e ito s
d ife re n te s , ser lo c al de e n c o n tr o d e d iv e rsas te o ria s . Q u a n d o a p lic a m o s c o n h e c im e n ­
to s cie n tífic o s, te n ta m o s c o n s tr u ir a tra v é s d eles u m e sq u e m a (schéma) q u e se a p r o x i­
m e d o re a l, m a s q u e , fe ito p e lo e sp írito d e e le m e n to s in telig ív eis e to d o s c o n h e c id o s ,
se ja p e rfe ita m e n te c la r o . N ã o te m o s o u tr o m e io p a r a c o m p re e n d e r a s c o isa s s e n ã o
re c o n s tr u in d o -a s a tra v é s d e p o n to s de v ista te ó ric o s: pensar é esquematizar. M a s o
e s q u e m a (schéma ) n ã o p o d e ria a lc a n ç a r o re a l. C o n tin u a s e n d o sim p le s e p o b re em
v ista d a c o m p le x id a d e in fin ita e d a riq u e z a in e sg o tá v e l d o re a l. A í e s tá a p rin c ip a l
d ific u ld a d e em p a s s a r d a te o ria à p rá tic a , d a in te lig ê n c ia à a ç ã o . (E. Goblot)
É tie n n e S o u R iA U n o ta q u e ( L ’abstraction sentimentale, p . 137) u m a c o n fu s ã o las­
tim á v e l e n tre d o is s e n tid o s de esquema (schéma): 1?, “ n o ta ç ã o , n u m p e q u e n o n ú ­
m e ro de tr a ç o s , p re c iso e sem m e io s -to n s , de u m p e r f il” ; 2 ? , “ fig u ra r á p id a e v ag a,
o n d e tra ç o s q u e g u a rd a m a m a rc a d o im p ro v iso e d o fu g id io d ã o o rig e m p o r a p ro x i­
m a ç ã o a u m a f o r m a in c o m p le ta , m a is s u g e rid a d o q u e d e m a r c a d a ” , e q u e a p re s e n ta
“ to d a u m a c o n o ta ç ã o d e a m o r f o , d e p o tê n c ia in a tu a l e in d e fin id a — m a is e x a ta ­
m e n te , de im p e rfe ito ” . N ã o seria m e lh o r u s a r “ e sq u e m a ” (schème) e “ esquema (schè­
me) dinâmico ” p a r a o se g u n d o s e n tid o ? (M. Marsal)
S o b re E s q u e m a o p e ra tó rio — H a m e lin , n o te x to c ita d o , p a re c e fa z e r a lu sã o à p a s ­
sagem seg u in te: “ P o d e m o s, p o r ta n to , d izer q u e o co n ceito g eral n ã o é n em u m sim ples
sig no, n em u m a v erd a d eira id éia, etêos, c o n te n d o u m a m a té ria , u m o b je to sensível d o
p e n sa m e n to ; m a s q u e co n siste n u m esquema operatório d o n o sso e n te n d im e n to , q u a l­
q u e r c o isa co m o o ritm o d e u m v erso d e c u ja s p a la v ra s n ã o n o s le m b ra m o s o u co m o o
m o v im e n to no v azio de u m a im p re s so ra q u e c o n tin u a ss e a in d a o seu g e sto a u to m á tic o
d e p o is d e te r im p resso a ú ltim a fo lh a d e p a p e l.” A . L τ Â τ Çá , Lectures sur la philoso­
E

phie des sciences, c a p . I (1? e d M 1893, p . 26). N ã o p o sso d izer se esta ex p ressão j á fo ra
u tiliz a d a an tes, eu n ã o m e le m b ro de a te r id o b u s c a re m n e n h u m a o b ra a n te rio r. (A. L.)
E S Q U E M Á T IC O 338

d e v is ta d o s u je ito e d e c la ra m q u e u m g ê ­ v ro I I , c a p . IV .
n e r o c o n s is te n ã o n a id e n tid a d e d e u m ele- Rad. int.: S k e m a l.
mento p r e s e n te e m d iv e rs a s e s p é c ie s , m a s
E S Q U E M A T IS M O D . Schematis­
na de um esquema operatório , q u e r d i­
mus; E . Schematism; F . Schématisme; I.
z e r, n u m p ro c e d im e n to q u e o e s p írito e m ­
Sehematismo.
p re g a p a ra fo rm a r, o u a n te s , p a ra p re p a ­
E s ta p a la v r a é u s u a l a p e n a s p a r a t r a ­
r a r a c o n c e p ç ã o d e s s a s e s p é c ie s .” H τ OE - d u z ir o u m e n c io n a r a q u ilo q u e Kτ ÇI
 «Ç , Essai sur les élém ., 178. c h a m o u Schematismus der reinen Vers­
tandesbegriffe , e sq u e m a tism o dos co n cei­
E sq u e m a visu al S inopsia* q u e consiste
to s p u ro s d o e n te n d im e n to {Crítica da ra­
em fig u ra s m a is o u m e n o s g e o m é tric a s
zão pura, A 137-147; B 176-186). C o n ­
n a s q u a is as q u a lid a d e s d e c o r e s tã o a u ­
siste n a f u n ç ã o in te le c tu a l p e la q u a l o s
sen tes o u só d e se m p e n h a m u m p a p e l m e ­ c o n ce ito s p u ro s d o e n te n d im e n to , in a p li­
n o r . O s e sq u e m a s su b d iv id e m -se em sím- cáveis p o r si m e sm o s e d ire ta m e n te a o b ­
bolos e em diagramas. O s “ d ia g ra m a s n u ­ je to s d a ex p eriên cia, sã o s u b stitu íd o s n e s­
m é ric o s ” são a q u ilo a q u e G a lto n c h a m a ­ s a u tiliz a ç ã o p o r esquemas* q u e p e rm i­
va o s Num ber-form s. F Â Ã Z 2 Ç Ã à , D o s tem e ssa a p lic a ç ã o .
fenôm enos de sinopsia, P a r is e G e n e b ra , Rad. int.: S k e m a tis m .
1893 ( n o ta d e É d . C Â τ ú τ 2 è á ) . E

“ E S Q U IZ O F R E N IA ” “ N o m e d ad o
Rad. int.: S k e m .
p o r B Â Z Â 2 (d e Z u r iq u e ) à q u ilo q u e se
E E

E S Q U E M Á T IC O D . Schematisch; E . c h a m a g e ra l m e n te demência precoce e


Schematic; F . Schématique; 1. Sche- a p r e s e n ta , c o m o d iz ju s ta m e n te M . R o ­
ma tico. g u e s d e F u r s a c , u m c a r á te r d e g e n e ra li­
Q u e c o n sis te n u m e s q u e m a . “ O h o ­ d a d e q u e fa lta sim u lta n e a m e n te a demên­
m e m m é d io (c o m o p ro g re s s o d a s so cie­ cia e a precoce ” ( n o ta d e É d . C Â τ
ú τ 2 è á E ).
d ad es) to m a u m a fisio n o m ia c a d a vez m e­
n o s n ítid a e v in c a d a , u m a sp e c to m a is es­ E S S Ê N C IA G . Ο υ σ ί α m ais a m p lo , rò
q u e m á tic o ; é u m a a b s tr a ç ã o c a d a vez r í €o t u >, t ò t í Í¡v tirou; L . Essentia; D .
m a is d ifíc il d e fix a r e d e d e lim ita r .” Wesen; E . Essence ; F . Essence; I.
DZ 2 3 7 « O , Div. do trabalho social , H -
E Essenza.

S o b re E s s ê n c ia — Ο ΰ σ ί α te m q u a tr o s e n tid o s e m A 2 «è I ó I E Â E è d is tin g u id o s n a
M etafísica , Z , c a p . 3 (n o in íc io ). U m ú n ic o se a p lic a a e ssê n cia , ο υ σ ί α avev ííXã/è .
É v e rd a d e q u e o seu p e n s a m e n to p a re c e s e r o d e q u e o v e rd a d e iro s e r d e u m a c o isa
é o q u e c h a m a m o s essência. A d e fin iç ã o d e E è ú « ÇÃ è τ d ife re da de A 2 «è I ó I E Â E è : ani­
mal, n o p e n s a m e n to d e A ris tó te le s , “ p e rtin e t a d e s s e n tia m ” d e h om em ; e , c o n tu d o ,
animal p o d e s e r e se r c o n c e b id o s e m homem; e, p o r o u tr o la d o , s e n d o d a d o animal,
o hom em n ã o é n e c e s sa ria m e n te p o s to . A d e fin iç ã o d e E s p in o s a n e g a im p lic ita m e n te
a re a lid a d e d o s g ê n e ro s. (J. Lachelier)
M . Marsal a ss in a la -n o s e sta p a ss a g e m d e C Ã Z 2 Ç Ã : “ N a e c o n o m ia flo re s ta l, es­
I

sência p e rm a n e c e u a té o s n o sso s d ia s c o m o s in ô n im o d e esp écie. O s v e lh o s q u ím ic o s


d e sig n a v a m c o m e s ta p a la v r a o p r o d u to d a s su a s d e s tila ç õ e s , d a s s u a s re tific a ç õ e s ,
o q u e fic a d e u m a s u b s tâ n c ia c u ja s p r o p r ie d a d e s to r n a m p re c io s a , d e p o is d e se r p u r i­
fic a d a d a s s u b s tâ n c ia s e s tr a n h a s q u e n e la se e n c o n tr a m m is tu ra d a s e q u e e n f r a q u e ­
cem a s u a v ir t u d e .“ Considérations, liv ro 1, c a p . IV (ed . B o iv in , I , 57).
m E S T A D IO

A . M e ta fís ic a m e n te , e m o p o s iç ã o a A . Q u e p e rte n c e à e ssên cia.


acidente* y a q u ilo q u e é c o n s id e ra d o c o ­ B . P o r e x te n s ã o , d iz-se d a q u ilo q u e é
m o o f u n d o d o ser, e tn o p o s iç ã o às m o ­ p rin c ip a l, im p o r ta n te o u in d isp e n sá v el.
d ific a ç õ e s q u e a p e n a s o a tin g e m s u p e r f i­ “ D e fin iç ão essen cial” , v$x Definição.
c ia lm e n te o u te m p o r a r ia m e n te . C f. A cí­
dente. E s ta essê n cia é c o lo c a d a p o r u n s E S S E N C IA L IS M O V er Suplemento.
n o g e ra l, p o r o u tro s n o in d iv id u a l. E S T A D A F . Séjour. F o i u tiliz a d a
B . E m o p o sição a existencia* (q u er n o n u m s e n tid o té c n ic o p o r H a m e l i n : “ ...
sen tid o m e ta físico , q u e r n o sen tid o expe- C o m o é q u e se c o lo c a em si m e sm a a n o ­
riencial)· . a q u ilo q u e c o n s titu i a n a tu re z a ç ã o de m o v im e n to ? E m p rim e iro lu g a r,
de u m ser em o p o siçã o a o f a to de ser. C f. e n c o n tra m o s 0 e s ta d o d e o n d e p a rte o
Existencialismo. m o v im e n to , q u e r d izer, a situ a çã o p e rm a ­
C . L o g ic a m e n te : 1? N o s e n tid o c o n ­ n e n te dos p o n to s , lin h as o u v o lu m es, q u e
cep tu alista, o c o n ju n to d as d eterm in açõ es
serv irão de su jeito o u d e lim ite p a ra 0 m o ­
q u e d e fin e m u m o b je to de p e n s a m e n to . v im en to . Esse m o m e n to p o d e ser b em de­
“ ’T ò τ ι e lv a i ί σ τ ι ν ό σ ω ν o X 070 S
sig n a d o c o m o n o m e d e estada.
eañv ¿ p ie r io s .” A 2 « è ó Â è , M eta f . ,
I I E E
*‘A s u a a n títe s e , q u e d ev e e x p rim ir o
V i l , 4, 1030a. “ Aéya> ό ' ο ΰ σ ί α ν 'ά ν ε υ
f a to d e n ã o e s ta r e m n e n h u m lu g a r d u ­
víujs t ò t í i)V ε ί ν α ι . ’* Ibid., 7 , 1032b. A
r a n te u m e sp a ç o d e te m p o a ss in a lá v e l,
essên cia o p õ e-se e n tã o à ex istên cia, co m o
c h a m a r-se -á o deslocamento. P o r fim , a
o ra c io n a l a o s d a d o s d a e x p e riê n c ia , o u
sín te se d e ste s d o is p rim e iro s te rm o s , q u e
c o m o o possív el ao a tu a l. “ A d esse n tiam
d ev e sig n ific a r a p o s iç ã o in stá v el e n tre o s
a lic u ju s rei id p e rtin e re d ic o , q u o d a to res
lim ites e a tra v é s d a d u r a ç ã o , d ir-se -á o
n e ce ssá rio p o n itu r et q u o s u b la to res n e ­
transporte. A estada é, n o m o v im e n to , 0
c essário to llitu r; vel id sin e q u o res et v i­
a n á lo g o d o lim ite , in s ta n te , o u p o n to d o
ce v e rsa q u o d sin e re n ec esse nec co n cip i
te m p o o u d o e sp a ç o ; e a d e s lo c a ç ã o , o
p o t e s t .” E è ú « Ç Ã è τ , Ética, II, d e f. 2.
a n á lo g o d o in te rv a lo , la p so de te m p o o u
“ W ese n ist d a s e rs te in n e re P rin c ip alles
d is tâ n c ia .” E ssaisurles élémentsprinci-
d e sse n w as z u r M ö g lic h k e it ein es D in ges
paux de la représentation, p p . 107-108.
g e h ö r t.” 1 K τ Ç , Principios metaf. da
I

ciencia da natureza, p re fá c io , 3. E S T Á D IO D o G . aráôior), m e d id a e


2? N o sen tid o n o m in a lis ta , n ã o h á es­ c a r re ira p a r a a c o rrid a ; D . A , Stadium;
s ê n c ia , m a s a q u ilo a q u e o s re a lista s e os B . Stadium, Rennbahn; E . Stage; B . Sta­
c o n c e p tu a lis ta s c h a m a ra m co m esse n o ­ dium; F . Stade; I. St adio.
m e é a p e n a s 0 c o n ju n to d as c a ra c te rís ti­ A . P e río d o o u m o m e n to de u m a
cas c o n o ta d a s p o r u m a p a la v ra . E x em p lo ev o lu ção * (em q u a lq u e r d o s sen tid o s d es­
d o g elo q u e m a n té m a su a e ssê n c ia , m a s ta p a la v ra ), de u m a d e m o n s tra ç ã o , de u m
q u e a p e rd e u m a vez fu n d id o (LOCKE). d e se n v o lv im e n to , etc.
M « Â Â , Lógica, liv ro I, c a p . V I, § 2 . V er B . “ O e s tá d io ” é u m d o s a rg u m e n ­
Gil s o n , L ’être et 1’essence (1948). to s d e Z E Çã Ã d e E lé ia , d ito s “ c o n tr a o
Rad. int.i E s s e n c ( Boirac). m o v im e n to ” . A m e n ç ã o q u e d eles fa z
E S S E N C IA L D . Wesentlich ; E . Es­ A ris tó te le s é o b s c u r a p e la b re v id a d e d o
sential; F . Essentiel; I. Essenziale. te x to q u e o re fe re , e p ro v a v e lm e n te ta m ­
b é m em c o n se q ü ê n c ia de u m a a lte ra ç ã o
d o te x to (Fis., V I, 9; 239b33 ss.). A ss e n ­
1. “ A essência é o prim eiro princípio interior deta n a c o n sid e ra ç ão d e u m m óvel c u jo m o ­
tudo 0 que pertence à possibilidade de um a coisa.” v im e n to é re la c io n a d o a d o is siste m a s d e

S o b re E s ta d a — T e x to c o m u n ic a d o p o r L. Robin.
E STA D O 340

re fe rê n c ia , u m fix o , o u tro m óveJ. P a r a s e n tid o , n ã o é u m a e x p re ssã o feliz, p o is


u m a e x p o siç ã o e d iscu ssão p o r m e n o r iz a ­ p a re c e im p lic a r q u e estes fa to s têm a p e ­
d a , ver Z Â Â 2 , Filosofia dos gregos an­
E E n as u m c a r á te r e x clu siv a m e n te p assiv o e
tes de Sócrates , c ap . I I I , § 4 (tra d . fra n c ., e stá tic o . A o q u e n o rm a lm e n te se c h a m a
Boutroux , t. II, 81-82). J . L τ T Â « 2 , 7 E E Estado de consciência seria m elh o r d esig ­
“ N o ta s o b re o s d o is ú ltim o s a rg u m e n to s n a r p e lo te rm o Fato de consciência
de Z e n ã o de E lé ia ” , Révue de métaph., ( = F a to p s íq u ic o c o n scien te).
m a io de 1910, p a r tic u la r m e n te p p .
E s ta d o de n a tu re z a D . Naturzustand ;
346-349 e 352-353.
E . State o f nature ; F . État de nature ; 1.
Rad. int.: A . G ra d ; B . S ta d i.
Stato di natura.
1. E S T A D O D. Zusíand; E. State; F. A . E s ta d o d e u m g r u p o d e h o m e n s
État\ I. Stato . n â o c iv iliz ad o s.
A . E tim o ló g ic a m e n te , e s ta ç ã o , em B . E s ta d o in d iv id u a l d e u m h o m e m
o p o s iç ã o a o m o v im e n to , e, p o r c o n s e ­ n ã o e d u c a d o (q u e r to ta l q u e r p a rc ia lm e n ­
q u ê n c ia , d e te rm in a ç ã o q u e c o n siste n u ­ te). C f . a assim ilação fre q ü e n te m e n te a d ­
m a m a n e ira d e ser m o m e n tâ n e a o u m a is m itid a e n tre a c ria n ç a e o n ã o -c iv iliz a d o ;
o u m en o s d u rá v e l, e n ã o n u m a a ç ã o o u p o r e x e m p lo em R Ç á Ç , Origine du lan-
E

n u m d ev ir. gage , 2? e d iç ã o , p . 68.


B . E sp e cia lm e n te , estado de consciên­ C . E s ta d o h ip o té tic o d o h o m e m a n ­
cia (D . Bewussteinzustand ; E . State o f te s d a o rg a n iz a ç ã o so cial (G ro c iu s , H o b -
consciousness, feeling ; F . État de cons- b e s, J . - J . R o u s s e a u , e tc .), o u , m a is e x a­
cience ; I. Stato di coscienza). E s ta e x p re s­ ta m e n te , e x p re ss ã o m ític a d o q u e p o d e ­
são ap lica-se n a lin g u ag em filo só fica c o r­ ria ser o e sta d o d a so cied ad e se os h o m en s
re n te a q u a lq u e r fa to p s íq u ic o c o n sc ie n ­ (tais c o m o s ã o a tu a lm e n te ) n ã o fo ssem
te (se n sa çã o , s e n tim e n to , v o lição ). N esse n em p r e p a r a d o s p ela e d u c a ç ã o , n em re-

S o b re E s ta d o (1) — A p e s a r d a e tim o lo g ia , n ã o m e p a re c e q u e a id éia d e p a r a ­


g e m , de r e p o u s o e ste ja im p líc ita em q u a lq u e r g ra u n a p a la v ra estado. P o d e -s e m u ito
b em d izer um e sta d o de m u d a n ç a , de e s c o a m e n to , d e re n o v a ç ã o p e rp é tu a , É s u fi­
cien te q u e este e s ta d o , se ja q u a l fo r a su a n a tu re z a , te n h a u m a c e rta permanência.
(J. Lachelier)
M as e sta a p lic a ç ã o s u p õ e ju s ta m e n te q u e o d e v ir se ja c o n s id e ra d o em b lo c o , n o
q u e tem de c o n s ta n te e , p o r c o n se q ü ê n c ia , de e stá v e l. A p a la v ra n ã o co n v ém à m u ­
d a n ç a c o n s id e ra d a e n q u a n to ta l, n a p r ó p r ia tr a n s f o r m a ç ã o q u e a c o n s titu i. Se o “ es­
ta d o d a c o n sc iê n c ia ” é u m e sta d o de re n o v a ç ã o , de m o v im e n to c o n tín u o , n ã o se se­
g ue d aí q u e ele se c o m p o n h a de e le m e n to s q u e to m a d o s is o la d a m e n te seja m “ e s ta ­
d o s de c o n sc iê n c ia ” . É , a liá s , m u ito u s u a l n a lin g u a g e m filo s ó fic a c o n te m p o râ n e a
o p o r os estados a o s movimentos. (A. L.)
E. Goblot p ro p õ e re s e rv a r a e x p re ss ã o estado de consciência p a ra d e sig n a r “ o
c o n ju n to c o m p le x o d o s fe n ô m e n o s s im u ltâ n e o s q u e ex istem n u m d a d o m o m e n to ”
n u m a c o n sc iê n c ia . ( Vocabulaire , V o Conscience.) Primitivamente, no texto, esta in­
dicação não p ô d e ser mantida devido à fa lta de acordo geral sobre este ponto.
S o b re E s ta d o de n a tu re z a — O u so filo só fic o d e s ta e x p re ssã o p a re c e v ir d e H Ãζ -
ζE è : “ ... q u a m c o n d itio n e m a p p e lla re liceat statum naturae” (Q u e n o s p e rm ita m c h a ­
m a r e sta c o n d iç ã o estado de natureza). Do cidadão, p re fá c io , ed . M o le s w o rth , II,
148. M a s a id é ia d e u m e s ta d o d e n a tu r e z a o p o s to a o e s ta d o d e g ra ç a d a ta d a s o r i­
g en s d o c ris tia n ism o e o p ró p r io H o b b e s o re c o rd a .
341 E S T A T ÍS T IC A

g id o s p e las leis e p o r u m g o v e rn o . E ste c ia l” (A u g . C Ã O I E ): te o r ia d a o rd e m ,


c o n c e ito p a re c e -n o s te r a p e n a s u m in te ­ n as so c ie d a d e s , em o p o s iç ã o à d in â m ic a
resse h is tó ric o . s o c ia l, q u e e s tu d a o p ro g re s s o . O to m o
Rad. int.\ A , S ta n d ; B , (f a to de c o n s ­ II d o Sistema de política positiva tem p o r
ciên cia) K o n c ia j; e s ta d o to ta l: K o n cial(a) títu lo : “ E s tá tic a so cia l, o u tr a ta d o a b s ­
s ta n d (o ). t r a t o d a o rd e m h u m a n a .” V er Social.
S e g u n d o C ÃO
I E ( Curso de fii. posi­
2. E S T A D O D . Staat; E . State', F .
tiva , lição I), a g e n e ra liz a ç ã o a to d a s as
État; I. Stato.
o rd e n s d a c iên c ia d a d is tin ç ã o e n tre está­
A . U m a so c ie d a d e o rg a n iz a d a com
tico e dinâmico é d e v id a a D B Â τ « Çâ « Â -
E
u m g o v e rn o a u tô n o m o e q u e re p re se n ta
LE, n a in tro d u ç ã o a o s seus Princípios ge­
o p a p e l d e u m a p e ss o a m o r a l d is tin ta em
rais de anatomia comparada (1822).
relação às o u tra s sociedades a n álo g as com
Rad. int.\ S ta tik .
as q u a is e stá r e la c io n a d a .
B . O c o n ju n to d o s serv iço s g e ra is de E S T Á T IC O D o G . σ τ α τ ι κ ό *, q u e p á ­
u m a n a ç ã o . N este sen tid o , o E sta d o o p õ e- ra ; q u e serve p a r a p e s a r; q u e d iz re s p e ito
se ao d e p a r ta m e n to , à p ro v ín c ia , à c o m u ­ a o eq u ilíb rio ; D . Statisch·, E . Static, - ical;
n a , e tc .; a in d ú s tria de E s ta d o o p õ e -se à F . Statique ; I. Statico.
in d ú s tria p riv a d a , etc. Q u e d iz re s p e ito a o re p o u s o , ao e q u i­
líb rio ; p o r c o n s e q u ê n c ia , q u e c o n sid e ra
C RÍTIC A
a s co isas n u m e s ta d o d e te r m in a d o , sem
M ais e sp e c ialm en te a in d a , e em ra z ã o supor m udança.
d o f a to de q u e n a o rg a n iz a ç ã o a tu a l d a s R ad , int.: S ta tik a l.
so cie d a d es as g ra n d e s fu n ç õ e s d o E s ta d o
d e p en d e m , em g eral, estreitam e n te d o p o ­ “ E S T A T IS M O ” N e o lo g ism o q u e d e­
d e r e x e c u tiv o , e s ta p a la v r a é fre q ü e n te - sig n a as d o u tr in a s q u e te n d e m a p ô r to ­
m e n te a p lic a d a a este m e sm o p o d e r. M as d a s a s fu n ç õ e s so ciais s o b a d ire ç ã o im e ­
isso sem ra z ã o , e é n e c e s sá rio d is tin g u ir, d ia ta d o E s ta d o .
em p rin c íp io , o E s ta d o e o g o v e rn o .
E S T A T ÍS T IC A D . Statistik ; E . Sta-
Rad. i n t S ta t.
tisties ; F . Statistique ; I. Statistica.
E S T Á T IC A D o G . ή σ τ α τ ικ ή (su ­ A estatística:
b e n te n d id o τ έ χ ν η ), P Â τ Cármides,
I ã Ã , A . “ E n te n d e -s e p rin c ip a lm e n te p o r
166 B : a a r te d e p e s a r ; D . Síatik, Gleich- estatística , c o m o o in d ic a a e tim o lo g ia ,
gewichtslehre ; E . Stat ¡es; F . Stat ¡que; I. a c o m p ila ç ã o d e f a to s a o s q u a is a a g lo ­
Statico. m e ra ç ã o d o s h o m e n s em so cie d a d es p o ­
A . P a r te d a m e c á n ic a q u e d iz re sp e i­ lític a s d á lu g a r .” C o u r n o t , Théoríedes
to a o e q u ilib rio d a s fo rç a s q u e ag em so ­ chances et des probabilités, c a p . IX ,
b re co rp o s em re p o u so (cf. Mecánica, Di­ 181-182. S e ria p re c iso a c re s c e n ta r: “ N a
námica, Cinemática). C Ã Z 2 ÇÃ , Traite I m e d id a em q u e esses fa to s s ã o suscetíveis
d ’enchatnement, liv ro I I , c a p . II: “ D os d e e n u m e ra ç ã o o u a v a lia ç ã o n u m é r ic a .”
p rin c ip io s d a e s tá tic a o u d a te o r ia d o B . “ M a s p a r a n ó s a p a la v r a to m a r á
e q u ilib rio d a s f o r ç a s .” u m a a c e p ç ã o m a is e x te n s a . E n te n d e m o s
B . E s tu d o d e u m a classe d e o b je to s p o r e s ta tís tic a a ciên cia q u e te m p o r o b ­
co n sid erad o s n u m e sta d o d a d o e a b s tra in ­ je to re c o lh e r e c o o r d e n a r f a to s n u m e ro ­
d o as s u a s tra n s fo rm a ç õ e s . “ E s tá tic a so- so s e m c a d a esp é c ie, d e m o d o a o b te r re-

S o b r e E s tá tic o — “ Sentido estático é u s a d o a lg u m a s vezes c o m o e q u iv a le n te d o


se n tid o de eq u ilíb rio , a o fa la r d o s a n im a is q u e p o ssu em e s ta to c is to s .” (Éd. Claparède)
E S T A T ÍS T IC O 342

la ç ô e s n u m é r ic a s , s e n s iv e lm e n te in d e p e n ­ la tiv ità ” , Scientia, ja n e iro d e 1911, p . 85.


d e n te s d a s a n o m a lia s d o a c a so , q u e d e­ Determinismo estatístico: 1?, m e sm o
n o ta m a e x is tê n c ia d e ca u sa s r e g u la r e s s e n tid o q u e regularidade estatística', 2°,
c u ja a ç ã o se c o m b in o u co m as d a s ca u ­ d o u trin a d e term in ista fu n d a d a so b re o a r­
sa s f o r t u it a s .” C o u r n o t , ibid., 182. g u m e n to tir a d o d a e s ta tís tic a h u m a n a
Uma estatística: (p o r e x em p lo , d a c o n stâ n c ia d o s fe n ô m e ­
C S eq ü ên cia de d a d o s n u m érico s sobre n o s so c ia is, d a d e p e n d ê n c ia d ir e ta e n tre
u m c o n ju n to de seres o u de fato s d a m esm a
o s a lg a ris m o s q u e o s e x p rim e m , e tc .).
n a tu re za . “A esta tística d o s d ias de chuva!’
ÇÃ I τ è C RÍTIC A
1. A e tim o lo g ia in d ic a d a p o r C o u rn o t E s ta s e x p re ssõ e s, h o je em d ia m u ito
é c o n te s tá v e l (v er L tE S S E , A estatística,
d iv u lg a d a s, a p re se n ta m c e rta a m b ig u id a ­
c a p . 1). A p a la v ra vem d e status , m a s se­
d e. D e sp re z e m o s o d u p lo s e n tid o d e de-
r á n o s e n tid o d e E s ta d o , o u n o s e n tid o
te rm in is m o -d o u trin a e d e d e te r m in is ­
d e “ e s ta d o d e s itu a ç ã o ” ?
m o -re g u la rid a d e . R e s ta a in d a q u e :
2. A p a la v r a c iê n c ia a p lic a d a à e sta ­

tís tic a f o i m u it a s v e z e s c r itic a d a . E la c o n ­


1 ? O a rg u m e n to d e te r m in is ta f u n d a ­
s is te m a is e x a ta m e n te n u m m étodo a p li­
d o s o b re a e s ta tís tic a p o d e te r p o r o b je to
cá v el a d iv e r s a s c iê n c ia s . p ro v a r, pelo d e term in ism o d o s c o n ju n to s ,
Rad. i n t S ta tis tik . o d e te rm in is m o d e c a d a u m d o s e le m e n ­
to s ; m a s p o d e ta m b é m v isar a esses p r ó ­
E S T A T ÍS T IC O D . Statistisch; E . Sta-
p rio s c o n ju n to s , p o r e x e m p lo , e s ta r d e s­
tistical; F . Statistique\ I. Statistico.
tin a d o a m o s tr a r q u e os fe n ô m e n o s s o ­
Q u e diz re s p e ito à e s ta tís tic a , o u q u e
c iais, c o n s id e ra d o s c o m o ta is , e s tã o s u b ­
a p re s e n ta o c a r á te r d a e sta tís tic a , n o sen ­
tid o B. “ M é to d o e s ta tís tic o .” “ R elaç ão m e tid o s a o d e te r m in is m o , n o s e n tid o em
e s ta tís tic a .” q u e o s físico s e o s b ió lo g o s o e n ten d e m
Regularidade estatística: aq u ela q u e se (d e te rm in is m o n o s e n tid o B). A e x p re s­
m a n ife sta n a s o m a o u na m éd ia d e u m sã o d e term in ism o e sta tístic o , q ue n ã o dis­
g ra n d e n ú m e ro de ações elem en tares. “ Di tin g u e u m d o o u tr o , é p o r ta n to e q u ív o ­
fro n te a q u ella ip o tesi di o m o g e n eità as- c a; e o e q u ív o c o é ta n to m ais in c ô m o d o
so lu ta , che h a u n c a ra tte re p u ra m e n te m a ­ q u a n to o p rim e iro d e ste s d o is a rg u m e n ­
te m á tic o , la fisica ci suggerisce u n a conce- to s é d e v a lo r d isc u tív e l (v er p a r tic u la r ­
zio n e di regolarità statistica, a n a lo g a a m e n te R ÇÃ Z â « 2 , “ A lib e rd a d e h u m a ­
E E

q u e lla che la te o ria cin ética a m m e tte nei n a d o p o n to d e v is ta d a o b s e r v a ç ã o ” ,


g a s .” 1 C τ è I E  ÇZ Ãâà , “ II p rin cip io di re- Crít. filo s., 1880, II , 33-4 1), e n q u a n to o
seg u n d o é e v id en tem e n te d e m o n s tra tiv o .
1. “ Ao lado desta hipótese de homogeneidade ab­ 2? Regularidade estatística n ã o é m e ­
soluta (trata-se da natureza do éter), hipótese que tem
n o s a m b íg u o . E s ta e x p re ssã o p o d e sig n i­
um caráter puramente m atem ático, a física sugere-nos
a idéia de uma regularidade estatística, análoga àquela fic a r a n te s d e tu d o , co m u m a lc a n c e re ­
que a teoria cinética admite para os gases.” d u z id o a o m ín im o , e sem n a d a s u b e n te n -

S o b re E s ta tís tic o — A C rític a em Estatístico è o d e se n v o lv im e n to de a lg u m a s li­


n h a s q u e se e n c o n tra v a m n a p rim e ira re d a ç ã o e q u e v á rio s c o rre s p o n d e n te s n o s fize­
ra m n o ta r c o m o s e n d o in s u fic ie n te m e n te e x p líc itas. O te x to d e M . C τ è Â ÇZ Ã â Ã I E

fo i-n o s in d ic a d o p o r M . Winter, o a rtig o de R ÇÃ Z â « 2 , m e n c io n a d o n a C rític a ,


E E

p o r Léon Robin. N este a r tig o , R e n o u v ie r n ã o e m p re g a a e x p re ssã o determinismo es­


tatístico, m a s d isc u te v iv a m e n te as teses d e sig n a d a s p o r este n o m e , e a p re s e n ta o b ­
serv açõ es m u ito ú teis s o b re o c o n ju n to d a q u e s tã o . (A. L.)
343 E S T É T IC A

d id o , q u e a re g u la rid a d e em q u e s tã o se T e rm o ra ro em fra n c ê s ; fo i u tiliz a d o


o b s e rv a n o s n ú m e ro s fo rn e c id o s p ela es­ p o r a lg u n s e sc rito res c o n te m p o râ n e o s
ta tís tic a ; m as m u ito m ais fre q ü e n te m e n - (p ro v av elm en te p o r im itação d o term o in ­
te , c o m o se p o d e ver n o ex em p lo c ita d o glês, q u e é de u so c o rre n te ) p a ra d e sig ­
m a is acim a, ela q u e r d iz er m u ito m ais: é n a r o a to d e a p re s e n ta r u m a tese filo s ó ­
e m p re g a d a p a r a su g e rir, o u m e sm o p a r a fic a , u m a d o u tr in a a q u e se a d e re . " M e s ­
d e c la ra r e x p re ssa m e n te , q u e essa re g u la ­ m o d e p o is de te r e s ta tu íd o a lei d o n ú m e ­
rid ad e se o b serv a apenas n o s to ta is o u n as ro e o p rim e iro c o m eç o sem c a u s a que
m é d ia s, e n q u a n to q u e o s e le m e n to s não e ra , a seus o lh o s , a su a im e d ia ta e n eces­
a apresentam. E isso n ã o é tu d o , p o rq u e s á ria c o n s e q ü ê n c ia , R e n o u v ie r p e rm a n e ­
n e ste ú ltim o c aso d u a s h ip ó te se s são a in ­ cera b a s ta n te in c e rto s o b re a q u e s tã o d a
d a possíveis: a. O s elem en to s em q u e s tã o lib e rd a d e h u m a n a .” F. P i l l o n , Annêe
n ã o o b e d ec e m a n e n h u m a lei c o rre s p o n ­ philos., 1913, p. 1 3 1 .0 em p reg o d esta ex­
d e n te a essas re g u la rid a d e s o b s e rv a d a s; p ressão parece ligar-se à id éia n eocriticista
estas são in te ira m e n te d ev id as a o p ró p rio d e q u e h á , em to d o ju íz o , u m a p a rte de
m é to d o e sta tís tic o , isto é, à a d o ç ã o d o c re n ç a e de livre d e cisã o . M as n ã o p e r­
p o n to de vista g lo b al. E las ex p rim em a p e­ ten ce à lin g u ag em c o rre ta .
n as a lei d o s g ra n d e s n ú m e ro s , ta l c o m o
E S T A T U T O (o u S ta tu s) S O C IA L D .
e la se m a n ife sta n o s fe n ô m e n o s de p u ro
A . (Soziaier) Zustand·, B. Statut , Satzung;
a c a s o , p o r e x e m p lo , n a s a íd a d o s n ú m e ­ E . A . ( Social) status; B . Statute ; F . Sta-
ro s n a ro le ta ; b. O s e le m e n to s em q u e s ­ tut (o u Status ) social ; I . A . Stato (sócia-
tã o são , pelo c o n trá rio , a v e rd a d eira fo n te le); B . Statuto.
d as re g u la rid a d e s o b s e rv a d a s , a in d a q u e A . P o r o p o s iç ã o a contrato*, d iz-se
eles p ró p r io s s e ja m irre g u la re s : is to a d ­ d a s relaçõ es legais q u e se e stab elecem e n ­
v ém d o f a to de serem eles d e te rm in a d o s tre o s h o m e n s , n a a u sê n c ia d e to d o a to
p o r c a u sa s m ú ltip la s , s e n d o u m a s a q u ilo de v o n ta d e d a su a p a rte , e a p en a s c o m o
a q u e C o u r n o t c h a m o u “ c a u s a s re g u la ­ c o n se q ü ê n c ia d a s itu a ç ã o q u e o c u p a m n a
res o u p e rm a n e n te s ” , as o u tra s “ c a u sa s o rg a n iz a ç ã o fa m ilia r, p o lític a o u e c o n ô ­
a cid e n ta is o u f o r tu ita s ” c u jo s e fe ito s “ se m ica (h o m e m o u m u lh e r, p a i o u filh o , se­
c o m p e n s a m e d e sa p a re c e m n o re s u lta d o n h o r o u e sc ra v o , c a p ita lis ta o u a s s a la ria ­
m é d io d e u m g ra n d e n ú m e ro d e p r o v a s ” d o , e tc .).
( Teoria dos acasos e das probabilidades , B . C o n ju n to d e te x to s q u e re g u la m a
c a p . IX , § 104). situ a ç ã o de u m g ru p o de in d iv íd u o s , os
P o r e x e m p lo , n o caso de u m d a d o v i­ seus d ire ito s, as su as o b rig a ç õ es, N o p lu ­
c ia d o , o u n o caso d a v a ria ç ã o d iu rn a d o ra l: c o n ju n to de a rtig o s q ue d e fin e m o
b a r ô m e tr o . N este seg u n d o c a s o , as re g u ­ fim e esta b e lec e m nos seus tra ç o s esse n ­
la rid a d es o b serv ad a s são ev id en ciad as p e ­ ciais a o rg a n iz aç ã o de u m a sociedade* (n o
lo m é to d o estatístico , m as n ã o criad as p e ­ sen tid o C ).
las p ro p rie d a d e s d o s g ra n d e s n ú m e ro s : Rad. int.: S ta tu t.
p o r ta n to , é q u a se o in v e rso d a q u ilo q u e
se c h a m a regularidade estatística n o c a ­ E S T É T IC A D . Aesthetik; E . Aesthe-
so p re c e d e n te . tics ; F . Esthétique ; I. Estética.
V ê-se q u a n to e sta s e x p re ssõ es, d e m a ­ C iên cia q u e tem p o r o b je to o ju íz o de
siad o e líp ticas, são p o u c o c laras e se p res­ a p re c ia ç ã o * e n q u a n to se a p lic a à d is tin ­
ta m à c o n fu s ã o . ç ã o e n tre o Belo* e o F e io . A E sté tic a d i­
Rad. int.: S ta tis tik , ta teórica o u geral, q u a n d o se p ro p õ e d e ­
te rm in a r q u a l a c a ra c te rís tic a o u c o n ju n ­
E S T A T U I R D . Statuiren; E . To S ta ­ to de características co m u n s q u e se e n c o n ­
te', F . Statuer; I. Staluire (ra ro ). tra m n a p e rc e p ç ã o de to d o s os o b je -
E S T É T IC O 344

eos q u e p ro v o c a m a emoção estética*, é q u a lid a d e s q u e o te m p e r a m e n to p a r tic u ­

d ita prática o u particular q u a n d o e s tu d a la r d e u m a r tis ta lh e fa r á e s c o lh e r d e p r e ­

as d ife re n te s fo rm a s d e a r te . (O e s tu d o fe r ê n c ia a o u tr a s .” P a u l h a n , L ’esthéti­
d as d ife re n te s o b ra s d e a r te to m a d a s in ­ que du paysage, p . 104.

d iv id u a lm e n te é a Crítica* de arte.) B . R e p re s e n ta r u m o b je to so b u m a
S o b re a d is tin ç ã o e n tre “ E s té tic a ’ 1 e f o r m a e s q u e m á tic a e c o n v e n c io n a l.
“ C iê n c ia d a A r te ” , v e r A rte. “ U m a f o lh a de a c a n to e s tiliz a d a .”
Rad. int.: S tiliz .
C RÍTIC A
E S T IL O D . Stil; E. Style; F . Style-, I.
T e rm o e x tra íd o d o g re g o alad^ats,
Stile.
s e n s a ç ã o , s e n tim e n to , e c r ia d o p o r
E s t é t i c a . A. “ O e s tilo fo i n a A n ti-
B τ Z O; τ 2 Ç I E c o m o títu lo d a s u a Aes-
g ü id a d e u m a p o n t a d e q u e s e s e r v ia m p a ­
thetica (o b ra in a c a b a d a q u e tin h a p o r o b ­ ra g ra v a r p e n sa m e n to s n a cera ; c a d a u m
je to a a n á lis e e a fo rm a ç ã o d o g o s to , te m a su a m a n e ir a d e m a n e ja r o e s tilo ,
F r a n k f u r t, 1 7 5 0 e 1759). N a Crítica da ra­ c o m o ca d a u m d e n ó s tem a s u a le tr a . N o
zão pura, K τ Ç to m o u a p a la v r a n o u tr o
I
s e n tid o f ig u r a d o , o e s tilo é a in d iv id u a li­
sen tid o : ch am o u Transcendentale Aesthe- d a d e e o m o v im e n to d o e s p ir it o , v is ív e is
tik a o e stu d o d a s “ fo rm a s apriori d a sen ­ n a e s c o lh a d a s p a la v r a s , d a s im a g e n s ,
sib ilid a d e (der Sinnlichkeit)” , q u e r d iz er, m a is a in d a n a c o n s tr u ç ã o d a fr a s e , d o p e ­
o te m p o e o e sp a ç o . M a s n a Crítica do r io d o , n o a r a b e s c o c a p r ic h o s o q u e o p en ­

ju ízo ele p r ó p r io ta m b é m a p lic a e sta p a ­ sa m e n to tr a ç a n o seu c u r s o .” S é a i l l e s ,

la v ra a o ju íz o d e a p re c ia ç ã o re la tiv o ao Le génie dans Tart, c a p . V I, p . 2 1 5 .

b e lo e e ste u so d esd e e n tã o p e rm a n e c e u P o r ex ten são , fo rm a s estéticas q u e c a ­


c o n s ta n te . ra c te riz a m u m a é p o c a (s o b re tu d o n a s b e ­
Rad. int.: E s te tik . las-artes): “ O estilo R en a sce n ç a ” ; m a n e i­
r a p e sso a l de u m m ú s ic o , d e u m p in to r ,
E S T É T IC O D . Aesthetisch; E . Aes- de u m e s c u lto r, e tc . “ E m q u a lq u e r s e n ti­
thetic; F . Esthétique; I. Estético. d o q u e se q u e ira e n te n d e r o e stilo p o d e
A . R e la tiv o a o B elo*. C h a m a -s e em re a liz a r-se a í (n a p a is a g e m ). T o d o b o m
p a rtic u la r Emoção estética a u m c e rto es­ a rtis ta te m a s u a ‘e s c rita ’ p e sso a l, as su as
ta d o sui generis, a n á lo g o a o p r a z e r , a o asso ciaçõ es fa v o rita s d e lin h a s e d e c o res,
a g ra d o , a o s e n tim e n to m o ra l m a s q u e n ã o o seu m o d o p e sso a l d e r e p re s e n ta r a r e a ­
se c o n fu n d e c o m n e n h u m d eles e c u ja lid a d e , d e tra d u z i-la o u criá-la; e ta m b é m
a n á lise é o o b je to d a Estética e n q u a n to u m a té c n ic a p a r tic u la r . P o r ta n t o , p o r is­
ciên cia. C h a m a -s e , d a m e sm a fo r m a , ju í­ s o , te m u m e s tilo .” P τ Z Â τ Ç , L ’esthé­ 7

zo estético a o ju íz o d e a p re c ia ç ã o * e n ­ tique du paysage, p . 104.


q u a n to se re fe re a o B elo . A p lic a d o a lg u m a s vezes à m a n e ira de
B . Q u e a p re se n ta u m c a r á te r d e b eleza a p r e s e n ta r u m a c iê n c ia , u m a d o u tr in a :
(em p a rtic u la r d e b eleza a rtific ia l e co n s­ “ M as q u a n to à q u ilo d e q u e n ã o tin h a c o ­
n h e c im e n to su fic ie n te p a r a fa la r a re sp e i­
cien te). E s te u s o n ã o n o s p a re c e c o rre to .
to n o m e sm o e s t i l o ...” D è T τ 2 è , M é­ E I E

E S T IL IZ A R D . Stüisieren; E . To todo, V , 4 . “ N ã o s ã o as fig u ra s q u e d ã o


style; F . Styliser, I. Stilizzare. a p ro v a e n tre o s g e ó m e tra s , e m b o ra o es­
E è é « T τ . A . T r a d u z ir n u m estilo d e­
I I tilo e c té tic o 1 o fa ç a c r e r .” L « ζ Ç« U , N o ­ E

te rm in a d o (n o se n tid o A ). “ E stilizar u m a vos ensaios, IV , I, 9.


p a isa g e m s e rá , p o r ta n to , e x p rim ir-lh e es­
p e c ia lm e n te u m a q u a lid a d e o u a lg u m a s 1. Ver Ectese.

S o b re E s tilo — T e x to d e L e ib n iz in d ic a d o p o r C . J . Webb.
34S E S T R IT O

N u m s e n tid o la u d a tiv o : E S T IM A T IV A V er Suplem ento.


B . C a r á te r d e u m a o b r a c u jo e stilo ,
E S T ÍM U L O D . Stim ulus, Reiz; E .
n o s e n tid o A , a p re s e n ta q u a lid a d e s a rtís ­
Stimulus; F . Stimulus; I. Stim olo.
ticas: “ O estilo é u m a h a r m o n ia .., O v er­
A ç ã o física q u e p õ e e m a ç ã o as re a ­
d a d e ir o e stilo n â o é n e m u m a c la rid a d e
çõ es d e u m s e r v iv o . D iz-se m a is p a r tic u ­
b a ç a e f r ia q u e n ã o d iz n a d a à a lm a , n e m
la rm e n te d o s fe n ô m e n o s físicos q u e p õ e m
u m tu m u lto d e im a g e n s e d e m o v im e n ­
em a ç ã o o s ó rg ã o s se n s o ria is . V . E G G E R
to s q u e n ã o d iz n a d a à in te lig ê n cia; ele f a ­
p re fe ria v er e s tím u lo s u b s titu íd o p e la p a ­
la às d u a s , a c a d a u m a su a lin g u a g e m , o u
la v ra Excitante (c f. Excitação).
a n te s , e l e f a l a a o h o m e m .” B e r s o t ,
R ad. int.: S tim u li.
Pensées ( Un mor aliste), p . 356.
C . (s o b re tu d o a o fa la r d a s b e las- E S T O C Á S T IC O V e r Suplemento.
a rte s ). “ F o r a d e ste s d iv e rso s e stilo s, q u e
E S T O IC IS M O D . A . Stoa, Stoicis-
s ã o c a m b ia n te s n a m a n e ira de se n tir e f o ­
m us ; B . Stoicismus ; E. Stoicism; F. Stõi-
r a m c o n s a g ra d o s p elo s g ra n d e s m e stre s,
cisme; I. A . Stoa, stoicismo; B . Stoi-
h á a lg o d e g e ra l e d e a b s o lu to a q u e se
cism o .
c h a m a o estilo. D o m e sm o m o d o q u e um
A . E sc o la filo só fic a d e Z E ÇÃ d e Ci-
estilo é o selo d e ta l o u ta l h o m e m , o es­
tiu m , CÂ E τ ÇI Ã , C 2 « è « ú Ã, SÇ Tτ
E , Eú « T
tilo é a m a rc a d o p e n s a m e n to h u m a n o n a
IE I Ã , Mτ 2 TÃ AZ 2 é Â « Ã , etc.
n a tu r e z a ... É o c o n trá rio d a re a lid ad e p u ­
B . C a r á te r m o ra l d o s á b io s e g u n d o o
ra , é o id e al: o p in to r d e e stilo vê o la d o
e sto ic is m o ; p a r tic u la r m e n te , in d ife re n ç a
g ra n d e , m e sm o d a s p e q u e n a s c o isa s; o à d o r , firm e z a d e a lm a e m o p o s iç ã o a o s
im ita d o r re a lista vê o la d o m e sq u in h o , m ales d a v id a .
m esm o d a s g r a n d e s .” C h . B l a n c , Rad. int.: S to icism .
Grammaire des arts du dessin, P rin cíp io s,
§ 4 , 2 ? e d ., p . 2 1 . G . S é a i l l e s c ritic o u E S T O P S I C O L O G I A C iê n c ia d a s
v iv am en te e sta n o ç ã o d e u m estilo u n iv e r­ o b r a s d e a r te c o n s id e ra d a s c o m o d o c u ­
sal e a b s o lu to a ssim c o m o a p re te n s ã o de m e n to s p sico ló g ico s d o s seu s a u to re s o u
c o n d e n a r u m a o b r a s o b p re te x to d e q u e d o p ú b lic o q u e as a d m iro u . H E ÇÇE I Z « Ç ,
e la “ n ã o te m e s tilo ” . O p õ e a e s ta id éia A crítica científica (1888). E s ta ex p re ssão
a d o e stilo p e ss o a l de c a d a a r tis ta , q u e é n ã o p a re c e te r e n tr a d o n o u s o c o rre n te .
a e x p re ssã o d o seu c a r á te r e d a s u a m a ­
E S T R A T É G I A V er Suplem ento .
n e ira d e s e n tir. L e génie dans Vari, c a p .
V I, 216 -2 2 1 . E S T R IT O D . Streng; E . Strict; F .
Rad. int .: S til. Strict; I. Stretto.

S o b re E strito s (deveres) — C h a m o estritos o u estreitos a o s d ev eres q u e d e te rm in a m


a té a o s p o rm e n o re s a a ç ã o q u e p rescrev em , amplos àq u eles q u e a p e n a s p o d e ria m p res­
crever u m fim , ele p ró p rio in c o m p le tam en te d e te rm in a d o , e d e ix am a o ag en te u m a p a rte
d e in ic ia tiv a e d e esco lh a. E s ta in iciativ a c o n ce rn e à esco lh a d o s m eio s, m u ita s vezes
ta m b é m à e sp ecialização d o fim , p o rq u e c a d a a g e n te le v a n e ce ssa ria m e n te e m co n sid e­
ra ç ã o as su as a titu d e s , o s m eio s d e q u e d isp õ e e as c irc u n stâ n c ia s d a a ç ã o .
O s d ev eres p o d e m s e r m a is o u m e n o s e stre ito s. O d e v e r d e p a g a r a s d ív id a s é c o m ­
p le ta m e n te e s tre ito e d ev e-se p a g a r a ta l p e ss o a ta l s o m a , ta l d ia , s o b ta l f o r m a (p o r
e x e m p lo , e m ta l m o e d a ). M a s se u m a m ig o m e e m p re s to u d in h e iro d iz e n d o : “ P a g u e
q u a n d o p u d e r ” , fic o s e n h o r d a é p o c a d o p a g a m e n to . O m o m e n to e m q u e liquidarei
a m in h a d iv id a é e n tre g u e à m in h a a p re c ia ç ã o .
E S T R IT O 346

E stre ito , rig o ro so , e x ato . A lg u m as ve­ q u e n ã o c o rre s p o n d e m a d ire ito s n estes


zes u s a d o c o m o s in ô n im o d e puro e sim ­ ú ltim o s . “ O s d ev eres d e ju s tiç a s à o q u a ­
ples (D . bloss). D iz-se “ d e d ire ito e s tr i­ se to d o s n e g a tiv o s , e s trito s e d e te r m in a ­
t o ” , e m m a té r ia ju r íd ic a : 1?, a q u ilo q u e d o s . P o d e m -s e e x ig ir p e la fo r ç a . S ã o im ­
se te m o d ire ito d e re c la m a r em v irtu d e p o s to s e s a n c io n a d o s p ela lei c iv il.” E .
d e u m a lei o u de u m c o stu m e in d u b itá ­ B Ã « 2 τ T , Curso de filosofia, M o ra l, c ap .
veis, p o r o p o s iç ã o à q u ilo q u e se o b té m V , § 8. N e ste c a s o , a e x p re ssã o liga-se d i­
a p e n a s em v irtu d e de u m a to le râ n c ia o u re ta m e n te a o p rim e iro d o s d o is sen tid o s
de u m a to b en eficen te; 2?, a q u ilo q u e n u ­ ju ríd ic o s d is tin g u id o s a c im a .
m a re g ra de d ire ito n ã o a d m ite e x ten sã o 2? Servem p a ra re p re se n ta r a distinção
p o r a n a lo g ia : “ E x c e p tio stricti (o u : stric- en tre os deveres c u jas ap licaçõ es sào p re ­
tissim i) jú r is e s t.” cisas, bem d e te rm in a d a s , e aq u eles cu jas
C h am a-se m u ita s vezes a o s d ev eres d e ap licaçõ es c o n tê m u m elem en to de a p re ­
ju s tiç a deveres estritos e a o s d ev eres d e ciaç ã o pessoal im possível d e fix ar. “ M an
b e n e fic ê n c ia o u d e c a r id a d e deveres am ­ sieht leicht d ass die e rste re d er stren g en
p lo s . E s ta s ex p re ssõ es e n te n d e m -s e em o d e r en g eren (u n n ach lässlich en ) P flic h t,
d o is s e n tid o s: die zw eite n u r der w eiteren (verdienstlichen)
1? S erv em p a r a re p re s e n ta r a d is tin ­ P flic h t w id e rs tre ite .” 1 K τ Ç , Grundle-
I

ção e n tre o s d ev eres exigíveis, p o rq u e sã o


c o rre la tiv o s d e d ire ito s n a q u e le s q u e sã o I “ Vê-se facilmente que a primeira é contrária ao
o seu o b je to , e os d e v eres n ã o ex igív eis, i dever estrito ou estreito (rigoroso), a segunda apenas

S ão e stre ito s os d ev eres negativos, p o rq u e h á a p e n a s u m a m a n e ira de se c o n f o r ­


m a r a u m a lei de p ro ib iç ã o , e, e n tre o s d ev eres p o s itiv o s , aq u ele s q u e re s u lta m de
u m compromisso c o n tr a íd o , e sc rito o u v e rb a l, fo rm a l o u tá c ito . M u ita s m a n e ira s
de ag ir c o m p ro m e te m o fu tu r o e tr a n s f o r m a m u m d e v er q u e in ic ia lm e n te e ra la to
n u m d ev er e s tr ito .
— p re scriçõ e s g e ra is A m p lo s

Í — p re sc riç õ e s d e fin id a s p o r u m c o m p ro m is s o |

c o n tr a íd o , e sc rito o u v e rb a l, fo rm a l o u tá c ito · E s trito s


N e g ativ o s — p ro ib iç õ e s I
E s ta m a n e ira d e e n c a ra r os d e v eres a f a s ta trê s o p in iõ e s m u ito d ifu n d id a s q u e im ­
p lic a m c o n tra d iç ã o :
1 ? A c o n sc iê n c ia te m e x ig ên cias m e n o s rig o ro s a s re la tiv a m e n te a o s d e v eres a m ­
p lo s — o q u e im p lic a a n o ç ã o im p o ssív el d e f o r m a r , p o r q u e c o n tr a d itó r ia , d e dever
facultativo. O s d ev eres a m p lo s n ã o s ã o m e n o s im p e rio s o s , sào m e n o s d e fin id o s .
2? A to d o d e v er e s tr ito c o rre s p o n d e u m d ire ito ; a o d ev er a m p lo n ã o c o rre s p o n d e
n e n h u m d ire ito . E s ta o p in iã o é c o n tr a d itó r ia , p o r q u e n ã o se p o d e ria d e riv a r o d ev er
e o d ire ito d e d o is p rin c íp io s d ife re n te s : eles s à o u m e o o u tr o a e x p re ss ã o d a justiça ,
q u e é u n a . D ire ito e d e v e r sã o u m a só e m e sm a re la ç ã o ; a m e sm a a ç ã o ju s ta é u m
d e v e r p a r a a q u e le q u e a fa z e u m d ire ito p a r a a q u e le q u e a rec eb e . A o s d ev eres e s tri­
to s c o rre s p o n d e m d ire ito s ex ig ív eis; a o s d e v e re s a m p lo s c o rre s p o n d e m ta m b é m d i­
re ito s , m a s a re iv in d ic a ç ã o é d ifíc il, p o rq u e n ã o se p o d e ria d e fin ir, sem v io le n ta r a
lib e rd a d e in d iv id u a l, n em q u a l a ç ã o d ev e ser e x e c u ta d a , nem q u e m a d ev e e x e c u ta r.
3? O s d ev eres d iv id em -se em d e v eres d e ju s tiç a e d ev eres de c a r id a d e . T o d o d ev er
a m p lo te n d e a r e p a r a r a lg u m a in ju s tiç a o u a re a liz a r a lg u m a f o r m a s u p e r io r d a ju s ti­
ç a . L o g o , a ju s tiç a e n v o lv e a c a r id a d e . S e n d o a ju s tiç a u m a o r d e m , q u e re r f a íe r m e ­
lh o r q u e a ju s tiç a seria a d m itir q u e o in ju s to p o d e ser b o m . ( £ . Qoblot )
347 E S T R U T U R A L (P sicolo gia)

gun g zu rM et. der Sitien, 2? p a r te , p . 59. A . D isp o sição d a s p a rte s q u e fo rm a m


“ C e rta m e n te n ã o se p o d e d iz e r q u e n ã o u m to d o , p o r o p o s iç ã o à s s u a s fu n ç õ e s.
s e ja o b r ig a tó r io ser c a rid o s o . M as esta D iz-se p a rtic u la rm e n te : l f , em B« ÃÂ Ã ­
o b rig a ç ã o e s tá lo n g e d e ser tã o p re c isa , ; « τ , d a c o n s titu iç ã o a n a tô m ic a e h is to ­

tã o in flex ív el c o m o a o b rig a ç ã o d e se ser ló g ic a , p o r o p o s iç ã o a o s fe n ô m e n o s fisio ­


j u s t o ... P a r a a ju s tiç a , a f ó r m u la é c la ra : ló g ic o s; 2 ? , e m P è « TÃÂ Ã; « τ , d a c o m b i­
re s p e ita r os d ire ito s d o o u tr o . M as a c a ­ n a ç ã o d o s e le m e n to s q u e a v id a m e n ta l
rid a d e n ã o c o n h e c e n e m re g ra n e m lim i­ m a n ife s ta , c o n s id e r a d a d e u m p o n to de
te. U ltra p a s s a to d a o b rig a ç ã o . A s u a b e­ v ista re la tiv a m e n te e stá tic o : p o r ex em p lo ,
leza e s tá p re c isa m e n te n a su a lib e r d a d e .” d ife re n te s p la n o s d a c o n sc iê n c ia , o u d a
V. C ÃZ è « Ç , Do verdadeiro, do belo e do p re d o m in â n c ia d e sta s o u d a q u ela s fo rm as
bem, lição X V . (E s ta lição c o n té m , aliá s, in te le c tu a is .
ta m b é m , n a p á g in a p re c e d e n te , a d is tin ­ B . N u m s e n tid o esp ecial e n o v o ,
ç ã o m u ito n ítid a d o s d ev eres q u e c o rre s ­ e m p re g a -se , p e lo c o n tr á r io , p a r a d esig ­
p o n d e m a o s d ire ito s d o o u tr o , e d o s q u e n a r , p o r o p o s iç ã o a u m a sim p les c o m b i­
n ã o c o rre s p o n d e m .) n a ç ã o d e e lem en to s, u m to d o f o r m a d o de
V er Caridade, Justiça, A m p lo s * de­ fe n ô m e n o s s o lid á rio s , ta is q u e c a d a u m
veres. d e p e n d e d o s o u tr o s e só p o d e s e r o q u e
é n a e p e la s u a re la ç ã o c o m eles. E s ta id éia
Im p lic a ç ã o e s tr ita o u n o sen tid o estri­
é o c e n tr o d a q u ilo q u e se c h a m a ta m b é m
to E m L ó ; « Tτ , d iz -se d a im p lic a ç ã o ’" a te o r ia d a s f o r m a s (D . Gestalttheorie e es­
q u e ta m b é m se c h a m a “ f o r m a l” , isto é, p e c ia lm e n te Gestaltpsychologie ; v e r For­
n a q u a l a p ro p o s iç ã o im p lic a n te e a p r o ­ ma). C f. ta m b é m H E Çá E 2 è ÃÇ , “ A fin a ­
p o s iç ã o im p lic a d a c o n tê m u m a o u v á ria s lid ad e d o m e io c ó sm ico ” , Bulletin d a S o ­
v a riá v eis c o m u n s , e n a q u a l a re la ç ã o c ie d a d e d e F ilo s o fia , a b ril d e 1921.
p D q é v e rd a d e ira p a r a to d o s o s v a lo re s C . N u m sentido an álo g o a o p recedente,
d e ssa s v ariá v eis. E s ta e x p re ss ã o fo i c ria ­ o rie n ta ç ã o d e c o n ju n to q u e d o m in a u m a
d a p o r C . I. LEW is, em A Survey o f m e n ta lid a d e e a o rg a n iz a à v o lta d e u m a
Sym bolic Logic, 1918. idéia d iretiv a de v alo r. P o r exem plo, segun­
Rad. int.: S tr ik t. d o Sú 2 τ Ç; E 2 , Ã esp írito esp ecu lativ o , o
E S T R U T U R A D . Struktur em to d o s esp írito e stético , o esp írito eco n ô m ico , o
o s s e n tid o s; Gestalt n o s e n tid o B; E . esp írito so ciáv el, o esp írito d e a u to rid a d e ,
Structure em to d o s o s s e n tid o s; Pattern o e sp írito relig io so . V er Suplemento.
n o s e n tid o B; F . Structure·, I. Struttura. Rad, int.: S tr u k tu r .
ESTRUTURAL (P s ic o lo g ia ) E .
Structural psychology , te rm o m u ito u su al
ao dever am plo (m eritório ).” (T rata-se dos dois ca­ e n tre o s p sic ó lo g o s a m e ric a n o s c o n te m ­
sos em que a m áxima de um a ação não pode ser eri­
gida em lei universal: 1?, porque é impossível conce­ p o r â n e o s , q u e a o p õ e m à functional
ber sem contradição que assim seja; 2?, porque é im ­ psychology, p s ic o lo g ia fu n c io n a l* ; F .
possível querer um a natureza conform e a esta lei.) Psychologie structurale.

S o b re E s tr u tu r a — A rtig o re d ig id o s e g u n d o as in d ic a ç õ e s de Éd, Claparède.


N o ta r-s e -á a o p o s iç ã o e n tre o s e n tid o B d e estrutura e o u so d e s ta p a la v r a n a ex ­
p re s sã o psicologia estrutural*.
M . Mτ Z è è {Annales sociologiques, II, 129) d is tin g u e n a s s o c ie d a d e s: 1?, e s tr u ­
tu r a s e sp a c iais (o s n e g ro s, c h in ese s, ita lia n o s , n u m a g r a n d e c id a d e a m e ric a n a ); 2 f ,
e s tr u tu r a s im a te ria is (as classes d e id a d e , a o rg a n iz a ç ã o m ilita r); 3 f , e s tr u tu ra s m is ­
ta s (o s clãs n a tr ib o ) . N ão h a v e ria m o tiv o s p a r a generalizar e p re c is a r e sta s d is tin ­
çõ es? (A/. Marsal)
E T E R N ID A D E 348

A p sico lo g ia e stru tu ra l, c h a m a d a ta m ­ fatione, 5. “ N o n te m p o ris sin e fin e su c-


b é m “ e s tr u tu r a lis m o ” , é a q u e la q u e tem cessio sed n u n c s ta n s .” H o b b e s , Levia-
p o r m é to d o re so lv e r os fe n ô m e n o s p s ic o ­ than , 46. “ A b s o lu te Z e itlo s ig k e it” (In -
ló g ico s n o s seu s e le m e n to s (se n sa çõ e s, te m p o r a lid a d e a b s o lu ta ) . H e g e l . V er
im a g e n s, te n d ê n c ia s , e tc .) e d e te rm in a r- Eisler, Vo.
lh es as “ d im e n s õ e s ’' (in te n s id a d e , d u r a ­ Rad. int .: E te rn .
ç ã o ). “ A p sic o lo g ia e s tr u tu r a l é a n a líti­ É T IC A G . ’ 1101X17; L . Ethica", D .
c a ; fa z in c id ir o seu o lh a r s o b re a c o m ­ E ih ik ; E . Ethics ; F . Éthique; I. Etica.
p o sição d o s p ro cesso s m en tais e, se se tr a ­ C iê n c ia q u e te m p o r o b je to o ju íz o d e
t a r d e u m a o p e ra ç ã o m e n ta l, d e u m a a ti­ a p re c ia ç ã o * , e n q u a n to este se ap lica à d is­
v id a d e , s o b re a té c n ic a d e ssa a tiv id a d e . tin ç ã o e n tre o bem * e o m a l.
In te re s sa -s e p e lo como d o s fe n ô m e n o s ,
C RÍTIC A
p e lo s seus m a q u m is m o s i n t e r n o s . . . " É d .
C l a p a r è d e , Psychoíogie de Venfant , 5 ? H is to ric a m e n te a p a la v r a Ética fo i
e d ., p . 120. a p lic a d a à M o ra l s o b to d a s as su a s f o r ­
m a s , q u e r c o m o c iê n c ia , q u e r c o m o a r te
E T E R N ID A D E D . Ewigkeit ; E . Eter- d e d irig ir a c o n d u ta . “ A É tic a p o lític a
nity, F . Éternité ; I. Eternità. te m d o is o b je to s p rin c ip a is : a c u ltu r a d a
A . D u ra ç ã o in d e fin id a . E s te s e n tid o n a tu r e z a in te lig e n te , a e d u c a ç ã o d o p o ­
p rim itiv o é o m e n o s u s a d o e m filo s o fia . v o .” D « á E 2 ÃI , Opiniões dos antigos f i ­
B . C a r a c te rís tic a d o q u e e stá f o r a d o lósofos, e m L « I I 2 é , V o. “ P h ilo s o p h ia
te m p o . “ S e m p ite rn ita s e t a e te rn ita s d if- m o ra lis siv e E th ic a est s c ie n tia p ra c tic a ,
fe ru n t: N u n c enim stan s e t p e rm a n e n s ae- d o c en s m o d u m q u o h o m o lib ere a c tio n e s
te rn ita te m fa c it; n u n c c u rre n s in te m p o - su as a d leg em n a tu r a e c o m p o n e re p o -
re s e m p ite r n ita te m ." B o e c i o , De conso- te s t.” W ÃÂ E E , Ethica, 1 , 1. M e sm a sig n i-

S o b re E te rn id a d e — H á d u a s c o n c e p ç õ e s d e e te r n id a d e : te m p o ra l e in te m p o ra l.
A s e g u n d a d e riv a in d u b ita v e lm e n te d a p rim e ir a , p o is é a id éia de u m a d u r a ç ã o lib e r­
ta de to d a s as c a r a c te rís tic a s esp e c ífic as d a d u r a ç ã o , “ d u r a d o t o t a s im u l” . C f . AE-
vu m , d u ra ç ã o d e o n d e aetas e aeternus (p o r aevitas aeviternus), B r e a l , Dict. etym.
latin, Vo. B o e c i o d e fin e u m a e o u tra : “ U m a coisa é p e rc o rre r su cessiv am en te as p a r ­
te s de u m a e x istên c ia sem te r m o , o q u e P la tã o e A ris tó te le s a trib u e m a o m u n d o ; o u ­
t r a c o isa é a b a r c a r u m a e x istên c ia in fin ita in te ira ig u a lm e n te p re s e n te , o q u e é p r ó ­
p rio d a D iv in d a d e ,” De consolatione , V . A su a d e fin iç ã o d a e te r n id a d e d e D eu s foi
a d o ta d a e r e p r o d u z id a p o r S. T o m á s q u e fo i se g u id o p o r to d o s os m e ta fís ic o s e sp i­
ritu a lis ta s e p o r S e c r e t a n , m a s a e te rn id a d e te m p o r a l, q u e é a d o m u n d o p a r a os
d e fe n so re s a n tig o s e m o d e rn o s d e u m m u n d o n e c e ssá rio e sem c o m e ç o , é ta m b é m
a d o D e u s p e ss o a l p a r a D u n s S c o t e p a r a J. L e q u i e r . S e g u n d o e ste , “ a su cessão
d as co isas lev a a s u a s o m b ra a té s o b re D e u s ” , s e n ã o D eu s n ã o v e ria a s u a o b r a tal
c o m o a e x e c u ta ra . P r e f e r in d o , p a r a u m D eu s p e s s o a l, livre e c r ia d o r a e te rn id a d e
in te m p o ra l, S e c r e t a n fo i in c o n se q u e n te se g u n d o P i l l o n : “ É c o n tr a d itó r io a trib u ir
a e te rn id a d e s im u ltâ n e a a u m D e u s q u e c rio u o m u n d o , q u e o c o n h ec e e o a m a .”
A liá s, a e te r n id a d e assim e n te n d id a é a id é ia d o te m p o e s v a z ia d a d e to d o c o n te ú d o ,
id éia c o n tr a d itó r ia e in in telig ív el. V er P i l l o n , Laphilosophie de Secrétan, 1898, p p .
155-165. ( K Egger)

S o b re É tic a — História. A p a la v ra d ev e te r tid o p rim itiv a m e n te u m s e n tid o re s­


trito : c f. A ris tó te le s , d is tin ç ã o e n tre àger?) t}(h k r j e o i q c t i i Ò tai>o7)TixTÍ ( Éti. N icõm .,
p rin c íp io d o liv ro II e V ), V er Bonitz, p a rtic . 3 1 6 a 19-30. ( J . Lachetier)
349 E T IO L O G ÍA

fic a ç ã o n o n o m e d e Sociedades éticas q u alificad o s co m o b o n s o u m au s. É o q u e


(Ethical societies) in g lesas e a m e ric a n a s. p r o p o m o s c h a m a r Ética. C o m e fe ito ,
A Oú è 2 E a p lic o u e s ta p a la v r a , p e lo c o n ­ q u a lq u e r h ip ó te s e q u e se a d o te s o b re a
trá rio , à m o ra l d escritiv a (ciência d o s co s­ o rig em e a n a tu re z a do s p rin cíp io s d a m o ­
tu m e s) e m o p o s iç ã o à m o r a l p re sc ritiv a ra l, é c e rto q u e o s ju íz o s de v a lo r q u e tr a ­
(ciên cia d o q u e é p reciso sa b e r) à q u a l ele ta m d a c o n d u ta s ã o fa to s c u ja s c a ra c te ­
d a v a o n o m e d e Telesiologia (Ensaio so­ rísticas cab e d e te rm in a r e q u e o e stu d o d a
bre a filosofia das ciências, 2? p a r te , seç. c o n d u ta n ã o p o d e ser s u b stitu íd o p elo es­
C , n ? 3 e 4). H . S ú Ç T 2 E E e n te n d e d a tu d o d ire to d e s ta s , p o rq u e a c o n d u ta d o s
m e sm a m a n e ira a É tic a c o m o u m f r a g ­ h o m e n s n em s e m p re é c o n fo rm e c o m os
m e n to d e u m to d o d e q u e e la é in s e p a rá ­ seu s p ró p r io s ju íz o s s o b r e o v a lo r d o s
vel e q u e é o e s tu d o d a c o n d u ta u n iv e rsal a to s . S em d ú v id a a c o n te c e q u e , d e f a to ,
(Data o f Ethics, c a p . I). D a í r e s u lta q u e as q u e stõ e s d e M o ra l e as d e É tic a , assim
n o u so v u lg a r e s ta p a la v r a se ja u tiliz a d a d e fin id a s , s e ja m fr e q u e n te m e n te m is tu ­
ta n to n u m s e n tid o c o m o n o u tr o e o m ais r a d a s , m a s isso n ã o ex clu i u m a d is tin ç ã o
d a s vezes co m o m e sm o se n tid o v ag o q u e m u ito n ítid a d a s su as d e fin iç õ e s.
a p a la v r a m o ra l. Rad. i n t E tik .
P a re c e q u e h á a q u i trê s c o n c e ito s d is­ E T IO L O G IA D . Aetiologie ; E . E tio­
tin to s a s e p a ra r: logy; F . Etiologie; 1. Etiologia. (T e rm o
1? A M oral, q u e r d iz e r, o c o n ju n to d e o r ig e m m é d ic a .)
d a s p re sc riç õ e s a d m itid a s n u m a é p o c a e A . I n v e s tig a ç ã o o u te o r ia d a s c a u sa s
n u m a so c ie d a d e d e te r m in a d a s , o e s fo rç o d e u m a c la s s e d e te r m in a d a d e e f e it o s e e s ­
p a r a c o n fo rm a r-s e a essas p re s c riç õ e s, a p e c ia lm e n te : 1? , em b io lo g ia , e s tu d o d a
e x o rta ç ã o a seg u i-las. g ên ese d o s ó r g ã o s , f u n ç õ e s , fa c u ld a d e s ;

2? A c iê n c ia d e f a to q u e te m p o r o b ­ 2? , em p a to lo g ia , e stu d o d a s ca u sa s d e

je to a c o n d u ta d o s h o m e n s (o u m e sm o , u m a d o e n ç a , d e u m a a n o m a lia , e t c ,; 3 ? ,

seg u n d o S p e n c e r , d o s seres vivos e m g e ­ em h is tó r ia , “ a n á lis e e d is c u s s ã o d a s c a u ­


ra l), a b s tr a ç ã o fe ita d o s ju íz o s d e a p re ­ sa s o u s é r ie s d e c a u s a s q u e c o n c o r r e r a m

c ia ç ã o q u e d irig em o s h o m e n s n e ssa c o n ­ p a r a s e c h e g a r a o s a c o n te c im e n to s d e q u e

d u ta . P r o p o m o s c h a m á -la Etografia* o u a h is tó r ia o fe r e c e o q u a d r o ” . C o u r n o t ,

Etologia*. Considerações sobre a marcha das idéias,


3? A ciência q u e to m a p o r o b je to im e­ liv r o I, ca p . I: “ D a e t io lo g ia m o d ern a e

d ia to os juízos d e a p re cia ç ão so b re o s ato s d a filo s o fia d a h is t ó r ia .”

O s filó so fo s esp eculativos alem ães q u e seguem K a n t te n d em a s e p a ra r Ética e Moral


e a c o lo c a r a p rim e ira a c im a d a o u tr a . ST7 E Â Â « Ç; : “ A m o ra l em g e ra l c o lo c a um
im p e ra tiv o q u e só se d irig e a o in d iv íd u o , e exig e a p e n a s a a b s o lu ta p e rs o n a lid a d e
(Selbstheif) d o in d iv íd u o ; a É tic a c o lo c a u m im p e ra tiv o q u e s u p õ e u m a s o c ie d a d e
d e seres m o ra is e a ss e g u ra a p e rs o n a lid a d e d e to d o s o s in d iv íd u o s a tra v é s d a q u ilo
q u e e la exige d e c a d a um d e le s .” Œ uvres, I, 252. P a r a H ;  , M oral d e sig n a d e
E E

p re fe rê n c ia o d o m ín io d a in te n ç ã o s u b je tiv a , e Ética o re in o d a m o r a lid a d e ( SittUch-


keif). (R. Euckeri)
S o b re a C rític a . Hém on p r o p õ e q u e se c h a m e “ moral a t o d a a d o u tr in a q u e p re ­
te n d a f u n d a r s o b re p rin c íp io s te ó ric o s u m a te le o lo g ia id e al e u m a o b rig a ç ã o ; ética,
a to d a d o u tr in a n a tu r a lis ta sem p rin c íp io s e sp e c u la tiv o s n e m o b rig a ç ã o m ís tic a ” . A
n o ta q u e ele re d ig iu s o b re e ste a s s u n to fo i lid a n a sessã o d a S o c ie d a d e d e F ilo s o fia
(8 d e j u n h o d e 1905). A S o c ie d a d e n ã o a p r o v o u esse s e n tid o e a d o to u p o r u n a n im i­
d a d e a p r o p o s ta c o n tid a n a C rític a ta l c o m o foi m o d if ic a d a a p a rtir das o b s e rv a ç õ e s
d e J. Lachetíer e V. Egger.
E T N O G R A F IA 350

B . Por abuso e impropriamente, c o n ­ tip o s d e c a ra c te re s q u e se p o d e m o b s e r ­


ju n to d a s c a u s a s d e u m fe n ó m e n o . v a r e x p e rie n c ia lm e n te . A tra v é s d a s a p li­
Rad. int.: A . E tio lo g i; B . K a u z a r. c aç õ e s p rá tic a s q u e d a í re s u lta r ia m im e ­
d ia ta m e n te , a E to lo g ia d a r ia , além d isso ,
E T N O G R A F IA D . Ethnographie ; E .
u m fu n d a m e n to c ie n tífic o à a r te d a e d u ­
Ethnography ; F. Ethnographies I. E tno­
c a ç ã o ( L ó g ic a , liv ro V I, c a p . V ).
grafia.
B . WZ ÇáI CL ó g ic a , I I , 2 , 369) e n te n ­
D e sc riç ã o d o s d iv e rso s p o v o s , d o seu
d e p o r E to lo g ia , à q u a l c o n s a g ra u m c a ­
g ê n e ro d e v id a e d a s s u a s in s titu iç õ e s.
p itu lo e sp e c ia l, a c iê n c ia q u e te m p o r o b ­
Rad. int.: E tn o g r a f i.
je to o e s tu d o h is tó ric o “ d e r sitte n u n d s it­
E T N O L O G IA D . Ethnologies E . E th­ tlic h e n V o rs te llu n g e n ” (d o s c o s tu m e s e
nology \ F . Ethnologies L Etnologia. d a s re p re s e n ta ç õ e s m o ra is ). E la fo r m a ,
E s tu d o e x p lic a tiv o d o s fe n ô m e n o s d e p o is d a c iê n c ia d a s lín g u a s e d a m ito ­
d e sc rito s p e la e tn o g r a f ia . lo g ia, a terceira d ivisão d a s “ p h ilo lo g isch ­
Rad. int.: E tn o io g t. h is to ris c h e n W is s e n s c h a fte n ” . E ste se n ­
tid o fo i a d o ta d o p o r A . B ay et: “ A e to ­
E T O G R A F I A D . Ethographias E .
lo g ia é a c iê n c ia d o s f a to s m o r a is .” La
Ethographys F . Éthographies I. B io ­
grafía, Science d e s f a i t s m o r a u x , p. 1.
E s t e t e r m o é u t i l i z a d o p e lo s C . E m v á rio s p sicó lo g o s c o n te m p o râ ­
a n tro p ó lo g o s * p a r a d e sig n a r o e s tu d o n e o s e s ta p a la v r a d e sig n a a p s ic o lo g ia d a
d escritiv o d o s u so s e c o stu m es. S eria b o m re a ç ã o , ta l c o m o a c o n c e b e o behavio-
g e n e ra liz á -lo a p lic a n d o -o a o e s tu d o d es­ rismo*. V er p a rtic u la rm e n te Bulletin de
c ritiv o de to d a a c o n d u ta h u m a n a e n ­ rin stitu t Psychologique , ja n e ir o d e 1902
q u a n to e sta c iên c ia é d is tin ta d a É tic a . (sessão d e 7 d e d e z e m b ro d e 1903).
Rad. int.: E to g r a f i. CRÍTICA
E T O L O G IA D . Ethologies E . E tho­ A c h a m o s q ue o s e n tid o B d ev e s e r re ­
logy’s F . Ethologies I. Etologia. tid o , o p o n d o -o , p o r u m la d o , à Moral c o ­
A . J . S, M « Â Â c rio u e sta p a la v r a p a ­ m o c o n ju n to d a s p re sc riç õ e s q u e se im ­
r a d esig n ar a ciência d e d u tiv a das leis q ue p õ e m à c o n sc iê n c ia m é d ia de u m a s o c ie ­
d e term in a m a fo rm a ç ã o d o c a rá te r. C o m ­ d a d e e d e u m a é p o ca d e te r m in a d a , e, p o r
p re e n d e , s e g u n d o ele, d u a s o p e ra ç õ e s in ­ o u tr o , à É tic a e n q u a n to c iên c ia d o s j u í ­
v ersas: 1?, d e d u z ir d a s leis p sico ló g ica s zo s d e a p re c ia ç ã o s o b re o s a to s q u a lif i­
c o n h e c id a s o s e fe ito s g e ra is q u e as d ife ­ c a d o s c o m o b o n s o u m a u s. A E to lo g ia
ren tes c o n d içõ es de ex istên cia devem p r o ­ p o d e ria a ssim ser d e fin id a co m o a c iê n ­
d u z ir s o b re o s c a ra c te re s in d iv id u a is o u cia h is tó ric a d o s c o stu m e s , de q u e a E to -
c o le tiv o s e c o n s titu ir a ssim “ os axiomas g r a f ia é a d e sc riç ã o .
médios 1 d a c iên c ia d o e s p ír ito ” ; 2 ? , ve­ Q u a n to à c iên c ia d o s c a ra c te re s e d a
r if ic a r o s re s u lta d o s o b tid o s , lig a n d o à s s u a g e ra ç ã o , p a re c e q u e p o d e ria ser c h a ­
su as c o n d içõ es de e x istên cia o s d ife re n te s 1 m a d a , c o m o o fa z W u n d t, c a ra c te rio lo -
g ia . A p a la v r a é p e s a d a , m a s c o r r e ta e
1 . Expressão retirada d e Bτ TÃÇ ; v e r A x io m a , sem e q u ív o c o .
Crítica. Rad. int.: E to lo g i.

S o b re E tn o lo g ia — P . R « â n o Nouveau traité de psychologie, p u b lic a d o so b


E I

a d ire ç ã o de G . D Z Oτ è , to m o I, c a p . I I , fa z n o ta r q u e Ethnologie, em a le m ã o , e
Ethnology, em in g lês, se u tiliz a m fr e q ü e n te m e n te p a r a d e sig n a r a Antropologia * n o
sen tid o m a is a m p lo d a p a la v ra .
351 EU

1 . E U D . Ich; E . 7; F . Je; I. Io. A . C o n sciên cia d a in d iv id u a lid a d e e m ­


P r o n o m e d a p rim e ira p e sso a , p rim iti­ p írica. “ O seu eu (o eu d a e stá tu a ) é sim ul­
v a m e n te u tiliz a d o c o m o su je ito , sen d o o ta n e a m e n te a co n sciên cia d a q u ilo q u e ela
fran c ês moi u tiliz a d o q u e r c o m o c o m p le ­ é e d a q u ilo q u e ela fo i... O seu eu é a p e n a s
m e n to d ire to o u in d ir e to , q u e r c o m o te r­ o c o n ju n to d a s sen saçõ es q u e e x p erim en ­
m o in d e p e n d e n te . N a lin g u ag em filo só fi­ t a e d a q u e la s q u e a m e m ó ria lh e re c o rd a . ’’
c a, as d u a s fo rm as sã o freq ü en tem en te u sa­ C Ã Ç á « Â Â τ T , Tratado das sensações, I, 6.
d a s sem d is tin ç ã o d e s e n tid o . V er Eu (2). (V er a n o ta d o a u to r n o fim d o c a p ítu lo
C o n tu d o , e n c o n tra -se fre q ü e n te m e n te in d ic a n d o s o b q u e reserv as ele e n te n d e as
e m escrito res o u e m filó so fo s c o n te m p o ­ fó rm u la s a c im a m e n c io n a d a s.)
râ n e o s fran ceses a s p a lav ras je e m oi o p o s ­ B . A co n sciên cia in d iv id u a l e n q u a n to
ta s u m a à o u tr a , c o m sen tid o s m u ito d i­ e stá a te n ta a o s seus in teresses e é p a r d a l
v erso s e a té o p o s to s . P a r a o p a d re B r é - e m seu fa v o r (o q u e se m a n ife sta n o ex te­
m o n d , o je é a e x p re ssão d a co n sciên cia rio r p elo freq ü e n te u s o d a p a la v ra eu); p o r
s u p e rfic ia l, o moi a a lm a p r o f u n d a ; p a ra c o n se g u in te , te n d ê n c ia p a r a re fe rir tu d o a
L . B r u n s c h v i c g e p a ra C h . B l o n d e l , o si. “ O eu te m d u a s q u a lid a d e s: é in ju sto
j e re p re se n ta o s u je ito q u e c o n h ece, o m oi e m si, p o rq u e se fa z o c e n tro d e tu d o ; é in ­
o c o n ju n to d e determ in açõ es in dividuais de c ô m o d o p a r a o s o u tro s , p o rq u e os p re te n ­
q u e ele to m a c o n sciên cia (ver em p a rtic u ­ d e s u b ju g a r: c a d a eu é o in im ig o e p o d e ria
la r Connaissance desoi, p . 3); p a r a R . L e ser o tira n o d e to d o s o s o u tr o s .” P a s c a l ,
S e n n e : “ É c e rto q u e u m h o m e m sente-se
Pensamentos, ed . B ru n sch ., n? 455. ‘‘O fa ­
existir c o m o co n sciên cia an tes d e q u a lq u e r
lecid o sr. P a s c a l... c o s tu m a v a d izer a c e r­
filo s o fia ... C h a m e m o s je a e sta c o n sciên ­
c a d isto q u e a p ie d a d e c ris tã a n iq u ila o eu
cia suscetível de d o r e s a tisfa ç ã o . A este je
h u m a n o , e q u e a d v ilid a d e h u m a n a o es­
o p õ e -se o m oi , c o m o o p e n sa m e n to a si
c o n d e e o s u p rim e .” Lógica d e P o r t -
p r ó p r io ... Q u a n d o p ro c u ro co n h ec e r-m e ,
RÃà τ Â , 3? p a rte , c a p . X X , § 6.
e n c o n tro o m oi, q u e é ap e n a s u m asp e c to
2? N o sentido ontológico:
d a q u ilo q u e eu s o u .” R. L e S e n n e , Intro-
C . R ea lid a d e p e rm a n e n te e in v ariáv el,
duction à laphilosophie, c a p . II , “ L ’ave-
c o n s id e ra d a c o m o s u b s tr a to fix o d o s a c i­
n em e n t d u m o i” , § 2. C f. Obstacle et va-
d e n tes sim u ltâ n e o s e sucessiv os q u e co n s­
leur, c a p . II: “ J e ” . S o b re Eu e Tu, v er o
titu e m o eu e m p íric o . ‘‘Q u a isq u e r q u e se­
Suplemento.
ja m as q u a lid a d e s p o r q u e g o s ta m d e
2 . E U L . Ego (fre q ü e n te m e n te u sad o m im , é se m p re a m im q u e a m a m , p o rq u e
so b e sta fo rm a p elo s filó so fo s ingleses o u as q u a lid a d e s s ã o a p e n a s o eu d ife re n te ­
alem ães p a ra desig nar a q u ilo a que ch am a ­ m e n te m o d if ic a d o .” C o n d i l l a c , Trata­
m os o Eu); D . Ich, Selbst; E . I; self; F. Moi do das sensações, I, n o ta d o c a p ítu lo 6 .
— v er Eu (I); I. Io, me. (C f. E x tr a to , § 1: “ É a p e n a s a a lm a q u e
1? N o sentido psicológico e moral·. sen te a tra v és d o s ó rg ã o s e é d as sensações

S o b re E u — A rtig o r e f u n d id o o u c o m p le ta d o s e g u n d o a s o b se rv a ç õ e s d e J. La-
chelier, M. Drouin, G. Mauchaussat.
S o b re o s e n tid o C . E s te s e n tid o p a re c e -m e u m a e x te n s ã o a b u s iv a e , p a r a fa la r
c o m p ro p r ie d a d e , u m a ficção v e rb a l s o fis tic a m e n te s u b s titu íd a a q u a lq u e r s e n tid o
re a l. P o r q u e n ã o h á só U O eu q u e n ã o s e ja d e sd e lo g o e in e v ita v e lm e n te Tτ Â eu:
e s ta p a la v r a n ã o c o m p o r ta u m a u tiliz a ç ã o a b s tr a ta , n a m e d id a e m q u e d e sig n a p o r
n a tu re z a aq u ilo q u e ap en as p o d e ser c a p ta d o e c o n ce b id o c o m o c o n creto . (M . Blondel)
S o b re o E u de F ic h te P a r a F « T , Ã p e n s a m e n to c o n d ic io n a a c o n sc iê n cia d e
7 I E

to d a re a lid a d e . A a firm a ç ã o d e u m a e x istê n c ia , q u a lq u e r q u e s e ja e la , é a a firm a ç ã o


EU 352

q u e a m o d if ic a m q u e e la e x tra i to d o s os p e n s a m e n to n o te m p o . Ibid., 2 f s e ç ã o ,
seu s c o n h e c im e n to s e a s s u a s f a c u ld a ­ § 3: “ V o n d e r S y n th e sis d e r R e c o g n itio n
d e s .” ) ‘ ‘Se a s u b s tâ n c ia d o eu fo sse m ú l­ im B e g r if f e .” 2
tip la , a u n id a d e (ló g ica ) d o e u seria a p e ­ O e u , n e ste s e n tid o , d iz-se transcen­
n as u m a a p a r ê n c ia .” P . J τ Ç E I , Tratado dental.
de filosofia, § 67 4. E. Eu absoluto, D . A bsolutes Ich
3? N o sentido lógico e crítico: (F « T
7 I E ). A to o rig in á rio d o p e n sa m e n to
D. S u je ito p e n s a n te , e n q u a n to a su ap e lo q u a l ele e x p rim e a a u to n o m ia r a d i­
u n id a d e e a s u a id e n tid a d e s ã o a s c o n d i­ cal. E s te a to c o n s titu i o p r ó p r io s u je ito
çõ es n e c e s sá ria s, im p lic a d a s p e la sín tese e n q u a n to é a n te r io r à d is tin ç ã o d o eu e m ­
d o d iv e rs o d a d o n a in tu iç ã o e p e la lig a ­ p írico e d o n ã o -e u , e, p o r co n seg u in te, en ­
ção d as rep resen taçõ es n u m a consciência. q u a n to p õ e , a o m e sm o te m p o , o s u je ito
“ D as Ich denke m u ss alle m ein e V o rs­ e o o b je to (v er a s o b s e rv a ç õ e s).
te llu n g e n b e g le ite n k ö n n e n ... Ic h n e n n e
C R ÍT IC A
sie (diese V o rstellu n g ) die rein e A p p e rce p ­
tio n , u m sie v o n d e r e m p iris c h e n zu u n ­ A d istin ç ã o d estes sen tid o s é fe ita e os
te rs c h e id e n , o d e r a u c h d ie u rs p rü n g lic h e eq u ív o co s q u e d a í re s u lta m são re le v ad o s
A p p e r c e p tio n , w eil sie d a sje n ig e S e lb s t­ n a Crítica da razão pura, D ia lética tr a n s ­
b e w u sstse in is t, w a s , in d e m es d ie V o rs ­ c en d e n ta l, livro II, cap . I: “ D o s p a ra lo g is­
te llu n g Ich denke h e r v o r b r in g t, d ie alle m o s d a ra z ã o p u ra . ’' V er ig u a lm e n te o a r ­
a n d e r e n m u s s b e g leiten k ö n n e n , u n d in tig o d e J . L τ T Â « 2 , “ P s ic o lo g ia e m e ­
7 E E

a lle m B ew u sstsein ein u n d d a sse lb e ist, ta físic a ” , rec. n a seq u ên cia d e Fondement
v o n k e in e r w e ite r b e g le ite t w e rd e n de Tinduction, p rin c ip a lm e n te p . 115.
k a n n . ” 11 K τ Ç , Krit. der reinen Ver­
I U m e x em p lo c a ra c te rís tic o d e ra c io cí­
nunft, D e d . tr a n s c e n d e n t., § 16; B 132. n io f u n d a d o s o b re este e q u ív o co é a q u e le
N a p rim e ira e d iç ã o , e sta re p re se n ta ç ã o d o p e lo q u a l S c h o p e n h a u e r d e fe n d e q u e o eu
eu r ig o r o s a m e n te id ê n tic a é a p r e s e n ta d a n ã o se p o d e a n iq u ila r. “ T e n ta is ” , d iz ele,
a p e n a s c o m o c o n d iç ã o d a u n id a d e d o “ rep resen tar-v o s o te m p o de o n d e vós p ró ­
p rio s estivésseis a u se n te s. S u p o n d e o v o s­
so eu a n iq u ila d o e o m u n d o c o n tin u a n d o
1. “ O Eu p e n so deve necessariam ente poder a su a existência. M as refleti e vereis q u e isso
acom panhar to das as m inhas representações... C h a­
m o a esta representação (à do E u p en so ) apercepção é c o n tra d itó rio : p o rq u e o u vós n ã o pen sais
pura, para a distinguir da em pírica, ou apercepção n a d a , o u sois o b rig a d o s a s u p o r o v o sso
original, porq ue ela consiste nessa consciência de si eu a ssistin d o a o s a c o n te c im e n to s desse
que, produzindo a representação Eu p en so (represen­
m u n d o . É a su a c o n d ição e, p o r conseguin -
tação que deve necessariam ente poder acom panhar
to das as ou tras, e que é u n a e idêntica em to das as
representações), n ão pode j á ser ela pró pria acom ­
p anhada de nenhum a o u tra .” 2. "D a síntese de recogmçào no conceito.”

d e “ u m o b je to d o p e n sa m e n to ; e este p e n sa m e n to é o m e u . A ssim F ic h te se re fe re a o
Ich denke1 k a n tia n o , c o n d ic io n a n te d a u n id a d e d a a p e rc e p ç ã o e, p o r co n se q ü ê n cia , d e
q u a lq u e r co n sciên cia. O Ich denke q u e d ev e a c o m p a n h a r c a d a u m a d a s m in h a s r e p re ­
s e n ta ç õ e s sig n ific a : Ich bin das D enkende ” 2 (Sam m tl . W ., I, p . 4 7 5 ). K a n t ta m b é m
p e rc e b e u q u e esse s u je ito , d e q u e q u a lq u e r re p re s e n ta ç ã o im p lic a a a f ir m a ç ã o , n ã o

1. Eu penso.
2. Eu sou aquilo que pensa.
353 E U D E M O N IS M O

te , su b siste ta n to q u a n to e le .” (O m un­ E U D E M O N IS M O G . Eúôm/iopioyiios,


do, s u p le m e n to , c a p . 4 1 .) A 2 « è ó Â è ; D. Eudämonismus ; E . Eu-
I I E E

R ad . int.: E g o (M i, B o ira c ) daem onism ; F . Eudém onism e ; I. Eude­


E U C L I D IA N O D . Eukleidisch ; E . monismo.
Euclidiean ; F . Euclidien\ I. E udideo. A . S e n tid o d e A 2 « è ó Â è : Ã fa to de
I I E E

Q u e se refere a E Z TÂ « á è (d e A le x a n ­
E ju lg a r q u e u m ser é feliz, sen d o este ju íz o
d ria ). “ D ie e u k le id isc h e D e m o n s trirm e - c o m p re e n d id o n ã o a p en a s co m o o e n u n ­
t h o d e . . . ” ' S T Ã ú Ç τ Â ã 2 , Die Weit,
7 E 7 E ciado d e u m fa to , m as co m o u m ju íz o ap re­
e tc ., 559. E s p e c ia lm e n te , c h a m a -s e eudi- c iativ o im p lic a n d o o v a lo r ético d a felici­
diano a o e sp a ç o o r d in á r io d e trê s d im e n ­ d a d e . O p õ e-se a eiraivos, lo u v o r g eral de
sõ es, e n q u a n to v e rific a o a x io m a d a s p a ­ u m c a rá te r; elo g io de u m a to
ralelas (p o stu lad o * de E uclides): “ Se d u a s p a rtic u la r (Ética a Eudem o , II, 1, 1219b) .
re ta s s itu a d a s n u m p la n o fazem co m u m a E ste se n tid o seria c o n se rv a d o p o r alg u n s
m e sm a secan te â n g u lo s in te rio res d o m es­ escritores m o d ern o s, segundo Baldwin, Vo.
m o la d o c u ja s o m a é m e n o r q u e a d e d o is B . D o u tr in a m o ra l q u e te m p o r p r in ­
re to s , estes d o is r e to s e n c o n tra m -s e d e s ­ c íp io q u e o o b je tiv o d a a ç ã o é a fe lic id a ­
te la d o . ’ ’ O s e sp a ç o s não eudidianos sã o d e (q u e r in d iv id u a l, q u e r c o letiv a). E s te
c a ra c te riz a d o s p e la n e g aç ã o d esse a x io m a s e n tid o é o ú n ic o u s u a l.
(q u e r e x ista m várias p a ra le la s , q u e r n ã o
C RÍTIC A
e x ista nenhuma). O e p íte to euclidiano
a p lic a -se ta m b é m a o p la n o d o e sp a ç o e u ­ Kτ ÇI to m a e sta p a la v ra n u m s e n tid o
d id ia n o e à G e o m e tr ia d e ste e s p a ç o . m a is r e s tr ito , a p lic a n d o -a às d o u trin a s
q u e to m a m p o r fim m o ra l a felicid ad e in ­
1. “ O m étodo de dem onstração euclidiano.’’ d iv id u a l, die eigene Glückseligkeit (An-

p o d e red u zir-se à co n sciên cia d a n o ssa in d iv id u a lid a d e , p o is esta su p õ e u m a lim itaç ã o


q u e n ã o c o n tém o p e n sa m e n to n a su a c a p a c id a d e o rig in á ria de p o siç ã o e de d e te rm in a ­
ção . O su jeito p u ro n ã o é, p o is, c o n h ec id o p ela co n sciên cia sensív el, ele só p o d e ser
d a d o a si m esm o (Se/òsr òewusstsein1), nessa co n sciên cia im e d ia ta d a s u a p ró p ria a ti­
v id a d e q u e c o n stitu i a in tu iç ã o in te le c tu a l. ( I b i d I, p p . 463 ss.). É , p o r ta n to , p o sto
a o m esm o te m p o q u e co n h ec id o : a o p asso q u e to d o o b je to existe p a ra u m p en sa m e n to
q u e o p õ e , o su jeito o rig in á rio p õ e a si p ró p rio e defin e-se: “ A q u ilo c u jo ser (a essência)
co n siste sim p lesm en te n a q u ilo q ue se p õ e a si p ró p rio co m o s e n d o .” (I, p. 97.)
O s u je ito p u r o é a b s o lu to , p o r q u e to d a re la ç ã o é fix a d a p o r ele; in fin ito , n o se n ­
tid o de q ue o seu p o d e r de d e te r m in a ç ã o é in e sg o tá v e l; a ssim , se d is tin g u e d o eu e m ­
p íric o lim ita d o p e lo n ã o -e u ; a n te r io r a essa d is tin ç ã o , é ele p ró p r io a id e n tid a d e d o
s u je ito e d o o b je to ( I , p . 9 8 , n o ta ) : u m a filo s o fia q u e p r o c u r a d e d u z ir n o c u rso de
u m m e sm o m o v im e n to as fo rm a s e o c o n te ú d o d a re p re s e n ta ç ã o d ev e to m a r c o m o
p o n to d e p a r tid a a u n id a d e p rim itiv a d o s u je ito e d o o b je to : p o r q u e , u lte rio r m e n te ,
n ã o p o d e r ia lig a r esses d o is te r m o s se j á n ã o o s tiv e sse p o s to d e in íc io c o m o u n id o s
n u m a m e sm a n o ç ã o (I, p . 528). O r a , só a c o n sc iê n c ia q u e o s u je ito te m d e si m esm o
e n c e rra e sta id e n tid a d e , e é p o r isso q u e a p o s iç ã o d o eu p o r si p r ó p r io d ev e c o n s ti­
tu ir o p rim e iro p rin c íp io d a d ia lé tic a . (G . Mauchaussat)
Éd. Claparède d e s e ja ria a a d o ç ã o d o te r m o M oiité, p e rm itin d o tr a d u z ir p a r a o
fra n c ê s o te r m o a le m ã o Ichheit: “ c a r a c te rís tic a d a q u ilo q u e p e rte n c e a o e u , d a q u ilo
q u e é m e u ” . E m p re g o u - o n o seu liv ro Association desidées, p . 355, e n o a rtig o “ R é-
c o g n o tio n et M o iité ” ( A rch . de psychol., a b ril de 1911).

1. Consciência de si.
E U F O R IA 354

tropologia, I, § 2). S e g u n d o a m o ra l k a n ­ E V ID Ê N C IA D . Evidenz ; E . Eviden-


tia n a , o fim d a a ç ã o d e v erá ser, p elo c o n ­ ce; F . Évidence·, I. Evidenza.
tr á r io , q u a n d o se tr a ta d e n ó s m esm o s, a A p a la v r a evidence é m u ito m a is a m ­
n o ssa p e rfe iç ã o e, q u a n d o se tr a ta d e o u ­ p la em in g lê s d o q u e n a s o u tr a s trê s lín ­
tro , a s u a felicid ad e (Metafísica dos cos­ g u a s: e ste n d e -s e a to d a a c e rte z a im e d ia ­
tumes, in tr o d u ç ã o , § IV ). E s ta re striç ão t a o u n ã o ( p o r e x e m p lo à c e rte z a h is tó ri­
ju stifica-se pela su p o sição seg u n d o a q u a l, c a ), e a té a o te s te m u n h o . V er as o b s e r ­
n ã o p o d e n d o a felicid ad e d e o u tre m d e te r­ v açõ es.
m in ar a n ossa v o n tad e, aquele q u e age com U m a p ro p o s iç ã o é e v id e n te se to d o s
v ista a essa felicid ad e a p e n a s p o d e fazê-lo o s h o m en s q u e têm a su a sig n ificação p re ­
e m n o m e d a su a ra z ã o e, p o r c o n se g u in te , s e n te n o e s p ír ito , e q u e se p õ e m a q u e s ­
im p lica u m fim m ais elev ad o d o q u e a p r ó ­ tã o d e s a b e r se ela é v e rd a d e ira o u fa ls a ,
p ria felicid ad e. M as e sta a ssu n ç ã o f u n d a ­ n ã o p o d e m d e m a n e ira n e n h u m a d u v id a r
m e n ta l é co n testá v el, pois p o d e a co n te c er d a s u a v e rd a d e .
q u e o v a lo r n o rm a tiv o d a felicid ad e seja
re c o n h ec id o d ire ta m e n te , c o m o o d a bele­ C R ÍT IC A
za o u o d a v e rd a d e , sem q ue seja fe ita n e ­ 1. É n e ce ssá rio m e n c io n a r n ã o só q u e
n h u m a a cep ção d o in d iv íd u o q u e as p o s­ a p ro p o s iç ã o é c o m p re e n d id a , m as q u e a
sui. C o n v ém p o is c o n se rv a r p a ra esta p a ­ q u e stã o de sa b e r se ela é v e rd a d e ira é p o s­
la v ra o seu sen tid o m ais geral. ta , p o is é c e rto q u e o e s p írito , d e q u a l­
Rad. int.\ E u d e m o n is m . q u er m a n e ira q ue se e x p liq u e essa a b s te n ­
E U F O R IA D . Euphorie ; E . Eupho- ç ã o , p o d e e v ita r in d e fin id a m e n te f o r m u ­
ria, euphory; F , Euphorie ; I. Euforia. la r em te rm o s e x p re sso s e sta a lte rn a tiv a
S e n tim e n to de b e m -e s ta r e de a leg ria e assim re c u sa r-s e à ev id ên c ia .
sem c a u s a a p a r e n te , o u d e s p r o p o rc io n a l 2. N ã o s e ria s u fic ie n te d iz er q u e u m a
em re la ç ã o à c irc u n s tâ n c ia q u e p a re c e p ro p o s iç ã o é ev id en te se um h o m e m q u e
p ro d u z i-lo . T e rm o s o b re tu d o u tiliz a d o em a p en sa n ã o p o d e d u v id a r q u e ela seja v er­
p a to lo g ia m e n ta l, em q u e a e u f o r ia a p a ­ d a d e ir a , p o is e sta im p o s s ib ilid a d e d e d u ­
re ce c o m o s in to m a d e c erto s e sta d o s m ó r ­ v id a r p o d e ser p a r tic u la r a o seu e s ta d o
b id o s: m a n ia , a n e ste sia , in to x ic a ç ã o , etc. m e n ta l (a lie n a ç ã o , p a ix ã o , p re c o n c e ito ,
E V E M E R IS M O D . Evhemerisntus; e d u c a ç ã o , e tc .); a lin g u a g e m u s u a l d istin ­
E . Evhemerism; F . Evhémérisme ; I. Eve- g u e c o m ra z ã o o q u e parece e v id e n te (a
merismo. u m in d iv íd u o ) e o q u e o é e fe tiv a m e n te
O p in iã o se g u n d o a q u a l os deu ses são ( p a r a to d o e s p írito ).
to d o s h e ró is q u e re a lm e n te v iv eram e c u ja In v e rs a m e n te , s e ria ex cessiv o q u e re r
le n d a se a m p lific o u g ra d u a lm e n te d ep o is q u e a in telig ên cia a q u em a ev id ên cia a p a ­
d a sua m o rte . R elacio n a-se a origem desta rece p e rd e ss e to d a in flu ê n c ia d o h á b ito ,
o p in iã o co m o c ire n a ic o Evêmero (cerca d o s e n tim e n to o u d a v o n ta d e . P o is esse
d e 300 a .C .) is o la m e n to é a p e n a s u m a a b s tra ç ã o irre a ­
Rad. int.: E v h e m e rism . lizáv el, ta lv e z m e sm o c o n tr a d itó r ia , e a

S o b re E v id ê n c ia — O s u b s ta n tiv o in g lê s é o ú n ic o q u e te m o s e n tid o m u ito g e ra l


a ssin a la d o m ais a trá s . A d e fin iç ão d o a d je tiv o d a d a n o c o rp o d o a rtig o p o d e ria a p lic ar­
se à p a la v r a in g le sa. (B . Rusself)
S o b re a C rític a . T u d o isso m e p a re c e m u ito v e r d a d e ir o , m a s d a í m e p a re c e re s u l­
ta r q u e n ã o e x iste e v id ê n c ia à q u a l se p o s s a a tr ib u ir u m v a lo r o b je tiv o . É p re c iso ,
p o is , a b a n d o n a r in te ira m e n te o critérium c a r te s ia n o d a e v id ê n c ia e s u b s titu i-lo p elo
m é to d o le ib n iz ia n o d a a n á lise d a s n o ç õ e s. (J. Lachelier)
355 EVOLUÇÃO

f o r ç a d a e v id ê n c ia m a n ife s ta -s e p re c is a ­ d e H a m elin (em q u e c a d a te rm o ev o ca u m


m e n te p elas re p u g n â n c ia s d e q u e tr iu n f a . te rm o e s ó u m , s e g u in d o u m a o rd e m n e ­
3. N a d a p r o v a a priori q u e existam c e s s á ria )... A e v o c a ç ã o , c o m o n ó s a e n ­
(n o s e n tid o ló g ico ) p ro p o s iç õ e s q u e te ­ ten d em o s, é p o r si m esm a irradiante... D e
n h a m o c a r á te r d e e v id ê n c ia a c im a d e fi­ u m a d o e n ç a , a evocação p o d e c o n d u z ir-
n id o . E s ta d e fin iç ã o d e ix a , p o is , a b e r ta m e à s u a c a u s a , a o s seu s e fe ito s , à n a t u ­
a q u e s tã o d e s a b e r s o b q u e co n d içõ e s p rá ­ re z a d a d o e n ç a , à fre q u ê n c ia d e s ta d o e n ­
tic a s a a p a r ê n c ia in te r n a e in d iv id u a l d a ç a , à s o c ie d a d e , a o p r o b le m a d o m a l, em
ev id ên c ia p o d e s e r le g ítim a m e n te tid a c o ­ s u m a , a to d a p a r te .’ ’ R . L e S e n n e , Obs­
m o a g a ra n tia d e u m a ev id ên cia re a l e u m ­ tarte et valeur, p . 171.
v e rs a lm e n te v á lid a .
E V O C A R D . A . H ervorrufen ; B . C .
4 . E la d e ix a ig u a lm e n te d e la d o o p r o ­
Forden; E . A . To cali fo rth \ B . To cali
b le m a d a s c a u s a s p s ic o ló g ic a s e d a n a t u ­
fo r ; F . Appeler; 1. Chiamare, richiamare.
re z a ló g ica d a ev id ên c ia , e p a rtic u la rm e n ­ A . F a z e r v ir a o e s p ír ito (p a r tic u la r ­
te o e x a m e c rític o d a d o u tr in a c a r te s ia n a m e n te p o r a ss o c ia ç ã o ).
s e g u n d o a q u a l e s ta c o n sis te n a clareza * B . T o r n a r n e c e s sá rio , o u p elo m e n o s
e n a distinção * d a s id é ia s. V e r A bsoluto. d e se já v el: “ E v o c a r u m a re se rv a , u m a re ­
É d e n o ta r a e ste re s p e ito q u e a s p r o p o s i­ tif ic a ç ã o .”
çõ es m a is evidentes d e u m a c iê n c ia , m e s­ C . E sp e cia lm e n te , n o Essai d e H a m e ­
m o m a te m á tic a , n ã o s ã o n e c e s sa ria m e n ­ l i n : im p lic a r a títu lo d e c o rre la tiv o e d e
te a s m a is sim p le s e a s m a is g e ra is (q u e r c o m p le m e n to n e c e s sá rio . “ O u m , q u e se
d izer, as p ro p o siçõ es q u e c o n stitu em o sis­ o p õ e a c a d a n ú m e ro d a d o , e q u e e ste n ú ­
te m a de p rin c íp io s m e n o s n u m e ro s o s d e m e ro evoca , e x p rim e e m re la ç ã o a si o
o n d e se p o d e d e d u z ir essa ciên c ia ). A evi­ c o n tr á r io d a s s u a s p r o p r ie d a d e s .” Essai,
d ê n c ia p e rte n c e c o m u m e n te a u m estág io p. 42. “ D e v e , p o is , e x is tir u m g ê n e ro s u ­
de p ro p o s iç õ e s q u e n ã o s ã o p rim e ira s d o p re m o q u e evoca u m a p r im e ir a d if e r e n ­
p o n to de v is ta ló g ic o . V er Fundamento, ç a . . . ” Ibid., p . 184. “ A c a u s a evoca o
C rític a . efeito , q u e r dizer, o e s ta d o em q u e a p a rte
Rad. i n t E v id e n t, E v id e n te s . d as co isas c o n sid e ra d a s se e n c o n tra re je i­
ta d a q u a n d o é ex clu íd a d a q u e le q u e , sem
E V O C A Ç Ã O F . AppeL “ A in s u fi­
a c a u s a , s e ria o s e u .” Ibid., p . 206.
c iên c ia d a d e te r m in a ç ã o to m a d u a s f o r ­
m a s ... U m a é a in s u fic iê n c ia d a d e te r m i­ E V O L U Ç Ã O D . Evoluiion, Entwic-
n a ç ã o re la tiv a m e n te a u m a o u tr a d e te r­ kelungl; E . Evolution; F . Èvolution\ I.
m in a ç ã o ... À p rim e ir a d a re m o s o n o m e Evoluzione.
h a m e lin ia n o d e e v o c a ç ã o V e r a d ia n te A . D e se n v o lv im e n to de u m p rin c íp io
evocar, “ A o e m p re g a r e ste te rm o , d ev e­ in te rn o q u e , la te n te d e in íc io , se a tu a liz a
m o s a d v e r tir q u e n ã o lh e im p o m o s a re s­ p o u c o a p o u c o e a c a b a p o r se to r n a r m a ­
triç ã o q u e s o fre n a c o n s tr u ç ã o ra c io n a l n ife s to . V er Suplemento.

S o b re E v o lu ç ã o — O s e n tid o A fo i a c re s c e n ta d o s e g u n d o as o b s e rv a ç õ e s de Élie
H alévy , q u e c ita o seg u in te te x to d e P h ila r e te C h a s l e s : “ A s itu a ç ã o re a l d as so c ie ­
d a d e s n ã o é a revolução, q u e r d iz er, a ru ín a ; é a evolução, q u e r d iz e r, o d e se n v o lv i­
m e n to d o s seu s p rin c íp io s, a e x te rio riz a ç ã o d o q u e tra z e m n o seu s e io .” Études, 1849,
p . 260; seg u e-se u m a a n títe s e e n tre a so c ie d a d e c o n c e b id a c o m o um m e c a n is m o e
a so c ie d a d e c o n c e b id a c o m o u m o rg a n is m o . P h . C h a s le s, a c r e s c e n ta ele, é u m a n g li-
c ista q u e , n o p r ó p r io v o lu m e d e o n d e re tira m o s e sta c ita ç ã o , se a lia , em o p o s iç ã o
à s id é ia s d e B e n th a m , à s teses s u s te n ta d a s p e lo filó s o fo m e ta fís ic o C o le rid g e . O m es-
EV O LUÇÃ O 356

B. T r a n s fo rm a ç ã o g ra d u a l e c o n c e b i­ u m a série d e e ta p a s d e q u e se p o d e a s s i­
d a em g e ra l c o m o b a s ta n te le n ta o u c o ­ n a la r d e a n te m ã o a su c e s sã o : “ A e v o lu ­
m o fo r m a d a d e m u d a n ç a s e le m e n ta re s ção se g u n d o a d o u trin a estò ica é u m a ev o ­
m ín im a s o b a s ta n te p a r a n ã o s e re m n o ­ lu ç ã o f e c h a d a ... q u e te m re c o m e ç o s in ­
ta d a s . O p õ e -se q u e r à permanência, q u e r d e f in id o s .” R E ÇÃZ â « E 2 , Histoire et so­
à revolução. lutions des problèmes métaphysiques,
C . S e q u ê n c ia de tra n s fo rm a ç õ e s n u m c a p . X IV , p . 111.
m e sm o s e n tid o : “Evolucionismo im p lic a D . T r a n s fo rm a ç ã o q u e fa z p a s s a r u m
a id éia de u m a lei de e v o lu ç ã o ... N in g u ém a g re g a d o d o h o m o g ê n e o p a r a o h e te r o ­
c h a m a r á e s tá d io s evolutivos à s tr a n s f o r ­ g ê n eo o u d o m e n o s h e te ro g ê n e o p a r a o
m açõ es q u e se o b se rv a m n u m c a le id o scó ­ m a is h e te r o g ê n e o ( S p e n c e r ) . O p õ e -se à
p i o . ” A . G i a r d , Bulletin de la Société dissolução o u à involuçâo.
Française de Philosophie, 6 d e a b r il d e E . T r a n s f o r m a ç ã o ( c o n tín u a o u b ru s ­
1905. T r a n s fo rm a ç õ e s q u e c o m p o r ta m ca) de u m a espécie v iv a em o u tr a espécie.

m o o c o rre c o m H . S p e n c e r, q u e vai b u s c a r e m C o le rid g e a p r im e ir a id é ia d a s u a te o ­


ria d a e v o lu ç ã o e d a s u a te o r ia d o o rg a n is m o s o c ia l. C f. H . S p e n c e r , A utobio-
graphy, v o l. I , p p . 350 -3 5 1 . R . B e r t h e l o t n o Bulletin de la Soc. de Phil ., 1904,
p p . 9 3-95. E m Statique sociale, o n d e , a liá s , a p a la v r a evolução é u tiliz a d a a p e n a s
u m a vez (p . 142: the evolution o f a new idea in our m indv), é e ss a a c o n c e p ç ã o q u e
fa z S p e n c e r d a q u ilo a q u e c h a m a o progresso: “ A d e v e lo p m e n t o f m a n s ’s la te n t ca-
p a b ilitie s u n d e r th e a c tio n o f fa v o u r a b le c irc u m s ta n c e s ; w h ic h f a v o u r a b le c irc u m s-
ta n c e s , m a r k , w ere c e r ta in , s o m e tim e o r o th e r , to o c c u r .” 12 (p . 4 1 5 .) D e ste p rim e i­
ro s e n tid o , d e riv a n a tu r a lm e n te u m s e g u n d o : d e se n v o lv im e n to im p e rc e p tív e l e c o n tí­
n u o . P a re c e , c o m e fe ito , n a tu r a l p e n s a r q u e u m a c rise r e v o lu c io n á r ia n o d e se n v o lv i­
m e n to d e u m ser in d iv id u a l é d e v id a à a ç ã o p e r tu r b a d o r a d e u m a c a u s a e x te rio r d e ­
v e n d o o d e s e n v o lv im e n to n o r m a l d o ser, q u a n d o s u b tr a íd o a e ssa a ç ã o p e r tu r b a d o ­
r a , ser u m d e se n v o lv im e n to g r a d u a l e le n to .
H. S p e n c e r c o m e ç a a u tiliz a r c o m p re c is ã o a p a la v r a evolução n o se u e n sa io in ­
titu la d o Genesis o f Science d e ju lh o d e 1854 (v er Essays, I, p p . 185, 2 2 7 ). M a s é s o ­
m e n te e m 1857 (Progress, itsL a w and Causes, a b ril d e 1857; Transcendental Physio-
logy, o u tu b r o d e 1857) q u e a s u a te o r ia se v ê c o n s titu íd a e n q u a n to d e fin e a e v o lu ç ã o
p e la p a ss a g e m d o h o m o g ê n e o a o h e te ro g ê n e o .
E m o u tu b r o d e 1859 D a r w i n p u b lic a a su a Origin o f Species , o n d e a p a la v r a
e v o lu ç ã o n ã o é u tiliz a d a . M a s seis m eses m a is ta r d e , e m m a rç o d e 1860, H . S p e n ­
c e r im p r im e o p ro s p e c to d a s u a Filosofia sintética , q u e c o n té m u m a p a r te c o n s a ­
g r a d a à b io lo g ia . O s Princípios de biologia c o m e ç a m a se r p u b lic a d o s em 1864. O
su ce sso d o s liv ro s d e H . S p e n c e r e x p lic a q u e a te rm in o lo g ia d o f iló s o f o te n h a a c a b a ­
d o p o r se a p lic a r à te o r ia d o c ie n tis ta e q u e a p a la v r a evolução te n h a to m a d o u m
n o v o s e n tid o , m a is re s trito d o q u e e m S p e n c e r: a tr a n s f o r m a ç ã o d e u m a esp écie v iv a
n u m a o u tr a . E s ta tr a n s f o r m a ç ã o , e m D a rw in e S p e n c e r , é in icial m e n te c o n s id e ra d a
c o m o le n ta . M a s , fin a lm e n te , en ten d e -se p o r “ e v o lu ç ã o ” a tra n sfo r m a ç ã o co m ou
sem m u ta ç õ e s b ru s c a s d e u m a esp écie v iv a n u m a o u tr a . (E. Halévy)

1. ” ... a evolução de u m a nova idéia no nosso espírito” .


2. “ Um desenvolvim ento das capacidades latentes do homem sob a ação de circunstâncias favoráveis;
circunstâncias, note-se, que m ais cedo ou m ais tard e devem acontecer.”
357 EVOLUÇÃO

CRÍT ICA N este ú ltim o c a s o , a p a la v r a im p lic a , p o r


U m d o s te rm o s filo só fic o s q u e re c e ­ u m a a ss o c ia ç ã o d e id é ia s m u ito g e ra l, o
be os s e n tid o s m a is v ag o s e m e sm o os d ese n v o lv im e n to d o ser g raças a u m a f o r ­
m a is o p o s to s . F o i, de in íc io , s in ô n im o de ç a in te rio r e e s p o n tâ n e a q u e lhe p re d e te r­
“ p re fo rm a ç ã o d o s o rg a n is m o s ” (S ç τ O - m in a as fo r m a s su ce ssiv a s, o u seja , u m a
O 2 áτ O
E , M τ Â ú « ; « ), e n q u a n to o p o s ta à
7
espécie de p rin cíp io v ital; e c o m o , p o r o u ­
e p ig ên ese* . E n c o n tra -s e ta m b é m , n este tr o la d o , e sta p a la v r a e s tá ig u a lm e n te a s ­
s e n tid o , em B 2 3 Â à , Siris, § 233. E s ­
E E E
s o c ia d a a id é ia s físicas e m e c â n ic a s , d e ­
te s e n tid o n ã o p e rm a n e c e u u s u a l, m a s o s e m p e n h a o p a p e l de u m in te rm e d iá rio
s e n tid o A lig a-se v isiv e lm en te a ele. V er e n tre a v id a c o n c e b id a c o m o u m a fo rç a
as o b s e rv a ç õ e s . d ire triz e x te r io r à m a té ria e a v id a c o n c e ­
N o s escrito res c o n te m p o râ n e o s , m es­ b id a c o m o u m s iste m a de m o v im e n to s
m o filó s o fo s , evolução é to m a d o o m ais físic o -q u ím ic o s (L τ Â τ Çá , La dissolu-
E

d a s vezes n u m s e n tid o m u ito in d e te rm i­ tion , cap . I; “ D e fin iç õ e s .” R . B 2 E I 7 E *


n a d o : “ ... A f o r m a ç ã o d o s m u n d o s e x ­ LOT, “ Les o rig in es de la p h ilo s o p h ie de
p lic a d a p e la v ia d o d e se n v o lv im e n to le n ­ S p e n c e r” , Bulletin de ¡a Socielé de P hi­
to e g ra d u a l o u , seg u n d o a ex p re ssão m o ­ losophie, 1904; esp e c ialm en te p p . 93, 95).
d e r n a , p e la e v o l u ç ã o . ” F Ã Â « Â Â é , E
P o r fim , n o p ró p r io S ú ÇT 2 , a d e fi­
E E

“ L ’a v en ir d es id ées c a rté s ie n n e s ” , Revue n iç ã o d e s ta p a la v r a é v a riá v e l e so b a f o r ­


de deux-mondes, 15 d e ja n e ir o de 1898, m a m a is e x p re ssa q u e ele lh e d e u c o n té m
p, 389. N o m esm o s en tid o , fala-se de evo­ e le m e n to s d e c a r á te r o p o s to : “ E v o lu tio n
lu ção de co stu m es, d as idéias, etc. “ A p a ­ is a n in te g ra tio n o f m a tte r a n d c o n c o m i-
la v ra e v o lu ç ã o n ã o im p lic a p o r si m e sm a ta n t d is s ip a tio n o f m o tio n , d u rin g w h ich
q u a lq u e r id éia de p ro g re s so o u d e re g re s­ th e m a tte r p a sse s fro m a n in d e fin ite in -
são . D esig n a to d a s as tra n s fo rm a ç õ e s p o r c o h e r e n t h o m o g e n e ity to a d e fin ite co h e-
q u e p a s s a u m o rg a n is m o o u u m a s o c ie ­ re n t h e te ro g e n e ity a n d d u rin g w h ich th e
d a d e , in d e p e n d e n te m e n te d a q u e s tã o de re ta in e d m o tio n u n d e rg o e s a p a ra lle l
se s a b e r se essas tr a n s f o r m a ç õ e s s ã o f a ­ tr a n s f o r m a tio n .” 1 Primeiros princípios,
v o rá v e is o u d e s f a v o rá v e is .” D E OÃÃ2 , c a p . X V II (em itá lic o n o te x to ). O r a , p e­
M τ è è τ 2 e V τ Çá 2 â Â á
I E E E , L ’évolution la su a p rim e ira p a rte e s ta d e fin iç ã o é m e ­
regressive, p . 17. c â n ic a e q u a n tita tiv a (v er m ais a d ia n te a
O s e n tid o C , s o b a f o r m a e s tr ita em c rític a d a p a la v ra Integração), pela s e g u n ­
q u e é d e f in id o , é r a r o . C o n v ir ia , e n tã o , d a p a r te , b io ló g ic a e q u a lita tiv a . N a d a
p ro p ria m e n te a o s fe n ô m e n o s irreversív eis p ro v a a priori q u e e sta s d u a s c o n ce p ç õ es
e é assim q u e o e n te n d e P 2 2 « Ç , a o c h a ­
E
d ife re n te s p o s s a m ser re u n id a s p a r a f o r ­
m a r a o s e g u n d o p rin c íp io d a te r m o d in â ­ m a r u m c o n c e ito ú n ic o . D e f a to , o e s f o r ­
m ic a P r in c íp io d e E v o lu ç ã o (Revue de ço fe ito p a r a lig a r a d ife re n c ia ç ã o * a um
métaphysique, fe v e re iro d e 1903, p . 182; p ro c e sso d e física g e ra l e a fó rm u la q u a n ­
v er ig u a lm e n te B . B 2 Z Ç è , U evolutio-
7 E
tita tiv a d a e v o lu ç ã o s ã o s e c u n d á rio s , e,
nisme el le principe de Carnot ; ibid. , j a ­ p o r assim d iz e r , m o m e n tâ n e o s n a f ilo s o ­
n e iro d e 1897, p . 35). M as, o m ais d a s ve­ f ia d e S p e n c e r, p o is a p a re c e m a n te s d o s
zes, q u a n d o se c h a m a e v o lu ção a u m p r o ­ Primeiros princípios , e d e s a p a re c e m n a s
cesso d e se n tid o d e te r m in a d o , s u b e n te n ­ o b ra s p o s te rio re s.
d e-se m ais o u m e n o s c la ra m e n te a n a t u ­
re z a d essa d e te rm in a ç ã o e c o n fu n d e -s e , 1. “ A evolução é um a integração de m atéria e
e n tã o , a e v o lu ç ã o q u e r co m o progresso uma dissipação concomitante de movimento, durante
a qual a m atéria passa de um a hom ogeneidade in de­
(e v o lu ç ã o em d ire ç ã o a o m e lh o r), q u e r
finida e incoerente a uma heterogeneidade definida
c o m a vida (n a s c im e n to , n u triç ã o , d e se n ­ e coerente, e durante a qual o m o v i m e n t o retido so­
v o lv im e n to , g e ra ç ã o , d e c a d ê n c ia , e tc .). fre uma transform ação p aralela.”
E V O L U C IO N IS M O 358

“ In th a t E s sa y (Progress: Its Law and c o m o a m a r c a c o m u m d a e v o lu ç ã o so b


Cause, 1857), a s a ls o in th e firs t e d itio n to d a s a s s u a s f o r m a s . P o r to d a p a r te n a
o f th is w o rk , I fell in to th e e r r o r o f s u p ­ n a tu r e z a p e q u e n o s to d o s fo rm a m -s e n o
p o s in g th a t th e tr a n s f o r m a tio n o f th e h o ­ g ra n d e to d o in f in ito , c a d a u m te n d o as
m o g e n e o u s in to h e te ro g e n e o u s c o n s titu ­ s u a s re la ç õ e s p a r tic u la r e s d e s o lid a rie d a ­
te s E v o lu tio n ; w h e re a s , a s w e h a v e se e n , d e c o m o m u n d o q u e o c e r c a .” Psicolo­
it c o n stitu tes th e sec o n d a ry re -d istrib u tio n gia, 1? e d „ c a p . I l l , § 12. C f. 4? e d ., V II,
a c c o m p a n y in g th e p rim a ry re d is trib u tio n C . 3 ( tr a d . f r . P o ite v in , 461).
in th a t E v o lu tio n w h ic h w e d is tin g u is h a s P a re c e -n o s q u e e s ta d e fin iç ã o q u a li­
c o m p o u n d , — o r , r a th e r , a s w e sh all p re ­ ta tiv a (D ) é a q u e m e lh o r c o rre s p o n d e a o
s e n tly se e , it c o n s titu te s th e m o s t c o n s p i­ e s p írito re a l e h is tó ric o d o e v o lu c io n ism o
c u o u s p a r t o f th is s e c o n d a ry re d is trib u ­ e , p o r c o n s e q ü ê n c ia , p e n s a m o s q u e h a ­
t i o n .” 1 First Principles, n o ta a o § 119. A v e ria in te re sse e m to m a r a p a la v r a evo­
e v o lu ç ã o p r o p r ia m e n te d ita é e n tã o d e fi­ lução a p e n a s n e s ta a c e p ç ã o p re c isa .
n id a d a m a n e ir a se g u in te : “ E volution, S em d ú v id a , o se n tid o C deve s e r ta m ­
u n d e r its sim p le st a n d m o s t g e n e ra l a s ­ b é m r e p r e s e n ta d o , n a o n a s f o r m a s b a s ­
p e c t, is th e in te g ra tio n o f m a tte r a n d c o n ­ ta r d a s q u e m a is a tr á s a n a lis a m o s , m a s ,
c o m ita n t d is s ip a tio n o f m o v e m e n t: w h i­ p r im e ir o , n a s u a s ig n ific a ç ã o g e ra l e , se­
le dissolution is th e a b s o r p tio n o f m o tio n g u n d o , n a a p lic a ç ã o p a r tic u la r q u e d ele
a n d c o n c o m ita n t d é s in té g ra tio n o f m a t­ fe z P e r r i n . P a r a a s ig n ific a ç ã o g e ra l,
te r .” 12 Ibid., § 97. P o r o u tr o la d o , n a s p r o p o m o s transformação dirigida , o u
o b r a s a n te r io r e s (Princípios de biologia, m e lh o r , vecção (p o r a n a lo g ia c o m vetor)
Princípios de psicologia, Princípios de so­ e p a r a a a p lic a ç ã o p a r tic u la r a o p rin c íp io
ciologia, Princípios de moral) é d e n o v o d e C a r n o t, involução. D u a s ra z õ e s m ili­
feito ap elo q u ase ex clu siv am en te à fó r m u ­
ta m e m f a v o r d e s ta p a la v r a e c o n tr a a d e
la q u a lita tiv a d a e v o lu ç ã o . É ta m b é m e la
e v o lu ç ã o : 1 ?, o u s o j á c o n s a g ra d o d a p a ­
q u e H õ f f d i n g a c e ita , p r e s ta n d o h o m e ­
la v ra entropia * ( ú I q o t t íj , lite ra lm e n te in­
n a g em a S p e n c e r e ju n ta n d o - lh e a p e n a s
volução) a p lic a d a p o r C Â τ Z è « Z è à g r a n ­
u m a d e te rm in a ç ã o m ais p re c isa , a te n d ê n ­
deza c u jo c rescim en to m e d e e sta tr a n s f o r ­
cia p a ra o d e se n v o lv im e n to d a in d iv id u a ­
m a ç ã o ; 2 ? , o f a to d e a s tra n s f o r m a ç õ e s
lid a d e : “ E m to d o s o s d o m ín io s a evolu­
físic as irrev e rsív e is s e re m c a r a c te riz a d a s
ção c o n siste n a p a s s a g e m d e u m e s ta d o p o r u m p ro g r e s s o d a h o m o g e n e id a d e
in c o e re n te , in d e fin id o e h o m o g ê n e o p a ­
(ig u alização e s p o n tâ n e a d a s p re ssõ e s, d as
r a u m e sta d o c o e re n te , b e m d e fin id o , h e­
te m p e ra tu ra s , d o s p o te n c ia is , e tc .) e , p o r
te ro g ê n e o ... O b se rv a re m o s so m en te q u e a
co n se q ü ê n cia , se o p o re m à e v o lu ção spen-
in d iv id u alização p ro g ressiv a p o d e ser d a d a
c e r ia n a n a m e d id a e m q u e e sta é u m p r o ­
g re sso e m d ire ç ã o à h e te ro g e n e id a d e e à
1. “ Neste E n saio, tal com o na prim eira edição in d iv id u a liz a ç ã o .
dos P rim eiros prin cíp io s, caí n o erro de supor que Rad. int.: A . E v o lv ig ; B . F ia d ; C .
esta transform ação do hom ogêneo em heterogêneo V ek ci; D . E v o lu c i (e, p a r a a transforma­
constitui a Evolução; enquanto que, com o j á vimos,
ção inversa, In v o lu c i); E . T r a n s fo rm ig .
ela constitui a redistribuição secundária que acom ­
panha a redistribuição prim ária n a evolução que cha­
E V O L U C IO N IS M O D . Evolutionis-
m am os com posta; ou m elhor, com o vam os imedia­
tam ente ver, ela constitui a p arte m ais notável desta mus, Entwickelungstheorie; E . Evolutio­
redistribuição secundária.’’ nism·, F . Evolutionism e o u évolutionnis­
2. “ A E volu ção, sob o seu aspecto m ais simples me; I. Evoluzionism o.
e m ais geral, é a integração da m atéria e a dissipação
S is te m a filo só fic o o u cien tífico q u e se
concom itante d o m ovim ento; enquanto que a d isso ­
lução é a absorção d o m ovim ento e a desintegração b a s e ia n a id é ia d e e v o lu ç ã o , e m to d o s o s
concom itante da m a té ria .” s e n tid o s d a p a la v r a ; e e m p a r tic u la r :
359 EXCEÇÃO

A . F ilo s o fia d o d e v ir, em o p o s iç ã o à B . M ais e sp e c ia lm e n te , e s ta p a la v ra


filo s o fia d o e te r n o e d o im u tá v e l. ap lic a-se às e n u n c ia ç õ e s q u e c o n c e rn e m
B . S in ô n im o de transform ism o : d o u ­ à m e d id a , e n e ste caso :
trin a de L τ Oτ 2 T3 , D τ 2 ç « Ç , e tc ., seg u n ­ 1? U m a m e d id a A é exata o u absolu­
d o a q u a l as espécies* d e riv a m u m a s d a s tamente exata q u a n d o n ã o é n em s u p e ­
o u tr a s p o r tr a n s f o r m a ç ã o n a tu r a l. r io r nem in fe rio r , p o r p o u c o q u e seja , à
C . D o u tr in a s e g u n d o a q u a l a lei g e­ g ra n d e z a m e d id a . E x .: “ O la d o d o h e x á ­
ra l d o d e se n v o lv im e n to d o s seres é a g o n o re g u la r in s c rito é e x a ta m e n te ig u al
d ife re n c ia ç ã o * a c o m p a n h a d a d e in te g ra ­ a o r a io .” V er Preciso.
ç ã o (v er m ais a trá s Evolução , D ), lei se­ 2? U m a m e d id a A é exata co m a a p ro ­
g u n d o a q u a l se te ria m su ce ssiv a m e n te x im a ç ã o d e 1 enésimo q u a n d o a g r a n d e ­
f o r m a d o o s iste m a s o la r, as esp écies q u í­ za m e d id a é c o m p re e n d id a e n tre os d o is
m ic a s, o s seres v iv o s, a s fa c u ld a d e s in te ­ v a lo re s A t — .
le c tu a is , as in stitu iç õ e s so ciais. n
A s Ciências exatas s ã o a q u e la s q u e
C RÍTIC A s ã o c o n s titu íd a s p o r p ro p o s iç õ e s e x atas
n o se n tid o B, 1?.
E s ta n d o já r e p re s e n ta d o o seg u n d o Rad. int.: E x a k t.
sen tid o com p recisão pelo te rm o transfor­
E X C E Ç Ã O D . Ausnahm e; E . Excep­
mismo, co n v ém re s e rv a r evolucionismo
tion ; F . Exception·, I. Eccezione.
p a ra o sen tid o C , c o m o é , a liá s , o u so
A . A to p elo q u a l se exclui u m caso de
m a is g e ra l e n tre os filó so fo s c o n te m p o ­
u m a re g ra o u d e u m a fó r m u la g e ra l q u e
râ n e o s.
lh e s e ria a p lic áv e l, r e s u lta n d o e sta e x clu ­
Rad. int.\ A . F ia d is m ; B. T r a n s f o r -
s ã o q u e r d o u s o (c o m o n a g ra m á tic a ),
m ism ; C . E v o lu c io n is m .
q u e r d o s re su ltad o s d a o b serv a ç ã o (co m o
n a s a n o m a lia s b io ló g ic a s), q u e r d a p r ó ­
E V O L U ÍD O D . Entwickelt ; E . Deve-
p r ia d e cisã o q u e e sta b e le c e a re g ra (c o ­
loped; F . Évolue; I. Evoluto.
m o n as leis), q u e r de u m a d e rro g a ç ã o , v o ­
P r o p ria m e n te : m o d ific a d o e m co n se-
lu n tá r ia o u n ã o , d e u m a n o r m a re c o n h e ­
q ü ê n c ia d e u m a e v o lu ç ã o n u m d o s d iv e r­
c id a e h a b itu a lm e n te se g u id a .
sos se n tid o s d e s ta p a la v r a . É n e c e ssá rio
B . N o s e n tid o c o n c re to : o p ró p r io c a ­
p re s ta r a te n ç ã o a o c o n tra -se n so , freq ü e n -
so q u e é e x c lu íd o . “ U m a re g ra sem ex ce­
te m e n te c o m e tid o (em ra z ã o d a c o n fu s ã o
ç ã o ."
e n tre as id éias d e e v o lu çã o * e d e p ro g re s ­
C . A to p elo q u a l se aleg a u m a circu n s­
so * ), q u e c o n siste e m u tiliz a r e sta p a la ­
tâ n c ia p a rtic u la r, q u e r d iz er, p e lo q u a l se
v ra c o m o u m sim p le s s in ô n im o d e s u p e ­
e x tra i a r g u m e n to d e ss a c irc u n stâ n c ia p a ­
rio r o u d e m a is p e rfe ito . C f. Diferenciar.
ra ju s tific a r u m a d e rro g a ç ã o d a re g ra g e­
ra l ap lic áv e l a o s caso s d e s ta esp écie (este
EXATO D . Exakt; E . Exact; F .
s e n tid o é p a r tic u la r a o u so ju ríd ic o ) .
Exact·, I. Esatto.
A . U m a e n u n c ia ç ã o é exata (exactus, CRÍTIC A
p e rfe ito , a c a b a d o ) q u a n d o é a d e q u a d a * O a d á g io “ A e x ceção c o n firm a a re ­
à q u ilo q u e e stá d e s tin a d a a e n u n c ia r. g r a ” , m u ito fr e q ü e n te m e n te to m a d o c o ­
A ex atid ão (in telectu al) co n siste, pois: m o co n tra-sen so , q u e r dizer q u e ao se ale­
1?, em fa z e r c o n h e c e r sem a m b ig ü id a d e g a r u m a c ircu n stân cia especial se reco n h e­
a q u ilo q ue se p ro p õ e ; 2?, em fo rn e c e r u m ce c o m isso m e sm o o p rin c íp io o u a f ó r ­
c rité rio q u e p e rm ita re c o n h e c e r, ig u a l­ m u la g eral q u e se p re te n d e d e rro g a r “ ex ­
m e n te s e m a m b ig ü id a d e , o q u e e s t á o u c e p c i o n a l m e n t e ” . A f o r m a c o m p le ta d e s­
n ã o c o n fo rm e c o m essa in te n ç ã o . te a d á g io d e o rig e m ju ríd ic a é: “ Ex-
E X C E P T IV A 360

c e p tio f ir m a t re g u la m in c a s ib u s n o n ex- fa z e r m a is d o q u e o seu d e v e r n ã o é c h a ­


c e p lis ” (a e x ce ç ã o c o n f ir m a a re g ra n o s m a d o u m ex cesso . F a la r d e u m “ ex cesso
casos q u e n ã o fo ra m ex cetu ad o s). C f. este d e z e lo ” é d e s a p ro v á -lo . C f. Incoor-
o u tr o a d a g io : “ E x c e p tio stric tissim i j ú ­ denável.
ris e s t” (a e x ceção é u m d ire ito e s tr ita ­ 2. O a d je tiv o excessivo e o a d v é rb io
m e n te lim ita d o ; n ã o p o d e esten d er-se p o r excessivamente tê m s e m p re o s e n tid o B.
a n a lo g ia ). É d e v id o a u m a c o n fu s ã o q u e eles s ã o t o ­
É p o is g ro sse ira m e n te so fistico a p e la r m a d o s n a lin g u a g e m p o p u la r p o r extre­
a e s ta e x p re s s ã o p ro v e rb ia l p a r a m a n te r mo, extremamente, o u m e sm o c o m o sim ­
u m a g en eralização in d u tiv a à q u a l u m a d ­ p les s u p e rla tiv o s . “ U m h o m e m ex cessi­
v e rs á rio o p õ e u m e x e m p lo c o n tr á r io . v a m e n te in te lig e n te ” , q u e r d iz e r, q u a n ­
Rad. int .: E cc. d o se fa la c o rre ta m e n te , u m h o m e m c u ja
E X C E P T IV A D. A usnehm end ; E . in te lig ê n cia e stá d e m a s ia d o d e se n v o lv id a
Exceptive ; F . Exceptive: I. Eccettuaüva, em re la çã o às suas o u tra s fa c u ld a d e s, p re ­
eccettiva. ju d ic a n d o as q u a lid a d e s e ssen ciais.
P r o p o s iç ã o c o m p o s ta q u e a f ir m a u m R ad . int.: E ces.
p re d ic a d o d e u m s u je ito g e ra l e x c e tu a n ­
1. E X C IT A Ç Ã O D . Reiz, e x c ita ç ã o
d o d e ssa a f ir m a ç ã o u m o u v á rio s in d iv í­
p ro p r ia m e n te d ita ; Erregung, m u d a n ç a
d u o s , u m a o u v á ria s esp écies.
d e e s ta d o p ro d u z id a p o r essa e x c ita ç ã o ;
Rad. int.: E k c e p ta n t.
E . Excitation·, F. Excitation·, 1. Ecci-
E X C E S S O D . Übermass, Übermàs- tazione.
sigkeit; E . Excess ; F . Excès; I. Eccesso. A . A ç ã o d e u m e s tím u lo s o b re u m a
A . A q u ilo q u e u ltr a p a s s a u m a d a d a e x tre m id a d e n e rv o s a se n s itiv a ( p o n to de
q u a n tid a d e to m a d a c o m o p o n to d e re fe ­ p a r tid a d a impressão*). C h a m a -s e e n tã o
rên cia. “ U m a a p ro x im a ç ã o p o r ex cesso .” medida da excitação à m e d id a d o f e n ô ­
“ O ex cesso d a o f e r ta s o b re a p r o c u r a .” m e n o físico to m a d o c o m o estim u lo (so m ,
C f. D efeito, A . lu z , p re s s ã o , e tc .).
B . A q u ilo q u e u ltr a p a s s a sem ra z ã o B . M en o s p ro p ria m e n te , c o n ju n to d o s
a m e d id a n o r m a l o u d e se já v e l. “ U m ex ­ fe n ô m e n o s físic o s e fisio ló g ic o s n e ce ssá ­
cesso d e c o n fia n ç a n a s a b s tr a ç õ e s ” ; “ c o ­ rio s p a r a a p r o d u ç ã o d e u m a sensação*.
m e te r e x ce sso s” . N e ste s e n tid o , a e x c ita ç ã o c o m p re e n d e a
C . A lg u m a s v ezes, m a s im p r o p r ia ­ e s tim u la ç ã o d e u m a e x tre m id a d e n e rv o ­
m e n te , a q u ilo q u e é e x tre m o . “ D o exces­ s a , a tra n s m is s ã o a o c é re b ro , a a ç ã o ce­
so d o s m a le s s a i o r e m é d io .” re b ra l c o n c o m ita n te à a p a r iç ã o d e u m a
C RÍTIC A
s e n s a ç ã o à c o n sc iê n c ia .
Rad. int.: A . S tim u l.
1 . 0 ex cesso , n o s e n tid o B , n ã o é a p e ­
n a s a q u ilo q u e u ltr a p a s s a a m e d id a n o r ­ 2. E X C IT A Ç Ã O D . Aufregung; E .
m a l, m a s o q u e a u ltr a p a s s a sem r a z ã o : Excitement-, F . Excitation: I. Eccitazione.

S o b re E x c ita ç ã o (2) — O s e n tid o p ró p r io d e sta p a la v r a é fisio ló g ic o ; n ã o d e sig n a


o p r ó p r io e stím u lo , m a s a a ç ã o d o e s tím u lo s o b re a e x tre m id a d e n e rv o s a . É sem r a ­
z ã o q u e n a fó r m u la c éleb re d e F e c h n e r se tra d u z iu Reiz p o r excitação*: ele d e sig n a ,
n e ste c a s o , o p r ó p r io e s tím u lo , fe n ô m e n o físico m e n su rá v e l e n ã o o seu e fe ito fisio ­
ló g ic o . ( G. Dumas)
D istin g u e -se em a le m ã o der aussere Reiz, q u e é o e s tím u lo de der innere R eiz ,
q u e c o rre s p o n d e à a ç ã o fisio ló g ic a . V er E « è Â 2 , s u b V o.
E

S e ria m e lh o r d iz e r o excitante em vez d e o estím ulo. ( V. Egger)


361 E X IG E N C IA

S u p e ra tív id a d e m e n ta l p ro d u z id a p o r çâo*). “ É p re c is o d is tin g u ir o a to v o lu n ­


c a u s a s e x te rio re s (e m o ç õ e s, sen saçõ es tá r io p ro p r ia m e n te d i t o ... d a q u ilo q u e o
d in a m o g ê n ic a s * , in to x ic a ç õ e s , lo u c u r a p re c e d e o u o a c o m p a n h a d a q u ilo q u e se
c irc u la r , m a n ia , e tc .). lh e seg u e. O q u e o p re c e d e é a re fle x ã o
Rad. int.: E k c it. o u o d e se jo e o q u e se lh e seg u e é a exe­
cução.” P . J τ Ç , Traite de philoso­
E I

E X C I T A N T E D . Reizm ittel; E . Sti- phie, 4? e d . (1 8 8 4 ), p . 275. “ C o n tu d o , é


m ulus ; F . Excitant; I. Stim olo. p reciso re c o n h e c e r q u e p a ra q u e o a to v o ­
A q u ilo q u e p r o d u z a e x c ita ç ã o * . V er lu n tá r io s e ja c o m p le to e in te iro é p re c iso
Estímulo e c f. as o b serv açõ es a Excitação. q u e h a ja u m c o m e ç o d e e x e c u ç ã o , q u e r
E X C L U Í D O (P rin c íp io d o meio) o u d iz e r , q u e d a re s o lu ç ã o se te n h a c o m e ç a ­
d o a p a s s a r à a ç ã o ...; a p r ó p r ia re s o lu ­
d o terceiro excluído; v er Meio.
ç ã o p o d e ría , e n tã o , ser a p e n a s u m a in te n ­
E X C L U S Ã O D . Ausschliessung; E . ç ã o e u m a sim ples v e le id a d e .’r /ô /d ., 277.
Exclusión; F . Exclusión; I. Esclusione. “ T o d a v o liç ã o c o m p re e n d e q u a tr o m o ­
R elação ló g ica de d u as classes q ue n ã o m e n to s p rin c ip a is q u e a o b se rv a ç ã o in te r­
têm n e n h u m e lem en to c o m u m o u de d u a s n a p o d e a n a lis a r fa c ilm e n te : A . C o n c e p ­
c a ra c te rís tic a s q u e n ã o p o d e m p e rte n c e r ç ã o ... B . D e lib e r a ç ã o ... C . R e s o lu ç ã o ...
a o m e sm o te m p o a o m e sm o s u je ito . D . E x e c u ç ã o ...” A . R E à , Leçons élé­
Rad. int.: E x k lu s. mentaires de psychologie et de philoso­
phie , n o v a e d iç ã o (1908), p p . 414 ss.
E X C L U S IV A D . Exclusive (la t.); E . Rad. int.: E x e c u t.
Exclusive ; F . Exclusive; I. Esclusiva.
A . P r o p o s iç ã o q u e e n u n c ia q u e u m E X E G E S E D . Auslegung; E . Exege-
p re d ic a d o p e rte n c e a p e n a s a s u je ito s de sis; F . Exégèse; I. Esegesi.
u m a d a d a c lasse: “ S ó o s A s ã o B .” L ó ­ I n te rp r e ta ç ã o filo ló g ica e d o u trin a l de
gica d e P o r t- R o y a l, I I , c a p . X . u m te x to , p a r tic u la r m e n te d e u m te x to
B . Q u a n d o se fa la d e u m a particular*, q u e f a z a u to r id a d e : a B íb lia , o s te x to s d e
a q u e la q u e a f ir m a o u n e g a o p re d ic a d o le i. “ A ex eg ese d o s c ó d ig o s e a n a tu r e z a
apenas d e u m a p a r te d a e x te n s ã o d o s u ­ d o ra c io c ín io ju r íd ic o ” , títu lo d e u m a
je ito . C f. M inim al. C h a m a -s e ta m b é m o b r a d e M a llie u x (1908).
limitativa*. E X E M P L A R (C a u s a ) D . M uster...;
C . Q u a n d o se f a la d e u m a alternati­ E . E x e m p la ry ; F . E x e m p la ire ; I .
va* o u d e u m a disjuntiva*, a q u e la e m q u e Esemplare.
to d o s o s m e m b ro s s ã o in c o m p a tív e is e n ­ M o d e lo ex isten te em s i, c o m o as id éias
tr e si. p la tô n ic a s , o u c o n c e b id o p elo e sp írito c o ­
D . Q u a n d o se f a la d e u m a condicio­ m o u m id e a l a r tís tic o e c o n fo rm e m e n te
nal*, a q u e la q u e e n u n c ia u m a c o n d iç ã o a o q u a l a c a u s a e fic ie n te p r o d u z o seu
in s u b s titu ív e l (sirte qua non). e fe ito . T e rm o a n tig o e p o u c o u s a d o .
Rad. int.: E x k lu d a n t. Rad. int.: E x e m p la ri.
E X E C U Ç Ã O T e rm o c o n s a g ra d o n o s E X I G Ê N C I A D . Forden, Forderung;
tr a ta d o s de p sico lo g ia fra n c e s a p a r a o p o r E . D em and ( m u ito m a is f o r te d o q u e em
a p r ó p r ia re a liz a ç ã o d e u m a to v o lu n tá ­ fran cês), requirement; F . Exigence; I. Esi-
rio à decisão* (resolução* o u determina - genza.

S o b re E x ig ê n c ia — Ed. L e R o y a p lic a m a is e s p e c ia lm e n te e s ta p a la v r a à q u ilo q u e


é a f ir m a d o u n ic a m e n te p e lo f a to d e q u e se a f ir m a q u a lq u e r c o isa , o u r e q u e rid o u n i­
c a m e n te p e lo f a to d e q u e se q u e r q u a lq u e r c o isa . V e r n o Suplemento , n o fim d a p r e ­
se n te o b r a , u m a n o ta q u e ele n o s q u is d a r a e ste re s p e ito .
E X IS T Ê N C IA 362

T e r m o u tiliz a d o j á h á a lg u n s a n o s A . E x istê n c ia em si * , q u e r d iz e r, o fa ­
c o m b a s ta n te fr e q ü ê n c ia n a s o b r a s d e fi­ to d e s e r, in d e p e n d e n te m e n te d o c o n h e ­
lo s o fía f r a n c e s a p a r a r e p r e s e n ta r d e m a ­ c im e n to (q u e r d o c o n h e c im e n to a tu a l,
n e ira m a is a m p la o g ê n ero d e lig a ç ão c u ja q u e r d e to d o c o n h e c im e n to p o ssív e l).
im p lic a ç ã o é a f o r m a ló g ic a . “ P a r a q u e B . E x istên cia n a exp eriên cia* , q u e r d i­
o p e n s a m e n to se e x e rç a , é p re c iso q u e a l­ z e r , o f a to d e ser, q u e r a tu a lm e n te a p r e ­
g u m a c o isa lh e seja d a d a q u e n ã o seja ele. s e n ta d o n a p e rc e p ç ã o o u n a c o n sc iê n c ia
E ste é preciso é p o r si p r ó p r io u m a exi­ d o e u , q u e r c o n ce b id o c o m o o b je to d a ex­
g ê n c ia d o p e n s a m e n to .” C . B o u g l é , p e riê n c ia n e c e ssá ria a in d a q u e n ã o a tu a l.
“ R e c o rd a ç õ e s d a s c o n v e rs a s c o m J . L τ - A p a la v r a , n estes d o is se n tid o s, o p õ e -
T7 EÂ « 2E ” n a s Obras d e J. Lachelier, se , p o r u m la d o , a essência*, c o m o o f a ­
X X X I X . “ A ss in a le i q u e e n c a r a v a s o b re ­ to d e s e r à n a tu r e z a d o se r; e, p o r o u tr o
tu d o o f a to d a e v o lu ç ã o n a s s u a s re la çõ e s la d o , a o nada, c o m o a a f ir m a ç ã o à
c o m a e x ig ên c ia id e a lis ta . E s te fa to p a r e ­ negação.
c e c o n tr a d iz e r e s s a e x ig ê n c ia , p o is m o s ­ C . N u m s e n tid o f o r te : re a lid a d e v iv a
t r a o p e n s a m e n to e m e rg in d o d a m a té ria , o u re a lid a d e v iv id a , em o p o s iç ã o à s a b s ­
s a in d o d a n o ite .” E d . L E R o y , L'exigen­ tra ç õ e s e à s te o ria s . V e r Existencialismo.
ce idéaliste et le fa it d e l'évolution , p . 1. D . E x istên cia ló gica, q u e r dizer, o fa to
V e r Suplem ento. d e q u e s e n d o d a d o o c o n ju n to d e id é ia s
c o n s id e ra d a s u m a c e r ta c lasse n ã o é v a ­
C R ÍT IC A
z ia ( = n u la e m ex ten sã o ). E x .: “ N ã o exis­
E x ig ir é m a is fo r te d o q u e in v o c a r* te n ú m e ro q u a d r a d o q u e s e ja o d o b r o d e
m a s n ã o te m , c o m o implicar *, u m c a r á ­ u m o u t r o . ” N e ste s e n tid o , a e x istê n c ia
te r in te le ctu a l e rig o ro sa m e n te d e te rm in a ­ n ã o é u m a tr ib u to d o s in d iv íd u o s, m a s d a
d o . P e rte n c e s o b re tu d o a o v o c a b u lá rio d a classe.
filo s o fia e x iste n c ia l* . A lé m d is so , e n ­ Postulados de existência, a q u e le s q u e
q u a n to implicar se p o d e d iz e r d a re la ç ã o c o lo ca m a existên cia (n o sen tid o D ) d e u m
e n tre sim p les lexis , e m p a r tic u la r d a re ­ o u d e v á rio s in d iv íd u o s q u e re s p o n d e m
la ç ã o e n tre u m a p re m is s a m a io r e u m a a u m a d a d a d e fin iç ã o .
c o n c lu s ã o c o n h e c id a c o m o fa ls a q u e se r­
C R ÍT IC A
ve p a r a a r e f u ta r , exigir só se d iz d a q u ilo
R Z è è Â Â (The Principles o f M athe­
E
q u e é c o n s id e ra d o c o m o u m a v e rd a d e d e
matics , § 427) d is tin g u e o ser p u r o e s im ­
f a to o u d e d ire ito .
p le s, being d a e x istên c ia : o ser p e rte n c e
Rad. int.\ P o s tu l.
a to d a c o isa co n ceb ív el (n ú m e ro s, q u im e ­
E X I S T Ê N C I A D . E xistem , Dasem; ra s , d e u se s de H o m e r o , e tc .), q u e r d iz e r,
E . Existence ; F . Existence·, I. Esistenza. o se r-C ; e n q u a n to q u e a existência , p e lo
O f a to d e ser* em to d a s a s a c e p ç õ es c o n tr á r io , é u m a p r o p r ie d a d e d e c e rta s
e m q u e a p a la v r a se u tiliz a a b s o lu ta m e n ­ classes d e in d iv íd u o s .
te (se n tid o A ). Rad. int.: E x ist.

S o b r e E x istê n c ia — O s e sc o lá stico s o p õ e m essentia a existentia: a e ssê n c ia é a


n a tu r e z a c o n c e p tu a l d e u m a c o isa , e la é c o n c e b id a c o m o u m p o d e r s e r; a e x istê n c ia ,
p e lo c o n tr á r io , é a p le n a a tu a lid a d e , ultima actualitas, a p a r e c e a ssim c o m o
a c re s c e n ta n d o -s e à essê n cia * , C h r. W o l f f seg u e a in d a e sta d is tin ç ã o n a s u a b e m c o ­
n h e c id a d e fin iç ã o : “ E x is te n tia m d e fin io p e r c o m p le m e n tu m p o s s ib ilita tis .” O ntol .,
143. (R. E ucken)
A n o ç ã o d e e x istê n c ia n ã o im p lic a rá ta m b é m a id é ia d e u m a continuidade do ser
363 E X IS T E N C IA L IS M O

E X I S T E N C I A L D . Existential·, E . c o m o e x is tê n c ia c u jo c o n ta to n o s tr a n s ­
Existential·, F . Existentiel; I. Esistenziale. f o r m a , e lo n g e d e is o la r e m n ó s a f a c u l­
A . Ló ; « Tτ . D iz-se d o s ju íz o s q u e d a d e d e c o n h e c e r d o re s to d o n o s s o se r
a firm a m o u n e g a m a e x istên c ia * d e u m a e la fa z p a r tic ip a r n a in v e s tig a ç ã o f ilo s ó ­
classe sim p les o u c o m p o s ta c o m o : A » 0 fic a o in d iv íd u o in te ir o , c o m a s s u a s r e a ­
(n ã o existe A ); A B * 0 (ex istem a lg u n s ç õ e s s e n tim e n ta is e p a s s io n a is d ia n te d a s
A B = A lg u m A é B = A lg u m B é A ). A c o is a s .” E . B2 é 7 « E 2 , p re fá c io à o b r a d e
q u e s tã o d o a lc a n c e existencial (E . Exis­ M τ è è ÃÇ -O Z 2 è E Â , La philosophie en
tential import) d o s ju íz o s é e sta : A s p r o ­ Orient, p . X .
p o siç õ e s q u e r u n iv e rs a is , q u e r p a r tic u la ­ Rad. int.: E x ist.
res im p lic a m a e x istê n c ia d a s classes de
E X IS T E N C IA L IS M O D . Existentia-
q u e s ã o o s u je ito o u o p re d ic a d o ?
lismus, existentiale o u existentielle Philo­
B . R elativ o à e x istên cia n o se n tid o C .
sophie ( u t i l i z a d a s p a r a d i s t i n g u i r d i f e r e n ­
F ilo so fia ex istencial V er Existencialis­ te s d o u t r i n a s q u e a c e ita m o u n ã o a q u a ­
m o. “ A filo so fia d ita existencial c o n sid e ­ E . Existen­
lific a ç ã o d e e x is te n c ia lis ta s );
r a a re a lid a d e m e n o s c o m o u m o b je to em tialism; F . Existentialisme ; I. Esisten-
face de u m s u je ito c o g n o sc e n te d o q u e zialismo.

n o te m p o ? D ito de o u tr a m a n e ira , n ã o p a re c e q u e a p a la v r a existência en volv e a id éia


de q u a lq u e r c o isa m a is d o q u e a atualidade (n o s e n tid o B ), a s a b e r, a p e rm a n ê n c ia ?
Is to seria c o n f ir m a d o p e la o rig e m p sic o ló g ic a d e s ta n o ç ã o q u e é a p e n a s a a b s tr a ç ã o
e a o b je tiv a ç ã o d a c o n tin u id a d e d o n o s so eu . (C . Ranzotí)
A d is tin ç ã o d e R u sse ll, a s s in a la d a n a C rític a , n ã o m e p a re c e a c e itá v e l p a r a o u so
d a p a la v r a fra n c e s a . ( V. Egger) É v e rd a d e q u e , em m u ito s c a so s, ser, s o b re tu d o c o ­
m o s u b s ta n tiv o , te m u m s e n tid o m a is re a lis ta e m a is p le n o d o q u e existência, m a s
é p re c iso n o ta r q u e ele ta m b é m é u s a d o e m m u ita s e x p re ssõ e s d e p u r a ló g ic a o u m a ­
te m á tic a ; p o r e x e m p lo : “Seja u m tr iâ n g u lo , e t c .” (A. L.)
E s ta d is tin ç ã o a p e n a s r e to m a a d is tin ç ã o e sc o lá stic a e n tre e ss ê n c ia e ex istên c ia .
É e x a to d izer q u e ser tem fr e q ü e n te m e n te u m s e n tid o m ais re a lis ta e m a is p le n o d o
q u e ex istên cia, m a s e sta o b se rv a ç ã o d e v e ria c o n d u z ir à o b s e rv a ç ã o de q u e , e n tre exis­
tência e as p a la v r a s d o m e sm o ra d ic a l e d e s e n tid o s q u a s e id ê n tic o s, ta is c o m o ser,
essência , entidade, ex istem c a m b ia n te s a p re c ia tiv o s q u e p o d e m c h e g a r a té a o p o s i­
ç ã o . S e g u n d o os a u to r e s , é o ser q u e é re a l, o u a e ssê n c ia , p o s s u in d o o s e x isten te s
a p e n a s u m a m e ia re a lid a d e . O u , p e lo c o n tr á r io , s ã o os e x isten te s q u e , só e les, p o s ­
s u e m e c o n s titu e m a re a lid a d e n o s e n tid o f o r te . A q u e re la d o s u n iv e rs a is é e te r n a
e o s filó so fo s n o v o s , d e p o is d o p rim e iro e fe ito d e s u r p r e s a , re e n c o n tr a m - n a . T alv ez
ex ista u m b a la n c e a m e n to e u m r itm o n o f a v o r de q u e g o z a m s u c e ssiv a m e n te estas
d o u trin a s o p o s ta s , c u jo eclip se n ã o seria n u n c a um d e s a p a re c im e n to d e fin itiv o . (A/.
Marsal)
N a id é ia d e e x istê n c ia , L. Lτ â E Â Â E d is tin g u e trê s se n tid o s: 1?, o ser e n q u a n to
m a n ife s ta d o ; 2 ? , “ o p r ó p r io f a to d e s e r p o s to , q u e r p o r m im m e sm o , q u e r p o r o u ­
tr e m , q u e r p e lo to d o d o ser, n a m e d id a em q u e ele a ce ite re c e b e r-m e ” ; 3 ? , “ o p r ó ­
p rio a to p elo q u a l m e d eslig o d o ser p u r o p a r a e n c o n tr a r nele a m in h a e s s ê n c ia .”
D e l ’acte, p p . 9 7 , 9 8 , 101.
S o b re E x iste n c ia lism o — A rtig o c o m p le ta d o seg u n d o as in d ic a çõ e s d e Jean Wahl,
q u e a c re s c e n ta is to : “ F o i K ie rk e g a a rd o in ic ia d o r d a n o v a sig n ific a ç ã o d a d a à id é ia
E X IS T E N C IA L IS M O 364

A . N o s e n tid o m a is g e ra l: a c e n tu a ç ã o se e m d o u tr in a s m e s m o se v e ra s, m e d id a
d a im p o r tâ n c ia filo s ó fic a q u e a e x istê n ­ d a d is tâ n c ia e n tre a s a b s tr a ç õ e s te ó ric a s
c ia in d iv id u a l, c o m as su a s c a r a c te rís ti­ e a e x p e riê n c ia c o n c r e ta ; e m re s u m o , n e ­
cas irred u tív eis, tem . “ R eg resso à ex istên ­ c e s s id a d e d e c o n s id e ra r a e x istê n c ia fa c e
c ia ta l c o m o ela n o s é d a d a , s e n tim e n to a fa c e , ta l c o m o ela é v iv id a , e d e p e n s a r
c re sc e n te d a v a id a d e q u e p o d e in s in u a r­ s o b re e la c o m e fic á c ia : eis ju s ta m e n te al-

d e e x istên c ia : n ã o m a is s in ô n im o d e ser, m a s d e s u b je tiv id a d e .” V e r s o b re e ste p o n ­


to É tie n n e G « Â è Ã Ç , O ser e a essência; J . W τ Â , E studos kierkegaardianos. O b s e r ­
7

v e m o s q u e H e id e g g e r p r e te n d e ser a n te s d e tu d o u m filó s o fo d o s e r (q u e ele p e n s a


p o d e r a tin g ir c o m o “ e x -s istê n c ia ” , s e r-fo ra -d e -s i), q u e J a s p e r s é “ u m filó s o fo d a
e x is tê n c ia ” e q u e a m b o s re c u sa m q u e se lh e s a p liq u e o te r m o e x iste n c ia lista . V e r s o ­
b re este p o n to as c a rta s q u e r e p ro d u z i em Existence et transcendence.
C o n v iria , p o is , re s e rv a r o te r m o e x iste n c ia lism o p a r a a filo s o fia d e S a r tr e , d e
M e r le a u -P o n ty e de S im o n e de B e a u v o ir, q u e a c e ita m e s ta d e s ig n a ç ã o , e p a r a a d e
G a b rie l M a rc e i, j á q u e ele a c e ito u fr e q ü e n te m e n te s e r c h a m a d o “ e x iste n c ia lista c ris ­
t ã o ” . M as n ã o se p o d e c o m p re e n d e r S a rtr e sem r e m o n ta r a H e id e g g e r e d e H e id e g ­
g e r a K ie rk e g a a rd . S a rtr e d iz : “ A e x istê n c ia p re c e d e a e s s ê n c ia .” H e id e g g e r p re fe re
d izer: “ A essência d o h o m e m está n a su a existên cia” , q u e r d iz er, n o seu s er-n o -m u n d o .
V er s o b re e s ta d ife re n ç a a c a r ta de H e id e g g e r a J e a n B e a u fr e t em Platons Lehre von
der Wahrheit, m it einem B rief über H um anism us (B e rn a , 1947). S e g u n d o S a r tr e , o
e x isten te fa z a si m e sm o a o m e sm o te m p o q u e é a s u a “ s itu a ç ã o ” e e s ta s itu a ç ã o
d e p e n d e , em ú ltim a in s tâ n c ia , d ele m e s m o . E le r e to m a a fó r m u la d e L e q u ie r: “ F a ­
z e r e , a o fa z e r, fa z e r- s e .” A lib e rd a d e é p o ssív el a p e n a s p o r q u e o h o m e m n ã o te m
e ssê n c ia q u e o d e lim ite . V er S τ 2 2 , O existencialismo é um humanism o.
I E

O e x isten te é d e fin id o c o m o em d e v ir c o n s ta n te , n u m d e v ir c o n tín u o e a p a ix o n a ­


d o (K ie rk e g a a rd , J a s p e rs ) o u c o m o Ser-no-mundo (H e id e g g e r), e m to d o c a s o , c o m o
lib e rd a d e (J a sp e rs , S a rtre ). E le ju lg a em ú ltim a in s tâ n c ia e n a a n g ú stia . E le e stá d ia n te
d a tra n sce n d ê n cia (K ierk eg aard , Jasp e rs) o u e n tã o tra n s c e n d e a si p ró p r io n u m m u n d o
de o n d e D e u s p a re c e e s ta r a u s e n te , em d ire ç ã o a o f u tu r o , a o s o u tr o s , a o m u n d o ,
a o ser (H e id e g g e r, S a rtre ). (7 . Wahl) Existência , n o s e n tid o f o r te e c o n c r e to , existen­
cial, “ u m e x is te n te ” , n o s e n tid o d e K ie rk e g a a rd , c o m e ç o u a in tr o d u z ir -s e n a lin g u a ­
g e m filo s ó fic a fr a n c e s a c o m o a rtig o d e G a b rie l M a r c e i, “ E x is tê n c ia e o b je tiv id a d e ”
(Revue de métaphysique et de morale , 1925, p p . 175-195). V er ta m b é m J . W a h l, “ C a ­
te g o ria s k ie rk e g a a rd ia n a s ” , e m Recherchesphilosophiques, to m o II I (1933-1934, p u ­
b lic a d o em 1935), p p . 171-202. D e sd e e n tã o “ e x is te n c ia l” e s o b r e tu d o “ e x iste n c ia ­
lis m o ” to r n a r a m - s e tã o c o rre n te s n a F r a n ç a , n a lite r a tu r a e n a filo s o fia , q u e se e n ­
c o n tr a m fr e q ü e n te m e n te m e sm o n o s jo r n a is d iá rio s ( “ O q u e é o e x is te n c ia lis m o ? ” ,
E n tre v is ta a B τ Z E 2
E E I p o r H . M a g n a n , L e M onde, 11 e 15 d e d e z e m b ro d e 1945).
M a s a p a la v r a c o b re u m a g r a n d e v a rie d a d e d e d o u tr in a s , d e sd e a sim p le s te se d e q u e
a e x istê n c ia é irre d u tív e l a o p e n s a m e n to e f o n te de a tiv id a d e c r ia d o r a a té a re c u s a
to ta l de re c o n h e c e r q u a lq u e r d ire ito à ra z ã o p e r a n te a v id a a fe tiv a e v o lu n tá r ia . V er
L ’existence (e d iç õ es d a N . R . F . f 1945), c o n ju n to d e a r tig o s d e A . C a m u s , B. F o n d a -
n e , M . d e G a n d illa c , É t. G ils o n , J . G re n ie r, L . L a v e lle , R . L e S e n n e , B . P a r a in , A .
de W a e h le n s. “ P r e f á c io ” d e J e a n G re n ie r, d ir e to r d a c o le ç ã o , q u e v is a , a o c o n tr á ­
r io , “ u m a in te g ra ç ã o d o e x iste n c ia lism o n a in te lig ê n c ia , sem p o r isso re g re s s a r a o
a n tig o ra c io n a lis m o ” . M a s , a liá s , o s a u to re s d e ste s a r tig o s , n a s u a m a io r p a r te , n ã o
a c e ita m p a r a a s u a d o u tr in a o n o m e d e e x iste n c ia lism o .
365 E X P E R IE N C IA

g u n s d o s tr a ç o s q u e se a ss e m e lh a m n o Gabriel Marcel, o b r a c o le tiv a a p r e s e n ta ­


existencialismo o u n a filo so fia existen­ d a p o r É tie n n e G « Â è ÃÇ (1 947).
cial. ’’ R . L S Ç Ç , Iniroduction à la
E E E

“ E X I S T E N T E ” D iz-se d e u m ser q u e
philosophie, p . 228.
p o ssu i a e x istê n c ia n o s e n tid o C . “ O p a ­
A p lic a-se e ste n o m e às id é ia s filo s ó ­
v o r d o ex isten te d ia n te d a su a ex istên c ia .”
fic a s d e K ie rk e g a a rd , d e J a s p e r s , d e H ei-
J. W τ 7 Â , Estudos kierkegaardianos, p.
d e g g e r, d e C h e s to v , d e B e rd ia e ff, a lg u ­ 357. V er ta m b é m Ente e Existente ( Su­
m a s vezes d e N ie tz sc h e o u d e U n a m u n o . plem ento ).
T o rn o u -s e m u ito c o rre n te n a filo so fia , n a
lite r a tu r a e m e sm o n o jo r n a lis m o d e p o is E X I S T I R e E X I S T E N C I A L V er Su­
d e 1945. M as v e r as o b s e rv a ç õ e s m ais plem ento.
a d ia n te . E X O T É R I C O G . ’E£o.'7tgí,xos, exte­
E s p e c ia lm e n te : rior; D . Exoterisch; E . Exoteric; F . Exo-
B . D o u tr in a filo s ó fic a d e J . - P . S τ 2 - térique; I. Essoterico.
I2 E e x p o s ta filo s o fic a m e n te e m O ser e T e rm o u tiliz a d o e m v á ria s p a s s a g e n s
o nada (1943), m a s d if u n d id a s o b re tu d o por A 2 «è I ó I E Â E è . O s e n tid o é m a l d e fi­
p e lo seu te a tr o , o s seus ro m a n c e s e p e la n id o e d e u lu g a r a v á ria s in te rp re ta ç õ e s
rev ista Les temps modernes (1944 ss.). Ele a n a l i s a d a s e m B Ã Ç« I U , Index Aristotéli­
tira o seu n o m e d a tese: “ A ex istên cia p re ­ cas, I0 4 b 4 4 a 105a 4 9 .
cede a e ssê n cia ” , e x p re ssã o m e ta fís ic a d a N a lin g u a g e m m o d e r n a o p õ e -s e a
c re n ç a n a lib e rd a d e a b s o lu ta s e g u n d o a acroamático* e a esotérico* n o s s e n tid o s
q u a l o ser v iv o e p e n s a n te fa z a si m e sm o A e B. V e r e sta s p a la v ra s .
ta n to q u a n to lh o p e rm ite m c e rta s d e te r ­ Rad. int .: E x o t e r i k .
m in a ç õ e s j á to m a d a s . C f . Angústia, Der- E X P E R IÊ N C IA I ? , n u m sen tid o a b s­
relição, Compromisso, Projeto. tr a t o e g e ra l: “a experiência” (D . Erfah-
C . “ E x isten cialism o c r is tã o .” D o u tri­ rung; E . Experience; F . Expérience; I. Es-
n a d e G a b rie l M τ 2 T Â , e x p o s ta p a r tic u ­
E
perienza). 2 ? , n u m s e n tid o c o n c re to e
la rm e n te em “ E x istê n c ia e o b je tiv id a d e ” , m ais té cn ico : a to d e e x p e rim e n ta r (D . Ex-
Revue de métaphysique et de morale , perim ent; E . Experiment; F . Expérience;
1925, Être et avoir (1 935) e H om o Via- I. Esperimento). V e r Empírico, Experi­
tor (1945). V e r L 'existentiaiisme chrétien, mental.

S o b re E x p e riê n c ia — A rtig o in te ira m e n te re m o d e la d o a p a r tir d a s o b s e rv a ç õ e s


d e J. Lachelier, V. Egger, Rauh, Malapert, Brunschvicg, Mentré.
V . E g g e r d e fin e a e x p e riê n c ia , C , c o m o “ o c o n h e c im e n to d ir e to , in tu itiv o , im e ­
d ia to q u e te m o s d o s fa to s o u fe n ô m e n o s ” . V e r Dictionnaire encyclopédique des scien­
ces médicales, e m q u e se e n c o n tr a ig u a lm e n te u m a a n á lis e p o r m e n o r iz a d a d a e x p e ­
riê n c ia , D , q u e é d e fin id a c o m o “ a p r o d u ç ã o a rtific ia l d o s fe n ô m e n o s c o m v is ta à
s u a o b s e rv a ç ã o p re c isa , c o m p le ta e m e tó d ic a ” (ibid.). N ã o c re m o s , d e p o is d a s d is­
c u ssõ es q u e o c o r r e r a m em s e ssã o s o b re e sta p a la v r a , p o d e r a d o ta r e sta s d e fin iç õ e s:
a p rim e ir a p o r q u e d á à e x p e riê n c ia u m a c a ra c te rís tic a d e c o n h e c im e n to im e d ia to q u e
é p sic o ló g ic a e lo g ic a m e n te d isc u tív e l; a se g u n d a p o r q u e d e fin e m a is a experimenta­
ção d o q u e u m a e x p e riê n c ia to m a d a is o la d a m e n te . (A. L .)
W. Iw anow sky p ro p õ e s u b d iv id ir c o m o se se g u e Experiência, C , d o p o n to d e v is ­
t a d o s e u v a lo r f e n o m e n a l o u tr a n s c e n d e n ta l ( q u e s tã o q u e e lim in a m o s d e p r o p ó s ito
d o te x to p o r e s ta r in s u fic ie n te m e n te e s c la re c id a ):
E X P E R IE N C IA 366

1? A experiência em geral: z id a s p e la v id a (p o r e x e m p lo , o e s q u e c i­
A . O f a to de e x p e r im e n ta r a lg u m a m e n to , a in d ifere n ç a, os c o m p ro m e tim e n ­
c o isa , n a m e d id a em q u e este f a to é c o n ­ to s m o ra is , e tc .), m a s a p e n a s àq u ela s q u e
sid erad o n ã o só c o m o u m fe n ô m e n o tr a n ­ se ju lg a m v a n ta jo s a s . O te rm o te m , p o is,
s itó rio , m a s ta m b é m c o m o a lg o q u e a la r ­ u m v a lo r a p re c ia tiv o * .
ga o u en riq u ece o p e n sa m e n to : “ T e r u m a C. T E Ã2 «τ á Ã T Ã Ç7 E T « OE Ç I Ã . O
d u r a e x p e riê n c ia ; te r (o u te r a d q u irid o ) ex ercício d as fa c u ld a d e s in te le c tu a is c o n ­
a e x p e riê n c ia d a s a sse m b lé ia s p ú b lic a s .” s id e ra d o c o m o a lg o q u e fo rn e c e a o e sp i­
C f . o títu lo d a o b r a de W . J τ O è : The E r ito c o n h e c im e n to s v á lid o s q u e n ã o e stã o
Varieties o f Religious Experience (/4s di­ im p lic a d o s n a m e ra n a tu r e z a d o e sp írito
versas fo rm a s da experiência religiosa ) , e n q u a n to p u r o s u je ito c o g n o sc e n te .
tr a d u z id a em fra n c ê s p o r F r . A ζ τ Z U « I É u s u a l d is tin g u ir n e s te s e n tid o e n tre
c o m o títu lo L ’experience religieuse. a experiência externa (p ercep ção * ) e a ex­
B . C o n ju n to d a s m o d ific a ç õ e s v a n ta ­ periência interna (c o n sc iê n c ia * ); a e x p e ­
jo s a s q u e o ex ercício tra z às n o ssa s fa c u l­ riê n c ia n o seu c o n ju n to é e n tã o o p o s ta
d a d e s , d a s a q u isiç õ e s q u e o e s p ír ito faz q u e r à m e m ó ria * , q u e r à im a g in a çã o c ria ­
a tra v é s d e ste e x ercíc io e, d e m a n e ir a g e­ d o r a e à s o u tr a s fa c u ld a d e s d ita s d e
r a l, d e to d o s o s p ro g re s so s m e n ta is re s u l­ e la b o r a ç ã o * , q u e r à ra z ã o .
ta n te s d a v id a. D istin g u e-se u m a experiên­
cia individual d e u m a experiência da es­ CRÍTICA
pécie (d iz-se a in d a experiência ancestral); D ísse q u e a ex p eriên cia fo rn ece c o n h e ­
e sta p o d e ser tr a n s m itid a q u e r p e la t r a ­ c im e n to s e n ã o só u m a m a té r ia , p o rq u e
d iç ã o (e d u c a ç ã o , lin g u a g e m , e x e m p lo s) o p r ó p r io d a e x p e riê n c ia é te r u m valor
q u e r pela h e re d ita rie d a d e psico fisio ló g ica. probante e a p r e s e n ta r lig açõ es re g u la re s,
É de n o ta r q u e n ã o se c h a m a m e x p e ­ q u e r se c o n sid e re m e sta s c o m o r e s u lta n ­
riê n c ias a to d a s a s m o d ific a ç õ e s p r o d u ­ tes d a n a tu re z a d as co isas c o n h ecid as (ver

“ I. Objeto fenom enal. 1?: T u d o é fe n ô m e n o . A e x p e riê n c ia é o r a e x te rn a , o ra


in te r n a , m a s a p e n a s se a p ó ia s o b re re la ç õ e s . (D . H u m e e seus s u c e sso re s.) 2?: É fe­
n o m e n a l a p e n a s a e x p e riê n c ia d o s s e n tid o s e x te r n o s . E e n tã o a c o n sc iê n c ia interna
é o u c o n s id e ra d a c o m o e x te r io r à e x p e riê n c ia e c o m o alg o q u e fo rn e c e u m a in tu iç ã o
im e d ia ta , q u e r in te le ctu a l (o eu co m o su jeito p e n sa n te ), q u e r v o litiv a (o eu c o m o c a u sa
d o esfo rço ); o u re d u z id a à c o m b in a ç ã o p assiv a d o s d a d o s ex tern o s (escola m aterialista).
“ II . Objeto suprafenomenal. E x p e riê n c ia tra n s c e n d e n te o u m ís tic a .”
P a re c e , se se e n tra s s e n o e x a m e d e s ta q u e s tã o , q u e seria n e c e s sá rio ig u a lm e n te
d a r lu g a r à s te o ria s q u e a tr ib u e m u m v a lo r s u p r a f e n o m e n a l m e sm o à e x p e riê n c ia e x ­
te r n a (p e rc e p c io n is m o .) A p a la v r a experiência a p r e s e n ta n a f ilo s o f ia m o d e r n a u m
s e n tid o h o n r o s o e la u d a tiv o ; d e o n d e , d a p a r te d a q u e le s q u e a d m ite m a p o s s ib ilid a ­
d e d e u m c o n h e c im e n to m e ta fís ic o , a te n d ê n c ia p a r a re iv in d ic a r p a r a ele o c a r á te r
d e experiência. {A. L .)
S o b re E x p e riê n c ia , D — O p e n s a m e n to d e C la u d e B e rn a rd s o b re o s e n tid o p re c i­
so a d a r às p a la v r a s “ o b s e r v a ç ã o ” e “ e x p e riê n c ia ” p e rm a n e c e u m u ito in c e rto . Is to
leva: 1?, a q u e a in te rv e n ç ã o d o c ie n tista n a in v e stig aç ã o d o s fa to s p o ssa te r u m g ra n d e
n ú m e ro d e g ra u s , de q u e p re c is a m e n te C la u d e B e rn a rd d á c e rto s e x em p lo s; 2 ? , a q u e
p a r a q u a lq u e r u m desses c a s o s , o c ie n tis ta p o s s a to m a r a a titu d e m e n ta l d o o b s e r v a ­
d o r q u e “ o u v e fa la r a n a tu r e z a ” e c u id a de “ n ã o re s p o n d e r p o r e l a ” , e a a titu d e
d o in v e s tig a d o r q u e q u e r d e s ta c a r d o f a to u m a h ip ó te s e o u u m a p ro v a . (/?. Daudé)
V er a s n o ta s s o b re Observação.
367 E X P E R IM E N T A Ç Ã O

Empirismo *), q u e r se a d m ita u m a c o m u ­ c u tid o co m g ra n d e p o rm e n o r. Ele co n clu i


n id a d e d e n a tu re z a e n tre as co isas c o n h e ­ d e fin in d o a e x p eriên cia c o m o u m a o b s e r­
cid as e as leis d o e sp irito (ra c io n a lism o v a çã o p ro v o c a d a o u in v o c a d a com v ista a
d o g m á tic o ), q u e r se a d m ita (criticism o ) c o n tro la r o u a su g erir u m a idéia (§ 5).
q u e estas lig açõ es d e riv a m d o q u e a in te ­ Experiência crucial, ver Crucial.
lig ên cia in tr o d u z p o r si m e sm a n o c o n h e ­ Rad. int.: A . B . E x p e rt; E x p e rta d ; C .
cim en to p ercep tiv o “ u m sie als E rfa h ru n g E x p erien c; D . E x p e rim e n t.
lesen zu k ö n n e n ” 1. K a n t , Razão p u ra , “ E X P E R IE N C 1 A L ” E . Experiential
D ial, tr a n s e ., A 314; B 317. V er D E L B O S , ( p r o p o s to p o r M « Â Â e m lu g a r d e Positivo,
Noção de experiencia na filosofía de c o m o e x p r im in d o a m e s m a id é ia m a is c la ­
Kant, C o n g re ss o de 1900, IV , 363. Expérientiel.
ra m e n te ); F.
2? Experimentação: Experiencial fo i u tiliz a d o p o r G . C Â ­ E

D. U m a e x p eriên c ia é o f a to de p r o O­ ÇT τ Z
E E p a ra tra d u z ir o te rm o inglés n a
v o c a r , a p a r tir de c e rta s c o n d içõ e s b em su a tra d u ç ã o d t Auguste Comte et la phi­
d e te r m in a d a s , u m a o b s e rv a ç ã o ta l q u e o losophie positive, p. 10. N eo lo g ism o acei­
seu re s u lta d o , q u e n ã o p o d e ser a s s in a la ­ to n a sessão de 8 de ju n h o de 1905, p a ra
d o d e a n te m ã o , s e ja c a p a z d e fa z e r c o ­ ev itar o e q u ív o co de empírico A e B, ex­
n h e c e r a n a tu r e z a o u a lei d o fe n ô m e n o perimental A e B.
e s tu d a d o . F a la -se n este s e n tid o n ã o só de O q u e se re la c io n a co m a ex p eriên cia
e x p e riê n c ia física o u p sic o ló g ic a , m a s C o u q u e re p o u s a so b re ela sem n ecessa­
ta m b é m d e experiência moral ( R a u h ) . ria m e n te im p lic a r o u so d a exp eriên cia D
D iscu te-se s o b re a q u e stã o d e s a b e r se (experiment ).
a o b serv ação * deve ser o p o s ta à e x p eriên ­ Rad. int.\ E x p erien c.
c ia u n ic a m e n te p e la in te rv e n ç ã o a tiv a d o
“ E X P E R I E N C I A R ” V er as o b s e r­
e x p e r im e n ta d o r n e s ta ú ltim a o u se, p a r a
vações.
q u e h a ja v e rd a d e ira m e n te e x p eriên c ia n o
s e n tid o p r ó p r io , se deve a c re s c e n ta r a in ­ E X P E R IM E N T A Ç Ã O D . Experimen­
te n ç ã o de v e rific a r p o r seu in te rm é d io tation ; E . Experimentation; F . Expérimen­
u m a h ip ó te se já f o r m u la d a o u de fa z e r tation; I. Esperimentazione.
n ascer u m a id éia: “ experiência p a ra v e r” . U so sistem ático d a ex p eriên cia, D .
V er so b re e sta q u e s tã o J . S. M « Â Â , Lógi­ Rad. ini.: E x p e rim e n ta d .
ca, liv ro I I I , c a p . V II: “ D a o b s e rv a ç ã o E x p e rim e n ta ç ã o m e n ta l D . Gedanken
e d a ex p eriên cia” , e C lau d e B 2 Çτ 2 á , In-
E experiment, M τ T ; F. Expérimentation
7

trod. à medicina experimental, 1? p a rte , mentale. “ A lém d a e x p erim en taç ã o física


c ap . I: “ D a o b serv ação e d a ex p eriên cia” , existe a in d a u m a o u tr a , a experimentação
em q u e o sen tid o d estas p a la v ra s é d is- mental, a b u n d a n te m e n te u tilizad a n o g ra u
su p erio r d o d esen volv im ento intelectu al. O
1. “ ... para a poder ]er com o experiência” . h o m em q u e faz p ro je to s , q u e co n stró i cas-

Sobre "E x p e rie n c iar” — “ F lo u rn o y utilizava freq ü en tem en te este term o nos seus c u r­
sos, n o sentido inglês d e to experience (D . Erleben): ex p erim en tar, fazer a experiência
de u m sen tim en to , d e u m a situ ação , e tc .” (Éd. Claparèdé) E ste term o parecer-m e-ia ta m ­
b ém m u ito ú til; cf. Experiencial, já p ro p o s to , n este sen tid o , n a p rim eira edição d o p re ­
sente Vocabulário co m o distinto ao m esm o te m p o de empírico* e de experimental*. {A. L.)
S o b re E x p e rim e n ta ç ã o — A lg u n s c o rre sp o n d e n te s p e rg u n ta ra m -n o s p o r q u e e sta
p a la v ra se restrin g e à u tiliz a çã o sistemática d a ex p eriên cia. É v e rd a d e q u e alg um as ve­
zes se diz “ u m a e x p e rim e n ta ç ã o ” p a ra u m a e x p eriên cia n o sen tid o D . M as esta u tiliz a ­
ção d a p a la v ra n ã o nos p arece c o rre ta . A e x p erim e n ta ç ã o é u m m é to d o q u e con siste
em fazer u m a seq u ên cia o u u m c o n ju n to de ex p eriên cias o u experimentos. (A. L.)
E X P E R IM E N T A L 368

íelo s n a E s p a n h a , o ro m a n c ista , o in v en ­ s e n tid o experiencial .


to r d e u to p ia s sociais o u té cn ica s, fazem B . Q u e u tiliz a a e x p e riê n c ia n o s e n ti­
a e x p erim en tação m e n ta l. M as o n egocian­ d o D (experimento ).
te d e e sp irito só lid o , o in v e n to r o u o in ves­ E sp e c ia lm e n te :
tig a d o r sério p ro c e d e m d a m esm a m a n e i­ M étodo experimental. A q u e le q u e
ra , T o d o s se rep resen tam d ad as circu n stân ­ c o n sis te n a o b s e rv a ç ã o , n a c la s s ific a ç ã o ,
cias e lig am a essas c irc u n stâ n c ias a esp e­ n a h ip ó te se e n a v e rificação a tra v é s d e ex ­
ra , a p rev isão de certas co n seq u ên cias: eles p e riê n c ia s a p r o p r ia d a s .
e x p erim en tam em p e n s a m e n to ... A re p ro ­ Ciências experimentais. A q u e la s q u e
d u ç ã o in v o lu n tá ria m a is o u m e n o s ex ata u sam a e x p erim en taç ã o . A medicina expe­
d o s fa to s n as n o ssas re p re se n ta ç õ e s é o fe­ rimental o p o s ta à m e d ic in a clínica o u de
n ô m e n o fu n d a m e n ta l q u e to m a possível a sim ples o b s e rv a ç ã o . A psicologia experi­
n o ssa e x p erim en tação m e n ta l... A s n o ssas mental opõe-se q u e r à psicologia introspec­
re p re se n ta çõ e s, te m o -la s à m ã o de u m a tiva e especulativa (tra ta -s e e n tã o d e d o is
m a n e ira m u ito m a is fácil e c ô m o d a d o q u e m é to d o s d ife re n te s q u e se a p lic a m a u m
os fa to s físicos: fa z e m o s ex p eriên cias com m esm o o b je to ) , q u e r à psicologia racional
o s n o sso s p e n sa m e n to s, se se p o d e assim o u à teoria do conhecimento (tra ta -s e en ­
d iz er, c o m m e n o s c u s to s ...” E . M τ T , 7 tã o d e u m a d iv isã o d o tr a b a lh o e n tre d o is
Erkenntnis und Irrtum (O conhecimento ra m o s d is tin to s d a p sico lo g ia).
e o erro), c a p . X I: " A e x p erim en taç ã o Rad. i n t A . E x p e rie n c ; B . E x p e ­
m e n ta l” , § 3 e 4. rim e n t.
E s ta ex p re ssão e, m ais a in d a , a an álise E X P I A Ç Ã O D . Sühne ; E . A to n e­
d a o p e ra ç ã o q u e ela d esig n a to rn a ra m -s e ment', F . E xpiation ; I. Espiazione.
e x tre m a m e n te u su ais. V er e m p a rtic u la r S o f rim e n to im p o s to o u a c e ito e m r a ­
R « ; Çτ ÇÃ , Psicologia do raciocínio , c a p . zão d e u m a fa lta e c o n s id e ra d o c o m o u m
I; G o b l o t , Tratado de lógica, c a p . X I. re m é d io o u u m a p u rific a ç ã o , s e n d o a fa l­
E X P E R IM E N T A L D . Experimenten; ta a ssim ilad a a u m a d o e n ç a o u a u m a m á ­
E . Experimental·, F . Expérimental ; I. Es- c u la d a a lm a . V e r P Â τ ã Ã , Górgias, es­
I

perimentale. p e c ia lm e n te 4 7 8 a a 4 8 l b (c a p . X X X IV e
A . Q u e u tiliz a a e x p e riê n c ia , n o s e n ­ X X X V I) e c o n c lu s ã o .
tid o C . V er p o r e x e m p lo o títu lo d a o b r a Rad. int.: E x p ia c .
d e R« ζ ÃI : A psicologia inglesa, escola E X P L I C A R D . Erklären , m ais g eral;
experimental. S e ria m e lh o r d iz e r n e ste v e r Explicativo, C rític a ; E . To explain,

S o b re E x p ia ç ã o — A id é ia d e re m é d io e a d e d o e n ç a p a re c e m d e v e r ser a f a s ta d a s
d o s e n tid o m o d e r n o d e s ta p a la v r a . Expiare, q u e p o d e r ia d iz er-se q u e r d a m á c u la ,
q u e r d a c o is a m a c u la d a , s ig n ific a v a p r o p r ia m e n te to r n a r o d e s a g ra d á v e l a g ra d á v e l
a o s d e u se s. A o c o n tr á r io , P la tã o c o n s id e ra , s o b r e tu d o n o Górgias, a c u r a d a a lm a .
M a s s ã o d u a s c o n c e p ç õ e s d ife re n te s , s e n d o a p r im e ir a p u r a m e n te re lig io s a e a s e g u n ­
d a s o b re tu d o filo s ó fic a . ( J . Lachelier )
M e sm a o b s e rv a ç ã o d e Boisse, q u e n o ta q u e se d ev e e v ita r d a r a o p la to n is m o , a t r a ­
vés d e assim ilaçõ es d este g ê n ero , u m a fa c e c ris tã e m ística m u ito suscetível d e falseá-lo .

S o b re E x p lic a r — Explicare é d e se n v o lv e r, d e s d o b r a r ; o c o n c is o , o c o n c e n tra d o


n ã o é c la ro p a r a o e s p irito . O m a is d a s v ezes, d e se n v o lv e r é n e c e s sá rio e su fic ie n te
p a r a fa z e r c o m p re e n d e r. E s te é o s e n tid o f u n d a m e n ta l d e q u e o s o u tr o s s ã o e sp e c ia ­
liz a ç õ e s. {V. Egger) M « Â Â (Lógica , I I I , c a p . 12, § 1) d e fin e a ssim explicação: “ U m
f a to p a r tic u la r é e x p lic a d o q u a n d o se in d ic o u a lei d e q u e a s u a p r o d u ç ã o é u m c a s o .
U m a lei d a n a tu r e z a é e x p lic a d a q u a n d o se in d ic a u m a lei o u o u tr a s leis d e q u e e la
é u m a c o n s e q u ê n c ia .” E le c o n s a g ra to d o este c a p ítu lo e o seg u in te às d ife re n te s fo r -
369 E X P L IC A T IV O

to explícate ; F . Expliquen 1. Esplicare. n ism o p la u sív e l. Isso n ã o é p r o p r ia m e n ­


Explicar , em to d o s o s s e n tid o s , é f a ­ te u m s e n tid o d a p a la v r a , m a s u m a e lip ­
z e r compreender* n u m d o s trê s p rim e i­ se: o o b je to de p e n s a m e n to q u e se e x p li­
ro s s e n tid o s d e ste te rm o . ca n ã o é, e n tã o , o f a to , m a s a possibili­
A ssim , a p a la v r a explicar receb e trê s dade desse fa to seg u n d o d e term in a d as leis
g ra u s : c o n h e c id a s d a n a tu r e z a , e a e x p lic aç ão
A . N o s e n tid o m a is a m p lo , d e se n v o l­ c o n sis te , a in d a a q u i, em m o s tra r q u e es­
v er o u d escrev er, d a r u m a determinação* sa possibilidade está im p lic a d a pelos p rin ­
p recisa a o q u e e ra d e sc o n h e c id o , v ag o o u cíp io s q u e a d m itim o s .
o b scu ro . E x .: “ E x p licar o sen tid o de u m a Rad. int.: A . K larig ( Boirac); B. Ex-
p a la v r a , d e u m te x to ; e x p lic a r o c a m in h o p lik ; C . E v id e n tig .
a se g u ir n u m p r o b le m a .”
B . M ais e sp e c ia lm e n te , explicar u m E X P L IC A T I V O D . Erklärend , expli-
o b je to d e c o n h e c im e n to é m o s tra r q u e ele cativ ; E . Explicative ; F . Explicad/ ; I. Es-
e stá implicado* p o r u m a o u v á ria s v e r­ plicativo.
d a d es j á a d m itid a s (a títu lo a sse rtó ric o o u A . Q u e serv e p a r a explicar*, e m t o ­
h ip o té tic o ). N ã o é n e c e s sá rio q u e a q u ilo d o s o s s e n tid o s .
q u e e x p lic a s e ja m a is g e ra t d o q u e a q u ilo Especialmente:
q u e é e x p lic a d o , s e n d o a o rd e m d a s im ­ B . O p o s to a construtivo, a o fa la r-s e
p lic a ç õ e s in d e p e n d e n te d a g e n e ra lid a d e d as definições*, d esig n a aq u elas n as q u ais
d a s p ro p o s iç õ e s q u e se im p lic a m . V er o d e f in id o r tem p o r o b je to f o r m u la r a
Dedução. c o m p re e n s ã o d o d e fin id o q u e se s u p õ e j á
C . N o s e n tid o fo r te , é m o s tr a r q u e im p lic ita m e n te d e te r m in a d o .
a q u ilo q u e se e x p lic a é im p lic a d o p o r C . O p o s to a normativo* o u aprecia­
p rin c íp io s n ã o a p e n a s admitidos, m a s
tivo*, a o fa la r-s e d a s p ro p o s iç õ e s , d e sig ­
ta m b é m evidentes*; d ito de o u tr a m a n e i­
n a a q u e la s q u e a p e n a s e n u n c ia m u m f a ­
ra , fa z e r ver q u e ele d e p e n d e n e c e s s a ria ­
to o u u m a re la ç ã o , e m o p o s iç ã o à q u e la s
m e n te de ju íz o s n e c e ssá rio s.
q u e e n u n c ia m u m c o n s e lh o , u m a o rd e m
C R ÍT IC A o u u m ju íz o d e v a lo r.
A lg u m a s vezes se d iz ta m b é m q u e se A p a la v r a a p lic a -se n o m e sm o s e n ti­
explica u m fa to q u a n d o se m o s tra q u e es­ d o à d is tin ç ã o e n tre a s ciências normati­
te n ã o tem n a d a d e e x tr a o r d in á r io o u d e vas e as ciências explicativas. V er
so b re n a tu ra l, e isto a o m o s tra r q u e ele p o ­ W Z Çá I , E thik, p re fá c io , II: “ D ie E th ik
d e ria ser u m a a p lic a ç ã o de u m a lei c o n h e ­ als n o rm a tiv e W is s e n s c h a f t.”
c id a o u p ro d u z ir-s e d e v id o a u m m e c a ­ D . V er Determinativo.

m a s de e x p lic a ç ã o q u e re c o n h e c e . M a s a s u a d e fin iç ã o é m u ito r e s tr ita à su a c o n c e p ­


ç ã o p a r tic u la r d a s leis e d a c a u s a lid a d e . C f. H . S ú Ç T 2 ( Prim . principios, 1? p a r ­
E E

te , c a p . I V ) : “ E x p lica -se u m f a to re d u z in d o -o a u m a lei, e s ta a u m a o u tr a m ais g e­


r a l, e a ssim s u c e ssiv a m e n te , a té u m a p rim e ira lei q u e n ã o p o d e ser e x p lic a d a .” (T o ­
d o o § 24 é c o n s a g ra d o à d e fin iç ã o de explicar.) (A. L.)
V er M E à E 2 è ÃÇ , Da explicação nas ciências, to m o I.

S o b re E x p lic a tiv o — Parodi g o s ta r ia d e s u b s titu ir e s ta p a la v r a p o r positivo, e n ­


q u a n to o p o s to a normativo. M a s positivo te m j á m u ito s s e n tid o s e p o d e -se s u s te n ta r
q u e as ciências normativas, q u a n d o c o n c e b id a s , p o r e x e m p lo , c o m o a É tic a a tr á s
d e fin id a ( Crítica, 3.°), n ã o a p re s e n ta m u m a c a r a c te rís tic a m e n o s p o s itiv a d o q u e a
g ra m á tic a o u m e s m o a b io lo g ia . O n e o lo g is m o constativas é o q u e d á a m e l h o r id é ia
d o q u e se t r a ta . (A. L.)
E X P L ÍC IT O 37«

C R ÍT IC A filo só fic o .) U tiliz a r relaçõ es d a d a s , to m a ­


d a s c o m o p rin c íp io s , d e se n v o lv e n d o p o r
A p a la v ra n ã o é feliz n o sen tid o C , em
d e d u ç ã o u m siste m a d e p ro p o s iç õ e s q u e
q u e se d e sv io u b a s ta n te d o se u u s o v u l­
d eles re s u lta m . “ E s te p e n s a m e n to (a d e ­
g a r e d a s u a e tim o lo g ia . O s e n tid o v ag o
d u ç ã o c a rte s ia n a ) a lim e n ta v a -s e c o n s ta n ­
d a p a la v r a a le m ã erklären p a re c e s e r a
te m e n te d e in tu iç õ e s in te le c tu a is . E x p lo ­
o rig e m d e s ta a c e p ç ã o : <(D ie d e u ts c h e
r a v a sín te se s p r im itiv a s .” C h a rle s S 2 - E
S p ra c h e h a t fü r d ie A u s d rü c k e d e r Expo­
2 Z è ,
Essai sur la signification de la lo-
sition, Explication, Declaration u n d De­
gique (1 9 3 9 ), 7 8 . Exploração u tiliz a -se
fin itio n n ic h ts m e h r als d a s e in e W o rt:
n o m e sm o s e n tid o : “ A f o r m a d a d e d u ­
E r k lä r u n g .” 1K τ Ç , Razão pura, A 730;
I

ç ã o n ã o é m a is d o q u e u m in s tru m e n to
B 7 5 8 . S e ria p re fe rív e l d iz e r n e s te s e n ti­
d e e x p lo ra ç ã o d a re la ç ã o f u n d a m e n ta l.”
d o : ju íz o (o u ciên cia) d e c o n sta ta ç ã o . E s ta
Ibid., 95.
p a la v r a n ã o p o ssu i a in d a a d je tiv o v e rb a l,
m a s p o d e r-s e -ia u tiliz a r constativo*. E X P O N Í V E L D . Exponibel·, E . Ex-
Rad. i n t A . K la rig , e tc . (v er Expli­ ponible ; F . Exponible; 1. Esponibile.
car); B . E x p lik a n t; C . K o n s ta ta n t. L ó ; « T τ . C h a m a m -se a ssim à s p r o p o ­
siçõ es c o m p o s ta s , m a s e m q u e a c o m p o ­
E X P L Í C I T O D . Explicit, ausdrück­
siç ã o n a o é visív el n a s u a f o r m a , d e m a ­
lich’, E . Explicit', F . Explicite', 1. Esplicito. n e ir a q u e se é o b rig a d o a “ e x p lic á -la s ”
A . A o fa la r-s e d a s c o isa s : é explícito
o u “ e x p ô -la s ” p a r a a s a n a lis a r lo g ic a ­
a q u ilo q u e é e x p re s s a m e n te e n u n c ia d o , m e n te . S ã o as ex clu siv as*, as ex cep tiv as* ,
im p líc ito a q u ilo q u e e s tá im p lic a d o * p e ­ a s c o m p a r a tiv a s * , a s in c e p tiv a s* o u
lo q u e se en u n cia e, p o r c o n seq ü ên cia, n e ­ d e sitiv as* ( P o r t- R o y a l, 2? p a r te , c a p . IX
le e s tá c o m p re e n d id o , m a s a p e n a s de m a ­ eX).
n e ira v irtu a l e n ã o a p a r e n te . Rad. int.\ E x p o n ib l.
B . A o fa la r-s e d a s p e ss o a s: q u e se ex ­
p lica c la ra m e n te ; q u e diz tu d o o q u e é n e ­ E X P O S I Ç Ã O D . Exposition; E . Ex-
cessário p a r a ser c o m p re e n d id o sem e q u í­ position; F . Exposition; I. Esposizione.
v o c o e sem in d e te rm in a ç ã o . Ló ; «Tτ . O p e ra ç ã o q u e c o n siste e m
V er Implícito. fa z e r c o n h e c e r u m c o n c e ito e n u m e r a n d o
Rad. int.: E x p lic it. e x em p lo s o u c a so s p a rtic u la re s .
O “ silo gism o ex p o sitiv o ” é aq u ele cujo
“ E X P L O R A R ” (T e rm o d a lin g u a ­ te r m o m é d io é u m in d iv íd u o d e te r m in a ­
gem c o rre n te , m a s n e o lo g ism o n o seu uso d o to m a d o d u a s vezes c o m o s u je ito .
E ste s e n tid o p a re c e c a íd o em d e su so .

I. “ A língua alem ã só possuí um a p alav ra, E rk­ E X P O S IT I V O V er Exposição.


lärung, para traduzir as idéias que os term os E x p o ­
sição, Explicação, D eclaração e D efin ição expri­ E X P R E S S Ã O D . A usdruck; E . Ex-
m em .” pression; F . Expression; I. Espressione.

S o b re E x p o s iç ã o — É ta m b é m u s u a l tr a d u z ir p o r e s ta p a la v r a Erörterung, p a r t i ­
c u la r m e n te n a s c éleb res e x p re ss õ e s d e K τ ÇI : Metaphysische Erörterung, Transcen­
d e n ta l Erörterung. V er as d e fin iç õ e s q u e ele d á d e la s n a s u a Crítica da razão pura ,
e d . K e h rb a c h , p p . 51 e 5 3 . (E. Van Biéma )
S o b r e E x p r e s s ã o — A d is tin ç ã o e n tr e o s se n tid o s B e C fo i re m o d e la d a c o n fo rm e
a s n o ta s d e René Lacroze. V e r o se u liv ro L a fo n ctio n de l'imagination, p . 7 2 . E le
a s s in a la ig u a lm e n te o u s o e m D τ Â ζ « U d e “ e x p re ss ã o p s íq u ic a ” a o f a la r d o s o n h o ,
E

p o r a m p lia ç ã o a n a ló g ic a d o s e n tid o B {La m éthode psychanalytique, I, 197).


371 EXTENSÃO

A . N o s en tid o geral, a ç ã o d e exprimir, Rad. int.: A . E x p ré s ; B . C . E x p re s a j;


q u e r d iz er, d e c o n stitu ir u m d a d o p re sen te D . E x p resiv e s.
c o rre s p o n d e n te d e u m a m a n e ira a n a ló g i­
c a a u m a re a lid a d e a f a s ta d a o u o c u lta . E X P R E S S A S (E spécies) V er Espécies.
“Exprimere a liq u a m re m d ic itu r illu d , in Ê X T A S E D . Ekstase ; E . Ectasy ; F .
q u o h a b e n tu r h a b itu d in e s q u a e h a b itu d i- Extase ; I. Estasi.
n ib u s re i e x p rim e n d a e r e s p o n d e m .” E s ta d o c a ra c te riz a d o d o p o n to d e v is­
L E « ζ Ç« U , Q uid sit idea, G e r h ., V II, 263. t a físico p o r u m a im o b ilid a d e q u a se c o m ­
D iz ele q u e , p o r e x e m p lo , o m o d e lo d e
p le ta , u m a d im in u iç ã o d e to d a s a s f u n ­
u rn a m á q u in a e x p rim e e s s a m á q u in a ; a
çõ es de re la ç ã o , d a c irc u la ç ã o e d a r e s p i­
p ro je ç ã o d e u m s ó lid o s o b re u m p la n o é
ra ç ã o ; d o p o n to de vista afetiv o , p o r “ u m
a s u a e x p re ss ã o ; o d is c u rso e x p rim e os
s e n tim e n to de fe lic id a d e , d e a le g ria in d i­
p e n sa m e n to s e a s v erd ad es; os a lg arism o s
zível q u e se m is tu r a c o m to d a s a s o p e r a ­
e x p rim e m o s n ú m e ro s ; u m a e q u a ç ã o a l­
çõ es d o e s p ír ito ... e q u e se p o d e c o n sid e ­
g é b ric a é a e x p re ssã o de u m círcu lo o u d e
r a r c o m o c a ra c te rís tic o d e ste e s ta d o ” . P .
a lg u m a o u tr a fig u ra: “ U n d e p a te t n o n es­
Jτ Ç E I , “ U n e e x ta tiq u e ” , Buli, Inst.
se n e c e ssa riu m u t id q u o d e x p rim it s ím i­
le s it rei e x p re ss a e , m o d o h a b itu d in u m
Psychol., 1901, 229-230. D o p o n to d e vis­
ta in te le c tu a l, “ c h a m a - s e ... êx tase a u m
q u a e d a m a n a lo g ia s e r v e tu r .” Ib id . , 264.
e s ta d o n o q u a l, e sta n d o in te rro m p id a to ­
B . C o n ju n to de efeitos ex terio res (p a r­
tic u la rm e n te , a titu d e e a sp e c to d o ro s to ) d a a c o m u n ic a ç ã o co m o m u n d o e x te rio r,
lig ad o s a c e rto s e sta d o s p sico ló g ico s. “ A a a lm a tem o s e n tim e n to d e q u e se c o m u ­
e x p re ss ã o d a s e m o ç õ e s .” “ U m a e x p re s­ n ic a c o m u m o b je to in te r n o q u e é o ser
s ã o a t e n t a .” p e r f e ito , o ser in f in ito , D e u s ... O ê x ta s e
C . M eio s p e lo s q u a is u m e s p irito c o ­ é a re u n iã o d a a lm a c o m o seu o b je to . J á
m u n ic a a o s o u tr o s os seu s s e n tim e n to s , n ã o h á in te rm e d iá rio e n tr e eles: e la o vê,
idéias o u v o n ta d e s. E m p a rtic u la r, m a n e i­ to c a - o , p o s s u i-o , e la e s tá n e le, e la é ele.
r a d e f a la r , e n u n c ia d o , n o ta ç ã o : “ U m a N ã o é m a is a fé q u e c rê sem v e r, é m a is
e x p re ss ã o u s u a l; u m a e x p re ss ã o lo c a l.” d o q u e a p r ó p r ia c iê n c ia , q u e a p e n a s d e s­
“ L e v a r u m a f r a ç ã o à s u a e x p re ssã o m a is c o b re o ser n a s u a id éia: é u m a u n iã o p e r­
s im p le s.” “ U m a e x p re ss ã o trig o n o m é tr i­ fe ita n a q u a l a a lm a se s e n te e x istir p le ­
c a .” n a m e n te d e v id o a o fa to d e se d a r e re n u n ­
D . C a r a c te rís tic a q u e a p r e s e n ta u m a c ia r a si, p o is a q u ilo a q u e e la se d á é o
o b r a d e a r te d e e v o c a r c o m f o r ç a s e n ti­ s e r e a p r ó p r ia v id a ” . B Ã Z 2 Ã Z 7 , “ L e
I

m e n to s o u u m a s itu a ç ã o m o r a l, s e ja p e la m y s tic ism e ” , B u li Inst. Psychol., 1902,


re p re s e n ta ç ã o d ire ta d o ser h u m a n o , se­ p p . 15 e 17.
j a p o r u m a c o rre s p o n d ê n c ia c o m o u tr a s Rad. int.\ E k s ta z .
im a g e n s: “ U m a c a b e ç a q u e te m e x p re s ­
s ã o . ” “ U m a p a isa g e m p in ta d a p o d e ser 1. E X T E N S Ã O D . Ausdehnung; E .
ex p ressiv a sem d ú v id a n ã o d a m esm a m a ­ A . B . Extensión-, B . Extent; F . Étendue·,
n e ir a q u e u m r e t r a t o ... M a s ta lv e z o a r ­ I. Estensione.
tis ta p o s sa c o lo c a r n e ss a e x p re ss ã o m a is A . Q u a lid a d e q u e tê m os co rp o s d e es­
o rig in a lid a d e , m a is f in u r a e in d e c isa s u ­ ta r e m s itu a d o s n o e sp a ç o * e d e nele o c u ­
tile z a e a té m a is g r a n d e z a .” P τ Z Â τ Ç ,
7 p a re m u m a p a r te .
V esih étiq u e du paysage, p . 85. B . E s ta m e sm a p a r te .

Sobre Extensão (1) — N ota substituída pela crítica elaborada a partir das obser
v a çõ e s d e F. Rauh e Th. Ruyssen.
EXTENSÃO 372

C. M e ta fo ric a m e n te , c ara c te rístic a d o E m M τ Â ζ 2 τ Ç T E 7 , a extensão inte­


E

q u e se e ste n d e m a is o u m e n o s lo n g e: “ A ligível é a g r a n d e z a c o n c e b i d a i n d e p e n ­
e x te n sã o d o e s p írito , d a m e m ó ria . A ex­ d e n te m e n te d e t o d a q u a lid a d e s e n s ív e l ta l
te n s ã o de u m a in f lu ê n c ia .” N o te m p o : c o m o e la é o b je to d a Á lg e b ra e d a
“ U m a e x te n sã o d e v á rio s s é c u lo s .” A n á lis e .

CRÍTICA N a lin g u a g e m d a filo s o fia c o n te m p o ­


S o b re o u so d e s ta p a la v r a em D è ­ E
râ n e a , u sa -se o m a is d a s vezes extensão
Tτ 2 I E è , ver Príncipes, II , 10-15, em q u e n o s e n tid o B. “ U m a e x te n s ã o ” é u m a li­
ele d istin g u e em p rim e iro lu g a r o espaço , n h a , u m a s u p e rfíc ie o u u m v o lu m e lim i­
a extensão, o lugar interior e o lugar ex­ ta d o s . A e x te n s ã o é a ssim em re la ç ã o a o
terior. M as estas d is tin ç õ e s s ã o p a ra ele e sp a ç o , to m a d o n o seu c o n ju n to , o q u e
a p en a s tra d ic io n a is e p ro v isó rias. C onclui a d u ra ç ã o * , n o s e n tid o A , é e m re la ç ã o
assim : “ N ã o d is tin g u im o s n u n c a o e s p a ­ a o te m p o .
ço d a e x te n s ã o em c o m p rim e n to , la rg u ­ E m fran cês, em vez d e étendue n o sen­
r a e p ro f u n d id a d e , m as c o n sid e ra m o s a l­ tid o A seria p re fe rív e l d iz e r extension c o ­
g u m a s vezes o lu g a r c o m o se ele fo sse a m o , a liá s, o fa z ia D E è Tτ 2 I E è : “ A e x te n ­
co isa q u e é c o lo ca d a e alg u m as vezes ta m ­ s ã o (extension) d o e sp a ç o o u d o lu g a r in ­
b é m co m o se ele estivesse fo ra d ela. O in ­ te rio r n ã o é d ife re n te d a e x te n s ã o (exten­
te r io r n ã o d ife re de fo r m a n e n h u m a d o sion ) d o c o r p o .” Príncipes, I I , 16.
e sp aço , m as to m a m o s alg u m as vezes o ex­ Rad. int .: A . E x ten s; E x ten ses; B . Ex-
te r io r o u c o m o a su p e rfíc ie q u e en v o lv e te n s a j; C . A m p le s.
im e d ia ta m e n te a co isa c o lo c a d a ... o u c o ­
m o a su p e rfíc ie em g e ra l q u e n ã o é p a rte 2. E X T E N S Ã O D . N o se n tid o A .
de u m c o rp o d e p re fe rê n c ia a o u t r o . ” A u sb re itu n g ; n o sen tid o B. Ausdenhung;
I b i d II , 15. E . Extension ; F . Extension ; I. Estensione .

S o b re E x te n s ã o (2) — G lobot d is tin g u iu m u ito ju s ta m e n te a extensão d a s p r o p o ­


siçõ es, n o s e n tid o C , d a s u a quantidade* , c o m a q u a l é fr e q ü e n te m e n te c o n f u n d id a .
N o Vocabulário filosófico (1901) ele c h a m a v a a ssim a o f a to de se re m g e ra is , esp e­
ciais o u sin g u lares. N a su a Lógica (1918) d iv id e-a d e m o d o u m p o u c o d iferen te: “ P o d e-
se d a r o n o m e d e extensão dos ju ízo s à p r o p r ie d a d e q u e eles tê m d e serem s in g u la re s ,
c o letiv o s o u g e ra is (m ais o u m e n o s g e ra is o u e s p e c ia is ).” C a p . V III , p . 175. P o r c o ­
le tiv o s , d iz ele, é p re c iso e n te n d e r os te rm o s ta is c o m o “ o C o n se lh o m u n ic ip a l” o u
“ os c o n s e lh e iro s m u n ic ip a is ” e n q u a n to se c o n s id e ra o g r u p o c o m o alg o q u e fo r m a
u m só s u je ito , d e m a n e ira “ q u e o q u e se a f ir m a o u se n e g a c o n c e rn e a o g ru p o e n ã o
a o s in d iv íd u o s ” . Ibid., p p . 175-176.
E s ta an álise re ssa lta b em e sta c a ra c te rístic a im p o r ta n te se g u n d o a q u a l os ju íz o s ,
d o p o n to d e v ista d a su a g e n e ra lid a d e , n ã o sã o , a b s o lu ta m e n te f a la n d o , g erais o u esp e­
ciais, m a s a p en a s mais o u menos g e ra is, mais o u menos esp eciais uns d o q u e outros,
c o n fo rm e os seus su jeito s te n h a m ex ten sõ es c o m p a rá v e is e n tre si e m ais o u m en o s g r a n ­
d es. M as a c a ra c te rístic a em v irtu d e d a q u a l o su je ito é e n te n d id o c o m o u m to d o in d iv i­
so , na sua relação com o atributo, é, a n te s, u m a f o r m a d e quantidade, p o is o tra ç o
c ara c te rístic o d e la é p re c isa m e n te o d e c o n sid e ra r essa re la ç ã o . S ã o o s ju íz o s indivisos,
p o r o p o siç ã o a o s ju íz o s divididos o u distributivos, q u e s ã o eles m esm o s q u e r u n iv e r­
sais, q u e r p a rtic u la re s . Is to n ã o im p e d iria , aliá s, d e re te r ta m b é m , d o p o n to de v ista
d a extensão d o ju íz o , q u e a p en a s d e p e n d e d o m a io r o u m e n o r n ú m e ro d e in d iv íd u o s
c o m p re e n d id o s n o seu su jeito , a d iv isão em singulares, plurais e coletivos, o b se rv a n d o
q u e n o caso d o s p lu ra is e d o s coletiv os p o d e m ser m ais o u m e n o s g e ra is o u especiais.
V er o a rtig o “ L a lo g iq u e de G o b lo t” , Revue philosophique, ja n e iro d e 1919. (A. L.)
373 EX TERI O R, EX T ERN O

A . Sentido ativo : o f a to de e ste n d e r n ú m e ro m a io r o u m e n o r de in d iv íd u o s.


u m a o p e ra ç ã o de p e n s a m e n to o u u m Rad. int.: E xtens.
e n u n c ia d o a o b je to s aos q u a is eles p re c e ­
E X T E N S IV O D . Extensiv ; E . Exten­
d e n te m e n te n ã o se a p lic a v a m .
siva, F . Extensif ; I. Estensivo.
E m p a rtic u la r, o f a to de a m p lia r o
A . C h am a-se extensiva u m a g ran d eza
se n tid o de u m a p a la v ra .
o u , an tes, u m a espécie de grandezas repre-
B . Sentido neutro: a c a ra c te rís tic a de
sentável p o r u m a exten são , q u e r dizer, p re ­
ser ex ten so ; a e x ten são (1) n o s e n tid o A .
cisam en te tal q u e cad a g ra n d e za p o ssa ser
V er Extensão (1 ), C rític a .
c o n sid e ra d a co m o a s o m a de d u as o u m ais
Rad. int.: A . A m p lig ; B. E x ten ses. g ran d ezas dessa espécie; p a ra ta n to , é evi­
3. E X T E N S Ã O L . Extensio; D . Um- d e n tem en te p reciso q u e se te n h a d efin id o
fa n g ; E . Denotation, extensión, extent, a ad içã o p a ra esta espécie de g ran d ezas.
application ; F . Extensión·, I. Extensione. C h am a-se intensiva to d a g randeza q ue n ão
L ó ; « T τ : A . C o n ju n to d o s o b je to s satisfaça esta co n d ição , q u er dizer: 1?, p si­
(reais o u id e a is, c o n c re to s o u a b s tr a to s ) co lo g icam en te, a q u e la c u jas variações são
ao s qu ais se aplica u m elem en to de conhe­ expressas ap en as sim bolicam ente pelos te r­
c im e n to , q u e r d izer: 1?, p a ra u m c o n c e i­ m o s d e m ais e de m e n o s, e têm a p en as p a ­
to : c o n ju n to d o s o b je to s q ue ele p o d e d e ­ ra a co n sciên cia u m a sig n ificação real p e ­
sig n a r (de q u e ele é a tr ib u to ) ; 2?, p a r a lo seu c a rá te r q u a lita tiv o (B 2 ; è ÃÇ ); 2 ? ,
E

u m a p ro p o s iç ã o : c o n ju n to d o s caso s em lo gicam ente, u m a espécie de gran d ezas p a ­


q u e ela é v e rd a d e ira (p o r c o n se g u in te , ra a q u a l a a d iç ã o n ã o é d e fin id a , m as em
c o n ju n to d as h ip ó te ses de q u e ela p o d e q ue se p o d e d efin ir a relação de d esig u al­
ser c o n se q ü ê n c ia ); 3 ?, p a r a u m a re la ç ã o : d a d e ( maior do que).
c o n ju n to d o s sistem as d e v alo res (a trib u í­ B. Segundo Kτ Ç I u m a g ra n d e z a é
d o s ao s te rm o s g erais) q u e a v e rific a m . extensiva q u a n d o a re p re se n ta ç ã o d as
B . C o n ju n to d e o b je to s o u de in d iv í­ p a rte s t o m a p o ssív el a re p re s e n ta ç ã o d o
d u o s c o n sid e ra d o s n u m a o p e ra ç ã o ló g i­ to d o (e, p o r c o n se g u in te , a p reced e n e ­
ca co m o q u a n d o se d iz q u e a extensão d o c e s s a ria m e n te ) ( Razão pura, A 162; B
p re d ic ad o , n u m a p ro p o s iç ã o , só p o d e ser 203). U m a g ra n d e z a é intensiva q u a n d o
u m a p a rte d a s u a e x ten são to ta l: “ É p ro ­ é a p re e n d id a a p e n a s c o m o u n id a d e , e a
p ria m e n te o s u je ito q u e d e te rm in a a ex­ q u a n tid a d e a p e n a s p o d e ser re p re s e n ta ­
te n sã o d o a trib u to n a p ro p o siç ã o a firm a ­ d a a tra v é s de u m a m a io r o u m e n o r a p r o ­
tiv a .” Lógica de P o r t-R o y a l, 2 f p a rte , x im ação d a n eg ação ( ibid ., A 168; B 210).
c a p . X V II. C . Q u e tem c a rá te r e sp a c ial; q u e e n ­
C . C a ra c te rístic a q u e u m a p ro p o siç ão volve u m c o n h e c im e n to , pelo m en o s c o n ­
tem de ser sin gular (q u er singular* p ro p ria ­ fu s o , d a e x te n sã o sensív el. “ D as se n s a ­
m en te d ita , q u e r coletiv a), o u p lu ra l; e, çõ es e x te n s iv a s .”
se fo r coletiv a ou p lu ra l, de ser m ais o u Rad. int.: E x ten siv .
m en o s geral, q u e r dizer, de se ap licar a u m E X T E R IO R , E X T E R N O D . Aeusser,

S o b re E x te n siv o — A rtig o c o m p le ta d o seg u n d o u m a in d ic a ç ã o d e R. Daude, q u e


a c re sc e n ta a seg u in te o b s e rv a ç ã o : “ C e r to s a u to re s ( p o r e x em p lo , M a la p e rt, R o u s-
ta n , n o s seus m a n u a is de p sico lo g ia) d izem ta m b é m , n o m esm o s e n tid o q u e ‘s e n sa ­
çõ es e x te n siv a s’ , ‘sen saçõ es e x te n s a s ’. P a re c e -m e q ue ‘e x te n s iv o ’ é m e lh o r: é o o b je ­
to q u e é e x ten so , a s e n sa ç ã o d ev e ser d ita extensiva o u inextensiva c o n fo rm e a tese
a d m itid a .” E sta o b s e rv a ç ã o p a re ce -m e in te ira m e n te ju s ta . (A. L.)
S o b re E x te rio r e te rm o s seg u in tes — V er V . E g g e r, La parole interieure, n o ta
d a s p á g in a s 95-96. Egger p re fe re , a exteriorizar e a o s seus d e riv a d o s , a fo rm a exter­
nar ( = a lie n a r, d e c la ra r n ã o -e u ).
EXT ERI O R, EXT ER N O 374

Aeusserlich, A u ssen .,.; E . Externai ; F. q u a n to c o n h e c id o p ela c o n sc iê n c ia o u o


Extérieur, externe', I. Estertore, esterno. q u e é re la tiv o à c o n sc iê n c ia ; exterior, o u
A . S e n tid o f u n d a m e n ta l: o interior e a lg u m a s v ezes, m a s m a is ra r a m e n te , ex­
o exterior são u m a re la ç ã o e sp acial in tu i­ terno, o q u e n o s p a re c e te r u m a e x istê n ­
tiv a q u e se e x p re ssa ta m b é m p e las p a la ­ c ia in d e p e n d e n te d o c o n h e c im e n to q u e
v ra s dentro e jo ra . d e le te m o s . D iz-se, n e ste s e n tid o , q u e n a
Por extensão: d o u tr in a d a r a z ã o im p e s so a l e sta ra z ã o
B . C h a m a -se exterior, n u m c o rp o m a ­ n o s é e x te rio r.
te ria l, à q u ilo q u e é s u p e rfic ia l e visível d e E . C h a m a -s e m a is e sp e c ia lm e n te
f o r a , interior à q u ilo q u e é p ro f u n d o e M undo exterior (D . A ussen weit; E . Ex­
o c u lto . ternai world; F. Monde extérieur, I. M on­
C . E m a n a to m ia , u sam -se as p a la v ra s do esterno ) o c o n ju n to d o s o b je to s se n ­
externo e interno n o s e n tid o p re c e d e n te . síveis q u e a p e rc e p ç ã o n o s a p re s e n ta o u
D istin g u e m -se a este re s p e ito o s sentidos q u e c o n ceb em o s c o m o o b je to s d e p e rc e p ­
externos , c u ja s te rm in a ç õ e s s ã o s u p e r fi­ ç ã o p o ssív el. E ste s o b je to s s ã o d ito s ob­
ciais o u , p e lo m e n o s , acessív eis a o s ex ci­ jetos exteriores o u objetos externos (M un­
ta n te s físico s (ta to , v isã o , o lf a to , e tc .) e do externo n ã o é u s u a l e m fra n c ê s ) e a
o s sentidos internos (sentido m u scu lar, a r­ p e rc e p ç ã o d e ste s o b je to s é c h a m a d a per­
tic u la r, cen e stesia ) c u ja s te rm in a ç õ e s es­ cepção exterior o u percepção externa (em
tã o c o lo c a d a s n a p ro f u n d id a d e d o s teci­ o p o s iç ã o à c o n sc iê n c ia ( 1), c h a m a d a p o r
d o s e q u e a p e n a s são e x c ita d o s p elo s fe­ certo s psicólogos percepção interna o u in­
n ô m e n o s q u e o c o rre m n o s p ró p r io s teci­ terior). V e r Percepção.
d o s . Externo e interno sã o , p o is, a este F . P a s s a n d o d e s ta d is tin ç ã o p s ic o ló ­
re s p e ito su b d iv isõ e s de interior, A (rela ­ g ica p a r a u m a d is tin ç ã o m e ta fís ic a ,
tiv a m e n te a o c o rp o ); a m b o s se o p õ e m en ­ c h a m a -s e ta m b é m exterior (o u fo ra de
tã o a o q u e é e x te rio r (a o c o rp o ). nós) à q u ilo q u e existe e m si, n o s e n tid o
B , 2? e 3 o .
Ç Ã I τ

C R ÍT IC A
C h a m a -s e ta m b é m em a n a to m ia face
interna à p a r te d o s ó rg ã o s v o lta d a p a r a A lém d o s e x em p lo s in d ic a d o s a trá s ,
o c e n tro d o c o rp o (o u m ais e x a ta m e n te ex istem a in d a certo s u so s m isto s o u c o m ­
em d ire ç ã o a o p la n o d e s im e tria d o c o r­ p le x o s. P o r e x em p lo : “ C o m p re e n d o so b
p o n o s a n im a is sim é tric o s); a face exter­ o n o m e de sensações internas” (e n ã o sen­
na é a face o p o s ta . tidos) “ to d a s as sen sa çõ e s q u e c h eg a m à
Por metáfora: c o n sc iê n c ia p o r u m a o u tr a via q u e n ã o a
D . E m p sic o lo g ia , c h a m a -s e interior d o s sen tid o s especiais: v isão , a u d iç ã o , o l­
o u interno tu d o o q u e a p e n a s ex iste e n ­ f a to , p a la d a r , t a t o . . . E las d istin g u e m -se

M entré d e fin e a ssim estes te rm o s , n o s e n tid o D : “ É interno o q u e a p a re c e a p e n a s


a u m a c o n sc iê n c ia , o q u e é p r ó p r io a u m in d iv íd u o ; é externo o q u e a p a re c e o u é
su scetív el d e a p a r e c e r a o m e sm o te m p o a v á ria s c o n s c iê n c ia s .” S o u d a m e sm a o p i­
n iã o , co m a c o n d iç ã o d e d iz e r “ é ju lg a d o e x te r n o ” p a r a ai c o m p re e n d e r u m a ilu sã o
o u u m a a l u c i n a ç ã o c o l e t i v a s , m a s i s t o p a r e c e - m e s e r u m a t e o r i a o u u m a h i p ó t e s e ex ­
p lic a tiv a q u e n ã o se p o d e fa z e r e n tr a r n a p r ó p r ia d e fin iç ã o d a p a la v r a . {A. L .)
Marsal d á u m e x em p lo q u e re s s a lta b em a c o m p lic a ç ã o e n tre o s s e n tid o s d e sta
p a la v ra : “ A p e rc e p ç ã o e x te rio r é u m fa to d a v id a in te r io r . U m d o s o b je to s d e sta
p e rc e p ç ã o e x te rio r é o m e u c o r p o , m a s , a q u i, a o s d a d o s in te rio re s d o s s e n tid o s e x te r­
n o s v êm ju n ta r - s e o s d a d o s in te rio re s d o s se n tid o s in te r n o s .”
375 EX T REM O

d as sensações externas, p o rq u e têm c o m o o b je to s in d e p en d e n te s d ela e re tira d o s fo ­


p o n to de p a r tid a n o rm a l os ó rg ã o s in te r­ r a d e la ? ”
n o s, p o rq u e são re la c io n a d a s co m o eu Ra d. int.: V er Exterior , C rític a .
q ue sen te e n ã o c o m o s o b je to s e x te rio ­
E X T E R IO R IZ A Ç Ã O D . Veräusser-
res e, fin alm en te, p o rq u e têm em geral u m
lichtung-, E . Externalization; F . Extério­
c a r á te r v ag o e in d e te rm in a d o q u e n ã o
risation ; I. Esteriorizzazione.
existe n a s sensações e x tern as. M as n e n h u ­
O p e ra ç ã o p e la q u a l u m fe n ô m e n o ,
m a d estas carac te rístic as é a b s o lu ta , e tc .”
c o n s id e ra d o c o m o “ in te r io r ” , em q u a l­
B e a u n i s , Les sensations internes, p. 1.
q u e r u m d o s sen tid o s d a p a la v ra , to m a
E x iste fre q ü e n te c o n fu s ã o en tre o s d i­
a a p a r ê n c ia d e ser “ e x te r io r ” .
fe re n te s sen tid o s d a s p a la v ra s exterior e
E m p a rtic u la r, c h a m a -s e exterioriza­
externo. D ev em -se d is tin g u ir a q u i q u a tro
ção da sensibilidade à p e rc e p ç ã o (p ro b le ­
p a re s d e id é ia s, p a r a c a d a u m d o s q u a is
m á tic a ) d e ex citaçõ es q u e n ã o a tin g e m os
in d ic a m o s a d ia n te o s ra d ic a is a rtific ia is
ó rg ã o s c o n h e c id o s d o s se n tid o s e p e r m a ­
q u e p o d e m serv ir p a r a o s d is tin g u ir:
n ecem e x te rio re s ao c o rp o d o s u je ito .
1? O q u e é e x te rio r a q u a lq u e r c o isa
Rad. int.: V er Exterior, C rític a .
(em p a rtic u la r ao c o rp o h u m a n o ) e o q u e
lh e é in te rio r (Extern, intern ). “ E X T E R M I N A R ” F o i u tiliz a d o p o r
2? O q u e é s u p e rfic ia l e o q u e é p r o ­ R E , n o se n tid o e tim o ló g ic o , p o r
ÇÃ Z â « E 2

f u n d o , q u e r n o s e n tid o p r ó p r io , q u e r n o eliminar: “ ... a m e ta fís ic a e x te rm in a d a


fig u ra d o (Ne-profund, profund). p elo c ritic is m o ” . Psychologie rationnel­
3? O q u e , n a c o n sc iê n c ia , é a p re s e n ­ le, fo r m u lá r io , B. Exterminação é to m a ­
ta d o c o m o o b je tiv o e o q u e é a p re s e n ta ­ d o n o m e sm o s e n tid o p o r H τ O Â « Ç , Es­
E

d o c o m o s u b je tiv o ( Objektiv, subjektiv). sai, 1? ed -, p . 127. E ste u so é clássico, m as


4? O q u e ex iste em si e o q u e a p e n a s m u ito a n tiq u a d o .
ex iste na re p re s e n ta ç ã o (Ensus [aj\, pri-
E X T E R N O V er Exterior, Extrínseco.
zentat).
“ E X T R A -S E N S ÍV E L ” V er as o b s e r­
E X T E R IO R ID A D E D . Aeusserlich-
v açõ es.
keit; E . Exteriority; F. Extérioriré; I. Es­
tertor ità. E X T R E M O D . Aeusserste; E. Extre­
A . C a rá te r d a q u ilo q u e é e x te rio r, em me\ F . Extrême; I. Estremo.
to d o s os s en tid o s. A . S e n tid o g e ra l: a q u ilo q u e e stá c o ­
B . E s p e c ia lm e n te (e é e ste o e m p re g o lo c a d o n o lim ite de u m a reg ião d o espaço.
m ais c o m u m d a p a la v r a ) c a r á te r d e a p a ­ B. P o r m e tá f o r a , é a q u ilo q u e a p r e ­
rê n c ia o b je tiv a a p re s e n ta d o p o r a q u ilo s e n ta u m a q u a lid a d e o u u m a c a r a c te rís ­
q u e p e rc e b e m o s . O problema da exterio­ tic a n o m ais e le v a d o g ra u .
ridade é o p ro b le m a p o s to p o r CÃÇá « Â - C . E sp e c ia lm e n te , q u a n d o se t r a ta de
Âτ T ( Tratado das sensações, 3? p a rte ): u m a p ro p r ie d a d e su scetív el d e d u a s d e­
“ Se se a d m itir q u e as sen sa çõ e s s ã o a p e ­ te rm in a ç õ e s o p o s ta s , “ os e x tre m o s ” são
n a s m o d ifica ç õ es d a a lm a , c o m o é q u e se as co isas q u e a p re s e n ta m c a d a u m a d e s­
p o d e c o n c e b e r q u e ela as p e rc e b a c o m o ta s d e te rm in a ç õ e s n o m ais e lev ad o g ra u .

S o b re E x tra-se n sív el — Ranzoli p r o p õ e q u e se a d o te este te rm o n o se n tid o p r e c i­


so em q u e é d e fin id o p o r L ç è , Problems o f L ife and M ind, l f série, P r . I, c a p .
E E

II I, v o l. I, p p . 253-2 56. E le d iv id e a e s fe ra d o c o n h e c im e n to em d u a s p a rte s: o sensí­


vel, d ire ta m e n te c o n h e c id o , e o extra-sensível, q u e c o m p re e n d e tu d o a q u ilo c u ja ex is­
tê n cia a d m itim o s n o m u n d o e x te rio r sem q u e isso seja u m o b je to de p e rc ep ç ão d ire ta .
EX T REM U M 376

D. L ó ; « Tτ . C h a m a -s e extremos n u m Denominação extrínseca (d iz-se ta m ­


silo g ism o a o s d o is te rm o s* d a c o n c lu ­ b ém externa o u exterior ): “ (H á m o d o s]
sã o p o r o p o s iç ã o a o te rm o m édio*; sã o , q u e se p o d e m d izer ex terio res, p o rq u e são
p o r ta n to , o te rm o m a io r e o te rm o m e ­ to m a d o s d e alg o q u e n ã o e s tá n a s u b s tâ n ­
n o r. c ia , c o m o amado, visto, desejado, q u e
s ã o n o m e s to m a d o s d e a ç õ e s d e o u tre m ;
NOTA
é a is to q u e se c h a m a n a e sc o la denom i­
N o s s e n tid o s A , B, C , extremo nação externa . ” Lógica d e P o rt-R o y a l, I,
d istin g u e -se d e excessivo*, p o d e n d o a té c a p . II.
o p o r-s e a ele, n a m e d id a em q u e e sta ú l­ Rad. int.: E x trin s e k .
tim a p a la v ra p o d e im p lic a r a id é ia d e u m
lim ite q u e fo i u ltr a p a s s a d o e n ã o d e v eria E X T R O V E R S Ã O D . E . Extraver­
te r s id o . O p r ó p r io d e u m a te o ria d o sión; F . Extraversión ; l . Estraversione.
“ ju s to -m e io ” é id e n tific a r n u m a c e rta o r ­ A . S e n tid o g e ra l: a titu d e d o e sp írito
d e m d e co isas (co m ra z ã o o u sem ela) o v o lta d a p a r a o e x te r io r.
extremo e o excessivo. B . M ais e sp e c ia lm e n te : “ C h a m a m o s
Rad. i n t E x tre m . extroversão a o m o d o em o cio n al pelo q u a l
o eu vai d a a tm o s fe r a 1p a r a o p o rm e n o r,
E X T R E M U M M á x im o o u m ín im o .
introversão o c a m in h o o p o s to . E n q u a n ­
C f . M áximo.
to o e u c o m p re e n d e o p o r m e n o r , diz-se
E X T R IN C E S IS M O V er Suplemento. eu p e rc e p tiv o e e x p re ss iv o , e u p ú b lic o ; a
a tm o s f e r a c o n s titu i, p e lo c o n tr á r io , a in ­
E X T R Í N S E C O D . Auesserlich ; E . tim id a d e , o e u p r iv a d o .” R . L S ÇÇ ,E E E

Extrinsic, extrinsical·, F . Extrinsèque; I. Obstacle et valeur, 197.


Estrínseco.
Q u e n ã o está c o m p re e n d id o n a essên ­ 1. “ A tm osfera” no sentido em que se fala da a t­
cia d o ser o u n a d e fin iç ã o d a id éia em m osfera de um a paisagem ou, m ais geralm em e, da
q u e s tã o . O p õ e -se a intrínseco*. atm osfera de um a o b ra de arte.
F

F E s ta le tra c o lo c a d a n o in ício d o n o ­ F A C T U A L D . Sachlich, tatsächlich;


m e d e u m silo g ism o a ss in a la q u e este p o ­ E . Factual; F . Factuel ; I. Fattuale.
de re d u z ir-se a Ferio*. Q u e d iz re s p e ito à o rd e m d o s f a to s
(p o r o p o s iç ã o a o d ir e ito , à s n o r m a s , a o s
F A C T IC ID A D E V er Suplemento. p rin c íp io s , e tc .).
1. F A C U L D A D E L . Facultas; D . Fä­
F A C T ÍC IO L . Factitius; D . Gemacht, higkeit, Vermögen; E . Power, faculty; F .
fingierf, E . Factitious; F . Factice; I . Faculté; I. Facoltà.
Fattizio. A . P o d e r o u lib e rd a d e d e fa z e r a lg u ­
A rtific ia lm e n te c o n s tr u id o o u f a b r i­ m a c o isa .
c a d o . E s p e c ífic a m e n te , e m D e sc a rte s , a s B . Especialmente: C h a m a m -se Facul­
id é ia s factícias o u c o n s tr u íd a s o p õ e m -s e
dades da alma a in te lig ê n c ia , a a tiv id a d e
(o u c o m o o u t r o r a se d iz ia , a v o n ta d e ) e ,
às id é ia s adventícias* e às inatas* ( Ter­
fin a lm e n te , a sen sib ilid a d e , e n q u a n to são
ceira meditação, §7). c o n s id e ra d a s c o m o a q u ilo q u e c o n s titu i,
N a lin g u a g e m m o d e r n a e s ta p a la v r a c a d a u m a d e la s , u m p o d e r esp ecial d e fa ­
to m a q u a se s e m p re u m s e n tid o p e jo ­ z er o u s o fre r u m c e rto g ê n e ro d e a ç ã o .
ra tiv o . “ T h e tw o g re a t a n d p rin c ip a l a c tio n s
Rad. int.: F in g it. o f th e m in d w h ic h a re m o s t fre q u e n tly

S o b re F a c u ld a d e — História. A d o u tr in a d a s fa c u ld a d e s d a a lm a te m c e r ta m e n te
a s u a o rig e m n o s esco ceses. J o u f f r o y (Des facultes de Tôme humaine, 1828, n a s
M élangesphilosophiques) n ã o a d m ite , p a r a fa la r c o m p ro p r ie d a d e , fa c u ld a d e s m ú l­
tip la s e in d e p e n d e n te s . A a lm a , s e g u n d o ele, só tem u m a f a c u ld a d e p ro p r ia m e n te
d ita , o “ p o d e r p e s s o a l” e “ c a p a c id a d e s ” d iv e rs a s , q u e são fa c u ld a d e s n a m e d id a
em q u e o p o d e r p e ss o a l d e las se a p o d e r a e a s d irig e; esse p o d e r p e ss o a l é nous; “ te ­
m o s a c o n sc iê n c ia d e q u e ele vive m e sm o n o seu r e p o u s o ” , e n q u a n to q u e só c o n h e ­
cem o s as o u tr a s fa c u ld a d e s o u c a p a c id a d e s em d e c o r rê n c ia e em c o n se q u ê n c ia d a s
su as m a n ife s ta ç õ e s fe n o m e n a is . U m a e o u tr a s são ig u a lm e n te p o r ele d e sig n a d a s c o ­
m o causas; p o r o u tr o la d o , a p lic a ta m b é m e ste te r m o p a r a as p r o p r ie d a d e s d as c o i­
sas m a te ria is (p e so , c a lo r , e tc .), e, p a r a ele, as leis q u e g o v e rn a m o e x ercício d as p r o ­
p rie d a d e s e d a s c a p a c id a d e s s ã o o m o d o d e a ç ã o q u e se im p õ e à s c a u sa s.
A te o ria d a s fa c u ld a d e s e n c o n tr a a s u a e x p re ssã o sim u lta n e a m e n te rig o ro sa e c â n ­
d id a n o Tratado das faculdades da alma d e A d . G a r n i e r (1852): “ A a lm a e x ec u ta
a to s in d e p e n d e n te s u n s d o s o u tr o s q u e n o s d ã o a c o n h e c e r n e la p o d e re s in d e p e n d e n ­
te s... C o m o é q u e o eu é uno e diverso, n ã o o sab em o s d izer, m a s a consciência m o stra -
n o s q u e e la te m essas d u a s q u a lid a d e s . A s fa c u ld a d e s e x istem , p o r ta n to , in d e p e n ­
d e n te s u m a s d a s o u tr a s , sem d iv id ir a a lm a e sem a m u ltip lic a r .”
G a r n i e r c ita B o ss u e t, c re n d o -s e d e a c o r d o c o m ele, m a s e n g a n a -s e . O s e sc o lá s­
tic o s o r to d o x o s , n isso s e g u id o s p o r D e s c a r t e s , p o r B o s s u e t e p e lo s o u tr o s c a r te ­
s ia n o s , tê m p o r d o u tr in a q u e a s fa c u ld a d e s s ã o a p e n a s nom es diversos d a d o s à a lm a
s e g u n d o as s u a s d ife re n te s o p e ra ç õ e s:
FA CU LD A D E 378

c o n s id e r e d ... a r e th e se tw o : P e r c e p tio n , e d iç ã o d o Dicionário d e F 2 τ ÇT 3 , “ n ã o


o r th in k in g ; a n d v o litio n o r w illin g . T h e m e p o s s o im p e d ir d e s u p o r q u e e le tem
p o w e r o f th in k in g is called th e U n d e rs ­ u m a c a u s a ... M ais d o q u e isso : c re io q u e
ta n d in g a n d th e p o w e r o f v o litio n is c a l­ e ssa c a u s a p re e x istia a o fe n ô m e n o e lh e
le d th e W ill; a n d th e se tw o p o w e rs o r a b i­ d e v e s o b re v iv e r ... M a s m e sm o in a tiv a e
lities in th e m in d a re d e n o m in a te d Facul­ co m o q u e em re p o u s o , n ã o creio q u e , p o r
t i e s L Ã T 3 , Essay, liv ro I I , c. V I.
E isso , d eix e d e e x istir, c a p a z de r e p r o d u ­
F a z , p o r o u tr o la d o , n o ta r q u e as f a c u l­ zir a té o in f in ito e fe ito s s e m e lh a n te s , es­
d a d e s só d e v em ser to m a d a s c o m o a b s ­ p e r a n d o eu c o m c o n fia n ç a o r e to r n o d a s
tra ç õ e s e n ã o c o m o seres d is tin to s fibid., o c asiõ e s. A c a u s a de u m fe n ô m e n o assim
II, X X I, § 6. C f. L « ζ Ç« U , N o v o s ensaios,
E c o n c e b id a , q u a s e s e m p re in acessív el em
ibid.). si m e sm a e a p e n a s d e n u n c ia d a p elo s seus
e fe ito s , m a s em to d o o caso c o n s id e ra d a
C R ÍT IC A c o m o in d e p e n d e n te d e les, n a m e d id a em
A E sc o la E sco cesa e a E s c o la E c lé ti­ q u e e x istia a n te s e e x is tirá a in d a d e p o is ,
ca fra n c e s a d e fe n d e ra m e n e rg ic a m e n te a é a q u ilo q u e se d esig n a em geral u m a p r o ­
d o u tr in a d a s faculdades da alma, m a s o p rie d a d e , u m a v irtu d e , u m p o d e r , u m a
s e n tid o d a d o p o r elas a essas p a la v ra s f o r ç a , u m a f a c u ld a d e .” (E sta s p a la v r a s
n e m s e m p re é o m e sm o : “ T o d a s a s vezes n ã o s ã o c o m p le ta m e n te s in ô n im a s , a in ­
q u e so u te s te m u n h a d e u m fe n ô m e n o ” , d a q u e a lin g u a g e m v u lg a r a s c o n fu n d a :
e sc re v ia A m a d é e J a c q u e s na p rim e ira I. a propriedade é p u r a m e n te p a s s iv a , n ã o
é u m a v e rd a d e ira c a u s a ; p o r e x e m p lo , a
m o b ilid a d e , a fu s ib ilid a d e .) “ P e lo c o n ­
I . “ As duas m aiores e principais ações do espí­ tr á r io , p e n sa -s e q u e a c a u s a s u p o s ta , em
rito que são mais frequentem ente consideradas são vez de ser u m a a titu d e p a ss iv a , in c a p a z
as seguintes: a percepção, ou pensam ento, e a voli­ d e ela p r ó p r ia se d e te r m in a r, p o ssu i u m a
ção, ou vontade. O poder de pensar cham a-se enten­
en erg ia p r ó p r ia , é, p o is, u m a v irtu d e , um
d im en to , o poder de querer, vontade; e os dois p o ­
deres ou capacidades do espírito cham am -se facul­ p o d e r , u m a fa c u ld a d e : p o r e x e m p lo , 0
dades,” ím ã te m u m p o d e r a tr a tiv o , c e rta s p la n -

G u il l aume d ’A u v e rg n e (séc. X III): “ M esm o q u a n d o se a tr ib u i o p e n s a m e n to


à fa c u ld a d e d a in te lig ê n c ia , a v o n ta d e e o d e se jo à fa c u ld a d e de q u e re r e d e d e s e ja r,
é, to d a v ia , u m a só a lm a q u e q u e r, q u e p e n s a , q u e d e s e j a ...” Tratado da alma ,
c. I I I , §7.
D E è Tτ 2 I E è : “ U n a et e a d e m e st v is, q u a e , si a p p lic e t se cu m im a g in a tio n e a d sen-
s u m c o m m u n e m , dicitur r e m in is c i... E t e a d e m e tia m id c irc o ju x ta h a s fu n c tio n e s d i­
v ersas vocatur vel in te lle c tu s p u r u s , vel im a g in a iio , vel m e m ó ria , v el sen su s; p ro p r ie
a u te m in g e n iu m a p p e ll a tu r ...” Regulae, X I I , 79.
BÃè è Z E I : “ O e n te n d im e n to é a p e n a s a a lm a e n q u a n to e sta c o n c e b e ; a m e m ó ria
é a p e n a s a a lm a e n q u a n to e s ta re té m e se re c o r d a ; a v o n ta d e é a p e n a s a a lm a e n ­
q u a n to e sta q u e r ... T o d a s e sta s fa c u ld a d e s s ã o n o f u n d o a p e n a s a m e sm a a lm a q u e
recebe diversos nom es d e v id o a e s ta s d ife re n te s o p e r a ç õ e s .” Conhecimento de Deus
e de si mesm o, c a p . I, ad fin em .
M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E v ai m a is lo n g e e n e g a q u e p o s s u a m o s e m n ó s c o n sc iê n c ia d e p o ­
d e re s: “ O s e n tim e n to in te r io r q u e eu p o s s u o de m im p r ó p r io e n sin a -m e q u e eu s o u ,
q u e e u p o s s o , q u e eu q u e r o , q u e eu s in to , e tc .” m a s “ n ã o p o s s o , a o v o lta r -m e p a r a
m im p r ó p r io , re c o n h e c e r n e n h u m a d a s m in h a s f a c u ld a d e s o u d a s m in h a s c a p a c id a ­
d e s .” Conversas sobre a metafísica, 3? c o n v e rsa , §7.
379 FACULDADE

ta s p o s su e m v irtu d e s m é d ic a s, o e s tô m a ­ d e ele d istin g u e d u a s fo rm a s d a potentia:


go tem a facu ld ad e de d ig e rir... A esta a ti­ habilitas ad agendam e habilitas ad pa-
v id a d e , a in d a cega e fa ta l, a cre sc e n ta -se tiendum : só a p rim e ira é facultas, q ue tem
n o ser q u e d e la é d o ta d o a c o n sc iê n cia d a c o m o s in ô n im o vis activa, virtus, po-
s u a a ç ã o ... o fa to de te r a in ic ia tiv a e o testas.)
seu g o v e rn o fa z c o m q u e o títu lo d e f a ­ N a s e g u n d a e d iç ã o d a m e sm a o b r a ,
c u ld ad e co n v en h a m e lh o r a in d a a este p o ­ E m . C τ 2 Â è c o rrig iu e sta d e fin iç ã o d a
7 E

d e r e sc la re cid o e a u tô n o m o ... N e ste se n ­ seg u in te m a n e ira : “ (O a u to r] e sta v a v isi­


tid o a p e n a s a a lm a p o ssu i v e rd a d e ira s f a ­ v e lm e n te s o b a in flu ê n c ia d a o p in iã o se­
c u ld a d e s .” (E sta d is tin ç ã o é tra d ic io n a l, g u n d o a q u a l o m é to d o a p lic áv e l à p s ic o ­
é d esen v o lv id a em G ÃTÂ E Ç« Z è , 565b, o n ­ lo g ia deve a sse m e lh a r-se o m a is p o ssív el

L ÃT3E ta m b é m d e c la ra q u e as fa c u ld a d e s sã o n o m e s e n à o “agentes” . L « ζ Ç« U E

c o n c o r d a : “ N ã o sã o as fa c u ld a d e s o u a s q u a lid a d e s q u e a g e m , m a s a s s u b s tâ n c ia s
p e la s fa c u ld a d e s .” P o d e r-s e -ia c o n tu d o c o n s id e ra r e s ta s ú ltim a s c o m o “ seres re a is
e d is tin to s ” (sem d ú v id a a títu lo d e essências n à o só possív eis, m as ta m b é m realizad as).
E m . C τ 2 Â è , n a p a ssa g e m a c im a c ita d a , r e to r n a , p o r ta n to , à tr a d iç ã o e sc o lá s­
7 E

tic a e c a r te s ia n a , q u e é n o m in a lis ta n o q u e às d iv isõ es d a a lm a d iz re s p e ito . A o p re ç o


d o a b a n d o n o d a id éia de s u b s tâ n c ia , e s ta tra d iç ã o c o n d u z ia d ire ta m e n te a o fen o m e -
n ism o p s ic o ló g ic o ; p a r a e sta d o u tr in a to d a s as fa c u ld a d e s d a a lm a , m e sm o a v o n ta d e ,
são classes d e f a to s p e rs o n ific a d a s ; n e g a q u a lq u e r c o n sc iê n c ia e q u a lq u e r in fe rê n c ia
de u m poder , q u e r d iz er, de u m a c a u s a g e ra l e p e rm a n e n te de e fe ito s v a ria d o s e su c e s ­
siv o s. (Resumo de pesquisar sobre a palavra F a c u ld a d e , comunicadas po r V. Egger)
Kτ ÇI (A ntropologia , §7) o p õ e , no sentido fo r te , o c o n c e ito d e fa c u ld a d e ( Ver­
m ögen, fa c u lta s ) a o de re c e p tiv id a d e ( Em pfänglichkeit , re c e p tiv ita s): “ V e rm ö g e n zu
h a n d e ln ; E m p fä n g lic h k e it zu le id e n .” 1N o Discurso sobre a faculdade de conhecer
{Erkenntnisvermögen), e m p re g a , p elo c o n tr á r io , o c o n c e ito n o s e n tid o m ais la rg o :
a s e n s ib ilid a d e , q u e é u m a “ r e c e p tiv id a d e ” {Receptivitàt), c o n s titu i a “ faculdade de
conhecer in f e r io r ” .
É p re c iso s u b lin h a r q u e o c o n c e ito d e u m a d is p o s iç ã o p s íq u ic a d e c a d a s u je ito
e m p íric o p a r tic u la r , c o n c e ito c o m p re e n d id o n o d e F a c u ld a d e d a a lm a , d e sa p a re c e
c o m p le ta m e n te n o u so d a p a la v r a F a c u ld a d e ( Vermögen) n a c rític a d o c o n h e c im e n ­
to . A s te o ria s d a filo s o fia c rític a s o b re a c o n s titu iç ã o e a c o n e x ã o d a s fa c u ld a d e s
(s e n sib ilid a d e , e n te n d im e n to , e tc .) n ã o s ã o te o ria s p sic o ló g ic a s s o b re as re la ç õ e s m ú ­
tu a s d e d isp o siç õ e s p síq u ic a s : im p lic a m , so b u m a f o r m a m ític a e in c o m p le ta m e n te
e sc la re c id a , u m a d o u tr in a a c e rc a d a s re la ç õ e s d e v a lo r n e c e ssá ria s in e re n te s à essê n ­
cia d a s d ife re n te s esp écies d e fe n ô m e n o s : fe n ô m e n o s d e c o n h e c im e n to , fe n ô m e n o s
d e v o n ta d e , e tc . {E. Husserl)
Observações sobre a crítica'. F o r a m m o d if ic a d a s d u a s p a ssa g en s p a r a d a r c o n ta d a s
seg u in tes o b s e rv a ç õ e s de J. Lachelier e G. Belot:
N à o d e fe n d o de m o d o n e n h u m o e m p re g o d a p a la v r a faculdade e a té o re p u d io
se p o r ela se e n te n d e r p o d e re s o c u lto s . C o n te n to -m e p e rfe ita m e n te c o m função e a té
fa to , c o n ta n to q u e se d istin g a m c la ra m e n te f a to s p e rm a n e n te s e f a to s p a ss a g e iro s.
P o r e x e m p lo , ju lg a r o v e rd a d e ir o e o fa ls o p a re c e -m e c o n s titu ir u m f a to q u e a c o n te ­
ce em m im se m p re q u e eu p e n s o , m a s q u e n ã o se re p e te , q u e , p elo c o n tr á r io , p e rs is ­
te , a b s o lu ta m e n te u n o e id ê n tic o a si p r ó p r io a in d a q u e se re fir a o r a a u m o b je to ,
o r a a o u tr o . N ã o v e jo seq u e r d ife re n ç a e n tre este fa to e e u p r ó p r io , e n q u a n to p e n so .

]. “ Faculdade de agir; capacidade receptiva de so fre r.”


FA CU LD A D E 380

a o d as c iên c ia s físicas; q u e é n e c e s sá rio , seus e f e ito s ... E sse p o d e r a tiv o e real q u e


a q u i c o m o a li, o b s e r v a r o s f a to s , se sen te e a firm a e n ã o se co n clu i d o s seus
c la ssific á -lo s, d e p o is lig á -lo s à su a c a u s a e fe ito s é o p r ó p r io eu n a su a e ssên cia, é
p ró x im a . H o je em d ia a d m ite -s e g e ra l­ u m a fo rç a v iv a ... A fa c u ld a d e é u m a a b s ­
m e n te q u e os fa to s de c o n sc iê n cia são t r a ç ã o .” Ibid., 516-5 17.
im e d ia ta m e n te p e rc eb id o s co m o s en d o os M u ito s filó so fo s m o d e rn o s , p a r tic u ­
n o sso s, q u e r d iz er, ao m e sm o te m p o q u e la rm e n te T τ « Ç (cf. Os filó so fo s france-
E

a s u a c a u s a e n a s u a re la ç ã o co m o eu: ses> c a p . III), c o n te sta m q u e o p ró p rio eu


n ã o é, p o r ta n to , c o rre to d iz er-se q u e as seja, nesse sen tid o , u m a c a u sa o u u m a p o ­
fa c u ld a d e s são as c a u s a s q u e o s p r o d u ­ tê n c ia . M a s p a re c e q u e , q u a lq u e r q u e se­
zem e so b re tu d o q u e essas cau sa s, p rim ei­ j a a o p in iã o q u e se te n h a a p ro p ó s ito d e s­
ra m e n te ig n o ra d a s , sã o a firm a d a s em r a ­ t a q u e s tã o , a p r ó p r ia p a la v r a faculdade
z ã o d e u m ra c io c ín io q u e a s c o n clu i d o s j á só p o d e ser a c e ita p a r a d e s ig n a r u m

P a re c e -m e q u e ex iste ta m b é m em m im , o u m e lh o r, q u e eu so u u m s ó e m e sm o q u e re r
q u e se se d irig e o r a p a r a u m fim o r a p a r a u m o u tr o , u m a ú n ic a e m e sm a v id a a fe tiv a ,
o u c o n sc iê n c ia a fe tiv a d e m im m e sm o , q u e é m o d if ic a d a p e lo s o b je to s e x te rio re s,
o ra d e u m a m a n e ir a , o r a d e o u tr a . Se a q u ilo a q u e eu c h a m o p e n s a m e n to , s e n tim e n ­
to , v o n ta d e n ã o fo sse m a is d o q u e u m a s e m e lh a n ç a e n tre f a to s ra d ic a lm e n te d ife re n ­
tes u n s d o s o u tr o s , c o m o é q u e , p rim e ir o , e s ta s e m e lh a n ç a p o d e ria s e r tã o e x a ta q u e
m e p arecesse ir a té a id e n tid a d e ? E m s e g u id a , o n d e te r ia id o eu e n c o n tr a r a id éia
de eu e d as re la çõ e s desses f a to s c o m o eu l ( J . Lachelier)
A p a la v r a Faculdade p a re c e -m e te r d u a s a c e p ç õ e s: a s faculdades fu n ç õ e s ( p o r
e x e m p lo , a lin g u a g e m , as m e m ó ria s e sp e c ífic a s, e tc .) e as faculdades-modalidades
(in telig ê n c ia, a fe tiv id a d e , e tc .). O e rro d a s a n tig a s p sico lo g ias c o n sistiu em tr a ta r m o ­
d a lid a d e s c o m o fu n ç õ e s. M as o p sic ó lo g o c o n te m p o r â n e o p o d e re a b ilita r a id é ia de
fa c u ld a d e n o s e n tid o d e fu n ç ã o a o m o s tr a r q u e e x istem siste m a s re a is de p o d e re s
(n u m s e n tid o c o m p le ta m e n te e m p íric o , e v id e n te m e n te ) q u e c o rre s p o n d e m a u m sis­
te m a de ó rg ã o s e p re d e te r m in a m c e rto s m o d o s d e a ç ã o . P o r e x e m p lo , a m e m ó ria
é a p e n a s u m a m o d a lid a d e c o e x te n siv a a to d a a v id a m e n ta l, m a s as d ife re n te s m e ­
m ó ria s esp eciais q u e p a re c e m a b s o lu ta m e n te c o rre la tiv a s à s fu n ç õ e s c o rre s p o n d e n ­
tes são siste m a s su scetív eis de d o e n ç a s esp e c iais, e tc . (G . Belot)
É c laro q u e se a in d a u sa m o s a p a la v ra faculdades , se a té fa la m o s em faculdades
d a a lm a , j á n ã o p e n sa m o s em p o d e re s q u e resid em n a a lm a e p o ssu e m u m a existência
d is tin ta d a d o s fa to s q u e lh e são a trib u íd o s . Faculdade n ã o é to d a v ia s in ô n im o de fu n ­
ção. A p sico lo g ia m o d e rn a n ã o te ria d e ix ad o d e ex clu ir u m a p a la v ra , se d e la se faz u m
d u p lo u s o , u m a p a la v ra q u e se p re sta a eq u ív o co s tã o g rav es. C o n se rv o u -a , p o rq u e é
n ecessária. Função d e sp e rta sem p re a id éia d e u m a a tiv id a d e referida a um órgão deter­
minado , e n q u a n to q u e faculdade n ã o fa z n e ce ssa ria m e n te p e n sa r n u m s u b s tra to o rg â ­
n ico . P o r c o n se q ü ê n cia , faculdades da alma e funções psíquicas d e sig n a m a g ru p a m e n ­
to s de fa to m u ito d ife re n te s. A s fa c u ld ad e s sã o classes de fa to s p síq u ic o s, re u n id a s se­
g u n d o as su as a n alo g ia s, d istin g u id a s seg u n d o as su as d iferen ças; as fu n çõ es p síq u icas,
c o m o as fu n çõ es s o m á tic a s, são processos o u complexos d e fe n ô m e n o s d e n a tu re z a d i­
fe re n te . A q u ilo q u e se lo caliza nas d iv ersas regiõ es d o c é re b ro , n ã o é a q u i a sen sação ,
ali a m e m ó ria , a co lá o ju íz o . N o c e n tro d a v isão , p o r ex em p lo , ligam -se a sen sação
v isu al, a p e rc e p ç ã o visu al (co m to d o s o s ju iz o s q u e e la c o m p o rta , d isc rim in a ç ã o , assi­
m ila ç ã o , lo c aliza ç ão , re c o n h e c im e n to , etc.), a m e m ó ria v isu al, a im a g in a ç ã o v isual, a
a te n ç ã o v isu al, etc. (ver Função). [E. Goblof)
381 F A L L A C IA

g ru p o n a tu ra l de fa to s p síq u ico s c u ja s c a ­ c ia d e im a g e n s a u d itiv a s , o u a u d itiv o -


ra c te rís tic a s e u n id a d e s ã o e sta b e le c id a s m o triz e s , q u e f o r m a m p a la v r a s e fra s e s
a posteriori. S ó d ife re , p o r ta n to , de q u e re p e te m m a is o u m e n o s p a rc ia lm e n ­
Função* p o r se a p lic a r a o m e n ta l e n ã o te a fa la p r o p r ia m e n te d ita . V . E ; ; 2 , E

a o fisio ló g ic o . S e ria a té m a is sim p les e q u e fo i q u e m s o b re tu d o a n a liso u e ste fe ­


m a is ló g ico e m p re g a r e sta ú ltim a p a la v ra n ô m e n o (La parole intérieure, 1881), p e n ­
p a r a o s d o is c a s o s . sa m e sm o q u e é c o m u m a to d o s o s h o ­
R a d . in t.: B . F a k u l t . ( K a p a b l, m e n s n o rm a is e q u e é q u a s e c o n tín u o em
Boirac.) c a d a u m deles. M as a m a io r p a rte dos psi­
c ó lo g o s c o n te m p o râ n e o s c o n te s ta q u e se­
2. F A C U L D A D E D . Facultàt ; E . Fa-
ja tã o univ ersal assim . P ro p ô s-s e a expres­
culty; F . Faculté ; I. Facoltà.
são Linguagem interior p a r a re p re s e n ta r
C o r p o d e p ro fe s s o re s q u e e n s in a n u ­
m a m e s m a U n iv e rs id a d e , u m a d a s g r a n ­
0 g ê n e ro m a is a m p lo (c o m p re e n d e n d o as
des divisões d o s c o n h ecim en to s h u m a n o s. im a g e n s v is u a is, m o triz e s , a fe tiv a s , e tc .)
A s “ Q u a tro F a c u ld a d e s” tra d ic io n a is são d e q u e a F a la in te rio r s e ria a p e n a s a es­
as F a c u ld a d e s d e T e o lo g ia , d e D ire ito , d e p écie m a is d ifu n d id a . V er e sp e c ia lm e n te
M ed ic in a e de F ilo so fia o u d as A rtes* (cf. B τ Â Â , La langage intérieure , e s o b re ­
E I

K τ Ç , Der Streit der Facultaten)'. D e ­


I
tu d o E u g . B e r n a r d L 2 Ã à , La langage.
E

p o is d e 1808 e s ta ú ltim a d iv id iu -se , n a Rad. int.: In te r( a ) p a ro la d (o ).


F r a n ç a , em F a c u ld a d e d e C iê n c ia s e F a ­
c u ld a d e d e L e tra s . F A L L A C IA S in ô n im o la tin o de
Rad. int.: F a k u lta t, sofisma*. E m p re g a -s e n a s lo c u ç õ e s t r a ­
d ic io n a is seg u in tes, c u jo s e n tid o aliás v a ­
F A L A V er Linguagem. rio u :
Fallada accidentis. S e n tid o p rim itiv o ,
F A L A I N T E R I O R D . Innere Rede ; c a íd o em d e su s o (A r is t ó t el es , Sofis.
E . Inner speech; F . Parole intérieur; I. Elen., c. V , 166b 28 e s s .; cf. c a p .
Discorso interiore. X X IV ): s o fis m a q u e c o n siste e m c o n f u n ­
F e n ô m e n o m u ito g eral q u e co n siste n o
d ir a s p ró p ria s c o isa s (irQáyfiaTct) co m as
f a to d e o p e n s a m e n to se a p r e s e n ta r à
m a n e ira s d e ser o u c a ra c te rís tic a s d e q u e
c o n sc iê n c ia s o b a f o r m a d e u m a s e q ü ê n - 1
elas se re v e ste m (Havft0c0i\xev c x v t o Í s).
V er e x e m p lo s n a s o b s e rv a ç õ e s . S e n tid o
1. O co m b a te d a s facu ldades. m o d e rn o : s o fis m a q u e c o n sis te em co n -

S o b re F a c u ld a d e (2) — A lg u n s c o rre s p o n d e n te s p ro p u s e ra m a s u p re s s ã o d e ste


a r tig o , q u e n ã o te m , d iz em eles, o c a r á te r d e u m te r m o té c n ic o d e filo s o fia . J u lg u e i,
p o ré m , d e v e r m a n tê -lo , n ã o a p e n a s em v irtu d e d o u so sim b ó lic o q u e dele fez K a n t
n o liv ro c ita d o , m a s ta m b é m d o fa to d e q u e a e x istên c ia d a Faculdade de filosofia
é u m d o s e le m e n to s q u e d e te rm in a m o s e n tid o d a p a la v r a filosofia. (A. L .)
S o b re F a l l a d a — Fallada accidentis , e x em p lo s d a d o s p o r A ris tó te le s : C o risco s
é o u tr a c o isa q u e n ã o h o m e m (p o r e x e m p lo , é s á b io ); lo g o , é u m a c o isa d ife re n te
d a q u ilo q u e é, j á q u e é h o m e m . C o ris c o s é d ife re n te de S ó c ra te s; o r a , S ó c ra te s é u m
h o m e m ; lo g o , C o ris c o s n ã o é h o m e m . C o n fu n d e -s e o hom em (o p u r o c o n c e ito d e
h o m e m ) c o m o hom em , e n q u a n to re a liz a d o n e ste o u n a q u e le in d iv íd u o p a rtic u la r,
e , p o r ta n to , p o s s u in d o d e te rm in a d a s carac te rístic as a cid e n ta is. E ste s o fism a é d a m es­
m a n a tu re z a q u e o ra c io c ín io e le á tic o q u e n e g a q u e d o ser se p o s sa a f ir m a r s e m c o n ­
tr a d iç ã o a lg o m a is d o q u e isto : é.
FA LSO 382

c lu ir d o p a r tic u la r o u n iv e rs a l, em tr a t a r F A L T A D . Fehler; E . Fault; F . Faute;


u rn a c a ra c te rís tic a a c id e n ta l c o m o u rn a I. Fallo.
c a ra c te rís tic a esse n cia l. N ã o c u m p rim e n to d e u m a re g ra o u de
Faltada secundum quid , ou m ais c o m ­ u m a n o r m a q u e d e v eria te r sid o re sp e ita ­
p le ta m e n te a dicto secundum quid ad dic- d a . D iz-se s o b re tu d o d o n ã o c u m p rim e n ­
tum simpliciter (A 2 « è ó Â è , ibid., 3 6
I I E E to das reg ras m o rais, estáticas, lógicas, m a ­
ss.): so fism a q u e co n siste em e m p re g a r n a tem áticas, gram aticais, m as ta m b é m d e au ­
c o n c lu s ã o , n o s e n tid o a b s o lu to , u m te r ­ sên cia d e h a b ilid a d e , d e u m a m a n e ira de
m o q u e e n tr a n a s p re m is sa s s o b c e rta s ag ir d e sajeitad a o u im p o rtu n a: “ U m a fa lta
c o n d iç õ e s o u em c e rta s re la ç õ e s. d ip lo m á tic a .” “ N in g u é m e stá tã o s u je ito
(E stes dois sofism as são p ró x im o s, a in ­ a fa lta s c o m o aq u eles q u e só ag em p o r re­
d a q u e j á A ristó te le s os tivesse d istin g u i­ fle x ã o .” V a u v e n a r g u e s , Reflexions et
d o , e os seus no m es são freq ü en tem en te to ­ máximes , 131.
m a d o s u m p e lo o u tro . C τ 2 Â è , n o seu
7 E C f. Pecado.
c o m en tário à Lógica de P Ã2 -R Ãà τ Â , n o ­
I

ta q u e “ eles m al se d is tin g u e m ” .) N OTA


Fallada compositionis e fa lla d a divi-
sionis. S en tid o p rim itiv o (A 2 « è ó Â è I I E E A p a la v ra falta im p lica, n o e sp írito d a ­
ibid., 166® 33; cf. c. X X ): sofism a q u e con­ q u ele q u e a u sa, a c re n ç a n o v a lo r d a n o r ­
siste em c o n fu n d ir a a firm a ç ã o q u e se re ­ m a q u e n ã o fo i seguida: u m a n d a m e n to o u
fere a u m te rm o composto *, to m a d o co ­ u m a c o rd e in te rd ito s p e la h a rm o n ia clás­
le tiv a m en te, co m a q ue se refere a o s ele­ sica n ã o c o n stitu e m fa lta s p a ra aq u ele q ue
m en to s d esse te rm o to m a d o s s e p a ra d a ­ p o r p rin cíp io rejeita as regras d aq u ela. E ste
m e n te e vice-versa. S en tid o de P Ã 2 - I c a r á te r d e s a p ro v a d o r está sem p re c o m ­
R Ãà τ Â : passagem do sentido composto a o p re e n d id o n a p a la v ra , m e sm o q u a n d o se
sentido dividido e n ten d en d o p o r sentido di­ tr a ta de fa lta s h o n ro s a s o u d e fa lta s feli­
vidido o caso em q u e o a trib u to d e stró i o u zes p elas su as c o n se q u ê n cia s, c o m o a q u e ­
a lte ra u m d o s elem en to s essenciais q u e las d e q u e fa la L « ζ Ç« U ( Teodicéia , I, 10),
E

c o m p õ em a idéia p rim itiv a d o sujeito : “ O s a o c ita r a seg u in te p a ssa g e m d e u m h in o


cegos v êem , os su rd o s o u v e m ” ; o sentido q u e se c a n ta v a n o s á b a d o s a n to : “O fe lix
composto é, pelo c o n trá rio , aq u ele em q u e culpa (a fa lta de A d ã o ) quae talem ac tan-
a id éia d o su jeito n ã o é a lte ra d a p elo a tr i­ tum /M eruit habet Redem ptorem ."
b u to (3? p a rte , c. X IX , § 6). Rad. int.: K u lp .

F A L S O D . Falsch ; E . False; F. Faux; F A M ÍL I A D . Familie; E . Family ; F .


I. Falso. V er Verdadeiro. Famille; I. Famiglia.
Rad. int .: (N ã o v e rd a d e iro ) N e-v er; E tim o ló g ic a m e n te (L. familia), o c o n ­
(q u e im ita a lg u m a co isa p a r a ilu d ir) fals. ju n to d o s serv id o res (cf. in v e rsam e n te o

S o b re a fallada compositionis et divisionis, A ristó te le s d á , so b u m a fo rm a m u ito


elíp tica, o s seg u in tes e x em p lo s: 2 e 3 são 5; o p a r e a u n id a d e são ím p a r, logo 2 são
5 e o p a r é ím p a r. É v ero ssím il q u e , p o r ovv$tais e ô im g e a ts , A ristó te le s en ten d esse
o sim ples f a t o de lig ar o u de d e s l i g a r as p a la v ra s n a m e sm a p ro n ú n c ia : “ D ois — e três
— são c in c o ” , co m o se d o is (assim c o m o três) fo ssem c in co , c a d a u m p o r su a vez. E sta
falácia é, co m e fe ito , p a ra e le , u m a d a s seis ί τ α ρ ά τ η ν ( J. Lachelier)

S o b re F a m ília — A rtig o o m itid o n a p rim e ira re d a ç ã o , restab elecid o de a c o rd o com


as o b serv açõ es de alg u n s c o rre sp o n d e n te s q u e fizeram n o ta r q u e já p o ssu ía m o s os a r ti­
gos clã, economia, política, etc.
383 F A N T A S IA

em p reg o d a p a la v ra “ c a s a ” )- D e o n d e d e­ g ra d o , d u r a n te o q u a l se fe ria m e fa z ia m
riv a m d ife re n te s se n tid o s: c o rre r o seu san g u e); D . Fanatiscfv, E . Fa­
A . G r u p o d e in d iv id u o s p a re n te s o u na tic; fanatical; F . Fanatique ; I. Fa­
a lia d o s q u e viv em c o n ju n ta m e n te . D istin- nático .
g u ira m -s e , n esse s e n tid o , v a rio s tip o s de A . (a n tig o ): M ístic o , q u e a d m ite n o
c u rs o d a s co isas a in te rv e n ç ã o o r d in á r ia
fa m ília : m o n o g â m ic a , p o lig á m ic a , p o ­
de p o d e re s o c u lto s . “ D e o u tr a m a n e ira
l i a n d r i a , p u n a lu a n a , e tc . — p e rp é tu a ,
n ã o v ejo c o m o é q u e p o d e ria m o s e v ita r
te m p o r á r ia , etc. V er as o b s e rv a ç õ e s .
c a ir n a filosofia fanática, c o m o a F ilo s o ­
B . O c o n ju n to d e to d o s os in d iv id u o s
fia M o sa ic a d e F lu d d , q u e salv a to d o s os
v iv o s m im d a d o m o m e n to q u e m a n tê m fe n ô m e n o s a trib u in d o - o s a D eu s im e d ia ­
e n tre si re la ç õ e s d e fin id a s d e p a re n te s c o ta m e n te e p o r m ila g r e ...” L « ζ Ç« U , N o ­
E

o u d e a lia n ç a . v o s ensaios, p r ó lo g o , ad fin em .


C . Sucessão d e in d iv id u o s q u e d escen ­ B. In to le ra n te , a p a ix o n a d o p elo triu n ­
d e m u n s d o s o u tr o s e d a q u e le s a q u e m se fo d a su a p ró p r ia fé, insensív el a q u a lq u e r
u n ir a m p o r a lia n ç a . o u tr a c o isa , p r o n to a e m p re g a r a v io lê n ­
D . M ais e s p e c ia lm e n te , e s o b re tu d o cia p a r a c o n v e rte r o u p a r a d e s tru ir a q u e ­
n a s so cie d a d es c o n te m p o râ n e a s , o g ru p o les q u e n ã o a p a rtilh a m . D iz-se essen cial­
fo rm a d o p elo p a i, pela m ãe e p elo s filh o s. m e n te e p rim itiv a m e n te d a fé re lig io sa ,
m a s ta m b é m , p o r e x te n s ã o , d e to d a es­
E . P o r a n a lo g ia , n as c iên c ia s b io ló g i­
p écie d e c re n ç a .
cas, g ru p o de g ê n ero s re u n id o s p o r c a r a c ­
Rad. int.: B . F a n a tik .
te rís tic a s c o m u n s e q u e se p o d e c o n sid e ­
r a r c o m o d e sc e n d e n te s d e u m tip o a n c e s ­ F A N T A S IA D . Phantasie; E . Fancy,
tra l ú n ic o . T e rm o u s a d o p rim e ir a m e n te F . Fantasie’, I. Fantasia.
em b o tâ n ic a e q u e m ais ta r d e se e ste n d e u E s ta p a la v ra tem p o r o rig em o G . φ α ν ­
à z o o lo g ia , o n d e se to r n o u m u ito u s u a l. τ α σ ί α , q u e sig n ific a e m A 2 « è ó Â è I I E E

Rad, int.: F a m ili. “ m o d o sp eciem rei o b je c ta e , si ve v eram ,


sive fa lla c e m ... m o d o e a m a c tio n e m q u a
F A N Á T I C O L . Fanaticus (d e fa n u m re ru m im ag in es a n im o in fo rm a m u s..!’, a l­
disse-se p rim itiv a m e n te d o s sac e rd o te s d e g u m a s vezes, s o b re tu d o n o p lu ra l, as p ró ­
c e rta s d iv in d a d e s , ís is , C ib e le , B e lo n a , p ria s im ag en s q u e surgem n o espírito. (Re­
q u e e n tra v a m n u m a espécie d e d e lírio s a ­ s u m id o d e B Ã Ç« U , V o, 811 A seq.)
I

L . H . M o r g a n , A ncient Society ( 1 8 7 7 ) , tin h a d is tin g u id o trê s e ta p a s n o d e s e n ­


v o lv im e n to d a fa m ília : c o n s a n g ü ín e a , p u n a lu a n a (c a s a m e n to c o le tiv o , p o r g ru p o s ),
m o n o g â m ic a . M as e s ta lei fo i c o n te s ta d a , a liá s so b d ife re n te s â n g u lo s , p o r S ta rc k e ,
W e s te rm a rc k , C ra w le y , A n d re w L a n g , N . W . T h o m a s . V er a e x p o siç ã o d e s ta d is ­
cu ssão e m W . S . R . R iv ers, SocialOrganisation (1924), A p ên d ice, p p . 1 7 5 ss. ( G. Davy)

S o b re F a n ta s ia — A rtig o r e to c a d o e c o m p le ta d o s o b as in d ic a ç õ e s d e V. Egger,
Eucken e L. Boisse.
V. Egger c o m u n ic o u -n o s a lé m d isso as s e g u in te s o b s e rv a ç õ e s , “ Φ α ν τ α σ ί α , ima-
go e imaginatio, d a m e sm a ra iz q u e φ α ι ν ό μ ζ ι >ov, etc. S ig n ific a em A 2 « è I ó I E Â E è e
em to d o s os a u to r e s q u e o s e g u ira m im a g e m o u im a g in a ç ã o sem d is tin ç ã o e n tre a
im a g e m -re p ro d u ç ão e a im ag em -in o v ação . E n q u a n to a psicologia se in teressav a ap en as
em d is tin g u ir as operações sensitivas e o entendim ento, a d is tin ç ã o d a s im a g e n s c o ­
p ia d a s e d a s im a g e n s n o v a s e ra d e im p o r tâ n c ia m ín im a . F azia-se, a e x e m p lo de A ris­
tó te le s, a tr ib u in d o à memória a q u ilo q u e , n a im a g e m , e ra r e p ro d u ç ã o . (C f, o in ício
d o ir iQ t μ ν η μ η ς . )
“ F A N T A S M A T IS M O ” 384

E stes trê s s e n tid o s se m a n tiv e ra m d u ­ p a la v ra en v elh eceu . H o je p erten ce s o b re ­


r a n te a Id a d e M é d ia , s e g u n d o ST7 ü I U , tu d o a o d o m ín io d a c rític a d a a rte e à lin ­
Thomas-Lexicon : “ 1. P h a n ta s ia lactis, id g u a g e m d a v id a c o rre n te o n d e se to r n o u
est a p p a ritio lactei c ir c u li...” In Metereo- s in ô n im o de c a p r ic h o , de irr e g u la rid a d e ,
lo, I , 3 a , 2 e 3: “ In n o s tr a p h a n ta s ia est d e in e x a tid ã o : em o u tr o s c a s o s , c o m u m
p h a n ta s ia seu f o r m a re p ra e s e n ta n s h u n c s e n tid o fa v o rá v e l, to rn o u -s e sin ô n im o de
h o m in e m .’ ’ In Logicam , 1 , 1 . lib e rd a d e de e sp írito , de c ria ç ã o , d e o r i­
A . N o s éc u lo X V II, im a g in a ç ã o (re ­ g in a lid a d e im p re v isív e l.
p r o d u to r a o u in o v a d o r a ) . “ Q u a n d o f a ­ Rad. i n í B . F a n ta 2i.
la m o s d a s id éias n ã o d e sig n a m o s assim as
im a g e n s q u e sã o p in ta d a s p e la f a n ta s ia .” “ F A N T A S M A T IS M O ” C o n c e p ç ã o
Lógica d e P Ã2 I -RÃà τ Â , I a p a r te , c. I. p sico ló g ica e g n o seo ló g ica se g u n d o a q u al
“ E sse m e s m o e n te n d im e n to q u e d á a z o o q u e é p e rc e b id o é a p e n a s o fa n ta s m a d a
à f a n ta s ia p a r a c ria r essas re u n iõ e s m o n s ­ re a lid a d e . “ V em o s q u e a filo so fia d e D e-
tru o s a s (Q u im e ra s, C e n ta u ro s ) c o n h ece a m ó c r ito é u m a esp écie d t fantasm atism o
s u a fr a g ilid a d e .” BÃè è Z E I , Conh. de m u ito a n á lo g o à q u e le q u e c e rta s e sco las
Deus, c. I, §10. m o d e r n a s o b tiv e ra m p e la m is tu r a d o
B . A im a g in a ç ã o c ria d o ra q u e se e x er­ id e a lis m o e d o s e n s u a lis m o .” R E ÇÃZ -
ce c a p r ic h o s a m e n te s e g u in d o o c u rso n a ­ â« E 2 , Philosophie ancienne , I, 252.

tu r a l d a s a ss o c ia ç õ e s.
F A P E S M O M o d o in d ire to d a p rim e i­
CRÍTICA r a fig u ra (Lógica de P Ã2 I -RÃà τ Â , 3 a p a r­
E n q u a n to e x p re ss ã o filo só fic a essa te , c a p . V III) c h a m a d o Fesapo*, q u a n d o

E x iste to d a v ia , a p a r tir d o séc u lo X V II, u m a te n d ê n c ia p a ra e sp e c ia liz a r fa n ta ­


sia : “ U n a et e a d e m est vis q u a e , si se a p p lic e t c u m im a g in a tio n e a d s e n su m c o m m u -
n e m , d ic itu r v id e re , ta n g e r e , e tc ., si a d im a g in a tio n e m s o la m u t d iv e rsis fig u ris ín d u -
ta m , d ic itu r reminisci ; si a d e a m d e m u t n o v a s f in g a t, d ic itu r imaginan vel concipe·
re... P r o p r ie a u te m ingenium a p p e la tu r q u u m m o d o id e as in phantasia n o v a s f o r ­
m a t, m o d o ja m fa c tis in c u m b it, e t c .” D E è Tτ 2 I E è , Regulae , X I I . U m a g ra v u ra d o
in íc io d o séc u lo X V II, “ O P a lá c io d a s F a c u ld a d e s d a A lm a ” , re p re s e n ta cin co d a ­
m a s v e stid as à L u ís X III ; o E n te n d im e n to , s e n ta d a n o c e n tr o n u m tr o n o , a V o n ta d e ,
o S e n so C o m u m , a M e m ó r ia , a F a n ta s ia . C a d a F a c u ld a d e tem o s seu s a tr ib u to s e
a s u a q u a d r a , A F a n ta s ia s e g u ra n u m a m ã o u m a p a le ta e p in c éis, e e lev a n a o u tr a ,
à a ltu r a d o seu o lh a r, u m p e q u e n o q u a d r ú p e d e a la d o , L e g e n d a :
A minha arte é incompreensível
Pois sem cor nem pincel
Concebo e fa ço um painel
M esm o daquilo que é impossível.
É la m e n tá v e l q u e o u s o n ã o te n h a a d o ta d o fantasia n e ste s e n tid o e sp ecial, d a d o
q u e imaginação é u m te r m o e q u ív o c o . {V. Egger)
Bτ TÃÇ opõe, d a m esm a m an eira, a fantasia à memória n a sua classificação das
faculdades intelectuais (m em ória, im aginação, razão). D e D ig n ita te, livro II, c. 1. ( A . L.)
Phantasie (n o s e n tid o em q u e e s ta p a la v r a se a p lic a a u m a to is o la d o ) d e sig n a
a re p re s e n ta ç ã o p u r a e sim p les de a lg o d e in d iv id u a l (o f a to q u e se te m p u r a e s im ­
p le sm e n te d ia n te d o s o lh o s ), m a s n a a u s ê n c ia d o s e n tim e n to c o n sc ie n te de ex istên c ia
{belief) q u e o p o r ia c o m o o b je to de p e rc e p ç ã o o u d e r e c o rd a ç ã o . T e m o -lo d ia n te d o s
o lh o s , m as sem d e c id ir se n isso c re m o s , o u a té n ã o o c re n d o de to d o . (E . Husserl )
385 F A T A L ID A D E

é c o n s id e ra d o c o m o u m m o d o d a q u a r ­ P or extensão:
ta . E n u n c ia d o so b a f o r m a d ita Fapesmo, C . Q u a lq u e r n e c e s sid a d e o u d e te r ­
a p re s e n ta a s e g u in te d is p o s iç ã o : m in a ç ã o .
Todo M é P , D . S eq ü ên cia d e co in cid ên cias in ex p li­
N enhum S é M. cáveis q u e p a re c e m m a n ife s ta r u m a fin a ­
L o g o , a lg u m P n ã o é S. lid ad e s u p e rio r e d e sc o n h e c id a e, m a is es­
p e c ific a m e n te , série p e rs is te n te de d e s ­
CRÍTICA g ra ç a s .
V er Figura. E . A c aso * in feliz.

F A T A L I D A D E L . Fatum \ D . Fata­ CRÍTICA


lität, Fatum, Verhängnis; E . Fate, fa ta -
lity; F . FatalUè; I. Fatalita. E ste s d o is ú ltim o s s e n tid o s sã o s o b re ­
A . C a r a c te rís tic a d a q u ilo q u e é f a ta l, tu d o p o p u la re s e n ã o p e rte n c e m à lin g u a ­
q u e r d iz e r, ta l q u e n ã o se p o d e e v ita r q u e g em filo s ó fic a . C o rre s p o n d e m a u m se n ­
a c o n te ç a , n ã o o b s ta n te to d o s o s d e se jo s tim e n to e a u m a c re n ça v a g as m ais d o q u e
e to d o s o s e s fo rç o s e m c o n tr á r io . a u m a id é ia e d eles a p e n a s se p o d e d a r
B . P o te n c ia n a tu r a l o u s o b r e n a tu r a l, u m a d e fin iç ão in c o m p le ta e sem precisão .
m a s su p e rio r a o h o m e m , c u ja a ç ã o se m a ­ O sen tid o C foi u s a d o p o r certos filó ­
n ife s ta p e lo f a to d e c e rto s a c o n te c im e n ­ so fo s, em especial p o r J ÃZ E E 2 Ãà , q u e
to s serem fa ta is . é lev ad o , p o r isso, a d istin g u ir diversas

S o b re F a p e s m o — V er n o Apêndice a s o b s e rv a ç õ e s g e ra is so b re o s e n tid o d a p a ­
la v ra Figura e s o b re a le g itim id a d e d a 4? f ig u r a d o s ilo g is m o ; a re la ç ã o d e Fapesmo
e Pesapo é a í e s p e c ia lm e n te d is c u tid a .

S o b re F a ta lid a d e — A fr a s e c o lo c a d a e n tr e p a rê n te s e s n a Crítica ( “ m e sm o q u e
a q u e le q u e é se u o b je to , e tc .’’) f o i a c r e s c e n ta d a p a r a d a r c o n ta d a se g u in te o b s e r v a ­
ç ã o d e J . L a c h e lie r: “ P a re c e q u e a id é ia d e fa ta lid a d e n ã o im p lic a n e c e s sa ria m e n te
a d e c o n s tr a n g im e n to . V e ja m -se o s d o is e x e m p lo s d a d o s p o r L a F o n ta in e n a c u rio s a
f á b u la in titu la d a o Horóscopo (V II I, 16):

E n c o n tr a m o s o n o s s o d e s tin o ,
M u ita s vezes p o r c a m in h o s q u e to m a m o s p a r a o e v ita r
É , p o r ta n to , a n o s s a p r ó p r ia v o n ta d e q u e é s e d u z id a , e n ã o s o fre m o s c o n s tr a n g i­
m e n t o .” É v e rd a d e q u e n ã o s e n tim o s o c o n s tr a n g im e n to s e n ã o n o ú ltim o m o m e n to
e , p o r a ss im d iz e r , q u a n d o ele se d e s m a s c a ra , a té a í se rv im o -lo c e g a m e n te . M a s n ã o
é m e n o s v e rd a d e q u e a v o n ta d e h u m a n a fa z e sfo rç o s n u m s e n tid o (e s c a p a r a o s le õ es,
a o d e s m o r o n a r d e u m a c a sa ) e q u e esses e s fo rç o s s ã o in e fic a z e s, j á q u e p ro d u z e m ,
n ã o o b s ta n te a s u a d ire ç ã o , o c o n tr á r io d o r e s u lta d o v is a d o . C o n c lu i p o r ta n to L a
F o n ta in e :

N ã o p o s s o d e t o d o a c r e d ita r q u e a N a tu r e z a
T e n h a a m a r r a d o su a s m ã o s e ta m b é m as n o ssa s
A p o n to d e tr a ç a r n o s c é u s a n o s s a s o r te . (A . L .)
O v e rso p ro v e rb ia l: D ucunt volentem fa ta , nolentem trahunt (S é n e c a , Cartas a
Lucilius, C V II, 10) e x p rim e p e rfe ita m e n te a p a r te d e in d e te rm in a ç ã o e o c o n s tr a n g i­
m e n to q u e o fa ta lis m o im p lic a d o p o n to d e v is ta d o in d iv íd u o . E s te a g e c o m o lh e
a g r a d a , p o u c o im p o r ta : o u é c o n d u z id o o u é a r r a s ta d o . N ã o se p o d e r ia a f ir m a r m ais
c la r a m e n te a in d e p e n d ê n c ia d o in d iv íd u o e a s u a im p o tê n c ia . (K . Egger)
F A T A L IS M O 386

espécies de fa ta lid a d es to ta lm e n te d iferen ­ vencida; fatalidade fisiológica de u m a


tes n a s u a n a tu r e z a : “ L o n g e d e c o m p r o ­ d o en ça in cu ráv el; fatalidade d a m o rte ,
m e te r a lib e rd a d e d o in d iv íd u o ” , d iz ele, e tc ., fatalidade re su lta n te do fato de o
“ a P ro v id ê n c ia su p õ e-n a e só o c o rre a tr a ­ co n scien te ser g o v ern ad o p o r tendências
vés d e la . T o d a a fatalidade do desenvol­ inconscientes. S obre este conceito e a sua
vimento humano re s u lta d a c irc u n stâ n c ia relação ex ata com o de lib e rd a d e , ver A.
p ela q u a l, se m il h o m e n s tê m a m e sm a L τ Â τ Çá E , “ D a fa ta lid a d e ” , Revue p h i­
idéia d o b em , esta idéia g o v ern á-lo s-á n ã o losophique, sete m b ro de 1896.
o b s ta n te a o p o s iç ã o e a d iv e rg ê n cia d a s Rad. int.: A . F a ta le s; B . F a ta l.
su as p a ix õ e s ... S u p rim i a lib e rd a d e e o
im p é rio d a s id é ia s é d e s tr u íd o e à fata li­ F A T A L IS M O D . Fatalismus; E . Fa­
dade q u e g o v e rn a a h u m a n id a d e ” ( = talism ; F . Fatalisme ; I. Fatalismo.
a ç ã o d as id é ia s e d e te rm in is m o m o ra l) A . D o u tr in a s e g u n d o a q u a l a v o n ta ­
“ su c e d e uma outra que não se lhe asse­ d e e a in te lig ê n cia h u m a n a s s ã o im p o te n ­
m elha , a f a ta lid a d e d o s im p u ls o s sen sí­ te s p a r a d irig ir o c u rs o d o s a c o n te c im e n ­
v eis, a q u e d o m in a o s a n im a is. A ss im , a to s , d e m o d o q u e o d e s tin o d e c a d a u m
fa ta lid a d e q u e g o v e rn a as q u estõ es h u m a ­ e s tá fix a d o a n te c ip a d a m e n te , s e ja o q u e
n as re p o u s a n a lib e rd a d e d o s in d iv íd u o s f o r q u e se fa ç a .
h u m a n o s .” Mélanges philosophiques, III: B. S in ô n im o de d e te rm in ism o , n o se n ­
Réflexions sur la philosophie de l ’histoi­ tid o C , e m p a r tic u la r q u a n d o se t r a t a de
re, gV II. d o u trin a s q u e só a d m item u m ú n ico m u n ­
O p rim e iro d e ste s u so s é im p r ó p rio . d o p o s sív e l, c o m o a d e E è ú « ÇÃ è τ . V er
A f a ta lid a d e é u m c o n s tr a n g im e n to , p e ­ Determ inismo, c rític a .
lo m e n o s v irtu a l (m e sm o q u e a q u e le q u e
C RÍTIC A
é seu o b je to n ã o te n h a co n sciên cia disso ).
PÕe-se face à v o n ta d e h u m a n a co m o u m a 1. O s d o is s e n tid o s d e s ta p a la v r a f o ­
esp écie de p re s sã o c o n tr á r ia , q u e to r n a a ra m m u ito fre q ü e n te m e n te c o n fu n d id o s ;
p rim e ira in e fic az . P o r ex em p lo : fatalida­ cf. p a rtic u la rm e n te D « á 2 Ã , Jacques, o
E I

de de uma situação c o n tra a q u a l a v o n ­ fatalista', C . J Ã Z 2 á τ « Ç , a rtig o Fatalismo


ta d e re a g e m a s p e la q u a l a c a b a p o r ser n o Dicionário d e F ra n c k ; A . B 2 2 τ Çá ,
E I

O sen tid o fu n e s to d as p a la v r a s fa ta l e fatalidade ex p lica-se m u ito fa c ilm e n te , p a ­


rece, p e la c re n ç a n a tu r a l à h u m a n id a d e , e to d a v ia fa ls a , s e g u n d o a q u a l é n e c e ssá rio
p r o c u r a r a e x p lic a ç ã o d a in fe lic id a d e n u m a fin a lid a d e , n u m a v o n ta d e , q u e r d iz e r,
em s u m a , n u m a re s p o n sa b ilid a d e . A fe lic id a d e, p e lo c o n tr á r io , se n d o de a lg u m a m a ­
n e ira c o n s id e ra d a c o m o u m direito, n ã o h á q u a lq u e r r a z ã o , c rê -se , p a r a a tr ib u ir a
m ercê a u m ser c o n sc ie n te . N o u tr o s te rm o s , a h u m a n id a d e p r o c u r a se m p re explicar
as su as in fe lic id a d e s (é u m a m a n e ira de p r o te s ta r c o n tr a e la s), lim ita -se a c o n s ta ta r
a s su as fe lic id a d e s e a a c o lh ê -la s sem re c o n h e c im e n to . {L. Boisse )

S o b re F a ta lis m o — O s e n tid o B p a re c e te r s id o u s a d o e sp e c ia lm e n te p o r C h r.
W Ã Â E E . N a s u a o b r a D e differentia nexus rerum sapientis et fa ta lis necessitatis u sa
a e x p re ssã o : “ S p in o z a et fa ta lis ta e ” (p . 17). ( R . Euckeri)
A c h o ú til d is tin g u ir fatalism o e determinismo re s e rv a n d o o p rim e iro te rm o p a r a
o u s o m e ta fís ic o , q u e r d iz e r, c o n s e rv a n d o -lh e o s e n tid o a b s o lu to e a té o n to ló g ic o
q u e e fe tiv a m e n te se lig a à id é ia d e fa tu m , e a tr ib u in d o o s e g u n d o a o u s o c ie n tífic o ,
q u e r d iz e r, a p lic a n d o -lh e a sig n ific a ç ã o m u ito re la tiv a d e u m a id é ia d ir e tr iz , d e u m a
f o r m a d e p e n s a m e n to , q u e e n c o n tr a m o s j á n a id é ia d e d e te r m in a ç ã o (o p o s ta p e lo
p o s itiv is m o à id é ia d e c a u s a ç ã o ). (M. Bernès)
387 F A T A L IS M O

Lexique de philosophie, V o Fatalismo , ta d e e a in te lig ê n c ia in flu e m n o m ín im o


etc. B τ Â á ç « Ç n ã o tem a rtig o Fatalismo so b re o s a co n te c im e n to s c o m u n s d a v id a.
e re m e te sim p le sm e n te p a ra Necessidade. A ssim , o fa ta lis m o fo i q u a s e se m p re in ­
Paul J τ Ç E I d is tin g u iu n itid a m e n te os te r p r e ta d o c o m o a im p o tê n c ia desses fa ­
d o is s e n tid o s , m a s a f ir m o u em seg u id a to re s fa c e a o s a c o n te c im e n to s importan­
q u e o d e te rm in is m o tin h a , so b a lg u m a s tes c o m o o su c e sso , a s a ú d e , a riq u e z a ,
re serv a s, as m e sm as c o n se q ü ê n c ia s q u e o o a m o r , a m o rte . S o b re essas d ife re n te s
fa ta lis m o (Traité de philosophie, 4 a e d i­ a p lic a ç õ e s , v er a c im a Fatalidade.
ç ã o , §254-255). E s ta tese p o d e s e r d isc u ­ b. O fa ta lism o so cia l, d o u trin a s eg u n ­
tid a , m a s a d is tin ç ã o d a s d u a s d o u tr in a s , d o a q u a l os in d iv íd u o s , q u e r is o la d o s
q u a n to a o seu p o n to d e p a r tid a , é s e m ­ q u e r a té a s s o c ia d o s , n a d a p o d e ria m c o n ­
p re n e c e ssá ria . t r a o d e se n v o lv im e n to e as tr a n s f o r m a ­
2 . O s e n tid o p r ó p r io d a p a la v r a é o ções d o s fa to s so ciais, q u e d e p en d e m u n i­
s e n tid o A , c o n fo rm e a o u so tr a d ic io n a l c a m e n te d e cau sa s g e ra is o u talv ez s o b re ­
( te a tr o g re g o , c re n ç a s m u ç u lm a n a s , r o ­ n a tu r a is , q u e e s c a p a m à a ç ã o v o lu n tá r ia
m a n tis m o ) a ssim c o m o às d e fin iç õ e s de d o s h o m e n s e a té , p elo m e n o s p ro v is o ria ­
G Ãζ Â ÃI , E« è Â E 2 , K« 2 T7 ÇE 2 . H á c o n tu ­ m e n te , a o c o n h e c im e n to d eles.
d o n e c e ssid a d e n e ste p r ó p r io s e n tid o d e M as e sta s sã o a p e n a s d u a s a p lic a ç õ e s
fa z e r v á ria s su b d iv isõ e s. e p o r isso c o n v é m , d is tin g u in d o -a s p o r
a. O fa ta lis m o c o m re la ç ã o a o in d iv í­ep íteto s, c o n se rv a r p a ra elas u m n o m e ge­
d u o , q u e , em rig o r, n u n c a fo i d e fe n d id o , n é ric o c o m u m .
j á q u e n ã o se p o d e ria d u v id a r q u e a v o n - Rad. int .: F a ta lis m .

Fatalismo é fr e q ü e n te m e n te o p o s to a determinismo n a tr a d iç ã o d id á tic a n a s s e ­


g u in te s re la ç õ e s: F a ta lid a d e d e sig n a a n e c e s sid a d e metafísica , q u e r c o m o fo i d e f in i­
d a em B, q u e r c o m o d im a n a d a d o in e lu tá v e l d e c re to d e u m a c a u s a p rim e ira q u e age
d ire ta m e n te s o b re o m u n d o . O F a ta lis m o s e ria u m a d o u tr in a q u e s u b o r d in a o s a c o n ­
te c im e n to s à a ç ã o im e d ia ta e in e v itá v e l d e u m a c a u s a p rim e ir a , s e ja ela s u b m e tid a
a u m a n e c e ssid a d e in v a riá v e l, s e ja ela liv re , to d a p o d e r o s a . O d e te rm in is m o é a d o u ­
tr in a c ie n tífic a q u e a p e n a s lev a em c o n ta o e n c a d e a m e n to in v a riá v e l d a s c a u sa s se­
g u n d a s , sem fa z e r in te rv ir a c a u s a p rim e ir a , q u e r d iz e r , sem m is tu ra r a te o lo g ia c o m
a c o sm o lo g ia . (C . Hèmori)
A p a la v r a fatalism o d e v e ria , a c h o e u , a p lic a r-se a p e n a s à d o u tr in a te o ló g ic a se­
g u n d o a q u a l o s a to s h u m a n o s e o s a c o n te c im e n to s d o m u n d o s ã o p r o d u to d a a ç ã o
d iv in a , d a p r e d e s tin a ç ã o , d a g ra ç a , d a p ro v id ê n c ia . ( C . Ranzoh )
O u so in d ic a d o n as o b s e rv a ç õ e s a c im a fe ita s p o r BE 2 ÇE è , H è MON e Rτ ÇUÃÂ « es­
tá c o m e fe ito b a s ta n te d ifu n d id o n o e n s in o . M a s n ã o re p o u s a s o b re n e n h u m a a u to r i­
d a d e filo só fic a e p a re c e n u n c a te r s id o m a is d o q u e u m a c o m o d id a d e e sc o la r. A p r e ­
s e n ta , p o r o u tr o la d o , o g ra n d e in c o n v e n ie n te d e r e tir a r d a s p a la v ra s Fatalismo e
Fatalidade o s e n tid o m u ito p re c iso q u e p o s su e m n a v id a r e a l, p a r a a s im o b iliz a r n u ­
m a o rd e m de c o n c e p ç õ e s q u a s e e s tr a n h a à filo so fia e , p o r c o n s e q u ê n c ia , d e d e ix a r
sem d e s ig n a ç ã o a s id éias m u ito im p o r ta n te s e m u ito c o n c re ta s d e fa ta lid a d e p s ic o ló ­
g ic a, d e f a ta lid a d e de s itu a ç ã o , d o fa ta lis m o m o r a l, d o fa ta lis m o h is tó ric o , e tc ., q u e
s ã o essen ciais a o v e rd a d e iro p ro b le m a d a lib e rd a d e .
P o r is so , fo i d e c id id o p o r u n a n im id a d e , n a sessã o d e 21 d e ju n h o d e 1906, d e s a ­
c o n s e lh a r o u s o e sp e c ia lm e n te m e ta fís ic o o u te o ló g ic o d a s p a la v ra s fatalism o e fa ta ­
lidade. (A. L .)
A diferença entre determ inism o e fatalism o parece-m e ser a seguinte: o fatalism o
n ão implica a causalidade, o determ inism o im plica a causalidade. (E . C h a rtier)
FA TO 388

F A T O L . Factum ; D . Ta (sache; E . 1? À q u ilo q u e é ilu s ó r io , fic tíc io o u


Fact ; F . Fait; I. Fatio. a p en as possível: “ são o s fato s q u e ju lg a m
O q u e é o u a co n te c e n a m e d id a em a id é ia ... O s f a to s são a ú n ic a re a lid a d e
q u e é to m a d o c o m o u m d a d o re a l d a ex ­ q u e p o d e fo rn e c e r a f ó r m u la à id é ia ex ­
p e riê n c ia , s o b re o q u a l o p e n s a m e n to se p e rim e n ta l e serv ir-lh e, a o m e sm o te m p o ,
p o d e f u n d a r. d e c o n tro le , m as c o m a c o n d iç ã o de q u e
“ A n o ç ã o de fa to , q u a n d o é p re c is a ­ a ra z ã o os a c e ite ” (q u e r d iz e r, re c o n h e ­
d a , se re d u z a u m ju íz o d e a f ir m a ç ã o s o ­ c im e n to q u e eles são b em d e te rm in a d o s
b re a re a lid a d e e x te r io r .” S « ; ÇÃ ζ Ã è
E e e f o r a m b em o b s e rv a d o s ). C l. B 2 Çτ 2 á ,
E

L τ Ç; Â Ã ã è , lntroduction aux études his- Introduction à la médecine expérimenta­


toriques, 156. E ste te rm o p o s su i, p o r ta n ­ le, 92-9 3. V er to d o o §7, c o n s a g ra d o às
to , e s s e n c ia lm e n te u m v a lo r a p re c ia tiv o . re la ç õ e s d a id é ia c o m o fa to .
V er A . L AL τ Çá , La raison et les nor-
E 2? À q u ilo q u e é n ecessário seg u n d o as
m es , c. V II: “ A s n o rm a s e os f a t o s .” leis d o ra c io c ín io : “ A s v e rd a d e s d e ra c io ­
A p a la v r a “ f a t o ” o p õ e-se: c ín io s ã o n e c e s sá ria s e o seu o p o s to é im -

S o b re F a to — R e d a ç ã o d is c u tid a e a d o ta d a n a s e ssã o d e 21 d e ju n h o d e 1906.


E s te a rtig o o rig in o u as o b s e rv a ç õ e s s e g u in te s , u m a s c o m u n ic a d a s p o r e s c rito , o u tr a s
fo r m u la d a s n a sessã o d a S o c ie d a d e :
1? Fato, fenôm eno, acontecim ento : ‘ 'Fato p o d e s e r c o n s id e ra d o c o m o u m sim ­
ples s in ô n im o de fenôm eno. D e fin iria o fa to o u fe n ô m e n o d a seg u in te m a n e ira : a q u ilo
q u e , c o n s titu íd o e ss e n c ia lm e n te p o r u m p r ó p r io q u a lific a tiv o , o c u p a u m lu g a r lim i­
ta d o n o te m p o e n o e sp a ç o , o u só n o te m p o ; o u a in d a : u m c o n tín u o d e e sp a ç o e
d e te m p o , o u só de te m p o , d a p e q u e n a g ra n d e z a , o c u p a d o p o r a p e n a s u m a e u m a
só q u a lid a d e . (E x e m p lo de fe n ô m e n o o u de f a to : a p a ssa g e m d e u m a e stre la c a d e n te
n u m a re g iã o d o c éu .) D esig n a-se acontecimento o f a to c u jo e le m e n to te m p o ra l p o s ­
sui m a is im p o r tâ n c ia d o q u e o e le m e n to e s p a c ia l, o f a to q u e a p a re c e s o b r e tu d o c o ­
m o u m a m u d a n ç a .” ( V. Egger)
“ J . Lachelier, P. F. Pécaut, Bernès, Brunschvicg, Chartier são d e o p in iã o c o n tr á ­
ria , p en sam q u e se deve d istin g u ir n itid a m e n te fa to e fen ô m en o : fa to te m u m sen tid o
a n tes de m a is d escritiv o e c o n c re to , fenôm eno u m se n tid o a n alítico e a b s tr a to . Fato
d esig n a um c o m p le x o d a d o in tu itiv a m e n te n a ex p eriên cia (u m fa to h is tó ric o ). Fenôme­
no aplica-se q u e r, de m o d o in te ira m e n te c o rre to , a u m e lem en to d a ex p eriên cia (um
fe n ô m e n o ó p tic o , o s fe n ô m e n o s q u ím ic o s, etc.), q u e r, p o r ex ten sã o , a u m co m p lex o ,
m a s e n c a ra d o a g o ra co m o u m to d o c o m p o s to de e le m e n to s .” (Aí. Bernès)
“ A lém d is s o , fa to tra z c o n sig o u m a id éia d e o b je tiv id a d e m u ito m ais f o r te d o
q u e fenôm eno. O fe n ô m e n o p o d e ser a p e n a s u m a a p a r ê n c ia , u m a p e rc e p ç ã o in d iv i­
d u a l; o fa lo , p e lo c o n tr á r io , é se m p re tid o c o m o re a l; f a z p a r te d a s co isas tais q u a is
sã o . A e b u liç ã o d a á g u a é u m f a to ; o e s p e tá c u lo d e u m b elo v ale n ã o é u m fa to .
D iz er q u e m in h a e x istê n c ia c o n s titu i u m fe n ô m e n o , c o rre s p o n d e , d e a lg u m a m a n e i­
ra , a c o n te s tá -la ; d iz e r q u e e la é u m f a to é re c o n h e c ê - la .” (J . Lachelier, F. Pécaut,
L. Brunschvicg, L. Couturat, E. Chartier)
“ N ã o e x istirá , além d is so , n a id é ia d e f a to , a n o ç ã o d e u m a repetição , p e lo m e ­
n o s p o s s ív e l? ” (E. Chartier )
“ N ã o a c r e d ita m o s . C é s a r fo i a s s a s s in a d o p o r B ru tu s , d ir-se -á : é u m fa to . D iz-se
(co m ra z ã o o u sem e la q u a n to a o f u n d o d a s c o isa s , p o u c o im p o r ta ) : ‘O s fa to s h is tó ­
ric o s n ã o se r e p e te m .’ D a m e sm a m a n e ir a n a e x p re s s ã o ju r íd ic a a s fa to s da causa,
tr a ta - s e d e c irc u n s tâ n c ia s e sp e c iais, n o m a is d a s v ezes ú n ic a s.
389 FA TO R

p o ssív e l, e as de f a to s ã o c o n tin g e n te s e P r im itiv a m e n te , a q u e le q u e fa z , o u


o seu o p o s to é p o s s ív e l.” L E « ζ Ç« U , M o - a q u ilo q u e fa z isto o u a q u ilo .
nadologia, §33. A . Mτ I . U m dos term os que, m ulti­
3? À q u ilo q u e é le g ítim o e o b r ig a tó ­ plicados um pelo o u tro , constituem um
r io , lo g ic a m e n te , m o ra lm e n te (o u a té e s ­ p ro d u to .
te tic a m e n te , m a s este c a s o é r a r o ) . B . P o r e x te n s ã o , o q u e c o n c o r re p a r a
E s ta o p o s iç ã o e x p rim e -se fre q ü e n te - d e te r m in a r u m e fe ito , em p a r tic u la r u m
m e n te p e la s fó rm u la s : de fa to e de direi­ a c o n te c im e n to h is tó ric o .
to. P a re c e m e sta s d e riv a r p r im itiv a m e n ­
CRÍTICA
te d o u s o ju r íd ic o : quid juris, quid fa c ti
(q u e stã o d e d ire ito , q u e stã o d e fa to ). M as T τ 2 áE a s s in a lo u a a m b ig u id a d e d e s ­
j á n ã o c o rre s p o n d e m e x a ta m e n te a e sta t a p a la v r a n o se u u s o h is tó ric o e filo s ó fi­
d istin ç ão . E m p reg a m -se ta m b é m relativ a­ c o : “ S ig n ific a , d iz e le , canal o u fo n te .
m e n te à o p o s iç ã o a ssin a la d a n o n ? 2, m a s A q u i (tr a ta - s e d o s ‘f a to r e s d a tr a d iç ã o ’)
m e n o s p r o p r ia m e n te . s ig n ific a canal, p o r q u e a c o n v e rs a ç ã o e
Rad. int.: F a k t (Boirac ). a e d u c a ç ã o n ã o fa z em m a is d o q u e tr a n s ­
m itir as id é ia s d e q u e a o p in iã o e a tr a d i­
F A T O R D . Faktor, E . Factor, F . Fac­ ç ã o se c o m p õ e m . A s fo n te s s ã o s e m p re
teur ,; I. Fattore. in iciativ as in d iv id u a is, p e q u e n a s o u g ra n -

“ P o r o u tr o la d o , a p a la v r a fa to d istin g u e-se d e acontecimento n a m e d id a em q u e


este ú ltim o a p e n a s se ap lic a à q u ilo q u e a c o n te c e n u m te m p o e n u m lu g a r p a rtic u la re s ,
n ã o à q u ilo q u e d u ra . U m a in stitu iç ã o é u m fa to , n ã o u m a c o n te c im e n to ; u m a b a ta lh a
é , simultaneamente, u m a c o n te c im e n to e u m fato·, u m a c o n te c im e n to , n a m e d id a em
q u e é c o n sid e ra d a c o m o u m c o n ju n to d e açõ es q u e a c o n te c e ra m em d e te rm in a d o lu g a r
e em d e te rm in a d a d a ta ; u m fa to , n a m e d id a em q u e é c o n sid e ra d a c o m o u m e lem en to
d a re a lid a d e c u ja ex istên cia é in c o n te stá v e l p a r a o h is to ria d o r e p o d e serv ir de b a se p a r a
racio cín io s o u h ip ó te ses, e tc .” { /. Lachelier, Pécaut, Brunschvicg, Couturat, e tc.)
2? Fato, coisa: P o r fa to , e n q u a n to o p o s to a coisa (cosa), e n te n d e -s e u m a r e a lid a ­
de d in â m ic a, q u e se c o n s ta ta n o te m p o e c o n stitu i u m m o m e n to d a su cessão , e n q u a n to
q u e a c o isa é u m a re a lid a d e e s tá tic a , c o n s titu íd a p o r u m s iste m a s u p o s ta m e n te fix o
d e p ro p r ie d a d e s c o ex iste n te s n o e sp a ç o : a m a ç ã é u m a c o isa , a q u e d a d e u m a m a ç ã
é u m f a to . N a c o n c e p ç ã o c o m u m d o U n iv e rs o as c o isa s c o n s titu e m o a sp e c to e s tá ti­
c o , o s fa to s o a s p e c to d in â m ic o ; p a r a o filó s o fo , o s d o is c o n fu n d e m -s e n a re a lid a d e
ú n ic a d o d ev ir: a coisa é o fa to , e n q u a n to o im o b iliz a m o s a o a b s tr a ir a s su as re la ç õ e s
d e su c e ssã o ; o fa to é a coisa, n a m e d id a e m q u e a p e n s a m o s c o m o a lg o q u e se tr a n s ­
fo r m a . (C. Ranzoli)
Se se d e s ig n a r Sachverhalt o c o rre la tiv o o b je tiv o d e u m ju íz o v á lid o , c h a m a r-se -á
fa to (ta ts a c h e ) a q u a lq u e r Sachverhalt n o q u a l e s tá im p lic a d a u m a e x istên c ia in d iv i­
d u a l. U m a c o isa n ã o é u m f a to , f a to é que essa c o isa existe, que é d e s ta e d a q u e la
n a tu r e z a , etc. U m Sachverhalt m a te m á tic o n ã o é u m “ f a t o ” , p o r q u e n ã o h á n a d a
aí q u e se p o s s a d iz e r u m a e x istên c ia in d iv id u a l. A e x istên c ia in d iv id u a l é dada n a
p e rc e p ç ã o , o s f a to s s ã o d a d o s em ju íz o s de p e rc e p ç ã o ; o u a in d a q u a n d o se tr a t a d e
re -re p re s e n ta ç ã o , s ã o dados p e la m e m ó ria , em ju íz o s m n e m ó n ic o s . S ã o admitidos
c o m fu n d a m e n to , m a s d e u m a m a n e ira m e d ia ta , em v irtu d e d e ra c io c ín io s q u e se
a p o ia m em ta is ju íz o s . E sses ju íz o s e esses ra c io c ín io s c o n s titu e m o c o n ju n to d a “ ex ­
p e riê n c ia ” . C h a m a -s e , p o r ta n to , f a to a q u a lq u e r Sachverhalt q u e p o s sa ser d a d o n a
e x p e riê n c ia o u f u n d a d o n a e x p e riê n c ia . (E. Hussert)
“ FA TOR G ” 390

des in v en çõ es.” L ’opinion et la fo u le , p. fixados em si p ró p rio s, independentem ente


66 (n o ta ). d as cau sas q u e o s p ro d u z e m : “ D a h e r ist
d er Satz: N ich ts g eschiet d u rc h ein blin d es
“ F A T O R G ” E . G Factor, F . ’F ac­ O h n g e fä h r (in mundo non datur Tè Z è ) ein
teur G ”. N atu rg esetz a priori; im gleichen keine N o t­
S p e a r m a n ( The Nature o f Intelligen­ w e n d ig k eit (inon datur fa ctu m ).” 1 E ste
ce, 1923) ch a m o u assim a um fa to r geral p rin c íp io é, p o r ta n to , a priori e está lig a­
d a intelig ên cia, c a p acid ad e sui generis, d o às c a te g o ria s d a m o d a lid a d e c o m o o
qu e a c h a n ecessário ac re sc e n ta r a o q u a ­ p re c ed e n te à s d e re la ç ã o . ( Critica da razão
d ro psicológico de cad a indivíduo, aos fa ­ pura, P o s tu la d o s d o p e n sa m e n to e m p íri­
to re s especiais tais co m o as d iferen tes es­ c o , A , 228; B, 281. K e h rb a c h , 212.)
pécies de m e m ó ria o u d e im ag in a ç ã o , a
ex ten são e a fin u ra d o s se n tid o s, a c a p a ­ F É L . Fides; D . 1? Pflicht, Treue; gu­
c id a d e de a b s tra ç ã o , a ló g ica, etc. ter Glauben n o sen tid o ju ríd ic o de boa fé;
2° Glaube, Glauben; E . Faith; F . Foi; I.
F A T U M (latim ) À le tra coisa dita, 1? Fede; 2? Fede, fiducia.
destino irrevogável, “ o que está escrito ” . 1? S e n tid o o b je tiv o , o m a is fre q ü e n -
E sta p a la v ra foi u tilizad a p o r vários es­ te n o L . Fides: “ F id e s, id est d ic to ru m
crito res m o d ern o s nos diferentes sentidos c o n v e n to ru m q u e c o n s ta n tia et v e r ita s .”
acim a definidos p ela p alav ra fatalidade *. C í T 2 Ã , De Officies, I, V II.
E

Ver em p a rtic u la r L E « ζ Ç« U , p re fá c io da
Teodicéia o n d e ele distin g u e: Fatum ma-
humetanum, fa tu m stoicum, fa tu m chris- 1. "T rata-se, pois, de um a lei a p rio ri da n atu ­
tianum\ e o §55 d a m esm a o b ra . reza, segundo a qual nada acontece por acaso cego
(in inundo non datu r casus...) e da mesma forma não
K τ Ç en ten d e p o r Fatum o que aco n ­
I
existe na natureza necessidade cega, m as apenas uma
teceria em virtude de u m a necessidade ce­ necessidade condicional, portanto inteligível (non d a ­
ga pela qual certos acontecim entos seriam tu r f a tu m ) "

S o b re a C rític a — S e ria g ra v e e rro c re r q u e u m f a to p o d e se r “ dado na experiên­


cia” . O f a to é m u ito m e n o s u m a c o n s ta ta ç ã o d o q u e u m a c o n s tr u ç ã o d o e s p írito .
P a r a fa la r c o m rig o r, os f a to s n ã o ex istem já prontos n a n a tu re z a c o m o o v e s tu á rio
n u m a c a sa d e c o n fe c ç ã o , o p a p e l d o c ie n tis ta n ã o se lim ita a c h a m á -lo s u m a u m
c o n s o a n te a s n e c e ssid a d e s d a s u a d is c ip lin a , m a s , b e m p e lo c o n tr á r io , c o n siste em
criá -lo s p o r a ss im d iz er is o la n d o -o s a b s tr a ta m e n te d o to d o c o m p le x o d e q u e eles fa ­
zem p a rte . É n e c e s s á rio , p o r o u tr o la d o , n o ta r q u e e s ta c ria ç ã o n ã o é n e m artificial
n em arbitrária: p o d e r-s e -ia te m e r q u e em m ã o s in á b e is o u in te re s s a d a s a d e fin iç ã o
id e a lis ta d o f a to a rru in a s s e o v a lo r d a c iên c ia ; c re m o s q u e , p e lo c o n tr á r io , ju stamen­
te compreendida , essa d e fin iç ã o a f u n d a . (Louis Boissé)
E s ta n o ta s u p õ e q u e p o r experiência e n te n d e m o s n o te x to d e ste a rtig o a fa c u ld a ­
d e p u ra m e n te p a ss iv a e re c e p tiv a q u e se p o d e o p o r , d e u m a m a n e ira a lg o e sq u e m á ti­
c a , à a tiv id a d e d o e s p írito . M as n ã o é a ssim : n o a rtig o experiência , C , e n c o n tra r-s e -á
a seg u in te d e fin iç ã o , c o m e n ta d a a lé m d o m a is p e la s o b s e rv a ç õ e s q u e a q u i se te c e ­
ra m : “ O exercício d a s fa c u ld a d e s in te le c tu a is c o n s id e ra d o c o m o a q u ilo q u e fo rn ec e
a o espírito c o n h e c im e n to s v á lid o s , q u e n ã o s ã o im p lic a d o s p e la simples n a tu re z a d o
e s p írito , e n q u a n to p u r o s u je ito c o g n o s c e n te .” V ê-se q u e n a n o ta a c im a o p r o f . H u s-
serl to m a ta m b é m a p a la v r a n e sse m e sm o s e n tid o . (A. L .)

S o b re F é — D is tin g u ia -s e fr e q u e n te m e n te n o s é c u lo X V II a f é divina (fé re lig io ­


sa) e a f é humana, q u e r d iz e r, o f a to d e c re r p e lo te s te m u n h o d o s h o m e n s : “ Q u a n d o
se c rê em q u a lq u e r co isa b a s e a d o em te s te m u n h o s de o u tr e m , o u é em D eus q u e se
391 F E C H N E R (Lei de)

A . S e g u ra n ç a v á lid a q u e c o n stitu i Rad. int.: A . C Fid; B. Fideles; D. Kred.


u m a g a r a n tia : “ F a z e r fé; a fé d o s t r a t a ­ F É (A to d e) D . A . Glaube ; p o r vezes,
d o s ; lin h a d e fé (d e u m a b ú s s o la ) .“ m a s r a r a m e n te , Giaubenswiiie; B . Gtau-
B . F id e lid a d e a u m c o m p ro m is s o ; s in ­ bensbeknntnis ; E . A . Wiü to believe; B .
c e rid a d e (boa fé ). Faith confession ; F . A cte de foi', I . A tto
2 ° S e n tid o s u b je tiv o . da fede.
C . C o n fia n ç a a b s o lu ta , q u e r n u m a A . V o liç ã o p e la q u a l se a d o ta c o m o
p e s s o a , q u e r n u m a a f ir m a ç ã o g a r a n tid a v e rd a d e ir a u m a p ro p o s iç ã o q u e n ã o é
p o r u m te s te m u n h o o u u m d o c u m e n to n e m ra c io n a lm e n te d e m o n s trá v e l n e m
s e g u ro . e v id e n te .
D . A d e s ã o firm e d o e s p ír ito , s u b je ti­ B . M a n if e s ta ç ã o d o f a to d e se te r fé
v a m e n te tã o fo rte c o m o a q u e la q u e c o n s ­ (seja n u m a p e ss o a , seja n u m a id éia), e es­
titu i a certeza, m as in co m u n icáv el p e la d e­ p e c ia lm e n te :
m o n s tra ç ã o . S in ô n im o d e crença* n o sen ­ 1? E x p r e s s ã o v e rb a l d a fé re lig io sa ,
tid o C . e x p r e s s a u s u a lm e n te s o b f o r m a de
E s te s e n tid o é o m a is fr e q ü e n te . E s ta o ra ç ã o .
p a la v r a é e n tã o o p o s ta , d e u m m o d o g e­ 2? A to p ú b lic o d e a d e s ã o a u m a c re n ­
r a l, a saber*. Q u a n d o se t r a t a e sp e c ial­ ç a . N o s e n tid o d e “ d e c la ra ç ã o d e p rin c í­
m e n te d e f é religiosa, o te rm o u s u a lm e n ­ p io s ” , r a r o ; d iz -se d e p re fe rê n c ia profis­
te o p o s to é razão*. são de fé .
F E C H N E R (L ei d e) o u L ei p s ic o físi-
C RÍTIC A
c a D . Fechners Gesetz; E . Fechner’s Law ;
V er Certeza e Crença. F . L o i de Fechner, I. Legge di Fechner.

c rê , e e n tã o tra ta -s e d e fé d iv in a , o u é n o h o m e m , tra ta n d o -s e e n tã o d a fé h u m a n a . ”
BO SSU ET, Conhecimento de Deus , I , X IV . C f. a su a Lógica I I I , c. X X II e X X I I I ,
e a Lógica de P Ã2 I -R O à τ Â , IV p a r t e , c . X II: “ A c e r c a d a q u i l o q u e c o n h e c e m o s p e ­
la fé, q u e r h u m a n a , q u e r d i v i n a . ”
A p a la v r a f é é a n a lis a d a e d e f in id a , p a re c e -m e , n u m s e n tid o d e m a s ia d o ex clu si­
v a m e n te “ in te le c tu a lis ta ” o u “ o b je tiv is ta ” , q u e r d iz e r, n ã o n o s c o lo c a m o s n e m n o
p o n to d e v is ta d a fé-crença in s tr u tiv a , e n ã o n o p o n to de v ista d a fé-confiança a f e ti­
v a e u n itiv a . Se a fé a u m e n ta o n o s s o c o n h e c im e n to n ã o é, a n te s d e m a is e p rin c ip a l­
m e n te , e n q u a n to n o s e n s in a , a tra v é s de te s te m u n h o a u to r iz a d o , c e r ta s v e rd a d e s o b ­
je tiv a s , m a s sim e n q u a n to n o s fa z s im p a tiz a r re a l e p ro f u n d a m e n te c o m u m se r, e n ­
q u a n to n o s u n e à v id a de u m s u je ito , e n q u a n to n o s in ic ia , p e lo p e n s a m e n to q u e a m a ,
n u m o u tr o p e n s a m e n to e n u m o u tr o a m o r. A c re n ç a (d e o rd e m j á m ais c o g n o sc itiv a
o u m a is ló g ic a ) é n o rm a lm e n te u m a fo r m a d e riv a d a e p a rc ia l d a fé. M as isto n ã o
q u e r d iz e r q u e a fé “ se o p õ e ” a o saber o u à razão: a fé n ã o é n em a n ti-ra c io n a l n em
a -ra c io n a l, n ã o d e sc o n h e c e n e m re n e g a o s a b e r: fu n d a -s e em ra z õ e s ta is q u e a ra z ã o ,
u m a vez c o n s u lta d a , se d e s d o b r a n u m a te s ta d o de c o n fia n ç a de q u e s e ria rid íc u lo ,
e a té o d io s o , e s ta b e le c e r as p ro v a s a tra v é s d e u m ra c io c ín io fo r m a l. “ N ã o se p ro v a
q u e se d ev e ser a m a d o e x p o n d o p o r o rd e m as c a u s a s d o a m o r; s e ria r id íc u lo ” , c o m o
o b s e rv o u P τ è T τ Â ( Pensamentos , a r t. V II, 19). M as e ste a m o r, f u n d a d o n a ra z ã o ,
a in d a q u e n ã o s o b re ra c io c ín io s , é o ú n ic o q u e p o d e re a liz a r em n ó s a re a lid a d e c o n ­
c re ta d e u m ser e s p ir itu a l, d e u m ser ele p ró p r io c a p a z d e c o n h e c e r e d e a m a r . E is
p o r q u e a fé d e s e m b o c a n o m a is re a lis ta d o s sa b e re s. (Blondel)

S o b re Lei d e F e c h n e r — P a re c e -m e m a is e x a to d íz e r, para c ritic a r esta lei, que


a in te n s id a d e d e u m a se n s a ç ã o é u m a g ra n d e z a sui generis, m a s q u e e sta esp écie d e
F E E D -B A C K 392

“ A s e n sa ç ã o v a ria c o m o o lo g a rítim o 3? O e n u n c ia d o c o r r e to d o fa to real


d a e x c ita ç ã o .” E s ta lei p o d e ser e x p re ssa in d ic a d o p e la lei d e F e c h n e r s e ria o se­
p e la f ó r m u la : g u in te : " S e n d o u m a e x c ita ç ã o d e in te n ­
s id a d e m é d ia , a q u a n tid a d e co m q u e é n e ­
S = C lo g E
cessário fazer a u m e n ta r esta ex citação p a ­
em q u e S re p r e s e n ta r ia a in te n s id a d e d a
r a o b te r o m e n o r a u m e n to d isce rn ív e l d a
se n s a ç ã o , E a d a e x c ita ç ã o e C u m a c o n s ­
sen sação é p ro p o rc io n a l à g ra n d e za d a ex­
ta n te (v ariáv el seg u n d o a s d ife re n te s clas­ c ita ç ã o p r im itiv a .” E s ta fó r m u la a ssim
ses d e s e n sa ç õ e s, seg u n d o os in d iv íd u o s , m o d if ic a d a a lg u m a s vezes é c h a m a d a
s e g u n d o o seu e s ta d o , e tc .). C f . F o u - ta m b é m , p o r a b u s o , lei de Fechner . Se­
Tτ Z Â I , A psicofísica. ria m a is c o r r e to c h a m á -la lei de Weber ,
p o r q u e se a p ro x im a m u ito m ais d o e n u n ­
C RÍTIC A
c ia d o q u e este d a v a , te n d o s id o ele o p r i­
1? É d u v id o s o q u e a in te n s id a d e de m e iro a a s s in a la r e sta re la ç ã o .
u m a s e n s a ç ã o c o n s titu a u m a g ra n d e z a
m e n su rá v e l; m a te m a tic a m e n te , ela n ã o F E E D -B A C K V er Suplem ento .
s a tis fa z a c o n d iç ã o q u e a firm a q u e a u n i­
F E IO D . Hässlich; E . Ugly; F . Laid;
d a d e é u m a parte d a g ra n d e z a q u e ela se r­
I. Laido, bruto, s o b re tu d o n o s e n tid o B.
ve p a r a m e d ir: u m a s e n s a ç ã o n ã o p o d e
A . N o s e n tid o m a is g e ra l, o q u e se
ser d iv id id a em " d if e r e n ç a s m ín im a s d e
o p õ e a o B elo* e n q u a n to c a te g o ria f u n d a ­
s e n s a ç ã o ” . P s ic o lo g ic a m e n te u m a sen sa­
m e n ta lm e n te d o v a lo r e sté tic o .
ç ã o v a ria s o b r e tu d o q u a lita tiv a m e n te (e
B. M a is e sp e c ialm en te , a q u ilo q u e se
a té , se g u n d o a lg u n s filó so fo s , d e u m m o ­
a f a s ta d e u m a fo rm a c o n s id e ra d a p e rfe i­
d o p u ra m e n te q u a lita tiv o ) q u a n d o d iz e ­
ta n o s e u g ên ero : d isfo rm e , d e sa g ra d áv e l,
m o s q u e a s u a in te n s id a d e a u m e n ta . V er sem h a r m o n ia . O feio, n e ste s e n tid o , p o ­
BE 2 ; è ÃÇ , Dados imediatos da consciên­ d e ser u m o b je to d e a r te e to m a r u m v a lo r
cia, c a p . I. e sté tic o p o sitiv o . C f. RÃè E Ç3 2 τ ÇU , JE s -
2? P o d e r-s e -ia d izer q u e se e sta g r a n ­ thetik des Hässlichen (1853); C h . Lτ Â Ã ,
d e z a n ã o é m e n su rá v e l é, p e lo m e n o s , re- Introduction à Vesthétique, p p . 101-110.
ferenciável. M a s , m e sm o c o n c o r d a n d o Rad, int.z A . M a lb e l; B . D e fo rm .
c h a m a r c o n v e n c io n a lm e n te intensidade
da sensação à s o m a d as d ife re n ç a s m ín i­ F E L A P T O N M o d o d a 3? fig u ra , re-
m a s q u e é n e c e ssá rio p e rc e b e r su ce ssiv a ­ d u z in d o -s e a Ferio * p e la c o n v e rsã o p a r ­
m e n te p a ra as a lc a n ç a r, o e n u n c ia d o a c i­ c ial d a m e n o r:
m a c ita d o p e rm a n e c e a in d a u m a a p r o x i­ N enhum M é P .
m a ç ã o b a s ta n te im p e rfe ita d a s m e d id a s T o d o M é S.
e fe tiv a m e n te o b tid a s . L o g o , a lg u m S n ã o é P .

g ra n d e z a n ã o é m e n su rá v e l. É m u ito c o n te stá v e l q u e a s sen saçõ es a p e n a s v ariem q u a ­


lita tiv a m e n te : d ir-se -á q u e u m a c o r c ru a d e m a is o u c la r a d e m ais se tr a n s f o r m a n u m a
outra c o r d ife re n te d a q u e e ra q u a n d o a te n u a d a , n u m d e te r m in a d o m o m e n to , p o r
u m a c a u s a q u a lq u e r ? (V. Egger)
E s ta lei re s u lta d o f a to de se te r c o n f u n d id o o s números de ordem n a s e x p e riê n ­
cias c o m q u a n tid a d e s em p ro g r e s s ã o a ritm é tic a . ( £ . Chartier)
BE 2 ; è ÃÇ reso lv e o m ais d a s vezes as p re te n s a s m u d a n ç a s d e in te n s id a d e , n ã o em
v a ria ç õ e s q u a lita tiv a s , m a s em a u m e n to o u d im in u iç ã o d a m u ltip lic id a d e d a s s e n s a ­
çõ es (m e tá f o r a d a o rq u e s tra ). {F. Pécaut ) M a s e s ta m u ltip lic id a d e n ã o é f o r m a d a
p o r u n id a d e s n u m e rá v e is . A v a ria ç ã o é, p o r ta n to , seg u n d o ele, d e f a to , e sse n c ia l­
m e n te q u a lita tiv a . (A. L.)
393 F E N O M E N A L IS M O

F E L I C I D A D E C . E ú ô a t# t< m a n o CRÍTICA
s e n tid o B; L . Felicitas ; D . Glück, Glück­
A id é ia g re g a d a fe lic id a d e e stá v e l,
seligkeit n o s e n tid o C ; E . Happiness', F . tvòcufiovía, re s u lta n te d e u m a c e r ta d is­
Bonheur ,; I. Felicita. p o sição d a a lm a , fo i re je ita d a p a ra seg u n ­
A . S e n tid o e tim o ló g ic o : d o te rm o d o p la n o p e la m o ra l c ris tã e p e lo k a n tis ­
fra n c ê s s o rte fa v o rá v e l (a m e s m a s ig n ifi­ m o . M as re to m o u u m a im p o r tâ n c ia c o n ­
c a ç ã o e m Happiness d e Happen, a c o n te ­ sid e rá v e l n a é tic a c o n te m p o r â n e a (cf.
c e r p o r a c a s o ; e em Glück, d e Gelingen, B 2 Ã T τ 2 á , “ A m o ra l a n tig a ” , Revue
7

c o n s e g u ir; c f, em in g lês L u ck [G o o d philosophique, 1 9 0 1 ,1). P r o p o m o s , p o r ­


lu c k ]. Glückseligkeit p a re c e te r s id o u s a ­ t a n to , q u e se e m p re g u e s e m p re a p a la v r a
d o p a r a a p a g a r este c a m b ia n te ). felicidade n a ace p ç ão C , q u e te n d e, a liá s,
B . E s ta d o d e s a tisfa ç ã o c o m p le ta , q u e a v in g a r n a filo s o fia e m e sm o n a lin g u a ­
to m a c o n ta d ê to d a a c o n sc iê n c ia . g em c o r r e n te , o n d e se o p õ e ju s ta m e n te à
C . “ A fe lic id a d e ( Glückseligkeit ) é a fe lic id a d e o prazer, a alegria e to d a s a s
s a tis fa ç ã o d e to d a s a s n o ssa s in c lin a ç õ e s satisfa ç õ es p a ssa g eiras o u p arciais d a sen ­
{die Befriedigung aller unserer Neigun­ s ib ilid a d e .
gen) ta n to em e x te n s ã o , q u e r d iz e r, em Rad. i n t F elic.
m u ltip lic id a d e , c o m o em in te n s id a d e ,
F E L I Z V er Felicidade.
q u e r dizer, em g ra u , e em p ro te n s ã o , q u e r
d izer, em d u ra ç ã o * ’ (Kτ ÇI , Crítica da ra­ F E N O M E N A L IS M O D . E. F . V er
zão pura, M é t. T r a n s c e n d e n ta l, c a p . I I , Fenomenalismo, n o ta .
2? seção ). D o u tr in a q u e p re te n d e q u e os h o m e n s

S o b re F e lic id a d e — É d e n o ta r q u e a o p o s iç ã o d o s s e n tid o s A e B e x iste e m A ris ­


tó te le s e n tre evrvxia e evòcufiovía. (M . Blondel)
C p o d e p a re c e r em p rin c íp io c o n fu n d ir- s e c o m B ; m a s K a n t, n o te x to c ita d o , e n ­
te n d e Glückseligkeit n o s e n tid o m a is f o r te d a p a la v r a fe lic id a d e , im p lic a n d o u m e s ta ­
d o a d q u irid o e d a í em d ia n te p e rm a n e n te . (A. L .)
A id é ia d e d u r a ç ã o n ã o é e sse n cia l à fe lic id a d e , p e lo q u e n ã o se p o d e ria fa la r de
u m a fe lic id a d e b re v e , d e u m in s ta n te d e fe lic id a d e . E , d e f a to , n ã o s e rá a fe lic id a d e
u m c a ld e irã o ? P o d e r á h a v e r a í u m e s ta d o p e rm a n e n te d a s e n s ib ilid a d e , se n ó s s o m o s
sen sív eis a p e n a s à s d ife re n ç a s ? N a m in h a o p in iã o n ã o se d is tin g u e m u ito c la ra m e n te
felicidade e beatitude·, e s ta , id e a l e n o b r e im p lic a n d o d u r a ç ã o , a q u e la m a is p sic o ló g i­
c a , m a is h u m a n a , m a is g ro s s e ira , se se q u ise r: S te n d h a l p a r tia c a d a m a n h ã à “ c a ç a
d a fe lic id a d e ” . M a s se p o d e ser ú til d is tin g u ir c o n v e n c io n a lm e n te e n tre felicidade e
beatitude , c o rre n te m e n te c o n fu n d id a s p elo s m elh o rés a u to re s , é s o b re tu d o im p o rta n te
n ã o c o n f u n d ir a fe lic id a d e e fe tiv a , f a to p s ic o ló g ic o , fr e q ü e n te m e n te q u a s e a n im a l,
e a id é ia , o u m e lh o r, o id e a l d e fe lic id a d e (q u e a p a la v r a b e a titu d e re p re s e n ta ta m ­
b é m ), p r o d u to d a im a g in a ç ã o , ta lv e 2 c o n tr a d itó r io , e em to d o c a so c o n d e n a d o a p e r­
m a n e c e r in a ce ssív e l. Se a b e a titu d e n ã o é a q u a d r a tu r a d o c írc u lo , é p e lo m e n o s tã o
d ife re n te d a felicid ad e c o m o o círcu lo m a te m á tic o o é d e u m tra ç a d o à m ã o . (M. Marsal)

S o b re F e n o m e n a lis m o — A p a la v r a é p o u c o u s u a l e o se u e m p re g o n ã o e stá bem


fix a d o . P o d e r ía m o s d iz e r, n e ste s e n tid o , fenom enism o agnóstico. {R. Berthelot —
G. Beaulavon ) E s ta p a la v r a é u m b a rb a ris m o in ú til. (F . A bauzit)
O e s c rito r in g lês, q u e in tr o d u z iu p e la p rim e ira vez fenom enalism o c o m o e q u iv a ­
len te a positivismo fo i J o h n G2 ÃI E , irm ã o d o filó so fo , m ais c o n h ec id o , G eo rg e G ro -
te , n a su a Explorado philosophica (1 8 6 5 ), 1? p a r te , c a p . I. (C . C. J. Webb)
F E N O M E N IS M O 394

só p o d e m c o n h e c e r os fe n ô m e n o s e n ã o nung ; E . Phenomenon; F . Phénomène;


a s co isas e m si, m a s q u e n ã o n e g a q u e e s ­ I. Fenómeno.
ta s e x ista m o u m e sm o o a d m ite e x p re s­ A . O q u e a p a re c e à co n sciên cia, o q u e
s a m e n te . T a is sã o , p o r e x e m p lo , o c riti­ é p e rc e b id o , ta n to n a o rd e m física c o m o
c ism o k a n tia n o , o p o s itiv is m o d e COM­ p s íq u ic a . “ O s fe n ó m e n o s b io ló g ic o s .”
TE, o e v o lu c io n is m o d e Sú E ÇTE 2 . C f. “ O s fen ô m e n o s a fe tiv o s.” D iz-se, n o sen ­
A gnosticism o. tid o m ais la to , d e to d o s o s f a to s c o n s ta ­
Rad. int.: F e n o m e n a lis m . ta d o s q u e c o n s titu e m a m a te r ia d a s c iê n ­
F E N O M E N IS M O D . Phänomenalis­ c ia s . A te rc e ir a p a r te (in a c a b a d a ) d a Ins­
mus, Immanentismus; E . Phenomena­ taurado magna in titu la-se “Phaenomena
lism; F . Phénoménisme; I. Fenomenismo. universi, siv e h is to ria n a tu r a lis e t e x p eri-
D o u tr in a s e g u n d o a q u a l a p e n a s ex is­ m e n ta lis a d c o n d e n d a m p h ilo s o p h ia m ” .
te m fe n ô m e n o s , n o s e n tid o B ; a p re te n s a Ig u a lm e n te , e m D E è Tτ 2 I E è : “ F a re i a q u i
n o ç ã o d e coisa-em -si o u d e n ú m e n o é a p e ­ u rn a b re v e d e s c riç ã o d o s fe n ô m e n o s d o s
n a s u m a p a la v r a . (Renouvier, Shadworth q u a is p r e te n d o p r o c u r a r a s c a u s a s ...”
Hodgson) Principios, I I I , 4 (o c a p ítu lo in titu la -s e :
“ F e n ô m e n o s o u e x p e riê n c ia s e p a r a q u e
NOTA
p o d e m s e rv ir.” Experiências é to m a d o ai,
S e g u n d o E « è Â 2 e Bτ Â á ç « Ç , Phäno­
E
c o m o o m o s tra m o s e x e m p lo s, n ã o n o
menismus, Phenomenism, n ã o existem em s e n tid o d e experimento, m a s n o s e n tid o
a le m ã o e em in g lês. D iz-se Phänomenalis­ d e fa to s conhecidos empiricamente ). É
mus, phenomenalism ta n to p a ra aq u ilo q ue ig u a lm e n te n este s e n tid o q u e LE « ζ Ç« U d e ­
ch am am o s fen o m en ism o co m o p a ra a q u ilo fin e os fe n ó m e n o s: “ p h a e n o m n a siv er ap -
a q u e c h a m a m o s fe n o m e n a lism o . E « è Â E 2
p a ritio n e s q u a e in m e n te m e a e x is tu n t” ,
classifica so b o títu lo d e Imm anenz philo­
e q u e e le d istin g u e d o s “ p h a e n o m e n a r e a ­
sophie as d o u trin a s de ST7 Z ú ú E , R E 7 O - lia , b e n e f u n d a ta ” e d o s “ p h a e n o m e n a
3 E , SCHUBERT-SOLDERN, e tc ., a q u e c h a ­
im a g in a r ia ” . (De m odo distinguendi
m a ría m o s fe n o m e n istas.
phaenom ena realita ab imaginariis, E rd -
Rad. int.: F e n o m e n ism .
m a n n , 4 4 2 -4 4 4 .)
F E N Ô M E N O G . ipcuvófitvov; L. m o d . B. P a r a Kτ ÇI , é fe n ô m e n o tu d o o
Phaenomenon; D . Phänomen, Erschei- q u e é “ o b je to d e e x p e riê n c ia p o ssív e l” ,

M as já a e n c o n tr a m o s em RE Çá Ç , L ’avenir de la Science (e scrito em 1848, p u b li­


c a d o em 1890): “ N ã o ex iste n e n h u m a p a la v r a n a lin g u a g e m q u e n ã o p o s s a d a r lu g a r
a g ra n d e s e r r o s , se a to m a r m o s ta m b é m n u m s e n tid o s u b s ta n c ia l e g ro s s e iro , em vez
d e a fa z e r d e s ig n a r classes de fe n ó m e n o s . A p e n a s fenom enalism o é v e rd a d e ir o . E s ­
p e ro q u e n in g u é m m e v e n h a a c u s a r d e se r m a te ria lis ta e , c o n tu d o , c o n s id e ro a h ip o -
te se d e d u a s s u b s tâ n c ia s re u n id a s p a r a f o r m a r o h o m e m c o m o u rn a d a s m ais g ro sse i­
r a s im a g in a ç õ e s q u e j á se p r o d u z ir a m e m f ilo s o f ía ... O e s p ir itu a lis ta n ã o é a q u e le
q u e c rê em d u a s s u b s tâ n c ia s g ro s s e ira m e n te a g r u p a d a s ; é a q u e le q u e e s tá p e rs u a d id o
d e q u e s o m e n te o s fa to s d o e sp írito têm u m v a lo r tra n s c e n d e n ta l.” Ibid., p p . 478-479.
(T e x to c o m u n ic a d o p o r M . Morsal)

S o b re F e n o m e n is m o — A p a la v r a fenom enism o fo i d if u n d id a n a F r a n ç a p o r R e­
n o u v ie r. P e rg u n to - m e m e sm o se ele n ã o a fo r jo u . E m q u a lq u e r c a s o n ã o c o n h e ç o
n e n h u m e x e m p lo a n te s d ele. (R. Berthelot)

S o b re F e n ó m e n o — A rtig o c o m p le ta d o de a c o r d o c o m as o b s e rv a ç õ e s d e J. La-
chelier e L. Robín.
395 FEN Ô M EN O

q u e r d iz e r, tu d o o q u e a p a re c e n o te m p o geral em phaenomena e noumena ” ). M as


o u n o e sp a ç o e m a n ife s ta a s re la ç õ e s d e ­ ele n ã o a d m ite co m isso q u e o fe n ô m e n o
te rm in a d a s p elas c a te g o ria s. E le o p õ e -n o , s e ja u m a s im p le s a p a r ê n c ia ; p elo c o n tr á ­
p o r u m la d o , à p u r a m a té ria d o c o n h e c i­ r io , o m u n d o q u e a s fo r m a s a priori d o
m e n to , p o r o u tr o , e s o b r e tu d o , a o N ú- c o n h e c im e n to d e te rm in a m é “ o re in o d a
meno* o u à Coisa em si* (p a rtic u la rm e n te v e rd a d e ” ; e é o q u e o r o d e ia q u e é o im ­
Crit. da razão p u ra , A , 236; B , 295 ss.: p é rio d a ilu s ã o , “ d e r e ig en tlich e S itz d es
“ D a d is tin ç ã o d e to d o s o s o b je to s e m S c h e in s” (ibid.). C f. Estética transcend.

Q u a l é e x a ta m e n te a d is tin ç ã o e n tre fa to e fenômeno"! P a u l J τ ÇE I p r o p u n h a q u e


fo sse e n te n d id a d o seg u in te m o d o : “ U m f a t o ” , d iz ia ele, “ é d e a lg u m m o d o u m fe­
n ô m e n o p a r a d o , p re c iso , d e te r m in a d o , c o m c o n to rn o s q u e se p o d e m a p re e n d e r e d e ­
s e n h a r: im p lic a u m a esp écie d e fix id ez e d e e s ta b ilid a d e re la tiv a s. O fe n ô m e n o é o
f a to e m m o v im e n to , é a p a ss a g e m d e u m f a to a u m o u tr o , é o fa to q u e se t r a n s f o r m a
d e in s ta n te a in s ta n te . P a r tin d o d e s ta d e fin iç ã o , d ig o q u e T a in e se in te re ss a p a r tic u ­
la rm e n te p e lo s f a to s e R e n á n p e lo s fe n ô m e n o s. O p rim e iro g o s ta d a s d escriçõ es a c e n ­
tu a d a s , b u r ila d a s , in d iv id u a is ; g o s ta q u e u m f a to s e ja d is tin to d e o u tr o f a to ; fa z so ­
b re s s a ir as d ife re n ç a s , to r n a - a s sa lie n te s , re s s a lta -a s , c o m o u m fis io lo g is ta q u e to r n a
visível u m a v eia in v isív el. T a is p re c isõ e s p a re c e m a R e n á n c o n tr á r ia s à n a tu re z a d as
c o isa s ; p a r a ele tu d o o q u e é p re c is o é f a ls o , tu d o o q u e é g ra n d e é g ro s se iro , t o d a
a d e fin iç ã o é u m a c o n v e n ç ã o . N ã o h á fa to s p re c iso s e d e te r m in a d o s , só h á m a tiz es,
q u e r d iz e r, p a s s a g e n s in sen sív e is d e u m fe n ô m e n o a o u t r o . ” La crise philosophique,
p . 56.
E u p r o p o r ia d e b o m g ra d o u m a o u tr a d is tin ç ã o , m a is filo só fic a ta lv e z, e, e m t o ­
d o c a s o , to ta lm e n te d e n tr o d o e s p irito d a filo s o fia d e M a in e d e B ira n . E u d ir ia q u e
o fe n ô m e n o é o e le m e n to m a te ria l d o f a to , o p u ro d a d o sensível a n te r io r a q u a lq u e r
in te rv e n ç ã o d o eu, e q u e o f a to é o fe n ô m e n o a d o ta d o e p o s to p e lo eu e e le v a d o ,
p o r e sta p o s iç ã o , à e x istên c ia e à o b je tiv id a d e . Se fa la m o s m a is fa c ilm e n te d e u m
“ f a to g e ra l” q u e de u m “ fe n ô m e n o g e ra l” é p o rq u e u m fa to é já u m a verdade, e n ­
q u a n to o p r ó p r io fe n ô m e n o n ã o o é. T u d o o q u e é p e n s a d o é , p o r isso m e sm o , g e n e ­
ra liz a d o . U m f a to é u m a v e rd a d e g e ra l, u m a lei, d e te r m in a d a p e la s u a a p lic a ç ã o a
c irc u n s tâ n c ia s p a rtic u la re s . ( / . Lachelier )
A m p è re c h a m a v a ig u a lm e n te fenôm eno a o d a d o c o n c r e to , im e d ia to q u e a ciên ­
c ia d ev e e la b o r a r : “ O p e n s a m e n to h u m a n o ” , d izia ele, “ c o m p õ e -se de fenôm enos
e de concepções... S o b o n o m e d e fe n ô m e n o s [o a u to r] c o m p re e n d e : 1?, tu d o o q u e
é p e rc e b id o p e la se n s ib ilid a d e , c o m o as s e n sa ç õ e s, as im ag en s q u e su b siste m a p ó s
as c irc u n s tâ n c ia s q u e o rig in a ra m essas sen sa ç õ e s te re m te r m in a d o ...; 2?, o q u e é p e r­
c e b id o p e la c o n sc iê n cia q u e te m o s d a n o s sa a tiv id a d e ... D a í n asce a d ife re n ç a q u e
ele esta b e lec e e n tre o s fe n ó m e n o s s e n sitiv o s e os fe n ô m e n o s a tiv o s .” Essaisur laphi-
losophie des Sciences, p r e f ., t. L V I. “ É p re c iso ta m b é m d is tin g u ir a duração fen o -
mênica, tã o r á p id a p a r a o h o m e m feliz, tã o le n ta p a r a a q u e le q u e s o fre , ta n to d a
d u ra ç ã o real q u e p re sid e a o s m o v im e n to s d o s a s tr o s , e é m e d id a p e lo s in s tru m e n to s
in v e n ta d o s p a r a esse e fe ito , q u a n to d a c o n c e p ç ã o q u e te m o s d e ssa m e sm a d u r a ç ã o .”
Ibid., L X V II. (A. L .)
O fe n ô m e n o é de a lg u m a fo r m a u m fa to n a tu ra l; ele n ã o c o m p o rta n e n h u m a c r ia ­
ç ã o , n e n h u m a c o n tr ib u iç ã o , n e n h u m tr a b a lh o d o e sp írito . É p o r isso q u e se d iz ju s ­
ta m e n te u m fa to científico ( p a r a m o s tra r a n o s s a p a r te n a s u a c ria ç ã o ) e n u n c a u m
fe n ô m e n o c ie n tífic o . (L. Boisse)
FEN Ô M EN O 396

( 6 . 69 ss.) o n d e ele in siste n e s ta o p o s iç ã o g e m fa m ilia r; d ev e ser e v ita d o n u m a b o a


e n o f a to d e q u e o fe n ô m e n o p o ssu i u m a lin g u a g e m filo só fic a .
objektiv Realität ; e v er N úm eno. E n tre ­ NOTA
t a n to , a c o n te c e -lh e ta m b é m to m a r Ers­
cheinung n o sen tid o d e blosser Schein : v er
1. A 2 « è ó Â è serve-se m u ita s vezes
I I E E

d e ipaivóiuvos n o s e n tid o d e a p a r e n te e
e m esp ecial o te x to c ita d o n o a rtig o Ob­
a lg u m a s vezes ilu s ó rio ; m a s c h a m a g e ra l­
je tiv o , B. m e n te tpoavófievoc, sem in te n ç ã o p e jo r a ­
C. F a to s u rp re e n d e n te , q u e sai d o c u r­tiv a , p a re c e , a tu d o o q u e c a i s o b o s s e n ­
so o r d in á r io d a s c o isa s; a n im a l o u vege­ tid o s . O p Õ e-n o , s e ja , c o m o j á P la tã o f a ­
ta l m o n s tr u o s o , o u p e lo m e n o s e x tr a o r ­ z ia , à q u ilo q u e ex iste d u m a m a n e ira f i­
d in á r io . E s te s e n tid o p e rte n c e à lin g u a ­ x a , e sse n c ia l, tòc ovrot, t cc èt\r]6rj·, se ja

M as d iz e m o s fe n ô m e n o s físic o s, q u ím ic o s , b io ló g ic o s , e tc ., e m b o r a se tr a te c e r­
ta m e n te d e “ f a t o s ” n o s e n tid o d e fin id o a c im a . O s físic o s d izem ta m b é m m u ito c o r­
re n te m e n te “ o fe n ô m e n o d e Z e e m a n n , o fe n ô m e n o d e M ic h e ls o n ” p a r a d e s ig n a r fa ­
to s g e ra is e p e rm a n e n te s : v er o te x to d e P E « 2 TE c ita d o n o a rtig o Observação.
P a r tin d o q u a s e d o o p o s to d a d is tin ç ã o p r o p o s ta a c im a p o r I . L τ T Â « 2 , G.
7 E E

Dwelshauvers e sc re v eu -n o s:
“ S e g u n d o o s e n tid o p r o p r ia m e n te filo só fic o d a d o a este te rm o p e lo s r a c io n a lis ­
ta s e c ritic is ta s , ele n ã o se a p lic a a o s d a d o s im e d ia to s d a c o n sc iê n c ia e n q u a n to v iv i­
d o s e c o n c re to s , m a s e x c lu siv a m e n te a o f a to c o n sc ie n te p u rif ic a d o d o s e lem en to s sen­
síveis d a re a ç ã o in d iv id u a l e tr a n s p o s to em conceito g ra ç a s a o siste m a ló g ic o d a s c a ­
te g o ria s o u fo r m a s d e o rd e m d o e n te n d im e n to . O fe n ô m e n o é sempre u m p r o d u to
c o n c e p tu a l d a a tiv id a d e m e n ta l; ele é in s e p a rá v e l d a a b s tr a ç ã o . S e ria p o r ta n to rig o ­
ro s o e c o rre to n ã o c h a m a r fenôm eno a u m d a d o im e d ia to d a c o n s c iê n c ia m a s so ­
m e n te ao d a d o d a co n sciên cia e n q u a n to o b je tiv id a d e , p o s to d e a lg u m m o d o p elo p e n ­
s a m e n to p e r a n te si p r ó p r io , e p o r c o n se q ü ê n c ia in s e p a rá v e l d a s leis ra c io n a is o u f o r ­
m a s de o rd e m p o r m eio d as q u a is o e sp írito in te r p r e ta o m u n d o . O m u n d o d a re a li­
d a d e im e d ia ta (o u d a e x p e riê n c ia b r u ta d e K a n t) e o m u n d o d o s fenôm enos (o u d a
e x p e riê n c ia ra c io n a liz a d a ) sã o d ife re n te s.
U m f a to p s ic o ló g ic o se rá ta m b é m c h a m a d o fe n ô m e n o se eu o e n c a r a r , n ã o em
re la ç ã o co m a a tiv id a d e in te g ra l d o s u je ito , m a s d e slig a d o d e sta , em re la ç ã o co m
o s fe n ô m e n o s d a m e sm a n a tu r e z a u n id o s p o r u m a lei, c o m o , p o r e x e m p lo , as idéias
d o s a ss o c ia c io n is ta s.
P a re c e -m e essen cial m a n te r a d is tin ç ã o , p a r a a p s ic o lo g ia e p a r a a m e ta fís ic a , e n ­
tr e o fa to concreto e o fenômeno·, e ste ú ltim o q u e n ã o se d á sem u m p ro c e sso d e
a b s tr a ç ã o e d e o b je tiv a ç ã o .
M e ta fis ic a m e n te , d e sd e q u e d e ix em o s a ordem dos objetos p a r a c o n s id e ra r a or­
dem dos sujeitos (o u d a re a lid a d e v e rd a d e ir a e a tiv a ), o te rm o fen ô m en o não tem
mais sentido·, p o r q u e e n tã o p o d e re m o s fa la r d e f a to s c o n c re to s , de d a d o s , p a r a d a r
a e n te n d e r q u e se tr a ta n e ste c a s o , sim p le sm e n te , n a c o n sc iê n c ia , de re fle x o s d t pro ­
cessos c o m p le x o s o u c o n ju n to de funções.
P s ic o lo g ic a m e n te , o m e sm o te r m o p o d e e n c o n tr a r -s e , d e a c o r d o c o m o c o n te x to ,
s e ja n o s fenôm enos, seja n o s fa to s concretos ; p o r e x . representação: se este te rm o
d e sig n a u m a a p re s e n ta ç ã o d o o b je to o u u m a id é ia p re s e n te n a m e m ó ria , in d ic a e n ­
tã o um fe n ô m e n o ; se, p e lo c o n tr á r io , d e sig n a a f u n ç ã o re p re s e n ta tiv a c o m o s s e n ti­
m e n to s e n u a n c e s p a rtic u la re s q u e a ele se lig a m , ele q u e r d izer fa to concreto, p r o ­
cesso m e n ta l.”
397 F E N O M E N O L O G IA

à q u ilo q u e fa z p re v e r o ra c io c ín io , á XÃ - d estes fe n ô m e n o s, q u e r à re a lid a d e tr a n s ­


70s; serv e-se d ele m e sm o q u a n d o o te ste ­ c e n d e n te d e q u e s e ria m a m a n ife s ta ç ã o ,
m u n h o d o s s e n tid o s n ã o e s tá em c a u s a e q u e r à c rític a n o r m a tiv a d a s u a leg iti­
p a r a d e s ig n a r o s o b je to s d e u m a c re n ç a m id a d e .
g e ra l o u d e u m a o p in iã o q u e te m a seu B . D iz-se p a r tic u la r m e n te , n a n o s s a
favoT a a u to r id a d e d e s te o u d a q u e le s á ­ é p o c a , d o m é to d o e d o siste m a d e E .
b io . É e n tã o u m s in ô n im o d e rò tviio£ov H Z è è E 2 Â (Logische Untersuchungen ,
(v e r B o n itz , 8 0 9 ?). 1900 s s .; Ideen zu einer reinen Phänome­
2. S o b re a d istin ç ã o d e fa to t fenôm e­ n o lo g ie u n d p h ä n o m e n o lo g isc h e n
no, v e r a s o b s e rv a ç õ e s s eg u in tes. Philosophie *, 1913, e tc .) , a ssim c o m o
Rad. int.: F e n o m e n , d as d o u trin a s q u e são c o n sid e ra d a s c o m o
lig a d a s a eles. V er a s o b se rv a ç õ e s.
F E N O M E N O L O G I A D . Phänome­
NOTA
nologie ; E . Phenomenology·, F . Phéno­
ménologie ; I. Fenomenología. E s ta p a la v ra só re c e n te m e n te e n tro u ,
A . Sentido geral: e s tu d o d e sc ritiv o de e m francês, n a lin g u ag em filosófica. Salvo
u m c o n ju n to d e fe n ô m e n o s, ta l c o m o eles
se m a n ife s ta m n o te m p o o u n o e sp a ç o , 1. Investigações lógicas; Idéias para uma feno­
p o r o p o s iç ã o q u e r às leis a b s tr a ta s e fix as menología pura e para urnafilosofía fenomenologica.

É sem d ú v id a a P a rm é n id e s q u e , filo s o fic a m e n te , c o n v é m r e p o r ta r a o p o s iç ã o


ra d ic a l — d e m a s ia d o ra d ic a l e a rtific ia l — d o q u e p a re c e e d o q u e é. (E n c o n tr a m o s
o seu a n á lo g o n a s d o u tr in a s d a ín d ia , m a s d e u m p o n to d e v is ta c o n sid e ra v e lm e n te
d ife re n te .) A liá s , e s ta d is tin ç ã o e n tre o ser e o fe n ô m e n o n ã o re siste a u m ex am e c rí­
tic o a p r o f u n d a d o : p o r q u e , p a r a a a f ir m a r v e rb a lm e n te e p a r a a im a g in a r m e n ta l­
m e n te , s o m o s fo r ç a d o s a c o n c e b e r a o m e sm o te m p o o fe n ó m e n o c o m o ser e o ser
c o m o re p re s e n ta ç ã o s u b je tiv a e fe n o m e n a l; d e f o r m a q u e e sta o p o s iç ã o se re d u z p a r ­
c ia lm e n te à q u e e x iste e n tre o s u b je tiv o e o o b je tiv o , a ss im c o m o e s ta m e sm a o p o s i­
ç ã o seria re d u tív e l a o u tr a s , a té a o m o m e n to e m q u e se v e ría q u e ¿ p re c iso c o lo c a r
o p ro b le m a e m te rm o s m e n o s p u ra m e n te a n a lític o s e a b s tr a to s . (Ai. Blondel)

S o b re F e n o m e n o lo g ía — História da palavra. Phenomenologie, oder Lehre des


Scheins (T e o ria d a a p a r ê n c ia ) é o títu lo d a 4? p a r te d o Neues Organon d e L a m b e r t
(1 7 6 4 ). T u d o in d ic a q u e fo i ele q u e c rio u e ste te rm o .
E s te te rm o fo i u tiliz a d o e m sen tid o s m u ito d ife re n te s, e m b o ra lig a d o s m ais o u m e ­
n o s d iretam en te à s u a etim o lo g ia: p o r Kτ ÇI , c o m o títu lo d a 4? p a rte d o s seus Metaphy­
sische Anfangsgründe der Naturwissenschaft 1, tr a ta n d o d o “ m o v im e n to e d o re p o u ­
s o n a s u a re la ç ã o c o m a re p re s e n ta ç ã o ” , q u e r d iz e r, e n q u a n to c a ra c te rís tic a s g e ra is
d o s fe n ô m e n o s; p o r H E ; E Â , q u e c h a m a “ F e n o m e n o lo g ía d o e s p ír ito ” à h is tó ria d a s
e ta p a s su cessiv as, d a s a p ro x im a ç õ e s e d a s o p o s iç õ e s p e las q u a is o E s p írito se eleva
d a se n sa çã o in d iv id u a l a té a R a z ã o u n iv e rs a l (Phänomenologie des Geistes, 1807);
p o r H τ O« Â I ÃÇ , q u e d esig n a s o b este n o m e a p s ic o lo g ia , e n q u a n to e s ta se o p õ e à L ó ­
g ica, “ ciên cia d a s leis d o p e n s a m e n to e n q u a n to p e n s a m e n to ” (Lectures, I I I , 17); p o r
H τ 2 I Oτ ÇÇ , p a r a q u e m a “ fe n o m e n o lo g ía d a c o n sc iê n c ia m o r a l” (Phänomenolo­
gie des sittlichen Bewusstseins, 1869) d e v e s e r u m in v e n tá rio tã o c o m p le to q u a n to
p o ssív el d o s f a to s d e c o n sc iê n cia m o ra l e m p iric a m e n te c o n h e c id o s , o e s tu d o d a s su as
re la ç õ e s , e a b u s c a in d u tiv a d o s p rin c íp io s a o s q u a is eles se p o d e m re d u z ir.

1. Primeiros princípios metafísicos da ciência da natureza.


F E R IO 398

ra r o s e x e m p lo s (v e r a d ia n te ) , só se e n ­ F E R I O 4 ? m o d o d a 1 ? fig u ra d o si­
c o n tra v a n a s tra d u ç õ e s o u a n á lise s d e lo g is m o :
o b ra s e s tra n g e ira s . P e lo c o n tr á r io , d e sd e
1920, to r n o u - s e m u ito u s u a l e m u ito s N enhum M é P .
e sc rito res g o s ta m d e a p lic á-la à s su as c o n ­ A lg u m S é M .
c e p ç õ e s, p o r v ezes m u ito d ife re n te s e n ­ L o g o , a lg u m S n ã o é P .
tr e si.
Rad. int .: F e n o m e n o lo g i. F E R IS O N M o d o d a 3? fig u ra q u e se

M. Marsal a ssin a la-n o s, e m fra n c ê s, d o is te x to s d o sécu lo X IX o n d e se e n c o n tra


a p a la v ra fenomenología. “ A filo so fia n ã o é n e m u m a ciên cia f u n d a d a so b re d e fin i­
ç ã o , co m o a s m a te m á tic a s , n e m , c o m o a física e x p e rim e n ta l, u m a fe n o m e n o lo g ía s u ­
p e rfic ia l. É a ciên cia p o r excelência d a s c au sa s e d o e sp írito de to d a s a s co isas, e tc .”
R τ âτ « è è ÃÇ , “ O è ‘F ra g m e n ts de P h ilo so p h ie ’ d e S ir W . H a m ilto n ” , Revue des deux
M ondes, 1840, IV , p . 420. “ O e rro d o s c é reb ro s e stre ito s é n ã o fazer ju s tiç a à ilu sã o ,
q u e r d izer, à v e rd a d e re la tiv a , p u ra m e n te p sico ló g ica e su b je tiv a . A to d a s as in telig ên ­
cias v u lg ares fa lta a d elicad eza c rític a , e fazem d a v e rd a d e relig io sa, o u m e sm o d a v er­
d a d e , a m ais in g ê n u a d a s id é ia s, p o rq u e n ã o c o m p re e n d e m a n a tu re z a e as leis d o esp í­
rito h u m a n o . A fe n o m e n o lo g ía é u m e n ig m a p a ra esses p a q u id e rm e s q u e v iv em n a s u ­
p erfície d a su a a lm a , e tc .” A O« E Â , Journal intime, 8 d e d e z e m b ro d e 1869.
Sobre o sentido B. A e d iç ã o p re c e d e n te d o Vocabulário c o n tin h a u m a d e fin iç ã o
d a F e n o m e n o lo g ía d e H u s s e rl p o r DE Â ζ Ãè , e x tr a íd a d o se u a r tig o “ H u s s e rl, a s u a
c rític a d o p s ic o lo g ism o e a s u a c o n c e p ç ã o d e u m a ló g ic a p u r a ” , Revue de métaphysi-
que et de morale, s e te m b ro 1991, p . 6 9 7 . “ A d e fin iç ã o d e D e lb o s ” , escrev e G a s tó n
B e rg e r, “ m o s tra -s e s in g u la rm e n te p e n e tr a n te se n o s le m b ra rm o s q u e fo i e sta b e le c i­
d a a p e n a s a p a r tir d a s Logische Untersuchungen , s o b re a s q u a is H u s s e rl e sc re v ia ,
e m 1913, q u e e r a m a p e n a s u m a a b e r tu r a , e d e m a n e ir a n e n h u m a u m a c o n c lu s ã o .
A tu a lm e n te p a re c e d ifíc il c o n s e rv á -la ta l e q u a l.
“ T a n to s filó so fo s d ife re n te s se re c la m a m h o je d a fe n o m e n o lo g ía (a m a io r o u m e ­
n o r ju s to títu lo a liá s) q u e se to r n a n e c e ssá rio d is tin g u ir n e la u m m é to d o e u m siste m a .
“ C o m o m étodo, e la é u m e s f o rç o p a r a a p r e e n d e r , a tra v é s d o s a c o n te c im e n to s
e d o s fa to s e m p íric o s , as ‘e s s ê n c ia s ’, q u e r d iz e r, a s s ig n ific a ç õ e s id e a is. E s ta s s ã o
a p re e n d id a s d ire ta m e n te p o r in tu iç ã o ( Wesenschau ■ ) q u a n d o se t r a t a d e e x em p lo s
sin g u la re s , e s tu d a d o s , em p o r m e n o r e d e u m a m a n e ir a m u ito c o n c r e ta .
“ C o m o sistema, to m a m ais esp ecialm en te o n o m e d e ‘fe n o m e n o lo g ía p u r a ’ ( ideen
zu einer reinen Phänomenologie und phänomenologischen Philosophie, 1913) o u d e
‘fe n o m e n o lo g ía tr a n s c e n d e n te ’ (Meditações cartesianas, 1929); e la p r o c u r a e n tã o es­
c la re c e r o p rin c íp io ú ltim o d e to d a re a lid a d e . C o m o e la se s itu a n o p o n to d e v ista
d a s ig n ific a ç ã o , e ste p rin c ip io s e rá a q u e le p e lo q u a l tu d o g a n h a u m s e n tid o , o ‘eg o
tra n s c e n d e n ta l’, e x te r io r a o m u n d o , m a s v o lta d o p a r a ele. A liá s , e ste s u je ito p u ro
n ã o é ú n ic o , p o r q u e fa z p a r te d a sig n ific a ç ã o d o m u n d o o fe re c e r-se a u m a p lu r a lid a ­
de d e s u je ito s . A o b je tiv id a d e d o m u n d o a p a re c e a ssim c o m o u rn a ‘in te rs u b je tiv id a -
de tr a n s c e n d e n ta l’. O re c o n h e c im e n to d o d o m in io tra n s c e n d e n ta l e a s u a d e sc riç ã o
ex ig em q u e se a d o te u m a a titu d e d ifícil d e to m a r e m u ito d ife re n te d a a titu d e n a t u ­
ra l; o m o m e n to essen cial é a q u ilo q u e H u s s e rl d e sig n a p o r ‘re d u ç ã o fe n o m e n o ló g ic a
tra n s c e n d e n ta l’.1

1. Literalm ente “ visão” ou “ contem plação das essências” .


399 F IA T

re d u z a Ferio* p e ta c o n v e rsã o sim p le s d a N enhum P é M .


m e n o r: A lg u m S é M .
N enhum M é P . L o g o , a lg u m S n ã o é P .
A lg u m M é S .
L o g o , a lg u m S n ã o é P . F E T IC H IS M O o u F E IT I C I S M O D .
Fetischismus ; E . Fetichismo F . Fétichis-
F E S A P O M o d o d a 4 a f ig u r a q u e se
me; L Feticismo.
re d u z a Ferio* p e la c o n v e rs ã o sim p les d a
U s o e c u lto d o s fetiches (D . Fetisch ;
m a io r e c o n v e rs ã o p a rc ia l d a m e n o r.
E . Fetich; F . Fétiche ; L Feticcio ), q u e r
N enhum P é M . d iz e r, p e q u e n o s o b je to s m a te ria is c o n si­
T o d o M é S. d e ra d o s c o m o a e n c a rn a ç ã o , o u p elo m e ­
L o g o , a lg u m S n ã o é P . n o s c o m o a “ c o rre s p o n d ê n c ia ” * , d e u m
CRÍTICA e s p ír ito e, p o r c o n se q u ê n c ia , p o s s u in d o
u m p o d e r m ág ico . E ste te rm o é de o rig em
C h a m a -s e p o r vezes a este m o d o Fes-
p o rtu g u e s a , fo i a p lic a d o p rim e ira m e n te
pam o ( p o r e x e m p lo , Lógica d e P Ã2 I -
p e lo s e x p lo ra d o re s d e ste p a ís a o s o b je to s
R Ã à τ Â , I I , c. V III), m a s sem r a z ã o , p o r ­
v e n e ra d o s p o r c e rto s p o v o s d a Á fric a .
q u e n ã o se p o d e tr a n s p o r a s p re m issa s (o'
Rad. i n t F e tic h ism .
q u e é in d ic a d o p e la le tr a m ).
F E S T IN O M o d o d a 2 f f ig u r a q u e se F I A T L . “ Q u e is to s e ja ” , te rm o re ti­
re d u z a Ferio* p e la c o n v e rsã o sim p les d a r a d o d a tra d u ç ã o la tin a d o Gênesis, 1 , 3:
m a io r: “ F ia t lu x , e t lu x f a c ta e s t.”

“ U m g ra n d e n ú m e ro d e filó s o fo s c o n te m p o râ n e o s a d o ta m , m o d if íc a n d o -o m a is
o u m e n o s , o m é to d o h u s s e rlia n o , a p ro v e ita n d o - o p a r a a c o n s tr u ç ã o d o s seus p r ó ­
p rio s s iste m a s. É a p e n a s n e ce ssá rio s u b lin h a r q u e p a r a H u ss e rl u m a ta l s e p a ra ç ã o
é c o m p le ta m e n te ile g ítim a . E le p r ó p r io n ã o q u is ‘c o n s tr u ir ’ u m s is te m a , m a s s o m e n ­
te d e sc re v er a q u ilo q u e se p o d e v e r a o a d o ta r u m a c e r ta m a n e ira d e o lh a r . P r e te n d e r
v e r o c o n tr á r io d a q u ilo q u e ete p r ó p r io v ia s ig n ific a v a q u e n ã o se tin h a c o m p re e n d i­
d o o v e rd a d e iro s e n tid o d o seu m é to d o .” ( G. Berger)
S o b re a v a rie d a d e de c o n c e p ç õ e s à s q u a is e s ta p a la v r a é a p lic a d a , v e r ta m b é m
H a n s D 2 « E è T7 , Die Phänomenologie und ihre Vieldeutigkeit, C . R . d o 7? C o n g re s,
in t. d e P h ilo s o p h ie , O x fo rd , 1930, p p . 151-158; M a rv in F y2 ζ E 2 , “ L a P h ilo so p h ie
descriptive e t la n a tu re de i ’existence h u m a in e ” , em L ’acüvité philosophique en France
et aux États-Unis (1950), to m o I , p p . 6 7 -9 4 ; J . H E 2 « Ç; , “ L a p h é n o m e n o lo g ie en
F r a n c e ” , n a m e sm a o b r a , to m o I I , p p . 76-95.

S o b re F e tic h is m o — ‘ ‘Fetiche v em de facíitius e q u e r d iz e r a n te s d e tu d o o b je to


f a b ric a d o p e la m ã o d o h o m e m . É p ro v á v e l q u e c o m isso se p re te n d e s s e o p o r o c u lto
d o s fe tic h es a o d o v e rd a d e iro D e u s, o u d o s o b je to s n a tu r a is , ta is c o m o o s a s tr o s ,
o s a n im a is , e t c .” (V. Egger) E s ta id é ia p a re c e c o n f ir m a d a p e lo f a to de fetiche te r
s id o u tiliz a d o o u tr o r a c o m o a d je tiv o : “D o culto dos deuses fetiches, e tc .” , títu lo
d e u rn a o b r a d o P re s id e n te d e B2 Ãè è E è (1760). Feitiço, em p o rtu g u é s , e m p re g a-se
c o m o a d je tiv o (a rtific ia l, fa ls o , f a b ric a d o , n ã o n a tu ra l) e c o m o s u b s ta n tiv o (so rtilé ­
g io , f iltro ; m a g ia ). V« E « 2 τ , Grande diccionario portuguez, s u b V o. P o r o u tr o la d o ,
L « I I 2
d e fin iu o fe tic h e c o m o se n d o u m “ o b je to natural... q u e o s n e g ro s d a s c o s­
ta s o c id e n ta is d a Á fric a a d o r a m ” . L ig a ta m b é m e s ta p a la v r a à p a la v r a p o rtu g u e s a
(q u e ele escreve fé tis s o ) . M as trad u z e s ta p o r “ o b je to f a d a d o , e n c a n ta d o ” , q u e fa z
d e riv a r d a ra íz la tin a fa tu m .
F IC Ç Ã O 400

A . A to c r ia d o r d e D e u s. B. (Representative fiction, Bτ «Ç ): hi­


B . P o r a n a lo g ia , u m a to d e v o n ta d e p ó te se ú til p a r a re p re s e n ta r a lei o u o m e­
e n q u a n to é c o n s id e ra d o c o m o a o rig em c a n is m o d e u m fe n ô m e n o , m a s d o q u a l
d e a lg o n o v o , re a liz a n d o u m fim j á c o n ­ n o s serv im o s sem a f ir m a r a s u a re a lid a ­
tid o c o m o id éia nesse a to d e v o n ta d e . V er d e o b je tiv a . É a q u ilo a q u e se c h a m a fre-
e sp e c ia lm e n te W . J τ O è , O sentimento
E q ü e n te m e n te h o je e m d ia u m modelo
do esforço (C rític a filo s ó fic a , 1880, II) e físico.
Principles o f Psychology , I I , c. X X V I. C . Ficção legal, e n u n c ia ç ã o fa ls a o u
C f. L « ú ú è, Leitfaden der Psychologies 2? in c e r ta q u e deve ser le g a lm e n te tid a c o ­
e d . (1906), p . 21. m o v e rd a d e ira (p o r e x em p lo : “ n ã o se d e­
ve s u p o r q u e n in g u ém ig n o re a lei” ; is pa­
F IC Ç Ã O D . Fiction ; E . Fiction; F .
ter est quem nuptiae demonstrant, e tc .).
Fiction ; I. Finzione.
Rad. int .: F ik tiv a j.
D e u m a m a n e ira g e ra l, o q u e é s im u ­
la d o (fictum) o u f a b ric a d o p e lo e sp irito . F ID E ÍS M O D . Giaubensphilosophie ;
A . C o n s tr u ç ã o ló g ica o u a rtís tic a à E . Faith-philosophy ; F . Fidéisme ; I. Fi­
q u a l se s a b e q u e n a d a n a re a lid a d e c o r­ losofia delia fede, fideism o.
re sp o n d e; p o r ex em p lo , n a s m a te m á tic a s, E stes e q u iv alen tes n ã o c o rre sp o n d e m
n o r o m a n c e , etc. H Z OE , Tratado da na- e x a ta m e n te à p a la v r a fra n c e s a : a p lic am -
tureza hum ana, II , 4. se, s o b re tu d o h is to ric a m e n te , à filo so fia

S o b re F id e ísm o — S o b re o s e n tid o se m p re p e jo ra tiv o d e ste te rm o n a lin g u ag em


d o s e sc rito res c a tó lic o s , v e r o p re fá c io d e OÂ Â -Lτ ú 2 Z ÇE à se g u n d a ed ição d o seu
liv ro Da certeza m oral , o n d e ele se d e fe n d e c o n tr a e s ta c la s s ific a ç ã o . C f . B2 Z ÇE I « -
2 E : “ O fideísm o e o racionalismo s ã o d u a s h e re sia s c o n tr a d itó r ia s ; n ã o p o d e m o s
tr iu n f a r s o b re elas u s a n d o o s m e sm o s m e io s .” Les raisons actué lies de croire, p . 15.
A c u s a ç ã o , a liá s , le v a n ta d a c o n tr a o p r ó p r io B ru n e tiè re : “ A a firm a ç ã o sem m a tiz a ­
d o s d e q u e n e m a d iv in d a d e d e J e s u s C r is to , n e m m e sm o a im o r ta lid a d e d a a lm a
o u a e x istên cia de D e u s n ã o sã o su scetív eis d e p r o v a s ... p ô s a p e n a n a m ã o d e M g r
d ’H u ls t, q u e a c u s a n itid a m e n te B ru n e tiè re d e f id e ís m o .” FÃÇè E ; 2 « âE , L ’évolution
des idées dans le France contemporaine, p . 91.
O s e n tid o B é u s a d o v á ria s vezes p o r F Ã Z « Â Â é , O pensamento e as novas esco­
E

las antiintelectualistas, p re fá c io .
O p a s to r Trial a ss in a lo u -n o s a in d a u m o u tr o s e n tid o p a r a fideísm o e m certo s te ó ­
lo g o s p ro te s ta n te s : a d o u tr in a q u e fa z c o n sis tir a fé n a c o n f ia n ç a e m D e u s, p o r o p o ­
sição à c re n ç a n o s d o g m a s . V er Fé, o b s e rv a ç õ e s . ( P o r o u tr o la d o , n o p ro te s ta n tis ­
m o , a o p in iã o m a is g e ra l é a d a in s u fic iê n c ia d a r a z ã o p a r a d e m o n s tr a r o s d o g m a s .)
R e c o n h e ço q u e seria sem d ú v id a ú til, d e c erto s p o n to s d e v is ta , te r u m a p a la v ra
p a r a d e sig n a r a s d o u tr in a s q u e a d m ite m q u e só a r a z ã o n ã o b a s ta p a r a a s n e ce ssid a ­
des d o h o m e m e q ue d e v e ser c o m p le ta d a p e la fé. Pragmatismo d e sig n a s o b re tu d o
u m a te o ria d a v e rific a ç ã o , m e sm o ra c io n a l, e super-racionalismo, q u e fo i u s a d a n es­
te s e n tid o p e lo s te ó lo g o s , seria d e u so d ifícil em filo s o fia . P o r o u tr o la d o , n e n h u m a
d o u tr in a q u e re c o n h e ç a a n e c e ssid a d e d a fé p o d e a c e ita r p a r a si p r ó p r ia o n o m e de
fideísm o, q u e receb eu n a h is tó ria d a te o lo g ia u m a d e te rm in a ç ã o té cn ica b a s ta n te p re ­
cisa: seria c o m p le ta m e n te d e s a ju s ta d a p elo s m a l-e n te n d id o s in e v itá v eis q u e e sta ex­
p re s sã o le v a n ta ria . A lém d o m a is , a s d o u tr in a s c o n te m p o râ n e a s , à s q u a is este n o m e
se a p lic a ria , n ã o sã o e s tr ita m e n te fix a d a s n u m a fó r m u la ; e s tã o , a n te s , em vias de
c o n s titu iç ã o e d e d e se n v o lv im e n to ; e, a este re s p e ito , seria la m e n tá v e l d a r-lh e s u m a
e tiq u e ta c o m o a co isas Finitas e d e te rm in a d a s . (Ed. Le Roy)
401 F ID E ÍS M O

d e H e rd e r o u à d e J a c o b i, a q u e , d e p re ­ a tra v é s d e u m a fa c u ld a d e s u p e r io r e es­
fe rê n c ia , c h a m a re m o s sentimentalismo. p e c ia l, 4‘a in te lig ê n c ia ” , q u e n o s d á a in ­
A . T e rm o p rim itiv a m e n te te o ló g ic o , tu iç ã o d a re a lid a d e e s p ir itu a l, m a s e la
a p lic a d o à d o u tr in a d e H Z E I , d o p a d re p r ó p r ia só p o d e e n tr a r e m a ç ã o to m a n ­
Bτ Z I τ « Ç e d e Lτ OE ÇÇτ « è : a ra z ã o n a d a d o p o r b a se a re v e la ç ã o , d e q u e n o s p e r­
n o s e n sin a s o b re a n a tu r e z a d a s c o isa s, m ite c o m p re e n d e r o s e n tid o e so té ric o .
e la a p e n a s p o d e c la s s ific a r e f o r m u la r as T e n d o sid o e s ta d o u tr in a c o n d e n a d a
a p a rê n c ia s. A v e rd a d e a b s o lu ta o b té m -se e m 1838 p e las a u to r id a d e s ecle siástic a s,

P a re c e -m e q u e , m e sm o n o s e n tid o p ro p r ia m e n te filo só fic o , a p a la v r a fid e ísm o


n ã o d e sig n a v a u m a d o u tr in a q u e a d m ite " v e r d a d e s d e f é ” a o la d o o u a c im a d a s v e r­
d a d e s d a c iê n c ia , m a s a p lic a -s e a q u a lq u e r d o u tr in a q u e te n d a a e x clu ir d a s v e rd a d e s
d a fé o c a r á te r ra c io n a l, as p ro v a s in te le c tu a is q u e elas c o m p o r ta m . A d e fin iç ã o p r o ­
p o s ta p a re c e im p lic a r q u e o r a c io n a lis m o se re s trin g e à q u ilo q u e é c ie n tífic a m e n te
d e m o n s tr a d o e d e sc o n h e c e to d a s as o u tr a s fo r m a s d o c o n h e c im e n to e d a a ç ã o : is to
p a re c e ju s tif ic a r as c e n s u ra s d e " in te le c tu a lis m o e x c lu siv o ” q u e lh e f o r a m e n d e re ç a ­
d a s . N a m in h a o p in iã o , o fideísm o c o n sis te n o se g u in te : o u em s e p a r a r , a tra v é s d e
u m a esp écie d e b a r r e ir a e s ta n q u e , o d o m ín io d a c iê n c ia e o d a c re n ç a , o u em s u b o r ­
d in a r , de u m a m a n e ir a m a is o u m e n o s o p re s siv a , e a té e lim in a tó ria , a a tiv id a d e p r o ­
p ria m e n te ra c io n a l às n e ce ssid a d e s p r á tic a s , às ra z õ e s d e s e n tim e n to , às ex ig ên cias
m o ra is e re lig io sa s. A p a r tir d a í, a p a la v r a fideísm o, n a m e d id a e m q u e im p lic a u m
a b u s o o u u m ex ag e ro d o p a p e l d a fé , te m u m s e n tid o s e m p re p e jo ra tiv o . (M. Blondei )
Discussão na sessão de 21 de ju n h o de 1906
A . Lalande fe z a le itu ra d a n o t a a c im a c ita d a d e M . BÂ ÃÇáE Â e a c re s c e n to u :
" N ã o p o s so a d m itir o p rim e iro d o s d o is s e n tid o s d e fin id o s p o r M . B lo n d e l, p e lo m e ­
n o s n o s te rm o s e m q u e ele o c a r a c te riz a . N in g u é m p e n s a r ia e m c h a m a r fideísm o a o s
s iste m a s a g n o s tic is ta s , c o m o o d e Sú E ÇTE 2 , p o r e x e m p lo , q u e s e p a ra m p o r u m a e s ­
p é cie d e b a r r e ir a e s ta n q u e o d o m ín io d a c iê n c ia e o d a c re n ç a . S u p o n h o a té q u e M .
B lo n d e l p re te n d e s s e f a la r n ã o p re c is a m e n te d a s e p a ra ç ã o d o s dom ínios d a r a z ã o e
d a fé , m a s , a n te s , d o e s ta d o d e e s p írito q u e c o n sis te e m a d m itir q u e ex istem s o b re
u m c e rto n ú m e ro d e q u e s tõ e s d u a s a titu d e s lo g ic a m e n te in c o n c iliá v e is, e q u e te m o s ,
c o n tu d o , o d ir e ito d e a d o t a r o r a u m a o r a o u tr a , u m a ra c io n a lis ta , a o u tr a c re n te .
E m t o d o o c a s o , n e m n u m s e n tid o n e m n o o u tr o a p a la v r a fideísm o a ssim e n te n d id a
n ã o seria n e c e s sa ria m e n te p e jo ra tiv a . S ê-lo -ia e v id e n te m e n te , p ela p r ó p r ia d e fin iç ã o ,
n a se g u n d a a c e p ç ã o d is tin g u id a p o r M . B lo n d e l, e q u e c o n sis te ‘n u m a b u s o o u e x a ­
g e ro d o p a p e l d a fé ’. M as esse é o s e n tid o te o ló g ic o d a p a la v r a , d e fin id o n o § A , e
n ã o o seu s e n tid o filo s ó f ic o .”
J. Lacheiier. " H á a q u i u m a in f iltr a ç ã o la m e n tá v e l de u m te r m o te o ló g ic o n a lin ­
g u a g e m filo s ó fic a . M as p o s s u in d o a p a la v r a essa o rig e m m u ito e sp e c ia l, n ã o lh e p o ­
d e m o s r e tir a r o c a r á te r p e jo r a tiv o q u e a e la se lig o u n o seu p rim e iro u s o . S ó h á p r o ­
p ria m e n te fideísm o se a fé suplantar a ra z ã o n u m a m a té r ia q u e se c o n s id e ra c o m o
lh e p e r te n c e n d o .”
L. Brunschvicg : “ O s e sc rito re s c o n te m p o râ n e o s q u e se serv em d e s ta p a la v r a c o m
c erte z a f o r ja r a m - n a c o m p le ta m e n te , ig n o ra n d o o s siste m a s teo ló g ico s d o p a d re B a u tin
o u d e L a m e n n a is . O seu o b je tiv o p a re c e m e sm o te r s id o , a n te s d e m a is , e n c o n tr a r ,
p a r a a s d o u tr in a s q u e fa z e m in te rv ir a fé re lig io s a n a filo s o fia , u m a d e s ig n a ç ã o p u ­
ram ente té c n ic a que n ã o despertasse qualq uer paixão q u e p o d e m levantar os te rm o s
m a is usu ais.”
F IE R I 402

a p a la v ra fideísm o c o n se rv o u n a lin g u a ­ F I E R I V er Devir.


gem d o s escritores cató lico s u m sen tid o n i­
tid a m e n te p ejo rativ o . C f. Tradicionalismo. F I G U R A Ver adiante os diferentes
B . P o r e x te n s ã o , n a lin g u a g e m filo ­ sentidos dos equivalentes estrangeiros.
s ó fic a m o d e r n a , o p õ e -s e a racionalismo, P r im itiv a m e n te , n o s e n tid o d o L . f i ­
e a p lic a -s e a to d a s a s d o u tr in a s q u e a d ­ gura, a q u ilo q u e e n te n d e m o s h o je e m d ia
m ite m “ v e rd a d e s d e f é ” , e q u e lhes re ­ p o r fo rm a , n o s e n tid o m a is g e ra l d a p a ­
c o n h e c e m u m v a lo r ig u a l o u s u p e r io r a o la v r a . É a ssim q u e se d is c u tia “ s o b r e a
d a s v erd ad es q u e c o n stitu e m o s p rin cíp io s figura d a te r r a ” , q u e r d iz e r, s o b re a q u e s­
e a s c o n clu sõ es d a s ciên cias. “ [R en o u v ier t ã o d e s a b e r se e la e ra p la n a , e sfé ric a , etc.
s u s te n to u ] n o Segundo ensaio u m a e sp é ­ A . G E ÃOE I 2 « τ (D . Figur ; E . Figure;
cie d e fideísm o lib e rtis ta , e s tr a n h o , n o F . Figurei I. Figura).
f u n d o , e m e s m o o p o s to a o c a r á te r d o g ­ C h a m a -s e figura a q u a lq u e r c o n ju n ­
m á tic o q u e a p r e s e n ta m , n o Primeiro en­ to d e p o n to s , m ais p a r tic u la r m e n te a u m
saio, as teses f in itis ta s , fe n o m e n is ta s , c o n ju n to d e lin h a s e s u p e rfíc ie s . (A n o ­
e t c . ” P « Â Â ÃÇ , A n n é philosophique, ç ã o de fig u ra geo m étrica n ã o im p lic a n em
1905, p . 106. C f. L τ ú « E , Rationalisme et q u e o s e le m e n to s d a f ig u r a s e ja m fin ito s
fidéism e, R e s u m o d o C o n g re s s o d e F ilo ­ o u lim ita d o s , n e m q u e te n h a m u m n ú m e ­
s o fia d e 1900, to m o I. r o fin ito .)
Rad. int.: B . F id e is m . B . L"; « Tτ (G. Σ χ ή μ α , a lg u m a s vezes

J. Lachelier : “ M as n ã o se p o d e e v ita r q u e n ã o d e s p e rte a tu a lm e n te u m a id é ia


d e e x a g e ro e d e a b u s o e n tre to d o s a q u e le s q u e c o n h e c e m , m e sm o v a g a m e n te , a s u a
h is tó ria p r im itiv a .”
L. Couturat: “ P o r o u tr o la d o , te m o s n e c e s sid a d e d e u m a d je tiv o d e r iv a d o d a
p a la v r a fé , e q u e p o s s a ser o p o s to a racionalista n o p re c iso s e n tid o e m q u e se f a la
freq u e n te m e n te d as relaçõ es, o u o d o s c o n flito s ‘d a fé e d a ra 2ã o ’. Voluntarista o p õ e -se
a intelectualista. Pragmatista te m to d o s o s s e n tid o s , d e sd e o r a c io n a lis m o m a is c ien ­
tífic o e m a is p o s itiv o a té a a p o lo g é tic a re lig io sa . P a r a e v ita r a p a la v r a fideista, q u e
e s tá em d is c u s s ã o , fo m o s o b rig a d o s a f a la r a in d a h á p o u c o d a a titu d e ra c io n a lis ta
e d a a titu d e ‘c re n te ’. S e ria m u ito ú til te r u m te rm o té c n ic o p a r a d a r c o n ta d e sta id é ia ,
e p a r a d e s ig n a r as d o u tr in a s filo só fic a s q u e a p re s e n ta m e s ta c a r a c te r ís tic a .”
A . Lalande: “ C re io ta m b é m , e p a re c e -m e q u e o s e n tid o p rim itiv o d a p a la v r a f i ­
deista está h o je m u ito g en eraliz a d am en te esq u ecid o p a r a q u e o n o v o u so p o ssa m a n te r-
se e fa z e r-lh e p e rd e r p o u c o a p o u c o a d im e n s ã o p e jo r a tiv a q u e ele te v e p rim e ir a m e n ­
te . C o n tu d o , d e v id o às d iv e rg ê n c ia s d e o p in iã o q u e a q u i se e x p rim ir a m , p e n s o q u e
c o n v é m n ã o fa z e r q u a lq u e r p ro p o s iç ã o a f a v o r o u c o n tr a este u so n o c o r p o d o Voca­
bulário, e ap e n a s re p ro d u z ir as o b serv açõ es q u e a c a b a m d e ser fe ita s.” ( Concordância )
S o b re F ig u ra — H a v ia n e c e s sid a d e , n a Id a d e M é d ia , d a p a la v r a figura, n o s e n ti­
d o e tim o ló g ic o , se n d o a p a la v r a f o r m a a in d a to m a d a n o seu s e n tid o m e ta fís ic o e
a ris to té lic o . O a b a n d o n o d a e s c o lá stic a , a o fa z e r p e r d e r a este ú ltim o o seu v a lo r
té c n ic o , p e rm itiu -lh e substituir-se a figura. A tra n s iç ã o p a re c e ria te r s id o fe ita p e lo
u s o d a p a la v r a fo rm a p a r a d e s ig n a r a “ f ig u r a ” e x te r io r d o s seres v iv o s , c o n s id e ra d a
c o m o a q u ilo q u e e x p re ssa a s u a f o r m a e sse n cia l. “ A f ir m o q u e é n e c e s sá rio d iz e r a
figura d e u m c h a p é u , e n ã o a f o r m a ; ta n to m a is é p e rtin e n te e s ta d ife re n ç a e n tre
a f o r m a e a f ig u r a , q u a n to a f o r m a é a d is p o siç ã o e x te r io r d o s c o rp o s q u e s ã o a n im a ­
d o s e a fig u r a a d is p o siç ã o e x te rio r d o s c o rp o s q u e s ã o in a n im a d o s .” M ÃÂ « è 2 E , O
casamento forçado (1664), c e n a V I. (S e g u n d o as n o ta s d e J. Lachelier e L. Boisse)
403 F IL A N T R O P IA

I ç oiros,A 2 « è ó Â è ; D . [Schiuss] Fi­


I I E E co isas a este p o v o ... e x p rim iu -a s e m fi­
gur; E . Figure; F . Figure; I. Figura). g u ra s a fim d e q u e aq u ele s q u e a m a v a m
Figura do silogismo. C h a m a -s e fig u ­ a s c o isa s fig u r a n te s a í p e rm a n e c e sse m e
ra a c a d a u m a d a s f o r m a s q u e u m silo ­ a q u e le s q u e a m a s s e m a s fig u ra d a s a í as
g ism o p o d e to m a r , s e g u n d o as o p o siç õ e s v is s e m .“ P τ è Tτ Â , Pensamentos, e d .
q u e o te rm o m é d io o c u p a , c o m o s u je ito B ru n sch v ic g fr a g m . 6 7 0 . V er to d a a se­
o u c o m o p re d ic a d o , n a m e n o r e n a m a io r. ção X.
C la sse d o s m o d o s q u e a p re s e n ta m c a d a Rad. int .: F ig u r.
u m a d e ssa s fo r m a s .
C. F ig u r a d e re tó ric a (D . [Rhetoris- F I L A N T R O P I A D . Philantropie; E .
che ] Figur; n o s e n tid o e sp e c ial d e s ím b o ­ Philantropy; F . Philantropie; I. Filan­
lo , d e a le g o ria , Bild; E . Figure; F . Figu­ tropia.
re; I. Figura). A . S e n tim e n to e d o u tr in a q u e te n d e m
“ R estrin g iu -se a sig n ific a çã o d a p a la ­ a “ fa z e r p re v a le c e r c a d a vez m ais o q u e
v ra fig u ra , q u e c o m p re e n d e to d a s as f o r ­ ex iste d e u n iv e rs a l n a n a tu r e z a h u m a n a
m a s de elo cu ç ã o , ao s m o v im e n to s de p en ­ s o b re a q u ilo q u e é p r ó p r io d e c a d a te m ­
s a m e n to e a o s ro d e io s d e e x p re ss ã o q u e p o , c a d a lu g a r , c a d a c la sse , c a d a n a c io ­
se fa z e m n o t a r ... D iv id e m -se as figuras n a lid a d e ” . C o u r n o t, Traité de l ’enchaî­
e m figuras de palavras (elip se, silep se, nement... livro IV , cap. I I . “ U m a vez q u e
e tc .) e figuras de pensam ento (in te rr o g a ­ a s so c ie d a d e s e n tr a r a m n e s ta fa s e , é p re ­
ç ã o , ir o n ia , lito te s , e t c .) ...“ Gé 2 Z UE U , ciso q u e o s h o m e n s te n d a m c a d a vez m ais
Cours de littérature , p p . 165-166. a c o lo c a r a id é ia d e h u m a n id a d e a c im a
E sp ecialm en te, ex p ressão sim b ó lica de d a id é ia d e q u a lq u e r n a c io n a lid a d e p a r ­
u m p e n s a m e n to : s u b s titu iç ã o d e u m a tic u la r e m e sm o a c im a d a id é ia d e q u a l­
im a g e m c o n c r e ta p o r u m a id é ia a b s tr a ­ q u e r c o n f r a r ia re lig io s a . E m lin g u ag em
ta , o u correspondência * de u m fa to a o u ­ m o d e r n a , is to c h a m a -s e filantropia, e a
tr o . “ N ã o q u e re n d o D eu s d e sc o b rir estas fila n tr o p ia n ã o é a lg o q u e se d e v a rid icu -

" Figure” e m p re g a -se a in d a , em in g lês, p a r a d e s ig n a r a fo r m a de o b je to s in a n i­


m a d o s . (B. Russell) C f. em fra n c ê s , configuração (d e u m p a ís lito ra l).
S o b re Figura do silogismo, o s e n tid o d e σ χ ή μ α e m A 2 « è I ó I E Â E è e a ex isten c ia
d a “ q u a r ta f ig u r a ” , ver Suplemento n o fin a l d a p re s e n te o b r a .

S o b re F ila n tr o p ia — O s e n tid o A é o m a is a n tig o . A p a la v r a filantropia fo i d i­


f u n d id a p e la e sc o la e sto ic a a o m e sm o te m p o q u e a p a la v r a cosmopolitism o. O s es­
to ic o s r e tira ra m a m b a s d o s d isc íp u lo s cín ico s d e S ó c ra te s . Φ ι λ α ν θ ρ ω πί α (caritas ge-
neris humani — C TE 2 Ã ) e x p rim e de a lg u m a m a n e ira o a sp e c to s e n tim e n ta l d as su as
id é ia s e te n d ê n c ia s d as q u a is o cosmopolitismo e x p rim e o a sp e c to ju ríd ic o . A p a la ­
v ra e x p a n d iu -se de n o v o n a lin g u a g e m filo s ó fic a n o séc u lo X V III , c o m o re n a sc i­
m e n to d as id é ia s e stó ic a s, p o r e x e m p lo a id é ia d e d ire ito n a tu r a l. N o d e c u rs o d o sé­
c u lo X IX , o s e n tid o A te n d e a c air em d e su s o , e filantropia, n e ste s e n tid o , é m u ita s
vezes s u b s titu íd a p o r humanitarismo. (R. Berthelot)
O s e n tid o B p o d e ria ser lig a d o a u m a c e r ta c o n c e p ç ã o p la tô n ic a e e stó ic a d a f in a ­
lid a d e , c o m o a ç ã o d a P r o v id ê n c ia , te n d o c o m o fim o b e m d o s h o m e n s . P Â τ I Ã ,
Leis , IV , 713 D : “ ' O &eòs α ρ α xai φ ι λ ά ν θ ρ ω π ο ς ω ν ...” C f. Banquete, 189, C . MAR­
CO AURÉLIO: “ Π ά ν τ α χ α λ ώ ς χ α ΐ φ ι λ ά ν θ ρ ω π ω ν ò ia r á la v re s ό ί d e o í... ” (X II, 5).
E s ta id é ia d a “ f ila n tr o p ia ” d o s D eu ses e d a N a tu r e z a te m de re s to u m a im p o r tâ n c ia
p a rtic u la r n a d o u trin a d o s E stó íc o s. V er esp ecialm en te Z Â Â 2 , Philos. der Griechen,
E E

I I I , 1, 175, \ A, 2, 4, e A 2 Ç« O , Stoicorum veter, fragm . I I , fr . 1152-1167. (L. Robín)


F IL Á U C IA 404

la r iz a r, a p e s a r d o m a u u s o q u e d e la fiz e ­ k ö n n e n n ic h ts a n d e rs im S in n e h a b e n , als
r a m .” Ibid. d ie Fesseln d e r Wissenschaft g a r a b z u w e r­
C f. L e ib n iz , Cartas a des Billettes fe n , A rb e it in S p iel, G e w issh e it in M ei­
(1697): “ D e sd e q u e se fa ç a a lg o d e c o n ­ n u n g , u n d P h ilo s o p h ie in P h ilo d o x ie z u
s e q u e n te , é -m e in d if e re n te q u e s e ja fe ito v e rw a n d e ln .” 1 Crft. da r. pura, p re fá c io
n a A le m a n h a o u n a F r a n ç a ; p o r q u e e u à 2? e d iç ã o , §16.
d e se jo o b e m d o g é n ero h u m a n o ; n ã o so u
u m v?i\e'XXijj' o u ^ » ι λ ο ρ ω μ α ί ο ϊ , m a s φ ι - N OTA
λ α μ Ο ρ ω π ο ί ” ( Gerh ., V I I , 4 5 6 ). é o p o s to p o r P Â τ I ã Ã a <pi-
Β . B en e fic iê n cia, e n q u a n to c o n sis tin ­ \óao<poi {República, liv ro V , 4 8 0 ). M as
d o n ã o em s o c o rre r in d iv id u a lm e n te o s in ­ n ã o é n o m e s m o s e n tid o : o s p rim e iro s
fe liz es, m a s e m m e lh o r a r a s o rte d o s h o ­ s ã o , p a r a e le , a q u e le s q u e se c o m p ra z e m
m e n s a tra v é s d e m e io s c o m u m a lc a n c e c o m a s a p a r ê n c ia s d a s c o isa s, c o m a m u l­
g e ra l, p a r tic u la r m e n te in s titu iç õ e s d e c a ­ tip lic id a d e d o s f a to s p a r tic u la r e s e re la ti­
rid a d e . S ó este s e n tid o é h o je u s u a l. v o s, e n q u a n to o s seg u n d o s a scen d em à es­
Rad. int.: F ila n tr o p . sên cia e à Id é ia (cf. O p in iã o ). «biXoáo&a,
q u e e x iste ta m b é m e m g re g o , s ig n ific a
F I L Á U C I A (G . φ ι Κ α ν τ ί α , e g o ísm o ;
a m o r d a g ló ria .
a m o r-p ró p rio , n o b o m e n o m a u sen tid o s:
cf. A 2 « è I I E Â E è , Ética a Nicômaco, IX , F I L O G Ê N E S E V e r Ontogênese.
V III).
E ste te r m o é u s a d o n u m s e n tid o la u ­ F I L O S O F E M A D . Philosophem ; E .
d a tiv o p o r RE ÇÃZ â« E 2 : ele o p õ e a “ v e r­ Philosopheme, philosophem a ; F . Philo-
d a d e filá u c ia ” o u “ a m o r - p r ó p r io esc la ­ sophème; I . Filosofema.
re c id o , a m o r d o s e r ra z o á v e l e m si, à mi- A p a la v r a g re g a ptkoaó<piifta é u tili­
sáucia, q u e r d iz e r , a o ó d io d o v e rd a d e i­ z a d a p o r A ris tó te le s em d o is s e n tid o s : 1?
r o s u je ito m o r a l, d a p a r te ra c io n a l d e si ra c io c ín io c ie n tífic o , d e m o n s tr a tiv o ,
p r ó p r io q u e é o p rin c íp io d e to d a s a s te n ­ o p o s to a o ra c io c ín io r e tó r ic o o u d ia lé ti­
d ê n cia s v icio sas” . Ciência da morai , c a p . c o (v e r Epiquirema ) , a o ra c io c ín io e rís-
L X IV . tico * o u s o fís tic o , e a o aporema , ra c io c í­
E stes te rm o s s ã o ra ro s e n ã o c re io qu e n io d ia lé tic o q u e a c a b a n u m a c o n tr a d i­
misáucia se e n c o n tr e a lg u re s a lé m d e R e ­ ç ã o ( Tópicos , V I I I , I I ; 162? 15-19); 2?
n o u v ie r; q u a n to à filáucia (q u e ex iste em (n o p lu r a l) e stu d o s o u e n s in a m e n to s fi­
g re g o ) é u s a d a em v á ria s p a ssa g e n s d e lo s ó fic o s (Do céu, 2 7 9 a30 ).
R τ ζ E Â τ « è , p . ex. Pantagruel, I I I , 29. A tu a lm e n te , d iz -se p o r vezes d e u m
T a m b é m se e n c o n tr a so b a f o r m a philaf- a d á g io o u d e u m a tese filo s ó fic o s . M as
tie n o in íc io d a s M emórias d e M a rg u e ri- a p a la v r a é r a r a e a n tiq u a d a .
te d e Vτ  ë è , c ita d o p o r Sτ « ÇI E -BE Z âE ,
Lundis , V I, 191. F I L O S O F I A G . <pt\o<jo<píct; D . Phi­
losophie ; E . Philosophy; F . Philosophie ;
“ F I L O D O X I A ” D . Philodoxie ; E . I. Filosofia.
Philodoxy; F . Philodoxie. P a r a a h is tó ria d e s ta p a la v r a , v e r Fi­
P a la v r a c r ia d a p o r Kτ ÇI p a r a d e sig ­ lósofo, te x to e o b s e rv a ç õ e s .
n a r e p a r a re p r o v a r o d ile ta n tis m o in te ­
le c tu a l q u e se c o m p ra z e m le v a n ta r os 1. “ A queles que rejeitam o seu m étodo (o mé­
p ro b le m a s filo só fic o s sem d e s e ja r a tin g ir to do de W olff) e, contudo, tam bém não adm item o
so lu çõ es c ien tífic as e u n iv e rsa lm e n te acei­ processo da crítica d a razão p u ra não podem te r ou­
tra intenção senão a de se desem baraçarem com ple­
ta s . “ D ie je n ig e n , w e lch e sein e L e h r a r t tam ente das peias da ciência, de transform ar o tra ­
u n d d o ch zugleich a u ch d a s V e rfa h re n d er balho em jogo, a certeza em opinião e a filosofia em
K ritik d e r re in e n V e r n u n f t v e rw e rfe n , filodoxia.’’
405 F IL O S O F IA

A . S a b e r ra c io n a l, c ie n c ia , n o s e n ti­ se ja u m a o rd e m de co n h ec im e n to , seja to ­
d o m a is g e ra l d a p a la v r a (A 2 « è I ó I E Â E è , do o saber h um ano, a um pequeno n ú ­
Metafísica , 1, 1, 9 9 3 b 21; X I , 8; 1074b m e ro d e p rin c íp io s d ire tiv o s . “ A f ilo s o ­
11, e tc.)· E s te s e n tid o c o n se rv o u -s e d u ­ fia d a s c iê n c ia s, d a h is tó ria , d o d ir e ito .”
r a n te m u ito te m p o e n tre o s m o d e rn o s . “ D a í trê s esp écies d e filo s o fia s o u d e sis­
“ P h ilo s o p h ia in d iv id u a d im ittit; ñ e q u e te m a s g e ra is d e c o n c e p ç õ e s s o b re o c o n ­
im p re s sio n e s p rim a s in d iv id u o r u m , sed ju n to d o s f e n ô m e n o s ...” A u g . C ÃOI E ,
n o tio n e s a b illis a b s tr a c ta s c o m p le c ti- Curso de filos, positiva, 1? L iç ã o , § 4.
t u r . . . , a tq u e h o c p r o r s u s o ff íc iu m est a t- E sp ecialm en te, n o sen tid o fo rte (q u e se
q u e o p ific iu m r a tio n is .” Bτ TÃÇ , D edig- c o n fu n d e em certo s p o n to s co m A ): E s fo r­
nitate, II , 1 , 4. A ssim , o p õ e -se a historia* ço de síntese to ta l, p a ra u m a co n cep ção de
“ q u a e p ro p rie in d iv id u o ru m est, i.e. q u ae c o n ju n to d o u n iv e rso . “ K n o w led g e o f th e
c irc u m sc rib u n tu r lo co et te m p o re ” ; c o m ­ low est k in d is u n u n ified know ledge; Scien­
p re e n d e , p o r o u tr o la d o , a philosophia ce is p a rtia lly u n ified k n o w led g e; P h ilo -
prima*, u rn a Philosophia moralis , q u e s o p h y is th e c o m p letely u n ifie d k n o w le d ­
tr a t a de tu d o a q u e h o je c h a m a m o s ciên­ g e .” 1H e rb e rt S ú ÇT 2 , First Principies,
E E

cias morais, e u m a Philosophia natura- 2? p a rte , c a p . I, §37.


lis, q u e é o c o n ju n to d as c iê n c ia s d a n a ­ C. C o n ju n to d o s e s tu d o s re la tiv o s ao
tu r e z a e, m ais e sp e c ialm en te , a física. D a espírito*, e n q u a n to este se d is tin g u e d o s
m e sm a fo r m a D E è Tτ 2 I E è , Principios da seu s o b je to s , e n q u a n to é p o s to em a n tí­
filosofia, P r e f a c io , §2, 3 e 12: “ A filo so ­ tese c o m a n a tu re z a ; e, p o r c o n s e q u ê n ­
fia é c o m o u m a á r v o r e ..., e tc .” A e x p re s­ c ia , m a is e sp e c ia lm e n te :
são filosofía natural fo i u s a d a n e sta a c e p ­ l? E s tu d o c rític o , re fle x iv o , d a q u ilo
ç ã o a té a o séc. X IX , p e lo m e n o s n o e sti­ a q u e as c iên cias p r o p r ia m e n te d ita s v i­
lo e le v a d o . (C f. em in g lés naturalphilo - sam d ire ta m e n te : “ A filo so fia d isse rta so ­
so p h y , a in d a u s u a l n e ste s e n tid o , a p e ­ b re a o rig e m d o s n o sso s c o n h e c im e n to s ,
s a r d a te n d e n c ia p a r a ser s u b s titu id o p o r s o b re o s p rin c íp io s d a c e rte z a , e p ro c u ra
Physics.) p e n e tra r n a ra z ã o d o s fa to s so b re os qu ais
A o m e sm o s e n tid o se lig a a a m ig a d e ­ a s s e n ta o e d ifíc io d a s ciên cias p o s itiv a s .”
s ig n a ç ã o Faculdade de filo so fia ( o u das C ÃZ 2 ÇÃ , Essai sur les fondem ents de
I

Artes), o p o s ta às fa c u ld a d e s p rá tic a s , nos connaissances, c a p . X X I , §320. V er,


p ro fiss io n a is, d e T e o lo g ia , de D ire ito e d e s o b re este s e n tid o , to d o o c a p ítu lo X X I,
M e d ic in a , d e s ig n a ç ã o q u e se c o n se rv o u o n d e ele insiste p rin c ip a lm e n te so b re o fa ­
n a s U n iv e rs id a d e s a le m ã s e e m a lg u m a s to de h a v e r “ u m a c o n e x ã o ín tim a e n tre
U n iv e rs id a d e s d e lín g u a in g lesa p a r a o s a p ro c u ra d a ra z ã o d a s co isas e a c rític a
e stu d o s c o rre s p o n d e n te s às n o s sa s F a c u l­ d a s id éias re g u la d o ra s d o e n te n d im e n to
d ad es de L e tra s e C iências. A fó rm u la Dr. h u m a n o ” . Ibid., 325. D a í re s u lta , s e g u n ­
ph il., n a A le m a n h a , é u m títu lo ta n to d o ele, q u e a filo so fia é n itid a m e n te d is ­
c ie n tífic o c o m o lite rá rio o u filo só fic o n o tin ta d a s c iê n c ia s: e sta s sã o p ro g re s siv a s ,
s e n tid o e sp e c ífic o d e sta p a la v r a . a d m ite m so lu ç õ e s c e rta s e u m v e rs a lm e n ­
D a í, s u b s id ia ria m e n te , a d is tin ç ã o te re c o n h e c id a s c o m o v e rd a d e ira s ; elas
fu n d a m e n ta l e n tre a filo so fia e a relig ião ; cre sc em p e la e x te n s ã o d o seu d o m ín io ; a
e n q u a n to a p rim e ir a re p o u s a s o b r e a e x ­ filo s o fia , p e lo c o n tr á r io , “ e stá fe c h a d a
p eriên cia e a ra z ã o , a seg u n d a re p o u s a so ­ n u m c írc u lo d e p ro b le m a s , q u e so b f o r ­
b re a re v e la ç ã o e a fé. V er Bτ TÃÇ , De
dign., I I I , I, 2.
1. ” 0 conhecim ento de espécie mais inferior é
B . T o d o c o n ju n to d e e s tu d o s o u d e o conhecim ento nào unificado; a Ciência é o conhe­
c o n sid e ra ç õ e s q u e a p re s e n ta m u m a lto cimento parcialm ente unificado; a Filosofia é o co­
g ra u d e g e n e ra lid a d e e te n d e m a re d u z ir nhecim ento com pletam ente u n ificad o .”
F IL O S O F IA 406

m a s d iv ersas p e rm a n e c e m n o fu n d o s e m ­ m e n te ; m a s o s d iv e rso s filó s o fo s e s tã o


p re os m e s m o s ” e tê m p o r c a r a c te rís tic a lo n g e d e c o n s id e ra r d e ig u a l m a n e ira a s
c o m u m n â o p o d e re m s e r s u b m e tid o s a o re la ç õ e s q u e eles tê m e n tr e si. V er a s o b ­
c o n tr o le d a e x p e riê n c ia ; o seu p a p e l c o n ­ s e rv a ç õ e s s o b re Filósofo.
siste e m m a n tê -lo s e m d is c u s s ã o , e o seu Rad. in t .: F ilo so fi.
p ro g re s so em a p r o f u n d a r o s s eu s te rm o s ;
ela n â o é suscetível sen ã o d e o p in iõ e s p r o ­ F ilo so fia primeira G . φ ι λ ο σ ο φ ί α
váv eis e in d iv id u a is , a p ro x im a n d o -s e p o r ρπ ώ τ η . A 2 « è I I E Â E è . “ Id est φ ι λ ο σ ο φ ί α
isso d a a rte . M as n ã o d e ix a d e serv ir m u i­ η KtQt r o r πρ ώ τ α , θ (ΐ α ,ά χ ί ι >η τ α , χ ω ρ ι σ ­
to e fic a z m e n te p a r a o p ro g re s s o d as c iên ­ τ ά . ” C f. Metafísica , I, 2; 928b9 e V I, I,
cias p o s itiv a s , d e v id o à a tiv id a d e d e p e n ­ 1026? 16, e tc . BÃÇ« I U , su b V o; L . Prima
sa m e n to q u e m a n té m a p ro p ó s ito d o s seus philosophia ; D . Erste Philosophie\ E . First
p rin c íp io s e a p r o p ó s ito d a s c o n s tru ç õ e s philosophy, F . Philosophie première ; I.
sin téticas q u e se p o d e m tir a r d as su as c o n ­ Prima filosofía.
c lu sõ e s p a rc ia is . T e rm o h o je p o u c o u tiliz a d o , a n ã o ser
2? E s tu d o d o e sp írito e n q u a n to c a ra c ­ a títu lo h istó ric o . D a ta d e A 2 «è I ó I E ÂE è ,

te r iz a d o p o r ju ízo s de valor. A filo s o fia , q u e d ele se serv iu p a r a q u a lific a r a p a rte


n este s en tid o , tem p o r c e n tro o g ru p o fo r­ d a ciên cia a q u e c h a m a m a is p ro p r ia m e n ­
m a d o p elas três ciências n o rm a tiv a s* f u n ­ te teológica (1026? 19); ela é “ primeira ”
d a m e n ta is : é tic a , e sté tic a e ló g ic a . p o r o p o s iç ã o a u m a filo so fia “ s e g u n d a ”
D isc u te -se p a r a s a b e r a té q u e p o n to o u “ física” c h a m a d a p o r vezes i$ φ υ σ ι κ ή .
a filo s o fia , n o s e n tid o C , e n g lo b a a psi­ A . E m A2 « è I I E Â E è ( M e í., I, 2,
cologia *, e m v irtu d e d a s su as re la ç õ e s 982b9), n a esco lástica; em DE è Tτ 2 I E è ,
c o m a q u e la s . p a rte d a ciên cia (o u filo so fía) q u e c o n c e r­
D . D is p o siç ã o m o r a l q u e c o n siste em ne às “ p rim eiras c a u s a s ” e a o s “ p rim eiro s
v er a s co isas d o a lto , em e le v a r-se a c im a p rin c íp io s ” , q u e r d iz er, D eu s, a c ria ç ã o ,
d o s in te re sse s in d iv id u a is e, p o r c o n se ­ as su b stân cias, as verd ades et e m as, etc. C f.
g u in te , e m s u p o r ta r co m seren id a d e o s a c i­ o títu lo d a s Meditações d e D E è Tτ 2 I E è :
d e n te s d a v id a . (<E x iste u m a filo so fia q u e “ M e d ita tio n e s d e p r im a p h ilo s o p h ia , in
n o s elev a a c im a d a a m b iç ã o e d a f o r t u ­ q u a D ei e x iste n tia e t a n im a e ím m o rta lita s
n a . ” L τ B2 Z à 2 E , Caracteres, c a p . X I I . d e m o n s tra n tu r.” 2? ed ição : “ ... in q u ib u s
E . D o u tr in a o u siste m a c o n s titu íd o s : D ei ex istentia et an im ae h u m a n a e a co rp o re
“ T e r u m a filo s o fia .” “ A filo so fia d e D es­ d istin ctio d e m o n stra n tu r” ; M ed itaçõ es m e­
c a r te s .” ta fís ic a s ... relativ as à filo so fia p rim e ira ,
F . C o n ju n to d a s d o u trin a s filo só fic a s n a s q u a is a ex istên cia d e D eu s e a d is tin ­
d e u m a é p o c a o u d e u m p a ís . “ A f ilo s o ­ ç ã o re a l q u e existe e n tre a a lm a e o c o rp o
fia g r e g a .” d o h o m e m sã o d e m o n stra d a s (tra d u ç ã o d o
títu lo d a tr . f r a n c ., 1? e d ., 1647).
CRÍTICA B. E m Bτ TÃÇ , re c o lh a d o s p rin c íp io s
E ste s d ife re n te s se n tid o s n ã o se ex ­ fo rm ais co m u n s a to d a s as ciências, o u pelo
c lu e m , a n te s se in te r p e n e tr a m m u tu a ­ m e n o s a v árias. {De dignit., II I, 1, § 4.)

S o b re F ilo so fia p rim eira — C o m p le tad o , n o q u e diz respeito a A ristó teles, de a co rd o


c o m u m a in d ic a ç ã o de L. Robin\ n o q u e c o n ce rn e a H o b b e s , seg u n d o u m a in d ic a çã o
de F. Tõnnies.
“ A filo so fia d a s ciências fu n d a m e n ta is , q u e a p re s e n ta u m siste m a d e con cep çõ es
p o sitiv a s s o b re to d a s as n o ssa s o rd e n s de c o n h e c im e n to s reais, b a s ta p o r isso m esm a
p a r a c o n stitu ir essa filosofia primeira q u e B ac o n p r o c u r a v a ...” A u g . C ÃOI E , Curso
d e fil. pos., 2? lição . O m esm o sen tid o em J . S. M « Â Â q u e em B a c o n , co m reflex õ es
criticas so b re o sen tid o d e sta p a la v ra . Exame da fil. de H am ilton , c a p . X X IV .
407 F IL Ó S O F O

Ho bbe s d á a e s ta e x p re s s ã o um s e n ­ losophiei F . Philosophie populaire.


tid o p ró x im o a o d e B a c o n . A se g u n d a N o m e d a d o a o c o n ju n to de p u b lic a ­
p a r te d o D e Corpore, q u e ele in titu la ç õ e s filo só fic a s “ q u e p re te n d e c o n tin u a r
“ P h ilo s o p h ia p r im a ” , t r a ta : “ D e lo co e t n a A le m a n h a a o b r a d e e m a n c ip a ç ã o in i­
te m p o r e , d e c a u s a e t e ffe c tu , d e e o d e m c ia d a p o r W o lf f , m a s s e p a r a n d o - a d a s
e t d iv e rs o , d e q u a n tita te , e t c .” f o r m a s d id á tic a s e a p r o p r ia n d o - a à c u l­
t u r a s u p e rfic ia l d e u m p ú b lic o m a is ex ­
F ilo s o fia g e ra l E x p re s s ã o fr e q ü e n te -
te n s o ... O s p rin c ip a is re p re s e n ta n te s d a
m e n te u s a d a p o r A u g u s te COMTE, n o
‘filo s o fia p o p u la r ’, d o s q u a is a lg u n s
se n tid o B d a p a la v ra filo so fia; v er n o m e a ­
e r a m , a liá s , p e s s o a lm e n te e s tim a d o s p o r
d a m e n te a 57? liç ã o d o Curso de filo so ­
K a n t, f o r a m M e n d e ls s o h n , J . - J . E n g e l,
f ia positiva. E la to r n o u - s e c o r r e n te , e fo i
A b b t, S u lz e r, G a rv e , F e d e r , e tc .” N ota
a d o ta d a n o e n s in o a p a r t i r d e 1907 (p r o ­
d e V ic to r D e l b o s à tra d u ç ã o d o s Funda­
g r a m a s d e lic e n c ia tu ra ) p a r a d e s ig n a r o
m entos da metafísica dos costumes d e
c o n ju n to d a s q u e stõ e s d e filo s o fia q u e le­
K a n t . (A p a ss a g e m à q u a l se r e p o r ta es­
v a n ta m a p s ic o lo g ia , a ló g ic a , a m o r a l,
t a n o t a é u m c u rio s o e lo g io d a te c n ic id a -
o u a e s té tic a , m a s q u e n ã o p e rte n c e m a o
d e e d a esp ecialização d o tr a b a lh o em m a ­
d o m ín io e sp e c ial d e c a d a u m a d e la s: p o r
té r ia filo s ó fic a . Ibid ., P r e f á c io , § 6.)
e x e m p lo , a n a tu r e z a d o c o n h e c im e n to , as
n o ç õ e s fu n d a m e n ta is q u e e la im p lic a ; o s P h ilo s o p h ia p e re n a is* p leb eia* p h ilo ­
p r o b le m a s c o n c e m e n te s a o U n iv e rs o , a s o p h ia V e r e sta s p a la v r a s .
D e u s , a o E s p írito e a o s e s p ír ito s in d iv i­
d u a is ; a s re la ç õ e s e n tr e a m a té r ia , a v i­ F ilo s o fia d a h is tó r ia , filo s o fia m o r a l,
d a , a c o n sc iê n c ia ; a q u e s tã o d o p ro g r e s ­ filo s o fia n a tu r a l V e r te x to s o b re Filoso­
s o . E s te te r m o p a re c e te r s id o a d o ta d o e fia e a s o b s e rv a ç õ e s .
te r-s e ra p id a m e n te e x p a n d id o p a r a e v ita r
o s e q u ív o c o s d a palavra metafísica e o F I L Ó S O F O G . $iXoVoç>os; D . Philo­
to m d e p re c ia tiv o q u e m u ita s vezes a e la sopha E . Philosophen F . Philosophe ; I.
e s tá lig a d o . Filosofo.
S e g u n d o a tr a d iç ã o m a is d iv u lg a d a
F ilo s o fia d a n a tu r e z a D . Naturphilo-
(r e p o r ta d a p a rtic u la rm e n te p o r C í c e r o ,
sophte; E . P M o so p h y o f nature ; F . Phi-
Tusculanos, V , c a p . I I I , § 7-9, e p o r D i o ­
losophie d e la nature ; I. Filosofia delia
g e n e s L a è r c i o , I, 12, q u e se a p o ia m
natura.
a m b o s n u m a o b r a h o je p e rd id a de H e rá -
A . S in ô n im o d e filo so fia natural
clid es d e P o n to ) , c h a m a v a -s e tro ^ o i, a té
(p o u c o u s a d o em fra n c ê s ).
P itá g o r a s , à q u e le s q u e se o c u p a v a m com
B . Especialm ente: con ju n to das espe­
o c o n h e c im e n to d a s c o isa s d iv in a s e h u ­
cu lações d o idealism o rom ân tico alem ão
m a n a s , a s o rig e n s e as c a u s a s d e to d o s os
em particular de S c h e l l i n g e de H e g e l ,
fa to s . E s te , p o r m o d é s tia , te ria d e c la ra ­
sobre a natureza m aterial.
d o “ a rte m q u id e m se scire n u lla m , sed es­
“ F ilo s o fia p o p u la r ” D . Popular-pki- se p h ilo s o p h u m ” ; e p a r a ex p licar este te r-

S o b re F iló s o f o e F ilo s o fia — E stes d o is a rtig o s f o r a m c o m p le ta d o s s e g u n d o in d i­


c aç õ e s d e J. Lachelier, L. Robin, C. C. J. Webb, D. Parodi e R. Berthelot. J u lg a ­
m o s d e v er c o n s e rv a r n o te x to a o rd e m a n a lític a d o s s e n tid o s , em vez d e a d o ta r a
o rd e m h is tó ric a : v e r-se-á a r a z ã o n a p rim e ir a d a s o b s e rv a ç õ e s q u e se seg u em .
1? Histórico
S ó c ra te s q u a lific a v a a si p r ó p r io c o m o f iló s o fo e n e le a p a la v r a s ig n ific a a m ig o
d a s a b e d o ria , n o s e n tid o m o r a l. A p a la v r a é fre q ü e n te em P la tã o , n o q u a l o seu
F IL Ó S O F O 408

m o n o v o , te n d o c o m p a r a d o a v id a a es­ c a r a m e m d ú v id a a e x a tid ã o d e s ta tr a d i­
sas g ra n d e s fe ira s às q u a is v in h a g e n te d e ç ã o d e q u e H e rá c lid e s d o P o n to lh e s p a ­
to d a a G ré c ia , u n s p a r a c o n c o r re r n o s j o ­ re c e s e r u m a g a r a n tia p o u c o se g u ra .
g o s , o u tr o s p a r a v e n d e r e p a r a c o m p r a r , S e g u n d o R i t t e r e P r e l l e r , in
o u tr o s a in d a p e lo sim p le s p r a z e r d e v e r “ P y th a g o r a m tr ä n s t u lit H e rá c lid e s q u o d
o e s p e tá c u lo , a c re s c e n ta v a : “ Q u i c ete ris e r a t S o c ra tic a e m o d e s tia e p ro p riu m * ’.
o m n ib u s p r o n ih ilo h a b itis , r e r u m n a tu - H ist, philos. Graecae, 7 ! e d . (1 8 8 8 ), §3 ;
r a m s tu d io s e in tu e r e n tu r , h o s se appella · v er P l a t ã o , Fedro , 278 D , e A pologia ,
re sapientiae studiosos; id est en im p h i- 2 0 , 23.
lo s o p h o s .” K2 Z ; (Allgem eines Handw. P o d e -s e c o n s u lta r u tilm e n te s o b re a
der Phil. Wissensch., I I I , 211) e Z e l l e r h is tó ria d e ste te rm o e d a s p a la v ra s d a m es­
(Philosophie der Griechen, I n t r o d ., c a p . m a fa m ília : U e b e r w e g , Grundriss der
I) , a d o ta n d o a s ra z õ e s d e K ru g , c o lo ­ Gesch. derPhilos.y I 10, E in le it., p p . 1-5.

se n tid o é m u ito m a is a m p lo , s e ja p o r q u e P la tã o a ssim a e s te n d e u , s e ja p o r q u e re tiro u


esse se n tid o a m p lo d a E s c o la P ita g ó r ic a , c o n fo rm e à tr a d iç ã o d e H e rá c lid e s d e P o n to .
X e n ó c ra te s, o s ç g u n d o e sc o la rc a d a A c a d e m ia , to m a a p a la v ra n o se n tid o d e P la tã o
e d iv id e a filo so fia em trê s p a rte s: a te o ria d o c o n h e c im e n to ( “ ló g ic a ” ), a filo so fia n a ­
tu r a l ( “ fís ic a ” ) e a ética. E s ta d iv isã o d a filo so fia é a d o ta d a ta m b é m p o r Z e n ã o , c o n ­
te m p o râ n e o d e X e n ó c ra te s, e, n a e s te ira d e Z e n ã o , p o r to d a a e s c o la e stó ica .
A ssim o s e n tid o D e x is tia d e sd e a é p o c a d e S ó c ra te s , e s u b s is te e m tg d a a A n ti­
g u id a d e g r e c o - r o m a n a . O s e n tid o C (1 ? e 2 ? ) e x iste e m P la tã o , u n id o a o s e n tid o D ;
a d is tin ç ã o e n tre a filo s o fia e a c iê n c ia , p e lo m e n o s m a te m á tic a , é n itid a m e n te fe ita
p o r e le , p o r e x e m p lo n a República. P la tã o d á a ss im a e s ta p a la v r a u m a s ig n ific a ç ã o
m e lh o r d e lim ita d a q u e A ris tó te le s , q u e a e s te n d e a to d o o s a b e r r a c io n a l (s e n tid o
A ). A d is tin ç ã o e n tre filo s o fia e h is tó r ia é ta m b é m m u ito n ítid a e m P la tã o e s u b sis te
d e p o is d ele. E m c o n tr a p a r tid a , a d is tin ç ã o n ítid a e n tr e a filo s o fia e a re lig iã o , ta l
c o m o é d e f in id a a c im a n o a r tig o , d a t a s o m e n te d o c ris tia n is m o e d o s P a d r e s d a Ig re ­
j a . A n te r io r m e n te a e ste s, a s re la ç õ e s e n tre a f ilo s o f ia e a re lig iã o s ã o g e ra lm e n te
c o n c e b id a s d e m a n e ira d ife re n te e , a liá s , b a s ta n te v a riá v e l; o r a a re lig ã o é o p o s ta
à filo s o fia a títu lo d e sis te m a d e r ito s , o r a é d e la d is tin g u id a c o m o o b je to d e u m e n si­
n o m is te rio s o re s e rv a d o a in ic ia d o s ; o u tr a s vezes, p e lo c o n tr á r io , a p ie d a d e re lig io ­
sa, n o q u e te m d e esse n cia l, é re d u z id a à filo s o fia ( p o r e x e m p lo em c e r to s d iá lo g o s
s o c rá tic o s d e P la tã o ) .
A d is tin ç ã o precisa e n tre a filo s o fia e a s c iên c ia s d a n a tu r e z a física d a ta a p e n a s
d o fim d o séc. X V III e d o c o m e ç o d o séc. X IX . É p o r v o lta d a m e sm a é p o c a q u e
o s e n tid o B se d ife re n c ia n itid a m e n te d o s e n tid o A . (R . Berthelot )
C h a t e a u b r i a n d escrev e a in d a : “ P o r filo so fia e n te n d e m o s a q u i o e s tu d o d e t o ­
d a a esp écie d e c iê n c ia s .” Gênio do cristianismo (1 8 2 0 ), 3? p a r te , liv ro I I , c a p . I,
q u e te m p o r títu lo : “ A s tr o n o m ia e m a te m á tic a .”
A e x p re s s ã o filosofia da história fo i c r ia d a p o r V o lta ire e im p la n ta d a n a A le m a ­
n h a p o r H e r d e r . E m V o lta ire , a p a la v r a filo s o fia , n e s ta e x p re s s ã o , e ra e n te n d id a n o
s e n tid o B; em Herder, e m a is a in d a e m H e g e l, fo i to m a d a a o m e sm o te m p o n o s e n ti­
d o B e n o s e n tid o C . N a s e x p re ssõ e s filo so fia da religião, filosofia do direito, filo so ­
fia da arte, q u e d a ta m d o c o m e ç o d o séc. X IX , e la fo i to m a d a d e sd e lo g o m a is n o
s e n tid o C q u e n o s e n tid o B: d e s ig n a a re la ç ã o d a a r te , d a r e lig ã o , e tc ., c o m a n a tu r e ­
z a d o e s p írito e c o m o d e s e n v o lv im e n to d o id e al e s p ir itu a l q u e to r n a p o ssív el a ex is­
tê n c ia d e ju íz o s d e v a lo r. (R. Eucken — R . Berthelot )
409 F IL Ó S O F O

A . B . C . A q u e le q u e se o c u p a d a filo - d im e n to o u d e c u ltu r a s u fic ie n te , p u b li­


sofia*\ n o s s e n tid o s A , B , o u C d e s ta c a m s o b re q u e stõ e s filo só fic a s o b ra s sem
p a la v r a . v a lo r o u m e sm o p o r v ezes c o m p le ta m e n ­
E s ta p a la v r a , s o b re tu d o n o se n tid o B, te d e s c o n e x a s , a ssim c o m o n ã o se d á o
te m em g e ra l u m a c o n o ta ç ã o fa v o rá v e l. n o m e d e “ c ie n tis ta ” a o a u to r de u m a d is­
N ã o se c h a m a “ f iló s o f o ” (a in d a q u e ele s e rta ç ã o a b s u r d a s o b re u m a q u e s tã o d e
p r ó p r io se p o s s a c o n s id e ra r c o m o ta l) a físic a o u d e a s tr o n o m ia .
u m desses escrito res q u e , à fa lta d e e n te n ­ D . A q u e le q u e tr a n s p o r ta p a r a a su a

Filosofia das ciências é u m p o u c o p o s te r io r . C re io q u e fo i to m a d a d e sd e lo g o


c la r a m e n te n o s e n tid o B. O seu u so p a re c e te r-s e e s p a lh a d o n a F r a n ç a a tra v é s d o
Essai sur laphiiosophie des Sciences d e A m p è r e (1838), q u e é u m a te n ta tiv a d e c la s s i­
fic a r s is te m a tic a m e n te to d o s o s c o n h e c im e n to s h u m a n o s p o r m e io d e u m a “ c h a v e ”
e x tr a íd a d o e n c a d e a m e n to n e c e ssá rio d o s seu s c o n h e c im e n to s , e n o q u a l fa z c o n sis tir
o c a r á te r filo s ó fic o d a s u a o b r a (v e r p rin c ip a lm e n te o p re fá c io ).
2? Crítica
A id é ia c e n tr a l, e a o m e sm o te m p o o g r a n d e s e n tid o tra d ic io n a l d a p a la v r a filo ­
sofia , p a re c e -m e ser a id é ia d e esforço para um a síntese total. A f ilo s o f ia n ã o se rá
u m a c o n c e p ç ã o d e c o n ju n to d o u n iv e rs o , o u d a u n iv e rs a lid a d e d a s c o isa s, d iz e n d o
re s p e ito a o m e sm o te m p o a o s fe n ô m e n o s e a o e sp írito , m a s n a s s u a s re la ç õ e s m ú ­
tu a s , e a p r e s e n ta n d o as d u a s c a ra c te rís tic a s e sse n cia is de ser u m c o n h e c im e n to a o
m e sm o te m p o u n itá r io e r e fle tid o ? I s to q u e r d izer q u e u m a f ilo s o f ia , e m o p o s iç ã o
à c iê n c ia p u r a , n ã o é n u n c a u m sim p les s a b e r s o b re c e r ta c a te g o ria d e o b je to s o u
d e id é ia s, m a s u m ta l s a b e r a c o m p a n h a d o d e u m r e to r n o c rític o s o b r e si p r ó p r io ,
s o b re a s u a o rig e m , as s u a s c o n d iç õ e s , o se u m é to d o , o s seu s lim ite s , o seu v a lo r;
o q u e n ã o é p o ssív e l sem u m a te n ta tiv a p a r a o s itu a r r e la tiv a m e n te a to d o o re s to
d o s a b e r. (D. Parodi)
A filo s o fia p a re c e -m e se r e s s e n c ia lm e n te , e m e s m o , se q u is e rm o s q u e a p a la v r a
te n h a u m s e n tid o p r ó p r io e p re c is o , e x c lu s iv a m e n te , a m e ta fís ic a ; e a m e ta fís ic a é ,
seg u n d o a d e fin iç ã o d e A ris tó te le s, a ciên cia d o e x isten te e n q u a n to e x iste n te ( t o v o v t o s
i) óv); o u a n te s , u ltr a p a s s a n d o u m p o u c o , re c o n h e ç o -o , o p e n s a m e n to d e A r is tó te ­
le s, a c iê n c ia d a s c o n d iç õ e s a priori d a e x istê n c ia e d a v e r d a d e , a c iê n c ia d a r a z ã o
e d a ra c io n a lid a d e u n iv e rsais, a ciên cia d o p e n s a m e n to e m si p ró p r io e n a s co isas. N ã o
e n tr o , p o r m u ita s ra z õ e s , e m n e n h u m p o r m e n o r ; n o ta r e i a p e n a s q u e e s ta d e fin iç ã o
n ã o im p lica d e m o d o alg u m q u e tu d o s e ja m a te m á tic o e m e c â n ic o , e, p o r c o n se q ü ê n cia ,
v ã o e v a z io , c o m o q u is D e s c a rte s : p e lo c o n tr á r io , n a d a é m a is c o n f o r m e à razão d o
q u e a e x istê n c ia d e u m r e a l, p le n o d e a lg u m m o d o , e im p e n e trá v e l p a r a o entendi­
m ento, d e u m a n a tu r e z a , d e u m a v id a , d e u m a c o n s c iê n c ia sen sív el q u e e v o lu i, p o r
a ssim d iz e r, à s a p a lp a d e la s , in d o d e f o r m a im p rev isív e l a o u t r a f o r m a im p rev isív e l
e c o n tu d o , d a q u a l se re c o n h e c e d e p o is q u e te v e ra z ã o e m e v o lu ir a s s im , q u a n d o se
p e rc e b e q u e e la se e le v o u p e lo a p e r f e iç o a m e n to g r a d u a l d o s ó rg ã o s d e v is ã o e d o m o ­
v im e n to , à in tu iç ã o d a e x te n s ã o , e e m c o n tr a s te c o m e s ta in tu iç ã o , à c o n sc iê n c ia c la ­
r a e r e f le tid a , a o eu. S e rá o e m p iris m o u m a f ilo s o fia ? S im , n o s e n tid o e m q u e c o lo c a
e n ã o p o d e n ã o c o lo c a r a q u e s tã o d a r a c io n a lid a d e u n iv e rs a l; m a s c o m o e le a re so lv e
n e g a tiv a m e n te d e v e s e r c h a m a d o d e filo s o fia n e g a tiv a , o u m e s m o u m a n e g a ç ã o d a
f ilo s o fia . F a r á a p s ic o lo g ia p a r te d a filo s o fia ? N ã o , m a s d e la se a p r o x im a , e n q u a n to
c o n s ta ta , c o m o u m f a to , a e x istê n c ia d a r a z ã o e m n ó s . O p r ó p r io e s tu d o d a se n sib ili­
dade pode ser considerado c o m o u m a introdução à filo so fia , sendo o leito s o b re o
q u a l r e p o u s a d e a lg u m m o d o a r a z ã o ; m a s este e s tu d o fe ito p o r e la n ã o é m a is filo -
F IL Ó S O F O 410

v id a a d isp o siç ã o de e sp irito te ó ric a e p r á ­ 2? N o séc. X V I I I , o g ru p o d o s e sc ri­


tic a d e fin id a n o s e n tid o D d a p a la v r a f i ­ to re s p a r tid á r io s d a r a z ã o , d a s lu zes, d a
losofia. to le râ n c ia , e m a is o u m e n o s h o stis às in s­
E. A q u e le q u e se o c u p a p r o f is s io n a l­titu iç õ e s re lig io sa s e x isten te s (V o l t a i r e ,
m e n te d a filo so fía e n q u a n to p ro fe sso r, es­ D í d e r o t , J . - J . R o u s s e a u , D ’a l e m -
tu d a n te , e tc . E s te u so d a p a la v r a n ã o é b e r t , D ’ h o l b a c h , e tc .) . O s filó s o fo s ,
p r ó p r io d e u m a lin g u a g e m c o r r e ta sen ã o c o m é d ia s a tíric a de P a lis s o t (1 7 6 0 ); " A
q u a n d o im p lic a u m a n u a n c e d e iro n ia . Ig re ja e o$ filó so fo s n o séc. X V I I I ” , o b r a
h is tó ric a d e L a n fre y (1855). D a í q u e , n o s
NOTAS
n o s so s d ia s , e m c e rto s m e io s , o e m p re g o
1. A ex p ressão “ os filó so fo s ” , n o sen ­ d e “ f iló s o f o ” e m lu g a r d e irre lig io so , o u
tid o A , d e sig n o u p a rtic u la rm e n te : p e lo m e n o s d e d e ísta * .
1? N a Id a d e M é d ia , o s a lq u im is ta s . 2. F iló s o fo e m p re g a -se às vezes em
“ O sal, o e n x o fre e o m e rc ú rio d o s f iló ­ fra n c ê s c o m o a d je tiv o . “ U m b ió lo g o
s o f o s . . . ” D a í as e x p re ssõ es “ p e d r a f ilo ­ m u ito f iló s o f o ” (n o s e n tid o B). “ É , c o ­
s o f a l” , “ lâ m p a d a f ilo s ó f ic a ” , etc. m o d iz P la tã o , liv ro II d a Rep.* o a n im a l

s ó fic o d o q u e de q u a lq u e r o u tr a o rd e m d e fe n ô m e n o s . F a r á a m o r a l p a r te d a f ilo s o ­
fia ? N ã o , m a s é o seu p rin c ip a l c o r o lá r io , a m a n e ir a p e la q u a l d e v e m o s c o n c e b e r
e c o n d u z ir a n o s s a v id a d e p e n d e n d o in te ira m e n te d a id é ia q u e fiz e rm o s d a re la ç ã o
d o e s p írito c o m a n a tu r e z a , q u e r de m a n e ira g e ra l, q u e r em p a r tic u la r e m n ó s . F a r á
a ló g ic a p a r te d a filo s o fia ? C e r ta m e n te q u e n ã o ; m a s p o d e -se d iz er q u e a ló g ic a c o n ­
c e b id a à m a n e ira d e A ris tó te le s , a s ilo g ís tic a , s u p õ e a re a lid a d e d o s g ê n e ro s e d a s
esp écies, c o m p re e n d id a n a d a n a tu r e z a . P o d e r - s e - á d iz e r: a filo s o fia d e u m a a r te ,
de u m a c iê n c ia p a rtic u la r? Se se e n te n d e r p o r isso u m e s fo rç o p a r a compreender o
o b je to d e s ta a r te o u d e s ta c iê n c ia , e n q u a n to p e n e tr a d a , p o r seu la d o , p e la ra c io n a li­
d a d e u n iv e rs a l. É ser filó s o fo c o n s id e ra r to d a s as c o isa s c o m c a lm a , e n c a ra r os m a ­
les d a v id a c o m p a c iê n c ia ? S im , se e ssa p a c iê n c ia f o r f u n d a d a s o b re o s e n tim e n to
m a is o u m e n o s o b s c u ro q u e se te m d a r a c io n a lid a d e u n iv e rs a l. Q u a n to às re la ç õ e s
e n tre filo s o fia e re lig iã o , é e m S ch ellin g (n ã o e m V o lta ire ) q u e é p re c is o p ro c u rá -la s .
É o o fíc io d a filo s o fia tu d o compreender , m e sm o a re lig iã o . (X Lachelier )
N e ste c o n c e ito , d o is e le m e n to s d is tin to s e s o lid á rio s p a re c e m s e m p re im p lic a d o s:
c o n h e c im e n to e s p e c u la tiv o d a v e rd a d e v e rd a d e ir a , s o lu ç ã o p r á tic a e s e g u ra d o p r o ­
b le m a d a d e s tin a ç ã o h u m a n a , n u m a p a la v r a : re g ra d e v id a e d e c a r á te r f u n d a d a s o ­
b re u m a c e rte z a p e n s a d a , s o b re u m f u n d o d e r e a lid a d e tã o a d e q u a d a m e n te c o n h e c i­
d o e tã o re s o lu ta m e n te e n c a r a d o q u a n to p o ssív el. E o p ro b le m a ú ltim o q u e r e s u lta
d e s ta d u a lid a d e e d e s ta s o lid a rie d a d e é a q u e s tã o d e s a b e r se a u n id a d e o u , p o r a ssim
d iz e r, a h o m o g e n e id a d e d o c o n h e c im e n to e d a a ç ã o p o d e ser o b tid a p e la filo s o fia
o u , se n ã o , s a b e r em q u e c o n d iç õ e s e la o p o d e s e r; p o r q u e n ó s te n d e m o s in v e n c iv e l­
m e n te p a r a e s ta to ta liz a ç ã o d a v e rd a d e in te g r a d a e m n ó s , assim c o m o p a r a a a d a p ta ­
ç ã o s a lu ta r d o n o s s o ser a o S er. (M. Blondel)
A filo s o fia e s tu d a o e s p ír ito , n ã o s o m e n te e n q u a n to ele se d is tin g u e d o s seu s o b ­
je to s , m a s a in d a e n q u a n to ele é u m e le m e n to c o n s titu tiv o d o u n iv e rs o . E n q u a n to
q u e a c iên c ia te m p o r o b je to a re a lid a d e e n q u a n to m a te ria l (é p o r isso q u e a c iên cia
te n d e p a r a as m a te m á tic a s , q u e s ã o a c iê n c ia d a m a té r ia p u r a o u , p e lo m e n o s, d o
e sp a ç o ), a filo s o fia te m p o r o b je to a re a lid a d e e n q u a n to e s p irito . A p a rte m a is e le v a ­
d a d a filo s o fia , c o m o d izia A ris tó te le s , é u m a “ te o lo g ia ” ; o seu o b je to n ã o é o u tro
s e n ã o o E s p írito a b s o lu to , D e u s. ( C h. Werner)
411 F IM

m ais filó so fo d o m u n d o (o c ã o ) .” R a b e - fronteira o u limite'. “ Fines, as f r o n te i­


LAIS, p ró lo g o d e Gargântua. A p assag em r a s . ” D a í a série d o s seg u in te s s e n tid o s:
d e P la tã o d e q u e se t r a t a e n c o n tr a - s e e m 1? , a c e ssa ç ã o , o te r m o , o p o n to o n d e se
375 E ss. «htXooopos é aí to m a d o c o m o p a r a ; 2? , a c a b a m e n to , e p o r c o n se q ü ê n -
s in ô n im o d e ^iX ojratb js, c u rio s o , d e s e jo ­ c ia a p e rfe iç ã o d a q u ilo q u e se p r e te n d ia
so d e c o n h e c e r. M a s é d ifíc il le v ar a sério re a liz a r; 3 ? , a p r ó p r ia c o isa q u e se p r e ­
0 a rg u m e n to s o b re o q u a l S ó c ra te s a p ó ia te n d e re a liz a r , o o b je tiv o ; 4 ? , a id é ia d o
e sta a firm a ç ã o . o b je tiv o , a in te n ç ã o ; 5 ?, o se n tid o p a r a
Rad. int .: F ilo z o f . o q u a l u m a te n d ê n c ia se d irig e . E ( p o r
FIM G. í XÃè n o s d o is s e n tid o s ; t ò
I
u m a d e riv a ç ã o la te ra l a p a r tir d a id é ia d e
01 I ú ê 7T3 n o s e n tid o B; L . Finis; D . A . o b je tiv o ) 6? , o destino* o u destinação*
Ende; B . Zweck, Endzweck ; E . End, pur- d e u m ser.
pose; F . Fin; I. Fine. N a c o n tin u id a d e d e ste s s e n tid o s ,
Finis sig n ific a p ro p r ia m e n te em la tim p o d e m -s e d is tin g u ir d o is g ru p o s p rin c i-

S o b re F im , F in a l, F in a lis m o , F in a lid a d e — T o d o s estes a rtig o s fo r a m c o m p le ta ­


m e n te re e la b o r a d o s de a c o r d o c o m a s o b s e rv a ç õ e s re c e b id a s e c o m a d is c u s s ã o d a
sessão de 21 d e ju n h o d e 1906. O s m e m b ro s d a S o c ie d a d e q u e e s ta v a m p re s e n te s e
v á rio s c o rre s p o n d e n te s e x p rim ira m o d e se jo d e q u e to d o s esses a r tig o s fo sse m re u n i­
d o s n u m só , A c o m p le x id a d e d o s s e n tid o s q u e e x p rim e m n ã o m e p e rm itiu fa z ê-lo ,
m a s re u n i n u m a só to d a s as c rític a s re la tiv a s a o s d iv e rso s se n tid o s d a s p a la v ra s Fim,
Causa final, Finalidade ; p o d e r-s e -á e n c o n tr a r n e ste ú ltim o a r tig o . (A. L .)
S o b re F im — O p ro f e s s o r Eucken a s s in a lo u -n o s a e x istê n c ia d e u m a in te re s s a n te
a n á lise d o s d ife re n te s s e n tid o s d a p a la v r a Finis e m S. T o m á s d e A q u i n o , em
SCHÜTZ, Thomas-Lexicon, 2? e d iç ã o , p p . 311 ss. E is a q u i o re s u m o :
Finis: A . L im ite o u te rm in a ç ã o : “ A n im a h u m a n a fin e m essen d i n o n h a b e t.” S um -
ma contra Gentiles, I I , 83. B. D e fin iç ã o : “ F in is q u a n tu m a d e s s e n tia m .” In lib. Sen -
tent., I, 4 3 , 1. C . P e rf e iç ã o : “ Q u o d est o p tim u m in u n o q u o q u e e s t fin is e ju s .” In
lib. de Som no, 4 e. D . O b je tiv o , q u e r o d e u m a a ç ã o in te lig e n te : “ F in is n ih il a liu d
est q u a m illu d c u ju s g r a tia a lia f i u n t . ” In Ethicam , I, 9 a ; q u e r o d e u m a te n d ê n c ia
ceg a: “ H o c d ic im u s esse fin e m in q u o d te n d it ím p e tu s a g e n tis .” S. c. Gentiles, I I I ,
2. P o d e m -s e d is tin g u ir c o m o su b d iv isõ e s d e s te ú ltim o s e n tid o (p o r e n tr e to d a s as d is ­
tin ç õ e s in d ic a d a s p o r S c h ü t z , m u ita s d a s q u a is c o n s titu e m a p e n a s re fe rê n c ia s a c e s ­
s ó r ia s , ta is c o m o fin is bônus e fin is malus, fin is com m unis e fin is proprius ): Finis
agentis, o o b je tiv o d o ser q u e a g e, p o r e x e m p lo , o g a n h o d o a r q u ite to ; e Finis operis,
o o b je tiv o d o seu a to , p o r e x e m p lo , a c a s a q u e ele c o n s tr ó i; Finis exterior e fin is
interior; Finis ultim us e fin is proxim us.
C f. ig u a lm e n te em G o c l e n i u s (Lexicón p h il., 583 A ) o s e g u in te re s u m o d a s d i­
fe re n ç a s d e s e n tid o d a p a la v r a finis: “ Finis: I ? , e s t te r m in a n s re m : ita lim es fin is
a g ri; 2 ? , est in te r itu s , id est u ltim a p a rs re i p e n e a b s u m p ta e ; 3 ? , id e m est q u o d p e r-
fe c tio re i; 4 ? , est fin is in te n tio n is , a d q u e m e ffic ie n s o r d in a tu r , e t q u í m o v e t e ffic ie n -
te m a d a g e n d u m . Zabarella: F in is c u ju s q u e p a rtis e st o p e r a d o p r ó p r ia et p ro p r iu m
m u n u s . Albertus Magnus: F in is est c u ju s c a u s a fit o m e n e q u o d fit. Thomas : F in is
n o n est p rin c ip iu m , nisi u t est in in te n tio n e m o v e n tis , e tc .; 5 ?, fin is κ α τ ' ί ξ ο χ ijv d ici-
tu r , in q u e m re liq u i fin es d e s tin a n tu r .” N o ta r-s e -á q u e to d o s estes s e n tid o s p e r m a ­
n e c e ra m em u s o n a p a la v r a fim , salv o o te rc e iro , q u e se c o n se rv o u n a p a la v r a fin ito .
(A. L.)
F IM 412

p a is , ao s q u a is c o rre s p o n d e m , a liá s , te r ­ “ R ein o d o s f in s ” D . Reich der Zwec-


m o s d ife re n te s n a s d iv e rsa s lín g u a s: ke, o p o s to a reino da natureza (Reich der
A . (o p o sto a começo ) C essaç ã o d e um Natur). K a n t , Grundlegung zur M et ,
fe n ô m e n o n o te m p o ; lim ite d e u m o b je ­ der Siíten, s e g u n d a s e ç ã o , e sp . § 9 7 -1 1 1 .
to n o e sp a ç o , m a s a p e n a s q u a n d o se s u ­ K a n t e n te n d e p o r Reino {Reich) “ a
p õ e e ste o b je to p e r c o r r id o de ta l m a n e i­ lig ação siste m á tic a d o s seres razo áv eis p o r
r a q u e o lim ite em q u e s tã o se ja u m últi­ leis o b je tiv a s c o m u n s ” . O r a , os seres r a ­
mo elem en to de p erc ep ç ão : “ O fim de u m zo áv e is s ã o , p e la su a r a z ã o , seres c a p a z e s
liv r o .”
d e se d a re m fin s ; e, p e lo c a r á te r in c o n d i-
B . (o p o s to a meio ) A q u ilo p a r a q u e
c io n a d o d essa m esm a ra z ã o , serem fin s em
a lg u m a c o isa existe o u se fa z : o b je tiv o ,
si*. A ssim , p o d e d izer-se “ re in o d o s f in s ”
in te n ç ão , se n tid o p a ra o q u a l u m a te n d ê n ­
d o s iste m a q u e c o m p re e n d e so b u m a m e s­
cia é d irig id a .
m a le g isla ç ã o os fin s d o s seres ra z o á v e is ,
“Fim em si” ( Zweck an sich, K a n t ) q u e s ã o eles p r ó p r io s fin s e m si, assim c o ­
opõe-se sim ultaneam ente a fim subjetivo m o os fin s q u e estes seres se p o d e m p r o ­
e a fim relativo: o fim em si é fim objeti­ p o r , c o m a c o n d iç ã o d e re s p e ita r e m si
vo, necessário, por o p o siçã o aos fins sub­ m e sm o s e n o s seus se m e lh a n te s a d ig n i­
jetivos ou individuais que um a vontade d a d e d e serem fin s e m si. N e s ta q u a lid a ­
pode propor-se a si própria sem lhe atri­ d e d e fim em si, q u a lq u e r ser ra z o á v e l d e ­
buir valor universal; é fim absoluto, incon­
ve c o n sid e ra r-se ta m b é m c o m o o a u to r d a
dicional, por op o siçã o aos fins relativos
leg islação q u e g o v e rn a o “ re in o d o s fin s ’ ’
ou interm ediários que retiram o seu cará­
(P rin c íp io d a a u to n o m ia ) . E s ta f ó r m u la
ter de fim ao fato de serem m eios de um
ap lic a-se , p o r ta n to , a trê s o b je to s : 1? , ao s
outro fim m ais elevado. A ssim o hom em ,
seres ra z o á v e is c o m o fin s em si; 2?, a o s
enquanto ser concreto, pode ser m eio de
fins o b je tiv o s q u e estes seres se devem p r o ­
diversos fins e propor-se fins variáveis; mas
a natureza racional realizada no hom em , p o r , seu s d e v eres; 3 ? , a o s fin s q u e to d o
“existe co m o fim em si, quer dizer, possui s e r ra z o á v e l pode p ro p o r -s e , c o m a c o n ­
esse valor absoluto que é necessário c o lo ­ d iç ã o d e r e s p e ita r a lei m o ra l.
car em algum lugar para que exista um O re in o d o s fins é a p e n a s u m id e a l,
princípio prático supremo”, D e l b o s , Phi- m a s u m ideal p rá tic o , q u e r dizer, p o d e ser
losophie pratique de Kant, p. 372. re a liz a d o p e la lib e rd a d e .

F o m o s le v a d o s a u n ir os s e n tid o s A e B n a p a la v r a fim p o rq u e a q u ilo q u e c o n s ti­


tu i o o b je tiv o d a a ç ã o é a o m e sm o te m p o o seu te r m o . A id e n tific a ç ã o g re g a d as
id é ia s de lim ita ç ã o e de p e rfe iç ã o n a p a la v r a réX os p a re c e te r p o r o rig e m a d o u tr in a
p ita g ó ric a , e ss e n c ia lm e n te f in itis ta , p a r a q u e m a p e rfe iç ã o c o n sis te em d e fin ir, n o
in fin ito , u m xoono s, u m m u n d o h a rm ô n ic o e lim ita d o . (R. Berthelot )
O s s e n tid o s d e termo e de objetivo e stã o p sic o lo g ic a m e n te lig a d o s u m a o o u tr o ;
q u e r p o r q u e em p re s e n ç a de u m to d o a c a b a d o (d e u m a co isa lim ita d a n o e sp a ç o o u
d e u m p ro c e s s o te rm in a d o n a d u r a ç ã o ) o d in a m is m o n a tu r a l d a c o n sc iê n c ia p o d e
m a is fa c ilm e n te introduzir s o b u m a f o r m a p re c is a a n o ç ã o d e u m o b je tiv o d e ssa c o i­
sa o u desse p ro c e s s o ; q u e r p o r q u e e sta n o ç ã o d e o b je tiv o , m e sm o a p lic a d a p e la im a ­
g in a ç ã o à q u ilo q u e n ã o é d a d o c o m o a tu a lm e n te te r m in a d o , in tr o d u z d e a lg u m a m a ­
n e ir a a í a id é ia d e u m lim ite fu tu r o . E m to d o c a s o , é p re c isa m e n te a c o e x is tê n c ia
e a m ú tu a p e n e tr a ç ã o n a c o n sc iê n c ia d a r e p r e s e n ta ç ã o e s tá tic a e d o d in a m is m o q u e
e x p lic a a c o e x istê n c ia e a im p e rfe ita s e p a ra ç ã o d o s d o is s e n tid o s d a p a la v r a fim . (M .
Bernès)
413 F IN A L

CRÍTIC A sa fin a l d o s im p o s to s é a n e ce ssid a d e de


a ss e g u ra r os serv iço s p ú b lic o s .’’ E m p re ­
P a r a a discu ssão das d iv ersas acepções
g a-se e s ta p a la v ra m u ito fre q u e n te m e n te
d a p a la v r a fim , n o s e n tid o B, v er a c ríti­
c o m o s in ô n im o de fim * . P a r a a c rític a de
ca d e Finalidade.
u m a e de o u tr a , ver Finalidade.
Rad. int.: A . F in ; B . C el (Boirac).
A e x p re ssã o p lu ra l as causas fin a is
aplica-se n o rm a lm e n te a u m p la n o d o u n i­
F IN A L D . A . Letzt, Endlich (q u er d i­
z er ig u a lm e n te finito); E . Last, fin a l ; B. v e rso q u e rev ela a e x istên c ia de u m a p e r ­
Final, raro; F . Final; I. Finale. s o n a lid a d e s u p e rio r q u e é o seu a r q u ite ­
A . O p o s to a inicial. Q u e d iz re sp e ito to . “ ... É p re c iso o b s e r v a r o s fe n ô m e n o s
o u c o n s titu i u m fim * n o s e n tid o A : ú lti­ sem q u a lq u e r fito de o s fa z e r e n tr a r n u m
m o . Objetivo final, aq u ele q u e n ã o é m eio p la n o c o n c e b id o p re v ia m e n te , h o n r a n d o
e m re la ç ã o a q u a lq u e r o u tr o fim u lte rio r. te m e ra ria m e n te o a u to r d a n a tu re z a . M as
B . O p o s to a eficiente , p o r vezes a m e ­ q u a n d o o s fa to s q u e e s tu d a m o s e s c ru p u ­
c â n ic o . Q u e a p re s e n ta u m a fin a lid a d e * . lo s a m e n te c o n s p ira m e v id e n te m e n te p a ­
Causa fin a l (L . e s c . Causa finalis; r a u m o b je tiv o ú n ic o , q u a n d o os v e m o s
e n c o n tra -s e já e m A ζ Â τ 2 á Ã , p a rtic u la r­
E d is p o s to s c o m o rd e m , c o m in te lig ê n c ia ,
Dialogas ínter Philosophum Ju-
m e n te c o m p re v id ê n c ia p a r a a s n ece ssid a d e s e
daeum et Christianum). R . E Z T 3 Ç . E p a r a o b e m d e c a d a ser, c o m o n o s re c u ­
O q u e e x p lic a u m f a to m o s tra n d o -o s a r m o s a c re r n a e x istê n c ia de u m a c a u s a
c o m o m eio d e u m fim . E x e m p lo : “ A c a u ­ in te lig e n te e s o b e ra m e n te b o a ? ” F 2 τ T 3 ,

S o b re F in a l — P r o p u s n a p rim e ira r e d a ç ã o d e ste a rtig o re d u z ir o s e n tid o d e cau­


sa fin a l à q u ilo q u e o s e sc o lá stic o s c h a m a v a m o ser intencional d a c a u s a fin a l, q u e r
d iz e r, a su a e x istên c ia id e a l n a te n d ê n c ia , a n e c e ssid a d e o u a id é ia . M as e sta p r o p o s ­
ta fo i q u a s e u n a n im e m e n te r e je ita d a , s o b re tu d o p o rq u e a c a u s a fin a l n ã o d ife rir ia
e n tã o d a c a u s a e fic ie n te . (7. Lachelier, Pécaut — Goblot) D ife riria p e lo m e n o s t a n ­
to , p a re c e -m e , q u a n to a esp écie d ife re d o g ê n e ro . E é isso q u e ju s tif ic a r ia o e m p re g o
d a p a la v r a causa n e ssa f ó r m u la (c a u sa q u e ag e p a r a u m o b je tiv o ). Se f o r to m a d a
de o u tr a m a n e ira , causa já n ã o s ig n ific a n a d a , n e ssa e x p re ss ã o , d a q u ilo q u e sig n ific a
n a lin g u a g e m filo s ó fic a m o d e rn a . E c o m o só m u ito d ific ilm e n te se p o d e a p a g a r d o
e s p írito e sta sig n ific a ç ã o a tu a l, causa fin a l , n o s e n tid o de fim , c o n s titu i u m a fo n te
c o n s ta n te de m a l-e n te n d id o s . (A. L .)
M as n ã o se p o d e ria d e fin ir c a u s a fin a l in d e p e n d e n te m e n te de q u a lq u e r te o ria :
“ A c a u s a q u e p r o d u z o s m e io s d a s u a p r ó p r ia r e a liz a ç ã o ? ” Se a h a b ita ç ã o o u a lo c a ­
ç ã o são c au sa s fin a is d a c a s a , a c asa é m e io d a h a b ita ç ã o o u d a lo c a ç ã o . O s c o n ce ito s
de causa fin a l e d e causa de si p a re c e m -m e m u ito p ró x im o s , o s e g u n d o a p e n a s u m
p o u c o m ais fo rm a l d o q u e o p rim e ir o . (F. Pécaut)
C o m o é q u e a q u ilo q u e a in d a n ã o e stá re a liz a d o p o d e , a p a r tir d a í, d e te rm in a r
e fe ito s? U m a s o lu ç ã o p a r a este p ro b le m a c o n siste em q u e a re p re s e n ta ç ã o d o o b je ti­
v o e s tá c o n tid a n a c a u s a e fic ie n te ; m a s n ã o se d ev e c o n fu n d ir p o r isso a c a u s a e fi­
c ien te co m a c a u s a fin a l e a trib u ir -lh e o seu n o m e . U m a o u tr a s o lu ç ã o c o n siste em
a d m itir a e x istên c ia de u m a a tr a ç ã o , p o r e x e m p lo d o id e a l so b re o re a l, o u , o q u e
c o rre s p o n d e q u a s e à m e sm a c o isa , u m a te n d ê n c ia d o re a l p a ra o id e a l, u m a esp écie
de a ç ã o à d is tâ n c ia n o te m p o . N e ste s e n tid o , a c a u s a fin a l é, de f a to , u m te rm o p o r
v ir; a fin a lid a d e é o fu tu r o c a p a z de d e te r m in a r o p a s s a d o . E q u iv a le s u p rim ir a f in a ­
lid a d e c o lo c a r a c a u sa fin a l n a o rig e m d a série, p o rq u e e sta já n ã o é a p a r tir d a í m ais
d o q u e u m a c a u s a e fic ie n te . (E . Goblot)
F IN A L ID A D E 414

“ C au sa s fin a is ” , Dict. d essc. philos., 254 F I N A L I D A D E D . Zweckmässigkeit,


B. A o b r a de P a u l Ja n et , L es causes fi- Finalität ; E . Finality, r a r o ; n o s e n tid o A ,
nales, d is so c ia e m p rim e ir o lu g a r lo g ic a ­ purposiveness; F . Finalité; I. Finalità.
m e n te as d u a s c o n c e p ç õ e s , m a s p a r a e m A . F a to d e te n d e r p a r a u m o b je tiv o ;
s e g u id a a s r e u n ir . “ A e x is tê n c ia d o s fin s c a r a c te rís tic a d a q u ilo q u e te n d e p a r a u m
n a n a tu re z a ( d e m o n s tra d a n o p rim e iro li­ o b je tiv o , a d a p ta ç ã o d o s m e io s a o s fin s.
v ro ) e q u iv a le rá à e x istê n c ia d e u m a c a u ­ B . A d a p ta ç ã o d a s p a r te s a u m to d o ,
o u d a s p a rte s d e u m to d o u m a s às o u tra s .
sa s u p re m a , e x te r io r à n a tu r e z a e p e rse ­
Finalidade externa , a q u e la q u e te m
g u in d o esses fin s c o m c o n sc iê n c ia e re fle ­
p o r fim u m se r q u e n ã o o q u e é ( to ta l o u
x ã o ? ” (ibid,, 2 4 5 ). É o o b je to d o s e g u n ­
p a rc ia lm e n te ) u m m e io p a r a re a liz a r esse
d o liv ro d a o b r a i n titu la d a : A causa p ri­
f im (e x .: o h o m e m e o v e s tu á rio ) . Finali­
meira da finalidade. dade interna, a q u e la q u e te m c o m o fim
E m c o n s e q ü ê n c ia d o a n tr o p o c e n tr is - o p r ó p r io s e r c u ja s p a r te s s ã o c o n s id e ra ­
m o p r o f e s s a d o p o r m u ito s d o s p a r tid á ­ d a s c o m o m e io (ex .: o r g a n is m o a n im a l,
r io s d a s c a u s a s fin a is , o s d o is s e n tid o s o b r a d e a r te ) .
d e s ta e x p re ss ã o f o r a m fr e q u e n te m e n te Finalidade imanente, a q u e la q u e r e ­
c o n f u n d id o s . s u lta d a n a tu r e z a e d o d e s e n v o lv im e n to
Rad. int.: A . F in ; B . C e l (Boirac). d o p r ó p r io se r q u e a p r e s e n ta e s ta fin a li-

A c h o q u e essas d u a s s o lu ç õ e s re tir a m ig u a lm e n te o c a r á te r d e “ c a u s a ” a o o b je ti­


v o e n q u a n to o b je tiv o , n a m e d id a em q u e n o s d o is c a s o s a q u ilo q u e a g e é a represen­
tação d o o b je tiv o , o u o d e s e jo de o a lc a n ç a r ; e s ta r e p re s e n ta ç ã o o u e ste d e se jo n ã o
a g e m m e n o s , e s e g u n d o u m m o d o in te n c io n a l, “ f in a lis ta ” m e s m o q u a n d o a a ç ã o
f r a c a s s a , de m o d o q u e o o b je tiv o n ã o é n u n c a re a liz a d o . E m q u e é, p o is , q u e “ o
f u tu r o d e te r m in a o p a s s a d o ” ? U m h o m e m a tir a a o a lv o e f a lh a . A tin g ir o a lv o n ã o
c o n s titu i a c a u s a fin a l d a s u a a titu d e e d o s seu s m o v im e n to s ? O r a , o alvo atingido
n ã o e x iste e n u n c a e x is tirá re la tiv a m e n te a o a to d e a tir a r essa ú n ic a b a la . M a s o a lv o
e x iste, e te ria c o n s titu íd o ele a c a u s a fin a l? N ã o , p o r q u e o fim d a a ç ã o n ã o e r a a
e x istê n c ia d o a lv o , o u a p o s iç ã o d o a lv o , co isas d a d a s j á a n te r io r m e n te e q u e d e p o is
n ã o f o r a m re a liz a d a s . E r a o alvo atingido , o a lv o p e r f u r a d o p o r u m a b a la , q u e n ã o
fo i n e m s e r á , e q u e p o r c o n s e q ü ê n c ia n ã o p ô d e s e r, em n e n h u m s e n tid o , c a u s a d a
s u a própria re a liz a ç ã o . O c o n c e ito d e c a u s a fin a l, se f o r d e fin id o c o m o causa sui,
e n v o lv e , p o is , u m a c o n f u s ã o d o o b je tiv o v isa d o c o m o o b je tiv o a tin g id o , e d e s a p a ­
re c e q u a n d o e la é d is s ip a d a . P a re c e -m e q u e M . G oblot c o n c lu i n e ste s e n tid o , p o r q u e
a c re s c e n ta : “ É e ssa a c o n c e p ç ã o c o m u m d e c a u s a fin a l. É p re c is a m e n te p o rq u e ela
n ã o re siste à c rític a q u e ta n to s c ie n tis ta s , a e x e m p lo d e B a c o n , se e s f o rç a m p o r a
b a n ir d a c iê n c ia .” S o b re o s e n tid o a c e itá v e l q u e se p o d e r ia d a r à p a la v r a finalidade,
s e g u n d o M . G o b l o t , v e r a b a ix o o a r tig o Finalidade, a c rític a e , n a R evue philoso-
phique, o a r tig o d o m e sm o a u to r in titu la d o : “ F u n ç ã o e f in a lid a d e ” (1899, I, 495,
e I I , 6 3 2 ). (A. L .)

S o b re F in a lid a d e (v e r a c im a , p rim e ir a o b s e r v a ç ã o s o b re o a r tig o Fim).


A Crítica q u e a c im a f ig u r a é u m a re d a ç ã o in te ira m e n te re m o d e la d a p a r a a p u b li­
c a ç ã o d e ste a r tig o n o B o le tim d a S o c ie d a d e , e m 1906, n o q u a l se te n to u d a r c o n ta
d e tu d o a q u ilo q u e se d isse n o d e c u rs o d a d is c u s s ã o . E s ta re d a ç ã o te m p o r b a se u m a
c o m u n ic a ç ã o b a s ta n te e x te n s a d e F. Rauh, q u e d e v e r ia te r f ig u r a d o n e sse m e sm o lu ­
g a r: m a s o a lc a n c e d e sta c o m u n ic a ç ã o e a c la re z a q u e e la p r o d u z , p e la d is tin ç ã o n íti­
d a d o s d ife re n te s e m p re g o s d a p a la v r a finalidade, p a re c e m ra z õ e s s u fic ie n te s p a r a a
415 F IN A L ID A D E

d a d e (ex .: a d a p ta ç ã o e s p o n tâ n e a d o ser de órgãos a condições que não podem tê-


vivo a o seu m e io ). Finalidade transcen­ los produzido elas próprias a título de
dente, a q u e la q u e é realizad a n u m ser p ela causas eficientes. E, nesse caso, a finali­
a ç ã o q u e s o b re ele ex erce u m o u tr o ser dade pode ser concebida de três m anei­
c o m v ista a o fim c o n s id e ra d o (ex .: sele­ ras diferentes:
ç ã o a rtific ia l, c ria ç ã o d e g a d o ). a) D e um a m aneira puram ente antro­
pom órfica e consciente, com o a obra de
CR ÍTICA um a inteligência divina, ou pelo m enos
dem iúrgica, com binando e prevendo as
A q u ilo a q u e se c h a m a fin a lid a d e é ,
coisas à m aneira de um artista ou de um
em p rim e iro lu g a r, n o sen tid o m ais u su al
e m ais f u n d a m e n ta l, o p ro c e sso de q u e
artesão.
te m o s u m ex em p lo n a ativ id a d e c o n scien ­ b) D e u m a m a n e ira a in d a a n tr o p o ­
te d o h o m e m q u e c o n c e b e u m a c o isa f u ­ m ó rf ic a , m a s co m b a se n o m o d e lo d a
tu ra c o m o possível e d ep en d e n te dele, q ue n o s sa a tiv id a d e in c o n sc ie n te , ta l c o m o
p a r a isso te n d e p elo d e se jo e p e la v o n ta ­ a cim a a d e fin im o s , q u e r d iz e r, d e u m a
d e , e se e s f o rç a p e la su a re a liz a ç ã o . P o r v o n ta d e o b s c u r a q u e p r o c u r a re a liza r-se
e x te n s ã o , a p lic a -se e sta p a la v r a a tu d o c o m a a ju d a d e u m a in te lig ê n c ia m ais o u
a q u ilo em q u e se p e n s a e n c o n tr a r , m es­ m e n o s c o n fu s a d o s seu s in te re sse s, s o b o
m o f o r a d o te m p o , c a ra c te rís tic a s a n á lo ­ e stím u lo d e u m a im a g e m q u e o c a s io n a o
g as às d esse p ro c e sso : seu e x ercíc io . É d e ste te o r a d o u tr in a d o s
I. E m p rim e iro lu g a r, é a p lic a d a à q u i­ n e o v íta lista s , p o r e x em p lo , d e J . R « Ç3
E E

lo q u e c o m p o rta u m o b je tiv o , q u e r dizer: (Die Welt ais ThaV, c f. c o m u n ic a ç ã o a o


1 À p ró p ria ativ id ad e h u m a n a , q u a n ­ co n g resso d e G e n e b ra , 1904, e d iscu ssão ).
d o tu d o se p a s s a c o m o n o s c a s o s em q u e O p r ó p r io D τ 2 ç « Ç p a re c e a d m itir, em
h á d e se jo c o n sc ie n te e a n te c ip a ç ã o d o f u ­ certo s casos, u m a inteligência c o n fu s a q u e
tu r o p elas id é ia s, m a s sem q u e esse d e se ­ a esp écie p o s s u iria d o s seus in te re sse s. É
jo o u essas idéias e stejam c la ra m e n te p re ­ nesses d o is p rim eiro s s e n tid o s q u e a fin a ­
sen tes n a c o n sc iê n c ia . A c o n te c e , p o r lid a d e p o d e ser d e fin id a c o m o a causali­
ex em p lo , q u e o in s tin to , o interesse, a p a i­ dade da idéia .
x ã o p õ e m em m o v im e n to to d o u m siste ­ c) M a s ex iste u m a o u tr a n o ç ã o de fi­
m a de ju íz o s e ra c io c ín io s n ã o c o n sc ie n ­ n a lid a d e e n tre o s b ió lo g o s c o n te m p o râ ­
te s, pelo s q u a is a lc a n ç a m os seus fin s, a l­ n eo s: é a id é ia de u m a direção psíquica
g u m a s vezes g ra ç a s a a ta lh o s d e u m a en - sem m ais. E xistem ten d ên cias, o u m elh o r,
g e n h o sid a d e ig u a l o u s u p e r io r à d a a ç ã o n ece ssid a d e s dirigidas, j á q u e são is to o u
c o n sc ie n te . a q u ilo , m a s q u e n ã o p o s s u e m as a stú c ia s
2? A o s fa to s d a n a tu re z a , q u a n d o n e ­ d a p a ix ã o o u d o “ G ê n io d a esp é c ie ” .
les p e rc e b e m o s a d a p ta ç õ e s d e f a to s p r e ­ A tu a m c o m o f o r ç a s , f o r te s o u fra c a s se­
sen tes a c o n d iç õ e s f u tu r a s , a d a p ta ç õ e s g u n d o as fo rças q u e aí s*e o p õ em , m as sem

in tr o d u z ir n o p r ó p r io te x to . P a r a o fa z e r, tiv e de m o d if ic a r a lg u m a c o isa n a s u a f o r ­
m a e c o m p le tá -la e m a lg u n s p o n to s , c o m o a liá s o a u to r m e h a v ia a u to r iz a d o . I n d i­
q u e i p a r tic u la r m e n te a re la ç ã o s e m â n tic a q u e m e p a re c e e x istir e n tre o se n tid o A e
o s e n tid o B , a c e rc a d o s q u a is Rauh c o n s id e ra v a s o b r e tu d o a o p o s iç ã o (p o n to d e v is­
t a d in â m ic o , p o n to d e v ista e s tá tic o ). E le p r o p õ e q u e n ã o se e m p re g u e fim , finalida­
de\ causa fin a l s e n ã o n o s e n tid o A , “ in s is tin d o n o u s o h is tó ric o d e ste s te rm o s n a
filo so fia c lá ssic a , q u e o filó s o fo a tu a l deve te r p re s e n te a o e s p irito p a r a se r e c o r d a r
q u e p o d e h a v e r siste m a sem q u e e x ista fin a lid a d e n o p rim e iro s e n tid o ” .
O q u e d iz re s p e ito à re la ç ã o d e fin a lid a d e te m p o r a l e fin a lid a d e in te m p o ra l em
K a n t fo i e x tra íd o d as o b se rv a ç õ e s d e J. Lachelier. [A. L .)
F IN A L ID A D E 416

c á lc u lo . É e s ta a idéia diretriz d e C la u d e te s u m a s à s o u tr a s n a c o n s tr u ç ã o d e u m a
Ber n a r d , q u e n ã o c o n c e b e ó rg ã o s s e ­ c a s a , o u o c o n c u r s o d a s d ife re n te s p e ça s
g u n d o as su a s n e c e s sid a d e s, m a s q u e é d e u m a m á q u in a , m e sm o q u e tã o sim p les
p o s ta d e u m a vez p o r to d a s , e c u ja re a li­ c o m o u m a r c o o u u m a a la v a n c a . S eg u e-
z a ç ã o le n ta o u r á p id a , c o m p le ta o u a b o r ­ se q u e to d a a d a p ta ç ã o d e s te g ê n e ro , d e ­
ta d a , d e p e n d e a p e n a s d e co n d içõ e s fisico ­ p e n d ê n c ia d a s p a rte s e m re la ç ã o a o to d o ,
q u ím ic a s. É e s ta ta m b é m a c o n c e p ç ã o d e c o n v e n iê n c ia o u h a r m o n ia d e e le m e n to s
c e rto s n e o la m a rc k ia n o s c o m o E im er . d iv e rs o s , a p a re c e -n o s c o m o o e fe ito d e
E x iste e n tã o v e rd a d e ir a m e n te u m a v o n ­ u m a in telig ên cia o rd e n a d o ra , sin al de p re ­
ta d e sem in telig ên cia, u m a d ire ç ão p síq u i­ v id ê n cia e d t finalidade. D a í a lig ação d a
ca p u r a , A este s e n tid o d a p a la v r a p e r ­ id é ia d e arte* (c f. a r te s ã o , a r tis ta , a r tif i­
te n c e a d e fin iç ã o d a fin a lid a d e q u e c o n s ­ cial) c o m a id éia teleo ló g ica. E s ta c o n c e p ­
titu i a causalidade da necessidade, o u a ç ã o estática d a fin a lid a d e é a d o s m e ta fí­
a ç ã o d a necessidade sem pensam ento (E . sicos c lássico s. É a ssim q u e Leibniz c o n ­
Go b l o t , “ F u n ç ã o e f in a lid a d e “ , Revue s id e ra c o m o o p r ó p r io m o d e lo d a a ç ã o
philosophique, 1899, II , 635. C f, d o m es­ d a s c a u s a s fin a is a e sc o lh a in te m p o r a l e
m o a u to r , “ A fin a lid a d e sem in te lig ê n ­ q u a lita tiv a de u m m u n d o e n tre to d o s os
c ia ” , Revue de métaphisique, 1900, 393; sistem as lo g icam en te o u g e o m etric am e n te
“ A fin a lid a d e em b io lo g ia ” , ibid., 1903, p o ssív eis (v er o fim d a Teodicéia ). E s ta
I I , 366, s o b re a d isc u s s ã o e n tre S u l l y e sc o lh a d á c o n ta simultaneamente d e t o ­
Pr u d h o m m e e C h . Rj c h et ; e a c a r ta d e d o s o s ele m e n to s d e ste siste m a e d o siste ­
Ch. R ic h et q u e se seg u e a este a rtig o , m a q u e fo r m a m em c o n ju n to to d o s esses
ibid., 379). s iste m a s. D a m e s m a m a n e ir a , n o p o r m e ­
T o d a s estas co n cep çõ es são , a in d a q u e n o r d a s c o isa s, ex iste causa fin a l to d a s a s
d e u m m o d o d e sig u a l, f o r m a d a s a p a r tir vezes q u e se d e s c o b re u m a h a r m o n ia ,
d o m o d e lo d a a tiv id a d e h u m a n a p s ic o lo ­ u m a re la ç ã o d e c o n v e n iê n c ia e n tre o s te r­
g ic a m e n te o b serv áv e l; n o ta r-s e -á to d a v ia m o s “ d is c o r d a n te s ” . A fin a lid a d e d o d e ­
q u e a ú ltim a , n o g r a u d e s im p lific a ç ã o a s e jo h u m a n o é, seg u n d o L eib n iz , a p e n a s
q u e fo i c o n d u z id a , n ã o d ife re j á em n a ­ u m a e x p re ssã o a p ro x im a tiv a desse m o d o
d a d o e sse n cia l d a s n o ç õ e s q u e a m e c â n i­ d e s iste m a tiz a ç ã o s u p e r io r. E n c o n tra -s e
c a u s a . U m a f o r ç a , c o m e fe ito , é u m a o m e s m o p o n to d e v is ta e m K a n t , q u e
g ra n d e z a dirigida, q u e te n d e p a r a u m m a is d o q u e q u a lq u e r o u tr o a p ro x im o u
p o n to , q u e p r o d u z o seu e f e ito s e g u n d o a s id é ia s d e a r te , d e b e lo e d e fin a lid a d e .
o s o b s tá c u lo s q u e e n c o n tr a , m a s q u e p o r N a Crítica do ju ízo , d e m o n s tr a a n te s d e
si p r ó p r ia n ã o p o d e r ia p ro d u z ir o m ín i­ tu d o a u n id a d e s is te m á tic a d a s leis e m p í­
m o d e sv io p a r a c o n d u z ir o m ó b il p a r a o ric a s: o s seres v iv o s s ã o a p e n a s p a r a e le
fim a o q u a l se s u p õ e q u e ele te n d a . u m e x e m p lo d e s ta esp é c ie d e u n id a d e , e
N o ta r-s e - á , n e s ta p rim e ira série d e c o n sid e ra -o s m a is n o seu p la n o d o q u e n o
s e n tid o s , a lig a ç ã o d a id é ia d e finalidade seu d e v ir. A e x p lic a ç ã o d a s c o isa s p o r
c o m a s id é ia s d e apreciação*, d e norma* u m a fin a lid a d e in te n c io n a l “ a n á lo g a à
e d e valor*. n o s s a ” é, d e f a to , s e g u n d o ele, u m a es­
II. M as a fin a lid a d e p ro p r ia m e n te d i­ p écie d e fic ç ã o c ô m o d a p a r a n o s r e p re ­
ta , d e o n d e p a r tim o s , a p r e s e n ta u m a o u ­ sen ta r a o rd e m d o s seres n a tu ra is (ver te x ­
tr a c a ra c te rístic a . A re a liza ç ão d e u m fim to a b a ix o , n o a rtig o Princípios de fin a ­
p e la ativ id a d e h u m a n a c o m p o rta em q u a ­ lidade)·, isso se d ev e a o f a to de o n o s so
se to d o s o s caso s a a tiv a ç ã o e a c o m b in a ­ e n te n d im e n to ir s e m p re , p e la s u a n a tu ­
ç ã o d e v á rio s e le m e n to s o u c o n d iç õ e s si­ re z a , d a q u ilo q u e e s tá antes n o te m p o
m u ltâ n e a s c o m v is ta a u m e fe ito de c o n ­ à q u ilo q u e e stá depois, n ã o p o d e n d o , p o r
ju n to , p o r ex em p lo , a a d a p ta ç ã o d a s p a r ­ c o n s e q u ê n c ia , e x p lic a r o m e io p e lo fim ,
417 F IN A L ID A D E

m a s a p e n a s p e la r e p re s e n ta ç ã o d o fim ; e ψ υ χ ή ϊ , I I I , 12, 4 3 4 ? , 31. C f. Π Ε ρ ι 'ο ύ ρ α -


é nesse s e n tid o q u e ele d e fin e a c a u s a f i­ Γ ο ν , I 4 , 271? 33: “ ‘ Ο θ ε ό ς χ ά ί ή φ ύ σ ι ς
n a l c o m o “ a c a u s a lid a d e d e u m c o n c e i­ ο ΰ ό ε ν μ ά τ η ν π ο ι ο ΰ σ ι ν .” M as é p reciso n o ­
t o ” ; m a s u m e s p írito in tu itiv o , q u e visse t a r q u e A 2 « è ó Â è n ã o e n te n d e a p a ­
I I E E

p o r c im a d o te m p o , v e ria o p r ó p r io fim la v r a φ ν ο ι τ n o s e n tid o u n iv e rs a l em q u e


p r o d u z ir o s m e io s , o u m e lh o r ( p o r q u e a o s m o d e rn o s e n te n d e m a p a la v r a nature­
id é ia d e p ro d u ç ã o é a in d a te m p o ra l), p e r­ za, e q u e ele re s e rv a a re a lid a d e d o a c a s o
c e b e ria e n tre o m e io e o fim u m a re la ç ã o (r ò α υ τ ό μ α τ ο ν ) c o m o a c id e n te o u c o in c i­
a tu a l e sui generis, d e q u e a “ n o s s a ” f i­ d ê n c ia d a s séries te le o ló g ic a s . (C f. M l-
n a lid a d e c o n s titu i o s ím b o lo . L τ T7 E - L H A U D , “ O a c a s o em A ris tó te le s e em
Z E 2 , n o Fundamento da indução, e n te n ­ C o u r n o t” , R evue de métaphysique, n o ­
d e a fin a lid a d e ne sse s e n tid o tr a d ic io n a l. v e m b ro , 1902.)
“ P o d e r-s e -ia p e rfe ita m e n te a d m itir n e s­ É m u ito c o n te s ta d o q u e a e x istên c ia
se s e n tid o ” , esc re v e ele, “ a fó r m u la q u e d a fin a lid a d e p o s s a d a r lu g a r a u m prin­
d e fin e a fin a lid a d e , a causalidade da cípio, q u e r d iz e r, a u m a p ro p o s iç ã o u n i­
idéia, to m a n d o idéia n u m s e n tid o p u r a ­ v e rsa l e n e c e s s á ria , c o n h e c id a a priori e
m e n te o b je tiv o , o d e eíôos d e A r is tó te ­ q u e p o s s a serv ir d e p o n to d e p a r tid a p a ­
les, c o n ce b id o fo r a de q u a lq u e r co n sciên ­ r a o ra c io c ín io . “ O p rin c íp io d o d e te rm i­
c ia e d e q u a lq u e r r e p r e s e n ta ç ã o .” (A n o ­ n is m o é u n iv e rs a l: tudo é d e te r m in a d o ;
tação à prova do presente artigo .) E s te o p rin c ip io te le o ló g ic o é p a rtic u la r: exis­
s e n tid o ex p lica ig u a lm e n te a fó r m u la q u e te a fin a lid a d e . T r a ta - s e s e g u ra m e n te d e
d e fin e a fin a lid a d e : a causalidade do f u ­ u m a o p in iã o p o u c o re fle tid a o ad m itir u m
turo, fó r m u la q u e , to m a d a à le tr a , c o n ­ p rin c íp io d e fin a lid a d e tã o a b so lu to e u n i­
tr a d ir ia o s p rin c íp io s d o n o s s o e n te n d i­ v ersal c o m o o p rin c íp io d e c a u s a lid a d e .”
m e n to (cf. a c im a a s o b s e rv a ç õ e s s o b re G Ã ζ Â Ã , “ F u n ç ã o e f in a lid a d e ” , Revue
I

Causa final). E la s u p õ e o c a r á te r ilu s ó ­ ph ilo ., 1899, I I , p . 505. A ex istên c ia d a


rio d o te m p o e a s o lid a rie d a d e r e a l d o s fin a lid a d e , e n q u a n to d is tin ta d a c a u s a li­
m o m e n to s su ce ssiv o s, o u p e lo m e n o s a d a d e eficien te, p a re ce s e r u m a v e rd a d e d e
a ç ã o d e u m a in te lig ê n c ia q u e n ã o e s tá ex p eriên cia e s o b re tu d o d e ex p eriên cia in ­
s u b m e tid a à d u r a ç ã o e p a r a q u e m o fu ­ te r n a ; a e x te n s ã o e o c a r á te r d e s ta fin a li­
tu r o e s tá p re s e n te . d a d e c o n stitu em p ro b le m a s q u e só p o d e m
Rad. i n t 1? S k o p e s ; 2? S k o p a g . d a r lu g a r a hipóteses diretrizes. “ D e r B e­
g r if f ein es d in g e s , als a n sich N a tu r ­
F in a lid a d e (Princípio de) “ A p rim e i­ zw eck s, ist a ls o k ein c o n s titu tiv e r B e g riff
r a d essas v e rd a d e s (a q u e la s s o b re q u e re ­
d e s V e rsta n d e s o d e r d e r V e r n u n f t, k a n n
p o u s a a m o ra l) é o p rin c íp io s e g u n d o o a b e r d o c h ein re g u la tiv e r B e g riff f ü r d ie
q u a l todo ser tem um fim . D a m e sm a f o r ­
re fle c tire n d e U r te ils k r a f t se in , n a c h e in e r
m a q u e o p rin c íp io d e c a u s a lid a d e , p o s ­
e n tfe rn te n A n a lo g ie m it u n s e r e r C a u s a -
su i to d a a e v id ê n c ia , to d a a u n iv e rs a lid a ­ litä t n a c h Z w e c k e n ü b e r h a u p t d ie N a c h ­
d e, to d a a n ecessid ad e, e a n o ssa ra z ã o n ã o
fo rsc h u n g ü b e r G eg en stän d e dieser A rt zu
c o n c e b e m a is u m a e x ce ç ão p a r a u m d o
le ite n .” 1K τ Ç , Criticado juízo, II, § 65.
I

q u e p a r a o u t r o . ” J Ã Z E E 2 Ã à , Cour de
droit natural, L iç ã o X X IX , t. I I I .
C RÍTIC A 1. “ O conceito de um a coisa com o algo que è
cm si um objetivo da natureza n ão é pois um concei­
E sse p rin c íp io p a re c e te r s id o tir a d o to constitutivo do entendim ento ou d a razão, mas po­
d o s e g u in te te x to d e A ris tó te le s: “ ... de servir de conceito regulador para o juizo reflexi­
vo e, segundo um a analogia distante com a nossa pró­
Μ η θ έ ν μ ά τ η ν v o te i η φ ύ σ α · e v e x á τ ο ν
pria causalidade, na sua tendência geral p ara o bjeti­
yag πά ν τ α υ πά ρ χ ε ι τ α φ ύ σ ε ι η vos, servir de guia à investigação de objetos desse gê­
σ υ μ πτ ώ μ α τ α ϊ σ τ α ι τ ω ν ε ν ε χ ά τ ο ν Π ίρ ι n e ro .”
F IN A L IS M O 418

C o n tu d o , J . L a c h e l i e r s u s te n to u q u e , F I N I T O D . Endlich (q u er ta m b é m d i­
sem te r o c a r á te r a b s o lu to d o p rin c íp io de z er final]; E . Finite ; F . Fini; I. Finito.
c a u s a lid a d e , a e x istê n c ia d e c a u sa s fin a is T e r m o c o n tr a d itó r io d e infinito*·.
n o m u n d o n ã o d e ix a d e s e r u m p rin c íp io a q u ilo q u e p o s s u i u m lim ite .
ra c io n a l, q u e r d izer: 1?, “ u m e le m e n to in ­ A . U m n ú m e ro in te ir o , m a io r d o q u e
d isp en sá v el d o p rin c íp io d a in d u ç ã o ” ; 2? , 1, é d ito fin ito q u a n d o p o d e s e r o b tid o
“ u m a lei q u e re s u lta , c o m o a d a s c a u s a s p e la a d iç ã o d a u n id a d e c o n sig o p r ó p r ia ,
e fic ie n te s, d a re la ç ã o d o s fe n ô m e n o s c o m q u e r seja ú n ic a , q u e r s e ja re p e tid a u m n ú ­
o n o s so e s p írito ” . J . L a c h e l i e r , D o fu n ­ m e ro d e vezes ta l q u e u m a d e ssa s re p e ti­
dam ento da indução , c . V I. ç õ e s s e ja a ú ltim a .
D e u m a m a n e ira m a is rig o r o s a e m a is
F IN A L IS M O D . Finalismus ; E . Fina-
f o r m a l: s u p o n d o d e fin id o s o s n ú m e ro s
lism \ F . Finalisme; I. Finalismo.
c a r d in a is e m g e ra l, o s n ú m e ro s 0 e 1, e
Q u a lq u e r d o u trin a q u e a tr ib u a u m p a ­
a s o m a d e u m n ú m e ro q u a lq u e r n e 1
p e l im p o r ta n te à fin a lid a d e n a e x p licação
d o u n iv e rs o , e e sp e c ífic a m e n te : (n + 1), a c lasse d o s n ú m e ro s inteiros f i ­
A . D o u tr in a d a s causas finais*, p r o - nitos é o c o n ju n to d o s n ú m e ro s c a rd in a is
v id e n c ia lism o . c o n tid o s e m t o d a c lasse S q u e c o n te n h a
B . A n te r io r id a d e e s u p e r io rid a d e d a z e ro e q u e c o n te n h a o n ú m e ro (« + 1) se
te n d ê n c ia (n e c e s sid a d e , d e s e jo , v o n ta d e ) c o n tiv e r o n ú m e r o n (q u a lq u e r).
e m re la ç ã o à m e c â n ic a . D iz -se fre q ü e n - A p ro p r ie d a d e im p líc ita n e s te e n u n ­
te m e n te , n esse s e n tid o , Voluntarismo * c ia d o é c h a m a d a princípio de recorrên­
cia o u , a lg u m a s v ezes, princípio de indu­
C RÍTIC A ção. C a r a c te riz a o s n ú m e ro s fin ito s p o r
C o m o q u a s e to d o s o s n o m e s de d o u ­ o p o s iç ã o a o s n ú m e ro s in f in ito s , e é e la
tr in a , e ste te r m o é m a u e p re s ta -se fa c il­ q u e tr a d u z a d e fin iç ã o v u lg a r q u e e n u n ­
m e n te a o e q u ív o c o . c ia m o s e m p rim e iro lu g a r.
P o d e -s e a in d a d e f in ir o fin ito n e g a ti­
F I N I T IS M O D . Finitismus; E . Fini- v a m e n te , c o m o o n ã o - in f in ito . V er In fi­
tism; F . Finitisme; I. Finitismo. nito.
A . N o sen tid o g eral: d o u trin a seg u n ­ B . U m n ú m e ro real é d ito fin ito se fo r
d o a q u a l n ã o existe n a d a q u e seja a tu a l­ in f e r io r a a lg u m n ú m e ro in te iro fin ito .
m e n te in fín ito 4', m a s tu d o o q u e existe o b e ­ C . U m a g ra n d e z a é dita fin ita se fo r
d e ce à “ lei d o n ú m e ro ” . ( R e n o u v i e r , m e d id a , e m r e la ç ã o a u m a g r a n d e z a d a
P i l l o n ; E v e l l i n , e tc .) V er e sp e c ia lm e n ­
m e s m a esp é c ie, p o r u m n ú m e ro re a l
te C o u t u r a t , Do infinito matemático, li­
fin ito .
v ro I I I , o n d e ele p õ e e m c e n a u m d iá lo g o
Rad. int.: F in it.
e n tre o F in itista e o In fin itis ta .
B , R e lativ a m e n te a ta l o rd e m p a rtic u ­ F I N I T U D E N e o lo g ism o , em fra n c ê s .
la r de re a lid a d e , c h a m a -s e fin itism o à te ­ C a ra c te rís tic a d a q u ilo q u e é fin ito . “ P a s ­
se q u e d e fe n d e q u e e s ta re a lid a d e é fin i­ s a d o s o s lim ites d a n o s s a fin itu d e , o n d e
ta : p o r e x e m p lo , a o p in iã o d a q u e le s q u e é a m a té ria q u e in d iv id u a liz a e a a ç ã o q u e
c o n s id e ra m fin ito o e s p a ç o . e s c la r e c e ...” G . D τ â à , “ H e n ry B erg ­
Rad. int.: F in itism . s o n ” , Revue universitaire, 1941, p . 23.

S o b re F in a lis m o — C o n v iria e m p re g a r e sta p a la v r a a p e n a s s o b a s u a f o r m a a d je ­


tiv a “ f in a lis ta ” , s e m p re c o m o e p íte to d e u m a p a la v r a m a is p re c is a . (Louis Boisse)
T e m o q u e , m e sm o so b esta fo r m a , ela se ja a in d a u m a g ra n d e fo n te d e m a l-e n te n d id o s,
d e v id o à m u ltip lic id a d e d o s s e n tid o s d as p a la v r a s fim e finalidade. (A. L.)
419 “ F IS IC IS M O "

F IR M E (a fir m a ç ã o o u n e g a ç ã o ) V er tr in a s e g u n d o a q u a l a lin g u a g e m d a físi­


as o b se rv a ç õ e s s o b re Juízo. c a é, p o r d ire ito , a lin g u a g e m d e to d a a
c iê n c ia , ta n to d a s ciên c ia s d e n o m in a d a s
F ÍS IC A D . P hysik ; E . Natural philo­
m o ra is c o m o d a s c iê n c ia s d a n a tu re z a .
sophy* physics; F . Physique; L Física.
V e r, d o m e sm o a u t o r , “ P sy c h o lo g ie in
A . C iê n c ia d a n a tu r e z a , e m g e ra l.
p h y sik alisc h e r S p ra c h e ” : “ J e d e r S atz d e r
U m a d a s trê s divisões d a filo so fía n a A c a ­
P sy c h o lo g ie in p h y s ik a lis c h e r S p ra c h e
d e m ia , n o s e sto ic o s, e tc . “ A físic a d e E s-
f o r m u lie rt w e rd e n k a n n ... D ie s is t ein e
t r a tã o o c u p a u m lu g a r in te rm e d iá rio e n ­
T e ilth e se d e r a llg e m e in e m T h e se d e r
tre a físic a d e A ris tó te le s, n a q u a l o m u n ­ P h y s ik a lis m u s , d a ss d ie p h y sik a lisc h e
d o e seus e le m e n to s ... s ã o d o ta d o s d e p r o ­ S p ra c h e ein e U n iv e rs a ls p ra c h e is t .”2 Er­
p rie d a d e s v ita is , e a d e E p ic u r o , e m q u e kenntnis, I I I , 1932, p . 107. V e r Beha-
o p rin c íp io d o s e r é v is to c o m o in e r te .” viorismo.
R e n o u v i e r , Phil, ancienne, I I , 2 4 2 . C f. C f . P h . F r a n c k , Theorie de la con-
“ a á rv o re d a c iê n c ia ” d e D e s c a rte s , n o naissance et physique moderne, tr a d . d o
p re fá c io d o s P rin c íp io s d a filo so fia , § 12. G e n era l V o u ille m in , “ re v ista e a tu a liz a d a
E s te s e n tid o to r n o u - s e a rc a ic o , j á n ã o se p e lo a u to r ” , Actualités scientifiques, 91
e m p re g a a p a la v r a n e s ta a c e p ç ã o a n ã o (1934), p a rtic u la rm e n te p . 43: “ T ra ta -s e
se r a o fa la r d a s d o u tr in a s a n tig a s . a p en a s em to d o s o s casos d e p ô r em c o rre s­
B . C iê n c ia d o s fe n ô m e n o s físic o s, n o p o n d ê n c ia a s n o ssa s ex p erien cias viv id as e
s e n tid o D d e s ta p a la v r a : m o v im e n to , p e ­ u m sistem a sim b ó lico . E m n e n h u m lu g ar o
s o , p re s s ã o , c a lo r, lu z , s o m , e le tric id a d e , físico se rá o b rig a d o a d izer: a q u i a c a b a a
e tc . A físic a , a ssim e n te n d id a , e a q u ím i­ m in h a ta re fa , a q u i c o m eç a a d o filó so fo .”
c a s ã o m u ita s vezes re u n id a s s o b o n o m e É ta m b é m a esta d o u tr in a q u e o s a u ­
d e ciências físicas ( p o r o p o s iç ã o às ciên ­ to re s p e rte n ce n te s a este g ru p o c h a m a ra m
c ia s biológicas, ta m b é m c h a m a d a s c iên ­ ciência unitária, teoria da unidade da ciên­
c ia s naturais). cia (D. Einheitliche Wissenschaft; E . Uni-
Rad. int.·. F iz ik . fie d Science, Unity o f Science; F . Science
unitaire, Theorie de Tunité de la Science).
“ F IS IC A L IS M O ” D . Physikalismus,
V er The Journal o f Unified Science, q u e
te rm o c ria d o p o r R . C a r n a p n o a rtig o sucede à revista Erkenntnis, desde 1938 (S).
“ D ie p h y sisch e S p rac h e ais U n iv ersal-
sp ra c h e d e r W iss e n sc h a ft ” 1 (Erkenntnis , “ F IS IC IS M O ” M . R . R u y e r d e fin iu

vol. I I , 1931, p . 462) e a d o ta d o p rim e iro fisicismo c o m o “ a tese d e q u e to d a a rea-

n a E sc o la d e V ien a, p a r a d e sig n a r a d o u -
2. "Q u alq u er proposição d a psicologia pode ser
form ulada em termos d a linguagem da física... Traia-
$e de um a tese parcial d a tese geral d o fisicalismo,
1. A linguagem d a física com o língua universala saber, que a linguagem d a física é um a linguagem
d a ciência. universal."

S o b re “ F is ic is m o ” — T e x to c o m u n ic a d o p o r M , Marsal, assim c o m o a p a s s a ­
g em seg u in te d e R e n o u v i e r , o n d e e sta p a la v r a ta m b é m é u tiliz a d a , m a s p a r a d e sig ­
n a r a d o u tr in a d o s “ fís ic o s ” d a E sc o la d a J ó n ia : “ P e rm itim o -n o s a p a la v r a fisicis­
m o, tir a d a d o p rim itiv o p o s itiv is m o de S a in t-S im ó n , p o rq u e o te rm o fisio lo g ia , q u e
c o n v iria a q u i p o r s e r a q u e le d e q u e se serv iam o s p r ó p r io s g re g o s , to m o u n a n o s s a
lín g u a u m s e n tid o m u ito m a is e sp e c ial; e n ó s ta m b é m n ã o p o d e ría m o s a p lic a r a d e ­
n o m in a ç ã o d e empirismo a o m é to d o d e u m a e sc o la tã o e s p e c u la tiv a e a p r io r is ta c o ­
m o f o r a m as filo s o fia s d e u m A n a x im a n d r o , d e u m H e rá c lito o u d e u m D e m ó c rito .
Histoire et solution desproblèm es métaphysiques, p . 25 (n o ta ). R e n o u v ie r e m p re g a
ta m b é m n este s e n tid o a p a la v r a “ fis ic is ta ” . C f. Transformismo, B.
“ F ÍS IC O ” 420

lid a d e é fu n d a m e n ta lm e n te u m f a to o u m an ifestaçõ es físicas d a d o r ... O p ra z er fí­


u m a c o n te c im e n to físic o , lo c a liz a d o , f i­ sico, assim c o m o o p razer estético, é a c o m ­
g u ra d o e d a ta d o ; a tese de q u e n a d a e stá p a n h a d o pela d ila ta çã o d o s vasos san g u í­
d is p e n s a d o de e x istir fis ic a m e n te , de fi­ n e o s.” Rã ζ ÃI , Psychologie des sentiments,
g u r a r n o seu lu g a r e n o seu e sc a lão n o p. 52. “ O m al físico consiste no so frim e n ­
q u a d r o p e lo q u a l a físic a re p re s e n ta o t o .” (P o r o p o siçã o a o mal metafísico, q u e
coníinuum e sp a ç o -te m p o ; a tese d e q u e é a im p e rfe iç ão , e ao mal moral, q u e é o
n a d a , n e m v a lo r n e m s ig n ific a ç ã o , p a ir a p e ca d o .) L « ζ Ç« U , Teodicéia, I, § 21.
E

a c im a d o m u n d o d o s seres ex ten so s e p re ­ O ad jetiv o , neste sen tid o , é, m u itas ve­


s e n te s ” . “ C e q u i est v iv a n t et ce q u i est zes, u sad o su b stan tiv am en te: “ O físico” ,
m o r t d a n s le m a té r ia lis m e .” Revue phi- q u e r dizer, o q u e h á de físico em ta l ser.
losophique, 1933, I I , p . 29. C τ ζ τ Ç« è , “Relações do físico e do moral
do homem ” (1802); desenvolvim ento de u m
1 . F Í S IC O ( a d j.) D . Naturphysich,
trab alh o an terio r. “ Considerações gerais so­
physikalisch: E . Physical; F . Physique; 1.
b re o e stu d o d o h o m em e so b re as relações
Físico. d a su a o rg an ização física c o m as suas fa ­
A. Q u e d iz r e s p e ito à n a tu r e z a : “ a
culd ad es intelectu ais e m o ra is ” (1796).
d o u tr in a te o ló g ic a e fís ic a d o s e s t o ic o s ...
D . O p o s to a matemático : re la tiv o ao s
é u m p a n te ís m o v ita lis ta ” . R e n o u v i e r ,
c o rp o s reais, e n ã o a a b straç õ e s e sq u e m á ­
Phil. ancienne, II , 253. ticas: “ ó p t i c a g e o m é tric a , ó p tic a físic a ” ;
B . O p o sto a metafísico*: n a tu r a l, q u e o u , n o m e sm o s e n tid o , a racional: “ M e ­
p erten ce a o m u n d o fe n o m e n a l, q u e p o d e c â n ic a ra c io n a l, m e c â n ic a fís ic a .”
ser o b je to de c o n h e c im e n to ex p erien cial. “ P o s s ib ilid a d e , im p o s sib ilid a d e físi­
“ A tq u e ita ja m h a b e m u s necessitatem c a . ” C f. Possível.
phy sicam ex m e ta p h y s ic a ...” L « ζ Ç« U , De E
E . O p o s to a químico. Q u e c o n c e rn e
Rerum originatione radicali, § 5. ao s fe n ô m e n o s m o la re s , a q u e le s q u e n ã o
C . O p o s to a moral, psicológico : q u e a lte ra m a e s tr u tu r a m o le c u la r e sp e c ífic a
p e rte n c e à m a té ria . d o s c o r p o s . (A c o n s titu iç ã o d a q u ím ic a
1? E n q u a n to o d o m ín io d a d e te r m i­ física a te n u a aliás o v a lo r d e sta d istin ç ão .)
n a ç ã o m a te r ia l s e o p õ e à lib e r d a d e d o e s­ C f. Física.
p ír ito . “ P a te t e tia m q u o m o d o D eu s n o n Rad. i n t A . B . N a tu r a l; C . C o r p o ­
ta n tu m p h y s ic e s e d e t lib e r e a g a t, s itq u e ra l; D . E . F iz ik a l.
in ip s o reru m cu rsu n o n ta n tu m e ffic ie n s ,

sed et f in is ...” L ibid., §8 ( o n d e


e i b n i z ,
2 . F ÍS IC O (s u b s t.) V er Físico, C , 2?.
a p r o x i m a perfectissimus physice e perfec-
“ F Í S IC O -T E O L Ó G IC A (P ro v a ) d a
lissimus metaphysice). ex istên cia de D e u s ” D . “ Physico-theolo -
2° E n q u a n to o c o rp o d e u m in d iv íd u o gischer Beweis vom Dasein C otíes".
se o p õ e a o seu e sp írito , e, n e ste caso, f í ­ Kτ Ç , Krit. der reinem Vernunft, T ra n s.
I

sico diz-se m e s m o d o s fe n ô m e n o s p s ic o ­ d ia l., II , c a p . II. se ç ã o 3 , § 3 e 6 .


ló g ic o s q u e d iz e m re s p e ito e sp e c ia lm e n te A rg u m e n to a f a v o r d a e x istê n c ia de
a o c o rp o : “ U m a e x c ita ç ã o f ís ic a ... A s D eu s tir a d o d a s c a ra c te rís tic a s d e o rd e m ,

S o b re “ P r o v a físic o -te o ló g ic a ” — Physicotheology é o títu lo de u m a o b ra de D E 2 -


HAM (1714); e m u ita s o u tra s p a la v ra s (astroteologia, e tc.) tin h a m sid o fo rm a d a s so b re
o m esm o m o d e lo p a ra d e sig n a r as p ro v a s d a existência de D eus tira d a s d a o b serv aç ão
e m p íric a d a n a tu re z a . V er P a u l J τ Ç , A s causas finais, 1? p a rte , c a p . II.
E I

N a Crítica do juízo , K an t ch am a ta m b é m à p ro v a físico-teológica der physisch-


teleologische Beweisgrund, “ a p ro v a físico-teleoló gica” . V er a n o ta fin al “ A llgem eine
A nm erkung zu r Teleologie” (O bservação geral sobre a teleología), ed. K irchm ann, 372-375.
421 FO N O RRECEPÇÃ O , FOTORRECEPÇÃO

d e fin a lid a d e e de b e le z a q u e a p re s e n ta a c o n te c im e n to s fís ic o s e m o r a is ” (p . ex .

o m u n d o , d a u n id a d e q u e m a n ife s ta e d a T a i n e , Da inteligência, I , liv r o IV , ca p .

im p o s sib ilid a d e de a d m itir q u e estas c a ­ II); e d iz -s e p a r a le lis m o * p s ic o fís ic o o u

ra c te rís tic a s seja m u m e fe ito d o a c a s o . p s ic o fis io ló g ic o .

C f . Cosmológico e Ontológico. Rad. int.\ F iz io lo g i.


Rad. F iz ik o -te o lo g ia l. F L E C H A ( A rg u m e n to d a ) U m d o s

a r g u m e n to s d e Z e n ã O d e E lé ia d ito s
F IS IO G N O M O N IA D . Pftysiogno-
“ c o n tra o m o v im e n to ” . É a s s im r e fe r i­
mik\ E . Physiognomonies; F . Physiogno­
d o p o r A r i s t ó t e l e s : se tu d o a q u ilo q u e
monie) I. Fisiognomonia.
o cu p a u m a ex te n sã o ig u a l à s u a e stá em
C iê n c ia d a re la ç ã o e n tre o c a r á te r e o
r e p o u so , e se u m a fle c h a q u e v o a o cu p a
a sp e c to físic o d o s in d iv íd u o s e e sp e c ial­
s e m p r e u m a e x te n s ã o ig u a l à s u a , e m c a ­
m e n te e n tre o c a r á te r e o s tra ç o s d o r o s ­
d a in s ta n te (o u : n o m o m e n to p r e s e n te , h
to . A r te d e a d iv in h a r o c a r á te r a p a r tir r ã vvv), u m a f le c h a q u e v o a e s tá im ó v e l.
d estes sig n o s e x te rio re s. Física , V I , 9; 23 b . C f. Agutíes.
F I S I O L O G I A D . Phisiologie ; E . F O B IA D . Phobie ; E . Phobia-, F.
Physiology; F . Physiologie ; I. Fisiologia. Phobie ; I. Fobia. (M u itas vezes u s a d o co ­
A . P r o p ria m e n te , e stu d o d a s funções m o su fix o : agorafobia, e tc.)
d o s c o rp o s v iv o s, p o r o p o s iç ã o a o e s tu ­ T e m o r m ó r b id o d e u m a c e r ta e s p é c ie

d o d a s u a f o r m a e d a s u a e s tr u tu r a , q u e d e o b je to s o u d e a to s.

s ã o o o b je to d a m o rf o lo g ia e d a a n a t o ­ Rad. int.: F o b i.
m ia . “ F is io lo g ia a n im a l; fis io lo g ia vege­ FO N O RRECEPÇÃ O , FOTORRE­
t a l . ” P o r e x te n s ã o , diz-se p o r vezes d o es­ C E P Ç Ã O D. Phonorezeption, Photorezep-
tu d o d a s fu n ç õ e s m e n ta is, m a s isso , em tion; E. Id.; F. Phonoréception, Pkotoré-
g e ra l, p a r a f a z e r e n te n d e r q u e e sta s f u n ­ ception ; I. Fonorecezione, Fotorecezione.
ç õ es, se fo sse m m e lh o r c o n h e c id a s, se re ­ P a la v ra s in tro d u z id a s p o r B eer, B eth e
d u z iria m às d o siste m a n e rv o s o ; v er p o r e U e x k u ll p a r a d e s ig n a r a a u d iç ã o e a v i­
e x e m p lo Physiology and Pathology o f s ã o d o p o n to d e v is ta d a p u r a psicologia
M in d d e M a u d s l e y ( 1 8 6 7 ) . da reação*, fa z e n d o a b s tr a ç ã o d e q u a l­
N e ste s e n tid o , a p e s a r d a s u a e tim o lo ­ q u e r f a to d a c o n sc iê n c ia ( Vorschläge zu
g ia c o m u m , fisiologia o p õ e -s e a física , einer objektivierenden N om enklatur in
q u e d e sig n a o e s tu d o d o s fe n ô m e n o s m a ­ der Physiologie des N ervensystem s1,
te ria is n ã o v ita is . Biolog . Centralblatt, a g o s to d e 1899). E s ­
B . P o r o p o s iç ã o a psicologia e a p si­ tes te rm o s fo r a m a d o ta d o s p e lo d r. N Z Â E

cológico, fisiologia e fisiológico dizem -se {La visión, P a ris , 1904), assim co m o o u ­
d e u m a m a n e ira m u ito a m p la d e tu d o o tra s expressões p e rte n c e n te s à m e sm a n o ­
q u e n o h o m e m é c o n s id e ra d o c o m o p e r ­ m e n c la tu ra . E n c o n tra re m o s a su a d iscu s­
te n c e n te a o c o r p o e n ã o a o e sp írito . N es­ são n o s Archives de Psychologie, ju n h o de
te c a s o , eles p o d e m , p e lo c o n tr á r io , 1905 e m a i o de 1906 (artig o s de C l a -
to r n a r - s e s in ô n im o s de físico (su b st.
m ase, o u a d j.) . F ala-se n o m esm o sen tid o
d a re la ç ã o e n tre o s fe n ô m e n o s fisio ló g i­ I. Preliminares a uma nomenclatura objetivante na
cos e psicológicos, o u d a re lação e n tre “ os fisiologia d o sistema nervoso.

S o b re F isio g n o m o n ia — $v<noymnovéiv, e m A ristó te le s, sig n ifica ju lg a r o c a r á te r


a p a rtir d o s sig n o s e x terio re s. D o n d e fisionom ia q u e te v e em p rim e iro lu g a r o se n tid o
q u e d a m o s h o je à fisio g n o m o n ia . E n c o n tra m o s e m P a s c a l, n e s t e s e n tid o , fazer uma

fisionom ia (Pensamentos, ed . B ru n sch v icg , n ? 684). (7. Lachelier)


FO RÇA 422

PAREDE e NZ E Â ) e n a Revue scienlifique, se g u n d o c o n c e ito ; n o m e a d a m e m e H E Â O -


d ezem b ro d e 1 9 0 4 e m a rço d e 1905 (a r ti­ H O LTZ, Uber die Erhaltung der K raft
g o d e M . P i é r o n ). (S o b re a c o n se rv a ç ã o d a fo rç a ), 1847. E s ­
te e m p re g o d a p a la v r a fo i h o je a b a n d o ­
F O R Ç A L . Vis; D . K raft (Cewalt o u
n a d o p e lo s físico s.
Zwang n o s e n tid o B ); E . Force; F . For­
C e rto s filó s o fo s e m p re g a m -n a n u m
ce; I. Forza.
sen tid o p ró x im o , m as m ais v ag o . ST7 E Â -
A . V ig o r, p o tê n c ia , in te n s id a d e : “ A
 « Ç; , ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 e n ten d e m p o r fo r ­
f o r ç a d o p e n s a m e n to .”
ça (Kraft) a q u ilo q u e c o n s titu i a essê n cia
B . C o n s tr a n g im e n to físic o e e x te rio r,
d a m a té r ia , a q u ilo c o m q u e se p re e n c h e
n e ce ssid a d e à q u a l a v o n ta d e resiste, m a s
u m a p a r te d o e s p a ç o , m a n if e s ta n d o a í
in u tilm e n te : “ C e d e r à fo r ç a ; p o r fo rç a ;
c ertas p ro p rie d a d e s: “ K ra ft ist d as N ic h t­
f o r ç o s a m e n te .” P o r c o n se q ü ê n c ia , e m e ­
sin n lic h e a n d e n O b je c te n .” 1 S T7 E Â -
n o s p ro p r ia m e n te , q u a lq u e r n ecessid ad e:
 « Ç; , N atur Philosophie, p . 308. “ W eil
“ U m a c o n s e q ü ê n c ia f o r ç a d a .”
a lso d ie M a te rie die S ic h tb a rk e it des W il­
C . P rin c íp io d e a ç ã o , p o d e r m o to r :
len s, je d e K ra ft a b e r a n sich selb st W ille
“ A s id é ia s -fo rç a . A s g ra n d e s fo rç a s d a
is t, k a n n k ein e K ra ft o h n e m a te rie lles
n a tu r e z a .” P ë Çè ÃI (Elements de stati-
que, p. 2) d e fin e a in d a a fo rç a c o m o S u b s tra t a u f tr e te n , u n d u m g e k e h rt k ein
“ u m a c a u s a q u a lq u e r de m o v im e n to ” . K ö rp e r o h n e ih m in w o h e n d e K rä fte sein ,
D . E m m ecâ n ic a, a d e fin iç ã o u su al de d ie e b e n sein e Q u a litä t a u s m a c h e n ...
fo rça é a seg u in te: “ S e n d o a d m itid o q u e K ra ft u n d S to f f sin d u n z e rtre n n lic h w eil
q u a lq u e r c o rp o a b a n d o n a d o a si p r ó p r io sie im G ru n d e E in es s in d .”1 2 S T7 Ãú E ­
p e rs iste in d e fin id a m e n te n u m m o v im e n ­ Ç7 τ Z E 2 , Die Welt, S u p le m e n to s , c.
to re tilín e o e u n if o r m e (o u n o r e p o u s o , X X V I. A c a u s a d e u m fe n ô m e n o é s e m ­
q u e p o d e ser c o n s id e ra d o u m seu c aso p re u m o u tr o fe n ô m e n o , m a s a q u ilo q u e
p a r tic u la r ) , c h a m a -s e fo rça a tu d o o q u e d á a s u a e fic á c ia a e sta c a u s a é u m a fo r ­
p o d e m o d ific a r este e sta d o de re p o u s o o u ça natural (eine N aturkraft ) q u e e stá n o
d e m o v im e n to re tilín e o e u n if o r m e .” e x te rio r d a c a d e ia d a s c a u sa s e d o s e fe i­
A fo r ç a é ig u a l a o p r o d u to d a m a ss a to s (iibid ., liv ro I, §26).
p e la a c e le ra ç ã o (f= m y ). E s ta m a n e ira d e v er é a d o ta d a p o r
A força-viva, q u e é p re c iso n ã o c o n ­ Sú E ÇTE 2 , q u e c o n s id e ra a F o rç a c o m o
f u n d ir co m a fo rça , e q u e é u m a fo r m a
d a energia*, é o s e m ip ro d u to d a m a ss a
1. “ A força é aquilo que existe de não-sensível
d e u m c o rp o p e lo q u a d r a d o d a su a v e lo ­ nos objetos.”
2. “ Sendo a matéria o aspecto visível da Vonta­
c id a d e de, e sendo cada força a própria Vontade, não pode
haver força sem substrato material, nem inversamen­
CRÍTICA te corpo sem forças que nele residam e que são pre­
cisamente aquilo que o faz ser tal como é ... Força
1. E m p re g o u -se fre q ü e n te m e n te a p a ­ e matéria são inseparáveis, porque no fundo sio o
la v ra força p o r energia , n a o rig em d este mesmo.”

S o b re F o r ç a — No sentido moral. A “ f o r ç a ” , em R E ÇÃZ â « E 2 , e n q u a n to “ p o ­


d e r d e e x ercício d a R a z ã o p r á tic a ” é u m a d a s trê s v irtu d e s f u n d a m e n ta is (as d u a s
o u tr a s s ã o a s a b e d o ria e a te m p e ra n ç a ). Ciência da moral, c. V II. S ão as v irtu d e s
c a rd e a is d o p la to n is m o , m e n o s a ju s tiç a . M as e sta e x p re ssã o é in s ó lita : só coragem
o u força de alma são u s u a is n esse s e n tid o . N ã o só fo rça n ã o tem q u a lq u e r c o n o ta ç ã o
m o ra l, m a s ta m b é m este te r m o e v o ca q u a se u n iv e rs a lm e n te , n e s ta o rd e m de id éias,
a a n títe s e d a fo rça e d o direito.
423 F O R JA D O

“ o P rin c íp io d o s P r in c íp io s ” . A m a té ria a n o ç ã o de f o r ç a n ã o fo sse re c e b id a e n ­


e o m o v im e n to sã o a p e n a s “ m a n ife s ta ­ tre a s n o ç õ es f u n d a m e n ta is e n ã o tivesse
ções d a F o rç a d ife re n te m en te c o n d icio n a ­ o u tr a d e fin iç ã o q u e n ã o m y. V er Ener­
d a s ” . A fo rç a é a id éia fin a l à q u a l a a n á ­ gética, A .
lise n o s c o n d u z iu ; em si èla é in c o g n o sc í- A lg u n s a u to re s , a té h á b em p o u c o
v el, e só p o d e ser v ista c o m o u m “ e fe ito te m p o , a p lic a ra m o n o m e de força à in ­
c o n d ic io n a d o de u m a c a u sa in c o n d ic io ­ te n s id a d e de u m c a m p o (q u e r d iz er, ao
n a d a , a re a lid a d e re la tiv a q u e n o s in d ic a c o e fic ie n te c a ra c te rís tic o de c a d a p o n to
u m a re a lid a d e a b s o lu ta ” . Primeiros prin­ d e u m e sp a ç o d e te r m in a d o , re la tiv a m e n ­
cípios, §50. E s ta F o r ç a a p re s e n ta d u a s te à a ç ã o s o f r id a p o r u m p o n to m a te ria l
fo rm a s d is tin ta s p a r a a n o s sa p e rc e p ç ã o : q u e se e n c o n tra aí c o lo ca d o ). E ste e m p re ­
“ a força intrínseca p ela q u a l u m c o rp o g o a p re s e n ta o in c o n v en ien te d e d e sig n a r
se n o s m o stra o c u p a n d o o e sp aço , e a fo r­ co m u m m esm o n o m e d u a s g ran d ezas qu e
ç a extrínseca q u e se c h a m a energia n ã o s ã o d a m e sm a n a tu re z a e de q u e u m a
Ib id ., §60. É p o r isso q u e S p e n c er a d o ta é f a to r d a o u tra . P o r ex em p lo , a fo rça (no
a fó r m u la persistência da fo rça , c o m o tí­ sen tid o c o m u m ) à q u al e stá su b m etid o u m
tu lo d o c a p ítu lo V I, em vez d a e x p re ss ã o p o n to c a r re g a d o d e u m a q u a n tid a d e de
e le tric id a d e a é o p r o d u to d a in te n s id a d e
persistência (o u conservação ) da energia.
2. A n o ç ã o d e f o r ç a físic a , ta l c o m o d o c a m p o elétrico h p ela c a rg a desse p o n ­
to , isto é , ah. P o r isso , e sta ex p ressão te n ­
fo i d e fin id a m a is a c im a n o c o r p o d e ste
d e a d e s a p a re c e r (S).
a rtig o , é d e v id a a Gτ Â « Â E Z . M as ele
Rad. int .: A . B . F o r t; C . A g .; P e n se
a p re s e n ta assim a a p a r ê n c ia de u m a es­
houver esforço', D . F o rc .
p écie de fa c u ld a d e o u d e q u a lid a d e o c u l­
ta q u e o s físico s p ro c u ra m h á m u ito te m ­ F O R J A D O D . Erdicht ; E. Forged; F .
p o s u b s titu ir. T e n to u -s e d e fin i-la m a te ­ Controuvé ; I. Controvato.
ria lm e n te : a q u ilo q u e p o d e e q u ilib ra r u m T o ta lm e n te in v e n ta d o (a o fa la r de
p eso p o r in te rm é d io d e u m s iste m a m e ­ u m a h is tó r ia fa ls a , de u m te x to a p ó c r i­
c á n ic o q u a lq u e r , c o m o u m fio e s tic a d o , f o , e tc .) . O v e rb o fra n c ê s “ c o n tr o u v e r ”
u m a m o la , etc. M a s este p o n to d e v is ta , e stá q u a se c aíd o em d e s u s o , p elo m en o s
a in d a q u e m u ito le g ítim o p a r a a físic a, n o s m o d o s p e ss o a is, e m e sm o m u ito r a ­
n ã o é s a tis fa tó rio p a ra a a n á lise . J . R . ro n o in fin ito ; fig u ra , c o n tu d o , em L it-
M τ à E 2 , H E Â O7 ÃÂ I U e s o b re tu d o H E 2 I U tr é q u e o d e fin e assim : “ In v e n ta r u m a
te n ta r a m c o n s titu ir u m a m e c â n ic a o n d e c o isa f a ls a .”

N o sentido físico. N a fó r m u la f - m - y , q u e é a v e rd a d e ir a d e fin iç ã o de fo rç a , é


de n o ta r q u e a ú n ic a das trê s q u a n tid a d e s q u e p o d e s e r c a p ta d a n a e x p eriên c ia e m e ­
d id a é a a c e le ra ç ã o 7 . A fo rç a e a m a ssa s ã o , p o r ta n to , d a d a s a p e n a s n a s u a re la ç ã o .
C re io , a liá s, q u e a n o ç ã o d e fo rç a é d ife re n te em m e c â n ic a e em físic a, d a m e sm a
m a n e ira q u e 0 m e c a n is m o , q u e é d o d o m ín io d a físic a, é d is tin to d a m ecâ n ic a. (E .
Goblot)
E m in glês, vis viva sig n ifica m v 2, e n q u a n to q u e Kinetic Energy se e m p re g a p a ra
m v 2. E ste e m p re g o é m a is c o n fo rm e a o u so d o q u e a e x p re ssã o força viva . (B .

Russeli) C reio ter visto alg u m as vezes, até em fran cês, “ m eia fo rça v iv a” p o r — m v2.
2
M as é ra ro . (L. Couturaf)
F orça n o s e n tid o C é d e e v ita r . É u m a d a is p a l a v r a s m a i s v a g a s e m a i s o b s c u r a s d a

filo s o f ia . (L . Boisse)
FO RM A 424

NOTA H o u v e n a e sc o lá stic a u m e m p re g o
O s e n tid o p rim itiv o d a p a la v r a f r a n ­ m u ito v a s to , d e riv a d o d o u s a d o p o r A 2 « è
c e sa é in v e n ta r a lg u m a c o is a c o m b in a n ­ t ó t e l e s ; se rv iu p a r a tr a d u z ir : cíó os,
d o e n tr e si o s e le m e n to s . D iz ia-se a o fa ­ μ ο ρ φ ή , ο υ σ ί α , πα ρ ά δ ε ι γ μ α , τ ο τ ι ή ι>

la r d e o b je to s m a te ria is : " . . . s o b r e tu d o ε ί ν α ι , τ ο η ε σ τ ι . C f. a tr á s Causa , A . O s

q u a n d o esses in s tru m e n to s s ã o sim p les e esco lástico s acresce n ta v a m -lh e , p a ra a d e­


e n g e n h o sa m e n te fo rja d o s (controuvés)”. te r m in a r , u m a g ra n d e v a rie d a d e d e e p í­
L e i b n i z , Discurso de metafísica, X X I I ;
te to s , n o m e a d a m e n te fo rm a substantia-
m a s ele ta m b é m o u s a a o f a la r d e id é ia s: Us ( c f . D e s c a r t e s , M éto d o , I, § 2), fo r ­
“ A fim d e q u e p o ssa is ju lg a r q u e n ã o se m a exemplaris , fo rm a individualis, etc.
t r a t a d e e v a siv a s f o r ja d a s (controuvés) V e r G o c l e n i u s , Lexicon, Vo F o r m a ,
p a r a e s c a p a r à s v o ssa s o b je ç õ e s ...” Car­ 5 8 8 -5 9 3 ; S c h ü t z , Thom as-Lexicon:
ta a Arnauld, I I , 56. “ F o r m a e s t p rin c ip iu m a g e n d i u n o q u o -
q u e .” T o m á s d e A q u i n o , Sum a teológi­
C o m ete-se freq ü e n te m en te a c e rc a d es­
ta p a la v r a , e m fra n c ê s , u m c o n tra -s e n s o ca, I I I , 13, 1, c; e C h . S . P e i r c e , M atter
c a u s a d o p o r a sso c ia ç õ e s v e rb a is: o q u e and Form , em B a l d w i n , II , p p . 50 ss.
E ste te r m o fo i d e s p o ja d o d o seu s e n ­
se achou (a été trouvé) ser fa ls o , a q u ilo
tid o a n tig o p o r B a c o n , q u e te n to u , a o
c u jo contrário fo i p ro v a d o .
d a r-lh e u m a sig n ific a ç ã o n o v a , fa z e r d o
F O R M A D . Forni (ta m b é m Gestalt n o c o n c e ito a ssim d e s ig n a d o a b a se de u m a
s e n tid o A ); E . Form, m u ito a m p lo ( Sha- te o ria d a n a tu re z a : “ M o n e n d u m est q u asi
p e n o s e n tid o A ); F . Forme-, I. Forma. p e rp e tu o ne, cu m ta n ta e p a rte s F o rm is vi-
E ste te r m o é q u a s e s e m p re o p o s to a d e a n tu r e a n o b is trib u i, tr a h a n tu r e a q u a e
matéria*. d ic ím u s a d F o rm a s e a s q u ib u s h o m in u m

S o b re F o r m a — Histórico. A s p a la v ra s fo rm a e species c o rre s p o n d e m a m b a s a o


c i ó o s d e A ristó te le s. P o d e -s e d iz er q u e se c h eg o u a u m a d iv isã o d o se n tid o d o c i ó o s en ­
tre esses d o is te rm o s , fo rm a re p re s e n ta n d o c ió o s n o s e n tid o característica com um , e
species re p re s e n ta n d o c ió o s n o se n tid o d e espécie o u d e classe c o n s titu íd a p e la p o sse
d e s ta c a ra c te rís tic a c o m u m . N ã o o b s ta n te , e ssa d iv isã o se estab eleceu a p e n a s p o u c o a
p o u c o . C í c e r o d iz -n o s (Tópicos, V II) q u e fo rm a fo rn ec e o g en itiv o e o d a tiv o p lu ra is
q u e fa lta m especies, e q u e , p o r c o n se q u ê n c ia , d ev e ser p re fe rid a à q u e la p a r a tra d u z ir
c i ó o s , n a m e d id a em q u e é c o m p le ta m e n te d eclin áv el. (C. C. J. Webb)
S i m p l i c i u s ( i n Phys. A risto . , I I , p . 2 7 6 ) d á a s s e g u i n t e s i n d i c a ç õ e s : μ ο ρ φ ή é p r o ­

p r ia m e n te a a p a r ê n c ia e x te r io r , e n q u a n to e s ta é u m a c o n s e q u ê n c ia d o c ió o s ; e σ χ ή μ α
a fig u r a ex te r n a , n ã o r e la c io n a d a c o m a fo r m a . V er ta m b é m H a m e l i n , Comentá­
rio s o b r e o l i v r o II d a Física d e A r i s t ó t e l e s , p . 4 8 . (Ch. Serrus)

“ F o r m a d a t esse r e i” é u m p rin c íp io e s c o lá s tic o . Formatitas , q u e se e n c o n tr a já ,


m a s ra r a m e n te , e m T o m á s d e A q u in o , p a re c e te r s id o p o s to e m u s o p o r D u n s S c o t.
(R. Eucken)
E m q u e é q u e a e x p re ss ã o fo rm a s a priori da sensibilidade é “ in fe liz ” ? É , em
to d o o c a s o , m u ito p re c isa . (J. Lachelier) A p a la v ra sensibilidade é e q u iv o c a em f r a n ­
cês, c o m o q u a s e to d a s as p a la v ra s d a m e sm a ra iz : a p lic a -s e e m g e ra l a o s sentim en­
tos, a o s e s ta d o s a fe tiv o s , m a s serv e ta m b é m p a r a d e s ig n a r a q u ilo q u e d iz re s p e ito
a o s s e n tid o s e n q u a n to m eio s de p e rc e p ç ã o . N a d e v id a a ltu r a fa r-s e -á a re sp e c tiv a c rí­
tic a . Sinnlich e Sinnlichkeit em a le m ã o s o fre m d e u m d e fe ito a n á lo g o (sig n ifica m
ta m b é m sensual e sensualidade), m a s , to d a v ia , m e n o r: as d u a s a c e p ç õ e s c o rre m m e ­
n o r risco d e serem c o n f u n d id a s . (A. L .)
425 FO R M A

co g itatio n es h a c te n u s a ssu e v e ru n t.” Nov. p o r u m la d o , u m a m a té ria {Stoff), d a d o


Org., I I , 17. S eria d e m a s ia d o e x ten so d e­ p ró p rio e im e d ia to d a sen sa ç ã o , cu ja p re ­
fin ir a q u i esse sen tid o , q u e te m a p en a s um s e n ç a , im p o s ta a o e s p írito , re v e la q u e
in te re sse h is tó ric o . (V er L τ Â τ Çá , Quid
E existe q u a lq u e r co isa a lé m de si; e, p o r o u ­
de mathematica senserit Verulamius, c ap . t r o la d o , u m a fo rm a {Form) c o n s titu íd a
I I ; A s teorias da indução, c. I I I .) M a s , p elas leis d o p e n sa m e n to q u e estabelecem ,
se este e m p re g o d o te rm o fa c ilito u m o ­ e n tre o s d a d o s m ú ltip lo s d o s se n tid o s as
m e n ta n e a m e n te a in tr o d u ç ã o d a d o u tr i­ re la ç õ e s q u e p e rm ite m p e rc eb ê -lo s e
n a m e c a n ic is ta , n ã o d e ix a d e ser v e rd a d e c o m p re e n d ê -lo s . O te m p o é a fo rm a d o
q u e c a iu em d e su so e c o n tr ib u iu p a ra d e­ s e n tid o in te rn o ; o e sp a ç o é a fo rm a d o
s a c re d ita r e n tre os m o d e rn o s a id éia de s e n tid o e x te rn o ; o s d o is s ã o as fo rm a s a
B a c o n . A p a la v r a re s trin g iu -se , a p a r tir priori da sensibilidade ( tr a d u ç ã o c o n s a ­
d e s ta é p o c a , a o p rim e iro s e n tid o d e fin i­ g ra d a , m as in feliz, das expressões Formes
d o a c im a , q u e r d iz e r, à q u ilo a q u e a n te ­ a priori der Sinnlichkeit, Reine Formen
rio rm e n te c h a m a m o s a figura * d e u m c o r­ der Sinnlichen Anschauung). A s fo rm a s
p o . C o n s e rv o u c o n tu d o n o u s o m o d e rn o d o e n te n d im e n to sã o a s Categorias* e as
a lg u n s tra ç o s d o seu u s o e sc o lá stic o q u e d a ra z ã o as Idéias*.
s e r ã o a d ia n te a s s in a la d o s . 3 ?: A fo rm a d a m o ra lid a d e é o c a r á ­
A . F ig u ra g e o m é tric a c o n s titu íd a p e ­ te r im p e ra tiv o d a lei m o ra l (o u , n a s te o ­
lo s c o n to r n o s d e u m o b je to . O p õ e -se à ria s é tic a s q u e n ã o a d m ite m a o b rig a ç ã o ,
matéria d e q u e esse o b je to é fe ito . “ A ce­ o c a r á te r a p re c ia tiv o * d o ju íz o m o ra l). A
r a to m a a f o r m a d o c u n h o ." matéria d a m o ra lid a d e é c o n s titu íd a pela
B . P o r m e tá f o r a , e p o r tr a d iç ã o d o m a n e ira d e a g ir q u e é o r d e n a d a (o u p e ­
s e n tid o m a is la to d a d o n a E s c o la à o p o ­ lo s f a to s o b je tiv o s q u e sã o re c o n h e c id o s
siçã o d a fo rm a e d a matéria, e sta s p a la ­ c o m o p o s s u id o re s d e u m v a lo r m o ra l).
v ra s são a p lic a d a s a to d a s as o p o siç õ e s Uma moral puramente fo rm al é a q u e ­
a n á lo g a s ; e, p a rtic u la rm e n te : la q u e s a tis fa z a c o n d iç ã o p o s ta p o r
1?: A fo rm a de u m a o p e ra ç ã o d o e n ­ K a n t (C rític a da razão prática, 1? p a r ­
te n d im e n to é a n a tu re z a d a re la ç ã o q u e te , c a p . I , T e o re m a I I I): “ W e n n e in v e r­
existe e n tre o s te rm o s ao s q u a is se a p li­ n ü n ftig e s W ese n sich se in e M ax im en als
c a , a b s tr a ç ã o fe ita d a q u ilo q u e esses te r ­ p ra k tis c h allg em ein e G esetze d e n k en so ll,
m o s s ã o em si m e sm o s, a matéria (o u so K a n n es sich d ie se lb e n n u r als so lch e
conteúdo *) é c o n stitu íd a p o r esses term o s, P rin c ip ie n d e n k e n , die n ic h t d e r M ate rie ,
c o n sid e ra d o s n a su a sig n ificação p ró p ria . s o n d e rn b lo s d e r F o rm n a c h , d e n B estim ­
E x .: “ T o d o s os m e ta is sã o só lid os; o m e r­ m u n g s g ru n d d es W illen s e n th a lte n .” 1
c ú rio é u m m e ta l; lo g o , o m e rc ú rio é s ó ­ E s ta c o n d iç ã o é p re e n c h id a p e la lei m o ­
l id o .” A fo rm a d e ste ra c io c ín io é Barba­ ral puram ente form al: “ H a n d le so , d a ss
ra: “ T o d o s o s A sã o B; o r a , C é A ; lo g o , d ie M ax im e d e in es W illen s je d e rz e it z u ­
C é B .” A matéria é fo r n e c id a p e lo s c o n ­ g leich als P rin c ip e in e r a llg e m ein e n G e ­
ceitos: m e ta l, m e rc ú rio , só lid o . U m ta l r a ­ s e tz g e b u n g g e lte n k ö n n e .”2 Ibid., §7.
cio cín io é c o r r e to form alm ente {vi fo r- 4 ? : E m D « 2 E « I Ã , a fo rm a , q u e é co n - 2.l
mae)·, a c o n c lu s ã o é q u e é fa lsa material­
mente (vi materiaé).
l . "S c um ser razoável deve representar se as
D a m e sm a m a n e ira , n a s m a te m á tic a s, suas máximas com o leis práticas universais, ele só se
a re la ç ã o (a + b )2= a1 + b2 + 2ab é fo r ­ pode representá-las como princípios que contêm, não
mal, p o is p e rm a n e c e v e rd a d e ira p a r a to ­ na sua m atéria, mas unicam ente na sua form a, aq ui­
lo através do qual determ inam a vontade."
d o s os n ú m e ro s re a is.
2. "A g e de tal form a que a m áxim a da tua ação
2?: P o r a p lic a ç ã o d o s e n tid o p re c e ­ possa ser sempre válida ao mesmo tem po como prin­
d e n te , K a n t d istin g u e n o c o n h e c im e n to : cípio de um a legislação u niversal."
FORM A 426

j u n t o d a s re g ra s a se g u ir n o p ro c e s s o , n o s n ã o m a is c o m o u m a s o m a d e elem en ­
o p õ e -s e a o fu n d o , q u e c o n s titu i o o b je to to s q u e h á q u e , a n te s d e m a is, is o la r, q u e
p a r tic u la r d a q u e s tã o c o n s id e ra d a . D iz- a n a lis a r, q u e d isse c ar, m a s c o m o c o n ju n ­
se a in d a n o m esm o sen tid o Formalidades. to s (,Zusammenhänge ) q u e c o n s titu e m
C. E m c o n s e q ü ê n c ia d o a m p lo s e n ti­u n id a d e s a u tô n o m a s , m a n ife s ta n d o u m a
d o d a d o à p a la v ra a le m ã Gestalt n a “ te o ­ s o lid a rie d a d e in te r n a e te n d o leis p r ó ­
ria d a f o r m a ” *: e s tr u tu r a (m e sm o in te ­ p ria s . S eg u e-se q u e a m a n e ir a d e s e r d e
rio r), o rg a n iz a ç ã o — a p a la v ra fo rm a , a o c a d a e le m e n to d e p e n d e d a e s tr u tu r a * d o
fim d e a lg u n s a n o s , é ta m b é m u s a d a em c o n ju n to e d a s leis q u e o re g em . N e m p si­
fra n c ê s d a m e sm a m a n e ira p e lo s p sic ó lo ­ co lo g icam en te nem fisio lo g icam en te o ele­
g o s . V e r P a u l G Z « Â Â τ Z O , A psicologia
E m e n to p re e x iste a o c o n ju n to : n ã o é n e m
da fo rm a , 1937. C f . a c im a Boa* fo rm a m a is im e d ia to n em m a is a n tig o : o c o n h e ­
e m a is a b a ix o Teoria da fo rm a . É n e c e s­ c im e n to d o to d o e d a s s u a s leis n ã o p o d e
s á r io n ã o e n te n d e r e sta id é ia d e f o r m a se r d e d u z id o d o c o n h e c im e n to s e p a ra d o
n u m s e n tid o f in a lis ta , m a s n u m s e n tid o d a s p a r te s q u e a í se e n c o n tr a m .” (V e r as
físic o , q u e r d iz e r , b a s e a d o n o m o d e lo d e o b s e r v a ç õ e s .) A lé m d is so , s e g u n d o e s ta
u m s is te m a d e o n d e n ã o se p o d e r e tir a r te o r ia , e x iste p a r a c a d a esp é c ie d e f e n ô ­
n em a c re s c e n ta r u m a p a r te sem a lte r a r a s m e n o s u m a h ie r a r q u ia d a s f o r m a s p o s s í­
o u tr a s o u sem d e te r m in a r u m re a g ru p a - veis n o se n tid o C ; e, q u a n d o a s co n d içõ es
m e n to g e ra l ( p o r e x e m p lo , a re p a r tiç ã o e x te rio re s o p e rm ite m , o p e ra -s e u m a
d a c a rg a e lé tric a s o b re u m c o r p o c o n d u ­ tr a n s f o r m a ç ã o e s p o n tâ n e a e m d ire ç ã o a
to r is o la d o ). Ibid., p . 28. u m a f o r m a “ m e lh o r ” (a m e n o s q u e “ a
Forma fo rte é a q u e la q u e lig a e s tre i­ m e lh o r ” f o r m a e s te ja j á re a liz a d a ). V er
ta m e n te a s p a rte s de u m to d o n u m a o r ­ Boa* fo rm a e Pregnante e , n o S u p le m e n ­
g a n iz a ç ã o q u e a p re s e n te u m a u n id a d e e to , Isom orfism o. P a u l G Z « Â Â τ Z O , “ A E

u m a e sta b ilid a d e c o n sid e rá v e is. N o c a so te o ria d a f o r m a ” , Journ. de Psychol.,


c o n tr á r io , a fo rm a d iz-se fraca. n o v . d e 1925 e c f. Forma, C , a c im a .
Rad. int.\ F o r m .
“ T e o ria d a f o r m a ” D . Lehre von der
Gestalt, Gestalttheorie; E . Gestaltism, F o r m a * (E m ) “ P o r a rg u m e n to s em
Configurationism ; F . Théorie de la fo r ­ fo rm a , n ã o e n te n d o a p e n a s a m a n e ira d e
me', I. Dottrina delia form a; “ P s ic o lo g ia ra c io c in a r d a q u a l n o s se rv im o s n o s C o ­
d a f o r m a ” D . E . Gestalpsychologie, - lég io s, m a s to d o ra c io c ín io q u e c o n c lu i
logy, é ta m b é m m u ito u s u a l. p e la f o r ç a d a fo r m a , e a o q u a l n ã o é n e ­
T e o ria , em p rim e ir o lu g a r, p s ic o ló g i­ cessário su b stitu ir q u a lq u e r a rtig o , de fo r­
c a , m a s d e p o is a la r g a d a a u m a c o n c e p ­ m a q u e u m s o r ite s ... m e sm o u m a c o n ta
ç ã o filo s ó fic a g e ra l d o s f a to s b io ló g ic o s b em e la b o r a d a , u m c á lc u lo d a á lg e b r a ...
e físico s (K ò Â 2 , W 2
7 E E I 7 E «O 2
E , K ÃE E - c o n s titu irã o p a r a m im q u a s e a rg u m e n to s
3 τ ). “ C o n siste em c o n sid e ra r o s fe n ô m e ­ em f o r m a , p o rq u e a s u a fo r m a d e ra c io -

S o b re “ T e o ria d a F o r m a ” — A p a r te d a d e fin iç ã o p o s ta e n tre a sp a s d ev e-se a


Êdouard Claparède, q u e a e n v io u a n ó s em 1926, c o m v is ta à te rc e ir a e d iç ã o d o V o ­
c a b u lá rio ; a p a re c e u a í n e ss a d a ta . A s s in a la a su a o rig e m n o a rtig o d e W 2 E I « O 2
7 E , E

“ E x p e rim e n ta lle S tu d ie n ü b e r d a s S e h e n d e r B e w e g u n g ” (E s tu d o s e x p e rim e n ta is so ­


b re a p e rc e p ç ã o v isu a l d o m o v im e n to ), Zeitschrift fü r Psychologie, 1912. F o i T itc h e -
n e r q u e m p r o p ô s p a r a tr a d u z ir Gestalt a p a la v r a configuração’, d e o n d e se ex­
tr a iu a e x p re s s ã o E . Configurationism p a r a D . Gestaltheorie. V e r H a r r y H Â è Ã Ç , E

“ T h e P s y c h o lo g y o f ‘G e s ta lt’ ” , Am erican Journal o f Psychology, ju lh o d e 1925,


p . 342.
427 F O R M A L IS M O

c in a r fo i p r é - d e m o n s tr a d a .” L E «ζ Ç« U , Lógica form a l. P a r te d a Lógica* q u e


N ovos ensaios, IV , X V II, § 4. te m p o r o b je to as o p e ra ç õ e s d o e n te n d i­
m e n to e as re g ra s q u e a í se a p lic a m , e n ­
F O R M A L D . A . Formlich; B . For­
q u a n to essas o p e ra ç õ e s s ã o c o n s id e ra d a s
mal; E . Formal; F . Formei; I. Fórmale. u n ic a m e n te n a s u a fo rm a , ta l c o m o e s ta
A . S e n tid o a n tig o e esc o lá stico : é fo r ­
fo i a c im a d e f in id a , Vo Forma , B, 1?.
mal o u ex iste form alm ente a q u ilo q u e Educação form al, a q u e tem p o r o b ­
p o s su i u m a ex istên c ia a tu a l* , e fe tiv a* , je to desen v o lv er o esp írito de u m a m a n e i­
p o r o p o s iç ã o , p o r u m la d o , à q u ilo q u e r a g e ra l, sem lhe fo rn e c e r q u a lq u e r p r e ­
existe objetivamente* (n o sen tid o escolás­ p a ra ç ã o e sp ecial re la tiv a m e n te aos o b je ­
tic o d a p a la v r a , q u e r d iz e r, a p e n a s a tí­ to s p a rtic u la re s c o m os q u a is , m ais t a r ­
tu lo de id é ia ); p o r o u tro la d o , à q u ilo q u e d e, te rá de se o c u p a r. T e rm o u su al so b re ­
ex iste eminentemente, q u e r d iz er, em tu d o em in glês (Formal culture; m ais es­
q u a lq u e r c o isa de s u p e rio r q u e o c o n té m p e c ífic a m e n te Disciplinary Education
em p o tê n c ia e de u m m o d o im p líc ito , e n ­
q u a n d o se tr a t a p re c isa m e n te de e m p re ­
fim , à q u ilo q u e ex iste virtualmente e im ­
g ar essencialm ente os estu d o s clássicos co ­
p lic ita m e n te sem ser e x p ressam en te e n u n ­
m o m e io d e f o r m a ç ã o ). D iz-se m a is fre-
c ia d o . V er Eminente.
q ü e n te m e n te em fra n c ê s p a ra d e sig n a r a
E ste sen tid o co n serv o u -se em alg um as
m e sm a id é ia : Cultura geral (C u ltu re g e­
e x p re ssõ es, ta is c o m o : “ O rd e m form al,
n é ra le ).
d e c la ra ç ã o form al, e tc .” ; q u e r d iz er,
Rad. i n t F o r m .
e n u n c ia d o s expressamente e n ã o só de
u m a fo r m a d u v id o s a o u im p líc ita . F O R M A L IS M O D . Formalismus; E .
B . R e la tiv o à fo r m a ; p a r tic u la r m e n ­ Formalism; F . Formalisme; I. Forma­
te: moral form al, v er Forma, B, 3?. lismo.
Causa formal. Ver Causa, A , e Forma. A . D o u tr in a q u e c o n sis te em a f ir m a r

S o b re F o r m a l — O s e n tid o e sc o lá stic o d a p a la v r a a in d a se c o n s e rv a , ta n to em
a le m ã o c o m o em fra n c ê s , em c ertas e x p re ssõ e s d a lin g u a g e m c o rre n te : “ E in f ö r m li­
ches C o m p lo t; ein fö rm lich es K u n sw e rk ; fö rm lic h e u n d a u sd rü c k lic h e E r k lä r u n g .” 1
(F. Tönnies)
E m a le m ã o , Formale Logik te m d o is s e n tid o s d ife re n te s : a ) a q u e le q u e a c im a é
in d ic a d o p a ra a e x p re ss ã o Lógica form al; b ) u m a ló g ic a q u e a f a s ta q u a lq u e r c o n si­
d e ra ç ã o s o b re as re la çõ e s d o p e n s a m e n to c o m o se r, c o m o a c o n te c e , p o r ex em p lo ,
em K a n t e H e r b a r t. (/?. Euckeri)
Educação form al. P o ssu ir u m a cultura geral sig nifica an tes de m ais sab e r u m p o u c o
de tu d o , te r c o n h e c im e n to s v a ria d o s ; u m a cultura o u u m a educação fo rm a l torna-
nos a p to s a a p re n d e r, c o m p re e n d e r e a g ir em to d a s as o rd e n s de c o n h e c im e n to s . ( V.
Egger)
T e m o a p lic a r a p a la v r a fo rm a l ao s e stu d o s clássico s: e sta p a la v ra te n d e a fa z e r
c re r q u e estes n ã o p o ssu e m c o n te ú d o , e n q u a n to , p elo c o n tr á r io , em tu d o a q u ilo q u e
eles e n sin a m d a h is tó ria e d a filo s o fia a n tig a tê m u m c o n te ú d o m u ito ric o e m u ito
s ó lid o . ( / . Lachelier)

S o b re F o r m a lis m o — A s d u a s teses re u n id a s em A c a ra c te riz a m b e m o fo r m a lis ­


m o , n o sen tid o co m u m d a p a la v ra , m as elas n ã o sã o lo g icam en te so lid árias: poder-se-ia

1. A última destas expressões, “ declaração form al e expressa” , é a única que corresponde ao uso fran ­
cês. A palavra fo rm a l [form et) não teria sentido nesta língua aplicada a um a conjura ou a uma obra de arte,
F O R M A L IZ A R 428

q u e as v e rd a d e s d e s ta o u d a q u e la ciên cia v e n tio n e lle n R eg eln ric h te n d e s B eh a l­


(m a te m á tic a , n o m e a d a m e n te ) sã o p u r a ­ te n .” 1 K « 2 T 7 Ç 2
E e M « T τ Â « è , Wörter­
7 E

m e n te fo rm a is * e re p o u s a m u n ic a m e n te buch der philosophischen Grundbegriffe,


s o b re c o n v e n ç õ e s o u s o b re d e fin iç õ e s d e su b V«.
sím b o lo s. Rad. int.: F o rm a lis m .
B . C o n s id e ra ç ã o ex clu siv a d o p o n to
d e v is ta fo r m a l, q u e c o n d u z a n e g a r a F O R M A L IZ A R V e r Suplem ento.
e x istê n c ia o u a im p o r tâ n c ia d o e le m e n to
F Ó R M U L A L . Formula (e n u n c ia d o ,
m a te ria l n u m a o rd e m d e c o n h e c im e n to s.
re g ra , p rin c íp io , siste m a ); D . Formel·, E .
A p lic a -se e sp e c ia lm e n te , em e sté tic a , à
Formula ; F . Form ule’, I. Formula.
d o u tr in a d a a r te p e la a r te e d a d ific u ld a ­
A . E n u n c ia d o co n ciso e rig o ro so , q u e
d e v e n c id a ; fr e q ü e n te m e n te ta m b é m , em
p e rm ite a d e d u ç ã o e a d is c u s s ã o (n o sen-
é tic a , à d o u tr in a m o ra l d e K τ Ç . V er
I

m a is a c im a Form a , B, 3?.
P o r e x te n s ã o , c a r á te r m e tic u lo so e
I. “ U m a m aneira estrita, freqüentem ente peno­
m e c â n ic o d o p e n s a m e n to : “ E in sich ge- sa, de se co m p o rtar, restringindo-se a regras deter­
n a u , o f tp e in lic h , n a ch b e stim m te n k o n - m inadas e convencionais.”

c o n ceb er u m fo rm a lism o q u e fosse a ex p ressão d e u m a e s tr u tu ra d o p e n sa m e n to c o m ­


p o r ta n d o n o rm a s n ã o c o n v e n c io n a is e x p rim ív e is e m sím b o lo s . (A. L.)
A lé m d o s d iv erso s e m p re g o s d a p a la v r a m e n c io n a d o s n o a r tig o , p o d e -se n o ta r
q u e H τ O Â «Ç
E a a p lic a à d o u tr in a q u e crê p o d e r tu d o c o n s tr u ir a priori p o r d e d u ­
ç ã o . O p Õ e-n a, p o r u m la d o , a o e m p iris m o , p o r o u tr o , a o seu m é to d o sin té tic o . Essai
sur les éléments príncipaux..., p p . 6-11.
V er a trá s a c rític a q u e e stá n a se q u ê n c ia d o a rtig o Forma.
S o b re F o r m a lis m o e F o r m a — C rític a . A o p o s iç ã o form a-m atéria p o d e d a r lu g a r
a eq u ív o co s. E n c o n tra -s e fre q ü e n te m e n te a ss o c ia d a a o u tro s p a re s, tais c o m o interior-
exterior, espírito-letra , etc. A fo r m a é o r a o e sp írito e o in te rio r: a c a u s a fo rm a l d a
e s tá tu a é a id é ia d a e s tá tu a ; a m o ra l f o r m a l de K a n t é a o m e sm o te m p o u m a m o ra l
d a in te n ç ã o . E n q u a n to in te rv é m a q u i u m ju íz o de v a lo r, é em fa v o r d a fo r m a ; a m a té ­
ria serv e d e re fú g io a o e m p íric o , a o a c id e n te , a o irr a c io n a l. O ra , p elo c o n tr á r io , a
fo r m a é o e x te rio r e é a le tra . A a p re c ia ç ã o é p e jo r a tiv a n esse c a s o . O fo rm a lis m o
relig io so o u ju r íd ic o , o d o s D o u to re s d a L ei o u de B rid ’o is o n , o fu s c a a fé ín tim a o u
a e q ü id a d e e s p o n tâ n e a . A “ m a té r ia ” to rn a -s e e n tã o a id é ia , c o m o n o s d isc u rso s f r a n ­
ceses de o u tr o r a em q u e a m a té ria e ra im p o s ta : tr a ta v a - s e a p e n a s d e a p ô r em fo r m a ,
d e a “ d e se n v o lv e r” 1. P a re c e -m e q u e u m p o u c o d e ste e q u ív o c o p e rm a n e c e n a r e d a ­
ç ã o d o a rtig o Formalismo, B. A e sc o la d a a r te p e la a r te s e m p re te s te m u n h o u in d if e ­
re n ç a p elo “ te m a ” , re p u ls a p e lo s e n tim e n to e p e la in s p ira ç ã o , m a s , e m c o m p e n s a ­
ç ã o , o m a io r in te re sse p e lo s m a te ria is , o m a te ria l v e rb a l, o p o e m a d e fo r m a fix a , as
re g ra s o b r ig a tó r ia s e ríg id a s , t o d a s essas c o isa s q u e u m L a m a r tin e te r ia d e b o a v o n ta ­
d e n e g lig e n c ia d o c o m o d e m a s ia d o m a te ria is . Se se vê a í, c o n tu d o , u m fo rm a lis m o ,
é n u m s e n tid o b em d ife re n te d a q u e le q u e F o u illé c h a m a o “ fo rm a lis m o e s té tic o ” de
K an t [Critique des systèmes de morale contemporaine, p . 2 2 3 ). (A 1. M ar sal)

1. “ Neste agrupar term o a termo de pares antitéticos, com inferência espontânea das propriedades de
um para o outro , ou para outro s, há um procedim ento filosófico m uito usual. F om e de invenção e fome
de erro. P or exemplo, qualidade-quantidade, com preensão-extensão. Inferência espontánea: a m atem ática
tra ta da quantidade; logo os conceitos m atem áticos definem-se pela sua extensão.” (N ota de M. M arsat )
429 F0T1SM 0

tid o m a te m á tic o e n o s e n tid o v u lg a r d e s ­ p o r ta n to , o q u e o s m a te m á tic o s c h a m a m


t a p a la v ra ). (im p ro p ria m e n te ) u m a identidade*. C f .
B . E n u n c ia d o p re c iso e g e ra l q u e f o r ­ Equação.
n ece sem a m b ig u id a d e a re g ra a seguir p a ­ D. P o r e x te n s ã o , u m d o s m e m b ro s d e
ra u m tip o d e te rm in a d o d e o p e ra ç ã o . (C f. u m a fó r m u la C ., c o n s id e ra d o c o m o ex ­
a p a la v r a Formulário : “ F o r m u lá r io m é ­ p re s s ã o d o o u tr o m e m b ro . O u , p r a tic a ­
d ico , F o rm u lá rio d o e letric ista .” ) “ W e r... m e n te , c o m o a r e g ra a se g u ir p a r a c a lc u ­
w eiss, w as d e m M a th e m a tik e r ein e For­ la r e sta e x p re s s ã o . E x .: “ F ó r m u la d o b i­
mel b e d e u te t, d ie d a s , w a s zu th u n sei, u m n ô m io ; fó r m u la d e T a y lo r .”
eine a u fg a b e zu b e fo lg e n , g a n z g en au b es­ Rad. int.: F o r m u l.
tim m t u n d n ic h t v e rfe h le n lä ss t, w ird ei­
n e F o rm e l, w elch e d ieses in A n se h u n g a l­ F O R O Í N T IM O D o L . Forum; F r a n ­
le r P f lic h t ü b e r h a u p t t h u t , n ic h t f ü r e t­ cês a n tig o : fo r, p a la v r a c a íd a e m d e su so
w as u n b e d e u te n d e s u n d e n tb eh rlich es h a l­ e q u e sig nifica jurisdição; sem eq u iv alen te
t e n . ” 1 K a n t , Razão prática , n o ta a o em o u tr a s lín g u a s . F . For intérieur.
p re fá c io . O trib u n a l in te rio r d a consciência, p o r
C h a m a -s e , p o r a n a lo g ia , fó rm u la ar­ o p o s iç ã o a o s ju íz o s e x te rio re s d a lei o u
tística a u m e s q u e m a g e ra l d e c o m p o si­ d a o p in iã o p ú b lic a .
ç ã o p ró p r io d e u m a r tis ta , d e u m a é p o ­ D iz-se a in d a , p o r ab rev iação : “ N o seu
c a , etc. f o r o ; n o m e u f o r o , e t c .”
C . L o g í s t i c a . M a is e s tre ita m e n te ,
F O R T E D . Stark, kräftig; E . Strong;
S c h r ö d e r d e fin e a f ó r m u la c o m o u m a
F . Fort; I. Forte. P ro p ria m e n te q u em tem
re la ç ã o a lg o rítm ic a * q u e c o n té m te rm o s
fo rça* n o se n tid o A . F req u e n te m en te u s a ­
v ariáveis e q u e é v e rd a d e ira q u a isq u e r q u e
d o n o se n tid o fig u r a d o , e m se n tid o s m u i­
s e ja m os v a lo re s a trib u íd o s a esses te r ­
m o s. Algebra der Logik, 1 .1 , p . 487. É , to v a ria d o s e m u ita s vezes v ag o s. C f. Fra­
co, e v e r as o b se rv a ç õ e s a seg u ir.

1. “ Q uando se sabe que valor possui, para o m a­ F O R T U IT O V e r Acaso.


tem ático, um a fó rm u la que determ ina, de m odo to­
talm ente exato, sem que nos possamos enganar aqui­ F O T IS M O D . Photisma; E . Photism;
lo que é preciso fazer p a ra tra ta r de uma questão, F . Photisme; I. Fotisma.
não se verá com o algo de insignificante e de supér­
P a la v r a c r ia d a p o r B l e u l e r e L e h ­
fluo a descoberta de um a fórm ula que desem penha
o m esm o papel em relação a to do dever, de um a fo r­ m a n n p a r a d e sig n a r o s fe n ô m e n o s sines-
m a geral.“ tésico s q u e co n siste m e m im ag en s visu ais

S o b re F o r o ín tim o — Forum interius é u m a e x p re ss ã o e sc o lá stic a : “Forum inte -


rius (o u penitentiae, o u confessionis) o p õ e -s e a fo ru m exterius, judiciale o u publi­
ca tn .” S c h ü t z , Thomas-Lexicon, 3 2 7 . (R. Eucken )
S o b re F o r te — E ste te rm o é fr e q u e n te m e n te u s a d o n a p s ic o lo g ia e m p íric a c o n ­
c re ta : c re n ç a f o r te , v o n ta d e f o r te , p e rs o n a lid a d e f o r te . E x p re ssõ e s m u ito c o n fu s a s ,
p o r q u e tra n s fe re p a r a o s e sta d o s d e c o n sc iê n c ia a q u ilo q u e c a ra c te riz a o c o m p o r ta ­
m e n to . H á a í u m b e h a v io ris m o q u e se ig n o ra . A lé m d o m a is , a c o n o ta ç ã o im p líc ita
é n o rm a lm e n te fa v o rá v e l, o q u e é g r a tu ito . O s c h e iro s f o r te s p o d e m ser n a u s e a b u n ­
d o s , as “ p e rs o n a lid a d e s f o r te s ” in s u p o rtá v e is . M a le b ra n c h e n ã o c a iu n esse esco lh o
a o fa la r d a s “ im a g in a ç õ e s f o r te s ” , de q u e ele a s s in a la , p e lo c o n tr á r io , o p e rig o .
A e x p re ss ã o “ s e n tid o f o r te ” f a la n d o d e u m te rm o o u d e u m a e x p re ss ã o é assim
m u i t o s u j e i t a a c a u ç ã o . S ó é a c e i t á v e l s e o c o n te x to d e te rm in a r n itid a m e n te q u a l é
a a c e p ç ã o v is a d a . (M . Marsal — A . L .)
FRACO 430

lu m in o s a s o u c o lo rid a s (Zwangsmássige s á r ia d e e fe ito , m a s , s e n d o a c a u s a p r o ­


Lichtem pfm dungen durch Schall1, L eip - d u z id a , d iv erso s e fe ito s p o d e m , e m geral,
zig , 1881). d a í r e s u lta r c o m d iv e rsas p r o b a b ilid a ­
d e s .” L o u is de B2 Ã; Â « E , “ P a r a além d o s
F R A C O (L ó g .) A . A p ro p o s iç ã o em
m o v im en to s lim ites d a ciên cia” , Revue de
I é c h a m a d a a lg u m a s v ezes u m a fo rm a
métaphysique et de morale, ju lh o d e
“ m a is f r a c a ” d a p ro p o s iç ã o e m A ; e d a
1947, p . 228. V er Causa.
m e sm a fo r m a O em re la ç ã o a E (cf. a ex ­
C. N u m o u tro se n tid o , ch am a -se “ a r ­
p re s s ã o pejor pars p a r a d e sig n a r as n e ­
g u m e n to f r a c o ” o u “ ra c io c ín io f r a c o ”
g a tiv a s e as p a rtic u la re s ).
à q u e le q u e se ju lg a p o u c o c o n c lu d e n te .
O s silo g ism o s “ d e c o n c lu s ã o f r a c a ” “ E s p írito s f r a c o s ” , v e r Espírito.
(o u “ e n fra q u e c id a ” ) s ã o aq u eles q u e c o n ­
Rad. int .: F e b l.
clu em a p e n a s u m a p a r tic u la r , q u a n d o as
p re m is sa s a u to r iz a r ia m u m a u n iv e rs a l. F R E N O L O G I A D . Phrenologie; E .
S ã o Barbari * , Celaront*, Cesaro*, Ca- Phrenology; F . Phrénologie ; I. Fre­
mestros * , Camenos* (o u Celantos). V er nología.
C ÃZ I Z 2 τ I , Lógica de Leibniz, c. I. N o m e s o b o q u a l s e d e sig n a o r d in a ­
B . V ário s físicos c o n te m p o râ n e o s , se­ r ia m e n te a te o r ia d e G τ Â Â (1 7 5 8 -1 8 2 8 ),
g u in d o o e x e m p lo d e L o u is d e B2 Ã; Â « E , s e g u n d o a q u a l o s tr a ç o s d o c a r á te r e as
e m p re g am a e x p re ssão “ C a u s a lid a d e f r a ­ fa c u ld a d e s in te le ctu a is se m a n ife sta m p o r
c a ” q u e ele d e fin iu d a se g u in te m a n e ira : u m a s a liê n c ia o u “ b o s s a ” d e u m p o n to
“ À a n tig a c a u sa lid ad e fo rte q u e lig ava n e ­ d e te r m in a d o d o c râ n io . A s u a p rin c ip a l
c e s s a ria m e n te e u n iv o c a m e n te o e fe ito à o b r a in titu la -s e : Sobre as fu n çõ es do cé­
c a u s a , s u b s titu i-s e (n a fís ic a q u â n tic a ) rebro e sobre as de cada um a das suas
u m a c a u s a lid a d e f r a c a em q u e a c a u s a partes, etc. (1822 e seguin tes). Ele p ró p rio
a in d a c o n tin u a s en d o a c o n d iç ã o n eces­ n ã o se s e rv ia d e s ta p a la v r a , m a s d o s t e r ­
m o s “craniologie” e <,cranioscopie,\ E la
fo i to d a v ia a d o ta d a p o r A u g . C ÃOI E :
1. Sensações lum inosas determ in adas p o r son s “ N ã o c re io d e v er re c u s a r-m e a e m p re g a r
intensos. a q u i o n o m e j á u s a d o d e fre n o lo g ía in -

S o b re F r a c o (c a u s a lid a d e ) — N a q u ilo q u e a ssim é d e s ig n a d o , é a re la ç ã o e n tre


te rm o s eles p r ó p r io s rig o r o s a m e n te d e te r m in a d o s q u e é fra c a ? N ã o será a c a u s a lid a ­
d e tu d o a q u ilo q u e e la p o d e ser, n e m f o r te n e m f r a c a , m a s e n tre te rm o s fr a c a m e n te
d e te r m in a d o s , q u e r d e v id o à n o s s a in s u fic iê n c ia p a r a o fa z e r, q u e r d e v id o à p r ó p r ia
n a tu r e z a d o re a l? N ã o e x istirá n a id é ia d e c a u s a lid a d e f r a c a u m a c o n fu s ã o a n á lo g a
à q u e la q u e se e sta b e le c e e n tr e a f u n ç ã o y d e u m a v a riá v e l x (s e n tid o A ) e a f u n ç ã o
n o s e n tid o d e re la ç ã o f u n c io n a l (s e n tid o B) lig a n d o x a y ? D ito d e o u t r a m a n e ira ,
a o c o n s id e ra r a c a u s a lid a d e c o m o u m a n o r m a d o p e n s a m e n to c ie n tífic o , a e x p e riê n ­
c ia física re c e n te n ã o n o s c o n d u z ir á a s u p e r a r , o u a “ s u a v iz a r” a n o s s a ex ig ên cia
d e c o n d ic io n a m e n to , o u e n tã o a p e n a s a re c o n h e c e r q u e em c e rto s c a so s n ã o p o d e ­
m o s satisfa z ê-la, c o n tin u a n d o a id e n tific a ç ã o m á x im a e a d e te rm in a ç ã o m á x im a c o m ­
p a tív e is c o m o s d a d o s a t u a i s d a e x p e riê n c ia a s e r a s r e g r a s d a a t i v i d a d e in te le c tu a l?
(Aí. Marsaf)

S o b re F r a c o (silo g ism o ) — O s silo g ism o s d e c o n c lu s ã o f r a c a , a s s im c o m o a s su -


b a lte rn a ç õ e s e D orapti e Felapton, s ã o c o n s id e ra d o s ile g ítim o s p e lo s ló g ic o s q u e a d ­
m ite m o v a lo r e x isten cial* d a s p a rtic u la re s (a lg u n s S s ã o P - existem, S P ) e n ã o d o s
u n iv e rsa is ( to d o S é P = não há S q u e n ã o se ja S P ),
431 FRU STRA ÇÃ O ”

tro d u z id o n a ciên cia p o r S p u rzh e im , a in ­ I E em q u a lq u e r fig u ra q u e seja, ver C o u -


d a q u e G all dele se te n h a p ru d e n te m e n te TURAT, La togique de Leibniz , pp. 6-7.
a b s tid o , m e sm o a p ó s o te r v isto ser a d ­
F R ÍV O L A S (P ro p o siç õ e s ) T ra d u ç ã o
m itid o . M a s n ã o m e serv irei d e le n u n c a
d o in g lês “ trifling propositions” , L ÃT ­
sen ã o com estas d u a s in d isp en sáv eis c o n ­
3 E , Essay , IV , 8 ; c f. L E « ζ Ç« U , Novos en­
d iç õ es, d e m a s ia d o ig n o ra d a s h o je p e la
saios, ibid.
m a io ria d o s fren o lo g ista s: 1?, q u e n ã o se
LÃT3 E d e sig n a a ssim as p ro p o s iç õ e s
d e s ig n a rá desse m o d o u m a ciên cia fe ita ,
q u e n ã o a c re s c e n ta m n a d a ao n o s so c o ­
m a s u m a ciên cia in te ira m e n te p o r fa z e r,
n h e cim en to e q u e ele c h a m a ta m b é m p r o ­
c u jo s p rin c íp io s filo só fic o s f o r a m a ú n i­
p o siçõ e s p u ra m e n te v e rb a is (barely ver­
c a c o isa a té a q u i c o n v e n ie n te m e n te e sta ­
bal, only verbal): as p ro p o s iç õ e s id ê n ti­
b e lec id a p o r G a ll; 2 ? , q u e n ã o se p re te n ­
c as, a s q u e tê m c o m o a tr ib u to u m a p a rte
d e ra de m a n eira n e n h u m a c u ltiv ar este es­
d a d e fin iç ã o d o s u je ito , a q u e la s q u e n ã o
tu d o is o la d a m e n te d o re s to d a fisio lo g ia
fazem m a is d o q u e e n u n c ia r u m a sin o n í-
a n im a l... É p o r isso q u e p re fe rire i m u i­
m ia , etc. L E « ζ Ç« U , n a p a ss a g e m c ita d a ,
ta s vezes a d e n o m in a ç ã o , m e n o s rá p id a
m o s tro u o p a p el ló gico q u e p o d e m te r em
sem d ú v id a , m a s a m eu v er m u ito m ais
c e rto s ca so s as p ro p o s iç õ e s d este g ê n e ro .
ra c io n a l, d e fisiologia frenológica . ” Cur­
C f . Tautologia, Truísmo.
so de fil. p o s., liç ã o 4 5 , n o ta .
C f. Localizações. “ F R U S T R A Ç Ã O ” P r o p r ia m e n te ,
Rad. int. F re n o lo g i. a to o u a c o n te c im e n to q u e p riv a a lg u ém
d a q u ilo q u e lh e é d e v id o , d a q u ilo q u e ele
F R E S IS O N M o d o d a 4? fig u ra q u e se
e sp e ra , o u d a q u ilo q u e se e sp e ra ; s itu a ­
liga a Ferio* p e la c o n v e rsã o sim p les d as
ç ã o d a q u e le q u e é v ítim a d e sta p riv a ç ã o .
su as d u a s p re m issa s:
E s te te rm o te n d e a e n tr a r n a lin g u a ­
N enhum P é M . g em té c n ic a d a p sic o lo g ia , d a so c io lo g ia ,
A lg u m M é S. e tc ., o n d e é a p lic a d o n u m se n tid o m u ito
L o g o , a lg u m S n ã o é P . v a sto : “ F ru s tra tio n is d e fin e d b y D o lla rd
a n d h is a ss o c ia te s as 'T h a t c o n d itio n
CRÍTICA w h ich exists w h en a g o al-resp o n se su ffers
N ã o se d eve c h a m a r este m o d o Fresi- in te rfe re n c e ’, w h ereas a g re ssio n is d e fi­
son, c o m o P Ã2 I -R Ãà τ Â , p o r q u e n u n c a n e d a s ‘a n a c t w h o se g o a l-re s p o n se is in -
a c o n te c e a in te rv e n ç ã o d a s p re m issa s p a ­ ju r ity to a n o rg a n is m , o r o rg a n ism -
r a o re d u z ir à 1? fig u ra (v er Frise- s u r r o g a te ’. T h e ir th e sis is th a t a g re ssio n
somorum). is alw ay s th e c o n se q u e n c e o f f r u s tr a ­
t i o n .” « V . J . M T G « Â Â , “ S o cial P h ilo ­
F R IS E S O M (o ru m ) M o d o in d ire to d a s o p h y in A m e ric a ” , in M a rw in F τ 2 ζ E 2 ,
p rim e ira fig u ra, c h a m a d o Fresison q u a n ­ Philosophic Thought in France and the
d o é c o n s id e ra d o c o m o u m m o d o d a 4? United States, p . 697 (tra ta -s e d a o b r a de
fig u ra . E n u n c ia d o so b a fo r m a d ita Fri- J o h n D o lla rd , L . D o o b , N . E . M o w re r,
sesomorum, a p re s e n ta ria a seg u in te d is­ O . H . M o w rer e R . W . S ears, Frustration
p o s iç ã o : and Agression, 1939, p . 11).1
A lg u m M é P .
N enhum S è M . 1. “ A frustração é definida por D ollard e seus
L o g o , a lg u m P n ã o é S. colaboradores com o a condição criada (num indivi­
duo ou num grupo) ‘quando um a reação dirigida pa­
CRÍTICA ra um fim é co n tra riad a’ e a agressão com o 'um ato
cu ja reação dirigida é a de incom odar um organis­
V er Figura. S o b re a im p o ssib ilid a d e m o. ou a o substituto desse organism o’. A sua tese
d e e x tra ir u m a c o n c lu s ã o d a s p rem issas é a de que a agressão resulta sempre da frustração.”
“ FU LG U R A Ç Ã O ” 432

C R ÍT IC A s e n tid o so c ia l, m a s e sta p a la v r a é m u ito


N o ta r-s e -á n e sta p a la v r a o e q u ív o c o m a is a m p la ; F . Fonction; I. Funzione.
e n tre a q u ilo q u e p riv a u m s u je ito d a q u i­ Sentido geral:
lo q u e lh e é d e v id o e a q u ilo q u e o p riv a P a p e l e características d e sem p en h ad o s
a p e n a s d a q u ilo q u e ele e s p e ra . S em co n - p o r u m ó r g ã o n u m c o n ju n to c u ja s p a r ­
s e q ü ê n d a em p sico lo g ia o u so cio lo g ia p u ­ te s são in te rd e p e n d e n te s . E ste c o n ju n to
p o d e ser m e c â n ic o , fisio ló g ic o , p síq u ic o
r a m e n te d e sc ritiv as, to rn a -s e g ra v e q u a n ­
o u so cia l. “ F u n ç ã o d o a r c o b o ta n te ; f u n ­
d o se tr a ta d e ju íz o a x io ló g ic o .
ç ã o d o fíg a d o ; f u n ç ã o d o a d je tiv o ; f u n ­
“ F U L G U R A Ç Ã O ” T e rm o u sad o p o r ç ã o d o d in h e ir o .”
L E « ζ Ç« U p a r a d esig n ar o m o d o de criação Específicamente:
d a s m ó n a d a s e a s u a re la ç ã o c o m a s u b s ­ 1? E m B « ÃÂ Ã; « τ . G r a n d e classe d e
tâ n c ia d iv in a . “ S ó D eu s é a u n id a d e p r i­ p r o p r ie d a d e s a tiv a s n u m s e r v iv o .
m itiv a o u a su b stâ n c ia sim ples o rig in á ria , R eco n h ece-se, em g e ra l, n e ste sen tid o três
d a q u a l to d a s as m ó n a d a s c ria d a s o u d e ­ fu n ç õ e s b io ló g ic a s f u n d a m e n ta is : n u tr i­
riv a tiv a s são p ro d u ç õ e s e n a sc e m , p o r a s ­ ç ã o , re la ç ã o , r e p ro d u ç ã o .
sim d iz er, p o r fulgurações c o n tín u a s d a 2? E m P è « TÃÂ Ã; « τ . “ F u n ç ã o n ã o
D iv in d a d e , d e m o m e n to a m o m e n to , li­ te m e m p sico lo g ia o m e sm o se n tid o q u e
e m fis io lo g ia . U m a f u n ç ã o p s ic o ló g ic a
m ita d a s p e la re c e p tiv id a d e d a c r ia tu r a ,
lig a-se n ã o a u m ó rg ã o p a r tic u la r , m a s a
p a r a a q u a l é essencial ser lim ita d a .” M o·
u m s iste m a d e c a u s a s c e n tr a d a s n o s m es­
nadologia, 4 7 .
m o s o b je tiv o s g e r a is .” A. BZ 2 Â ÃZ á , Le
Rad. in í .: F u lm ig (Boirac ).
caractere , I.
1. F U N Ç Ã O D . F unktion; A m t n o 3? E m SÃT« ÃÂ Ã; « τ . Q u a lq u e r p ro f is ­
s e n tid o so c ia l; E . Function; office , n o s ã o e n q u a n to é c o n s id e ra d a c o m o a lg o

S o b re F u n ç ã o (1) — E s ta p a la v r a , n e s te s e n tid o , fo i d e fin id a a p e n a s n a p rim e ira


re d a ç ã o d e s te a rtig o d e s ta m a n e ira “ P a p e l d e s e m p e n h a d o p o r u m ó rg ã o , e t c .”
“ O p a p e l d e s e m p e n h a d o p o r u m ó r g ã o ” , e sc re v e u -n o s Goblot t “ n e m s e m p re é
a função d esse ó rg ã o . U m ó rg ã o p o d e te r efeitos e usos q u e n ã o s ã o d e m o d o a lg u m
a s u a fu n ç ã o . O a rc o b o ta n te te m p o r f u n ç ã o s u p o r ta r p e so s c u ja s re s u lta n te s c a ia m
f o r a d o s a p o io s v e rtic a is, p o d e te r c o m o e fe ito o e n s o m b r a r d o e d ifíc io ; p o d e ser
u tiliz a d o p a r a a c e d e r à a r m a ç ã o d o te lh a d o , p o d e -s e t ir a r dele p a r tid o p a r a a d e c o r a ­
ç ã o . O s m e m b ro s in fe rio re s d o h o m e m , q u e tê m p o r f u n ç ã o a lo c o m o ç ã o te rre s tre ,
p o d e m serv ir p a r a a n a ta ç ã o . A lin g u a g e m , q u e te m p o r fu n ç ã o a c o m u n ic a ç ã o d o
p e n s a m e n to , p o d e se rv ir p a r a o v e lar. A m o e d a , q u e te m p o r f u n ç ã o a m e d id a d o
v a lo r, p o d e ser u tiliz a d a n a o r n a m e n ta ç ã o , o u to m a r o p a p e l d e d o c u m e n to h is tó ri­
c o . A fu n ç ã o de u m ó rg ã o é a a tiv id a d e p a r a a q u a l e s tá adaptado a q u e c o n s titu i
a ra z ã o d e ser d a s u a e s tr u tu r a , a q u e la c u ja necessidade p re e x istiu a o ó rg ã o e d e te r ­
m in o u a f o r m a ç ã o o u a tr a n s f o r m a ç ã o d o ó r g ã o .” (V er G Ãζ Â ÃI , “ F u n ç ã o e fin a li­
d a d e ” , n a Révue philosophique , 1899, II , 6 3 5 .)
O te x to fo i iig e ira m e n te m o d if ic a d o p a r a d a r c o n ta d a o b je ç ã o a c im a le v a n ta d a
p o r M . G Ãζ Â ÃI , c u ja o b s e rv a ç ã o s e r v irá a liá s p a r a p re c is a r e s ta d e fin iç ã o . M a s n ã o
m e p a re c e p o ssív e l, n o s e n tid o geral d a p a la v r a , a c e ita r a fó r m u la p ro p o sta p e lo a u ­
to r : e la é d e m a s ia d o e sp e c ia lm e n te b io ló g ic a . C o m e fe ito , n ã o se p o d e d iz er q u e a
f u n ç ã o s o c ia l d e u m in d iv íd u o s e ja “ a r a z ã o d e s e r d a s u a e s tr u tu r a ” e p o d e m u ito
b e m a c o n te c e r q u e u m f u n c io n á rio n ã o e s te ja a d a p ta d o à s u a f u n ç ã o . P o r o u tr o la ­
d o , m e sm o em b io lo g ia , u m a te o ria q u e d e fin a fu n ç ã o p e la n e c e ssid a d e n ã o s e ria
u n iv e rs a lm e n te a c e ita . {A, L .)
433 FUNÇÃO

q u e c o n trib u i p a r a a v id a to ta l d a so cie­ cia fo r ex p ressa p o r u m a eq u aç ã o q u e p e r­


d a d e , n o s e n tid o m a is v a sto d e sta e x p re s­ m ita c a lc u la r y c o n h e c e n d o x , a f u n ç ã o
s ã o . P o d e m -s e d is tin g u ir: a) as fu n ç õ e s é d ita explícita. É d ita implícita n o c aso
so cia is privadas , e x e rc id a s p o r p a rtic u la ­ c o n tr á r io .
res d e u m m o d o a u tô n o m o ; b ) as fu n çõ es P a r a R « E Oτ ÇÇ , y é f u n ç ã o d e x , se a
publicas, e e sp e c ia lm e n te as fu n ç õ e s d e c a d a v a lo r d e x c o rre s p o n d e r u m v a lo r d e
Estado* (cu jo s re p re se n ta n te s são o s ú n i­ y b e m d e te r m in a d o , q u a lq u e r q u e se ja o
cos a u s a r , n o rm a lm e n te , o n o m e t e fu n ­ p ro cesso q u e p e rm ita estab elecer esta c o r­
cionarios). re sp o n d ê n c ia (L E ζ E è ; Z E , Lições sobre a
D istin g u e-se a in d a e n tre e sta s as fu n ­ integração , 1904). E m p a rtic u la r n e m t o ­
çõ es d e polícia e as fu n ç õ e s d e administra­ d a s as fu n ç õ e s sã o algébricas ; e x istem
ção; a s funções de autoridade (as q u e im ­ fu n ç õ e s transcendentes*.
plicam u m a delegação p arcial d o p o d e r p ú ­ A s d efin içõ es p reced en tes n ã o se re fe ­
blico : m a g is tra d o , p re fe ito , p o licial); e as re m a p en as às fu n çõ es uniformes*, p a ra
funções de gestão (as q u e s ã o assim iláveis a s q u ais u m só v a lo r de y c o rre sp o n d e a
p o r n atu reza a um serviço p riv ad o , m as são c a d a v a lo r de x. U m a f u n ç ã o , n o sen tid o
ex ercid as p o r c o n ta d o E s ta d o e so b a su a m ais g eral, p o d e te r, p a ra c a d a v a lo r de x ,
d ireção : en g en h eiro s d o E sta d o , p ro fe sso ­ v ário s v alo res, o u m esm o u m a in fin id ad e
res, e m p reg ad o s d o s co rreio s). E s ta ú ltim a
(fu n çõ es multiformes, infinitiformes).
d istin ç ão é n o v a e as c ateg o rías q u e c o m ­
B . R e la ç ã o fu n c io n a l e n tr e x e j> . V er
p o r ta estão a in d a m a l estab elecid as.
a d ia n te a s o b se rv a ç õ e s.
2 . F U N Ç Ã O D . F unktion ; E . Func-
tion; F . Fonction ; I. Funzione. N O TA
M a t. A . L « ζ Ç« U c h a m a a ss im , em
E A n o ç ã o d e f u n ç ã o , n ã o im p lic a n d o
p rim e iro lu g a r, às d iv ersas lin h a s q u e v a ­ a n a tu r e z a q u a n tita tiv a d a s v a riá v eis, fo i
ria m c o m a p o s iç ã o de u m p o n to (ab cis- e s te n d id a a o s te rm o s v a riá v eis d a ló g ic a ;
s a , o r d e n a d a , c o r d a , ta n g e n te , e tc .). V er o b têm -se assim funções lógicas. T em o s aí
Gerh. Math. Schr., v, 307 e 408. n ã o u m n o v o sen tid o , m as u m a n o v a a p li­
S eg u n d o L τ ; 2 τ Ç; E , “ ch am a -se fu n ­ c a ç ã o d a p a la v r a função.
ção de u m a o u d e v á ria s q u a n tid a d e s a
to d a e x p re ssã o d e c á lc u lo n a q u a l estas F u n ç ã o p ro p o s ic io n a l E . Propositio­
q u a n tid a d e s en trem de a lg u m a m a n e ira ” . nal function (R Z è è E ÂÂ ); F. Fonction pro-
Teorias das fu n çõ es analíticas, c. I. positionelle.
P a r a C τ Z T7 à , u m a v ariável* y é f u n ­ C h a m a m -s e a ssim às e x p ressõ es ló g i­
ç ã o de u m a v ariáv el x, q u a n d o a c a d a u m c as q u e c o n tê m u m a o u v á ria s v ariáv eis
d o s e s ta d o s de g ra n d e z a d e x c o rre s p o n ­ e ta is q u e se se s u b s titu íre m p o r c o n s ta n ­
d e u m e s ta d o d e g ra n d e z a p e rfe ita m e n te te s (d o s te rm o s d e te r m in a d o s ), a e x p re s­
d e te r m in a d o d e Se e s ta c o rre s p o n d ê n ­ s ã o c o n s id e ra d a to rn a -s e u m a p ro p o s i-

S o b re F u n ç ã o — “ P o d e -s e , em p s ic o lo g ia , c la ssific a r a ssim p o r o p o s iç ã o o s s e n ­
tid o s d e ste te rm o : 1 ? (o p o s to a fenôm eno ): c a p a c id a d e m e n ta l, c o m o a sen sib ilid a d e
(o p o s ta à s e n s a ç ã o ), a m e m ó ria (o p o s ta à re c o rd a ç ã o o u à im a g e m ), a a fe tiv id a d e
(o p o s ta a o s e n tim e n to , à e m o ç ã o , e tc .); 2? (o p o s to à estrutura ): c o n ju n to de o p e r a ­
çõ es m e n ta is, p ro c e ss o c o n s id e ra d o n o seu c a r á te r d in â m ic o ; p . ex. o ju íz o , a c o m ­
p a r a ç ã o , o a to d e f a la r; 3? (o p o s to a descrição, análise ): p a p e l, u tilid a d e d e u m fe­
n ô m e n o ; sig n ific a ç ã o b io ló g ic a .” (Ed. Claparède )

H á q u e a s s in a la r e n tre o s s e n tid o s 1 e 2 d a p a la v r a função c o n fu s õ e s q u e n ã o


s ã o ta lv e z m u ito ra r a s (n a p sic o fisio lo g ia , p o r e x em p lo ); o s e n tid o 2, d e o rig e m m a ­
te m á tic a , q u e fo rn e c e u m m eio c ô m o d o (a in d a q u e fr e q ü e n te m e n te v ag o ) de ex p ri-
F U N C IO N A L 434

ç ã o (v e rd a d e ira o u fa ls a , c o n fo rm e as n a id é ia d e q u e o e x ercício d a s fu n ç õ e s
c o n s ta n te s e sc o lh id a s). P o r e x e m p lo , “x é a co n d içã o d o seu d esen v o lv im en to , sen ­
é h o m e m ” , “ o c h u m b o é ^ ” s ã o fu n ç õ e s d o a o rd e m d e ste d e se n v o lv im e n to p re ­
p ro p o sic ío n ais sim p les q u e se to rn a m res­ d e te rm in a d a p e la n a tu re z a , o exercício de
p e c tiv a m e n te p ro p o siç õ e s v e rd a d e ira s p a ­ u m a f u n ç ã o é u m a c o n d iç ã o n e c e s sá ria
ra S ó c ra te s , y = p e s a d o , fa ls a s p a r a p a r a o p o s te r io r a p a r e c im e n to d e c e rta s
j r = P é g a s o , y = v e rm e lh o . U m a fu n ç ã o o u tr a s fu n ç õ e s ; p a r a e x e rc ita r u tilm e n te
p re p o sic io n a l d u p la será, p o r ex em p lo , d a u m a c ria n ç a é n e c e ssá rio c o lo c á -la n a s
f o r m a tlx é h o m e m D x é m o r t a l” . V er con d içõ es p ró p ria s p a ra fazer n a sc e r a n e­
Variável. c essid ad e q u e será s a tis fe ita co m esse
Rad. int.: F u n c tio n . ex ercíc io , e m s u m a , q u e a c ria n ç a n ã o é
u m s e r im p e rfe ito d o p o n to d e v ista d a s
F U N C I O N A L D . Funktional ; E . su a s fu n ç õ e s físic as e m e n ta is , q u e se d e ­
Functíonal\ F. Fonctionnel; I. Funzionale. v e ria le v a r o m ais r a p id a m e n te p o ssív el
A . R e la tiv o a u m a f u n ç ã o n o s e n tid o a p a re c e r-s e c o m o h o m e m a d u lto , m a s,
A . C h a m o u -se psicologia funcional à q u e ­ p e lo c o n tr á r io , u m ser c u jo s e sta d o s p o s ­
la q u e e s tu d a o s p ro c e sso s m e n ta is d o su e m , c a d a u m p o r si, a s u a p e rfe iç ã o
p o n to de v ista d in â m ic o , e n q u a n to m eio s p r ó p r ia , e de q u e o e d u c a d o r d ev e f a v o ­
d e certo s fins (e m esm o m ais esp ecialm en ­ recer a p le n a re a liz a ç ã o sem a n te c ip a r a
te , s e g u n d o a lg u n s a u to r e s , e n q u a n to se q ü ê n c ia d o d e se n v o lv im e n to . V er C Â τ -
a g e n te s d e s a tis fa ç ã o d e c ertas n e c e ssid a ­ ú τ 2 è á E , J . - J . R o u ss e a u e a c o n c e p ç ã o
des b io ló g icas). E s te te rm o receb eu a liá s, f u n d o n a l d a in fâ n c ia, Revue de métaphy -
p a rtic u la rm e n te n a A m é ric a , se n tid o s sique, m a io d e 1912. A e x p re s s ã o
m u ito d ife re n te s u n s d o s o u tr o s . V er e m p re g a -se ta m b é m n u m s e n tid o p r ó x i­
R Z T3 O« T7 , “ T h e U se o f th e T e rm F u n c ­ m o d a q u e le q u e fo i a c im a d e fin id o a o f a ­
tio n in E n g lish T e x t-b o o k s o f P s y c h o - la r d a psicologia funcional: “ U m a p e d a ­
lo g y ” , American Journal ofPsychology, g o g ia f u n c io n a l é u m a p e d a g o g ia q u e se
ja n e ir o d e 1913. O p õ e -se a estrutural*. p ro p õ e d e se n v o lv e r o s p ro c e ss o s m e n ta is
C h a m a -s e teoria funcional da educa­ le v a n d o e m c o n ta a s u a sig n ific a ç ã o b io ­
ção à q u e la q u e b a s e ia to d a a p e d a g o g ia ló g ic a ..., q u e v ê o s p ro c e ss o s e a s a tiv i-

m ir a id é ia d a v a ria ç ã o s im u ltâ n e a o u d e p e n d e n te d e d o is te rm o s re a is; e a re a lid a d e


d e ste s te rm o s , q u e fa z e m s e g u id a d e sliz a r o p e n s a m e n to p a r a o s e n tid o 1, q u e e s ta ­
b elece u m a lig a ç ã o n ã o só d e f o r m a , m a s ta m b é m d e f u n d o , d e u m c o m o o u tr o ,
d e a n a lo g ia d a re la ç ã o b io ló g ic a e n tr e a f u n ç ã o e o ó r g ã o . (M. Bernes)
S e g u n d o C a u c h y e R ie m a n n , n a e x p re s s ã o y ig u a l / (* ), é y q u e é a f u n ç ã o . É
n e s te s e n tid o q u e se e s tu d a m a s v a ria ç õ e s d e u m a f u n ç ã o . M a s o u s o e ste n d e o n o m e
d e f u n ç ã o a to d a a e x p re s s ã o , e ta m b é m à re la ç ã o fu n c io n a l q u e lig a a s d u a s v a r iá ­
veis. N e ste s e n tid o , a f u n ç ã o n ã o v a ria , n a m e d id a e m q u e é, p e lo c o n tr á r io , a lei
c o n s ta n te d a s v a ria ç õ e s d o s d o is te rm o s . R esid e a í u m a fo n te d e c o n f u s ã o q u e to r n a
p o u c o in te lig ív e l ta l p á g in a c o n te m p o r â n e a q u e se p o d e r ia c ita r. A d is tin ç ã o e a lig a ­
ç ã o d a s s u a s id é ia s e s tã o b e m e v id e n c ia d a s n e ste te x to d e P ie rre B ÃZ I 2 ÃZ 7 : “ C o n ­
c e b e r u m a f u n ç ã o d e u m a v a riá v e l — u m a c o rre s p o n d ê n c ia e n tre d u a s v a riá v e is m a ­
te m á tic a s — é , em d e fin itiv o , a d m itir q u e e n tre d o is te rm o s q u e v a ria m s im u lta n e a ­
m e n te ex iste u m a re la ç ã o id ê n tic a a si p r ó p r ia ; é p o s tu la r q u e , s o b a a p a r e n te m u ­
d a n ç a d o a n te c e d e n te e d o c o n s e q ü e n te , ex iste q u a lq u e r c o isa d e c o n s ta n te . O r a , este
p o s tu la d o , c o n h e c e m o -lo b e m . É ele q u e p re s id e em to d a a escala a to d a s as ciên cias
físic as e n a tu r a is . É o c o n c e ito g e ra l d e L e i.” O ideal cientifico dos matemáticos.
(M. Marsal)
43S FU N D A M EN TO

d a d e s p s íq u ic a s c o m o in s tru m e n to s d e s­ m in a o assentimento legítimo d o e sp írito


tin a d o s ... à m a n u te n ç ã o d a v id a , c o m o a u m a a f ir m a ç ã o , o u a u m c o n ju n to d e
fu n çõ es , e n ã o c o m o p ro c e sso s q u e p o s ­ afirm a ç õ es sejam elas esp ecu lativ as, sejam
s u a m a s u a ra z ã o de ser e m si p r ó p r io s .” elas p rá tic a s . “ O s C o p e rn ic a n o s fa la m
E d . C Â τ ú τ 2 è á , p re fá c io à tr a d u ç ã o de
E c o m o s o u tr o s h o m e n s d o m o v im e n to d o
D ç à , A escola da criança.
E E
so l, e c o m f u n d a m e n t o ...” L « ζ Ç« U , N o ­
E

O s d o is s e n tid o s s ã o , a liá s , e s tr e ita ­ vos ensaios, 1 , c . 1, § 1 . ' *Os f a to s q u e ser­


m e n te a p a r e n ta d o s . v em d e fu n d a m e n to à m o r a l s ã o o s d e v e ­
B . Q u e d iz re s p e ito o u q u e c o n stitu i re s g e ra lm e n te a d m itid o s , o u p elo m e n o s
u m a fu n çã o , n o s e n tid o m a te m á tic o B a d m itid o s p o r a q u e le s c o m q u e m se d is­
d e s ta p a la v r a . Relação fu n cio n a l é a q u e ­ c u te .” P a u l J τ Ç E I , Traite élémentaire de
la q u e ex iste e n tr e d o is te rm o s d o s q u a is Philosophie , 4? e d ., p . 552.
u m p o d e s e r c o n s id e ra d o c o m o v a riá v e l E s ta p a la v r a , p o r c o n s e q ü ê n c ia , p o s ­
in d e p e n d e n te e o o u tr o c o m o f u n ç ã o d o su i u m v a lo r d e a p r o v a ç ã o m u ito c a r a c ­
terístico : a q u ilo q u e “ n ã o te m fu n d a m e n ­
p rim e iro ( p o r e x e m p lo , a re s istê n c ia de
t o ” é ile g ítim o o u q u im é ric o ; a q u ilo q u e
u m c irc u ito e a in te n s id a d e d a c o rre n te
é “ f u n d a d o ” é ju s to o u s ó lid o .
q u e o p e rc o rre ).
B . A p ro p o s iç ã o m a is g e ra l e m a is
Rad. int .; F u n c io n a l.
sim p les ( o u , m a is e x a ta m e n te , o s iste m a
F U N C IO N A L IS M O V er Suplemento. fo r m a d o p e la s id é ia s e p ro p o s iç õ e s m a is
gerais e m e n o s n u m e ro sas), d e o n d e se p o ­
F U N D A M E N T O D . Grund, Begrün­ d e d e d u z ir to d o u m c o n ju n to d e c o n h e ­
dung, Grundlage ; ( Grundlegung , a ç ã o de c im e n to s o u p re c e ito s . O fundam ento da
fu n d a r ) ; E . Foundation ; F . Fondem ent ; indução é, n este s e n tid o , u m p rin c íp io ta l
I. Fondamento. q u e d e le s e p o d e d e d u z ir f o r m a lm e n te 4'
M e tá f o r a e x tr a íd a d a a r q u ite tu r a : o d ire ito d e p a s s a r d o s f a to s à s leis e c o n ­
a q u ilo s o b re q u e re p o u s a u m c e rto c o n ­ c lu ir d o p a s s a d o o f u tu r o . P o r e x e m p lo ,
ju n to d e c o n h e c im e n to s . a p e rfe iç ã o e a v e ra c id a d e d iv in a s em
M a s repousar , n e s ta f ó r m u la , p o d e D è Tτ 2 è .
E I E

en ten d e r-se e m d o is sen tid o s, d a í d u a s es­ Fundam ento da moral. P r in c íp io d e


pécies m u ito d ife re n te s d e fundam ento. o n d e se d e d u z e m as v e rd a d e s m o ra is p a r ­
A . A q u ilo q u e d á a a lg u m a co isa a su a tic u la re s n u m siste m a é tic o d a d o . P o r
ex istên cia o u a su a ra z ã o d e ser. “ O m u n ­ e x e m p lo , o v a lo r ú n ic o d o p ra z e r, s e g u n ­
d o in telig ív el é o f u n d a m e n to ... d o m u n ­ d o E ú í T Z 2 Ã ; a e sc a la d a p e rfe iç ã o , se­
d o s e n s ív e l.” D Â ζ Ã è , Philosophie pra­
E g u n d o M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 E , W Ã Â E E , e tc .
tique de Kant. N o seg u im en to , a q u ilo q u e {Praktische Bestimmungsgründe, praktis­
ju s tif ic a u m a o p in iã o , a q u ilo q u e d e te r ­ che Grundsätze, K τ Ç ). I

S o b re F u n d a m e n to e F u n d a r — O a rtig o Fundar fo i a c re s c e n ta d o n a q u in ta e d i­
ç ã o ; o a rtig o fundam ento tin h a s id o m o d if ic a d o n a p rim e ir a c o n fo rm e a s o b s e r v a ­
çõ es d e J. Lachelier, A . Landry, E. Van Biéma. E s te ú ltim o fe z n o ta r q u e fu n d a ­
mento n e m s e m p r e d e sig n a v e rd a d e s primeiras , m a s tã o - s ó a s v e r d a d e s ló g icas a n te ­
rio re s à q u e la s q u e se t r a t a d e fu n d a r : “ D ir-se -á , c re io e u , fundam ento últim o q u a n ­
d o se q u is e r e x p rim ir c o m rig o r o te rm o d e p o is d o q u a l o e s p írito j á n ã o c o n c e b e
reg ressão p o s sív e l.” Is to é v e rd a d e n o se n tid o A , e a fó r m u la fo i m o d ific a d a de a c o rd o
c o m e sta n o ta ; m a s j á n ã o o é n o s e n tid o B : o “ f u n d a m e n to d a m o r a l” , p o r ex em ­
p lo , só p o d e s e r o p rin c ip io s u p re m o d a m o ra lid a d e .
A Crítica e as p ro p o s iç õ e s q u e a te r m in a m , a p r o v a d a s p e la m a io r p a r te d o s c o r ­
re s p o n d e n te s , le v a n ta ra m c o n tu d o a s seg u in te s o b je ç õ e s :
FU N D A M EN TO 436

Fundamentação da metafísica dos so ciad as p e lo d esen v o lv im en to de trê s o r ­


costumes. T r a d u ç ã o c o n s a g r a d a d o títu ­ d e n s de ciên cias:
lo d a o b r a d e K a n t: Grundlegung zur Me- 1 ? As ciên cias e x p erim en tais apóiam-
taphysik der Sitien-, m a is e x a ta m e n te : $e em o b se rv a ç õ e s e g e n e ra liz a ç õ e s m o ­
c o n s titu iç ã o d e u tn fu n d a m e n to p a r a a d e s ta s , m a s in d u b itá v e is, q u e c o n stitu e m
m o ra lid a d e , e s tu d o q u e te m p o r o b je ti­ a so lid e z d a c iên cia; p e lo c o n tr á r io , o s
v o " in v e s tig a r e e sta b e le c e r e x a ta m e n te seu s p rin c íp io s m a is s im p le s, d o s q u a is
o p rin c ip io s u p re m o d a m o r a lid a d e " v a s to s c o n ju n to s p o d e m ser d e d u z id o s ,
{Prefácio a d finem ). s ã o h ip o té tic o s e m a is o u m e n o s d is c u tí­
veis. Só são a d m itid o s p o rq u e co n têm im ­
T2 í I « Tτ p lic ita m e n te , s o b u m a f o r m a m u ito g e­
O s d o is s e n tid o s d e sta p a la v r a fo r a m ra l, o s f a to s p a rtic u la re s e a s v e rd a d e s
q u a s e s e m p re c o n f u n d id o s , sem d ú v id a m a is esp e c ífic as q u e se t r a t a d e s is te m a ­
a o f a to de n a esco lástica, e d ep o is n o c a r­ tiz a r e n ã o d e ju s tific a r. F u n d a m e n to s n o
te sian ism o , se c o n sid e ra r q u e a ú n ic a m a ­ s e n tid o d e d u tiv o n ã o o s ã o , p o r ta n to , n o
n e ir a le g ítim a e s ó lid a d e o b te r a a d e s ã o s e n tid o d e m o n s tra tiv o .
d o e s p írito e r a a d e d e d u z ir a q u ilo q u e se 2? A c o n te c e ta m b é m n a g e o m e tria
p re te n d ia d e m o n stra r d e p ro p o siç õ es m ais e le m e n ta r q u e o s te rm o s p re lim in a re s re­
sim p le s e p rim itiv a s , q u e p o s su e m p o r si p re s e n ta m id é ia s a o m e s m o te m p o s im ­
m esm as u m v a lo r d e a u to rid a d e o u d e evi­ p le s e fa m ilia re s ; o s a x io m a s e o s p o s tu ­
d ê n c ia . M a s e sta s d u a s id éias fo r a m dis- la d o s , v e rd a d e s q u e b a s ta c o m p re e n d e r

P a re c e -m e q u e J τ Ç fe z , n o te x to c ita d o , u m u so im p r ó p r io e e q u ív o c o d e f u n ­
E I

dam ento. O s " d e v e r e s g e ra lm e n te a d m itid o s ” n ã o p o d e m ser o f u n d a m e n to objeti­


vo d a m o ra lid a d e , m a s p o d e m ser, p a r a a q u e le q u e d isc u te s o b re a m o ra l, u m f u n d a ­
m e n to subjetivo: p o d e a p o ia r-s e n ele n o s e n tid o d e q u e o a d v e r s á rio é o b rig a d o a
tê -lo em c o n ta . A ssim , m a is c o r r e to s e ria d iz e r n esse s e n tid o " u m p o n to d e a p o io
p s ic o ló g ic o ” . N a te o ria m o ra l q u e p o r o r a a q u i se re s u m e , n ã o h á , p a r a fa la r co m
p ro p r ie d a d e , fundam ento: ex istem a p e n a s fa to s e hipóteses explicativas, q u e o s f a ­
to s p o d e m ju s tif ic a r , m a s n ã o f u n d a m . ( / . Lachelier)
O fu n d a m e n to d a m o r a l é a q u ilo q u e le g itim a p a r a a ra z ã o o n o s s o c o n h e c im e n ­
to d e u m a v e rd a d e m o r a l, o u , e m to d o c a s o , a e x istê n c ia d a s n o s s a s a p re c ia ç õ e s m o ­
ra is . O s f a to s s ó s e rv e m , p a re c e -m e , d e fu n d a m e n to a u m a m o ra l se se p r o c u r a r n a
g e n e ra liz a ç ã o d esses fa to s a le g itim a ç ã o d e ssa m o ra l. Se se p re te n d e , p e lo c o n tr á r io ,
d e s ig n a r c o m este n o m e o p o n to d e p a r tid a d a d is c u s s ã o , o o b je to s o b re o q u a l a
in v e stig a ç ã o se d e b r u ç a , te m o q u e se e s te ja u s a n d o u m a e x p re ss ã o a n f ib o ló g ic a e p e ­
rig o s a . A e x istê n c ia d e " d e v e re s g e ra lm e n te a d m itid o s ” p o d e f u n d a r a investigação
d e u m p rin c íp io m o r a l, n ã o a v e rd a d e m o r a l. D a m e s m a m a n e ira , a ex istên c ia d e
“ v e rd a d e s e v id en tes” e m m a te m á tic a s p o d e fu n d a r a investigação d o s p rin c íp io s m a is
s a tis fa tó rio s p a r a o e sp írito sem q u e isso im p e ç a esses p rin c íp io s d e f u n d a r lo g ic a ­
m e n te a e x istê n c ia d essas v e rd a d e s e v id e n te s , (E. Van Biéma)
Fundamento fo i d u r a n te ta n to te m p o s in ô n im o d e contraforte abstrato, de base
teórica, q u e e x iste a lg u m p e rig o e m p r e te n d e r h o je a tr ib u ir - lh e , e s u b ita m e n te , u m
c o n te ú d o c o n c re to . A d is tin ç ã o e n tre o s fu n d a m e n to s e os p rin c íp io s p a re c e -n o s, sem
d ú v id a , d e v e r s u b s is tir, m a s n ã o tã o n itid a m e n te c o m o se p re te n d e . E u c h a m o fu n ­
dam entos a o s p rin c íp io s gerais s o b re o s q u a is p o d e re p o u s a r u m s iste m a d o m u n d o
m e ta fís ic o o u re lig io so ; princípios, a o s p rin c íp io s e sp e c iais s o b re o s q u a is re p o u s a
u m a d is c ip lin a p a r tic u la r ; o s fu n d a m e n to s e o s p rin c íp io s s ã o , uns e outros, d e o r ­
d e m a b s tr a ta , te ó ric a e ló g ic a .
437 FUNDAR

p a r a n ã o se p o d e r c o lo c á -la s e m d ú v id a . a e x istê n c ia d e u m a ló g ic a e s p o n tâ n e a
M a s lo g o q u e e s te e stá g io d e d e se n v o lv i­ (Lógica naturalis) d is tin ta d e Lógica do-
m e n to é u ltr a p a s s a d o , a d u a lid a d e a p a ­ cens e d e Lógica utens (U E ζ E 2 ç E ; ,
rece: é assim q u e , n a s m a te m á tic a s m o ­ System der Logik, 5? e d ., § 4).
d e rn a s , o c o n ju n to d o s princípios to m a ­ P r o p o m o s , p o r ta n to , e m p re g a r s e m ­
d o s c o m o p o n to d e p a r tid a se s e p a ra n i­ p re princípios n o s e g u n d o caso ( p o n to s
tid a m e n te d o estád io d as verdades eviden­ de p a rtid a ló g ico s) e fundam entos n o p ri­
tes q u e se im p õ e m à a d e s ã o ; e a e sc o lh a m e iro (p o n to s de a p o io d a c re n ç a d o a s ­
d o s p rim eiro s te m p o r fundam ento a exis­ s e n tim e n to ). É d e s u b lin h a r q u e o u so d a
tê n c ia d o s s e g u n d o s . p a la v r a princípio n o s e n tid o B é j á m u i­
3? F in a lm e n te , em m o ra l (e n a s o u ­ to g eral: R Z è è Â Â , The Principles o f M a­
E

tr a s ciên cias n o rm a tiv a s ) o p o n to d e p a r ­ thematics', C Ã Z Z 2 τ I , Os princípios das


I

tid a o u p rin c íp io d a d e d u ç ã o e o f u n d a ­ matemáticas’, M τ T , Die Prinzipien der


7

m e n to d a a d e s ã o f o r a m d u r a n te m u ito Wärmelehre, etc.


te m p o c o n s id e ra d o s c o m o s e n d o o m e s­ Rad. int.: A . F u n d a m e n t; P r in c ip .
m o . É e ssa a in d a a o p in iã o d e v á rio s fi­ F U N D A R D . Begründen; E . To
ló s o fo s . M a s , s e g u n d o o u tr o s , a m e sm a ground, to fo u n d ; F . Fonder; I. Fondare
d is so c ia ç ã o d ev e ser a í o p e r a d a : o p r in ­ (fondato n u m se n tid o m a is a m p lo d o q u e
c íp io s u p re m o d a m o ra lid a d e , d e q u e p o ­ fundado).
d e ria m ser d e d u z id o s to d o s o s d ire ito s e A . E sta b elec er so b re u m a b a se só lid a ;
deveres, n ã o é c o n h ecid o d ire ta m e n te , d e­ d e o n d e , p o r m e tá fo ra , a p o ia r u m a a f ir ­
ve ser in d u z id o d o s d ire ito s e deveres m ais m ação , u m a reg ra de c o n d u ta , u m a exigên­
e sp e c iais q u e tê m u m c a r á te r d e e v id ê n ­ cia, so b re q u a lq u e r c o isa q u e a ju s tifiq u e .
c ia m o ra l. V er W Z Çá , p re fá c io à Ética\
I
Fundar-se sobre..., m e sm o se n tid o .
o te x to a c im a c ita d o d e P . J τ Ç E I , c ita ­ M u ito u s a d o n a p a ssiv a : " U m a c rític a
d o e e lo g ia d o p o r E . D Z 2 3 7 E« O , Divisão
f u n d a d a .” " A m o ra l n ã o te m m ais n eces­
do trabalho social, in tr o d u ç ã o . V e r ta m ­ sid ad e d e s e r f u n d a d a d o q u e a n a tu re z a ,
b é m o te x to d e L é âà -B 2 Z 7 Â c ita d o m a is n o sen tid o físico d a p a la v ra : a m b a s p o s ­
a d ia n te a p ro p ó s ito d a p a la v ra fundar, A . su em u m a existên cia d e fa to q u e se im p õ e
P a r a esses filó s o fo s , a e s té tic a e a ló ­ a c a d a s u je ito in d iv id u a l,” L E âà -B2 Z 7 Â ,
g ic a , a ssim c o m o a é tic a , s u b siste m p o r A moral e a ciência dos costumes, c. V II.
si próprias n a r a z ã o , n o g o s to o u n a m o ­ " Fundar em razão ” (e x p re ssã o m u i­
ra lid a d e d o s h o m e n s ; e , p o r c o n se q ü ê n - to c lá s s ic a , a g o r a a n tiq u a d a ) : ju s tif ic a r e
c ia , o " f u n d a m e n t o ” d a s ciên cias o u d as fa z e r c o m p re e n d e r a tra v é s d e ra z õ e s c e r ­
te o ria s c o rre s p o n d e n te s re sid e, n e sse sen ­ ta s a q u ilo q u e p rim e ir a m e n te e ra a p e n a s
tid o , n a ev id ê n c ia d e c e rto s f a to s (o s j u í ­ u m a c re n ç a , u m c o n h e c im e n to e m p íric o
zo s d e a p re c ia ç ã o p rá tic o s ) e n ã o n u m a o u u m a o p in iã o d isc u tív e l. " A fé h u m il­
ju s tif ic a ç ã o d e d u tiv a q u e re p o u s a s o b re de e su b m iss a d a q u e le s q u e se e n tre g a m
u m princípio. O s escolásticos j á a d m itia m à a u to r id a d e ... é f u n d a d a em r a z ã o .”

G o s ta r ia d e re s e rv a r p a r a o s f a to s p a r tic u la r e s , p a r a o s p o n to s d e a p o io e sté tic o s ,


p sico ló g ico s o u so cio ló g ico s o n o m e d e fa to s justificativos. E v ita r-se -ia m assim e q u í­
v o co s tã o g ra v e s c o m o a q u e le s q u e p o d e m n a sc e r d a fra s e d e L e v y -B ru h l: " A m o ra l
n ã o tem m a is n e c e ssid a d e d e ser fu n d a d a d o q u e a n a t u r e z a ...” U m a existência de
fa to n ã o p o d e ría c o n s titu ir u m f u n d a m e n to n o v e rd a d e iro s e n tid o d a p a la v r a ; q u a n ­
d o m u ito p o d e -se d iz e r, c o m o in d ic a m o s , q u e é u m fa to justificativo. E m e sm o a s ­
sim se d ev e s u b lin h a r q u e o c a r á te r justificativo d e u m f a to a p e n a s lh e p o d e a d v ir
d a q u ilo q u e , n e le , n ã o é re d u tív e l ao puro fa to . (Louis Boisse)
F U T U R IS M O 438

M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 E, Conversas sobre a meta­ F U T U R IS M O D . Futurismus', E . Fu-
física, X IV , I I I . turism; F . Futurisme; I. Futurismo.
"Fundar lógicamente": A . L ig ar a tr a ­ D o u trin a fu n d a m e n talm en te estética,
vés d e ra c io c ín io s u m a c o n c lu s ã o a o s m a s q u e c o m p o rta ta m b é m ap licaçõ es m o ­
p rin c íp io s ; d e d u z ir. rais e p o líticas, F o i fo rm u la d a p o r F . T .
B . S er o f u n d a m e n to (n o s e n tid o A ) M τ 2 « Ç « n o Manifesto, p u b lic a d o pelo
E I I

d o q u a l a lg u m a o u tr a c o isa e x tra i a su a Figaro d e 20 de fevereiro de 1909, sen d o ai


e x istê n c ia o u o seu v a lo r. “ C o n ce b e -se glo rificados os im pulsos p a ra o fu tu ro e p a ­
u m te m p o em q u e a fo rç a fu n d e re a lm e n ­ r a o n o v o , a vid a a rd e n te e febril, o p r o ­
te o re in o d a ra z ã o .* ’ R Ç á Ç , Diálogos
E
gresso d o m a q u in ism o , a p a ix ão d a veloci­
filosóficos, 3? p a r te . E ste e m p re g o d a p a ­ d a d e , d o a ta q u e , d o p erig o , ta n to p a ra os
la v ra é m a is r a r o . p o v o s co m o p a ra os in d iv íd u o s, a fecu n d i­
d a d e d a rev o lta, d a vio lência e d a g u erra.
NOTA S S o b re o d e s e n v o lv im e n to e as fo r m a s
d e ste m o v im e n to , v e r o a r tig o “ F u tu r is ­
1. E x c e tu a n d o o c a s o em q u e é a c re s ­
m o ” d o m e sm o a u to r n a Enciclopedia
c e n ta d a a u m a d v é r b io q u e lhe m u d a o
Italiana.
s e n tid o , c o m o “ lo g ic a m e n te ” , “ f o r m a l­
m e n te ” , e tc ., a p a la v ra fundar evoca sem ­ F U T U R ÍV E L V er Suplemento.
p r e a id é ia d e s o lid e z , de e s ta b ilid a d e , de
F U T U R O S Q u e r d iz er, acontecimen­
certeza, o u , p e lo m e n o s, de p re te n sã o sin ­
tos futuros. T ra d u ç ã o d a s expressões a ris ­
c e ra à q u e la c e rte z a . “ U m a re s e rv a f u n ­
to té lic as rá iaófíeva e ròt ficKkovTa. A p ri­
d a d a ” é u m a re s e rv a le g ítim a ; “ u m a o b ­
m e ira a p lic a -s e à q u ilo q u e d ev e a c o n te ­
je ç ã o f u n d a d a ” é u m a o b je ç ã o q u e te m
cer n ecessariam en te; a seg u n d a à q u ilo q ue
f o r ç a . “ Se fo s se f u n d a d o , o o tim is m o
é p e n s a d o s o b a f o r m a d o f u tu r o (5
d o g m á tic o d o s s iste m a s d e te o d ic é ia t o r ­ (léW uv é o n o m e té c n ic o d o f u tu r o n o s
n a r ia in e x p lic áv e l e in ú til to d a re lig iã o , g ra m á tic o s ). A 2 « è ó Â è , passim , e es­
I I E E

m e s m o r a c io n a l.” D Â ζ Ã è , Phtíosophie
E
p e c ia lm e n te I l e e i ¿Qfii) veías, c a p . IX .
pratique de K ant, p . 607. O s e sc o lá stic o s tr a d u z ir a m e sta s d u a s
2 . N o fra n c ê s fa la d o , e m p re g a -se fre- e x p re ssõ e s p o r fu tu ra necessária, fu tu ra
q ü e n te m e n te basear (baser ) p a r a sig n ifi­ contingentia. G Ã T Â Ç« Z è , V o. A e x p re s ­
E

c a r fu n d a r (fonder). E s te n ã o é u m t e r ­ s ã o fu tu ro s contingentes c o n se rv o u -s e
m o c o rre to : n ã o f ig u r a m a is n a ú ltim a m a is u s u a l. “ H o je o s filó s o fo s a c e ita m
e d iç ã o d o Dicionário da Academ ia n e m q u e a v e rd a d e d o s fu tu ro s contingentes
n o s p re c e d e n te s. L ittr é c ita -o , m a s c o m o é d e te rm in a d a , q u e r d iz er, o s fu tu ro s co n ­
u m n e o lo g is m o in ú til, q u e se e m p re g a tin g e n te s s ã o f u tu r o s , o u q u e eles s e rã o ,
a p e n a s n o s e n tid o f ig u r a d o , n ã o d iz e n d o a c o n te c e r ã o , p o r q u e é ig u a lm e n te seg u ­
m a is d o q u e f u n d a r . E le a c o n s e lh a e v ita r r o q u e o p a s s a d o f o i . . . ” L « ζ Ç« U , Teo­
E

o se u u s o . dicéia, I, 36. C f. ib id . , I, 2 e 45.


Rad. int.: F u n d . V er Contingência , B .
G

G V er “ Fator G ”. v id a so b re o sen tid o em q u e são to m a d o s .

G E N ( E ) 0 , - G Ê N I C O D o G . ycvijt G E N E R A L ID A D E C arac te rístic a d a ­


( = e n g e n d r a d o p o r ) . S u fix o q u e te rm in a q u ilo q u e é geral*, n o s d ife re n te s s e n ti­
m u ita s p a la v r a s u s u a is e liv re m e n te u tili­ d o s d a p a la v r a . E m p re g a -s e , a lém d is so ,
z a d a s , s o b re tu d o em fisio lo g ia e e m p s i­ n o s e n tid o c o n c r e to e c o m u m a in te n ç ã o
c o lo g ia , p a r a f o r m a r te rm o s té c n ic o s n o ­ p e jo r a tiv a p a r a d e s ig n a r u m a a firm a ç ã o
vos. M a s é to m a d o em v á rio s sen tid o s q u e
demasiado g e ra l (s e n tid o A ) e, p o r c o n ­
s e g u in te , sem u tilid a d e o u sem in te re sse .
p o d e m a té s e r c o n tr á r io s .
E s te e m p re g o é fr e q u e n te s o b r e tu d o n o
A . E n g e n d r a d o p o r , te r p o r o rig e m :
p lu ra l.
endógeno (d e o rig e m in te r n a ) ; aiogeno
(d e o rig em a lh e ia ; o p o s to a indígena); a u - G E N E R A L IZ A Ç Ã O D . Verallgemei- ■
to g e n o (p r o d u z id o p o r si p r ó p r io ) , etc. nerung; E . Generalization ; F . Générali­
B. D e sta o u d a q u e la n a tu re z a : h o m o ­ sation ; I. Generalizzazione.
g ê n e o * , heterogêneo * , etc. A . O p e r a ç ã o p e la q u a l, re c o n h e c e n ­
C . Q ue e n g e n d r a , q u e p ro d u z : d o características c o m u n s en tre v á rio s o b ­
je to s s in g u la re s , se re ú n e m estes so b u m
dinamogênico*; patogênico (q u e p ro d u z
a d o e n ç a ); “ u m e s tím u lo a u to m a tic a m e n ­
conceito* ú n ic o d e q u e a q u e la s c a r a c te ­
rístic a s c o n s titu e m a compreensão*.
tereflexogêneo” . M . P 2 τ á « Ç E è , Trata­
B . O p e ra ç ã o p e la q u a l se esten d e a t o ­
do de psicologia geral, e tc .
d a u m a classe (g e ra lm e n te in d e fin id a em
C R ÍT IC A e x te n s ã o ) a q u ilo q u e fo i o b s e r v a d o n u m
n ú m e ro lim ita d o d e in d iv íd u o s o u c a so s
E m g re g o , e ste su fix o te m se m p re 0
sin g u la re s q u e p e rte n c e a e sta classe.
s e n tid o A o u o s e n tid o B , q u e se ligam
C . O p e ra ç ã o p e la q u a l se e ste n d e a
d ire ta m e n te . O s e n tid o C é e x p re sso ...
u m a classe a q u ilo q u e fo i re c o n h ec id o c o ­
yóvos, q u e p o d e te r o s e n tid o p a ssiv o o u
m o v e rd a d e ir o p a r a u m a o u tr a classe,
a tiv o . U ra u so j á a n tig o n ã o p e rm ite
a p re s e n ta n d o em re la ç ã o à p rim e ira c e r­
e sp e c ia liz á -lo s, u m n o s e n tid o A o u B , o
to n ú m e ro d e s e m e lh a n ç a s .
o u tr o n o s e n tid o C ; m a s a c o n te c e , q u a n ­
d o n o s serv im o s d e n e o lo g ism o s te rm in a ­ C R ÍT IC A

d o s em ...genfejo, e m p re g á -lo s a p e n a s T e rm o m u ito e q u ív o c o . P o d e ser


n u m co n tex to q u e n ã o d e ix a q u a lq u e r d ú ­ s u b s titu íd o , n o s e n tid o A , p o r concep-

S o b re G e n e ra liz a ç ã o — Generalização, n o s e n tid o A , só im p e rfe ita m e n te p o d e ­


r ia ser s u b s titu íd a p o r concepção·, e s ta p a la v r a n ã o d e s p e rta ria a id é ia d o m ovim ento
d o e sp írito q u e v ai d o s o b je to s sin g u la res a o c o n c e ito . (J . Lachelier) A lé m d isso , con­
cepção é u m te r m o m a is v a s to . V e jam -se o s trê s s e n tid o s q u e lhes s ã o a trib u íd o s p elo
Vocabulário. A q u e le d e q u e p re c is a ría m o s a q u i s e ria a p e n a s o m a is e s tre ito , o s e n ti­
d o C . (V. Egger) E sses in c o n v e n ie n te s só p o d e ria m ser c o m p le ta m e n te e v ita d o s p o r
u m a lin g u ag em a rtific ia l co m su fix o s b em d e fin id o s. P o r ex em p lo Koncepturo, o c o n ­
c e ito ( p r o d u z id o ) ; K onceptado , o a to d e fo r m a r u m c o n c e ito ; Konceptigo, o fa to
d e tr a n s f o r m a r a lg u m a c o isa (p o r e x e m p lo u m a im a g e m ) em c o n c e ito ; Koncepteso,
a q u a lid a d e a b s tr a ta d e ser u m c o n c e ito , etc. [A. L .)
G E N É R IC O 440

çâo*; B, p o r indução *; C , p o r analogia*. d e ser d iv id id a a e x te n s ã o d a o u tr a , a p r i­


Rad. int.: A . K o n c e p ta d ; B. In d u k t; m e ira é c h a m a d a espécie* d a s e g u n d a e
C . A n a lo g i. a s e g u n d a o gênero a o q u a l p e rte n c e a
p rim e ir a .
G E N É R I C O D . Generisch; E . Gene-
N a lin g u a g e m c o r r e n te e s ta p a la v r a
rie; F . Générique; I. Genérico.
ap lica-se v ag am e n te a to d a classe m ais o u
Q ue p e rte n c e à c o m p re e n s ã o d o
m e n o s v a sta . D iz-se q u e d o is o b je to s s ã o
gênero*, p o r o p o siç ã o à q u ilo q u e p e rte n ­
ce a p e n a s à d e s ta o u d a q u e la esp écie (es­ d o mesmo gênero q u a n d o tê m em c o m u m
pecial o u especifico). a lg u m a s c a r a c te rís tic a s im p o r ta n te s ; d a
Proposição genérica (p o r o p o s iç ã o a mesma espécie q u a n d o se a ss e m e lh a m
totalizante) a q u e la q u e e n u n c ia u m a c a ­ b a s ta n te (p ra tic a m e n te q u a n d o são d e sig ­
ra c te rís tic a in e re n te a o c o n c e ito , e n ã o n a d o s p e lo m e sm o n o m e ).
c o n s ta ta d a em todos o s in d iv íd u o s . B. B i o l o g i a . O gênero é u m a s u b d i­
Rad. int.: G e n e rik . v is ã o da fam ília d iv id in d o -s e ele p r ó p r io
em espécies. E x e m p lo : G ê n e ro : Canis; es­
G Ê N E R O D . A . Genus ; B . Gattung, p écies: L o b o , C ã o , C h a c a l. V er Espécie.
Famiiie; E . Genus ; F . Genre ; I. Genere. Rad. int.: G e n e r.
A . L ó g i c a . Q u a n d o d u a s classes* es­
tã o n u m a re la ç ã o ta l q u e a e x te n s ã o d e G Ê N E S E D . Genese; E . Génesis; F .
u m a é u m a d a s p a rte s e n tre as q u a is p o ­ Genèse; I. Genesi.

O s trê s s e n tid o s d is tin g u id o s n o e m p re g o d a p a la v r a só sã o d e fe n sá v e is a b s tr a ta ­


m e n te e g ra ç a s à ilu sã o c o rre n te s e g u n d o a q u a l a s classes p o s su e m u m a esp écie de
re a lid a d e in trín s e c a . M a s , n o f u n d o , to d a a g e n e ra liz a ç ã o é fo r m a ç ã o d e c o n c e ito ,
se é e x a to q u e n ã o se p o d e e sta b e le c e r u m a d e lim ita ç ã o a b s o lu ta e n tre o c o n c e ito
e a lei. O s e n tid o B c o rre s p o n d e e fe tiv a m e n te , n a m a io ria d o s c a s o s , a o d a in d u ç ã o .
M as a in d u ç ã o n ã o im p lic a n e c e s sa ria m e n te g e n e ra liz a ç ã o n o s e n tid o e x p o s to . (M .
Dorelle)
R e c o n h e ç o q u e se p o d e fr e q ü e n te m e n te c o n s id e ra r ad libitum q u e se e s te ja d ia n ­
te de u m a g e n e ra liz a ç ã o d o tip o A , B ou C , c o n s o a n te se d e te r m in a n o e s p írito d e
u m a m a n e ira o u d e o u tr a as classes q u e se te m em v ista . É a ssim q u e u m silo g ism o
re a l p o d e ser p e n s a d o q u e r em Cesare , q u e r em Celarent, e tc ., q u e u m m e sm o s o fis­
m a p o d e ser re fe rid o à a m b ig u id a d e d o s te rm o s o u à p e tiç ã o de p r in c íp io , etc. Sem
ir a té o p o n to d e a tr ib u ir às classes u m a re a lid a d e in tr ín s e c a , b a s ta , p o r ta n to , p a r a
le g itim a r estes trê s tip o s e sq u e m á tic o s in abstracto, c o n s id e r a r classes j á c o n s titu íd a s
a n te rio rm e n te n o e sp írito , q u e r p ela lin g u ag em e sp o n tâ n e a , q u e r pela ciên cia d a é p o ca.
P o r e x e m p lo , a id é ia de N e w to n c o n s titu i u m a g e n e ra liz a ç ã o p o r a n a lo g ia se n e la
re p re s e n ta rm o s c o m o p a ss a g e m d a classe d o s “ g ra v e s ” p a ra a d o s “ c o rp o s celes­
te s ” , classes já c o n s titu íd a s n o seu e s p írito n o m o m e n to em q u e se p a s s a d e u m a
p a r a a o u tr a . (A. L.)

S o b re G e n é ric o — Geral e especial d e sig n a m re s p e c tiv a m e n te a q u ilo q u e te m a


característica d o g ê n e ro o u d a esp écie; genérico e especifico, o q u e p e rte n c e a o g ê n e ­
r o o u à esp écie. (M. Bernès) V er C rític a e o b s e rv a ç õ e s s o b re Geral.

S o b re G ê n e ro — J . S. M « Â Â d e fin iu assim o gênero: “ U m a classe q u e se d is tin ­


g ue d a s o u tr a s , n ã o só d e v id o a a lg u m a s p r o p r ie d a d e s d e fin id a s , m a s ta m b é m p o r
u m c o n ju n to d e s c o n h e c id o de p ro p r ie d a d e s , em n ú m e ro in d e fin id o , d e q u e as p r i­
m e ira s são ín d ic e .” Lógica , IV , c. 6 , § 4. (A. L.)
441 G Ê N IO

T ra n s c riç ã o d o g reg o yévems, devir , B . M ais esp e c ífic am e n te , e stu d o ex p e­


p r o d u ç ã o , m u ito fre q ü e n te e m p a rtic u la r rim e n ta l d a h e re d ita r ie d a d e p elo c ru z a ­
n a lin g u ag em filo só fica d e A 2 « è I ó I E Â E è . m e n to d e v a rie d a d e s b e m d e fin id a s. V er
A . A g ên ese d e u m o b je to d e e s tu d o M. C τ Z Â Â E 2 à , L ’évolution, p p . 326 ss.
(p o r e x em p lo , d e u m se r, d e u m a fu n ç ã o ,
d e u m a in s titu iç ã o ) é a m a n e ira p e la q u a l G E N É T IC O D . Genetisch; E . Genetic;
ele se to r n o u a q u ilo q u e é n o m o m e n to F . Génetique ; I. Genético.
c o n s id e ra d o , q u e r d iz e r , a se q ü ê n c ia d a s Q u e d iz re s p e ito à gênese* d e u m s e r,
fo rm a s su cessiv as n a s u a re la ç ã o c o m a s d e u m f e n ô m e n o , d e u m a in s titu iç ã o .
c ircu n stân cias em q u e se p ro d u z iu este de* M étodo genético: a q u e le q u e c o n s is ­
se n v o lv im e n to . te e m e s tu d a r o s o b je to s d e u m a c iên c ia
e sta b e le c e n d o q u a l fo i a s u a g ênese.
C R fT IC A Definição genética: d e fin iç ã o p o r
G ê n ese o p ô e -s e , p o r u m la d o , a geração*. “ D e fin id o gen etica d icitu r, q u a e
Origem*, e n q u a n to q u a lq u e r genêse s u ­ rei genesin seu m o d u m , q u o ea fíeri p o te st,
p õ e u m a re a lid a d e p reex isten te e u m p o n ­ e x p o n it.” C h r. W ÃÂ E E , Lógica, § 195.
to d e p a r tid a q u e c o n s titu i a s u a origem , Classificação genética : a q u e la q u e
m a s , em o u tro s c a s o s , origem e n te n d e -s e classific a o s o b je to s s e g u in d o a ordem d a
n u m s e n tid o re la tiv o c o n s titu in d o -s e c o ­ s u a p ro d u ç ã o , o u a in d a as d iferen tes cau­
m o s in ô n im o d e gênese; p o r e x em p lo sas q u e o s p ro d u z e m .
Dτ W« Ç , Origins o f Species.
2 Teoria genética (p o r e x e m p lo , “ te o ­
O e s tu d o d a genêse o p õ e -s e ta m b é m r ia g e n ética d o e s p a ç o ” ): a q u e la q u e su s ­
à Explicação* (c f. Explicar*), e n q u a n to te n ta q u e a id é ia , o s e n tim e n to , a fa c u l­
a p rim e ira é p ro p r ia m e n te a c o n s ta ta ç ã o d a d e , e tc . a o s q u a is se a p lic a p o d e m ser
de u m a série de fa to s (p o r e x e m p lo , a s e ­ e n g e n d r a d o s p o r s ín te se a p a r tir d e ele­
q ü ê n c ia d as fo rm a s to m a d a s p o r u m ó r ­ m e n to s q u e a in d a n ã o a c o n tê m .
g ã o n o seu d e s e n v o lv im e n to e m b rio g ê n i-
CRÍTICA
co ) e n ã o c o n té m n e c e s sa ria m e n te o c o ­
n h e c im e n to d a s c au sa s q u e d e te rm in a m E ste te rm o a p lic a r-se -ia , segundo
e s ta s u ce ssã o . M a s , n u m o u tr o s e n tid o , Bτ Â áç «Ç , ta m b é m a o m é to d o p e d a g ó g i­
a c o n te c e q u e a sim p les h is tó ria d as c ir ­ co q u e c o n siste em “ e x p licar a s co isas n o
c u n s tâ n c ia s em q u e se p r o d u z este d e s e n ­ en sin o seg u n d o a su a gênese o u a sua m a ­
v o lv im e n to c o n té m a ra z ã o de to d a s o u n e ira de v ir a s e r” . I, 409 -4 1 0 . M as e sta
a lg u m as d as p a rtic u la rid a d e s q ue a p re se n ­ d efin ição é equív oca: p o d e aplicar-se quer
ta o o b je to e s tu d a d o n o fim d e ss a h is tó ­ a o m é to d o de e n sin o q u e seg u e a o rd e m
ria , e é n e sta m e d id a q u e gênese e q u iv a le p e la q u a l as coisas se p ro d u z e m n a n a tu ­
a explicação. re z a , q u e r a o m é to d o de e n sin o q u e se­
H á p o r ta n to n ecessid ad e de d istin g u ir g ue a o rd e m p ela q u a l as idéias fo ra m a d ­
c o m c u id a d o a gênese descritiva d a gêne­ q u irid a s p e la h u m a n id a d e .
se explicativa. É p reciso fa z e r n o ta r, p o r o u tro la d o ,
Rad. int.: G en esi. q u e o método genético n ã o é n e c e s sa ria ­
m e n te e x p lic a tiv o , p e la ra z ã o a n te r io r ­
G E N É T IC A D . Genetik ; E . Genetics ;
m e n te in d ic a d a a p ro p ó s ito d a p a la v ra
F . Génétique ; I. Genetica.
gênese*.
A . T e o ria d a p r o d u ç ã o e d a tr a n s f o r ­
m a ç ã o d o s seres v iv o s, c o n s id e ra d o s e n ­ G Ê N IO L . 1?: Genius, d iv in d a d e q u e
q u a n to espécies. p re sid e a o n a sc im e n to : 2?: Ingenium,

S o b re G ên io — O d ito de B u ffo n c ita d o p o r L ittré e n c o n tra -se , m a s so b u m a fo rm a


em Viagem a Montbard, d e H é 2 τ Z Â á S é C H E Â Â è : “ O se-
lig e ira m e n te d if e r e n te , I E E
G E O G R A F IA 442

a q u ilo q u e v em de n a sc e n ç a , c a r a c te rís ­ p ro p r ie d a d e , d e fin iç õ e s, m a s a e x p re ssão


tic a in d iv id u a l; D . Genie; E . Genius ; F . s u m á r ia d e u m a te o r ia s o b re a c a u s a d e s ­
Génie ; I. Genio, ingegno. t a s u p e r io rid a d e : “ O g ê n io c o n sis te a p e ­
A . O fu n d o d o c a r á te r o u d o e s p iri­ n a s n u m a g r a n d e a p tid ã o p a r a a p a c iê n ­
to , a natureza de u m ser (cf. Natura, nasci c ia .” D ito d e B u f f o n , a trib u íd o p o r L i t ­
a ss im c o m o genius, ingenium, generare) t r é a o D is c u rso d e re c e p ç ã o d a A c a d e ­
fr e q u e n te m e n te c o n s id e ra d a c o m o u rn a m ia , m a s q u e n ã o se e n c o n tr a a í. “ F a c i-
especie d e esp irito in te rn o e tu te la r, o u co ­ lita te m o b se rv a n d i re ru m sim ilitu d in es in ­
m o a in s p ira ç ã o d o en p r o f u n d o . D iz-se g e n iu m a p p e lla m u s .” W o l f f , Psychol.
d a s p e ss o a s e d as co isa s: “ E le sa i o u s a ­ Empírica , § 4 7 6 , e tc . C f. d a m e sm a m a ­
d a m e n te d o s lim ites d o seu g ê n io .” L τ n e ira S c h o p e n h a u e r , Die Welt , s u p le ­
B 2 Z à é 2 E , Caracteres, c a p . X I I . A n ti­ m e n to s , liv ro I I I , c. X X X I: “ V o m G e ­
q u a d o n e ste s e n tid o , s a lv o e m a lg u m a s n ie ” . V e r a s o b s e rv a ç õ e s .
expressões especiais, p o r ex em p lo , “ O gê­ R ad. int.: B . G e n io ; C . G e n iu îo .
n io d a lín g u a g r e g a ” .
B . D o n s d o esp írito n a tu ra is e e m in e n ­ G E O G R A F IA D . Erdekunde, Geo­
tes d a n d o à q u ele q u e o s p o ssu i felizes in s­ graphie ; E . Geography ; F . Géographie ;
piraçõ es. D iz-se q u e r a b so lu tam e n te : “ T e r I. Geografia.
g ên io ; u m h o m e m d e g ê n io ” ; q u e r re la ti­ D escrição d a s d ife re n te s regiõ es d a su ­
v a m e n te : “ O g ê n io d a g u e rra , o g ên io d o s p e rfíc ie te rre s tre ; e stu d o e, n a m e d id a d o
n e g ó c io s .” F re q u e n te m e n te irô n ic o n este p o ssív e l, a e x p lic a ç ã o d o s fe n ô m e n o s f í­
ú ltim o caso , o u c o n fu n d id o c o m o s e n ti­ sico s, p o lític o s , e c o n ô m ic o s q u e são f u n ­
d o A : “ O g ê n io d a im p e ríc ia .” ç ã o d o lu g a r, e d a s re la ç õ e s q u e estes fe ­
C . O h o m e m q u e p o ssu i g ê n io , n o n ô m e n o s m a n tê m e n tre si.
s e n tid o B . Rad. i n t G e o g ra f i.
D . Ser m ístico , ôaífuav. V er Demônio.
“ O g ê n io m a lig n o ” e m D E è Tτ 2 I E è : G E O L O G I A D . Geologie, Erdbil­
“ S u p u s p o is ... q u e u m c e r to g ê n io m a ­ dungskunde ; E . Geology ; F . Géologie; I.
lig n o , n ã o m e n o s a s tu c io s o e e n g a n a d o r Geologia.
d o q u e p o d e r o s o , e m p re g o u to d a a s u a C iê n c ia q u e te m p o r o b je to a e s tr u tu ­
in d ú s tria p a r a m e e n g a n a r, e tc .” Primeira r a d o globo terrestre , c o n s id e r a d a n a s u a
meditação , § 10. g ê n ese * , q u e r d iz e r, e s s e n c ia lm e n te a n a ­
tu re z a , a o rig em e a d isp o sição d as ro c h a s
NOTA e te rre n o s q u e a c o m p õ e m e a d o s fó sseis
E x istem m u ita s “ d e fin iç õ e s” céleb res q u e aí se e n c o n tr a m .
d o g ê n io , q u e n ã o s ã o , p a r a fa la r c o m Rad. int.: G e o lo g i.

n h o r B u ffo n d isse -m e a este re s p e ito u m a c o is a im p r e s s io n a n te d a q u e la s c a p a z e s d e


p r o d u z ir u m h o m e m n o se u to d o : O gênio consiste apenas num a m aior aptidão p a r a
a p a c iê n c ia . B a s ta , c o m e f e ito , te r re c e b id o e s ta q u a lid a d e d a n a tu r e z a , e t c .” Ibid.,
p . 15.
O genius, e m R o m a , é u m a esp é c ie d e “ a n jo d a g u a r d a , q u e , d e a c o r d o c o m o
q u e se c ria , n a s c ia c o m c a d a m o r ta l e c o m ele m o r r ia , d e p o is d e o te r a c o m p a n h a d o ,
te r d irig id o a s s u a s a ç õ e s e v e la d o p e lo seu b e m -e s ta r d u r a n te a s u a v id a ” (H Ã2 á -
T« Ã , Epístolas , I I , 2, 187; T « ζ  LIO, IV , 5). R« T7 , Dicionário das antiguidades, s u b
V o . C f . a e x p re s s ã o indulgere ingenio, se g u ir os se u s p e n d o r e s , te r b o a v id a , e o te r ­
m o in g lês congeniai , c o n f o r m e à n a tu r e z a d e u m s e r, q u e e s tá e m h a r m o n ia c o m ele.
O g ê n io , n o s e n tid o B , p a re c e , p o r ta n to , te r sid o e n te n d id o , e m p rim e iro lu g a r, c o ­
m o u m ser e x te r io r a o h o m e m , in s p ir a n d o - o c o m o a m u s a in s p ira o p o e ta .
443 GERAÇÃO

^ G E O M E T R I A D . Geometrie, a n tig a ­ digen K räfte 1, § 10, quer dizer de todas


m e n te M esskunst; E . Geometry; F . Géo- as m ultiplicidades de p on tos (R i e m a n n )
métriei I. Geometria. análogas a o esp aço atual, m as diferindo
D o g re g o ye<ijfi€TQÍa, m e d id a d a t e r ­ dele por algum a propriedade. É a isso que
ra ; d o n d e , p rim itiv a m e n te , a g rim e n s u ra . se cham a a Geometria geral ou Pangeo-
E s te s e n tid o p rim itiv o su b siste a o la d o d o metria (com preendendo aí as geom etrias
s e n tid o m o d e r n o e m to d a s a s é p o c a s d a n ã o euclidianas).
lite r a tu r a g re g a . 3? “ C iê n c ia d o s c o n ju n to s o rd e n a d o s
d e v á ria s d im e n s õ e s ” (R u s s e l l ) , n a m e ­
. N o s éc u lo X V I I , geo m etría s so b re-,
d id a e m q u e a s m u ltip lic id a d e s d e p o n to s
tu d o geómetra s ã o j o m a d o s n o se n tid o
se re d u z e m , em ú ltim a a n álise , a ta is c o n ­
gera i d a m a te m á tic a e d e m a te m ático : “ A
ju n to s . P o d e -s e , d o m e sm o p o n to d e v is­
g e o m e tr ia ... n t f t p ode*de f i n i r j i e m o m o?
ta , c o n s id e ra r a g e o m e tria c o m o o e s tu d o
v im e n to , n e m o s n ú m e r o s ^ n e m e s p a ­
d e c e rto s grupos ( P o i n c a r é ): g ru p o d o s
ço ; é c o n tu d o es.tas trê s c o isa s s ã o a q u e ­
d e slo c a m e n to s (G e o m . m é tric a ), g ru p o
las q u e e la c o n sid e ra p a rtic u la rm e n te e se­
d a s c o lin e a ç õ e s (G e o m . p ro je tiv a ), e tc .
g ú n d o _ a jn ves tig a ç â o .d a s q u a is e la to m a
e s te s J r ê s d ife re n te s n o m e s de m e c â n ic a , CRÍTICA
a ritin é tic a ,_ g e o m e tria , p e rte n c e n d o este N ã o te m o s q u e esco lh er e n tre estes d i­
ú ltim o n o m e a o g ê n e ro e à e s p é c ie .” v e rso s s e n tid o s q u e re s u m e m a e v o lu ç ã o
P a s c a l , D o espírito geométrico, 1? h is tó ric a d a G e o m e tria e q u e s ã o to d o s
f r a g ., se ç ã o 1. E s te s e n tid o su b sis tiu a té úteis e legítim os, seg u n d o o p o n to de v ista
o s n o sso s d ia s em a lg u n s m a te m á tic o s . h istó ric o o u d id á tic o e m q u e n o s c o lo c a r­
N o s m o d e rn o s, ciência do espaço*, is­ m o s . A liá s, a id é ia d e e s p a ç o s o fre u u m a
to é: tra n s fo rm a ç ã o p a ra le la e n ã o deix a d e ser
1 ? C iê n c ia d a s re la ç õ e s d e f o r m a e de v e rd a d e d iz e r q u e a .G e o m e tr ia é .a .e iê m
p o s iç ã o q u e p o d e m e x is tir e n tre c o isa s c ia d q e s p a ç o J S ) ..
p e rc e b id a s ; e s tu d o s d a s p ro p rie d a d e s d a s Rad. int.: G e o m e tri.
fig u r a s e n q u a n to essas p r o p r ie d a d e s se G E R A Ç Ã O D . A . Erzugung ; B . C .
d e d u z e m f o r m a lm e n te d a s su a s d e fi­ D . Generation , Menschenalter, E . Gene-
n iç õ e s .
2? “ C iê n c ia d e to d a s a s e sp écies p o s ­
sív eis d e e s p a ç o ” , K a n t , 1 7 4 7 , Gedan­ 1. Pensamentos sobre a verdadeira estimativa
ken von der wahren Schätzung der leben­ das forças vivas.

S o b r e G e ra ç ã o — P a r a c a p ta r o e q u ív o c o d e s te te r m o b a s ta c o lo c a r e sta q u e s tã o :
q u a n ta s g e ra ç õ e s h á s im u lta n e a m e n te v iv a s? O u e s ta , q u e é sen siv e lm e n te a m e sm a :
q u a n ta s g e ra ç õ e s se su ce d e m n u m m e sm o séc u lo ? Se p o r “ d a m e s m a id a d e ” se e n ­
te n d e r “ d o m e sm o a n o ” , a re s p o s ta é: u m a c e n te n a . M as p o r “ d a m e sm a id a d e ”
p o d e -se e n te n d e r “ d a m e sm a d é c a d a ” (c f. as ex p ressõ es: o s d e m e n o s d e tr in ta a n o s ,
o s d e m e n o s d e q u a r e n ta a n o s , e tc .); a re s p o s ta é e n tã o : u m a d e z e n a . F in a lm e n te ,
d o p o n to d e v is ta d a d e sc e n d ê n c ia , c o n ta m -s e trê s . E x iste ta m b é m e q u ív o c o n a m a ­
n e ira d e d e n o m in a r as g e ra ç õ e s. N o e x é rc ito , “ a classe d e 2 2 ” p o d e a b a r c a r o s r e ­
c ru ta s c h a m a d o s em 1942, o u o s h o m e n s n a sc id o s em 1922. O s filh o s do século ( “ E ste
séc u lo tin h a d o is a n o s . . . ” ) s ã o ta m b é m “ a g e ra ç ã o d e 1 8 3 0 ” , d a ta d o seu n a sc im e n ­
to p a r a a v id a p ú b lic a .
E s ta id é ia a in d a v a g a é to d a v ia s e d u to r a : ex iste u m r itm o e c o m o q u e p u lsaç õ e s
q u a s e p e rió d ic a s d a h is tó r ia , seja m a s g e ra ç õ e s a s c a u s a s , o u o s seu s e fe ito s o u as
su as c o n c o m itâ n c ia s e e tiq u e ta s . (Af. Marsaí)
GERAL 444

radon ; F . Génération; I. Generazione . d e s e m p e n h a u m g ra n d e p a p e l n a te r m i­


A . A to d e g e ra r, q u e r n o s e n tid o b io ­ n o lo g ia d e A r i s t ó t e l e s . O p õ e -se à
ló g ic o , q u e r n o s e n tid o e p iste m o ló g ic o . “ c o r r u p ç ã o ” (<pdoQot). V er B o n i t z , su b
Definição p o r geração, a q u e la q u e ex ­ V o . M as yéveoLs tem u m s e n tid o m u ito
p õ e o m o d o d e p r o d u ç ã o de u m o b je to m a is v a s to em g re g o d o q u e geração em
d e p e n s a m e n to , p a rtic u la rm e n te a q u e le p o rtu g u ê s .
q u e c o n s tró i u m a fig u r a a tra v é s d e u m Geração* equívoca (T eo ria da): A q u e ­
m o v im e n to d e te rm in a d o d e u m a o u tr a fi­ la q u e fa z saírem c e rta s p la n ta s o u a n i­
g u r a j á c o n h e c id a : " O c ilin d ro é a fig u ra m ais d a m a té ria n ã o v iv a. E s ta e x p ressão
g e r a d a p o r u m re tâ n g u lo q u e e f e tu a u m a d a ta d a Id a d e M é d ia . E n c o n tr a m o - la em
re v o lu ç ã o c o m p le ta g ira n d o em to r n o d e
S ã o T o m á s d e A q u in o (S c h ü t z , Thomas
u m d o s seus la d o s .” (A “ f ig u r a ” g e ra ­
Lexicón, V o Generado). “ G e n e ra d o a c-
d o r a p o d e re d u z ir-s e a u m p o n to .) V er
c ip itu r ... p r o p ro d u c tio n e v iv e n tiu m ... u t
Genético.
m û ris, q u i fit ex p u tri m a te ria a sole. H a e c
B . N u m a m e sm a fam ília, c a d a u m d o s
d ic itu r aequivoca.” G o c l e n i u s , Lex.
g ra u s d e filia ç ã o su cessiv o s: o s filh o s
P h ii, V o Generado. V e r Equívoco.
c o n s titu e m a s e g u n d a g e ra ç ã o , o s n e to s
J á q u a s e c a iu e m c o m p le to d e su s o e
a te rc e ir a g e ra ç ã o , etc.
fo i s u b s titu íd a p e la e x p re ssã o geração es­
D a í, p o r c o n s e g u in te , d o is s e n tid o s
d e riv a d o s: pontánea. “ T h e o íd d o c trin e o f equivo­
C . P o r u m la d o , c o n ju n to d o s in d iv í­ cai 0T spontaneous génération ” (a a n ti-
d u o s q u e p o s s u e m m a is o u m e n o s a m e s­ g a d o u tr in a d a geração equívoca o u es­
m a id a d e . pontánea). C h . L y e l l , A n tiq u ity o f
D . P o r o u tr o la d o , a d u r a ç ã o m é d ia M a n , e tc . X X , 391.
d e u m a g e ra ç ã o n o s e n tid o B , n o r m a l­ Rad. int .: A . G e n it, G e n ita d ; B . C .
m e n te a v a lia d a e m m a is o u m e n o s tr in ta D . G e n e ra c i.
a n o s (L i t t r é , V o).
G E R A L D . Ailgemein ; E . General·, F.
A “ te o ria d as g e ra ç õ e s ” é a q u e la q u e
Général·, I. Generale.
a d m ite q u e o m o v im e n to d a s id é ia s filo ­
1? Sem d e te r m in a ç ã o d e m in o r ia , d e
só fic a s , d a s fo r m a s d e a r te , d a s in s titu i­
m a io ria n e m d e to ta lid a d e re la tiv a m e n te
ç õ es so c ia is, etc. seg u e u m r itm o d e c o n ­
j u n t o c u ja d u r a ç ã o é ig u a l à d e u m a g e­ a u m a classe d a d a :
r a ç ã o (O tto k a r L o r e n z , Leopold von A , Q u e co n v ém a v á rio s in d iv íd u o s
Ranke, die Generationenlehre, und der (o u a v ário s g ru p o s c o n sid e ra d o s c a d a um
Geschichts- Unterricht, 1893). c o m o u m to d o in d iv isív el):
a) Absolutamente. O te rm o o p o s to é,
NOTA e n tã o , individual *, o u singular*, o u a in d a
G e ra ç ã o é ta m b é m o te rm o c o n s a g ra ­ particular* (to m a d o , s o b re tu d o em inglês,
d o p a r a tr a d u z ir a p a la v r a yáeveou, q u e n o se n tid o d e individual). “ U m a id éia

S o b re G e ra l — O s e n tid o A lig a-se n o s e n tid o C o u n o s e n tid o B . P o r q u e se g e ra l


é o q u e c o n v é m a v á rio s in d iv íd u o s (o u a v á rio s g ru p o s ), estes in d iv íd u o s (o u estes
g r u p o s ) f o r m a m e n tã o u m a classe: se v á rio s c o rp o s se c o n tra e m p e lo c a lo r eles sã o
a classe, a liá s sem n o m e , d o s c o rp o s q u e se c o n tra e m p e lo c a lo r; fic a a ssim e n te n d i­
d o q u e a p ro p o s iç ã o é g e ra l; m a s ela é p a r tic u la r se o e sp írito p e n s a ta n to n o s outros
corpos n ã o c o m p re e n d id o s n a a f ir m a ç ã o c o m o n o s v isa d o s p ela a firm a ç ã o ; e a lin ­
g u a g e m u s u a l fa z e s ta d is tin ç ã o ; se eu d ig o : “ C e rto s c o rp o s , e tc .” , a m in h a p r o p o s i­
ç ã o é g e ra l; se eu d ig o : “ E x iste m c o rp o s q u e , e t c .” , ela é p a r tic u la r . N o s d o is c a so s,
a liá s , é m a is g e ra l d o q u e : “ A a r g ila c o n tra i-s e p e lo c a lo r .” (V. Egger)
445 GERAL

g e ra l, u m a id éia p a rtic u la r. A in d u ç ã o vai ter e s to ” Universalia, p elo c o n trá rio , d e­


d o in d iv id u a l a o g e r a l.” É o se n tid o a d o ­ s ig n a p a r a eles as id é ia s g e ra is. E les
ta d o p o r M « Â Â , Lógica, I I I , I. o p õ e m singularis a universalis, e particu­
b ) Por comparação. E x iste m v á rio s la rs a generalis. V er P . H Z ; Ã Ç , Lógica,
g ra u s d e g e n e ra lid a d e , c o n so a n te a e x te n ­ p . 38. N a Lógica d e P o r t- R o y a l, q u e se
s ã o m a is o u m e n o s v a s ta q u e re c e b e a serv e n e sse s e n tid o n o rm a lm e n te d a d e ­
id é ia e m c a u s a : “ A n u tr iç ã o é u m a f u n ­ sig n a ç ã o “ p ro p o s iç õ e s u n iv e rs a is ” , e n ­
ç ã o mais geral d o q u e a lo c o m o ç ã o .” c o n tra m o -lo s a in d a e m a lg u m a s p a s s a ­
A q u i, a e x p re s s ã o o p o s ta s e ria mais par­ g en s c h a m a d a s “ p ro p o siç õ e s g erais” ; p o r
ticular, o u mais especial. e x e m p lo , 2? p a r te , c. IV ; 3? p a rte , c . I l l
2? R e la tiv a m e n te a u m a classe d a d a : (o n d e a s d u a s d e sig n a ç õ e s s ã o u s a d a s a
B . Q u e c o n v é m à m a io r p a r te d o s in ­ a lg u m a s lin h a s d e d is tâ n c ia ), etc.
d iv íd u o s d e u m a classe. A generalidade ,
C RÍTIC A
n e ste c a s o , o p õ e -s e , p o r u m la d o , à uni­
versalidade, p o r o u tr o la d o , à exceção. E ste s e q u ív o c o s tr o u x e r a m e tra z e m
É n e ste s e n tid o q u e se e n te n d e m c o ­ a in d a m u ita o b sc u rid a d e p a r a q u estõ es d e
n m ín e n te a s e x p re ssõ e s geralmente, em ló g ica e m e to d o lo g ia . C o n sid e re -se a p r o ­
geral*. E las su b e n te n d e m q u e existem ex­ p o s iç ã o “ V á rio s c o rp o s c o n tra e m - s e p e ­
c eçõ es. lo c a lo r” . E s ta p ro p o siç ã o é geral, n a m e ­
C . (A rc a ic o ): O q u e co n v ém a to d o s d id a em q u e c o n v é m a v á rio s c o rp o s ; é,
o s in d iv íd u o s d e u m a classe. “ U m a lei ge­ c o n tu d o , “ particular” p e la su a f o r m a
ra l. U m a p ro p rie d a d e g e ra l,” O s esco lás­ (p ro p o s iç ã o em I); e la é “mais geral” d o
tico s e seu s d iscíp u lo s co n te m p o râ n e o s to ­ q u e e sta p ro p o s iç ã o : “ A a rg ila c o n tra i-
m a m generalis e generaliter n e ste sen tid o : se p e lo c a lo r ” ; e, c o n tu d o , n ã o e n u n c ia
“A u t sem el aut iterum medius generali- u m a “propriedade geral” d o s c o rp o s , n a

N ã o v e jo g r a n d e d ife re n ç a e n tre A , b , e B. Q u a n d o se d iz q u e a n u tr iç ã o é m a is
g e ra l d o q u e a lo c o m o ç ã o , o q u e é q u e se p re te n d e d iz e r s e n ã o q u e ex istem m a is es­
p écies d e seres q u e p o s su e m a n u tr iç ã o (to d o s o s seres v iv o s) d o q u e a q u e le s q u e p o s ­
su em a lo c o m o ç ã o ? {G. Belot)
N ã o b a s ta , p a r a f o r m a r u m a classe, q u e u m a p ro p r ie d a d e c o n v e n h a a v á rio s in ­
d iv íd u o s o u a v á rio s g r u p o s to m a d o s in d iv id u a lm e n te . É n e c e s s á rio q u e c o n v e n h a
apenas a eles. (V e r a trá s a d e fin iç ã o d a p a la v r a classe.) S e m d ú v id a se se p e n s a r além
disso n o s outros in d iv íd u o s n ã o c o m p re e n d id o s n a a f ir m a ç ã o , a p r o p o s iç ã o to rn a -s e
p a r tic u la r , e p a ss a -se a o s e n tid o B ; m a s a id é ia e n tã o m u d a . E , to d a v ia , m e sm o n e ste
c a s o , a c a r a c te rís tic a em q u e s tã o p e r m a n e c e d e r a /n o s e n tid o A ( a in d a q u e a i n tr o d u ­
z a m o s n u m a p r o p o s iç ã o p a r tic u la r ) . S e se d iz: “ E x iste m v á rio s m e ta is m u ito d e n ­
s o s ” , denso é p o s to p o r is so m e s m o c o m o u m a c a ra c te rís tic a g e ra l sem q u a lq u e r r e ­
fe rê n c ia à classe d a s coisas densas e m g e ra l e sem q u e se s a ib a se o s m e ta is e s tã o
aí em m in o ria , em m a io r ia o u n a to ta lid a d e . D a m e sm a f o r m a , q u a n d o se d iz q u e
a n u triç ã o é u m a fu n ç ã o mais geral d o q u e a lo c o m o ç ã o , e n te n d e -s e q u e to d o o ser
d o ta d o de lo c o m o ç ã o o é ta m b é m de n u tr iç ã o e q u e , além disso, c e rto s o u tro s seres
o s ã o ta m b é m , sem q u e $e p o s s a sa b e r se u n s o u o u tr o s c o n s titu e m a m a io r ia n a clas­
se d o s seres o u se c o n s titu e m u m a classe in te ir a (a d o s seres v iv o s). (A . L .)
P a r a m im (e c re io q u e esse é o s e n tid o a n tig o ), o g e ra l é a q u ilo q u e é ta l q u e p o d e
ser vários p e rm a n e c e n d o u n o e id ê n tic o a si p r ó p r io ; a p o tê n c ia c o m u m c u jo s in d iv í­
d u o s , o u c e r ta s c a ra c te rís tic a s d e v á rio s in d iv íd u o s , p o d e m ser o a to . ( / . Lachelier)
S o b re o u s o a tu a l d a s p a la v r a s geral e universal (se ssão d e 21 d e ju n h o d e 1906):
G ER A LM EN TE, EM G ER A L 446

m e d id a e m q u e a m a io r p a r te d eles n ã o v alen tes p reciso s e, p a rtic u la rm e n te , p o r


a p r e s e n ta e s ta p r o p r ie d a d e . E , in v e rs a ­ universal o u genérico q u a n d o tem o sen ti­
m e n te , se se d iz: “ A m a io r p a r te d o s co r- d o v e icu lad o p o r estas p a la v ra s.
p o s d ila ta -se p e lo c a lo r” , en u n cia-se u rn a R ad . int.: A . G e n e ra l; B . O ft.
p ro p o s iç ã o “ v e r d a d e ir a p a r a a generali­ GERALM ENTE, EM GERAL D. A.
dade d o s c a s o s ” ; n ã o se p o d e d iz e r , c o n ­ im allgemeinen; B . Insgemein·, E . Gene­
tu d o , q u e s e e n u n c ia “ u m a p r o p r ie d a d e rally; F . Généralement; I. Generalmente.
geral ” , o q u e , n a lin g u a g e m u s u a l, im ­ A , C o n sid e ra n d o a p e n a s as c arac te rís­
p lic a ría a u n iv e rs a lid a d e . M a s d ir- s e -á , tic a s g e ra is, a b s tra ç ã o fe ita d a s d ife re n ç a s
c o m e fe ito , q u e se e n u n c ia u m a p r o p r ie ­ p ró p r ia s a o s caso s p a rtic u la re s .
d a d e “bastante gera?' o u “ m uito gerai” , B . C o m u m e n te , n a m a io r p a rte d o s
s e rv in d o a q u i o s u p e rla tiv o p a r a m a r c a r caso s.
a re la tiv id a d e . Rad. int.: A . G e n e rik ; B . O ft.
E s ta p a la v ra é m u ito u su al p a r a p o d e r G E S T A L T IS M O D . Gestalttheorie; E.
ser esp ecializad a. M as seria ú til su b stitu í- Gestaltism ; F. Gestaltisme; I. Gestaltismo.
la to d a s as vezes q u e fo r p o ssív el p o r e q u i­ V er Forma.

A . Lalande. R eceb i v á ria s o b s e rv a ç õ e s a c e rc a d o m e lh o r s e n tid o a a tr ib u ir à p a ­


la v ra geral. E m p rim e iro lu g a r, de M . Bernès, q u e escrev e: Geral sig n ific a : q u e
te m o caráter d o gênero (a ssim c o m o e sp ecial s ig n ific a : q u e te m o caráter da espé­
cie). E n t ã o , p a r a n o s lim ita rm o s a geral , a p a la v r a p o d e le g ítim a m e n te te r d o is s e n ti­
d o s: a id é ia d e g ê n e ro q u e se lim ita d e d o is m o d o s : p o r o p o s iç ã o à e sp é c ie , s e g u n d o
o g ra u de generalidade; p o r o p o s iç ã o a o in d iv íd u o , s e g u n d o o p r ó p r io c a r á te r d e g e­
n e ra lid a d e . Gerai in d ic a d a m e sm a f o r m a a q u ilo q u e é re la tiv o a u m g ra u s u p e rio r
d e g e n e ra lid a d e , o u a in d a , a b s o lu ta m e n te , a g e n e ra lid a d e ; o c o n te x to d ev e b a s ta r
p a r a d e te r m in a r o s e n tid o r e la tiv o o u a b s o lu to d o te r m o . P e lo c o n tr á r io , geral p e r­
te n c e à lin g u a g e m c o rre n te , v a g a , m a s n ã o à lin g u a g e m filo s ó fic a p a r a sig n ific a r o r ­
d in á r io , fr e q ü e n te , q u e r d iz e r , a lg u m a c o isa q u e , s e n d o a p e n a s d e o rd e m d a e x p e ­
riê n c ia , é a in d a in d iv id u a l.
E m s u m a , o v e rd a d e ir o s e n tid o f o r te d e geral c o rre s p o n d e a o q u e fre q ü e n te m e n -
te se d e sig n a p o r universal; m a s o te r m o geral é b e m m a is c a ra c te rís tic o d o q u e o
te r m o universal (re la tiv o a o U n iv e rs o , q u e r d izer a in d a a u m c o n ju n to q u e te m as
s u a s c a ra c te rís tic a s in d iv id u a is ), e n ã o v e jo n e n h u m a r a z ã o p a r a lh e re c u s a r p re c is a ­
m e n te e s ta s ig n ific a ç ã o .
T e n h o , c o n tr a e sta s o b je ç õ e s , d u a s o b s e rv a ç õ e s a s u b m e te r à S o c ie d a d e . 1? Ge­
ral, n o s e n tid o B , é c e r ta m e n te m u ito u s u a l f o r a d a lin g u a g e m filo s ó fic a , m a s ta m ­
b é m p e rte n c e a e s ta lin g u a g e m . K τ Ç d iz , p a r tic u la r m e n te , q u e q u a n d o p re te n d e ­
I

m o s q u e a lei m o ra l c o n s titu a u m a r e g r a p a r a to d o s , ex ce to p a r a n ó s , “ n ã o ex iste


aí q u a lq u e r c o n tr a d iç ã o v e rd a d e ir a , h á a p e n a s u m a o p o s iç ã o d a in c lin a ç ã o e d a r a ­
z ã o (antagonismus ), o p o s iç ã o p e la q u a l a u n iv e rs a lid a d e d o p rin c íp io (universalitas)
se tr a n s f o r m a n u m a sim p les generalidade (generadlas) (Fundamentação da metafísi­
ca dos costumes, 2? se ç ã o ). 2? A e tim o lo g ia e o s e n tid o a trib u íd o s p e lo a u to r à p a la ­
v ra universal s ã o fr e q u e n te m e n te d a d o s , m a s n ã o m e p a re c e m e x a to s . E s ta p a la v r a
sig n ific a , c re io e u , q u e p e rte n c e a to d o s o s in d iv íd u o s d e u m a classe (ad universos).
J . Lachelier. É o s e n tid o p r ó p r io d e uni versus. Universa civitas, to d a a c id a d e .
É p re c is o , c e r ta m e n te , e n te n d e r universal d a m e sm a m a n e ira .
L . Couiurat. T a n to m a is q u e a ló g ic a fa z d e la u m u so m u ito p re c iso e c o n s a g ra ­
d o p o r u m a tr a d iç ã o in v a riá v e l: “ A p ro p o s iç ã o u n iv e r s a l.”
447 GN OSE

G N Ó M IC O G . yvw fu * ó s, o í Tvufu- B . (s u b s t.) O s g n ô m ic o s o u os p o e ta s


xoi, D . Gnomisch (a d je tiv o ); Gnom iker g n ô m ico s (S ó lo n , Fócilid e, T eógnis, etc.).
(s u b s ta n tiv o ); E . Gnómical (a d je tiv o a r ­ Rad. int,: G n o m ik .
c aic o ); gnomic (a d je tiv o e s u b s ta n tiv o );
F . Gnomique; I, Gnómico (a d je tiv o e G N O SE Do G. conhecimen­
s u b s ta n tiv o ). to, e m ais ta rd e ciência, sabedoria
A . (a d j.) Q u e se e x p rim e a tra v é s d e (e n c o n tra -se c o m este s e n tid o no N o v o
sen ten ças m o ra is: filo so fia g n ó m ic a , p o e ­ T e sta m e n to ; ver as o b serv açõ es); D . Gno­
sia g n ó m ic a . sis·, E . Gnosis; F . Gnose; I. Gnosi.

J. Lachelier. E sse s e n tid o é in ta n g ív e l.


A . Lalande. C re io q u e d ev em o s a f a s ta r , p ela m e sm a ra z ã o , u m a p ro p o s iç ã o de
Chartier q u e p re te n d ia “ o p o r geral e universal, d e fin in d o o p rim e iro c o m o a q u ilo
q u e é c o m u m a v á rio s objetos; e o seg u n d o c o m o a q u ilo q u e é c o m u m a to d o s os
espíritos".
L. Brunschvicg. Isso seria c ô m o d o , m as to ta lm e n te a r b itr á r io e c o n tr á r io ao u so .
P o d e -s e c h a m a r u n iv e rsa l à q u ilo q u e é c o m u m a to d o s o s e s p írito s , m a s n ã o sc p o d e
re s trin g ir a p a la v r a a este ú n ic o u so .
L. Couturat. N em seria d e se já v el. A p a la v r a geral é n e ce ssá ria a o s ló g ico s m o ­
d e rn o s p a ra d e s ig n a r u m s e n tid o b em d is tin to d e universal. E n q u a n to as p ro p o siç õ e s
u n iv e rsa is se o p õ e m às p a rtic u la re s , a s proposições gerais o p õ e m -se às proposições
especiais o u d e te rm in a d a s . U m a p ro p o s iç ã o é g eral q u a n d o c o n té m u m (ou v á rio s)
te rm o v ariáv el o u in d e te rm in a d o , q u e r d iz e r, u m te rm o q u e p o d e to m a r v á rio s v a lo ­
res o u v á rio s s e n tid o s, d e m o d o q u e e la p r ó p r ia p o s su i u m s e n tid o v a riá v el. E x e m ­
p lo : “ C a rlo s V II fo i s a g ra d o e m R e im s ” é u m a p ro p o s iç ã o s in g u la r. “ T o d o s os reis
d a F r a n ç a f o r a m s a g ra d o s e m R e im s” é u n iv e rs a l. A m b a s sã o d e te rm in a d a s e p o s ­
su em u m se n tid o c o n s ta n te . M as se se d iz: “ O rei d a F r a n ç a fo i s a g r a d o e m R e im s” ,
p e rg u n ta r-s e -á , “ Q u e re i d a F r a n ç a ? ” . O te r m o “ re i d a F r a n ç a ” c o n s titu i u m a va-
riável q u e p o ssu i ta n to s v a lo re s d ife re n te s q u a n to o s re is d a F r a n ç a q u e e x istira m :
a p ro p o s iç ã o é v e rd a d e ir a p a r a u n s , fa ls a p a r a o u tr o s (e n q u a n to q u e a p ro p o s iç ã o
u n iv e rsa l: “ T o d o s o s r e i s . . . ” é a b s o lu ta m e n te v e rd a d e ir a o u fa lsa). É u m a proposi­
ção geral, o u a q u ilo a q u e R Z è è Â Â c h a m a u m a “ fu n ç ã o p r o p o s ic io n a l” . E la r e p re ­
E

s e n ta e re su m e u m c o n ju n to , fin ito o u in f in ito , d e p ro p o s iç õ e s e sp e c ia is 1,


E. Goblot (Comunicação recebida depois da sessão ): D isse ra m q u e essa p a la v ra
e ra d e m a s ia d o u s u a l p a ra p o d e r ser e sp e c ia liz a d a . P o d e m o s , to d a v ia , e m u ito fa c il­
m e n te , a b s te rm o - n o s , a o fa la r e a o e screv er, d e o p o r geral e particular , de c o n fu n d ir
u m a p ro p o s iç ã o u n iv e rs a l co m u m a p ro p o s iç ã o g e ra l; re c o rd a m o -n o s q u e universal
e o seu c o n tr á r io , particular, só se d izem d e p ro p o s iç õ e s c o n s id e ra d a s d o p o n to de
v ista d a su a f o r m a , q u e geral e os seu s c o rre la tiv o s , especial e singular (o u indivi­
dual) d izem -se q u e r d o s te rm o s , q u e r d a s p ro p o s iç õ e s c o n s id e ra d a s d o p o n to d e v is­
ta d o seu c o n te ú d o .
P a r a geral, é ta lv e z p o ssív el e c e rta m e n te d e fe n sá v e l; p a r a universal seria d ifícil
ap licá-lo a p e n a s a p ro p o siç õ es e, p o r c o n se g u in te , re n u n c ia r a expressões co m o : “ U m
s e n tim e n to u n iv e rs a l ( = u n iv e rs a lm e n te e x p e rim e n ta d o ); a u n iv e rs a lid a d e (em to d o s
os h o m e n s) d o p rin c íp io d a c o n tr a d iç ã o ” , e tc . (A. L.)

1. C f. S c h r o d f r , A lgebra d er Logik, § 20.


G N O S IA 448

D o u tr in a d o s Gnósticos*. E c le tism o silid e s, e estev e e s tr e ita m e n te lig a d a ao


te o s ó fic o q u e p re te n d e c o n c ilia r to d a s as n e o p la to n is m o , a in d a q u e P l o t i n o te ­
relig iõ es e ex p lic ar-lh es o s e n tid o p r o f u n ­ n h a sid o h o s til à G n o se , c o n tr a a q u a l es­
d o a tra v é s d e u m c o n h e c im e n to e s o té ri­ crev eu o liv ro X I d a 2? E n é a d a .
co e p e rfe ito d a s c o isa s d iv in a s {yvüais), Rad. i n t G n o si.
co m u n icáv el p o r tra d iç ã o e p o r in iciação .
O e n s in a m e n to d o s d ife re n te s g ru p o s G N O S IA V er Suplem ento.
g n ó s tic o s n ã o e r a u n ifo rm e : o s seu s d o g ­
m as com uns são apenas a em an ação , a G N O S I O L O G I A D . Gnosiologie
q u e d a , a re d e n ç ã o , a m e d ia ç ã o e x e rc id a (B a u m g a r t e n , m a s a tu a lm e n te in u s ita ­
e n tre D eu s e o h o m e m p o r u m g ra n d e n ú ­ d o ); E . Gnosioiogy; F . Gnoséoiogie o u
m e ro d e “ p o d e re s celestes” o u d e “ é o n s ” gnosiologie·, I. G noseologia ( m u ito
(at wves); esses seres fo rm a m u m a h ie ra r­ u s u a l).
q u ia d e e s p írito s q u e d e sc e n d e m d o p r in ­ T e o r ia d o c o n h e c im e n to .
c ip io s u p re m o , q u e é c o n c e b id o c o m o o
CRÍTICA
Uno d o s n e o p la tô n ic o s , e n q u a n to q u e o
D e u s d o G ên esis e o C ris to s ã o c o n sid e ­ M . B a l d w i n {Dictionary, 4 1 4 B e re ­
ra d o s c o m o “ p o d e re s ” in fe rio res e s u b o r­ m is sã o p a r a 333 B ss.) p r o p õ e q u e se e n ­
d in a d o s à q u e le . E s ta d o u tr in a r e tir a m u i­ te n d a pOT epistemoiogia a te o ria d o c o ­
to d a Cabaia*, p rin c ip a lm e n te e m B a- n h e c im e n to n o s e n tid o m a is g e ra l d a p a -

S o b re G n o s e — rVüJOiT e n c o n tr a - s e e m S. P a u l o , I C o r ., V I I I , 1 , 7 , 10 e 11,
o n d e p a re c e d e s ig n a r o e s ta d o d o c ris tã o esclarecido q u e d is tin g u e c la ra m e n te a s u a
c re n ç a d a d o s p a g ã o s e se d á c o n ta de q u e o s d e u se s d e le s s ã o p u r a fic ç ã o ; n a E písto­
la aos efésios, I I I , 19, em q u e o p õ e o conhecim ento à caridade. N ã o e x iste , p o is ,
n e sta s p a ss a g e n s , q u a lq u e r s e n tid o o c u lto .
E m S . M a t e u s , X III , 11, n ã o s e e n c o n t r a a b e m d i z e r a p a l a v r a y võ a t s , m a s d i z -

se q u e fo i d a d o a o s d is c íp u lo s c o n h e c e r (7 » w a t ) o s e n tid o se creto d a s p a r á b o la s e

d o s m is té r io s d o r e in o d o s c é u s . É a n te s d e m a is n e s t a p a s s a g e m q u e p u d eram b u sca r-se

p a ra a v e n ta r a id é ia d e u m a e s p é c ie d e c r is tia n is m o e s o té r ic o e in a c e s s ív e l à m a ssa .

(X Lachetier)
S o b re G n o s io lo g ía — E s ta p a la v r a te m n e c e s sid a d e d e ser p re c is a d a p o r u m c o ­
m u m a c o r d o , n a m e d id a e m q u e ex iste m u ita c o n f u s ã o , s o b r e tu d o d e u m a lín g u a
p a r a o u tr a , e n tre Epistemología, Erkenntinislehre, Gnoseology, Dottrina delia co -
noscenza, etc. p a r a d e sig n a r a p a r te d a filo s o fia q u e e s tu d a o f a to d o c o n h e c im e n to
n a s su as c o n d iç õ e s e n o s seu s r e s u lta d o s , a priorí e a posteriori. P o d e r- s e -ia d iv id i-la
e m d u a s p a rte s : 1 ?, M etodologia o u Epistemología ( Wissenschaftslehre ) , e s tu d o c rí­
tic o d o s p rin c íp o is , d as leis, d o s p o s tu la d o s e d a s h ip ó te s e s c ie n tífic a s ; 2 ? , Gnosiolo­
gía, o u in v e stig a ç ã o a c e rc a d a s o rig e n s , d a n a tu r e z a , d o v a lo r e d o s lim ites d a fa c u l­
d a d e d e c o n h e c e r. ( C Ranzoli)
A S o c ie d a d e d e F ilo s o fia n ã o teve te m p o d e d is c u tir e s ta q u e s tã o . S o b re e ste a r t i ­
g o , a p e n a s re c e b i d u a s o b s e rv a ç õ e s , a q u e a c a b a m o s d e le r, e u m a n o t a p u r a m e n te
fo r m a l d e X Lachelier, q u e d e s a p r o v a , e m p rin c íp io , a c ria ç ã o d e n e o lo g is m o s d e ste
g ê n e ro . Q u a n to à p r o p o s iç ã o d e R a n z o l i , s ó a p o s s o a p r o v a r , u m a vez q u e a p lic a
Gnosiología à te o r ia a b s tr a ta d o c o n h e c im e n to ; m a s Epistemoiogia e Wissenschafts­
lehre, q u e s ã o c la r a s e ú te is , p a re c e m -m e p a la v r a s m a is v a s ta s d o q u e M etodologia,
q u e é d a d a c o m o seu s in ô n im o : o e s tu d o d o s m é to d o s é , se se q u is e r , a p a r te p rin c i­
p a l, m a s n ã o o to d o d o e s tu d o d a s ciên c ia s. {A. L .)
449 G R AÇA

la v ra : “ o rig e m , n a tu r e z a e lim ites d o c o ­ ker; E . Gnostics; F. Gnostiques·, I. Gnos-


n h e c im e n to ” , e e n te n d e r p o r gnosiología tici. V er Gnose.
“ a a n á lise s is te m á tic a d o s c o n c e ito s u s a ­ D e sig n a m -se a ssim v á rio s g ru p o s
d o s p elo p e n s a m e n to p a r a in te r p r e ta r o filo só fico-religio sos d o s d o is p rim eiro s sé­
m u n d o ” , in c lu in d o ai a c rític a ao a to de c u lo s d o c ris tia n is m o q u e m a n tiv e ra m
c o n h e c e r, c o n s id e ra d o q u a n to a o seu v a ­ c o m este q u e r u m a re la ç ã o d e a n ta g o n is ­
lo r o n to ló g ic o . m o , q u e r u m a re la ç ã o d e p e n e tr a ç ã o .
A etim o lo g ia p arece d e sfav o rá v e l a es­ Mτ 2
I I E d is tin g u e c in c o desses g ru p o s :
te u s o . Epistemología d e sig n a p r o p r ia ­ palestiniano (S im ã o , C e rín tio ); siríaco
m e n te o estudo das ciências, c o n s id e ra ­ (S a tu rn in o , B a rd esa n o ); alexandrino (Ba-
d a s c o m o re a lid a d e s q u e se o b s e rv a m , se silid e s, V a le n tim ); esporádico (c a rp o c rá -
descrevem e se a n a lisa m . Se se p reten d esse tic o s, e tc .); asiático (M a rc io n ). M τ 2 ,
I I E

fix a r m ais p re c is a m e n te o s e n tid o d e sta História critica do gnosticismo.


p a la v r a , p a re c e q u e ta lv e z fo sse m e lh o r Rad. int.: G n o s tik .
se rv irm o -n o s d e la p a r a d e s ig n a r o e s tu ­ G O S T O D . Geschmack', E . Taste; F .
d o a posteriori d o s c o n c e ito s , m é to d o s , Goüt; I. Gusto.
p rin c íp io s e h ip ó te s e s d as c iên cias e a té A . S e n tid o p elo q u a l p e rc e b e m o s os
m e sm o o e s tu d o d o seu d e se n v o lv im e n to s a b o re s : d o c e , s a lg a d o , a m a r g o , á c id o .
re a l e h istó ric o , n u m a p a la v ra , tu d o o q u e B . S a b o r.
se re ú n e c o m u m e n te so b a d e sig n a ç ão u m C . O fa to d e u m in d iv íd u o a p re c ia r
p o u c o v a g a d e filosofia das ciências. C f. o u n ã o a p re c ia r sen sa çõ e s o u c e rta s f o r ­
m ais a trá s Epistemología e as o b serv açõ es m a s d e a tiv id a d e : “ T e r o g o s to p e la ca-
s o b re e sta p a la v r a . ç a .”
Gnosiología, pelo c o n trá rio , aplicar-se- D . C ara c te rístic a geral d as ap reciaçõ es
ia b e m pela su a e tim o lo g ia à an álise re fle ­ d e a rte n u m in d iv íd u o , te m p e ra m e n to es­
xiva d o a to o u d a fa c u ld a d e de co n h ecer, té tic o . “ F o r m a r o g o s to ; n ã o te r o g o s to
e stu d a d o em geral e apriori a tra v é s de u m s e g u r o .” A p a la v r a , p o r e lip se, d iz-se
m é to d o ló g ico a n á lo g o a o de K τ Ç . D e I
ta m b é m d a s co isa s, m a s a p e n a s e n q u a n ­
resto , este sen tid o é ta m b é m c o n fo rm e to fe ita s o u c ria d a s p e lo h o m e m : “ U m a
àq u ele q u e a trib u i R τ ÇU Ã Â « a o te rm o ita ­ d e c o ra ç ã o de u m g o s to m e d ío c re ; u m a
lian o : “ Q u eila p a rte im p o rta n tíss im a dei- p ia d a de m a u g o s to .”
la filo so fia che tr a tta delia d o ttr in a d elia E . S em q u a lific a tiv o d e sig n a o b o m
c o n o sc e n za , vale a d ire deli*origine delia g o sto : fa c u ld a d e de ju lg a r in tu itiv a e se­
n a tu r a , del v a lo re e dei Iim iti delia n o s tra g u ra m e n te v alo res e sté tic o s em p a r tic u ­
fa c o ltà di c o n o sc e re .” 1 Dizionario, 286. la r n a q u ilo q u e eles p o ssu e m de c o rre to
Rad. int.: G n o s io lo g i, N o s k o te o r i. o u d e lic a d o : “ F a lta de g o s to .”
G N Ó S T IC O S rV w c m x o i D . Gnosti· Rad. int.: A . G u s t; B . S a p o r; C . D .
G u s t; E . B o n (a ) g u st(o ).
1. "E ssa im portantíssim a parte da filosofia que G O V E R N O V er Suplemento.
tra ta da teoria do conhecim ento, quer dizer, da ori­
gem, da natureza, do valor e dos limites da nossa fa­ G R A Ç A D . A . Gnade\ B . Grazie,
culdade de conhecer." A n m u t ; e s ta ú ltim a e x p rim e s o b re tu d o a

S o b re G ra ç a — Graça, n a lin g u a g e m te o ló g ic a , n o s e n tid o f o r te e p rim itiv o , n ã o


d e sig n a a p e n a s u m fa v o r, u m a u x ílio liv re m e n te p re s ta d o a este o u à q u e le , sem m é ri­
to a n te c e d e n te . E s ta p a la v r a d e sig n a e sse n c ia lm e n te a g ra n d e m a ra v ilh a , a c o n d e s ­
c e n d ê n c ia d iv in a em v irtu d e d a q u a l o h o m e m (a n te s d a q u e d a p e la v o c a ç ã o p rim e i­
r a , d e p o is d a q u e d a p e la R e d e n ç ã o ) é le v a d o a u m d e s tin o s o b r e n a tu r a l. E e sta o r ­
d e m g r a tu ita c o n sis te em q u e D e u s, a o a d o ta r a c r ia tu r a h u m a n a , lh e a tr ib u i “ o p o -
G R Á F IC O 450

id é ia de e n c a n to , de a tr a ç ã o ; E . Grace; a b a n d o n o e co m o q u e u m a c o n d escen d ên ­
F . Grâce\ 1. Grazia. cia. A ssim , p a ra a q u e le q u e c o n te m p la o
A . D o m g r a tu ito ; fa v o r fe ito a u m in ­ u n iv erso c o m o lh o s d e a r t i s t a , ... é a b o n ­
fe rio r p o r p u ra b e n ev o lê n c ia, rem issão d e d a d e q u e tra n s p a re c e s o b a g r a ç a ... E n ã o
u m a p e n a . E m p a r tic u la r , n a lin g u a g e m é p o r aca so q u e se c h a m a p elo m e sm o n o ­
te o ló g ic a , f a v o r o u s o c o r ro d e D e u s, li­ m e o e n c a n to q u e se vê n o m o v im e n to e
v re m e n te d a d o s a d e te rm in a d a s c ria tu ra s n o a to de lib e rd a d e q u e é c arac te rístic o d a
sem q u e e sta s te n h a m q u a lq u e r d ire ito a b o n d a d e d iv in a : o s d o is sen tid o s d a p a la ­
eles. v ra graça eram u m e o m esm o p a ra Ravais-
B . Q u a lid a d e e sté tic a d o m o v im e n to , s o n .” H . B 2 ; è ÃÇ , N oticesurla vieeiles
E

e, p o r c o n se q ü ê n c ia , d as fo rm a s e d as a ti­ oeuvres de Ravaisson, p. 33.


tu d e s. T e n to u -se fre q ü e n te m e n te a n alisá- Rad. int.\ A . F a v o r (Boirac); B . G raci.
la, m a s sem c h e g a r a u m a d e fin iç ã o p re ­
cisa: p a re c e c o n s is tir s o b r e tu d o n a n a tu ­ G R Á F IC O ( M é to d o o u R e p r e s e n ta ­
ra lid a d e e lev eza d o m o v im e n to so m a d a s ção ) D . Graphische Methode; E . Graphic
à e x p re ss ã o d a s im p a tia e d o d e se jo d e Method', F , M éthode Graphique ; I. M é­
s im p a tia re c íp ro c a (o u p e lo m e n o s n a s todo Grafico.
f o r m a s , n o s r itm o s o u n a s p ro p o r ç õ e s A . M é to d o q u e c o n s is te e m re p re s e n ­
h a rm ô n ic a s q u e n o rm a lm e n te c o n stitu em ta r as re la ç õ e s a b s tr a ta s a tra v é s d e fig u ­
a e x p re ss ã o desses s e n tim e n to s ). ras g eo m étricas. A fo r m a m ais u su al d este
m é to d o é a re p re s e n ta ç ã o d a r e la ç ã o d e
NOTA d u a s v a riá v eis a tra v é s d e u m a curva (c u r­
E s ta p a la v r a p o ssu i a in d a o u tro s u so s v a p ro p r ia m e n te d ita , lin h a q u e b r a d a o u
n ã o filo só fico s q u e se lig am q u e r à etim o ­ d e s c o n tín u a ) , n a q u a l a s a b c is s a s r e p re ­
lo g ia gratia (re c o n h e c im e n to ), q u e r a u m s e n ta m u m a d a s g ra n d e z a s e a s o r d e n a ­
d o s d o is sen tid o s acim a d e fin id o s. A tr a n ­ d a s re p re se n ta m a o u tr a . U m q u a d r o d e s­
siçã o e n tre estes d o is s e n tid o s p a re c e se r te g ên ero desig n a-se su b sta n tiv a m e n te um
a id é ia d e u m d o m liv re , a v o n ta d e d e se gráfico. M a s e x iste m m u ita s o u tr a s f o r ­
c o m u n ic a r c o m o u tr e m e d e s e r p o r ele m a s d e r e p re s e n ta ç ã o g rá fic a : p o r ex em ­
a m a d o . (C f. a d e fin iç ã o c ristã d o s fin s d o p lo , o m é to d o d e E u le r, q u e c o n sis te em
h o m e m , c ria d o p o r D e u s p a r a o c o n h e ­ r e p re s e n ta r o s silo g ism o s a tra v é s d e re la ­
c e r, o amar, o s e rv ir, e tc .) “ E m tu d o o çõ es d e p o siçõ es e n tre trê s círcu lo s; o m é ­
q u e é g ra c io s o s e n tim o s u m a esp é c ie d e to d o d e L e ib n iz , q u e c o n s is te e m re p re -

d e r d e ser fe ito filh o d o P a i ” , c o -h e rd e iro d e C r is to , p a r tic ip a n d o d o m is té rio ín tim o


d a T r in d a d e . É e s ta tr a n s f o r m a ç ã o d o s e r v id o r e m f ilh o , e sta d e fin iç ã o d o h o m e m ,
q u e c o n s titu i p o r e x ce lê n cia a o rd e m s o b r e n a tu r a l, a o rd e m d a G ra ç a ; e to d a s as gra­
ças p a rtic u la re s só p o s su e m s e n tid o r e la tiv a m e n te a e ste d e s tin o , q u e n ã o p o d e ser
n a tu r a l a n e n h u m a c r ia tu r a , q u e é , p o r ta n to , “ g r a c io s o ” . (M. Blondel )

S o b re G rá fic o — A o rig e m d o cálculo gráfico , o u nomografía, o u cálculo nomo-


gráfico, e n c o n tr a - s e n ã o só n a g e o m e tria d e D e s c a rte s , m a s ta m b é m n a e sc a la lo g a ­
rítm ic a d e G u n te r . O p rim e ir o e n s a io s is te m á tic o d ev e-se a P Ã Z T (Arithm étique
7 E I

linear, R o u e n , 1795). A n o m o g r a f ía fo i a p e r f e iç o a d a p o r v á rio s c ie n tis ta s , e n tr e o s


q u a is se d ev e d a r lu g a r d e d e s ta q u e a M a u ric e D ’O T τ ; Ç (q u e c rio u o n o m e nom o­
E

grafía). V er o seu g ra n d e Traité d e nomographie ( P a r ís , G a u th ie r-V illa rs , 1809) e ,


p a r a a h is to r ia d o m é to d o , o se u Calcul sim plifié p a r les procédés mécaniques e gra­
phiques (2? e d iç ã o , G a u th ie r -V illa rs , 1905). E x tra íd o d e u m a n o t a re c e b id a d e Giu­
seppe Jona.
451 G R AN D EZ A

se n tá -lo s a tra v é s d e s e g m e n to s re tilín e o s; G R A M Á T IC A D . Grammatik, Spra-


a re p re s e n ta ç ã o d e d a d o s n u m é ric o s p e la chlehre , s o b r e tu d o n o s e n tid o B ; E .
d iv isã o d e u m c írc u lo e m v á rio s seto res Grammar; F . Grammaire ; I. Gramática.
p r o p o r c io n a is a o s e le m e n to s d e u m a s o ­ A . P rim itiv a m e n te , c o n h ec im e n to d as
m a ú n ic a , e tc . re g ra s q u e se d ev em seg u ir n a b o a lin g u a ­
B . E m p re g o d e a p a r e lh o s d e re g is tro . g e m , a r te d e f a la r c o rre ta m e n te . (L « I I 2 é
C . Cálculo gráfico, o u Nomográfico. n ã o in d ic a , a liá s , o u tr o s e n tid o .)
M é to d o q u e c o n siste e m s u b s titu ir o c á l­ B . M a is g e ra lm e n te , a p a r tir d o séc.
c u lo n u m é ric o p o r c o n s tr u ç õ e s d e fig u ­ X I X , c iê n c ia o b je tiv a d a s re g ra s q u e as
ra s . V e r Á baco. n e c e ssid a d e s ló g ic a s, o u s o e a v id a s o ­
Rad. in t.: G r a f ik . cial im p u s e ra m a o s in d iv íd u o s n o e m p re ­
G R A F IS M O D . Graphismus; E . Gra­ g o d a lin g u a g e m : “Gramática geral, ciên ­
p h is ni-, F . Graphisme ; I. Grafismo. cia d a s reg ras co m u n s a to d a s as lín g u a s ...
C o n ju n to d o s c a ra c te re s d a e s c rita , Gramática comparada, c iê n c ia q u e e s tu ­
c o n s id e ra d o s n a s su a s v a rie d a d e s , e n ­ d a as re la ç õ e s e a s d ife re n ç a s e n tre a s d i­
q u a n to e x p rim e m o s h á b ito s , o te m p e r a ­ feren tes lín g u as c o m p a ra d a s e n tre si. Gra­
m e n to o u o e s ta d o m o m e n tâ n e o d a q u e ­ mática histórica , q u e e s tu d a a h is tó ria d a
le q u e e screv e. V e r C r é PIEUX-Ja MIN, f o r m a ç ã o d a s r e g r a s .” D a r m . , H a t z . e
L ’écriture et le caractere; S o la n g e P e l - T h o m a s , v o , 1 1 8 8 A .

L A T , “ O g e sto g r á f ic o ” , Revue philoso­ Rad. int.: G r a m a tik .


phiques o u tu b r o d e 1915. G R A N D E Z A D . Grósse; E . Great­
G R A F O L O G IA D . Graphologie; E . ness, s o b r e tu d o n o s e n tid o B e C ; F .
Graphology; F . Graphologie; I. Gra­ Grandeur; I. Grandezza e m to d o s o s se n ­
fologia. tid o s ; m agnitude , n o s s e n tid o s B e C .
A . E s tu d o d o g ra fis m o * , c o m p re e n ­ 1? Abstratamente:
d e n d o : 1?, a grafonomia, e s tu d o d o s fe­ A . Q u a lid a d e d a q u ilo q u e é g ra n d e ,
n ô m e n o s g rá fic o s c o n sid e ra d o s n a s su as s o b re tu d o n o s e n tid o m o r a l o u e sté tic o :
leis p sicofisioló gicas g erais; 2 ? , a grafotec- ‘‘A g ra n d e z a d e u m a c o n c e p ç ã o .”
nia, a r te d e se serv ir d o s d a d o s fo rn e c id o s B . Q u a lid a d e d a q u ilo q u e se p o d e to r ­
pela escrita p a r a fazer re tra to s psicológicos. n a r m a io r e m e n o r: “ A g ra n d e z a d a
B. Por c o n s e q ü ê n c ia , c iê n c ia d a id e n ­ m ã o .” D iz-se, n este s e n tid o , q u e d o is o b ­
t id a d e d a s e s c r ita s ; graphologist, em in ­ je to s s ã o d a m e sm a ordem de grandeza
g lê s , d iz -s e ta m b é m v u lg a r m e n te d o e s­ se s ã o m e d id o s u s u a lm e n te c o m a m e s­
p e c ia lis ta em e s c r ita s (B a l d w i n , V ® ). m a u n id a d e , o u co m o m e s m o m ú ltip lo
C . A b u s iv a m e n te , c o n ju n to d e to d o s o u s u b m ú ltip lo d a u n id a d e .
o s c o n h e c im e n to s re la tiv o s à e sc rita . D ir- E s ta e x p re ss ã o n ã o d e v e ser c o n f u n ­
se-ia m e lh o r , n e ste s e n tid o , grafística. d id a c o m a e x p re ss ã o espécie de grande­
R ad. int. ·. G ra fo lo g i. za, q u e é d e f in id a m a is a d ia n te .

S o b re G r a f o lo g ia e G r a f o n o m ia — Grafonomia, q u e fo i r e to m a d a e m u ito u s a d a
p o r S. P E Â Â τ I (v er p a r tic u la r m e n te L es lois de 1‘écriture), e n c o n tr a - s e j á n o a b a d e
M i c h o n , Dictionnaire des notabilités de la France , p . 23 B. ( I n f o r m a ç ã o e n v ia d a
p o r D oudon)
S o b re G r a m á tic a — C h . SE 2 2 Z è d e u u m a d e fin iç ã o d a g ra m á tic a q u e c a r a c te ri­
z a n itid a m e n te a s u a fu n ç ã o : “ A g ra m á tic a é o c o n ju n to d e re g ra s a tra v é s d a s q u a is
a s p a la v r a s s ã o a g r u p a d a s d e m a n e ira a c o n c o r r e r p a r a a u n id a d e d e u m s e n tid o .”
L e langue, le sens, la pensée, p . 4 . V e r Sentido (2 ). (A . L .)
S o b re G r a n d e z a , A — E x iste u m a g ra n d e z a h is tó ric a q u e é ta lv e z v a g a m e n te e s ­
té tic a , m a s q u e p o u c o se p re o c u p a c o m s e r m o r a l. O s g ra n d e s h o m e n s , o s g ra n d e s
G R A T U IT O 45 2

2? Concretamente: G R A T U IT O (o u , adverb ialm en te, g ra ­


C. U m a g ra n d e z a é a q u ilo q u e é su s­tis) D . Sem e q u iv alen te e x ato ; a p ro x im a ­
cetív el d e g ra n d e z a n o s e n tid o B. tiv a m e n te A . Grundlos\ B. Frei; E. Gra-
D u a s g ra n d e z a s sã o d ita s d a mesma tuitous ; F . Gratuit; I. Gratuito. Ver Graça.
espécie q u a n d o u m a é m a io r o u m e n o r d o A . A o f a la r d a s a ss e rç õ e s : sem p ro v a
q u e a o u tr a . M ais rig o ro sa m e n te , c h a m a ­ o u sem ju s tif ic a ç ã o , s e n d o a p ro p o s iç ã o
se espécie de grandezas a u m a classe e n ­ a firm a d a d u v id o s a . “ V o ltai-vos c o n tra as
tre o s e le m e n to s d a q u a l é d e fin id a u rn a m á x im a s, q u e r d izer, c o n tr a os p rin cip io s
re la ç ã o b in á r ia > {maior do qué), ta l q u e: s u p o s ta m e n te g r a t u i t o s / ’ “ A ss im , e s ta ­
1 ? N e n h u m e le m e n to d a classe p o ssu i m o s b e m lo n g e d e re c e b e r p rin c ip io s gra­
a re la ç ã o > c o n sig o m e sm o ; tuitos.” L e i b n i z , N o v o s ensaios , IV ,
2? D o is e lem en to s d ife re n te s A , B , d a c. X I I , § 6 .
classe m a n tê m e n tre si a re la ç ã o > (q u e r C f . o a d á g io : “ Q u o d g ra tis a ffir m a -
A > B , quer B > A ); tu r , g ra tis n e g a tu r ” , a q u ilo q u e é a f ir m a ­
3? Se A > B , n ã o é v e rd a d e : B > A ; d o g r a tu ita m e n te n e g a -se g r a tu ita m e n te .
4? Se A > B e B > C , lo g o : A > C . B . A o fa la r de a to s: q u e n a d a to r n a
Vê-se q u e e sta d e fin iç ão im p lícita (p o r
o b rig a tó rio ; q u e n ã o é sim p le sm e n te u m
p o s tu la d o s ) c o n sis te , n o f u n d o , em d e fi­
m eio c o m v ista a u m a o u tr a co isa. M ais
n ir a re la ç ã o > p e la s s u a s p ro p r ie d a d e s
fre q u e n te m e n te n u m sen tid o fav o ráv el:
fo rm a is .
“ V irtu te s ... q u a ru m esse m illa p o te st, nisi
D is tin g u e m -se g ra n d e z a s ex ten siv as*
erit g r a tu ita .” C í c e r o , Acadêmicas, livro
e in te n siv a s* .
II I, X L V I. M as alg u m as vezes n u m sentido
N em to d a a g ra n d e z a é n e c e s s a ria ­
p ejo rativ o : “ U m a to d e m ald ad e g ra tu ita .”
m e n te mensurável.
Rad. int.: G ra n d . G R U P O V er Suplemento.

p o d e re s tê m u m a g ra n d e z a q u e e stá lig a d a à e x te n s ã o d a s u a in flu ê n c ia , q u e r d iz e r,


as m a is d as v ezes, d a s u a f o r ç a c o e rc itiv a . N o títu lo d o liv ro de M o n te s q u ie u , Gran­
deza o p õ e -se a Decadência, q u e r d iz er, à d e c re p itu d e q u a se b io ló g ic a . 0 e q u ív o c o
d e g ra n d e z a h is tó ric a , e sté tic a o u m o ra l é ta n to m a is tem ív el q u a n to , p o r u m la d o ,
essas d iv e rsa s esp écies d e g ra n d e z a s p o d e m c o in c id ir e, p o r o u tr o la d o , sim b o liz a m
e n tre si: c o n sid e re -s e u m a c a te d ra l. M as is to n ã o é o m e sm o q u e d iz e r q u e u m a e s tá ­
tu a m a io r d o q u e o ta m a n h o n a tu r a l se ja b e la , o u q u e T a lle y ra n d s e ja u m m o d e lo .
(A/. M ar sal)
N o s e n tid o B. E m q u e c a so s e sta p a la v r a é s in ô n im o de quantidade, o u em q u e
caso s lh e é o p o s ta ?
O s m a te m á tic o s a in d a n ã o fix a ra m , a este re s p e ito , o seu u s o , e x c e to em a lg u m a s
e x p re ssõ es c o n s a g ra d a s : quantidades imaginárias, grandeza dirigida, e tc . E m m u ito s
c aso s o e m p re g o de u m a o u de o u tr a n ã o é d e te r m in a d o p e la e u f o n ía d a fra s e . ( / .
Tannery)
H a n n e q u i n , n o s e u Ensaio crítico sobre a hipótese dos átom os na ciência con­

temporânea, o p ô s f r e q u e n t e m e n t e a s d u a s p a l a v r a s : a quantidade p a r a e l e é o n ú m e ­
r o ; a grandeza é g e o m é t r i c a . ( £ . Globot)

S e s e q u i s e r d i s t i n g u i r e s t a s d u a s p a l a v r a s , c h a m a r - s e - á , d e p r e f e r ê n c i a , quanti­

dade a u m a g r a n d e z a e n q u a n t o m e d i d a e , p a r t i c u l a r m e n t e , e n q u a n t o m e d i d a p o r u m
n ú m e r o . (G . Darboux, J. Lachelier, L. Couturat )
H

H Á B IT O G . A . ''E l i s ; B . "E 0os; L. Ib id ., I I , 6 ; 1106b36. (N o ta r-s e -á q u e


A , Habitus·, B . Consuetudo\ D . Gewoh- n e ste s te x to s virtude a p r e s e n ta ta m b é m
neit\ E . Habit ; F . Habitude ; I. Abitudine. u m s e n tid o e sp e c ífic o .)
A . “ O h á b ito , n o s e n tid o m a is v a s to , B . “ M a s o q u e se e n te n d e e sp e c ia l­
é a m a n e ir a d e ser g e ra l e p e rm a n e n te , o m e n te p o r hábito n ã o é a p e n a s o h á b ito
e s ta d o de u m a e x istê n c ia c o n s id e ra d a , a d q u irid o , m a s ta m b é m o h á b ito c o n tra í­
q u e r n o c o n ju n to d o s seu s e le m e n to s , d o e m d e c o r r ê n c ia d e u m a m u d a n ç a em
q u e r n a su c e ssã o d a s s u a s é p o c a s .” (F . re la ç ã o à p r ó p r ia m u d a n ç a q u e lh e d e u
R τ â τ « è è Ã Ç , De i H a b itu d e , I , 1 .) o r ig e m .” (R τ â τ « è è Ã Ç , ibid . , 1.)
E ste s e n tid o n ã o e x iste, e m fra n c é s , C a b e d is tin g u ir, n o q u e se c h a m a co -
f o r a d a lin g u a g e m filo s ó fic a ; e , m e sm o m u m e n te hábito n o s e n tid o B , v á rio s fe ­
n o s filó so fo s , só se e m p re g a em c ertas ex ­ n ô m e n o s s e m p re m a is e sp e c ífic o s:
p re ssõ e s fe ita s, p o r e x em p lo : “ A v irtu d e 1? O fe n ô m e n o g e ra l d e a d a p ta ç ã o
é u m h á b ito ; a v irtu d e é o h á b ito de u m b io ló g ic a e a té fís ic a q u e c o n sis te n o f a to
ju s to m e io , e t c .” E s ta s e x p re ssõ es c a l­ d e u m o b je to o u u m ser, d e p o is d e te r s o ­
c a m -se n as tr a d u ç õ e s la tin a s d e A ris tó te ­ fr id o u m a p r im e ir a v ez u m a a ç ã o q u a l­
le s: “ T W g%e<j)v Ôè rots ¿ T ra in e ra s q u e r, c o n se rv a r u m a m o d ific a ç ã o ta l q u e
<xQ€Tàs Xg^ofígí'.” Ética a Nicômaco, I, se e sta a ç ã o se re p e tir o u c o n tin u a r j á n ã o
13; 110 3 a9 . “ * 'E a nv à g o tij ocgen) é £ t$ o m o d if ic a c o m o d a p r im e ir a vez. P o r
TrQocaQeTixf) ev iieaórrfTi o u tra, e t c .” e x e m p lo , o e n c o lh im e n to p e r m a n e n te d e

S o b re H á b ito — A rtig o c o m p le ta d o s o b a s in d ic a ç õ e s d e F. Tõnnies, G. Dwels-


hauvers e F. R auh ,
Histórico. “ N ã o é n e c e s sá rio m e n c io n a r o s e n tid o A . N ã o e x iste re a lm e n te em
fra n c ê s , a p e n a s n a p ró p r ia tese d e R a v a isso n , o b r a de ju v e n tu d e , d o m in a d a p ela id éia
de q u e tu d o o q u e é n a tu r e z a e n e c e ssid a d e p o d e te r s id o p rim e ir a m e n te e sp írito e
lib e rd a d e , e n a q u a l, p o r c o n s e q u ê n c ia , R a v a is so n se c o m p ra z c o m o d u p lo se n tid o
d a p a la v r a , q u e a n u n c ia e le g a n te m e n te e s ta id é ia d ir e tr i z .” (V. Egger) N o ta s a n á lo ­
g as d e E. Blum e G. Dwelshauvers.
E s te s e n tid o p o s s u i u m a e x istên c ia re a l, a in d a q u e r e s tr ita , e a p r e s e n ta s o b re tu d o
u m g r a n d e in te re ss e h is tó ric o , n a m e d id a em q u e e x p lica c o m o é q u e o H abitus o u
H abitado la tin o s p u d e ra m p a s s a r p a r a o s e n tid o u s u a l d a p a la v r a H ábito. C o rre s ­
p o n d e p rim itiv a m e n te à e x p re ss ã o aliquo m odo se habere, e q u iv a le n te a o g re g o I I í è
èxetv , de q u e o p r ó p r io fra n c ê s c o n se rv a a lg u n s tra ç o s n o s te rm o s m é d ic o s cachexie,
fièvre hectique. A té o séc u lo X V II, d iz ia -se H abitude de corps (L . Corporis habitus,
habitudo corporis ) e n te n d e n d o p o r isso q u e r a m a n e ira d e ser in te r n a (sa ú d e ), q u e r
a m a n e ira de ser e x te rn a (b o m a sp e c to o u m a g re z a , p o rte , etc.): v er M Ã Â « 2 , Pour- E E

ceaugnac, I, cen a V II. P o r o u tro la d o , habitude o u habitudo são u s a d o s n essa é p o c a


p a ra d esig n ar a re la ç ã o d e u m o b je to , e p a rtic u la rm e n te d e u m a g ra n d e z a , co m o u tr o 1

I. “ A está para B assim com o C está para D ” = “ A ita se habet ad B u t C ad D ” . (J. Lacheiier ) C f.,
por outro lado, a expressão; “ ter o hábito d e ...” , que recorda o sentido etim ológico. (A . L .)
H Á B IT O 454

u m te c id o p e r a n te a u m id a d e , o f a to d e q u e se ilu m in a m as flo re s d u r a n te a n o i­
a m ã o , u m a v ez a q u e c id a , já n ã o s e n tir te , c o lo c a n d o -a s n o e sc u ro d u ra n te o dia,
o c a lo r d a á g u a ; n u m a o rd e m de fa to s P o d e -s e c o lo c a r n e s ta m e sm a classe c e r­
m a is c o m p le x a , to le râ n c ia ao s m e d ic a ­ to s fe n ô m e n o s de h á b ito s so ciais q u e se
m e n to s . p o d e m p r o d u z ir sem q u e a q u e le s q u e d e ­
2° M ais e sp e c ia lm e n te , o fe n ô m e n o les p a rtic ip a m te n h a m c o n sc iê n c ia d isso :
p ro p ria m e n te b io ló g ico (em to d o c aso , es­ têm -se ex em p lo s d isso n a lin g u ag em e nos
tr a n h o à co n sc iê n cia ) q u e c o n sis te n a r e ­ c o stu m e s .
p e tiç ã o e s p o n tâ n e a d a q u ilo q u e fo i p r i­ 3? M a is e s p e c ífic a m e n te a in d a , o fe ­
m e ira m e n te d e te r m in a d o p o r c au sa s ex ­ n ô m e n o psicológico q u e c o n sis te em a d ­
te rio re s a o ser c o n s id e ra d o (u m c e n tro q u irir co n scien tem en te p elo exercício a fa ­
n e rv o s o é, n e ste s e n tid o , exterior a u m c u ld a d e de s u p o r ta r o u fa z e r a q u ilo q u e
o u tro c e n tro n e rv o so q u e ele a c io n a ). P o r p r im itiv a m e n te n ã o se p o d ia fa z e r o u s u ­
e x e m p lo , o s h á b ito s d a s p la n ta s ta is c o ­ p o r ta r , o u a in d a de fa z e r m e lh o r a q u ilo
m o se m a n ife s ta m n as e x p e riê n c ia s em q u e se fa z ia m a l o u d ific ilm e n te . N e ste

(se n tid o d e riv a d o p ro v a v e lm e n te d a e x p re ss ã o irg d s n nãs exett')· E n c o n tra -s e e ste


s e n tid o n as Regulae de D e s c a r t e s , R eg . V I, §notandum denique...: R eg. X IV , §
quod attinet ad fig u ra s ... e seg. N o séc u lo X V III , este s e n tid o é a in d a re c o n h e c id o
n a E n c ic lo p é d ia . O s e n tid o A é, p o r ta n to , f u n d a m e n ta l. ( J . Lachelier) M esm a s n o ­
ta s de F. Rauh, L . Brunschvicg, L. Couturat.
N o s séc u lo s X V I e X V II, d iz ia -se costum e (coutum e) o n d e n ó s d iría m o s hábito
(habitude ) (M o n ta ig n e , P a s c a l, N ic o le , e tc .). ( P . F. Pécaut) A s d u a s p a la v ra s p o s ­
s u ía m u m s e n tid o d is tin to : o c o s tu m e , d ir-se -ia , p r o d u z um h á b ito , q u e r d iz e r, u m
e s ta d o , u m a d is p o s iç ã o (se n tid o A ); e fo i ju s ta m e n te assim q u e a p a la v r a se r e s tr in ­
giu a o s e n tid o B. (7. Lachelier) A ris tó te le s s u b lin h a d a m e sm a f o r m a q u e u m a
(q u a lid a d e o u d is p o s iç ã o p e r m a n e n te , o p o s ta à q u ilo q u e é p a ss a g e iro ) p o d e te r p o r
o rig e m , q u e r a n a tu r e z a , q u e r o c o s tu m e , ovvijdeiot (Ret. I, 1, 1 3 5 4 a7. C f . ibid., I,
11, 1370*7.) ( A. L .)
E n c o n tra -s e em T o m á s d e A q u i n o , Contra Gentiles, IV , 7 7 : <(H abitus a p o te n -
tia in h o c d if f e r t q u o d p e r p o te n tia m s u m u s p o te n te s a liq u id fa c e re , p e r h a b itu m
a u te m n o n r e d d im u r p o te n te s a d a liq u id fa c ie n d u m , sed h a b ile s vel in h a b ile s a d id ,
q u o d p o s s u m u s , b e n e vel m a le a g e n d u m . P e r h a b itu m ig itu r n o n d a tu r n e q u e to llitu r
n o b is a liq u id p o sse , sed h o c p e r h a b itu m a d q u ir im u s , ut b e n e vel m a le a liq u id aga-
m u s .” In S c h ü t z , Thom as-Lexicon, V o, p . 3 5 2 . ( C o m u n ic a d o p o r R. E ucken )
E n c o n tra -s e u m a n o tá v e l a n a lo g ia e n tr e as p a la v r a s habere (n o s e n tid o d e ocupar
um lugar , m u ito c lássico ), habitare e a p a la v r a fr a n c e s a habitude , p o r u m la d o ; e,
p o r o u tr o , as p a la v r a s a lem ãs wohnen (h a b ita r) e Gewonheit (h á b ito ).
A s é r i e d e s e n t i d o s , n e s t e ú l t i m o c a s o , n ã o é d i r e t a : wohnen, h a b i t a r , e gewöh­

nen, a c o s t u m a r - s e , p a r e c e m d e r i v a r a m b a s s e p a r a d a m e n t e d o a n t i g o a l e m ã o wonen
(iestar, ficar, permanecer, o r i g i n a l m e n t e comprazer-se) s e g u n d o K l u g e , Etymologis­
ches Wörterbuch, V o wohnen, 3 9 0 A , q u e a p r o x i m a e s t a r a i z d o s â n s c r i t o vanas ( p r a ­
z e r ), d o la t im Venus, d o a l e m ã o Wonne ( p r a z e r , d e l í c i a s ) e Wunsch ( d e s e j o ) .
E s ta a n a lo g ia c o n d u z ir ia , p a r a o fra n c ê s , a d u v id a r d a série s e m â n tic a : “ e s ta d o ,
d is p o s iç ã o , d is p o s iç ã o c r ia d a p elo c o s tu m e , c o s tu m e ” e a s u p o r u m a su cessão d ife ­
re n te , a n á lo g a à q u e la d o s te rm o s g e rm â n ic o s . M a s tr a ta - s e a p e n a s de u m a h ip ó te s e ,
e a a n a lo g ia a s s in a la d a n ã o a d v é m s e n ã o d e u m a c o in c id ê n c ia . (A. L.)
455 H A B IT O

s e n tid o p s ic o ló g ic o , a p a la v r a h á b ito im ­ m in u iç ã o d a c o n sc iê n c ia , a a d a p ta ç ã o , o
p lic a n o r m a lm e n te o e s ta b e le c im e n to de d e se n v o lv im e n to d a n e ce ssid a d e c o rre s ­
u m e s ta d o m e n ta l de in d ife re n ç a e a té o p o n d e n te , a q u e ele c h a m a hábitos passi­
d e s a p a re c im e n to g ra d u a l d a c o n sc iê n c ia vos; e as operações, c a r a c te riz a d a s p e la
p elo p ro g resso d o a u to m a tis m o . M as n ã o fa c ilid a d e , a p e rfe iç ã o , a te n d ê n c ia p a r a
é s em p re esse o caso : o h á b ito d e ag ir c o r­ a r e p r o d u ç ã o in v o lu n tá r ia , a q u e c h a m a
r e ta m e n te , o d e se d o m in a r , o d e re fle tir hábitos ativos. (Da influência do hábito
a n te s d e f a la r n ã o s ã o in d if e re n te s , n e m sobre a faculdade de pensar, seção I: ‘‘O s
in c o n sc ie n te s. O m e sm o se p o d e d iz e r e m h á b ito s p a s s iv o s ” ; se ç ã o II : “ O s h á b ito s
re la ç ã o a c e rto s h á b ito s d e s e n tim e n to . a tiv o s ” .) E s ta d is tin ç ã o a estes te r m o s
C f. A . á M Z è è , Souvenir: " . . . E n tã o
E E I to rn o u -s e clássica, m as talv ez sem f u n d a ­
u m d o c e e q u e rid o h á b ito m e m o s tra v a m e n to . V . E ; ; 2 p ro p õ e su b stitu ir-lh e s
E

o c a m in h o .” u m a d is tin ç ã o e n tre hábitos negativos e


Hábito passivo e hábito ativo — hábitos positivos (ver m a is a d ia n te a s o b ­
M τ « Ç á B « 2 τ Ç d is tin g u iu e n tre os h á ­
E E se rv aç õ es).
b ito s as sensações c a r a c te riz a d a s p e la d i­ H ábito especial (ou particular) e há-

Sobre os diferentes sentidos das palavras “ G ew ohnheit ” e “há b ito ”


E u a c h o q u e o p e n s a m e n to c o n c e p tu a l d ev e d is tin g u ir n itid a m e n te a q u ilo q u e a
lín g u a c o n f u n d e , a s a b e r: 1?, o h á b ito e n q u a n to fa to objetivo , q u e c o n sis te n a re p e ­
tiç ã o re g u la r d e u m a c o n te c im e n to , p o r e x e m p lo : “ E r h a t die G e w o h n h e it (ist ge-
w o h n t, ‘p f le g t’) f r ü h a u f z u s te h e n .” 1 A q u i, a s c a u s a s o u os m o tiv o s s ã o in d if e re n ­
te s; p o d e m ser e x tre m a m e n te v a r ia d o s : p re s c riç ã o m é d ic a , p ra z e r d e p a ss e a r d e m a ­
n h ã , fa lta d e s o n o , e tc .; 2 ? , o h á b ito e n q u a n to disposição subjetiva : n e ste c a s o , o
p ró p r io h á b ito c o n stitu i o m o tiv o , e e n q u a n to d is p o siç ã o , c h am o -lh e sem h e sita r u m a
fo rm a de querer (des Witlens). É a q u i q u e o h á b ito é u m a “ s e g u n d a n a tu r e z a ” , tem
u m p o d e r c o n s tr a n g e d o r. N o e x em p lo e sc o lh id o , d ir-se -á , a c e n tu a n d o a p a la v ra : “ E r
h a t d ie G e w o h n h e it frü h a u f z u s te h e n ” ; q u e r d iz e r , n ã o só se le v a n ta c e d o habitual­
mente, mas porque tem o hábito de o fa zer. E s te s e n tid o , e m a le m ã o e n o u tr a s lín ­
g u a s , e ste n d e -se fa c ilm e n te a té s ig n ific a r: “ E le g o s ta de se le v a n ta r c e d o (er lie b t es,
frü h aufzusehen ) ” se se e n te n d e r lieben n o seu s e n tid o s u b je tiv o ; m a s a c o n te c e q u e
e s ta e x p re s s ã o , p o r su a v e z, a tra v é s d e u m a b u s o de Linguagem , p o d e s e r to m a d a
p a r a d e s ig n a r o sim p les f a to o b je tiv o d a fre q ü ê n c ia o u d a r e g u la rid a d e d o a to . E m
g re g o , a p a la v ra e n q u a n to o p o s ta a fíovXeotiou, é u s a d a d a m e sm a m a n e ira ;
d e v em o s o m a is d a s vezes em a le m ã o tr a d u z i- la p o r pflegen , a in d a q u e e s ta p a la v r a ,
n ã o o b s ta n te a su a e tim o lo g ia , te n h a d e o r d in á r io o s e n tid o 1 a c im a d e fin id o . A lin ­
g u a g e m c o n f u n d e e m is tu ra tu d o . D o u a m a io r im p o r tâ n c ia a o re c o n h e c im e n to d o
h á b ito c o m o u m a esp écie d o g ê n e ro vontade ( Wille). S em isso , é im p o ssív el c o m ­
p re e n d e r a fu n ç ã o d o c o stu m e ( Sitte) n a s u a c o n c o r rê n c ia co m a le g isla ç ã o ; e é ta m ­
b é m p o r esta n a tu r e z a d o h á b ito q u e a p s ic o lo g ia in d iv id u a l e x p lic a m a is sim p le s­
m e n te a d u p la f u n ç ã o d o u so ( Uebung ), e n q u a n to e ste re fo rç a as sen sa ç õ e s e e n f r a ­
q u ece o s s e n tim e n to s . (F. Tônnies)
A s c o n fu s õ e s de s e n tid o q u e e x istem q u a n to a Gewohnheit e a o s te rm o s p r ó x i­
m o s a p re s e n ta m -s e em fra n c ê s n u m g ra u m u ito m e n o r, e n ã o se re fe re m às m e sm as
p a la v ra s . R e g ra g e ra l, coutume (co stu m e) a p re s e n ta o se n tid o o b je tiv o d e fin id o a trá s ,
e habitude (h á b ito ) o s e n tid o s u b je tiv o . “ E le te m o h á b ito (h a b itu d e ) d e se le v a n ta r

1. "E le tem o hábito (está hab ituado, tem o costum e) de se levantar ce d o .”


H Á B IT O 456

bito geral — A ex p ressã o hábito geral d e p a ssa g em o seg u in te: ele n ã o fa z d e sta
e n c o n tr a -se em M a i n e d e B i r a n : “ N ã o e x p re ssão o seg u n d o te rm o de u m a a n títe ­
e x is te d e m o d o a lg u m u m hábito geral q u e se té cn ica , c o m o o fez m a is ta rd e V icto r
n o s d ir ija , o u q u e p o s s a d ir ig ir -n o s n a a r te E ; ; E 2 . E ste d istin g u e o s h á b ito s q u e a p e ­
d e r a c io c in a r , c o m o e x is te n a a r te d e c a l­ n as d izem re sp eito a u m a to in te ira m e n te
c u l a r . ” Da influência do hábito sobre a d e te r m in a d o , s e m p re o m e s m o , e o s h á ­
faculdade de pensar ( 1 8 4 1 ) . A s p a l a v r a s b ito s c u jo a to é v a r ia d o , m a s d e c e r to g ê­
e stã o s u b lin h a d a s n o te x to ; m a s d ig a -s e n e ro : u m ta le n to a d q u ir id o , u m a p ro fis -

c e d o ” , to m a d o n o s e n tid o o b je tiv o (solere ), seria u m a e x p re ss ã o im p r ó p r ia , o u p elo


m e n o s m u ito v a g a , e s tr a n h a em to d o c a s o a o u so c o r r e to d a lín g u a , e m q u e a p a la ­
v ra habitude (h á b ito ) m a r c a s e m p re a d is p o s iç ã o in te r n a : c f. a e x p re ss ã o u s u a l: “ ser
e sc ra v o d o s seus h á b ito s ” . “ E le está habituado ( h a b itu e ) a le v a n ta r-s e c e d o ” só p o ­
d e te r um s e n tid o , o s e n tid o s u b je tiv o ; d ir-se -á m u ito c o r r e ta m e n te : “ L e v a n te i-m e
c e d o d u r a n te d e z a n o s , m a s n ã o m e h a b itu e i ( h a b itu é ) a is so ” , o u “ n u n c a a d q u ir i
o h á b ito d is s o ” . “ T e r o c o s tu m e (c o u tu m e ) d e . . . ” te r ia esse s e n tid o o b je tiv o , m a s
é u m p o u c o a n tiq u a d o . “ T e r-se a c o s tu m a d o (A v o ir a c c o u tu m é d e ) a . . . ” (M Ã Â « 2 , E E

O doente imaginário, a to I I I , c e n a IV ) p o s s u ía -o ig u a lm e n te m a s tr a ta - s e e fe tiv a ­


m e n te d e u m a e x p re ss ã o c a íd a em d e su s o . “ Estar acostumado a . . . ” (Ê tre a c c o u tu ­
m é à . . . ) m a rc a se m p re e e s tr ita m e n te u m e s ta d o s u b je tiv o , u m a d is p o s iç ã o d o s u je i­
to , e m a is u m a a d a p ta ç ã o p a ss iv a d o q u e u m p o d e r a tiv o . O a d v é r b io habitualmente
(h a b itu e lle m e n t) e a e x p re ss ã o “ c o m o de hábito ” ( d ’h a b itu d e ) p o s su e m q u a s e e x c lu ­
siv a m e n te o s e n tid o o b je tiv o , m a s im p lic a m q u e se tr a te d e u m a r e g ra q u e a p re s e n ta
ex ceçõ es: habitualmente é o mais das vezes, m a s n e m s e m p re . N ã o s ig n ific a n u n c a
p o r um efeito do hábito. F in a lm e n te , o a d je tiv o habitual (h a b itu e i) p o d e te r u m o u
o u tr o s e n tid o c o n f o r m e o c o n te x to ; m a s , c o m o o a d v é r b io , d iz -se s o b r e tu d o d a q u ilo
q u e é fr e q ü e n te sem ser c o n s ta n te .
Q u a n to à te se s e g u n d o a q u a l o hábito c o n s titu i u m a f o r m a d a v o n ta d e n o s e n ti­
d o la to d a p a la v r a ( Willé), q u e r d iz e r, u m d o s p rin c íp io s d e a ç ã o e s p o n tâ n e a d o h o ­
m e m , p a re c e ser c o m u m e n te a d m itid a p e lo s p sic ó lo g o s c lássico s fra n c e s e s . T a lv e z
m e s m o , so b a in flu ê n c ia d e M a in e d e B ira n e d e R a v a is s o n , tiv e sse m a s s in a la d o a p e ­
n a s e sta c a r a c te rís tic a , d a n d o p o u c a a te n ç ã o a o s e fe ito s m e c â n ic o s d o u so (v er m ais
a d ia n te o b s e rv a ç õ e s s o b re o dom ínio do hábito). É c o s tu m e , n o e n s in o , d iv id ir o
c u rs o de p s ic o lo g ia em trê s r u b r ic a s : inteligência, sensibilidade, atividade (d iz-se a té
f r e q ü e n te m e n te vontade , a in d a q u e este te r m o s e ja d e m a s ia d o e s tre ito n a n o s s a lín ­
g u a e só c o n v e n h a às v o liç õ e s c o n sc ie n te s e re fle tid a s ); e c o lo c a -se q u a s e s e m p re a
a n á lise d o h á b ito n e s ta ú ltim a d iv is ã o . (A. L.)
Sobre as expressões; “hábito a tiv o '” e “há b ito p a ssivo ”. A o p o s iç ã o d o p a ssiv o
e d o a tiv o n ã o p o s su i a q u i v a lo r a b s o lu to ; essas e x p re ss õ e s c o rre s p o n d e m a té im p e r ­
fe ita m e n te à d is tin ç ã o q u e M a in e d e B ira n p re te n d e u tr a ç a r . O s h á b ito s a q u e ele
c h a m a passivos sã o a tiv o s à s u a m a n e ir a , m a s d e u m a a tiv id a d e p u r a m e n te v ita l;
s ã o o s d e u m ó r g ã o , d e u m te c id o v iv o q u e , s o b a in flu ê n c ia d e e x c ita ç õ e s re p e tid a s ,
se e lev a p o u c o a p o u c o a o tom d a e x c ita ç ã o e x te r io r e, p o r c o n s e g u in te , re a g e c a d a
vez m e n o s , o u te m n e c e s s id a d e , p a r a re a g ir em c o n f o r m id a d e , d e e x c ita ç õ e s c a d a
vez m a is fo r te s . D a í o e n f r a q u e c im e n to m u ito re a l d a s e n s a ç ã o . ( J . Lachelier) E x is ­
te m m u ito s c a so s em q u e a p r ó p r ia s e n s a ç ã o d e s a p a re c e p o r a d a p ta ç ã o . H a b itu á m o ­
n o s a o f r io , n ã o só p o r q u e j á n ã o o n o ta m o s , m a s ta m b é m p o r q u e o s v a so s se m o d i­
fic a m , p o r q u e se fo r m a g o r d u r a , e tc ., e d e s te m o d o a e x c ita ç ã o r e c e b id a p e lo s n e r­
v o s é e la p r ó p r ia m e n o r. (P.-F. Pécaut)
457 H Á B IT O

sã o q u e se c o n h e c e ; o h á b ito d e d e c if ra r C R ÍT IC A
a m ú s ic a , p o r o p o s iç ã o a o h á b ito d e t o ­ 1. A 2 « è ó Â è , e d e p o is d e le a
I I E E

c ar u m d e te rm in a d o tre c h o . {La parole in­ m a io r p a rte d o s filó so fo s m o d e rn o s , c o n ­


térieure, p . 207. O h á b ito g e r a l, n a R e­ s id e ra o h á b ito c o m o e sp e c ífic o d o s se­
vue des cours et conférences , 21 d e m a r ­ res v iv o s, o p o n d o -o s à in é rc ia d o s c o rp o s
ço d e 1901 e 25 d e m a io 1905.) b r u to s . M a s e sta o p o s iç ã o fo i fo rte m e n -

A a d a p ta ç ã o d o o rg a n is m o c o m p re e n d e v á rio s tip o s d e f a to s q u e é n e ce ssá rio d is­


tin g u ir . H a b itu a r - s e ao frio o u a o c a lo r é j á n ã o e x p e r im e n ta r c e rta s re a ç õ e s p a to ló ­
g ic a s ta is c o m o u m a u m e n to d a c irc u la ç ã o o u u m a d im in u iç ã o d a n u tr iç ã o , é n ã o
te r “ a c a b e ç a a p e r ta d a ” o u “ a c a b e ç a p e s a d a ” q u a n d o a e p id e rm e s e n tiu m u ito o
f r io o u o c a lo r d a a tm o s f e r a . O te r m o e x a to e m fra n c ê s s e ria a q u i “ a c c o u tu m a n c e ”
d e p re fe rê n c ia a h á b ito ( habitude ); o o r g a n is m o a c o s tu m a -s e a ssim a o s clim a s, a o s
m e d ic a m e n to s , a o s v e n e n o s; d iz -se a in d a , e m m e d ic in a , “ to le r â n c ia ” p a r a d e s ig n a r
e ste tip o d e f a to s . P o r o u tr o la d o , h á c a s o s e m q u e o c o rp o é m o d if ic a d o fis io ló g ic a ­
m e n te d e m a n e ir a a p ro d u z ir u m a m e n o r e x c ita ç ã o d o n e rv o , p o r e x e m p lo , q u a n d o
se f o r m a m c a lo s id a d e s , tu d o se p a s s a e n tã o c o m o se o e x c ita n te e x te r io r se to rn a s s e
m a is f r a c o . M a s n e m s e m p re é a ss im . P o r e x e m p lo , o o lh o o u o o u v id o n ã o se to r ­
n a m p elo e x ercíc io m ais in sen sív e is à s e x c ita ç õ e s físicas: p o r q u e , se a ss im fo sse , v e­
r ía m o s u m m e s m o o b je to m e n o s c la r a m e n te , o u c o m u m a c o r m a is s a tu r a d a , se ti­
v é sse m o s o h á b ito d e o v e r. O fe n ô m e n o é e n tã o p u r a m e n te p s ic o ló g ic o ; p e rm a n e ­
c e n d o a s e n s a ç ã o p r o p r ia m e n te d ita a m e s m a ta n to em g ra u c o m o em q u a lid a d e ,
a p e rc e p ç ã o é m e n o s a tiv a ; o a flu x o d e im a g e n s q u e c o m p le ta m e p r o lo n g a m a se n ­
s a ç ã o j á n ã o a c o n te c e ; e o m e sm o se p a s s a c o m as re a ç õ e s q u e se e x p rim e m n a n o s s a
c o n sc iê n c ia a tra v é s de u m e s ta d o a fe tiv o : este d im in u i ig u a lm e n te . E x is te , p o r ta n to ,
em d e fin itiv o , n ã o o e n fra q u e c im e n to d a s e n s a ç ã o , m a s o a b a n d o n o d e s ta p e la n o s ­
sa a tiv id a d e p s íq u ic a , q u e d e la se d e sin te re s sa e j á n ã o a re le v a.
O q u e é e n f r a q u e c id o é a p e rc e p ç ã o , d a q u a l a s e n s a ç ã o c o n s titu i a o c a s iã o . Se
o f a to h a b itu a l é o b je to d e a te n ç ã o a c a d a re p e tiç ã o , c o m o a a te n ç ã o te m p o r e fe ito
a u m e n ta r a d u r a ç ã o e a in te n s id a d e d o s f a to s ao s q u a is se re fe re , e la c o rrig e a in ­
flu ê n c ia n e g a tiv a d a re p e tiç ã o e m a n té m a c o n sc iê n c ia d o f a to h a b itu a l em u m n ív el
c o n s ta n te . E ste s d o is m o d o s de r e p e tiç ã o , v isto s os seu s r e s u lta d o s , s e rã o b e m d e sig ­
n a d o s pelo s te r m o s hábito negativo, hábito passivo, c o n s titu in d o o h á b ito n e g a tiv o ,
a liá s , o h á b ito p u r o e sim p le s, o h á b ito p o s itiv o s e n d o o h á b ito c o rrig id o p elo e s f o r ­
ço m e n ta l1.
T o d a v ia , é p re c iso s u b lin h a r q u e o fe n ô m e n o in v e rs o p o d e ta m b é m p ro d u z ir-s e ,
a in d a q u e n ã o s a ib a m o s e x a ta m e n te em q u e c o n d iç õ e s : c o n siste em q u e u m a se n s a ­
ç ã o , c u jo c a r á te r p e rc e p tiv o e s o b r e tu d o a fe tiv o é a p rin c íp io m u ito f r a c o , p o d e p r o ­
v o c a r p e la re p e tiç ã o u m a p e rc e p ç ã o c a d a vez m ais in te n s a e, fin a lm e n te , to rn a r- s e
in to le rá v e l. É o c a s o , p o r e x e m p lo , d o s b a r u lh o s ao s q u a is “ n ã o n o s h a b itu a m o s ”
e q u e se s u p o r ta m c a d a vez m e n o s à m e d id a q u e os s o fre m o s : e ste fe n ô m e n o p o d e ria
ser c h a m a d o contra-hábito. M a s é m ó r b id o , a o p a s s o q u e o fe n ô m e n o in v e rso é n o r ­
m a l; o h á b ito n e g a tiv o a p lic a d o à p e rc e p ç ã o c o n s titu i u m a b o a e c o n o m ia d a a tiv id a ­
de p s íq u ic a , e n q u a n to q u e o c o n tr a - h á b ito é u m d is p ê n d io in fe liz d a m e s m a a tiv id a ­
d e . (V. Egger)

1. C r. V ictor E ; ; E 2 , L a p a ro le intérieur, pp. 204-206, e R τ ζ « E 2 , P sychologie, pp. 581-582, onde esta


critica c a d o tad a pelo autor e por ele o p o sta à distin ção entre h á b ito s p a ssiv o s e h á b ito s a tivo s de M ainc
de Biran, que ele considera resultado de um a análise insuficiente. (A . L .)
H Á B IT O 458

te c o n te s ta d a , n o m e a d a m e n te p o r L é o n tu d e d a su a in é r c ia , p e la s a ç õ e s q u e e le

D u m o n t , “ D o h á b ito ’*, R evue philoso­ p ro d u z o u so fr e , c o m o a p rega n u m te c i­

phique, 1876, t. I. E le a d m ite q u e to d a s d o ou o s s u lc o s d a á g u a so b o s o lo .

as fo rm a s de h á b ito p o d em lig ar-se a u m a 2. À d is tin ç ã o e n tr e o s h á b ito s ativos


c o n se rv a ç ã o m a is o u m e n o s a p a r e n te d a s e passivos fe ita p o r M a i n e d e B i r a n , V .

m o d ific a ç õ e s d e ix a d a s n u m ser, em v ir­ E g g e r o b je ta q u e a r e p e tiç ã o n ã o en fr a -

Sobre a distinção entre os hábitos em geral e especiais. E s ta d is tin ç ã o p a re c e -m e


f u n d a d a . E la c o rre s p o n d e à d is tin ç ã o fe ita p o r H o f f d in g e B erg so n e n tre as d u a s
m e m ó ria s , a m e m ó ria liv re e a m e m ó ria a u to m á tic a . E x e m p lo : o h á b ito de re so lv er
p ro b le m a s e o h á b ito d e c a lc u la r. (F. M entré )
N ã o ex iste n e n h u m a d ife re n ç a d e n a tu r e z a n e ste s c a s o s , a p e n a s u m a d ife re n ç a
de g ra u , e p o d e -se c o n c e b e r g ra u s in te rm e d iá rio s : p o r e x e m p lo , e n tre o h á b ito d e
d e c if ra r a m ú s ic a e o d e to c a r e sta o u a q u e la p e ç a , h á o h á b ito de d e c if ra r d e te r m in a ­
d o tip o de p e ç a s o u a m ú s ic a de d e te r m in a d o a u to r , d e d e te r m in a d a é p o c a , e tc . (J.
Lachelier)
E ste s são h á b ito s g e ra is de g ra u s d ife re n te s q u a n to à g e n e ra lid a d e . S o u le v ad o
a c re r q u e só e x iste u m a d ife re n ç a de g ra u e n tre o h á b ito e sp ecial e o h á b ito g e ra l.
O p rim e iro m e re c e ria o n o m e de h á b ito singular, n o s e n tid o ló g ico d a p a la v r a , se
o caso de u m a re p e tiç ã o h a b itu a l sem a m e n o r m u d a n ç a n ã o fo sse u m c a s o lim ita d o
e q u a s e id e al; m e sm o q u a n d o se fa la de a u to m a tis m o , n ã o se a f ir m a a id e n tid a d e
a b s o lu ta d o s f a to s re p e tid o s . É n e c e s sá rio , to d a v ia , c o n s e rv a r a d is tin ç ã o , to m a n d o
c o m o c rité rio d o h á b ito e sp ecial o u s in g u la r o a to d o r e c o n h e c im e n to , q u e r e fe tiv o ,
q u e r p o ssív el e le g ítim o . O in te re ss e d o c o n c e ito p sic o ló g ic o d e hábito geral re sid e
n o f a to de e ste c o n s titu ir a c o n d iç ã o d a in v e n ç ã o e p e rm itir ligaT a im a g in a ç ã o in o ­
v a d o r a à re p e tiç ã o d o h á b ito e à re c o rd a ç ã o q u e é a p e n a s u m a v a rie d a d e d e le . Q u a l­
q u e r a r tis ta , q u a lq u e r in v e n to r tra z em si u m h á b ito g e ra l q u e c o n s titu i o seu g ê n e ro
de ta le n to ; é p o r isso q u e as su as m a is d iv e rsa s p r o d u ç õ e s p o s s u e m , c o m o se d iz ,
u m a r d e fa m ília . O p ro b le m a q u e este c o n c e ito p õ e é m e n o s o d a m e n o r g e n e r a lid a ­
de d o q u e o d o genus generalissimum o u o d o s lim ite s s u p e rio re s d o h á b ito g e ra l
c o n s id e ra d o c o m o p o tê n c ia , p o r q u e a í n ã o ex iste n e n h u m c r ité r io . (V. Egger)
Sobre o dom ínio do hábito
O h á b ito é a m o d if ic a ç ã o re c e b id a p o r um ser vivo em d e c o rrê n c ia d e u m a a ç ã o
e x e rc id a o u s o f r id a p o r ele. A re p e tiç ã o o u a c o n tin u id a d e in flu e m a p e n a s s o b re a
f o r ç a d o h á b ito . E s ta d e fin iç ã o te m a v a n ta g e m d e e x c lu ir o s p s e u d o - h á b ito s d a m a ­
té r ia in o r g â n ic a . É p o r u m a b u s o d e lin g u a g e m q u e se d iz : a c h a v e h a b itu a -s e à fe ­
c h a d u r a , a m á q u in a h a b itu a - s e a c o s e r, etc. O h á b ito c o n s titu i u m a p r o p r ie d a d e e s ­
p e c ífic a d o s seres v iv o s; é a s u a c a r a c te rís tic a m a is g e ra l, ju n to c o m a h e r e d ita r ie d a ­
d e. (F . Mentré)
N ã o p a r tilh o d e s ta o p in iã o . É b e m v e rd a d e q u e a lin g u a g e m n ã o a p lic a a p a la v r a
hábito s e n ã o p a r a os seres v iv o s, e m e sm o p a r a os a n im a is ( p o r q u e a e x te n s ã o d e ste
te rm o às p la n ta s é já u m a o u s a d ia ); m a s p a re c e -m e q u e to d a s a s características d o
h á b ito , q u e r m o rf o ló g ic a s , q u e r fu n c io n a is , p o d e m e n c o n tr a r -s e n o s seres n ã o v i­
v o s , a p e n a s c o m u m m e n o r g ra u d e c o m p lic a ç ã o . O q u e o ser v iv o tr a z d e n o v o a o
fe n ô m e n o g e ra l d a c o n se rv a ç ã o d a s m u d a n ç a s p a ss a d a s p arece-m e ser s o b re tu d o , p elo
c o n tr á r io , a e la s tic id a d e v ita l q u e te n d e a a p a g a r a s m o d ific a ç õ e s re c e b id a s (e q u e ,
a liá s , p o d e r ia ser a p e n a s u m a b a s e m a is p r o f u n d a d o h á b ito ) . T a lv e z fo sse n e c e ssá ­
rio a c r e s c e n ta r a in d a a c a r a c te rís tic a d e v a ria ç ã o e s p o n tâ n e a (e s p o n tâ n e a p e lo m e-
459 H A B IT O

q u e c e re a lm e n te o s fe n ô m e n o s p a ssiv o s. m eira m u d a n ç a e, p o r c o n se q ü é n cia , se a


V er m ais a d ia n te as o b s e rv a ç õ e s . id é ia de re p etição é n ecessária p a ra d efin ir
3. S o b re a q u e s tã o de se s a b e r se o es­o h á b ito , ver ig u alm en te as observações.
sen cial d o h á b ito se p ro d u z a p a r tir d a p ri­ Rad. int.', B. K u stu m .

n o s p a r a os n o sso s m eio s d e o b s e rv a ç ã o ), q u e c a r a c te riz a to d o s os seres v iv o s. D e


re s to , c o m o d iz m u ito b em M entré n a s u a n o ta , a q u i só é p o ssív el in d ic a r o p in iõ e s
a c e rc a d e ste p o n to , c u ja p ro v a e x ig iria e x p lic aç õ es m u ito lo n g a s. (A. L ·)
Sobre a definição do hábito peia repetição . A 2 « è ó Â è d e fin e o h á b ito d a se­ I I E E

g u in te m a n e ira : “ ” Ε 0 α tarív, ο σ α δ ι ά τ ο x o W á x is τ ί χ ο ι η χ έ ν α ι π ο ι ο ύ σ ι κ .” R etó­


rica I, 10. 1369b6. C f. ibid., I , 11. 1 3 7 0 a 7 : “ 'Ό μ ο ι ο ι » τ ι τ ο ¿0os rij φ ν σ α · ty y v s
yÒQ xoà τ ο x o K k á x is τ ώ àei* t a n ό ’η μ Α ν φ ν σ ι s τ ο ν orei, τ ο òè èi?os τ ο ν π ο λ Χ ά χ ι ϊ .”
D a m e sm a f o r m a , R a v a I S S O N , d e p o is de te r d e fin id o o h á b ito d e u m a fo r m a m u ito
g e ra l (v er te x to c ita d o a tr á s ) , re s trin g e a ss im e s ta d e fin iç ã o : “ U m a d is p o siç ã o re fe ­
re n te a u m a m u d a n ç a e n g e n d r a d a n u m se r p e la continuidade o u p e la repetição d e ssa
m e sm a m u d a n ç a .“ DeVHabitude , I, p . 4 .
A l b e r t L e m O I N e ( L'habitude et 1'instinct, 1 8 7 5 , c a p . I , p p . 2 s s . ) f e z n o t a r q u e

a c o n tin u id a d e o u a r e p e tiç ã o refo rça m in d u b ita v e lm e n te o h á b ito e to r n a m -n o p er­

c e p tív e l, m a s q u e o fa to e s s e n c ia l q u e o c o n s t it u i p r o d u z -s e d e s d e a p r im e ir a m u d a n ­

ç a e , p o r c o n s e q ü é n c ia , e s s a s c a r a c te r ís tic a s s e c u n d á r ia s n ã o d ev em e n tr a r n a d e fin i­

çã o filo s ó fic a d e h á b ito . E sta o p in iã o é a d o ta d a p o r L é o n D u m o n t , D el’habitude ,


§ IV , e p o r R e n o u v i e r , Critiquephilosophique, o u tu b r o 1877, p . 1 8 4 , o n d e e le c h a ­

m a a e sta p r im e ir a s e q u e la “ o e le m e n to in fin ite s im a l d o h á b ito ” .

M entré esc re v eu -m e d iz e n d o q u e ig u a lm e n te a a c h a v a b e m f u n d a d a (ver m ais


a tr á s ) . E u já a tin h a m e n c io n a d o , a d o ta n d o - a ta m b é m , n a p r im e ir a re d a ç ã o d e ste
a r tig o , o n d e eu a c re s c e n ta v a as seg u in tes re se rv a s: “ É n e c e s sá rio , n ã o o b s ta n te , o b ­
s e rv a r q u e n o u so c o rre n te e s ta p a la v r a a p lic a -se a p e n a s a h á b ito s s u fic ie n te m e n te
d e se n v o lv id o s p a r a p ro d u z ir u m e fe ito n o tá v e l, o q u e exige q u a se s e m p re a d u r a ç ã o
o u a re p e tiç ã o d o f a to c o n s id e ra d o . S e ria p a ra d o x a l d iz e r q u e se ‘te m o h á b ito ’ d a ­
q u ilo q u e se fez o u e x p e rim e n to u a p e n a s u m a o u d u a s v e z e s .”
A p e s a r d essas re s e rv a s , o f u n d o d a n o ta d e A lb e rt L e m o in e fo i p o s to e m d ú v id a ,
n o m e a d a m e n te p o r J. Lachelier, L. Brunschvicg, F. Rauh. E s te ú ltim o esc re v eu -m e
d iz e n d o : “ A o b s e rv a ç ã o de A lb e rt L e m o in e n ã o te m v a lo r; tr a ta - s e d a a p lic a ç ã o à
p sico lo g ia d e u m a p re te n s a n e c e ssid a d e ló g ic a q u e p o d e m u ito b e m n ã o c o rre s p o n ­
d e r a n a d a de re a l. N ã o te m o s o d ire ito d e ra c io c in a r assim p o r c o n tin u id a d e s o b re
os fe n ô m e n o s d a v id a . A u m a rg u m e n to a n á lo g o c o n tr a o u s o , a in d a q u e m o d e ra d o ,
d o á lc o o l, D u c la u x r e s p o n d ia c o m ra z ã o q u e nesse caso u m a b o a re fe iç ã o s e ria o
p rim e iro g ra u d a in d ig e s tã o . O h á b ito é u m a p re d is p o s iç ã o , e só se p o d e c o n h e c e r
u m a p re d is p o s iç ã o p e la fa c ilid a d e d o d e s e n c a d e a m e n to , q u e n ã o se p ro d u z a p a r tir
d o p rim e iro f a t o . ”
C re io p o d e r re s p o n d e r a e sta s c rític a s: I ? , N ã o se d ev e c o n f u n d ir a manifestação
d o h á b ito , o q u e n o -lo to r n a sen sív e l, c o m a m o d ific a ç ã o b io ló g ic a q u e o c o n stitu i.
D ev em o s s e m p re q u e p o ssív el d e fin ir as p ró p r ia s co isas e n ã o a id é ia q u e d e la p o s s u í­
m o s, as “ p ré -n o ç õ e s” fo rm a d a s p ela lin g u ag em c o rre n te , q u e a p en a s se in teressa pelos
e fe ito s a p re c iá v e is e u tiliz á v eis. O r a , n e ste c a s o , o fe n ô m e n o real n ã o é a “ fa c ilid a ­
d e ” o u a “ p e r f e iç ã o ” d o a to , c a r a c te rís tic a s c o m p le ta m e n te re la tiv a s a n ó s e à n o ssa
u tilid a d e , m a s a d isp o siç ã o p e rm a n e n te d e ix a d a n o o rg a n is m o o u n o e sp írito p o r u m a
m u d a n ç a re la tiv a m e n te à re p e tiç ã o f u tu r a d e ssa m e sm a m u d a n ç a . O r a , é ev id en te
H A R M O N IA 460

H A R M O N I A D o G . 'A g ^ o r r a , D o u tr in a d e L E « ζ Ç« U , seg u n d o a q u a l
a ju sta m e n to ; D . Harmonie ; E . H armony ; n ã o h á a ç ã o d ire ta d a s s u b s tâ n c ia s c r ia ­
F. H arm onie ; I. Harmonia. d a s u m a s s o b re as o u tra s , m a s a p e n a s u m
A . Sentido geral. U n id a d e (o rg â n ic a ) d e s e n v o lv im e n to p a ra le lo q u e m a n té m
de u m a m u ltip lic id a d e , q u e r d iz e r, g ê n e ­
e n tre e la s e m c a d a m o m e n to u m a re la ç ã o
r o p a r tic u la r de o rd e m q u e c o n sis te e m
m ú tu a o r d e n a d a a n te c ip a d a m e n te .
q u e as d ife re n te s p a rte s de u m ser o u as
su as d ife re n te s fu n ç õ e s n ã o se o p õ e m ,
Rad. i n t H a r m o n i.
m as c o n co rrem p a ra u m efeito de c o n ju n ­ H E D O N I S M O (d o G . fjòovv, p r a ­
to (v er Finalidade*): p o r c o n s e q iiê n c ia ,
z er); D . H edonism us ; E . H edonism ; F .
c o m b in a ç ã o feliz de e le m e n to s d iv e rs o s.
H édonism e; I. Edonism o.
M u ito u s a d a p e lo s filó s o fo s fra n c e se s
c o n te m p o r â n e o s , p a rtic u la rm e n te p o r A . T o d a d o u tr in a q u e to m e p o r p r in ­
R τ â τ « è è Ã Ç , q u e em m u ito c o n trib u iu c íp io ú n ic o de m o ra l q u e é necessário p r o ­
p a r a e s p a lh a r o seu u so ; r a r a n a s o u tra s c u r a r o p ra z e r e e v ita r a d o r , c o n s id e ra n ­
lín g u a s , ex ceto n a e x p re ssã o Harmonia d o n e ste s f a to s a p e n a s a in te n s id a d e d o
preestabelecida (v er m a is a d ia n te ). seu c a r á te r a fe tiv o , e n ã o as d ife re n ç a s d e
B . Sentido especial. 1? C a r a c te rís tic a q u a lid a d e q u e p o d e m e x istir e n tre eles.
e sté tic a d a s e n sa ç ã o p ro d u z id a p ela a u ­ B . E s p e c ia lm e n te , a d o u tr in a d a E s ­
d iç ã o s im u ltâ n e a d e v ário s sons m u sicais,
c o la d e C ire n e (Escola hedonística).
(O p õ e -se n e ste s e n tid o à Melodia.) 2 o
Rad. int.: H e d o n is m .
C iê n c ia d o e m p re g o d o s a c o rd e s .

H a rm o n ia p re e sta b e le c id a L. H arm o­ H E G Ú M E N O , H E P Ô M E N O (ra ro s )


nia praestabilita (L « ζ Ç« U ); D . Praestabi-
E
T ra n s c riç õ e s d o G.ijyovnevov^ironevov:
lierte Harmonia; E . Praeestabiished har­ o a n te c e d e n te e o c o n s e q ü e n te d e u m a
mony; F . Harmoniepréétablie; l. A rm o - p ro p o s iç ã o h ip o té tic a (owrfftnevov) n a ló ­
nia prestabilita. g ic a e s tó ic a .

q u e q u a lq u e r m o d ific a ç ã o q u e c o n trib u a p a r a f o r m a r u m “ h á b ito ” u lte rio rm e n te e fi­


caz deve te r p ro d u z id o , d e sd e o p rim e iro f a to , u m a m o d ific a ç ã o desse g ê n ero . 2 ? , E s ta
c o n c e p ç ã o te ó ric a é c o n firm a d a p elo s fa to s . S ab e-se q u e c e rta s p esso as retêm à p rim e i­
ra v ista e p o d e m re c ita r m e c a n ic a m e n te u m te x to m e sm o b a s ta n te lo n g o : o h á b ito m o ­
to r q u e só é sensív el n o s o u tro s d e p o is d e v á ria s re p e tiçõ e s m a n ife sta -se , p o r ta n to , n e s­
tas p e sso a s d e sd e o p rim e iro a to . N u m g ra n d e n ú m e ro d e caso s, ex iste m u ito m ais d ife ­
re n ç a e n tre o p rim e iro f a to e o seg u n d o d o q u e e n tre o se g u n d o e os seg u in tes: se é
v e rd a d e q u e e m c ertas m a té ria s se p o d e d iz e r “ u m a vez n ã o é c o s tu m e ” , n ã o o é m e n o s
q u a n to ao p ro v é rb io o p o s to : “ O q u e c u s ta é c o m e ç a r.” A c o n tec e fin a lm e n te q u e u m a
e sc o lh a f o r tu ita ( p o r ex em p lo , a d e u m lu g a r n u m a b ib lio te c a , de u m c ab id e ) d e te rm in a
e m seg u id a a m e sm a esco lh a n a s e g u n d a o c a siã o , e , p o r vezes, em to d a s as seg u in tes.
E n c o n tra r-s e -ã o v á rio s fa to s d este g ê n e ro c ita d o s e m V . E ; ; 2 . “ O n a sc im e n to d o s
E

h á b ito s ” , Annales d a F a c u ld a d e d e B o rd é u s, 1880, p p . 290-323. (A. L .)

S o b re H a r m o n ia — A rtig o c o m p le ta d o d e a c o rd o c o m as o b serv açõ es de G. Dwels-


hauvers. C o m o ta lv e z to d a h a r m o n ia im p liq u e a simultaneidade n a p e r c e p ç ã o ou no

c o n c e ito , o s e n tid o B n ã o é o s e n tid o re s trito d a p a la v r a ; é a a p lic a ç ã o , p o r a p r o f u n ­


d a m e n to , d o s e n tid o p r ó p r io d a p a la v r a à o rd e m m u s ic a l. A lém d o m a is , o c a r á te r
e sté tic o (d a s e n sa ç ã o ) q u e se s u b lin h o u n o s e n tid o B n ã o c o n s titu i u m a d ife re n ç a e s ­
p e c ífic a : to d a h a r m o n ia im p lic a u m c a r á te r e sté tic o . É u m a q u e s tã o de s a b e r se a
p ro p o s iç ã o é c o n v e rtív e l. (L. Boisse)
461 H E R M E T IS M O

“ H E N O T E ÍS M O ” D . Henotheismus c o n tin u o u s s o c ia l e n v ir o n m e n t, th u s p r o ­

(M τ 7 M ü Â Â 2 ).
E d u c in g tradition"x ( C . L l o y d M o r g a n ,

P o r o p o s iç ã o a m o n o te ís m o * e a p o ­ J. M . B a l d w i n e m Baldw in, V o, 4 7 1 * ).

lite ís m o * : f o r m a d e re lig iã o q u e c o n siste E s te s d o is s e n tid o s , a liá s v iz in h o s ,


n u m c u lto p r e s ta d o a u m só D e u s, m a s p a re c e m -n o s d a m e s m a f o r m a in a c e itá ­
sem e x c lu ir a e x istê n c ia d e o u tr o s . veis. U m p o v o p o d e ser, se se q u iser, c o n ­
V e r Monoteísmo, te x to e o b serv açõ es. s id e r a d o c o m o u m in d iv íd u o n o seu c o n ­
ju n to ; m a s n ã o existe n a d a n a re la ç ã o d a s
H E R E D IT A R IE D A D E D. Vererbung;
g e ra ç õ e s q u e se a ss e m e lh e à r e p r o d u ç ã o
E . Heredity; F. Hérédité, I. Ereditá.
d o s in d iv íd u o s p o r p r o c r ia ç ã o : a a n a lo ­
O f a to d e o s d e sc e n d e n te s r e p r o d u z i­
g ia s e ria a n te s d e m a is, n e ste caso , e n tre
re m n ã o só o tip o e sp e c ífic o , m a s ta m ­
a s g e ra ç õ e s so c ia is e a p r o d u ç ã o d a s c a ­
b é m c ertas c a ra c te rís tic a s in d iv id u a is d o s
m a d a s su cessiv as d e u m a m e sm a á r v o r e ,
seu s p a is, o u a té d e a n ce stra is m u ito a f a s ­
o u e n tre a s g e ra ç õ e s so cia is e o d e se n v o l­
ta d o s . (C f. Atavism o).
v im e n to d o s te cid o s p ro d u z id o s p e la p r o ­
C R ÍT IC A lif e ra ç ã o c e lu la r n u m in d iv íd u o a n im a l.
N em u m a n e m o u tr a d e sta s a n a lo g ia s se­
A s c a ra c te rís tic a s h e re d itá ria s p o d e m
r ia , a liá s , e fe tiv a m e n te e x a ta .
ser a n a tô m ic a s , te ra to ló g ic a s , fis io ló g i­
Rad. int.: H e re d .
c as, fis io p a to ló g ic a s , p sico ló g ica s o u psi-
c o p a to ló g ic a s . D a í a d istin ç ã o de d ife re n ­ H E R M E N Ê U T IC A D . Hermeneutik;
tes fo r m a s c o rre s p o n d e n te s d e h e r e d ita ­ E . Herm eneutics; F . Herméneutique·, I.
r ie d a d e e a q u e s tã o d e s a b e r a té o n d e vai Ermeneutica.
a p o s s ib ilid a d e d e tr a n s m is s ã o h e r e d itá ­ In te rp re ta ç ã o d o s te x to s filo só fico s o u
r ia e m c a d a u m d esses d o m ín io s . re lig io s o s e e s p e c ia lm e n te a B ib lia {her­
O “ p ro b le m a d a hereditariedade dos menéutica sagrada). E s ta p a la v r a a p lic a ­
caracteres adquiridos ” c o n siste e m in te r­ se s o b r e tu d o à in te r p r e ta ç ã o d a q u ilo q u e
r o g a r em q u e m e d id a a s c a ra c te rís tic a s é sim b ó lic o . (V er Alegoria e Anagógico.)
n o v a s , p ro d u z id a s n u m in d iv íd u o p e las Rad. int.: H e rm e n e u tik .
c irc u n stâ n c ia s d a s u a v id a e n ã o p o r u m a
d is p o s iç ã o in te r io r p re e x is te n te , p o d e m H E R M E T I S M O D . Herm etismos; E .
s e r tra n s m itid a s a o s seu s d e sc e n d e n te s . Hermetism ; F. Hermétisme, I. Ermetismo.
P ro p ô s -s e c h a m a r hereditariedade so­ A , C h a m a -se hermetismo o u filosofia
cial: 1?, “ a o a p e rfe iç o a m e n to in te le c tu a l hermenêutica a u m c o n ju n to d e d o u tr i­
e m o r a l d e t o d a u m a g e ra ç ã o , o b tid o p e ­ n as q u e se su p õ e re m o n ta r ao s livros eg íp ­
la e d u c a ç ã o d a g e ra ç ã o p re c e d e n te ” (D -E cio s d ito s livros de Toth três vezes grande 1
T τ Oζ 2
7 E , Dictionnaire usuel de médeci-
ne, V o , 7 6 5 ?); 2 ? , “ T h e p r o c e s s o f so cial 1. “ O processo de transm issão social pelo qual os
tra n sm issio n , th a t b y w h ich in d iv id u ais o f indivíduos das sucessivas gerações se adaptam a um
su cessiv e g e n e r a tio n s a c c o m m o d a te to a meio social contínuo, produzindo assim a tradição."

S o b re H e r e d ita r ie d a d e — A d m ito a e x te n s ã o d a p a la v r a h e re d ita r ie d a d e p r o p o s ta


p o r D e c h a m b re e p o r B a ld w in . A a ss im ila ç ã o n ã o é rig o r o s a , m a s n u n c a o é c o m p le ­
ta m e n te ; as p a la v r a s e a s lín g u a s a p e rfe iç o a m -s e p o r a n a lo g ia s m a is o u m e n o s lo n g ín ­
q u a s . N u m p a ís c iv iliz a d o , o n ív e l m é d io d o s e sp írito s s o b e e m c a d a g e ra ç ã o ; h á a q u i­
siçõ e s q u e se a c re s c e n ta m à s h e ra n ç a s a n te r io r e s ... S em d ú v id a , o e s p írito n ã o g e ra
o e s p ír ito c o m o a c a r n e g e ra a c a r n e ; m a s a tra n s m is s ã o d o s a b e r p e lo e n sin o n ã o d e i­
x a d e te r c e rta a n a lo g ia co m a tra n s m is s ã o d o s a n g u e . O s d is c íp u lo s s ã o o s filh o s e sp i­
r itu a is d o se u m e stre : eles “ h e r d a m ” o seu m é to d o e o seu s a b e r. {F. Mentré)
HETEROGÊNEO 462

(G . 'Ε ρ μ η ϊ τ ρ ι σ μ έ γ ι σ τ ο ί ). E ss a s d o u tr i­ W u n d t (System der Philosophie, 1889)


n as s ã o ex p o sta s e m te x to s g reg o s c u ja d a ­ a o f a to d e a fin a lid a d e d o s seres se m o ­
ta e o rig e m s ã o in c e rta s ; f o r a m im p resso s d ific a r à m e d id a q u e eles se tra n s fo rm a m .
p ela p rim e ira vez, em tr a d u ç ã o la tin a , p o r J a m e s W a r d n o ta q u e s ó o n o m e é
M a r s í l i o F i c i n o , so b o títu lo Mercurii n o v o , p o rq u e a id éia tin h a j á sid o ex p re s­
Trismegisti liber de potestale et sapientia sa p o r H e g e l , Philosophie der Geschich-
Dei (T re v iso , 1471) e n o te x to g reg o p o r te , 1837, p . 30; e q u e ele p r ó p r io a ex p ô s
A d . T u r n è b e (P a ris , 1554). C o m p r e ­ n o a rtig o Psychology d a Encyclopaedia
e n d e m Ο Τ Ι ο ι μ ύ ν ό ρ η ί , Ο Π ρ ο ? ’Α σ κ λ η ­ Britannica , 1886, p . 585 (The Realm o f
π ι ο ύ , os Π ρ ό ϊ τ ο ν ¿T7 Z IÃ ? υ ι ο ί / T à r λ ο ’γ ο ι E nds , p p . 79-8 0). C f . ta m b é m B o u g l É ,
(v ário s fra g m e n to s sep a ra d o s) e o s "Ό ρ ο ι “ N o ta s s o b re o p o lite lis m o ” , Révue de
’Α σ κ λ η πι ό ? τ τ ρ ό ϊ ’Ά μ μ ω ν α β α σ ιλ έ α . m étaph., 1 914-1915, p p . 604 -6 0 5 .
Β . S in ô n im o de alquimia. A lig a ç ão
e n tre estes d o is s e n tid o s v e m d o fa to de H E T E R O N O M I A D . H eteronom ie ;
o s a lq u im is ta s g re g o s se re c la m a re m d e E . H eteronom y, F . Hétéronomie; I. Ete-
H e rm e s , e o c o n s id e ra re m c o m o o c ria ­ ronomia.
d o r d a su a ciên cia. O s a lq u im ista s d a I d a ­ C o n d iç ã o d e u m a p e s s o a o u de u m a
d e M é d ia a tr ib u ía m a H e rm e s , a lé m d a s c o le tiv id a d e q u e recebe d o e x te rio r a lei à
o b ra s a cim a m e n c io n a d a s, a Tabula Sma- q u a l se su b m ete. (Ver Autonom ia.)
ragdina ( p u b lic a d a p e la p rim e ir a vez em Rad. int.: H e te r o n o m i.
1541 e fig u ra d esd e e n tã o em to d o s o s t r a ­ H E U R ÍS T IC A D. H euristik ; E . N ã o
ta d o s de a lq u im ia ), E sse fr a g m e n to se usa; F. Heuristique o u euristique ; I. N ã o
p a re c e -se m u ito , c o m e fe ito , co m c e rta s
se u sa.
p a ssa g e n s d o Π ο ι μ ά ι /δ ρ η ί .
P a rte d a c iên c ia q u e te m p o r o b je to a
Rad. int.\ H e rm e tis m .
d e s c o b e rta d o s fa to s; e sp e c ia lm e n te , em
H E T E R O G Ê N E O D . Heterogen, un- h is tó ria , in v e stig a ç ã o d o s d o c u m e n to s
gleichartig; E . Heterogeneous ; F . Hété- (L a n g l o i s e S e i g n o b s , Introdução aos
rogène-, I. Eterogeneo. estudos históricos , L iv ro I, c a p . I).
O p o s to a Homogêneo*. T e rm o s u s a ­ Rad. int.: E u ristik .
d o s s o b r e tu d o p o r H . S ú Ç T 2 n a série
E E

H E U R Í S T I C O (d o G . evQiaxo), d e s ­
d e Princípios e n o m e a d a m e n te em Os pri­
c o b rir); D . Heuristisch ; E . Heuristic; F.
meiros princípios (First Principies ), c a p .
X IV -X V III. Heuristique o u euristique; I. Euristico.
U m to d o é h o m o g ê n e o q u a n d o to d a s Q u e serv e p a ra a d e sc o b e rta ; d iz-se es­
as su as p a rte s a p re s e n ta m as m e sm as p r o ­ p e c ia lm e n te : 1 ?, d e u m a h ip ó te s e d e q u e
p rie d a d e s ; é heterogêneo q u a n d o a s su as se p r o c u r a s a b e r se é v e rd a d e ira o u fa lsa,
d iv e rs a s p a r te s a p re s e n ta m d ife re n ç a s , m a s q u e se a d o ta a p e n a s a titu lo p ro v is ó ­
q u a is q u e r q u e s e ja m a s s u a s n a tu r e z a s , e rio , c o m o id é ia d iretriz n a in vestig ação d o s
e sp e c ialm en te d ife re n ç a s d e e s tr u tu r a e d e fato s; é m u ito u s a d a n e ste sen tid o ta m b é m
f u n ç ã o . (V er Diferenciação, Evolução.) n a F r a n ç a a e x p re ssão in g lesa working
D iz-se ta m b é m , n o m e sm o sen tid o , de hypothesis ; 2?, d o m é to d o p e d a g ó g ic o q u e
d u a s o u m a is p a r te s d e u m to d o c o m p a ­ c o n sis te e m fa z e r q u e o a lu n o d e s c u b ra
r a d a s e n tr e si. a q u ilo q u e se p re te n d e e n sin a r-lh e.
Rad. int.: H e te r o g e n . Rad. int.: E u ristik .
“ H E T E R O G O N IA D O S F IN S ” D . H IE R A R Q U IA D. Hieratchie; E . Hie-
Heterogonie der Zwecke. N o m e d a d o p o r rarchy ; F. Hierarchie ; I. Gerarquia.

S o b re H ie r a r q u ia — Qualidade, o rd e m , h ie ra rq u ia , e stim a ç ã o , v a lo r, n o rm a : p a la ­
v ra s d a m e s m a fa m ília e q u e d ife re m a p e n a s p e lo p o n to d e v ista . A h ie ra rq u ia c o n s ti­
tu i u m a n o ç ã o a n tic ie n tífic a , m a s e ss e n c ia lm e n te filo só fic a . Q u e m q u e r q u e p e n se
463 H IL Á R Q U IC O

D o G . 'I e e a e x ú x , q u e se e n c o n tr a b re tu d o n o sen tid o a m p lo B, u m c o n ce ito


p rim e ira m e n te n o P s e u d o -D iO N lsio , o d e e lev a d a im p o rtâ n c ia filo só fica. É ú til
A R E O P A G I T A j ü e p t njs oúçarnors í t Q o t Q - c o n se rv á -lo , d e s p o ja n d o -o ta n to q u a n to
Xcas e r ie p i njs èxxXijoiaonxijs u ç a g - p o ssív el d e tu d o o q u e n ã o é essencial a es­
X Í a s . T e rm o d e o rig e m e cle siástic a : o r ­ ta sig n ificação .
d em d as m ilícias celestes (a n jo s, a rc a n jo s , Rad. int.: H ie ra rk i (<Caráter hierárqui­
e tc .) e , p o r e x te n s ã o , d o s d iv erso s g ra u s co , h ie a ra k ie s ; conjunto de objetos hie­
d a d ig n id a d e eclesiástica. “ H ie ra rc h ia di- rarquizados, h íe r a r k ia j, e tc.)
c itu r q u a si sacer p rin c ip a tu s a h ie ro n ,
H I G I E N E D A A L M A D . Diätetik
q u o d est s a c ru m , e t a r c h ô n , q u o d est
der Seele; Psychotherapie ; E . Mental­
p r in c e p s .” ( S . T o m á s d e A q u i n o , In li­
healing; mind-cure ; F. Hygiene de l ’ám e;
bros sententiarum Petri Lom bardi , I I , 9,
I. Igiene d ell’anima, psicoterapia (ra ro s ).
1 ; em S c h ü t z , V o . )
É so b este títu lo q u e se tra d u z iu em
A . P ro p ria m e n te , s u b o rd in a ç ã o serial
fra n c é s, p elo D r. S T Â è « Ç ; 2 - R τ « 2 ,
7 E E 7 E

de p e s s o a s , ta l q u e c a d a u m a s e ja s u p e ­
em 1858, a o b r a de F Z T E 2 è Â
7 ζ Ç
I E , E E

rio r à p re c ed e n te p e la ex ten são d o seu p o ­


Zur D iätetik der Seele (1839). T e m p o r
d e r o u p e la e le v a ç ã o d o seu nív el so cia l.
o b je to “ a c iê n c ia d a u tiliz a ç ã o d o p o d e r
B . P o r e x te n s ã o , to d a s u b o r d in a ç ã o
q u e a a lm a p o ssu i de m a n te r p ela su a ação
serial de p esso as, o u de fa to s o u d e id éias,
a saúde d o c o rp o ” .
ta l q u e c a d a te r m o d a série s e ja s u p e r io r
a o p re c e d e n te p o r u m a c a r a c te rís tic a de H I L Á R Q U I C O (d o G . i x , , S çxettO ;
n a tu re z a n o r m a tiv a (q u e r a p re c ia tiv a * , E . Hylarchic , hylarchical; F. Hylarchique.
q u e r im p e ra tiv a * ): “ H ie r a r q u ia d o s d e ­ Q u e g o v e rn a a m a té r ia . T e rm o c r ia ­
veres, h ie ra rq u ia d a s ciên c ia s, h ie ra rq u ia d o p ro v a v e lm e n te p o r H e n ri MORE, q u e
d a s fo rm a s d e e n e rg ia ” ; “ h ie r a r q u ia d o s fa la v a d e princípio hilárquico, d e espíri­
fen ô m e n o s so cia is” . F re q u e n te n este sen ­ to hilárquico, e tc . “ O h á b il H e n ri M o ­
tid o em A u g u ste C o m t e (cf. ta m b é m D u - ru s, te ó lo g o d a Ig reja an g lic an a , e q u e h á ­
R A N D d e G r o s , Esboços de taxinomia ge­ bil e ra , m o s tra v a -s e m u ito a fe ito a f o r ­
ral, c a p . V: “ O rd e m de h ie ra rq u ia ” ). j a r h ip ó te se s q u e n ã o e ra m in telig ív eis
n e m a p a re n te s ; te s te m u n h o d isso é o seu
c r í t i c a
princípio hilárquico d a m a té ria , cau sa d o
E ste te r m o é de f o r m a ç ã o b iz a r ra ; p e so , d a m o b ilid a d e e d e o u tr a s m a ra v i­
além d o m ais, su g ere in felizm en te, n o u so lh a s q u e a í se e n c o n tr a m .” L « ζ Ç « U , N o ­E

v u lg a r, id é ia d e fo rm a lis m o e de a u to r i­ vos ensaios , I I I , X , 14. B 2 3 Â à c ita e


E E E

d a d e so cial im o b iliz a d a n u m a o r g a n iz a ­ a f a s ta ta m b é m o princípio hilárquico n o s


ç ã o tr a d ic io n a l. R e p re s e n ta c o n tu d o , s o ­ seus Diálogos entre Hilas e Fiionous, III,

filo s o fic a m e n te c lassific a e fa z s o b re as c o isa s ju íz o s d e v a lo r. O d o m ín io d a q u a n ti­


d a d e , p e lo c o n tr á r io , é o d a in d if e re n ç a o u d a e q u iv a lê n c ia d e to d a s as fo r m a s d o
ser. {L. Boisse)
É in d u b itá v e l q u e a n o ç ã o d e h ie r a r q u ia é e ssen cial à f ilo s o fia , m a s n ã o se p o d e
a d m itir q u e e la s e ja a n tic ie n tífic a , n e m q u e a c iê n c ia se re d u z a ao d o m ín io d a q u a n ­
tid a d e : d ific ilm e n te isso s e ria v e rd a d e iro p a r a as p ró p r ia s m a te m á tic a s . A ciên cia m o ­
d e r n a , p e lo c o n tr á r io , a la r g a c a d a vez m a is o s seu s q u a d ro s e o s seu s m é to d o s e r e c u ­
sa e x p re ss a m e n te d e ix ar-se id e n tific a r c o m u m a g e o m e tria . A p r ó p r ia físic a u tiliz a
o c o n c e ito d e h ie ra rq u ia q u a n d o se tr a ta d e fo rm a s de e n e rg ia . C o m m a is fo r te r a ­
z ã o , o m esm o se p a ssa n as ciências b io ló g icas, p sico ló g icas e sociais. A s ciências “ n o r ­
m a tiv a s ” fo r a m c ria d a s e x p re ss a m e n te p a r a a n a lis a r os ju íz o s d e v a lo r. (A. L .)
H IL E M O R F IS M O 464

ad fin e m , o n d e o a p r o x im a d a s fo r m a s b a tu r d e s u m m a illa d u b ita tio n e q u a m


s u b s ta n c ia is , d a n a tu r e z a p lá s tic a , e tc . s a e p e m e ta p h y s ic a m , h y p e rb o lic a m , a t-
(v o l. I, p . 4 7 0 ). C f . M ediador. q u e ad u su m v itae n u llo m o d o tra n sfe re n -
d a m esse in c u lc a v i.” Resp. às VII?s obj.
H IL E M O R F IS M O o u H IL O M O R -
A d . e t. T a n n ., V II, 4 6 0 . C f. 6 a m edita­
F I S M O (d o G . uXif, fiog<pi¡); D. H yle­
ç ã o ú ltim o p a r á g r a f o , e Princípios, 1 , 30.
morphismus,; E . Hylemorphism ; F . Hylé-
morphisme; I. Ilem orfism o. H I P E R E N D O F A S I A V e r Endofasia
D o u tr in a q u e e x p lic a o s s e re s, s e g u n ­ e Alucinação psíquica, n o Suplemento n o
d o a c o n c e p ç ã o d e A ris tó te le s e d o s E s ­ fim d a p re s e n te o b r a .
c o lá s tic o s , p e lo jo g o d a m a te ria * e d a
fo r m a * . H IP E R E S P A Ç O D __ ; E . Hyperspa-
ce; F . Hyperespace; I. Iperespazio.
H I L O Z O Í S M O D. H ylozoism us ; E. E s p a ç o c o m m a is d e trê s d im e n sõ e s
H ylozoism ; F . Hylozoisme ; I. Ilozoismo. (v er Espaço e Euclidiano).
D o u tr in a filo s ó fic a s e g u n d o a q u a l a
m a té r ia (Z Xã )ã é v iv a (fw o v ), q u e r em si H I P E R E S T E S I A D . Hyperästhesie;
p r ó p r ia , q u e r e n q u a n to p a rtic ip a n a a ç ã o E . Hyperaestesia; F . Hyperesthésie; I.
d e u m a a lm a d o m u n d o ( K a n t , Crítica Iperestesia.
d o Ju ízo , I I , § 72). E s te te r m o e n c o n tr a ­ A u m e n to a n o r m a l d a “ s e n s ib ilid a ­
se p e la p r im e ir a v ez e ra C u d w o r t h (v er d e ” , q u e r n o sen tid o a fe tiv o , q u e r n o sen ­
R . E u c k e n , Geschichte der philosophis-
tid o p e rc e p tiv o d e s ta p a la v r a .
chen Terminologie, p . 94). É fr e q ü e n te - Rad. int.: H ip e re ste z i.
m e n te a p lic a d o à físic a e s to ic a .
H IP E R M N É S IA D . Hypermnesie; E .
Rad. int.i H ilo z o is m . H yperm naesta; F . H yperm nésie; I.
H I P E R . . . P r e f ix o u s a d o liv re m e n te Ipermnesia.
e m c o m p o s iç ã o , n a lin g u a g e m filo s ó fic a O p o s to d e A m n ésia *.
e p s ic o ló g ic a c o n te m p o r â n e a , sem d ú v i­ E s ta d o n o q u a l as reco rd aç õ e s q u e n o r ­
d a p o r im ita ç ã o d a u tiliz a ç ã o q u e d e le se m a lm e n te d e v e ria m ser a p a g a d a s re a p a re ­
fa z e m m e d ic in a . A c re s c e n ta -s e n ã o só à s cem c o m fo rç a e a b u n d a n te m e n te . E ste ter­
p a la v ra s d e ra íz g re g a , m a s ta m b é m às de m o é m u ito u s u a l; v er n o m e a d a m e n te Ri-
o rig e m la tin a . D e sig n a o m a is d a s vezes BOr, A s doenças da memória, c a p . IV:
a q u ilo q u e e s tá a c im a d o n o r m a l (hipe­ “A s ex altaç õ es d a m e m ó ria , o u h ip e rm n é -
restesia*, hipermnésia*, e x iste m d a m e s ­ sias”, q u e m u ito c o n tr ib u iu p a r a fa z e r e n ­
m a f o r m a hiperacústica, hiperosmia , t r a r a p a la v ra n a lin g u a g e m c o rre n te .
e tc .) ; m a s e m p re g a -se ta m b é m p a r a a ssi­
H IP E R O R G Â N IC O D. ...; E.
n a la r a q u ilo q u e e s tá a lé m , o u f o r a de
Hyperorganical; F . Hyperorganique; I.
u m a c e r ta f o r m a , c o n s e rv a n d o a o m e s ­
Iperorganico.
m o te m p o c arac te rístic as im p o rta n te s d e s­
A . S u p e rio r a o o r g a n is m o , e d e u m a
t a {hiperespaço *, hiperorgônica*, hiper-
o u tr a n a tu r e z a . D iz-se, n e ste s e n tid o , d o
geométrico ) e, n o sen tid o p e jo ra tiv o , p a r a
e sp írito , c o n sid e ra d o co m o a lg o q u e a p re ­
s u b lin h a r u m excesso (hipercrítico, hiper­
sen ta carac te rístic as irred u tív eis às d o c o r­
trofia do eu).
p o . F r e q ü e n te n e ste s e n tid o em M τ « Ç E

H I P E R B Ó L I C A ( D ú v id a ) N om e da­ áE B«2 τ Ç .
d o p o r D e s c a r t e s à d ú v id a m e tó d ic a r a ­ B . S u p e rio r , em e x te n s ã o , a o s o r g a ­
dical cu jas razões estão expostas n a Primei­ n ism o s m ais e lev ad o s q u e p o d e m o s a p e r ­
ra meditação; e n ten d e-se p o r isso q u e ta l c e b e r in tu itiv a m e n te c o m o to d o s , m a s d a
d ú v id a fo i le v a d a a o e x tre m o , q u e é a p e ­ m e sm a n a tu r e z a q u e e les, p e lo m e n o s p e ­
n a s te ó ric a e p ro v is ó ria . “ Ib i ta n tu m ag e- la s s u a s c a ra c te rís tic a s g e ra is. E s te te r m o
465 H IP Ó S T A S E

s o c ie d a d e e
é a p lic a d o , n e s te s e n tid o , à H I P O . . . P r e f ix o u s a d o em c o m p o s i­
às fu n ç õ e s so ciais. D iz-se t a m b é m H ip e - ç ã o (n as m esm as c o n d içõ es q u e hiper*...)
r o T g a n i s m o , m a s o te rm o é m a i s r a ro . p a r a d e sig n a r a q u ilo q u e e s tá a b a ix o d o
Rad. i n t S u p e ro rg a n is m . n o r m a l, o u q u e se a p re s e n ta em u m nív el
fraco.
H I P N A G Ó G I C O V er Alucinação.
H I P Ó S T A S E D . H ip o sta se ; E .
H IP N O S E D . Hypnose-, E . Hypnosis ;
Hypostasis; F . H ypostase ; I. Ipostasi.
F . H ypnose ; I. Ipnosi. D o G . bnóoTCtais, s u p o r te , f u n d a ­
R e ú n e m -se s o b e sta d e s ig n a ç ã o d ife ­ m e n to . E s ta p a la v r a fo i s o b re tu d o in tr o ­
re n te s e s ta d o s a o m e s m o te m p o s o m á ti­ d u z id a n a lin g u a g e m té c n ic a d a filo s o fia
co s e p sico ló g ico s, a n á lo g o s a o s o n a m b u ­ p o r P Â ÃI « ÇÃ e p e lo s e s c rito re s c ris tã o s
lis m o e s p o n tâ n e o e c u ja s c a ra c te rís tic a s d a s u a é p o c a , q u e a a p lic a m às três p e s­
c o m u n s m a is g e ra lm e n te re c o n h e c id a s so as d ivin as e n q u a n to c o n sid e ra d a s co m o
s ã o : d e se n v o lv im e n to d o s fe n ô m e n o s a u ­ s u b s ta n c ia lm e n te d is tin ta s .
to m á tic o s , m a io r s u g e s tio n a b ilid a d e , a l­ E m L . substantia (q u e é a su a tr a n s ­
te ra ç ã o d a s c o n d iç õ e s n o rm a is d a m e m ó ­ c riç ã o ) e, n o L . e sc o lá stic o , hipostasis,
ria , d a p e rs o n a lid a d e e, p o r vezes, d a p e r­ q u e c o n s e rv a s o b re tu d o o se n tid o d e in ­
c e p ç ã o ; e, n o s caso s em q u e este e s ta d o d iv íd u o e e sp e c ia lm e n te d e p e ss o a m o ra l:
é p r o d u z id o p e la a ç ã o d e o u tr a p e ss o a , “ in d iv id u a e s u b s ta n tia e h a b e n t a liq u o d
u m a d e p e n d ê n c ia e sp ecial em r e la ç ã o a o sp eciale n o m e n p ra e a liis , d ic u n tu r e n im
h ip n o tiz a d o r . A catalepsia* é c o n s id e ra ­ hypostases vel p rim a e s u b s ta n tia e ” (S.
d a u m a d as fo r m a s d a h ip n o s e . T o m á s d e A q u in o , Sum m . The , I, 29,
H ipnotism o d iz-se ta m b é m n u m sen ­ lc). “ H y p o s ta s is ... ex u su lo q u e n d i h a b e t
tid o m a is g e ra l e m ais v a g o p a r a d e sig ­ q u o d s u m a tu r p ro in d iv íd u o ra tio n a lis n a-
n a r o c o n ju n to d o s fe n ô m e n o s q u e se li­ tu r a e , ra tio n e su ae ex ce lle n tia e ” (ibid. , 2,
g am à hipnose, os p ro c e ss o s o p e r a tó r io s a d . 1. V er S c h ü t z , Thom as Lexicon ,
q u e a p ro d u z e m , as a p lic a ç õ e s te r a p ê u ti­ V o , 361).
cas e o u tr a s de q u e ela é su sc e tív e l, etc. A . S u b s tâ n c ia , c o n s id e r a d a c o m o
Rad. int.: H ip n o t. u m a re a lid a d e o n to ló g ic a .

S o b re H ip o s ta s e — História. E s ta p a la v r a e n c o n tra -s e em A ris tó te le s , m a s n ã o


tem s e n tid o té c n ic o : s ig n ific a s e d im e n to , d e p ó s ito . O e x e m p lo m a is a n tig o q u e p o s ­
s u ím o s d este te r m o , tom ado no sentido filo só fico , e n c o n tr a - s e n a Epístola aos H e­
breus, 1 ,3 , o n d e o F ilh o de D eu s é c h a m a d o χ α ρ α χ τ η ρ τ ή ί υ ο π σ τ ά σ ^ω ς d o seu P a i.
M as é p ro v á v e l c o n tu d o q u e te n h a tid o u m u s o m a is a m p lo d o q u e a q u e le q u e este
ú n ic o e x e m p lo n o s p o d e r ia fa z e r s u p o r; é d ifícil, c o m e fe ito , n ã o s u p o r q u e ele se ja
a o rig e m d o u s o q u e o s f iló s o fo s la tin o s d e ra m à p a la v r a substantia p a r a tra d u z ir
ο υ σ ί α , e q u iv a lê n c ia q u e n o s é a te s ta d a p o r S ê n e c a (E p is t. 113, § 4 ) e Q u i n t i l l i a -
N O (Inst. Orat., I I I , 6 , §9 e IX , 1, §8). (C . C. J. Webb)

N o 7Γ € ρ ι κ ό σ μ ο υ , o b r a p ro v a v e lm e n te estó ic a q u e d a ta m a is o u m e n o s d a e ra c ris­
tã , κ α θ ’ ν πό σ τ α σ ι ν é o p o s to a κ α τ ' 'ό μ φ α σ ι ν p a r a d e s ig n a r o s fe n ô m e n o s celestes
q u e p o s su e m u m a re a lid a d e m a te r ia l ( p o r e x e m p lo , o r a io , a s e stre la s c a d e n te s ), p o r
o p o s iç ã o àq u eles q u e sã o a p e n a s u m a im a g e m ( p o r e x em p lo , u m a rc o -íris). Π ε ρ ί κ ό σ ­
μ ο υ , 3 9 5 a30 (n a e d iç ã o d e B erlim d a s o b r a s d e A ris tó te le s , a q u e m o u tr o r a e ste t r a t a ­
d o tin h a sid o a tr ib u íd o ) .
O s e g u n d o s e n tid o n ã o é re a lm e n te d is tin to d o p rim e iro : h á a p e n a s o e r r o d e to ­
m a r p o r u m a substância a q u ilo q u e n ã o o é. Q u a n to a o v e rb o hipostasiar, p arece
f o r m a d o d e u m m o d o b a s ta n te in fe liz . (J. Lachelier)
H IP Ó T E S E 466

B . (p e jo ra tiv o ). E n tid a d e * fic tíc ia , E s s e n c ia lm e n te , a q u ilo q u e e s tá o u


a b s tr a ç ã o fa ls a m e n te c o n s id e ra d a c o m o q u e se p õ e n a b a se d e a lg u m a c o n s tr u ç ã o
u m a re a lid a d e . E s te s e n tid o é s o b r e tu d o “ 'H rõi»' vóyjusv üirodeais, o p rin c íp io d a s
u s u a l p a r a o v e rb o hipostasiar ( = tr a n s ­ le is” ( P l a t ã o , Leis , 743C ). D e o n d e , em
fo rm a r u m a re la çã o ló g ica n u m a s u b s tâ n ­ p a rtic u la r:
c ia , n o s e n tid o o n to ló g ic o d e ste te rm o ); A . E m m a te m á tic a , o q u e se to m a c o ­
e m e s m o , m a is g e ra lm e n te , a tr ib u ir e r r a ­ m o d a d o de u m p ro b le m a , o u c o m o
d a m e n te u m a re a lid a d e a b s o lu ta à q u ilo e n u n c ia d o d e o n d e se p a rte p a ra d e m o n s ­
q u e é a p e n a s re la tiv o : “ A te n ta ç ã o d e v ia t r a r u m te o re m a . P o r e x e m p lo : “ O la d o
ser g r a n d e ... p a r a hipostasiar esta e sp e ­ A B é ig u a l a o la d o A C p o r h ip ó te s e .”
r a n ç a o u , m e lh o r, este im p u ls o d a n o v a B . P r o p o s iç ã o a d m itid a , in d e p e n d e n ­
c iê n c ia , e c o n v e r te r u m a re g ra d o m é to ­ te m e n te d a q u e s tã o de s a b e r se ela é v e r­
d o em lei f u n d a m e n ta l d a s c o is a s .” H .
d a d e ir a o u fa ls a , m as a p e n a s a títu lo d e
B e r g s o n , A evolução criadora.
p rin c íp io ta l q u e se p o d e r ia d e d u z ir dele
Rad. int.: A . H ip o s ta z .
u m c o n ju n to d a d o de p ro p o s iç õ e s . “ A
H I P Ó T E S E G . *Tiro0é<r«; L . H ypo­ fim d e c a d a u m ser livre d e p e n sa r a q u ilo
thesis; D . Hypothèse; E . Hypothesis; F . q u e b e m q u e r , d e se jo q u e a q u ilo q u e eu
Hypothèse; I. Ipotesi. e sc re v e r se ja to m a d o a p e n a s c o m o u m a

S o b re H ip ó te s e — História . A lém d o s e n tid o g e ra l a s s in a la d o m a is a c im a , P l a ­


t ã o d e sig n a p e la s p a la v r a s vitoTÍBéoSai e viroBtotus oxoitáadoti o m é to d o “ d o s
g e ô m e tr a s ” q u e c o n sis te e m , s e n d o d a d a u m a p r o p r ie d a d e d e u m a fig u ra q u e n ã o
p o d e ser d ire ta m e n te d e m o n s tr a d a , p r o c u r a r u m a o u tr a d a q u a l a p rim e ir a r e s u lta r ia
e em v er em seg u id a se e sta v 7 ró 0 tím é ela p r ó p r ia v e rd a d e ir a , q u e r d iz e r , se e la re ­
s u lta d a d e fin iç ã o o u d a s p ro p r ie d a d e s j á c o n h e c id a s d a fig u ra c o n s id e r a d a . (M ê -
non, X X I I , 8 6 A seg .) (A . L.)
E m A r i s t ó t e l e s , o ovWoyiofiòs inroütotus è o ra c io c ín io q u e re p o u s a s o b re
e s ta a s s u n ç ã o : se A é v e rd a d e ir o , B deve se r a d m itid o c o m o c o n s e q ü ê n c ia . S e, p o r ­
t a n to , A f o r p r o v a d o , B é c o n c lu íd o ò-rodeoem. C f . avotyxoãov virodeoeus:
p o r e x e m p lo , é n e c e s sá rio , se se deve construir um a parede , q u e o s m a te ria is m ais
p e s a d o s s e ja m c o lo c a d o s s o b os m a is lev es. (C . C . J. Webb)
S o b re a c r ític a — N ã o v e jo u m a d if e r e n ç a m u ito p r o f u n d a e n tre o s e n tid o B e
o s e n tid o C . T a lv e z se p o s sa m d is tin g u ir as h ip ó te s e s q u e c o n sis te m e m a d m itir a g e n ­
tes o u açõ es c u ja e x istên c ia ja m a is p o d e r á ser d ire ta m e n te c o n s ta ta d a , h ip ó te se s d e s ­
tin a d a s , p o r c o n s e q ü ê n c ia , a p e rm a n e c e re m p a r a s e m p re h ip ó te s e s , e a ju s tific a r-s e
a p e n a s p e lo a c o r d o d o s f a to s c o m elas — e c o n s is tin d o as h ip ó te s e s a p e n a s em
a n te c ip a r-s e à e x p e riê n c ia e em s u p o r a p e n a s a q u ilo q u e u m d ia p o d e r á ser c o n s ta ta ­
d o ; e a in d a , o n d e se e n c o n tr a o lim ite e n tr e a s d u a s , e c o m o d is tin g u ir a q u ilo q u e
u m d ia p o d e r á v ir a ser p e rc e b id o e a q u ilo q u e ja m a is o s e rá ? (J . Lachelier)
E s ta o b je ç ã o é c e r ta m e n te f u n d a d a : A u g u s te C o m te , q u e f r e q ü e n te m e n te d e c la ­
r o u c e rta s h ip ó te s e s in v e rific á v e is e, p o r c o n s e q ü ê n c ia , in ú te is d e le v a n ta r , fo i m a is
d e u m a vez d e s m e n tid o p e la e x p e riê n c ia n e ssa s p re v isõ e s e n essas p ro ib iç õ e s . A d is ­
tin ç ã o e n tr e hipóteses verificáveis e n ã o v e rific á v e is p o r c o n s ta ta ç ã o d ire ta é , p o is ,
m á . M as a q u e ex iste e n tre o s e n tid o B e o s e n tid o C é m u ito d ife re n te : o r a a h ip ó te s e
é tid a c o m o u m p u r o in s tr u m e n to d e c la s s ific a ç ã o ló g ic a , o ra c o m o u m m é to d o de
d e s c o b e rta d a v e rd a d e , e m e s m o d a re a lid a d e . O p rim e iro s e n tid o te m s o b r e tu d o u m
v a lo r h is tó r ic o ; e x p lic a e s ta f ó r m u la d a c o n d e n a ç ã o d e G a lile u ‘‘q u a m v is h y p o th e ti-
ce a se illa m (o p in io n e m ) p r o p o n i s im u la r e t” (v e r D e s c a r t e s , Carta a Mersenne,
467 H IP Ó T E S E

h ip ó te se , a q u a l e s tá ta lv e z m u ito d is ta n te É c o n tr a este m é to d o q u e N e w t o n
d a v e rd a d e; m a s a in d a q u e a ssim se ja , p ro te s ta n o te x to seg u in te, fre q u e n te m e n ­
a c re d ito te r fe ito m u ito se to d a s a s c o isa s te to m a d o n u m s e n tid o e r r a d o : “ R a tio -
q u e d a í se d e d u z ire m fo rem c o n fo rm e s às n em v e ro h a r u m g ra v ita tis p r o p r ie ta tu m
ex periências!’ ( D e s c a r t e s , Principes, III, ex p h a e n o m e n is n o n d u m p o tu i d e d u ce re ,
44.) C f. ibid.y 45: “A in d a q u e eu s u p o n h a e t h y p o th e s e s n o n fin g o . Q u ic q u id e n im
a q u i a lg u m a s q u e eu creio serem fa ls a s ” ; ex p h e n o m e n is n o n d e d u c itu r, h ip o th e sis
e 47: “A in d a q u e a s u a fa ls id a d e n ã o im ­ v o c a n d a e st; et h y p o th e s e s seu m e ta p h y -
p e ç a d e m o d o a lg u m q u e a q u ilo q u e d e ­ sicae, seu p h y sicae, seu q u a lita tu m occul-
las se d e d u z ir se ja v e rd a d eiro !’ ta r u m , seu m e ch a n ic ae in p h ilo s o p h ia ex-

10 d e ja n e ir o d e 1634); c o rre s p o n d e a u m a c o n c e p ç ã o s o b r e tu d o m a te m á tic a d a c iê n ­


c ia . P o d e -s e ta m b é m e n c o n tr a r a in d a a s u a a p lic a ç ã o e m c e rto s físic o s c o n te m p o r â ­
n eo s (v e r p o r ex. D u h e m , A teoria física, o seu objeto e a sua estrutura). E n tr e e s ta
sig n ific a ç ã o e a q u e la q u e a d o ta C la u d e B e r n a r d , h á a d ife re n ç a d e d u a s te o ria s e p is ­
te m o ló g ic a s o p o s ta s . Se o s e n tid o B p u d e s s e s e r r e u n id o a u m o u tr o , sê-lo -ia d e p r e ­
fe rê n c ia a o s e n tid o A e n ã o a o s e n tid o C . (A. L .)
N ã o m e p a re c e q u e a p a la v r a princípio p o s s a s u b s titu ir hipótese n o s e n tid o B:
e x istirã o s e m p re “ p r in c íp io s ” c e rto s p o r si m e sm o s e “ p rin c íp io s ” s im p le sm e n te s u ­
p o s to s . (J. Lachelier ) U m p rin c íp io , enquanto princípio , é in d e p e n d e n te d a s id é ia s
d e c e rte z a o u d e d ú v id a , e m e s m o d e v e rd a d e o u e r r o , j á q u e p o d e s e r c e rto o u d u v i­
d o s o , v e rd a d e ir o o u f a ls o , p e rm a n e c e n d o s e m p re princípio ; o q u e h á d e e sse n cia l
n e s ta p a la v r a é q u e a s s in a la u m a f u n ç ã o ló g ic a , o p o n to d e p a r tid a d a d e d u ç ã o ; o r a ,
é esse p re c is a m e n te o s e n tid o B d a p a la v r a h ip ó te s e , “ p r o p o s iç ã o a d m itid a , in d e p e n ­
d e n te m e n te d a q u e s tã o d e s a b e r s e e la é v e rd a d e ir a o u f a ls a ” . {A. L .)
A c re s c e n ta ria u m a q u a r ta s ig n ific a ç ã o : “ Hipótese = f ic ç ã o ” . E x .: a e s tá tu a d e
C o n d illa c ; “ ser d o ta d o d e s e n tid o s h ip o té tic o s ” (M ic ro m e g a s ); “ e x e m p lo h ip o té ti­
c o ” (u m h o m e m is o la d o n u m a ilh a ); “ e s p a ç o h ip o té tic o ” (v e r o s a r tig o s d e P o in c a -
ré s o b re a g e o m e tria n ã o e u c lid ia n a ); c f. o s r o m a n c e s d e W ells. É v e rd a d e q u e este
s e n tid o p o d e re d u z ir-s e a B ; m a s é n e c e s sá rio s u b lin h a r o c a r á te r fictício d a h ip ó te s e :
sim plifíca-se o u co m p lica-se v o lu n ta ria m e n te u m p ro b le m a p a r a o reso lv er. (F. Mentrê)
M as esta c a ra c te rís tic a n ã o e stá compreendida n o s e n tid o d a p a la v ra ; a c o n te c e a p e ­
n a s q u e u m c e r to n ú m e ro d e h ip ó te s e s , n o s e n tid o B , a p re s e n ta m , além da sua fu nção
de hipóteses , e ste c a r á te r d e irr e a lid a d e . É m e s m o n e c e s sá rio p re v e n ir o s e s tu d a n te s
d e q u e , se ta is fic ç õ es s ã o c h a m a d a s hipóteses, n ã o o s ã o e n q u a n to ficçõ es re c o n h e c i­
d a s c o m o ta is , m a s e n q u a n to p rin c íp io s d e ra c io c ín io e p o siçõ e s ló g ic a s. {A. L.)
Q u a n d o se d iz q u e u m a h ip ó te s e é h e u rís tic a , é n e c e s sá rio e n te n d e r- s e q u e e la
p re c e d e a d e s c o b e rta , q u e é , p o r e s ta ra z ã o , a tiv a , e q u e se d is tin g u e d a h ip ó te s e q u e
se seg u e à d e s c o b e rta e só in tr o d u z a c o o r d e n a ç ã o d e p o is . U m a é f o n te d e m o v im e n ­
to , a o u tr a o seu te rm o . T a lv e z c o n v iesse re s e rv a r o n o m e h ip ó te s e e x c lu siv a m e n te
p a r a toda a antecipação do espírito sobre a experiência. A h ip ó te s e é e ss e n c ia lm e n te
u m m étodo , q u e r d iz er, u m p rin c íp io d e a ç ã o , u m m e io h e u rís tic o . É o q u e h á d e
esse n cia l n a s ig n ific a ç ã o d a p a la v r a . O re s u m o s in té tic o d a e x p e riê n c ia é teoria geral,
sistema, e tc ., m a s n u n c a hipótese. (L. Boisse ) E x c e to q u a n d o o re s u m o s in té tic o se r­
ve além disso p a r a a n te c ip a r s o b re a e x p e riê n c ia . E s ta n o ta e s tá , a liá s , e fe tiv a m e n te
c o n f o r m e às p ro p o s iç õ e s a c im a re fe rid a s e a o u s o q u e te n d e a re s e rv a r o n o m e d e
teorias p a r a a s c o n s tru ç õ e s d e d u tiv a s q u e se rv e m a p e n a s p a r a o rgan izar a s leis a d m i­
tid a s s o b u m a f o r m a a n a lític a , sem n a d a a c r e s c e n ta r d e c o n je c tu r a l. {A. L .)
H IP O T É T IC O 468

p e rim e n ta li lo c u m n o n h a b e n tí’ O p õ e -n a s B . Sentido lógico. O p o s to a categó­


às verae causae. (Philosophiae naturalis rico*.
principia mathematica, 1* e d ., ad finem .) U m a p r o p o s iç ã o h ip o té tic a é a q u e la
C. C o n je c tu r a d u v id o s a , m a s v e ro s-q u e e n u n c ia u m a re la ç ã o d e im p lic a ç ã o
s ím il, p e la q u a l a im a g in a ç ã o se a n te c ip a en tre d u a s p ro p o siçõ es. E x em p lo : “ Se u m
a o c o n h e c im e n to , e q u e é d e s tin a d a a ser triâ n g u lo é re tâ n g u lo , p o d e s e r in s c rito
u lte r io r m e n te v e rific a d a , q u e r a tra v é s d e n u m a s e m ic irc u n fe ré n c ia .” E sta s p r o p o ­
u m a o b s e r v a ç ã o d ir e ta , q u e r p e lo a c o r- sições p o d e m elas p ró p ria s ser q u e r asser-
d o d e to d a s as s u a s c o n s e q u ê n c ia s c o m tó r ic a s , q u e r im p e ra tiv a s , q u e r a p r e c ia ­
a o b s e r v a ç ã o (v er A u g u s te C Ã O I , Cur­
E tiv a s , q u e r d e q u a lq u e r o u tr a m o d a lid a ­
so de filosofía positiva, lição n? 28: “ T e o ­ d e . D a í, n o m e a d a m e n te , a e x p re s s ã o im ­
ria fu n d a m e n ta l d a s h ip ó te se s” ). “ O se n ­ perativo hipotético. V er Imperativo.
tim e n to e n g e n d ra a id éia o u a h ip ó te se ex­ E n tr e essas p ro p o s iç õ e s K E à ÇE è d is­
p e rim e n ta l, q u e r d iz e r, a in te r p r e ta ç ã o tin g u e 1 ?, a q u e la s q u e s ig n ific a m : “ To­
a n te c ip a d a d o s fe n ô m e n o s d a n a tu r e z a ” das as vezes q u e A é B , seg u e-se q u e C
(C la u d e B 2 Ç τ 2 á , Introdução à medici­
E
é D ” ; p o r ex em p lo : “ Se se a p ro x im a r um
na experimental, 1 ? p a r te , c a p . I I , §2). f ó s f o r o in fla m a d o d a p ó lv o r a , a p ó lv o r a
P o d e -s e v e r a p a ss a g e m d o s e n tid o B e x p lo d ir á ” ; 2 ? , a q u e la s q u e sig n ific a m :
p a r a o s e n tid o C e m D è T τ 2 è , Princí­
E I E
“ Se é verdade q u e A é B , seg u e-se q u e C
pios da filosofia, IV , 204-206. é B ” ; p o r e x e m p lo : “ Se ex iste u m D eu s
ju s to , E le p u n ir á o s c r im e s .” A s p rim e i­
CRÍTICA ra s e n u n c ia m u m a re la ç ã o de im p lic a ç ã o
E ste ú ltim o s e n tid o é d e ta l f o r m a e n tre a ex istên cia de d o is fa to s; p o d e m co-
u su a l, n a filo so fia e n a lin g u ag em c o rre n ­ m u m e n te ex p rim ir-se a tra v é s de u m a ú n i­
te, q u e p a re c e n e c e s sá rio re tê -lo ; n o s e n ­ ca p ro p o s iç ã o e f o r m a m u m ju íz o sim ­
tid o B, a p a la v r a princípio j á fo rn e c e , p les; c h a m a -lh e s condicionais-, as s e g u n ­
a liá s , u m a e x ce le n te e x p re ss ã o d a id é ia d a s e n u n c ia m u m a re la ç ã o d e im p lic a ç ã o
q u e se t r a t a d e v e ic u la r (v er m ais a tr á s e n tre a v e rd a d e d e d u a s p ro p o s iç õ e s ; f o r ­
Fundam ento, c rític a ). m a m u m ju íz o c o m p le x o ( com pound
Rad. int.: H ip o te z . judgment)·, s ã o c h a m a d a s hipotéticas o u
propriamente hipotéticas. {Formal Logic,
H I P O T É T I C O D . Hypothetisch; E . p a r te II, c a p . IX .)
Hypothetical·, F. Hypothétique', I. Ipo-
t et ico. C R ÍT IC A

A . Sentido usual (v er Hipótese-C): A d is tin ç ã o é in te re s s a n te ; m a s s e ria


c o n je c tu ra l. s o b r e tu d o im p o r ta n te d is tin g u ir e n tre o

S o b re H ip o té tic o — História. A o rig e m d e ste u so d a p a la v r a n ã o é a ris to té lic a ;


p a re c e r e m o n ta r a T e o f r a s tr o e a E u d e m o ; v er a I n tr o d u ç ã o de B Ã é T « Ã a o seu t r a ­
ta d o De Syllogismo H ypothetico. (C . C . J. Webb) T o d o o d e se n v o lv im e n to d a s ilo ­
g ístic a h ip o té tic a é d e v id o a o s e sto ic o s . E les s u b s titu ír a m p o r e s ta fo r m a a f o r m a
c a te g ó ric a , e s u b s titu íra m as trê s fig u ra s e os q u a tr o m o d o s d e A ris tó te le s p o r a q u ilo
q u e eles c h a m a v a m o s cinco indemonstráveis ( òtvotiróôeikTot,), e n te n d e n d o p o r isso
fo rm a s d e ra c io c ín io c u jo v a lo r e r a , segundo eles, evidente p o r si m e sm o . E s ta s in o ­
v a çõ e s ló g ic a s d o s e stó ic o s p o s s u e m u m v e rd a d e ir o in te re sse filo s ó fic o : as su a s f o r ­
m a s d e ra c io c ín io tê m u m u s o m a is g e ra l d o q u e a s d e A ris tó te le s . P o d e m d iz e r re s­
p e ito a c o n se c u çõ e s d e fe n ô m e n o s (se v e n ta , c h o v e rá ), a ssim c o m o a im p lic a ç õ e s de
a tr ib u to s (se és h o m e m , és m o rta l) . A ló g ica d e A ris tó te le s é e x c lu s iv a m e n te a ló g ica
d o ser: a ló g ica d o s e sto ico s é s im u lta n e a m e n te a d o ser e d o d e v ir. {J. Lachelier)
469 H IP O T É T IC O -D E D U T IV O

ju íz o condicional exclusivo, em q u e a te­ II . M odus tollens:


xis d e p e n d e de u m a c o n d iç ã o * sine qua Se A é B , S é P .
non, e o sim ples ju íz o h ip o té tic o , em q u e O ra , S n ão é P .
a Iexis n ã o é n e g a d a p e io sim p le s fa to d a L o g o , A n ã o é B.
fa ls id a d e d o a n te c e d e n te , m a s p e rd e sim ­
o u , n o ta n d o as p ro p o s iç õ e s :
p lesm en te a g a ra n tia que te ria tira d o dele.
Se p é v e rd a d e iro , q é v e rd a d e iro
Silogism o h ip o tético Silogism o fo rm a ­ o ra , q n ã o é v e rd a d e iro
d o p a rc ia l o u to ta lm e n te p o r p ro p o siç õ e s lo g o , p n ã o é v e rd a d e iro .
h ip o té tic a s . P o d e re v e stir-se de v á ria s
fo r m a s . T2 íI « Tτ

1? Três proposições hipotéticas·. E s ta s p ro p o s iç õ e s e estes silo g ism o s


Se A é B, C é D . s ã o c h a m a d o s p o r P Ã 2 -R Ãà τ L condi­
I

Se E é F , A é B. cionais {Lógica, 2a p a rte , c ap . X I; 3? p a r­


L o g o , se E é F , C é D . te , c a p . X I I e X III).
A o d e s ig n a r to d a s a s fo rm a s silo g ís­
É o a n á lo g o d o silo g ism o c a te g ó ric o
tic a s a c im a a n u n c ia d a s p e lo n o m e d e hi­
c o m u m , em q u e o s te rm o s s e ria m s u b s ti­
potéticas, seg u im o s o e x e m p lo d e F o w -
tu íd o s p o r p ro p o s iç õ e s . P o d e -s e escrev er
L E R ; m as J â Ã Çè
E è ó d á esse n o m e à se­
s im b o lic a m e n te s o b a fo r m a p D q , o r a
g u n d a f o r m a , e n ã o a d m ite a e x istên cia
rD p , lo g o r D q — (p, q, r s e n d o p r o p o ­
d a p rim e ira e n q u a n to f o r m a ló g ic a e sp e ­
siçõ es).
c ial; o m e s m o se p a s s a c o m L « τ 2 á e R τ -
2? U m a p re m issa h ip o té tic a , u m a p re ­
ζ « E2 ; Sú τ Â á « Ç; , U ζ 2 ç E ; E e K à Ç è
E E E

m issa c a te g ó ric a ; q u e se su b d iv id e a in d a
c h a m a m a e sta s e g u n d a f o r m a silogismo
em d o is caso s: hipotético-categórico ; fin a lm e n te , K à ­ E

I. M odus ponens:
Ç è
E a d m ite este n o m e p a r a a s e g u n d a
Se A é B , S é P . f o r m a , m a s d is tin g u e n a p rim e ira e n tre
O r a , A é B, o se n tid o c o n d ic io n a l e o sen tid o p ro p r ia ­
Logo, S é P. m e n te h ip o té tic o , ta is c o m o fo r a m a c im a
o u , n o ta n d o as p ro p o s iç õ e s e n ã o o s d e fin id o s n o q u e se re fe re às p r o p o s i­
te rm o s : çõ es ( K à Ç è , Formal Logic, 3* p a r te ,
E E

c a p . V ).
Se p é v e rd a d e ir o , q é v e rd a d e ir o
o ra , p é v e rd a d e iro H I P O T É T I C O - D E D U T I V O (M é to ­
lo g o , q é v e rd a d e iro . d o ) O m é to d o d e d u tiv o * , ta l c o m o foi de-

S o b re a C rític a — C h a m o u -se a lg u m a s vezes “ M étodo hipotético ” n a física àq u ele


q u e c o n sis te em p r o c u r a r a e x p lic a ç ã o d o s fe n ô m e n o s n u m a e s tr u tu r a m o le c u la r e
n u m siste m a d e m o v im e n to s de p e q u e n a s d e m a is d im e n sõ e s p a r a se re m p e rc e b id o s ;
o p õ e -se a o “ M étodo abstrativo” , q u e se lim ita a re s u m ir n u m a fó r m u la m a te m á tic a
a lei d o s fe n ô m e n o s sensív eis o b s e rv a d o s e a tr a n s f o r m a r e sta fó r m u la seg u n d o re­
g ras de c á lc u lo a lg é b ric o . M as a e x p re ssã o método hipotético é im p r ó p r ia p a r a a ssi­
n a la r e s ta o p o s iç ã o : co m e fe ito , se se e n te n d e r n e ste caso “ h ip ó te s e ” n o s e n tid o de
conjectura , d ev e-se d izer q u e o m é to d o a b s tr a tiv o c o n sis te ta m b é m em fa z e r u m a
c o n je c tu ra (p o r q u e a lei, e n q u a n to g e ra l, u ltr a p a s s a se m p re o s f a to s o b s e rv a d o s );
e se se e n te n d e r “ h ip ó te s e ” n o s e n tid o d e principio , o m é to d o a b s tr a tiv o c o n siste
ta m b é m em p ô r u m p rin c íp io de o n d e se r e to r n a d e d u tiv a m e n te ao s fa to s . O te rm o
q u e c o n v iria o p o r a “ m é to d o a b s tr a tiv o ” seria de p r e f e r ê n c i a “ m é to d o i n t u i t i v o ”
o u “ m é to d o de a n á lise c o n c r e ta ” . {A. L.)
H 1 P O T IP O S E 470

fin id o , p o d e d esen v o lv er o s seus ra c io ci­ te f r e q u e n te n a s m a te m á tic a s e n a fís ic a ,


n io s q u e r a p a r tir d e p rin c ip io s* c o n sid e­ e s ta b e le c e u m a lig a ç ã o e s tr e ita e n tr e a d e ­
rad o s to d o s c o m o verdadeiros e certos (nes­ d u ç ã o e o m é to d o e x p e rim e n ta l.
te caso , ch am a-se categórico-dedutivo, ou Rad. i n t H ip o te z .
dedutivo, sem o u tr o e p íte to ), q u e r a p a r ­
H I P O T I P O S E V er Suplemento.
tir de p rin cip io s d o s q uais alg u n s, pelo m e­
n o s, são sim p le sm e n te p o sto s a títu lo de H IS T Ó R I A D . Geschichte\ E . H is­
texis*, e c u ja v e rd a d e , se estiver em q u es­ tory, F . Histoire ; I. Istoria, storia.
tã o , será ju lg a d a a posteriori, co m o a d as D o G . 'Ι σ τ ο ρ ί α , investigação, infor­
h ip ó te se s-c o n je c tu ra s (ver Hipótese- C ), mação ( c f . í o t o q h v , inquirir-se) d e o n ­
q u e r dizer, seg u n d o a su a a p tid ã o o u a su a d e conhecimento e , f i n a l m e n t e , r e l a ç ã o
in su ficien cia p a ra p ro d u z ir co m o conse- d a q u i l o q u e s e s a b e , história. “ Έ γ ώ yètç
q ü éncias lógicas u m c o n ju n to d ad o de p r o ­ veos ω ν ... θ α ν μ α σ τ ώ ί ώ ί €ΐ Γ (9ΰ μ η α α
p o siçõ es: é a isso q u e se c h a m a método Toevnjs n js σ ο φ ί α ν η ν δ η χ α λ ο ΰ σ ι 7regt
hipotético-dedutivo. φ ύ σ ζ ω $ ι σ τ ο ρ ί α ν ” (S Ó C R A T E S, n o Fédon,
E s ta m a n e ir a d e p ro c e d e r, a tu a lm e n - 96Α ). E l e e n t e n d e p o r e s t a e x p r e s s ã o o

S o b re H is tó r ia — O s e n tid o d a p a la v r a e m A ris tó te le s fo i p re c is a d o a p a r tir d as


in d ic a ç õ e s fo rn e c id a s p o r J. Lachelier e R. Eucken. V er te x to a c im a .
N ã o se d ev e c o n fu n d ir a o p o siçã o su b je tiv a e m e to d o ló g ic a [estab elecid a p o r A ris ­
tó te le s e p o r B aco n ] c o m a o p o s iç ã o o b je tiv a e s ta b e le c id a p e lo s m o d e rn o s e n tre a
c iên c ia d a q u ilo q u e só a c o n te c e u u m a vez (c o m o a su cessão d o s fa to s g eo ló g ico s)
o u a in d a d a q u ilo q u e é ú n ic o n o seu g ê n e ro (c o m o o c o n ju n to d o s fa to s g e o g rá fic o s)
e a c iên c ia d o s fe n ô m e n o s q u e se re p ro d u z e m s e m p re e q u e p o r to d a p a rte sã o os
m e sm o s (c o m o os fe n ô m e n o s físico s e q u ím ic o s ). C o m p re e n d e -s e c o m o é q u e se p ô ­
d e p a s s a r d a p rim e ir a à s e g u n d a o p o s iç ã o , p o is o s f a to s ú n ic o s p a re c e m a p e n a s ser
su scetív eis de c o n s ta ta ç ã o ; o q u e n ã o im p e d e q u e h a ja nesses fa to s m u ito s p o r m e n o ­
res q u e se re p r o d u z a m , o u e n tr e o s q u a is e x istem a n a lo g ia s e q u e eles s e ja m , p o r
c o n s e q ü ê n c ia , em g ra n d e m e d id a e x p lic áv e is. (7. Lachelier)
A fó r m u la d o s e sc o lá stic o s e d e B a c o n , q u e em p rin c íp io a p e n a s te n d e a p re c is a r
e a c o m e n ta r o s e n tid o d e A ris tó te le s (v er a c im a o te x to d e G o c le n iu s ), p a re c e te r
f a c ilita d o b a s ta n te a p a s s a g e m d o s e n tid o m e to d o ló g ic o p a r a o s e n tid o o b je tiv o . B a ­
c o n in siste o r a n u m o r a n o o u tr o ; p o r e x e m p lo , n o p r ó p r io c a p ítu lo c ita d o a c im a ,
ele a c re s c e n ta : “ H is to ria m e t e x p e rie n tia m p r o e a d e m re h a b e m u s , q u e m a d m o d u m
e tia m p h ilo s o p h ia m e t s c ie n tia s .” De Dignitate, I I , 1, §5. E e m o u tr o lu g a r: “ N o b i-
lissim u s a u te m fin is h is to ria e n a tu r a lis is e s t, u t sit in d u c tio n is v e ra e e t le g itim a e su-
p ellex a tq u e s y lv a .” Descriptio globi intellectualis, I I I , E d . E llis e S p e d d in g , I I I , 731.
(A. L .)
O p o n to d e v ista d e C o u r n o t p a re c e -m e o rig in a l e d e m o d o a lg u m d e riv a d o d o
d e B a c o n e d o s E n c ic lo p e d ista s . C o n sis te em o p o r o d a d o h is tó ric o a o d a d o te ó ric o .
Q u a n d o se p o d e r e m o n ta r d o e s ta d o fin a l o u d o p e n ú ltim o e s ta d o d e u m s iste m a
a o e s ta d o a n te r io r e , a o s p o u c o s , a o e s ta d o in ic ia l, a h is tó ria n ã o in te rv é m ; o s iste m a
d e se n v o lv e u -s e , p o r a ssim d iz e r, f o r a d o te m p o . M a s o m a is d a s v e ze s, p a r a e x p lic a r
o e s ta d o a tu a l d e u m s iste m a (p o r e x e m p lo , o siste m a a s tr o n ô m ic o ) , é p re c iso a p e la r
p a r a f a to s in d e p e n d e n te s d a te o r ia , q u e n ã o se e x p lic a m a tra v é s d e la , q u e n ã o se p o ­
d em p re v e r, e tc . E x e m p lo : a p o s iç ã o in ic ia l d o s a s tr o s é u m dado histórico , ir r e d u tí­
vel às leis m e c â n ic a s d a a s tr o n o m ia . E n c o n tra -s e q u a lq u e r c o isa d e a n á lo g o em J.
S. M ill.
471 H IS T O R IA

f a to d e c o n h e c e r “ r à ç a tn a s ί χ ά σ τ ω ν , Íx Qv s irái> ras eivai ttyX eis.” 7 5 7 b3 5 . A


δ ι ά τ ι y íy v tr a i txccσ τ ο ν , x a i Btà τ ι p a la v ra historicamente c o n se rv a q u a lq u e r
ά όπ Χ Κ ν τ α ι , x a i δ ι ά η Ι σ η " (ibid.). c o is a d e s te s e n tid o , e m p a r tic u la r q u a n ­
M a s o s e n tid o d a p a la v r a é m a is p re ­ d o se o p õ e a logicamente. P . e x .: “ D u a s
c is o e m A r i s t ó t e l e s ; d e sig n a n e ste a u ­ te o ria s q u e se im p licam logicamente, a in ­
t o r u m sim p le s a m o n to a d o d e d o c u m e n ­ d a q u e n ã o se lig u e m u m a à o u tr a histo­
to s , p o r o p o s iç ã o d o tr a b a lh o de e x p li­ ricamente (n a re a lid a d e c o n c re ta , n o s f a ­
c a ç ã o o u d e s iste m a tiz a ç ã o . A s u a o b r a to s ) .”
A í -πΈ ρ ι τ ά ζ ώ α ί σ τ ο ρ ί ο α e ra u m a c o le ­ A . Sentido geral. E m B τ T Ã Ç , a h is­
tâ n e a g e ra l d e f a to s à q u a l se o p u n h a m tó ria é o c o n h e c im e n to d o in d iv id u a l, q u e
o s tra ta d o s especiais e te ó ric o s x e g í ί ’ω ω ι » te m p o r in s tr u m e n to essen cial a m e m ó ­
μ ο ρ ί ω ν , ι τ ε ρ ί ζ ώ ω ν yfvéσ eω s, e tc . C f. ria , “ H is to ria p ro p r ie in d iv id u o r u m e st,
ibid., V III: "Α ι ό π ε ρ ο υ δ ’ ¿σ τ ο ρ ι χ ώ ϊ ... q u a e c irc u m s c rib u n tu r lo c o et te m p o re .
φ α ί ν ο ν τ α ι \ e y o v T €s oi φ ά σ χ ο ν τ ε s t o u s E tsi e n im h is to r ia n a tu ra lis c irc a species

E m c a d a lei é p re c iso d is tin g u ir a re la ç ã o m a te m á tic a e as constantes q u e s ã o d a ­


d o s d e f a to ( p o r e x e m p lo , n a lei d e N e w to n ). C a d a c iê n c ia te ó ric a , e x c e to a m a te m á ­
tic a , d e s d o b ra -s e n u m a c iên c ia h is tó ric a . P a r tin d o - s e d e s ta d is tin ç ã o , c o m p re e n d e -
se q u e a im p o r tâ n c ia d o d a d o h is tó ric o te n h a c re sc id o c o m o g r a u d e c o m p lic a ç ã o
d o s fe n ô m e n o s . N o d o m ín io d a b io lo g ia , o p o n to de v is ta h is tó ric o to rn a -s e p r e d o ­
m in a n te e é q u a s e ex clu siv o n o d o m ín io h u m a n o .
A lé m d e ste s e n tid o g e ra l, o te rm o história p o s su i, em C o u r n o t, u m a sig n ific a ç ã o
m a is r e s tr ita , e n q u a n to se a p lic a a o s a c o n te c im e n to s h u m a n o s . T o d o a c o n te c im e n to
h u m a n o n ã o é h is tó ric o p e lo sim p le s f a to de se te r p a s s a d o , d e te r o c o r r id o n o te m ­
p o . F a to s d e sc o n e x o s n ã o c o n s titu e m u m a h is tó ria , n e m f a to s in te ira m e n te s o lid á ­
rio s : a h is tó ria é u m a m is tu ra d e e n c a d e a m e n to s e d e f a to s f o r tu ito s . (F. M entré )
O p o n to c o m u m e n tre a d o u tr in a d e C o u r n o t e a tr a d iç ã o q u e v ai d e A ris tó te le s
a o s E n c ic lo p e d ista s p a re c e -m e ser a o p o s iç ã o q u e to d o s fa z e m e n tre história e teoria,
te n d o a p rim e ira p o r o b je to o s d a d o s de f a to , q u e s im p le sm e n te se re c o lh e m e sã o
o b je to d e m e m ó ria ; te n d o a se g u n d a p o r o b je to as re la ç õ e s c o n s ta n te s e g erais q u e
se c o n s tr ó e m e q u e s ã o o b je to d e ra z ã o . A im p o r tâ n c ia d e sta o p o s iç ã o , e o q u e ela
p o s s u i de c a ra c te rís tic o , fa z -se s o b r e tu d o s e n tir q u a n d o se o p õ e este s e n tid o de his­
tória a o s e n tid o m o d e rn o q u e n ã o só n ã o ex clu i d a h is tó ria a s o p e ra ç õ e s sin téticas
e as c o n s tru ç õ e s g e ra is , m a s ta m b é m as c o n s id e ra c o m o u m a p a rte d a ciência h is tó r i­
c a . V er as d u a s g ra n d e s d iv isõ es d a Introdução aos estudos históricos d e L τ Ç ; Â Ã « è
e S « ; Ç Ã ζ Ã è . (A. L .)
E

“Geschichte v e re in ig t in u n s e r e r S p ra c h e d ie o b je k tiv e so w o h l ais d ie su b je k tiv e


S e ite , u n d b e d e u te t e b e n s o g u t d ie historiam rerum gestarum a is d ie res gestas selbst;
s í e ist d a s G e sc h e h e n n ic h t m in d e r w ie d ie G e sc h ic h tse rz ã h lu n g . ’ ’1 H ; Â , Voríe-
E E

sungen über die Philos. der Geschichte, E in le itu n g ( Werke IX , 75). T e x to c o m u n ic a ­


d o p e lo p r o f . Tònnies. S ão o s s e n tid o s B e C .
História e pré-história. P o d e r- s e -ia m a is e x a ta m e n te ta lv e z o p o r a história à pré-
história d iz e n d o q u e a p rim e ir a s u p õ e a p o s s ib ilid a d e d e u m a n a r r a ç ã o c o n tín u a d o s
f a to s , e a s e g u n d a se c a r a c te riz a p e la d e s c o n tin u id a d e . {L. Brunschvicg )1

1- “ A palavra G eschichte reúne n a nossa língua o aspecto objetivo e o aspecto subjetivo: significa tan to
narraç ão dos acontecim entos com o o$ pró prio s acontecim entos; n ão se aplica m enos àquilo que aconteceu
( Geschehen ) d o que à narração daquilo que aconteceu (G eschichtserzãhlung)."
H IS T O R IC ID A D E 472

v e rs a n v id e a tu r, ta m e n h o c fit o b p ro m is ­ p re e n d e , c o m e fe ito , a a s tr o n o m ia (h is­


c u a m r e ru m n a tu r a líu m in p lu rim is s u b tó r ia d o c éu ), a g e o g ra fia , a g e o lo g ia , a
u n a specie, s im iü tu d in e m , u t si u n a m n o - m in e ra lo g ia , a b o tâ n ic a , a z o o lo g ia , e tc .,
ris, o m n es n o r is ... H a ec a u te m a d m em o - a o m e sm o te m p o q u e a a rq u e o lo g ía , a
ria m s p e c ta n t” (De Dignitate, liv ro I I , h is tó ria civil, p o lític a , lite rá ria , m o ra l, re­
c a p . I , § 2). O pÕ e-se, p o r u m la d o , à P o e ­ lig io sa , etc.
s ia , q u e te m ig u a lm e n te p o r o b je to o in ­ B . Sentido especial (d e lo n g e o m ais
d iv id u a l, m a s fic tíc io , e p o r in s tr u m e n to u su al n a n o s sa é p o ca ). C o n h e c im e n to dos
a im a g in a ç ã o ; e, p o r o u tr o la d o , à F ilo ­ d ife re n te s e s ta d o s re a liz a d o s su ce ssiv a ­
s o f ia , q u e te m p o r o b je to o g e ra l e p o r m e n te n o p a s s a d o p o r u m o b je to d e c o ­
in s tr u m e n to a ra z ã o (ibid., §3 e 4). n h e c im e n to q u a lq u e r: u m p o v o , u m a in s­
D iv id e -se ta m b é m e m história natural e titu iç ã o , u m a esp écie v iv a , u m a c iê n c ia ,
história civil. P a r a e le , c o m o p a r a A r is ­ u m a lín g u a , e tc .
tó te le s , a h is tó r ia n a tu r a l o p õ e -s e s o b re ­ C . P o r o b je tiv a ç ã o , a p ró p r ia s e q u ê n ­
tu d o à “ filo so fia o u c iê n c ia ” p o r u m a d i­ c ia d o s e s ta d o s p e lo s q u a is p a s s o u a h u ­
fe re n ç a d e m é to d o e n ã o d e o b je to ; v e r m a n id a d e . D is tin g u e -se n e ste s e n tid o a
a H istoria ventorum , a Historia densi et história p ro p ria m e n te d ita , c o n h e c id a p e­
rari, a Sylva Sylvarum , e tc ., q u e s ã o c o ­ la s tra d iç õ e s o u d o c u m e n to s e s c rito s , e a
le tâ n e a s d e f a to s “ a d c o n d e n d a m p h ilo - pré-história, in a ce ssív e l p o r esses p r o c e ­
s o p h ia m ” . C f. N ov. Organum , P re fá c io : d im e n to s .
ib id . , I, 9 8 , e tc . M a s o s p r ó p r io s te r m o s Rad. int.: H is to r i.
q u e ele e m p re g a n a su a d e fin iç ã o v êm d o s
H IS T O R I C I D A D E V e r Suplem ento.
esco lástico s: “ H is to ria sig n ific a t sin g u lo -
ru m n o titia m , vel e x p o s itio n e m se u d es- H IS T O R I C I S M O D . Historismus; F .
c rip tio n e m t o ú o t l re i” ( G Ã T Â Ç « Z è , V Ã
E Historisme.
626 B). F o r a m c o n s e rv a d o s p e lo s a u t o ­ A . P o n t o d e v is ta q u e c o n sis te em
res d a Enciclopedia, m a s estes já in sistem c o n s id e ra r u m o b je to de c o n h e c im e n to
s o b r e tu d o n o c a r á te r c ro n o ló g ic o d a h is­ e n q u a n to re su ltad o a tu a l d e u m d esen v o l­
tó r i a {ver D ’A Â O ζ 2
E E I , Discurso preli­ v im e n to q u e se p o d e s e g u ir n a h is tó ria ,
minar , §41 e 70). n o s e n tid o B. C f. Gênese.
P o d e -se a p ro x im a r d e ste p o n to d e vis­ B . E s te te r m o a p lic a -se e sp e c ia lm e n ­
ta , a in d a q u e talv ez n ã o deriv e dele, o q u e te à d o u tr i n a q u e d e fe n d e q u e o d ire ito ,
C Ã Z 2 ÇÃ I a d o to u n a s u a c la s s ific a ç ã o assim c o m o as lín g u a s e o s c o s tu m e s , é
d a s ciên c ia s (Ensaio sobre o fundam ento o p r o d u to de u m a c ria ç ã o c o le tiv a , in ­
dos nossos conhecimentos, c a p . X X ), d i­ co n sc ie n te e in v o lu n tá ria , q u e te rm in a n o
v id in d o to d o s o s c o n h ecim en to s h u m a n o s m o m e n to em q u e a re fle x ã o a e la se a p li­
e m trê s séries: a série te ó ric a , a série cos­ c a; e q u e , p o r c o n s e q ü ê n c ia , n ã o se p o d e
mológica e histórica, a série té c n ic a o u m o d ific a r d e lib e ra d a m e n te , n e m c o m p re -
p rá tic a . A se g u n d a d e sta s d iv isõ es c o m ­ e n d ê -lo e in te r p r e tá - lo d e o u tr a m a n e ira

S o b re H isto ric ism o — N ã o se deve p ro sc re v e r o te rm o historicismo, m a s é p reciso


reserv á-lo u n ic a m e n te p a ra q u a lific a r o e s tu d o g en ético d o c o n c re to . N este d o m ín io ,
e só n e ste d o m ín io , p o d e , se nada fo r om itido, e q u iv aler a u m a e x p lic aç ão . (L. Boisse)
Se se a d m itir q u e o d e v ir é , n o seu f u n d o , a b s o lu ta m e n te in te lig ív e l e ló g ic o , u m a
h is tó r ia o n d e n a d a fo sse o m itid o s e ria sem d ú v id a a o m e sm o te m p o u m a e x p lic a ç ã o ;
o u , a n te s , c o n fu n d ir- s e -ia c o m a p r ó p r ia re a lid a d e . M as e s ta h is tó r ia in te g ra l é im ­
p o ssív e l. I r ia a té o in fin ito . E , a liá s , a in te lig ib ilid a d e ra d ic a l d o d e v ir é e la p r ó p r ia
p o s ta em q u e s tã o . V er m a is a c im a as o b s e rv a ç õ e s d e M Ç 2 é s o b re o sen tid o d a p a ­
E I

la v ra História em C o u r n o t e m a is a trá s a c rític a d a p a la v r a Gênese. (A. L .)


473 H O M A L O ID A L

s e n ã o p e lo seu e s tu d o h is tó ric o (p o r “ H O L I S M O ” V e r Suplemento.


e x e m p lo Sτ â« ; Çà . V er A Çá E 2 , A s ori­
gens do socialismo de Estado na A lem a­ H O M A L O ID A L D o G.òptdKos, liso ,
nha , liv ro I, c a p . I, §2 a 4 ). O p õ e -se , n este plano ; D . H om aloidal; E . Hom aloidal ;
F . Homaloidal.
s e n tid o , a Rationalismus.
C a ra c te rís tic a de u m m eio esp acial in ­
CRÍTICA d e fin id o q u e n ã o p o s s u i c u r v a tu r a p r ó ­
T e rm o e q u ív o c o , a p lic a d o a lg u m a s p r ia (p . ex. a re ta n o p la n o o u o p la n o
vezes a o h e g e lia n ism o e n q u a n to o p o s to n o e sp a ç o e u c lid ia n o ) e n o q u a l se p o d e ,
a o n a tu ra lis m o (E« è Â E 2 , V o , 329). A evi­ p o r c o n s e q ü ê n c ia , tr a ç a r fig u ra s se m e ­
t a r , c o m o a m a io r p a r te d o s te rm o s d e s­ lh a n te s em q u a lq u e r e sc a la . A p lic a d a a o
te g ê n e ro , q u e g e ra m fa c ilm e n te d isc u s­ e sp a ç o d e trê s d im e n s õ e s to m a d o n o seu
sõ es v e rb a is. c o n ju n to , e sta p ro p rie d a d e im plica o p o s ­
tu la d o d e E u c lid e s e re c ip ro c a m e n te .
H IS T Ó R IC O D . Geschichtlich, histo­ E s ta c a r a c te rís tic a d e v e ser b e m d is ­
risch; E . Historical, historie ; F . Histori- tin g u id a d a homogeneidade: a s u p e rfíc ie
que ; I. Storico, istorico . d e u m a e s fe ra é homogênea, j á q u e u m a
A . R e la tiv o à h is tó r ia , o u q u e c o n s ti­ fig u ra tr a ç a d a n u m a re g iã o q u a lq u e r d a
tu i u m a h is tó ria . “ U m a o b r a h is tó r ic a .” s u a su p e rfíc ie p o d e ser tr a n s p o r ta d a sem
“ O m é to d o h is tó r ic o .” d e f o r m a ç ã o p a r a q u a lq u e r o u tr a re g iã o ,
B . Q u e é c o n h e c id o p e la h is tó ria : m a s n ã o é homaloidal , p o r q u e tem u m
“ U m f a to h is tó r ic o .” M a is e s p e c ia lm e n ­ r a io de c u r v a tu r a fin ito q u e a c a r a c te ri­
te : q u e a c o n te c e u re a lm e n te , q u e n ã o é z a , e p o r q u e n ã o se p o d e tr a ç a r n e la u m
im a g in á rio . C f. iaroQ ixcos n o te x to d e triâ n g u lo e sférico s e m e lh a n te a u m tr iâ n ­
A ris tó te le s c ita d o n o a r tig o História. g u lo d a d o .
C. M em o ráv el, q u e m erece ser c o n ser­
N OTA
v a d o p e la h is tó r ia . “ D iz -se , n e s te s e n ti­
d o , u m a jo m a d a h istó ric a , u m a fr a s e h is­ D ev e-se d iz e r homaloidal e n ã o “ h o -
tó r ic a . M a s e s ta n o ç ã o d e h is tó r ia fo i m o l o i d a l e sta f o r m a c o n tr á r ia à e tim o ­
a b a n d o n a d a . Q u a lq u e r in c id e n te p a s s a ­ lo g ia é fr e q u e n te m e n te u s a d a p o r in a d ­
d o fa z p a r te d a h is tó r ia , ta n to a r o u p a v e rtê n c ia , d e v id o à s f o r m a s v iz in h a s ho­
v estid a p o r u m cam p o n ê s d o sécu lo X V III mólogo, hom ogêneo , e tc . E n c o n tra -s e
c o m o a to m a d a d a B a s tilh a .” SE « ; ÇÃ - d u a s vezes e m Bτ Â áç « Ç , n o a rtig o Spa-
ζ Ãè , L a m é th o d e h isto riq u e a p tiq u é e a u x ce, 565 e 566 A ; m a s d e v e s e r c o n s id e ra ­
S cien ces so c ia le s , p . 3. d a u m a f a lh a d e im p re s s ã o .
Rad. int.: A . H isto ri; B, e C H isto ria l. Rad. int.: H o m a lo id .

S o b re H o m a lo id a l e H o m o g ê n e o * — “ A u tiliz a ç ã o d a p a la v r a homogêneo p o r
DE Â ζ ÃE Z E m o d if ic a sem d ú v id a o s e n tid o u s u a l d e s te te r m o , o q u e c o n s titu i u m in ­
c o n v e n ie n te m a n if e s to , m a s q u e a c o n te c e in e v ita v e lm e n te q u a n d o u m p e n s a d o r d e
id é ia s g e ra is p r o c u r a n a s p a la v r a s u s u a is e x p re ssõ e s p a r a o s seus p e n s a m e n to s ... O
s e n tid o q u e ele a tr ib u i a o te rm o homogêneo é , a liá s, a p e n a s u m a p a r tic u la riz a ç ã o ,
in te ira m e n te c o n f o r m e à e tim o lo g ia , d o s e n tid o c o n s a g ra d o p e lo u s o e m g e o m e tria :
re s e rv a -a a o s e sp a ç o s q u e n ã o s ó s ã o f o r m a d o s p o r p a r te s id ê n tic a s o u ig u a is e n tre
si, d e m o d o q u e é p o ssív e l d e s lo c a r u m a fig u ra sem d e f o r m a ç ã o (o q u e ele c h a m a
e sp aço isógeno, u m te rm o m a is d ire ta m e n te c o n fo rm e à e tim o lo g ia ), m a s q u e sã o fo r­
m a d o s p o r p a rte s q u e , a u m e n ta d a s o u d im in u íd a s , q u e r d iz e r, tra n s fo rm a d a s em p a r ­
tes sem e lh a n te s a si p ró p r ia s , p e rm a n e c e m s e n d o p a rte s d o e sp a ç o c o n sid e ra d o . O r a ,
e sta sig n ific a çã o p a re ce -n o s b em d is tin g u id a d e isogeneidade p e lo te rm o ‘h o m o g ê n e o ’.
“ H O M E O M E R IA S ” 474

“ H O M E O M E R I A S ” G . ?à òpioto- b e rso b r e a s u a f a b r ic a ç ã o ” , e a o H om o
fiegrj, TCtòficnofitQij c f t o l x h c i (ARISTÓTE­ loquax, “ c u jo p e n s a m e n to , q u a n d o ele
LES); p o s te rio rm e n te a í <5/¿o<,o/¿ege¿cu; L . p e n s a , é a p e n a s u m a re fle x ã o s o b re a su a
Hom oemeria (LZ T2 T« Ã ), no singular, f a la ” . Ibid., 106. C f. L ’évolution créatri-
m as não designando m enos, segundo ce, p . 151, e os c a p ítu lo s “ O hom o fa b er ”
Z E Â Â E 2 , Ã c o n ju n to das¿/uuo/tegij o t o i -
e “O hom o religiosas ” , e tc ., em L .
XtCa (Filosofia dos gregos). B r u n s c h v i c g , De ia connaissance de soi.
N o siste m a filo s ó fic o d e AÇτ 7 ; Ã -
NOTA
2 τ S, e lem en to s m a te ria is p rim e iro s, q u a ­
A o rig e m d e s ta e x p re ssã o e n c o n tra -s e
lita tiv a m e n te se m e lh a n te s a o s d ife re n te s
p ro v a v e lm e n te n a e x p re ssão d e F ra n k lin ,
to d o s q u e eles fo r m a r ã o p e la su a re u n iã o ,
q u e d e fin ia o h o m em “ a to o l-m ak in g a n i­
c o m o o o s so , a c a r n e , o s a n g u e , etc. E s ­
m a l” , u m a n im a l q u e fa b ric a in s tru m e n ­
tã o p rim itiv a m en te m istu ra d o s n u m caos,
to s , e p o r o u tr o la d o , n a u tilização de ho­
de o n d e o v o ís os faz sa ir a tra v é s de u m a
m o sapiens p a ra d e sig n a r a espécie h u m a ­
s e g re g a ç ã o g ra d u a l.
n a a tra v é s d e u m n o m e c o m p o s to a n á lo ­
E ste te rm o p a re c e n ã o te r sid o u tili­
g o a o d a s esp écies a n im a is , Canis fa m i-
z ad o p elo p r ó p r io A n a x á g o ra s e d a ta r de
liaris, Canis lupus , Canis vuipes, etc.
A ristó teles q u e , aliás, u sa n o u tra s circuns­
tâ n c ia s a p a la v r a ¿ixoioniQijs. (Z e l l e r , H O M O O E C O N O M I C U S L ite r a l­
ibid.). m e n te o h o m e m e c o n ô m ic o . E n te n d e -s e
Rad. int.: H o m e o m e ri. p o r isso o h o m e m , ta l c o m o ele s e ria n o
seu c o m p o rta m e n to , se as su as ações n ã o
“ H O M O F A B E R ” (O h o m e m f a b r i­
fo ssem d e te rm in a d a s s e n ã o p elo s seus in ­
c a d o r.) “ C re m o s q u e é d a essência d o h o ­
teresses e c o n ô m ic o s , e x c lu in d o q u a lq u e r
m e m c ria r m a te ria lm e n te e m o ra lm e n te , m ó b il p a ssio n a l, m o ra l, religio so, etc. V er
f a b ric a r co isas e fa b ric a r-s e a si p r ó p r io . a s o b serv aç õ es so b re Economia*política.
H om o faber, é e sta a d e sig n a ç ão q u e p r o ­
p o m o s .” BE 2 Tè ÃÇ , L a pensée et le mou- H O M O S A P IE N S É a p rim e ir a d as
vanl, p . 105. E le o p õ e -n o a o H om o sa­ esp écies d o re in o a n im a l n a c la ssific a ç ã o
piens, “ n a s c id o d a r e ñ e x a o d o H om o fa - d e L in e u .

P e lo c o n trá rio , a e x p ressão ‘h o m a lo id a P sig n ifica sim p le sm e n te liso , p la n o . O ra , q u a l


o g e ó m e tra n ã o e u c lid ia n o , q u e r se c h a m e R ie m a n n o u L o b a c h e v s k y , q u e n ã o re i­
v in d ic a e s ta q u a lid a d e p a r a o seu p la n o o u p a r a o s e u e s p a ç o ? ... N ã o p o d e ría m o s ,
p o is , a c e ita r o te r m o e s c o lh id o p e la Sociedade de Filosofia , assim c o m o a d e r ir a o
ju íz o fe ito s o b re o u s o d a d o p o r D e lb o e u f à s p a la v r a s isógeno e hom ogêneo... P e r ­
fe ita m e n te c la r a s a n o s so s o lh o s , c o m o p a re c e r e s u lta r d o re s u m o q u e a c a b a m o s de
f a z e r, essas d e fin iç õ e s s ã o as m a is s a tis f a tó r ia s q u e c o n h e c e m o s , e c o n tin u a re m o s
a a d o tá - la s e n q u a n to n ã o n o s f o r p r o p o s to u m te r m o tã o e x p re ssiv o q u a n to elas e
q u e n ã o p o s su a o in c o n v en ien te d e in c o m o d a r a lg u n s h á b ito s .” Extratos de uma carta
d e C. Léchalas d irig id a a A . L a la n d e d e p o is d a p u b lic a ç ã o d o fa s c íc u lo d o Bulletin
d e a g o sto d e 1907, o n d e se e n c o n tr a v a a p r im e ir a r e d a ç ã o d e ste s a rtig o s .

S o b re H o m o sa p ie n s — E s ta e x p re s s ã o , p a r a d e s ig n a r a esp écie h u m a n a , a p a re c e
n a 10? e d iç ã o d o Systema naturae de L « ÇE Z (1 758). M as d e sd e a p r im e ir a ele in s c re ­
v ia n a c o lu n a re s e rv a d a às c a ra c te rís tic a s d is tin tiv a s d a esp écie: “ N o sc e te ip s u m .”
E le ju s tific a a p a la v r a sapiens p o r essa c a ra c te rís tic a c o n sc ie n te d a h u m a n id a d e , p e la
fa c u ld a d e de co n h ecer em g eral: “ P rim u s sap ie n tia e g ra d u s est res ip sas n o sse ” {ibid.,
475 HOM OGÊNEO

H O M O G E N E ID A D E (L ei d a) A . E m A . A q u ilo e m q u e to d a s as p a rte s s ã o
Ló ; « Tτ : U m a e x p re ssã o v e rb a l d ev e ser id ê n tic as e n tre si em n a tu re z a e sem q u a l­
homogênea* n o s e n tid o B; u m a d e fin i­ q u e r d ife re n ç a q u a lita tiv a .
ç ã o , em p a r tic u la r , n ã o d e v e n u n c a o m i­ D iz-se ta m b é m d a s p ró p r ia s p a r te s :
tir o s te rm o s n e ce ssá rio s p a r a q u e o d e fi­ “ T o d a s a s u n id a d e s q u e c o m p õ e m u m
n id o r se ja d a m e sm a o rd e m q u e o d e fin i­ n ú m e ro s ã o h o m o g ê n e a s e n tre s i.” A p li­
d o (p o r ex em p lo : “ O c e p ticism o é a dou­ ca-se em p a r tic u la r , e m e sm o n o s e n tid o
trina s e g u n d o a q u a l é im p o ssív el a tin g ir e s tr ito , e x clu siv a m e n te a o espaço* e ao
a v e rd a d e ” , e n ã o “ . . . a impossibilidade número * c ard in a l e n q u a n to fo rm a d o s p o r
de a tin g ir a v e rd a d e ” ). elem en to s rig o ro sa m e n te sem elh an tes e n ­
B . E m GE ÃOE I 2 « τ (e em Fí è « Tτ , tr e si.
q u a n d o se esta b e le c e u m a f ó r m u la geral, U m e sp a ç o h o m o g ê n e o c a rac te riz a-se
q u e r d izer, q u e deve p e rm a n e c e r e x a ta se­ p e la p o s sib ilid a d e de d e s lo c a r n ele u m a
j a q u a l f o r o siste m a de u n id a d e s u tiliz a ­ fig u ra sem d e fo rm a ç ã o .
d o ), a f ó r m u la d ev e ser homogênea*, n o B . A q u ilo q u e é f o r m a d o p o r e lem en ­
sen tid o C , em re la ç ã o a c a d a u m a d as u n i­ to s q u e p e rte n c e m a u m m e sm o sistem a
d a d e s fu n d a m e n ta is (c o m p rim e n to , te m ­ ló gico e, em p a rtic u la r, p o r elem en to s ex­
p o , m a ssa o u p e so ). N o c aso c o n tr á r io , tr a íd o s d a d iv isã o * d e u m m e sm o g ên e­
co m e fe ito , a v a lid a d e d a fó r m u la d e p e n ­ r o . E x e m p lo s de fó rm u la s n ã o h o m o g ê ­
d e ria d o v a lo r n u m é ric o d a s g ra n d e z a s n e a s . “ U m p eso d e d u a s lib ras e cem g ra ­
m e d id a s e , p o r c o n se g u in te , d a e sc o lh a m a s ” ; “ a p s ic o lo g ia c o m p re e n d e a te o ­
d a s u n id a d e s d e m e d id a . ria d o c o n h e c im e n to , a a tiv id a d e e a se n ­
Rad. int.\ H o m o g e n . sib ilid a d e , e t c .”
H O M O G Ê N E O D . H om ogen; glei­ C . E s p e c ia lm e n te e m m a te m á tic a ,
chartig ; E . Homogeneous', F . Homogè­ u m a f u n ç ã o / (x, y, z ) d iz-se h o m o g ê n e a
ne', I. Omogeneo. se e x istir u m n ú m e ro m , in te ir o o u f r a ­
V e r Heterogêneo. c io n á r io , ta l q u e se o b te n h a , q u a is q u e r

10? e d iç ã o , I, 7 ), p e la d e se e lev a r a o c o n h e c im e n to d e D e u s e p e la p o s s e d a lin g u a ­


g e m , à s q u a is ele a c re s c e n ta u lte rio r m e n te a v o n ta d e re fle tid a : “ S a p ie n s u tiq u e est
q u i fin es re s p ic it” (13? e d ., in tr o d u ç ã o , I, 8).

S o b re Lei d a H o m o g e n e id a d e — Kτ ÇI , n a Crítica da razão pura, a p ên d ic e à D ia ­


lé tic a tra n s c e n d e n ta l, I: “ S o b re o u so r e g u la d o r d a s id éias d a ra z ã o p u r a ” , e
ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , c ita n d o Kτ ÇI n o c o m e ç o d a Quádrupla raiz do principio da razão
suficiente, c h a m a m lei o u princípio de homogeneidade (Gesetz, Princip der H om o-
geneitat) a o p rin c íp io s e g u n d o o q u a l a p r ó p r ia m a té r ia d o c o n h e c im e n to é a p r o p r ia ­
d a à b u s c a d a u n id a d e ra c io n a l e p e rm ite re u n ir a s c o isa s e m esp é c ie e e m g ê n e ro s,
n ã o só p a r a n o s s a fa c ilid a d e in te le c tu a l, m a s d e a c o r d o c o m a su a n a tu r e z a p r ó p r ia .
E les a p ro x im a m e ste p rin c íp io d o a d á g io Entia non sunt multiplicando praeter ne-
cessitatem e o p õ e m -n o a o s p rin c íp io s d e especificação e d e continuidade. V er Espe­
cificação e Parcimônia.
S o b re H o m o g ê n e o e L e i d a H o m o g e n e id a d e — A rtig o s r e fu n d id o s so b as in d ic a ­
çõ es d e Winter. “ A d is tin ç ã o d e D e lb o e u f re d u z -se n o f u n d o à d is tin ç ã o e n tre o ho-
maloidal (a q u e ele c h a m a homogêneo) e o homogêneo (a q u e ele c h a m a isógeno ) . ”
{F. Mentrê) C o m e s ta d ife re n ç a , p a re c e q u e a p o s sib ilid a d e d e a d m itir fig u r a s sem e­
lh a n te s n ã o é id ê n tic a a o f a to d e ser c o m p o s to d e p a rte s s e m e lh a n te s. M a s ta lv e z,
c o m e fe ito , não se d e v a ver a í s e n ã o u m a m á e x p re s s ã o . (.A . L .)
HOM ÓLOGO 476

q u e s e ja m x, y, z f (kx, ky, kz) = k m f m u ito c o m u m e m u ito v ag o n a lin g u ag em


(x, y , z). O e x p o e n te m n e ste c a so c h a m a ­ c o r r e n te , te n h a d e te r m in a d o O ç E Ç a
se o grau de homogeneidade d a f u n ç ã o . e m p re g á-lo c o m esse se n tid o , p a ra o o p o r
a homólogo. P a r e c e r ia m u ito m e lh o r d i­
NOTA
z e r, c o m Rτ à L τ Ç3 E è I E 2 , homogenéti-
DE Â ζ ÃE Z E u tiliz a v a este te rm o n u m co e homoplástico (v e r Bτ Â áç « Ç , V Ã
se n tid o d iferen te: “ U m q u a n tu m é homo­ Hom ologous).
gêneo q u a n d o se c o m p õ e d e p a rte s seme­ Rad. int .: H o m o lo g .
lhantes.” “ U m q u a n tu m é isógeno q u a n ­
d o se c o m p õ e d e p a rte s iguais” , q u e r d i­ H O M O N ÍM IA G. 'O f U ti ^ a r , d e­
z er s o b re p o n ív e is . Prolégomènes philo- signa em A r i s t ó t e l e s a característica de
soph. de Ia géométrie, L iège, 1860, p . 143. um a palavra que p ossu i várias sign ifica­
E s ta u tiliz a ç ã o f o i s e g u id a p o r G . L é ­ ções, quer se trate de sentidos nitidam ente
T7 τ Â τ è , m a s n ã o se g e n e ra liz o u . diferenciados, por exem p lo, xX ets, ch a­
ve d a p orta ou clavícula, quer se trate de
H O M Ó L O G O D . H om olog ; E . H o ­ acepções diferentes, m as vizinhas, que se
m ologas ; F . H om ologue ; I. Omologo. prestam ao eq u ívoco ou ao sofism a, p.
Sentido geral. N a re la ç ã o analógica A : ex.: ÔtxoiLoovvi}, que se diz do direito p o­
B: :A ’ :B ’ e n te n d id a ta n t o n o se n tid o sitivo ou da equidade, da justiça distri­
q u a lita tiv o c o m o n o se n tid o q u a n tita tiv o , butiva o u da justiça reparadora. Ética a
A e A ’ s ã o d ito s h o m ó lo g o s em re la ç ã o Nicômaco, V . 2; nom eadam ente 1129 a27.
a B e B ’. D e o n d e , em p a rtic u la r: O p rim e ir o d e ste s s e n tid o s a p e n a s se
1 ? E m m a te m á tic a , a s p a r te s c o rre s ­ c o n s e rv o u n as p a la v r a s H om ônim os e
p o n d e n te s d e d u a s fig u ra s sem e lh a n te s Hom oním ia. O seg u n d o e n c o n tra -se a in ­
o u , m a is g e ra lm e n te , c o rre la tiv a s s ã o d i­ d a em B erk eley ( p o r ex . Commonplace
ta s homologas. book, 3 4 ). A tu a lm e n te é s u b s titu íd o p o r
2° E m a n a to m ia , o s ó rg ã o s c o rre s ­ Equívoco *.
p o n d e n te s p e la su a situ a ç ã o relativ am en te
a o c o n ju n to d o c o r p o e p e la s u a o rig e m H O N E S T O S e rv e c o rre n te m e n te , n a
e m b rio g ê n ic a s ã o d ito s hom ólogos (p o r lin g u ag em filo só fica d o sécu lo X V II, p a ra
e x e m p lo , a s d u a s a sa s d e u m p á s s a ro e o s d a r c o n ta d o la tin o honestam , o q u e é
m e m b ro s a n te r io re s d o s m a m ífe ro s ). m o ra lm e n te b o m o u h o n o rá v e l (d o p o n ­
O p õ e m -s e a o s ó rg ã o s análogos , q u e r d i­ to d e v is ta d a m o ra l n a tu r a l o u f ilo s ó f i­
z e r, q u e p re e n c h e m a m e s m a f u n ç ã o e c a, e n q u a n to se p o d e d istin g u i-la d a id éia
a p re s e n ta m o m e sm o a s p e c to e x te r io r, c ris tã d e d e v e r p re s c rita p o r D e u s o u p e ­
sem p o s su ir a m e sm a o rig e m n em a s m es­ la Ig re ja ). “ E s ta p a ix ã o [o ciú m e] p o d e
m a s c o n e x õ e s. s e r, e m a lg u m a s o c a s iõ e s, ju s ta e h o n e s ­
t a . ” D è T τ 2 è , Tratado das paixões,
E I E

C R ÍT IC A I I I , a r t. 9 8 . E s te s e n tid o c o n se rv o u -se a té
Análogo é u m te r m o im p r ó p r io n e s ta h o je e m o b r a s c lá ssica s: “ O b e m m o r a l
ú ltim a o p o s iç ã o ; é p ro v á v e l q u e o e n f r a ­ to m a d ife re n te s n o m e s c o n s o a n te a s re ­
q u e c im e n to d e s te te r m o , q u e se to r n o u la ç õ e s q u e se c o n s id e ra m . P o r e x e m p lo ,

S o b re H o m ó lo g o — É tie n n e GE ÃE E 2 Ãà Sτ « ÇI -H « Â τ « 2 E e n te n d e p o r teoria dos


análogos a q u ilo a q u e o s c ie n tis ta s d e h o je c h a m a m te o r ia d o s homólogos. Analogia
te m p a r a ele u m s e n tid o m u ito c la r a m e n te d e fin id o , n a m e d id a e m q u e s e g u n d o o
“ p rin c íp io d a s c o n e x õ e s ” a analogia n ã o deve se r d e te rm in a d a n e m p e la f u n ç ã o , n e m
p e la f o r m a , m a s a p e n a s p e la s c o n e x õ e s : “ U m ó r g ã o é d e p r e fe rê n c ia tr a n s f o r m a d o
o u a n iq u ila d o e n ã o tr a n s p o s to .” (E. Gobloí)
477 H U M A N ID A D E

q u a n d o se tem so b re tu d o p o r o b je to o h o ­ B . C o n ju n to de c a r a c te rís tic a s q u e


m em in d iv id u a l, n a s u a re la ç ã o c o n sig o c o n s titu e m a d ife re n ç a e sp e c ífic a d a es­
p r ó p r io , o b em to rn a -s e a q u ilo a q u e p r o ­ p é cie h u m a n a e m re la ç ã o às espécies v i­
p ria m e n te se c h a m a o honesto e te m s o ­ z in h a s .
b r e tu d o p o r o b je to a d ig n id a d e p e ss o a l. “ O tip o fu n d a m e n ta l d a e v o lu çã o h u ­
E m re la çã o a o s o u tro s , o b e m to m a o n o ­ m a n a , ta n to in d iv id u a l c o m o co letiv a, es­
m e d e ju sto , e tc .” P a u l J a n e t , Traité t á , c o m e fe ito , c ie n tífic a m e n te re p re s e n ­
élém. de Philosophie, 4? e d ., p . 6 2 8 . M a s t a d a [n a s o c io lo g ía p o sitiv a ] c o m o a lg o
e s ta e x p re ss ã o c a iu q u a s e c o m p le ta m e n ­ q u e c o n siste se m p re n o c re sc e n te a s c e n ­
te em d e su s o , e x c e to em a lg u m a s e x p re s ­ d e n te d a n o s sa humanidade s o b re a n o s ­
sõ es tr a d ic io n a is , c o m o a d is tin ç ã o e n tre sa animalidade, s e g u n d o a d u p la s u p re ­
“ o ú til e o h o n e s to ” (aliás freq ü e n te m en - m a c ia d a in te lig ê n c ia s o b re a s te n d ê n c ia s
te c o lo rid a , n a c o n sc iê n cia s e m â n tic a d a ­ e d o in s tin to s im p á tic o s o b re o in s tin to
q u e les q u e a u tiliz a m , p e la re s triç ã o c o r­ p e s s o a l.” A u g , C ÃOI E , Curso de filo so ­
re n te d a id é ia d e honestidade à d e pro­ fia positiva, 5 9 ! liç ã o , ad. finem , 4 ! ed .
bidade). fra n c e s a , V I, 721.
S o b re as e x p re ssõ es fra n c e s a s honnê- C . C o n ju n to d o s h o m e n s , c o n s id e ra ­
te kom m e, honnête fem m e, v er Lτ RÃ ­ d o , a lg u m a s v ezes, p a r tic u la rm e n te p o r
T7 E E ÃZ Tτ Z Â á , Máximas, 202, 203, 205, A u g . C o m t e , c o m o c o n s titu in d o u m ser
206. c o le tiv o . “ A filo s o fía g e ra l q u e d eles re ­
s u lta [d o s e stu d o s p o sitiv o s] re p re se n ta o
H O R M É o u H Ó R M I C O V er Suple­
h o m e m , a H u m a n id a d e , c o m o o p rim e i­
mento.
r o d o s seres c o n h e c id o s .” (Discurso so­
H U M A N I D A D E D . A . Menschheit, bre o espirito positivo, § 6 4 .) P o r v ezes,
Menschlichkeit; B . Menschlichkeit, Mens­ ta m b é m , ele d á a e sta p a la v r a u m a e x te n ­
chentum ; C . Menschheit ; D . Menschlich­ s ã o m a is re s tr ita e a d m ite c o m o p a r te d a
keit; Menschenliebe, Humanität ; E . A . B . h u m a n id a d e assim c o m p re e n d id a a p e n a s
Hum anity; C . M ankind, Hum anity; D . os h o m e n s q u e e fic a z m e n te c o n trib u ír a m
Humanity, Humanenesy, F . Humanité ; I. p a r a o d e se n v o lv im e n to d a s q u a lid a d e s
Umanitä. p r o p r ia m e n te h u m a n a s . É n e s te s e n tid o
A . C o n ju n to d e c a ra c te rís tic a s c o ­ q u e ele c h a m a à H u m a n id a d e o G ra n d e -
m u n s a to d o s os h o m e n s , in c lu siv e a v i­ S er. (V e r LÉvy -B r u h l , L a phiiosophie
d a , a a n im a lid a d e , etc. “ H u m a n ita s com - de A uguste Com te , p p . 389-3 91.)
p re h e n d it in se ea q u a e c a d u n t in d e fin i- D . P ie d a d e , s im p a tia e s p o n tâ n e a d o
tio n e h o m in is ” (S. T ÃOá è áE AI Z « ÇÃ , h o m e m pelo s seus sem elh an tes. “ Ü b er eín
Sum m . Theo., I, 3, 3c). v e rm e in te s R e c h t a u s M en sc h en lie b e zu

S o b re H u m a n id a d e — Equivalentes alemães : A p a la v r a H um anität, q u e tin h a


s id o o m itid a n a p rim e ir a re d a ç ã o d o v o c a b u lá r io , é m u ito u s u a l n a A le m a n h a n o
s e n tid o C {<pt\av$Qo)Tría), s o b re tu d o d e p o is d e H e rd e r . Menschlichkeit é r a r a n o sen ­
tid o p e jo r a tiv o , a in d a q u e m e n c io n a d a n o d ic io n á rio de G rim m ; m a s Menschlich é
fre q u e n te . C f . o títu lo d a o b r a d e N ie tz sc h e : Menschliches, Allzumenschliches ( H u ­
m a n o , d e m a s ia d o h u m a n o ). (C o m u n ic a d o p o r F. Tönnies)
P a re c e -m e n ã o e x istir u m a d ife re n ç a essen cial e n tre o s s e n tid o s A e B . O s e n tid o
B c o n siste e m r e te r a p e n a s d o s e n tid o A a q u ilo q u e é e sp e c ífic o e, p o r c o n s e q ü ê n c ia ,
ú til. ( / . Lachelier) A e B a n d a m ju n to s . A s c a ra c te rís tic a s q u e c o n s titu e m a d e fin i­
ç ã o d o h o m e m , p a r a S. T o m á s , a b a r c a m o g ê n e r o p ró x im o e a d ife re n ç a e sp ecífica.
(F. Mentré)
H U M A N IS M O 478

lü g e n [Acerca de um pretenso direito de ta n d , m it H e r v o rh e b u n g d e r S c h ra n k e n


mentir po r humanidade]”, (Kτ ÇI , 1795). d ie d e m m e n sc h lic h e n W ese n g ezo g en
E. P o r o p o s iç ã o q u e r a o racism o »s in d ; o d e r s c h ä r f e r , m it H e r v o rh e b u n g
q u e r à s d o u tr in a s to ta litá ria s » d o u tr in a d e s G e b rec h lic h e n , S ch w ach en d e r M e n s­
q u e f a z d a h u m a n id a d e (d o c a r á te r h u ­ c h e n n a tu r .” 1 G r i m m , Deutsches Wörter­
m a n o , c o m p le ta m e n te re a liz a d o ) o fim buch, V o , V I, 2088.
m o r a l e p o lític o p o r e x ce lê n cia . V er Rad. int.: A . H o m a r ; B . C . H o m e s ;
K a n t , Fundamentação da M etafísica D . H um anes.
dos Costum es , 2? s e ç ã o ; A u g . C o m t e ,
Curso, 52? liç ã o . N u m se n tid o m u ito p r ó ­ H U M A N IS M O E. H um anism ; F. H u­
x im o , a d o u tr in a q u e e s tá n a b a s e d a D e ­ man isme (e sta p a la v ra fra n c e s a n ã o fig u ­
c la ra ç ã o d o s D ire ito s d o H o m e m . C f. In ­ ra n em n o L i t t r É, n e m n o D ic io n á rio da
dividualismo, D . e v e r a s o b s e rv a ç õ e s . A c a d e m ia , 7? e d iç ã o ). V er Suplemento.
A . M o v im e n to e sp iritu a l re p re se n ta d o
NOTA p e lo s “ h u m a n is ta s ” d o R e n a s c im e n to
N ã o e n c o n tr o n o s f iló s o fo s fra n c e s e s
a p a la v ra humanidade u tiliz a d a n u m s e n ­
I. " H u m an idade , condição h um ana, pondo cm
tid o d e p re c ia tiv o (d e o rig e m te o ló g ic a ? ) relevo os limites im postos à natureza d o hom em , ou,
q u e p a re c e n ã o s e r r a r o n o s escrito res ale­ num sentido ain d a mais forte, aquilo que h á de cor­
m ã e s: “ M enslichkeit , m e n sc h lic h e r Z u s - ru p to ou de fraco nesta!’

A re la ç ã o e s tre ita e n tre o s d o is s e n tid o s n ã o o fe re c e d ú v id a , a ssim c o m o o m o d o


p e lo q u a l se fa z a p a ssa g e m d e u ra p a r a o o u tro . H á n e c e ssid a d e , c o n tu d o , d e d is tin ­
g u ir n itid a m e n te o c a r á te r to ta l e a d ife re n ç a e sp e c ífic a . Se se d iz q u e o d ev er d o h o ­
m e m é d e se n v o lv e r “ a s u a h u m a n id a d e ”, p o d e -s e e n te n d e r p o r isso ta n to d esen v o lv er
todas as fu n ç õ e s h u m a n a s , q u a n to d e se n v o lv e r a q u ilo q u e é próprio d o h o m e m , m e s­
m o s a c rif ic a n d o o u d e ix a n d o a tr o f ia r o s d e se jo s, o s in s tin to s , a s fu n ç õ e s q u e lh e são
c o m u n s c o m o s a n im a is. E x iste aí, p o is, v e r d a d e r a m e n te u m d u p lo s e n tid o , q u e p o ­
de e n g e n d r a r u m grave e q u ív o co . C f. A ris tó te le s, Ética a Nicômaco, X , 7: “ Ο υ χ ρ ή
ôè κ α τ α τ ο ύ ί π α ρ α ι ν ο ύ ν τ α ι α ν θ ρ ώ π ι ν α φ ρ ο ν ε ϊ ν , ά ν θ ρ ω πο ν ο ν τ α ...ά λ λ ά ζ ή ν κ α τ ά
τ ο κ ρ ά τ ι σ τ ο ν τ ω ν ε ν α υ τ ώ ν 1177b31-34. (A . L.)

S o b re H u m a n is m o — A p rim e ira p ro p o s iç ã o p e la q u a l se d e fin e a q u i o h u m a n is ­


m o , s e g u n d o F. C . S. S ch iller, n ã o será id ê n tic a a o princípio de Peirce, a d o ta d o p o r
J a m e s c o m o b a se d o p ra g m a tis m o ? (F. Mentré) D e m o d o a lg u m . O p rin c íp io d e P eir­
ce é c o n c e b id o d a seg u in te m a n e ira : “ C o n s id e r w h a t effects, th a t m ig h t c o n ceiv ab ly
have p ra c tic a l b e arin g s, y o u co n ceiv e th e o b je c t o f y o u r c o n c e p tio n to have: th e n y o u r
c o n c e p tio n o f th o s e e ffe c ts is the whole o f y o u r c o n c e p tio n o f th e object!* How M ake
Our Ideas Clear, p. 287. Ver Pragmatismo. E s ta re g ra im p lic a sem d ú v id a q u e a ver­
d a d e o u a fa ls id a d e d e u m a p ro p o s iç ã o deve s e r ju lg a d a p elo s e fe ito s q u e re su lta m
d a s u a a p lic a ç ã o , e o p ró p r io a u to r escrev eu a F. C . S. S ch iller q u e tin h a c o m p re e n d i­
d o d e sd e o in íc io q u a n to e ra m a m p la s a s c o n se q ü ê n c ia s d a s u a d e fin iç ã o ( Studies
in H um anism, p. 5). M a s n ã o se tr a ta n e ste a u to r d e m o d o a lg u m d e n e ce ssid a d e s
o rg â n ic a s o u s e n tim e n ta is , e m e n o s a in d a de in te re sse s in d iv id u a is q u e c ria m p a ra
si c o n sc ie n te m e n te u m a c re n ç a ú til. N a d a é m a is c o n tr á r io à s s u a s in te n ç õ e s. P a ra
fa la r c o m p ro p rie d a d e , a s u a f ó r m u la d iz a p e n a s re sp eito à q u e s tã o d e s a b e r q u a l
é o c o n te ú d o real d o n o s s o p e n s a m e n to , “ c o m o to r n a r a s n o s sa s id é ia s c la ra s ”, e c o ­
m o a c a b a r ra p id a m e n te c o m as d iscussões e c o m su tilezas verb ais d e m a sia d o fneqüentes
em filo so fia .
479 H U M A N IS M O

( P 2 τ 2 T τ ; P Ã ; ; « Ã ; L Ã 2 ÇU Ã
E I E Vτ Â Â τ ; os seus m o d e lo s e os seu s m o d o s , o s seus
E 2 τ è OÃ ; B Z á é ; U lric h á H Z
E Ç
I I E ) e ca­ e x em p lo s e os seus d e u se s , o seu e sp írito
ra c te r iz a d o p o r u m e s fo rç o p a r a re a lç a r e a s u a lín g u a . U m ta l m o v im e n to , le v a ­
a d ig n id a d e d o e s p irito h u m a n o e p a r a o d o a té a s su a s e x tre m id a d e s ló g ic a s, te n ­
v a lo riz a r, r e a ta n d o os la ç o s, d e p o is d a d ia a n a d a m e n o s d o q u e s u p rim ir o fe ­
Id a d e M éd ia e d a e sc o lá stica , e n tre a c u l­ n ô m e n o c r is tã o .” P h ilip p e M Ã ÇÇ« 2 , Le
E

t u r a m o d e r n a e a c u ltu ra a n tig a . “ 0 hu­ Quattrocento, liv ro II, c a p . I: ” 0 h u m a ­


manismo n ã o é a p e n a s o g o s to p e la a n ti- n is m o ” , p . 124.
g ü id a d e , é o seu c u lto ; c u lto le v a d o tã o B . N o m e d a d o p o r F . C . S. S T7 « Â -
lo n g e q u e n ã o se lim ita a a d o r a r , m a s  2 , d e O x f o r d , à d o u tr in a q u e e x p ô s
E

e sfo rç a -se p o r r e p ro d u z ir, E o humanis­ n as su as o b ra s (em p a rtic u la r Humanism,


ta n ã o é só o h o m e m q u e co n h ec e o s a n ­ Philosophicat Essays, L o n d re s, 1903; Stu-
tig o s e neles se in s p ira ; é a q u e le q u e e stá dies in H um anism , L o n d re s , 1907), e q u e
d e ta l m o d o fa s c in a d o p e lo seu p re stig io ele liga à m á x im a d e P r o tá g o r a s : “ O h o ­
q u e os c o p ia , os im ita , o s re p e te , a d o ta m em é a m e d id a d e to d a s as c o is a s .” A s

O h u m a n is m o n o s e n tid o B é m u ito d ife re n te d o h u m a n is m o n o se n tid o C , c o m o


n o ta F . C . S. S T « Â Â 2 n o a rtig o ( p ó s tu m o ), H um anisms and Humanisms, p u b li­
7 E

c a d o em The Personalist, re v ista e d ita d a p e la “ S c h o o l o f P h ilo s o p h y ” d a U n iv e rs i­


d a d e de L os A n g e le s, o u tu b r o d e 1937. O m eu h u m a n is m o , diz ele, só d iz re sp eito
à ló g ic a e à te o ria d o c o n h e c im e n to . O p õ e -se a o a b s o lu tis m o e a o n a tu ra lis m o , n ã o
a o teísm o . O seu c a rá te r p e rs o n a lis ta to rn a -o m e sm o , p o r n a tu re z a , fa v o rá v el à cren ça
em D e u s. F a z n o ta r ig u a lm e n te , n e ste a rtig o , a u tiliz a ç ã o d a d a à p a la v r a humanismo
p elo s d e fe n so re s d a id é ia de A b s o lu to : J , S. M τ T 3 ÇU « E E , Lectures on Humanism
(1 920), L o rd H τ Â á τ Ç , The Philosophy o f Humanism (1 9 2 2 ), e d iv e rs a s o u tra s u ti­
E

liz a çõ e s d a m e sm a p a la v r a . (A. L .)
V á rio s e s c rito re s a d o ta r a m re c e n te m e n te este te r m o , d e fo r m a in d e p e n d e n te , p a ­
r a d e sig n a r o seu p r ó p r io p o n to d e v ista : 1? E m L ’Expérience humaine et la Causaii-
téphysique (1922), B ru n sch v icg a p lic a e s ta p a la v ra à a titu d e q u e ele vê in iciar-se c o m
S ó c ra te s e q u e c o n sis te e m c o n d u z ir o h o m e m “ à c o n sc iê n c ia d a s u a ju ris d iç ã o p r ó ­
p r ia , sem d e ix a r as q u e stõ e s q u e p o d e t r a t a r e f e tiv a m e n te , p e la su a a ç ã o e sp e c ífic a ­
m e n te h u m a n a , p e rd e r-s e n u m a o rd e m d e p ro b le m a s a o s q u a is só d a r á a s o lu ç ã o ilu ­
s ó ria d e u m d is c u rs o im a g in á r io ” (p p . 576-5 77). N a o rd e m e sp e c u la tiv a , o h u m a n is ­
m o , q u e se tr a d u z p o r “ id e a lism o c r itic o ” , to m a p o r o b je to “ a a ç ã o e sp e c ífic a m e n te
h u m a n a d o s a b e r ” e “ p e d e a o h o m e m q u e to m e c o n sc iê n c ia d is s o ” , a o in te rd ita r-
lh e u ltr a p a s s a r o h o riz o n te e fe tiv a m e n te p e rc o rrid o p e lo c o n h e c im e n to (p . 610).
B ru n sch v ic g o p õ e o h u m a n is m o a ssim c o m p re e n d id o ta n to a o n a tu ra lis m o co m o ao
a n tr o p o m o r f is m o ; p ro c u ra m o s tr a r q u e e sta c o n c e p ç ã o é ise n ta de q u a lq u e r te n d ê n ­
c ia s u b je tiv is ta , d ife re n te m e n te d o q u e a c o n te c e c o m o so c ío lo g ism o e o p ra g m a tis ­
m o . O m e sm o te rm o e n c o n tra -s e r e to m a d o c o m a m e sm a a c e p ç ã o e m Les progrès
de la conscience dans la philos. occidentale (1 9 2 7 ), t . II, p p . 703 e 801 (re m e te n d o
a 696).
2° W a lte r L ip p m a n n , em A Preface to Morais (1929), e x p õ e u m a m o ra l q u e a p re ­
s e n ta c o m o s e n d o a d o “ h u m a n is m o ” o p o s ta a o te ísm o : e n te n d e p o r isso q u e os h o ­
m en s q u e já n ã o crêem n u m rei celeste “ m u s t fin d th e tests o f rig h te o u s n e s s w holly
w ith in h u m a n e x p e rie n c e ” 1: “ th e y m u s t U ve... in th e b e lie f th a t th e d u ty o f m a n is

i. ·· vêem-se na necessidade de encontrar totalm ente na experiência hum ana os critérios do b e m / ’


H U M A N IS M O 480

su as teses p rin c ip a is são as seg u in tes: ra o a p lic a r n ã o só à ló g ica, m a s ta m b é m


U m a p ro p o s iç ã o é v e rd a d e ira o u fa lsa à ética, à estética, à m e ta física , à te o lo g ia ,
c o n so a n te as su as co n seq iiên cias p o ssu am etc. {ibid., 16); 2?, p o rq u e leva em c o n ta ,
o u n ã o v a lo r p r á tic o : a v e rd a d e o u a fa l­ n o m e a d a m e n te n a m e ta fís ic a , a v a rie d a ­
s id a d e d e p e n d e m , p o is , d a q u ilo p a r a q u e d e d a s n e c e ssid a d e s in d iv id u a is ; p o r c o n ­
se te n d e : t o d a a v id a m e n ta l s u p õ e o b je ­ seg u in te, re je ita , p o r u m la d o , to d o a b s o ­
tiv o s ( all m ental life is purposive). M as lu to m e ta físico , e ju s tif ic a , p o r o u tro , a
n ã o p o d e n d o ser esses o b je tiv o s , p a r a ex istên c ia d e ta n ta s m e ta fís ic a s d ife re n te s
n ó s , s e n ã o a q u e le s d o ser q u e n ó s so m o s, q u a n to o s d ife re n te s te m p e ra m e n to s .
seg u e-se q u e q u a lq u e r c o n h e c im e n to es­ S em se se rv ir d o te rm o humanism o,
tá s u b o r d in a d o e m d e fin itiv o à n a tu re z a L Dτ Ç T
E I E tin h a e x p re s s a d o a m e sm a
h u m a n a e às suas n ecessid ades fu n d a m e n ­ d o u trin a n as seguin tes fó rm u la s : “ A ciên­
tais. “ H u m a n ism is m erely th e p e rcep tio n c ia é u m a série d e c o n s ta ta ç õ e s fe ita s à
th a t th e p h ilo s o p h ic p ro b le m c o n c e rn s e scala h u m a n a ; to d a s as h ip ó teses q u e fa ­
h u m a n b ein g s striv in g to c o m p re h e n d a re m o s tê m a p e n a s p o r o b je tiv o u n ific a r
w o rld o f h u m a n ex p erien ce by th e re s o u r­ a n o s sa lin g u a g e m e p e rm itir -n o s fa la r
ces o f h u m a n m i n d .” 11Pragmatism and m a is c la r a m e n te d a s c o is a s , p r e p a r a r ex ­
Humanism em Studies in H um anism, p . p e riê n cia s ú te is: u m a h ip ó te s e será ju lg a ­
12. D istingue-se d o p ra g m a tism o * , seg u n ­ d a p e la s u a f e c u n d id a d e .” {Les lois na-
d o o a u to r: 1 ?, p o rq u e é m ais a m p lo , pois turelles, in tro d u ç ã o , p . X .) “ A L ó g ica faz
e x tra i o e s p írito d ir e to r d e ste ú ltim o p a ­ p a r te d o m e c a n is m o h u m a n o a o m e sm o
títu lo q u e o s b ra ç o s o u as p e r n a s ” {ibid.,
X II) . “ A q u ilo q u e o h o m e m c o n h e c e são
1. “ O hum anism o é simplesmente o fato de se a p e n a s relaçõ es d as coisas co m o h o m e m ;
d ar conta de que o problem a filosófico diz respeito
a q u ilo a q u e c h a m a m o s coisas s ã o os ele­
a seres hum anos que se esforçam por com preender
um m undo de experiência h u m an a com os recursos m e n to s d a d e sc riç ã o h u m a n a d o m u n d o ”
d o espírito h u m a n o .” {ibid., p . X IV ).

n o t to m a k e h is w ill c o n f o r m to th e w ill o f G o d , b u t to th e s u re st k n o w le d g e o f th e
c o n d itio n o f h u m a n h a p in e s s ” 1 (p . 137). D e ste p o n to d e v is ta , ele d á lu g a r a u m a
“ re lig iã o d o e s p ír ito ” s e m e lh a n te a o e s p in o s is m o q u e e le o p ò e à re lig iã o d e u m
D e u s-rei.
3? S e ria a in d a n e c e s s á rio a s s in a la r o e m p re g o d a d o a e sta p a la v r a p o r a u to re s
a m e ric a n o s c o m o I. B a b b it, P . E . M o re , W . C . B ro w n e ll, q u e se c o n s titu ír a m , de
a c o r d o c o m as te n d ê n c ia s p re d o m in a n te s n o e n s in o n o s seu s p a ís e s , e m d e fe n s o re s
d e u m a esp é c ie d e c la ssic ism o ra c io n a l. C f. L . M E 2 T « E 2 , O m ovim ento humanista
nos Estados Unidos (1 929)2.
4? M e n c io n e -s e fin a lm e n te q u e A n d le r in titu lo u O humanism o trabalhista (1927)
u m a c o le tâ n e a d e e n sa io s em q u e e sb o ç a o p r o g r a m a d e u m “ a lto e n s in o o p e r á r io ” .
N ã o sei se p o d e re m o s a p ro x im á -lo d o The New H um anism (1 930) de L . S a m s o n ,
u m liv ro o n d e se e n c o n tr a e x p re s s o , n o d iz e r d e S c h ille r, “ th e in te lle c tu a l o u tlo o k
o f a h ig h ly c la ss-c o n sc io u s m o d e rn c o m m u n is t” 3 {M ind, a b ril d e 1931, p . 256).

1. “ É necessário que vivam ... n a crença de que o dever d o homem é o de to rn a r a sua vontade co n fo r­
m e, nâo à vontade de Deus, mas ao m elhor conhecim ento das condições d a felicidade h u m an a.”
2. Trata-se aquí do aspecto apenas literário e universitário de d o u trin a analisada no artigo acim a citado
na letra D . Ver o livro citado de Christian R « T7 τ 2 á .
3. ‘‘os pontos de vista intelectuais de um co m unista m oderno que tcm urna consciencia de classe altam en­
te desenvolvida.”
481 H U M A N IS M O

C. D o u tr in a se g u n d o a q u a l o h o ­ v a r co m D eu s o in fin ito a c im a de q u a l­
m e m , d o p o n to de v ista m o ra l, deve lig ar­ q u e r re a liz a ç ã o d e te rm in a d a , o h u m a n is ­
se e x clu siv a m e n te à q u ilo q u e é de o rd e m m o exclu siv o d isten d e as en erg ias d a m o ­
h u m a n a . “ O h u m a n is m o d e sig n a u m a r a lid a d e ... O h u m a n is m o p u r o a c a b a rá
c o n c e p ç ã o g e ra l de v id a (p o lític a , e c o n ô ­ s e m p re p o r c a ir n o n a tu r a lis m o .” R . LE
m ic a , é tic a ), f u n d a d a s o b re a c re n ç a da
SE ÇÇE , O bstade et valeur , p . 258-2 59.
D. N u m s e n tid o q u a se e x a ta m e n te
s a lv a ç ã o d o h o m e m p e las sim p les fo rç a s
c o n tr á r io a o p re c e d e n te , d o u tr in a q u e
h u m a n a s . C re n ç a q u e se o p õ e rig o r o s a ­
a c e n tu a a o p o s iç ã o , n o h o m e m , e n tre os
m e n te a o c ristia n ism o , e n q u a n to ele é a n ­
fin s d a su a n a tu re z a p ro p ria m e n te h u m a ­
te s d e tu d o a c re n ç a em q u e a s a lv a ç ã o
n a (a rte , ciências, m o ra l, religião) e os fins
d o h o m e m d e p e n d e d e D eu s e d a f é .”
d a su a n a tu re z a a n im a l e n tre a “ v o n ta d e
D E R Ã Z ; OÃ Ç
E I , Politique de la person- s u p e r io r ” (higher will, Irv in g B τ 2 ζ « ) e I I

ne, p . 125. D iz-se p o r vezes, n este s e n ti­ a “ v o n ta d e in fe rio r” (lower will). V er L.


d o , p a ra ev itar eq u ív o co s, puro humanis­ M 2 T « 2 , O m ovim ento humanista nos
E E

m o ’. “ A o re p e tir a o h o m e m q u e ele é a p e­ Estados Unidos (1929); C h ris tia n Ri-


n a s h o m e m , s u p rim in d o este d esn ív el e s ­ T τ 2 á
7 , O m ovim ento humanista na
tim u la n te q u e deve o p o r u m id eal d e u m Am érica e as correntes de pensamentos
eu s u p e rio r a o eu n a tu r a l, re c u s a n d o ele­ similares na França (1934).

É p ro v á v e l q u e e x em p lo s d e ste g ê n e ro p o s sa m ser m u ltip lic a d o s . O te rm o hum a­


nismo co n h ec e a tu a lm e n te u m a re n o v a d a s im p a tia q u e deve te r a su a ra z ã o . A s u tili­
z aç õ e s in d e p e n d e n te s q u e fo ra m fe ita s n ã o s ã o a b s o lu ta m e n te h e te ro g ê n e a s. O s e n ti­
d o (1) é m u ito p ró x im o d o s e n tid o (2) p o r in s p ira ç ã o g e ra l, e só d ife re p elo d o m ín io
de a p lic a ç ã o ; ta m b é m n ã o d e ix a d e te r c e r to p a re n te s c o co m o s e n tid o B , a p e s a r d as
d ife re n ç a s b a s ta n te m a n ife s ta s e d a m á o p in iã o q u e B ru n sch v ic g p a re c e te r d o p r a g ­
m a tis m o . O s e n tid o (3) p o d e ria sem d ú v id a ser a p ro x im a d o d o s e n tid o tra d ic io n a l
A . M esm o os d o is s e n tid o s fu n d a m e n ta is n ã o s ã o c o m p le ta m e n te e s tr a n h o s u m ao
o u tr o , n e m sem re la ç ã o co m as a p lic a ç õ e s n o v a s d o tip o (4 ). E s ta e x istê n c ia d e u m
fu n d o c o m u m às a ce p ç õ es d a p a la v r a em a p a r ê n c ia m u ito d ife re n te s p a re c e -m e e fe ­
tiv a m e n te se e x tra ir em p a rtic u la r d o p ro g r a m a d a s Entretiens d'É té de Pontigny q ue
fo r a m c o n s a g ra d a s a o h u m a n is m o ( I X o a n o , 1926, 3 ! d é c a d a ; X o a n o , 1927, 3? d é ­
c a d a ). N ã o se p o d e ria e n c o n tr a r sem d ú v id a u m a d e fin iç ã o m ais c o m p re e n s iv a d o
h u m a n ism o d o q u e esta: “ U m antropocentrismo refletido q u e , p a rtin d o d a co n sciên cia
d o h o m e m , te m p o r o b je to a v a lo riz a ç ã o d o h o m e m ; e x c lu sã o fe ita d a q u ilo q u e o
a lie n a d e si p r ó p r io , s e ja a o s u b m e tê -lo à s v e rd a d e s e a o s p o d e re s supra-humanos,
seja a o d esfig u rá-lo p o r q u a lq u e r u tiliz a çã o infra-humana” ( X o a n o , p . 26). Percebe-se
fa c ilm e n te q u e e s ta te n d ê n c ia f u n d a m e n ta l p o d e c o n d u z ir a d o u trin a s b a s ta n te d ife ­
re n te s , n ã o só s e g u n d o o d o m ín io em q u e ela se a p lic a (e sté tic o , m o r a l, e p is te m o ló ­
g ico , p e d a g ó g ic o ), m a s ta m b é m a in d a c o n s o a n te o “ a n tr o p o c e n tr is m o ” é sim p le s­
m e n te a d o ta d o c o m o m é to d o o u e rig id o e m s is te m a , e c o n fo rm e a “ e x c lu s ã o ” d o
s u p ra -h u m a n o s e ja tid a p o r p ro v is ó ria o u p o r d e fin itiv a . ( £ . Leroux)
N a sessão d a S o c ie d a d e d e 1? d e fe v e re iro d e 1936, M ax H erm ant d e fe n d e u , so b
o n o m e d e H um anism o social , a d o u tr in a q u e re iv in d ic a , c o n tr a as c o n c e p ç õ e s t o t a ­
litá ria s d o E s ta d o , o d ire ito d e as p e sso a s h u m a n a s serem tr a ta d a s c o m o fin s em si,
e q u e n e g a q u e se p o s s a o rg a n iz a r e g o v e rn a r a s n a ç õ e s se g u in d o leis so cio ló g icas
a n á lo g a s à s leis c ie n tífic a s s e g u n d o a s q u a is se p o d e g o v e rn a r e u tiliz a r os fe n ô m e n o s
m a te ria is o u m e sm o , n u m a c e rta m e d id a , b io ló g ic o s. V er Bulletin d a S o c ie d ad e F r a n ­
cesa d e F ilo so fia , 1936, p p . 1-40. D iz-se m ais g e ra lm en te n este sen tid o Personalismo*.
H Y L E ou H IL E T IC O 482

C R ÍT IC A o u tro s s e n tid o s ta m b é m s u b lin h a d o s p o r


E. L 2 Ã Z 7 .
É in ú til in s istir s o b re a a m b ig u id a d e E

d e ste te rm o , m e sm o re d u z id o ao s seus Rad. int.: H u m a n is m .


s e n tid o s p rin c ip a is . V er n a s o b s e rv a ç õ e s H Y L É o u H IL É T IC O Ver Suplemento.
I

I Em L; « Tτ , 1?, sím bolo da propo­ leza id eal.” “ U m a m áq uin a ideal, que
sição particular afirm ativa. Ver A; 2?, funcionaria sem a trito .” “ A imagem
sím bolo da proposição m odal em que o ideal = imagem interior, ideal do gênero”
m odo é negado e o d i c t u m é afirm ado. (em V. E; ; E 2 , L a p a r o l e i n t é r i e u r e ,
252). Neste sentido, i d e a l implica quase
ID E A Ç Ã O D. I d e a t i o n · , E. I d e a t i o n ;
sempre que se tra ta de um l i m i t e , em piri­
F. I d é a t i o n ; I. I d e a z i o n e .
cam ente inacessível.
Form ação e encadeamento das idéias,
Este term o é m uito utilizado, com es­
no sentido D (diz-se sobretudo enquanto
ta acepção, tan to na língua vulgar com o
se vê nesta form ação e neste encadeamen­
na língua filosófica, enquanto que I d e i a ,
to de idéias um a “ função n atu ra l” do es­
no sentido correspondente, não o é.
pírito, a estudar em piricam ente com o as
Pode-se, co ntudo, aproxim á-lo tam bém
funções fisiológicas do corpo).
da utilização desta últim a palavra para
R a d . i n t .·. Idead.
significar d e s í g n i o , c o n c e p ç ã o a r e a l i z a r .
ID E A L (adj.) D. A . B. C. I d e a l · , A . B. Que apresenta certo caráter de ele­
C . I d e e l l · , E. I d e a l · , F. I d é a l · , I. I d e a l e . vação estética, m oral ou intelectual.
A. Que constitui um a idéia, ou um a“ Entregam -se a um grosseiro regabofe,
das determ inações de um a idéia, no sen­ sem qualquer resultado id eal...” RE ÇÇ ,
tido A desta palavra, ou nos sentidos que D i á l o g o s f i l o s ó f i c o s , III.
a ela se ligam im ediatam ente (Idéia p la­ A palavra, neste sentido, equivale fre-
tônica, enquanto t i p o p e r f e i t o ) · . “ A be- qüentem ente a e s p i r i t u a l . “ Im plica” , es-

Sobre Ideal (adj. e subst.) — Estes dois artigos fo ram notavelm ente refundidos
considerando as observações de M . B e r n è s , L . B o i s s e , L . B r u n s c h v i c g , E . H a l é v y ,
J. L a c h e lie r , F . R a u h , F . T ô n n ie s .

Sobre Ideal (adj.) — O sentido C , tão raro que é, n ão deixa de ser correto e con­
form e à etim ologia. (J . L a c h e l i e r )
Seria útil a d o tar neste sentido i d e i a l ( i d é e l ): evitar-se-iam assim equívocos e con­
fusões. I d e a l seria reservado p a ra o sentido A , de longe o m ais difu ndido, e para
o sentido B, que a ele se liga estreitamente. ( M . B e r n è s , L . B o i s s e , B r u n s c h v i c g , R a u h )
E . H a l é v y preferiria em pregar neste sentido c o n c e p t u a l ou n o c i o n a l . Mas estas
palavras só conviriam , parece, ao sentido correspondente a idéia-B (idéia abstrata ,
idéia do entendim ento); traduziriam im perfeitamente i d e a l quando se quer dizer cons­
tru ído pelo espírito, representado no espírito. Eu acho que se deveria dizer m e n t a l ,
que não dá lugar a qualquer equívoco to das as vezes que for possível empregá-lo.
(A . L .)
A prim eira redação deste artigo repousava sobre um a distinção dos sentidos da
palavra i d e a l em sentidos a p r e c i a t i v o s (A, B) e num sentido g n o s i o l ó g i c o (C). Refle­
tindo, pareceu-m e que essa característica não era suficientem ente im portante para
ser realçada, tan to mais que o sentido A não é exclusivamente apreciativo. I d e a l ,
substantivo, representa, pelo contrário, em todos os casos um juízo de valor. ( A . L . )
IDEAL 484

creve-nos ME ÇI 2 É, “ urna certa am plitu­ E ncontram -se tam bém alguns textos,
de, proveniente d a elevação do p onto de com o o seguinte, em que a palavra ideal
vista: urna v i d a i d e a l é o contrário de urna se aplica àquilo que é a p e n a s construído
vida estreita, terra a terra, m esquinha­ ou im aginado pelo espírito, em oposição
m ente u tilitá ria .” àquilo que existe verdadeiram ente; neste
C. C orrespondente ao sentido B daexemplo, a palavra assume até mesmo um
palavra i d é i a (noção, conceito) e, por ve­ m atiz pejorativo; mas trata-se de algo ex­
zes, m as m uito parcialm ente, ao sentido cepcional: “ Ofereceria aos outros apenas
D (tudo o que está no pensam ento). T an­ concepções que lhes parecessem i d e a i s ,
to num caso com o no o u tro , m as sobre­ porq ue não teriam apreciado as suas b a ­
tudo no segundo, esta utilização é rara. ses reais.” A ug. CÃOI E , S í n t e s e s u b j e t i ­
Tam bém só a encontram os p a ra op o r os v a , I, intro dução.

conceitos m atem áticos aos objetos m ate­ Em inglês, a palavra i d e a l é , pelo con­
riais que sugerem a sua construção: “ A trário , m uito correntem ente usada com o
geom etria não se ocupa dos sólidos n a ­ adjetivo correspondente a i d é i a no senti­
t u r a i s · , ela tem por ob jeto certos sólidos
do D: por exemplo, no capítulo de Bτ « Ç ,
intitulad o “ O f Ideal E m o tio n ” , em T h e
i d e a i s , absolutamente invariáveis, que são
E m o t i o n s a n d t h e W ill.
um a sua im agem sim plificada e bem dis­
R a d . i n t .: A . P erfekt; B. Ideal; C.
ta n te .” P ë ÇTτ 2 é , A c i ê n c i a e a h i p ó t e ­
Ideei.
s e , cap. IV. E, mesmo nesta passagem,
alguns dos nossos correspondentes pen­ ID E A L (subst.) D. I d e a l · , E. A . 1?
sam que i d e a l pode ser entendido no sen­ I d e a l · , 2 ° S t a n d a r d · , A . B. I d é a l · , F. I d e a l · ,
tido de p e r f e i t o . *1 I. I d e a l e .

Sobre Ideal — C om pletado segundo as observações de J . L a c h e l i e r , que acres­


centa a seguinte nota: “ Todos estes sentidos são vagos, e a utilização da palavra i d e a l
p a ra significar o m ovim ento n atu ra l do pensam ento p ara qualquer coisa parece-me
totalm ente im pró prio; seria necessário dizer, p a ra d a r exatam ente conta do mesmo
pensam ento: o ideal, pelo m enos em arte, não pode ser dado; só pode ser p ro cu ra­
d o .” M as talvez h a ja no pensam ento de Séailles qualquer coisa m ais: o ideal só é
vago e im possível de representar porq ue não é n a d a em si m esm o, n ão é um a realida­
de atual, m as apenas um sím bolo: exprim e, sob a fo rm a de um term o fixo e dado,
aquilo que é, p a ra falar com propriedade, um a potência e um m ovim ento; é assim i­
lável a um ponto de convergência virtual de raios cujos prolongam entos, e só eles,
se encontram . { A . L . )
Creio que se deveria fazer aqui u m a distinção entre o sentido a p r e c i a t i v o - t e ó r i c o
e o sentido a p r e c i a t i v o - p r á t i c o que, m esm o no adjetivo, m as sobretudo no su bstan ti­
vo, é talvez o m ais freqüente:
1? O juízo de valor só pode ter com o m edida o espírito, quer dizer, aplicar-se a um
conceito puro , ou pelo m enos à simples visão interior; e é o que acontece no exercício
da faculdade estética: o ideal designa, então, quer de um a form a mais indefinida a s u ­
p e r i o r i d a d e qualitativa, quer num sentido mais preciso a p e r f e i ç ã o qualitativa;
2? M as o ju ízo de valor é sem dúvida mais freqüentem ente prático, e a palavra
i d e a l possui o sentido atribuído ao substantivo i d e a l no § A , 1?, ta n to quando se
tra ta de o ideal, com o quando se tra ta de u m ideal. D o p o n to de vista prático, o
caráter ideal im plica um a dupla série de condições: 1? a superioridade qualitativa;
2? a aplicabilidade às condições reais do caso considerado. O ideal simplesmente cons-
485 ID EAL

A . 1? (absolutamente: o I d e a l ) · . A qui­ vida m aterial. “ N a vida social, é ainda


lo que daría um a perfeita satisfação à in­ o i d e a l que reúne as alm as em to rn o de
teligencia e ao sentim ento hum anos; al­ um objetivo com um ; fo ra disso, só exis­
gumas vezes, por conseqüência, esta mes­ te a utilidade, e a utilidade, em vez de
m a inteligência e este m esm o sentim en­ concentrar e unir, separa e dispersa.”
to , enquanto o seu m ovimento e o seu es­ L« τ 2 á , L a Science positive et l a metaphy-
forço definem previamente e determinam s iq u e , p. 484, 2? ed.
virtualm ente esta perfeição. “ O ideal é
NOTAS
apenas m ovimento natural do pensamen­
to p ara um a vida com pletam ente harm o­ 1. Fizemos corresponder, sob as mes­
n io sa.” Sτ « Â Â E è , L e g é n i e d a n s l ’a r t , m as palavras, os sentidos corresponden­
cap. III, p. 130. “ O ideal é o espírito nas tes do adjetivo e do substantivo i d e a l .
suas leis vivas; não é um a fo rm a, é um Foi necessário para isso subdividir o
p o d e r.” I b i d . , conclusão. sentido A do substantivo em duas partes.
Neste sentido, as idéias de Deus e de A prim eira possui um a significação glo­
Ideal foram até muitas vezes confundidas. bal e m etafísica, que o adjetivo apresen­
“ Pensa então, como Hegel, que Deus não ta mais raram ente; a segunda correspon­
é, mas que será? Não precisamente. O ideal de ao sentido psicológico deste.
existe, é eterno, mas não está ainda m ate­ O sentido B é exatam ente o mesmo
rialmente realizado: sê-lo-á um d ia.” RE ­ nos dois casos.
Çτ Ç , D i a l o g u e s p h i l o s o p h i q u e s , II, 78. Finalm ente, não existe qualquer sen­
2? (relativamente: t a l i d e a l p a r t i c u l a r , tido do substantivo que corresponda ao
cf. I d é i a , C): A quilo que se pro põe co­ sentido C do adjetivo.
m o tipo perfeito ou com o m odelo num a 2. (H istória). P a ra Kτ ÇI , um i d e a l é
certa ordem de pensam ento ou de ação. um ser concebido como único, individual
“ O i d e a l da sociedade am ericana está tal­ e tal que satisfaça exatam ente a todas as
vez mais distante do que qualquer outro condições de um a i d é i a * (no sentido es­
do ideal de um a sociedade regida pela pecial em que ele tom a esta palavra: con­
ciência.” RE Çτ Ç , D i a l o g u e s p h i l o s o p h i ­ ceito de um a perfeição, de um a ou o u tra
q u e s , III, 3? ed., p. 99. “ C om prom ete­ espécie) que a razão reclam a, m as de que
m os o nosso ideal com a nossa pessoa na a experiência não fornece exemplo. A in ­
vida social onde encontram os outras pes­ da que impossível de realizar, um tal ideal
soas e com elas um o u tro id eal.” M . serve de regra e de p ro tó tip o para agir e
M« Â Â « ÃZ á , “ A form ação do ideal” , R e ­ para julgar. Assim, a virtude é um a i d é i a ,
v u e p h i l o s o p h i q u e , agosto de 1908. “ É e o sábio estóico é o ideal corresponden­
preciso p artir do hom em e do ideal que te ( C r í t i c a d a r a z ã o p u r a , Dial. tran s., li­
ele tem p ara ir até o ideal que se realiza vro II, cap. III, § 1: “ D o ideal em ge­
e p ara trab a lh ar para o realizar.” I d . , ra l” ). O “ ideal transcendental” , em p ar­
i b i d . (ver particularm en te a análise da ticular, seria um ser suprem o que satis­
“ função do ideal” , pp. 144 e 159). faz a necessidade racional de encontrar
B. Os interesses estéticos, m orais ou o princípio único de toda existência, quer
intelectuais, enquanto se opõem aos da dizer, Deus. Assim, esta expressão serve

truído, quer dizer, o valor relativo ou absoluto da idéia pode deixar de ser um ideal
prático, porq u e então seria um ideal im possível absolutam ente.
Praticam ente se poderá, aliás, falar d e u m i d e a l relativo, quando se encara ape­
nas certa ordem de ação (a saúde é um ideal p ara a vida física) ou do I d e a l , quer
dizer, de um ideal universal e praticam ente absoluto (o ideal m oral). (M . B e r n è s )
“ ID EAL (Número)” 486

de título à terceira parte da Dialética Esta palav ra, assim com o i d e a l i s m o ,


transcendental, que se acrescenta ao P a ­ pode ser entendida de form as m uito di­
ralogism o e à A ntinom ia da razão pura. ferentes:
A ilusão que faz deste ideal um a rea­ 1? (sentido mais usual): Característica
lidade demonstrável é o princípio da “ teo­ daquilo que está apenas no espírito, ou pelo
logia transcendental” ( i b i d . , livro II, cap. menos que só pode ser conhecido enquan­
III, § 2: “ Von der transcendentalem to fenômeno do espírito. “ Diese Ungewiss­
Ideal, p r o t o t y p o n t r a n s c e n d e n t a l e ” ) . heit (a incerteza acerca da existência, d a s
Kτ ÇI desaprova a utilização desta D a s e i n , dos objetos exteriores) nenne ich
palavra p ara designar as imagens ditas die Idealität äusserer Erscheinungen, und
perfeitas “ que os pintores e os fisiono- die Lehre dieser Idealität heisst der Idea­
mistas pretendem ter no espírito” . Poder- lismus, in Vergleichung m it welchem die
se-ia cham á-las, diz ele, ideais da sensi­ Behauptung einer m öglichen Gewissheit
bilidade (I d e a l e d e r S i n n l i c k e i t ) , mas mes­ von Gegenstände äusserer Sinne der D ua­
m o assim continuaria a ser um a expres­ lismus genannt w ird.” 1 Kτ ÇI , C r í t i c a d a
são im pró pria ( i b i d ., § 1). r a z ã o p u r a , 1.a edição, D ial, tran s., P a ­
R a d . i n t . : A . P erfektaj; B. Ideal. ral.: “ O q u arto P aralogism o, o da idea­
“ ID EA L (N úm ero)” Ser m atem ático lid ad e.”
criado por KZ OOE 2 , com o fim de per­ 2? (mais raram ente): Característica
m itir a extensão a todos os núm eros al­ daquilo que é n a sua natureza hom ogê­
gébricos dos teorem as fundam entais da neo ao espírito, adequadam ente captável
aritm ética elem entar sobre a divisibilida­ pelo pensam ento; por exem plo, a exten­
de. Ver W « ÇI E 2 , F i l o s o f i a d a t e o r i a d o s são em DE è Tτ 2 I E è . Poder-se-ia bem fa ­
n ú m e r o s , cap. II: “ Os núm eros ideais e lar, neste sentido, de idealidade do real.
os ideais.” R e v u e d e m é t a p h y s i q u e , m aio Cf. I d e a l i s m o , C rítica e observações.
de 1908.
IDEA LISM O D. I d e a l i s m u s - , E. Id ea ­
ID E A L ID A D E D. I d e a l i t ä t - , E. I d e a - F. I d é a l i s m e ; I. I d e a l i s m o .
lis m - ,
lity , F. I d é a l i t é - , I. I d e a l i t à .
C aracterística daquilo que é ideal no
1. “ C h a m o a e sta in certeza a idealidade d o s fe­
sentido C. “ A idealidade do tem po e do
n ô m en o s ex terio res, e a d o u trin a q u e d efen d e essa
espaço.” “ A s discussões sobre a realida­ id ealid ad e ch am a-se idealism o; p o r o p o siç ão a esta,
de ou a idealidade do m undo exterior.” a tese q u e a d m ite p a r a os o b je to s d o s sentid os ex ter­
BE 2 ; è ÃÇ , M a t é r i a e m e m ó r i a , p. 1. n o s u m a certeza possív el é c h a m a d a d u a lism o .”

Sobre Ideal e Idealism o — M etafisicam ente, o Ideal opõe-se ao r e a l (ver o senti­


do C da palavra I d é i a ) , e é suscetível, por conseqüência, de duas interpretações:
A . O Ideal é aquilo que satisfaz a todas as exigências do pensam ento, mas a que
fa lta a realidade, a existência; to d a realidade, to d a existência.
B. O Ideal é aquilo que, satisfazendo a to das as exigências do pensam ento, é no
e pelo pensam ento, no sentido m ais pleno que se possa d a r à palavra ser. N enhum a
realização m aterial, nenhum a en tra d a n a existência d ad a poderia acrescentar-lhe al­
gum a coisa.
A citação acim a referida de K ant trad u z bem o sentido A. O sentido B é dado
pelos sucessores de K ant, cujo i d e a l i s m o consistiu em considerar com o absoluto, não
um ob jeto exterior, hipostasiad o, do Ideal da razão p u ra , m as este pró prio ideal.
A o sentido A perm aneceram fiéis certos pensadores do que podem os cham ar a es-
487 IDEALISM O

A. M E I τ E è « Tτ . palavra tem outros sentidos, e é to m ad a


a) S e n t i d o g e r a l freqüentemente em sentido negativo). Re­
Entende-se atualm ente p or idealismo cebeu em inglês o nom e de “ P e r s o n a l
a tendência filosófica que consiste em re­ id e a lis m ” .
duzir to d a existência ao pensam ento, no 2?: A quela que tende a reduzir a exis­
sentido mais amplo da palavra p e n s a m e n ­ tência ao pensam ento em geral. N ão pos­
t o (tal com o é utilizada nom eadam ente sui um nom e particular. Ver m ais ad ian ­
em DE è Tτ 2 I E è ). O idealismo opõe-se as­ te a Crítica.
sim ao realism o ontológico, ou, num a só b) S e n t i d o s p a r t i c u l a r e s
palav ra, à ontologia, que adm ite um a 1. A palavra i d e a l i s t a aparece pela pri­
existência independente do pensam ento. m eira vez na linguagem filosófica por vol­
Este term o designa, pois, m enos um a ta do final do século X V II. LE « ζ Ç« U , p a r­
doutrina do que um a orientação: serve so­ ticularmente, opõe-na a m a t e r i a l i s t a : “ As
bretu do, na crítica ou na polêm ica, para hipóteses de E picuro e de P la tão , dos
caracterizar u m a te o ria ou sistem a m aiores m aterialistas e dos m aiores idea­
opondo-os a outras teorias ou sistemas lista s...” R é p l i c a à s r e f l e x õ e s d e B a y l e ,
que absorvem num m enor grau o ser no E rd m ann, 186 A . Serve-se tam bém , nes­
pensam ento. te sentido, d a palavra f o r m a l i s t a e parece
Deve-se distinguir duas form as de entender p o r isso os filósofos que, com o
idealismo entre as quais freqüentem ente P latão e A ristóteles, vêem na fo rm a a es­
se instala a confusão: sência das coisas (segundo EZ T3 E Ç , G e i s ­
1?: A quela que tende a reduzir a exis­ t i g e S t r ö m u n g e n d e r G e g e n w a r t , p. 66).
tência ao pensamento i n d i v i d u a l . Chama- O P lato nism o não deixou de, desde
se algum as vezes s u b j e t i v i s m o (mas esta então, ser cham ado um Idealism o, m as

querda kantiana, nom eadam ente Lange. Talvez tam bém Renán, ainda que o seu pen­
sam ento, na citação acim a, se m ostra m uito confuso.
De onde resulta o sentido da palavra I d e a l i s m o : “ D outrina segundo a qual um
ato de conhecim ento capta apenas idéias, e nunca os objetos de que o senso com um
considera que as idéias sejam representações.” O I d e a l i s m o , assim , desdobra-se, da
m esm a fo rm a que a palavra I d e a l assum ia duas significações distintas:
a) D outrina segundo a qual, reduzindo-se filosofia à teoria do conhecim ento, só
se pode alcançar o subjetivo e o fenom enal, e to d a m etafísica, entendida com o o
conhecim ento do objetivo e do ab solu to , é impossível.
b) D outrina segundo a qual, sendo a idéia ou o sistem a de idéias considerados
com o o objetivo e o absoluto, a teoria do conhecim ento ou do pensam ento é por
si m esma a m etafísica. ( E . H a l é v y )
N otar-se-á que n a classificação das diferentes form as de idealismo pós-kantiano,
form ulada p o r Fouillée, e citad a acim a no artigo I d e a l i s m o , esta palavra é tam bém
ap roxim ada da palavra I d e a l , particularm ente no que se refere a Fichte. É necessário
perguntar se este últim o term o é aí tom ado apenas no sentido de I d e a l ( I d é e l ), ou
se não reterá qualquer coisa do sentido norm ativo, que se apresenta m uito n atu ra l­
m ente num a d o u trin a com o a de Fichte onde dom in a a idéia do que d e v e ser. Ver
mais adiante as observações de X avier LÃÇ sobre o idealismo de Fichte, que é cha­
m ado freqüentem ente, na In glaterra, E t h i c a l I d e a l i s m . ( A . L . )
Sobre Idealism o — H i s t ó r i a . A principal fo nte d a difu são da palavra i d e a l i s m o
na França parece ter sido a o b ra de M me de Stáel, D a A l e m a n h a (1810). Ver a 3?
e 4? partes.
IDEALISM O 488

sobretudo enquanto d o u trin a das Idéias só adm ite com o indubitável apenas um a
(e talvez tam bém en quanto coloca no ci­ asserção em pírica, o “ eu so u ” ; a segun­
mo das coisas a Idéia norm ativa do Bem). da fo rm a é o i d e a l i s m o d o g m á t i c o de
A palavra nunca foi usual ao falar de BE 2 3 E Â E à , “ que encara o espaço, com
Aristotelismo. Ver mais adiante a Crítica. tu do aquilo de que é condição, como
2. A partir do século X V III, este ter­ qualquer coisa de im possível, e, por con­
m o é freqüentemente usado para designar seguinte, rejeita igualm ente a existência
a doutrina de BE 2 3 E Â E à ; mas ele próprio das coisas m ateriais que aí estão conti­
se serve, para a qualificar, do termo /m a ­ das” ( C r í t i c a d a r a z ã o p u r a , Anal. tranc.,
t e r i a l i s m o *. W olff, tom ando-a neste sen­ livro II, cap. II, seção 3: W i d e r l e g u n g d e s
tido, opõe a sua filosofia à dos dois idea­ I d e a l i s m u s , B 274 ss.).
listas, à dos m aterialistas e à dos cépticos, É de n o tar que os term os utilizados
que cham a “ drei schlimmen Sekten” 1. por K ant ao definir a teoria de D escartes
K l e i n e p h i l o s o p h i s c h e S c h r i f t e n , p. 583. ( z w e i f e l h a f t , duvidosa; u n e r w e i s l i c h , in­
3. Kτ ÇI cham a i d e a l i s m o e m p í r i c o à dem onstrável) são historicam ente inexa­
doutrina que declara a existência dos ob­ tos, porq u e se tra ta apenas de um a dúvi­
jetos no espaço, f o r a d e n ó s , quer duvi­ da provisória, e a existência do m undo
dosa e indem onstrável, quer falsa e im ­ m aterial é o objeto de um a d e m o n s t r a ­
possível. ç ã o precisa (M é t o d o , IV, 8; M e d i t a ç õ e s ,
A sua prim eira form a é, diz ele, o i d e a ­ V I, etc.). A característica daquilo a que
l i s m o p r o b l e m á t i c o de DE è Tτ 2 I E è , que cham am os neste sentido i d e a l i s m o pare­
ce ser antes que a existência dos objetos
m ateriais fo ra de nós é nele considerada
1. “ ... três péssim as se ita s” . com o não conhecida de um a m aneira

Esta parte do artigo foi com pletada e retificada a p artir das indicações de R . E u c -
ken, de I . B e n r u b i e de X a v i e r L é o n . N o que diz respeito a Fichte, nom eadam ente,
e à qualificação corrente de “ idealismo subjetivo” aplicado à sua do u trin a, X avier
Léon acrescenta as seguintes notas, dem asiado desenvolvidas p a ra serem inseridas
no texto, m as úteis de se reter: “ A o designar desta fo rm a a T e o r i a d a C i ê n c i a , corre-
se o risco de falsear o sentido do sistem a e vamos ao encontro d a objeção já form u­
lada por alguns contem porâneos de Fichte, seus adversários, que pretendiam ver aí
um puro subjetivism o, e que lhe censuravam o querer extrair do E u to d a a realidade
do m undo. Fichte, en quanto vivo, pro testou com todas as suas energias co n tra esta
interpretação do seu sistem a, interpretação que considerava caluniosa. N um escrito
polêmico contra Schelling, que justam ente tinha lançado esta acusação contra a T e o r i a
d a C i ê n c i a (B e r i c h t u b e r d e n B e g r i f f d e r W i s s e n s c h a f t s l e h r e ' , etc., S à m t . W e r k e , Bd.
V III, p. 361), Fichte renega aqueles que fazem da ciência e i n l e e r e r R e f l e c t i r t s y s t e m
um a construção de conceitos artificial e oca; ele m ostra que se, com o o afirm am os
seus adversários, ‘o público quer realidade’, a T e o r i a d a C i ê n c i a está neste ponto
em com pleto acordo com ele. N ão tem de m odo algum a pretensão de c o n s t r u i r to ­
talm ente o dado (isso corresponderia a voltar ao erro do dogm atism o), pro cura ape­
nas explicá-lo, justificá-lo. P a ra o explicar, recorreu, com efeito, a um princípio de
ordem subjetivo, ou m elhor, ao pró prio sujeito (não, bem entendido, ao sujei­
to-indivíduo, m as ao Sujeito naquilo que ele possui de puro e essencial); e isso p o r­
que o outro princípio de explicação, o objeto, é a seus olhos sempre insuficiente

1. Observações sobre o conceito de Teoria da Ciência.


489 IDEALISM O

im e d ia ta , que trag a consigo um a certeza demgemäss Zeit u nd Raum n ur sinnliche


prim itiva. É , aliás, assim que ele pró prio F orm en unserer A nschauung, nicht aber
o definiu num a passagem da primeira edi­ für-sich gegebene Bestimmungen oder Be­
ção da C r í t i c a , suprim ida na segunda dingungen der O bjecte als Dinge an sich
(Crít. do 4? paralogism o da razão pura, selbst sin.” ' C r í t i c a d a r a z ã o p u r a , Dial.
A 368; cf. I d e a l i d a d e ) . Pode-se aproximar tran s., livro II, cap. I. “ O paralogism o
isso daquilo que m uitas vezes se cham a da razão p u ra ” , A 369. O contrário é
o i d e a l i s m o de C Ã Ç á « Â Â τ T , no qual a aquilo a que ele cham a o r e a l i s m o t r a n s ­
existência de um a realidade m aterial não c e n d e n t a l , segundo o qual o tem po, o es­
é considerada nem falsa, nem sequer co­ paço e os objetos materiais nele contidos
m o duvidosa, m as apenas com o im pos­ seriam coisas em si. E é, diz ele, este rea­
sível de captar pela observação direta (al­ lismo transcendental que engendra o idea­
cançando esta apenas os estados do espí­ lismo em pírico, enquanto o idealismo
rito que pensa), e com o impossível de de­ transcendental perm ite, pelo co ntrário,
m onstrar através de um raciocínio dis­ um realism o em pírico, ou m elhor, um
cursivo. dualism o que concede um igual grau de 1
K τ Ç opõe a este “ idealismo em píri­
I

c o ” a sua p ró p ria doutrin a sob o nom e


de i d e a l i s m o t r a n s c e n d e n t a l d o s f e n ô m e ­ 1. “ C h a m o idealismo transcendental de to d o s os
n o s . “ Ich verstehe aber unter dem t r a n s - fen ô m en o s a d o u trin a segundo a q u a l nós os co n si­
d eram o s sem ex ceção com o sim ples re pre se ntações,
c e n d e n t a l e n I d e a l i s m aller Erscheinungen
n ã o co isas em si; e segundo a q u al tem p o e espaço
den Lehrbegriff, nach welchem wir sie são ap enas as fo rm as sensíveis d a nossa intuição, não
insgesammt als blosse V orstellungen und determ in açõ es d a d a s em si p ró p ria s o u co ndições dos
nicht als Dinge an sich selbst ansehen, und o b je to s e n q u a n to coisas em si.*’

e ineficaz, concebendo-se o objeto apenas em relação ao sujeito, sendo o sujeito o


único capaz de autonom ia, capaz de se afirm ar fora de qualquer relação com o u tra
coisa que não consigo próprio .
O ra, é, no fundo, aos olhos de Fichte, a tese fundam ental do i d e a l i s m o c r í t i c o
o ter estabelecido a autonom ia do sujeito, a liberdade ab soluta do espírito, e o ter
posto o Ser n ão mais com o um a realidade independente, possuindo um a existência
em si e p a ra si, m as com o algo puram ente relativo ao espírito; o ter assim procurado
m ostrar nas determ inações do Ser os m om entos da liberdade, os diferentes estados,
a série dos atos pelos quais o espírito se realiza.
É ainda a posição do i d e a l i s m o c r í t i c o m anter-se nesta dialética d o p o n to de vista
do espírito h u m a n o , recusar pôr-se de im ediato e com o que diretam ente no A bsolu­
to : o ra , poder-se-ia dem onstrar que Fichte desde sem pre se preocu pou em m an ter
este p onto de vista contra um idealism o m ais audacioso, o de Schelling p o r exemplo
(ver particularm ente B e r i c h t ü b e r d e r B e g r i f f d e r W i s s e n s c h a f t l e h r e , pp. 371-372 e
384-407).”

Sobre Idealism o no sentido m etafísico e gnosiológico — T oda esta p arte do arti­


go e diversas passagens d a Crítica correspondente foram refundidas de acordo com
as observações de vários m em bros e correspondentes da Sociedade, cujas observa­
ções se encontrarão quer no corpo do artig o, quer ad iante, e em decorrência da dis­
cussão que teve lugar a este respeito n a sessão de 2 de ju lh o de 1908. A definição
d ad a no § A (sentido geral) foi redigida e a d o tad a nesta sessão. C oncordou-se igual­
m ente que era preciso evitar aplicar o nom e i d e a l i s t a aos filósofos, que, tais com o
IDEALISM O 490

realidade à m atéria e a nós próprios en­ sentido de que faz do ideal o princípio de
quanto seres pensantes ( i b i d . , 369-371. to d a existência; é subjetivo porq ue colo­
Cf. A n t i n o m i a d a r a z ã o p u r a , seção VI: ca este ideal no ¡sujeito m oral considera­
“ D er transcendentale Idealism ais der do com o absdluto... Schelling professa
Schlüssel zur A uflösung der cosmologis- um idealismo objetivo... Q uanto a Hegel,
chen D ialektik” 1; A 490 ss.; B 518 ss.). pro fessará um Idealism o a b so lu to ...”
A segunda edição acrescenta além disso, F Ã Z « Â Â é , H i s t ó r i a d a f i l o s o f i a (1875).
E

em nota, que se pode tam bém cham ar a As duas prim eiras destas expressões vêm
essas duas form as de idealismo i d e a l i s m o de S T Â Â « Ç ; , que cham ou i d e a l i s m o
7 E

f o r m a l e i d e a l i s m o m a t e r i a l , e que estas s u b j e t i v o à doutrin a de Fichte; opõe-na

duas expressões são até preferíveis para à sua p ró p ria sob o nom e de i d e a l i s m o
evitar qualquer equívoco. o b je tiv o (D a r s té llu n g m e in e s s y s te m s d e r

4. Designa-se sempre sob o nome i d e a ­ h i l o s o p h i e , 18Ò1; W e r k e , IV, 109); a ter­


P

l i s m o as doutrinas filosóficas de F « T 7 I E , ceira é de H ; Â , que, segundo o plano


E E

S T Â Â « Ç;
7 E e de H ; Â e é bastante co­
E E
tern ário da m archa das idéias, represen­
m um caracterizá-las respectivam ente pe­ tou o seu pró prio sistem a com o a sínte­
los epítetos de idealismo s u b j e t i v o , idea­ se, de que o de Fichte constituía a tese e
lismo o b j e t i v o e idealismo a b s o l u t o · . “ O o de Schelling a antítese (ver A p ê n d i c e ) .
sistem a de Fichte é cham ado pelos ale­ M as é de n o tar que Fichte não teria p ro ­
mães idealismo subjetivo: é idealismo no 1 vavelmente aceito este epíteto, que não se
e n c o n t r a e m nenhum dos seus escritos.
Ele faz profissão de reter o espírito, se­
1. “ O id ealism o tran scen d e n ta l, ch av e p a ra re ­ não a letra, do K antism o, e designa a sua
solver a d ialética co sm o ló g ic a ” . própria d o utrina sob o nom e t r a n s c e n -

Descartes ou Condillac, acabam por um desvio por pôr a existência de um m undo


exterior m aterial independente do pensam ento.
Eis as outras diferentes definições do idealismo que tinham sido pro postas (ver
m ais acim a, p a ra I d e a l e I d e a l i s m o , a de E. H a l é v y ) .
J . L a c h e l i e r : “ Creio que se pode d ar a este term o um a significação m uito preci­
sa ... O i d e a l i s m o , no sentido filosófico, consiste, parece-m e, em crer que o m undo
— tal pelo m enos como eu o posso conhecer e dele falar — se com põe exclusivamen­
te de representação, e até das m i n h a s representações, atuais ou possíveis, m ateriais
ou form ais. P o r representações p o s s í v e i s entendo por exemplo a do sol quando está
abaixo do horizonte; por representações f o r m a i s entendo as do tem po, do espaço
e de tu do o que se pode a í construir a p r i o r i ; entendo tam bém (para as quais será
necessário talvez um o u tro nom e) as das leis que regem a p r i o r i todos os fenôm enos,
com o as da causalidade ou de finalidade.
Mas existem apenas as m i n h a s representações? P a ra mim e no meu m undo, sim;
mas pode haver outros sistemas de representações, outros m undos, em parte paralelos,
em parte idênticos ao meu: paralelos em tudo aquilo que têm de sensível, diferindo das
minhas as representações dos outros sujeitos sensíveis consoante a diferença de pontos
de vista, como pretendia Leibniz; idênticos em tudo o que têm de inteligível, quer dizer,
de m atem ático, ou de metafísico, porque a representação do tem po, do espaço, da cau­
salidade, da finalidade não pode diferir de um sujeito pensante para outro.
Só existem mesmo sujeitos pensantes diferentes enquanto os seus pensam entos
se incorporam a representações sensíveis diferentes — ou m elhor, só existem, para
falar com propriedade, sujeitos que sentem , os quais pensam com um só e mesmo
491 IDEALISM O

o u , algum as vezes,
d e n ta le r Id e a lis m u s , do além dos que estão ap to s p ara filoso­
W « Â Â O , que pare­
K r itis c h e r Id e a lis m u s . fa r, eu acho que estou tão distante q u an ­
ce o prim eiro a ter difu ndido na França to possível do idealismo..” E n s a i o s d e c r í ­
as qualificações acim a indicadas, acres­ t i c a g e r a l , Lógica, tom o I.
centava, aliás m uito justam ente, ao falar 6. Léon B2 Z Çè T7 â« T; deu o nom e de
d a d o u trin a de Fichte: ‘ ‘P oder-se-ia co m i d e a l i s m o c r í t i c o à doutrin a filosófica que
m aior razão cham á-la um e s p i r i t u a l i s m o expôs nas suas obras. Ver em particular o
a b s o l u t o em vez de um i d e a l i s m o s u b j e ­ seu artigo “ A orientação do racionalis­
tiv o ." W« Â Â O , H i s t o í r e d e la p h ilo s o p h ie m o” , na R e v u e d e m é t a p h y s i q u e e t d e m o -
a lle m a n d e , tom o II, p. 462 (cf. pp. 398 r a l e , de 1920, p p. 261-343. F . Rτ Z 7 nas
ss.). observações mais adiante (1908) tinha apli­
5. R E ÇÃ Z â « E 2 : “ Se cham arm os i d e a ­ cado esta m esma denom inação ao idealis­
com o é costum e, aos filósofos que
lis ta s , m o transcendental de K ant, mas esta utili­
com o Leibniz e K ant dão ao tem po e ao zação não é generalizada, não obstante os
espaço apenas um a realidade puram ente nomes de “ Crítica” e “ Criticismo” fre-
objetiva” ( = ideal, m ental) “ e encaram qüentemente usados ao falar do kantismo.
o sujeito m aterial pu ro das escolas m ate­ B . Em M oral e n a linguagem co rren­
rialistas com o um a ficção científica... en­ te: feição do espírito e do caráter que con­
tão as teses que p ro p o n h o pertencem ao cede um im portante lugar p ara o i d e a l no
idealismo incontestavelmente. M as, se for sentido B, e crê no poder d a idéia e do
m elhor reservar a qualificação p a ra os sentim ento p a ra refo rm ar aquilo que h á
pensadores c u ja tendência m arcada (pu­ de m au n a natureza e nas sociedades h u ­
deram censurá-la a K ant) é a de suprim ir m anas. I d e a l i s t a , subst. e a d j., é partic u ­
a existência dos sujeitos reais no m un­ larm ente usado neste sentido.

pensamento. N ada im pede, então, de considerar este único pensam ento como a subs­
tân cia com um de que os diferentes sujeitos que sentem são apenas os acidentes. A s­
sim, o idealism o, que se apresentava, em prim eiro lugar, sob um a fo rm a psicológi­
ca, torna-se um a d o utrina m etafísica: o m e u m undo torna-se o m undo, na m edida
em que o m eu pensam ento se to rn a a verdade, e, a esse título, a substância única
e universal. A ssim se reconciliam , parece-me, os dois sentidos que esta palavra pos­
sui, com efeito, n a história d a filosofia.
N ão vejo, pois, nada que im peça adm itir as definições citadas na Crítica, e em
particular a de Bergson. Só faria às duas prim eiras um a ligeira correção: elim inaria
a idéia de sujeitos distintos das suas representações e que seriam ainda, à sua m anei­
ra, coisas: diria que, para o idealista, existem apenas representações, um as sensíveis
e individuais, as outras intelectuais e im pessoais.”
Estas observações de J . L a c h e l i e r definem com m uito vigor e clareza u m a d o u tri­
n a filosófica à qual não se poderia negar que o nom e de i d e a l i s m o se aplica m uito
bem . M as será a ú n i c a que pode ser ch am ada p o r esse nom e? É certo que, quer his­
toricam ente, quer no uso contem porâneo, este term o aplica-se a m uitas teorias que
não apresentam todas as determ inações enunciadas atrás. Deve, p o r o u tro lado,
considerar-se esta definição com o algo que se aplica não à utilização atual, m as à
fu tu ra, e com o um a proposta p a ra restringir de o ra em diante a esta significação p re­
cisa o sentido do term o i d e a l i s m o ? Talvez fosse desejável, m as parece m uito difícil
conseguir essa lim itação de um term o tã o freqüentem ente usado e em casos tão di­
versos. ( A . L .)
ID EA LISM O 492

C. Em Estética, po r oposição a r e a ­ ção: “ A palavra idealismo com porta na


l i s m o , i d e a l i s m o aplica-se às diversas dou­ língua duas acepções, um a popular, a
trinas que consideram que o objetivo da mais acreditada; a o u tra, m uito especial
arte não é a im itação d a natureza, mas e com menos favor. N o prim eiro sentido
a representação de um a n atureza fictícia designa a tendência de um hom em , de
mais satisfatória para o espírito (seja em um a arte ou de um a época de subordinar
que sentido for que se entenda esta “ idea­ as coisas da vida presente aos objetos que
lização” ). “ O realism o não existe nunca; a nossa inteligência concebe ou que a nos­
aquilo que se cham a com este nom e é, o sa im aginação so n h a... A segunda acep­
mais das vezes, o idealismo do feio .” G. ção, que sugerimos que se retenha, é ao
SÉAILLES, L e g é n i e d a n s l ’a r t , cap. V, p. mesmo tem po parente desta prim eira e
161 . ultrapassa-a ousadam ente. Esta filosofia
dá o nom e de idealista a quem percebe,
CRÍTICA acim a do m undo atual, um outro univer­
O qu anto é am plo e pouco definido so que os nossos pensam entos com põem
o sentido de i d e a l i s m o , na sua utilização e que um espírito onipresente, o n o s s o t a l ­
propriam ente filosófica, podem os vê-lo v e z , fornece o teatro. Vai ainda mais lon­
pelas citações precedentes, e m elhor ain­ ge. Em vez de com o até aqui acontecia,
da pelas observações que se encontram a alma apaixonada pelo m elhor contenta­
mais adiante. E ncontram os aí, com efei­ se com inventar para além dos seres am ­
to, um a indeterminação fundam ental, ni­ bientes tipos embelezados sobre a consis­
tidam ente visível na seguinte análise fei­ tência dos quais não se deixava iludir, o
ta por G. Là ÃÇ no início do L ’I d é a l i s m e espírito agora ganha segurança sobre si
e n A n g l e t e r r e a u X V I I I e s i è c l e , introdu- I. mesmo e tem fé em si pró prio . O real

F . R a u fi pro pôs que se classificasse desta fo rm a os diversos sentidos da palavra


Id e a lis m o , considerados apenas na sua utilização atual:
“ I. D outrina segundo a qual não existe su bstrato m aterial, substância, distinta
das sensações ou, com o se diz hoje vulgarm ente, imagens que com põem o m undo
exterior. Este sentido deve ser elim inado, e, de fato , tende a elim inar-se, porq ue a
questão da substância já não se põe, pelo menos nesses term os m etafísicos; so bretu ­
do na F rança, depois do desaparecim ento do cousinism o.
II. D outrinas segundo as quais as im agens externas não existem fora d a sua rela­
ção com um sujeito.
A. I d e a l i s m o c r í t i c o . A s imagens são apenas a p r e s e n t a d a s a este sujeito, não são
c r i a d a s po r ele. Sobre a causa dessas im agens, o hom em nada sabe. Em geral, os
pensadores que se colocam neste ponto de vista consideram de preferência o sujeito
pensante, razoável. É esta a concepção kan tian a. O m un do exterior existe, segundo
Kτ ÇI , apenas p ara os s u j e i t o s p e n s a n t e s i n d i v i d u a i s ? O u será necessário adm itir que
existe, segundo ele, fo ra desses sujeitos, um a l e i que os ultrapassa, de m odo que o
kantism o significaria: é um a lei que a to d o o sujeito pensante se apresentam imagens
— o que intro duziria nesta doutrin a qualquer coisa com o a noção de Idéia incons­
ciente? O u K ant não se pôs esse problem a? M as esta questão extrapolaria os limites
do V o c a b u l á r i o .
SI Z τ 2 I M « Â Â (tanto quanto se pode precisar o seu pensam ento em certas partes
das suas obras) representaria a form a e m p í r i c a daquilo a que se pode cham ar a d o u ­
trin a a p r e s e n t a t i v a do m undo exterior. Poder-se-ia, com algumas reservas, colocar,
sob este ponto de vista, Renouvier e os neocriticistas na m esma categoria que Mill.
493 IDEALISM O

pretendido torna-se, p ara ele, signo e sím­ condição deste Idealismo: por conseqüên­
bolo e são de o ra em diante os seus pen­ cia, a fórm ula não é rigorosam ente apli­
sam entos, com as suas leis inflexíveis, a cável. Será um espírito universal, com o
sua inesgotável variedade de form as e de o Deus de Espinosa? A m esma dificulda­
co ntorn os, que ele pensa serem as únicas de se põe p a ra definir a relação deste es­
verdadeiras existências... Concluirem os, pírito com o espírito individual, cuja exis­
axiom a a que se resum e a filosofia idea­ tência constitui o p o n to de partida do
lista: o que existe das coisas são as idéias problem a.
que o espírito delas p ossui.” U m a m aneira completamente diferen­
Com efeito — sem falar dos diferen­ te de entender o idealism o, cujos exem­
tes sentidos que pode receber aqui a p a ­ plos d atam d a A ntiguidade e que se m is­
lavra i d é i a s — , o que se entende nesta fór­ tu ra algum as vezes com a prim eira, con­
m ula por e s p í r i t o ? siste em to m ar o e s p í r i t o num outro sen­
Será o espírito i n d i v i d u a l do filósofo tido e, p o r assim dizer, em compreensão.
que pensa? É certo que o prim eiro argu­ Entende-se então por isso um co njunto
m ento do idealism o é, acim a de todos os de características ou de leis de definiriam
outro s, a im possibilidade p a r a o i n d i v í ­ a natureza do pensamento e admite-se que
d u o de sair da sua consciência i n d i v i d u a l . o real se com põe de i d é i a s , quer dizer, de
M as o próprio Berkeley não pensa per­ essências inteligíveis, que nada têm de
m anecer no solipsismo. Será a som a dos opaco e de im penetrável, de direito, p a ­
espíritos individuais? A tribui-se com is­ ra u m espírito d ado que se esforça p o r o
so a esses espíritos um a form a de existên­ com preender. N este sentido, o platonis­
cia em si que serve de base às idéias e, por m o é m uito justam ente cham ado um idea­
conseqüência, implica um realismo como lismo. “ Poder-se-ia dizer tam bém ” , es-

B. I d e a l i s m o d o g m á t i c o . O m undo exterior é c r i a d o pelo sujeito considerado quer


com o consciente, quer no seu prolongam ento inconsciente (porque todos os teóricos
do conhecim ento dão, sob um a fo rm a ou o u tra, um lugar mais ou m enos im portan­
te a um a fo rm a de existência que envolve a existência consciente e é conhecida ape­
nas pelos seus efeitos):
a. I d e a l i s m o p s i c o l ó g i c o . O m undo das imagens é criado pela atividade dos sujei­
tos individuais, hum anos ou n ão , ou d a natureza, concebida com o um sujeito único
e universal. A distinção entre os diversos tipos de sujeitos nem sem pre é feita pelos
autores que defendem esta tese, e freqüentem ente nem sequer se põe a questão. T eo­
ria de ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 e, parece, de Tτ « ÇE (sob a form a d a teoria psicológica d a p r o ­
j e ç ã o ) · , de BE 2 ; è ÃÇ tam bém , que aplica um a concepção vitalista à natureza n a sua
totalidade. N otar-se-á, em to das estas filosofias, o lugar dado ao inconsciente.
b. I d e a l i s m o r a c i o n a l . O m undo exterior resulta do desenvolvim ento quer dos su­
jeitos pensantes, das Razões individuais, quer de um a razão consciente universal, quer,
finalm ente, de um sistem a de Idéias independente das consciências, inconsciente pe­
lo m enos p a ra as consciências hum an as, e que é com o que um objeto em relação
a elas. É o m ovim ento dialético do espírito objetivo. A titude representada, com di­
versos m atizes, p o r F« T7 I E , ST7 E Â Â « Ç; , H E ; E Â , em quem se encontram m ais ou
m enos m isturadas e mais ou m enos precisam ente form uladas as diversas hipóteses
do idealismo racional que acabam os de enum erar.
Creio que, em sum a, a palavra i d e a l i s m o poderia ser conservada p a ra designar
todos os sentidos distinguidos n o § II, j á que existe, com efeito, u m a característica
essencial com um a todos estes sentidos, que consiste em que to das as do utrinas ditas
IDEALISM O 494

creve-nos J. Lτ T Â « 2 , “ que o carte­


7 E E Esta indeterminação que deixa em
sianismo também o é, no sentido de que suspenso a questão de saber se se fala do
a extensão, de que ele forma todas as coi­ espirito i n d i v i d u a l , ou do espírito c o l e t i ­
sas, é verdadeiramente apenas a idéia ob­ v o , ou do espírito e m g e r a l , encontra-se
jetivada” . Mas, aqui ainda, o sentido na maior parte das definições de idealis­
divide-se: ou admitimos que o espírito as­ mo:
sim definido implica e contém t o d a a re­ “O idealismo, tomado em geral, deve
presentação; esta parece ter sido a atitu­ ser definido como todo sistema que reduz
de de Leibniz: i d e a l i s m o está, então, mui­ o objeto do conhecimento ao sujeito do co­
to próximo de i n t e l e c t u a l i s m o no senti­ nhecimento. Foi formulado desta manei­
do A; ou, face às dificuldades que levan­ ra: ‘E s s e e s t p e r c i p i ; o ser das coisas con­
ta esta forma extrema da doutrina (no­ siste em ser percebido pelo sujeito pensan­
meadamente a de explicar nesta hipótese te’.” P. J τ Ç , T r a t a d o e l e m e n t a r d e f i l o ­
EI

a individualidade), limitamo-nos, como s o f i a , § 660. “Em ontologia, o idealismo


Kant, a defender que ele contém apenas consiste em dizer que as coisas não são mais
a f o r m a do conhecimento: mas então do que os n o s s o s próprios pensamentos...
torna-se necessário admitir que a maté­ o único real são sujeitos pensantes e a rea­
ria do conhecimento, d a d a a cada espiri­ lidade dos objetos consiste em ser pensa­
to individual, constitui um real com o da por estes sujeitos.” GÃζ Â Ã , V o c a b u ­
I

qual este espirito entra em contato, ain­ l á r i o f i l o s ó f i c o , Vo. “ Para o idealista, na


da que impossível de isolar de fato, esse realidade nada existe além daquilo que apa­
real permanece em princípio a verdadei­ rece à m i n h a consciência, ou à consciên­
ra coisa-em-si; de modo que a idealidade cia em geral.” B 2 ; è ÃÇ , O p a r a l o g i s m o
E

da sensação, ponto de partida do idealis­ p s i c o f i s i o l ó g i c o , C. R. do Congresso de


mo, encontra-se finalmente excluida dele.I. Genebra, 1904, p. 429. (O autor adverte,

idealistas admitem igualmente que o mundo exterior não existe em si, independente­
mente de um sujeito.
III. Servimo-nos algumas vezes da palavra i d e a l i s m o para designar doutrinas que
se referem não à relação do sujeito com as coisas, mas à própria natureza do sujeito.
Assim, dir-se-á que o platonismo, o kantismo são idealismos, porque dão um lugar
privilegiado às Idéias. Mas este sentido está, parece-me, regredindo e parece não haver
necessidade de o ressuscitar. Existem outras palavras para designar as doutrinas em
questão, realismo metafísico, para o platonismo, racionalismo formal ou formalismo
para o kantismo, etc.”
Sobre a Crítica — Observações feitas na sessão de 2 de julho de 1908:
L . B r u n s c h v i c g : “ I d e a l i s m o pode ter um sentido muito preciso, com a condição
de não separar a teoria do conhecimento e a metafísica; porque, precisamente, o idea­
lismo afirma que toda a metafísica se reduz à teoria do conhecimento. A afirmação
do ser tem por base a determinação do ser como conhecido, tese admiravelmente clara
(salvo análise ulterior da palavra c o n h e c i d o ) por oposição ao realismo, que tem por
base a intuição do ser enquanto ser.”
L . B o i s s e : “ O termo i d e a l i s m o só é vago para o pensamento desregrado, para o
pensamento que não sente necessidade de ligar os seus elementos em síntese sistemáti­
cas, e aos poucos caminhar assim até a um centro orgânico. É muito preciso, pelo
contrário, para o pensamento filosófico. Pode-se defini-lo, e foi definido: toda a dou­
trina que dá ao pensamento um privilégio sobre as coisas e que considera o espírito,
o sujeito, como privilegiado em relação ao mundo, ao objeto.”
495 ID ÉIA

nesta passagem, que se pode ainda tomar, social manifesta certa lógica; 2? a idéia de
e que ele próprio noutro lugar tomou, a pa­ que a humanidade, cada vez mais conscien­
lavra numa outra acepção.) te, se torna a obreira dos seus destinos e
Estendeu-se mesmo algumas vezes o no­ substitui por um mundo de razão e de li­
me i d e a l i s m o (ainda que muito raramente berdade o estado atual, mecânico e amo­
segundo parece) à tese segundo a qual os ob­ ral dos fenômenos econômicos.
jetos percebidos são, e m s i , da mesma na­ IDEATO L. escol. I d e a t u m · , F. I d é a t
tureza que o espírito que os pensa, ou seja, (termo raramente utilizado).
à teoriap a n p s i q u i s t a (ver BlNET, L ’â m e e t A. O objeto (em particular a obra de
l e c o r p s , p. 203, onde estes dois termos arte ou de indústria) produzido segundo
são identificados). uma idéia preconcebida. “I d e a t u m e s t v i
Parece pois que se deve fazer o míni­ i d e a e p r o d u e t u m ” (O ideato é aquilo que
mo uso possível de um termo cujo senti­ é produzido pelo poder da idéia). GÃTÂE -
do é tão indeterminado. Ver contudo as Ç« Z è , 211 B, segundo Alberto, o Grande.
reservas de A. Dτ 2 ζ ÃÇ e as de A. B. Objeto ao qual corresponde uma
Sú τ « 2 , reproduzidas no Apêndice (S).
E idéia. “ Idea eodem modo se habet objec-
R a d . i n t .: Idealism. tive, ac ipsius ideatum se habet realiter”
" I d e a l i s m o s o c i a l " , E. S o c i a l I d e a l i s m , (A idéia apresenta, na ordem do pensa­
aplicado em primeiro lugar às idéias de me­ mento, as mesmas características que o
lhoramento e de progresso social que ocu­ seu ideato na ordem da realidade). Eè ú «­
param o pensamento de Berkeley e deter­ ÇÃè τ , D e E m e n d a t i o n e , VII, 41. “ Idea
minaram a obra filantrópica e moraliza- vera debet cum suo ideato convenire” (A
dora à qual se consagrou durante o pe­ idéia verdadeira deve estar de acordo com
ríodo ativo de sua vida (F2 τ è 2 , B e r k e ­ E
o seu ideato). I d . , É t i c a , Axioma 6 (mas,
l e y , 1871; III, 87). Esta expressão foi to­
como ele nota, não é por este acordo que
mada como título de uma obra de Eugé- se reconhece a verdade).
ne FÃZ 2 Ç« 2 E (Alean, 1898). Represen­ IDÉIA D. A. B. C. I d e e ; D. V o r s t e l ­
ta para ele: 1? a idéia de que a evolução l u n g · , E. I d e a ; F. I d é e ; I. I d e a .

Ver no S u p l e m e n t o , no fim da presente obra, as observações de A . D a r b o n e A .


sobre a unidade de sentidos da palavra I d e a l i s m o , muito extensas para poderem
S p a ie r
ser aqui inseridas.
Sobre Idealismo no sentido estético — Este sentido liga-se apenas muito longinqua­
mente ao sentido metafísico da palavra i d e a l i s m o . O idealismo estético, moral, etc. é
a perseguição de um i d e a l , e a questão da existência deste ideal e da possibilidade de
o realizar nada tem a ver com a doutrina que compõe o mundo quer com as m i n h a s
i d é i a s , quer com I d é i a s . Pode-se, contudo, refletindo sobre isso, encontrar um ponto
de contato. Se cada ser vivo, se o homem, se as obras essenciais do homem, como as
citadas, são q u e r i d a s pela natureza, então a arte, a moral, a política devem esforçar-se
por descobrir esta vontade e por exprimi-la, cada uma à sua maneira, nos seus preceitos
ou nas suas produções: só pode haver ideal se houver Idéias. (7. L a c h e l i e r )
Sobre Idéia — O texto deste artigo foi refundido a partir da discussão que ocorreu
na sessão de 2 de julho de 1908. Notar-se-á particularmente que o sentido primitiva­
mente definido sob a letra C é agora designado pela letra D, tendo sido atribuida urna
divisão especial ao sentido de i n t e n ç ã o , p r o j e t o , d e s i g n i o , que só tinha sido menciona­
do como um intermediário provável entre o sentido platónico e o sentido cartesiano.
IDÉIA 496

Do G. ’Ι δ ί α , propriamente f o r m a v i ­ ele chama, em Platão, o “ sentido lógico”


s ív e l, a s p e c to : τ η ν ι δ ί α ν π ά ν υ χ ά Χ ό s, belo da palavra; mas este sentido lógico, como
de se ver. PÂτ I ã Ã , Protágoras, 315 E; é sublinhado, é inseparável do sentido me­
τ η ν Ι δ ί α ν . . . τ ή % y r j s , a forma da terra; tafísico: “ Et sensu qui dicitur logico, est
I d . , F e d r o , 180 D. De onde f o r m a d i s t i n ­ notio communis vel generalis, quae Platoni
t i v a , espécie (cf. S p e c i e s , que se liga a non est notio a rebus abstracta, sed ipsa
S p e c t a r e , s p e c i m e n , etc. como Ι δ ί α e rei natura animo spectata...” Tàs ôe...
ί δ β ϊ ν , e l ã o s , etc.): τ τ ο λ λ α ί ί δ ί α ι τ τ ο Χ ί - tôeas v o í i a d a i n í v . o g ã a d a i “ ò ’o v . R é p . ,
μ ο υ , muitas f o r m a s ou gêneros de guer­ VI, 507 B.
ra. TZ Tá« á è , I, 109.
E A este sentido platônico podem li­
Daí os seguintes sentidos ainda em gar-se:
uso: 1°. A utilização feita por Kτ ÇI da pa­
A. “ Idéia” , no sentido platônico da lavra I d é i a . Ele chama i d é i a s t r a n s c e n d e n ­
palavra (escreve-se sempre neste sentido t a i s ou I d é i a s d a r a z ã o p u r a àquilo que,
com uma maiúscula). no nosso pensamento, não só não deriva
“ Sensu philosophico est forma vel dos sentidos, mas ultrapassa mesmo os
species rerum quae ratione et intelligen- conceitos do entendimento, já que nada
tia continetur, hoc est aeterna et immu- se pode encontrar na experiência que de­
tabilis, exemplum” (ver U r b i l d , I d e e , W e ­ las forneça uma ilustração. “ Ich verste­
s e n a n S i c h . Cf. efôos). Aè I , L e x i c o n he unter I d e e einen notwendigen Ver­
P l a t o n i c u m , II, 87. nunftbegriff, dem kein kongruirender Ge­
Acrescenta, por outro lado, aquilo queV . genstand in den Sinnen gegeben werden

Uma nova redação do § B foi introduzida na sexta edição para dar conta das
críticas de M a r s a l sobre cr sentido respectivo das expressões c o n c e i t o e i d é i a g e r a l .
A parte histórica foi muito completada, em parte a partir das observações recebi­
das de G . B e a u l a v o n , M . B l o n d e l , F . T ò n n i e s e C . C . J . W e b b , em parte a partir
das novas investigações do autor.
V . E g g e r assinalou o fato de BÃè è Z , contrariamente à maior parte dos carte­
EI

sianos, conservar na palavra idéia o seu sentido restrito e escolástico. Na sua L ó g i c a ,


de que todo o livro I trata D a s i d é i a s , distingue-as das imagens, e nota que as idéias
propriamente ditas são “ intelectuais” . “ A idéia” , diz ele, “ pode ser definida como
aquilo que apresenta ao entendimento a verdade do objeto entendido. Assim, só se
conhece aquilo de que se tem presente a idéia... O termo é a palavra que significa
esta idéia; a idéia representa ¡mediatamente os objetos; os termos só significam me­
diatamente e enquanto recordam as idéias. O juízo forma-se pela união ou agrupa­
mento das idéias.” Este uso parece intermediário entre os sentidos B e D.
Eis alguns outros textos que precisam ou especificam alguns dos sentidos indica­
dos no corpo do artigo.
D è Tτ 2 è : “ I d e a e nomine intelligo cujuslibet cogitationis formam illam per
E IE

cujus immediatam perceptionem ipsius ejusdem cogitationis conscius sum.” R e s p o s t a


à s s e g u n d a s o b j e ç õ e s . , Ad. e T., VII, 160. Texto tomado por A 2 Çτ Z Â á como base
da s u a discussão contra Malebranche ( D a s v e r d a d e i r a s e d a s f a l s a s i d é i a s , cap. VI).
Cf. i b i d ., cap. V: “ Disse que considerava uma mesma coisa percepção e idéia. É pre­
ciso todavia notar que esta coisa, ainda que única, tem duas relações: uma com a
alma, que modifica; a outra com a coisa percebida, enquanto está objetivamente na
alma: e a palavra p e r c e p ç ã o marca mais diretamente a primeira relação e a palavra
i d é i a a segunda.” D e f i n i ç õ e s , VI.
497 ID ÉIA

kann.” 1 C r í t i c a d a r a z ã o p u r a , Dial, à representação da cor vermelha, que nem


transcendental, livro I, § 2: v o n d e n t r a n s - sequer é uma noção. (O autor visado por
c e n d e n t a l e n I d e e n . Essas idéias são as da Kant é sem dúvida L Ã T 3 ; mas este sen­ E

unidade absoluta do sujeito, de sistema­ tido é também o de D è T τ 2 è e de E I E

tização completa dos fenômenos (com­ H Ã ζ ζ è ; ver mais adiante.)


E

preendendo as quatro “ idéias cosmoló­ 2? A utilização da palavra I d é i a em


gicas” ), enfim, de redução à unidade de matéria de estética nas expressões como
todas as existências, idéias às quais cor­ esta: “ Das Schõne bestimmt sich... ais
respondem respectivamente a alma, o das sinnliche Scheinen der Idee.” 2 H - E

mundo e Deus. Ainda que o próprio Kant ; E Â , V o r le s u n g e n ü b e r d ie A e s th e tik , I,


aproxime este uso do de Platão, notar- § 1. “ A manifestação sensível da idéia...
se-á que o sentido C não lhe é estranho, é o objeto da arte.” L τ O ÇÇτ « è , E s b o ­E

ç o d e u m a f i l o s o f i a , livro VIII, cap. I.


por exemplo, quando diz que a “ aparên­
cia transcendental” fornece a i d é i a de três (Mas é possível que nestes textos a pala­
ciências aparentes extraídas da Razão pu­ vra retire qualquer coisa do sentido C: in­
ra { D i a l . t r a n s e . , Reflexão sobre o con­ tenção, desígnio preconcebido.) Encon-
tra-se, em todo o caso, o sentido metafí­
junto da psicologia pura). Acrescenta que
sico puro no livro III do M u n d o c o m o
uma vez acostumados à distinção nítida
v o n t a d e e r e p r e s e n t a ç ã o de S T Ã ú Ç - 7 E
da r e p r e s e n t a ç ã o s e n s í v e l , da n o ç ã o , ou
7 τ Z 2 , onde o autor toma expressamen­
E

conceito do entendimento, e da i d é i a , “já


te I d é i a no sentido platônico, para obje­
não se pode suportar” ouvir chamar i d é i a
to da arte.
B. C o n c e i t o * enquanto ato ou objeto
1. 1‘E n te n d o p o r Idéia u m co nceito necessá rio d a
razão , a o qu al nen h u m ob jeto a d e q u a d o p o d e ser d a ­ 2. “ O Belo d eterm in a-se co m o a m an ifestação
d o n o s s e n tid o s .” sensível d a Id é ia .”

“ O objeto imediato do nosso espírito, quando vê o Sol, por exemplo, não é o


Sol” (quer dizer, como resulta do que se disse, o objeto e x t e r i o r a o n o s s o c o r p o que
pensamos sob esse nome) “ mas qualquer coisa que está intimamente unida à nossa
alma; e é a isso que chamo i d é i a . Assim, pela palavra i d é i a , entendo aqui apenas
aquilo que é o objeto imediato, ou o mais próximo do espírito quando este apercebe
o objeto.” M τ Â ζ 2 τ Ç T , P r o c u r a d a v e r d a d e , livro III, 2? parte, cap. I, § 1. Cf.
E 7 E

Id é ia s * r e p r e s e n ta tiv a s .
Crítica do uso de L Ã T 3 por L « ζ Ç « U : “Aè idéias estão em Deus desde toda a
E E

eternidade, e estão mesmo em nós antes de pensarmos atualmente... Se alguém pre­


tender tomá-las por pensamentos atuais dos homens, isso é-lhe permitido: mas opor-
se-á sem motivo à linguagem admitida.” N o v o s e n s a i o s , livro III, cap. IV, 17.
I d e a , em H Z O (que opõe expressamente este sentido ao de Locke), diz-se dos
E

estados de consciência que não são primitivos, mas consistem na repetição ou elabo­
ração daquilo que constituía um dado primitivo { i m p r e s s ã o ) . T r a t a d o d a n a t . h u m a ­
n a , 1? parte, § 1 e nota; E n s a i o , 2? seção.
I d é i a , no sentido A, 2?: “ I d é i a d o d e s p o t i s m o . Quando os selvagens da Louisia-
na querem fruta, cortam a árvore e colhem o fruto. É isso o governo despótico.”
M ÃÇ è I Z « Z
I E E , E s p í r i t o d a s l e i s , V, XIII.
Q u e u s o s e d e v e f a z e r h o je e m d ia d a p a la v r a “ id é ia ” ? .
A primeira redação deste artigo continha, como conclusão da Crítica, a seguinte
passagem:
IDÉIA 498

de pensamento, não enquanto termo ló­ seqüentemente, idéia nova, invenção.


gico. “A idéia de Deus; a idéia de tem­ Sentido muito utilizado na linguagem cor­
po” , etc. rente: “ Ter uma idéia; um homem de
A i d é i a g e r a l é aquela que é conside­ idéias.” Na linguagem do direito: “ A lei
rada não só nas suas características, mas protege a forma, não a idéia.” P Ã Z « Â -
também na sua extensão (sendo esta su­ Â , P r o p r i e d a d e l i t e r á r i a e a r t í s t i c a , n?
E I

posta superior à unidade). Também esta 20 (comunicada por C Â Z Ç ) . E I

expressão se emprega sobretudo ao falar Mais raro em filosofia: “ Idee der


de idéias construídas por comparação* e Transcendental philosophie” . K τ Ç , I

por generalização*, no sentido A. Mas es­ C r í t i c a d a r a z ã o p u r a , introdução, § 1.


ta utilização está longe de ser exclusiva.
O prefácio da S e m â n t i c a de B 2 é τ Â
Em D a i n t e l i g ê n c i a (2? parte, livro IV),
T τ «ÇE divide o cap. I em duas seções: intitula-se: “ Idéia deste livro.” Cf. as pa­
“ Idéias gerais que são cópias; idéias ge­ lavras francesas v u e s , v i s é e s , que têm a
rais que são modelos.” mesma relação com v i d e r e que l ô é a tem
I d é i a , quando usada isoladamente, ra­ com l ò é iv .

ramente tem este sentido; mas é muito D. A partir do século XVII (sentido
usual com um complemento: a idéia de mais comum na filosofia moderna): to­
mamífero, a idéia de triângulo, a idéia de do objeto de pensamento enquanto pen­
valor, etc. samento, opondo-se assim:
C. Pré-concepção, no espírito, de uma 1? quer, enquanto fenômeno i n t e l e c ­
coisa a realizar; projeto, desígnio. Con- t u a l , ao sentimento e à ação;

“ Hamilton declara que é impossível reservar a esta palavra um uso técnico, e que
na sua época apenas podia ser usada no sentido vago em que ela abarca as represen­
tações dos sentidos, as representações da imaginação e os conceitos ou noções do
entendimento; que, aliás, é útil ter assim um termo muito geral que englobe tudo
o que, no espírito, é concebido como correlativo a um objeto. (L ó g i c a , lição VII,
§ 20.) Como as razões que ele dá para essa utilização apenas se tornaram mais fortes
desde essa altura, parece recomendável empregar a palavra sempre no sentido D, ex­
ceto no caso em que se trate especialmente da teoria platônica, caso este em que a
maiúscula evitará qualquer confusão.
O sentido B é já muito precisamente designado por c o n c e i t o *. O conceito é neste
sentido uma das espécies do gênero i d é i a . Se se pretender distinguir, com alguns ló­
gicos, os verdadeiros conceitos (rigorosos) e os pseudoconceitos (fundados apenas
sobre semelhanças empíricas), seria bom admitir que a expressão ‘idéia geral’ desig­
na uns e outros.”
Estas conclusões não foram aprovados pelos membros da Sociedade:
F . R a u h : “ É legítimo apenas chamar idéia a um ato intelectual relativo à sensa­
ção, não à própria sensação. A idéia, no sentido correto da palavra, é sempre uma
operação ou uma criação do espírito.”
J . L a c h e l i e r : “ O emprego da palavra idéia para significar não o conceito (porque
há aí um conceito), mas a própria sensação do branco e do vermelho, é i n t o l e r á v e l ,
segundo a justa observação de Kant. Não teria tido origem esta utilização numa con­
fusão entre as e l'ó r¡ de P l a t ã o e de Aristóteles e as e l '6 coXo de Epicuro? Seja como
for, penso que é necessário condenar este sentido, que tem o enorme inconveniente
de confundir atos do espírito tais como o conceito (mesmo o de uma qualidade sensí­
vel) com simples sensações passivas (as próprias qualidades sensíveis). Creio que a
palavra idéia deve ser conservada, quer no sentido de modelo concebido pelo espírito
499 ID ÉIA

2? quer, enquanto representação i n ­ se entenda as imagens das coisas materiais


d i v i d u a l , à verdade, e, de uma forma ge­ pintadas na fantasia corporal;... mas já
ral, ao modo de existência, qualquer que adverti muitas vezes que uso o nome idéia
ele seja, que este objeto possa ter inde­ para tudo o que é concebido imediata­
pendentemente do espírito que o pensa mente pelo espírito... e servi-me desta pa­
atualmente. lavra porque já era comumente aceita pe­
“Alguns dos [meus pensamentos] são los filósofos para significar as formas das
como que imagens das coisas, e é apenas concepções do entendimento divino, ain­
a estas que convém propriamente o no­ da que não se reconheça em Deus qual­
me i d é i a ; como quando me represento um quer fantasia ou imaginação corporal, e
homem, uma quimera, ou um anjo, ou não encontrei nada mais próprio.” D è ­ E

até Deus. Outras, diferentemente, pos­ Tτ 2 I E è , R e s p o s ta à 5 ? o b je ç ã o d e H o b ­


suem outras formas, como quando que­ b es.Cf. R e s p o s t a à s s e g u n d a s o b j e ç õ e s :
ro, temo, afirmo ou nego.” D è T τ 2 è , E I E
“ Não chamo pelo nome de idéias as sim­
3? M e d i t a ç ã o , § 5. “ Quando penso um ples imagens figuradas pela fantasia, pe­
homem, represento-me uma i d é i a ou i m a ­ lo contrário, não as chamo aqui* 1com es­
g e m composta de cor e figura... de Deus, te nome enquanto estão na fantasia cor­
não possuímos qualquer i m a g e m ou i d é i a ; poral, quer dizer, enquanto são descritas
é por isso que não somos proibidos de em alguma parte do cérebro, mas ape-
adorá-lo sob uma imagem, temendo con­
1. “ A q u i” , p o rq u e n o u tra s p assagen s ele a p li­
ceber Aquele que é inconcebível.” HOB-
ca e sta p a la v ra a im agens m a te ria is, p o r exem plo
B E S , 5? o b j . à s m e d i t a ç õ e s . “ Pelo nome àq u elas q u e se f o rm a m , se g u n d o ele, n a g lân d u la pi-
i d é i a , ele (Hobbes) pretende apenas que n eal. V er C ritica.

de uma obra a executar (C), quer como sinônimo literário e popular de conceito (B),
para significar a ação do espírito que c o n c e b e um objeto qualquer, que não o perce­
be ou não o imagina simplesmente, mas que o põe como v e r d a d e i r o , inteligível, ra­
cional em si, ainda que o mais das vezes ele apenas nos seja dado do exterior e empi­
ricamente. Estes dois sentidos têm, aliás, um elemento comum de grande importân­
cia: o interesse, o d e v e r s e r ou o m e r e c e r s e r deste objeto. Isso é muito claro quando
se trata de idéias ‘exemplares’ dos produtos da nossa atividade, por exemplo, uma
casa a construir; mas a existência de um ser vivo não terá também um interesse, pelo
menos para ele, e mesmo no conjunto da natureza, de que ele é um momento? Não
será um bem que ele seja, que aja, que sinta: e, por conseqüência, a sua existência
não será tão q u e r i d a , ainda que de outra maneira, quanto a da casa? Esta vontade
que, vivendo nele, e sua alma, e que, pensada em nós, é o elemento essencial da sua
id é ia .”
Podemos responder a estas críticas de dois pontos de vista diferentes:
1? De fato, o sentido D não compreende, no uso moderno, e não parece ter com­
preendido nos cartesianos, a simples sensação, a de branco e a de vermelho, enquan­
to recebida de uma forma puramente passiva pelos sentidos (se é verdade que seja
o que for possa ser recebido pelo espírito a título puramente passivo). Mas uma tal
sensação não constitui nunca o conteúdo mental imediatamente dado à nossa refle­
xão. Aquilo que nos é apresentado pelos sentidos são t o d o s concretos; são estes ou
aqueles objetos particulares (que não são necessariamente seres vivos) tais como uma
pedra, uma fonte, uma montanha. Na linguagem moderna, com efeito, aplica-se a
esses objetos o termo i d é i a enquanto são imaginados, ou mesmo enquanto são per­
cebidos, mas sempre com o fim de distinguir a percepção atual daquilo que, seja a
IDEIA SOO

nas enquanto elas informam o próprio es­ Por exemplo, M « Â Â « Ã Z á , “ Ensaio sobre
pírito que se aplica a esta parte do cére­ a história natural das idéias” , R e v u e p h i ­
bro.” R a z õ e s q u e p r o v a m a e x i s t ê n c i a d e l o s o p h i q u e , fevereiro de 1908. A palavra,
D e u s , etc., § 2. neste sentido, conserva e até acentua o seu
“ Idea is the object of thinking. Every caráter intelectualista; as “ idéias opõem-
man being conscious to himself that he se às paixões, às necessidades, aos impul­
thinks; and that which his mind is applied sos, e, numa certa medida, à vontade. Cf.
about, whilst thinking, being the ideas Id e o lo g ia .
that are there, it is past doubt that men Algumas vezes até a palavra, neste
have in their mind several ideas, such as sentido, se torna quase sinônimo do es­
are those expressed by the words whit- pírito, ou pelo menos do conjunto de pen­
ness, hardness, sweetness, thinking, mo­ samentos que aí se encontram: “ Isso nem
tion, man, elephant, army, drunkenness sequer passa pela idéia.” M Ã Ç è I Z « Z , I E E

and others.” 1 L Ã T 3 , E s s a y , livro II,


E
O e s p í r i t o d a s l e i s , V, 4.
cap. I.
“ There are properly no i d e a s , or pas­ C R ÍT IC A

sive objects, in the mind but what were O sentido B da palavra i d é i a parece de
derived from sense: but there are also be­ início ser apenas o sentido A despojado
sides these her own acts or operations: do seu caráter metafísico e, por assim di­
such are notions.” 1 2 B 2 3 Â à , § 308.
E E E
zer, enfraquecido. Mas é preciso não es­
Cf. I d é i a s * r e p r e s e n t a t i v a s . quecer que na língua grega o sentido de
E. E s p e c í f i c a m e n t e : opiniões, teorias. Ι δ έ α é muito mais amplo do que o da I d é i a
platônica. Vimos acima alguns exemplos.
1. “ A id éia é o o b je to d o p e n sam en to . T e n d o
Em A 2 « è ó Â è , é utilizada em três
I I E E

to d o hom em co nsciência em si p r ó p rio d e p en sar: e acepções: “1? F o r m a , quae sensibus per-


sen d o aq u ilo a que o seu esp írito se ap lica, q u a n d o ceptur: τ η ν ι δ έ α ν μ α κ ρ ύ ς , β ρ α χ ύ ς , etc.
pen sa, as idéias q u e aí se e n c o n tra m , n ã o h á d ú v id a
(Π ί ρ ΐ τ α ζ ώ α ί σ τ ο ρ ί α ι , VI, 35, 580 a 28)
de que os ho m en s possuem no espírito diversas idéias
tais com o aq u elas q ue são expressas p elas palavras ... 2 ° L o g i c e , idem quod species generis
b ra n c u ra , dureza, d o çu ra, p ensam ento, m ovim ento, ε ί δ ο ς : τ ο τ ώ ν Ι χ θ ύ ω ν -γ έ ν ο ς π ο \\ά ς
h o m em , elefan te, exército , em b riag u ez, e tc .” πε ρ ι έ χ ο ν ι δ ί α ς (i b i d ., II, 13, 504 b 14)...
2. “ N ã o h á p ro p ria m e n te n o esp írito idéias ou
o b jeto s passivos, sen ão aq ueles q u e pro v êm dos sen­
3? S e n s u p la to n ic o : Ο Ι τ α ς ι δ έ α ς \e y o v -

tid o s; m as ta m b é m h á, p o r o u tr o la d o , os seus p r ó ­ τ ε ς (F í s i c a , II, 2, 193 b 36)” Segundo Β ο -


prios ato s e o p eraçõ es com o as n o ç õ e s .” Ν ΙΤ Ζ , I n d e x a r is to te lic u s , Vo Ί δ «χ

que título for, constitui a realidade do objeto. “ Quando um ignorante vê uma vara
mergulhada na água, a idéia que ele faz é completamente diferente da realidade.”
Mas deve-se sublinhar que não é duvidoso que haja então um a t o do espirito (que
precisamente se revela pela sua imperfeição), e, por conseqüência em nome desse cri­
tério, tenhamos o direito de nos servir da palavra i d é i a .
2? P r a t i c a m e n t e , não seria quimérico pretender proscrever expressões como a s ­
s o c i a ç ã o d e i d é i a s , i d é i a f i x a , i d é i a - f o r ç a , o problema da o r i g e m d a s i d é i a s ? Os nu­
merosos exemplos que se encontram da utilização desta palavra nos melhores textos
filosóficos ingleses e franceses, para designar representações concretas e particula­
res, dificilmente podem ser considerados como errados. A etimologia, aliás, está de
acordo com a utilização mais ampla desta palavra: no próprio Aristóteles, como já
vimos, ela é tomada nas acepções mais diversas. Talvez a repugnância de Kant e a
sua severidade venham de uma atenção muito exclusiva dada ao sentido platônico:
este sentido era uma restrição muito especial de uma palavra muito mais compreensiva.
501 ID EIA

O sentido C é muito usual desde a Ida­ lavra i d é i a no sentido de i d é i a - i m a g e m ,


de Média: de espécie sensível, acrescenta: “ Previous
“ Hoc enim significat nomen i d e a e ut to the age of Descartes, as a philosophi­
scilicet quaedam forma intellecta ab agen­ cal term, it was employed exclusively by
te, ad cujus similitudinem exterius opus the Platonists, at least exclusively in a Pla­
producere intendit, sicut aedificator in tonic meaning.” 1 D i s c u s s i o n s , p. 70:
mente sua praeconcipit formam domus.” Philosophy of perception. Os textos aci­
S. TÃOá è á A I Z « ÇÃ , Q u a e s t i o n e s q u o -
E ma citados mostram que isso não é exato.
d l i b e t a l e s , IV, 1, 1 c, em ST ü U , T h o -
7 I Como é que se produziu o sentido C?
m a s L e x i k o n , Vo, I d e a , neste sentido, é Podemos verossimelmente explicá-lo pe­
freqüentemente oposta por ela a i d e a t u m : la representação das idéias platônicas sob
ver i b i d . , verbo I d e a r e . a forma de pensamentos de Deus, que
GÃTÂ Ç« Z è define da mesma forma:
E formariam o plano arquitetural do Uni-
“ Generatim idea est forma seu exemplar verso. Esta interpretação, dada por S Ã . I

rei, ad quod respiciens opifex efficit id A; Ãè « Ç Ã , adotada por S. TÃOá è á


I 7 E

quod animo destinirat.” 208 A. “ Idea est AI Z « ÇÃ , permanece clássica em toda a


ratio architectatrix, id est secundum quam filosofia medieval e encontra-se em Bτ ­
fit fabricado in mente artificis.” 209 B. TÃÇ , L « ζ Ç« U , etc. A comparação da
E

Opõe-na igualmente a i d e a t u m : “ I d e a t u m criação divina com a criação de uma obra


est vi ideae productum, seu ideae effec- de arte, de que o artista concebe primei­
tum.” 221 B (segue-se um texto de Alber­ ro o plano, encontra-se já em SlÇ Tτ e E

to, o Grande, apoiando esta definição). muito possivelmente favoreceu a transpo­


Mas I d e a possui também algumas vezes, sição desta palavra do espírito divino para
segundo ele, o sentido de idéia geral, o espírito humano.
construída pelo espírito a partir das coi­ O sentido D, que envolve todos os fe­
sas: “ Ideae sumuntur nonnunquam pro nômenos psicológicos representativos, é
conceptionibus, seu notionibus animi talvez um alargamento popular do senti­
communibus.” 210 A (ver mais adiante). do C. Muitos termos escolásticos pas-
H τ O« Â ÃÇ , que consagrou várias pá­
I

ginas das suas D i s c u s s õ e s à história e à crí­


1. “ A n te s d a é p o c a d e D escartes, esta p a la v ra
tica desta palavra, não fala deste sentido. e n q u a n to te rm o filo só fic o e ra u sa d a exclusivam en te
Refutando, e com razão, Brown, que atri­ pelos p latô n ico s, o u pelo m en o s exclusivam ente n u m
buía à Idade Média o emprego da pa­ se n tid o p la tô n ic o .”

Mas uma outra consideração deve ser levada em conta. Aquilo que a palavra i d é i a
representa essencialmente, na sua utilização moderna, é o pensamento individual e
atual de um objeto, oposto àquilo que o objeto é em si próprio (cf. I d e a l i d a d e , I d e a ­
l i s m o , etc.). Quando este “ em si próprio” é concebido de uma forma metafísica,
ontológica, chegamos à teoria das i d é i a s r e p r e s e n t a t i v a s * , e essa utilização explica
o favor que a palavra obteve nos séculos XVII e XVIII. As mesmas razões tornam-
na hoje suspeita, mas talvez sem razão. Porque temos ainda necessidade, no sentido
mais positivo, de opor a representação atual e individual à realidade (definida fora
de qualquer ontologia, enquanto representação normal). Daí a legitimidade do sen­
tido D, tal como foi definido mais acima: Idéia serve então para designar um objeto
de pensamento qualquer que ele seja, e n q u a n t o p e n s a d o , quer dizer, por um lado,
enquanto fenômeno intelectual (e não ação ou sentimento); por outro lado, enquan­
to representação individual (e não existência real, no sentido empírico da palavra).
( A . L .)
IDEIA 502

saram assim para a linguagem corrente idéias segundo a sua natureza e segundo
(por ex. c a t e g o r i a , e s s e n c i a l , etc.). Este a sua origem .” E ver mais adiante, no a r­
alargamento pode ter sido favorecido, nos tigo I d é i a s r e p r e s e n t a t i v a s , a opinião de
letrados, pela recordação do sentido gre­ A 2 Çτ Z Âá sobre a utilização desta palavra.
go (muito próximo algumas vezes daquele Eè ú « ÇÃè τ conserva, mas adaptando-
que a nossa palavra i m a g e m tem). “ Con- a ao uso cartesiano e à sua própria teo­
cipiendum est sensum communem fungi ria, a oposição da i d é i a e do i d e a t u m :
etiam vice sigilli ad easdem f i g u r a s vel “ Idea vera debet convenire cum suo idea-
i d e a s , a sensibus externis puras et sine cor- to.” É t i c a , I, Axioma 6. “ Per ideam in-
pore venientes in phantasia vel imagina- telligo mentis conceptum, quem mens for-
tione veluti in cera formadas.” D è T τ 2 ­ E mat propterea quod est res cogitans. Di-
I E è , R e g u la e , XII. “ Entre essas figu­ co potius conceptum quam perceptionem,
ras,... não são aquelas que se imprimem quia perceptionis nomen indicare videtur
nos órgãos dos sentidos exteriores,... mas mentem ab objecto pati; at conceptus ac-
apenas aquelas que se traçam na superfí­ tionem mentis exprimiré videtur.” I b i d . ,
cie da glândula H, onde se situa a sede II, def. III. Mas parece que, de fato, ne­
da imaginação e do senso comum que de­ le permanece qualquer coisa do uso pla­
vem ser tomadas por i d é i a s , quer dizer, tônico ou do uso escolástico da palavra.
pelas f o r m a s ou i m a g e n s que a alma ra­ Porque se a i d é i a humana convém ao seu
cional considerará imediatamente quan­ i d e a t u m , não é porque ela é a sua cópia,
do, estando unida a essa máquina, ima­ é porque ambos derivam da Natureza de
ginar ou sentir algum objeto.” I d . , T r a i - Deus, na qual a idéia é por assim dizer
t é d e l ’h o m m e , tomo XI, pp. 176-177. Es­ o tipo das coisas. De onde resulta que a
te sentido é o mesmo de Hobbes. i d é i a a d e q u a d a pode ser reconhecida em
Encontramo-lo no D i c i o n á r i o f i l o s ó f i c o si própria e intrinsecamente, independen­
de V O L T A IR E : “ O que é uma i d é i a ! É temente da sua “ convenientia cum idea-
uma i m a g e m que se desenha no meu cé­ to” que lhe é exterior, É t i c a , II, def. IV.
rebro” (ed. Beuchot, XXX, 265). B 2 3 Â à analisa e discute este senti­
E E E

Estes textos tornam bastante duvido­ do em várias passagens das suas obras, par­
sa a explicação, aliás obscura, que Des­ ticularm ente P r i n c í p i o s d o c o n h e c i m e n t o
cartes dá acerca da origem do sentido que h u m a n o , § 39, e D i á l o g o s , I e III, onde no­
ele atribui a esta palavra: ver a passagem ta que esta palavra “ é agora comumente
das R e s p o s t a s a H o b b e s citada mais aci­ usada pelos filósofos p ara designar os ob­
ma. É verossímil que Hobbes e ele tenham jetos im ediatos do entendim ento” .
tomado a palavra num sentido que já Sobre a legitimidade do sentido D, e
existia na sua época, e que tinha sido de­ sobre a melhor utilização a fazer atual­
terminado, pelo menos em parte, pelo co­ mente desta palavra, ver mais adiante as
nhecimento da etimologia grega. H τ O« Â ­ observações.
IÃÇ (D i s c u s s i o n s , p. 70) assinala a utili­ R a d . i n t .: C. Ide.
zação do termo em BZ T τ Çτ Ç , H i s t o r i a
7

a n i m a e h u m a n a e , Paris, 1636. A palavra E X P R E S S Õ E S E S P E C IA IS

idéia é aí usada no seu sentido familiar Idéia adequada, in adequada Ver es­
para designar os objetos não só do inte­ tas palavras.
lecto, mas também da memória e dos
sentidos. Idéia fixa Fenôm eno m ental que con­
Este uso é seguido por quase todos os siste n a perm anência m órbida de um es­
cartesianos com exceção de B Ã è è Z E I (ver tado de consciência predom inante, que o
as observações). Cf. particularmente L ó ­ curso n orm al das idéias e a ação d a von­
g i c a de Port-Royal, 1? parte, cap. I: “ Das tade n ão podem fazer desaparecer.
503 ID EIA

Idéias-forças Termo utilizado (primei- de.” Ver A p s i c o l o g i a d a s i d é i a s - f o r ç a s ,


ramente por A. FÃZ « Â É ) para caracteri­
E 1893; O e v o l u c i o n i s m o d a s i d é i a s - f o r ç a s ,
zar os fenômenos psíquicos, enquanto 1890; A m o r a l d a s i d é i a s - f o r ç a s , 1908.
apresentam inseparavelmente um caráter
ativo e um caráter intelectual. “ Do pon­ Idéias-imagens G. eíôuiXa; S p e c i e s , S i­

to de vista psicológico” , escreveu-nos A. Representações materiais, ima­


m u la c r a .

Fouillée, “ se a idéia é chamada força, é gens reduzidas que os objetos enviam aos
porque todo estado mental envolve ao sentidos e que causam a percepção, se­
mesmo tempo um d i s c e r n i m e n t o (germe gundo a teoria de D Oó CRITO, dos Epi-
E

da idéia) e uma p r e f e r ê n c i a (germe da curistas e de alguns escolásticos. Ver E s ­


p é c ie s .
ação).
“ Do ponto de vista fisiológico, sen­ Idéias inatas, adventícias, factícias
do toda preferência acompanhada de im­ Ver estas palavras.
pulsos num certo sentido e de movimen­
tos começados nesse sentido, toda prefe­ Idéias representativas Chama-se te o ­
rência pode ser chamada força, e como à teoria de
r ia d a s id é ia s r e p r e s e n ta tiv a s
todo discernimento é uma preferência, to­ D è Tτ 2 è , LÃT3 , etc., segundo a
E IE E

do discernimento é força, toda idéia é vir­ qual, entre o espírito que conhece e o ob­
tualidade de movimentos. jeto que é conhecido, não existe relação
“ Finalmente, do ponto de vista da fi­ imediata, mas apenas relação mediata
losofia primeira, o evolucionismo das através de um t e r t i u m q u i d , a idéia, que
idéias-forças é a doutrina que admite que é ao mesmo tempo, por um lado, estado
a consciência, com as idéias com que se ou ato de espírito, e, por outro, represen­
exprime, não é um simples reflexo ou epi­ tação do objeto conhecido.
fenómeno, mas um fator de mudança, Esta expressão serve comumente mais
uma causa real; mais do que isso, é a pró­ para criticar do que para expor a teoria
pria realidade, presente a si mesma, em questão. Parece ter nascido na polê­
modificando-se, e dirigindo-se pelo pen­ mica de A 2 Çτ Z Â á contra Mτ Â ζ 2 τ Ç - E

samento das suas modificações possíveis T7 E . Ver as observações.


e das suas melhores direções. O e v o l u c i o ­ No tratado D a s v e r d a d e i r a s e d a s f a l ­
n i s m o d a s i d é i a s - f o r ç a s opõe-se assim, s a s i d é i a s , Arnauld aprova Malebranche
por um lado, ao evolucionismo mecani- por ter tomado em primeiro lugar i d é i a ,
cista de Spencer e da escola inglesa; por no começo da P r o c u r a d a v e r d a d e , como
outro lado, ao evolucionismo anti- sinônimo de pensamento, no sentido mais
intelectualista dos partidários da contin­ amplo da palavra, e por ter identificado
gência, que admitem um devir sem leis a i d é i a de um objeto com a própria p e r ­
universais e sem universal inteligibilida­ c e p ç ã o deste objeto. Censura-lhe o fato

Sobre Idéias-forças — Fidelino de F « ; Z « 2 áà , filósofo português, professor no


E E

Instituto de Altos Estudos de Lisboa, emprega imagem-força. I n t e r p r e t a ç õ e s , pp.


14, 24-25, etc.
Sobre Idéias representativas — Esta expressão parece ter tido a sua origem nas
passagens de Descartes onde ele declara que as nossas idéias “ representam” mais
ou menos perfeitamente “ padrões” , “ originais” de que podem destoar, mas que a
sua perfeição consiste em reproduzir fielmente.
Ver, por exemplo, M e d i t a ç õ e s , III, 9-10 e 13: “ Entre essas idéias que estão em
mim, além daquela que me representa a mim próprio... há uma outra que me repre­
senta um Deus, outras que me representam coisas corporais e inanimadas, etc.”
IDEIAL 504

de ter em seguida mudado o sentido des­ acrescenta que elas só são uma ou outra
te termo na segunda parte do livro III, coisa segundo o espírito de quem as jul­
que tem por título: “ Da natureza das ga. A r t e d e p e n s a r , cap. X.
idéias” , e nos E s c l a r e c i m e n t o s . “ Já não
são os pensamentos da alma e as percep­ IDÊNTICO D. I d e n t i s c h ; E. I d é n t i ­
ções dos objetos a que ele chama i d é i a s F. I d e n t i q u e · , I. I d ê n t i c o .
c a !·,

mas certos s e r e s r e p r e s e n t a t i v o s dos ob­ De I d e m , o mesmo. Um dos concei­


jetos diferentes dessas percepções, que ele tos fundamentais do pensamento, impos­
diz... serem necessárias para perceber os sível, por conseqüência, de definir.
Este termo aplica-se:
objetos materiais. Eu afirmo... que as
A. Àquilo que é único, ainda que per­
idéias tomadas neste último sentido são
cebido, concebido ou nomeado de várias
verdadeiras quimeras.” Cap. III, pp.
maneiras diferentes. “ A Estrela da Ma­
38-39 da ed. J. Simón.
nhã = a Estrela da Tarde.” “ O lugar
M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 , na sua R e s p o s t a ,
E
geométrico dos pontos equidistantes de
serve-se várias vezes da expressão: “ As
um ponto e de uma reta = à seção côni­
idéias são representativas.”
ca paralela a uma geratriz.” “ O Lago de
IDEIAL F. I d é e l . Léman = o lago de Genebra.”
Neologismo proposto para designar B. A um indivíduo (ou a um ser assi­
sem equívoco o sentido C da palavra milável sob este ponto de vista a um in­
I d e a l , adjetivo. Ver as observações sobre divíduo), quando se diz que ele é “ o mes­
esta palavra, no início. mo” ou “ idêntico a si próprio” nos di­
ferentes momentos da sua existência, não
IDÊNTICA (Proposição) ou, por obstante as mudanças por vezes conside­
abreviação, IDÊNTICA Aquela cujo su­ ráveis que podem nele acontecer.
jeito e predicado representam um mesmo C. A dois ou vários objetos que, sen­
ser ou um mesmo conceito (quer através do numericamente distintos, apresentam
do mesmo termo, quer através de termos exatamente as mesmas propriedades ou
sinônimos). “ Esta demonstração... mos­ qualidades. “ Eadem sunt quae sibi invi-
tra ainda a utilização das idênticas afir­ cem subsitui possunt salva veritate.” Es­
mativas, que muitos consideram frívo­ ta definição opõe-se à de igualdade: ca­
las...” L « ζ Ç« U , N o v o s e n s a i o s , IV, II, 1,
E racterística das coisas que podem ser subs­
Cf. T a u t o l o g i a . tituídas uma pela outra s a l v a m a g n i t u d i -
C Ã Çá « Â Â τ T opõe as “ Proposições n e. LE « ζ Ç« U , S p e c im e n c a lc u li u n iv e r s a -
idênticas” às “ Proposições instrutivas” , lis , Gerhardt, 219 ss.
quase no mesmo sentido em que Kant fala Ver I d e n t i d a d e , Crítica.
de proposições analíticas e sintéticas, mas R a d . i n t . : Ident.

Sobre Idêntico — Poder-se-ia, parece-me, definir diretamente a identidade: é idên­


tico aquilo que, parecendo múltiplo ou aparecendo sob diversos aspectos, é na reali­
dade, e no seu fundo, uno. (/. L a c h e l i e r ) Não haverá nesta definição uma dupla difi­
culdade lógica? A cópula é , por um lado, supõe ela própria a noção de identidade;
e a palavra u n o , por outro lado, parece ser neste caso apenas um sinônimo do termo
a definir. Os lógicos modernos (Peano, Russell, Couturat) esforçaram-se, pelo con­
trário, por definir a unidade e a pluralidade numéricas através das noções mais fun­
damentais do mesmo e do outro. ( A . L . )
O idêntico não se define pela negação da diferença assim como a diferença não
se define pela negação do idêntico; há aí dois conceitos que se implicam e que são
505 ID EN TID AD E

IDENTIDADE D. I d e n t i t ä t · , E. I d e n ­ pelo nome de i d e n t i d a d e n u m é r i c a . Para


t i t y , F. I d e n t i t é ; I. I d e n t i t à . o sentido B diz-se também i d e n t i d a d e p e s ­
A. Característica daquilo que é idên­ s o a l , i d e n t i d a d e j u r í d i c a . Ver mais adian­
tico, no sentido A. “ A identidade da ba­ te a Crítica.
talha de Königgraetz e da batalha de Sa- C. Característica de dois objetos de
dowa.” pensamento, distintos no tempo e no es­
B. Característica de um indivíduo, ou paço, mas que apresentariam as mesmas
de um ser assimilável sob este ponto de vis­ qualidades. Este sentido é designado co­
ta a um indivíduo acerca de quem se diz nmínente sob o nome de i d e n t i d a d e q u a ­
que é idêntico no sentido B, ou que é o l i t a t i v a ou e s p e c í f i c a .
“ mesmo” nos diferentes momentos da Notar-se-á que se trata aqui de dois ob­
sua existência: “ A identidade do eu.” “ O jetos de pensamento em geral, não neces­
reconhecimento da identidade de um in­ sariamente de dois todos concretos. Para
divíduo condenado... será feito pelo Tri­ estes, com efeito, parece impossível que
bunal.” C o d e d ’i n s t . c r i m i n e l l e , art. 518. satisfaçam esta condição sem serem igual­
Estes dois primeiros sentidos são de­ mente idênticos no sentido A. Ver mais
signados indistintamente, de ordinário,*123 adiante I d e n t i d a d e d o s i n d i s c e r n í v e i s .

a definição fundamental do pensamento. Contudo, deve-se notar que o idêntico é


privilegiado em relação à diferença: a diferença pura é impensável. (L . B o i s s e ) Tal­
vez se devesse dizer o mesmo da identidade pura, apesar do v á y a i s v o i j o e u s v ó i¡ c n s .
Mas, mesmo assim, o privilégio da identidade não me parece menos realíssimo: con­
siste em que a diferença é sempre imposta ao espírito como um problema a resolver,
enquanto que a identidade, pelo contrário, lhe dá satisfação, e resolve o problema.
O m o v i m e n t o da inteligência faz-se do outro para o mesmo; e, por conseguinte, pode-se
dizer que este último, indicando o sentido do esforço intelectual, exprime mais es­
sencialmente a natureza do espírito. { A . L . )
I d ê n t i c o , além das diversas acepções assinaladas, comporta, parece-me, diversas
distinções complementares:
1. Do ponto de vista intelectual, o conhecimento é dito idêntico ao seu objeto
pelos escolásticos e pelos metafísicos que admitem que “ I n t e l l e c t u s i n a c t u e t i n t e l -
l e c t u m i n a c t u i d e m s u m ” (S. T ÃOá è á AI Z « ÇÃ , O p u s c u l u m II, cap. 83). I d e m n e c
E

u n u m s u n t . É a possibilidade, é a própria inteligibilidade desta identidade na hetero­


geneidade que o pensamento crítico põe em questão.
2. De um ponto de vista afetivo e ético, os sentimentos e as vontades são idênti­
cos quando se unem, permanecendo distintos e desfrutando até desta reduplicação
na unidade. U n u m n e c i d e m s u n t .
3. De um ponto de vista psicológico e metafísico não existem seres idênticos uns
aos outros, mas um ser permanece igual a si próprio na medida em que, recolhendo
perpetuamente o seu passado no seu presente e resumindo as suas próprias modifica­
ções, permanece solidário com o todo da sua tradição e constitui o seu f i e r i múltiplo
e heterogêneo num e s s e ; u n u m e t i d e m e s t . (M . B l o n d e l )
Sobre Identidade — Artigo refundido segundo as observações de V . E g g e r e J .
acrescido de um texto comunicado por M . C l u n e t e com uma indicação
L a c h e lie r ;
devida a R . E u c k e n .
A i d e n t i d a d e q u a l i t a t i v a , se o princípio dos indescerníveis é verdadeiro, é um i d e a l
(no sentido A, 2?, desta palavra). Ora, este princípio, que Kant fundava sobre consi-
ID EN TID A D E 506

D. Relação, no sentido lógico, quei d e m s e c u n d u m q u i d oposta a i d e m s i m ­


m antêm entre si dois term os idênticos; p l i c i t e r ou t o t a l i t e r , etc. Vo I d e m , 362,
fó rm ula que enuncia esta relação. Cha- 363. GÃTÂ E Ç«Z è fornece um a táb u a do
ma-se, em particular, i d e n t i d a d e em m a­ m esm o gênero para a palavra I d ê n t i c a .
tem áticas a um a igualdade algébrica que É de notar que a expressão i d e n t i d a ­
subsiste sejam quais forem os valores atri­ d e n u m é r i c a , compreendendo os dois sen­
buídos às letras que a constituem , por
tidos A e B, é muito equívoca. Seria útil
exem plo (a + b ) 2 = a 2 + b 2 + 2 a b . N este
procurar uma designação melhor para o
sentido, a palavra opõe-se a e q u a ç ã o
(igualdade que apenas subsiste para cer­ segundo destes sentidos: “ I d e m n u m e r o ,
tos valores das incógnitas e que serve, por ou o mesmo indivíduo” , LE « ζ Ç« U , N o v o s
conseguinte, p a ra as determ inar). e n s a i o s , II, cap. XXVII, § 4. LOCKE, no
capítulo correspondente nos E n s a i o s , e
NÔTAS L « ζ Ç« U , nesse mesmo capítulo, servem-
E

1. A identidade assinala-se com o si­ se também, para designar esta idéia, de


nal = . M as, no uso corrente, servimo-nos expressões i d e n t i d a d e i n d i v i d u a l e i d e n ­
freqüentem ente do sinal = , que se pres­ t i d a d e p e s s o a l . O último distingue além
ta ao equívoco. Seria p o rtan to m elhor disso a i d e n t i d a d e f í s i c a e r e a l (que nos
evitá-lo. é comum com os animais e funda a i m -
2, A distinção entre a identidade n u ­
p e r e c i b i l i d a d e da sua alma) da i d e n t i d a ­
m é r i c a e a identidade e s p e c í f i c a ou q u a ­
d e m o r a l , fundada sobre a “ consciosida-
l i t a t i v a vem de A ristóteles por interm é­
dio da escolástica. O T h o m a s L e x i k o n de
de” ou o sentimento do eu, que nos tor­
ST7 I U distingue, segundo S. TÃOá è áE na capazes de sentir os castigos e as re­
A I Z « ÇÃ , 27 espécies de identidade, sen­ compensas, e que funda a imortalidade
do as principais: I d e m d e f i n i t i o n e , i d e m da alma humana. ( N o v o s e n s a i o s , II, cap.
g e n e r e , id e m m a te r ia , id e m s p e c ie , id e m XXVII, § 9.) Ver igualmente Kτ Ç , R a ­ I

n u m e r o ', id e m secu n d u m a n a lo g ia m , z ã o p u r a , Anfibolia dos conceitos da re­


oposta a id e m s e c u n d u m u n iv o c a tio n e m ; flexão, § 1.

derações metafísicas, pode ser considerado como uma lei da experiência. As “ duas
gotas de água” da locução popular só são idênticas se se não lhes exigir nada mais
do que serem gotas d’água. Todos os objetos da nossa experiência estão no mesmo
caso, por vezes idênticos por uma experiência rápida e superficial, quer dizer, idênti­
cos em aparência, idênticos porque podem receber a mesma denominação, mas ape­
nas semelhantes se os considerarmos mais atentamente. A identidade qualitativa é,
pois, uma concepção do espírito simplesmente sugerida pela experiência.
Ter-se-á o direito de to m ar com o exemplo de identidade qualitativa, com o foi
feito na prim eira redação deste artigo “ a identidade de duas das unidades que com ­
põem um m esm o núm ero cardinal” ?
Essas duas unidades são iguais: não são idênticas. A unidade aritmética não dei­
xa de ter certo parentesco com a identidade qualitativa, creio eu, mas distingue-se
dela. Dois idênticos, sendo indiscerníveis, formam apenas um. Ora, a unidade arit­
mética é de tal forma que 1 e 1 não é 1, mas 2. Creio que esta unidade é filha psicoló­
gica da mesmidade1. Mas a alteridade que se opõe a esta mesmidade possui ela pró-

1. A p a la v ra m esm idade ( m êm elé ) é d e VÃÂ I τ « 2 E . “ P o d er-se-ia dizer em fra n c ês m esm id ad e (m êm e-


té )” , escreve ele n o D ict. p h ilo so p h iq u e , n o verb ete Identidade.
507 ID EN TID AD E

Tínhamos de início proposto neste serem idênticos também no sentido A,


sentido a expressão i d e n t i d a d e t e m p o r a l , quer dizer, sem se confundirem rigorosa­
que não preconcebe nada em relação à in­ mente. Equivale, pois, à tese segundo a
dividualidade ou à personalidade do ser qual não existe na natureza nada indis-
em questão, mas, devido às objeções de cemível, ou idêntico no sentido C. Ver I n -
uma outra ordem que levanta este termo, d is c e r n ív e l.
arriscamos propor o termo “ identidade
jurídica” que pode ser dito das coisas e “ Identidade parcial” Lτ 2 ÃO« ; Z «  -
das pessoas; a expressão de Leibniz: 2 E (D i s c u r s o s o b r e a i d e n t i d a d e n o r a c i o ­
“ i d e n t i d a d e m o r a l ” parece também mui­
c ín io ) designa assim a identidade, no
to recomendável, no caso particular em sentido C, de uma parte dos elementos
que se trate de uma pessoa. que compõem um todo concreto, quer
R a d . i n t Identes.
material, quer psicológico. Esta expres­
“ Identidade dos indiscerníveis” P rin ­ são foi retomada por V. E; ; 2 , “ En­ E

cípio de L « ζ Ç« U segundo o qual dois ob­


E saio psicológico sobre o juízo” , R e v u e
jetos reais não podem ser i n d i s c e r n í v e i s , p h i l o s o p h i q u e , julho-agosto 1893, outu­
quer dizer, idênticos no sentido C, sem bro 1894.

pria uma mesmidade; uma mesmidade e uma mesmidade são duas mesmidades: é
que não se trata da mesma mesmidade. A unidade aritmética é constituída por esta
associação do mesmo e do outro que permite e exige a pluralidade da unidade. Pode-
se, aliás, pensar a mesmidade das mesmidades como tais: é a idéia abstrata e filosófi­
ca da unidade; mas esta idéia não tem qualquer utilidade na matemática. Considere­
mos a mesmidade das mesmidades: 1 e 1 é 1; a alteridade das mesmidades: l e i são
2. De onde concluo que a igualdade das unidades é uma outra coisa que não a identi­
dade qualitativa. ( V . E g g e r )
É incontestável que do ponto de vista da lógica formal a + a = a e a x a = a ; estas
fórmulas são clássicas. Não contesto também que para constituir um “ número con­
creto” sejam necessárias unidades concretas, por exemplo, seis bilhetes materiais que,
por conseguinte, não serão rigorosamente indiscerníveis ou qualitativamente idênti­
cos. Mas, por outro lado, é abstraindo de tudo o que os distingue qualitativamente
que é possível a d i c i o n á - l o s , e designá-los por um só e único nome. “ Não se adicio­
nam feixes de lenha e garrafas” tinha por hábito dizer um excelente professor de
matemática. Se, pois, passarmos ao limite, e considerarmos o “ número abstrato” ,
ele será formado de unidades ideais (no sentido A), rigorosamente intermutáveis, in­
discerníveis e múltiplas apenas na medida em que são cronologicamente ou espacial­
mente exteriores uma à outra, como são um relativamente ao outro cada um dos
cem decímetros quadrados que formam um metro quadrado. É neste sentido que
eu as chamo “ qualitativamente idênticas” .
Parece-me até que seria legítimo aceitar, ao lado do sentido rigoroso C, que só
é aplicável num limite ideal, o sentido pragmático da palavra i d ê n t i c o e i d e n t i d a d e ,
muito freqüente na linguagem corrente: duas coisas dizem-se i d ê n t i c a s , neste senti­
do, quando não diferem em nada r e l a t i v a m e n t e a o s e f e i t o s q u e s e e s p e r a m , às utili­
zações que delas se podem fazer: por exemplo, dois exemplares “ idênticos” de um
mesmo livro. ( A . L . )
ID EN TID A D E 508

Identidade (Princípio de) Enuncia-se context, can m ake truth falsehood. If that
comumente sob a seguinte form a: “ Aqui­ which I say is really tru e, then in stands
lo que é, é; aquilo que não é, não é .” Em for ever.” 1 B2 τ á E à , L o g ic , p. 133. Cf.
notação, a = a; o que não é apenas ver­ S« ; ç τ 2 I , L o g ik , I, 104-118; J. N. Kτ à -
dadeiro p a ra a igualdade m atem ática, NES, F orm al L o g ic, 451-454, e ver no
m as que quer dizer a D a, podendo a le­ corpo do Vocabulário os artigos Leis* do
tra a representar aqui quer um conceito, espírito, Princípios* lógicos, R azão. 3? fi­
quer um a proposição. É preciso efetiva­ nalm ente, E. Mτ à E 2 è ÃÇ e, na sua estei­
mente distingui-lo do princípio de contra­ ra, alguns autores contemporâneos enten­
dição, segundo o qual o contrário do ver­ dem por isso a asserção de que aquilo que
dadeiro é falso; e do princípio do tercei­ existe verdadeiramente permanece sem al­
ro excluído, segundo o qual, de duas pro­ teração. Mas como este princípio seria en­
posições contraditó rias, um a é verdadei­ tão falso (a m enos que fosse to m ad o co­
ra e a o u tra é falsa (aa ’ = τ ; (a ’) ’ = a, ou m o um a definição decisória acerca de
ainda s U s ' = v ). “ aquilo que existe verdadeiram ente” ), é
F ora do seu uso puram ente form al, o preciso, se se quiser m anter-lhe um valor,
sentido do p rin cíp io d e identidade não é transform á-lo, como ele o faz, aliás, num
sempre entendido da m esm a form a. P o ­
ideal p ara o qual a razão tende sem n un­
de significar: 1? que os conceitos lógicos
ca poder realizá-lo integralm ente. Ver E.
devem ser determ inados, quer dizer, fi­
LE 2 ÃZ 7 , “A è duas faces do princípio de
xos; dito de o u tra fo rm a, na p rática, que
um mesmo term o deve sempre, no decur­
so de um raciocínio, representar um mes­ 1. “ A q u ilo q u e u m a vez é verd ad eiro é se m pre
m o conceito; 2? que o verdadeiro e o fal­ v erd ad eiro , u m a vez falso , é se m pre falso . A verda*
so são intem porais, não variáveis: “ On- d e n à o é a p e n a s in d e p e n d e n te de m im , m as tam b ém
ce tru e, always true; once false, always n ã o se a p ó ia so b re n a d a d e v ariáv el o u de fo rtu ito .
N e n h u m a m u d a n ç a n o tem p o o u n o esp aço , n e n h u ­
false. T ru th is n ot only independem o f
m a d ife re n ç a possível de f a to o u d e co n tex to p o d e
me, bu t it does no t depend up o n change to r n a r fa lsa u m a v erd ad e. S e a q u ilo q u e eu d ig o é
and chance. N o alteratio n in space o r ti­ realm en te verdadeiro, assim perm anecerá eternam en­
me, no possible difference o f any event or ,I* t e .”

Sobre P rincípio de identidade — O sentido físico, dado p or E. ME à E 2 è ÃÇ a esta


expressão, é ra ro; e na sua p ró p ria o b ra só o encontram os freqüentem ente no seu
prim eiro livro, I d e n tité e t realité ; p. ex., cap. I, “ É fácil estabelecer a ligação entre
a noção do racional e a da persistência através do tem po. O princípio de identidade
é a verdadeira essência d a lógica, o verdadeiro m oinho onde o hom em verte o seu
pensam ento” (p. 33). “ O princípio da causalidade é apenas o princípio d a iden tida­
de aplicado ao tem p o .” Cf. pp. 365, 370, 378-390, etc. A explicação d a s ciências
faz dela pouco uso e tom a-a num sentido bem m ais restrito.
R eporta-o a Sú « 2 , e dá com o referência P en sam en to e realidade, 1876. (Id en tité
et realité.) É necessário todavia sublinhar que em Spir o princípio de identidade não
tem com a realidade a m esm a relação que em M eyerson. E nuncia-o desta form a:
“ O conceito do real n ão difere do conceito do idêntico a si p ró p rio .” Ib id ., livro
II, cap. II, § 2. M as conclui daí que só o “ inco ndicionad o” ou “ abso lu to ” é real,
que o m undo sensível é um a aparência; e se ele adm ite que “ o princípio de causalida­
de é daí deduzido” , é no sentido de que no m undo fenom enal este absoluto se expri­
me exclusivamente nas leis , as únicas idênticas a si próprias. I b id . , 1? parte, livro
III, cap. I, § 4.
509 ID E O L O G IA

identidade” , Bulletin d e la S o ciété P h i­ um a classe de fatos com o sendo assim i­


losoph iqu e d e l ’O uest, ju lh o de 1939. lável a u m a outra: “ A identificação da
luz e da o n d a eletrom agnética.”
“ Filosofia da identidade” D. Identi- B. A to pelo qual um ser se torn a idên­
tatsphilosophie, Identitàtssystem . D outri­ tico a um o u tro , ou pelo qual dois seres
na filosófica de ST7 E Â Â « Ç; fundada na se to rn am idênticos (em pensam ento ou
identidade original da natureza e do es­ de fato , totalm ente ou secundum quid).
pírito, do ideal e do real. A expressão re­ Em particular, processo psicológico pelo
m onta ao pró p rio S ch ellin g :... “ Esta fi­ qual um indivíduo A tran sp o rta para um
losofia da natureza que o pró p rio Schel­ outro, B, de um a m aneira contínua e mais
ling cham ava a ciência da N ão-diferença ou m enos durável, os sentim entos que
(Indifferenz), da Id e n tid a d e ...” Mτ I ­ norm alm ente se experim enta para consi­
I E 2 , Schelling, cap. XX, p. 109. Ela é in­
go m esm o, ao p onto de confundir aqui­
teiram ente clássica entre os críticos e his­ lo que acontece a B com aquilo que acon­
toriadores (ver, p o r exemplo, ST7 Ãú E ­ tece consigo próprio e mesmo algumas ve­
Ç7 τ Z E 2 , G eschichte der Lehre von Idea- zes chegando a reagir de acordo com es­
len u n d R ealen, § 5). ta confusão.
IDEN TIFICA ÇÃ O D. Identiflkation; NOTA
E. Identification , Identifying·, F. Id en ti­
A palavra não parece ter sido nunca
fication-, I. Identificazion e.
usada no sentido etim ológico rigoroso:
A. A ção de identificar, quer dizer, de
ação de to rn a r idêntico, e mesmo o ver­
reconhecer com o idêntico, quer num eri­ bo “ identificar” só m uito raram ente
cam ente, por exemplo, “ a identificação
apresenta esta acepção.
de um criminoso” , quer em natureza, por
exemplo, qu ando se reconhece um obje­ ID E O L O G IA D. Idéologie·, E. Id eó ­
to com o pertencente a um a certa classe lo g y, F. Idéologie-, I. Ideologia.
(como sendo um a chave, um chapéu, um A . P alavra criada p o r DE è I Z I I áE
alimento), ou ainda quando se reconhece T2 τ Tà . Ver a sua M em ória sobre a fa cu l-

Sobre Ideologia — Artigo completado segundo docum entos enviados por F. M en-
tré e G. B eaulavon. O sentido C foi introduzido a p artir de um a observação pene­
trante de M . W eidlé.
O sentido D foi acrescentado na 6? edição segundo as indicações de M arsal, que
nos com unicou os seguintes textos: “ A ideologia é um processo que o d ito pensador
cum pre com consciência, m as com um a consciência falseada. As forças m otrizes que
o movem são-lhe desconhecidas, senão tal não seria de m odo algum um processo
ideológico. A ssim , im agina forças m otrizes falsas ou aparentes. Pelo fato de ser um
processo intelectual, descreve o seu conteúdo, assim com o a fo rm a do pensam ento
puro, quer do seu pró prio pensam ento, quer os seus predecessores; trabalha só com
a docum entação intelectual, que aceita, sem a enxergar, com o algo que em ana do
pensam ento, e sem a estudar num processo mais longínquo e independente do pen­
sam ento.” E Ç ; Â è , C arta a M ehring, 14 de julho de 1893. “ ... um a ideologia, quer
E

dizer, um co n junto de idéias que vivem independentem ente e unicam ente subm eti­
das às suas próprias leis. O fa to de as condições de existência m aterial dos hom ens,
no cérebro dos quais prossegue este processo ideológico, determ inarem em últim a
análise o curso desse processo é inteiram ente ignorado p o r eles, senão term inaria to ­
da ideologia.” E Ç ; Â è , L u d w ig Feuerbach. Cf. o títu lo e o conteúdo da obra d e
E

M arx, D eu tsche ideologie.


ID E O LO G ICO 510

d a d e d e p en sa r (M emorias da segunda seu pensam ento. M uito usual neste sen­


classe do Instituto, 1? volume, 1796-1798) tido no m arxism o.
e o seu P ro je to d e elem en tos d e id eo lo ­ Ver as observações.
gia (1801): ciência que tem por objeto o R a d . in t.: A . Ideologi.
estudo das idéias (no sentido geral de fa­
ID E O LÓ G IC O D. Ideologisch; E.
tos de consciência) das suas característi­
Ideological; F. Idéologique', I. Ideológico.
cas, das suas leis, d a sua relação com os
signos que as representam e sobretudo da A . Q ue pertence à ideologia.
sua origem. B. E specialm en te: “ A explicação
E sta palavra foi m uito usada por ideológica” , em sociologia, é aquela que
SI E Çá7 τ Â , que a tom ou no sentido ló­ põe em causa idéias e não fatos materiais.
A expressão vem de K. Mτ 2 7 , que cha­
gico: “ U m tratado de Ideologia é um a in­
solência: acredita o senhor, pois, que não m ava ideológico (por oposição aos fatos
econômicos) a tu d o o que fosse repre­
raciocino bem ?” H istó ria d a p in tu ra na
Itália, III. D a m esm a fo rm a p a ra Tτ « ÇE
sentação ou crença, sistemas filosóficos
(que dava grande im portân cia a Sten­ ou religiosos. Ver Ideologia, C , e as o b ­
dhal). Ver nom eadam ente Correspondan­ servações.
R ad. int.: Ideologi.
ce, tom o IV, 18 de ju n h o de 1887.
Os Ideólogos são propriam ente o gru­ IDEOM OTRIZ (Força) E. M otor-Idea
po filosófico e político cujos principais re­ (Bτ « Ç ). Ver Idéias*-forças.
presentantes eram D estutt de Tracy, C a­
banis, Volney, G arat, D aunou. ID IO L O G IA Ver S u plem en to.
D estutt de Tracy dizia Ideologista; a
ID IO S SIN C RA SIA G . ’lò io a v y x q a -
palavra Ideólogo (Idéologue, em francês)
aíoc, D. Idiosyncrasie-, E . Idiosyncrasy,
parece ter sido criada p ara denegrir (Nτ -
Idiocrasy, F. Idiosyncrasie', I. Idiosincra­
ú ÃÂ E ã Ã , C7 τ I E τ Z ζ 2 «τ Çá ). Ver P « Tτ - sia, Idiocrasia.
âE I , L es Idéologues, l í parte.
A . Sentido etimológico: o conjunto
B. N o sentido pejorativ o, análise ou dos elementos cuja com binação constitui
discussões vazias de idéias ab stratas, que o tem peram ento e o caráter individuais.
não correspondem aos fatos reais. A p a ­ B. U m a particularidade psicológica
lavra Ideólogo toma-se tam bém neste sen­
saliente num indivíduo.
tido; ver mais acim a. R ad. int.: A . Idiosinkrasi; B. Idiok-
C. D outrina que inspira ou parece ins­ rasi.
pirar um governo ou um partido.
D. Pensam ento teórico que crê desen­ ID IO TA D . Blõdsinning; E. Idiot', F.
volver-se abstratam ente sobre os seus pró­ Idiot; I. Idiota.
prios dados, m as que é, n a realidade, a Do ponto de vista psicológico, o idio­
expressão de fatos sociais, particularm en­ ta, assim como o im becil, é essencialmen­
te de fatos econômicos, de que aquele que te um fraco de espírito. M as form am dois
a constrói não tem consciência, ou, pelo tipos de caracteres m uito diferentes: o
m enos, não percebe que determ inam o idiota é, em geral, lento, em brutecido, de

Sobre Ideom otriz (Força) — Segundo W . J τ O è ( T extbook o f P sych ology, 423),


E

Carpenter teria sido o prim eiro a em pregar a expressão id eo -m o to r action, opondo-a


à vo lition al action (M ental p h y sio l ., II, cap. X IV , p. 557). Esta o b ra data de 1847:
mas é preciso sublinhar que, senão a palavra, pelo m enos a idéia encontra-se n itid a­
m ente na P sicologia racional de R ÇÃ Z â « 2
E E ( l í edição, 1859), que ele pró prio liga
a um a nota de Cabanis. Ver Vertigem* m ental.
511 “ÍD O L O S ”

sentido obtuso, desprovido de atenção, trário, à dem ência.” R epertório geral do


sem imaginação, sem iniciativa, sedentá­ direito francês, por FZ Uτ T , HE 2 O Ç ,
rio, freqüentem ente tímido, pouco susce­ Cτ 2 ú E ÇI « E 2 , etc., Va A lien ado, n? 613,
tível, mas obediente e regular; do ponto de “ IDIOTISM O M O RA L” Distinguido
vista dos sentimentos, capaz de se relacio­ por GZ à τ Z da Loucura m oral * propria­
nar, capaz de reconhecimento e de pieda­ mente dita CEducação e hereditariedade,
de, mais acessível à doçura do que ao te­ cap. II, § 4). Esta últim a consiste apenas
m or; o im becil tem a im aginação desorde­ em impulsos anorm ais, análogos à dipso­
nada, as associações rápidas e incoerentes, m anía, cleptomanía, etc.; o idiotism o m o ­
a atenção desperta, mas instável; apesar da ral seria a ausencia to tal ou a atrofia dos
sua incapacidade para conseguir ou mes­ impulsos altruístas, sociais, estéticos. Pare­
m o com pletar aquilo que faz, conserva ce ser idêntico à cegueira m oral de R« ζ ÃI .
um a elevada opinião acerca de si mesmo; Rad. in t .: Idiot.
gosta de reclam ar e de reivindicar os seus “ ÍDO LOS” L. Idolo (Bτ TÃÇ ).
direitos; é rebelde ao trabalho, em preen­ Bτ TÃÇ cham a assim às classes de er­
dendo coisas inúteis e maléficas, impulsi­ ros mais gerais e mais profundam ente in­
vo, indisciplinado, vagabundo; gosta de se veteradas, co n tra a resistência ou a in­
m ostrar desobediente ou grosseiro. A sua fluência dos quais é necessário precaver­
sugestionabilidade é grande, mas especia­ se antecipadam ente se se pretende levar
lizada, é pouco sensível aos bons tratos, a cabo a o b ra de instauração das ciências
mais à am eaça e sobretudo à lisonja. (N ovu m O rganum , I, 38. D e D ign itate,
O idiota distingue-se, por outro lado, livro V, cap. IV, § 8-10).
do imbecil porque apresenta geralmente, “ Im ponuntur autem intellectui idola,
do ponto de vista físico, enfermidades mui­ aut per naturam ipsam generis hum ani ge-
to raras neste últim o: cegueira, surdez, es­ neralem, au t per naturam cujusque indi-
trabism o, gaguês, hemiplegia, contrações, vidualem, aut per verba, sive naturam
gatism o, bócio, etc. A m icrocefalia communicativam. Prim um genus idola tri­
encontra-se quer num, quer no outro. bus, secundum idola specus, tertium idola
De um m odo geral, pode-se dizer que f o r i vocare consuevimus. Est et quartum
o idiota é essencialmente incompleto, limi­ genus, quod idola theatri appellamus, at-
tado, “ extra-social’’, e que o imbecil é de­ que superinductum est a pravis theoriis si­
senvolvido, mas de um a form a anorm al e ve philosophiis et pervesis legibus demons-
num sentido não benéfico: é “ anti-social.” trationum .” D e D ignitate, V, IV, 8.
Resumo de SÃÂ Â « E 2 , Psicologia d o idiota Seguem-se exemplos de alguns deles:
e d o im becil, 1891. Idola tribus têm por causa a tendên­
D o ponto de vista legal: “ A idiotia é cia para levar em conta apenas casos fa­
distinta da loucura, a qual se liga, pelo con­ voráveis; a tendência para crer o m undo

Sobre “ Idiotism o m o ral” — R. Eucken lem brou que a etim ologia desta palavra
é lÔLÚrtjs (simples particular), e nota que não seria interessante saber com o este ter­
m o pôde to m ar o sentido m oderno. N ão encontram os qualquer docum ento acerca
disto. É preciso, aliás, não esquecer que, por princípio, não fazem os aqui a história
dos term os senão na m edida em que essa histó ria é útil p a ra a determ inação e a críti­
ca do seu sentido atual, o que não parece ser o caso do term o em questão. (A . L .)

Sobre “ íd o lo s” — P a ra B τ T Ã Ç , Ãè ídolos opõ em -se às idéias, com o aquilo que


im aginam os àquilo que as coisas realm ente são, p ara o espírito divino. U tilizando
idola em lugar de fa lsa aparência, Bacon tem sem dúvida a intenção de trazer ao
espírito o sentido de “ falso-deus” . H obbes conservou esta utilização; para ele tam ­
bém um íd o lo é um a falsa idéia. (C. C. J. W ebb)
ID O N EÍSM O 512

m ais simples e m ais un iform e do que na ID O N E ÍSM O Ver S uplem en to.


realidade é; no N o vu m O rganum , a sub­
jetividade das sensações: “ Omnes percep- “ IG N O R A B IM U S ” Fórm ula pela
tiones su nt ex analogia hom inis, non ex qual E . D Z ζ Ã « è - R à OÃ ÇáEresume as
conclusões do seu opúsculo: Ü ber d ie
analogia universi.” (I, 41.)
Grenzen d es N a tu rerk en n en s 1 (1872).
Idola specus (do nom e da Caverna de
P la tão , R epú blica, 1, VIH; mas num Ele pretende opor dessa m aneira, ao “ ig­
noram us ■ ” do cientista, sempre provisó­
sentido m ais especialm ente individualis­
ta). N ão há qualquer exemplo no D e Dig- rio no que se refere aos problem as de o r­
n itate. N o N o vu m Organum : erros que
dem m aterial (d ie R ä th sel d er K ö rp er­
w elt) 1
2, a ignorância definitiva do m eta­
têm com o causa o tem peram en to , a edu­
físico acerca da natureza da m atéria e da
cação, o m eio, o espírito de análise ou o
força, e acerca d a sua relação com o pen­
de analogia, a autoridade, o estado de re­
sam ento. Esta palavra, que permaneceu
pouso ou de agitação prévia dos senti­
usual, tornou-se a divisa do agnosticismo*.
m entos (I, 42; I, 53-58).
Id o la f o r i, que têm com o causa a ori­ IG N O R Â N C IA D. Unwissenheit-, E.
gem popular d a linguagem e o caráter su­ Ignorance ; F. Ignorance·, I. Ignoranza.
perficial das divisões sobre as quais está A usência de conhecim ento* (particu­
fundada a falta de palavras p ara aquilo larm ente no sentido A desta palavra). É
que ainda não foi estudado; a existência usual op o r ignorância, que não afirm a
de palavras que dão um a aparência de nada, ao erro* que afirm a sem razão.
realidade a quim eras, ou idéias confusas Ignorância do assunto Ver Elenchus,
e contraditórias; a indeterm inação e os sofism a Ign oratio elenchi.
equívocos do sentido dos term os (N o v .
O rg., I, 44, 59-60). IG U A L D A D E D . Gleichheit; G lei­
Idola theatri, a filosofia sofistica chung no sentido concreto; E . E quality;
( = verbal, explicando o real por ab stra­ F. Egalité; I. Egualianza ou Uguaglianza.
ções); a filosofia empírica, a alquim ia; a
filosofia supersticiosa, a interpretação fí­
1. Sobre os lim ites das ciências da natureza.
sica do Gênesis e do livro de Jo b {N ov. 2. L iteralm en te: “ O s enigm as d o m u n d o do s cor­
O rg., I, 61-65). p o s .”

Sobre Igualdade — Este artigo foi com pletam ente refu ndido, n a sua p arte m oral
e política, segundo as observações de Rauh, Lachelier, Brunschvicg, Évellin, P arodi.
E xtrato da discussão na sessão de 8 de ju n h o de 1905: “ R au h. A d o u trin a que
repudia totalm ente a igualdade m aterial e to m a com o regra realizar apenas a igual­
dade form al é o liberalismo puro . M as é preciso n o ta r que m uitos socialistas não
adm item com o ideal um a igualização m aterial tã o grande quanto possível; prete n­
dem apenas acrescentar à igualdade fo rm al o m ais com pleto grau de igualdade m ate­
rial necessário para assegurar a cada um a independência e um m ínim o de bem -estar.
A doutrina socialista consiste, nesse caso, n ão na tendência de to rn a r os indivíduos
tão iguais quan to possível do p o n to de vista pecuniário, m as apenas em estabelecer
um a garan tia contra a opressão pelo controle d a sociedade no seu to d o com base
na distribuição d a riqueza. ” C f. N o ta so b re a idéia d e ju stiç a , 1? Congresso de Filo­
sofia, 1900, to m o II, 215.
“ A . L alan de. N ão me parece possível traçar um a linha fixa de dem arcação entre
igualdade form al (que eu preferia cham ar exterior), e a igualdade m aterial, ou real.
Esta distinção depende de um juízo de apreciação m oral e psicológico que opõe aquilo
513 IG U A L D A D E

Mτ I E OáI«Tτ . Esta palavra é aqui ras têm de poder sobrepor-se (enquanto


usada: 1? no sentido ab strato (qu alidade que o fato de ter a m esm a m edida é co-
daquilo que é igual); 2? no sentido con­ mumente chamado equivalência-, mas diz-
creto {fórm ula que exprim e a igualdade se, contudo, no m esm o caso, que as suas
de dois term os conhecidos: a = b). superfícies são iguais). Esta utilização da
A . Dois objetos de pensam ento que palavra é im pró pria e tende-se cada vez
possuem um a grandeza são iguais q u an ­ mais a substituir-lhe o term o Congruên­
do são equivalentes* (quando não dife­ cia, neste sentido.
rem em nada) do ponto de vista dessa L ó ; « T τ . C. P o r analogia com o sen­
grandeza. Assinala-se com o sinal = . tido A, chama-se igualdade lógica :
As igualdades, neste sentido, são de 1? A o fato de duas proposições se im­
três tipos: 1? as proposições que enun­ plicarem m utuam ente.
ciam relações que existem por hipótese 2? A o fato de duas classes se conte­
entre os elementos de um a figura, e as que rem m utuam ente (o que só acontece se
delas derivam: por exemplo, um triângulo elas forem idênticas*).
retângulo tal que AB = 2AC; 2? as “ iden­ 3? A o fato de dois conceitos possuí­
tidades” ou proposições sempre verdadei­ rem a m esm a extensão*.
ras, quaisquer que sejam os valores das A igualdade lógica assinala-se também
variáveis que aí figuram , por exemplo, com o sinal = .
(a + b )2 = a2 + 2ab + b 2; 3? as “ e q u a ­ É « Tτ
I e P Ã Â í « T τ . D . O princípio se­
I

ções” , que não são proposições, mas fun­ gundo o qual as prescrições, proibições e
ções proposicionais, que definem um a penas legais são as mesmas para todos os
condição que determ ina um a variável: cidadãos, sem acepção de nascim ento, si­
por exemplo, ax = b. tuação ou riqueza (igualdade jurídica).
B. P o r abuso, chama-se igualdade E, O princípio segundo o qual os di­
geom étrica à propriedad e que duas figu­ reitos políticos e, na m edida das suas ca­

que con stitu i o pró prio hom em às circunstâncias nas quais este vive, e que fo rm am
p ara ele as condições da concorrência vital. O ra, esse ju ízo to rn a-se cada vez mais
exigente à m edida que a igualdade se realiza mais com pletam ente nas leis. As desi­
gualdades que parecem inicialm ente constitutivas do indivíduo acab am p o r aparecer
sucessivamente com o diferenças exteriores, pertencentes às condições em que foram
colocados de m an eira acidental. O desaparecim ento das desigualdades nobiliárias
aparece-nos claram ente com o um a conquista da igualdade form al, porq ue ela está
realizada na França h á um século; o desaparecim ento das desigualdades pecuniárias
parece-nos m aterial ou real, porq ue não é proxim am ente realizável; o desapareci­
m ento das desigualdades sociais de ensino parece-nos de um caráter am bíguo, p o r­
que está sem dúvida no m om ento de se realizar. Parece-m e, p o rtan to , que a distin­
ção entre a igualdade form al e a igualdade m aterial é sempre função de um certo
estado da sociedade e da o p in ião .”
Th. R uyssen m enciona, com o um elemento de igualdade política, o acesso das
mulheres ao voto e às funções eletivas.
P a ro d i faz n o tar, contrariam ente àquilo que se havia dito na prim eira redação
deste artigo, que não existe oposição entre o artigo 6 da D eclaração d o s D ireitos e
o fato de se adm itirem todos no sufrágio universal, sem distinção de capacidades.
E sta adm issão, com efeito, não é nem um a dignidade nem mesmo um a função, mas
um direito prim itivo resultante da própria idéia do contrato social e da “ soberan ia” ,
tal como foi exposta, por exemplo, por J .-J . Rousseau.
ÍL IA C E 514

paridades, o acesso às funções, hierarquia se propõe; 2? a igualdade exterior, por


e dignidades públicas pertencem a todos um lado, consistindo nos direitos dos in­
os cidadãos, sem distinção de classe ou divíduos, quer dizer, nas regras segundo
de riqueza (igualdade p o lítica ). as quais são trata d o s, quer eles sejam em
F. O fato de dois ou vários hom enssi mesm os iguais ou desiguais; e, p o r o u ­
possuírem a m esma riqueza, a mesma ins­ tro lado, a igualdade real, que consiste no
tru çã o , a m esm a inteligência, a m esma estado sem elhante de suas propriedades
saúde, etc. (igualdade real, ou ainda e de suas personalidades.
igualdade m aterial, por oposição às duas R ad. int.: Egal.
categorias precedentes consideradas co­
IL IA C E Ver A m a b im u s.
m o um a igualdade fo r m a l ).
ILA ÇÃ O Em francês illation, sinôni­
CRITICA
m o an tiquado de inferência*; por exem­
O conceito de igualdade, na sua utili­ plo, em LE « ζ Ç« U , 3.° escrito con tra Clar-
zação m oral e política, está m uito mal de­ k e, § 6. É preciso sublinhar que as p ala­
term inado. A Declaração dos Direitos do vras inglesas illation, illative perm anece­
H om em define: “ A rt. 1. Os homens nas­ ram , pelo contrário, m uito usuais.
cem e perm anecem livres e iguais em di­
reitos. As distinções sociais só podem ser IL Ó G IC O Ver L ógica, A ló g ico . Iló­
fundadas sobre a utilidade com um ... A rt. gico, que é um a palavra d a linguagem
6. [A Lei] deve ser a m esm a p ara todos, corrente, poderia ser considerada com o
quer proteja, quer puna. Sendo todos os um gênero de que alógico e antilógico se­
cidadãos iguais a seus olhos, são igual­ riam as espécies.
m ente admissíveis a todas as dignidades, IL U M IN A D O D. Illum inat; E . “ II-
lugares e em pregos públicos, segundo a lum iné” , Illuminist; no plural também se
sua capacidade, e sem o u tra distinção diz “ Illu m in ati ” ; F. Illum iné; I. Illum i-
além das suas virtudes e seus talen to s.” n ato. Ver reservas mais adiante.
A prim eira destas duas fórm ulas designa Em francês, esta palavra quando é
evidentemente, sob a form a im própria de usada sem especificação designa um mís­
um a asserção de fato , relativa à n atu re­ tico que recebe, ou crê receber, inspira­
za das coisas, um ideal que nen hum a so­ ções diretas de Deus: L« I I 2 ! aplica-a
ciedade realiza; a segunda deve ser inter­ particularm en te aos discípulos de Saint-
pretada no sentido que lhe dão as circuns­ M artin e Swedenborg; é freqüentem ente
tâncias em que ela foi form ulada (reação usada, por extensão, n a linguagem cor­
contra os “ privilégios” , e o utros abusos rente, de um a m aneira pejorativa: espí­
co ntra os quais se erguiam os Cadernos)', rito sem crítica, que segue cegam ente as
m as o p róprio Código Civil adm itiu que suas inspirações, ou tom a aquilo que ima­
a lei não é a m esm a p a ra os hom ens e as gina p o r verdadeiras intuições revelado­
m ulheres, p ara os adultos e as crianças; ras. Ver, por exem plo, VÃÂ I τ « 2 E , Car­
e a igualdade m aterial das penas repre­ ta s filo só fic a s, XXV .
senta, consoante a riqueza, a situação so­ M as os equivalentes não franceses ci­
cial, a saúde, o caráter, etc., um a desi­ tados acim a referem -se quer a este mes­
gualdade relativa que po de ser conside­ m o sentido, quer, pelo contrário, aos par­
rável. É, pois, necessário em todos os ca­ tidários das “ luzes” , aos filósofos que se
sos nunca aplicar este term o sem um a de­ dedicaram , no século V II e sobretudo
term inação precisa das idéias que a ele se X V III, a “ com bater a ignorância e a su­
pretende ligar e, em particular, sem dis­ perstição” . Joseph de Mτ «è I 2 E (Serões
tinguir com precisão: 1? o estado de fa­ d e S. Petersburgo, X I conversa) opõe pri­
to, por um lado, e, por ou tro , o ideal que m eiro esses dois sentidos através de um
515 IL U S Ã O

dos seus interlocutores, m as regressa em sophie und ihre M ethode” 2, § 10. O ilu­
seguida a essa distinção, p a ra declarar minismo, diz ele, tem com o organum a luz
que, no fundo, não é por acaso que são interior: a intuição intelectual, da consciên­
designados com o m esm o nom e, porque cia superior (höheres Bewusstsein), da ra ­
os m ísticos, à m aneira de Saint-M artin, zão enquanto conhecimento im ediato, da
não são menos inimigos d a Igreja e do sa­ consciência de Deus, d a com unhão (Uni­
cerdócio do que os partidários das “ lu­ fik a tio n ), etc. Q uando tom a por base um a
religião, torna-se m isticism o. É um a ten­
zes” . C f. Ilum inism o.
dência natural e prim itiva do pensamento
R ad. int: Illum inat.
hum ano. M as não se pode fazer dele um
ILU M IN ISM O D . Illum inism us: E. m étodo filosófico, porque os conhecimen­
Illum inism ; F. Illum inism e; I. Illum inis- tos invocados não são comunicáveis.
m o. B. Sinônim o de “ filosofia das luzes” .
(O d icio n á rio de R τ ÇUÃÂ « è ó dá a es­ Diz-se apenas, neste sentido, em francês,
ta p a la v ra o sen tid o B.)
do movimento dos “ Ilum inados da Bavie­
r a ” , sociedade secreta fundada em 1776
A . D outrina daqueles que acreditam
por A dam WE « è 7 τ Z ú I , e cham ada de iní­
na “ ilum inação ” interior: ver acim a Ilu­
cio sociedade dos “ Perfectibilistas” , mais
m in ado. Em particular, doutrinas de
tard e filiada à franco-m açonaria. Ver a
Sç E áE Çζ Ã2 ; , de Claude, de Sτ « ÇI - passagem de Joseph de M aistre citada no
Mτ 2 I « Ç , de Mτ I « ÇE U P τ è I Z τ Â « è . artigo Ilum inado, e o texto de M me. de
ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , tom ando a palavra Stãel nas observações que se seguem. Cf. o
literalmente num sentido muito amplo, faz que ela diz, no mesmo capítulo, da franco-
notar que a filosofia oscilou sempre “ zwis- m açonaria.
chen Rationalism us und Illum inism us, d. R ad. int.: Illuminism.
h. zwischen dem G ebrauch der objectiven
und dem subjectiven Erkenntnissquelle” 1, ILUSÃO D. Illusion, Täuschung ; E. Il­
Parerga, to m o II, cap. I. “ Ü ber Philo- lusion-, F. Illusion-, I. Illusione.

2. “ S obre a filo sofia e o seu m é to d o .” Este texto


1. entre o racionalismo e o ilum inism o, quer e o de Josep h d e M aistre fo ram ap o n tad o s p or J. Bour­
d izer, en tre a u tü iz a fá o d a fo n te o b je tiv a e d a fo n te deau, ao m esm o tem p o que a ausência e a utilidade des­
su b je tiv a d o c o n h e c im e n to .” te artigo.

Sobre Ilum inism o — M m e. de SI à E Â , D a A lem an h a, 4? parte, cap. V III, distin ­


gue “ três classes de ilum inados” : os ilum inados m ísticos (Boehme, P asqualis, Saint-
M artin); os ilum inados visionários (Swedenborg); finalm ente, “ hom ens que apenas
tinham por objetivo apoderar-se d a autoridade de to dos os E stados, e de se atribuir
posições, to m aram o nom e de ilum inados; o seu chefe era um B ávaro, W eisshaupt
(sic), hom em de espírito su perior que tin h a sentido to d o o poder que se pode alcan­
çar reunindo as forças dispersas dos indivíduos e dirigindo-as p a ra um mesmo o b ­
jetiv o ” .
Sobre Ilusão — M esm o em psicologia distinguem-se várias espécies de ilusões:
as ilusões naturais e as ilusões das percepções adquiridas: existe um a diferença entre
a ilusão do daltônico e a ilusão de M üller-Lyer. (F. M entré) N ão se deve falar de
ilusão no caso do daltônico: trata-se de um uso im pró prio desta palavra. A anom alia
do daltônico só seria um a “ ilusão” se a cor fosse um a realidade física. Sendo o m es­
m o válido para a acro m atopsia, a surdez to n al, etc. (J. Lachelier, E. H alévy, L.
B runschvicg, etc. A pro vado n a sessão de 2 de ju lh o de 1908)
ILUSÃO 516

A . T odo erro , quer de percepção, Ilusão dos am putados Impressão fre-


quer de juízo ou de raciocínio, contanto qüentem ente experimentada pelos am pu­
que possa ser considerado com o natural, tados que consiste em sentir o braço ou a
n a m edida em que aquele que o comete perna que já não possuem colocados nes­
se enganou por um a aparência*, no sen­ ta ou naquela posição, perceber formiga­
tido B desta palavra. m entos, calor, dores, etc. Esta impressão
B. Especialmente (oposta a alucina­ impõe-se em muitos casos com tanta niti­
ção*)'. falsa apresentação proveniente não dez que a reflexão, julgando-a errônea, não
dos próprios dados da sensação, mas da a pode fazer desaparecer. É necessário que
m aneira pela qual se faz a interpretação se note que aquilo que é qualificado de ilu­
perceptiva desta. Ex.: Perceber como que­ sório, neste caso, não é a sensação ou a
brada um a vara meio mergulhada na água; dor, mas a localização da sua origem no
tom ar um inseto que voa próximo dos nos­ m em bro perdido.
sos olhos por um a grande ave distante, etc. R ad. in t .: Iluzion.

Este artigo foi reto cado, na q u arta edição do Vocabulário e nesta, segundo as
observações de M arsal, que cita o seguinte texto de Lτ ; ÇE τ Z : “ A è ilusões dos sen­
tidos são m aneiras de perceber que são falsas apenas no sentido de que elas nos re­
presentam o ob jeto da nossa percepção de um a m an eira que não é conform e à m a­
neira norm al de perceber. N ão é que esta m aneira norm al de perceber seja necessa­
riam ente verdadeira, ou até que possa algum a vez ser verdadeira. A percepção no
seu conjunto consiste simplesmente num a m aneira subjetiva de ver as coisas e as idéias.
É um a ilusão acreditar que existe um a m aneira ideal de perceber com a qual todos
os espíritos concordariam . M as se não conceberm os um a m aneira ideal de perceber,
concebem os, contudo, que existem um as melhores do que o u tra s1. É isso que per­
m ite distinguir as ilusões dos sentidos dos erros pro priam ente ditos. U m erro é um
juízo objetivam ente falso pelo qual nós afirm am os que algum a coisa existe com tal
natureza determ inada, enquanto o objeto não existe ou não possui essa natureza.
Só existe erro na consciência ab stra ta pro priam ente dita. O erro só provém do racio­
cínio. O p róprio do erro é o poder ser refu tado pela experiência e pelo raciocínio.
As ilusões dos sentidos não podem ser assim refu tadas; são apenas m aneiras de per­
ceber que não são norm ais. Aliás, m esm o as m aneiras norm ais de perceber são ilu­
sões... e tc .” J. Lτ ; ÇE τ Z , C elèbres leçons, pp. 161-162.
“ T oda a unidade deste conceito” , acrescenta M arsal, “ reside num juízo de valor
im plícito, talvez num simples estado afetivo, num a d ecep çã o ... C om o a etim ologia
indica, na ilusão tudo se passa com o se um gênio m aligno nos estendesse um a a rm a ­
dilha e brincasse conosco. Sem dúvida somos culpados de cair nela, m as somos víti­
mas antes de sermos culpados: há circunstâncias aten uantes. N a m edida em que o
daltônico seria apenas vítim a, devemos responder a M entré que o seu erro n ão pode
ser qualificado com o ilusão, senão por referência a um tipo norm al de percepção,
substituído ao do daltônico. Se a ilusão for freqüente, parece norm al, perde o seu
caráter de ilu são .”

1. “ Se m e perguntassem q u a l é o critério d iria , pessoalm ente: é ta n to m elh o r q u a n to in te rp re te os d a d o s


subjetivos h etero g ên eo s em m a io r n ú m ero . O m o n stro que nascesse co m um se n tid o su p le m e n ta r, co m igual
inteligência, teria u m a m elh o r p e rc e p ç ã o .” (M. Marsal)
517 IM A G E M

IM AG EM D . A . Bild; B. Vorstellung-, inteligência, livro II: “ As imagens” , cap.


E. Image·, F. Im age; I. Im agine. I, § 1.
A . Reprodução, quer concreta, quer C . R epresentação concreta construí­
m ental, daquilo que foi percebido pela vi­ d a pela atividade do espírito; com bina­
são (com ou sem nova com binação dos ções novas pelas suas form as, senão pe­
elem entos que com põem esta im agem ). los seus elem entos, que resultam da im a­
“ O ensino pela im agem .” “ O sentido da ginação* criadora.
visão fornece apenas im agens.” V Ã Â τ « - I
Em p articula r, representação concre­
2 E, D icion. f ilo s ó fic o , Vo Im aginação. ta que serve para ilustrar um a idéia
Cf. Idéia. abstrata .
B. Repetição m ental, geralm ente en­ D . Em razão da analogia das imagens
fraquecida, de um a sensação* (ou mais B e das percepções, e d a im possibilidade
exatam ente de um a p ercepção*) prece­ de as distinguir intrinsecam ente em cer­
dentem ente experim entada. “ Poder-se-á
tos casos, freqüentem ente estendeu-se a
aplicar diversos term os p ara a exprim ir,
palavra im agem a qualquer apresentação
dizer que ela constitui um ressaibo, um
ou representação sensível. “ V amos fin­
eco, um sim ulacro, um fantasm a, um a
gir p o r um m om ento que não sabemos
im agem da sensação primitiva; pouco im­
n a d a das teorias d a m atéria e das teorias
porta: todas estas comparações significam
que, depois de um a sensação provocada do espírito, n ad a das discussões sobre a
pelo exterior e não espontânea, encontra­ realidade ou a idealidade do m undo ex­
mos em nós um segundo acontecim ento terior. Eis-me, pois, em presença de im a­
correspondente, não provocado pelo ex­ gens, no sentido mais vago em que se pos­
terior, espontâneo, sem elhante a essa sa to m ar esta palav ra, imagens percebi­
m esm a sensação, ainda que m enos fo r­ das quando ab ro os meus sentidos, não
te, acom panhad o das mesmas emoções, percebidas qu ando os fecho. Todas essas
agradável ou desagradável num m enor imagens agem e reagem umas sobre as ou­
grau seguido dos mesmos juízos e não de tras em to das as suas partes elementares
todos. A sensação repete-se, ainda que me­ segundo leis constantes, a que eu cham o
nos distinta, menos enérgica e privada de leis da n a tu re z a ...” B 2 ; è Ã Ç , M atéria e
E

vários dos seus circundantes.” Tτ « ÇE , D a m em ória, cap. I, p. 1.

Estou inteiram ente de acord o com estas observações, na m edida em que salien­
tam com vigor o caráter apreciativo da palavra ilusãoK Parece-me todavia que é ne­
cessário acrescentar as seguintes precisões: 1? N ão se é cu lpado por se ser enganado
por um a ilusão, a m enos que não se tenha tido em conta, por negligência ou sufi­
ciência, as advertências que se receberam , ou ainda quando '‘nos ilu d im o s” afastan ­
do do espírito, por razões afetivas, aquilo que poderia retificá-las. 2? A o falar da
crítica de “ realidades físicas” , entendem os aquilo que a linguagem corrente e os físi­
cos que não fazem filosofia entendem por “ coisas reais” , realidades que são a ex­
pressão do estado atu al dos nossos conhecim entos, e não coisas em si independentes
deste. 3? Neste sentido, a “ realid ad e” não se identifica totalm ente com a percepção
norm al, no sentido C , quer dizer, com a percepção m ais geral: é norm al, é até cons­
tante, ver co rtad a, p o r refração, um a vara que é reta “ n a realid ad e” : contudo, este
é o tipo clássico da ilusão sensorial. (A . L .) 1

1. P o d e-se n o ta r aliás q u e iiusâo n a linguagem co rre n te , e até n a s disc ussões filo só fic as, é m u itas vezes
u sa d a p o r delicadeza em vez d e e rro .
IM AGEM 518

NOTA cisarem o sentido: ele entende por isso o


A palavra im ago encontra-se já em delineamento que grava no cérebro o cu r­
Bτ TÃÇ com este duplo sentido: “ Indivi- so dos espíritos. Ver nom eadam ente lf
duoru m im agines, sives impressiones a parte, cap. I, § 3. Cf. Idéia, observações.
sensu exceptae, figuntur in m em oria at- O sentido psicológico d a palavra não
que abeunt in eam , a principio tanquam é nem m encionado no artigo Im agem da
integrae, eodem quo occurrunt m odo; eas E ÇT « T Â Ã ú á « τ
E , ainda que figure várias
postea recolit et rum inat anim a hum an a, vezes no corpo do artigo Imaginação-,
quas deinceps aut simpliciter recenset, aut m as, mesmo aí, é to m ad a no sentido
lusu quodam im itatur au t com ponendo et usual, porq ue as im agens de que se tra ta
dividendo digerit.” D e Dignitate, livro II, são exclusivamente atribuídas ao sentido
cap. I, § 5. d a visão (561 A ). O m esm o se passa no
Este term o, todavia, tornou-se só D icionário de F 2 τ ÇT 3 , onde a p alavra é
m uito tard e um term o técnico: ver as o b ­ usada apenas no sentido literário (expres­
servações. É relativam ente raro em Mτ - são concreta, sím bolo de um a idéia a r­
 ζ 2 τ ÇT
E 7 (ver P rocu ra d a verdade, li­
E tística).
vro II: D a imaginação): nos casos em que
os em pregaríam os, ele diz quase sem pre Im agens consecutivas Ver C on se­
“ ra stro s” , “ vestígios” , algum as vezes cutivas.
“ idéias” (particularm ente 1? parte , cap. Idéias-im agens Ver Idéias.
V), raram ente “ espécies” ; quando “ im a­
gem ” é utilizada, o é vulgarm ente com Im agem genérica P o r oposição ao
“ traços” ou “ vestígios” a fim de lhe pre­ con ceito pro priam ente d ito, representa-

Sobre Im agem genérica — Em H Ã ζ ζ è , este term o é de um a utilização m uito fre-


E

qüente, e m uito am pla. D á dele nom eadam ente um a explicação term inológica porm e­
norizada no Leviathan, IV, cap. XLV (ed. M olesworth, t. III, 648-650). Ver tam bém
E lem ents o f L a w , ed. Tõnnies, p. ex. parte I, cap. II: “ ... for by sight we have a con-
ception or image composed o f colours o r figure” 1. O sentido equivale sempre ao sen­
tido geral da palavra alem ã Vorstellung e compreende: 1? as imagens atuais dos senti­
dos; 2? as da m emória imaginativa; 3? as da imaginação propriamente dita. (F. Tõnnies)
A extensão d a palavra im agem a sensações ou grupos de sensações diferentes da
visão é m uito m oderna; ver-se-á m ais adiante q ue, m esm o atualm en te, esta utiliza­
ção não é universalm ente aceita.
Em L a p a ro le intérieure (1 f edição, 1881) V. E ; ; 2 aplicava este term o à repre­
E

sentação intern a da linguagem . M as, antes de se resolver a isso, ele hesitou: “ Os psi­
cólogos” , dizia ele, “ não se entenderam até hoje p a ra designar com um a locução
simples, e daí em diante consagrada, a repro dução, com ou sem m udan ça, das diver­
sas sensações ou dos grupos que naturalm ente fo rm a m .” (C ap. IV, § 5.) E sta hesita­
ção foi nitidam ente re provada no balanço crítico de B 2 Ã T τ 2 á (R evu e p h ilosoph i- 7

que, abril, 1882) e de D Â ζ Ã Z E (A th en a eu m belge, l f nov. 1882). “ N inguém ” , di­


E E

zia este últim o, “ partilh ará os m eticulosos escrúpulos de V. E ; ; 2 relativam ente E

à palavra im agem , que é o term o pró p rio ; pouco im p o rta ... que o vulgo o aplique
especialm ente a sensações visuais.” i.

i . " . . . p o rq u e , p ela visã o, te m o s u m a c o n cep ç ão o u im ag em c o m p o s ta d e c o re s , o u fig u ra s” {Elem entos


de direito).
519 IM A G IN A Ç Ã O

ção m ental concreta, mas de que certos tou para a psicologia. Em vez do term o
elementos são bastante indeterm inados im agens genéricas, RÃOτ ÇE è utiliza a
para que ela possa convir a toda um a clas­ palavra ‘recept’ p ara m arcar o seu lugar
se de objetos. “ Este term o foi retirado interm ediário entre o ‘percept’ abaixo e
dos conhecidos trabalhos de Gτ Â I ÃÇ so­ o ‘co ncept’ acim a.” R« ζ ÃI , E volução
bre as fotografias com pósitas... H ux- das idéias gerais, cap. I.
LEX, no seu livro sobre H u m e, cap. IV, IM AG INAÇÃO D. Einbildungskraft,
parece-me ser o prim eiro que o tra n sp o r­ P han tasie, um e outro nos dois sentidos

RE ÇÃZ â« E 2 , pelo contrário, escrevia a este respeito: “ Q uanto a mim, se eu tivesse


de votar acerca desta questão de terminologia num congresso de filosofia (de que eu
não pediria a reunião), quereria excluir a palavra imagem, por ser m uito apropriada
a um a espécie m uito bem determ inada de fenômenos para que se possa transportá-la
para uma o utra com pletam ente diferente, num a boa nom enclatura.” Ele propõe, p o r­
tanto: reprodução visual (im aginação, propriam ente dita), reprodução auditiva, etc.
(iCritique filosoph iqu e, 19 de agosto de 1882.) M as, um ano depois, o seu discípulo,
P « Â Â ÃÇ , aderia à generalização da palavra imagem: “ C ada espécie de sensação deixa
na m emória um a espécie de idéia ou de imagem correspondente... Percebi há m om en­
tos um som: escuto um a espécie de eco na m inha m emória. Este eco m ental, em que
se reproduz o som com as suas características, pode ser chamado figuradamente um a
imagem sonora ou auditiva, etc.” {Critique filosophique, 18 de agosto 1883.) Mas notar-
se-á ainda nesta passagem a expressão “ figuradam ente” , que sublinha a novidade da
utilização. {Segundo docum entos com unicados por V. Egger)
Esta utilização parece hoje quase universalm ente ad o tad a n a F rança. Foi contu­
do desaprovada, m as a p artir de um p o n to de vista um pouco diferente, por J. La-
chelier, que nos escreveu o seguinte: “ N a d a de m ais legítimo que o emprego d a pala­
vra im agem p a ra significar a representação puram ente intern a de um o b je to an te­
riorm ente percebido... O que me parece ab uso de linguagem em T aine é o fato de
ele ter falado de im agem d e um a sensação. A contecerá m esmo em nós um a repro du­
ção, seja sob que nom e fo r, de sensações isoladas? P odem os talvez, e com dificulda­
de, despertar em nós um a sensação de sab or ou de odor; de som , mais facilm ente,
quan d o cantam os p a ra nós pró prio s, baixinho, um a canção; de cor, sem fo rm a co­
lorida, com o um relâm pago talvez, m as m uito raram en te; de calor, de frio, de dure­
za, etc., talvez, m as de um m odo m uito débil. N ão deixam os, pelo co ntrário, de nos
representar interiorm ente, e fazê-m o-lo com grande vivacidade, objetos visíveis, e,
nesse caso, a palavra im agem aplica-se perfeitam ente.”
É necessário tam bém sublinhar que a predom inância das imagens visuais, ainda
que freqüente, não é universal. A lgum as pessoas n ão têm , por assim dizer, imagens
visuais senão no m om ento de adorm ecer ou no sonho; e, em com pensação, nessas
pessoas, as representações auditivas ou m otrizes, algum as vezes representações afe­
tivas, têm a prim azia em frequência e intensidade. {A . L .)
Sobre Im aginação — Ver Kτ ÇI , C rítica d a razão p u ra , A 100-103 (suprim ido
na segunda edição) e cf. E squ em atism o (A 140; B 179). {G. D w elshauvers)
É necessário distinguir no sentido A a faculdade de ter imagens de um a espécie
determ inada de sensações (visuais, m otoras, tácteis, etc.) e a faculdade de ter grupos
complexos de im agens. Estas duas faculdades não estão sem pre associadas nos indi­
víduos. {F. M entré)
Creio que seria necessário banir resolutam ente o sentido A e n ão definir nunca
a im aginação pela faculdade de record ar seja o que fo r. {L. B oisse)
IM A N ÊN CIA 520

(ver os exemplos citados por E« è Â E 2 ); E. d e im anência, consiste nesta afirm ação


Im agination; F. Imaginarion; I. Im m agi- que S. TÃOá è enuncia sem qualquer res­
nazione. trição, n a m edida em que é mesmo a p ro ­
A . Faculdade de form ar imagens, nos pósito d a ordem so brenatural que a fo r­
sentidos A e B desta palav ra. Diz-se fre- m ula: Nihil potest ordinari in finem ali-
qüentem ente neste sentido: im aginação quam , nisi praeexistat in ipso quaedam
rep ro d u to ra ou m em ória im aginativa. p ro portio ad finem . ( Q uaest. disp. XIV.
B. Faculdade de com binar as imagens D e vertíate, II.) A penas traduzo esta ver­
em qu ad ros ou em sucessões que im itam dade essencial e universal lem brando que,
os fatos d a natureza, m as que não repre­ com efeito, ‘n ad a pode entrar no homem
sentam nada de real nem de existente (de­
que não corresponda de algum a m aneira
vaneios, obras de arte, etc.). Diz-se neste
a um a necessidade de expansão’, qual­
sentido, imaginação criadora, ou algumas
quer que seja aliás a origem ou a nature­
vezes — p ara evitar o em prego d a pala­
za deste apetite. (Cf. L ettre su r l ’a p o lo ­
vra “ criação” quando h á apenas, no sen­
gétiqu e, p. 28.)
tido estrito, um a com binação nova de
imagens — im aginação inovadora (V. “ A expressão m é to d o d e im anência
E; ; E 2 ). nasceu d a censura que inicialm ente diri­
Ver Fantasia. giu à tese de l ’A c tio n a R evu e d e m é­
R ad. in t .: Im agin. taph ysiqu e (suplem ento de novem bro de
1893) e d a resposta que fui obrigado a
IM A N ÊN C IA D . Im m anenz; E. Im - dar, m ostrando que, longe de me insta­
manence; F. Immanence-, I. Im m anenza. lar de im ediato num a transcendência rui­
C aracterística daquilo que é im anen­ nosa para a filosofia, m e coloquei na ple­
te*. “ Princípio de im anência": Aplica-se n a realidade concreta, na plena ‘im anên­
este nome a duas teses filosóficas contem­ cia’, anteriorm ente a qualquer concepção
porâneas que chegam am bas a conclusões sistemática, a qualquer princípio estagna­
religiosas, mas diferem no ponto de p a r­ do. E este trâm ite de um pensam ento que
tida, na orientação e na fórm ula final. sim plesmente quer usar tu d o aquilo que
1? Tese exposta por M aurice BÂ ÃÇ -
ele próprio possui está m uito longe de re­
á E Â na e a propósito da sua o b ra VAc-
sultar num ‘im an en tism o’ que engendra
tion: “ Etimológicamente, e segundo a sua
inelutavelm ente um a atitude com pleta­
acepção prim itiva, im anente e imanência
mente o p o sta.” (Extrato das notas envia­
designam: de um po nto de vista estático,
d a s p o r BÂ ÃÇáE Â acerca das provas do
o que reside em algum sujeito de um a for­
presente artigo. Ver o resto nas obser­
m a perm anente e integral; de um ponto
vações).
de vista dinâm ico, o que procede de um
ser como expressão do que ele traz essen­ Ed. LE RÃà cham a p rin cíp io d e im a­
nência ao princípio segundo o qual “ a
cialmente em si; e ao mesmo tempo aquilo
que regressa e se incorp ora neste ser, co­ realidade não é constituída por peças dis­
m o a satisfação de um a necessidade in­ tintas, justapostas; tudo é interior a tu ­
fundida, com o a resposta esperada ou do; no m enor porm en or d a natureza ou
procurada a um apelo interior, com o o d a ciência, a análise encontra to da a ciên­
complemento de um dom inicial e estimu­ cia e to d a a natureza; cada um dos nos­
lante. É, pois, o oposto daquilo que é aci­ sos estados e dos nossos atos envolve to ­
dental e extrínseco, transitório e transiti­ da a nossa alm a e a totalid ade dos seus
vo, simplesmente exterior ou definitiva­ poderes; o pensam ento, num a palavra,
m ente exteriorizado. im plica totalm ente a si pró prio em cada
“ ...N o seu sentido norm al, e anterior um dos seus m om entos ou graus. Em su­
a qualquer sistema particular, o principio m a, não há nunca para nós dado pura-
521 IM A N E N T E

mente externo. A pró pria experiência não ju n to de seres aquilo que neles está co m ­
é de m odo nenhum um a aquisição de ‘coi­ preendido e não resulta neles de um a ação
sas’ que nos seriam de inicio totalm ente exterior. A “ ju stiç a im an en te” , as “ san­
estranhas... mas, antes, um a passagem do ções im anentes” são aquelas que resultam
implícito ao explícito, um m ovimento em do curso das coisas sem intervenção de
pro fundid ade que nos revela exigencias um agente que delas se distinguiria.
latentes e riquezas virtuais no sistem a do B. Esta palavra é algumas vezes tom a­
saber já esclarecido, um esforço de desen­ d a tam bém num sentido m ais am plo:
volvimento orgânico valorizando as reser­ entende-se en tão por im anente não só
vas ou despertando as necessidades que aquilo que resulta do ser considerado, e
aum entam a nossa a ç ã o .” D o g tn e e t cri­ apenas dele, m as tu d o aquilo de que este
tique, pp. 9-10. ser particip a ou para que tende, mesmo
quando esta tendência só pode passar a
IM A N EN TE D . Im m anenf, E. Int- ato por intervenção de um o u tro ser. Ver
m an en t ; F. Im m anenf, I. Im m anente. m ais ad iante observações de B Â Ã Çá Â e E

A . É im anente a um ser ou a um con­ do padre L τ ζ 2 Ã Ç Ç « è 2


E I 7 . E

Sobre Im anente, Im anência, etc.


O rigem d estes term os. R . Eucken acha que a prim eira fonte d a distinção entre
a ação im anente e a ação transitiva, no sentido escolástico, deve ser pro curada nesta
passagem de A 2 « è ó Â è : “ T ò μ ε ν ’έ σ χ α τ ο ν ή χ ρ ή σ α , o lo v ο ψ ε ω $ή ο ρ α σ ί !, κ α ί
I I E E

ο υ θ ε ν y íy v e r a í π α ρ ά τ α ΰ τ η ν έ τ ε ρ ο ν α π ό τ η ! ο ψ ε ω ! ε ρ -γ ο ν - α π ’ ε ν ί ω ν δ ε y í y ν ε τ α ί
τ ι , ο ϊ ο ν α πό τ η ! ο ι κ ο δ ο μ ι κ ή ! ο ι κ ί α π α ρ ά τ η ν ο ί κ ο δ ό μ η σ ι ν .” M etafísica, 1050a 24.
A p ró p ria origem d a palavra im m anens é obscura. Im m aneo n ão existe no latim
clássico. Encontra-se de fato num a passagem de S Ã . A ; Ã è « Ç Ã I I 7 im m anere (no sen­
tido puram ente físico): m as este exem plo é con testado, e alguns críticos lêem im m a­
nare (D u C ange, Vo).
Este term o foi talvez sugerido inicialm ente pela seguinte passagem d a prim eira
epístola de S. J Ã ã Ã : “ Si diligam us invicem, Deus in n o b is m an et, et charitas ejus
in nobis perfecta est. In hoc cognoscim us quoniam in eo m anem us, et ipse in nobis,
quoniam de spiritu suo dedit n o b is.” (IV , 12-13.) Poder-se-ia aproxim ar-lhe todas
as passagens de S. P τ Z Â Ã onde diz que C risto, ou o E spírito S an to, vivem em nós.
Se assim fosse, o sentido B de im anente, que parece nos nossos dias um pouco fro u ­
xo e abusivo, seria, pelo co ntrário, o sentido prim itivo, tendo passado pelo desen­
volvimento da escolástica para um uso m ais técnico. M as trata-se apenas de um a
hipótese. (A . L .)

S obre o sen tid o B d a p a la v ra “I m a n en te”


A im anência é a característica da atividade que encontra no sujeito onde reside,
não só, sem dúvida, to d o o princípio ou to d o o alim ento, ou to d o o term o do seu
desenvolvim ento, m as pelo m enos um p o n to de p a rtid a efetivo e um fim real, qual­
qu er que seja, aliás, aquilo que h a ja en tre as extrem idades desta expansão e desta
reintegração finais. (M. B londel)
Existem várias m aneiras de ser im anente. A m an eira pela qual som os im anentes
uns aos ou tro s pela solidariedade não é a m esm a que aquela pela qual determ inada
propriedade de um a noção geom étrica é im anente às outras propriedades da m esma
noção. E a m aneira pela qual são im anentes os seres que se am am e se querem reci­
procam ente não é a m esm a que aquela pela qual são im anentes seres que se pertur-
IM A N EN TE 522

C. Em K τ Ç : são im anentes os prin ­


I C R ÍT IC A
cípios cuja aplicação está estritamente cir­ N a linguagem escolástica, um a ação
cunscrita aos limites da experiência pos­ im anente opõe-se a um a ação transitiva.
sível {R azão p u ra , Dialética transcenden­ A prim eira é aquela que perm anece com ­
tal, introdução, I, § 3); e a utilização des­ pletam ente no sujeito e não m odifica o
ses princípios no m undo da experiência seu objeto : por exem plo, o fato de ver só
cham a-se uso im an en te {P rolegóm enos, m odifica o ser que vê e não aquele que
§ 40). Opõe-se a transcendente*. é visto; a segunda é aquela que m odifica

bam e repelem perm anecendo ligados inelutavelm ente. Imanência n ão significa, pois,
com o frequentem ente parece crer-se, identificação; e, p o r o u tro lad o , transcendente
não quer dizer necessariam ente separado e espacialm ente exterior. Se ao viver nos
ultrapassam os a nós próprio s, se ao querer querem os mais do que nós próprio s, se
a ação é criadora, não será p orq ue existe um transcendente que nos é imanente? {L.
Laberthonnièré)

Sobre “ M étodo de im anência’’ e o “ P rincípio de im anência” — Equivaleria a


restringir e absolutam ente desnatu rar aquilo que entendem os pelo p rin cíp io d e im a­
nência subm etê-lo ou a u m a m etafísica intelectualista ou a um a tese pragm atista. É
falso sobretudo reduzi-lo a significar que, “ im plicando-se o pró prio pensam ento no
seu to d o em cada um dos seus m om entos ou graus” , teríam os, p a ra alcançar a ver­
dade e constituir a filosofia, apenas que desfazer em nós um a m eada previam ente
form ada, que explicitar por análise um im plícito em que “ tudo é inferio r a tu d o ” ,
que realizar um inventário sem invenção verdadeira, sem contribuições estranhas,
sem dilatação nova, sem progresso efetivo. O m étodo da imanência apóia-se tão pouco
sobre este princípio assim com preendido quanto é precisam ente a sua negação e o
seu antídoto. Nem historicam ente, nem doutrin alm en te procede assim e a tal se refe­
re (ver mais acim a, no artigo Im anência, as indicações dadas pelo au to r sobre a ori­
gem desta expressão). M arca apenas o ponto de p artid a da reflexão, que não se pode
estabelecer de im ediato num a transcendência ruinosa para a filosofia e deve, pelo
contrário, p artir da realidade dada. E este procedim ento de um pensam ento que quer
simplesmente usar de tu do aquilo que tra z em si está longe de chegar a um “ im anen-
tism o” que inelutavelm ente engendra um a atitude com pletam ente oposta.
A p artir do m om ento, com efeito, em que tentam os ligar o pensam ento conscien­
te às suas origens reais e encam inhá-lo deliberadam ente p ara os fins para que ele p ró ­
prio tende, a p artir do m om ento, num a palavra, em que procuram os igualar em nós
a vontade querida e a vontade que quer, somos levados a reconhecer cada vez mais
precisam ente que, para ir assim de nós para nós m esm os, tem os de sair de nós antes
de aí regressarm os, sofrer m últiplas intrusões e com o que um desapossam ento pro vi­
sorio que, em qualquer ordem , científica ou m oral, social ou religiosa, faz de urna
heteronom ia laboriosam ente definida e custosam ente pra ticada o cam inho necessá­
rio da verdadeira autonom ia. N ão se tra ta p o rtan to de m odo nen hum de um pu ro
processo dialético ou de um a simples passagem do im plícito ao explícito; trata-se de
um progresso real, de um a co nquista, de um a criação contínua, que, longe de nos
encerrar na nossa im anência inicial, nos abre, nos induz a superar-nos sem cessar,
e não nos perm ite de m odo algum determ o-nos em nós pró prio s antes de um a reinte­
gração to tal.
523 IM A N E N T E

o seu objeto com o o fa to de dividir algu­ te, que o a utor traduz assim: “ Die im m a­
m a coisa o u de a aquecer (GÃTÂ E Ç« Z è , nent oder in Innern des Thätigen bleiben­
V. Term inus, 1125 B). de T hätigkeit.” 1 Vo A c tio , p. 11, n? 15.
lm m anens não consta do Thom as L e­ Opõe-se a actio exiens, ou transiens, ou
x ik o n de ST7 ü I U , nem com o palav ra, transitiva.
nem nos artigos actio e causa ; m as encon­
tram os aí com o mesmo sentido actio ma- 1. “ A ativ id a d e im a n e n te , o u ativ id ad e q u e per-
nens seu con siten s seu quiescens in agen­ m anece n o in te rio r d o a g e n te ."

O term o im an en tism o (que tem os razão, aliás, em condenar com o um neologis­


m o vago e até am bíguo) n ão poderia em to d o o caso designar senão um a teoria siste­
m a tiza d a (e n ão um m étodo), senão um a dou trin a exclusiva, diretam ente co ntradita
p o r to d a a nossa atitude m oral e to d o o nosso desígnio especulativo. N ão repelimos
m enos a coisa do que a palav ra. U m a tal expressão evoca, com efeito, a idéia de
um sistem a que nos encerra n a nossa p ró p ria im anência e vê em to d o o desenvolvi­
m ento intelectual ou vital apenas p u ra eferên cia : o ra , aquilo que querem os eviden­
ciar é a im possibilidade de fato em que nos encontram os de “ fe char” assim o pensa­
m ento e a vida; é o sentido desta inadequação interior, princípio de to d a inquietação
e de to d o m ovim ento espiritual; é o dever de nos abrirm os à dupla aferência das ínti­
m as estimulações g ratuitas e dos ensinam entos autorizados pelo suprem o esforço da
nossa razão e d a nossa sinceridade. (M . Blondel)
Se se definir a im anência de um p o n to de vista intelectualista e, p o r assim dizer,
logístico, no sentido de que o pensam ento se im plicaria ele pró prio com pletam ente
em cada um dos seus m om entos, supõe-se com isso que to d a a realidade é em cada
instante tu d o o que pode ser e que n ada mais tem os a fazer do que descobrir as rela­
ções necessárias que ligam os elem entos constituintes. A realidade encontra-se assim
assim ilada a um a noção geom étrica posta de um a vez p o r todas n a sua essência e
cujas propriedades se ligam logicam ente, de tal fo rm a que o espírito colocado no
exterior pode ir racionalm ente de um a à o u tra. O ra, longe de com eçar p o r p ôr desta
fo rm a um princípio de im anência p ara chegar a este resultado fazendo apenas apelo
à lógica, sem pre pretendem os, pelo contrário, que pelo m éto d o d e im anência se de­
via chegar a um a dou trin a da transcendência, porq ue a lógica não é a única a in ter­
vir... O pensam ento é condicionado pela ação; a vida não consiste apenas em pensar
logicam ente, m as tam bém em agir. E a ação só é ação enquanto é criadora. O que
quer dizer que pela ação nos superam os a nós próprio s, fazemos com que a realidade
se torn e diferente daquilo que era. E isso im plica que o devir seja real e não apenas
aparente.
A questão que em seguida se coloca é a de saber se o m étodo de imanência assim
entendido substitui sim plesmente o f ie r i ao esse; o que resultaria num a espécie de
m onism o dinâm ico (Bergson talvez) ou de anarquism o (Chide), ou ainda se não leva
a adm itir um esse que to rn a possível e explica o f ie r i com o princípio e como fim.
E tem os assim o dualism o cristão opondo-se ao dualism o d a filosofia grega clássica;
dualism o que poderia cham ar-se um pan en teísm o e se distingue do outro porq ue a d ­
mite que nad a existe e n ada se faz a não ser por Deus — e, pois, que Deus se encon­
tra em tudo — , mas que todavia algum a coisa existe e age não sendo Deus. (L . La-
berthonnière)
Cf. do m esm o au to r, “ D ogm a e teo lo gia” (A n n ales d e p h ilo so p h ie chrétienne,
setem bro de 1907 a fevereiro de 1908).
“ IM A N E N T ISM O ” 524

Espinosa distingue, num sentido que duzem ou, noutro s term os, não é preciso
parece ser m uito próxim o, causa im m a- opor Deus e o m undo com o dois seres
nens e causa transiens: “ Extra Deum nul- realm ente distintos. Cf. a encíclica Pas-
la potest dari substantia, hoc est res quae cen di (1908), onde se declara que a p ro ­
extra D eum in se sit... Deus ergo est om- posição “ Deus é im anente ao hom em ”
nium rerum causa im m anens, non vero tem por conseqüência lógica o panteísmo.
transien s.” Ética, I, 18. Ver A co sm ism o . Ver Im an en tism o.
P arece que a utilização m oderna des­ R ad. in t .: Im m anent.
ta palav ra, no sentido A , vem daí, mas
com um a espécie de inversão do objeto “ IM A N EN TIS M O ” D. Im m anentis-
considerado: porq ue, em vez de cham ar mus\ E. Immanentism·, F. Imm anentisme;
causa im anente àquela na qual a sua ação I. Im m anentism o.
perm anece, coloca-se antes no p o n to de N eologism o que desem penha um im ­
vista do ser no q ual se pro duz um efeito; po rtan te papel nas discussões contem po­
e opõe-se a ação im anente, não àquela râneas de filosofia religiosa. Os “ m oder­
que iria ao exterior (actio exiens, S. TÃ ­ nistas” e seus adversários concordam em
Oá è DE A I Z « ÇÃ ) , m as àquela que viria designar assim a d o u trin a que os prim ei­
do exterior. A ssim , quando se diz comu- ros defendem e que os segundos conde­
m ente que p a ra o panteísm o Deus é im a­ nam . Encíclica Pascendi D om inici gregis;
nente ao m undo (ou que é a sua causa L e p ro g r a m m e d es m odernistes, cap. II:
im anente), n ão se pretende dizer que o “ O nosso im anentism o.”
m undo não é n a d a m odificado pela ação M as uns e outro s estão em desacordo
de Deus, mas, inversamente, que Ele con­ acerca daquilo que é preciso entender por
tém em si m esm o, na Sua natureza, a ra ­ esta palavra: segundo a Encíclica, os seus
zão dos efeitos divinos que aí se produ- dois elementos fundam entais seriam os

Sobre “ Im anentism o” — “ Rejeitar com o convencional a representação abstrata


e parcializada do real” não poderia constituir a definição específica e distinta de um
m étodo. T odo filósofo pretende não se contentar com um a representação desta es­
pécie. Q uando se têm os olhos abertos, apenas se possui, é verdade, um a representa­
ção parcial do m undo, m as quando se fecham os olhos a pretexto de f é ou de ação,
tem-se um a representação ainda menos to tal, na m edida em que é nula. É essa a ilu­
são dos im anentistas, pragm atistas, místicos, de todos os inimigos da inteligência hu­
m ana: fid e s fu g ie n s inteliectum .
O Deus de que falam os im anentistas e do qual crêem ter o sentim ento é ele m es­
m o um conceito, obtido ou elaborado por operações discursivas e objeto do discur­
so , a m enos que falem sem saber do que falam e sem poder fornecer disso um a deter­
m inação inteligível. C om o, sem a inteligência e as idéias, distinguir as razões do co­
ração das não-razões do coração? Se, pois, o term o im anentism o é vago, é porq ue
a d o utrina tam bém o é. (A . Fouillée )
O im anentista deveria silenciar-se, na m edida em que a linguagem é im potente
p ara traduzir as im pressões, n a m edida em que as parcializa arbitrariam ente. O im a­
nentism o é a condenação de to d a a ciência e de to d a a filosofia racional: é u m a m o­
d a poética. (F. M en tré )
A Encíclica parece, do ponto de vista filosófico, enganar-se gravem ente quando
assegura que esta opinião: D eu s é im anente ao h om em , im plica que a ação de Deus
se confunda com a da natureza. N ão está provado que a im anência não im plica, com
efeito, num certo sentido, a doutrina da transcendência. (L. Boissé)
525 IM ED IA TO

seguintes: 1? A opinião segundo a qual P alavra criada por BE 2 3 E Â E à para


o sentim ento religioso b ro ta “ por im a­ designar a sua d o utrina m etafísica, que
nência vital” das profundezas da sub- considera com o a exata antítese do m a­
consciência; que é o germe de to d a reli­ terialism o: só existem realm ente os espí­
gião e esta, por conseqüência, é apenas ritos, aquilo a que se cham a vulgarm en­
“ um fruto pró prio e espontâneo da n a ­ te m atéria tem apenas a existência de ser
tu re z a ” ; 2? A opinião segundo a qual percebida, e esta percepção tem com o
“ Deus é imanente ao hom em ” , o que im­ causa direta a vontade de Deus. Ver n o ­
plicaria logicam ente que a ação de Deus m eadam ente o terceiro D iálogo d e H ilas
se co nfunda com a da natureza e “ que e F ilonous.
não h aja nenhum a ordem sobrenatural” .
IM BECIL D. Schwachsinig ; E. Im be­
Os m odernistas, pelo contrário, declaram
cile·, F. Imbécile·, I. Im becile, sciocco.
que por im anentism o entendem apenas a
Ver Idiota. (Diferença entre estes dois
filosofia que rejeita com o convencional
term os.)
a representação abstrata e parcializada do
real, não adm ite as provas conceptuais e IM ED IAÇÃ O D. Unm ittelbarkeif, E.
discursivas da existência de D eus, e con­ Im m ediation; F. Im m édiation·, I. Im m e-
sidera a religião “ com o um resultado es­ diazione.
po ntâneo de inextinguíveis exigências do A. Característica daquilo que é im e­
espírito hum ano, que encontram satisfa­ diato. “ Q uanto àquilo que são as verda­
ção na experiência íntim a e afetiva da pre­ des prim itivas de fato , são as experiên­
sença do divino em nós” . P rogram m e, p. cias im ediatas intern as, de um a im edia­
118. Cf. P rin cípio de im anência. ção de sentim ento.” L E « ζ Ç« U , N o vo s en­
saios, IV, cap. II, § 1.
CRÍTICA
B. N o sentido concreto: o que é im e­
U m term o tão vago parece bem p o u ­ diato, aquilo que constitui um dado im e­
co recom endável. Ele é, aliás, expressa­ diato, “ O pensam ento... parte de um a
mente rejeitado pelos partidários do “ mé­ im ediação, tende e aspira a um a u n ião ” .
todo de im anência” . Ver a Encíclica Pas- M aurice BÂ ÃÇá E Â , L e p ro c ès d e l ’intel­
cen di nos A n n a les d e p h ilo so p h ie chré- ligence, p. 6.
tienne, outu b ro de 1907. R ad. in t.: A . Nemediates; B. Neme-
diataj.
IM A TERIA LISM O D . Im m aterialis-
m us; E . Im m aterialism ; F. Im m atérialis- IM E D IA T O D . U n m ittelbar; E . Im ­
me; I. lm m aterialism o. mediate·, F . Im m édiat·, I. Im m ediato.

Sobre Im ediato — A distinção entre os dois sentidos definidos nos § 1? e 2? foi


proposta p o r F. R auh e ad o ta d a n a sessão de 2 de ju lh o de 1908.
Ver um a discussão sistemática dos sentidos de im ediato em Ed. LE R Ãà , L a p en -
sée in tu itive, tom o I, cap. III, p p . 106-113.
A crítica parece-me incom pleta. D istingue, em sum a, a utilização da palavra, do
p o n to de vista racionalista ou analista p u ro , em prego correto; e utilização da pala­
vra do ponto de vista em pirista ou histórico, em prego m enos correto, já que expri­
m imos m elhor a m esm a idéia pelas palavras: prim eiro ou prim itivo. Todavia, m es­
m o d o p onto de vista histórico, o prim itivo pode sê-lo em dois sentidos: atualm ente
e de fato ; ou absolutam ente, quer dizer, p a ra a reflexão experim ental, que procura
e descobre antecedentes àquilo que p a ra nós é prim itivo fo ra dessa operação da re-
IM ED IA TO 526

O posto a m ed ia to . Diz-se de to d a re­ cim ento interior: assim , todas as opera­


lação, ou de to d a ação na qual os dois ter­ ções da vontade, do entendim ento, da
mos em presença estão em relação sem imaginação e dos sentidos são pensamen­
que h aja um terceiro term o interposto ou to s.” DE è Tτ 2 I E è , R espostas à s segundas
interm ediário. objeções, “ Razões que provam a existên­
A. E m p a rticu la r, o conhecim entocia de D eus, e tc .” , § 2.
diz-se im ediato: 2? Q uando não h á interm ediário en­
1? Q uando n ão existe interm ediário tre dois objetos de pensam ento de que o
en tre o sujeito cognoscente e o objeto co­ espírito ca p ta a ligação.
nhecido (e nom eadam ente quan d o o co­ N o espaço o u no te m p o , um a conti-
nhecimento é o do sujeito por si próprio). güidade ou um a sucessão são imediatas se
“ Com o nome de pensamento, compreen­ as duas regiões ou os dois m om entos con­
do tu d o o que está de tal m odo em nós siderados não com preendem um terceiro
que o apercebem os im ediatam ente por en tre si. D o uso desta p alavra no segun­
nós próprios e dele possuímos um conhe­ do destes casos vem o sentido que tom a-

flexão. H averia, p o rtan to , necessidade de distinguir: im ediato, prim eiro n a observa­


ção; prim eiro perante a reflexão experim ental, ou últim o. (Aí. Bernès)
Mτ « ÇE áE B« 2 τ Ç utiliza freqüentem ente a palavra im ediato p a ra designar um fe­
nôm eno de consciência (afecção, ou m esm o sensação) que se pro duz em nós sem in­
tervenção do eu, por oposição àquele sobre os quais reagim os e de que nos apro p ria­
mos através desta própria reação. (J . Lachelier )
A prim eira redação deste artigo term inava deste m odo: “ U m conhecim ento ou
um dado im ediatos são um conhecim ento ou um dad o últim os ou prim itivos, p ara
além dos quais é impossível levar a análise e, p o r consequência, d evem ser tid o s sem
reserva p o r verdadeiros e rea is.”
E sta frase, que apenas exprim ia, aliás, a carga deste term o no pensam ento d a ­
queles que o utilizam , provocou as seguintes observações:
D o fato de um dado ser im ediato, seguir-se-á que ele é objetivam ente válido? Não
se deverá fazer um a grande reserva a esse respeito? (J . Lachelier)
Por que sem reservai O último não é necessariamente verdadeiro. Só é preciso admiti-
lo como verdadeiro sob a reserva da nossa constituição intelectual e cerebral, e pode­
mos sempre duvidar do valor absoluto de tal constituição. O conhecimento “ simples” ,
“ despojado de tudo aquilo que não vem do próprio objeto” , parece-me um a impossi­
bilidade. O sujeito não pode excluir-se e eliminar-se do seu próprio conhecimento, já
que é sempre ele quem conhece. H á, pois, no conhecimento do objeto sempre qualquer
coisa que vem do sujeito, senão mais, o próprio conhecimento. É isso que impede a
existência de todo dado im ediato objetivo-, é isso que reduz todo da d o im ediato a um a
consciência de estados ou atos subjetivos; e essa pró pria consciência não é nunca, ou
apenas aparece com o im ediata sob a sua form a espontânea e individual. Os dados ime­
diatos da consciência, de que se fez um a tão bela análise, são um a generalização e um a
abstração; existem realmente os dados da m inha consciência, por exemplo um a dor que
experimento no próprio m omento e que a partir do m om ento que a p e r c e b o , a c o n c e b o
e a exprimo, deixa de ser im ediata. Q uanto ao conhecimento infalível e perfeito, é redu­
zido a um ponto perdido na duração: é o conhecimento de um relâm pago. Víctor Cou-
sin acreditava refutar o criticismo de K ant opondo o espontâneo ao refletido; ele tam ­
bém não será refutado, n a m inha opinião, opondo o imediato ao m ediato, atribuindo-
lhe um “ valor epistemológico de verdade” . (A . Fouillée)
527 IM E D IA T O

ram as palavras im ediato e im ediatam en­ que subordine a teoria do silogismo à das
te, n a linguagem corrente: logo, sem conseqüências im ediatas, acho-a dupla­
dem ora. mente errônea: creio que nenhum a das fi­
Em L#; « Tτ , um a proposição im edia­ guras do silogismo, pelo menos aquelas
ta (irgoracTis a/ieaos, ARISTÓTELES, A n a- que A ristóteles adm itiu, repousa sobre
lít. p o s t., 1, 2, 72a7) é aquela que enun­ um princípio evidente por si próprio , e
cia um a relação im ediatam ente conheci­ que as conseqüências a que erradam ente
da en tre os term os que a com põem e por se chamam imediatas, e das quais nos ser­
conseguinte não resulta de nenhum a o u ­ vimos p a ra dem onstrar as figuras, são
tra. U m a inferência im ediata é aquela que elas próprias silogismos de três figuras di­
não exige term o médio: conversão, subal­ ferentes.” J. Lτ T7 E Â « E 2 , É tudes su r le
ternidade, contraposição. M as defendeu- syllogism e, p. 5.
se que esta im ediatidade é apenas aparen­ B. O objeto de um conhecimento ime­
te: “ P o r mais geral que seja a opinião diato é ele pró prio cham ado um dado

H . B ergson, a quem estas críticas foram com unicadas, respondeu-lhes com a se­
guinte nota:
1? “ P o r que adm itir sem reserva com o verdadeiros e reais os dados últim os da
nossa consciência?”
P orque to d a a filosofia, qualquer que ela sejà, é efetivam ente obrigad a a p artir
destes dados. Se se tra ta r do livre-arbítrio, quer p a ra o afirm ar, quer para o negar,
parte-se do sentim ento im ediato que dele se experim enta. Se se especular sobre o m o­
vim ento, parte-se da consciência im ediata da m obilidade, etc. A penas adm ito, p o r­
ta n to , aquilo que to d a a gente com eça p o r adm itir. É verdade que a m aior p arte dos
filósofos ensaiando em seguida a d a p ta r a esses dad os im ediatos os conceitos n a tu ­
rais ou artificiais do espírito, e apercebendo que eles não podem m anter-se no inte­
rio r destes conceitos, concluem daí, com o Fouillée, que devemos duvidar do valor
do im ediato. M as tentei m o strar que esses conceitos são com pletam ente relativos à
nossa ação sobre as coisas, m ais particularm en te sobre a m atéria: n ão podem os dar-
lhes (a m enos que os façam os sofrer m odificações p ro fundas) um papel p a ra o qual
não foram feitos.
Dir-se-á que esta m an eira de encarar os conceitos é m uito sim plesmente úm a teo ­
ria filosófica, e que esta filosofia não vale nem m ais nem menos do que as outras
teorias? Respondo que o im ediato se justifica e vale p o r si m esm o, independente­
m ente desta teoria do conceito. C om efeito, to das as filosofias que lim itam o âm bito
d o im ediato com batem -se necessariam ente um as às o u tras, constituindo tantas vi­
sões quantas as m aneiras pelas quais tom am os o im ediato colocando-nos em pontos
de vista diferentes, apontan do-lhe categorias diferentes. C ada um a dessas filosofias,
quando nos colocam os no p onto de vista de um a das ou tras, aparece com o um a fo n ­
te de contradições ou de dificuldades insolúveis. Pelo contrário, o reto rno ao ime­
diato suspende as contradições e oposições, fazendo desvanecer-se o problem a em
to rn o do qu al o com bate se dá. Este poder do im ediato, quer dizer, a sua capacidade
p a ra resolver as oposições suprim indo os problem as, é, na m inha opinião, a m arca
exterior pela qual a intuição verdadeira do im ediato se reconhece.
2? “ O últim o n ão é necessariam ente verdadeiro, só é preciso adm iti-lo com o ver­
dadeiro sob a reserva d a nossa constituição intelectual e cerebral, é podem os sempre
duvidar do valor absoluto de tal constituição.”
IM EDIA TO 528

im ediato em relação ao espírito que o co­ A2 distinguia: yvu Q in ú ríQ a


« è I $I E Â E è
nhece. P o r conseguinte, m as de um p o n ­ x a i aoKpéoTtQa fiiuv-yvuQiiiMTeQct x a i
to de vista um pouco diferente, um co­ aaipeareça rij púcrei. (Física, I, 1; 184a,
nhecimento ou um dado im ediato são um 116 seq.) (Cf. a passagem dos Segundos
conhecim ento ou um dado ú ltim os, ou A n a lítico s citad a acim a, e n a qual se tra ­
p rim itiv o s, além dos quais é impossível ta precisam ente do im ed ia to .) Acontece,
levar a análise, e, por conseqüência, não com efeito, que se aplica esta palavra ora
podem ser logicam ente contestados.
ao conhecim ento simples, despojad o de
Tam bém se diz m uitas vezes, neste
tu d o aquilo que não vem do pró prio o b ­
sentido, sen tim en to im ediato.
je to , por conseqüência infalível e perfei­
C R ÍT IC A to: tal é o sentido desta palavra n a o b ra
A palavra im ed ia to , nesta últim a de BE 2 ; è ÃÇ : Ensaio so b re o s d a d o s im e­
acepção, aplica-se a duas espécies con­ d ia to s d a consciência·, o ra , pelo co n trá­
trárias de um m esm o gênero, que já rio, ao conhecim ento que nos é dado já

Trata-se aqui de duas coisas diferentes, a inteligência e o cérebro. Comecemos


pela prim eira. N inguém defenderá, penso eu, que a inteligência possa criar estados
de alm a, tais com o o sentim ento im ediato da m obilidade, ou o sentim ento im ediato
da liberdade, de que falávam os ainda h á pouco. O papel d a inteligência só pode ser
aq ui o de lim itar, criticar, corrigir, decom por e recom por: nenhum a q u alidade nova,
nenhum ob jeto de intuição simples sairá daí. Se, pois, tom arm os o estado de alm a
sob a sua fo rm a bruta, não ainda elaborado pela inteligência, ele será, p o r isso mes­
m o, independente da nossa constituição intelectual. O ra, é assim que eu o to m o.
Resta, então, a hipótese segundo a qual o estado de alm a em questão reflete um
fenômeno cerebral, que poderia ter sido outro p ara um cérebro cu ja com posição quí­
m ica fosse diferente, etc. M as tentei m ostrar que esta tese: 1? é co n tra d itó ria consigo
p ró p ria (ver o artigo intitulado: O pa ra lo g ism o psicofisiológico); 2? co n trad ita pelos
fatos naquilo que ela pode ter de inteligível (ver M a téria e m em ória, cap. II e III).
Im plica to d a um a m etafísica de que é fácil enc ontrar as origens (ver a E volu ção cria­
d o ra , cap. IV). A verdade é que o papel do cérebro consiste em assegurar, a todo
m om ento, a inserção perfeita do espírito no que atu alm en te o rodeia, graças à elimi­
nação do inútil. N ão pode criar qualquer qu alidade psicológica. E corresponde a
atribuir-lhe este poder de criação considerar os dados imediatos relativos à nossa cons­
tituição cerebral. A constituição do cérebro explicará a ausência desses sentim entos
em certos seres ou em certos casos, nunca a sua presença.
O bjetar-se-á que tudo isto é ainda um a teo ria, e que a esta teoria se pode opor
outras? Seja, convenham os deixar de lado to d a teo ria. Resta a experiência bruta,
que nos oferece, p o r um lado, os dados im ediatos da consciência, e, por ou tro , um a
pequena m assa de m atéria mole sem qualquer relação aparente com qualquer desses
estados tom ad os isoladam ente. N inguém pensará em su bord inar a natureza desses
estados à com posição quím ica dessa m assa.
3? “ O conhecim ento simples, despojado daquilo que não é o pró prio objeto,
parece-me um a im possibilidade. O sujeito não pode excluir-se e eliminar-se do seu
pró prio conhecim ento... H á, pois, sem pre no objeto qualquer coisa que vem do su­
je ito ... É isso que im pede a existência de qualquer dado im ediato o b je tiv o ...”
E sta crítica im plica que a consciência não atin ja o u tra coisa senão o subjetivo
e que o im ediatam ente dado seja necessariamente individual. M as um dos principais
529 IM IT A Ç Ã O

feito pelo senso com um , por exemplo, a Term o da linguagem usual que tende
representação corrente do m undo exterior atualm ente a to m ar um lugar im p o rtan ­
e de nós pró prio s, que é, pelo co ntrário, te n a psicologia e n a sociologia, em p a r­
o ponto de p artid a de um a análise críti­ ticular sob a influência de T τ 2 á E na
ca, e n a qual descobrim os m uito tra b a ­ França (A s leis d a im itação, 1890; A ló ­
lh o inconsciente e hereditário, de inter­ gica social, 1895) e de Bτ Â áç « Ç na Am é­
p retação e de construção. “ D entro de rica (M en ta l D evelo p m en t in the C h ild
n ó s... um princípio desenvolve-se conti­ a n d the R a ce1, 1895; S ocial a n d E thical
nuam ente que vai capta r fo ra de nós as Interpretations in M en tal D evelopm en t12,
realidades que o m undo co n tém ... Este 1897).
princípio não se detém à superfície das P è « TÃÂ Ã; « τ . NÃ sentido mais amplo,
coisas, nesses fenôm enos, nesses atrib u ­ to d o fenôm eno psíquico, consciente ou
tos visíveis que no-los m anifestam im e­ n ão , que tem com o característica rep ro ­
diatam ente, ele penetra mais longe... num duzir um fenôm eno psíquico anterior.
m undo escondido que a nossa visão não Bτ Â áç « Ç , no artigo m uito com pleto que
vê, que a nossa m ão não poderia to c a r.” consagrou a este tem a (D ictio n a ry, I,
J ÃZ E E 2 Ãà , M élanges p h ilo so p h iq u es, 519-520), distingue entre outras as seguin­
Psychologie, I, p. 199. tes expressões:
Cum pre, pois, d ar um a grande aten­ Im itação consciente, aquele que im i­
ção ao equívoco contido nesta palavra. ta sabe que im ita.
Sendo o prim eiro sentido ap oiado pela S ugestão im itativa, aquele que im ita
etim ologia, e o segundo pelo uso cotidia­ n ão tem consciência de im itar; só existe
no deste term o na sua acepção corrente, im itação p a ra um espectador.
é m uito difícil não deslizar de um p ara o Im itação plástica. “ The subconscious
outro, o que leva a reivindicar para o ime­ conform ity to types o f thought and ac-
diato (no segundo sentido) um valor epis­ tions, as in the crow ds.” 3 Este caso p a ­
tem ológico de verdade que pertence ape­ rece ligar-se ao precedente.
nas ao imediato (no sentido primeiro); ou, A u to -im ita çã o , ou im itação de si por
inversam ente, a acreditar que não existe si próprio . (C f. tam bém Tτ 2 á E , L eis da
nada de logicam ente prim itivo, porque im itação, cap. IV.)
aquilo que é psicologicam ente prim itivo
está sempre sujeito à crítica e à revisão.
1. O desenvolvim ento m en ta l na criança e na
Cf. D ados.
raça.
R ad. int.: Nem ediat. 2. Interpretações sociais e m orais d o desenvol­
vim ento mental.
IM IT A ÇÃ O D . N ach ahm un g; E. 3. “ A c o n fo rm id a d e su b co n scien te a tip o s de
Im itation ; F. Im itation ; I. Im itazion e. p e n sam en to e a aç ões, co m o n as m u ltid õ e s.”

objetos de M atéria e m em ória e d a E volu ção criadora é precisam ente estabelecer o


contrário. N o prim eiro destes dois livros, m ostra-se que a objetividade da coisa m a­
terial é im anente à percepção que dela possuím os, desde que tom em os esta percep­
ção no estado b ru to e sob a sua fo rm a im ediata. N o segundo, estabelece-se que a
intuição im ediata capta a essência da vida assim com o a da m atéria. Dizer que o co­
nhecim ento vem do sujeito e que im pede o dad o im ediato de ser objetivo é negar
a p rio ri a possibilidade de duas espécies m uito diferentes de conhecim ento, um a es­
tática, por conceitos, onde existe, com efeito, separação entre o que conhece e o que
é conhecido, a o u tra dinâm ica, p o r intuição im ediata, onde o ato de c o n h e c i m e n to
coincide com o ato gerador da realidade. (H . Bergsori) Cf. In cogn oscível.
IM O RAL 530

Im itação sim ples e im itação p ersev e­ Em O Im oralista de A ndré G « áE


rante (persistente): a prim eira faz-se ime­ (1902), a palavra é tom ada num sentido
diatam ente, a segunda exige esforços re­ um pouco diferente: trata-se do caráter
petidos p a ra ser conseguida. de um hom em pouco ou nada sensível
Im itação in stin tiva e im itação volun­ àquilo que é com um ente considerado
tária. E sta distinção não se confunde com bom ou m au m oralm ente. Cf. Im oral, A .
a precedente: um a im itação perseverante CRÍTICA
pode ser quer voluntária (um hom em que Este segundo sentido é de longe o mais
aprende a pronúncia de um a língua es­ usual. Dificilm ente se diria que o cristia­
trangeira), qu er instintiva (um a criança nism o é im oral ao ensinar o perdão pelas
que começa a falar). injúrias; e, inversam ente, dir-se-á, nos
E è I é I « Tτ . Teoria d a im itação que re­ nossos dias, que p a ra um socialista a he­
m onta à fórm ula de A 2 « è I ó I E Â E è segun­ ran ça é im oral. Ver A m o ra l.
do a qual o princípio das artes reside na R ad. in t.: A . M alm oral; B. M aletik.
HÍfiijois (P o ética , cap. I, 1447 a-b): clás­
IMORAL1SMO D. Imm oralism us; E.
sica na A ntiguidade (cf. Sé ÇE Tτ , “ O m -
Im m oralism ; F. Im m oralism e; I. Im m o-
nis ars naturae im itatio est” , Cartas a Lu-
ralism o.
cilius, 1 65, § 2 [exemplo de um a estátua]);
D o u trin a de N « E I Uè T7 E segundo a
e até m eados do século X V II: ver Bτ I - qual a m oral, no sentido em que vulgar­
I E Z 7 , A s belas-artes reduzidas; um m es­ m ente se entende esta palav ra, deve ser
m o p rin cíp io , 1747. C f. Bτ è T7 , A esté­ substituíd a p o r u m a escala de valores
tica d e K an t, intro dução. com pletam ente diferente, inversa mesmo
A teo ria d a im itação fo i re to m a d a en­ na m aior parte dos pontos. O term o imo-
tre os c o n te m p o râ n e o s p o r Bτ Â áç « Ç e ralismo vem do próprio Nietzsche, que ti­
L « ú ú è n u m sen tid o u m p o u co d iferen te. n h a a intenção de d a r p o r títu lo à tercei­
R ad. int.\ Imit (Boirac ). ra p arte d a V ontade d e p o d e r . “ O im o ­
ralista (d er Im m oralisi), crítica d a espé­
IM O R A L D. U nsittlich ; E. Immoral·,
cie de ignorância mais nefasta, a M o ral.”
F. Immoral·, I. Im m orale.
{Plano d e 1888.)
A . Contrário às regras de conduta a d ­
m itid as num a época e num lugar d ad o s. CRÍTICA
B. C ontrário às regras de conduta ad ­ E sta expressão não deve ser aceita:
m itidas por aquele que fala. trata-se aqui de um a nova m oral (ainda

Sobre Im oralism o — A d o utrina que apenas adm ite juízos de fato , não juízos
de valor, nega por isso m esm o a m oral, é pro priam ente o am oralism o. O im oralism o
vai mais longe: não só nega a existência da m oral, m as tam bém pretende que a con­
duta deve ser dirigida por valores que estão em o p o sição à m oral, que são antim o-
rais. {A. Fouilléé)
N ada de mais justo se p or “ M o ra l” se entende o conjunto das prescrições de con­
d u ta habitualm ente form uladas nos povos cristãos; e era efetivam ente assim que
Nietzsche a entendia. M as se se criticasse esse sentido por ser dem asiado restrito e
se se entender por m oral to d o sistem a de valores categóricos, ou subordinados a um
princípio categórico, a expressão de Nietzsche torna-se i m p r ó p r i a . Ver É tica, C ríti­
ca. {A . L .)
Existem doutrinas efetivamente im oralistas, ou que tendem a sê-lo, no sentido de
que tendem a subordinar a consciência m oral a um a realidade social ou hum ana vista
de fora. A consciência, os juízos de valor, são então considerados com o epifenômenos
provisórios que a ciência do real fará progressivamente desaparecer. (F. Rauh)
531 IM P E R A T IV O

que não seja no va sob todos os aspectos) “ IM Ó V E L (M o to r)” G . κ ι ν ο ύ ν


mais do que de u m a supressão do cará­ α κ ί ν η τ ο ν , A 2 « è I %I E Â E è , Física, V III,
ter norm ativo categórico que constitui es­ 5:257 b 24, etc., ver M o to r.
sencialmente a m oralidade: um im oralis-
m o no sentido estrito d a palavra adm iti­ IM PA SSÍV EL Prim itivam ente term o
ria apenas juízos de fato e não juízos de técnico relativo às doutrinas m orais da
valor. N ão h á necessidade de p ro p o r um A ntiguidade, e particularm ente ao estoi­
radical internacional. cism o, traduzindo o G . α πα θ ή ·* (im pas-
sibilis n ão pertence ao latim clássico); e
IM O RTA LID A D E (da alma) D . Uns­ Im passibilidade, traduzindo o G . α π ά -
terblichkeit (d er Seele)·, E. Im m ortality (o f O ua. As duas palavras acabaram p o r se
th e soul); F. Im m o rta lité (de l ’âme); I. enfraquecer e p o r cair n a linguagem cor­
Im m o rta lità (d e ll’anim a). rente, poden do o m esm o dizer-se para
A d o u trin a da im o rtalidade d a alm a Im p ertu rb á vel (G. ά τ ά ρ α χ τ ο ς , α τ ά ρ α ­
é a afirm ação de que a alm a sobrevive in­ χ ο ς : baixo-latim im perturbabilis) e Im per­
definidam ente à m orte com as caracterís­ turbabilidade (G. α τ α ρ α ξ ί α ). M as encon­
ticas que constituem a sua individualida­ tram os ainda todas elas usadas no senti­
de (cristianism o, islam ism o, espiritualis­ do histórico: ver, por exem plo, RE ÇÃZ -
m o clássico, kantism o). E sta expressão â« E 2 , P h ilo so p h ie á n d e m e , II, 315-316;
foi algum as vezes aplicada à perm anên­ GZ à τ Z , M orale d ’É picure, p. 52.
cia não individual da substância espiritual C f. A p a tia e A taraxia.
(ver E « è Â E 2 , VÃ Unterblichkeif); m as por
um a espécie de catacrese e n ão p ro ­ IM PER A TIV O D. Im perativ; E. Im ­
priam ente. p e r a i iv; F. Im pérative; I. Im perativo.
A im ortalidade da alm a é, em K ant, P ro posição que possui a form a de
um postulado da razão p u ra p rática (da um a ordem (em particular de um a ordem
possibilidade, p ara um ser finito, de rea­ que o espírito se dá a si m esmo). Um im ­
lizar a perfeição m oral, sob a fo rm a de perativo é h ip o tético se a ordem que
um progresso indefinido em direção à enuncia estiver subordinada, com o meio,
santidade). Crítica da razão prá tica , Dia­ a algum fim que se pretenda atingir, ou
lética, 2.a parte, IV: “ Die U nsterblichkeit pelo menos que se poderia pretender atin­
der Seele, als ein Postulat der reinen prak­ gir: “ Come sobriam ente se quiseres con­
tischen V ernunft.” (A imortalidade da al­ servar a saúde” ; é categórico se ordena
m a enquanto postulado da razão prática.) sem condição: “ Sê ju s to .”
E sta distinção é estabelecida por
CRÍTICA Kτ ÇI , G rundlegung zu r M eta p h ysik der
GOBLOT escreveu a propósito da ex­ Sitien, 2.a seção, § 13 e seguintes. Só exis­
pressão Im o rta lid a d e d a a lm a : “ N ão se te, segundo ele, um im perativo categóri­
tra ta de um a duração que com eçaria de­ co fundam ental, cuja fó rm ula é a seguin­
pois d a separação d a alm a e do corpo p a­ te: “ Age sempre segundo um a máxima tal
ra nunca mais acabar (dir-se-ia neste sen­ que possas querer ao m esm o tem po que
tido vida futura); a im ortalidade seria pa­ ela possa to rn ar-se um a lei univ ersal.”
ra a alm a urna vida intem poral, que já I b id ., § 31.
não estaría subm etida às leis da duração,
T2 íI « Tτ
e já não contaria o antes e o depois.” Vo­
cabulaire, p. 283. Term o m uito útil, pode-se considerar
E sta restrição e esta oposição foram o im perativo com o um a das espécies do
desaprovadas unánimemente na sessão de gênero n o rm ativo, que com preenderia,
2 de ju lho de 1908. A palavra pró pria pa­ além dele, o apreciativo* (“ isto vale mais
ra a idéia assim definida é eternidade*. do que aquilo” ), o paren ético , etc.
R ad. int.\ N em ortem es. R ad. int.: Im perativ.
IM PESSO A L 532

IM PES SO A L D. Unpersönlich·, E. significaria etimológicamente, tom ada ao


Impersonal·, F. Im personnel; I. Im p er­ pé da letra, com o bem o m ostra a frase
sonale. de Janet. Foi form ada por oposição a p es­
A . Que não tem a característica de ser soal, m as no sentido de que esta palavra
um a pessoa. “ O Deus de E spinosa é im ­ implica quer um a prevenção, quer um in­
pessoal.” teresse individuais. Seria necessário con­
B. Q ue não pertence a um a pessoa; denar a sua utilização, n ão sendo um in­
aquilo de que um a pessoa n ão assume a divíduo necessariamente um a pessoa m o­
responsabilidade; que não se dirige a um a ral, nem sequer um a pessoa no sentido
pessoa determ inada: “ U m a n o ta im pes­ m ais geral d a palavra; m as foi consagra­
soal; um aviso im pessoal.” d a pelo uso em m uitas expressões filo­
C. Objetivo, independente de todas as sóficas.
particularidades individuais. A o falar dos
juízos: im parcial. Neste sentido, a pala­ Im pessoais (Proposições) Ver as ob­
vra emprega-se não só com o adjetivo, mas servações sobre P red ica d o .
também como substantivo: “A personalida­
Im pessoal (Teoria da Razão) Teoria
de é, de algum m odo, a consciência d o im ­
segundo a qual a razão de cada hom em
pessoal." P aul J τ ÇE I , L a m orale, p. 593.
não lhe pertence propriam ente, m as é
C R ÍT IC A apenas um reflexo de um a Razão Univer­
A utilização desta palav ra no sentido sal da qual participa: “ A inteligência tem
C está em oposição com aquilo que ela por objeto verdades eternas que não são

Sobre Im pessoal — É preciso n o ta r que im pessoal não se aplica necessariam ente


àquilo que é inferior à personalidade. Seria bom utilizar, para distinguir as duas idéias
que esta palavra representa, os term os in frapessoal e su prapessoal. (R. B erth elot)
E d. L e R o y diz neste sentido: “ P a ra se utilizar um a linguagem sem equívoco, seria
necessário ainda criar um a palavra e declarar Deus S uprapessoal." L e p r o b lè m e d e
D ieu , 279.
Eis aqui o contexto donde fo i ex tra íd a a frase d e P au l J τ ÇE I citad a neste artigo.
Foi-nos com unicado por M . M arsal.
“ A personalidade tem a sua raiz na individualidade, m as tende sem cessar a dela
se desligar. O indivíduo concentra-se em si próprio; a personalidade aspira, pelo con­
trário , a sair de si pró pria; o ideal da individualidade é o egoísm o, o to d o reduzido
a mim; o ideal d a personalidade é o devotam ento, identificando-se o eu com o todo.
A personalidade é de algum m odo a consciência d o im p esso a l *; não é enquanto sou
capaz de sensação, quer dizer, de prazer e de dor físicos, que eu sou um a pessoa;
é enquanto penso o verdadeiro, que am o o bem e quero um e o u tro . A quilo que há
de inviolável nos outros hom ens não é a sensibilidade anim al, não é o instinto m a­
quinai nem as funções vitais; não é evidentemente nem o seu estôm ago, nem a sua
sensualidade, nem os seus vícios: é a centelha do divino que está neles, a capacidade
de participar com o eu próprio daquilo que não é nem teu, nem m eu, do sol com um
dos espíritos e das alm as, da verdade, d a justiç a, da liberdade, de tu do aquilo que
é im pessoal. A personalidade, dizíam os, é a consciência do im pessoal. É esta cons­
ciência do divino em cada hom em que é im ortal e n ão estes ou aqueles acidentes frá ­
geis e ilusórios, que se pretende em vão a rrastar consigo.” 1

1. E m itálico n o livro de P a u l J τ ÇE I .
533 IM P L IC A Ç Ã O

mais que o p ró p rio Deus onde subsistem Cham am os variável a um term o p a r­


e são sempre perfeitam ente entendidas.” cialmente indeterm inado que pode repre­
BÃè è Z E I , C on hecim en to d e D eu s e d e si sen tar a d libitu m vários term os determ i­
p ró p rio , cap. IV, § 5. “ É tam bém aí que n ados, a que nós cham arem os, p o r an a­
as vejo. Todos os outro s hom ens as vêem logia com as m atem áticas, valores desta
com o eu, essas verdades eternas, e todos variável: “ hom em ” será, por exemplo,
as vemos sem pre as mesmas e vemo-las um a variável se p o r isso se puder en ten­
diante de nós; porq ue com eçam os, e der a d libitu m Sócrates, P la tão , César,
sabemo-lo; e sabemos que essas verdades etc., que serão os seus valores.
sem pre fo ra m .” I d ., ibidem . Consideremos agora a relação de duas
E sta expressão é to m ad a algum as ve­ proposições p , q , de que se diz que
p D q , sendo esta relação simplesmente
zes num sentido m ais fraco. “ A razão ...
definida pelo fa to de se p fo r verdadeira,
que consiste apenas n a concepção do in­
q é verdadeira e se q fo r falsa, p é falsa;
finito, é universal, invariável, im pessoal,
dois casos podem acontecer:
não no sen tid o segun do o q u al reside f o ­
1Pp e q não contêm variáveis. Resulta
ra d e n ós, mas porq ue é a m esm a em to ­
daí que p D q pode ser verificada, por
dos e não pertence propriam ente a nin­ duas proposições que não possuem qual­
guém .” F. BÃZ « Â Â « E 2 , em Franck, Vo quer relação entre si, por exemplo, “ Cé­
R azão, 1452 A. M as este texto parece des­ sar passou o Rubicão” e “ Sócrates bebeu
tinad o a responder, ao atenuar o pensa­ a cicuta” estão nessa relação. Com efeito,
m ento do a u to r, às censuras de panteís­ p é verdadeiro, q é tam bém vi materiae: a
m o que a sua obra D a razão im pessoal definição é, pois, satisfeita. É a isso que
(1844) tinha provocado. os autores citados mais acima chamam im ­
R ad. int.\ Nepersonal. plicação m aterial. A definição é até satis­
feita se se tom ar p o r p : “ César está vivo”
“ IM P L E X O ” C aracterística de um
e por q: “ 2 e 2 são 4” ; porque ela exige
conceito que n ão se pode reduzir a um
apenas que, se p for verdadeira, q seja ver­
esquema* mas é form ado por relações im­
dadeira; mas sendo p falsa, q pode ser ver­
plicadas em imagens particulares m uito dadeira ou falsa. D aí o paradoxo de que
diversas, por exem plo, aquelas que suge­ um a proposição verdadeira implique (ma­
rem as palavras: utensílio, anim al, vivo; terialmente) todas as proposições verdadei­
lindo, sublime, in justo, etc. Ver A . BZ 2 - ras e que um a proposição falsa implique
 ÃZ á , P sych o lo g ie , 314-315. todas as proposições verdadeiras ou falsas.
2? p e q contêm um a ou várias variá­
IM P L IC A Ç Ã O D. Im plication; E.
veis com uns e a relação p D q é verifica­
Im plication; F. Im plication; I. Im pli-
da para qualquer valor desta ou destas va­
cazione.
riáveis. Reside aí o sentido vulgar da pa­
A . Relação lógica que consiste em
lavra e o que os autores acim a citados
um a coisa im plicar o u tra. Ver Im plicar.
cham am im plicação fo rm a l. P o r exem­
B . Contradição. (Este sentido tornou- plo, X é h om em D X é m ortal, quem
se antiquado; vem p o r elipse d a expres­ quer que seja X. N outros term os, todos
são: im plicar contradição.) os hom ens são m ortais; de onde o nome
Im plicação m aterial e im plicação f o r ­ de fu n ção proposicion al du pla dada tam ­
mal. (Distinção estabelecida por B. Rus- bém a um a implicação form al deste tipo.
è E Â Â , em The Principies o f M athem atics. C. I. Lewis (A Survey o f Symbolic-
Ver C ÃZ I Z 2 τ I , “ O s princípios das m a­ L o g ic, 1918, cap. V) serve-se neste senti­
tem áticas” , cap. I: “ Princípios da lógi­ do da expressão im plicação* estrita (strict
c a ” , R evu e de m étaph ysiqu e, janeiro de im plication), que perm aneceu usual.
1904, pp. 29-30 e 34-36.) C f. Im plicar , notas.
IM PLICA R 534

C R ÍT IC A cia m ostrar o segundo sempre ligado ao


A origem desta m aneira de definir a prim eiro. “ U m a grande inteligência não
idéia de im plicação e dos paradoxos que im plica um grande c a rá te r.”
ela traz consigo encontra-se no interesse C. Em lógica form al, a fó rm ula geral
que há, para a logística, em elim inar as da im plicação é a D b; significa o se­
expressões como “ resulta necessariamen­ guinte:
te ” , “ é po sto p o r isso m esm o ” , de que
1? Se a e b são classes*, que a com­
preensão de b está com preendida na de a
nos devíamos servir p ara d ar um a idéia
e que, inversamente, em extensão, a clas­
de co njunto daquilo que significa o ter­
se a está com preendida na classe b (sub-
m o im plicar*. M as, do ponto de vista fi­
sunção): “ M am ífero D vertebrado.”
losófico, parece útil convir que a palavra
2? Se a e b são proposições, que se a
im plicação usada isoladam ente e sem
for verdadeira b é verdadeira p o r isso
qu alquer o u tro epíteto designará sempre mesmo (mas não s ó p o r isso); e, por con-
a im plicação form al, que é de longe a seqüência, que se b for falsa a é falsa: “ A
m ais im portante. lei da gravitação im plica a d a qued a dos
R ad. in t.\ Im plik. co rp o s.”
IM P L IC A R D . Einbergrei/en (raro Ver Im plicação.
no infinitivo); in volvierem , algum as ve­ NOTAS
zes im plizieren ; E. To im ply; F. ImpU-
1. “ Im plica” dizia-se o u tro ra por
quer; I. Im plicare.
abreviação em lugar de “ Im plica c o n tra­
Diz-se que um objeto de conhecimen­
dição” . M as esta fo rm a to rn ou-se an­
to “ im plica” um ou tro se o segundo re­ tiquada.
sulta necessariam ente do prim eiro, quer 2. H am elin distingue, no sentido A ,
dizer, se o prim eiro fo r dado, o segundo um a implicação de tipo dialético, que faz
é dado p o r isso mesmo com o mesmo va­ progredir o pensam ento sinteticam ente,
lor e com as mesmas condições deste. e um a implicação descendente, que extrai
Em particular: analiticam ente de um conceito aquilo que
A. Diz-se que um a idéia im plica o u ­ está contido n a sua definição. “ A unida­
tra se a prim eira não pode ser pensada d e não im plica a plu ra lid a d e e am bas a
sem a segunda: “ A relação im plica o n ú ­ totalidade no sentido de que, inversamen­
mero; o núm ero implica o espaço.” A im­ te, a totalid ade im plica um a pluralidade
plicação, neste sentido, é m uitas vezes re­ de unid ad es.” L e s y s tè m e d eR en o u v ie r,
cíproca: “ G rande implica pequeno; idên­ p. 436. A prim eira espécie de implicação
tico im plica diferente; pai im plica filho, é aquela que ele designa freqüentem ente
e tc .” pela palavra invocar*. E sta distinção é
B. Diz-se que um fato ou um a carac­ fundada desde que se adm ita ou não a sua
terística im plica um o u tro se a experiên­ validade.

Sobre Im plicar — Ed. G Ãζ Â ÃI , na sua L ógica, tom ou esta palavra no sentido


estritam ente etim ológico, m uito màis estreito que a sua acepção vulgar: conter, de
um a m aneira não aparente, qualquer coisa j á fe ita , que bastaria to rn ar m anifesta.
“ É inexato” , diz ele, que o antecedente “ im plique o conseqüente que o ‘contém ’,
que se possa dele extraí-lo: são, ou pelo m enos podem ser, heterogêneos.” A igual­
dade dos ângulos n ão está co n tid a na igualdade dos lados; resulta d ela... N ão se tra ­
ta da im plicação de um conceito p o r o u tro , trata-se d a dependência de um juízo com
relação a o u tro. Nos lógicos que correntem ente em pregaram este term o, equivale efe­
tivam ente à expressão “ a acarreta b ” , usada de preferência por G oblot.
535 IM P R E S S Ã O

3. O sinal D só deve ser utilizado p a(literalmente:


­ Sé implícito; quer dizer, obe­
ra a im plicação tal com o é entendida pe­ dece sem pensar). Ver MZ 2 2 τ à , sub Vo.
la lógica fo rm a l. S eria ú til a in d a C om preensão im plícita, co njunto da
desdobrá-lo devido às observações indi­ definição e das características que se de­
cadas no artigo Im plicação. Cf. C. I. LE duzem d a definição ( = da com preensão
ç « è , A S u rvey o f S im b o lic L o g ic1. decisória, enunciada pelo definidor) sem
R a d . int.: Im plik. figurar explícitamente nesta: por exem­
plo, p ara a tangente à circunferência (de­
IM P L ÍC IT O D . Im plicit ; E. Implicit;
F. Implicite·, í. Im plícito. O posto a finida com o posição limite d a secante) o
E xplícito*. fa to de ser perpendicular ao raio, etc.
A . P ro priam ente, é im p lícito o que é R ad. int.: A . Im plicit.
implicado por aquilo que se enuncia, m as
IM PO SSÍVEL D . Unmöglich-, E. Im ­
que não é ele pró p rio expressam ente
possible-, F . Im possible; I. Im possibile.
enunciado.
B. Em francês: que não quer ou n ão Ver P ossível.
pode explicitar o conteúdo do seu pensa­
IM P RE SSÃ O D . A . C . Eindruck; B.
m ento. P o r conseguinte, frequentem en­
Reiz; E . A . B. Impression; F. Impression;
te tom ado por eufem ism o num sentido
pejorativo: em baraçado, obscuro. I. Im pressione.
C. “ F é im plícita ” , expressão técnica A . C o njunto das ações fisiológicas
de teologia para designar a fé que se tem que provocam a sensação: 1? ação física
num dogm a sem se ocupar com aquilo ou quím ica exercida sobre um a term ina­
que este significa, por pura obediência ou ção nervosa sensitiva; 2? transm issão ao
confiança n a auto ridade que ord en a que cérebro; 3? m odificação cerebral corres­
nele se creia. “ É verdade to davia que se pondente.
quer m uitas vezes designar m ais aquilo B. A penas o prim eiro destes term os:
que outros pensam de que o que se pensa ação sobre u m a term inação nervosa.
por si p ró prio , com o acontece m uitas ve­ C. E stado de co njunto da conscien­
zes com os leigos cuja fé é im plícita.” cia que apresenta um tom afetivo carac­
LE « ζ Ç« U , N o v o s ensaios, III, II, § 2. Ex­ terístico, que corresponde a um a ação ex­
pressão m uito rara em francês. E ncontra­ terior; opõe-se à reflexão e ao juízo fu n ­
m o-la fo ra das obras especiais: “ Depois dado sobre um a análise.
de vários meses de aplicação, Julien tinha
ainda o ar de pensar: a sua m an eira de CRÍTICA
m over os olhos e de mexer a boca não Excitação* diz-se tam bém nos dois
anunciava a fé im plícita e prestes a crer primeiros sentidos, mas sobretudo no sen­
em tu d o .” SI E Çá 7 τ Â , O verm elho e o
tido B. Im pressão, pelo contrário, utiliza-
negro, cap. X X V I. Talvez em Stendhal
se de preferência no sentido m ais am plo.
seja um anglicismo; a expressão Im p licit
Seria bom , p o rtan to , especializar um e
fa ith é m uito com um em inglês; p. ex.
outro destes empregos e entender sempre
H Z OE , The N atu ral H isto ry o f Religión,
cap. X II, de onde im p licit no sentido de por im pressão o co n junto dos estados fi­
absoluto, sem discussão, sem reserva (tai- siológicos que provocam na consciência
vez por um contra-senso acerca da expres- o aparecim ento de um a sensação; por ex­
Não precedente); e, mesmo para obedien- citação, a ação física ou química que atin­
e, falando das pessoas “ Be im plicit” ge um a extrem idade nervosa, ou mesmo
de um a form a geral um tecido vivo, e nele
provoca um a m odificação.
1. Visão de con ju n to da lógica sim bólica. R ad. int.: Im pres.
IM PRESSAS (Espécies) 536

IM PRESSAS (Espécies) Ver Espécies. Im p u tá vel significa prim itivam ente:


que pode ou deve ser tid o à con ta de de­
IM PU LS O D. Trieb; E. Impulse-, F.
term inada pessoa. P artin d o daí cham a­
Im p u lsio n ; I. Im pu lso.
se im putabilidade:
A . Tendência espontânea para a ação.
A . À quilo que constitui propriam en­
O im pulso é aquilo que falta ao paciente te a relação do ato com o agente, ab stra­
nos casos clássicos de abulia descritos por ção feita, p o r um lado, do valor m oral
R « ζ ÃI , D oen ças da vo n tade, cap. I, 1? deste, e, por outro lado, das recom pen­
parte: “ O defeito de im pulso” ; e aquilo sas, castigos ou prejuízos que podem daí
que determ ina os atos irresistíveis não se seguir.
obstante os esforços da vontade, nos ca­ B. À quilo que perm ite estabelecer o
sos descritos no capítulo II da m esma que se deve a um agente. A responsabili­
obra: “ O excesso de im pulso.” dade referir-se-ia, neste sentido, ao cará­
B. Especialmente, im pulso anorm al ter do agente, a im putabilidade im plica­
pela sua intensidade ou pela sua nature­ ria, por outro lado, a consideração do ato
za. A este segundo sentido liga-se a utili­ e a da intenção. ( L τ Çá 2 à , Lm responsa­
zação do adjetivo im pu lsivo que se tom a b ilité p én ale, pp. 118 ss. A Â « O Çτ
E , I li-
sem p re n u m s e n tid o d e s fa v o rá v e l m iti e i m odificazioni d ell’a im putabilità.)
( = insuficientemente governado pela von­ R ad. int.: Imputebles.
tade); aplica-se quer aos atos: “ um gesto
impulsivo” , quer aos caracteres: “ um ca­ IN A D EQ U A D O Ver A d eq u a d o .
ráter impulsivo” , quer dizer, em que a ini­ IN A D JE C T O (C ontradição) A que­
bição voluntária é m uito fraca, ou os im ­ la que consiste na incom patibilidade de
pulsos m uito fortes; finalm ente, aos in­ dois termos reunidos um ao outro: “ U m a
divíduos que apresentam este caráter: diz- esfera cúbica.”
se m esm o substantivam ente, neste senti­
do, “ um im pulsivo” . IN A TIS M O D. N ativism u s; E. N ati-
R ad. int.: Im puls. vism ; F . N ativism e; I. N a tivism o .
Diz-se de to das as doutrinas que ad ­
IM PU T A B IL ID A D E D. Zurechnen- m item o caráter in ato ou congênito de
barkeif, E. Im pu tability; F. Im p u ta b ili­ um a característica, de um a função , de
té; I. Im pu tabilità. um a idéia qualquer; e especialmente:

Sobre Im putabilid ad e — “ A cu lpabilidade e a respon sabilidade são conseqüên-


cias indiretas, tã o im ediatas da im pu tabilidade que as três idéias são freqüentem ente
consideradas como equivalentes e as três palavras com o sinônim os.” Gτ 2 2 τ Z á , Tra­
tado d e d ireito p en a l, to m o I, nP 195. (C om unicado p or C lunet ) Com preende-se esta
confusão en tre os dois últim os term os, mas é singular que ela possa produzir-se en-
ire estes e a palavra cu lpabilidade que co m porta antes de mais um a idéia A s fa lta ,
crime ou delito, de todo em todo secundárias nos outro s dois. (A . L .)
Im pu tabilidade não im plica necessariam ente responsabilidade: um ato pode ser
m putado a um agente que dele não é responsável. (L. Boisse)
Sobre Inatism o — Exem plo desta palavra no sentido geral (que é bastante raro):
“ Nós notarem os apenas que a nossa teoria nos parece dever satisfazer os em piristas
e os inatistas: ... os inatistas hoje já não adm item que as ‘verdades prim eiras’ este­
jam gravadas nos nossos espíritos tais com o as exprim im os; a razão para eles é a
ordem ; os princípios, os axiom as são a ordem considerada sob estes diversos aspec­
to s .” E. GÃζ Â ÃI , Essai sur la classification des Sciences, p. 68.
537 IN C L IN A Ç Ã O

A . D outrinas que adm item que as im ­ C R ÍT IC A


pressões provenientes da retina, desde que
O in ato, em DE è Tτ 2 I E è , com preen­
se produzem e sem nenhum a educação
de ao mesmo tem po aquilo a que cham a­
anterior do sujeito, fazem nascer sensa­
mos fatos de consciência, experiência in ­
ções espaciais de form a e de distância. Cf.
tern a e o que cham am os leis ou form as
E m pirism o.
B. Diz-se tam bém , m enos p ro p ria­ a p r io r i do conhecim ento. L E « ζ Ç« U ta m ­
m ente, das doutrinas que, sem adm itir a bém não distinguia ainda entre estas duas
existência de determ inações espaciais di­ espécies de dados mentais. Ver N o vo s en­
ferenciadas nas sensações de origem reti- saios, II, 2, e M o n adologia, § 30. Estas
niana, sustentam que estas sensações (e duas idéias devem ser hoje cuidadosamen­
m esm o to das as sensações) apresentam te separadas; e essa distinção, que se re­
um caráter prim itivo de volum e, de ex­ fere à diferença entre a ordem psicológi­
tensão ( volum inousness, extensity) que a ca e a ordem lógica, não deve ser ela p ró ­
educação dos sentidos elaborará mais tar­ pria confundid a com a distinção das ca­
de (W τ 2 á , W . J τ O è ).
E racterísticas ¡m ediatam ente inatas, quer
C. (muito mais raramente). Doutrinas dizer, que aparecem desde o nascim ento,
que adm item a existência de idéias ou de e as virtualm ente inatas, quer dizer, que
princípios inatos. se desenvolveu apenas ulteriorm ente.
R ad. int.: A . Nativism. Ver mais adiante as observações so­
IN A TO D. Angeboren·, E. In nate; F. bre P otência.
ln n ê\ I. Innato. R ad. int.·. Inat.
O posto a A d q u irid o * .
Q ue pertence à natureza de um ser, e IX C EP TIV A (P roposição) A L ógica
não é o resultado daquilo que experimen­ de P Ã2 I -R Ãà τ Â cham a assim às p ro p o ­
to u , fez ou percebeu desde o nascim en­ sições com postas que enunciam que um a
to. “ Ex his autem ideis aliae innatae, aliae coisa começou a ser; contêm , pois, dois
adventitiae, aliae a m e ipso factae mihi juízos distintos que podem ser separada­
videntur; nam quod intelligam quid sit m ente contestados: “ U m , sobre aquilo
res, quid sit veritas, quid sit cogitatio, que essa coisa era antes d o tem po de que
haec non aliunde habere videor quam ab se fala; o o u tro p o r aq uilo que ela é de­
ipsamet m ea n a tu ra ...” D E è Tτ 2 I E è , M e­ p o is.” (Segunda parte, cap. X , § 4.)
d itações, III, § 8. O term o é antigo: S. Ver D esitivas.
TÃO&è áE A I Z « ÇÃ serve-se d a expressão
scientia innata ou connaturales (ST7 ü I U , IN C LIN A Ç Ã O D. Neigung; E. Incli­
T hom as L ex ik o n , Vo Scientia, p. 730). n ai ion; F. Inclination; I. Inclinazione.

Sobre In a to — Crítica acrescentada a p artir das indicações de J. Lachelier.


Sobre Inclinação — Os fins das inclinações não são necessariam ente concebidos
em term os intelectuais, ou ordenados em quadros preexistentes; podem ser criados
pelas pró prias inclinações: as m ais ricas dentre estas, com efeito, trazem em si algo
de novo. A inclinação pode criar a sua m eta ao realizar-se, e essa m eta pode precisar-se
apenas pela sua p rópria realização e existir em potência n a inclinação, ser tran sp o r­
ta d a por esta. Observa-se freqüentem ente na criança, e por vezes ainda no adulto,
um a tendência p a ra a expansão ou inclinação que se revela através de um a necessi­
dade de ação, através de m ovim entos que se esforçam por encontrar um cam po de
aplicação, e é m uito freqüentem ente o acaso da realidade am biente que lhes perm ite
encontrai um a m an eira de traduzir-se com um a exatidão que lhes parecia faltar ini-
INCLUSÃO 538

Chamam-se inclinações aos diferentes dências concretas participam em geral de


grupos de tendências psíquicas entre as um a e de o u tra em graus diferentes.
quais se pode repartir a atividade conscien­ N o que se refere às p a ix õ es, podem o-
te, enquanto se dirige espontaneamente pa­ las distinguir das inclinações por serem
ra fins. Distinguem*se norm alm ente três form as intensas destas últim as, caracte­
classes: as inclinações egoístas* (ou p es­ rizadas pela ru ptura, em proveito de um a
soais, ou ainda individuais)', as inclinações entre elas, do equilíbrio que norm alm en­
altruístas*; e as inclinações superiores* te existe no sistem a das inclinações hum a­
(quer dizer, aquelas que têm por objeto fins nas. E sta utilização é recente (ver relati­
impessoais, idéias: inclinações estéticas, vam ente a o uso m ais antigo M τ Â ζ 2 τ Ç -
E

científicas, m orais e religiosas). CHE, P rocu ra d a verdade, livro V , cap.


U m a inclinação difere de um instinto I): m as parece de fa to estabelecida nos
n a m edida em que este últim o consiste na psicólogos contem porâneos (Ribot, H õf-
sugestão imediata de atos ou de sentimen­ fding, Rey, R . d ’A Ilonnes, etc.).
tos determ inados, m esm o sem consciên­ R a d . bit.: Inklin.
cia do fim a que se ligam , enquanto que
INCLUSÃ O D. Einschliessung; E . In­
a inclinação põe um fim (de um a form a
clusion; F. Inclusion; 1. Incluzione.
mais ou menos determ inada, mais ou m e­
L'; « Tτ . Relação que existe entre duas
nos consciente), m as sem que haja neces­
classes que estão n a relação de gênero* pa­
sariamente representação dos meios a uti­
ra espécie*.
lizar p a ra aí chegar: o desejo de ter saú ­
R ad. in t .: Inklud.
de não indica p o r si só o regime a seguir.
É evidente que esta oposição se re­ IN CO G N O SCÍV E LD . Unerkennbar;
fere a dois casos extremos e que as ten­ E. In cognisable (H τ O« Â I ÃÇ ); U nkno-

cialmente: o objetivo então só se precisou durante a realização, e, todavia, a inclina­


ção existia anteriorm ente, c o m o seu caráter em otivo próprio (ternura, por exemplo,
necessidade de dom inar, necessidade de ideal). ( G . D w elshauvers)
A classificação das inclinações em egoístas, altru ístas e impessoais, por m ais co­
m um que seja, é a pior possível.
1? Deixa por classificar um a grande quantidade de inclinações: onde colocar o
am or aos anim ais, às plantas, à natureza?
2° Sendo d ad a um a inclinação, é sempre possível ordená-la num a qualquer das
três classes propostas. É sempre egoísta, na m edida em que um a tendência satisfeita
proporciona um prazer que é evidentemente pessoal. É sempre altru ísta, p orq ue, sal­
vo em caso de narcisism o ab solu to , e dificilm ente im aginável, a inclinação tem o seu
ob jeto fo ra do sujeito. É sem pre impessoal e superior, na m edida em que pode sem­
pre atribuir-se-lhe com o fim p ro fundo um a idéia. A sede e a fome têm por objeto
a m anutenção d a vida.
3? T om an do esta classificação ao pé d a letra, o ódio, a atração sexual são altru ís­
tas. A inclinação ascética é egoísta. A avareza é superior.
4? P a ra evitar estes absurdos, dam os sub-repticiam ente, m esm o quando não que­
rem os, às palavras egoísta, altruísta um valor norm ativo. O que corresponde a clas­
sificar as inclinações em boas e m ás; o que é psicologicam ente um a infantilidade e,
acrescentarei, eticam ente falso. (M . M arsal)
Sobre Incognoscível — Será correto dizer que não se pode afirm ar nad a acerca
do incognoscível, nem sequer que existe? N ão será o m esm o q u e dizer que n ã o dis­
tinguindo n ad a na noite fechada, ou até num a luz claríssim a, não posso saber que
essa luz e essa noite existem? (J . Lachelier)
539 IN C O G N O S C IV E L

wable (Sú E ÇTE 2 ); F. In connaissable ; I. P sych o lo g y, cap. X IX : “ The T ransfigu­


Inconoscibile. red R ealism .”
A quilo que, sendo real, não pode ser
C R ÍT IC A
conhecido. Esta palavra serve de títu lo à
prim eira p arte da o b ra de Spencer, First O co n ceito d esig n ad o p o r este te rm o
Principies. Ver em particular o fim do ca­ é u m elem ento essencial d e to d a s as filo ­
pítulo IV: “ Relativity o f all K nowled­ sofías agnosticistas*: criticism o k an tian o ,
ge” 1 e a sétim a parte dos P rin ciples o f positivism o de C ÃOI E , evolucionism o de
Sú E ÇTE 2 . F o i freq ü en tem en te a ta c a d o
c o m o c o n tra d itó rio p o rq u e do que é v er­
I. “ R e la tiv id ad e de to d o co n h ecim en to ” d a d e ira m e n te incognoscív el n ã o se p o d e

T udo aquilo que se diz d o incognoscível pode ser dito do inconsciente. Se o in­
cognoscível é co ntraditó rio , o inconsciente tam bém o é; se o inconsciente pode ser
inferido sem nunca se to rn a r consciente (por exem plo, a atividade intelectual n o tu r­
n a que nos faz en contrar, ao despertar, a solução de um problem a), o incognoscível
po de tam bém , com o defendeu Spencer, ser inferido. (M. M arsaf)
A prim eira redação deste artigo term inava com o p arág ra fo seguinte: “ A im por­
tância desta crítica (que n ão se pode afirm ar a realidade d o incognoscível sem de
algum a fo rm a o conhecer) é m uito en fraquecida pelo fa to de este term o ter to m ado
sobretudo um a utilização histórica, e quase só se em prega n a exposição das d o u tri­
nas designadas m ais acim a, e em particula r a de Spencer. P arece, com efeito, que
a m etafísica contem porânea deslocou o seu ponto de vista mais d o que refu tou o
agnosticism o; ela continua efetivam ente a ter este p o r um a consequência legítim a da
ontologia conceptual e concord a que o nosso pensam ento discursivo apenas pode
capta r aparências e relações; mas aquilo que ela defende é em geral que existe um
o u tro m odo de conhecim ento, pelo qual se alcança o absoluto. Ver B 2 ; è Ã Ç , “ In ­ E

tro dução à m etafísica” , R evu e d e m étaphysiqu e, janeiro de 1903; W . J τ O è , “ A E

W orld o f P u re Experience, the Thing and its R elations” 1, Journal o f P h ilosoph y,


setem bro e outu b ro de 1904, janeiro de 1905“ .
E stas no tas provocaram as seguintes observações:
O incognoscível é aquilo que, sendo real, escaparia p o r hipótese a todos os m o ­
dos de conhecim ento quer intuitivo, quer discursivo, quer im ediato, quer m ediato,
quer fu ndado sobre a consciência e a experiência, quer fu ndado no raciocínio. Neste
sentido, a crítica que se fez a esta noção conserva todo o seu valor: não se pode afir­
m ar nem a possibilidade nem a realidade de um tal incognoscível. A “ M etafísica con­
tem porânea” nada m udou nesta situação. Se se pretender reservar o nom e conheci­
mento para o conhecimento “ conceptual” e “ discursivo” , restringe-se arbitrariam ente
o sentido desta p alav ra. P o r o u tro lado, ch am ar ab so lu to à realidade, qualquer que
ela seja, captada em nós pela consciência e que constitui a nossa existência para nós
m esm os, m as que não constitui um a existência p o r s i e independente de todas as re­
lações, é o mesmo que dar ao absoluto um sentido novo que desloca a questão sem
a resolver. Fica en tão sem se saber se se pode afirm ar a possibilidade ou a realidade
daquilo que escapa com pletam ente à consciência, à percepção e ao raciocínio. Esta
questão, tão m al resolvida p or Spencer, tem um valor que não é apenas “ histórico”
e não está ligada à sorte da filosofia spenceriana. (A . Fouillée )

1. “ U m m u n d o de p u r a experiência, a coisa e a s su as relaçõ es.”


IN COM ENSU RÁ V EL 54«

dizer nada, nem sequer que existe. Ver IN C O M P A T ÍV E L D . Unverträglich


por exemplo H τ OE Â « Ç , E ssai, l í ed ., (mais am plo: quer dizer tam bém insociá­
p. 19. vel, intolerante, etc.); E . Incom patible; F.
R ad. in t.: N ekonocebl. (C f. Conhe­ In com patible.
cim en to, B.) Dois pensam entos, dois sentim entos,
INCOM ENSURÁVEL D. Incommen- duas ações são incom patíveis quando se
surabel; E . Incom m ensurable, F. Incom ­ excluem reciprocam ente, quer (A) de fa­
mensurable; I. In com m en surable. to . quer (B) de direito. H á aí um equívo­
Q ue não possui m edida com um com co de que é preciso desconfiar.
um ou tro term o: “ A diagonal d o quadra­ Especialm ente, em L ó ; « Tτ , caracte­
do é incom ensurável com o lado; os inte­ rística de duas ou várias proposições acer­
resses materiais são incomensuráveis com ca das quais não existe o direito de as afir­
as obrigações m orais.” A expressão va­ m ar sim ultaneamente. Sobre a lógica for­
lores incom ensuráveis é m uito usual nas m al da incom patibilidade, ver as obser­
ob ras de m oral e sociologia contem po­ vações.
râneas. C f. C on trário e C o n tra d itó rio .
NOTA “ IN C O M P L E T U D E (S entim ento
Incom ensurável não quer dizer que de)” Term o criado por Pierre J τ ÇE I p a ­
não pode ser medido; erro freqüentemen- ra designar um sentim ento de inacabado,
te com etido. de insuficiência, de incom pleto que os

Parece-m e, pelo co ntrário, que, para to d a a gente, um conhecim ento que capta
o seu objeto p e lo interior, que o apercebe tal com o ele se aperceberia se a sua aper-
cepção e a sua existência n ão fossem um a só e m esma coisa, é um conhecim ento a b ­
soluto, um conhecim ento de absoluto. N ão é o conhecim ento de to d a a realidade,
sem dúvida nenhum a; mas um a coisa é um conhecim ento relativo, o utra é um co­
nhecim ento lim itado. O prim eiro altera a n atureza do seu objeto; o segundo deixa-o
intato, captando-lhe apenas um a parte . P enso (e fiz to d o o possível p o r o provar)
que o nosso conhecim ento do real é lim itado, m as não relativo: o limite pode ainda
recuar indefinidam ente.
P a ra provar que um conhecim ento lim itado é necessariamente um conhecim ento
relativo, seria necessário estabelecer que se altera a natureza do eu, por exemplo,
qu ando é isolado do To do. O ra, um dos objetos da E volução criadora é m ostrar
que o Todo é, pelo co ntrário, da m esm a natureza que o eu, e que o captam os por
um ap rofu ndam ento cada vez mais com pleto de nós mesmos. (H . Bergson)
Sobre Incom patível — N a lógica proposicional, diz-se que existe in com patibili­
d a d e entre p e q p a ra os pares de valores seguintes de p e de q : q verdadeira e q
falsa, p falsa e q verdadeira, p e q falsas. A relação in com patibilidade difere d a rela­
ção exclusão reciproca n a m edida em que esta últim a já não aceita com o valores se­
não p verdadeira e q falsa, ou p falsa e q verdadeira.
A incom patibilidade foi posta n a base d a lógica das proposições p o r S heffer, que
reduz a ela to das as o utras relações interproposicionais, e na base d a teoria dedutiva
p o r N icod que reduz to d a a axiom ática a um a só proposição, aliás m uito com plexa,
co m portando apenas incom patibilidades.
N a esteira de Sheffer, designa-se geralm ente a incom patibilidade p o r um traço
vertical entre as proposições p I q . (Ch. Serrus )
541 A C O N D IC IO N A D O

doentes ditos “ psicastênicos” experimen­ 1? A quilo de que o espírito não pode


tam a propósito dos seus pensam entos, form ar qualquer representação, porq ue
dos seus atos, das suas sensações ou das os term os que o designam envolvem um a
suas emoções. É aparentado ao “ senti­ impossibilidade ou um a contradição: o li­
m ento de d úvida” , às am nésias, à rum i­ m ite do espaço; um q u ad rad o redondo.
nação mental que se prolonga indefinida­ U m a proposição totalm ente desprovida
m ente sem concluir nunca. V er Jτ ÇE I , de sentido, como “ H um pty Dumpty é um
L es obsessions et la psychasthénie, I, 264 A b ra cad a b ra” , não é p o rta n to um a pro ­
ss.; L es névroses, pp. 55-56. posição inconcebível.
IN C O M P L E X O D . Einfach; E . Un- 2? A quilo que n ão pode ser represen­
com plex; F. Incom plexe ; I. Incom plesso. tad o com o real devido aos nossos háb i­
L ó ; « T τ . Diz-se dos term os, das p ro ­ tos de espírito, aquilo cuja existência é in­
posições e dos silogismos que não são crível: os an típodas, na Idade M édia. N a
com plexos. (Ver esta palavra.) sua L ó g ica (livro V, cap. III, § 3), M« Â Â
R ad. int.·. Nekomplex. tom a exclusivamente a palavra neste sen­
tido, e declara em seguida rejeitar expres­
IN C O M PR EE N S ÍV EL É frequente­ sam ente o princípio segundo o qual “ tu ­
m ente oposto por RE ÇÃZ â« E 2 a ininteli­ do aquilo que é inconcebível é falso” .
gível (p. ex., Esquisse d ’une classification, 3? A quilo que n ão pode ser concebi­
etc., II, 386-387). É incompreensível aqui­ d o , no sentido técnico, quer dizer, sub­
lo que se adm ite mas que não se explica; sum ido sob um o u tro conceito; ou, se se
ininteligível, aquilo que encerra um a con­
tra ta de um a proposição, aquilo que não
tradição e, por conseqüência, não pode
pode ser deduzido de um a proposição an­
ser.
terior.
Sú « 2 , por o u tro lado, opõe o in com ­
preen sível ao incognoscíveh “ O incondi­ T2 í I « Tτ
cionado, que é incognoscível, é contudo
A im portân cia deste term o advém d a
perfeitam ente compreensível; mais ainda,
utilização que dele foi feita pela Teoria
é a única coisa compreensível que existe,
do condicionado e da Relatividade do co­
porque o incondicionado é um objeto que
nhecim ento: Hτ O« Â I ÃÇ pensa que para
corresponde à norm a, à lei fundam ental
do nosso pensam ento, quer dizer, possui o Tem po, o Espaço, a Substância, a Cau­
um ser que lhe é verdadeiram ente p ró ­ salidade, etc., som os necessariamente le­
prio, não retirado do exterior, e que é per­ vados a escolher entre duas hipóteses
feitamente idêntico a si próprio. Pelo con­ igualmente inconcebíveis, e contudo con­
trário , os objetos em píricos, ainda que traditórias entre si, quer dizer, um a é ne­
cognoscíveis, não são com preensíveis, cessariam ente verdadeira e a o u tra falsa.
po rq ue não correspondem à norm a, à lei M« ÂÂ contesta que a tese e a antítese se­
fundam ental do nosso p ensam ento.” jam inconcebíveis no mesmo sentido: por
Pensée e t réalité, tr. fr., p. 275. exemplo, é verdadeiramente inconcebível,
no prim eiro sentido, que o espaço seja fi­
IN CO N CE BÍV EL D. Unbergreifbar, nito, mas é apenas impossível represen­
u n denkbar ; E. Inconceivable\ F . Incon-
tarm o-n os o espaço infinito de um a m a­
cevable; I. Inconcepibile.
neira adequada; não existe nada de intrin­
Term o particularm en te usado por
secamente inconcebível em que ele seja as­
RE (á , por W . H τ O« Â I ÃÇ e J . S. M« Â Â no
sim. Ver Ininteligível.
seu E xam e d a filo so fia d e H a m ilto n , on­
de distingue três sentidos desta palavra A C O N D IC IO N A D O D. Unbedingf,
usados sucessivamente, diz ele, p o r H a­ E. U nconditional; unconditioned; F . In­
m ilton (cap. VI): co n d itio n n é; I. In con dizion ato.
IN C O N S CIE N TE 542

A . Em K τ Ç : Der eingenthümli­
I 1? A o fa la r d e um ser.
ehe G rundsatz der V ernunft überhaupt (in A. Q ue não possui qualquer consciên­
logischen G ebrauche)... (ist] zu dem be­ cia (por exem plo, um átom o na filosofia
dingten Erkenntnisse des Verstandes das de Epicuro).
U nbedingte zu finden, womit die Einheit B. Q ue é pouco ou nad a capaz de se
desselben vollendet w ird.” 1 Crítica d a ra­ debruçar so bre si próprio : “ um incons­
zão pu ra, Dial, trans., intr., A 307; B 364. cient e” é um espírito irrefletido, que não
B. Em H τ O« Â Ã Ç , Ã Incondicionado
I
se dá conta do que se faz ou m esm o ape­
é o A bsoluto* (cousiniano) cuja existên­ nas que não sabe julgar-se.
C. (relativamente). Que não tem cons­
cia ele rejeita opo ndo à “ Filosofia do In ­
ciência de tal fato particular: “ U m a al­
condicionado” a sua p ró p ria “ Filosofia
m a inconsciente das suas verdadeiras
do Condicionado” . On th ep h ilo so p h y o f
crenças.”
C o n dition ed, Discussões, I. Ver C on di­ N a linguagem corrente, esta palavra
cionado. aplica-se até (mas talvez erradam ente) à
IN C O N SC IE N TE D. U n bew u sst ; E. ignorância de fatos exteriores, e não só
Unconscious·, F. In con scien t ; I. Incons­ dos estados internos do sujeito: “ Incons­
ciente, incoscio. (A palavra francesa só
ciente do efeito produzido; inconsciente
do p erig o.”
se encontra no D icionário d a A cadem ia
2? A o fa la r d e um fenôm eno·.
a p artir de 1878.)
D . Em sentido geral, que não é cap­
tado pela consciência*. Assim, os estados
psíquicos dos nossos semelhantes são para
] . “ O p rin cíp io p ró p rio d a ra z ã o , em geral, n o
seu u so lógico, é encontrar, p a ra o co nhecim en to co n ­ nós inconscientes.
d icio n al d o e n te n d im e n to , o te rm o in co n d icio n ad o E . A plica-se vulgarm ente de um m o­
que efetuaxá a u n id a d e d e s te .” do mais particular àquilo que não é cons-

Sobre Inconsciente — A rtigo com pletado a p artir das observações de F. P écaut


e de R au h. Este últim o enviou-nos a seguinte n o ta, explicando com mais porm en or
o que acim a se resum iu no final do § E: “ In consciente aplica-se aos fatos que podem
ser científicam ente estudados fo ra d a consciência, porq ue a consciência apenas ex­
prim e um a p arte m ínim a, é apenas um p o n to de aflo ram ento, sem que contudo os
possam os reduzir a fenôm enos de ordem fisiológica. A ssim , dos fenôm enos sociais,
os próprios fenôm enos psicológicos, q u ando estranhos à consciência, não conhece­
mos as suas causas orgânicas precisas. Os fatos sociais são ‘coisas’ p a ra D urkheim ,
porq ue se im põem à consciência de cada um e tam bém po rq ue estão subm etidos a
um determ inism o. E , todavia, são fatos psicológicos, porq ue aparecem sob fo rm a
consciente em certos m om entos, e porque, p o r o u tro lado, não sabem os com o have­
mos de os referir aos fato s fisiológicos. A parecem , pois, com o algo m ental que se
to rn a , em certos m om entos, consciente. H Z ζ 2 , no seu prefácio à H istó ria d a s re­
E I

ligiões de Chantepie de L a Saussaye, parece-m e ter d ad o um a das m elhores fórm ulas


desta teoria. E u pró p rio tentei definir esta noção científica de In consciente na m inha
discussão com Binet (Sociedade de Filosofia, m arço de 1905) e em M éth o d e dans
la p sych o lo g ie d es sen tim en ts, em particula r pp. 23 ss. Este sentido d a palav ra, sem
ser ainda usual, m erece ser assinalado e pro pagado; corresponde àquilo que há de
positivo nas teorias m etafísicas do Inconsciente.” (F. Rauh)
A distinção feita n a C rítica j á tin h a sido estabelecida p o r V íctor E ; ; 2 em L a E

p a ro le intérieure, onde p ro p u n h a p a ra exprim ir as expressões inconsciência psíqu ica


(D) e inconsciência psico ló g ica (E). M as fez-nos saber que de b o a vontade aceita-
543 IN C O N S C IE N T E

ciente p ara um sujeito e num caso deter­ pensamento e do qual os indivíduos cons­
m inado, sendo ao m esmo tem po suscetí­ tituem apenas a aparência. É , em relação
vel de se to rn a r consciente p ara ele nou­ a nós, inconsciente, e em si supracons-
tros m om entos ou sob certas condições: ciente. (P hilosoph ie des U nbew u ssten ,
“ U m a paixão inconsciente, um raciocí­ 1869.)
nio inconsciente.” Ver C onsciência e
C R ÍT IC A
C a m p o d a consciência*.
A palavra Inconsciente, nesta acep­ D a m esm a form a que consciente tem
ção, é freqüentem ente aplicada nos nos­ dois sentidos (consciência espontânea,
sos dias a certos fatos (por exem plo, aos consciência refletida), inconsciente signi­
fato s jurídicos, econôm icos, religiosos) fica quer aquilo que escapa à prim eira,
que, aparecendo por vezes sob fo rm a quer apenas aquilo que escapa à segun­
consciente, só podem ser estudados cien­ da. Assim, um a percepção atual o u um a
tíficam ente se foram considerados com o recordação podem perm anecer incons­
“ coisas” , tendo um a realidade perm anen­ cientes ( = n ão notadas pela consciência
te e distin ta dessas aparições. reflexiva) e tornar-se conscientes logo que
F . Substantivam ente: o Inconsciente. a atenção se fixar aí, ou pelo menos de­
1? O co n junto daq uilo que não é pois de um m om ento de esforço p ara as
consciente num determ inado sujeito (sen­ captar; pelo contrário, um trabalho m en­
tido E); tal pode efetuar-se de um a tal m aneira
2? N o sentido m etafísico, o ser em si que não se tem consciência dele, m esm o
pelo qual H τ 2 Oτ ÇÇ
I substitui a V onta­ na reflexão.
d e de Schopenhauer, princípio comum Seria útil reservar as palavras “ sub­
único, simultaneamente ativo e intelectual consciente” p ara o prim eiro caso e “ in­
que se m anifesta na m atéria, na vida e no consciente” para o segundo.

ria as expressões acim a pro postas. O subcon scien te seria, assim, “ aquilo que é atu al­
m ente não percebido, m as que o pensam ento do sujeito (ou um outro pensam ento),
mais tard e ou m ais cedo tem um a qualquer razão p ara afirm ar com o tendo sido cons­
ciente, ainda que num nível anteriorm ente m uito fraco: quer se torne claramente cons­
ciente mais tard e, quer haja necessidade de o supor com o a condição de fatos subse-
qüentes claram ente conscientes” . O inconsciente seria pelo contrário aquilo que es­
capa inteiram ente à consciência, mesmo quando o sujeito o pro cura captar aplican­
do a sua atenção. M as é necessário sublinhar que “ a inconsciência propriam ente di­
ta não deve ser afirm ada sem crítica nos estados psíquicos an orm ais, e não esquecer
que a am nésia sim ula a inconsciência” . (K. Egger)
Cabe talvez distinguir ainda aquilo que é subcon scien te por fa lta de intensidade
suficiente, com o “ as pequenas percepções” de Leibniz, quer dizer, aquilo que é na
realidade objeto de um a consciência m uito fraca, e aquilo que é radicalm ente incons­
ciente, como o são talvez os m odos mais profundos da consciência, o querer-viver,
o querer-ser fundamental. (J. Lachelier ) Proporia distinguir, relativamente a esta ques­
tão, a subconsciência como consciência m uito fraca, a que chamei já subconsciência
elem entar, e a subconsciência com o consciência m uito vaga, mas que pode ser num
determ inado caso objeto de um sentim ento bastante intenso, ainda que m uito pouco
intelectualizado: cham á-la-ia de b o a vontade subconsciência afetiva·, sem prejuízo,
bem entendido, dos casos em que estas tendências orgânicas e profundas são p ro ­
priam ente e radicalm ente inconscientes (quer dizer, inacessíveis à consciência, m es­
m o atenta e refletida) com o m uito ju stam ente n o ta Lachelier. (A . L .)
IN CO N SEQ UÊN CIA 544

Entre os fenômenos “ subconscientes” resultante da prim eira, mas de que não


assim definidos, há ainda necessidade de é realm ente a conseqüéncia.
distinguir aqueles que escapam à cons­ B. P o r extensão, falta de lógica no
ciência reflexiva pela sua fraca intensida­ pensamento ou de acordo consigo próprio
de, tais com o as percepções elem entares; na conduta.
e aqueles que são daí excluídos porque a R ad. int.: N e-konsequ.
orientação da consciência num m om en­
to dado é tal que não pode aí ter lugar: “ IN C O O R D E N Á V E L ” Term o usa­
por exemplo, todos os nossos conheci­ do por J .-J . G Ã Z 2 á , Filosofia da religião
mentos que estão m uito afastados do nos­ (1910), p a ra designar aquilo que, n a reli­
so tem a atu al de pensam ento. Poder-se- gião, no pensam ento, na ação m oral, na
ia dizer que há, no prim eiro caso, sub- arte, se eleva acim a das norm as com uns,
consciência elem entar, e, no segundo, com o o sublime, o sacrifício, a inspira­
subconsciencia fu n cio n a l. Ver C am po. ção refo rm adora. P a ra um a definição
R ad. i n t N ekonci. mais com pleta, ver A . L τ Â τ Ç á , “ O in- E

coordenável” , R evu e de m étaphysiqu e,


IN CO N SEQ Ü ÊN CIA D. A. Folgem -
novem bro de 1911.
drigkeiv, B. Ungereimtheit-, E. Inconsisten­
cy ; F. Inconséquence·, I. Inconseguenza. IN D E FIN ID O D . Unbegrenzt, unen-
A. dlich\ E. Indefinite; F. Indéfinr, I. In d e­
Característica de duas proposições,
das quais a segunda é apresen tad a como fin ito .

Com o fim de levar em conta as observações de P radines (ver o seu Tratado d e p si­
cologia geral, tom o I, introdução, cap. I) suprimimos na Crítica algumas linhas que
davam como exemplo típico de inconsciente radical, inacessível à reflexão, mesmo atenta,
fenômenos de inconsciência anorm al, tais com o a amnésia, anestesia sistemática, des­
dobram ento da personalidade, etc. Ele, pelo contrário, pensa que estes estados são na
m aioria das vezes, senão sempre, subconscientes (no sentido de fracam ente conscien­
tes) e que a inconsciência mais completa se encontra, pelo contrário, sobretudo em cer­
tos fenômenos normais (“ inconsciente norm al ou de constituição” ). (A . L .)
Cf. m ais ad iante as observações sobre Subconsciente.
G. D v/elshauvers propôs que se classificasse d a seguinte fo rm a os diferentes g ru ­
pos de fatos inconscientes1:
1? “ O inconsciente no ato do pensam ento” (por exemplo, a atividade sintética
que tran sfo rm a as sensações em representações e estas em conceitos).
2? “ O inconsciente de m em ória na percepção” .
3? “ O inconsciente de m em ória por im pressões e sentim entos latentes” (a razão
que faz aparecer um a reco rd ação determ inada e não qualquer o u tra, perm anece in ­
consciente).
4? “ O inconsciente por h á b ito ” .
5? “ O inconsciente por vocação” (disposições p ara um a arte, para um a profis­
são, m anifestando-se im periosam ente desde a infância).
6? “ O inconsciente na vida afetiva” .
Ver do mesmo autor L a synth èse m entale (A lcan, 1908), pp. 78-114.
Sobre Indefinido — In defin ido deve ser oposto a d efin id o , com o infinito &f in i­
to . Q uando a corda do meu relógio se queb ra, percebo que, ao dar-lhe co rda, pos-

1. A in d a q u e esta co m u n icação ap resen te u m c a rá te r descritiv o e n ã o term in o ló g ico , que sai d o q u a d ro


deste v o cab u lário , crem os, devido ao seu in teresse, p o d e r d a r a q u i o seu resum o.
545 IN D E F IN ID O

A. O posto, poj· um lado, a fin ito , por C. A o falar de juízos ou de pro posi­
outro, a infinito. É indefinido aquilo que, ções que os enunciam :
sendo dado com o finito (quer enquanto 1? T radução de âôtogiffros (II çóra-
intuição, quer enquanto elem ento de co­ ois) em A 2 « è I *I E Â E è : aqueles em que a
nhecim ento lógico), pode ser to rn ad o quantidade não é indicada (e n ão tem ne­
m aior do que qualquer quantidade dada. cessidade de o ser, porq ue se entendem
“ P o r oposição ao infinito atu al, o infi­ em com preensão); p. ex ., “ a ciência dos
nito dos possíveis é aq uilo a que se cha­ contrários é a m esm a” ou “ o prazer não
m a o in defin ido" , RE ÇÃZ â« E 2 , N o ta s o ­ é o bem ” . P rim . A n a lítL , I, 1: 24a19-22.
bre o infinito d e qu antidade. “ A idéia de O latim escolástico diz nesse sentido in­
infinito em potência, quer dizer, de inde­ fin ita p ro p o sitio .
f in id o ,... de crescim ento continuam ente 2? T radução de u ó q i o t o v ( ß i j / i a ) em
e indefinidam ente possível...” , P « Â Â ÃÇ , Aristóteles: aqueles que têm por predica­
“ A prim eira prova cartesiana da existên­ do um term o indefinido no sentido B. Es­
cia de Deus e a crítica do infinito ” , A n - te sentido foi retido p o r Kτ ÇI sob o n o ­
n ée ph ilo so p h iq u e, 1890, p. 112. m e de ju íz o s in defin idos ( Unendliche ) ou
B. A o falar de term os ou de expres­ lim ita tivo s (beschränkende ). Crit. d a ra­
sões verbais (G. ovo¡ux aÓQiarov, A 2 « è ­ zã o p u ra , A nal. transe., livro I, cap. I,
I *I E Â E è , riíe 'te e íu jm 'a s , 16a32; literal­ 2? seção. Ver L im ita tivo e Q uantidade.
mente: nome indefinido): expressão cons­
T2 +I « Tτ
tituída pela negação pura e simples de um
term o dado, com o, por exemplo, não- O sentido B e o sentido C , 2?, que dele
h om em . deriva, parecem em princípio sem interes-

so girar a chave in defin idam ente. O núm ero dos indivíduos de u m a espécie dad a é
in defin ido, quer dizer, n ão é determ inado pelo conceito de espécie, m as o núm ero
das divisões de um a extensão dad a não é indefinido: resulta, pelo co ntrário, clara­
m ente da própria natureza da extensão, não seguram ente que ele seja atu alm ente in­
fin ito , o que seria co ntraditó rio — m as que ele vai ao in finito, no sentido de que
a m esm a razão de dividir subsiste sempre. D a m esma fo rm a, o núm ero dos decimais
em certas frações: pode-se, de fato , não os calcular a todos, m as ficam sempre al­
guns por calcular: não são apenas possíveis, são exigidos pela p ró p ria natureza da
operação. (/. Lachelier )
A dificuldade em opor em todos os casos in defin ido a d efin id o deve-se ao fato
de a prim eira destas palavras conter a m ais (com o infinito) a noção de um objeto
ilimitado·, enquanto que o n ão-defin ido poderia ser fin ito , ou lim ita d o , quer dizer,
com portar certos limites inferiores ou superiores, perm anecendo indeterm inado en­
tre esses limites: assim , o núm ero dos estam es n a m aior p arte das plantas é definido·,
o das folhas não o é: e contudo não se pode dizer que seja in defin ido. (A . L .)
O texto de DE è Tτ 2 I E è ao qual se fez alusão acim a é este: “ ... In tro duzo aqui
a distinção en tre o in defin ido e o in fin ito. E não h á n a d a a que eu cham e pro pria­
m ente infinito, senão àquilo que em todas as partes não encontro quaisquer limites,
e neste sentido só Deus é infinito. M as, p ara as coisas em que sob qualquer conside­
ração não vejo nenhum fim , com o a extensão dos espaços im aginários, a m ultiplici­
dade dos núm eros, a divisibilidade das partes d a quantidade e o u tras coisas seme­
lhantes, chamo-lhes indefinidas e não infinitas, porq u e em todas as suas partes não
são sem fim nem sem lim ites.” R esp o sta s às p rim eira s ob jeçõ es, § 10. Cf. P rincípios
da filo so fia , I, 27.
ÍND EM O N STRA V EL 546

se. Schopenhauer pôde m esm o dizer que sentido A, mas sem razão: a dem onstra­
os Unendüche U rteil de K ant eram um a ção não é produtora de verdade, mas uni­
tolice escolástica, recolhida para fazer camente meio de tran sp o rtar a certeza de
um a falsa jan ela no quadro das catego­ um a proposição p a ra o u tra. Esta confu­
rias. (D ie W elt, Crítica da filosofia k an ­ são deu lugar a m uitos sofismas.
tian a, ed. G risebach, I, 582.) A inda que
Kant, com efeito, justifique bastante mal IN D EP EN D E N T E D. A . Unabehãn-
a sua presença (ver L im ita tivo , Crítica), gig; A . B. Selbständig·, E. Independent-,
é necessário sublinhar, com o próprio F. Indépendant-, I. Indipen den te.
A ristóteles em líeQ ttQ iujveías, 16a30-31, A. Que não depende (de um outro ser,
que um term o negativo não representa um acontecim ento ou condição). A inda que
verdadeiro conceito. A origem desta ex­ este term o seja frequentem ente utilizado
pressão parece m esm o, diz Bonitz, ter a sem complemento, permanece sempre re­
sua insistência no fato de a privação
lativo e subentende, consoante o contex­
(are'erjais) ser qualquer coisa de indeter­
to , a idéia deste ou daquele term o em re­
m inado ou de indefinido ( c i ó q i o t o v ). Fí­
lação ao qual aquilo de que se fala é dito
sica, III, 2; 201 b26. “ N ão -h om em ” to ­
in dependente. “ U m Estado independen­
m ado literalm ente com preende as coisas
mais heteróclitas, e vai ao infinito. T am ­ te ” (de qualquer o u tro Estado). “ A m o­
bém é útil, na teoria das classes, ou dos ral independente” (de qualquer crença re­
conjuntos, ter um a denominação que per­ ligiosa ou doutrina m etafísica), etc.
m ita excluir de certas propriedades ou de B. A bsolutam ente, ao falar do cará­
certas operações lógicas os pseudo- ter: que gosta de n ão depender de nin ­
conceitos ou pseudojuízos dessa espécie. guém, de ju lgar e de se decidir sem seguir
R ad. in t.: N efinit. a opinião ou os conselhos de outrem .
R ad. int.: A . N edependant; B. Nede-
ÍN D EM O N STRA V EL D. Unerweis- pendem .
lich; E. Undem onstrable·, F. In dem on s­
trable·, I. In dim ostrabile. IN D E T E R M IN A Ç Ã O D . U nbes­
A quilo que não pôde ser dem onstra­ tim m theit·, E. Indéterm ination-, F . In dé­
do, quer (A) porque não tem necessida­ termination·, I. In determ in azion e.
de de dem onstração, e serve ele pró prio A . C aracterística daq uilo que n ão é
de princípio; qu er (B) porq ue não é co­
determ inado.
nhecida a sua dem onstração (como cer­
B. P ro blem a cujos dad os são insufi­
tas propriedades numéricas empiricamen­
cientes e com porta várias soluções.
te constatadas); quer (C) porq ue se tra ta
C . E stado de um espírito que hesita
de um a hipótese gratu ita p ara a qual não
possuímos nenhum meio de verificação, entre várias resoluções.
mesmo em pírico. Ver para estes três sentidos D eterm i­
A o prim eiro sentido pertencem os nação e D eterm in ism o.
“ cinco indem onstráveis” dos estoicos. R ad. int.: A . Nedeterm ines; B. Nede-
Ver as observações sobre h ipotético. term in aj; C . Nedecides.

C R ÍT IC A IN D ET ER M IN ISM O D . In determ i­
O teor pejorativo do sentido C re- n ism u s ; E. Indeterm inism ; F. In déterm i­
porta-se m uitas vezes por associação ao nisme; I. In determ in ism o.

Sobre Indeterm inação — Será necessário ligar ao sentido A ou ao sentido B aqui­


lo que se cham a “ princípio de indeterm inação” ou “ princípio de incerteza” em mi-
crofísica? É um problema que não pode ser resolvido através de um a simples definição.
547 IN D IF E R E N Ç A

A . D outrina segundo a qual o h o ­ Kτ ÇI e de W « Çá E a este propósi


 ζ τ Çá

m em , ou D eus, possui o livre-arbítrio no to . C τ Â á 2 ç Ã Ã á dizia até que na histó­


E

sentido m ais específico e m ais fo rte des­ ria da filosofia n ão hav ia nenhum pen­
ta palavra. Cf. Livre-arbítrio , C. Este sen­ sador ao qual se pudesse aplicar esta de­
tido é de longe o m ais usual; designa-se signação {ib id ., 530 B). M as trata-se de
algum as vezes sob o nom e de in determ i­ um exagero: o neo-criticismo admite a pa­
nism o absolu to. lavra e a coisa.
B. (mais raram ente). D outrina que Rad. i n t A . M aldeterminism; B. Ne-
afasta o determ inism o, m esm o sem a d ­ determ inism .
m itir atos tem porais de livre-arbítrio ou IN D IFER EN ÇA D. G leichgültigkeit ;
começos absolutos. E « è Â 2 (VÃ 374) pro­
E
E . Indifference·, F. Indifférence·, I. Indif-
põe que se em pregue nesse sentido a ex­ feren za .
pressão indeterm inism o p sico ló g ico . Ver A. E stado m ental que não conteria
D eterm inism o. nem prazer nem dor, nem a m istura de
C. P or extensão, sinônimo de indeter- um com o o u tro . A questão de saber se
m inação*, A. existem esta d o s in diferentes d a sensibili­
dade é discutível: ver R « ζ Ã , A p sic o lo ­ I
C R ÍT IC A
gia d o s sentim en tos, prim eira parte , cap.
A palavra foi quase sem pre tom ada V. A sua conclusão é a seguinte: “ Inclinó­
no prim eiro sentido, e por conseqüência m e p a ra a tese dos estados de indiferen­
utilizada num sentido pejorativo por ç a .”
aqueles que dela se serviram . Ver em B. Indeterm inação: L ib erd a d e d e in­
Bτ Â áç « Ç , VÃ 530 B, 531 A, os textos de diferença (L. escol. Liberum arbitrium in-

Sobre Indiferença — Sobre L ib erd a d e d e indiferença: D è T τ 2 è tinha já o b ­


E I E

servado que a palavra Indiferença, ao falar d a liberdade, p od ia receber dois sentidos


opostos: 1? aquele que ele em prega n a IV M editação quando diz que a indiferença
“ é o mais baixo grau da liberdade, e m ais aparece um defeito no conhecim ento do
que um a perfeição na vontade” ; considera-o com o o sentido p róprio : “ Indiferença
parece-m e significar pro priam ente esse estado no qual a vontade se encontra quando
n ão é de m odo algum levada pelo conhecim ento daq uilo que é verdadeiro, ou d aq u i­
lo que é bom , a seguir um p artid o em detrim en to de o u tro ” ; 2? m as, acrescenta,
“ talvez qu anto a essa palavra indiferença h aja outro s que entendam essa faculdade
positiva que tem os de nos determ inar p ara um ou o u tro de dois co n trá rio s” , »acui­
dade que se exerce n ão só nos casos de escolha arb itrá ria, m as até naqueles em que
tem os um a razão de agir evidente, que não deixa lugar a qualquer hesitação. (Resu­
mo de uma C arta a M ersenne de 27 de maio de 1641, A d. et Tann., t. III, pp. 378-381.'
N os P rin cípios, ele m esm o aceita o segundo sentido e serve-se de In diferença como
sinônim o de liberdade no sentido m ais am plo: “ ...D ei... potentiam (per quam om-
nia p ra eo rd in at)... n on satis com prehendi ut videam us q uo pacto liberas hom inum
actiones indeterm inatas relinquat; libertatis autem e t in differen tiae, quae in nobis
est, nos ita conscios esse, ut nihil sit quod evidentius et perfectius com prehendam us."
P rin cipia ph ilo so p h ia e, I, 41. M as com o já notam os, as querelas teológicas acerca
da palavra indiferença exacerbaram -se nessa d ata (1644), e nessa utilização anorm al
d a p alavra pode haver apenas d a p arte de Descartes um a precaução (como em mais
de um a passagem dos P rin cípios) p ara evitar com prom eter a sua filosofia, e, sobre
tu d o , desacreditá-la aos olhos dos jesuítas. Ver L « ζ Ç « U , Teodicéia, 3 í parte , § 3 6 5 ;
E

e E. G « Â è Ã Ç , A d ou trin a cartesiana d a liberdade e a teologia, 2? parte , cap. IV.


IN D IS C E K M V E L 548

differentiae) é quase sempre sinônimo de m elhantes; assim, ainda que o tem po e o


livre-arbítrio no sentido C. C ontudo, lugar, quer dizer, a relação exterior, nos
Leibniz aplica-o à sua p ró p ria doutrina, sirva para distinguir as coisas que não dis­
mas sob reserva e, na verdade, jogando tinguim os bem por si pró prias, as coisas
um pouco com as palavras: “ Existe, pois, não deixam de ser distinguíveis em si.”
um a liberdade de contingência ou, de al­ N o v o s ensaios, II, cap. 27, §. Cf. M ona-
guma form a, de indiferença, desde que d o logia, t. 8. Ver Identidade.
se entende por indiferença que nad a nos R ad. int.·. Nedicernebl.
solicita para um a ou outra parte; mas não
há nunca indiferença d e equ ilíbrio, quer IN D IV ID U A Ç Ã O D . In dividuation;
dizer, onde tudo seja perfeitam ente igual E. In dividu ation ; F. Individuation; I. In-
dividu azion e.
de um lado e do outro sem que haja maior
inclinação para qualquer deles.” L E « ζ ­ (Term o escolástico hoje pouco usa­
Ç« U , Teodicéia, I, § 46. Ver A rb ítrio .
d o .) Realização da idéia geral em deter­
R ad. int.: A . Indiferentes; B. Nede- m inado indivíduo. O p rin cíp io d e in divi­
du ação (principium in dividuationis, ter­
termines.
m o intro duzido na linguagem filosófica
IND ISCERN ÍV EL D. N ichtzuunters- através das traduções de Avicena, segun­
ch eidende (M E Çá E Â è è Ã7 Ç ); ununters­ do E Z T3 E Ç , p. 68; p rin cip io in dividu i,
cheidbar, E. Indiscernible·, F. Indiscerna­ LE « ζ Ç« U : " D e prin cipio individui” , 1633)
ble·, I. Indiscernible. é aquilo que faz com que um ser possua
Dois objetos de pensamento são indis- n ão só um tipo específico, m as tam bém
cerníveis qu ando não se distinguem um um a existência singular, concreta, deter­
do ou tro por nenhum a característica in­ m inada no tem po e no espaço. “ P rinci­
trínseca. Ver D iferença, A , e Idên tico. pium individuationis est id, per quod for­
O Princípio d o s indiscerníveis, ou m e­ m a alicujus, quae per se non subsistebat,
lh o r, d a iden tidade d o s indiscerníveis, é incipit subsistere in hoc vel illo.” GÃTÂ E -
o p rin cíp io cap ita l d a filo so fia de L E « ζ ­ Ç« Z è , Vo In d ivid m tu m , 232 B. Este prin­

Ç« U seg u n d o o q u al do is seres reais d ife­ cípio é a m atéria, p a ra as coisas sensí­


rem sem pre p o r características intrínsecas, veis, segundo S. T ÃOá è áE AI Z « ÇÃ ;
e n ã o só pelas suas posições n o te m p o o u um a determ inação ou “ fo rm a ” especial
n o espaço: “ A in d a q u e h a ja v ária s co i­ cham ada E cceidade* segundo DZ Çè E è ­
sas d a m esm a espécie, é to d a v ia v erd ad e TÃI Ã , etc. ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 retom ou es­
que elas n ã o são n u n c a p e rfe ita m en te se­ ta expressão; aplicou-a ao tem po e ao

No que diz respeito a Leibniz, só aceita a palavra indiferença com as restrições


mais expressas, não só no texto da Teodicéia, citado atrás, m as tam bém em todas
as passagens em que a utiliza. “ N ão é necessário im aginar contudo que a nossa liber­
dade consiste num a indeterm inação ou num a indiferença de equilíbrio, com o se fos­
se necessário estar igualm ente in clin ad o... p a ra o lado dos diferentes partidos, quan­
do há vários p a ra que se pode te n d er.” (Jbid., § 35.) Ele declara em o u tro lugar:
“ Só adm ito, pois, a indiferença num sentido que a faça significar o mesmo que co n ­
tingência ou não-necessidade. ’’ ( i b i d . , § 303), e acrescenta que “ a liberdade de indi­
ferença indefinida” (§ 314), ou a “ P lena indiferença” (§ 320) seriam a m esma coisa
que esse equilíbrio quim érico. (A . L .)
Sobre Individuação — Só existe o problem a da individuação quando se adm ite
um realism o dos universais. P ara os nom inalistas, trata-se de um pseudoproblem a.
P a ra eles, o problem a reside em dar co nta dos universais. (M . M arsal)
549 IN D IV ID U A L ID A D E

espaço “ m ittelst welcher das dem Wesen IN D IV ID U A L D . Individuell, ein­


und dem Begriff nach Gleiche u nd Eine, zeln; E. In d ivid u a l ; F. In dividu el ; I. In ­
do ch als Verschieden, als Vielheit neben dividuale.
und nach einander erscheint: sie sind fol­ A . B. C. D . E . Que pertence ao indi­
glich das prin cipiu m in dividuationis víduo, que o constitui ou que o concer­
D ie W elt, II, § 23. Ver In d ivíd u o . ne, em todos os sentidos corresponden­
tes desta palav ra. C ontudo, é necessário
NOTA
sublinhar q ue no sentido A , in dividual é
A palavra in dividu ation e o verbo to m ais am plo do que in divídu o, pois pode
in dividu ate perm aneceram correntes na aplicar-se até a qualquer coisa de transi­
linguagem d a psicologia inglesa (especial­ tó rio , ou que não possua unidade p ró ­
m ente d a psicologia genética) para desig­ p ria, com o um fenôm eno, que não po de
nar o progresso m ental que consiste em ser cham ado indivíduo.
especificar um conceito ao restringir a sua F. Que pertence pro priam ente ao in­
extensão determ inando-o mais ao mesmo divíduo ou que é relativo ao indivíduo e
tem po, de tal fo rm a que se aplica apenas só a ele, enquanto não é sem elhante aos
a um núm ero m ínim o de objetos ou mes­ outros. A “ psicologia individual” (D. In­
m o a um só. d ivid u a l p sych o lo g ie ) é o estudo das di­
R ad. i n t Individuig. ferenças psíquicas entre os diversos espí­
ritos. (Ver as observações sobre Indivíduo
1. ‘ ‘... g raças a o s q u ais a q u ilo q u e n a su a es sê n­ e sobre In dividu alidade.)
cia e n o seu c o n ceito é se m elh an te e id ên tico ap arece R ad. int.: Individual.
c o n tu d o co m o d iv e rso , co m o m ú ltip lo , u m a o lad o
d o o u tro e um d e p o is d o o u tr o : sã o , p o is, o princi­ IN D IV ID U A LID A D E L. Individua-
p io de individuação” . litas, introduzido na linguagem filosófi-

Sobre Individualidade — Eis antes de m ais a distinção que havia sido pro posta
pelo autor, na prim eira redação do artigo, entre individualidade e personalidade: “ 1?
A in dividualidade é aquilo através do que um indivíduo difere de um outro e dele
se distingue não só de um a fo rm a num érica, m as tam bém nas suas características
e na sua constituição; assim, p ara um ser hum ano, a idade, o sexo, a conform ação
física; as anom alias orgânicas; os gostos, as disposições, o grau de desenvolvim ento
intelectual; aquilo que existe de único na sua m em ória e na sua percepção m ateriais
e afetivas, etc.
2? A person alidade (ou p erso n a lid a d e m oral), quer dizer, a característica que o
to rn a apto p ara fazer parte de um a m esm a sociedade espiritual1 que as outras pes­
soas. Esta característica, ainda que desigualmente realizada nos diferentes indivíduos,
é-Ihes, pelo contrário, com um , e age apenas n a m edida desta com unidade.
Confunde-se m uitas vezes com a individualidade:
1? P orq ue se adm ite em geral a tese, cristã e k antiana, segundo a qual todos os
indivíduos, no sentido E , que com põem a espécie hum ana são tam bém , pelo menos
virtualm ente, pessoas m orais, possuindo um a m esm a razão, igualm ente feitas à im a­
gem de Deus, igualm ente cham adas a fazer parte de um mesmo reino dos fins;
2? P orq ue sendo ra ra a capacidade e a vontade de julgar pela razão e não pelo
háb ito, confundem -se aqueles que se afastam do conform ism o e d a banalidade por

1. A p rim e ira re d ação c o n tin h a , em vez d e ' ‘e s p iritu a l” , as p alav ras ‘‘m o ra l e ju r íd ic a ” , o que era , p o r
um la d o , d em asiad o estreito , e, p o r o u tro , im p ró p rio , te n d o a o rd em ju ríd ic a precisa m ente p o r razão de
ser a im p erfeição m o ra l d o s in d iv íd u o s, que ela ten d e a re fo rm a r e a co rrig ir parcialm en te.
IN D IV ID U A LID A D E SSO

ca pelas traduções latinas de A â« TE Çτ ;


constância dessa individualidade geom é­
D. Individualität, Individuelle Eigentüm ­ trica não é absoluta em nenhum corpo na­
tural, porque todo esforço imprime defor­
lichkeit', E . In d ivid u a lity, F. In dividu ali­
té', I. Individualità. E sta palavra só se to r­ m ação m esm o aos m ais resistentes. M as
nou usual depois de LE « ζ Ç« U (EZ T3 E Ç ). a abstração perm ite-nos elim inar as even­
A. B. C. D . E . C aracterística daquilo
tualidades deste gênero e conduz-nos à no­
que é indivíduo em todos os sentidos des­ ção de um a figura solida (ou invariável ou
sa palavra. rígida ) ... a conservação d a individualida­
Individualidade utiliza-se até, no sen­ de geom étrica de um a figura sólida, con­
tido geral, de um a m aneira mais ab stra­ siderada no estado de m ovim ento, assim
ta e m ais am pla d o que in divídu o. “ Um com o no de repouso, im plica a de um a in­
corpo cuja substância é m uito resistente... dividualidade relativa tam bém bem deter­
aparece-nos com um a fo rm a determ ina­ m inada, ligada a cada um a das suas p a r­
d a e invariável, qu er dizer, com um a in­ tes.” M é 2 τ à , N ouveaux élém ents d e géo-
d ividu alidade geom étrica constante... A m etrie, 1903, cap. I, § 2 e § 6.

capricho, por excentricidade, p o r egoísm o, p o r espírito de co ntradição, com aqueles


que se separam pela antecipação de um bem ou de u m a verdade ainda pouco conhe­
cidos, e pela vontade refletida de agir e de pensar racionalm ente. E sta últim a co n fu ­
são é favorecida pelo sentido d a palavra p esso a l, que é infelizm ente m uito utilizada
com o sinônim o de individual ou até de egoísta. V er além disso os equívocos assina­
lados mais adiante acerca d a palavra In d ivid u a lism o ."
G. D w elsh auvers tinha p roposto, ao co ntrário, a redação seguinte:
“ P è « TÃÂ Ã; « τ . Opôs-se algumas vezes indivíduo a personalidade (particularm ente
no racionalism o platônico e na especulação pós-kantiana) e trata-se de um a oposi­
ção m uito fecunda. Podem -se definir estes term os d a seguinte m aneira: Pode-se con­
siderar o ser consciente com o dependente de inúm eras séries causais que se cruzam
de alguma fo rm a nele e cujo conjunto se lhe im põe do exterior. Ele é apenas um
m om ento dessas séries. Neste caso, encara-se o ser consciente do ponto de vista da
sensibilidade: é o in divíduo propriam ente dito, quer dizer, o ser lim itado, u ltrap a s­
sado por todos os lados por um a infinidade de ações que sobre ele se exercem e às
quais não pode escapar. O ra, existem d a d o s conscientes que correspondem a esse
estado. M aine de Biran descreveu-os em m uitos pontos dos seus P en sam entos. A r­
rancado a si pró prio e às suas reflexões pela vida m undana e política, experim enta
um sentim ento de dispersão de si: o in divíduo aparece, entregue às m últiplas ações
exteriores.
Opõe-se a este term o o de personalidade', é o ser consciente na sua unificação
inferior, tendo o sentim ento da sua concentração; considera-se aqui o eu enquanto
espírito e unidade. E sta term inologia encontra várias é úteis aplicações; assim, o es­
tado dos sentim entos no conhecim ento do prim eiro gênero em E spinosa liga-se ao
indivíduo, no terceiro, à personalid ade.”
R . B erth elot associa-se a essas observações.
“ Adm ito, como vós” , escreve P arodi, “ a necessidade de distinguir cuidadosamen­
te as duas idéias de individualidade e de personalidade; mas parece-me impossível defi­
nir a personalidade unicam ente pela aptidão p ara fazer parte de um a m esma socie­
dade m oral e jurídica. N ão se pode elim inar da personalidade to d a idéia de indivi­
dualidade; a individualidade parece-me estar nela im plicada e envolvida. A quilo que,
na m inha opinião, faz a personalidade, é a consciência nítida de si com o de um ser
551 IN D IV ID U A L ID A D E

Notar-se-á que este sentido da palavra Em particular, quan d o se tra ta dos


individualidade só retém um a parte dos ele­ hom ens, originalidade, espírito de não
mentos que definiam o indivíduo no senti­ conform ism o; algum as vezes, m as por
do correspondente (sentido A). O caráter abuso, personalidade m oral. Ver Crítica.
de dado real e concreto acaba aqui por ser G. N o sentido concreto, a palavra é
inteiramente eliminado em proveito dos ca­ tom ada m esm o algum as vezes por indi­
racteres de permanência, de identidade e de vídu o. M as trata-se de um a m aneira de
unicidade. É o inverso daquilo que aconte­ falar pouco correta.
ce com a palavra individual, no sentido A.
CRITICA
F . C aracterística daquilo que é indi­
vidual no sentido F ; conjunto das carac­ Todos os m em bros da Sociedade que
terísticas próprias que distinguem um in­ tom aram p a rte na discussão, e os corres­
divíduo dos outro s indivíduos d a m esm a pondentes que nos escreveram acerca des­
espécie, ou de outro s m em bros d a mes­ ta palavra, são de opinião que é bastante
m a sociedade. útil op o r in dividualidade a personalida-

que d u ra e que se atribui, com ou sem razão, algum a identidade; a personalidade


é um a individualidade que se pensa e se reflete. Com o é que se poderiam explicar
de o u tro m odo as expressões consagradas pelo uso: doenças, desd o b ra m en to d a p e r ­
sonalidade'! Dever-se-ia dizer, segundo as vossas definições, da in dividualidade. E
é po rq ue a pessoa se conhece e se pensa com o pessoa que se pode considerar com o
possuidora de direitos e deveres, quer dizer, com o o m esmo ser que no passado assu­
m iu com prom issos, ou com relação a quem eles foram tom ados e deve, pois, m ante­
los ou exigir a sua observação no futuro ; e é p or isso que pode ela en tra r com outro s
indivíduos num a sociedade m oral ou jurídica, com a condição de que estes tam bém
sejam capazes de se sentirem subm etidos a obrigações e de a elas se ligarem volu nta­
riam ente. Se a qualidade de p esso a s pode ser com um a diversos seres, é justam ente
porq ue im plica que cada um deles seja, se conheça, e se queira com o indivíduo, ain­
da que subm etido a u m a lei com um .”
Finalm ente M . B lo n d el acrescenta no mesmo sentido:
“ A pessoa requer, com o condição necessária, ain d a que não suficiente, a indivi­
dualidade. A personalidade não é unicam ente constitu ída p o r u m a característica ge­
nericamente hum ana e pela ‘consciência do im pessoal’1. O u m elhor, a pró pria cons­
ciência do im pessoal implica a realidade concreta, singular, individual do agente. N ão
se é um a pessoa sem se ser ta l o u ta l p essoa.”
Estou de acord o acerca do fato de a individualidade estar im plicada n a persona­
lidade, tal com o esta nos é apresentada na experiência psicológica. Se se tra ta da exis­
tência in dividual, no sentido A , é algo de evidente. M as se se tra ta da característica
d a in dividualidade, no sentido C e D , é necessário definir com precisão a que títu lo
ela está aí envolvida, e que relação m antêm estes dois term os um com o o u tro. P a ra
o naturalism o evolucionista, a pessoa é o prolo ngam ento e, por assim dizer, a perfei­
ção do indivíduo. A ad aptação das relações internas e a sua integração, que definem
o progresso biológico, definem tam bém o progresso intelectual, m oral e social. A in ­
da que um grande núm ero de psicólogos m odernos adotem esta opinião, ela me p a ­
rece artificial e falsa. A verdadeira relação da personalidade com a individualidade

1. E x p ressão d e P a u l J a n e t: ver o tex to d e q u e e la faz p a rte n a s o b se rv aç õ es so b re o a rtig o im pessoal*.


IN D IV ID U A L ID A D E 552

de; mas dividem-se na questão de saber acerca do m odo de entender essa perso­
que conteúdo psicológico deve ser dado nalidade duas opiniões se exprimiram, das
a esta oposição. Concordou-se, com efei­ quais encontrarem os expostas as razões
to , em reconhecer que, quer no sentido nas observações acrescentadas a este
B da palavra in dividuo (elemento lógico artigo:
indivisível), quer no sentido C (unidade 1? A personalidade opõe-se à indivi­
biológica), quer no sentido D (conjunto dualidade com o a unidade interior da
das particularidades individuais), quer até consciência e da reflexão se opõe à uni­
no sentido A (realidade dada na experiên­ dade exterior que vem apenas do organis­
cia), a individualidade não tem valor m o­ m o e é apenas a resultante de forças na­
ral, ou só possui valor m oral como meio tu rais, o efeito do seu concurso num cer­
de o u tra coisa que não ela pró pria, en­ to ponto. U m a é a relação do ser com tu ­
qu anto que a personalidade é aquilo que, do aquilo que o causou, com tudo o que
no homem, possui esse valor m oral intrín­ age sobre ele do exterior; a o u tra é a sua
seco e deve ser ob jeto de respeito. Mas relação com um ideal espiritual que con-

(se se entender respectivam ente por isso aquilo que na vida tem e não tem valor m o­
ral) parece-me ser m uito mais complexa; e, sobretudo, com porta um an tagonism o
ao m esm o tem po que um a ligação. A organização do tipo fisiológico, ainda que per­
feita e consciente, enquanto conserva a m esma direção e o m esmo fim, não cria qual­
quer personalidade; pelo co ntrário, quando esta se desenvolve, a vida orgânica
encontra-se aí recalcada, e até esgotada sob certos pontos de vista. A quilo que repre­
sentaria m elhor a dependência da personalidade p a ra com a individualidade (ainda
que a imagem seja ainda m uito im perfeita), seria a relação do dinheiro com as neces­
sidades que ele perm ite satisfazer: gasta-se à m edida que serve; e se acabarm os por
o tom ar com o fim , esta finalidade própria entrava os fins em direção aos quais po­
deria ser usado: a avareza im pede de beber e de com er, d a m esm a fo rm a que o culto
da individualidade, sem m ais, paralisa a vida superior d o espírito. A ssim , a depen­
dência da pessoa em relação ao indivíduo é condicional, com o a necessidade de ga­
n h ar e de gastar. N o limite, a pessoa digeriria to d a individualidade: discute-se p ara
saber se Deus é pessoal, m as aqueles que m ais aproxim am esta personalidade da do
hom em achariam estranho e talvez absurdo cham ar-lhe um in divídu o.
Pela m esm a razão, aquilo que há de mais característico na oposição do pessoal
e do individual parece-m e ser a consciência que tom a o eu, não da sua relação consi­
go próprio, mas da sua relação com os seus semelhantes. Antes de m ais, no que se
refere à individualidade, o critério que se propõe é duplo: por um lado, a unidade
orgânica; p o r ou tro , o fato de ser um a resultante; estas duas características concor­
dam mal entre si. O fato de ser um complexo de efeitos, um nó de fenôm enos engen­
drado segundo as leis da n atureza, não será precisam ente o contrário de um a “ forte
individualidade” ? N ão se encontrará esta característica no m enor jogo de luz ainda
mais visivelmente que num organism o anim al? Teria, antes, por efeito dissolver-nos
na tram a infinita e contínua das coisas. Parece-m e, pelo contrário, que a individuali­
dade é qualquer coisa de residual e de irredutível, a expressão mais nítida daquilo
que existe de ininteligível nos dados sobre os quais o pensam ento trabalha. E , por
o u tro lado, consciência e referência a si não bastam para a personalidade m oral: a
sua exaltação mais intensa só leva p o r vezes à loucura. É preciso além disso a razão,
quer dizer, a comunidade na vida do espírito. Consciência e centralização são ainda, do
553 IN D IV ID U A L IS M O

cebe e ad o ta p ara si. A p erso n a lid a d e é, a realização, nos outros seres prim itiva­
pois, neste caso, urna característica não m ente diversos, de disposições virtual­
m enos única d o que a individualidade. m ente universais, através do que se subs­
2? A personalidade é concebida como titui ao antagonism o afetivo, intelectual
o desenvolvim ento, num sujeito pen san­ e m oral, um acordo verdadeiro, e não só
te diferente dos outro s pelas suas carac­ um com prom isso e um equilíbrio como
terísticas e prim itivam ente disposto a to ­ na organização diferenciada.
R ad. inl.: Individualis.
m ar como fim esta diversidade, de um eu
suscetível de en trar em com unidade cons­ IND IVID UA LISM O D. Individualis­
ciente de idéias, de sentim ento e de von­ mus·, E. Individualism·, F. Individualisme·,
tade com outros espíritos. E la é, pois, I. In dividualism o.

p onto de vista no rm ativo, apenas m eios, e extraem to d o o seu valor do fim ao qual
servem.
C om efeito, aquilo que é aqui im portante n ão é o estado d o ser considerado, m as
a sua tendência; tendência p ara a concentração sobre si m esm o, tendência para a
universalização. A vida orgânica tem por regra a m anutenção ou o acréscimo e a
propagação de um tipo, tal com o é d ado, com as suas diferenciações características.
Na sua vida psíquica, mesmo m uito consciente e m uito org anizada, a m aior parte
dos hom ens m ostra-nos um a segunda edição desta tendência orgânica e egocêntrica:
eis o que eu qu eria ressaltar na definição d a individualidade psicológica, por an alo ­
gia com o uso lógico e biológico desta palav ra. Inversam ente, encontra-se neles um a
tendência contrária, algumas vezes em estado em brionário, m as frequentem ente m uito
nítida, por vezes mesmo notavelm ente desenvolvida: tendência p ara o estabelecimento
de um a representação objetiva das coisas, de um a táb u a dos valores com uns; de um a
vontade descentrada daquilo que cada indivíduo é acidentalmente, entre o nascimento
e a m orte. É essa característica “ pública” que faz deles sujeitos capazes de juízos
m orais (quer se conform em a estes ou não), e que, por conseqüência, me parece es­
sencial na idéia de personalidade.
Q uanto às expressões “ doenças, desdobram ento da personalid ade” , ainda que
m uito usuais, parecem-me m uito im próprias. A sua adoção foi sem dúvida determ i­
n ad a por razões de com odidade e de eufonía, talvez tam bém pelo desejo de com ba­
ter, com o um preconceito, a idéia clássica da unidade e da identidade da alm a. A
expressão ju sta, cujo tam anho e peso não favorecem a utilização, seria a seguinte:
“ D oenças, desdobram ento da unidade psicológica in divid ual.” M as, por outro la­
d o, acontece frequentem ente que estas são tam bém , por ricochete, doenças da per­
sonalidade. (A . L .)

Sobre Individualism o — Com pletado a p artir das observações de L. B oisse e de


A . L a n dry e M arsal. Os sentidos foram reclassificados na q u arta edição.
M arsal com unicou-nos o texto seguinte de Elie H alévy que analisa m uito clara­
mente o sentido A: “ O individualism o pode ser entendido, em prim eiro lugar, como
um m étodo p a ra a interp retação dos fenôm enos sociais. Eu posso, em m atéria de
sociologia, tom ar com o dados iniciais os indivíduos, que se supõem ser ab soluta­
m ente distintos uns dos outro s, reflexivos e egoístas, ou ainda, se se quiser, suposta­
mente dotados da m esma constituição m ental que posso descobrir em mim pró prio,
pela simples observação da consciência. P osso, em seguida, colocar esses indivíduos
uns diante dos outro s, adivinhar com o é que eles reagiriam uns com os outros, e
IN DIV ID UA LISM O 554

Diz-se de toda teoria, de to d a tendên­ C. (opõe-se a C onform ism o, algumas


cia que vê no individuo o u no individual vezes a Tradicionalismo). 1? Estado de fato
quer a fo rm a m ais essencial da realida­ que consiste em os indivíduos julgarem e
de, quer o mais elevado grau de valor. discutirem, num a sociedade, as institui­
A . ME I ÃáàÃ; « τ . Teoria que procu­ ções, as práticas e as crenças de todas as
ra a explicação dos fenómenos históricos especies, em vez de se conform arem sem
e sociais na psicologia individual e, mais crítica à ordem estabelecida. 2? Teoria se­
especialm ente, nos efeitos resultantes da gundo a qual esse estado é superior ao es­
atividade consciente e interessada dos in­
tado contrário. 3.“ Disposição psicológica
dividuos. (Ver Congresso de G enebra, 4?
para essa independência de espírito.
sessão geral: R evu e de m étaphysique, no­
D . Teoria segundo a qual a sociedade
vem bro de 1904.) Cf. Tτ 2 á E , L es lois so ­
não é um fim em si própria nem o instru­
ciales, pp. 27-28.
SÃT« ÃÂ Ã; í τ E É
I « Tτ . m ento de um fim superior aos indivíduos
B. (opõe-se a E statism o). Teoria se­ que a com põem , m as não tem por objeto
gundo a qual “ os hom ens são sempre de­ senão o bem destes; o que se pode ainda
m asiado governados” , e segundo a qual entender em dois sentidos: 1.“ as institui­
o ideal político deve ser o desenvolvimen­ ções sociais devem ter por objetivo a fe li­
to da iniciativa privada, a redução das cidade dos indivíduos; 2? devem ter por ob­
funções do E stad o a um pequeno núm e­ jetivo a perfeição dos indivíduos (seja co­
ro de objetos (liberalism o, individualis­ mo for que se entenda essa perfeição).
m o spenceriano), ou mesmo a sua supres­ E . N um a intenção pejorativa: tendên­
são total (individualism o anarquista) (S). cia p a ra se libertar de to d a a obrigação

reconstituir assim , através de dedução o u de construção, o conjunto dos fenôm enos


sociais. Eis claram ente o indiv ualism o...” Élie H τ Â é âà , Congresso de G enebra, R e­
vue de m étaph ysiqu e, 1904, p. 1.108.
É preciso dizer que encontram os em Renán a palavra in dividualism o p ara desig­
n ar um estado de coisas no qual as diferenças individuais são m uito m arcadas: “ N o
início da carreira científica, somos levados a pensar as leis d o m undo psicológico
e físico com o fórm ulas de um rigor absoluto; m as o progresso do espírito científico
não tard a a modificar esse primeiro conceito. O individualism o aparece em to da parte;
o gênero e a espécie quase se fundem sob a análise do naturalista; cada fato se m os­
tra sui generis', o mais simples fenôm eno aparece com o irredutível; a ordem das coi­
sas reais é apenas um vasto balanceam ento de tendências que produzem pelas suas
com binações infinitam ente variadas aparições ininterruptam ente diversas.” RE Ç,Ç ,
L ’avenir d e la Science, 179.
RE ÇÃZ â« E 2 diz, num sentido m uito próxim o: “ O verdadeiro nom e da d o utrina
de Roscelin é o individualism o, e essa doutrina não im plica de m odo algum , como
se poderia ainda im aginar, a negação das leis da natureza, a das espécies naturais,
ou daquilo que elas podem im plicar de solidariedade entre os seres; trata-se de ou­
tras questões; aquilo que ela reclam a é que a realidade própria seja negada aos gêne­
ros e às espécies consideradas em si, fora dos indivíduos de que representam as q u a­
lidades, e fo ra dos espíritos em que se form am as idéias dessas qualidades a p artir
de sem elhanças dadas e apercebidas entre as coisas.” RE ÇÃZ â« E 2 , Phil. anal. de
T h ist., III, 62. Cf. “ O individualism o de Duns Scot” . M as esta utilização do term o
é tão ra ra que não nos pareceu dever ser retida para constituir um a das divisões do
artigo acima.
555 IN D IV ID U O

de solidariedade e pensar apenas em si. CRÍTICA


“ A absorção de todas as funções pelo Es­ Termo incorreto, m uito equívoco, cuja
tado favoreceu necessariam ente o desen­ utilização dá lugar a sofismas contínuos.
volvim ento de um individualism o desen­ Ver a Crítica de Individualidade.
fre a d o ... À m edida que o núm ero das Rad. int.: A. Individualism; B. Antis-
obrigações p a ra com o E stado iam cres­ tatism; C. Nekonformism; D. Individuism;
cendo, os cidadãos sentiam-se dispensa­ E. (?) Kombatemes.
dos das suas obrigações de uns p ara com INDIVIDUALIZAÇÃO D. Individua­
os o u tro s.” K 2 Ãú Ã 3 « Ç , L ’e n tr ’aide,
I
lisierung, -ation; E. Individualization·, F.
cap. VII. Expressão filosófica dessa ten­ Individualisation·, I. Individualisazione.
dência, num a teoría segundo a qual se de­ A. Ação de tornar individual, quer di­
zer, adaptado ao indivíduo no sentido D,
ve aprovar e favorecer o desenvolvimen­
2?. Cf. R. Sτ Â E « Â Â E è : a individualização
to do indivíduo, enquanto este é “ urna da pen a.
energia de vontade e de atividade tran s­ B. A ção de se to rn ar indivíduo, ou,
bordante que se põe diante de outrem para um ser que já o é, de aum entar a sua
com um a independência altiva, com um individualidade, no sentido C ou D.
espírito de luta e de com bate que recusa R ad. int.·. A. Individualig; B. Indivi-
sem pre ceder e que pretende sempre ven­ dualij.
cer” . F ÃZ « Â Â é , Esquisse psych ologiqu e
E IN D IV ÍD U O L. In dividuu m (tra d u ­
des p eu p les européens, p. 190. ção do grego α τ ο μ ο ν ; quer dizer tam bém

M arsal acrescenta que o sentido E lhe parece abusivo, “ um uso incorreto que
se presta a um a vil m an o b ra , consciente ou não, com o a exploração d a palavra ‘sen­
sualism o’ contra aquilo que deveria ser cham ado ‘sensacionism o’ ” .
Se as teorias se definem mais corretam ente pelo seu ponto de p artid a , eu cham a­
ria de b o a vontade teorias individualistas àquelas p a ra as quais o indivíduo é a única
realidade irredutível na ordem ética ou política (o único ab so lu to destas questões),
p a ra as quais, p o r consequência, to das as propriedades d o gru po podem ser reduzi­
das a com binações quantitativas das proposiedades dos seus elem entos individuais.
A tendência individualista consistiria então em insistir, em m atéria de ética ou políti­
ca, sobre este gênero de reduções (enquanto que a tendência socialista ou solidarista
consistiria em assinalar a originalidade ou irredutibilidade de todas ou partes das pro­
priedades do grupo às dos elem entos individuais, em p rocurar n a socialidade um ab­
soluto da questão).
A liás, falando acerca desta últim a concepção, pode-se pretender estabelecer que
a individualidade se encontrará elevada ao seu m áxim o de valor relativo pelo desen­
volvimento n atural ou através de um desenvolvimento artificial do g rupo; com o, in­
versam ente, p artindo da prim eira, se pode pro curar no desenvolvim ento n atural ou
dirigido dos indivíduos a causa d o m aior poder do grupo. ( M Bernès)

Sobre In dividu alism o, Crítica: O mais nítid o equívoco que se encontra na utiliza­
ção dessa palavra é aquele que assinala o H a n dw örterbu ch f ü r Staatw issenschaften,
no artigo Individualism us, q u ando m ostra que esta palavra significa ora um a teoria
d a força (M ach tdoctrin ), o ra u m a teoria do direito e d a igualdade. Trata-se, respec­
tivam ente, do sentido E e D. (Ch. Serrus)

Sobre Indivíduo — A rtigo corrigido e com pletado segundo as observações de J.


Lachelier, H. R odter, M . Bernès, L . Brunschvicg, G. D w elshauvers, M . D rouin, E.
INDIVIDUO 556

coisa indivisível m aterialm ente, como um inferior desta série, que já não designa um
átom o de D em ócrito; ou ob jeto de pen­ conceito geral e já não com porta divisão
sam ento sem partes, com o a unidade); D. lógica. Este term o diz-se singular*.
Individuum , Einzelding, Einzelw esen ; E. Pode-se exprimir esta mesma proprie­
Individual·, F. Individu-, 1. In dividu o. dade dizendo que o indivíduo é o sujeito
A . Um individuo, no sentido mais ge- lógico que adm ite predicados, e que não
ral e mais complexo da palavra, é um ob­ pode ele próprio ser predicado de qual­
jeto de pensamento concreto, determ ina­ quer outro . (LE « ζ Ç« U , D iscurso de m eta ­
físic a , § 8; segundo A 2 « è I ó I E Â E è , C ate­
do, que fo rm a um todo reconhecível, e
gorias, V, 2al l e seguintes, que define de
consiste num real dado quer pela expe­
um a m aneira semelhante ο υ σ ί α π ρ ώ τ η ,
riência externa, quer pela experiência in ­
mas dando, com o exemplo, tal hom em ,
terna. Cf. Individual, A . Este sentido, ain­
ta l cavalo.)
da que não seja fundam ental do ponto de C. B« ÃÂ Ã; « τ . Ser vivo cujas partes
vista etimológico, ocupa todavia um a po­ cooperam de form a durável, estreitamen­
sição central em relação aos outros senti­ te o bastante para que o cessar desta si­
dos desta palavra. Ver as observações. nergia im plique o desaparecim ento, ou,
B. Ló ; « Tτ . Se se dispuser um a série pelo menos, um a transform ação conside­
de term os num a hierarquia de gêneros* rável das funções que m anifesta. Vemos
e de espécies* subordinadas, chama-se in­ que neste sentido, com o frequentem ente
divíduo ao ser representado pelo term o o sublinharam os naturalistas, a indivi-

H usserl, Van Biém a, e a p artir da discussão que ocorreu na sessão de 1? de ju lho


de 1909.
No fundo, o sentido lógico e o sentido biológico são apenas um: o indivíduo é
o verdadeiro ser d a natureza, e o único. É resolúvel, por um lado, logicam ente ou
form alm ente, em conceitos cada vez mais ab strato s e gerais; p o r o u tro , fisicamente
ou m aterialm ente, em partes cada vez m ais simples. Essas duas resoluções nada pos­
suem em com um : mas o fato de se definir o indivíduo quer em função d a prim eira,
qu er em função da segunda, é sem pre, não obstante a diversidade das fórm ulas, o
mesmo ser que está em questão. (7. Lachelier)
N ão sou de opinião que a noção de indivíduo possa ser considerada logicamente
com o o m ais baixo g rau da hierarq uia de conceitos. É o grau m ais baixo, se existir,
ou se se lhe der um a existência relativa p ara lim itar a série, a species ínfim a. Com o
o infinitam ente pequeno em relação ao núm ero (e não com o unidade), o indivíduo,
é, logicam ente, apenas um a expressão simbólica: o seu interesse consiste em lim itar,
mesmo na linguagem da lógica, o valor do p onto de vista lógico, em lem brar que
ao lado deste .ponto de vista, que é o da relação e d o conceito, ligado inseparavel­
m ente a ele com o algo que lhe fornece a sua m atéria, há o da intuição. (Entendo
por esta palavra a im pressão direta de um dado, e não simplesmente a apercepção
im ediata que po de ser tam bém referir-se a um a construção com pletam ente form al,
a um princípio geral.) É intuitivam ente, não conceptualm ente, que o pensam ento põe
in d iv íd u o s . Conceptualmente, ele e x is te segundo o grau de generalidade, ou consoante
a direção dada à com paração das generalidades, dos gêneros e das espécies: intuiti­
vam ente só existem indivíduos.
A ssim , em p rin cíp io , os m esm os p en sam en to s são gêneros ou espécies, o u ain d a
in d iv íd u o s, co n so a n te são co n sid erad o s relativ am en te, ou co m o d a d o s to tais e ú n i­
co s, e po de-se assim fa la r d a in d iv id u alid ad e de um g ên ero o u de u m a espécie.
557 IN D IV ÍD U O

dualidade é um estado do ser vivo, sus­ formiga, um a célula. Ver Individualismo,


cetível de todos os graus, e que não pode etc.
nunca ser absoluto. (P 2 2 « 2 , Colônias
E E

ÇÃ I τ è
animais; L D τ Ç T , A in dividualidade
E I E

e o erro in dividualista, etc.) 1. Do ponto de vista da com preensão,


D. P è « TÃÂ Ã; « τ . O in divíduo opõe-se existem duas m aneiras de com preender a
à pessoa* m oral*: relação entre a noção de indivíduo e as
1? en quanto a unidade e a identidade dos gêneros e espécies aos quais pertence:
exteriores, biológicas, do ser hum ano se a. O term o singular não representa
opõem à unidade e à identidade interio­ propriam ente um conceito, e a noção de
res que resultam nele da reflexão e da indivíduo não mantém, com a mais estrei­
vontade. ta das classes lógicas em que se inclui, a
2? enquanto as particularidades, a m esm a relação que um a espécie m antém
idiossincrasia de cada ser hum ano se com um gênero. Ela é fo ra de série. P ara
opõem às características com uns que os passar do gênero à espécie, acrescenta-se
fazem “ sem elhantes” , e a adm issão co­ ao conceito um a diferença especifica que
m um de valores ditos im pessoais. é ela própria um “ universal” , analisável
Cf, In dividualidade, Crítica e obser­ em “ características” de m esma natureza
vações. que aquelas que com põem o conceito do
E . S ÃT« ÃÂ Ã; « τ , A unidade de que se gênero. P a ra passar da últim a espécie
compõem as sociedades: um homem, um a (Sr o (í o v elôos, species ínfima) à noção sin-

M as, na prática, os dois pontos de vista aplicam-se com um a facilidade desigual


aos nossos pensam entos: um conceito m uito ab stra to , sobretudo se se tra ta de um
conceito puro (quer dizer, se a m atéria dada fo r bastan te simples p ara não cham ar
a atenção e se se retiver apenas a fo rm a ou a lei de construção), só m uito dificilm ente
será encarado com o um in divídu o (assim os conceitos de quantidade, de núm ero);
um a observação b ru ta, localizada e tem poral, dificilm ente será erigida em espécie
ou em gênero (assim a sensação com plexa que experim ento ao receber depois de um a
noite no trem a im pressão de u m a região nova p a ra m im). (M . Bernès)
Parece-me ser necessário distinguir a este respeito três elem entos de significação,
todos eles contidos naq uilo a que cham am os um indivíduo no sentido A, mas que
podem ser dissociados pela análise e explicam as relações desse sentido com os senti­
dos B, C, D , E:
1? A idéia de real dad o na experiência.
2? A idéia de o bjeto de conhecim ento determ inado e circunscrito, fo rm ando um
to d o , apresentando um a unidade suficiente p ara que se possa falar de um a coisa só.
3? A idéia de objeto de conhecim ento definido pelas características distintivas,
m ais ou menos perm anentes, quer perm itam reconhecê-lo entre o utro s, segui-lo nas
suas deslocações sem o confundir com eles.
O dado concreto da experiência, logo que “ se individualiza” com um a determ i­
nação e um a perm anência suficientes, torna-se o sujeito lógico das nossas afirm a­
ções, o indivíduo no sentido B. P o r o u tro lado, o ser vivo (indivíduo no sentido C)
é um tipo particularm ente notável desta identidade: se ele fo r ao m esm o tem po con­
siderado nas suas relações sociais, passam os p ara o sentido E , nom eadam ente ao ho­
mem enquanto m em bro da sociedade, e foi esse o prim eiro objeto real que teve fu n ­
ção ló g ic a de s u j e i t o . F i n a l m e n t e , o m e s m o ser, psicologicamente considerado, é o
indivíduo no sentido D : aqui se encontram em concorrência a característica de uni-
IN DIVÍDUO 558

guiar, o que se acrescenta é um “ princi­ las que distinguem entre si as espécies de


pio de individuação*” que já não é urna um mesmo gênero, senão a análise inte­
característica ou um a soma de caracterís­ gral dessas características iria ao infini­
ticas, mas um a presença, um a realização to. Existe, pois, um conceito de indiví­
su i generis. A species Ínfim a contém , duo, e podem os dizer com verdade que
pois, em princípio, um núm ero qualquer “ om ne individuum est species Ínfim a” .
de indivíduos, que diferem num ero e não D iscurso d e m etafísica, IX . N este senti­
specie. De fato , distinguem-se sem dúvi­ do, o indivíduo é o ser cu ja noção lógica
da através dos acidentes, m as esses aci­ é com pleta, quer dizer, tal que não resta
dentes não podem ser objeto de ciência, qualquer elem ento indeterm inado, p o r­
como o são as formas substanciais que de­ tan to variável, que possa ser objeto de
finem as espécies. Esta concepção vem do um a determ inação ulterior. H á nesta ex­
platonism o. É a de A 2 « è I ó I E Â E è e da tensão dos term os de espécie e de concei­
m aior parte dos escolásticos; foi a d o ta ­ to (aliás m uito discutível; ver as observa­
da pela L ógica de P Ã2 I -R Ãà τ Â . Ver Bo- ções mais abaixo) um a generalização aná­
n itz, Vo "A t o fios', SCHÜTZ, T hom as Le- loga àquela que faz adm itir sucessivamen­
x ikon , V o Species, H , p . 764; P Ã2 I - te a unidade, depois o zero, entre os n ú ­
R Ãà τ Â , l f parte, cap. X II. meros. É de n otar tam bém a ligação des­
b . P a ra L E « ζ Ç« U , as diferenças que ta visão com o emprego psicológico dos
distinguem os indivíduos uns dos outros term os in divídu o e in d ividu alidade para
não são de um a natureza diferente daque­ representar aquilo que os seres possuem

dade, de totalid ade, e a característica de unicidade, a idéia d a diferença característi­


ca que constitui a “ individualidade” de um objeto de pensam ento; segundo os p ro ­
blem as, um a e o u tra dessas características apresentam -se no prim eiro plano, e pare­
ce constituir to d o o sentido do term o.
D ado isto, é verdade que intuitivam ente existem apenas indivíduos, quer dizer,
todos concretos distintos. M as, logicam ente, só se retém desse com plexo dad o um
ou outro elem ento. A contece, p o rtan to , que pela palavra in divídu o designam os o ra
o dado concreto cuja apresentação pela experiência fornece um conteúdo e um a ra ­
zão de ser às operações lógicas; o ra a unidade lógica abstrata , necessária para que
haja um a com preensão (unicidade do sujeito) e um a extensão (generalidade dos pre­
dicados). É esta segunda individualidade, e não a prim eira, a que se aplica p or supo­
sição a este ou àquele objeto de pensam ento: ela é então um a função lógica, cujo
caráter form al aparece claram ente em certas operações, em particu lar na distinção
entre o predicado indivisível 6: “ As M usas eram nove irm ãs” e a predicação distri­
butiva D : “ As M usas eram filhas de M ném osine” . N este sentido, é certo que um
mesmo term o, um a m esm a noção, podem ser to m ad os com o gênero, com o espécie,
como indivíduo. M as en tão já não se põe a questão de saber se aquilo que designam
é ou não um real dado na intuição. (A . L .)
A noção de indivíduo, na biologia, é das mais obscuras. Creio ser necessário dis­
tin g u ir o in divíduo m o rfo ló g ico , quer dizer, todo ser vivo cujos elementos constitu­
tivos não podem ser separados nem divididos em partes sem lhe suprim ir a caracte­
rística essencial; e o in divíduo fisio ló g ico , quer dizer, essa m anifestação unitária de
fo rm a que po de, para um tem po mais ou menos longo, ter de um a m aneira indepen­
dente um a existência própria, m anifestada pela m ais geral de todas as funções; a con­
servação de si próprio . E sta form a de individualidade é a principal; a sua m elhor
definição parece-me ser a de C attan eo : “ O indivíduo do ponto de vista fisioló-
559 IN D U Ç Ã O

de único não só na sua existência, mas A . (sentido mais usual na linguagem


tam bém na sua natureza e no seu cará­ corrente, relativamente raro em filosofia).
ter, p o r oposição àquilo que têm em co­ Inferência* conjectural. Este sentido per­
m um com os seus semelhantes. tence tam bém ao verbo in du zir , so bretu ­
Podem os, finalmente, aproximá-la da do na linguagem corrente. Mas é raro ,
utilização inglesa da palavra in dividuate tan to um a com o a o u tra palavra, na lin­
(ver, mais atrás, In dividuação). guagem filosófica, exceto no caso preci­
2. O indivíduo, mesmo no sentido ló­ so em que esta inferência conjectural é ao
gico, não se confunde com a classe sin­ mesmo tem po indução no sentido B. (Ver
gular, ou com o conceito singular. E o ob­ J. S. M« Â Â, L ógica, liv. III, cap. 2.)
jeto de pensam ento que preenche esta P E « 2 TE propôs que se dissesse neste sen­
classe e determ ina este conceito. Pode tido A b d u ç ã o *.
acontecer, com efeito, por um lado, que Especialm ente, processo de pensa­
a unicidade deste objeto não esteja im ­ mento reconstrutivo*, pelo qual, em parte
plicada na definição da classe: p. ex., sa­ raciocinando, em parte adivinhando, se
télite da terra; e, inversamente, que aí on­ remonta de certos indícios a fatos que eles
de está im plicada, o indivíduo que preen­ to rn a m m ais ou m enos pro váveis.
cheria as condições do conceito não exis­ “ Q uando nos aventuram os a proceder
te, p. ex.: o filho mais velho de D escar­ desta fo rm a por indução para reconsti­
tes (que teve apenas um a filha) (S). tuir teoricam ente a cadeia lógica dos se­
R ad. in t.\ Individu. res org anizados... lançam o-nos nesse ca­
m inho perigoso em plena incerteza.” DE
IN D IV ISO D. Ungeteilt; E. U ndivi­ L τ Z Çτ à , L ’h istoire d e la terre, 2 8 7 .
ded; F. In d ivis ; I. Indiviso.
B. (sentido usual n a linguagem filo­
A. Sentido geral: não dividido. “ P ro ­ sófica). O peração m ental que consiste em
priedade indivisa.” rem ontar de um certo núm ero de p ro p o ­
B. L ó o . P ro p o siçã o in divisa, aquela sições dadas, geralmente singulares ou es­
cujo predicado se refere ao sujeito com o peciais, a que cham arem os indutoras, a
a um todo indiviso e, p o r conseqüência, um a proposição ou a um pequeno núm e­
não pode ser afirm ado (ou negado) sepa­ ro de proposições m ais gerais, cham adas
radam ente deste o u daquele dos indiví­ induzidas, tais que implicam todas as pro­
duos que constituem a extensão d o sujei­ posições in dutoras. Cf. A n álise, C.
to: “ os hidrocarbonetos são num erosos” . 1? A indução fo rm a i, indução to ta l
Ver Extensão. (P ort-R oyal, 3? parte, cap. X IX ; 4? p ar­
R ad. in t.: N edividit. te, cap. VI) ou indução co m p leta (desig­
1. IN D U Ç Ã O G. 'E irayw yij; L. ln - nação de longe a mais usual) é aquela em
ductio; D. Induction; E. Induction; F. In­ que a relação enunciada pela proposição
duction; I. Induzione. induzida n ão im plica n ad a mais do que

gico é to do ser que vive p o r si p róprio e que apresenta um a tal centralização e coor­
denação de funções que não pod eria ser dividido sem ser d estru íd o .” (M orfologia
e em briologia gerais, M ilão, 1895.) (C. R an zoli)
Ter-se-á o direito de definir o indivíduo, do p onto de vista sociológico, com o “ a
unidade de que se com põem as sociedades” ? A uguste Com te não deixa de repetir
que “ a sociedade não se co m p õ e de indivíduos” , porque a parte deve ser hom ogênea
ao to do. (F. P écaut) Parece-m e haver aqui um escrúpulo exagerado. É atribuir à p a ­
lavra co m p õ e m uito mais precisão do que ela possui na sua utilização filosófica. Ela
não pressupõe nem a hom ogeneidade do to d o e das partes, nem a preexistência ou
a i n d e p e n d ê n c ia d a s p a r t e s e m r e l a ç ã o a o t o d o (o que s e r ia u m m a l - e n t e n d i d o a i n d a
mais grave). (A . L .)
“ IN D U ÇÃ O P SIC O M O T R IZ ” 560

aquilo que é implicado pelas proposições áE , A s teorias da indução e da experi­


indutoras. Consiste mais geralm ente em m entação, cap. I, X I, X III.
enunciar num a só fórmula, relativa a uma
ÇÃI τ è
classe ou a um conjunto, um a proprieda­
de que já foi afirm ada separadam ente de 1. A indução formal é um raciocínio
cada um dos term os que com põem essa e constitui um a prova apodíctica. Se, por­
classe ou dos elementos que compõem es­ tanto, se entender por dedução, como o faz
se co njunto. É esse o caso do silogismo a maioria dos lógicos contem porâneos, e
indutivo de A ristóteles (P rim eiros A n a ­ como nós o fizemos aqui, to da operação
líticos, II, 23): é esse tam bém o caso, um que consiste em passar de um a ou de vá­
pouco diferente, em que o enunciado di­ rias proposições para um a proposição que
fere na sua fo rm a lógica do das proposi­ é a sua conseqüência necessária em virtu­
ções indutoras, ainda que lhes seja equi­ de de leis lógicas, segue-se que: 1? a indu­
valente: é assim que se estabelece por co­ ção completa é uma form a da dedução; 2?
ligação que um a terra “ é um a ilha” se um esta não vai sempre “ do geral para o p ar­
navio que seguiu a sua costa acabar por ticular” (ou, para falar mais exatam ente,
se encontrar no seu po nto de partid a (J. do genérico para o específico).
S. M« Â Â, L ó g ica , III, cap. 2). 2. A indução am plificante não é um a
U ma outra form a de indução comple­ im plicação lógica; po rque, do fato de al­
ta é a indução m atem ática: consiste, sen­ guns S serem P , ou m esm o m uitos dos S
do estabelecida um a relação para um dos serem P , n ão se segue que todos os S são
term os de um a classe, em estender aos P . E la não deixa de ser considerada, sem
poucos essa relação, em virtude de um a contestação, com o totalm ente probante
im plicação rigorosa, a todos os outros num certo núm ero de casos. P o r conse­
membros dessa classe (quer o número des­ qüência, levanta três problem as conexos,
ses term os seja ou não lim itado). P o r norm alm ente reunidos sob o nom e P ro ­
exemplo, sendo estabelecido um teorem a blem a d o fu n d a m en to da indução.
n = 1, m ostra-se que se é verdade para a. P roblem a d o fu n d a m en to p sico ló ­
n — 1 , é tam bém verdade p ara n; e daí gico d a indução: Sendo dado que a m aior
se conclui que é verdadeiro para todos os parte das proposições que julgamos verda­
núm eros inteiros. (Ver Recorrência e as deiras repousam sobre am ostras e exem­
observações mais adiante.) plos, de onde provém o assentimento, por
2? A indução no sentido ordinário, ou vezes tão decidido, que lhe concedemos?
indução am plifican te (para a qual J. S. b. P roblem a da lógica d a indução: Em
M« Â Â pretendia que se reservasse exclu­ que casos e em que condições pode um a
sivamente o nom e de indução), é aquela proposição induzida ser tida com o veri­
em que a relação fo rm ulada pela p ro p o ­ ficada?
sição induzida se aplica a todos os termos c. Problem a dos princípios da indução:
de um a classe, em núm ero finito ou in­ Podem-se reunir todos os casos de indu­
definido, ao passo que esta relação só foi ção legítima numa regra lógica, ou num pe­
afirm ada apenas de alguns entre eles pe­ queno núm ero de regras lógicas, rigorosa­
las proposições indutoras. m ente definidas? Cf. Fundam ento.
Ver Jean N « T Ã á , O pro b le m a d a in­
dução; G . B τ T Â τ 2 á , E nsaio so b re o
7 E 2. “INDUÇÃO PSICOMOTRIZ”
con hecim ento aproxim ado; A . L τ Â τ Ç - C h. FÉRÉ cham ou desta fo rm a (por ana-

Sobre Indução — 1? N o ta s históricas. A fórm ula que define a indução pela “ pas­
sagem do particular ao geral” , e de que GÂ Oζ ÃI m ostrou a incom patibilidade
561 "IN D U Ç Ã O P S IC O M O T R IZ ”

logia com o fenôm eno elétrico de indu­ com efeito, a sua m ão com eça a executar
ção) o fenôm eno de que dá o seguinte irresistivelmente m ovim entos rítm icos de
exemplo: “ Se, considerando um sujeito flexão. O ra, se, em vez de deixar a expe­
deste gênero (neuró pata sugestionável), riência chegar a este ponto, a pararm os
lhe pedirm os p ara olhar com atenção os no m om ento em que o sujeito começa a
m ovim entos de flexão que fizermos com ter a sensação do m ovim ento que ainda
a m ão, ao cabo de alguns m inutos ele de­ não aconteceu, no m om ento em que o
clara que tem a sensação de que o m es­ m ovim ento estiver no estado nascente,
m o m ovim ento acontece na sua própria colocando-lhe um dinam óm etro na m ão,
m ão, ainda que esta esteja completamente constata-se que a energia da pressão a u ­
imóvel; e ao cabo de alguns instantes, * § m entou um terço ou a m etad e .” Fé 2 É,

com a utilização atu al das palavras, encontra-se na L ógica de P Ã2 I -RÃà τ Â sob a


fo rm a seguinte: “ C ham a-se indução quando a investigação de várias coisas particu­
lares nos conduz ao conhecim ento de um a verdade geral. Assim, quando se experi­
m entou em m uitos m ares que a sua água é salgada, e em m uitos rios que a sua água
é doce, conclui-se geralm ente que a água d o m ar é salgada e a dos rios d o ce.” Ib id .,
3f parte, cap. X IX , § 9.
LE « ζ Ç« U em prega indução com o equivalente de conh ecim en to p o r experiência:
“ De onde nasce um a ou tra questão, a saber: se todas as verdades dependem da expe­
riência, quer dizer, da indução e dos exemplos, ou possuem outro fundam ento.” N o vo s
ensaios, prefácio, § 3.
P a ra COURNOT a indução “ é o procedim ento do espírito que em vez de se deter
bruscam ente no limite d a observação im ediata, prossegue o seu cam inho, prolonga
a linha descrita, cede, p o r assim dizer, durante algum tem po ainda, à lei do m ovi­
m ento que lhe foi im presso, m as não de um a m aneira fatal e cega: porq ue a razão
lhe diz porq ue é que não devia resistir” . Essai, cap. IV, § 49. Considera-a, parece,
com o o gênero com um de que a interpolação e a extrapolação são as espécies (ib id .,
§ 46) e opõe-na à analogia “ que se eleva pela observação das relações à razão dessas
relações” (§ 49). C f. A n alogia.
J. H adam ard, G. M ilhaud, M . W inter observaram que a indução aristotélica não
deve ser considerada com o um gênero de que a indução m atem ática constituiria um
caso específico. (É essa tam bém a opinião de F. EÇ2 « I Z E è , P ro b lem i delia scienza,
p. 201, n o ta, onde ele faz re m ontar a M aurolico, em 1550, a descoberta deste tipo
de raciocínio, segundo um a com unicação de Vτ « Â τ I « .)
A indução rigorosa ou com pleta poderia, pois, com preender três espécies distin­
tas: 1? o silogismo indutivo dos A n a lítico s, caracterizado pelo fa to de a prova su­
postam en te te r sid o f e ita p ara cada um dos três term os reunidos em seguida num
único conceito (o que supõe esses term os num núm ero finito); 2° a coligação através
de observações realm ente efetuadas sobre um co n junto de elem entos ordenados, e
cu ja ordem intervém na dem onstração , com o no exemplo do navegador e da ilha;
3? a indução m atem ática em que a pro va não é anteriorm en te feita para cada um
dos elementos, m as em que é apenas adm itida como indubitavelm ente possível. Com ­
preenderá ela p ró p ria duas form as, consoante os term os elementares aos quais a d e­
m onstração se refere não dependerem um do outro (por exemplo, quando se demonstra
u m a propriedad e sobre um a figura ou sobre um núm ero determ inados, mas m os­
tra n d o que a operação poderia repetir-se a propósito de qualquer o u tro núm ero ou
qualquer o u tra figura d a m esm a espécie), ou dependerem um do o u tro num a ordem
IND UTIV O 562

Sensation et m ou vem en t, pp. 8-14. “ Es­ Idéias-Jorças.


ses fa to s” , acrescenta ele, “ parecem-nos R a d . in t .: Indukt.
pró prio s p ara m ostrar que a energia de
um m ovimento está em relação com a in­ IN D U TIV O D. Induktiv-, E. In du cti­
tensidade da representação m ental desse ve-, F. Inductif-, I. In d u tivo .
mesmo m ovim ento .” Ib id ., 14-15. Cf. A . Que procede por indução: “ Méto-

determ inada, de m aneira que a dem onstração da propriedade em questão para um


dos term os supõe a mesma dem onstração já efetuad a por todos os term os anteriores
(por exemplo, no caso do texto acim a citado). Deve-se reservar, parece, para a ú lti­
m a destas form as o nom e de raciocínio por recorrência. (Ver P ë ÇTτ 2 é , A ciência
e a h ipótese, cap. I; G. M « Â τ Z á , O raciona!, cap. IV.) {A. L .)
7

C um pre n o tar que esta recorrência serve não só para dem onstrar, m as tam bém
p a ra definir. Ver P E τ ÇÃ , Form ulário m atem ático (1903), § 10, n? 3: “ Seja S um a
classe, suponham os que zero pertence a essa classe e que, to das as vezes que um indi­
víduo pertence a essa classe, o seu seguinte tam bém pertence; en tão , todos os núm e­
ros pertencem a essa classe: Cham a-se prin cíp io d e indução a esta p roposição.” Cf.
P ë ÇTτ 2 é , A ciência e a h ipótese, cap. I, § 3: “ D efinição d a adição” , e E Ç2 « I Z E è ,
P ro b lem i delia scienza, cap. III, § 19: “ Fondam enti dell’A ritm etica.”
2? O bservações críticas: H á , parece, com o condição prévia da indução discursi­
va, que é a única descrita neste artigo, um a indução im ediata que não tem necessida­
de de casos reiterados ou de proposições m últiplas p ara se constituir: ela capta, co­
m o diziam os peripatéticos, o universal no pró prio indivíduo. E com o ou por quê?
P orq ue to d a percepção ou toda concepção que se to rn a distin ta e definível só adq u i­
re esta precisão lógica na m edida em que reiteram os através de um signo e de um a
representação subjetiva a apresentação inicial; por isso m esm o, to d a noção refleti­
da, enquanto é virtualm ente reiterada ao infinito , im plica um caráter de universali­
dade, um a tendência espontân ea p a ra erigir em regras fixas as relações que consti­
tuem as nossas percepções e as nossas concepções explícitas. N ão se deve deixar crer
que só existe indução onde existem várias experiências ou várias proposições para
co nfrontar. (M. B londel)
Creio que, sob este aspecto, é necessário distinguir: 1? o m ovim ento natural do
espírito que desliza espontaneam ente do fato p ara a lei, quer dizer, concede sem crí­
tica um valor universal para a relação sob a qual ele se representou um fato dado.
H á aí um a inferência conjectural no sentido A , sendo a verossim ilhança subjetiva
de um a conjectura suscetível de to da gradação; 2? a operação refletida que dá lugar
a essa observação usual, mas freqüentem ente mal analisada, segundo a qual “ um
só fato bem observado dá o direito de induzir” . E sta só é verdadeira p ara casos em
que não se tem que decidir entre dois m em bros de um a alternativa, ou p ara fatos
m uito especiais, resolúveis em elementos conhecidos, eles próprios já elaborados por
um a indução discursiva de tipo com um . A indução não se refere pro priam ente nesse
caso ao fato único: este apenas fornece um dado m aterial deixado, por assim dizer,
em branco no raciocínio. Q uanto ao papel do prim eiro destes trâm ites intelectuais
no nosso assentim ento científico, ele faz parte do problem a do fundam ento psicoló­
gico da in dução, tal com o é definido mais atrás. (A . L í)
A indução não se reduz, com o freqüentem ente se diz, à determ inação de um a
relação causal, m as pode tam bém chegar a determ inar um a figura, um a trajetó ria,
um a função m atem ática; e em certos casos (como na indução que determ ina a traje-
563 IN E R C IA

do indutiv o.” ço” , F 2 2 2 Ã , R evu e philosoph ique, fe ­


E E

B. Que resulta de um a indução: “ Ver­vereiro de 1894.


dade indutiv a.” B. F í è « Tτ . C onjunto de propriedades
R ad. int.: A . In duktal; B. Induktat. dos pontos m ateriais que consistem:
1? Em que um ponto livre de qualquer
“ IN D U T O R , IN D U Z ID O ” ligação m ecânica e que não sofre qual­
A . L ó ; « Tτ . Ver Indução. quer ação conserva indefinidam ente a
B. P è « TÃÂ Ã; « τ . Entende-se p o r Indu­ m esm a velocidade em grandeza e em di­
to r , num a associação de idéias, o te rm o reção (com preendendo aí o caso em que
que serve de p onto de p artid a p ara a as­ essa velocidade é nula, quer dizer, em que
sociação; por induzido, aquele ao qual es­ o corpo está em repouso). Admite-se que
ta associação chega. existe um sistema de coordenadas tal que
todos os pontos materiais, referidos a esse
IN É R C IA D . Trägheit, Beharrungs­ sistem a, sejam dotados de inércia. E sta
vermögen-, E. Inertia; F. In ertie ; I. Iner- condição verifica-se com um a aproxim a­
zia. ção grosseira, mas praticam ente suficien­
A . Sentido g eral : ausência de inicia­ te, se relacionarm os os m ovim entos o b ­
tiva, preguiça, resistência ao m ovimento. servados sobre a superfície da terra a es­
“ A inércia m ental e a lei do m enor esfor­ ta, considerada com o im óvel; verifica-se

tó ria de um planeta) ela n ão é a extensão a to d a um a classe de um a propriedade ¡me­


diatam ente d ad a p ara alguns dos term os desta, mas a posição de um a idéia que faz
com que se com preendam percepções antes re fratárias ao pensam ento (aqui, as posi­
ções irregulares do “ astro erra n te ” ). A idéia de indução só se confunde com a de
generalização porq ue efetivam ente o m undo oferece à nossa observação classes de
fato s. M as, quando se vai, rigorosam ente, d a determ inação das relações à idéia da
classe (por exem plo, em quím ica), a indução é acim a de tu d o definida pela pró pria
determ inação das relações constitutivas. (M . D orolle )
Ver do m esm o au to r L es p ro b lè m e s d e T in duction , principalm ente cap. I, § 5;
cf. m ais atrás Coligação e G eneralização.
Sobre Inércia — P écaut pensa que a utilização desta palavra no sentido B, 2?,
é incorreta e que, nos textos citados, é to m ad a erradam ente por m assa. R . B erth elot
e W inter fazem n o ta r que esta acepção tende, pelo co n trá rio , a generalizar-se e que
se cham a freqüentem ente inércia elétrica, a exemplo de L Ãá ; E , à pro priedade que
m anifestam os fenôm enos d e self-in du ction . “ A self-in d u ctio n ” , diz P ë ÇTτ 2 é , “ é
um a verdadeira inércia . ” “ A quilo a que cham am os m assa seria apenas um a ap a rên ­
cia: to d a a inércia seria de origem eletrom agnética.” “ E sta energia só pode, pois,
au m en tar a inércia do elétron, etc.” “ A dinâm ica do elétron” , R ev. gén. des Scien­
ces, 30 de m aio de 1908. É verdade que esta utilização d a palavra foi lam entada,
p o r outro lado, por Dç E Â è 7 τ Z â E 2 è -DE 2 à , segundo o qual não se deveria falar nem
de “ vencer a inércia” de um co rpo, nem de um “ au m en to ” d a inércia. “ Expressões
até adm itidas, com o esta: A inércia de um corpo opõe-se a qualquer variação d a sua
velocidade, apresentam o perigo de fazer crer que a inércia constitui u m a força ínti­
m a que se op õe à ação de to d a fo rça m otriz exterior. Seria m ais co nform e ao axiom a
fundam ental dizer que essa incapacidade cham ada inércia significa que to d a m udan­
ça de m ovim ento é devida a um a força m otriz exterior, e que o efeito dessa força
é exatam ente igual à sua c a u sa .” “ A M assa dos corpos será variável?” Ib id ., 15 de
novem bro de 1908.
INERENCIA 564

com um a aproxim ação superior aos er­ que um p eq u e n o .” Journal des S avan ts,
ros da observação se relacionarm os os 18 de ju n h o de 1691.
m ovim entos a um triedro que tenha por R ad. in t .: Inertes.
vértice o centro do Sol, e cujas arestas es­
IN E RÊ N CIA D . In härenz ; E, Inhé­
tejam dirigidas p a ra estrelas fixas deter­
rence-, F. Inhérence ; I. Inerenza.
m inadas.
A . É inerente a um sujeito dado toda
O enunciado desta propriedad e cha­
determinação que é afirm ada deste sujeito
m a-se p rin cíp io d e inércia.
e que só tem existência por ele (quer esta
2? Em que, quando um corpo sofre
determinação seja constante ou acidental,
a ação de um a força, a aceleração que de­
própria a este sujeito ou com um a ele e
la recebe é inversam ente proporcional a
a outros). “ W enn m an nun diesem Rea­
um coeficiente determ inado, variável para
len an der Substanz (den Accidenzen) ein
os diferentes corpos, e que se cham a a sua
besonderes Dasein beilegt, z. E. der Be­
m assa. C ham a-se algum as vezes, neste
wegung, als einem Accidenz der M aterie,
sentido, fo r ç a d e inércia à força fictícia
so nennt m an dieses D asein die Inhärenz ,
que, aplicada a um corpo em m ovim en­
zum U nterschiede vom Dasein der Subs­
to sob a ação de um a força, deve supos­
tanz, das m an S ubsisten z nennt. Allein
tam ente equilibrá-la; ela é, por conse­
hieraus entspringen viele M issdeutungen
quência, igual, e de sentido inverso, ao und es ist genauer und richtiger geredet,
p ro d u to da m assa pela aceleração (m 7). wenn m an das A ccidenz nur durch die
O m o m en to d e inércia de um ponto m a­ A rt, wie das D asein einer Substanz posi­
terial obrigado a mover-se em to rn o de tiv bestim m t ist, bezeichnet .” 1 K τ Ç , I

um eixo fixo de rotação é 0 pro duto da R azão p u ra , Analogias do entendim ento,


sua m assa pelo quadrado da sua distân­ K ehrbach, 178. A m esm a observação se
cia em relação a esse eixo (m r2). en contra já em L « ζ Ç « U , Cartas ao P.
E

C R ÍT IC A D es B osses, X X I, E rd m , 686b.
B. É inerente a um sujeito dado toda
Só se faz en trar norm alm ente a pri­
determ inação, constante ou não , que
m eira dessas duas propriedades na defi­ constitui um a m aneira d e ser intrínseca
nição de inércia. M as erradam ente: p o r­
desse sujeito, e não um a relação com al­
que se se co nsultar a utilização feita des­ gum a o u tra coisa. “ M en o r que V ersail­
te term o pelos cientistas, constata-se que les não é com o são ou agradável para ha­
não se aplica menos à resposta variável bitar um a m aneira de ser inerente a F o n ­
dos diferentes corpos a um a m esm a fo r­ tainebleau. Se Versailles fosse destruído,
ça do que à propriedade constante de con­ e se Fontainebleau continuasse a existir,
servar a m esm a velocidade. “ O quocien­ Fontainebleau deixaria de ser m enor do
te da fo rça pela aceleração... é a verda­ que Versailles, sem que por isso nele al­
deira definição da m assa, que m ede a gum a coisa tivesse m u d ad o ... C onviria
inércia do co rp o .” P Ã « Ç T τ 2 é , Science et distinguir estes dois gêneros de p roposi­
m éthode, p. 255. Por outro lado, este sen­ ções cham ando-lhes proposições de ine-
tido complexo da palavra inércia é trad i­
cional; L « ζ Ç« U diz da m esm a form a:
E

1. “ Q u an d o se atrib ui u m a existência se para da a


“ N otam os na m atéria um a qualidade a
essas determ inações reais d a substância (aos acidentes),
que alguns cham aram a inércia natural p o r exem plo ao m ovim en to en q u an to aciden te d a m a­
pela qual o corpo resiste de algum m odo téria, cham am os a esta existência inerência, p o r oposi­
ao m ovim ento; de sorte que é necessário ção à existência d a substância, que cham am os subsis -
íência. M as nascem daí inúm eros m al-entendidos e fala-
em pregar algum a força para nele 0 colo­
se com m uito m ais ju steza e ex atidão se se designar o
car (abstraindo até do peso) e que um cor­ acidente ap en as co m o a m an eira pela q u al a existência
po grande é mais dificilmente abalado do de um a substância é determ inada p ositivam en te,,,
565 IN F E R IO R

rência e proposições de rela çã o .” J. Lτ o term o mais geral, de que raciocínio, de­


T7 E Â « E 2 , É tu d es su r le syllogism e, p p . dução, indução, etc. são casos especiais.
42, 44. P o r outro lado, esta palavra não se em ­
C. É inerente a u m sujeito d ado tudoprega quando se tra ta de um a simples im­
o que lhe é essencial*, ou pelo m enos to ­ plicação lógica, isolada de qualquer as­
da a determ inação, toda a característica serção sobre a verdade ou falsidade das
que não lhe pode ser retirada. “ F raque­ proposições que se implicam: só se diz da
za inerente à natureza hum an a; vício ine­ passagem de proposições dadas como ver­
rente ao tema de um a o b ra” , Dictionnaire dadeiras ou com o falsas, à verdade ou à
d e l ’A ca d ém ie, 7? edição, sub Vo. falsidade daquelas que delas dependem ,
R ad. in t.: Inher. exceto no caso das “ inferências im edia­
ta s ” , consideradas enquanto puras fo r­
IN ERV A ÇÃ O (Sensação de) D. In- m as lógicas.
n ervationsem pfindung; E. Sensation o f P a ra as nuances que distinguem in fe­
¡nervation; F. Sensation d ’innervation ; 1. rência e Raciocínio* na linguagem filo­
Sendo d ’innervazione. sófica usual, ver a Crítica deste últim o
Sensação que acom panha a ação ner­ term o.
vosa pela qual um músculo é posto em Inferência d o p a rticu la r p a ra o p a r ti­
m ovim ento. A existência desta sensação cular (Jo h n S. M « Â Â, L ógica, livro III,
é m uito contestada. cap. III, § 3) o u, para m elhor dizer, do
Rad. int.; Innervaci. singular p a ra o singular: aquela que con­
siste em concluir de um fa to para outro
IN FE RÊ N C IA L. Illatio; D. Inferier-
fato análogo.
ren; E. Inference; illation; F. Inférence;
B. P roposições cu ja asserção resulta
I. Inferenza, illazione.
d e um a inferência no sentido A.
A . T oda a operação pela qual se a d ­
Inferência im ediata, v er Im ediato.
mite um a proposição c u ja verdade não é
R ad. int.: A . Infer; B. Inferaj.
conhecida diretam ente, devido à sua li­
gação com outras proposições já tidas por IN F E R IO R D. N iedriger; E. L ow er;
verdadeiras. F. Inférieur; I. Inferiore.
Essa ligação pode ser tal que a p ro ­ Term o m uito utilizado em filosofia,
posição inferida seja julgada necessária, m as m uito vago: aplica-se a tu do aquilo
ou apenas verossímil. Inferência é assim que, com parado a algum o u tro objeto de

Sobre Inervação (Sensação de) — Entende-se m ais precisam ente p or sensação de


inervação a sensação da q u an tidade de energia nervosa que dirigimos para um m ús­
culo, para produzir um a d ad a contração. Aqueles que defendem a existência desta
sensação, distinta das sensações musculares em retorno, se apoiam especialmente nesta
consideração: é necessário que tenham os consciência do grau da descarga nervosa
que lançam os nos m úsculos p a ra produzir a força m uscular realm ente correspon­
dente à resistência que deve ser superad a. Se o grau de inervação não corresponder
à resistência, a ação m uscular será ou excessiva ou ineficaz, com o se quiséssemos
levantar um a g arrafa que julgam os cheia de água e está cheia de m ercúrio, ou vice-
versa. (C. R a n zo li )
Sobre Inferência — A rtigo com pletado segundo as observações de J. Lachelier
e M . D rouin.
Este term o ao im plicar um juízo de valor não deveria nunca ser utilizado para
caracterizar espécies ou seres científicam ente considerados. (L . B oisse )
IN H E R I 566

pensam ento d a m esm a natureza, é ap re­ R ad. int.: A . Infinites.


ciado menos favoravelm ente. “ Segundo
a excelente definição de Auguste C om te... IN F IN IT A M E N T E G R A N D E D
O m aterialism o é a d o utrina que explica Unendlich gross; E. Infm itely large ; F. In­
o superior pelo in ferio r... É a o b ra aca­ fin im en t grand; I. In fin itam en te grande.
bada que explica o esboço, o perfeito que M aior do que qualquer quantidade
explica o incompleto e o im perfeito, o su­ dad a. Diz-se apenas das grandezas con­
perior que explica o inferior. P o r conse- sideradas com o variáveis, e m esmo mais
qüência, é apenas o espírito que explica especialm ente de um núm ero que cresce
tu d o .” Rτ âτ « è è ÃÇ , L a p h ilo so p h ie en indefinidam ente. N ão se diz usualm ente
France au X IX * siècle, p. 189. do espaço que ele seja “ infinitam ente
Diz-se especialmente: grande” , m as que é infinito.
1P de um a operação, de um a função
psicológica opostas a um a operação ou IN F IN IT A M E N T E P E Q U E N O D.
função mais complexa que supõe a pri­ Unendlich klein; E. In fm itely sm ail, in-
m eira, a contém e lhe acrescenta um a ca­ fin itesim el ; F. In finim en t p e tit; I. In fini­
racterística nova. tésim ale.
2? daquilo que é considerado com o A. “ Cham a-se q u an tidade infinita­
m enos avançado na ordem da evolução m ente pequ en a ou simplesmente infinita­
(enquanto esta consiste num a crescente m ente pequ en o a qualquer grandeza cujo
diferenciação): “ As espécies inferiores; as limite é z e ro .” D Z τ O Â , Cálculo in fi­
7 E

sociedades inferio res.” nitesim al, livro I, cap. II, § 6. Ver In ­


3? em LÓGICA, de um term o menos fin itesim a l.
geral do que um outro. B. Im propriam ente, m uito pequeno.
Cf. A lto , observações. Diz-se freqüentem ente neste sentido dos
R ad. int.: Infr. m icrorganism os.

IN F IE R I Em devir (D. Im Werderi), IN FIN IT ES IM A L L. M o d . In finité­


em vias de transform ação. Diz-se daqui­ sim a s ( L « ζ Ç« U ) ; D . A . Unendlich klein;
E

lo cujo pensam ento envolve um a altera­ A . B. Infinitesim al; E. Infinitesim al; F.


ção contínua. Infinitésim al; I. Infinitesim al.
Os escolásticos diziam no mesmo sen­ A . In finitam ente pequeno*, no senti­
tido in via (G ÃTÂ Ç« Z è , V o, 226 B).
E
do A. O infinitam ente grande foi cham a­
IN F IN ID A D E D. U nendlich keit ; E. do por L « ζ Ç« U infinitupe (m agnitudines
E

infinituplae oposta a m agnitudines infi-


Infinity, infinitude·, F. Infinité·, I. Infini­
ta, infinítate. nitesim e: C arta ao P. D es Bosses, G 2 - E

A. Característica daquilo que é infi­ 7 τ 2 á


I , II, 305; J τ Ç E I, I, 455); mas este
nito. “ A principal (das propriedades co­ term o não entro u em uso.
m uns a todas as coisas) com preende as B. Que diz respeito às quantidades in­
duas infinidades que se encontram em to ­ finitesimais. O cálculo infinitesim al é o
das: um a a grandeza, a o utra a peque­ algoritm o inventado por Leibniz e expos­
n ez .” P τ è Tτ Â , D o espirito g eom étrico, to na sua N o va M eth o d u s p r o m axim is
pequena ed. Brunschv., 174. et m inim is (1684); o M é to d o infinitesim al
B. Número ou grandeza infinitos. P or ( A ú ú Â Â , E lem entos d e análise m atem á­
E

hipérbole, núm ero m uito grande. “ P o ­ tica, cap. I) com preende todas as opera­
der-nos-íamos livrar de um a infinidade de ções m atem áticas que têm por objeto
d o e n ç a s...” D è T τ 2 è , D iscurso do
E I E estabelecer relações entre grandezas fini­
m éto d o , V I, 2. tas pela consideração de quantidades in­
Infinitude, com o In finidade no sen­ finitesimais: m edida das grandezas fini­
tido A. tas consideradas como limites; determi-
567 IN F IN IT O

nação das grandezas finitas consideradas que apliquei a palavra indefinido, mas pa­
com o relação de duas quantidades infi­ ra significar um a coisa real que é incom ­
nitesimais (cálculo das derivadas); deter­ paravelm ente m aior do que todas aque­
m inação das grandezas finitas considera­ las que têm algum fim .” D E è Tτ 2 I E è ,
das com o so m a de um núm ero infinita­ Carta a Cterselier, A d. et T an n., V, p. 56.
m ente grande de quan tidad es infinita­ Ver Categorem ático e Sincategoremático.
m ente pequenas (cálculo integral). Especialm ente, um co n junto fo rm a­
C. do
P o r extensão, m as im propriam en­ de unidades distintas é dito infinito se
te: aquilo que é m uito pequeno (em rela­ fo r “ equivalente a um a p arte de si p ró ­
ção às grandezas que habitualm ente con­ p rio ” , quer dizer, se se puder estabelecer
sideramos). um a correspondência term o a term o, uní­
R ad. in t .: Infinitesim al. voca e recíproca, entre as unidades que
com põem este co njunto e aquelas que
IN FIN IT IV A A lgum as vezes usada compõem um a das suas partes (por exem­
substantivam ente em vez de P ro p o siçã o plo, entre a sequência n atu ra l dos núm e­
infinitiva. Ver L exis. ros e a seqüência dos núm eros prim os,
que está ali com preendida). Os “ núm e­
1. IN FIN IT O (adj.) D . Unendlich\ E.
ros in finito s” foram tam bém definidos
In fin ite ; F . In fin it ; I . In fin ito. negativam ente: os núm eros (cardinais)
Q ue não tem lim ite, quer no sentido não fa zem p a rte da seqüência ordinal dos
de que é m aior atualm ente do que qual­ números obtidos pela adição sucessiva da
quer q uantidade d ad a d a m esm a n atu re­ unidade a si m esm a. O “ m ais pequeno”
za (infinito atual)·, quer no sentido de que desses núm eros é “ o núm ero dos núm e­
p o d e tornar-se tal 0infinito potencial). Es­ ros fin itos” que C τ ÇI Ã2 representou
ta palavra, usada isoladam ente, tem sem­ por co e W 7 « I E 7 E τ á por a 0· V er C ÃZ I Z -
pre o prim eiro sentido; o segundo perten­ 2 τ I , D e 1‘in fin i m a th ém a tiq u e, pp.
ce pro priam ente aos term os in d efin id o * , 617-618, L es p rin cip es d es m athém ati-
ou in finitam en te grande. “ N ão me sirvo qu es, cap. II, C.
nunca da palavra infinito p ara significar Cf. Finito e In defin ido.
apenas não ter fim , o que é negativo e a R ad. int.: Infinit.

Sobre In fin ito — Confunde-se geralm ente o infinito relativo, quer dizer, aquilo
que não possui nenhum limite assinalável, com o in finito absolu to (que C antor,
W undt, Lasswitz cham aram tran sfinito), quer dizer, aquilo que não possui qualquer
limite possível. O prim eiro exprime um a simples possibilidade, o segundo exprime
um a efetividade com pleta, que se poderia definir deste m odo: um a totalidade na qual
todos os graus de dim inuição ou de aum ento são dados antecipadam ente. Com o
infinito absoluto estam os, pois, fo ra do conceito de grandeza; en tre ele e o infinito
relativo (infinitam ente grande, infinitam ente pequeno) existe não um a diferença de
quantidade, mas um a diferença de qualidade. Ver C τ ÇI Ã2 , Z ur Lehre von Transfi-
niten, 1890; W Z Çá I , L o g ik (1 8 8 3 ), II, 127-128. A o prim eiro cham a-se ainda infini­
to negativo, ou indefinido, ao segundo, positivo ou ilim itado (illim ita to ), tradução
da palavra U nbegrenz usada por D ü 2 « Ç ; na sua N atürliche D ia lek tik , 1865. ( C .
7

R a n zo li)
Cf. a d o utrina de D è T τ 2 è sobre o conhecim ento do infinito: “ A noção que
E I E

possuo do infinito está em mim antes da d e fin ito , p ara o que, pelo simples fato de
eu conceber o ser ou aquilo qu e é sem pensar se é infinito ou finito, é o ser infinito
que concebo; m as, a fim de poder conceber um ser finito, é preciso que eu suprim a
IN F IN IT O 568

2. IN F IN IT O (subst.) B. Especialm ente, autoridade de pres­


A . A q u ilo q u e é in fin ito em alg um tígio sobre as idéias ou sobre a vontade
a trib u to , o m ais d as vezes, g ran d eza o u de outrem. “ Ter influência sobre alguém,
distancia infin ita. “ É necessário distinguir sobre o andam ento de um negócio (con­
c u id ad o sam en te o in fin ito p ro p ria m e n te siderado com o resultante de decisões vo­
d ito d o in d e fin id o , q u e n ã o é sen ão um lu n tárias).” A b so lu ta m en te: “ T er in­
fin ito v a riá v e l.” C ÃZ I Z 2 τ I , D e l ’in fini fluência, ser influente” = ter crédito, as­
m athém atique, p p . 617-618, livro IV, cap. cendente; ser escutado. O verbo corres­
I: “ O in fin ito g e o m é tric o .” “ U m p o n to ponden te é influenciar (at.).
a o in f in ito .” C. Circunstância, coisa ou pessoa que
B. O Ser infinito em todos os seus atri­ possui ou exerce um a influência, em qual­
butos. “ Só Deus, o in fin ito ... pode con­ quer dos sentidos precedentes.
ter a realidade infinitam ente in finita que R ad. in t .: A. B . Inflenz; C . In-
vejo quando penso no ser.” M τ Â E ζ 2 τ Ç - fluantes.
CHE, C onversas m etafísicas, II, § III.
“ Deus ou infinito n ão é visível através de “ IN F L U X O ” L. Influxus; D. E. In-
flu xu s; F. Influx; I. Influsso.
um a idéia que o represente.” Ib id ., II, §
IV. S en tido geral: Influência. J á só é uti­
lizado em algum as expressões tais com o
IN FLU EN CIA D. Einfluss; E . In­ Influxo n ervoso (ação que se pro paga ao
fluence; F. Influence ; I. Influenza. longo de um nervo) ou influxo físic o (In-
“ A ntig am ente, ação pela qual d im an a flu x u s p h ysicu s, influência natural), na
dos astros um fluido que supostam ente age d o u trin a segundo a qual a alm a e o co r­
sobre o destino dos h o m e n s.” Dτ 2 O ., po, considerados com o duas substâncias
H τ I U . e T7 ÃOτ è , sub Vo. heterogêneas, agem efetivam ente um so­
A . Ação de um a circunstância, de um a bre o o u tro . Foi o p osta à harm onia
coisa ou de um a pessoa sobre outra, no p reesta b elecid a * e ao ocasionalism o*,
sentido mais vago desta palavra (ver A ção, particularm ente nas discussões filosóficas
C). Cf. Influxo. A palavra influência com­ da primeira metade do século XVIII. (Ver
porta quase sempre a idéia de que a ação Vτ Ç B« é Oτ , M artin K n u tzen e a crítica
de que se trata se exerce de um a form a gra­ d a harm onia preestabelecida.) “ O primei­
dual, contínua, quase insensível e coopera ro desses sistemas é o do in flu x o ... pelo
com outras causas na produção dos seus qual se estabelece um a influência real do
efeitos. Diz-se, neste sentido, que aquilo corpo sobre a alma e da alm a sobre o cor­
que age exerce um a influência. O verbo p o ... ainda que se aceite que a m aneira
correspondente é influir {sobre). desta influência m útua nos é absoluta-

qualquer coisa desta noção geral do ser, a qual deve, por consequência, ser ante­
rio r.” L ettres, ed. A d. et T a n n ., V, 356. E sta passagem segue-se àquela que citam os
no texto do artig o. F oram -nos assinaladas p o r R . E ucken.
LE « ζ Ç« U , re to m a n d o u m a ex p ressão de origem aristo télica e esco lá stica, ch am a
praedicatum infinitum a um te rm o negativ o tal com o “ n ão -sáb io ” , O púsculos e fra g ­
m en to s in éditos. V er In defin ido.
Sobre Influência — J. Lach elier assinalou-nos a origem astrológica desta pala­
vra, e da palavra ascendente, que é quase sinônim a.
L. B oisse p en sa q u e seria co rre to ch a m a r ex clu sivam ente influência à ação de u m a
c ircu n stân cia o u d e u m a coisa so b re u m a pessoa; ascendente, à ação de u m a pesso a
so b re o u tra ; d o m ín io , a ação d e nós m esm os so b re nós m esm os.
569 IN IN T E L IG ÍV E L

m ente desconhecida: é preciso sem dúvi­ econômicos, considerados como causa in­
da recorrer à onipotência de D eu s... E s­ consciente de certas concepções. Cf. Ideo­
te sistema parece ser mais conforme à ver­ logia, C.
d ad e.” EZ Â E 2 , Cartas a uma princesa da
A lem an h a, segunda parte , carta XIV.
IN FU SO Ver A d q u irid o .
C f. LE « ζ Ç« U , M on a d o lo g ia , § 51: IN IBIÇÃ O D . Hemmung·, E. Inhibi­
“ U m a m ónada criada não poderia ter in­ tion·, F. Inhibition·, I. In ibizione.
fluência física sobre o interior de o u tra... A ção de p arar; prim itivam ente, ação
Trata-se apenas de uma influência ideal.” exercida por um centro nervoso sobre um
IN FO R M A R D. A . Inform ieren; B. o u tro , que tem com o resultado dim inuir
Unterrichten·, E. To inform ; F. ln form er, ou suprim ir os efeitos produzidos pelo
I. Inform are. acionam ento deste.
A. N a linguagem escolástica e neo- P o r analogia, ação de um fato m en­
escolástica, dar um a form a* a um a m a­ tal que impede outro s fatos mentais de se
téria. produzirem ou de alcançarem a consciên­
B. D ar a conhecer qualquer coisa a cia. P τ Z Â 7 τ Ç cham a lei d e inibição sis­
alguém. tem ática à seguinte lei: “ T odo fenôm e­
no psíquico tende a im pedir que se p ro ­
NOTA duzam , a im pedir que se desenvolvam ou
A passagem do prim eiro sentido p a ­ a fazer desaparecer os fenômenos psíqui­
ra o segundo pode com preender-se a tra ­ cos que não podem unir-se a ele segundo
vés de um a utilização como esta d a pala­ a lei da associação sistem ática, quer di­
vra: “ N ão as cham o aqui com esse nom e zer, que não podem unir-se a ele para um
(não cham o aqui a estas im agens idéias), fim com um .” (L ’a c tivité m entale et les
enquanto existem na fantasia co rporal, élém ents de l ’esprit, livro II, introdução.)
quer dizer, enquanto são figuradas em al­ R ad. in t.: Inhib.
gumas partes do cérebro, m as apenas en­
quanto in fo rm am o pró prio espírito que IN IB IT Ó R IO D. H em m en d -, E. Inhi­
se aplica a essa parte do céreb ro .” D E è ­ b ito ry, F. In h ibitoire ; I. In ibitorio.
Tτ 2 I E è , R esp o sta s às 2** objeções, Defi­ A . Sentido geral: que constitui ou que
nição II. exerce um a inibição*.
Ver tam bém In form ação (S). B. Especialm ente (oposto a D in am o-
gênese*): diz-se das sensações, sentim en­
IN F RA -ESTRU TU RA D. Unterbau; tos ou idéias que exercem um a inibição
E. Understructure; F. Infrastructure; I. de conjunto, que dim inuem o tôn u s vi­
Infrastruttura. tal, e sobretudo o poder m otor: por exem­
E stru tu ra subjacente, e geralm ente plo, a tristeza, certos sons ou tim bres de­
oculta ou não n o tada, que qualquer coi­ sagradáveis, certos odores, etc.
sa de visível e m esm o aparente m antém . R ad. in t.: Inhibiv.
Diz-se em particular: 1? das ações in­
conscientes que tornam possível ou deter­ IN IN T E L IG ÍV E L D . A . U nverstän­
m inam um ato consciente; 2° as estru tu ­ dlich·, B. Undenkbar, E. Unintelligible·, F.
ras sociais, e especialmente fenôm enos Inintelligible', I. Inintelligibile.

Sobre Ininteligível — E d. G o b lo t pro pôs que por isso se entendesse “ aquilo que
não satisfaz o princípio d a necessidade” . Opor-se-ia assim ao inconcebível ( - “ aquilo
que não satisfaz o princípio de contradição” ).
A especificação proposta p o r GÃζ Â ÃI é m uito interessante e aceito-a com pra-
IN JU S T O 570

A . S en tido usual. Impossível de com­ saios, II, cap . X X e X X I). Cf. L E « ζ Ç« U ,


preender, obscuro, desprovido de senti­ N o vo s ensaios, ibid., nom eadam ente XX,
do. (Só se diz das m aneiras de falar e de § 6; X X I, § 29 ss.
escrever.) CÃÇá« Â Â τ T em p reg a esta p a la v ra
B. Que não é inteligível*, no sentido num sentido m u ito pró x im o , m as m ais es­
A. Esta acepção é extrem am ente rara em tre ito ; distin g u e do is g ra u s deste estad o ,
francés. a o p rim eiro d o s q u ais ch a m a “ desassos­
R ad. in t .: B. Ne intelektebl. sego o u ligeiro descontentam ento” , a o se­
g u n d o “ inquietação o u a té to rm en to ” se
IN JU ST O Ver Ju sto. fo r m u ito intenso. Tratado das sensações,
IN O V A Ç Ã O D . Neuerung; E. In no­ I, 3, § 2.
vation; F. In novation ; I. Innovazione. B. E sta palavra tornou-se m uito usual
P rodução de algum a coisa de novo. na m oral e na psicologia contemporâneas,
Term o particularm ente utilizado por V. mas com um sentido um pouco diferen­
E ; ; E 2 . (Ver na R evu e des cou rs et con ­ te. Designa sobretudo um a disposição es­
feren ces, ano 1901, os cursos intitulados pontânea, m ais ativa do que afetiva, que
a Inovação psíq u ica .) Cf. Im aginação. consiste em não se co ntentar com aquilo
que existe, e em procurar sempre mais (in,
IN Q U IET A ÇÃ O D. Unruhe (ver negação, quies, acquiscere). “ U m a secre­
L E , N o vo s ensaios, II, 20, § 6); Un-
« ζ Ç« U ta inquietação sobressaltava-o (ao univer­
behagen; E . A . Uneasiness; B. R estless­ so )...; o que faz a vida é sempre um a saí­
ness; F. Inquiétude; I. Inquietudine. d a brusca da apatia, um desejo, um m o ­
A . Term o usado por LE « ζ Ç« U e por vim en to de que ninguém tem a iniciati­
C Ãè I E para traduzir a palavra uneasi­ va, qualquer coisa que diz: P ara a fren­
ness, pela qual LÃT3 E caracteriza o esta­ te !” RE Çτ Ç , D ialogu es ph ilosoph iqu es,
do afetivo de m al-estar, de desassossego, II, 53. “ Nós diremos, despojando as pa­
que ele considera como a causa determ i­ lavras do seu sentido psicológico, chaman­
nan te de qualquer ato de vontade (En­ do Idéia a certa garantia de fácil inteligi-

zer. Poder-se-á todavia resolver através de um a definição a questão de saber se não


existe inintetigibilidade, in p h a en o m en o , fo ra da necessidade? (J. Lachelier)
Esta especificação teria o defeito de supor que o princípio d a necessidade é idên­
tico ao princípio da causalidade, que é o princípio de inteligibilidade universal, fu n ­
dam ento da ciência e princípio da indução: trata-se de teses m uito discutíveis. P o r
o u tro lado, ininteligível, tom ado nesse sentido, constituiria um a dup la utitilização
com em pírico, no sentido A . (C. R an zoli)
Sobre Inquietação — N o século X V II, inquietação significava, n a linguagem co r­
rente, a im possibilidade d e p erm a n ecerem repouso. É o sentido que tem em Bossuet
e em Pascal. T oda a teoria pascaliana da diversão assenta sobre a constatação da
nossa inquietação inata. Este sentido perm ite passar naturalm ente para o sentido B:
desejo do m elhor, do além. (F. M entré)
M as o teor favorável que esta palavra parece ter adquirid o nos nossos dias não
existe ainda nessa época: “ A inquietação é o m aior m al que pode acontecer a um a
alm a, excetuando o pecado... O nosso coração, sendo pertu rbado e inquieto em si
próprio, perde a força de m anter as virtudes que tin h a ad q u irid o .” S. Francisco de
Sτ Â E è , In trodu ção à vida d evo ta , 4? parte , cap. X I: “ D a inquietação.”
P o r outro lado, a palav ra, no século X V II, passa ainda p or ra ra e p articularm en ­
te enérgica: “ A inquietação do seu gênio: duas palavras ousadas.” P τ è Tτ Â , P ensa­
m en to s, ed. Brunschv., I, 59. (A. L .)
571 IN S T A N C IA

bilidade e A lm a a certa inquietação d e vi­ plexo assim fo rm ado com o um fenôm e­


d a , que um a corrente invisível leva a fi­ no psíquico simples. (E xam e da filo so fia
losofia a elevar a A lm a acim a da Idéia .” d e H a m ilto n , cap. X IV : “ H ow Sir W il­
H . BE 2 ; è ÃÇ , “ In tro dução à m etafísi­ liam H am ilton and M r. M ansel dispose
ca” , R evu e d e m étaph ysiqu e, janeiro de o f the law o f inseparable association.” 1)
1903, p. 31. Cf. ainda M τ E I E 2 Â « ÇT3 , A A fórm ula que lhe d á , segundo Jam es
in quietação d a nossa m o ra l, artigo reco­ M « Â Â (A n alysis o f th e hum an m in d, I,
lhido n a seqüência de A inteligência das 68), é a seguinte: “ W here tw o or m ore
flo r e s , etc. ideas have been often repeated together
C. N o sentido patológico, p ertu rb a­and the association has become very
ção do espírito quer intelectual, quer afe­ stro ng, th ey som etimes spring up in such
tiva, particularm en te freqüente e fu n d a­ close a com bination as not to be distin­
m ental nos obsessivos (Pierre J τ ÇE I , L es guishable .” 1 2
obsession s e t la p sych a stén ie, I, pp. 301 R ad. int.: Ne separabl (asociad).
ss.). Cf. A n g u stia .
IN S IG H T Ver S uplem en to.
CRÍTICA
“ IN S T A B IL ID A D E M E N T A L ”
E sta palavra é to m ad a em geral em C onjunto de sintomas psíquicos que con­
b o a parte nos autores contem poráneos sistem nu m a variação excepcionalm ente
que a utilizam : o uso freqüente e lauda­ rápid a e freqüente das disposições inte­
tivo que dela é feito liga-se à predominân­ lectuais e afetivas de um sujeito. O uso
cia das idéias de progresso, de evolução, deste term o parece re m o n ta r a um artigo
de voluntarism o; m ais recentem ente, às de Th. RlBOT, “ O an iquilam en to d a
da filosofía existencial*. P elo co ntrário, von ta d e" , R evu ep h ilo so p h iq u e, feverei­
lê-se em M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E : “ E sta vasta ca­ ro , 1883. Serviu de títu lo a um a tese de
pacidade que a vontade possui para to ­ m edicina de BÃZ Â τ Ç; E 2 , 1892; e a um a
dos os bens em g eral... n ão pode ser tese de filosofia de D Z ú 2 τ I , 1898. Este
preenchida p o r to das as coisas que o es­ últim o faz d a instabilidade um a proprie­
pirito lhe represente; e, contudo, esse m o­ dade fundam ental dos estados psíquicos:
vim ento continuo que Deus lhe im prim e “ N enhum processo m ental pode efetuar-
para o bem não p ode deter-se... É , pois, se norm alm ente se não existir um princí­
sem pre in quieta, porq ue é levada a p ro ­ pio diretor d a evolução m ental que, pela
curar aquilo que jam ais poderá encon­ sua perm anência, im peça a instabilidade
tra r... M ostrarem os neste capítulo que a natural do esp írito .” A ação deste p rin ­
inquietação da nossa vontade é um a das
cípio sintético, pelos seus diferentes graus
principais causas d a ignorância em que
de força ou de fraqueza, determ inaria os
nos encontram os e dos erros em que caí­
diferentes graus de “ continuidade m en ­
mos acerca de um a infinidade de te­
ta l” , ib id ., intro dução, 3-4.
m a s ...” P rocu ra d a verdde, IV, cap. II,
R ad. in t.: N estabiles.
§ 1. Ver as observações.
R ad. in t .: M alquietes. INSTÂNCIA L. escol. Instantia; D. A .
Instanz; E. Instance; F. Instance; I.
IN SE PA R Á V EL (Lei de associação)
Istanza.
John S. M « Â Â cham a assim à proprieda­
de que os fenôm enos psíquicos possuem 1. C o m o S ir W illiam H am ilto n e M ansel afastam
(segundo H Z OE , H τ 2 I Â E à , Jam es M « Â Â , a lei de associação inseparável.
etc.) de se com binarem tão estreitam en­ 2. “ Q u an d o d u as o u m ais id éias fo ram repetid as
m u itas vezes ju n ta s, e q u a n d o a su a associação se to r­
te, pela frequência ou pela força de asso­ n o u m u ito fo rte , elas unem -se p o r vezes nu m a co m ­
ciação, que se to rn a impossível separá- b inação tã o estreita que n ão as podem os dep ois dis­
los, e até se chega a considerar o com- tin g u ir.”
IN S T A N T E 572

(D e l'voTctois, o p o sição , o b je ç ã o , to ­ lhes através do exemplo de algum as o u ­


m ad o n as trad u çõ es latinas de A 2 « è I -I E ­ tras dificuldades sem elhantes.” D iscurso
 E è p o r Instantia'. “ ’’Evoracus ... kafi d e m etafísica, X III.
t íq ó t c io l s TTQOTÓiaii è v a v T io t.” Prim eiros
INSTAN TE D. A ugenblick, Moment',
analíticos, II, 26; 69a37.)
E. M om en t, instant', F. Instant', I.
A . Tendo sido levantada um a objeção
Instante.
e tendo sido dad a um a réplica a esta ob­
A. D uração m uito cu rta, que a cons­
jeção, chama-se instância ao novo argu­
ciência capta com o um todo. Ver G. Bτ ­
m ento que se segue a esta réplica.
T7 E Â τ 2 á , A intuição d o instante. C f.
“ Negligenciei responder ao grosso li­
Presente.
vro de instâncias que o au to r das quintas
B. Ponto determ inado e indivisível da
objeções produziu contra as m inhas res­
duração. “ H á nele (no tem po) um a m ar­
p o sta s...” D è T τ 2 è , Carta a Clerese-
E I E
ca e um a expressão do distinto, a saber,
lier, em continuação às respostas a Gas-
o instante, análoga à unidade da qual ele,
sendi (Ad. et T ann., IX , 202).
aliás, difere m axim am ente, porq ue en­
P ode consistir quer n um a nova obje­
quanto a unidade é um a parte do núm e­
ção, quer num a refutação da réplica; nes­
ro , o limite não é um a parte da q u an ti­
te caso, tom a tam bém o nom e de trépli­
dade... O instante invoca o seu oposto,
ca (du p liq u e , em francês), mas este últi­
o lapso de tem p o , sem o qual não o p o ­
mo term o já não se usa hoje em dia, pelo
deríam os com preender: os instantes ape­
m enos em francês.
nas se sucedem com a condição de se co­
B. Em B τ T Ã Ç , as instâncias são os
locarem uns fora dos outro s, por assim
fatos típicos que servem de exem plo (E.
dizer, em sum a, de serem separados por
Instancé) para o estudo de um a proprie­
interv alo s.” H τ OE Â « Ç , E ssai su r les ele­
dade geral (Praerogativae instantiarum ,
m ents principaux de la représentation, cf.
N ov. O rg., II, 21 ss.). Este sentido da pa­
I, § 3, pp. 52 e 54.
lavra não é duvidoso ainda que tenha si­ R ad. in t .: Instant.
do contestado. Cf. D e A u g m en tis, V, 2:
“ Exem pla sive instantias p articulares.” IN S TIN TO D. In stin k t ; E . Instinct',
Instantia crucis, ver Crucial. F. Instinct', I. Istinto.
LE « ζ Ç« U em prega-a nesse mesmo sen­ A. C onjunto complexo de reações ex­
tido: “ P oderia responder através d a ins­ teriores, determ inadas, hereditárias, co­
tância dos futuro s contingentes... mas m uns a todos os indivíduos de um a mes­
prefiro enfrentar as dificuldades a fugir- m a espécie e adapta das a um fim do qual
o ser que age geralm ente não tem cons-

Sobre Instinto — V íctor E gger com unicou-nos a seguinte n o ta escrita, disse-nos,


a pedido do seu pai, Émile Egger, o helenista, a propósito da frase: “ A palavra ins­
tin to significa um aguilhão interior, um a picada interior” , A. L E Oë ÇE , L ’h abitu de
et 1’instinct, 1871. Em nota: “ N ão que, com o algum as vezes se disse, o instinto ve­
n h a de kvoTÍÇtiv, que significaria p ica r in teriorm ente e na realidade significa p ica r
em algum a coisa, cravar. A palavra francesa vem do latim instinctus, que tem p ro ­
priam ente o sentido de aguilhão, picada, sentido vulgarm ente transposto p or analo ­
gia d o físico ao m oral. A noção de interioridade resulta da utilização m etafórica d a
palavra e não d a proposição in que em instinguere, im peliere, etc., com o èv em èva-
T Í Ç e iv, tem sentido ativo e significa em direção a. P o r o u tro lado, todas estas pala­
vras, oT ÍÍu v, stim ulus, instinctus, possuem um a m esma raiz cu jo sentido geral é p i ­
car . ”
573 ‘ ‘ IN S T R U M E N T A L IS M O ”

ciência: nidificação, perseguição da caça, ser que o prim eiro é observável do exte­
m ovim entos de defesa, etc. rior e a segunda não o é. Neste sentido,
R Ã Oτ Ç è
E (A evolução m en tal nos instinto designa, pois, um a classe de fe­
anim ais, cap. X II) cham ou in stin tos p r i­ nôm enos sem característica distintiva in­
m ários àqueles que resultam diretam en­ trínseca.
te da estru tura prim itiva do ser vivo, ou 3. Esta palavra foi criticada, por ou­
que são devidos apenas à seleção; instin­ tro lado, por BÃ7 Ç (O nascim ento da in­
to s secundários àqueles que constituem teligência, cap. X X III). Ele pensa que sob
um automatismo derivado, adquirido por este termo se reúnem fenômenos m uito di­
intermédio de adaptações inteligentes que ferentes e, por conseguinte, a oposição do
depois se tornam inconscientes (lapsed in- instinto à inteligência n ão corresponde a
teligence). qualquer noção precisa. H á aí apenas, se­
O instinto, psicologicamente conside­ gundo ele, um a sobrevivência da teoria fi-
rado, difere da inclinação* na m edida em xista das espécies, à qual é impossível dar
que, no primeiro caso, certos atos são eles um sentido definido no estado atual da
próprio s im ediatam ente sugeridos ao ser ciência. P ropõe, p ortanto, que se renun­
que age, sem que apareçam com o meios cie totalm ente a esta palavra e o exempli­
com vista a um fim , en quanto que no se­ fica n a citada obra. Pelo contrário, H .
gundo, aquilo para que a inclinação ten­ BE 2 ; è ÃÇ , na Evolução criadora, renovou
de é conhecido, mas os meios de o atin­ a oposição tradicional entre o instinto e a
gir não são dados. inteligência, considerando-os como dois
B. T oda atividade (especialmente tomodos
­ paralelos de conhecimento e de
da atividade m ental) ad a p ta d a a um fim , ação, que se teriam diferenciado ad aptan­
que entre espontaneam ente em ação sem do-se, um à vida, o outro ao uso dos ins­
resultar da experiência nem da educação, trum entos inorgânicos. Ver cap. II.
e sem exigir reflexão. Diz-se neste senti­ R ad. in t.: Instinkt.
do de um dom individual, de um a facul­
dade n atural de sentir e de adivinhar: IN STRU ÇÃ O D . Unterricht; E. E du­
“ Ter o instin to do ritm o .” “ H á quem , cation, instruction·, F. Instruction·, I. Ins-
p o r um a espécie de instinto cuja causa ig­ truzione.
n o ra m , decida sobre aquilo que se lhes A . A ção de com unicar conhecim en­
apresenta, tom ando sempre a decisão cer­ tos a alguém. Opõe-se, em francês, a edu ­
t a .” L τ R ÃT7 E E ÃZ Tτ Z Â á , R eflexões, cação, que se aplica sobretu do ao desen­
III, 5. volvim ento dos hábitos de co nduta, do
Ver Inteligência. caráter e da m oralidade.
B. Conjunto de conhecimentos adqui­
T2 í I « Tτ ridos pelo estudo ou pelo ensino.
1. E sta palavra diz-se bastante fre- Rad. int.: In stru kt.
qüentem ente de um a inclinação p ro fu n ­
IN ST R U M EN TA L (Causa) L. escol.
da e intensa sobretudo se for inata: “ Ins­
Causa instrum atalis.
tin to de conservação: instin to de dom i­
A quilo que serve de meio para a p ro ­
n a ç ã o .” Estas expressões são incorretas.
dução de um efeito. Este term o é hoje em
2. Definimos instinto no sentido A co­
dia pouco usado.
m o um co njunto de reações exteriores,
porque, com o notou com razão DZ Çτ Ç “ IN S TR U M EN TA LISM O ” In stru ­
(P hilosoph ie générale, p. 304), não exis­ m en talism . U m a das variedades do
te qualquer diferença de natureza entre pragm atism o*: doutrin a de J . DE ç E à ,
aquilo a que cham am os instin to e aquilo cu ja m arca característica consiste em a d ­
a que se cham a função fisiológica, a não m itir que to d a teoria é um a ferram enta
IN T E G R A Ç Ã O 574

(to o l), um instrum ento p a ra a ação e a Term o particularm ente utilizado por
transform ação da experiência. “ Reflec- Sú E ÇTE 2 , que entende por integração: 1?
tive knovving is instrum ental to gaining a passagem de um estado difuso, im per­
control in a troubled situ atio n ... It is al­ ceptível, a um estado concentrado, percep­
so instrum ental to the enrichm ent o f the tível (First Principies, § 94); 2? o aum ento
im médiate significance o f subséquent ex­ de matéria de um sistema dado (ibid., § 95);
périence .” 1J. DE ç E à , E ssay in E xperi­ 3? a diminuição de m ovimento interno de
m enta! L o g ic, in tro d ., p. 17. Ver Em m . um sistema m ecânico form ado por vários
L E 2 ÃZ 7 , L e p ra gm atism e, cap. VII: “ A corpos (ibid., § 94, 96).
lógica in strum en tal de Dewey e a Escola O term o oposto é desintegração. Cf.
evolução.
de C hicago.”
P ara o exame destes sentidos e impos­
1. IN TEG RA ÇÃ O MAT. D. Integrie­ sibilidade de os reduzir à unidade, ver A.
ren, Integration-, E. Integration-, F. In té­ Lτ Â τ Çá E , A dissolução o p o sta à E vo lu ­
gration-, I. Integrazione. ção, cap. I, § 4-6. M as a palavra foi so­
O peração que consiste em determ inar bretu do utilizada m etaforicam ente, até
uma grandeza considerando-a como limi­ por Sú E ÇTE 2 , p ara designar o estabele­
te de um a som a de quantidades infinite­ cim ento de um a interdependência* mais
estreita entre as partes de um ser vivo ou
simais* cujo núm ero aum enta indefinida­
entre os m em bros de um a sociedade.
m ente. O sinal de integração é J: (soma).
Diz-se também d a incorporação de um
R E ÇÃZ â« E 2 (P rin cípios d a natureza,
elemento novo num sistema psicológico an­
cap. III, apêndice C) entende este term o
teriorm ente constituído. (Cf. A percepção,
por analogia à som a de séries convergen­
no sentido de H E 2 ζ τ 2 I e d a sua escola.)
tes infinitas; m as, apesar d a com unidade O verbo integrar tem freqüentem ente este
do princípio lógico entre as duas o p era­ sentido, que se liga à idéia física definida
ções, esta utilização d a palavra é dem a­ atrás no n? 2, 2?.
siado contrária ao uso para ser retida.
Cham a-se tam bém , p o r vezes im pro­ C R ÍT IC A

priam ente, integração, p o r analogia, à Esta palavra entrou na linguagem cor­


concepção do espírito que considera sin­ rente com um sentido m uito vago, e com
teticam ente um núm ero m uito grande, um m atiz de respeito e de adm iração aná­
mas finito, de term os ou de ações ele­ logo àquele que se liga freqüentemente “ a
m entares. V id a” . M as é de n o ta r que o valor do
R ad. in t .: Integralig. ideal organicista e to talitário que supõe
esta co notação é m uito discutível.
2. IN T EG R A Ç Ã O Fis. D. A n h äu ­ R a d . int.: Integr.
fun g; E. Integration; F. Intégration; I. In­
IN T E L E C Ç Ã O D. Intellection (e
tegrazione.
tam bém Bewusstheit; ver adiante); E. In­
tellection; F. Intellection; I. Intellezione.
A . A to do intelecto*, em todos os sen­
] . “ O co n h ecim en to re flexivo é u m m eio de nos
to rn a rm o s se nhores de u m a situ ação a n o rm a l... m as
tidos, mas particularm ente no sentido de
é tam b ém um m eio d e e n r iq u e c e r o v alor significati­ entendim ento, oposto a im aginação.
vo im ed iato d as ex periên cias p o ste rio re s.” (Ver, por exemplo, D è Tτ 2 è , 6? M e-
E I E

Sobre Intelecção — O sentido B e o texto de Flounoy são devidos a Ed. Claparède.


In tellectio, no tom ism o, diz-se pro priam ente do ato pelo qual o espírito capta
os princípios que a ratio utilizará. (A . Sertillanges )
575 IN T E L E C T U A L IS M O

d ita çã o , § 2, on de o texto francês acres­ tem sem pre um valor gnosiológico: indi­
centa em duas passagens: “ intelecção Ou ca a “ faculdade de conhecer superio r”
concepção” .) enquanto se opõe à sensação e à intuição.
B. F Â ÃZ 2 ÇÃà propôs que se traduzis­E sta palavra tende, aliás, a cair em desu­
se p or esta p alavra o term o B ew u ssth eit, so, a não ser em algum as expressões his­
criado por A T7 . “ Em francês, diz ele, o tóricas, nom eadam ente In telecto a tivo ,
term o intellection, que Descartes opunha algum as vezes In telecto agen te (G. vovs
à im aginação, exprim e suficientem ente ToojTixos, I. In teliectu sagen s), oposto a
bem esta presença na consciência das coi­ In telecto p a ssivo (G. vovs iradrinxós', L.
sas sabidas, ainda que dadas não intu iti­ Inteliectus passibilis). Ver atrás, A tiv o
vam ente, sem im agens.” A rch ives de (Intelecto) e A gente.
p sych o lo g ie, V, 288. R ad. in t .: Intelekt.
IN T EL EC T O G . vov s; L. Inteliectus; IN T EL EC T U A L D. Intellektuell·, E.
D . Verstand (Intellect é tom ado p or Kant Intellectual·, F. Intellectuel·, I. Intellet-
e p o r Schopenhauer, no sentido geral, de tuale.
Inteligência, A); E. Understanding, intel­
A . A djetivo correspondente a E n ten ­
le c t ; F. Intellect', I. Intelleto.
dim en to e a In telecto. O term o oposto é,
Sinônim o de entendim ento*, no sen­
então, o ra sensível ou sen sitivo , o ra in­
tido B. “ N a m inha opinião, o entendi­
tu itivo .
m ento corresponde àquilo que, nos lati­
B. A djetivo correspondente a In teli­
nos, é cham ado inteliectus e o exercício
gência, A . O term o oposto é então quer
desta faculdade chama-se intelecção, que
a tiv o , quer a fetivo.
é um a percepção distinta acrescentada à
C . A djetivo correspondente a In teli­
faculdade de refletir, que n ã o existe nos
gência, B. O term o op o sto é então in­
anim ais.” L E I B N I Z , N o v o s ensaios, II,
tu itivo .
21, § 5. C ontudo, através de um a remi­
Ver estas palavras e cf. Intelectua­
niscência da linguagem d a Idade M édia,
em que inteliectus servia para traduzir lism o.
vo v s em to d a a sua força, e se opu n h a a IN T EL EC T U A L (Intuição) Ver In­
ratio, faculdade do raciocínio discursivo tuição.
(ver ST7 ü I U , T hom as L exikon, V's Intel­ R ad. int.: A . C. Intelektal; B. In-
iectus e R a tio ), a palavra intelecto con­ teligal.
servou algo de mais metafísico. Entendi­
m ento, nos filósofos m odernos, é sobre­ IN T EL EC T U A LISM O D. Intellek-
tudo um term o psicológico que designa um tualism us; E. Intellectualism ; F. Intellec­
conjunto de operações mentais; intelecto tualisme·, I. ln tellettu a lism o .

Sobre Intelecto — N a língua de D τ ÇI E , que segue a tradição tom ista, in telletto


e intellettuale são sempre tom ad os no sentido do grego vórfais e designam o pensa­
m ento sob a sua form a m ais elevada. (R. B erthelot)
Sobre Intelectualism o — Intellectualista parece ter sido criado por B τ T Ã Ç para
designar os filósofos “ qui abduxere se a contem platione naturae atque ab experien-
tia in propriis m editationibus et ingenii com m entis susque deque voluntates. Caete-
ru m praeclaros hos opinatores et (si ita loqui licet) intellectualistas, qui tam en pro
m axime sublim ibus et divinis philosophis haberi solent, recte H eraclitus perstrinxit:
hom ines, in quit, quaeru nt veritatem in m icrocosm is suis, non in m undo m ajore” .
D e D ign itate, livro I , § 4 3 (Eli. e S p e d , I , 4 6 0 ) . C f. a célebre com paração e n t r e a
aran h a, a form iga e a abelha, N o v O rg ., I, 95.
IN T E L E C T U A L IS M O 576

A . D outrina segundo a qual tu d o o a m uitas doutrinas ( D E è Tτ 2 I E è , E è ú « ÇÃ -


que existe é redutível, pelo menos em è τ , L E «ζ Ç« U , W ÃÂ E E , H E ; E Â , etc.) mas
princípio, a elem entos “ intelectuais” , quase sem pre com um a intenção pejora­
quer dizer, a idéias (nos diferentes senti­ tiva. V er, adiante, Crítica.
dos desta palavra), a verdades e a im pli­ B. T o d a d o u trin a segundo a qual se
cações. Esta própria tese foi entendida de reduz a elem entos intelectuais um a clas­
duas form as diferentes. se de fatos considerados pela m aioria dos
1? O ser é distinto da inteligência; mas filósofos com o irredutíveis à inteligência
esta pode fornecer dele um a imagem exa­ (quer no sentido A , quer no sentido B des­
ta e com pleta: é assim, por exem plo, que ta palavra).
o pensam ento, em D è T τ 2 è , apreende
E I E “ C om bato um a concepção (do dog­
a substância extensa. m a), dita intelectualista, segundo a qual
2? O ser não é diferente do pensamen­ um dogm a seria no fu n d o ... o enuncia­
to . Ver Idealism o, A. do de um a tese teórica e especulativa, um
A palavra foi aplicada neste sentido objeto de conhecim ento p u ro e de sim-

Passa-se sem m ud ança deste sentido (salvo no seu teo r prim itivam ente pejo rati­
vo, com o acontece em tal caso), para o sentido A d a palavra intelectualism o*. M as
parece que essa passagem foi tard ia. T en do perguntado acerca d a prim eira prova
deste artigo (1909): “ A p artir de que d a ta se pode encontrar esta p alavra?” , obtive­
mos as seguintes respostas:
En co ntram o-la em ST7 E Â Â « Ç; , que a opõe a M aterialism o. Ver Sàm t. W erke,
IV, 309. (R . Eukerí)
En co ntram o-la num a passagem em que W alt W « Oτ ÇÇ critica “ o intelectua­
7 I

lismo exangue” (B loodless intellectualism ) de E m erson. A palavra to m ad a é num


sentido m uito geral, m as já desfavorável, p ara designar o abuso das abstrações va­
gas. (R. B erth elot )
Não poderia dizer com certeza em que data esta palavra entrou em uso, m as parece-
me tê-la visto nascer. (J. Lachelier)
Recordo-m e de ter ouvido O Â Â é -L τ ú 2 Z ÇE servir-se desta palavra p o r volta de
1890, num a conversa. A parecia e n tã o co m o u m neologism o. (L . Brunschvicg )
Servi-me dessa palavra há dez ou doze anos, m as, sem saber se ela tin h a sido an­
teriorm ente usad a, tom ava-a por um neologismo. (M Blondel)
Sem pretender responder precisam ente à questão posta, recordo que K τ Ç cha­ I

m a ao sistema de Leibniz “ ein intellectuelles System der W elt” (C rítica da razão p u ­


ra, K ehrbach, 245) e que ele o acusa de ter in telectualizado os fenôm enos: “ Leibniz
intellectuirt die Erscheinungen, so wie Locke die V erstandesbegriffe... sensificirt .” 1
Ib id ., 246. ( Van B ièm a )

Sobre a Crítica — Este intelectualismo, por ser dem asiado “ simplista” e exclusivo,
de que se faz um insulto filosófico, parece-me um a quim era que não é nem o platonis­
m o, nem o espinosismo, nem o hegelianismo. A doutrina dos grandes intelectualistas
não consiste em adm itir apenas elementos intelectuais, mas em afirm ar que a inteligên­
cia e o real são inseparáveis no fundo das coisas e que no próprio hom em um elemento
intelectual é inseparável de todo estado ou ato de consciência. Assim entendido, o inte­
lectualismo não exclui de m odo algum, mas invoca o voluntarism o. (A . Fouillée )

. “ Leibniz intelectualiza os fenôm en os, da m esm a fo rm a que L ock e sensacionaliza os conceitos.”


577 IN T E L E C T U A L IS M O

pies co n te m p la ç ão in te le c tu a l...” L E cundum se et simpliciter, intellectus altior


RÃà , D o g m e et critique, p. 111. et nobilior v o lu n tate.” S. T ÃOá è áE

Em p a rtic u la r, d o u trin a segundo a A I Z « ÇÃ , Sum m a T h eo., I que. 82, 3.


q ual os fenôm enos afetivos são apenas fe­ “ Segundo o intelectualismo, o pensamen­
n ô m en o s in telectu ais co n fu so s, o u resu l­ to não tem o u tra coisa que fazer senão
ta n te s d o jo g o de fen ô m en o s intelectuais; pensar-se. D izemos, quanto a nós, que a
p o r ex em p lo , em H E 2 ζ τ 2 I . vontade tem p o r o b ra única querer-se.
C. D outrina n o rm ativa que consiste M as querer a vontade é querer o pensa­
em achar que todos os fenôm enos ativos m ento; é pensar. N ós aum entam os inte­
e afetivos, sendo concebidos com o irre­ lectualism o, n ad a deixam os escapar do
dutíveis, são de va lo r secundário, e, por seu c o n teú d o .” H τ OE Â « Ç , E ssai su r les
conseguinte, devem ser subordinados aos elem en tsprin cipau x d e la représentation,
fenômenos intelectuais, quer do ponto de p. 430.
vista estético, quer do ponto de vista m o ­ Esta palavra opõe-se nos três sentidos
ral, quer do ponto de vista religioso. “ Se-*1 a voluntarism o: 1? ininteligibilidade ra-

N o seu sentido fo rte e preciso, designa, parece-m e, a d o u trin a segundo a qual


o intellectus (que S. Tom ás distingue tã o radicalm ente de ratio) é o verdadeiro e o
único cap tad o r do ser; videre est habere (cf. a notável tese de M . R ÃZ è è E Â ÃI sobre
o In telectualism o d e S. T om ás). E se se levasse a o absoluto esta tese, acabaríam os
p o r dizer talvez que já que o ser é apenas aquilo que é visto e cap ta d o com o exterior,
pela simples intuição, sem nenhum desses segredos de intim idade que só se entregam
a um a sim patia am an te, é porque, segundo a expressão de Hegel, “ a Id éia é a mais
elevada, e vista de mais perto, a única fo rm a sob a qual o Ser eterno e absoluto pode
ser cap ta d o ” . (M. B londel)
0 sentido de intelectualism o só é pejorativo no pensam ento de certos pragm atis­
tas, inimigos da filosofia. O intelectualism o é assim um a atitude legítim a porque de­
fine, cremos nós, o pensam ento filosófico naquilo que este possui de específico e
de essencial. (L. Boisse)
Sobre Intelectualism o e Inteligência — Dois níveis no antiintelectualism o. P ode­
m os classificá-los tendo em co nta que os term os que designam as funções psicológi­
cas possuem naturalm ente dois sentidos:
1 ? Um sentido analítico e abstrato : a inteligência define-se, p o r oposição e distin­
ção, através das características p ró p ria s às operações intelectuais; essas operações
são essencialmente determ in ativas e, por consequência, de tendência objetiva.
2? Um sentido concreto, no qual a inteligência designa sim plesmente a presença
e a im portân cia de um elem ento de determ inação no co njunto m uito complexo dos
fatos psicológicos que se podem considerar ao m esm o tem p o com o afetivos e ativos.
As críticas de intelectualism o atacam em prim eiro lugar e sobretudo as conse­
quências de u m a transposição do sentido 1 para o sentido 2, quer dizer, de um a ten ­
dência de espírito que leva a identificar as características de determ inação e de o b je­
tividade com as características de realidade; e, com o a determ inação dos pensam en­
tos tem ela própria dois aspectos, na determ inação de fo rm a ou extensão, e na deter­
m inação de fundo ou de com preensão, poder-se-ia ainda distinguir dois casos neste
intelectualism o extrem o, só o prim eiro constituindo um puro form alism o.
U m segundo nível, mais excepcional, no antiintelectualism o é aquele que consis­
te em negar à inteligência não só um valor absoluto, mas tam bém qualquer valor
relativo, ou pelo menos qualquer valor relativo im portante, quer dizer, afirm ar que
IN T E L E C T U A L IS M O 578

dical do m undo rea!, cuja essência é gruñ­ de vista: ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , por exemplo,
ólos, sem fundam ento lógico, estranha, adm ite o prim eiro ponto da acusação (cf.
pelo menos em parte, ao princípio de ra ­ os seus ataques contra a Vernunft, quer
zão suficiente; 2? independência e m es­ dizer, no seu vocabulário, co ntra a facul­
mo prim azia de fato das funções ativas dade discursiva e conceptual que se opõe
e afetivas relativas à inteligência; 3? su­ à intuição); mas vê, pelo contrário, no po­
perioridade m oral da ação e do sentimen­ der negativo da razão, o princípio da m o­
to sobre o pensam ento reflexivo. ralidade e da isenção. (N otar, aliás, que,
Opõe-se tam bém a p ra g m a tism o * , neste au to r, a palavra In telekt é tom ada
sendo esta palavra tom ada quer com o num sentido m uito geral, que com preen­
equivalente, quer com o oposta a volun­ de sim ultaneam ente a intuição e o enten­
tarism o, designando neste últim o caso a dim ento; o capítulo V dos “ Suplem en­
doutrin a segundo a qual a oposição en­ to s” tem por título: “ Vom vernunftlosen
tre a atividade e a inteligência é artificial In tele k t.” )
e verbal, sendo a verdadeira realidade ao 2. Foi igualm ente com etido um ab u ­
mesmo tem po um a e outra: “ O fragm en­ so singular desta palavra na discussão da
tar-se da alm a em faculdades distin tas... teoria de W . J τ OE è e de L τ Ç; E acerca
é o princípio comum do intelectualism o das emoções. Esta teoria parecia opor-se,
e do voluntarism o, sistemas antitéticos, ao mesmo tem po pelo seu caráter fisio­
creio eu, mas que possuem a mesma lógico e pelo seu caráter periférico, à de
ra iz ... Se rejeito igualm ente os dois siste­ H E 2 ζ τ 2 I e de Nτ 7 Â Ãç è 3 « , que é p u ra ­
m as, é porque rejeito o postulado do qual m ente psicológica, e suporia, se fosse tra ­
eles sim etricam ente deriv am .” LE RÃà , duzida fisiológicamente, apenas fenôm e­
D o g m e et critiqu e, pp. 127-128. nos do sistem a nervoso central. M as, por
outro lado, esta últim a é vulgarm ente
CRÍTICA cham ada intelectualista no sentido B, e
1. Este term o tornou-se m uito usual com razão, na m edida em que os estados
nas discussões filosóficas contem porâ­ afetivos são aí concebidos com o resulta­
neas; existe nele, quase sempre, um sen­ do do jogo das representações; ver n o ­
tido pejorativ o, ap arentado à utilização m eadam ente R « ζ ÃI , Psicologia d o s sen ­
desfavorável que foi feita tam bém da p a ­ tim en tos, prefácio, em que as duas teo­
lavra Intelectual nas discussões políticas. rias são cham adas, para abreviar, teoria
U m a e outra implicam com um ente: 1? A intelectualista e teoria fisiológica. Daí re­
censura de pensar as coisas de um a fo r­ sultou que vários psicólogos posteriores
m a verbal e superficial, im pondo à reali­ tivessem crido que essas duas palavras se
dade quadros artificiais e rígidos, que a opunham em si mesmas, e com preendi­
deform am ao pretender representá-la; 2? do sob o nome intelectualista todas as teo­
A censura de sacrificar “ a vida” , quer di­ rias da em oção que não fazem intervir a
zer, a prudência natural e a fecundidade fisiologia. P o r exemplo (entre outros), em
do in stin to, às satisfações do pensam en­ SÃÂ Â E 2 , L e m écanism e des ém o tio n s, p.
to crítico, que é um a fo rça de freagem, 236: “ Não sou certamente suspeito de ser
de destruição e de inibição. H averia ne­ um intelectualista e de negligenciar o
cessidade de dissociar estes dois pontos substrato necessário de to d a m anifesta-

no pensam ento as faculdades de determ inação se exercem de um a fo rm a puram ente


arbitrária, sem nenhum a relação possível com a realidade ou, pelo m enos, são ape­
nas um auxiliar, com um papel inteiram ente subord inado, das funções da atividade,
traduzidas na consciência p o r estados de sentim entos. (M . Bernès)
579 IN T E L IG E N C IA

ção psíquica, o cérebro; mas devo reco­ m ento, razão, consciência). Este term o
nhecer que a tese intelectualista, etc.” serve correntem ente para designar um a
Esta utilização resulta apenas de um a das três grandes classes (ou faces) dos fe­
confusão , e as designações que a provo­ nôm enos psíquicos, sendo as duas outras
caram são lam entáveis. A teoria de J a ­ as dos fenômenos afetivos e a dos fe n ô ­
mes e de Lange deveria, com efeito, ser menos ativos ou m otores.
cham ada intelectualista, tam bém ela, no B. A to de com preender pelo qual se
sentido exato desta palav ra, já que neles exerce num caso dado a Inteligência no
a em oção n ad a possui de específico, sen­ sentido A . “ A inteligência das verdades
da fé .” M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E , Conversas sobre
do apenas o conhecim ento confuso de um
a m etafísica, V I, II.
conjunto de fenômenos corporais. A ver­
C. N o sentid o co n creto (so b retu d o no
dadeira antítese do intelectualista, na teo­
século XVII): os seres espirituais e n q u a n ­
ria dos estados afetivos, seria a teoria que to se o p õ em aos corpos: “ ... pretensas in ­
os considera com o fenômenos originais, telig ências se p a ra d a s” . L E « ζ Ç« U , N o v o s
irredutíveis a percepções, idéias, ou ju í­ ensaios, p ró lo g o .
zos; por exem plo, a de Bτ « Ç , ÃZ a de D. (oposto a intuição* e a sensação*).
P τ Z Â 7 τ Ç . Cf. a refutação de J τ OE è no Sinônim o de en ten d im en to * , conheci­
E ssai de H τ OE Â « Ç , p. 439. m ento conceptual e racional. “ A inteli­
Rad. in t .: A . Intelekteblism; B. C. In- gência é caracterizada pela potência in­
telektualism. definida de decom por segundo n ão im ­
p orta qual lei e de recom por segundo não
IN T E L IG Ê N C IA D. In tellekt, Vers- im p o rta qual sistem a.” H . BE 2 ; è ÃÇ , A
tand; algu m as vezes Intelligenz; E. A. In­ evolu ção criadora. V er R a zã o .
telligence, understanding, intellectual p o ­ E. (oposto a instinto*). A tividade vo­
wers; B. C. Intelligence, understanding; luntária, adaptação deliberada dos meios
D . Intelligence, cleverness; E . A p peh en - aos fins. “ O instinto com pleto é a facul­
sion; F. Intelligence; I. Intelligenza. dade de utilizar e até de construir in stru ­
A. C o njunto de to das as funções que
m entos organizados; a inteligência co m ­
têm p o r objeto o conhecim ento no senti­ pleta é a faculdade de fabricar e de utili­
do mais am plo d a p alavra (sensação, as­ zar os instrum entos inorg anizados.” H .
sociação, m em ória, im aginação, entendi­ BE 2 ; è ÃÇ , A evolu ção criadora. Ver to-

Sobre Inteligência — A oposição da inteligência à intuição parece-m e lam entável


porq ue é inconciliável com a expressão “ intuição intelectual” . O ra , é necessário que
se possa exprim ir a idéia de intuição intelectual, ainda que seja simples m ente para
colocar a existência de ta l intuição com o problem a, o u m esm o p a ra negar a sua pos­
sibilidade. P o r o u tro lado, não se pod eria considerar a confusão entre inteligência
e en ten dim en to com o um a simples im propriedade de expressão? {E. Van B iém a)
Em R τ âτ « è è ÃÇ , em particular, a palavra inteligência é tom ada num sentido m uito
am plo, e designa ta n to o conhecim ento intuitivo ou im ediato, com o o conhecim ento
conceptual e discursivo. Ele cham a en ten dim en to a este últim o (contrariam ente ao
uso de Bergson m encionado no sentido B de inteligência*); p or exemplo: “ T oda ten ­
dência p ara um fim im plica a intelig ência...” D e l ’h a b itu d e, p. 29. “ A inteligência
obscura que sucede p o r hábito à reflexão, essa inteligência im ediata em que o objeto
e o sujeito são confundidos, é um a intuição real onde se confundem o real e o ideal,
o ser e o pensam ento.” Ib id .
S o b r e a h i s t ó r i a d a s p a l a v r a s inteligência, intelectual, e t c . , v e r R . B 2
E ÂÃ
I 7 E ,I

Un rom an tism e utilitaire, II, c a p . IV, V.


IN T E L IG IB IL ID A D E 580

do o capítulo II acerca d a oposição entre cientistas e nos filósofos), é, pois, a fé na


o instinto e a inteligência, que o autor re­ razão das coisas e na universal inteligibili­
duz à precedente. dade. A creditam os todos que aquilo que
F . (oposto a ininteligencia). Desenvol­ existe é redutível, senão para nós, pelo me­
vimento do espirito norm al ou superior à nos em si, às leis essenciais do pensamen­
média. to. Q uando duvidam os, a nossa dúvida
G . (oposto a invenção*). Faculdade de não se refere, p ara falar verdade, à inteli­
com preender* facilmente aquilo que é da­ gibilidade do objeto, m as à inteligência do
do quer nos fatos, qu er nas idéias de sujeito, ao poder m aior ou menor dos nos­
outrem. sos meios de conhecer... Este princípio da
H . Tradução de Intellectus em S. T o ­ razão das coisas, que sobrevive a todos os
más e nos escolásticos que empregam esta sistemas, que engendra a sua própria va­
palavra no mesmo sentido que ele; mas diz- riedade a partir do seio da sua unidade, que
se mais geralmente neste sentido Intelecto*, subsiste não obstante a nossa impotência
para evitar equívocos. para explicar os problemas mais difíceis,
e que constitui como que um a metafísica
NOTAS universal superior às diversas metafísicas,
O adjetivo correspondente ao sentido como um a ciência inata que não pode des­
A, B, C, D é intelectual-, no sentido E, F, truir todas as nossas ignorâncias, não será
G, inteligente. isso o próprio princípio do platonismo? Di­
IN T ELIG IB ILID A D E (Princípio da zer que tudo tem uma razão inteligível, que
universal) Expressão introduzida por A. o ser m antém um a relação necessária com
FÃZ «Â Â é E na sua ob ra A filo so fia de Pla­ o pensamento, quer dizer, no sentido mais
tão (1869) e que se tornou muito usual des­ amplo dos termos, que cada coisa possui
de então na linguagem filosófica e sobre­ um a id éia .” A filo so fia d e P la tã o , tom o
tudo no ensino filosófico. “ A fé comum, II, 464-465.
mais ou menos consciente de si própria, IN T ELIG ÍV EL G. vojjros (já oposto
mas presente em todos ( = nos crentes, nos por P Â ÃI « ÇÃ a v o í q ó s, intelectual); L. In-

Sobre Inteligível — Ver na p alavra R a zã o a nota de J. Lτ T7 E Â « E 2 acerca do sen­


tid o kan tian o desta palav ra, na qual conclui: “ D aí esse p aradoxo da linguagem de
K ant segundo o qual in teligível, quer dizer, o pró prio objeto d a nossa inteligência,
é precisam ente aquilo que escapa a tod o s os alcances da nossa inteligência.”
Cf. a utilização desta palavra em LE « ζ Ç« U : “ Transferim o-nos, por assim dizer,
p ara um o u tro m u n do, quer dizer, p a ra o m un do inteligível das substâncias, ao pas­
so que anteriorm ente encontrávam o-nos entre os fenômenos dos sen tidos.” N o vo s
ensaios, IV, cap. III, 6.
Em BE 2 3 E Â E à , inteligível opõe-se a real, para rejeitar a dupla existência das sen­
sações ou idéias, um a nos espíritos, a o u tra fora dos espíritos: “ ... the one intelligi-
b le or in the m in d , the o ther real o r w ith o u t the m i n d P r i n . o f H u m an K n o w -
ledge, § 86. Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E aplica da m esm a form a esta palavra a tu d o aquilo que
é conhecido pelo espírito, inclusive o sensível enquanto pensado.
Às exceções que precedem liga-se ainda indiretam ente a utilização pejorativ a que
A uguste CÃOI E algum as vezes faz desta palav ra, opondo-a a real, p o sitiv o e
tom ando-a quase como sinônimo de imaginário. Ver, p or exemplo, Curso, lição X L III,
§ 13.1

1. " . . . u m a inteligível o u n o espirito, a o u tr a real o u fo r a d o esp irito ".


581 IN TEN ÇÃ O

telligibilis (S.ÇE Tτ ); D. In telligibel ; E. A . A in ten tio , na linguagem dos es­


Intelligible; F. Intelligible ; I. Intelligibile. colásticos, é: 1? a aplicação do espírito
A . (oposto a sensível ). Q ue só pode a um objeto de conhecim ento, “ actus
ser conhecido pela inteligência (no senti­ m entis quo tendit in objectum ” ( = in­
do B), e não pelos sentidos. Em conse- ten tio form a lis); 2? o pró p rio conteúdo
qüência d a d o u trin a tradicional que con­ do pensam ento ao qual o espírito se apli­
sidera os sentidos com o fonte de ilusão, ca, “ O bjectum in q u o d ” ( = in ten tio ob-
a reflexão conceptual e a razão como je ctiva ).
principio do conhecimento verdadeiro, in­ Este term o, na linguagem filosófica,
teligível tornou-se, neste sentido, sinôni­ caiu depois em desuso, exceto para a dis­
m o de real, de existente em si na ordem tinção histórica entre as p rim eiras inten­
m etafísica. “ M undo inteligível; liberda­ çõ es e as segundas intenções. A intentio
de inteligível.” “ ... Alle solche Noum e- p rim a (form alis) é “ actus intellectus di-
na, zusamm t dem Inbegriff derselben, ei­ rectus, id est q uo objectum suum perci-
ner intelligibeln W elt, nichts als Vorstel­ pit directe” , por exemplo, a percepção de
lungen einer A ufg abe sind... deren A u­ um hom em , o pensam ento de um a classe
flö su n g ... gänzlich unm öglich is t .” 1 de seres, enquanto um a e outro se fo r­
Kτ ÇI , P ro leg o m e, § 34. (Ele opõe, n u ­ mam espontaneam ente no espírito, sem
m a n o ta acerca desta passagem , intelec­ reflexão sobre a sua própria atividade; a
tual a. inteligível, m as, de fato, não se con­ intentio secunda (form alis ) é “ actus in­
fo rm ou nas suas obras à distinção in­ tellectus reflexus, id est quo aliquid per
dicada.) reflexionem cognoscimus” , ou por outra,
B. C . Q ue pode ser com preendido, o pensam ento, n ão do objeto, mas da in­
quer no sentido A , quer no sentido B da tenção prim eira que aí se aplica, a refle­
palavra co m preen der*. xão sobre o objeto do pensam ento en­
R ad. int.: A . Inteligibl; B. Kompre- quanto pensado. A intenção segunda tem,
nebl; C. Intelektebl. pois, p o r objeto um E n s rationis. A in­
IN TEM PO RA L (adj. e subst.) D. Un- tentio p rim a (o b jectiva ) é o objeto ou o
zeitlich, das Unzeitliche. pró prio ser no qual pensam os; a secunda
A . Propriam ente, aquilo que é estra­ intentio (objectiva) é “ omne id, quod per
nh o ao tem po, aquilo que não possui a actum reflexum intellectus cognoscitur,
característica da duração. “ O tem po é- sive sit ipsa actio intellectus, sive poten-
nos necessário p ara nos perm itir consti­ tia, sive ea quae conveniunt rebus pro ut
tuir a nossa existência in tem p o ral.” L. su n tin subjecto objective” . É, pois, quer
Lτ âE Â Â E , L a p résen ce to ta le, p. 17. o pensamento do ato pelo qual pensamos
B. P or conseguinte, aquilo que, en­ algum a coisa, quer o da nossa faculdade
quanto considerado no tem po, aparece aí de o conhecer, quer o das determ inações
com o invariável. “ O verdadeiro e falso deste objeto de pensam ento, considera­
são intem porais.” Ver Id en tid a d e ( Prin­ das en quanto caracteres lógicos, etc. (se­
cípio de) e Tem poral. gundo G Ã T Â Ç« Z è , V Ã In ten ção, 2 5 3 A ,
E

B; e H Z ; ÃÇ , C u rsu sphilosoph ix thomis-


1. IN T EN Ç Ã O L. escol. In ten tio (deticx, I, Lógica, p. 33).
in, tendere). 1 A s espécies intencionais (species inten-
tionales) são as espécies* sensíveis.
B. Este term o foi retom ado pelos filó­
1. “ T o d o s esses n ú m en o s, assim com o a idéia
d o seu c o n ju n to , o m u n d o inteligível, sâo ap en as r e ­
sofos alemães ligados à escola de B2 E Ç
presentações de u m p ro b le m a .., c u ja so lu ção é to ­ Iτ ñ Ã e tornou-se de novo m uito usual
talm en te im p o ssív el.” através d a fenom enología*. Ver n o m e a ­
IN T E N Ç Ã O 582

dam ente H Z è è E 2 Â , L ogisch e Untersu- IN TE N SÃ O E. Intensión; F. In­


ch u ngen ', II, 346 ss. D aí, entro u na lin­ tensión.
guagem filosófica contem poránea. Sinônimo de com preensão*, quase to­
talm ente caído em desuso em francês.
2. IN TEN Ç Ã O (a mesma origem). L. “ A m aneira vulgar de enunciar [os si­
escol. Intentio (de in, tendere ); D. Absicht; logismos] refere-se de preferência aos in­
E. Intention; F. Intention-, I. Intenzione. divíduos, m as a de A ristóteles refere-se
A . Desígnio de fazer algum a coisa, mais às idéias ou universais... O anim al
sob reserva dos obstáculos que poderiam com preende mais indivíduos do que o ho­
to rn a r esta ação impossível ou inoportu­ m em , m as o hom em com preende mais
na (intenção-projeto). “ Descartes teve a idéias ou form alidades; um tem mais
intenção de escrever um T ratado do M un­ exemplos, o o u tro, mais graus de reali­
d o .” dade; um tem mais extensão, o outro mais
B. Fim que se propõe atingir, razão intensão.” L « ζ Ç « U , N o v o s ensaios, IV,
E

de um ato (intenção-fim ). “ V iajar com cap. 17, § 8.


a intenção de se in stru ir.” Cf. Visado12. Em alguns lógicos contem porâneos,
D ireção d e intenção (prim itivamente, nom eadam ente em KE à ÇE è (F orm al L o ­
term o de casuística: ver Pτ è Tτ Â , P rovin ­ gic, 3? ed., cap. II, § 16), este term o ser­
ciais, VII): atitude de espírito segundo a ve para designar, no sentido mais am plo,
qual nos autorizam os a com eter um ato o co njunto das características represen­
considerando-o apenas sob o seu aspec­ tadas por um term o geral. Esta intensão
to bom . “ A direção de intenção consiste pode ser com preendida de três m aneiras
num a intenção factícia e enganadora que diferentes:
dissimula a intenção re a l.” E. GÃζ Â ÃI , 1? O conjunto das características con­
Classification d es Sciences, p. 260. sideradas como essenciais para um a classe
O “p ro b le m a da in ten ção" é a ques­ e com o aquilo que constitui a definição
tã o de saber se para ju lg ar acerca do va­ do term o que a designa. N este caso, a in­
lor m oral de u m ato deve ser levada em tensão de um term o depende evidente­
conta exclusivamente a intenção que o di­ m ente de convenções feitas a seu p ro ­
tou (m oral puram ente fo rm a l* ), ou se se pósito.
2? C ertas características que, essen­
deve ter igualm ente em conta os efeitos
ciais ou não, são habitualm ente sugeridas
produzidos por este a to , e o seu caráter
ao espírito pelo term o considerado e que
específico.
servem praticam ente p ara reconhecer o
R ad. int.: Intenc.
objeto com o pertencente a esta classe.
Neste sentido, a intensão é subjetiva e va­
1. investigações lógicas.
riável.
2 . A rtig o re fu n d id o a p a rtir das ind icações d e P . 3? C o n ju n to de to das as característi­
Foulquié. cas pensadas ou n ão , com preendidas ou

Sobre Intenção — N a m oral form al, a intenção n ão é definida pelo f im , m as pela


conform idade à lei. E sta conform idade é já um fim , se se quiser, m as não é m enos
necessário distinguir a intenção enquanto vontade de seguir u m a regra, e a intenção
enquanto vo ntade de atingir um fim . (M . Drouiri)
N ão haverá apenas um “ problem a da intenção” ? N ão se tra ta rá ain d a de um
problem a da intenção saber se os fins justificam os meios e em que m edida os justifi­
cam ? (A . L andry) H á aí, sem dúvida, um problem a relativo à intenção; m as não
é isso que se entende quando falam os, sem m ais, do “ problem a d a intenção” .
583 “ IN T E R A T R A Ç Ã O ”

não na definição, mas que pertencem a m o d o à v ariação q u alita tiv a de que se


cada um dos indivíduos aos quais se apli­ tra ta .
ca o nome considerado. A tese o p o sta é d efen d id a p o r FÃZ « Â -
Ele propõe que se atrib u a ao prim ei­ Â é E , Evolucionism o das idéias-forças, li­
ro destes sentidos o term o co n o ta çã o ; ao vro I, cap. I, e P sicologia das idéias-
segundo, m enos im portante em lógica, a fo rça s, to m o I, cap . I, § 2, o n d e defen d e
expressão intensão su b jetiva ; e, ao tercei­ que to d o o a to o u estad o de consciência
ro, o term o com preensão. A ssim , cono­ é essencialm ente d o ta d o de u m g rau de
tação aplicar-se-ia sobretudo à palavra, in ten sid ad e irred u tív el q u er à ex te n são ,
intensão subjetiva à representação que é q u er à q u a lid a d e , a in d a que seja sem pre
o seu correspondente m ental, e compreen­ acom panh ado de varia çõ es extensiv as e
são à coisa objetivam ente considerada. q u alitativ as.
Ver C om preensão. B. A lto grau de intensidade. O adje­
tivo correspondente é intenso.
IN TEN SID A D E D. Intensität·, E. In­
Rad. int.: A . Intenses; B. Intens.
tensity; F. Intensité; I. Intensità.
A . Característica daquilo que adm ite IN TEN SIV O D. Intensiv; E. Intensi-
os estados de mais ou de m enos, mas de ve; F. Intensif; I. Intensivo.
tal fo rm a que a diferença entre dois esta­ A . Q ue tem u m a in ten sid a d e* .
dos não seja ela p ró p ria um grau daqui­ Utiliza-se em particular na expressão
lo que é assim suscetível de aum ento ou grandeza intensiva (D. In ten sive Grõsse;
de dim inuição: por exemplo, um senti­ E. Intensive m agnitude; F. G randeur in­
m ento de tem or pode diminuir ou aum en­ tensive; I. Q uan tità intensiva ): entende-
ta r, m as a diferença entre um tem or li­ se p or isso u m a qualidade ou proprieda­
geiro e um tem or mais fo rte não é um n í­ de variável na qual é possível distinguir
vel de temor que possa ser com parado aos graus de intensidade.
outro s, com o a diferença entre dois com ­ B. Intenso, e cuja intensidade resulta
prim entos ou entre dois núm eros é um de um esforço. (Este sentido é recente,
com prim ento ou um núm ero que tem o parece-nos ser um term o incorreto.)
seu lugar n a escala de grandezas da m es­ R ad. in t.\ A . Intenses.
m a espécie. O adjetivo correspondente é
intensivo*. “ IN T E R A T R A Ç Ã O ” D. Welchse-
A lguns filósofos (BE 2 ; è ÃÇ , M ü Çè ­ lanziehung; E. Interattraction; F . Interat-
I E 2 ζ E 2 ; , etc.) adm item nad a existir traction.
cuja variação corresponda a esta definição, A tração reciproca, enquanto fenôme­
e sempre que o senso com um adm ite no elem entar da vida anim al.
graus de intensidade, o m ais e o menos Ver A tra çã o , observações. “ Ficam
só são assim julgados por associação com p o r conhecer as influências que reúnem
u m a variação extensiva ligada de algum um grande núm ero de indivíduos lado a

Sobre Intensidade — A rtigo refu ndido segundo as observações de A lfre d Fouil-


lée e de M . D rou in .

Sobre “ In teratraç ão ” — E t. R a b a u d faz n o tar que o laço social que reúne os


indivíduos pela com unidade das suas idéias e dos seus sentimentos (comunhão*) cons­
titu i, por assim dizer, um a interação de segundo grau. H á necessidade de distinguir
claram ente os grupos desta espécie dos grupos form ados por indivíduos que o m es­
m o gênero de estudos ou de distrações atra i, m as sem preocupar uns com os outro s,
e que, por conseqüência, se reduzem às m ultidões* propriam ente ditas.
“IN T E R D E P E N D Ê N C IA ” 584

lado. Passando em revista diversas hipó­ ‘‘Ensaio sobre as sociedades anim ais” ,
teses por eliminações sucessivas conclui-se em L es origines d e société, C entre Inter,
que esses indivíduos atraem-se uns aos ou­ de Synthèse, 1931, p. 6.
tros: os prim eiros foram conduzidos por
um a série de contingências e atraíram os “ IN T E R D E P E N D Ê N C IA ” D epen­
seguintes. A idéia de uma ‘interatração’ so­ dência recíproca. Ver nas observações a
bressai assim com vigor.” Et. Rτ ζ τ Z á , discussão acerca desta palavra (S).

Sobre “ In terdependência” — A prim eira redação deste artigo foi assim concebi­
da: “ P ro pom os cham ar desta fo rm a à solidariedade de tipo orgânico que repousa
sobre a diferenciação das funções e a divisão do trabalho, tal como existe, por exem­
plo, entre os órgãos de um corpo vivo ou entre os diversos agentes da vida econôm i­
ca num a sociedade.
É útil, com efeito, ad o tar um term o preciso para distinguir esta espécie de rela­
ção das outras form as de so lidariedade* , tais com o, por exemplo, a solidariedade
econômica dos trabalhadores de um a mesma profissão, a solidariedade espiritual dos
m em bros de um a m esma com unidade m oral ou religiosa, etc.”
Este term o foi objeto de um a discussão na sessão de 1? de ju lh o de 1909:
D 2 Ã Z « Ç : “ N ada na form a desta palavra sugere esse m atiz especial. Não seria m e­
lhor deixá-lo disponível p ara designar a solidariedade em geral, com o f a to ou com o
lei natural, cada vez que pretenderm os afastar as apreciações de valor, a significação
m oral de que a palavra solidariedade se carregou pouco a pouco, e dela não se livrará?”
B 2 Z Çè T â « T ;
7 aceita esta opinião.
J. L τ T Â « 2 : “ Reconheço tam bém que a palav ra solidariedade é equívoca; e
7 E E

creio, nom eadam ente, que será m uito útil ter, com o foi p roposto, um term o especial
p ara designar a dependência recíproca dos m em bros e do estôm ago, a solidariedade
orgânica que resulta da divisão do trab alh o no indivíduo e na sociedade. (A ssen ti­
m en to unânim e) M as não gostaria que a Sociedade de Filosofia adotasse p ara esse
uso a palavra interdependência: p o r si p ró p ria , esta palavra n ão evoca naturalm ente
a idéia em questão, mais do que qualquer o u tra fo rm a de solidariedade. D esperta­
ria, antes, a idéia de um a ligação m ecânica.”
A . L τ Â τ Çá
E : “ Parece-m e haver de característico o fa to de ela assinalar um a d e­
pen dên cia, quer dizer, um a heternonom ia, um constrangim ento externo. A solida­
riedade científica, artística, m oral, q u ando é aquilo que deve ser, n ão veicula q ual­
quer restrição, qualquer entrave à nossa liberdade. É , antes, até a sua condição.
Q uerem o-la tan to mais quando n ão a tem os, pelo menos a p artir de certo nível de
consciência e de cultura. A diferenciação orgânica, enquanto nos to rn a as o utras ne­
cessárias, é, pelo co ntrário, um estado de fato , causa de crises e de lutas n a vida m a­
terial, obstáculo e perigo para a vida do espírito. Coloca-nos, face aos nossos seme­
lhantes, num estado de dependência e de carência, não de plenitude e de liberdade:
é desse teor a dependência recíproca do consum idor e do fornecedor, do operário
e do p atrã o , etc. O sofism a consiste em a idealizar (com o Sully P ru dhom e no seu
célebre soneto), negligenciando o caráter real de luta e de exploração que ela ap re­
sen ta.”
D epois d a época em que esta discussão ocorreu, a palavra Interdependência
espalhou-se m uito, e tom ou sim ultaneam ente, na linguagem da filosofia política, um
sentido m uito particular: é usada aí com o palavra de ordem p a ra aqueles que pen­
sam que é impossível estabelecer um a paz d u ra d o u ra e cada nação conservar o direi-
585 INTERESSE

INTERESSE D. Interesse ; E. Interest; de atividade mental fácil e agradável, uma


F. In térêt ; I. Interesse. atenção espontânea. “ Ter interesse ( = in­
Objetivam ente'. teressar, ser interessante); o interesse de
A . A quilo que realm ente im porta (L. um espetáculo, de um a le itu ra.”
interest) a um agente determ inado; aqui­ A d ou trin a d o in teresse , do p o n to de
lo que lhe é vantajoso, quer ele o saiba vista pedagógico, é aquela que tom a co­
ou não. “ Ter um grande interesse por al­ m o regra ensinar as coisas apenas à m e­
gum a coisa; desconhecer os seus verda­ did a que a criança desejar espontanea­
deiros interesses.” Os verbos correspon­ m ente apreendê-las. (C f. RÃZ è è E τ Z ,
dentes são interessar, se se tra ta daquilo E m ílio , livro III.)
que im porta; estar interessado em ... se se
A lei d o interesse é a lei de associação*
tra ta daquele para quem este interesse
das idéias que se enuncia desta form a:
existe. Neste sentido, a m o ra l d o interes­
“ E ntre todos os estados de consciência
se ou do interesse bem co m p reen d id o é
que podem , p o r reintegração*, ser suge­
a m esma coisa que a m oral utilitária*.
O interesse geral é pro priam ente o ridos por um indutor* d ad o , é apenas
co njunto dos interesses com uns aos dife­ aquele que corresponde ao interesse atual
rentes indivíduos que com põem um a so­ e dom inante do sujeito que se encontra
ciedade; o interesse p ú b lico , o conjunto efetivam ente evocado.”
dos interesses dessa sociedade enquanto C . O estad o da atividade m ental p ro ­
tal. Estas duas expressões são m uito fre­ vocado p o r aquilo que há de interesse no
quentem ente co nfundid as, m as sem ra ­ sentido B. “ T om ar interesse por qualquer
zão: não se podem identificar a p r io r i es­ coisa; despertar interesse.”
ses dois conceitos, a m enos que se postu ­ D . A respeito das pessoas, benevolên­
le que a sociedade é apenas a ju staposi­ cia, sim patia. “ M ostrar interesse p or al­
ção dos seres que a com põem . guém .”
Subjetivam ente·. O verbo correspondente é, nestes dois
B. C aracterística daquilo que provo­ casos, interessar-se (por algum a coisa ou
ca num espírito determ inado um estado alguém).

to a um a soberania ab soluta. Ver o artigo de Christian R « T7 τ 2 á , “ T ow ard an In ­


ternational d eclaration o f interdependence” , em F reedom , fevereiro a m aio de 1945;
reim presso em brochura, Los Angeles, no m esm o ano. N a intenção do au to r, ainda
que a palavra conserve um certo m atiz de analogia bio m órfica (ver particularm ente
pp. 4 e 5), ele associa-se sobretu do às idéias de livre cooperação, dem ocracia, perso­
nalism o de “ hum anism o” no sentido D e de um a unidade das religiões. {A . L .)
Sobre Interesse — A “ lei do interesse” parece ser devida a H ]E E á« Ç; . NÃ seu
m anual E sb o ço d e um a p sico lo g ia (1822), cap. V, B, § 8, ele reluz prim eiram ente
a associação à “ lei de to talid ad e” , mas acrescenta que ela não b asta, e que “ o curso
das nossas idéias, da m esma fo rm a que as nossas sensações im ediatas, é dirigido pe­
lo interesse, e pela atenção que este interesse suscita” . O sentim ento dom inante, as
tendências, as m etas atuais, quer ideais, quer práticas, determ inam , en tre todas as
evocações possíveis, aquela que se realizará. Indica que esta idéia aparece já em H Ãζ
ζ Eè (H um an nature, cap. IV; L evia th a n , cap. III); que H τ O« Â I ÃÇ , no fim da sua
vida, adm itia esse fato r na direção das idéias (segundo Mτ Çè E Â , M etaph ysics, 241
ss.); finalm ente, que W Z Çá I e F 2 /E è dão indicações no mesmo sentido. A “ lei de
interesse” é enunciada, em itálico, e sob esse nom e (law o f interest) nos Principies
o f P sych o lo g y de W . J τ OE è (1890), I, 572.
IN T E R IO R e IN T E R N O 58fi

C R ÍT IC A fato da sua com unicação” ). L. Lτ âE Â -


 E , D e l ’acte, pp. 272-273.
O interesse, no sentido A, é um a das
noções fundamentais necessárias ao estu­ NOTA
do da atividade hu m ana e dos juízos de A palav ra, enquanto substantivo,
vaior. Um grande núm ero de discussões utiliza-se no sentido B m uito mais fre­
filosóficas acabam por chegar a um a opo­ quentem ente do que o adjetivo: “ Gassen­
sição acerca da “ im portância” relativa di e D escartes... tinham trocado sinais de
dos “ interesses” que estão em jogo. estim a m útua por interm édio de Mersen-
M as esta noção envolve dois equívo­ n e .” B Ã Z « Â Â « 2 , P h ilosoph ie cartésien­
E

cos graves: 1? o do interesse real, no sen­ ne, I, 236. Cf. M ediação.


tido A; o deste mesmo interesse, enquan­
to é conhecido-, finalm ente, o do interes­ “ IN T ER M U N D O S” L. Interm un-
se afetivo, no sentido B. Foi m uitas ve­ dia* na doutrin a epicurista, espaços que
zes assinalado pelos m oralistas que o in­ separam os m undos e que estão ao abri­
teresse real, mesmo bem conhecido in go dos m ovim entos que aí se produzem .
abstracto, não se identificava ou identi­ São por isso mesmo a m orada dos D eu­
ficava-se m uito lentamente com o interes­ ses ( L Z T 2 é T « Ã , D e nat. rerum , II, 646
se espontâneo; 2? o do interesse indivi­ ss.; V, 146-155). E sta palavra é to m ad a
dual e do interesse coletivo. algum as vezes no sentido figurado: “ ...
Este term o é, pois, m uito equívoco, Realizar em algum canto do universo co­
e exige ser precisado com cuidado em ca­ m o que um vazio absoluto, im penetrável
da caso particular. a qualquer influência das partes adjacen­
R ad. in t .: A. Interest; B. Interes; C. tes, depois, nesta espécie de in term un do,
Interesij; D. Bonvol. nesta ilha de vazio, realizar sucessivamen­
te e um a um cada um dos antecedentes
IN TERIO R e IN TERN O D. Inner, E. em q u estão ...” R τ ζ « 2 , L ogiqu e, p. 126.
E

Internal; F. Intérieur, interne; I. Interno.


Ver Externo. “ IN TERP SIC O LO G IA ” Termo cria
R ad. int.: Intern. do p or Tτ 2 áE para opor à psicologia co­
letiva (concebida com o o estudo de um a
“ IN T E R E X IS T E N C IA L ” Que liga realidade m ental pertencente à sociedade
existências* no sentido C. “ O valor é a considerada com o um todo) o estudo das
relação interexistencial que une não te r­ reações de ordem psicológica que exercem
m os, m as pessoas.” R. L E SE ÇÇE , O bs­ os indivíduos uns em relação aos outros.
tacle et valeur, 192. “ Entendem os por interpsicologia o estu­
do dos m ecanism os, conscientes ou não,
IN T ER M ED IÁ R IO ou IN T ER M É­
pelos quais se exerce a ação de um espíri­
D IO D. M ittel...; E. Interm ediary, inter­
to sobre um o u tro, que têm por resulta­
m ediate (subst. In term ediary, m edium );
do mais freqüente a assim ilação parcial
F. Interm édiaire; I. In term édio. ou global, passageira ou d u ra d o u ra, do
A . (ao falar daquilo que não age). Co­ segundo espírito ao prim eiro, ainda que
locado entre dois outros term os, no sen­ eles possam chegar a resistir ou a opor-
tido próprio o u figurado. “ U m a divisão se.” G. DZ Oτ è , Traité d e p sych ologie,
interm ediária.” “ U m a solução, um p a r­ to m o II, 739, livro III, cap. III: “ A in­
tido interm ed iários.” terpsicologia.” In term en tal emprega-se
B. (no sentido ativo). Q ue estabelece no m esm o sentido.
um a ligação entre dois outros term os. “ A
potência é sempre intermediária entre dois IN T ERV A LO D. Zwischenraum ; E.
atos diferentes” (enquanto é “ o próprio Interval; F. Intervalle; I. Intervallo.
587 IN T IM O

Term o da linguagem corrente a d o ta­ a qualquer órgão determ inado e aos sen­
do por E . DUPRÉEL (A causa e o in ter­ tidos exteriores...” Em. Sτ « è è E I , no Dic.
valo, 1933; recolhido nos E nsaios p lu ra ­ de F 2 τ ÇT3 , VO Sens, 1581 B. “ A carac­
listas, VII) e usado desde então de um a terística essencial dos fenôm enos psico­
m aneira técnica por diversos filósofos p a ­ lógicos consiste em estes não se poderem
ra representar o conjunto daquilo que dis­ produzir sem serem acompanhados de um
tingue o que cham am os causa* do que sentim ento interior im ediato que no-los
chamam os efeito, e, em particular, o des­ faz perceber; ... foi dado o nom e de sen ­
vio tem poral entre um a e outro . tido ín tim o a esse sentido que acom pa­
R ad. in t. : Interval; em particular. In- nha todos os outros; os escolásticos
tertem ps. cham avam -lhe sin estese.” P au l J τ ÇE I ,
ÍN T IM O D. A . Innern; B. Innig; E. Tratado elem. d e filo so fia , Psicologia,
A. Internal·, B, In m osf, F. Intime·, I. cap. II, § 48. E sta expressão está hoje
In tim o. quase com pletam ente em desuso.
(In tim u s é o superlativo de que In te­ B. Interior (no sentido em que esta pa­
rior é o com parativo. A idéia geral é pois: lavra se opõe a superficial)·, profundo;
aqu ilo que é m ais interior, nos diferentes que é relativo à essência do ser de que se
sentidos desta palavra.) trata ; que pen etra em todas as suas p a r­
A . Interior (no sentido em que esta tes: “ Conhecim ento íntimo de um a ques­
palavra se opõe a p ú b lico , exterior, m a­ tão , de um a u to r.” “ U nião íntim a de dois
n ifesto). É íntim o aquilo que está encer­ corpos de duas qualidades.” “ Convicção
rado, inacessível à m ultidão, reservado; ín tim a.” “ Este sentido d o esforço é de
por conseguinte, aquilo que é individual, tal form a íntimo e tão profundam ente ha­
conhecido apenas do sujeito, quer aciden­ bitual. .. que se obscurece e quase se a p a ­
talm ente, quer essencialmente e p o r n a ­ g a ...” M τ « ÇE á E B« 2 τ Ç , A percepçõo
tureza. im ediata, 2? parte , § 2.
S en tido in tim o (D. Innere Wahrneh-
m ung) foi utilizado por M aine de Biran CRÍTICA
e pela m aioria dos ecléticos com o sinôni­ Este term o é perigoso devido à sua du­
m o de consciência*, no sentido A . “ Com ­ pla significação: na m edida em que os
preende-se, sob o nom e de sen tid o , dois dois sentidos convêm a o m esmo tem po a
tipos de funções intelectuais: o sentido ín­ m uitas coisas, são confundidos quase
tim o ou consciência que não corresponde sempre n a “ conotação” desta palavra. In-

Sobre íntim o — Parece-m e que todos esses abusos resultam da aplicação mais
ou m enos feliz da palavra ín tim o , mas não de um a dualidade prim itiva de sentidos.
A expressão “ sentido ín tim o” tem de mal apenas a sem i-assim ilação da consciência
aos sentidos pro priam ente ditos. N ada haveria n o seu interior de falso ou de contes­
tável, se os ecléticos tivessem visto na pessoa hum ana o pró prio fa to de dizer eu,
e, na vontade, a pró pria ação de querer: porq ue é isso, e apenas isso, que nos forne­
ce o sentido íntim o. É efetivam ente assim que o entendia prim itivam ente M aine de
Biran: o seu substancialism o veio m ais tard e e foi um desvio. (J. Lachelier)
In tim o, no sentido B, e in tim idade são expressões que se tornaram m uito vivas
na linguagem contem porânea da filosofia: “ A ssegurar a nossa intim idade com o ser
( = a nossa interioridade em relação ao ser) através de um pensam ento que, de fato,
está sempre contido no ser, e por direito sempre o contém ... A aquisição da intim i­
dade, ou descoberta do eu, consiste precisam ente na sua penetração no interior do
próprio ser.” L. Lτ â E Â Â E , L a presen ce to ta le, pp. 45-47.
IN T R ÍN S E C O 58X

tim id a d e aplica-se tan to à característica m ente, a um egotism o superficial que se


p ró p ria de um pequeno círculo fechado com praz na “ intimidade” do seu eu, um a
com o à penetração real e à união interior personalidade p ro fu n d a que desenvolve
dos espíritos. U m a “ carta íntim a” é aci­ aquilo que tem de m ais “ íntim o” , aq u i­
m a de tu d o aquilo que se opõe, mesmo lo que a constitui mais essencialmente, pe­
legalm ente, a urna carta pública; e, co­ lo fato de se com unicar a outro s espíri­
m o tal, pouco im porta que consista em tos e de se expandir, por sua vez, pela
assuntos insignificantes, ou m esm o em ação deles. Encontram os aqui os equívo­
brincadeiras. M as tam bém se pode enten­ cos já assinalados nas palavras individua­
der por isso urna carta que exprime o sen­ lism o e individualidade. É preciso, pois,
tim ento ou o pensam ento “ íntim os” do vigiar de perto a utilização da palavra ín­
seu a u to r, quer dizer, o fundo do seu ca­ tim o , e os paralogism os que ela tende a
ráter ou d a sua opinião. A ssim , este te r­ introduzir com ela.
m o favorece bastante a confusão entre Rad. in t.: A . P riv at; B. P ro fu n d .
aquilo que é subjetivo, individual, p riva­
do, e aquilo que é sólido, pro fu n d o , es­ IN TRÍNSECO D. Innerlich, eigen; E.
sencial. A o invocar o “ sentido íntim o” , Intrinsic, intrinsical; F. Intrínsèque; I. In­
os ecléticos pretendiam g arantir o bene­ trínseco.
ficio de um a evidência im ediata para te­ O posto a E xtrínseco.
ses, n a realidade m uito contestáveis, co­ Que pertence a um objeto de pensa­
m o a da unidade substancial da pessoa m ento em si m esm o, e não nas suas rela­
hu m ana ou a da existência de urna causa ções com o u tro. Diz-se em particular que
simples que se m anifesta por volições sem um a coisa tem um valor intrínseco ( Ei-
aí se esgotar, etc. É assim que M τ « ÇE áE genw ert) se possuir esse valor pela sua
B« 2 τ Ç escreve: “ A autoridade do sen ti­ p ró p ria natureza, e n ão enquanto fo r o
d o ín tim o é para aqueles que defendem sinal ou o m eio de o u tra coisa. Cf. D e ­
a realidade objetiva das qualidades pri­ nom inação.
m e ira s...” A p ercep çã o im ediata, 2? p a r­ R ad. int.: Intrinsek (Intern, Boirac).
te, § 4. Ver C onsciência (Crítica) e a dis­
“ IN T R O JE C Ç Ã O ” (D. In trojec-
cussão sobre Im ediato. As confusões que
tion), term o usado por A â E Çτ 2 « Z è para
resultam desta utilização e deste gênero
designar a operação através da qual re­
de argumento contribuíram em m uito pa­
presentam os a consciência de cada indi­
ra (além da im propriedade da palavra
víduo com o sendo interior ao seu org a­
sentido) fazer cair em descrédito a expres­
nism o, e a representação dos objetos ex­
são sen tido ín tim o.
teriores, com o um a objetivação de esta­
M as se o equívoco escondido nesta
dos internos, considerados por ilusão co­
fo rm a de linguagem está atualm ente des­
m o independentes. O põe-lhe a sua p ró ­
m ascarado, há outro que permanece cor­
pria teoria da “ experiência p u ra” que ad ­
rente. Encontra-se sobretudo nos juízos
mite um a solidariedade natural entre o su­
de apreciação pelos quais se atribui àquilo
jeito pessoal e o objeto percebido (K ritik
que é íntim o, no sentido A , quer dizer,
d er reinen E rfahrung1, 1888).
individual, a im portân cia m oral e o v a­
C f. Idealism o.
lor metafísico, que pertencem àquilo que
é íntim o no sentido B, quer dizer, essen­ “ IN T R O P A T IA ” T erm o u tilizad o
cial e fundam ental. Sem dúvida, estas p o r F Â ÃZ 2 ÇÃà p a ra tra d u z ir a Einfüh-
duas características podem freqüentemen- lung de L « ú ú è: pro je ção dos pró p rio s sen-
te encontrar-se reunidas, mas esta reunião
nad a tem de necessário, e há mesmo n e­
cessidade em m uitos casos de opor fo rte­ 1. C rítica d a experiên cia p u ra .
589 IN T R O S P E C Ç Ã O

timentos num outro ser, vivo ou não, com dual; 2? quer com vista a conhecer o es­
o qual se identifica; por exemplo, quan­ pírito individual enquanto tipo im ediata­
do nos colocam os em im aginação no lu­ mente observável da alm a hum ana em ge­
gar de um a ab ó b ad a, de um arcobotan- ral, ou mesmo de todo espírito, qualquer
te, como se nós próprios sustivéssemos os que seja ele.
pesos que eles suportam . Cf. Sim patia.
CRÍTICA
INTRO SPECÇÃ O D. Selbstbeobach­
tung·, E. In trospection; F. Introspection; Term o de origem inglesa em que p er­
I. In trospezion e. tence à linguagem com um . É mais raro
O bservação de um a consciência indi­ e mais técnico em francês; o mesmo se
vidual por si m esm a, com vista a um fim passa com o adjetivo correspondente, uti­
especulativo: 1? quer com vista a conhe­ lizado quase unicamente na expressão m é­
cer o espírito individual enquanto indivi- to d o in trospectivo.

Sobre Introspecção — Será necessário dizer que a introspecção é um a observa­


ção feita “ com vista a um fim especulativo” ? U m a observação, em si pró pria, tem
sem pre esta característica. (M. Bernès) M as tam bém observam os com vista a um fim
prático, m oral, por exemplo: fazemos o nosso exame de consciência; e isso não en tra
naquilo a que se cham a habitualm ente introspecção. (A . L .)

Sobre a Crítica — O nosso saudoso colega V íctor E gger com unicou-nos para a
prim eira redação deste artigo as seguintes observações: “ E ste term o, tendo sido ge­
ralm ente associado às críticas feitas pela escola positivista contra a possibilidade da
observação intern a (ilusões individuais; falta de generalidade; fa lta de objetividade;
auto-sugestão, etc.), tom ou na nossa linguagem um m atiz pejorativ o. P o r esta ra ­
zão, proponho que seja substituído:
1? N o sentido geral, pela palavra reflexão-,
2? N o sentido de m é to d o in tro sp ectivo pelas três expressões seguintes, que te­
riam cada um a delas a vantagem de se aplicarem apenas a um único m étodo bem
definido: a. M é to d o d o s con ceitos, ou d o s gru pos naturais, que consiste em refletir
sobre o seu pensam ento para analisar e para criticar, socráticam ente, os grupos de
fato s psíquicos qu e se encontram aí espontaneam ente form ados, e que são represen­
tados n a linguagem usual pelos term os gerais: alegria, desejo, vontade, háb ito, etc.
Este prim eiro m étodo não difere, pois, m uito da especulação filosófica pro priam en­
te dita. b. M é to d o d o s casos excepcionais, que consiste em notar, desde que eles ocor­
rem , os fatos d a consciência individuais que se desviam do tipo vulgar sensivelmente
o b astante p ara serem notados: ilusões de percepção, imagens anorm ais, sonhos, etc.
c. M é to d o d o s exem p lo s : com binação dos dois precedentes, que consiste em verifi­
car os resultados do m étodo dos conceitos pela consideração dos casos particulares
que um a anom alia m ais ou m enos m arcada to rn o u observáveis.”
A distinção destas três variedades do m étodo introspectivo foi aprovada pela maior
parte dos correspondentes. M as os term os que as designam foram geralm ente criti­
cados. “ Estes três m étodos, diz M . Bernès, são m uito distintos; m as não vejo utili­
dade em inventar term os técnicos p ara designar três m om entos de qualquer observa­
ção científica: 1? isolar dos fatos os grupos de relações estáveis, que são com o que
os centros lum inosos de onde o espírito parte para estabelecer as suas classificações
e as suas explicações; 2? descobrir nos casos isolados os desvios principais do tipo
abstrato form ado pela primeira investigação e, em seguida, aproximar pouco a pouco
IN T R O V E R S Ã O 590

Introspecção experimental D . A usfra- para d entro, atento apenas a seu eu, dis­
ge-M eth o d e (cf. Q uestion ários ); F. In­ traído, cheio de am or-pró prio, freqüen-
trospection expérim entale. tem ente m al ad aptado ao seu meio, opõe-
M étodo psicológico que consiste em se a extroversão, n a q ual o individuo es­
subm eter um sujeito a determ inados tá orien tado p a ra o m undo exterior, so­
testes* ou a experiências, m as fazendo in­ ciável, expansivo, dócil à m oda, amigo de
cidir o interesse sobre a descrição dad a to das as novidades.
por esse sujeito do seu estado de espírito B. (novo sentido criado por LE SE ÇÇE ,
d urante um a determ inada pro va, e não que o opõe sim ultaneamente a extrover­
sobre o resultado b ru to desta (resposta são* e a introspecção*). Voltar-se sobre si
dada ou reação m anifestada). N a Alem a­ mesmo não para escapar ao real, nem p a­
n h a cham a-se M é to d o d e W ürzburg, do ra observar a si próprio d a mesma m anei­
nom e da universidade onde foi m ais am ­ ra que a ciencia observa os fenómenos, mas
plam ente executado; mas B « Ç E I elevou, para captar a sua personalidade enquanto
existência*, ato superior a to da determina­
acerca desse pon to , um a reclam ação de
ção particularizada, a todo fenómeno pen­
prioridade. Ver A n n ée psych o lo g iq u e,
sado com o objeto. Introspecção e Intro­
XV, 1909, p. 8.
versão opõem-se assim como num quadro
R ad. int.: Introspekt.
os porm enores se opõem à "atm o sfera” .
O bstacle e t valeur, p. 198.
IN TRO V ERSÃ O D. Introversion; F.
Introversion. IN T U IÇ Ã O L. Intuitus, intuitio; D.
A . Em J Z Ç; (P sychologische Typen, Anschauung; E. In tuition ; F . Intuition;
Zurique, 1921), tipo de caráter voltado I. In tuizion e.

a ciência da realidade no seu to d o ; 3? experim entar as generalidades reduzindo os


casos particulares a um co njunto de traços gerais prim eiram ente definidos separada­
mente: o que h á em tudo isto que seja pró prio do m étodo de intro specção ?”
"O s term os propostos por V. Egger” , diz Van Bièm a, “ não só se arriscam a d ar lu­
gar a confusões, mas serão mesmo dificilmente referidos sem explicação com plem entar
àquilo que devem exprimir. ‘M étodos dos conceitos’ evocará a idéia de dialética por
oposição ao ‘m étodo objetivo’; ‘m étodo dos casos excepcionais’ não desperta de modo
algum a idéia de um m étodo específicamente psicológico, nem sobretudo de um mé­
todo introspectivo; a mesma coisa pode ser dita em relação à última expressão proposta.”
As mesmas observações de M entré.
Finalm ente, J. Lachelier, Ogereau, Bernès, Brunschvicg, B oisse, D rouin protes­
tam contra a substituição pela palavra reflexão, que já recebeu n a utilização filosófi­
ca que dela foi feita os sentidos m ais diversos, da p alavra in trospecção, que é técni­
ca, clara e inequívoca.
Brunschvicg, M entré, B oisse e Van B iém a observam , aliás, que o caráter desfa­
vorável desta palav ra, razão principal pela qual E; ; E 2 p ropunha que fosse ab a n ­
d onada, está atualm ente em vias de desaparecim ento: pode-se hoje dizer, sem risco
de errar, que se procede pelo m étodo introspectivo: da utilização que se fa rá deste
m étodo depende, pois, unicam ente o seu bom ou m au renom e p ara o fu turo.
Estas conclusões foram unánim em ente aprovadas.
Sobre Intuição — 1? H istórico.
R . Eucken assinalou-nos a utilização da expressão In tuitio intellectualis p or Ni-
coLAU áE CZ è τ .
591 IN T U IÇ Ã O

A . Conhecimento de um a verdade evi­ larum inter se connexiones cognoscendas,


dente, seja de que natureza fo r, que ser­ tum , denique ad reliqua om nia quae in-
ve de princípio e de fundam ento ao ra ­ tellectus praecise, vel in se ipso, vel in
ciocínio discursivo, e que se refere não só phantasia esse experitur.” DESCARTES,
às coisas, m as tam bém às suas relações: R egulae, X II.
“ Ex quibus om nibus colligitur... nullas LÃT3 E e LE « ζ Ç« U seguem neste p on­
vias hom inibus patere ad cognitionem to o uso de DE è Tτ 2 I E è ; ver Ensaios e
certam veritatis p raeter evidentem intui- N o v o s en saios , nom eadam ente livro IV,
tum et necessariam deductionem ; item cap. II, § 1. “ As verdades prim itivas que
etiam , quid sint naturae illae simplices de sabemos por intuição são de dois tipos:...
quibus in octava propositione. A tque verdades de razão ou verdades de fa to .”
perspicuum est intuitum m entis tum ad LE « ζ Ç« U , ibid. Nas M ed ita tio n es d e cog-
illas omnes extendi, tum ad necessárias il- nitione, etc., § 1, em prega cognitio intui-

G. D w elsh auvers com unicou-nos os docum entos e as observações seguintes:


“ P a ra F « T7 I E ( W issenschaftslehre , 2? introdução; Thatsachen des Bewusstseins,
O bras com pletas, t. II, p. 541) não é contrário a K ant adm itir que tem os a intuição
intelectual do eu pensante. (Cf. Crítica d a razão p u ra , B, 16-17.) N ão dar um passo,
nem executar um m ovim ento com a m ão ou com o pé sem a intu ição intelectual da
consciência de m im pró prio nestas ações. É apenas pela intuição que eu sei que ajo;
só p o r ela distingo a m inha ação e, nesta, distingo-m e do objeto pro posto à m inha
a ç ão .” 1O bras, I, p. 463. Esta intuição não se pro d u z nunca de fo rm a a ocupar só
por si a consciência, a ser um dado consciente (com o é o caso em Schelling). P a ra
Fichte, ela é inseparável de um conceito e de um a intuição sensível, ou m elhor, há
aí constantem ente síntese da intuição sensível, de conceito de objeto e de intuição
intelectual.
É necessário isolá-la por análise reflexiva para explicar a consciência. Apercebemo-
nos então que a intuição intelectual é o fundam ento da vida consciente; ela, com
efeito, faz-nos com preender que esta, em si mesma, é puro ato. O ra, um puro ato
não pode ser captado nem na intuição sensível, nem no conceito de objeto (ver p rin ­
cipalm ente I, pp. 459-468). Nos Thatsachen (II, pp. 541 ss.) parece-m e que ele dis­
tingue dois m om entos na sua dem onstração: exame da consciência sensível, exame
da consciência reflexiva (ato do espírito). O ra, tan to um a como a o utra conduzem
a pôr a intuição intelectual. U m a palavra a propósito da consciência sensível: é im ­
possível, diz Fichte, perceber um a sensação sem a situar no espaço, e eis-nos levados
a pensá-lo, a ele que consideram os com o indefinidam ente divisível. O ra, nenhum a
experiência dá esta divisibilidade. Ela vem, p o rtan to , da intuição interior que nós
possuímos da operação m ental que a funda. P o rta n to , em toda percepção exterior
encontram os a intuição intelectual. A percepção externa é apenas um a intuição de
si com o lim itação dada pelos sentidos, m as acom panhad a da consciência do poder
infinito do eu. M as este é levado a ultrapassar a intuição interior e a pôr algo de
extenso: é nisso que consiste o pensam ento.
Em resum o, “ o princípio intuitivo não pode ter a intuição da sua faculdade do
infinito sem sentir, determ inada ao mesmo tem po, a sua sensibilidade externa de um a
certa m aneira. Im ediatam ente a esta consciência do estado interior acrescenta-se o
pensam ento fundido intim am ente com esta consciência num único m om ento vivo.

1. A s p assagen s citad as fo ra m trad u zid as (p a ra o fran cês) pelo p r ó p rio D w elshauvers,


IN T U IÇ Ã O 592

tiva para designar o conhecim ento no Crítica da razão pu ra, Dial, transe., I, 1:
qual podem os pensar sim ultaneam ente “ Von den Ideen überhaupt.” 2, A 320; B
todas as noções que constituem pela sua 377. Cf. ibid., § 1, A 19; B 33. Prolegó­
com binação 0 objeto de pensam ento. menos, § 8. H τ O« Â Ã Ç , M τ Çè Â , D ç à
I E E E

B. Visão direta e imediata de um obje­ definem a intuição no mesmo sentido: “ O


to de pensamento atualm ente presente ao conhecimento do individual.”
espírito e apreendido na sua realidade in­ Este conhecimento pode ter por objeto:
dividual (no sentido A desta palavra). “ Die 1? U ma realidade transcendente. É co­
Anschauung... bezieht sich unmittelbar auf m um , depois de Kant, dar este sentido à
den Gegenstand und ist einzeln .” 1K A N T , expressão intuição intelectual (D. Intellec-

1. “ A in tu ição ... refere-se im ediatam en te ao o b ­


je to e é sin g u lar.” 2. “ D as idéias em geral.”

E assim aquilo que existia em nós pela intuição to rn a-se um corpo que se encontra
fora de nós no espaço e que é dotado de certa qualidade sensível. E, inversam ente,
o pensam ento objetivo, por outro lado, não pode produzir-se sem que um a intuição
esteja presente. P orque o pensam ento é um a espécie de objetivação, e p ara a sua
possibilidade é necessário que exista um den tro do qual se possa se p a ra r.” (II, p.
549.) Considero essencial esta passagem.
Cf. tam bém X. LÉON, L a p h ilo so p h ie de Fichte, cap. II, pp. 13 ss. Ele faz no tar
com razão que a intuição de Fichte não é aquela que K ant rejeita — quer dizer, a
intuição de um ser, de um a coisa em si — mas a intuição de um ato; e que, sem esta
intuição, já não é possível com preender a Crítica da razão pu ra.
No que diz respeito a SCHELLING:
A o adm itir p ara a intuição um a definição que se inspira na de Fichte, Schelling
faz dela um a utilização m uito mais am pla, com o se pode ver pela leitura do S istem a
d o idealism o transcendental. Eis a definição que nos dá esta últim a o b ra (tV erke,
3? vol., p. 369). C onstatan do, com Fichte, que o eu é ato puro, Schelling constata
a necessidade, p ara o reconhecer, de um m étodo diferente daquele que se refere ao
conhecim ento de objetos. O conhecim ento do eu deve ser:
“ a) Um conhecim ento absolutam ente livre, precisam ente porque todo o u tro co­
nhecimento não é livre, portanto, um conhecim ento ao qual não conduzem nem p ro ­
vas, nem raciocínios, nem conceitos em geral — por conseqüência, um a intuição.
b) Um conhecim ento cujo objeto não é in dependente do pró prio conhecim ento,
p o rtan to , um con hecim ento que ao m esm o tem po p ro d u z o seu o b je to — um a intui­
ção que é produção livre e na qual aquilo que produz e o que é produzido são idênticos.
U m a tal intuição será cha m ada intuição intelectual, por oposição à intuição sen­
sível, que não aparece com o p ro d u to ra do seu objeto e na qual, por conseqüência,
o fato de aplicar a intuição é diferente daquilo a que esta intuição se refere.
À intuição intelectual corresponde o eu, porque é apenas p elo con hecim ento do
eu p o r si m esm o q u e o p ró p rio e u com o o b je to é p o s to .”

“ A intuição intelectual é o órgão de todo pensam ento transcendental. P orq ue


o pensam ento transcendental consiste em dar-se por liberdade com o objeto aquilo
que, a não ser assim, não é o b je to .”
593 IN T U IÇ Ã O

tuelle Anschauung): “ Das ist eine solche, tem , pelo contrário, que possuímos intui­
durch die selbst das Dasein des O bjekts ções intelectuais; mas põem sob esta ex­
der A nschauung gegeben wird, und die, pressão idéias diferentes da de K ant, ain­
so viel wir einsehen, nur dem Urwesen zu­ da que dela derivadas, e diferentes entre
komm en k an n .” 1Crítica da razão pu ra, si: ver adiante as observações.
Estética transcendental, observações ge­ 2? Objetos que nos são fornecidos pe­
rais, B 72. F« T7 I E e ST7 E Â Â « Ç; adm i­ la sensibilidade quer a p rio ri, se se adm i­
tir com K τ Ç que estes existem (reine
I

A nschauung, intuição pu ra ), quer a p o s ­


1. " Q u e r d izer, u m a in tu iç ã o tal que d ê a p r ó ­
teriori (em pirische A nschauung, intuição
p ria existência d o seu o b je to , e q u e, ta n to q u a n to o
p o d em o s co m p reen d er, só p o d e perten cer a o Ser su­ em pírica). Cf. Crít. r. p u ra , Est. transe.,
p re m o .” § 1.

“ O pensam ento transcendental deve p o rtan to ser acom panhado constantem ente
de intuição intelectual.” III, p. 369.
Eis um a o u tra passagem em que a intu ição intelectual é ap oiada por dados mais
particularm ente psicológicos. F oram extraídos da 8.a C arta filo s, so b re o d o g m a tis­
m o e o criticism o ( W erke , I, p p . 316 ss.).
“ Possuím os um poder m isterioso e extraordinário de nos retirarm os das m odifi­
cações do tem po, no nosso eu mais íntim o, despojado de tudo que vem do exterior,
e, aí, de ter em nós a intuição d a eternidade sob a fo rm a daq uilo que não m uda.
Esta intuição é a experiência m ais íntim a e m ais p ró p ria de nós p róprio s, da qual
apenas depende tu do o que sabem os e crem os de um m undo supra-sensível. Desde
o princípio esta intuição nos convence de que existe algum a coisa, no sentido p ró ­
prio desta p alavra, enquanto que tu d o aquilo a que atribuím os com um ente o term o
existir é apenas aparência. Distingue-se de to d a a intu ição sensível, n a m edida em
que é produzid a exclusivamente p o r liberdade e é estranha e desconhecida a to do
o indivíduo cu ja liberdade, dom inada pela pressão do poder das coisas, mal basta
para produzir um a consciência. C ontudo, existem tam bém para aqueles que não pos­
suem esta liberdade da intuição de si aproxim ações desta intuição, experiências m e­
diatas pelas quais ela faz pressentir a sua presença. Existe um certo sentido íntim o
do qual não possuím os plen a consciência e que se tende em vão a ver desenvolver-se.
Jacobi descreveu-o. E existe tam bém um a estética acabada (sendo a palavra tom ada
no seu antigo sentido) que faz executar atos em píricos que são explicáveis apenas
com o im itação deste ato intelectual, e n ão seriam absolutam ente compreensíveis se
não tivéssemos, para falar com P latão, visto um dia o modelo num m undo intelectual.

Sem dúvida que o nosso saber deve sair da experiência; mas toda experiência objeti­
va é condicionada por um a outra, por um a experiência im ediata, no sentido mais estri­
to da palavra, saindo de si própria e independente de toda causalidade objetiva.

E sta intuição intelectual aparece q u ando deixam os de ser objeto para nós m es­
m os e q uando, voltados p a ra si m esm o, o eu que percebe é idêntico ao eu percebido.
N este m om ento d a intuição desaparecem p a ra nós tem po e duração; não estamos
já no tem po, m as o tem po, ou m elhor, a eternidade p u ra e absoluta está em nós.
N ão estam os perdidos n a intuição do m undo objetivo, m as este está perdido na nos­
sa in tu iç ão .” I, pp. 318-319.
IN T U IÇ Ã O 5V4

Os nossos próprios fenômenos psíqui­ zuges, u. s. w .” 1 D ie W elt, I, § 12.


cos podem igualmente ser ditos, neste sen­ Aplica-se mesmo às propriedades dos n ú­
tido, objetos de intuição. meros, das figuras de geometria, enquan­
C. T odo conhecim ento dado de umtoa são captadas de um a só vez e sem ra­
só vez e sem conceitos. S T Ã ú Ç τ Z 2
7 E ciocínio. \lb id ., § 15.) Existe um a “ intui­
7 E

tom a a palavra neste sentido m uito am ­ ção intelectual” e até, p a ra falar a ver­
plo e faz dela um a am pla utilização. A s­ dade, “ to d a intuição é intelectual” , quer
sim entendida, a intuição não nos dá ape­ dizer, “ põe-nos em presença do real” .
nas as coisas, m as tam bém as suas rela­
ções: “ D er V erstand allein erkennt an s­ I . “ S ó o en ten d im en to co n h ece in tu itiv a m en te,
chaulich unm ittelbar und volkommen die d e u m a f o rm a im e d ia ta e p e rfe ita , a m a n e ira de ag ir
A rt des W irkens eines H ebels, Flaschen- de u m a a lav an ca , d e u m a r o ld a n a , e tc .”

2? S o b re o sen tid o religioso d a p a la vra intuição.


D w elsh auvers acrescenta por o u tro lado:
“ Não seria útil acrescentar, aos sentidos da palavra já distinguidos no texto, o sen­
tido de intuição religiosa ? É o sentim ento da sistematização racional inconsciente dos
estados místicos (cf. D Â τ T 2 Ã « 7 , ‘S anta Teresa’, Bulletin da Sociedade de Filosofia.
E

Sessão de 26 de outubro de 1905). Trata-se efetivamente aqui de um a intuição. As im a­


gens de que o místico se serve para traduzir o seu êxtase são apenas simbólicas e não
traduzem o sentimento ‘inefável’ da união do espírito com Deus. P a ra se conseguir is­
so, é preciso ir além do conhecimento de objetos e recorrer a outros meios diferentes
dos sentidos e da razão. Com parou-se este estado ao estado hipnótico ou à alucinação
devido ao aniquilamento da vontade individual, mas parece-me ser preferível dizer, com
Delacroix, que se trata do resultado de um trabalho de coordenação m uito profundo
que se opera, sem que ele mesmo o saiba, no espírito do místico; trata-se de um estado
consciente m uito complexo e o místico procura realizar estados espirituais em que o
seu pensamento se concentra cada vez mais para se aproxim ar da unidade perfeita. Es­
ta atitude pode ser cham ada intuição enquanto procura a unidade espiritual mais dire­
tamente e mais emotivamente do que o conhecimento racional consciente de si próprio.”
Esta proposta, por falta de tem po, não pôde ser examinada na sessão. Ela teria sido
m uito discutida, a julgar por algumas conversas particulares. N a ausência desta discus­
são, pareceu ser conform e ao espírito deste trabalho inseri-la neste lugar, indicando a
principal objeção que levanta. Q uando se utiliza este term o ao falar da contemplação
mística, quer-se dizer o seguinte: ora que o místico possua verdadeiramente, neste esta­
do, o conhecimento real, objetivo, o contato im ediato e atual de um ser superior; é
tom ado então no sentido B; ora que, e é esse o caso mais frequente, ele creia tê-lo, que
tudo se passe como se, para ele, o tivesse; e este é ainda o sentido B, com um a elipse;
ora, finalmente, se entende por isso que ele atinge esse grau de evidência, de clareza
perfeita, de satisfação intelectual absoluta que constitui a intuição cartesiana, no senti­
do A . Talvez algumas vezes tam bém se pretenda dizer simultaneamente tudo isso, acen­
tuando mais ou menos determ inadas características. De qualquer form a, não haveria
aí nenhum sentido especial. Dizer, aliás, “ que se tra ta efetivamente de um a intuição”
é o mesmo que dizer que o fato em questão entra num a definição geral da intuição.
Esta definição, se nos reportarm os ao fim desta nota, seria sem dúvida tom ada no fato
“ de procurar a unidade espiritual mais diretamente e mais emotivamente do que o co­
nhecimento racional consciente de si pró prio ” . É esse aproxim adam ente o sentido m ui­
to amplo que dá Schopenhauer a esta palavra, ao aplicá-la a todo pensamento que não
é discursivo. Mas este sentido foi geralmente tido por demasiado indeterm inado (ver
as observações mais adiante). (A. L .)
595 IN T U IÇ Ã O

(Ib id ., § 4.) Tem a sua fo rm a perfeita na próprios, por oposição ao conhecimento


contem plação estética, onde aquele que discursivo e analítico que no-los faz conhe­
contempla esquece m omentaneamente tu­ cer do exterior. “ Cham a-se intuição a es­
do aquilo que constitui a sua individuali­ ta espécie de sim patia intelectual pela qual
dade, e só age com o um puro sujeito cog­ nos transportam os para o interior de um
noscente, ao m esm o tem po que capta a objeto p a ra coincidir co m aquilo que nele
natureza metafísica do objeto contem pla­ existe de único e, por conseqüência, de
do, quer dizer, a sua Idéia. (Ib id ., I ll, § inexprimível.” BE 2 ; è ÃÇ , “ Introdução à
34. Suplem entos, cap. VII e X X X .) metafísica” , Rev. d e métaphysique, janeiro
D. Conhecim ento sui generis, com pa­ 1903. Cf. L ’évolution créatrice, cap. II,
de
rável ao in stin to e ao senso artístico, que particularm ente as páginas 192-193.
nos revela aquilo que os seres são em si E . Segurança e rapidez do juízo; adi-

3? S obre a crítica d a p a la v ra intuição.


Subscrevo totalm ente as vossas conclusões. A idéia da intuição com o algo qu e
d á im ediatam en te o real seja de que natureza este fo r, p o r oposição ao conceito, es­
pécie de substituto mental do real, que pretende corresponder-lhe, mas que pode m uito
bem não lhe corresponder — esta idéia (inteiram ente devida, parece-m e, a K ant) é
de extrem a im portância para a filosofia e merece que se reserve exclusivamente para
a exprim ir a palavra intuição. (J. Lachelier)
Creio que a palavra intuição, m etáfora to m ad a ao sentido da visão, deveria ser
banida de um a filosofia rigorosa ou só deveria ser utilizada com definição precisa.
N o sentido de visão im ediata de um o b je to , não tem os, para falar verdade, qualquer
intuição. Tem os sensações e apetições, estados de consciência e u m a consciência ge­
ral da nossa existência própria com o sujeito que pensa, que sente e que age. T odo
o resto é inferência mais ou m enos rápid a, tendo da intuição apenas a aparência.
A pretensa “ intuição” do nosso livre-arbítrio, por exem plo, ou ainda o “ sentim ento
im ediato” do nosso livre-arbítrio é um a aplicação da categoria de causalidade, não
vendo todas as causas efetivas do nosso ato, inferim os instintivam ente que ele não
tem causa ou que tem por causa apenas nosso pró prio querer. D a m esma form a,
a intuição da m ud ança in terna, do devir, é, na m inha opinião, um a consciência de
ações ou de paixões que se prolongam na recordação e se dispõem na linha do tem ­
po. H á aí consciência de atividade, consciência dinâm ica e não estática, com o qual­
quer verdadeira consciência; m as não h á, se não me engano, qualquer intuição o b je­
tiva. A m inha realidade pró pria, en quanto sinto e ajo, é transparente p ara si m esma
e im ediata; to do o resto é m ediato. Com mais forte razão não podem os ter a intui­
ção de um a realidade exterior a nós ou superior a nós. N ão em preguem os, pois, a
palavra intuição senão a título de m etáfora. (A, Fouiléé)
4? Sobre a relação entre o in tu itivo e o discursivo.
N a quarta regra do seu m étodo, Descartes, com o faz ainda mais explícitam ente
nas R egulae, prescreve enum erações e os exercícios que tornam o pensam ento cada
vez mais ágil, ao ponto de aquilo que era prim eiram ente sucessivo e discursivo possa
finalm ente ser abarcado num a só visão, sim plicit m en tis intuitu. É do ponto de vista
do pensam ento científico e, se assim se pode dizer, quantitativo, que ele fala dessa
fo rm a. M as na ordem qualitativa, a com petência ad quirida do con naisseur não será
um a intuição laboriosa e lentam ente obtida? A intuição não precede ou não exclui,
pois, sempre a reflexão discursiva e o pensam ento analítico; pode tam bém segui-lo
e recom pensá-lo. (M. Blondel)
Bergson aprovou esta observação. A intuição (no sentido em que ele a entende)
é sem dúvida um a operação original do espírito, irredutível ao conhecim ento frag-
IN T U IC IO N IS M O 5%

vinhação instintiva (dos fatos ou das re­ ta ... A faculdade que nos ensina a ver é a
lações abstratas). “ Esse sentim ento, es­ intuição; sem ela a geom etria seria como
sa intuição da ordem m atem ática que nos um escritor que conhece profundam ente a
faz adivinhar harm onias e relações escon­ gramática, mas sem idéias.” P ëÇTτ 2 0 ,
d id a s...” P ë ÇTτ 2 0 , “ A invenção m ate­ Science et m éthode, p. 177.
m ática” , em Science et m éth o d e, p. 47. Sendo o sentido B o mais original des­
F. ta
Aquilo que é objeto da intuição nos palavra, aquele que não pode ser subs­
diferentes sentidos acim a definidos. tituído por nenhum outro (visão imediata
e atual, apresentando o mesmo caráter que
C R ÍT IC A o conhecimento sensível), propom os que
As duas fontes do uso atual da pala­ ela seja tom ada apenas nesta acepção; e,
vra intuição, cartesiana e kantiana, intro­ nos outros casos, que se utilizem tanto
duzem na conotação desta palavra duas quanto possível dos termos evidência, ins­
tendências que se combinam ou se disso­ tinto, adivinhação, etc.
ciam consoante os casos: a prim eira é a Rad. in t .: B. Intuic; D . (no sentido cor­
idéia de evidência, de plena clareza intelec­ respondente) Intuicaj.
tual (cf. videre, intueri ); a segunda é a de INTUICIONISM O D. Intuitionismus;
apresentação concreta, de realidade atual­ E. Intuitionism ; Intuitionalism ; F. Intui-
mente dada. Enquanto a primeira não con­ tionisme, intuitionnisme ; I. Intuizionismo.
tém nem adm ite qualquer inferência, a se­ A. Sentido geral: doutrina que conce­
gunda não se opõe necessariamente ao uso de à intuição, sobretudo no sentido B, um
do raciocínio: existe um m odo de aplica­ lugar de primeira ordem no conhecimento.
ção dos princípios inseparavelmente incor­ B. Especialmente, diz-se na Inglaterra
porados às coisas sobre as quais se racio­ e na história da filosofia inglesa das dou­
cina (aquilo a que ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 chama trinas que admitem: 1? que o conhecimen­
Verstand) e que constitui um raciocínio in­ to repousa sobre a intuição, no sentido A ,
tuitivo; por exemplo, a regulação de um de verdades racionais e superiores à expe­
aparelho, a dem onstração dada por M ach riência; 2? que a existência de um a reali­
do teorem a da hipotenusa, a dem onstra­ dade m aterial é diretamente conhecida, e
ção taquim étrica do mesmo teorem a, etc. não é nem inferida nem construída. (Es­
P or outro lado, e pelas mesmas razões, cola Escocesa, H am ilton e os seus suces­
a palavra intuição serve frequentem ente sores, Ecléticos franceses.) “ Intuitionalism
para designar ao mesmo tem po a visão is the basis o f the rational School in Epis­
concreta das coisas (enquanto se opõe à temology and in Ethics, as opposed to sen­
abstração) e a penetração com a qual se sationalism and utilitarianism .” 1F Â O« Ç; E

sente ou adivinha aquilo que nelas não é


aparente. Esta fusão do sentido B e E é par­
!. “ O intuicionism o é a base d a escota racio nal
ticularm ente freqüente quando se tra ta de (quer dizer, racionalista, n o sen tid o B) na teo ria d o co­
objetos geométricos: “ É pela lógica que se nhecim ento e n a m o ral, e n q u a n to se o p õ e a o sensacio-
dem onstra, é pela intuição que se inven­ nism o e a o utilitarismo.**

m entário e exterior pelo qual a nossa inteligência, na sua utilização vulgar, tom a do
exterior um a série de visões das coisas; m as não se deve desconhecer que esta m aneira
de captar o real não nos é natural, no estado atual do nosso pensamento; para obtê-la,
devemos pois, freqüentem ente, prepararm o-nos através de urna lenta e conscienciosa
análise, familiarizar-nos com todos os documentos relativos ao objeto do nosso estu­
do. Esta preparação é particularm ente necessária quando se tra ta de realidades gerais
e complexas, tais como a vida, o instinto, a evolução: um conhecimento científico e
preciso dos fatos é a condição prévia da intuição metafísica que penetra o seu principio.
597 TNVOLUÇAO

e Cτ Â áE 2 ç ÃÃá (1894), p. 216, v. Intui­ 1. IN V ERSÃ O E. Inversión; F. In­


tion. Cf. J. S. M« Â Â, E xam ination o f versión.
H a m ilto n ’s P h ilo so p h y, cap. X IV , § 1. L ó ; « T τ . In ferên cia im ediata pela
Serve-se o au to r freqüentem ente, neste qual se conclui de um a proposição dada
sentido, d a expressão The in tu itive (invertende) um a outra proposição (inver­
s c h o o l1 (S). sa ) tendo por sujeito o co ntraditó rio do
sujeito primitivo. A e E são as únicas pro­
IN TUITIV O D. Intuitiv, anschaulich;
posições que fornecem os inversos.
E . In tuitive; F. In tuitif; I. In tu itivo.
Este term o foi criado por KE à ÇE è ;
A . Q ue é objeto de intuição em todos
ver F orm al L o g ic, 5Í ed., p. 139. É utili­
os sentidos desta palav ra. “ V erdade in­
zado com certas reservas p o r vários lógi­
tu itiv a.”
Cf. Intuição*, Crítica. cos contem porâneos.
R ad. int.: Inversig.
B. Que constitui um a intuição, ou que
é acom panhad o de intuição, ao falar das 2. IN V ERSÃ O D . Inversión; E . In ­
operações do espírito. “ Conhecimento in­ versión; F. Inversión; I. Inversione.
tu itiv o .” Cf. In tuição, A. P è « TÃÂ Ã; « τ . A nom alia que consiste
Chama-se específicamente M étodo in­ no fato de um hom em ter instintos sexuais
tu itivo , em pedagogia, àquele que se di­ femininos, ou um a m ulher instintos m as­
rige aos sentidos, de preferência à m em ó­ culinos. Os sujeitos atingidos por esta per­
ria e à abstração. versão são cham ados invertidos.
C . Q ue é d o tad o de in tuição, no sen­ R ad. int.: Inversing.
tido C. Um espírito in tu itivo , oposto a IN V O LU N TÁ RIO Ver Voluntário.
um espírito ded u tivo , é aquele que vê sin­
teticam ente e que adivinha, em vez de ra ­ “ IN V O LU Ç Ã O ” D . E. Involution;
ciocinar por análise e abstração. F. In volu tion ; I. In volu zion e.
R ad. int.: A . Intuic; B. Intuiciv; C. A. E sta palavra aplica-se em inglês,
Intuicem . desde m eados do século X IX , com o o
oposto de "E volução” , m as sobretudo no
INV EN ÇÃ O D. Erfindung; E. A . B. sentido de regressão das estruturas dife­
C. Invention; C. Contrivance; F. Inven­
renciadas, de degenerescência. É defini­
tion; I. Invenzione.
da neste sentido por M Z 2 2 τ à : “ The re­
A . (sentido prim itivo). D escoberta de trograde change which occurs in the body
um a coisa escondida. Este sentido só se
in old age, or in some organ when its per-
conservou em algum as expressões teoló­
m anent o r tem porary P urpose has been
gicas, “ A invenção da C ru z” , e jurídicas,
fulfilled .” 2
“ O inventor de um teso u ro ” .
B. Transform ação ou sequência de
B. (sentido atual). P rodução de um a
transformações de sentido contrário àque­
nova síntese de idéias e, especialm ente,
las que constituem um a “ evolução” no
com binação nova de meios com vista a
sentido D: passagem do diverso ao mesmo,
um fim. Ver P τ Z Â 7 τ Ç , Psicologia d a in­
assimilação dos espíritos entre si, genera­
venção, 1901. Invenção, neste sentido,
lização, universalização, etc.; nos fenôme­
opõe-se a descoberta, que se diz apenas
nos físicos, igualização da energia e aumen­
daquilo que preexistia ao conhecim ento
to da simetria. Cf. E volução, Crítica; e A.
novo que de tal se adquire, quer m aterial­
Lτ Â τ Çá E , A s ilu sõ es evo lu cio n ista s
m ente, quer a títu lo de conseqüência ne­
(1930).
cessária de um a proposição já conhecida.
C. A quilo que foi inventado (S).
Rad. int.: B. Invent; C. Inventur. 2. “ A m u d an ça retró g rad a que acontece n o c o r­
p o d u ra n te a velhice, ou em qu alq u er órg ão que aca­
bou de cu m p rir a su a fu nção, perm an en te ou tem p o ­
1. A e sc o la in tu iti v a . rá ria .”
IPSEIDADE 598

IP S E ID A D E Ver E cceidade. B. Mais especialmente, em ME à E 2 -


è ÃÇ , aquilo que, no objeto do nosso co­
IRASCÍVEL (Apetite) Ver Concupis- nhecim ento, ultrapassa o nosso intelecto,
cível. M anifesta-se, diz BOSSUET, nas
dirigindo-se todo o esforço deste para des­
paixões (no sentido A) “ que supõem não cobrir o idêntico, e su pondo o conteúdo
só um objeto m as algum a dificuldade a do nosso pensam ento um a diversidade
su perar ou algum esforço a fazer” . BOS- d ad a, sem a qual n ão existe real. O “ ir­
SUET, D o conh ecim en to d e D eu s, I, 6. racional” é assim um lim ite perm anente
São a audácia, o tem or, a esperança, o à explicação e à inteligibilidade. Ver Iden­
desespero e a cólera. tid a d e e realidade, cap. IX: “ O irracio­
n al.” Cf. acerca das diversas formas deste
IR O N IA G . e tg co m a : D. Ironie; E.
Irony; F. Ironie', I. Ironia.
irracional D a explicação nas ciências, li­
v ro I, cap. V I, e livro IV , cap.
A . Sentido prim itivo: ação de in ter­
X V I-X V III.
rogar simulando ignorância à m aneira de
N ú m ero irracional, ver Racional.
Sócrates: “ 'H eíajõvia e lç o v e ía L (úxçá-
R ad. int.: N eracional.
Tovs.” P Â τ I 1Ã , R epú blica, I, 337 A.
Diz-se m ais freqüentem ente neste senti­ IRREV ERSÍV EL Ver R eversível.
do “ ironia socrática” .
B. No sentido m oderno e corrente, es­ ISO M O RFISM O Ver Suplem ento.
pécie de antífrase: figura de retórica que ISO N O M IA D. Isonom ie; E. Iso-
consiste em fazer entender aquilo que se n om y, F. Isonomie-, I. Isonom ia.
pretende dizer, dizendo precisam ente o Igualdade perante a lei; uniform idade
contrário, com um a intenção de zom bar d a legislação num país. “ Explica-se, por
ou de censurar. considerações análogas, a influência que
a extensão dos Estados pode exercer sobre
NOTA
a isonom ia... Porque ela nos impede de os
Encontra-se na Idade M édia um sen­ conhecer, individualmente, a grande quan­
tido hoje em desuso: a ação de se depre­ tidade dos membros das sociedades impele-
ciar falsam ente, seja para se fazer valer nos a tratá-los igualm ente.” BÃZ ; Â E I ,
p o r contraste, seja para enganar os o u ­ L es idées égalitaires, p. 120.
tros e tirar proveito disso. S. Tom ás R ad. int.: Izonom i.
considera-a com o um a falta da qual su­
blinha a gravidade. Ver SE 2 I « Â Â τ Ç; E è , ISÓ TR O PO D. Isotropisch; E. Iso-
L a p h ilo so p h ie m orale de Saint Thom as, tropic; F. Isotrope-, I. Iso tro p o .
pp. 315-316. Este sentido liga-se talvez Que apresenta as mesmas proprieda­
àquilo que CITE 2 Ã dizia da ironia socrá­ des em todas as direções; p o r exemplo,
tica, A c a d ê m ., II, 15. o espaço euclidiano. Um cristal que age
diferentem ente à luz consoante a direção
IR R A C IO N A L D. A . V ernunftlos ; em que esta o atinge é dito, pelo c o n trá­
no sentido m atem ático, Irra tio n a l ; E. Ir- rio, an isó tro p o . U m meio pode ser isó­
rational·, F. Irrationnel·, I. Irrazionale. tro p o relativam ente a certas ações, e não
A. E stranho ou até co ntrário à a outras.
razão*, particularmente no sentido B e H: Não confundir esta palavra com o ter­
“ As crenças irracionais; um a con duta ir­ m o isó to p o , em quím ica.
ra cional.” R ad. int.: Izotrop.
J

JO G O D . Spiel; E . A. Play; B. G a­ tido E , Trial); F. Jugem ent; I. G iu dizio.


me; F. Jeu; I. G iu oco. I. P è « TÃÂ Ã; « τ .
A. Dispêndio de atividade física ou A . Decisão m ental pela qual retem os
mental que não tem um objetivo imedia­ de um a m aneira refletida o conteúdo de
tam ente útil, nem sequer definido, e cuja um a asserção* e a pom os a títu lo de
razão de ser, para a consciência daquele verdade.
que a ele se entrega, é o próprio prazer que B. O peração que consiste em elab o­
aí encontra. ra r um a opinião a p artir d a qual regula­
B. O rganização desta atividade sob mos a conduta, nos casos em que não se
um sistema de regras que definem um su­ pode ter um conhecim ento certo: “ N ão
cesso ou um fracasso, um ganho e um a ter um ju ízo c e rto .” LÃT3 E tom a a p a ­
perda (S). lavra exclusivamente nesse sentido; ver
R ad. int.: Lud. D o en tendim en to hum ano, livro IV, cap.
JU ÍZ O D. A . B. D . F. Urteil; C. Vers- X IV . Cf. LE « ζ Ç« U , N o v o s ensaios, ibid.
ta n d ; E . G erich t ; E. Judgem ent (no sen­ C. Q ualidade que consiste em bem jul-

Sobre Jogo — Alguns correspondentes pediram -nos p ara m encionar aqui a te o ­


ria estética que liga a arte ao jogo. Recordam os que o princípio deste vocabulário
é definir e criticar o sentido dos term os, por conseqüência, de reduzir as exposições
teóricas àquilo que é necessário para estabelecer esse sentido, ou para o discutir. (A. L .)
Sobre a definição de jo g o , na sua relação com a atividade estética, ver RE ÇÃZ -
â« E 2 , Ciência da m oral, cap. X L, ad fin e m ; R « ζ ÃI , P sicologia d o s sen tim en tos, se­
gunda parte, cap. X; Lτ Â Ã , A arte e a vida social, cap. II e conclusão.

Sobre Juízo — E sta palav ra, en quanto designa não um ato, mas um a faculdade,
só se em prega vulgarm ente na F rança (jugem ent ) no sentido C; contudo, foi utiliza­
da por Bτ 2 Ç« (que, neste caso, a escreve com um J m aiúsculo) para traduzir
U rtheilskraft, na sua trad ução da Crítica do ju íz o de K ant (1846). A contece muitas
vezes, depois disso, que a palavra seja em pregada nessa acepção m uito especial. O
juízo, nesse sentido, é a faculdade de pensar o “ particu lar” (das Besondere) como
contido no universal, e a esse título o Juízo pode ser, quer determ inante* quer
reflexionante*. E sta segunda função exige, pensa ele, a intervenção d a idéia de fina­
lidade, que é o objeto pró prio da K ritik d er U rtheilskraft, dividida em “ Crítica do
juízo estético” e “ Crítica do juízo teleológico” .
Sobre os diferentes sentidos da palavra Ju ízo, ver o “ projeto de artig o ” de Ch.
Serrus na R evu e d e synth èse, to m o X II (1936), pp. 217-224.
A definição psicológica do juízo (form ulada em prim eiro lugar a p artir do citado
artigo de H 2E Eá« Ç; ) foi refo rm ulada a p artir das observações de Lachelier e de
Brunschvlcg, D rouin, Pécaut, Van B ièm a e a p artir da discussão que teve lugar na
sessão de 1? de julho de 1909.
O sentido D foi adm itido sem contestação; mas observou-se que constituía uma
generalização recente, e que certos autores opõem o juízo (propriam ente dito) à as­
sunção pura e simples.
JUIZO 600

gar acerca das coisas que n ão são objeto III. D « 2 « Ã .


E I

de uma percepção imediata ou de um a de­ E. A ção de julgar, audição d a causa.


m onstração rigorosa. “ Ter juízo ” ; “ Um F. Decisão judiciária.
hom em sem ju íz o .”
C R ÍT IC A
II. L ó ; « T τ
D. O juízo lógico, no sentido mais ge­ 1. A operação lógica definida em D,
ral, é o fato de se pôr (quer a títu lo de quando se inclina a predicar firm em ente
verdade firm e, quer a título provisório, um term o de um outro , aproxima-se m ui­
fictício, hipotético, etc.) a existência de to da operação psicológica tal com o é de­
um a relação* determ inada entre dois ou finida em A. C o n tu d o , é necessário que
vários term os. C ópula*. se adiantem duas reservas:
Podem os igualm ente defini-lo da se­ a. A quilo de que se afirm a ou se nega
guinte form a: o ato de pensam ento que algum a coisa, num juízo no sentido psi­
pode ser dito verdadeiro ou falso. “ Έ σ τ ί cológico, pode ser, n ão um sujeito lógi­
δ ε λ ό γ ο ? ... α π ο φ α ν τ ι κ ό ς ... ε υ ώ rò co determ inado, m as o conjunto das per­
cepções ou dos sentim entos daquele que
ά λ η θ ε ύ ε ι ν η φ ε ύ δ ε σ θ ο α υ π ά ρ χ ε ι .” U m a
form ula esse juízo. É esse o caso das p ro ­
oração, p o r exemplo, n ão é um juízo,
posições impessoais (D. S u b jek tlo se S ä t­
porque não é verdadeira nem falsa. A 2 « è ­
ze): “ Chove. Eis aí um relâm pago.” C f.
I ó
I E Â è
E , Π ί ρ ϊ ε ρ μ η ν ε ί α ς , cap. IV, 17a2.
H Ó E E á « Ç ; , “ A base psicológica dos ju í­
Sendo a relação mais usualm ente con­ zos lógicos” , R evu e ph ilosoph ique, 1901,
siderada a da predicação (D ou £ ) , que tom o II. Pelo c o ntrário, no juízo form al
não é reversível, distinguimos praticam en­ de predicação, o sujeito é sempre quer um
te: IP um term o de que se p arte , que se indivíduo, quer um co n junto de indiví­
cham a sujeito*·, 2? um term o geralm cnte duos, quer um conceito definido consi­
complexo que se afirm a ou se nega do su­ derado n a sua com preensão.
jeito; chama-se predicado*. De onde a de­ b. O predicado, no prim eiro caso, es­
finição dada po r A 2 « è ó Â è da propo­
I I E E
tá necessariam ente com preendido no ato
sição, enquanto enunciado do juízo: psicológico integral que funda o juízo
‘‘Π ,ρ ό τ α σ ι ς ..., ε σ τ 'ι λ ό γ ο ? κ α τ α φ α τ ι κ ό ς η (mesmo se a decomposição desse ato, que
α π ο φ α τ ι κ ό ς τ ί ν ο ς κ α τ ά τ ί ν ο ς .” P rim ei­ to rn a possível a distinção do sujeito e do
ro s analíticos, I, 1, 24Μ 6. predicado, se faz, com o norm alm ente
Juízo analítico, sin tético, etc.: juízo acontece, por com paração com um o u ­
de inclusão, de predicação·, juízo de ine­ tro ato integral do espírito em que falta
rência e de relação, etc.: ver esses termos. esse mesmo elemento). Pelo contrário, no

Podemos incluir este sentido amplo na fórmula de Aristóteles, que parece aplicar-se
antes apenas ao caso em que o juízo constitui um a afirm ação ou um a negação f ir ­
mes: basta entender po r isso que os juízos adm item ainda, por natureza, a caracte­
rística de poderem ser verdadeiros ou falsos, mesmo quando são declarados não ser
atualm ente nem um a coisa nem outra: por exemplo, no caso em que se põe p or “ hi­
pótese” que duas retas X, Y se cruzam ; ou quando se adm ite “ por convenção” que
um núm ero colocado à esquerda de um o u tro designa as unidades dez vezes m aiores,
etc.; com efeito, essas mesmas proposições não são m enos suscetíveis, pela sua fo r­
m a, de serem afirm adas ou negadas (o que não oco rreria com um a im agem, um sen­
tim ento , um desejo, etc.); e a seqüência do raciocínio ou das aplicações tem mesmo
m uitas vezes por resultado conduzir-nos, em definitivo, a conferir-lhes esse caráter
de verdade ou de falsidade firm e s que é o essencial do juízo propriam ente dito. (A.
L .) V e r Lexis.
601 JU STIÇA

juízo lógico, este elemento é sempre con­ cujo sujeito é o pró prio indivíduo, e não
cebido como tendo um a preexistência ló­ mesmo a classe (de extensão 1) que con­
gica independente. M esm o no juízo ana­ tém este indivíduo.
lítico, o predicado deve ter um sentido R ad. int.: Judik.
próprio que possa ser considerado em pri­
m eiro lugar em si m esm o, fo ra da sua re ­ Juízo de valor Ver A preciação, N o r­
lação com o sujeito. m ativo, Valor.
2. Definiu-se freqüentem ente o juízo “ Juízo v irtual” N o T ratado d e lógi­
lógico da seguinte form a: a afirm ação de
ca de E. G Ã ζ Â Ã : 1? a proposição sem
I

um a relação de conveniência ou de incon­


asserção, ou lexis*; 2? o conceito, en­
veniência entre os dois conceitos. Esta
quanto função* proposicional. Ver em
fórm ula encontra-se n a L ógica de P Ã 2 - I

R Ã à τ Â , II, cap. III; e Locke define da


particular cap. II, § 49, 59, 60.
m esm a form a o conhecim ento: o fato de JU S T IÇ A D. G erechtigkeit; E. Jus­
o espírito perceber certam ente a conve­ tice·, F. Justice·, I. G iusticia.
niência ou a inconveniência en tre duas A . Característica daquilo que é ju sto
idéias {Do en tendim en to hum ano, livro
no sentido A ; este term o é empregado
IV, cap. V e cap. XIV).
m uito pro priam ente, quer ao falar da
Essas expressões foram já criticadas
eqüidade, quer ao falar da legalidade.
por L « ζ Ç« Z (N o v o s ensaios, IV, 5):
E

D ir-se-á, por exem plo, “ que a justiça es­


“ D ois ovos são convenientes e dois ini­
migos não são convenientes” , diz ele; trita é freqüentem ente in ju sta” .
“ trata-se aqui de um a m aneira de convir B. Característica daquilo que é justo,
ou de não convir m uito partic u la r.” P o r quer no sentido C, quer no sentido D.
outro lado, é demasiado estreito reduzir o U m a das quatro virtu des cardeais* geral­
juízo a um a relação entre conceitos, o que m ente adm itidas na filosofia grega (ver
é rigorosamente verdadeiro apenas no que P Â τ I 3Ã , R epú blica, livro I; A 2 « è I ó I E ­
se refere à implicação das compreensões; Â E è , É tica a N icô m a co , livro V).

convém em particular reservar a questão Justiça co m u tativa e ju stiça distribu ­


de saber se não existem juízos singulares, tiv a , ver C o m u ta tiva (1).

Sobre Justiça — “ Jus era originalm ente u m a p alavra cujo sentido era religioso;
este sentido subsistiu em ju ra re. A largado ao sentido laico, depois restringido a esse
sentido, ju s deu ju stu s, ju stitia , injuria·, e por com posição ju d ica re, ju d e x , dizer o
direito, aquele que diz o direito ou o ju sto. Tem os aqui, associado a ju s , a raiz que
se encontra em Òíxy. C urioso encontro, porq ue a palavra latina j u z trad u z o grego
bíxrj.
“ A raiz òtx ou ò tix , que existe tam bém em latim e em sánscrito, deu em L . dicere
e em G . òeíxvvfu, m ostrar; ôíxij, donde, através de sufixos, S íxaartjs, Síxcaos òi-
xawovvTi (segundo B 2 é τ Â , D icion ário etim o ló g ico latino- B τ « Â Â à , R a ízes gregas e
latinas). A dm irável exemplo da o ferta d a linguagem . H avia leis escritas, processos,
tribunais, juízes, sentenças. A s palavras atrás m encionadas nom eavam essas coisas.
Vieram os filósofos que quiseram nom ear idéias novas: p ed ira m à linguagem aquilo
que ela lhes podia fornecer. N ão é de adm irar, pois, que a justiça segundo P la tão
e a justiça segundo A ristóteles sejam tão estranhas p a ra a nossa m aneira de pensar.
A palavra grega òíxr\ e a palavra latina pela qual nós a traduzim os, ao serviço de
P la tão, ao serviço de A ristóteles e ao nosso serviço, n ão têm a m esm a utilização.”
(V. Egger)
JU S T IF IC A Ç Ã O 602

C. A to ou decisão que servem para fa­ encontradas posteriorm ente. P rocu ra da


zer reinar a justiça, no sentido A; espe­ verdade, livro V, cap. XI: “ Todas as pai­
cialmente, condenação à m orte de um cri­ xões se justificam e os raciocínios que elas
minoso: “ Puni através de tais justiças — nos obrigam a fazer p ara sua ju stifica­
a traição urdida em amores factícios.” A. çã o .”
áE V« ; Çà , A cólera d e Sansão. Sentido R« ζ ÃI , na sua L ógica d o s sentim en ­
antiquado, exceto em algumas expressões: tos, repartiu empiricamente os raciocínios
“ Isso será justiça; fazer ju stiç a ...; fazer afetivos segundo cinco tipos principais:
justiça com as próprias m ão s.” “ Passional, inconsciente, im aginativo,
D . P o d er judicial; os m agistrados. justificativo, misto ou com pósito” (ibid.,
Sobre os sentidos A e B da palavra cap. III, no início). A 4? seção desse ca­
ju stiça, cf. C aridade e Igualdade. pitulo tra ta “ Do raciocínio de Justi­
R ad. in t .: A . Yustes; B. Yustemes; C. ficação” .
Judiciad; D . Judicistar. R ad. int.: (no sentido prim itivo) Yus-
JU S TIFIC A Ç Ã O D. Rechtfertigung; tig; (no sentido usual) Justifik.
E . Ju stification, vindication·, F. Ju stifi­
JU S T O D. A . C . D . G erecht, rech-
cation·, I. G iustificazione.
tlich·, B. Richtig; E. A . B. Just, right,
A to de justificar, ou de se ju stificar,
rightful-, C . D . Just, upright, righteous;
quer dizer, primitivamente de to m ar justo
F. Juste; I. G iusto.
ou fazer-se justo (este sentido persiste ain­
I? A o fa la r d e coisas
d a na teologia: ver adiante a palavra Jus­
to , D); depois, por enfraquecim ento do
A . Q ue é conform e a um direito*,
sentido prim itivo, se diz de to d o a to pelo quer natural, quer positivo. Etim ológica­
qual se refuta um a im putação ou até pe­ mente, a palavra aplicou-se primeiramen­
lo qual a ultrapassam os, ao m ostrar que te ao direito positivo (L. ju stu s de ju s,
se está no direito (quer m oral, quer lógi­ p ro v e n ie n te ela p ró p r ia de ju b e o :
co), de o fazer, que tem os razão p ara di­ F2 E Z Çá ; cf. ju sta , as form alidades, as
zer o que dissem os, ou de fazer o que cerim ónias obrigatórias); m as atualm en­
fizemos. te, ainda que não tenha absolutam ente
Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E chamou especialmen­ perdido este sentido, diz-se mais daquilo
te ju íz o s ou raciocinios d e ju stifica çã o que é eqüitativo do que daquilo que é
àqueles pelos quais dam os razões intelec­ legal.
tuais para apoiar os nossos sentim entos, B. P o r conseqüência, aquilo que é
razões boas ou m ás, mas em todo o caso exato, correto, rigoroso, preciso. O subs-

Sobre Ju sto — É verdade que B deriva de A; m as para gerecht e R igh t, com o


para a nossa palavra D ireito , a derivação fez-se no sentido inverso. H á, pois, neces­
sidade de não considerar as duas idéias como sendo, por si m esmas, subordinadas
um a à o u tra. (£. D rouin)
Poder-se-ia ainda dizer que o hom em justo, no sentido C, é aquele que inverte,
para ju lgar equitativamente, a relação que m antém com outrem (por exemplo, quando
o vendedor se põe no lugar do com prador e reciprocam ente). O ju sto , neste sentido,
procede pelo m étodo de substituição: reconhece em todos os hom ens um valor igual
de posição uns em relação aos o u tros. (F. M en tré ) Trata-se aí de um excelente proce­
dim ento psicológico para retificar um a ilusão ótica m oral que é natural, m as que
não é um a definição da atitude justa: porque, p o r um lado, se pode ser eqüitativo
sem isso e, por o u tro , esta inversão, se fo r com pleta, falsearia o espírito em sentido
inverso. (A . L .)
603 JU S T O

tantivo correspondente é, então, ju steza . timo fazer respeitar o u tra pessoa nas suas
“ Ju sto m eio ” , ver M eio. idéias, nos seus sentimentos, na sua liber­
2? A o fa la r d o s hom ens dad e, na sua propriedade; bem apreciar
C . (no sentido restrito, em que esta as medidas gerais; por exemplo, as leis,
palavra se opõe mais especialm ente a ca­ que tendem a perm itir e a proibir certos
ridoso). Que ju lga acerca das suas rela­ atos, a to rn a r m ais ou m enos favorável
ções com outrem como julgaria acerca d a a situação de certas pessoas; finalm ente,
relação de duas pessoas estranhas; e que, bem atribuir, com propósito e no grau
quando ju lg a entre vários outro s, não se conveniente, os benefícios ou as penas de
deixa guiar por qualquer favor nem qual­ que se dispõe. O Justo (D. D er Gerech-
qu er ra n co r preexistente. Ser ju sto , nes­ te; E. The righteous; F. L e juste·, I. Hgius-
te sentido, é, pois, u m a qualidade essen­ to ) é o hom em de bem , aquele cuja von­
cialmente form al, que consiste em se abs­ tad e é conform e à lei m oral (prim itiva­
ter de procedim entos egoístas e juízos m ente e sobretu do, à lei concebida com o
parciais. . divina; cf. Ju stificação, no sentido teo­
D . (sentido geral). Q ue possui um lógico). “ O ju sto o p o rá o desdém à a u ­
bom juízo m oral (no sentido B d a pala­ sên cia...” A. áE V« ; Çà , O M o n te das
v ra ju ízo * ) e a vontade de a ele se con­ O liveiras.
form ar. É justo, nesta acepção, o homem R ad. in t.: A . Yust; B. Ju st; C . D .
capaz de reconhecer até que p o n to é legí­ Yustem.
K

K Nos nomes de silogismo, é algumas m eira figura por conversão e transposi­


vezes u sado, em vez de C, para assinalar ção de premissas, m as exige um a redução
que o m odo cujo nom e contém esta letra ao absurdo: B aroko, B o kardo.
n ão pode deduzir-se de um m odo d a prí- K ER IG M A Ver S uplem ento.
L

LA PSO D E T E M P O É usado por esta utilização é excepcional. Foi usado


H am elin num sentido técnico que lhe é sobretu do para traduzir L o y a lty (p. ex.
pró prio : é p a ra ele o decorrer do tem po; RÃà TE , P hilosoph y o f Loyalty)·, “ lealda­
a síntese do instante e do lapso de tem po d e ” , que foi tam bém utilizada, neste ca­
é a duração. E nsaio, cap. I, § 3, in­ so, e é aí de fato im pró pria e só pode su­
trodução. gerir ao leitor (francês) um contra-senso
acerca da idéia que se tra ta de transm itir.
LA T R IA Ver S u plem en to.
O inconveniente de lealismo é que leal,
LE A LD A D E Ver L ealism o. m odernam ente, é nitidam ente restrito ao
sentido m oral que represen ta tam bém a
LEA LISM O D . L eh n treu e; E. L o ya - palavra lealdade (isenção, ausência de as­
lism ; F. L oyalism e; I. L ea l ta, leal ta te túcia e falsidade, f a ir p la y ), faltando as­
(mais am plas). sim o adjetivo correspondente.
Pro priam en te: fidelidade a um suse-
lia d , int.: LoyaIt(es).
rano, a um a autoridade tida p o r legítima
(cf. “ O leal servid o r” ). G Z à τ Z serviu-se LEG A L ID A D E D. L egalität (Kτ ÇI );
desta palavra p a ra designar a fidelidade G esetzlich keit, G esetzm ässigkeit; E . L e­
à lei (Educação e hereditariedade)·, mas gality; F. Légalité; I. L egalità.

Sobre Lealismo — Num curioso capítulo da sua D eon tologia (1? parte, cap. XVI)
B E ÇI 7 τ
O cham a a atenção do leitor p a ra um a virtude descoberta p o r H um e e cha­
m ada p or ele allegiance. É um a “ qualidade que pode torn ar-se virtude ou vício con­
soante o seu o b je to ” . Se este objeto for conform e ao princípio da m axim ização da
felicidade, en tão a allegiance (sic) torna-se benevolência efetiva na m ais vasta escala.
Tudo depende da natureza do governo em proveito do qual a allegiance é reclam ada.
P ode ser um a virtude evidente ou um crim e fu n esto ... A palavra emprega-se p ara
obediência; a obediência é b o a quando o governo é bom , m á quan d o este é m au.
D eo n to lo g ia , l f parte. (L. Boisse)
Littré faz n o tar que esta palav ra, aliás pouco utilizada, exceto n a expressão “ ser­
m ent d ’allégeance” (“ ju ram en to de fidelidade” ), não tem qualquer parentesco de
sentido nem de raiz com a palavra francesa allégeance to m ad a no sentido de alívio,
de consolação. Vem da m esm a raiz que lige (hom m e-lige, servo d a gleba), term o de
origem germ ânica, e por conseqüência não deve tam bém ser referido ao latim lex,
legis. Parece que se tra ta de um antigo nom e daquilo que mais tard e desem penhou
um certo papel n a filosofia m oral sob o nom e de lealism o* (E. L o y a lty , freqüente-
m ente traduzido por contra-senso por lealdade). (A . L .)
Sobre Legalidade — O sentido é praticam ente o único em que esta palavra é usa­
d a em inglês. O sentido B aproxim a-se bastante de um uso teológico desta palavra
m uito com um nos escritores puritanos. (H . W ildon Carr) P aul Cτ 2 Z è propôs, para
o sentido C, as expressões L aw -in determ in edn ess, ou m elhor, L a w d o m (form ada a
partir do modelo de kingdom , freed o m , etc.). Ver Logical a n d M athem atical Thought,
p. 36; The M o n ist, janeiro de 1910.
L E G IT IM O 606

A. Conform idade às leis positivas (es­ CRÍTICA


te sentido praticam ente o único utilizado Ver as observações. .
em francês).
R ad. int.: A . B. Legates; C . Legozes.
B. C onfo rm id ad e exterior às regras
m orais; opõe-se ao respeito interior a es­ L E G ÍT IM O D. G esetzm assig, Regel-
tas leis. “ G eschieht die W illensbestim­ m ãssig gerecht; E . L eg itim a te, em todos
m ung zw ar gemäss dem m oralischen Ge­ os sentidos (A. Justifiable, allowable)', F.
setze, a b e r... nicht um des Gesetzes W il­ L ég itim e ; I. L eg itim o .
len, so w ird die H andlung zwar L egalität, A . Sentido geral. Diz-se de to d o ato,
aber nicht M o ra litä t e n th alten .” · K τ Ç , I
de to d a atitude, de to d o sentim ento, de
C rítica da razão p rá tica , cap. III, § 1.
to d o discurso cujo sujeito é considerado
C . Característica daquilo que é gover­
com o estando, sob esse ponto de vista,
n ad o p o r u m a lei ou p o r leis (no sentido
D desta palavra). “ Retom em os a fó rm u ­ no seu direito. “ U m a indignação legíti­
la de H elm holtz [‘... dass das Prinzip der ma; a legítima defesa; um a expectativa le­
Causalität nicht anders sei als die V oraus­ g ítim a.” A palavra, neste sentido, diz
setzung der Gesetzlichkeit aller N atu res­ mais que legal*, não poderia aplicar-se ao
cheinungen’1 2] considerando-a como a ex­ que constitui um ab uso do direito.
pressão do princípio n ão de causalidade, B. N o sentido ju rídico, diz-se das re­
m as de legalidade.” M à 2 è Ã Ç , Id en ti­
E E lações de aliança ou de parentesco que re­
d a d e e realidade, p. 3. sultam de um casam ento contratad o se­
gundo as regras legais. “ Filho legítim o”
(oposto a natural*).
1. “ Se a d eterm in ação v o lu n tá ria f o r, é verda*
d e, co n fo rm e à lei m o ra l, m as n ã o to m a d a p o r res­
C . N o sentido político, diz-se de um
p eito à lei, a ação co n te rá le g a lid a d e , m as n ã o m o ­ soberano cham ado ao tro n o em virtude
r a lid a d e .” das regras tradicionais de sucessão em
2. ” ... que o p rin cíp io d e cau salid ad e é apenas
a su p o sição d a 'legalidade* em to d o s os fenôm enos vigor.
n a tu ra is ” . R ad. int.: Legitim (Yurizit).

N a prova deste artigo, pusem os a seguinte questão: no sentido C, não seria p re­
ferível utilizar a palavra regularidade, que tem o m esm o sentido e que é em francês
de utilização corrente?
“ De fato , pensei tom ar a palavra regularidade para traduzir o term o G esetzm äs­
sig k eit” , respondeu E m . M eyerso n , “ mas duas razões afastaram -m e dessa opinião:
a prim eira é que regularidade aplica-se, na prática, àquilo que se passa na m aioria
das vezes, não àquilo que é governado por um a lei; a segunda, na m inha opinião
m uito im portante, é que legalidade vem de lei com o causalidade vem de causa. Esta
simetria antitética parece-me necessária para m elhor compreender esta distinção m uito
útil, mas m uito difícil de capta r e que se perde facilm ente de v ista” (sessão de 7 de
ju lho de 1910).
J. Lachelier, R en é B erthelot, F. M entré, L . B oisse, C. H ém on não aprovam a
utilização de legalidade no sentido C. Este últim o aceitaria de bom grado regularida­
de', os prim eiros aceitam que a utilização corrente desta palavra se opõe a que dela
se faça um term o técnico, e preferem utilizar um a perífrase para traduzir G esetzm äs­
sigkeit. M Ç 2 é refere particularm ente que a utilização do adjetivo determ inado bas­
E I

ta quase sempre para exprim ir essa idéia, e B ë è è que “ a legalidade no sentido C,


E

e principalm ente na frase citada de Em . M à 2 è ÃÇ , é o determ inism o” .


E E
607 LEI

LEI G. ν ό μ ο ν , L. L ex\ D. G esetz ; E. Política extraída da Sagrada Escritura, li­


L aw (mais amplo, significa igualmente d i­ vro I, art. IV, pro p. 1. As leis deste tipo
reito, ju stiça, magistratura', o francês a n ­ são cham adas leis p o sitiva s* , por oposi­
tigo tom ava também lei num sentido mui­ ção às leis m orais ou divinas, considera­
to mais vasto do que o sentido atual); F. das como “ n atu ra is” . Cf. D ireito n atu­
Loi; I. Legge. ral, D ireito p o sitiv o .
A . Regra geral e im perativa (algumas 3? Exprimindo a vontade de Deus: “ A
vezes sistema de regras imperativas, legis­ Lei antiga; a nova L ei.” “ Deus apareceu
lação) que rege do exterior a atividade publicam ente e fez publicar a Lei na sua
hum ana. presença num a dem onstração espantosa
1? Im posta, sem declaração expressa, de sua m ajestade e do seu p o d e r.” B Ã è ­
pelo u so , o c o stu m e, a tra d iç ã o . è Z E I , D iscurso sobre a história universal,
“ . .. ’A-γ ρ ά φ ο ν ς ν ό μ ο υ ς ... τ ο ύ ς y ' ε ν π ά σ η 2? parte, cap. III. E nqu an to exprime a
χ ώ ρ α κ α τ ά τ α υ τ ά ν ο μ ι ξ ο μ έ ν ο ν ς .” Χ Ε - vontade de Deus através de regras gerais
N O F O N T E , M em oráveis, IV, 4. Cf. P Â τ ­ e prom ulgadas, a Lei opõe-se à Graça:
I ã Ã , L eis, V II, 793 ss. “ A s leis d a m o ­ “ A Lei não destruiu a natureza, m as
d a .” “ Contei os meus antepassados, se­ instruiu-a; a G raça n ão destruiu a Lei,
gundo a velha le i.” V lG N Y , O espírito m as fê-la exercer-se.” P A S C A L , P en sa­
puro, em L es destinées, 180. m en to s, n? 520.
2? F orm ulada e pro m ulgad a, em ter­ B. Em conseqüência, exercício de uma
m os autênticos, pela autoridade sobera­ autoridade: constrangim ento im posto pe­
n a de u m a sociedade. “ N ão basta que o los hom ens ou pelas coisas. “ Sofrer a lei
príncipe, o u que O m agistrado soberano, do vencedor.” “ Β λ «τ ω δ ε ί τ ε ρ ο ν ν ό μ ο ν
regule os casos que acontecem segundo ε ν τ ο ΐς μ ε λ ε σ ί μ ο υ , ά ν τ ισ τ ρ α τ ε υ ό μ ε ν ο ν τ ώ
a ocorrência, m as... é necessário estabe­ ν ό μ ω τ ο ν ν ο ό ς μ ο υ .” S. PAULO, E pístola
lecer regras gerais de conduta, a fim de a o s rom an os, VII, 23. C f. ib id . , 21.
que o governo seja constante e uniform e: C. Regra obrigatória, que exprime a
e é a isso que se cham a leis.” B Ã è è Z E I , natureza ideal de um ser ou de um a fun-

Sobre Lei — A rtigo com pletado segundo as observações de D rouin e M entré. So­
bre a história e sobre os diversos sentidos desta palav ra, ver E Z T 3 Ç , D ie G rundbe­ E

griffe d er G egenw art, 173-186, e G estige Ström ungen der G egenw art, B, 3.
N a época clássica, na G récia, ν ό μ ο ς tom a um a acepção especial: existem “ por
um lado, as θ ε σ μ ο ί , prescrições tan to rituais com o legislativas; não se sabe a data
da sua origem, mas não há dúvidas de que elas foram estabelecidas desde to da a eter­
nidade pelos deuses... São repetidas de século em século pela tradição oral· ... Por
outro lado, existe um a lei que nad a deve à revelação, ο ν ό μ ο ς . A qui tudo é hum ano.
A lei de que se tra ta tem com o característica essencial o fato de ser escrita... aquele
que a faz liga a ela o seu nom e” . G Â Ã U , A cidade grega, p. 158. Poder-se-ia ap ro ­
I

xim ar desta oposição aquela o utra que G 2 τ Ç assinala na C hina: “ O m agistrado


E I

deve aplicar a lei...; deve publicá-la; ... é a publicação que lhe confere o seu caráter
obrigatório. Os primeiros códigos foram gravados sobre caldeiras 1... (depois) as leis
deviam ser reunidas e afixadas sob a form a de quadros. À lei (fa) opõe-se o chou,
as prescrições (de governo) que devem perm anecer secretas, e tc .” G 2 τ Ç , O p e n ­ E I

sam ento chinês, pp. 464-465. (E. Bréhier)


H á contu do algumas reservas a levantar à oposição indicadas por G lotz, e acerca

1. In stru m en to s d e suplício n a C h in a .
LEI 608

ção, a norm a à qual se deve conform ar A “ lei m ora!” (D. S itten gesetz,
p a ra se realizar. Em particular: Kτ ÇI ; E. M o ra l lavr, F . L o i m o ra le ; I.
1? As “ ¡eis d o espírito" (D. D enkge- L egge m orale) é o enunciado do princí­
setze·, E. L a ws o f th ough t; F. L o is d e Ves- pio da ação universal e obrigatória, ao
p r it), no sentido em que esta expressão qual o ser racional deve conform ar os
designa os axiom as fundam entais aos seus atos p a ra realizar a sua au tonom ia.
quais o pensam ento se deve conform ar “ P raktische G rundsätze sind Sätze
p ara ter um valor lógico. Pensou-se d u ­ welche eine allgemeine Bestimmung des
rante m uito tem po que se reduziam aos Willens enthalten, die m ehrere praktische
três princípios de identidade, de contra­ Regeln unter sich hat. Sie sind subjektiv,
dição e do terceiro excluído; m as é hoje oder M axim en , wenn die Bedingung nur
quase universalm ente adm itido pelos ló­ als für den Willen des Subjects gültig von
gicos que esses princípios form am apenas ihm angesehen wird; objectiv aber, oder
um a parte do sistem a m ínim o de postu­ praktische G esetze, wenn jene als objec­
lados necessário a qualquer raciocínio. tiv, d. i., für den W illen jedes vernünfti­
Ver o artigo L eis d o espirito. gen Wesens, gültig erkannt w ird .” 1Exis­
2? Do ponto de vista m oral, a ‘ ‘Lei na­ te, aliás, segundo ele, apenas um a fórm u­
tu ra l” é o princípio do bem tal com o este
la que preenche esta condição e que cons­
se revela à consciência. “ Lex n aturae ni-
titui a lei m oral: “ H andle so, dass die
hil aliud est, nisi lumen intellectus insitum
nobis a Deo per quod cognoscimus quid
agendum et quid v itandum .” S. TÃOá è 1. “ O s p rin cíp io s p rá tic o s são p ro p o siçõ es q u e
áE A I Z « Ç Ã , D e d u obu s prae. ch aritatis, contêm u m a d e te rm in a ç ã o geral d a v o n ta d e à q u a l
etc., § 1. “ A lei da luz n atu ra l, que pre­ e s tã o su b o rd in a d a s v árias reg ra s p ráticas. S ão su b ­
tende que façam os a outrem aquilo que je tiv o s o u m á x i m a s q u a n d o a estip u laç ão só é co n si­
d e ra d a pelo sujeito co m o v álid a pela sua p ró p ria von­
querem os que nos fa çam .” M Ã Ç è - I E
tad e; o b jetiv o s, pelo c o n trá rio , o u le is p ráticas, se es­
I Z « Z , E sp írito d a s leis , X , 3. Cf. ib id . ,
E
ta s fo rem reco n h ecid as co m o o b je tiv a s, q u e r d izer,
livro I, cap. II: “ Das leis da n a tu re z a .” válidas p a r a a v o n ta d e d e q u a lq u e r ser r a c io n a l.”

do caráter essencialm ente escrito do ν ό μ ο ς . Sem dúvida, n a célebre passagem de Só-


focles, aquilo que A ntígona opõe ao decreto do tiran o são os α -γ ρ α π τ α θ ί ώ ν ν ό μ ι μ α
(A n tígon a, 451-452), que n o seu pensam ento não são talvez ν ό μ ο ι , no sentido p ró ­
prio do term o. Todavia, um a passagem de DE O4è I E ÇE è , Sobre a co roa (317,22-23),
cham a ν ό μ ι μ α às leis escritas, e justam ente opondo-lhes as ν ό μ ο ι α -γ ρ α φ ο ι . M as em
A ristóteles a distinção entre as leis escritas e não escritas encontra-se freqüentem en-
te. N a R etó rica , ele faz n otar que a lei (ν ό μ ο ς ) pode ser quer p ró p ria de um povo,
quer com um : a prim eira é a lei escrita; a segunda Óoa α -γ ρ α φ α τ α ρ ά τ α σ ι ν ο μ ο -
λ ο -γ β ΐ σ θ α ι δ ο χ ί ϊ (1368b7-9). M esma passagem na R etórica a A lexandre (1421b1422a).
Um pouco mais adiante, ele distingue entre as leis de um mesmo povo τ ο ν μ ί ν a y g a -
φ ο ν , τ ο ν &è 'γ ΐ 'γ ρ α μ μ ό ν ο ν (1373b6). A m esm a distinção na É tica a N icô m a co , 1180a,
1180b, n a P o lítica , 1319b, 1320a, etc. N outras passagens, opõe sim plesmente “ a lei
escrita” , ou m esm o “ a lei” sem m ais, à verdade (m oral), p. ex., R etórica, 1374a36,
1384b27.
P o r o u tro lado, P latão cham a Θ ta μ ά ς , que Léon R obin traduz por instituição,
um a regra de conduta que pro põe aos Siracusanos (C artas, V III, 355 B): pôr a sabe­
doria acim a da saúde, a saúde acim a das riquezas. Recom enda-lhes que façam dela
um a lei (ν ό μ ο ς ) cu ja excelência a experiência lhes provará se a puserem em prática.
Segundo Bailly, Vo θ ί σ μ ό ς , esta palavra empregava-se ao falar das leis de D racon
e ν ό μ ο ς ao falar das de Solon. H ouve, pois, m uita elasticidade na utilização destes
609 LEI

M axime deines Willens jederzeit zugleich da vida m ental, consideradas com o sen­
als Prinzip einer allgemeinen Gesetzge­ do análogas às leis naturais: “ A lei do há­
bung gelten k ö n n e ” 1 (ib id ., § 7). b ito ” ; 2? das condições im postas previa­
3? A s “ leis de um género” em estéti­ m ente, arbitrariam ente, a certa tran sfo r­
ca são as condições que um a o b ra deve mação m atemática: “ Uma quantidade su­
preencher p a ra plenam ente realizar o jeita a variar segundo tal lei.” N ão se diz
ideal do género a que pertence. A s “ leis das razões estáticas abstratas: não se fa ­
da a rte ” são as condições gerais às quais la d a “ lei do q uadrado da hipotenusa”
se adm ite que um a o b ra deve satisfazer nem das “ leis das seções cônicas” .
p ara ter um valor: “ Exprim ir o ideal e o Este term o aplica-se, por extensão, a
to d a fó rm ula geral que resum e certos fa ­
infinito de um a m aneira ou de o u tra, é
tos n aturais, m esm o se n ão constitui um
essa a lei da a rte .” V. CÃZ è « Ç , D o Ver­
enunciado fo rm al, e n ã o perm ite ded u­
dadeiro, d o Belo e do Bern, 9? lição.
zir conhecimentos determinados: “ As leis
D. Fórm ula geral (constativa, não imdas
­ paixões, a lei do pro gresso.”
perativa) tal que déla se pode deduzir a n ­ “ Em virtude da lei d a solidariedade,
tecipadam ente os fatos de certa ordem , existe em cada m om ento d a história to ­
ou mais exatam ente aquilo que esses fa ­ do um capital social que nenhum dos nos­
tos seriam se se produzissem no estado de sos contem porâneos criou, m as de que to­
isolam ento: “ A lei de M ariotte; a lei da dos aproveitam diversam ente.” J τ TÃζ ,
queda dos corpos; a lei de O h m .” A p a ­ D everes, p. 222.
lavra, neste sentido, diz-se exclusivamen­ Acerca destes dois sentidos, ver Louis
te: 1? das “ leis da n atu reza” sugeridas e WE ζ E 2 , “Sobre diversas acepções da pa­
verificadas pela experiência, e das leis lavra ‘lei’ nas ciências e em metafísica”, Re
vue philosophique, m aio e junho de 1894.
C R ÍT IC A
1. “ A ge se m pre de m o d o que a m áx im a d a tu a
v o n ta d e possa ser a o m esm o tem p o um p rin cíp io vá­ 1. Distinguem-se entre as leis (no sen­
lido d e legislação u n i v e r s a l / ’ tido D): 1? as leis teóricas ou fu n cion ais

term os; é, porém , verdade que vó/tos designa o mais das vezes a lei escrita, estabele­
cida e prom ulgada por um legislador, ou por decreto do povo. (A . L .)
Parece-m e que um a lei, de um a m aneira geral, enuncia que qualquer coisa d ev e
ser ou acontecer, o que pode entender-se de q u atro m aneiras: 1? aquilo que não p o ­
de deixar de acontecer; 2? aq uilo que se deve fazer, num a arte, p a ra chegar a um
fim ; ou m elhor, aquilo que o verdadeiro artista faz p o r si m esm o através de um a
espécie de in stin to; 3? aquilo que um ser racional e livre se sente obrigado a fazer,
quer esta obrigação resulte da sua p ró p ria natureza de ser racional e livre, quer resul­
te da vontade divina; 4? aq uilo que deve fazer com o cidad ão, em virtude d a vontade
do legislador. À prim eira corresponde a lei física ou m atem ática; à segunda, as leis
teleológicas; à terceira, as leis m orais e religiosas; à qu arta , a lei civil. As leis lógicas
são do prim eiro tipo enquanto exprim em um a necessidade im anente aos objetos do
pensam ento; do segundo tipo enquanto o espírito as conhece, e p ode, ainda que in­
voluntariam ente, violá-las. (/. Lachelier )
Seria conveniente, parece, distinguir nitidam ente três sentidos e com o que três
contribuições diferentes n a form ação do conceito m odern o de lei: sentidos que pare­
ciam prim eiram ente opor-se, m as que tendem a reconciliar-se.
1? A lei é em prim eiro lugar a idéia helénica de u m a distribuição a o mesmo tem ­
po inteligível e m isteriosa, que se opõe aos pró prio s deuses (j io Zq o i, re/itois, fatum ,
etc.): é constitutiva ou declarativa da p ró p ria razão; exprime-se pelo Xóyos.
LEI 610

que apresentam a form a de um juízo hi­ esse procedim ento às tradições gregas,
potético da 1? classe (todas as vezes que que são, aliás, as d a m aior p arte dos po­
A é B, segue-se que C é D); 2? as leis his­ vos. P odem os disso aproxim ar o célebre
tóricas, que enunciam que um processo discurso de A ntígona, n a peça do mesmo
resulta num a determ inada m aneira, ou nom e de S5EÃTÂ E è (V. 439-468).
que as coisas se dispõem num a certa o r­ Se consideram os Deus com o criador
dem , p. ex.: “ A lei d a evolução; a lei de ou com o arquiteto do U niverso, somos
Bode; as leis de K epler.” Alguns lógicos, levados a representar-nos as regularida­
particularm ente A drien N τ â« Â Â E , recu­ des da natureza com o efeito das regras
sam o nom e de lei a esta últim a espécie que ele lhe prescreveu. Daí a idéia de “ leis
de fórm ulas. Ver A n oção de lei h istóri­ da n atu re za” concebidas prim eiram ente
ca em C om ptes rendus du Congrès d e Ge- como decretos im perativos de Deus, aos
nève, 680-687. quais as coisas algum as vezes desobede­
2. Os diferentes sentidos d a palavracem: encontra-se acidentalm ente a doen­
lei são escalonados em série contínua, e ça caracterizada em P Â τ I ã Ã pelo fato de
ligados por transições estreitas entre dois O sangue se m odificar Traça t ò u s rijs <pú-
sentidos limites: o de regra im perativa, creúii vó/ious ( Tim eu , 83 E), quer dizer,
an terior aos fatos que rege; o de fórmuJa contrariam ente à idéia do corpo hum a­
geral, estabelecida a p o ste rio ri pelo estu­ no norm al. M as esta expressão só se to r­
do dos fatos de que ela é a lei. É visível nou usual n a época dos estoicos. Foi re­
que o prim eiro sentido é original e que re­ to m ad a no início d a filosofia m oderna
sulta de um a reflexão m uito antiga sobre com um significado nitidam ente religio­
as prescrições, escritas ou não, que regem so: “ O pus quod o p eratu r Deus a princi­
a atividade de todo grupo social. A que­ pio usque ad finem , sum m aria nempe na-
las cuja origem é desconhecida são refe­ turae le x ...” (Bτ TÃÇ , D e d ign itate, III,
ridas aos Deuses ou a Deus. É o que já cap. IV .) “ [Deus] m an tém to das as p a r­
Só T2 τ I E è fez, na passagem de X enofon- tes d a m atéria na m esm a fo rm a e com as
te indicada mais acima; conform a-se com mesmas leis que lhes fez observar n a sua

2? A lei é o decreto soberano de um a vontade transcendente e todo-p oderosa;


d ix it et fa c ta sunt; contrib uição do m onoteísm o judaico.
3? A lei é a expressão d a ordem im anente, a fórm ula das pró prias relações que
derivam da natureza, estável ou m óvel, das coisas, a tradução progressiva das fun­
ções e das pró prias condições de vida.
A síntese dos três ingredientes, aparentem ente heterogêneos, da palavra lei parece-
me operar-se num a concepção que vê em qualquer regra, em qualquer norm a, em
qualquer lei especulativa ou p rática a condição verdadeira e boa de um progresso
do ser que deve sofrê-la ou consenti-la. A lei é, pois, sim ultaneam ente a tradução
hesitante de um a ordem virtual, a prospecçâo de um ideal transcen den tal, a realiza­
ção progressiva de u m a perfeição im anente. Assim com preendida, é ao mesmo tem ­
po razão, vontade im perativa, am or. P o r mais onerosa que possa parecer a ordem ,
é para o bem daquele que a ela deve subm eter-se; e a heteronom ia m ais dura, mais
real, deve p reparar o triu n fo da auto n o m ia verdadeira. (M. B londet)
O sentido D po de ser precisado. Resulta das análises de Renouvier, de C ourn ot,
etc., que a lei é um a fu n çã o real, em oposição às fu n çõ e s p o ssíveis dos m atem áticos.
É um a relação de variações correlativas entre fenôm enos m ensuráveis. As leis quali­
tativas são apenas leis globais, que tendem p ara a fo rm a quantitativa e m atem ática.
(F. M en tré ) H á aí, parece-m e, dois conceitos diferentes. U m a lei pode ser global sem
611 LEI

cria ção... E não estando Deus sujeito a estudo da m edicina experim ental, 1? p a r­
m udar e agindo ele sempre d a mesma m a­ te, cap. I, e 2? parte , cap. I. Dizemos
neira, podem os chegar ao conhecim en­ pois, deste ponto de vista, que to d a a lei
to de certas regras a qu e eu cham o a s leis que não seja sem pre obedecida é um a lei
d a n a tu reza .” D E è Tτ 2 I E è , P rin cípios, aproxim ativa; e, a p artir de então, com ­
II, 36 e 37. C f. M« Â Â, L ógica, livro III, pletam ente despojada de qualquer cará­
cap. IV. ter norm ativo, to m a o sentido lógico de­
M as, por um lado, o interesse princi­ finido em D.
pal destas leis, na ausência de u m a causa Estes dois sentidos-limite são precisos
final que nós ignoram os, encontra-se n a e estáveis; mas a utilização d a palavra lei
sua relação com as aplicações e com as é justam ente falaciosa enquanto recobre
previsões que elas perm item ; por o u tro , m uito freqüentem ente conceitos m al de­
a experiência m ostra-nos que n ão existe finidos e fluidos, que participam vaga­
qualquer desvio que seja análogo em re­ m ente de um e de o u tro . É este o caso,
lação a essas leis ao que é o crim e o u a particularm ente, no célebre início do E s­
fa lta em relação às leis civis e m orais: p írito das leis, de M ÃÇI E è I Z « E Z : “ Aè
“ N ão existe na natureza n ad a de confu­ leis, na sua significação m ais am pla, são
so nem de anorm al; tudo se passa segun­ as relações necessárias que derivam da n a ­
do leis que são absolu tas... A palavra ex­ tureza das coisas; e, neste sentido, todos
ceção é anticientífica: desde que as leis se­ os seres possuem as suas leis... H á , p o r­
jam conhecidas, não poderá haver exce­ tanto, um a razão primitiva; as leis são re­
ções.” Claude BE 2 Çτ 2 á , In trodu ção ao lações que se encontram entre elas e os

ser qualitativa (leis que exprim em m atem aticam ente m édias ou totais), por o u tro la ­
do, nada pro va que não h aja relações qualitativas suficientem ente fixas p a ra perm i­
tir o enunciado de um a fórm ula hipotética que afirm e que o prim eiro term o é sem­
pre acom panhado, ou seguido, do segundo (se um anim al é m am ífero, é vertebrado;
se dois corpos de tem peraturas diferentes forem postos em contato, o m ais quente
cede calor ao mais frio). {A . L .)
A m aneira pela qual Descartes define as leis da natureza m o stra que ele tinha
essencialmente em vista aquilo a que nós hoje cham am os os p rin cíp io s de conserva­
ção. A convicção de que essas leis não estão sujeitas a nenhum a exceção, a nenhum a
desobediência análogas àquilo que o crime é em relação às leis civis, é um a convic­
ção recente, e p a ra a qual se encontram ainda, em alguns espíritos, exceções. (E . M e-
yerson )
M arsal comunicou-nos um texto de Q Z E è Çτ à , O direito natural, onde estão mis­
tu radas intim am ente as diversas idéias representadas ou sugeridas pela palavra: “ As
leis naturais são ou físicas ou m orais. Entende-se aqui p o r lei física o curso ordenado
de qualquer acontecim ento físico da ordem natural evidentemente m ais vantajosa
para o gênero hum ano. Entende-se aqui por lei m oral a regra de qualquer ação h u ­
m an a da ordem m oral, conform e à ordem física evidentemente mais vantajosa para
o gênero hum ano. Essas leis form am no seu conjunto aquilo a que se cham a a lei
natural. Todos os homens e todos os poderes hum anos devem estar subm etidos a
essas leis soberanas. Instituídas pelo Ser Suprem o, são im utáveis, irrecusáveis, e as
m elhores leis possíveis, por conseqüência, a base do governo mais perfeito, e a regra
fundam ental de todas as leis positivas; porq ue as leis positivas são apenas leis de m a­
nutenção, relativas à ordem n atural e v id e n t e m e n t e m a i s v a n t a j o s a p a r a o g ê n e r o h u ­
m a n o .”
LEI 612

diferentes seres, e as relações desses diver­ R ad. in t . : (no sentido de lei positiva
sos seres entre si... Essas regras são uma e no sentido de lei física) Leg (Boirac ); (no
relação constantemente estabelecida: entre sentido de regra im perativa ou apreciati­
um corpo movido e um outro corpo m o­ va) N orm .
vido, é segundo as relações da massa e da
velocidade que todos os movimentos são Leis do espírito D . Denkgesetze; E. A .
recebidos, aum entados, dim inuídos, per­ B. L a ws o f thought; C. M enta! laws; F.
didos; cada diversidade é uniform idade, L o is d e l ’esprit; I. L eg g i d ei pen siero.
cada m udança é constância... Mas é tam ­ A . A xiom as fundam entais aos quais
bém necessário que o m undo inteligente se­ o pensam ento deve conform ar-se para ser
ja tão bem governado com o o m undo físi­ válido.
co; porque, ainda que este tenha também B. Os mesmos axiom as, considerados
leis que, pela sua natureza, são invariáveis, com o aplicados necessariamente pelo
não as segue constantemente como o m un­ pensam ento n a representação que form a
do físico segue as suas... [O homem] p o ­ do m undo exterior, e, por conseguinte,
dia, em todos os momentos, esquecer o seu com o quadros desta representação.
criador: Deus lembrou-lho através das leis C. Leis (no sentido D desta palavra)
da religião; podia, em todos os momentos, que os fenôm enos psíquicos seguem quer
esquecer-se de si mesmo: os filósofos no seu desenvolvim ento (leis genéticas,
avisaram-no através da m oral; feito para quer nas suas relações entre si e com os
viver na sociedade, ele podia esquecer os fenôm enos físicos (p. ex., leis da associa­
outros; os legisladores o fizeram voltar aos ção das idéias; leis de Fechner).
seus deveres através das leis políticas e ci­
C R ÍT IC A
vis.” Livro I: D as leis em geral, cap. I.
H á n ão só, neste capítulo, assimila­ A dm itiu-se durante m uito tem po que
ção factícia das “ leis” civis e das “ leis” havia apenas quatro leis d o espírito, no
físicas, m as tam bém destas últim as com sentido A , e que as podíam os dividir em
as “ leis n atu ra is” tom adas no sentido de dois grupos: IP os três princípios de iden­
regras morais. Finalmente, essas “ leis na­ tidade, de contradição, do terceiro excluí­
tu ra is” são elas próprias concebidas co­ do, princípios necessários e suficientes pa­
m o realidades sem iplatônicas, que expri­ ra todos os raciocínios form ais e que,
mem a natureza ou a Idéia do ser ao qual aliás, se consideravam , em geral, com o
se aplicam: “ A ntes de todas estas leis es­ enunciados diferentes de um só e m esmo
tão as da n atureza, assim cham adas p o r­ axioma; 2? o princípio de “ razão suficien­
que derivam unicam ente d a constituição te ” , de “ possibilidade da experiência” ,
do nosso se r.” (Ib id ., cap. II.) Todos es­ ou “ de universal inteligibilidade” , con­
tes equívocos ainda subsistem n a lingua­ siderado como o princípio dos raciocínios
gem filosófica contem porânea e contri­ concretos que se aplicam às coisas reais
buem p ara m an ter a ilusão de um a m o­ (cf. L E « ζ Ç« U , M o n a d o lo g ia , 31-32;
ral da natureza, de que poderia extrair, Kτ ÇI , Crítica da razão pu ra , A nalítica
de leis científicam ente con statadas , um transcendental, livro II, cap. II; ST7 Ãú E ­
sistem a de regras n orm ativas de condu­ Ç7 τ Z E 2 , D a quádrupla raiz da razão su ­
ta. Cabe, pois, criticar m uito cuidadosa­ ficien te; H τ O« Â I ÃÇ , L o g ic, I, Lect. V;
mente to das as fórm ulas deste gênero, e E « è Â E 2 , W örterbuch, Vo D enkgesetze, I ?
em particular substituir a palavra lei, sem­ edição, p. 152).
pre que isso seja possível pelos termos não P E τ ÇÃ , Rü è è E Â , C ÃZ I Z 2 τ I m o stra ­
equívocos “ princípio” ou “ fórm ula” na ram p ela análise lo gística dos racio cín io s
ordem científica, “ im perativ o” ou “ re­ q u e, no que diz resp eito à p rim eira cla s­
gra apreciativa” na ordem norm ativa. se, os três p rin cíp io s acim a en u m erad o s
613 “ LEXIS”

sâo irredutíveis, e que, p o r outro lado, cia supõe verdadeiras sem delas fazer um a
existem outros, igualmente necessários ao demonstração, pedindo-as de outras ciên­
raciocínio e que não se pode, então, li­ cias (L ogik, § 39). N ão conheço outros
m itar o seu núm ero. Ver particularm en ­ exemplos desta utilização.
te o artigo de L. CÃZ I Z 2 τ I , “ Oè prin ­ R ad. i n t Lem.
cípios das m atem áticas” (R evu e d e m é­
LETA R G IA G. \η θ α ρ γ ί α (H « ú ó T2 τ ­
taph ysique, janeiro de 1904).
IE è ); D. Lethargie, Schlafsucht; E . Le-
Cabe presum ir que o mesmo é válido thargy; trance (mais am plo , diz-se tam ­
para o princípio de razão suficiente. Ver bém do êxtase, da catalepsia, etc.); F. Lé-
P rin cípio e R azão. thargie-, I. Letargia.
P o r estas razões, e em conseqüência Estado patológico caracterizado pelo
do equívoco que existe entre os sentidos entorpecim ento, o esquecim ento (k-ή θ η ),
A , B e C , a expressão leis d o espírito é a inação (α ρ γ ί α ), a sonolência ou m es­
m uito vaga, e deve ser substituíd a sem­ m o o sono to tal.
pre que seja possível p o r um a fó rm ula Este term o, m uito utilizado nos sécu­
que não se preste à confusão. los XVII e X V III n a linguagem m édica,
Lei do interesse Ver Interesse-, lei d e tornou-se m enos usual no século X IX .
Foi retom ado por C 7 τ 2 TÃI , que dividia
Fechner, lei psico física , ver Fechner; lei
os fenômenos hipnóticos em três graus,
d o s grandes n úm eros, ver N ú m ero.
considerados com o estados cada vez mais
LEM A G. aquilo que se tom a profundos da hipnose: letargia, catalep­
(como aceito), assunção; algum as vezes, sia*, sonam bulism o*. E sta divisão n ão é
tese. Diz-se em particular das premissas considerada hoje com o correspondente
do silogismo ( T ópicos, V III, 1, lS tM l)1. aos fatos.
D. Lehnsatz', E. Lem m a; F. Lemme-, I. R ad. int.: Letargi.
L em m a.
“ L E X IS ” D o G . Xe£is, palavra, ex­
Proposição prelim inar cuja dem ons­
pressão.
tração prévia é necessária p ara dem ons­ Enunciado suscetível de ser dito ver­
tra r a tese principal que se pretende esta­
dadeiro ou falso, m as que é considerado
belecer. apenas no seu conteúdo, e sem negação
NOTA nem afirm ação atuais; é esse, por exem­
plo, o caráter d a p ro posição infinitiva em
Kτ ÇI deu a esta p a lav ra u m o u tro latim : “ Sapientem solum esse b eatu m .”
sentido: os lem as (L eh nsátze, lem m ata) Ed. G Ãζ Â ÃI definiu esta idéia com pre­
são, diz ele, as proposições q u e u m a ciên­ cisão, m as de um a m aneira mais restrita,
sob o nom e de ju íz o virtual, que ele opõe
a ju íz o atual: “ Os juízos virtuais de que
1. Existem n a ed ição B ek k er (ed. d a A cad e m ia
d e B erlim ), à qual se r e p o rta m a s refe rên cias, u m a
acabam os de falar são juízos com pletos:
série de erro s de p ag in ação . A p ág in a c ita d a é , de fa ­ têm o seu sujeito, o seu atributo, a sua
to , a nP 152. cópula, to das as suas características for-

Sobre Lem a — Este term o, retirado da linguagem dos geóm etras, foi prim eira­
m ente utilizado, parece, p o r E è ú « ÇÃ è τ (ver É tica, parte II: lem as so bre os corpos).
(F. M en tré )
A utilização kantiana n ão será um a simples extensão da utilização m atem ática
n a m edida em que, nesta, os lem as são estabelecidos fo ra da série das dem onstra­
ções, onde em seguida se introduzem ? (C. C. J. W ebb)
L IB E R A L IS M O 614

mais: só lhes falta a crença.” Lógica, cap. poder judicial em relação ao poder exe­
II, § 50. M as esta expressão é um pouco cutivo e d ar aos cidadãos o m ais possível
longa para o uso corrente, e apresenta o de garan tias contra a arbitrariedade do
inconveniente de ter também um outro sen­ governo. Os liberales (prim eira utilização
tido, quando se diz que “ o conceito é um do termo) são o partido espanhol que, por
juízo virtual” (um a função proposicional). volta de 1810, quis in tro duzir na E spa­
Os escolásticos utilizavam já esta n o ­ n h a o parlam ento de tipo inglês. O põe-
ção, mas num caso especial (a teoria das se a au toritarism o.
proposições m odais) sob o nom e de dic- B. D outrina político-filosófica segun­
tu m *. Ver M odalidade* p ro b lem á tica , do a qual a unanim idade religiosa não
P roposição. Cham avam “ com plexo sig- constitui um a condição necessária de um a
nificabile” ao objeto de pensam ento, real b o a organização social, e que reclama pa­
ou irreal, correspondente à lexis como aci­ ra todos os cidadãos a “ liberdade de pen­
m a foi definida. Ver H um bert É Â « E , O sam ento” .
“ com plexo significabile” , tese de d outo­ C. D o u trin a econôm ica segundo a
ram ento em letras, 1937. qual o E stado não deve exercer nem fu n ­
LIBERA LISM O D. L iberalism us em ções industriais, nem funções comerciais
todos os sentidos; Preisinn, sobretudo no e não deve intervir nas relações econôm i­
sentido C; Freiheitssinn no sentido D; E. cas que existem entre os indivíduos, as
Liberalism; F. Libéralisme ; I. Liberalismo. classes ou as nações. Diz-se m uitas vezes,
A. D outrina política segundo a qualneste sentido, L iberalism o econôm ico.
convém au m entar tanto quanto possível Opõe-se a E statism o, ou mesmo mais ge­
a independência do poder legislativo e do ralm ente a Socialism o.

Sobre Liberalism o — N ova redação a d o tad a na sessão de 7 de ju lh o de 1910 para


dar conta das observações de É lie H alévy, R en é B erthelot, F. M entré, C . R an zoli,
C. H ém on, L. Boisse. O texto das três divisões A , B e C deve-se quase inteiram ente
a É lie H alévy; a distinção m encionada na Crítica foi assinalada p o r R e n é B erthelot;
este fez n o tar, por o u tro lado, que, sob a influência de Spencer, se cham a liberalis­
m o em bloco à d o utrina p o r ele defendida, e segundo a qual as funções do Estado
devem ser reduzidas à polícia, à justiça e à defesa m ilitar contra o estrangeiro. M as
tendo-se esta d o u trin a dissociado, houve de início tantos liberalismos quantos os ob­
jetos aos quais se pode aplicar a abstenção do E stado; além do m ais, consoante se
considera a liberdade individual como um fim , a realizar até pela intervenção do Es­
tad o , ou, pelo contrário, esta abstenção do E stado com o o dogm a essencial, a res­
peitar fossem quais fossem os efeitos disso sobre o indivíduo, desembocamos no equí­
voco assinalado n a Crítica. R a n zo li faz n otar que n a Inglaterra a palavra aplica-se
sobretudo no sentido C (econôm ico) enquanto que na Itália é quase sem pre to m ada
no sentido político-religioso B: “ A Igreja livre no E stado livre” , segundo a fó rm ula
célebre que de ord inário se atribui a C avour, m as que m uitos outros hom ens políti­
cos reivindicaram a paternidad e (principalm ente M ontalem bert n a sua Segunda car­
ta ao co n d e d e C a vou r ). F inalm ente, H ém on pretendia que se opusesse ao liberalis­
m o a teoria libertária: “ o prim eiro seria então considerado com o a teoria m oral e
política q u e , a o aspirar ao m á x i m o de liberdade p ara o indivíduo, lim ita a reivindi­
cação ou a o u to rg a dessas liberdades até ao ponto em que elas se torn ariam licenças
prejudiciais a outrem (no sentido d a D eclaração d o s direitos); a teoria libertária, pe­
lo contrário, seria a fo rm a do individualismo que não reconhece qualquer limite con­
vencional e legal à liberdade individual, único dos seus direitos na m edida de sua
potência” .
615 L IB E R D A D E

D. Respeito pela independência de ou­ Ver a série de a rtig o s p u b licad o s em


trem ; tolerância; confiança nos efeitos fe­ 1902-1903 so bre o liberalism o pela Revue
lizes da liberdade. d e m étaph ysiqu e et d e m orale (B Ã Z ; Â ê ,
Lτ Çè Ã Ç , Lτ ú « E , Là ÃÇ , Jτ TÃζ , Pτ 2 Ãá « );
C R ÍT IC A em p articu lar a distin ção estabelecida po r
Vemos pelas distinções precedentes JACOB e n tre a q u ilo a q u e ele ch am a o li­
como este term o é equívoco. A utilização beralism o em pírico e o liberalism o racio­
acidental que dele é feita nos dias de h o ­ nal (ib id -, ja n e iro de 1903).
je n a designação dos partid os ou tendên­ LIB ER D A D E L. L ibertas, liberum
cias políticas aum enta ainda mais a con­ arbitrium ; D. Freiheit; Willensfreiheit nos
fusão. Designa-se particularm ente sob es­ sentidos D , E , F); E. L ib erty, free d o m
te nom e: 1? as doutrinas que consideram (em todos os sentidos); fr e e will (nos sen­
com o um ideal o aum ento d a liberdade tidos D , E , F); F. Liberté·, I. L ibertà; li­
individual; 2? as doutrinas que conside­ bero arbítrio.
ram como meio essencial desta liberdade S en tido p r im itiv o : o hom em “ livre”
a dim inuição do papel do E stad o. O ra, é o hom em que não é escravo ou prisio­
a segunda tese é absolutam ente indepen­ neiro. A liberdade é o estado daquele que
dente d a prim eira; assim , por exemplo, faz aquilo que quer e não aquilo que o u ­
a liberdade do indivíduo não é menos res­ trem pretende que ele faça; é a ausência
tringida por qualquer associação do que de constrangim ento alheio.
pelo Estad o, se este não intervier p ara li­ A p artir daí, o sentido desta palavra
m itar o poder dela. se estendeu em três direções divergentes:

Sobre Liberdade — A rtigo revisto e com pletado segundo as observações de Élie


H a lévy, J. Lachelier, D arlu, M . Bernès, L. C ou tu rat, R e n é B erth elot, e a p artir da
discussão que teve lugar n a sessão de 7 de julho de 1910.
Sobre a oposição entre Uberdade e natureza, ver N a tu reza -, sobre os dois sentidos
de “ liberdade de indiferença” , ver Indiferença, observações.
S obre a o p o sição d o s sen tid o s D e E . Pareceu necessário estabelecer um a distin­
ção entre os sentidos D e E , que tinham sido confundidos na prim eira redação e opos­
tos em bloco ao indeterm inism o. E sta distinção é, sem dúvida, delicada, e nos textos
filosóficos é m uitas vezes difícil saber qual deles está em jogo. N ão será o prim eiro
apenas um a fo rm a transitória e im perfeita do segundo? A liberdade que distingue
o hom em inteligente do anim al, e que o to rn a responsável, d iferirá de outro m odo
que n ão em grau da liberdade do sábio estóico ou da liberdade espinosista? A liber­
dade de que fala M τ 2 « ó Ç no texto citado não será precisam ente u m a qualidade a
ad q u irir, um valor m oral a realizar, m ais do que um a condição psicológica do juízo
de outrem ? D a m esm a fo rm a as fórm ulas extraídas da P sicologia d a s idéias-forças
de Fouillée lim itam -se de fato , se as considerarm os em si m esmas, a definir o caráter
do ser que pode ser julgado m oralm ente. M as se as aproxim arm os do conjunto da
sua doutrina, e em particular do com entário que ele fez questão de nos com unicar,
e que poderá ser encontrado mais adiante in extenso, veremos que esta concepção
se eleva num m ovim ento contínuo do estado psicológico de responsabilidade ao es­
tado m oral de perfeição.
Acreditou-se, contudo, que não havia necessidade de nos determ os nesta obje­
ção; em prim eiro lugar, devido a este princípio geral, posto no início do nosso tra b a ­
lho, de que valia mais distinguir mais do que menos e assinalar ulteriorm ente, em caso
L IB E R D A D E 616

IP por analogia e por generalização, vontade, à sua natureza. “ Q uando um


aplica-se a outros seres que não o homem corpo cai, a sua liberdade manifesta-se ao
e m esmo a seres inanim ados; 2? do p o n ­ proceder segundo a sua natureza, p a ra o
to de vista social e político, caracteriza um centro da Terra, com um a velocidade pro­
certo estado do cidadão o u do súdito nas porcional ao tem po, a menos que a inter­
suas relações com a sociedade e o gover­ posição de um fluido não m odifique a sua
no ; 3? considerando que no interior do espontaneidade (q u eda livre). D a m esma
próprio hom em existem forças e princí­ m aneira, na ordem vital, cada função, ve­
pios de ação que lhe são estranhos e o getal ou anim al, é declarada livre se se
constrangem da m esma form a que um se­ executa conformemente às leis correspon­
nhor tirânico, ou que o seduzem com o dentes, sem qualquer im pedim ento exte­
um adulador egoísta, aplica-se esta pala­ rio r ou in terio r.” A ug. C ÃOI E , C atecis­
vra à independência interior do homem m o p o s itiv is ta , 4? conversa.
relativam ente àquilo que n ão é verdadei­
ram ente “ ele p ró p rio ” ; e, subsidiaria­ 2? S en tido p o lítico e social:
mente, ao indeterminismo, quando é con­ B. Q uando se trata de um a determ ina­
siderado o único meio de eliminar da ação da liberdade particular, ou de “ liberdades”
tu d o o que seja exterior ao agente. no plural, há aí apenas um a aplicação so­
cial do sentido precedente. As palavras li­
1? Sentido geral: vre ou liberdade m arcam simplesmente a
A. E stado do ser que não sofre cons­ausência de um constrangim ento social
trangim ento, que age conform e à sua que se im põe ao indivíduo: neste sentido,

de dúvida, se disso houvesse necessidade, a convergência dos conceitos prim eiram en­
te definidos separadam ente; em segundo lugar, porque, neste caso, existe pelo m enos
um caráter diferencial claro, a culpabilidade ou a perversidade possível do ser do qual
se diz que é livre no sentido D , enquanto que não poderia tratar-se de nada disso no
sentido E; finalm ente, as próprias notas de alguns correspondentes, particularm ente
esta: “ O texto citado de M arión corresponde a algo com pletam ente diferente d a li­
berdade verdadeira, na acepção m etafísica e integral da palavra: esta exprim e a h ar­
m onia total, o equilíbrio perfeito de todas as condições subjetivas e objetivas, espon­
tâneas e reflexivas, sofridas ou consentidas, ratificadas ou postas pela vontade de um a
atividade pessoal. Cf. o texto célebre da Q uarta M ed ita çã o , de Descartes, onde ele
opõe esta liberdade perfeita à liberdade de indiferença ‘que parece m ais um defeito
no conhecim ento do que um a perfeição na von tade’. Cf. tam bém E è ú « ÇÃè τ : ‘Illum
liberum esse dixit, qui sola ducitur ra tio n e ’ {Ética, IV, 68). Assim entendida, a liber­
dade é ao mesmo tem po a conquista d a hom ogeneidade interior e da adapta ção total,
o sib i constare e o to ti m u ndo et D eo se inserere." (C arta de M au rice Blondet)
Vê-se aqui to d a a diferença (provisória ou não , pouco im porta) que existe entre
o sentido D e o sentido E.
C. H ém on escreve no mesmo sentido: “ Seria necessário consagrar um a divisão
especial à liberdade considerada como libertação interior, conquista e posse de si mes­
m o pela reação da vontade ou da inteligência refletida contra as paixões e em geral
contra todas as fatalidades subjetivas; passagem da “ paixão” à “ a ç ão ” , d a servidão
à libertação moral'. 1? no sentido estoico: K iíçtos ε χ ά σ τ ο υ ε σ τ ϊ ν ο τ ώ ν ί ι π ’ ε χ ε ί ν ο ν
θ ε λ ο μ ε 'ν ω ν ή μ η θ ¿Κ α μ ί ν ω ν ε χ ω ν τ η ν ε ξ ο υ σ ί α ν , eis τ ο π ε ρ ι π ο ι ή α α ι η α φ ε λ έ σ θ α ι .
'O a ris ο ΐ ι ν ε λ ε ύ θ ε ρ ο ί ε ί ν α ι β ο ύ λ ε τ α ι , μ ή τ ε θ ε λ ε τ ω τ ι μ ή τ ε φ ε υ -γ ε 'τ ω τ ι τ ω ν ε π ’ ά λ λ ο ι ί
• ε ι δ ε μ ή , δ ο ν λ ε ύ ε ι ν à v á y x η . ( E P I C T E T O , M anual, X I X , 2 ) .
617 L IB E R D A D E

é-se livre de fazer tu d o aq uilo que não é dá-se-lhe geralm ente um valor apreciati­
proibido pela lei, e de recusar fazer tu do vo . Esta palavra designa então não só o
aquilo que ela não ordena. “ A livre co­ grau mais o u m enos elevado de indepen­
m unicação dos pensam entos e das opi­ dência que o indivíduo possui em relação
niões é um dos direitos mais preciosos dos ao gru po social de que faz parte, mas
hom ens; todos os cidadãos podem pois tam bém o grau de independência que se
falar, escrever, im prim ir livrem en te, ex­ considera n o rm al e d esejá vel com o cons­
ceto qu ando isso corresponde ao abuso tituindo um direito e um valor m oral. “ A
dessa liberdade nos casos determ inados liberdade consiste em poder fazer tu do
pela lei.” D eclaração d o s direito s d o ho­ aquilo que não preju dica o u trem .” D e ­
m em , de 1789, art. XI. claração de 1789, a rt. IV. “ A liberdade
As “ liberdades políticas” [political li- consiste em depender apenas das leis.”
berties·, M« Â Â, On liberty, I) são os direi­ VÃÂ I τ « 2 E , P en sam en tos acerca d o g o ­
tos reconhecidos ao indivíduo en quanto verno, V II. Ver tam bém o texto de Aug.
esses direitos lim itam o poder do gover­ CÃOI E , citado mais adiante em E. E sta
no: liberdade de consciência, liberdade in­ palavra, neste sentido, opõe-se, por um
dividual, liberdade de reunião, existência lado, a licença, por o u tro , a opressão.
de um a constituição, self-govern m en t,
exercício do poder por representantes elei­ 3? S en tido p sico ló g ico e moral:
tos, etc. D. (oposto à inconsciência, ao im pul­
C . Pelo co ntrário, quando se to m a a so, à loucura, à irresponsabilidade ju rí­
palavra liberdade num sentido absoluto, dica ou m oral). E stado do ser que, quer

2? No sentido espinosista: “ O hom em livre, quer dizer, aquele que vive apenas
segundo os conselhos da razão, não é dirigido n a sua co nduta pelo tem or d a m orte,
mas deseja diretam ente o bem , e tc .” E è ú « ÇÃè τ , É tica, IV, prop. LX V II. C f. todo
o livro V: “ D e lib é rta te.”
3? N o sentido de J. S. M « Â Â : “ ... Este sentim ento do nosso poder de m odificar
o nosso próprio caráter se o quiserm os é precisam ente o sentim ento de liberdade m o­
ral de que tem os consciência. U m a pessoa sente-se m oralm ente livre quando sente
que os seus hábitos e as suas tentações não a dom inam , m as que ela os dom ina; q uan­
d o , m esm o cedendo, ela sente que poderia resistir-lhes, que se quisesse reprimi-los
absolutam ente não lhe seria necessária um a força de desejo m aior do que aquela de
que é cap az.” J. S. M « Â Â , L ó g ica , V I, cap. II, § 3.
S obre a relação d a liberdade m oral (n o s sen tid o s D e E) co m o indeterm inism o.
A liberdade, aquela que captam os em nós, é a consciência d a ação exercida por
um a idéia, a saber, a idéia do m áxim o de independência que, sob a dupla relação
da causalidade e da fin a lid a d e, pode atingir o eu que concebe o universal.
Esta idéia do máximo de independência possível em relação a todas as outras causas
e a todos os outros fins ten de a realizar-se a o conceber-se e pro duz assim um a inde­
pendência progressiva.
A liberdade, segundo esta d o u trin a, n ão é e não pode ser um a realidade já feita
e já d ad a à consciência, é um universal que se realiza, é um progresso (ver A liberda­
d e e o determ inism o).
P a ra ser qualificado livre, m ais do que n ão livre, e sobretu do m o ra l, mais do que
im oral, um ato não pode ser estranho à categoria de qu alidade. P a ra estar em rela­
ção com o eu, atribuível e im putável m ais ao eu do que a qualquer o u tra causa, não
po de ser estranho à categoria de relação e sobretu do de relação causal ou de causali-
L IB E R D A D E 618

faça o bem , qu er faça o m al, se deci­ relativam ente às quais varia .” Mτ 2 « 6 Ç ,


de depois de refletir, com conhecim en­ D a solidariedade m oral, intro dução. Cf.
to de causa; que sabe o q u e quer, p o r­ em Kτ ÇI , a oposição do arbitrium libe-
que quer e que age apenas conform e a rum , to m ad o nesse sentido, ao arbitrium
razões que ap rova. “ A liberdade é o bru tum que não supõe a existência d a ra ­
m áxim o possível de independência p ara zão (K rit. reitt. V e m ., A 801; B 829).
a vontade, determ inando-se, pela p ró ­ E. (oposto à paixão, aos instintos bru­
p ria idéia de independência, com vista a tais, à ignorância, aos m óbiles acidentais
um fim de que tem igualm ente a id éia.”
ou superficiais). E stad o do ser hum ano
A. FÃZ « Â Â é E , P sico lo g ia d a s idéias-
que realiza nos seus atos a sua verdadei­
fo rç a s, II, 290. “ A liberdade é a causali­
ra natureza, considerada com o essencial­
dade inteligente do eu” (ib id ., 291). “ A
m ente caracterizada pela razão e a m o­
nossa análise arruina essa ficção de um a
ralidade. N este sentido, a palavra liber­
liberdade h um ana in finita, incondicio­
n ad a, inalienável. Se o agente fo r aquele d a d e é um term o plenam ente norm ativo,
que se possui pela reflexão, que conhece e designa um estado ideal, em que a n a ­
tan to a energia que ele dispõe quan to os tureza hum ana seria exclusivamente go­
diversos usos que dela po de fazer, aque­ vernada p o r aquilo que nela existe de su­
le que prevê, com para e ajuíza as diferen­ perior (Eè I ë TÃè , Eè ú « ÇÃè τ , etc.). “ Só
tes séries de fenôm enos que a sua deter­ Deus é perfeitam ente livre, e os espíritos
m inação pode realizar, é claro que a sua criados só o são à m edida que estão aci­
liberdade depende de várias condições m a das paixões.” LE « ζ Ç« U , N o v o s en-

dade. Finalm ente, para ser intencional, inteligente e p o r isso m esm o inteligível, para
ser sobretudo bo m ou m au, não pode ser estranho à categoria de fin a lid a d e. É por
isso que, segundo a d o u trin a exposta em A liberdade e o determ in ism o, a idéia de
liberdade, a idéia segundo a qual os futuro s não são necessariamente causados e d e ­
term in ados sem a nossa ação e sem a nossa cau salidade pró pria perseguindo um fim ,
é ela própria a categoria suprem a da ação, quer dizer, a idéia diretora de qualquer
ação e sobretudo da ação m oral, idéia que se realiza por um a sem pre crescente a p ro ­
xim ação e um a crescente reflexão sobre si m esmo. (A . Fouillée)
A palavra liberdade tem para mim um sentido interm ediário entre aqueles que
habitualm ente se dão aos dois term os liberdade e livre-arbítrio. P o r um lado, creio
que a liberdade consiste em a pessoa ser totalm ente ela m esm a, em agir em confor­
m idade consigo: isto seria, pois, num a certa m edida, a “ liberdade m o ra l” dos filó­
sofos, a independência da pessoa face a tudo aquilo que não é ela. M as não é inteira­
m ente essa liberdade, porque a independência que descrevo não tem sempre um ca­
ráter m oral. A lém do m ais, não consiste em depender de si com o um efeito da causa
que o determ ina necessariamente. P o r aí eu regressaria ao sentido de “ livre-arbítrio” .
E , todavia, não aceito tam bém com pletam ente esse sentido, n a m edida em que o livre-
arbítrio, no sentido habitual do term o, im plica a igual possibilidade dos dois co n trá­
rios, e não se pode, n a m inha opinião, form ular ou sequer conceber aqui a tese da
igual possibilidade dos dois contrários sem nos enganarm os gravem ente acerca da
natureza do tem po. P o d ería, pois, dizer que o objeto d a m inha tese, acerca deste
ponto particular, foi precisam ente encontrar um a posição interm ediária entre a
“ liberdade m o ral” e o “ livre-arbítrio” . A liberdade, tal com o a en tendo, está situa­
da entre estes dois term os, mas não a igual distância de um e d o outro . Se fosse
619 L IB E R D A D E

saios, livro II, cap. 21. “ A liberdade ver­ deixá-la em repouso, ou a movê-la de um
dadeira encontra-se sempre inerente e su­ lado e não do o u tro , não existe razão p a­
bo rd in ad a à ordem ta n to hum ana com o ra um tã o grande efeito senão a sua von­
exterior... A nossa m elhor liberdade con­ tade, pela qual ele me parece soberana­
siste em fazer tan to quanto possível pre­ mente livre.” BÃè è Z E I , Tratado d o livre-
valecer as boas tendências sobre as m ás.” arbítrio, cap. II. “ O hom em crê-se livre:
Aug. C ÃOI E , C atecism o p o sitivista , 4? em outros termos, dedica-se a dirigir a sua
conversa. atividade com o se os m ovim entos d a sua
F . (oposto a determ inism o). consciência, e por conseqüência os atos
1? P oder de agir sem o u tra causa que que dela dependem... pudessem variar pe­
não seja a própria existência deste poder, lo efeito de algo que está nele, e que n a ­
quer dizer, sem qualquer razão relativa da, nem sequer aquilo que ele é antes do
ao conteúdo do ato com etido. últim o m om ento que precede a ação, pre­
‘‘Q uanto m ais pro curo em mim mes­ determ ina.” RE ÇÃZ â« E 2 , Ciência d a m o ­
m o a razão que me determ ina, mais sin­ ral, I, 2.
to que não existe o utra senão a m inha A indeterm inação d a vontade relati­
vontade: sinto desta fo rm a claram ente a vam ente ao seu objeto sob esta fo rm a
m inha liberdade, que consiste unicamente chama-se em geral liberdade d e indiferen­
num a tal escolha. É o que me faz com ­ ça* (ver m ais ad iante a Crítica).
preender que sou feito à imagem de Deus; 2? P oder pelo qual o fundo individual
porque, não havendo n ad a na m atéria e inexprimível do ser se manifesta e se cria
que o determ ine a m ovê-la mais do que a em parte ele pró p rio nos seus atos — po-

forçoso confundir-se com um deles, seria pelo “ livre-arbítrio” que eu optaria. (H .


Bergson )
Existe, parece-me, no sentido F, 2?, um a confusão entre duas idéias m uito dife­
rentes. A relação de um espírito com o ato que executa é certam ente livre, m as p o r­
que espírito já significa liberdade. A relação de um agente qualquer com a sua ação
é efetivam ehte qualquer coisa de inefável, e podem os efetivam ente cham á-la livre,
no sentido em que não se assem elha em nada à determ inação de um fenôm eno por
um o utro ; mas trata-se aí de um sentido com pletam ente diferente d a palavra liberda­
de·, e se este agente for cego, basta, parece-m e, dizer espontan eidade. P ro p o ria as
seguintes distinções: I. A liberdade, tal com o todos a reconhecem em princípio a to ­
dos o ser racional; e essa liberdade pode ser concebida: 1? como inteiram ente inde­
term inada; 2? com o determ inada pela presença dos m otivos (aqueles que adm item
essa determ inação deixam quase sempre subsistir, com o K ant, talvez mesmo com o
Leibniz, um fu ndo m etafísico de indeterm inação absoluta); II. A liberdade tal com o
cada um de nós a criou em si m esm o, ao fazer predom inar m ais ou m en os a razão
sobre as paixões. Mas este segundo sentido é mais m oral do que filosófico. O verda­
deiro sentido filosófico de liberdade é indeterm inação ab soluta, não por ausência
de qualquer tendência, m as através da elevação acim a de qualquer tendência e de
to d a natureza. ([J. Lachelier)
Podem os definir a liberdade, num sentido geral, com o a independência em rela­
ção a causas exteriores. As espécies deste gênero são a liberdade física, a liberdade
civil ou política, a liberdade psicológica, a liberdade m etafísica. A própria liberdade
psicológica será quer liberdade racional (Leibniz, J. S. Mili), quer liberdade de indi­
ferença, consoante se considera a natureza da alm a com o sendo inteligência ou von ­
tade. N o prim eiro caso, o exterior, o superficial, será o instinto, a paixão, etc.; no
L IB E R D A D E 620

der de que tem os consciência com o de menos anteriores, dos quais resulta segun­
um a realidade ¡m ediatam ente sentida, e do leis que o determ inam rigorosam ente
que caracteriza um a ordem de fatos em em relação a estes; 2? os fenôm enos as­
que os conceitos do entendim ento, e es­ sim encadeados, não sendo coisas em si,
pecialmente a idéia de determ inação, per­ m as simples representações, têm , por o u ­
dem qualquer significação. “ Chama-se li­ tro lado, causas intem porais que não são
berdade à relação do eu concreto com o fenômenos, e a sua relação com essas cau­
ato que ele comete. E sta relação é indefi­ sas constitui a liberdade: “ Sie müssen
nível, precisam ente porque som os livres: selbst noch G ründe heben, die nicht E rs­
analisa-se, com efeito, um a coisa, m as cheinungen sind. Eine Solche intelligibe-
não um progresso; decompõe-se a exten­ le U rsache aber w ird, in A nsehung ihrer
são, mas não a d u ra ção ... É por isso que Causalität nich durch Erscheinungen bes­
qu alquer definição da liberdade d a rá ra ­ tim m t... Die W irkung k an n also in A n ­
zão ao determ inism o.” H . B 2 ; è Ã Ç , E
sehung ihrer intelligibelen U rsache als
Ensaio sobre o s d a d o s im ediatos d a cons­ f r e i, u nd doch zugleichen in A nsehung
ciência , p. 167. der Erscheinungen als Erfolg aus densel­
G. Liberdade “ inteligível” , “ tra n s­ben nach der N othw endigkeit der N atu r
cendental” ou “ num enal” , que consiste, angesehen w erden .” 1 C rítica da razão
segundo Kτ ÇI , em que a explicação
com pleta de qualquer fenôm eno dad o é
1. “ Eles p ró p rio s po ssuem razões d e ser q u e não
dupla: 1? enquanto este fenôm eno a p a ­ são fen ôm enos. O ra , u m a tal causa inteligível, n o que
rece no tem po, devemos ligá-lo a fenô- diz respeito à su a causalid ad e, não é d eterm inada por

segundo caso, será o conceito, o raciocínio ab strato , etc. Finalm ente, definiria a li­
berdade m etafísica (quer espinosista, quer kantiana) com o sendo a independência
em relação a um a ordem de causas. (E. H a lévy ) P arece-m e difícil excluir do sentido
psicológico (e m oral!) a acepção em que E spinosa to m a a palavra lib erd a d e : e reci­
procam ente os epicuristas ou os cartesianos, partidários d a liberdade de indiferença,
vêem aí certam ente um poder m etafísico. Creio que o m esm o se p assa com Bergson.
E, por conseqüência, exceto p a ra K ant, que distingue expressam ente vontade em pí­
rica e liberdade numenal, parece-me impossível separar um a da outra estas duas classes
de sentidos. Além do m ais, a definição que faz da liberdade m etafísica a indepen­
dência em relação a um a ordem d e causas parece-m e convir a qu alquer liberdade:
a queda livre é a independência em relação às o utras forças que n ã o o peso; a liber­
dade política, a independência em relação à arbitrariedade governam ental; a liber­
dade estóica, a independência em relação às paixões, etc. D iria antes, partindo daí,
que a idéia de liberdade ab so lu ta , que se poderia ch am ar m etafísica, nom eadam ente
enquanto se opõe à n atureza, consiste num a espécie de p a ssagem ao lim ite:
representam o-nos a ação com o liberta sucessivamente destas e daquelas ordens de
causas, até ao p o n to em que ela se to rn a estranha ao m esm o tem po a to d a s as ordens
de causas, quaisquer que elas sejam . M as é m uito contestável a legitim idade desta
operação. (A . L .)
A confusão assinalada entre os diversos sentidos psicológicos e m orais da p ala­
vra liberdade (sentidos D , E, F , 1? e 2?) provém de um erro, pretendido ou não,
da análise; ela produz-se quer nu m a filosofia principalm ente objetiva e intelectualis-
ta que, sem ch am ar a atenção sobre as tendências, sobre a atividade em si m esm a,
se limita a revelar-lhe o caráter tan to racional com o empírico; quer num a doutrina
imediatamente sintética e concreta, para a qual idéia racional e representação são forças
621 L IB E R D A D E

pu ra, A ntinom ia da razão pura, 9? seção, exem plo, quando um hom em não pode
A 537; B 565. C f. K ritik d er p ra k . Ver­ votar no sentido que lhe conviria, porque
nunft, “ Kritische Beleuchtung” 1, do § 7 perderia um lugar que lhe é necessário.
ao fim ; e ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , Ü ber dieF re- E , no caso do pró p rio doente, a im possi­
h eit des m enschlichen W illens , cap. V. bilidade de agir desta ou daquela fo rm a
não é, o m ais das vezes, um a im possibi­
CRÍTICA lidade física real, m as apenas a am eaça
1. O sentido A é vulgarm ente desig­ de um agravam ento do seu m al, ou de
nado, no que se refere às ações hum anas, um a com plicação m ortal, se agisse com o
sob o nome de liberdade físic a -, é essa que o faria norm alm ente. A expressão liber­
falta ao doente, ao prisioneiro, etc. O ter­ d a d e externa seria, pois, preferível.
m o é um pouco estreito, porque o fato 2. A liberdade, no sentido C (políti­
de não poderm os fazer o que querem os ca), não pode definir-se por um a ausên­
devido a um constrangim ento entra fre- cia total de constrangim ento exercido so­
qüentem ente na m esma categoria: p o r bre 0 indivíduo, o que seria incom patí­
vel com a p ró p ria existência de um a so­
ciedade. E la não consiste tam bém , com o
fe n ô m e n o s... A açâo p o d e, p o is, d o p o n to d e v ista freqüentem ente se diz, n a supressão de
d a su a causa inteligível, ser c o n sid e ra d a co m o livre, um constrangim ento anterior qualquer
e c o n tu d o , d o p o n to de vista d o s fen ô m en o s, co m o
um fa to que resu lta dos seus e n cad e am en to s segun ­
porq ue não é raro ouvir objetar a tal su­
d o a necessidad e n a tu r a l.” pressão que esta seria “ não a liberdade,
1. “ E sclarecim ento c rític o .” m as a licença” . O conceito de liberdade,

quer elementares, quer com postas1. N os dois casos um poder p ró p rio resulta p ara
a consciência individual d a substituição nela das idéias claras e distintas ou racionais
às percepções confusas. A gir racionalm ente em vez de agir em piricam ente corres­
ponde a aum entar o seu p o d e r efe tivo , porq ue isso é pôr mais unidade em si e m e­
lhor harm onizar as suas ações com um a ord em exterior, hum an a, universal ou divi­
na. A afirm ação d a liberdade assim entendida é a afirm ação, d o p onto de vista obje­
tivo, da superioridade d o universal e do necessário sobre o individual e sobre o con­
tingente.
O s sentidos F resultam da dissociação d a idéia e da tendência, do entendim ento
e d a vontade.
O prim eiro, m uito ab stra to , pode estabelecer-se d a seguinte form a: ordem ou de­
sordem , racionalidade o u irracionalidade, n o hom em ou no universo, são simples
possíveis que se com param objetivam ente, e que são os objetos dos ju ízos de valor,
um m arcando a perfeição, o o u tro a im perfeição; o indivíduo tem m ais valor quan­
do está em h arm o n ia consigo pró p rio e com o universo (racionalidade) do que no
caso contrário (irracionalidade); m as, este p o n to de vista, longe de ser p o r si pró prio
um valor, só o obtém deixando de se distinguir do universo. Se é um valor, o é en­
quan to vo n ta d e o u potência, que pode realizar o racional ou n ão o realizar; ser livre
é ser essa p ró p ria potência indeterm inada, que apercebem os claram ente a o separá-la

1. B ern ès p arece ad m itir a q u i q u e a co n fu sã o só ex iste q u a n d o se to m a a lib erd ad e inteligente n o se n tid o


D e E , p a r a u m a re p re se n ta ç ã o a d e q u a d a d a lib erd ad e d e in d e te rm in a ç ã o , n o se n tid o F . M a s p arece-m e q ue
o in v erso é p e lo m en o s ta m b é m fre q u e n te : co n sta ta -se u m ce rto g ra u de liberdade» n o se n tid o D , o n d e se
d e fen d e a realização d a lib e rd a d e , n o se n tid o E , e crê-se te r estabelecido co m isso a existência o u o v alo r
m o ra l d a lib erd ad e, n o se n tid o F , 1? o u 2 ?. (A . £ . )
L IB E R D A D E 622

nesta acepção, é, pois, essencialmente 3. Sobre a distinção dos sentidos D,


apreciativo*·, a liberdade é a ausência ou E , F, ver as observações. Sendo estes sen­
a supressão de qualquer constrangim en­ tidos geralm ente confundidos n a lingua­
to considerado com o anorm al, ilegítim o, gem filosófica, pro pom os o seguinte:
im oral. “ Esse constrangim ento, que nos a. C ham ar sempre “ liberdade m oral”
im pede de satisfazer desm esuradam ente ao poder razoável definido em D (sp o n -
os nossos desejos, mesmo os desregrados, taneitas intelligentis de LE « ζ Ç« U , intellec­
não pode ser confundido com aquele que tuelle Freiheit de ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 ; ver re­
nos retira os meios de obter a ju s ta rem u­ lativamente a este últim o term o, Ü ber die
neração do nosso trabalho. O prim eiro Freiheit, apêndice I).
não existe para o hom em s ã o .” (DZ 2 3 - b. C ham ar “ liberdade do sábio” , co­
HEiM, D ivisão d o trabalho social, p. m o freqüentem ente se faz aliás, à a u to ­
429). Cf. A u to n o m ia . nom ia estoica ou espinosista. Estes dois
A idéia de liberdade im plica, p o rta n ­ últim os adjetivos podem , ademais, servir
to , neste sentido, a idéia de lei, enquanto p ara precisar o m atiz particular desta li­
que no sentido B se o p õ e à lei e com eça berdade que se pretende visar.
apenas no ponto em que a lei deixa de o r­ c. Reservar o nom e “ livre-arbítrio”
denar. A inda que se apresente, entre es­ p a ra as duas form as de indeterm inism o
tes dois sentidos, igualm ente utilizados, definidas em F, conservando a prim ei­
interm ediários em baraçosos, não há d ú ­ ra o nom e vulgar de liberdade d e indi­
vida de que dim anam de duas concepções feren ça * , ou m elhor, livre-arbítrio d e in­
originariam ente diferentes. diferença: liberum arbitriu m indifferen-

de qualquer juízo de valor objetivo, por exem plo, na escolha de dois objetos de va­
lor igual e que diferem apenas num ericam ente. Essa liberdade de indiferença é assim
um princípio de existência inteiram ente separado pelo pensam ento de princípio das
essências e dos valores objetivos. E sta concepção apresenta-se naturalm ente num a
análise ab stra ta que, depois de ter posto e com parado em prim eiro lugar objetiva­
mente as características do indivíduo e das coisas, faz n o tar que perm anece ainda,
depois de term inado este trabalho, p o r fundar a existência dessas características, e
assim in tro duz, fora do entendim ento que concebe o u percebe, um a vontade cujo
único papel é o de realizar.
M as o sentido F pode apresentar-se de o u tra m an eira, de um a fo rm a m ais concre­
ta, e não já com o o com plem ento de um a análise an terior. É o que acontece quan do,
aplicando o pensam ento à vida consciente, se n o ta que ela é ao m esm o tem po da d a
com o um a existência e como um valor; que, ao m esm o tem po com o existência (p or­
que se abre p ara o futuro ) e com o valor (porque a nossa concepção de um a perfeição,
ao estabelecer-se por com paração, é apenas a de um mais perfeito ou de'u m m enos
im perfeito, de um m elhor), ultrapassa todos os quad ros em que a reflexão, ao fixá-la
m om entaneam ente, pro cura fazê-la m anter-se, e perm anece perfeitam ente incom en­
surável a todas as medidas que escolham os para um a utilização instru m en tal; final­
m ente, que se qualquer operação pro priam ente intelectual ou reflexiva perm anecer
abaixo da sua realidade, essa indeterm inação relativa de nós pró prio s está contudo
presente à consciência no sentim ento global que intuitivam ente possuím os da nossa
ação. E é então essa m argem em que nascem ao mesmo tem po a representação objeti­
va que form am os de nós pró prio s e o sentim ento íntim o do nosso poder, que cham a­
mos a nossa liberdade, elem ento essencial e irredutivelm ente individual de nós mes­
m os, m atéria nunca esgotada p ara a reflexão que se dedica a isolá-lo do universal.

/
623 L IB E R D A D E

ticte (DZ Çè STÃI , etc.)· É verdade que diferença p erfeita ou de equilíbrio, na


Leibniz, sem pre preocupado em dar um qual alguns pretendem fazer consistir a
bom sentido às fórmulas em curso, tomou essência da liberd ade.” P o r outro lado,
m uitas vezes “ liberdade de indiferença” ele cham a fra n c o arbítrio à liberdade do
no sentido D , e que designa neste caso o espírito “ oposta à necessidade e que se
sentido F, que ele exclui, sob o nom e de refere à vontade sim ples” ; distingue-a
“ indiferença de eq uilíb rio” ou “ indeter- dessa o u tra liberdade “ que se opõe à im ­
m inação” (ver particularmente Teodicéia, perfeição do espírito” e segundo a qual
35,46,232); mas freqüentemente também “ só Deus é perfeitam ente livre, e os espí­
faz n otar que a “ plena indiferença” , a ritos criados só o são à m edida que estão
“ indiferença vaga” ou “ indiferença p u ­ acim a das paixões” ; o que é a liberdade
ra ” seria a m esm a coisa que esse equilí­ no sentido E (N o v o s ensaios, II, X X I,
brio inadmissível (ib id ., 175, 303, 314, § 8).
320, 365). Cf. N o v o s ensaios, II, X X I, R ad. in t .: A . B. C. D . E . Liberes; F .
§ 47: “ O princípio im aginário de um a in-.I* Liber-arbitri.

C onsiderando estas diversas acepções d a palavra Uberdade, inclinar-m e-ia a


classificá-las da seguinte form a:
1? S en tidos p rin cipalm en te negativos. A usência de constrangim ento (ausência de
constrangim ento do indivíduo: 1? por um a influência física; 2? p o r um a influência
m oral; 3? em particular por influência de um gru po social politicam ente constituí­
do). O term o com um aplicável em todos os casos parece ser o term o: independência.
2? Sentidos p o sitiv o s. I. Possibilidade de p oder da ação racional, poder devido
ao mesmo tem po às suas características form ais (ordem e unidade) e à universalida­
de do seu objeto; significa sim plesm ente que, sendo iguais as condições, a ação que
se faz num a direção constante, e particularm ente na direção das constantes do real,
adquire p o r isso mesmo um a m aior eficácia. N ão creio que haja necessidade de cha­
m ar a isso um a liberdade m oral, a palavra livre qualificando m ais um sujeito de ação
do que um instrum ento de ação, ainda que perfeito, e sendo a reflexão racional, aliás,
um instrum ento de ação talvez indefinidam ente perfectível, m as nunca perfeito nem
suficiente. T udo o que se pode dizer é que se com pararm os a co n d u ta conform e a
razão com aquela que depende apenas das im pressões im ediatas, a prim eira é um
m eio poderoso de libertação em relação a u m a m ultiplicidade de necessidades factí­
cias que ela elim ina, p ara reter apenas as necessidades m ais irredutíveis.
II. E sta acepção assinala em todos os casos que o sujeito considerado é, num cer­
to sentido, o princípio da realização dessa potência (do fiai)·, e é a acepção que m e­
lhor parece convir à palavra liberdade.
Pode-se, aliás, distinguir: 1? a concepção desse princípio em si m esm o, fo ra de
to d a distinção de valor nas ações que envolve, concepção com pletam ente ab stra ta
e negativa, que só tem um interesse crítico, resultante do fa to de ela cham ar a aten ­
ção p ara a irredutibilidade do querer à razão do sujeito individual, ao objeto univer­
sal (é a liberdade d e indiferença). C onsid erada com o positiva, esta concepção seria
contraditó ria, no sentido em que visaria a isolar e a determ inar a liberdade com o
um objeto distinto; 2? o sentim ento, form ado na própria ação, de um poder que
nos ultrapassa em todos os seus efeitos dados ou concebíveis, que absolutam ente ne­
nhum juízo de valor lim ita, na m edida em que esses juízos são apenas ensaios im per­
feitos de expressão das suas preferências, mas que não se podem separar realm ente
dos seus efeitos, nem dos juízos de valor que aí se aplicam , na m edida em que está
“L IB E R T A R IO ” 624

“ L IB E R T Á R IO ” Term o novo, em- O lim iar diferencial é a m enor dife­


prega-se em dois sentidos: rença na grandeza da excitação que seja
A . (o mais freqüente). P artid ário da suficiente para provocar duas sensações
dou trin a an arq uista. Diz-se apenas num distintas.
sentido teórico e especulativo.
U m a e o u tra não são grandezas fixas,
B. (mais raro e im próprio). Sinônimo
m as variam continuam ente (à volta de
de liberal, em qu alquer dos sentidos des­
ta palavra. um a m édia p ró p ria p a ra cada espécie de
R ad. in t.: L ibertan. sensações); 1? com os indivíduos; 2? com
o estado psicológico de cada um deles.
“ LIB ER TISM O ” F . L ibertism e. Cf. Fechner.
Este term o foi utilizado por BE 2 ; è ÃÇ R a d . int.: Soli.
p a ra designar o gênero de doutrinas de
que faz parte a sua p ró p ria filosofia (Re­ LIM IN A R D . L im inal, Sch w ellen ...;
sum o do prim eiro Congresso internacio­ E. Liminal; F. Lim inal. Relativo a limiar*
nal de filosofia, 1900. R evu e d e m étaphy­ (da consciência, da excitação, etc.).
siqu e et d e m o ra le, vol. V III, p. 661). R ad. int.: Liminal.
L IM IA R D . Schwelle, R eizschw elle; L IM IT A Ç Ã O D. L im ita tio n , Bes­
E. Threshold·, F. Seuil; I. Soglia.
chränkung; E. Lim itation; F. Lim itation;
Term o em pregado prim eiram ente por
H E 2 ζ τ 2 I : B ew usstseinschw elle, limiar I. L im ita zio n e.
da consciência. A . Característica daquilo que apresen­
P sic . O lim iar ab so lu to de um a sen­ ta um lim ite, no sentido A.
sação é a grandeza de excitação m ínim a B. Característica dos termos negativos
que esta sensação é suscetível de provo­ (quer sejam utilizados com o sujeitos quer
c a r. como predicados de um a proposição). Es-

pelo m enos em p arte nos seus efeitos, e os juízos de valor têm por objetivo exprimir
o principal das suas tendências; é sobre .ela que repousam esses juízos, é a ela que
pedem a sua m atéria, e nela que reside a possibilidade de os desenvolver. Ela é, p o r­
ta n to , praticam ente, aquele algo de nós que to da ação que se executa acrescenta a
to d a determ inação adquirida; e descobrim os a sua existência de mil m aneiras: dire­
tam ente no sentim ento pleno d a vida ativa, indiretam ente na idéia da relatividade
das nossas percepções presentes ou da lim itação de valor das nossas análises e das
nossas construções de conceitos. Em particular, se restringirm os, com o freqüente-
m ente acontece, a sua ação a um a simples escolha entre os valores já definidos, se
a considerarm os, pois, com o um a espécie de arbitragem , podem os cham ar-lhe um
livre-arbítrio. (M. Bernès )

Sobre “ L ibertism o” — “ Deve-se distinguir o lim iar d a excitação (D . Reizsch-


w ellé), limite de intensidade de um excitante abaixo do qual este é dem asiado fraco
para provocar um a sensação; e o lim iar d a sensação (D. Em pfm dungsschw ellé), quer
dizer, capaz de ser perceptível.
O inverso do lim iar, o lim ite superior acim a do qual um excitante cessa (em cer­
tos casos) de ser percebido, poderia ser cham ado “ auge de excitação” (D. R eizhòhé).
O term o lim iar tem um a aplicação que ultrapassa a psicologia d a sensibilidade:
pode-se tam bém falar do lim iar d a atenção (limite abaixo do qual um excitante é
dem asiado fraco p a ra provocar a atenção); do lim iar do sono; do lim iar d a percepti-
bilidade (por exemplo, na leitura; etc .).” (É d . C laparède )
625 L IM IT E

ta utilização d ata de Boécio, segundo gica geral, na qual não pode haver sequer
P E « 2 TE , B a ld w in ’s D iction ary, Vo. term os negativos, é necessária à lógica
R ad. int.: A . Finitec. transcendental; m as, de fato , não retirou
LIM IT A T IV O D. Beschränkend, L i- qualquer utilização delas no estabeleci­
m itativ; E. Restrictive; F. L im ita tif ; I. L i­ m ento das antecipações da percepção que
m itativo. dependem da categoria de qualidade. Ver
A lém do sentido geral desta p alav ra, In defin ido, Crítica.
que não possui caráter especialm ente fi­ LIM IT A T IV A (P articular*) A quela
losófico, ela en tra em várias expressões que (quer expressam ente, quer devido ao
técnicas de lógica:
contexto) afirm a ou nega o predicado de
“ Lim itativos (conceitos)” D. Grenz- um a p arte apenas da extensão do sujei­
begrieffe (Kτ ÇI ). Ver adiante L im ite, A , to ; equivalente, por conseqüência, à as­
e observações. serção sim ultânea de I e de O . N a lingua­
Lim itativos (juízos) D. Beschränkend gem corrente, as proposições particulares
U rtheile (Kτ ÇI , K r it der reinen Ver­ são quase sem pre entendidas neste senti­
nunft, observações acerca do quadro das do; m as, n a lógica clássica, aceita-se que
form as do juízo, § 2). as particulares sejam sem pre tom adas no
Estes juízos, tam bém cham ados por sentido m inim al*. Sobre a lógica das par­
Kτ ÇI in defin idos (unendliche Urt heile), ticularidades limitativas, ver G« ÇUζ E 2 ; e
são os juízos afirmativos de predicado ne­ CÃZ I Z 2 τ I , R evu e d e m étaphysique, ano
gativo: “ A alma é não-m ortal.” Ocupam de,1913, p. 101; e 1914, pp. 257-260. Diz-
o terceiro lugar na categoria da qualida­ se ainda, neste sentido, “ particular ex­
d e e opõem-se a esse título aos juízos afir­ clusiva” .
m a tivo s e n egativos.
L IM IT E D . G renze, G ren zw ert (no
CRÍTICA sentido B); E. Lim it; F. Limite·, I. L im ite.
Kτ ÇI explica, na observação citada A. P o n to , linha ou superfície consi­
acim a, que esta distinção, inútil para a ló­ derados com o assinalando a separação

Sobre Lim itativo — H á, contudo, u m a diferença entre “ não ser m entiro so” e
ser “ não-m entiroso” . N o prim eiro caso, o predicado m entiroso é simplesmente su­
prim ido; no segundo, é substituído por um predicado oposto, que o exclui. (J. La-
chelier)

Sobre Lim ite — O sentido C nos foi assinalado por B ertran d R ussell, que faz
n o tar sim ultaneam ente que este conceito é mais simples do que o conceito corres­
po nden te ao sentido usual B.
R a n zo li desejaria que um artigo especial fosse consagrado à idéia de Grenzbe-
g riff, conceito lim itativo. N ão só, diz ele, esta noção foi frequentem ente utilizada
por K ant, mas tam bém a encontram os em A2 á« ; ó (II noúm eno d i K a n t, pp. 117-146
das O pere filo so fich é) e em H ò E E á« Ç; , F ilosofia da religião, cap. II, 2 í parte, que
tem precisam ente por título: “ Os conceitos lim itativos.”
Crem os dever-nos lim itar a um a simples m enção deste term o, que é extrem am en­
te raro em francês. O resum o do livro de A rdigó, L a d o ttrin a spenceriana delVInco-
noscibile, publicado por J. Segond na R evu ep h ilo so p h iq u e de 1? de abril de 1900
(p ara o qual nos rem ete Rτ ÇUÃÂ « ), contém apenas um a única vez e acidentalm ente
a expressão “ conceito lim itativo” . N ão poderíam os em qualquer caso na nossa lín­
gua, o francês, em pregar a expressão “ conceito-lim ite” como ele o faz em italiano
( con cetto-lim ite ); o sentido B da palavra lim ite to rnou-se tão preponderante na lin-
L IN G U A 626

entre duas regiões do espaço (prim itiva­ valores que diferem cada vez m enos de a,
mente, de dois territórios). P o n to que as­ fazer tom ar a y os valores que diferem ca­
sinala a separação entre dois períodos de da vez menos de b , poden do esta diferen­
tem po. P o r m etáfora, o p onto que um a ça descer abaixo de to da quantidade dada.
ação, um conhecim ento, etc. não podem C. Sendo d ad a um a classe a contida
transpor. Distinguem-se muitas vezes nes­ num a série P , se a n ão tiver um últim o
te sentido os lim ites atuais e os lim ites ne­ term o, chama-se “ limite de a ” ao primei­
cessários, ou últim os. “ Esse limite (o nú­ ro da série P que sucede a todos os ter­
m ero dos corpos simples) nunca foi acei­ mos de a. “ U m núm ero irracional é o li­
to pelos quím icos senão como um fato m ite das diversas frações que lhe forne­
atuai, que sempre conservaram a esperan­ cem valores cada vez mais aproxim ados.”
ça de u ltrap a ssa r.” B 2
E I 7 Â Ã
E , A s ori­
I Cτ Z T7 à , A n álise algébrica, p. 4.
gens da alquim ia, livro IV, cap. II, 289. E sta noção de limite infinitesim al
N um sentido m uito próxim o, K τ Ç I emprega-se tam bém freqüentem ente p or
cham a ao conceito de núm ero “ ein m etáfora na ordem psicológica e m oral.
G renzbegriff” (um conceito-limite) en­ “ A natureza é o limite do m ovim ento de
qu anto serve apenas para lim itar {eins- decréscim o do h á b ito .” Rτ âτ « è è ÃÇ , D e
chránken) as pretensões do conhecim en­ Vhábitude, p. 32.
to sensível, e que tem apenas, por conse- R ad. in t.: Limit.
qüência, um a utilização negativa ( Crít. da
L ÍN G U A D. Sprache·, E. Language,
razão pu ra, A 255: B 311). Esta noção
tongue; F. Langue; I. Língua.
continuou em uso em alguns filósofos
A . Sistema de expressão verbal do
contem porâneos. P ara a crítica do term o
pensam ento que com porta um vocabulá­
que a representa, ver as observações.
rio e um a gram ática definidos, relativa­
B. “ C ham am os lim ite de um a gran­
mente fixos, constituindo um a instituição
deza variável a um a grandeza constante,
social durável, que se im põe ao h ab itan ­
tal que a diferença entre ela e a variável
te de um país e perm anece quase com ple­
possa tornar-se e perm an ecer m enor que
tam ente independente d a sua vontade in­
toda a grandeza designada.” DZ 7 τ OE Â ,
dividual.
D o s m éto d o s nas ciências de raciocínio,
B. M aneira de escrever de um autor;
2? parte, pp. 385-386. A segunda condi­
m aneira de falar ou de escrever de um
ção, a que consiste em perm an ecer m e­
grupo m ais ou m enos restrito. “ A língua
nor do que qualquer grandeza designada,
de A ristóteles, a língua dos cartesianos.
é necessária, com o se faz observar mais
A língua do desp o rte .”
adiante, p a ra que um a variável só possa
C. Acidentalmente, e nos casos raros,
tender p ara um m esm o limite.
diz-se p or m etáfora de sistemas de signos
Mas esta definição não determ ina sob
ou de expressões que não as palavras: por
que lei de variação a variável em questão
exemplo, no título da o b ra de CÃÇá« Â -
se torna e perm anece m enor do que o seu
 τ T , A língua d o s cálculos.
limite. É, p o rtan to , vantajoso precisá-la
R ad. int.·. Lingu.
dizendo que um a função de x (seja y ) tem
por limite um a grandeza fixa b quando Língua universal, ou língua interna­
x tende p ara a, se puderm os, dando a x cional (freqüentem ente abreviada L. I.):

guagem filosófica francesa que esta expressão seria quase necessariamente entendida
num sentido com pletam ente diferente do G ren zbegriff! cantiano, pareceria designar
o conceito form ado por um a passagem ao lim ite, e, de fato , foi usada neste sentido
por vários autores. De resto, m esm o em alem ão, G ren zb eg riff foi tam bém tom ado
neste sentido, p o r exemplo em WZ Çá I , L o g ik , II, 4? parte, cap. I, § 4. (A . L .)
627 L O C A IS (Sinais)

língua artificial, criada quer em to das as Âτ «è , Pantagruel, II, V I; atualm ente, já


suas partes, com radicais com postos de só se diz d a linguagem dos povos n ão ci­
um a m aneira sistem ática de form a a que vilizados, ou de m aneiras de falar espe­
os seus elem entos verbais correspondam ciais, com o um jarg ã o , que não têm a fi­
aos elem entos lógicos das idéias (as lín­ xidez e a regularidade das grandes línguas
guas deste tipo são cham adas línguas f i ­ de cultura.
losóficas ou a p rio r i: P rojetos de Descar­ Pelo contrário, utiliza-se linguagem
tes, D algarno, Leibniz, Letellier); quer freqüentem ente, por oposição à língua,
ado tan d o as raízes que são já as mais in­ para distinguir a função de se exprimir pe­
ternacionais e acrescentando-lhes prefixos la fala, em geral, deste ou daquele siste­
ou sufixos de sentido rigorosam ente de­ m a lingüístico fixado num a dada socie­
finido que servem, uns p ara assinalar a dade. É assim que se opõe à questão da
sua função n a frase, outros p a ra derivar “ origem d a linguagem ” (na hum anida­
de um a m esm a raiz um a fam ília de p ala­ de), a d a origem desta ou daquela língua,
vras de grande extensão (línguas ditas a com o o francês ou o inglês.
po sterio ri: p. ex. o V olapük, o E speran ­ D. N o sentido mais am plo, todo o sis­
to , o Ido). Ver CÃZ I Z 2 τ I e LE τ Z , H is­ tem a de signos que podem servir de meio
tó ria d a língua universal, 1903; A s n o va s
de com unicação. “ A linguagem dos ges­
línguas internacionais, 1908.
to s .” “ Todos os órgãos dos sentidos p o ­
LIN G U A G EM D . Sprache (que quer dem servir para criar u m a linguagem .”
dizer tam bém língua); E. Language, VE Çá2 à Sè , A linguagem , p. 9.
speech (apenas nos sentidos A e B); F. R a d . int.: A . B. P aro lad ; C . D .
Langage; I. Linguaggio. Lingu.
A . Propriam ente, função de expres­
L IN G Ü ÍS T IC A D . L in g u is tik ,
são verbal do pensam ento, quer interior,
quer exterior. “ A intenção (de falar), que Sprachwissenschaft; E. Linguistics; F.
não é de modo algum necessariamente lin­ Linguistique; I. Linguística.
guagem, nem sequer linguagem interior, Ciência d a linguagem em geral, fun­
desem boca na linguagem interior ou na dada na com paração das diferentes lín­
fa la .” D Â τ T 2 Ã « 7 , A linguagem e o p en ­
E
guas conhecidas. Com preende a fo n é ti­
sa m en to , p. 523. ca (estudo dos sons), a gram ática, a lexi­
Neste sentido, linguagem opõe-se à f a ­ cografia e a sem ântica*. Ver VE Çá2 à è è ,
la em dois sentidos: IP enquanto por f a ­ A linguagem , pp. 2-3 e p a ssim .
la se entende exclusivamente a linguagem
L IN H A PR E D IC A M E N T A L Ver
exterior, como no exemplo acim a citado,
P redicam ental.
ou na frase do m esm o capítulo: “ A lin­
guagem interior não é necessária à fa la .” LIVRE-ARBÍTRIO Ver A rbítrio e L i­
Ib id ., 522. Neste sentido, linguagem é um berdade.
gênero de que a fa la (exterior) é um a es­ O sentido da expressão livre-arbítrio,
pécie; 2? enquanto fa la designa o ato in ­ recom endado n a Crítica d a palavra
dividual pelo qual se exerce a função lin­ liberdade*, é conform e ao uso que dela
guagem: um a fala, algum as falas. faz em BE 2 ; è ÃÇ (ver atrás) e GÃζ Â ÃI ,
B. U tilização desta função, num caso L ógica, onde esta idéia é vigorosam ente
determ inado. “ Em pregar um a linguagem analisada.
obscura; falar a linguagem d a razão.”
C. P o r conseqüência, sinônim o de LO CA IS (Sinais) D. Lokalzeichen; E.
língua*; outro ra, em todos os casos: (“ ... L o ca l signs; F. Signes locaux; I. Segni
um limusino que m acaqueava a lingua­ locali.
gem francesa” , “ ... un Limousin qui con- Term o criado por LÃI UE (M edicinis-
trefaisoit le langaige fran ço is” ). Rτ ζ E ­ che psychologic, 1852) p ara designar o fa-
LOCAL 628

to de que um a excitação d ad a, consoan­ cional que se d á a este term o para tra d u ­


te esta se aplica num ou noutro ponto , dá zir xívTjais de Aristóteles). Ver M ovim en ­
origem: 1? a um a sensação constante, to , Crítica. T em po local, ver T em po.
quando a natureza das term inações n er­
vosas às quais se aplica é a m esm a; 2? a LO C A LIZA ÇÃ O D. Lokalisation-, E.
um a sensação acessória, ou a um sistema L oca lisation; F . L ocalisation; I. Localiz-
de sensações acessórias (N ebeneindruck, zazione.
N ebenbestim m ungen), variáveis consoan­ Sentido geral: ação de colocar num lu­
te o ponto excitado, m as constantes para gar determ inado; fato de estar ali co­
um m esm o ponto e que, por conseqüên- locado.
cia, perm item a localização da sensação Particularm ente:
principal: esta sensação ou estas sensações A . O peração psicológica pela qual nos
acessórias são os sinais locais. P o r exem­ representam os as qualidades sensíveis, e
plo um a luz d ad a que cai sobre os p o n ­ por consequência os objetos percebidos,
tos «, b, c da retina provoca sempre a sen­ com o ocupando no nosso corpo ou em
sação de cor verm elha; m as, além disso, relação ao nosso corpo um a posição, es­
provoca respectivam ente as sensações pacial determ inada.
acessórias a , ß , y que são independentes Os erros d e localização, ou fa lsa s lo­
da natureza da excitação, e que só depen­ calizações (D. Lokalisationsfälschungen),
dem d a do ponto excitado (G rundriss der são os casos nos quais a sensação é referi­
P sych ologie, § 32). d a a um ponto do espaço que, normalmen­
Sobre a natureza dessas sensações te, não deveria parecer ocupar: por exem­
acessórias, sobre a sua sim plicidade ou a plo quando um som proveniente d a direi­
sua com plexidade, diferentes teorias fo ­ ta é percebido como proveniente da esquer­
ra m p ro p o s ta s p o r H E Â O7 ÃÂ I U , da, quando um pequeno objeto próxim o
WZ ÇáI , L« ú ú è, etc. Ver principalm ente é tom ad o por um grande objeto afastado,
o artigo de LÃI UE intitulado “ Form ação ■ etc. Cf. Ilusão.
da noção de espaço: teoria dos sinais lo­ N ão é costume cham ar erros de locali­
cais” , R evu e ph ilo so p h iq u e, outu b ro de zação ou falsas localizações às ilusões deste
1877; e o de W Z ÇáI , “ Sobre a teoria dos gênero, quando se trata de efeitos estereos­
sinais locais” , ib id ., setem bro de 1878. cópicos, ou de efeitos de perspectiva pre­
Este últim o, desde então, com pletou e tendidos (pintura, dioram as): sem dúvida
transform ou a sua teoria. Ver P h ysio lo ­ porque, salvo raras exceções, esses fenô­
gische P sychologie, 5? edição, II, 491 ss., menos não provocam juízos errados acer­
501, 662 ss., 685 ss. ca do seu objeto. M as esta expressão
R ad. int.: Lokal. emprega-se bem ao falar das ilusões pro­
vocadas pelos prestidigitadores, etc.
LO CA L D . L o k a l, örtlich-, E. Local-, B. P o r analogia com a localização no
F. Local-, I. Locale. espaço, chama-se localização no tem po ao
Relativo ao lugar*, ou que depende do fato de determ inar a d ata e as circunstân­
lugar. Este term o entra em várias expres­ cias de um a recordação: ver nomeadamen­
sões ligadas à filosofia: M o vim en to local te R« ζ ÃI , D oenças da m em ória, cap. I.
(p. ex. DE è Tτ 2 I E è , P rin cípios, 2 f parte, R a d . int.: Lokizad.
a rt. 23; cf. a rt. 24, no início, o p u n h a o
m ovim ento propriam ente dito ao m ovi­ Localizações cerebrais (D. C orticale
m ento tom ad o no sentido am plo e excep­ Lokalisationen-, E. Cerebral localisations;

Sobre Localização e Sinais locais — A rtigos com pletados a p artir das indicações
de G. D w elshauvers.
629 L O G IC A

F. L ocalisation s cérébrates; I. L ocalizza- C. Às observações sobre as regiões do


zio n i cerebrali.) cérebro onde acabam por chegar as diver­
D ependência funcional suposta de sas impressões sensoriais, e àquelas de on­
certos fenômenos psíquicos em relação a de partem as excitações m otoras das di­
certas regiões determ inadas do cérebro, ferentes regiões do corpo (ME à ÇE 2 I ,
que são ditas ser a sua “ sede” . Este te r­ F 2 « I è T7 e H « I U« ; , MZ Ç3 , etc.), assim
m o aplica-se: com o às hipóteses sobre as regiões às
A . A o sistem a fre n o ló g k o de Gall, quais corresponderiam as funções mais
que é mesmo o que se designa mais co- complexas de ligação entre estas (centros
m um ente sob o nom e de “ teoria das lo­ de apercepção de WUNDT, centros de as­
calizações cerebrais” . Este sistem a tem sociação de F Â E T7 è « ; , etc.).
apenas um interesse histórico, nom eada­ A dmite-se hoje que às diversas clas­
m ente pelas suas relações com a psicolo­ ses de fenômenos psicológicos correspon­
gia de A uguste CÃOI E e a de Mτ « ÇE áE dem não “ sedes” , quer dizer, regiões, ou
B« 2 τ Ç . órgãos determ inados, m as “ traje to s”
B. À T eoria de B2 ÃTτ (S obre a sede com plexos, poden do interessar regiões
m últiplas e distantes da substância ce­
d a fa cu ld a d e da linguagem articulada,
rebral.
1861), teoria atualm ente m uito contesta­
R ad. in t.: Cerebral-lokizad.
da (ver dr. MÃZ I « E 2 , A afasia d e Broca,
1908), e algum as outras teorias análogas, L Ó G IC A G. λ ο γ ι κ ή (não se encon­
com o as de WE 2 Ç« T3 E , sobre a sede d a tra com este sentido em A2 « è I 7I E Â E è ;
surdez verbal; de P τ ; τ ÇÃ , sobre a sede ver as observações); L. L ógica, D ialécti­
das emoções, etc., que não são m enos du­ ca·, D . L ogik; E . Logic; F. L ogique; I.
vidosas. L ógica.

Sobre Lógica — O rigem d este term o . N ão se sabe exatam ente p o r quem nem em
que época foi em pregado no sentido m oderno. P 2 τ ÇI Â ( G eschichte d er L o g ik im
A b en d la n d e ', I, 535-536) cita os principais textos referentes a esta questão e supõe,
segundo um a indicação de BÃé T« Ã , que pode ter sido criada pelos com entadores de
A ristóteles para o p o r o seu O rganon à “ D ialética” estóica (talvez n o tem po de An-
dronicus de Rodes). Em to d o caso é utilizado p o r C8TE 2 Ã , D e fin ib u s, I, 7; e a utili­
zação que dela é feita em A lexandre de A frodisia e em G aleno parece m ostrar que
se tornou efetivamente corrente na sua época. (Referência comunicada por R. Eucken)
A utilização desta palavra é corrente a p artir dos Estóicos: cf. o texto de Crisipo
(Frag. Vet. Stoic., II, n? 42) que traduz r à K o yix à deogij/ioiTa com o um a das três
espécies de “ filosofia” . (E . Bréhier)
S o b re os d iferen tes sen tid o s da pa la vra Lógica. A questão é das m ais com plica­
das: parece-me que os sentidos possíveis — e ao mesmo tem po históricos — da p ala­
vra lógica poderiam reduzir-se a três, correspondentes a três sentidos da palavra
verdade.
1? Existe um a verdade objetiva, intrínseca às coisas. Um fenôm eno determ inado
por ou tro , segundo as leis da n atureza, é verd a d eiro ; um fenôm eno que nos aparece
fo ra de qualquer conexão natural é falso e não passa de sonho. Existe, por conse­
guinte, um a lógica que é a ciência da verdade objetiva das coisas, ou das condições
a p rio ri de to d a existência: é a lógica transcendental de Kant. 1

1. H istória da Lógica n o Ocidente.


L Ó G IC A 630

Sentido geral. Ciência que tem por ob­ aesthetics .” 1K à Ç è , F orm al L ogic, in­
E E

jeto o juízo de apreciação* enquanto se trodução, § 1.


aplica à distinção do V erdadeiro e do A lógica assim entendida pode ser:
Falso*. Cf. É tica, E stética. 1? L ógica fo rm a l. Esta expressão
A. U ma das partes da Filosofia: ciên­emprega-se em dois sentidos:
cia que tem po r objeto determ inar, por en­ a) Estudo dos conceitos, juízos e racio­
tre todas as operações intelectuais que ten­ cínios, considerados nas formas em que são
dem para o conhecimento do verdadeiro, enunciados, e abstração feita da m atéria à
as que são válidas, e as que o não são. qual se aplicam, com vista a determ inar in
abstracto as suas propriedades, a sua vali­
“ Logic m ay be defined as the science
dade, os encadeamentos, e as condições sob
which investigates the general principles
as quais se aplicam ou se excluem uns aos
o f valid thought. Its object is to discuss
outros. É o sentido próprio desta expressão.1
the characteristics o f judgm ents regarded
no t as psychological phenom ena, b ut as 1. “ A ló gica p o d e ser d e fin id a com o a ciência
expressing our knowledges and beliefs; que estu d a os p rin cíp io s g erais d o p en sam en to váli­
and in particular, it seeks to determine the do. O seu o b je to co n siste em d isc u tir as c a racterísti­
cas dos ju ízo s co nsid erad os n ã o com o fen ôm en os psi­
conditions under which we are justified coló gicos, m as c o m o ex p rim in d o co n h ecim en to s e
in passing from given judgm ents to other crenças; em p a rtic u la r, p ro c u ra d e te rm in a r as c o n ­
judgm ents th at follow from them ... It diçõ es p elas q u ais tem o s o d ire ito d e p a s sa r d e ce r­
to s ju íz o s d a d o s a o u tro s ju íz o s q u e sã o a su a conse-
m ay accordingly be described as a n o r­
q ü ê n c ia ... P o d e , p o is, ser c h a m a d a u m a ciência n o r­
mative o r regulative science; this charac­ m ativ a o u reg u lativ a; p o ssu i essa ca ra c te rístic a em
ter it possesses in common with ethics and co m u m co m a é tica e a e s té tic a .”

2? Existe um a verdade subjetiva (a única de que o vulgo tem idéia), que é a con­
form idade dos nossos pensam entos com as coisas tal com o estas existem em si m es­
mas. Existe, por conseqüência, um a lógica subjetiva, que é o co n junto dos meios
que devemos utilizar p ara conseguirmos representar-nos as coisas tais com o elas são:
por exemplo, os m étodos de Mili.
3? Existe, finalm ente, um a verdade, ou m elhor, um a necessidade de pensar, p u ­
ram ente hipotética, que consiste em que, sendo determ inada coisa suposta ser verda­
deira (mesmo que seja falsa), um a o u tra, que dela deriva, deve tam bém ser tida co­
m o verdadeira; e existe um a ciência desta verdade hipotética que é a lógica ou a silo­
gística.
Parece-m e que é este terceiro sentido da palavra lógica que é o mais conform e
à etim ologia, sendo a lógica assim entendida a fu nção p ró p ria do Xdyos considerado
em si m esm o, exercendo a sua força dedutiva fo ra de todo o com ércio atual com
as coisas.
Parece-m e tam bém que este sentido é o mais divulgado. É neste sentido que se
diz que não só a linguagem , mas tam bém a conduta de um hom em é lógica.
Poder-se-ia dizer que a verdade hipotética, objeto da silogística, é subjetiva à se­
gunda potência; é verdadeira, não p ara um espírito em geral, mas p ara aquele qu e
j á su p ô s q u e ,... etc.
A lógica, no prim eiro e no terceiro sentido, é um a ciência que traz em si mesma
a sua pró pria justificação; no segundo é mais um a arte, e é com posta sobretudo por
procedim entos cujo sucesso estabelece o valor.
É, pois, o sentido definido n a citação de De M organ que proponho que predom i­
ne, ou pelo menos se sobressaia, como o mais etimológico e o mais usual. (J. Lachelier)
631 L O G IC A

“ Logic is... the examination o f that 2? L ógica geral (algumas vezes lógica
part o f reasoning which depends upon the material·, m as esta expressão é obscura),
m anner in which inferences are form ed... que tem por objeto determ inar, por entre
It has so far nothing to do with the tru th todas as operações discursivas do espírito,
o f the facts, opinions o r pressum ptions, aquelas que conduzem à verdade e aque­
from which an inference is derived: b ut las que conduzem ao erro. Compreende as­
simply takes care th at the inference shall sim não só o estudo das implicações rigo­
certainly be true, if the premises be true .” 1*1
2 rosas, mas tam bém o das operações indu­
DE MÃ2 ; τ Ç , F orm al L o g ic (Elem ents o f tivas, das hipóteses, dos m étodos científi­
L ogic), cap. I. cos, etc., considerados do ponto de vista
b) Lógica simbólica·, algoritmo* em que do seu valor probante.
se combinam notações puramente formais, B. M aneira de raciocinar, tal como es­
definidas por um a axiom ática decisória e ta se exerce de fato. Diz-se algumas vezes,
abstrata, e tais que o sistema assim consti­ neste sentido, lógica natural.
tuído seja suscetível de ser aplicado à Ló­ “ A lógica nascente é rude e grosseira;
gica, definida com o acim a foi feito. Cf. o raciocínio prim itivo está para o raciocí­
Á lgebra* d a Lógica. nio dos lógicos como os instrum entos da
O nome próprio deste ram o de estudos idade da pedra para os nossos utensílios
é Logística*. aperfeiçoados. Nessa m istura confusa de
verdadeiro e de falso... um a separação
1. “ A lógica é ... o exam e desta parte d o raciocí­ estabelece-se entre o raciocínio que encer­
nio que rep ousa sobre a m atéria de que as inferências ra a prova e o raciocínio que escapa à p ro ­
são fo rm a d a s... N essa m edida, n a d a tem a ver com a va, ainda que a simule, entre a lógica ra ­
verd ad e dos fato s, opin iõ es o u presunções d e o n d e a
inferên cia é ex traída: eia cuida apen as que esta in fe­
cional e a lógica dos sentimentos.” Th. Ri-
rência se ja certam en te verdad eira se as prem issas fo ­ ζ Ã
I , Lógica d o s sentim entos, prefácio,
rem v erd ad eiras.” VIII-IX.

Poder-se-ia, parece, especificar, como se segue o conceito de “ lógica” (sentido A):


1. A L ógica geral é o estudo dos procedim entos válidos e gerais pelos quais atin­
gimos a verdade. P ro cu ra em que condições o nosso pensam ento é claro e bem defi­
nido, os nossos conceitos adequados, as nossas induções sólidas, as nossas inferên­
cias justificadas.
2. A dm ite um ram o especialmente im portante, a L ógica dedu tiva, estudo dos p ro ­
cedim entos pelos quais passam os de um a verdade dada para um a o u tra segundo leis
rigorosas e dem onstrativas.
A lógica dedutiva com preende ela própria:
a) P o r um lado, a lógica que se pode cham ar o peratória, estudo das leis intuitivas
da dem onstração, que com preende por sua vez a análise das operações elementares
do raciocínio dedutivo, das suas propriedades, dos seus encadeam entos, e a reflexão
sobre o conjunto dos problem as conexos, a filosofia da dem onstração (pode-se apli­
car para este últim o ram o de estudos a palavra “ m etalógica” ).
b) P or ou tro lado, a construção efetiva de diversos algoritm os lógicos, conside­
rados quer com o puros jogos form ais, quer com o a im agem de verdades físicas ou
experim entais no sentido mais am plo.
A expressão L ógica fo r m a l pareceria dever ser reservada para o prim eiro destes
dois sentidos.
A prim eira lógica (a) é evidentemente a condição e o instrum ento d a segunda.
Faz abstração do conteúdo particular das noções, m as não do seu conteúdo geral
(a saber, o ser dos conceitos, das proposições, das im plicações, pensados como tais,
e não dos símbolos de propriedades convencionais). (R en é Poirier)
L O G IC A 632

Em particular, em A ug. CÃOI E , a r­ “ In einer transcendentalen Logik iso-


te de convencer pondo em jogo os senti­ liren wir den Verstand (so wie oben in der
m entos. “ Deve-se encarar com o mais se­ transcendentalen A esthetik die Sinnlich­
gu ra do que qualquer o u tra a lógica dos keit) u nd heben bloss den Theil des D en­
sentim entos, quer dizer, a arte de facili­ kens aus unserem Erkenntnisse heraus,
ta r a com binação das noções segundo a der lediglich seinen U rsprung in dem
conexão das emoções co rrespondentes.”
V erstände h a t .” 1
2K ritik d e r Reinen Ver­
P o lítica p o sitiv a , II, 239.
n u n ft, 2? parte , in trodução, § 2; A 61;
C. A nálise das form as e das leis do
B 86.
pensam ento, quer do p o n to de vista ra ­
A lógica, neste sen tido, descobre as
cionalista e crítico, quer do p o n to de vis­
ta experiencial e descritivo: “ leis” do espírito; por-conseguinte, de­
1? Do p o n to de vista crítico: term ina as condições d a experiência; e
“ Die W issenschaft von den nothwen- m esm o até, se to d a a realidade é o b ra do
digen Gesetzen des Verstandes und der espírito, estabelece as leis fundam entais
V ernunft überh au p t oder (welches einer­ do real (cf. m ais adiante, na Crítica, as
lei ist) von der blossen F orm des Denkes definições de H ; Â e de H τ O« Â Ã Ç ). E E I

überhaupt, nennen wir num L o g ik .” ]


Kτ ÇI , L o g ik , intro dução, § 1.
2. “ N u m a ló g ica tra n sc e n d e n ta l iso lam o s o en ­
1. “ C h a m a m o s aq u i Lógica à ciência d a s leis n e ­ ten d im en to (com o j á o fizem o s n a es tétic a tra n sc e n ­
cessárias d o e n te n d im e n to e d a ra z ã o em g eral, o u , d en tal p a ra a fa c u ld a d e de se n tir) e retem o s ap en as
o q ue é a m esm a co isa, d a sim ples f o rm a d o p e n s a ­ d o s nossos co n h ecim en to s essa p a rte d o p en sam en to
m en to em g e r a l.” q u e tem a su a fo n te exclu siva n o e n te n d im e n to .“

Talvez fosse bom levar em co nta expressões que, p o r serem relativam ente novas,
não expressam menos um a verdade im portante que as to rn ará talvez clássicas. Exis­
te um a “ lógica social” , um a “ lógica m o ral” , etc.: e, reunidas à lógica intelectual,
essas diversas “ lógicas” do pensam ento e da vida constituiríam a L ó g ica geral. T o ­
das têm com o objetivo m anifestar a inevitável tendência para a organização e, por
conseqüência, as solidariedades e as repercussões que regulam ou sancionam o devir
das coisas, d a ciência e da ação. Todas as form as do ser são sem dúvida, mas existe
em todas um princípio de seleção, de inteligibilidade, de crítica interna, de a d a p ta ­
ção ou de ju stiça im anente, cu jo desenvolvim ento real é possível e desejável estudar;
e seria a lógica geral que teria que desem penhar esse papel. (Aí. Blondel)
D efino vulgarm ente a lógica com o a técnica d a s técnicas intelectuais, quer dizer,
o estudo dos processos gerais pelos quais a inteligência destrinça o verdadeiro do
falso. C ada ciência possui o seu m étodo ou a sua técnica. A lógica estabelece a técni­
ca geral. E sta definição abarca sim ultaneam ente as definições antigas e as extensões
m odernas da lógica. P erm ite igualm ente determ inar em que m edida a técnica espe­
cial de um a ciência dim ana da lógica. Deste ponto de vista, as nossas lógicas aplica­
das com etem lam entáveis confusões e espalham o erro segundo o qual a lógica pode
dispensar um a iniciação técnica (por exemplo, em histó ria ou em física). (F . M en tre )
A lógica, segundo a sua significação fundam ental, implica sempre o sujeito pen­
sante, a sua vontade, as suas intenções, e isso logo desde o início, enquanto a psico­
logia pode com eçar com o pensam ento com o um fa to de natureza im pessoal, com
um certo p en sa (como chove, está ventando) que pode não ser de fato pessoal no
m om ento em qu e é vivido e que só se to rn a pessoal pela análise posterior. Esta dis­
tinção pode ser útil nas discussões tão freqüentes na A lem anha neste m om ento
633 L Ó G IC A

2? D o p o n to de vista descritivo: da inteligência” , L e spectateu r, abril de


A “ Lógica genética” (J. M. B τ Â á ç « Ç , 1909, p. 9); e essa utilização foi geralmen­
Thought a n d Things, o r G en etic L o g ic) te seguida pelos colaboradores dessa
é o estudo genético do conhecim ento, revista.
considerado como função psíquica. Com ­ D. (oposto a ilogism ó). Encadeam en­
preende três ordens de problem as: l? C o­ to regular e necessário, quer das coisas,
m o funciona a faculdade de conhecer? 2? quer dos pensam entos: “ A lógica infalí­
P a ra que serve? 3? Quais são os seus re­ vel da natureza; a lógica dos acontecimen­
sultados? {ibid., tom o I, pp. 9-11). O a u ­ tos históricos; a lógica de um a situação.”
to r opõe-na à Lógica p u ra , ou “ Lógica “ A lógica do discurso m usical.” Sequên­
do Lógico” e à Lógica dialética (hegelia- cia lógica de idéias: “ H á pouca lógica nos
so n h o s.” E ste sentido é m ais literário do
na) ou “ Lógica d o m etafísico” .
que filosófico. N ão deixa, contudo, de es­
“ Lógica re al” tom a-se em dois senti­
ta r relacionado com a utilização hegelia-
dos: 1? N a o b ra q ue acaba de ser citada,
n a desta palav ra.
B τ Â á ç « Ç aplica a expressão R ea l L o g ic
à p arte d a Lógica genética que tem por C R ÍT IC A
objeto explicar a idéia de realidade e co­ 1. O sentido pró p rio da palavra L ó ­
nhecim ento do real. 2? M τ 2 « Ç - G Z Â - I E
gica, que a grande m aioria dos m em bros
 «Ã I propôs que se cham asse assim ao e correspondentes d a Sociedade concor­
conjunto de todos os problem as relati­ daram em reco m en dar, é o sentido A . A
vos à lógica no sentido B, tal com o aci­ definição acim a referida é sensivelmente
m a foi definido (“ Do funcionamento real equivalente à de S « ; ç τ 2 (L o g ik , Einlei-
I

acerca da interpretação d a teoria do conhecim ento com o psicologia ou com o lógica


(pura, transcendental). (W I. Iw anow sky)
Admite-se geralm ente a fórm ula inversa: a saber, que a lógica considera os pen­
sam entos em si m esm os, im pessoalm ente, ab stração feita de qualquer individualida­
de ou de q ualquer intenção d o sujeito, enquanto a psicologia retém precisam ente is­
to . A diferença assin alad a por Iwanow sky ligar-se-ia preferencialm ente à distinção
entre o pensam ento estudado in fie rí, e o pensam ento considerado no limite superior
do seu desenvolvim ento; o que supõe, com efeito, a passagem pela vida individual
e consciente: m as neste ponto final, destaca-se de novo e apresenta-se sob um aspec­
to objetivo. (A . L .)
A idéia d a “ lógica p u ra ” e d a “ lógica transcendental” considerada com o sendo
aquela que fornece os princípios d a “ m etafísica” parece-m e reunir em K ant dois ele­
m entos heterogêneos, e cuja heterogeneidade aparece nitidam ente nos textos acim a
citados do fim d a Crítica: p o r um lado, a oposição radical do entendim ento e da
sensibilidade, e a d o <7p rio ri e a do a p o ste rio ri (oposições que não se confundem ,
n a m edida em que existem fo rm a s a p rio ri da sensibilidade); por outro lado, a oposi­
ção do pensam ento norm al e do pensam ento anorm al, do válido e do não-válido ( wie
d er Verstand d e n k t... wie er denken so lí1). A lógica, concebida no prim eiro senti­
do, é o estudo das condições necessárias do pensam ento, quer dizer, das condições
sem as quais o pensam ento seria inexistente, sem as quais não poderia constituir-se;
e, por conseqüência, determ ina as condições de toda realidade conhecida. Pelo con- .I

I . “ C o m o o e n te n d im e n to p e n s a ... co m o ele dev e p e n s a r.“


L Ó G IC A 634

tung, § 1). É também m uito próxim a das áE A I Z « ÇÃ , C om en tário d o s segundos


definições de M « Â Â (Logic, in tro d., § 2-4), analíticos, livro I, 1 a (in SCHÜTZ, Vo).
de R τ ζ « 2 (Lógica, cap. I, § 1) e de
E
“ A lógica é a arte de bem conduzir a ra ­
W Z ÇáI (Logik, Einleit., 1), que apresen­ zão no conhecimento das coisas, tanto pa­
tam todavia a característica de insistir um ra se instruir a si pró prio com o p ara ins­
pouco mais sobre a pressuposição de que tru ir os o u tro s .” L ó g ica de PORT-
existem ciências que fornecem conhecimen­
RÃà τ Â , in tro d ., § 1. “ Est igitur lógica
to verdadeiro das quais a lógica tem por
ars instrumentalis dirigens mentem in cog-
objeto isolar as condições.
Os sentidos B, C, D são ao mesmo tem­ nitione reru m .” A Â á2 « T7 , A r tis Logicae
po mais recentes e menos precisos. Só es­ R u dim en ta, § 1, 1692.
tam os verdadeiramente no domínio da ló­ “ T he business o f Logic is to help us
gica se considerarmos operações mentais to th ink clearly an d objectively, express
ou processos de demonstração do ponto de ourselves plainly an d accurately, reason
vista da sua validade. correctly and estim ate aright the state­
Ver Logística, Crítica. m ents an d argum ents o f o thers .” 1 Ai-
2. Eliminamos deste artigo a oposição KINS, The P rin ciples o f L o g ic, cap. 1.
tradicional entre as definições que fazem A distinção entre a L ógica do cen s e
da lógica um a “ ciência” e aquelas que de­ a L ógica utens, corrente nos escolásticos,
la fazem um a “ arte’’. Encontra-se um a co­ é um a subdivisão d a lógica assim defin i­
letânea delas no prefácio de Mτ Çè E Â na da. P arece que foi entendida de duas for­
sua edição das A r tis L ogicae R udim ento mas: 1? com o oposição entre Ciência e
de A Â á2 « T7 e no artigo L o g ik de E« è Â E 2 . A rte (nomeadamente em DZ Çè STÃI ); 2?
Entre aquelas que relevam sobretudo
com o oposição en tre a arte enquanto en­
o caráter prático d a Lógica e a sua utilida­
sinad a e arte enquanto atitude p rática
de para dirigir as operações do espírito (são
as mais antigas e as mais numerosas), po­ (instrumentalis habitus), quer dizer, d a ló­
dem ser citadas as seguintes: gica no sentido A e da lógica no sentido
“ Visum est antiquae philosophiae du- C. Ver os textos citados na nota de Mτ Ç ­
cibus ut ipsarum ratiocinationum , quibus è Â sobre a passagem de Aldrich e no seu
E

aliquid inquirendum esset, naturam peni- prefácio à m esma o b ra , pág. LIX , p arti­
tus ante discuterent, ut his purgatis atque cularm ente este: “ Lógica docens dicitur
composits, vel in speculatione veritatis, vel quae praecepta tradit; utens, quae prae-
in exercendis virtutibus uteremur. Haec est ceptis u titu r.” BuRGERSDYCK, Institui-
igitur disciplina... quam Logicen Peripa- tiones logicae.
tetici veteres appellaverunt.” B Ã T « Ã , In
E
3. Elim inam os tam bém a expressão
Top. Ciceronis, I, 1045 A . “ Est autem fi­ L ó g ica p u ra , porq ue é essencialmente
nís Logicae inventio judicium que ratio-
equívoca. Em prega-se em três sentidos:
n u m .” I á , In Porph yriu m , 74 D. “ Ars
quaedam necessária est, quae sit directiva
ipsius actus rationis, per quam scilicet ho­ 1. “ O p ap el d a ló gica é o de n o s a ju d a r a pen sar
m o in ipso actu rationis ordinate, faciliter cla ra e o b je tiv a m e n te , a ex p ressar-n o s n ítid a e ex a­
et sine errore procedat; haec ars est Lógi­ tam en te, a ra c io c in a r c o rre ta m e n te , e a av aliar com
ca, id est rationalis scientia.” S. TÃOá è ju ste z a o s e n u n ciad o s e os a rg u m e n to s d e o u tre m .”

trário , do segundo p o n to de vista, a lógica é o estudo das condições obrigatórias do


pensam ento, qu er dizer, das condições às quais pode subtrair-se, e às quais, efetiva­
m ente, se su btrai freqüentem ente, m as sem as quais está errado. E sta dualidade fun­
dam ental parece-m e viciar gravem ente a utilização k an tian a desta p alavra, e daq u e­
las que dela derivam . (A . L .)
635 L Ó G IC O

1? com o sinônim o de lógica form al·, 2? Esta utilização deu origem à de Hegel:
para opor a lógica pro priam ente dita, “ Die Logik ist die W issenschaft der reinen
norm ativa, à psicologia do entendim en­ Idee, das ist der Idee, im abstrakten Ele-
to e das outras funções intelectuais que m ente des Denkens ...” 2 L o g ik , Vorbe-
contribuem p ara o conhecim ento (ver p. griff; Encyclopedie, § 19; e à de H τ O« Â ­
ex. Bτ Â áç « Ç , citado m ais acim a; H us- IÃÇ : “ Logic is the Science o f the Laws o f
S E R L , L ogisch e Untersuchungen, I, 1, Thought as Th ought.” Logic, Lect. I. De­
etc.); 3? no sentido kan tiano, p ara desig­ vemos por isso entender, acrescenta ele,
n ar a análise crítica dos principios “ p u ­ que ela tem por objeto não só as formas
ro s” (reine) do entendim ento, quer dizer, do pensamento por oposição à m atéria,
dos princípios considerados com o inde­ mas as form as necessárias que constituem
pendentes de qu alquer experiencia (ver a natureza do pensamento, e podem ser
C rítica d a razão p u ra , Lógica transcen­ cham adas suas leis (ib id ., Lect. II).
dental, introd., § 1; A 52; B 57 ss.). Opõe- Sobre a legitimidade deste sentido kan­
se à “ Lógica aplicada” (angewandte), que tiano e pós-kantiano, ver as observações.
tra ta da atenção, das causas do erro, dos LOGICISM O D. Logicismus; E. Logi-
estados de dúvida e de escrúpulo, d a per­ cism-, F. Logicisme; I. Logicism o, logismo.
suasão, etc., enquanto meios ou obstácu­ D outrina que atribui à lógica um lugar
los para o conhecim ento da verdade. preponderante em filosofia. “O que atrai
“ Die Logik ist eine V ernunftw issens­ Kant, na sua doutrina (na doutrina dos m o­
ch aft nicht blossen F orm , sondern der ralistas, como Shaftesbury, Hutcheson, Hu-
M aterie nach; eine W issenschaft a p rio ri me), é, por oposição ao logicismo da esco­
von den nothwendigen Gesetzen des Den­ la de Wolff, a idéia de que a m oralidade
kens, aber nicht in A nsehung besonderer não é obra d a reflexão nem do cálculo..!’
G egenstände, sondern aller G egenstände DE Â ζ Ãè , Filosofia prática d e Kant, p. 103.
überhaupt; also, eine W issenschaft des Diz-se, em particular: 1? da filosofia he-
richtigen V erstandes und V ernunftge­ geliana (segundo Bτ Â áç « Ç , Thought and
brauchs ü berhaupt, aber nicht subjectiv, Things, I, 7). (M as este term o não figura
d. h. nicht nach em pirischen (psycholo­ no dicionário d o mesmo autor, nem no de
gischen) P rincipen (wie der Verstand E« è Â E 2 . É, aliás, inexato dizer que a dialé­
denkt), sondern objectiv, d . i. nach P rin­ tica hegeliana seja um a lógica, no sentido
cipien a p rio ri (wie er denken soll ).” 1 usual da palavra.); 2? das doutrinas que vi­
(Kτ ÇI , L o g ik , Einleitung, § 1.) sam conservar para a lógica a autonom ia
mais absoluta, e a não admitir qualquer in­
tervenção da psicologia: “O logicismo de
1. “ A ló g ica ¿ u m a ciên cia d a ra z ã o n ã o só pela
su a f o rm a , m as ta m b é m p ela su a m a té ria ; u m a ciê n ­ Husserl!’ Cf. Psicologism o, texto e Crítica.
c ia o prior: d a s leis n ecessá rias d o p e n sa m e n to , n ã o LÓGICO D. Logisch; E. Logical; E Lo-
d o p o n to d e v ista d e ce rto s o b je to s , m as d e to d o s os
gique·, I. Logico.
o b je to s em ge ral; p o r c o n seq ü ên cia, u m a ciên cia d o
u so co rre to d o en ten d im en to e d a ra z ã o em geral, n ão A. (oposto quer a física, quer a moral).
su b je tiv am en te , q u e r d iz e r, se g u n d o p rin c ip io s em ­
p íric o s, psicoló gicos (co m o o e n te n d im e n to p en sa),
2. “ A lógica é a ciência d a Idéia p u ra , quer dizer,
m as o b je tiv a m e n te , q u e r dizer, segundo prin cíp io s a
d a Id éia n o elem en to a b strato d o p en sa m e n to ...’1
p rio ri (co m o dev e p e n s a r).”

Sobre Logicism o — Pusem os este term o en tre aspas n a prim eira edição deste Vo­
cabulário (fas. 13,1910), a títu lo de neologism o ain d a discutível. O seu em prego era
criticado por H . W. C arr e C. R a n zo li e defendido p o r L . Boisse. M as a p artir desta
época tom ou-se m uito usual e Ranzoli consagrou-lhe ele pró prio um artigo na ter­
ceira edição d o seu D izio n á rio d i Scienze filo so fic h e (1926).
“ L O G ÍS T IC A ” 636

Relativo à lógica, ou aos fatos estudados 1904) por I I E Â è ÃÇ . “ Itelson, Lalande e


pela lógica, em todos os sentidos da C o u tu rat, sem acordo nem com unicação
palavra. prévios, reuniram -se para d ar à lógica o
B. (oposto a ilógico). Conform e às leis nom e novo de logística. E sta tripla coin­
da lógica. cidência parece justificar a introdução
C. (oposto a racional, sentido novo e desta nova palavra mais curta e mais exa­
ainda m uito raro). Relativo às funções do ta do que as locuções usuais: Lógica sim­
entendim ento, ou àquilo que dele resulta; bólica, m atem ática, algorítmica, Álgebra
que apresenta um caráter discursivo. da L ógica.” L. COUTURAT, Resumo do
C R IT IC A Segundo Congresso de Filosofia, R evue
O adjetivo Lógico é mesmo muito mais de m étaph ysiqu e, 1904, p. 1042.
am plo do que o substantivo. Serve parti­ CRITICA
cularmente, da m aneira mais corrente e 1. Aplica-se algumas vezes este term o
menos contestada, para substituir um ad­ às teorias que se propõem ligar os princí­
jetivo que falta, e que deriva da palavra en­ pios das m atem áticas à logística, tal co­
tendim ento. “ As funções lógicas.” “ As m o acima foi definida. M as isso não pas­
operações lógicas.” “ Os elementos lógicos sa de um a associação de idéias que ape­
do conhecim ento.” Intelectual, que se diz nas serve p ara criar confusão. É necessá­
também neste sentido, à falta de m elhor, rio distinguir a logística em si m esm a e
tem mais extensão do que entendim ento. as teorias deste ou daquele logístico.
Parece, pois, impossível suprimir esta uti­ 2. U m algoritm o só é um a logística (e
lização, ainda que o emprego correspon­ com mais forte razão só pode ser cham a­
dente do substantivo seja geralmente de­ do um a lógica) na medida em que está ap­
saprovado pelos membros da sociedade to p a ra servir de instru m ento à lógica*,
(ver atrás Lógica, observações e Crítica). no sentido fundam ental dessa palav ra,
Mas, num a língua artificial, seria recomen­ quer dizer, ao conhecim ento das o p era­
dável especificar este sentido. ções intelectuais válidas p a ra o discerni­
R ad. int.: A . Logikal (no sen tid o des­ m ento do verdadeiro e do falso e p a ra a
critivo , Intelektal); B. Logikoz; C . Dis- prova d a verdade. U m a co m binatória, e
kursiv. as regras que a ela se podem ligar (por
“ L O G ÍST IC A ” D. L o g istik ; E . L o ­ exemplo, a esquematização de um padrão
gística F . L o g istiq u e ; I. L ogística. telefônico), pode ser classificada de “ ló­
Lógica algorítm ica*. Term o pro p o s­ gica” , a d jetiva m en te, enquanto respeita
to ao Congresso de G enebra (setembro de as condições gerais d a lógica: m as não

Sobre “ Logística” — O sentido definido no texto do vocabulário é novo, m as


em si p ró p ria a palavra é antiga. Designava n a Idade M édia o cálculo p rá tico en­
quanto oposto à aritm ética teórica. (L. C ou tu rat — R . B erth elot )
Este sentido vem de P latão (C árm ides, 165 E), que cham a à aritm ética prática
\o y io T ix i¡ Te'xprj, ou ainda, \o y io T ix ij, substantivam ente (G órgias, 450 D , R ep ú b li­
ca, 525 B, etc.). M as W allis (C arta a L eib n iz, janeiro de 16991) tom a-o num o u tro
sentido, que tam bém atribui à antigüidade: “ A rithm eticam et Logisticam distingue-
bant Veteres, illam ad N um eroru m integrorum considerationem accom odando, hanc
item ad F ractionum et quarum cum que rationum seul Xóyoyv considerationem .” So­
bre a h istó ria desta palavra, ver tam bém H obbes, L ógica, VI, a d finem-, CÃZ 2 ÇÃI ,
C orrespondência d a álgebra e d a geom etria, § 11, 16, 139, etc.

. P u b lic a d a n a co rre sp o n d ê n c ia d e L eibniz (D u ten s, 111, 133).


637 LUGAR

constitui por isso uma lógica. tre a exaltação e a melancolia. Cf. DZ ­


Rad. in t.: Logistik. Oτ è , A tristeza e a alegria.

LOG O M A Q U IA Do G. Xoyofiaxía, L oucura m oral {“ M o ra l insanity” ,


P RICHARD, Treatise o f Insanity, 1835).
combate de palavras, discussão; D. Worts-
treit, Logom achie; E. L ogom achy, F. L o-
Perturbação do espírito parcial e algumas
gomaquie·, I. Logom achia (pouco uti­
vezes passageira que consiste na ausência
ou num a perversão profunda dos senti­
lizado).
Propriam ente: discussão na qual os in­ m entos normais de m oralidade, perm ane­
cendo a inteligência dos fatos intacta, p o ­
terlocutores tomam as mesmas palavras em
dendo até ser desenvolvida. É essencial­
sentidos diferentes. “ (Abelardo) tinha um
pendor bastante forte para falar e para mente caracterizada pela falta de um sen­
pensar diferentemente dos outros; porque, timento pessoal do bem e do m al m orais,
no fundo, tratava-se apenas de um a logo­ cuja idéia não provoca qualquer reação e
m aquia: ele alterava a utilização dos ter­ só é conhecida por ouvir dizer. Chama-se
m os.” LE « ζ Ç« U , Teodicéia , 2? parte, § tam bém , devido a isso, cegueira* m oral
171. (Trata-se da proposição: “ Deus só po­ (R« ζ ÃI , Psicologia d o s sentim entos, p.
de fazer o que fa z.” ) 295). Distingue-se a loucura m oral im pro­
A palavra é usada algumas vezes, por priam ente cham ada “ passiva” , que pode
extensão, ao falar de um a argumentação existir mais ou menos despercebida na vi­
puramente verbal, relativa a termos mal de­ da vulgar, e a loucura m oral ativa ou im ­
finidos. pu lsiva, freqüente nos criminosos.
Loucura d a dú vida, ver D úvida.
LO U CU RA D. Wahn, Irrsinn, Narr- R ad. int.: Alienac.
heit; E. Insanity; F. Folie ; I. Pazzia, follia.
Term o geral e m uito vago. Ver “ L Ú D IC O ” T e rm o c ria d o p o r
Alienação* m ental. É empregue especial­ FÂÃZ 2 ÇÃà para servir de adjetivo corres­
mente nas seguintes expressões: pondente à palavra Jogo* {Espíritos e m é­
diuns, prefácio, p. VII).
Loucura das grandezas, ou megaloma­
nia*. O alienado experimenta um senti­ LU G A R G . roVos; L . L ocu s ; D . Ort;
m ento anormal de poder, de grandeza, de E. Place; F. Lieu; I. L u ogo.
ausência de esforço intelectual e físico. In­ Extensão ocupada p or um corpo, en­
venta fatos imaginários em harm onia com quanto esta extensão se distingue pelo pen­
estes sentimentos: crê-se desmesuradamen­ sam ento da extensão circundante, e con­
te rico, grande personagem, im perador, siderada com o um a parte do espaço. “ O
Deus. lugar assinala-nos mais expressamente a si­
Loucura da perseguição. O alienado tuação do que a grandeza ou a figura... de
crê-se atormentado por inimigos que inven­ form a que se dissermos que um a coisa es­
tam todo o tipo de m aneiras para o pre­ tá num determ inado lugar, entendemos
judicar. apenas que essa coisa está situada de tal
Loucura circular, caracterizada por m aneira em relação a determinadas outras
um a alternância com períodos regulares en­ coisas; mas se acrescentarmos que ocupa
tre dois estados antitéticos, geralmente en­ um determinado espaço ou um determina-

Sobre L oucura — A expressão “ loucura m oral p a ssiv a ” é m uito im própria;


designa-se assim a loucura m oral por sim ples opin ião, a palavra p ró p ria seria inati­
va. {V. Egger)

Sobre “ L údico” — É d. C laparède recom enda a utilização deste term o, particu­


larm ente côm odo nos trabalhos psicológicos sobre crianças ou sobre histéricos: a ti­
vidade lúdica, aquela que se executa no jogo; teoria lúdica da m entira das crianças,
teoria que explica os desvios da sua im aginação pela sua tendência p ara jo gar, etc.
LUZ NATURAL 638

do lugar, entenderemos além disso que es­ sische, rhetorische) Ö rter, G em einplätze;
sa coisa tem tal grandeza e tal figura que E . C om m on place topics; F . L ieu x co m ­
o pode justam en te preencher.” DE è Tτ 2 ­ m ons; I. L u o g h i com m un i, topici. (Ver
I E è , P rin cipios d a filo s o fia , II, 14. as observações.)
“ Lugar geométrico” , conjunto de pon­ A . “ A quilo a que os lógicos cham am
tos que gozam de um a mesma propriedade. lugares {loci argum entorum ) são certos ar­
“ Lugar interior” , a pró pria extensão tigos gerais, aos quais se podem referir to ­
de um corpo, que ele leva consigo quando das as provas de que nos servimos nas di­
se desloca; “ lugar exterior” , a extensão que versas m atérias que tratam os; e a parte da
ele ocupava, e que se considera como per­ lógica a que eles cham am invenção não é
m anecendo no local, enquanto que o cor­ mais do que aquilo que eles ensinam des­
po o deixa. DE è Tτ 2 I E è , n a passagem aci­ ses lugares.” Lógica de Port-Royal, 3? par­
m a citada, recorda esta distinção, mas te, cap. XV III.
declara-a fútil e inconciliável com a relati­ Os “ lugares de gram ática” são a eti­
vidade do movimento (exemplo do homem m ologia e as palavras d a m esma raiz.
que se desloca num navio). E la provém Os “ lugares da lógica” são o gênero,
quer da oposição estabelecida por A ristó­ a espécie, a diferença, o próprio, o aciden­
teles entre o τ ό π ο s e o δ ι ά σ τ η μ α μ ε τ α ξ ύ τ ω ν te, a definição, a divisão. Acrescentamos-
ε σ χ ά τ ω ν (Física, IV, 4, 211b7), quer d a ­ lhes as máximas lógicas que a eles se refe­
quela que ele reconhece entre o rorros lòios, rem , tais como: “ A quilo que se afirm a ou
a extensão ocupada por um corpo, e o que se nega do gênero nega-se tam bém da
TÓTTOT κ ο ι ν ό s, “ èv ¿J ά π α ν τ α τ α σ ώ μ α τ ά espécie; ao destruir o gênero, destrói-se
ί σ τ ι ν ”, entre os quais é, aliás, possível dis­ tam bém a espécie; ao destruir todas as es­
tinguir um a série de lugares interm ediá­ pécies, destrói-se tam bém o gênero” , etc.
rios, o país, a te rra , o ar, o céu, etc. que Os “ Lugares de metafísica” são a causa
se contêm respectivamente {Física, IV , 2, ( = a s quatro causas) e o efeito, o to do e
209*31 ss.). a parte, os term os opostos (relativos, con­
‘‘L u g a r tra n s c e n d e n ta l” ( T ran s- trários, privativos e contraditórios). Ibid.,
cendentaler O rt, Kτ ÇI ): ver T ópica, B. cap. X V III.
R ad. in t .: Lok. B. N o sentido corrente: banalidades.
Rad. int.: Komun-lok.
Lugares-com uns G . τ ό π ο ι (daí o títu ­
lo dos τ ο π ι χ ά de A2 « è I 9I E Â E è ); L. L o - LU Z N A TU RA L L. Lum en naturale.
ci communes·, D . (Logische, m etaphy- Sinônimo de razão, enquanto conjunto

Sobre “ Lugar transcendental” — C. H ém on assinalou-nos a expressão “ o lugar


da crença” (oposta à expressão “ não-lugar” ). Pareceu-nos demasiado ra ra para ser in­
serida no próprio texto do vocabulário.
Sobre Lugares-comuns — Em italiano, a expressão Luoghi com m un i só se usa na
linguagem vulgar, para designar quer banalidades, quer m aneiras de falar proverbiais.
Em lógica utiliza-se algumas vezes a palavra topici para designar os lugares aristotéli­
cos. (C. R anzoli)
A expressão loci com m unes encontra-se pela prim eira vez em CÃ2 Ç« E« T« Z è , Ret. p a ­
ra Herennius, I. Ver Geschichte d er philosophischen Term inologie, p. 51. (R. Eucken)
Sobre Luz natural — Suspeito que a tradução vulgar do Evangelho de S. João, I,
9, é um contra-senso e que o verdadeiro sentido é este: t ò φ ω % t ò α λ η θ ι ν ό ν , ο φ ω τ ί ξ α
πά ν τ α ά ν θ ρ ω πο ν , a luz, a verdadeira, aquela a quem apenas cabe esclarecer todo ho­
mem (quer dizer, o Verbo) ή ν ί ρ χ ό μ ι ν ο ν eis τ ο ν κ ό σ μ ο ν , fazia (nesse m omento) a sua
entrada no m undo. Έ ρ χ ό μ ι ν ο ν , nom inativo neutro, foi tom ado falsamente por um
acusativo masculino devido à proxim idade de π ά ν τ α ά ν θ ρ ω π ο ν . {J. Lachelier)
639 LU Z N A TURAL

de verdades im ediata e indubitavelm ente dia. Ver os textos citados em E« è Â E 2 , VÃ


evidentes ao espirito que nelas atenta: “ A Lum en naturale, nom eadamente: “ Ratio
faculdade de conhecer que Deus nos deu, insita sive insem inata lum en anim ae di-
que nós chamam os luz natural, n ão ap er­ citu r” (St. A ; Ãè I « Ç7 Ã , D e b a p tism o ,
cebe nenhum o b jeto que não seja verda­ etc., I, 25).
deiro naquilo em que o apercebe, quer di­ É m uito com um em todos os cartesia­
zer, naquilo que ela conhece clara e dis­ nos, particularm ente em L E « ζ Ç« U . Ver,
tin tam en te.” DE è Tτ 2 I E è , P rin cípios da por exemplo, Teodicéia, 1.a parte, § 1, on­
filo so fia , 1 ,30. C f. o frag m en to intitula­ de ele opõe luz natural e lu z revelada.
do: “ Busca da verdade pela luz n atural
que, p u ra e sem pedir o socorro da reli­ Luzes (Filosofia das) D . A u fkläru n g.
gião ou da filosofia, determ ina as opi­ M ovim ento filosófico do século X V III,
niões que um hom em de bem deve ter re­ caracterizado pela idéia de progresso, pela
lativam ente a todas as coisas que podem desconfiança em relação à tradição e à au­
ocupar o seu pen sa m e n to ...” to ridade, pela fé na razão e nos efeitos
E sta expressão parece ter tido origem m oralizadores da in strução, o convite a
no Evangelho de S. J Ãã Ã , 1 ,9 . E nco n­ pensar e a ju lgar por si mesmo.
tra-se em m uitos escritores dos primeiros Ver Kτ ÇI , W as ist A u fklärun g? (O
séculos do cristianism o e da Idade M é­ que são as luzes?).
Μ

M N a notação usual dos silogismos, Nas doutrinas filosóficas que admitem


designa o term o médio: M aP , SaM D SaP um a correspondência* term o a term o en­
é um silogismo em B arbara*. tre cada um a das partes do corpo hum a­
Nos nomes dos m odos dos silogismos, no e cada um a das partes constitutivas do
assinala que as premissas devem ser trans­ universo, este últim o é cham ado m acro­
postas para conduzir o m odo em questão co sm o , e o hom em , n a sua relação com
a um m odo d a prim eira figura, a m aior ele, é cham ado m icrocosm o. Estas cor­
torn ando-se a m enor, e reciprocam ente. respondências já foram representadas, ao
M Á C O N SC IE N C IA D. Schlechtes porm enor, de form a m uito variável. Ver,
Gewissen; E . B a d conscience; F. M auvai- p o r exemplo, a placa gravada que serve
se conscience ; I. M ala conscienza. de fro n tisp ício ao livro de F Â Z áá :
E stad o de consciência que sente re­ U íriusque cosm i, m a jo ris scilicet e t m i-
m orsos ou graves dúvidas acerca da legi­ noris, m etaphysica, p h ysica a tq u e tech-
tim idade m oral daquilo que o agente fez. nica historia, figurando essas relações
Ver W . J τ Ç3 é Â é â « T
I , A m á consciên­
7
através de um desenho simbólico onde es­
cia (1939), onde o autor assinala forte- tã o inscritas as palavras m acrocosm us e
m ente a relação desta idéia com a da m icrocosm us (1617).
“ consciencia infeliz” em Hegel, particu­ Este últim o term o permaneceu o mais
larm ente cap. I: “ A consciencia doloro- usual dos dois. Em prega-se num sentido
s a .” um pouco desviado, p ara assinalar a uni­
NOTA dade orgânica de um to do: “ Com o o o r­
Esta expressão é antiga nos m oralis­ ganism o form a por si mesmo um a un i­
tas e n a linguagem corrente, m as a sua dade harm ônica, um pequeno m undo
utilização filosófica foi difundida por (,m icrocosm o ) contido no m undo m aior
Nietzsche, que vê nela um a deform ação (m acrocosm o), sustentou-se que a vida
doentia, desconhecida d a alm a dos senho­ era indivisível...” (Claude BE 2 Çτ 2 á , In-
res, e que estes m antêm nos outro s para trod. ao estu do da m edicina experim en­
assegurar sobre eles a sua dominação. Ver tal, I, 1, § 4). Serve de títu lo à o b ra de
Z ur Genealogie der M oral (1887), e cf. P. LÃI UE , M ikrokosm u s, Ideen zu r N a tu r­
F ÃZ Â I Z « é , “ A m á consciência” , na re­ g e s c h ic h te und G e s c h ic h te der
vista L ’école de 13 de m arço de 1951. M en sch h eit 1(1856).1
M A CRO CO SM O D . M acrocosm us;
E. M aqrocosm ; F. M acro co sm e ; I. M a ­ 1. M icrocosm o, idéias so b re a história da n a tu ­
crocosm o. reza e a história da humanidade.

Sobre M acrocosmo — A origem das palavras m icrocosm o, m acrocosm o, encontra-


se sem dúvida nos médicos gregos. Cf. A 2 « è I :I E Â E è , Física, 252b, 25: “ Et’ eV ξ ώ ω
τ ο ύ τ ο δ υ ν α τ ό ν yevéa6aí, τ ί xcjXuet τ ο α υ τ ό σ υ μ β τ /ν α ι κ α ι κ α τ ά τ ο κ α ν ; et γ ά ρ ev
μ ι κ ρ ώ κ ό σ μ ω -μ ν ί τ α ι κ α ϊ èv μ ί γ ά λ ω .” M icrocosm o poderia ter sido popularizado
n o O cidente por Boécio. N a Idade M édia, principalm ente em S. Tom ás de A quino,
utiliza-se no m esm o sentido a expressão M in o r m u n dos. (R. Euckeri)
641 M A G IA

M A G IA L. M agia ; D . M a g ie ; E. M a- M agia naturalis, 1558, em que são des­


gic; F. Magie-, I. M agia. critos sob esse nom e m uitas simples ex­
A . P rim itivam ente, ciência e arte dos periências de física; DE Â R « Ã , D isqu isi­
M agos (G. Μ ά γ ο ι ; L. M agi). E sta pala­ tion es m agicae, livro I, cap. III: “ M agia
vra designa: 1? um a das tribos que cons­ naturalis seu physica, nihil aliud est quam
tituíam o povo dos m edas (H E 2 ó áÃI à , exactior quaedam arcanorum n aturae
1, 101); 2? a casta sacerdotal entre os me­ co g n itio ...” , etc.). Finalm ente, segundo
das e ulteriorm ente entre os persas; 3? na Bτ TÃÇ , a m agia n atural “ expurgato vo­
linguagem corrente dos gregos e dos ro ­ cábulo m agiae” deve dizer-se das op era­
m anos, quem quer que lhes parecesse d o ­ ções que dependem do conhecim ento da
tado do poder de pro duzir, fo ra dos ri­ causa form al (processus latens, schem a-
tism us latens) por oposição àquelas que
tos oficiais das suas religiões nacionais,
exigem apenas o conhecim ento de um a
fenôm enos que n ão coubessem no curso
causa eficiente, permanecendo o mecanis­
norm al da natureza: encantos, sortilégios,
m o íntim o do fenôm eno a produzir igno­
evocações, adivinhações.
rado {D e A u g m en tis , III, cap. 5).
B. Nos povos ocidentais, arte de agir
“ O hom em pode regular e conduzir
sobre a natureza através de processos
as suas ações extraordinárias ou por um a
ocultos, e de pro duzir dessa fo rm a efei­ graça especial de D eus... ou pela assistên­
tos extraordinários: “ M agia, universim cia de um an jo , ou pela de um D emônio,
su m p ta... est ars seu facultas vi creata et ou, finalm ente, pela sua p ró p ria indús­
no n supernaturali quaedam m ira et insó­ tria e suficiência; a estes quatro meios di­
lita efficiens quorum ratio sensum et com- versos e c o m p le ta m e n te d ife re n te s
munem hom inum captum superat... Vim podem -se coligar qu atro tipos de magia:
creatam et no n supernaturalem nom ina- a divin a, do prim eiro, a teúrgica, do se­
vi, u t excludam vera m iracula .” M artin gun do, a go ética , do terceiro, e a n atu­
DE Â R « Ã , D isqu isition es m agicae, 1599, ral, do ú ltim o.” Gabriel Nτ Z á< , A p o lo ­
livro I, cap. 2. gia d e to d o s o s h om en s fa lsa m en te acu­
A m agia cerim onial é aquela que age sa d o s d e m agia, cap. II.
sobre os espíritos (outros que n ão os es­ G Nos sociólogos contemporâneos, es­
píritos dos hom ens vivos) através de um ta palavra é em pregada em dois sentidos:
ritual. 1? F 2 τ UE 2 opõe d a seguinte fo rm a
A m agia natural foi entendida em vá­ m agia e religião: a magia é o conjunto das
rios sentidos. P arece ter sido concebida práticas que repousam sobre a crença de
em prim eiro lugar como operando de fo r­ que existem entre os seres da natureza re­
m a ilícita e oculta sobre as forças ou es­ lações regulares, leis (que são, neste ca­
píritos elem entares que governam a m a­ so, as leis de correspondência por sim pa­
téria: “ M agia naturalis est secretior phi- tia e antipatia); é, assim, o prim eiro ru ­
losophia et diabólica, docens facere ope­ dimento da ciência; a religião é o conjun­
ra adm irabilia intervenientibus virtutibus to das práticas que nos permitem tornar fa­
n a tu ra lib u s...” ( G Ã T Â Ç « Z è , V o , 657).
E
voráveis seres de um poder superior ao ho­
M as, na época em que ele escrevia, esta m em , dotados de personalidade e de cons­
concepção tradicional já tin h a sido m o­ ciência. ( The G oiden Bough1, 2? ed., 1,1
dificada num grande núm ero de escrito­
res num sentido racionalista (P Ã2 I τ , 1. O ram o de ouro.

Sobre M agia — A rtigo com pletado segundo as indicações de X a v ie r L éon (sobre


Novalis e o idealism o mágico); de Élie H a lévy e É m ile M eyerson (acerca da utiliza­
ção sociológica da palavra m agia).
M AIÊUTICA 642

9 ss., 61 ss.)· N a m agia, existe determ i­ 1. M A IO R (subst. m ase.) D. O berbe­


nação absoluta exercida pelas forças ocul­ griff, M ajor, E. M a jo r (term ); F. Majeur;
tas; na religião, o Deus perm anece livre. I. M aggiore.
2? Esta palavra aplica-se a to das as O m a io r ou o term o m aior de um si­
operações que não entram nos ritos dos logismo categórico é o term o que serve
cultos organizados, e que repousam so­ de predicado à conclusão. É assim desig­
bre crenças análogas àquelas que m ani­ nad o por A 2 « è ó Â è ( G . g e í f o v a -
I I E E

festa a m agia, no sentido B, particular­ xQ ov, l ° s analíticos, IV; 26M8), literal­


m ente sobre a crença nas correspondên­ mente: “ o m aior dos dois extrem os” , en­
cias* e nos efeitos sim páticos que resul­ quan to que a fo rm a típica do silogismo
tam destas. Ver H Z ζ E 2 I e Mτ Z è è , Esbo­ da prim eira figura é a inclusão do m édio
ço de um a teoria geral d a m agia, A n n ée no term o m aior e do pequeno no m édio.
sociologiqu e, V II, 1902-1903. N a segunda figura, o term o m aior é de­
finido por ele da seguinte form a: rò irpòs
NOTA
rã> {íéaiú xeíptevov (26b37) e, na terceira:
A p artir do século X V III, esta pala­ rò rroQQÚreQov rov peoov (28e13).
vra foi sempre tom ada negativamente, no
sentido em que nela se via o nom e de um a 2. M A IO R (subst. fern.) D. O b ersatz
M a jo r, E. M a jo r (prem iss); F . Majeure',
falsa ciência e de um m étodo de ação ilu­
sório. C ontudo, é preciso abrir um a ex­ I. M aggiore.
A m aior de um silogismo categórico
ceção para o rom antism o alem ão e, em
é aquela de duas prem issas que contém
particular, para NÃâτ Â « è , que sobretudo
o m aior ou o term o m aior.
empregou a expressão idealism o mágico:
ele parece ter adm itido a realidade da A m aior de um silogismo hipotético
ação m ágica pela qual o hom em pode en­ ou disjuntivo é aquela de duas premissas
tra r com o universo n a relação da sim pa­ que contém quer a hipótese*, quer a
alternativa*.
tia e de ação direta em que norm alm ente
R ad. in t.: M ajor.
se en contra com o seu pró p rio corpo.
ST7 E Â « Ç; , m uito ligado a N ovalis, to ­ 1. M A L (adv.) D. Uebel, Schlecht (no
m ou em certa época esta palavra no mes­ sentido geral); B öse (no sentido m oral);
m o sentido. O m esm o se passa com vá­ E . E vil, b a d ly, F. Mal·, I. M ale.
rios filósofos do m esm o g rupo, em p a r­ Term o universal d a apreciação desfa­
ticular com o físico R « I I E 2 . vorável; serve p a ra caracterizar tu d o o
R ad. in t .: M agi. que é um insucesso ou incorre n u m a de­
saprovação em qualquer ordem de fina­
M A IÊ U T IC A G. Mariíimxij (PLA­
lidade. “ U m a m áquina m al construída,
TÃO, T eeteto, 161 E); D . M a ieu tik ; E.
m al lubrificada; um livro m al escrito; um
M aieutics; F. M a ieu tiq u e; I. M aieutica.
plano m al co ncebido.”
P la tão , no T eeteto , põe em cena Só ­
O adjetivo correspondente é m au.
T2 τIE è , declarando que n a qualidade de
filho de um a parte ira e ele pró prio perito 2. M A L (subst.) D . A . Uebel; B . Ue­
em p a rto s , “ fi a ía s víòs x a l a i i r ò s bel, Böse; E . A . B. E vil; w rong (mal que
/im etm xds” , ele assiste ao p a rto dos es­ consiste em ser injusto, o u em não ter ra­
píritos, dos pensamentos que eles contêm zão); F . M al; I. M ale.
sem o saber. P la tão representa-o pondo A . S en tido geral: tu d o o que é objeto
em p rática este m étodo em vários diálo­ de desaprovação ou de censura, tudo
gos, nom eadam ente no M enon . aquilo que é de tal m aneira que a v onta­
Este termo permaneceu usual para de­ de tem o direito de se lhe opor legítim a­
signar, m uitas vezes com to ns de iro nia, m ente e de o m odificar se possível.
a arte que Sócrates dizia praticar. “ Pode-se tom ar o m al m etafisicam ente,
643 M ARGIN AL

fisicamente e m oralm ente. O m al m etafí­ M A N ISM O Ver S uplem ento.


sico consiste na simples imperfeição, o m al
M Á Q U IN A Ver M ecanism o. Teoria
físic o no sofrim ento, e o m al m oral no pe­
d o s "anim ais m áquinas", teoria de Des­
cado.” LE « ζ Ç« U , Teodicéia, 1? parte, § 21.
cartes e dos cartesianos, particularmente de
B. Especialmente: M al m oral. É sem­ M alebranche, segundo a qual os animais
pre este o sentido da palavra na expres­ são inteiram ente assimiláveis e não expe­
são “ fazer o m al” . rimentam qualquer sensação nem qualquer
R ad. in t .: M al.
estado afetivo. D iscurso d o m éto d o , V, 9;
M A N IA (do G . μ α ν ί α , loucura); D. Carta a M o n is, 5 de fevereiro de 1649.
Manie', E. M an ia ; F. M anie; I. M ania.
M A RG IN A L D. G ren z...; E. M argi­
A . Diz-se de to das as form as de alie­
nal; F. M arginal; I. M argínale.
nação m ental que apresentam um estado
Que se encontra no extrem o, no limite
de sobreexcitação e atos de violência im ­
de um a região (e n ão à m argem no senti­
pulsiva.
do que vulgarmente se dá a esta palavra).
B. (sobretudo em com posição). P er­
Provém do inglês M argin, cujo sentido
turbação mental limitada a um a só ordem
mais geral é extremidade, fronteira.
de fato s (ex.: cleptom ania, dipsom ania).
“ They speak o f fringes o f ordinary
M uito vulgar no sentido atenuado, p ara
conciousness, o f marginal assodation ...” 1
designar um hábito singular, um gosto ou
(F. Mà E 2 è , H um an P ersonality, I, in-
um a preocupação dom inantes e bizarras.
tro d ., § 14, 1903).
R ad. int.: M ani.
M A R G IN A L (Utilidade de, Valor) D.
M A N IQ U E ÍS M O D . M anichäism is;
G renz (-nutzen, -wert); E. M arginal ( U ti-
E. M anichaeism ; F . M anichéisme; I. M a-
lity, Valué); F. M argínale ( Utilité, Valeur);
nicheism o.
I. M argínale ( Utilità, Valore).
D o nome de Mτ ÇE è ÃZ Mτ Ç« I Z E Z ,
Diz-se tam bém , no mesmo sentido,
heresiarca persa do século III, que tentou
U tilidade lim ite, utilidade fin a l.
com binar com o cristianism o o dualism o
Seja um a coisa útil e trocável (lâ, fer­
tradicional da antiga religião de Zoroastro.
ro, trigo, etc.), tal que o desejo que temos
Diz-se de to d a a concepção filosófica
que adm ite dois princípios cósm icos coe-
ternos, um do bem , o o u tro do mal. 1. “ F alam os d e fra n ja s d a consciência vulg ar, de
R a d . in t.: M anicheism . associações m arginais..

Sobre M arginal — 1? A expressão m argin o f cultivation não é utilizada nem em


Ricardo, nem em Jam es Mill, nem em J . S. Mill. É o econom ista Fτ ç TE I I que n o seu
M anual o f P olitical E con om y (1863), livro II, cap. Ill (R en ts a s determ ined b y com pe­
tition), propõe expressamente introduzir este term o novo na linguagem d a economia
política: “ It will m uch assist clearness o f conception, if we employ som e technical lan­
guage to describe the terms o f Ricardo’s th eory .” 12? O adjetivo m arginal não é en­
contrado em J E âÃÇè ( Theory o f P olitical E conom y, 3? ed., 1888), que fala apenas do
“ final degree o f utility” e utiliza apenas um a vez a expressão “ term inal utility” . Não
encontro tam bém esta palavra na 1 í edição dos E lem entos d e econom ia p o lítica p u ra
(1874). M as encontro a expressão marginal utility nos Principles o f P olitical E conom y
de Mτ 2 è 7 τ Â Â (1898), p. 168; e a expressão p ro d u tividades marginais na 4? edição dos
Elem entos de econom ia política pu ra, p. 371. N ão me parece que a expressão utilidade
m arginal pertença à linguagem de W alras. (Élie H alévy)

1. “Seria útil, com vista à clareza de idéias, empregar aqui algumas expressões técnicas para
representar os termos da teoria de Ricardo.”
M ASSA 644

de obter dela um a quantidade determ i­ frequentem ente no plural: as m a tem á ti­


nada a dim inui à m edida que a vamos cas). D. M athem atik; E. M athem atics; F.
possuindo: a utilidade marginal dessa coi­ M ath ém atiqu e; I. M atem ática.
sa, para um com prador dad o , é por de­ Nome genérico de to das as ciências
finição a utilidade do últim o elemento que têm p o r objeto o núm ero , a ordem
igual a a que ele julgar conveniente a d ­ (num érica) ou a extensão. Ver Á lgebra,
quirir. Análise, A ritm ética , G eom etria, etc.
Este term o deriva do uso proposto por M atem ática universal, “M athesis uni-
Fτ ç TE I I , da expressão m arginal o f cul­ versalis” , expressão vulgar na época de
tivation (limite, extrem o d a cultura), p a ­ Descartes (ver J. Lτ ú ORTE , O racionalis­
ra designar, de acord o com a teoria de m o d e D escartes, p. 8, n. 7), que ele ad o ­
R « T τ 2 á Ã , o últim o elemento de terra, de to u nas R egulae para designar “ genera-
produtividade dada, cujo rendim ento, em lem scientiam , quae id om ne explicat
conseqüência d a sua distância e das difi­ quod circa ordinem et m ensuram nulli
culdades de acesso aos centros de consu­ speciali m ateriae addictos quaeri potest”
m o, cobre exatam ente os gastos da cul­ (ib id ., regra IV; A d. e T a n n ., p. 378). É
tu ra. Ver as observações. o pró prio m étodo, no seu alcance geral,
Estendeu-se à teoria dos valores, eco­ tal com o é definido na regra V.
nômicos ou não , através de certos autores
NOTA
contem porâneos, especialmente E 2 Ç - 7 E

FELS (System d er W erttheorie I, § 25); ele A questão de saber se, p o r um lado,


propõe que se utilize no sentido geral todas as ciências podem ser remetidas pa­
G renz-from m en, cujo Grenz-nutzen eco­ ra um a definição direta única e, p o r o u ­
nômico seria um caso particular. tro lado, se é possível traç ar um a linha
R ad. int.: M arjinal. de dem arcação que separe de um a manei­
ra precisa as m atem áticas da lógica foi
M ASSA D. Masse', E. M ass; F. M a s­ objeto de discussões que não podem ser
se; I. M assa. aqui referidas.
Sendo dado que um a m esm a força R ad. in t.: M atem atik.
aplicada a corpos diferentes lhes transm i­
te desiguais acelerações, e que, p ara um M A TE M Á TICO D. M athem atisch;
mesmo corpo, as acelerações são p ropor­ E. M athem atic; F. M athém atique; I. M a­
cionais às forças, chama-se m assa de um tem ático.
A. Que pertence às m atem áticas: “ O
corpo à relação con stan te que existe p a ­
ra com este corpo entre as forças que são raciocínio m atem ático.”
nele aplicadas e as acelerações correspon­ B. Q ue utiliza as m atem áticas, que se
exprim e sob fo rm a m atem ática: “ Á físi­
dentes. Cf. Inércia.
ca m atem ática.”
R ad. int.: M as.
P or extensão (e geralmente por hipér­
M A TEM Á TICA (no singular: CÃÇ - bole), que apresenta as mesmas caracterís­
DORCET, Auguste CÃOI E , etc.; mas mais ticas que as m atem áticas, quer enquanto

Sobre M assa — Esta noção clássica da m assa parece estar em vias de se m odifi­
ca r sob a influência das novas teorias relativas à constituição eletrônica da m atéria.
P o r um lado, somos levados a crer que nas velocidades m uito altas (raios em anados
pelo rád io , raios catódicos) a m assa aum enta em função d a velocidade; por o u tro ,
tende-se a adm itir que a inércia elétrica, ou self-in duction , é o fenôm eno prim itivo
de onde deriva a m assa vulgarm ente considerada (cf. P Ã « Ç T τ 2 é , Ciência e m é to d o ,
pp. 215 ss.). (M . W inter )
645 M ATÉRIA

rig or, quer enquanto necessidade. Este L. M ateria, m ateries; D. M aterie, S toff;
sentido é fam iliar. E. M a tter, em todos os sentidos; no sen­
R ad. in t.: A . M atem atikal; B. M ate- tido p ró p rio , A . Material·, em sentido fi­
m atik; C. M atem atik artr. gurado, stu ff; F. M atière\ I. M ateria.
A . Prim itivam ente, os objetos n a tu ­
“ M A T E O SIO L O G IA ” F. M athéo- rais que o trabalho do hom em utiliza ou
siologie. Term o criado por A Oú 2 pa­ E E
transform a com vista a um fim; especial­
ra designar a teoria da classificação das m ente (L'Xrj, m a teries ): a m ad eira de
ciências, considerada do ponto de vista construção. Daí:
do ensino. E nsaio so b re a filo so fia das B. Nas expressões de origem aristoté­
ciências, in tro d. Cf. prefácio, p. X X X I. lica e escolástica (e, neste caso, sempre
Este term o é pouco usado. oposta a forma*)·. 1? aquilo que, num ser,
“ M A TE O SIO TA X IA ” F. M ath éo- constitui o elemento potencial, indetermi­
siotaxie. Foi empregado por D Z 2 τ Çá á
n ad o , p o r oposição àquilo que está a tu a­
E

lizado; 2? to d o dad o , físico ou m ental,


G 2 Ã è para classificação das ciências. N o ­
já determ in ado, que u m a atividade rece­
tas d e taxi. g era l. , 250, 260, etc.
be e ulteriorm ente elabora.
M A TÉ RIA G. uXrj (cf. L . Sylva); Disse-se prim itivam ente para distin-

Sobre M atéria e M aterialism o — A palavra m aterialism o aparece pela prim eira


vez n a época de RÃζ E 2 I BÃà Â E . Ver especialm ente The E xcellence a n d G roun ds o f
th e M echanical P h ilo so p h y1, 1674. E ncontram o-lo em LE « ζ Ç« U oposto a idealism o:
os tipos destas duas doutrinas são segundo ele as de E picuro e P la tão . R éplica às
reflexões d e B ayle, 1702. E rd m an, 186 A ; Janet I, 697. (R. Euckeri)
MZ 2 2 τ à cita a palavra m aterialists, nos D ivin es D ialogu es de H enry MÃ2 E
(1668).
A prim eira redação deste artigo citava a passagem seguinte de Rτ âτ « è è ÃÇ como
um exemplo da confusão possível entre os sentidos da palavra m atéria, e da facilida­
de com a qual a reflexão filosófica se engana na passagem de um para o outro.
“ A idéia da m atéria é realmente apenas a idéia daquilo que se faz um a coisa dando-
lhe um a form a, e que passa assim de um estado relativam ente indeterm inado e im ­
perfeito p ara um estado de determ inação e perfeição. De onde se segue que se se
pretender procurar para além de to d a a fo rm a um a m atéria prim eira ou absoluta,
só chegaremos a um verdadeiro nada. O que é, com efeito, a idéia de qualquer coisa
que não tem nen hum a m aneira d eterm inada de existir? É a idéia totalm ente ab strata
da p u ra e simples existência, que equivale à do nada. O m aterialism o absoluto nunca
existiu, e não poderia nunca existir. Em que é que consiste, pois, o m aterialism o des­
te ou daquele sistema? N a teoria que, sem ir até às últim as consequências do seu
princípio, explica as coisas pelos seus m ateriais, p or aquilo que existe nelas de im per­
feito, e neste im perfeito pretende encontrar a razão daquilo que lhe dá acabam ento.
Segundo a excelente definição de A uguste C om te ... o m aterialism o é a dou trin a qu e
explica o su p erio r p elo inferior. O que o to rn a falso? É precisam ente porque é con­
traditório, com o dizia A ristóteles, que o m elhor pro venha do pio r, que o m enos p ro ­
duza o m ais... E a o b ra acabada que explica o esboço, o com pleto, o perfeito que
explica o inferior. P o r conseqüência, é apenas o espírito que explica tu d o .” (R elató­
rio so b re a filo s o fia na França no século X I X .)

1. A superioridade e o s fu n d a m e n to s da filo so fia mecânica.


M ATÉRIA 646

guir as duas acepções “ m atéria primeira” M« Â Â, Exam ination o f sir W. H am ilton ’s


e “ matéria segunda” ; mas a expressão “m a­ P hilosoph y , cap. X X .
téria primeira” , ao passar para a linguagem Cham a-se frequentem ente, neste sen­
corrente, tom ou-se sinônimo de “ matéria tido, m atéria d o conhecim ento (por o po­
segunda” , que caiu em desuso ao mesmo sição à fo rm a * deste), aos dados concre­
tempo que se apagava n a palavra matéria tos que form am o conteúdo* do pensa­
a idéia aristotélica de potencialidade pura. m ento. C f. K τ Ç : “ ...d en rohen S to ff
I

“ The term M atter is usually applied sinnlicher Eindrücke zu einer Erkenntniss


to whatever is given to the artist and con­ der G egenstände zu verarbeiten ” 2(K rit.
sequently, as given, does not come within d er reinem Vernunft, Einleitung, I, B, 1).
the province o f the a rt itself to supply. Tam bém lhe cham a G ru n d sto ff (ibid.).
The form is th at wich is given in and C. N o sentido m oderno (de origem so­
throught the proper operation o f a r t.” 1 bretu do cartesiana); e, neste caso, opos­
MANSEL, P rolegom en a lógica, 226, em to quer à fo r m a , quer ao esp irito :
1? Se se distinguir, por abstração,
num objeto físico: 1? a figura geom étri­
1. “ O te rm o m atéria é v u lg arm en te a p licad o a
tu d o aq u ilo que é d a d o a o a rtista e q u e , p o r co nse-
ca que o lim ita no espaço; 2? aquilo que
q ü ên cia, e n q u a n to d a d o , n ã o p erten ce à p ró p ria a r ­
te fo rn ecer. A fo r m a é aq u ilo q u e é d a d o n a e pela 2, “ ... e la b o ra r a m atéria b ru ta d as im pressões
o p e ra ç ã o p ró p ria d a a r te .” sensíveis n u m c o n h ecim en to d o s o b je to s ” .

J. Lachelier, Pécaut, B londel, B oisse tom aram a defesa desta crítica de Ravais-
son e da definição de A uguste Com te:
Creio que só poderem os penetrar no sentido das palavras m atéria e m aterialism o
partindo d a filosofia de A ristóteles. Parece-m e claro que há em to d o ser: 1? aquilo
que lhe dá o seu sentido e o seu interesse próprios: é a sua idéia ou a sua form a;
2? aquilo que é para esta fo rm a um ponto de apoio necessário, aquilo sem o que
ela seria ab stra ta ou sim plesmente possível. P or exem plo, aquilo que dá sentido a
um a existência hum ana é o fato de pensar; m as o pensam eto supõe, para existr, um
corpo vivo. Se se considerar apenas este co rpo, aquilo que lhe dá um sentido é o
fato de viver; m as esta vida p a ra existir supõe um organism o, etc. Só que não direi,
com Ravaisson, que rem ontando, ou m elhor, descendo sempre assim , acabarem os
por nada encontrar: eu creio que existe um real últim o, que Leibniz via com razão
com o um elem ento indispensável d a sua m ônad a, um princípio de resistência e de
retard am ento sem o qual o esforço se perderia no vazio, ou m elhor, nem sequer nas­
ceria; e, de u m a m aneira geral, rem ontando, chegarem os à conclusão de que é sem ­
pre necessária um a m atéria para um a fo rm a, fatos, por exem plo, p a ra um a co nstru ­
ção sistem ática, pendores norm ais e suficientem ente enérgicos p a ra a virtude, um
nível suficiente de beleza plástica p a ra servir de suporte à beleza de expressão, etc.
Dir-m e-ão q u e essas coisas a que eu cham o espirituais, com o p ensam ento, vida, be­
leza, não são seres, m as m aneiras, p ara um ser, de ter consciência de si mesmo ou
de um o u tro ser simples m odificações; p o r conseqüência, simples predicados. M as
a filosofia de A ristóteles consiste precisam ente em colocar o ser verdadeiro n o p en­
sar, n o sentir, etc. e a ver apenas naquele que pensa, ou sente, a condição m aterial
d o pensar e d o sentir; e crer (com o quase to d a a filosofia m oderna) que esta condi­
ção é o ser e que o pensar, o sentir, são apenas m odos, é, do ponto de vista da filoso­
fia de A ristóteles, a p ró p ria essência do m aterialism o. (J. Lachelier )
O pu ro m aterialism o é um puro sem -sentido. O m aterialism o é menos um siste­
m a do que um a tendência, tendência acerca da qual A uguste C om te p ro p u n h a esta
p ro fu n d a definição: “ Explicar o superior pelo in ferio r.” (M . Blondel)
647 M ATERIA

lhe d á um a realidade concreta, um a pre­ 2? P o r oposição ao esp írito : aquilo


sença atual e individual, o prim eiro des­ que é objeto de intuição n o espaço, e pos­
ses elem entos é cham ado a sua fo rm a e sui um a m assa* m ecânica. C f. C orpo.
o segundo a sua m atéria. “ M aterie ist das bewegliche im R au­
m e ” 1 (K τ Ç , M etaph . A n fasgsgrü nde
I
“ A m atéria ... cu ja natureza consiste
d er N atu rw iss., 1). “ Os elementos d a m a­
apenas em ser u m a coisa extensa, ocupa
téria podem reduzir-se à extensão e ao
agora todos os espaços imagináveis, e não m ovim ento” ( E . B Ã Z 2 Ã Z 7 , D a con tin ­
I

poderiam os descobrir em nós a idéia de gência d a s leis d a n atureza, cap. IV).


nenhum a o u tra m atéria .” DE è Tτ 2 I E è ,
Princípios, II, 22. “ O título das m atérias 1. “ A m a té ria é aq u ilo que é m óvel n o e s p a ç o .”
de ou ro e de p ra ta ...” (Código penal Prim eiros fu n d a m e n to s m etafísicos d a ciência da na­
francês, a rt. 423). tureza.

N ão seria bom com eçar pela definição geral dad a p o r A uguste C om te, e passar
em seguida, m as em seguida apenas, aos sentidos A , B, C ? (L. B oisse)
A definição de Auguste C om te parece-m e excelente. 1° É clara. O superior é a exis­
tência que tem mais atributos; o inferior é o que tem menos. O pensante é superior
ao caniço, que não pensa. São m aterialistas, por conseguinte, as tentativas para expli­
car um a civilização pelo m eio físico ou pela raça; p ara explicar o biológico píelo quí­
mico, etc. 2? Tem um grande valor filosófico, na m edida em que define os term os de
um dos m aiores problem as especulativos. A s leis mais simples, com o as leis mecânicas
de atração ou de repulsão em função das distâncas, poderão d ar conta d a riqueza do
m un do em atributos? E é contra a solução m aterialista, tão bem defin ida p o r Comte,
que se ergue a m aior p arte dos filósofos m odernos, p o r exemplo, a d o utrina de B ou­
troux, a de Bergson e a segunda filosofia do pró prio Comte. (F. Pécauf)
N a sua definição de m aterialism o, Auguste C om te não m e parece designar p o r in­
fe r io r e su perior aquilo que tem m aior ou m enor núm eros de atributos. N ão se tra ta
para ele de um a questão de com plexidade lógica, m as de um a questão de valor, relati­
va à classificação subjetiva e aos interesses da hum anidade (ver em particula r o 2° vo­
lum e d a P olítica p o sitiv a ). Ele considera sobretudo o m aterialism o com o um a inver­
são d a verdadeira escala de valores. (G. M ilhaud)
Parece-me perigoso, e ao m esm o tem po artificial, pro curar um a idéia central e es­
sencial que seja com um a to das as acepções da palavra m atéria e m aterialism o. O sen­
tido das palavras transform a-se e diversifica-se no tem po por processos que estão bem
longe de se reduzirem às relações lógica do gênero e d a espécie: a sem ântica coloca-
nos de sobreaviso co n tra as tendências d o espírito filosófico, sempre inclinado a siste­
m atizar o seu objeto, e a não d a r suficiente im portância àquilo que existe de acidental
e histórico nas coisas. A palavra m atéria diferenciou-se em duas direções divergentes:
um a aristotélica e escolástica, caracterizada p o r u m a espécie de utilização adjetiva e
relativa desta palavra: n ão existe nad a neste sentido que seja « m atéria; m as este ou
aquele dado é m atéria em relação a esta ou aquela form a; a outra, cartesiana e científi­
ca, em que a palavra é nitidam ente substantiva: a m atéria é, então, a res extensa, que
se opõe à res cogitans. É deste segundo sentido que provém, p o r sua vez, a principal
acepção d a palavra m aterialism o, que talvez ganhasse em clareza se fosse substituída
pelo nom e corporalism o. M as acontece que m atéria, neste sentido, ao opor-se a espíri­
to, tom ou qualquer coisa d a idéia cristã d a carne, d a vid a anim al, enquanto se lhes
op õe tam bém. Falam os de preocupações, de gostos, de interesses “ m ateriais”; diz-se
de um hom em q u e está “ m ergulhado na m atéria” (H yliq u e, vktxós, que para
M ATÉRIA 648

Neste sentido, uns opõem a noção de C R ÍT IC A


m atéria às de fo rç a , de m o vim en to , de O en cadeam ento destes sentidos
energia, que aproxim am da noção de es­ estabeleceu-se por irradiação em torno do
p írito , outros consideram-nas como inse­ sentido A. Se, na operação usual que for­
paráveis da idéia de m atéria e opõem -nas neceu este quadro ao nosso pensam ento
em bioco ao pensam ento. Ver, por exem­ ab strato , se considera sobretu do a cons­
plo, P . J τ Ç
E I , O m aterialism o co n tem ­ trução e a organização novas que recebem
p o râ n eo , cap. IV. E. B Ã Z 2 Ã Z 7 distin­
I
materiais preexistentes, a oposição de f o r ­
guiu o s co rp o s ( “ os elementos químicos m a e m atéria é aquela que define o senti­
enquanto são suscetíveis de heterogenei­ do B; se atentarm os à m udança que re­
d ad e” ) da “ m atéria p u ra e sim ples” tal cebe a figura exterior dos m ateriais (o ta ­
com o acim a é definida (ib id ., cap. V). lhar das pedras, m odelagem da argila), a

A ristóteles significava apenas corporal, tornou-se nos Padres da Ig reja sinônim o de


carnal e opõe-se a π ν ε υ μ α τ ι κ ο ί ). É devido a isto que O “ corporalism o” ontológico
se encontra designado com o m esm o nom e que o “ anim alism o” m oral, teórico ou
prático, e que o “ econom ism o” histórico. A utilização que A ristóteles faz da p ala­
vra ííX17, se é a origem prim eira de todos os nossos empregos filosóficos da pala­
vra m atéria, não basta, pois, p a ra definir um gênero de que estes seriam as espécies.
Q uanto à definição de A uguste Com te, o seu principal defeito consiste em que
se pode fazer dizer m uitas coisas diversas às palavras inferior e superior que foram
aqui mesmo criticadas. O sentido no qual as tom a Ravaisson parece efetivam ente
não ser o mesmo que 0 seu au to r lhes atribui. É m uito difícil de aceitar, que o mais
e 0 menos sejam a m esma coisa que 0 m elhor e 0 pior. A questão d a riqueza lógica
é independente da do valor estético ou m oral. M as adm itam os que precisam os os
sentidos e que p o r superior se entende, com o pretende Pécaut, aquilo que tem m ais
atrib u to s. A definição, então, não convirá de m odo algum aos sistem as geralm ente
cham ados m aterialistas, por exem plo, ao de D ’H olbach ou ao de Büchner. N ão se
pode dizer que p a ra eles a m atéria tenha m enos atributos nem que seja m enos deter­
m inada do que a vida ou a consciência. Nem um nem o u tro visa descobrir “ para
além de qualquer fo rm a” um a m atéria que se determ inaria por si m esm a au tom ati­
camente: esta fórm ula aplicar-se-ia m uito m elhor à filosofia de Spencer, que faz sair
o heterogêneo d o hom ogêneo, e que p o r isso cai, com efeito, diretam ente sob a críti­
ca de Ravaisson: m as precisam ente esta filosofia rejeita o nom e de m aterialism o. A
censura geralm ente feita àqueles que aceitam este nom e é, pelo co ntrário, o fa to de
terem enriquecido a idéia de m atéria, de terem suposto aí propriedades que não p er­
cebemos efetivam ente nos corpos (ver, p o r exem plo, J τ Ç , O m aterialism o co n ­
E I

tem porân eo, pp. 79-89, 2? ed.).


A idéia dom inante do m aterialism o teórico parece, pelo co ntrário, residir n a reu­
nião destas três teses: do p o n to de vista m etafísico, que não existe nada que seja se­
parável da m atéria corporal, a não ser verbalm ente e por ab stração; do ponto de
vista m etodológico, que só o estudo desta m atéria pode esclarecer a vid a do espírito
e perm ite abordá-la; finalm ente, do p o n to de vista m oral, que o hom em é um ser
simples, do qual to das as tendências fo rm am norm alm ente um sistem a harm ônico
e hom ogêneo, e não um ser duplo, em que dois sistemas de fins estão em conflito.
(Se estas teses são solidárias ou n ão , n ão é aqui o lugar de exam inar essa questão.)
É bem verdade que os m aterialistas freqüentem ente se esforçam p or explicar o m aior
núm ero possível de fatos pelo m enor núm ero de princípios. M as esta tendência não
649 M ATERIAL

oposição to m a o aspecto com pletam ente segundo um ou outro desses pontos de


diferente que representa o sentido C, 1?; vista. A “ causa m aterial” define-se em
se se considerar, finalm ente, a passivida­ tantos sentidos diferentes quantas as o u ­
de e a inércia dos objetos sobre os quais tras causas que existem postas em antíte­
se opera, por oposição ao espírito que se com ela.
concebe a fo rm a, ou ao trab alh o que a R ad. in t.\ A . B. M ateri; C. 1?, Subs-
realiza, chegam os ao sentido C , 2?. N ão tanc; C. 2?, K orp.
obstante a unidade "da m etáfora tecnoló­
gica que lhe funda o sentido, esta palavra M A T E R IA L D. A . B. Stofflich-, B.
é, pois, m uito equívoca, porque um obje­ Körperlich-, E. M aterial·, F. A. M atériel;
to de pensamento só é “ m atéria” enquan­ B. M a teria l (ver S); I. M ateriale.
to se divide a operação total de produção A . O posto a form al·, que pertence à

lhes é própria e não pode servir para caracterizar a sua doutrina: porque todo sistema
lógico tem por objeto deduzir do m enor núm ero de hipóteses a m aior variedade possí­
vel de consequências. É mesmo por isso que os m aterialistas m odernos, longe de limita­
rem a priori, como Demócrito ou como Descartes, o núm ero de propriedades da res
extensa, declaram , pelo contrário, deixar à experiência o cuidado de revelar que deter­
minações essenciais será necessário atribuir-lhe; por exemplo:
“ N ão conhecemos de m odo algum os elementos dos corpos, mas conhecemos algu­
m as das suas propriedades ou qualidades... Os homens encararam a m atéria como um
ser único, bru to, passivo, incapaz de se m over, de se com binar, de produzir por si p ró ­
prio; em vez disso deveriam tê-la encarado com o um gênero de seres cujos diversos in­
divíduos, ainda que tenham algum as propriedades comuns tais como a extensão, a di­
visibilidade, a figura, etc., não devem contudo ser arrum ados num a m esm a classe, nem
ser com preendidos sob um a m esm a determ inação.” D’H ÃÂ ζ τ T7 , Sistem a d e nature­
za , I, cap. 2. “ O sistema da espiritualidade, tal com o é hoje adm itido, deve a Descartes
todas as suas pretensas pro vas... foi o prim eiro a estabelecer que aquilo que pensa deve
ser distinto d a m atéria: de onde conclui que a nossa alm a ou aquilo que pensa em nós
é um espírito, quer dizer, um a substância simples e indivisível. N ão seria mais natural
concluir que, já que o hom em , que é m atéria e que só tem idéias da m atéria, tem a
faculdade de pensar, a m atéria p o d e pen sar ? ” (ib id . , cap. VII). (A. L .)
O sentido B não restringirá dem asiadam ente o sentido do m aterialism o psicoló­
gico? N a realidade são m aterialistas to das as doutrinas que, mesmo sem considerar
os fatos psíquicos como epifenóm enos, os reduzem aos fatos fisiológicos (vibrações
nervosas, m ovim entos m oleculares, das células corticais). É deste tipo o m aterialis­
m o que começa com D em ócrito, Epicuro, Lucrécio, que não possuíam qualquer con­
ceito de epifen óm en o, e que, através de La M ettrie e D ’H olbach, chega a Büchner,
M oleschott, K. V ogt, etc. (C. R an zoli)
O m aterialism o antigo parece-me ontológico e não m etodológico; é só quando
a questão de m étodo é p osta em jogo que se pode distinguir um m aterialism o p s ic o ­
lógico do m aterialism o m etafísico. E a noção de epifenóm eno é precisam ente carac­
terística desta visão, quer a palavra seja ou não utilizada por aqueles que a defen­
dem . Seria, por exemplo, esse o caso da doutrina de A uguste Com te, segundo a qual
“ a teoria positiva das funções afetivas e intelectuais deve consistir, de o ra em diante,
no estudo dos fenôm enos de sensibilidade interior p ró p ria dos gânglios cerebrais,
o que constitui apenas um prolongam ento da fisiologia” (Curso d e filo s o fia p o siti­
va , lição 45), se esta teoria m etodológica n ão fosse corrigida pelo estudo sociológico
da inteligência, do sentim ento e d a atividade hum ana que lhe descobre um a outra
face. (A . L .)
M A T E R IA L IS M O 650

m atéria, ou que constitui um a m atéria no (verdadeiro); logo o carbonato de cálcio


sentido B. n ão é combustível” (“ m aterialm ente ver­
“ Im plicação m a te ria l” , ver I m ­ dadeiro” , ainda que extraído de duas pre­
plicação. missas verdadeiras através de raciocínio
B. O posto a espiritual·, que pertence vicioso).
à m atéria, ou que constitui um a m atéria P o r um a an alo g ia a c o n tra rio ,
no sentido C, 2?. qualificou-se “ form alm ente verdadeira”
um a proposição, verdadeira o u falsa em
NOTA si m esm a, que é corretam ente deduzida
M aterialm en te verdadeiro, diz-se de de outras proposições; m as é um a expres­
um juízo e sobretudo de um a proposição são que n ad a justifica: aquilo que pode
verdadeiros em si m esm os, quando cons­ ser dito formalm ente verdadeiro, neste ca­
tituem a conclusão de um raciocínio que so, é o co n ju n to do raciocínio de que ela
não seria suficiente para provar a sua ver­ é a conclusão, mas não esta m esm a con­
dade, quer po rq ue é form alm ente incor­ clusão. Ver Verdade.
reto, quer porque um a ou várias das suas R ad. int.\ A . M aterial; B. Fizikal,
premissas são falsas; por exemplo: “ T o­ K orpal.
dos os núm eros q uadrados são m últiplos M ATERIALISM O D. Materialismus;
de 3 (falso); ora, 225 é um quadrado (ver­ E. M aterialism ; F. M atérialism e ; I. M a ­
dadeiro); logo 225 é um m últiplo de 3” terialism o.
( “ m aterialm ente verdadeiro” , ainda que A. O Ç ÃÂ Ã; « τ
I . D outrina segundo a
extraído de um a prem issa falsa por um qual não existe o u tra substância além da
silogismo form alm ente correto); ou ain ­ m atéria *, à qual se atribuem pro p ried a­
da: “ O carbono é combustível (verdadei­ des variáveis segundo as diversas form as
ro); o carb onato de cálcio não é carbono de m aterialism o, m as que tem com o ca-

Poder-se-á questionar se se deve chamar materialistas àqueles filósofos pré-socráticos


e aos padres da Igreja que, ao distinguirem a alm a do corpo, consideram contudo a
prim eira como uma substância m aterial, m as mais sutil do que a segunda? Eu creio
que sim, e é essa tam bém a opinião de H õffding, que cham a a esta teoria m aterialism o
prim itivo por oposição ao materialismo m oderno (Psicologia , 1 ,5; II, 8, a, b). (C. Ranzoli)

Sobre M aterialismo — Sobre M aterialismo ontológico e psicológico ver as observa­


ções da palavra M atéria.
M antivemos no corpo do artigo, na impossibilidade de poder instituir neste m o­
m ento um a discussão suficientemente am pla acerca deste ponto, a definição do m ate­
rialismo ontológico, no sentido A , que a Sociedade de Filosofia tinha adotado em 1910.
M as Parodi põe em dúvida que seja essencial ao m aterialismo conceber a m atéria como
descontínua. Pode-se sublinhar que, com efeito, o sistema de Descartes, por exemplo,
em tu do o que não se refere à alm a hum ana, é um materialismo que adm ite um a m até­
ria contínua. C ontudo, mesmo neste caso, graças ao ato divino prim itivo que divide
o espaço em cubos e os põe em seguida em m ovimento, ele restitui à m atéria a desconti-
nuidade de que se serve em seguida p ara explicar os fenômenos. Seria possível passar
sem isso? (A . L .)
Ao m aterialismo descontinuísta dos Epicuristas opõe-se o materialismo continuísta
dos Estóicos. O prim eiro afirm a o mecanismo e a homogeneidade dos átom os; o se­
gundo o dinam ismo e a heterogeneidade das matérias (fogo e a r ativos, água e terra
passivas). M as tratar-se-á ainda de um m aterialismo? (E. Bréhier)
651 M A T E R IA L IS M O

racterística com um o fato de ser conce­ C ÉTICA. D outrina prática segundo a


bid a com o um co njunto de objetos indi­ qual a saúde, o bem-estar, a riqueza, o pra­
viduais, representáveis, figurados, m ó­ zer devem ser tidos como os interesses fun­
veis, ocupando cada um um a região de­ dam entais d a vida. “ G anz etwas anderes
term inada do espaço. “ M aterialistae di- als dieser naturwissenschaftliche ist der sit­
cuntur philosophi, qui tantum m odo en- tliche oder ethische Materialismus, der mit
tia m aterialia sive corpora existere affir- dem ersteren nichts gemein hat. Dieser ‘ei­
m a n t.” W ÃÂ E E , Psic. R a e ., § 33. gentliche1M aterialism us verfolgt in seiner
B. P è « TÃÂ Ã; « τ . D o u trin a segundo praktischen
a Lebenrichtung kein anderes
qual todos os fatos e estados de consciên­ Ziel als den möglichst raffinierten Sinnes­
cia são epifenómenos*, que só podem ser genuss!’1 H τ E T3 E Â , N atü rliche S ch öp­
explicados e tornar-se objeto de ciência fun gsgeschich te, I, cap. 2.
se os referirm os aos fenôm enos fisioló­ “ U m a m ultidão m aterialista, unica­
gicos correspondentes, os únicos capazes mente aten ta aos boçais apetites...” (RE ­
de receber um a sistem atização racional, Ç τ Ç , D iálogos filo só fic o s, II, 66).

e tam bém os únicos capazes de fornecer


um m eio eficaz e regular de produzir ou M aterialism o h istó rico Term o criado
m odificar os fenómenos psicológicos. Ver p o r E Ç; E Â è p a ra d esig n ar a d o u trin a d e
especialmente R « ζ ÃI , D oenças d a perso ­ K arl Mτ 2 7 , segundo a q u al os fato s eco­
n alidade (onde ele define este p o n to de n ô m ico s co n stitu em a b ase e a ca u sa d e­
vista epistem ológico sem se servir do ter­ te rm in a n te d e to d o s os fen ô m en o s h is tó ­
m o m aterialism o). rico s e so ciais.
A lém disso, a utilização corrente da “ Die oekonom ische S truktur der Ge­
palavra m aterialism o nestas duas acep­ sellschaft ist die reale Basis w orauf sich
ções exclui: 1? qualquer antítese dualista
entre os fins da alm a e os fins da vida bio­ 1. “ M u ito d iferen te d este m a terialism o cien tifi­
lógica; 2? qualquer crença nas alm as in­ co é o m aterialism o m oral o u ético , que n a d a tem
em com um co m o p recedente. E ste m aterialism o , no
dividuais e separadas, suscetíveis de p re­ se ntid o p ró p rio d a p alav ra, é u m a direção p rá tic a da
existência, de sobrevivência ou tran sm i­ v id a q ue tem ap enas com o o b jetiv o o gozo físico m ais
gração. r e fin a d o .” H istória natural da criação.

N ão existe ainda, que eu saiba, d o u trin a m aterialista que se funda na teoria atual
segundo a qual a realidade m aterial to m a periodicam ente dois tipos de aspectos, o
do atom ism o, que apoiaria a descontinuidade, e o do ondulatório, que, pelo co n trá­
rio, caucionaria a continuidade. Trata-se de um dos parad oxos desta física que não
se vê com clareza até onde nos conduz. Sob um outro ponto de vista ela arrisca-se
a abalar ainda o m aterialism o: este era determ inista (à exceção do sistem a de Epicu-
ro ), e é ponto que mais radicalm ente se opunha ao espiritualism o. A relação de in­
certezas parece p ô r tu do em questão no que se refere às relações do espírito com a
m atéria. Com o se diz ju stam ente nas observações, as palavras m udam de sentido,
e é artifical procurar um a idéia central e essencial com um a to das as filosofias m ate­
rialistas, m esm o até um a concepção com um d a m atéria. J á pudem os sublinhar, sob
este p onto de vista, um a diferença fundam ental entre o pensam ento antigo e o p en ­
sam ento m oderno: enquanto os gregos viam n a m atéria o princípio do devir, nós,
ao contrário, fizemos dela o princípio d a perm anência (ver R « âτ Z á , O d evir no p en ­
sa m en to grego). ( C h . Serrus)

Sobre M aterialismo histórico — Definição de E Ç; E Â è : M arx provou que “ ... dass


alie bisherige G eschichte die Geschichte von K lassenkám pfen w ar, dass diese einan-
M A T E R IA L IS M O 652

ein juristischer und politischer U eberbau D ia m a t, correntem ente utilizado na E u­


erheb t, u nd welcher bestim m te gesells­ ro p a C en tral e n a Rússia.)
chaftliche Bewusstseinsformen entspre­ Visão geral das coisas de que o m a te­
chen... Die Produktionsw eise des m ate­ rialism o h istórico é um caso particular.
riellen Lebens Bedingt den socialen, p o ­ Consiste em considerar o universo com o
litischen und geistigen Lebensprocess um to d o , form ado p o r m atéria em m o­
überhaupt.” ’ Karl Mτ 2 7 , Z u r K ritik der vimento, envolvido num a evolução ascen­
p o litisch en O E kon om ie, p refácio , 1859. dente, atingindo níveis sucessivos onde o
mais elevado grau de com plicação q u a n ­
M aterialism o dialético (D. D ialektis­ titativa faz necessariam ente aparecer,
ch er M a teria lism u s; p o r abreviação através de um a transform ação brusca,
m udanças qualitativas com pletam ente
novas. Ver no S u plem en to, no fim deste
1. “ A estru tu ra eco nôm ica d a S ociedade é a base volume, os extratos do opúsculo de SI τ -
 « Ç , O m aterialism o dia lético (1945), e,
real so b re a q u a l se eleva a su p e re s tru tu ra ju ríd ic a
e p o lític a , e à qu a l co rre sp o n d em fo rm a s d e te rm in a ­
d as d e co nscien cia so c ia l... O m o d o d e p ro d u ç ã o d a
para explicações e com entário, H enri L E -
vida m aterial c o n d icio n a o c o n ju n to d e to d o s os p ro ­ E E ζ â2 E , O m aterialism o dialético (1947),
cessos d a v id a soc ial, p o lítica e e s p i r i t u a l / 1 particularm ente pp. 91-93.

der bekämpfenden Klassen der Gesellschaft jedesmal Erzeugnisse sind der Produktions
and Verkehrs Verhältnisse, m it einem W ort, der oekonomischen Verhältnisse ihrer E po­
che; dass also die jedesmalige oekonomische Struktur der rechtlichen und politischen
Einrichtungen sowie der religiösen, philosophischen und sonstigen Vorstellungsweisen
eines jeden geschichtlichen Zeitabschnittes in letzter Instanz zu erklären sind. Hiermit
w ar der Idealismus aus seinem letzten Zufluchtsort, aus der G eschichtsauffassung ver­
trieben, eine materialische Geschichtsauffassung gegeben” 1. Fr. E Ç; Â è , Herrn Eugen E

D ühring’s Umwälzung der Wissenschaft, Einleitung, 3? edição, p. 12. Comunicado por


Élie H alévy, assim como a citação de Mτ 2 7 , colocada mais acima no próprio texto
do artigo.
A ciência social in sp irad a nas investigações de LE P Â τ à p arte de u m a concepção
an álo g a, m as m ais com p reensiva: o gênero de tra b a lh o é o fato r social p red o m in an te .
(F. M entré)
A expressão materialismo histórico foi freqüentemente criticada, e com razão, parece-
me. Etimológicamente, poderia também aplicar-se à sociologia de base biológica de Spen­
cer. A expressão determ inism o econôm ico parece-me ser mais precisa e mais própria.
LÃ2 « τ propõe econom ism o histórico (La sociologia, 1901, p. 192). (C. Ranzoli)
D eterm inism o econôm ico seria igualmente equívoco: significaria “ doutrina segun­
do a qual os fenômenos econômicos estão submetidos ao determ inism o” mais do que
‘‘doutrina segundo a qual os fenômenos econômicos determinam todos os fatos sociais’’.
Sobre M aterialismo dialético — O texto citado de Engels foi-nos com unicado por
René M aublanc, que acrescenta: “ Foi Engels quem quis distinguir a teoria da evolu-

1. "‘A té h o je toda a h istó ria foi a histó ria d a luta en tre as classes, essas classes sociais em lu ta um as com
as o u tras são sem pre o p ro d u to das relações de p ro d u ção e de tro ca, n u m a p alav ra, das relações econôm icas
d a su a época; e assim , em cad a m om en to, a estru tu ra eco nôm ica d a sociedade constitui o fu ndam ento real pelo
qual devem ser explicados, em últim a instância, to d a a su p ere stru tu ra d as instituições juríd icas e políticas, assim
com o as concepções religiosas, filosóficas e outras de q u alquer período histórico. A ssim , o idealism o foi expulso
d o seu últim o refúgio, a co ncepção de história, e foi in stau rad a u m a co ncepção m aterialista d a h is tó r ia /5 A
inversão da ciência p o r Eugen Dühring.
653 M A X IM A

NOTA Schlecht (de m á qualidade); E. Bad, evil


“ M aterialism o dialético” opõe-se a (no sentido de. mal m oral, infelicidade,
“ m a te ria lis m o m e ta f ís ic o ” , sen d o “ m au-olhado” ); F. M auvais; I. C a ttivo
metafísico* tom ado não no sentido de on­ (em todos os sentidos); m aio.
tológico, m as no sentido de estático, im u­ C ontrário de bom *. Term o geral de
tável; ver D ialética (2), C. “ A segunda es­ desaprovação, quer do p onto de vista ló ­
treiteza específica deste m aterialism o (o gico: “ m au raciocínio” ; quer do ponto
do século X V III) consistia na sua in ca­ de vista estético: “ m au verso” ; quer do
pacidade p ara considerar o m undo en­ ponto de vista m oral: “ m á ação ” ; quer
quan to processo, enquanto m atéria en­ do ponto de vista utilitário: “ mau in stru ­
volvida num desenvolvim ento histórico. m ento, m au cálculo” , etc. (ver M á* cons­
Isso correspondia ao nível que haviam ciência, que é um seu sentido especial).
atingido as ciências naturais nessa época,
e à m aneira m etafísica, quer dizer, anti- M ÁXIM A D. Máxime-, E. Maxim·, F.
M á x im e ; I. M assim a.
dialética, de filosofar que dela resultava.”
Fr. EÇ; E Â è , L u d w ig Feuerbach e o fim A. Fórm ula breve, resumindo um a re­
d a filo so fia clássica alemã', em Mτ 2 7 e
gra de conduta, um princípio de lógica ou
EÇ; E Â è , E stu d o s filo só fic o s, p. 29. Ver
de direito, um a observação psicológica de
as observações. caráter geral. P a ra a história desta pala­
vra, especialm ente o em prego que Leib-
M A U D. B öse (sobretudo no sentido niz e Locke dela fazem , ver as obser­
I vações.
moral); Übel (vergonhoso, desagradável);,V
*

ção social à qual ele dava o nom e de m aterialism o* histórico, usual em M arx, e a
teoria geral do m undo, à qual deu o nom e de ‘m aterialism o dialético’.” Esta distin­
ção é nitidam ente indicada n a sua o b ra L u d w ig Feuerbach e o f im d a filo so fia clássi­
ca alem ã (ver m ais adiante as observações sobre M etafísica). Foi em seguida ad o tad a
por Lenin, Plékhanov, B ukharin, e encontra-se em m uitas obras alemãs.
N ão posso dizer exatam ente em que m om ento a expressão m aterialism o dialético
se introduziu n a França. A parece naturalm ente nas traduções dos livros russos p u ­
blicados nas Edições Sociais Internacionais: N . BÃZ 3 7 τ 2 « ÇE , A teo ria d o m ateria­
lism o histórico (1927); LE Ç« Ç , M aterialism o e em piriocriticism o (1928). O Feuerbach
de E Ç; E Â è è ó foi traduzido um pouco mais tard e (prim eira trad ução p or Marcel O Â «­
â « E 2 , L es revues, 1931).

Sobre M áxim a — Term o m uito utilizado por L ÃT3 E , E ssay, livro IV, cap. VII
e X II, e nos capítulos correspondentes dos N o v o s en saios de LE « ζ Ç« U . Locke en ten­
de por isso todas as proposições adm itidas sem pro va, e o mais das vezes, por um a
espécie de convenção tácita, que facilmente dá lugar ao erro. LE « ζ Ç« U restringe o seu
sentido aos axiom as (no sentido de proposições evidentes): “ A dm iro-m e, senhor, de
que vireis contra as m áximas, quer dizer, contra os princípios evidentes, aquilo que
se pode e deve dizer contra os princípios supostam ente g ra tu ito s.” N o v o s ensaios,
IV, X II, 6.
A cerca do uso an terior desta palavra, na E scolástica, ver o D icionário de Bτ Â á ­
ç « Ç , sub V o.

Victor E; ; E 2 , no seu C urso de m oral (Revue d es cours et c o n f , ju n h o de 1909),


extraiu deste radical " m axim ar” e “ m axim ação” (m axim ier e m axim ation). “ M axi-
m ar a co n d u ta” é dar-lhe urna fo rm a geral e absoluta. (F. M entré)
M Á X IM O 6S4

B. Em Kτ ÇI : regra de co nduta con­sas, das forças e das ligações. E sta é ge­


siderada por aquele que a ad o ta como vá­ ralm ente dividida desde A Oú =2 E em ci­
lida para sua p ró p ria vontade, sem refe­ n em ática (estudo das propriedades geo­
rência à de outrem . Ver Lei. m étricas dos m ovim entos n a sua relação
com o tem po, sem intervenção das noções
M Á X IM O D . E . F. Máximum-, I.
de m assa nem de força), estática (estudo
M assim o.
das forças em estado de equilíbrio) e d i­
A . (máxim o absoluto). V alor m aior, nâm ica (estudo d o m ovim ento na sua re­
o u o m aior possível, de um a quantidade lação com as forças).
suscetível de diferentes grandezas. Reduz-se algum as vezes a extensão
B. (máximo relativo). A o falar de um a desta palavra às duas últim as divisões,
variável ou de um a fu nção , valor m aior que se opõem em bloco à cinemática. P o ­
do que aqueles que a precedem e do que dem os, então, resum ir o dom ínio da m e­
aqueles que lhe sucedem im ediatam ente. cânica nos dois problem as seguintes: 1?
(Neste sentido, um a função pode passar “ encontrar o m ovimento que um sistema
p o r diversos m áxim os, iguais ou de­ de corpos to m a sob a ação de dadas fo r­
siguais.) ças; 2? encontrar as forças capazes de im­
M axim al, que é um m áxim o, ou que prim ir a um sistem a de corpos um m ovi­
está sujeito a um a condição de m áxim o. m ento d a d o ” (A PPELL, T ratado d e m e­
Cham a-se E x trem o ao gênero de que cânica racional, to m o I, introdução).
M áxim o e M ín im o são duas espécies. O Rad. in t .: A . M ashin-art; B. M eka-
adjetivo extrem o é utilizado no m esm o nik.
sentido.
N o prim eiro com o no segundo senti­ M ECÂ N ICO D. Mechanisch-, E. M e­
do, estas palavras aplicam-se não só às chanical·, F. Mécanique-, I. M eccanico.
grandezas pro priam ente ditas, mas a tu ­ A . Relativo as m áq uin as, ou que se
do que a elas po de ser assimilado. exerce através de m áquinas. “ A rtes m e­
cânicas” , opostas às artes liberais. “ F a ­
M E C Â N IC A D . Mechanik-, E. A . B. bricação m ecânica.”
M echantes (A. Engineering)·, F. M écani- Diz-se, por conseguinte, de tudo aqui­
q u e ; I. M eccanica. lo que é análogo em natureza às m áqui­
A , A rte da construção, conservação, nas que a indústria hum ana constrói. Esta
utilização das m áquinas. Diz-se algum as analogia pode ser en tendid a em vários
vezes nesse sentido, e por oposição ao sentidos diferentes:
sentido B, “ M ecânica in d u stria r'. B. É mecânico aquilo que consiste nu­
B. Teoria m atem ática daquilo que, na m a representação, ou aquilo que fornece
ação das m áquinas, pode ser posto sob um a explicação intu itiva e concreta, co­
um a fo rm a hipotético-dedutiva. m o aquelas que d ão o conhecim ento de
Cham a-se particularm ente “ M ecâni­ um m ecanism o, no sentido A . “ M odelo
ca racional” à ciência teórica dos m ovi­ mecânico.” “ Todos os físicos ligados à es­
m entos reduzida à consideração das mas­ cola mecanicista adm item que a física teó-

Sobre M áxim o — P a ra evitar o s equívocos deste term o, M ÃÂ 3 propôs que se cha­


masse m axim ante ao valor d a variável que corresponde ao valor m áximo de um a
função considerada, e a esta últim a que se cham asse m axim ada. Estas expressões
seriam côm odas e m uitas vezes úteis. {J. H adam ard)
Sobre M ecânico — A rtigo com pletado e refundido segundo as observações de
A b e l R ey.
655 M ECÂ N ICO

rica repousa sobre a consideração de ele­ subdivisões. O m ecanicismo cartesiano


m entos objetivam ente representáveis.” não é idêntico nas suas noções fundamen­
REY, A teoria d a físic a n o s físic o s con­ tais ao mecanicismo newtoniano, nem se­
tem porân eos, 253. A “ explicação m ecâ­ quer ao m ecanicismo leibniziano. “ N ão
nica” , neste sentido, opõe-se ao m étodo é possível” , diz A bel RE à , “ seguir p ara
que se contenta com estabelecer entre os a teoria m ecanicista o m étodo que foi se­
fenômenos relações funcionais abstratas, guido p a ra as o utras concepções da físi­
tal com o é definido particularm ente em ca: não se term inaria n u n ca a exposição
A teoria físic a de DZ 7 E O (1906). dos seus m atizes.” A teoria da física, etc.,
C . A quilo que exclui qualquer poder p. 233.
oculto*, qualquer finalidade* intern a ou Ém ile P « T τ 2 á chega até a dizer que
im anente. “ T odo fenôm eno é mecânico, “ to m ad a num sentido geral, a expressão
qu er dizer, determ inado por condições explicação m ecânica é vazia de sentido”
antecedentes invariáveis.” L . L « τ 2 á , A (A ciência m oderna, p. 126). Entende por
ciência positiva e a metafísica, 289. Opõe- isso que existem form as m uito diversas de
se freqüentem ente, neste sentido, a dinâ­ m ecânica m atem ática, tais com o as de
m ico* ou orgânico*. Boltzm ann, de H ertz, ou m esmo aquelas
Especialmente no cartesianismo, aqui­ com o a energética, e cujas características
lo que se explica pelas simples noções de ao definir um a “ explicação mecânica” di­
extensão e de m ovim ento. “ A percepção ferem entre si. A oposição é particular­
é inexplicável através de razões m ecâni­ m ente evidente entre o sentido B e o sen­
cas, quer dizer, através das figuras e dos tido D, p o r um lado, e entre o sentido D
m ovim entos.” LE « ζ Ç« U , M on adologia, e o sentido E , por o u tro . N o sentido B,
XV II. o m ecanismo pode com preender fatos de
D. A quilo que pode reduzir-se aos atrito , coesão, deg rad ação de energia,
simples conceitos em uso na m ecânica etc.; as “ m áquinas térm icas” não funcio­
racional* e às fórm ulas analíticas que ela nam m enos m ecanicam ente, neste senti­
emprega. “ É um a teoria mecânica, já que d o, do que o sistema solar. N o sentido D,
faz intervir fo rç a s, deslocam en tos, velo­ pelo co ntrário, só é m ecânico aquilo que
cidades, acelerações, sob form as analíti­ funciona n a linha do m odelo d a “ m ecâ­
cas que são as d a m ecânica ra cio n al.” nica celeste” . O caráter daquilo que é me­
L « ú ú Oτ Ç Ç , prefácio à tradução francesa cânico, n o prim eiro sentido, é sobretudo
dos Fenôm enos físic o s de R « ; « , p. IV.
7 intuitivo e concreto: um proceso será m e­
Opõe-se freqüentem ente, neste sentido, a cânico se dele puderm os te r esse gênero
físico * . de representação que a m áq uin a dá ao
E . Que exclui da representação das trab a lh ad o r que a conhece bem , e cu ja
coisas a noção de fo r ç a (considerada co­ im aginação cinestética é desenvolvida. O
m o um resíduo das noções a n tro p o m ó r­ caráter daquilo que é mecânico, no segun­
ficas e ocultas. Cf. mais atrá s o sentido do sentido, é, pelo co n trá rio , ab strato e
C). A palav ra, neste caso, opõe-se algu­ geral; im plica a consideração das coisas,
m as vezes a energético* e algum as vezes não enquanto realidades individuais, mas
a din âm ico*. V er A . RE à , A energética enquanto resultantes de um sistema de
e o m ecanicism o d o p o n to d e vista d o co ­ leis.
nhecim ento (1907). P o r o u tro lado, o sentido D adm ite
p a ra um dos seus elem entos essenciais a
C R IT IC A
noção de fo r ç a , que o sentido E rejeita.
Vê-se pelo que ficou dito com o este T odas as discussões sobre as denom ina­
term o é pouco seguro. A m aior p arte dos ções de “ mecânica, m ecanism o, mecha-
sentidos enum erados adm itiriam ainda nistische W eltschauung” , etc., são, por-
M E CA N ISM O 656

tan to , ociosas, se não se precisar expres- m o modelo, a determ inação é um a m edia­


sam ente em cada caso aquilo que se p re­ ção informante, vem de cima!’ R. L E SE Ç ­
tende designar p o r tal. ÇE , O bstáculo e valor, p. 241.
Rad. in t.: A. M ashinal; B. M ashi- C. A p ró p ria coisa que exerce ou que
no id; C. M ekanism al; D . M ekanikal; E. constitui um a m ediação, sobretudo no
Cinem atikal. sentido B. “ O espaço e o tem po como
mediações entre a liberdade e o m u n d o .”
M EC A N ISM O D. M ech anism us (C.
L. L τ â Â Â , D o a to , cap. XV (título do
E E
M echanistische Weltanschavung ); E. M e­
§ C), p. 261.
chanism ; F. Mécanisme', I. M eccanism o.
A . C om binação m ecânica, no senti­ NOTAS
do A ; m áquina. 1. Esta palavra corresponde ao senti­
B. M etaforicam ente, todo o proces­ do do adjetivo inglês m edíate mais do que
so no qual se po de determ inar, por an á­ ao francês m ediat, que nunca se aplica ao
lise, um a série de fases subordinadas e de­ pró prio elemento interm ediário, mas
pendentes umas das outras: “ O mecanis­ àquele que se liga ao prim eiro (ou que de­
mo da atenção, do reconhecimento; o me­ le deriva) por interm édio do segundo.
canismo do silogism o.” 2. Só houve em francés durante m ui­
C. Teoria filosófica [port.: Mecanicis­ to tempo utilizações técnicas, um a na lin­
mo] que adm ite que um a classe de fatos, guagem diplom ática, a o u tra na lingua­
ou até todo o co njunto de fenôm enos, é gem d a filosofía religiosa e da teologia:
suscetível de ser ligada a um sistem a de “ M ediação do Cristo entre Deus e o m un­
determinações “ mecânicas” , em qualquer do; m ediação dos santos entre os peca­
dos sentidos desta palavra. dores e D eus.” M as tornou-se m uito cor­
CRÍTICA rente há alguns anos, particularm en te na
filosofia existencial.
N ada mais indeterm inado do que o
3. O sentido B liga se à idéia de dialé­
sentido de m ecanism o enquanto é aplica­
tica, V erm ittelung é, aliás, corrente em
do às teorias físicas ou filosóficas. Ver
Hegel: num a dialética que visa d a r um a
atrás M ecânico, Crítica.
descrição com pleta d o m undo, cada ter­
R ad. int.·. A . M ashin; B, Proced; C.
m o, exceto o prim eiro e o últim o, é um a
1?, M ashinalism ; 2?, M ekanism .
m ediação no sentido B.
M ED IA ÇÃ O D . Vermitteln, Vermit- R a d . in t.: M ediac.
telung (quer dizer também disposição ); E.
1. M ED IA D O R (ad j.) D. Verm it­
M ediation, intermediation·, F. M édiation ;
telnd·, E. Intermediate-, F . M édiateur; I.
I. M ediazion e.
M ediatore.
A . Ação de servir de intermediário, no
Que exerce ou que constitui um a
sentido B, entre dois term os ou dois se­
m ediação*, quer n o sentido A , quer no
res (considerados com o dados indepen-
sentido B. “ A m ultiplicidade dos espíri­
dentem ente desta ação).
tos é m ediadora entre o ato absoluto e a
B. Ação de servir de interm ediário en­
m ultiplicidade das idéias e das co isas.”
tre um term o ou um ser do qual se parte,
L. L τ â E Â Â E , D o a to . “ A intelectualiza-
e um term o ou um ser ao qual se chega,
ção da determ inação é um a form a m edia­
sendo esta ação produtora do segundo, ou
dora d a espiritualização.” R. LE SE ÇÇE ,
pelo menos condição de sua produção.
O bstáculo e valor, p. 300.
“ Com o condição, a determ inação é urna
m ediação perm issiva, vem de baixo... co­ 2. M EDIADOR (subst.) D. Vermittler,

Sobre M ediador (2) — Encontra-se em K ant um a passagem curiosa onde, sem


nomear Cudw orth nem se servir da expressão referida, parece ter tido nitidam ente em
657 M E D IA T IZ A R

E. Médium·, m ediaíor; F. M édiateur; I. declara que jam ais a encontrou aí. Lτ 2 Ã -


M ediatore. M IG U IÈ R E ,nas suas L içõ es d e filo so fia ,
A . A quele que exerce um a m ediação, tom o II, 9? lição, atribui a Cudw orth
no sentido A. Expressão sobretudo teo ­ um a teoria segundo a qual a relação da
lógica, m uito usual ao falar de Cristo. alm a e do corpo seria estabelecida por um
“ Deus deu-lhes com o m ediador um h o ­ “ m ediador” sem i-espiritual, semi-mate-
m em que, ju n tan d o a força de Deus à rial, m as não se serve d a expressão “ m e­
nossa natureza ínfim a, fez-nos um remé­ diador plástico” . A sua exposição pare­
dio da nossa fraq u ez a.” B Ã è è Z , H is­
E I
ce aliás falsear sensivelmente o pensamen­
toria universal, 2! parte , cap. XXVI. to de Cudw orth, que diz apenas que a na­
B. Aquilo que produz um a mediação, tureza plástica apresenta um a espécie de
no sentido B. “ P a ra o hom em , através “ paren tesco ” ou afinidade com a m até­
de um a exceção m uito singular, um meio- ria. P o r o u tro lado, só se pode conside­
term o, um verdadeiro m ed ia d o r veio ra r que ela explique as relações da alm a
e do corpo através de um a via m uito p a r­
intercalar-se entre o organismo individual
ticular: é nela que são conservados todos
e as faculdades individuais. Esse meio-
os atos e hábitos prim eiram ente voluntá­
term o, esse m ediador, não é senão o meio
rios, que acabam por se to rn a r incons­
social.” C Ã Z 2 ÇÃ , Tratado d o encadea­
I
cientes e por m odificar o organismo. M as
m e n to ..., livro IV, cap. I, § 321.
parece efetivamente que não esteve no es­
“ M ediador plástico” Distingue-se pírito do autor u m a resposta ao pro ble­
vulgarm ente sob esse nom e aquilo que m a ontológico de que o influxo físico, a
C Z á ç Ã2 cham a “ natureza plástica” e
I 7 harm onia preestabelecida, o paralelism o
“ vida plástica da n atu re za” , espécie de e as causas ocasionais foram as soluções
alm a do m undo, inconsciente, através da mais célebres.
qual Deus age sobre as coisas, que serve
M ED IA TIZA R D. Vermitteln; E . To
especialm ente p ara explicar a estru tura
Médiate-, F. M édiatiser, I. M ediatizzare.
dos seres vivos e a vis m ed ica trix que eles
A . T o rn ar m ediato*, ou considerar
manifestam ( The True Intellectual System com o m ediato aquilo que era im ediato,
o f the U niverse1, cap. IV, e Dissertation
ou tido por tal. “ É sem pre possível des­
Concerning the P lastick L ife o f N atu re12). cobrir term os m édios pró prio s p ara ex­
C R ÍT IC A plicar, m ediatizando-a de algum a form a,
a relação d a causa e do efeito .” Léon
N ão sabem os de onde vem a expres­
RÃζ « Ç , O p en sa m en to helénico, 441.
são “ m ediador plástico” . P au l J τ Ç E I
B. Servir de mediação*, sobretudo no
(D e p lá stica n aturae vi a p u d C udw or-
sentido B; oferecer, ser o meio de um fim,
thum , 1848; E nsaio so b re o m ed ia d o r
ou a condição de um efeito. “ Se um a ilu­
p lá stico d e C u dw orth, 1860) critica-a e
são fo r tal que m ediatize a felicidade, a
alegria de criar, o am or da vida, é um a
1. O verdadeiro sistem a intelectual d o universo. especificação da p ró p ria idéia de D eus.”
2. Dissertação sobre a vida plástica d a natureza. R. LE SE ÇÇE , O bstáculo e valor, p. 307.

vista o m ediador sem i-espiritual, sem im aterial de que Larom iguière fa la rá m ais ta r­
de: “ U m a substância que estaria presente no espaço de um a m an eira perm anente
( beharrilich : cf. A nalogias d a experiência), m as contudo sem o preencher, com o um
interm ediário (M itteldin g) entre a m atéria e o ser pensante, que alguns pretenderam
in tro d u z ir...” Crit. d a razão p u ra , “ Postu lados do pensam ento em pírico” , esclare­
cim ento.
M ED IA TO 658

NOTA ponder a dados m ateriais qualitativam en­


Expressão m uito recente no sentido B. te definidos expressões que representam
O substantivo correspondente, no senti­ o núm ero de unidades que eles contêm:
do A , é m ediatização; no sentido B, m e­ “ A m edida do m eridiano.”
diação. U m a gran deza m ensu rável é aquela
para a qual se pode atrib u ir um a unida­
M ED IA T O D . M ittelbar, verm ittelt ; de, n atu ra l o u decisória, e exprim ir em
E. M ediated (.M ediate diz-se sobretudo do seguida essa correspondência de um a m a­
próprio elemento intermediário, do meio, neira unívoca, precisa e independente de
não daquilo que está ligado a qualquer qualquer arbitrariedade.
o u tra coisa p o r este interm édio; v. M e­ B. Resultado dessa operação: “ U ma
diação)·, F. Médiat-, I, M ed ia to . m edida duas vezes m aior que o u tra .”
Ver Im ediato. C. U nidade ou instrum ento de m edi­
A . Que está em relação com um o u ­ da. “ As m edidas de capacidade.”
tro termo (e, especialmente, que deriva de D. (por abreviação de “ ju sta m edi­
um outro term o) po r in term édio de um d a ” ). M oderação; característica daquilo
terceiro. U m a “ conclusão m ediata” é que evita o excesso ou o defeito.
aquela que se extrai de um a m aior a tra ­ E . (por derivação de “ to m ar medi­
vés de um a m enor. Um “ efeito m ediato” das” no sentido figurado). Decisão cal­
é aquele que constitui o efeito, não de culada to m ad a com vista a um fim ; es­
um a causa d ad a, mas de um efeito desta pecialmente, decisão de um a autoridade.
causa. R ad. int.; M ezur; no sentido D , M o­
B. (por oposição a im ed ia to , tom ad o derates.
no sentido prim itivo, subsistindo p o r si
próprio). Condicionado, dependente de M É D IO (Valor) D. D urchschnitt;
o u tra coisa. arithm etisches M ittel; E. M ean; entre
grandezas diferentes: Average; F. M oyen-
NOTA ne; I. M edia.
Este term o é m uito raro em francês. Quociente obtido dividindo a soma de
É m uito mais usual em alemão, onde Ver­ um a série de grandezas pelo núm ero des­
m itteln (n . interpor-se; aç. acom odar um sas grandezas.
diferendo, negociar um a questão), da E sta noção apresenta um a grande uti­
mesma form a que Vermittelung e verm it­ lidade nas m edidas psicológicas. É preci­
telst, pertence à linguagem corrente. H e­ so distingui-la do m odo* ou m ódu lo, de­
gel fez aliás bastante uso destes term os. finidos mais adiante; e algum as vezes
O inglês possui tam bém o verbo to m e­ tam bém do “ M edian o ” (D. Zentralwert;
d ia te (n. interpor-se, intervir, interceder; E. C entral value; F. M édian), quer dizer,
aç. efetuar, pro duzir o u obter pela sua do valor que ocupa o m eio de um a série
m ediação). Este verbo, no sentido ativo, cujos termos foram arrum ados por ordem
é m uito usad o n a linguagem d a psicolo­ de grandeza.
gia genética. Ver Ciência m édia.
R ad. int.: A . M ediat; B. D ependant. NOTA

M ED ID A D . M ass; no sentido E. M édia, usada isoladam ente, designa


M essnahm e, M assregel; E. M easurem ent sem pre a m édia aritm ética definida mais
n o sentido A ; F. M ésu re ; I. M isura. acim a. M as tam bém se utiliza, em certos
A . O peração pela qual se faz corres­ casos, a m édia dita geom étrica, quer di-

Sobre Médio — Artigo proposto por Claparède e redigido a partir das suas indicações.
659 M EIO

zer, a raiz ne d o pro d u to dos n núm eros 3? um term o onde ela com eça, porq ue o
que se pretendem substituir p o r um va­ nom e de meio n ã o se ju stificaria se não
lor único. se situasse entre o princípio e o fim ... A
R ad. i n t M ezvalor. idéia não é nunca o term o inicial; é sem­
pre um m eio. A finalidade tem a sua fonte
M ED IT A R, M ED IT A ÇÃ O Ver as nos fatos afetivos, e não em fatos inte­
observações sobre R eflexão. lectuais; existe um a finalidade cega e um a
M É D IU M Ver E spiritism o. Sobre a finalidade esclarecida pela inteligência.’’
definição de M édium , M ediunidade, etc., GÃζ Â ÃI , Vocabulário, V o Finalidade,
ver F Â Ã Z 2 ÇÃ à , D es In des à la p la n ète pp. 240-242.
M ars, prefácio, p. X II. R a d . int.: M oyen.

M EG A LO M A N IA D . M egalom anie; 2. M EIO D . M itte l (A. M in e); E.


E. Megalomania·, F. M égalom anie; I. M e­ M id d le (A. M ean; C . M ed iu m ; D . E n vi­
galom ania. ron m en t); F . M ilieu; 1. M e zzo .
Loucura das grandezas. Ver Loucura. A. A quilo que está colocado entre
duas ou várias o utras coisas, e especial­
1. M E IO D. M ittel; E . M eans, way; m ente aquilo que está a igual distância de
F. M o yen ; I. M e zzo . dois extrem os, ou no centro de um a fi­
A quilo através de que um fim deter­ gura. P articularm ente usual na tradução
m inado se realiza. “ T oda finalidade é d o G. μ έ σ ο ν , μ ε σ ά τ η ς . “ Métrorrçs n s α ρ α
um a série de causas e efeitos n a qual se ΐ σ τ ϊ ν η ά ρ β τ ή : a virtude é, pois, um
pode notar: 1? um term o onde ela se de­ m eio (entre o excesso e o defeito).”
tém , e por isso é cham ado fim ; 2? um ter­ A2 « è I >I E Â E è , É tica a N icô m a co , II, 5,
m o interm ediário, o m eio, ou um a série 1106b27. Diz-se freqüentem ente neste
de term os interm ediários, os m eios; sentido ju s to m eio.

Sobre M eio (1) — Parece-m e que a fin a lid a d e não é a série das causas e dos efei­
tos, m as a relação entre os diferentes term os desta série com o term o final, a ação
ideal deste term o sobre os o u tro s (com o a causalidade é a ação real da causa eficien­
te). (J . Lachelier)
O sentido p róprio de finalidade é certam ente relação do meio a o fim (ver atrás
F inalidade). M as introduziu-se n a linguagem filosófica corrente u m a tendência para
cham ar por elipse fin a lid a d e a qualquer processo que m anifeste um a finalidade. N ão
é o único caso em que este term o ab stra to acabou por designar o fa to ou o objeto
concreto de que ele é a característica: por exem plo, u m a autoridade, um a m aldade,
um a possibilidade. E sta transform ação sem ântica é sem pre um tan to chocante no
m om ento em que se produz; m as parece conform e ao espírito geral d a língua. (A . L .)
Sobre M eio (2) — O sentido D da palavra m eio, e as expressões com o “ o meio
exterior” , “ os meios sociais” , “ um m au m eio” são certam ente parad oxais e ilógi­
cas. M as explica-se facilm ente p o r que cam inhos a expressão passou do sentido C,
ainda m uito correto e próxim o da etim ologia, p ara o sentido D , que dela está tão
longe. A expressão “ meio in terestelar” é m uito antiga; rem onta pelo m enos à época
de N ew ton; esse meio é o in term ediário pelo qual os astro s agem uns sobre os ou­
tro s. M as ao m esm o tem po que está entre os corpos, e que, p o r seu “ m eio” , as ações
físicas se pro pagam , é tam bém o flu id o no qual todos os corpos estão m ergulhados,
e, por conseqüência, o seu “ m eio” no sentido D desta palavra. (Resum o das obser­
vações de Beaulavon, C ou tu rat, L e R o y)
M ELA N CO LIA 660

B. A quilo que pode ser intercalado A palavra m eio , neste sentido, é até
quer entre duas noções, de tal form a que correntem ente aplicada ao tem po, ao es­
elas não partilhem de um a m aneira exaus­ paço, ou ao espaço-tem po, considerados
tiva o universo do discurso, quer entre com o um a espécie de receptáculos dos fe­
duas proposições, de tal fo rm a que não nôm enos.
sejam contraditórias. " O s silogismos dis­
juntiv os são falsos apenas pela falsidade C R ÍT IC A
da m aior, na qual a divisão não é exata,
E d . G Ãζ Â Ã
I (V ocabulário, V o M eio)
encontrando-se um m eio en tre os m em ­
bros op o sto s.” L ógica de P Ã2 I -RÃà τ Â , faz notar com razão que o sentido D é iló­
I l l f parte , cap. XH. gico; p o rq u e , diz ele, “ é o ser que está
no m eio daquilo que o rodeia, e a expres­
Princípio d o m eio excluído , ou do ter­
ceiro excluído: “ De duas proposições são m eio ex terio r pareceria paradoxal se
contraditó rias, um a é verdadeira a o u tra n ão fosse hab itu al” .
falsa” ; ou ainda: " S e duas proposições A cerca d a origem e desenvolvim ento
são contraditó rias, a verdade ou falsida­ deste sentido, ver as observações.
de de um a im plica respectivam ente a fa l­ R ad. int.: A . B. M ez; C. Medy.
sidade ou a verdade da o u tra .” Ver C o n ­
tradição. M EL A N C O LIA D . M elancholic, E.
C. A quilo que, interposto entre dois M elancholia; F. M élancolie; I. M alin-
ou vários corpos, transm ite um a ação fí­ conia.
sica de um ao ou tro. A . (sentido técnico). Diz-se de todas as
D . C onjunto dos objetos (no sentido perturbações mentais caracterizadas por
m ais am plo desta palavra) no meio dos um a tristeza anormal e crônica. As suas va­
quais se produz um fenômeno ou vive um riedades são numerosas. B τ Â á ç « Ç distin­
ser. “ M eio físico; meio social; meio in­ gue seis tipos principais (Vo, II, 61-62).
telectu al.” Cf. A d a p ta çã o . “ Meio inte­ B. (sentido vulgar e literário). Triste­
rio r” diz-se de um organism o considera­ za leve, acom panhando a reflexão ou o
do na sua relação com os elem entos ce­ devaneio.
lulares que nele vivem. R a d . int.: M elankoli.

D a linguagem dos físicos esta palavra passou p a ra a linguagem dos biólogos sob
a influência de G eoffroy Sτ « ÇI -H « Â τ « 2 E , de quem um a das idéias dom inantes era
a de tran sp o rta r p ara o estudo dos seres vivos os processos e os conceitos em uso
n a física e n a química. Ele dizia habitualm ente, neste sentido, “ meio am biente” . M e­
m órias d a A cadem ia das Ciências, 1833. E studos progressivos d e um naturalista, 1835.
Introduziu-se em seguida n a linguagem das ciências m orais através de duas vias
independentes. A uguste CÃOI E , que a to m ara em prestada ao natu ralista de Blain-
ville, fez dela u m a utilização freqüente. V er principalm ente C urso d e filo so fia p o s i­
tiva , lição X L , §13 ss. " M eio ” foi im presso aí prim eiram ente em itálico e só é em ­
pregado depois de um a prévia explicação da idéia que representa. P o r outro lado,
Tτ « ÇE , que m ais do que qualquer o u tro vulgarizou este term o, tin h a-o extraído da
intro dução à C om édia hum ana de Bτ Â Uτ T (1841), onde este assim ila a sociedade à
natureza e as variedades individuais do hom em às espécies zoológicas, que depen­
dem do seu “ m eio” . O próprio Balzac foi buscá-la em Etiénne G eoffroy Saint-Hilaire.
(R . B erth elot )
Ver igualm ente R. EZ T3 E Ç , A s grandes corren tes d o pen sa m en to co n tem porâ­
n eo, e Bτ 2 I 7 , D ie P hilosoph ie d er G eschichte als Sociologie, p. 33.
661 M EM O RA B ILID A D E

M EL IO RISM O D . M eliorism u s ; E. M EM O R A B IL ID A D E D. M em ora-


M elio rism ; F. M éliorism e\ I. M iglioris- bilitàt; E. M e m o ra b ility; F . M ém orabili-
m o. té; I. M em orabilità.
A . Por oposição ao O tim ism o * e ao Term o criado por É á . C Â τ ú τ 2 è á E
Pessim ism o*, d o utrina segundo a qual o (“ Experiências coletivas sobre o testemu­
m undo pode ser m elhorado pelos esforços n h o ” , A rch ives d e psych o lo g ie, m aio de
do hom em , convenientem ente dirigidos. 1906).
B. D outrina segundo a qual o m undo E ntre as diferentes circunstâncias de
não é nem isento de m al*, nem o m elhor um fato que um certo núm ero de teste­
possível, m as em via de aperfeiçoam ento m unhas re la ta, existem algum as sobre as
e m elhoria. quais os testem unhos verdadeiros são
R ad. in t.\ M eliorism. m ais num erosos do que sobre as outras.

Sobre M eliorism o — A rtigo com pletado sob as indicações de É lie H alévy, que
nos com unicou os seguintes docum entos:
O sentido B é utilizado p o r Sú E ÇTE 2 : “ ... the m eliorist view ... that life... is on
the way to become such th a t it will yield m ore pleasure th an pain” ' ( C on tem p o ra ry
R eview , julho de 1884, p. 39).
O sentido A é o dado p o r Jam es SZ Â Â à a esta palavra que a popularizou entre
os filósofos. “ By this I w ould understa nd the faith which affirm s n o t merely our
p o w er o f lessening evil — this nobody questions — b u t also our ability to increase
th e a m o u n t o f p o sitiv e g o o d .” 1
2 P essim ism , a H isto ry a n d C riticism , 1877, p. 399.
Ele d eclara n a m esm a passagem que tom ou em prestado esta palavra a George
E Â « ÃI . T en d o p e rg u n ta d o a este se a tin h a inventado, recebeu a seguinte resposta:
“ 1 dont know th a t I ever heard anybody use the w ord m eliorist except myself. But
I begin to think th at there is no good invention o r discovery th at has n ot been m ade
by m ore than one person .” 3 The L ife o f G eorge E lio t, por J. W . C 2 Ãè è , ed. Tauch-
nitz, vol. IV, p. 183.
A palavra encontra-se tam bém n um a o b ra publicada em 1858: H o ra e subsecivae,
L o ck e an d Syden h am , por J. B2 Ãç Ç (prefácio).
LE è I E 2 W τ 2 á (D yn am ic S o cio lo g y, 1883, vol II, p. 468) pro pôs que se desse a
esta palavra um sentido um pouco diferente, que ele define d a seguinte form a: “ hu-
m anitarianism m inus sentim ent... the im provem ent o f the social condition through
cold calculation, thro ugh the adoption o f indirect m eans ” 4(por oposição ao hum a­
nitarism o que procura sobretudo aliviar os sofrim entos presentes). Este sentido não
parece ter-se divulgado.

Sobre M em orabilidade F. Tónnies e J. L achelier desaprovaram esta palavra:


“ M em o ra b ilid a d e e testa b ilid a d e” , escreveu-nos J. L τ T7 E Â « E 2 , “ n ão m e parecem,
tan to um com o o outro , term os criados corretam ente. M em orabilidade n ão poderia
significar, em francês, senão a qualidade daquilo que é digno de m em ória.”

1. “ . . . a visã o m e lio rista ... segun do a qu al a v id a está em vias de se to r n a r tal q u e p ro d u z irá m ais p razer
d o que d o r ” .
2. “ E n te n d en d o p o r essa p a la v ra a cren ça que a firm a n ão só o no sso p o d er d e d im in u ir o m al — o
q u e ninguém põe em d ú v id a — m as tam b ém a nossa cap ac id a d e d e a u m e n ta r a so m a d e bem p o sitiv o .”
3. “ N ã o sei se ouvi alg u ém , a não ser eu , usar o term o m eliorism o. M a s com eço a cre r que n ã o h á b o a
in v en ção ou d e sc o b e rta que n ã o te n h a sid o feita p o r m ais d o que u m a p e s so a .”
4. “ o h u m a n ita rism o m en os a su a se n tim e n ta lid a d e ... o m elh o ra m e n to d a c o n d ição social atrav és de
um cálculo refletid o , pela a d o ç ã o de m eios in d ire to s” .
M EM O RIA 662

Cham a-se m em orabilidade de um a cir­ da memória, conclusão. Diz-se mesmo al­


cunstância, num a observação dada, à re­ gumas vezes de certos fenômenos dos cor­
lação do núm ero de testem unhos verda­ pos inorgânicos.
deiros com o núm ero total dos testem u­ C. Recordação. “ Conservar a m em ó­
nhos relativos a esta circunstância. ria de um fato ” (este sentido, muito usual
Este term o opõe-se ao de testabilida- em latim , é ra ro , exceto em algum as ex­
de, que designa a relação do núm ero dos pressões feitas: “ P erpetuar a m emória de
testem unhos relativos a determ inada ca­ um acontecim ento; render homenagem à
racterística com o núm ero total das tes­ m em ória de um grande hom em ” , etc.).
temunhas que depuseram sobre o conjun­
C R ÍT IC A
to do fato (quer o testem unho seja ver­
dadeiro ou falso). H. B E R G S O N considera os dois pri­

R ad. int.: M em orables. meiros sentidos não com o subordinados,


mas com o radicalm ente distintos. “ O
M EM Ó RIA D. G edächtnis, Erinne­ passado perpetua-se sob duas formas dis­
rung·, E. M em ory; F. M em oire; I. M em o ­ tintas: 1? nos m ecanism os m otores; 2?
ria. nas recordações independentes... Levan­
A . Função psíquica que consiste na re­ do ao extrem o esta distinção fundam en­
produção de um estado de consciência tal, poder-se-ia represen tar duas m em ó­
passado com a característica de ser reco­ rias teoricam ente independentes.” M até­
nhecido com o tal pelo sujeito. ria e m em ória, 74, 78. H averia necessi­
B. P o r generalização, to d a a conser­ dade, neste caso, de distinguir tam bém
vação do passado de um ser vivo no es­ duas form as de reconhecim ento: um que
tado atual deste. “ A m em ória é um a fun­ consistiria na experiência imediata do pas­
ção geral do sistema nervoso; tem por ba­ sado en quanto passado; o u tro , n a facili­
se a propriedade que os elementos têm de dade da repetição (ib id .).
conservar um a m odificação recebida e Quer se adm ita ou não esta tese, o sen­
form ar associações... A memória psíquica tido A deve ser considerado em to d o ca­
é apenas a fo rm a mais elevada e mais so com o sendo o único sentido pró prio
complexa da m em ória.” R« ζ ÃI , D oenças desta palavra. A sua extensão ao sen-

Sobre M em ória — A R IS T Ó T E L E S distinguia a μ ν ή μ ν d a α ν ά μ ν η σ ή , e esta distin­


ção perm aneceu corrente durante to d a a Idade M édia, onde se cham ava à prim eira
m em oria, à segunda rem iniscentia (S. TOMÁS á A I Z « Ç Ã ).
E

“ P raeclare A ristóteles inter μ ν ή μ η ν e α ,ν ά μ ν η σ ι ν distinguit; illam in nativa imagi-


nis retinendae et m em orandae vi ponit, ita quidem u t studium accedat nullum ; hanc,
quoniam in exquirendi contentione cernitur, conclusioni et ratiocinationi com parai,
qua via et ordine ab altero ad alterum d u citu r.” T 2 Çá Â Çζ Z 2 ;
E E E , D e A n im a (2?
ed., 1877), p. 142. Ver o texto principal, v t ç l μ ν ή μ η ς , 453a6. (7?. E ucken}
A distinção aristotélica e escolástica deixou apenas alguns traços no uso contem ­
porâneo. Ver contu do o texto citado mais ad iante em Rem iniscencia, observações.
(A . L .)
Bergson utilizou freqüentem ente as palavras m em ória, recordação, num sentido
diferente do sentido B, e que contu do exclui o caráter de reconhecim ento que é es­
sencial ao sentido A . “ T oda consciência é, pois, m em ória — conservação e acum u­
lação do passado no presente.” A energia espiritual, p. 5. Esta utilização liga-se à
convicção de que tu do aquilo que foi vivido subsiste no espírito e pode sem pre, ju s­
tam ente, tornar-se consciente. (M M arsal)
663 M ENO R

tido B é um a das aplicações do procedi­ nizad a” Expressões que se devem a L.


m ento filosófico que consiste em “ gene­ D Z Tτ è , que opõe sob esses dois nom es,
ralizar” os term os, aplicando ao gênero por um lado, a repetição p u ra e simples
o nom e da espécie. Este procedim ento d a sensação (quer com o m emória imedia­
tem o grande defeito de não p ô r clara­ ta, quer com o record ação ulterior), que
m ente em evidência o verdadeiro m ovi­ é uma operação passiva e espontânea; por
m ento do pensam ento, e, por conseguin­ o u tro , a assim ilação e a interpretação do
te, é fértil em m al-entendidos. passado, que implica um a seleção, espon­
R ad. in t .: A . B. M em orad; C. M e­ tân ea ou refletida, m as n a qual intervém
ntor. em todo o caso a inteligência e a ativida­
M em ória afetiva P ro priam ente, m e­ de finalista do espírito. D Z ; τ è , A m e­
m ória dos estados afetivos, enquanto se m ória e o esquecim ento, cap. III: “ A me­
distingue da renovação dos estados afe­ m ória b ru ta e a m em ória o rganizada.”
tivos já experim entados, pro vocada pela “ M E M O R IZ A Ç Ã O ” Ver as obser­
recordação dos fatos que já provocaram vações.
um a prim eira vez esses estados.
A expressão foi tam bém utilizada al­ 1. M ENO R (subst. mase, ou adj.) (su­
gum as vezes ao falar da recordação dos bentendido Term o) D. U nterbegriff, M i­
fatos passados, enquanto esta é acom pa­ nor; E. M inor; F . M in eu r, I. M inore.
nhada de um a riqueza particular de esta­ A quele dos três term os de um silogis­
dos sentim entais. M as este segundo sen­ m o categórico que é sujeito na conclusão.
tido é raro e presta-se à confusão. Ver Cham a-se tam bém “ term o peq ueno” .
M τ Z 7 « ÃÇ , “ A verdadeira m em ória afe­ P a ra a origem e o sentido prim itivo des­
tiva” , R evu e p h ilo ., fevereiro de 1901; ta palav ra, ver M aior.
P τ Z Â 7 τ Ç , “ Sobre a m em ória afetiva” , 2. M ENOR (subst. fem .)D . Untersatz,
ib id . , dezembro de 1902 e janeiro de 1903; M inor; E . M inor; F . Mineur; I. M inore.
L. W E ζ E 2 , “ Sobre a m em ória afetiva” , A . N um silogismo categórico, aquela
R evue d e m étaphysique, novem bro de das duas prem issas que contém o m enor
1914; DE  τ T2 ë 7 , “ A memória afetiva” , ou o term o pequeno.
Journal de psych ologie, maio de 1913. B. N um silogismo hip otético, aquela
“ M em ória b ru ta ” e “ M em ória orga­ das premissas que enuncia que a condi-

Sobre M em orização — É d. C laparède pro pôs que se cham asse M é to d o s d e m e­


m orização (D. L ern m ethoden; E . M e th o d s o f learning; F. M éth o d es d e m ém orisa-
tion) aos diversos processos técnicos que servem para apren der de cor (M ét. global,
m ét. fragm entário), etc.
M em orieren é usual em alem ão neste sentido. É definido em K« 2 T7 ÇE 2 e Mt-
T7 τ E Â « è , 5? edição, p. 354: “ Die m it A bsicht und methodisch vollzogene Aneignung
von V orstellungen .” 1K ant utiliza-a na sua A n tro p o lo g ia . A palavra m em orização
é já de utilização co rrente nas escolas da Suíça rom ânica p a ra designar a ação de
apren der de cor, m as não creio que tenha sido usada n a F rança. A analogia exigiria
de preferência m em oração (cf. com em oração). É verdade que o sentido n atural seria
então o ato de se recordar, ou de recordar (m em orari ), e não o ato de aprender. (A. L .)
Sobre M enor (2) — L. C ou tu rat pretendia que as palavras m aior e m en or não fos­
sem nunca utilizadas ao falar dos silogismos hipotéticos e disjuntivos, onde as proposi­
ções assim cham adas só são análogas pela sua ordem de enunciação às proposições

1. “ O a to de fix ar em $j rep re sen taçõ es in ten cio n alm en te e de u m a m a n e ira m e tó d ic a /’


M ENTA L 664

ção suficiente está realizada (m o d u s p o - M E N T A L ID A D E D. M en ta litä t,


nens ) ou que o efeito desta condição não Geistesrichtung·, E. M en taliiy (EOE 2 è ÃÇ ,
o está (m o d u s toUens). 1856, segundo Murray)·, F. M en ta lité; I.
C. N um silogismo disjuntivo, aquela M entalità.
das prem issas que exclui um a das alter­ Conjunto das disposições intelectuais,
nativas. dos hábitos de espírito e das crenças fun­
dam entais de um indivíduo.
CRÍTICA R ad. in t.: M ent.
A legitim idade dos sentidos B e C é
“ M EN TA LISM O ” Term o usado por
discutível. Ver as observações.
alguns autores contem porâneos p ara a
M EN TA L D . Seelisch, psychisch (não concepção segundo a qual existe, p ara ca­
têm exatam ente o m esm o conteúdo que da indivíduo, um núm ero de fatos
mental)·, E. M ental; F. M en ta l ; I. M en- internos* que são o objeto d a psicologia.
tale. “ O utras críticas dirigidas contra a psico­
Relativo ao espírito, ou que pertence logia da vida interior, ou como se diz ago­
ao espírito, enquanto é considerado de ra, do ‘mentalismo’, refutam-se facilmen­
um ponto de vista estritam ente positivo te quando se com preende aquilo que ela
e experiencial. pretende ser.” A. BZ 2 Â ÃZ á , Psicologia,
O estado m ental de um indivíduo è o p. 9.
estado de saúde, de pertu rbação ou de NOTA
alienação das suas funções psíquicas.
R ad. in t .: M ental. Com o m uitos outro s term os term ina­
dos em ism o, “ m entalism o” foi criado
M E N T A L (Restrição) Ver Restrição. por aqueles que negam a legitimidade da-

hom ônim as do silogismo categórico. Com efeito, a m aior é a prem issa que contém
o term o grande, predicado da conclusão; m as num raciocínio hipotético a “ m aio r”
contém a conclusão com pleta.
E d. G o b lo t considera, pelo contrário, que num silogismo hipotético, tal como
vulgarm ente se enuncia, o term o pequeno é subentendido. Este silogismo só tem sen­
tido se fo r assim form ulado:
Se p é, q é;
O ra, no caso S, p é
Logo, no caso S, q é
fórm ula em que a expressão no caso S desem penha exatam ente o mesmo papel, do
po nto de vista do pensam ento, que o term o pequeno dos silogismos clássicos. N ão
só o nome de m enor convém, pois, m uito bem a esta proposição, m as tam bém o
silogismo hipotético, assim com pletado, representa m uito mais fielm ente do que o
silogismo aristotélico a verdadeira relação dos term os e das proposições no espírito.
Cf. E. G Ãζ Â Ã , “ O è juízos hipotéticos” , R evu e d e m étaphysiqu e, m arço de 1911.
I

Sobre M ental — C ertos autores fazem desta palavra o sinônim o de “ conscien­


te ” ; e esta acepção é geralm ente adm itida. (Éd. C laparède ) T odavia não é raro
encontrar-se a expressão: M o d ifica çõ es m entais inconscientes-, m esm o aqui, encon­
tro nas observações d a palavra Inconsciente a seguinte frase de Frédéric Rτ Z 7 : “ [Es­
ses fatos] aparecem p o rtan to com o o m en ta l que se to rn a con scien te.” A regra não
pode p o rtan to ser considerada com o estabelecida. (A . L .)
665 M É RITO

quilo que este term o representa. P a ra a à m oralidade; distingue-se neste sentido


exposição e discussão dos seus argum en­ d a virtu de considerada com o um a perfei­
to s, ver a o b ra citada, cap. I, § 1. ção m oral que pode ser n atu ra l e obtida
“ M E N T A L IZ A Ç Ã O ” Ver as ob ser­ sem esforço.
vações. B. (sentido sobretudo teológico). Aqui­
lo que vai para além do dever estrito, e
M ENTIROSO (O) O u mais exatamen- constitui um a espécie de crédito m oral
te A q u ele qu e Mente·. G . o ^/ev8á¡levos, (considerada algum as vezes com o tra n s­
b (To^ttmxòs X070S V>e«Sófxevos (A2 « è I ó ­ ferível de um a pessoa m oral para um a ou­
I E ÂE è , É tic a a N ic ô m a c o , V II, 3, tra). A vida m oral é então concebida co­
1146a22). Sofisma inventado p or Eubuli- m o fazendo variar um balanço em que to­
des de M ileto, um dos sucessores de Eu- do o aum ento de haver é um “ m érito” ,
clides de M égara, segundo Diogenes de to d a a dim inuição um “ dem érito” .
Laércio, II, X: “ V ida de Euclides.” A sua Ver RE ÇÃZ â« E 2 , C iência d a m oral,
fo rm a m ais simples é a seguinte: alguém livro II, cap. 38: “ D o m érito” , em que
diz “ E u m into” (G. ^eúôo/m ; L. m entior os matizes dos sentidos A e B são anali­
= aquilo que eu digo é falso). Se aquilo sados em porm enor.
que ele diz é verdadeiro, aquilo que diz é C. Características daquele que m ere­
falso; e, se aquilo que diz é falso, aquilo ce o sucesso ou a aprovação (além dos va­
que diz é verdadeiro. Pode-se quer con­ lores m orais): “ Um escritor de m érito.
cluir daí que um a asserção pode ser ao O cupar um lugar inferior ao seu m érito.”
m esm o tem po verdadeira e falsa (esta pa­ A palavra, neste sentido, serve freqüen-
rece ser a interpretação de Aristóteles: Sof. temente de sinônimo atenuado de talento.
25; 180b2), quer continuar indefinida­ D . Q ualidade louvável (quer num h o ­
m ente, por recorrência, a concluir alter­ m em , quer num a obra). “ O m érito prin­
nativam ente ou verdadeiro ou falso. Ver cipal de um a teoria, de um a u to r.”
E pim ên ides e R ecorrência, observações.
C R ÍT IC A
M ERITO D. Verdienst; E. A . A bility;
B. MeriV, F . Mérite·, I. M érito . O sentido mais preciso e mais útil des­
M erecer um a coisa (salário, felicidade, ta palavra é o sentido A . M uitas dificul­
sucesso, recompensa, ou, inversamente, dades verbais e sofism as resultam do fa­
censura, fracasso, punição, etc.) é ter agi­ to de n ão se distinguir nitidam ente o es­
do de tal m aneira que a obtenção da coisa forço p ara o bem da perfeição m oral.
merecida seja considerada como ju sta . Daí Deve-se evitar, p o r conseqüSncia, desviar
os diferentes sentidos da palavra mérito: ou enfraquecer o sentido deste term o
A . V alor m oral, enquanto é acom pa­ tom ando-o por sinônimo de virtude ou de
nhado por um esforço para ultrapassar superioridade m oral.
dificuldades, e especialm ente para supe­ R a d . in t.: A . M erit.
rar os obstáculos interiores que se opõem

Sobre “ M entalização” — T erm o pro posto p o r Éd. CÂ τ ú τ 2 ?á E p a ra designar


0 processo pelo qual um fenôm eno, prim eiram ente espontâneo e au tom ático, pene­
tra na vida m ental, de tal m aneira que dele se tom a consciência; ou ainda o estado
do fenôm eno assim in teg rado n a vida consciente. (Cf. atrás, L ei da to m a d a d e cons­
ciência.) Esta palavra foi im pressa pela prim eira vez pelo autor em Feelings a n d E m o-
tio n s, The W ittem berg Sym posium , Clark U niversity Press, 1928. M as ele servia-se
dela havia m uito tem po nas suas aulas.

Sobre M érito — A rtigo com pletado segundo as observações de D rou in , H ém on,


M entré, C. C. J. W ebb.
M ERKEL 666

M ERKEL (Lei de) o u Lei de p ro p o r­ a expressão d ata o m ais tard ar do primei­


cionalidade (D. P roportio n a lità tsg esetz, ro século da era cristã; M etaph ysica, n u ­
em W Z Çá I , G rundzüge d e r P sycholo- m a só palavra, não se encontra antes da
gie.) Lei descoberta po r J . M E 2 3 E Â e que Idade M édia, particularm ente em A â E 2 -
se opõe, em certas circunstâncias, à lei lo­ 2 ó « è (segundo E ü T3 E Ç , p. 68).

garítm ica de W eber: se os intervalos en­ N a Idade M édia, este term o foi apli­
tre os excitantes são suficientemente gran­ cado à σ ο φ ί α ou φ ι λ ο σ ο φ ί α π ρ ώ τ η de
des, constata-se que as sensações crescem A ristóteles (M etafísica, I, 2, 982a4 e se­
proporcionalm ente aos excitantes (Éd. guintes), que tinha por objeto t ò ο η ο ν
C Â τ ú τ 2 ÉDE). Esta lei está ela própria na­ (M et., III, 1, 1003a21; V, 1, 1026a31,
turalm ente sujeita às diversas reservas de etc.), e por ele pró prio definida ή τ ω ν
princípio que sobre a m edida da sensa­ π ρ ώ τ ω ν α ρ χ ώ ν κ α ί α ι τ ι ώ ν θ ί ω ρ -η τ ι κ ή
ção forem feitas. Cf. Fechner. (sendo essas causas principalm ente o
Tcuyadáv e O τ ο oSi é'vexa) (ibid., 982b
M ESMO V e r O utro e Idêntico. M es- 9-10). C om preende o_conhecim ento da$__ i / '
m id a d e fo i u tiliz a d a p o r V ÃÂ I τ « 2 E . V er coisas divinas ao mesmo tem po que o dos_
a s o b s e rv a ç õ e s s o b re Identidade. principios das ciencias e da ação (cf. Bo-
N I T Z , V o π ρ ώ τ ο ι , 653a23).
M ESO LO G IA D. M esologie; E. M e-
so lo g y, F. M éso lo g y, I. M esologia. S. T ÃOá è á E A I Z « ÇÃ a d a p to u esse
Estudo que tem p o r objeto a relação se n tid o c o m p le x o à d o u tr in a crista, in sis­
tin d o s o b re o c a r á te r ra c io n a l (e n ã o r e ­
entre os seres e o seu meio (pouco usado).
R ad. int.: Mezologi. v e la d o ) d e s te c o n h e c im e n to .
N a utilização m oderna, o sentido da
M ET A F ÍS IC A D. M etaphysik; E. palavra m etafísica diferenciou-se confor­
M eta p h ysics ; F. M étaphysiqu e; I. M eta ­ me se acentuava aí quer a idéia de certos
física . seres ou de urna certa ordem de realida­
A . Sentido prim itivo: r à g e rà r à φ υ ­ de, objeto especial d a m etafísica, quer a
σ ι κ ά , nome dado à o b ra de A ristóteles a idéia de um m odo especial de conheci­
que nós cham am os hoje a M etafísica, m ento, característicam ente seu:
porque, na coleção das obras de A 2 « è I ó ­ 1? Conhecim ento de um a ordem es­
I E ÂE è recolhida por A Çá 2 ó Ç« TÃ áE RÃ ­ pecial de realidade:
áE è (1? século a. C .), se seguia a Φ υ σ ι κ ή B. Conhecim ento dos seres que não
α κ ρ ό α σ ή , ou Física. Sob esta form a, se apresentam aos sentidos. “ As ciências

Sobre M etafísica — A rtigo refu ndido ou com pletado segundo as observações de


J. Lachelier, A . Fouillée, Ch. D unan, É lie H alévy, R en é B erth elot, F. M en tré, e a
p artir da discussão que teve lugar na sessão de 7 de julho de 1910. Deu lugar, por
o u tro lado, às seguintes observações:
Origens históricas d o s sen tid o s atuais·. S. TÃOá è á A I Z « ÇÃ considera a m etafí-'
E

sica com o a ciência de tu d o aquilo que m anifesta o sobrenatural·, cham a transphysi-


ca aos objetos desta ciência (In libr. I d e M e ta p h ysica p ro lo g u s). Este sobrenatural
é p o r ele entendido no sentido cristão, de m odo que a sua principal fo rm a é o divino
e o que a ele se liga: D eus, prim eiro m o to r, fim últim o, princípio e ju iz d a m oralida­
de; a alm a enquanto im ortal, os anjos, etc. “ A liqua scientia adquisita est circa res
divinas, scilicet scientia m etaphysica” (Sum m a II, 2, IX , 2 obj. 2). E sta ciência, pelo
seu objeto , confundir-se-ia com a teologia, mas difere dela pelo seu m odo de conhe­
cim ento: a teologia tem por fonte a revelação feita a alguns hom ens, a m etafísica
usa apenas o intellectus e a ratio, quer dizer, a razão com um a todos os hom ens.
667 M E TA FÍSIC A

especulativas são a m etafísica, que tra ta sas são em si m esm as, por oposição às
das coisas m ais im ateriais, com o do ser aparências que elas apresentam . “ U nter
em geral, e em particular de Deus e dos M etaphysik verstehe ich jede angebliche
seres intelectuais feitos à sua im agem ; a Erkenntniss, welche über die Möglichkeit
física, que estuda a natureza, etc.” (Bos- d er E rfahrung, also über die N a tu r, oder
S U E T , Conhec. d e D eu s e d e si, cap. I, § die gegebene Erscheinung der Dinge, hi­
1 5 ) . Este sentido deriva de S . T Ã Oá è á E
nausgeht, um A ufschluss zu ertheilen
A I Z « Ç Ã . É tam bém o que D è T τ 2 è E I E
über D as w orduch jene bedingt w äre;
dava a esta palavra (ainda que menos pre­
oder populär zu reden, über Das, was hin­
cisamente): ver a E pístola dedicatória das
M ed ita çõ es, n a qual a m etafísica ou filo­ ter der N a tu r steckt, u n d sie möglich
sofia prim eira é apresentada com o tendo m ach ... E r (der U nterschied zwischen
p o r objeto o conhecim ento de D eus e da Physik u n d M etaphysik) beruht im All­
alm a p o r “ razão n a tu ra l” . gemeinen a u f der K antischen Unterschei­
C . C onhecim ento daquilo q ue as coi- dung zwischen Erscheinung und D ing an

A prim eira alteração notável do sentido desta palavra é aquela provocada por
Descartes e os cartesianos, que consideram a im aterialidade com o o traço caracterís­
tico dos o bjetos m etafísicos. P a ra D escartes é m etafísico aquilo que não é nem físi­
co, nem puram ente form al, com o a geom etria1. D a m esm a m aneira, em M τ Â ζ 2 τ Ç - E

T7 E(E n tretiens su r la M éta p h ysiq u e I), o m etafísico opõe-se essencialmente ao es­


pacial e ao sensível. L « ζ Ç« U parece tom ar tam bém a palavra no mesmo sentido q uan­
E

do define as m ónadas com o p o n to s m etafísicos, á to m o s metafísicos-, contudo, serve-


se tam bém , e na m esma passagem , da expressão p o n to s d e su bstân cia, que se aproxi­
m aria mais do sentido C (Sistem a n o vo , e tc ., § 11), e opõe freqüentem ente o m ecâni­
co e o m etafísico no sentido tradicio nal, onde o prim eiro se refere à m atéria e à cau­
sa eficiente, o segundo às causas form ais e finais. De L « ζ Ç« U , esta palavra passa E

a W Ã Â E E , que lhe dá a significação analisada na crítica acim a (no início do § 2). É


dele que K τ Ç a tom a em prestado, em pregando-a em diversos sentidos: 1? aplica-a
I

à parte con stru tiva d a filosofia o p osta à Crítica, e “ com preendo to d o o conhecim en­
to , verdadeiro ou aparente, que vem d a Razão p u ra ” ; 2°. a “ todo o co njunto da filo­
sofia pura, com preendendo aí a C rítica” ; 3? à teoria dos objetos de fé racional; 4?
finalm ente, cham a “ princípios de saber m etafísico” aos princípios reguladores do
pensam ento científico, tais com o N a tu ra non fa c it saltus, etc. M as esta utilização
é secundária, e o prim eiro destes quatro sentidos é o mais im portante.
Jacob adm ite um a m etafísica d a intuição interior, no sentido D. Sobre-Fichte e
Hegel, ver mais adiante. ( R esum o d e u m a com unicação feita por R e n é B erth elot à
Sociedade de Filosofia, sessão de 7 de julho de 1910)
A principal fonte da utilização da palavra m etafísica em Kant é o M anual de Baum-
garten intitulad o M etaphysica (1730), V o K a n t's Term inology, e M Â Â « Ç , VÃ M e- E

taph ysik.

1. A o p o siç ão d a tpCkoooipía t c q ú t i) ÃZ $ e o \ o y i x i j às m atem áticas, po r u m la d o , e à física, p o r o u tro ,


e n co n tra-se já em A 2 « è I ó I E Â E è , O c o n ju n to das três c o n stitu i, segundo ele, a ciên cia espec ulativa (M etafísi­
ca t V , 1, 1026a 19), E sta divisão é a in d a u tilizad a p or Kτ ÇI (p refácio à 2? ed ição d a Crítica da razão pura),
o n d e são c o m p a ra d a s as três ciências teó ricas: m ate m á tic a , física, m etafísica. P o r o u tr o lad o , D E è Tτ 2 I E è
o p õ e tam b ém a m etafísica à física e a o g ru p o das ciências ap licad as, m ed icin a, m ecânica e m o ral. E la é a
“ ra iz ’’ d a á rv o re d as ciências (p re fá c io d o s Princípios %12). {A. L .)
M ETAFÍSICA 66S

sic h .” 1 S T7 Ãú E , D ie W elt, liv ro


Ç7 τ Z E 2 superior à dos fatos, e contendo a razão
I, suple., cap. X V II. Ed. G ris e b a c h , II, de ser desta. “ É preciso que se inscreva
201; cf. ib id ., 189. no início da m etafísica, com o prim eira
A o mesmo sentido se liga a utilização verdade certa, não um a verdade intelec­
de m etafísica o posta a dialética para de­ tual, mas um a verdade m o ral... A ciên­
signar o estudo das coisas naquilo que es­ cia não pode m ais conduzir à m etafísica,
tas possuem de im utável, por oposição ao assim com o a m etafísica não pode forne­
seu devir, à sua ordem histórica. Ver as cer à ciência um p onto de partid a e prin ­
observações. cípios reguladores.” L, LlARD, A ciência
po sitiva e a metafísica, 3 ? parte, cap. VII.
D. Conhecim ento das verdades m o ­
A m etafísica, nestes três sentidos, foi
rais, do dever-ser, do ideal, considerado freqüentem ente definida com o o conhe­
com o form ando um a ordem de realidade cim ento ou a procu ra d o A b so lu to . “ D e­
pois dos fenôm enos, querem os conhecer
1. “ P o r m etafísica en te n d o to d o o p reten so co ­
o absoluto-, depois das con dições, procu­
nh ecim en to que preten d e u ltra p a ssa r o cam p o d a ex­ ram os a razão da existência. A m etafísi­
p eriência possível, e p o r consequência, a n atu reza, ca seria a determ inação deste absoluto,
ou a ap arên cia das co isas tal com o ela nos é d a d a , a descoberta desta ra z ã o .” L« τ 2 á , ib id .,
p a ra no s fo rn ecer ab e rtu ra s p a ra aq u ilo p o r que esta intro dução, 1.
é co n d icio n ad a; o u , p a ra fa la r p o p u la rm e n te , p a ra
2°. M odo especial de conhecimento ou
aq uilo que se esco nd e po r detrás d a natu reza, e a t o r ­
n a po ssível... A diferen ç a (entre a física e a m etafísi­
de pensam ento:
ca) rep o u sa, geralm ente, so b re a d istin ção k a n tia n a E. Conhecimento absoluto proporcio­
en tre fen ô m en o e coisa em s i.’’ nad o pela intuição direta das coisas, em

S obre os d iversos sen tid o s da pa la vra “M eta física " . É extrem am ente difícil re­
duzir à unidade todos os sentidos que foram dad os, com razão ou sem ela, e m uito
freqüentem ente sem ela, à palavra m etafísica. É necessário, creio eu, p artir de A ris­
tóteles, para o qual a π ρ ώ τ η φ ι λ ο σ ο φ ί α era a ciência do ser sim plesmente enquanto
tal, enquanto existe, por oposição ao ser enquanto tendo qualidade, quantidade, etc.:
por conseguinte, a ciência dos elementos e das condições da existência em geral; por
exemplo, todo ser é feito de potência e de ato, de m atéria e de form a; é determ inado
a existir por um a causa eficiente e por um a causa final. M as já , em A ristóteles, à
idéia das condições de existência em geral se acrescenta a de um ser, cu ja existência
é considerada com o a condição suprem a da existência de todos os o u tros, Deus.
A cho que a m etafísica, a p artir desse m om ento e tal como foi entendido, foi sem­
pre um a ciência dupla-, 1? a da existência em geral; 2° a de certas existências, com o
as de Deus e das alm as, inacessíveis em si mesmas à experiência, m as consideradas
p ara a explicação quer do conjunto das coisas, quer de certos fenôm enos em p articu­
lar, e adm itidas, qu an to ao seu ser e m aneiras de ser, para e segundo a necessidade
desta explicação (por exemplo, alm a d eve ser im aterial, porq ue a consciência que
temos de nós próprios é simples). Pode-se contar com o sendo um a terceira ciência,
ou m elhor, com o um desdobram ento da prim eira, a da totalidade das existências,
ou do M undo. (É finito ou infinito, em duração e extensão? É redutível a elementos
últim os, ou a redução irá ao infinito? C ontém começos absolutos, ou é tudo um en­
cadeam ento necessário?) N a era b árb ara da filosofia, quer dizer, no século X V III,
parecendo vãs ou impossíveis todas essas ciências, já se entendeu por m etafísica ape­
nas o conhecim ento dos princípios gerais de um a arte ou de um a ciência quaisquer,
ou ainda a dos fenômenos que não são do dom ínio dos sentidos externos, com o a
p ró p ria sensação. N ão sei qual será agora o futuro da m etafísica; gostaria, quanto a
669 M ETA FÍSIC A

oposição ao pensam ento discursivo. “ Se “ Todas as escolas filosóficas reconhe­


existe um meio de possuir um a realidade ceram a existência de um a ciência mais
em vez de a conhecer relativam ente, de geral e mais elevada que as outras, de um a
se colocar nela em vez de ad o tar pontos ciência dos princípios da qual todos os
de vista sobre ela, de te r a sua intuição nossos conhecimentos obteriam a sua cer­
em vez de fazer a sua análise, finalm ente teza e unidade... uns, procurando os prin­
de a ca p ta r fo ra de qualquer expressão, cípios na razão ou no fundo invariável da
trad ução ou representação sim bólica, a inteligência h u m an a, estenderam -nos a
m etafísica é isso m esm o. A m etafísica é, tu d o o que existe, consideraram -nos co­
p o rtan to , a ciência, que pretende ir para m o a expressão exata da natureza das coi­
além dos sím bolos.” H . B E 2 ; è ÃÇ , “ In ­ sas e com o o fundo constitutivo de todos
tro dução à m etafísica” , R evu e d e mé- os seres...: são o s m eta físico s p ro p ria­
taph ysiqu e, 1903, p. 4. m ente d ito s.” A . F 2 τ ÇT3 , D icionário
F. C onhecim ento pela R azão, consi­d a s ciências filo só fic a s, Vo M etafísica.
derado com o o único capaz de atingir o Os sentidos E e F são m uito próxim os
fundo das coisas, seguindo os prim eiros dos anteriores: o conhecim ento últim o,
princípios das ciências físicas e m orais. absoluto, que capta a essência interior dos

m im , que ela voltasse a ser a ciência do ser, no duplo sentido de existência em geral
e de totalidade das existências, m as com a condição nova de que a chave desta ciên­
cia deve ser p ro cu rad a na evolução das necessidades internas — ou, num a só p ala­
vra, na lógica intern a do pensam ento. Excluo dela form alm ente to d o o conhecim en­
to dos seres particulares: as alm as não são p a ra mim seres, m as o pró prio ser, ou
o ato do corpo; Deus e o nosso pró prio destino possível fo ra deste m undo não são
objetos de ciência, mas de fé. (J . Lachelier )
Sobre a defin ição de A . F ÃZ « Â Â é . A análise reflexiva não consiste em ver as coi­
E

sas de fo ra, a ver tu d o nelas, exceto elas pró prias; consiste, pelo co n trário , em vê-las
por dentro, em vê-las a elas próprias nos seus elem entos, que são fato s de consciên­
cia. Q uanto à síntese, procura relações indissolúveis entre cada realidade e to das as
ou tras. F ora desta dupla operação sobre o real, só pode existir um a m etafísica im a­
ginativa, fundada sobre simples aparências im ediatas, apresentadas tais quais com o
realidades. (A . Fouillée)
S obre a defin ição d e Ch. DZ Çτ Ç . N ão creio que um a síntese do conhecim ento
possa ser feita através de um trabalho consciente, voluntário, discursivo. O pensa­
m ento m etafísico é essencialm ente espontâneo, em bora precise ser p reparado. C on­
siste no ato de p ô r qualquer coisa quer com o fato , quer com o verdade. É por isso
que aparece em tod o s os hom ens e em todos os instantes. É a fo rm a fundam ental
do pensam ento em geral.
P ô r algum a coisa, quer com o existência, quer com o verdade, é, na m inha op i­
nião, fazer m etafísica: 1°. porq ue pôr um fenôm eno com o real e existente correspon­
de a pô-lo com o parte integrante do to d o das coisas, o qual é infinito, p ortan to tran s­
cendente a to d a experiência e absoluto; de m an eira que dizer: este livro existe, é ligá-
lo ao A bsoluto, quan to ao tem po, q uan to ao espaço, qu an to à causalidade, à fin ali­
dad e, quanto a tod o s os aspectos que ele apresenta: o que supõe que a idéia de A bso­
luto está em nós, e que, sem ser pensável em si m esm a, é o fu ndo, ou m elhor, a fo r­
m a (no sentido aristotélico da palavra) de todos os nossos pensam entos. Se, em vez
da existência de um objeto, eu ponho com o verdade um a qualquer concepção do
m eu espírito é a m esm a coisa. Sem pre, quer eu o saiba ou não, a p artir do m om ento
em que afirm o, refiro-m e à idéia de A bsoluto, presente em mim.
M ETAFÍSICA 670

seres, p o r oposição às ap arências sensí­ H. “ C onhecim ento d o real por an á­


veis, é tam bém o ob jeto da m etafísica. lise reflexiva e crítica, tã o radical q uanto
G. Em K τ Ç (crítica e refo rm a
I do
possível, e pela síntese, tão integral quan­
sentido cartesiano): co n junto dos conhe­ to possível, da experiência, particula r­
cimentos que se extraem apenas da razão, m ente d a experiência interior, fundam en­
quer dizer, d a faculdade de conhecer a to e condição de qualquer o u tra.” Extrato
p rio ri por conceitos, sem fazer apelo nem de um a n o ta de A lfred F Ã Z « Â Â é , sobre
E

aos dad os da experiência, nem às in tui­ a pro va do presente artigo. C f. do mes­


ções de tem po e de espaço. Distingue-se, m o au to r, O fu tu ro da m etafísica (1889),
pela prim eira característica, da psicolo­ e ver as notas sobre esta fórm ula nas ob­
gia em pírica e da física; pela segunda, das
servações.
m atem áticas. P o r o u tro lado, n ão é fo r­
“ A m etafísica... deve definir-se como
m al com o a lógica, m as “ m aterial” , na
um a concepção de algum a coisa em que
m edida em que se aplica a objetos deter­
m inados, dos quais ela perm ite form ular entre, com m aior ou m enor clareza e dis­
a p rio r i as condições de existência feno­ tinção, um a concepção de todas as coi­
m enal: “ M etafísica da natureza, m etafí­ sas... To do hom em , qualquer que seja,
sica dos costum es.” Ver Crítica d a razão tem o seu sistem a , ou m elhor, seus siste­
p u ra , 1? e 2? prefácios e sobretudo M e­ mas; e é p o r isso que todos os hom ens,
todologia T ranscendental, cap. III; P ro ­ saibam -no o u não, são m etafísicos, na
legóm enos, intro dução e 3? parte; Fun­ m edida em que fazer metafísica não é o u ­
da m en to s da m etafísica d o s costum es, tra coisa senão sistem atizar, quer dizer,
prefácio. K τ Ç faz ainda uso desta p a ­
I organizar idéias. A diferença que possa
lavra em outros sentidos, m as este é mais haver entre os m etafísicos de profissão e
geralm ente utilizado. os vulgares reside no fato de, entre os me-

2° Essa existência ou essa verdade que eu p o nho, não as po n h o com o relativas,


m as com o absolutas. Essa existência n ão é u m a existência p a ra m im , é um a existên­
cia em si: essa verdade não é a m inha verdade, m as a verdade; pelo m enos a conside­
ro assim necessariam ente. P o r conseguinte, se digo apenas: chove, por duas vezes
pro clam o o A bsoluto, duas vezes sou m etafísico, sem talvez duvidar o m ínim o do
m undo. E to d a a m etafísica que um hom em pode fazer é desta ord em , com a dife­
rença de ser aqui consciente, n o u tro lugar inconsciente.
Existe, pois, n a m inha opinião, no pensam ento um a função de posição, ou, se
se quiser, de afirm ação, que aliás não é dupla; po rq u e, com o tentei dem onstrar no
m eu artigo L eg itim id a d e d a m etafísica ', aq uilo que é afirm ado com o verdade passa
im ediatam ente e ipso fa c to ao estado de fato; e, p o r o u tro lado, nenhum fato apare­
ce com o tal senão depois de ter sido concebido pela inteligência e afirm ado com o
verdade.
Existem , pois, creio eu, duas form as de experiência: a que constitui o real e o
põe com o tal, que é a m etafísica; a que interp reta o real e d á as razões pelas quais
ele se explica, que é a ciência. A prim eira n ão é m enos experiência d o que a segunda;
em todo o caso, é necessária a esta. E vice-versa, de resto, dado que n ã o se põe nada
sem saber as razões, verdadeiras ou falsas, das coisas que se põem .
Q uanto à m etafísica especulativa, ela n ão é n a d a de específicamente distin ta d a­
quela de que acabo de falar. Se esta pode ser adm itid a, a o u tra deve passar sozinha,
po rq ue é apenas a prim eira subm etida ao trab alh o da reflexão. (Ch. Dunarí)

. R evue de m étaphysique, se tem b ro d e 1906.


671 M E T A F ÍS IC A

ta fís ic o s , a s iste m a tiz a ç ã o se re fe rir a Geistige Ström ungen der Gegenwart , 4?


id éias m ais a m p la s, m ais c o m p le x a s, m e ­ e d iç ã o , p . 110.
lh o r e la b o ra d a s d o q u e as d o c o m u m d o s I. E m A u g u ste C Ã O I E , m odo de pen­
h o m e n s .” C h . D Z Çτ Ç , “ E n sa io s d e filo ­ sa r in term ed iário en tre o teo ló g ico e o p o ­
s o fia g e ra l” , M etafísica. C f . d o m e sm o sitiv o . T e m c o m o c a ra c te rís tic a a o n to ­
a u to r, “ L eg itim id ad e d a m e ta física ” , R e­ lo g ia , a p re d o m in â n c ia d a s a b stra ç õ e s e
vue de m étaphysique, s e te m b ro d e 1906. ex p licaçõ es v e rb a is; só te m ex istên c ia e
P o d e m o s a p ro x im a r d e sta s d e fin iç õ es v a lo r e n q u a n to c rític a d o p rim e iro e s ta ­
a f ó r m u la fre q ü e n te m e n te c ita d a d e J a ­ d o e m p ro v e ito d o s e g u n d o . “ A m e ta fí­
m e s : “ M etap h y sics m e a n s o n ly a n u n u ­ sica te n ta s o b re tu d o e x p lic a r a n a tu re z a
su a lly o b s tin a te a tte m p t to th in k clearly ín tim a d o s seres, a o rig e m e a d e s tin a ç ã o
a n d co n sisten tly !’1 Textbook o f P sycho­ d e to d a s a s c o isa s, o m o d o essen cial d e
logy, e p ílo g o ; e e sta fra se d o p ro fe s so r R . p ro d u ç ã o d e to d o s os f e n ô m e n o s ... a e fi­
E Z T 3 Ç : “ SÃ ist es n ic h t ein e L u st a n a ll­
E cácia h is tó ric a d essas e n tid a d e s re su lta d i­
g em ein er F o rm eln , so n d e rn d a s V erlangen re ta m e n te d o se u c a r á te r e q u ív o c o (in te r­
n a c h m e h r C h a ra k te r, n a c h e n erg isch er m e d iá rio e n tr e a e x p lic a ç ã o te o ló g ic a e a
D u rg h b ild u n g u n seres L eb en k reises, w as ex p lic aç ão p o sitiv a ); p o r q u e em c a d a u m
d ie F o rsc h u n g z u r M eta p h y sik tre ib !’12 desses seres m e ta fís ic o s ... o e sp írito p o ­
d e , à v o n ta d e , c o n s o a n te e stá m ais p r ó ­
1. “A metafísica é apenas um esforço particular­ x im o d o e s ta d o te o ló g ic o o u d o e s ta d o
m ente obstinado para pensar de um a fo rm a clara e p o s itiv o , v e r o u u m a v e rd a d e ir a e m a n a ­
consistente.” ç ã o d o p o d e r s o b r e n a tu r a l, o u u m a sim ­
2. “Assim, não é um gosto pelas fórmulas gerais,
p les d o m in a ç ã o a b s tr a ta d o fe n ô m e n o
mas um desejo mais característico, o desejo de um a
sistematização integral e enérgica do nosso círculo de c o n s id e r a d o .” A u g . C Ã O I E , Discurso
vida,'q ue leva a investigação até a metafísica!’ sobre o espírito positivo, c a p . I, § 2: “ Es-

Sobre um sentido pós-kantiano. A lé m d a sig n ific a ç ã o estritam ente kantiana, é


p re c iso a s s in a la r a s ig n ific a ç ã o d a interpretação kantiana (q u e c o m u m e n te se a trib u i
a K a n t), e q u e é o re s íd u o v iv o d o k a n tis m o . A m e ta fís ic a é o e s tu d o d o p ro b le m a
d o c o n h e c im e n to , o u d a s c o n d iç õ e s e lim ites d o c o n h e c im e n to . C a d a ciên cia e s tu d a
u m fr a g m e n to d o re a l, n e n h u m a e s tu d a o p ró p r io e stu d o : a m e ta fís ic a te m p o r o b je ­
to a própria ciência enquanto conhece. E s ta d e fin iç ã o m u ito g e ra lm e n te a d m itid a
h o je e m d ia o p õ e -s e à d e fin iç ã o a n tig a : e s tu d o d o ser enquanto ser. N a v e rd a d e , to ­
d a s as d e fin iç õ e s d a m e ta fís ic a g ra v ita m e m to r n o d e sta s d u a s c o n ce p ç õ es a n tité ti­
cas: e stu d o d o ser em si, e s tu d o d o conhecim ento em si (o s d o is p ó lo s d a M e ta físic a ).
M u ito s filó so fo s (os eclético s) fu n d e m e ju s ta p õ e m o s d o is p o n to s d e v is ta , q u e p e r ­
m a n e c e m v e rd a d e ira m e n te d is tin to s . D e f a to , o s m e ta fís ic o s e sfo rç a m -se q u e r p o r
a lc a n ç a r u m a v isã o d e c o n ju n to d o m u n d o , p o r c a p ta r o re a l m a is p e rto d o q u e a
c iê n c ia (p elo m é to d o in tu itiv o — o u d e a n á lise c rític a — o u s im p le sm e n te d e c rític a
d o s d a d o s d a c iên c ia ), q u e r p o r in v e stig a r o s fu n d a m e n to s d o c o n h e c im e n to e d a
a ç ã o . E u a c re s c e n to : d a a ç ã o , p o r q u e n o s n o s s o s d ia s h á te n d ê n c ia p a r a se c o n s titu ir
u m a m etafísica da ação, m a is v a s ta d o q u e a d o c o n h e c im e n to , e eu c re io q u e essa
te n d ê n c ia se a c e n tu a r á c a d a vez m a is. (F. M entré 1911)
Sobre o sentido H . E ste se n tid o a p ro x im a -s e d o s e n tid o C . A p re te n s ã o d a m e ta ­
físic a H é m e n o r d o q u e a d a m e ta fís ic a C , m a s p e rse g u e o m e sm o o b je tiv o , abarcar
o real o mais estreitam ente possível. O s m e ta fís ic o s , n o s e n tid o H , c re em q u e u m a
a b o rd a g e m d ire ta é im p o ssív el e s u b s titu e m -lh e u m a a b o rd a g e m a p ro x im a tiv a , m a s
ta m b é m te n ta m ir a o fu n do das coisas , n a m e d id a d o p o ssív e l, (itf.)
M E T A F ÍS IC A 672

ta d o m e ta fís ic o o u a b s tr a to .’ ' A R e v o lu ­ scientarum , III, 4. C f. N ov. Organum , II,


ção F ran c e sa , d e stru tiv a e a p o ia n d o -se so ­ 9). B a c o n tr a n s f o r m a a ssim o s e n tid o d a
b re u m a Declaração dos direitos do h o ­ f ó r m u la a risto té lic a e esco lástica, d a q u a l
m em , é em p o lític a , se g u n d o C o m te , o ti­ p a rte , se g u n d o o seu m é to d o , e a c a b a p o r
p o d e e s p írito m e ta fís ic o . d a r à p a la v r a u m s e n tid o m u ito p ró x im o
de C.
C R ÍT IC A
b . N o s éc u lo X V III , e n a e sc o la d o s
1. D e ix a m o s d e la d o , n a e n u m e r a ç ã o Id e ó lo g o s , m e ta fís ic a d e s ig n a fr e q ü e n te ­
a c im a fe ita , d o is sen tid o s q u e h o je e m d ia m e n te a c iên cia d o e sp írito , d a s id éias, d a
j á n ã o c irc u la m , m a s q u e n ã o d e ix a ra m s u a o rig e m , p o r o p o s iç ã o à física.
d e te r in flu ê n c ia so b re a s acep çõ es tã o v a ­ E s te s e n tid o é p ro v a v e lm e n te u m a
ria d a s q u e e sta p a la v r a re c e b e n a lin g u a ­ c o n se q u ê n c ia d e f o r m a d a d a d e fin iç ã o de
g em c o n te m p o râ n e a . BÃè è Z E (v er a c im a ), p a r a q u e m o o b je ­
I

a . P a r a B τ T Ã Ç , a m etafísica c o n sis ­ to d a m e ta fís ic a é o imaterial. T a lv e z ,


te n o c o n h ecim en to d as cau sa s fin ais e d as c o n tu d o , s e ja m a is a n tig o . L ê-se n a L ó ­
c a u s a s fo r m a is , q u e r d iz e r, d o s “ p ro c e s ­ gica d e P Ã 2 - R Ã à τ Â : “ N ã o h á n a d a d e
I

so s la te n te s ” e d o s “ e s q u e m a tis m o s la ­ m ais c o n s id e rá v e l n a m e ta fís ic a d o q u e a


te n te s ” q u e c o n stitu e m a essê n cia d o s fe ­ o rig e m d a s n o ssas id é ia s, a s e p a ra ç ã o d as
n ô m e n o s , a q u ilo q u e eles s ã o “ in o rd in e idéias e sp iritu a is e d a s im a g e n s c o rp o ra is ,
a d u n iv e rs u m ” , p o r o p o s iç ã o a o a sp e c to a d is tin ç ã o d a a lm a e d o c o r p o e a s p r o ­
s o b o q u a l a p a re c e m a o s n o s so s se n tid o s. vas d a s u a im o r ta lid a d e ” , etc. 2? D is c u r­
O p õ e -se k física, q u e c o n h ec e c a u sa s m a ­ so p r e lim in a r , 19.
te ria is e e fic ie n te s , sem s a b e r p o r q u e es­ V o l t a i r e escreveu , n o seu Dicionário
sas c a u s a s p ro d u z e m e ste o u a q u e le e fe i­ filosófico, a p r o p ó s i t o d a p a la v r a M e t a ­

to sen sív el (De dignitate e t augm entis f í s i c a : “Trans naturam , p ara a lé m d a

Sobre o sentido positivista. C. H ém o n c o m u n ic o u -n o s os te x to s seg u in tes de


SZ Â Â à P 2 Z á Ã OO 7 E: “ É m e ta fís ic o to d o d a d o re c o n h e c id o c o m o in acessív el q u e r
a o s s e n tid o s, q u e r à c o n sc iê n c ia , q u e r à o b s e rv a ç ã o e x te rn a . E s ta re g ra a tr ib u i, ao
m e sm o te m p o , o seu o b je to às ciên cias p o s itiv a s: u m a c iên c ia só é p o s itiv a c o m a
c o n d iç ã o d e v is a r a p e n a s r e la ç õ e s .” E m L es causes fin a les, p o r S Z Â Â à P 2 Z á Ã O O 7 E

e C h. R « T 7 E , p . 174. “ F u n d o e sta d is tin ç ã o b á s ic a , irre d u tív e l, e n tr e o o b je to m e ­


I

ta fís ic o e o o b je to c ie n tífic o , s o b re o f a to fa c ilm e n te c o n s ta tá v e l d e q u e q u a lq u e r


p ro p o s iç ã o q u e fo r m u le n o e s p írito h u m a n o u m a re la ç ã o e n tre o p rim e ir o e o s e g u n ­
d o é c o n tr a d itó r ia .” C a r ta in é d ita , e m C . H é O Ã Ç , L a philosophie de Sully P rud­
h o m m e, p . 53. “ A ú n ic a m e ta fís ic a q u e h á n o ser é o in c o n ce b ív e l. A m e ta fís ic a c o ­
m e ç a o n d e a c la re z a a c a b a .” S Z Â Â à P 2 Z á Ã O O 7 E , Q ue sais-je?, p . 51.
Sobre a acepção pejorativa d e “M etafísica” . J á n o s H u m a n is ta s e n o s seu s s u ­
cesso res, e m p a r tic u la r n o s filó so fo s c ie n tífic o s d o s éc u lo X V II, a p a la v r a M e ta fís ic a
é to m a d a n u m s e n tid o p e jo ra tiv o e serv e p a r a e s tig m a tiz a r n a e sc o lá stic a u m a v a z ia
lo g o m a q u ia ; d a í a a ss o c ia ç ã o a o s a d je tiv o s abstruso, absurdo, e tc . O s filó s o fo s n ã o
p re te n d ia m c o n tu d o n e g a r e sta d is c ip lin a , e n q u a n to d o u tr in a d o s c o n c e ito s u n iv e r­
sais; m a s p re fe riria m c h a m á - l a “ filo s o fia p r im e ir a ” . A ssim fez m u ita s vezes D e s c a r­
te s , a in d a q u e te n h a re c o n h e c id o em su as M editações u m c a r á te r “ m e ta fís ic o ” . M as
n o Discurso do m éto d o ele d e sc u lp a -s e p e lo f a to d e su as c o n sid e ra ç õ e s se re m “ tã o
m e ta físic a s e tã o p o u c o c o m u n s ” (IV , I ) , e, n u m a Carta à princesa Elizabeth, ele
d e c la ra q u e g a s to u “ só m u ito p o u c a s h o ra s p o r a n o c o m a s c o isa s q u e o c u p a m a p e ­
n a s o e n te n d im e n to ” (ed. C o u sin , IX , 131). O m e sm o se p a ssa co m H Ãζ ζ E è : “ ... ple-
673 M E T A F ÍS IC A

n a tu r e z a . M as o q u e e s tá a lém d a n a tu ­ ciências morais, I I I , 517). “Física: d e s ­


re z a se rá a lg u m a c o isa ? P o r n a tu re z a , c riç ã o d a s p ro p r ie d a d e s d o s c o rp o s c o n ­
e n te n d e -s e , p o is , matéria ; é m e ta fís ic o s id e ra d o s c o m o in sen sív eis; metafísica:
a q u ilo q u e n ã o é m a té ria . P o r e x e m p lo , d e sc riç ã o d a g e ra ç ã o e d a s leis d a in te li­
o v o s so ra c io c ín io q u e n ã o é n e m c o m ­ g ê n c ia e d a v o n ta d e .” S t e n d h a l , Car­
p r id o , n e m la rg o , n e m a lto , n e m s ó lid o , tas íntim as, X X I I . “ T h e p h ilo s o p h y o f
n e m p o n tia g u d o ; a v o s s a a lm a , p o r v ó s m in d , P sychology o r M etaphysics in th e
d e sc o n h e c id a , q u e p r o d u z o v o s so ra c io ­ w id e st sig n ifíc a tió n o f th e te rm , is th re e -
c ín io ; o s e s p ír ito s ...; a m a té r ia q u e esses f o l d . . . ” 1 H a m i l t o n , Lectures on M e ­
e sp írito s s e n te m ...; fin a lm e n te , D e u s ...; taphysics, V II, t. I, 121.
s ã o esses o s o b je to s d a m e ta f ís ic a .” (O 2° À te o ria d o s p rin cíp io s d e q u a lq u er
a rtig o , d iscretam en te irô n ico , te rm in a p o r a rte , c iê n c ia , d e q u a lq u e r p rá tic a , e n ­
u m a o p o s iç ã o e n tr e as a b s tra ç õ e s m e ta ­ q u a n to e ste s p rin c íp io s e s tã o in s c rito s n a
físic as, q u e s ã o “ o ro m a n c e d a n a tu r e ­ n a tu r e z a e n a s leis fu n d a m e n ta is d o e sp í­
z a ” , e as a b s tra ç õ e s m a te m á tic a s e x tra í­ r ito . “ N e w to n ... e ra u m filó s o fo g ra n d e
d a s d a re a lid a d e e v e rific á v eis n a e x p e ­ d e m a is p a r a n ã o se n tir q u e ela (a m e ta fí­
riê n c ia .) C o n d i l l a c o p õ e m u ita s vezes a sica) é a b a s e d o s n o sso s c o n h e c im e n to s
“ b o a m e ta físic a ” (a s u a p r ó p r ia te o ria d a e q u e só n e la é p reciso p r o c u r a r as n o çõ es
o rig e m d a s id éias e d o s p rin c íp io s d o c o ­ n ítid a s e e x a ta s d e t u d o .” D ’ A l e m b e r t ,
n h e c im e n to ) à “ m á m e ta fís ic a ” d o s f iló ­ Discurso prelim inar da Enciclopédia , §
s o fo s a n te r io re s (Ensaio sobre a origem 116. “ L o e k e ... c rio u a m e ta físic a .” Ibid.,
dos conhecimentos hum anos, in tr o d ., § 117; c f. § 3 9 , 7 1 , 7 3-74, 113. N o c o rp o
2 ss.; Lógica, p a r te I I , c a p . IV , e tc .). E s ­ d a o b ra , diz: “ A m e ta física é a ciência das
t a p a la v r a a p lic a -se , p o r c o n se q iiê n c ia : ra z õ e s d a s c o isa s. T u d o te m a s u a m e ta ­
1? A o c o n h e c im e n to d o e sp írito : física e a s u a p r á tic a ... In te rr o g a i u m
“ A a n tig a m e ta fís ic a te o ló g ic a , o u a
m e ta fís ic a p ro p r ia m e n te d ita , e a m o d e r­
1. “ A filosofia d o espírito, a Psicologia ou a M e­
n a m e ta fís ic a filo só fic a , o u id e o lo g ia ...” tafísica, n o sentido m ais am plo deste term o, é tri­
(D e s t u t t d e T r a c y , M em . d a A c a d . das p la ...”

ro sq u e q u i s u b tilita te m q u a m d a m m e ta p h y sic a m a ffe c ta n t, v e rb o ru m specie ta n q u a m


ig n e f a tu o d e v ia r i” (D ecorpore, 2? p a r te , 8, § 9). N o Leviathan (4? p a r te , c a p . 4 6 ),
ele a s s in a la o e r r o d o s c o m e n ta d o re s d e A ris tó te le s , q u e fez to m a r o s liv ro s “ q u e
seg u em a F ís ic a ” p o r liv ro s “ s o b re a c iên c ia d o s o b r e n a tu r a l” ; e to d o o c a p ítu lo
é c o n s a g ra d o à c rític a d e s ta v ã e o b s c u r a filo s o fía . E s p i n o s a a p lic a ig u a lm e n te o
te r m o M etafísica a u m a filo s o fia a n tic ie n tífic a , te ís ta e te o ló g ic a . D e s ta d e p re c ia ç ã o
re s u lta fin a lm e n te o d e sp re z o e m q u e a filo s o fia c aiu n o sécu lo X V I I I . (F. Tônnies)
F i c h t e e H e g e l to m a m n o rm a lm e n te M etafísica n o m a u s e n tid o . P a r a eles e s ta

p a la v r a d e sig n a o siste m a d e W o lf f , o d o g m a tis m o o n to ló g ic o e sem c rític a a o q u a l


este ú ltim o o p õ e p re c is a m e n te a s u a “ D ia lé tic a ” . (R en é Berthelot)
N ã o o b s ta n te o u s o p o r vezes m u ito fa v o rá v e l q u e D ’A le m b e rt fa z d a p a la v r a
m e ta fís ic a , ta m b é m a c a b a p o r to m á - la n u m s e n tid o p e jo ra tiv o : “ N ã o n o s d ev em o s
a d m ir a r ” , d iz ele p o r e x e m p lo , “ se a q u e le s a q u e c h a m a m o s m e ta fís ic o s n ã o fa z e m
c a s o u n s d o s o u tr o s . N ã o d u v id o n a d a d e q u e este títu lo s e ja d a q u i a p o u c o u m a
in jú r ia p a r a o s n o sso s b o n s e sp írito s, c o m o o n o m e sofista, q u e to d a v ia sig n ificav a sá ­
b io , a v ilta d o n a G ré cia p o r aq u eles q u e o u s a v a m , fo i re je ita d o pelo s v e rd a d eiro s filó ­
s o f o s .” Discurso preliminar, 117. P a re c e q u e , d e f a to , n o século X V III , a a cep ção p e­
jo ra tiv a foi d o m in a n te : v er a trá s o tre c h o de V o l t a i r e , n o q u al p o d e ría m o s d esta-
M E T A F ÍS IC A 674

p in to r , u m p o e ta , u m m ú s ic o , u m geó­ u m a só d a s c a ra c te rís tic a s em q u e s tã o .


m e tr a , e fo r ç á - lo s - e is a d a r c o n t a d a s s u a s E sp ecializo u -se a ssim , p o r irra d ia ç ã o , em
o p e r a ç õ e s , q u e r d iz e r , a c h e g a r à m e t a f í­ f o r m a s a lg u m a s vezes a n tité tíe a s : c o n h e ­
s ic a d a s u a a r t e .” ( 4 4 0 , s u b V o .) C a r n o t c im e n to d a s co isas em si; c o n h e c im e n to
t o m o u a p a la v r a n o m e s m o s e n tid o n o tí­ d o esp írito ; c o n h ec im e n to apriori; c o n h e ­
tu lo da su a Metafísica do cálculo infini­ c im e n to a b s tr a to ; c o n h e c im e n to te ó ric o ;
tesimal (1797). c o n h e c im e n to sem p re s s u p o s to s ; sín tese
Se se a p r o x im a r este s e n tid o d a s in ­ geral, etc. E stes sen tid o s tê m assim em c o ­
te n ç õ e s c rític a s d e fin id a s p o r L o c k e n o m u m a p e n a s a re c o r d a ç ã o d a te o ria q u e
in íc io d o Ensaio sobre o entendim ento os u n ia .
hum ano, p o d e -se v er a í u m e n c a m in h a ­ P o r o u tr o la d o , a p a la v r a m e ta fís ic a
m e n to p a r a o s e n tid o k a n tia n o . d e s e m p e n h o u o p a p e l d e u m a d iv isã o p e ­
2, É d u v id o s o q u e se p o s s a q u e r re ­ d a g ó g ic a d a filo s o fia , e , a e ste títu lo , d e ­
d u z ir à u n id a d e o s d ife re n te s s e n tid o s d a sig n o u co letiv am en te tu d o a q u ilo q u e n ã o
p a la v r a m e ta fís ic a , q u e r c o n c o r d a r em e n tra v a n o u tr a s seções. S a b e m o s q u e , p a ­
d a r p re fe rê n c ia a u m d eles. r a a e sc o la e clé tic a , as p a r te s d a filo s o fia
O p o n to d e p a rtid a s em ân tico d o s sen ­ e ra m a p sic o lo g ia , a ló g ic a , a m o ra l e a
tid o s m o d e rn o s d e s ta p a la v r a p a re c e ser te o d ic é ia (v er, p o r e x e m p lo , o M anual de
a n o ç ã o c o m p le x a de u m a c iên c ia id e a l filo so fia d e A m é d é e J a c q u e s , J u le s Si-
q u e a p re s e n ta ria as seg u in te s c a r a c te rís ­ m o n e É m ile S a i s s e t ) . M a s a T e o d ic é ia
tic a s: ser o b r a d a R a z ã o , n ã o d a re v e la ­ fo i s u b stitu íd a p e la “ M eta físic a ” n o s p ro ­
ç ã o n e m d a e x p e riê n c ia ; d e s c o b rir as re ­ g ra m a s d e 1880. N e sta f u n ç ã o , re c e b e u
g ra s fu n d a m e n ta is d o p e n s a m e n to e p o r a in d a d e fin iç õ e s m u ito d ife re n te s . P a r a
c o n se g u in te c o n s titu ir o c o n ju n to d o s P a u l J a n e t (Curso de filosofia, 1882), é
p rin c íp io s d e to d a s as o u tr a s c iê n c ia s, a c iên c ia d o s p rim e iro s p rin c íp io s e d a s
q u e r físic as, q u e r m o ra is ; fo rn e c e r o f u n ­ p rim e ira s c a u s a s ($ tX o u o ç n a x q ú t t i ,
d a m e n to d a c e rte z a q u e re c o n h e c e m o s a <pikoao<píoi ÇtjTOVfiévq d e A R I S T Ó T E L E S ,
e s ta s ; c o n h e c e r o re a l ta l c o m o ele é , n ã o M etafísica , I, 2; 982b10); d iv id e-se “ em
a s a p a r ê n c ia s , e p o r c o n s e q ü ê n c ia d iz e r d u a s p a rte s : 1? a m e ta fís ic a g e ra l o u o n ­
a ú ltim a p a la v r a so b re a s c o isa s. to lo g ia , q u e t r a t a d o s p rin c íp io s d e u m a
O r a , te n d o s id o essas c a ra c te rís tic a s m a n e ira a b s tr a ta e g e ra l, e q u e c o n s id e ­
p o s te rio rm e n te d is so c ia d a s u m a s d a s o u ­ r a , s e g u n d o a e x p re ss ã o d e A ris tó te le s , o
tra s , e certas d e n tre elas te n d o a té sid o ju l­ ser e n q u a n to ser; 2? a m e ta físic a esp ecial,
g ad as in co m p atív eis p o r m u ito s filó so fo s, q u e t r a t a d o s seres e se d iv id e e m trê s p a r ­
a c o n te c e q u e o te r m o metafísica fo i a p li­ te s: a) a p s ic o lo g ia r a c io n a l o u c iên c ia d a
c a d o s e p a ra d a m e n te a o s d iv erso s e stu d o s a lm a ; b ) a c o sm o lo g ia ra c io n a l o u filo ­
q u e a p e n a s r e tin h a m u m a p a r te , o u a té s o fia d a n a tu r e z a , te o r ia d o m u n d o em

c a r u m g r a n d e n ú m e r o d e p a ss a g e n s a in d a m ais p e jo ra tiv a s p a r a o s m e ta fís ic o s (cf.


a tá b u a a n a lític a d a e d iç ã o B e u c h o t, sub Verbis). A a c a d e m ia d e u lu g a r n o seu D i­
cionário, e m 1798, a o v e rb o Metafisicar, c u jo te o r e r a n itid a m e n te p e jo ra tiv o . (V er
Darm. H atz. e Thomas, V o). N o s éc u lo X IX , a p a la v r a s o fre u a in d a d u a s g ra n d e s
in flu ên c ia s: a d o p o sitiv ism o , c o n tin u a d a p elo e v o lu cio n ism o a g n o stic ista ; e a d o p r ó ­
p r io c ritic is m o , q u e , n ã o o b s ta n te a u tiliz a ç ã o q u e K a n t fez d e ste te r m o , a tu o u s o ­
b r e tu d o p e la s u a n e g a ç ã o d a p s ic o lo g ia ra c io n a l, d a c o sm o lo g ia ra c io n a l e d a te o d i­
céia, q u e r d iz e r , p e la c o n d e n a ç ã o s o le n e d a q u ilo q u e a té a í se tin h a c h a m a d o M e ta fí­
sica. C f. L i a r d , La Science positive et Ia métaphisique, 2? p a r te , c a p . X I I , e 3? p a r ­
te , c a p . I. (A . L .)
675 M E T A F ÍS IC O

g e ra i, d a e ssê n c ia d a m a té r ia ; c) a te o lo ­ filó so fo s, essa tra d iç ã o c o n stitu i m ais um


g ia ra c io n a l o u te o d ic é ia ” . (E sta s s u b d i­ o b s tá c u lo à p o s s ib ilid a d e d e lh e a tr ib u ir
v isõ es sã o d e W Ã Â E E , a d o ta d a s p o r u m s e n tid o q u e p o s sa ser c o m u m e n te
Kτ ÇI n a s u a c rític a d a m e ta fís ic a d o g ­ a c e ito .
m á tic a .) À s d u a s g ra n d e s d iv isõ es tr a d i­ R ad. int. : M e ta fiz ik .
c io n a is , P a u l J τ ÇE I a c re s c e n ta u m a te r ­
M E T A F ÍS IC O D . M etaphysisch; E .
c e ira : a m e ta fís ic a c rític a . “ A m e ta fís i­
c a , d e p o is d e K a n t, p r o p ô s u m p ro b le m a M etaphysic, metaphysical·, F . M étaphy­
n o v o : o d a s re la ç õ e s d o s u je ito e d o o b ­ sique ; I . M etafísico.
je to , d o p e n s a m e n to e d o ser. É e s ta a A . E m ra z ã o d a h is tó r ia d e sta p a la ­
q u e s tã o fu n d a m e n ta l d a m e ta fís ic a d o v ra (v er o a rtig o p re c e d e n te ) e m p re g a -se
n o s s o s é c u lo .” Ibid. N o seu Curso ele­ e m se n tid o s m u ito v a ria d o s , e m q u e d o ­
m entar d e f ilo s o fía , E m . Bë 2 τ T a d o ta m in a a id é ia d e u m a o r d e m d e c o n h e c i­
ig u a lm e n te a d e fin iç ã o d e A ris tó te le s e m e n to s o u d e re a lid a d e s q u e se o p õ e às
m e n c io n a a d e fin iç ã o q u e fa z d a m e ta f í­ c o isa s sen sív e is, e à s re p re s e n ta ç õ e s n a ­
sic a a ciência do absoluto. C o n s id e ra -a , tu r a is q u e fa z o se n so c o m u m : “ N ã o sei
a liá s , c o m o e q u iv a le n te à p rim e ira e a d ­ se v o s c o m u n iq u e i as p rim e ir a s m e d ita ­
m ite n e s ta c iê n c ia trê s d iv isõ e s: “ T e o ria çõ es q u e fiz (n a H o la n d a ) , p o r q u e elas
d o c o n h e c im e n to , te o ria d o ser, te o ria d o sã o tã o m e ta fís ic a s e tã o p o u c o c o m u n s
p rim e iro p rin c íp io d o c o n h e c im e n to e d o q u e n ã o a g r a d a r ã o a to d a g e n te .” D e s ­
ser (o a b s o lu to , D e u s). A p rim e ira é a crí­ c a r t e s , M é to d o , IV , 1 .

tica, a s e g u n d a a ontologia, a te rc e ir a é Especialm ente :


a teologia, o u , n o m e tir a d o d a o b r a de B . Q u e c o n stitu i o u q u e é re la tiv o a o s
L e ib n iz , a teodicéia...” Curso, 397. seres ta l c o m o eles são n a s u a n a tu re z a
É fin a lm e n te n e c e ssá rio n o ta r q u e , a p r ó p r ia , p o r o p o s iç ã o à s u a a p a rê n c ia .
p a r tir d o séc u lo X V II, e n c o n tr a m o s e sta V er M etafísica , C .
p a la v r a to m a d a n u m m a u s e n tid o , e q u e C . Q u e c o n stitu i o u q u e se refere a u m
e sta u tiliz a çã o p e jo ra tiv a fo i m u ito d iv u l­ e le v a d o g r a u d e sín tese d e c o n h e c im e n ­
g a d a n o séc u lo X V III e X IX . N ã o o b s ­ to s p a rtic u la re s . V er M etafísica, H .
ta n te o m o v im e n to q u e re a b ilito u d e n o ­ D . N a e sc o la d o s Id e ó lo g o s * , p s ic o ­
v o a p a la v r a h á j á a lg u n s a n o s e n tre o s ló g ic o , m e n ta l.

S o b r e M e ta fís ic o — R e n é M aublanc a s s in a lo u -n o s q u e , s e g u n d o E n g e ls, o s e n ti­


d o d o a d je tiv o m etafísico a d o ta d o n o m a rx is m o (s e n tid o G ) v em d e H e g e l: “ O a n ti­
g o m é to d o d e in v e stig a ç ã o e d e p e n s a m e n to a q u e H e g e l c h a m a o m é to d o m e ta fís ic o
e q u e d e p re fe rê n c ia se o c u p a v a d o e s tu d o d a s coisas c o n s id e ra d a s e n q u a n to o b je to s
fix o s d a d o s ...” F r . E Ç; E Â è , L u d w ig Feuerbach e o f i m da filo so fia clássica alemã,
r e p ro d u z id o e m M τ 2 7 e E Ç; E Â è , E studos filo só fico s, P a r is , e d . S o ciais, 1935,
p . 5 0 . D a m e sm a m a n e ira p . 29: “ A s e g u n d a e stre ite z a e sp e c ífic a d e s te m a te ria lism o
(o d o s éc u lo X V III) c o n sis tia n a s u a in c a p a c id a d e p a r a c o n s id e ra r o m u n d o e n q u a n ­
to p ro c e ss o , e n q u a n to m a té ria e n v o lv id a n u m d e s e n v o lv im e n to h is tó r ic o . Isso c o r ­
re s p o n d ia a o n ív el q u e , n a é p o c a , tin h a m a tin g id o a s ciên cias n a tu r a is , e à m a n e ira
m e ta fís ic a , q u e r d iz e r , a n tid ia lé tic a d e f ilo s o f a r q u e d e la r e s u lta v a .” C f . a m esm a
p .: “ a c o n c e p ç ã o n ã o h is tó r ic a ” , e p . 30: “ e sta c o n c e p ç ã o a n ti- h is tó r ic a ” .
V er ta m b é m L E Ç« Ç , M aterialism o e em piriocriticism o (p . 225): “ A a d m is sã o d e
q u a is q u e r e le m e n to s im u tá v e is, d a ‘essê n cia im u tá v e l d a s c o is a s ’ n ã o c o n s titu i o v e r­
d a d e ir o m a te ria lis m o : tr a ta - s e a p e n a s d e m a te ria lis m o m etafísico, q u e r d iz e r, a n ti-
d ia lé tic o .”
M E T A G E O M E T R IA 676

E . E m Kτ ÇI , c o n stitu tiv o d o co n h e ­ M E T A L Ó G IC A D. Metalogisch; E.


cim en to , o u d o ju íz o m o ra i, a p rio ri, e Metalogical; F. Métalogique; I. Metalogico.
n ã o d e riv a d o d a ex periência. V er M eta ­ A . P o r a n a lo g ia c o m m e ta fís ic a , n o s
fís ic a , G , e Transcendental. s e n tid o s F e G : q u e d iz re s p e ito ao s
F . E m A u g . C ÃOI E : q u e p e rte n c e a o p rin c íp io s * o u a o s f u n d a m e n to s * d a L ó ­
m o d o d e p e n s a m e n to c rític o e tr a n s itó ­ g ica.
rio , in te rm e d iá rio e n tre “ o e s ta d o te o ló ­ B . Q u e u ltr a p a s s a a L ó g ic a ; q u e n ã o
g ic o ” e “ o e s ta d o p o s itiv o ” d o p e n s a ­ p o d e ser e x p re sso n o in te r io r de u m f o r ­
m e n to . V er M etafísica, I. m a lis m o ló g ic o . N ã o se diz d a q u ilo q u e
G . N o m a rx is m o : im u tá v e l, a n ti- é c o m p le ta m e n te e s tr a n h o à ló g ica, c o m o
h istó ric o . O p o s to à “ d ia lé tic a ” . Ver Dia­ a in tu iç ã o o u o c o n h e c im e n to m ís tic o ,
lética, C , e c f. as o b s e rv a ç õ e s . m a s d a q u ilo q u e a ela se re fe re n ã o e s ­
ta n d o n e la in c lu íd o .
M E T A G E O M E T R I A D . M etageo-
m etrie, a lg u m a s vezes M eta m a th em a tik ; “ M E T A M A T E M Á T IC A ” (a d j. e
E . M etageom etry ; F . M étageom étríe; L su b st.) T e r m o u tiliz a d o p o r L H E 2 -
M etageom etria. ζ 2 τ Çá (Investigações sobre a teoria da
A . T o d a g e o m e tria m a is g e ra l d o q u e dem onstração, tese, 1930) p a r a d e sig n a r
a g e o m e tria e u c lid ia n a , m a s ta l q u e e s ta a te o ria d a s p ro p rie d a d e s g erais e fo rm a is
p o s s a ser c o n s id e ra d a u m seu “ c a s o p a r ­ d o s s iste m a s d e d u tiv o s (n ú m e ro m ín im o
tic u la r ” . d e a x io m as) (p rin cíp io s), n ã o -c o n tra d iç ã o
1? G e o m e tr ia d e n d im e n s õ e s . d o s a x io m a s , e q u iv a lê n c ia e n tre siste m a s
2? G e o m e tria s q u e re je ita m o p o s tu ­ d iv e rs o s , p o s s ib ilid a d e o u im p o s s ib ilid a ­
la d o d e E u c lid e s , e q u e c o n s id e ra m p o r d e d e d e m o n s tr a r d e te r m in a d a p r o p o s i­
c o n s e q u ê n c ia o c a s o e m q u e a s o m a d o s ç ã o n u m siste m a d a d o , e tc . (S)
â n g u lo s d e u m triâ n g u lo é ig u a l a d o is re ­
1. M E T A M O R A L (sem e q u iv a le n te s
to s c o m o o c a s o lim ite d e u m a d a s f ó r ­
em D . E . I .) . F . M étam oral.
m u la s :
Q u e d iz re s p e ito a o s p rin c íp io s* p r i­
S ^ 2 re t. o u S ^ 2 re t.
m e iro s o u a o s f u n d a m e n to s * d a m o ra l,
B . N u m sen tid o a in d a m ais a m p lo , to ­
p o r o p o s iç ã o a o e stu d o d a s re g ra s m o ra is
d a g e o m etria em q u e se m o d ifiq u e u m d o s
ta is c o m o s ã o a p lic a d a s n u m a a ç ã o c o n ­
a x io m a s fu n d a m e n ta is d a g e o m e tria clás­
s id e r a d a le g ítim a o u d ig n a d e e lo g io .
sica (p o r ex em p lo , a g e o m e tria n ã o a rq u i-
m e d ia n a ; cf. H « Â ζ E 2 I , Princ. d e la geo- 2. M E T A M O R A L (s u b s t.) F . M éta-
m étrie, tr a d . f r a n c . L a u g e l, p . 32). morale.
R ad. int.·. M e ta g e o m e tri, T e rm o c ria d o p o r L. L@âà -B2 Z 7 Â ,e

S o b re M e ta g e o m e tria — A rtig o c o m p le ta d o se g u n d o a s o b serv açõ es de M . Winter.

S o b re M e ta ló g ic a — O títu lo d a im p o r ta n te o b r a d e J o h n d e S a lis b u ry , M eta lo -


gicus, e s c rita em 1159, s ig n ific a “ D e fe s a d a ló g ic a ” . O a u to r , a in d a q u e te n h a d a d o
u m títu lo g re g o à s u a o b r a , c o n h e c ia a p e n a s a lg u m a s p a la v ra s d e s s a lín g u a . ( C . C.
J. W ebb)
ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 c h a m a m etologisch à v erd ad e q u e re p o u sa im e d ia ta m e n te so b re
a c o n stitu iç ã o d o e sp írito . É esse o caso , seg u n d o ele, dos q u a tro p rin c íp io s essen­
ciais de q u a lq u e r racio cín io : o d e id e n tid a d e , d e c o n tra d iç ã o (c o n tra rie d a d e ), d o te r ­
ceiro excluído e d a razão suficiente. Da quádrupla raiz da razão suficiente, cap. V, § 33.

S o b re M é ta m o ra l (2) — A u tiliz a ç ã o d e s ta p a la v r a s u p õ e u m a p o s iç ã o d e d o u tr i­
n a , e n ã o é a c e ita p o r to d o s a q u e le s p a r a q u e m a m o r a l já n ã o é a m o ra l se se s e p a ra r
a te o ria d o s seus fu n d a m e n to s . (M . Drouiri)
677 M E T E M P ÍR IC O

q u e se to r n o u m u ito u s u a l p a r a d e sig n a r e x istê n c ia a té é c o n te s ta d a , ta is c o m o a


“ tu d o o q u e é tr a n s e e n d e n te e m re la ç ã o te le p a tia , a a d iv in h a ç ã o , etc.
à re a lid a d e m o r a l d a d a , e n e ce ssá rio à in ­ R ad. int.: M e ta p s ik a l,
teligib ilid ad e d essa re a lid a d e ’’. L a morale
M E T E M P Í R I C O D . M etem pirisch;
et la science des m oeurs, 1903.
E . M etempirical ; F . M étempirique; I. Me-
M E T A P S ÍQ U IC O D . Metapsychisch; t em pírico.
E . M etapsychic, n o s e n tid o B , Psychical·, T e rm o c ria d o p o r G . H . L e w e s (P ro-
F . M etapsychique·, I. M etapsichico. blem s o f L ife and M ind, 1873). Q u e n ã o
D iz-se d o s f e n ô m e n o s d e o rd e m m e n ­ p o d e ser o b je to d e e x p e riê n c ia , p o r q u a l­
ta l q u e se c o n s id e ra q u e m a n ife s ta m f a ­ q u e r ra z ã o q u e seja , e q u e , p o r co n seg u in ­
c u ld a d e s a in d a p o u c o c o n h e c id a s o u c u ja te , n ã o re le v a d a c iê n c ia p o s itiv a : o b je to

S o b re M e ta p s íq u ic o — D e p o is d a p u b lic a ç ã o d o fa s c íc u lo d o Vocabulário q u e
c o n tin h a e ste te rm o (1 911), este re c e b e u u m a g r a n d e p o p u la r id a d e n o Traité de m e­
tapsychique, p u b lic a d o p o r C h . R ic h e t (1922); e , p o r c o n s e g u in te , a o u tr a a c e p ç ã o
q u e eu a ssin a le i e n tã o (a q u ilo q u e , n o e s p írito , n ã o é d e n a tu r e z a a ser c a p ta d o p e la
o b s e rv a ç ã o ) p a re c e d e f a to c o m p le ta m e n te c a íd a em d e s u s o . C f. c o n tu d o Parapsi-
quico q u e p a re c e m e lh o r c o n s titu íd o .
O D icionário d e B a l d w i n ( I I , 668 B ), a liá s sem re fe rê n c ia , in d ic a q u e a p a la v r a
M etapsychosis fo i p r o p o s ta e sp e c ia lm e n te p a r a d e s ig n a r o e s ta d o m e n ta l d o perce-
p ie n te n o s f e n ô m e n o s te le p á tic o s . M a s , c o m o o b s e rv o u J. Lachelier n e ss a a ltu r a , e la
p a re c e n e ste c a s o s ig n ific a r tr a n s f e r ê n c ia d e c o n sc iê n c ia , e , p o r c o n s e q ü ê n c ia , é f o r ­
m a d a co m u m a in te n ç ã o c o m p le ta m e n te d ife re n te d e m etapsíquico.
E s ta p a la v r a p o d e ta m b é m a p lic a r-s e à q u ilo q u e , c o n s e rv a n d o as c a ra c te rís tic a s
d o fa to p síq u ic o , a p re s e n ta certas c a ra c te rístic a s a m ais: p o r e x em p lo , a u n id a d e tr a n s ­
c e n d e n ta l d a a p e rc e p ç ã o e m K a n t. ( G , D w elshauvers )
O m etapsíquico é a p e n a s u m a esp écie d e q u e m etem pírico, n o s e n tid o d e L ew es,
é o g ê n e ro . Se se c o n s e rv a r e s ta p a la v r a , n ã o s e rá n e c e s sá rio c ria r te r m o s c o rre s p o n ­
d e n te s p a ra to d a s a s o u tr a s d isc ip lin a s? (L . Boisse)
“ S o b re o te rm o m e ta p síq u ic o , q u e C h a rle s R ich et in v e n to u o u re in v e n to u — , p o r­
q u e p a re c e q u e V . L u to sla w sk i j á o tin h a u tiliz a d o n o m e sm o s e n tid o — p o d e r-s e -ia
d is c u tir. L a m e n to , d e m in h a p a r te , q u e e l e n ã o te n h a p re fe rid o Parapsíquico ( p r o ­
p o s to j á h á a lg u n s a n o s p o r B o ira c , salv o e r r o ) , q u e e x p rim e m e lh o r o c a r á te r à p a r ­
te , a n o r m a l, n ã o c l a s s i f i c a d o , p r ó p r io d e ste g ê n e ro d e fe n ô m e n o s . T a m b é m n ã o d e i­
x a d e te r in co n v en ien tes su g erir u m p a ra le lo e n tre o M etapsíquico, q u e p re te n d e to rn a r-
se u m a c iên c ia p o s itiv a , e a M etafísica, q u e , d ig a -se o q u e se d is se r, c o n tin u a r á a
p la n a r a c i m a d e to d a s a s c iên cias p a r tic u la r e s .” T h . F l o u r n o y , A rchives dep sych o -
logie, V , 1906, p . 298. F lo u r n o y a c re s c e n ta , a liá s , q u e , j á q u e e s ta p a la v r a e s tá la n ­
ç a d a , é m a is sim p les a d o tá - la . (Éd. Claparède)

S o b re M e te m p íric o — O v a lo r d e ste te r m o , q u e p o d e e v ita r m u ito s e q u ív o c o s ,


re s u lta d a su a o p o s iç ã o a em pírico, e d a s u a s u b o rd in a ç ã o c o m u m à m etafísica. P a r a
L e w e s (Problem s o f L ife an d M in d , l st series, I, p p . 5, 10, 17, e tc .) , a m e ta fís ic a

é a q u ilo q u e c o m p re e n d e a s g e n e ra liz a ç õ e s ú ltim a s d e q u a lq u e r in v e stig a ç ã o : p o d e


ser e m p íric a o u m e te m p íric a . A m e ta fís ic a e m p íric a é a p a r te q u e e s tá c o m p re e n d id a
a o n ív el d a s c iê n c ia s; a m e ta fís ic a m e te m p íric a d iz re s p e ito à q u ilo q u e e s tá p a r a além
d e q u a lq u e r e x p e riê n c ia p o ssív e l. A p rim e ir a o c u p a -s e d o s o b je to s e d a s s u a s rela-
M E T E M P S IC O S E 678

tra n s c e n d e n te , fo r m a o u m e io n e ce ssá rio d e o n d e , n o s m o d e rn o s, d u a s acepções


d a e x p e riê n c ia ; p re fe rê n c ia o u im p e ra ti­ m u ito p ró x im a s , a in d a q u e p o ssív e is d e
v o m o r a l, e tc . d is tin g u ir.
R ad. in t.i M e te m p irik . 1? C a m in h o p e lo q u a l se c h eg o u a d e ­
te r m in a d o r e s u lta d o , m e sm o q u a n d o e s­
M E T E M P S IC O S E D . Seelenwande- se c a m in h o n ã o fo i p re v ia m en te fix a d o de
rung; M etem psychose ; E . M etem psycho­ u m a m a n e ir a p r e m e d ita d a e r e fle tid a .
sis', F . M étem psychose; I. M etem psicosi. “ C h a m a -s e a q u i o r d e n a r à a ç ã o d o e sp í­
(N ã o o b s ta n te a a n tig iiid a d e d a d o u trin a , rito p e la q u a l, te n d o s o b re u m m e sm o a s ­
a p ró p r ia p a la v r a fie re fi^ X ^ a n [yerá, èfi- s u n to ... d iv e rsa s id é ia s , d iv e rso s ju íz o s ,
ipvxóu] só se e n c o n tra n o s a u to re s d a ép o ­ d iv e rso s ra c io c ín io s, ele o s d isp õ e d a m a ­
c a c ris tã .) n e ir a m a is a d e q u a d a p a r a c o n h e c e r esse
D o u tr in a seg u n d o a q u a l u m a m e sm a a s s u n to . É o q u e ta m b é m se c h a m a m é­
alm a* p o d e a n im a r su cessiv am ente v ário s todo. T u d o isso se fa z n a tu r a lm e n te e a l­
c o rp o s, q u e r h u m a n o s , q u e r an im ais e a té g u m a s v e ie s m e lh o r p o r a q u e le s q u e n ã o
v eg etais. a p re n d e ra m q u a lq u e r re g ra ló g ica d o q u e
R ad. int.·. M e te m p s ik o s . p o r a q u e le s q u e as a p r e n d e r a m . ” Lógica
d e P o r t - R o y a l , in tr o d u ç ã o , 6-7.
M É T O D O G , Méâoôoç; L . M ethodus ; E s ta p a la v r a d iz -se m u ita s vezes, n e s ­
D . M ethodei E . M e th o d ; F . M é th o d e ; I. te s e n tid o , d o s p ro c e ss o s habituais d e u m
M étodo. e sp írito o u d e u m g ru p o d e e sp írito s, p ro ­
A . E tim o ló g ic a m e n te , “ d e m a n d a ” cesso s q u e se p o d e m o b s e r v a r e d e fin ir
(cf. M eTêQxoftou); e, p o r co n seq ü ên cia, es­ p o r in d u ç ã o , q u e r p a ra em seg u id a o s p r a ­
fo r ç o p a r a a tin g ir u m f im , in v e s tig a ç ã o , tic a r m a is s e g u ra m e n te , q u e r p a r a o s c r i­
e s tu d o (ver m a is a d ia n te as o b serv aç õ es); tic a r e m o s tr a r a s u a in v a lid a d e .

çõ es e n q u a n to o s c o n h e c e m o s e e x istem n o n o s so u n iv e rs o ; a s e g u n d a a fa s ta -s e d e sta
re g iã o p a r a c o n s id e ra r u m a o u tr a esp é c ie d e o b je to s , e, n ã o o b s e r v a n d o as c o isa s
ta is c o m o elas s ã o p a r a n ó s , s u b s titu í às c o n tra d iç õ e s id e a is d a c iê n c ia , as c o n s tr u ­
çõ es id eais d a im a g in a ç ã o . (C . R anzoli)

S o b re M e ta p s íq u k o e M e te m p íric o — E s ta s d u a s p a la v r a s f o r a m f o r m a d a s p o r
c o n tra -s e n s o . F o r a m c o n s tr u íd a s a p a r tir d o m o d e lo d e m etafísica. M a s o p re fix o
m eta n e s ta p a la v r a s ig n ific a depois , em seguida, e n ã o para além. V e r a c im a o in íc io
d o a r tig o M etafísica. (J . Lachelier)
S o b re M e te m p s ic o se — N ã o te r á e sta d o u tr in a p o r tra ç o c a r a c te rís tic o a eterni­
dade d a s a lm a s? (L. Boisse) A s d u a s c re n ç a s e s tã o g e ra lm e n te a s s o c ia d a s n a h is tó ria ;
m a s n a d a im p e d e q u e h a j a u m a tra n s m ig r a ç ã o d a s a lm a s fin a lm e n te d e s tin a d a s a
a n iq u ila r-s e o u a a b s o rv e r-s e n u m a re a lid a d e e s p iritu a l n a q u a l p e rd e ss e m a s u a in d i­
v id u a lid a d e . (L . Brunschvicg — A . L .)

S o b re M é to d o — N o s a n tig o s , e sp e c ialm en te e m A 2 « è I ó I E Â E è , μ έ θ ο δ ο ς q u e r fre-


q ü e n te m e n te d iz e r sim p le sm e n te “ in v e s tig a ç ã o ” ; p . e x .: η μ έ θ ο δ ο ί π ε ρ ί φ ύ σ ε ω ς , Fí­
sica, I I I , 1; 2 0 0 b13; e o q u e m ais ta r d e fo i c h a m a d o m éto d o é a í às vezes d e s ig n a d o
ο τ ρ ό π ο ς τ η ς μ ε θ ό δ ο υ ', v e r p . ex . π ε ρ ί ζ ώ ω ν μ ο ρ ί ω ν , I, 5; 6 4 6 a2 e o s o u tr o s e x em ­
p lo s c ita d o s e m BÃÇ« I U , su b V o . Μ έ θ ο δ ο ς é m e s m o u s a d o a lg u m a s v ezes c o m o s in ô ­
n im o d e θ β ω ρ ί α , ε πι σ τ ή μ η ; p . e x ., Física, V II, I;2 5 1 a7 , e tc . C f , P Â τ I ã Ã : “ . . . κ α τ ά
ye τ η ν τ ο ν π ά ν τ α χ ι ν ε ΐ σ θ α ι μ έ θ ο δ ο ν (p e la d o u tr i n a s e g u n d o a q u a l tu d o se m o v e )” .
Teeteto, X X V II, 183 c. (S e g u n d o a s o b s e rv a ç õ e s d e R . E ucken e J. Lachelier)
679 M ÉTO D O

2? P r o g r a m a q u e re g u la a n te c ip a d a ­ A s p a la v ra s metódico, metodicamente
m e n te u m a s e q ü ê n c ia de o p e ra ç õ e s a exe­ s ã o q u a s e s e m p re u s a d a s n e ste s e n tid o , e
c u ta r e q u e a s s in a la c e rto s e rro s a e v ita r, im p lic a m u m a p re c o n c e p ç ã o re fle tid a d o
co m v ísta a a tin g ir u m re s u lta d o d e te rm i­ p la n o a seg u ir.
n a d o . “ C arec e r d e m é to d o . P ro c e d e r co m Especialmente:
m é to d o .” “ C o n s id e ra ç õ e s e m á x im a s de B . P r o c e s s o té c n ic o d e c á lc u lo o u d e
q u e fo rm e i u m m é to d o p e lo q u a l m e p a ­ e x p e rim e n ta ç ã o . “ O m é to d o d o s m e n o ­
re ce q u e p o s s u o u m m e io d e a u m e n ta r re s q u a d r a d o s .” “ O m é to d o d o P o g g e n -
g ra d u a lm e n te o m e u c o n h e c im e n to e de d o r f f (e m p re g o d o e sp e lh o m ó v el p a r a a
elev á-lo p o u c o a p o u c o a o m a is a lto p o n ­ m e d id a d o s â n g u lo s ) .”
to a q u e a m e d io c rid a d e d o m e u e sp írito C . (so b re tu d o e m b o tâ n ic a ). S iste m a
e a c u r ta d u r a ç ã o d a m in h a v id a lh e p o ­ d e classificação : J o h n Rτ à , M eth o d u s
d e r ã o p e rm itir a tin g ir .” D E è Tτ 2 I E è , plantarum nova, 1682.
Discurso d o m é to d o , I, 3. D isse-se m u ita s v e ze s, n e ste s e n tid o ,

N a p rim e ira re d a ç ã o d e ste a r tig o , as c h a n c e s c o n s ta tiv a e n o r m a tiv a d o s e n tid o


A tin h a m sid o d is tin g u id a s c o m o d o is s e n tid o s d ife re n te s , s o b a s r u b r ic a s A e B . E s ­
t a d is tin ç ã o f o i a te n u a d a n a s o b s e rv a ç õ e s d e Beaulavon, Bernès, Brunschvicg, M en -
tré, Van B ièm a. B e a u l a v o n s u b lin h a e sp e c ia lm e n te q u e a p a ss a g e m q u e se seg u e
d a Lógica d e P o r t - R o y a l ( c ita d a n e s ta m e s m a T ed ação ) m a r c a u m a lig a ç ã o e x tre ­
m a m e n te e s tr e ita e n tre essas d u a s a c e p ç õ e s: “ O s h o m e n s p o d e m n o ta r , re fle tin d o
s o b re o s seus p e n s a m e n to s , q u e m é to d o s e g u ira m q u a n d o r a c io c in a r a m c o r r e ta m e n ­
te , q u a l fo i a c a u s a d o s seu s e rro s q u a n d o se e n g a n a r a m , e f o r m a r a ssim re g ra s a
p a r tir d essas re fle x õ e s p a r a n o fu tu r o e v ita r serem s u rp r e e n d id o s .” Lógica de P o r t -
R o y a l , Prim eiro discurso, § 15.

A id é ia d e m é to d o é s e m p re a de um a direção d efinível e regularm ente seguida


n um a operação d o espírito. P o d e u m m é to d o s e r d e te r m in a d o a priori, e , in d e p e n ­
d e n te m e n te d a s u a a p lic a ç ã o , s e r a n te c ip a d a m e n te f o r m u la d o e se rv ir d e p r o g r a m a
a o p e ra ç õ e s q u e só c o m e ç a m d e p o is d e a s re g ra s d o m é to d o se re m fo r m u la d a s ? O u
n ã o te r á q u a lq u e r v a lo r ú til e s ó p o d e s e r d e s c o b e rto n u m a o p e r a ç ã o a fe tiv a , d a q u a l
ele é a p e n a s o e s q u e m a m a is o u m e n o s s im p lific a d o ? T r a ta - s e de u m d e b a te d o u tr i­
n a l m u ito im p o r ta n te , n o q u a l o s te ó ric o s d o c o n h e c im e n to se d iv id e m ; m a s q u e se
re fe re , e m p rin c ip io p e lo m e n o s , m a is à f o r m a ç ã o d a id é ia d e m é to d o d o q u e à s u a
sig n ific a ç ã o .
T o d a v ia , d e ste d e b a te re s u lta m o c a s io n a lm e n te c e rta s d istin ç õ e s n a p r ó p r ia n o ­
ç ã o d e m é to d o ; é assim q u e , s e g u n d o a s e g u n d a d a s d u a s o p in iõ e s in d ic a d a s , u m
m é to d o c o n stitu i u m o b je to re a lm e n te d is tin to d a s su as ap lic aç õ es, e n q u a n to q u e p a ra
a p rim e ir a n ã o p a s s a de u m a a b s tr a ç ã o q u e n ã o p o s s u i, f o r a d a s o p e ra ç õ e s d o p e n s a ­
m e n to , s e n ã o u m a e x istê n c ia p u r a m e n te v e rb a l; p o r c o n s e q ü e n te , n a p rim e ira h ip ó ­
te s e , a d ire ç ã o re g u la r s e g u id a p e lo p e n s a m e n to p o d e d e fín ir-s e in d e p e n d e n te m e n te
d e q u a lq u e r m a té ria ; e n q u a n to n a s e g u n d a e la se re fe re à re la ç ã o d o p e n s a m e n to c o m
c e r ta m a té ria . N o p rim e ir o c a s o , a d e fin iç ã o d a d a m a is a c im a d e m é to d o se rá p o r ­
ta n to s u fic ie n te ; n o s e g u n d o c a s o , c o m p le tá -la -e m o s d iz e n d o o se g u in te : d ire ç ã o r e ­
g u la rm e n te s e g u id a n a o p e r a ç ã o d o p e n s a m e n to sobre um objeto determ inado.
F in a lm e n te , d essas d u a s sig n ific a çõ e s, u m a m a is sim p le s e o u tr a m a is co m p lex a,
m a s a m b a s p re c isa s, a u tiliz a ç ã o c o rre n te p a s s a p o r vezes a u m s e n tid o m a is vago, q u e
deve se r e v ita d o , o m itin d o a id é ia d e r e g u la rid a d e n o m o v im e n to d o p e n sa m e n to . É
p reciso , p o r o u tr o la d o , n o ta r q u e a p a la v ra s ó é u tiliz a d a d e ss a f o r m a q u a n d o se tr a ta
d e d e sc o b rir a posteriori o m é to d o se g u id o n u m a o p e ra ç ã o preex isten te. (M. Bernès)
M E T O D O L O G IA fiiO

m éto d o natural p a r a classificação na tu ­ lo r c o m o s q u a is p o d e m o s c o n s tr u ir o


ral. “ D iu e t e g o c irc a m e th o d u m n a tu r a - n o s s o c o n h e c im e n to , c o m v is ta a d e te r ­
lem in v e n íe n d a m ia b o r a v í, b e n e m u lta m in a r p a r a q u e u s o s é q u e s ã o p r ó p r io s
q u a e a d d e r e m o b tin u i, e tc .” L « ÇE Z , o u im p r o p r io s ; a s e g u n d a te m p o r o b je ­
Fragm enta m eth o d i naturalis, 1738. A u - to e sc o lh e r, e n tre as d iv e rsa s u tiliz a ç õ e s
g u s te C ÃOI E e m p re g a c o rre n te m e n te es­ q u e dele p o d e m ser fe ita s , a q u e m e lh o r
ta e x p re s s ã o (v e r, p o r e x e m p lo , to d a a s a tis fiz e r a s n o s s a s n e c e s sid a d e s in te le c ­
q u a d ra g é s im a s e g u n d a liç ã o d o Curso de tu a is (TranscendentaleM ethodenlehre, §
filo so fia positiva ); m a s , d esd e e n tã o , caiu 1, A 707-708; B 735-736). O a u to r div id e-
q u a s e c o m p le ta m e n te em d e su s o . o e m D isciplin, K anon, A rc h ite k to n ik e
R a d . int.: A . B . M e to d . G eschichte der reinen Vernunft.
R ad. int.: M e to d o lo g i.
M E T O D O L O G IA D . M ethodologie,
M ethodenlehre; E . M ethodology; F . M é- M é to d o s d e C o n c o r d â n c i a * , d e
thodologie ; I. M etodologia. D ife re n ç a * , d e V a ria ç ã o * c o n c o m ita n te ,
S u b d iv is ã o d a L ó g ic a , q u e te m p o r d o s R e s íd u o s * , etc.
o b je to o e stu d o a posteriori d o s m é to d o s ,
M IC R O C O S M O D . M icrocosm us ; E .
e m a is e sp ecialm en te, v u lg a rm e n te , o d o s
Microcosmo F . M icrocosm e ; I. M icrocos­
m é to d o s c ie n tífic o s,
m o.
N OTA V er M acrocosm o.

Kτ ÇI o p ô s a M e to d o lo g ia a o c o n ju n ­ M I L A G R E D , W under; E . A . M ira-
to d a L ó g ic a a o d iv id ir a s u a Critica da cie; B . W onder; F . Miracle; I. M iracolo.
razão pura em “ T ran sc e n d e n ta le E lem en - A . E tim o ló g ic a m e n te , f a to s u rp re e n ­
ta r le h r e ” (c o m p re e n d e n d o a E s té tic a e a d e n te {miraculum, d e mirari, e s p a n ta r-s e ,
L ó g ic a tra n s c e n d e n ta is ) e e m “ T ra n sc e n - a d m ir a r ; c f. W under , d e r w undern, n o
d e n ta le M e th o d e n le h re ” . A p rim e ira tem m e sm o s e n tid o ), n ã o c o n f o r m e à o rd e m
c o m o o b je to e x a m in a r a n a tu r e z a e o v a ­ h a b itu a l d o s f a to s d a m e s m a n a tu r e z a .

S o b re M ila g re — N a C r ític a d e s ta p a la v r a , n a p r im e ir a r e d a ç ã o , a d e fin iç ã o “ O


m ila g re é u m a d e rro g a ç ã o d a s leis d a n a tu r e z a ” e ra q u a lif ic a d a d e “ v ic io s a ” . V á rio s
m e m b ro s d a s o c ie d a d e a c h a r a m e ste te r m o e x a g e ra d o : “ E s ta c r ític a ” , d iz L. C outu-
rat, “ p a re c e -m e d e m a s ia d o c é p tic a . Se n ã o p o d e m o s d iz e r q u e a E n c a r n a ç ã o é u m
m ila g re , p o d e m o s d iz ê-lo d o f a to d e J o s u é te r p a r a d o o S o l.” “ A o b je ç ã o ” , d iz M .
D rouin, “ m o s tr a b e m q u e n ã o p o d e ría m o s c o n s ta ta r , p r o v a r u m m ila g re a ssim d e fi­
n id o ; n ã o o b r ig a a m u d a r a d e fin iç ã o . A re la ç ã o e n tr e o s d o is c o n c e ito s n ã o é d e s­
tr u íd a , p o r q u e a in d e te rm in a ç ã o q u e n ó s h o je d e s c o b rim o s n u m se c o m u n ic a n e c e s­
s a r ia m e n te a o o u t r o . ” O b se rv a ç õ e s a n á lo g a s de G . B eaulavon.
“ A c iê n c ia s ó fa la d o a c a s o p a r a o e x c lu ir” , e sc re v e u -n o s m a is re c e n te m e n te M .
M arsal. M as f a la d ele. N ã o s e r á p re c is o re s e rv a r o d ire ito d e f a la r e m m ila g re n o
s e n tid o d e H u m e m e sm o q u e fo sse p a r a ex clu í-lo ? S e rá v e rd a d e ir a m e n te n e c e ssá rio
c o n s id e ra r c o m o im p e rfe ito s o s seg u in te s te x to s : “ N ã o ex iste n a n a tu r e z a n e m c o n ­
tin g ê n c ia , n e m c a p r ic h o , n e m m ila g re , n e m liv r e -a rb ítrio ; c a d a u m a d e s ta s h ip ó te s e s
a r r u in a em n ó s a fa c u ld a d e d e r a c io c in a r s o b re a s c o is a s .” G Ã ζ Â Ã , L oglque. “ A
I

e te r n a m a r a v ilh a é q u e n ã o h a ja m ila g re s sem c e s s a r .” H . P ë ÇTτ 2 é , O valor da


ciência, in tr o d . ( n a v e r d a d e , a este ú ltim o te x to p o d e m o s fa z e r c o r r e s p o n d e r o s e n ti­
d o A ). “ E j á q u e c ita is a a f ir m a ç ã o q u e R e n a n te r ia p r o n u n c ia d o , e q u e fe z su c e sso ,
s o b re o m ila g re g re g o , é p re c iso n o ta r q u e R e n a n , e m m u ito s o u tr o s lu g a re s , fa lo u
d o s m ila g re s n o s e n tid o d e H u m e .” V e r o Suplem ento.
681 M IL A G R E

M as a u tiliz a ç ã o m a is g eral é a d e c h a m á - m a ra v ilh o s o , q u e n ã o s a b e m o s re d u z ir a


lo m ila g re a p e n a s q u a n d o se c o n s id e ra o leis c o n h e c id a s . “ M ila g re , h á u m n a h is ­
e v en to c o m o m a n ife sta ç ã o , n o m u n d o , de tó r i a , d isse R e n á n n o b a n q u e te d a A s s o ­
u m a a ç ã o in te n c io n a l s u p e r io r a o p o d e r c ia ç ã o d e e s tu d o s g re g o s: é a G ré c ia a n ­
h u m a n o . “ Q u a e p r a e te r o rd in e m c o m - t i g a . ” G . M « Â τ Z á , L eço n s sur les ori­
7

m u n ite r s ta tu tu m in re b u s q u a n d o q u e d i- gines de la Science grecque., V III liç ã o .


v in itu s f i u n t .” S. T ÃOá è , C ontra Genti- A p a la v r a , n e s te s e n tid o , re d u z -se a lg u ­
les, I I I , 101. “ M ila g re é u m te rm o e q u í­ m a s vezes a s ig n ific a r a q u ilo q u e é d ig n o
v o c o : o u se t o m a p a r a a s s in a la r u m e fe i­ d e a d m ir a ç ã o : “ U m m ila g re d e b e lez a ;
to q u e n ã o d e p e n d e d e m o d o a lg u m d a s u m m ila g re d e p e rfe iç ã o . F a z e r m ila ­
leis g e ra is c o n h e c id a s d o s h o m e n s ; o u , g r e s .” M a s e s ta a c e p ç ã o é a n tiq u a d a , e
m a is g e ra lm e n te , p a r a u m e fe ito q u e n ã o q u a s e c a íd a e m d e s u s o .
d e p e n d e d e q u a lq u e r le i, n e m c o n h e c id a
C R ÍT IC A
n e m d e s c o n h e c id a . S e se to m a r o te r m o
m ila g re n o p rim e ir o s e n tid o , a c o n te c e m 1. E n c o n tr a r - s e - á e m trê s a rtig o s de
in fm ita m e n te m ais m ilag res d o q u e se crê, L RÃà (A nnales de philos. chrétienne,
E

m a s o c o rre m m u ito m e n o s se o to m a re s 1906-1907) a c rític a d e d iv ersas d efin içõ es


n o s e g u n d o s e n tid o .” M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 E , d e m ila g re e p rin c ip a lm e n te d a m ais
M editações cristãs, V III , 2 6 . u s u a l, q u e p a re c e d a ta r d e H Z O : “ A
E

B . M a is r a r a m e n te (e c o m u m a p o n ta m ira c le is a v io la tio n o f th e la w o f n a tu -
d e h u m o r , a in d a q u e s e ja u m r e to r n o a o r e ” {Essays, II, 10). “ U m m ila g re é u m
se n tid o etim o ló g ico ): to d o fa to n o tá v e l o u f a to c o n tr á r io à s leis d a n a tu r e z a , u m a

P a r a d a r c o n ta d e sta s re s e rv a s , a e x p re ss ã o d is c u tív e l fo i s u b s titu íd a p o r e sta :


“ E s ta d e fin iç ã o te m a p e n a s u m v a lo r h is tó r ic o .” C o m e fe ito , se a d e fin iç ã o c ritic a ­
d a n ã o é fa ls a , p r o p r ia m e n te f a la n d o , n ã o é m e n o s v e rd a d e q u e , n o e s ta d o a tu a l d a s
id é ia s , “ r e tir a q u a lq u e r in te re ss e a o c o n c e ito d e m ila g re ” , o q u e n in g u é m c o n te s ta .
P a r a q u e é q u e s e rv iria , filo s o fic a m e n te , u m a classe d e fe n ô m e n o s n o s q u a is n u n c a
se p o d e ria s a b e r se u m f a to e stá o u n ã o in c lu íd o , s e n ã o p a r a f a to s le n d á rio s d o s q u a is
n e n h u m h o m e m c u lto p o d e r ia s u s te n ta r h o je a re a lid a d e h is tó r ic a , c o m o n o caso d e
J o s u é ? H á , p o is , n e c e ssid a d e d e in v e stig a r q u a l é a d e fin iç ã o d e m ila g re p r o p o s ta
a tu a lm e n te p o r a q u ele s q u e d e fe n d e m q u e o s h á , h o u v e , o u q u e p o d e h a v e r m ilag res.
S o b este p o n to d e v ista , co n v ém m e n c io n a r e m p rim e iro lu g a r a d o u tr in a d e Le
Roy, e x p o sta n o s a rtig o s d o s A n n a les d ep h ilo so p h ie chrétienne, c u ja p a r te c rític a foi
a c im a m e n c io n a d a . E is a q u i o seu re su m o , a p ro v a d o p e lo a u to r, e ta l c o m o fo i p r o p o s ­
to à d isc u s s ã o n a p ro v a d e ste a rtig o .
“ C o n tu d o , h á a lg u m a c o isa a re te r (d a s d iv ersas d e fin iç õ e s d e m ila g re ) a c e rc a d a s
q u a is , e x ce tu a n d o a q u e s tã o d e fa to , p a re c e q u e to d o s se p o d e m p ô r d e a c o rd o : 1 ?
só se d á o n o m e d e m ila g re a u m fa to sensív el e a u m fa to e x ce p c io n al, e x tra o rd in á ­
rio ...; 2? só se d á o n o m e d e m ila g re a u m fa to sig n ific a tiv o n a o rd e m relig io sa; 3?
p a r a q u e m u m f a to s e ja q u a lific a d o d e m ila g re , é n e c e s s á rio q u e, a o m e sm o te m p o
q u e c o n tra s ta c o m e la , este f a to e ste ja in s e rid o n a série fe n o m e n a l o r d in á r ia , em s u ­
m a , q u e c o n s titu a c o m o q u e u m a sa liê n c ia n o seu d e s e n ro la r h a b itu a l. A ssim , o s te ó ­
lo g o s n ã o c h a m a m m ilag re s e q u e r à ju s tific a ç ã o p e lo b a tism o ... n e m à c ria ç ã o d o m u n ­
d o ...; 4 ? p a r a q u e u m fa to se ja c o n s id e ra d o m ilag re, é n e c e ssá rio q u e n ã o c o m p o rte
e x p lic a ç ã o p u r a m e n te físic a su fic ien te, q u e d e p e n d a d e c o n d iç õ e s n ã o só p sico ló g icas,
m a s ta m b é m m o ra is , n u m a p a la v ra , q u e n ã o p o s s a n u n c a to rn a r-s e previsív el c o m se ­
g u ra n ç a n e m re p e tív e l q u a n d o se q u iser!’ Ibid., o u tu b r o d e 1906, p p . 14-15.
M IL A G R E 682

d e rro g a ç ã o d a s leis d a n a tu r e z a .” C rem o s p o s s ib ilid a d e d e s ta in te r p r e ta ç ã o . Se se


ta m b é m q u e e s ta d e fin iç ã o só te m u m v a ­ t r a t a d a s f ó r m u la s , s e m p re a p e r f e iç o á ­
lo r h is tó ric o e n ã o p o d e s e r c o n s e rv a d a v eis, a q u e n ó s c h a m a m o s leis d a n a tu r e ­
n o s d ias d e h o je . T in h a a s u a ra z ã o d e ser z a , o c o n c e ito d e m ila g re p e rd e to d o in ­
q u a n d o a e x p re ss ã o Leis da natureza e r a te re ss e , só s u b je tiv a m e n te p o d e ser a p li­
a in d a e n te n d id a n o seu s e n tid o p rim itiv o c a d o a u m f a to , e n u m a d a ta d e te r m in a ­
d e d e c re to d iv in o o b rig a tó rio , a n á lo g o às d a . Se se t r a t a d e leis a b s o lu ta s d a n a tu ­
leis civ is d e q u e u m s o b e r a n o p o d e su s­ re z a , ta is c o m o as c o n c e b ia D e sc artes, o u
p e n d e r o e fe ito . M a s o a p a g a m e n to d o ca­ ta is c o m o s e ria m c o n h e c id a s p o r u m a
r á te r im p e ra tiv o d a lei fa z d e s a p a re c e r a c iê n c ia p e r f e ita , o m e s m o se p a s s a ria :

M a s e s ta d e fin iç ã o é a p e n a s fo r m a l e p re lim in a r. P a r a c a r a c te r iz a r p re c is a m e n te
o m ila g re , e d a r u m a d e fin iç ã o q u e f a ç a c o n h e c e r v e rd a d e ir a m e n te a s u a n a tu r e z a ,
é p re c iso e sc la re c e r a a ç ã o e sp iritu a l q u e o c o n s titu i: e la c o n sis te n a e x a lta ç ã o m o ­
m e n tâ n e a d a p o tê n c ia c u jo ato livre, ta l c o m o é d e fin id o n a filo s o f ia b e rg s o n ia n a ,
r e p r e s e n ta a f o r m a in fe rio r . “ U m m ila g re é u m a to d e u m e s p ír ito in d iv id u a l (o u
d e u m g ru p o d e e sp írito s in d iv id u a is ), q u e a g e c o m o e s p írito a u m n ív el m a is e le v a d o
d o q u e d e h á b ito , r e e n c o n tr a n d o d e f a to , e c o m o q u e n u m re lâ m p a g o , o seu p o d e r
d e d ir e ito .” Ib id ., d e z e m b ro d e 1910, p , 2 4 2 . “ U m m ila g re é o a to d e u m e s p írito
q u e se re e n c o n tr a m ais c o m p le ta m e n te q u e d e h á b ito , q u e r e c o n q u is ta m o m e n ta n e a ­
m e n te u m a p a r te d a s su as riq u e z a s e d o s seu s p r o f u n d o s re c u rso s . ” I b id ., 247. E s ta
e x a lta ç ã o só p o d e p ro d u z ir- s e p e la g ra ç a , p e lo c o n c u r s o d e D e u s, e n ã o p o d e ser re ­
c o n h e c id a c o m o ta l s e n ã o e m v irtu d e d e u m a p ré v ia d is p o s iç ã o m o r a l, p o r q u e “ n a ­
d a d isso é in c o m p a tív e l c o m u m d e te rm in is m o a m p la m e n te e n te n d id o . T r a ta -s e a p e ­
n a s d e u m a fa c e , d e u m la d o : a q u e le q u e d e sc o b re p o u c o a p o u c o a p s ic o lo g ia d o
in c o n sc ie n te , a p s ic o lo g ia d a s m a ss a s e, d e u m a m a n e ir a m a is d ir e ta a in d a , a p s ic o ­
lo g ia d a f é ” . Ib id ., 2 4 7 . “ O m ila g re , o fe n ô m e n o fís ic o , é in s e p a rá v e l d a s ig n ific a ­
ç ã o re lig io s a q u e ele v e ic u la ... A p e rc e p ç ã o d o m ila g re [e n q u a n to ta l] n ã o é u m a sim ­
p le s c o n s ta ta ç ã o se n s ív e l... O m ila g re é u m s ig n o p ro v e n ie n te d a fé , q u e se d irig e
à fé , q u e só é e n te n d id o p e la f é . ” Ib id ., p p . 236-238.
T u d o is to é e n g e n h o s o , p r o f u n d o a té , e ta lv e z s ó lid o . T r a ta - s e e m to d o o c a s o ,
s e m d ú v id a , d a q u ilo q u e m e lh o r p o d e m o s d iz er p a r a s a lv a r a n o ç ã o d o m ila g re , q u e
h o je j á n ã o se p o d e d e fe n d e r n o seu v e lh o s e n tid o te o ló g ic o e p re c is o , d e v io la ç ã o
d a s leis d a n a tu re z a . ( / . Lachelier)
A d e fin iç ã o d e L E RÃà d e m ila g re é m u ito c o n te s tá v e l. P a re c e -m e p re fe rív e l q u e
n o s in s p ire m o s n a tr a d iç ã o d o s te ó lo g o s . P o r o u tr o la d o , L e R o y n ã o é is e n to d e
c o n tra d iç õ e s . E le d e fin e o m ila g re c o m o “ u m f a to s e n sív e l” e , p o r o u tr o la d o , “ a to
d e u m e s p ír ito ” . E x iste m m ila g re s físic o s e m ila g re s e s p iritu a is . F ilo s o fic a m e n te , a
d e fin iç ã o d e L e R o y c o m p o r ta a s m e sm a s re s e rv a s e a s m e sm a s c rític a s q u e a d e fin i­
ç ã o b e rg s o n ia n a d e lib e rd a d e : é u m a d e fin iç ã o a o m e sm o te m p o d e m a s ia d o v a g a e
d e m a s ia d o a m p la . (F. M entrê)
A s teses d e L E R Ãà , a c im a r e s u m id a s , r e p re s e n ta m a p e n a s u m a o p in iã o p a r tic u ­
la r. N u m a q u e stã o tã o d elicad a, p a re c e necessário , p a r a p e rm a n ec e r objetivo, Ü garm o-
n o s a o s e n tid o h is to ric a m e n te d e fin id o . O r a , a e x p o s iç ã o q u e n o s fo i p r o p o s ta te m
o in c o n v e n ie n te d e s e r e s tr a n h a à tr a d iç ã o e in c o m p a tív e l c o m o e n s in a m e n to c a tó li­
co q u e a in d a h á p o u c o re je ito u m a is e x p re ss a m e n te d o q u e n u n c a a id é ia s e g u n d o
a q u a l o m ila g re é “ p ro v e n ie n te d a f é ” , d irig id o à fé , e n te n d id o a p e n a s p e la fé. O s
c o n c ílio s e o s p a p a s c o n s id e ra m -n o c o m o u m s in a l d iv in o , a d a p ta d o à in te lig ê n c ia
d e to d o s , d e s tin a d o a p ro v o c a r o u a c o n f ir m a r a fé , p r ó p r io p a r a se rv ir d e p e d r a de
683 M IL A G R E

p o rq u e n o s é im p o ssív el s a b e r a q u ilo q u e pria uma controvérsia ainda aberta. V er


é o u n ã o c o n f o r m e a essas leis, n e m se­ adiante as o b s e rv a ç õ e s .
q u e r se esse c o n c e ito lim ite a p re s e n ta u m 2. C a b e s u b lin h a r que para o próprio
s e n tid o b e m d e te r m in a d o . C f. a tr á s , Lei, H u m e a idéia de L e i d a natureza com ­
portava uma parte de indeterminação e
p a r tic u la r m e n te § D e C rític a .
que, assim, a fó rm u la a c im a c ita d a j á não
O s te ó lo g o s e o s filó s o fo s q u e d e se ­
era mais estrita, no seu pensam ento, do
ja m c o n s e rv a r u m s e n tid o p a r a e s ta p a ­ que a O rdo com m uniter stu tu s in rebus
la v r a f o r a m , p o is , c o n d u z id o s a fa z e r de S . T o m á s d e A q u i n o .
u m a n o v a a n á lis e , q u e p ro v o c a e la p r ó ­ R ad. i n t M ira k l.

to q u e à s c o n sc iê n c ia s e p ô -la s n o c a m in h o d e re s o lv e r u m a crise in te rio r , É a ssim


q u e a C o n s titu iç ã o V a tic a n a D e F id e , a o f a la r d o s miracula, o s c h a m a externa argu­
m enta, signa certíssima e t o m n iu m intelligentiae accom om m odata (cf. D e n z i n g e r ,
Enchiridion, n ? 1790).
A o e s tu d o c ita d o d e L e R o y c o n v é m , p o is , o p o r o a r tig o d e B e m a r d d e S a i l l y
(A n n a les de philosophie chrétienne , ju lh o d e 1907, p . 337) o n d e fr e q u e n te m e n te se
e n c o n tr a m re in te g ra d o s o s e le m e n to s ú ltim o s q u e e n c e rra a n o ç ã o n a q u a l te ó ric a
e p ra tic a m e n te se in s p iro u a tr a d iç ã o . R e s u m o -o s n e ste s p o u c o s ite n s:
1! O m ila g re , n a q u ilo q u e ele p o ssu i d e a p a r e n te , p ro d u z -s e n a o r d e m d a s c o n s ­
ta ta ç õ e s c o m u n s e d a s in fe rê n c ia s e s p o n tâ n e a s : a ss im , o p r ó p r io m o d o p e lo q u a l n ó s
a p re c ia m o s a d u r a ç ã o , as d im e n s õ e s , a re s istê n c ia , p o r e x e m p lo , a ra p id e z d e u m a
c ic a triz a ç ã o , tu d o is so , sem d ú v id a , é m u ito re la tiv o ; m a s , n e sta s re la ç õ e s a n tr o p o ­
m ó rf ic a s , h á c o n tu d o u m a fix id e z , u m a p re c is ã o , u m a s o lid e z r e a is . E ss a s a p a r ê n ­
c ia s lig a d a s n ã o s ã o a r b itr á r ia s e v a riá v e is , p o s s u e m u m a c o n sis tê n c ia p r ó p r ia , e f o r ­
m a m u m a lin g u ag em h o m o g ê n e a q u e se im p õ e in v en civ elm en te a o s n o s so s ju íz o s im e ­
d ia to s , às n o s s a s re a ç õ e s p rá tic a s , às n o s s a s re la ç õ e s so c ia is. O r a , é n e s ta re a lid a d e
a n tr o p o m ó r f ic a , n e s ta lín g u a acessív el q u e se im p õ e a té a to d o s , q u e se escreve o
m ila g re .
2? N ã o r e q u e r , p o is , d e m o d o a lg u m ser e s tu d a d o , in te rp re ta d o , d e fin id o e m f u n ­
ç ã o d e u m a te r m in o lo g ia a rtif ic ia l, d e u m c o n h e c im e n to r e s tr ito e s is te m á tic o , d e
u m a a n á lise , a liá s , s e m p re f r a g m e n tá r ia e p r o v is ó ria , c o m o a q u e la s q u e n o s a p re s e n ­
ta m as ciên cias p o s itiv a s.
3? O m ila g re , q u e n ã o é e sc rito n a lin g u a g e m d o s c ie n tis ta s , ta m b é m n ã o é e sc ri­
to n a d o s filó s o fo s : n ã o é o m e ta fís ic o m a is d o q u e o físic o q u e , n a s u a c o m p e tê n c ia
p r ó p r ia , te m d e fo rn e c e r o seu d ia g n ó s tic o o u a s u a d e fin iç ã o . A q u i, eles e n c o n tra m -
se a p e n a s c o m o hom ens e a p e n a s tê m d e u s a r as su a s c iên c ia s p a r a se p ro te g e re m
d a s fa ls a s te n ta tiv a s d e e x p lic a ç ã o e p a r a re fe rir à e sc a la h u m a n a o u p o p u la r a q u ilo
q u e d im a n a d o c rité rio a n tr o p o m ó r f ic o .
4 ? O m ila g re n ã o é in trin s e c a m e n te u m f a to d iv in o o u s o b r e n a tu r a l, p o rq u e n ã o
te m n a d a d is so . “ N ih il p o te s t d ici m iraculum ex c o m p a r a tío n e p o te n tia e d iv in a e .”
S. T o m á s d e A q u i n o , Sum . Theo., I, q . 105, a . 8. E le é o a n á lo g o d o s o b r e n a tu r a l,
d e q u e é a e x p re s s ã o , “ o a r g u m e n to ” ; p o r q u e , p o r u m a re a l e in te n c io n a l d e rro g a ­
ç ã o d a s a p a rê n c ia s a n tro p o m ó rf ic a s , m a n ife sta a n a ló g ic a m e n te a re a l d e rro g a ç ã o q u e
a o r d e m d a g r a ç a e d a c a r id a d e in tr o d u z n a re la ç ã o d o h o m e m c o m D e u s.
5° Se, p o r ta n to , o m ila g re se im p õ e p r im e ir a m e n te à a te n ç ã o c o m u m c o m o u m
f a to n a tu r a l, q u e p re c e d e a fé; se, p e la s u a c a r a c te rís tic a p r e te r n a tu r a l e a s u a e s tr a ­
n h e z a p r o v o c a n te , é lo g ic a m e n te d isce rn ív e l p o r to d o s , c o n tu d o só é d iscern ív el n o
seu sen tid o c o m p le to atrav és d e u m a c o rre sp o n d ê n c ia v o lu n tá ria e a té o n e ro s a d a a lm a ,
M IL E N A R IS T A 684

M IL E N A R IS T A ( D o u tr in a ) D . M il- B . F e n ô m e n o q u e co n siste em q u e c e r­
lenius lehre·, E . Millenerian doctrine, Mil- to s a n im a is re v e ste m -se , q u e r de m a n e i­
lenerianism ; F . Doctrine Millénaire o u ra p e rm a n e n te , q u e r m o m e n ta n e a m e n te ,
Millénariste ; I . Millenarismo. d a a p a rê n c ia d o m eio n o q u a l vivem : fo r­
A . D o u tr in a q u e a n u n c ia v a o a c o n te ­ m a e c o r d as fo lh a s o u d o s r a m o s , a s p e c ­
cim e n to d o “ m ilê n io ” , q u e r d iz e r, d o p e­ t o d o s o lo , etc.
río d o d e m il a n o s p re d ito n o A p o c a lip s e , C . S e m e lh a n ç a s u p e rfic ia l e n tre a n i­
e d u ra n te o q u a l o p rin c íp io d o m a l se to r ­ m a is a n a to m ic a m e n te d is ta n te s u n s d o s
n a r ia im p o te n te (ver A pocalipse, X X , o u tr o s , e q u e r e s u lta q u e r d e u m m e sm o
1 -3 ). m o d o d e e x istê n c ia , q u e r d e u m a c a u s a
B . P o r e x te n s ã o (e n u m s e n tid o p e jo ­ c o m p le ta m e n te d ife re n te ( p o r e x e m p lo ,
r a tiv o ) , d iz-se d e to d a s a s d o u tr in a s q u e c e rta s m o s c a s p a re c e m -s e e x te rio rm e n te
d e sc re v em o a p a re c im e n to d e u m a e r a d e c o m a b e lh a s ; su p õ e-se q u e e sta sem e lh a n ­
fe lic id a d e e d e p e rfe iç ã o {Utopia d e MO- ç a p o s s a ser u m a a d a p ta ç ã o d e fe n siv a ).
R u s, Cidade ideal d e C a l p a n e l l a , Paz
perpétua do abade d e S a i n t - P i e r r e , C R ÍT IC A

e tc .). O s e n tid o B é d e lo n g e o m a is u s u a l,
Rad. int.i M ille n a ri. se n ã o a té o ú n ic o q u e te m c u rs o em f r a n ­
M IM E T I S M O D . A . Nachahm ung ; cês. O m e sm o n ã o se p a s s a n o s p a íse s d e
B . C . M im ikry, N a c h ä ffu n g ( E i s l e r ) ; E . lín g u a in g lesa. B a l d w i n , S t o ü t e P o u l -
A . M im etism \ B . C . M im etism , M im icry t o n (d e O x fo rd ) p r o p õ e m q u e se d iv i­
(este s e g u n d o te r m o é o m a is u s u a l n e s ta d a m to d a s a s s e m e lh a n ç a s em amiméti-
a c e p ç ã o ); F . M imétisme; I . Mimesi. cas e miméticas. A s p rim e ira s se ria m
A , D iz-se d e to d a s a s f o r m a s d e a q u e la s q u e p ro v ê m q u e r d a a n a lo g ia ,
im ita ç ã o * , c o n s id e ra d a s n a s su as c a r a c ­ q u e r d a re p e tiç ã o ; as ú ltim a s seriam a q u e ­
te rís tic a s g e ra is, e d a s se m e lh a n ç a s q u e las q u e im p licam u m a a d a p ta ç ã o , q u e r a u ­
p ro d u z e m . to m á tic a (eco lalia, a d a p ta ç ã o m o rfo ló g i­
Especialmente; c a im itativ a, m im etism o n o s sentidos B e C

q u e e n c a ra n ã o só o a s p e c to d e q u e o s s e n tid o s , a c iê n c ia o u a m e ta fís ic a se p o d e m
o c u p a r , m a s ta m b é m o s e n tid o e s p iritu a l q u e v e ic u la , a d o u tr in a q u e a p ó ia , a v id a
n o v a q u e s o lic ita . N ã o é, p o is , re c o n h e c id o e in te r p r e ta d o u tilm e n te p o r u m sim p les
tr a b a lh o s u b je tiv o d a te s te m u n h a ; n ã o é p r o d u z id o u n ic a m e n te , c o m o u m fa to o b je ­
tiv o , p e la f o r ç a e s p iritu a l d o s a to r e s ; n ã o é c o n s titu íd o n e m sim p le sm e n te p e la m a ­
n e ira p e la q u a l a fé e n c a ra o s a c o n te c im e n to s em q u e se e x p rim e , n e m s im p le sm e n te
p e la a n o m a lia físic a q u e p r o p o r ia a o in c ré d u lo u m e n ig m a d e p s ic o lo g ia re lig io sa .
U rn a c o isa c o m p le ta m e n te d ife re n te e b e m m a is , e , n u m c e r to s e n tid o , b e m m e n o s
d o q u e a f o r ç a n o r m a l d o e s p irito o u d a fé , é o in té r p r e te d e s ta d iv in a ^tXavdQwirCa
d e q u e fa la S. P a u lo , e q u e , a o h u m a n iz a r-s e n a s u a lin g u a g e m e n a s su a s c o n d e s c e n ­
d ê n c ia s , fa z tr a n s p a r e c e r a tra v é s d e sin ais a n o rm a is a s u a a n o r m a l b o n d a d e . É s o b re
tu d o isto q u e , p a r a a ju iz a r v e rd a d e ir a m e n te , é p re c iso d e c id ir; e é s o b re tu d o isto
q u e a “ I g r e ja , e m vez d e e rig ir c o m o ju íz e s o s o lh o s m a is ex celen tes o u a té o s d e n t i s ­
ta s mais c o m p e te n te s , o u mais sá b io s filósofos, depois d e se te r s e rv id o das su a s lu ­
zes, se re s e rv a o d is c e rn im e n to f in a l” . É a ss im , p a re c e , a n o ç ã o c o m p le x a , p re c isa ,
e sp e c ífic a d o m ila g re . (M. Blondel)
L e R o y d is c u tiu u lte rio r m e n te n u m a sessã o d a S o c ie d a d e d e F ilo s o fía as c rític a s
d irig id a s à s u a c o n c e p ç ã o d e m ila g re . E s ta d is c u s s ã o fo i p u b lic a d a n o Bulletin d a
S o c ie d a d e d e m a rç o d e 1912.
685 M IS T É R IO

[mimicry]), q u e r co n sc ie n te e v o lu n tá ria , P r e f ix o q u e serv e p a r a a s s in a la r a


c o m o n o d ese n v o lv im e n to d a intelig ên cia a v ersão em re la çã o a q u a lq u e r o b je to : m i­
h u m a n a (Bτ Â á ç « Ç , V Ã Semelhança ). C f. sántropo, misógino, m isoneísm o (a n tip a ­
Im itação. tia em re la ç ã o a tu d o o q u e é n o v o ), etc.
R ad. int.: A . Im itis m ; B . C . M i- M iso lo g ia ( “ H a s s d e r V e m u n f t” , ó d io à
m e tis m . ra z ã o : K τ Ç , G rundlegung zu r M et. der
I

Sitien, 1 , 6 ). M isólogo te m sid o m u itas ve­


M IN IM A L Q u e é u m m ín im o , o u q u e
zes u s a d o n o m e sm o s e n tid o .
e s tá s u je ito a u m a c o n d iç ã o d e m ín im o .
E s p e c ia lm e n te , em ló g ic a , c h a m a -s e M IS Á U C IA V er Filáucia.
m inim al a u m a p ro p o s iç ã o p a rtic u la r q u e
e n u n c ia e x p re ssam en te , o u q u e s u b e n te n ­ “ M IS E R IA P S IC O L Ó G IC A ” E x­
d e , p o r u m a c o n v en ç ã o tá c ita , q u e o a tr i­ p re ssã o c ria d a p o r P ie rre J a n e t (L ’auto­
b u to é a firm a d o ao m ínim o d e a lg u n s d o s m a tism e psychologique , 1889) s o b re o
in d iv íd u o s q u e fo r m a m a e x te n s ã o d o su ­ m o d e lo d a e x p re ss ã o fisio ló g ic a miséria
je ito , m a s s e m ex clu ir a h ip ó te s e d e q u e fisiológica (e s ta d o d e n u tr iç ã o im p e rfe i­
co n v ém a to d o s . E ste sen tid o é aq u ele q u e ta d e to d o s o s te c id o s, c ria n d o u m a re c e p ­
a ló g ic a c lá ssic a d á às p ro p o s iç õ e s p a r t i ­ tiv id a d e g e ra l à s d o e n ç a s ). “ E x iste u m a
c u la re s I t 0 . V er L im itativo. fra q u e z a m o ra l p a rtic u la r q u e c o n siste n a
D iz-se ta m b é m d a d is ju n ç ã o U (a q u e ­ im p o tê n c ia q u e o s u je ito te m em r e u n ir ,
la q u e a d m ite q u e r a re u n iã o d a s c a r a c ­ c o n d e n s a r o s fe n ô m e n o s p sico ló g ico s, d e
te rís tic a s , q u e r a a sse rç ã o s im u ltâ n e a d a s o s assimilar , e, assim c o m o u m a f a lta d e
p ro p o s iç õ e s d a s q u a is u m a pelo m enos é a ss im ila ç ã o d o m e sm o g ê n e ro re c eb e u o
v e rd a d e ira ) p o r o p o s iç ã o à d is ju n ç ã o n o m e d e miséria fisiológica, p ro p o m o s
exclusiva* o , o n d e se a d m ite apenas um a q u e se c h a m e a este m a l m o ra l miséria p si­
d a s p o s sib ilid a d e s e n u n c ia d a s . cológica.” Ibid., 2? p a rte , c ap . IV , p . 454.
R ad. int.: M in o r.
M IS T É R IO G . ¡ivarjQiov (d e ¡avo), fe­
M ÍN IM O D . E . F . M ínim um ·, I . c h a r o s o lh o s o u a b o c a ); D . M ysterium ;
M ínim o. E . M ystery; F . M ystère; I. M isterio.
A . (a b s o lu ta m e n te ). O v a lo r m a is p e ­ A . N a s relig iõ es a n tig a s , c o n ju n to d e
q u e n o , o u o m a is p e q u e n o p o ssív e l, d e p rá tic a s , d e rito s e d e d o u tr in a s q u e c o e ­
u m a g r a n d e z a s u s c e tív e l d e v á r io s x istia m co m o c u lto p ú b lic o , e legais, m as
e s ta d o s . d e n a tu r e z a se c re ta e re s e rv a d o s a in i­
B . (re la tiv a m e n te ). V a lo r (de u m a v a ­ c ia d o s .
riá v e l o u d e u m a fu n ç ã o ) m a is p e q u e n o B . N a te o lo g ia c ris tã , d o g m a s re v e la ­
d o q u e d a q u e la s q u e a p re c e d e m o u im e- d o s e m q u e o fiel d ev e c re r, m a s q u e n ã o
d ia ta m e n te a seg u e m . p o d e c o m p re e n d e r.
V e r M áxim o. P o r c o n s e q u ê n c ia , e m filo so fia :
C . S e n tid o o c u lto s o b u m sím b o lo .
M I S ,., o u M I S O ... (d o G . giaeív, “ T o d a s as c o isa s e n c o b re m a lg u m m is-
o d ia r).

S o b re M is té rio — N a te o lo g ia , a p a la v r a m is té rio d e sig n a sem d ú v id a a q u ilo e m


q u e se d ev e c r e r e a q u ilo q u e n ã o p o d e s e r c o m p re e n d id o . M a s e s ta ú ltim a p r o p o s i­
ç ã o , a o e v o c a r a n o ite n e g ra , d e s n a tu r a o s e n tid o d a fé . P o r q u e ex iste n o m is té rio ,
m e sm o a n te s d a fé , a s p e c to s q u e n ã o d e ix a m a ra z ã o in d ife re n te s o u to ta lm e n te ce­
g a ; e n a fé e x iste m a sp e c to s q u e a m e d ita ç ã o e a e x p e riê n c ia e sc la re ce m p a rc ia lm e n ­
te . “R a tio fid e illustrata, aliquam m ysteriorym intelligentiam eam que fructuosissi-
m am asseq u itu r...” (C o n s titu tio V a tie ., D e Fide, D e n z ig e r, n ? 1796). (M. Blondel)
M ÍS T IC A 686

té rio ; to d a s a s co isas são véus q u e c o b re m d o e s p irito h u m a n o c o m o p rin c ip io f u n ­


D e u s .” P τ è Tτ Â , Carta a Mlle. de Roan- d a m e n ta l d o s e r, u n iã o q u e c o n s titu í a o
nez- S ím b o lo q u e c o n té m u m s e n tid o m esm o tem po um m o d o de e x istê n c ia e
e sc o n d id o : “ N ã o é ju s to q u e se to m e m u m m o d o d e conhecim ento e s tr a n h o s e
as suas o b s c u r id a d e s (as d e M a o m é ) s u p e rio re s à e x iste n c ia e a o c o n h e c im e n ­
p o r m is té rio s , d a d o q u e a s s u a s c la re z a s to n o rm a is .
s ã o r id íc u la s .” Id., Pensamentos, ed . B . C o n ju n to d a s d isp o siç õ e s a fe tiv a s ,
B ru n s c h v ., 5 9 8 . “ N ã o d ig o q u e o m em in te le c tu a is e m o ra is q u e se lig a m a e s ta
seja m iste rio so .” Ibid., 688. C f. 6 8 7 ,6 9 1 , c re n ç a . “ O fe n ô m e n o e sse n c ia l d o m is ti­
e tc . c ism o é a q u ilo a q u e se c h a m a o êxtase*,
D . D ific u ld a d e de q u e se d e v e p r o c u ­ um e sta d o n o q u a l, ro m p e n d o -s e to d a co ­
r a r a s o lu ç ã o : “ E i s ... o des v e la m e n to d o m u n ic a ç ã o c o m o m u n d o e x te r io r, a a l­
m istério: é q u e to d a s as c r ia tu r a s só a m a s e n te q u e c o m u n ic a c o m u m o b je to
D eu s se u n e m d e u m a m aneira im e d ia ta .” in tern o q u e é o se r p e r f e ito , o se r in fin i­
Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E , Conversas sobre a meta­ t o , D e u s . M a s s e ria f a z e r d o m istic ism o
física, V II (e d . J . S im ó n , p . 164). u m a id é ia in c o m p le ta c o n c e n trá -lo a p e ­
E . D a d o in e x p lic áv e l; p ro b le m a in s o ­ n a s neste fenôm eno q u e é o seu p o n to cul­
lú v e l. “ P e r c o r r e i o círculo d a s cien cias: m in a n te . O m is tic ism o é e ss e n c ia lm e n te
v e re is que elas c o m e ç a m p o r u m misté- u m a v id a , u m m ovim ento, u m d e se n v o l­
río .” J . de Mτ « è I 2 E , Serões de S. Peters- v im e n to d e u m c a r á te r e d e u m a d ire ç ã o
burgo, X? C o n v e rs a . d e t e r m i n a d o s .” E . BÃZ I 2 ÃZ 7 , “ L e
Rad. int .: M is te r i. m y stic ism ” , Bulletin de l'Institut Psycho­
logique, ja n e ir o d e 1902, p . 15.
M ÍS T IC A D . Mystik·, E . Mystic; F .
A s e ta p a s d e ste d e se n v o lv im e n to s ã o ,
M ystique; I. Mística. d iz E. BÃZ I 2 ÃZ 7 , a a s p ir a ç ã o a o a b s o ­
A . S in ó n im o d e M isticismo n o s e n ti­
lu to ( Sehnsucht ), o e s f o r ç o d e p u r if ic a ­
d o A ; o u p o r v ezes, m a s m a is r a r a m e n ­
ç ã o e a a sc e se , o ê x ta s e , o r e to r n o à v id a
te , n o s e n tid o B .
a n te r io r e a o r ie n ta ç ã o n o v a d o ju íz o e
B . C re n ç a (p a rtic u la rm e n te c re n ç a
d a c o n d u ta , a re a liz a ç ã o (in d iv id u a l o u
m o r a l o u so c ia l) q u e se a f ir m a re la tiv a ­
s o c ia l) d a v id a p e r f e ita .
m e n te a u m in d iv id u o o u a u m p a rtid o sem
M a is e sp e c ífic a m e n te se c h a m a mís­
p ro c u ra r ju s tific a r-s e p e lo racio cín io (q u e r
tica a o c o n ju n to d a s p r á tic a s q u e c o n d u ­
s e ja o u n ã o ju s tific á v e l e m si m e sm a ). ‘ ‘A
z e m a e s te e s ta d o e d a s d o u tr in a s q u e ex­
m ís tic a d e m o c r á tic a . ” ‘ ‘A m ís tic a d a V i­
p rim e m o s c o n h e c im e n to s q u e s ã o c o n s i­
d a . ” “ A m e c â n ic a e x ig iria u m a m ístic a . ’ ’
d e r a d o s c o m o o seu f r u to .
B e r g s o n , Les deux sources, p . 3 2 9 .
C . U m d o s q u a tr o g ra n d e s sistem as fi­
O s e n tid o B é n o v o , m a s d ifu n d iu -s e
lo só fic o s q u e , seg u n d o o ecletism o , se s u ­
la rg a m e n te d e sd e a lg u n s a n o s , p rim e iro
c e d e ra m e m ciclo s n a h is to r ia d o p e n s a ­
n a c o n v e rs a ç ã o e n o jo r n a lis m o e d e p o is
m e n to h u m a n o e q u e o p ro g r e s s o d a re ­
n a p r ó p r ia lin g u a g e m filo s ó fic a . F o i d e ­
fle x ã o filo s ó fic a te m p o r fin a lid a d e c o n ­
fin id o e d is c u tid o n a re u n iã o d a S o c ie d a ­
c ilia r c a d a v ez m a is c o m p le ta m e n te (cf.
d e d e F ilo so fia d e 1? d e a b ril d e 1933. V er
Ecletismo). E le re s u lta d e u m a re a ç ã o
Buüetin d a S o c ie d a d e , e sp e c ia lm e n te
c o n tr a o e e p tic is m o e c a ra c te riz a -s e p e lo
p p . 5 4 , 6 8 , 7 3 .
a p a g a m e n to d a r a z ã o e m p ro v e ito d o sen­
M IS T IC IS M O D . M ystik, M ystizis- tim e n to e d a im a g in a ç ã o (v . CÃZ è « Ç ,
m us (m a is r a r o ) ; Fanaticism (K τ Ç ); E . I H istória da filosofia, I I , 9? liç ã o ; A .
Mysticism; F . M ysticism e’, I. Misticismo. JτTI Z E è , J Z Â E è S« OÃÇ e Sτ « è è E I , M a­
A . N o s e n tid o p ró p r io , c re n ç a n a p o s ­ nual de filosofia, 2 f p a r te , § 3: “ L eis ge­
s ib ilid a d e d e u m a u n iã o ín tim a e d ir e ta ra is d a fo r m a ç ã o d o s s is te m a s ” ).
687 M ÍS T IC O

D. A p lic a -se este te r m o , q u a s e s e m obrigada


­ a encerrar-se.” G o b l o t , Clas-
p re c o m u m a c o n o ta ç ã o p e jo r a tiv a : sification des Sciences, p . 4.
1? À s c re n ç a s o u d o u trin a s q u e se b a ­ 2° À s c re n ç a s o u d o u tr in a s q u e d e s ­
seia m m a is n o s e n tim e n to e n a in tu iç ã o v a lo riz a m o u re je ita m a re a lid a d e se n sí­
(n o s e n tid o D ), d o q u e n a o b s e rv a ç ã o e v el, a f a v o r d e u m a re a lid a d e in acessív el
n o racio cín io : “ P re te n d e r co n h ec e r d e o u ­ a o s s e n tid o s : “ N ã o v a m o s a té o p o n to
t r a f o r m a q u e n ã o p e la in te lig ê n c ia é d i­ d e sta s a firm a ç õ e s m ístic a s: é a so c ie d a d e
z er q u e é le g ítim o a f ir m a r o q u e se ig n o ­ q u e p e n sa n o in d iv íd u o .” B o u g l é , L e s
r a ; n u m a p a la v r a , é ser m ís tic o . É c e rto idées égaliiaires, p . 7 9 .
q u e é p o ssív el a f ir m a r s e m u m a ra z ã o v á ­ R ad. int.: M istik ism .
lid a , p o r q u e a a f ir m a ç ã o é u m a to e p r o ­ M ÍS T IC O D . M ystischi E . M ystic,
v ém , p o r co n se g u in te , d o se n tim e n to e d a mystical; F . M ystiq u e ; I. M ístico.
v o n ta d e . A ssim , h á d u a s esp écies d e m ís ­ E m p re g a -s e e m to d o s o s s e n tid o s d a
tic o s , o s q u e a m a m e o s q u e q u e re m ; e p a la v ra misticismo, e, p a rtic u la rm e n te , se
p o d e -s e d iz e r q u e o m is tic ism o c o n sis te a p lic a à re p re s e n ta ç ã o d o u n iv e rs o s o b a
e m f r a n q u e a r , s e ja p o r u m im p u ls o d e f o r m a d e c o rre s p o n d ê n c ia e d e a ç õ e s
a m o r , s e ja p o r u m e s fo rç o d e v o n ta d e , “ s im p á tic a s ” d e v id a s a estas c o r r e s p o n ­
o s lim ites e m q u e a ra z ã o e s p e c u la tiv a é d ê n c ia s e n q u a n to e la se o p õ e à re p re se n -

S o b re M ístic o e M is tic is m o — Q u a lq u e r q u e s e ja o ju íz o g lo b a l q u e se d e v a fa z e r
s o b re o m is tic ism o , é p re c iso re c o n h e c e r , c o m e fe ito , a e x istê n c ia p sic o ló g ic a d e e s­
ta d o s c a r a c te rís tic o s , lig a d o s , e x p e rie n c ia d o s d e m ú ltip la s fo r m a s e q u e p o d e m
c lassific a r-se s is te m a tic a m e n te , a g r u p a r e a p re c ia r. E o q u e p a re c e a p r o p r ia d o a es­
tes estados é, p o r um la d o , a d e p re c ia ç ã o e c o m o q u e o a p a g a m e n to d o s sím b o lo s
sensíveis e das noções do p e n s a m e n to a b s tr a to e d is c u rsiv o ; é, p o r o u tr o la d o , o c o n ­
ta to d ire to e im e d ia to d o e s p írito c o m a re a lid a d e , sem in te rm e d iá rio s . O m ís tic o
te m a im pressão de ter n ã o m e n o s m a s m a is c o n h e c im e n to e m a is “ lu z ” . N ã o p o d e ­
m o s desconhecer este fa to , q u e é u m a re a lid a d e h is tó ric a . E sem d ú v id a n ã o d e v e ­
m o s apressar-nos a d e s a c re d ita r o m is tic ism o , a d e s p e ito d a s ilu s õ e s e a b u so s q u e
m u ita s vezes e n c o b r iu . O f a to d e a m ú s ic a n ã o te r o g ê n e ro d e c la r id a d e e p re c isã o
q u e oferece a palavra a r tic u la d a n ã o im p lic a q u e o s so n s n ã o p o s s a m e x p rim ir o q u e
a s p a la v ra s , c o m t o d o o s e u v a lo r ló g ic o , ja m a is c o n s e g u irã o tr a d u z ir . É n e ste s e n ti­
d o , m u ito sensato e v e rd a d e ir o , q u e B e e th o v e n d isse: “ A m ú sic a é re v e la ç ã o m ais
e le v a d a do q u e a s a b e d o ria e a filo s o fia ” (c f. R o m a in R o l l a n d , Vie de Beethoven).
E n tr e a c iê n c ia m ís tic a e o c o n h e c im e n to te o ló g ic o , m e ta fís ic o o u físic o h á u m a d ife ­
r e n ç a a n á lo g a à q u e la q u e s e p a r a c o m o p o r u m a b is m o a im p re s sã o d e u m m ú sic o
e s c u ta n d o u m a s in f o n ia e o c o m e n tá rio lite rá rio q u e q u a lq u e r h o m e m c u lto , q u e r
e le n ã o te n h a o u v id o m u s ic a l o u n u n c a te n h a o u v id o u m a n o ta , p u d e ss e c o m p re e n ­
d e r im a g in a n d o ta lv e z te r d a o b r a tr a n s p o s ta em lin g u a g e m liv resca u m a c o m p re e n ­
s ã o s u p e r io r à d o m ú s ic o .
É a o p s e u d o -D io n ís io , o A e r o p a g ita , q u e se deve a p a la v r a m ís tic o (N o m s divins,
I I , 7 , e Teol. m íst., I , 1), e a m a io r p a r te d o s te rm o s q u e se to r n a r a m clássico s n a
“ m ís tic a ” . A p ó s te r m o s tr a d o q u e p a r a c h e g a r a o ser é p re c iso u ltr a p a s s a r as im a ­
g en s sen sív eis, a s c o n c e p ç õ e s e o s ra c io c ín io s d o e sp írito , ele a f ir m a , fu n d a n d o -s e
n u m a e x p e riê n c ia q u e n a d a te m d e d ia lé tic o , m a s p a re c e a e x p re ss ã o d e u m c o n ta to
in tim a m e n te e x p e rie n c ia d o , “ esse p e rfe ito c o n h e c im e n to d e D eu s q u e se o b té m p o r
ig n o râ n c ia e m v ir tu d e d e u m a in c o m p re e n s ív e l u n iã o ; e isto se p a s s a q u a n d o a a lm a ,
d e ix a n d o tu d o e e sq u e c e n d o -s e d e si p r ó p r ia , se u n e à c la rid a d e d a ‘g ló ria d iv in a ’ ” .
M I TO 688

ta ç ã o d o u n iv e rs o so b a f o r m a d e f e n ô ­ eles, etc... O c o ra ç ã o , o fíg ad o , os o lh o s, a


m e n o s in d iv id u a is , c a u sa s e e fe ito s u n s m e d u la , e t c sã o tid o s c o m o p ro p o rc io n a -
d o s o u tr o s s e g u n d o leis d e te r m in a d a s . d o re s d e s ta o u d a q u e la q u a lid a d e àq u eles
“ E m p re g a re i e ste te r m o (m ístic o ) à fa lta q u e o s in g erem ... Q u a n d o os in d íg en as d a
d e u m m e lh o r, n ã o p o r a lu s ã o a o m is ti­ A u strália se reú n em e m g ra n d e n ú m ero , ca­
cism o relig io so d as n o ssas so cied ad es, q u e d a trib o e, d e n tro de c a d a trib o , c a d a g ru ­
é a lg o b a s ta n te d ife re n te , m a s n o s e n tid o p o to tê m ic o tê m u m lu g a r que lh es é d e ­
e strita m e n te d e fin id o n o q u a l ‘m ís tic o ’ se sig n ad o pela su a a fin id a d e m ística com esta
d iz d a c re n ç a e m f o r ç a s , e m in flu ê n c ia s , ou a q u ela região do espaço!’ L é v y -B r u h l ,
e m a ç õ e s im p e rc e p tív e is p e lo s s e n tid o s e Les fu n ctio n s meníales dans les sociétés in-
c o n tu d o r e a is ... P o r e x e m p lo , p a r a o p r i­
férieures, t. I., p p . 30-33.
m itiv o q u e p e rte n c e a u m a s o c ie d a d e to -
B ad. int.: M is tik ,-a l.
tê m ic a , q u a lq u e r a n im a l, q u a lq u e r p la n ­ M IT O G . (ivdor, D . E . F . M yíhe; I.
t a , q u a lq u e r o b je to c o m o as e s tre la s , o M ito .
s o l o u a lu a fa z p a r te d e u m to te m , d e A . N a r r a ç ã o f a b u lo s a , d e o rig e m p o ­
u m a c la sse , d e u m a s u b cla sse ; d a í te r c a ­ p u la r e n ã o r e fle tid a , n a q u a l a g e n te s im ­
d a u m a fin id a d e s p re c isa s , p o d e re s s o b re p e ss o a is, a m a io r p a r te d a s vezes fo r ç a s
o s m e m b ro s d o se u to te m , d a s u a classe, d a n a tu r e z a , sã o r e p re s e n ta d o s s o b f o r ­
d a s u a s u b c la s s e , o b rig a ç õ e s p a r a c o m m a de seres p esso ais, c u ja s açõ es o u av en -

(N o m s divins, V II, 3.) É e s ta c iê n c ia , o b tid a n ã o p e lo ra c io c ín io , m a s p o r u m a u n iã o


re p le ta d e a m o r , a q u e D io n is io c h a m a a “ d o u tr in a m ís tic a q u e se e rg u e p a r a D e u s
e se u n e a E le p o r u m a esp é c ie d e in ic ia ç ã o q u e n e n h u m m e stre p o d e e n s in a r ” (E p.,
X , 1). A g a r a n tia e a “ p e a g e m ” d e s ta “ c o n te m p la ç ã o s u p e r in te le c tu a l” é a v id a p u r ­
g a tiv a e a scética q u e é a s u a p re p a ra ç ã o ; “ o v éu só é le v a n ta d o p a r a o s sin ceros a m a n te s
d a s a n tid a d e q u e , p e la s u a p u r e z a d e e s p írito e p o d e r d a s u a fa c u ld a d e c o n te m p la ti­
v a , e s tã o a p to s a p e n e tr a r o v e rd a d e ir o n a s u a sim p lic id a d e ín tim a ... É p o r e ste s in ­
c e ro , e s p o n tâ n e o e to ta l a b a n d o n o d e ti m e sm o e d e to d a s as c o isa s q u e , liv re e d e s­
p r e n d id o d e e n tra v e s , t u te p r e c ip ita r á s n o b r ilh o m ite rio s o d a d iv in a o b s c u r id a d e ”
(Teol. m íst., I, 1). “ O q u e p a r e c ia n o e s ta d o in f e r io r lu m in o s o e re a l n ã o é se n ã o
v é u te n e b r o s o e a p a r ê n c ia ; e o q u e p a r e c ia v a z io e n o tu r n o re v e la-se c o m o a im e n sa
lu z e a a b s o lu ta u n id a d e à q u a l se lig a a a lm a “ c o n v id a d a p a r a o b a n q u e te d iv in o ” .
Hier. eccl . , I , 3.
A id é ia f u n d a m e n ta l d o m is tic ism o p a re c e , p o r ta n to , ser e s ta : n e m as im a g e n s
n e m o s c o n c e ito s n o s d ã o a re a lid a d e ; é p re c iso p a s s a r p e las c o isa s sen sív eis e p e las
re p re s e n ta ç õ e s in te le c tu a is c o m o q u e p o r b a r r e ir a s ; e q u a n d o , a tra v é s d a v id a p u r g a ­
tiv a e a a s c é tic a n o s d e s p o ja m o s d e n ó s e d a s c o is a s , e n o s o fe re c e m o s d e sp id o s a o
v a z io , e ste v a z io , e s ta n o ite e s c u ra re v e la m a p le n itu d e d e u m a v id a q u e a p e n a s p a r e ­
ce o c u lta e “ m ís tic a ” à q u e le s q u e , s e g u n d o a e x p re s s ã o d e N e w m a n , n ã o e m ig ra ra m
d a re g iã o d a s o m b r a e d a s im a g e n s. O a s p e c to d a d o u tr i n a s o b re a q u a l m a is in s is ti­
r a m o s g ra n d e s m ís tic o s , c o m o T a u le r , S . J o ã o d a C r u z , S ta . T e re s a , é q u e o c ú m u lo
d a a tiv id a d e h u m a n a é c h e g a r a e ste e s ta d o d e n u d e z o u d e p a s s iv id a d e in te r io r , o
ú n ic o a d e ix a r o c a m p o liv re à s o b e r a n a lib e ra lid a d e d o ser in f in ito . (M . B londel )
E u c re io q u e o te r m o m is tic ism o n ã o d e v e ria ser u s a d o f o r a d o d o m ín io d a f ilo ­
s o f ia re lig io s a , e m c o n f o r m id a d e , a liá s , c o m a e tim o lo g ia . A s e x p re ss õ e s m isticism o
científico, m isticism o filo só fic o sã o im p r ó p ria s , e p o d e m o s fa c ilm e n te e v itá -la s t a n ­
t o m a is q u e te m o s o u tr o s te rm o s d e u s o m a is c o r r e to e a n tig o , c o m o ir racionalismo,
intuicionism o, sentim entalism o. (C . R anzoli)
689 “ M O B I LI SM O ”

tu ra s tê m u m s e n tid o s im b ó lic o . “ O s m i­ sel des organischen Geshehen1, 1904; Die


to s so lares. O s m ito s d a p rim a v e ra .” D iz- mnemischen Empfindungen12, 1909) p a r a
se ta m b é m d a s n a rra ç õ e s f a b u lo s a s q u e d e s ig n a r a fa c u ld a d e in e re n te à s u b s tâ n ­
te n d e m a ex p licar as c aracterísticas d a q u i­ cia viv a d e co n se rv a r c o m o tais, e n a s su as
lo q u e é d a d o n o p re s e n te : “ O m ito d a c o n e x õ e s, o s c o m p le x o s d e ex citaç õ es re ­
Id a d e d e o u r o , d o P a r a ís o p e r d id o .” c e b id o s d o m u n d o e x te r io r. E le p r o p õ e
B . E x p o s iç ã o d e u m a id é ia o u d e u m a ta m b é m q u e se c h a m e engramas a esses
d o u tr i n a s o b u m a f o r m a v o lu n ta r ia m e n ­ tra ç o s d e ix a d o s p e la s a ç õ e s a n te rio re s .
te p o é tic a e n a r r a tiv a , o n d e a im a g in a ç ã o CRÍTICA
g a n h a a sa s e m is tu r a a s s u a s fa n ta s ia s
C f. Memória. E ste te rm o seria ú til p a ­
c o m as v e rd a d es s u b ja c e n te s. “ O m ito d a
r a d e sig n a r n a s u a g e n e ra lid a d e a f u n ç ã o
c a v e r n a .” S o b re o s e n tid o e x a to d e pvdos
v ita l à q u a l se lig a a re c o rd a ç ã o p s ic o ló ­
e m P la tã o , v . C o u t u r a t , De p la to n id s
g ica. E v itar-se -ia assim n ã o só a a m b ig u i­
mythis, p p . 3 - 1 2 , e L . R o b í n , Platón,
d a d e q u e re s u lta d a e x te n s ã o d a p a la v r a
192-196.
m e m ó ria à sim p les p e rm a n ê n c ia d a s m o ­
C . Im a g e m d e u m f u tu r o fic tíc io (e a
d ific a ç õ e s o rg â n ic a s , m a s ta m b é m a p r e ­
m a io r p a rte d a s vezes irrealizáv el) q u e ex­
s u n ç ã o d e q u e a re c o rd a ç ã o p sic o ló g ic a
p rim e o s s e n tim e n to s d e u m a c o le tiv id a ­
s e ja a p e n a s u m c a so p a r tic u la r d a “ m e ­
d e e serv e p a r a d e s e n c a d e a r a a ç ã o . E s ta
m ó ria b io ló g ic a ” , o q u e é a tu a lm e n te d is­
a c e p ç ã o fo i c r ia d a p o r G e o rg e s S o r e l , c u tid o .
n a in tr o d u ç ã o à s su as Réflexions sur la Rad. int.: M n e m .
vióleme (1907). “ O s m ito s h e ro ic o s .” “ O
m ito d a g re v e g e r a l.” “ P o d e -s e f a la r in ­ M N E M Ó N I C A , M N É S IC A ( a d j.)
d e fin id a m e n te d e re v o lta s e m p ro v o c a r P e rte n c e n te à m e m ó ria , q u e c o n stitu i u m
ja m a is q u a lq u e r m o v im e n to re v o lu c io n á ­ a to d e m e m ó ria * .
r io , e n q u a n to n ã o h o u v e r m ito s a ce ito s
Rad. int.·. M e m o r a i.
p e la s m a s s a s .” Ibid., p . 45. “ M O B IL IS M O ” N om e dado por
V er as o b s e rv a ç õ e s s o b re Utopia. C h i d e (Le m obüism e moderne, 1908) à

D . M e n ta lid a d e d e o n d e d e riv a o m i­ c re n ç a s e g u n d o a q u a l o fu n d o d a s c o i­
t o n o s e n tid o A . V e r Suplemento. sas é n ã o só in d iv id u a l e m ú ltip lo , m a s

“ M N E M E ” D . Mneme; F . M nèm e.
T e rm o
u tiliz a d o p o r S e m o n (Die 1. A mnem e, enquanto prin cipio d e conservação
n o d ev ir d o orgânico.
Mneme, ais erhaltendes Prinzip im Wech-
2. A s im pressões m nêm icas.

S o b re “ M n e m e ” — D iz-se ta m b é m M nem e ; esta f o r m a fo i in d ic a d a n a p ro v a d este


a rtig o , m a s p a re c e u -n o s p re fe rív e l c o n se rv a r a p e n a s u m a fo r m a , a m a is d iv u lg a d a , e
a q u e la q u e é u s a d a esp e c ialm en te p o r F o r e l , co m o n o s fe z n o ta r Éd. Claparède.
P a r a in d ic a r a m a rc a in d ic a d a n o p ro to p la s m a p elas excitações a n te rio re s, serv im o -
n o s ta m b é m d o te rm o histéresis, d a física. E ste te rm o fo i e sp e c ialm en te u s a d o p o r A 2 -
d i g o , n u m a rtig o s o b re o in c o n sc ie n te (Riv. di filosofia, m a io de 1908), e n a tra d u ç ã o

ita lia n a d e L o e b , Fisiologia comparata dei centello, p . 967. P arece-m e m e lh o r q u e mne­


me, ta n to p o rq u e m a rc a a b a se p u ra m e n te física d a m e m ó ria , co m o d e v id o à su a c o m ­
p o siç ã o e tim o ló g ic a (vaTegr/ms, f a to d e se p ro d u z ir e m seg u id a). (C . Ranzoli)

S o b re “ M o b ilis m o ” — A p ro v a d este a rtig o a c resce n ta v a : “ C h id e c o n sid e ra esta


a titu d e c o m o a c o n c lu sã o n e ce ssá ria , a in d a q u e em g eral in c o m p le ta m e n te re c o n h ec i­
d a , d e to d a a filo so fia m o d e r n a .” “ A a titu d e e a d o u tr in a d e C h i d e ” , escreve-nos
M ODA 690

in c e s s a n te m e n te e m m o v im e n to , em V er A m abim us.
tr a n s f o r m a ç ã o c o n tín u a e sem leis fix a s, B . H a m i l t o n ( Lecturas on Logic,
u ltr a p a s s a n d o e to r n a n d o in e fic a z q u a l­ c a p . X IV ) c h a m a m o d a l a q u a lq u e r p r o ­
q u e r te n ta tiv a d e o rg a n iz a ç ã o ra c io n a l. p o s iç ã o c u ja c ó p u la re c e b a u m a d e te r m i­
n a ç ã o c o m p le m e n ta r.
M O D A D . M ode, E . Fashion; F . M o­
de; I. M oda. NOTA
C onjunto de usos, d e a titu d e s, de o p i­ “ P r o p o s iç õ e s m o d a is ’* d iz -se v u lg a r­
niões q u e m o m e n ta n e a m e n te re in a m n u ­ m e n te a p e n a s n o s e n tid o A ; m a s o s e n ti­
m a sociedade e ao qual se lig a u m a p r e ­ d o a m p lo te n d e a tu a lm e n te a in tr o d u z ir -
sunção d e s u p e rio rid a d e , aliás sem p re su­ se n a u tiliz a ç ã o d a p a la v r a Modalidade*.
je ita a c o n te s ta ç ã o . E ste c o n c e ito fo i p a r ­ Ver a s n o ta s e a s o b s e rv a ç õ e s d e s ta p a la ­
tic u la rm e n te a n a lis a d o p o r T τ 2 á E e p o r
vra.
ele o p o s to a o c o n ce ito d e costume. O p ri­ Rad. int.: M o d a l.
m eiro é c a r a c te riz a d o p e la im ita ç ã o d o s
c o n te m p o r â n e o s , e o s e g u n d o p e la im i­ M O D A L D. M odal; E . Modal; F .
ta ç ã o d o s p re d e c e s s o re s . (Lois de Vimi­ M odal; I. Modale.
tation, c a p . V IL ) Que se refere a o s m o d o s , s e ja q u a l fo r
Rad. i n t M o d . o s e n tid o . D e s c a rte s c o n s a g ro u tr ê s c a p í­
tulos d o s Princípios (I) à a n á lis e d a : “ 1 °.
M O D A IS (P ro p o siçõ e s) D . Modal; E .
d is tin ç ã o r e a l” ; 2° “ d is tin ç ã o m o d a l” ,
M odal ; F . Modales; I. M odale. d a s q u a is ele a d m ite d o is tip o s : u m e n tre
A . “ (E n tre a s p ro p o siç õ e s co m p lex as)
o m odo e a substância; o o u tr o e n tre o s
o s filó s o fo s a s s in a la r a m fr e q ü e n te m e n te
d ife re n te s m o d o s d a m e s m a s u b s tâ n c ia ;
a q u e la s a q u e eles c h a m a r a m modais,
e 3? a distin ção “ q u e se fa z p e lo p e n ­
p o rq u e a a firm a ç ã o o u a n e g ação é a í m o ­
s a m e n to ” .
d if ic a d a p o r u m d e ste s q u a tr o m o d o s :
M a s e ste u s o d a p a la v r a c a iu e m d e ­
possível, contingente, impossível, neces­
s u so ; M odal s ó se e n c o n tr a n o s n o s s o s
sário”. Lógica d e P o r t - R o y a l , 2? p a r ­
d ia s n o s e n tid o ló g ic o : v e r o a rtig o a n ­
te , c ap . V III. S ã o , p o r ta n to , modais n este
te rio r.
s e n tid o as p ro p o s iç õ e s q u e n ã o c o n c e r­
n e m a p e n a s s im p le sm e n te TÒ vw áçxeiv, M O D A L ID A D E D . M odalität; E .
m a s q u e a firm a m o u n e g a m q u e r a neces­ M odality; F . M oda lité; I. M odalith.
s id a d e , q u e r a p o s s ib ilid a d e d a re la ç ã o A . N a ló g ic a c lá ssic a , c a r a c te rís tic a
e n u n c ia d a . d a s p ro p o s iç õ e s s e g u n d o a q u a l a re la ç ã o

Boisse , “ s ã o b e m m e n o s a c o n c lu s ã o d e to d o o d e se n v o lv im e n to m o d e r n o q u e a re s­
ta u r a ç ã o d e u m s is te m a t ã o v e lh o c o m o o m u n d o filo s ó fic o , q u e e n c o n tr o u e m H e -
rá c lito e e m a lg u n s c é p tie o s g re g o s u m a d a s su as m a is c o m p le ta s e x p re s s õ e s .” É essa
u m a d a s ra z õ e s q u e n o s le v o u a m a n te r a q u i e ste n e o lo g is m o , c u ja u tilid a d e e in te ­
re s se tin h a m s id o p o s to s e m c a u s a p o r v á rio s m e m b ro s d a S o c ie d a d e . P la tã o e A ris ­
tó te le s a lu d e m fr e q ü e n te m e n te a o s d o is g ra n d e s s iste m a s p ré -s o c r á tic o s q u e a m b o s
re je ita m p o r s e re m s im p lis ta s d e m a is ; o π ά ν τ α η ρ β μ ε ΐ ν e o π ά ν τ α χ ι ν ζ ϊ σ θ α t. (Meta­
física, I I I , 8; 101 b24; Física, V I I I , 3 ; 2 5 3 b, 6, e tc .) N ã o é p o r ta n to in ú til a c e ita r u m
te r m o , a liá s b e m f o r m a d o , p a r a r e p r e s e n ta r e s ta c o n c e p ç ã o . (A . L .)

S o b re M o d a lid a d e — A equipolencia* d a s p ro p o siç õ e s m o d a is (c o n s id e ra n d o c o ­


m o as ú n ic as d e te rm in a ç õ e s d e s ta o rd e m o p o ssív el e o im p o ssív el, o c o n tin g e n te e o
n ecessário ) fo i fo r m u la d a em q u a tr o te rm o s m n e m ó n ic o s c ita d o s n a Lógica d e P Ã 2 - I

R Ã à τ Â , 2? p a r te , c a p . V III. S ã o Purpurea, Iliace, Amabim us*, Edentuli, n o s q u a is


691 M O D A LI D A D E

q u e elas exprim em é ou e n u n c ia d a a títu ­ o seu c o n te ú d o a títu lo d a v e rd a d e ; apo-


lo d e f a to , o u d e c la r a d a p o ssív e l o u im ­ díticos, quando se d e c la ra n ecessária a re­
p o ssív e l, ou declarada n e c e ssá ria ou c o n ­ lação q u e e x p rim e m ( ibid.). A e s ta s trê s
tin g e n te . A origem d e sta d istin ç ã o re m o n ­ fo r m a s d e ju íz o c o rre s p o n d e m trê s p a re s
t a a A r i s t ó t e l e s : “ n ã a a t t q ó t c ig l s d e c o n c e ito s d o e n te n d im e n to q u e são
èoTiv rj t o v òn á Qxetv , rj t o v ¿¿váyxr¡s c h a m a d o s categorias da modalidade: p o s­
v w áQxeiv , 7} t o v èvÒéxtodou v icá q x et v .” sib ilid a d e e im p o ssib ilid a d e {Möglichkeit,
Prim eiros analíticos, I, 2; 2 5 al . Unmöglichkeit)·, e x istê n c ia e in e x istê n c ia
B . E m K a n t , “ F u n ç ã o ” d o s ju íz o s ( Dasein, Nichtsein ); n ecessid ad e e c o n tin ­
q u e te m c o m o c a r a c te rís tic a e sp e c ial g ên cia {N otw endigkeit; Zufälligkeit).
“ d a s s sie n ic h ts z u m I n h a lte d es U rth e ils C . S in ô n im o d e m o d o , n o s s e n tid o s
b e itr a g t, s o n d e r n n u r d e n W e r th d e r C o ­ C ou D.
p u la in B e z ie h u n g a u f d a s D e n k e n ü b e r ­ D . D iz-se a lg u m a s vezes d a s d ife re n ­
ças q u e as sen saçõ es a p re s e n ta m e n q u a n ­
h a u p t a n g e h ” 1. K rit. der reinen Ver­
to relativ as a sen tid o s d ife re n te s. WZ ÇáI
n u n ft, T r a n s . A n a li., I, 1, A 7 5; B 100.
c o n s id e ra , com ra z ã o , p a re c e , e sta n o ç ã o
O s ju íz o s são, d e s te p o n to d e v is ta , p r o ­
c o m o m a l d e te r m in a d a e supérflua, p o is
blem áticos, q u a n d o n ã o n o s p ro n u n cia­
e s ta ria in c lu íd a na d e d ife re n ç a q u a li­
m os so b re o seu v a lo r, c o m o aco n tece n o s
ta tiv a .
m e m b ro s d e u m ju íz o d is ju n tiv o o u h i­
p o té tic o ; assertáricos, q u a n d o se afirm a NOTAS
1. A m o d a lid a d e , n o s e n tid o a r is to ­

té lic o , é in te r p r e ta d a o b je tiv a m e n te ; e la
1. “ n ão contribui em n ad a p ara o conteúdo do
juízo, m as refere-se apenas ao valor da cópula na sua é u m a p r o p r ie d a d e d a s r e la ç õ e s ; p a ra

relação com o pensam ento em gerai” . K a n t , e la d iz r e s p e ito n ã o a o c o n te ú d o

c a d a u m a d a s q u a tr o síla b as d e c a d a p a la v r a d iz re s p e ito re s p e c tiv a m e n te a o p o s s í­


v el, a o c o n tin g e n te , a o im p o ssív e l, a o n e c e s s á rio , e as v o g a is in d ic a m : A , a a f ir m a ­
ç ã o d o m o d o e a d o dictum ( lexis *); E , a a firm a ç ã o d o m o d o e a n e g a ç ã o d o d ic tu m ;
I, a n e g a ç ã o d o m o d o e a a f ir m a ç ã o d o dictum ; U , a n e g a ç ã o d o m o d o e a d o dic­
tu m . A s q u a tr o fó r m u la s a ssim re p re s e n ta d a s p o r c a d a u m d e ste s te rm o s sã o e q u i­
p o le n te s s o b re si.
M o d a lid a d e , n o s e n tid o m a is a m p lo , d e v e ria c o m p re e n d e r c o m o u m a d a s s u a s
esp é c ies a q u a lid a d e (a fir m a ç ã o e n e g a ç ã o ). N u m a p r o p o s iç ã o , p o d e -s e , c o m e fe ito ,
c o n s id e ra r: 1? u m a lexis* q u e n ã o é n e m a f ir m a d a n e m n e g a d a , q u e e x p rim e s im ­
p le sm e n te u m a re la ç ã o e n tr e d o is te rm o s ( p o r e x e m p lo , a p r o p o s iç ã o in fin itiv a la ti­
n a ); 2°. u m a a titu d e to m a d a a p r o p ó s ito d e s ta r e la ç ã o , q u e é d e c la r a d a v e rd a d e ira ,
fa ls a , p o ssív el o u n e c e s s á ria . S e ria , p o r ta n to , in te re s s a n te te r u m te r m o p a r a d esig ­
n a r to d a s e sta s d e te rm in a ç õ e s e n q u a n to o p o s ta s a o c o n te ú d o . A re la ç ã o e s tr e ita d a
a f ir m a ç ã o e d a n e g a ç ã o c o m a s o u tr a s m o d a lid a d e s d a p ro p o s iç ã o p a re c e m -m e a p a ­
re c e r c la r a m e n te , a in d a q u e in v o lu n ta r ia m e n te , n a s s e g u in te s d e fin iç õ e s d e K a n t :
“ P r o b ie m a tis c h e U r th e ü e sin d so lc h e , w o m a n d a s B e ja h e n odeT V e rn e in e n a is b lo ss
m õ g lic h ( beliebig) a n n im m t; a s s e rto ris c h e , d a es ais w irk lich {wahr) b e tra c h te t
w í r d ...” 1 (A 75; B 100). O oder n ã o a s s in a la n a p rim e ir a fra s e d u a s re la ç õ e s d ife ­
re n te s. Se u m ju íz o é p ro b le m á tic o , é p re c is a m e n te p o r q u e se d eix a em su sp e n so a

1. “ Os juízos problem áticos são aqueles aos quais a afirm ação ou a negação são consideradas com o
aquelas possíveis (como podendo acrescentar-se à vontade)·, os juízos assertóricos, aqueles em que um a ou
o u tra é considerada com o efetiva (verdadeira).
M O D A LID A D E 692

d o ju íz o , m a s à s u a re la ç ã o c o m a e s tr u ­ te s e n tid o , n e m a p re v is ã o p r o f é tic a d o
t u r a d o n o s s o c o n h e c im e n to . A in d a q u e f u tu r o , n e m a te le p a tia lh e p a re c e m p o s ­
ele declare n a c ita d a p assag em q u e ela n ã o síveis {ibid., A 222; B 2 6 9 ); 3? à lexis*,
é d e m o d o a lg u m “ o b je tiv a ” , é c o n tu d o , q u e e n tr a sem a sse rç ã o n u m a p ro p o s iç ã o
n a s u a o p in iã o , v á lid a p a r a q u a lq u e r in ­ c o m p o s ta o u n u m ra c io c ín io .
te lig ê n cia h u m a n a . O q u e ele c o n s id e ra , É im p o r ta n te q u e se d is tin g a b e m :
a liá s , c o m o o c rité rio d e o b je tiv id a d e * . a) a m o d a lid a d e n o s e n tid o o b je tiv o ,
A lé m d o m a is , se se a p r o x im a r d o te x to c o n c e b id a c o m o a a s s e rç ã o v á lid a p a r a
e m q u e s tã o a q u ilo q u e m a is a d ia n te é d i­ q u a lq u e r e sp írito , d e q u e d e te rm in a d o o b ­
to em “ O s p o s tu la d o s d o p e n sa m e n to e m ­ je to d e c o n h e c im e n to e x iste d e f a to , o u
p ír ic o ” , v e m o s a n o ç ã o d e p o s sib ilid a d e , q u e e x iste n e c e s s a ria m e n te , o u q u e s e ja
a p lic a d a n e le a trê s id éias m u ito d ife re n ­ p o ssív e l (e sta e x istê n c ia , n e c e s sid a d e o u
te s: 1? à q u ilo q u e n ã o c o n tr a d iz as c o n ­ p o s sib ilid a d e p o d e m ser elas p r ó p r ia s e n ­
d iç õ e s fu n d a m e n ta is d a e x p e riê n c ia ; 2? te n d id a s , q u e r n o s e n tid o a b s o lu to , q u e r
à q u ilo q u e c o n c o r d a su fic ie n te m e n te co m n o s e n tid o fe n o m e n a l);
o s n o s s o s c o n h e c im e n to s a tu a is : n e s­ b ) a m o d a lid a d e , n o s e n tid o d e a ti-

a firm a ç ã o o u a n e g aç ã o : o a firm a tiv o só é p ro b le m á tic o e n q u a n to a n e g a ç ã o o f o r ta m ­


b é m ; n a v e rd a d e , c o n stitu e m u m a u n id a d e , s o b este p o n to d e v ista. E , d a m e sm a f o r ­
m a , se o a ss e rtó ric o a d m ite d o is caso s o p o s to s , o wahr e o nicht-w ahr , q u e c o rre s p o n ­
d e m a o Dasein e a o N ic h tse in (cf. ibid., A 80; B 106), ele c o n fu n d e -se c o m a c a te g o ria
d e q u a lid a d e q u e a d m ite c o m o c o n ce ito s fu n d a m e n ta is Realität e N egation. O b je ta r-
se-á, sem d ú v id a , q u e a a firm a ç ã o e a n e g a ç ã o p o d e m re u n ir-se a c a d a u m d o s m o d o s
d e p o ssib ilid a d e e n ecessid ad e c o m o n a céleb re tá b u a d e l i e g t 'E g /tip e ta s . M as isso
n ã o p ro v a q u e elas s e ja m d e u m a n a tu re z a d ife re n te d e ste s ú ltim o s : estes p o d e m , c o m
e fe ito , a in d a q u e m ais ra r a m e n te , d e te rm in a r-se u m a o o u tr o , p o r e x em p lo , se se diz
d e u m a p ro p o s iç ã o : “ É n ece ssá rio q u e e la s e ja p o ssív e l” o u “ É p o ssív el q u e ela se ja
n e c e ssá ria ” . U m o u tr o ex em p lo d isso é a céleb re fra s e d e K a n t: “ D a s Ic h d e n k e m uss
alle m ein e V o rstellu n g en begleiten können.” 1 Crítica da razão pura, A n a l, tra n s e ., cap .
I I , 2? seção , § 16. ( A L .)
P o d e -se a d o ta r e sta c o n c e p ç ã o , m a s e n tã o se rá c o n v e n ie n te d iz e r, p a r a p e rm a n e c e r
fiel à tra d iç ão aristo télica, q u e n ã o é p ro p o siç ão (j q ó t c í o i s ) sem m o d a lid a d e , e q u e a q u ilo
a q u e v o cê c h a m a a lexis d e u m a p ro p o s iç ã o , a in d a q u e c o n te n h a d o is te rm o s e u m a
re la ç ã o e n tre esses d o is te rm o s , n ã o é e la p ró p r ia u m a p ro p o s iç ã o . ( / . Lachelier) Isso
é v e rd a d e , c o m e fe ito , q u a n d o “ p ro p o s iç ã o ” tra d u z T rg o ra a « , u tiliz a d a p o r A ris tó te ­
les p a r a d e sig n a r a s p re m issa s d o silo g ism o , o u q u a n d o se f a la d a s p ro p o s iç õ e s d o s g e ó ­
m etras; m a s a lexis perm an ece sen d o u m a p ro p o siç ã o e n q u a n to e sta p a la v ra tra d u z àró-
¡pavoLs, \ó y o s cm oipavTixós, o p o s to a o kóyos q u e c o n stitu i u m a o r a ç ã o , u m a p e rg u n ­
ta , u m a “ p ro p o s iç ã o in fin itiv a ” , e tc . V er Proposição.
A r e g ra P ejorem sequitur sem per conclusio p a rtem a p lic a -se ig u a lm e n te à m o d a ­
lid a d e , n o s e n tid o m a is a m p lo . U m a p r o p o s iç ã o , n u m s iste m a d e d u tiv o , n ã o p o d e
te r m a is c e rte z a , u m a m o d a lid a d e m a is f o r te , d o q u e o m a is f r a c o d o s p rin c íp io s a
p a r t i r d o s q u a is se d e d u z . É n e c e s s á rio s u b lin h á -lo , p o r q u e fr e q ü e n te m e n te n o s d e ­
p a ra m o s c o m a ilu s ã o s e g u n d o a q u a l tu d o o q u e é d e m o n s tr a d o , d e v id o a p e n a s a o
f a to d e te r s id o p r o v a d a a s u a n e c e s sid a d e e x hypothesi, é m a is c e r to d o q u e a q u ilo
d e q u e fo i d e d u z id o . (R. Poirier — A . L .)

1. “ O 'eu penso’ d e v e n e c e s s a r ia m e n te p o d e r acompanhar todas as minhas representações.”


693 M ODIFICAÇÃO

tu d e d e u m e s p írito d e te r m in a d o , in d iv i­ b e rto s o u d a s id é ia s m a is re c e n te m e n te
d u a l, em fa c e d e u m a p ro p o s iç ã o : a ss e n ­ fo rm u la d a s , a u sê n c ia d e p re g u iç a e d e r o ­
tim e n to o u e x c lu sã o ju lg a d o s d e ta l f o r ­ tin a ); q u e r p e jo r a tiv o (lig eirez a, p r e o c u ­
m a q u e to m a in ú til q u a lq u e r re c u rso à ex­ p a ç ã o co m a m o d a , a m o r d a m u d a n ç a p e ­
p eriên cia; asse n tim e n to o u ex clu são resu l­ la m u d a n ç a , te n d ê n c ia p a r a a b a n d o n a r ­
ta n te d e u m a e x p e riê n c ia ; d ú v id a , etc. se, s e m ju íz o n e m in te lig ê n c ia d o p a s s a ­
N o ta r-s e - á o p a re n te s c o d e s ta a c e p ç ã o d o , à s im p re s sõ e s d o m o m e n to ). V e r R .
c o m a q u ilo a q u e c h a m a m o s m o d o e m E Z T3 E Ç , Geistige Ström ungen der Ge­
lin g ü ístic a . genwart, seção D , § 2, a p ên d ic e : “ O c o n ­
2 . O s e n tid o d a p a la v r a m odalidade c eito d o m o d e r n o .” O a u to r in d ic a a í os
te n d e a tu a lm e n te a am p liar-se em d u a s d i­ p rin c ip a is u s o s q u e f o r a m d a d o s à p a la ­
re ç õ es: v ra m o d e rn o e d is tin g u e , c o m v ista à u ti­
a) A p lic a -se n ã o só à a f ir m a ç ã o o u à lização a tu a l, p o r u m la d o , u m a ju s ta m o ­
n e g a ç ã o d e u m d a d o e n u n c ia d o (lexis*), d e rn id a d e c o rre s p o n d e n te às tra n s fo rm a ­
m a s , d e u m a f o r m a g e ra l, a q u a lq u e r v a ­ çõ es re a is, p ro g re s siv a s e n e ce ssá ria s d o
lo r d e v e rd a d e q u e este a ssu m a , p o r ex em ­ p e n s a m e n to ; p o r o u tr o , u m a m o d e rn id a ­
p lo , n o seu g r a u d e p r o b a b ilid a d e . V er d e d e su p e rfíc ie (ein Flachm oderne) q u e
C h. SE 2 2 Z è , Traité de logigue, c a p . c o n sis te n a ig n o râ n c ia d a tr a d iç ã o , o
V III . H á n e c e s sid a d e d e c o n s id e ra r, em a m o r d a n o v id a d e q u a lq u e r q u e e la s e ja ,
p a rtic u la r, n a e s tr u tu ra d e u m a te o ria d e­ a a g ita ç ã o , o re c la m e e a d e m a g o g ia .
d u tiv a , a q u ilo q u e é estabelecido (q u e r d e B . N o s e n tid o té c n ic o , o p o s to a m e­
u m a m a n e ira d ecisiv a, p o r p rin c íp io ax io ­ dieval (e a lg u m a s vezes, e m sen tid o in v e r­
m á tic o , o u p o r h ip ó te s e , q u e r p o r d e d u ­ so , a contemporâneo): a “ h istó ria m o d e r­
ç ã o a p a r tir d e ste ); a q u ilo q u e é excluí­ n a ” é a h is tó r ia d o s f a to s p o s te rio re s à
d o ; a q u ilo q u e é não estabelecido, sem ser to m a d a d e C o n s ta n tin o p la em 1453; a
e x clu íd o . “ filo s o fia m o d e r n a ” é a d o séc u lo X V I
b ) A p lic a-se a to d a s as d e te rm in a ç õ e s e d o s sécu lo s seg u in tes, a té o s n o sso s dias.
q u e se a c re s c e n ta m à c ó p u la , e n te n d id a C o n tu d o , Bτ TÃÇ e DE è Tτ 2 I E è são fre ­
c o m o o sim p le s e n u n c ia d o d e u m a r e la ­ q ü e n te m e n te c h a m a d o s o s fu n d a d o re s d a
ç ã o su sc e tív el d e s e r a f ir m a d a o u n e g a ­ filo s o fia m o d e r n a .
d a , o u , p o r o u t r a , a to d a s a s c ir c u n s tâ n ­ R ad, int.: M o d e rn .
cias q u e p o d e ria m se r s u b tr a íd a s a e ste,
M O D I F I C A Ç Ã O D . M odification,
sem s u p rim ir o c a r á te r d e u m a lex is. V e r
J e a n áE Lτ H τ 2 ú E , L a logique de l ’as-
Abänderung-, E . M odification; F . M o d i­
sertion puré (1 9 5 0 ). fica tio n ; I. M odificazione.
A . ( n o s e n tid o e tim o ló g ic o ). R ela ç ã o
E ste m o v im e n to s e m â n tic o exig e q u e
d o m o d o (s e n tid o C ) c o m a s u b s tâ n c ia
n ã o se u tiliz e e ste te r m o sem p re c is a r a
q u e e le d e te rm in a ; p o r e x te n s ã o , d iz-se
e x te n s ã o q u e p re te n d e m o s d a r-lh e .
d o s p r ó p r io s m o d o s p sico ló g ic o s q u e
Rad. in t .: M o d a le s .
“ m o d if ic a m ” a a lm a , o u s ã o c h a m a d o s
M O D E R N O L . esco l. M odernus (a “ m o d if ic a ç õ e s ” (q u e r d iz e r m a n e ira s d e
p a r tir d o s éc u lo V I); d o la tim m o d o , re ­ ser a c id e n ta is ) d o eu c o n s id e ra d o c o m o
c e n te m e n te ; D . N euer, M o d ern ; E . M o ­ s u je ito p e rm a n e n te .
dem·, F . M o d ern e ; I, M oderno. B . M u d a n ç a q u e n ã o a lte r a a essê n ­
A . T e rm o fr e q ü e n te m e n te u s a d o a cia d a q u ilo q u e m u d a . D o n d e , n a lin g u a ­
p a r tir d o sécu lo X n a s p o lê m ic a s f ilo s ó ­ g e m c o r r e n te , lig e ira m u d a n ç a , m u d a n ­
fic a s o u re lig io sa s; e q u a s e s e m p re c o m ça de p o rm e n o r.
u m s u b e n te n d id o , q u e r la u d a tiv o ( a b e r ­ C . B io l o g ía e p s i c o l o g ía . M u d a n ­
tu r a e lib e rd a d e d e e s p ír ito , c o n h e c im e n ­ ç a in d iv id u a l e a d q u ir id a (o p o s ta à v a ria ­
to d o s fa to s m a is re c e n te m e n te d e s c o ­ ç ã o d e o rig e m c o n g ê n ita ). A d o ta d a nes-
M ODO 694

te sen tid o técnico p o r Bτ Â áç « Ç e L Â Ãà á qualidade à s d iv ersas m a n e ira s q u e fazem


M Ã2 ; τ Ç (B aldw in’s D ictio n ., sub V o). c o m q u e e la s e ja a ssim n o m e a d a ; fin a l­
m e n te , q u a n d o p e n s o m a is g e ra lm e n te
C RÍTIC A
q u e esses m o d o s o u e ssa s q u a lid a d e s es­
E s ta e s p e c ia liz a ç ã o d a p a la v r a n ã o é tã o n a s u b s tâ n c ia , sem o s c o n s id e ra r d e
u s u a l em fra n c ê s , e n ã o p a re c e d esejáv el: o u tr a m a n e ir a s e n ã o c o m o a s d e p e n d ê n ­
p riv a r-n o s-ia d e u m te rm o q u e d ifícilm en ­ cias d e s ta s u b s tâ n c ia , c h a m o -lh e s a tr ib u ­
te p o d e ria ser s u b stitu id o p o r o u tr o n o seu to s. E p o rq u e n ã o d ev o co n ce b e r e m D eu s
s e n tid o g e ra l. A e x p re s s ã o variação ad­ q u a lq u e r v a rie d a d e o u m u d a n ç a , n ã o d i­
quirida é c la r a e s u fic ie n te . g o q u e h a j a n ele m o d o s o u q u a lid a d e s ,
m a s , a n te s , a t r i b u t o s . ” D è T τ 2 è ,
E I E
1 . M O D O L . M odus't D . M o d u s (n o
P rincípios d e filo s o fia , I , 56. D e s ta u tili­
s e n tid o A , S c h lu s sm o d u s ); E . A . M o o d ;
z a ç ã o u m p o u c o v a g a r e s u lta r a m :
B . C . M o d e ; F . M o d e ; I. M o d o .
1? A u tiliz a ç ã o e sp in o s is ta : “ P e r m o -
A . L ó ; « Tτ . C a d a u rn a d a s fo rm a s
d u m in te llig o s u b s ta n tia e a ffe c tio n e s , si-
q u e p o d e to r n a r o ra c io c in io silo g ístic o ,
ve id q u o d in alio est, p e r q u o d e tia m con-
ñ a s d ife re n te s fig u ra s* , c o n s o a n te as p r o ­
c ip itu r .” É tica, I, d e fin iç ã o V . O m o d o ,
p o siçõ e s q u e o c o m p õ e m v a rie m em
assim d e fin id o , o p õ e -se a o a trib u to * , q u e
q u a n tid a d e e e m q u a lid a d e . V e r Barba­
c o n s titu i a e ssê n c ia p e r m a n e n te d a s u b s ­
ra, Celarent, e tc .
tâ n c ia .
B . Q u a n d o u m a p r o p o s iç ã o c o n té m
2 ° A u tiliz a ç ã o d a LÃT3 E : “ I n a m e
s im u lta n e a m e n te : 1? o e n u n c ia d o d e u m a
re la ç ã o ; 2 ? u m a a s s e rç ã o c o m p le m e n ta r
M odes s u c h c o m p le x id e a s w h ic h , h o w -
e v er c o m p o u n d e d , c o n ta in n o t in th e m
re la tiv a q u e r à n a tu r e z a o u às c o n d iç õ e s
th e s u p p o s itio n o f su b sis tin g by th e m se l-
d e s ta re la ç ã o , to m a d a e m si m e sm a , q u e r
ves b u t a re co n sid ered a s d ep en d en ces o n ,
a o p a p e l q u e ela d e s e m p e n h a n a seq ü ê n -
o r a ffe ctio n s o f su b sta n c e s.” 1 Essay, livro
cia d o p e n sa m e n to , e s ta a ss e rç ã o c o m p le ­
I I , c a p . X I I , § 4 . D á c o m o ex em p lo s as
m e n ta r é c h a m a d a o M o d o d a p r o p o s i­
ç ã o c o n s id e ra d a . A ló g ic a c lássica re c o ­ id éias d e triângulo , d e gratidão, d e assas­
n h e c e a p e n a s q u a tr o m o d o s (ser o u n ã o sínio, e descu lp a-se, n o m esm o p a rá g ra fo ,
de to m a r a ssim « t a p a la v r a n u m se n tid o
ser p o ssív e l; ser o u n ã o n e c e s sá rio ); m a s
o s ló g ic o s m o d e rn o s to m a m e m g e ra l e s­ u m p o u c o d ife re n te d a q u e le q u e v u lg a r­
ta p a la v r a n u m s e n tid o m a is a m p lo . V er m e n te lh e e r a a trib u íd o .
M odais e M odalidade. E s te se n tid o é h o je p o u c o u tiliz a d o .
C. F« Â Ãè ÃE « τ ; E 2 τ Â . T o d a d e te rm i­ D. D iz-se d a s d ife re n te s classes de m a ­
n a ç ã o d e u m su je ito . “ R ei q u a e d a m d e ­ n ife s ta ç ã o d e u m a f u n ç ã o d e te rm in a d a :
te rm in a d o ; in re b u s est lim ita d o d iv in ae “ O s m o d o s fo rte s , os m o d o s fra c o s d a
p o te n tia e e ffic ie n tis.” G ÃTÂ E Ç« Z è , V o, im a g in a ç ã o .” “ Q u a n d o a ra z ã o se elevou
p . 649 B. (U m artig o m u ito lo n g o q u e à id é ia d e in teresse b e m e n te n d id o , u m n o ­
co n tém u m g ra n d e n ú m ero d e indicações v o m o d o d e d e te rm in a ç ã o fo i c ria d o ; m as
so b re os sen tid o s esco lástico s d e sta n ã o se s u b stitu i sem re to r n o a o m o d o p r i­
p a la v ra .) m itiv o .” J ÃZ E E 2 Ãà , Cours de droit natu-
“ Q u a n d o d ig o a q u i m a n e ira o u m o ­ rel, 2? lição .
d o , e n te n d o a p e n a s a q u ilo q u e n o u tro lu ­ Rad. int .: M o d .
g a r c h a m o a tr ib u to o u q u a lid a d e . M as
q u a n d o c o n s id e ro q u e a s u b s tâ n c ia e stá
d is p o s ta o u d iv e rs ific a d a , sirv o -m e p a r ­ 1. “ Chamo m odos às idéias complexas tais que,
seja de que maneira forem compostas, não conte­
tic u la rm e n te d o n o m e M o d o o u m a n e i­ nham em si a característica de subsistir por si mes­
ra ; e q u a n d o , d e s ta d isp o sição o u m u d a n ­ mas, mas são consideradas como se apoiando sobre
ç a , ela p o d e s e r a ss im c h a m a d a , c h a m o substâncias ou sendo suas afecções.”
695 M OLÉCULA

2 . “ M O D O o u M Ó D U L O ” D , Dich- m e n te à p rim e ir a fig u r a . V er n o a p ê n d i­


tigkeiism ittel ; E . M o d e ; F . M ode, m o d u ­ c e, n o fim d a p re s e n te o b r a , o a r tig o
le’, I . M o d o . F iguras * d o silogism o.
C h a m a -s e a ssim “ a o v a lo r q u e m ais
M Ó D U L O V er M odo.
fre q ü e n te m e n te se e n c o n tra n o d e cu rso d e
u m a s é rie d e m e n s u ra ç õ e s de u m m e sm o “ M O L A R ” (d o L . M oles). E . M olar.
o b je to ” . É d . CÂ τ ú τ 2 è á E , R a p p o rt sur R e la tiv o a o m o v im e n to d e c o n ju n to
la term inologie psychologique, V I C o n ­ d e u m a m assa d e d im en sõ es sensíveis, p o r
g resso In te rn a c io n a l d e P sic o lo g ia (1909). o p o siçã o a molecular. “ D eve h a v e r a i, p e ­
A s séries q u e a p re s e n ta m v á rio s m o d o s lo m e n o s d e u m c e r to p o n to d e v is ta ,
f o r a m d e sig n a d a s p o r T 7 Ã2 Çá« 3 E “ m u l- e q u iv a lê n c ia o u m e sm o id e n tid a d e e n tre
tim o d a is ” . o s d o is m o v im e n to s , m o le c u la r e m o la r ,
M o d o biom étrico, m o d o psicom étri- p o r q u e a e n e rg ia , e m v irtu d e d o c o n h e ­
co d e sig n a m u m a c e r ta re la ç ã o e s ta tís ti­ c id o p rin c íp io , te m d e c o n s e rv a r-s e .” E .
c a q u e c arac te riz a u m a espécie o u u m a v a­ M E à E 2 è ÃÇ , D e Fexplication dans les
rie d a d e e a d is tin g u e d a s o u tr a s . Sciences, I , 307.
D iz-se p o r a n a lo g ia , p a rtic u la rm e n te
M o d o s fra c o s d o S ilo g ism o . V er n o s behavioristas, d e u m a re a ç ã o p s ic o ­
Fraco. ló g ic a q u e se c o n s id e ra f o r m a r u m to d o
M o d o s* In d ire to s d a p rim e ir a fig u ra e q u e deve ser e s tu d a d a c o m o ta l, em o p o ­
d o silo g ism o . C h a m a -s e a ssim Baralip- siçã o à in v e s tig a ç ã o d o s seu s e le m e n to s ,
à a n á lise d o s m e c a n is m o s d e p o rm e n o re s
ton*, Celantes*, D abitis*, q u e se o b tiv e ­
q u e a c o n stitu e m . V er T « Â I Z « Ç , L e beha-
r a m re s p e c tiv a m e n te p e la c o n v e rs ã o d a
c o n c lu s ã o e m Barbara*, Celarent* e
viorism e, p rin c ip a lm e n te 2? p a r te , c a p .
II: “ O b e h a v io ris m o m o la r e te le o ló g ic o
Darii*, Fapesmo * e Frisesom (prum ) q u e
d e T o l m a n .”
p o d e m re d u z ir-s e a Ferio * p e la tr a n s p o ­
R ad. i n t B lo k a l.
s iç ã o d a s p re m is sa s e a c o n v e rs ã o d e c a ­
d a u m a d e las. M O L É C U L A D . M o lekü le (Mτ T7 );
T o d o s estes s ilo g is m o s, p a r a q u e as E . M olecule ; F . M olécule’, I. M olecola.
s u a s p re m issa s s e ja m d a f o r m a su b p ra e , A m e n o r m a s s a m a te ria l iso lá v el
d e v e m e n u n c ia r c o m o m a io r a p r o p o s i­ (acessível o u n ã o ) à q u a l se c o n c e b e q u e
ç ã o q u e c o n té m o s u je ito d a c o n c lu s ã o . se p o d e c h e g a r p e la d iv isã o d e u m c o rp o
A ss im é c o n te s tá v e l q u e p e rte n ç a m r e a l­ h o m o g ê n e o , sim p le s o u c o m p o s to , sem

S o b re M o lé c u la e M olecular — A r tig o c o m p le ta d o s e g u n d o a s o b s e rv a ç õ e s de
R . Berthélot, M . D rouin.
M olécula fo i n itid a m e n te d is tin g u id a d e átom o p e la p rim e ir a v ez p o r Gτ è è E Çá« :
“ H iñ e ex a to m is c o n f o r m a n p r im u m m o lé c u la s q u a s d a m in te r se d iv e rs a s , q u a e s in t
se m in a re ru m d iv e r s a r u m .” A nim adversiones in X libr. Diog. Laertii, I, 195. (R.
E ucken). C f. Geschichte der philosophie Term ., p . 86.
E s ta d is tin ç ã o fo i fix a d a p o r A v o g a d ro (1813) e A m p è re (1814); m a s A v o g a d ro
d a v a o n o m e d e m olécula integrante à q u ilo q u e o s q u ím ic o s c h a m a m h o je m o lé c u la ,
e o n o m e d e m olécula elem entar à q u ilo q u e a g o r a se c h a m a á to m o . N u m a rtig o a n ô ­
n im o d a B ibtiothèque universelle, X L I X (1 832, to m o I), o n d e se re m e te p a r a u m o u ­
t r o a r tig o d o s A n n a les de chim ie e t d e p hisique (L V III, a n o 1835, p . 4 3 3 ), A m p è re
fix o u d a s e g u in te f o r m a o s e n tid o d a s p a la v r a s partícula : a m e n o r p a r te d e u m c o rp o
q u e c o n se rv a a s m e sm a s p ro p r ie d a d e s físicas d e ste (s ó lid a se este f o r s ó lid o , líq u id a
se f o r l í q u i d o , e tc .) ; m olécula’, u m a r e u n iã o d e á to m o s m a n tid o s à d is tâ n c ia p e las
M OLECULAR 696

a lte r a r a s u a n a tu r e z a q u ím ic a . C f . Á t o ­ g ra m a s , o p e so d esse c o rp o o c u p a n d o , n o
m o, A tô m ic a {Teoria). e s ta d o g a s o s o , o m e sm o v o lu m e q u e d o is
E sta s p a rtíc u la s h ip o té tic a s , c u ja exis­ g ra m a s d e h id ro g ê n io . E sses p e s o s m o le ­
tê n c ia é s u g e r id a p e lo f a to d e o s c o rp o s c u la re s s ã o , p o is , p o r c o n s e g u in te , p r o ­
se c o m b in a re m e m p ro p o r ç õ e s sim p le s e p o rc io n a is à s d e n s id a d e s .
d e fin id a s , c o n s titu iria m p e la s u a a g re g a ­
NOTA
ç ã o o s c o rp o s m a te ria is visív eis e s e ria m
elas p r ó p r ia s fo r m a d a s p o r á tom os (q u e r E ste n o m e p ro v é m d a h ip ó tese de
d iz e r, d a s m a is p e q u e n a s q u a n tid a d e s d e A âÃ; τ á2 à e AMPÈRE (1 8 1 3 , 1814), qu e
m a té r ia q u e p o d e m e n tr a r e m c o m b in a ­ a d m itia m q u e volum es iguais de gases d i­
ç ã o q u ím ic a ). P a r a u m p e q u e n o n ú m e ro ferentes co n têm o m esm o n ú m ero d e m o ­
d e c o rp o s (H g , Z n , C d ), a m e n o r q u a n ti­ léculas. M as a p ro p rie d a d e essen cial d es­
d a d e q u e p o d e e x istir e m e s ta d o liv re é ses peso s m olecu lares (a sa b e r, q u e o s p e­
ta m b é m a m e n o r q u a n tid a d e q u e p o d e ser sos d o s d ife re n te s c o rp o s q u e se c o m b i­
d e slo c a d a n u m a re a ç ã o q u ím ic a ; c o n sid e ­ n am e n tre si são p ro p o rcio n ais a esses n ú ­
r a m o s , p o is , q u e a s u a m o lé c u la se ja f o r ­ m e ro s, o u a m ú ltip lo s sim ples desses n ú ­
m a d a p o r u m s ó á to m o , e s ã o d ita s m o ­ m eros) é u m fa to de experiência, in d ep en ­
noatómicas·, o m a is d a s v ezes, a s e g u n d a d en te d e q u a lq u e r h ip ó te se de e s tru tu ra .
q u a n tid a d e é a m e ta d e d a p rim e ir a ( cor­ M O L Y N E U X (P ro b le m a d e) Ver P ro­
p o diatóm ico ); p a r a a lg u n s ( P h , A s ), e la blema.
é o q u a r to (c o rp o tetratôm ico).
R ad. int.: M o le k u l. M O M E N T O D . M o m e n t ; E . M o-
m e n t ; F . M om ent; I. M o m en to .
M O L E C U L A R D . M olekular; E . A . P o d e r d e m o v e r, c a u s a d o m o ­
Molecular, F . Moléculaire ; I. Molecolàre. v im e n to .
A , Q u e se re fe re à s m oléculas. “ A a . Física: “ M o m e n to d e u m a f o r ç a ,
c o n s titu iç ã o m o le c u la r d e u m c o r p o .” e m a is g e ra lm e n te d e u m v e to r, e m r e la ­
B . Pesos moleculares: co eficien tes c a ­ ç ã o a u m p o n t o ” ( p r o d u to d a in te n s id a ­
ra c te rís tic o s d o s d ife re n te s c o rp o s , sim ­ d e d esse v e to r p e la d is tâ n c ia d o p o n to à
p le s o u c o m p o s to s . O p e so m o le c u la r d e d ire ç ã o d e ste . E sse m o m e n to é u m v e to r
u m c o r p o é o n ú m e ro q u e re p re s e n ta , em p e rp e n d ic u la r a o p la n o d e fin id o p e lo ve-

fo r ç a s a tr a tiv a s e re p u ls iv a s p r ó p r ia s d o s á to m o s ; átom o: c a d a u m d o s p o n to s m a te ­
ria is , in d iv isív e is, d e o n d e e m a n a m essas fo r ç a s . G E 2 7 τ 2 á I , r e to m a n d o o s p r in c í­
p io s d a te o r ia d e A v o g a d ro -A m p è re , a d o to u n o se u Tratado d e quím ica orgânica
a p a la v r a m olécula , q u e d e sd e e n tã o fo i u n iv e rs a lm e n te u tiliz a d a n esse s e n tid o p e lo s
q u ím ic o s . N o s seu s p rim e iro s e s c rito s , se rv ia-se , n e s te s e n tid o , d a p a la v r a equivalen­
te. (Wü 2 I U , H istoire des doctrines chim iques, p . 134.) {René B erthelot — A . L .)

S o b re M o m e n to — A c o n fu s ã o e n tre o s d o is s e n tid o s d e sta p a la v r a v em d o c o n tra -


se n so q u e o s p a ris ie n s e s f iz e ra m , d u r a n te o in v e rn o d e 1870-71, s o b r e a e x p re ss ã o
a tr ib u íd a a B ism a rk : m o m en to psicológico do bom bardeio (q u e r d iz e r, o b o m b a r ­
d e io e n q u a n to d e v e a g ir s o b re a m o r a l d o s s itia d o s , c o n d u z ir à c a p itu la ç ã o ). ( / . La-
chelier)
Q u a n d o Tτ « ÇE m e n c io n a o m o m en to , d e p o is a raça e o meio, t r a t a o m o m e n to
c o m o u m a c a u s a . É u m a sín te se , o u u m a m is tu r a d o s s e n tid o s A e C . O m o m e n to
é, d e f a to , u m a fa s e , m a s e n q u a n to d e te r m in a a s e g u in te , o u a n te s , a in d a , é o c o n ­
j u n t o d o d e s e n v o lv im e n to a c a b a d o e n q u a n to d e te r m in a o d e se n v o lv im e n to f u tu r o .
V er P hilosophie de Vart, v o l. I. (M . D rouin)
697 M O N A D O L O G IÀ

t o r e p elo p o n to c o n s id e ra d o s , e n o se n ­ d a s são o s v e rd a d e iro s á to m o s d a N a tu ­


tid o d a d ire ita em re la ç ã o a o p rim e iro ve­ re z a e, n u m a p a la v r a , o s e le m e n to s d a s
to r ) . “ M o m e n to d e in é rc ia d e u m p o n to c o is a s .” Ibid., 3). E la s s ã o im p e n e trá v e is
m a te ria l e m re la ç ã o a u m p o n to ” (p r o ­ a q u a lq u e r a ç ã o e x te r io r, c a d a u m a d e ­
d u to d a s u a m a s s a p e lo q u a d r a d o d a s u a las d ife re n te u m a d a o u tr a , su jeitas a u m a
d is tâ n c ia a o p o n to c o n s id e ra d o ). m u d a n ç a c o n tín u a q u e p ro v é m d e seu
b . Mental: “ M o m e n to p s ic o ló g ic o ” p r ó p r io f u n d o e s ã o to d a s d o ta d a s d e
(D . Psychologischer M om ent, M om ent A p e tiç â o e d e P e r c e p ç ã o , sem p re ju íz o
des Willens): id é ia o u s e n tim e n to su sce­ d as fa c u ld ad e s m ais elev ad as q u e alg u m as
tív el d e d e te r m in a r à a ç ã o . E s ta e x p re s­ d e la s p o s su e m (ibid., 4 -2 9 ).
são é q u a se sem p re u s a d a n u m se n tid o d i­ E s te te r m o fo i r e to m a d o p o r v á rio s
fe re n te d o seu sen tid o etim o ló g ico , em r a ­ a u to r e s p o s te rio re s , e s p e c ia lm e n te p o r
z ã o d e u m a c o n f u s ã o c o m o s e n tid o B. RE ÇÃZ â« E 2 , q u e p a r te d e u m a d e fin iç ã o
B . C u r ta d u r a ç ã o , in s ta n te . d a m ô n a d a id ê n tic a à d e L eib n iz (La nou-
C . C a d a u m a d a s fa ses q u e se p o d e velle monadologie, 1899, em c o la b o ra ç ã o
a p o n ta r n u m q u a lq u e r d e se n v o lv im e n to c o m L. P 2 τ I ).
(tra n s fo rm a ç ã o m a te ria l, p ro cesso p síq u i­ Rad. int.: M o n a d (Boirac).
co o u s o c ia l, d ia lé tic o ).
E s te te rm o é m u ita s vezes u tiliz a d o M O N À D IS M O D . M onadismus; E .
p o r H e g e l n e ste ú ltim o s e n tid o , m a s nele M onadism ; F . Monadisme; I. Monadis-
a c re s c e n ta -s e a í o e sse n cia l d o s e n tid o A : mo.
o “ m o m e n to d ia lé tic o ” é a f o r ç a q u e n o s S is te m a q u e a d m ite q u e o U n iv e rs o é
re m e te d a id é ia p a r a o seu c o n tr á r io , e fo r m a d o p o r m ô n a d a s , p o r u n id a d e s in ­
a p e n a s p o r c o n s e g u in te a e ta p a d o p r o ­ d iv id u a is b e m d e fin id a s q u e p o ssu e m u m
g re sso q u e e la im p lic a , ta n to n o p e n s a ­ p rin c íp io d e u n id a d e in te r io r , d e o rd e m
m e n to c o m o n a re a lid a d e . e s p iritu a l ( p o r o p o s iç ã o a o s á to m o s m e ­
Rad. int.: A . M o m e n t (Boirac ); B . c ân ic o s).
I n s ta n t.
M O N A D O L O G IA T e o ria d a s m ô n a ­
M Ô N A D A (d o G . novás, u n id a d e ). d a s. T e rm o a d o ta d o p o r E 2 áOτ ÇÇ p a ra
D . M onade ; E . Monade·, F . M onade ; I. serv ir d e títu lo à o b r a d e L e ib n iz h o je c o ­
M onade. n h e c id a p o r esse n o m e , e d e q u e p u b li­
T e rm o m u ito a n tig o , d e o rig e m p ita - c o u e m 1840 o te x to o rig in a l, a in d a in é ­
g ó ric a , a p lic a d o p o r P Â τ I AÃ à s Id éias d ito n e ssa é p o c a .
(Filebo , V ; 15 B ), e m p re g a d o em d iv e r­ E s te te r m o fo i u tiliz a d o n a p rim e ir a
so s se n tid o s p e lo s a u to re s c ris tã o s , te n ­ m e ta d e d o séc u lo X V III p a r a d e s ig n a r a
d o s e rv id o , e m G io r d a n o B2 Z ÇÃ , Vτ Ç d o u tr i n a le ib n iz ia n a d a s m ô n a d a s * ;
H E Â OÃÇI , Ã jo v e m , H e n r y M Ã2 E p a r a Kτ Ç I se rv iu -se d e le n esse s e n tid o , em
d e s ig n a r o s e le m e n to s físico s o u p s íq u i­ p a r tic u la r n a Crítica da razão pura, n o
co s sim p les d e q u e o U n iv e rs o é c o n s ti­ fim d a s n o ta s so b re a tese d a S eg u n d a A n ­
tu íd o (v er E « è Â E 2 , s u b V o). T o rn o u -s e tin o m ia , q u e c o n s id e ra c o m o “ o p r in c í­
céleb re g ra ç as a LE « ζ Ç« U , q u e d efin iu a p io d ia lé tic o d a M o n a d o lo g ia ” . A -442;
m ô n a d a c o m o “ u m a s u b stâ n c ia sim ples, B 4 7 0 . E le p r ó p r io e sc re v e u , n o p e río d o
q u e r d izer, sem p a rte s, q u e e n tra n o s co m ­ p ré -c rític o , u m a tese in titu la d a , De M o ­
p o s to s ” . Monadologia , I. “ E sta s m ô n a - nadologia physica (1756).

S o b re M ô n a d a — N o s p la tô n ic o s d o séc u lo X I I (T h ie rry d e C h a r te s , D o m in ic u s
G o n d is a lv i, A la n u s d e In s u lis ), M onas d e sig n a D eu s e n q u a n to é o se r a b s o lu ta m e n te
sim p le s. V er B τ Z O; τ 2 Ç 2 I E , Alanus de Insulis, p . 120. (R. Eucken)
M O N IS M O 698

M O N IS M O D . M onism us , M onistis­ filo só fic o . S ó se to rn o u u s u a l n o sen tid o


che Weltanschauung; E . Monism; F. Mo- seg u in te (ibid. , 187). V er, d o m e sm o a u ­
nism e ; I. M o n ism o . to r, Die geistige Strömungen der Gegen­
D iz-se d e to d o s iste m a filo só fic o q u e wart, seç ã o C , c a p . I.
c o n s id e ra q u e o c o n ju n to d a s c o isa s se ja P o d e m o s a s s o c ia r a e s te s e n tid o o r ig i­
re d u tív e l à u n id a d e , q u e r d o p o n to d e vis­ nal a u tiliz a ç ã o d a d a a e s te p a r a d e s ig n a r
ta d a s u a s u b s tâ n c ia , q u e r d o p o n to d e a d o u t r i n a fís ic a d e W . O è I ç τ Âá , p a ra
v is ta d a s leis (o u ló g ic a s, o u físicas), p e ­ q u e m s ó e x is te u m a r e a lid a d e s u b s is te n te ,
la s q u a is s ã o re g id a s , q u e r, e n fim , d o a energia, d e q u e m a té r ia , g ra v ita ç ã o , c a ­
p o n to d e v is ta m o ra l. lo r, e le tr ic id a d e , p e n s a m e n t o s ã o a p e n a s
A . D o p o n to d e v is ta d a s u b s tâ n c ia , m odos (Die Energie, 1908; Vorlesungen
W ÃÂ E E , q u e c rio u e sta p a la v r a , ap lícav a- über Naturphilosophie, 1901).
a à d o u tr in a o n to ló g ic a q u e re d u z to d a s B . D e u m p o n to d e v ista ló g ico e m e ­
a s c o isa s q u e r à m a té r ia , q u e r a o e s p íri­ tafísico :
to . A s d u a s g ra n d e s d iv isõ es d o “ d o g m a ­ 1? M o n ism o d iz-se n e ste sen tid o d a
tis m o ” (q u e ele o p õ e a o c e p tic ism o ) s ã o , c o n c e p ç ã o h e g elian a d o u n iv e rso , e d e to ­
p a r a ele, o “ m o n is m o ” e o “ d u a lis m o ” ; d as a q u e la s q u e a p re s e n ta m o m e sm o c a ­
o p r ó p r io m o n is m o d iv id e -se em m o n is ­ rá te r. G ö
è T Â , Der M onismus des rei­
7 E

m o “ m a te r ia lis ta ” e m o n is m o “ id e a lis­ nen Gedankens, zur Apologie der gegen­


t a ” (v er e sta p a la v r a ) ; e ste ú ltim o p o d e wärtigen Philosophie, a u f dem Grabe ih­
ser a in d a q u e r “ e g o ís ta ” , q u e r “ p lu ra lis ­ res S tifters\ N a u m b u rg , 1832.
t a ” (EZ T3 E Ç , Geschichte der philosophis­
chen Terminologie im Umriss, p . 132). E s­ 1. O monismo do pensamento puro, apologia da
t a p a la v ra n ã o e n tro u à é p o c a n o u so filo so fia atuai sobre a tum ba d o seu fu n d a d o r (H e g e l).

S o b re M o n is m o — O se n tid o E fo i a c re s c e n ta d o a p a r tir d a s o b serv aç õ es de M ,


Drouin.
O s e n tid o d e H a ec k el é a p e n a s u m a e sp ecificação d o p re c e d e n te . O M o n ism o , n o
s e n tid o C , é s e m p re u m a filo so fia d a u n id a d e , m a s u m a filo s o fia m a te ria lis ta . M o n is ­
m o , em s u m a , to rn o u -s e u m a e x p re ssã o a te n u a d a , u m a esp écie d e e u fe m ism o p a r a
m a te ria lism o . E s ta p a la v r a n ã o p o ssu i u m sen tid o fr a n c o . O s e n tid o D , p elo c o n tr á ­
rio , o d e P . C a n is , é m u ito d ife re n te d e B e d e C : n ã o sab e m o s a té c o m o asso ciá-lo s.
P o d e r-se -ia d iz e r q u e se tr a t a d e unidade da filosofia e n ã o d e filosofia da unidade.
(J. Lachelier)
O se n tid o D p o d e lig ar-se a o s e n tid o B , e n q u a n to este se a p lic a à filo so fia d e H e ­
gel. E x iste m , a liá s, lig açõ es h is tó ric a s e n tre a m b o s. (F. Mentré)
C τ 2 Z è c o n sid e ra ele p ró p r io a s u a filo so fia c o m o u m a d o u tr in a d a u n id a d e : “ In
c o n tra s t to our monism as a u n ita ry c o n c e p tio n o f th e w o rld , th e re a re o th e r m o n ism s,
w h ich seek th e u n ity o f th e w o rld n o t in th e u n ity o f tr u th , b u t in th e o n e n ess o f a
lo g ical s u b s u m p tio n o f id e a s .” 1 (Q u e r d iz e r, n o f a to d e e n c o n tr a r u m c o n c e ito , c o ­
m o o d e m a té ria o u d e e n e rg ia , d e e x te n s ã o b a s ta n te a m p la p a r a q u e to d a s a s re a lid a ­
d e s s e ja m su as esp écies.) P r o p õ e q u e se c h a m e a e s ta d o u tr in a Henismo e n ã o M onis­
m o (p ro fe s s o r O stw a k T s P h ilo s o p h y , The Monist, o u tu b r o d e 1907, p . 528). (A. L .)

1. “ Contrariam ente ao nosso monismo, com o concepção unitária do m undo, existem· outros monismos
que procuram a unidade do m undo não n a unidade d a verdade, mas na unidade de unfe subsunçâo lógica
das idéias.”
699 M O N I SM O

2? D iz-se ta m b é m , m as m en o s c o rre n ­ a lte ra o s seres, a im p rev isib ilid a d e d o fu ­


te m e n te , d a filo so fia d e L Ã U . P o r
I E tu r o . V er W . J τ O è , A Pluralistic Uni­
E

ex em p lo : W τ 2 Ç ζ 2 ; , Die monistische
I E E verse, L e c tu re II: “ M o n istic I d e a lis m .”
Weltanschauung, m it besonderen Bezie­ C. D e u m p o n to d e v ista s im u ltá n e a ­
hung a u f L o tze12, L eip zig , 1900. F . C . S. m e n te c ie n tífic o , filo só fic o e m o ra l:
S T « Â Â 2 , L o tz e ’s M o n ism , Phil. R e­
7 E D o u trin a d e H τ T 3 Â , re s u m id a p o r
E E

view, V , 1896, p . 225. ele m e sm o n o s seg u in tes p o n to s , e o p o s ­


3? É m u ito u s u a l p a r a d esig n ar o id ea­ t a e m c a d a u m deles a o “ d u a lis m o ” :
lism o in g lês d e o rig e m h e g e lia n a , p a r ti­ “ u n id a d e d o u n iv e rs o , sem a n títe se e n ­
c u la rm e n te a d o u tr in a d e F . H . B2 τ - tr e o e s p írito e a m a té ria ; id e n tid a d e d e
á ÂE à , e n q u a n to a d m ite a u n id a d e d o D e u s e d o m u n d o , q u e n ã o fo i c ria d o ,
m u n d o , a e x istê n c ia d o a b s o lu to , a in te ­ m a s q u e e v o lu i s e g u n d o leis e te rn a s ; n e ­
lig ib ilid ad e essen cial d o ser, o c a r á te r p u ­ g a ç ã o d e u m a f o r ç a v ita l in d e p e n d e n te
r a m e n te a p a r e n te e s u p e rfic ia l d a m u lti­ d a s fo rç a s físicas e q u ím ic a s; m o r ta lid a ­
plicid ad e sensível, d a in d iv id u a lid a d e e d a d e d a a lm a ; re je iç ã o d a o p o s iç ã o e s ta ­
d u r a ç ã o . O pÕ e-se n e s te se n tid o a o “ p lu ­ b e le c id a p e lo c ris tia n is m o e n tre os fin s
r a lis m o ” , q u e c o lo c a n o fu n d a m e n to d a s d a c a rn e e o s fin s d o e sp írito ; ex celên ­
c o isa s a d e s c o n tin u id a d e , a m u ltip lic id a ­ c ia d a n a tu re z a ; ra c io n a lism o ; relig ião d a
d e in d iv id u al, a re a lid ad e de u m dev ir q u e c iê n c ia , d o b e m e d a b e le z a ” . Die Wel-
trãthsel 2 c a p . X V I I I e X IX . M onis-
1. A concepção m on ista d o m undo, particular­
m ente em L o tze. 2. Os enigmas do mundo.

Crítica. O te rm o monism o, m esm o q u e p o s s a o fe re c e r a lg u n s in c o n v e n ie n te s , p a ­


re c e s e r ú til p a r a d e sig n a r q u a lq u e r d o u tr in a q u e a firm e q u e a d u a lid a d e , a p lu ra li­
d a d e (a in d a q u e in fin ita , c o m o deve ser) s u p õ e e re q u e r, p o r ra z ã o d e ex istên c ia e
ra z ã o d e in te lig ib ilid ad e , u m a u n id a d e im a n e n te q u e c o n stitu i a su a lig a ç ã o . E s ta u n i­
d a d e p o d e n ã o ser u m a “ s u b s tâ n c ia ” , n e m u m a lig a ç ão “ ló g ic a ” . A o m o n ism o su b s-
ta n c ia lis ta , a o m o n is m o ló g ico e d ia lé tic o , a o m o n is m o m a te ria lis ta , a o m o n is m o
e sp iritu a lis ta v e m o s, p o r e x e m p lo , G u y a u o p o r u m m o n is m o v ita lis ta n o q u a l é a
v id a , e m c o n tín u o d e v ir, e m c o n tín u a “ e x p a n s ã o d e in te n s id a d e e d e fe c u n d id a d e
e x te n s iv a ” , q u e p r o d u z a m u d a n ç a u n iv e rs a l n a q u a l m a té ria e e s p írito s ã o a p e n a s
“ e x tra to s ” , c u jo p ró p r io ser é u m a “ a b s tr a ç ã o ” (v er a Irreligião do fu tu ro , I I I p a r ­
te ). O u tro s m o n is ta s p o d e r ã o c re r q u e a p r ó p r ia v id a , q u e a “ e x p a n s ã o v ita l” p re s ­
s u p õ e u m p rin c íp io d e u n id a d e m a is ra d ic a l e m a is e x p lic a tiv o , u m a “ v o n ta d e de
c o n sc iê n c ia ” e m p e rp é tu a “ e x erçã o e a s s e rç ã o ” , n a q u a l o p o d e r e a in te lig ê n c ia ,
a f o r ç a e a id é ia s ã o re c o n d u z id a s a u m a in d isso lú v e l u n id a d e n o p rin c íp io se m p re
d in â m ic o e n ã o e stá tic o d a e v o lu ç ã o u n iv e rsa l. T r a ta r- s e -á e n tã o d e u m m o n is m o
in d iv isiv e lm e n te v o lu n ta r is ta e id e a lista . S e ja c o m o f o r , u m c e rto m o n is m o é e s ­
sen c ia l a q u a lq u e r filo s o fia d ig n a d e ste n o m e , a q u a lq u e r filo so fia q u e n ã o s e ja pre­
guiçosa.
O te rm o m o n is m o p a re c e -m e , p o is , d e v e r ser c o n s e rv a d o ; o te r m o p a n te ís m o ,
p a n e n te ís m o , e tc . e x p rim e m a p e n a s v a rie d a d e s d o g ê n e ro , d o s m o d o s p a rtic u la re s
d e re p re s e n ta ç ã o d o u n o n o d iv e rso . (A. Fouillée)
V er A. F ÃZ « Â Â é E , La pensée et les nouvelles écoles anti-intellectualistes (1911),
e a d isc u ssã o d e s ta o b r a , em p a rtic u la r so b o p o n to d e v is ta d o m o n is m o q u e r e p re ­
s e n ta , e m “ O v o lu n ta ris m o in te le c tu a lis ta d e F o u illé e ” , R evuephilosophique, ja n e i­
ro d e 1 9 1 2 . (A . L .)
M ONÓDROM O to o

m o, n e ste s e n tid o , n ã o d e s ig n a a p e n a s d ife re n te . H á m e sm o u m a o p o s iç ã o h is ­


u m a d o u tr in a , m a s ta m b é m u m p a r tid o tó ric a d e f a to e n tre o m o n is m o d e B ra-
so c ia l. V er C rític a , d le y e a e sc o la e v o lu c io n ista à q u a l se li­
D , N u m s e n tid o m u ito m a is a m p lo , g a , p e lo c o n trá rio , d ire ta m e n te , o m o n is ­
p o r q u e d e s ig n a a p e n a s u m a te n d ê n c ia e m o d e H a e c k e l. U m é e sse n c ia lm e n te an­
n ã o u m s iste m a a c a b a d o , e n c o n tra -se n as tipluralismo; o o u tr o , antidualismo.
o b ra s d e P a u l C τ 2 Z è , e n a re v is ta The A lé m d o m a is , a p a la v r a m onism o ,
M onist, f u n d a d a em 1900 p o r H ; Â 2 E E E
n e sta ú ltim a a c e p ç ã o , j á n ã o desig n a o c a ­
e p o r ele p a r a d e fe n d e r a d o u tr in a seg u n ­ rá te r a b s tr a to d e u m a d o u tr in a , m a s , p e ­
d o a q u a l: 1? e x iste s o b re to d o s o s te m a s lo c o n tr á r io , in concreto, o c o n ju n to in ­
u m a ú n ic a v e rd a d e , v irtu a lm e n te d e te r ­ te g ra l d e teses d e fe n d id a s p o r u m p a r ti­
m in a d a à p a r tid a , in te m p o ra l, in d e p e n ­ d o filo s ó fic o -p o lític o , e este m e sm o p a r ­
d e n te d e to d o d e s e jo e d e to d a a ç ã o in d i­ tid o . O m o n is m o o p õ e-se a o cristian ism o ,
v id u a l; 2? to d a s a s v e rd a d e s , q u a lq u e r
e sp e c ia lm e n te a o c a to lic is m o , q u e a ta c a
q u e se ja o seu d o m ín io e a s u a o rig e m ,
c o m a r d o r e m to d o s o s d o m ín io s (v . Die
e stã o de a c o rd o en tre si; 3? o co n h ecim en ­
Weltrãthsel, c a p , X V II). D e fe n d e a Kul-
to c ie n tífic o e a fé re lig io sa p o d e m ser
tu rk a m p f e tr a b a lh a p a r a s u p rim ir o ca­
c o n c ilia d o s in te g ra lm e n te sem n a d a p e r­
rá te r c o n fe s s io n a l d a s e sc o la s, fo r te m e n ­
d e r d o seu c o n te ú d o e ssen cial.
te p ro te g id o n a A le m a n h a p e lo g o v e rn o
A re v ista The M onist a c o lh e , p o r o u ­
(ibid., c a p . X IX ). A p re s e n ta -s e , f in a l­
tr o la d o , to d a s as esp écies d e d o u tr in a s
m e n te , c o m o u m a re lig iã o , q u e re c la m a
“ m o n is ta s ” , s e ja q u a l f o r o s e n tid o em
a u tiliz a çã o d a s Ig reja s p a r a as “ livres c o ­
q u e elas assim se d iz e m . V er H τ T 3 Â , E E

m u n id a d e s m o n is ta s ” (ibid., c a p . X V III:
Our M onism (1892); L lo y d M Ã 2 ; τ Ç ,
“ U n se re m o n is tis c h e R e lig ió n ” 2); e , de
Three Aspects o f M onism , (1894); W o -
ODS H Z I T 7 « Çè Ã Ç , The H oliness o f f a to , o e n tu sia s m o dos seus a d e re n te s to ­
Instinct1 (1896), etc. m a fr e q ü e n te m e n te o caráter d e u rn a fé
E . D iz-se a in d a , n u m sen tid o m ais res­ religiosa.
tr ito , d e to d a d o u tr in a q u e a f ir m a , para D ev e-se p o r ta n to usar a p e n a s co m
um domínio limitado d e id é ia s o u d e f a ­ m uita re s e rv a u m term o c u jo s s e n tid o s
to s , c e rta u n id a d e d e e x p licação (red u ç ão s ã o a o m e sm o te m p o tã o d iv e rso s e tã o
a u m só p rin c íp io , a u m a só c a u s a , a u m a e sp e c ia liz a d o s. N o s e n tid o C , naturalis­
só te n d ê n c ia o u d ire ç ã o : “ M o n is m o es­ m o (de q u e ta m b é m H τ E T3 E Â se s e r­
té tic o ; m o n is m o m o r a l” ). N o s p a íse s d e ve) c o n v iria m e lh o r p a r a d e sig n a r a b s tra -
lín g u a in g le sa, e s ta p a la v r a é fre q ü e n te - ta m e n te o c a r á te r filo só fic o d a s u a d o u ­
m e n te a p lic a d a à c h a m a d a te o r ia d o p a ­ tr in a .
ra le lis m o p sic o físic o . Rad. in t.: M o n ism .

C RÍTIC A M ONÓDROMO V er U n ifo rm e


V em o s q u e , m esm o d e ix a n d o de la d o (F u n ç ã o ).
a s ap licaçõ es sec u n d á ria s, e sta p a la v ra re ­
“ M O N O G Ê N E S E ” D . E . Monoge-
cebeu sen tid o s m u ito div erg entes. N a d a es­
nesis; F . Monogénèse; I. Monogenesi.
t á m ais a fa s ta d o d o “ m o n is m o ” a lem ão
U n id a d e d e o rig e m . O p õ e -se à poli-
d o q u e o “ m o n is m o ” in g lês; n ã o só as
fó rm u la s , m a s ta m b é m a p o siçã o d o s p r o ­ gênese. E s te s te rm o s , a s s i m c o m o o s a d ­
b lem as e m a is a in d a o e sp írito g e ra l a p re ­ je tiv o s c o rre s p o n d e n te s monogenético,
s e n ta m u m a o rie n ta ç ã o c o m p le ta m e n te poligenético, sã o ú te is e c o rre s p o n d e m a

1. A san tidade d o instinto. 2. “ A nossa religião m onista” .


701 M O N O T E ÍS M O

problemas im portantes na história das es­ M O N O M A N IA ( E è I Z « 2 Ã Â , D es m a­


pécies, da linguagem, das ciências, das re­ ladies m entales, 1839) D. Monomanie', E.
ligiões, das instituições. M onom ania·, F. M onom anie·, I. M o ­
R ad. int.: M onogenesi. nom ania.
Perturbação mental crônica e sistemá­
M ON O ID EÍSM O D. M onoideism us;
tica, lim itada a um a só ordem de id é ia s ,.
E. M o n o id eism ; F . M o n o ïd éism e ; I. M o - com a conservação quase norm al das ou­
noidèism o. tras funções do espírito. Sendo hoje m ui­
A . A plicado à atenção ( R « ζ Ã ): es­ I
to contestável, a unidade nosológica da
tad o de concentração e de organização
classe assim constituída e, p o r o u tro la­
do espírito em to rn o de u m a idéia dom i­ d o, tendo a palavra m an ia tom ado um
nante. sentido técnico com pletam ente diferente,
B. A plicado a certos estados de hip­
este term o tende a desaparecer do voca­
nose (B2 τ « á , J τ Ç ): estados em que,
E I
bulário dos alienistas. C f. M ania.
devido a um a grande diminuição do cam­ R ad. int.: M onom ani.
po de consciência, um a só idéia, de con­
teúdo m uito simples, ocu pa o espírito de M O N O TEÍS M O D . M onotheism us·,
um a fo rm a exclusiva e durável. E. M onotheism ·, F. M onothéism e·, I. M o ­
R ad. int.: M onoideism . n oteísm o.

Sobre M onoteísm o — A prova deste artigo era acom panhada das notas seguintes
e de um a n o ta que cham ava particularm ente a atenção dos m em bros e correspon­
dentes da sociedade p ara as opiniões que m encionava: “ A . S. P 2 « Ç ; Â - P τ « è Ã Ç E I I

e A. T. O 2 OÃ Çá (B a ld w in ’s D ictio n a ry, sub Vo) m encionam um segundo sentido,


propriam ente filosófico, dizem eles, que consiste na d o utrina segundo a qual Deus
é um ser indivisível e personifica o princípio un itário da realidade.”
“ A dm item igualm ente que o m onoteísm o é um gênero de que o Teísm o e o P a n ­
teísm o são espécies. Parece-me que esta utilização é tam bém contrária à nossa trad i­
ção filosófica. É igualm ente excluído, do p onto de vista da língua alem ã, por Eis-
L E R , que define assim o m onoteísm o: ‘G laube an einen einzigen, alles beherrschen­
den un d lenkenden, persönlichen, lebendigen G o tt ’1(3? ed., p. 821). (Estes últim os
epítetos não figuravam n a prim eira edição.)”
N um erosas respostas, escritas ou verbais, foram -nos enviadas, e verificou-se que
existem algumas divergências no sentido que os filósofos atribuem a esta palavra.
Os únicos pontos de acord o quase gerais parecem ser os seguintes: 1? Que o m o n o ­
teísm o é antes de tudo um term o histórico, oposto a p o liteísm o , e que designa o ca­
ráter com um do cristianism o, do m aom etanism o, e do judaísm o (no seu desenvolvi­
m ento com pleto), a saber, a crença de que existe um só Deus, distinto do M undo.
2? Que, por conseqüência, m onoteísm o não poderia ser um genêro de que teísmo
ou panteísm o fossem as espécies. (/. Lachelier, L . C ou tu rat, L. Brunschvicg, E d.
L e R o y , R. B erth elot, F. M entré, E. Blum , C. R an zoli, etc.)
O m onoteísm o, parece-me, supõe sem pre um a divindade exterior ao m undo “ ein
G ott, der von aussen stosst ” 1 2(G Ã ) . Trata-se de um a concepção basicam ente
E I 7 E

dualista. O panteísm o, pelo contrário, poderia ser en carado com o um m on ism o es­
p iritu alista. (O. K arm in )

1. “ C ren ça n u m D eu s ú n ic o , q u e g o v ern a e d irig e tu d o , pesso al e v i v o / ’


2. “ um D eu s q u e Ihe d á d o ex terio r um im p u lso ” .
M O N O T E ÍS M O 702

D outrina filosófica ou religiosa que tras. M ax MZ Â Â E 2 designou esta atitude


adm ite um só D eus, distinto do m undo. sob o nom e de H en oteísm o (no seu a rti­
Cf. A teísm o , D eísm o, D eus, P oliteísm o, go S em itic M o n oth eism , 1860). Ele con­
P an teísm o. sidera esta form a de religião como um es­
tad o an terio r ao m onoteísm o e a o p o li­
NOTA
teísmo propriam ente ditos. Propôs-se
Convém distinguir do m onoteísm o, tam bém , neste sentido, a palavra m ono-
para o qual só existe um Deus, as religiões latria (A. Lë è à ).
que adm item apenas o culto a um a só di­ P a ra a crítica, ver as observações.
vindade, m as sem negar que existem o u ­ R a d . int.: M onoteism .

Filológicam ente, teísm o deveria ser o gênero, m on o teísm o , p a n teísm o , p o lite ís­
m o , etc., as espécies. (L . C o u tu ra t — L . B oisse) M as a história das palavras opõe-se
a isso: ver em K τ Ç , Crítica da razão p u ra (A 631; B 659), a definição que ele dá
I

do Teísm o, crença num Deus inteligente e pessoal, p o r oposição ao D eísm o . (A . L .)


Teísm o e p a n teísm o diferem tã o profundam ente que já não m e parece possível
fazer destes dois term os duas espécies de um m esm o gênero; b asta opô-los um e o u ­
tro a ateísm o ou m aterialism o. (J . Lachelier )
O sentido definido por E « è Â 2 é um pouco dem asiado estreito; o Deus de A ris­
E

tóteles não “ go verna” nem “ dirige” o “ m u n d o ” . E sta d o utrina é, porém , m o n o ­


teísta. (R . B erth elot)
E « è Â 2 parece-m e restringir arbitrariam ente o sentido d a p alavra. Espinosa não
E

será tão m onoteísta com o Descartes? D izer que h á apenas um Deus n ão corresponde
a decidir se ele é im anente ou transcendente. O “ segundo sentido” distinguido no
D icionário de B τ Â á ç « Ç parece-m e ser o sentido usual da palavra. (E . G o b lo t)
Sendo dadas a utilização e a significação d a palavra nàvos (Unico, só , e n ão indi­
visível), não posso adm itir o segundo sentido indicado no D icionário de Bτ Â áç « Ç .
(M. Bernes)
N ão conheço exemplo preciso do segundo sentido indicado por P ringle-P attison
e O rm ond. M as somos conduzidos m uito logicamente de significação numérica e quan­
tita tiv a de um a palavra à sua significação qualitativa. Saber que existe apenas um
Deus ensina-nos já , de algum a form a, sobre os seus atributos.
N ão há qualquer dificuldade em distinguir entre m onoteísm o e politeísm o; m as
existe em distingui-lo do panteísm o. Pode-se, contudo, creio eu, conform em ente ao
espírito tão p rofundo do espinosism o, dizer que para o panteísm o (que não é um a
d o utrina d a radical identidade) o m un do não existiria sem Deus, m as D eus tam bém
não existiria sem o m undo. O m onoteísm o, pelo co ntrário, adm ite que o m undo cer-
tam ente n ão pod eria existir sem Deus; mas adm ite tam bém qu e D eu s p o d eria su bsis­
tir sem o m u n do. Exclui a dependência bilateral, qu e é característica essencial d o
p a n teísm o . (L . B oisse )
O term o h en oteísm o, pro posto por M ax M üller, responde a um a necessidade real
do pensam ento. N ão se com preende que n ão se lhe tenha dado m elhor acolhim ento
n a França. Veja-se, por exemplo, que confusão a fa lta desta distinção verbal pro vo­
ca em to do o tom o I da H istória d e Israel, onde R enán se esforça p or explicar a fase
prim itiva (politeísmo eloísta), a fase clerical (henoteísm o javeísta), a fase evoluída
(m onoteísm o p uro ) da religião ju daica. Esta chegou quase que de prim eira à concep­
ção de um Deus único, espírito quase inefável, bem distinto dos deuses do espiritua­
lismo e do m aterialism o ariano (Zeus, Júpiter). M as este Deus é ainda um Deus local;
703 M ORAL

M ONTÃO (Argumento do) Ver Sorite. vaçâo e constatação. Ver Lé âà -B2 Z 7 Â ,


L a m orale et la science d es m oeurs, pp.
1. M O RA L (adj.) L. M oralis (criado
24 ss.
por CBTE 2 Ã , segundo o seu pró prio tes­
A este sentido, mas tam bém aos sen­
tem unho, p ara traduzir o G. y\8ixóv. D e
tidos D e E , liga-se a expressão “ sentido
F a to , I); D. A . B. C. Sittlich·, A . B. D.
m o ral” (E. M o ra l Sense·, S H A F T E S B U R Y ,
Ethisch, moralisch·, E . G eistes...; E. M o ­
H Z I T7 E è ÃÇ ), ver Sen tido.
ral, em todos os sentidos; B. Ethical·, E.
B. Que se refere ao estudo filosófico
Mental·, F. M oral·, I. M orale em tod o s os
do bem e d o m al. “ T odas as teorias m o ­
sentidos.
A. Referente quer aos costumes, querrais, mesmo as mais cépticas... consta­
a regras de co nduta adm itidas num a so­ ta m ... que o indivíduo não pode viver
ciedade determ inada. “ U m fato m oral é unicam ente p a ra si m esm o.” GZ à τ Z ,
norm al para um tip o social determ inado M o ra le san s o b lig ., p. 31.
qu ando se observa n a m édia das socieda­ C. (oposto a im oral). Louvável, con­
des dessa espécie.” D Z 2 3 « O , D ivisã o
7 E
form e à m oral no sentido A . “ Seria ab­
d o trabalho social, intro d. Cham a-se surdo tom ar como morais apenas as ações
“ realidade m oral” , neste sentido, ao con­ indiferentes ou dolorosas para a sensibi­
ju n to dos costum es e dos juízos sobre os lidade.” Rτ Z 7 , L ’expérience m orale,
costumes que podem ser objeto de obser- cap. I, p. 27.

Deus uno, m as n osso Deus (ver RE Çá Ç , ib id ., I, 173). N ão quer dizer que a cidade
antiga, com o seu Deus p ro teto r, seja tam bém h en oteísta (Olím pia, D elfos, A tenas).
Esses deuses, obra da im aginação artística e m edida dos gregos, n ad a têm em co­
m um com a concepção extraordinária e única de Jahvé, concepção que o gênio greco-
latino nunca pôde assim ilar. (E . Blum )
R a n zo li cita o dicionário de K « 2 T Ç 2
7 e M iC H A E L is, p ara quem o panteísm o,
E

o teísm o, o deísmo seriam espécies do m onoteísm o, e da m esm a fo rm a o henoteís-


m o, enquanto form a prim itiva deste. A palavra m onoteísm o, acrecenta Ranzoli, não
im plica nem exclui por si mesmo a idéia de personalidade. Sob este ponto de vista,
nada impede que se faça aí entrar o panteísm o ou o deísm o; m as, por o u tro lado,
im plica a idéia de unidade; ora, a fo rm a mais elevada e mais real d a unidade de que
nós temos experiência é a personalidade: e por isso, quando se fala de m onoteísm o,
se pensa sempre, e com razão, num só Deus pessoal.
(N otar-se-á nesta observação a passagem , já discutida m ais acim a, da idéia de
Deus único à idéia de Deus uno.)
Sobre M oral (1) — A ordem dos sentidos, tais com o acim a ficaram expostos,
foi proposta p o r J. Lach elier e C ou tu rat.
A passagem dos sentidos precedentes p ara o sentido E explica-se provavelm ente
pelo fa to de a vida consciente do hom em ter sido prim eiram ente considerada quase
unicam ente sob o seu aspecto pro priam ente m oral, nos sentidos A e B: p o r exemplo,
em P la tão , A ristóteles, Séneca, etc., e m esm o no senso com um . D aí a distinção en­
tre o hom em m aterial ou fís ic o e o hom em m oral, depois do “ físico” e do “ m oral”
e, finalm ente, o em prego do “ m oral” p a ra designar tu d o o que, no hom em , não
cai p o r n atureza sob os sentidos. A “ pessoa m o ral” é, prim eiram ente, a pessoa sus­
cetível de agir bem ou m al; m as, por extensão, com preende to d a a vida intelectual,
afetiva, etc., que ultrapassa a individualidade m aterial e biológica. C f., inversamen­
te, o duplo sentido da palavra consciência, em francês.
M ORAL 704

D . (oposto a lógico, ou a intelectual, T2 íI « Tτ

algum as vezes a m etafísico). Relativo à Este e os seguintes termos apresentam


ação e ao sentim ento. ao mais elevado grau a confusão entre o
“ A inda que tenham os tam anha segu­ “constativo” e o apreciativo, entre o juízo
rança m oral acerca dessas coisas que p a ­ de fato e o juízo de valor. Todos os argu­
rece que só por extravagância delas p o ­ mentos, todas as fórmulas em que desem­
dem os duvidar, todavia tam bém , quan­ penhem um papel im portante devem ser,
do se trata de um a certeza metafísica, não por isso, submetidos a um a atenta crítica.
podem os negar, sob pena de insensatez, R ad. int.: A . M oral; B. Etik; C. Bon;
que h aja m otivo bastante para não estar­ D. P raktikal; E . M ental.
mos inteiramente seguros, etc.” DE è Tτ 2 ­
I E è , D iscurso d o m éto d o , IV, 7. Cf. 2, M O R A L (subst. m asc.) Sem equi­
C erteza* m oral, N ecessidade* moral. valentes precisos nos sentidos A e B; D.
E . (oposto a m aterial, físic o ). R elati­ M u t\ E. Spirits, m ood; F . M oral.
vo ao espírito, e não ao corpo ou a ou­ A . O co njunto dos fenômenos da vi­
tros objetos m ateriais. “ As ciências m o­ da m ental, por oposição à vida do co r­
ra is.” “ A estatística m o ral.” po. C τ ζ τ Ç« è , R elações d o físic o e do
“ Pessoa m o ral” , ver P essoa. m oraI do h om em , 1802.
Ligam-se a este sentido as expressões B. Estado afetivo, nível m ental (este
fo rtu n a física, fo rtu n a m oral, empregues
sentido é sobretudo fam iliar. “ O m oral
é bom ; elevar o m o ral” ; m as representa
por E Z Â 2 e L τ ú Â τ T p ara opor o sen­
E E
um a idéia psicológica im portante, cujo es­
tim ento interno de um aum ento de rique­
tudo científico é recente).
za ao valor numérico desse aum ento. Ver
L τ ú Â τ T , Teoria analítica das p ro b a b i­
E 3. M ORAL (subst. fem.) D. A . B. Sit-
lidades (1812), livro II, cap. X. Cf. mais te, Sitten, S ittlichkeit; C. Sittenlehre,
adiante M o ra l (subst. m ase.). Ethik; M oral, em todos os sentidos; E.

Os textos seguintes são interessantes para m ostrar o caráter usual do sentido D no


século XVII; “É necessário distinguir dois tipos de universalidade, um a a que p o d e­
mos chamar metafísica e a outra moral... Chamo universalidade m oral àquela que aceita
algum a exceção, porque nas coisas m orais já nos contentam os com que as coisas se­
ja m assim ordinariam ente” (por exemplo, que todas as mulheres gostam de falar, que
todos os jovens são inconstantes, etc.). “Essas proposições, que devemos encarar co­
m o m oralm en te universais..!’ Lógica de P Ã 2 - R Ã à τ Â , II, cap. X III. (A. L.)
I

Sobre M oral (3) — A lguns correspondentes expressaram dúvidas sobre a questão


de saber se estes três sentidos n ão deviam, no fu ndo, ser considerados como três as­
pectos de um a m esm a idéia fundam ental; co njunto de regras de conduta. Que existe
entre estas três acepções um a parte im portante de elem entos com uns é indubitável.
A distinção que entre elas existe não é tão vincada com o aquela que separa m oral
no sentido de m en ta l e m oral oposto a im oral. Mas existem todavia en tre elas dife­
renças profundas: podem os percebê-lo através dos equívocos que estas palavras en­
gendram freqüentem ente na discussão. E ntre A e B, a diferença é sobretudo na ati­
tu de que a palavra im plica naquele que fala: a acepção B postula im plicitam ente que
existe um a m oral perfeita de que as m orais no sentido A são apenas aproxim ações
ou degradações; a acepção A não im plica nad a de sem elhante, e aqueles que a utili­
zam subentendem freqüentem ente que não existe m oral no sentido B. E ntre A e C,
a diferença reside sim ultaneam ente no grau de reflexão e no conteúdo. U m a m o­
ral no sentido C, um sistem a ético (por exemplo, a m oral de K ant) difere tan to
705 M O R A L IS M O

A . B .M o ra lity; C . Ethics, m ais raram en­ D. C onduta co nform e à m oral*, por


te, Moral·, F. Morale-, I. M orale em to ­ exemplo, quando se fala dos “ progressos
dos os sentidos; C. Ética. da m o ral” , entendendo p o r isso n ão um
A . (um a m oral). C onjunto das regras progresso das idéias m orais, m as a reali­
de conduta admitidas num a época ou por zação de um a vida m ais hum an a, de um a
um grupo de hom ens. “ U m a m oral se­
m aior justiça nas relações sociais, etc. Ver
vera. U m a m á m oral. U m a m oral rela­
L é â à -B 2 Z Â , A m o ra l e a ciência d o s
7
x ad a .” “ C ada povo tem a sua m oral, que
costum es, cap. IV, § 2.
é d eterm inada pelas condições nas quais
vive. N ão se p ode, pois, inculcar-lhe ou­ R ad. in t.: A . B. M oral; C. Etik; D.
tra , p o r m ais elevada que seja, sem o d e­ M orales.
sorganizar.” D Z 2 3 « O , D ivisão d o tra­
7 E
M O R A L ID A D E D . M oralisch er,
balh o social, II, cap. I.
ethischer Wert; B. Sittlichkeit; E. M orais,
B. (a M oral). C onjunto das regras de
co nduta tidas com o incondicionalm ente M o ra lity, F . M oralité; I. M oralità.
válid as. “ E x p licar (o m a l)... seria A . C aráte r m oral, valor (positivo ou
absolvê-lo, e a m etafísica n ão deve expli­ negativo) do p o n to de vista do bem e do
car aquilo que a m oral condena.” J. Lτ - m al. Diz-se quer das pessoas, quer dos
T7 Â « 2
E E , “ Psicologia e m etafísica” , em juízos, quer dos atos.
L e fo n d e m e n t d e 1’in duction , 3? ed., p. B. (oposto a im oralidade). V alor m o­
171. ral (positivo), conform idade ao ideal
C . Teoria arrazoada do bem e do mal. m oral.
Ética*. A palav ra, neste sentido, implica C. C o n d u ta m oral. “ A m oralidade
sem pre que a teoria em questão visa con- p ú b lica.” “ U m a elevação da m oralida­
seqüências norm ativas. N ão se diria de
d e .”
um a ciência objetiva e descritiva dos cos­
R ad. int.: M orales; bon(a) morales(o).
tum es, ou até dos juízos m orais (no sen­
tido A). “ Form ei para mim um a m oral M O R A LISM O D. M oralism us; F.
provisória, que consistia apenas em três
M oralism e.
o u quatro m áxim as, etc.” D è T τ 2
E I Eè ,
A. F « T7 chama à sua doutrina Rei-
I E
D isc. d o m é to d o , III, 1.

de um co njunto de juízos m orais espontâneos com o a filosofia difere do senso co­


m um : pretende não só sistem atizá-lo, m as tam bém retificá-lo em certos pontos. E n ­
tre B e C, a diferença é inversa: cada m oral filosófica esforça-se por exprim ir, na
linguagem da teo ria, a m oral perfeita que pressupõe (cf. a n o ta 3 de Kant ao p re fá­
cio da R azã o prática). Poderíam os mesmo ir mais longe, e distinguir um a q u arta
acepção, aquela que esta palavra recebe em Pascal quando este escreve: “ A verda­
deira m oral ri-se da m o ral.” A verdadeira m oral não é aqui o sentim ento vivo e ju s­
to , a evidência interior do bem e do mal? E a m oral de que ele se ri pode ser quer
o conjunto rotineiro das regras da m oral tradicional, quer, antes, a especulação m o­
ral dos filósofos. (Vê-se, por o u tro lado, neste caso, quanto m uda a idéia, consoante
se entenda a palavra no sentido A ou no sentido C.) M as seria subdividir demais,
e esta “ verdadeira m o ral” está m uito próxim a do nosso sentido B. (A . L .)
Sobre M oralismo — “ A censura de m oralismo, que se dirige ao escotismo, porque
funda o poder dos seus chefes na ação positiva dos exemplos, parece à prim eira vista
justificada, porque a vida m oral é mais facilm ente captável pela observação do q u e
a vida religiosa. Trata-se de um espantalho com que não convém enganarm o-nos.
M O R F O L O G IA 706

n er M oralism u s ', enquanto faz de um a oposição ao estudo da sintaxe. Foi m ui­


lei d a ação, e n ão do ser, o princípio su­ to mais recentemente introduzida em geo­
prem o da filosofia (D arstellu ng d er Wis- logia, em sociologia, etc.
senschaftslehre2, 1801, § 26. Sãm m t. W . R ad. in t .: M orfologi.
II, p. 64).
B. O Â Â é - L τ ú 2 Z Ç , sem conhecer es­
E
M O RG AN (Princípio de) Ver P arci­
ta expressão, criou esta m esm a palavra: m ôn ia, 4?.
“ [Renouvier] n ão terá o seu misticismo “ M Ó R U LA ” L. M o ru la , pequena
tam bém e, com o direi, o seu fanatism o pau sa, pequeno atraso (dim inutivo de
m oral (K ant falava do fanatism o m oral m ora).
dos estoicos), o seu m oralism o, se ouso Este term o é utilizado no século XVII
fo rm ar esta palavra b á rb a ra ? ” L a certi- para designar, por oposição à teoria da
íu d em o ra le, 1880, cap. V , cf. F Ã Z « Â Â é ,
E
continuidade do m ovimento, as paradas
L e m oralism e d e K a n t e t T am oralism e imperceptíveis que o interrom pem , n a hi­
con tem porain , 1905. pótese da sua descontinuidade. “ Se o m o­
Este term o é usado algum as vezes vimento... é interrom pido p o r m órulas,
num sentido pejorativo p ara designar o qual é a causa que suspende o curso de um
apego à m oral, separada de qualquer corpo u m a vez este agitado? N ão repug­
crença m etafísica ou religiosa, ou mesmo n a ao m ovim ento ser contínuo, etci’ BoS-
o apego à correção da conduta, sep ara­ è ZE I, Tratado d o livre-arbítrio, cap. IV.
do do sentimento m oral que o deveria ani­
m ar. Ver as observações. M O T IV A Ç Ã O
D . M o ti v a ti o n
(S T 7 Ãú E M otivation-, F .
Ç7 τ ü E 2 ); E.
NOTA
M otivation·, I. M otiva zio n e.
O dicionário de E « è Â E 2 (3? edição) | A . Relação de um ato com os m oti­
indica apenas M oralism u s com o o term o vos que o explicam e o justificam .
antitético de Im m oralism us: reconheci­ B. Exposição dos m otivos sobre os
m ento de um a lei m oral obrigatória (se­ quais repousa um a decisão.
gundo K2 Z ; , H andb. d er P h ilo s., II, R ad. int.: A . M otives; B. Motiviz.
217). Este sentido não existe em francês.
M OTIV O D. M o tiv, B ew eggrund ; E.
M O RFO LO G IA D. M o rp h o lo g ie ; E. Motive-, F. M o tif: I. M o tivo .
M o rp h o lo g y, F. M orphologie·, I. M or- Propriam ente, aquilo que move (L.
ph o lo g ia . escol. m o tivu m , causa m otiva, no senti­
Teoria das form as; particularm ente do mais geral: ver S T ü U , T hom as Le- 7 I

usada em B « Ã Â Ã ; « τ , onde m orfologia se xik o n , sub V o) e, freqiientem ente, no sé­


diz sobretudo do estudo dos tipos carac­ culo X V II, aquele que m ove (o org ani­
terísticos das espécies anim ais e vegetais; zador de um caso, o artesão de um a in­
em L « Ç ; ü í è « T τ , onde esta palavra de­
I
triga), de onde, atualm ente:
signa o estudo das form as verbais, por A. T oda causa de ordem m ental que
pro duza ou que tenda a produzir um a
1. M oralism o p uro.
ação voluntária.
2. E xposição da doutrina da ciência. B. M ais especialmente ainda, estado

O m oralism o com eça onde o ato é considerado mais im portante do que a inspiração
de on de d eriv a.” A . N . B 2 2 τ Çá , T ém oins, p. 59. E sta utilização pejorativa p are­
E I

ce m uito pouco recom endável, sobretudo com o duplo sentido que pode receber. So­
bre a independência da m oral, m esm o filosófica, face a todo “ fu ndam ento” de fa­
to , ver L a raison e t les n orm es, cap. VI.
707 M O T O R (T ip o)

m ental onde predom inam os elementos m o “ m otivo inconsciente” , que seria la­
intelectuais, e de tal fo rm a que, se fosse mentável que se proibisse; 3? correspon­
apenas ele que estivesse em jogo, deter­ de a um a classe que não é útil constituir,
m inaria um a certa ação voluntária. porq ue raram ente se tem de encarar co­
m o um todo.
C R ÍT IC A
R ad. int.: A. M otiv.
M o tivo e m ó vel fo ram utilizados de
um a m an eira pouco constante n a lingua­ 1. M O T O R (subst.) D. Beweger; E.
M o ver, F. M o tea r; I. M o to re.
gem filosófica. Ver mais adiante a análi­
N o sentido geral, aquilo que se m o­
se e a Crítica desta últim a palavra; e cf.
ve. J á quase só é utilizado p a ra traduzir
E « è Â 2 , VÃ M o tiv. Seria desejável que se
E

o G. κ ι ν ο ύ ν , nas expressões de A 2 « è ó ­ I
reservasse m o tivo p ara o sentido B, que
I E Â è :
E t ò πρ ώ τ ο ν κ ιν ο ύ ν , τ ο κ ιν ο ύ ν
é já predom inante.
α κ ί ν η τ ο ν , ο prim eiro m o to r, ο m otor-
B τ Â á ç « Ç e S ÃZ I(B a ldm n ‘s D ictio-
I
imóvel, quer dizer, Deus, ou o ato puro
nary, sub V o) afastam a seguinte defini­
que é a causa de to d a m udan ça e de todo
ção: “ to do fim que se considera en trar
devir no m undo, mas sem estar ele p ró ­
n a determ inação de um ato v o luntário” .
prio sujeito à m udança (M etafísica, III,
Pode-se adm itir, com efeito, que esta de­
8; X I, 6-7; etc.): “ κ ι ν ε ί y à ç ώ $ ε ρ ώ μ ε -
finição não está de acordo com o uso, ao
v o v .” Ib id ., 1072b3; τ ο κ ι ν ο ύ ν κ α ι κ ι -
aplicar-se m o tivo a um a idéia, ao conhe­ ν ο ύ μ ε ν ο ν , ο m otor móvel, que não tem
cimento de um fato , tan to quanto ao fim em si mesmo a causa da sua tran sfo rm a­
de que este conhecim ento d ita os meios. ção, mas que é por sua vez causa da trans­
A definição que eles propõem é a seguin­ form ação de um o u tro ser. Cf. M ó v e l e
te: “ A ny conscious element considered as M o vim en to .
entering into the determ ination o f a voli-
tio n .” 1 A póiam -se na auto rid ad e de 2. M O TO R , M O T R IZ (adj.) D. Be-
B Ç τ O , que deu um a definição m ui­
E I 7
wegend; B. M otorisch ; E . M oving, M o ­
to sem elhante (In trodu ction to th e Prin­ tor; F. M o teu r, M o trice ; I. M otore.
cipies o f M o ra l a n d L egislation , cap. X , A . Sentido geral: que m ove. “ F orça
§ 1). M otivo seria então o gênero que m o triz.”
compreenderia os móveis (affects ), os fins B. Especialmente, em psicologia: que
pensados, e todos os outros fenôm enos se refere ao m ovim ento (enquanto opos­
acessórios que contribuem p ara a volição. to à sensação): “ Nervos m otores; centros
M as esta fó rm ula não parece ser mais sa­ m otores” ; ou que tendem p a ra o m ovi­
tisfatória: 1? é dem asiado am pla, envol­ m ento: “ N ão existe um só estado de cons­
veria fatos com o um cálculo ou um a com­ ciência que não contenha em algum ní­
p aração de m otivos, ou um a hesitação, vel elem entos m o to res.” R« ζ ÃI , M atad,
todos eles elem entos que concorrem p a ­ d e la vo lo n té, cap. III (15? edição, p.
ra a ação, m as que nunca foram cham a­ 111) .
dos “ m otivos” em francês; 2? excluiria Id eo m o triz* , cf. Idéias-forças.
a p rio ri a utilização de um a expressão co- R ad. int.: M ovant.
M O T O R (T ipo) D . M o to risch er
1. “ T o d o elem en to co n scien te q u e se co n sid era T yp u s ; E . M o to r type; F. M o teu r type;
e n tra r n a d e te rm in a ç ã o d e u m a to v o lu n tá rio .’’ I. T ipo m o to re.

Sobre M o to r (Tipo) — Ver, m ais ad iante, as observações relativas a m óvel.


M o tive, em inglés, parece claram ente ser a abreviação de fórm ulas tais com o m o ­
tiv e cause, m o tive argum ent, m o tive prin cipie, f r e q ü e n t e s n o s é c u l o X V I . C f . M Z 2 -
RAY, sub V o .
“ M O T R IC ID A D E ” 708

Tipo de im aginação que consiste na t o v xivovpitvov, L . p rim u m m obile ) é o


predom inância da representação dos m o­ céu superior, o u “ prim eiro céu” , que é,
vimentos. É especialmente caracterizado, por sua vez, o m o to r de tu d o o que exis­
no que se refere às palavras, pelo fa to de te no m undo.
o sujeito os representar sobretudo sob a B. A expressão p rim eiro m ó vel, por
form a dos movimentos de articulação pe­ conseqüência, designou m etaforicam en­
los quais as pronunciaría. te o princípio d a ação ou da m udança nu­
R ad. in t .: M otor. m a qualquer ordem de fatos. “ O concur­
so da alm a e do corpo é visível nas p ai­
“ M O T R IC ID A D E ” Função m otriz
xões: m as n ão é claro que o p rim eiro m ó ­
d o ser vivo, oposta à sua função recepti­
vel esteja ora no pensamento da alma, ora
va e sensorial. Pertence de preferencia à
no m ovimento começado pela disposição
linguagem da fisiologia, mais do que à da
do c o rp o .” B Ã è è Z , C onhecim ento de
E I

psicologia.
D eus e d e si p ró p rio , III, II (Didot, 59 B).
M Ó V EL (subst.) D. A . Beweglisches; “ Chama-se, em sentido figurado, p rim ei­
B. P rim u m m o b ile ; C. Beweggrund·, D . ro m ó vel de algum a coisa aquele que lhe
Triebfeder, E. A . M o va b le b o d y, m o b i­ dá o impulso e m ovim ento.” F Z 2 « è 2 , E I E

le·, B. M over, mobile-, C . M otive-, D . A f- D ictionnaire (1690).


f e c t (proposto expressam ente neste sen­ Ver vários exemplos deste sentido me­
tido por S Ã Z I e B τ Â á ç « Ç ) , S ú 2 « Ç ; ; F.
I tafórico no século X V II, em inglês, em
M obile·, I. M o b ile, em todos os sentidos. M Z 2 2 τ à , sub V o (First m obile, G reat
A . A quilo que pode ser m ovido. Es­ m obile).
pecialmente, em Aristóteles, qualquer coi­ C. A quilo que m ove, no sentido m o­
sa é chamada m óvel(xivovgevov) enquan­ ral: idéia ou sentim ento que tende a p ro ­
to m uda, e m o to r (xivovv), enquanto cau­ duzir um ato num ser d o tad o de v o n ta­
sa a m udança. O p rim eiro m ó vel ( n p ä - de. “ D ois m ó veis influem sobre a con-

M o tivo (da mesma form a que prim eiro m óvel) disse-se em francês, no século XVII,
tan to das pessoas com o dos sentim entos ou das idéias. Cf. D ictionn aire d e l ’A c a d é­
m ie (1694); Furetière (1690).

Sobre M óvel — A aproxim ação e a antítese de m o tiv o e de m ó vel, em psicologia,


datam m uito provavelm ente dos ecléticos. A inda que estas duas palavras façam pen­
sar im ediatam ente na oposição aristotélica do χ ι ν ο ϋ ν , e do χ ι ν ο ύ μ ε ν ο ν , os textos ci­
tados atrás parecem m arcar bem que estas palavras chegaram p o r duas vias m uito
diferentes à designação das causas m entais da ação.
C ontudo, J. Bachelier assinalou-nos um texto im portante de A ristóteles em que
a distinção en tre o m otor im óvel, m otor móvel e m otor puro é aplicada aos “ m ovi­
m entos” da alm a (Ilegí ψ υ χ ή s, III, 10). Eis a passagem m ais característica: “ ’Έ σ τ ι
I Òμ ε ν [Λ ι ν ο ί ?] α κ ί ν η τ ο ν τ ο τ ρ α χ τ ό ν α γ α θ ό ν , τ ο δ ε χ ι ν ο ϋ ν χ α ι χ ι ν ο ύ μ ε ν ο ν τ ο
ο ρ ε χ τ ι χ ά ν (κ ι ν ε ί τ α ι γ ά ρ τ ο χ ι ν ο ύ μ ε ν ο ν ή ο ρ έ γ ε τ α ι χ α ι ή χ ί ν η σ ί ί ο ρ ε ξ ί ί t is ε σ τ ι ν
ή ε ν έ ρ γ ε ι α ), τ ο δ ε χ ι ν ο ύ μ ε ν ο ν τ ο ζ ώ ο ν ” (433b15). “ H á , pois, p a ra cada um a das
nossas ações, assim com o p a ra o universo” , diz J. L τ T Â « 2 , “ um m o to r imóvel,
7 E E

o o bjeto do desejo (δ ρ ε χ τ ό ν , τ ρ α χ τ ό ν α γ α θ ό ν ); um móvel que se to rn a por sua vez


m otor, o desejo (ο ρ ε ξ is); finalm ente, um móvel sim plesm ente, o nosso co rpo. Isso
explica, parece-m e, com o o m ó vel tenha podido passar do sentido cosm ológico ao
sentido psicológico: o ‘m óvel’ de um a ação é pro priam ente o desejo, m eio-term o en­
tre o fim e o agente; e talvez o verdadeiro sentido de m o tivo seja o pró p rio fim , que
existe com o idéia no nosso esp írito .”
709 M ÓVEL

d u ta do hom em e determ inam -na: as ten­ de m otivos. Q uando são da ordem da sen­
dências da sua natureza e as idéias da sua sibilidade, são cham ados de preferência
inteligência sobre os diferentes objetivos m óveis. Os m otivos ordenam ou aconse­
aos quais aspiram essas tendências. Q uan­ lham ; os móveis cativam ou envolvem;
do obedece à prim eira dessas influências, m as seja qual fo r a sua fo rm a de ação,
que é instintiva e cega, age passionalm en­ o hom em não pode determ inar-se sem
te; qu ando obedece à segunda, que é es­ eles.” P . J τ Ç , T raité d e p h ilosoph ie,
E I

clarecida e refletida, age racionalm ente.” Psicologia, cap. VI (4? ed., p. 311).
J Ã Z E E 2 Ã à , “ Reflexões sobre a filosofia
C R ÍT IC A
d a h istó ria” , § 1 (M élanges ph ilo so p h i-
qu es, III). Este último sentido é o mais usual. Foi
D. M ais especialm ente, a prim eiraadotado pelo próprio Jouffroy (ainda que
dessas causas de ação: tendência im pul­ com exceções) n o Cours d e d ro ií natural.
siva e afetiva. Ver, em p articula r, as 2 ! , 3? e 4? lições.
“ Todos os hom ens, ao agir, obede­ Ele fez nisso consistir a diferença en­
cem a m otivos de que têm ou não cons­ tre a presença o u a ausência d a liberdade
ciência. Q uando esses m otivos são de o r­ m oral, não no fato de o agente ser in de­
dem intelectual, quer dizer, são idéias, to ­ term inado ou determ inado, m as na deter­
m am então m ais particularm ente o nome m inação por m o tivo s (refletidos) ou por

E sta n o ta coincide com um a observação de E d. G o b lo t , que, reco rd ando talvez


o m esm o texto, nos escreveu o seguinte: “ A distinção en tre os móveis e os m otivos
parece-m e m ais clara se se disser que os móveis são causas eficien tes, e os m otivos,
fin s . D e onde resulta que os prim eiros são sen tim en tos, os segundos, idéias."
Procurei num grande núm ero de dicionários, quer de latim escolástico, quer de
francês, sem encontrar exemplo que parecesse indicar a conservação desta antítese
aristotélica. E , aliás, no texto de Bossuet citado mais acim a, parece que, de fato ,
a m etáfora foi diretam ente tira d a da ordem cosm ológica, na m edida em que aplica
a expressão prim eiro m ó vel até aos m ovim entos do corpo, d a m aneira mais co n trá­
ria ao texto de A ristóteles em causa. M o tivo parece ter igualm ente tom ado o seu sen­
tido por um a outra via. Cf. acim a a Crítica e as observações sobre esta palavra. (A. L .)
Sobre a utilização atu al d o sen tido D . A distinção que P aul Janet lem bra e con­
sagra deve ser retida. Poder-se-ia mesmo insistir sobre a im portân cia dos móveis.
N o concreto, é m uito difícil im aginar um m otivo pu ro estritam ente descolorido e
frio. Se, p o rtan to , todo m otivo é, de algum a form a, m óvel, talvez h a ja necessidade
de reservar a palavra m óvel para aqueles im pulsos d a sensibilidade que não chega­
mos a levar a um a consciência clara — e a palavra m otivo em prim eiro lugar para
idéias pu ras (na m edida em que estas podem agir) e p a ra idéias m isturadas com sen­
sibilidade, com a condição de que possam os sem pre elucidar os nossos impulsos e
esclarecer os nossos sentimentos. O móvel pertenceria de preferência ao subconsciente,
o m otivo ao consciente. (L. B oisse )
L . C ou tu rat pensa, pelo contrário, que esta distinção, puram ente escolar e fra n ­
cesa, n ão tem interesse bastante p a ra que h aja necessidade de a reter, e de lhe atri­
buir um radical internacional.
D. Lagache acha tam bém que a distinção en tre os m óveis e os m otivos de um
ato n ão tem fundam ento psicológico; recom enda a utilização do term o mais geral
m o tivação (curso professado na Sorbonne em 1948-1949; Bulletin dos grupos de es­
tudos psicológicos, 2 3 d e m aio de 1 9 4 9 , p . 7 ).
M O V IM E N T O 710

m óveis (passionais). P o r conseguinte, esta A q u an tidade d e m o vim en to de um


palavra tem m uitas vezes tom ado um a co­ m óvel de m assa m é o p ro d u to da sua
loração desfavorável e im plica um a idéia m assa pela sua velocidade (m v). O m o v i­
de heteronom ia. “ O bedecer a um m ó­ m en to (sem epíteto), ou m o vim en to re­
vel.” C ontudo, esta acepção tam bém não la tivo , é aquele que m uda as distâncias
é constante, porque m ó v e l é utilizado nor­ do móvel considerado relativamente a um
m alm ente p ara traduzir Triebfeder, espe­ sistema de referência que poderia ele pró­
cialmente na utilização kantiana deste ter­ prio ser considerado com o móvel; pode­
m o (K ritik d er p ra ktisch en Vernunft, li­ ria portan to ser substituído, permanecen­
vro I, cap. III: “ Von den Triebfedern der do todas as aparências as mesmas, por um
reinen praktischen V ernunft” , onde dá m ovim ento igual e inverso do sistem a de
com o equivalente ela ter1 anim i). N esta referências em questão. O m ovim ento ab­
aplicação, a palavra nada tem de p ejo ra­ so lu to é aquele que não adm ite esta subs­
tivo, nem de oposto à idéia de liberdade. titu ição, e que pode ser atribuíd o apenas
A m elhor acepção parece ser a B, ao m óvel, não ao sistem a de referência
sep arando-a, se possível, de qualquer as­ ao qual se refere. P oin caré definia-o, do
sociação tendenciosa. ponto de vista físico, com o o “ m ovimen­
R ad. i n t D . M obil (ver as observa­ to de um corpo em relação ao éter, enca­
ções); M obile (adj.): M ovebl. rad o p o r definição com o estando em re­
pouso ab so lu to ” . Este conceito é m uitas
M O V IM EN TO D . Bewegung (B. G e­ vezes utilizado pelos físicos co ntem porâ­
m ütsbewegung); E. M o ve, m o tio n , m o ­ neos. C f. Inércia.
vem ent; F . M o u vem en t; I. M o vim en to . N o sen tid o fig u ra d o :
A. N o sentido próprio, m udança con­ B. Emoções e tendências. “ Esses ape­
tín u a de posição no espaço, considerada tites, ou essas repugnâncias e aversões,
em função do tem po, e, por conseguin­ chamam-se m ovim entos d a alma; não que
te, possuindo um a velocidade definida. A ela m ude de lugar ou que se transporte
simples m udança de posição no espaço, de um lugar p ara outro ; m as d a m esm a
sem consideração da duração, chama-se form a que o que se aproxim a ou afasta
deslocam en to. se m ove, a alm a, pelos apetites ou aver­
sões, une-se a objetos ou deles se sepa­
r a .” B Ã è è Z
E I , C on hecim en to d e D eu s e
1. E later, tra n sc riç ã o d o G . IX cmfe, u tilizad o
co rre n te m e n te n o latim m o d e rn o p a ra im pulso. A s d e si p r ó p rio , I, § 6. Cf. M ó v el, obser­
primeiras edições alem ãs e a tra d u ç ã o d e B arn i t r a ­ vações.
zem elator, q ue n ã o existe em latim , co rrigido e rra ­ C. M udança coletiva de idéias, de opi­
d a m e n te n a edição K irch m an n p a ra elatio, q u e sig­
niões, de tendências; m udança de orga­
n ific aria elev ação.
nização social. “ O caráter essencial do

Sobre M ovim ento — N o sentido A , colocam o-nos sob um ponto de vista já deri­
vado e, por assim dizer, o b jetiva d o . M as, antes desta acepção da palavra definida
em term os físicos, existe um sentido anterior e só por ele o sentido A se to rn a possí­
vel e inteligível. Só existem, com efeito, posições sucessivas e contínuas de um m ó­
v e l, na unidade da r e p r e s e n t a ç ã o d e um m ovim ento, pela síntese q u e os e n v o lv e , os
situa e dos quais Leibniz dizia: Totum estp riu sp a rtib u s. O m ovimento só é realm en­
te dado por este ato sintético; a duração e a extensão só aparecem à análise com o
aspectos solidários ou condições da p ró p ria consciência que tem os do m ovimento.
(M . Blondel)
O § D foi acrescentado por pro p o sta de D w elshauvers.
711 M U LTID Ã O

nosso organism o social, quando nos limi­ A . A to pelo qual um sujeito perm a­
tam os a encará-lo acim a de tu d o num es­ nente se m odifica ou é m odificado em al­
tado puramente estático, abstraindo o seu gumas ou alguma das suas características.
m ovim ento n ecessário...” A ug. C Ã O I E , B. T ransfo rm ação de urna coisa em
Curso d e filo so fia p o sitiv a , 51! lição: o u tra , ou substituição de urna coisa por
“ Leis fundamentais da dinâm ica social.” o u tra.
D. “ M ovimento do espírito” , seqüên- NOTA
cia de representações no pensam ento:
Estes dois sentidos foram nitidam en­
“ C ontinuo et nullibi interrupto cogitatio-
te distinguidos p o r K τ Ç n a C rítica da
I
nis m o tu ...” D è T τ 2 è , R eg. a d dire,
E I E
ra zã o pura·, atribui exclusivamente à p a ­
in g., V II. Cham a-se em particula r M o v i­
lavra Veränderung o sentido A , e à pala­
m ento dialético ao trâm ite do espírito que
vra Wechsel o sentido B (Analogias d a ex­
passa de um a idéia p a ra o u tra em virtu­
perien cia, 1? analogia, A 187; B 230).
de das relações de participação, de impli­
A inda que o prim eiro, pela sua etim olo­
cação ou de oposição que as unem.
gia, evoque m ais, com efeito, a idéia de
C R ÍT IC A alteração, e o segundo a de alternância,
esta especialização não pertence à lingua­
Servim o-nos quase sem pre de m o vi­
gem vulgar: para “ m udar de roupa” , tan­
m ento para traduzir a palavra κ ί ν η σ ή em
to se pode dizer “ Seiner Kleider wech­
Aristóteles; m as erradam ente. “ M ovi­ seln” com o “ Seine K leider verändern” .
m en to” , em francês (desde o século É necessário, de resto, notar que mes­
XV II, e provavelmente antes), diz-se p ro ­ m o no sentido B é preciso, senão um te­
priam ente apenas daquilo que A ristó te­ m a, pelo m enos um q u ad ro , um contex­
les cham ava φ ο ρ ά ( = κ ί ν η σ α τ ό θ ι ν π ο ϊ , to definido e que permaneça o mesmo pa­
É tica a N icõm aco, X , 4; 1174a30). “ M o­ ra que possam os falar de transform ação
vim ento: transferência de um corpo pa­ ou de substituição.
ra outro lugar, m ud ança de lu g ar.” Fu- Ver A çã o , A ltera çã o , D evir, P erm a­
R E T IÈ R E , D ictionn aire, 1690. O D ictio n ­
nência, Substância.
naire d e l ’A ca d ém ie de 1694 dá um a de­ R ad. int.: C hanj.
finição equivalente.
R ad. int.\ M ov. M U LTID Ã O D. M enge, Volksmasse;
E. C row d; F . Foule (em francês, prim iti­
M U D A N Ç A D. A enderung, Verän­ vam ente, operação que consistia em pi­
derung, W echsel (ver nota); E. Change sar o p ano ou o feltro; lugar onde se pisa
(nos dois sentidos); alteration (no senti­ [foule]; de onde pressão que se produz pe­
do A); F. Changement·, I. C am biam en- la reunião de um grande núm ero de in di­
to , m u tazion e. víduos); I. Folia.

Sobre M udança — Texto de K ant indicado por M . M arsal.


Sobre M ultidão — Existe um a flutuação na utilização desta palavra. Ver L a fo u -
le, publicações do “ Centro internacional de Síntese” , 4! sem ana, 1934. P ara Geor-
ges L E ζ â 2
E E , cabe distinguir en tre m ultidão-agregado, ou m ultidão p ura, fo rm a­
E

d a por indivíduos reunidos por acaso (por exem plo, num a estação, no m om ento da
partid a de um trem ) e a m ultidão-reunião voluntária. Ib id ., p. 83. P a ra D Z ú é Â E

“ um a m ultidão é propriam ente um grupo social m arcado por esta trip la característi­
ca: ( 1?) é constituíd a por relações sociais elas próprias caracterizadas pelo contato
im ediato dos indivíduos que são os seus termos; este grupo é efêmero, de onde se segue
que, por um lado, (2?) no início, é um grupo no estado nascente, e, ( 3?) está a p o n to de
M U L T IP L IC A Ç Ã O L O G IC A 712

A . M assa de indivíduos reunidos, mas m ultidão organizada o u , se se preferir,


não intencionalmente, num ponto onde se um a m u ltidão p sico ló g ica .” P sychologic
encontram encerrados, uns contra os ou­ d es Jou les, p. 12.
tros: um grupo reunido por convocação
M U L T IPL IC A Ç Ã O LÓ G ICA D.
não é uma m ultidão. Ver as observações.
Logische M ultiplikation; E. Logical m ul­
B. O com um dos hom ens, enquanto
tiplication·, F . M ultiplication logique; I.
se opõe à elite intelectual, aos espíritos de­
licados, às personagens conhecidas, etc. M oltip lica zio n e lógica.
R ad. int.: T urb . O peração lógica aplicável quer aos
conceitos (o que constitui o procedim en­
“ M ultidão psicológica” Expressão to com um ), quer às proposições, quer às
pro p o sta pelo dr. LE BÃÇ p ara designar relações, e cujo resultado é um “ p ro d u ­
um a reunião de indivíduos capazes de rea­ to lógico” .
ções psicológicas com uns. “ N o sentido A . O p ro d u to lógico de dois ou vários
vulgar, a palavra m u ltidão representa conceitos é, do ponto de vista da com ­
um a reunião de indivíduos quaisquer, seja preensão, a posição simultânea destes (co­
qual for a sua nacionalidade, a sua p ro ­ m o pertencendo a um sujeito único); e,
fissão ou o sexo, e sejam quais forem os por conseguinte, do p onto de vista d a ex­
acasos que os re u n am ... Em certas cir­ tensão, o conjunto das partes com uns às
cunstâncias, um a aglomeração de homens classes correspondentes. Ex.: “ Filósofo
possui características novas m uito dife­ grego; os filósofos gregos.”
rentes das dos indivíduos que com põem B. O p ro d u to lógico de duas ou vá­
essa aglom eração... Os sentim entos e as rias P p é a P p que enuncia que estas são
idéias de to das as unidades são orien ta­ postas sim ultaneam ente (quer a títu lo de
dos num a m esma direção... A coletivida­ asserção, quer a títu lo de lexis): “ P é um
de torna-se então aquilo a que, à fa lta de núm ero inteiro, P não é divisível p o r ne­
um a expressão m elhor, eu cham aria um a nhum núm ero inteiro m enor do que ele

acabar, quer p o r deslocação simples, quer pela sua transform ação em q ualquer coi­
sa de mais orgânico” . Ib id ., 116. P o r o u tro lado, é heterogêneo, m antém com ou­
tros grupos sociais um a relação de interpenetração. P a ra H enri BE 2 2 , resum indo a
discussão, “ o q ue constitui a m ultidão é a com unhão m om entânea, a unanim idade,
aliás instável: é um estado de crise em que se pro d u z a ‘a b e rtu ra’, a fusão de elemen­
tos m ais ou m enos heterogêneos, p o r aproxim ação de um núm ero m ais ou menos
considerável de seres hum anos” . Ib id ., p. 137.
É tien ne R a b a u t opõe a m u ltidão à so ciedade pelo fa to de “ a m ultidão depender
de um a atração exterior aos indivíduos: ... é um a reunião provocada por um exci­
tan te ex terno” . Pelo contrário, n a sociedade há interatração; no parasitism o, a tra ­
ção de um único lado. Ver E ssa i su r les sociétés anim ales, em L es origines d e la so-
ciété, 2* sem ana de síntese, 1931. C f. M u ltid ã o e sociedade, do m esm o a u to r, em
Sciences, revista da A ssociation Française po u r l’Avancem ent des Sciences, junho
1943. Ver In teratração, texto e observações.
Sobre “ M ultidão psicológica” — “ A idéia é ju sta e im portante; m as a expressão
não é feliz. N ão é a m ultidão que é psicológica, m as sim o ponto de vista a partir
do qual a co nsid eram os.” (J. L achelier — E. C hartier)
Sobre M ultiplicação lógica — Este term o parece cair em desuso; é substituido
p o r “ pro d u to lógico” e sobretu do p o r “ co njunção” . (R enè Poirier )
713 MUNDO

pró p rio e m aior do que a unidade = P xR[> n R 2z — x(R, *R2)U Df.


é um núm ero p rim o .”
P o r exem plo, “ x é filho (ou filha) de
C. O p ro d u to lógico de duas relações
y ” , ” y é irm ão (ou irm ã) de z " têm por
x R ^ e JfRjV é a P p que enuncia que es­ pro d u to relativo: “ x é sobrinho (ou so­
sas duas relações existem sim ultaneamen­ brinha) de z ” ·
te en tre os dois term os r e ^ . R ad. int.: Relativ(a) m ultiplik(o).
7 R ÂV, xRjJ» = x(R ,R 2).y D f.
M U L T IP L IC ID A D E D. Vielheit,
A m ultiplicação lógica é representa­ M an igfaltigkeit; E . M u ltip licity, F. M ul-
d a quer por X (notação hoje em dia ra ra tiplicité; I. M o ltiplicità.
e p ouco recomendável, que confunde os A . C aracterística daquilo que com ­
signos aritm éticos e lógicos); ou ainda, preende elementos diversos, enumeráveis
D , o u , o m ais das vezes, pela simples su­ (mas não necessariam ente enum erados,
cessão dos fato res, se for necessário p a ­ nem sequer que a sua enum eração possa
ra a clareza, separados por um p o n to ou ser com pleta). “ M ultiplicidade finita,
um a vírgula. m ultiplicidade in fin ita .” C f. N úm ero.
Cf. as observações sobre D eterm ina­ B. C o njunto de elem entos que apre­
ção. sentam essas características.
R ad. int.·. Logik(a) m ultiplik(o). R a d . int.: M ultoples; B. M ultoplaj.

M U L T IPL IC A Ç Ã O R EL A TIV A Se M UN D O G. xóoiios; L. M undus, Or-


tiverm os duas relações xR,.y, y R 2z (quer b is (no sentido B e em sentido figurado);
dizer, tais que o segundo term o d a p ri­ D . W elf, E . W orld; F . M on de; I. M o n ­
m eira seja o prim eiro da segunda), d o . Cf. C o sm o s.
chama-se p ro d u to relativo dessas duas re­ A . Prim itivam ente, o sistema bem o r­
lações à relação R 3, que então existe en­ denado form ado pela T erra e pelos as­
tre o prim eiro term o da prim eira e o se­ tros. P o r conseguinte, os outros sistemas
gu ndo term o d a segunda. A m ultiplica­ análogos que possam existir fo ra d a es­
ção relativa representa-se por: fera m ais exterior deste sistema: “ In

Sobre M undo — M u n do inteligível. Existem de fa to em A ristóteles ΐ ’ίδ η ν ο η τ ά ,


m as de m odo algum κ ό σ μ ο ς ν ο η τ ό ς , porque os ε ί δ η ν ο η τ ά são im anentes aos ε ί δ η
α ι σ θ η τ ά . Talvez, de resto, o m undo inteligível descrito p o r P la tão no Fedro fosse
apenas um a fo rm a m ítica do seu verdadeiro pensam ento. (J. Lachelier)
S obre a an títese d o “ m u n d o ” e d a vid a espiritual. E sta antítese é de origem evan­
gélica. Ver, p o r exem plo, M a teu s, IV, 8, onde o T entador oferece a Jesus “ om nia
regna m undi et gloriam eorum ” ; X VI, 26: “ Q uid enim prodest hom ini si m undum
universum lucretur, animae vero suae detrim entum patiatur?” ; X V III, 7: “ V aem undo
a scandalis.” ; João, 10: “ In m undo erat, et m undus eum non cognovit” ; V II, 7:
“ M undus... m e autem o d it, quia ego testim onium perhibeo de illo, quo d opera ejus
m ala su n t.” ; X II, 31: “ N unc est judicium m undi; nunc princeps ejus m undi ejicietur
fo ra s” (cf. X IV , 30); X V, 18-19: “ Si m undus vos odit, scitote quia me priorem vobis
odio habuit. Si de m undo fuissetis, m undus quod suum erat diligeret; quia vero de
m undo non estis, sed ego elegi vos de m undo, propterea odit vos m undus” ; etc. (F .
M en tré — A . L .)
As expressões vir ao m undo, deixar o m undo parecem vir da mesma fonte: ε ρ χ ί σ θ α ι
ΰ ς τ ο ν κ ό σ μ ο ν , \e í'π ΐ ΐ ν τ ο ν κ ό σ μ ο ν , aplicados a Jesus Cristo, são característicos do
Evangelho de S. Jo ão ; por exemplo, I, 9 (sobre o sentido desta passagem ver mais
acim a L u z natural, observações); III, 19; X V I, 28; etc. (J. Lachelier)
MUNDO 714

variis mundis varia ratione creatis...” senta antes de qualquer crítica científica
LZ T2 E T« Ã , V, 528. Cf. II, 1024-1089 (em ou filosófica.
particular para o sentido laudativo de M u n d o inteligível, co njunto das rea­
m undus). lidades correspondentes às aparências
B. A T erra (parte central e principal sensíveis, e tais que a reflexão racional
do m undo sublunar) e as grandes divisões conduz à sua representação (xóafios vor
geográficas da Terra: “ As cinco partes do IÃè , m uito usual a partir da época neopla-

m undo; o m undo conhecido dos Antigos; tônica para designar o m undo das essên­
o N ovo M u n d o .” A este sentido ligam- cias, o m undo das Idéias). “ Conhecem-
se as expressões: “ Vir ao m undo, deixar se as coisas corporais pelas suas idéias,
o m undo” p ara nascer e m orrer. Ver as quer dizer, em D eus, porq ue só Deus en­
observações. cerra o m undo inteligível onde se encon­
O ou tro m undo (por oposição a este tram as Idéias de to das as coisas.” Mτ -
mundo): lugar que as almas supostamente  E ζ 2 τ ÇT7 E , Procu ra da verdade, livro
habitarão depois da m orte; por conse­ III, 2? parte, cap. VII. Ver Inteligível.
guinte, conjunto dos espíritos diferentes M u n d o exterior, ver E xterior, E.
do dos homens atualmente vivos (mortos, E. A vida social dos homens, por opo­
anjos, demônios). sição: 1? à vida religiosa: “ E ra preciso
C. O conjunto de tu d o o que existe, o u tro ra sair do m undo p a ra ser recebido
o Universo: ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , D ie W elt na Igreja, ao passo que hoje se e n tra na
ais Wilte und Vorstellung. Mais especial­ Igreja ao m esmo tem po que no m u n d o .”
m ente, em LE « ζ Ç« U , um dos sistemas P τ è Tτ Â , “ C om paração dos cristãos dos
com pletos de compossíveis que podiam prim eiros tem pos com os de h o je” , P en ­
receber a existência, e dos quais apenas sam entos, ed. Brunschv., 201. O m undo,
um foi efetivamente realizado. Teodicéia, neste sentido, é considerado o dom ínio
2? parte, § 414-416; 1? parte, § 8. dos desejos carnais, fonte de dissipação
A lm a d o m u ndo, ver A lm a . e de pecado; 2? à vida solitária, ou m es­
D. Vasto conjunto de coisas de um a m o apenas rural: “ Viver longe do m un­
mesma espécie. “ O m undo físico, o m un­ d o ” ; 3? á v id a profissional; o “ m u n d o ”
do m o ral.” “ O m undo das Idéias.” é então o conjunto de pessoas que usu­
M u n d o sensível, co njunto das coisas fruem do lazer, e que se reúnem para se
que são ou que podem ser objetos de per­ distrair: “ H om em do m undo; freqüentar
cepção, tais como o indivíduo os repre­ o m u n d o .”

P ara RE ÇÃZ â« E 2 , “ Ã m undo é a síntese dos fenômenos objetos de um a experiên­


cia possível sob um a consciência qualquer; entendo possível logicam ente, não obs­
tante a ignorância atual em que se possam encontrar as consciências dadas, e inde­
pendentem ente dos seus poderes reais. Trata-se, pois, do conjunto de todas as rela­
ções que com põem qualquer representação, tanto objetivas com o subjetivas, passa­
das ou até fu tu ra s” . RE ÇÃZ â« E 2 , L o g iq u e, 2*. edição, tom o III, pp. 8 ss.
COURNOT opunha a idéia do m u n d o , enquanto pertencente, na sua classificação
das ciências, à “ Série histórica e cosm ológica” , à idéia da natureza, pertence à “ Sé­
rie teórica” , e remete neste ponto para o C osm os de H um boldt. Ver Essai, cap. X X II,
§ 509; e, com mais porm enor, Traité, cap. II, § 81.
P a ra H CEEá« Ç; (L a p en sée hum aine, § 96) deve-se op o r o m undo “ que só pode
designar um todo relativo, eternam ente in acabado” , ao U niverso, idéia vazia e fala­
ciosa de um Todo absoluto e acabado. “ N enhum a síntese pode ser absoluta. O pen­
sam ento só se com pleta por um a q u estão .”
715 M UTAÇÃO

F. Classe, sociedade ou reunião de ho­ C . T ransfo rm ação brusca e hereditá­


mens. “ O m undo culto, o m undo dos ne­ ria de um tipo vivo, que se pro duz no es­
go cios.” paço de um pequeno núm ero de gerações,
R ad. int.: A . Kosm; B. Ter; C. U ni­ ou até de um a só.
vers; D . M ond (Boirac ); E , M ondum .
T2 íI « Tτ

M U SCU LA R (Sentido) D. M uskel-


O sentido B é mais antigo do que o
sinn\ E. M u sclesense, m uscular sense; F.
sentido C. D ata de W τ τ ; E Ç , D ie For-
Sens musculaire·, I. Senso m uscolare.
m enreihe d es A m m o n ites Subradia tu s1
Sentido ao qual referimos as sensações
cinestéticas (ver esta palavra) que se ju l­
(1869); divulgou-se entre os paleo ntólo­
ga corresponderem à das excitações de­ gos através da obra de NE Z Oτ à 2 , D ie
vidas à contração ou ao relaxam ento dos S tám e d es Tierreiches2 (1889). Ver espe­
músculos. O põem-se às sensações arti­ cialm ente p . 58. DE ú D2 E I (L es tran sfor­
culares. m ation s d u m o n d e anim al, p. 275) p ro ­
Esta expressão tom a-se algumas vezes testou contra a recente introdução do sen­
num sentido mais am plo, com o sinônimo tido C.
de sentido cinestésico; mas esta utilização Este foi ad otado por D E V2 « E è , na
presta-se a confusões. sua o b ra D ie M u ta tio n s Theorie (1901).
R ad. int.: M uskolai. R apidam ente se to rnou usual na lingua­
gem biológica e filosófica. O fato que ele
M U TA ÇÃ O D. M u tation ; E. M u ta­
representava já tin h a sido designado por
tion; F. M u tation ; I. M u ta zio n e.
CÃú E , S altation , e por KÃ2 T7 « Çè 3 « sob
A . M udança; e, em particular, m u ­
o nom e heterogênese.
dan ça na organização social.
Lτ Oτ 2 T3 em pregava freqüentem en-
B. Q uando lidamos com um a série de
te m u tação, n o sentido geral, para desig­
form as de um a m esm a espécie fóssil,
cham am -se variações às diferenças m or­ n ar as pequenas m udanças morfológicas.
fológicas que os espécimes provenientes R ad. int.: M utation. 2 1
da m esma cam ada apresentam , e m u ta­
ções aquelas que os espécimes apresentam 1. A série das fo rm a s de A m m o n ites subradiatus.
qu ando provêm de cam adas sucessivas. 2. A s origens do reino animal.

Sobre M utação — A rtigo retificado e com pletado segundo as indicações de R.


B erthelot.
N

N AÇÃO D . N ation , Volk; E . N ation; B. G rupo social unido por uma com u­
F . N ation ; I. N azion e. nhão de raça* ou pelo m enos de civiliza­
A . C o njunto de indivíduos que cons­ ção, um a tradição histórica, aspirações
tituem um E stad o (no sentido A desta p a ­ com uns (mesmo que este gru po n ão fo r­
lavra), considerados enquanto corpo so­ m e um E stado). Ver DZ 2 3 7 E « O e MÉ-
cial e p o r oposição ao governo. “ O p rin ­ TIN, L ib res en tretiens d e I’union p o u r la
cípio de to d a soberania reside essencial­ vérité, 10 de dezem bro de 1905.
m ente na nação. N enhum corpo, nenhum R ad. int.: A . N acionales; B. N acion.
indivíduo pode exercer autoridade que de­ 1. N A D A D . N ich ts, N ichtseiendes;
la não emane expressam ente.” D eclara­ E. N on-being; F. N éan t; I. N on-essere,
ção d o s direitos d o hom em d e 1789, art. 3. nulla.
B. Sinônim o de N acion alidade, B. A. O que n ão existe, seja absoluta­
R ad. int.: N acion. m ente (em bora a legitimidade do concei­
to do n ada absolu to seja discutível), seja
N A C IO N A LID A D E D . N ationalität, relativam ente a um universo do discurso
Volkstum ; E. N ation ality; F. N ation ali­ determ inado. Cf. E xistência. “ Eu podia
té; I. N azionalità. acreditar que [estas idéias] eu as tirava do
A . C aráter jurídico que possuem os nada, quer dizer, que elas estavam em
indivíduos enquanto cidadãos ou súditos m im p or m eu defeito.” DE è Tτ 2 I E è , M é­
de um Estado. to d o , IV, 4.

Sobre N ação — A nação é um gru po de hom ens politicam ente unidos de fato
e de vontade. Se a união de fato falta, pode haver u m a nação ideal, um a p átria, não
um a nação real (Polônia); se é a união de vontade que falta, a nação desvanece-se
po rq ue se divide em nações tão num erosas quantas as frações no interior das quais
se encontra a união das vontades (Á ustria-H ungria). Só existe um a nação no sentido
pleno do term o se as duas condições estiverem reunidas (França, A lem anha). (E . Van
Biém d)

Sobre N ada (1) — A pro va deste artigo citava, adotando-as, as críticas de Berg-
son contra a idéia do nada absoluto. “ A idéia do nad a ab soluto” , diz ele, “ entendi­
da no sentido de um a abolição de tu do, é um a idéia que destrói a si pró pria, um a
pseudo-idéia, um a simples palavra. Se suprim ir um a coisa consiste em substituí-la
por um a o u tra, se pensar a ausência de um a coisa não é possível senão pela represen­
tação mais ou m enos explícita da presença de qualquer o u tra coisa, enfim , se aboli­
ção significa prim eiro substituição, a idéia de um a abolição de tudo é tão absurda
com o a de um círculo q u ad rad o ... H á m ais, e não m enos, na idéia de um objeto
concebido com o ‘não existindo’, do que na idéia desse mesmo objeto concebido co­
m o ‘existindo’, po rq ue a idéia do objeto ‘não existente’ é necessariamente a idéia
do objeto ‘existente’ mais a representação de um a exclusão deste objeto da realidade
atual no seu to d o .” A evolu ção criadora.
M . B lon del aprovou esta crítica e lem brou que n a A ctio n (pp. 31-39) m ostrou
não só que não podem os ter um a representação ou um pensam ento real do nada,
717 N A O -E U

Ver J . -P. Sτ 2 2 , L ’être et le néant


I E ção {nih ilprívativum ), p. ex. a som bra, o
(1943) e o S uplem ento. frio; 3?; Form a de intuição sem substân­
B. Q uantidade nula de um objeto sus­ cia que permite representar essa forma (ens
cetível de aum entar ou de dim inuir. “ H á imaginariam): o espaço e o tempo; 4?;
aqueles que p reten d em ... que dois nadas Conceito contraditório {nihil negativum ),
de extensão podem fazer um a extensão do por exemplo um a figura (um polígono) re­
mesmo m odo que duas unidades, das tilíneo de dois lados. É visível que, sobre­
quais nenhum a é um núm ero, fazem um tudo na terceira categoria, a correspondên­
núm ero pela sua reunião. É preciso cia não existe senão de m aneira totalm en­
retorquir-lhes... que mil casas fazem um a te artificial; por outro lado, poderia
cidade, em bora nen hum a seja um a cida­ considerar-se que a categoria do nihil pri-
d e... E m bora um a casa não seja um a ci­ vativum , que ele restringe à qualidade, e
dade, ela não deixa todavia de ser um n a­ mesmo à qualidade sensivel (equívoco mui­
da de cidade; há grande diferença entre tas vezes assinalado no quadro das cate­
não ser um a coisa e ser o seu n a d a .” gorias), englobasse todas as outras, um a
Pτ è Tτ Â , D o espirito geométrico, ed. vez que não se pode pensar o nada de qual­
Brunschv., 181. quer coisa se ele não for colocado primei-
C. Valo nulo. “ [A alm a cristã] consi­ ramente como objeto de pensamento.
dera um nada tudo o que deve reto rnar 2. J.-P . Sτ 2 I 2 E cham ou a atenção
ao nada, o céu, a terra, o seu espírito; os para o caráter fictício do nada que, por
seus pais, os seus amigos, os seus inim i­ um lado, só existe enquanto negação ou
gos, os bens, a pobreza, etc. Enfim , tu ­ desaparecimento de qualquer coisa e, por
do o que d u ra rá m enos que a sua alm a o u tro lado, n ão pode ser colocado senão
é incapaz de satisfazer o desejo dessa al­ pelo nosso pensamento. “ O nada não é...
m a .” P τ è Tτ Â , Sobre a conversão d o p e ­ ele é nadi ficado por um ser que o supor­
cador, 4. ta .” L ’é t r e e t le néant, p. 58. “ O hom em
é o ser p o r quem o nada vem ao m undo.”
CRÍTICA I b id . , p. 60. Ver o S u plem en to.
1. Kτ ÇI dividiu segundo o seu q u a­ R ad. in t.: A . Nihil; B. C . Nul.
d ro das categorias a idéia de nada 2. N A D A D . N ichts; E . N othing; F.
{ nichts ): 1?: C onceito vazio {nenhum ),
Rien; I. N ien te. Ver N a d a (1).
sem ob jeto atualm ente dado {ens ratio-
nis); po r exemplo, o núm eno; 2?; A usên­ N Ã O -EU D. Nicht-ich; E. N on-ego;
cia de um a qualidade determ inada, nega­ F. N on -m oi; I. N on -Io.

mas tam bém que, “ procurando, aqui com o em qualquer o u tra parte , o segredo das
necessidades intelectuais nos m ovim entos m ais íntim os e m ais inevitáveis d a vonta­
de, se não se concebe o n ad a, é porq ue não o querem os e não o podem os q u erer” .
J. L achelier escreveu, pelo co ntrário: “ Se o espírito e o pensam ento são alguma
coisa, e se existir é ser posto pelo espírito, este pode, com a m esm a liberdade, pôr
qu alquer ser o u recusar-se a pôr o que quer que seja (ou pelo m enos conceber-se por
abstração, com o não pondo n ad a, conceber a sua p ró p ria liberdade fo ra de qual­
quer exercício atual dessa m esm a liberdade). A observação de Bergson é singular­
m ente pro fu n d a e perfeitam ente ju sta do p o n to de vista do seu realism o, m as ela
se volta contra esse m esm o realism o. A idéia de n ad a im plica e verifica a de ‘liberda­
de’ (no meu sentido desta palavra e não no dele).” {J. Lachelier) C f. N atu reza, ob­
servações, e N egação.
Observações análogas de L . Brunschvicg.
N Ã O -S E N T ID O 718

T u d o o q u e n ã o é o eu, seja em que é, m u itas vezes, u m sin ô n im o a te n u a d o


sentido fo r, m as m ais p articu larm en te no de escusável;
sen tid o A . V er esta p a la v ra . — p o sitiv o (d ireito n a tu ra l)
— leg ítim o (filh o n a tu ra l).
N Ã O -S E N T ID O Ver A bsurdo, obser­
A lém disso , as ciências naturais são
vações.
as ciências do s seres vivos (e aq u elas que
N A R C IS IS M O V er Suplem ento. a eles se ligam pelos seus c a racteres fo r­
1. N A T U R A L (a d j.) (e N A T U R A L ­ m ais), p o r o p o sição às ciências física s
M E N T E ) D . Natürlich, N a tur-; E . N a tu ­ p ro p ria m e n te d itas: a física e a quím ica.
ral; F . N aturel; I. Naturale. N as m atem áticas: 1?, a “sucessão na­
N atural diz-se em to d o s os sentid os da tural ” d o s n ú m e ro s é a série d o s in teiro s
p a lav ra N atureza e, p o r con seg u in te, p o ­ 1, 2, 3 , 4 , 5, 6 . . . n , p o r o p o sição ao s n ú ­
de o p o r-se a: m eros fra c io n á rio s, irra c io n a is, e tc .; 2 ?,
— a d q u irid o os logaritm os naturais o u n ep eria n o s são
— refletid o aq u ele s q u e tê m e p o r b ase; 3 ?, as linhas
— co n stra n g id o trigonom étricas naturais sã o os valores
— artificial num éricos do s senos, tangentes, etc., num
— a fe ta d o círcu lo d e ra io 1.
— hum ano
— d iv in o , esp iritu al CRÍTICA
— revelado V er N atureza.
— reg en erad o
— so b re n a tu ra l 2. N A T U R A L (su b st.) D . Naturel!,
— su rp reen d en te N aturanlage (Kτ ÇI ); E. N a tu re; F . N a ­
— su sp eito turel.\ I. N atura.
— m o n stru o so : 1?, n o sen tid o b io ló ­ A . S in ô n im o de natureza, no sen ti­
gico; 2 ?, no sen tid o m o ra l e, neste caso , do D.

S o b re N a tu ra l (1) — M u itas vezes englo ba-se n as ciências naturais a g eolo gia e


m esm o a m ineralogia. P o r co ntágio do sentido b aconiano de “história n a tu ra l” (opos­
ta a ‘filo s o fia n a tu ra l” ), aco n te ce que ciências naturais d esig n am as ciências de des­
crição e de cla ssific ação , em o p o sição à b u sca das leis, p o rta n to a p ro x im a d a m e n te
o que A u g u ste C o m te c h am av a “ ciências c o n c re ta s” . (M . Drouiri)
T en d o a ex p ressão “ filo so fia n a tu ra l” caíd o g ra d u alm en te em desu so em fra n ­
cês, exceto no estilo ele v ad o , to d o o sen tid o d a expressão “ h istó ria n a tu ra l” se c o n ­
c en tro u n a seg u n d a d estas p alav ras; este d eslo cam en to fo i facilitad o pelos sen tid o s
C , G , 1, d a p a la v ra natureza: o “ n a tu ra lis ta ” fa z ex cursõ es zo o ló g icas, b o tâ n ic a s,
geoló gicas; ele vive “ n o m eio d a n a tu re z a ” , p o r o p o siç ã o a o físico q u e se fe c h a n o
seu la b o ra tó rio . D epois, à m e d id a q u e esses estu d o s e n c o n tra ra m g en eralizaçõ es e
leis, o te rm o história p areceu c h o c a n te , te n d o -se su b stitu íd o p elo d e ciência ; m as,
n a n o v a ex p ressão assim fo rm a d a , n a tu ra l c o n serv o u a sig n ific ação q u e tin h a a n te ­
rio rm e n te . D o n d e o u so b a s ta n te iló gico d e sta d e n o m in a ç ã o . (A . L .)
S obre N a tu ra l (2) — K τ Ç , n a su a Antropologia (2? p a rte , 87), d istin g u e, n o c a ­
I

rá te r in d iv id u al n o sen tid o g eral (der Charakter der Person): 1?, Das N aturell o d er
N aturanlage ; en te n d e p o r isso o fa to de se ter b o m ou m au c a rá te r, b o m o u m au
co ra ç ã o ; 2?, D as Tem peram ent, o fa to de se ser san g u ín eo , m ela n có lico , colérico,
n eu m ático ; 3?, D er Charakter (schlechthin), o der D enkungsart (caráter p ro p riam en te
d ito , n o sen tid o que ele d efin e; esta p ro p rie d a d e d a v o n tad e p ela q u a l o su jeito se
719 N A T U R A L IS M O

B. A u sên cia d e a fe ta ç ão . (no sentido G ) e que ele possui em com um


Rad. in t.: A . N a tu re l; B. N eafek tac. com os an im ais. V er Realism o.

N A T U R A L IS M O D . N aíuralism us ; CRÍTICA
E . N aturalism ; F . N aturalism e; I. N a tu ­ O sen tid o B m erece ser retid o ; ele re ­
ralismo. p resen ta u m a ten d ên cia filo só fica m u ito
A . F « Â Ãè ÃE« τ ; E 2 τ Â . D o u trin a p a ra m arcad a: an ticristian ism o , an tik an tism o ;
a q u a l n ã o existe n a d a f o ra d a N a tu re z a p rim azia m o ra l d a vida e d a p erp etu ação
(no sen tid o H o u J ), q u e r diz er, q u e n ã o d a vid a; h o m o g en eid ad e d o s fin s h u m a ­
se red u z a u m en c a d e am e n to d e fato s se­ n o s e an im ais; ev o lu cio n ism o ; p rim azia
m elh an te s àqueles d e que tem o s expe­ in telectual das ciências experim entais; eu ­
riência. d em o n ism o e o tim ism o ; ao s quais é ne­
B. ÉI « Tτ . D o u trin a segundo a q u al a cessário ju n ta r n o rm alm en te o em pirism o
v id a m o ral é ap en as o p ro lo n g a m e n to d a e o ag n o sticism o . C f. M o n ism o .
v id a b io ló g ic a, e o id eal m o ra l, a ex p res­ O n a tu ra lism o , assim co n ceb id o , foi
são das necessidades e d o s in stin to s que até o p resen te u m a d o u trin a que tem co ­
co n stitu em a v o n ta d e-d e-v iv er. “ O v er­ m o v alo r fu n d a m e n ta l a saú d e, a fo rç a
d ad eiro idealism o n ão difere d o verdadei­ e a sobreviv ência dos individuos. M as
ro n a tu ra lism o , p o rq u e é a p ró p ria n a tu ­ existem ig u alm en te d o u trin a s q u e tra n s ­
reza que tr a ta de p en sar o id eal e de ferem este v alo r p a ra a saú d e, a fo rç a e
realizá-lo a o p e n sá -lo .” A . FÃZ « Â Â é E , a so b rev iv ên cia d a so cied ad e co n sid era­
L ’idée m o d e rn e d u droit, 1 V , cap . V, p. d a co m o u m to d o (ver p o r ex. E . D Z 2 3 -
340. C f. A . C2 E è è ÃÇ , L es bases de la H E iM , Regras do m éto d o sociológico,
m orale naturaliste. cap . III). É fo rç o so d esig n á-lo s tam b ém
C . Eè I EI « Tτ . D o u trin a q u e p ro scre­ p o r naturalistas? É d e d u v id a r. A d m itin ­
ve q u alq u er idealização d o real, e q u e até d o a o p o sição d u a lista d o s fins egoístas
se esfo rça, p o r reação , p o r v a lo riz a r so ­ e d o s fin s so ciais, a lu ta d a v id a in ferio r
b re tu d o o s asp ecto s d a v id a g eralm en te e d a v id a su p e rio r, elas elim in am p reci­
a fa sta d o s p o r serem baix o s o u grosseiros sam ente o tra ç o m ais característico d aq u i­
e q u e , n o h o m em , p ro v êm d a N atu reza lo a q u e h a b itu a lm e n te c h am am o s na-

lig a a ceTtos p rin cíp io s p rá tic o s, q u e prescrev eu a si m esm o atra v é s d a su a p ró p ria


razão ). “ O s d o is p rim eiro s fazem -nos co n h ecer o q u e p o d em o s fazer d o h o m em ; o
seg u n d o , q u e é m o ra l, o q u e ele p o d e fazer d e si m e sm o .” (T ex to assin alad o p o r
R. Euckeri)

S obre N a tu ra lism o — E u d iria de b o m g ra d o q u e as d o u trin a s d a saú d e social


sã o u m naturalism o superior, m a s, n o fu n d o , h o m o g ên eo a o p reced en te. P o rq u e a
q u e stã o , ta n to p a r a as so cied ad es co m o p a ra os in d iv íd u o s, colo ca-se en tre ser sim ­
plesm en te o u viver e p ro d u z ir q u a lq u e r coisa q u e o s u ltra p a sse , q u e te n h a u m v alo r
u n iv ersal, co m o a a rte , a ciência, a filo so fia; e n tre ser g o v ern ad o sim plesm ente p elo
q u erer viver o u ser g o v ern ad o pelas Id éias, no sen tid o de P la tã o . E creio , c o n tra ria ­
m en te a F o u illé e, q u e h á aí u m a o p o sição irred u tív el. ( J . Lachelier) C f. M onism o,
o bservações.
É bem verd ad e q u e a co n cep ção de D u rk h eim u tiliza a d istin ção en tre indiv id ual
e social p a ra ju stific a r a o p o sição en tre real e id eal, e n tre v id a in fe rio r e vida su p e­
rio r, etc. M as q u al é a co n cep ção n a tu ra lis ta , seja o u n ã o in d iv id u alista, que n ão
a c e ita d e fa to esta s o p o siçõ es, p ro c u ra n d o explicá-las atrav és d e cau sas n a tu ra is, c o ­
m o sim ples fato s q u e existem o b jetiv am en te e que se im p õ em p ela su a fo rm a ? O
N ATUREZA 720

turalism o : o resp eito p elo in stin to , p ela B. E ssên cia d e u m g ên ero ; c o n ju n to


e sp o n tan eid ad e in d iv id u al, a en carn ação d as p ro p rie d a d e s q u e o d efin em . C a ra c ­
d o id eal d e n a tu re z a n o sen tid o C , o cu l­ terísticas essenciais d e u m a ciência, de
to d a v id a bio ló g ica. P e lo c o n trá rio , elas u m a q u e stã o , de u m a id éia, d e u m a in s­
lig am -se ao positivism o p ro p riam en te d i­ titu iç ã o . “ Só h á m ais o u m en o s e n tre os
to , q u e o p õ e tã o rad icalm en te a h u m a n i­ acid en tes, e n ã o d e fo rm a alg u m a e n tre
d ade* à an im alid ad e. A lém disso , n o q u e as fo rm as o u n atu rezas d o s in div íd uos de
resp eita a E . DZ 2 3 7 E « O em p a rtic u la r,
u m a m esm a esp écie.” DE è Tτ 2 I E è , M é­
ele d á a o id eal u m a re a lid ad e su i generis
todo, I , 2. “ A n a tu re z a d e u m g o v ern o
m u ito an álo g a àq u ela q u e os esp iritu alis­
é aq u ilo q u e o faz ser ta l .” MÃÇI E è -
ta s lh e reco n h ecem (c f. O s ju íz o s de va­
I Z « E Z , Espírito das leis, I I I , 1.
lor e os ju ízo s de realidade, C ongr. de Bo­
lo n h a , 1911). V er c o n tu d o , n as o b se rv a ­ E n u m sen tid o m u ito p ró x im o que
ções, as razõ es em sen tid o in verso. Bτ TÃÇ e DE è Tτ 2 I E è ch am am ta m b ém
R ad. int.: B . C . N atu ralism . “ n a tu re z a ” a cad a u m a das p ropriedades
c o n stitu tiv as d e u m c o rp o (p. ex .: “ S u­
N A T U R E Z A G . <pv<ns\ L . Natura·, D . p er d a tu m c o rp u s n o v a m n a tu ra m sive
N atur; E . N ature; F . N a tu re; I. N atura. no v as n a tu ra s gen erare e t su p erin d u cere,
I. N a tu re z a de u m ser o p u s et in ten tio est h u m a n a e p o te n tia e .”
N o v. organ., II, 1) e q u e n o m eiam na tu ­
A . P rin c ip io q u e se co n sid era p ro d u ­
zir o d esen v o lv im en to d e u m ser, e reali­ rezas sim ples às q u alid ad es in d eco m p o -
z a r neste um d e term in ad o tip o . “ Vis m e- níveis e pelas quais calculam que to d a s as
dicatrix n a tu ra e .” E ste sen tid o parece ser o u tras são com postas: “ D icim us nihil nos
o m ais fu n d am en ta l, so b retu d o p a ra a p a ­ u n q u a m intelligere posse p ra e te r istas n a ­
lavra ifivcns, d a qual prov ém a m aio r p arte tu ra s sim plices, e t q u a m d a m illaru m ín ­
dos sen tid o s filosó ficos deste te rm o . V er te r se m ix tu ra m sive c o m p o sitio n e m .”
C rítica. Regulae ad dir. ing., X II, 18. M as este
sen tid o d esap areceu n o s nossos dias.

ideal n ã o é aq u i senão u m real já existente, e m ais com pleto do que o preten so real que
lhe op õem : passar do real ao ideal é passar de u m a representação mutilada a u m a repre­
sentação com pleta daq u ilo que já existe atu alm en te e ob jetiv am en te; é sim plesm ente
corrigir u m erro , no sentido que esta p alav ra tem n a ciência o bjetiv a. Se esta concepção
é a de D u rk h eim , n ão vejo n en h u m a razão p a ra n ão ch am á-lo natu ralista. E u ch am aria
naturalismo a to d a d o u trin a p a ra a q u al a realidade, co m p o sta , aliás, de n ã o im p o rta
que elem entos, está com pletam ente fe ita , e qu e, p o r conseguinte, n ão p o d e reconhecer
u m v alo r p ró p rio irredutível ao conceito de ideal', p a ra o n atu ralism o tu d o é, à nascen­
ça, tu d o aq uilo que p o d e ser; só qu e, p a ra co n co rd ar com a experiência, é preciso ad m i­
tir que o conhecim ento n ão se id en tific a com o ser dos seus o b je to s, p o r o u tras p a la ­
v ra s, que h á co nhecim entos falso s precedendo o conhecim ento verdadeiro e que todas
as diferenças se redu zem àq u ela q u e existe entre o conhecim ento id êntico ao ser e o
conhecim ento n ã o id êntico a o ser. Isto equivale a dizer qu e o n atu ralism o sem pre levou
a ad m itir pelo m enos u m a exceção a o seu princípio: o conhecer n ã o é à nascença tu d o
o q u e po d e ser, é u m dev ir, m as u m devir que tem o seu acab am en to , a su a perfeição,
n a identificação com a realid ad e existente. (M. Bernès)
S o b re N a tu re z a — E u re p re se n ta ria , em g eral, d e b o m g ra d o , a ev o lu ção d a p a ­
la v ra natureza d a seguin te m a n e ira . O sen tid o fu n d a m e n ta l é a id éia d e u m a existên­
cia q u e se p ro d u z , o u pelo m en o s d e te rm in a a si p ró p ria , n o to d o o u em p a rte , sem
721 NATUREZA

C. P o r co n seq ü ên cia, tu d o o q u e é D . C a ra c te rística s p articu lares q u e


in ato , in stin tivo, e sp o n tân eo , n u m a espé­ d istin g u em u m in d iv íd u o ; te m p e ra m e n ­
cie d e ser, e p rin c ip a lm e n te n a h u m a n i­ to ; id io ssin crasia (e n q u a n to se co n sid era
d a d e ; o p õ e-se àq u ilo q u e é ad q u irid o p e ­ q u e estas c aracterísticas sejam in atas e
la ex p eriê n cia in d iv id u al o u so cial. “ A s p ro d u zam ações quase instintivas). “ U m a
leis d a consciência, que dizem os nascerem n a tu re z a in d o len te. U m a n a tu re z a a m b i­
d a n a tu re z a , nascem d o h á b ito .” MÃÇ - c io sa .”
I τ « ; ÇE , Ensaios, I, 22. C f. A 2 « è I ó I E D iz-se ta m b é m , n este sen tid o , o na­
 E è , D a m em ória, 452a28, e P τ è Tτ  , tural d e c a d a in d iv íd u o .
P ensam entos, n ? 91, 93, ed . B ru n sch . II . A natureza, em geral
D iz-se em p a rtic u la r d a ra z ã o co n sid era­
E . (Ή τ ο ν wavTÒs φ ύ σ ι ς , natura re-
d a co m o u m a espécie d e in stin to intelec­
ru m .) O c o n ju n to de co isas q u e ap re se n ­
tu al: “ N ão h á d ú v id a nen h u m a de q u e tu ­
ta m u m a o rd e m , q u e realizam tip o s ou
d o o que a n a tu re z a m e en sin a co n tém a l­
se p ro d u zem segundo leis. P o r conseguin­
g u m a v e rd a d e .” DESCARTES, M edita­
te, e m ais esp ecialm en te, o p rin cíp io vi­
ções, V I, 10. “ (E sta o rd em ) é p e rfe ita ­
vo e ativ o, a vo n ta d e d e o rd em que se m a­
m en te v e rd a d e ira, s u ste n ta n d o -a a n a tu ­
n ife sta atrav és dessa re g u larid ad e. A2 « è ­
reza à falta d o d isc u rso .” P τ è Tτ Â , Espí­ I ó I E ÂE è o p õ e , n este se n tid o , a n a tu re z a
rito geom étrico. C f. L u z natural. (φ ύ ο ι ς ) a o acaso ( α ’τ ό μ α τ ο ν , τ ύ χ η ). “ T à
A natureza, neste se n tid o , é o estad o •γ ι ν ό μ ί ν α φ ύ σ α π ά ν τ α yív e ra i η a e lò è i
em que os h o m en s nascem : η ¿x ί π ϊ τ ο π ο λ ύ .” Ile g t y tv . x a i φ θ ο ­
1?: P o r o p o siç ã o à rev ela ção e à g ra ­ ρ ά ς , II, 6; 33b7. V er M u n d o .
ça. “ A fé cristã quase n ão estabelece m ais C f. títu lo d a o b ra de L« ÇE Z , System a
do q u e estas d u a s co isas, a c o rru p ç ã o d a naturae (1735) e as expressões: m étodo
n a tu re z a e a red en ção d e Jesu s C ris to .” natural, classificação natural, etc.
P τ è Tτ Â , Pensam entos, ed. Brunschvicg, A N a tu re z a , assim c o m p reen d id a, é
n ? 194. m u itas vezes p e rso n ificad a: “ A N a tu re ­
2?: P o r o p o siç ã o à civ ilização, à re­ za tr a ta to d o s o s an im ais a b a n d o n a d o s
flex ão , a tu d o o q u e é artific ia l e d ep en ­ ao s seus cu id ad o s com u m a p red ileção
d en te d a v o n ta d e . “ T a l é este p u ro m o ­ q u e parece m o stra r co m o ela é zelosa des­
v im en to d a n a tu re z a , a n te rio r a to d a re­ se d ire ito .” J .- J . RÃZ è è E τ Z , Disc. sobre
flex ão .” J .- J . RÃZ è è E τ Z , Discurso sobre a desigualdade, 1? p a rte , p . 46.
a desigualdade, 1 ? p a rte . “ A o o x ig ên io e a o h id ro g ên io , a N a ­
E stado d e natureza, ver E sta d o , B. tu re z a ju lg o u b o m ju n ta r do is o u tro s r a ­
E ste sen tid o c o n fu n d e-se im p ercep ti- d icais q u ím ico s sin g u la res, o c a rb o n o e
velm ente com o se n tid o G . o a z o to ...” CÃZ 2 ÇÃI , Traité, livro III,

te r necessid ade d e u m a c a u sa estra n h a . D e sd o b ra ria em seguid a três vezes este sen ti­
d o a p lican d o -o : 1?, a u m a co isa p a rtic u la r, o u a o c o n ju n to d a s coisas; 2 ? , a o p rin cí­
p io in te rn o d e p ro d u ç ã o o u d e d e te rm in a ç ão , o u à co isa p ro d u z id a o u d e term in ad a;
3 ? , a u m e a o u tr o , c o n sid erad o s n a q u ilo q u e eles p o d e m te r, seja d e m a te ria l e d e
m ecân ic o , seja d e teleoló gico e de fo rm a l (sen d o este seg u n d o se n tid o o m e lh o r, e
sen d o o p rim eiro , n o fu n d o , a p ró p ria n eg ação d a id éia d e <pvcis). A n a tu re z a co m o
p rin cíp io fo rm a l p o d e rá co m p reen d er, n o p ró p rio h o m e m , o q u e nele existe de su p e­
rio r à an im a lid a d e , o q u e é d e o rd e m in telectu al e m o ra l, desd e q u e se reco n h eça
q u e a í se m istu ra se m p re a lg u m a co isa que já n ã o é “ n a tu re z a ” , q u e já n ão é sim ples
v id a, m as que é ra z ã o , esp írito , e que p ro p o n h o c h a m a r liberdade. A o p o sição en tre
N ATUREZA 722

cap . V, § 250. V er ta m b é m , n o artig o 3?: P o r desenvolvim ento da idéia de


M undo, a oposição estabelecida pelo m es­ regularidade lógica, desprovida de espon­
m o a u to r e n tre o M u n d o e a N atureza. taneidade e de p o d er criativo:
N este se n tid o , a N a tu re z a é tam b ém H. C o n ju n to dos seres (ou caracterís­
o p o sta , m u itas vezes, a D eu s. C f. N a tu ­ ticas dos seres) que n ã o ten d em a u m fim ,
ralismo. m as que são in teiram en te m o v id o s p o r
E ste sentido especializou-se em várias u m a c a u salid ad e q u ase m ecân ic a.
direções à m edida que um ou outro dos “ D ie unbedingte K ausalität in d er E rs­
seus elem entos era considerado essencial. cheinung [heisst] die Freiheit; die bedingte
l í : P o r atenuação da idéia de espon­ dagegen heisst im engeren V erstände, N a ­
taneidade e pelo desenvolvim ento da idéia tu ru rs a c h e .” 1 K τ Ç , K rit. der reinen
I

d e universalidade *: V ernunft, Syst, d er K o sm o l. Id een , A


F . O c o n ju n to de tu d o o q u e D eus 419, B 447 . “ N a tu r ist d as D asein d er
crio u e, co n seq ü en tem en te, se se a fa s ta r D in ge, so fe rn es n ach allgem einen G eset­
a id éia d a criação , o c o n ju n to d e tu d o o zen b estim m t is t.” 12 Prolegóm enos, § 14.
q u e existe. “ N ihil in N a tu ra fit q u o d ip - “ N ó s p o d em o s fazê-lo ( = n ó s p o d em o s
sius vitio po ssit trib u i: est n a m q u e N a tu ­ esten d er a o h o m em o dev er d e b o n d a d e
ra sem per et u b iq u e u n a ead em q u e ejus q u e te m o s relativ am en te a o s o u tro s seres
v irtu s et ag en d i p o te n tia .” E è ú Z OÃè τ , que sen te m ), m as n ã o se rá p ro p ria m e n te
Ética, III, p refácio . a pessoa, será a natureza d o o u tro que de­
2?: Pela transform ação inversa: le p a rtic ip a rá : o h o m em co m o an im al e
G . O qu e se p ro d u z no universo o u no n ã o c o m o h o m e m .” R ÇÃ Z â « 2 , Scien­
E E

hom em sem cálculo nem reflexão. O co n ­ ce d e la m orale, I, cap . X X II (1.a e d .,


ju n to de seres qu e não o hom em , consid e­ 142-143).
rad o com o o agente d a vida consciente e N atureza, neste sen tid o , opõe-se a Es­
vo lu n tária: “ A N atu reza, até aqui, fez o pirito, a Liberdade, a Personalidade. M as
que pôde: as forças espontâneas não u ltra­ é preciso n o ta r que a m esm a p a la v ra se
p assarão o p o n to que atin g iram . C o m p e­ o p õ e ig ualm ente a Espirito, tan to n o sen­
te à ciência reto m ar a o b ra no p o n to em tid o seguinte com o nos sentidos D e F (ver
que a n atu reza a d e ix o u .” R Çτ Ç , D iálo­
E

gos filosóficos, III (3? ed ., 116). “ L ib er­


dade para aqueles que querem retirar-se da 1. “ A cau salid ad e in co n d icio n al d a ca u sa no fe­
vida! A natureza n o espírito tem dessas fra­ nôm eno ch am a-se liberdade, a cau salid ad e condicio ­
quezas. P o tên cia de disso lu ção, nela a re­ n a l, pelo c o n trá rio , cham a-se , n o se n tid o restrito ,
cau sa n a tu r a l.” V er to d a a passa gem , em q u e sâo
flexão co rresp o n d e à m o rte .” S é τ « Â Â è ,
E
an alisad o s diverso s sentid os d a p a la v ra natureza.
Legénie dans 1’art, con clusão. N otar-se-á 2. “ A N atu reza é a existência das coisas, en q u an ­
que este sentido se une a o sentid o C. to d e te rm in a d a p o r leis u n iv e rsa is.”

lib erd ad e e n a tu re z a , c o m p reen d id a p ela p rim eira vez p o r Kτ ÇI , é p a ra m im a o p o ­


sição fu n d a m e n ta l d a filo so fia. O q u e m e p arece im p o rta n te p a ra to d a s as p alav ras,
m as p a ra esta talvez m ais d o que p a ra q u a lq u e r o u tra , é a u n id a d e essencial de signi­
ficação , o sen tid o que se faz p re d o m in a r n u m caso p a rtic u la r e n g lo b a n d o sem pre,
co m o u m so m en g lo b a os seus h a rm ô n ic o s, aqueles que se deixam m o m e n ta n e a m e n ­
te de lad o . (J. Lachelier)
H á u m eq u ív o co n a expressão “ n a tu re z a d ecad en te ou c o r r u p ta ” . N atureza aí
sign ifica “ estad o no q u al os h o m en s n ascem ” ; m as isso su p õ e tam b ém a le m b ran ça
de u m o u tro esta d o id eal, essencial, q u e é o estad o d e d ireito com o q u a l se co m p a ra
o estad o p resen te. P o rta n to , existe a q u i fu são d o sen tid o C e d o sen tid o B.
723 NATUREZA

tex to cita d o d e Séailles). e Direito natural, “ Lex natu rae nihil aliud
4?: P o r desenvolvim ento da idéia de est nisi lu m en in te llectu s in situ m n o b is a
o b jeto percebido: D e o , p er q u o d co g n o scim u s q u id agen-
I. O in u n d o visível, e n q u a n to se o p õ e d u m et q u id v ita n d u m .” S . TOMÁS á E

às id éias, ao s sen tim en to s, etc. A I Z « Ç Ã , D e duobus charit. praecept., 1 .


“ A p a la v ra natureza to m a trê s sen ti­ “ Ó n a tu re z a , so b e ra n a d e to d o s os seres,
d o s div erso s: 1? E la d esig na o u n iv erso , e v ó s, su as filh as a d o rá v e is, v irtu d e, r a ­
o m u n d o m aterial; diz-se neste p rim eiro z ã o , v e rd a d e , sede p a r a sem pre as n o s­
sen tid o : a beleza da natureza, a riqueza sas ú n icas d iv in d a d e s.” D ’H Ã Â ζ τ T , 7

da natureza ; q u er dizer, os o b jeto s d o céu Systèm e de la nature, I I , 446. “ É c o n tra


e d a te rra oferecidos ao s nossos o lh o s ...” a lei d a n a tu re z a , q u alq u er que seja o m o ­
V Ã Â Ç à , L a loi naturelle, cap . I. A p a ­
E d o co m o a d e fin a m o s, q u e u m a crian ça
la v ra , neste se n tid o , diz-se s o b re tu d o d o d ê o rd e n s a u m v elh o , q u e u m im becil
m undo vegetal com o sendo aquele em que co n d u za u m h o m em s á b io .” J .- J . R Ã Z è ­
se m an ifesta m elh o r o p o d e r de ex pansão è E τ Z , Discurso sobre a desigualdade, 93.

e d e p ro d u ç ã o d a vid a: o c a m p o , os b o s­ “ C o n tra n a tu re z a ” é u m a ex pressão


qu es. C f. os sentidos G e, p o r conseqü ên- enérgica d a rep ro v ação m o ral, m as retém
cia, C. g ra n d e p a rte d o sen tid o C ; q u ase q u e se
5?: P or desenvolvim ento da idéia de em p reg a a p en as fa la n d o d e p erv ersão se­
ordem com um : xual ou d e se n tim en to s c o n trá rio s à q u e ­
J . A quilo a qu e estam os aco stu m ad o s, les q u e se p ro d u zem n o rm a lm e n te e n tre
os objetos e acon tecim ento s tais com o h a ­ p ais e filh o s (cf. D esnaturado). N ature­
b itu alm en te se n o s a p resen tam . A n a tu ­ za c o m p o rta e n tã o , c o m o acontece em
reza, neste se n tid o , opõe-se à q u ilo q u e é o u tro s caso s, a idéia d a rep ro d u ção d a es­
sobrenatural. C f. M ilagre. E ste sen tid o pécie e d o s in stin to s q u e a ela se lig am .
existe so b re tu d o n o a d je tiv o n a tu ra l e n o
C R ÍT IC A
ad v érb io naturalm ente.
6 f : P or desenvolvim ento da idéia de N ã o é possív el d isp o r o s sen tid o s d a
ordem moral, consistindo para cada ser, p a la v ra natureza, d o p o n to de v ista se­
e para o con ju n to dos seres, na realiza­ m â n tic o , n u m a série lin ear. Eles p arecem
ção da sua essência, da sua Idéia: ter-se fo rm a d o p o r irra d ia ç ã o em v árias
K . Prin cíp io fu n d am en tal de qualquer direções em re d o r de u m a id éia p rim iti­
ju ízo n o rm a tiv o . A s “ leis d a n a tu re z a ” , va, que seria, sem d ú v id a, a d o desenvol­
to m a d a s neste sen tid o , são e n tã o as r e ­ v im en to esp o n tâ n e o d o s seres vivos se­
gras id eais, p e rfe ita s, as ν ό μ ο ι a y ρ α φ ο ί g u n d o um tip o d e te rm in a d o . (Φ ύ σ α , cf.
d as q u ais as m o rais o u as leis h u m a n a s φ ύ ω , φ υ τ ό ν ; a m esm a raiz em fe tu s, f e ­
são u m a im itação im p erfeita. C f. L ei, A , cundas, felix; — natura, cf. nasci; natu-

Ig u alm en te , u m elem ento im p o rta n te d a id éia de n a tu re z a , p o r exem plo em P τ è ­


Tτ Â e R Ã Z è è τ Z , co n siste n u m a asso cia ção d o s sen tid o s B, C, G e K: o q u e é “ n a ­
E

tu r a l” é o q u e nos ap arece co m o necessário — p o r isso , sem d ú v id a , ex istin d o de


fa to , desd e a orig em — , m as ta m b ém co m o ten d o u m a espécie de existência de direi­
to, p o is que sem “ n a tu re z a ” o ser ficaria p riv ad o n ã o so m en te d a su a essência ló gi­
ca, m as tam b ém d as condições indispensáveis à sua existência. C f . R Ã Z è è τ Z , p re ­ E

fácio e p reâm b u lo d o Discurso sobre a origem da desigualdade. P τ è T τ Â , Pensam en­


tos, 233: “ A n o ssa a lm a é lan ç a d a no c o rp o , o n d e e la e n c o n tra n ú m e ro , te m p o , d i­
m en são . E la racio cin a so b re isso e c h a m a a isso natureza, necessidade, e n ã o p o d e
crer n o u tra c o isa .” (G. Beaulavori)
NATU REZA 724

ral su b st., no sentido de au tó cto n e, de in ­ M as a c rítica m ais c o m p le ta dos eq u ív o ­


díg ena.) Este sentido prim itiv o existe tam ­ cos envo lv id o s n esta p a la v ra , s o b re tu d o
bém nas o b ras d o s escritores gregos? N ão d o p o n to d e v ista m o ra l, é a q u e foi a p re ­
p u d e e n c o n tra r exem plo s. Lê-se no Dic. se n ta d a p o r J o h n S tu a rt M « Â Â n o seu en ­
grego d e Bτ «   à : “ Φ J ë è yáX axTos” , saio in titu lad o N ature (p ublicado n a o b ra
fo rm ação d o leite nas m am as; A 2 « è I FI E ­ p ó stu m a N ature; the U tility o f Religion;
 E è , Ger. d o s anim ais, II, 2. M as este Theism : Being Three Essays on Reli-
exem plo é d u p lam en te in ex ato : 1?, tra ta - g io n \ 1874). “ A p a la v ra N a tu re z a ” , diz
se neste cap ítu lo d o esp erm a e n ã o d o lei­ ele em resu m o , “ tem do is sen tid o s p rin ­
te; 2 ?, a ex p ressão τ ο ν σ -πέ ρ μ α τ ο ί φ ύ σ α , cipais: o u d e n o ta o siste m a to ta l d as co i­
q u e aí se e n c o n tra d u a s vezes (735a29, sas, com to d a s as suas p ro p rie d a d e s, ou
736M 9), designa a co n stitu ição física e en tão d e n o ta as coisas tais q u ais elas se­
q u ím ica do esp erm a. O m esm o se p o d e riam fo ra de q u alq u er in tervenção h u m a ­
d izer das expressões τ ο ν ε λ α ί ο υ φ ύ σ α n a . N o p rim eiro se n tid o , a d o u trin a que
(383b21), τ ο υ α ΐ 'μ α τ ο ί φ ύ σ α (403 b7), re c o m e n d a ao h o m em seguir a n a tu re z a
etc.; esta p alav ra aplica-se sem pre à co m ­ é a b su rd a , u m a vez que o hom em n ão p o ­
po sição d o co rp o p o r tais o u tais elem en­ de ag ir de o u tro m o d o . N o seg u n d o sen ­
to s , ág u a , te rra , etc. Φ ο σ υ yáXotxros tid o , a d o u trin a que reco m en d a a o h o ­
en co n tra-se ta m b ém n a Política, I, 8; m em q u e siga a n a tu re z a , q u er dizer, que
1256M5; m as φ ύ σ α , nesta passagem , tem to m e o cu rso esp o n tâ n e o d as coisas p o r
ap en as u m sen tid o exp letivo, o que n ã o m o d elo d as suas p ró p ria s ações v o lu n tá ­
é ra ro em A ristó teles, co m o o b serv a BO- rias, é irracio n al e im oral: irracio nal, p o r­
N i T Z , In d ex, 838a8. C f. ta m b ém natura
que to d a ação h u m a n a co n siste em m u ­
auri, natura ignis em LZ T2 ÉCIO. d a r o cu rso d a n a tu re z a , assim d efin id a ,
É preciso n o ta r , além d isso , q u e d es­ e to d a ação útil a m elhorá-la; im o ral, p o r­
de a A n tig ü id ad e esta p a la v ra ap re se n ta q u e o cu rso das coisas e stá cheio d e aco n ­
to d a a variedade de significações q ue co n­ te cim en to s qu e são u n an im em en te ju lg a ­
servou no s auto res m odernos; e q u e, além dos o d io so s q u a n d o re su lta m d a v o n ta ­
disso , os escrito res a em p reg am em to d as d e h u m a n a .”
as suas acep çõ es. N ão é r a ro en c o n trá -la H á , além d isso , u m eq u ív o co grav e
em do is sen tid o s d iferen tes a alg u m as li­ e n tre os sen tid o s B, C , e o sen tid o D . N o
n h as de d istâ n c ia , e p o r vezes n a m esm a p rim eiro caso , a n a tu re z a d e um h o m em
frase. é a q u ilo q u e o to r n a h o m em , o q u e ele 1
A s d u a s g ra n d e s divisões q u e a d o ta ­
m o s são in d icad as p o r D E è Tτ 2 I E è , M e­
ditações, V I, 10; e p o r Kτ ÇI , Crít. da ra­ 1. A natureza ; A utilidade da religião; O teísm o:
zão p u ra , A n tin o m ia, 1 ? seção, a d fin e m . três ensaios sobre a religião.

Os term os usados por G 2 ÃI « Z è n a sua definição do D ireito natural (ver Necessi­


dade m oral, observações) m ostram que a sua fórm ula deve m uito ao s autores latinos
que expuseram o estoicismo; e poderiam os n otar que as confusões de idéias engen­
dradas no séc. XV111 pelo emprego am bíguo d a palavra natureza já se encontravam
n a filosofia estóica (natura, ipvaa). (R. Beríhelot)
Em estética, constata-se o mesmo equívoco en tre os diferentes sentidos d a pala­
vra natureza. T odas as escolas artísticas pregam o reto rn o à natureza. M as um as en­
tendem p o r natureza a n atureza hum ana no que ela tem de pro priam ente hum an o
(a razão); ou tras, a natureza hum ana no que ela tem de individual (a sensibilidade);
725 N ATUREZA

tem d e co m u m co m os seus sem elh an te s, (com as devidas reservas q u a n to ao uso


o q u e co n stitu i, q u er a d efin ição d a sua científico deste conceito); no sentido B, p or
“ Id é ia ” , q u er o in stin to n o rm a l d a sua essência·, no sentido C, p o r instinto ou in­
espécie. N o seg u n d o caso , a n a tu re z a de clinação; no sentido D , p o r temperamen­
u m h o m em é, pelo c o n trá rio , o q u e o in ­ to o u caráter; n o sentido F , p o r universo ;
d iv id u aliza, o q u e o distin g u e p o r certas no sentido H , p o r determinismo. P o d ería ­
ten d ên cia s ou m o d o s de reação que lh e m os conservá-la nos sentid os G e l , p a ra
são próprio s. M ontaig ne, e P ascal, depois os quais ela n ão ad m ite sinônim os e que,
dele, o p õem m uitas vezes natu reza e o h á ­ aliás, se p restam m enos às confusões so­
b ito : m as sob a p rim e ira p a la v ra reú n em físticas. Estes sentid os d ão u m valo r p re­
a n a tu re z a h u m a n a , e n q u a n to “ fo rm a ciso à oposição H o m em -N atu reza, A rte-
m e stra ” d a h u m an id ad e, e a n a tu re z a in ­ N atu reza, n a q ual se c o n tin u ará sem d ú ­
dividual, en q u an to “ fo rm a m e stra ” deste vid a a fazer jo g o s de palavras filosóficos,
o u daquele in divíduo. É evidente qu e, seja m as sem a q u a l n ã o m e parece que se p o s­
d o p o n to de v ista m o ral, seja do p o n to sa passar. Q u an to aos sentidos E, J, H , que
de v ista pedagó gico, o elogio de u m a co n­ co rresp o n d em a usos co n fu so s ou abusi­
d u ta ou de u m a ed u cação “ c o n fo rm e à vos deste term o , seria b o m evitá-los; espe­
n a tu re z a ” co rresp o n d e ta m b é m a q u i a cialm ente este ú ltim o (ap esar do ressu rgi­
d u as atitu d es q u e d everiam ser ra d ic a l­ m en to co n tem porâneo d a expressão Direi­
m en te o p o sta s. to natural) tende a cair em desuso e a sua
A c re d ita m o s, p o is, q u e h a v eria g ra n ­ d esap arição seria m u ito desejável. Se h á
de v an tag em em red u zir ta n to q u a n to u m p rin cíp io su prem o dos ju ízos n o rm a ­
possível o uso d esta p alav ra qu e, aliás, já tivos é preciso designá-lo p elo ú n ic o nom e
so fre u alg u m a d im in u ição d esd e o sécu­ q u e lhe é p ró p rio , o Bem , e n ã o m an te r
lo X V III. P o d e m o s, em m u ito s caso s, com um te rm o equívoco a co n fu são tra d i­
su b stitu í-la u tilm en te p o r te rm o s m en o s cional entre juízos de fato e juízos de valor.
vagos: n o sen tid o A , p o r princípio vital R ad. in t .: G . I. N a tu r.

o u tra s a in d a , a n a tu re z a e x te rio r e p ito re sc a , etc. D eve-se ev itar ta n to q u a n to possí­


vel o em p reg o d esta p a la v ra v ag a e am b íg u a . (F. M en tré)
Será n ecessário p ro screv er tã o se v eram en te o s term o s d este gên ero ? O em prego
exclusivo de u m a p a la v ra m ais p recisa, especial p a ra c a d a acep ção , f a ria d esap arecer
o q u e h á de re a lm en te u n o e a o m esm o te m p o p ro fu n d o e filo só fico n essa larg a sig­
n ificação . T alv ez n ã o se devesse d istin g u ir e esp ecific ar ta n to o s sen tid o s, d eix an d o
u m a p a lav ra ev o lu ir liv rem en te d e u m a o u tro , desd e q u e se sinta, e n tre to d o s estes
sen tid o s, relações de filiação e u m a id e n tid a d e fu n d a m e n ta l. A s p a la v ra s de u m a lín ­
g u a n ã o são bilhetes e elas p ró p ria s tê m u m a <pi'ais. E las n ã o têm u m n ú m e ro d eter­
m in ad o de sentid os; existe nelas, co m o em tu d o o q u e é viv o, o in fin ito . (7. Lachelier)
Concedo totum ; m as com d u as reservas: a p rim e ira é q u e no estu d o crítico d o
v o cab u lário seja p erm itid o esco lh er, en tre as n u an ces c o n tín u a s dessa tra n s fo rm a ­
ção sem ân tica, os p o n to s m ais im p o rta n te s, p a r a os n o ta r e fazer so b ressair, e isto
s o b re tu d o q u a n d o estes m o v im en to s de sen tid o vão d a r a u m a m esm a p a la v ra , com o
a q u i aco n tece, certas acepções d ia m etralm en te o p o stas; a seg u n d a é que n o uso da
lín g u a esta elasticid ade dos term o s n ã o sirva, co m o se vê m u itas vezes, ao en u n ciad o
d e fó rm u las especio sas, so an d o b em , n as quais a im p ressão fav o ráv el q u e causam
as p a la v ra s e n c o b re p en sam en to s co n fu so s, q u e d esv anecem com a an álise, ou m es­
m o sofism as cu ja fraq u eza ap arece q u a n d o os trad u zim o s. A p alav ra natureza é um a
das que fo rn ece m ais exem plos desses d efeito s; ver a C rítica. (A. L .)
N A TUREZA 726

“ N a tu re z a (F ilo so fia d a ) ” D . N atur- 85; D e d iv . n o m in ., IV , 21); ECKHART; G .


philosophie; F . Philosophie d e la nature. B2 Z ÇÃ ; CÂ τ Zζ E 2 ; , e sobretudo Eè ú « ÇÃ -
A . U m a d a s div isõ es u su ais d a filo ­ è τ(Ética, I, 29), p o r quem estas expres­
so fia no s filó so fo s alem ães d o in ício d o sões fo ram tornadas célebres.
século X IX , p a rtic u la rm en te em ST7 E Â -
ÇÃI τ
 « Ç; e H E GEL. E la o p õ e-se à Lógica e à
Filosofia d o Espirito. Bτ TÃÇ (d e a c o rd o com o seu m é to ­
B. Síntese filo só fica d as cara c terísti­ d o , q u e co n siste em co n serv ar os term o s
cas gerais e d as gran d es leis d a n a tu re z a , escolásticos d a n d o -lh es u m sen tid o físi­
n o sen tid o E d e sta p a lav ra. E ste te rm o é co) en ten d e p o r natura naturans a d isp o ­
s o b re tu d o u su a l, neste se n tid o , so b a sua sição o u o pro cesso reais q u e aparecem
fo rm a alem ã, fa la n d o d a s te o ria s de aos nosso s sentidos so b o asp ecto de u m a
H τ E T3 E Â , d e Mτ T7 , de Oè I ç τ Â á , etc. q u a lid a d e percep tív el, o u natureza (cf.
N atureza, B). E sta ex p ressão é, p o r ta n ­
“ N a tu re z a n a tu r a n te ” e “ N a tu re z a to , p a r a ele, sin ô n im a d e Form a*. V er
n a tu r a d a ” L . escol. N a tu ra l naturans, N o v. O rg., II, 1.
N atura naturata.
E x p ressão q u e p arece te r n ascid o no N A T U R IS M O D . N aturism us; E .
século X II nas trad u çõ es latin as de A ver- N aturism ; F . N aturism e; I . N aturism o.
ró is. C f. S« E ζ E T3 , Ü b er d ie E n tsteh u n g A . C u lto d a n a tu re z a (n o sen tid o re ­
d er T erm in i N atura naturans u n d natura ligioso d a p a la v ra culto).
naturata1, A rch. f ü r Gesch. d erP h il. III, B . D outrina histórica de M ax M Z Â -
1890. A n a tu re z a n a tu ra n te é D eus e n ­ Â E 2 , de KZ 7 Ç , de SI E « ÇI 7 τ Â , segundo
q u a n to c ria d o r e p rin cíp io de to d a ação ; a q u al a origem essencial da religião se­
a n a tu re z a n a tu ra d a é o c o n ju n to d o s se­ ria a personificação e a adoração daq u i­
res e d as leis que ele crio u . “ N a tu ra dici- lo que no m undo físico im pressionou a
tu r d u p liciter: u n o m o d o N a tu ra n a tu ­ im aginação dos hom ens no início d a ci­
ra n s, id est ip sa su m m a n a tu ra e lex qu ae vilização: o sol, os astros, o céu, o fogo,
D eus est... aliter vero N a tu ra n a tu r a ta ...” a tem pestade, a noite, etc.
V« ÇTE ÇI áE BE τ Z âτ « è , Speculum qua- C . D o u trin a que p reg a o “ re to rn o à
druplex, X V , 4 (ibid., 370). C f. S. TÃ ­ n atu reza” n as instituições sociais e n a m a­
á è áE AI Z « ÇÃ ( S u m m a theol., I, II,
O n eira de viver.
R ad. in t.\ N a tu rism .

1. S o b re a origem d o s te rm o s N a tu ra na­ N E C E S S Á R IO D . N o tw en d in g ; E.
tu ra n s e N a tu r a n a tu ra ta . N ecessary ; F . Nécessaire·, I. Necessário.

S obre N a tu rism o — O sentido C fo i acrescen tad o seg u n d o as o b serv açõ es de O.


K arm in.
S o b re N ecessário — N a p rim e ira re d a ç ã o deste artig o e a té à 4.a ed ição , os sen ti­
dos a tu a lm e n te desig n ad o s p o r A , B, C , e tc ., e ra m a p en as d istin g u id o s p o r n ú m ero s
e c o n sid erad o s co m o aplicações d iv ersas d a d efin ição : o que n ã o p o d e ser d e o u tr a
m a n e ira . D evem os a Lucien B o n n o t o te r c h a m a d o a n o ssa a te n ç ã o p a ra o s eq u ív o ­
cos d a p a la v ra p o d e n esta fó rm u la , e, p o r co n seg u in te , d a p a la v ra necessário nos
seus diverso s em pregos.
P o d e ría m o s acrescen tar à crítica, parece-m e, q u e , m esm o no q u e resp eita à d is­
tin ção fu n d am en tal do necessário h ip o tético e d o necessário cate g ó ric o , subsiste um a
d ep en d ên cia d o sen tid o A , e d e tu d o o q u e a ele se lig a, p a ra co m o sen tid o E : p o r-
727 N E C E S S Á R IO

I. L ó g ic a e m etafísica D . É d ita n ecessária a p ro p o siç ã o


N o ção in telectu al fu n d am en tal, o p o s­ c u ja c o n tra d itó ria im p lica co n tra d iç ã o ,
ta a contingente* e co rrelativ a à n o ção de q u er abso lu tam en te, q u er sob certos pres­
possível*. É trad ic io n a l d a r d o sen tid o su p o sto s q u e d efin em u m u n iv erso de
d esta palav ra u m a fó rm u la geral: é neces­ d iscu rso .
sário a q u ilo q u e n ã o p o d e ser d e o u tra E . É d ita necessária a p ro p o siç ã o
m a n e ira . M as e s ta fó rm u la tem ap en as c u ja c o n tra d itó ria é co n h ecid a co m o fa l­
u m a u n id a d e v erb al; ela m u d a m u ito de sa a p rio ri sem a m ed iação do racio cín io .
sig n ificação c o n fo rm e a q u ilo a que se A s “ v erd ad es n ecessárias” (se se a d ­
ap lica: m itir que existem ) são , p o rta n to , a q u e ­
a) Falando de relações: las que se im p õ em ao esp írito h u m a n o de
A . É d ita necessária a dep en d ên cia d a ta l m a n eira q u e é im possível revo gá-las
p ro p o siç ã o im p licad a em relação ao sis­ com d ú v id as de b o a fé.
te m a de p ro p o siçõ es q u e a im plicam . F . É d ita n ecessária (em relação a u m
ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 vê m esm o n e sta d e p e n ­ sistem a de p ressupostos) to d a co nsequên­
d ên cia a d efin iç ão geral d a necessid ade cia que esses p ressu p o sto s im p liq u em .
(Krit. der kantischen philosophie, 549). G . É d ito necessário (em relação a um
E sta tese foi vivam ente ap ro v ad a p o r Bo- co n ju n to de causas dadas) o efeito que d e­
SANQUET, Logic, II, 213. “Necessity in- las re su lta in faliv elm en te .
deed m eans no th in g b u t th e inevitableness H . É d ito necessário (em relação a um
o f th e co n seq u en t w hen th e g ro u n d is fim ) o m eio ú n ic o p a ra esse fim .
g iv e n .” 1 I. É d ito necessário o ser q u e, p a ra
B. É d ito necessário o en cad eam en to existir, n ã o d ep en d e d e n e n h u m a o u tra
d as cau sas e d o s e fe ito s n u m sistem a d e­ c au sa o u c o n d ição : o D eus d e D escarte s,
te rm in a d o . a su b stâ n c ia d e E sp in o sa.
C . É d ita necessária a relação de u m II. M o ral
m eio co m u m fim , d e u m a co n d ição com
u m co n d ic io n a d o , se esse fim fo r a tin g i­ J . M o ra lm e n te o b rig a tó rio . (Sem d ú ­
d o ap en as p o r esse m eio o u se esse co n ­ v id a d ev id o a u m a elipse: necessário n o
dicio nado se p u d er realizar apenas sob es­ sen tid o H , p a ra bem a g ir, p a ra realizar
sa co n d ição . a su a n a tu re z a id eal.) E ste sen tid o é b a s­
b) Falando d e proposições sobre f a ­ ta n te u tiliz a d o , m as im p ro p ria m e n te e
tos ou seres: p resta-se a equ ív o co s.

C R ÍT IC A

1. “Necessidade q u e r dizer ap e n a s isto : o c o n ­ N ós levam os o m ais longe possível, n a


se quen te é inevitáv el q u a n d o o p rin c íp io é d a d o .” análise precedente, a sep aração d as diver-

q u e , p a ra que u m a p ro p o siç ã o b seja necessária em re la ç ã o a u m a p ro p o siç ã o a (sen ­


tid o D ) é preciso q u e a D b se ja p o s ta , q u e r co m o necessária n o sen tid o E , q u e r co m o
n ecessária em relação a u m a o u tra im p licação d a q u a l seria a co n seq u ên cia , q u er
co m o d ecisó ria. E nestes do is ú ltim o s caso s será p reciso , p a r a d a í d ed u zir alg u m a
co isa, um p rin c íp io q u e se im p o n h a p o r si m esm o , a m en o s q u e n ã o seja d ed u zid o
o u d ecisó rio , o q u e d e n o v o n o s rem ete a u m estád io su p e rio r, e assim p o r d ian te
a té o categ ó rico . (A . L .)
S o b re a d o u trin a d e q u e n ã o existe nem n ecessid ad e físic a, nem necessidade ló g i­
ca e m atem ática, m as so m ente u m a necessidde psicológica, g eralm en te, ver Jean Lτ -
ú Ã2 I E , L ’idée de nécessité (1941).
N E C E S S ID A D E 728

sas acepções d a p a lav ra necessário·, e is­ esp ecialm en te às te o ria s de R o b e rt


so é útil p a ra esclarecer os e q uív ocos ao s O ç E Ç ); te rm o a n tiq u a d o p a ra designar o
q u ais se p re sta . M as os sen tid o s B, p o r determ inism o, no sen tid o C. V er J. S.
u m lad o , F e G , p o r o u tro , são ap en as M « Â Â , Logic, livro V I, cap . II, especial­
diferentes d o m ín io s de ap licação d a idéia m en te § 2 e § 3, em que ele d e sa p ro v a o
fu n d a m e n ta l A — C e H só diferem p o r­ em prego d esta p a lav ra.
q u e o p rim eiro se ap lica a u m a relação e
B. “ N ecessid ad e m o ra l” (L E « ζ Ç« U ,
o seg u n d o ao co n seq ü en te d a q u e la . E se
Teodicéia, 132, 1 7 5 ,2 3 4 e em g ran d e n ú ­
o m eio é d ito necessário é p o rq u e “ É n e­
m ero d e o u tra s p assag en s). E le a o p õ e à
cessário fazê-lo ” está tam b ém necessaria­
m ente im p lic a d o , n o sen tid o A , p ela “ necessid ade a b s o lu ta ” , o u “ n ecessid a­
m aio r: “ É necessário atin g ir este f im .” de m e ta físic a ” , alg u m as vezes à “ neces­
N ã o re sta m sen ão os sen tid o s E e I, sid ad e b r u ta e g e o m é tric a ” (371). E la
que se op õem aos precedentes pelo seu ca­ consiste n o fa to de q u e u m ser in teligen­
rá te r categó rico: o que se im põe ou se p õ e te e b o m n ã o p o d e ria escolh er e n tre vá­
p o r si m esm o e im e d ia ta m e n te , q u e r no rio s possíveis sen ão c o n ceb en d o um d e n ­
d o m ín io d o p e n sa m e n to , q u e r n o d o ser.
tre eles co m o o m elh o r e co m o su p erio r
T alv ez e n tre estas d u as g ran d es divisões ao s o u tro s d o p o n to d e v ista d a “ c o n v e­
n ã o deixe d e h av er lig ação in te rn a . Ver n iê n c ia ” . C f. Obrigação.
as o bservações. C . (n o sen tid o co n creto ). O q u e é n e­
R ad. in t .: N eces. (Boirac ) cessário; e m ais especialm ente o que é ne­
N E C E S S ID A D E D . N o tw en d ig keit ; cessário p a ra um fim . “ A d iv isão d o tr a ­
E . N ecessity ; F . Necessité; I. Necessità. b a lh o é u m a n ecessid ade n a ciência m o ­
C f. A caso. d e r n a .”
A. (no sentid o a b strato ). C aracterísti­ D . P ressão exercid a so b re os d esejo s
ca daq u ilo que é necessário. A necessida­ e as ações d o h o m em pelo en cad eam en to
de é absoluta o u categórica se fo r consid e­ inevitável d os princípios e d as consequên­
ra d a válid a em q u alq u er caso e quaisquer cias, dos efeito s e das cau sas. M u itas ve­
que sejam os pressu p o sto s de que se p a r­ zes p e rso n ific a d a neste sen tid o e, p o r ve­
te; ela é hipotética se estiver su b o rd in ad a zes, c o n fu n d id a com a Fatalidade.
a certos pressupostos que poderiam n ão ser Rad. int.: A . B. N eceses; C . N ecesaj.
colocados; ver Necessário D , F , G , H .
D outrina da necessidade o u Necessi- N E G A Ç Ã O D . V e m e in m g ; E . Nega-
tarism o (E . Necessitarianism, ap licad o tion\ F . Négation·, I. Negazione.

S o b re N ecessid ade m o ra l — E sta ex p ressão , ta l c o m o a de conveniência, p arece


te r sid o re tira d a de G R O T tu s p o r L eib niz: “ Ju s n a tu ra le est d ic ta tu m recta e ra tio -
n is, in d ican s a c tu i alicu i, ex eju s co n v en ien tia a u t d isco n v en ien tia cum ip sa n a tu ra
ra tio n a li et so cia li, inesse m o ra le m tu rp itu d in e m , a u t necessitatem m o ra le m .” D e
ju re belli et pacis (1625), livro I, cap . I, § 10. (R. Berthelot)
S o b re N eg ação — A fo rm a a firm a tiv a ou n eg ativ a das p ro p o siçõ es p o d e ser in ­
d ep en d en te d a te n d ên cia psicoló gica p a ra a a firm a ç ão tal com o a co n sid era S ig w art.
É b em verd ad e que só é útil n eg ar o que p o d e ria ser a firm a d o ; m as o in verso n ã o
é m enos v erd ad eiro e só vale a p en a afirm a r o que p o d e ria ser n eg ad o . “ E sta m esa
é b ra n c a ” im p lica q u e se p o ssa crer q u e ela n ã o o é. D izer, a o m eio -d ia, “ É d ia ” ,
é a b su rd o . D izê-lo , n o v e rã o , às trê s e m eia d a m a n h ã , p o d e ser ú til e razo áv el. ( J .
Lachelier )
729 NEGADO

A . A to d o esp írito que consiste em de­ te ju íz o vai ser s u b stitu íd o p o r u m o u tro


c la ra r que u m a lexis* p ro p o s ta é falsa. (q u e d eix o , é v erd ad e, in d e te rm in a d o ).”
B. Signo g ram atical que representa es­ BE 2 ; è ÃÇ , L ’évo lu tio n créatrice, p p .
ta a titu d e do esp írito . 311-313. A crença é o estad o prim itiv o do
C. S ím bolo lógico q u e re p re se n ta o esp írito . C o n tu d o , d o p o n to d e v ista ló ­
universo do discurso, dim in uíd o d a exten­ gico, h á u m a d u p la reserv a a fazer: p o r
são do te rm o de q u e este sím b o lo é c h a ­ u m lad o , a q u e la q u e fo i fo rm u la d a p o r
m a d o a n eg ação (cf. N egativo). J. Lτ T7 E Â « E 2 n a o bservação ab aix o ; p o r
C R ÍT IC A
o u tro , a distin ção q u e é p reciso reco n h e­
cer en tre a lig ação p rév ia d o su je ito e d o
V ários au to res fizeram n o ta r que a ne­
p red icad o , q u e é n ecessária à n eg ação , e
gação n ão po d ia ser considerada u m a fo r­
a afirm ação p ro p riam en te dita. P od em o s
m a prim itiv a d a p ro p o sição ao m esm o tí­
considerar p o r abstração um “ co n te ú d o ”
tu lo que a afirm a ç ã o . “ T h ere is n o neg a­
d o ju ízo , que seria, em seguida, quer afir­
tio n conceivable w ith o u t th e co n co m itan t m a d o , q u er n eg ad o , q u e r d eclarad o d u ­
con cep tio n o f an affirm atio n : fo r we can ­
v id o so , q u er a d m itid o a títu lo d e h ip ó te ­
n o t den y a th in g to exist, w ith o u t h av in g
se, etc. D este m o d o , o q u e é, sob o m es­
a n o tio n o f th e existence w hich is d e­
m o títu lo , o o b je to d a a firm a ç ão o u d a
n ie d .” 1 H τ O« Â I ÃÇ (seg u n d o K2 Z ; , L o ­
negação é a “ l e x i s (C f. as ob servações
gic, III, 216). S« ; ç τ 2 I diz igualm ente:
so bre M odalidade e ver Negatividade, no
“ D ie V ern ein u n g ric h te t sich im m er ge­
Suplem ento.)
gen den V ersuch einer Synthesis, u n d setzt
Rad. in t .: N eg.
a ls o ... eine Z u m u tu n g S u b jek t u n d P rä-
d icat zu v e rk n ü p fe n , v o ra u s .” 12 L o g ik, N E G A D O (d o L . negatum , coisa n e­
1 ? p a rte , § 20. D o p o n to de v ista p sic o ­ g ad a). LÓG. C o n sid erem -se d u as classes
lóg ico, esta tese p arece in co n te stá v el. “ A A e B, sen d o A u m a espécie d o g ênero
prop osição: E sta m esa n ã o é b ran ca im pli­ B. A ex p ressão “ N ã o -A ” ( - A ou A ’)
ca que po derieis crê-la b ra n c a , q u e a cre­ designará n a classificação, “ os B que n ã o
des tal, o u qu e eu ia crê-la tal; eu previno- são A ” . N ã o -A c o n stitu i o negado (diz-
vos o u adv irto -m e a m im m esm o q u e es- se ta m b ém o correlato) d e A n a classe B.
A n eg ação n ã o te m a q u i a su a sig nifica­
ção h ab itu al, p o rq u e d eterm in a u m a sub­
1. “ N ã o existe n eg açã o co nceb ív el sem a id éia classe efetiv a d e B.
c o n c o m ita n te d e u m a a firm a ç ã o : p o rq u e n ã o p o d e ­ G e n eralizan d o , p o d e m o s co n sid erar
m o s n eg ar a ex istê ncia d e u m a c o is a sem te r o p e n sa ­
n ão -A to m ad o ab solu tam ente com o o ne­
m e n to dessa m esm a ex istência q u e n e g a m o s/*
2. “ A negaçã o é sem pre d irig id a c o n tra u m a ten­ gado (ou o correlato), q u e r d izer, o co m ­
ta tiv a de sín tese; ela su p õ e u m a su g e stão d e u n ir o p lem ento d e A n o U niverso* d o discurso.
su je ito a o p red icad o .* ' C f. In d efin id o , L im itativo.

V er as o b serv açõ es so b re N a d a e so b re Negação n o Suplem ento.


A n eg ação co m o re la ç ã o in te rp ro p o sic io n a l é a relação d e u m a p ro p o siç ã o com
a su a n eg ação p e -p. U m a ta l relação n ã o existe d e m a n e ira n e n h u m a e n tre p e -q.
N ão tem o s m ais o d ire ito , n o seg u n d o caso , d e co n sid erar a n eg ação co m o u m a rela ­
ç ã o . F o i o q u e qu is ex p rim ir a d efin ição d a n eg ação c o m o “ eingliedrig e V erk n ü p ­
fu n g ” p o r certo s ló gicos c o n te m p o râ n e o s d e lín g u a alem ã. N o e n ta n to , esta expres­
são p arece-n o s d e fe itu o sa , u m a vez q u e ela sig n ific a literalm en te “ lig ação referen te
a u m ú n ico m e m b ro ” , o q u e n ã o te m g ra n d e se n tid o . P arece-n o s p referív el fa la r d a
re la ç ã o e n tre u m a p ro p o siç ã o e a su a c o n trá ria . ( C h . Serrus)
S o b re N egado — A rtig o d e v id o a Ch. Serrus.
N E G A T IV ID A D E 730

N E G A T IV ID A D E V er Suplem ento. injusto ¿ não-justo, p o rq u e o círculo é


n ão -ju sto sem ser in ju sto ); m uitas vezes,
N E G A T IV O D . Negativ, Verneinend', m esm o, m arcam algo co m pletam ente di­
E . Negative', F . Négatif', I. N egativo. ferente (móvel, imóvel) e tam bém freqüen-
A . F a la n d o d e um a p ro p o siç ão , aq u e­ tem ente idéias de co n te ú d o tão concreto
la cu ja c ó p u la é a fe ta d a p o r u m a nega­ com o os term os positivos correspondentes:
ção*. indeciso, individual, imediato, imenso, etc.
B. F alan d o de u m te rm o , aquele cujo não suscitam n a consciência sem ântica ne­
enunciado é precedido d a partícula não (ou n h u m sentim ento de negação. A m aio r
d aq u elas que são co n sid erad as em cer­ parte dos psicólogos e lógicos m odem os es­
to s caso s co m o equiv alentes: a - ; in —; tã o , neste p o n to , d e a co rd o .
m al - ; etc.)· V er C rítica. Q u a n to a o s term o s p ro p ria m e n te n e­
C . F a la n d o d e u m a g ran d eza, aq u ela gativ os, que n ã o designam nem im plicam
q u e é p reced id a d o signo. D iz-se, p o r m e­ n a d a m ais q u e a n eg ação d o co n ceito ex­
tá fo ra , d e tu d o o q u e p o d e ser e n c a ra d o presso pelo te rm o p o sitiv o corresp o n d en ­
co m o co n tad o em sentido inverso de u m a te , n ã o p o d em ser co n sid erad o s senão co­
d ireção d a d a . m o sím b o lo s alg o rítm ico s. A “ id éia n e­
D . F a la n d o d e u m a a titu d e de esp íri­ g a tiv a ” , com e feito , n ã o p o d e ria ser d e­
to , d e u m a d o u trin a , aq u e la q u e se o p õ e fin id a n em p e la p resen ça d e um c o n te ú ­
a u m a cren ça o u a u m a te o ria a n te rio r, d o m ental que seria positivo, nem pela a u ­
m as sem a su b stitu ir p o r n a d a . “ Q u a n ­ sência d este, p o rq u e p e n sa r A co m o a u ­
d o se em p reg a a p a la v ra p o sitiv o co m o sen te é p rim eiro p e n sá -lo , e p o r co n se­
o c o n trá rio de n e g a tiv o ... ela in d ic a u m a g u in te tê-lo p resen te n o esp írito (ver S « ; -
das m ais em in entes p ro p rie d a d e s d a v er­ W A R T , L o g ik , 1? p a rte , § 22).
dadeira filosofia m o d ern a... d estin ad a so­ A ristóteles chama-lhes ο ν ό μ α τ α α ό ρ ι σ ­
b re tu d o , p ela sua n a tu re z a , n ã o a des­ τ α (p. ex. o íx ά ν θ ρ ω πο ί ), n a m ed id a em
tru ir, m as a o rg a n iz a r.” A. CÃOI E , que n ão se p o d e dizer a que seres se apli­
Disc. sobre o espírito p o sitivo , § 32. U m cam , e opõe-nos expressam ente aos v erd a­
“ resu ltad o n eg ativ o ” é p ro p riam en te um deiros ο ν ό μ α τ α , que defin e com o φ ω vai
resu ltad o crítico, que apenas destrói. (Es­ σ η μ α ν τ ι χ α ί (Π ι ρ Ι ί ρ μ η ν ., 2; 16a19). “ Tò
te term o é u sa d o m u itas vezes n o sen tid o δ ’ο ί ι χ ά ν θ ρ ω πο ί ο ν κ ’ό ν ο μ α ... ά λ λ ’& τ ω
de re su lta d o n u lo , ou de fracasso ; m as ’ό ν ο μ α α ό ρ ι σ τ ο ν ." Ibid., a 30, b 32.
sem ra z ã o .) Kτ ÇI n ã o ad m itía , ta m b ém ele, que
houvesse conceitos negativos do p o n to de
C R ÍT IC A
v ista lógico; m as a d m itía a su a realid ad e
E xistem n as lín g u as n a tu ra is m u ito s do p o n to de v ista tran scen d en tal (Crít. da
term o s n a fo rm a neg ativ a; m as, co m o já razão p u ra , A 574; B 602).
B ossuet o n o to u (L ógica, cap . X V I e V er a d iscu ssão a p ro fu n d a d a d esta
X V II), eles m a rcam q u ase sem p re m ais n o ção n a ed. MÃ2 ÃI -S« 2 , L a pensée né-
ou m en o s d o q u e a sim ples n eg ação ló gi­ gative (1947).
ca d o con ceito o p o sto (infeliz¿ n ã o -feliz; Red. int.: A . B. G N egativ; D. N egem.

S o b re N egativo — N egativo a d m ite do is c o n trá rio s: afirm ativo e p o sitivo , que


n ã o são sin ô n im o s, o q u e lan ça a lg u m a c o n fu sã o q u a n d o se racio cin a a contrario.
P o r o u tro la d o , o ra a firm a r e n eg ar são d u as espécies d o g ên ero ju lg a r; o r a n eg ar
é u m a espécie d o g ên ero a firm a r (no sen tid o A d e afirmação): é a firm a r q u e n ã o .
F in alm en te, negativo c o m p o rta o eq u ív o co d o p assiv o e d o a tiv o : o ju ízo n egativo
p o d e ría ser n eg ativ o e n q u a n to nega; e a id éia n eg ativ a p o d e ria ser n eg ativ a en q u a n to
n eg ad a. (M. Marsal)
731 N IIL IS M O

N E O ... P refix o que serve p a ra desig­ T erm o co m u m so b o q u al se ag ru p am


n ar certas escolas filo só ficas, p a ra ligá- as doenças caracterizad as exclusivam ente
las a u m a escola a n te rio r q u e elas c o n ti­ p o r d istu rb io s fu n cio n ais de c a rá te r p sí­
n u am em alg uns asp ecto s. A s expressões q u ico , tais co m o idéias fix as, obsessões,
d esta fo rm a p arecem ser m ais usu ais n a d ú v id as, am n ésias, fo b ias, tiq u es, an es­
A le m a n h a q u e n a F ra n ç a , o n d e existem
tesias, distúrbios d a linguagem ou dos ins­
p o u cas q u e sejam c o rren tem en te u tiliza­
tin to s. É d ifícil, n o estad o atu al d a ciên­
das; as m ais conhecid as são N eoplatonis­
cia, d ar u m a fó rm u la q u e ex p rim a a n a ­
m o (P Â ÃI « ÇÃ , P Ã2 E « 2 « Ã , J τ Oζ Â « TÃ );
N eocriticism o (RE ÇÃZ â« E 2 , B2 ÃT7 τ 2 á , tu reza destas desordens. E n tretan to , P ier­
H τ OE Â « Ç , P « Â Â ÃÇ , Dτ Z 2 « τ T e os o u tro s re J τ ÇE I (L es névroses, 1909; 25 p a rte ,
c o la b o ra d o res d a C ritique p h ilo so p h i­ cap. V , p. 388: “ O que é u m a n eu ro se?” )
que)·, Neo-escolástica (D. ME 2 T« E 2 , DE propôs-se defini-las dizendo que “ as n e u ­
WZ Â E e os o u tro s c o la b o ra d o res d a R e ­ roses são d istú rb io s ou p a ra d a s n a ev o ­
vue néo-scolastique d e L o v ain a). lu ção das fu n çõ es” , d esig nando evolução
Neo-hegelianism o com eça a ser u sa ­ a q u i “ o fa to de que o ser vivo se tra n s ­
d o , im ita n d o a u to re s de lín g u a in glesa, fo rm a c o n tin u a m e n te p a ra se a d a p ta r às
p a ra designar a escola de G2 E E Ç , Cτ « 2 á ,
circu n stân cias n o v as, e q u e ele está sem
B2 τ á E à .
cessar em vias de desenvolvim ento e a p e r­
O N eolam arckism o é a doutrin a de
feiço am en to ” . A d m ite d u a s classes p rin ­
E « OE 2 e E. D. CÃú E ; o n eodarm nism o
de WE « è Oτ ÇÇ ; Ã neovitalism o de J. cipais: a neurastenia e a psicastenia e as
RE « NKE. (V er C. R . do Congrès de p h i­ o p õ e às d em ên cia s, co n sid erad as co m o
losophie de G enève, 1904, p p . 140 ss.) Ver “ d eterio raçõ es d as fu n çõ es a n tig a s” .
o Suplem ento. (Ibid., 391.)
Rad. in t .: N evroz.
N E U R O S E D . Neurosis, N erven­
k ra n kh eit; E . Neurosis, nervous affec­ N IIL IS M O D . N ihilism os; E. N ih i­
tion; F . N évrose ; I. N eurosi. lism; F . N ihilism e; I. N ihilism o.

S o b re N e o ... — E ste p refix o deveria ser u tilizad o ap en as com rad icais d e orig em
grega. P a la v ra s com o n eo v italism o são de m á lin g u ag em . (7. Lachelier )

S o b re N iilism o — H a m ilto n d efin iu niilism o deste m o d o : “ T his d o ctrin e, a s re­


fusing a su b sta n tia l reality to th e p h en o m en al existence o f w ich w e a re co n scio u s,
is called N ih ilism ... O f p o sitiv e o r d o g m atic N ih ilism ... w e hav e a n illu strio u s exem ­
ple in H u m e, an d th e cele b rated F ich te a d m its th a t th e sp eculative p rin cip les o f his
ow n idealism w ould, unless corrected by his practical, te rm in ate in th is re su lt.” 1 Lec­
tures on M etaphysics, E d in b ., 1859, I, p p . 293-294. (C. Ranzoli)
E « è Â E 2 (35 ed ição , p . 871) distin g u e do is sen tid o s d a p alav ra: IP “ E rk e n n tn is­
th eo retisch er N ih ilism u s” que co n siste em n eg ar “ je d e E rk en n tn ism o g lich k eit, jed e
allgem ein e, feste W a h rh e it” ; 2? “ M eta p h y sisch er N ih ilism u s” que co n siste em ne-

1. “ E sta d o u trin a , e n q u a n to recu sa u m a re a lid a d e substancial à ex istê ncia fen o m en al de que estam os
co nscientes, cham a-se N iilism o. D o N iilism o positivo ou d o g m á tic o ... te m o s um ilu stre ex em plo em H u m e,
e o céleb re F ich te ad m ite que os p rin cíp io s especulativos d o seu p ró p rio id ealism o , se n ã o fossem corrigidos
p ela su a m o ral, ch eg ariam a o m esm o r e s u lta d o .“
“ N H L IZ A R ” 732

A . D outrina segundo a qual nada exis­ ção exercida sobre o in divíduo . U m a p a r­


te (de absoluto); p. ex. a prim eira de três te deste g ru p o , a p ó s 1875, to rn o u -se o
teses de Gó 2 ; « τ è no seu trata d o lie g t gru p o terrorista que con tin u o u a ser (mal)
<pvcrews ff 7regi r o í /¿17o vt o s (segundo SEX- d esig n ad o n iilista. V e r S E « ; ÇÃζ Ãè , H is­
IZ è EOú « 2 « TZ è , A d v . M a th em a t., VII, toire p o litiq u e d e l’E urope contem porai­
65 ss.). ne, cap. X IX .
B. D o u trin a seg u n d o a q u al n ão exis­ R ad. int.·. N ihilism .
te q u a lq u e r v erd ad e m o ra l o u h ie ra rq u ia
“ N IIL IZ A R ” V er Suplem ento.
de valores. E sta d o de espírito , ao qual fal­
ta a re p resen tação d essa h ie ra rq u ia , que N IR V A N A T erm o sán scrito p o p u la ­
se põ e a q u estã o : “ P a r a q u ê ? ” e n ã o p o ­ rizado p o r ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 . E stad o de li­
de resp o n d er. “ N ih ilism us: es feh lt das b e rta ç ã o in tele ctu al e a fetiv a que se o b ­
Ziel; es feh lt die A n tw o rt a u f das W a ­ té m re n u n c ia n d o a o q u erer-v iv er, ao s in ­
ru m ? ... Sein m ax im u m v o n relativ er teresses d a p ró p ria in d iv id u alid ad e e às
K ra ft erreic h t er als g ew altth ätig e K raft ilusões d a sen sação . V er p rin cip alm en te
d er Z erstö ru n g : als activ er N ih ilism us. D ie W elt, livro IV , su p lem en to s, cap .
Sein G egensatz w äre d er m ü d e N ih ilis­ X L I, ad finem·. “ D as D aseyn welches w ir
m us, der nichts m ehr a n g re ift.” 1 N« E I Uè ­ k en n en , giebt er [der g ute M ensch] willig
T7 E , Wille zu r M acht, liv ro I (D er e u ro ­ au f; w as ih m s ta tt dessen w ird , ist in un -
päisch e N ih ilism us), cap . I. sern A ug en nichts, weil unser D aseyn, a u f
C . D o u trin a s de u m p a rtid o p o lítico je n es b ezo g en , nich ts ist. D er b u d d h a is-
e filo só fico ru sso , c h a m a d o p e la p rim ei­ tische G lau b e n en n t je n es N irw ana, d . n.
ra vez p o r este n o m e no ro m an ce de E rlö sc h e n .” 2
TOURGUENEF, Pais e filh o s (1862). E ste
N ISU S (esforço) T erm o latin o b astan ­
p a rtid o , n o seu p rim eiro p e río d o , fo i so ­ te u sa d o , em fran cés, p a r a d esig n ar um
b retu d o u m a crítica pessim ista, indiv id ua­ esfo rço q u e n ã o é n em v o lu n tá rio nem
lista e n a tu ra lista d a o rg an ização social: co n scien te. “ Sentim os u m im en so nisus
niilism o aplicava-se en tã o à recu sa de re ­ un iv ersal p a ra realizar u m desíg n io , pre-
co n h ecer co m o leg ítim a q u alq u er re stri­

2. “ A ex istê ncia que n ó s co nhecem os, o h o m em


1. “ N iilism o: fa lta de o b jetiv o , fa lta d e re sp o s­ de bem â b a n d o n a -a de b o m g ra d o ; o q u e o b tém em
ta ao p o rq u ê? A tinge o seu m áx im o de fo rç a (relati­ tro ca é na d a a nossos olhos, ju stam en te p o rq u e a nos­
va) e n q u a n to fo rç a de d estru ição , niilism o ativ o . O sa ex istência, c o m p a ra d a àq u e la , é n a d a . A este n o ­
seu o p o sto seria o niilism o can sad o , que j á n ão a ta ­ vo e stad o , a fé b u d ista c h a m a N irv a n a , q u e r d izer,
ca n a d a .” e x tin ç ã o .”

g ar “ jed e R ealitä t d er A u ssen w elt als so lc h er, d er V ielheit der D in g e ” 1. N a 1? ed i­


ç ã o , ele ap en as in d ic av a o p rim e iro sen tid o . O seg u n d o , q u e c o rre sp o n d e à fó rm u la
de H a m ilto n , p arece n u n c a ter existido em fran cês. (A. L.)

S o b re N irv an a — O te x to de S ch o p en h au er citad o é seguid o de u m a n o ta b a s ta n ­


te lo n g a qu e cita vária s opin iõ es so b re a etim o lo g ia d esta p a la v ra e o seu sen tid o p r ó ­
p rio . U m a só é atu a lm e n te a d m itid a: ev asão , ex tin ção d a ch am a (q u e sai d a lâ m p a ­
d a). T h . R hys D av id s, B uddhism , p. 164.

I, “ O niilism o n a teo ria d o c o n h e c im e n to ” consiste em n egar “ q u a lq u e r possibilidade de co n h ecim en ­


to , q u alq u er v erd ad e c e rta ” ; — “ o niilism o m etafísico ” consiste em n egar “ to d a realid ad e d o m u n d o ex te­
rior e n q u a n to ta l, d a m ultip licid ad e das c o is a s” .
733 N OLONTADE

encher u m m old e vivo, p ro d u z ir u m a un i­ tim o sen tid o u m a le m b ra n ç a d o uso fei­


d ad e h a rm ô n ic a , u m a co n sc iê n c ia .” RE­ to desta p a la v ra p o r LE « ζ Ç« U , n a su a dis­
NAN, Diálogos filo s ., I. cussão d a o p in ião de L ocke: “ T rata-se de
H Z OE em p reg av a esta p a la v ra n u m sab er... se a alm a contém originariam ente
sen tid o m ais la to , en g lo b a n d o o esfo rço os p rin cíp io s d e v ária s n o çõ es e d o u tr i­
m u scu lar de que tem os consciência: “ The n a s, que os o b jeto s ex te rn o s d esp ertam
a n im al nisus w hich w e can experience, so m en te n a o c a s iã o .” LE « ζ Ç« U , N o v o s
th o u g h t it c an a ffo rd no accu rate precise ensaios, p refácio , 3. A liás, ele englo ba aí
id ea o f p o w er, enters very m u ch in to th a t n ã o so m en te os p en sam en to s que se ex­
v u lg ar, in accu rate id ea, w hich is fo rm ed prim em p o r te rm o s, m as ta m b é m a q u e ­
o f i t . ” 1 A n Inquiry Concerning H um an les que se exprim em p o r proposições. “ Os
Understanding, seção V II, 1 (em n o ta). E sto ico s ch am av am prolepses a estes
T ex to assin ala d o p o r L éo n R Ãζ í Ç . p rin c íp io s ,... os m atem áticos cham avam -
lhes noções com uns (xcnvàs tv v o ia s ) .”
“ N ÍV E L M E N T A L ” V er Tensão e
Ibid. O liv ro p rim eiro tem p o r títu lo :
M oral, B. C f. P ierre J τ ÇE I , “ A è o scila­
“D as noções inatas ” e o p rim eiro ca p í­
ções do nível m e n ta l” , R evue des idees,
tu lo deste livro: “ Se h á princípios in ato s
o u tu b ro de 1905.
no esp írito d o h o m e m .”
N O Ç Ã O D . Gedanke, Vorstellung
CRITICA
(no sentido m ais restrito Begriff); E . No-
tion (term o m u ito u su al e div ersam en te O sentido lato e o sentido restrito de
em p reg ad o : p a ra BE 2 3 E Â E à , o põe-se à notio encontram -se já reunidos em CGTE ­
2 Ã , q u e nos Tópicos, c a p . V II, d á esta
idéia, p o rq u e nele o sen tid o d esta ú ltim a
p a la v ra restrin ge-se à q u ilo que é c o n h e­ p a la v ra co m o tra d u ç ã o d e tv v o ia e de
cid o so b a fo rm a d e im ag en s; p a ra o s he- 7 r e d \ # i s . O sentido la to , p a ra o qual não
gelianos ingleses, serve p a ra trad u zir o Be­ tem os equivalentes, parece-nos preferível.
g r iff d e H E ; E Â , e tc .); F . N o tio n ; I. N o- V er o Suplem ento.
zione. V er o Suplem ento. R ad. int.: N o cio n .
O b je to d a co n sciên cia, seja n o sen ti­ “ N O D A L (P o n to )” C Ã Z 2 ÇÃ I ser­
d o A , seja n o se n tid o B d esta p a la v ra . ve-se d e sta ex p ressão p a ra designar os fe­
D iz-se so b retu d o , m as n ã o exclusivam en­ nôm enos “ o n d e o m ovim ento vital co m e­
te , d o s o b je to s a b s tra to s d e co n h ecim en ­ ça e o n d e o o rg an ism o a p arece n o estad o
to ( n o tio , em S. TÃOá è áE AI Z « ÇÃ , é n a scen te” (Traité de l ’enchaînem ent, li­
m u ita s vezes to m a d a co m o sin ô n im a d e v ro II I , c a p . V , § 249); “ o p o n to d e in ­
nota, c a ráter; v er SCHÜTZ, sub Vo); m ais serção d o s fen ô m en o s vitais n o s fenôm e­
especialm ente a in d a , aplica-se ao s concei­ n o s q u ím ic o s” (ibid., § 253). É ta m b ém
to s; fin alm ente, Kτ ÇI chega a restrin gir o p o n to de o b sc u rid a d e m á x im a p a ra os
notio (em latim n o seu p ró p rio texto ) aos nosso s co n h ecim en to s, q u e se to rn a m c a ­
reine B egriffe q u e só o en ten d im en to fo r­ d a vez m ais claro s à m e d id a q u e , p o r um
nece (K rit. der reinen Vem ., Transe. D ial., la d o , nos a fa sta m o s dele, re m o n ta n d o às
livro 1,1? seção). H á , sem dúvida, neste úl- m a tem áticas; p o r o u tro , av an ç a n d o p a ­
r a as ciências m o rais.
1. “ O nisus an im al d e que tem os experiência, N O E M A V er Suplem ento.
a in d a que não p o ssa fo rn ec er q u a lq u e r id éia ex ata
e p recisa de p o d er, en tra em g ran d e p a rte n a id éia N O L O N T A D E L. arcaico , noluntas
v u lg ar, in ex ata, q u e dele p o ssu ím o s.” (EÇÇ« Z è ) re to m a d a p o r S. A ; Ãè I « Ç7 Ã ,

S o b re N o lo n ta d e — E sta p a la v ra fo i u tilizad a p o r M ira b e a u (C a rta ao co n d e de


L a M a rc k , 27 de ja n e iro de 1790), m as p a ra sig n ific ar au sên cia ou fra q u e z a d a v o n ­
ta d e . C ita d o em Sain te-B euve, L undis, IV , 112.
N O M IN A L 734

D e civ. D ei, X IV , 6, e p o r S. TÃOá è áE çâo nom inal, ver D efinição, te x to e


A I Z «ÇÃ ( S u m . Theol., 1, 2, 8); D. N o - apêndice.
luntas, N olentia, Nolitia (ver E« è Â E 2 , sub B. Q u e se refere a o n o m e (p o r o p o si­
Vo); E . N olition (Bτ Â áç « Ç ); F. N olonté. ção a o v erb o ). Proposição nom inal ou
T erm o escolástico reto m ad o p o r certo fra se nom inal diz-se em dois sentidos, que
n ú m ero de au to res m o d ern o s p a ra desig­ se so brepõem apenas em p arte: 1?: A q u e ­
n a r, n ã o a ausência de v o n tad e, m as a re­ la que n ã o co n tém n en h u m verbo: “ N a ­
sistência vo lu n tária a u m im p u lso , a inibi­ d a em d e m a s ia .” “ V erd ad e p a ra cá dos
ção de u m a ação que aco n te ceria se a v o n ­ P irín eu s, erro d o la d o de lá .” “ A cad a
ta d e não interferisse. V er especialm ente u m seg u n d o os seus m é rito s” , etc. P elo
RE ÇÃZ â « E 2 e P 2 τ I , N ouvelle monadolo- co n trário , a fra se verbal é aquela que con­
gie, 5.a p arte, art. 91. A utilização desta p a ­ tém u m v erb o n u m m o d o pessoal: “ Eu
lav ra liga-se à teo ria d a “ vertigem* n o r­
p e n s o .” 2?; A fra se n om inal é aq u ela
m al” (ibid ., 88, 90), segundo a qual a fonte
“ que ex p rim e a a trib u iç ã o d e c e rta q u a ­
do m ovim ento m uscular é sem pre u m a ati­
lidade a certo o b jeto : a casa é nova, o al­
vidade espo ntânea que o hom em dirige p o r
m oço está p ro n to , a entrada é à direita,
u m a ação de d eter, an álo g a à de u m regu­
Ciro é r e i...” VE Çá 2 à E è , L e langage,
la d o r ab rin d o ou fech an d o a via a u m a
144. E la corresp onde, p o rta n to , neste sen­
energia que ele nã o criou. “ A vertigem do
tid o , à q u ilo que usu alm en te se ch a m a em
q u erer... tem com o correlativ o o poder do
lógica proposição atrib u tiv a. Q u an d o esta
querer não fa ze r, o u nolontade; de onde
atrib u iç ã o n ã o está m a rc a d a p o r n e n h u ­
se segue que a n o lo n tad e m ais caracterís­
tica é, a bem dizer, o p o d er m ais caracte­ m a c ó p u la v erb al, os lingüistas ch am am -
rístico d aq u ilo que entendem os e se deve lhe “ a frase n o m in al p u r a ” . E x tre m a ­
en te n d er p o r v o n tad e co n sid erad a n o h o ­ m ente ra r a em fran cês, é co rren te em gre­
m em .” Ib id ., a rt. 91. go an tig o , em russo, em árab e, etc. Ibid.,
144-145.
N O M IN A L D . N om inal, W o rt...; E . C . (q u ase sem p re n o p lu ra l). S in ô n i­
Nominal·, F . Nominal', I. N om ínale. m o d e nom inalista. T a m b é m se em p reg a
A . Q u e se refere às p alav ras ( n o m i­ su b sta n tiv a m e n te . “ O s n o m in ais ( n o m i­
na ) e n ã o às p ró p ria s co isas. N este sen ti­ nales ) e o s reais (reales).”
d o , op õe-se a real. R ad. in t.: N o m in al.
Existência nom inal, aq u e la q u e c o n ­
siste ap en as n u m a d esig n ação v erb al. N O M IN A L IS M O D . Nom inalism os;
Valor nom inal, v a lo r co n v en cio n al, E . N om inalism ; F. N om inalism e; I. N o ­
p o r o p o sição a v alo r realizáv el. D efini- m inalism o.

N ã o m e re c o rd o d e te r e n c o n tra d o e sta p a la v ra n a lin guagem filo só fica ita lia n a .


P arece-m e in ú til: inibição b a s ta . T e m , além d o m ais, o d efeito , p e la su a fo rm a , de
se o p o r à v o n ta d e , e n q u a n to q u e n a re a lid a d e im p u lsã o e in ib ição sã o o s dois fato res
d e o n d e re su lta a v o n ta d e . (C. R anzoli)

S o b re N o m in alism o — H istória. A s p a la v ra s nom inales, reales ap a re c em j á em


A lb e rto , o G ra n d e , co m o term o s u su ais: “ Q ui n o m in ales v o c a b a n tu r... q u i dic eb an -
tu r r e a le s ...” P 2 τ ÇI Â , Gesch. der L o g ik, I I I , 99. (R. E ucken)
Observações sobre a crítica. É v e rd ad e que o p o n to d e p a rtid a d o n o m in alism o
cie n tífico n ã o é o an tig o n o m in alism o d o s ló gicos; m as re sta u m asp ecto co m u m e n ­
tre as d u a s d o u trin a s q u e ju stific a a desig n ação co m u m : recu sar to d o v alo r o b jetiv o
735 N O M IN A LISM O

A . D o u trin a segun do a q u a l n ã o exis­ lo a que cham am os nom inalism o e per­


tem idéias gerais (no sen tid o A d esta p a ­ guntaram -se se o cientista não será logra­
lav ra), m as so m en te signos gerais (Ro s- do pelas suas d efin ições...” H . P ë ÇTτ ­
TE Â « Ç , G u ilh erm e D’OTTτ O , H Ãζ ζ E è ). 2 é , L a science et 1‘hypothèse, in tro d ., p.
“ N om inales su n t philo so phi, qui scientias 3. Ver Dτ 2 ζ ÃÇ , L ’explication mécanique
n o n d e rebus u n iv ersalib u s, sed d e reru m e t ie nom inalism e, 1910.
co m m u n ib u s v o cab u lis h a b e ri existi-
íI
m a n t.” GÃTÂ E Ç« Z è , seg u n d o FÃÇè E Tτ , T2 « Tτ

757 B. “ Q ual é, n o fu n d o , a realid ade que A p a la v ra p asso u d o p rim eiro p a r a o


u m a id éia g eral e a b s tra ta te m no no sso seg u n d o sen tid o d ev id o a o fa to de os fi­
esp írito ? É ap en as u m n o m e; o u , se é o u ­ ló so fo s q u e recu sam à ciência a q u ilo a
tra coisa, ela deixa n ecessariam en te d e ser q u e ch am am u m “ v alo r o b je tiv o ” serem
a b s tra ta e g e ra l.” CÃÇá« Â Â τ T , Lógica, c o n d u zid o s p o r isso m esm o a consid erá-
cap . V : “ C o n sid eraçõ es so b re as idéias la com o u m a linguagem, q u e perm ite ape­
a b s tra ta s e g erais, o u c o m o a a rte d e ra ­ n as n o ta r os fen ô m en o s e fo rm u la r “ re ­
cio cin ar se red u z a u m a lin g u ag em b em c eitas” p rá tic a s (ver CÃZ I Z 2 τ I , “ C o n ­
c o n s titu íd a .” tr a o n o m in alism o d e M . Le R o y ” , R e­
B. “ N o m in alism o c ien tífico ” , n o m e vue d e m étaphysique, ja n e iro d e 1900).
c o m u m sob o q u al se en g lo b am to d a s as P a r a eles, co m o p a ra C o n d illa c , u m a
d o u trin a s co n te m p o râ n e as q u e su b sti­ ciência é, p o is, essencialm ente “ u m a lin ­
tu e m , n a te o ria d a s ciências, as id éias de g uagem bem c o n stru íd a ” , u m sistem a de
c o n v en ção , d e co m o d id a d e , d e sucesso n o taçõ es a rtificiais. N a física, em p a rti­
em p írico , pelas d e v e rd a d e e d e co n h eci­ c u la r, ten d em a red u zir a o m ín im o a q u i­
m e n to d o real. V er p a rtic u la rm e n te E d . lo q u e é explicativo o u rep resen tativ o , p a ­
L E RÃà , “ C iência e filo so fia ” , R e v u e d e r a co n ced er a m a io r p a rte a o sim b o lism o
m étaphysique, n o v em b ro de 1899 e “ S o ­ a lg é b ric o . (V er DZ 7 E O , L a théorie
b re o v alo r objetivo das leis físicas” , Bul- p h ysiq u e ; p o r ex em p lo , c a p . V , § 1, que
letin d e la Société d e P hilosophie, m aio te m p o r títu lo : “ A s leis físicas são rela­
de 1901 (L e R oy n ã o aceita p a ra su a d o u ­ ções sim b ó licas” .) M as este asp ecto d a
trin a o n o m e de no m in alism o . Ver as o b ­ d o u trin a n ão será d eriv ad o d as te n d ê n ­
servações). “ A lg u m as pessoas ficaram cias críticas q u e co n stitu em o seu fu n d o :
im pressio nadas com a característica de li­ v a lo r secu n d ário e in stru m en tal d a ciên­
vre co nvenção que reconhecem os em cer­ cia, contin gência e in certeza das leis, o p o ­
to s p rin cíp io s fu n d am en tais das ciências; sição d o d eterm in ism o científico e d a n a ­
qu iseram generalizar em excesso e ao m es­ tu reza real dos o b je to s ao s q u ais se ap li­
m o te m p o esq u eceram q u e a lib erd ad e ca? A q u ilo a que se ch a m a nom inalism o
n ã o é o a rb itrá rio . C hegaram assim àq u i­ cientifico p arece an tes ter co m o caracte-

ao s nosso s co n ceito s e, co n seq ü en tem en te, às leis cien tíficas. Se isto n ão é o q u e visa
esta d o u trin a , ela n a d a m ais tem d e esp ecífico. (L. Couturat)
P o d e m o s a firm a r q u e a s te o ria s q u e ex pus so b re a n a tu re z a d a ciência chegam
a essas co n clu sõ es. M as, q u a n to a m im , n ã o o creio . N u n c a m e servi neste sentido
d a p a la v ra n o m in alism o e la m en to q u e te n h a sid o u sa d a . A liás, e sto u lo n g e d e re c u ­
sa r q u a lq u e r v alo r ao s co n ceito s e às leis cie n tíficas. A d m ito q u e a ciência n ã o tem
so m en te u m a fu n ç ã o u tilitá ria , q u e nem tu d o é a í artific ia l, n em co n v en cio n al, que
ela ex p rim e n a su a linguagem certas necessid ades o b jetiv as. V er, p a ra u m a exposi­
ção m ais c o m p leta destas teses, o Bulletin da la Soc. d e p h ilo s., sessão d e 1? d e ab ril
de 1909, p p . 176-189. (E . L e R o y)
N O M O G RA FIA 736

rística distintiva ser um a reação contra as Noologisten é aplicado p o r Kτ ÇI ao s


do utrinas que fazem da ciência positiva racionalistas, opostos aos empiristas: “Aris­
o instrum ento essencial, ou até o único tóteles kan n ais das H a u p t d er Em piristen,
instrumento utilizável para o conhecimen­ P lato aber d er N oologisten angesehen wer-
to da verdade. Cf. M o n ism o . d e n .” 1 Krit. der reinen Vern., A 854; B
R a d . int.·. A . N o m in alism . 882. E s ta expressão n ã o en tro u em uso .
M. ME ÇI 2 É (Le spectateur, ju n h o de
N O M O G R A F IA V er G ráfico, C. 1911, p. 234) propôs cham ar N oologia à
análise e classificação dos diferentes tipos
N O N CA U SA P R O C A U SA (πα ρ ά
de espírito, ao estudo das ligações que
τ ο μ η α ίτ ιο ν ws α ί τ ι ο ν , A R IS T Ó T E L E S ,
oferecem e da sua interação.
A rg u m en to s do s sofistas, 167b21 ss.). R ad. int.: N o o lo g ik .
Erro de raciocínio, involuntário ou so­
fístico, que consiste em trata r com o cau­ N O R M A (do latim norm a, y v w f i w v ,
sa de um fato aquilo que não o é. Cf. L ó ­ e sq u a d ria fo rm a d a p o r d u as p eças p e r­
gica de P Ã2 I -RÃà τ Â , 3? parte, cap. p en d ic u la res). D . N orm ; E . Norme·, F.
Norme·, I. N orm a.
X IX , § III.
T ip o con creto o u fó rm u la a b stra ta d a ­
N O O L Ó G IC A S (C iências) D . Geis- q u ilo q u e deve ser, em tu d o a q u ilo que
teswissenschaften·, E . M en ta l a n d m oral ad m ite u m ju ízo d e v alo r: id eal, reg ra,
Sciences·, F . Sciences noologiques; I. fim , m o d elo , c o n fo rm e o caso . C f.
Scienze noologiche. C ânone.
T e rm o criad o p o r A Oú è 2 E , n a sua C R ÍT IC A
Filosofia das ciências (1834), para desig­
E ste te rm o , o u tr o r a m u ito ra ro ,
n a r em b lo co to d a s as ciências q u e co n ­
to rn o u -se c o rre n te h á alg u n s a n o s (co m ­
cernem ao esp írito , p o r o p o sição às ciên­ p a ra r o artig o N o rm a em E« è Â E 2 , 1? edi­
cias co sm o ló g ic as. E las in clu em as ciên­ ç ã o , 1899 e a 3? e d iç ã o , 1910). T em a
cias filo só fica s, dialegmáticas (glossolo- g ra n d e v an tag em d e fo rn e c e r u m n o m e
g ia , lite ra tu ra , tecn estética, p ed ag o g ia), g enérico p a r a as d iv ersas id éias acim a
etnológicas (in clu in d o a h istó ria so b to ­ e n u m e ra d a s, q u e é m u ita s vezes ú til co n ­
das as suas fo rm a s) e políticas. sid erar n o seu c o n ju n to o u sem especifi­
c ação . A s três classes fu n d a m e n ta is de
NOTA
n o rm a s são as d o p e n sa m e n to ló gico (a
O term o noológico é usad o apenas id éia d e v erd ad e), d a a ç ã o v o lu n tá ria (a
nesta expressão. N oologia teve diferentes idéia d e bem) e d a representação livre, ou,
sentidos: em C2 Z è « Z è, psicologia; em p o r o u tra s p a la v ra s, d o sen tim en to (a
Hτ O« Â I ÃÇ , ciência da razão p u ra opos­ id éia d e beleza). WZ ÇáI , em Eisler sub
ta a Dianoiologia; em R . EZ T3 E Ç , ciên­ V°; DE ç E à , em B aldw in, su b Vo; etc.
cia d a vida cria dora do espírito, Geistes- Rad. int.·. N o rm .
leben, por oposição à vid a m en tal em pí­
rica, Seelenleben (ver E« è Â E 2 e Bτ Â áç « Ç , I . "A ristóteles p o d e ser co nsidera do co m o o che­
sub VO). M as nenhum destes sentidos fe dos em piristas, P la tã o , pelo c o n trá rio , co m o o dos
existe em francês. n o o lo g ista s .”

Sobre N o rm a — N orm a n ão designa p ro p riam en te um modelo concreto, u m exem ­


p lo ou u m tip o a im itar? (L. C outurat ) Isto seria , sem d ú v id a, co n fo rm e à etim o lo ­
gia; m as a passagem d o c o n creto ao a b stra to trad u ziu -se p o r regra. T am b ém neste
caso , ela p arece te r sid o co n sa g ra d a pelo u so . (A d o ta d o na sessão de 20 de ju lh o
de 1911)
737 N ORM A L

N O R M A L D . N orm al (A . Senkrecht, “ U m fa to social é n o rm a l p a ra u m tip o


gewöhnlich; B . Richtig ); E . N orm al, m as social d e te rm in a d o , co n sid erad o n u m a
esta p a lav ra é m u ito m en o s u su al n a lín ­ fase d e te rm in a d a d o seu desenvolv im en­
g u a co m u m d o que em fran cês; no sen ti­ to , q u a n d o se p ro d u z n a m éd ia d as so ­
d o A , W onted, customary; B. Proper; F. ciedades dessa espécie, co n sid erad as n a
Normal; I. N orm ale (A . Solito; B. Retto). fase c o rre sp o n d e n te d a su a e v o lu ç ã o .”
A . P e rp e n d ic u la r (ver N orm a). Q ue D Z 2 3 7 E « O , Regras do m étodo sociológi­
n ã o p en d e n em p a ra a d ire ita , nem p a ra co, 80. “ A força das coisas... faz d a guer­
a esq u erd a; p o r con seg u in te, q u e se m an ­ ra de interesses u m a fu n ção n o rm al de
tém n u m ju s to m eio; d o n d e os sentidos q u a lq u e r civilização fo rte m e n te p ro d u ti­
seguintes: v a .” J τ TÃζ , D evoirs, p . 448.
B. Q ue é tal co m o deve ser. A p a la ­
v ra, neste sen tid o , é um sinônim o aten u a­ C R ÍT IC A

do de bom e ju sto . “ U m a o rd em n o rm al
T e rm o m u ito eq u ív o co , que se p re sta
de coisas su b o rd in a ria o su p érflu o ao n e ­
m u ito à confusão: p o rq u e o ra designa um
c e s s á rio ..., o ra , o cap italista in v erte esta
fa to q u e se p o d e c o n sta ta r cie n tífic am en ­
h ie ra rq u ia n a tu ra l e ra cio n al d as necessi­
te, o ra u m v alo r a trib u íd o a esse fa to p o r
d a d e s.” J τ TÃζ , Devoirs, 251. “ A h eran ­
aq u ele q u e fa la , em v irtu d e de u m ju ízo
ç a ... p õ e o b stácu lo s à d istrib u iç ã o n o r ­
d e ap re c ia çã o q u e faz p o r su a c o n ta . A
m al das funções sociais: a m aio r p arte das
p assag em d e u m sen tid o a o u tro é fre ­
funções elevadas são acessíveis ap en as
qu en te nas discussões filosóficas: ela é fa ­
àqu eles c u jo s p ais têm a lg u m a f o r tu n a .”
cilitad a n ã o so m en te pelo sen tid o d as p a ­
Ib id ., 257 >.
lav ras norm a, n orm ativo, m as tam b ém
C . É norm al, n o sen tid o m ais usu al p ela trad ição realista segundo a q u al a ge­
d a p a la v ra , a q u ilo q u e se e n c o n tra n a
n eralid ad e observável é o sin al de u m a es­
m aio ria dos casos de u m a d eterm in ad a es­ sência ou de u m a Idéia; a p a rtir daí, o que
pécie, o u o qu e constitui seja a média, seja é n o rm a l, n o sentido C , n u m a espécie d e ­
o m ódulo* d e u m asp ecto m en su ráv el. te rm in ad a, p erten ce à Id éia d esta espécie;
“ A te m p e ra tu ra n o rm a l” ( = m éd ia das e, co m o a p erfeiç ão de u m ser consiste na
te m p e ra tu ra s o b serv ad as n u m a m esm a realização d a su a Id é ia , este asp ecto c o ­
d a ta du ran te um g rande n ú m ero d e anos). 1 m u m é , a o m esm o te m p o , co n sid erad o
u m id eal q u e é b o m a tin g ir.
U m a c o n fu sã o a n á lo g a existe n a lin­
1. E sta s fó rm u la s n ã o exprim em a p ró p ria d o u ­
tr in a d e J a c o b ; elas s ã o e x tra íd a s d a exposição que
guagem m édica, em q u e a expressão “ es­
ele fez d a tese so cialista à qual, em seguida, ele ad ian­ ta d o n o rm a l” d esig n a, p rim e iro , o e sta ­
t a restrições. d o h a b itu a l dos ó rg ão s o u d o espírito ; de-

S o b re N o rm a l — V er a c rític a d a id é ia d e norm al e d a su a c o n fu sã o com o ideal


em F ÃZ « Â Â é E , M orale des idées fo rces, cap . II I , § 1, p p . 137 ss.
A u g u ste C ÃOI E fez g ra n d e u so deste te rm o , q u e en ten d e u su alm en te n o sen tid o
B: “ A F ra n ç a , c e n tro n o rm a l d o O c id e n te ...” D iscurso sobre o co n ju n to d o p o siti­
vismo. “ A p o p u lação francesa, d ig n a v a n g u a rd a d a g ran d e fam ília o cid en ta l, já acab a
de a b rir a e ra n o r m a l...” Ib id .
O sen tid o C n ã o d ev eria, c reio , ser a d m itid o . É n o rm a l o que é c o n fo rm e a u m a
r e g r a , m esm o q u e a existência d essa re g ra no s fosse co n h ecid a a p e n a s p o r u m a expe­
riên cia, e que o seu v alo r a p rio ri fosse a p en as p resum ido. D aí o em p reg o d este ter-
N O R M A T IV O 73»

p o is, c o m o o restabelecim ento deste es­ ju stific a r so b certo s p ressu p o sto s d o u tri­
ta d o h a b itu a l é o o b je to o rd in á rio d a te ­ n as que n a d a têm d e evidente a priorí (ver
ra p ê u tic a , é c o n sid e ra d o c o m o u m id eal, a c rítica d a p a la v ra N atureza e a o b je ç ã o
co m o o e sta d o p e rfe ito co rre sp o n d e n te à d e L. Lévy-Bruhl à expressão Ciência nor­
essência d o organism o h u m an o (cf. em in ­ m ativa). D eve, p o rta n to , n o ta r-se b em
glês o d u p lo sen tid o d a p a la v ra so u n d ). q u e o c a rá te r n o rm a l d e u m fa to , se se
Vê-se a diferen ça d as d u a s id éias q u a n d o en te n d er p o r isso a su a g en eralid ad e, n ã o
se o p õ e a o p o n to de v ista d o clínico o d o im p lica de m o d o alg u m q u e ele seja b o m
h ig ie n ista , p o r ex em p lo , a o p in ião de o u desejável. É “ n o rm a l” , n o sen tid o C ,
M etc h n ik o ff de que to d o s os velhos a tu al­ que um perseguido apresente alucinações,
m en te são d o en tes e q u e a v id a h u m a n a q u e o s co m ercian tes esco n d am d o s co n ­
d ev eria “ n o rm a lm e n te ” u ltra p a ssa r um su m id o res a orig em d o s p ro d u to s que
século. vendem e q u e lhes a trib u a m q u alid ad es
A d isp o sição co m u m p a ra a im itação im ag in árias; p ro d u z-se a cad a a n o certo
e a ausência d e crítica favo recem tam bém n ú m e ro “ n o rm a l” d e su ic íd io s, d e m o r­
tes p o r tu b ercu lo se o u alco o lism o : m as,
este equív oco: a o p in iã o p ú b lic a erige de
p ara servir d e “ re g ra ” , ta l n ão será a m e­
bom grado com o ju stificação m o ral a fó r­
lh o r via.
m u la: “ T o d a a g en te faz is s o .” N o rm a l
R ad. int.: B. B o n ; C . K u stu m a t.
é en tã o u m sinônim o de “ n a tu ra l” to m a ­
do no sentido J , o u m esm o n o sen tid o K. N O R M A T IV O D . N orm ativ (n o sen­
M as esta passag em , p o r m ais g eral que tid o C , normgebend)·, E . N orm ative\ F.
seja, n ã o é m en o s so fística; só se p o d e ria N o rm a tif ; I. N orm ativo.

m o p a ra falar dos sin to m as d e u m a d o e n ç a . M as a d issim u lação o u a fra u d e d o co ­


m ercian te n u n c a deveriam ser c h am ad as n o rm ais. (J . Lachelier)
A sin o n ím ia de n o rm a l com o habitual o u c o stu m e iro é u m a sin o n ím ia p o p u la r;
aqui é preciso b an i-la. (L . Boisse )
A so rte, em diversas lín g u as, das p alav ras ògâds, rectus, direito, recht, right e
seus d eriv ad o s m o stra bem q u a l seria o em p reg o reserv ad o à p a la v ra norm al se n ã o
tivesse so frid o a in flu ên cia de seu o p o s to , a p a la v ra anorm al, desd e h á m u ito te m p o
c o n fu n d id a com anôm alo. É , reco rd em o -lo , atrav és d e um jo g o d e p a la v ra s in v o ­
lu n tá rio q u e estado norm al aca b o u p o r sig nificar ausência de anom alia. (M . D rouin)
E pode-se acrescen tar q u e anôm alo e anom alia recebem m u itas vezes ta m b é m elas
u m sen tid o u m p o u co in e x a to , em ra z ã o de u m a fa lsa ap ro x im a ç ã o etim o ló g ica com
vófios; d o n d e a id éia d aq u ilo que escap a à lei, o u d a q u ilo q u e se lhe o p õ e.
T u d o isto é m u ito v erd ad eiro e o sen tid o C n ã o d ev eria existir; m a s, d e f a to , esta
acepção to rn o u -se tã o u su al que é im possível p ro screv ê-la. N ã o se rá m e lh o r, an te
esta situ a ç ã o , evitar o sen tid o B, ap esar d a su a su p erio rid ad e in trín seca? O q u e é
necessário , em to d o caso, é n u n c a p a ssa r de u m a o o u tro , e n ã o tra n s fo rm a r o que
o c o rre n a m éd ia o u n a m a io ria do s casos n u m tip o id eal d aq u ilo q u e deve o c o rre r.
( A . L .)

S obre N o rm ativ o — É difícil de co n ceb er que u m id eal n ã o im p liq u e, d e q u a l­


q u er fo rm a , a obrigação de o realizar. O p e n sa m e n to d o id eal é sem p re — m ais o u
m eno s — a n eg ação d a realidade en fraq u ecid a, in su fic ie n te , em p ro v eito de u m a rea­
lid ad e m elh o r e m ais p le n a. E n tã o , co m o n ã o fazer d eriv ar o im p e ra tiv o d o n o rm a ti­
vo? P o d e m o s, é c erto , m an ter a d iferen ça, m as a p e n a s n a an álise a b s tra ta e te ó rica.
739 NÓS

A . Q u e co n stitu i o u q u e e n u n c ia u m a ela p o d e ser u m id eal, sem n en h u m c a rá ­


n o rm a * . “ U m ju íz o n o rm a tiv o .” Ver ter d e o b rig a ç ã o . O n o rm a tiv o é u m gê­
C onstativo, Explicativo, Factual. n ero que co n tém d u as espécies principais:
B. Q ue diz resp eito às n o rm as: as o im p erativ o * e o ap reciativ o * .
“ ciências no rm ativas” são aquelas cujo ob ­ C o m o fez n o ta r L . L É â à -B 2 Z Â (La 7

je to é co n stitu íd o p o r ju ízos d e v alo r en­ m orale et la Science des m oeurs, c a p . I),


q u a n to tais, q u er dizer, en q u a n to a crítica existe c o n tra d iç ã o a o fa la rm o s de “ ciên ­
deste v alo r é a fin alid ad e d a ciência assim cia n o rm a tiv a ” se se e n te n d e r esta p a la ­
d en o m in ad a. C f. Ética, Estética, Lógica. v ra n o sen tid o C , e co m m ais ra z ã o a in ­
C . (m ais ra ro ) Q u e cria o u im p õ e d a , se a c o n fu n d irm o s com o im p e ra ti­
n o rm a s. vo: n ã o p o d e ex istir u m a ciência q u e crie
n o rm as o u q u e as im p o n h a e d aq u ilo que
C R ÍT IC A é n ã o p o d e ría m o s, sem so fism a, co n clu ir
E ste te rm o e n c o n tra -se j á em W τ Â - aq u ilo q u e deve ser.
 τ TE, Epicureanism (1880); fo i in tro d u ­ N este sentido, a crítica é irrefutável;
zid o n a lin g u ag em c o m u m p o r W Z Ç á : I m as a co n trad ição desaparece se se to m a r
ver E th ik (1886), In tro d u ç ã o , § 1, em que a p alav ra n o sentido B, q u e é o sentido p ri­
ele a n alisa em p o rm e n o r a ev o lu ção dos m itivo e ta m b é m o m ais d ifu n d id o : “ E ine
conceitos d e norm a e de ciência norm ati­ n o rm ative W issen sch aft... norm irt nichts,
va. Sem d ú v id a, a s u a fo rm a é in c o rre ta , sondern sie e rk lä rt n u r N o rm en u n d ihre
p o rq u e tem o asp ecto de um adjetivo ver­ Z u sam m en h än g e.” 1 S « OO Â , Einleit, in
E

bal, co rrespondente a u m verbo “ n o rm a­ die M oralw issenschaft, I, 321. C f. os o u ­


re ” q u e significaria lo gicam ente “ c o m p a­ tro s texto s citados em E « è Â 2 , sub V°, e
E

ra r à n o rm a , a ju s ta r seg u n d o a n o rm a ” , A . L τ Â τ Ç DE, “ Sobre u m a falsa exigência


m as que n ão existiu talvez em latim . C o n ­ d a Razão n o m éto d o das ciências m orais” .
tu d o , “ n orm atus ” ( = a p ru m o , vertical) Rev. de m étaph., ja n e iro d e 1907.
en co n tra-se em C Ã Â Z O Â Â
E E , que é c o n ­ R ad. int.\ A . N o rm ativ .
sid e ra d o u m b o m escrito r {De re rustica,
N Ó S D . Wir; E . We; F . N ous; I. N oi.
III, 13); norm are seria u m a p a la v ra bem
M u ito s so fism as ad v êm dos sentidos
fo rm a d a , p o rq u e seria tira d a de norm a
m últiplos que dissim ula esta p alav ra, mui-
tal co m o o b aix o latim regulare, que deu
regular, foi tira d o de regula. É preciso ter
c u id ad o p a ra n ã o c o n fu n d ir norm ativo
1. “ U m a ciência n o rm a tiv a ... nào norm aliza n a ­
com im p erativ o . U m a n o rm a n ã o é n e ­ da; ap en as ex põe (o u explica) as n o rm a s e a ligação
cessaria m en te u m a lei n em u m a o rd em : q u e têm en tre s i.”

O ra , p recisam en te, estam o s a q u i em p resen ça de n o çõ es c u ja an álise, se p erm an ecer


a b s tra ta e e stritam en te te ó rica, deix a escap ar to d o o c o n te ú d o , p o rq u e se tr a ta de
noções p rá tic a s. P o ssu em u m a sig nificação essencialm ente d in âm ica. O ideal é p o r
n a tu re z a m o to r. (L. Boissé)
M esm o em m o ra l, existe u m a p a rte d o id eal q u e é b o a sem ser o b rig a tó ria : a d eli­
cadeza ex trem a do escrú p u lo , o h ero ísm o , n u m a p a la v ra , tu d o o q u e consiste em
fazer “ m ais d o q u e o seu d e v e r” . C om m ais razão se p o d e dizer o m esm o d a arte:
a h a rm o n ia p e rfe ita d o verso é u m id eal q u e n a d a te m d e o b rig a tó rio . T am b ém n ão
é o b rig a tó rio ter ta le n to , a in d a que isso seja m elh o r do que n ão o ter. T o d o saber
seria u m id eal que n a d a tem de exigível. A d istin ção e n tre o ju íz o de ap ro v ação e
o ju íz o de o b rig ação é, p o rta n to , bem real, no c o n creto . (A. L .)

So bre N ó s — P o d e r-se -á ap licar essa crític a à tese de E sp in o sa: “ N ihil no s cona-


NÓS 740

to com um em filo so fia, e d a qu al, vulg ar­ em p rim eiro lu g a r, que cad a h o m em , to ­
m en te , n ão se n o ta o eq u ív o co . 1?, diz- m a d o in d iv id u alm en te, n ã o d eseja u m a
se ta n to n o sen tid o lato d a h u m an id ad e coisa d evid o a o seu v a lo r, m as cria o seu
n o seu to d o , co m o dos c o n tem p o rân eo s valor ao desejá-la; o que n ã o está de a co r­
ou dos co m p atrio tas daquele que fala, ou d o com to d o s os fa to s: deseja m o s m u i­
a in d a dos filósofos qu e pro fessam a m es­ tas vezes coisas que n ã o d esejaríam o s se
m a d o u trin a que ele; finalm ente substitui- n ã o tiv éssem os a p re n d id o , p rim eiro , in ­
se, po r discrição, a eu; 2? (e este é a m aio r telectualm ente, que elas têm u m valor (va­
fo n te de co n fu sã o ), o ra se diz n o sen tid o lo r de o p in ião o u v alo r eco n ô m ic o ). M as
d istrib u tiv o , p a ra en u n cia r u m a p ro p o si­ p o d e sig n ific ar ta m b é m (e este segundo
ção que diz respeito a cad a hom em to m a ­ se n tid o , o b scu ram en te p erceb id o , c o n ­
d o sin g u larm en te, o ra , pelo c o n trá rio , se tém , sem d u v id a, o p rim eiro ): aq u ilo que
ap lica aos h o m en s to m a d o s em co n ju n to se ch am a bem e m al d ep en d e n ecessaria­
(neste caso este c o n ju n to p o d e ser a in d a m en te de u m a ten d ên cia, d e u m q u erer
u m qu alq u er do s grupos que enu m eram o s fu n d a m e n ta l, o d a h u m a n id a d e ou o d a
m ais acim a). P o d e fin alm en te visar o ti­ n o ssa so cied ad e, tom ada no seu con ju n ­
po ideal ou o tip o m édio dos hom ens, que to. T ese to ta lm e n te d iferen te d a p rim e i­
n ã o é ex atam en te realizad o em n en h u m ra , e q u e , v e rd a d e ira o u fa lsa , a d m ite e
in d iv íd u o . S eja, p o r ex em p lo , esta tese: explica o caso p reced en te.
“ N ão é p o r terem v alo r as coisas que nós A contece o m esm o com as c o n tro v é r­
as d esejam o s, m as p o rq u e n ó s as d eseja­ sias c o n te m p o râ n e as em q u e uns d izem :
m os que elas tê m v a lo r.” P o d e significar, “N ó s fazem o s a v e rd a d e ” , o u tro s: “ A

ri, velle, ap p e te re , n eq u e cu p ere q u ia id b o n u m esse ju d ic a m o s; sed c o n tra n o s p ro p -


te re a aliq u id b o n u m esse ju d ic a re q u ia id c o n a m u r, v o lu m u s, ap p e tim u s a tq u e cupi-
m u s .” (É t I I I , 9 , escol.)?
E u d izia n a red ação p ro v isó ria deste fascícu lo q u e , se a en te n d êssem o s n o sen ti­
d o individual, ela n ã o e sta ria d e a c o rd o co m o video m eliora p ro b o q u e, deteriora
sequor, fa to psico ló g ico bem real c o n tu d o . C rític a in e x a ta , o b je ta ra m L . Brunsch-
vicg e M . D rouin: este fa to explica-se m u ito b em , em E sp in o sa , p o r esta o u tra tese
seg u n d o a q u a l “ o co rp o h u m a n o se co m p õ e d e u m g ra n d e n ú m e ro d e c o rp o s” (II,
p o st. 1), “ a id éia que co n stitu i o ser fo rm a l d a a lm a n ã o é sim ples, m a s, p elo c o n trá ­
rio , c o m p o sta p o r v árias id éias” (ibid., 15). “ A a lm a esfo rça-se p o r p reserv ar n o
seu ser ta n to e n q u a n to tem id éias claras e d istin ta s c o m o e n q u a n to te m id éias c o n fu ­
s a s” (III, 9). D a í o c o n flito . M as assim a p e n a s se su p rim e u m eq u ív o co d a p a la v ra
n ó s su b stitu in d o -o p o r o u tro : o n ós, su je ito d e conari, n ã o é o m esm o nó s q u e é
su je ito d e ju d ica m u s. Isto n ã o q u er d izer q u e se c o m b a ta o u so filo só fico d esta p a la ­
v ra. Le SE ÇÇE escreveu recen tem en te n a su a In trodução ò filo so fia (1939): “ O h á ­
b ito d e tr a ta r o n ó s c o m o se tr a ta o e u , q u e te m o rig em fic h tia n a , ex p an d e-se cad a
vez m ais n a filo so fia c o n te m p o râ n e a . E le tem d u as v an tag en s; a p rim e ira é d e a fa s ­
ta r a su b stitu iç ã o de u m o b je to so cio ló g ic o , d ecalcad o so b re o o b je to físico, d a v id a
d a s relações in tersu b je tiv a s; p rin cip alm en te, ele a d v e rte c o n tra o e rro d e a b o rd a r o
e stu d o d a s relaçõ es e n tre o s h o m en s com a frieza, a in d ife re n ç a, p ró p ria s do face-a-
face teó rico c o m a n a tu re z a ; a seg u n d a, d e le m b ra r q u e , m esm o n a g u e rra ou n o
exílio , a so lid a rie d a d e d as co n sciên cias fin ita s n ã o se ro m p e c o m p letam en te p o rq u e
n ã o o p o d e s e r ...” (n o ta d o c a p . IX d a 3? p a rte q u e te m p o r títu lo “ NÓS” , p . 431).
(A . L .)
741 N ÚM ENO

verdade é in d ep en d en te d e n ó s.” E ste nós o u co m o representações ; e estes do is sis­


designa cad a in divíduo? O u a n atu reza es­ tem as d e n o ta ç ã o são am b o s aceitáveis,
sencial d o h o m em , a razão h u m an a, com ­ desde que se a d ira estritam ente àquele que
p re e n d id a à m a n e ira d o s criticistas, im ­ se escolheu.” L ’énergiespirituelle, p . 206.
p e rfe ita em c a d a u m , m as co n v erg en te Rad. in t .: N o to sistem .
nos seus efeitos? O u , p o r fim , a so cied a­
d e e n q u a n to c o n stró i co le tiv am en te a “ N O V ID A D E D A C O N C L U S Ã O ”
ciência? V em os q u e o c am p o está larg a­ (Problem a da) E xpressão u su al h á alguns
m e n te a b e rto ao s m al-en ten d id o s. a n o s p a ra d esig n ar, resu m id am en te, o
p ro b lem a lógico seguinte: com o a conclu­
Rad. in í .: N i.
são d e u m racio cín io d e m o n stra tiv o , em
N O T A L. escol. N ota. C aracterística, p a rtic u la r de u m silo gism o, p o d e ser ao
a trib u to de u m su jeito . “ N o ta n o ta e est m esm o tem p o rig o ro sam en te n ecessária
n o ta rei ipsius = p ra e d ic a tu m p raed icati (o que p arece im p licar que ela exista já
est praedicatu m subjecti” (A n o ta d a no ta v irtu alm en te nas prem issas) e, co n tu d o ,
é a n o ta d a p ró p ria coisa; o p red ic ad o do n o v a (o que im p lica a ex istên cia de ciên ­
p red icad o é o p red icad o d o su jeito ). E s­ cias d ed u tiv as q u e se desenvolvem , p ro ­
g rid em , e, p o r conseqüência, n ã o são p u ­
te sen tid o d a p a la v ra , que caiu em d esu ­
ras tau to lo g ias)?
so n a filo sofia clássica, encontra-se de n o ­
V er p a rtic u la rm e n te E . G Ãζ Â Ã I ,
vo de alg uns an o s a esta p a rte sob a in ­
flu ên cia d a filo so fia n e o to m ista . “ C h a ­
Traite d e logique, cap . X I.
m a re m o s... com preensão de u m co n cei­ N Ú M E N O D . N o u m en o n , tra n s c ri­
to à su a a m p litu d e em relação às notas ção feita p o r K τ ÇI do G . v o o v f i t v a , u ti­
que o c a ra c te riz a m .” Jacq u es M τ 2 «- lizad o p o r P Â τ I ã Ã a o fa la r d as Idéias
I τ «Ç , Lógica fo rm a l. ( T im eu , 51 D ).
D ever-se-ia, p o rta n to , escrever co rre­
“ N O T A Ç Ã O (Sistem as d e)” B 2 ; E
tam e n te noúm eno.
SÃÇ serviu-se d esta fó rm u la , m u ito ex­ R ealidade inteligível, o b je to d a razão
p ressiv a, p a ra d esig n ar as d iferen tes m a ­ (voãs), o p o sta à realid ad e sensível; e, p o r
n eiras d e descrever u m m esm o fen ô m e­ conseguinte, realid ade ab so lu ta, coisa em
n o referin d o -as a co n ju n to s de conceitos si: p o rq u e a tra d iç ã o p la tô n ic a , r e fo r­
diferentes; p o r exem plo, a percep ção des­ çad a p ela o p o sição cristã e n tre o m u n d o
c rita em term o s realistas o u id ealista s, a sensível e o m u n d o esp iritu al, id e n ti­
c o n d u ta de u m h o m em expressa n a lin ­ fic a o co n h ecim en to v u lg ar à ap arên cia
g uagem d a p sic o lo g ia d a co n sciên cia o u e à ilu sã o , o co n h ecim en to racio n al ao
n a d a p sic o lo g ia de reação . “ Q u a n d o fa ­ p e n sa m e n to das coisas tais com o elas
lam os dos objetos exteriores, podem os es­ são . K τ ÇI , ele p ró p rio , faz essa o b se r­
c o lh e r ... en tre do is sistem as d e notação-, v ação n o s Prolegóm enos, § 32. C f. In ­
p o d em o s tra ta r estes o b je to s e as tra n s ­ teligível.
fo rm açõ es q u e neles se d ã o co m o coisas, D aí q u e a p alav ra núm eno ten h a pas-

S o b re N úm eno — A tra d iç ã o q u e id e n tific a o c o n h ecim en to v u lg a r com a a p a ­


rên cia e a ilu sã o , o co n h ecim en to ra c io n a l co m o p en sam en to d as coisas em si, n ão
m e parece, p ro p ria m e n te fa la n d o , d ev er ser re p o rta d a a P la tã o . T ra ta -se m ais d o
p seu d o p la to n ism o cristão, cu ja n o ção a escolástica tran sm itiu a K ant, através do wol-
fía n is m o . (R . B e r th e lo t)
NÚM ENO 742

sad o g ra d u a lm e n te , desd e a ép o ca de a razão prática garante-nos a realid ade do


K an t e n as suas p ró p ria s o b ra s, de um n ú m e n o , a in d a q u e ela n ã o no s d ê a sua
sen tid o p u ra m e n te crítico a um sen tid o in tu ição ; p o rq u e, p a ra p o d er atrib u ir um
q u ase o n to ló g ico . sentido à idéia de lib erdade, co n d ição ne­
“ W en n ich D inge a n n e h m e , die bloss cessária d a lei m o ra l, “ b leib t kein W eg
G eg en stän d e des V erstandes sind, u n d ü b rig , als das D asein eines D inges so fern
gleichw ohl als solche, einer A n sch au u n g , es in d er Z eit b e stim m b a r ist (folglich
obgleich n ich t d er sin n lic h e n ... gegeben auch die C au salität nach dem G esetze der
w erden k ö n n e n , so w ü rd en dergleichen N a tu rn o tw en d ig k eit) bloss d er E rsch ei­
D in g e N o u m e n a (In tellig ib ilia) h eis­ n u n g , die F reih eit a b e r eb en dem selb en
s e n .” · Krit. der rein. Vern., A 248. W esen als D inge a n sich selb st, beizule­
N este se n tid o , a n o ç ã o de núm eno é g en ” 5. Prakt. Vern., K ritische Beleucht,
p u ram en te n eg ativ a: “ D er B eg riff eines d er A n a l., 114-115 (K irch m an n ). C om
N o u m e n o n ist also n ich t d e r B eg riff ei­ efeito , diz Kτ ÇI , este m esm o su jeito que
nes O b jek ts, so n d e rn die unv erm eid lich se co n h ece a si p ró p rio en q u a n to suces­
m it der E in sc h rä n k u n g u n serer S in n lich ­ são de fen ô m en o s “ au ch sein er, als D ing
k eit z u sam m en h än g en d e A u fg a b e , ob es an sich selbst, bew usst is t” 6: e a este res­
n ich t von je n e r ih re r A n sch au u n g ganz
peito , “ die ganze Reihenfolge seiner Exis­
en tb u n d en e G eg en stän d e geben m ö g e .” 2 ten z, als S in nesw esen, ist im Bew usstsein
E la su p o ria “ eine gan z an d ere A n s­
seiner intelligiblen E xistenz nichts als F o l­
ch au u n g , u n d eine gan z an d eren V ers­
ge, n ie m als a b e r als B estim m u n g sg ru n d
ta n d ” 3. Ib id ., A 287; B 344.
sein er K a u sa litä t, als N o u m e n s, an zu se­
M as p o d em o s tam b ém en ten d er nú ­
h e n ” 7. Ib id ., 117. “ W en n ich von W esen
m eno n u m sen tid o p o sitiv o : “ V ersteh en
in der Sinnenw elt sage: sie sind [von G ott]
w ir ab er d a ru n te r ein O b je k t ein er n ich t­
ersc h a fte n , so b e tra c h te ich sie so fern als
sinnlichen A n sch au u n g , so nehm en w ir ei­
N o u m e n e n .” 8 Ib id ., 123. N a M etafísica
ne b eso n d ere A n sc h a u u n g sa rt a n , n ä m ­
dos costumes, ele designa o sujeito d a m o ­
lich die in tellek tu elle, d ie a b e r n ich t die
ralidade pela expressão Homo noumenon.
U nsrige ist, vo n w elcher w ir au ch die M ö ­
ST Ãú Ç τ Z 2
7 E 7 E to m a a p a la v ra n o
g lichkeit n ich t ein sehen k ö n n e n ; u n d d as
w äre d as N o u m e n o n in p o sitiv er B edeu­ m esm o se n tid o e id e n tific a o N o u m en o n
tu n g .” 4 Ib id ., B 307. A ssim en te n d id a , ou D ing an sich com a “ V o n ta d e ” tal co ­
m o a e n te n d e . C f. Coisa em si.
R ad. int.: N o u m en .
1. “ Se a d m ito coisas q u e sejam p uros o b jeto s do
en ten d im en to , e q u e, to d av ia, e n q u a n to tais, possam
ser dad as a um a in tu ição , ainda que esta n áo seja urna 5. “ e n ã o resta o u tr o c a m in h o possível se não
in tu ição sensível... co isas deste genero se riam c h a ­ atrib u ir ao fenôm eno ap e n a s a existência d e u m a co i­
m ad as n úm enos ( irteüigibiHa ) . ” sa, e n q u a n to esta é d e te rm in a d a n o tem p o (e, p o r
2. “ O con ceito de um núm eno não é, pois, o co n ­ co nseguinte, tam b ém a cau salid ad e segund o a s leis
ceito de um o b je to , m as ap e n a s este p ro b le m a , in e­ d a nec essidade n a tu ra l); e a trib u ir a lib erd ad e a esse
vitavelm ente lig ad o ao fa to de a no ssa facu ld ad e de m esm o ser e n q u a n to co isa em si” .
conhecer pelos se ntid os ser lim itada: n ã o p o d eria ha- 6. “ ele tem tam b ém co nsciência d e si p ró p rio ,
ver o b jeto s efetiv am en te in d ep en d en tes desta in tu i­ e n q u a n to coisa em si” .
ç ã o sensív el?”
7. “ p a ra a consciên cia d a su a existência in telig í­
3. “ u m a in tu ição co m pletam ente difere nte e um
vel, to d a a série sucessiva d a su a existên cia, e n q u a n ­
en ten d im en to co m p letam en te d ife re n te ” .
t o ser sensível, só deve ser c o n sid erad a com o a co n ­
4. “ M as se p o r isso entenderm os o ob jeto de urna
in tu ição n ão sensível, adm itim os e n tã o u m a espécie sequên cia e n u n ca co m o o princípio determ inante da
p articu lar de in tu ição , a in tu ição intelectual» q u e , em su a cau salid ad e, e n q u a n to n ú m e n o ” .
ve rdade, n ão é a n o ssa, e d a q u al nem se quer p o d e ­ 8. “ Q u a n d o digo dos seres q u e fazem p a rte do
m os com p reen d er a p ossibilidade; e isso seria o n ú ­ m u n d o sensível: fo ram criad o s p o r D eu s, considero -
m eno n o se n tid o p o sitiv o .“ os a este resp eito com o n ú m e n o s .”
743 N UM ERO

N Ú M E R O D . Zahl·, E . N u m b er, F . n o n .” Ib id ., A 147; B 186. O n ú m ero é


Nombre·, I. N um ero. o esq u em a d a c a te g o ria d e q u an tid a d e ;
I. P sico lo g icam en te, é in ú til d e fin ir a o b té m -se p e n sa n d o co m o u n id ad e u m a
id éia d e n ú m e ro (n úm ero inteiro, cardi­ m u ltip licid ad e h o m o g ên ea c u jo s elem en­
n a l), q u e é u m a das c ateg o rias m ais fu n ­ to s fo ra m p rim e ira m e n te ca p ta d o s p o r
d am en tais e m ais u n ifo rm e s n o s div erso s a to s sem elhantes e sucessivos d o esp írito.
espíritos. A s diferentes definições que dele 3. T o d o n ú m e ro é u m a classe de clas­
se p o d em d ar ap en as servem p a ra assin a­ ses eq u iv alen tes, q u er d izer, é de tal f o r ­
lar a relação com o u tra s id éias d as quais m a que se p o d e estabelecer e n tre os ele­
se a p ro x im a.
m ento s que os co m p õ em u m a co rresp o n ­
1 . “ Tò l-v [orHíaívti] ß tT g o v irXijdov s
d ên cia u n ív o ca e recíp ro ca. O n ú m ero
I « ú Ãè , x a í ò ctQidfiòs ... irXijÔos / x e / t e r g rj-
(em g eral) é a classe das classes q u e sa tis­
¡ l é i/ o v,xoti Tr\rjd o s ßtTQUV ■ Siò x o à
fazem essa co n d ição . B. R Z è è Â Â , P rin­
E
t v K ó y w s o v x to T iv t ò IV ¿¡Qidßös.” A R I S ­
TO TELES, M etafísica, X III, 2, 1088a4-6. ciples o f M athem atics, c a p . X I ; C Ã Z Z - I

2 τ I , L es príncipes des m athém atiques,


2 . “ D ie Z a h l... ist d ie E in h e it d er
Sy nth esis des M an n ig faltig en ein er glei­ cap. I I .
ch artig en A n sc h a u u n g ü b e rh a u p t, d a ­ II. Sequência natural do s números: sé­
d u rc h , dass ic h d ie Z e it selb st, in d e r A p - rie dos co n ju n to s 1 ,1 + 1 , 1 + 1 + 1 ..., etc.
p reh en sio n d er A n sc h a u u n g e rz e u g e .” 1 (ou d o s sig n o s ab rev iad o s q u e os re p re ­
K τ Ç , Krit. der reinen V ernunft, A 143;
I sen ta m : 1 , 2 , 3 ....... 1 0 ,1 1 , ... etc.). M u i­
B 182. “ N u m eru s q u a n tita s p h aen o m e- ta s vezes c o n fu n d id a co m a p ró p ria id éia
d e n ú m e ro , p o r ex em p lo , n a defin iç ão
m u ito co n h ecid a d e H Â O Ã Â U : “ D ie
E 7 I

!. “O número é a unidade [resultame] da sínte­ Z ah len d ü rfe n w ir zu n äch st als eine Rei­
se do múltiplo de uma intuição qualquer [composta]
de elementos homogêneos, enquanto faço aparecer he w illkürlich gew ählter Zeichen b etrach ­
o próprio tempo na apreensão desta intuição.” ten , fü r w elche n u r eine bestim m te A rt des

S o b re N ú m ero — A rtig o re fu n d id o co m a c o la b o ra ç ão de G astón M ilhaud. V á­


rios com plem entos fo ram acrescentados n a q u in ta edição sob indicação de R ené Poirier
e de Ch. Serrus.
H isto ric a m e n te , a g en eralização d a id éia d e n ú m e ro n ã o se fez so b as fo rm as sis­
te m áticas acim a defin id as. A s fraçõ es fo ra m em p rim eiro lu g ar in tro d u z id a s pela d i­
visão d e u m a u n id a d e co n c re ta n u m certo n ú m e ro de p a rte s ig uais. O zero fo i u sad o
n a nu m e ra ç ã o decim a! p a ra m a rc a r a au sên cia de u n id ad es de ce rta o rd em . O n ú m e­
ro irracio n al ap resen to u -se, em g e o m etria, nas rela çõ es d e g ran d ezas in co m en su rá­
veis (d ia g o n al e lad o do q u a d ra d o , d iâ m e tro e circu n ferên cia). O s n ú m ero s q u a lifi­
cad o s to rn a ra m -se n ecessário s p ela g eo m etria an alític a . F in a lm e n te , o s im ag in ário s
fo ra m n o ta d o s n as raízes d as eq u açõ es, q u a n d o elas n ã o fo rn e c ia m q u a lq u e r v a lo r
d ire ta m e n te rep resen táv el: d a í o n o m e q u e lh es foi d a d o . (G . M ilhaud)
A id éia d e n ú m e ro im p lica a rep re se n ta çã o d as u n id a d e s, a re p resen tação d a su a
id e n tid a d e , s u a e n u m e ra ç ão em série (te m p o ), a sua ad iç ã o p ro p ria m e n te d ita , q u er
d izer, a tra n sfo rm a ç ã o d a série em so m a (esp aço). E s ta ú ltim a c o n d iç ã o é talv ez a
m ais im p o rta n te , p o rq u e , n u m a su cessão , te m o s u m a co le ção o u u m a série, m as n ão
u m n ú m ero . P o r isso se e n c o n tra a rru in a d a a d iferen ça q u e K an t esta b ele cia en tre
a g eo m etria, ciê n cia d o esp aço , e a aritm é tic a , ciência d o te m p o , já q u e a fo rm a ç ã o
d a id éia de n ú m e ro re q u e r, ta m b ém ela, co m o co n d ição a fo rm a d a coexistência e
da sim ultaneidade. (L. Boissé)
NÚM ERO 744

A u fe in an d erfo lg en s als d ie gesetzm ässi- n ú m ero s vulg ares, co m o a co m u tação d a


ge o d e r, n ach g ew ö h n lich er A u sd ru ck s­ m u ltip licação .
w eise, n atü rlic h e , vo n uns festg eh alten A cara c terístic a p ró p ria do s n ú m ero s
w ird .” ' Zählen u n d M essen, 22. C f. com plexos ou hipercom plexos é a d e co m ­
Ordern. preend erem u m a m ultiplicidade de u n id a­
N u m ero ordinal: c a d a u m d o s te rm o s des red u tív eis u m a à o u tr a seg u n d o cer­
d a seqüência n a tu ra l d o s n ú m e ro s, en ­ tas leis; p o r ex em p lo , n o s im ag in ário s
q u a n to assin alam o lu g a r d e u m elem en­ u su ais, 1 p a r a a p a rte real e H f — 1) p a ­
to nu m c o n ju n to o rd e n a d o : p rim eiro , se­ r a a p a rte im ag in ária.
g u n d o , terceiro , ... etc. O s n ú m ero s in teiro s e fra c io n á rio s,
N úm ero cardinal: c a d a u m dos n ú m e­ e n q u a n to o p o sto s ao s n ú m ero s irra c io ­
ro s n a tu ra is e n q u a n to ca ra c teriz a m u m n ais, são d ito s n ú m eros racionais.
c o n ju n to , q u er dizer, o to ta l d o s seus ele­ O s n ú m ero s n eg ativ o s e p o sitiv o s,
m en to s, a b s tra ç ã o feita d a su a o rd em . co n sid erad o s em c o n ju n to , ch am am -se
N úm ero in fin ito , ver In fin ito . n ú m eros qualificados o u núm eros algé­
“ T eoria do s n ú m ero s” : ra m o das m a­ bricos. E ste s co m p re e n d e m , além d isso ,
tem áticas q u e estu d a as p ro p ried ad es dos o zero .
n ú m e ro s e n q u a n to estas são d iferen te s O s n ú m ero s im ag in ário s, tais co m o
n u n s e n o u tro s (div isibilidade, co n g ru ên ­ são acim a defin id o s, com preendem co m o
cia; relações en tre as p otências; reso lu ção casos p a rtic u la res to d o s o s n ú m ero s p re ­
d as eq u açõ es d e n ú m ero s in teiro s, etc.) cedentes (fazen d o , n a fó rm u la a + bi,
p o r op o sição às p ro p ried ad es q u e são co ­ b = 0). Estes são ch am ad o s, p o r oposição,
m u n s a to d o s (p ro p ried ad es alg ébricas). núm eros reais.
III. A ex ten são d o te rm o núm ero fo i
a m p liad a p ela co n sid eração : NOTA.
1? d o núm ero fracionário, q u o cie n te A ló gica m a te m á tic a c o n te m p o râ n e a
de a : b q u a n d o a e b são q u a isq u e r n ú ­ p ro p ô s-se d efin ir rig o ro sa m e n te (co n s­
m ero s in teiro s; tru ir), p artin d o d a fó rm u la de Russell aci­
2? do número irracional, limite* de se- m a cita d a , to d a s as o u tra s fo rm a s d o n ú ­
q ü ên cias de n ú m ero s in teiro s ou f r a ­ m ero . T ivem os de ren u n ciar a ex por aqui
c io n ário s, q u a n d o este lim ite n ã o é essa série de defin ições e os te o rem as n e ­
ele p ró p rio u m n ú m e ro in te iro o u fra c io ­ cessários p a ra estabelecê-la p o rq u e isso
n á rio ; o c u p a ria d em asiad o esp aço , p o rq u e ela
3? d o núm ero negativo, d iferen ça de pertence m ais à enciclopédia filo só fica do
a — b q u a n d o b é m aio r do que a; que à crítica do vocabulário, e porque cer­
4? d o núm ero im aginário o u n ú m ero to s p o n to s estão ain d a em discussão. V er,
com plexo a + b i (sendo i um sím b o lo que além das o b ras citad as m ais acim a: C o u -
se c o n v en cio n o u tr a ta r n o cálculo co m o T U R A T , D e l'in fin i m athém atique (1896);
as o u tra s le tra s, exceto q u a n d o se su b sti­ idem ., artig os d a R evue de métaphysique,
tu i i2 p o r - 1); 1898, 1899 e 1990; os artig o s de Pë ÇTτ ­
5? do s n ú m e ro s hipercom plexos (p o r
2 é , CÃZ I Z 2 τ I e B. RZ è è E Â Â que discu­
exem plo, os quaterniõ es) p a ra os quais se te m e sta q u estão (an o s 1905 e 1906) n a
a b a n d o n a m certas p ro p rie d a d e s dos 1 m esm a rev ista; W7 « I E 7 E τ á e B. R Z è ­
èE Â Â , Principia M athem atica ( 1 9 1 0 ) .

1. “ P o d em o s em p rim e iro lu g a r c o n sid erar os


R ad. int.: N o m b r.
nú m ero s co m o u m a série d e signos a rb itra ria m e n te
“ L e i” ou “ P rin c íp io d o n ú m e ro ”
escolhidos, p a ra os qu ais ad m itim os com o regu lar ou,
segundo a expressão co m u m , co m o n a tu ra l, apenas U m a d as teses fu n d am en tais d a filo so fia
u m a só m an eira d e se su ceder um ao o u tr o .” de RE ÇÃZ â« E 2 , segund o a quai: 1?, a ca-
745 NÚM ERO

tegoria d o n ú m ero se ap lica a to d o s os fe­ d e q u e n o s e n c o n tra m o s em p resen ça de


n ô m en o s d a d o s o u suscetíveis d e o ser; u m gênero* fo rm a d o p o r acon tecim entos
2 ? , n e n h u m n ú m e ro p o d e ser in fin ito . q u e se rep etem , m as so b várias fo rm as d i­
Segue-se q u e q u a lq u e r coleção co n c re ta feren tes, em n ú m e ro fin ito , q u e são as
d e elem en to s é lim ita d a . V er S é τ « Â Â è ,
E espécies* deste gênero (p o r exem plo, n a s­
La philosophie de Renouvier, cap . II: “ A cim en to d e u m m e n in o , n ascim en to de
lei d o n ú m e ro e as suas c o n se q ü ê n c ia s.” u m a m en in a); é a isso q u e é co stu m e d e ­
E ste s p rin cíp io s são m u ito co n testáv eis. sig nar p o r “ casos possíveis” , sendo as re­
petições d e aco n tecim en to s em geral c h a ­
L ei d o s g ran d es n ú m e ro s E x p ressão m a d a s d e “ p ro v a s” . S en d o d a d a s estas
c ria d a p elo m a te m á tic o P Ã « è è Ã Ç em d efin içõ es, a fó rm u la d e P o isso n sig n ifi­
1838: “ A s coisas de q ualq uer n atu reza es­ ca q u e se as condições d as p ro v as p e rm a ­
tã o su b m etid as a u m a lei u n iv ersal a q u e n ecerem c o n sta n te s, e se n ã o h o u v er re ­
se p o d e c h a m a r a lei do s grandes nú m e­ g ra assin alá v el q u e p e rm ita p re v e r, p a ra
ros. E sta co n siste em q u e, se se o b serv ar u m a d e te rm in a d a p ro v a , o ap arecim en ­
n ú m e ro s m u ito co nsid eráveis d e a c o n te ­ to deste o u d a q u e le caso possível, a re la ­
cim ento s d a m esm a n a tu re z a , que d ep en ­ ção d o n ú m ero d e cad a u m d o s casos rea­
d em d e causas co n stan tes e d e cau sas q u e lizad o s co m o n ú m e ro to ta l d a s p ro v a s
v arie m irre g u la rm e n te, o r a n u m sen tid o te n d e , aliás irre g u la rm e n te, p a ra u m li­
o ra n o u tro , q u e r d izer, sem q u e a su a v a­ m ite fixo à m ed id a que o n ú m ero das p ro ­
ria ç ã o seja p ro g ressiv a em q u a lq u e r sen ­ v as a u m e n ta , e d ifere dele ta n to m en o s
tid o d eterm in ad o , encontrar-se-á entre es­ q u a n to o n ú m e ro d a s p ro v a s fo r m a io r.
ses n ú m ero s relações q u ase c o n sta n te s. 2. A id éia essencial d a “ lei dos g ra n ­
P a r a cad a n a tu re z a de co isas, essas rela­ des n ú m e ro s” já foi in d ic ad a em A rs con-
ções terão um v alo r especial d o q u a l se jectandi d e Ja cq u es BernouiUi (1713),
a fa s ta rã o cad a vez m en o s, à m e d id a qu e co n sid eran d o -a com o u m teorema q u e re­
a série do s acontecim ento s observado s au ­ su lta an aliticam en te, p a ra u m so rteio em
m e n ta r, e que atin g iria m rig o ro sam en te u m a o u várias u rn as, d o s princípios a d o ­
se fosse possível p ro lo n g a r esta série até tad o s p a ra o cálculo das probabilid ades.
ao in fin ito .” Recherches su r la probabi- L τ ú Â τ T , n o Ensaio filo só fico sobre as
E

lité des ju g e m e n ts , In tro d u ç ã o , p. 7. probabilidades (1814), apresenta-a prim ei­


ram en te , tam b ém ele, so b esta fo rm a es­
NOTAS
pecial e a priori; m as acrescenta im ediata­
1. E ste tex to é cita d o , m as com v ária s m en te a seguir: “ P ode-se ex trair d o teo re­
in ex atid õ es, em Jo se p h B 2 2 τ Ç á , Cal-
E I m a precedente esta conseqüência, que de­
cul d e s probabilités, p re fá c io , p. X X X I. ve ser vista co m o u m a lei geral, a sab er,
Ele critica esta lei, p o rq u e , diz ele, “ p a ­ que as relações dos efeitos d a n atu reza são
ra que seja v erd ad eira é preciso que a p ro ­ q u ase co n stan tes q u a n d o esses efeito s são
b ab ilid ad e pe rm a n e ç a co n s ta n te ” ; m as é consid erados em g ran d e n ú m e ro .” Ele d á
p ro v av elm en te isso o que P o isso n e n te n ­ com o exem plo disso a q u a n tid a d e m édia
d ia pelas p alav ras “ d ep en d en tes de c a u ­ d as colheitas relativ as a u m suficiente n ú ­
sas co n sta n te s” , q u e fo ram om itid as, p o r m ero d e a n o s, a relação d o n ú m ero anual
in ad v ertên cia, n a citação de Jo sep h dos nascim ento s com o d a p o p u lação , o
B ertran d . d as c a rta s rejeitad as p o r insuficiência de
P o d ería m o s com m ais ra z ã o lam en tar endereço, etc.; e extrai d a í conseqüências
que esta fórm ula n ã o seja suficientem ente físicas e m orais resu m id as n o fim n a fó r­
ex p lícita, se n ã o so u b éssem o s já pelos m ula: “ O s fenôm enos q u e parecem de­
exem plo s d o q u e se tra ta . E la su b e n te n ­ p en d er m ais d o acaso ap resen ta m , pois,
NUM ERO 746

a o m u ltip licar-se, u m a te n d ê n c ia p a ra se V er A ca so , Probabilidade.


aproxim arem sem cessar d e relações fixas; P a r a u m estu d o m a te m á tic o d as re la ­
d e m a n e ira q u e se co n ceb erm o s d e u m e ções d e sta lei e d as o u tra s fó rm u la s d ò
d e o u tro lado de cad a u m a destas relações cálculo d as p ro b a b ilid a d e s, cf. F2 HT7 E I
u m in terv alo tã o p e q u e n o q u a n to se q u i­ e H τ Â ζ ç τ T7 è , Calcul des probabilités,
ser, a p ro b a b ilid a d e de q u e o re su lta d o in tro d u ç ã o , e cap . V II: “ Leis d o s g ra n ­
m éd io d as o b serv açõ es caia neste in te r­ des n ú m e ro s .”
valo a c a b a rá p o r n ã o d ife rir d a certeza
sen ão n u m a q u a n tid a d e a b a ix o d e q u a l­ “ N U M E R O ” , n u m e ricam en te D o
q u e r g ran d eza a ssin a lá v e l.” Ensaio filo ­ p o n to d e v ista d o n ú m e ro . V er D iferen­
sófico sobre as probabilidades , seção V II. ça, D istinção e Especifico.
o
O E m ló gica, sím b o lo d a p ro p o siç ã o C . (em ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 ). M a n ife sta ­
p a rtic u la r n eg ativ a. ção d a coisa em si, a V o n ta d e , sob a fo r­
m a de fen ô m en o s. C f. O bjetividade.
O B JE Ç Ã O D . E in w u r f (ra ra n o sin­
Rad. int.: O b jek tiv ig .
gu lar), Einwand·, E . Objection·, F. Objec­
tion·, I. O bbiezione. O B JE T IV ID A D E D . O bjektivität ; E .
A rg u m e n to q u e te n d e a p ro v a r a fa l­ O bjectivity; F . O bjectivité; I. O bbiet-
sid ad e o u in su ficiên cia d e u rn a tese p re ­ tività.
v iam en te e n u n c ia d a . C f. R éplica, etc. C aracterística d a q u ilo q u e é objetivo,
R ad. in t.: O b jeció n . em q u a lq u e r d o s sen tid o s d esta p a la v ra .
“ O B JE T ID A D E ” D . O bjektitat; F . E sp ecialm ente: a titu d e , d isposição d e es­
O bjectité. p írito daquele q u e “ vê as coisas com o elas
F o rm a so b a qu al a coisa em si, o real, s ã o ” , que n ã o as d e fo rm a nem p o r estrei­
ap arece com o o b jeto , no sentid o A d a p a ­ te za d e e sp írito nem p o r p arcialid ad e.
la v ra objeto . E sta p a la v ra q u ase q u e só Rad. int.: O b je k tiv es.
fo i u sa d a p o r ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 . V er D ie O B JE T IV IS M O D . O bjektivism us;
W elt, liv ro I I , § 18. E . O bjectivism ; F . O bjectivism e; I. Ob-
O B JE T IV A Ç Ã O D . O bjektivation; biettivism o.
E . Objectivation·, F . Objectivation; I. Ob- A . D iz-se d e q u a lq u e r d o u trin a q u e
biettivazione. co n sid ere c o m o o b jetivo, se ja n o sen tid o
A . N a te o ria q u e ad m ite q u e a sensa­ B, seja n o sentido C, o q u e os o u tro s n ã o
ç ã o , p rim eiro in te ira m e n te sem elh an te a co n sid eram co m o ta l.
u m estad o afe tiv o , so m en te ad q u ire um D iz-se especialm ente:
c a rá te r de realid ad e o p o sta à d o sujeito 1?: D as d o u trin a s que ad m item qu e,
ao to rn a r-se p e rcep ção , cham a-se objeti- n a p ercep ção , o esp írito conhece d ire ta ­
vaçâo à passagem do p rim eiro estad o ao m en te u m a realid ad e ex isten te em si.
seg u n d o . 2°: D a teo ria kan tian a do conhecim en­
B. F e n ô m en o p elo q u a l u m a im agem to , en q u an to g aran te o v alo r objetivo (no
é tid a p o r u m o b je to a tu a l (no sen tid o C sentido C) das nossas representações.
d a p a la v ra objeto), p o r ex em p lo , n u m a 3?: D as d o u trin as q u e adm item que a
alu cin ação o u n u m a ilu são . m o ral tem u m a existência su i generis fo ra

S o b re O — O d r. G 2 τ è è E I c h a m o u “ cen tro O ” a o cen tro cereb ral (h ip o té tico )


ao q u a l co rre sp o n d e ria a v id a p síq u ica su p erio r, ou seja, as id éias conscientes e os
ato s v o lu n tá rio s e re fle tid o s. V er “ O s c e n tro s d o eq u ilíb rio e o p o líg o n o do a u to m a ­
tism o su p e rio r” , R evue scientífique, o u tu b ro de 1901. E an te rio rm e n te as Leçons
de clinique m édicale d o m esm o a u to r (1898), to m o II I , p. 122.

S o b re O b je tiv ism o — P arece-m e até q u e a te o ria k a n tia n a é a ú n ica a m erecer


o n o m e objetivism o. P o rq u e , se nos re p o rta rm o s ao sen tid o etim o ló g ic o e schopen-
h a u e ria n o d a p a la v ra o b je to , é claro q u e u m a coisa em si, inacessível a o n o sso esp íri­
to , n ã o p o d e ser p a r a n ó s u m objeto . É preciso d izer, n este se n tid o , realism o o u dog­
m atism o. ( / . Lachelier)
OBJETIVO 748

das opin iõ es, d a c o n d u ta e d a consciên­ A . N a linguagem d a escolástica (a p a r­


cia dos in d iv íd u o s. tir de D u n s STÃI seg u n d o E«/T3 E Ç ,
4?: (seg u n d o Bτ Â áç « Ç ). D as dou tri­ Gesch. der phil. Term inologie, p . 68) e
nas p a ra as q u ais o bem m o ral consiste ain d a n o século X V II: é objetivo o u existe
n a realização de u m c e rto e sta d o , e não objetivam ente a q u ilo q u e c o n stitu i u m a
so m en te n u m a d isp o sição d o agente. idéia (n o se n tid o D ), u m a re p resen tação
C f. Realism o. d o esp írito e n ã o u m a re a lid ad e su b sis­
B. A titu d e d e esp írito o b je tiv o * , n o tente p o r si p ró p ria e in dependente. O ter­
sen tid o C d esta p a lav ra. m o o p o sto fo i, p rim eiro , subjectivus, d e­
p o is, fo rm a lis, q u e só fo i u tilizad o n a
CRlTICA
ép o c a clássica (EZ T3 E Ç , ib id ., 203. C f.
A s acepções A , 3 ?, e A , 4 ? , são m u i­ Form al). “ P o r m ais im p e rfe ita q u e seja
to ra ra s em fran cês. D evem ser ev itad as esta m a n e ira d e ser p e la q u a l u m a coisa
p a r a n ã o a u m e n ta r a c o n fu sã o já tão é o b jetiv am en te, ou p o r representação no
g ran d e qu e rein a n o em p reg o dos term o s e n ten d im en to , atrav és de su a id éia , n ão
d eriv ad o s deste rad ical. p o d em o s, c o n tu d o , dizer que essa m anei­
Rad. in t .: A . O b je k tiv is; B. O b je k - ra de ser n ão seja n a d a .” DE è Tτ 2 I E è , Me-
tivem es. d it., III, 11. Ele o p õ e esta “ realid ad e o b ­
je tiv a ” à “ realid ad e que os filó so fos cha­
1. O B JE T IV O (subst.) Este term o , re­
m am atu a l o u fo rm a l” . “ É p reciso , no
tira d o d a a rte m ilitar, in tro d u ziu -se n a
fin a l, ch eg ar a u m a p rim e ira id éia cu ja
linguagem filo só fica fran cesa d ep o is d a
cau sa seja co m o u m p a d rã o o u u m o rig i­
g u e rra de 1914, no sen tid o B de o b jeto *.
n al n o q u al to d a a realid ad e o u p erfeição
D ad o s os equívocos deste, n ão se deve de­
esteja co n tid a fo rm alm en te e d e fa to , que
sa p ro v a r esta in o v ação .
som ente se en contre ob jetiv am en te o u p o r
2. O B JE T IV O (a d j.) D . O b jektiv, E . re p re se n ta çã o nessas id éias; de m a n eira
Objective; F . Objectif; I. O bbiettivo e og- q u e a lu z n a tu ra l m e fa ç a co n h ecer com
gettivo. evid ência q u e as id éias e stã o em m im co-

S o b re O b je tiv o (2) — A p a rtir d e K a n t (e q u a lq u e r q u e te n h a p o d id o ser a irreso -


lu ção d a linguagem d e K a n t), ob jeto e objetivo n ã o p o d em ter sen ão u m sen tid o :
n ã o é o q u e é em si, fo ra d o n o sso esp írito e d e q u a lq u e r esp írito , p o rq u e o qu e fosse
p a ra nin g u ém se ria n a d a e c o n sid e ra d o n u lo p o r to d a a g en te , e m e sm o , parece-m e,
to ta lm e n te inexistente: p o rq u e n ã o po sso co n ceb er u m a existência q u e n ã o seja co lo ­
c a d a , a firm a d a p o r u m esp írito ; isto ta m b é m n ã o se ria o q u e é rep re se n ta d o em c o ­
m u m p o r to d o s o s esp írito s o u , p elo m en o s, n ã o o seria p rim itiv am en te e d ire ta m e n ­
te; p o rq u e esp írito s q u e so n h assem to d o s a o m esm o tem p o o m esm o so n h o n ã o so ­
n h a ria m m en o s p o r isso: p o d e m o s, em rig o r, e sta r d e a c o rd o q u a n to a o falso com o
q u a n to a o v e rd a d e iro , e isto aco n te ce m u ita s vezes acerca d e m u ito s p o n to s. O que
se rá en tã o ? N ã o p o d e se r, p arece-m e, sen ão a q u ilo q u e é o p ró p rio fu n d a m e n to do
acordo do s espíritos, é aq u ilo que é E O è « no nosso espírito e em qualquer espírito,
p o r oposição, n ã o evidentem ente àq u ilo qu e está fo ra de q u alq u er esp írito , m as àquilo
q u e , n u m e sp írito q u a lq u e r, é p u ra re p re se n ta çã o , co n tin g en te e p assag eira e d e que
n ã o p o d em o s d izer n a d a , sen ão q u e a tem o s. É a q u ilo q u e te m o s razão em re p resen ­
ta r , p o rq u e h á um a razão p a r a q u e o rep resen tem o s, ra z ã o tira d a , n ã o d e u m estad o
an teced en te d e ta l o u ta l esp írito , m as d a p ró p ria n a tu re z a d a co isa: é , n u m a p a la ­
v ra , u m a re p re se n ta çã o d e direito p o r o p o sição a u m a re p resen tação de fa to . O s h o ­
m ens tiv eram seg u ram en te desd e sem p re a id éia d a verdade: m as tiv eram m u ita
749 OBJETIVO

m o q u a d ro s o u im ag en s q u e p o d e m , n a o ferece co m o o b je to , q u e r d izer, vem re ­


v erdade, p erd er algo d a perfeição das coi­ p resen tativ am en te n a consciência; e c h a ­
sas d as quais fo ra m tira d a s , m as q u e ja ­ m arei subjetivo o q u e é d a n a tu re z a d o
m ais p odem conter algo de m aio r ou m ais sujeito, seja de u m representado qu alq u er
p e rfe ito .” Ib id ., III, 11. (T o d a v ia o p r ó ­ d esd e q u e o c o n h ecim en to nele reco n h e­
p rio D escarte s, e m b o ra em p reg u e o b je­ ç a alg o de d istin to d o seu a to p ró p rio , e
tivo neste sentid o, serve-se d a p alav ra ob ­ de su p o sto d a d o , de a lg u m a m a n eira fo ­
je to s p a ra d esig n ar as “ realid ad es fo r­ r a do c o n h ecim en to , sem e le .” Essais de
m a is” de q u e as no ssas id éias são a có ­ critique générale, Lógica, I, p. 19. T o d o
p ia. V er O bjeto, D .) o c a p ítu lo (p p . 16-22) é co n sag rad o à ex­
O m esm o sen tid o em Eè ú « ÇÃè τ , É ti­ posição das razões p a ra rejeitar o uso fei­
ca, I, 30; II, 8, c o ro l., etc.; e a in d a em to p o r K a n t e v o ltar ao de D escartes e E s­
BE 2 3 E Â E à : “ N a tu ra l p h e n o tn e n a are p in o sa. M as ver as o bservações.
o n ly n a tu ra l ap p earan ces. T hey are th e- B. O p o sto a subjetivo (no sentido de
re fo re such as w e see a n d perceive th em . aparente, irreal)·, que c o n stitu i u m o b je ­
T h e ir real a n d o b je ctiv e n a tu re are th e- to , n o sen tid o D , u m a realid ad e su bsis­
re fo re th e sa m e .” 1 Siris, § 292. A p assa­ te n te “ p o r si p r ó p r ia ” , q u er d izer, in d e ­
gem deste sen tid o ao sen tid o h o je u su al p en d en tem en te de q u alq u er conh ecim en­
faz-se em Bτ Z O; τ 2 I E Ç (ver EZ T3 E Ç , to ou idéia. “ S p atiu m n o n est aliquid ob-
Geschichte d erp h ilo s. Terminologie, 134 jectiv i, seu re a lis... sed su b jectiv u m et
e 204). ideale, et e n a tu ra m entis stabili lege p ro -
RE ÇÃZ â« E 2 tentou m an ter o sentido ficiscens.” Kτ ÇI , D e m undi sensibilis at-
antigo: “ Cham arei objetivo àquilo que se que intelligibilisform a etprincipiis, § 15.
“ ... Dass dieses L eben nichts als eine blo s­
se E rschein ung... sei, u n d , wie ein T rau m ,
1. “ O s fenôm enos n a tu ra is são a p en as a p a rê n ­
cias n a tu ra is. S ão , p o rta n to , tais co m o os vem os e
an sich k ein e objective R ealitä t h a b e ...;
perceb em os. A su a n atu reza real e a su a na tu re z a o b ­ dass, w enn w ir die S achen wie sie sind, wie
je tiv a sã o , p o is, id ê n tic a s .” uns in ein er W elt geistiger N atu ren sehen

d ific u ld ad e em se d arem c o n ta disso . D efin è-se a v e rd a d e c o m o o a c o rd o d o p e n sa ­


m en to com a coisa: m as u m a c o rd o n ã o p o d e co n stitu ir p o r si m esm o n e n h u m a ver­
d ad e; supõe-se, q u a n d o se diz isso, q u e a coisa é v e rd a d e ira p o r si p ró p ria e, p o r
co n seq ü ên cia, com u m a v erd ad e d iferen te d a q u e la com que a d efin im o s. M as em
q u e p o d e co n sistir esta v erd ad e d a coisa? E m ser dada, estar a íl M as, p rim eiro , h á
u m a g ran d e q u e stã o (a d o so n h o e d a vigília, a d o id ealism o v u lg ar), de saber se a
coisa é realm en te d a d a , se está realm en te a í. M as su p o n d o q u e a co isa esteja aí, n u m
espaço ou recep tácu lo q u a isq u e r, fo ra d o esp írito , ela será m ais v e rd a d e ira p o r isso?
E la se rá, se q u iserm o s, u m fa to ; m as u m a re p resen tação q u e está n o m eu esp írito
e q u e n ã o está d e a c o rd o com essa coisa será, ela ta m b é m , u m fa to : q u al destes dois
fa to s tem razão d e ser o que é, e q u al n ão a tem em n ã o se p arecer com a o u tra ?
E preciso , p o r ta n to , v o lta r à id éia de u m a v erd ad e in trín seca, que tra g a em si m esm a
a su a ra z ã o de ser v e rd a d e ira, n u m a p a la v ra , à id éia de u m a representação de direi­
to. N ão h á v erd ad e possível p a ra o p u ro em p irism o . (J . Lachelier)
T o d o s os m em b ro s e co rresp o n d en tes d a S ociedade q u e m a n ife sta ra m a su a o p i­
n ião so b re este p o n to c o n c o rd a ram em reco n h ecer, com L ach elier, q u e a d istin ção
en tre objetivo e subjetivo deve ser e n te n d id a co m o u m a d istin ção de direito-, p o r o u ­
tra s p a la v ra s, co m o ficou d ito acim a n a C rític a , convém ch a m a r objetivo ao q u e é
válido p a ra to d o s os esp írito s, q u e r seja ou n ã o reco n h ecid o com o ta l n o m o m en to
em q u e se fala.
O B JE T IV O 750

w ü rd en , m it w elcher un sere einzig w ah re e rep resen tam -n o s c o m o fo rm a s in eren ­


G em ein sch aft w eder d u rc h G e b u rt an g e­ tes à n o ssa c o n stitu iç ã o : são os p a rtid á ­
fan g en h a b e , n o c h d u rc h d e n L eib esto d , rio s ... d a filo so fia id ealista de K a n t.”
als blosse E rsch ein u n g , a u fh ö re n w er­ F 2 τ ÇT3 , a rt. Metafísica-, Dict. des S cien ­
d e ...” 1 Kτ ÇI , R azão pura, M éto d o 1 , 1, ces p h il., 1090 A .
3 (A 780; B 808). “ K a n t a trib u i ap en as C. O p o sto a su b jetivo , n o sen tid o de
u m v alo r subjetivo a id éias às q u ais o c o ­ individual. V álid o p a ra to d o s os esp íri­
m u m dos h o m en s, e m esm o a m a io r p a r ­ to s e n ã o p a ra este o u aq u ele in d iv íd u o .
te dos filósofos, atrib u i u m a realid ade ob­ “ U n sere E rö rte ru n g e n leh ren d em n ach
je tiv a .” CÃZ 2 ÇÃI , Essai, cap . I, § 7. die R ealitä t, d .i. die o b jectiv e G ültig keit
“ U n s, p ro c u ra n d o os p rin cíp io s [da m e­ des Raum es in A nsehung alles dessen, was
tafísica] n a ra z ã o ... co n sid eraram -n o s co­ aü sserlich als G eg en stan d u n s V orkom ­
m o a expressão exata d a natu reza das coi­ m en k a n n , a b er zugleich die Id e a litä t des
sas e co m o o fu n d o co n stitu tiv o de to d o s R au m es in A n seh u n g d e r D inge w enn sie
os seres: são os m eta físic o s p ro p ria m e n ­ d u rch d ie V e rn u n ft a n sich selb st erw o ­
te d ito s. O u tro s, reco n h ecen d o n o p e n ­ gen w e rd e n .” 2 K τ Ç , R azão pura, Esté.
I

sam en to os m esm o s elem en to s in v a riá ­ tra n s e ., A 27; B 43. “ P ra k tisc h e G ru n d ­


veis, recu sam -lh es q u alq u er sem elh ança sätze sin d su bjectiv o d er M axim en, w enn
o u co m u n id ad e d e essência com as co i­ die B edingung n u r als fü r den W illen des
sas, q u er d izer, q u a lq u e r v alo r objetivo, S ubjects gültig v o n ih m angesehen w ird;
o b jectiv a b er, o d e r p ra k tisc h e G esetze,

1. " . . . esta v id a é um sim ples fen ô m en o e, co ­


m o u m so n h o , n ã o tem em si q u a lq u e r realidade ob­ 2. “ A s nossas explicações en sinam , pois, a reali­
je tiv a ; se nós pudéssem os ver as coisas com o são, ver- dade, quer dizer, o valor objetivo d o espaço em rela­
nos-íam os num m u n d o de n atu rezas espirituais, com çã o a tu d o aq uilo que pode ex teriorm en te se nos ap re­
as q u ais a nossa ú n ic a ve rd a d e ira ligação n ão é nem se ntar com o o b jeto ; m as, a o m esm o tem po, a ideali­
p roduzida pelo nascim ento, nem destruíd a pela m orte d a d e d o espaço em relação à s coisas, en q u an to que,
d o c o rp o , e n q u a n to sim ples f e n ô m e n o ...” pela razão , elas são co nsid erad as em si m esm as.”

M as deverem os, p o r u m a atitu d e an álo g a à do fenom enism o, ater-n o s estritam ente


a este c a ráter sem tra n s fo rm a r d e alg u m m o d o este direito n u m a existência? O u d e­
verem o s, p elo c o n trá rio , co m o fazia L achelier n a o b serv ação p reced en te, exprim i-lo
de u m a m a n e ira m en o s exclu siv am ente n o rm a tiv a , d izen d o q u e existe u m “ fu n d a ­
m e n to ” d o a c o rd o do s esp írito s e q u e este fu n d a m e n to “ é em si n o n o sso esp írito
e em to d o s os esp írito s” ? N ã o existe a í, p arece, sen ão u m a d iferen ça de expressão,
q u e n ão le v an ta n e n h u m a o b je ç ã o q u a n d o a p ró p ria id éia está ta m b é m cla ram en te
explicada. M as esta seg u n d a m a n e ira de fa la r, se tem a v an tag em de se a d a p ta r a
u m a fo rm a c o m p letam en te n a tu ra l d a lin g u ag em , a p re se n ta , p o r o u tro la d o , q u a n ­
d o se p a ra d a d e q u a lq u e r c o m e n tá rio , u m in co n v en ien te psico ló g ico b a sta n te grave:
p o d e facilm en te ser m al c o m p reen d id a e trad u zir-se, n o s esp írito s in su ficien tem en te
ex ercitad o s, p o r u m a co n cep ção “ d o g m á tic a ” , o n to ló g ica (no sen tid o a n tig o deste
te rm o ), n u m a p a la v ra , pelo sen tid o B, tã o freq ü en te n a linguagem filo só fica d o sé­
cu lo X IX e cu ja im p ro p rie d a d e fo i u n án im em en te recon h ecid a.
N ão é talv ez in ú til assin alar a q u i an te c ip a d am e n te que J.-M . Bτ Â áç « Ç , em
T hought and Things (1909-1912), p ro p ô s d esig n ar de u m a m a n e ira g eral sinôm ico
a q u ilo que é co n sid erad o válido de direito p a ra tod o s os espíritos e sindóxico o que
é a tu a lm e n te a d m itid o em co m u m p o r u m g ru p o de e sp írito s m ais ou m en o s ex ten so ,
q u e tê m co n sciên cia d e sta co m u n id ad e. {A. L .)
751 O B JE T IV O

w enn je n e als o b je c tiv , d .i. fü r den W il­ d a verdade é um fenôm eno objetivo, es­
len jedes v ern ü n ftig en W esens gültig er­ tran h o ao eu, que se passa em nós sem
k a n n t w ird .” 1 I d ., R a zã o prá tica , I, 1, nós, um a espécie de precipitado quím ico
§ 1. que devemos contentar-nos em olhar com
“ T e rã o estas relaçõ es u m v alo r o b je ­ cu rio sid ad e.” RE Çτ Ç , Feuilles déta-
tiv o ? Q u er d izer: serão estas relações as chées, 402.
m esm as p a r a to d o s? S erão a in d a as m es­ F . O p o sto a su b jetivo (n o sen tid o de
m as p a ra aq u eles q u e vierem d ep o is de consciente, m ental). “ H á d u as ord en s de
n ó s? ” “ E stas re la ç õ e s... n ã o p o d eriam verdades o u d e n oções, um as conscientes,
ser con cebid as f o ra d e u m esp írito q u e as in terio res o u s u b je tiv a s ...” A s p rim eiras
concebe o u sen te. M as elas sã o to d a v ia d eco rrem de p rin cíp io s d e q u e o esp írito
o b jetiv as p o rq u e sã o , se to rn a rã o o u p er­ tem co n sciên cia e trazem -lh e o sen tim en ­
m an ecerão c o m u n s a to d o s os seres p e n ­ to d e u m a evid ência a b so lu ta e n ecessá­
s a n te s .” P ë ÇTτ 2 é , L a valeur de la ria , p o r ex em plo , nas m ate m áticas; as se­
S c ie n c e , 267 e 271. g u n d as dizem resp eito “ a o m u n d o o b je ­
D . F a la n d o d o s esp írito s: q u e vê as tiv o o u ex terio r” e devem ser “ tira d a s d a
coisas de m an eira objetiva (no sentid o C ), o b serv ação e d a ex p eriên cia” . C lau d e
q u e n ã o se d eix a in flu en ciar pelas suas BE 2 Çτ 2 á , Jntrod. ao estudo da m edici­
p referên cias o u h á b ito s in d iv id u ais. na exper., i? p a rte , cap . II, § 1.
E . In d e p e n d e n te d a v o n ta d e , co m o o M u itas vezes, designa-se p o r m éto d o
sã o os fen ô m en o s físicos. “ A p ro d u ç ã o subjetivo, em p sic o lo g ia g eral, o m é to d o
d e o b serv ação q u e faz ap elo à consciên­
cia (ver Introspecção) e o põe-se a o m é­
1. ‘‘O s p rin c íp io s p rá tic o s sã o su b je tiv o s (m áxi­ todo ob jetivo , q u e é o d a o b serv ação ex­
m as) q u a n d o aq u ilo q u e eles e stip u lam só é co n sid e­ te rio r. E m p sicolo gia zo o ló g ica, ch am a-
ra d o pelo su jeito com o válido p a ra su a p ró p ria v o n ­
se m é to d o su b jetiv o , n u m sen tid o um
ta d e ; são o b jetiv o s (leis p ráticas) q u a n d o esta esti­
p u lação é re conhecida com o objetiva» q u er dizer» v á­ p o u c o d ife re n te , àq u ele q u e p ro c u ra re­
lid a p a ra a v o n tad e de to d o ser ra z o á v e l.” p resen tar p o r an a lo g ia o esta d o de cons-

L. Brunschvicg calcula que o tex to d e P ë ÇTτ 2 I c itad o com o exem plo d o sen ti­
d o C “ n ã o é d e m a n eira n e n h u m a u m a defin iç ão d a o b jetiv id ad e q u e se pudesse re ­
co lh er num V o c ab u lário , m as u m a teoria so b re as co n d içõ es d a o b je tiv id a d e ” .
T a l co m o ele, p en so q u e P ëÇTτ 2 I teve n esta p assag em u m a in ten ção crític a e
n ã o a c red ito u constatar a existência d o sen tid o C , co n scien tem en te d efin id a co m o
ta l no esp írito do s seus leitores; m as ele quis dizer, p arece, q u e p a ra d ar a esta p a la ­
v ra u m co n te ú d o real suscetível de aplicações efetivas, p a ra saber o que se d iz q u a n ­
do é em p reg ad o , é-se levado a ac h a r que este critério é sem p re re fe rid o m ais o u m e­
nos cla ram en te. A liá s, é q u ase sem p re assim : a d efin ição de K a n t, n a su a ép o ca, e ra
ig u alm en te u m a in te rp re ta çã o n o v a d e u m a id éia p reex isten te. O sen tid o falso que
P o in c a ré a fa s ta e que n ó s p ró p rio s a fa sta m o s m ais acim a é o sen tid o B (o b je ti­
vo = existente em si, in d ep en d en tem en te de q u alq u er p en sam en to ); o sen tid o q u e ele
ad m ite é p recisam en te o sen tid o C , do q u al Lτ T7 E Â « E 2 faz acim a u m a exposição
tã o clara. Sem d ú v id a, P ëÇTτ 2 I n ã o se serve ex p ressam en te das p alav ras valor de
direito, valor norm ativo ; m as n ã o po d em o s d u v id ar que ta l seja o fu n d o d o seu p en sa­
m ento , sobretu do se o relacionarm os com o texto seguinte, tirad o d a m esm a obra: “ U m a
realid ade com pletam ente in d ep en d en te d o espírito q u e a concebe, a vê ou a sente é
u m a im possib ilidade. U m m u n d o tã o exterior, se chegasse a existir, seria p a ra nós
sem pre inacessível. M as aquilo a que cham am os a realidade objetiva é, em últim a
O B JE T IV O 752

ciência d o s an im ais e lhes ap lica os te r­ é co m u m a to d o s os h o m en s, a to d o s os


m o s u sad o s n a p sicolo gia h u m a n a (m e­ seres razo áv eis), o ra àq u ilo q u e é u m a
d o , d esejo , có lera; p e rcep ção , p rev isão , p ropriedade d o pensam ento em geral (por
e tc.); cham a-se en tão m é to d o o b jetiv o o p o sição àq u ilo q u e é sem ser p en sad o ),
àq u ele q u e se c o n te n ta com reg istrar as aco n te ceu que a p a la v ra objetivo, q u e se
suas reaçõ es, o seu co m p o rta m en to , em o p u n h a a esta, so freu a m esm a div isão,
circu n stân cias b em d efin id as. P o r vezes e foi ap lic a d a o ra a u m a o ra a o u tra d es­
diz-se m esm o “ p sic o lo g ia o b je tiv a ” p a ­ tas concepções. E n q u a n to se ad m itia o
r a d esig n ar em g eral a p sic o lo g ia d a re a ­ g ran d e p o stu la d o ra c io n a lista d a escola
ç ã o , q u er d izer, o estu d o d a m a n eira c o ­ c a rte sia n a, segundo a q u al a ra z ã o , co n ­
m o os seres o rg an izad o s e o ser h u m an o ju n to das leis d o esp írito co m u n s a to d o s
em p a rtic u la r se c o m p o rta m em p resen ­ os hom en s, é tam b ém a revelação d o p en ­
ça de circun stâncias d eterm in ad as. Ver p. sam en to d iv in o e d as leis d o m u n d o tal
ex. BE T7 I E 2 E ç , “ Oè p ro b lem as e os com o ele é, os dois sentidos co n fu n d iam -
m éto d o s d a p sic o lo g ia o b je tiv a ” , Jour­ se nas suas ap licaçõ es. M as log o que os
nal de psychologie, n o v em b ro de 1909; p rin cíp io s co m u n s d o c o n h ecim en to ces­
KÃè I à Â E EE , “ O s tra b a lh o s d a escola psi­ saram d e ser co n sid erad o s c o m o leis d as
cológica russa: O estu d o objetivo do pen­ coisas e fo ra m tid o s c o m o um sistem a de
s a m e n to ” , R evu e p h ilo s., n o v em b ro de fo rm as v álid as so m en te “ fü r un s M ens-
1910, etc. ch en ” 1, p ro d u ziu -se u m d e sd o b ra m e n to
que já n ã o p e rm itia a estes do is sen tid o s
C R ÍT IC A
co in cid ir em ex te n são . V er N ó s, C rític a.
T o d o s estes em p reg o s d a p a la v ra são Kτ ÇI provavelm ente penso u, p o r um a
m u ito equív ocos: desd e a ép o ca de K a n t co n sid eração p rática (an álo g a àq u ela q u e
os sentidos B e C são constantem ente con­ enuncia a fó rm u la de Peirce), que ten-
fu n d id o s n o uso filosófico. A p lican d o -se
subjetivo o r a àq u ilo que é p ró p rio d o su ­
je ito in d iv id u al (p o r o p o sição àq u ilo que 1. “ p a r a n ó s, h o m en s“ (Kτ ÇI ).

análise, o que é co m u m a v ário s seres p en san tes, e p o d e ria ser co m u m a to d o s.” L a


valeur de la Science, in tr o d ., p. 9. (A . L .)
RE ÇÃZ â« E 2 n em sem p re p ô d e p ra tic a r a re fo rm a q u e p reco n iza e disso se d es­
cu lp o u : “ P areceu -m e ú til em p reg ar aq u i as p alav ras objeto , su jeito e seus d eriv ad o s
n o sen tid o a n tig o , a o q u al m e p ro p u s , h á m u ito te m p o , v o lta r (ver Essais de crit.
générale, 1 ? en saio , 1 , 11) e q u e pen so ser o m elh o r, a in d a que te n h a tid o de m e co n ­
fo rm a r d esd e e n tã o m u itas vezes à lin g u ag em h a b itu a l e viciosa d o s filó so fo s, q u e
in felizm en te se to rn o u a do p ú b lic o .” L e sp rín c ip e s de la nature, p. 315 (n o ta).
Eis, além dos texto s citad o s a p ro p ó sito d o sen tid o C , dois o u tro s exem plos do
m esm o uso : “ P sy ch o lo g y a n d th e so called o b ject Sciences are b o th alik e ob jectiv e
in th e sense o f being tru e fo r a ll” (A p sic o lo g ia e a q u ilo a qu e c h am am o s as ciências
o b jetiv as são am b as ig u alm en te o b je tiv a s, n a m ed id a em que são v erd ad eiras p a ra
to d o s). Jam es Wτ 2 á , “ P sy ch o lo g y ” , n a Encicl. B rit., 9? edição, X X , 38 A . “ N o
n o sso co n h ecim en to em p írico co m o n a n o ssa ciência p o sitiv a , Ãζ ã E I « âà significa e
n ã o sig nifica o u tra coisa sen ão : independente da nossa espontaneidade individual.”
F . SiMLAND, “ M éto do histó rico e ciência social” , Revue d esynthèse historique, 1903,
I, p . 6.
M as poderíam os igualm ente trazer num erosos exemplos contem porâneos do sen­
tido B: BE 2 ; è ÃÇ , M atière et m ém oire, p. 42; P τ 2 Ãá« , L a philosophie contem po-
753 O B JE T O

do o segundo sentido só um interesse real, reso lv id a, a liá s, p o r ele p ró p rio n o sen ti­
tanto n a ordem do conhecimento como na d o d a n eg ativ a). Ib id ., liv ro II, cap . I e
da ação, não haveria inconveniente em pas­ II; cf. cap . X III, p . 351.
sar de um a ou tro, tal como se passava do O u tro s sen tid o s, m ais o u m enos a fa s­
sentido antigo ao sentido novo de m etafí­ ta d o s , fo ra m a in d a d ad o s a estas p a la ­
sica·. o sentido ontológico eliminar-se-ia por v ras: é assim que A u g u ste C o m te (cren ­
si mesmo com o tem po, um a vez que era d o , aliás, desenvolv er o sen tid o k a n tia ­
supérfluo. Aliás, ele não se prendia muito no destes term o s) d efin e o b jetiv o co m o
a dar aos term os um sentido único e defi­ “ a ex ata rep resen tação d o m u n d o re a l”
nido de um a vez por todas. M as a história (qu er dizer, com o o m o stram os exemplos
da filosofia e as suas próprias obras pare­ d a d o s, d o m u n d o tal co m o o rep resen ta
cem m ostrar que não é tão fácil eliminar o senso co m u m , re tific a d o pelas ciências
a idéia de coisa em si independente de qual­ d a n a tu re z a ), e o su b je tiv o p e la co n sid e­
quer conhecimento e não só deste ou da­ ra ç ã o “ d o s re su lta d o s n a tu ra is d a n o ssa
quele conhecimento individual (cf. Coisa, ev o lu ção m e n ta l, a o m esm o te m p o in d i­
E m si, N úm eno ). De fato , durante todo o v id u al e co le tiv a, d estin ad o s à satisfação
século X IX , n a França, encontra-se a par n o rm a l d e q u a isq u e r d a s n o ssas necessi­
do sentido critico de objetivo exemplos fre- d a d e s” . D iscurso sobre o espírito p o siti­
qüentes desta palavra usada no sentido on­ vo, § 20.
tológico: ver p. ex. F2 τ ÇT3 , artigo Obje­ V ê-se q u e c o n fu sã o re in a n o em p re­
tivo·, P. J τ ÇE I , Traité de ph ilo s., 4? ed., go deste te rm o . P ro p o m o s n ã o o em p re­
§ 662, 667, etc.; E . Bë 2 τ T , C o u rsd e p h i­ g a r se n ão n o sen tid o C , q u e r dizer, re d u ­
los., 18? ed., livro IV, cap. I, not. página zir sem p re a o p o sição d o su b jetiv o e d o
o b je tiv o à d a s id éias o u d o s fins so m en te
415, em que objetivo é tom ado como si­
in d iv id u ais e d a s id éias o u d o s fin s u m ­
nônim o de absoluto, etc.
v ersalm en te válidos (q u e r sejam o u n ã o
L« τ 2 á , em L a science p o sitive e t la
reco n h ecid o s c o m o ta is n o m o m en to em
m étaphysique (1879), que desem penhou
que se fala). E sta o p o sição é precisa, cen­
o papel quase que de um trata d o clássico
tra l, c o n fo rm e a o uso d o s h isto riad o res
de filosofia geral, entende, pelo contrá­
e d o s cien tista s; ela p e rm ite d istin g u ir o
rio , p o r “ leis objetivas d o conhecim en­
su b je tiv o d o o b je tiv o , n a m aio r p arte dos
to ” as leis constitutivas do espírito hum a­
caso s, p o r u m critério experiencial in co n ­
n o , graças às quais “ as sensações se to r­
testad o . E além disso co n tém v irtu alm en ­
nam objetos ao revestir as form as a priori
te tu d o o q u e h á d e só lid o n as o u tra s d is­
d a sensibilidade e do entendim ento” ; e
tinções às qu ais estas p alav ras fo ram ap li­
propõe-se exam inar “ se as leis objetivas
ca d a s. C f. Sinôm ico.
d o pensam ento não encerram o absolu­
R ad. int.: O b je k tiv ; D . O b je k tiv em .
to , se os princípios da física n ão condu­
zem quem os segue sem rodeios, para O B JE T O D . O bjekt, Gegenstand; E .
além do físico, ao m etafísico” (questão O bject; F . O bjet; I. O bbietto, oggetto.

raine en France, p. 487; e na obra de P au l DZ ú ÃÇI , L e s p róblém es d e la philoso-


p h ie, “ ob jetivo” é sempre utilizado p a ra designar a coisa em si desconhecida que
se m anifesta pelos fenôm enos. Se é desejável conservar esta palavra no sentido C,
e se se produziu um m ovim ento bastante geral nesta direção, não podem os no entan­
to dizer que o sentido ontológico de o bjetivo ten ha atualm ente desaparecido.

Sobre O bjeto — O sentido B torn ou-se, em inglês, o m ais usual, m esm o que o
não seja na linguagem técnica d a filosofia: object é quase sem pre tom ado no sentido
O B-REPÇA O 754

S entido gerai: o qu e está p e ra n te nós, D. A q u ilo que possui u m a existência


o q u e n ó s co n sid eram o s, o q u e te m o s em em si, in d ep en d en te d o conhecim ento ou
vista. d a idéia q u e o s seres pensantes disso p o s­
A . O q u e é p en sad o o u re p re se n ta d o sam ter. “ O b jectu m n o n p o te st secundum
e n q u a n to se distin g u e d o a to p elo q u ai é se esse p raesens intellectui n o stro , et ideo
p en sa d o . “ A lles, w as fü r die E rk e n n tn is req u iritu r species q u ae est praesens et sup-
d a ist, also d ie g an ze W elt, ist n u r O b ­ p let vicem o b je c ti.” D uns STÃI (citado
je k t in Beziehun g a u f d a s S u b je k t, A n s­ p o r E« è Â E 2 , sub Vo, 3? e d ., p . 913). “ E n ­
c h a u u n g des A n sc h a u e n d e n , m it einem q u a n to d u rm o , as m in h as idéias fo rm am -
W o rt, V o rste llu n g .” 1 ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , se em m im sem o concurso dos objeto s que
D ie W elt, I, § 1. A p a la v ra , neste caso , rep resen tam .” DE è Tτ 2 I E è , M editações,
n ã o im p lica n e n h u m a ex istên cia em si: III, 9. “ M uitas vezes observei q u e havia
d o n d e o sen tid o a n tig o d a s p a la v ra s ob­ u m a grande diferença entre o objeto e a sua
je tiv o , o b jetivam ente (ver O bjetivo, A ). id éia.” Id ., ibid. C f. O bjetivo, B.
B . A q u ilo q u e n o s p ro p o m o s atin g ir
NOTA
o u realizar ag in d o (cf. Idéia). “ P o d em o s
te r três p rin cip ais o b je to s n o estu d o d a O bjeto, nos sentid os A , C, D , opõe-se
verd ad e: u m , d esco b ri-la q u a n d o a p ro ­ a Sujeito, m as n ão n o m esm o sentid o des­
cu ram o s; o u tr o , d e m o n strá -la q u a n d o a ta p alav ra. O su jeito , e n q u a n to se o p õ e a
p o ssu ím o s; o ú ltim o , d iscern i-la d o falso o b jeto n o sentido A , é o esp írito em geral,
q u an d o a ex am in am o s.” P τ è Tτ Â , D o es­ o a to d e p en sar ta l q u e a reflexão desco­
p írito geom étrico, § 1. bre q u e ele está im plicado em q u alq u er re­
C . A quilo q u e nos é ap resen tad o n a p resen ta ção ; e o m esm o acontece n o sen­
percepção exterio r com u m c a ráter fixo e tid o D , a in d a qu e este seja m ais equívoco
estável, in d ep en d en te do p o n to de vista, a este resp eito. M as, n o sentido C , o sujei­
do s desejos o u das opiniões d o sujeito: to é u m espírito atu al, in div id ual, d eterm i­
“ O b je to em pírico: o b jeto m a te ria l.” “ É n ad o , percebendo e agindo p o r interm édio
unicam ente so b re o ta to q u e se f u n d a ... o de u m co rp o situ ad o n u m p o n to d eterm i­
a to que no s faz reconh ecer a identidade n ad o do espaço. A antítese é, p o rta n to ,
perm an en te de u m m esm o O bjeto, que se com pletam ente diferente. M as a confusão
representa aos nossos sentidos em dois tem ­ en tre as duas idéias é freqiiente. Ver
po s sep arad o s d a nossa ex istência.” Mτ «­ Sujeito.
ÇE áE B« 2 τ Ç , Fondem. de la Psychologie, Rad. int.: A . O bjekt; B. Skop; C . Koz;
D . E n su aj.
II, III, cap. 4. E d . N aville, II, p. 151.
O B -R E P Ç Ã O L. Obreptio (de obrepe-
re, introduzir-se fu rtiv am en te , su rp reen ­
1. “ T udo aq uilo que existe para o con hecim ento
der); te rm o ju ríd ic o an tig o , que designa
e, po r conseguinte, o m u ndo no seu to d o não é n ad a
senão ob jeto peran te um sujeito , visão daquele que vê, p ro p riam en te, no d ireito canônico, o fato
n um a palav ra, rep re sen tação .” de obter algum a coisa p artin d o de u m a ale-

de purpose ou end. E ste u so p arece vir das frases n as q u ais se fala d a coisa p a ra a
q u ai te n d em o desejo o u a v o n tad e. P o r exem plo , S. T o m ás de A q u in o escreve: “ O b ­
je c tu m eju s (sc. v o lu n tatis) est fin is.” C ontra gentiles, L X X II. A cerca do u so d esta
p a lav ra em g eral po d e-se v er sir W . H τ O« Â Ã Ç , n o ta s à ed ição d e R eid , p p . 807 ss.
I

(C . C. J. W ebb)
O sen tid o D é ev id en tem en te a b u siv o e d iretam en te c o n trá rio a o sen tid o etim o ló ­
g ico de o bjectum . E le im p lica a fa lsa te o ria d o c o n h ecim en to q u e K a n t ch a m a d o g ­
m atism o . ( J . Lachelier)
155 O B R IG A Ç Ã O

gação m al fu n d a d a ; p o r conseguinte, diz- III, 13. D e Oblig., pr. C f. POTHIER, Traiíé


se, em L ó g ic a, d a p etição de p rin cíp io : des obligations, a rt. p relim in ar. “ A o b ri­
“ O décim o ax io m a (de D escarte s) p eca, g ação é u m a relação ju ríd ic a en tre d u as
p o r assim dizer, p o r o b -rep ção , to m a n ­ pessoas, em virtu de d a q u al u m a delas,
d o co m o certo que a existência n ecessá­ cham ada credor, tem o direito de exigir cer­
ria e a existência p e rfe ita são u m a só e a to fato d a o u tra, ch am ad a devedor. A obri­
m esm a c o is a .” L « ζ Ç « U , C a rta a M ale-
E g ação te m , p o rta n to , co m o efeito ligá-los
b ra n c h e , em G erh., I, 338. C f. Sub- u m ao o u tro e fo rm a aq u ilo a q u e se cha­
repçõo. m a u m laço d e d ire ito .” P Â τ Ç« ÃÂ , Traité
de droit civil, 3? e d ., I , p . 678.
O B -R E P T ÍC IO L . O breptitius, o b ti­
A o b rig a ç ã o , assim e n te n d id a , c o m ­
do po r su rpresa ou p o r dissim ulação. E sta
p reen d e, p o r ta n to , a o m esm o tem p o , a
p a la v ra serve de a d jetiv o a ob-repção*,
n oção d e crédito e de dív id a; e é neste sen­
no sentido re s trito ; m as é ta m b ém u tili­
tid o q u e o s ju ris ta s em p reg am a fó rm u la
z a d a alg u m as vezes m ais la rg a m e n te , co ­
g eral: Teoria das obrigações ( P Â τ Ç « Ã Â ,
m o sin ô n im o d e su b -rep tício * .
ibid.). M a s, a m a io r p a r te d a s vezes, n ã o
O B R IG A Ç Ã O D . Verpflichtung ; E . se co n sid era a o b rig a ç ã o sen ão n o deve­
Obligation; F. O bligation ; I. Obbligazio- d o r e co m o ta re fa q u e lhe cab e. O c ó d i­
ne. go civil ale m ã o , p o r ex em p lo , “ d á m ais
A. P rim itiv am en te , laço de d ireito p e­p a rtic u la rm e n te o n o m e d e o b rig ação a o
lo qu al u m a pessoa está su b m etid a a o u ­ laço q u e p esa so b re o dev ed o r e pelo q u al
tra p a ra fazer ou n ã o fazer alg u m a coisa. ele é tid o co m o ex e c u to r” . S τ Â « Â Â è ,
E E

“ V inculum ju ris q u o necessitate adstrin - n o ta sob art. 341 d a tra d u ç ã o francesa do


gim ur alicujus rei so lv en d ae.” Institutes c ó d ig o c iv il a le m ã o , I , p . 3 5 5 .

S o b re O b rig ação — A rtig o in te ira m e n te re m o d elad o seg u n d o as o b serv açõ es de


L . Couturat, J. Lachelier e G. D avy.
T en d o sid o a ssin alad a a ex p ressão necessidade m oral na p ro v a d este artig o co m o
d efeitu o sa e eq u ív o ca, Lachelier o b je to u q u e h á u m a co rre sp o n d ê n c ia p e rfe ita en tre
a necessidade m oral, fu n d a d a n a lei m o ra l, a necessidade lógica, fu n d a d a nas leis
do p e n sa m e n to , e a necessidade física , fu n d a d a n as leis d a n a tu re z a . A q u ilo q u e tem
necessid ade m o ra l o u ló g ic a é livre, p o r o p o sição à q u ilo q u e é fisic am en te necessá­
rio ; e, in v ersam en te, p o d em o s libertar-nos d a necessid ad e m o ra l q u eren d o o m a l,
e d a n ecessid ade ló gica p e n sa n d o o falso .
M as n ã o ex istirá p recisam en te u m in co n v en ien te grav e em e n g lo b a r so b u m m es­
m o te rm o a q u ilo que a d m ite e a q u ilo q u e n ã o a d m ite a esco lh a e a lib erd ad e? O ale­
m ão o p õ e com g ra n d e n itid ez (pelo m en o s n a linguagem filo só fica e c o rre ta ) a idéia
d e sollen 1 e a d e m üssen1 23, a d e d ü rfen 3 e a d e kö n n en 4. P a re c e q u e h a v e ría g ran d e
v an tag em em e m p reg ar sem p re n o p rim eiro sen tid o o s te rm o s obrigação, obrigató­
rio, e n o seg u n d o o s term o s necessário, necessidade, c o m o isto se p a s s a j á d e fa to
n a m a io ria d o s caso s: d iriam o s m u ito p ro p ria m e n te q u e , se se c o n sid erar a lei ló gica
e n q u a n to ela p o d e ser v io lad a p o r aq u ele q u e ra c io cin a m a l, ela é c o n sid e ra d a en ­
q u a n to o b rig a tó ria , n ão e n q u a n to necessária . (A . L .)

1. O brigação.
2. N ecessid ade inevitável.
3. P o ssib ilid a d e m o ra l, perm issão.
4. P o d e r, po ssib ilid ad e d e fa to .
O BSCU RA N TISM O 756

D e onde o sentido especial de com prom is­ co n stran g er. “ O b rig ar u m a criança a tr a ­
so assum id o, de dívida, e as m etáfo ras d a b a lh a r .” N a lin g u ag em p o p u la r, obriga­
linguagem co rren te que d aí derivam : “ T er d o e obrigatório sã o m esm o em p reg ad o s
u m a o b rig a ç ã o p a ra co m alg u ém , ser seu co rre n te m en te em vez d e necessário, in e­
d ev ed o r ( = reco n h ecer p a ra co m ele u m a vitável: “ U m a co n seq ü ên cia o b rig a tó ­
dívida d e reco n h ecim en to ), e tc .” r ia .” “ É o b rig a tó rio q u e isto q u e b re .”
B . Obrigação m oral: aq u e la q u e n ã o H á em to d o s estes fa to s sem ân tico s u m a
re su lta d e u m a c o n v en ção , m as d a n a tu ­ ten d ên cia m u ito lam en táv el p a ra a co n ­
reza d o h o m em , e n q u a n to ser cap az d e fu sã o d e d u a s id éias q u e im p o rta d istin ­
esco lh a e d a existência d o b em e d o m al; guir bem ; e esta co n fu são é tan to m ais pe­
c f . D ever. É o b rig a tó rio a q u ilo q u e , m a ­ rig o sa q u a n to m ais fa v o re c id a, p o r o u ­
terialm en te, p o d e ser feito o u n ã o ser fei­ tr o la d o , p elo em p reg o d a expressão ne­
to , m as q u e é ta l q u e o ag en te n ã o p o d e cessidade moral* no sentid o de obrigação.
o m itir a su a efe tu a ç ão sem se to r n a r cul­ R ad. in t .: O blig.
p a d o . A obrigação, neste se n tid o , o p õ e-
se à necessidade*, q u e r d izer, à q u ilo que O B S C U R A N T IS M O D . Obskurantis­
é de tal m an eira, que é ab so lu tam en te im ­ m u s ; E . O bskurantism ; F . Obscurantis­
possível à v o n ta d e d e la se s u b tra ir. mo, I. O scurantism o.
C . A to q u e é o b je to de o b rig a ç ã o nos T e rm o p e jo ra tiv o , q u e serve p a ra de­
sen tid o s A e B. N esta acep ção em p reg a- sig nar u m a d o u trin a e u m a po lítica o p o s­
se m u ita s vezes n o p lu ra l. tas a o “ p ro g resso d as lu zes” , q u e r dizer,
à d ifu sã o em to d a s as classes sociais dos
NOTA
con hecim ento s científicos e d a a titu d e ra ­
Obrigação diz-se às vezes, p o r ab u so , c io n alista q u e elas exigem .
d aq u ilo q u e se é lev ad o a fazer, n ã o d e E ste te rm o é assin a la d o p o r L n rR É
u m a m a n eira ab so lu ta m e n te irresistív el, co m o u m neolo gism o. N asceu n a A lem a­
m as p o rq u e n ã o o fazen d o se ch eg aria a n h a n o século X V III so b a in flu ên cia d o
co nseqüências ju lg a d a s a in d a pio res. A ufklärung·, p arece ter-se ex p an d id o n a
Necessidade*, e necessidade m oral*, F ran ça, n a época d a R estauração, nas p o ­
dizem -se ta m b é m neste sen tid o . M as n ã o lêm icas so b re o en sin o p o p u la r.
p erten cem p ro p ria m e n te à lin g u ag em fi­
lo só fica. O B S C U R O D . Dunkel·, E . Obscuro,
N a lin g u a g e m c o r r e n te , o b r ig a r F . O bscur, I. Oscuro.
p ren d e-se m u ita s vezes ao sen tid o de *I, V er Claro, D istinto, C onfuso.

S o b re O b scu ro — D escarte s n ã o d efin e a id éia obscura, m as fo rn ece os elem en ­


to s d e u m a d efin ição . “ O s filó so fo s” , d iz ele, “ a o te n ta re m explicar atrav és d a s re­
g ras d as su as ló gicas co isas q u e são m a n ife sta s p o r si p ró p ria s, a p e n a s as to m a ra m
obscuras.” Princípios, I, 10. D esta fo rm a , é ob scu recer o C ogito co lo cá-lo so b fo r­
m a silogística. O s ax io m as n ã o se d em o n stra m : “ É m an ifesto p o r u m a luz q u e está
n atu ralm en te nas nossas alm as que o n a d a n ã o tem n en h u m a p ro p rie d ad e, etc. ’ ’ ( ibid.,
I, 11). A o b sc u rid a d e re su lta a q u i d e a in tu iç ã o se r s u b stitu íd a p elo racio cín io .
P o r o u tro la d o , os p reco n ceito s o b scu recem as noções claras. E p reciso , p o r ta n ­
to , d esem b araçar os no sso s p en sam en to s dos p reco n ceito s que os m ascaram . A id éia
de dor é c lara, ap esar de co n sistir n u m sen tim en to o u n u m “ p e n sa m e n to c o n fu s o ” .
O q u e é c la ra é a im p ressão , a co n sciên cia; o q u e a o b scu rece é a in te rp re ta ç ã o : p o r
ex em p lo , a su a lo calização n u m m e m b ro . A id éia d e co r é c la ra e n q u a n to sen sação ,
m as a cren ça d e que a co r su bsiste fo ra de n ó s e é sem elh an te à id éia q u e d ela
757 OBSCURO

A . L ó ; « Tτ I E ó 2 « Tτ . (q u er seja sim ples ou co m p o sta) se n ão


1. P a r a LÃT3 E , as id éias sim ples são é su ficiente p a ra fazer reco n h ecer o seu
o b scu ras: 1?, se se tr a ta d e o b je to s p re ­ o b jeto . “ Obscura est n o tio quae non suf-
sen tes, q u a n d o os ó rg ã o s q u e os perce­ ficit a d rem re p ra e se n ta ta m agnoscen-
b em são im p erfeito s, o u q u a n d o os o b ­ d a m , v elu ti si u t c u m q u e m em in erim ali-
je to s ap en as lhes cau sam im p ressõ es fr a ­ cu ju s flo ris a u t an im alis visi, n o n tam en
cas e tra n sitó ria s; 2?, se se tr a ta d e o b je ­ q u a n tu m satis est u t o b la tu m recognos-
to s le m b rad o s p ela m e m ó ria , q u a n d o es­ cere et a b aliquo vicino discernere possim ;
ta n ã o co n serv a deles o c a rá te r claro e vel si co n sid erem aliq u em te rm in u m in
c o m p leto q u e tin h a m p rim itiv am en te. scholis p a ru m explicatu m , u t entelechiam
“ E n q u a n to lhes fa lta r essa e x a tid ã o o ri­ A risto telis... aliaque eju sm o d i, d e quib u s
ginal, o u q u a n d o perd erem , p o r assim d i­ nullam certa m definitio nem habem us: un-
z er, a s u a p rim e ira frescu ra, e estiverem d e p ro p o sitio q u o q u e o b s c u ra fit, q u a m
c o m o q u e ap a g a d a s e m u rch as p elo tem ­ n o tio ta lis in g re d itu r.” M editationes de
p o , elas serão o b s c u ra s .” LE « ζ Ç« U , N o ­ cogitatione, e tc ., § 2. C f. N o v o s ensaios,
v o s ensaios, liv ro II, cap . 29, § 2, tr a d u ­ I I , 29, 2 , e D iscurso d e m etafísica, 24.
z in d o LÃT3 E , A n Essay, ibid. A s idéias B. Â ó ; « Tτ τ ú Â « Tτ áτ .
com plexas são o b scu ras q u a n d o são com ­ 3. S egundo C. S. P E « 2 TE , u m p en sa­
p o sta s p o r id éias o b scu ras o u q u a n d o o m en to é o b sc u ro se n ã o se p o d e sab er d e
n ú m e ro e a ord em d as id éias q u e as com ­ m an eira d eterm in ad a que fato s ele im plica
p õ em são in d e te rm in a d o s (ibid ). ou q u e a to s ele c o m a n d a . (V er P E « 2 TE ,
2. P a r a LE « ζ Ç« U , um a idéia é obscura “ C o m o to r n a r claras as no ssas id éias” ,

tem o s ob scu rece esta id éia (P rincipios, 1 , 66, 67, etc.). É o b sc u ro ( p a ra a ra z ã o ) tu d o


o q u e vem d o s sen tid o s, d a im ag in ação o u d a m e m ó ria , tu d o o q u e é factício o u
adv en tício . É claro o que o esp írito a p re e n d e d ire ta e ev id en tem en te. A id éia v u lg ar
d o co rp o é o b sc u ra , a d o filó so fo é c lara. (F. M en tré)
A d efin iç ão p ra g m a tista d e P eirce p arece-m e to ta lm e n te co n te stá v el e se p resta
a n u m ero so s equ ív o co s. (L . Boisse)
E sta defin iç ão n ã o é v á lid a sen ão p a r a o s p e n sa m e n to s trad u zív eis em fa to s ou
em a to s. (F. M en tré) A tese d e P eirce é p recisam en te q u e q u a lq u e r su p o sto p en sa­
m en to que n ã o p o ssa traduzir-se em fato s o u em ato s é u m sim ples psitacism o. (A. L .)
E xtrato da discussão da sessão de 11 d e ju lh o de 1912:
L . Brunschvicg: A s d efin içõ es d e D escarte s, d e L o ck e e d e L eib niz têm apenas
u m in teresse h istó ric o . O bscuro n ã o é u m te rm o técn ic o d a filo so fia e n ã o c o m p o rta
n e n h u m a explicação. E u p ro p o n h o a su p ressão deste a rtig o , q u e é u m belo exem plo
d e obscurum p e r obscurius.
A . L alande : P arece-m e, p elo c o n trá rio , q u e obscuro è n ã o so m en te u m term o
c o n sa g ra d o p e la ate n ç ã o q u e lh e d isp en saram os filó so fo s clássicos, m as ta m b ém a
ex p ressão de u m a id éia m u itíssim o necessária n a crítica d as d o u trin a s e d a lin g u a­
gem filo só fic as. A an álise d a clareza e o b sc u rid a d e te n ta d a p o r P eirce, q u e é c o n ­
te m p o râ n e a , m o s tra q u e a q u estão a in d a se p õ e e p arece-m e d e fin ir u m excelente
p o n to d e vista.
L . Brunschvicg: M as n ã o se p o d e ad m itir q u e to d a id éia se ju lg u e p e la p ercep ção
o u p ela ação ; e, além disso , esta fó rm u la su p õ e q u e h a ja n o çõ es o b scu ras em si m es­
m as, o q u e n ã o aco n tece: u m a id éia n u n c a é o b sc u ra sen ão em re la ç ã o a tal o u
tal a titu d e . O q u e é claro p a r a u m e sp írito n ã o o é p a r a o u tro , p o r desconhecer
O BSCURO 758

R evu e philosophique, ja n e iro d e 1879.) que a critica, a p re se n ta a su a p ró p ria d e ­


C. P è « TÃÂ Ã; « τ . finição com o co n fo rm e ao uso de D escar­
F a la n d o d o s estad o s o u dos a to s do tes {ibid. , § 4).
esp írito, sinônim o de subcon sciente ou de 2. U m a d efin ição d e o b sc u rid a d e , do
in consciente. p o n to de v ista p rá tic o e ap licad o , p o d e ­
ria ser tirad a, p o r oposição, d a análise fei­
NOTAS
ta p o r H E 2 ζ τ 2 I d as co n d içõ es necessá­
1. D E è Tτ 2 defin e a id éia clara de
IE è rias p a ra a clareza do en sin o : p a rtir do
m an eira u m p o u c o d iferen te de LE « ζ Ç« U : estad o de esp írito atu al dos ouvintes, p re­
“ o co n h ecim en to que está p resen te e m a ­ ver e re tificar as representações errô n eas,
n ifesto n u m esp írito a te n to ” ; e d á com o fo rm u la r an te c ip a d am e n te o fim q u e se
exem plo u m a d o r, q u e é c la ra , diz ele, visa, ligá-lo a um in teresse, div id ir as d i­
sem ser d istin ta , q u er d izer, sem que sai­ ficuldades, assegurar-se de que cad a p o n ­
b am o s a o certo em que é que ela consiste to foi co m p reendid o an tes de passar a um
(Princípios , 1 ,45). M as n ão define a idéia o u tro , m o s tra r tu d o a q u ilo q u e p o d e ser
o b scu ra e é b a sta n te difícil to m a r o o p o s­ o b jeto d e in tu ição , ir d o co n creto a o ab s­
to d a fó rm u la com que defin e a idéia cla­ tra to e voltar do ab strato ao concreto. Ver
ra . LÃT3 E p arece ter tid o a in te n ç ã o de especialm ente A llgem eine Pädagogik , II,
p reen ch er esta lacu n a. E n tre ta n to , L eib ­ cap. IV .
niz, n a p assag em dos N o v o s ensaios em Rad. int.·. O b sk u r.

tal fa to ou p o r n ão p o ssu ir c e rta o rd em de co n h ecim en to s q u e seriam n ecessário s


à co m p reen são d aq u ilo de q u e se tra ta .
Ed. L e R oy: A s id éias são claras ou o b scu ras co n fo rm e se vê o u n ão se vê o seu
c o n te ú d o . M as esta d iferen ça é in d iv id u al. E xiste u m a ce rta co m o d id a d e pro v en ien -
- te d o h á b ito q u e faz com q u e se ache claro o que o u tro s ju lg a m o b sc u ro . Id éias que
n o s parecem h o je c o m p letam en te claras, em g eo m etria an alítica, em cálculo in fin ite ­
sim al, fo ra m p rim e iro ju lg a d a s m u ito o b scu ras.
E. M eyerson: Eis, p o r ex em p lo , u m físico q u e faz u m a co n fe rê n cia n a q u al se
e n co n tram u m a p arte m atem ática e u m a p a rte ap licad a, p rática. O s m ate m ático s que
a escu tam a c h a rã o a p rim eira c la ra e a seg u n d a o b sc u ra ; será o in v erso p a ra os in ­
d u striais ou p a ra os en g en h eiro s que ele tiv er n o seu au d itó rio .
L . C outurat: C h am am o s claro a o que nos p ro p o rc io n a c e rta sa tisfa ç ã o in telec­
tu al e estética qu e d ep en d e dos nossos conhecim ento s e dos nosso s h áb ito s an terio res.
A. Lalande: T u d o isso é m u ito v erd ad eiro ; m as aco n te ce que u m a linguagem p o ­
d e ser o b sc u ra p a ra aqu eles m esm os ao s quais é d e stin a d a , p a ra aq u eles que são in s­
tru íd o s e co m p ete n te s n a q u estão ; e, neste caso , a o b scu rid ad e p ro v ém do o ra d o r
ou do escrito r e n ã o d o seu p ú b lico . A ssim , idéias m al o rd e n a d a s, expressões e n re d a ­
d as, vagas, an fib ó licas são sem pre o b scu ras p o r si p ró p ria s. L igações sem sen tid o
ou au sên cia d e ligações resu ltam n u m desen v o lv im en to o b scu ro .
Ed. L e Roy: P od em o s sem d ú vid a ad m itir q u e as qualificações de claro e de obscu­
ro p o d em ser aplicadas o b je tiv am en te , m as com a co n d ição de defin irm os an tecip ad a­
m ente com precisão a o rd em em que nos en co n tram o s, a in ten ção q u e tem os. N a o r­
dem d a ação será d ito claro o que é fácil de reter e de utilizar, o b scu ro o que n ão ap re­
senta essa facilid ade; e h av erá do m esm o m o d o definições especiais d a o bscurid ade n a
o rd em do con hecim ento sensível, n o d o conhecim ento m ate m ático , etc.
J. Lachelier: D ever-se-ia esp ecialm ente se p a ra r d esd e logo d u as questões: p o r um
la d o , o p ro b le m a de ló gica p u ra ou m etafísica, ta l co m o se a p resen tav a p a ra Des-
759 OBSERVAÇÃO

O B S E R V A Ç Ã O D . Beobachtung·, E . 1865) d efin e em p rim e iro lu g ar a o p o si­


Observation·, F . O bservation ; I. Osser- ção en tre o b serv ação e experiência pelo
vazione. fa to de se in terv ir ou n ã o (ibid., liv ro I,
U m a das fo rm as d o co n h ecim en to cap . I: “ D a o b serv ação e d a ex periên­
experiencial* : opõe-se a experimentação* c ia ” ); d ep o is re to m a essa d efin iç ão p a ra
(ou a experiência* no sen tid o D ). a p recisar e a c a b a p o r ch eg ar a u m a f ó r­
A o p o sição e n tre o b serv ação e expe­ m u la m ais com plexa: a experiência é q uer
rim en tação é d efin id a diferen te m en te p e­ “ u m a observação p ro v o cad a com u m fim
los a u to re s que a re ssa lta ra m . d e c o n tro le ” (q u er d izer, p a ra saber se
A . P a r a Z « OOE 2 Oτ ÇÇ ( Traité de u m a hipótese é v erd ad eira ou falsa), quer
l ’expérience en général et en particulier “ u m a o b serv ação in v o c a d a com u m fim
dans l ’art de guérir, 1763) e p a r a SE ÇE - de c o n tro le ” , quer “ u m a observação p ro ­
BIER ( L ’art d ’observer, 1802), existe ob ­ v o c a d a com o fim de fazer n ascer u m a
servação q u a n d o n o s c o n ten tam o s com id éia” . Ibid.
c o n sta ta r os fa to s tais co m o se ap resen ­
ta m e sp o n ta n e a m e n te, experiência se in ­ CRÍTICA
te rv im o s de m a n e ira ativ a p a ra os m o d i­ N ó s p en sam o s q u e a d istin ção essen­
ficarm o s e p a ra v erm o s o que re su lta rá cial aqui é a d a sig n ific ação sin g u lar o u
d essa m o d ificação . V er as o b serv açõ es. d a sig n ificação g eral d o fa to p erceb id o .
B . C lau d e BE 2 Çτ 2 á (Introduction à Existe o b serv ação (e é n o fu n d o , sem d ú ­
l ’étude de la médecine expérim entale, v id a, a id éia de C la u d e B ern ard ) en q u an -

cartes o u L eib n iz , com v ista a a n a lisa r o real e estab ele cer u m crité rio d a v erd ad e;
p o r o u tro la d o , o p ro b le m a d e ló gica a p lic a d a , d e m é to d o p rá tic o , q u e co n siste em
p ro c u ra r q u e co n d iç õ es deve p reen ch er u m a ex p o sição p a r a ser in telig ível e m esm o ,
se possível, facilm en te assim ilável.
N ó s seguim os esta in d icação n a re d a ç ã o d efin itiv a deste artig o .
S o b re O b serv ação — A p resen tei n o tex to o sen tid o d e Z im m e rm a n n e de C lau d e
B e rn a rd a m ajore parte·, m as, n a re a lid ad e, n u m e n o u tr o , existe u m uso b a sta n te
co m p lex o d o te rm o ; Z « OOE 2 Oτ ÇÇ diz ta m b é m , n o sen tid o q u e C l. B ern ard a c a b a ­
r á p o r co n sid e ra r c o m o p re p o n d e ra n te : “ U m a ex p eriê n cia d ifere d e u m a o b serv ação
n a m edid a em que o conhecim ento que u m a o bservação nos fornece parece apresentar-
se p o r si p ró p rio , e n q u a n to q u e aq u ele q u e u m a ex p eriên cia nos fo rn ece é o fru to
d e a lg u m a tentativa que se faz co m o desígnio de saber se um a coisa é ou não é.
U m m édico q u e reg istra to d o o cu rso d e u m a d o en ça com ate n ç ã o faz, p o rta n to ,
o b serv açõ es; e aq u ele q u e , n u m a d o e n ç a , a d m in istra u m rem éd io e a te n ta ao s efeito s
q u e ele p ro d u z , faz u m a ex p e riê n c ia.” T ra ité d e 1‘expérience, tra d . fra n c e sa , p . 43.
A p rim e ira m e ta d e d esta c itação é re p ro d u z id a p o r C l. B e rn a rd , q u e a critica, a in d a
q u e se ap ro x im e m u ito d a su a te o ria ; sem d ú v id a p o rq u e o c o n tex to p o d e p arecer
fav o ráv el a o m éto d o clínico, q u e ele p ro c u ra c o m b a te r acim a d e tu d o , e n ã o lhe p a ­
rece v isar co m su fic ie n te n itid ez a m ed icin a d e la b o ra tó rio .
S o b re O b serv ação e E x p eriên cia — Observação d esig n a n ã o so m en te u m a o p e ra ­
ç ã o o u u m c o n ju n to d e o p eraçõ es q u e se p o d em m ais o u m en o s a rtificialm en te o p o r
à experiência o u e x p erim en tação , m as ta m b é m o p ró p rio a to de o b se rv a r, q u er d i­
zer, u m m om en to n ecessário em q u a lq u e r o p e ra ç ã o ex p erim en ta l. E ste a to n ã o m u ­
d a de c a rá te r, q u e r te n h a p o r o b je to fa to s n a tu ra is o u fato s ex p erim en ta d o s. P o r
ex em p lo , P a s te u r “ o b se rv a ” q u e n a experiência de P o u c h e t se atrav esso u a su p erfí­
cie d o m ercú rio in tro d u z in d o o ra m o d e ervas secas, assim com o “ o b se rv a ” a co r
OBSERV AÇÃ O 760

to nos lim itarm o s a c o n sta ta r aq u ilo que p e rim e n ta d o r fala de u m fen ô m en o , co ­


se p asso u tal d ia em tais circu n stân cias; m o o fen ô m en o de H a ll o u o fen ô m en o
existe experiência (experim entação) q u a n ­ de Z eem an n , ele n ã o tem p o rta n to de fo r­
d o o b serv am o s com v ista a sab er “ o que m a a lg u m a em v ista ta l a co n tecim en to
se p a ssa ” (no sen tid o in tem p o ral), q u a n ­ p a rtic u la r, o c o rrid o com este ou aq u ele
d o co n sid eram o s o fa to p erceb id o co m o in d iv íd u o n o p a ssa d o , m as q u alq u er co i­
m anifestação de um a pro p ried ad e fixa, de sa que a c o n tecerá com certe za n o fu tu ­
u m a lei. E ste p o n to d e v ista foi ex p o sto r o , p o r q u em q u er q u e se co lo q u e em d e­
com g ra n d e v ig or n u m a rtig o d e C h . S. te rm in a d a s co n d iç õ e s.” U m fen ô m en o
S. P E « 2 TE , “ W h a t P ra g m a tism is ” {The ex p erim en ta l é o fato de q u e, se ag irm o s
M o n ist, ab ril de 1905). A s co n d içõ es de s e g u n d o c e r to e s q u e m a d e f in id o ,
u m a experiência, diz ele no essencial, são: p ro d u zir-se-á e n tã o q u a lq u e r co isa m ais,
1 ?, u m e x p erim en tad o r; 2?, u m a h ip ó te ­ q u e d e cid irá a q u estão “ co m o o fo g o do
se, q u er dizer, u m a id éia q u e an u n cie qu e céu descendo so bre o a lta r de E lia s” . C f.
em tais condições se p ro d u z ta l fa to ; 3?, H istória (tex to e o bservações).
u m a d ú v id a sin cera so b re a valid ad e d es­ P are c e co n tu d o im p o ssív el, em v irtu ­
sa h ip ó te se; 4 ? , u m a o p e ra ç ã o p ela q u al de de um uso m u ito geral, reservar exclu­
se desco b re o n d e se p ro d u zem as c o n d i­ siv am ente a este caso “ ex p eriên cia” ou
ções su p ra d ita s; 5 ?, a reação dos fa to s, “ ex p e rim e n ta çã o ” . V er as o b serv açõ es.
que resp on de à qu estão. “ Q u an d o u m ex­ R a d. int.·. O b serv ad .

diferente do solo no p o n to on d e se e n te rra ram anim ais m o rto s pelo carb ú n cu lo . O espí­
rito ou o ta len to “ de o b serv ação ” deve assim definir-se in dependentem ente d as suas
fo rm as de aplicação. D e resto , é m u ito p rovavelm ente este sentido ( = a to d e o b servar),
que constitu i o cen tro d as idéias de Cl. B e m a rd , p o rq u e , ap esar d e certa oscilação n a
ap licação , em v irtu d e d a p en etração recíp ro ca das diferentes questõ es q u e se sucedem
n o 1? c a p ., liv ro I, d a Introdução, Cl. B ern ard q u er dizer antes d e tu d o q u e a “ o b ser­
v ação ” é o m o m en to d e co n sta ta ç ã o , p o r oposição à “ exp eriência” , que é a in fo rm a ­
ção resu ltan te d o tra b a lh o de co n fro n ta ç ão das co n stataçõ es. (Aí. Dorollé)
A d istin ção in d ic a d a n a C rític a en tre os caso s em q u e se c o n sta ta m fa to s sin g u la­
res e aq u ele em q u e se c o n sid e ra o fa to p erceb id o co m o a m a n ife sta ç ão de u m a lei
p arece-m e co m e feito essencial. M as n ã o m e p arece possív el reserv ar a p a la v ra “ o b ­
servação” p a ra o prim eiro caso e a p alav ra “ experiência” p ara o segundo. C o m efeito:
a) O c ien tista o b serv a, m esm o n o seg u n d o caso , q u a n d o c o n s ta ta “ a re a ç ã o d o s f a ­
to s , q u e resp o n d e à q u e stã o ” e q u a n d o se d ed ica a e stu d a r a re sp o sta d a n a tu re z a
e a “ n ã o resp o n d er p o r e la ” , segundo as palavras d e C lau d e B ernard; b) E x p erim en ta­
se p o r vezes p a r a p ro c u ra r a cau sa d e u m fa to sin g u lar: o m eu reló g io p a ro u ; e sta rá
q u e b ra d o ? D esm o n to -o p a r a sa b e r. N ã o é isto u m a experiência? (/?. Daude)
O fa to de a o b serv ação assim d e fin id a ser u m m o m e n to n ecessário d a experiência
n ã o se ria re d ib itó rio ; m as a seg u n d a ra z ã o in d ic a d a p o r D a u d e p arece-m e, co m efei­
to , m o stra r u m a u tilização d a p a la v ra q u e n ã o deve ser c o m b a tid a . V er Experiência,
o b serv açõ es. ( A . L .)
A o p o sição e n tre o b serv ação e experiência d esap arece, o u p elo m en o s to rn a-se
secu n d ária, q u a n d o se d istin g u e a observação co m u m d a observação m etódica. A
p rim eira n ã o é sen ão o sim ples exercício e sp o n tâ n e o d o s sen tid o s; a seg u n d a é esse
m esm o exercício assistid o com m eio s esp eciais q u e a u m e n ta m o seu alcan ce, q u e lhe
co rrig em as im p erfeiç õ es, atra v é s d e racio cín io s q u e o v alo rizam , seg u n d o reg ras ló ­
gicas co n sta n te s, graças à esco lh a dos o b je to s e d a s co n d içõ es o p o rtu n a s d o exam e.
761 “ O BSTRU TIV O ”

O b servação in te rn a Ver Introspecçõo. do fig u ra d o (m u ito u su a l), aq u ilo q u e se


im p õ e in d iscreta m en te . F o i utilizado p o r
O B S E S S Ã O D . Belagerung·, E . Ob-
W. H τ O« Â I ÃÇ p a ra m a rc a r o caráte r psi­
session ; F . Obsessiorr, 1. Ossessione.
coló gico d a id éia de A b so lu to , e n q u a n to
P resença n o espírito de u m a represen­
ta ç ã o , de u m a associação de idéias, ou de ela ch o q u e o esp írito de u m a m an eira
u m a p reo c u p a ç ão que ap arece sem ces­ m ais in c ô m o d a e m ais b ru ta l do que a de
sa r, à q u al vão d a r to d a s as asso ciações Infinito* n as representações em que é p re­
e d e que a v o n ta d e só co nsegue se a fa s­ ciso escolher entre u m a e o u tra; p o r exem­
ta r m o m en tan eam en te. p lo , no p ro b le m a d a cau salid ad e (com e­
Sobre a diferença en tre idéia fix a p ro ­ ços ab so lu to s ou reg ressão a o in fin ito ).
p ria m e n te d ita e o b sessão , v er J τ ÇE I , “ In d eed , as n o t obstrusive, th e In fin ite
L es névroses, cap. I. figures fa r less in th e th e a tre o f m in d ...
R ad. int.\ O bsed. th a n th e A b so lu te. It is in fa c t, b o th d is­
“ O B S T R U T IV O ” E . O bstrusive (á t ta n t an d delitescent; an d in place o f m ee­
to obtrude. L. O btrudere , e m p u rra r com tin g us a t every tu rn , it req u ires som e
fo rç a , im p o r); F . O bstrusif. E ste te rm o ex ertio n o f o u r p a rt to seek it o u t. It is
p erten ce no inglês à língua c o rre n te , em th e fo rm er an d m o re o b stru siv e extrem e
q u e design a a q u ilo q u e se a d ia n ta ou so ­ — it is th e A b so lu te alo n e w hich c o n sti­
bressai de m a n eira in cô m o d a; n o senti- tu te s an d explain s th e m e n ta l m an ifesta-

Q u a n d o se fa la de o b serv ação científica n ã o se p o d e v isar sen ão a seg u n d a, q u e , p o r


co n seq u ên cia, n u n c a é efetiv am en te p assiv a, m as im p lica sem p re u m a intervenção
nos fato s e é ta m b ém sem p re u m a experiência. (C. R a n zo li )
T e n h o alg u m a d ificu ld ad e em crer q u e a o b serv ação te n h a p o r o b je to ap en as o
p a rtic u la r, o co n tin g en te e o acid e n ta l; e a e x p erim en tação , o g eral e o necessário.
N ã o se vê q u e a p sicolo gia seja m en o s áv id a de leis d o q u e a física: u m a o b serv ação
c ie n tífica d ig n a desse n o m e u ltra p a s s a sem p re o concreto -puT o. Se ela n ã o vai m ais
lo n g e q u e a “ sig n ific ação sin g u la r” , é p o rq u e se c o n fu n d e com o co n h ecim en to v u l­
g a r, e e n tã o , n e ste caso , n ã o in teressa a o filó so fo . (L. Boisse)
A estas o b serv açõ es re sp o n d o q u e é preciso d istin g u ir. Se se tr a ta d o u so co rren te
d a p alav ra o b servação, é certo q u e este p o d e, n u m g ran d e nú m ero de casos, em p regar-
se in d ife re n te m en te n o lu g ar d a p a la v ra ex p eriê n cia. M as o q u e eu qu is ressaltar nes­
ta crític a é a existência de u m a d istin ção de id éias im p o rta n te e c e n tra l, à q u al se
p o d e ria m red u zir as distin çõ es sem p re u m p o u c o o b scu ras q u e se te n to u estabelecer
e n tre estes dois te rm o s. E s ta d istin ção é, aliás, c o n fo rm e a o u so cie n tífic o d o term o :
n u m a série de experiências, ch am a-se m u ita s vezes observação (o u leitura se se tr a ta
d e m ed id as) c a d a u m a d as c o n stataçõ es sin g u lares q u e tra z e m , p o r assim d izer, u m a
d a ta e u m n ú m e ro de o rd em q u e se reg istram n o p ró p rio c a d ern o d e experiências
e c u ja c o m p a ra ç ã o ou m éd ia d a r á a re sp o sta à q u e stã o p o sta n o in ício d a in vestig a­
ção . U m “ o b s e rv a tó rio ” a stro n ô m ic o , m e teo ro ló g ico , m etro ló g ico (p o r ex em p lo , o
B u reau in tern a c io n a l d e peso s e m ed id as) é cara c teriz a d o p elo estu d o e reg istro de
fa to s d a ta d o s relativ o s a d e te rm in a d o a s tro o u p o n to d a a tm o sfe ra , a tal term ô m e­
tro , o u ta! q u ilo g ra m a p a d rã o d o s q u ais se tr a ta d e d e te rm in a r as características. C f.
igualm ente a expressão “ esp írito o b se rv a d o r” . M as a o in d icar esta d istin ção tã o fu n ­
d a m e n ta l d o p o n to d e vista ló gico n ã o se p o d e p ro screv er o sen tid o v ag o d a p alav ra
observação, q u e p erten ce à lin g u ag em m ais c o rren te. (A . L .)
OBVERSÃO 762

tio n s o f th e causal ju d g e m e n t.” ' Discus- Ó B V IO (d o L . obvius, q u e se en c o n ­


sions on P hilosophy, ap ên d ice I, “ O n tra n o cam in h o ; p o r conseguin te, q u e se
P h ilo so p h y ” , A (1? edição, p . 593). É p a ­ oferece p o r si); D. O /fenbar, E. O bvious
ra escap ar a este ca rá te r “ o b stru tiv o ” do (sem p re m u ito u sual); F. Obvie-, I. O vvio
A b so lu to e n q u a n to com eço a b so lu to no (geralm ente com u m a carg a p ejo rativ a).
te m p o , q u e ad m itim o s a lei d a cau salid a­ Term o d e filo so fia esco lástica, d u ra n ­
d e , com a su a reg ressão a o in fin ito , n ã o te m u ito tem p o caíd o em d esuso em fra n ­
m en o s in intelig ível, n o fu n d o , m as que cês, m as q u e v o lto u a se r u tiliz a d o desde
n ã o se im p õ e de m an eira tã o saliente, tã o o início d o século X X , p rim eiro em casos
im e d iata. C f. D issertations on R eid , H , b astan te raros, depois d e m aneira corrente.
§ 2 ( R e id ’s W orks, t. I I , 937) e Lectures O que se oferece espontaneam ente ao
on M etaphysics, lição X L . espírito; o que é claro p o r si pró prio ou
L em b ro -m e d e ter o u v id o BÃZ I 2 o u x parece sê-lo, porq ue esta palavra não ex­
e m p reg ar esta p a la v ra n a s su as au las n a clui a idéia de que tu d o aquilo que apre­
S o rb o n n e em 1887-1888. É um te rm o cô ­ senta um a imediatidade aparente possa ser
m o d o e ú til d e se co n serv ar: é difícil objeto de um a crítica ulterior. “ O que p a ­
su b stitu í-lo d e o u tra m a n e ira que rião se­ recia talvez óbvio aos contem porâneos de
ja p o r u m a lo n g a p erífrase. S. Tomás n ão nos parece hoje nem claro
O B V E R S Ã O D . Obversion; E . Ob- nem simples nem m esm o verdadeiro!’ Ed.
version·, F . Obversion-, I. sem e q u iv a ­ LE RÃà , L e p ro b lèm e de Dieu, p. 17.
lentes. Rad. int.-. O bvi.
O p eração lógica, u m a das espécies de O C A S IÃ O D. Veranlassmg, Gelegen-
in ferên cia im ed iata. C o n siste em su b sti­ heit; E . Occasion; F. Occasion; I. Oc-
tu ir o p red icad o pelo seu c o n tra d itó rio e casione.
em m u d a r co rrelativ am en te a q u alid ad e A . C ircu n stân cia q u e p rovoca, p erm i­
d a p ro p o sição . te o u facilita a p ro d u ç ã o de um efeito p o r
E x.: T o d o S é P = N enhum S é n ã o P . u m a causa.
A lg u n s S n ã o são P = A lg u n s S B. S in ô n im o de causa ocasional*.
são n ã o P, C R ÍT IC A
A contraposição* p o d e ser co n sid era­ N o c o n ju n to de fato s cu ja c o m b in a ­
d a co m o u m a obv ersão seguida d e c o n ­ ção p ro d u z u m efeito d ad o , distinguem -
versão. se causas, condições, ocasiões. E stes ter­
Rad. int.·. Obvers.1 m o s n ã o tê m n a d a d e a b so lu to (ver a C rí­
tica d a p alav ra causa): in d icam so m en te
1. “ C o m efeito, n ão se ndo o b strutivo, o In fin ito
o c u p a m en o s esp aço do q u e o A b so lu to no te a tro do que, d o p o n to d e v ista em q u e n o s c o lo ­
no sso espírito... E le é, i verdade, sim ultaneam ente dis­ cam os, ju lg am o s estas circunstâncias m ais
ta n te e dissim u lad o ; em vez d e n o s fazer face a c ad a ou m en o s essenciais p a ra a p ro d u ç ã o d o
volta, exige alg u m esfo rço d a n o ssa p a rte p a ra o des­
efeito, o u m ais o u m en o s im p o rta n te s d o
cob rir. É o o u tro extrem o, m ais o b stru tiv o , é a p en as
o A bsolu to q ue p ro d u z e que explica o ap arecim ento p o n to d e vista das resp o n sab ilid ad es que
d o ju íz o cau sal n o espírito” co lo cam em jo go . A co n d ição é u m fenô-

Sobre O bv ersão — A p alav ra obversione n ã o existe em ita lia n o e n ã o h á p alav ra


p ara desig n ar a operação em causa. A relação en tre a pro p o sição “ob v ertid a” e a p ro ­
p o sição p rim itiv a é c h a m a d a equipolienza. (C. Ranzoii)

S o b re O casião — A C ritica deste artig o foi c o m p le ta d a seg u n d o as observações


d e J. Lachelier.
763 O C C A M (N av alh a de)

m eno tal qu e, se n ã o existisse, o efeito n ão lação q u e existe, seg u n d o ele, en tre os


se p ro d u z iria ; a ocasião é o que se conce­ aco n tecim en to s d o m u n d o (esp ecialm en ­
be: 1?, co m o n ã o c o n trib u in d o em n a d a te en tre as m o d ificaçõ es d a a lm a e as do
p a ra a en erg ia, p a ra a ação que se d esen ­ co rp o , q u e d e o rd in á rio se co n sid era d e ­
volve n o fen ó m en o co n sid erad o (esta ca­ p en d erem direta m en te u m a d a o u tra). E m
racterística é-lhe com um com a condição); v irtu d e d a in d ep en d ên cia dos m o m en to s
2?, com o suscetível de ser su b stitu id a p o r d o tem p o e d o p rin cíp io d a criação c o n tí­
u m a o u tra circu n stan cia. Ocasião e con­ n u a (cf. Criação e Concurso), n ã o h á ne­
dição su p õ e m , p o rta n to , u m a espécie de n h u m a m u d a n ç a que n ã o te n h a p o r c a u ­
exterioridade em relação à ligação d a cau­ sa direta e eficaz a v o n ta d e d e D eus. “ P o r­
sa e d o efeito: a co n d ição é especial e n e ­ tan to , os c o rp o s n ã o p o d e m m over-se un s
cessária; a o c a siã o , p elo c o n trá rio , é in ­ ao s o u tro s, e o seu e n co n tro o u c h o q u e é
d ete rm in a d a ; é n ecessária u m a q u a lq u e r som ente u m a causa ocasional d a distrib ui­
e, neste sen tid o , a existência de u m a o c a ­ ção do seu m ovim ento !’ Conversas sobre
sião é um a co n d iç ão ; m as ela po d e ser es­ a m etafísica, V II, 11. “ T od as as criatu ras
ta ou aq u ela e p o d e, sen d o a m esm a, d ar estão u n id as ap e n a s a D eu s n u m a u n iã o
lu g a r à ação d esta ou d aq u ela cau sa. A o im ediata... Ele quis que o m eu braço se m e­
d izer q u e a co n v o cação dos E sta d o s g e­ xesse n o m esm o in sta n te em q u e eu p ró ­
ra is fo i a o casião d a rev o lu ção de 1789, p rio o desejava... E le q u is q u e eu tivesse
q u erem o s dizer que to d a a fo rç a d o m o ­ certo s sentim entos, certas em oções, q u a n ­
v im en to rev o lu cio n ário p reex istia e q u e d o n o m eu cérebro existissem certo s sen ­
o u tra c ircu n stân cia co m p le ta m e n te d ife­ tim entos, certas em oções, q u a n d o n o m eu
re n te teria p o d id o fazê-la e clo d ir; a o d i­
cérebro existissem certas im pressões, cer­
zer que a le itu ra de u m artig o de jo rn a l
tas com oções d o s esp írito s. E le quis, n u ­
foi a' o casião d as Stances à la M alibran,
m a p alav ra, e q u e r sem cessar, q u e as m o ­
q u erem o s dizer q u e este artig o n ã o tem
d alid ad es d o esp írito e d o c o rp o fossem
n a d a a ver com a beleza d o p o e m a . M as,
recíp rocas!’ Ibid., V II, 13.
p o r o u tro la d o , o e fe ito , n u m e n o u tro
R ad. int.: O k azio n al(a) K auz(o).
caso , te ria p o d id o c o n tin u a r a ser o m es­
m o se a o casião tivesse sid o d iferen te? O C A S IO N A L IS M O D . O kkasiona­
E xiste, p o rta n to , a í u m a id éia m u ito con­ lism us; E . Occasionalism; F . Occasiona-
fu sa e o te rm o em q u estã o exp rim e so b re­ lisme; I. Occasionalism o.
tu d o u m ju íz o d a q u e le q u e fa la em rela ­ D o u trin a d as causas ocasionais ( C Ã 2 -
ção a o s v alo res em q u e stã o . DEMOY, M τ Â E ζ 2 τ ÇT 7 E , G E Z Â « ÇT 7 )
R ad. int.: O k azio n .
O C C A M (N av alh a d e) E . O ccam ’s
O C A S IO N A L (C au sa) D. Gelegen- Razor; F . R asoir d ’Occam. A expressão
heitsursache ; E . O casional cause; E Cau­ n ã o é u sa d a em alem ão n em em ita lia n o .
se occasionnelle; I. Causa occasionale. “ T h e real g ro u n d o f p ro h ib itio n is
T erm o tira d o d a linguagem esco lásti­ w h at o u r a u th o r term s th e L aw o f P arci-
c a p elo s c a rtesian o s, em q u e , aliás, c o r­ m o n y : a p rin cip ie id en tical w ith th e fa-
re sp o n d ia m ais à id éia d e c o n d ição ; ver m o u s m ax im o f th e n o m in alists, k n o w n
S T 7 Z I U , Thom as L exiko n , V o Causa, b , as O c c a m ’s R azo r: ‘E n tia n o n su n t m u l-
27: “ C au sa in d irecte dieta o u o ccasio n a- tip lican d a p raeter necessita te m .’ ” l J . S.1
liter d ic ta .” S. T o m ás d efín e-a “ qu ae
cau sat aliq u am dispositionem a d aliquem
e ffe c tu m ” , e d á co m o exem plo aqu ele 1. “ A v e rd a d e ira ra z ã o d a p ro ib iç ã o é a q u ilo a
q u e co rta m ad eira, cau sa ocasional de es­ q u e o no sso a u to r c h a m a a L ei d a P arcim ô n ia : u m
p rin c íp io id ên tico à fa m o sa m á x im a d o s n o m in alis­
sa m a d eira vir a ser q u e i m a d a . M A LE- tas» co n h ecid a p o r navalha d e Occam: ‘N ã o se deve
ζ 2 τ ÇT7 E designou p o r esta p a la v ra a re­ m u ltip lic ar os seres sem n e cessid ad e .’ *'
O C C A M IS M O 764

M « Â Â , E xam ination o f Sir W. H a m il­ d a d a , irred u tív el e inexplicável: “ Jed e


to n ’s P hilosophy, cap. X X IV , § 2. echte, also w irklich ursp rü n g lich e N a tu r­
V er Parcim ônia. k ra ft, w ozu auch jede chem ische G ru n d ei­
genschaft gehört, ist wesentlich qualitas oc-
O C C A M IS M O C o n ju n to d as d o u tri­ culta, d. h. keiner physischen E rk läru n g ,
n as d e G u ilh erm e de OTTτ O (1290?- w eiter fäh ig , sondern n u r ein er m etap h y ­
1349). Princípio de O ccam : “ E n tia n o n sisch en .” 1 S T Ã ú Ç τ Z 2
7 E 7 , Satz vom
E

su n t m ultiplicanda praete r necessitatem .”


G runde , § 20 (ed. G risebach, p . 59).
C f. Parcim ônia e Occam (Navalha de).
C. Especialm ente: diz-se das fo rças
O C U L T IS M O D . O kkultism us; E . m ateriais ou espirituais, desconhecidas d a
Occultism; F. Occultisme; 1. Occultismo. m aio r p a rte d o s h o m en s, m esm o d o u to s,
A . C o n ju n to das ciências o cu ltas* . assim co m o d as in vestig ações relativ as a
B. D isposição de espírito daqueles que essas fo rças, e d as o p eraçõ es q u e a s f a ­
ad m item o v alo r dessas ciências. zem a tu a r. “ E n q u a n to a ciência dos cien­
R ad. int.\ O k u ltism . tistas tra b a lh a assim , existiu, em to d a s as
é p o cas, u m a ciência o c u lta qu e a m e n o s­
O C U L T O D . O kkult, Geheim; E . Oc­ p re z a e visa m ais a lto . E la com padece-se
cult; F. Occulte; I. O cculto. d a ra z ã o q u e raste ja ; ela q u e r v o a r ... ela
A . S en tid o geral: esco n d id o o u secre­ a b a rc a d e u m só g o lp e o q u e fo i, o que
to . “ In flu ên cias o c u lta s .”
é e o q u e s e r á ...” B 2 è Ã , M esm er .,
E I

B . C u ja cau sa o u ex plicação é d esco ­


p . 305.
n h ecid a. “ O m esm o aco n tece com tu d o
o que os an im ais p ro d u zem p o r esse m o ­
v im en to o cu lto (o in s tin to ).” P τ è T τ Â , 1, “ T o d a a v erd ad eira fo rç a n a tu ra l, p o rta n to
Frag. d ’un traité du vide, ed. B ru n sch v ., realm en te p rim itiv a (e to d a a p ro p rie d a d e q u ím ica
fu ndam ental pertence a este gênero), é essencialm ente
p. 79.
q u a lita s o c c u l la , q u er d izer, n ão ad m ite p a ra além
Qualidade oculta, aq u ela que se a p re ­ dela q u alquer explicação física, m as som ente u m a ex­
sen ta ao esp írito co m o u m a p ro p rie d a d e p licação m e ta físic a .”

S o b re O cu ltism o — A p ro v a deste artig o citav a a d efin ição segu inte do d r. J.


G 2 τ è è E I : “ E n te n d o p o r o cu ltism o o estu d o dos fa to s q u e n ã o p erte n cem a in d a à
ciência (q u ero diz er, à ciência p o sitiv a n o sen tid o de A u g u ste C o m te), m as q u e p o ­
dem vir a p erten cer-lh e u m d ia .” L ’occultism e (1908), p. 21.
E sta d efin ição fo i g eralm en te tid a co m o in suficiente:
“ D esta m a n eira, o o cu ltism o e n g lo b aria tu d o o que a in d a n ão é o b je to d a ciên ­
cia, O q u e su p o ria que a ciência é o ú n ico m o d o d e co n h ecim en to . P re firo a ex p res­
são de B o irac: fa to s criptáides .’’ (F. M en tré )
“ D ever-se-ia assin alar aq u i u m a d istin ção , q u e o d r. G rasset faz sem d ú v id a im ­
p licitam en te, en tre o q u e, n o o cu lto , é p u ra m e n te q u im érico , su p ersticio so o u c h a r­
latan esco , e a q u ilo q u e está d e stin a d o a to rn a r-se u m d ia cien tífico . É v erdade que
o lim ite n ã o é fácil de tr a ç a r .” ( J . L a c h e l i e r )
“ A d efin ição do d r. G rasset é d em asiad o am p la: h á fen ô m en o s q u e não são a in ­
d a o b je to d a ciência p o sitiv a e co n tu d o n ã o têm n e n h u m a das características que d is­
tin g u em o s fa to s de o c u ltism o .” ( L . B o i s s e )

S o b re C iências o cu ltas — O c a rá te r o cu lto destes co n h ecim en to s vem so b re tu d o


d a su a tran sm issão p u ra m e n te oral e esotérica. S ão ciências sem a rq u iv o s, q u e se
tra n sm ite m a in icia d o s co m a a ju d a d e sig nos esp eciais, “ c ab alístico s” . E las tem em
a luz d o d ia e desvanecem -se n a sua m aio ria q u an d o su b m etid as à crítica. (F. M entré)
765 O N IP O T Ê N C IA , O N IP R E S E N Ç A , O N IS C IÊ N C IA

A s “ ciências ocultas” tradicionais são tid o n o rm a tiv o e a b s o lu to , tê m m u itas ve­


a m ag ia, a c a b a la , a a stro lo g ia , a a lq u i­ ze s o s e n tid o r e l a t i v o ( p . e x .: 6 e h
m ia, as ciências d iv in a tó ria s. V er H . C. χ ρ ή μ α τ α ω φ έ λ ο ύ μ ί ν ο ί , a q u e le q u e e s tá
A; 2 «ú ú τ á N
E è «O
E I I E , Philosophia
7 E b e m p r o v id o d e d in h e ir o ; A 2 « è I ó I E Â E è ,
occulta (1510), que inclui to d as essas ciên­ Ética a N ic ., V III, 16; 1163bI 3). D eseja­
cias n a m ag ia (n a tu ra l, celeste o u a n tr o ­ bilidade, p e lo c o n t r á r i o , c o n v iria a o c a ­
p o ló g ica e cerim o n ial). A crescenta-se- r á te r d a q u ilo q u e é desejável, n ã o d a q u i­
lh es, às vezes, o esp iritism o , a in d a que lo q u e é desejado.
m u ito m ais recen te m en te . R ad. int.: D ezirates.
N a expressão “ ciência o c u lta ” , o ep í­
teto parece referir-se ao m esm o tem p o ao O L F A T IV O D . Geruchs-...; E . Olfac­
c a rá te r secreto d estas ciências e a o c a rá ­ tory·, F. O lfactif; I. O lfattorio.
ter m isterioso d o s fa to s q u e elas têm p o r A . Q u e serve a o o lfa to . “ N erv o o lfa ­
o b je to . tiv o .”
Rad. in t.: C . O k u lt. B. R elativo a o o lfa to . “ Sensações o l­
fa tiv a s .”
O F E L IM ID A D E D . O phelim itãt; E . Rad. int.: A . F la ra n t; B . F laral.
O phelim ity; F . Ophelim ité; I. O felim ità.
Term o criado p o r V ilfredo P τ 2 E I O O L F A T O D . G eruch; E . Sm ell (q u e
{Curso d e econom ia po lítica , 1896) para tam b ém sig n ifica aroma)·, F . Odorai; I.
designar com um a só palavra e com mais O dorato.
precisão aquilo a que muitas vezes se cha­ U m d o s “cinco se n tid o s” co m u m en te
m ou “ valor de u so ” , quer dizer, a carac­ a d m itid o s cu jas sensações são ch am ad as
terística de um objeto que consiste no fato olfativas (D. O lfaktiv ; E . Olfactory; F. Ol­
de ele corresponder ao desejo de um da­ factif; I. O lfattivo). E stas n ão fo rm am
do indivíduo (quer este desejo seja são ou classes claram en te div id id as. Tentou-se
patológico, ju sto ou in justo , com um ou c o n tu d o rep arti-las n u m c erto n ü m ero de
excepcional). A ofelim idade opõe-se, as­ g ru p o s: etéreas, a ro m áticas, fragrantes,
sim, à “ utilidade” propriam ente dita, que am b arin as, aliáceas, em p ireu m áticas, hir-
supõe um juízo de valor objetivo. N ão é cin ian as, rep u g n an tes, n a u se a b u n d a s.
um a característica de um objeto em ge­ Z ç τ τ 2 á E Oτ 3 E 2 (rep ro d u zin d o em p a r­
ral, mas um a grandeza variável que ca­ te u m a classific ação a n te rio r d e L « ÇE Z ),
racteriza um a certa quantidade de um a ri­ D ie physiologie des Geruchs, 1895.
queza determ inada em sua relação com R ad. int.: F iar.
um consum idor determ inado. G« áE tinha
anteriorm ente p roposto, neste sentido, a O N IP O T Ê N C IA , O N IP R E S E N Ç A ,
palavra desejabilidade (G« áE e R« è I , O N IS C IÊ N C IA D . Allm acht, Allgegen-
Hist. des doctrines économiques, pp. 478, wart, Allwissenheit; E . Omnipotence, O m ­
608). nipresence, Omniscience; F. O m nipoten­
ce, Omniprésence, Omniscience; I. Onni-
CRÍTICA potenza, Onnipresenza, Onniscienza.
O felim idade é m elhor, porque A trib u to s tradicio nais d a pesso a divi­
\elv, ω φ έ λ ι μ ο ί , diferentem ente do sen­ n a, que consistem : 1?, em que a p otência

P arece-m e que ho je o espiritism o é geralm ente classificado entre as form as de ocul­


tism o. {Th. Ruyssen) C onsu ltei neste p o n to o d r. E. L τ Â τ Çá E (M arc H τ â E Ç ), a u to r
de A rnauld de Villeneuve, d e Cagliostro, etc.: ele consid era o espiritism o com o u m a
fo rm ação religiosa to talm en te in dependente d a trad ição o cu lta p ro p riam en te d ita. D e
acordo com ele sup rim i ig ualm ente a teosofia, que ap resen ta so b retu d o , diz ele, o c a rá ­
ter de u m a filo so fia das ciências o cultas. {A. L .)
O N ÍR IC O 766

de D eus é infinita; 2?, em que ele está p re­ reg ad o d e u m su fix o im p ró p rio nesta
sente in teiram en te em to d a p a rte ; 3?, em acepção. C f. Psíquico e Psicológico e ver
q u e n a d a d o q u e é, foi ou será lhe é des­ Ô ntico (S).
co n h ecid o . Ver esp ecialm ente L E í ζ Ç« U , R ad. int.: O n tal.
Teodicéia, e su a c o rresp o n d ên cia com
“ Ô N T IC O ” V er Suplem ento.
CÂ τ 2 3 E .
Rad. int.: O m n o p o v ; O m n o p rezen te s O N T O G Ê N E S E o u O N T O G E N IA
(U b iq u es); O m n o sav . D . Ontogénesis; E . O ntogénesis, onto-
geny; F . O ntogénèse, ontogénie; I. On-
O N ÍR IC O D . Traum ...; E . Oneirical;
togenesi, ontogenia.
F . Onirique; I. Onirico. D esen v o lv im en to d o in d iv íd u o , q u e r
Q u e diz respeito aos sonhos. A “ cons­ m en tal, q u e r físico, desd e a su a p rim eira
ciência o n íric a ” (cf. J τ è I 2 Ãç , L e sub- fo rm a e m b rio n á ria até o estad o a d u lto ,
conscient, tra d . f r ., 1908) é o estad o d a em o p o sição a o d esen v o lv im en to d a es­
consciência n o s so n h o s. pécie (filogênese o u filogenia). O p rin cí­
Rad. in t .: S o n j. p io seg u n d o o q u al a ontogênese re p ro ­
“ O N IT U D E ” (L. O m nitudo). N eolo ­ duz a filogênese fo i s o b re tu d o p o p u la ri­
gism o utilizado p o r alg uns escritores co n ­ z a d o p o r H τ E T3 E Â , q u e o q u alificav a
“ lei b io g en ética fu n d a m e n ta l” . M as es­
te m p o râ n e o s: T o d o , to ta lid a d e . C f.
te p rin cíp io é, h o je, m u ito c o n te sta d o .
Kτ Ç : “D as A ll (om nitudo) der Reali­
I
V er as o b serv açõ es.
t ä t . Dialec. transcend., A 628; B 656.
Yves D elage, n u m a n o ta a o artig o On-
L. B2 Z Çè T â « T; o b s e rv o u q u e era
7
togeny (B aldw in , 202 A ), in d ic a, sem o u ­
preciso distinguir om nitudo conceptus, a
tr a ex p licação , q u e ontogenia é m ais es­
un iv ersalidade, e om nitudo com plexus, o
pecífico q u e ontogênese. M as n o artig o
c a rá te r d aq u ilo q u e fo rm a u m to d o n o
Ontogénesis, J . M . Baldw in e P o u lto n (de
s e n tid o c o n c re to , o rg ân ico . C f. Univer­
O x fo rd ) in d icam p elo c o n trá rio q u e on ­
sal* concreto.
togénesis, q u a n d o n ã o é sin ô n im o de on-
“ ONTAL” O p o sto a fenom enal (Jam es togeny, tem u m sen tid o re strito e ap lica­
Wτ 2 á , The R ealm o f E n d s 12, p. 389). se esp ecialm en te à o n to g e n ia d e u m ó r­
E ste n eo lo g ism o p arece ú til e ra z o á ­ g ã o , de u m a fu n ç ã o o u d e u m a c aracte­
vel p a ra design ar o q u e diz respeito ao ser rística c o n sid erad o s iso lad am en te.
em si, em o p o siç ã o a o fen ô m en o o u à Rad. int.: In d iv id u al genesi.
ap a rê n c ia. O ntológico, q u e se em p reg a O N T O G É N IC O D . Ontogenetisch;
m u itas vezes neste sen tid o , está so b recar­ E . Ontogenis; F . Ontogénique; I. O n to ­
génico.
1. “ O to d o ( o m n i t u d o ) d a re a lid a d e .” A . Relativo à ontogênese. “ T eo ria o n ­
2. O r e in o d o s f i n s . to g é n ic a .”

S o b re O n to g ên ese — E ste p rin cíp io fo i fo rm u la d o p o r H τ 2 â E à em 1628 (a filo ­


gênese sen d o a í n a tu ra lm e n te su b stitu íd a p ela série a tu a l d as fo rm as an im ais); foi
re to m a d o p o r G E ÃE E 2 Ãà Sτ « ÇI -H « Â τ « 2 E , M E T3 E Â , S E 2 2 E è , que o en u n cio u d iz en ­
d o q u e “ a o rg a n o g e n ia h u m a n a é u m a a n a to m ia c o m p a ra d a tra n s itó ria , a a n a to m ia
c o m p a ra d a é o e sta d o fixo e p e rm a n e n te d a o rg an o g en ia d o h o m e m ” . E le fo i a d a p ­
ta d o às teo rias ev o lu cio n ista s p ro p ria m e n te d ita s p o r F ritz M ü Â Â E 2 , aliás com re ­
servas p ru d e n te s q u e m ais ta rd e H τ E T3 E Â d escu ro u . V er to d a esta h istó ria e a críti­
ca p o rm en o rizad a deste p rin cíp io em V « τ Â Â E I ÃÇ , Un problèm e de l ’évolution, 1908.
(G . M ilh a u d )
767 O N T O L O G IA

B. Q u e en g en d ra o ser (p o r o p o sição
a s o u tr a s to m a m e m p a r te o s seu s p r in c í­
a o n to ló g ico n o sen tid o su b jetiv o = r a ­ p io s; c h a m a -s e ontologia, o u c iê n c ia d o
cio cín io o u co n ceito relativ o a o ser). “ O ser, o u m etafísica geral’.' D ’A Â E Oζ E 2 I ,
pensam ento ontológico m o strar-se-á final­ Disc. prelim . da Enciclopédia, § 71.
m en te m u ito in ferio r a o p e n sa m e n to o n ­ B . E stu d o o u co n h ecim en to d o que
tog énico, m u ito m en o s c a p a z d e legitim ar são as coisas em si m esm as, en q u a n to
a a firm a ç ão d o sed ’ G h . SE 2 2 Z è , Essai su b stân cias, n o sen tid o c artesian o e leib-
su r la signification de la logique, p. 154. n iz ia n o d a p a la v ra , p o r o p o sição a o es­
O N T O L O G IA D . Ontologie; E . On- tu d o das suas aparências o u dos seus a tri­
tology; F . Ontologie-, I. O ntologia. b u to s. “ E s ta id éia a b s tra ta e geral (a do
A. P a rte d a filo so fia qu e especula so ­ b stra c tu m ou d e su b stâ n c ia )... a p e d ra
su
b re “ o ser e n q u a n to se r” , seg u n d o a ex­ a n g u lar d e ta n to s siste m as, o fu n d a m e n ­
p ressão de A ristó teles: “ E st q u aed am to d e tu d o o q u e se ch a m a ontologia, n ã o
scientia q u a e c o n te m p la tu r ens q u a te n u s tem , p o r m ais q u e se d ig a, privilégio q u e
ens est, hoc est, in q u a n tu m co m m u n em a su b tra ia a u m ex am e c rític o .” COUR-
q u a m d a m in tellig itu r h a b e re n a tu r a m ... NOT, Fondem ents, I, c a p . IX , § 135. C f.
[quae] ó m n ib u s e t sin gulis en tib u s su o O ntológico.
m o d o in est. E a vulg o m etap h y sica, sed C R ÍT IC A
ap tiu s Ontologia vel Scientia cath olica (ei-
K τ Ç , a o m esm o tem p o q u e m o d ifi­
I
ne allgemeine W issenschaft) e t p h ilo so -
cav a n u m sen tid o id ealista e crítico o uso
p h ia un iv ersalis n o m in a tu r .” J . C Â τ Z -
d a p alav ra metafísica, q u e ria d a r u m sen­
ζ E 2 ; , M etaphysica, 1646, c a p . I, 1-2.

E le diz ta m b ém n o m esm o sen tid o O nto- tid o nov o à p alav ra ontologia-, a esta a tri­
sophia (p refácio e su b títu to d a m esm a b u ía a fu n ção d e d eterm in ar o sistem a de
o b ra). to d o s os co n ceito s e p rin cíp io s do e n te n ­
Só o n o m e é n o v o ; q u a n to à p ró p ria d im en to q u e são , aliás, n a su a d o u trin a ,
ciência, ela existia já nos escolásticos, com o equiv alente do s transcendentia escolás­
a m esm a d efin ição : cham a-se transcen­ ticos (ver Crítica da razão p u ra , M eto d o -
d endo às d eterm in açõ es co m u n s a to d o s log. tra n sc e n d ., cap . I I I , A 845; B 873).
os seres. C f. tam b ém Bτ TÃÇ , D e dignit., M as este u so n ão p rev aleceu e, nos n o s ­
III, 1, § 4-5, em q u e lh e ch am a philoso- sos dias, a p a lav ra ontologia serve so b re­
p h ia prim a, sive, sapientia. A d efin ição tu d o , pelo c o n trá rio , p a r a d esig nar sem
de C lauberg foi reto m ad a, quase nos m es­ equívoco a m etafísica sub stancialista, que
m os te rm o s, p o r W ÃÂ E E , q u e m uito co n ­ se p ro p õ e co m o o b jeto ap reen d er, sob as
trib u iu p a ra d ifu n d ir esta p a lav ra (ver es­ ap arên cias, as coisas em si, p o r o p o sição
p ecialm en te O ntologia, § 1 e 8). “ T en d o à m etafísica n o sen tid o crítico , q u e r d i­
os seres, ta n to espirituais co m o m ateriais, zer, ao c o n ju n to dos co n h ecim en to s que
algum as propriedades gerais, com o a exis­ p o d em ser estab elecid o s a priori em cad a
tê n cia, a p o ssib ilid ad e, a d u ra ç ã o , o exa­ o rd em de co n h ecim en to s. V er M etafísi­
m e destas p ro p ried ad es fo rm a desd e lo ­ ca, esp ecialm ente n o s sentidos G e H .
go este ra m o d a filo so fia de que to d as Rad. int.: B. O n to lo g i.

So bre O n to lo g ia — O sen tid o B n ã o v irá d e u m sim ples co n tra-sen so ? P asso u -se


sem d ú v id a d o sen tid o d aq u ilo que é o ser, em geral (que é o de A ristó te le s), a o dos
seres m iste rio so s, situ ad o s p a ra além d o s fen ô m en o s. ( J . Lachelier)
E t. G ilso n (O ser e a essência) assin ala ta m b ém q u e esta p a lav ra se en c o n tra n u m
frag m en to n ã o d a ta d o de L eib niz (Opuscules et fra g m e n ts inédits , p. 512, p u b lic a ­
dos p o r L . C o u tu ra t). É aí d efin id a: “ Scientia d e A liq u o et N ih ilo , E n te et N o n -
E n te , Re et M o d o rei, S u b sta n tia et A c c id e n te .”
O N T O L Ó G IC O 768

O N T O L Ó G IC O D . Ontologisch·, E . O N T O L O G IS M O D . Ontologismus·,
Ontological, F . Ontologique-, I. Onto- E . O ntologism ; F . O ntologism e; I. On-
logico. tologism o.
Q u e diz resp eito à o n to lo g ia , ou que A . T en d ên cia de esp írito favorável à
p erten ce à o n to lo g ia. O n to lo g ia, e n te n d id a co m o a in v estig a­
A . P rova ontológica (d a existência de ção d as características e d a n a tu re z a do
D eus): aq u e la que con siste em p ro v a r a ser em si o u dos seres em si.
existência de D eus p ela sim ples análise d a B. D outrina de V. G« Ãζ E 2 I « , que se
su a essência ou d a sua definição. Sto. A n ­ opõe àquilo que cham a “ psicologismo” ,
selm o de C a n te rb u ry , P roslogium , ed. quer dizer, à tendência que subordina o
M ig ne, to m o C L V III, col. 223; D E è Tτ 2 ­ ser à idéia.
I E è , Discurso do m étodo, 4? p a rte ; M e ­
Rad. int.: A . O n to lo g ism .
ditações, V , 2-3. O n o m e de p ro v a o u de O n to lo g ista P a rtid á rio d a O n to lo g ia
argum ento onto ló gico não se en co n tra em no sen tid o B (C ÃZ 2 ÇÃI , Es sai sur Ies
D escartes; é a p lic a d o a este R acio cín io fo n d em en ts de nos connaissances, I, 307).
p o r Kτ ÇI , Crít. da razão pura, D ial.
tra n se ., livro II, cap . III, 4? seção: “ V on O N U S P R O B A N D I “ A incum bencia
d er U n m ö g lich k eit eines o n to lo g isch en d a p ro v a ” , exp ressão latin a de origem ju ­
Beweises vom D asein G o tte s .” 1 O põe-se rídica: q u a n d o , de dois litigantes, u m ale­
à pro va cosmológica* e à p ro va psicoteo- ga u m fa to e o o u tro o n eg a, q u al deles
lógica* q u e , seg u n d o ele, fo rm a m com deve p ro v a r o q u e diz p a ra g a n h a r a c a u ­
elas as três únicas fo rm as possíveis de a r­ sa? A d m ite-se g eralm en te q u e, à fa lta de
gu m ento p a ra a existência de D eus (ib id ., p resu n ção * legal c o n trá ria , d ev erá ser o
seção 3, ad. fin .). p rim eiro , co n fo rm e a reg ra: “ P r o b a d o
in cu m b it, ei qui dicit, n o ei q u i n e g a t” (a
B. Oposto por RE Çτ Ç a fenom enal:
p ro v a cab e àq u ele q u e a firm a , n ã o à q u e ­
“ Fazer desta diversidade fenomenal (dos
le que nega). D igeste, X X II, III, 2. M as
fenômenos físicos e psíquicos) sinónimo de
a q u e stã o deu lu g ar a co n tro v érsias: ver
um a distinção ontológica é cair num gros­
BÃÇÇ« E 2 , Traité des preuves, revisto p o r
seiro realismo e im itar as antigas hipóte­
Lτ 2 Çτ Z áE , § 39 ss.
ses das ciências físicas que explicavam atra­
A q u estão d o onus p ro b a n d i esten-
vés dos fluidos reais e substanciais os fa­
deu-se d a í p a ra m u itas discussões cien tí­
tos em que uma ciência mais avançada ape­
ficas o u filo só fic as: “ N ã o é a nó s q u e
nas viu ordens diversas de fenôm enos.”
com pete d em o n strar a im possibilidade do
L ’avenir de la Science, p. 478.
m ilag re, m as ao m ilagre d e m o n stra r a si
Rad. int.: O n to lo g ial. p r ó p r io .” RE ÇJÇ , Carta a A d . Gué-
roult, 1862. “ A tese do paralelism o é urna
1. “ D a im p o ssib ilid ad e d e u m a p ro v a o n to ló g i­ p u ra h ip ó te se m etafísica, à q u al in c u m ­
ca d a existência d e D e u s .” b iria em estrita ju stiç a o onus pro-

S obre O n to ló g ico — A rtig o c o m p letad o de a co rd o com u m a in d icação de C. J.


W ebb. C h r. W o lff serve-se p o r vezes d e O ntologicus, m as n ã o em p reg a a ex p ressão
O ntologischer Beweis. (R. Euckerí)
S o b re O nto lo gism o — P o d e m o s relacio n ar com o sentido A , ap esar de visar m ais
u m a d o u trin a d o que u m a te n d ên cia, o te x to seguin te de A . F ÃZ « Â Â é E : “ O è núm e-
n o s... não estavam im plicados n a definição do fenôm eno? O criticism o de K ant situa-se
assim , desde o in íc io , em p le n o o n to lo g ism o .” L a pensée et les nouvelles écoles anti­
intellectualistes, p . 10.
769 O P O S IÇ Ã O

bandi, e qu e seria re fu ta d a ipso fa c to , p e­ n a d o u tr in a d e P Â τ I ã Ã : v e r o M enon,


lo m en o s p ro v iso riam en te, se se d em o n s­ c a p . X X X IX , 97 C s s ., a República, li­
trasse q u e to d o s os fa to s co n h ecid o s su ­ v ro V , 447 B ss.; liv ro V II, 534 A , e m q u e
gerem u m a o u tr a .” H . B 2 ; è Ã Ç , “ O p a ­
E a δ ό ξ α é d iv id id a em d x a o ía e ir ú m s , a
rale lism o psico físico ” , Bulletin d e la So- vóijois e m δ ι ά ν ο ι α e ΐ π ι σ τ ή μ η ; m a s em
ciété de P hilosophie, sessão de 2 de m aio o u tr a s p a s s a g e n s , é u s a d a e m v ez
de 1901, p . 65. d e έ τ η σ τ ή μ η n e s ta c la ssific a ç ã o e in v e rsa ­
m e n te ; p . e x ., ib id . , V I, 511 D -E , e tc .
O P IN IÃ O G . A ó£a; D . M einen, Mei-
O pinio, opinari tê m , em g eral, u m
nung; E . O p in ió n ; F . O p in ió n ; I.
sen tid o p e jo ra tiv o nos filó so fo s la tin o s.
O pinione.
N o n opinari o u nihil opinari é , seg u n d o
A . E sta d o de esp írito q u e consiste em
o s E sto ico s, u m a das características d o
p e n sa r q u e u m a asserção é v e rd ad eira,
sáb io .
m as q u e a d m ite q u e n o s p o ssam o s en g a­
R ad. int.: O p in ió n .
n a r, ju lg a n d o -a assim . “ M einen ist ein
m it B ew usstein so w o h l su b jectiv ais ob - O P O S IÇ Ã O D . A . C . Gegensatz, Ge-
je ctiv u n zu reich en d es F u rw a h rh a lte n .” 1 gensetzung; O pposition; B. W iderstreit ;
Kτ ÇI , Krit. der reinen Vern., M eth oden- E . Opposition·, F . O pposition; I. O ppo-
leh re, I I , 3 (A 822; B 850). O põe-se ao sizione.
sab er (TVissen) e à fé ( G lauben ). A . P ro p ria m e n te , re la ç ã o d e dois o b ­
B. O b jeto d e u m a o p in ião , n o sen ti­ je to s co lo cad o s u m em face d o o u tro , ou
do A . d e do is m ó v eis, os q u ais o u am b o s se
C . A opinião pública, o u opinião, é a fa sta m o u a m b o s se a p ro x im a m d e u m
o ju ízo coletiv o so b re u m fa to o u so bre m esm o p o n to . P o r m e tá fo ra , diz-se de tu ­
u m a cren ça p o r u m a d a d a so ciedade. A d o o que é an titético . “ Idéias m ais sãs so­
p alav ra, neste sen tid o , n ão im plica neces­ b re a n a tu re z a v e rd a d e ira d as o posições
sariam en te a con sciência n aq u eles que quím icas... ap areceram q u a n d o se desco­
p a rtilh a m esta o p in iã o d e u m a p a rte de b riu o c a rá te r p o r assim d izer o p o sto d as
in certeza e d e u m a p o ssib ilid ad e de e rro . b ases e d o s á c id o s ...” T τ 2 á E , Les lois
sociales, cap . II, “ O p o sição d o s fen ô m e­
NOTA
n o s ” , p. 60.
A op o sição d a o p in ião (5o'£a) e do sa­ B. Resistência, lu ta. “ É m u ito im p o r­
b er (èmoTTÍptri) o u d o p e n sa m e n to ra c io ­ ta n te n ã o c o n fu n d ir as d u a s fo rm a s sob
nal (vófjaií) re m o n ta à filo so fia grega e as quais a o p o sição se nos ap re se n ta ; n u ­
detém especialm ente um im p o rtan te lugar m a, o co m b ate d o s do is te rm o s ju sta p o s­
to s te m lu g ar n o p ró p rio in d iv íd u o , n a
o u tra , o in d iv íd u o a d o ta ap en as u m d o s
1. “ A op in iã o é o fa to de te r q u a lq u e r coisa c o ­
m o verd ad eiro com a co nsciência de u m a in su ficiên­ dois te rm o s... e o n d e o co m b a te ap en as
cia su b je tiv a, ta n to com o o b je tiv a , desse ju íz o .” tem lu g ar nas relações co m o u tro s ho -

Sobre O posição — A 2 « è I ó I E Â E è cham a ctvT ixd jicv a (opostos): 1?, aos term os
relativos um ao outro (dobro e m etade); 2?, aos term os contrários; 3?, aos term os
que exprim em respectivam ente a privação e a p o sse (e£ts, m uitas vezes traduzido
por hábito ) de um a m esma característica; 4?, aos term os em que um afirm a o que
o ou tro nega, quer atualm ente (xáfhjzai., ov xádr¡6ai), quer virtualm ente, ou, com o
nós diriam os, sob fo rm a de léxis* (xadrjoBai, ov xa0r¡a6ai). Categorias, cap. X e
X I; M etafísica, I, 4. Ver o estudo e a crítica desta classificação em H τ OE Â « Ç , L e
systèm e d ’A risto te, IX lição; p a ra a concepção d a oposição n o pró prio H am élin, c f.
o seu Essai s u r les élém ents princip a u x de la représentation, cap. I.
O RA 770

m e n s.” Ibid. C f. d o m esm o a u to r, L ’o p ­ v ra n em à e tim o lo g ia, q u e d esig n a m ais


position universelle (1896). “ posições” d o que ten dências. N ó s a c h a ­
C. L ó ; « T τ . D ois te rm o s dizem -sem o s p o r b em , p o rta n to , m a n te r a d istin ­
o p o sto s q u a n d o são correlativos, o u co n ­ ç ã o d o s sen tid o s A e B.
trá rio s , o u c o n tra d itó rio s; d u a s p ro p o si­ Rad. int.: O p o z.
ções q u a n d o , te n d o o m esm o su jeito e o
O R A D . A ber; E . B ut; F. Or; I. Ora.
m esm o p re d ic a d o , d iferem seja em q u a ­
Sig no lin g ü ístico q u e assin ala a rela ­
lid ad e* , seja em q u a n tid a d e * , seja ao
ção ló gica q u e co n siste em q u e a p ro p o ­
m esm o te m p o em q u a lid ad e e q u a n tid a ­
sição assim in tro d u z id a deve ser co m b i­
d e . A s q u a tro espécies d e o p o sição são a
n a d a com u m a o u tra o u co m o u tra s p r o ­
contrariedade, a su b co n traried ad e, a con­
posições a n te rio rm e n te p o sta s p a ra che­
trad ição e a su b altern ação (o u , m ais exa­
g a r a u m a co n clu são . P a rtic u la rm e n te
ta m e n te , a su b a lte rn a ç ão p ro p ria m e n te
u sad a: 1?, an tes d a m e n o r d o silo gism o;
d ita e a relação in v ersa, p o rq u e , neste ca­
2 ?, an tes d e u m exem plo q u e serve p a ra
so , a relação d as d u as p ro p o siçõ es o p o s­
re fu ta r u m a tese.
tas n ã o é recíp ro ca).
E sta d efin ição das o posições p o d e ser NOTA
g en eralizad a levando em co n sid eração as
E sta p a la v ra em fran cês (o r) é m ais
sin gulares, as m o d ais, as h ip o téticas, etc.
p recisa d o q u e o s eq u iv ale n te s estran g ei­
V er KE à ÇE è , Form al Logic, 2? p a rte ,
ro s cita d o s. E m p reg a-se alg u m as vezes
cap . I l l e IX . neste sentido a p alav ra “ m as” (mais), que
C R lT IC A os tra d u z m ais ex atam en te.
R ad. int.: O r.
Tτ 2 áE , que dava g rande im p o rtâ n cia
a esta n o ç ã o , qu is re u n ir os sen tid o s A e O R D E M D . A . B. C . O rdnung ; D .
B n esta fó rm u la : “ A o p o sição é u m a es­ Stand-, E . Befehl; F. Ordre; I. O rdine (E.
pécie m u ito sin g u lar de rep etição , a de C om ando).
d u as coisas sem elh an tes que te n d em a A. U m a das id éias fu n d a m e n ta is d a
d estru ir-se m u tu a m e n te em v irtu d e des­ in teligência. N ão se p o d e d a r u m a d e fi­
sa se m e lh a n ç a ... T o d a v e rd ad eira o p o si­ nição q u e a to rn e m ais cla ra. E la c o m ­
ção im plica p o rta n to u m a relação en tre preende, n o seu sentid o m ais geral, as de­
d u as fo rç a s, d u as ten d ên cia s, d u as d ire­ term in açõ es te m p o ra is, esp aciais, n u m é­
ç õ e s .” Ib id ., p p . 70-71. ricas; as séries, as co rresp o n d ên cias, as
O sen tid o B seria p o rta n to o ú n ico leis, as cau sas, os fin s, os g êneros e as es­
sen tid o fu n d a m e n ta l, de o n d e A d eriv a­ pécies; a o rg an ização so cial, as n o rm as
ria p o r acid en te e q u ase p o r im p ro p rie ­ m o rais, ju ríd icas, esté ticas, etc. V er es­
d ad e. M as esta u n ificação n ã o parece pecialm ente A ug. C Ã O I E , Catecismo p o ­
c o n fo rm e n em ao uso co rren te d a p a la ­ sitivista, 3? e 4? d iálo g o s, q u e tê m p o r tí-

S o b re O rd em — O sen tid o m ais g eral d esta p a la v ra é talv ez o d e u m a sucessão


reg u lar de te rm o s (seg u n d o o sen tid o latin o de ordo, q u e sig nifica p ro p ria m e n te u m a
fila); sucessão p elo m en o s n o esp írito q u e p assa d e um desses te rm o s a o u tro , m esm o
q u a n d o eles são sim u ltân eo s n a realid ad e. P o d e ría m o s dizer a in d a q u e a o rd e m é
u m a coerência q u a lq u e r (ao s o lh o s d o esp írito ) fu n d a d a n u m a re la ç ã o q u a n tita tiv a ,
q u a lita tiv a , m ecân ic a o u te le o ló g ic a. P arece-m e q u e u m a o rd em é sem p re fu n d a d a
n u m a Idéia (p latô n ica) e faz sem p re u m tip o de to d o das coisas o rd e n a d a s. D ig o so ­
m ente u m tipo, em v ista d o caso em q u e a su cessão dessas coisas in m ente vai a té
o in fin ito ; se ela fo r fin ita , c o n stitu i p ro p ria m e n te u m to d o . (J. Lachelier)
771 ORDEM

tu lo , resp ectiv am ente: “ O rd em exterior, 3?: A ordem social é, p o r u m la d o , o


prim eiro m aterial, depois vital; ordem h u ­ c o n ju n to d as regras às quais os cid ad ão s
m a n a , p rim eiro social, d ep o is m o ral!’ devem c o n fo rm a r-se ; p o r o u tro , a su b ­
C ÃZ 2 ÇÃI , Traité de Tenchaínem ent des m issão dos c id ad ão s a essas reg ras. E la
idées fondam entales, livro I: “A o rd em e opõe-se às rev o lu çõ es, à a n a rq u ia , à d e­
a fo rm a” (que, segundo ele, são apenas so bediência às leis. “ A b o a o rd e m .” “ O
u m a); e B 2 ; è Ã Ç , A evolução criadora,
E p a rtid o d a o rd e m .” “ O p ro g resso é o d e­
cap. III, “A d eso rd em e as d u as o rd en s”. senvolvim ento d a o rd e m .” A ug . C ÃOI E ,
Especialmente: Catecismo p o sitivista, 4? d iálo g o .
1?: E m L ógica m a te m á tic a . “ A o r­ 4?: A ordem ética. “ A s relações de
dem (serial) é a existência en tre vários te r­ p erfeição são a ordem im utável que D eus
m o s d e u m a relação tra n sitiv a assim étri­ c o n su lta q u a n d o a g e .” M τ Â E ζ 2 τ ÇT7 E ,
c a .” L . C ÃZ Z 2 τ
I I, Os principios das Traité de morale, cap. I (ele a op õ e à v er­
m atem áticas, cap . III: “ A id éia de o r­ d ad e, que diz resp eito a o co n h ecim en to
d e m .” Pode-se to m a r com o exem plo a se­ e n ão à ação ). “ O a m o r d a o rd em n ão
quência n atu ral dos núm eros inteiros. Ver é som ente a principal das virtudes m orais,
N úm ero e Ordinal. é a ú n ica v irtu d e, a v irtu d e m ãe, fu n d a ­
2?: A ordem da natureza (D . N atur- m e n ta l, u n iv e rs a l.” Ib id ., cap. II.
ordnung) é o c o n ju n to das repetições m a ­ M ais especialmente:
n ifesta d as sob a fo rm a de tip o s o u de leis B. C lasse de seres, d e fa to s , de ideias
pelos o b je to s p erceb id o s. “ D ie O rd n u n g o u de sen tim en to s. D iz-se (de p referên ­
u n d R egelm ässig keit a n d en E rsch ein u n ­ cia a g ênero ou classe) q u a n d o se q u er
gen , die w ir N a tu r n e n n e n ...” 1 Kτ ÇI , ac e n tu a r q u e se tr a ta d e v alo res in co m ­
Krit. der reinen Vern., A 125. p aráv eis en tre si. “ A o rd em d a n a tu re ­
za; a ordem d a g ra ç a .” “ D e to d o s os co r­
1. “ A o rd em e a re g u larid ad e nos fenôm enos,
p o s re u n id o s, n ã o se p o d e ria fazer com
a que nós ch am am o s N a tu r e z a ...” êx ito u m p e q u e n o p e n sa m e n to ; isso é

N ã o se p o d e ria te n ta r d a r u m a d e fin ição g eral d e o rd e m e d izer q u e , em to d a s


as acepções a ssin alad as, u m a id éia pelo m en o s é c o m u m , a de u m a relação inteligí­
vel! A ssim , ordem op õ e-se a desordem , n a q u a l n ã o co n sta ta m o s sen ão u m estad o
d e fa to , sem p o d e r d aí ex tra ir q u a lq u e r relação d efin id a d e q u a lq u e r m o d o que seja .
(A lém de q u e, talv ez, ap en as ex ista a í u m a ilu são e to d a d eso rd em n ã o seja n o fu n d o
sen ão co n h ecim en to c o n fu so o u au sên cia d e c o n h ecim en to ; é p elo m en o s o q u e se
p o d e re te r, p arece-m e, d a crítica fe ita d e sta id éia p o r B erg so n n a ev o lu ção c ria d o ra .)
P o r o u tro la d o , a relação d esco b erta e n tre o b je to s de p e n sa m e n to p o d e ser m ais
o u m en o s intelig ível; d o n d e o s g rau s n a o rd e m ; e ela p o d e ser intelig ível de v árias
m an eiras diferentes:
1 ?: N o sen tid o d e q u e o lu g a r d e u m te rm o é e x atam en te d e te rm in a d o em rela ção
ao s o u tro s, m esm o que n ã o v ejam o s u m a ra z ã o d ire ta p a r a q u e esse lu g ar seja este
e n ã o aqu ele: p o r ex em p lo , a o rd e m d o s alg arism o s n a ex p ressão n u m érica d e II .
2?: N o sen tid o de que o lu g ar d e c a d a te rm o p arece d ete rm in a d o p o r u m a ra z ã o
g eral, c o n fo rm em en te ao p rin cíp io d e cau salid ad e o u a u m a lei.
3?: N o sen tid o de que o lu g ar d e c a d a te rm o é n ã o só d eterm in áv el o u inteligível
p o r u m a relação q u a lq u e r, m as ta m b ém q u e esta m esm a re lação p arece ra c io n a l, sa­
tisfa tó ria p a ra o esp írito e p a ra o c o ra ç ã o , c o m p o rta n d o u m a ra z ã o d e ser p ró p ria
e, a m a io r p a rte das vezes, u m v alo r de fin alid ad e: d aí as id éias d e ordem social,
moral, estética, etc ., e fin alm en te a id éia m etafísica d e o rd e m a b so lu ta . (D. Parodi)
O R D E N A Ç A O (M éto d o de) 772

im po ssível, de u m a o u tra o rd e m .” P τ è ­ A . D ispor seg u n d o u m a o rd em . “ O r­


Tτ Â , Pensam entos, ed . B ru n sch v ., 793. d en ar em sé rie .”
D a í, talv ez, o uso m a tem ático deste te r ­ B . E sp ecialm en te: “ C h am am o s aqui
m o p a ra d esig n ar g ran d ezas in c o m p a rá ­ ordenar a ação do esp írito p ela q u al, te n ­
veis e, em p articu lar, os in fin itam en te pe­ do so b re u m m esm o te m a ... diversas
q u en o s “ de d iferen te s o rd e n s ” . id éias, div erso s ju ízo s e div erso s racio cí­
C . E m b io lo g ia, su b d iv isão situ a d a n io s, ele os disp õ e d a m a n eira m ais p r ó ­
im ed iatam en te a seguir a “ C lasse” e a n ­ p ria p a ra fazer co n h ecer esse te m a .” L ó ­
tes de " F a m ília ” . “ A o rd em dos ru m i­ gica de P Ã 2 - R Ã à τ Â , in tro d . E sta o p e ­
I

n a n te s .” ra ç ã o , p a ra os a u to re s , n ão é o u tra coisa
D . C o n ju n to de pessoas d a m esm a ca­ sen ão o m é to d o , q u e é o o b je to d a q u a r ­
teg o ria social e q u e fo rm a m um co rp o . ta p a rte d a su a Lógica.
“ A o rd em do s a d v o g a d o s .” “ A s três o r­ C. “ O rd en ar p a r a ...” , dirigir p a ra um
dens (N obreza, Clero, T erceiro E sta d o ).” fim , su b o rd in ar com o m eio p a ra u m fim:
É nu m sentido análogo que se fala d o pes­ “ O co n h ecim en to é o rd e n a d o p a r a a
soal que en sin a n a “ o rd e m das le tra s” e a ç ã o .” E ste uso d a p a la v ra é b a sta n te r a ­
n a “ o rd em d as ciên cias” . ro ; en co n tra-se so b retu d o n a filo so fia re­
E . M a n d a m e n to , p rescrição . “ A s o r­ ligiosa.
dens d a ra z ã o , d a c o n sciên cia.” (S) É , p arece, u m a tra n sc riç ã o literal d a
Rad. int.\ A . B. C . O rd in ; D . K las; exp ressão latin a usu al n a Id ad e M édia or-
E . Im p er. dinare in fin e m aliquam . V er, p o r exem ­
p lo , o te x to d e S. T o m á s cita d o n o a rti­
O R D E N A Ç Ã O (M éto d o de) N o m e go Im anência, 1?.
d ad o p o r É d. C Â τ ú τ 2 è áE a u m teste psi­ D . D ar u m a o rd em , n o sen tid o E des­
co ló gico q u e consiste em fazer o su je ito ta p a la v ra .
classificar u m a série de objetos suscetíveis R ad. int.: A . B . O rd in (a r); D .
de u m a classificação serial o b je tiv a c o ­ Im p er(ar).
n h ecid a pelo e x p e rim e n ta d o r e em m ed ir
p o r m eio d e u m a fó rm u la a p ro p ria d a o O R D IN A L D . O rdinal-...; E . O rdi­
desvio en tre a o rd em v e rd ad eira e a o r ­ nal; F . Ordinal; I. Ordinale.
d em e sta b e le c id a . (É d . C Â τ ú τ 2 è á E , A . R elativ o à o rd e m , n o sen tid o A ,
N ouvelle m éthode de m esure de la sensi- 1?. E m p a rtic u la r, diz-se dos n ú m eros e n ­
q u a n to d esig n am u m g rau d e su cessão:
bilité et des processuspsychiques, A rc h i­
ves des Sciences P sy ch iq u es e t N atu relles p rim e iro , seg u n d o , te rc e iro , etc.
de G enève, m a rç o d e 1912.)
B. “ P ro b a b ilid a d e o rd in a l” , ex p res­
são p ro p o s ta p o r R ené B 2 E I 7 Â Ã
E Ip a ra
Rad. int.·. O rd in a d .
d esig n ar o q u e C o u rn o t ch am av a, com
O R D E N A R D . A . B. C . Ordnen; E . u m te rm o tid o p o r d em a sia d o vago,
Befehlen; E . To order, F . O rdonner, I. “ p ro b a b ilid a d e filo só fic a ” (Un rom an­
Ordinaire. tism e utilitaire, I, 2? p a rte , cap . V ). V er

E xiste u m a lig eira im p ro p rie d a d e em d a r a um gênero o n o m e de ordem (sen tid o


C). U m g ên ero co m p reen d e in d iferen tem en te os a tu a is e os p ossív eis; u m a o rd em
só p o d e ser c o m p o sta p o r a tu a is. ( /. Lachelier)
C o u rn o t insistiu m u ito n a d istin ç ã o e n tre ordem lógica e ordem racional: a p ri­
m eira consiste em en cad ear os fa to s seg u n d o a o rd em lin ear, q u e é a d o d iscu rso ;
ela p o d e co ag ir o esp írito sem o esclarecer; a seg u n d a co n siste em ex p o r “ a o rd em
seg u n d o a q u al os fato s, as leis e as relaçõ es, o b je to s d o no sso co n h ecim en to , se e n ­
cad eia m e p ro ced em u n s dos o u tr o s ” . (Essai, § 17, 24, 247.) (F. M entré)
773 O R G A N IC IS M O

probabilidade*. E sta expressão atualm ente taçõ es d a v id a , c o m o a q u e d a d o s c o rp o s


to rn o u -se corrente: ver, p o r exem plo, J . é u m a m a n ife sta ç ão d o peso. T al é o sis­
áE Lτ Hτ 2 ú E , D e Vordre et du hasard te m a u m p o u co indeciso ao q u al se aliam ,
(1936), em que é freqüentem ente utilizada. a título s diversos, H aller, Bichat e, de um
O te rm o o p o sto é probabilidade n u ­ m o d o g eral, a esco la m éd ica d e P a ris.
mérica. C h am am o s-lh e organicism o p o rq u e a vi­
d a , deste p o n to de vista, é inseparável dos
O R G A N IC IS M O D . O rganizism us ;
ó rg ão s v iv o s.” “ N o v as in vestigações so ­
E . Organicism; F . Organicisme; I. Orga- b re a a lm a ” , R ev. des d eu x m ondes, 15
nicism o. d e ag o sto d e 1862, p. 983.
A. O p o sto d e anim ism o e vitalism o, B. SÃT« ÃÂ Ã; « τ . D o u trin a seg u n d o a
d o u trin a seg u n d o a q u al “ a v id a é o re­ q u al as so cied ad es são o rg an ism o s a n á lo ­
su lta d o d a o rg a n iz a ç ão ” . J τ ÇE I , Trai té gos ao s seres vivos, e a so cio lo g ia u m ra ­
de p h ilo s ., § 687. O que p o d e e n te n d e r­ m o d a b io lo g ia. “ O s org an ic ista s n u n c a
se seja no sen tid o d e que a v id a re su lta a firm a ra m q u e as so cied ad es são p lan tas
m ecan icam en te d a co n fig u ra ç ão e do jo ­ e an im ais q u aisq u er; eles afirm a ra m que
go do s ó rg ão s (é assim qu e o en ten d e J a ­ são seres vivos d e u m a n a tu re z a p a rtic u ­
n et n a p assag em c itad a); seja n o sen tid o lar, q u e obedecem co n tu d o às leis g e r a is -
de que cad a ó rg ã o é d o ta d o de p ro p rie ­ e stu d a d a s p ela b io lo g ia !’ N o v ic o w , “A s
d ad es vitais q u e lh e sã o p ró p ria s: é assim castas e a so cio lo g ia bioló gica”, Rev. p h i­
q u e o defin e Sτ « è è E I : “ E xistem certo s los., 1900, II, 373. “ [N ão co n sid eran d o as
c o rp o s... q u e , além d as suas p ro p rie d a ­ so cied ad es artificiais] d a ría m o s talvez a
des físicas e q u ím icas, m an ife sta m u m a p rim azia a o organicism o, m as correríam os
p ro p rie d a d e de u m n o v o g ên ero : eles são tam b ém o risco d e m u tila r a sociologia!’
suscetíveis de se c o n tra ir, d e se irrita r, d e BÃZ ; Â K , “ O pro cesso d a socio lo gia b io ­
s e n tir ... São estas as fo rm a s, as m an ifes­ lógica”, ibid., 1901, II, 140.

Sobre O rg an icism o e O rg an ism o — E m b io lo g ia, o sen tid o p ró p rio d e organicis­


m o é designar a d o u trin a d e RÃè I τ Ç , p ro fesso r n a F acu ld ad e de M ed ic in a d e P aris
(1790-1866). A su a E xposition des príncipes de Torganicisme foi p u b licad a em 1846
e C lau d e BE 2 Çτ 2 á , nas Leçons sur les phénom ènes de la vie, I, 31, ap ro x im a a su a
con cepção d a de D escartes. Yves DE Â τ ; E aplicou este n o m e à p ró p ria d o u trin a de D es­
cartes so bre a relação d a v id a e d a o rg an ização (L epro to p la sm a et Thérédité, 720-721).
É verdade q u e ele a larg a m u ito o seu sen tid o , u m a vez q u e nele co m p reen d e tam bém
B ich at, C lau d e B ern ard , R oux, etc.
E m so ciologia, a expressão “o rg an ism o so cial” foi m u itas vezes u tilizad a p o r C ÃO -
I E , p o r exem plo Curso de fil. p o s., 50? lição: “ É so b re tu d o neste sen tid o (a c o o rd e ­

n ação c o m p lem en tar d e seres diferentes q u e c o o p eram em v irtu d e dessas diferenças)


que o o rg an ism o social deve assem elh ar-se c a d a vez m ais a o o rg an ism o dom éstico!’
E d. Schleicher, t. IV, p. 316.
So bre a co n cep ção o rg an icista d a so cio lo g ia, ver Eè ú « Çτ è , “ S er o u n ã o ser”, Re-
vu ep h ilo so p h iq u e, 1901,1, 465 ss., em q u e se o p õ e a o o rg an ic ism o sociológico, afir­
m an d o , co n tu d o , q u e a so cio lo g ia é u m ram o d a b io lo g ia n o sen tid o lato. E le tin h a
an terio rm en te caracteriz ad o a so ciedade diz en d o que ela era u m “o rg an ism o de idéias”.
Sociétés animales, p. 361. C f. BÃZ ; Â é , “ O processo d a socio lo gia b ioló gica”, Revue
philos., 1901, II, 121 ss.
Ver a in d a so bre o “o rg an ism o social”, “o o rg an ism o c o n tra tu a l”, etc., u m a lo n g a
discussão crític a em F o u i l l é e , La Science sociale contemporaine, livro II: “O o rg a ­
nism o social e a escolh a natu ralista.”
O R G Â N IC O 774

C. T en d ên cia p a ra a trib u ir u m a c a ureza


­ pro v ém de u m vício o rg ân ico do sis­
sa o rg án ica a to d o s os fen ô m en o s m en ­ te m a .” ST7 E 2 E 2 , H egel et l ’hégélianisme
ta is, esp ecialm en te às psicoses. V. p . ex. (M élanges d ’hist. relig ieuse, p. 333).
Dτ Â ζ « E U , La m éthode psychanalitique, D . P o r o p o sição a mecánico*, diz-se
521. E ste sen tid o é ra ro . de u m d esen v o lv im en to q u e resu lta de
u m a fo rç a ú n ica, c e n tra l, in te rn a , a g in ­
NOTA
d o de m a n e ira teleo ló g ica, e n ão de u rna
E sta p a la v ra ap re se n ta tam b ém em ação ex terio r, o u d e u rn a so m a de ações
m ed icin a u m sen tid o té cn ico que n ã o se ele m en ta res ad icio n ad as sim plesm ente.
deve c o n fu n d ir com o s precedentes. S o b re esta an títese, q u e ap arece p rim ei­
A plica-se à d o u trin a segun do a qu al q u al­ ro em Kτ ÇI , H E 2 áE 2 , J τ TÃζ « , e q u e d e­
q u er do en ça p ro v ém d a lesão de u m ou sem penhou u m papel considerável em to ­
de v ário s ó rg ão s. V er L« I I 2 é , D ict. de d a a filo so fia ro m â n tic a alem ã, ver R.
m édecine, sub V ?; DE T7 τ Oζ 2 E e M a- E ucken, Geistige Ström ungen der Gegen­
th ia s DZ âτ Â , Dict. des Sciences m edica­ wart, seção B, § 2 (tra d . BZ 2 « ÃI e Lo-
les, ibid. Q U E T , L es grands courants de la pensée

O R G Â N IC O D . Organisch, Organi- contem poraine, p p . 164-184).


siert\ E . Organic; F. Organique; I. Or­ E . P ro d u z id o pelo s tecid os vivos (ou
gânico. m esm o , com u m a fo rte elipse, dizendo
A . C o m p o sto de p a rte s q u e p o d em resp eito ao s co rp o s p ro d u z id o s pelo s te ­
d esem p en h ar funções d iferen tes, d istin ­ cidos vivos). “ Q u ím ic a o rg â n ic a .” A p a ­
tas e co o rd en ad as. “ U m to d o o rg ân ico .” lav ra, neste sen tid o , o p õ e-se a organiza­
A p a la v ra , neste sen tid o , é sin ô n im a de do: “ O que se cria a rtificialm en te n o s la ­
organizado. A 2 « è I LI E Â E è opõe, nos co r­ b o ra tó rio s são substâncias orgânicas,
pos vivos, as p a rte s “ o rg â n ic a s” (ò ç y a - q u er d izer, su b stâ n cia s q u e , n a na tu re z a ,
v ix á ) o u “ a p o m o e o m é ric as” (cxvo/ioio- só os co rp o s vivos elab o ram e p ro d u zem ;
neç ij), tais com o a m ão ou o ro sto , às p ar­ m as n ã o é d e su b stân cias o rg ân icas que
tes “ h o m o eo m éric as” (hom og êneas), tais se tr a ta a q u i, é d e seres organizados, quer
com o o sang ue, a carne, etc. V er especial­ d izer, d e co rp o s cap azes d e exercer to d a s
m en te D as p a rtes do s anim ais, II, 1, as fu n çõ es d a v id a, alim e n ta ç ã o , re p ro ­
646b26, 64 7a3; D a geração d o s anim ais, d u ç ã o , e tc .” C h . D Z Çτ Ç , Essais de pili­
I I , 1; 734b28, etc. los. générale, § 271.
B. Q u e o rg an iz a, q u e c o n stitu i. “Lei F . A vida orgânica ou vegetativa, quer
orgânica, lei fu n d a m e n ta l q u e o rg an iza dizer, o conjunto dos fenômenos comuns
u m a in stitu iç ão !’ L« I I 2 é , su b V o. Fre- a todos os seres vivos, é oposta à vida ani­
q ü en tem en te u tilizad a p o r S ain t-S im o n , m al p o r B« T7 τ I . CÃZ 2 ÇÃI louvou e
A ug . C o m te p a ra desig n ar (com u m a co ­ ad o to u esta distinção (Essai su r les fo n -
n o ta ç ã o la u d a to ria ) o q u e é p ró p rio p a ra dem ents d e n os connaissances, 1 ,269 ss.).
p ro d u z ir o u favorecer a o rg an ização . “ O G . R elativ o aos ó rg ã o s d o co rp o h u ­
esp írito teo ló g ico foi d u ra n te m u ito tem ­ m a n o e p o r co n seq ü ên cia :
p o orgânico... m as o esp írito m etafísico 1?; C orporal (em o p o sição a p síq u i­
pro p ria m en te dito... n u n ca p ô d e ser senão c o , m en tal).
crítico’.' A u g u ste CÃOI E , Discurso sobre 2?; Som ático, periférico (em oposição
o espírito positivo, § 32, cap. III. a c e re b ral, c e n tra l, n erv o so ). “ D o en ças
C . D iz-se, p o r co n seg u in te , d a q u ilo o rg ân icas.” C ham a-se m u itas vezes, neste
q u e re su lta n ão d e u m acid en te, m as d a se n tid o , sensações o rg ân icas (D . Orga­
o rg an ização , d a p ró p ria co n stitu iç ã o d e nem pfindungen; E . Organic sensations)
u m a coisa. “ E s ta so lu ção de c o n tin u id a ­ a o c o n ju n to d a s sensações m u scu lares,
de e n tre a Lógica e a Filosofia da natu­ re sp ira tó ria s, cenestésicas. M as esta ex­
775 ORGULHO

p ressão é ta n to m ais im p ró p ria q u a n to a sinô nim o de orgânico no sentido A . “ E in


p a la v ra órgão é p recisam en te co n sa g ra ­ o rg an isiertes P ro d u k t d er N a tu r ist d as,
d a p a ra desig n ar os ap arelh o s que p ro ­ in w elchem alles Z w eck, u n d w echselsei­
duzem as sensações de relação (visão, a u ­ tig au ch M ittel is t.” 2 Kτ ÇI , Krit. der Ur­
d iç ã o , p a la d a r, ta to , etc.) teilskraft, § 66. M em oria organizada, ver
R ad. in t.: A . O rg an izit; B. O rgani- M em oria.
z a n t, O rg an izem ; C . E sen cal; D . V ivai; B . V ivo; o põe-se e n tã o a Orgânico no
E . O rg a n ik ; F . V ejetiv; G . O rg an al. sen tid o C. V er e s ta p a la v ra .
R ad. int.: O rg an iz it.
O R G A N IS M O D . Organismus; E.
O rganism ; F . Organisme; I. O rganismo. O R G A N O N ou O RG A N U M G. ο ρ -
A . Ser viv o, co n sid erad o so b retu d o yavov.
e n q u a n to co m p o sto de p artes qu e p o dem A . C o n ju n to das o b ra s de lógica de
realizar funções diferentes e coordenadas. A 2 « è ó Â è : as Categorias, ο
I I E E Π ε ρ ί
B . P o r m e tá fo ra , aplica-se a tu d o 'Ε ρ μ η ν ε ί α * (d a In te rp re ta ç ã o ), os A n a ­
a q u ilo q u e a p re se n ta u m c a rá te r a n á lo ­ líticos, o s Tópicos, Ο Π ε ρ ί σ ο φ ι σ τ ι κ ώ ν
g o . “ O o rg an ism o e c o n ô m ic o .” A s v a n ­ eké-γ χ ω ν (d o s S o fism as). Ju n ta -se-lh es
tag en s e os p erig os d esta m e tá fo ra , assim m u itas vezes a Ε ι σ α γ ω γ ή (Isagoge, in tro ­
c o m o os so fism as q u e p o d em re su lta r do d u ção ) de P Ã 2 E « 2 « Ã . D a í, e n a esteira de
seu em prego em sociologia, são exam in a­ A ristó teles, o s títu lo s d e N o v u m Orga­
d o s n a d iscu ssão e n tre A . E è ú « Ç τ è , N Ã - n u m de B τ T Ã Ç , d o N eues Organon de
â « TÃç e B Ã Z ; Â é , R evu e p h ilo so p h iq u e, L τ Oζ 2 E I, d o U ltim um Organum de
1900 e 1901. C f. O rganicismo. S 2 τ á τ , etc.
I

R ad. int.: O rg an ism . B. O p o sto p o r K an t a cânone. V er es­


O R G A N IZ A Ç Ã O D . Organisation; ta p alav ra.
E . Organization; F . Organisation; I. Or- Ó R G Ã O D . Organ, Werkzeug; E . Or­
ganizzazione. gan; F. Organe; I. Organo.
A . C aracterística d aq u ilo que está o r­ A . S en tid o etim oló gico: in stru m en to
g an izad o (som ente n o sen tid o A ). “ L ife (G . ’O ç y a v o v ) , p artic u la rm en te n o sen ­
h as preceded o rg a n iz a tio n .” 1 C Ã ú , The E
tid o figurado. E ste sentido já n ã o é usual,
Primary Factors o f Organic Evolution, p. m as existiu até o século X V III: ver em
508. L « I I 2 é , sub V o, o s exem plo s de C h risti­
B. C o n ju n to fo rm a d o p o r p a rte s d i­ ne de P « è τ Ç , R Ã Çè τ 2 á , P τ 2 Z , B Ã è -
I

feren tes que c o o p eram (esta p a lav ra é è Z E I , M τ 2 OÃ Ç Â , etc.


I E

m ais am pla d o que organismo*, cujo sen­ B. P arte de u rn a m á q u in a , de um co r­


tid o é esp ecífic am en te bio ló gico). po vivo o u de u m a sociedade, caracteriza­
C. M odo segundo o q u al se exerce es­ d a p ela realização de u m a fu n ção d eter­
sa c o o p eração . m in ad a. “ O s órg ão s dos sentid os, d a lo ­
D . A ção de o rg an izar. com oção!’ E ste ú ltim o sen tid o en c o n tra ­
R ad. int.: A . O rg an izes; B. O rg a n i­ se já em A ristó teles, c o n ju n ta m e n te com
za); C . O rganiz; D . O rganizig .
o sentido etim oló gico. C f. Orgánico.
O R G A N IZ A D O D . A . Organisiert; Rad. int.: O rg an .
B. L eb e (wesen); E . Organized; F . Orga­ O R G U L H O D . Stolz; E . Pride; F.
nise; I. Organizzato. Orgueil; I. Orgoglio, superbia.
A . C o m p o sto de p arte s q u e p o dem V er as observações so b re Vaidade.
realizar funções diferentes e coordenadas;

2. “ U ra p ro d u to org anizado d a n atu reza é aq u e­


I. “ A vida preced eu a o rg a n iz a ç ã o .” le no qua! tu d o é ao m esm o te m p o fim e m e io .”
“ O R IE N T A Ç Ã O P R O F IS S IO N A L ” 776

“ O R IE N T A Ç Ã O P R O F IS S IO N A L ” a v ariáv el c o n sid e ra d a tem p o r v alo r ze­


D . Berufsberatung·, E . P rofessional gui- ro : “ A o rig em d as ab cissas, das lo n g i­
ding; F. Orientation professionnelle. tu d e s .”
E sco lh a d e u m a carreira p o r u m in d i­ P o r co n seq ü ên cia (so b re tu d o n o p lu ­
víduo, efe tu a d a p o r m eio d e testes esco­ ra l), p erío d o s e fo rm a s m ais an tig as de
lh id o s p a ra isto. C on vém d istin g u ir esta u m a re a lid a d e q u e se m o d ifica: “ U m a
expressão d e seleção profissional que d e ­ h istó ria d as Origens d o cristianism o d e ­
signa a escolha dos indiv íd uos ad eq u ad o s v eria in clu ir to d o o p e río d o o b s c u ro ...
p ara um em prego d ete rm in ad o (Éd. C Â τ - q u e se este n d e desd e o s p rim eiro s co m e­
ú τ 2 è á E ). ços d esta relig iã o a té o m o m e n to em que
a su a existência se to r n a u m fa to p ú b li­
O R IG E M (L. Origo, d e orior, que d e ­ co, n o tó rio , evidente ao s olhos de to d o s .”
signa essencialm ente a ap arição d e u m as­ R Ç á Ç , H ist. des origines d u christianis-
E

tro ao nascer); D . Ursprung, em to d o s os m e, to m o I , in tro d u ç ã o , p . X X X III.


sen tid o s (no sen tid o m a te m á tic o , N ull- B. R ealid ade a n te rio r e diferente d o n ­
p u n k t, A nfangspunkt); E . Origin; F. Ori­ d e alg o d eriv a p o r tra n s fo rm a ç ã o : “ O
gine; I. Origine. cristian ism o e as suas o rig en s: o ju d a ís ­
A . C o m eço : p rim e ira a p a riç ã o , p ri­ m o ; o h e le n ism o ” (títu lo d a o b ra d e E r-
m eira m an ifestação d aq u ilo de q u e se tr a ­ n est H τ â E I , 1872). E sp ecialm en te, li­
ta . “ A e n tra d a de S a tu rn o em L eão nh ag em g enealó gica . “ U m p o v o ... ¿ g a ­
assin ala-n o s a orig em d e u m tal c rim e .” d o p o r a lg u m a u n ião d e o rig em , d e in te ­
P τ è T τ Â , P en sa m en to s, n ? 2 9 4 , ed . resse o u de c o n v e n ç ã o .” J .- J . R Ã Z è ­
B runschv. èE τ Z , C ontrato social, II, 10.

P o n to d o espaço (ou m o m e n to d o G F ato q u e fez ap arecer u m a m an eira


te m p o ) de on d e p a rte u m a m ed id a, o n d e d e agir, u m costu m e, o u so d e u m term o,

S o b re O rig em — O rig em n ã o p o d e dizer-se sen ão d e um co m eço n o tem p o , de


u m p rim eiro fa to : no p ro b le m a d ito d a origem das idéias, n ã o se p o d e ria a p licar à
relação das fo rm a s a p rio ri com a m a té ria que elas o rg a n iz a m , u m a vez q u e n ã o exis­
te passag em , n o tem p o , d aq u elas p a ra esta; n o p ro b le m a d ito d a origem do m al, só
co nvém à p rim e ira fa lta , co m o p o r exem plo u m a q u e d a an g élica o u h u m a n a : u m a
ra z ã o m etafísica, com o “ a im p erfeição n a tu ra l das c ria tu ra s ” , n ã o deve ser d esig n a­
d a p o r este n o m e. N u m e n o u tro caso , é preciso dizer princípio. (J. Lachelier)
E sta p e rfe ita co rreção no em p reg o do te rm o origem seria ce rta m e n te m u ito dese­
já v el. M as n ã o é ra ro o u v ir fa la r de origem lógica, n o sen tid o de princípio, e o u v ir
o p o r esta ex p ressão à de origem cronológica ou histórica. P o r o u tro la d o , eis co m o
D u rk h eim d efin e o sen tid o q u e d á a esta p a la v ra : “ O estu d o que em p reen d em o s é
p o rta n to u m a m a n eira de re to m a r, m as em co n d içõ es n o v as, o v elh o p ro b le m a d a
origem das religiões. É claro que se p o r o rig em se en ten d e u m p rim e iro com eço a b ­
so lu to , a q u estão n a d a tem d e científico e deve ser reso lu tam en te a f a s ta d a ... T o ta l­
m en te d iferen te é o p ro b le m a que nó s nos p ro p o m o s. D esejaríam o s e n c o n tra r um
m eio de discern ir as cau sas, sem pre presentes, das q u ais d ep en d em as fo rm as mais
essenciais do p e n sa m e n to e d a p rá tic a relig iosa. O ra , essas cau sas são ta n to m ais fa ­
cilm ente observáveis q u a n to as so ciedades em que se o b serv am fo rem m enos com pli­
cadas. Eis p o r q u e p ro c u ra m o s a p ro x im a r-n o s das o rig e n s .” E em n o ta : “ V ê-se que
d am o s ta n to à palav ra origens, co m o à p alav ra prim itivo, u m sentido to ta lm en te relati­
vo. P o r elas entendem os n ã o u m com eço ab so lu to , m as o estado social mais simples
que é atu alm en te co nhecid o, e p a ra além do q ual n ão nos é possível p resentem ente re­
m o n tar. Q u a n d o falarm os das origens, dos inícios d a h istó ria e d o p ensam ento re-
777 O R IG E M

u m e rro , etc. A origem d e u m a in stitu i­ 2. P roblem a da origem das espécies.


ção s o d a !, neste sen tid o (q u er dizer, a A s espécies vivas fo ra m p ro d u z id a s tais
cau sa q u e a p ro d u z iu p rim itiv am en te), é quais são p o r u m a “ cria ção ” e contin uam
m u itas vezes o p o sta à sua fu n ç ã o . in v ariáv eis, o u tra n sfo rm a m -se , de m a ­
D . P rin c íp io , ra z ã o d e ser; p o r vezes, n eira que u m a m esm a linhagem te n h a
fa to ele m en ta r que explica u m o u tro . “ O passado historicam ente de um as a outras?
am o r-p ró p rio é a origem d a tim id ez.” Ver E , neste caso , quais são as causas e as eta­
C rítica e o b serv açõ es ad ian te. pas dessa tra n sfo rm a ç ã o ?
E . S in ô n im o d e Gênese (ver esta p a ­ 3. Problem a da origem da vida. P o ­
lav ra). d e rá a v id a p ro d u zir-se p elo sim ples j o ­
go d e reações físico-quím icas? Se ela co n ­
CRÍTICA siste n u m fen ô m en o c o n tín u o , su i gene-
T erm o m u ito equ ív o co e q u e e n tra no ris, o n d e e co m o se p ro d u z ia aq u ele do
q u al o b serv am o s h o je a co n tin u a ç ã o ,
en u n ciad o de m u ito s p ro b le m as tra d ic io ­
q u a n d o o g lo b o te rre stre n ã o a p re se n ta ­
n ais, em q u e re q u e r u m a c rítica especial
va as condições necessárias p a ra a sua rea­
p a ra c a d a caso :
lização?
1. P roblem a da origem das idéias, ou
4. Problem a da origem da linguagem.
d a origem d os nossos conhecim entos.
D ifícil d e d efin ir com p recisão . T a l c o ­
P o d e-se e n ten d er co m o sen d o d o in d iv í­ m o o p reced en te, tiro u o seu sen tid o de
d u o , o u d a h u m a n id a d e em g eral; d e o r ­ u m a o p o sição e n tre a tra d iç ã o bíblica
dem psicológica (juízos evidentes; concei­ (D eus rev elo u a linguagem a o ho m em ) e
to s irred u tív eis à sen sação ) o u de o rd em a co n cep ção p o sitiv a (A linguagem é u m
epistem ológica (causas suficientes o u oca­ fen ô m en o n a tu ra l). V er R E Çá Ç , Origine
sionais d a fo rm a ç ã o h istó ric a d o s nossos d u langage (1858; a n terio rm en te p u b lica­
co n h ecim en to s); o u de o rd em g nosio ló - d o so b fo rm a d e a rtig o s, n a L ib erté d e
gíca (p rin cíp io s a priori, n ecessariam en ­ penser, em 1848), em q u e ele p ro p õ e a
te im p licad o s pelo fa to de p erceb er e de fó rm u la tra n sa c io n a l: “ A linguagem é o
p en sar). Ver E m pirism o, Inato, Funda­ p ro d u to d e u m a rev elação in te rio r” , e o
m en to , etc. p refácio à reed ição em u m volu m e.

ligio so , é neste sen tid o q u e essas ex pressões devem ser e n te n d id a s .” L es fo r m e s élé-


m entaires de la vie religieuse, p . 11. V er ta m b é m H τ OE Â « Ç , Essai su r les élém ents
p rin cip a u xd e la représentation, p . 398. “ Q u a n d o se tr a ta d a orig em rad ical d a reali­
d a d e ... n ã o é d e u m a o rig em n a h istó ria e n o c u rso d a h istó ria q u e se co lo ca a q u es­
t ã o . ” “ A p ro v a o n to ló g ic a ... tem o seu lu g ar m a rc a d o n a n o ssa m a n e ira de c o m ­
p reen d er a o rig em p rim eira d a realid ad e to ta l.” Ib id ., 399, etc. L E « ζ Ç« U , D e rerum
originatione radicali, etc. (Aí. D rouin — A . L .)
E xiste alg o d e im p ró p rio n estas expressões, s o b re tu d o em m a té ria d e lógica. Ori­
gem lógica é d ecid id am en te u m a m á ex p ressão , q u e esco n d e u m a id éia v ag a. E m m a ­
té ria de m etafísica, p elo c o n trá rio , o em p reg o d a p a la v ra origem é m en o s ch o can te.
T o rn a -se necessário tra n s p o r p a r a as fo rm a s d a n o ssa rep re se n ta çã o a q u ilo q u e, p o r
n a tu re z a , escap a a essas m esm as fo rm a s. L eib niz se re p re se n ta um “ p rim e iro ” esta­
d o de co isas, em q u e os possíveis “ p reex istem ” a o real e lu tam n o en ten d im e n to di­
v in o , “ a n te s” q u e u m deles triu n fe e q u e a d u ra ç ã o “ co m ece” . É u m a espécie de
m ito . (7. Lachelier)
F a la n d o d a origem do m al, n ã o d ev eria an tes dizer-se: “ P ro b le m a d a origem d o
b em e do m a l” co n fo rm em en te à fó rm u la: “ Si D eus est, u n d e m alu m ? S i n o n est,
unde bonum T” (T h . R uyssen )
O R IG E M 778

5. P roblem a da origem do m al. “ Sig in á ria , p ela q u al o esp írito está sem pre
D eus est, un de m alu m ?” V em os que tam ­ p ro p e n so a s u b stitu ir a h istó ria real,
bém neste caso a q uestão é p rim itiv am en ­ q u a n d o fa lta m os d o c u m e n to s, o u q u a n ­
te d e o rd em teoló gica. d o n ã o se p re sta m a u m a c o n stru ç ã o que
M as, além d as d ificu ld ad es in erentes satisfaça a im ag in ação .
a cada u m destes prob lem as, é preciso n o ­ 2?: O fato de esta p alav ra im plicar fa­
ta r que em to d o s estes casos origem p o ­ cilm ente q u er a assu n ção tá c ita d e u m a
d e receb er do is sen tid o s: 1?, p o r elipse, origem única de o n d e as coisas saíram por
p a r a origem absoluta; e é neste sen tid o d iferen ciação , q u er a assu n ção tá c ita de
q u e a p ro sc riç ã o d e q u a lq u e r in vestig a­ u m a orig em tem poral, d e u m a d a ta a n ­
ção “ so bre as origens” se to rn o u u m a p a ­ tes d a q u a l o q u e se e stu d a n ã o existia.
lavra de ordem d a filosofia positivista; 2?, (C f. o se n tid o d a d o p o r R o u sseau à céle­
b re q u e stã o d a A cad em ia de D ijo n :
no sen tid o rela tiv o , c o n ju n to de tu d o
“ Q u al a orig em d a desig u ald ad e en tre os
aq u ilo q u e explica a a p a riç ã o de um fato
h o m en s, e se ela é a u to riz a d a p ela lei n a ­
no vo: m ateriais p reex iste n te s, cau sas e
tu r a l? ” ) O esp írito cien tífico e filosófico
circu n stân cias q u e o p ro d u z ira m . É evi­
p ro c u ra esp o n ta n e a m e n te a u n id ad e; daí
d en te qu e, neste seg u n d o sen tid o , n e n h u ­
a ten d ên cia p a ra ex p licar o div erso m o s­
m a o b jeção de p rin cíp io po d e ser le v an ­
tra n d o co m o ele se p ro d u z iu a p a rtir do
ta d a c o n tra o estu d o d a orig em ou das
u n o , p a ra d a r u m a rep resen tação d e tu ­
orig ens. E xistem , c o n tu d o , m esm o neste
do aq u ilo que existe e, em p a rtic u la r, tu ­
caso , do is p o n to s em q u e o em p reg o d es­ do a q u ilo c u ja existência nos c au sa a d ­
ta p a lav ra se p re sta a o so fism a e à p eti­ m ira ç ã o , com o se tivesse tid o a su a “ o ri­
ção de p rin cíp io im plícita: g e m ” n u m m o m en to d e te rm in a d o d o
1 ?: A in d eterm in ação d a ép o ca assim te m p o . M as tra ta -se d e u m a q u e stã o q u e
d esig n ad a. E ssa irreso lu ção é so b re tu d o n ã o deve ser n u n c a reso lv id a com a n te ­
sensível n a ex p ressão m u ito c o m u m e cedência n em im p licitam en te; o s fa to s,
m u ito vaga: na origem , a q u al os filó so ­ em caso s n u m ero so s e im p o rta n te s,
fos m o d ern o s fazem m u ita s vezes d esem ­ im p õ em -n o s, p elo c o n trá rio , a conclu são
p en h ar u m p ap el a n álo g o àquele que tem d e qu e tem os d e tr a ta r seja com c o n sta n ­
n o século X V III o “ e sta d o de n a tu re z a ” . tes às q u ais n ã o p o d em o s in d icar u m a
E la está en tre as fó rm u las que servem p a ­ “ o rig em ” , seja com u m a “ o rig em ” m ú l­
r a a exposição d a h istó ria a b s tra ta , im a- * 1 tip la , p o lig en ética, em relação à q u al o

E sta an títese p arece-m e c o n ter d u as questõ es in d ev id am en te m istu ra d a s:


1 : P a rtin d o d a idéia de qu e quodlibet ens est unum , verum , b o n u m , p erg u n ta-se
co m o se p ô d e p ro d u z ir esta an o m a lia , este fracasso p a ra o real e p a ra a razão m o ra l
d as coisas q u e co n stitu i o m al. P e rg u n ta -se , n u m a p a la v ra , p o r q u e é q u e a q u ilo que
n ão d ev eria ser é. E xiste, p o rta n to , neste sen tid o , u m p ro b lem a d a origem d o m al,
sem que exista u m p ro b le m a d a orig em d o bem .
2?: P a rtin d o d o p o n to de v ista, to ta lm e n te d ife re n te , de q u e a o rd em d a existên­
cia é in teiram en te d iferen te d a o rd em de v a lo r, p erg u n ta-se p o r q u e é que o seg u n d o
se so b rep õ e ao p rim e iro , p o r q u e é q u e n ã o viv em os n u m estad o de am o ralid ad e.
E sta fo rm a do p ro b le m a p arece ser aq u ela à q u al re sp o n d eram a hip ó tese d o decreto
divin o c rian d o o bem e o m al, a h ip ó te se u tilitá ria , etc. M as e n q u a n to que a p rim eira
p arte do dictum em questão exprim e a prim eira alternativa, o co n ju n to das duas partes
n ã o resp o n d e à seg u n d a. S eria preciso d izer, neste caso : “ Si D eus n o n est, u n d e m a ­
lu m et b o n u m ? ” (A . L .)
779 O T IM IS M O

estad o a tu a l se ap re se n ta co m o u m a sín­ “ o o rg an ism o c o n te ria em si direções de


tese e u m a assim ilação . d esen v o lv im en to p red eterm in ad as; ele
R ad. in t.: A . K o m en c, O rig in (Int. segui-las-ia fa ta lm e n te e n ã o p o d e ria se­
M at. Lexiko)·, B. R ad ik ; C . K au z; D . g u ir o u tra s ; m as n ã o as seg u iria e sp o n ta ­
K au z, elem ent; E . G enesi.
n eam en te; se p a ssa d e u m a fo rm a a o u ­
O R IG IN A L (a d j. e su b st.) D . U r..., tr a se ria so b a in flu ên cia expressa d e fa ­
Original (C , n o sen tid o p e jo ra tiv o , son- to re s e x te rn o s” . Rτ ζ τ Z á , L e transfor­
derbar, su b st. Sonderling); E . Original·, m ism e et l ’expérience, p . 286. O ser vivo
F . Original ; I. Origínale. se ria assim an álo g o aos c o rp o s isóm eros,
A . E tim o ló g icam en te: relativ o à o ri­ co m p o sto s, m as cu jo s á to m o s são susce­
gem , ou d a ta n d o d a o rig em . E ste sen ti­ tíveis de to m a r u m a série de fo rm as d ife­
do é ra ro . ren te s seg u n d o as co n d içõ es em que se
B. A q u ilo de q u e o u tra coisa é cópia p ro d u ziu a su a o rg an ização . E « OE 2 com ­
o u im ita ç ã o . “ O te x to o rig in al, o o rig i­ p a ra ta m b ém as tra n sfo rm a ç õ es d as fo r­
n al d e u m c o n tr a to .” P o r co n seg u in te, m as vivas a o jo g o de d esen h o n u m calei­
n o v o , q u e n ã o im ita n a d a a n te rio r. d o sc ó p io . A m u tação * é , assim , u m a o r ­
C . Q ue se n ã o assem elha a n a d a . Lau­ togênese b ru sca, e a orto gênese, u m a m u ­
dativam ente: q u e n ã o é b a n a l o u a b o rre ­ ta ç ã o g ra d u a l.
cid o . “ À m e d id a q u e se te m m ais esp íri­ R ad. int.: O rto g en ez.
to , descobre-se q u e existem m ais h o m en s
o rig in a is.” P τ è T τ Â , P ensam entos, peq. O S T E N S IV O D . O stensiv ; E . Osten-
ed. B ru n sch v ., n? 7. Pejorativamente: b i­ sive; F . O stensif; I. O stensivo.
zarro , d escuid ado em relação às regras de O p o sto de Apagógico*: diz-se das p ro ­
c o n d u ta co m u n s. M u itas vezes, p o r lito ­ vas diretas q u e m o stram a dependência d a ­
te: ex tra v a g a n te, d e e sp írito u m p o u co quilo que é d em o n strad o relativam ente aos
p e rtu rb a d o . É o su b sta n tiv o so b retu d o princípios d e que p arte a d em o n stração .
que se to m a neste sen tid o . LE « ζ Ç« U , N o v o s ensaios, IV , 8.
É u su al (so b retu d o nos lógicos ingle­
CRÍTICA
ses) o p o r, n a teo ria d o silogism o, a re d u ­
E ste te rm o , c u jo sen tid o se tra n s fo r­ ção “ ostensiva” dos m od o s à prim eira fi­
m o u com o u so , é a tu a lm e n te a m b íg u o , g u ra (redução q u e é possível em quase to ­
a o m esm o tem p o devid o a o eq u ív o co en ­ dos os casos), à red u ção “ in d ireta” ou
tre A e C e às d u as co n o taçõ es c o n trárias “ ap agógica” , q u e é necessária p a ra t a r a ­
deste ú ltim o . co e Bocardo.
N o sen tid o A , é p referív el dizer sem ­
p re , em fran cês, originei. O T IM IS M O D . Optimismus·, E. O p­
Rad. int.: B . O rig in al; C . S tra n j. timism; F. Optim isme; I. O ttim ism o.
A . P rim itiv am en te, d o u trin a de LE « ζ
O R T O G Ê N E S E D . O rthogenesis ; E . Niz, segund o a q u al o m u n d o atu al é o
Orthogenesis·, F . Orthogénese; I. Orto- m elh o r e o m ais feliz do s m u n d o s possí­
genesi. veis (ver principalm ente Teodicéia, § 416).
D o u trin a de E « OE 2 (D ie E ntstehung P o r conseqüência, diz-se de qu alq u er o p i­
d er A r te n , 1888; O rthogenesis der n ião segund o a q u al o m u n d o to m ad o no
Schm ettertinge1, 1897), seg u n d o a q ual I. seu to d o , e ap esar d a realid ad e do m al, é
u rn a o b ra b o a , preferível ao n a d a , e n a
I . A origem das espécies ; A ortogênese d a s bor­ q ual a felicidade leva d e vencida a ad v er­
boletas. sidade.

S o b re O tim ism o — A rtig o rem o d e la d o c o n fo rm e as observações d e J. L a ch elier,


B ru n sch vicg e D ro u in .
OL 780

B. N o sen tid o a b so lu to , d o u trin a se­ E. E stado de espírito daquele que co n ­


g u n d o a q u al tu d o o que existe é b o m ; o fia que tal aco n tecim en to co rra b em , que
m al n âo é sen ão u m a ap a rê n c ia e u m a vi­ ta l ta re fa te n h a êx ito , etc.
são re lativ a, in a d e q u a d a . A p lica-se, n es­ C f. M al, Pessim ism o, M eliorism o.
te se n tid o , à d o u trin a e stó ica, a o esp in o- R ad. int.: O tim ism .
sism o , e s o b re tu d o à d o u trin a d e P Ãú E : O U D . Oder, E . Or; F . Ou; I. O.
“ W h atev er is, is rig h t” (T u d o o q u e é, Signo lingüístico de disju nção (seja no
é b em ). Essay, 1, 294. sentido exclusivo, seja n o sentido n ã o ex­
C . C a rá te r, d isp o sição q u e co n sid era clusivo). V er tam b ém Alternativa.
d e p referên cia o la d o b o m das coisas.
O U T R O D . A nder; E . Other; F . A u -
D . P o r vezes, no sen tid o p e jo ra tiv o ,
tre; 1. A ltro .
a titu d e q u e consiste em fech ar v o lu n ta ­
U m d o s conceitos fu n d am en ta is do
riam en te os o lh o s à realid ad e de u m m al,
pensam ento ; impossível, p o r conseguinte,
o u d o m al em g eral, p a ra n ã o p recisar
de definir. O põe-se ao M esm o*, e expríme­
co m b atê-lo o u explicá-lo filo so ficam en ­ se ain d a pelas p alav ras diverso*, o u dis­
te: “ A acu sação de otim ism o é ain d a m e­ tinto*. E ste últim o term o refere-se, d e p re­
n o s fu n d a d a q u e a p reced en te (a de fa ta ­ ferência, à o p eração in telectual p ela qual
lism o); p o rq u e essa ten d ên cia n ã o o fere­ se recon hece a alte rid ad e, en q u an to o p ri­
ce de m o d o a lg u m , co m o a o u tra , u m a m eiro se aplica especialm ente à existência
c e rta so lid aried ad e inicial com o esp írito desta con sid erad a com o objetiva.
p o sitiv o .” A u g . C ÃOI E , Discurso sobre Ver Idêntico e M esm o.
o conjunto do positivism o. Rad. int.: A ltr.

E sta p a lav ra foi u tilizad a, pela p rim eira vez, parece, pelos p ad res jesu ítas, de Tré-
vo u x , re d ato res das M ém oires p o u r 1’histoire des Sciences et des beaux-arts, n a rese­
n h a d a Teodicéia de LE « ζ Ç« U ; aplica-se esp ecialm en te à te o ria seg u n d o a q u a l, se­
g u n d o ele, o m u n d o é um optim um ou um m áxim um . “ E m term os d a a rte, ele cham a-
lhe a razão d o m elh o r, ou m ais sab iam en te a in d a , ta n to teo lo g icam en te co m o geo­
m etricam ente, o sistema do O ptim um ou do O tim ism o.” M émoires, fevereiro de 1737;
o te rm o está in clu íd o n o D ictionnaire d e Trévoux (1752) e foi a d o ta d o p ela A cad e­
m ia fran cesa em 1762. O ro m a n c e d e V o ltaire C ândido o u o O tim ism o (1758) c o n tri­
b u iu m u ito p a ra d iv u lg ar esta p a la v ra . (R. E ucken — C. C. J. W ebb)
É p reciso acrescen tar q u e V o ltaire, c ren d o c ritic a r L eib niz, n a realid ad e re je ita
a tese seg u n d o a q u al tu d o é essen cialm en te b o m , n ã o sen d o o m al sen ão u m a ilu são
e u m a a p a rê n c ia, o que co n stitu i, aliás, a d o u trin a de P o p e (que se liga, atrav és de
B o lin g b ro k e, a E sp in o sa). A v e rd a d e ira origem d o Cândido está , a liás, n a q u erela
en tre V o ltaire e R o u sseau ; é u m a re sp o sta à Carta sobre a providência, d irig id a a
V oltaire p o r R ousseau p a ra re fu ta r o Poem a sobre o desastre de Lisboa (1756). (A. L .)
So bre O u tro — Ch. W erner le m b ra q u e P la tã o , n o Sofista, d efin iu o O utro co ­
m o d iferen te d o Ser, e reestab eleceu , c o n tra P a rm ê n id e s, a ex istên cia do n ão -ser.
P

P L ó ; « Tτ . N Ãè nom es de silogism os, “ T u d o o que se faz o u q u e aco n te ce de


assin ala que é necessário , p a ra red u zir o nov o é g eralm en te c h a m a d o pelos filó so ­
m o d o desig n ad o a um m o d o d a p rim eira fos paixão d o p o n to d e v ista d o su jeito ao
fig u ra , con v erte r de u n iv ersal em p a rti­ q u a l aco n te ce, e ação d o p o n to d e v ista
cu lar (per accidens) a p ro p o siç ã o desig­ daquele que faz com que aconteça; de m o ­
n a d a p ela vo gal q u e preced e ¡m ed iata­ d o q u e a in d a que o agente e o paciente se­
m en te este sím b o lo . ja m m u itas vezes b a sta n te d iferen tes, a
E m certas fó rm u las esq uem áticas das a ç ã o e a p a ix ã o n ã o d eix am de ser sem pre
p ro p o siçõ es, P designa o p red icad o . u m a m esm a coisa que tem dois nom es, em
P è « TÃÂ Ã; « τ . A b re v ia tu ra p ro p o sta virtude dos dois sujeito s diversos aos quais
p o r C Â τ ú τ 2 è á E p a r a d esig n ar o su jeito p o d e m o s re la c io n á -la .” D E è Tτ 2 I E è , A s
(patiens ) d e u m a experiência psicológica, p aixões da alm a, I, a rt. 1.
sen d o o ex p erim en tad o r designado p o r A E sp ecíficam en te, as “ p aix õ es” (p o r
(VI C o n g resso In te rn , d e P sico lo g ia, ab rev iação de “ p aix õ es d a a lm a ” ) são ,
1909). n o século X V III, to d o s os fenôm enos p as­
P A IX Ã O D . A . L eid en ; B. Leiden­ sivos d a alm a , q u er d izer, p a ra os ca rte ­
sch a ft (L eidenschaften, passiones anim i, sia n o s, as m odificações que nela são ca u ­
Kτ ÇI ); E . Passion-, F . P a ssio n ; I. sad as p elo cu rso d o s esp írito s an im ais e
Passione. os m ovim ento s q u e daí resu ltam . “ A p ai­
A . Sentido prim itivo (ttáaxeiv, irádos, x ão é u m m o v im en to d a a lm a q u e, to c a ­
u m a das dez categorias de A 2 « è I MI E Â E è ): d a pelo p razer o u pela d o r sen tid a ou

S obre P a ix ã o — Sentido A . O d esap arecim en to deste sentido será de lam en tar?


S eria necessário , n a linguagem filo só fic a, relevar essa acep ção o u criar u m te rm o
n o v o p a ra a rep resen tar? D izia-se n a p rim e ira re d ação deste artig o que a an tig a o p o ­
sição en tre ação e paixão “ rep resen tav a u m m o d o b a sta n te su p erfic ia l d a d escrição
dos fa to s, tira d a sem d ú v id a p o r A ristó teles d a d istin ção en tre as fo rm as ativ as e
passivas dos v e rb o s” (T2 E Çá E Â E Çζ Z 2 G, D e A ristotelis categoriis, p . 15), distin ção
à q u al já n ão atrib u ím o s im p o rtâ n c ia ló g ic a, e que n ã o está de a c o rd o com o p o n to
de v ista d a física m o d e rn a , em que as ações e reaçõ es são co n sid erad as com o recí­
p ro cas. J. Lachelier p en sa, p elo c o n trá rio , que esta d istin ção era p r o fu n d a e im p o r­
ta n te , e le m b ra o p ap el co n sid eráv el que a o p o sição en tre ag ir e so frer desem penha
n a filo so fia e prin cip alm ente n a teo ria d o conhecim ento , em E sp in o sa e Leibniz. C o n ­
sid era que seria b o m n ã o p e rd e r paixão n o sen tid o an tig o e etim o ló g ico .
N o sentido B. É certo q u e a id éia de tendência re p u g n a à e tim o lo g ia d a p a la v ra
paixão. O uso d eclaro u -se, m as n ã o creio q u e h a ja ra z ã o p a ra n o s felicitarm o s. A in ­
d a a g o ra , n ã o se p o d e ria restrin g ir o em p reg o d a p a la v ra paixão ao s caso s em q u e
se q u e r ex p rim ir q u e u m a in clin ação n a tu ra l é acid en talm en te re fo rç a d a e d irig id a
p a ra u m o b je to p a rtic u la r p o r alg u m a ação ex terio r? O inglês, neste p o n to , foi m ais
fran cês q u e o fran cês d e h o je . E m esm o n o alem ão , as d u a s p assag en s de Kτ ÇI e
de VÃÂ 3 Oτ ÇÇ c itad as n a C rític a deix am en trev er o c a rá te r passiv o d a p aix ão . Os
filó so fo s sem p re v ira m neste estad o u m a fra q u e z a e n ã o u m a fo rç a , u m a im p o tên cia
d a a lm a: fie r i sen tio e t excrucior. (J. Lachelier )
P A IX A O 782

im aginada num o bjeto, o pro cura ou d e ­ E ste ú ltim o sen tid o p arece h o je bem
le se afasta. Se tenho fom e, busco com estab elecid o en tre os psicólo gos alem ães
paixão o alim ento necessário; se queim a­ e franceses. É m ais d ifícil, p arece, fazê-
do pelo fogo, tenho um a forte paixão de lo ad m itir em in glês, o n d e passion c o n ti­
dele me a fa s ta r.” BOè è Z F I , Conh. de n u o u , n a língua corrente, m u ito m ais p ró ­
D eus e de si próprio, I, 6. x im a d o sen tid o q u e lh e d av am D escar­
B. E m OÇD« Â Â T , K ÇI , H F ; F Â
tes e os seus sucessores im ediatos: “A pas­
(ver esp ecialm ente Enciclop., § 472-474)
sion o f tears, a passion o f g rief, u m a cri­
e n o s psicólo gos m o d e rn o s, u m a p aix ão
se de c h o ro , u m a crise d e tristeza; in a
é u m a ten d ên cia com u m a certa d u ra ç ã o ,
a c o m p a n h a d a p o r estad o s afetiv o s e in ­ passion, com a rre b a ta m e n to ; fits o f p as­
te le ctu ais, p o r im agens em p a rtic u la r, e sion, acessos de c ó le ra .” P o r isso, os psi­
su fic ie n te m en te p o d e ro sa p a ra d o m in a r cólogos ingleses em geral a elim in aram da
a vid a do esp írito (p o d en d o este m an ifes­ sua n o m e n c la tu ra . T o d a v ia , o D icioná­
tar-se q u er p ela in ten sid ad e dos seus efei­ rio de *Z 2 2 τ à , assim co m o I OZ I e
to s , q u er p ela e stab ilid ad e e p e rm a n ê n ­ Bτ Â W « Ç (Baldw in’s D ic tio n ., II, 257 A )
cia d a su a ação ). “ A p a ix ã o é u m a in cli­ m en cio n am os dois sen tid o s e d ão co m o
n a ç ã o que cai no exagero, s o b re tu d o qu e exem plo d o seg u n d o a p a ix ã o pela m ú si­
se in sta la d em o ra d a m e n te, se faz cen tro ca (a passion f o r m usic), u m a devoção
de tu d o , que su b o rd in a as o u tras inclina­ ap aix o n ad a pela verdade (a passionate de­
ções e as a rra s ta a trá s de s i.” *τ Â τ + votion to truth). A expressão a ruling pa s­
PERT, É lém ents du caractère, 229; citad o sion (u m a p aix ão d o m in a d o ra ) é clássica
e a d o ta d o p o r R« OI , E s sai su r les pas-
(PÃú E ). E sp eram o s q u e este em prego
sions. C f. Em oção, Inclinação.
p o ssa g en eralizar-se. C f. Passividade.
CRITICA Kτ ÇI e, d ep o is d ele, v ário s p sicó lo ­
P ode-se ver a passag em d o sen tid o A gos alem ães d efin em a p a ix ã o pelo fa to
a o sen tid o B, em LE « Ç« U !N o v . ens., II, de ela p a ra lisa r a a ç ã o n o rm a l d a ra z ã o
X X , § 9). so b re a c o n d u ta . “ L e id e n sc h a ften ... ge-

Isso é v erd ad eiro até a ép o ca d a filo so fia ro m â n tic a , m as a p a r tir desse m o m e n to


com eça-se a deix ar n a so m b ra o c a rá te r passivo das im pulsões afe tiv a s, e a c o n o ta ­
ção p e jo ra tiv a q u e se ligava à p a lav ra p aix ão te n d e a d esap arecer: “ N u n c a n a d a de
g ra n d e ” , diz H E ; E Â , “ fo i cu m p rid o ou p o d e ria sê-lo sem as p aix õ es. É u m a m o ra ­
lid ad e m o rta , e m esm o freq ü en tem en te u m a m o ra lid a d e m u ito h ip ó c rita , a q u e se
eleva c o n tra a p aix ão pelo sim ples fa to d e ser u m a p a ix ã o .” F ilosofia d o espírito,
o b serv ação so b re o § 474. E n a m esm a ép o ca C h arles 'ÃZ 2 « E 2 escrevia: “ A s n o ssas
p aix ões m ais d ep reciad as são b o as d o je ito que D eus n o -la s deu; viciosa é a civiliza­
ç ã o , ou in d ú stria fra g m e n ta d a , q u e dirig e to d a s as paix õ es em sen tid o in v erso d a
su a m arch a n a tu ra l, e dos aco rd o s gerais a que ch eg aria m p o r si p ró p ria s n o regim e
s o c ie tá rio .” Théorie de T un ité universelle, I, 153. (A . L .)
U m a ten d ên cia p o d e to rn a r-se m u ito in ten sa de dois m o d o s b a sta n te d iferen tes:
1?, em co n seq ü ên cia de u m a fra q u e z a d a ra z ã o e d a v o n tad e: caso d o b ê b a d o ; 2?,
p o rq u e fo i ju lg a d a b o a e cu ltiv ad a v o lu n ta ria m e n te : caso do a m o r d a verd ad e p a ra
o cien tista. A p a la v ra p a ixão, se n o s lim itássem os à etim o lo g ia, d ev eria ser reserv ad a
p a ra o p rim eiro caso, n o q u al existe v e rd a d e iram e n te p assiv id ad e d a pessoa. P o ré m ,
é u tilizad a de m o d o co rren te n o seg u n d o caso, m esm o p o r p sicólo gos (p. ex. Ro us-
ta n , Leçons de psychologie ); diz-se: a p aix ão pela a rte , p ela verd ad e. É q u e, de fa to ,
a p a lav ra p a ix ã o d esp erta q u e r a id éia de cegueira, e e n tã o só se p en sa n o p rim eiro
783 P A L IN G E N E S IA ou P A L IN G E N E S E

h ö re n dem B egeh ru n g sv erm ö g en a n u n d P A L A V R A S (D efinições de) Ver D e­


sin d N eig ungen w elche alle B estim m b ar­ fin içã o , N om in a l, e no ap ên d ice, n o fim
keit der W illk ü r d u rch G ru n d sätze ersch­ d a presente o b ra , a n o ta so bre os d iferen ­
w eren oder un m öglich m a c h e n .” 1 K τ Ç , I tes sen tid o s d ad o s à o p o sição en tre as
Krit. der U rteilskraft, 121, n o ta . (T ra ta ­ “ D efin ições de p a la v ra s ” e as “ D efin i­
se s o b re tu d o , n e sta p assag em , de d istin ­ ções de c o isas” .
g u ir cla ram en te e n tre os sen tim en to s vio ­
P A L IN G E N E S IA ou P A L IN G Ê N E -
len to s, os A ffe k te e os L eidenschaften.)
S E G . v a \iy y e v e o í< x (de π ά λ ι ν ye veá is),
Ig u alm en te, V Ã Â 3 Oτ ÇÇ , c o m u m a p o n ­
ren ascim en to ; D . Palingenesie; E . Palin­
ta de h u m o r: “ D as W esen d er L eid en ­
genesis·, F . Palingénésie, palingénèse; I.
sch aften b esteh t d a rin , d ass bezüglich ei­
Palingenesi.
n e r K lasse v o n W o llu n g en die M axim e Sentido geral: renascim ento , ressurrei­
zw ar v ern o m m en , das W o llen ab er gegen
ç ã o , reg en eração . Especialmente:
d ie M axim e en tsch ie d en w ird .” 12 L eh r­ A. R etorno* periódico eterno dos mes­
buch der Psychologie, I I , 4 , 509. T u d o m o s acontecim entos, segundo a d o u trin a
isso é c o rre to , m as parece m ais u m a con - dos E sto icos. “ 'H X o y ix -ή ψ υ χ ή ...eis τ η ν
seqüência m o ral do que u m a defin ição d a à v e iQ Ía v τ ο ν c à ü v o s èxreíveT oa, x a i τ η ν
n a tu re z a das paix ões. π ( ρ ι ο δ ι χ ή ν TocKLyyeveaíav τ ώ ν ό λ ω ν ί μ -
R ad. in t .: B. P asió n . π ε ρ ι λ α μ β ά ν α . ” M τ 2 T Ã -A Z 2 é Â « Ã , Pensa­
m entos, X I, 1.
1. “ A s paixõ es d im an am d a facu ld ad e d e dese­ Β . R essu rreição d e to d o s os seres vi­
j a r e sâo tendências que to rn a m difícil o u im possível vos, seg u n d o C h arle s B Ã ÇÇ (Palingé­
E I

q u alq u er d e term in ação d a v o n ta d e p o r p rin c íp io s .” nésie philosophique, 1769), p ara quem es­
2. “ A essência das paixões co nsiste em que re­
ta id éia está estreitam en te lig ad a às de
lativ am en te a u m a classe d e vo liçõ es po ssu ím o s efe­
tiv a m e n te u m a m áx im a, m as a n o ssa v o n tad e “ e v o lu ç ã o ” e d e ap erfe iço a m e n to . D e
d eterm in a-se c o n tr a e s ta .” a c o rd o com su a d o u trin a , q u e ele rela-

caso , e co n d en a-se to d a p a ix ã o ; q u e r a id éia d e in te n sid a d e , e e n tã o falar-se-á, p o r


ex em p lo , d a p a ix ã o p ela v e rd a d e p a ra in d ic a r q u e este sen tim en to p o d e te r u m a in ­
ten sid ad e m u ito v iv a. E m su m a , a p a la v ra p a ix ã o é u sa d a em caso s m u ito d iferen tes,
p o rq u e tem , c o n fo rm e as p esso as, q u e r u m a c o n o ta ç ã o p e jo ra tiv a , q u er u m a c o n o ­
ta ç ã o la u d a tiv a . (R. Daudel)
P arece-m e q u e n o s do is caso s a p a la v ra paixão co n serv a c o n tu d o n a su a c o n o ta ­
ção a nu an ce de p assiv id ad e. M esm o q u a n d o se tr a ta de u m a te n d ên cia ra tific a d a
p ela ra z ã o , é-se “ a r r a s ta d o ” , “ a rre b a ta d o p ela p a ix ã o ” ; b a sta seguirm os u m im p u l­
so esp o n tâ n e o , seria m esm o o b rig a tó rio esfo rçarm o -n o s se quiséssem os resistir-lhe.
Q u a n d o o caso é o u tro , n ã o é a p a la v ra paixão que vem ao esp írito : n ã o se d irá que
o h o m em h ero icam en te m o ra l d e K a n t, que n ã o age sen ão p o r resp eito d o dever,
te n h a a p a ix ã o d o Bem . (A . L .)

S o b re P alin g en esia o u P alin g ên ese — V er ta m b é m R ÇÃ Z â « 2 , Essais de crit.


E E

genérale, Psychologie rationnelle (3? e d ., II, 277-283): “ É p elo fa to d e a tra n siç ã o ,


de o in terv alo e n tre as d u a s vid as n o s e scap ar, que a palin g ên ese n ã o é de fo rm a
alg u m a u m fa to d a ciência, m as u m a p ro p o sição e u m a cren ça cu jo s m o tiv o s são
ex traíd o s d a o rd em m o ra l.” “ A d o te m o s esta a n tig a d o u trin a dos E sto ico s que acre­
d itav am n a d estru ição e n as palingêneses sucessivas d a h u m an id ad e e do m u n d o , m as
tra n sfo rm e m o -la p ela id éia d e p ro g re sso ... S u b stitu a m o s o sistem a fa ta lista p e la li­
b e rd a d e .”
P A N ... 784

d o n a e opõe à de LE « ζ Ç;U (ver especial­ E. Palingenesia quím ica. V er as o b ­


m ente Palingénésie, V II p arte e apéndi­ servações.
ces), cada individuo vivo traz em si “ ger­
mes de restituição” indestrutíveis, que lhe NOTA
perm item renascer depois da sua m orte Palingenesia, nos diversos sentidos d a
aparente e levar um a existência nova p alav ra: diz-se 1 ?, do fato de renascim en­
ad a p ta d a a um novo estado do m undo. to , em geral; 2?, de tal ou ta l renascim en­
Várias revoluções cósmicas tiveram já lu­ to em p artic u la r; 3?, d a d o u trin a q u e a d ­
gar no passado; a próxim a será a últim a m ite esta espécie de ren ascim en to .
e inaugurará um estado definitivo, mas Rad. int.: P alin g en ez.
durante o qual o progresso co ntinuará,
talvez sem limites. P A N ... P refix o grego irctv... de irãv,
C. Renascim ento das sociedades, se­ tu d o . P refix o u tilizad o em co m p o siç ão
gundo Bτ Â Â τ ÇT7 E (Essais de palingéné­ com u m g ran d e n ú m ero d e te rm o s. Tem
sie sociale, 1827). De acord o com esta do is sen tid o s p rin cip ais:
doutrina, “ um povo é de algum m odo um 1?: In d ic a que n a d a existe o u q u e n a ­
indivíduo” , e, tal com o o ciclo da vida d a tem v a lo r, fo ra do q u e d esig n a o te r­
se repete aperfeiçoando-se nos indivíduos, m o u n id o a este prefix o: panteísm o, pan-
existe tam bém u m a “ fórm ula geral da cosm ism o ; pantelism o (pantélisme ) (tudo
história de to dos os povos” , de m aneira é fin alid ad e), p antelism o (panthélism e)
que cada um deles repro duz a m esm a se- (tu d o é v o n tad e), etc.
qüência de revoluções, e a sua sucessão 2?; Equivale ao adjetivo universal u n i­
tende a realizar um a finalidade geral e d o a o te rm o d e q u e se tra ta : pansperm ia
providencial da hum anidade. Ele consi­ (presença d e germ es em to d a s as regiões
dera esta doutrina com o um a verdade d o espaço); pangênese (fo rm ação d o em ­
esotérica cujas idéias sobre a m etem psi­ b rião p o r elem ento s vin d o s de to d a s as
cose seriam a form a exotérica. p artes d o o rg an ism o g erad o r); panm ixia
D . Em T7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 [Die W elt, (cruzam en to universal das variedades, na
supl., VI, cap. LX I), ressurreição dos ausência de seleção n a tu ra l o u artificial);
m esm os indivíduos na hum anidade. Ele p a n fo b ia (esta d o crô n ico de m ed o d ia n ­
opõe esta d o u trin a à da m etem psicose *. I te de to d a espécie de o b jeto s); etc.

O sen tid o A p arece-m e im p ró p rio . A etim o lo g ia n ã o o ju stific a . O m esm o a c o n ­


tece com a p a la v ra alem ã W iedergeburt, a o q u al ta m b é m se d á p o r vezes esta sig n ifi­
cação . F a lta n a lin guagem filo só fica u m a p a la v ra p ró p ria p a ra ex p rim ir a id éia de
e tern o re to rn o , W iederkunft des Gleichen, co m o a a d m itia N ietzsche. E u p ro p o ria
a d o ta r n este sen tid o ciclogênese (ciclogenesi ). (C. R a n zo li )
E. M eyerson in d icou-nos o sentido p artic u la r d a palin gênese n o s quím icos do séc.
X V II. “ N o início do séc. X V II, Q u ercetan u s (D u C hêne) p reten d eu que se p o d ia
com as cinzas de u m a p la n ta re p ro d u z i-la , ou pelo m en o s a su a fo rm a essencial. O
que e ra de alg u m m o d o a firm a r u m a persistê n cia d a especificid ade d a p la n ta depois
d a c o m b u stã o . A te o ria , d esig n ad a so b o n o m e d e palingenesia, a in d a q u e fu n d a d a
so b re o b serv açõ es g ro sseiram en te e rra d a s , teve d e im ed iato m u ito sucesso e, ap esar
d as refu taçõ es de V an H e lm o n t e d e K u n ck el, m an te v e-se d u ra n te m u ito te m p o .”
ME à E 2 è ÃÇ , Id en tité et réalité, 2? e d ., p . 455, seg u n d o KÃú ú , Gesch. der C hem ie,
I, III e II, 243.
C f. o que é d ito d esta te o ria nas n o ta s d a Palingénésiephilosophique de C harles
BÃÇÇE I , cap . I.
785 P A N L O G IS M O

“ P A N C A L IS M O ” E . Pancalism; F . lista (Plato and Others C om panions o f


Pancalisme. Sócrates, 1, I, 18). C f. A cosm ism o.
T e rm o c ria d o p o r J. M. Bτ Â áç « Ç
P A N E N T E ÍS M O D . Panentheismus-,
p a ra d esig n ar a d o u trin a ex p o sta n a su a
E . Panentheism ; F . Panentheisme-, I. Pa-
o b ra Genetic Theory o f Reality·, “ (being
nenteism o.
th e o u tco m e o f g en etic logic as issu ing in
D o u trin a segu ndo a q u al tu d o está em
th e aesth etic th eo ry o f reality called P a n ­ D eus (v&v èv Ôfã>). T e rm o c riad o p o r
calism )” 1 (1915). E la co n siste, co m o ο C h r. K 2 τ Z è p a ra designar a su a p ró p ria
E

n o m e in d ic a ( ir a r , xaX ov), em conceber d o u trin a ( System der P hilosophie, 1828)


0 b elo co m o a n o rm a categ ó rica d a q u al m as p o r vezes ap lic a d o a g o ra a o u tra s
dep en d em to d a s as o u tra s, e o real com o concepções m etafísicas q u e se p reten d e
o co n ju n to d a q u ilo que p o d e ser o rg a n i­ distin gu ir do p anteísm o p ro p riam en te di­
zad o so b a fo rm a estética. C f. “ O pan- to , ou m esm o o p o r-se-lh e ( E è ú « Ç Ã è τ ,
ca lism o ” , R evue philosophique, d ezem ­ M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 , etc.).
E

b ro de 1915.
P A N L O G IS M O D . P anlogism us ; E .
P A N C O S M IS M O E. Pancosmism; F. Panlogism , pallogism ; F . Panlogism e ; I.
Pancosm ism e. Panlogism o.
D o u trin a seg u n d o a q u al o m u n d o é D o u trin a seg u n d o a q u al tu d o o que
tu d o o que existe; n âo existe realid ad e é real é in teg ralm en te intelig ível, e p o d e
tra n scen d en te. T erm o criad o p o r ( 2 Ã - ser c o n stru íd o p elo esp írito seg u n d o as
I E p a ra d esig nar o p an teísm o m ateria- suas p ró p ria s leis. E sta p a la v ra fo i c ria­
da p o r J . E. E2 áOτ ÇÇ p a ra d esig nar a
d o u trin a de H egel: “ D er p assen d ste N a ­
J . “ T eo ria genética d a realid ad e que co nstitui as
m e w ird fü r seine L eh re P a n lo g ism u s
con clusões da Ló gica genética ( Thought and Things,
o u G enetic Logic: o u tra o b r a d o m esm o a u to r) en ­
heissen. Sie s ta tu irt n ich ts W irkliches als
q u a n to desem bo ca na te o ria estética d a realid ad e cha­ n u r die V ern u n ft; dem U n v ern ü n ftig en
m a d a P ancalism o” . v in d ic irt sie n u r v o rü b erg eh en d e, sich

S o b re P an co sm ism o — A criação d esta p a lav ra p arece-m e b a sta n te in feliz p o r ­


q u e o m u n d o é n ecessariam en te o todo, e u m ser fo ra d o m u n d o n ã o p o d e fazer p a r ­
te d o to d o . ( / . Lachelier)

S o b re P a n e n te ísm o — E s ta p a la v ra foi tam b ém u tilizad a p o r J τ T OBI e p ela es­


cola de T u b in g u e, assim co m o p o r RE ÇÃZ â« E 2 , L ogique, to m o III: “ E ste caso , que
h o je ch am am o s panenteísm o, consiste em su p o r en tre a u n id a d e e a p lu ra lid a d e n ão
u m a relação ta l q u e esta seja re su lta d o d e u m a m a n e ira o u d e o u tra d a q u e la , m as
u m a rela ção d e necessid ade re c íp ro c a, ju n ta m e n te co m u m a su b o rd in a ç ã o c o n sta n ­
te, e te rn a , d o M ú ltip lo em relação ao U n o ... A d m ite-se a em a n a ç ão ? N ã o , e n tre o
m u n d o e o seu a u to r ad m ite-se u m a relação d e d ep en d ên cia cau sal. A d m ite-se a c ria­
ção ? N ã o , p o rq u e a criação é e te r n a .” (M as, acrescen ta ele, esta h ip ó te se falh a, p o r­
q u e os fen ô m en o s já cu m p rid o s n o p a ssa d o fo rm a ria m u m a série in fin ita , o q u e ele
co n sid era c o n tra d itó rio .)
U m filó so fo cria u m te rm o p a ra ex p rim ir o seu p e n sa m e n to : m as se este p en sa­
m en to n ã o fo r b a sta n te fo rte e b a sta n te preciso p a ra se to r n a r c o m u m a o c o n ju n to
d o s filó so fo s é p reciso d eix ar o te rm o p a ra aq u ele q u e o crio u . Panenteísm o, em to ­
d o o caso, diz m u ito p o u c o p a ra E sp in o sa e d em asiad o p a ra M aleb ran ch e. (J . L a ­
chelier)
P A N -P S IQ U IS M O o u P A M P S IQ U IS M O 786

selbst au fh eb en d e E x iste n z.” 1 Gesch. der I 2 ÃÇ; , A lg u m a s considerações sobre o


neueren P hilosophie (1853), to m o III, 2? pam psiquism o, Co ngresso d e filo so fia de
p a rte , p . 853. G e n e b ra , 1904. “ É preciso su p o r q u e a s­
Aplica-se tam bém este nom e à dou­ sim com o o co rp o o u o céreb ro d e u m ser
trina de LE « ζ Ç« U : “ P a ra caracterizar es­ h u m a n o é a m a n ife sta ç ão visível d a sua
ta m etafísica com um a só p a la v ra , é um co n sciên cia, ta m b ém to d o fato m aterial
p anlogism o.” CÃZ I Z 2 τ I , L a logique de esconde a trá s de si u m fa to p síq u ic o d o
Leibniz, p refácio , p. X I. q u al é a m an ife sta ç ão , e q u e é m ais sim ­
ples do que a n o ssa consciência à m ed id a
CRÍTICA que o fa to m a terial fo r m ais sim ples do
A p ro p rie d a d e deste te rm o , e n q u a n ­ que o nosso c é re b ro .” Ib id ., 381. C f., no
to a p lic a d o ao h eg elian ism o , é co n te sta ­ m esm o v o lu m e, T h . F Â ÃZ 2 ÇÃà , Sobre o
d a p o r R ené BERTHELOT. V er: “ O sen ti­ pam p siq u ism o , 372.
do d a filo so fia de H eg el” , em É volution­ E« è Â E 2 ( W õrterbuch , su b V o) aplica
nism e et p latonism e, esp ecialm ente p. este n o m e a u m a g ran d e q u a n tid a d e de
170. d o u trin a s q u e divide em p am p siq u ism o
Rad. i n t P an lo g ism . realista, id ealista, m o n ad o ló g ico e p an -
teísta. C ita co m o seus rep resen tan tes, en ­
P A N -P S IQ U IS M O o u P A M P S I ­ tre m u ito s o u tro s, T ales, P lo tin o , a m aio r
Q U IS M O D . Panpsychismus', E. Panpsy- p arte dos filó so fos do R enascim ento, Ba­
chism ; F . P anpsychism e ou pam psichis- con (p o rém , p arece, a p a rtir de u m a in ­
me; I. Pan- ou Pam psichism o. te r p r e ta ç ã o c o n te s tá v e l d a p a la v r a
D o u trin a seg u n d o a q u al to d a m a té ­ perceptio*), E sp in o sa , L eib n iz, D id e ro t,
ria é n ão só v iv a ( hilozoism o ), m as ta m ­ H e rd e r, G o e th e , S chelling , S chopen-
b ém possui u m a n a tu re z a psíq u ica a n á lo ­ h a u e r, F ech n er, L o tze, etc.
g a à d a d o espírito h u m an o . “ P a ra recons­ N o fra n c ê s, este te rm o é r a ro e ap e­
tru ir o m u n d o de u m a ta l fo rm a (de u m a n as se to m a de o rd in á rio n o sen tid o res­
fo rm a ta l que se p o ssa co m p reen d er a re­ trito d efin id o acim a em p rim eiro lu g ar.
lação en tre o esp írito e o c o rp o ), é p reci­
R ad. int.: P an p sik ism .
so d istin g u ir com K an t e n tre as a p a rê n ­ P A N T E ÍS M O D . P antheism us ; E .
cias e as coisas em si, e é preciso su p o r que Pantheism; F . Panthéisme; I. Panteísmo.
as coisas em si são de n a tu re z a psíquica. O te rm o panteísta fo i criad o p o r T o-
Reside aí a tese do p am p siq u ism o .” C. A . LAND (Socinianism e Truly Sta ted 1, etc.
1705). C f. BÃE 7 OE 2 , D ep a n th eism i no-
m inis origine usu et notione (1851).
1. “ O n om e m ais co n v en ien te p a ra a su a d o u tri­
n a é p anlogism o: ap en as a ra z ã o é p o sta com o re al;
a o irracio n al a trib u i ap en as u m a existência tra n s itó ­
ria , que su p rim e a si p r ó p r ia .” 1. O so d n ia n ism o exatam ente fo rm u la d o .

Sobre Panteísm o — TÃÂ τ Çá , em 1705, apenas emprega a palavra Pantheist·, P an­


theism encontra-se som ente em 1709 no seu adversário Fτ à . (R. Euckeri)
C reio q u e o essencial d o p an teísm o é conceber D eus com o a u n id a d e d o m u n d o ,
sen d o essa u n id a d e : A , a id éia d o to d o ; B, a so m a d as p a rte s. (L . Brunschvicg)
N ão creio q u e p o ssa tra ta r-se de p an teísm o se ap en as existe u m a so m a de seres
físicos, o u m esm o ap en as u m ser p u ra m e n te m aterial. O p a n te ísm o , parece-m e, su ­
p õ e p rim eiro a u n id a d e do ser e depois que este ser seja no fu n d o e sp iritu al, ra z ã o ,
lib erd ad e, a té , a in d a q u e p rim eiro sem co n sciê n cia , m as d e stin a d o a ap arecer a si
p ró p rio , n o fim , so b a fo rm a d o p en sam en to . E u creio q u e n ã o ex iste o u tro ser se­
n ão este p ara a p u ra filosofia, e que ela é essencialm ente panteísta. P o ré m , pode acred /-
787 P A N T E ÍS M O

A . P ro p ria m e n te , d o u trin a segun do a rem n a re a lid a d e ate u s d isfa rç a d o s (se­


q u a l tu d o é D eu s, D eus e o m u n d o são g u n d o sen tid o d a p a la v ra ) e os ecléticos
ap e n a s u m ; o q u e p o d e en ten d er-se em su ste n ta ra m m esm o q u e o p an teísm o es­
d o is sen tid o s fu n d am en tais: ta v a lo g ic am en te fo rç a d o a o scilar sem
1“ : Só D eu s é re a l, o m u n d o n ã o é se­ cessar e n tre estas d u as teses c o n tra d itó ­
n ã o u m c o n ju n to de m an ifesta çõ es o u de rias: “ T al é a in evitável lei im p o sta a o
em an açõ es q u e n ã o têm n em realid ad e p an teísm o p e la ló gica e p ela n a tu re z a d as
p erm an en te, nem su b stâ n cia distin ta. T al co isas. E n c o n tra à su a fre n te d u as reali­
é, p o r exem plo , o p a n te ísm o d e Eè ­ d ad es q u e n e n h u m e sp írito razo áv el p o ­
ú « ÇÃè τ . d eria n e g a r, e en carreg a-se d e as red u zir
2?: Só o m u n d o é re a l, D eus n ã o é se­ à u n id ad e a b so lu ta d e u m a ú n ica existên­
n ã o a so m a de tu d o o q u e existe. T a l é, cia. E i-lo c o n d e n a d o , se q u e r u m D eus
p o r ex em p lo , o p a n te ísm o de D ’H ÃÂ - real e vivo, a nele a b so rv e r as c riatu ras
BACH, de D« áE 2 ÃI , d a esq u erd a hegelia- e a cair n o m isticism o; o u , se q u er u m u n i­
n a . T am b ém se lhe ch am a p o r vezes p a n ­ verso real e e fetiv o , a fazer d e D eus u m a
teísm o n a tu ra lis ta , p a n te ísm o m a te ­ p u ra a b stra ç ã o , um p u ro n o m e, e a
rialista . to rn a r-se su sp eito de a te ís m o ... N ós
B. N um sen tid o v ag o , e m ais literá­ d ed u zim o -lo p o r assim dizer, a priori, de
rio do que filo só fico , a a titu d e de esp íri­ u m a m an eira geral d a p ró p ria essência do
to que consiste em re p re se n ta r a N a tu re ­ pan teísm o , rela cio n ad a com a análise das
za co m o u m a u n id a d e viva, p ela q u al se id éias e a n a tu re z a das c o isa s.” E . τ « è -
p ro fessa u m a espécie de cu lto . SET, P anteísm o , in F ranck, 1241 A . P o r
o u tro la d o , c o m o ju sta m e n te n o to u D E -
CRÍTICA ç E à , “ th e te rm h as a w id e an d loose
Q uase sem pre se acu so u os p an te ísta s m ean in g especially in co n tro v ersial w ri-
(n o p rim eiro sen tid o d a p a la v ra ) d e se­ tin g s, w here th e odium theologicum a tta-

tar-se n u m além d o m u n d o , ta m b é m esp iritu a l, m as sem m istu ra d e m a té ria , sem


d ev ir, tra n s-re a l, e in cogn oscível p a r a n ó s n as n o ssas co n d iç õ es atu a is d e ex istência.
Se se reserv ar a este além o n o m e d e D eu s, c o n te n ta r-n o s-em o s em c h a m a r m undo
a o ser esp iritu al u n iv ersal; d istin g u in d o assim o m u n d o e D eu s, n ã o se será panteís-
ta . (J . Lachelier)
N ã o fo i so m en te o odium theologicum q u e levou a id e n tific a r o p an teísm o com
o ate ísm o , p o rq u e e sta id en tificação é feita tam b ém p o r p en sad o res n ã o su sp eito s,
tais co m o R E ÇÃZ â« E 2 (Les dilem m es de la m éthaphysique p u re, p . 233) e Jo h n Mτ T
Tτ ; ; τ 2 I (Studies in Hegelian C osm ology, 1901, p p . 93-94). A q u e stã o resum e-se
n isto : p ode-se co n serv ar p a ra o a b so lu to o n o m e de D eu s, q u a n d o se lhe recu sa a
p erso n alid ad e? R e sp o n d o q u e o a b so lu to d o p a n te ísta é u m p rin cíp io de u n id ad e vi­
vo e a tiv o , q u e, sem ser d o ta d o d e “ au to co n sciên cia” , faz sen tir o seu so p ro m ajes­
to s o no s esp írito s, a sua p resen ça b e n fa z e ja n as coisas e su scita ig u alm en te estes sen ­
tim en to s de ad m ira ç ã o , de em o ção , de en tu siasm o , de a m o r — p o r exem plo em G o e­
th e, o u ain d a em E sp in o sa, que se sen tia em b riag ad o de D eus — , cu jo co n ju n to cons­
titu i o sen tim en to relig ioso : o ra , o q u e su scita n o c o ra ç ã o d o h o m em u m sen tim en to
religio so é d ig n o d e ser c h a m a d o D eu s, q u a lq u e r que se ja a s u a n a tu re z a . In v ersa­
m e n te , e p ela m esm a ra z ã o , creio ileg ítim o c h a m a r D eus a o m u n d o d o s m aterialis­
ta s , e, p o r co n seq iiên cia , a ex p ressão pan teísm o m aterialista p arece-m e im p ró p ria .
(C . R anzoli) V er o estu d o d e ta lh a d o d e to d a e sta q u e stã o n o liv ro d o m esm o a u to r,
II linguaggio dei filo s o fi, P á d u a , 1911, p p . 155-174.
Observações análogas de L . B oisse.
P A R A ... 788

ches to it; in th is w ay it is u sed to d en o te parestesia (p e rtu rb a ç ã o que co n siste no


alm o st an y system w hich tran scen d s cu r­ fato d e as fu nções senso riais “ serem p er­
ren t o r received th eism , in its th e o ry o f a v e rtid a s o u d e s n a tu ra d a s ” . R « ζ ÃI , M a ­
positive a n d organic relation o f G od to the ladies de la personnalité, c a p . I ll) ; etc.
w o rld ” 1, Pantheism , in B aldw in, 256 B. B. N as p a la v ra s co m p o stas existentes
É p a ra ev itar estes eq u ív o co s que fo ­ já n a A n tig ü id a d e , o u d e fo rm a ç ã o m o ­
ram criad as as p alav ras acosm ism o * (p o r d e rn a m as m en o s recen te, este p refix o
H ; Â ); pancosm ism o* (p o r  2 Ã
E E ); I E tem q u e r o sen tid o p reced en te, q u e r um
panenteism ó* (p o r K 2 τ Z è ) , etc. E o u o u tro dos div erso s sen tid o s que p e r­
Rad. int.: P an te ism . tencem ao prefixo grego: paralelismo, p a ­
radoxo, parasitism o, etc.
P A R A ... T ran scrição d o prefix o g re­
go iragá, que significa “ p erto de, ao lo n ­ P A R A B U L IA D . Parabulie\ E . Para-
go de, em d ireção a, c o n tra , d esv ian d o ” , boulia· F . Paraboulie\ I. Parabulia.
etc. (B τ Â « Â Â à , Diet, grec, 1457 a-b). N os ab úlicos* que se esfo rçam p o r
A . N as p alav ras de fo rm a ç ã o recen ­ agir, d istu rb io fu n cio n al que consiste em
te, para... serve sem pre p a ra assin alar um realizar a to s im p ró p rio s o u m al c o o r­
desvio do m od elo consid erado com o n o r­ d en ad o s.
m al: parafasia (p e rtu rb a ç ã o d a fala que NOTA
consiste em su b stitu ir as p alav ras certas
P a u l L τ ú « , n a sua Logique de la vo-
E

p o r o u tra s q u a isq u e r, p o r vezes m esm o


lonté, tin h a d esig nado m ais g eralm ente
sem n e n h u m a relação d e sen tid o nem de p o r parabulia to d a s as fo rm a s an o rm a is
fo rm a com aquelas); parabulia (nos a b ú ­ d a volição: crim e, falta de cap acid ad e p a ­
licos que fazem esfo rço p a ra agir, d efi­ r a decid ir, etc. P o ré m este sen tid o n ã o se
ciência fu n cio n al q u e co n siste em re a li­ to rn o u co rren te.
zar atos im próprio s ou m al coordenados); i.
P A R A D O X O (su b st.) (G . iratgaSo-
£os, a d j., d e Traça ôóijar); D . Paradoxe,
i . “ este te rm o tem u m se n tid o larg o e am p lo , Paradoxon; E . Paradox', F . Paradoxe', I.
especialm ente n o s es critos de co n tro v érsia, em que
Paradosso.
o odium th e o h g ic u m e stá p resen te; n esta acepção,
apüca-se a q u ase to d o s o s sistem as q u e u ltra p assam
O qu e é co n trário à o p in iã o g eralm en­
o teísm o co rre n te ou receb id o , n a su a te o ria d a rela­ te a d m itid a , à p rev isão ou à verossim i­
ç ã o p o sitiv a e o rg â n ic a e n tre D eu s e o m u n d o ” . lh an ça.

S o b re P a ra d o x o — O a d jetiv o 7ragá8o£o$ já é co m u m em g reg o , ta n to no sen ti­


d o elo gio so co m o n o p e jo ra tiv o . A ex p ressão “ os p a ra d o x o s esto ico s” é ap lic a d a ,
desd e P Â Z τ 2 T Ã , às teses m o rais a b so lu tistas d o E sto icism o , ta is com o: o sáb io é
I

in falív el, n ã o está su jeito a n e n h u m a p e rtu rb a ç ã o e ele é p e rfeitam en te feliz, q u a is­


q u er q u e sejam as circu n stân cias; a p e n a s ele é livre, ric o , b o m rei, b o m a rte sã o ; a
sab ed o ria n ã o tem graus, tu d o o que n ã o é p erfeito é vicioso, etc. M . M arsal com uníca­
nos o tex to seg u in te de R ÇÃ Z â « 2 , em q u e e sta expressão é to m a d a n u m sen tid o
E E

fav o ráv el: “ O s m esm os esp írito s q u e ta n ta s vezes a ed u cação religio sa o u o h á b ito
lev aram a n ã o se su rp reen d er n a d a co m o s p receito s d e ren ú n cia a b so lu ta d o E v a n ­
gelh o, e a a c red itar que eles são eficazes, rev o ltam -se c o n tra o s p a ra d o x o s estoicos,
que e n tre ta n to ap en as d en o tam o ex trem o esfo rço d a ra z ã o p o r seu lad o , ta l com o
d a ca rid a d e p elo la d o cristão , p a ra triu n fa r d a sensib ilid ade e d a irrita b ilid a d e in im i­
g a s .” Philos. analytique de / ’hisloire, III, 237. Cf. M anuel dephilos. ancienne, II, 286.
S o b re o sen tid o e o p ap el d a n o ç ã o de p a ra d o x o em K ierk eg aard , ver J. W τ 7 Â ,
É tudes kierkegaardiennes , cap. X : “ A existência e o p a ra d o x o .”
789 P A R A L E L IS M O

1?: N o bo m sentido: “ O p arad o x o h i­ u m a d a o u tr a e que se p o d e assim e s ta ­


d ro s tá tic o .” belecer facilm en te u m a co rresp o n d ên cia
2°: N o m au sen tid o : o p in iã o su sten ­ u n ív o ca e re cíp ro ca en tre os seus p o n to s
ta d a sem co n v icção , pelo p razer de se d i­ respectivos, d aí re su lta n d o que se cham e
v e rtir, de b rilh a r, o u de cau sar a a d m ira ­ ig u alm en te paralelas a:
1?: D ois sistem as q u a isq u e r en tre os
ção dos au d ito res.
q u ais existe u m a co rresp o n d ên cia d esta
O ad jetiv o paradoxal tem os do is sen­
espécie.
tid o s, m as o p rim eiro so b re tu d o q u a n d o
2?; D ois p rocessos q u a isq u e r, de n a ­
é d ito das coisas, e o seg u n d o q u a n d o é tu re z a sem elh an te ou a n á lo g a , q u e p ro s ­
d ito d o s in d iv id u o s. seguem sim ultaneam ente. “ Os progressos
Rad. int.: P a ra d o x . p aralelo s d a te o ria e d a té c n ic a .”
3?: D u as séries de ações q u e ten d em
“ P aradoxo epistem ológico” (E. ME -
ao m esm o fim (convergente seria neste ca­
à E 2 è ÃÇ, D e l ’explication dans les Scien­
so u m te rm o m ais exato ).
ces, cap. X V II.) E . M ey erso n en te n d e-o
Rad. int.: P aralel.
co m o a a p a re n te co n tra d iç ã o que a p re­
sen ta a ciência, q u e explica a p en as pela P A R A L E L IS M O D . Parallelismus·,
re d u ç ã o ao id én tico , e q u e, p o r conse- E . Parallelism; F . Parallélisme', I. Paral­
q ü ên cia , n ão p o d e ria atin g ir a explicação lel ismo.
co m p leta sem fazer desaparecer o seu o b ­ S en tid o g eral: característica d aq u ilo
je to . C f. “ A epistem olo gía de M . M eyer­ q u e é p a ralelo o u fato de ser p aralelo .
E sp ecialm en te, ch am a-se paralelism o
s o n ” , Rev. p h ilo s., m arço de 1922.
psicofísico à h ip ó tese seg u n d o a q u a l o
“ P a ra d o x o s e sto ico s” V er as o b se r­ físico e o p síq u ic o se c o rresp o n d em te r­
vações so b re Paradoxo. m o a te rm o , d e ta l m a n e ira q u e m an têm
e n tre si a m esm a relação q u e u m tex to e
P A R A L E L A (a d j.) D . Parallel·, glei- u m a tra d u ç ã o , o u q u e d u a s tra d u ç õ e s de
chlaufend; E . Parallel·, F . Parallèle-, I. Pa- u m m esm o tex to . E sta ex p ressão p arece
rallelo; e P a ra le la s (su b st.) (p a ra R etas d a ta r d e F E T7 ÇE 2 : “ D er P arallelism u s
paralelas) D . Parallellinien; E . Parallels', d es G eistigen u n d K ö rp erlich en , d e r in
F . D roites paralléles; I. Parallele. u n serer A nsicht b eg rü n d et lieg t.” 1 Zend-
A . P ro p ria m e n te , d o is p la n o s (o u A vesta , liv ro III, cap. X IX , D : “ G ru n d ­
d u a s retas d e u m m esm o p la n o ) são p a ­ an sich t ü b e r d as V erh ältn is von K ö rp er
ralelo s q u a n d o n ã o tê m n e n h u m p o n to u n d G e ist” 12, II, 330. M as no s nossos
co m u m , a n ã o ser n o in fin ito . d ias aplica-se a d o u trin a s m ais an tig as.
E ste p aralelism o ap resen ta-se sob
P o d e-se ig u alm en te d e fin ir as fig u ras
d u a s fo rm a s p rin cip ais:
p aralelas d o p o n to d e v ista cin em ático ,
co m o dois plan o s o u d u as reta s que se d e­
du zem u m a d a o u tr a p o r tra n sla ç ã o . 1. “ O p aralelism o d o esp iritu al e d o co rp o ra l
q ue e n c o n tra o seu fu n d a m e n to n a n o ssa visão d as
B. A p ro p rie d a d e m ais su rp re e n d e n ­
c o is a s,”
te das paralelas é a d e qu e elas co n tin u am 2. “ Visão fu ndam ental sobre a relação entre co r­
p erm an ecen d o sem pre a igual d istân cia po e e sp írito ” ,

S o b re P aralelism o — C rítica a crescen tad a p o r p ro p o sta de Parodi e D rouin.


A d o u trin a d e fin id a no tex to acim a, n o § B, sob o n o m e de paralelism o psicofísico
n ã o d ev eria ser assim d esig n ad a. U m a relação u n ilateral e p a rcial n ã o é um p aralelis­
m o . E sta co n cep ção já n a d a tem de co m u m com o p aralelism o clássico de E sp in o sa
e de L eibniz. Q u a n d o se re p re se n ta a série dos fa to s fisiológicos com o co n tín u a , e
PARALELO 790

A . A to d o fenôm eno físico corresp on­ C R ÍT IC A


de um fa to p síq u ico , e recip ro cam en te. O sen tid o B d a expressão paralelismo
1?: N o sen tid o de E è ú « ÇÃè τ : “ Sive psicoffsico, a in d a q u e a p a re ç a em bons
n a tu ra m sub a ttrib u to ex te n sio n is, sive escritores, n ã o é recom end ável. N ão exis­
sub a ttrib u to cogitio nis, sib sub alio quo- te v erd ad eiram en te p aralelism o se n ã o
cu m q u e co n cip ia m u s, u n u m eu m d em q u e h o u v er co rre sp o n d ê n c ia term o a te rm o
o rd in e m , sive u n a m eam d em q u e causa- en tre as d u as séries. V er as observações.
ru m eon n ex io n em , hoc est easd em res in- Rad. int.: P araleles. (Se se tr a ta r da
vicem sequi re p eriem u s.” Ética, II, 7, es- d o u trin a que ad m ite esta paraleles, dir-
col. C f. ibid., 11-12, em q u e esta d o u tri­ se-á paralelism .)
n a é ap licad a à un ião do co rp o e d a alm a.
2°: N o sen tid o de LE « ζ Ç« U : “ O m ne P A R A L E L O D . Parallele\ E . Paral-
c o rp u s est m ens m o m e n tâ n e a , seu caren leí; F. Parallèle; I. Parallelo.
re c o rd a tio n e .” LE « ζ Ç« U , Theoria m otus A . C o m p a ra ç ã o d esen v o lv id a p o n to
abstracti, ed . G e rh ., IV , 230; ver Pam - p o r p o n to entre duas idéias, duas pessoas,
psiquism o. etc. “ F azer um p a ra le lo .”
C f. H Ãú ú á« Ç; , Psychologie, cap . II, B. R elação en tre d u as ações, duas
§ 8 D. d o u trin a s , d u as o b ras d e a rte , e tc ,, às
B. A to d o fen ô m en o p síq u ic o co rres­ quais se atrib u i valores d a m esm a ordem ,
p o n d e u m e u m só p ro cesso n erv o so d e­ co m p aráv eis u m a à o u tra . “ C o lo car em
te rm in a d o , tal que a cad a m o d alid ad e do p a ra le lo .”
prim eiro corresponde u m a m odalidade do
Rad. int.·. K o m p a ra d .
segundo; m as n ã o h á recip ro cid ad e: p o ­ P A R A L O G IS M O G . TraçaXoyianói;
dem existir ações n erv o sas, e a fo rtio ri D. Paralogism , Paralogism us, Fehl-
ações físico-quím icas q u aisq u er sem c o r­ schluss ; E . Paralogism; F. Paralogisme;
resp o n d ên cia p síq u ic a. “ S egundo to d o s I. Paralogism o.
os dad o s da psicologia, estam os no direito R acio cín io falso . S in ô n im o de sofis­
de crer q u e q u a lq u e r fen ô m en o d a co n s­ m a, m as sem o m atiz p e jo ra tiv o q u e tem
ciência é a c o m p a n h a d o d e u m fen ô m en o de o rd in á rio esta ú ltim a p a la v ra (in ten ­
fisio ló g ico ... A ex p eriê n cia e a in d u ç ã o ção d e e n g a n a r alg uém ): o p aralo g ism o
apresentam -nos, p o rta n to , duas séries p a­ é c o m etid o d e b o a fé. E ste u so é c ô m o ­
ralelas d e fen ô m en o s; u m a d estas séries d o , e deve ser m an tid o : é sem pre b o m evi­
é c o n sta n te , a o u tra n ã o existe sen ão em ta r os term o s d e c o n o ta ç ã o a fetiv a; m as
certas c o n d iç õ e s.” P τ Z Â 7 τ Ç , L es phé- é p reciso n o ta r q u e e sta d istin ção n ã o
nom ènes a ffe c tifs, p. 11. existe em greg o , o n d e v<xQo¿Xoyianós e
V er BE 2 ; è ÃÇ , “ O p arale lism o psico- vaqoíKoyíÇeodou são to m a d o s freq u en te­
físico e a m etafísica positiv a” , Bulletin da m en te no m a u sen tid o .
Sociedade de F ilo so fia , ju n h o de 1901 (1 ? Especialm ente, em Kτ ÇI : os paralo­
a n o , p p . 34 ss.), em q u e ele co m b a te es­ gism os transcendentais (D . Transcenden­
ta s concepções. t a l Paralogismen, Paralogismen der rei-

a dos fa to s psicoló gicos co m o in te rm ite n te e d iv id id a em p a rte s “ em p o n tilh a d o ” ,


q u e se q u e r d iz er? O u os p o n tilh a d o s d esig n am fen ô m en o s in co n scie n te s, m as a in d a
psicoló gicos, e ch eg am o s a o p aralelism o to ta l, à m a n e ira esp in o sista; o u e n tã o h á
v e rd ad eiram en te la cu n as, h ia to s n e sta série, e e n tã o so m o s le v ad o s a p e n sa r q u e os
seg u im en to s d e sta série, d ep o is d e tais in te rru p ç õ e s, n ã o p o d e n d o c o n stitu ir o u tro s
ta n to s com eços m iracu lo so s, são determ inados o u p ro d u zid o s p elo s estad o s fisio ló ­
gicos co rresp o n d en tes: d eix am o s, p o r ta n to , a h ip ó tese p aralelista p a ra v o lta r à c o n ­
cepção d o e p ifen o m en ism o e d a in te ra ç ã o . (D. Parodi)
791 P A R A N Ó IA

nen Vernunft) o u , n o sin g u lar, o paralo­ Term o criado por VOGEL (1772); re­
gism o psicológico (D . D erpsychologische tom ado por Kτ 7 Â ζ τ Z O (1863), e depois
Paralogism) são o s racio cín io s dialéticos p o r num erosos alienistas co ntem porâ­
p elo s q u ais a p sic o lo g ia ra cio n al crê (er­ neos: ver Baldw in, sub V o.
radam ente) p o d er dem o n strar: 1?, a subs- A . A lien ação m e n tal, em geral.
ta n c ia lid a d e d a a lm a; 2 ? , a su a sim plici­ B . L o u c u ra ra c io c in a d o ra sistem áti­
d a d e ; 3?, a su a p e rso n a lid a d e ; 4 ? , “ a c a , q u a lq u e r q u e seja a su a n a tu re z a ,
id entidade” das suas representações (quer aco m p an h ad a o u n ã o de alucinações (per­
d izer, o c a rá te r p ro b le m á tic o , d u v id o so , seguição, d elírio ro m a n e sc o , antigas m o ­
d e q u a lq u e r existência q u e n ã o a d o su ­ n o m a n ia s d e Eè I Z « 2 ÃÂ , e tc.). U tilizad o
je ito p en san te). Krit. der reinen Vern., A p a r tic u la r m e n t e n e s te s e n tid o p o r
341-405; B 399-427. K2 τ E I -Eζ ζ « Ç; (L ehrbuch der Psychia­
R ad. in t .: P a ra lo g ism . trie, 1879).
C . K2 τ E ú E Â « Ç desm em brou recente­
P A R A M N E S IA D . Paramnesia; E .
m ente a p aran ó ia assim entendida e fo r­
Paramnesia; F . Param nésie; I. P a ­
m ou duas classes:
ramnesia.
1?: Paranóia verdadeira, estados p a ­
Ilu são d a m em ó ria que consiste em
ranóicos: d elírio s siste m ático s d a ra z ã o ,
ju lg ar reconhecer até o ú ltim o p o rm en o r,
sem alu cin açõ es n em en fraq u ecim en to
com to d a s as circu n stân cias de lu g ar, de
n o tó rio da in telig ên cia n o seu to d o , p r o ­
te m p o , de estad o afetiv o e in te lectu al, o
g red in d o com o tem p o , m as n ã o atin g in ­
c o n ju n to psicológico que fo rm a o co n teú ­
d o a demência*.
d o to ta l e a tu a l d a consciência n u m m o ­
2°: Estados paranoides, fo rm a sp a ra -
m e n to d a d o , co m o se se revivesse in te­
nóides d a “ d em ên cia p reco ce” : delírio s
g ralm en te u m in sta n te já vivido.
sem elh an te s aos p reced en tes, m as a c o m ­
CRÍTICA p an h ad o s de alucinações, e resu ltan d o n a
C o n fu n d iu -se m u ita s vezes este fen ô ­ d em ên cia. E le co n sid era-o s se m p re lig a­
m eno com o reconhecim en to errô n eo p ro ­ d o s a u m esta d o de e n fraq u ecim en to in ­
v en ie n te q u e r d e u m d istú rb io fu n cio n al te le ctu al g eral, p o rém su fic ie n te m en te
e g eral d a m e m ó ria , q u e r d a existência fra c o , nos p rim eiro s e stád io s, p a r a n ã o
real d e u m a le m b ran ça p ró x im a ; e estes ser n o ta d o d esd e o in ício .
diversos fenô m enos fo ram indistintam en­ A p a ra n ó ia p ro p ria m e n te d ita seria
te qu alificad o s seja de “ p aram n ésia” , se­ c o n stitu tiv a , e re su lta ria d a h ip e rtro fia
ja de “ falsa m em ó ria” . Seria útil n ã o em ­ n a tu ra l de certas ten d ên cias; os estad o s
p re g a r o p rim eiro destes term o s sen ão no p a ra n o id e s seriam ad q u irid o s em conse-
sen tid o d efin id o acim a e n o o u tro caso q ü ên cia de p ro cesso s d e in to x icação que
d izer Pseudom nésia*. p ro d u z e m u m eretism o d o s cen tro s n e r­
R ad. int.: P a ra m n e si. v o so s, a c o m p a n h a d o de alu cin ações.

P A R A N Ó IA D . Paranoia; E . Para­ T2 I « Tτ
noia; F . Paranoia; I. Paranoia. O s alienistas franceses (particularm en-

S o b re P a ra m n é sia — T en d o alguns co rresp o n d en tes n o ta d o , sob diversas fo rm as,


que ach av am o b scu ra a d efin ição de p a ra m n é sia d a d a acim a, acrescen ta m o s alg u ­
m as p ala v ras p a ra p recisar o fa to do q u al se tr a ta e rem etem o s, p o r o u tro la d o , a
exem plos que se en co n tram em D « T 3 Çè , D avid C ooperfield, cap. X X X IX ; V 2 Â τ « ­
E E

ÇE , Kaléidoscope; R « ζ Ã , M aladies de la m ém oire, cap . IV (3? ed ição , 1885, p p .


I

149-153). V er ig u alm en te u m a série de a rtig o s so b re este assu n to n a R evue philo so ­


p h iq u e de 1893 e 1894. (A . L .)
“ P A R A P S ÍQ U IC O ” 792

te G . Bτ Â Â E I , é ; Â τ è ) colocam atu al­ a tu a n te , u m a vez q u e é u m ser livre, ag i­


m ente em dúvida a legitim idade desta di­ r á p a ra si. O p a ra si, o u a consciência,
visão, e, por conseguinte, do sentido res­ é a síntese à q u a l a sp ira m o s.” H τ OE Â « Ç ,
trito dado à palavra p aran ó ia, fazendo Essai, cap. V , § 2. “ O su jeito conscien­
notar que muitos delírios sistematicamen­ te, se nos ativ erm o s de u m a m a n e ira es­
te alucinatórios não são acom panhados trita à ex p eriên cia im ed iata que é in te r­
por enfraquecim ento intelectual sensível n a, n ã o é nem u m fen ô m en o com o os o u ­
e não atingem a demência. tro s , ap esar do q u e a firm a m H u m e , T ai-
Rad. int.·. P a ra n o i. n e e N ietzsch e, n em u m a substância', ele
“ P A R A P S ÍQ U IC O ” (a d j. e su b st.) é a única m anifestação original e certa que
T erm o p ro p o sto p o r Bë 2 τ T e a p ro v ad o te m o s d o real ex istin d o n ã o em si, co m o
p o r FÂ ÃZ 2 ÇÃà p a ra desig n ar os fen ô m e­ a su b stâ n c ia , nem para outrem , co m o o
nos d e p rev isão , telep atia, e tc ., assim c o ­ fen ô m en o , m as para si. E p o r esta expres­
m o o seu e stu d o . C f. M etapsíquico e sã o , p a ra si, n ã o en ten d em o s u m a refle ­
Psíquico. x ã o co n cep tu al so b re si p ró p rio , que só
Parapsicologia foi usada no mesmo p o d e ser u lte rio r; e n ten d em o s u m a co n s­
sentido por K . OE è I E 2 2 E « T7 , D er Ok- ciência de sen tir ou ag ir p rim itiv a o u es­
ku líism u s (1921). p o n tâ n e a , u m a tran slu cid ez de si p ró p rio
“ A u g . L Oτ « 2
E I Edesignou p o r Pa- p e ra n te si m esm o e n q u a n to existindo,
rapsiquism o um estad o m e n tal te m p o rá ­ q u e re n d o e se n tin d o .” FÃZ « Â Â é E , L a
rio de natu reza íntim a (so nho, m an ia, o b ­ pensée, e tc ., p. 3.
sessão), q u e tra d u z iria u m a crise p sico ­
ló gica o b scu ra, m u itas vezes p re m o n itó ­ CRÍTICA
ria de u m a grav e d o en ça e que seria fre- Für sich q u er d izer, em v árias ex p res­
q tiente nos ad o le sc e n te s.” L a vie m entó­ sões m u ito usuais: à p a rte , se p arad am en ­
le des adolescents (1910), p. 197. N o ta de te. “ D as ist eine Sache fü r sich ” é um ca­
Éd. C Âτ ú τ 2 èá E so b re a p ro v a deste so à p a rte , u m a o u tra q u e stã o .  2 « OO
artig o . defin e assim Füsich (su b st.): “ D as ge­
tre n n t u n d abg esch ie d en seine von an d e ­
P A R A SI (E xistência) D . Für-sich
re n , d as zurü ck g ezo g en sein a u f sich a l­
sein. (M as esta expressão tem tam b ém um
le in .” 1 W örterbuch, V I, 1, 818. E le cita
o u tro sen tid o . V er C rítica); E . B e in g fo r
ig u alm en te esta p assag em d e G o eth e:
self; F. P o u r soi; I. Essere p e r sè.
“ F ü r die D ich tu n g a n u n d fü r sich h a tte
C aracterística p ró p ria d o conhecim en­
to q u e o ser co n scie n te tem d e si p ró p rio ,
em o p o sição à existência em si*, p a rtic u ­ }. “ O fa to d e e star se p a ra d o e iso lad o d o s o u ­
la rm en te n o sen tid o B, 3?: “ O sistem a tro s seres, d e e s ta r v o lta d o p a r a si p r ó p rio apenas.* ’

S o b re P a r a si (E xistencia) — C rítica acrescen tad a co n fo rm e in d icaçõ es de J. La-


chelier, H . Delacroix, I. B enrubi, q u e o b serv am q u e H egel ap lica esta ex p ressão a té
à id éia d a existência a to m ística.
L . R obín co m u n ico u -n o s o resu m o seg u in te d a d o u trin a de H a m e lin , exp lican d o
o u so q u e este fazia d a ex p ressão para si; dele tira m o s o tex to característico acim a
c itad o . “ A u n iã o d a cau salid ad e e d a fin alid ad e c o n d u z à id éia d e ‘sistem a a tu a n ­
te ’.” V em os d este m o d o a p o ssib ilid ad e de u rn a n o v a sín tese. É p reciso q u e isto seja
u m a relação , u m a relação c u ja essência seja p recisam en te ser u m sistem a a tu a n te ,
q u e c o n stitu a , além d isso , u m to d o a c a b a d o , p o r fim , c u ja re a lid a d e n ã o se fu n d e
so b re o u tra co isa e “ n ã o seja, c o n tu d o , a existência em si" ; p o rta n to , u m a relação
793 P A R C IM Ô N IA

m an keinen G ru n d satz finden k ö n n e n .” 1 so b re a co n sciên cia, a ú n ica a “ realizar


Ib id ., IV , 1, 638. H ; Â , seguin do um
E E p le n a m e n te ” o para si, e n q u a n to “ re fle ­
m éto d o que lhe é fa m ilia r, co m eço u p o r xão d o ser so bre si p ró p rio através do seu
em pregar esta expressão neste sentid o, es­ c o n trá rio ” .
tra n h o à id éia de consciência, p a ra fazer Rad, int.: P o r su.
ap arecer em seguida o eu, que se reconhe­
P A R C IM Ô N IA (Lei ou P rin cíp io de)
ce e n q u a n to ser d istin to , co m o u m caso
D . P rinzip der SparsamkeiV, Pr. der Oe-
p a rtic u la r d a n o ção do f ü r sich (Encyclo-
ko n o m ie des D en ken s (Mτ T7 ); E. L a w
pädie, L o g ik, I, A , c, § X C V I e X C V II).
o f p a rsim ony, F . L o i o u príncipe de par-
É evidente que este sentid o n ã o se en co n ­
cim onie; I. Principio d i parsim onia.
tre n a exp ressão fran cesa p o u r soi, senão
D esignam -se com este n o m e v ário s
n as trad u çõ es de H egel o u em c o m e n tá ­
princípios enunciados o r a sob a fo rm a de
rio s so b re as suas o b ra s , p o r ex. V 2 τ , E
preceito epistem o ló g ico , o ra so b a fo rm a
tra d u ç ã o d a Lógica de H egel, I, 431; d e asserção co sm o ló g ic a o u m eta físic a,
N Ã Â , L e logique de Hegel, p. 30. A in da
E
m as c u jo in teresse é sem p re o d e fo rn e ­
este ú ltim o in siste q u ase exclu sivam ente cer u m a b ase à crític a d as hip ó teses.
D iz-se ta m b ém n o m esm o sen tid o
1. “ P a ra a poesia em si e p a ra si n ã o p u d em o s Princípio d e econom ia*.
e n c o n tra r q u a lq u e r p rin c íp io .” 1?: “ E n tia n o n su n t m u ltip lican d a

d e si p a ra consig o m esm o . E sta n ecessid ad e, p o r o u tro la d o , n ã o deve d ep en d er de


q u a lq u e r d en o m in ação ex trín seca. “ O siste m a a tu a n te d e v e rá , p o r ta n to , ap re se n ta r
u m c a rá te r in te rn o que p re p a ra esta relação d e si p a ra co n sig o m esm o . E ste c a rá te r
é in d icad o p ela fu n ção que deles se esp era. M a n ife sta r a su a in d ep en d ên cia e a su a
su ficiên cia p o r u m c a rá te r in te rn o é co n ced er-se, o u p o ssu ir a lib e rd a d e .” O ra , a to s
livres são possíveis n o sen tid o m ais p ro fu n d o e fo rte d a p a la v ra , q u e r d izer, fato s
q u e p o d em n ã o ser. “ Eles estão p e ra n te ela e u m deles ap en as to rn a r-se -á u m d o s
seus a trib u to s ... O m esm o é d izer que os possíveis são rep resen taçõ es, q u e eles são
para o ser q u e lo g o se a trib u irá a si p ró p rio alg u n s d en tre eles. C o m o , aliás, eles
só são o que são e n q u a n to são to m a d o s com to d a s as circu n stân cias q u e os ligam
ao ser p a r a o q u a l eles s ã o ... este ser é fo rç o sa m e n te re p re se n ta d o a o m esm o tem p o
q u e eles. P o r ta n to , é to d o o ser livre que é p a ra si m esm o . O sistem a a tu a n te , sendo
u m ser livre, será p o rta n to para si. O para si o u a consciência: tal é a síntese à q u al
nó s a s p ira ría m o s .” Essai, cap . V , § 2: “ P e rso n a lid a d e , eu, n ão -eu , co n sciên cia” ,
p p . 326-328.
P arece ser com R en o u v ier q u e esta expressão foi in tro d u z id a n a lin guagem filo ­
só fica fran cesa. E le tin h a so frid o n a su a ju v e n tu d e b a s ta n te p ro fu n d a m e n te , ain d a
q u e de m an eira in d ire ta , a in flu ên cia h eg elian a, d a q u al se desligou em segu ida. A
su a Lógica c o n té m a in d a m u itas expressões d ai pro v en ie n te s. (R . Berthelot)

S o b re P a rc im ô n ia (Lei o u P rin c íp io de) — N ós dizem os de p referên cia: principio


di sem plicità. Fo i fo rm u la d o p o r  τ Â « Â Z : “ L a n a tu ra n o n o p e ra co n m o lte cose
E

q u ello che p u ò o p e ra re con p o c h e .” 1 Obras, V II, 143. Serve-se d ela p a ra ju stific a r,


p o r u m la d o , o sistem a co p ern ican o c o n tra os de P to lo m e u e de T y ch o B rah é, p o r
o u tro , o p rin cíp io de in ércia , p o rq u e é m ais sim ples a p erm an ên cia d o que a v aria­
ção . (C. Ranzolí)

1. “ A n a tu re z a n ã o fa z co m g randes despesas o q u e p o d e fazer co m poucas'.*'


P A R O -P A R C IA L 79 4

p ra e te r n e cessitatem .” E s ta fó rm u la é 4?; (ap licação especial). E m p sico lo ­


c h a m a d a o princípio de Occam (E. Oc- g ia c o m p a ra d a , ch am a-se princípio de
c a m ’sra zo r, expressão que se explica p e­ M organ à regra segundo a qual n ão se de­
la etim olo gia rädere·, rasura; E . razure = ve explicar as reaçõ es de u m an im al a tr a ­
r a p a r ) . C f. H τ O« Â Ã Ç , D iscu ssõ es,
I
vés d e u m a fa c u ld a d e p síq u ica su p e rio r
apêndice, e J. S. M « Â Â , E xam e da filo s o ­ (p. ex ., o racio cín io ) se fo r su ficien te p a ­
fia de H a m ilto n , cap . X X IV . r a d ar c o n ta delas re p o rtá -la s a u m a f a ­
2°: “ Q u a n to à sim p licidade dos cam i­ cu ld ad e p síq u ica m en o s elevada n a h ie ­
n h o s de D eu s, ela o co rre p ro p ria m e n te ra rq u ia das fu n çõ es m entais (p. e x ., a as­
em rela ção ao s m eio s, c o m o , p elo c o n ­ so ciação d e idéias o u o h á b ito ). E sta d e ­
trá rio , a v a rie d a d e , riq u eza o u a b u n d â n ­ sig n ação é dev id a a É d . C Â τ ú τ 2 è á E

cia acontece relativ am en te ao s fins ou [Arch. depsychologie, ju n h o de 1905); cf.


efeito s... E m m atéria de sa b ed o ria , os de­ C. L. M Ã2 ; τ Ç , An
In troduction to
creto s ou h ip ó te ses são co m o d esp esas, à Comparative Psychology, 1884, p . 53. Es­
m ed id a que se to rn a m in d ep en d en tes uns te p rin c íp io é co n te sta d o .
d o s o u tro s, p o rq u e a razão q u er que se R ad. in t.: S p arem es.
evite a m u ltip licid ad e de h ip óteses o u de P A R C I-P A R C IA L E . Parti-partial
p rin cíp io s, u m p o u c o c o m o o sistem a (H a m ilto n , Logic, A p p en d ix , II, 283); F.
m ais simples é sem pre p referid o n a a stro ­ Parti-partielle.
n o m ia .” LE « ζ Ç« U , D iscurso de m etafísi­ N a te o ria d as p ro p o siç õ es de p red ica­
ca, § V I. “ S em per scilicet est in re b u s d o q u an tificad o , diz-se d a p ro p o sição cu­
p rin cip iu m d e te rm in a tio n is, q u o d a m á ­ jo su jeito e p re d ic a d o são am b o s to m a ­
x im o m in im o v e p e ten d u m est, nem p e u t dos p articu larm en te. H am ilto n rep resen ­
m ax im u s p ra e ste tu r effectu s m in im o ut ta -a p o r I F I q u a n d o é a firm a tiv a , I N
sie dicam s u m p tu .” I d . , D e rerum origi- I q u a n to é n eg ativ a; atu a lm e n te e m p re­
natione radicali, § 4. gam -se d e p re ferên cia as n o taçõ es l e u ,
3?: “ D en sp a rsa m ste n , ein fach sten a d o ta d a s p o r W . T Ã Oú è Ã Ç
7 (a p arci-
begrifflichen A u sd ru ck der T atsachen er­ parcial afirm ativa co nfunde-se com a p ar­
k e n n t sie [die N atu rw issen sch aft] als ih r ticu lar afirm a tiv a do s ló gicos clássicos).
Z ie l.” 1 E . M τ T , Die ökonom ische N a ­
7
V er L « τ 2 á , Lógicos ingleses contem po­
tu r der physikalischen Forschung, 236. râneos, cap . III.
“ D ie W issen sch aft k a n n ... als eine Rad. int.: P a rto -p a rta l.
M in im u m -A u fg ab e angesehen w erden, P A R C I-T O T A L E . P arti-total (H τ ­
w elche d a rin b este h t m ö g lich st v o llstä n ­ O« Â ÃÇI , ibid.); F . Parti-totale.
dig die T atsach en m it dem geringsten G e­ N a m esm a te o ria , diz-se d a p ro p o si­
d a n k e n a u fw a n d d arzu stellen .” 12 Id ., Die ção cujo sujeito é to m a d o particularm ente
M echanik, cap . IV , § 4, seção 6 (3? e d ., e o p re d ic a d o u m v ersalm en te . H a m ilto n
p . 480). re p re se n ta -a p o r IF A q u a n d o afirm a tiv a
e IN A q u a n d o n eg ativ a; W . T 7 ÃOú è ÃÇ
p o r Y e O (a p a rc i-to ta l neg ativ a c o n fu n ­
1. “ A ciên cia d a n a tu re z a reconhece com o seu
de-se com a p a rtic u la r negativa).
objetivo a exp ressão con ceituai do s fato s o m ais eco­
n ôm ica po ssív el e o m ais sim ples p o ssív el.”
Rad. int.: P a rto -to ta l.
2. “ A ciên cia po de ser c o n sid erad a co m o um
p ro b lem a de m ínim o, que con siste em exprim ir os fa­
P A R E N É T IC A (subst. e ad j.) G . I la -
to s d a m a n e ira m ais p e rfe ita possível co m o m enor QCuveTtxij (ríxvrt) d e iraQ atvéu, a c o n se ­
d isp ê n d io de p e n s a m e n to .” lh a r, e x o rta r.

Princípio de sim plicidade diz-se m ais esp ecialm ente d a fo rm a co sm o ló g ica, p rin ­
cípio d e parcim ônia ou de econom ia d a fo rm a ep istem o ló g ica d e sta id éia. ( A . L.)
795 P A R T IC IP A Ç Ã O

D iz-se, p articu larm en te n o s E sto ic o s, ¿Trox?), que n a d a su prim e d o m u n d o e que


d a p a rte d a filo so fia m o ra l q u e co n siste , deix a su b sistir as n o ssas cren ças p sico ló ­
n ã o n o s p rin cíp io s g erais, m as n o s p re­ g icas, d a d ú v id a c a rte sia n a, q u e co n sid e­
ceitos d e p o rm e n o r p a ra a v id a m o ral que r a falso tu d o aq u ilo em q u e se p o ssa im a­
d á um d ireto r de consciência: “ H aec p ars g in a r a m e n o r d ú v id a e q u e te n ta a ta re ­
p h ilo so p h ia e , q u a m G raeci pareneticen fa im possív el de n o s ‘p e rs u a d ir’ d e q u e
v o c a n t, n o s praeceptivam d ic im u s ...” o q u e c o n sid eráv am o s real n ã o e ra sen ão
SÉNECA, Cartas a Lucilius, 95, § 1. E la ficção.
op õe-se a o co n h ecim en to d o s decreta (G . “ Q u a n d o n e u tra liz a o m u n d o , o feno-
δ ό γ μ α τ α ) q u e fo rm a m o c o rp o d a d o u ­ m en ó lo g o percebe q u e n ã o está situ a d o
trin a . P o ré m , certo s E stó ic o s rejeitav am - ‘p eran te u m p u ro n a d a ’ (M édit. cart.). A
n a , p a rtic u la rm en te A ris tó n , d ev id o ao su a o p eração d esp ren d e ‘u m a esfera nova
p rin cíp io q u e faz d a v irtu d e u m to d o in ­ e in fin ita d e existência q u e p o d e alc an çar
div isível. V er so b re esta d iscu ssão  é ÇE ­ u m a experiência nova, a experiência tran s­
cen d en tal’ (M éd. cart., p. 23). O ‘co lo car
Tτ , ibid., c a rta s 94 e 95.
en tre parênteses’ é assim u m m o m en to es­
C o m o ad je tiv o , parenético q u e r dizer
sencial d a ‘red u ção fen o m en o ló g ic a’ e
s o b re tu d o : q u e diz resp eito à ex o rta ç ã o ,
en co n tra-se p o r isso n o c en tro d a filo so ­
q u e c o n stitu i u m a e x o rtação . “ O g ênero
fia d e H usserl.” Ver Fenomenología.
p a re n é tic o .”
NOTA
“ P A R Ê N T E S E S (C o lo car en tre)” D .
Einklam m erung. T endo-se esta expressão divulgado ra ­
T erm o in tro d u zid o p o r H usserl n a lin­ p id am en te, é m u itas vezes u sa d a h o je em
div erso s sen tid o s “ aco m o d a tic io s” , que
guagem filo só fica p a ra designar a n eu tra­
se afasta m p o r vezes m u ito d o sentido ori­
lização , o iso la m e n to (A usschaltung) de
g in al, e q u e , p o r co n seg u in te, são p o u c o
certo co n te ú d o de p e n sa m e n to re lativ a­
favo ráveis à precisão d o p en sam en to . Se­
m en te ao q u a l n o s a b stem o s d e q u a lq u e r
ria desejável reserv á-la p a r a a q u ilo q u e o
p o sição existencial, q u a lq u e r q u e seja a
seu a u to r quis co m isso dizer.
su a m o d a lid a d e (Ideen zu einer reinen
P hänom enologie u n d phänom enologis­ P A R T IÇ Ã O D . Zerlegung; E . Parti-
chen Philosophie, 1913, § 31 e 32). M e­ tion; F . P artition; I. Partizione.
ditações cartesianas, 1929 e 1931, § 8. D iv isão d e u m to d o n o s seus c o m p o ­
“ A q u ilo q u e , v isto d o lad o d o o b je to n en tes, em o p o sição à d iv isão ló gica d e
p e n sa d o , é ‘c o lo c a d o e n tre p a rê n te se s’ u m g ên ero n as su as espécies. “ In p a rti-
aparece do lad o d o su jeito co m o ‘su sp en­ tio n e q u asi m e m b ra s u n t, u t co rp o ris ca-
são d e ju íz o ’, Ι τ τ ο χ ή . A s d u a s no çõ es d e ­ p u t, h u m e ri, m a n u s, la te ra , e tc .; in divi-
signam , p o rta n to , u m a ú n ic a e m esm a ati­ sio ne fo rm a e s u n t, q u a s G raeci id eas v o ­
tu d e reflex iv a d a consciência. c a n t, n o stri species a p p e la n t.” C í T 2 Ã
E

“ D e fa to , o p ro c e d im e n to g eral d a (?), Tópicos, 30. P o u c o co m u m .


E inklam m erung é so b retu d o ap licad o pe­ P A R T IC IP A Ç Ã O D . Teilnahme (por
la fe n o m en o lo g ía a o m u n d o o b je tiv o t o ­ vezes, n o sen tid o B , Partizipation); E .
m a d o n o seu c o n ju n to . H u sserl m o stra ­ Participation; F . Participation·, I. Parti-
se e n tã o p re o c u p a d o em d istin g u ir a su a cipazione.

S o b re “ P a rê n te se s (C o lo car e n tre )” — A p a rte d o artig o e n tre asp as é dev id a


a G aston Berger.

S o b re P a rtic ip a ç ã o — A “ p a rtic ip a ç ã o ” n o se n tid o p la tô n ic o é u m a relação sui


generis, q u e n ã o p o d e ser d e fin id a sen ão pelo sistem a p la tô n ic o . (R. Berthelof)
P A R T IC IP Á V E L 796

A . F a to de fazer p a rte o u d e to m a r fazem sen tir fo ra deles, sem deix ar de es­


p a rte em q u a lq u e r coisa. ta r o n d e estão . P o r o u tra s p alav ras, p a ­
Especialm ente: ra esta m en ta lid a d e , a o p o sição en tre o
B. T ra d u ç ã o c o n sa g ra d a d a p alav ra u n o e o m ú ltip lo , o m esm o e o o u tro n ão
greg a fit'0e£ts, “ que d esig na n a te rm in o ­ im p õ e a necessidade de a firm a r u m dos
lo g ia p la tô n ic a a relação dos seres sensí­ term o s q u a n d o se neg a o o u tro o u reci­
veis com as Idéias e a relação que tê m e n ­ p ro cam en te. E la n ão tem se n ão u m in te ­
tre si as Idéias q u e n ã o se exclu em ” . Ver resse s e c u n d á rio .” L es fo n c tio n s m enta­
as ob servações. les dans lessocietés inféríeures, p. 77, cap.
II. In ic ia lm en te L évy-B ruhl tin h a in titu ­
C. L igação d o individ ual e do u n iv er­
la d o este cap ítu lo : “ A lei de p a rtic ip a ­
sal n a consciência, do Ser a b so lu to e do
ç ã o ” , e tin h a u sad o c o rren tem en te esta
eu n o ato livre. Ver L. Lτ âE Â Â E , D e l ’ac-
expressão em vários obras; m as renunciou
te, p a rtic u la rm en te caps. V , X -X I, X IX .
a ela, p o r fim , o b serv an d o que o te rm o
D . T erm o p ro p o sto p o r Lévy-BRUHL
lei e ra in ex ato neste caso , e q u e e ra p re ­
p ara designar o m o d o de pensam ento p re­
ciso fa la r do fa to de q ue o n ão -civ ilizado
d o m in a n te nos p ovos de civilização in fe ­
crê sen tir u m a “ p a rtic ip a ç ã o ” e n tre d i­
rio r, segundo o qu al os seres, m esm o m u i­ versos seres, q u er n a tu ra is , q u e r h u m a ­
to d iferen te s, e n tre os quais se ad m ite nos. L es carnets de L u d e n L évy-B ruhl
u m a co rresp o n d ên cia, u m a co m u n id ad e (1949), p p . 77-78.
m ística de n atu reza, não fo rm am , no fu n ­
d o , senão um só e m esm o ser e p o dem ser P A R T IC IP Á V E L (a d j.) À s vezes u ti­
to m ad o s uns pelos o u tro s n u m grande n ú ­ lizado com o d eriv ado de p articip ar. “ T o ­
m ero de casos. “ O s o b je to s, os seres, os d as as m a n e ira s em que ela (a su b stân cia
fen ô m en o s p o d em ser, de u m a fo rm a in ­ d e D eus o u a su a essência) é p articip áv el
com preensível p a ra nós, sim ultaneam ente pelas c ria tu ra s .” Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E , Rech.
de la vérité, livro IV , cap . X I.
eles p ró p rio s e alg o d ife re n te deles m es­
m os. D e u m m o d o n ã o m en o s in co m ­ P A R T IC U L A R D. Partikular, beson-
preensível, em item e recebem fo rças, vir­ der n o s sen tid o s B e C ; E . Particular, F.
tu d e s, q u a lid a d e s, ações m ísticas, q u e se Particulier ; I. Particolare.

A crescen tam o s aq u i alg u n s tex to s relativos à p a rtic ip a ç ão , n o sen tid o em que a


en ten d e Lavelle. “ O p ró p rio d a p a rtic p a ç ão é d esco b rir p a ra m im um a to q u e, n o
m o m en to em que o efetu o , m e ap arece ao m esm o tem p o co m o m eu e com o n ão m eu,
co m o un iv ersal e p e sso a l.” D e Pacte, p. 85. “ E m vez de dizer co m o o senso co m u m ,
e talv ez com o o m a terialism o , que so m os u rn a p a rte do m u n d o , d irem o s que p a rtic i­
p am o s d a o p e ra ç ã o p ela q u al ele n ã o cessa de fa z e r-se .” Ib id ., 163-164. “ N ão é urna
p artic ip a ç ão n u m ser já realizad o d o q u al ela no s p e rm itiria, p o r assim dizer,
a p ro p ria rm o -n o s d e u m a p a r te ... P articip a-se ap en as em u m a to q u e está se re a lizan ­
d o , m as que se realiza ta m b ém em nó s e p o r n ó s, g raças a u m a o p e ra ç ã o o rig in a l.”
Ib id ., 165. “ A p a rtic ip a ç ão co n serv a sem pre em si u m c a rá te r p esso al, n ã o ap en as
p o rq u e su p õ e u m a to d a p esso a, m as a in d a p o rq u e , em vez de n o s re lacio n ar com
u m p rin cip io u n iv ersal e a b stra to , n o s u n e a u m Ser vivo e co n creto cu ja p resen ça
reco n h ecem o s p o r to d a p a rte , com o q u a l fo rm am o s sociedade e m an tem o s laços
d e a m iz a d e .” Ib id ,, 338.
Sobre Particular — Particularis encontra-se pela p rim eira vez em A ú Z Â E « Ã : “ P ro-
p o sitio n es aliae u niv ersales, aliae p a rtic u la re s .” D e dogm ate Platonis, cap . III. (Se­
g u n d o R. EZ T3 E Ç , Geschichte des phil. Term ino!., p. 54, e F 2 E Z Çá , su b V o.)
797 P A R T IC U L A R M E N T E

O p o sto a universal, com um . Pode-se entender a definição d ad a aci­


Sentido geral·. m a em dois sen tid o s: 1 ?, pelo m enos a l­
A . Q ue é u m in d iv íd u o : “ J á n o tei de guns in d iv íd u o s; 2 ?, apenas alg uns in d i­
que m aneira se p o d e dizer verd adeiram en­ víd u o s. A ló gica clássica en ten d e-a sem ­
te q u e as su b stân cias p a rtic u la res agem p re no p rim eiro sen tid o .
urnas so b re as o u tr a s ...” L « ζ Ç « U , Disc.
E É clássico o p o r o p articu lar ao u n iv er­
de m etafísica, § 27. V er Singular. C f. sal, p o r u m lad o , ao sin g u lar, p o r o u tro
su b stan tiv am en te: “ U m p a rtic u la r.” (p o r exem plo , em Kτ ÇI , Crítica da ra­
B. Q u e n ã o perte n ce a to d o s os in d i­ zão pura, A n al. tra n se ., livro I, cap . I,
vid u o s de u m a espécie c o n sid erad a, m as 2? seção). M as esta d iv isão n ã o é h o m o ­
ap en as a alguns deles ou m esm o a um só. gênea: ver Quantidade, Indiviso, etc ., e
“ Interesses p a rtic u la re s .” “ U m a feição as o bservações.
de espirito p a rtic u la r.” “ A s pro p ried ad es C R IT IC A
p articu lares do triâ n g u lo re tâ n g u lo .”
C . E m in en te, n o táv el, que se eleva S eria b o m reserv ar particular p a ra o
acim a d a m éd ia . “ U m a im p o rtâ n c ia , um sen tid o té cn ico , e em p reg ar de p re fe rê n ­
v alo r, u m a estim a p a rtic u la re s .” “ D ar cia singular no s sen tid o s A e B, q u a n d o
u m a ate n ção p a rtic u la r.” Diz-se, n o m es­ ap en as se tr a ta d e u m in d iv íd u o .
m o sen tid o , especial e singular. Igualm ente bom seria o p o r sem pre es­
Sentido técnico : pecial a geral e particular a universal (ver
D . L " ; « T τ . É p a rtic u la r a p ro p o si­ a C rítica e as observações so b re Geral).
ção que diz resp eito a alg u n s indiv íd uos Rad. int. (no sentido acim a definido):
P a rtik u la r.
(in d eterm in ad o s) de u m a classe, ou m es­
m o a u m só , se n ão fo r d ete rm in a d a . P A R T IC U L A R M E N T E (T o m ad o )
R ep resen ta-se p o r I* ou p o r O * , c o n fo r­ D . Particulargenommen·, E . Undistribu-
m e seja a firm a tiv a o u n eg ativ a. ted; F . Pris particulièrem ent.

P o d er-se-ia elim in ar in teiram en te d a d efin ição d a p ro p o siç ã o p a rtic u la r (e m es­


m o d a de pro p o sição universal) to d a idéia de indivíduo . A proposição universal enuncia
a essência, a re g ra ; a p ro p o siç ã o p a rtic u la r en u n cia o a cid en te, o u a n te s, a possib ili­
d a d e d o acid en te: n eg a o v a lo r a b so lu to d a reg ra. P o r isso , m e p arece m u ito im p o r­
ta n te dizer se m p re aliquis e n ã o quidam . N ã o h á , em fra n c ê s, eq u iv alen te de aliquis
e isto c o n trib u i p a r a c o n fu n d ir o s ló gicos. E m inglês a n y tem o m esm o v alo r ló gico
q u e aliquis, m as só se p o d e e m p reg ar com i f o u n o t. ( J . Lachelier)
E sta o bservação lev an ta a questão tã o co n tro v ersa d a in terp retação lógica em co m ­
p re e n sã o , o p o s ta à in te rp re ta ç ã o em ex ten são . A m in h a o p in ião é q u e as d u as n o ­
ções são tã o fu n d a m e n ta is e tã o necessárias u m a co m o a o u tra : p o rq u e n ã o h av eria
n e n h u m a cid en te n u m m u n d o d e p u ra s essências e, p o r o u tr o la d o , a essência n ã o
se to rn a n o rm a o u reg ra sen ão pela ex istên cia d e caso s sin gulares ao s q u ais se ap lica.
M as n ã o é a q u i o lu g ar p a ra d iscu tir u m a q u e stã o tã o g eral. (A . /..)
A p ro p o siç ã o p a rtic u la r su p õ e , com e fe ito , q u e p o d em existir in d iv íd u o s, m as
d e u m a m a n e ira in d e te rm in a d a e n ã o p o r te r c o n sta ta d o q u e de fa to existem (o que
é o sen tid o p ró p rio d e quidam ). E la só te m p o r o b je to o possível e n ã o o atu a l. ( J .
Lachelier)
A sin g u lar p o d e ser q u e r u n iv ersal, se o su je ito fo r d eterm in ad o : “ A ristó te le s es­
creveu as Categorias ” , q u e r p a rtic u la r: “ U m h o m em descia a e stra d a de Jeru salé m
p a ra J e ric ó .” N ão p o d e m o s, p o r ta n to , o p ô -la a estas. A q u e se o p õ e à p a rtic u la r
e à u n iv ersal, am b as d istrib u tiv as* , é a in d iv isa, p . ex.: “ O s A p ó sto lo s eram d o z e .”
{A. L .)
P A S S IO N A L 798

D iz-se d e u m co n ceito q u e só é co n si­ rim en ta u m a “ p aix ão ” , n o sentido A des­


d e ra d o n u m a p a rte d a sua ex te n são . ta p a la v ra . V er A tiv o .
Rad. int.: P a rtik u la rig a t. H ábito passivo, v er H ábito.
In telecto passivo, v er Intelecto e
P A S S IO N A L D . P a th o lo g is c h A tiv o .
(K τ ÇI); Leidenschaftlich (q u e tam b ém Potência passiva, ver Potência, B.
q u er dizer ap aix o n ad o ); E . Passional (ra ­ R ad. int.: P asiv .
ra m e n te pathological)·, F . Passionnel; I.
Passionale. P A T O L Ó G IC O D . P athologisch
Relativo às paixões, no sentido B. U ti­ k ra n k h a ft (no sentido A ); E . P athologi­
cal; F . Pathologique; I. Patológico.
liz ad o n o fran cês a n tig o , em desuso n a
A . Q u e co n cern e, q u e m an ife sta ou
lín g u a clássica, esta p a la v ra foi re to m a ­
q u e co n stitu i u m esta d o d e doença. E ste
d a a p a rtir do fim do século X IX . “ E m
sen tid o é o ú n ic o u su al em francês.
v irtu d e d a term in o lo g ia atu a lm e n te em
B. E m Kτ ÇI , e em várias tra d u ç õ e s
uso , o epíteto ‘p assio nal’ necessita, n a m i­
fran cesas d e K an t: q u e p erten ce aos sen ­
n h a o p in ião , d e u m a ex plicação e m esm o
tim en to s e m ais especialm ente às paixões.
d e u m a a p o lo g ia .” T h . RlBOT, L a logi-
“ D as p a th o lo g isc h b estim m b are B egeh­
q u e d e sse n tim e n ts, cap . II I , seção I: “ O
ru n g sv erm ö g en ” é d e fin id o “ d as Begeh-
racio cín io p a s s io n a l.”
ru n g sv erm ö g en im D ie n ste d er N eig u n ­
R ad. int.·. P a sio n a l. g e n ” 1. K rit. d e rp ra k t. Vernunft, I , § 3,
P A S S IV ID A D E D . Passivität; E. A n m e rk . 1. “ A ra z ã o é u m a facu ld ad e
Passivity; F . P assivité ; I. Passività. d e d e se ja r su p e rio r, à q u al e stá su b o rd i­
C ara c te rística d a q u ilo q u e é passiv o. n a d a aq u ela que d eterm in a condições p a ­
to ló g ic a s ...” T ra d . Bτ 2 Ç« , ibid. E m p re-
CRÍTICA ga-se ta m b é m , neste se n tid o , passional
E m co n seq u ên cia d o d esap arecim en ­ (ain d a q u e talv ez u m p o u c o m ais re strito
to d o sen tid o an tig o (sen tid o A ) d a p a la ­ q u e pathologisch, q u e se estende a to d a s
v ra p aix ão , “ p a ssiv id ad e” te n d e a su b s­ as ten d ên cia s afetiv as). C f. Paixão, C rí­
titu í-lo nesse u so . M as a sua fo rm a g ra ­ tica.
m atical n ã o lh e p erm itiu su b stitu í-la in ­ CRÍTICA
teiram ente; p o d e dizer-se do iráôos to m a ­
Patológico, no sen tid o A , significa
d o a b stra ta m e n te , d a q u a lid a d e de ser
m ais do que anorm al; im p lica u m ju ízo
passivo e n q u a n to o p o sta à ativ id ade; n ão n o rm a tiv o so b re a in fe rio rid a d e d o esta­
p o d e dizer-se de ta l ou ta l irados, in con­ d o assim d esig n ad o . O anorm al p o d e ser
creto. F alta-n o s, p o rta n to , u m te rm o que u m p ro g resso , u m com eço de ev o lu ção
rep resen te o fa to de se so frer p resen te­ p a ra o su p ra n o rm a l; o patológico é sem ­
m ente u m a ação , e o m esm o acon tece nas pre considerado com o u m a perda. É , p o r­
o u tra s línguas filo só ficas, salvo n o ale­ ta n to , co n trário m as não co n trad itó rio re­
m ã o , em que se p o d e dizer neste sen tid o la tiv am en te a n o rm a l. V er esta p alav ra.
“ E in L eiden” . M as ain d a neste últim o ca­ Rad. int.: P ato lo g ical.
so é preciso n o ta r que esta p a la v ra tem
P A T O P S IC O L O G IA D . Pathopsy-
m u ito s o u tro s sen tid o s e que d e n o ta p ri­
chologie; F . Pathopsychologie.
m itivam ente aq uilo que preju dica (laedit).
ú E T7 I e Mü Çè I E 2 ζ E 2 ; d istin g u i­
Rad. int.: P asives.
ram a Patopsicologia (q u er d izer, a p arte
P A S S IV O D . Leiden, passiv; E . Pas­
sive; F . Passif; I. Passivo. 1. “ A facu ld ad e de d esejar que p o d e ser d e te r­
Q ue constitui u m a “ p aix ão ” , que tem m in ad a p o r estados passionais” ; ‘‘a faculdade de d e­
o c a rá te r de u m a “ p a ix ã o ” o u que expe­ se jar a serv iço d as p ro p en sõ es” .
799 P E D A G O G IA

d a psicolo gia q u e estu d a os fato s p síq u i­ P E D A G O G IA D o G . ircuôuywyíot,


cos que ap resen tam u m c a rá te r m ó rb id o ) função do iraiòayuyó% , escravo encarre­
d a Psicopatologia (quer dizer, d a p arte d a gado de conduzir as crianças; no sentido
p a to lo g ia que estu d a as d o en ças de esp í­ figurado, educação e, especialmente, edu­
rito ). T ra ta -se , p o rta n to , de u m a d istin ­ cação m oral (P Â τ I Ã , República, livro
ção de p o n to de v ista e d e d iv isão de tr a ­ V I, 491 E ); D . P ädagogik ; E . P edagogy ;
b a lh o cien tífico . V er MjÇè I E 2 ζ E 2 ; , F. Pédagogie; I. Pedagogia.
Zeitschrift f ü r P athopsychologie, 1? vo- L« I I 2
, cingindo-se à etim ologia, de­
, lu m e, 1911. C f. Psicologia* patológica. fin ia esta p a lav ra: “ E d u cação m o ral das
c rian ças.” H . Mτ 2 « ÃÇ (Dict. de pédago­
P A T T E R N V er o Suplem ento. gie de BZ « è è ÃÇ , 1? ed ição , sub V o) criti­
cou esta fó rm u la fazen d o n o ta r: 1?, q u e
P E C A D O D . Sunde·, E . Sin; F . Pé-
a ped ag o g ia é d iferen te d a ed u cação e
ché; I. Peccato.
m esm o d a a rte em p írica e esp o n tâ n e a de
F a lta m o ra l, c o n sid e ra d a e n q u a n to u m b o m ed u c a d o r; 2 ?, q u e a ped ag o g ia
a to consciente de m á v o n tad e, e especial­ concerne a o co rp o e à in telig ên cia, assim
m en te e n q u a n to deso b ed iê n cia in ten cio ­ com o à m o ralid ad e. P ro p õ e-se, p o r ta n ­
n al ao s m an d a m e n to s de D eus. “ O m al to , d efin i-la: “ C iência d a ed u cação , ta n ­
m o ra l con siste n o p e c a d o .” LE « ζ Ç« U , to física com o intelectual e m o ral” (2238a).
Teodicéia, § 21. D eus o rd e n a a ação E la deve, diz ele, reco lh er e basear-se em
v irtu o sa e p ro íb e o p e c a d o .” Ib id ., 164. to d o s os d a d o s positivos d a fisiologia, d a
psicologia, d a história, que dizem respeito
CRÍTICA
à n a tu re z a d as crian ças.
E ste te rm o ten d e a restrin gir-se à lin­ E. DZ 2 3 7 E « O , n a seg u n d a ed ição d a
g uagem teo ló g ic a e a d esap arecer d o v o ­ m esm a o b ra (Nouveau dictionnaire de p é­
ca b u lá rio filo só fico . Q u a n d o é u sa d o é, dagogie, 1911), a d m ite ig u alm en te q u e a
em g eral, q u er com u m m a tiz de iro n ia , p ed ag o g ia n ã o é n em a p ró p ria ed u cação
q u er com o litote; p o r e x ., P .-F . T 7 Ã - n em a a rte d o e d u c a d o r; m as d e m o n stra
Oτ è : “ A e d u c a ç ão n a fam ília: os p eca­ q u e a d efin ição p ro p o s ta acim a tam b ém
dos dos p a is ” (1908). n ã o é s a tisfa tó ria . U m a “ ciência d a edu­
R ad. in t.: P ek . ca çã o ", co m e feito , c o n sistiria, no senti-

S o b re P e c a d o — A d efin ição d esta p a la v ra fo i co m p le ta d a d e a c o rd o com u m a


o b serv ação d e Parodi, q u e acrescen ta as reflexões seguin tes: “ E xiste n esta p alav ra
u m a id éia de pe rv ersid ad e in trín seca, d e m á in te n ç ã o , in d e p e n d e n te d a g rav id ad e do
a to e d a s suas co n seq ü ên cia s; é a p ró p ria v o n tad e d o ag en te, a su a m oralidade ínti­
m a q u e é c o n sid e ra d a , o q u e n ã o é tã o n ítid o n a id éia d e fa lta (u m a fa lta p o d e ser
in v o lu n tá ria ), n em n a d e crim e (n o q u al é a in fra ç ã o m a te ria l à lei m o ra l e social
q u e é v isad a). N este se n tid o , a p a la v ra parece-m e resp o n d er a u m m a tiz psicológico
o u m o ra l q u e subsiste talv ez além de q u a lq u e r cren ça religio sa p re c is a .”

S o b re P e d a g o g ia , P e d o lo g ía , etc. — E stes a rtig o s n ã o fig u rav am n a p rim e ira re ­


d a ç ã o , n ã o n o s p areciam p erten cer a o v o ca b u lá rio p ro p ria m e n te filo só fico . F o ra m
acrescentado s a pedid o de vários m em bros e corresp on dentes d a Sociedade. U m a p arte
d o s d o cu m en to s q u e a q u i são m e n cio n ad o s sã o devid os a E. B lu m e É d. Claparède.
E sfo rcei-m e p o r e x p an d ir o em p reg o d a p a lav ra pedología, n o s artig o s citados
m ais acim a, n o M a n u a l Geral e n a G rande Enciclopédia p o r razõ es q u e desenvolvi
n as m in h as diversas p u b licaçõ es, n a esteira d o m eu a rtig o d e 1895 n a R e v u e philoso-
p h iq u e , e q u e sin tetizei n a c o m u n icação d e 1904 n o C o n g resso d e G en eb ra: o te rm o
P E D O L O G IA 800

d o p ró p rio das p ala v ras, em estu d ar a gê­ C iência d a cria n ç a , m ais p a rtic u la r­
nese ou o fu n cio n am en to d o s sistem as de m ente, ciência d a cria n ça co nsid erada co ­
ed u cação ; o ra , n ã o é isso q u e se q u er d i­ m o um ser cujas reações e desenvolvim en­
zer a o fa la r d e p ed ag o g ia. A p ed ag o g ia to ob ed ecem a leis b io ló g icas, psico ló g i­
é u rn a “ te o ría p rá tic a ” , q u er d izer, u m a cas e sociológicas especiais, diferentes das
te o ria q u e tem p o r o b je to refletir so b re q u e se ap licam a o s a d u lto s e, p o r co n se­
o s sistem as e so b re os p ro ced im en to s de g u in te, devem ser e stu d a d a s s e p a ra d a ­
e d u c a ç ão , a fim d e ap re c ia r o seu v alo r m en te. (V er E . BIum “ L a p éd o lo g ie,
e atrav és disso esclarecer e d irig ir a ação 1’id ée, le m o t, la ch o se” , A n n é e psycho-
d o s ed u cad o res. logique, 1899; S ur les divislons et ta mé-
P o d eríam o s, p o rta n to , to m an d o a p a ­ thode de la pédologie, C o n g rès d e philo -
lav ra normativo* n o sentido em qu e a d e­ so p h ie, G e n eb ra, 1904, em q u e ele p r o ­
fin im o s m ais a trá s , d e fin ir a p ed ag o g ia: p õ e d iv id ir e s ta ciência em sete p a rte s,
a ciência n o rm a tiv a d a ed u cação . corresp ond entes a sete p erío dos principais
NOTA n o d esen v o lv im en to d as crian ças.)
A p a lav ra pedagogo, n a lite ra tu ra C R ÍT IC A
francesa clássica, desde o século X V II até
E ste te rm o fo i cria d o p o r O . C 2 « è - 7

os nossos d ias, fo i to m a d a quase in v aria­


Oτ Ç (C h ild -stu d y , a N ew D e p a rtm e n t o f
velm ente em sen tid o p e jo ra tiv o . E sta c o ­
E d u c a tio n 1, The F o ru m , v o l. X V I,
n o tação , cujas origens são talvez m ais fo ­
1893-1894, p. 728) e u sa d o p o r ele co m o
néticas do q u e h istó ricas, atin g iu m u itas
títu lo d a su a tese d e d o u to ra m e n to : Pai­
vezes a p a la v ra pedagogia.
Rad. in t .: P ed ag o g i. dologie, E n tw u r f zu einer W issenschaft

P E D O L O G IA D . Paidologie ; E . Pai-
dolo g y ; F . Pédologie', I. Pedología. 1. O estu do d a criança, n o v o ram o d a educação .

psicologia da criança é equ ív oco e p erig o so , p rim eiro p o r estar lig ad o à ped ag o g ia
trad icio n al e p o r ser m á esta alian ça, e n tre u m a ciência em vias d e co n stitu iç ã o , m as
p o sitiv a, e u m a a rte im precisa. A lém d isso , e so b re tu d o , o em p reg o d este term o c o n ­
firm a esta id éia m u ito d iv u lg ad a de que a p sic o lo g ia d a crian ça é u m c a p ítu lo d a
p sicolo gia do a d u lto . C om ete-se assim u m erro : a c ria n ç a é u m ser su i generis do
p o n to d e v ista fisioló gico e p sico ló g ico , e n ã o u m h o m em em m in ia tu ra . P o r fim
a p a la v ra pedagogia im p lica u m a a rte , p reo cu p açõ es fin alista s e n o rm a tiv a s q u e n a ­
d a têm a ver com a in v estig ação e a in stitu iç ã o d e leis cien tíficas. (E. BIum )
A p a la v ra P edotecnia fo i p re fe rid a a Pedagogia p ela S ociedade b elg a q u e tem
este n o m e, p o r ser m ais a m p la , ten d o o uso re strin g id o pedagogia à técn ic a p u ra ­
m en te esco la r, e à ed u cação d as c rian ças, s o b re tu d o n o p e río d o d a esco la p rim á ria .
A ciência d a crian ça p o d eria, p o rta n to , ser d iv id id a em Pedología e Pedotecnia, com ­
p re e n d e n d o esta ú ltim a a Pediatria, a Pedagogia experim ental, etc. Sem d ú v id a, esta
ú ltim a espécie de estu d o s te m p o r o b je to a in v estig ação , a d esco b erta d as reg ras, n ã o
a su a a p licação . M as esta ex ten são d a p a la v ra é le g itim ad a p ela an alo g ia: a electro­
tecnia, p o r ex em p lo , co m p reen d e a in v estig ação e m p írica d o s m eio s p rá tic o s p a ra
o b te r o m elh o r re n d im e n to d e u m a p ilh a , d o s p ro cesso s in d u striais p a r a a fa b ric a çã o
de lâm p ad as, etc ..A d ife re n ç a e n tre tecnia e logia resid e, p a r a m im , n o seguin te fato :
as logias visam estabelecer leis gerais, científicas, racio n ais, etc.; as tecnias contentam -
se com estab ele cer reg ras p rá tic a s, receitas, sem se o c u p arem d a su a c o o rd en ação .
(Éd. Claparède )
801 PEN A

des K indes1, le n a , 1894. A trib u i-lh e c o ­ P ro p ria m e n te , d o u trin a relig io sa de


m o finalid ade “ alies zu sam m eln, was das P elág io ( t 440), d e c la ra d a h erética no
W esen u n d die E n tw ic k elu n g des K indes concílio de É feso (431), p o rq u e neg av a o
b e trifft, u n d es zu ein em sy stem atischen pecad o o rig in al, a c o rru p ç ã o d a n a tu re ­
G anzen zu vereinigen” 1 2. C o n sid era-a co ­ za h u m a n a e a n ecessid ade d a graça p a ra
m o a te o ría d a q u al a ped ag o g ia deve ser a san tid ad e.
a ap licação . C ham ou-se, p o r extensão, pelagianis-
E ste te rm o foi in tro d u z id o e v u lg ari­ m o m oral às d o u trin a s que rep resen tam
zad o em fran cés p o r E. BÂ Z O , L e m o u ­ o hom em com o n atu ralm en te bom ou p e­
vem ent pédagogique (C. R. áE C 7 2 « è - lo m enos co m o n ã o te n d o n e n h u m a te n ­
Mτ Ç , R evue p h ilo s., m aio de 1897); L e d ên cia n a tu ra l c o n trá ria ou hostil às re ­
mouv. pédagogique et pédologique ( ibid ., g ras m o rais.
n o v em b ro de 1898).
E ste te rm o , desd e e n tã o , ex pandiu -se P E N A D . A . Strafe-, B. Sem eq u iv a­
m u ito . C7 2 « è Oτ Ç fu n d o u em 1900 a re ­ lente exato ; p o r ap ro x im a ç ã o , Schmerz;
vista Paidology (E m poria, K ansas); a sra. C . M ühe\ E . A . Pain, penalty, B. Pain,
LÃZ T7 , no m esm o a n o , The Paidologist trouble, grief-, C. Trouble, labour; F . Pei­
(L adies C ollege, C h elten h am ). U m a So ­ ne-, I. A . B. Pena-, B. C . Siento.
ciété de pédologie foi fu n d ad a em A n tu ér­ A . (G . w o i v i j , resg ate, ex p iação , cas­
p ia em 1883. A R evu e philosophique, a tigo). A q u ilo q u e é im p o sto pela socie­
p a rtir de 1906, su bstitu iu esta palav ra po r dad e ao in d iv íd u o a fim de rep rim ir u m a
Pedagogia n as ru b ricas d a su a tá b u a a n a ­ con travenção, u m delito o u um crime. A s
lítica das m a té ria s. O T erceiro C o n g res­ penas são o u de po lícia, o u co rrecio n ais,
so In te rn a c io n al d a E d u c a ç ã o (B ruxelas, ou crim in ais; neste ú ltim o caso , elas são
1910) in titu lo u a su a p rim eira seção: P e­ sem pre d itas “ in fa m a n te s” ; e, geralm en­
dología. U m p rim eiro C o n g resso d e P e ­ te, p o r o u tro lad o , são d itas “ aflitiv as” .
d o lo g ía o c o rre u ali em 1911. E s ta p a la ­ O C ode p én a l d efin e estas d iferen te s ca­
v ra p arece, p o rta n to , su fic ie n te m en te te g o rias ap e n a s p o r e n u m e ra ç ão em ex­
c o n sa g ra d a p elo uso . ten são : as p en as policiais são a m u lta , o
co n fisco d e o b je to s ro u b a d o s , a p risão
P E D O T E C N IA Term o criado, a exem­
(C. pénal, 464); as penas correcionais são
p lo d e P ed o lo g ía, p elo dr. D T 2 Ã Â à , p o r
E

a m u lta , a in te rd iç ã o d e certo s d ireito s,


o casião d a fu n d ação , em Bruxelas, d a S o­
a p risã o (C. pénal, 9); as p en as crim inais
cie d ad e q u e te m esse n o m e (1906).
so m en te in fa m a n te s são o b an im e n to e
C o n ju n to d as ap licaçõ es resu ltan tes
d o c o n h ecim en to d o s fa to s bio ló g ico s, a d e g ra d a ç ão cívica; as p en as aflitiv as e
psico ló g ico s, so ciais, q u e dizem resp eito in fam an tes são a m o rte, os trab alh o s fo r­
às crian ças. çad o s, a d eten ção e a reclu são ( C ode p é ­
R ad. in t.: P ed o lo g i, P e d o te k n ik . nal, 7-8).
B . P è « TÃÂ Ã; « τ . S en tim en to de triste­
P E IR C E (P rin c íp io de) o u R eg ra de za e d ep ressão q u e a d v ém p o rq u e alg o
P eirce, ver P ragm atism o. aco n tece c o n tra o s n o sso s desejo s. O a d ­
P E L A G IA N IS M O D . Pelagianismus-, jetivo corresp ondente é p enoso, m as o seu
E . Pelagianism; F . Pélagianisme-, I. Pe- sen tid o é m u ito m ais a m p lo ; diz-se m es­
lagianismo. m o d e sensações, d e d o res físicas, to d a s
as vezes q u e são difíceis d e s u p o rta r.
C . E sfo rç o , tra b a lh o d ifícil, que no s
1. Pedología, esboço de um a ciência da criança .
2. “ reco lh er tu d o a q u ilo q u e d iz resp eito à n a ­
im p o m o s a n ó s p ró p rio s em fu n ção de re­
tu re z a e a o desenvolvim ento e re u n ir tu d o isso num su ltad o s q u e esp eram o s. “ V ale a p e n a .”
to d o sistem ático ” . Rad. int.: A . P unis; B. D o lo r; C . P en.
PEN SAM EN TO 802

P E N S A M E N T O D . G edanke, Den- r a n e n h u m a , p o rq u e o s p en sam en to s são


ken\ E . ThoughV, F . Pensée; I. Pensiero. a çõ es” (fa to s in actu) “ e o s co n h ecim en ­
E sta p a la v ra , em cad a u m do s seus to s o u as v erd ad es, e n q u a n to estão em
sen tid o s, p o d e ap licar-se q u e r a o c o n ju n ­ n ó s, m esm o q u a n d o n ã o p en sam o s n is­
to d o s fa to s co n sid erad o s (o p en sam en ­ s o , são h á b ito s o u disp o siçõ es e n ó s sa ­
to ), q u er a c a d a u m deles to m a d o iso la­ bem os m uitas coisas nas quais p ouco pen ­
d a m e n te (um p en sam en to ). sa m o s.” L « ζ Ç « U , N o vo s ensaios, I, cap.
E

A . N o sentido mais am plo, engloba I, § 26.


todos os fenôm enos do espírito. “ O que C. N o sen tid o m ais p ró p rio , diz-se do
é um a coisa que pensa? É um a coisa que e n ten d im en to e d a ra z ã o , e n q u a n to p e r­
duvida, que entende, que concebe, que m item compreender* o que constitui a m a­
afirm a, que quer, que não quer, que im a­ téria d o conhecim ento, en q u an to realizam
gina e que sente.” DE è Tτ 2 I E è , Segunda u m g rau d e síntese m ais elevado d o que
m editação, 7. C f. Princ. da filo so fia , I, a p ercep ção , a m em ó ria o u a im agin ação.
32; e ver Idéia. ‘‘O p en sam en to n ã o é, p o rta n to , m enos
E ste sen tid o p erd eu a tu a lid a d e ; e, d istin to d a percep ção d o q u e d a sensação
aliás, m esm o em D escartes, parece que os e d a v o n ta d e ... É ao representar a nós p ró ­
estad o s afetiv o s e a v o n ta d e só são c h a ­ prio s a ex ten são q u e saím o s de n ó s p r ó ­
m ad o s pensam entos e n q u a n to consid era­ prio s p a ra e n tra r no a b so lu to do p e n sa ­
do s com o necessariam ente conhecidos p e­ m e n to .” J . L τ T Â « 2 , Psychologie et
7 E E

la a lm a qu e q u e r o u sente: ‘‘P ela p a lav ra m étaphysique (em seq ü ên cia ao F onde­


p en sam en to e n ten d o tu d o a q u ilo q u e se m e n t d e l ’induction, p. 150). C h am a a in ­
fa z em n ó s d e tal m o d o q u e nos ap e rc e ­ d a a esse p e n sa m e n to “ consciência in te ­
b em o s ¡m ed ia ta m en te p o r n ó s p ró p rio s lec tu a l” em op o sição à “ co n sciên cia sen­
[texto latino·. C o g itatio n is n o m in e intel- sív el” . Ibid. “ T his te rm (th o u g h t) is, in
ligo illa o m n ia qu ae n o b is conciis in no- relatio n to L ogic, em pio yed in its strictest
bis su n t, quatenus eorum in nobis cons- a n d m o st lim ited sig n ificatio n , viz. as th e
cientia est ]. É p o r isso que n ã o so m en te a c t o r p ro d u c t o f discursive F acu lty , or
en ten d er, q u erer, im ag in ar, m as tam b ém F acu lty o f R e la tio n s.” 1 H τ O« Â Ã Ç , L o I

sen tir é aq u i a m esm a co isa q u e p e n s a r.” gic, lição V , p . 73.


Princípios da filo so fia , I, 9. R ad. in t .: P en s.
B. M ais c o m u m en te, diz-se de to d o s P E R C E P Ç Ã O D . A . B . C . Perzep­
os fen ô m en o s cognitiv os (em o p o sição tion, E m p fin d u n g , E rfassung; C . D .
aos sen tim en to s e às vo lições).
P ensam ento é, en tão , u m sinôn im o de
1. ‘ ‘E ste term o (p en sam en to ), em m atéria d e ló ­
inteligência n o sen tid o A . ‘‘Se existem g ica, em prega-se n a su a ac e p ç ã o m ais e s trita e m ais
v erd ad es in a ta s, n ã o se rá necessário que lim ita d a , a sa b e r, a to o u p ro d u to d a fa c u ld a d e d is­
existam p en sam en to s in a to s? D e m an ei­ c u rsiv a, o u fa c u ld a d e d as re la ç õ e s.”

S o b re P e n sa m e n to — S erá ab so lu ta m e n te n ecessário p ro screv er u m sen tid o b a s­


ta n te m ais a m p lo , e certam en te u m p o u co ab u siv o , n o q u al se c h a m a ria p ensam ento
a tu d o aq u ilo que te m em si u m c a rá te r de rac io n a lid a d e e de in telig ib ilid ad e, m esm o
sem consciência a tu al, m as com u m a ten d ên cia p a ra a consciência, em q u e d irem o s,
p o r exem plo , q u e a n a tu re z a o u m esm o o ser n a su a to ta lid a d e é u m pen sa m en to ?
A fin alid ad e im an en te n u m ser vivo n ã o será n a v erd ad e um p ensam ento sem cons­
ciência, q u e 0 g u ia n o seu desen v o lv im en to ? (J . Lachelier )
S o b re P ercep ção — A rtig o co m p letad o a p a rtir d as ind icaçõ es de H . W. Carr
e J. Lachelier.
803 PERCEPÇÃ O

Wahrnehmung; E . Perception ; F. Percep- deve distinguir d a ap ercepção o u d a cons­


tiotv, I. Percepzione. ciê n c ia ... E é n isto q u e os cartesian o s f a ­
1?: E nq u a n to ato: lh a ra m , n ã o d a n d o im p o rtâ n c ia às p e r­
A. S en tid o m ais geral: o fa to d e socepções ­ d e q u e n ã o n o s a p e rc e b em o s.”
fre r u m a aç ã o e d e reag ir d e u m a m an ei­ M onadologia, § 14. E sta s percepções de
r a a d a p ta d a . “ P e rc ip it c o rp u s m eatu s q u e n ã o n o s ap erceb em o s são p o r ele d e­
q u ib u s se in sin u at; p ercip it im p e tu m al- signadas p o r “ p eq u en as percepções, p e r­
te riu s co rp o ris cui c e d it... A er vero C ali- cepções insensíveis” . Ib id ., 21; N o v o s en­
d u m et F rig id u m tam acu te p ercip it, u t saios, II, 1, etc.
eju s p ercep tio sit lo nge su b tilio r q u a m E specialm ente:
tactu s h u m an u s... Q u i hu ic contem platio - B. P a r a os cartesianos, percepção é di­
n i an im u m a d je c e ru n t, lo ngiu s q u am p a r to d e to d o s o s ato s d a in teligência. “ O m -
est p ro v ecti s u n t, et sen su m c o rp o rib u s n es m o d i co g ita n d i, q u o s in n o b is expe-
ó m n ib u s tr ib u e r u n t;... A t d e b u e ra n t dif- rim u r, a d d u o s generales referri p o ssu n t,
feren tiam p ercep tio n is et sensus n o n ta n - q u o ru m u n u s est p e rcep tio , sive o p e ra tio
tu m in c o m p a ra tio n e sensibiliu m a d in - in te lle c tu s... N am se n tire, im ag in ari et
sensib ilia e x p lo ra re ,... v eru m etiam in p u re intellig ere su n t ta n tu m diversi m odi
c o rp o re ipso sensibili an im ad v ertere q uid p e rc ip ie n d i.” D E è Tτ 2 I E è , Principia, I,
cau sa sit cur to t actio nes ex p ed ian tu r abs- 32. M as n a tra d u ç ã o fra n c e sa , a in d a q u e
q u e o m n i ta m e n se n su .” Bτ TÃÇ , D e este ca p ítu lo se in titu le “ D e co m o h á em
A u g m en tis, IV , 3. n ó s d u as espécies d e p e n sam en to s, a sa­
E s ta d is tin ç ã o d a “ p e r c e p ç ã o ” e d o b e r, a percepção d o e n ten d im en to e a
“ s e n tim e n to ” fo i r e to m a d a , a p r o f u n d a ­ ação d a v o n ta d e ” , é d ito n o co rp o d o a r­
d a e a d a p ta d a à s u a p r ó p r ia d o u tr in a p o r tigo: “ ... das q u ais u m a consiste em aper­
L E « ζ Ç« U : “ O e s ta d o p a s s a g e iro q u e e n ­ ceber pelo e n te n d im e n to ” e “ ... são a p e ­
v o lv e e r e p r e s e n ta u m a m u lt id ã o ” (u m a nas d u as m an eiras d iferen tes de aperce­
m u ltip lic id a d e ) “ n a u n id a d e o u n a s u b s­ b e r " . A d e T a n n , IX , 39. V er Idéia.
tâ n c ia sim p les n ã o é o u tr a c o is a se n ã o T am b ém E è ú « ÇÃè τ d istin g u e no De
a q u ilo a q u e se c h a m a Percepção, q u e se intellectus em endatione, 7: “ P erceptio ex

Claparède o b serv a que a percep ção a tu a l n ã o se d ev eria c h a m a r representação


co m o o foi m u ita s vezes pelos psicólo gos fran ceses, e que se d ev eria reserv ar esta
p a la v ra p a ra os fen ô m en o s cognitiv os q u e co n stitu em q u er u m a rep etição , q u er u m a
su b stitu ição d aq u ilo que n ã o está a tu a lm e n te p resen te. V er A presentação e R epre­
sentação.
Percepção, n o século X V III, fo i o p o sta a sensação de u m a o u tra m an eira. “ T e­
n h o u m a p ercep ção q u a n d o ap erceb o u m o b je to : esta percep ção a p en as m e an u n cia
a p resen ça deste o b je to . M as se esta p ercep ção se to rn a b a sta n te v iv a p a ra ser a c o m ­
p a n h a d a de p razer ou de d o r, ch am o -lh e sensação. P arece-m e, p o rta n to , que a sen ­
sação n ã o d ifere d a percep ção sen ão pelo g rau d e in te n s id a d e .” C h . BÃÇÇE I , Phi-
lalèthe, cap . IV (1768); Oeuvres, t. V III, 419.
A p rim eira re d a ç ã o d a C rític a , c o n serv ad a até a 5? ed ição , c o n tin h a u m a c o n d e­
n a ç ã o d o sen tid o C , que nessa ép o ca n ão tin h a le v an tad o o b je çõ es. M as M arsal faz-
n o s o b serv ar q u e a an a lo g ia esta b ele cid a en tre a “ p ercep ção in te rn a ” e a “ p ercep ­
ção e x te rn a ” c o n tin u a b a sta n te defensável. “ Q uerem d iz e r” , escreve ele, “ que o c o ­
n h ecim en to d o eu é in tu itiv o e a d e q u a d o ? N ã o será a id éia d o eu c o n stru íd a tal com o
a do n ão -eu , e sem d ú v id a co rrelativ am en te? P o r co n seq ü ên cia, n ã o h a v e rá an alo g ia
e n tre o sentido C e o sen tid o D , e leg itim id ad e do sen tid o C ? ”
P E R C E P C IO N IS M O 804

a u d itu , p e rcep tio a b ex p erien tia v ag a, ta ex p licativ a. É c o n te sta d a em g eral p o r


p ercep tio u b i essen tia rei ex alia re con- estabelecer u m a a n a lo g ia artificial en tre
clu d itu r sed n o n a d a eq u ate, p ercep tio rei o conh ecim ento d o esp írito p o r si p ró p rio
p er solam su am essen tiam .” M as, n a p as­ e o q u e ele tira d o s o b je to s m ateriais si­
sagem corresp ondente d a Ética (II, 40; es- tu a d o s n o esp aço .
col. 2), ele em p reg a cognitio neste sen ti­ A in d a q u e percepção, n o sen tid o ge­
d o g eral e p arece restrin g ir perceptio ao ra l d e c o n h ecim en to , e steja q u ase in tei­
conhecim ento “ ex sin g u larib u s, nobis per ra m e n te f o ra de u so , o m esm o n ã o aco n ­
se n su s... c o n fu se re p ra e se n ta tis” , que tece c o m o v erb o perceber: a in d a se diz
c o n stitu i o sen tid o m o d e rn o . (talvez co n tu d o com u m a p o n ta d e arcaís­
C . C o n h ecim en to q u e o eu possui dos m o ) q u e se “percebe u m a d iferen ça, u m a
seus estad o s e d o s seus a to s atrav és d a o p o sição e n tre d u a s id éias, o u d u as teo ­
co n sciên cia {percepção interna). ria s, e tc .” .
D . A to p elo q u a l u m in d iv íd u o , o r­ R ad. in t .: D . 1?: ato d e aperceber:
g a n iz a n d o im e d iatam en te as suas sen sa­ P e rc e p t; 2P: coisa percebida: P e rc e p ta j.
ções p resen tes, in te rp re ta n d o -a s e co m ­
p le ta n d o -a s co m im agens e le m b ran ças, P E R C E P C IO N IS M O D. Perzeption-
a fa sta n d o ta n to q u a n to possível o seu ca­ nismus; E . Perceptionism; F . Perception­
rá te r afetiv o o u em otiv o, op õ e a si u m o b ­ nism e; I. P ercezionism o.
je to q u e ju lg a esp o n ta n e a m e n te d istin to D o u trin a seg u n d o a q u a l o e sp írito ,
dele, real e p o r ele co n h ecid o a tu a lm e n te n o a to d e p erceb er, te m u m a consciência
(p ercep ção exterio r). im ed iata e, p o r conseqiiência, verídica d a
2?; E nquanto resultado: p resen ça d e u m a re a lid a d e ex terio r a ele
A quilo que é percebid o, so b retu d o n o (R E á , H τ O« Â ÃÇ , CÃZ è « Ç , T Ãú Ç -
I 7 E

sen tid o D . 7 τ Z E 2 , ú ÇT 2 , B 2 ; è ÃÇ ). E sta d o u ­


E E E

trin a opõe-se à que considera a crença nas


C R ÍT IC A realid ad es d esta o rd em co m o u m a cren ­
1. E m cad a u m do s sentidos acim a in ­ ça a d q u irid a e re su lta n te d e um tra b a lh o
d icad o s, a p a la v ra p o d e sig nificar q u e r o d o esp írito ; o que p o d e a in d a en te n d e r­
a to de p erceb er, q u er o re su lta d o deste se em dois sentidos: 1?, a cren ça n a n o s­
a to . sa p ró p ria realid ad e in d iv id u al é im ed ia­
2. O sen tid o D {percepção exterior) é ta , a cren ça n a realid ad e d o n ão -eu re­
o ú n ic o u su al n a linguagem filosófica su lta de u m a o p e ra ç ã o d iscursiv a E è ­
c o n tem p o rân ea; po d er-se-á q u an d o m u i­ Tτ 2 I E è , BE 2 3 E Â E à ); 2?, a cren ça n a re a ­
to e n c o n tra r alg uns traço s das o u tras lidade d o eu e a cren ça n a realid ad e do
acepções. O sen tid o C , que se conservou n ão -eu são am b as a d q u irid as e de fo rm a ­
m ais tem p o , te n d e ta m b é m a d e sa p a re ­ ção secu n d ária  . M« Â Â, W. J τ OE è ,
cer: já seria im possív el em p reg ar percep­ J. M. Bτ Â áç « Ç ).
ção neste sentido sem acrescentar u m a n o ­ R ad. int.: P ercep tio n ism .

S o b re P ercep cio n ism o — Será este te rm o n ecessário ? Ele n ã o é u su al em inglês.


N ã o seria m elh o r ch am ar à d o u trin a q u e d esig n a realism o {neo-realismo, realismo
ingênuo )? {H. W. Carr) R ealism o seria dem asiad o g eral, e, além d isso , tem o d efeito
de ser ap lic a d a a várias d o u trin a s d iferen te s; realism o ingênuo evoca a id éia de u m a
crític a u lte rio r que precisam en te a p ercep ção n ão a d m ite; neo-realismo p o d e ria , sem
d ú v id a , ser a d o ta d o co n v en cio n alm en te neste sen tid o ; m as h av eria v an tag em em
su b stitu í-lo , pelo m enos em fran cês, p o r u m term o j á co n sag rad o e que parece não
criar equív oco? {A. L .)
805 P E R F E IT O

“ P E R C E P T O ” E . Percept. ta ç ã o p esso al c u ja m a té ria é fo rn e c id a p o r


O p o sto de Conceito*: o b je to (no sen­ e s ta ‘philosophia perennis’ q u e é a o b r a
tid o A ) d a p ercep ção , sem referên cia a c o m u m d a h u m a n id a d e .” L. L τ â E Â Â E ,
u m a realid ad e, a u m a coisa em si à q ual L a présence totale, p. 20.
co rre sp o n d e ria e s te percepto. E q u iv ale à
expressão alem ã empirische Anschauung, NOTA
q u a n d o se en ten d e p o r A nschauung n ã o A origem desta expressão é o títu lo de
a facu ld ad e ou o a to de p erceb er, m as a u m livro de A Z ; Z è « ÇZ è  Z T Z è , d i­
I I E 7

p ró p ria “ representação” que resulta deste to EuGUBiNUS1 (A g o stin h o Steuco, de


ato . G u b b io ), D e p e ren n iphilosophia (1540).
R ad. int.: P e rc e p ta j. F o u ch er tin h a re c o m e n d a d o a su a leitu ­
ra a Leibniz, que agradece a ele n u m a das
“ P E R C IP IE N T E ” T erm o de origem
suas cartas ( G ehr ., I, 395). O ensejo p rin ­
inglesa ( = ser q u e percebe). S u jeito * , n o
cipal deste liv ro , diz ele, é “ a d a p ta r os
sen tid o F . T erm o p o u co co m u m em
A n tig o s ao c ristia n ism o ” ; m as ele p en sa
francês.
que se p o d e ex tra ir algo m ais e é com es­
P E R D U R A B IL ID A D E D . D auerhaf­ ta in ten ção q u e faz d a perennis p hiloso­
tigkeit-, E . Perdurability, perdurableness-, p h ia u m a espécie de div isa do seu ecletis­
F . Perdurabilité ; I. Perdurabilità. m o: “ A v erd ad e está m ais d ifu n d id a do
C aracterística daquilo que d u ra e m es­ que se p en sa, m as está ta n ta s vezes dis­
m o d aq u ilo q u e d u ra lo n g am en te (relati­ fa rç a d a e ta n ta s vezes e sco n d id a e m es­
v am en te a tal ou tal te rm o de c o m p a ra ­ m o en fra q u e cid a , m u tila d a , c o rro m p id a
ção). “ É p o rq u e a p e rd u ra b ilid a d e dos p o r ad içõ es q u e a a lte ra m o u a to rn a m
o b je to s do senso co m u m n ã o é suficiente m enos útil. F azen d o n o ta r estes traço s d a
q u e os a b a n d o n a m o s, que criam o s u m a v erd ad e no s an tig o s (o u , p a r a fa la r m ais
série de o b jeto s n o v o s, os q u ais, p o r co n ­ g eralm en te, n o s an tecesso res), tirar-se-ia
seguinte, aparecem forçosam ente do ta d o s o u ro d a la m a , d ia m a n te s d a su a m in a1 2e
d e u m a p erd u ra b ilid a d e s u p e rio r.” E . a lu z d as trev as; e isto seria , com e feito ,
ME à E 2 è ÃÇ , ld e n tité e t réalité (2? e d ., perennis quaedam p h ilosophia.” Carta a
p p . 420-421). C f. Id ., L ’explication dans R ém o n d , 1714, G erh., II I , 624-625.
tes Sciences, p . 247.
P E R F E C T IB IL ID A D E V er P ro ­
P E R E N ID A D E D . (ap ro x im ad am en ­ gresso.
te) Dauerhaftigkeit-, E . P erennity; F . Pé-
rennité; I. Perennità. P E R F E IÇ Ã O V er P erfeito.
E tim o ló g icam en te, perennitas, carac­ A p a la v ra , n as suas d iferen tes acep ­
terística daquilo que d u ra to d o o an o (po r çõ es, p o d e ser e n te n d id a : A . N o sentido
oposição àqu ilo que só d u ra u m a estação, a b s tra to ; B. N o sen tid o co n creto .
c o m o a fo lh ag em d a m a io r p a rte d as á r ­ Rad. int.: A . P erfek tes; B. P e rfe k ta j.
vo res). P o r co nseguin te (já n o la tim clás­
P E R F E IT O G . rfX etos; L. Perfectus-,
sico), c a ra cterística d a q u ilo q u e d u r a in ­
D . V ollkom m en; E . Perfect; F . Parfait;
d e fin id a m e n te , e tern am en te.
I. P erfeito.
“ P E R E N N IS P H IL O S O P H IA ” A A. R elativ am ente a u m a o rd em d eter­
filo so fia p eren e. E x p ressão q u e ev o ca a m in a d a e lim itad a de p ro p ried ad es: é p er­
id éia d e q u e a filo so fía , a p e sa r d as o p o ­ feito (q u er d izer, etim o ló g icam en te, aca­
sições ap aren tes d as d o u trin a s , co n stitu i
u m a tra d iç ã o ú n ic a e p erm a n e n te n o que
1. G e rh a rd t e C o u tu ra t, c ita n d o G e rh a rd t, es­
ela tem de essencial. “ A filo so fia d a q u al crevem Jugubinus. M as trata-se evidentem ente de um
apresentam os aqui os princípios essenciais e rro d e c ó p ia o u d e im p re ssão .
n ã o in o v a n a d a . T ra ta -se de u m a m ed i­ 2. D o seu m in eral, d a su a g an g a.
P E R F E IT O 806

bado, concluído) a q u ilo q u e c o rre sp o n ­ IV , 3: “ U m a n a tu re z a ... q u e te n h a em si


d e ex atam en te a u m c o n c e ito , a u m tip o to d a s as perfeiç õ es d e q u e eu p u d esse ter
o u u m a n o rm a , o qu e é tal q u e n ã o se p o ­ a lg u m a id éia, q u e r d izer, p a ra m e expli­
d eria nele conceber n e n h u m pro gresso n a c a r n u m a p a la v ra , q u e fosse D e u s.”
o rd em c o n sid e ra d a . “ T έ λ ε ι ο ν λ έ ή ε τ α ι ...
T2 í I « Tτ
τ ο κ α τ ’ α ρ ε τ ή ν κ α ι τ ο τ ο ΰ cl· μ η ε 'χ ο ν
υ π ε ρ β ο λ ή ν π ρ ό ί τ ο yévos, ο ι ο ν τ έ λ ε ι ο ί 1. O esforço d a filo so fia cartesian a foi
ια τ ρ ό ? κ α ι τ έ λ ε ιο ί α ΰ λ η τ ή ί, ό τ α ν κ α τ ά n o sen tid o d e su p rim ir n a n o ç ã o d e p e r­
τ ό ε ί δ ο ί TÍJS ο ι κ ε ί α ς α ρ ε τ ή ς μ η δ έ ν ε λ - feição a d istin ç ã o e n tre a categ o ria d a
λ ε ί π ω σ ι ν ." A 2 « è I  I E Â E è , M etafís., IV , q u a n tid a d e e a d a q u a lid a d e , e n tre a ca­
16; 1021, 12-17. A p alav ra, neste sentid o, teg o ria d o fa to e a d o v alo r. E sta ten d ên ­
é sinônim a de abso luto, n o sentido C. “ Re­ cia ap arece p rim e ira m e n te n o p ró p rio
ta perfeita, superfície perfeitam ente plana; D escartes: “ T o d a a re a lid a d e o u p e rfe i­
gás p erfeito ; dissim ulação p e rfe ita .” ção q u e está n u m a co isa, d iz ele, e n c o n ­
B. E sp ecialm en te (caso m ais geral) tra-se fo rm alm en te o u em in en te m en te na
co m u m a co n o tação lau d ativ a; o que é tal sua cau sa p rim eira e to ta l. Existem diver­
q u e n a d a d e su p erio r se p o d e co n ceb er, sos g rau s d e realidade, q u er d izer, d e en­
n u m a ord em d e características o u de p ro ­ tidade o u d e perfeição ; p o rq u e a su b stân ­
p ried ad es qu e é tid a p o r b o a . (O te x to de cia tem m ais re a lid a d e d o q u e o acid en te
A ristó teles acim a c ita d o , a in d a q u e p r o ­ o u o m o d o , e a su b stâ n c ia in fin ita m ais
p ria m e n te fa la n d o a p e n a s d efin a a p e r­ d o q u e a fin ita , e tc .” R esp. às segundas
feiç ão in genere, ap lica-se m ais esp ecial­ objeções, ax io m as IV e V I. A p rim e ira
m en te a este seg u n d o sen tid o : a in d a q u e fo n te d e sta tese é talv ez o a x io m a esco­
α ρ ε τ ή p o ssa en ten d er-se d e q u a lq u e r ca­ lástico: “ Q u o d lib et ens est u n u m , verum ,
p acid ad e ou fa c u ld a d e , é evid ente q u e se b o n u m .”
tr a ta s o b re tu d o , no seu p en sam en to , de “ P e rfe c tio et im p e rfe c tio ” , diz E è ú «­
cap acid ad es dignas de elo gio s.) ÇÃ è τ , “ rev era m o d i so lu m m o d o cogi-
C . N o sen tid o co m p a ra tiv o : é d ito tan d i su n t, n em p e n o tio n e s q u as fingere
m ais p erfeito o q u e se a p ro x im a m ais do so lem us ex eo q u o d eju sd em speciei a u t
p erfeito (no sen tid o A o u B), m enos p e r­ generis in d iv id u a a d invicem co m p ara-
fe ito o que dele se a fa s ta . “ N ã o h á m e­ m u s.” A fó rm u la, até aq u i, n ão difere es­
no s rep u g n ân cia em o m ais p erfeito ser sen cialm en te d a d e A ristó teles; m as ele
u m a co n seq u ên cia e u m a dep en d ên cia do acrescen ta : “ E t h ac de cau sa su p ra (de-
m en o s p e rfe ito d o que em d o n a d a p r o ­ fin . 6? p a rtis 2a') dixi m e p e r realitatem
ceder a lg u m a c o is a .” D è T τ 2 è , Disc.
E I E et perfectionem idem intelligere: solem u s
do m étodo, IV , 3. enim o m n ia n a tu ra e in d iv id u a ad u n u m
D . “ O ser p e rfe ito ” o u , m ais e x a ta ­ g en u s, q u o d gen eralissim u m a p p e la tu r,
m ente, com o diz D escartes p a ra distinguir revocare: nem pe ad n o tio n em entis. Q ua-
este sen tid o do p reced en te, “ o ser to ta l­ tenus itaq u e n a tu ra e in d iv id u a ad hoc ge­
m ente p erfeito , o ser so b eran am en te p e r­ nus rev o cam o s, et a d in vicem c o m p ara-
feito (om nio perfectus)” , é aquele que p o ­ m u s, et alia plu s en tita tis seu realitatis
d e ser d ito p e rfe ito , n o sen tid o B, em to ­ q u a m a lia h ab ere co m p erim u s, eaten u s
d as as coisas q u e ju lg am o s b o as e dese­ alia aliis p e rfe c tio ra esse d icim u s... De-
jáveis. “ A su b stâ n cia que entendem os s e r n iq u e p er p erfectio n em in genere re a lita ­
so b eran am en te p e rfe ita e n a q u al n ão tem , u ti dixi, intelligam : hoc est rei cujus-
concebem os n a d a que co n ten h a q ualq uer cu m q u e essen tiam , q u a te n u s certo m o d o
d efeito ou lim itação de p erfeiç ão ch am a- existit e t o p e ra tu r, n u lla ip sius d u ra tio -
se D e u s.” D è T τ 2 è , R espostas às se­
E I E nis h a b ita r a tio n e .” Ética, 4? p a rte , p re ­
gundas objeções, d ef. V III. C f. M éto d o , fácio , 2-3.
807 PERSEV ERA ÇÃ O

Ig u alm en te, em L « ζ Ç« U : “ D eus é a b ­


E d iferen te s p o n to s q u e co n stitu em a cu r­
so lu ta m en te p erfeito , n ã o sen d o a p erfei­ v a d eterm in ad o s pelo v alo r de cad a u m a
ção o u tra coisa sen ão a g ra n d e z a d a re a ­ d as ap tid õ e s tais co m o existem nesse in ­
lid ad e p o sitiv a ap re e n d id a p recisam en te d iv íd u o .” (N o ta de É d. Claparède.)
(p o r a b stra ç ã o ) p o n d o d e lad o o s lim ites P E R F O R M A T IV O V er Suplem ento.
o u fro n te iras nas coisas q u e os têm . E o n ­
de n ã o há nen h u n s lim ites, q u er dizer, em P E R M A N Ê N C IA D . Beharrlichkeit
D eu s, a p erfeição é a b so lu ta m e n te in fi­ (K τ Ç I ) , Beständigkeit, Fortdauer, Ver­
n ita .” M onadologia, 41. “ U n d e seq u itu r bleiben; E . Permanence; F . Permanence;
o m n ia po ssib ililia, seu essen tiam vel rea- I. Perm anenza.
litatem possib ilem ex p erim en tia, p a ri ju ­ C ara c te rística d a q u ilo q u e p e rm a n e ­
re a d ex iste n tiam ten d ere p ro q u a n tita te ce o m esm o apesar d o decorrer d o tem p o .
essentiae seu realitatis, vel p ro g ra d u per- Kτ ÇI c h a m a p a rtic u la rm en te “ P r in ­
fectionis q u em in v o lu n t: est enim perfec- cíp io d a p e rm a n ê n c ia ” ( G rundsatz der
tio nih il aliu d q u a m essentiae q u a n tita s .” Beharrlichkeit; Crítica da razão p u ra , A
D e rerum originatione radicali, § 3. E a 182), dep o is “ P rin cíp io d a p erm an ên cia
p erfeição n o sen tid o m o ra l é so m en te u m d a s u b stâ n c ia ” (Gr. der Beh. der Subs­
caso d a p erfeição m eta físic a , aq u ele q u e tanz, ibid., B 224), à p rim e ira d as “ A n a ­
co n cern e ao s esp írito s: “ S ciendu m est se- lo gias d a ex p eriên cia” . É assim en u n cia­
q u i ex dictis q u o d m u n d u s sit perfectissi- d a n a 1? ed ição : “ A lle E rsch ein u n g en
m u s n o n ta n tu m physice, vel si m avis me- en th a lte n d as B eh arrlich e (S u b sta n z) als
ta p h y sic e ... sed e tiam m o ra lite r q u ia re­ dessen blo sse B estim m u n g , d . i. eine A rt
v era m o ralis p erfectio ipsis m en tib u s w ie d er G eg en stan d ex istie rt” 1; e n a 2?:
p h y sic a e s t.” Ib id ., § 8. H á aq u i u m a es­ “ Bei allem W echsel d e r E rsch ein u n g en
pécie de eso terism o , com o m u ito bem b e h a rre t die S u b stan z, u n d d as Q u an tu m
m o stro u B. RZ è è E Â (FU. de L eibniz, § d erselb en w ird in d er N a tu r w eder v e r­
117, 122, 123), q u e consiste em co n ser­ m e h rt n o ch v e rm in d e rt.” 12
v ar som ente n a ap arência a n o ção com um P rin cíp io s de p erm an ên cia Prin cíp io s
de p erfeição , e em ab so rv ê-la im p licita­ que en u n ciam o c a rá te r in v ariá v el d e um
m ente n a n o ç ã o m etafísica o u ló gica de elem en to , e m ais esp ecialm en te d e u m a
m áx im o . g ran d eza d e te rm in a d a atrav és d e tra n s ­
É u m m a u m éto d o in clu ir n a d efin i­ form ações observáveis: princípio dito “ d a
ção de u m a p a la v ra u m a tese su jeita a co n serv ação d a m a ssa ” , p rin cíp io d ito
con trov érsia; prim eiro as idéias devem ser “ d a co n serv ação d a e n erg ia” , etc.
d istin g u id as ta n to q u a n to possív el, antes V er M udança, Q uantum .
de p ro c u ra r quais são as eq u iv alen tes o u Rad. int.\ P e rm a n a n te s.
su b o rd in a d a s às o u tra s. O in co n v en ie n te PERSEV ERA ÇÃ O V er as o b ser­
é p artic u la rm en te grave q u a n d o este m é­ vações.
to d o te n d e a e n c o b rir a d iferen ça en tre
os ju íz o s de fa to e os ju ízo s de v alo r.
R ad. in t .: P e rfe k t. 1. " T o d o s os fen ô m en o s co n têm o p erm an en te
(su b stâ n cia), co m o se n d o o p r ó p rio o b je to , e a v a ­
riável, co m o sim ples d eterm in ação deste, q u er dizer,
“ P E R F IL P S IC O L Ó G IC O ” “ Proce­
co m o u m a m a n e ira d e ser d o o b je to ” .
d im e n to im ag in ad o p o r R Ãè è ÃÂ « OÃ pa­ 2. " E m qu alq u er substituição dos fenôm enos um
r a ex p rim ir atrav és d e u m g ráfico a fisio ­ pelo o u tro , a su bstância perm an ece, e o quantum des­
n o m ia m e n ta l de u m in d iv íd u o , sen d o os t a n ã o a u m e n ta n em dim in ui n a n a tu r e z a .”

S o b re P e rsev eração — O s p sicó lo g o s alem ães c h a m a m perseveração à ten d ên cia


q u e têm as im p ressõ es recen tes p a ra reap arecerem e sp o n ta n e a m e n te n a consciência
ü Â Â E 2 e P « Â UE T3 E 2 , E xp. Beiträge zu r Lehre vom Gedächtnis, Leipzig, 1900). E ste
P E R S O N A L ID A D E

P E R S O N A L ID A D E D . Persönlich­ tr a ta e so b a fo rm a c o n c re ta , são o s ú n i­
k e it ; m ais ra ra m e n te e n o se n tid o a b s tra ­ cos recom endáveis. N o sentido legal, co n ­
to apenas Personalität·, E . Personality-, F. vém acrescen ta r, com o geralm ente se faz,
Personnalité; I. Personalità. o ep íteto p e rso n a lid a d e jurídica o u civil.
1?: N o sentido abstrato: O s sen tid o s D e E são felizm ente p o u co
A. B. C a ra c te rística d o ser q u e é umuasu ais e n ã o existem v e rd ad eiram en te de
pessoa m o ral, ou u m a pessoa ju ríd ic a (ver m a n e ira c o rre n te sen ão n o a d jetiv o p e s­
Pessoa, A e C). soal (ain d a q u e h a ja alg u m as reserv as a
C . F u n ç ã o p sico ló g ica p ela q u al um fazer so bre este p o n to ). O sentido G , q u a ­
in d iv íd u o se co n sid era co m o u m eu* u n o lificado d e neolo gism o p o r L ittré, é fra n ­
e p e rm a n e n te . “ A s d o en ças d a p e rso n a ­ cam en te d e m au uso : “ U m a p e rso n a lid a ­
lid a d e .” V er C rítica. d e em b a ra ç o sa; u m a p erso n a lid a d e bem
D . P reo cu p ação hab itu al e d o m in an te p arisien se.” A dvém d e u m a falsa conver­
pela sua p ró p ria pesso a (n o sentido C ), são : pelo fa to d e os e sp írito s e o s c a ra c ­
egoísm o. A ug uste CÃOI E opõe m intas ve­ teres q u e se elevam acim a d o nível m éd io
zes, neste sen tid o , personalidade e socia­ se fazerem m u itas vezes n o ta r e n ã o se­
bilidade, o u simpatia. P . ex., Catecismo rem “ c o m o to d a a g e n te ” , chegou-se à
positivista, 4? d iálo g o , ad fin em ; D iscur­ id éia de q u e é b o m em si n ã o ser com o
so sobre o co n ju n to d o positiv ism o, 87. os o u tro s , e qu e tu d o o q u e n o s d istin g u e
E . O rig in alid ad e, n o sen tid o fa v o rá ­ o u faz so b ressair é u m v alo r su p erio r;
vel d esta p a la v ra . c o n tu d o , u m a an álise m ais ex a ta m o stra
2?: N o sentido concreto:
q u e u m a v e rd a d e ira p e rso n a lid a d e d ife­
F . P esso a m o ra l e esp ecialm en te p es­
re do s o u tro s h o m en s n ã o p elo im p rev is­
so a que realiza com elevado g ra u as q u a ­
to d as su as id éias, d o s seus g o sto s o u do s
lid ad es su p erio res pelas q u ais a pesso a se
seus sen tim en to s, p e la su a fo rç a o u c a ­
distin gue d o sim ples in d iv íd u o biológico.
p acid ad e d e u s a r os o u tro s p a ra o seus
G . H o m em que se d estaca n a so cie­
fin s, m as, p elo c o n trá rio , p e la a lta re a li­
d a d e de alg u m a m a n eira; em v irtu d e das
zação de q u alid ad es ou ta le n to s q u e to ­
funções que o c u p a o u d a in flu ên cia q u e
dos os h o m en s p o d e ria m d esenvolv er,
exerce, o u pelas suas in trig as, p ela sua
ta m b ém eles, sem p ro d u z ir c o n flito s ou
turb ulência; ou m esm o sim plesm ente pela
c o n trad içõ es. V er o tex to de P a u l J τ ÇE I
su a p resen ça h a b itu a l n o s lo cais o n d e é
citado nas observações so bre o artig o Im ­
v isto , etc. A p a la v ra , neste sen tid o , p e r­
pessoal e cf. À . Lτ Â τ Çá E , Précis raison-
de a fo rç a , ch eg an d o às vezes a d esig nar
n é de m orale pratique, § 54-55.
u m in d iv íd u o q u a lq u e r.
Q u a n to às expressões “ d o en ças de
CRÍTICA p erso n alid ad e, d e sd o b ram en to d a p e rso ­
O s sentid os A e F , que aliás exprim em n alid ad e” , que a influ ência de T h. RlBOT
u m a só e m esm a id éia sob a fo rm a ab s­ fez a d o ta r q u ase un iv ersalm en te (D . Per-

term o é de u m em p reg o tã o freq u en te que m e p arece in dispensável estab elecer o seu


eq u iv ale n te em fran cês. P o d e m o s h e sita r e n tre persistência que te m a v an ta g em (ou
0 inconveniente) de já existir n a n o ssa lín g u a, e o te rm o perseveração que ev itaria
q u a lq u e r eq u ív o co . (Éd. Claparède)
Persistência n ã o p o d e ría ser u sa d a , em fran cês, com este sen tid o : tem já u m a sig­
n ificação b em d istin ta , a in d a q u e v iz in h a d esta; e m esm o , so b re este p o n to , as duas
acepções o p õ em -se n itid am en te: o q u e “ p ersiste” n ã o d esap arece p a r a reap arecer,
m as c o n tin u a d e u m a m a n e ira p erm an en te. Persistência diz-se, p o r ex em p lo , d o fe ­
n ô m en o pelo q u al a im p ressão re tin ia n a c o n tin u a a d u ra r d u ra n te u m a fra ç ã o de
seg u n d o depois de a excitação que a p ro d u z iu te r d eix ad o de ag ir. (A, L .)
809 P E R S O N A L IS M O

sonlichkeits storungen·, E . Disorders, di- “ d o en ças o u d esd o b ra m e n to s d a u n id a ­


seases o f personality, F. M aladies de la d e psicoló gica in d iv id u a l” . M as n ã o se
personnalitté·, I. M alattie delta persona- p o d e ria fazer prev ale cer esta ex pressão
lità), tiv eram a su a origem n a indistinção c o n tra a fó rm u la usual q u e tem a seu f a ­
em que d u ra n te m u ito te m p o ficaram as vo r a brevidade e a eu fonía. C o n tu d o , ta l­
d u as idéias d o eu psicoló gico e d a alm a vez se p o ssa n o ta r alg u m a d im in uição no
su b stan cial: “ P e rso n a d icitu r ens, q u o d em p reg o d esta, em ra z ã o das críticas d i­
m em o riam sui co n serv at, h o c est, m em i- rig id as, do p o n to de v ista ex p erim en ta l,
n it se esse id em illu d q u o d an te in hoc vel à concepção prim itiva que representa. Ver
isto sta tu f u it.” C h r. W ÃÂ E E , Psychol. p . ex. P. J τ ÇE I , “ U n e F élid a artificiel­
rationalis, 741. D aí ad v ém que a escola le ” , R evue p h ilo s., ab ril-m aio de 1910.
psicoló gica m o d e rn a , que c o m b a tia to d a Ver igualm ente, n a p alav ra Individua­
e q u a lq u e r o n to lo g ia , te n h a sido levada lidade, as observações feitas so bre a o p o ­
a d a r ao s d istu rb io s em q u estão u m n o ­ sição e n tre este te rm o e o d o o b jeto do
m e que fosse, p o r si p ró p rio , u m p ro te s­ p resen te artig o .
to c o n tra a cren ça n a realid ad e m e ta físi­ R ad. int.: A . P erso n es; F . P erso n .
ca e n a un id ad e sub stancial d a alm a. “ N a P E R S O N A L IS M O D . Personalis­
linguagem p sico ló g ic a, en ten d e-se geral- m o ; E . Personalism·, F . Personnalisme-,
m en te p o r pessoa o in d iv id u o q u e tem I. Personalism o.
u rn a consciencia cla ra de si p ró p rio e age A . D o u trin a d e R E ÇÃZ â« E 2 que con­
em c o n co rd ân cia: é a fo rm a m ais a lta d a siste em fazer d a p erso n a lid a d e a cate g o ­
indiv id ualidade. P a r a explicar esta carac­ ria su p re m a , e o cen tro d a su a concepção
terística que reserv a u n icam en te ao h o ­ d o m u n d o . C f. Pluralism o. V er Essai de
m em , a psicolo gia m etafísica co n ten ta-se critique générale , L og iq u e, to m o I, e L e
em su p o r u m eu p e rfe ita m en te u n o , sim ­ personnalism e (1903), em q u e são p a rti­
ples e idéntico. Infelizm ente, trata-se ap e­ cu la rm e n te d esenvolv id as as conseqüén-
n as de urna falsa clarid ad e e de u m a so ­ cias co sm o ló g icas d e sta d o u trin a n o q u e
lu ção só a p a re n te . A m en o s que se c o n ­ re sp e ita às co n d iç õ es físicas d a p e rso n a ­
fira a este eu u m a origem s o b re n a tu ra l, lid ad e e d o d estin o d as pessoas.
é necessário explicar com o nasce e d e q u e B. D o u trin a m o ra l e social fu n d a d a
fo rm a in fe rio r s a i...” T h . R « ζ ÃI , L e s so b re o v a lo r a b so lu to d a p esso a, expos­
maladies de la personnalité (1885), in tro ­ ta n o M anifeste au service du personna­
du ção, § 1. C f. ibid., conclusão, § 2: “ Vol­ lism e, d e E m m an u el MÃZ Ç« E 2 (1936), e
tem o s ao ho m em e estu d em o s em prim ei­ d esen v o lv id a n a rev ista E sprit (p u b lica­
ro lu g a r a su a p erso n a lid a d e p u ra m e n te d a desd e 1932). V er em p a rtic u la r Situa­
físic a .” A v e rd a d e ira ex p ressão seria tion d u personnalism e, d o m esm o a u to r,

S o b re Personalism o — P o d e-se a ssin alar u m uso (sem d ú v id a o ra l) deste te rm o ,


a n te rio r a R en o u v ier: “ O te rm o P e rso n a lism o ... tin h a-se o ferecid o o u tr o r a à esco ­
lh a de P au l J a n e t p a ra d efin ir a sua p ró p ria d o u trin a ... T in h a-o ex p erim en ta d o , a p ro ­
v a d o , reco m e n d a d o ; m as m esm o assim n ã o p ô d e lu ta r com sucesso c o n tra o velho
u so e resig n ara-se a o u v ir q u a lific a rem -n o d e esp iritu alista co m o o seu m estre V icto r
C o u s in .” Dτ Z 2 « τ T , Bulletin d a S o cied ad e F ra n c e sa de F ilo so fia, fev ereiro de 1904,
p . 40. (E. Leroux)
N a H istoire d e la p hilosophie (p . 888) q u e p u b lico u em 1887 em c o la b o ra ç ão com
G . Séailles, P a u l J a n e t escreveu: “ M ed ir com p recisão os m érito s e os defeito s d a
tese p e rso n a lista e d a te se im p esso alista (so b re a n a tu re z a d e D eus) fo i a o b ra d o
n o sso sé c u lo .”
P E R S O N IF IC A Ç Ã O 810

nos nú m eros d e 1? de ja n eiro e 1? de m a r­ LER, W örterbuch, sub V o . T o rn o u -se ex­


ço de 1946, em que este ressalta fortem en- tre m am en te u su al nos E sta d o s U n id o s,
te o asp ecto co n creto d a d o u trin a , ao p or vezes no sentido C , m as m ais freqüen-
m esm o te m p o q u e a relação q u e m an tém tem en te a in d a n o sen tid o B. V er as o b ­
com as d iferen te s atitu d es p o líticas que servações.
p o d e ad m itir.
“ O p erso n alism o distingue-se rig o ro ­ P E R S O N IF IC A Ç Ã O T e rm o c riad o
sam en te d o in d iv id u alism o , e su b lin h a a p o r T h. F Â ÃZ 2 ÇÃà p a ra d esig n ar urna
in serção coletiv a e cósm ica d a p e sso a ” d as fo rm as dos fen ó m en o s d e sin o p sia* .
(acréscim o de E m m an u el M o u n ier so bre “ D o u o n o m e d e personificação a in d u ­
a p ro v a d o p resen te artig o ). ções q u e, en riq u ecen d o -se d e noções v á­
C. D o u trin a d aq u eles q u e ad m itemrias e idéias in tele ctu ais, u ltrap assam la r­
que D eus é pessoal. O p o sto a Panteísmo* g am en te, em co m p lex id ad e, o s fo tism o s
p o r F E Z E 2 ζ τ T7 , Wesen des Christen- e os esq u em as, e ch eg am à rep resen tação
tu m s1, p. 185. E ste sen tid o , m u ito ra ro de indiv íd uos concreto s e d eterm in ad o s.”
em francés, parece ter sido o m ais antig o. P o r ex em p lo , o n ú m e ro 4 d á im p ressão
NOTA de ser u m a m u lh er g o rd a ; o n ú m ero 6 u m
D e a c o rd o com A . C. K ÇZ áè ÃÇ ( The jo v e m b em e d u c a d o ; a le tra E , u m a pes­
P hilosophy o f Personalism , 1927), a p a ­ so a tro c is ta , etc. (FÂ ÃZ 2 ÇÃà , D es phé-
lav ra te ria sid o c riad a p o r S cheleierm a- nom ènes d e synopsie, P a ris e G en eb ra,
c h er, n o s R eden an die G ebildeten 1 23 1893, p . 219).
(1799), e B. P . Bow ne te ria sid o u m dos Rad. int.: P erso n ig .
p rim eiro s a em p reg á-la n a A m éric a, n u ­
P E R S P E C T IV IS M O D . Perspektivis-
m a o b ra in titu la d a Personalism (1908).
mus; E . Perspectivism ; F . Perspectivisme;
N a In g la te rra , en co n tra-se em J. G ro te,
I. P rospettivism o.
E xplorado philosophica (1865), em que
p arece eq uiv aler a id ealism o o u a espiri­ A. N om e dado p o r N « Uè TE I 7 E ao fa ­
tu alism o . N a A le m a n h a , foi prim eira- to de to d o co n h ecim en to ser persp ectiv a,
m en te a d o ta d a p o r T E « T7 Oü Â Â E 2 , N eue q u er d izer, relativ o às n ecessid ad es, e es­
G ru n d leg u n g d er P sy c h o lo g ie u n d p ecia lm en te às necessid ades v itais d o ser
L o g ik 3 (p o stu m o , 1889), segundo E is- que conhece e de que, em particu la r, a n a ­
tu re z a d a consciência a n im a l exige u m a
rep re se n ta çã o do m u n d o g eral e co n cep ­
1. A essência d o cristianismo.
2. Discurso aos h om ens cultos. tu a l q u e se o p õ e à re a lid a d e p ro fu n d a e
3. N o v o fu n d a m e n to da psicologia e da lógica. essencialm ente in d iv id u al do s seres. V er

N os E sta d o s U n id o s, o sen tid o C é b a sta n te d ifu n d id o , e é m u itas vezes d esig n a­


do “ ab so lu tistic p erso n alism ” (J. R oyce, M ary C alk in s); m as a g o ra o sentido m ais
g eral é o de u m a filo so fia q u e salien ta o v alo r d a p esso a m o ral (R. T . Flew elling,
Creative Personality, 1926; ele fo i o fu n d a d o r e c o n tin u a d ire to r d a rev ista The Per-
sonalist, p u b lic a d a desde 1919, e c u ja coleção é p artic u la rm en te in stru tiv a p a ra o
co n h ecim en to d este m o v im en to ).
S o b re P e rso n ific a ç ã o — A rtig o acrescen tad o sob p ro p o sta e seg u n d o indicações
de Èd. Claparède, que a crescen ta que esta p a la v ra se ap lica às vezes ig u alm en te à
ev o cação d e p ro p rie d a d e s p u ra m e n te físicas: assim , u m p acien te d e F lo u rn o y re p re ­
sen tav a a p a la v ra terça-feira so b a fo rm a de u m p ra to de ovos m ex id o s. M as h á aí,
parece, u m a extensão de sen tid o que vai c o n tra a etim o lo g ia.
811 P E S S IM IS M O

Die fröhliche W issenschaft l, p a rt. § 110, leva o b em d e v en cid a, d e m a n e ira que


111, 354. n ã o ser vale m ais d o q u e ser.
B. A p ró p ria d o u trin a q u e afirm a qu e B . D o u trin a seg u n d o a q u a l, n a v id a,
assim é. V er R. BE 2 I 7 E Â ÃI , Un rom an- a d o r vence o p ra z e r, o u m esm o q u e só
tism e utilitaire, I, 1: “ O persp ectiv ism o ela é re a l, sen d o o p ra z e r ap en as a cessa­
d e N ietzsch e.” ç ã o m o m e n tâ n e a d aq u ela.
R ad. int.\ P ersp ek tiv ism . C . D o u trin a seg u n d o a q u a l a n a tu ­
re z a é in d ife re n te a o b em e a o m al m o ­
P E S S IM IS M O D . P essim ism us; E .
ra l, assim co m o à felicid ad e e in felicid a­
P essim ism ; F . P essim ism e ; I. P es­
d e d as c ria tu ra s.
sim ism o.
D . P re d isp o siç ã o d o esp írito p a r a ver
U tilizad o p ela p rim e ira vez p o r C o-
o lad o m a u d a s coisas. E sta d o de esp íri­
LERiDGE n o sentido o b jetiv o : “ o p io r es­
to q u e c o n ta co m q u e (em g eral ou n u m
ta d o ” ; depois, p o r v o lta d e 1815, no s jo r ­
caso p a rtic u la r) os aco n tecim en to s o c o r­
n ais e revistas in glesas, n u m sen tid o p ró ­
ram d e u m a fo rm a d esfav o ráv el.
xim o de D : ‘‘esp írito de d esco n te n ta m en ­
t o ” (segundo M u rra y , su b V o); p o r fim , CRÍTICA
co m o n o m e de d o u trin a em 1819, p o r A s teses filo só ficas ac im a d efin id as
T7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , m as p ro v av elm en te d e so b A , B e C en c o n tra m -se reu n id as his­
u m a m a n e ira in d e p e n d e n te , sem relação
to ric a m e n te n a m a io r p a rte d o s filó so fo s
com o u so já feito d e sta p a la v ra n a In ­
a q u em se c h a m a pessim istas. E las n ã o
g la te rra . A d m itid o so m en te em 1878 p e ­
tê m , c o n tu d o , n e n h u m a co n ex ão ló gica
la A cad em ia. E ste te rm o serve so b re tu ­
n ecessária e a su a reu n ião im p lica o q u e
do p a ra desig n ar a negação d o otim ism o*
p o u co s filó so fo s a d m item em p rin cíp io ,
(o u do m eliorism o *); p o r co n seg u in te ,
q u e a v id a é b o a o u m á c o n fo rm e o p r a ­
aplica-se a q u a lq u e r d o u trin a q u e se o p o ­
zer o u a d o r o cu p e o m a io r esp aço . Se a
n h a a esta s, seja d o p o n to d e v ista a fe ti­
d isso ciação se fizesse e n tre a satisfação
v o , seja d o p o n to d e v ista m o ra l, o u a in ­
a fetiv a e o v a lo r m o ra l, seria difícil d izer
d a d o p o n to d e v ista m etafísico .
q u a l m ereceria m ais o n o m e d e pessim is­
A . D o u trin a seg u n d o a q u a l o m al
m o e q u a l teria p o ssib ilid ad es d e o c o n ­
serv ar. S ería m o s pessim istas a o a firm a r
1. A gaia ciência. q u e a d o r vence o p ra z e r, m as q u e , co n -

S o b re P essim ism o — S c h o p en h au er ad o to u o u c rio u , p en so e u , esta p a la v ra p a ra


d ela fazer u m a c o n tra p a rtid a d a p a la v ra o tim ism o , p e la q u al se d esig n av a a d o u trin a
d e L eib n iz. M as e n q u a n to este d eclarav a ex p ressam en te e p re te n d ia d e m o n stra r que
este m u n d o é o m elhor possível, n ã o creio q u e S c h o p en h au er te n h a p rete n d id o se ria ­
m en te q u e ele fosse o p io r possív el. D isse co m certeza q u e e ra o p io r q u e p o d ia su b ­
sistir (u m p io r ter-se-ia a p a re n te m en te d e stru íd o a si p ró p rio ), m as e ra p a ra ju s tifi­
c a r d e alg u m m o d o o uso d esta p a la v ra : a ú n ic a co isa q u e ele te ria q u e rid o d izer,
n o fu n d o , é q u e o m u n d o se ria a o b r a de u m a v o n ta d e in d iferen te a o b em e a o m al
e, c o n tu d o , m ais m á q u e b o a , u m a vez q u e é essen cialm en te eg o ísta em cad a u m a
d as su as co n cen traçõ es. A q u e stã o d o p ra z e r e d a d o r é ap en as u m a rg u m e n to a fa ­
v o r d a tese g eral, de q u e o m u n d o é m u ito m au . O se n tid o fu n d a m e n ta l é , p o rta n to ,
o sen tid o A . O v erd a d e iro p ro b le m a d o pessim ism o é o d e sab er se a “ V o n ta d e ”
n ã o é , talv ez em to d a p a rte e, em to d o caso , p a r a a h u m a n id a d e , u m a p o tê n c ia m á,
d a q u al im p o rta antes de m ais lib ertarm o-nos: é isto q u e Schopenhauer, segundo creio,
viu m u ito p ro fu n d a m e n te e m u ito ju sta m e n te . ( J . Lachelier )
PESSO A 812

tu d o , a vid a vale a p e n a ser vivida? O u p rim e o seu c a rá te r e que ele deve ser tr a ­
en tão que o n a d a vale m ais que a existên­ ta d o co n seq ü en tem en te. (A p a la v ra p e s­
cia, qu alq uer que seja o prazer que se p o s­ soa, m esm o no sen tid o físico, n ã o p o d e ­
sa ex p erim en tar nesta? ria aplicar-se ao co rp o de u m an im al.)
Rad. in t .: P esim ism . D o n d e: in d iv íd u o h u m a n o ; alg u ém ,
n o sen tid o m ais am p lo . A este sen tid o
P E S S O A D . Person, Persönlichkeit-,
m u ito clássico (ver L « I I 2 é ) ligam -se to ­
E . Person; F . P ersonne ; I. Persona.
dos os usos com uns desta palavra: “ a su a
D o la tim persona, m á sc a ra de te a tro ; p esso a, a vo ssa p e sso a ’ ’ p a ra ele m esm o,
d o n d e p erso n ag em , p ap el, c a rá te r: fu n ­ vós m esm os; “ a p esso a de u m a u to r ” ,
ção , d ig n id ad e; pesso a ju ríd ic a . Q u a n to p o r o p o sição às suas o b ra s; “ a pesso a de
à etim o lo g ia p rim eira e à h istó ria d esta u m h o m em de E sta d o , de u m re fo rm a ­
p a lav ra, ver T 2 E Çá E Â E Çζ Z 2 ; , Z u r Ges­ d o r ” , p o r o p o sição ao s seus ato s, à su a
chichte des W ortes Person (K ant Studien, d o u trin a , às co nseqüências d a sua ação
1908, o u , em inglês, M onist, ju lh o de histórica; “ p esso a” n o sentid o in terro g a­
1910), e R. E Z T3 E Ç , Geistige S trö m u n ­ tiv o ou n eg ativ o , etc.
gen der G egenw art , seç. D ., § 5. O põe-se C. Pessoa jurídica. Ser q u e p o ssu i d i­
em to d o s os sen tid o s a coisa*. reito s o u d everes d e te rm in a d o s p e la lei.
A . Pessoa m oral. Ser in d iv id u al, en ­ ‘ ‘O e sc ra v o ... n ã o é u m a p esso a n o E s ta ­
q u a n to p o ssu i as características que lhe d o : n e n h u m b em , n en h u m d ireito se lhe
p erm item p a rtic ip a r d a so ciedade intelec­ p o d e a s s o c ia r.” BÃè è Z E I , Cinquièm e
tu a l e m o ra l do s esp írito s: consciência de avertissement aux protestants (éd. D id o t,
si, ra z ã o , q u e r d izer, ca p a c id ad e de d is­ IV , 404).
tin g u ir o v erd ad eiro e o falso , o bem e o
m al; capacid ade de se determ in ar p o r m o ­ CRÍTICA
tiv os pelo s quais se p o ssa ju stific a r o v a ­ 1. O u so d e sta p a la v ra tem d u as o ri­
lo r p e ra n te o u tro s seres razoáveis. V er gens: p o r u m la d o , a id éia estó ica d o p a ­
LE « ζ Ç« U , Teodicéia, I, 89; Kτ ÇI , G rund­ p e l que o hom em desem p en h a neste m u n ­
legung zu r M et. der Sitten, 2? seção, § 84 d o {itQÓou-Kov, persona; cf. M anual de
e 96-99. C f. Ind ivíd u o . E picteto, 17; Conversas, 1 ,2 9 , e tc.), u so
B. Pessoa física diz-se d o co rp o de um a o q ual se liga o sentido ju ríd ic o d esta p a ­
h o m em , e n q u a n to este c o rp o é co n sid e­ lav ra em latim ; p o r o u tro , o em p reg o fei­
ra d o com o m anifestação, com o “ fenóm e­ to p e la teo lo g ia, esp ecialm en te n as c o n ­
n o ” d a su a pessoa m oral, e n q u a n to ex ­ trovérsias so b re a T rin d ad e, em que serviu

N ã o ex istirá d e fa to co n ex ão n ecessária e n tre os sen tid o s A e B? Se em g eral o


m al vence o b e m , d aí d e c o rre lo g ic am en te q u e n o d o m ín io d a v id a a fetiv a o m al (a
d o r) vence o b em (o p razer). (F. A b a u zit ) Sim , se su p u serm o s 1?, q u e n ão existe co m ­
p en sação e n tre u m d o m ín io e o u tro ; 2 ?, q u e o p ra z e r é essen cialm en te u m bem m o ­
ra l, e que a d o r é m o ra lm e n te m á. M as é p recisam en te isso q u e é discutível. V er,
p o r ex em p lo , a tese c o n trá ria em ê ÇE Tτ , D e Vita beata, cap . V II. {A. L .)
So bre P esso a — A rtigo co m p letad o so b as indicações de R. Eucken e C. C. J. Webb.
A oposição entre panteísm o e teísmo to m o u freqüentem ente n o século X IX a fo rm a
d e u m a c o n tro v érsia so b re a q u e stã o : “ D eus é p e sso a l? ” E sta f o rm a d o p ro b lem a
re m o n ta a J τ TÃζ « (EZ T3 E Ç , L e s grands courants de la pensée contem poraine, p.
452). V er H é ζ E 2 I , “ E stu d o s so b re a p e rso n a lid a d e d iv in a ” , R e v u e de m étaphysi­
que, ju lh o d e 1902 e m a rç o d e 1903; e H τ OE Â « Ç , Essai su r les élém ents principaux
de ta représentation, c a p . V , § 2, B.
813 PESSO A L

p a ra tra d u z ir υ π ό σ τ α σ ή e n q u a n to o p o s­ U m a d ificu ld ad e a n á lo g a ap resen ta-


to de φ ν σ ί ί , de ο υ σ ί α . V er, em p a rtic u ­ se q u a n to ao sen tid o d a p a la v ra Lib er­
la r, so b re esta o p o sição : BÃé T« Ã , D e dade* (1?: m ín im o necessário p a ra a re s­
duabus naturis et m a persona Christi, p o n sab ilid ad e; 2?: lib erd ad e d o sábio ).
cap . III: “ D iffe re n tia n a tu ra e et p erso - V er su b V o, p rim e ira observ ação .
n a e ” (M« ; ÇE , Patrol. lat., t. L X IV ), c a ­ É preciso n o ta r, além disso , que esta
p ítu lo em que se en c o n tra a d efin iç ão p a la v ra serve p o r vezes com o sin ô n im o
clássica d u ra n te to d a a Id ad e M édia: m ais h o n ro so o u resp eito so d a p a la v ra
“ P erso n a pro p rie dicitu r n a tu ra e ratio n a- indivíduo* (cu ja co n o ta ç ã o é m u itas ve­
lis in d iv íd u a s u b s ta n tia .” Ib id ., 1343 D . zes p ejo rativ a).
2. A d ificu ld ad e em d efin ir a pessoa Seria desejável que esta expressão fo s­
m o ra l no sen tid o A advém d o fa to de n a se sem p re to m a d a n a lin guagem filo só fi­
realid ad e este te rm o ser eq u ív o co . D iz-se ca no m elh o r sen tid o , aq u ele que se v isa,
q u e u m ser é u m a p esso a : 1?: Q u an d o p o r ex em p lo , q u a n d o se diz de u m h o ­
realiza o g ra u m ín im o d e d iscern im en to m em q u e é “ u m a pesso a m o ra l em to d a
m o ra l que p erm ite ju lg á-lo resp o n sáv el a acepção d a p alav ra” o u “ em to d a a fo r­
p elo que faz, estabelecer u m a d iferen ça ça do te rm o ” .
en tre os seus ato s e os efeitos de u m a fo r­ Rad. in t.: A . C . P e rso n ; B. In d iv id u .
ça m ecân ica o u as reaçõ es de u m an im al
p u ra m e n te in stin tiv o e im p u lsiv o ; 2?: P E S S O A L D . Persönlich, Perso­
Q u an d o realiza u m g rau elevado d e cons­ nal...·, E . Personal·, F. Personnel·, I. Per­
ciência p sico ló g ica e m o ral; e, neste ca­ sonale.
so , diz-se q u e ele é m ais o u m enos u m a A . Q u e é u m a p esso a no sen tid o A .
p esso a, co n fo rm e nele a ação refletid a (e “ A id éia de u m D eus p esso al n ã o co rres­
d irig id a n o se n tid o d o bem ) so b re p u je os p o n d e à n a tu re z a d o D iv in o , m as à n a tu ­
im pulsos (e a a ç ã o d irig id a n o se n tid o d o reza d o h o m e m ...; ta m b é m dizem os q u e
m al). V ê-se, a liá s, q u e, m esm o neste ú l­ é p reciso crer n u m D eus pessoal: é u m a
tim o caso , a in d a re sta c e rta a m b ig u id a­ cren ça d e o rd e m p r á tic a .” M . H é ζ E 2 I ,
de: u m in d iv íd u o m u ito co n scien te, m u i­ “ A n ô n im o o u p o liô n im o ? ” , R evue de
to re fle tid o , m as siste m aticam en te a m o ­ m étaphysique, 1903, p . 246.
ra l, q u e n ã o co n sid era sen ão o seu in te­ B. Q u e diz respeito às pessoas n o sen­
resse o u prazer in dividuais, p o d e ain d a ser tid o B e n ã o às coisas. (O põe-se, neste
d esig n ad o p o r pessoa m oral, m as n u m se n tid o , a real.) “ D ireito pessoal, d ireito
sen tid o to ta lm e n te d iferen te d aq u ele em real; im p o sto p esso al, im p o sto r e a l.”
q u e os m o ralistas recom endam a o hom em C . In d iv id u a l, p ró p rio ; q u e co n cern e
q u e fa ç a p re d o m in a r em si a p erso n ali­ exclu siv am ente a tal p esso a, o u q u e só a
d a d e so b re a in d iv id u alid ad e. ela pertence. “ O interesse pessoal” (opos-

P o d e-se assistir n a lite ra tu ra p o lítica (p o r ex em p lo , n o s co la b o ra d o res d a rev ista


L ’ordre nouveau, n o s a n o s 1933-1936) a u m a cu rio sa p e rm u ta de sen tid o en tre indi­
víduo e pessoa. O in d iv íd u o é p a ra eles u m en te de ra z ã o , u m a a b stra ç ã o , o h o m em
da Declaração dos direitos, aquele que “ nasce en jeitad o ” , aquele que Joseph de M ais-
tre d eclarav a n u n c a te r e n c o n tra d o . A pesso a é u m a realid ad e co n c re ta , carn al e es­
p iritu a l, m em b ro d e to d as as o rg an izaçõ es: fam ília, c o rp o ra ç ã o , etc. C o m m en o s su ­
cesso, ao q u e p arece, u m a op o sição p a ra le la fo i esta b ele cid a en tre a pátria (realid ad e
co n creta ) e a nação (en tid ad e a b stra ta ). P ensa-se com este n o v o b atism o ap a g a r a
m ácu la d ev id a às críticas q u e atin g iam o in d iv id u alism o e o estatism o e rein teg rar
um in d iv íd u o co n creto e n ã o in tercam b iáv el, m as reg en erad o , num E sta d o to ta litá ­
rio , m as que n ã o seria nem M o lo ch n em L e v iath an . (M . Marsal)
PESSO A L 814

to ao interesse de outrem , ao interesse da governa os seus autom atism os, os seus


sociedade). “ C rítica pessoal, em que se impulsos, os seus sentimentos, decide dos
ataca menos a o b ra do que o pró prio au­ seus atos, etc. E sta expressão é utilizada
to r .” L« I I 2 é , sub V o. “ O m arido tem a pelos psicólogos que pertencem a escolas
adm inistração de todos os bens pessoais m uito diversas: “ O hom em aproxim a-se
da m ulher.” C o d e civil, 1428. “ Equação* das coisas quan d o ab a n d o n a esse impé­
pessoal.” “ Idealism o pessoal; E . P erso­ rio que depende dele tom ar ou não; quan­
nal id ea lism .” Cf. Im pessoal. do, em vez de se a p ro p riar das suas fa ­
D . Em francês, no sentido p ejo ra ti­ culdades, ele as abandona ao seu próprio
vo: que não pensa senão na sua pessoa
m ovimento e fica preguiçosam ente ad o r­
(no sentido C), egoísta, interesseiro.
mecido no meio de um m ecanismo do
E. No sentido la u d a tivo : original, re­
qual lhe foi dada a possibilidade de go­
sultante de reflexões ou de sentim entos
vernar todos os recursos. Existem, pois,
reais, sinceros, e não de recordações ou
na alm a hum ana capacidades naturais co­
de im itação. Este sentido é novo: não fi­
m o em todos os seres, e, por cim a, um
gu ra nem em L« I I 2  nem em Dτ 2 OE è -
IE IE 2 , H τ I UE E Â á ou T 7 ÃOτ è . Q uase p o d e r p esso a l que os governa e faz deles
que só é usado na crítica literária ou na faculdades pró prias.” J ÃZ EE 2 Ãà , M élan-
crítica de arte e em pedagogia. A palavra, ges ph ilosoph iques: “ D as faculdades da
neste sentido, é geralmente aplicada a m a­ alm a h u m an a” , p. 320. “ O poder pes­
neiras de pensar, de sentir, de se expri­ soal, sob a sua fo rm a volu ntária, é, p o r­
m ir; po r vezes, mas mais raram ente e me­ tanto, um m om ento im portante, do pon­
nos corretam ente, aos próprios indiví­ to de vista do nosso estudo, de um a evo­
duos. Corresponde, então, ao sentido lau­ lução que vai da atividade independente
d a tiv o da palavra pessoa*, tal com o a dos fenôm enos psíquicos à coordenação
analisam os acim a na Crítica. quase perfeita e à m aior solidariedade.”
P τ Z Â 7 τ Ç , L a vo lo n té, cap. V II, p. 139.
T2 I « Tτ
2?: Em ÃT« ÃÂ Ã; « τ , esta expressão é
P essoal, em vez de egoísta, é um lito ­ utilizada em dois sentidos m uito dife­
te que entrou no uso corrente; m as esta rentes:
acepção, diam etralm ente oposta ao sen­ a) Poder de um hom em ao qual é con­
tido pleno e preciso das palavras p esso a fiado, quer em virtude d a tradição ou da
e p erson alidade, deve ser evitada tan to constituição, quer pela decisão de um a as­
quanto possível n a linguagem filosófica.
sembléia soberana ou de m agistrados ha­
R ad. in t.: A . Person; B. Personal; C.
bilitados para esta designação, quer, fi­
Individual.
nalm ente, por um plebiscito, o direito de
P o d er pessoal 1?: Em P è « TÃÂ Ã; « τ e exercer sozinho o poder legislativo, p o ­
em MÃ2 τ Â : poder* pelo qual a pessoa* dendo esse direito ser tem porário (p. ex.,

Sobre P o d er pessoal — A utilização jurídica da expressão d ireitos p esso a is “ é de­


plorável e m ereceria ser ab andonada, porq ue é anfibológica. P a ra além do sentido
que acaba de ser indicado (oposto a D ireitos reais), tem , pelo m enos, dois outro s.
Designa, 1?, os direito s intransm issíveis que m orrem com o seu titu lar, com o o usu­
fru to ; são pessoais, no sentido em que não passam para os herdeiros; 2?, os direitos
inacessíveis que os credores não podem exercer justam ente, com o o perm ite em geral
o artigo 1166 do C o d e civil. A ssim, quando se diz que um direito é pessoal, arriscam o-
nos sem pre a n ão ser com preendidos, a m enos que se explique ao m esm o tem po p or
que razão assim o qualificamos” . PÂ τ Ç« ÃÂ , T ra itéélém en tairede d ro it civil, I, § 2157.
815 P E T IÇ Ã O D E P R IN C ÍP IO

no caso de um ditador rom ano regular­ fa to que com porta ele p ró p rio um gran­
m ente designado pelos cônsules, em vir­ de núm ero de variedades, que podem ir
tu de de um a decisão do senado), ou ain­ d a autoridade m oral ou d a influência po­
da perm anente (como n o caso de um so­ lítica até a tirania. Ver as observações.
berano absoluto e hereditário), e que p o ­
de, por outro lado, estar limitado por cer­ P E T IÇ Ã O D E P R IN C ÍP IO G . rò í |
tas reservas jurídicas. ctQXijs ou rò l v ècQxij a h é iv ou a lr tla -
b) P oder de um hom em de Estado 8oa 2 « è I I E Â E è ); L. P etitio principie,
que, sem p ara tal ser legalm ente solicita­ D. E . Id .; F. P étition d e p rín cipe; I. Pe-
do, reúne nas suas m ãos, devido a sua as­ tizion e d e prin cipio.
cendência pessoal, ou em conseqüência de A . E rro lógico que consiste em tom ar
circunstâncias excepcionais, poderes su ­ por estabelecida, sob um a form a um pou­
periores àqueles de qualquer o u tra au to ­ co diferente, a própria tese que se tra ta
ridade existente no país. de dem onstrar (ARISTÓTELES, Prim. anal.,
É preciso distinguir com cuidado en­ I, 23; 40b30-33; II, 16 por inteiro, etc. S.
tre este “ p oder pessoal” de d ireito, que TÃOá è áE A I Z « ÇÃ , D e Fallaciis, cap.
n a prática se pode reduzir a um a ficção X III). Este sentido agora é o único usual.
(p. ex., no caso de determ inado sobera­ B. E rro lógico que consiste em apoiar-
no hereditário), e esse “ poder pessoal” de se sobre u m a m aior sem ter dem onstrado

L éon H u sson , que se encarregou das investigações sobre a utilização da expres­


são “ poder pessoal” no sentido político, com unicou-nos que esta expressão n ã o fi­
gu ra no Vocabulaire ju rid iq u e de Cτ ú « I τ ÇI , nem no índice de D ireito co n stitu cio­
nal de Hτ Z 2 « ÃZ , nem na o b ra do mesmo títu lo de E è OE « Ç , nem no M an uel de Du-
; Z « I . N ão se en contra tam bém n a E n ciclopédia de D« á E 2 ÃI . N ão possui, pois, sen­
tido jurídico definido.
A expressão parece ter-se desenvolvido n a im prensa de oposição no Segundo Im ­
pério. “ O poder pessoal já não existe. A nação no seu to d o reto m a os seus direitos
e as suas a rm a s.” P roclam ação à G uarda N a cio n a l (4 de setem bro de 1870) do go­
verno de D efesa nacional, assinada por Emm. A rago, Crém ieux, Jules Favre, etc.
(Texto com unicado por M . M arsal ) Ver com o exemplo da dificuldade atu al deste
term o, e p ara a crítica dos sentim entos que a ele se ligam , o artigo de A ndré #« E ; -
FRlED, “ Ò poder pessoal” , no L e Fígaro de 4 de m aio de 1947.
Sobre p o d e r p esso a l, no sentido psicológico, ver a análise desta idéia em Mτ á« -
NER, Conscience e t m o u vem en t, 195-198.
Sobre Petição de princípio — Principii traduz mal o grego rò e’£ ά ρ χ τ /s ou lv α ρ χ ή .
P o r esta expressão Aristóteles entende propriam ente Iò κ ε ί μ ε ν ο ν , “ id quod ab initio
ad demonstrandum propositum est” (BÃÇ« I U , Ind. arist., l l l b). Trata-se, portanto, não
de um princípio lógico sobre o qual nos apoiam os, m as da própria coisa que é preciso
dem onstrar, do enunciado do teorem a inscrito no princípio da dem onstração. Nos P ri­
m eiros A n alíticos, II, 16, A ristóteles tra ta do erro em questão κ α τ ’ α λ ή θ ε ι α ν , quer di­
zer, no silogismo; nos Tópicos, V III, 13, encara-o κ α τ ’ ά δ ο ξ α j», quer dizer, do ponto
de vista “ dialético” , e enum era aí cinco m aneiras de fazer com que concedam aquilo
mesmo que se pretende dem onstrar. {J. Lachelier — L. Robin)
O sentido B é, sem dúvida, som ente um a simples aplicação do sentido geral A .
Se a proposição que se to m a com o m aior não é verdadeira, ou apenas concedida no
caso especificado pela m enor, é então essa m esm a aplicação, ou, por o u tra, a con­
clusão do silogismo, que se faz conceder. (J . Lachelier)
PHY LU M 816

que a relação que ela enuncia é verdadei­ “ PLA SM A G E R M IN A TIV O ” D.


ra em todos os casos. $%2 « è I ó I E Â E è , D o s K eim plasm a.
so fism as, cap. X III.) N a teoria de WE « è Oτ ÇÇ , opõe-se a
P H Y LU M D . E. F. I. P hylum . S om a ou a P lasm a so m á tico . O prim eiro
Sinônim o de linhagem; seqüência das é, para ele, um a reserva celular indiferen­
form as que na hipótese transform ista fo ­ ciada, ap ta a reproduzir o ser vivo por
ram revestidas pelos ascendentes de urna com pleto, que se conserva nos órgãos se­
espécie atual. xuais e se transm ite diretam ente de gera­
ção para geração, de tal m odo que é vir­
PIR RO N ISM O D. Pyrrhonism us; E.
tualmente imortal; o segundo é aquele que
P yrrhonism ; F. P yrrh o n ism e; I. P ir­
se diferencia de m aneira a form ar os di­
ronism o.
A . D outrina de P « 2 2 Ã (séc. IV a.C .) versos órgãos do corpo individual, e que,
B. Ceticismo radical. “ N ada fo rtifi­ p o r conseguinte, term ina necessariam en­
ca m ais o pirronism o do que aqueles que te com a m orte. A . WE « è Oτ ÇÇ , D ie C on ­
de m odo algum o são; se todos o fossem, tin u ity d es K eim plasm as a is G rundlage
estariam e rra d o s.” P τ è Tτ Â , P ensam en­ einer Theorie d er Vererbung 1 (1886).
to s, ed. B runsch,, 374. “ O pirronism o é “ P L E B E IA P H IL O S O P H IA ” Ex­
verdadeiro, po rq ue todos os hom ens, an­ pressão utilizada p or vezes ao se falar do
tes de Jesus C risto, não sabiam onde es­ m aterialism o, do em pirism o, ou do ape­
ta v a m .” Ib id ., 432.
lo ao senso com um . E la provém de C í ­
R ad. in t.\ P irronism .
TE 2 Ã : “ Licet concurrant plebeii omnes
P IT IÁ T IC O (de irdBeiv, persuadir, e philosophi (sic enim ii qui a Platone et So-
la n x ó s , que cura). crate et abea fam ília dissident appellari
A . Propriam ente, diz-se do m étodo v id e n tu r)...” Tusculanos, I, 23. (Trata-
que consiste em tratar das doenças ou dos se d a p rova d a im ortalidade d a alm a no
acidentes quer nervosos (fisiológicos), F edro de P Â τ I &Ã .)
qu er m entais, p o r meio da sugestão*, no
sentido am pio. PLU R A L (Juízo) D. Plurales ( Urteil).
B. P or extensão, diz-se das doenças S« ; ç τ 2 I designa assim (L o g ik , I,
ou dos próprios acidentes que parecem seç. 5) os ju ízos que se aplicam a um a
m erecedores desse tratam ento : “ As per­ m ultiplicidade de sujeitos, seja enum era­
turbações físicas e sobretudo os abalos dos separadam ente (juízo copu lativo), se­
m o rais... podem desempenhar u m papel ja reunidos num term o geral (ju ízo p lu ­
indireto no desenvolvim ento das p ertu r­ ra l p ro p ria m en te d ito ). Ele opõe-nos ao
bações p itiáticas.” Bτ ζ « Çè 3 « e Dτ ; τ Ç , juízo simples, einfaches U rteil, que tem
“ Em oção e histeria” , Journal d ep sych o - por sujeito quer um term o singular, quer
logie, m arço de 1912, p. 118. um term o tom ad o sem considerar a ex­
C. Diz-se tam bém da interpretação tensão, por ex.: “ O sangue é verm elho.”
pela qual se julga que certos fenômenos
possuem essa característica, ou da expli­ PL U R A L ISM O D. Pluralism us; E.
cação destes pela sugestão. “ ... Fazer a Pluralism ; F. P lu ralism s, I. P luralism o.
tentativa d a explicação pitiática, quer di­ A . Em WÃÂ EE e em Kτ ÇI , term o
zer, ver em que m edida os acidentes em oposto de E goism us, no sentido de
questão são curáveis por persuasão e ex­ S o lip sism o * . Cf. E goísm o, A. Este te r­
plicáveis pelas auto-sugestões e sugestões m o foi absorvido pelo seguinte.
dos sujeitos.” G. DZ Oτ è , Troubles men-
taux et trou bles n erveux de guerre, cap. 1. A continuidade do plasm a germ inativo en­
VII: “ Interpretação pitiá tic a.” quanto fu n d a m e n to de um a teoria da heredita­
Rad. in t .: A. Pitiatik; B. C Pitiatikal. riedade.
817 P L U T O C R A C IA

B. D outrina segundo a qual os seres 1?: D aquilo que pode tom ar várias
que compõem o m undo são múltiplos, in­ form as, ou produzir vários efeitos dife­
dividuais, independentes, e não devem ser rentes, sem que se possam assinalar con­
considerados com o simples modos ou fe­ dições determ inantes para cada um dos
nóm enos de um a realidade única e abso­ diversos casos: “ A tendência elem entar
luta: LÃI UE parece ter sido o prim eiro a é um a form a plurivalente e transponível.”
em pregar a palavra neste sentido, na sua A . BZ 2 Â ÃZ á , L e caractere, p. 22.
M etafísica (1841). Diz-se habitualm ente, 2?: De um cálculo lógico que adm ite
na A lem anha, da d o utrina de H E 2 ζ τ 2 I , para as proposições outro s valores além
em oposição às de Schelling e de Hegel. de verdadeiro e fa lso .
Este term o aplica-se tam bém à filosofía
de RE ÇÃZ â« E 2 (ainda que ele pró prio PLU R ÍV O C O D. M ehrdeutig; E.
não o tenha utilizado para qualificar a sua Plurivocal; F. P lu rivoqu e\ I. P lu rivoco.
doutrina), às de W . J τ OE è (ver particu­ Que tem vários sentidos.
larm ente /! Pluralistic Universe, 1909), de
F. C. S. ST7 « Â Â E 2 , etc. Opõe-se geral­ PLU T O C R A C IA D . P lu to k ra tie ; E.
m ente a M on ism o* no sentido B. P lu tocracy e plo u to cra cy; F. P loutocra-
tie; I. P lu tocrazia.
NOTA A . Situação social n a qual o poder
A palavra plu ralism o foi entendida pertence de fato aos ricos, ou mais exa­
num sentido um pouco diferente por tam ente, nas sociedades m odernas, aos
BÃE 7 -BÃ2 E Â (J.-H . Rosny, prim ogéni­ dirigentes das grandes sociedades finan­
to). Ele designa por ela a tese segundo a ceiras, industriais ou com erciais. É pre­
qual a diversidade, a heterogeneidade, a ciso notar que este term o não designa, co­
descontinuidade vencem na ordem cien­ m o aristocracia* ou dem ocracia*, um
tífica a identidade, a hom ogeneidade, a princípio de governo aceito e definido,
continuidade. {Le plu ralism e, 1909.) m as um estado de fato, que contém atual­
R ad. in t.: Pluralism . m ente um a conotação nitidam ente pejo­
rativa. E , m esmo contrariam ente à obser­
PL U R A L IT Á R IO P o r pluralista em vação de P la tão (ver A ristocracia), não
R E , Philosophic ancienne, 1 , 162.
ÇÃZ â« E 2 existe neste caso qualquer term o laudati­
P L U R A T IV O E . P lu r a tiv e ; F . vo que designe a m esma situação políti­
P lu ratif. ca, com a idéia de que este poder se exer­
Designa-se p o r p ro p o siçã o p lu ra tiva ça no interesse público.
um a proposição p lural, m as não univer­ “ Cham o plutocracia um estado de so­
sal, na qual a extensão do sujeito é de­ ciedade em que a riqueza é o nervo prin­
term inada por expressões tais como: pou­ cipal de todas as coisas, em que n ão se
co, m uito , a m aior parte , alguns... so­ pode fazer nada sem ser rico, em que o
m ente. Distingue-se p o rtan to d a particu­ objeto principal d a am bição é tornar-se
lar, na qual a quantidade do sujeito é re­ rico, em que a capacidade e a m oralida­
presentada p o r alguns (quer dizer, pelo de se calculam geralm ente (e com m aior
m enos um ). P o d e m esm o adm itir um a ou m enor justeza) pela fortuna, de tal m a­
quantificação num ericam ente definida, neira, por exemplo, que o m elhor crité­
com o em m atéria estatística. Ver KE à ­ rio p a ra reconhecer a elite d a nação é o
ÇE è , F orm al L o g ic, § 68, e cf. P ro b a b i­
cen so .” RE Çτ Ç , L ’aven ir d e la science,
lidade. 415.
B. Os indivíduos que exercem este p o ­
PLURIVALENTE Neologismo. A o pé der. “ U m a plutocracia pouco cultivada.”
da letra, que tem vários valores. Diz-se: R ad. int.: Plutocrati.
P N E U M Á T IC O 818

PN EU M Á TICO (adj. e subst.) D o G. C om o P n eu m á tico * , no sentido B.


vvevnctTixós, m uito comum em vários sen­ “ O conhecim ento especulativo da alm a
tidos, em particular no Novo Testamento, deriva em p arte da teologia n atural e em
em que significa espiritual; D. Pneum a- p arte d a teologia revelada, e designa-se
tisch, -tik; E. Pneum atic, -tical; pneuma- p o r pn eu m atologia ou m etafísica particu ­
tics; E Pneum atique; I. Pneumático, -tica. la r.” (P o r oposição à m etafísica geral,
A . (a d j.) N a linguagem do gnosticis­ ciência do ser ou “ ontologia” .) D’AÂ E O -
m o, os hom ens são cham ados, consoan­ ζE 2
I , D iscurso prelim in a r d a enciclopé­
te o seu grau de perfeição espiritual, M i ­ d ia , § 73. Cf. o q uadro sinótico, incluí­
cos, p síq u ic o s ou pn eu m á tico s. d o nesta o b ra , em que a C iência d o h o ­
B. (subst.) Ciência das coisas espiri­ m em é dividida em P neum atologia, L ó ­
tuais; psicologia. (O sentido parece ter si­ gica e M oral. M as a P n eu m atologia não
do flutuante.) “ As percepções insensíveis se restringe necessariam ente ao conheci­
são tão usadas na pneum ática com o os m ento d a alm a h um ana. Ela tra ta de to ­
corpúsculos n a física.” LE « ζ Ç« U , N o v . dos os seres espirituais. Ver as obser­
ensaios, p re f., § I I . M as mais adiante: vações.
“ Excetuando talvez as m atem áticas, não Encontram os mesmo em Franck, sub
se considera a faculdade de filosofia se­ Vo, um artigo bastante longo de BE 2 è ÃI ,
não com o um a introdução às outras. É considerando a P neu m atolo gia com o a
ciência dos espíritos que não os hom ens
p o r isso que querem os que a juventude
e Deus (anjos, dem ônios, espíritos ele­
aí aprenda a história e as artes da pala­
m entares, alm as desencarnadas). Ele
vra e alguns rudim entos da teologia e da
aproxim a-a d o espiritism o.
jurisprudência naturais independentes das
R ad. in t.: Pneum atologi.
leis divinas e humanas, sob o título de me­
tafísica ou pn eu m ática , de m oral e de po­ 1. P O D E R (verbo) D. Können, m ö ­
lítica, e ainda um pouco de física para gen, d ü rfen ; E. Can, to b e able, m a y (o
ajudar os jovens m édicos.” Id ., ibid., liv. em prego destas palavras é determ inado
IV, cap. X X L pelo uso conform e os diferentes torneios
Kτ ÇI classifica de pn eu m atism o o es­ das frases); F. P ouvoir; I. P otere.
piritualism o substancialista. ( C rít , da ra­ T er a p o ssib ilid a d e, em qualquer dos
zã o pu ra, Dial. transe., A ntinom ia da ra ­ sentidos desta palavra (ver Possível); ter
zão pura.) o direito ou a perm issão.
O verbo p o d e r e seus equivalentes es­
C R ÍT IC A trangeiros dão lugar a um a grande q u an ­
Estes term os caíram em desuso. tidade de idiotismos nas diferentes lín­
guas. As frases francesas em que é usado
P N E U M A T O L O G IA D . P neum ato- são quase sempre suscetíveis de ser enten­
logie; E. P neum atology; F. Pneum atolo- didas em vários sentidos, que apenas o
gie; I. Pneum atologia. contexto perm ite (por vezes) distinguir:

Sobre Pneum atologia — A rtigo com pletado de acordo com um a indicação de L.


Boisse, cujo texto justificativo apresentam os: “ V o x pn eum atologia a irvevpoi, spiritus,
et Xóyos, sermo, vocibus graecis oriens idem significai a c serm o d esp iritu . Omnis spiri­
tus qui excorgitari potest, est increatus vel creatus. Solus Deus est spiritus increatus;
mens hum ana et substantia spiritualis; ut in fra probaturi sumus, et creata. Item Angeli
sunt spiritus creati. Pneum atologiam igitur in très partes dividemus: prim a erit de Deo
et ejus attributis secunda, de Angelis; et tertia de mente hum ana, ejusque facultatibus
et proprietatibus.” In stitutionesph ilosophicae ad usum seminariorum et collegiorum,
auctore J. B. BÃZ â« E 2 , episcopo Cenomanensi (7? ed., 1844).
819 P O L IG E N E T IS M O , P O L IG E N IS M O

“ P aulo pode v ir” pode significar: 1?: fi­ to m ar à sua responsabilidade tu d o o que
lhe m aterialm ente ou m oralm ente possí­ julgar útil para descobrir a verdade.” C o ­
vel vir; 2?: Eu permito-lhe que venha; 3?: d e d ’instruction crim inelle, a rt. 268. D aí
N ão sei se virá ou não (é preciso conside­ o sentido concreto: docum ento que con­
rar nas minhas previsões o caso de ele vir). fere a alguém o direito de agir em vez e
‘‘Poder-se-ia d izer...” , fórm ula m ui­ no lugar do que m anda.
to freqüente nas discussões filosóficas, em C. A utoridade; especialmente, no sen­
que tem um duplo sentido: 1?, para anun­ tido concreto, corpo constituído que exer­
ciar um a objeção que se re fu ta rá em se­ ce esta autoridade, o governo. “ Existem
guida; 2?, para propor um a tese ou um a em cada E stado três espécies de poder, o
objeção que se considera ju sta, mas dei­ poder legislativo, o poder executivo das
coisas que dependem do direito das gen­
xando entender que não se coloca aí ani­
tes, e o poder executivo daqueles que de­
mosidade pessoal ou se tom a partido, que
pendem do direito civil.” MÃÇI E è I Z « E Z ,
se está disposto a escutar a resposta, se
E spirito d a s leis, X I, 6.
algum a houver.
Em m uitos casos, esta palavra serve NOTA
apenas p ara atenuar a asserção, p a ra in­ E sta palavra tem sem pre um sentido
tro duzir nela algum a reserva ou algum a forte; ela nunca corresponde aos sentidos
dúvida, ou para denotar um elem ento de apagados do verbo p o d e r .
escolha decisória no pensamento: “ Pode- R ad. in t .: A . P o v .; B . D arf.
se dividir os fenôm enos psicológicos em
P o d er pessoal Ver Pessoal.
três classes: a fetivos, ativos, representa­
tiv o s .” “ P o d er pró xim o” Ver P ró x im o .
R ad. int.\ Ter a f o r ç a , Pov; ter o d i­
PO L Ê M IC A D . P olem ik; E. P o le­
reito, D arf.
mics·, F. P olém iqu e; I. P olém ica.
2. P O D E R (subst.) D . A . B. Vermö­ Troca m ais ou menos pro lo ngad a de
gen, F äh igkeit ; B. C . Gewalt-, B. Recht-, escritos a favor e contra um a opinião ou
E. P o w er, F. P o u vo ir, I. P o ten za , um a doutrina.
p o testa. R ad. int.: Polem ik.
Sinônimo de potência* em todos os PO L Ê M IC O (do G . wóXe/ios, guerra;
sentidos desta palavra, exceto no sentido B. m as a p alavra nunca tem o sentido p ró ­
A . Capacidade ou faculdade n atural prio correspondente a esta etimologia); D.
de agir. “ Q uanto m ais o poder au tô n o ­ Polem isch, S treit...; E. Polem ic, po lem i­
m o fo r perfeito num ser, ta n to m ais este cal·, F . Polémique-, I. P o lem ico .
ser é um a pessoa.” J ÃZ EE 2 Ãà , “ D as fa­ Relativo à discussão ou que constitui
culdades da alm a h u m an a” , M élanges um a discussão pública. “ O bra polêm i­
ph ilosoph iques, III, v. Esta palavra com­ c a .” “ A rgum ento polêm ico.”
p o rta sempre um a idéia de atividade:
M étodo polêm ico C o njunto dos p ro ­
RE )á (E ssays on A c tiv e P o w ers, I, cap. cedimentos de discussão (o ral ou escrita)
III) criticou vivam ente a expressão P as­ enquanto se pode nela distinguir os argu­
siv p o w e r, utilizada por LÃT3 E , e que m entos o u as atitudes legítimas daqueles
aliás LE « ζ Ç« U tin h a traduzido p o r p o tê n ­ que apresentam um caráter incorreto ou
cia p a ssiva (cham ando a atenção p a ra o falacioso.
sentido aristotélico desta palavra).
B. Faculdade legal ou m oral, direito PO L IG Ê N E SE Ver S uplem ento.
de fazer alguma coisa. “ O presidente das POLIGENETISM O, POLIGENISM O
audiências está investido de um poder dis­ D. Polygenismus; E. Polygenism ; F. Poly-
cricionário em virtude do qual poderá génétisme, polygénisme-, I. Poligenismo.
P O L IM A T IA 820

A . Característica daquilo que se trans­ da um a p o r sua vez, de um a ou de várias


form a, indo de um a m ultiplicidade ou de espécies vivas pertencentes a um tipo di­
um a diversidade prim itivas p ara urna ferente; de m an eira que as espécies p er­
multiplicidade ou um a diversidade m eno­ tencentes a um m esm o tip o n ão provêm
res. E sta m archa para a unidade pode ser necessariam ente de um a espécie-origem
entendida em dois sentidos: única que teria sido a prim eira represen­
1?: Elem entos, diferentes ou não em tante desta ligação.
características, mas que existiram prim ei­ 3?: D a doutrina segundo a qual os fe­
ro à parte, combinam-se num sistema úni­ nômenos que constituem a vida teriam co­
co, no qual a sua diversidade de origem m eçado no globo terrestre em vários pon­
já não aparece: é esse o caso, por exem­ tos ou em diversas épocas (quer sob um a
plo, n a ordem física, de um indivíduo, en­ form a sensivelmente idêntica, quer sob
quanto descende de antepassados que per­ form as ligeiram ente diferentes).
tencem a diversas fam ílias, ou m esm o a
NOTA
diversas raças; na ordem intelectual, um a
teoria física em que se com binam contri­ N o sentido A , tam bém se diz, ainda
buições lógicas, aritm éticas, geométricas, que m ais raram ente, poligênese (S).
tecnológicas, etc. Cf. C oligação. R ad. in t.\ A . Poligen; B. Poligenism.
2°: U m sistem a prim itivam ente m ui­
PO LIM A TIA G. wohviuxOía, irokvjiá-
to rico e m uito complexo simplifica-se pe­
deia (literalm ente, “ grande in strução” ,
la eliminação de certos elementos, ou pela
mas já usada em grego com um m atiz pe­
assimilação entre alguns deles: por exem­
jorativo). A cum ulação de conhecimentos
plo, na ordem física, a igualização dos ní­
num erosos sem unidade en tre si. M uitas
veis ou das pressões; na ordem intelectual,
vezes utilizada por Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E para
a sim plificação das form as gram aticais.
designar a erudição curiosa e inútil: “ Não
Cf. In volução.
há como a falsa ciência e o espírito de po­
B. D ou trin a segundo a qual as tran s­
lim atía para pôr em m oda citações.” Re-
formações, quer na ordem dada de fatos,
cherche d e la vérité, IV, cap. V III.
quer no conjunto dos fatos observáveis, R ad. in t .: Polim ati.
se fazem segundo um dos dois tipos aci­
m a indicados. PO L IPSIQ U ISM O Term o criado por
Diz-se em particular: D Z 2 τ Ç (á
E G 2 Ã è è ) para representar a
1?: D a d o u trin a segundo a qual a es­ doutrin a que ele assim define: “ A firm o
pécie hum ana descenderia de vários ca­ que cada um dos centros nervosos do cor­
sais que não têm eles próprios ascenden­ dão m edular é um pequeno cérebro que
tes com uns, pelos menos entre as form as possui com o tal tudo o que existe de es­
anim ais mais aproxim adas da fo rm a h u ­ sencial às atribuições de um grande cen­
m ana; e, mais geralmente, da doutrina se­ tro encefálico; dito de o u tro m odo, de­
gundo a qual um a espécie viva pode des­ fendo que estes centros nervosos subor­
cender de vários indivíduos distintos que dinados são as sedes de outros tantos cen­
não têm eles próprio s antepassados co­ tros psíquicos em tu do com paráveis ao
m uns. centro psíquico que ocu pa o cérebro e a
2?: D a doutrina segundo a qual várias que cham am os o e u .” L es origines ani­
espécies vivas, pertencentes a um mesmo m ales de 1’hom m e (1871, 1? parte: O po-
tipo, podem descender diretamente, e ca­ lizoísmo). “ Reconhecer que os centros

Sobre Polipsiquism o — A rtigo acrescentado a p artir da pro p o sta de D. P a ro d i ,


que nos com unicou os textos citados.
821 P O L ÍT IC A

nervosos dos sistemas reñexos são assi­ epissilogism o em relação ao prim eiro
miláveis ao cérebro sob a tripla relação (KE à ÇE è , F orm al L ogic, III, 7).
histológica, organológica e fisiológica, as­ O Sorite* é um polissilogismo resumi­
sim como é adm itido por toda a gente nos do que subentende as conclusões interm e­
nossos dias; negar, ao m esm o tem po, co­ diárias e as prem issas que constituem a
m o o faz a fisiologia clássica, que estes repetição.
cérebros inferiores estejam anim ados de R ad. in t.: Polisilogism .
atividade psíquica, quer dizer, d a cons­
P O L IT E ÍSM O D. P olitheism u s ; E.
ciência do eu, é tão irracional com o fa­ P olytheism ; F. P o lyth éism e ; I. P o li­
zer do eu o atrib u to pró prio do cérebro teísm o.
do hom em , excluindo o cérebro de todas Religião ou filosofia que adm ite a
as outras espécies anim ais.” Ib id . Cf. os existência de vários deuses. “ A s nossas
outros escritos de DZ 2 τ Ç (áE G2 Ãè ), es­ especulações sobre a crença m oral,
pecialmente: O n tologie et p sych ologie conduzindo-nos à tese da im ortalidade
p h ysiologiqu e, Q uestion s d e p h ilo so p h ie das pessoas, abriram-nos antecipada e ne­
m orale e t sociale, etc. cessariamente a via do p o liteísm o através
“ P O L IR R E A L IS M O ” Term o utili­ de apoteoses: o progresso da vida e da vir­
zado no seu ensino por F. Rτ Z 7 , para tude enche o universo de pessoas divinas,
designar a d o u trin a segundo a qual exis­ e seremos fiéis a um sentim ento de reli­
tem várias ordens de realidades entre as gião antigo e espontâneo quando cham ar­
quais não h á m edidas com uns: realidade m os Deuses àquelas que acreditam os p o ­
sensível, realidade lógica e m atem ática, derem h o n ra r a natureza e bendizerem as
realid ad e m oral, etc. suas ob ra s... M as é um a indução m uito
natural tam bém situar no céu, quer dizer,
PO L IS S E M IA D. P o ly sem ie ; E. nas regiões superiores da consciência e da
P o lysem y, F. P olysém ie; I. P olisem ia. natureza, séries de seres que ultrapassam
A. Propriedade que um a palavra pos­ o hom em em inteligência, organização,
sui (num a dada época) de representar vá­ poder, m oralidade. Enfim este politeísm o
rias idéias diferentes: opõe-se a Polilexia, está longe de ser inconciliável com a uni­
p o r vezes utilizada pelos lingüistas con­ dade de D eus... porq ue o Deus uno,
tem porâneos para designar a existência de Deus, seria então a prim eira destas pes­
vários sinônimos que exprimem a mesma soas sobre-hum anas, rex h om inum deo-
idéia. ru m qu e.” RE ÇÃZ â« E 2 , Essais de crit. g é­
B. Fenôm eno sem ântico pelo qual nérale, II, “ Psicologia ra cional” , cap.
um a palavra se estende de um sentido pri­ XXV.
m itivo a vários outros. R ad. in t.: Politeism .
Ver B2 ,τ Â , E ssai d e sém an tiqu e, PO LITE LISM O “ Propom os cham ar
cap. XIV: ‘‘A polissem ia.” p o r analogia (com polissem ia*) p o litelis-
R ad. int.: Polisemi. m o à m ultiplicidade de fins que um m es­
PO LIS SIL O G ISM O D . P olysyllogis- m o meio perm ite atin g ir.” C. BÃZ ; Â é ,
m us; E. P o lysyllo g ism ; F . P olysyllogis- “ N o ta sobre o politelism o” , R ev. m é
me; I. P olisillogism o. ta p h ., setem bro de 1914. C f., do mesmo
autor, L ‘évolution des valeurs, pp. 89-90.
Cadeia de dois ou vários silogismos,
Este termo, desde então, parece ter-se to r­
tais que a conclusão de cad a um deles se
nad o corrente.
torne um a das premissas do seguinte. De
R ad. int.: Politelism .
dois silogismos consecutivos num a cadeia
deste tipo, o prim eiro é dito prossilogis- 1. P O L ÍT IC A (adj.) D. P olitisch; E.
m o em relação ao segundo, o segundo P o litica l ; F. Politique·, I. P olítico.
P O L IT IC A 822

A . No sentido lato e etim ológico (ra­ “PO N TE DOS BURROS” L. Ponsasi-


ro): que diz respeito à vida coletiva num norum; D. Eselsbrücke·, E. A sse s’bridge;
grupo de hom ens organizado (I Ã Xíè ). A F. P on t aux ânes.
palavra apenas retém este sentido em al­ A. Figura esquem ática de lógica que
gum as expressões tais com o “ economia reúne as fórm ulas que servem para a des­
política” ou na tradução do G . xoXmxds. coberta do m eio-term o. E la é repro duzi­
B. Especialmente (sentido usual): que da p o r P 2 τ ÇI Â , G esch. d e r L o g ik , IV,
concerne ao E stado e ao governo, por 206, segundo P E I 2 Z è Tτ 2 I τ 2 E I Z è (fim
oposição quer aos fato s econôm icos e às d o séc. XV).
questões ditas sociais*, quer à ju stiça e B. Diz-se familiarmente, na linguagem
à adm inistração, quer às outras ativida­ m odern a, de um a coisa banal e fácil, de
des da vida civilizada, tais com o a arte,
um a teoria ou de um procedim ento bem
a ciência, o ensino, a defesa nacional,
conhecidos; em particular do teorem a do
C. Que é de boa política; oposto de im ­
q uadrado da hipotenusa. Ver diversos
po lítico . Falando de hom ens, a mesma
exemplos de V Ã Â τ « 2
I E em Littré, V o
acepção qu e p o lítico (subst.), no sentido B.
P o n t, 14.
2. P O L ÍT IC A (subst.) D. Politik', E.
NOTA
Politics', F. Politique', I. P olitico.
A. Ciência política: estudo ou conhe­ A passagem do prim eiro sentido p a ­
cimento dos fatos políticos, no sentido B, ra o segundo é explicada pelo seguinte
raram ente no sentido A. texto de Petrus T artaretus, citado por
B. A ção política, exercício das ativi­ P ran tl, e no qual se vê tam bém que o n o ­
dades políticas, no sentido B. “ Fazer po­ m e e a coisa rem ontam a um a época mais
lítica.” antiga: “ U t ars inveniendi m edium cunc-
C. P o r extensão, ação conduzida se­ tis sit facilis, plana et pespicua, ad m ani-
gundo um plano elaborado com antece­ festationem ponitur sequens Figura, quae
dência. (Sentido recente.) " U m a política com m uniter p ro p ter ejus apparentem di-
dos meios de tra n sp o rte .” ficultatem p o n s asinorum dicitur, licet in-
R ad. int.: Politik. tellectis dictis, in hoc passu om nibus pos-
sit esse fam iliaris ac intellecta.”
P O L ÍT IC O (subst.) D. P o litik er, E.
B2 Z T3 E 2 , que julgara poder fazer re­
Politician', F. Politique', I. P o litico .
m ontar a criação desta figura a Buridan,
A . H o m em d e E stado.
B. H om em hábil em organizar e diri­ dava desta expressão um a etim ologia di­
gir a sua conduta nas suas relações com ferente: p o n s, porque esta figura serve p a­
os ou tro s hom ens. ra unir os extrem os p o r interm édio do
R ad. int.: Politikist. meio; asin oru m , porq ue nesta operação
se podem distinguir os espíritos hábeis dos
“ P O L IT IS M O ” D . P olitism u s. medíocres (P 2 τ ÇI Â , ib id ., p. 34). M as
Term o utilizado por E Z T3 E Ç p ara ca­ este põe em dúvida am bas as asserções.
racterizar o fa to (perigoso, pensa ele) de A explicação de T arta retus convém mais
que nas sociedades m odernas toda a vi­ sem dúvida a o sentido m oderno; porém
da do indivíduo, tanto espiritual com o encontram os em Rabelais um a passagem
m aterial, tende a ser subm etida cada vez que estaria mais de acordo com a de Brü­
m ais à influência do E stad o e a receber cker: “ O h musa m inha!... inspira-me nes­
o seu cunho. ta hora: porque eis aqui a ponte dos b u r­
P O L IV A LE N T E Ver S uplem ento. ros da lógica, eis aqui a arm adilha, eis
aqui a dificuldade em poder exprimir a
P O N E N D O -T O L L E N S V er D is ­ horrível batalha que se tra v o u .” Panta-
ju n tivo . gruel, II, 28.
823 P Ó S -P R E D IC A M E N T O S

P O N T O G . Σ τ ι γ μ ή (de σ τ ί ξ ω , pon­ Ver o artigo de P au l T τ ÇÇE 2 à na


tear); D. Punktum , P u n k t \ E. P o i n t (D o t , G rande enciclopédia e cf. Porística.
se se tra ta de um ponto m aterial); F. P O R ÍS TIC A (Análise) Expressão ti­
P o i n t \ I. P u n to.
ra d a provavelm ente do títu lo dos Poris-
A . No sentido p róprio , “ ponto físi­ m as de EZ TÂ « á E è ; é utilizada por V« -I E
c o ” : o m ínim o espaço perceptível. que a opõe a A n álise zetética * . (Segundo
B. “ Ponto m atem ático” : conceito que P . Tτ ÇÇE 2 à , n o ta II às N o çõ es de m a­
pode ser tido por um dos indefiníveis da tem ática de J. T τ ÇÇE 2 à .) T lo g io n x ó s
geom etria ou ser definido por outras n o ­ pertence à língua grega clássica ( = que
ções; particularm ente: ocasiona, que fornece).
1° : O indivisível que tem um a posi­ “ É a ela unicam ente que realm ente se
ção no espaço: “ Ή σ τ ιγ μ ή μ ο ν ά % ί σ η aplicam as definições da análise pelos gre­
θ ί σ ι ν β 'χ ο υ σ α . ” A R IS T Ó T E L E S , Π ί ρ ι gos... E la tem p or finalidade a invenção,
ι /α ι χ ή ?, I, 4; 409a6. Cf. M e ta f., V, 6; não de um a solução, m as de um a de­
1016b29: “ Tò Òè μ η δ α μ η δ ι α ι ρ ε τ ό ν κ α τ ά m onstração por um a solução ou um a pro­
TÒ 7Γ ο σ ό ν σ τ ι γ μ ή x a l μ ο ρ ά ί . ή μ ί ν a c e ro s posição enunciadas. Supõe-se verdadei­
μ ο vás, ή 06 I Ãè σ τ ι γ μ ή .” ra esta solução ou proposição e, tendo em
2?: A interseção de duas linhas. conta as condições dadas, transform a-se
3?: O limite de um volume que decres­ a relação que ela exprim e até se chegar
ce indefinidam ente em to das as suas di­ a um a identidade, ou a um a proposição
mensões. já conhecida. P ara obter a demonstração,
C. “ P o n to m etafísico” : expressão b asta inverter a análise.” P . Tτ ÇÇE 2 à ,
aplicada por LE « ζ Ç« U às m ónadas ou ibid. Ele a aproxim a do procedim ento
“ átom os de substância” . “ Eles têm qual­ descrito por P Â τ I .Ã , R epública, V I, a d
fin e m .
quer coisa de vital e um a espécie de p er­
R a d . int.·. P oristik.
cepção, e os pontos m atem áticos são os
seus pontos de vista p a ra exprim ir o uni­ P O R SI V er Substância.
verso; mas quando as substâncias corpo­
P Ó S -H IP N Ó T IC O D . N ach hypno-
rais são postas ju n tas um as das outras, tisch ; E. P o sth yp n o tic ; F . P o sth yp n o ti-
todos os seus órgãos em co n junto fo r­ q u e\ I. P o st-ip n ó tico .
m am apenas um ponto físico relativamen­ Nome dad o aos fenômenos ocorridos
te a n ó s .” Sistem a n o vo d a natureza e d a no curso de estado de vigília ou de sono
com unicação das substâncias, § 11.
norm al e que resultam de um estado de
R ad. int.: P unt. h ip n o s e a n te r io r : “ S u g e stã o p ó s-
PO R ISM A D o G . π ό ρ ι σ μ α . hipnótica; am nésia pós-h ipnótica.” Ver
H ipn ose.
Term o de geom etria antiga, com ple­
tam ente caído em desuso nos m odernos, P Ó S -P R E D IC A M E N T O S G . T à
e de que não conhecem os exatam ente o jierà rà s x a rr/yo g ía s; D. P ostprãdika-
sentido, ou antes, os sentidos, porque pa­ m ente; E. Pos-preãicam ents-, F. P ost-
rece ter sido to m ado em várias acepções prédicam ents-, I. P ostpredicam en ti.
diferentes. Serviu de título a um a obra A 2 « è I ó I E Â E è expõe, nos capítulos X
perdid a de Euclides, T à π ο ρ ί σ μ α τ α . e seguintes das C ategorias, os diferentes

Sobre P orism a — N ão se sabe exatam ente o que continham os P o rism as de E u ­


clides, nem mesmo o que a palavra significava. M as podem os supor que tratavam
de proposições incom pletam ente dem onstradas para as quais se procurava encontrar
a prova lógica rigorosa e geral. (L . Brunschvicg)
“ P 0 S IT IV 1 D A D E ” 824

sentidos das expressões α ν τ ι χ ε ΐ σ θ ο α (ser tem ente usado por A uguste C ÃOI E : ca­
oposto), t íq ó t íq o v (anterior), α μ α (si­ racterística daquilo que é positivo, no sen­
multaneamente), κ ί ν η σ η (mudança ou, co­ tido complexo que ele d á a esta p alav ra;
m o geralmente se diz, m ovimento), tx eiv m ais especialm ente e de um a m aneira
(ter). Com o a explicação destes term os foi mais concreta, o pró p rio espírito positi­
feita depois do estudo das Categorias* ou vo: “ Eu voltei im ediatam ente (após a cri­
predicam entos*, receberam o nome d e pós- se patológica de 1862) à m inha positivi­
predicam entos. dade a n te rio r.” P o lít. p o s it., I ll, 75. “ A
Os termos latinos consagrados para os positividade pode instituir diretam ente a
designar são: o ppositio, prius, sim ul, m o- unidade d efin itiv a...” Ib id , IV, 45. “ A
tus, habere. positividade deve, po rtan to , elaborar sis­
tem aticam ente, p ara as propriedades fí­
CRÍTICA
sicas, quím icas e m esm o vitais, meios
Existe nesta enum eração um duplo equivalentes àquele que o espaço nos fo r­
emprego inexplicado: exeiv é já um a das nece espontaneam ente no dom ínio m ate­
dez categorias (Categorias, cap. VI, l b27 m ático .” Ib id ., IV, 54.
e 2 a3); é reto m ada um a prim eira vez, no
capítulo IX , para dizer que não há razão PO SITIV ISM O D. P ositivism us; E.
para nela insistir (1l bl 1 e seguintes); de­ Positivism·, F. Positivism e; I. Positivism o.
pois passa-se para àvnxeícrfai, etc; e con­ A. N o sentido próprio: 1?, conjunto
tudo, mesmo no fim, o capítulo XV é de das doutrinas de Auguste CÃOI E , tal co­
novo consagrado à análise dos sentidos m o foram expostas essencialmente no Cur­
so d e filosofia po sitiva (1830-1842); no D is­
de exeiv.
R ad. i n t P ost-predikam ent. curso so b re o espírito p o s itiv o (1844); no
C atecism o p o sitivista (1852); no Sistem a
“ P O S m V ID A D E ” Term o freqüen- d e p o lítica p o sitiv a (1852-1854); 2?, esco-

Sobre Positivismo — A palavra p o sitivism o foi utilizada pela prim eira vez, tan to
q u an to sei, n a escola de Saint-Sim on: “ Este m étodo é o verdadeiro m étodo científi­
co; é ao em pregá-lo, subordinado aliás à existência de um a concepção geral, que um a
ciência ganha o caráter de exatidão e de p o sitivism o que parece hoje atribuir-se ex­
clusivam ente ao em prego das balanças ou das tábuas de lo garitm os.” D a religião
sain t-sim on ista. A os alunos d a Escola politécnica. E xtrato d a E x p o sitio n d e la D o c­
trine, 2° ano (1830) (c f. a observação sobre p o sitiv o ). A palav ra é u sad a num sentido
pejorativo p o r G Z é 2 ÃZ Â , “ Sistem a de Charles F ourier” (G lobe, 27 de m arço de
I

1832); ele inclui Fourier no núm ero daqueles que, “ estigm atizados com o título de
sonhadores pelo positivism o do século, dificilm ente conseguiram as boas graças ju n ­
to de alguns espíritos esclarecidos, ávidos de novidade e invenção” . Tam bém F o u ­
rier (La fa u sse industrie, 1835; vol. I): “ D urante m uito tem po a m oral pregou o des­
prezo pelas riquezas pérfidas; o século X IX é inteiram ente devotado à agiotagem e
à sede do o u ro ... Tal é o precioso fruto do nosso progresso em racionalism o e em
p o sitiv ism o .”
A preciação desta palavra por A uguste C ÃOI E : “ Estou encantado com as boas
inform ações que vos forneceu o nosso jovem colega, o sr. Blain, sobre os progressos
do positivismo n a Escócia. A propósito desta indispensável expressão, espontanea­
m ente apresen tad a a cada um de nós, sabiam que a nossa filosofia com um é verda­
deiram ente a única que tom a p o r nom e, num uso universal, um a denom inação dog­
m ática, sem que o seu nom e seja tirado de um a u to r, com o sem pre se fez desde o
platonism o até o fo urierism o?” (Élie H a lévy )
825 P O S IT IV IS M O

la positivista ortodoxa, localizada em P a­ cessantemente ao contato com a experiên­


ris, 10, rue M onsieur-le Prince, no anti­ cia e de renunciar a to d o e qualquer a
go apartam ento de A uguste Com te, e priori; p o r fim , que o dom ínio das “ coi­
cujo chefe é intitulado D ireto r d o p o siti­ sas em si” é inacessível, que o pensamento
vism o. não pode atingir senão relações e leis. Tais
B. Dá-se por extensão a designação são, afastando-se cada vez m ais do posi­
de
tivism o prim itivo, as doutrinas de J. S.
positivismo a doutrinas que se ligam à de
Mill, de L ittré, de Spencer, de Renan e
A uguste C om te ou que se lhe asseme­
m esm o de Taine.
lham , ainda que, p o r vezes, de um m odo C. Os au tores de algum as doutrinas
bastante longínquo, e que têm por teses contem porâneas, que diferem ainda mais
com uns que só o conhecim ento dos fa ­ do comtismo, empregaram o nome de p o ­
tos é fecundo; que o m odelo d a certeza sitivism o : ver, p o r exem plo, LE RÃà ,
é fornecido pelas ciências experim entais; “ U m positivism o n o v o ” , R evu e d e m é­
que o espírito h u m ano, tan to na filoso­ taph ysiqu e, m arço de 1901; L . W ζ 2 ,
E E

fia com o na ciência, só pode evitar o ver­ Vers le positivism e absolu p a r l ’idéalisme,
balismo ou o erro n a condição de se ater in­ 1903.

O que se designa por p o sitivism o , n o sentido B, é um co n junto de idéias ou de


tendencias intelectuais que se ligam mais a C ondorcet do que a A uguste Com te, p o r­
que retêm sobretudo deste últim o o que ele deve, segundo as suas pró prias declara­
ções, a C ondorcet: a d o utrina que atribui à constituição e ao progresso da ciência
positiva um a im portância preponderante p a ra o progresso de qualquer conhecim en­
to , qualquer que ele seja, m esm o filosófico. A confusão entre o sentido A e o senti­
do B contribuiu para expandir idéias falsas sobre a filosofia de certos pensadores,
por exemplo, Taine ou R en án , os quais criticaram A uguste C om te, e reclam aram
p a ra si o espírito, se n ão a letra, d a filosofia hegeliana. (Taine opôs m esm o form al­
mente a sua filosofia ao positivism o de Com te, assim com o ao espiritualism o de Cou-
sin, nos quais denuncia variedades de um m esm o erro ; ver o prefácio de F ilósofos
fra n ceses do sécu lo X I X .) A confusão entre o sentido A e o sentido B conduziu, por
conseguinte, a exagerar a influência de C om te e o seu papel na histó ria das idéias;
por fim , mais recentem ente, ela perm itiu aos teóricos que retêm sobretu do de Com te
aquilo que ele deve a De M aistre e a De B onald, que reclamassem p a ra si o espírito
d a ciência positiva. O emprego desta palavra p ara designar teses do gênero das de
Le Roy, emprego ainda pouco difu ndido, deve ser repro vado, porq u e só pode con­
trib u ir p a ra aum entar a confusão de idéias. (R . B erthelot)
“ Eu sou da m esm a opinião: fui o prim eiro a ficar surpreendido com o sucesso
que obteve recentem ente o m eu artigo intitulad o Um p o sitivism o n ovo; e sobretudo
não tin h a previsto que dele se ap roveitariam para batizar com o nom e de n eopositi­
vism o o conjunto das concepções que eu p ro p u n h a . Pela escolha do meu títu lo , ti­
n h a apenas querido significar: 1?, que a nova d o utrina não queria restringir-se ao
trabalho de dissolução crítica, m as que ela pretendia, pelo co ntrário, chegar a afir­
mações m uito p o sitiva s; 2?, que ela concedia um papel preponderante, na vida do
pensam ento, ao s atos de p o siçã o . Acrescente-se a isto que no início do meu trabalho
eu recordava esta frase de Ravaisson no seu Relatório'. ‘A p artir de m uitos sinais,
é p o rtan to perm itido prever com o pouco afastad a um a época filosófica cujo caráter
geral seria a predom inância do que se poderia ch am ar um realism o ou p o sitivism o
espiritualista, tendo p o r princípio gerador a consciência que o espírito tem em si p ró ­
prio de um a e x is tê n c i a da qual reconhece todas as outras existências derivarem e de-
P O S IT IV O 826

D. Fora de qualquer d o u trin a filosó­lo, se os nomes foram estabelecidos ipv-


fica: espírito p o sitiv o , quer num sentido o u ou deán). “ As verdades da razão são
favorável, quer num sentido pejorativo; de duas espécies. Um as são o que se cha­
e, particularm ente, neste caso, no senti- m a de verdades eternas, que são absolu­
fo F da palavra p o sitiv o : preocupação ex­ tam ente necessárias, de m odo que o seu
clusiva com os prazeres ou os interesses oposto implica contradição... Existem ou­
m ateriais, ausência de ideal (muitas ve­ tras que se podem cham ar p o sitiva s, p o r­
zes oposto a idealism o, no sentido m o­ que são leis que aprouve a Deus d ar à n a ­
ral) (S). tureza ou porque dela dependem. A pren­
R ad. i n t Positivism. demo-las, ou p or experiência, quer dizer,
a p o sterio ri, ou pela razão, e a p rio ri,
PO S IT IV O D. P o sitiv (m uito menos quer dizer, por considerações da conve­
utilizado que no francês; apenas para tra ­ niência que as fez escolher.” L « ζ Ç « U ,
E

duzir as fórm ulas de A uguste Com te, ou Teodicéia, Disc. prelim ., § 2.


no sentido m atem ático), wirklich, aus­ Este sentido já só existe em algumas
drücklich, zuverlässig, etc., conform e o expressões feitas nas quais a consciência
caso; E. P o sitive, m uito usual; F. Posi- semântica do seu valor está muito atenua­
tif\ I. P o sitivo . da: “ O D ire ito positivo; as Religiões p o ­
I. F alando d e coisas: sitivas” , por oposição ao D ireito natural,
A. Q ue foi estabelecido por institui­à Religião natural. Parece contudo ter si­
ção divina ou humana. “ N om ina non po ­ do a origem ou, pelo m enos, um a das ori­
sitiva esse, sed natu ra iia .” A Z Â Ã G é Â « Ã , gens dos sentidos seguintes (ver as ob ser­
X , 4 (lem brando o problem a do Cráti- vações).

penderem , e que não é senão a sua a ç ã o .’ M as isto não o im pedia de insistir n a estrei­
teza do positivismo pro priam ente d ito, que teve o m érito, a m eu ver, de ligar as duas
noções de positividade e de ação efetiva, m as que erro u ao restringir o caráter de
positividade aos resultados de um a ação totalm ente p rática e de algum m odo indus­
trial. P o r isso não assum o de m odo algum a designação de n eo p o sitivism o . ” E xtraí­
do de um a ca rta de E d. L e R o y (cf. observações sobre P ragm atism o ).
O positivismo é, antes de m ais, um a tendência de espírito bastante simples: é um a
vontade m ais ou menos consciente de se lim itar aos fato s, de nunca os ultrapassar.
É u m estreitam ento sistem ático do horizonte intelectual. N ão foi de m odo algum o
com tism o que popularizou esta disposição de espírito; ele é, an tes, um a dependência
e um a extensão desse tem peram ento filosófico. (L. Boisse)
Sobre P ositivo — A palavra é m uito usual em alem ão nos sentidos A e B; por
exemplo, os teólogos protestantes de tendência antiliberal qualificam de p o sitiva s a
sua tendência e a sua teologia. D aí que, e no m esm o sentido, ela tam bém se diga
das pessoas; m as, salvo este caso, n ão se em prega nesta acepção. (F. Tõnnies)
O texto de A uguste C Ã O I E citado no sentido B contém um erro histórico e um
contra-senso acerca do emprego d esta palavra feito antes dele. Se ele conhecesse a
história d a linguagem filosófica, teria podido, parece-m e, justificar m uito m elhor
do que o fez o em prego das palavras p o sitiv o e p o sitivism o . “ Bacon, teria ele podido
dizer, co m para os fatos últim os, que é preciso renunciar a explicar e a com preender,
às leis p o sitiva s d a natureza. Q uanto a m im , afirm o que nad a pode ser com preendi­
d o e que, por consequência, tudo deve ser considerado como impossível de determ i­
n ar pela p u ra lógica ou de adivinhar com antecedência, assim com o a vontade arbi­
trá ria de um legislador.” (7. Lachelier)
827 P O S IT IV O

B. D o p o n to de vista do conhecim en­ Esta acepção vem assim fundir-se com


to : que é d ad o , apresen tado a títu lo de a seguinte.
fato pela experiência, mesmo quando não C . C erto, sólido, sobre o qual se p o ­
se conhece a sua razão de ser; porq ue tal de basear; p o r conseguinte, tam bém fe­
é o caráter daquilo que n ão deriva senão cundo, eficaz, prático. M uito freqüente
das leis fundam entais im postas prim itiva­ n a linguagem falada: “ U m a inform ação
m ente à natureza pela von tade divina: positiva (e n ão um simples boato). E star
“ Im periti est et leviter philosophantis, positivam ente seguro de um fa to .” Ver
cum ad ultimam naturae vim et legem po­ tam bém os textos de R U e de M me. de
E I

sitivam ventum sit causam ejus requirere S É v i G N É citados nas observações. “ A té


aut fingere.” B τ T Ã Ç , D ep rin c ip iis atqu e o presente ninguém me deu noticias p o ­
originibus, Eli. et Spedd., III, 80. “ Phi- sitivas desse p aís.” V Ã Â τ « 2 , M icrom e-
I E

losophi principia rerum quem adm odum gas, cap. II. “ N os trabalhos d o espírito,
in n a tu ra inveniuntur non receperu nt... ele proscrevia com severidade tudo o que
u t doctrinam quam dam p o sitiv a m ...” n ão tendesse p a ra a descoberta de verda­
Ib id ., 81. Cf. L ei natural. des positivas, tu do o que não fosse de uti­
D onde, m ais tarde, num sentido pu­ lidade im ed iata.” C Ã Çá Ã 2 T E I , E logio
ram ente lógico, em que a idéia de legis­ d e d ’A lem b ert. O eu vres, t. I ll, p. 81.
lação desaparece: real, atual, efetivo. “ Este term o fundam ental indica o con­
“ C onsiderada prim eiro n a sua acepção traste entre o útil e o ocioso; lem bra, n a
mais antiga e mais com um , a palavra p o ­ filosofia, o destino necessário de to das as
sitivo designa o real p or oposição ao qui­ nossas sãs especulações para m elhorar
mérico; sob este aspecto, ela convém ple­ continuam ente a nossa verdadeira condi­
nam ente ao novo espírito filosófico, as­ ção intelectual e coletiva, em vez da vã
sim caracterizado pela sua constante con­ satisfação de um a curiosidade estéril.”
sagração às investigações verdadeiram en­ A ug. C Ã O I E , D isc. so b re o espírito p o ­
te acessíveis à nossa inteligência, com a sitiv o , § 31.
exclusão perm anente dos im penetráveis D. O posto a n eg a tivo :
m istérios de que se ocupava sobretudo a 1?: Nas ciências m orais, designa aqui­
sua in fân c ia.” A ug. C Ã O I E , D iscurso lo que tem um conteúdo real, aquilo que
so b re o espírito p o sitiv o , § 31. não é som ente a supressão de um a tese,

Resta um a dúvida sobre a questão de saber se a palavra p o sitiv o , na sua acepção


filosófica, não teria recolhido a herança de d o is usos anteriores nascidos eles mes­
m os separadam ente. Estas espécies de fusão não são raras. O prim eiro sentido seria
evidentemente aquele em que se tom a a palavra quando se fala de direito p o s itiv o ;
o segundo, de acord o com L « 2 é , viria diretam ente de pôr (poser ); o artigo P o siti­
I I

vo do seu D icionário começa assim : “ 1?: Sobre o qual se pode p ô r, contar, que está
assegurado, co n stante.” E cita, neles se ap oiando, os textos seguintes: “ N unca se
pode conseguir nada de positivo sobre o espírito do S en h o r.” R U , M é m ., t. III,
E I

p. 318. “ As cartas nada dizem de positivo, porq ue não se sabe n a d a .” M me. de SÉ-
V íG N É , 140. “ Sem nada pedir de positivo, ela conseguiu fazer ver os horrores do seu
estad o .” I d ., 276. M as, por o u tro lado, p o s itiv o quer dizer, etim ológicam ente, qu e
é p o s to ou qu e p o d e ser p o s to (por ex.: órgão positivo, quer dizer, p o rtátil, que pode
ser colocado sobre um móvel; L « 2 é , ibid.); com o veio a dar-se-lhe o sentido:
I I

“ aquilo sobre o qual se pode p ô r” ? N ão deveria ser antes: “ o que pode ser posto
(no sentido de: o que pode ser assegurado ); o que se m an tém , o que está bem estabe­
lecid o ” ?
P O S IT IV O 828

de um a crença, de um a instituição pree­ F . U tilitário, m edindo to das as coisas


xistentes. “ Sob este aspecto, ele indica de acordo com as vantagens reais que elas
um a das mais eminentes propriedades da possam oferecer. C f. sentido C. A pala­
filosofia m odern a, m ostrando-a destina­ vra tom a por vezes, neste sentido, um m a­
da so bretu do, pela sua natureza, não pa­ tiz pejorativo; diz-se, por litote, de um ca­
ra destruir, mas para org an izar.” A. ráter interesseiro, desprovido de ideal.
CÃOI E , ib id ., § 32. G. Que se ocupa de ciência positiva.
2?: Em lógica (e p o r conseguinte em “ A necessidade de confia r aos cientistas
m etafísica), um term o p o s itiv o é aquele positivos o trabalho teórico d a reorgani­
que põe ou afirm a u m a qualidade, por zação so cial...” Aug. CÃOI E , P lan o d o s
oposição à privação ou à exclusão desta trabalhos, etc. (Pol. p o s ., apêndice, t. IV,
qualidade. “ O tempo é a negação de um a p. 73.)
coisa m uito real e soberanam ente positi­
NOTA
va, que é a perm anência do s e r.” FÉNE-
Â Ã Ç , Tr. da existência d e D eu s, II, cap. A ug. CÃOI E , no D iscurso acim a ci­
V, § 89. Cf. pon ere, tollere nas expres­ tad o , analisa todos os sentidos que aca­
sões de lógica. bamos de enum erar, exceto o sentido A ,
3°: Nas m atem áticas, p o sitiv o é u m a m as sem aí distinguir os que dizem res­
das duas qualificações opostas, determ i­ peito às pessoas e os que dizem respeito
nando o sentido no qual é m edida um a às idéias. Ele considera, aliás, que esta ho­
grandeza a p artir de um a origem (n atu ­ m onímia é o sinal de um a im portante ver­
ral ou convencional); e, por conseguin­ dade filosófica. “ Todas estas diversas sig­
te, o sinal ( + ) pelo qual um a quantidade nificações convêm igualm ente à nova fi­
está afetada. losofia geral, da qual indicam alternati­
II. F alando d e pesso a s (mais raro): vam ente diferentes propriedades caracte­
E. Preciso e decidido nas suas afirm a­rísticas. D este m odo, esta ap arente am-
ções. “ Os cartesianos não são menos po ­ bigüidade não oferecerá doravante ne­
sitivos p ara com as suas partículas cane­ nhum inconveniente real: será preciso, pe­
ladas e pequenas esferas do segundo ele­ lo co ntrário, ver aí um dos principais
m ento do que o seriam se se tratasse dos exemplos desta admirável condensação de
teorem as de Euclides.” L « ζ Ç « U , N o v o s
E fórmulas que, nas populações avançadas,
ensaios, IV, 20, § 11 (é Teófilo quem fa­ reúne sob u m a única expressão usual vá­
la). Este sentido é m uito mais freqüente rios atributos distintos, quando a razão
em inglês do que em francês. pública reconhece a sua ligação perma-

Q uanto ao uso desta palavra na p ró p ria escola positivista, com eça com o opús­
culo publicado por A uguste Com te em 1822 no C atecism o d o s industriais de Saint-
Simon, reeditado em 1824 sob o nome de Sistem a d e p o lític a p o sitiv a e de que Littré
disse, em bora erradam ente, parece-m e, que “ não continha a filosofia positiva, m es­
m o em esboço” . Ele acrescenta: “ Já há m uito tem po que na escola de Saint-Simon
era usada a palavra sem se ter a coisa; testem unha-o esta frase escrita por ele em
1808: ‘Com que sagacidade dirigiu Descartes as suas investigações! Ele sentiu que
a filosofia positiva se dividia em duas partes igualm ente im portantes, a física dos
corpos brutos e a física d o s c o r p o s organizados.’ (O euvres, I, 198.) P a ra S a i n t - S i m o n ,
filo so fia p o sitiv a é apenas um nom e genérico do co njunto da ciência, e é provável
que para Com te, em 1822, ainda seja apenas isso: pelo menos o opúsculo não vai
mais longe... A filosofia positiva, com o sentido especial que tem , segundo Com te,
é explícitam ente enunciada nos opúsculos de 1825 e de 1826, inseridos no P rodu c-
teu r." ( L « 2 é , A u g . C o m te et la ph il. p o s ., p. 3 1 . Cf. p . 83.)
I I
829 P O S S IB IL ID A D E

n ente.” I b id ., § 30. Ele acrescenta que, télico l?is (habitus ) quando utilizado no
sendo tam bém a consideração do relati­ sentido transitivo. “ 'Έ ξ ι ? ôè \ è y e rat ero
vo e a eliminação do absoluto um a das μ έ ν τ ρ ό π ο ν olov έ ν έ ρ γ α ά Tis τ ο ν ε χ ο ν τ ο ϊ
características fundam entais da nova fi­ x a l í \ o μ ό ν ο υ ...” M e ta f., V, 20; 2°: N o
losofia, necessariam ente este sentido se sentido jurídico: “ A posse é a detenção ou
ju n tará aos outros na compreensão da pa­ o usufruto de um a coisa ou de um direito
lavra positivo ( ib id ., § 33); o que parece, que temos ou que exercemos por nós p ró­
com efeito, ter-se realizado no uso con­ prios ou por outrem que a tem ou que a
tem porâneo , m as tam bém cada vez mais exerce em nosso nom e.” C o d e civil, titre
vago, da palavra p o sitiv o . X X , art. 2228 (no sentido técnico, p o sse
R ad. i n t Pozitiv. opõe-se a propriedade).
No figurado: “ A posse de si pró prio.”
“ P O S P O R ” L . P o stp o n ere , colocar “ E star em plena posse das suas faculda­
em segundo plano, fazer vir depois. Es­ des, das suas idéias.”
ta palavra é utilizada no m esm o senti­ B. Coisa possuída.
do p o r L « ζ Ç « U : “ ... H ouve fortes ra ­
E
C. Estado daqueles que se crêem — por
zões, ainda que talvez nos sejam desco­ eles mesmos ou pelos outros — governa­
nhecidas, que o fizeram pospor este bem dos por um poder sobrenatural (particu­
que procurávam os a um qualquer outro larmente por um demónio), que lhes reti­
m a io r...” Teodicéia, I, 58. ra a livre disposição das suas palavras e dos
PO SSE D . A . Besitzen; B. B e sitz ; C. seus atos e deles faz instrum ento da sua
Besessenheit; E. Possession·, F. P osses­ vontade.
sio n ; I. P ossession e. R a d . int.: A . P osed.; B. Posedaj; C.
A. Fato de possuir. 1®: No sentido fi­ (D em on-) posedes.
losófico. P osse, neste caso, serve p arti­ PO SSIBILIDA DE D. Möglichkeit-, E.
cularm ente para traduzir o term o aristo- P o ssib ility, F. Possibilité·, I. P ossibilità.

CÃZ 2 ÇÃI d á deste term o um a definição que remete ao mesmo tem po para o sen­
tido B e o sentido C (que, aliás com o já indicam os, estão ligados um ao outro de
um a m aneira quase contínua): são positivas, diz ele, as ciências ou as partes das ciências
cujos resultados, tenham ou não sido obtidos a p rio r i, “ são suscetíveis de ser con­
trolados pela experiência” . C orrespon d. d e 1’algèbre et d e la géo m étrie, cap. X VI,
§ 140. Cf. Traité, I, 1, § 5, em que ele observa que, apresentando essa característica,
as m atem áticas são ao m esm o tem po “ racionais” e “ positivas” .
Sobre “ P o sp o r” — Este term o hoje tão pouco usado encontra-se assim nas M e­
m órias de S τ « Ç - S « OÃ Ç , particularm ente ao falar do caráter da duquesa do M aine:
I

“ E la tinha coragem em excesso... não conhecendo senão a paixão presente e a esta


pospondo tu d o .” Ed. Chéruel et Régnier, tom o V, 223.
Sobre Posse — A rtigo com pletado, no que diz respeito ao term o e{is, de acor­
do com um a n o ta de L. Robin que acrescenta: “ É na m esm a acepção que Aristóteles
diz, a propósito das corrupções e das gerações, que as prim eiras ocorrem a p artir
da posse de fo rm a, as segundas a p artir de certa privação desta: “ ... rj èx t ov
t i ô o v s x a l Trjs t o v ei'áovs l l e c o s , rj èx OTEQijaeús n v o s t ov eiòovs x a l rrjs ¡iOQ<prjs.”
M e ta f., X, 4, 1055bl 1-14. A oposição priva çã o -p o sse tem , de resto, um valor técni­
co determ inado e especial no aristotelism o. Ver P rivação. Este sentido de tl-is está
em relação com um dos sentidos que A ristóteles atribui a l’x tiv na análise que faz
desta categoria (Cat. 15 M e ta f., V, 23).
P O S S ÍV E L 830

A . C aracterística d aquilo que é riência: “ W as m it den form alen Bedin­


possível*, sobretu do no sentido objetivo gungen der E rfahrung übereinkom m t ist
desta palavra. “ Buffon p ro p u n h a conce­ m öglich .” 1Kτ ÇI , K rit. d er reinen Ver­
d er um valor preciso à grande probabili­ n u n ft (Transc. A n a l., P ost, des emp.
dade que se pode ver com o certeza m o ­ D enkens; A 218; B 265); 2?, o que não
ral e não ter p a ra além deste term o ne­ está em contradição com nenhum fato ou
nhum a consideração com a m enor possi­ lei em piricamente estabelecida; 3?, o que
bilidade de um acontecimento contrário.” é mais ou m enos p ro vá vel* . “ N a lingua­
CÃÇáÃ2 TE I , E logie d e B u ffo n , p. 29. gem rigorosa... das m atemáticas e da me­
B. A tos ou acontecim entos possíveis. tafísica, um a coisa é ou n ão é possível.
“ Exam inar as diversas possibilidades.” M as na ordem dos fa to s... é natural que
(Este sentido, m uito freqüente n o inglês, se considere um fenôm eno com o dotado
só aparece em francês na linguagem clás­ de um a capacidade tan to m aior em
sica, a não ser no cálculo das probabili­ produzir-se, ou como sendo tan to m ais
dades, mas o seu uso parece cada vez mais p o ssível, de fato ou fisicamente, quanto
consagrado.) mais se reproduza num grande número de
C. Liberdade (de fazer alguma coisa). provas. A probabilidade m atem ática
R ad. int.: A. Posibles; B. Posiblaj; C. torna-se então a m edida da possibilidade
D arf. física, e um a destas expressões pode subs­
PO SSÍV EL D. Möglich·, E. Possible·, titu ir o u tra .” CÃZ 2 ÇÃI , Théorie des
F. Possible·, I. P ossibile. chances et d es p ro b a b ilités, p. 81. P o r
U m a das categorias fundam entais da conseqüência, se diz “ fisicamente im pos­
m o d a lid a d e *. E sta palavra entende-se sível” o que é in finitam en te im p ro vá vel
quer no sentido objetivo ( = independente (o cone em equilíbrio sobre a sua ponta).
daquele que fala, válido para todos), quer C. Diz-se “ m oralm ente possível” : 1?,
no sentido subjetivo. o que não é contrário a nenhum a norm a
1?: O b jetiva m en te *: o que satisfaz as m oral; 2?, o que não é contrário a nenhu­
condições gerais im postas a um a dada o r­ m a lei psicológica ou sociológica bem es­
dem de realidade ou de norm alidade. tabelecida: “ U m a irremediável decadência
A . Diz-se “ absolutam ente” ou “ logi­ da espécie hum ana é possível.” RE Çτ Ç ,
cam ente possível” aquilo que não im pli­ D ialogues ph ilosoph iques , II, p. 64.
ca contradição.
B. Diz-se “ fisicam ente possível” : 1?, 1. “ A q u ilo q u e está de a c o rd o co m as con diçõ es
o que satisfaz as condições gerais da ex- fo rm a is d a ex pe riência é p o ssív e l

Sobre Possível — O “ sentido subjetivo” nesta palavra é apenas um emprego mais


ou m enos abusivo do “ sentido objetivo” . Se digo qu e é possível que chova esta ta r­
de, é porq ue isso é, com efeito, fisicam ente possível. N o caso de um a expressão co­
m o esta: “ É possível que tal problem a não adm ita solução” , sai-se evidentemente
do sentido próprio , po rq ue é necessário em si que o problem a seja solucionável ou
não , ainda que eu não p o ssa , no estado atual dos meus conhecim entos, sabê-lo. Ju l­
gando pelo conjunto de dados de que disponho, devo ter com o possível tudo aquilo
de que não veja claram ente a im possibilidade. (/. Lachelier )
O aspecto subjetivo d a idéia de possibilidade não parece nem m enos prim itivo,
nem menos essencial do que o aspecto objetivo. A dúvida, a idéia de talvez (forsan)
é impossível de suprim ir do pensam ento, enquanto a idéia do possível objetivo, dife­
rente do que acontece de fato , foi elim inada por certos filósofos, p o r exemplo Espi­
nosa. Podem o-nos perguntar se o pró prio Leibniz não a transform ou com pletam ente
831 P O S S ÍV E L

D . Diz-se p o ssív e l o que está em CRÍTICA


potên cia* e não em ato * . Este sentido só A unidade desta noção, que parece
se en contra n a exposição histórica das tão heterogênea à prim eira análise, con­
doutrinas filosóficas antigas, salvo q u an ­ siste n a disciplina que ela representa re­
do coincide com o sentido A. lativam ente às nossas ações, e juízos que
2?; S u b jetiva m en te: com ela se relacionam : é p o ssível tu d o o
E . Diz-se possível aquilo de que aquele que não está antecipadam ente condena­
que fala n ão sa b e se é verdadeiro ou fal­ d o , tu d o o que vale a pena ser exam ina­
so, quer se tra te do passado, do futuro do ou ten tado, tudo o que deve entrar nas
ou do intem poral. “ É possível que cho­ nossas previsões. De acordo com um a ob­
va esta noite.” “ É possível que Demócri- servação m uito ju sta que d ata pelo m e­
to tenha vivido m ais de cem a n o s .” “ É nos de Bacon, é a universalização das re­
possível que tal problem a não tenha so­ lações concebidas que constitui o m ovi­
lu ção .” Q ualquer hipótese, m atem ática, mento espontâneo do espírito: “ Gliscit in-
física o u psicológica, é o enunciado, nes­ tellectus hu m anus, evolat ad generalia” ;
te sentido, de um a relação o u de um a lei a ciência procede sobretudo através de ra ­
p o ssíveis. ciocínios negativos “ per exclusiones et re-
F . N o sentido relativo, sinônim o de jectiones debitas” . D o m esm o m odo, a
p ro v á ve l, C , m as com um m enor grau representação concreta objetiva-se espon­
de assentim ento. O que é “ m uito possí­ taneam ente; crê-se naturalm ente naqui­
vel” pode ser apenas mediocremente pro­ lo que se representa com intensidade. São
vável. Em particular, diz-se “ igualm en­ necessárias razões especiais de negação
te possíveis” do ponto de vista subjeti­ p a ra o reduzir ao estado de simples im a­
vo, ou “ igualm ente prováveis” , os fatos gem. A idéia de im possibilidade é, por­
tais que aquele que fala n ão tem nenhu­ ta n to , de algum a m an eira, psicologica­
m a razão para esperar que um se p ro d u ­ m ente anterior à de p o ssibilidade: ela é
za de preferência a outro : por exemplo, a constatação ou o anúncio de um fracas­
extrair um a bola branca ou um a bola so e opõe-se diretam ente à confiança p ri­
p reta de um saco que se sabe conter b o ­ m eira do espírito sem crítica. Depois,
las cuja cor e núm ero respectivos são des­ através de um a segunda reflexão, é esta­
conhecidos. belecida a regra de considerar como duvi-

para lhe conservar o nom e quando reduz a possibilidade à não-contradição: no sen­


tido com um d a palavra, era impossível que o que quer que seja no m undo fosse dife­
rente do que é, um a vez que a própria escolha deste m undo, de fato , tem razões eter­
nas, e não podia ser diferente do que foi. (A . L .)
Ch. Serrus, no seu Trai té d e logique, cham a a atenção para a diferença entre os
dois pares de oposição m odal adm itidos pelos escolásticos — possível, impossível;
contingente, necessário — e os dois pares de oposição adm itidos p o r Facciolati (gra­
m ático, lexicógrafo e lógico do século X V III) — possível, contingente; impossível,
necessário. A prim eira lista tem um sentido ontológico, e é assim que Boécio com ­
preende no contingente a liberdade hum ana e o acaso. A segunda tem um caráter
sobretudo lógico: o possível é o que não está dem onstrado, mas não é excluído; de­
corre, por conseqüência, d a essência, e opõe-se por isso ao contingente, que diz res­
peito ao acidente. P o r exem plo, é possível, sendo dada a definição do triângulo, que
os seus ângulos sejam iguais a duas retas (dem onstrarem os mais tard e que é assim);
é contingente que P ed ro esteja doente (só poderem os saber p or experiência se é ver­
dadeiro ou falso). T raité d e logiqu e, cap. V III, pp.' 116-117.
P O S T -H O C 832

dosas a verdade das proposições ou a efi­ to , do ponto de vista do assentim ento, a


cácia das m aneiras de agir enquanto não característica de poder ser negada sem
forem sistem aticam ente postas à prova; contradição e de apenas p oder ser to m a­
a partir de então, tudo o que não for con­ da como fu n d a m en to * da dem onstração
firm ado ou rejeitado decididam ente fo r­ perguntando ao ouvinte se está de acor­
m a o dom ínio da possibilidade, incluin­ do com ela.
do o da p ro b a b ilid a d e *. E porque o exa­ B. Proposição que não é evidente por
me de que se tra ta pode ser válido para si pró pria, m as que se é levado a aceitar
qualquer espírito, a noção de possibilida­ porque não se vê outro princípio* ao qual
de circunscreve um duplo dom ínio, sub­ se possa ligar quer um a verdade que se
jetivo e objetivo. não poderia pôr em dúvida, quer um a
operação ou um ato cuja legitimidade não
R ad. in t.\ Posibl.
é contestada. P o stu la r diz-se por vezes,
P O S T -H O C , E R G O P R O P T E R neste caso, m as quase sempre num senti­
H O C Sofisma que consiste em concluir do um pouco vago, daquilo cuja certeza
que existe um laço de causalidade entre ou legitimidade chama ou reclam a a p ro­
dois acontecimentos, pelo simples fato de posição postulada.
se terem produzido na sequência um do
NOTA
ou tro.
N o sentido A , assim com o no senti­
PO ST U L A D O G. Α ί τ η μ α (petição); do B, p o stu la d o é um term o que diz res­
L. P ostulatum (id .); D. P ostu lai; E. P o s­ peito à lógica do assentim ento, à teoria
túlate; F. P o stu la i; I. P o stu la to . d a certeza, e não à d a im plicação. D o
A. Prim itivam ente, proposição que poo n to de vista form al, um a definição,
geóm etra pede ao seu ouvinte que conce­ um a hipótese, um postulado desempe­
da, ainda que ela não seja dem onstrada nham o m esm o papel e são, a igual títu ­
nem evidente. P o r conseqüência, na lin­ lo, princípios do raciocínio. Eles diferem
guagem m oderna, chama-se p o stu la d o a unicam ente no que concerne à sua verda­
to do prin cip io de um sistem a dedutivo de “ m aterial” ou “ intrín seca” , quer di­
que não é nem um a definição*, nem um a zer, à natureza e ao grau de crédito que
se lhes dá ou que se requer para eles.
assunção provisória, nem um a proposi­
ção suficientemente evidente para que se­ Postulado de Euclides D esta form a se
ja impossível colocá-la em dúvida {axio­ designa a proposição, suscetível de dife­
ma, no sentido A). Ela apresenta, portan- ,I rentes form as, cujo enunciado mais usual

Sobre P ostu lado — Dentre as proposições que se tom am por princípios sem de­
m onstração, A ristóteles distingue o al'rr)¡j.a d a vródtais, em que o prim eiro não é
conform e à opinião do aluno, que a este repugna aceitar, e do ctÇíuna, no qual este
não se im põe, com o este últim o, ao espírito, mas é dem onstrável (ainda que nos dis­
pensemos de o dem onstrar), ou teria necessidade de um a dem onstração {Anal. p o s t.,
I, 10, 76, 23-24). {L. R obin )
A palavra opõe-se ainda a axiom a*, um a vez que p o stu la d o se diz de preferência
de um a proposição n ão dem onstrada concernente a um ponto de fa to , e, especial­
m ente em m atem áticas, a existência ou a unicidade daquilo que é definido. Ver M« Â Â,
L ógica, livro II, cap. V III, § 5. “ (O postulado) é u m princípio, se quiserm os; mas
em todo caso n ão se tra ta de um princípio com um , à m aneira dos axio m as... É um
princípio no sentido em que o teo rem a dem onstrado se to rn a o princípio dos teore­
mas a d em o n strar.” L « τ 2 á , L o g iq u e, livro II, cap. II, p . 7 6 .
833 POSTULADO

é este: “ P o r um pon to , pode-se traç ar P ostu lados de existência Aqueles que


um a e um a só paralela a u m a re ta .” Ele põem a existência* lógica ou m atem ática
é enunciado nos E lem entos de EZ TÂ « áE è , de um term o correspondente a um a defi­
da seguinte form a: “ Ή τ ή σ θ ω ... èàv eis nição d ad a ou que satisfaz certas condi­
δ ύ ο e vO tiai ί ΰ θ ΐ ΐ α ί μ π ί π τ ο ν σ α rà s ív t ò s ções. Ver E xistência, D , e o apêndice so­
x a i èirl τ α α υ τ ά μ έ ρ η γ ω ν ί α ς δ ύ ο ο ρ θ ώ ν bre “ Definições de palavras” e “ D efini­
ί Κ ά σ σ ο ν as π ο ι ή ί χ β ά Κ Κ ο μ έ ν α s rà s δ ύ ο ções d e c o is a s ” .
evd tía s tV’ α τ α ρ ο ν σ υ μ π ί π τ α ν , ί φ ' α “ Postu lados do pensam ento em píri­
μ έ ρ η eíalv a l τ ω ν δ ύ ο ο ρ θ ώ ν tk á a a o ves.” c o ” D. “ P o stú la te d es em pirischen D en ­
Este enunciado fo rm a ο postulado V kens ü berh au pt” .
na edição de P E à 2 τ 2 á (1814) segundo o Kτ ÇI d e s ig n a assim as trê s p r o p o s i­
ms. do V aticano, e na edição H E « ζ E 2 ; çõ e s a p rio ri q u e p e rte n c e m à c a te g o ria
(Teubner, 1883). N as edições mais anti­ d a m o ra lid a d e .
gas dos E lem en to s , inclusive a tradução “ 1. W as m it den form alen Bedingun­
publicada pelo próprio P eyrard em 1809, gen der E rfahrung (der A nschauung und
esta proposição é, em geral, colocada den Begriffen nach) übereinkom m t, ist
m ais adiante, com o axiom a XI ou X II; m öglich.
e, de acordo com a opin ião de Proclus, “ 2. W as m it den m aterialen Bedin­
apenas se adm item aí os três primeiros gungen der E rfah ru ng (der Em pfindung)
postulados, a saber: “ A firm am os poder zusam m enhängt, ist wirklich.
traçar-se um a reta de qualquer p onto até “ 3. Dessen Zusam m enhang m it dem
qualquer p o n to ; poder pro longar qual­ W irklichen nach allgemeinen Bedingun­
quer reta finita n a sua direção de um a m a­ gen der E rfahrung bestim m t ist, ist (exis-
neira contínua; poder, tendo qualquer tirt) nothw endig .” 1K rit. der reinen Ver­
ponto como centro, e com qualquer raio, nunft, A 218; B 265.1
traç ar um a circunferência.” Ver a rela­
ção de DE Â τ Oζ 2 E e P 2 ÃÇà no início da 1. “ 1. A q u ilo q ue está d e a c o rd o com as c o n d i­
edição P ey rard , p. XX X VI. ções form ais d a ex periência (n o que diz respeito à in ­
R a d . i n t . : P ostu lat. tu iç ã o e ao s conceitos) é possível. 2. A q u ilo que está

A expressão o em prego d a régua e d o com passo não seria o resum o dos três p ri­
m eiros “ postulados” de Euclides? Não se tra ta de afirm ações teóricas mais ou m e­
nos próxim as da evidência: Euclides não pede que lhe concedam os a verdade de um a
proposição qualquer, mas que lhe perm itam os executar certas operações de que terá
necessidade p a ra dem onstrar os seus teorem as. As ou tras proposições que encontra­
mos em Euclides sob o nom e de “ postulados” não apresentam as mesmas caracte­
rísticas. (J. Lachelief)
Wallis (crendo dem onstrar o quinto postu lado), e depois C arnot e Laplace, de­
m onstro u que se podia colocar o postu lado sob a fo rm a de um a exigência análoga:
“ P oder construir em qualquer escala d ad a um a figura sem elhante a um a figura d a ­
d a .” (A . L .)
Dá-se tam bém o nom e de p o stu la d o a um a verdade a d o tad a de im ediato pelo
simples fato de ser pensada, e sem dem onstração, porq ue ela parece evidente por
si própria à razão. Assim se diz: “ É um postulado necessário do conhecim ento disto
ou d aq u ilo . . . ” N ão é tam bém este o sentido que resulta da teoria das N atu rezas sim ­
p le s e da In tuição racional nas R egulae de D escartes? O postulado, neste sentido,
é co rroborado por qualquer dem onstração subsequente e esta seria, inversamente,
impossível sem ele. (G. D w elshauvers )
P O T Ê N C IA 834

“ P o stu la d o s da ra z ã o p rá tic a ” P O T ÊN C IA G . A vva/u s, em todos os


D. “ P o stu la te d er pra k tisch en Ver­ sentidos; D. A. Vermögen, F ähigkeit (no
n u n ft” . sentido D, Macht)·, E. P ow er, F. Puissan­
Kτ Ç Idesigna deste m odo, por um ce-, I. P o ten za .
lado, a liberdade, por o u tro , a im ortali­ Cf. P o d er. A s duas palavras são to ­
dade d a alm a e a existência de D eus, de­ m adas indistintam ente p ara trad u zir p o -
pendendo estas duas últim as da crença no wer nas discussões relativas ao cap. de
Soberano Bem. P o r p o stu la d o , diz ele, Locke sobre a P otência e a Liberdade
entendo aqui “ einen theoretischen, als (P o w er a n d L ib erty), E ssay, III, 21.
solchen ab er nicht erweislichen Satz, so­ A . F ato de poder, em todos os senti­
fern er einem a p rio r i unbedingt gelten­ dos desta palavra; característica daquilo
den praktischen Gesetze unzertrennlich que pode tal ou tal coisa. “ A potência de
an h ä n g t” 1. Krit. d er p ra k t. Vernunft-, bem julgar e distinguir o verdadeiro do
D ialektik, cap. IV. Cf. K rit. d er U rteils­ fa lso ... é naturalm ente igual em todos os
k ra ft, 2? parte; e a discussão sobre a li­ h om ens.” D è T τ 2 è , m é to d o , I, 1.
E I E

berdade, no Bulletin da Soc. Fr. de Fil., E specialm ente:


janeiro de 1905. B. O posto de A to * . V irtualidade; ca­
racterística daquilo que pode produzir-se
ou ser produzido, mas que não está atual­
ligado às co ndições m ateriais d a experiência (q u er d i­ m ente realizado. “ A alm a razoável não
zer, d a sensaçã o) é real. 3. A q u ilo c u ja lig ação co m pode de m odo algum ser tirada d a potên­
o real é d e te rm in a d a pelas condições g erais d a ex pe­ cia da m atéria .” D è T τ 2 è , D isc. d o
E I E

riên cia é necessário (existe n e c essa riam en te).”


m éto d o , 5? parte, a d fin . (Toda a fórmula
1. “ U m a p ro p o siç ã o te ó ric a , m as in d em o n strá-
vel e n q u a n to tal, n a m ed id a em q u e e s tá in se p a ra ­ é nitidam ente escolástica. C f. G « Â è Ã Ç ,
velm en te lig ad a a u m a lei p rá tic a in c o n d ic io n a lm e n ­ ín d ice escolástico-cartesiano, sub V o.)
te v álid a a p rio r i." Este sentido é sobretu do usual na ex-

Sobre P otência — N ão se tra ta aqui de analisar o conceito de ô óvapis na filosofia


de A ristóteles. É preciso n o tar, contudo, que ele engloba os sentidos B e C da pala­
vra potência. A potência é, com efeito, por um lado, am biguidade e indeterm inação
(M eta f., IX , 1050b8 ss.: Π ά σ α δ ύ ν α μ ή ά μ α τ η i ά ν τ ι φ ά σ ε ώ ς è a n v · ... τ ο α υ τ ό
δ υ ν α τ ό ν κ α ί e iv a i κ α ί μ ή d v a i . Cf. X II, 6, 1071b19; D e A n ., III, 2, 427a6; D e Coe-
lo, I, 12, 238b4 ss; M e ta f., IV, 4, 1007b28: TÒ y à ç δ υ ν ά μ ε ι ο ν κ α ι μ η Ι ν τ ι Κ ε χ ε ί α τ ο
α ό ρ ι σ τ ό ν ε σ τ ι ). P o r o u tro lado, enquanto justam en te não é um não-ser absoluto,
tal como a privação*, m as um não-ser relativo, um a possibilidade am bígua de con­
trários, eia tende para o ser e o deseja: é o que A ristóteles diz da m atéria, da qual
a potência é um a das características principais; ela aspira à form a, quer dizer, à re a­
lização, ao passo que a form a é aquilo que é bom , divino e desejável (Fís., I, 9, 192a,
16-22). D everá ainda, creio eu, distinguir-se esta simples tendência e um a causalida­
de eficaz, a qual, na expressão de A ristóteles, seria a causa m o to ra, quer dizer, um a
potência já atualizada, ou um sujeito concreto que pro duz um certo efeito. Enfim ,
no sentido C, a potência considerada com o tendência opõe-se ao a to , com o no senti­
do B . Cf. H A M E L iN , Essai: ” ... é um a pro fu n d a análise a que na alteração lhe fez
descobrir [a A ristóteles] entre a privação e a fo rm a, e não dizemos sob, mas entre
elas, não um a natureza determ inada ou um a substância indeterm inad a que se con­
servaria, m as qualquer coisa que não é ainda a qualidade fu tu ra e que não é pura
e sim plesmente a que é. Tal descoberta é um a derrota infligida a esse espírito de ab­
solutism o e de isolam ento que tudo quer separar com o que a m achado. Sabe-
835 P O T Ê N C IA

pressão em p o tên cia (G. A w á /ie i; L. es- de com andar. “A potência devia portan to
col. In p o te n tia , poten tialiter): “ N a Di­ alargar-se a o m aior núm ero possível e a
vindade... n a d a se encontra apenas em aristocracia transform ar-se pouco a p ou­
potência, m as tu d o nela está atualm ente co num estado popular!’ MÃÇI E è I Z « E Z ,
e de fa to .” DE è Tτ 2 I E è , 3 ? M editação, Grandeza edecad. d o s rom anos, cap. VIII.
19. “ A potência em geral é a possibilida­
C R ÍT IC A
de d a m u d an ça .” LE « ζ Ç« U , N o v o s en­
saios, II, cap. X XI, § 2. Diz-se muitas ve­ N a linguagem m oderna, este term o
zes neste sentido: p o tên cia passiva. contém cada vez mais um a idéia de ativi­
C. Força ativa, fonte original da ação, dade, de eficácia. RE /á (E ssays on A c ti­
causalidade eficaz (cf. Causa, C). “ A po­ ve P o w er, I, cap. III) criticava já viva­
tência ativa é to m ad a por vezes num sen­ mente a expressão p a ssive p o w er, utiliza­
tido m ais perfeito quan do, além da sim ­ da por LÃT3 E e que L E « ζ Ç« U traduzira
ples facu ld ad e, tem a tendência; e é as­ por p o tên cia p a ssiva (cham ando, aliás, a
sim que a encaro nas m inhas considera­ atenção p ara o sentido aristotélico que a
ções din âm icas.” LE « ζ Ç« U , ibid. “ E ntre palavra recebia nesta expressão). E ssay e
o m ais pro fundo d a natureza e o m ais al­ N o v o s ensaios, II, cap. X X I, § 2. M as é
to ponto da liberdade reflexiva, existe preciso n o tar que Locke em pregara esta
u m a infinidade de graus que m edem os expressão apenas para ch am ar a atenção
desenvolvimentos de um a só e mesma po­ p a ra os sofism as aos quais ela se presta,
tên cia .” Rτ âτ « è è ÃÇ , D e Vhabitude, 47. em virtude do seu duplo sentido.
D. Característica daquilo que pode, e, A expressão “ em potência” é, com
quando a palavra é tom ada absolutam en­ efeito, m uito equívoca, porq ue designa,
te, daquilo que pode m uito. “ A potên­ por um lado, no sentido B, o que é ape­
cia do exemplo. A potência do in stin to.” nas possível, sem nenhum a tendência pa­
Em particular, autoridade social; direito ra a realização, tal com o a possibilidade

m os bem que a contradição está no fu ndo deste princípio de unidade, um a vez que
A ristóteles ainda é levado a realizar a m atéria. M as, por um lado, é ju sto lem brar
que ele quis resistir a isso: porq ue ele identificou a m atéria com a potência, decla­
rou-a impossível de ser apreendida em si m esm a, disse que ela era apenas o term o
de um a relação. P o r o u tro lado, fin alm en te..., se ele só resolveu im perfeitam ente
o problem a d a alteração, pelo menos colocou-o bem ” . P o r outras palavras, para
que a noção de potência obtenha a plenitude da sua significação, é preciso que os
contrários, de que ela representa a igual possibilidade, não se sucedam simplesmen­
te, é preciso que se im pliquem e mesmo que h aja progresso de um p ara outro. Foi
isto que A ristóteles entreviu quando disse d a m atéria, com o o observa H am elin, que
ela é um a relação, F ís., II, 2, 194b, 9: t w v t t q ó s n ij iJXij · a k \w y à g eíôei aXXr/
l/Xrj. Se a m atéria e a fo rm a são correlativos, é porq ue a potência é um a tendência
p a ra o ser e m esm o para um certo ser. (L . Robirí)
N o texto seguinte, Descartes parece ligar o sentido B e o sentido C e m arcar essa
transição. A visão, diz ele, representa-nos apenas pinturas, o ouvido apenas sons;
além disso, tu do o que nós concebem os com o as coisas significadas p o r essas p intu­
ras ou por esses sons nos é representado “ per ideas non aliunde advenientes quam
a n o stra cogitandi facultate, ac proinde cum illa nobis innatas h. e. potentia semper
existentes. Esse enim in aliqua facultate non est esse actu, sed potentia duntaxat, quia
ipsum nom en facultatis nihil aliud quam potentia designat” . N o ta e in pro g ra m m e
qu oddam (resposta ao opúsculo de Regius), ad. art. XIV, ed. G arnier, IV, 61, 88. (Id.)
P O T E N C IA L 836

de um bloco de m árm ore se to rn ar mesa “ P R A G M Á T IC A ” Term o proposto


ou estátua; e, por outro , em virtude dos por M aurice B Â Ã Çá Â p ara designar a
E

sentidos C e D, evoca quase inevitavel­ Ciência da ação enquanto esta constitui


m ente (exceto no espirito dos filósofos um a ordem de realidade sui generis. Ver
m uito versados na história das doutrinas as observações sobre P ragm atism o e, no
antigas) a idéia de um a “ potên cia” , de S uplem en to, a sua carta de 1902 sobre o
um poder ativo que tende p a ra o ato, artigo A çã o .
mesmo até p ara uma tendência “ poten ­ Sobre um sentido propriam ente lógi­
te” , para um certo efeito a produzir. Um co, ver tam bém no suplem ento, V o S e­
equívoco an álogo, m as talvez menos m ântico.
acen tu ad o, encontra-se em virtual*.
R a d . in t.: P ragm at.
R ad. int.: A . Pov; B . Potenc; C. Fa-
kultat; D . Potentes. P R A G M A T IC IS M O V er P r a g ­
P O T E N C IA L D . P oten zial; E . P o- m atism o.
tential-, F. P o ten tiel; I. P otenziale.
Ver Virtual. PRA G M A TIC O G . •KQarpuxTixós (de
XQÕiynct, ação e sobretu do coisa, em to ­
A . Que existe em potên cia* e não em
ato. dos os sentidos desta palavra): que diz res­
B . N a m ecânica racional chama-se peito aos negócios, quer políticos, quer
energia p o te n c ia l àquela que é função da judiciários; falando dos hom ens: ativo,
posição dos corpos e das forças que exer­ hábil; por vezes, intrigante; falando das
cem uns sobre os outro s (por oposição à coisas: útil, eficaz, sólido; L. P ragm ati-
energia cinética, quer dizer, à energia de cus (C0TE 2 Ã , QZ « ÇI « Â « τ ÇÃ ), hom em de
m ovimento ou fo rça viva, que é função negócios, jurisconsulto; D . Pragmatisch·,
da m assa e da velocidade). E. Pragmatic', pragm atical·, F. P ragm a­
C. (Subst.) N a física, um a das duas tique·, I. P ram m atico.
grandezas que definem quantitativamente A. Que diz respeito à ação, ao suces­
um a energia: chama-se-lhe tam bém por so, à vida, quer por oposição ao conhe­
vezes intensidade. Opõe-se à capacidade. cimento teórico e especulativo, quer por
P . ex., o potencial elétrico. oposição à obrigação m oral. “ P ragm a­
R ad. int.: A . Potential. tisch is eine Geschichte abgefasst, wenn
P p , abreviação por P ro posição Esta sie klug m acht, d. i. die W elt belehrt, wie
no tação é preferível a P sozinho, por ve­ sie ihren Vortheil besser, oder wenigstens
zes usado para este fim , mas que já há eben so gut als die Vorwelt besorgen kön­
m uito tempo se emprega para p redicado, n e .” 1K τ Ç , G rundlegung zu r M et. der
I

po r exemplo, nas fórm ulas SaP, SeP, S itten, 2er Absch. “ A história pragm áti­
etc.; e mais recentem ente para pacien te ca” (quer dizer, aquela que se propõe
(o sujeito de um a experiência). Ver P.
Usou-se p or vezes tam bém para P ro ­
1. “ U m a h istó ria é c o m p o s ta p rag m aticam en te
p o s iç ã o p r im e ir a (n o s e n tid o de
q u a n d o to rn a p ru d e n te , q u er d izer, q u a n d o m o stra
Princípio*, de A x io m a * , B); m as, pela ao m u n d o de hoje co m o pode cu id ar m elhor dos seus
m esm a razão, é preferível em pregar nes­ in teresses, o u pelo m en os tã o b em q u a n to o m u n d o
te caso P pr. de o u tr o r a .”

Encontram os em M τ Â ζ 2 τ ÇT
E 7 E Ã sentido C sob a sua form a mais enérgica: “ Eu

não posso falar-vos senão devido à eficácia da sua potência (a potência de D eus)...
Infelizes daqueles que a põem a serviço de paixões crim inosas! N ada é mais sagrado
que a potência, nada é mais divino. É um a espécie de sacrilégio dela fazer usos p ro ­
fa n o s.” C on versas so b re a m etafísica, V II, XIV. (C. Serrus)
837 P R A G M A T IS M O

esclarecer o fu tu ro através do conheci­ terial, são as ciências físicas; para o m un­


m ento do passado) “ não poderá jam ais do in telectual..., é a filologia.” RE Çτ Ç ,
tornar-se um a ciência.” CÃZ 2 ÇÃI , E n ­ L ’avenir d e la science, p. 146. Cf. Prag­
saio sobre os fu n dam en tos do s nossos co ­ m atism o.
nhecim entos, § 318.
PRA G M A TISM O D. Pragmatismus;
Kτ ÇI classifica com o fé ou crença
E. Pragm atism ; F . Pragm atism e; I. Prag­
pragm ática (pragm atischer G laube ) a
m atism o.
adoção firm e, ain d a que aleatória, de Sobre os sentidos mais antigos desta pa­
um a proposição, em virtude da necessi­ lavra, ver as observações; sobre o uso que
dade de agir: por exem plo, o diagnóstico dela foi feito outrora por Maurice Blondel
que um m édico é obrigado a fazer sobre e as razões que teve p ara a ela renunciar,
um a doença, sem o qual ele não poderia ver a nota no final do presente artigo.
tratá-la (K ritik d er reinen Vernunft, A. D outrina de Charles S. P E « 2 TE ,
Transe. M ethodenlehre, cap. I, seção III). exposta em H o w to M a k e our Ideas Clear
N a G rundlegung zu r M etaph. d er S it­ (Como torn ar as nossas idéias claras, P o ­
ien, 2? seção, distingue os im perativos p u la r Science M on th ly, janeiro de 1878;
p ra g m á tico s (conselhos de prudência re­ traduzido n a R evu e philosophique, janei­
lativos ao bem -estar), p o r um lado, dos ro de 1879). A palavra p ra g m a tism o não
im p erativos técnicos ou regras d a habili­ se en contra nesse artigo; parece ter sido
dade, por o u tro , dos im p era tivo s p r á ti­ im pressa pela prim eira vez por W . J τ
co s ou m andam entos m orais. OE è , ao expor essa d o u trin a n a P h iloso­
B. P o r consequência, no sentido lau­ph ica l Conceptions and Practical Results,
dativo (já freqüente no grego): real, efi­ 1898 (reim pressa no Journal o f P h ilo ­
caz, suscetível de aplicações úteis, por so p h y, dezem bro de 1904, sob o títu lo
oposição àquilo que é inútil ou mesmo The P ragm atic M eth o d ). O próprio P eir­
puram ente verbal: “ Duas vias, que são ce só a im prim iu em 1902, no artigo com
um a só, levam ao conhecim ento direto e esse nom e no D ictio n a ry o f P h ilo so p h y
pragmático das coisas: para o m undo m a­ an d P sych o lo g y de J. M . Bτ Â áç « Ç , e a

Sobre Pragm ático e Pragm atism o.


1?: S obre a origem e a historia destas pala vra s, ver o Suplem en to no fim da pre­
sente obra.
2?: S obre o s sen tid o s atuais. A definição de p ra g m a tism o , no sentido B, foi com ­
pletada segundo um a observação de E m m anu el L erou x. Ele acrescenta a seguinte
nota: “ Nem W . Jam es, nem Schiller, nem Dewey aceitariam situar-se num dos ‘limi­
tes’ entre os quais vós encerrais o pragm atism o, um pouco com o en tre os dois te r­
mos de um dilema. Existirá vantagem em caracterizar u m a doutrina pela relação com
dois limites dos quais pelo m enos um nunca é p o r ela ocupado? P o rq u e eu não p o ­
deria levar a sério as teses extrem as form uladas por alguns dos pragm atistas ita­
lian o s.”
N ão considero a existência destes dois limites como um a objeção à doutrina prag­
m atista. As questões filosóficas nunca são questões de tu d o ou nada, m as questões
de m edida e de grau. Sendo d ad a a variedade de sentidos d a palavra pra g m a tism o ,
parecia útil indicar os limites extrem os que circunscrevem o seu cam po. Com efeito,
talvez não seja necessário to m ar à letra os parad oxos aos quais faz alusão Leroux;
m as em certas form as de apologética, a dissolução da idéia de verdade em proveito
da idéia de interesse foi levada quase tão longe quanto ali. Ver por exemplo DE è -
è ÃZ Â τ â à , “ O pragm atism o” , R evu e de ph ilo so p h ie, ju lh o de 1905. (A . L .)
P R A G M A T IS M O 838

p artir do pedido que este lhe fizera. M as cia de um a experiência possível que será
ele já a em pregava na conversação havia ou não conform e à antecipação do espí­
m uito tem po e assim ela tin h a se divul­ rito . Podem os co n fro n tar esta tese com
gado de um a fo rm a anônim a (C. S. a passagem em que Descartes declara que
P « 2 T , “ W hat P ragm atism Is” , M o -
E E espera “ encontrar m uito m ais verdade
nist, abril de 1905). A sua tese fundam en­ nos raciocínios que cada um faz relativa­
tal é assim form ulada: “ Consider what m ente aos assuntos que lhe interessam , e
effects th at m ight conceivably have prac­ cuja ocorrência o deverá punir em segui­
tical bearings we conceive the object of da se julgou m al, do que naqueles que faz
our conception to have. Then, our con­ um hom em de letras no seu gabinete re­
ception o f these effects is the whole o f our lativam ente a especulações que não p ro ­
conception o f the o b ject .” 1 duzem nenhum e fe ito ...” M é t., I, 7.
Esta regra, na intenção de C. S. P « 2 ­ E Esta form a de pragm atism o está tam ­
T E , não tinha o u tra finalidade senão de­ bém representada por V τ « Â τ « e por M A ­
I

sem baraçar a filosofia do psitacismo e da RIO C τ Â á 2 Ã Ç « , que a opõe expressa­


E

logom aquia, distinguindo com um crité­ m ente à de W . Jam es. (Ver as observa­
rio preciso as fórmulas vazias e as fórm u­ ções.) Tendo constatado, mais tarde, que
las verdadeiram ente significativas. Os sob este nom e de p ra g m a tism o se in tro ­
efeitos práticos a que visa são a existên­ duziram tendências novas que lhe pare­
ciam contrárias ao espírito da ciência,
Peirce declarou renunciar, para a sua
1. E sta fó rm u la é difícil de tra d u z ir litera lm e n ­ d outrina, ao nom e de p ra g m a tism o , e
te. P o d em o s fazê-lo livrem ente assim : “ C o n sid ere­ ad otar o de pragm aticism o (“ W hat Prag-
m o s o o b je to de u m a d a s nossas idéias, e rep re sen te­ m atism Is” , M o n ist, 1905, 167).
m o -n o s to d o s os efeitos im agináveis, que po ssam ter
um q u a lq u e r interesse p rático que a trib u ía m o s a es­
B. D outrina segundo a qual a verda­
te o b jeto : digo q u e a n o ss a id éia d o o b je to é ap e n a s de é um a relação inteiram ente im anente
a so m a d as id éias d e to d o s estes e f e ito s ." à experiência hum an a; o conhecim ento é

N o artigo acim a o parág rafo concernente à d o u trin a de M aurice B Â Ã Çá Â foi E

colocado sob a form a de n o ta, porq ue o p ró p rio au to r declara expressam ente re nun­
ciar a esta palavra, para evitar qualquer confusão, e, com efeito, a sua d o u trin a é
totalm ente estranha àquilo a que se cham a hoje correntem ente com esta palavra. “ Eu
pro testo energicam ente” , escreve-nos Blondel, “ co n tra o pragm atism o dos anglo-
saxões, de quem não adm ito de m odo algum o antiintelectualism o e o em pirism o
im anentista; q u ando em preguei este term o era num sentido com pletam ente diferen­
te. Q uer se considerem as condições corporais que supõem ou que engendram a es­
peculação m ais ideal; quer se encare, no seio do agente psicológico e m oral, a opera­
ção p ro d u to ra de um a intenção ou de um a obra; quer se exam inem as repercussões
d o meio que vêm instruir e com o que rem odelar o pró prio agente, nele se incorpo­
ra n d o parcialm ente, d urante to d o o seu curso, a ação traduz-se constantem ente p or
um conjunto de relações su i generis, form alm ente distintas dos outro s fatos, que não
são consideradas com o atos: estas relações com portam , p o rtan to , o serem m etodica­
m ente estudadas com o o objeto específico de um a disciplina científica. E assim co­
m o existe um a Física p a ra enc arar do seu p o n to de vista os fenôm enos da natureza,
tam bém po de e deve haver um a P ragm ática para estudar o determ inism o to tal das
ações, os seus processos originais, a solidariedade dos ingredientes que as constituem ,
a lógica que governa a sua história, a lei do seu crescim ento, da sua repro dução e
do seu acabam ento.
839 P R A G M A T IS M O

um instrum ento a serviço d a atividade, o espíritos sobre aquilo que verificam os fa­
pensamento tem um caráter essencialmen­ tos objetivos, constatados em com um ,
te teleológico. A verdade de um a p ro p o ­ traz-se o pragm atism o para um a atitude
sição consiste, p o rtan to , no fato de “ ser singularm ente vizinha d a do racionalis­
útil” , de “ ser bem-sucedida” , de “ dar sa­ m o. E ntre estes dois limites escalonam-
tisfação” . W . J τ OE è , The W illto B e lie - se todos os m atizes interm ediários. W.
ve (1897); H um anism an d Truth, M in d, J τ OE è , depois de se te r inclinado p ara o
1904; Pragmaíism (1907), etc. Ver H um a­ primeiro sentido, aproximou-se do segun­
n ism o. Estas fórm ulas são suscetíveis de do nas suas últim as obras.
um a série contínua de sentidos que se es­ Para um a análise mais com pleta des­
tas diversas form as do pragmatism o, ver
tendem largam ente. Se entenderm os este
A. L τ Â τ Çá E , “P ragm atism o e pragm ati-
êxito no sentido de um proveito ou de
cism o”, R evue ph ilosoph iqu e, fevereiro de
um a ap rovação qualquer, obtida por
1906; “ Pragmatismo, hum anism o e verda­
aquele que adere a um a pro posição, te­
de”, ibid., janeiro de 1908; “A idéia de ver­
mos o pragm atism o mais céptico, no qual dade segundo W. Jam es”, ibid., janeiro de
a noção de verdade é inteiram ente absor­ 1911. R. BE 2 I 7 E Â ÃI , Un rom an tism e u ti­
vida pela de interesse individual: um a litaire, étu d e su r le m o u vem en t pra g m a ­
m entira útil é u m a verdade; o que é erro tiste, introdução, not. § 1: Sobre o sen ti­
p ara um é, com o m esm o fu ndam ento, d o d a pa la vra pragm atism o. D. P τ 2 Ãá « ,
verdade p ara o u tro . E sta fo rm a extrem a “A significação do pragm atism o”, Bulle­
da tese foi particularm en te defendida na tin d a Soc. de Fil„ julho de 1908.
Itá lia (revista L e o n a rd o , F lo ren ça ,
C R ÍT IC A
1903-1907). Se, pelo contrário, entender­
mos por êxito o acord o espontâneo dos T am bém se cham ou pragm atism o à

“ E sta ciência perm ite precisar e alargar o m étodo que a filosofia em prega, em
proveito da teoria do conhecim ento do qual ‘desloca o centro de gravidade, para
o tran sp o rtar da concepção ou da intenção ideal para a operação to ta l’ (L ’a ctio n ,
p. 151); e tal com o eu notava em dezem bro de 1901 num a carta dirigida à R evu e
du C lergé fra n ça is e publicada no núm ero de 15 de fevereiro de 1902 (pp. 652 ss.),
‘talvez o nom e de P ragm atism o, que há mais de doze anos tinha pro posto a mim
p ró p rio , seja conveniente p a ra designar o que se cham ou a filosofia da ação: porque
é ao estudar a ação que se é levado não som ente a considerar na sua solidariedade,
vida e consciência, sentim entos e idéias, volições e operações que são em nós os ele­
m entos integrantes do agir, mas é-se tam bém conduzido ainda a d a r conta, na ação
de qualquer agente, dos cooperadores que precedem, m odificam , ultrapassam o sen­
tim ento ou o conhecim ento que dele pode te r’.
“ É , p o rtan to , num sentido etim ológico, literal e positivo (que distingue irQãygxn
de t t q &Zl s e que diferencia p ra g m a tism o de ‘p ra x io lo g ia ’ (L ’a ctio n , p. 206) ou de
tecnologia artificialista, term o proposto por Espinas (R evu ep h ilo so p h iq u e, 1890, II,
p. 114), que eu tin h a originalm ente utilizado este neologismo a fim de designar um a
doutrina desejosa de sintetizar m etodicam ente o que existe de eferente e de aferente
no nosso conhecim ento, um a doutrina que, reservando a lição original das ações efe­
tuadas, em que entra sempre um a cooperação instrutiva, coloca assim o problem a da
nossa integração pessoal n a ordem to tal, da nossa relação entre as fontes autônom as
e as origens heterônom as d a nossa ação, o p roblem a do nosso destino. M as, quando
um pouco m ais tard e prevaleceu o costum e de aplicar este term o novo a um conjun­
to de do utrinas de inspiração e teor diferentes, renunciei e requeri que se renunciasse
P R A G M A T IS M O 840

doutrin a exposta por M aurice B Â Ã Çá Â


E em si mais do que pode utilizar sozinho”
era. L ’action (1893). Esta consiste em m os­ (ib id . , 321); de m aneira que esta ação exi­
tra r na ação um a realidade que ultrapas­ ge necessariamente, através de um a ine­
sa o simples fenôm eno, um fato ao qual vitável transcendência, “ aquele que ne­
não nos podem os subtrair e cuja análise nhum raciocínio poderia inventar, porque
integral leva necessariamente a passar do nenhum a dedução iguala a plenitude da
problem a científico ao problem a m etafí­ vida ag ente... D eus” . (Ib id ., 350.)
sico e religioso. Seja o que for que nós A inda que a palavra pragm atism o não
pensemos, queiram os ou executemos, na figure em L ’action, M. B Â Ã Çá Â tinha-
E

atividade mais especulativa ou mais m a­ a adotado e dela se servia privatim no m o­


terial, existe sempre um fato su i generis, m ento em que com eçou a escrever esta
o ato, o T Q ãyn a, em que se unem a ini­ obra. “ A p artir de 1888” , diz ele, “ sem
ciativa do agente, as contribuições que re­ o ter encontrado em parte alguma servira-
cebe, as reações que sofre, de tal m anei­ me do term o p ra g m a tism o tendo a níti­
ra que o “ com posto h u m an o ” se encon­ da consciência de o fo rja r.” Bulletin da
tra “ organicam ente m odificado e com o Sociedade de Filosofia, sessão de 7 de
que m oldado pela sua própria ação, en­ m aio de 1908, p. 293. Ele a propôs ex­
qu an to ela é efetu ad a” . (L ’a ctio n , p. pressam ente num a carta escrita no final
206.) Esta realidade pode e deve, po rtan ­ de 1901 e publicada na R evu e du Clergé
to, ser objeto de um estudo especial, dis­ fra n ça is, 15 de fevereiro de 1902; depois
tinto d a praxiologia, quer dizer, da tecno­ de um a n o ta relativa ao artigo A çã o do
logia utilitária. (Ib id . , 206.) Daí resulta presente vocabulário (junho de 1902).
que, pela sua ação voluntária, o homem Mas depois, em presença da acepção to ­
ultrapassa os fenômenos; “ ele não pode talm ente diferente to m ad a por esta pala­
igualar as suas próprias exigências; ele tem vra no uso público, pensou que era pre-

a designar por esta palavra, a partir de en tão fixada, a epistem ología crítica e o dog­
m atism o m oral, m etafísico e religioso ao qual o P e. L aberthonnière e eu nos ligamos
(cf. BuUetin d a Sociedade F rancesa de F ilosofia, sessão de 7 de m aio de 1908; carta
a P arodi sobre ‘a significação de P ragm atism o’, pp. 293 ss.). Reporta-se igualm ente
a este Bulletin: núm ero de ju lh o de 1902, 190 e 191.” (M . Blondel)
“A palavra p ragm atism o”, escreve-nos por seu lado Ed. Le Roy, “ tem no uso que
dela fiz um sentido m uito diferente daquele que os anglo-am ericanos colocaram em
m oda. Para m im não se tra ta de m odo algum de reduzir ou de sacrificar a verdade
à utilidade, nem de fazer intervir na investigação das verdades particulares quaisquer
considerações estranhas à procura da verdade. Eu creio apenas que, na ordem científi­
ca assim com o na ordem m oral, um dos sinais da idéia verdadeira é a sua fecundidade,
a sua aptidão para ‘render’, para ‘trab alh ar’ eficazmente; que esta aptidão não se m a­
nifesta senão pela experiência, quer dizer, pela prova de concretização, da utilização
(um a experiência, bem entendido, cuja qualificação seja hom ogênea à d a idéia em cau­
sa); e que esta experiência não pode ser realm ente verificante senão na condição de
ser um a experiência realm ente efetuada, realm ente praticada. Eu creio, num a palavra,
que a verificação deve sersem pre um a obra e não som ente um discurso. Seguramente,
é sempre necessário que a razão crítica acabe por ser satisfeita e sempre ela a julgar
em últim a instância. M as esta razão soberana não está toda pro nta em nós antecipa­
dam ente; ela deverá form ar-se gradualm ente, e só se to rn a com petente decisiva­
m ente após ter-se transform ado, ou antes, in fo rm ado pelo próprio efeito da experiên­
cia que viveu. Dir-me-ão, talvez, que en tão o seu trabalho de form ação não com-
841 P R A T IC O

ferível a ela renunciar para a sua pró pria D. P o r c o n s e q iiê n c ia , c o s tu m e c o n s i­


filosofia do irçãyiioi. (Ver o Bulletin de d e ra d o n o s se us e fe ito s; a c a p a c id a d e q u e
1908, citado mais acim a, particularm en­ d a í re s u lta . “ T e r p r á tic a d e u m a lín g u a ,
te a p. 249, n o ta e as observações se­ d e u m p r o c e d im e n to d e c á lc u lo .”
guintes.)
R ad. int.: Pragm atism . C R IT IC A

P R Á T IC A (subst.) D. A . B. Praxis; L. L é âà -B 2 Z 7 Â a c re s c e n ta à d is tin ­


C . A u sübung; D . Ü bung ; E. P ractice ; F. ç ã o fe ita a c im a q u e , n a s u a o p in iã o , o
P ratique; I. Practica. s e n tid o A p o d e e d ev e e s te n d e r-s e a o s f a ­
A. Exercício de um a atividade volun­ to s m o ra is , d e m a n e ir a a c o n s titu ir u m a
tária que m odifica o que nos rodeia. “ A té c n ic a m o r a l, u m a a r te m o r a l r a c io n a l
prática opõe-se de um a maneira geral à teo­ f u n d a d a s o b re o c o n h e c im e n to d o s f a to s
ria. P or exemplo, a física pura é um a in­ q u e fo rn e c e m m e io s p a r a o s fin s q u e r e ­
vestigação teórica e a física aplicada rela­ so lv e rm o s re a liz a r (cf. ib id ., n o ta ).
ciona-se com a prática.” L 1âà -B2 Z 7 Â , La R ad. in t.\ P r a k tik .
morale et la Science des m o eu rs,p . 9. “ De­
vemos certamente ater-nos a algumas [ = PR Á T IC O ( a d j.) G . i r Q a x T i x ó s ; D.
a algumas opiniões], e depois considerá-las Praktisch; E. P ractical; F. P ra tiq u e ; I.
não como duvidosas, enquanto referentes P ratico.
à prática, m as como m uito verdadeiras e Sentido geral: que diz respeito à ação.
m uito certas, porque a razão que nos fez Opõe-se a teórico, desde a A ntigüidade
determiná-las é ta l.” DESCARTES, M ét., grega, e particularm ente em A RISTÓ TE­
III. LES (ver EUCKEN , G eistige Stròm m un-
B. “ Num [outro] sentido, a prática de­ gen, A , 2, “ T eoria e p rá tic a ” ). Opõe-se
signa as regras da conduta individual e co­ tam bém , em A 2 « è I ó I E Â E è , a p o é tic o ,
letiva, o sistema dos deveres e dos direitos, servindo estes três term os para m arcar as
num a palavra, as relações morais dos ho­ três grandes divisões do pensam ento ou
mens entre si.” L é â à -B 2 Z Â , ibid.
7 da ciência. T o p . , \ 1,6; 145a 15; M e t., V,
C. O exercício habitual de um a certa 1; 1025a25, etc.
atividade, o fato de se seguir tal ou tal re­ A. Mais comumente, em francês, num
gra de ação. “ A prática diária de um exer­ sentido nitidam ente utilitário , e m uitas
cício!’ “A prática (ou o pôr em prática) dos vezes m esm o com um m atiz pejorativo:
preceitos de moral geralmente admitidos!’ um interesse p rá tico é um interesse de di-

p o rta nenhum critério. A meu ver, existe aqui entre a experiência e a razão m u tu a­
m ente in fo rm ad oras um dos círculos contínuos com o os apresenta a vida em to d a
p arte que se tornam viciosos quando se procura um a solução estática do ponto de
vista da análise discursiva, mas que a ação sabe resolver porq ue o seu próprio m ovi­
m ento a salva a cada instante do perigo de contradição. N o fim das contas, é preciso
dizê-lo, mas num sentido m uito elevado, e, portanto, m uito diferente do sentido am e­
ricano que diz que o critério suprem o é o sucesso: o pensam ento fica satisfeito q u an ­
do sai da prova experim ental m ais forte, mais lum inoso e m ais rico. A verificação,
num a palav ra, é como que um a crise de crescim ento do pensam ento. É nesta m edida
que aceito e nesta m edida que recuso a denom inação de p ragm atism o.” Extraído
de um a carta de E d. L. R o y. Cf. as observações sobre P ositivism o .
O pragm atism o de Vailati, que é tam bém aquele que aceito, opõe-se ao de W.
Jam es enquanto este últim o é um psicologismo e aquele um a teoria m etodológica
do conhecim ento; o de Jam es um subjetivism o e um personalism o e o de Vailati um
objetivism o no sentido mais com pleto do term o. (M . Calderoni)
P R A X IS , P R A X IS M O 842

nheiro ou de carreira; um esp írito p rá ti­ que, por um a aplicação mais especial, es­
co é, neste sentido, um espírito desprovi­ te term o seja m uitas vezes utilizado como
do de ideal; “ caráter p rá tic o ” é m uitas sinônimo de m oral.
vezes um íitote p ara designar um caráter
C R ÍT IC A
egoísta que só pensa nas vantagens m a­
teriais, por vezes até pouco escrupuloso B τ Â á ç « Ç e S ÃZ
I I (B aldw in’s D ictio ­
qu an to aos meios. nary, sub V«) fazem n otar que, se se tom a
B. N um a acepção favorável, diz-se da­ prático no sentido de m oral ou de ética, nos
quilo que é engenhoso e simples, de um privam os de um a palavra que seria m uito
procedim ento, de um instrum ento côm o­ útil para designar in genere tudo o que per­
do e bem adaptado ao seu fim; falando dos tence à esfera dos valores ou dos ideais, no
hom ens, daqueles que sabem organizar a sentido mais am plo. É verdade, acrescen­
sua casa, os seus negócios ou os seus tra ­ tam eles, que parece desde logo difícil
balhos de m odo eficaz e econômico, ju l­ abranger com esta palavra o juízo estético
gar as coisas não por fórmulas abstratas e e o sentimento da beleza. Contudo, sendo
gerais, mas por um a visão direta d a situa­ dado o estreito e real parentesco da ética
ção. “ Ter senso prático, ter falta de senso e da estética enquanto ciências de valores,
prático” são m uito usuais nesta acepção. não lhes parece impossível fazer adotar este
C. Que determ ina a conduta, que pres­ uso. Mas um a dificuldade inultrapassável,
creve o que deve ser. “ Um dos primeiros no francês, adviria d a conotação pejorati­
e mais práticos (dentre os princípios da m o­ va do sentido A e mesmo do sentido B.
ral) é que é preciso procurar a alegria e evi­ Aliás, para o conceito em questão, norm a­
tar a tristeza.” L « ζ Ç« U , N o v o s ensaios, I,
E tivo convém perfeitamente.
2, § 1. “ Ein praktischer, d. i. zur Willens- Rad. int.\ Praktikal.
bestim mung hinreichender G ru n d ...” 1 P R A X IS , P R A X IS M O V er S u ­
Kτ ÇI , Krit. d erp ra k t. Vernunft, 1 , 1. Daí plem en to.
1. “ U m fu n d am en to p rático , quer dizer, suficien­ PR A ZE R D. Vergnügen; E. Pleasure;
te p a ra de term inar a v o n ta d e ...” F. Plaisir; I. Piacere.

Sobre P razer — H τ O Â « Ç , particularm ente, pensa que o prazer pode ser defini­
E

do: “ ... Os psicólogos que afirm am a im possibilidade de definir o p razer e se sentem


satisfeitos ao declarar que o prazer é o que cada um sabe desconhecem os limites
inerentes a qualquer definição e caem em seguida, sem a isso serem forçados, num
sensualismo dem asiado desesperante ou dem asiado côm odo. E impossível num a de­
finição que o atributo seja totalm ente ad equad o ao su jeito, porque o atributo de­
com põe o definido que apenas o sujeito exprim e sob a sua fo rm a sintética e com
a m arca da unidade. Com esta reserva, é possível, parece-m e, definir o prazer; e de
o u tro m odo, bem entendido, que não através de um a definição c a u sal... V erdadeira­
m ente ele já se define quando o apresentam os com o a apreciação pelo pró prio sujei­
to , e do seu p onto de vista de sujeito, do estado no qual colocou a satisfação de um a
tendência. E sta subjetividade do prazer, sobre a q u al, aliás, insistimos m uitas vezes
a propósito de outros assuntos, é que lhe d á o calor, o caráter afetiv o .” E nsaio (L .
R obín )
“ H τ O Â « Ç se engana quando pretende definir o prazer de outro m odo que não
E

através de um a definição causal. A sua definição é causal. Aliás, o valor desta é fun­
ção daquilo que ele entende p or tendência. Desse m odo ele não poderia designar um
começo de m ovim ento, porq ue, nesse caso, o que significaria satisfação? Dos dois
term os p ra zer e tendência, um é necessariam ente o prim eiro. E na ordem do conhe­
cer, na psicologia, é o prazer que deve ser retido com o indefinível.” (M . M arsal )
843 P R E C IS O

A . Um dos tipos fundam entais de eles estão sempre sujeitos a serem viola­
afecção*. Discute-se sobre a questão de dos, ignorados ou mesmo negados. “ O
saber se pode ser definido. Ver as obser­ valor é precário, pelo fato de apenas ter
vações. Não deve ser confundido com ale­ valor para um su jeito .” Esquisse d ’une
gria nem com felicid a d e. Ver estas pala­ Philosophie des valeurs, p. 91. Ver sobre
vras e cf. igualm ente D o r, onde indica­ a consistência e a precariedade, 1? parte,
mos as especificações de sentidos propos­ 3? seção, cap. I.
tos por J. M. Bτ Â á ç « Ç , M Z Çè I E 2 ζ E 2 ; , Esta expressão tornou-se bastante co­
F Â ÃZ 2 ÇÃà e V« Â Â τ . m um nos filósofos de língua francesa,
B. No sentido restrito (particularm en­ ainda que ela evoque antes um a idéia de
te em m oral): gozos sensuais, distrações; fragilidade.
divertim entos. “ U m hom em de p ra zer.”
“ Viver para os prazeres.” PRE C IS Ã O D. Präzision, B estim m t­
heit, Genauigkeit·, E. Precision·, F. P ré-
T2 í I « Tτ cision; I. P recizione.
Além da dualidade de sentidos indi­ Amigamente, ação de abstrair. N a lin­
cada acim a, que origina m uitos equívo­ guagem m oderna, característica daquilo
cos na questão da “ m oral do prazer” , de­ que é preciso.
verão assinalar-se os dois sofismas seguin­ P or vezes, no sentido concreto, deter­
tes, que se devem à dificuldade, senão à minação ou indicação precisa. (Cf. o sen­
im possibilidade, de definir o prazer: tido do verbo precisar.)
1?: Confunde-se a satisfação objeti­
PR EC IS O (adj.) D . Sem equivalente
va da tendência com a idéia e a previsão
exato; diz-se p o r vezes präzis·, aproxim a­
do estado afetivo que daí resulta; estado
tivamente bestim m t, genau·, E. Precise·, F.
afetivo que, aliás, é tam bém designado
Précis·, I. P reciso.
por “ satisfação” . Pelo fato de os homens
Propriam ente, cortado; daí, até ao sé-
agirem segundo as suas tendências,
culo X V III, abstrato·, separado de um to ­
conclui-se qu e pro cu ra m o seu “ prazer”
do dado n a intuição. “ A precisão é a ação
enquanto satisfação consciente e im agi­
que pratica o nosso espírito ao separar
n ad a antecipadam ente.
através do pensam ento coisas que são in­
2P: Confunde-se o “ p ra zer” , sensual
separáveis.” BÃè è Z E I , L ogiqu e, I, 22.
ou não, mas resultante das tendências na­
turais e espontâneas do ser, cujo exercí­ C f. P Ã2 I -R Ãà τ Â , I, 5: “ A bstração ou
cio n ão exige esforço, com a aprovação precisão.” P orém já aí o contexto pare­
que a consciência reflexiva dá a certa con­ ce assinalar que este sentido se tornou an­
d u ta que determ ina a vontade a agir nes­ tiquado.
se sentido, m esm o com grande esforço. Sentido atu al (pertencente já ao latim
Conclui-se então que o pró p rio hom em praecisé): que n ão deixa lugar a nenhu­
que se dom in a o faz porq ue, afinal de m a indecisão do pensam ento. U m term o
contas, sente mais “ pra zer” em agir as­ preciso é aquele cu ja extensão e com ­
sim do que d a m aneira oposta e, por is­ preensão são nitidam ente determ inadas.
so, o seu m ecanism o m ental é o mesmo U m a m edida precisa é aquela que está
do hom em que se deixa levar pelas suas com preendida den tro de estreitos limites
inclinações. de aproxim ação. O term o oposto é vago.
R ad. in t.: Plezur. C R ÍT IC A

P R E C A R IE D A D E Term o adotado P reciso distingue-se de exato em dois


por Eugène D Z ú 2 é Â p a ra designar esta
E sentidos diferentes:
característica dos valores segundo a qual, 1?: Etimológicamente, é exato aquilo
qualquer que seja a sua “ consistência” , que foi medido por um a realidade ou uma
PREÇO 844

regra e que dela não se afasta de m odo al­ P o r fim , um defeito bastante corren­
gum (q u o d a d norm am aliqu am exactum te do estilo filosófico, que basta assina­
est ) ou ainda aquilo que está de tal form a lar, consiste em reforçar certas expressões
acabado, term in ad o, que é rigorosam en­ ou em ressaltar certas palavras pela ad i­
te aquilo que deve ser; é preciso aquilo que ção deste adjetivo, enquanto que à noção
foi tirado de um a m assa m ais extensa, de de p recisã o , no sentido pró prio d a p ala­
fo rm a que o corte seja nítido e que aqui­ vra, nad a com pete na circunstância. P a ­
lo que se quis conservar se distinga clara­ rece m esm o, em certos casos, servir ape­
m ente daq uilo que se quis abandonar. nas p a ra equilibrar a frase.
N este sentido, exato diz-se daquilo que é O advérbio precisam ente (D. Eben; E.
norm al na ordem lógica, quer dizer, ver­ Just; F. Précisém en t ) está ainda mais en­
dadeiro; quer se trate de um a verdade de fraquecido pelo uso, e mais sujeito a este
fato: “ U m a narrativa exata” ; quer se trate abuso. A m aior p arte das vezes só serve
de um a verdade de im plicação: “ U m ra ­ para sublinhar um a coincidência ou um a
ciocínio exato.” U m a asserção precisa po­ concordância entre duas séries de fatos ou
de ser inexata (falsa) e um a asserção vaga de idéias distintas um a da outra. Especial­
po de ser exata (verdadeira). “ A precisão m ente, emprega-se para assinalar que
dos porm enores, que m uitas vezes ilude, um a réplica se extrai das p ró prias razões
pro va sim plesm ente a fo rça da im agina­ invocadas num a objeção: “ É precisamen­
ção do narrad o r; ela é apenas um a ap a­ te isso que constitui a fo rça desta teo ­
rência de ex atid ão .” S « ; ÇÃ ζ Ã è , L a mé-
E r ia ...” P o r conseguinte, serve por vezes
th o d e h isto riq u e ..., p. 66. p u ra e sim plesmente p a ra anunciar a ré­
2?: Q uando se trata de grandezas, exa­ plica e p ara fazê-la valer. Estas duas p a ­
to , com o, com razão, observa G oblot, lavras servem assim, em muitos casos, pa­
distingue-se ainda de p reciso , mas num ra d ar ao discurso filosófico um ap a ren ­
outro sentido. É exata a m edida que não te vigor lógico que é totalm ente verbal.
com porta nenhum a aproximação: a soma Rad. int.: Preciz (no sentido próprio).
dos três ângulos de um triângulo de 180°;
P R E Ç O (D. Preis, M arktpreis) é
seno de 30° = 0,5. É p recisa a m edida
oposto por Kτ ÇI a “ v alo r” (W ert) ou
aproxim ada que difere pouco da m edida
“ dignidade” (W ürde). F undam entação
exata, que é “ exata com um a aproxim a­
da metafísica do s costum es, II, § 103-104.
ção n " ;é assim que se fala em avaliar um
M as a palavra francesa foi tantas vezes
com prim ento com um a m aior ou m enor
usada por m etáfora n a ausência de um
precisão. É deste ponto de vista que se
com posto do gênero de M arktpreis, ex­
classificam as m atem áticas puras de ciên­
ceto quando se fazia uso de algum a ex­
cias exatas e que se cham a in stru m entos
pressão com o preço m aterial, preço de
d e p recisão àqueles de que se serve o físi­
venda, que dificilm ente se com preende­
co; m as, neste sentido, acontece todavia
ria nesta acepção. C. Bouglé empregou
p o r vezes que preciso se confunde com neste sentido as expressões “ valor eco­
exato. Assim, d ar a conhecer a d a ta “ pre­
nôm ico” e “ valor ideal” . L içõ es d e so ­
cisa” de um acontecim ento histórico é di­
ciologia so b re a evolu ção d o s valores,
zer “ exatamente” o ano (ou, em certos ca­
cap. VI.
sos, o dia) em que este acontecim ento te­
ve lugar; a posição precisa do sol no equi­ PRE D E ST IN A Ç Ã O D. P rädestin a­
nócio é um po nto “ exatam ente” determ i­ tion; E . P rédestination; F . P rédestina­
nado por considerações geom étricas, etc. tion; I. P redestinazion e.
Deveria evitar-se esta indeterm inação A. N o sentido teológico, que é o mais
substituindo preciso por rigoroso quan­ antigo, a doutrin a da predestinação é
do possam existir equívocos. aquela segundo a qual cada individuo está
845 P R E D IC A Ç Ã O

destinado, de modo infalível e eternamen­ sendo totalm ente determ inada por um a
te verdadeiro, a ser salvo ou condenado. razão suficiente interior ao agente? — ao
“ Pode-se distinguir entre destinação e do p redeterm in ism o — com o é que a de­
pred estin a çã o , porq ue a predestinação term inação de qualquer ato por razões
parece conter em si um a destinação a b ­ anteriores, por fatos passados que já não
soluta e anterior à consideração das boas estão em nosso poder, pode conciliar-se
e m ás ações daqueles que ela co nsid era.” com a liberdade, que exige que o ato , no
L « ζ Ç « U , Teodicéia, I, § 81.
E pró prio m om ento da ação, esteja no p o ­
M as mais acim a: “ O pró prio Calvi- der do sujeito ( in dem A u gen blicke des
no e alguns outro s dos m aiores defenso­ Geschehens in d er G ew alt d es S ubjects
res do decreto absoluto com razão decla­ sei)! R eligion innerhalb der Grenzen der
raram que Deus teve grandes e justas ra ­ blossen Vernunft, l es Stück; ed. Ro-
zões para a eleição e p ara a distribuição senkr., p. 57, nota.
das suas graças, em bora estas razões nos Este term o hoje está quase ab a n ­
sejam desconhecidas em porm enor; e é donad o.
preciso julgar caridosam ente que os mais
rígidos predestinadores têm demasiada ra ­ PR ED IC A Ç Ã O D. P ràdikation; E.
zão e dem asiada piedade para se afasta­ P rédication; F . P réd ica tio n ; I. P redi-
rem deste sentim ento.” Ib id ., 79. Cf. I, cazione.
80-84; II, 158-169; e III, 405-417. A ção de afirm ar ou de negar um pre­
B. Sinônimo de fa ta lism o , no senti­ dicado de um sujeito. M as designa-se
do A . “ Este príncipe não conservou dos mais especialmente ju ízo de predicação ou
seus prim eiros princípios senão o de um a ju íz o predicativo:
predestinação absoluta, dogm a... que jus­ A . (Em oposição quer às simples defi­
tificava as suas tem erid ades.” VÃÂ I τ « ­ nições ou denominações; quer aos juízos
2 E , H istoire de C harles X II, livro V III
indivisos ou impessoais, nos quais o pre­
(ed. D idot, 1817, p. 424). dicado não é distinguido do sujeito; quer
R ad. int.: Pre-destin. finalmente aos juízos de relação*, nos
quais a decomposição não se faz em dois
PR E D E T E R M IN A Ç Ã O D . Praede- term os, mas em três, não sendo o terceiro
termination; E. Predetermination·, F. Pre­ possível de afirm ar ou negar do primeiro.)
determ ination·, I. P redeterm in azion e.
Juízo elementar (não com posto de juízos)
D eterm inação de um fato ou de um e cuja cópula, se é expressa separadamen­
ato por causas ou razões anteriores ao te, pode ser representada por D , £ , ou =
próprio m om ento que precede m ais ime- (no sentido lógico). Ver Ser, B.
diatam ente este fato ou este ato. Cf. Pre- B. Mais especialmente: o juízo no qual
determ inism o.
o sujeito é considerado em extensão, quer
U tiliz a d o p o r BÃè è Z E I c o m o s in ó n i­
dizer, como um ser ou um conjunto de se­
m o de prem o çã o * .
res, e no qual o predicado é um a ação ou
R ad. int.: P re d e te rm in a d o , -eso).
um a característica que se afirm a ou se ne­
PRE D E TER M IN ISM O D. Pradeter- ga desses seres. P or exemplo, KE à ÇE è ,
minismus', E. P redeterm inism : F. Prédé- F orm al L ogic, pp. 179, 183. Chama-se
terminisme', I. P redeterm in ism o. também a estes ju ízo s de inerência (por
A . Sinônimo de determ inism o, no exemplo, L τ T7 E Â « E 2 , É tudes su r le syllo­
sentido C, mas sobretudo en quanto esta gism e, p. 44); ou ju ízo s atributivos.
necessidade eterna dos acontecim entos é Ver P redicado, Crítica.
considerada como resultante da prescien­
C R ÍT IC A
cia e da onipotência de Deus.
B. K τ ÇI o p õ e o p ro b le m a d o deter­ A m elhor terminologia seria adotar
m inism o — p o d e r á a v o n ta d e se r liv re, sempre o sentido A , quer dizer, aplicar
P R E D IC A D O 846

à fo rm a clássica do ju ízo o nom e de ju í ­ racteres] são [dependentes dos tem pera­


z o d e predicação. Os juízos de predica­ m entos]; de um ju ízo de relação se a de­
ção, assim definidos, podem entender-se com puserm os assim: [Os caracteres] de­
quer em inerência, quer em inclusão, quer pendem de [os tem peram entos],
em im plicação (por com preensão), quer R ad. int.\ P redik.
em coexistência (ou conexão), segundo o
exemplo dado por L « ζ Ç « U , Diss. prel. in
E
P R E D IC A D O G . Karrj-yogjj/ia:; L.
lib. N izo lii, G erh ., IV, 147, onde, aliás, P ra ed ica tu m ; D . P rädikat; E. P red íca te ;
considera a primeira destas interpretações F. P réd ica t ; I. P redicato.
com o a mais norm al. A . Em todo enunciado em que se pos­
P o r exemplo, a proposição: “ Os ca­ sa distinguir aquilo de que se fala e aqui­
racteres dependem dos tem peram entos” lo que se afirm a ou nega a pro pósito, o
será o enunciado de um juízo de predica­ prim eiro term o é designado su jeito* e o
ção se o decom puserm os assim: [Os ca-*I, segundo pred ica d o .

Sobre P redicado — P o d erá haver proposições que se reduzam a um predicado?


Considerou-se muitas vezes como tais as proposições im pessoais (D. Subjectlose Sãtze ):
“ Chove; Eis o livro; U m a vela!” , etc. C f. especialm ente H ó E E á « Ç ; , “ A base psico­
lógica dos juízos lógicos” , R evu e p h ilo so p h iq u e, 1901; e S « ; ç τ 2 , L o g ik , 4.a ed.,
I

I, 78-86, onde são indicadas outras referências. A m elhor m aneira de dizer, em tais
casos, parece ser a de reconhecer que existem juízos globais que n ã o têm sujeito nem
predicado e que eles se devem distinguir dos juízos de predicação, onde a asserção
é analisada. (.A . L .)
Segundo J. L τ T Â « 2 , as proposições ditas d e relação (P edro é filho de P au lo ;
7 E E

Fontainebleau é m enor que Versalhes) n ão têm predicado pro priam ente falando. Os
term os destas proposições são Pedro, Paulo, Fontainebleau, Versalhes. “ Porém , destes
dois term os n ão se pode dizer que o segundo seja predicado do prim eiro ... A verda­
de é que estas espécies de proposições não têm predicado e que se com põem apenas
de sujeitos, um a vez que os dois termos representam igualmente seres... Durante muito
tem po julgou-se que todas estas relações podiam e deviam consistir em relações de
inerência: ‘Filho d e ’ fo rm a com ‘P a u lo ’ e ‘m enor q u e ’ com ‘V ersalhes’ um predica­
do do gênero daqueles a que se cham a com plexos. N ão se afirm a de Fontainebleau
que é m enor que Versalhes, com o se afirm a que é são e agradável de se m orar? Sim,
m as ‘m en or que V ersalhes’ não representa com o ‘são ’ ou ‘agradável de se m o ra r’
um a m aneira de ser inerente a F o n ta inebleau...; exprim e apenas u m a relação que
não reside nele, que tam bém n ão reside em V ersalhes, que n a realidade só existe no
nosso espírito, e no m om ento em que nos apetece instituir um a com paração entre
estas duas cidades. P o rta n to , não é um predicado; são, pelo co ntrário, as palavras
‘m enor q u e’ que constituem a có p u la... A diferença dos dois gêneros de proposição
é, no fu ndo, esta: a proposição, no prim eiro gênero, é a análise de um a existência:
o sujeito representa esta existência em si p ró p ria e no seu fu ndo, o predicado
representa-a na sua determ inação ou n a sua fo rm a ... Pelo contrário, um a pro posi­
ção do segundo gênero opera um a simples aproxim ação entre estes dois seres exte­
riores um ao o u tro .” É tu d es su r le syllogism e, p p . 41-44.
“ Poder-se-ia talvez dizer com razão” , escrevia-nos J. Lachelier, “ que onde não existe
predicado tam bém não existe sujeito. M as eu queria inculcar essa idéia de que um sujei­
to é sempre um ser e que um ser pode sempre tornar-se sujeito, m as nunca predicado. ”
“ Poder-se-ia talvez tam bém dizer” , escreve P a ro d i, “ que em tais proposições o
sujeito é complexo; aqui, que é duplo , constituído ao m esm o tem po pelas duas idéias
847 P R E D IC A T IV O

B. N um juízo de predicação, no senti­ P R E D IC A M E N T O G . Kr*7777001«;


do B, o predicado é o atributo que é afir­ L. Praedicam entum ; D . Pràdikam enf, E.
m ado ou negado de um sujeito, quer di­ P red ica m en t ; F . P rédicam ent: I. P red i­
zer, que consiste num a ação ou num a ca­ cam ento.
racterística pertencente a este sujeito (S). Sinônim o de categoria*.
C R ÍT IC A
P R E D IC A T IV O D. P ràdicativ; E .
Os lógicos m odernos adotam geral­ P redicative ; F . Prédicatif: I. Predicativo.
mente o sentido lato d a palavra predica­ A . Q ue atribui um predicado a um su­
do. Ver especialmente S « ; ç τ 2 , Logik, I, I
jeito. O juízo predicativo e a proposição
§ 5; B Ã è τ ÇI Z , L ogic, I, pp. 75-78, etc.
E I
predicativa opõem -se, neste sentido, ao
R ad. int.·. Predikat. juízo ou à proposição de relação. Cf.
PRED ICAM ENTAL D. Prãdikamen- A trib u tiva e Inerência.
tal; E. Predicam ental; F. Prédicamental·, Chama-se especialmente “ Interpreta­
I. Predicam entale. ção predicativa da proposição” (p. ex.
Que diz respeito aos predicamentos, ou K à Ç è , F orm al Logic, § 135) a interpre­
E E

aos predicados. “ Linha predicam ental” , tação usual na qual o sujeito é pensado co­
L. escol. Linea praedicam entalis: sequên­ m o um ser ou um grupo de seres, o p red i­
cia dos termos que permitem , partindo de cado com o u m a característica do sujeito.
um conceito e de gênero em gênero, chegar B. Q ue enuncia separadam ente um
até o gênero supremo. “ Simple ideas and predicado, p o r oposição às proposições
their ñames... have but few ascents in linea nas quais sujeito e predicado estão con­
praedicam entali (as they cali it) from the fundidos num a só palav ra.
lowest species to the sum m um genus .” ' C. N um sentido o posto ao preceden­
LÃT3 E , Essay, livro III, cap. V, § 16.1 te, chama-se “ verbo predicativo” ao ver­
bo ser, no sentido A , enquanto contém
ao mesmo tem po um a cópula e um p re­
1. “ A s idéias sim ples e o s se us n o m e s ... p o d em
dicado. Este sentido pertence, aliás, mais
ser descritas com o j á se disse n a iinea praedicam en ·
talis, q u er d izer, desde a espécie m ais sim ples a té a o à gram ática do que à lógica (S).
su m m u m g e n u s ” Rad. int.: A. Predikan t;B . Predikatiz.

de Fontainebleau e de Versalhes, das quais seria afirm ada com o predicado a desi­
gualdade... Psicologicam ente, parece ser apenas quando as duas idéias estão presen­
tes sim ultaneam ente no espírito que eu posso ter n ítid a consciência da relação que
é a razão de ser d a aproxim ação, relação até en tão im plícita e n ão isolada. O que
é verdadeiram ente inadmissível n a lógica clássica é o considerar-se sempre relações
de sujeito com atrib u to , de substância com m odo; m as resta contudo que to d o juízo
im plica que algum a coisa seja afirm a d a de algum a coisa; por m ais irredutíveis que
sejam os diversos gêneros de afirm ação, quer dizer, as categorias, existe m esm o as­
sim um a certa unidade form al dos ju ízos, porque existe sempre e em todos os casos
a sem elhança de serem pelo m enos atos de pensam ento. Se é apenas em certas p ro ­
posições que existe, com o diz Lachelier, ‘a análise de um a existência’, em to das exis­
te a análise desse ato de pensam ento; as coisas nas quais se pensa podem sempre,
então, ser consideradas com o sujeito, e aquilo que delas se pensa, ou 0 simples fa to
de se pensar qualquer coisa, pode ser considerado com o pred ic ad o .”
Ver igualm ente L Z I Z , E ssai d ’une logique systém a tiq u e et sim plifiée (1913),
E I

not. p. 87, on de ele afirm a que “ agradável de se m o ra r” é tão relativo aos hab itan ­
tes eventuais qu an to “ m enor que V ersalhes” a Versalhes; donde conclui que este úl­
tim o term o é efetivam ente, com o o prim eiro, um predicado e até um atributo.
P R E D IC Á V E L 848

PRE D ICÁ V E L G. Κ α τ η -γ ο β ο ύ μ ε ν ο ι *; dos dos predicamentos ou categorias. Ele


L. Praedicabile; D. Praedicabile-, E. P re­ dá como exemplos a força, a ação, a pai­
dicable-, F. Prédicable; I. Predicabile (uti­ xão, na categoria da causalidade; a presen­
lizado mais correntem ente no plural). ça (die Gegenwart), a resistência, na cate­
Os p redicáveis são as cinco classes de goria da comunidade; a origem (das Ents-
predicados distinguidas p o r P Ã2 E « 2 « Ã e, tehen ), a destruição, a mudança, no da m o­
na sua esteira, por todos os escolásticos: dalidade. Krit. d er reinen Vern., A 82; B
o gênero, a espécie, a diferença, o p ró ­ 108 (observações sobre a tábua das cate­
prio e o acidente (Isagoge , I). Também gorias).
se lhes cham a quinqué voces e m o d ip ra e- ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , afastando-se ainda
dicandi. mais do sentido primitivo desta palavra,
traçou sob O título de Praedicabilia a priori
NOTAS um quadro de todas as prop o siçõ es gerais
1 . A classificação de P Ã 2 E « 2 « Ã repou­ que podem ser afirm adas a p rio r i relativa­
sa sobre um a classificação m ais antiga de mente ao espaço, ao tem po e à m atéria.
A 2 « è I ó I E Â E è ( T ó p ic o s , I, ca p . 4, (Die W elt, supl., livro I, cap. VI.)
101b17-25), on de este, propondo-se reu­ R ad. int.: Predikebl.
nir sob certas rubricas m uito gerais tudo
PRE ESTA B ELE CID A (H arm onia)
o que é possível dizer de um sujeito qual­
Ver H arm onia.
quer, distingue três delas: o gênero (ye­
ros); o pró prio (ί δ ι ο ν ); o acidente (σ υ μ - PREF O R M A Ç Ã O D. P ràform ation;
β φ η χ ό ϊ ) . Depois ele acrescenta que, no E . Preform ation; F. Preform ation; I. Pre-
pró p rio , é preciso distinguir dois sentidos: fo rm a zio n e.
por um lado, o ò t í ζ ν e i v a i , que cons­
I A doutrina da preformação dos germes
titui a definição (&'ços); por outro , o ou p refo rm ism o , oposta à epigênese, é a
próprio nos outros sentidos desta palavra, doutrina biológica segundo a qual todos os
para os quais ela se deve conservar. Res­ órgãos e características hereditárias dos se­
tam , po rtan to, em definitivo quatro clas­ res vivos existem no germe, quer no esta­
ses que ele enum era assim: “ η ί δ ι ο ν , rj do de redução geometricamente semelhan­
OQos, rj ye'vos rj σ υ μ β ί β η κ ό ί .” Q uanto à te, mas mais que microscópica (antiga teo­
diferença (δ ι α φ ο ρ ά ), não é necessário, diz ria, dita do encaixe), quer no estado de par­
ele, mencioná-la à parte, porque é da n a ­ tes diferenciadas, em bora não semelhan­
tureza do gênero: “ τ η ν δ ι α φ ο ρ ά ν , i s tes aos órgãos ou aos caracteres que pro­
o b oav yevixrjv, έ μ ο ν 7τ ώ yevei τ α χ τ ί ο ν .” duzirão (mendelismo, teoria de Weis-
Parecería antes que ela deveria ser com­ mann).
preendida no ο ρ ο $. “ Os corpos orgânicos da natureza nun­
2. Kτ NT cham a Prãdicabilien des rei­ ca são produzidos a partir de um caos ou
nen Verstandes 1 a todos os conceitos a de um a p utrefação, m as sempre dos ger­
p rio ri, mas derivados, que podem ser tira- 1 mes, nos quais havia sem dúvida algu­
m a prefo rm ação .” LEiBNiz, M onadolo-
gia, § 74.
1. Predicáveis do entendimento puro. R ad. int.: Preform ac.

Sobre Predicável — C ritica com pletada segundo as indicações de L. R obin e C.


C. J. W ebb. Este m enciona ainda que se encontra em H . W . B. J Ãè E ú 7 , Introduc-
tion to L ogic, cap. IV (O xford, 1906), um a boa exposição da relação que existe entre
a classificação de A ristóteles e a de P orfírio.
849 “ P R E -L O G IC A ”

“ P R E G N A N T E ” D. P rägnant (on­ preguiçosa, porque levava a nada fazer, ou


de esta palavra pertence desde há m uito, pelo menos a não cuidar de nada e a se­
senào à língua corrente, pelo m enos à da guir apenas as inclinações dos prazeres pre­
crítica literária e psicológica, p a ra desig­ sentes. P orque, dizia-se, se o futuro é ne­
n ar o que está pleno de sentido implíci­ cessário, o que deve acontecer, acontece­
to , significativo, expressivo); A u fd rin ­ rá, não obstante o que eu possa fazer. Ora,
glich (ver adiante). 0 futuro , dizia-se, é necessário, quer p or­
A . Este term o, assim com o o substan­ que a Divindade prevê tudo, preestabele­
tivo Pregnância (D . Prägn anz), foi ad o ­ ce-o m esmo, governando todas as coisas
tado no G estaltism o* , p ara caracterizar do universo; quer porque tudo acontece ne­
aquilo que tam bém se designa por boa* cessariamente pelo encadeamento das cau­
fo rm a , m elh o r fo r m a . “ (Q uando se au­ sas; quer, finalmente, pela própria natu­
m enta a distância entre os pontos) os pri­ reza da verdade, que é determ inada nos
meiros grupos tornam -se menos prégnan­ enunciados que se podem form ar sobre os
te s .” Paul GZ « Â Â τ Z OE , P sych ologie d e acontecimentos futuros, assim com o em
la fo rm e , p. 55. “ A form a é tã o boa todos os outros enunciados.” L « ζ Ç« U ,
E

quan to pode sê-lo nas condições atuais Teodicéia, prefácio, § 8.


(lei da boa fo rm a, ou de pregnância das R ad. in t.: N elaborem (a) rezon(o).
form as, de W ertheim er).” Ib id , p. 38.
B. Que se im põe ao espírito. “ Viva­ PR É -H IS T Ó R IA D . Vorgeschichte;
cidade (o u pregnância) das im pressões.” E . P r e h i s t o r y ; F . P réh isto ire-, I.
M. P 2 τ á« ÇE è , Traité de p sych o lo g ie, p. P reistoria.
38. Pregnância não traduz aq ui P räg­ P a rte da história* (no sentido C) que
nanz, m as A u fdringlich , usado p o r Eb­ é dem asiado antiga p a ra ser conhecida
binghaus como sinônim o de L eb h a ftig ­ através de docum entos escritos ou tra d i­
k eit (vivacidade), distinguindo-as d a in­ ções, e que apenas pode ser induzida a
tensidade e da claridade. Ib id ., p. 35. p artir dos rastros m ateriais subsistentes,
o u reco nstruíd a pelo raciocínio, em vir­
P R E G U IÇ O S O (R acio cínio ) G . b tude de considerações a p rio ri.
c rg Y Ò s X 070S. Rad. in t.: Prehistori.
“ Os hom ens de quase todos os tem ­
pos foram pertu rb ad o s por um sofism a “ PRÉ-LÓ G ICA ” Termo aplicado pri­
a que os antigos designavam por razão meiramente por L é â à -B 2 Z Â (Les fo n c -
7

Sobre “ P reg n an te” — Pedi a P aul G uiltaum e porm enores sobre o sentido da p a ­
lavra P regnância n a Teoria da form a, e a relação deste sentido com a etim ologia da
palav ra: praegnan s (prenhe, no sentido em que Leibniz dizia que o presente está p re­
nhe de futuro). Ele respondeu-m e: “ N ão vejo exatam ente com o se pôde passar deste
sentido àquele que os G estaltistas dão à palavra pregnan te. A pregnância é a quali­
dade pela qual um a estrutura se im põe com o privilegiada (ausgezeichnet ), típica: é
a ela que reportam os todas as o utras que se afastam deste m odelo p o r excesso ou
p o r fa lta (p. ex. um ângulo de 92° é um m au ângulo reto). As form as distinguem-se
pelos seus graus de pregnância (Prägnanzstuferi). M as este fa to empírico é interpre­
tad o , na teoria da form a, p o r meio d a lei da b o a form a; pelo menos tenta-se sempre
fazê-lo, quer dim inuindo a im portân cia da pregnância de origem puram ente em píri­
ca, quer m ostrando que ela m esm a obedece à lei da boa fo rm a .”
N ão terá havido influência sem ântica de prägen (im prim ir, “ fazer im pressão” ),
m uito utilizada em alemão no sentido figurado: “ Etwas in das G em üt, in das G e­
dächtnis prägen” , im prim ir algum a coisa no coração, na m em ória?
P R E M IS S A 850

tions mentales dans ies sociétés in/érieures, P R E M O Ç Ã O F ÍS IC A L. P ra em o tio


1910) à m entalidade dos indivíduos destas physica·, D . ...; E. Physica!p rem o tio n ; F.
sociedades. Ele limitou desde logo o senti­ P rém o tio n p h ysiq u e; I. P rem o zio n e
do deste term o, especificando “ que não se física .
deve entender que esta m entalidade cons­ D o utrina segundo a qual “ Deus faz
titui um a espécie de estádio anterior no im ediatam ente em nós mesm os que nos
tempo à aparição do pensamento lógico... determinemos para certo lado; mas a nos­
(mas somente) que ela não se restringe aci­ sa determ inação n ão deixa de ser livre,
m a de tudo, como o nosso pensamento, a porq ue Deus assim quis que o fosse” .
abster-se d a contradição” . Ib id ., 79. De­
B Ãè è Z , Tratado d o livre-arbítrio, cap.
E I
pois acabou por rejeitá-lo inteiramente, co­
V III: “ Q uarto e últim o m eio p a ra conci­
m o representando uma idéia falsa e por ad­
liar a nossa liberdade com os decretos de
mitir que a mentalidade dos não-civilizados
não difere em nada d a dos civilizados na Deus: a premoçâo e a predeterminação fí­
sua lógica, m as pela im agem que têm da sicas. E la salva perfeitam ente a nossa li­
natureza, pelas participações* que nela se berdade e a nossa dependência de D eus.”
exercem e pelo m odo de ação dos seres uns “ Socorro físico que precede a determ ina­
sobre os outros (Les carnets d e Lucien ção d a vontade e que faz com que ela se
Lévy-Bruhl, publicados após a sua m orte determine livremente e com indiferença.”
por L Ç τ 2 á
E E 7 I; ver particularm ente pp. O pe. B Ã Z 2 è « 2 , D a ação d e D eu s so b re
E

60, 132). a s criaturas, “ tra ta d o no qual se prova


Mas esta expressão, e a idéia que re­ a prem oçâo física pelo raciocínio” (1713);
presenta, tinham-se difundido largamente Discurso prelim inar, I, 8. M τ Â ζ 2 τ Ç -
E

nesse intervalo, e continuam a encontrar- T7 E respondeu a este livro com as suas


se freqüentem ente fo ra das obras técni­ R eflexões sobre a prem o çâ o física (1715).
cas de sociologia. Este term o é atrib u íd o p o r B Ã è è Z
E I

PREM ISSA G . v q ó t c x o ís (mais geral­ e pelo Pe. B Ã Z 2 è « 2 “ aos tom istas” .


E

mente, quer dizer também p ro p o siçã o , p. Ver as observações.


ex. as proposições de Euclides); L. Prae-
m issa ; D. P räm isse, V ordersatz’, E. P re­ PR E N O Ç Ã O D. Vorgreifen, Vorbe-
misse (também escrito por vezes prem iss ); griff; E. Prenotion; F. P rénolion; I. P re
F . Prém isse; I. Prem essa. n ozione.
Princípio* de um raciocínio. Empre- A. Tradução do term o epicurista
ga-se quase sem pre no plu ral. Ver M a io r irgoXrp^ts, adotado tam bém pelos Estoi­
e M enor. cos para designar o conhecimento natural
R ad. in t .: Prem is. e espontâneo do geral, evvo ia ¡pvoixri t o v

Sobre Prem issa — Sobre o sentido e a etim ologia de t q ó t c k h s , ver A R I S T Ó T E ­


LES, A n . p o s t., I, 12, in.; e T 2 Çá Â Çζ Z 2 ;
E E E , E lem en to logices A r is t., ed. V III, §
2, p. 55. (L . R obin )
Sobre P rem oçâo física — E sta fó rm ula (na qual físic a se opõe à m oção simples­
mente m oral; p rem o çâ o , a o simples concurso da causalidade divina e do livre-arbítrio
sem subordinação de um ao outro ) parece rem o n tar a Banez. É a opinião do cardeal
M adruzzi, presidente d a Congregação de Auxiliis. V er S 2 2 à , H ist. cong. d e auxil.
E

(Veneza, 1540), A ppendix, col. 89: “ N ullibi enim S. Thom as dicit liberum arbitrium
m overi concursu physico sive gratia efficaciter physice praedeterm inante liberum a r­
bitrium ; si tam en attente legatur, in re non videtur ab ista Bannesii sententia au t m o ­
do loquendi distare.” (H . D elacroix )
851 PRESEN ÇA

xaOóXov, anterio r a qualquer reflexão, PRÉ -R E FL E X IV O Ver S uplem ento.


m as todavia tirad o da experiência. Ver
R ÇÃ Z â « 2 , M an u el d e p h ilo so p h ie an-
E E
P R E S C IÊ N C IA D . Vorherwissen,
A llvorau ssich t (?); E . F oreknow ledge,
cienne, II, p. 212. P raen otio era utiliza­
do já neste sentido p o r G assendi. (Ib id ., prescience; F . Prescience; I. Prescienza.
216-217.) Tam bém se diz A n tecip a çã o * . Conhecim ento ou adivinhação do fu­
C f. P rolepse. turo; quando é perfeita, um dos tradicio­
B. DZ 2 3 7 E « O diz ter to m ad o este ter­nais atributos de Deus.
m o de Bacon p ara designar os conceitos Rad. int.: Presav.
form ados espontaneam ente no decurso PRE SEN Ç A D. G egenw art (fato de
da ação, antes do estudo científico dos fa­ assistir, A n w esen h eit; em certos casos,
tos: o sábio encontra-os incorporados na Daseiri); E. Presence; F. Présence; I. Pre­
linguagem corrente e deve a m aior parte se n ta (no sentido B, p ro n tezza ).
das vezes refo rm á-lo s apesar d a resistên­ A . F ato de estar presente* a um espíri­
cia do senso com um a se livrar dos erros to no sentido A . “ A presença do eu a si
ou das confusões que contêm . R egles d e próprio, ou a intim idade, não se distingue
la m éth ode sociologique, cap. II (ver par­ da sua presença no ser.” L. L τ â Â Â , L a
E E

ticularm ente 1? ed ., pp. 23 e 40). présence totale, cap. V II, p. 47.


E sta idéia é, com efeito, familiar a Ba­ B. C aracterística daquilo que está
con (D e dign it., V, II, IV; N o v. O rg., presente*, no sentido B: “ Presença de es­
14-16, 25-28, 43, etc.). M as ele diz neste p írito .”
sentido antecipationes naturae (que opõe C . D . F ato de estar presente, no senti­
às interpretationes naturae feitas com mé­ do C (raro) ou no sentido D (muito usual):
todo), idola, n otion es tem ere a rebus abs- “ ... supondo que isto não lhe acontece na
tractae. Nele não encontrei a palavra prae­ presença de certos amigos, m as diante de
n otio senão num sentido bastante diferen­ algumas pessoas desconhecidas” . M τ Â - E

te, para designar, no esforço de m emória, ζ 2 τ ÇT , M editações cristãs , X, 7.


E

a idéia vaga e latente daquilo que procu­ “ S en tim en to d e presen ça ” , ver W.


ramos, que limita e dirige o trabalho do es­ J τ OE è , L ’expérience religieuse, tr. f r.
pírito nesta investigação. D e dignit ., V, V, A bauzit, 3? ed., pp. 50-57.
§ 3. E. Existência de um a característica, de
Este term o, na sua nova acepção, to r­ um a situação. “ A presença de palavras
nou-se hoje corrente na linguagem filo­ árabes no vocabulário francês.” “ Tábua
sófica.
d e presen ça ” , ver Tábua.
R a d . int. (no sentido durkheim iano):
P renoción. NOTA

PR E P A R A Ç Ã O D. Vorbereiten. Presença vem do latim praesentia,


ST2 « ú I Z 2 E (Ü ber den associativen substantivo de praeesse, que quer dizer es­
V erlauf der V orstellungen1, Phil. Stu- tar diante, ou à frente: praeesse exercitui,
dien, 1892) e C Â τ PARÈá E ( L ’association estar à frente do exército; qui praesunt ci-
d es idées, 1903, pp. 155, 221) designam vitati, os altos dignitários do Estado. Quer
assim a modificação que sofre um a repre­ dizer também colocar-se à frente de alguém
sentação ou um a percepção a p artir do p ara o defender; daí o uso de praesens,
m om ento em que pen etra na consciência ao falar de um a D ivindade, para dizer
até aquele em que ela produz um efeito “ favorável” ; falando de um a ação, de
associativo. um rem édio, “ eficaz” . Praesentia quer
R ad. int.: P repar. dizer tam bém firm eza, coragem , força.
D aí haver na palavra presen ça um a co­
I . S obre o c u rso asso ciativo das repre se ntações. notação nobre, por vezes religiosa; evo-
*‘P R E S E N T A C IO N IS M O ’’ 852

ca geralmente, para além deste ou daquele cimento que se apresenta e m anifesta a


sentido literal, um a idéia de dignidade, de um espírito a te n to .” DE è Tτ 2 I E è , Princí­
valor ou de escalão superior: “ U m a a u ­ p io s, I, 45.
gusta presen ça.” Esta característica é B. P ro n to a exercer-se, disponível.
m uito menos m arcada na palavra presen­ “ Muitas vezes desejei te r... a memória tão
te, desaparece mesmo totalm ente na am pla ou tão presente com o algumas ou ­
m aioria dos casos. tra s .” D è T τ 2 è , M é to d o , I, 2.
E I E

R ad. i n t Prezentes (B. Prontes). C. Existente no próprio m om ento em


’ ‘P R ES EN T A CIO N ISM O ’ ’ E. Pre- que se fala, ou de que se fala. “ A filoso­
sentationism . fia triunfa facilmente dos males passados
D outrina segundo a qual o espírito e dos males futuros; m as os males presen­
tem a “ consciência” , quer dizer, o conhe­ tes triunfam sobre e la .” Lτ ROCHEFOU-
cim ento im ediato da existência objetiva CAULD, M áxim as, 22.
de certos atributos da m atéria tais como D . “ Que está no lugar onde se está ou
existem em si. H τ O« Â Ã Ç , D issertations
I
do qual se fa la .” L « 2 é , sub V®. “ In ­
I I

on R eid, p. 825. Cf. a discussão de J. S. visível e presente.” R τ T « Ç , Britannicus,


E

M « Â Â , Exam ination o f sir W. H am ilton ’s 1,1. (A qui, com um resquício do sentido


P h ilo so p h y , cap. III. latino: ver P resença, nota.)
Esta palavra é m uito rara. É obscura
NOTA
e constitui duplo uso com percepcion is-
m o*. D aí que não se recom ende o seu Estes sentidos não se excluem: acon­
uso. tece mesmo m uitas vezes que a palavra
os evoca tod o s ao m esm o tem po.
1. PR E SE N T E (adj.) D. G egenw är­
tig (no sentido D , anwesend)·, E. Present; 2. P R E S E N T E (subst.) ( “ O presen­
F. Present; I. Presen te. te ” , p o r oposição ao passado e ao fu tu ­
A . A preendido por um ato conscien­ ro .) D. G egenw art (no sentido B, prá-
te do espírito. “ C ham o claro ao conhe­ sens); E. Present; F. Présent; I. Presente.

Sobre Presença e Presente — Comunicamos estes artigos a L ouis Lavelle, pedindo-


lhe para os exam inar; assinalam o-lhes em particular que nos haviam perguntado se,
no títu lo da sua o b ra A dialética d o etern o presen te, era presen te ou eterno que se
devia considerar com o substantivo. Ele acedeu responder-nos com as seguintes o b ­
servações.
“ S obre ’P resen ça ’ — A palavra presen ça pod eria ser posta em paralelo com a
palavra ausência. Falam os da presença do objeto (revelada pela percepção), que opo­
mos à sua ausência, ain d a que esta m esm a ausência n ão possa ser conhecida senão
p o r um a o u tra presença, que é a da sua im agem . M as então existe um a presença que
engloba to dos os objetos possíveis do pensam ento; e o tem po, em vez de ser um a
conversão da ausência em presença e d a presença em ausência, é antes a conversão
de um a das form as de presença em um a o u tra.
’’S o b re ’P resen te’, ad j. — Parece-m e que se poderia fazer a distinção seguinte:
P resen te pode ser tom ado no sentido ativo; significa, poder-se-ia dizer: aquilo que
torn am os atualm ente presente através de um a to d e atenção. É o vosso sentido A.
O sentido B está m uito próxim o, porq ue designa, não sem dúvida, um ato que eu
executo, mas um a força de que disponho atualm ente e que posso im ediatam ente trans­
form ar em ato. M as p resen te é tom ado habitualm ente num sentido passivo, confor­
m e à etim ologia (prae-su m , o que está à m inha frente, no espaço ou no tem po). A qui
853 PRESEN TE

A . A parte do tem po que está presen­ m om ento em que se fala (presente verda­
te no sentido C. “ O presente está prenhe deiro: “ Chove” ); quer que aquilo de que
de fu tu ro .” LE « ζ Ç« U , P rin cípios d a natu­ se fala é estranho ao tem po (intem poral:
reza e da graça, § 13. Ver Specious*
“ U m núm ero que divide dois outros nú­
presen t.
B. N o sentido lingüístico: o tem po de m eros divide tam bém a sua som a e a sua
um verbo que exprime quer que aquilo de diferen ça” ).
que se fala existe ou acontece no pró prio R ad. int.: Prezent.

se encontram reunidos os sentidos C e D . M as parece que o que está presente é o


que age atualm ente sobre o meu corpo, sobre os meus sentidos. (Tal é a razão sem
dúvida pela qual o passado e o futuro são opostos ao presente, enquanto sou o briga­
d o , para os pensar, a torná-los presentes, no sentido A .) Foi o progresso do pensa­
m ento filosófico que nos obrigou a passar do sentido passivo ao sentido ativo.
“ S obre 'P resen te ', subst. — Já me fizeram a propósito da expressão ‘o eterno
presente’ a observação que me transm item : é que de direito as duas palavras podem
ser tom adas indiferentem ente com o adjetivo e como substantivo. U m filósofo disse-
me até um dia que aceitaria que ‘o etern o ’ fosse o substantivo, m as n ão o inverso.
C ontudo era, como você diz, ‘o presente’ que desem penhava no m eu pensam ento
o papel de substantivo e revestia esse caráter de eternidade, porq ue exprim ia, com
efeito, a acessão de um ser tem poral àquilo que está fo ra do tem po, ou porque, qual­
quer que fosse o conteúdo deste presente, era impossível evadir-se do presente com o
tal. M as não existe dificuldade em adm itir que a proposição seja convertida; porq ue
o que é eterno, sendo intem poral, exclui o passado e o fu tu ro e sem pre foi considera­
do com o onipresente, enquanto que o tem po não nos d á jam ais senão um presente
parcial e escalonado.
“ O sentido lingüístico B parece-me particularm ente interessante porq ue opõe duas
acepções d a palav ra: a prim eira designa o presente tem poral enquanto se distingue
do passado e do fu tu ro e os separa um do o u tro; a segunda designa o presente intem ­
poral enquanto caracteriza u m a verdade válida p a ra todos os tem pos, quer dizer,
u m a p o ssib ilid a d e intelectual que pode ser atualizada em qualquer tem po.
“ P o r fim , seria interessante elucidar a relação das duas palavras presen te e ins­
tante, que p o r vezes se trocam . M as a palavra p resen te parece sem pre designar um a
relação do pensam ento com o seu o bjeto; e o in stan te, a transição, a p u ra passagem ,
desprovida de existência, pela qual o fu tu ro se tran sfo rm a sem cessar em passado.”
(L. L avellé)
Poder-se-ia acrescentar a esta última observação que o “ presente” pode entender-se
com o um a d uração relativam ente considerável, p. ex. o estado presente das coisas
oposto ao passado e ao fu tu ro longínquos, enquanto que “ o instan te” designa sem­
pre um lapso de tem po m uito curto, ou m esm o um limite infinitesim al. William J τ ­
OEè fez n otar que “ o presente sensível tem sempre um a d u ra ção ” e que “ o único
fato fornecido pela nossa experiência é o que se cham ou com razão the specious*
p re sen t” (expressão criada por E. G. CÂτ à ), um “ bloco de d u ra ção ” que tem a sua
parte anterior e a sua parte posterior, m as que sentim os com o um todo, com as suas
extrem idades indivisivelmente com preendidas nele. T ex tb o o k o f P sych o lo g y, cap.
X V II, p. 280.
P R E S S U P O S IÇ Ã O 854

P RE SSU P O S IÇ Ã O D . Vorausset­ sivelmente dem asiado am pla, um a vez


zung; E. P ressu p p o sitio n ; F . P résu ppo- que incluiria a prova rigorosa de um fa­
sitio n ; I. P resu p p o sto , presu p p o sizio n e. to que não é im ediatam ente conhecido ou
A . O que se considera concedido no diretam ente atestado. A presunção é p ro ­
início de um a investigação, de um a de­ priam ente, e de um a m aneira mais preci­
m onstração, de um a discussão. sa, um a an tecipação daquilo que n ão es­
B. A to m ental decisório pelo qual se tá provado. Donde três sentidos divergen­
aceita um pressuposto. tes, que se encontram já na palavra latina:
C. P o r vezes, com um a conotação pe­ A . Raciocínio pelo qual se supõe, em
jorativa, sinônim o de “ p ren o çã o ” , no m atéria de fato , um a conclusão provável
sentido que D ürkheim dava a este term o. ainda que incerta. “ A s presunções que
não são estabelecidas pela lei são entre­
NOTA gues à capacidade e à prudência do m a­
Esta palavra é m uitas vezes utilizada gistrado, que apenas deve adm itir as pre­
no sentido A na afirm ação ou na discus­ sunções graves, precisas e concordantes.”
são da tese hegeliana de que “ a filosofia Ib id ., 1353. “ Trata-se apenas de um a
não pode pressupor nad a, nem um obje­ simples p resu n ção .”
to definido, nem um m étodo previam en­ B. A ção de tom ar um a afirm ação por
te constituído” . Ver H E ; E Â , L o g ik , in- verdadeira até prova em contrário, ou
tro duction, § 1. m esm o, em certos casos, não obstante a
R a d . in t.: A . P r e s u p o z a d ; B. prova co ntrária. “ A presunção legal é
Presupoz. aquela que se liga por um a lei especial a
certos atos ou a certos fa to s” (p. ex., a
PRESSUPOSTO (subst.) Sinónimo de autoridade da coisa julg ad a, os casos nos
Pressuposição*, no sentido A. quais a lei declara certos atos nulos, en­
“ PRESSU PO ST O G N O SIO L Ó G I- quanto presum idos atos fraudulentos,
etc.). “ A presunção legal dispensa de
C O ” O u, mais brevemente, “pressupos­
qualquer prova aquele em proveito do
to ” , designa para o dr. A lberto MÃT7 « a
qual ela existe.” Ib id ., 1350,1352. “ A re­
abstração que define o ponto de vista es­
posição do principal títu lo faz presum ir
colhido por uma ciência e, por conseguin­
a reposição da dívida ou o pagam ento,
te, o dom ínio desta. “ O pressuposto das
sem prejuízo da prova co n trá ria .” Ib id .,
matemáticas é a quantidade abstrata.” L a 1283.
connaissance scientißque, 66. “ A física in­ Nestes dois prim eiros sentidos, p r e ­
troduz um novo pressuposto: a força- sunção diz-se quer do ato de presum ir,
m atéria.” O pressuposto não se confun­ quer d a coisa presum ida. C f. LE « ζ Ç« U ,
de, segundo ele, com a categoria; “ é urna D iscurso d a co n fo rm id a d e d a f é com a
categoria abstrata: a m atéria do físico é razão, § 33.
um a ‘substância’ dotada apenas de certas C. A ção de presum ir dem asiado de si
características especiais” . Ib id ., 91. próprio: confiança exagerada de um in­
PRE SU N ÇÃ O D. A . Vermuten; B. divíduo nas suas faculdades ou nas suas
forças.
Präsum tion; C . Dünkel; E. Presum ption;
F. P r é s o m p t i o n ; I. P r e s u n z i o n e . R ad. int.: A . K onjekt, ad j.; B. Pre-
zum; C. Prezunt.
As presunções são definidas pelo C o ­
d e civil, livro III, título III, seção III, art. P R E T E R N A T U R A L O que está fo ­
1349: “ Conseqüéncias que a le i ou o m a­ ra do curso ordinário das coisas, não por
gistrado extrai de um fato conhecido p a ­ ultrapassar as possibilidades de toda n a ­
ra um fato desconhecido” ; definição vi­ tureza, m as porque ultrapassa as possibi-
855 P R IM Á R IO

lidades de um a natureza dada (como se­ m ovim ento, aos quais se acrescenta por
ria para um hom em respirar dentro da vezes a resistência. Ver Q ualidades.
água, o que é natural p ara um peixe). Ver C . Formação prim ária. Diz-se quer na
Sobrenatural. ordem psicológica, quer na ordem física
(solo prim ário) para designar o que é mais
PRE V A LÊ N C IA D. Überwiegen; E. antigo, ou o que é com posto do m enor
Prevailing·, F. Prévalence; I. P revalenza. núm ero de elementos.
C aracterística de um valor que é su­ D. Ensino prim á rio (por oposição ao
perior a outro . “ Sob todas as suas for­ ensino secundário e ao ensino superior),
m as, a invenção m anifesta a prevalência aquele que se dirige à m assa da nação e
da existência sobre as determ inações.” R. que tem por objeto divulgar os conheci­
LE SE ÇÇE , O bstacle et valeur, 206. m entos m ais indispensáveis, aqueles que
“ P R IM A L ” Term o pro posto por devem necessariamente preceder todos os
DZ 2 τ Çá áE G 2 Ãè (A perçus d e taxinom ie
outros no desenvolvim ento do espírito.
genérale, pp. 136-137) p ara distinguir os Designado mais recentem ente por ensino
dois sentidos da palavra prim ário em m a­ do prim eiro grau (na França).
téria de classificação. Ver P rim ário. E. P rim ário, caracterología, ver Se­
cundário.
P R IM Á R IO D . Erste-, E lem en ta r...,
C R ÍT IC A
por vezes P rim a r, E. E lem entary, p r i­
mary·, F. Prim aire; I. P rim ario. Poder-se-ia utilm ente aplicar esta p a ­
Sinônimo de p rim eiro , em algum as lavra àquilo que é dito prim eiro psicolo­
expressões que apenas são determ inadas gicam ente, no sentido E.
pelo uso, e que nem sempre escapam ao DZ 2 τ Çá áE G 2 Ãè , nos seus A p erçu s
equívoco. de taxinom ie générale, assinala com o
A. D ivisões prim árias, num sistema de m uito em baraçoso o equívoco do senti­
classificação p or ordem de generalidade, do A . P ara o rem ediar, propõe o em pre­
diz-se, quer das divisões que têm a m aior go do adjetivo primai, que se oporia a pri­
extensão, quer das divisões que têm a ex­ mário: “ Estes dois epítetos aplicam-se aos
tensão m enor. primeiros term os de um a divisão progres­
B. Qualidades prim árias (da matéria), siva, mas prim ário designará especialmen­
ou qualidades prim eiras: a extensão e o te os prim eiros term os de divisão que se

Sobre P rim ário — Poder-se-ia, sem introduzir ainda um a nova palavra, com a
m esm a raiz, deixar de cham ar p rim ário ao que tem m enos extensão e cham ar-lhe
últim o. N a com paração de D urand de G ros poder-se-ia m uito bem dizer que os ra ­
mos que term inam pelas folhas são os últim os da árvore. Ninguém adm itirá que os
grossos ram os que partem do tro nco sejam últim os. (J. Lachelier) M as, no caso em
que se procede de indivíduos p a ra as classes superiores, as classes elevadas são aque­
las em que se chega em ú ltim o lugar: o equívoco reapareceria. E de fato o espírito
parte quase sem pre das classes ou dos axiom as médios para se estender, nos dois sen­
tidos, para as generalidades m ais am plas e p ara as especificações m ais restritas. O
m elhor seria, p o rtan to , ter p ara estes extrem os designações de sentido estático, cuja
etim ologia n ão pressupõe a ord em seguida para os atingir: superior e inferior são
côm odos em alguns casos, m as não excluem to d a e qualquer anfibologia. (A . L .)
N a linguagem m oderna francesa, um p rim á rio é um hom em que leciona no ensi­
no prim ário: ou ainda alguém sem mais cultura do que a fornecida pelo ensino p ri­
m ário. (R B erthelot)
P R IM A Z IA , P R IM A D O 856

encontram procedendo por síntese” (quer fixos tais como V o r..., U r ...,A n fa n g s ..„
dizer, p artindo dos indivíduos p a ra che­ etc.; E. G eralm ente: First; fo r m e r se só
gar às classes com m aior extensão), “ e se tra ta de dois term os; no sentido cro ­
p rim a l será exclusivamente atribuíd o aos nológico, diz-se p o r vezes early quan d o
prim eiros que se apresentam procedendo se quer falar do que pertence ao prim ei­
pela análise. Os três ou q u atro grandes ro período; no sentido G , prim e·, F. Pre-
ram os que form am a prim eira parte do mier; I. P rim o , em todos os sentidos.
tronco de um carvalho são os ram os p r i­ Q ue não é precedido por nada.
m ais desta árvore; os seus ram os p rim á ­ I o: N a ordem cronológica:
rios são os inum eráveis ram inhos extre­ A . O que é mais antigo num a suces­
m os; term inando por folhas e fru to s.” são tem poral dada, ou num a ordem se­
Ib id ., cap. IX , § 89. rial que pode ser assim ilada a um a suces­
R ad. int.: P rim ar e Prim ai. são: “ Os primeiros séculos da era cristã.”
“ As prim eiras letras do a lfa b eto .”
P R IM A Z IA , P R IM A D O D. P rim a i ;
2?: N a ordem lógica·, falando de ter­
E. P rim acy, F. P rim a u té ; I. P rim ato.
mos: que não se define por meio de ou­
Supremacia; característica do que pri­
tros term os; falando de proposições: que
m a, do que ocu pa o prim eiro lugar, quer
não se deduz de outras proposições. O
do ponto de vista da potência, quer do
po nto de vista do valor. que pode entender-se em dois sentidos:
B. D o ponto de vista do fun dam en to*
U sado sobretudo nas expressões: P ri­
m ado ou p rim a zia da razão p rá tica (D.
dos nossos conhecim entos, o que se im ­
P r im a i d e r p r a k tis c h e n V e rn u n ft,
põe ao espírito de tal m aneira que não ha­
ja nenhum a razão para dele se duvidar,
K τ Ç ), pela qual ele entende: 1?, que o
I

de m aneira que a sua clareza, ou a sua


interesse da razão p rática deve vir antes
verdade, diretam ente conhecidas, sirvam
do da razão teórica; 2?, que a razão p rá ­
de explicação p a ra os ou tro s term os ou
tica so brepuja a razão teórica por se es­
de garantia da verdade das outras p ro p o ­
tender a postulados que esta não atinge.
sições daí tiradas. É neste sentido que se
P rim a d o da vo n ta d e (D. P rim a i d es
diz, em geral, “ princípios prim eiros” ,
WUlens, S T Ã ú Ç τ Z 2
7 E 7 E ) , pelo qual ele
“ noções e verdades prim eiras” .
entende que a V ontade, no sentido que
C. D o ponto de vista da organização
dá a esta palavra, é a base da natureza
lógica dos sistemas dedutivos, chamam-se
hum ana e que o intelecto, que é a sua pro­
prim eiros os termos ou as proposições que
dução, continua sempre subord inado a
se colocam no início da dedução (sem que
esta. Ver em particular D ie W elt, supl.,
cap. X IX . estes princípios sejam necessariamente mais
claros, mais evidentes ou mais certos que
R ad. int.·. Superes.
as suas conseqüências). Cf. Princípio.
P R IM E IR O D. G eralm ente: Erst; D. N um sentido m uito próxim o, mas
mas que se trad u z m uitas vezes por pre- im pró prio, cham a-se p o r vezes prim eiro

Sobre P rim eiro — Segundo W τ « U , O rganon, I, 316, é preciso ver no capítulo


I

das C ategorias citado m ais acim a um a classificação dos sentidos da palavra t q ó t (-


q o v na língua usual mais do que um a classificação filosófica. De fato , A ristóteles
distingue geralm ente, ain d a que por vezes de um m odo bastante flutuante, três acep­
ções de - κ ρ ό η ρ ο ν : ou ο υ σ ί α , φ ύ σ ί ΐ ; ou ainda χ ρ ό ν ω , y e v é a e i, anterioridades inversas
um a d a o u tra p a ra um a m esm a coisa; ou ainda finalm ente λ ό γ ω , anterioridade que
é por vezes distinguida da anterioridade ο υ σ ί α (sobre este últim o p o n to , ver M e ta f.,
X III, 2; 1077b, 1 ss.) e que por vezes se confunde com ela. (L . R o b ín )
857 P R IM IT IV O

ao que é obtido em últim o lugar num a de; o que, num a ordem qualquer, p re­
análise regressiva, além do que não se po­ cede um outro term o; o que é superior
de rem ontar (mesmo quando este resíduo em dignidade. A crescenta ainda acesso­
ú ltim o não contém virtualm ente aquilo riam ente a razão de ser ontológica de
donde foi tirad o , tal com o os princípios um a proposição verdadeira. P a ra as o u ­
contêm conseqüências). tras passagens, ver o Index de B Ã Ç « U ,
I

3 ?: D o p o n to d e vista psicológico: 652*654*.


E . O que é, de fato , o p o n to de p arti­ Vê-se pela análise feita com o é insu­
d a do espírito (term inus a q u o ), na fo r­ ficiente limitarmo-nos a dizer como se faz
m ação de um ju ízo ou de um raciocínio, geralm ente: p rim eiro psicologicam en te,
num desenvolvimento genético, num a as­ p rim eiro logicam ente. A prim eira destas
sociação, etc. fórm ulas serve o ra para o por a ordem da
4?: D o p o n to d e vista ontológico: certeza (B) à da im plicação (C), ora para
F. Q ue contém a razão de ser das o u ­ opô-las a am bas em bloco à d a sucessão
tras realidades, que é a sua causa eficaz efetiva das representações no espírito (E);
ou final. “ O prim eiro m o to r.” “ Deus, a segunda diz-se ora do sentido B, o ra do
diz-se, é o prim eiro dos seres; ele é, p o r­ sentido C , o u m esm o, ainda que mais ra ­
ta n to , a prim eira das verdades; e assim ram ente, do sentido D . A expressão ra-
com o na ordem das coisas todos os seres tio cognoscendi, de que nos servimos por
provêm de Deus, que por si n ão provém vezes para tentar evitar as confusões, não
de n ad a , tam bém , n a ordem das idéias, se aplica usualm ente senão a um a parte
todos os princípios se deduzem de Deus, do sentido B (o conhecim ento do sensí­
vel, do individual); em com pensação, ela
que é o único a ser princípio de si p ró ­
engloba u m a p arte do sentido E e, por
p rio .” Em Sτ « è è E I , no M anuel d e ph ilo-
conseguinte, só serve p ara opô-las simul­
soph ie de A. Jacques, J. Sim ón e Saisset;
tan eam en te a F (ratio essendi). M as esta
Teodiceia, 1 ,1 .
últim a fórm ula tam bém se aplica neces­
5?: D o p o n to de vista d o valor:
sariamente, na ordem lógica, ao encadea­
G. O mais elevado, o mais excelente,
m ento das proposições que se deduzem
o mais im portante. “ U m espírito de pri­
umas das outras e, por conseqüência, só
m eira o rd em .” “ Esse lugar dad o à hete-
se opõe nitidam ente à ordem empírica da
roním ia, por mais im portante que seja,
representação, no sentido E.
não é o p rim eiro.” J τ TÃζ , D evo irs, 46.
Poder-se-ia utilm ente em pregar p ara
C R ÍT IC A os sentidos B e C as expressões fundam en­
tal, p rin cipiai, que n ão se prestariam a
O uso deste term o, m uito freqüente
confusão, e, para o sentido D da palavra,
em filosofia, é m uitas vezes equívoco, re­
prim á rio .
m onta à filosofia grega, onde era já u ti­
lizado (π ρ ώ τ ο *, π ρ ο 'τ ί ρ ο *; ad v e rb . Filosofia primeira Ver Filosofia.
π ρ ώ τ ο ν , πρ ώ τ ω , πρ ώ τ ω *, π ρ ό τ ε ρ ο ν ). Proposição primeira Ver P rincípio.
Existe mesmo um sentido a m ais que no
francês e que se em prega p o r p ró x im o ou Qualidades primeiras Ver Qualidade.
im ediato. A 2 « è I 2I E Â E è , que dele se ser­ R ad. int.: A. U nesm , m axim -antiqu;
ve da m an eira m ais corrente e m ais va­ B. F undam ental; C . P rincipal; D. Ultim;
riada, m uitas vezes tentou distinguir en­ E . D epartal; F. K auzal; G. M axim -bon,
tre os seus diferentes sentidos, particular­ m axim -grand, etc.
mente em Categorias, X II, 14*26 ss., on­ PRIMITIVO (adj.) D . A. B. U r...;
de define qu atro acepções do π ρ ό τ ε ρ ο ν : por vezes p rim itiv (sobretudo nos senti­
o que é o mais antigo; o que é pressupos­ dos técnicos); B. G ru n d .... Elem entar...;
to por o u tra coisa, m as sem reciprocida­ E. P rim itiv; F. P rim itif; I. P rim itivo.
P R IM IT IV O 858

A. D o po nto de vista cronológico: que aquilo de que se fala reúna as caracterís­


é o mais antigo; antes do qual nad a h a ­ ticas A e B: “ Dizemos de um sistem a re­
via, ou pelo m enos nada que pudéssemos ligioso que ele é o m ais prim itivo que nos
conhecer, na ordem dos fato s que consi­ é dado observar quando preenche as duas
deram os. “ O texto prim itivo de urna condições seguintes: em prim eiro lugar,
obra, de urna leí.” “ O estado prim itivo é preciso que se encontre na sociedade
da T erra, do hom em .” cuja organização não é ultrapassada em
P o r consequência, aquilo de onde sim plicidade por nen hum a o u tra; além
urna coisa é tirad a: “ Função prim itiva” disso, é preciso que ela possa ser explica­
(relativam ente à derivada). “ Proposição da sem fazer intervir nenhum elem ento
prim itiva” (relativamente a um qualquer extraído de um a religião a n te rio r.” Ele
dos seus opostos, ou à sua conversa, ou acrescenta em nota: “ N o mesmo sentido,
a um a das conseqüências que dela se de­ diremos destas sociedades que são prim i­
duzem). Designam-se especialmente por tivas e cham arem os prim itivo ao hom em
p ro p o siçõ es p rim itiva s, num sistem a de­ destas sociedades. À expressão, sem d ú ­
dutivo, aquelas que são postas sem se de­ vida, fa lta precisão, m as é dificilmente
duzirem de nenhum a o utra. G eralmente, evitável e, aliás, quando se tem o cu id a­
abreviadas p ara P p r (às vezes p ara P p\ do de determ inar a sua significação, ela
mas sendo esta abreviatura utilizada tam ­ não tem inconvenientes.” L es fo rm e s élé-
bém para “ P roposição” , a prim eira é m entaires de la vie religieuse, p. 1. Só de­
preferível). Cf. P rin cipio. ve ser cham ada prim itiva aquela que fo r
B. D o ponto de vista q u a lita tivo : que
ao mesmo tem po “ m uito arcaica” , p er­
apresenta a característica de um elemen­
tencente “ aos inícios da h istória” (ib id .,
to simples, ou pelo menos de um compos­
p. 2) e que apresenta “ no estado mais iso­
to constituído por um pequeno núm ero
lado” os elementos essenciais, perm anen­
de elementos simples: “ As cores prim iti­
tes, que constituem o que há de eterno e
vas (do espectro ).” “ Os tem pos prim iti­
de hum ano na ordem dos fatos conside­
vos (dos verbos).” Diz-se particularm en­
rados. A reunião destes dois sentidos nu ­
te, em term os de tecnologia, daquilo que
m a só palavra supõe que eles estão sem ­
é rudim entar, pouco elaborado; em esté­
pre ligados nesta ordem de fatos, e que
tica, daquilo que apresenta um caráter de
o desenvolvim ento das instituições se faz
simplicidade e de ingenuidade na execução.
necessariam ente do simples p ara o com ­
C R ÍT IC A plexo: “ O físico, p a ra descobrir as leis
Este term o é m uito usual em sociolo­ dos fenôm enos que estuda, pro cura sim­
gia; ora se apóia no sentido cronológico, plificar estes últim os, desem baraçá-los
ora no sentido qualitativo. Assim, é muito das suas características secundárias. No
difícil saber o que entendem ao certo a que concerne às instituições, a natureza
m aior parte dos autores quando falam de faz espontaneam ente sim plificações do
um povo p rim itiv o , de um a instituição mesmo gênero no início d a h istó ria.”
prim itiva. Esta palavra serve tam bém p a­ Ib id ., p. 11. M as esta relação foi m uitas
ra traduzir a expressão alem ã N a tu rvö l­ vezes p o sta em dúvida. Lé âà -B2 Z 7 Â ,
ker, e nela retém algum a das idéias com ­ nom eadam ente, discutindo as idéias de
plexas e m al unificadas do séc. X V III so­ Frazer, escreve: “ Q uanto ao princípio ge­
bre o esta d o d e natureza, que é ao m es­ ral sobre o qual Frazer se apóia, e que for­
m o tem po um p o n to de p a rtid a no tem ­ m ula expressam ente um pouco mais à
po e um a espécie de ideal realizado. frente: N a evolu ção d o pen sa m en to co­
Dü 2 3 7 E « O pensa que, p ara ter-se o direi­ m o na da m atéria, o m ais sim ples é o p ri­
to de usar esta palavra, é preciso que m eiro no tem p o , ele provém sem dúvida

L A
859 P R IM IT IV O S

do sistem a de H . Spencer, m as não é por encontram quase sem pre m isturadas e


isso que está m ais certo. D uvido que seja m uitas vezes co nfundidas devido ao em ­
possível dem onstrá-lo no que diz respei­ prego da palavra prim itivo : IP: A té que
to à m atéria. No que diz respeito ao ‘pen­ ponto as civilizações atuais, cuja org ani­
sam ento’, o que conhecem os dos fatos zação política e tecnologia são as mais ru ­
tenderia, antes, a contradizê-lo. Frazer dim entares, se assemelham às civilizações
parece confundir aqui ‘sim ples’ com ‘in­ antigas oü pré-históricas de onde saíram
diferen ciad o’. M as nós veremos que as as civilizações superiores? 2P: Em que so­
línguas faladas nas sociedades menos ciedades as características elem entares,
avançadas que conhecemos apresentam que possuem um valor filosófico, são
um a extrem a com plexidade. Elas são m ais aparentes? Conhece-se m elhor a es­
m uito m enos ‘sim ples’, ainda que m uito sência de um a instituição considerando as
m ais ‘prim itivas’ do que o inglês.” L es suas form as m ais antigas, ou as suas fo r­
fo n c tio n s m entales dans les sociétés infé- mas atuais mais inferiores, ou as suas fo r­
rieures, pp. 11- 12. m as mais perfeitas? O u aparecem estas
N ão seria m elhor, nestas condições, características sobretudo no que há de co­
n ão em pregar a p alavra p rim itiv o senão m um en tre um as e ou tras, com o, por
no seu sentido histórico ou pré-histórico, exem plo, na gram ática geral? 3P: O de­
até mesmo evitá-la o m ais possível, exce­ senvolvimento de determ inada instituição
to nos seus usos técnicos (álgebra, lógi­ social (religião, língua, direito) vai do sim­
ca, etc.)? P orq ue se nos im puserm os, p a­ ples ao com plexo? do hom ogêneo ao he­
ra a empregar corretamente com o seu du­ terogêneo? de um a exuberância de formas
plo sentido atual, dem onstrar em p rim ei­ não sistem áticas a um a seleção lógica e
ro lugar em cada caso, para os fatos con­ a um a coordenação ulterior?
siderados, que a ordem cronológica coin­ R ad. int.: A . A n tiq u , m axim -antiqu;
cide com a ordem lógica, que em baraço no sen tido relativo e técnico, primitiv; B.
prelim inar! E se se passar de um p ara o C onform e o sentido: 1. Simpl; 2. Elemen­
outro sem ter feito prim eiro essa prova, tal; 3. S pontan; 4. H om ogen; 5. Ne dis-
que perigo de confusão! Poder-nos-íamos tingit.
preservar disso servindo-nos, no sentido P RIM IT IV O S (subst.) (Em prega-se
A , das palavras antigo e arcaico (os geó­ sobretudo no plural.) D. A . Urmenschen,
logos cham am hoje arcaicos aos solos U rvölker; B. N aturm enchen; N a tu rvö l­
“ prim itivos” ); e o próprio sentido B ga­ ker; C. P rim itiven; E. A . B. P rim itive
n h aria em ser m elhor analisado com o men; C. P rim itive; F. P rim itifs; I. P ri­
emprego de vários term os distintos: sim ­ m itiv!.
ples; elem entar ; espontâneo; indiferencia­ A . Os hom ens ou os povos pré-his­
d o . F inalm ente, m esm o esta últim a p a ­ tóricos. P o r vezes, os mais antigos povos
lavra evoca u m a distinção ulterio r, p o r­ historicam ente conhecidos.
que o ra se aplica àquilo que é realm ente B. Os hom ens ou os povos atuais de
hom ogêneo, idêntico em to d as as suas civilização inferior: “ P o r este term o im ­
partes, o ra àq uilo que não está ain da se­ pró prio, m as de uso quase indispensável,
lecionado e analisado, com o u m a m istu­ queremos simplesmente designar os mem­
ra particular e uniform e de pós diversos, bros das sociedades m ais simples que co­
en tre as quais se poderia m ais tard e fa ­ nhecem os.” LÉâà -B2 Z 7 Â , L e s fo n c tio n s
zer um a segregação. E stando os fato s m en tales d a n s les so ciétés inférieurex,
bem estabelecidos e caracterizados em ca­ p. 2.
d a um dos seus pontos de vista, poder- C . Eè I 3I « Tτ . Oè artistas anteriores,
se-iam en tão depreender nitidam ente os em cada fo rm a de arte, ao período que
três grupos de questões seguintes, que se consideram os com o representando a m a­
P R IM O R D IA L 860

turidade. Q uando a palavra é utilizada ta de um a enunciação, G rundsatz, Prin-


sem o utra indicação, aplica-se aos pinto­ zip ; E. P rin cip le; F . P rin cip e; I.
res e aos escultores que precederam o Re­ Principio.
nascim ento. Com eço, ponto de partida. “ P rincí­
Ver P rim itivo (adj.). pio é sinônim o de com eço; e foi de início
utilizado com esta significação; m as, em
PR IM O R D IA L D. A . U r..., Ur- seguida, por força do uso, foi utilizado
sprünglich, Uranfànglich ; B. Überwie- m aquinalm ente, por hábito e sem se lhe
gend, H a u p t...; E. P rim ordial; F. P ri­ atribuir idéias.” CÃÇá« Â Â τ T , L ógica, II,
m o rd ia l ; I. P rim ordiale. cap. VI. E sta palavra em prega-se sobre­
A . Sinônim o de prim eiro, no sentido tu d o por m etáfora e quan d o se tra ta de
A , ou de prim itivo no sentido A: o mais um a ordem ideal mais do que de um a su­
antigo no tem po. cessão real. É um a das m ais frequentes
B. Im pro priam en te, sinônim o de p r i­ na linguagem filosófica. Especialmente:
m eiro , no sentido G: o que é de prim eira 1?: D o p o n to d e vista da existência·.
im portância; o que se passa ou deveria A. Origem ou causa de ação, enquan­
passar-se em prim eira linha. “ Interesse to a causa origina o efeito ('H (nQxr¡ rijs
primordial; necessidade prim ord ial.” Es­ xivijoeus, na linguagem de A ristóteles).
ta acepção repousa num equívoco: ver as “ Existe esta diferença entre a natureza de
observações. M as tornou-se m uito usual. um governo e o seu princípio: a natureza
R ad. i n t Prim . é o que o faz ser tal; e o seu princípio,
o que o faz agir. U ma é a sua estrutu ra
PRINCÍPIO G. ’PiQxrj; L. Principium particular, o outro as paixões hum anas
(cf. Incipere ); D. G rund e, quando se tra ­ que o fazem m over.” MÃÇI E è I Z « E Z , Es -

Sobre P rim ord ial — E sta palavra não pode evocar senão a idéia de um com eço;
ela vem de ordiri. A creditou-se, por acaso, que pro vinha de o r d o l Em todo o caso,
o sentido B deve-se proscrever absolutam ente. (J . Lachelier)
Sobre Princípio — A redação do § B foi m odificada de acordo com as observa­
ções de J. L achelier e E . M eyerson para ressaltar a im portân cia da idéia de potência
ativa, ou de virtude, n a concepção aristotélica e escolástica da m atéria e das suas
propriedades. “ O sal, o enxofre e o mercúrio dos filósofos” , diz E. ME à E 2 è ÃÇ , “ são
menos corpos no sentido m oderno do que ‘princípios’ de incombustibilidade, de com-
bustibilidade, de volatilidade. O mesmo acontece com o flogisto.” “ Existe aí” , acres­
centa J. Lτ T7 E Â « E 2 , “ um resto de aristotelism o. D entre os elem entos constitutivos
de um corpo, uns sâo passivos e m ateriais, outros ativos e form ais. Os p rin cíp io s
são estes elem entos inform adores.” Sessão de 10 de ju lh o de 1913. É preciso, contu­
d o, n otar tam bém que os átom os são designados, p rim o rd io rerum , prin cip ia (p or
ex. em LUCRECIO, II, 293: “ Clinam en principioru m ” ; cf. 574, 722, etc.), a filosofia
atom ística agiu de um m odo suficientem ente forte so bre o desenvolvim ento da quí­
m ica para que este sentido tenha podido influenciar um uso da palavra com o o de
Lavoisier. (A . L .)
N o sen tid o lógico: “ Em linguagem científica, esta palavra é vaga; m as são neces­
sárias palavras deste gênero, e p rin cíp io parece-me dever continuar a ser um a delas.
Ela não d á nen hum a indicação sobre o papel lógico d a proposição considerada. Um
‘princípio’ pode ser um axioma ou um teorem a, se se tra ta de m atem áticas; um fato
experimental, um a generalização de fatos experimentais, assim como o resultado de uma
dedução, se se tra ta de física. Precisamente porque os princípios são proposições fun-
861 P R IN C ÍP IO

p írito d a s leis, III, 1. M uitas vezes apli­ D. Mais geralmente, chamam-se p rin­
cada neste sentido à causa prim eira ou às cípios de um a ciência ao conjunto de p ro ­
causas prim eiras das coisas: “ É im possí­ posições diretivas, características, às quais
vel que Deus seja o fim, se não for o prin­ to d o o desenvolvim ento ulterior deve ser
cípio... Se existe um único princípio de subordinado. P rin cípio, neste sentido, e
tu d o , [existe] um único fim de tudo; tu ­ p rin cip a l evocam so bretu do a idéia do
do p or ele, tudo para ele.” P τ è Tτ Â , Pen­ que é prim eiro em im portância e, na o r­
sa m en to s, ed. B runsch., 488, 489.
dem do assentim ento, d o que é “ fu n d a­
P rin cípio vita l, ver V italism o, A .
m ental” . “ Isso está de acordo com os
B. P o r conseguinte, e mais geralm en­
meus princípios, porque naturalm ente na­
te: o que d á co n ta de um a coisa, o que
contém ou faz com preender as suas p ro ­ da en tra no nosso espírito vindo do exte­
priedades essenciais e características: “ O rio r...” LE « ζ Ç« U , D iscurso d e m etafísica ,
princípio de um a instituição.” P o r vezes cap. XXVI. M uito freqüente no título de
mesmo este sentido m aterializa se e p rin ­ obras filosóficas: DE è Tτ 2 I E è , O s p rin cí­
cípio torna-se então sinônimo de elemento p io s d a filo so fia ; NE ç I ÃÇ , Philosophiae
com posto e concreto, cujas propriedades naturalis p rin cipia m athem atica: SPEN-
ou “ virtudes” explicam as do composto; TE 2 , F irst P rin cip ies, P rin cip ies o f
finalm ente, de elem ento constitutivo, no P sych o lo g y, etc.
sentido m ais geral. “ As pro porçõ es dos 3?: N o sen tid o norm ativo:
princípios que entram n a com posição do E . Regra ou norm a de ação claramen­
açúcar são m ais ou menos as seguintes: te representada ao espírito, enunciada por
hidrogênio, 8 partes; oxigênio, 64; carbo­ um a fó rm ula. “ Os princípios da a rte .”
no, 2 8.” Lτ âë è « E 2 , Traité élém entaire “ Proceder por princípios.” “ Todas as re­
d e chim ie, I, 100.
ligiões adm itiram o valor e a eficácia prá­
2?: D o p o n to de vista lógico:
tica dos bons princípios, das doutrinas
C. Proposição posta no início de uma
verdadeiras, sem negar com isso a in ­
dedução, não sendo deduzida de nenhu­
fluência do coração e da vo n tad e.”
m a o u tra no sistem a considerado e, por
conseguinte, colocada até nova ordem fo ­ FÃZ « Â Â é E , L a p e n s é e ..., p. 41.
ra de discussão. D ita tam bém proposição “ Em princípio ” diz-se do que deve
prim eira (P pr ). “ Q uando um a lei recebeu ser, conform e a um a no rm a geral (mas
um a confirm ação suficiente da experiên­ anuncia de ordinário que se vai opor a es­
c ia ..., pode ser erigida em princípio, sa norm a algum as exceções justificadas
adotando-se convenções tais que a p ro ­ ou toleradas).
posição seja certam ente verdadeira. P a ­
ra isso, procede-se sempre da m esm a m a­ CRÍTICA
neira, etc., e tc .” Pë ÇTτ 2 É, L a valeur de Com o já salientam os, os sentidos dos
la Science, 239. Cf. Fundam ento, term os filosóficos form am geralm ente

dam entais, o seu lugar lógico pode estar particularm ente exposto a m udar no curso
da evolução cien tífica.” C arta de J. H adam ard, lida na sessão de 10 de ju lho. Todos
os m em bros da sociedade presentes na sessão, particularm ente J. Lachelier, L . Cou-
turat, E. M eyerson , M . W inter, foram unânim es em reconhecer que, com efeito, es­
ta palavra não tinha qualquer precisão na linguagem científica, mas tam bém em pensar
que, do po nto de vista lógico, era m uito útil sair desta indeterm inação e ter um ter­
m o para designar as posições iniciais de onde parte a dedução, na ordem d a im plica­
ção p u ra , e abstração feita das questões de evidência ou de assentim ento que fazem
com que tais ou t a i s proposições tenham o caráter de axiom as, de postulados, de
fundam entos experim entais, etc.
P R IN C IP IO 862

um a espécie de cam po contínuo em que to pelo criticismo como satisfatórios com


apenas se podem definir pontos de con­ relação a esta dupla condição. (Ver, por
densação e de referência. M ais do que exemplo, K τ Ç , Crítica d a razão p u ra ,
I

qu alquer o u tra, a palavra prin cíp io m a­ Analítica dos princípios, cap. II, § 2; com
nifesta esta característica; os escolásticos, um a ligeira restrição que não atinge, aliás,
e W olff depois deles, distinguiam já o o fundo das coisas.) N ão cabe negar-se
prin cipium essendi, o prin cipiu m fie n d i a priori a possibilidade desta reunião; mas
e o prin cipiu m cogn oscen di ; m uitas ve­ deve-se ter consciência dela e não postulá-
zes é difícil saber se, nesse texto, o au to r la sem justificação.
visava sobretu do a ordem de implicação R ad. int.: Princip.
ou a d a ação, a constativa ou a norm ati­
va. O sentido B, particularm ente, ju n ta- Princípios lógicos Designa-se geral-
se por transições insensíveis ao sentido D; m ente assim:
um e outro parecem igualmente incluídos 1?: O prin cípio d e id en tidade*: “ O
num a fórm ula com o a do título P rin cí­ que é, é; o que n ão é, não é .”
p io s da filo so fia , de DE è Tτ 2 I E è , ou 2?: O prin cíp io d e contradição* (ou,
P rin cípios da natureza, de RE ÇÃZ â« E 2 . mais exatam ente, de contrariedade*): “ O
E qu ando se fala dos “ princípios” de contrário d o verdadeiro é fa lso .”
identidade, de causalidade, de substância, 3 ?: O p rin cíp io d o terceiro excluído*
etc., entende-se quase sempre ao mesmo (ou, m ais exatam ente, de co n tradição *):
tem po premissas no sentido C e regras de “ De duas proposições contraditórias uma
pensam ento que têm um valor norm ati­ é verdadeira e a o u tra fa lsa .”
vo, no sentido E. E por vezes acrescenta-se:
Dentre estes sentidos estreitamente en­ 4?: O p rin cíp io d o silo g ism o *: “ Se a
cadeados, deve-se recomendar particular­ im plica b e se b im plica c, a im plica c .”
m ente o emprego do sentido C , que tem
C R ÍT IC A
a vantagem de ser técnico, bem definido
e de representar um a idéia geralm ente ne­ 1. Estes princípios não são suficien­
cessária. O hábito contraído pelos físicos, tes p a ra dem onstrar to das as proposições
pelos m atem áticos e pelos lógicos m oder­ de lógica form al. U m inventário mais
nos de fazerem rem ontar tão longe quan ­ com pleto foi pro posto p o r L. COUTU-
to possível os sistem as hipotético-dedu­ R A T , “ Os princípios das m atem áticas” ,
tivos teve com o resultado dissociar duas R evu e d e m étaph ysiqu e, janeiro de 1904
idéias o u tro ra confundidas: a dos funda­ (ver particularm ente p p. 46 e 47). N um e­
m entos d a certeza, por um lado, quer di­ rosas tentativas foram feitas a partir dessa
zer, das proposições às quais o espírito época p ara estabelecer um a lista destes
adere sem hesitação e que garantem con- princípios mas ainda não existe um a axio­
seqüências menos evidentes; e, por outro m ática lógica geralm ente adotada.
lado, a das proposições adm itidas com o 2. Estes “ princípios” não podem ser
p o n to de p artid a à frente de um sistema conservados sob a sua form a usual se qui­
deste gênero, e que o espírito só adm ite sermos d ar a esta palavra o sentido estri­
precisam ente po rq ue servem p ara org a­ to que acim a foi definido. A adoção de
nizar e un ificar as suas consequências. E um a notação lógica uniformemente aceita
a estas últim as que m elhor convém o n o ­ seria necessária p a ra atingir este resulta­
me de p rin cíp io s que, aliás, elas já geral­ do; ela está ainda em vias de constituição,
m ente têm . e parece-nos que levanta questões dem a­
Os princípios de contradição, de subs­ siado complexas p ara poderem ser discu­
tância, de causalidade, etc., eram consi­ tidas aqui. Ver o artigo já citado de L.
derados ta n to pelo cartesianism o, q u an ­ C ÃZ Z 2 τ
I I ; e cf. P τ á Ã τ , “ A lógica de­
863 P R IV A Ç A O

dutiva” , R evue d e m étaphysique, novem­ cípio da razão suficiente, o princípio de


bro de 1911 e janeiro de 1912. substância, o princípio de identidade e de
contradição, etc.” Psicologia, cap. VII (4?
Princípios racionais (Um pouco mais
ed., p. 188). O tratado de Psicologia de
am plo que D . D enkgesetze; E. L a ws o f
Rτ ζ « E 2 (1? ed., 1884) parece ser o primei­
th ought, que se aplicam sobretudo aos
ro em que se apresenta esta fórm ula. O
princípios d a lógica form al.)
cap. XXVII intitula-se: “ Princípios do co­
N o uso corrente do ensino filosófico
nhecimento: Razão” e o cap. XXVIII:
francês, designa-se assim o conjunto das
“ Princípios racionais (Continuação)” .
verdades fundam entais, evidentes por si
próprias, sobre as quais se apoiam todos Princípios de identidade, de causalida­
os raciocínios. “ N ão basta estudar na in­ de, de finalidade, d o s indiscerníveis, de in­
teligência hum ana as diversas operações dividuação, d o número, de reciprocidade,
pelas quais se m anifesta a sua atividade: d e substância, etc. Ver estas palavras e
é necessário também estudar as leis que re­ cf. os artigos: A nalogias da experiência,
gulam o seu exercício. Estas leis são os antecipações da percepção, axiom as da
princípios racionais ou prin cípios direto­ intuição, po stu la d o s do pensam ento em ­
res d o conhecimento... Estes princípios são
pírico.
marcados por três características essenciais
pelas quais eles diferem radicalmente de to­ Princípio vital Ver Vitalismo, A.
das as verdades induzidas da experiência:
PRIV A ÇÃ O G. Eregí)tas; D. M angei
1?: São universais, e isto num duplo senti­
em todos os sentidos; especialmente, A.
do (comuns a todas as inteligências; ver­
Privation; B. Beraubung·, E. Privation em
dadeiros para todas as coisas sem exce­
ção)... 2?: São necessários... 3?: São aprio- todos os sentidos; B. D eprivation; C.
r i...” E. B Ã « 2 τ T , Cours élémentaire de Want; F. Privation; I. Privazione.
ph ilosoph ie, 18? ed. (1904), pp. 91-92. A. L4; « Tτ . Relação de um sujeito
A inda que os ecléticos tenham desig­ com um predicado que, de fato, não lhe
nado estas proposições como “ verdades ra­ pertence mas que não é incompatível com
cionais” , ou “ princípios” , não encontrei nenhum a das características que consti­
esta expressão nem no M anuel de Am. tuem a essência deste (um homem que não
J τ TI Z E è , Émile Sτ « è è E I e M e s S« O4Ç ; está sentado). “ Defectus alicujus realita-
nem no Traité de P aul J τ ÇE I . Este diz tis, quae esse poterat, seu quam esse per
apenas: “ A razão pura não é somente a fa­ se non repugnat, p riva tio dici solet.”
culdade do absoluto, ela é ainda a facu l­ WÃÂ E E , O ntologia, § 224. A “ negação de
dade d o s p rin cíp io s... A título de faculda­ privação” opõe-se assim à “ negação de in­
des de princípios, a razão pura fornece-nos com patibilidade ou de exclusão” . Ver em
certos princípios universais e necessários: particular S« ; ç τ 2 I , L ogik, t. I, § 22:
tais são O princípio de causalidade, o prin­ “ Privation und Gegensatz ais G rund der

Sobre Princípios lógicos, princípios racionais, etc. — Ver tam bém os artigos Leis*
d o espírito e R a zã o .

Sobre P rivação — Texto de W o lff com unicado por R . Eucken.


No vocabulário de A ristóteles, aregjjais (privação ) opõe-se a é'|is (posse*) e serve
para designar a ausência num sujeito de certo atributo: 1?, que o sujeito, em conse-
qüência de um a imperfeição d a sua natureza essencial, não é feito para possuir (priva­
ção da vista na planta); 2?, que o sujeito poderia, pela sua natureza essencial, possuir,
mas que não possui, em conseqiiência de um a imperfeição inerente ao seu gênero
P R IV A T IV O 864

Verneinung” '; e mais recentemente J.-P . vative connote tw o things; the absence o f
Sτ 2 I 2 E , O ser e o nada (1943); Ed. certain attributes, and the presence o f
MÃ2 ÃI -S« 2 , L a p en sée négative (1947). others, from which the presence also o f
B. Falta de qualquer coisa útil ou van­ the form er m ight naturally have been ex­
tajosa que deveria ser norm alm ente p o s­ pected .” 1 2 J. S. M« Â Â, S yst. o f L o g ic, li­
suída por um sujeito, ou que a possui an­ vro I, cap. II, § 6. P o r extensão: ‘‘Pelo
teriorm ente. “ A privação dos direitos ci­ fato de um hom em ter perdido a vista
vis.” C o d e civil, livro I, títu lo 1. disse-se que ele era cego; e depois olhan­
C. Falta do que é desejado; sofrim en­ do a cegueira com o um a espécie de ser
to ; que resulta desse desejo. p riv a tiv o , disse-se que ele tinha em si a
R ad. in t.: Privac. cegueira. M as tudo isso é im p ró p rio ...”
BÃè è Z E I , L ógica, 1 , 15. C f. observações
P R IV A T IV O D. P riv a tiv ; E . P riva- sobre P rivação.
tive; F. P riv a tif; I. P riva tivo . R ad. int.: Privaciv.
L5; « Tτ . Um term o privativo é aque­
PRO BA BILID A D E D. W ahrschein­
le que m arca a ausência de um a caracte­
lichkeit; P robabilitä t (pouco usado); E.
rística que o sujeito deveria norm alm en­
P ro b a b ility; F. P robabilité; I. P roba-
te possuir no m om ento em que é consi­
bilità.
derado: “ Such is the w ord blin d , which
is not equivalent to n ot seeing or to n o t
capable o f seeing... The ñames called pri- 2. “ E ste term o , cego, nào equivale a não-vidente
o u in cap az de v e r... O s n o m es d ito s prim itivos c o ­
n o tam d u as coisas, ausência d e certo s a trib u to s e pre­
sença de o u tro s, devido a esta ú ltim a , poder-se-ia es­
1. P riv a ção e c o n tra rie d a d e com o fu n d am en to p erar n a tu ra lm e n te q ue os p rim e iro s estivessem ta m ­
d a negação. b ém p re se n te s .”

(privação d a vista na to upeira); 3?, que o sujeito ain d a não possui, m as que possuirá
quando fo r o m om ento (privação da vista no em brião ou em certos pequenos ani­
m ais nos prim eiros dias de vida); 4?, que o sujeito n ão possui, ainda que seja feito,
de qualquer m aneira, p a ra o possuir e ainda que tenha atingido o m om ento pró prio
do seu desenvolvim ento (privação da vista num hom em cego). C f. M e ta f., V, 22,
início; X, 4, 1055b, 4-6; C a t., 10, 12b26-12a5. O últim o sentido é o único no qual
a noção de privação é definid a com to d a a precisão que ela com porta. É claro, por
o u tro lado, que no aristotelism o a significação desta noção n ão é som ente lógica,
m as tam bém ontológica e física. P a ra além disso, ela tem um lugar notável n a teoria
da geração, d ad o que o p o n to de p artid a de toda geração é a privação d a form a fu ­
tu ra num sujeito que está apto a possuí-la e que aspira a possuí-la (ver em P o sse
o texto citado de M e ta f., X , 4). (L. R o b in )
Sobre P rivativ o — A rtigo acrescentado p or p roposta e, em grande p arte , c o n fo r­
me as indicações de L. R obin .
Sobre Pro babilidade — As expressões “ probabilidades dos efeitos” e “ p ro b a b i­
lidade das causas” , ainda utilizadas pelos m atem áticos, datam de Bernouilli; elas têm
o inconveniente de confundir as relações de dependência m atem ática e as relações
cronológicas. Seria m elhor, e se ainda estivermos a tem po, renunciar a estas expres­
sões cuja am bigüidade corre o risco de confundir a questão. (R . Berthelot)
S obre as relações da idéia de indução e de pro babilidade, ver J. M . K à Ç è , A E E

Treatise on P ro b a b ility (3? parte, sobre as relações d a indução e da experimenta-


865 P R O B A B IL ID A D E

1?: N o sen tid o psicológico: parte, cap. V: “ Probab ilidad e ordin al e


A. Se se considerarem vários aconte­probabilidade num érica” ; ver especial­
cim entos fu turos, todos possíveis, e tais m ente pp. 311-312).
que um deles deva necessariam ente 2?: N o sen tid o m atem ático:
produzir-se com exclusão dos outros, é do B. Se considerarm os de um a m aneira
senso com um que em m uitos casos se d e­ esquem ática um conjunto de com bina­
ve esperar mais o acontecimento A do que ções E e, dentre essas, um a classe C , de­
o B, B mais do que o C, etc., e que seria finida antecipadam ente por certas carac­
absurdo não agir de acordo com esta pre­ terísticas, chama-se probabilidade de C à
visão. Cham a-se p ro b a b ilid a d e m aior ou relação entre o núm ero a das com bina­
m en o r ao caráter relativo dos aconteci­ ções que pertencem a esta classe e o n ú ­
m entos que se devem prever deste m odo m ero to tal A de com binações que fo r­
e fazer entrar em linha de co nta nas suas m am o co njunto E. P o r exemplo, a pro­
decisões, sob reserva de possibilidades babilidade dos núm eros prim os menores
c o n trá ria s (vireliaÍQ ttns), e cham a-se do que 100, em relação aos cem prim ei­
probabilidade (absolutamente falando) ao ros núm eros, é 26 : 100. A razão e o inte­
caráter do acontecim ento que é mais ra ­ resse desta designação consistem no fato
zoável esperar-se.
de que se tom a “ ao acaso” um núm ero
Se o acontecim ento de que se tra ta é
qualquer A ’ de com binações pertencen­
de natureza a repetir-se, a fó rm ula geral
tes ao co njunto E , e sendo a ’ o núm ero
ou a lei em virtude da qual o prevemos
de com binações com preendidas em A ’
será cham ada p ro vá vel.
que pertencem à classe C , a relação a ’:
A probabilidade, neste sentido, é a ex­
A ’ estará m uito próxim a da relação a : A ,
pressão de um a atitude de pensam ento e
de ação que pertence ao m esm o dom ínio desde que A ’ seja suficientem ente g ran ­
lógico que a dúvida, a hesitação, a certe­ de. Esta propriedade constitui aquilo que
za. Por exemplo: “ Induzir-se-á ainda com se designa por L ei d o s grandes núm eros*.
um a grande pro babilidad e, ou com uma A probabilidade assim entendida é di­
quase-certeza, que o traçado d a curva ta estatística se a relação a : A não fo r co­
descrita pelo p o n to móvel segue a m es­ nhecida a p rio ri, m as observada em piri­
m a lei...” C ÃZ 2 ÇÃI , Essai, cap. IV, § 46. camente num grande núm ero de casos an­
É ao que ele cham a p ro b a b ilid a d e f ilo ­ teriores, e bem entendido, por hipótese,
sófica (por oposição à p ro b a b ilid a d e m a­ em todos os casos da m esm a espécie (por
tem ática). R. BE 2 I 7 E Â ÃI , considerando exemplo nos índices de m ortalidade).
que esta espécie de p ro b a b ilid a d e se en­ Esta probabilidade é dita descontínua
contra não só na filosofia, m as tam bém se os casos em questão form am um con­
nas ciências da natureza e nas ciências his­ ju n to descontínuo, com o nos exemplos
tóricas, propôs designá-la p ro b a b ilid a d e acima. Diz-se contínua no caso contrário,
ordinal ( Un rom antism e utilitaire, 1. 1, 2? por exemplo, se se tra ta r das diferentes

ção); A. L τ Â τ Çá E , L es théories d e l'indu ction et d e l'expérim en tation, cap. XI e


apêndices; J. N « TÃá , L e p ro b lè m e logiqu e d e l ’induction; M. D Ã2 ÃÂ Â E , L es p r o ­
blèm es de l ’in du ction , cap. II; G. Bτ T7 E Â τ 2 á , Essai su r la connaissance approchée,
cap. V III; R. P ë 2 « E 2 , R em arqu es sur la p ro b a b ilité des inductions.
H . R E « T7 E Çζ τ T7 traçou na sua o b ra W ahrscheinlichkeitslehre (Teoria da p r o ­
babilidade, 1935) um a análise ap ro fu n d ad a da lógica das probabilidades e d a sua
relação com a logística (já indicada por Boole). Ver C h . SE 2 2 Z è , E ssai sur la signi­
fica tio n de la logique, cap. II.
P R O B A B IL ID A D E 866

p o siç õ e s p o ssív eis d e u m p o n to s o b re u m dado sujeito, produzindo-se sob certas con­


c írc u lo . dições físicas e apresentando um caráter
C. S u p o n h a m o s q u e a s c o m b in a ç õ ealeatório.
s
e m q u e s tã o , q u e c h a m a re m o s e n tã o D. Sendo dada um a conseqüência que
“ c h a n c e s ” , a p a re c e m s u c e s s iv a m e n te d e pode resultar de várias hipóteses, é usual
u m a m a n e ir a irre g u la r, c o m o n u m jo g o (ainda que im próprio) cham ar de proble­
d e a z a r , q u e r d iz e r: 1?, se m q u e h a j a a í m a da pro b a b ilid a d e d a s “causas” o pro­
q u a lq u e r lei d e d e p e n d ê n c ia a s sin a lá v e l blema de saber qual é a probabilidade de
e n tre o r e su lta d o d e u m a o p e ra ç ã o e o d as cada um a delas. No caso em que se consi­
o p e ra ç õ e s p re c e d e n te s ; 2 ? , se m q u e e x is­ dera um acontecim ento que pode resultar
t a q u a lq u e r r a z ã o p a r a q u e u m a d a s c o m ­ de várias combinações “ igualmente prová­
b in a ç õ e s c o n s id e ra d a s se re a liz e d e p r e ­ veis” , tais como foram definidas acima,
fe rê n c ia a o u t r a (o q u e se e x p rim e d iz e n ­ define-se probabilidade d a s causas ou p r o ­
d o q u e to d a s a s c h a n c e s s ã o “ ig u a lm e n ­ babilidade a posterio ri com um a fórm ula
te p o ssív eis” o u “ ig u a lm e n te p ro v á v e is” ; dita Regra d e Bayes e que é assim enun­
e o d e q u e se to m a p o r c rité rio o f a to d e ciada por C ÃZ 2 ÇÃI :
q u e à m e d id a q u e o n ú m e ro d e o p e ra ç õ e s “ A s probabilidades das causas ou hi­
a u m e n ta , o n ú m e ro d o s c a so s q u e re a li­ póteses são proporcionais às probabilida­
z a c a d a u m a d a s c h a n c e s te n d e p a r a a des que estas causas m arcam para os acon­
ig u a ld a d e ): c h a m a -s e e n tã o p ro b a b ilid a ­
tecimentos observados. A probabilidade de
d e m atem ática d e u m a c o n te c im e n to “ à um a destas causas é um a fração que tem
r e la ç ã o d o n ú m e ro d a s h ip ó te s e s f a v o r á ­
por num erador a probabilidade do acon­
tecim ento em conseqüência desta causa e
veis a o a c o n te c im e n to c o m o n ú m e ro t o ­
por denom inador a soma das probabilida­
ta l d e c h a n c e s ” . COURNOT, Théorie d es
des semelhantes relativas a todas as cau­
chances e t d esp ro b a b ilités, c a p . II, § 11.
sas ou hipóteses.” Théorie d es chances et
E sta probabilidade de cada aconteci­
des pro b a b ilités , cap. V III, § 88.
m ento tem , p o rtan to , por definição a
m esm a m edida que a freq ü ên cia co m b i­ C R ÍT IC A
n atoria acim a definida, ou p ro b a b ilid a ­ 1. A pesar de a definição da probabili­
d e m atem ática no sentido B. Se as con­ dade, no sentido A , dizer apenas respeito
dições enum eradas forem sensivelmente aos fatos futuros, ela convém também, psi­
realizadas, o cálculo das combinações po­ cologicamente, ao grau de probabilidade
derá servir: 1?, para prever aproxim ati­ das hipóteses sobre os fatos passados de
vam ente o núm ero de acontecim entos de onde resultam fatos conhecidos, ou sobre
um a classe determ inada que se produzi­ leis que regem estes. Com efeito, a “ pro­
rão num número de casos suficientemente babilidade” de um fato passado ou de uma
grande; 2?, em caso de aposta, para re­ lei não tem sentido nem aplicação prática
gular as paradas de um a m aneira “ equi­ senão enquanto anuncia como mais ou me­
tativ a” , quer dizer, de tal fo rm a que se nos prováveis, e, por conseguinte, como
não possa prever a p rio r i o ganho ou a devendo ser mais ou menos previstos, os
perda dos jogadores, qualquer que seja resultados futuros das experiências que
o núm ero dos lances jogados. confirmarão ou infirmarão a hipótese con­
Este segundo sentido difere, p o rta n ­ siderada.
to , do prim eiro nisto que este é um a re­ 2. A noção de probabilidade intervém
lação estática e ideal, na qual todos os ca­ nos problemas filosóficos sob duas formas
sos possíveis são considerados simultanea­ principais:
mente, e aquele é o caráter de um caso de­ a. N a indução científica. O nervo des­
term inado; objeto de previsão para um ta é um a operação intelectual idêntica
867 P RO BA B IL ISIM O

àquela que constitui no sentido geral o pro­ que todos os casos são igualm ente p ro ­
blema da probabilidade das causas (M« Â Â, váveis?... Deveremos em cada aplicação
Lógica, III, cap. XVII e XV III; CÃZ 2 fazer convenções, dizer que consideramos
ÇÃI , Essai, cap. IV; P Ã « Ç T τ 2 é , L a Scien­ tal e tal caso como igualm ente prováveis.
ce et l ’hypothése, cap. XI; D τ 2 ζ Ã Ç , L 'ex­ Estas convenções não são totalm ente a r­
plica t ion m écanique et le nom inalism e, 2? bitrárias, m as escapam ao espírito do m a­
parte, cap. II). Ver nas observações os tí­ tem ático que não terá de as examinar des­
tulos de obras recentes sobre este assunto. de que sejam adm itidas. Deste m odo,
b. N a determinação racional d a condu­ qualquer problem a de probabilidade ofe­
ta a ter. A inda que tenham os contestado rece dois períodos de estudo: o prim eiro,
que este term o tenha sentido quando se m etafísico, por assim dizer, que legitima
aplica a um acontecimento único, que ape­ tal ou tal convenção; o segundo, que apli­
nas se produz um a vez (ver por exemplo: ca a estas convenções a regra do cálcu­
LE D τ ÇI E T , D e l ’hom m e à la Science, pp. lo .” Calcul des p ro b a b ilités, 1? lição, §
234 ss.; “ Os matemáticos e a probabilida­ 5. Cf. ib id ., 11.a lição, o exemplo do des­
de” , .Rev.pM ., 1910,11, pp. 356-360), p a­ conhecido que devolve o rei no carteado,
rece pelo contrário que a noção de pro ba­ e em L a S c ien ce e t l ’hypothése, o cap. X I,
bilidade tira a sua razão de ser da necessi­ particularm ente § 5. A . Dτ 2 ζ ÃÇ (na
dade de escolher inteligentemente ali onde o b ra citada m ais acim a) tentou m ostrar
nad a pode ser provado rigorosamente; e que a noção de acaso não intervinha na
talvez mesmo devamos considerá-la como indução senão p ara ser elim inada; m as se
um esforço para resolver a antinom ia en­ esta solução fosse aceita, deixaria subsistir
tre a ação necessária e a incerteza teórica a dificuldade de passar d a ordem da apre­
que subsiste na m aior parte dos casos. ciação instintiva para a da prova lógica.
‘‘N ão estando as ações da vida sujeitas ge­ No caso da conduta, a dificuldade não
ralm ente a nenhum a dem ora, é um a ver­ é m enor. D ado que nunca se sab e se as
dade m uito certa que urna vez que não es­ diferentes com binações elementares são
tá em nosso poder discernir as mais ver­ “ igualm ente possíveis” , até que ponto se
dadeiras opiniões, devemos seguir as mais pode ter p o r tais, de acord o com o p rin ­
prováveis...” D E è Tτ 2 I E è , Disc. d e la mé- cípio de Laplace, os diferentes casos acer­
thode, III, 3. Existe ai um último fato, sem ca de cu ja possibilidade esta m o s igual­
dúvida pouco satisfatório p ara o espirito, m ente indecisos'! Esse parece-m e ser um
m as que parece praticam ente inevitável. procedim ento que n ad a justifica e que
Cf. Possível, Crítica. postular essa igualdade é definitivam en­
M as a grande dificuldade, tan to num te rem eter-se ao acaso.
caso com o n o u tro , é substituir p o r um a A noção de probabilidade continua,
regra bem definida a apreciação do sen­ p o rtan to , a ser um a das m ais obscuras e
so com um das probabilidades quer in du­ pior definidas do p onto de vista da rela­
tivas, quer prospectivas. Talvez mesmo ção entre a lógica e a prática.
esta substituição não seja possível. “ A de­
finição com pleta da pro babilidade” , diz PRO BA BILISM O D. Probabilism us;
P ë ÇTτ 2 é , “ é p o rta n to um a espécie de E. P ro b a b ilism ; F. P robabilism e; I. P ro-
petição de princípio: com o reconhecer babilism o.

Sobre Probabilism o — Sentido B. Restrição acrescentada po r R e n é B erthelot que


observa que certam ente C ou rn o t não adm itia que as verdades m atem áticas fossem
simplesmente prováveis e que, de um m odo verossím il, a nova A cadem ia teria feito
a m esm a exceção; a tese probabilista, em A rcelisau, parece visar apenas as verdades
físicas, m orais ou filosóficas.
PRO BLEM A 868

A . M Ã2 τ Â . D outrina casuística se­ vras: ‘Suponham um cego de nascença,


gundo a qual é suficiente, para não se ser que seja homem feito, ao qual se ensinou
incorreto, agir de acordo com um a o pi­ a distinguir pelo tato um cubo de um glo­
nião provável, no sentido A, quer dizer, bo de um m esm o m etal e m ais ou m enos
com um a opin ião plausível e que co nta da m esm a grossura... S u p o n h am ... que
partidários respeitáveis, m esm o que fos­ este cego venha a dispor da visão. P er­
se m enos provável (no sentido C) do que gunta-se se ao vê-los sem os to car ele p o ­
a op in ião co ntrária. deria discerni-los e dizer qual é o cu bo e
B. LÓGICA. D outrina segundo a qual qual é o g lo b o .’ ” L E « ζ Ç« U , N o v o s en­
não é possível conhecer a verdade abso­ saios, livro II, cap. IX , § 8, onde a ques­
lu ta (pelo m enos n a ordem dos conheci­ tã o é discutida.
m entos que têm um conteúdo real e con­
P R O B L E M Á T IC O D. P ro b lem a ­
creto), m as som ente distinguir proposi­
tisch-, E. Problem atic; F. Problém atique;
ções mais ou m enos prováveis, no senti­
I. P ro b lem á tico .
do C. Este term o aplicava-se especialmen­
Característica de um juízo ou de um a
te, n a A ntigüidade, à N ova A cadem ia;
proposição que pode ser verdadeira ( = que
nos m odernos, à filosofia de C ÃZ 2 ÇÃI
é talvez verdadeira), mas que aquele que
(ver especialm ente M E ÇI 2 é , C o u rn o t et
fala não afirm a expressamente. “ Proble­
la renaissance du probabilism e-, J. á E L τ
matische Urtheile sind solche, wo m an das
H τ 2 ú E , D e 1’ordre et d u hasard; le réa-
Bejahen oder Verneinen als blos möglich
lism e critique d e C ou rn ot).
(beliebig) annim m t .” 1Kτ ÇI , Krit. der rei­
PR O BL EM A D. A u fg a b e, P r oble m \ nen Vernunft, A 75; B 100. Ele d á como
E. Problem ; F. P ro b lèm e ; I. P roblem a. exemplo a atitude do espírito relativamente
(Do G. iTQÓfiKriiia, pro priam ente, tarefa às proposições elementares que form am
pro posta; de onde, dificuldade para re­ um a proposição hipotética ou disjuntiva:
solver, problem a no sentido m atem ático; “ Se existe um a justiça divina, o mau será
por vezes, assunto de controvérsia.) punido.” “ O m undo é quer o efeito de um
A . Tarefa lógica que consiste em “ de­ acaso, quer o de um a causa exterior, quer
term inar um a coisa a partir das relações o produto de um a necessidade in tern a.”
que ela deve ter com as coisas d ad a s” . N enhum a destas proposições, considera­
D Z τ O Â , D es m éthodes dan s les Scien­
7 E da separadam ente, é afirm ada: cada um a
ces d e raisonnement, I, 34. A fórm ula aci­ delas é somente considerada como uma as­
ma indicada e o título do parágrafo que serção que p oderia ser afirm ada (ibid-, A
analisa a idéia com mais detalhe. Cf. 75-76; B 100-101). Igualmente, o princípio
Teorem a. (e por conseguinte a conclusão) de um im­
B. Diz-se geralm ente de qualquer perativo hipotético é designado por Kant
questão, sobretu do de ordem especulati­ como problem áticos enquanto o fim de que
va, m as tam bém de ordem prática. E. se trata não é tido como efetivamente que­
B 2 é « 2 , “ A noção de problem a em fi­
7 E rido. Eles tornam -se assertóricos no caso
lo sofia” , em Teoria, 1948, I. contrário (f l r u n d l e g II, § 19).
R ad. in t.: Problem .

Problema de Molineux “ Neste m o­ 1. “ O s juízos pro blem átic os são aqueles em que
m ento, propor-lhes-ei u m problem a que se ad m ite a afirm açã o o u a negação co m o ap en as pos­
o sábio M olineux, que em prega tão util­ sível, q u er dizer, com o po d en d o apenas ser escolhida
arb itrariam en te pelo espírito .*' (É esse pelo m en os,
mente o seu gênio para o avanço das ciên­
parece-m e, o sentid o que é preciso atribuir à beliebig.
cias, com unicou ao ilustre sr. Locke. Eis C f. m ais ad ian te a defin ição que K τ Ç d á d a possibi­
I

um pouco mais ou m enos as suas pala­ lidade lógica.)


869 P R O D U Z IR

N o sentido corrente: duvidoso, que é do é ta lvez um efeito do ac aso .” P ensa­


afirm ado gratu itam ente, sem provas su­ mos que seria bom reservar p ro b le m á ti­
ficientes, e que, p o r consequência, se de­ co para este último sentido, sobretudo em
ve considerar com o perm anecendo em virtude do uso corrente da palavra; há um
questão. grande interesse em poder analisar com
um term o preciso o sofism a tão frequen­
C R ÍT IC A
te que consiste em negligenciar o ta lvez,
O emprego deste term o tal como é de­ em passar de um a hipótese (no sentido C)
finido por K ant tem dois inconvenientes. para um a asserção definitiva. Q uanto ao
Em prim eiro lugar, substitui expressa­ outro sentido, ele exigiria um a palavra
m ente, no que concerne ao possível, pe­ técnica: co n teú d o , que já em pregam os
lo po nto de vista subjetivo o ponto de vis­
m ais acim a, já tem m uitos outros usos;
ta objetivo que definia a fórm ula de Aris­ o m esmo acontece com o b je tiv o , utiliza­
tóteles “ èvôéxeo0cu vw á Q x a v” (Prim .
do p o r M « Ç Ã Ç;
E num a acepção próxi­
A n a l., I, 2; 25a2); por exemplo: “ U m a
m a. Lexis* é um a designação côm oda e
ilha p o d e ser desabitada; um paralelogra­
sem equívocos.
m o p o d e ser dividido em dois triângulos
Ver a n o ta sobre M o d a lid a d e, a C rí­
iguais” (no sentido em que o sujeito e o
tica de N egação e a de P roposição.
predicado destas proposições nada têm de
R ad. in t.: Problem atik.
incom patível). E , p o r conseguinte, esta
idéia de possibilidade objetiva perde o seu PR O CE SSÃ O G. wq ó o ò o s . Ver C on­
lugar na táb ua das categorias. Todavia vê- versão.
m o-la reaparecer em K ant quando enun­
cia os p o stu la d o s d o p en sa m en to em píri­ PRO CE SSO D . Prozess; E . P ro cess ;
co , dos quais o prim eiro é assim form u­ F. Processus; I. P rocesso.
lado: “ Was m it den form alen Bedingun­ Sequência de fenômenos que apresen­
gen der E rfah ru n g , der A nschauung und tam certa unidade ou se reproduzem com
den Begriffen nach, übereinkom m t, ist certa regularidade. Diz-se sobretudo dos
m öglich .” 1Cf. P o stu la d o s e P ossível. fenôm enos fisiológicos, psicológicos ou
Em segundo lugar, a análise feita por sociais, e m ais raram ente dos fenômenos
Kant nesta passagem não distingue o con­ físicos.
teú do do juízo, a relação p u ra e simples E sta palavra é útil p a ra evitar alguns
sem asserção, tal como a encontram os na dos equívocos que E vo lu çã o engendra e,
tese ou n a consequência de um a hipoté­ particularm ente, p a ra o por os sentidos B
tica, e o enunciado, sob fo rm a de p ro p o ­ e C desta palavra, por um lado, ao senti­
sição independente, de um a opinião afe­ do A e, por o u tro, aos sentidos D e E.
tad a pela incerteza: “ A ordem do m un­ R ad. int.: Procès.

PR O D U T O LÓ G ICO Ver M u lti­


1. “ A quilo q u e está de aco rd o com as condições plicação.
fo rm ais d a ex periência, segundo a in tu iç ã o e os co n ­
ce itos, é p o ssív el.” P R O D U Z IR Ver D eterm inar.

Sobre Processo — A definição dada parece-me m uito lim itada. Seria preciso,
parece-me, indicar que esta palavra designa um co njunto de funções que estão se
m anifestando e ressaltando a natureza a tiva do processo. Parece-me tam bém que 0
processo físico se em prega tan to quanto processo psicológico. Processo opõe-se a
fen ô m en o ; fenôm eno é o p roduto; p ro cesso é a função ativa cujo resultado, inter­
p re ta d o p eta s leis racionais d o saber, se cham a fen ô m en o . (G. D welshauvers)
PRO GRESSÃ O 870

PRO G R ES SÃ O D. F ortschreiten, C. Q ue se faz gradualm ente, de m a­


Vorschreiten (no sentido m atem ático, neira, por assim dizer, contínua. “ A des­
Progression)·, E. Progression·, F. Progres­ tru ição progressiva d a m em ória segue,
sion·, I. P rogressione. p o rtan to , u m a m archa lógica, um a lei.
A . M archa em fren te, m archa num Desce progressivam ente do instável para
sentido determ inado. “ Um verdadeiro o estável.” R« ζ ÃI , M aladies d e la mé-
progresso, quer dizer, um a progressão m oire, p. 94. A m nésia progressiva, aquela
co ntínua p a ra um fim d eterm in a d o .” A. que se pro d u z pouco a pouco e não brus­
C ÃOI E , D iscurso sobre o espírito p o s iti­ camente. Note-se que, neste sentido, um a
vo, § 45. “ O sentido gerai da progressão R egressão* pode m uito bem ser qualifi­
individual ou coletiva não pode m udar ja ­ cada de progressiva. R ibot, n a página se­
m ais.” Id ., P o lit, p o s ., I ll, 72. guinte, cham a precisam ente “ lei de re­
B. M τ . Seqüência de núm eros em
I
gressão” à fórm ula que acabam os de
que cada um é form ado quer acrescentan­ citar.
R ad. int.: A . B. Pro gresant; C.
do ao precedente um mesmo núm ero
G radop.
(progressão aritmética), quer multiplican­
do-o por um mesmo núm ero (progressão PRO G RESSO D. Fortschritt (somen­
geom étrica). te no sentido B); E. Progress; F. Progrès;
P o r analogia, diz-se que term os estão I. Progresso.
“ em pro gressão” quando se podem o r­ A . M archa em frente, m ovimento nu­
denar quan titativam en te em ordem cres­ m a direção definida. “ Os progressos da
cente ou decrescente. criminalidade, do alcoolismo.” Cf. o sen­
R ad. int.·. A. Progrès; B. Progresion. tido de “ Progressivam ente” .
Progresso ao infinito (progressus in in­
PRO G RE SSIV O D . A . F ortschrei­ finitum ), m archa do espírito que, sendo da­
tend, progressiv-, B. S tufen -, S tufen w ei­ das certas condições, passa necessariamen­
se; E. P ro g ressive; F. Progressif; I. P ro ­ te de cada term o a um term o novo; por
gressivo. exemplo, na sequência dos núm eros, ou
A. N o sentido etimológico: que m ar­ ainda na busca de causas eficientes.
cha em frente (por oposição àquilo que Q u an tidade d e p ro g resso (segundo
regride). “ A m archa da síntese é progres­ um a d ad a direção A B), qu an titas p r o ­
siva, a da análise é regressiva.” S orite gressus, expressão m uito utilizada por
p ro g ressivo , aquele que com eça pelo su­ LE « ζ Ç« U ; principalmente Carta a Bernoul­
jeito da conclusão: S é A , A é B, B é C ..., li, 28 de janeiro de 1696 ( Com m ercium
N é P : logo S é P . epistoUcum, I, 125), onde d á a sua expli­
B. Q ue constitui um progresso, no cação: produto da m assa de um corpo pe­
sentido B. la sua velocidade segundo A B. (Cf. nota

Sobre Progresso — P τ è Tτ Â parece d a r a esta palavra um sentido singular de que


não conheço o u tro exemplo: “ A N atu reza age p or p ro g resso , itu s e t reditu s. E la vai
e vem , depois vai m ais longe, depois duas vezes m enos, depois m ais do que nunca,
etc. O fluxo d o m ar faz-se assim; o sol parece a n d a r assim .” (Segue-se um a figura
em fo rm a de ziguezague.) P en sam en tos, ed. B runsch., 355. Talvez seja um simples
lapso e ele quisesse escrever: “ p o r progresso e regresso, itu s e t reditu s” . (A . L .)
U m a vez que a C rítica n o ta ju stam ente a freqüência de um realism o do progres­
so, acrescentarei que a consequência desta tendência é que IP, im aginam os que o
progresso se faz sozinho, independentem ente do esforço hum ano; 2?, o reduzim os
aos seus aspectos m ais m ateriais e mais m ecânicos. (M . M arsal)
871 P R O JE Ç Ã O

de P O I N C A R É à edição da M on a d o lo g ia qual as sensações, sentidas prim eiro co­


de B outroux.) m o simples m odificações do estado m en­
B. T ransfo rm ação gradual do m enos tal, são em seguida “ p rojetadas” fo ra de
bom para o m elhor, seja num dom ínio li­ m im (quer dizer, localizadas em pontos
m itado, seja no conjunto das coisas. “ In do espaço diferentes daqueles onde se si­
cum ulum etiam pulchritudinis perfectio- tu a em im aginação o sujeito pensante),
nisque... progressus quídam perpetuus li- e adquirem en tão som ente um a aparên­
berrim usque totius universi est agnoscen- cia de realidade independente. Tal é, por
dus, ita u t ad m ajorem sem per cultum exemplo, o processo psíquico descrito por
procedat. Semper in abysso rerum supe- CÃÇá« Â Â τ T . Este term o é bastante raro
resse partes sopitas ad huc excitandas et em francês, m as m uito usual em alem ão,
ad m ajus m eliusque et, u t verbo dicatn, onde foi vulgarizado p o r H E Â O7 ÃÂ I U .
ad m eliorem cultum provehendas; nec B. Kr. A τ 2 è deu a esta palavra um
proinde unquam ad term inum progressus sentido um pouco diferente: 1?, considera
perveniri.” L « ζ Ç « U , D e rerum origina-
E
com o fato essencial da projeção, não, co­
tio n e radicali, § 16-17. “ O progresso m o H elm holtz, o fato de localizar a per­
constitui sob todos os pontos de vista ape­ cepção no espaço, a um a certa distância do
nas o desenvolvimento d a o rd em .’’ A . corpo do sujeito, mas o fato de admitir que
C ÃO I E , D iscurso so b re o co n ju n to d o algo dura, persiste, quando aparecem e de­
p o sitivism o , 62. saparecem os estados psíquicos, sempre
m uito curtos, pelos quais essa coisa nos é
C R ÍT IC A conhecida; 2?, ele considera esta função co­
P rogresso, no sentido B, é um term o m o um a “ hipótese” n o sentido em que ele
essencialmente relativo, um a vez que de­ definiu esta palavra, e como a hipótese fun­
pende da opinião professada p o r aquele damental do conhecimento. Ver Zurpsych.
que fala sobre a escala de valores de que A n a ly sed e r W elt, Leipzig, 1900; A s h ipó­
se tra ta . “ O P ro gresso” tom ado absolu­ teses, etc. Resumo do Congresso de Filo­
tam ente é um a expressão m uito utiliza­ sofia de 1904, p. 409. A realidade assim
da: dele se fez não raro um a espécie de construída por “ projeção” é dupla: reali­
necessidade histórica ou cósmica, p o r ve­ dade física d a m atéria, realidade psíquica
zes mesmo um poder real que age sobre dos outros espíritos.
os indivíduos, um a finalidade coletiva que T2 íI « Tτ
se m anifesta pelas transform ações das so­
ciedades. M as a dificuldade está em dar A p ro je çã o , n o sentido A , distingue-
um conteúdo preciso a esta fó rm ula ou, se da localização*. A prim eira supõe um a
por o u tra, em determ inar a direção e o passagem radical do não-espacial ao es­
sentido deste m ovim ento. Crem os dever pacial: ora, esta passagem não é adm iti­
ater-nos à definição form al que é dada da por m uitos psicólogos co ntem porâ­
acim a, sem procurar um a definição ex­ neos, especialmente p o r W . Jam es, que
plicativa que resuma as características co­ atribui a to d a sensação um a espacialida-
m uns de tudo aquilo cuja realização é co- de prim itiva, mais ou m enos indeterm i­
m um ente considerada com o “ um p ro ­ nad a. A segunda im plica som ente que as
gresso” . qualidades atribuídas aos objetos m ate­
R ad. in t .: Progres. riais não são im ediatam ente relacionadas
com um p o n to bem determ inado do es­
P R O JE Ç Ã O D. P rojektiow , E. Pro- paço ou do corpo, m as que a sua cons­
jectio n ; F. Projection·, I. P roiezion e. trução é feita gradualm ente, pelos hábi­
A . Cham a-se teoria da p ro je çã o (por tos, associações ou raciocínios, o que a
oposição ao p ercepcion ism o e às d o utri­ experiência coloca fora de dúvida.
nas interm ediárias) à teoria segundo a R ad. int.: P ro jekt.
P R O JE T IV O 872

P R O JE T IV O Ver S uplem en to. NOTA

“ P R O JE T O ” É usado num sentido É m uito duvidoso que os Estoicos te­


m uito am plo, sobretu do nos escritores nham d ad o àquilo que designavam desse
existencialistas, para designar tudo aqui­ m odo um caráter nitidam ente a p rio ri.
lo pelo qual o indivíduo tende a m odifi­ Ver R« âτ Z á , H ist, d e la p h il., tom o I, p.
car-se e a m odificar o que o rodeia num a 377, e cf. Pren oçõo.
certa direção. “ Q uando digo que o ho­ P R O P E D Ê U T IC A D. P ro p ä d eu tik ;
m em é um p ro jeto que decide por si p ró ­ E. P ro p a ed eu tics ; F. P ro p éd eu tiq u e; I.
p rio ... o que quero dizer... é que ele não P ro p edéu tica.
tem a p rio r i estados psíquicos com o o A . Ciência cujo estudo é um a p rep a­
prazer ou a do r p ara espicaçar a consciên­ ração necessária para o estudo de um a ou­
cia, m as que na realidade a consciência tra ciência. “ D aher jen e auch (die Logik)
se faz prazer ou d o r e que ela decide as­ als P ropädeutik gleichsam nur den V or­
sim, seja na sua estrutura, seja no curso h o f d er W issen schaften au sm a c h t .” 2
de um a vida, so bre a natureza ou a es­ K τ Ç , K rit. d er reinen Vernunft, prefá­
I

sência de si p ró p ria e do hom em .” J.-P . cio da 2? ed., § 3.


S τ 2 2 , “ Consciência de si e conheci­
I E
B. Estudo elementar e cursivo de um a
m ento de si” , Buli. d a Soc. Fr. de Fil., ciência, preparatório para um estudo mais
sessão de 2 de ju n h o de 1947, p. 81. ap ro fu n d ad o (este sentido só é usual em
alem ão, onde a palavra geralmente desig­
P R O LE G Ó M EN O S D. E. P ro leg o ­
na tratados gerais análogos aos nossos
mena·, F. Prolégom ènes; I. Prologom ene.
m anuais de filosofia, ou compêndios des­
Exposição prelim inar que serve de in­
tinados a servir de program a para um
tro dução ao desenvolvim ento integral de
ensino).
um a ciência ou de um a teoria. P o r exem­
plo: K τ Ç , P rologom ena zu r jed en kiinf-
I P R O PE N SÃ O D . N eigu n g ; E. Incli­
tigen M eta p h ysik (1783); G2 E E Ç , P ro le­ nation·, F. Penchant·, I. Propensione.
gom ena to E thics (1883)1, etc. Tendência ou inclinação considerada
enquanto traço de caráter natural e espon­
PROLEPSE G. IIú Ã Xã ã/ «è ; D. E. F.
I
tâneo. Este term o hoje em dia já não tem
I. Prolepse. sentido técnico; pertence apenas à psico­
A . LÓG. A ntecipação de um a obje­
logia prática e à linguagem corrente. O
ção e resposta a esta. “ M ire valet in cau­
mesmo não se passava na prim eira m eta­
sis praesum tio, quae TreoXrp/rí dicitur, de do século XIX. Ver o artigo bastante
cum hoc quod objici potest occupam us.” porm enorizado que lhe é consagrado (por
QZ « ÇI « Â « τ ÇÃ , D e Inst. O ratoria, IX , 2. D . H ÇÇ ) no D icionário de F 2 τ ÇT 3 : as
E E

B. T Ã 2 « τ á Ã T Ã Ç T « O Ç Ã
E 7 E E . “ Oè
I
propen sões são aí distinguidas, por um la­
Estoicos cham avam a esses princípios do, dos apetites (que dim anam do corpo
p ro lep ses (os princípios que a alm a con­ e são periódicos, enquanto que as propen­
tém originariam ente e que os objetos ex­ sões dim anam do coração e agem com
ternos despertam som ente em cada oca­ continuidade), por o u tro lado, das p a i­
sião), quer dizer, assunções fundamentais x ões (que não são congênitas, enquanto
ou o que se to m a por concedido anteci­ que as propensões são prim itivas). Esta
p adam ente.” L « ζ Ç « U , N o v o s ensaios,
E
palavra foi p articularm en te utilizada pe-
p re f., § 3. C f. N oções* com uns.

2. “ A ssim a lógica, d a m esm a fo rm a , e n q u a n to


1. Prolegóm enos a toda m etafísica fu tu ra ; P ro ­ p ro p ed êu tica, c o n stitu i, p o r assim dizer, n a d a m ais
legóm enos a ética. q u e o v estíb ulo d a s ciên cias.”
873 P R O P O S IC IO N A L

los frenólogos, por Fourier, Saint-Simon, ção am pla, tanto mais que os próprios ló­
A ug. Com te. gicos sempre designaram por proposições
R ad. in t.: Inklin. o antecedente e o conseqüente de um ju í­
zo hipotético, ainda que neste caso a as­
P R O P O S IÇ Ã O G . ’Airó<pctv<ns, serção se refira som ente à sua relação e
ènro<pavnxòs Xóyos (A2 « è I ó I E Â E è , Ileg i que cada u m a delas considerada isolada­
k(¡nriv., 4 e 5); rrgóraois, m as sobretudo m ente não possa ser d ita nem verdadeira
quando se tra ta das premissas de um si­ nem falsa. C f. P ro blem ático.
logismo; L . P ro p o sitio \ D. Satz, P ro p o - RZ è è E Â e W7 « I E 7 E τ á , nos Principia
sition; E. P ro p o sitio n ; F. Propositiorv, I.
m ath em atica, adm item que to d a p ro p o ­
P roposizion e.
sição representada por notações será con­
P ro priam ente, enunciado verbal sus­ siderada com o reduzida à sua lexis e que,
cetível de ser dito verdadeiro ou falso e, p a ra a tran sfo rm ar em asserção, se deve­
por extensão, enunciado algorítmico equi­ rá fazê-la preceder do signo t - .
valente a um enunciado verbal deste gé­
nero, por exem plo a = b. NOTAS
Esta definição vem de Aristóteles, que 1. P a ra a distinção das P p predicati­
designa esta característica pela palavra vas e das P p de relação, das P p atrib u ti­
a pofân tico (ver a palavra). O Xóyos árro- vas e não atributivas, das P p de inerên­
<potvTLxós é urna das espécies do género cia, de inclusão, de pertença, etc., ver es­
Xóyos orifictvnxós (palavras com um sen­ tas palavras. É preciso notar que estas di­
tido); opõe-se às outras espécies deste, tais versas designações dim anam de pontos de
com o a enunciação de um nom e isolado, vista diferentes, e que algumas dentre elas
um desejo, um a ordem , etc., às quais não estão su bord inad as a outras, e não coor­
convém a designação de verdadeiro ou denadas com elas.
falso (ibid., 17M ss.). Alguns lógicos contemporâneos tom a­
P o r consequência, a proposição po­ ram a pofân tico com o sinônim o de atri­
de tam bém ser definida com o o enuncia­ b u tivo . Sendo este uso da palavra m uito
do de um ju ízo * , pelo m enos virtual. mais restrito do que em A ristóteles, têm
“ The unit o f language which represents o duplo inconveniente de se prestar à con­
a judgem ent is called a pro p o sitio n .” 1 fusão, e de deixar sem designação própria
BONSANQUET, L ogic, 1, 74. Ver no mes­ um a idéia im portante.
m o capítulo a discussão dos outros sen­ 2. As quatro proposições predicativas
tidos dados à oposição das palavras ju í­ clássicas são m uitas vezes representadas
z o e p ro p o siçã o . nos lógicos ingleses p o r SaP, SiP, SeP,
M as, falando de um enunciado que SoP, correspondendo respectivam ente a
p o d e ser dito verdadeiro ou falso, perm a­ A*, I*, E*, O*. E sta notação é côm oda
nece um a ambigüidade: incluir-se-ão aí os p a ra a expressão das conversões*,
enunciados que contêm a m atéria de um a equipolências*, etc.
asserção, qu ando em virtude do seu p a ­ R ad. int.: Propozicion.
pel no contexto eles não são ditos nem
verdadeiros nem falsos (lexis *)? É esse o P R O PO S IC IO N A L D. S a tz...; E.
caso das que os gram áticos designam por P ropositional; F. Propositionnel; I. P ro-
proposições infinitivas, condicionais, in­ p o sizio n a le.
terrogativas, optativas, relativas, etc. Cre­ Que diz respeito às proposições e mais
m os que se pode a d o tar esta interp reta­ particularm ente às proposições enquan­
to opostas aos conceitos. M uito com um
em várias expressões de lógica m oderna:
1. “ A u n idade língüística q ue rep re sen ta um ju í­ Interpretação conceptual (I. C.), interpre­
zo c h am a-se u m a p ro p o siç ã o .” tação pro p o sicio n a l (I. P .), para caracte-
P R O P R IE D A D E 874

rizar os dois sentidos de u m a fórm ula lo­ I EÂ èE (T ó p ico s, livros I e V), e cuja dis­
gística, como por exemplo a — b; ver Im ­ tinção foi resum ida p o r P Ã2 E I2 « Ã com o
plicar, C. Função preposicional, expressão se segue (Isagoge, IV; 4a14 ss.):
verbal ou algorítmica que contém um a ou 1?: O que pertence a um a espécie, ape­
várias variáveis, e que se to rn a um a nas a ela, e n ão a to das as espécies; por
proposição* se essas variáveis forem subs­ exemplo, ao hom em , ser geóm etra.
tituídas po r valores fixos; ver Função. 2?: O que pertence a to d a a espécie,
P R O P R IE D A D E D . A . B. Eigen- e não som ente a ela; por exemplo, ao ho­
schaft; C. D. Eigentum ; E. A . P ro p erty, m em , ser bípede.
B. P ropriety, C. P roperty, ownership-, D . 35: O que pertence a to d a a espécie e
P ro p erty, F. P ropriété; I. P roprietá. som ente a ela, mas de um m odo m om en­
Prim itivam ente, o que é próprio , no tâneo; p o r exemplo, ao hom em , ter ca­
sentido A . Esta acepção caiu em desuso. belos brancos n a velhice.
Ver o texto de P Ã2 I -RÃà τ Â (livro 1?, 4?: O que pertence a to d a a espécie e
cap. V III, § 4), citado no artigo P ró p rio , apenas a ela, em qualquer tem po; por
Crítica. exemplo, ao hom em , poder rir.
A. Característica que pertence a todos Os autores d a L ó g ica de P Ã2 I -
os seres de um a espécie (mas que pode R Ãà τ Â (1? parte , cap. V II) reproduzem
também pertencer a outros). “ P roprieda­ esta classificação m udando apenas o úl­
des físicas: o hidrogênio é um gás inco­ tim o exem plo e que enunciam assim: “ É
lor e sem odor, e tc .” T2 ÃÃè I , P r é c is d e pró p rio do círculo, só do círculo, e sem­
chim ie, § 150. Cf. P ró p rio (subst.), sen­ pre, que as linhas que vão do centro à cir­
tido 2. cunferência sejam iguais.” Aliás só este
B. Característica do que é p ró p rio , no sentido é p o r eles considerado verdadei­
sentido D. “ P ro priedade de u m term o; ram ente fundam ental: “ Q uando desco­
propriedade d a linguagem .” brim os a diferença que constitui um a es­
C . D ireito daquele que possui ou p o ­ pécie, quer dizer, o seu principal atrib u ­
de reivindicar um a coisa em virtude d a lei to essencial que a distingue de to d as as
ou pelo m enos em virtude de um direito outras espécies, e se, considerando m ais
natural. “ A propriedade é o direito de go­ particularm ente a sua natureza, nela en­
zar e de dispor das coisas da m aneira mais contram os ainda algum atributo que es­
absoluta, desde que se não faça delas um teja necessariamente ligado a esse primei­
uso proibido pelas leis ou regulam entos.” ro atributo, e que, por conseqüência, con­
C o d e civil, livro II, títu lo II, 544. A p ro ­ vém a to d a essa espécie, e som ente a ela,
priedade, que é um direito, opõe-se à o m n ie ts o li, cham am os-lhe propriedade-,
p o sse * , que é um estado de fato. ... e porq ue convém tam bém a todos os
D . A quilo que é objeto desse direito. inferiores da espécie, e a única idéia que
Rad. in t .: A . P ro p raj; B. P ropres; C. dela tem os, um a vez fo rm ad a, pode re­
D . P ropriet, ad j. presentar essa propriedade onde quer que
se encontre, temos então o quarto dos ter­
1. P R Ó P R IO (subst.) G. Ί δ ι ο ν ; L.
m os com uns ou universais.” I b id ., § 4:
P ro p riu m ; D . (Das) Eigene; E. (T h e)pro-
“ D o p ró p rio .”
p e r , F. P ro p re\ I. P ro p rio .
O exemplo acim a citado (do círculo)
Característica ou co n junto de carac­
não é claro, porque a igualdade dos raios
terísticas pertencentes a todos os seres de
é precisam ente a característica que geral-
um a classe (já definida) e só a eles.
mente serve para a definição d o círculo
C R ÍT IC A e constitui a sua diferença específica re­
Esta palavra apresenta na Antigüidade lativam ente às curvas planas fechadas.
vários sentidos, distinguidos por A 2 « è I ó - Essa igualdade apenas seria um p ró p rio ,
875 P R Ó P R IO

no sentido de A rn autd e N icole, se se ti­ finições de P orfirio do que parece à pri­


vesse desde logo definido o círculo por meira vista. Se se prestar atenção aos exem­
um a outra característica; m as é provavel­ plos dados, notar-se-á que não são hom o­
m ente isso que eles subentendiam , sendo gêneos: pois que se considera, para o sen­
a circunferência definid a p o r A 2 Çτ Z Â á tido 4, a p o ssib ilid a d e de rir, e não o fato
algures: “ A linha que descreve sobre um de rir presentemente, deve-se considerar
plano um a das extrem idades de um a re­ tam bém , p ara o sentido 1, a fa cu ldade de
ta , perm anecendo a sua o u tra extrem ida­ fazer geometria e não o fato de ser atu al­
de imóvel” ; e o círculo, o espaço circuns­ mente geóm etra; d o m esm o m odo, para o
crito p or essa circunferência ( G eom etria ,
sentido 3, deve-se considerar a disposição
V, seção 2, § 12). N a página precedente,
para ter cãs e não o fato de se ter presente­
dão m ais justam ente com o exemplo o
mente os cabelos brancos. Restaria, por­
triângulo retângulo, do qual o próprio (ou
cu ja “ propriedade” ) é a igualdade dos tanto, o sentido 4, que é fundam ental, e
quadrados; “ porq u e é um a decorrência o sentido 2, que se pode considerar inexis­
necessária do ângulo reto que o q u ad ra­ tente na linguagem filosófica francesa (ex­
do do lado que o sustém seja igual aos ceto sob a form a derivada propriedade*).
quadrados dos dois lados que o com ­ M as ninguém diz que ser bípede é “ o pró­
preendem ” . Seria necessário além disso prio do hom em ” , ou “ próprio para o ho­
acrescentar: “ e porque esta relação não m em ” , senão para o distinguir dos outros
se encontra em nenhum outro triângulo” . m am íferos dos quais nenhum é tal. V olta­
É verdade que se diz muitas vezes da m os, então, àquilo que Aristóteles cham a­
definição que ela deve “ ser própria do de­ va ihiov TTQÓt t i { T ópicos, I, 5; 102a27),
finido” {hei yòcQ t ò v 6 q l σ μ ό ν Ι δ ι ο ν eivou, tô io v vQÒf en Q ov (ib id ., V, 1; 128b27):
Tópicos, V I, 1; 139a31), ou que deve mas esta característica, ainda aqui, só é
“enunciar o próprio”: mas então subenten­ cham ada p ró p rio porque, num Universo
de-se que temos algum m odo de reconhe­ do discurso limitado, pertence-lhe om n i et
cer, pelo menos empiricamente, os indiví­ soli. Ver as observações.
duos que compõem a classe em questão, R ad. int.: Idiaj.
ou, dito de o utra m aneira, que se trata de
um a definição explicativa *, ou do que Port- 2. P R Ó PR IO (adj.) G. ”Ktos; L. Pro-
Royal chamava um a definição d e coisas. p riu s\ D . Eigen; E. P ro p er, F. P ropre; I.
Existe, aliás, menos distância entre a P ro p rio . Em to d as as línguas, em com ­
definição de Port-Royal e as quatro de­ posição, no sentido A , I d io ...

Sobre P róprio — A ristóteles distingue sob este nom e: 1?, aquilo que, sem expri­
m ir a essência d a coisa, lhe pertence todavia e se recipro ca com ela: só do hom em
é pró prio ser geóm etra e, reciprocam ente, um geóm etra n ão pode ser senão um h o ­
m em {T o p ., I, 5, 102a18-30, P o rfirio , 1?); 2?, o que pertence à coisa sempre e por
si: assim o hom em é, p o r natureza, um anim al não selvagem (P orfirio , 2?); 3?, o
que pertence à coisa não por si, m as através da sua relação com um a ou tra: é, p o r
exem plo, pró p rio d a alm a com andar e do co rpo servi-la; 4?, que pertence sempre
à coisa, m as pela relação com o u tras coisas em que se encontra um a p a rte do mesmo
p róprio ; assim, o pró prio que caracteriza o deus relativam ente ao hom em e ao an i­
m al é o fato de ser um im ortal vivo; ou o hom em em relação ao cavalo e ao cão,
é o fato de ser bípede (Porfirio, 2?); 5?, o que pertence à coisa, mas som ente num certo
m om ento, e, p o r conseqüência, em relação a outro s m om entos e a outros indivíduos:
assim , para um homem passear n o G in á s i o ou n a A gora ( P o r f i r i o , 3 ? ; T o p ., V , 1,
128bl 5-21; cf. 24 ss., 35 ss., 37-39; 129a4 ss., 8-16). Se suprim irm os a terceira cias-
P R O P R IO 876

A . Q ue pertence a um sujeito dado, n ã o in c lu ir n e n h u m d o s in d iv íd u o s e s tra ­


indivíduo ou espécie, e só a ele (sem dis­ n h o s à e s p é c ie .” R τ ζ « E 2 , L o giqu e, p.
tinção do que é essencial e do que é aci­ 182. (Cf. A 2 « è I ó I E Â E è , T o p ., V I, 1;
dental). “ Nome pró prio ” , oposto a “ no­ 139*31.)
me com um ” . “ A definição deve ser p ró ­ Sentido p ró p rio , s e n tim e n to p e s so a l,
p ria (con veniat uni defin ito ), quer dizer, p o r o p o s iç ã o à tr a d iç ã o e à a u to rid a d e .

se, que exprime som ente de m odo geral que certos pró prio s não são κ α θ ’α ΰ τ ά (tal
parece ser pelo menos o pensam ento de A ristóteles), apercebem o-nos facilmente do
paralelism o exato desta classificação e da de P orfirio. Resta saber que im portância
tem a distinção em questão. O ra, podem os perguntar-nos com efeito se todos os p ró ­
prios por si não são na realidade p róprios relativos. É , aliás, o que reconhece A ristó­
teles quando define o próprio κ α θ 'α áró com o um a característica que convém à coi­
sa em relação a qualquer o u tra (IIIò è ά π α ν τ α ) e a distingue de qualquer outra: as­
sim, para o hom em , o ser um m ortal vivo ap to a receber a ciência (128», 34-36). Is­
to vale igualm ente para este outro exemplo de pró prio por si: para o homem ser um
anim al não selvagem (17 ss.). Inversam ente, um pró prio p o r relação, com o aquele
que caracteriza a alma ou o corpo encarados em sua relação, exprim e verdadeira­
m ente no aristotelism o um a determ inação essencial para um a e p a ra o u tra, porque
a alm a é κ α θ ’ α υ τ ό a fo rm a de um corpo organizado que tem a vida em potência,
e ter a vida em potência é aspirar a receber a fo rm a da alm a. Vemos além disso até
que po nto é flu tuante a distinção estabelecida aqui p o r A ristóteles en tre o pró prio
e a essência (a qüididade, τ ι íji> e iv a i), ou entre o p ró p rio e a definição, opos (cf.
Predicáveis). D o mesmo m odo, um pró prio tam bém não deveria ser u m a diferença
específica: com o é que o fato de ser im ortal pode ser dito pró prio de deus em relação
aos outros viventes, ou a aptidão p a ra receber a ciência p ró p ria d o hom em , se ela
0 distingue dos ou tro s anim ais m ortais? M as a distinção não é m enos incerta entre
0 pró prio e o acidente, σ υ μ β ΐ β η κ ό ^. Seguram ente, se se trata r de u m a relação nor­
m al e freqüente (¿s e n τ ο π ο λ ύ κ α ί èv t o Zs π λ ε ΐ σ τ ο ΐ ί ), m as n ão universal nem ab­
solutam ente constante (èv ά π α σ ι κ α ί ceei, 129a6 ss.), este pró prio que pertence à
razão que é co m andar o coração o u o apetite pode desaparecer p o r acidente (a,
10-16), e deste m odo o pró prio e o acidente aparecem distintos. M as, por o u tro lado,
o que é pró prio num certo m om ento (τ ο Te) não será um verdadeiro acidente? Será
verdadeiram ente um pró prio p a ra um hom em passear no G inásio ou na A gora, ou
ter cabelos brancos ao envelhecer? M esm o que se encontrem , o que n ão é im possí­
vel, melhores exemplos, não deixarão alguns pró prio s de ser ao mesmo tem po aci­
dentes. De resto, a palavra σ υ ^ β ΐ ) χ ό τ , que significa acidente, serve tam bém a A ris­
tóteles para designar atributos próprios que, se n ã o estão im ediatam ente na essên­
cia, dela decorrem pelo m enos necessariam ente e dela podem ser deduzidos, τ α κ α τ ά
σ υ μ ßeßη κ òs l'Sia, ΐ δ ι α π ά θ η (D e A n ., I, 1, 402a, 15). Em resum o, a elaboração d a
noção de p ró p rio é, pois, insuficiente. A ristóteles percebeu, e bem , que ela com por­
ta um a grande quantidade de graus. M as um a análise demasiado form al e m uito pouco
ap rofundada não lhe perm itiu determ inar com precisão o núm ero e a hierarq uia des­
tes graus, desde as diferenças específicas pro fundas, às quais se ligam características
derivadas cu ja necessidade e, por conseguinte, universalidade e estabilidade vão de­
crescendo, até o m ar infinito dos acidentes puram ente individuais, objetos co ntin­
gentes da p u ra sensação, determ inados unicam ente por circunstâncias de lugar e de
tem po, e de que podem os dizer com o próprio A ristóteles (An. p o s t., I, 35, inicio)
que eles são TÓôe τ ι κ α ί π ο υ κ α ί ν υ ν . (L . R obín)
877 P R O S P E C T IV O

B. Menos estritamente, sinônimo quer dem ser-lhe atribuídos p o r ignorância ou


de p a rticu la r no sentido B, quer de espe­ por negligência (im propriedades ). A “ pa­
cial·. que não pertence a todos os indivi­ lavra p ró p ria ” é aquela cu ja definição e
duos de um a espécie, ou a todas as espe­ co notação convém perfeitam ente ao que
cies de um gênero: “ Deve-se ter em co n­ se tem intenção de exprim ir.
ta , ao educar u m a criança, o seu caráter R ad. int.·. A. Idi; B. D . Pro pr; C. Apt.
próprio ; disposições pró prias d a sua n a ­
tureza.” A palavra não implica, neste sen­ “ PRO SPECÇÃ O ” E. Prospection; F.
tido, que outro s indivíduos n ão possuam P rospection.
tam bém estas características. Term o proposto por M aurice BLON-
M uitas vezes se enfraquece ao ponto DEL, que lhe expõe assim o sentido: “ É es­
de refo rçar apenas o pronom e possessi­ ta últim a espécie de pensamento (o pensa­
vo (como o inglês oven) ou de substituir m ento retrospectivo) que merece exclusi­
o pronom e reflexo: “ O am or-p ró p rio ” vamente o nom e de reflexão. P a ra a pri­
(primitivamente, o am or de si mesmo; de­ m eira, que recebe a sua luz e o seu próprio
pois, por especialização, o ponto de h on­ ser daquilo para que se orienta, parece ne­
ra , o espírito de em ulação). cessário dispor de um term o preciso que
C. C apaz deste ou daquele em prego, previna to da e qualquer confusão; e talvez
conveniente para este ou para aquele uso a palavra P rospecção possa ser utilizada
(cf. a p ropriado). Diz-se no bom ou no com vantagem na seqüência deste estudo a
m au sentido: “ U m a observação pró pria fim de designar o conhecimento direto, so­
p ara esclarecer a q u estão.” “ U m m odo bretudo no que ele pode ter de sensato, de
de raciocínio pró prio para criar ilusão ” deliberado, de circunspecto.” “ O ponto de
(só se em prega em expressões feitas; p o ­ partida da investigação filosófica” , A n u a­
rém no século XVII este emprego era les de ph ilosophie ch rétiem e, 1906,1 ,342.
m uito corrente: “ pró prio p a ra passar o Neologism os, m as baseados em ter­
tem po qu ando não se tem o que fazer” . mos ingleses usuais, bem fo rm ados e
M ÃÂ « ê 2 E , O avaren to, II, 1). úteis.
D . F alan do de um a palavra, designa­
se por sen tid o próprio·. 1?, o seu sentido PRO SP E C T IV O E . P ro sp ective\ F.
primitivo, por oposição aos diversos usos P ro sp ectif.
figurados ou derivados que dele são fei­ Que diz respeito à inteligência enquan­
tos; 2?, o seu sentido exato e preciso, por to orientada p a ra o fu tu ro (oposto a
oposição ao em prego incorreto que dele retrospectivo*).
pode ser feito, aos falsos sentidos que p o ­ R ad. in t.: Previal.

Sobre “ Prospecção” — E sta palavra designa o pensam ento orientado para a ação,
o pensam ento concreto, sintético, prático, finalista, que en cara o complexo to tal d a
solução sem pre singular a que o desejo ou a vontade se referem , p o r oposição à “ re-
tro specção” ou “ reflexão analítica” , que é um pensam ento dobrado sobre si m es­
m o, especulativo ou científico, não desligado, é certo, de aplicações possíveis e de
fecundidade prática, mas que apenas alcança indiretam ente essa utilidade e passa pri-
m eiram ente pelo conhecim ento genérico e estático com o p o r um fim autônom o. Es­
ta s duas form as de conhecim ento não se separam nunca com pletam ente u m a da ou­
ra e n ão se reduzem tam bém nunca um a à o u tra: harm onizam -se no realism o supe­
rio r desta ciência possuid ora ou dessa intuição adquirida a que, p o r oposição ao co­
nhecim ento p e r n o tio n em , os escolásticos cham avam p e r con n aturalitatem et unio-
nem . Além disso, a prospecção, ta n to com o a retrospecção, com porta um a atenção,
um a reflexão su i generis e não deve ser confundid a com a espontaneidade ou o im ­
pulso dos atos diretos. (M . B londet)
P R O S S IL O G IS M O 878

PRO SSILO G ISM O D . P rosyllogis- nar aquilo que se considera como erro ori­
m u s; E. P rosyllogism ; F. P rosyllogism e; ginal do qual derivam to das as conse-
I. P rosillogism o. qüências que se ju lg am falsas num a d o u ­
A . Silogismo cuja conclusão serve de trina. E sta expressão vem de A 2 « è I ó I E ­
prem issa a um o u tro silogism o. Cf. L e ­ Â E è , P rim eiros analíticos, B, 66 b, 18;
m a, P olissilogism o. mas nesta passagem ele a entende simples­
B. P or vezes, sinônimo de Polissilogis­ m ente com o a prem issa falsa que se en­
m o*. Este uso, raro aliás, provém de Aris­ co n tra necessariam ente em todo raciocí­
tóteles CPrim. anal., 42b25), que designa nio correto c u ja conclusão é falsa.
assim o que mais tarde se chamou sorite*.
“ P R O T Ó T E S E ” D . P rototh èse; F.
PRO TENSIVO D. P rotensiv, F. Pro-
P ro to th èse.
tensif.
Q ue ocu pa um a duração, que se p ro ­ T erm o pro posto p o r W . O è I ç τ Â á
longa na duração. O uso filosófico desta para designar as hipóteses “ suscetíveis de
palavra tem a sua origem na passagem se­ verificação no estado atual da ciência”
guinte: “ Glückseligkeit ist die Befriedi­ p o r oposição às hipóteses inverificáveis
gung aller unserer Neigungen, sowohl ex­ com os meios de que dispom os. Ver, es­
tensive, d er M annigfaltigkeit derselben, pecialm ente, D ie E nergie, § 68.
als: intensive, dem G rade, als auch p r o ­
C R ÍT IC A
tensiv, der D auer n ac h .” 1 K τ Ç , K rit. I

d er reinen Vern., M ethodenlehre: vom Esta distinção seria de im portância se­


Ideal des höchsten G uts, A 805: B 833. cundária, porq ue os meios de verificação
Term o m uito raro . de que dispomos podem m udar de um dia
para o outro para um a determ inada ques­
P R O T O ... Prefixo usado para form ar
tão. M as parece concluir-se do contexto
term os onde entre a idéia de prim eiro*.
e dos exemplos dados que a distinção real­
Ver a Crítica desta palavra. Sobre os equí­
mente visada é a das hipóteses de estru­
vocos que por vezes encobre, cf. Du-
2 τ Çá DE GRO S, A p erçu s d e taxinom ie
tura e das hipóteses sobre relações fun­
cionais entre grandezas mensuráveis. Es­
genérale, 198-199.
Ilg à ro !/ xj/evèoi (literalmente: prim ei­ te termo seria, portanto, capaz de aum en­
ra coisa falsa), locução usual p ara desig­ tar mais do que dim inuir a confusão que
reina nesta questão. Cf. H ip ó tese e Veri­
1. “ A felicidad e é a sa tisfação de to d a s as n o s ­ fica çã o .
sas pro p en sõ es, tã o extensiva, q u a n to à su a m u lti­
plicid ad e, com o intensiva, q u a n to a o seu g ra u , e c o ­ PRO V A D . Beweis·, E. P roof; F.
m o protensiva, q u a n to à su a d u r a ç ã o .” Preuve; I. P roba.

Sobre P ro v a — P o d erá a prova consistir num a simples apresentação de fato? (G.


Beaulavorí) A prova é sempre um raciocínio: nunca a apresentação de um fato é em
si um a prova; é sim plesmente o meio de a estabelecer. (L. Boisse)
Todavia, não hesitam os em dizer de um fato que ele é a pro va de um a afirm ação;
e na linguagem jurídica a palavra aplica-se m uito bem a docum entos: “ As regras
acim a sofrem um a exceção quando existe um com eço d e p ro v a por escrito. Designa­
mos assim to d o ato p o r escrito que em anou daquele contra o qual a dem anda é f o r - .
m ad a... e que to rn a verossímil o fa to alegado.” “ Elas tam bém não se aplicam todas
as vezes que não foi possível ao credor arranjar um a p ro v a literal d a obrigação que
p ara com ele foi con traída. E sta exceção aplica-se... ao caso em que o credor perdeu
o títu lo que lhe servia d e p ro v a literal n a seqüência de um acaso fo rtu ito, imprevisto
e resultante de um a fo rça m aio r.” C o d e civil, III, cap. V I, art. 1347 e 1348. (A . L .)
879 “ P R O V E R S IV O ”

O peração que leva a inteligência de trária. “ U t potero, explicabo; nec tam en,
um a m aneira indubitável e umversalmen­ ut Pythius A pollo, certa u t sint et fixa
te convincente (pelo menos de direito) a quae dixero; sed u t hom unculus, proba-
conhecer a verdade de um a proposição bilia conjectura sequens.” CÍCERO, Tus-
antes considerada com o duvidosa. cu l, I, 9 (epígrafe do T ratado d a s sensa­
A prova é, em geral, um raciocínio, çõ es de CÃÇá« Â Â τ T ). “ E stas consciên­
m as nem sempre: pode consistir num a cias, cuja existência é mais p ro v áv el...”
ap resentação de fa to que afasta a dúvi­ R e n a n , Fragm ents p h ilo so p h iq u es, p.
da. D aí que esta palavra, num sentido, 1 8 1 .0 advérbio p ro va velm en te tem sem­
por assim dizer, m aterial, se aplique tam ­ pre este sentido.
bém a o fa to , ao docum ento, que prova P o r extensão, diz-se das próprias coi­
algum a coisa. sas: “ U m acontecim ento provável.”
P o r o u tro lado, a p rova distingue-se, C . (relativam ente). Q ue apresenta tal
pelo seu caráter de verdade, das form as o u tal grau de credibilidade. “ U m erro
é ta n to m enos provável quanto m aior
d o raciocínio hipotético-dedutivo, onde
fo r .” “ O valor a que cham am os m éd ia ”
simplesmente se m ostra que existe um a li­
(e que geralm ente designam os p o r erro
gação necessária entre certas premissas e
p ro vá vel) “ é efetivam ente m enos p ro ­
certas conseqüências, sem n ad a p ro n u n ­
vável d o que qualquer valor m e n o r.”
ciar assertoricam ente sobre estas. A idéia
C o u r n o t , Théorie d es chances e t d es
de p ro v a pertence à m esm a ordem de no­
p ro b a b ilités, cap. III, § 34.
ções lógicas com o as de dúvida, refu ta­
D . N o sentido m atem ático, ver P ro ­
ção e certeza.
b a b ilidade, 2?.
P ro v a c o sm o ló g ic a , o n to ló g ic a , R a d . int.: P ro babl.
físico -teológica. Ver estas palavras.
“ PROVERSIVO” V oltado para o fu­
P ro v a pelo ab surdo Ver A b su rd o . tu ro . T erm o genérico que designa, de
R ad. in t.\ Pruv. um a m an eira m ais am pla, aquilo de que
pro sp ectivo assinala somente o aspecto in­
PROVÁVEL L. Probabilis (de p ro b a ­ telectual. E sta palav ra, tal com o p ro ver-
ré), que pode significar, quer admissível, sã o , é pro p o sta p o r L e S e n n e , e por ele
quer verossím il, quer estimável; D. A . oposta a retroversivo e retroversão: “ A
Probabel·, B. C. Wahrscheinlich-, E. P ro ­ m oral é p ro versiva . A cada instante so­
bable-, F. Probable-, I. P robabile. mos solicitados ou levados por um a ou
A. Que pode ser aprovado (e não p r o ­ o u tra de duas tendências: um a que nos
vado), que nad a tem de absurdo ou de volta p ara aquilo que já é, que prolonga
contrário à auto ridade. É neste sentido o passado no presente, a natureza, para
que os casuistas adm itiam que duas o pi­ descobrir em que consiste; a outra, pelo
niões contrárias podem ser am bas “ p ro ­ co ntrário, nos faz virar as costas ao pas­
váveis” . Este sentido caiu em desuso. sado p ara nos encam inharm os para o fu ­
B. (absolutam ente). Verossímil, que tu ro ainda indeterm inado, a fim de o as­
merece mais crédito do que a opinião con- sinalar com a chancela do ideal e de o de-

Sobre Provável — Os sentidos B e C são na realidade apenas aplicações do senti­


do A , que é o verdadeiro e, no fundo, o único. P robare significa propriam ente em
latim aprovar ou fazer ap rovar. P robabilia, no texto citado de C 6TE 2 Ã , quer dizer
opiniões plausíveis. O sentido C é ainda um a sua conseqüência, com um a aplicação
particular às coisas que se calculam e, por conseguinte, com a idéia acessória de um a
medida da probabilidade. (J. Lachelier)
P R O V ID E N C IA 880

term inar através da m ediação deste. A o relativam ente a Deus um a lei que jam ais
prim eiro m om ento é cóm odo aplicar o se dispensa.” Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E , M e d ita ­
nome de retroversão; ao segundo, o de çõ es cristãs, VII m ed., § 17.
p ro v e rsã o .” T raité de m orale genérale, B. “ A Pro vidência” : Deus enquanto
introdução. exerce o poder providencial acim a de­
finido.
PRO V ID E N C IA G . w çó vo ia (Eè I ë ­ R ad. int.: Providenc.
TÃè ); D. Vorsehung ; E . Providence', F.
Providence·, I. P ro vvid en za . 1. P R Ó X IM O (adj.) D. N ächst; E.
A . Ação que Deus exerce sobre o N ext; F. Prochain; I. P rossim o.
m undo enquanto vontade que conduz os O que está mais perto . É sobretudo
acontecim entos p a ra os seus fins. Se se utilizado n a expressão gên ero p ró x im o :
considerar que a organização perm anen­ o m ais fraco, em extensão, dos que com ­
te das coisas, o estabelecimento de leis fi­ preendem um a espécie dada.
xas cujos efeitos benfazejos foram p re­ P o d er pró x im o , term o sobre a defini­
vistos, e em virtude dos quais essas leis ção do qual trata a Prim eira provin cial de
foram escolhidas, essa ação é designada P τ è Tτ Â ; tem , segundo ele, dois sentidos
p ro vid ên cia geral·, a intervenção pessoal, diferentes e inconciliáveis, de tal m odo que
o u , pelo m enos, análoga a de um a pes­ aqueles que o admitem estão de acordo
soa, no curso dos acontecim entos suces­ apenas quanto a um a palavra; 1?, ter o po­
sivos, é d ita p ro vid ên cia particu lar. “ A der próxim o de fazer algum a coisa “ é ter
providência de Deus consiste principal­ tudo o que é necessário para o fazer, de tal
m ente em duas coisas. A prim eira... em m odo que nada falta para ag ir” ; 2?, ter o
ter com eçado, ao criar o m undo e tudo poder próxim o para fazer alguma coisa “ é
estar por si próprio em condições de o fa­
o que ele contém , a m over a m atéria de
zer, mesmo que falte algum a coisa para
m aneira que há o menos possível de de­
agir” ; p. ex.: “ Um hom em de noite, sem
sordem n a natureza, e n a com binação da
nenhum a luz, tem o poder próxim o de
natureza com a graça. A segunda, em que
ver... se não fo r cego.” E. H avet, pp. 8-9.
Deus rem edia através de milagres as de­
sordens que acontecem em conseqüência 2. P RÓ X IM O (subst.) G. IlXi/mos; L.
da sim plicidade das leis n atu rais, desde P roxim us; D. (Der) N ä ch ste ; E . Neigh-
que a ordem o exija; porq ue a ordem é b o u r ; F. Prochain; I. (II) p ro ssim o .

Sobre Próxim o — N o sentido lógico: Pode-se duvidar de que por gênero p ró x i­


m o seja necessário entender aquele que, na escala lógica, é o mais vizinho da espécie
considerada; ou se o gênero p ró x im o não seria antes aquele que está mais perto de
passar ao ato (relativam ente), que só tem necessidade para o fazer da diferença espe­
cífica. O sentido da palavra seria então o mesmo que em p o d e r p ró x im o . (J. Lachelier)
N o sentido m oral: O texto de Lucas, X, 30-37, apresenta na V ulgata e nas tra d u ­
ções francesas um a dificuldade: ela provém de que a expressão o “ meu próxim o” ,
na boca do D outor da Lei, designa evidentemente aquele em relação ao qual é preci­
so exercer a caridade, ao passo que na conclusão ela se encontra aplicada àquele que
a exerceu. M as “ o meu próxim o” (m eu sp ro x im u s) é um a tradução ligeiram ente ine­
x ata; no texto está π λ η σ ί ο ν , que não é um substantivo, nem um adjetivo, m as um
advérbio (exceto na passagem em que o doutor, recitando a Lei de Moisés, diz: ά -γ α πή -
aeis... τ ο ν π λ η σ ί ο ν σ α ν é s aecevróv). M as em todos os lados π λ η σ ί ο ν é utilizado sem
artigo. O doutor pergunta: rts « m μ ο ΰ π λ η σ ί ο ν ; o que significa propriamente: “ Quem
está perto de m im ?” , e Jesus Cristo, no fim d a parábola, pergunta-lhe por sua vez:
881 P S E U D ... o u P S E U D O ...

U m hom em qualquer, um dos nossos sabedoria, pelo m enos de sabedoria p rá ­


“ semelhantes” (particularm ente enquan­ tica.
to considerado com o nosso irm ão, como B. (sentido mais usual). Q ualidade do
feito tal como nós à imagem de Deus). Es­ caráter que consiste na reflexão e na p re­
te term o é de origem bíblica: prim itiva­ vidência pelas quais se evitam os perigos
m ente e literalm ente, o próxim o é o que da vida.
está “ p erto ” , o hom em d a m esm a fam í­
NOTA
lia ou pelo m enos d a m esm a tribo: “ N ão
usarás de vingança co n tra as crianças do K lugh eit, que to dos os tradutores de
teu povo, m as am arás o teu próxim o co­ Kτ ÇI estão de acord o em traduzir por
m o a ti m esm o.” L ev ític o , X IX , 18. prudência (Fundam enta. d a m et. d o s cos-
(Aliás, nesta passagem , este preceito não tu m ., II; B am i, p . 49; D elbos, p. 127; H .
está ain da ligado àquele que diz respeito Lachelier, p. 45), tem , p ara ele, um sen­
ao am or de D eus.) A p aráb o la d o B om tido um pouco m ais fo rte que o sentido
Sam aritano (S. Lucas, X, 29-37) tem pre­ atual B, sem contu do se confundir com
cisam ente com o objetivo substituir este o sentido A . Ele define-a “ die Geschick­
sentido: o nosso verdadeiro próxim o não lichkeit in der W ahl der M ittel zu seinem
é som ente o nosso com patrio ta, o nosso eigenen grössten W ohlsein” 1. Ele opõe
parente pelo sangue; é o hom em , qual­ deste m odo os imperativos problemáticos
qu er que seja, mesmo de o u tra raça, que da habilidade propriam ente dita (relati­
dá provas de bondade e de devoção. D on­ vos à simples realização de um fim qual­
de, e por um segundo alargam en to , ao quer), aos im perativos assertóricos da
qual convida o últim o versículo, o dever prudência (habilidade na arte de ser fe­
de “ fazer o m esm o” , quer dizer, de to ­ liz, fim que to d a a gente deseja) e ao im ­
m ar a iniciativa da fratern idade univer­ perativo categórico d a razão (o Dever).
sal e de a ju d ar o estranho com o se fosse Rad. int.: Prudentes.
um m em bro da sua p ró p ria fam ília.
R ad. in t .: Proxim . P SE U D ... ou P SE U D O ... G. fcuôo...
de ^ íãáos, falsidade, erro.
P R U D Ê N C IA D . K lu gh eit ; E . P ru ­ Em prega-se em com posição com um
dence; F. Prudence; I. P ru den za. grande núm ero de radicais p ara designar
A. U m a deis quatro virtudes cardeais*
(<pQÓvT¡<m). Consiste n a fo rça de espírito
e no conhecim ento da verdade. A pala­ 1. " . . . a h ab ilid a d e n a esco lh a d o s m eios de o b ­
vra, neste sentido, é quase sinônim a de te r p a r a si p r ó p rio o m a io r b e m -e sta r” .

“ t í s ... τ ώ ν τ ρ ι ώ ν δ ο χ ΰ σ ο ι π λ η σ ί ο ν y t y o v é v c u . . . qual dos três te parece ter estado


próxim o daquele que caiu nas m ãos dos ladrõ es?” Desde en tão todo desacordo de­
saparece entre as duas questões, a do início e a do fim: desde que apenas se trate
de estar próxim o (adverbialm ente) torna-se indiferente dizer que o Ju d eu esteve p ró­
ximo do S am aritano ou este do Judeu: a proxim idade é um a única e m esma relação
entre dois term os, seja qual fo r que se considere em prim eiro lugar. (l d .)
Poder-se-ia m esm o, segundo o espírito da antiga Lei, trad u z ir aq ui π λ η σ ί ο ν e
π λ η σ ί ο ν por p ró x im o , entendido no sentido de parente, o u m esm o p o r irm ão : por­
que o parentesco, a fratern idade têm esse m esm o caráter de relação recíproca. Exis­
tem , aliás, segundo m e parece, dois tem pos nesta parábola, um crítico, o o u tro posi­
tivo: 1?, a noção antiga do p ró x im o é dem asiado estreita; o estrangeiro caridoso é
teu irm ão tan to o u m ais do que um com p atrio ta egoísta; 2?, se é bom agir assim,
faz o m esm o a todos os hom ens, sem distinção de raça. (A . L .)
P S E U D ... ou P S E U D O ... 882

o que se assem elha à coisa considerada, Pseudomnésia (J. J a s t r o w , no Bald­


ou o que se passa por tal, sem o ser ver­ win, escreve p seu dam n esy, m as o a deve
dadeiram ente. Mas desta significação ge­ ser considerado, sem dúvida, um erro de
ral é preciso distinguir duas aplicações im pressão.) Ilusão da m em ória que con­
m uito diferentes: siste no falso reconhecim ento do que não
A, Form ação de term os que designam foi realm ente percebido um a prim eira
de m aneira objetiva certos fenôm enos vez, ou na crença n a novidade do que já
bem definidos (particularm ente em psico­ foi percebido, com o acontece frequente­
logia). Particularm ente: m ente nas experiências sobre a m em ória
e tam bém , ainda que m enos nitidam en­
Pseudestesia Literalm ente, falsa sen­ te, na vida corrente. Este term o é m uito
sação, percepção ilusória; aplica-se q u a­ útil p a ra evitar con fundir estes fato s, co­
se sempre à ilusão pela qual os am puta­ m o acontece tan tas vezes, com as param -
dos relacionam certas sensações com os nésias* pro priam ente ditas.
m em bros que j á não têm .
Pseudoscopia Ilusão da vista, falsa
“ Pseudo-estética” Adjetivo utilizado construção das sensações visuais. N um
por L a l o para designar a beleza natural, sentido mais especial, ilusão obtida pelo
en quanto percepção de um m odelo, h a r­ “ pseudoscópio” de W heatstone, espécie
m onia das form as e das funções de um de estereoscopio que inverte o relevo dos
ser vivo. Distingue-a da beleza anestética* objetos percebidos, quer dizer, apresen­
das coisas, quer dizer, da propriedade que ta com o cavado o que é saliente.
elas apresentam de fazer nascer o senti­ B. Q ualificação pejorativa que im pli­
m ento de satisfação especial a que se cha­ ca que aquele que dela se serve julga ilu­
m a o “ sentim ento da n atu reza” ; e opõe- sório ou ilegítimo o que assim designa.
na à beleza estética pro priam ente dita, P o r exemplo:
cuja existência apenas adm ite na arte,
o u, pelo m enos, por um reflexo desta. In-
Pseudoconceito Conceito ilusório, se­
ja porq u e o term o que o designa contém
trodu ction à l ‘esthétiqu e, 2? parte , cap.
na sua definição elementos incompatíveis,
III.
seja p o rq u e esta im plica assunções
Pseudo-alucinação Ver A lucinação. inexatas.

Sobre Pseudoconceito — Encontra-se em Benedetto C r o c e um uso deste term o


que se liga ao sentido A e a o sentido B. Nos L in eam enti d i una L ógica (1905) ele
designava assim, por oposição aos “ conceitos p u ro s” , as noções gerais tiradas da
experiência prática, tais com o “ o o u ro ” , “ o cavalo” , “ a célula” , que nad a têm de
rigoroso do p o n to de vista lógico e não são representáveis do ponto de vista d a p er­
cepção. (Ib id . , pp. 66 ss.) N a sua L ó g ica com e scien za d el co n ce tto p u ro , desenvolvi­
m ento d a o b ra precedente (1908), ele acrescenta idéias com o as da geom etria, que
podem ser rigorosam ente definidas, m as que n ão podem ser realizadas da mesma
fo rm a (a linha sem espessura, o círculo perfeito); os prim eiros são p a ra ele os “ pseu-
doconceitos em píricos” , os segundos os “ pseudoconceitos abstrato s” . Opõe-nos aos
únicos verdadeiros conceitos, ou “ conceitos p u ro s” (B egríffe de Hegel), que são ao
mesmo tem po rigorosam ente definíveis e efetivam ente realizados (p. ex., o devir) e
aos quais ele aplica, p o r essa razão, o nom e de “ universais* concretos” .
Parece-m e que a palavra quase nunca foi utilizada, pelo m enos na F rança, senão
falando de pseudoconceitos em píricos.
883 P S IC O F ÍS IC A

Pseudo-idéia Idéia confusa ou inexis­ de “ incompletude” que constituem um ti­


tente, que se reduz a um a palavra. po patológico bem determ inado e distin­
Pseu dopro blem a P roblem a aparente to d a “ neu rastenia” , à q ual estes d istúr­
que deixa de se p ô r quando se analisam bios eram dantes geralm ente relaciona­
os pressupostos contidos nos seus preten­ dos. O seu caráter essencial é, segundo
sos dados. ele, “ a ausência de decisão, de resolução
R ad. in t.: Pseud(o). voluntária, de crença e de atenção, inca­
pacidade de experim entar um sentim en­
PSIC A N Á L IS E D . Psychanalyse-, E. to exato relativo à situação presente” , nu­
Psychanalysis; F . P sychan alyse-, I. Psica- m a palav ra, um a insuficiência na “ fu n ­
nalisi. Anteriormente dizia-se D . Psichoa- ção do real” . J τ ÇE I , L es névroses, pp.
nalyse; E . Psicho-analysis-, F . P sych o ­ 346-347 e 354. Cf. L e s obsession s e t la
analysis·, I. Psico-analisi. M as esta form a psych asth én ie (1903).
caiu agora em desuso. R ad. int.: Psikasteni.
M étodo de psicologia clínica, assim
designada pelo pro fessor S. F 2 E Z á (de P SIC O A N Á L IS E V er Psicanálise.
Viena), que a aplicou e desenvolveu p ar­ “ PSIC O D IN Â M IC O (M étodo)” D .
ticularmente. Este método consiste em re­ P sych odyn am isch ; F . “ M éth o d ep sich o -
velar, por meio de processos diversos, ba­ d yn a m iq u e” .
seados no jogo da associação, n a existên­ M étodo que consiste em medir os pro­
cia de recordações, de desejos e de im a­ cessos psíquicos através dos seus efeitos
gens, com binados em sistem as de idéias dinâm icos (A Â « ÃI I τ , L a m isura in psic.
subconscientes (com plexos *), cuja presen­ e x p e r im e n ta le , 1905; C Â τ ú τ 2 è á E ,
ça despercebida causa problem as psíqui­ “ Classificação e plano dos m étodos psi­
cos ou m esm o físicos, e que deixam de cológicos” , A rch . d e p s y c h ., V II, 1908).
produzir estes efeitos um a vez trazidos à E sta palavra é p o r vezes utilizada co­
plena consciência. Os principais proces­ m o substantivo: a Psicodinâm ica é a parte
sos utilizados são a in terrogação direta, d a psicologia que estuda os efeitos dinâ­
a interpretação dos ditos espontâneos pe­ micos dos processos psíquicos. M as, no
los quais o doente é convidado a deixar- m ais das vezes, esta designação im plica
se levar, a dos autom atism os e a dos so­ um a doutrina especial relativamente à na­
nhos. (Esta últim a ocupou no m étodo tureza dos processos psíquicos, que são
u m a im portância p articular, assim como então considerados um a fo rm a particu­
um a hipótese com plem entar, segundo a
lar d a energia; p. ex. em L E 7 Oτ ÇÇ , E le­
qual os estados de consciência relativos
m ente d e r p sych o d yn a m ik , 1905.
aos fatos sexuais desem penham nestes
“ com plexos” um papel preponderante.) P SIC O ES TA TÍSTIC A D. Psychos-
V er R. D τ Â ζ « E U , L a m éthode psycha- statistik; E . P sychosstatistics; F . P sych o ­
nalitique et la doctrine freu dien n e (1936). statistiqu e; I. P sico-statistica.
M étodo que consiste em m edir a p ro ­
PSICA STEN IA D. Psychasthénie', E.
porção dos indivíduos que apresentam
Psychasthenia; F. P sychasthénie; 1. Psi-
cas tenia. um dado fenôm eno psíquico.
R a d . int.: Psiko-statistik.
E stad o m ental m ó rb id o d efin id o e de­
n o m in a d o p o r P ie rre J τ ÇE I ; consiste P S IC O FÍS IC A D. P sych oph ysik; E.
n u m c o n ju n to d e obsessões, d e agitações, P sychoph ysics; F. P sychoph ysique; I.
d e im pulsões, d e dú v id as, d e sentim ento s Psicofisica.

Sobre Psicofisica e Psicofisiologia — A dm itindo que os fenôm enos psicológicos


dependem de duas ordens de condições — condições físicas que agem sobre o orga-
P S IC O F ÍS IC O 884

A . N o sentido geral e na prim itiva in­ F isiologia e as o b serv açõ es so b re P sico ­


tenção de F E T7 ÇE 2 , que a criou e deno­ física.
m inou, a psico física devia ser o estudo ex­ R ad. in t.: Psikofizik.
perim ental das relações do espírito e do
co rpo, do físico e do m oral. M as, de fa­ P SIC O FISIO L O G IA D. P syco p h y-
to, tendo-se as suas investigações concen­ siologie; E. Psychophysiology; F. P sycho­
trado sobre a medição das excitações cor­ physiologie-, I. P sicofisiologia.
respondentes a sensações julgadas mais Estudo das relações entre os fenôm e­
o u menos intensas, o term o psico física nos psicológicos e as funções do sistem a
restringiu-se, no uso corrente, a designar nervoso, em particular dos órgãos senso-
esta ordem de investigações. riais. Ver P sicologia* fisio ló g ica .
A “ lei psicofísica” é a fó rm ula pela PSICO G ÊN ES E D . S eelenentw ick­
qual ele pensava poder resum ir o resul­ lung, Psychogenese; E . Psychogenesis; F.
ta d o das suas experiências: “ A sensação Psychogénèse; I. P sicogenesi.
varia segundo o logaritm o da excitação.” A. Desenvolvimento do espírito, con­
E la é m uito co ntestada, tan to do ponto siderado com o um efeito de leis naturais.
de vista da sua exatidão experim ental co­ B. E s tu d o deste d esen v o lv im en to .
m o do ponto de vista dos pressupostos Ver G ênese.
que implica, relativamente à medição das R a d . in t.: Psikogenes.
sensações. Ver F ÃZ Tτ Z Â I , L a p sych o -
p h ysiq u e, 1901. “ PSICO G NO SIA , PSICO TEC N IA ”
B. N um sentido m ais am plo , co njun­ F. ‘‘P sichognosie, P sichotech nie” .
to de to das as m edidas relativas a causas T erm os p ro p o sto s p a ra trad u zir as p a ­
externas que provocam fenôm enos psí­ lavras: Psychognostik, Psichotechnie, que
quicos. Ver C Â τ ú τ 2 ê á E , “ Classificação d esig n am em W . SI E 2 Ç as d u as divisões
e plano dos métodos psicológicos” , Arch, d a p sic o lo g ia ap lic a d a . A p rim e ira tem
d e p sy c h ., julho de 1908. p o r o b je to d e te rm in a r o estad o psíq u ico
atu al dos indivíduos (psicodiagnóstico ) ou
PSICO FÍSICO D. Psychophysich; E. de prever a su a ev o lu ção (psicoprognós-
Psychophysical·, F . Psychophysique·, I. tico). A seg u n d a tem p o r o b jeto os m eios
P sico físic o . d e agir so b re esse estad o psíq u ico e de os
A. Relativo à psicofísica. m o d ific a r (SI E 2 Ç , A n g ew a n d te P sych o ­
B. Que concerne à correspondência logie; B eiträge zu r P sych. d er A u ssa g e ' ,
entre os fenôm enos psicológicos e os fe­ 1, 1903). Cf. CÂ τ ú τ 2 ê á E , A rch . de
nôm enos do sistem a nervoso. U tilizado p sy c h ., 1908.1
neste sentido sobretudo por BE 2 ; è ÃÇ ,
“ O paralelism o psicofísico e a m etafísi­
ca positiva” , Bulletin da Sociedade de Fi­ 1. Psicologia aplicada; Contribuições para a p si­
losofia, ju n h o de 1901. Ver Paralelism o, cologia d o testem unho.

nism o, e condições fisiológicas, p o d eria ch am ar-se psicofísica ao estu d o das relações


en tre os fenôm enos psicológicos e a p rim eira ordem de condições; psicofisiologia ao
estu d o das relações entre os fenôm enos psicológicos e a segu nda o rd em de condições.
E stas definições p erm itiriam com preender com o o p rim eiro estudo en co n tro u so b retu ­
d o p roblem as de m edição e o segundo p ro b lem as de lo calização. (G. Beaulavon )

Sobre Psicofísico — Esta palavra, enquanto adjetivo, foi já usada por Ch. BÃÇ ­
ÇE I(Príncipes philosophiques, 1754): “ ... as relações que existem entre as flores e a
constituição psicofísica das abelhas” . (Éd. Claparêde)
88S P S IC O L O G IA

P sicognosia foi já utilizada por A O - Ver P sicografia. Este term o tam bém
ú E para designar a psicologia critica
è2 se aplica ao gráfico construído segundo
(M etodologia, Ideogenia); mas este uso o processo do “ perfil psicológico” ; ver
parece não ter deixado nenhum rastro. Perfil.
R a d . i n t . : Psikognosi, psikotekni. “ Psicograma profissional” , expressão
proposta por Éd. C Â τ ú τ 2 è á E (L ’orien­
PSIC O G R A FIA D. Psychographie;
tation profession n elle, 1922) para tra d u ­
E. P sychography, F. Psychographie-, I.
zir o que os alemães cham aram Berufs-
Psicografia.
psychographie, os psicólogos de língua in­
A . Descrição dos fatos psíquicos.
glesa O ccupational psych ograph s, Job
“ A ntes de pensar em explicar um fenô­
analysis (exprimindo “ gráfico” o valor
meno intelectual, é preciso dar em primei­
respectivo das diversas aptidões exigidas
ro lugar um a idéia clara deste fenôm eno
por um a profissão).
e das diferentes circunstâncias que apre­
senta. Foi o que fez A m père para as di­ PSIC Ó ID E D. Psychoid-, F. P sy­
ferentes espécies de idéias, acrescentan­ ch o id.
do para cada um a as investigações ideo- N om e dad o pelo biólogo alemão
gênicas às determ inações psicográficas.” H ans D 2 « E è T7 ao fato r que, segundo o
Relatório de um a aula de Ampère, por ele seu sistema neovitalista, governaria o
mesmo publicado como intro dução ao crescimento e a adaptação dos organis­
E s s a i s u r l a p h i l o s o p h i e d e s S c i e n c e s , p. mos (Die S e e k ais elem entarer N atu rfak-
LVI. N o quadro das ciências zoológicas to r12, 1903).
anexo a esta obra, a psicografia é a pri­
m eira divisão da psicologia, correspon­ “ P S IC O L E P S IA ” N om e dad o por
dendo ao p onto de vista autóptico*. Pierre J τ ÇE I às quebras d e tensão psico­
B. Descrição psicológica de um indi­ lógica, particularm ente (mas não exclu­
víduo; arte de proceder a essa descrição sivamente) q u ando se produzem sob a
(O è I ç τ Â á , P sych ograph isce Studien, fo rm a de crises rápidas, de depressão
A n n . d er N atu rph ilosoph ie, 1907-1908; brusca. L e s obsessions e t la psychasténie,
W . Bτ τ á E e SI E 2 Ç , Ü ber A ufgabe und I, 501; L es névroses, p. 365.
Ánlage der Psychographie, Z. f ü r Angew . R ad. int.: P sik o lep si.
P sych .1, III, 1909). A descrição resultan­
“ P SIC O L E X IA ” T e rm o p ro p o sto
te de um a psicografia, a enum eração de
p o r É d . C Â τ ú τ 2 è á E p a r a d esig n ar o es­
tod o s os caracteres psíquicos de um indi­
víduo, é designada pelos mesmos autores tu d o q u alitativ o e descritivo dos fen ô m e­
n o s p síq uicos (p o r o p o sição a Psicom e-
psicogram a.
tria*).
R ad. int.: Psikografi.

PSICO G R A M A E . P sych ograph ; F. P SIC O L O G IA D . Psychologie-, E.


Psychogram m e. Psychology-, F . Psychologie-, I. P sico ­
logia.

1. S o b re o p a p e l e o c a rá te r d a p sic o g rafia, R e­
vista de psicologia aplicada. 2. A alm a enq u a n to fa to r natural elementar.

Sobre Psicologia — Parece-m e que seria bom reto m ar, transform ando-a, a g ran­
de divisão de W o lff e dizer que a psicologia tem , com efeito, duas partes bem distin­
tas: 1?, o estudo direto, pela consciência, ou mesmo indireto, pela observação de
signos exteriores, de todos os fenômenos afetivos ou sensitivos, a m em ória e a asso­
ciação, consideradas fora de qualquer intervenção do eu; 2?, o estudo, não da alma-
P S IC O L O G IA 886

De um a m an eira geral, pode-se defi­ pro var o seu valor. O exercício sistem á­
nir a psicologia com o a ciência da alm a tico desta faculdade cham a-se p sicologia
ou do espírito. M as esta definição é p ou­ reflexiva ou p sico lo g ia crítica.
co satisfatória, prim eiro porq u e espírito D. Q uando a observação do espírito
se to m a em m uitos sentidos; em seguida p o r si pró prio tem p o r objeto descobrir,
porque certos psicólogos contemporâneos p ara além dos fenôm enos, um a realida­
se aplicaram em elim inar dos seus estu­ de substancial e perm anente de que estes
dos n ão só a noção de alm a, mas mesmo são apenas m anifestação, ela constitui a
tam bém a de espírito consciente de si pró­ psico lo g ia on tológica, ou ainda a p s ic o ­
prio. Na realidade, a palavra psicologia logia racional (no sentido em que WÃÂ EE
reúne vários estudos diferentes que devem e Kτ ÇI tom avam o term o). M as esta úl­
ser definidos separadam ente. tim a expressão foi tam bém utilizada por
1?: E nquanto ciência: Renouvier num sentido totalm ente dife­
A . Os seres vivos, em particular os rente, m uito próxim o do que acim a cha­
animais superiores e o hom em , têm um a mamos psicologia reflexiva. (Essais de cri­
certa m aneira de se com portar, de reagir tique genérale, II, Psicologia racional,
às impressões que recebem e de m odifi­ cap. I, onde m enciona e afasta o sentido
car estas reações com a experiência (D. tradicional deste term o.)
Verhalten ; E. Behaviour ): a psicologia de 2?: P o r vezes, no sen tido concreto:
reação é o estudo deste “ com portam en­ E. O conjunto dos estados e das dis­
to ” , de tu d o o que ultrapassa as funções posições psíquicas de um ser ou de um a
regulares e relativam ente fixas que o fi- classe de seres. “ A psicologia de um a r­
siologista estuda. tista, de um hom em político .”
B. C ada pessoa tem consciência de Com parar, num sentido análogo, ana­
certas idéias, emoções, afecções, tendên­ tom ia, fisiologia.
cias e ações que considera constituir a ela
m esm a e representa as o u tras com o ten­ CRÍTICA
do um a consciência sem elhante: a p sic o ­ A palavra Psicologia data do século
logia d a consciência ou d e sim p a tia tem X VI. (Ver A . L τ Â τ Çá E , introdução ao
po r ob jeto o estudo destes fatos, a sua Traité d e psych ologie d e G. D Z Oτ è ÃZ
descrição, a sua classificação e a busca de N ouveau traité publicado sob a direção do
regularidades em píricas que eles podem mesmo au tor, 1.1 .) M as só se tom ou usual
m anifestar. no século X V III, com a Psychologia em ­
C. Os pensam entos (tan to os que pírica e a Psychologia rationalis de WÃÂ EE
constituem o m undo exterior como os que (1732-1734). A sua grande difusão na Fran­
se relacionam com o eu) podem ser o o b ­ ça é devida a M aine de Biran e à Escola
jeto de u m a reflexão crítica, pela qual se eclética que dela fez um a das quatro divi­
propõe determ inar as suas características sões principais do seu ensino. Ver particu­
verdadeiras (por oposição àquelas que a larm ente J ÃZ EE 2 Ãà , D a organização das
prática e o hábito tornam desde logo apa­ ciências filo só fic a s, D a distinção da p s i­
rentes), descobrir as suas condições e li­ cologia e da fisio lo g ia , D a ciência p sic o ­
gações necessárias e, por conseqüência, lógica, etc... recolhidos nas M élanges e

substância, m as da alm a tal com o Descartes parece entendê-la nas suas Cartas à prin­
cesa Elisabeth, d o pensam ento pro priam ente dito, do eu; ou (porque é a m esm a coi­
sa, a m eu ver) do que a escola de Cousin cham ava a “ ra zão ” . E sta divisão, a verda­
deira segundo me parece, está já em C on hecim en to d e D eu s e d e si p ró p rio de Bos­
suet, sob os nom es de operações sensitivas e operações intelectuais. (J . Lachelier)
887 P S IC O L O G IA F IS IO L O G IC A , P S IC O F IS IO L O G IA

em N ou veau x m élanges. Os positivistas, veis. Os partidários d a p u ra psicologia de


pelo contrário, suspeitavam desta pala­ reação aplicam -na a tu d o o que provém
vra, por causa da predom inância, nos d a psicologia da consciência e, com mais
seus adversários, d a psicologia ontológi­ razão ainda, da psicologia reflexiva ou
ca. “ P o d eria ter-m e servido” , diz L « I ­ ontológica, que assim se confundem sob
I 2 é , “ d a palavra p sico lo g ia , utilizada a esta designação. Os partidários da psico­
p artir de W ÃÂ E E p a ra designar o estudo logia d a consciência, pelo co ntrário, res­
dos fenôm enos intelectuais e m orais... tringem -na às duas últim as espécies de
To davia, com o é certo que a psicologia questões, e acontece mesmo que por ve­
foi na sua origem, e continua ainda a ser, zes serve p a ra o p o r a crítica (m etafísica
o estudo do espírito independentem ente no sentido H ) à ontologia.
da substância nervosa, n ã o quero e não Evitam os igualm ente o term o p sic o ­
devo usar um term o que é próprio de um a logia ob jetiva , m uitas vezes utilizado nos
filosofia que não aquela que tira o seu no­ nossos dias p a ra designar a psicologia de
reação. Ver, p o r exem plo, BE T7 I E 2 E ç ,
me das ciências positivas.” L a science au
A psico lo g ia o b je tiv a (1913). O b jetiva ,
p o in t de vue p h ilo so p h iq u e, 308.
nesta expressão, é tom ada no sentido m a­
Este escrúpulo desapareceu hoje da
terial de perceptível pelos sentidos. Opõe-
fo rm a mais com pleta e a palavra p sic o ­
se a subjetivo no sentido de consciente ou
logia tende m esm o a opor-se &filo so fia .
de m ental. D emos no artigo o b je tiv o * as
O m ovim ento da psico lo g ia independen­
razões p a ra n ão em pregar estas palavras
te teve por finalidade constituir a psico­
nesta acepção, que se presta m uito ao
logia com o ciência positiva, análoga à
equívoco: pressupõem , no caso da psico­
biologia pela sua atitude e pelo seu m é­
logia, que nada se pode aí descobrir de
to do. E, por um a reação inversa, foram um versalm ente válido senão pelo proces­
os filósofos que dem onstraram certa des­ so de observação externa, o que é extre­
confiança perante a palavra psicologia·. m am ente duvidoso.
“ A verdadeira ciência do espírito não é R ad. in t.: Psikologi (acrescentando-
a psicologia, m as a m etafísica.” L τ T7 E - lhe as determ inações necessárias: Reak-
 « E 2 , “ Psicologia e m etafísica” , R evue
topsikologi; konscial-, kritikal-, o n tolo­
ph ilosoph iqu e, m aio de 1885, p. 516. “ A gical psikologi).
psicologia tem por dom ínio o conheci­
m ento sensível; do pensamento só conhe­ PSIC O L O G IA C O M PA R A D A D
ce a luz que este lança sobre a sensação; Vergleichende Psychologic·, E. Com para­
a ciência do pensam ento em si pró prio, tive p sych o lo g y; F. P sych ologie com pa-
dessa luz na sua origem , é a m etafísica.” rée; I. P sicologia com parata.
Ib id . , na esteira de Fondem ent de l ’induc­ A . N o sentido lato, qualquer estudo
tion, p. 173. Cf. M etafísica, especialmen­ que tenha por objeto com parar a psico­
te B, H , e C rítica, 1 b. logia de diferentes seres ou classes de se­
A idéia de psicologia independente so­ res: psicologia com parada dos povos, dos
freu mais tard e um a regressão. Ver, por sexos, das classes sociais, das profissões,
dos indivíduos.
exem plo, RE à , L ições de p sico lo g ia e de
B. M ais especialm ente, e geralm ente,
filo so fia (1911). As distinções que expu­
psicologia com parada do hom em e de di­
semos mais acim a podem servir p ara to r­
versos animais. P or ex., Éd. C Â τ ú τ 2 è á , E
n ar mais clara esta questão, que, na sua
“ A psicologia com parada será legíti­
fo rm a global, parece com portar conclu­
m a?” , A rch, d e p s y c h o l., junho de 1905.
sões contraditórias. Seria útil evitar nesta R ad. int.: Psik ologi... kom parant.
discussão o termo psicologia m etafísica,
que é muito equívoco e se emprega para PSICO LO G IA FISIO LÓ G ICA , P S I­
afastar as questões que se julgam insolú­ CO FISIO LO G IA D. Physiologische Psy-
P S IC O L O G IA IN D IV ID U A L 888

chologie ; E. P hysiological psychology·, F. sencial da psicologia patológica é deter­


P sych ologie ph ysio lo g iq u e, P sych o p h y­ m inar entre os fenômenos relações ou leis
siologie; I. P sicologia fisio ló g ica . elem entares que sejam válidas, segundo
Term o um pouco vago, que designa o princípio de Claude Bernard, ta n to pa­
o estudo da psicología (quer no sentido ra o estado norm al com o p ara o estado
A , quer no sentido B, aliás m al distintos m órbido. Ver P atopsicologia; cf. D Z ­
entre si) nas suas relações com a fisiolo­ Oτ è , “ O que é a psicologia patológi­
gia; e que contém m esm o, em geral, esta c a ?” , Jou rnal d e p sy c h o l., 1908.
idéia de que a psicologia depende essen­ R ad. in t.: Patologial psikologi.
cialm ente da fisiologia, que ela é um es­
tu d o das funções do sistem a nervoso. Es­ PSIC O L Ó G IC O D . Psychologisch;
ta fórm ula foi sobretudo popularizada E . Psychological; F. P sychologique; I.
pelo títu lo da o b ra de W Z Ç á , P h y sio ­
I
P sicológico.
logische P sych o lo g ie (1.a ed., 1874). A. P ro priam ente, que diz respeito à
psicologia ou que pertence à psicologia
PSICO LO G IA IN D IV ID U A L D. In­ sobretu do nos sentidos A e B.
d iv id u e llp s y c h o lo g ie , D if fe r e n tie lle B. Sinônim o de m ental*. Ver P síqu i­
Psychologie ; E. Individual p sych ology ; F. co , Crítica.
P sychologie individuelle; I. Psicologia in­
dividuale. CRÍTICA
Estu do das diferenças psicológicas O p o n to d e vista p sico ló g ico é opos­
que distinguem os indivíduos (B« ÇE I e to na linguagem filosófica corrente ora ao
H E Ç2 « , “ A psicologia individual” , A nn. “ ponto de vista lógico” , o ra ao “ ponto
p sy c h o l., II, 1896). Este estudo foi tam ­ de vista m o ra l” e ao “ p o n to de vista me­
bém cham ado E th n o lo g y (J. S. M« Â Â), tafísico” . D e m aneira geral, entende-se
C h a rakterologie (W Z Çá I , Bτ 7 Çè E Ç ), por isso o p o n to de vista da observação
m as sobretudo enquanto respeitante à e da análise em pírica, m as o sentido pre­
form ação de caracteres; ver E tologia. A ciso não deixa de ser bastante diferente
e x p ressão de SI E 2 Ç (D if fe r e n tie lle conform e os casos: quando é oposto à
P sychologie, 1911) seria mais am pla que m etafísica, a distinção pode ser a do fe­
psicologia individual e equivaleria mais nom enal e do ontológico ou a da psico­
ou menos a psicologia com parada no sen­ logia d a observação (A ou B) e da psico­
tido A. logia reflexiva e crítica. Q uando se tra ta
R ad. in t .: Individual psikologi. de m oral, a oposição é a do fato e do di­
P SIC O L O G IA PA T O L Ó G IC A D. reito, do constativo e do norm ativo.
Pathologische Psychologie, Pathopsycho- Quando se trata de lógica, o sentido é ain­
logie; E. P a th ological p sych o lo g y; F. da duplo: o ra se quer opor, como atrás,
P sych ologie p a th o lo g iq u e ; I. Psicologia o ponto de vista do pensam ento tal co­
pa to ló g ica . m o ele se desenrola ao ponto de vista do
Estudo das funções psíquicas através ideal lógico, das norm as que o pensamen­
das anom alias que elas apresentam nos to deve seguir para ser válido; ora se quer
alienados, nos neurópatas, etc. Distíngue­ opor o ponto de vista do pensam ento
se da patologia m ental (por vezes desig­ com pleto, que se aplica a um a dada m a­
nada p sico patologia; cf. especialmente téria, fazendo apelo à m em ória e à im a­
J τ è 2 Ã ç , Vo, P sy c h o p a th o lo g y , no
I ginação, ao ponto de vista da análise p u ­
Diet, de Baldwin) em que esta tem por ob­ ramente form al, estranha a qualquer con­
jeto constituir tipos clínicos, seguir a sua sideração de descoberta ou de aplicação
etiologia e a sua evolução e preparar a sua científica. E sta expressão é, p o rtan to ,
terapêutica, enquanto que o objetivo es­ bastante equívoca. Ver tam bém mais aci-
889 P S IC O L O G IS M O

ma a Crítica das expressões prim eiro * p si­ rân ea” , R evu e de m éta p h ysiq u e , 1906,
cologicam ente, p rim eiro logicam en te ; e pp. 319-320. Ver igualm ente Ed. H us-
p sicotogism o, adiante. èE2 Â , Logischen Untersuchungen, t. I
R ad. int.: Psikologial. (1900).
PSICO LO G ISM O D. Psychologis- C R ÍT IC A
mus\ E. Psychologism; F. Psychologisme; Tal como muitos nomes análogos, p si­
I. P sicotogism o. cologism o emprega-se apenas para desa­
Tendência para fazer predom inar o provar ou evitar um a atitude à qual al­
“ ponto de vista psicológico” , num dos guém se opõe; ninguém a aceita para de­
sentidos acim a definidos, sobre o ponto signar a sua própria doutrina. S « ; ç τ 2 , I

de vista específico de qualquer outro es­ por exem plo, recusa aceitar para a sua
tudo (particularmente da teoria do conhe­ concepção da lógica a qualificação de p si­
cimento ou da lógica). “ O psicologismo cologism o (L o g ik , 4? ed., I, 25). A inda
é a pretensão da psicologia em absorver que m uito comum nas discussões alemãs
a filosofia ou pelo m enos em servir-lhe contem porâneas, tem um a extensão bas­
de fundam ento... A psicologia tornou-se tan te m al definida. E « è Â 2 , que lhe con­
E

um a ciência positiva e experim ental, que sagrou um artigo bastante longo na 3?


se pratica nos laboratórios; ela é, em su­ edição do seu W orterbuch (1910, pp.
m a, a fisiologia do sistema nervoso e dos 1088-1092), observa que “ die Nicht-
órgãos dos sentidos... Mas, constituindo-
psychologisten einander oft ais Psycho-
se com o ciência autô n o m a, conservou a
logisten beurteilen” 1. H averia grande
am bição de resolver os problem as p ro ­
vantagem em evitar na filosofia todos es­
priam ente filosóficos, ou pelo menos de tes nom es de sistem a que não são expres­
fornecer os elementos e os dados das suas
samente adotados pelos próprios autores,
soluções. Não é de adm irar que a conclu­
e que m uitas vezes servem para abrir pro­
são destas investigações, conduzidas se­ cessos de tendência.
gundo o m étodo das ciências naturais,
apresente constantem ente este duplo ca­
ráter em pirista e evolucionista.” C Ã Z Z - I
1. “ os nào-psicologi$las tia ia m -se frequente m en­
2 τI , “ A lógica e a filosofia co ntem po­ te u n s ao$ o u tro s d e p sic o lo g istas” .

Sobre Psicologismo — Seria preferível, se possível, eliminar desta palavra toda a


idéia de reprovação e aplicá-la a to da teoria ou tendência intelectual que vise reduzir
os problem as filosóficos (lógicos, m orais, estéticos, metafísicos) a problem as psicológi­
cos. A palavra, neste sentido, seria útil para designar o que é comum a teorias filosófi­
cas, aliás diferentes pelas suas conclusões, tais com o a teoria em pirista de H um e, a dos
Escoceses, a de certos espiritualistas ecléticos, por exemplo Jouffroy, a de William J a ­
mes. Com a palavra psicologismo acontece o mesmo que com o term o, igualmente re­
cente, sociologism o. (R. Berthelot) De acordo; m as a idéia de reprovação é tão subjeti­
va qu anto o pode ser nos term os pan teísm o, m aterialism o, etc. (L. Couturat)
Segundo W Z Çá , Psychologism us u nd Logicism us nos seus Kleine Schriften (1910),
I

a palavra “ psicologismo” significou primeiramente apenas a explicação psicoló­


gica do conhecimento lógico; e por oposição criou o term o “ logicismo” , que signi­
ficou a recusa de tal explicação. A palavra caracterizou em seguida, por extensão,
um a filosofia integral: “ Die gesamte Philosophie wird Psychologie” 1: a m oral

1. A filosofia to rna-se, n o seu to d o , psicologia.


P S IC O M E T R IA 890

PSICO M ETRIA D. Psychom etrie; E. PSICO N E U R O S E T erm o utilizado


Psychom etria; F. Psychom étrie ; I. Psico- pelo dr. D u b o i s (de Berna) p ara designar
m etría. “ as afecções em que predomina a influên­
M edida dos fenôm enos psíquicos, cia psíquica e que são mais ou menos pas­
quer em intensidade, quer em freqüência, síveis de psicoterapia” . L e s psychonévro-
quer em duração, etc. “ Aplicação da psi- ses (1904).
cometria ao estudo da audição colorida” ,
B« ÇE I , R evu e p h ilo so p h iq u e, 1893, II, PSICO PA T IA , ESTADO PSICO PÁ ­
334. A psicom etria divide-se, segundo T IC O D . P sych o p a th ie ; E. P sych o p a th y
um a classificação de A Z ÃI I τ adotada (raro); F. Psychopathie·, I. Psichopatia.
por C Â τ ú τ 2 è á E , em p sico física * , p sico- Estado m ental patológico, no sentido
cronom etria, psicodin âm ica* e psicoes- m ais am plo da palavra: diz-se todavia de
tatistica*. Opõe-se a psicolexia, estudo preferência, em oposição a neuropatía,
qualitativo e descritivo dos fenôm enos dos distúrbios que atingem sobretudo as
psíquicos. Ver C Â τ ú τ 2 è á E , “ Classifica­ funções intelectuais.
ção e plano dos m étodos psicológicos” , R ad. int.: P sikopati.
A rch. d e p sy ch ., julho de 1908.
PSICO SE D . Psychose·, E. Psychose;
W ÃÂ E E p r o p u n h a n e s te s e n tid o
F. Psychose·, I. Psicosi.
Psycheom etria (Psychoiogia em pírica, 2?
p a rte , seção I, cap . I, § 522).
P o r analogia com esclerose, neurose
e outros nomes de doenças. D oença, ou
T2 í I « Tτ pelo menos anom alia das funções intelec­
A lguns autores contem porâneos cha­ tuais com certo caráter de perm anência
m aram de p sico m etria os fatos parapsí- e de generalidade. Este term o tornou-se
quicos (previsão, telepatia, etc.); por ex. m uito usual; serve em geral para op o r as
DZ T7 τ I E Â , L a vue à d istan ce,., enquê­ doenças mentais propriam ente ditas, com
te sur des cas d e psych om étrie (1910). De­ distúrbios da percepção, do juízo e d o ra­
signam mesmo por p sicô m etro s os indi­ ciocínio, aos estados neuropáticos ou neu­
víduos que apresentam ou produzem fe­ roses, tais com o neurastenia, psicastenia,
nôm enos desse gênero. E. Bë 2 τ T assi­ etc. Contudo, o seu sentido não está m ui­
nalou esse uso que tendia, segundo pare­ to bem estabelecido.
ce, a difundir-se e assinalou a sua evidente
no t a
im propriedade. “ Espiritismo e criptopsi-
q u ia ” , R ev. p h ilo s., janeiro de 1913, pp. Prim eiram ente tin h a sido utilizado
38 e 46. num sentido totalm ente diferente (suge­
R ad. int.: Psikom etri. rido talvez pelo G. ^úxcocns, ação de ani-

torna-se um capítulo da psicologia da vontade, a estética faz p a rte do estudo dos


sentim entos do belo e do sublim e, etc. ( C h . Serrus)
Eu conservaria de bom grado esta palavra para designar a tendência p ara substi­
tu ir a apreciação, os juízos de valor, por um a espécie de historism o descritivo dos
fenôm enos internos. É o estado de espírito do observador que se recusa a julgar,
p ara quem as noções de bem e de mal já não existem. (Z.. B oisse )
Sobre Psicom etria — A palavra p sicô m etro encontra-se já em Charles B o n n e t .
“ O núm ero de justas consequências que diferentes espíritos tiram do m esm o princí­
pio não poderia servir para a construção de um psicôm etro? E n ão se poderá presu­
mir que um dia se m edirão os espíritos com o se m edem os corp o s?” C on tem plação
d a natureza, 1764. (Éd. Ciaparède)
891 P S ÍQ U IC O

m ar, alma): elemento psíquico (H Z 7 ­ lavra (ver E spirito, C , 1). Os “ fenôm e­


 E à ); fato psíquico no sentido mais ge- nos psíquicos” , ou os “ estados psíqui­
ral (Lτ áá ); conjunto do conteúdo da cos” , neste sentido, são considerados co­
consciencia num dado m om ento (SI ÃZ I ). m o pertencentes ao mesmo gênero que os
Ver B aldw in, sub Vo; e cf. no artigo fenômenos físicos, os fenômenos fisioló­
N eu rosis a proposta feita por C. L. e C. gicos, etc.
J. H E 2 2 « T3 de entender por esta palavra B. Q ue diz respeito ou que constitui
todo processo nervoso que ten ha um a ex­ fenômenos de com portam ento*, enquan­
pressão na consciência, “ o r in other to não estereotipados n a espécie, ou na
w ords, a corresponding p sy ch o sis” 1. variedade, mas dependem d a experiência
anterior do indivíduo. Este uso do term o
Psicose alucinató ria crônica Estado advém de que, segundo o behaviorism o*,
intelectual m órb ido caracterizado: “ 1?, os fenômenos assim definidos com preen­
pela presença de distúrbios alucinatórios dem tudo o que até agora se cham ou fe­
m últiplos, dentre os quais os distúrbios nôm enos psíquicos, n o sentido A . Ver
psicossensoriais da audição geralm ente tam bém con du ta.
aparecem em prim eiro lugar; 2?, pelo de­ C . M ais especialm ente, diz-se dos fe­
senvolvimento de um delírio mais ou m e­ nôm enos d o espírito que se apresentam
nos bem sistem atizado; 3? por um a evo­ como manifestações de faculdades novas,
lução bastante freqüente, e sem pre mais diferentes daquelas de que se ocupa a psi­
ou m enos tard ia, p a ra um estad o psíqui- cologia clássica (fenôm enos parapsíqu i­
do especial que se aproxim a m uito do de cos*: telepatia, adivinhação, previsão do
debilidade intelectual e d a ap a tia afetiva fu tu ro , etc.). É neste sentido que a pala­
d a demência precoce.” G. DZ Oτ è , Trai­ v ra é to m ad a, p o r exem plo, no nom e d a
te d e p sych o lo g ie, tom o II, p. 887. Ver S o ciety f o r P sych ical Research 2 (funda­
todo o capítulo que tem por título “ A psi­ da em Londres em 1882) e no título d a
cose alucinatória crônica” . obra de J. Mτ 7 ç E Â Â , O s fen ô m en o s p sí­
R ad. in t.: Psikos. q u ico s (1903).

PSICO TER A PIA D. Psychothérapie ; CRÍTICA


E. Psychotherapeutics, psychotherapy·, F. 1. Este últim o em prego da palavra é
P sychothérapie; I. P sicoterapeu tica, p s i­lam entável; restringe dem asiado o senti­
coterapia. do geral, cujo uso é necessário. P arapsí-
T ratam ento das doenças (principal­ qu ico é bem m elhor: foi proposto por
m ente, mas não exclusivamente, das Bë 2 τ T , “ Ensaio de classificação dos fe­
doenças ditas nervosas) pondo em jogo nôm enos parap síquicos” , A m a le s des
idéias, imagens, estados afetivos, tendên­ Sciencespsychiques, III, 342 (1893). “ Este
cias, volições e outros fenôm enos m en­ term o ” , diz F Â ÃZ 2 ÇÃà , “ parece-me de
tais do doente. P o r ex.: H igien e da alm a longe o m elhor p a ra englobar, sem pre­
de F E Z T7 I E 2 è Â E ζ E Ç ; a sugestão; a conceber nada sobre a sua natureza e as
m indcure; a psicanálise, etc.) suas causas reais, todos os fenômenos de
aspecto assom broso ou anorm al, corren­
1. PSÍQ U ICO (adj.) D. Psychisch; E. temente designados pelos epítetos (dema­
P sych ical ; F. Psychique; I. P sichico. siado am plos ou dem asiado restritos, ou
A. Que diz respeito ao espírito, noim plicando interpretações discutíveis) de
sentido fenom enal e empírico desta pa­ psíquicos, ocultos, mediúnicos, supranor-
m a is.” E sp rits e t m édiu m s , p. 185.

1. " . . . o u , n o u tro s term o s, u m a p sy c h o s is c o r­


resp o n d e n te ” . 2 . S o cied ad e p a r a a investigação psíqu ica.
P S ÍQ U IC O 892

2. No sentido geral, é preciso evitar Encontra-se já em S. P τ Z Â Ã (I, C or.,


confundir psíqu ico: que diz respeito ao 2, 14) ij/uxixós, ad j. oposto a n vevfian -
espírito, ao pensam ento; e psicológico; xás, o hom em , enquanto ser vivo, ao h o ­
que diz respeito à psicologia. Sem dúvi­ mem, enquanto espírito.
da, em m uitos casos a distinção não tem PSIQ U ISM O D. Psyche, Psychism us;
interesse: pode-se dizer igualm ente que a E. P sychism ; F. P sychism e.
associação de idéias é um fenôm eno psí­ V ida psíquica; co njunto de fenôm e­
quico, quer dizer, m ental, o u psicológi­ nos psíquicos que form am um todo; quer
co, quer dizer, um dos que a psicologia constituam a vida m ental, consciente e in­
estuda. M as é ilógico designar por m éto ­ consciente de um indivíduo, quer formem
d o p síq u ico o m étodo da psicologia, ou apenas um a parte sistem atizada. P o r ex.,
inversam ente p ro cesso p sico ló g ico um a G2 τ è è E I , L e p sych ism e inférieur, 1906,
série de operações m entais que se dão no Termo vago que serve sobretudo para evi­
espírito de um indivíduo. Este segundo tar prejulgar ao utilizar-se um a designa­
abuso é sem dúvida m enos chocante do ção mais precisa.
que o o u tro, prim eiro devido à analogia
com a palavra fisio ló g ic o , depois devido PSITA CISM O Do G. \¡nrraxós, p a ­
ao fato de psico lo g ia receber freqiiente- pagaio; D. Psittazism us; E. Psittacism; F.
m ente um sentido concreto e falar-se as­ P sittacism e; I. P sittacism o.
sim da “ psicologia” de um hom em para F ato de julgar ou de raciocinar sobre
designar o conjunto das suas caracterís­ palavras, sem ter presentes no espírito as
ticas intelectuais e m orais. H averia, con­ idéias que elas representam . “ M uitas ve­
tudo, vantagem em reagir contra estas im­ zes raciocinam os com palavras sem con­
propriedades, e geralm ente é m uito útil ceber os próprios objetos pelo espírito;
poder distinguir claram ente na lingua­ ora, este conhecim ento não poderá bas­
gem: 1?, o p o n to de vista do fato; 2?, o ta r... Assim, se preferirmos o pior, é por­
ponto de vista d a reflexão científica ou que sentimos o bem que encerra sem sen­
filosófica sobre esse fato. tir nem o m al que aí existe nem o bem que
R ad. in t .: A . Psikal; B. Parapsikal. 2
está na p arte contrária. Supom os e acre­
ditam os, ou antes, dizemos de cor a cren­
2. P SÍQ U IC O (subst. e raram ente ça de outrem ou o que recordam os dos
adj.) D. Psychiker; E. Psychic; F. Psychi- nossos raciocínios passados que o m aior
q u e ; I. P sichico. bem está no m elhor partido ou o pior mal
N a linguagem do gnosticism o, reto ­ no o u tro . M as quando não os tem os pre­
m ad a pelo ocultism o, classe de espíritos sentes, os nossos pensam entos e os nos­
hum anos interm ediária entre os hílicos, sos raciocínios, co ntrários ao sentim en­
agarrados à m atéria, e os p n eu m á tico s, to , são um a espécie de psitacism o que na­
que participam n a vida espiritual su­ d a fornece presentem ente ao espírito.”
perior. LE « ζ Ç« U , N o v . en s., II, X X I, 31.

Sobre Psíquico (2) — Este term o é b árb aro e de sonoridade desagradável. P aul
Janet criticava-o m uito energicamente e fazia n otar com razão que se designa m uito
bem os fenôm enos pelo adjetivo tirad o do nom e da ciência que deles se ocupa: não
se diz fenôm enos geicos, m as sim geológicos, nem fatos ástricos m as astronôm icos
e assim por diante. A distinção é, p o rtan to , inútil. (F. A b a u zit ) A escola de Cousin
sempre recuou diante de p síq u ico e contentou-se com p sico ló g ico , tão admissível,
mesmo no sentido m ais extenso, qu an to fisiológico. M as p síq u ic o persistiu; está h o ­
je consagrado pelo uso. Basta, p o rta n to , seguir a distinção m uito ju sta acim a indica­
da. ( /. Lachelier)
893 PURO

A palavra tom a-se a m aior parte das 2 ° : Ciencias consideradas sem relação
vezes no m au sentido. Existe todavia um com as suas aplicações. “ M athem aticae
psitacism o legitim o e m esm o necessário. purae, m athem aticae m ixtá e.” Bτ TÃÇ ,
C f. S u rd o , e ver a o bra de M . DZ ; τ è , O D e dign. et augm entis, liv. III, cap. VI.
psita cism o e o p en sam en to sim bólico (es­ 3?: De um a faculdade do espírito en­
pecialm ente o prefácio). quanto não depende de o u tra faculdade.
R ad. int.: Psitacism . “ E sta particular contenção do espirito
m ostra evidentemente a diferença que
P U R G A Ç Ã O DAS P A IX Õ E S T ra­ existe en tre a im aginação e a intelecção
dução consagrada do G. κ ά θ α ρ σ ή τ ω ν ou concepção p u ra .” D E S C A R T E S , M e-
■ πα θ η μ ά τ ω ν , A R I S T Ó T E L E S , P o é tic a , d it., V I, 2. “ P o r esta expressão, enten­
1449b27-28, etc. “ A lei d a pu rgação das dimento pu ro , pretendemos designar ape­
p aixões..., indicada por A ristóteles, é nas a faculdade que o espírito tem de co­
urna das descobertas mais pro fundas que nhecer os objetos de fo ra sem deles fo r­
lhe devemos e m erece ser objeto de an á­ m ar imagens corporais no cerebro p ara
lise pelos m odernos. Consiste, em sum a, os representar p a ra si.” Mτ Â E ζ 2 τ ÇT7 E ,
neste fato geral de a paixão ser, por as­ Recherche d e la verité, livro III: “ D o en ­
sim dizer, im aginada, dissim ulada, ‘im i­ tendim ento ou do espirito p u ro ” , cap. I.
ta d a ’, com o dizia A ristóteles, ‘no estado B. Kτ ÇI d á prim eiram ente a esta p a ­
desinteressado’, com o nós dizem os..., lavra o sentido geral; depois restringe-a
tem a virtude de purgar a paixão; e en­ àquilo que não depende da experiência.
tendo a palavra pu rg a r no duplo sentido “ Es heisst jed e Erkenntnis rein d ie m it
que ela permite: purificação dos elemen­ nichts Frem dartiges vermischt ist. Beson­
tos passionais que não são m au s...; eva­ ders aber w ird eine Erkenntnis schlech­
thin rein gen annt, in die sich überhaupt
cuação da parte pecam inosa das afecções
keine Erfah ru ng oder E m pfindung ein­
ou do seu exercício.” RE ÇÃZ â« E 2 , Scien­
m ischt, welche m ithin völlig a p rio r i m ö­
ce d e la m orale, livro III, cap. X LI.
glich ist .” 1K rit. der reinen Vern., Ein­
PU R O D. A . B, C. Rein\ D . Bloss; leit., § V II. “ Ich nenne alle V orstellun­
E. Pure; F. Pur; I. P uro. gen rein, im transcendentalem Verstände,
P a ra a história desta palavra, ver Eu- in denen nichts was zur E m pfin dung ge­
C K E N , Geistige Ström ungen, B, 1. Termo hört, angetroffen ist .” 2 Krit. der reinen
m uito usado em filosofia, particularm en­ Vernunft, Transe. Esth., § 1. Existe assim:
te depois da Renascença. 1?, um a intuição pura do tem po e do es­
A. Que não contém em si nada de es­ paço, dos conceitos puros do entendimen­
tranho. ‘‘Corpo quimicamente puro. Cul­ to , das Idéias da Razão p ura; 2 ? ,p rin ci­
tu ra p u ra .” Diz-se em particular: p io s puro s, que se reportam , é verdade, 2 1
1? : Do prazer a que não está associa­
da a d o r. “ 'Η δ ο ν α 'ι α μ ί χ τ α ι , χ α θ α - 1. “ C h am a-se p u r o a to d o co n h ecim en to que
n ã o e stá m istu ra d o co m n a d a d e es tra n h o . M as diz-
ρ α ί ” , P Â τ I 7Ã , FUebo, 50E-52 c. BE Ç - se em p a rtic u la r d e u m c o n h ecim en to q u e é a b s o lu ­
I7 τ O (Principies o f M o rá is a n d L egisla­ ta m e n te p u ro q u a n d o nele n ã o se m istu ra nen h u m a
tio n , I, cap. 4) define d o m esm o m odo ex periencia ou se n saçã o e, p o r co n seq u ên cia, ele é
possível in teira m e n te a p río r i."
a p u reza do prazer ou da d o r das quais
2. “ C h a m o p u r a , n o se n tid o tra n sc e n d e n ta l, a
faz um dos pontos a considerar no seu q u a lq u e r re p re se n ta ç ã o n a q u a l n ã o se e n c o n tre n a ­
cálculo utilitário. d a d a q u ilo q u e p e rte n c e à ex p e riê n c ia ."

Sobre P u ro — A rtigo com pletado segundo um a indicação de C. C. J. W ebb, so­


bre p ra ze r pu ro .
PURPÚ REA 894

a um a m atéria em pírica, m as cu ja certe­ D. De um p o n to de vista externo: ao


za n ão se apóia em nenhum dado d a ex­ qual n ad a de diferente se acrescenta a tí­
periência. V er R a zã o . tulo de acabam ento, de com plem ento ou
Experiência p u ra (D. R ein e E rfah­ m esm o de corretivo. “ O enunciado puro
rung) em AâE Çτ 2 « Z S: a representação e simples de um a teo ria” (sem dem ons­
considerada com o solidária de um m eio tração nem crítica). O advérbio pu ram en ­
(Um gebung) que contém , term o a term o, te tem freqüentem ente este sentido: “ Os
todas as determ inações que se encontram hom ens puram ente h o m en s...” DE è Tτ 2 ­
no pensam ento. I E è , M é to d o , I, 4.
C. N o sentido m oral, oposto de im ­ R a d . in t.: A . B. C. P u r; D . N ur.
p u ro : que não contém n ad a em si que o
corro m pa ou o m acule. P U R P Ú R E A Ver A m á b im u s.
Q

Q U A D R IV IU M L. escol. N a Idade dem prática, cf. Predicado, observações.)


M édia, divisão superior dos estudos uni­ B. M ais especialmente, chama-se qua­
versitários n a “ Faculdade das A rtes” ou lidades aos aspectos sensíveis da percep­
“ de filosofia” , compreendendo a aritm é­ ção que não consistem em determ inações
tica, a geom etria, a m úsica e a astro n o ­ geom étricas ou m ecânicas e que são ge­
m ia. ralm ente considerados com o o resultado
de um a síntese efetuada pelo espírito en­
Q U A LID A D E G. Ilo id n js; L. Qua- tre as impressões elementares produzidas
litas ; D. Qualität (Beschaffenheit, Eigens­ por m ovim entos dem asiado rápidos ou
chaft); E. Q u ality ; F. Qualité; I. Qualità. estruturas dem asiado finas para serem
A. U ma das categorias fundamentais. percebidas com o tais (cf. adiante quali­
O que corresponde à questão ro lo s, qua- da d es segundas). “ A p artir do prim eiro
lis: m an eira de ser que pode ser afirm a­ olhar lançado sobre o m undo, antes mes­
da ou negada relativam ente a um sujei­ m o de nele delimitarmos corpos, nele dis­
to . “ T odas as nossas qualidades são in­ tinguim os qu alidades. U m a cor sucede a
certas e duvidosas, ta n to p a ra o bem co­ um a cor, um som a um som , um a resis­
m o para o mal; e estão quase todas à mer­ tência a um a resistência. C ada u m a des­
cê das ocasiões.” Lτ RÃT7 E EÃZ Tτ Z Â á , tas qualidades, to m a d a à parte , é um es­
M áxim as , 470. A qualidade, assim enten­ tad o que parece persistir tal e qual, espe­
dida, opõe-se: 1? à qu antidade, enquan­ ra n d o que um o u tro o substitua. C ontu­
to constitui o d ado cuja continuidade ou d o, cada um a destas qualidades resolve-
repetição são objeto de determ inação se, pela análise, num núm ero enorm e de
quantitativa; 2? à relação, enquanto esta movimentos elem entares.” H . BE 2 ; è ÃÇ ,
é exterior à natureza* do sujeito ao passo L ’évolu tion créatrice, p. 325. A qualida­
que a qualidade mesmo momentânea é-lhe de, assim entendida, opõe-se à qu antida­
inerente. (Sobre a questão de saber se esta d e no sentido C: ver o texto da mesma
distinção é rigorosa ou somente de o r­ obra citado p ara esta palavra.

Sobre Q ualid ad e — A qualidade é um a categoria mais fundam enta] q ue a q u a n ­


tidade. Segundo C ourn ot, n ão convém considerar qualidade e quantidade com o dois
atributos gerais d a m esm a ordem . A relação entre estas duas idéias é a da espécie
relativam ente ao gênero: a quantidade é um a espécie singular de qualidade. A quali­
dade ou conteúdo qualitativo é geralm ente suscetível de mais ou m enos e, po r conse-
qüência, com porta a aplicação do núm ero. (F. M entré) Louis WE ζ E 2 escreve igual­
mente: “ D entre as quan tidad es, há algum as que n ão são diretam ente dadas pela per­
cepção, que aparecem no m om ento d a percepção, m as que são em si mesmas o resul­
ta d o de u m a elab oração do entendim ento, na qual este últim o in tro duz elementos
que não poderiam advir da sensibilidade. São, perm itam -m e a expressão, ‘qualida­
des quantitativas’, as qualidades num éricas.” L e ryth m e du p ro g rès, p. 214.
M as se um a qualidade “ é suscetível de mais ou de m enos” , ou se as coisas têm
com o um a das suas qualidades ser m ais o u m enos num erosas ou ab undantes, não
é com a condição de continuarem as m esm as apesar do aum en to ou d a dim inuição?
Poder-se-á, p o rtan to , dizer que no sentido mais lato , com preendendo a qualidade
Q U A L ID A D E 896

C. P ro priedade form al do juízo que meio noutros lugares atributo ou qualida­


consiste em ser afirm ativo ou negativo. de. Porém , quando considero que a subs­
Sobre a relação deste sentido com os pre­ tância está diversam ente disposta ou di­
cedentes, ver notas. versificada, sirvo-me particularm ente do
D. N o sentido apreciativo: valor, per­ nome m odo ou maneira e quando essa dis­
feição. “ Ninguém pensa que essa pro por­ posição ou m udança pode ser assim cha­
cionalidade seja constante, se considerar­ m ada, nomeio qualidades as diversas m a­
m os as coisas do ponto de vista da utili­ neiras que fazem com que ela possa ser as­
dade, do valor estético e m oral, num a p a ­ sim designada, finalmente, quando pen­
lavra, da qu alidade . ” E. BÃZ I 2 ÃZ 7 , D e so mais geralm ente que estes m o d o s ou
la contingence d es lois d e la n ature , 3? qu alidades estão na substância... chamo-
ed., p. 24. “ Existirão diferenças de v a­ lhes a trib u to s’.' P rin cíp io s , I, 56. 2? No
lor, quer dizer, de qualidade, de m érito... sentido escolástico, para o qual ele diz qua­
entre os pro dutos de um a m esm a neces­ lidade real, em geral (ou mesmo, embora
sid ad e?” Ib id ., 143. Especialmente, boa raramente, qualidade oculta)·. “E u não su­
qu alidade (oposto de defeito). “ H á pes­ ponho nenhum as qualidades reais na na­
soas tão superficiais e tão frívolas que es­ tureza, que sejam acrescentadas à substân­
tão tão longe de ter verdadeiros defeitos cia com o pequenas alm as aos seus corpos
com o de ter qualidades sólidas.” Lτ RÃ e que deles possam ser separadas pela po­
T7 E EÃZ Tτ Z Â á , M áxim as, 498. tência divina; e assim eu não atribuo mais
E. Escalão ou função social (e, espe­ realidade ao movimento, nem a todas es­
cialmente, nobreza, m as este últim o sen­ tas outras variedades da substância a que
tido envelheceu). Caráter jurídico de um a se cham a qu alidades que com um ente os
pessoa: “A gir n a qualidade de... ter quali­ filósofos atribuem à figura, à qual nunca
dade para..”, etc. Mais geralmente, na prá­ cham am qualitatem realem , m as som en­
tica judicial, as qualidades são o co njun­ te m o d u m ’.' Carta a M ersenne, 1643, Ad.
to dos nomes, prenom es, títulos, graus de e T., III, 648. M as ele também diz freqüen-
parentesco, domicílios, etc., que dão a co­ tem ente neste sentido q u alidade apenas,
nhecer as partes em causa. p. ex.: “ Eu supus m esm o expressamente
que não havia nela (na m atéria) nenhum a
NOTAS destas formas ou qualidades sobre as quais
1. DE è Tτ 2 I E è tom a a palavra quali­ se disputa nas Escolas.” M éto d e, V, 2. Ver
d a d e em dois sentidos: 1? no sentido ge­ G « Â è ÃÇ , ín d ice escolástico-cartesiano,
ral de propriedade: “ Pensei que não fa­ sub Vo.
ria pouco se mostrasse como é preciso dis­ 2. Os sentidos A (ou B) e C estão reu­
tinguir as propriedades ou qualidades do nidos em particular em K ant, represen­
espírito das propriedades ou qualidades tan d o duas aplicações diferentes de um a
d o c o rp o .” R esp . à s 2as o b j., § 4. m esm a função irredutível e fundam ental
“ Q uando digo aq ui m aneira ou m o d o , d o entendim ento que opera: 1? a síntese
n ã o entendo o u tra coisa senão o que n o ­ dos term os no juízo; 2? a síntese d a re-

tu do o que po de ser afirm ado de um sujeito, ela contém quantidade e relação; mas
é preciso colocar então ao lado d a qu alidade-qu antidade e da qualidade-relação um a
qu alidade p u ra m en te q u alitativa que está relativam ente a estas com o um a espécie
relativam ente a outras espécies. Distinguimos claram ente a variação quantitativa (de
um centím etro quadrado de azul para dois centím etros quadrados do mesmo azul)
e a variação qualitativa (de um centím etro q uadrado de índigo p a ra um centím etro
quadrado de azul turquesa). Cf. o artigo Q u a n tita tivo , acrescentado sob pro posta
e segundo a redação de G. D w elshauvers.
897 Q U A L ID A D E

presentação (que é por natureza múltipla) tido, bem entendido, senão um pelo outro;
num a intuição (Krit. der reinen Vernunft, de onde se segue que um só é o que é, sob
A 79: B 105). D o ponto de vista da fo r­ todos os aspectos de qualidade, relativa­
m a lógica do juízo, a qualidade é para ele mente ao outro, e que eles podem, em prin­
um dos q u atro “ títu lo s” sob os quais es­ cípio, trocar os seus papéis, não alterando
tes se dispõem: ela compreende, além dos esta m udança essa oposição. É tom ando
juízos afirm ativos e negativos, os juízos sob estas reservas os termos opostos da
indefinidos o u lim itativos ( unendliche, qualidade que chamaremos a um po sitivo ,
beschränkende Urtheile. Ver L im itativo). ao outro negativo; a sua síntese será o D e­
A estas três form as correspondem , sob o terminado, quer dizer, a relação entre o p o ­
m esm o títu lo, n o q uadro das categorias, sitivo e o n e g a t i v o E n s a i o so b re o s ele­
as idéias de realidade, de negação e de li­ m entos principais da representação.
mitação. CRealität, N egation, Lim itation.)
E sta correspondencia é a origem das Qualidades primeiras ou primárias (da
A n tecipações* da percepção, assentando m atéria) D . E rste Qualitäten; E. P rim ary
sobre o fato de que a qualidade da sen­ qualities; F. Qualités prem ieres ou prim ai-
sação é sempre puram ente em pírica (d ie res; I. Q ualita prim arle. Elas opõem-se às
Q u alität d er E m p fin d u n g ist je d e rze it qualidades segun das ou secundárias. (D.
b lo ss em pirisch), m as que se pode to d a ­ sekundäre; E . secondary; F. secon des ou
via afirm ar a p rio r i que esta qualidade secondaires; I. secon darie.)
tem um a grandeza intensiva, quer dizer, E stas expressões, aplicadas pelos es­
um grau, e que pode variar apenas de colásticos à distinção das quatro qualida­
um a m aneira contínua. K rit. d er reinen des fundam entais (o quente, o frio , o se­
Vern., A 166; B 207 ss. co e o úm ido) e das que delas derivam ,
A definição da própria qualidade con­ foram transpostas por B Ã à Â para a dis­
E

creta, que fica de fora da análise de Kant, tinção das propriedades geom étricas ou
foi retom ada por H τ OE Â « Ç , que a expõe mecânicas dos corpos e das propriedades
assim: “ [A qualidade é] sempre constituí­ sensíveis que, do ponto de vista cartesia­
da pela oposição de dois contrários... no, se reduziam a estas (ver E Z T 3 Ç , E

Dois contrários qualitativos não têm sen­ Phil. Term ., 94 e 196). Este sentido foi

Os dois parágrafo s sobre o sentido B da palavra qu alidade e sobre o sentido C


da palavra qu antidade, que se opõem um ao outro , foram acrescentados sob p ro ­
po sta de D elb o s e de B runschvicg, após discussão na sessão de 24 de dezem bro de
1914. Acrescentei igualm ente, a pedido de vários m em bros da Sociedade, a N ota 1
sobre os diferentes sentidos d a palavra em D escartes. (A . L .)

Sobre Q ualidades prim eiras ou prim árias — M en tré assinala um emprego parti­
cular desta expressão pelos físicos, particularm ente por Pierre DZ 7 E O , de quem ci­
ta o texto seguinte: “ Considerando um a propriedade como prim eira e elem entar, não
pretendem os de m odo algum afirm ar que esta qualidade é p o r natureza simples e
indecom ponível; nós proclam arem os apenas um a verdade de fato : declararem os que
todos os nossos esforços para reduzir esta qualid ad e a outras falh aram , que nos é
impossível decom pô-la.” L a th éorie p h ysiq u e, p. 201.
Vários correspondentes pensam que é im portante n o ta r aqui que a distinção re­
presen tad a pelos term os qu alidades prim eiras, qu alidades segundas d ata da A ntigui­
dade, ainda que aí n ão se encontrem term os técnicos análogos: D em ócrito foi o pri­
m eiro a dizer que a cor e as outras qualidades sensíveis eram vóftui, e apenas os á to ­
mos e o vazio, èrírj.
Q U A L IF IC A Ç Ã O 898

p o p u lariz ad o p o r LÃT3 E , A n E ssa y H τ O« Â I ÃÇ introduziu a palavra e a


Cone. H u m . U nderstanding, liv. II, cap. idéia de qu alidades segundo-prim árias,
V III, § 9 e seguintes. A s qualidades p ri­ peso, coesão, elasticidade, m assa, etc.,
m eiras são aquelas que são inseparáveis que estão todas com preendidas, segundo
da idéia de m atéria e que os nossos senti­ ele, na idéia geral de resistência (Disser-
dos percebem sem pre em cada parte m a­ tations on R eid, n a continuação das obras
terial suficientem ente volum osa p ara ser de Reid, tom o II, pp. 845 ss.). M as esta
percebida: são, segundo ele, a solidez, a distinção, inconciliável com a definição
extensão, a form a, o núm ero e o m ovi­ fundam ental de LÃT3 E , já quase não é
m ento ou o repouso. Ele designa-as tam ­ utilizada nos nossos dias.
bém por “ qualidades originais” ( O rigi­
nal Qualities, ibid.) porque ele admite que Q ualidades ocultas Ver O culto.
estas qualidades prim eiras existem nos R ad. in t.\ Quales
corpos tais como as percebemos, enquan­ Q ualidade terciária Ver Valor, C ríti­
to que as qualidades segundas não exis­ ca, § 2.
tem tais com o são percebidas e não são
senão a tradução, pelo nosso pensam en­ Q U A LIFIC A Ç Ã O L. escol. Q ualifi­
to , de certas determ inações das qualida­ cado; D. Q ualifikaíion, Benenngung ; E.
des prim eiras, por exem plo, o m ovim en­ A. N am ing; qu alifyin g (raro); B. N am e,
to de partículas insensíveis pela sua pe­ denom inatíon, description; qualification
quenez. (Ib id ., § 15.) LE « ζ Ç« U a d o ta es­ (raro; esta palavra tem geralmente um ou­
ta distinção; acrescenta que “ quando a tro sentido; ver Qualificar); F. Qualifica­
potência [que os corpos têm de produzir tion; I. Q ualificazione.
certas sensações em nós] é inteligível e po­ A . Ação de qualificar*.
de explicar-se distintam ente, deve contar­ B. T erm o que qualifica um sujeito,
se entre as qualidades prim eiras; mas denominação*. “ É preciso provar as qua­
qu ando é apenas sensível e só dá um a lificações pelas coisas e n ão as coisas pe­
idéia confusa, será necessário incluí-la en­ las qualificações.” MÃÇI E è I Z « E Z , D efe­
tre as qualidades segundas” . N o v o s en­ sa d o espírito d a s leis, § 2.
saios, II, V III, 9. R ad. int.: Q ualifik; B. Qualifikiv.

Q ualidades prim eiras deviam ser: 1? qualidades independentes das nossas sensa­
ções; 2? qualidades que dariam conta de todas as outras. M as nen hum a destas con­
dições é preenchida. O azul pode correspon der a certas vibrações do éter, mas não
se resolve em vibrações, é tã o prim eiro no seu gênero como o m ovim ento. P o r outro
lado, o que é verdadeiram ente em si e f o r a de n ó s l Descartes responde: “ A exten­
sã o .” E isto é verdadeiro no sentido em que ele n ão nos afeta e não é senão um obje­
to para o nosso entendim ento; mas estará ele bem certo de que ela subsiste p o r si
própria e é diferente de um abstrato da cor do qual é, de fato , inseparável? Leibniz
responde: “ A força” , com mais razão talvez, porq ue um a resistência oposta ao nos­
so esforço é real e fisicam ente exterior a este esforço, ainda que apenas se conceba
na sua relação com ele. (J. Lachelier)
Ver sobre esta últim a questão e sobre os postulados im plícitos que ela contém
o artigo E xterior e o artigo N ó s. P o r o u tro lado, n ã o creio que se possa ter com o
certo que a extensão seja inseparável da cor, e seja u m a sua abstração. P o r m ais que
se queira invocar sobre este ponto um a evidência introspectiva, a extensão parece-
m e um a noção essencialm ente táctil e m otora; e é-o com certeza p a ra os cegos. Ver
V « Â Â à , O m u n do d o s cegos, particularm ente cap. X . (A . L .)
E
899 QUALQUER

Q U A L IF IC A R D . Q ualifizieren, be- Q U A LITA TIV O D . Q u a lita tiv ; E.


nennen; E. To nam e ; to denom ínate·, ra ­ Qualitative·, F. Q ualitatif; I. Q ualitativo.
ram ente to q u a lify (esta palavra signifi­ A . N o sentido geral, que diz respeito
ca geralm ente introduzir restrições, m o­ à qualidade em qualquer dos sentidos des­
derar, dim inuir); F . Q ualifier; I. Quali- ta palavra. “ O estudo qu alitativo de uma
ficare. curva” , p or exemplo, é a descrição de seu
A firm ar do sujeito um a característi­ aspecto geral e, por assim dizer, físico,
ca que constitui um a qualidade ·*, quer no p o r oposição ao estudo qu a n tita tivo que
sentido simplesmente descritivo, quer no analisa exatam ente a sua equação.
sentido apreciativo desta palavra. Tom a­ B. M ais especialm ente, aquilo que,
se m uitas vezes no m au sentido: “ M enti­ pela sua p ró p ria natureza, n ão pode ser
ra q ualificada.” Cf. a expressão inquali­ traduzido nem em term os quantitativos,
ficá v el. nem em relações definidas e inteligíveis:
Ser qualificado p a ra ..., ter qualidade, por exemplo, a vida afetiva, enquanto ex­
possuir os títulos ou as características que perim entada p o r um sujeito que sente.
dão o direito, civil ou m oral, de agir de R a d . in t .: Q ualesal.
um a certa m aneira, que to rn am “ háb il” Q U A LQ U ER D. Irgendein; E. A n y,
(no sentido jurídico) para exercer um a fa­ an y... whatever (ou whatsoever); F. Quel­
culdade. conque; I. Q ualunque.

Sobre Q ualificar — Q ual é o sentido prim eiro d a expressão crim e q u alificado ?


Nem L « 2 é nem o D icion ário d a A ca d em ia resolvem esta questão. O prim eiro cita
I I

a expressão “ crime qualificado” e n o ta que ela se em prega falando dos crimes g ra­
ves, mas não indica o sentido literal. A A cadem ia tam bém não explica, m as menciona-a
logo após a expressão: “ as pessoas m ais qualificadas” no sentido de: “ as pessoas
mais consideradas” . Dτ 2 OE è I E I E 2 , H τ I UE E Â á e T 7 ÃOτ è citam “ ro u b o qualifica­
d o ” e definem -no “ aquele que reúne todas as condições que, segundo a lei, consti­
tuem o ro u b o ” . N ão pudem os encontrar esta expressão no C ode; M . W inter escreve-
nos que tam bém procuro u sem sucesso, m as que a expressão “ ro u b o qualificado”
é m uito freqüente na ju rispru dên cia; por exem plo, no R ép erto ire d u d ro it fra n ça is
de Cτ 2 ú E ÇI « E 2 e F. áZ Sτ « ÇI (vol. 36, p. 1.255, a rt. 449; Vo vol.), a seção III
intitula-se: “ Roubos qualificados de crim es.” A í se lê: “ Os roubos são p o rtanto q u a­
lificados em função d a qualidad e do seu a u to r, do tem po em que fo ram com etidos,
do lugar em que foram perpetrados, enfim , das circunstâncias que acom panharam
a sua execução” (C7 τ Z âE τ Z e H 8Â « E ). P o r exemplo: roubos qualificados em função
da qualidade do agente: os ro ubos com etidos pelas dom ésticas, hoteleiros, etc.; em
função do tem po em que são com etidos roubos executados à noite; em função do
lugar: os que são com etidos nas casas habitadas, na via pública, etc.; em função das
circunstâncias d a sua execução: aqueles que são com etidos por várias pessoas; com
escalada, com chaves falsas, etc. M . W inter crê que o adjetivo qu a lifica d o se em pre­
ga no sentido atrás citado (pelo m enos pelos jurisconsultos) apenas agregado à p ala­
vra rou bo. Ter-se-ia estendido d ai, por um falso sentido, às expressões “ crime quali­
ficado” , “ m entira qualificada” ? O u teria havido d o is empregos d a palav ra, origi­
nalm ente distintos, em que o segundo teria vindo, p o r analogia, d o s outros em pre­
gos da palavra onde m arca a excelência ou a im portância daquilo que se trata? {A. L .)

Sobre Q ualquer — Pode-se ler num artigo de Ed m ond GÃζ Â ÃI (“ Sobre a indu­
ção em m atem áticas” , R e vu ep h ilo so p h iq u e, jan eiro de 1911, p. 65) a seguinte a n e ­
dota que m ostra bem este duplo sentido d a palavra qualquer. “ O hábito de não perder
Q U A N T ID A D E 900

A. Diz-se de um dos elem entos de C R ÍT IC A


um a classe enquanto se considera que N ão é, p o rtan to , legítimo opor sime­
possui as mesmas propriedades que os ou­ tricam ente a dedução e a indução, como
tros elementos dessa classe. Dir-se-á, por
se fez por vezes, dizendo que a prim eira
exemplo, neste sentido, que um a proprie­
passa de to d o s p a ra um qualquer, a se­
dade verdadeira de um qualquer ponto do
gunda de um qu alquer para to d o s, e que
círculo é verdadeira do seu centro; que
um a característica pertence a um m am í­ repousam assim ambas sobre a equivalên­
fero qualquer se pertence tam bém ao ho­ cia lógica destas duas expressões. A pri­
mem, etc. “ The language o f ratiocination m eira parte d esta fó rm ula entende “ um
w ould, I th ink, be bro ught in to closer qualq u er” , no sentido A , e a segunda no
agreement with the real nature o f the pro­ sentido B.
cess, if the general propositions em plo­ O sentido B parece ser sempre relati­
yed in reasoning, instead o f being in the vo: é com relação a certas propriedades
form AH men are m ortal, or E very man que o centro de um círculo não é um pon­
is m ortal, were expressed in the form A n y to qualquer: se se tratasse, por exemplo,
man is m o rta l.” 1 J. S. M« Â Â, Syst. o f de um disco uniform em ente colorido, o
L ogic (6? ed.), liv. Ill, cap. Ill, § 5 (nota). centro seria um ponto qualquer, no sen­
B. Diz-se de um elemento de um a clas­ tido B, relativam ente a essa coloração.
se qu ando não apresenta nenhum a p ro ­ R ad. int.: A . Irg; B. Ne singular.
priedade singular relativam ente à ordem
das coisas que se considera. Neste senti­ Q U A N T ID A D E D. Q uan tität (no
do, O centro de um círculo não é um pon­ sentido B, Menge)·, E. Quantity, F. Quan­
to qualquer; o hom em não é um m am í­ tité', I. Q uantità.
fero qualquer. U m a das categorias fundam entais: a
que corresponde à questão π ό σ ο ν ou
1. “ A lin gu agem d o racio cínio seria p o sta , creio
qu antu m .
eu , n u m a fo rm a q u e c o rre sp o n d e ria m ais ex atam en ­ A. Ló ; « Tτ . A quantidade de um ter­
te à n a tu re z a real desse p ro cesso , se as p ro p o siçõ es m o é o fato de ele ser tom ado quer p arti­
q u e se u sam p a r a ra cio cin ar, em vez de terem a f o r ­
c u la r m e n te (c f. P a r tic u la r ), q u e r
m a To d o s o s h o m en s sâo m ortais o u Cada u m d o s
h o m en s é m ortal, fossem ex pressas so b a fo rm a Um universalm ente*, quer indivisamente (cf.
h o m em qualquer é m ortal E xten são, observações, e Indiviso).

jam ais de vista esta distinção (entre os elem entos gerais das figuras, postos p o r hipó­
tese, e os elem entos próprio s a tal figura individual desenhada no q uadro e sobre
a qual se raciociona) é um a parte da educação m atem ática. Lem bro-m e do meu es­
p an to q uando, aluno d o 4? an o , um dia o meu professor me disse: ‘O triângulo que
você está desenhando no q uadro não é um qualquer, é isósceles.’ Eu respondi-lhe:
‘U m triângulo qualquer ta n to pode ser isósceles com o não isósceles.’ O professor
zangou-se, m as estava errado; devia ter-m e dito: ‘É im prudente associar no seu espí­
rito a propriedade que quer dem onstrar com a im agem de um triângulo isósceles,
porque ela poderia n ão lhe ocorrer ao espírito quan d o dela tiver necessidade a pro­
pósito de um outro triân g u lo .’ ”
Sobre Q uantidade — N o sen tid o lógico. A ntes de m ais nada, seria necessário dis­
tinguir na quantidade lógica dois casos profundam ente diferentes: 1? aquele em que
o sujeito representa seres individuais cujo predicado é afirm ado diretam ente, tal co­
m o “ esta árvore” , “ certas árvores” , “ to das as árvores da flo resta” ; 2? o caso em
que o sujeito representa um a natureza ou essência com a qual o predicado é colocado
901 Q U A N T ID A D E

A quantidade de um a proposição é o 2°. M enos estritam ente, diz-se do que,


fato de o seu sujeito ser tom ado num a ou por natureza, adm itiria ser m edido, em ­
n o u tra dessas quantidades. bora n ão esteja atualm ente representado
B. Mτ I . e Fis. Características daqui­ por um número: “ Encontram-se no ar pe­
lo que é m edido ou m ensurável. A p ró ­ quenas quantidades de am oníaco e de áci­
pria coisa que é objeto de m edida. do sulfídrico.” T 2 Ã Ã è e P é T τ 2 á , Pré-
I 7

1? N o sentido mais estrito, diz-se do cis d e ch im ie, p. 13.


que é efetivamente medido, especialmente Q uantidade continua, descontinua,
do que é m edido p o ru m núm ero*, quer intensiva, ex ten siva : ver estas palavras.
dizer, por um a pluralidade definida de C . M τ E I è . Designa-se freqüente-
E I

unidades equivalentes. “ Q uando, em m ente por q u an tidade o co njunto de to ­


conseqüência de u m a escolha convenien­ das as determ inações de que se ocupam
te de unidades, várias grandezas se encon­ a aritm ética, a geom etria e a mecânica
tram expressas exatam ente por núm eros, (núm ero, grandeza, extensão, m assa, m o­
pode-se... efetuar sobre as grandezas as­ vim ento, etc.) enquanto são concebidas
sim expressas, que tom am então o nome como form ando um dom ínio à parte, per­
de quantidades, as três prim eiras op era­ feitamente inteligível, que se distingue cla­
ções da aritm ética.” C Ã Z 2 Ç Ã , C orres­ I ram ente do m undo das qualidades sensí­
po n d a n ce entre l ’algèbre e t la géom étrie, veis e ao qual este se p oderia reduzir. A
p. 10. quantidade assim entendida compreende,

num a relação de ligação necessária ou de coincidência possível1. “ Todos os hom ens”


(passados, presentes e futuros) é um su jeito, aparentem ente da prim eira espécie; na
realidade, é da segunda, porq ue não se pode afirm ar u m a coisa de to dos os hom ens,
mesmo fu turos, se não souberm os que ela é verdadeira do hom em ; é p o r isso que,
neste caso, m ais vale dizer “ todo hom em ” . D o m esm o m odo é preciso distinguir
“ alguns hom ens” (os senhores tal e tal) e “ algum hom em ” (um a possibilidade p ara
a natureza hum ana). Só o latim d á bem conta desta distinção, com a de qu idem e
aliquis. (J . L achelier )
N o sen tid o m atem ático. P a ra C ournot, “ a idéia de quantidade, simples com o
é e apesar de ter sido geralm ente vista com o um a idéia fundam ental ou um a idéia
prim itiva, n a realidade n ão é assim. O espírito hum ano a constrói por m eio de duas
idéias verdadeiram ente irredutíveis e fundam entais, a idéia de núm ero e a idéia de
grandeza” . (A rt. Q uantidade, n o D ic .f il. de F ranck.) “ Os núm eros estão na nature­
za. A s grandezas contínuas estão igualm ente na natureza, mas as quantidades só ap a­
recem em virtude d a escolha artificial da unidade e devido à necessidade que experi­
m entam os, em razão da constituição do nosso espírito, de recorrer ao núm ero para
exprim ir as grandezas.” Ibid. (F. M entré)
T udo isto a propósito d a quantidade strictissim o sensu, tal com o C ournot a defi­
ne nesse artigo e na passagem acim a citada no § B, 1?. É assim que ele diz: “ Lesam-
se ao mesmo tem po o sentido filosófico e as analogias da língua quando se aplica aos

1. N ã o , certam en te, q u e o p red icad o se ja alg u m a vez a firm a d o d e u m a essência c o n sid erad a em si mes-
m a; n ào é o hom em em si q u e é m o rta l, e n ão existe h o m em em si; m as é-o de u m a essência e n q u a n to esta
se realiza num q u a lq u e r in d iv íd u o d a espécie que eia c o n stitu i, ou, m elh o r a in d a , desse in d iv íd u o e n q u a n to
realiza essa essência, É este indivíduo qualquer q ue rep re sen ta p ro p ria m e n te o sin g u lar o m n is (to d o hom em )
e tam b ém o sin g u lar aliquis (alg um h o m em ), q u a n d o se tr a ta n ã o de u m a inclusão n ecessá ria, m as d e u m a
nâo-exclusão o u d e u m a co incidên cia possív el. (N o ta de J. Lachelier)
Q U A N T IF IC A Ç Ã O D O P R E D IC A D O 90 2

portanto, aquilo a que Boyle e Locke cha­ espécies de juízos: singulares, p articula­
m avam “ qualidades prim eiras” . “ O pri­ res, universais, às quais correspondem
meiro resultado da nova ciência (cartesia­ respectivam ente os conceitos de unidade,
na) foi o de co rta r o real em duas m eta­ de p lu ra lid a d e e de totalidade', o núm ero
des, qu a n tid a d e e qu alidade, das quais é considerado p or ele o ra com o u m a das
um a foi entregue aos corpos e a o u tra às form as d a totalid ade (K rit. d er reinen
alm as. O s antigos não tinham levantado Vern., B 111), o ra com o o esquem a da
sem elhantes barreiras nem en tre a quali­ quantidade em geral. (Ib id ., A 142; B
dade e a quantidade, nem en tre a alma 182.)
e o co rp o ... Nem o corpo se definia en­ 2. D o ponto de vista m atem ático, não
tão pela extensão geom étrica, nem a al­ existe diferença rigorosam ente estabele­
m a pela consciência.” BE 2 ; è ÃÇ , L ’évo- cida no uso entre grandeza e quantidade,
lution créatrice, p. 378. Ver M ecânica, exceto em algum as expressões consagra­
particularm ente C, D e Crítica. das, tais com o qu a n tid a d es negativas,
quantidades imaginárias. F o ra destas ex­
NOTAS pressões, é em geral a eufonía que decide
1. Do p onto de vista lógico, é clássi­ (ver as observações sobre G randeza).
co considerar os singulares determ inados C ontudo, a diferença indicada por Cour-
com o universais; há, neste caso, apenas not no texto citado m ais acim a tende a
duas quantidades (A, E; I, 0). M as isso estabelecer-se. Foi aprovada por CÃZ I Z -
2 τ I , D τ 2 ζ ÃZ 7 e Lτ T7 E Â « E 2 (ibid.).
é identificar o indivíduo com a classe de
que é o único m em bro (classe singular, Sobre a questão de saber se existem
elem ento) e os lógicos m odernos m ostra­ quantidades com as quais n ão se pode fa­
ram que havia interesse em distinguir en­ zer corresponder números, cf. Intensidade.
tre eles. Ver nom eadam ente P τ áÃτ , L a Rad. int.: Q uantes.
logique déd u ctive, § 44. QUA NTIFICAÇÃO D O PRED ICA ­
Kτ ÇI , na sua tábua das Categorias, D O D. Q u a lifik a tio n d es P rädikats ; E.
assimila os sentidos A e B, adm itindo três

núm eros puros, aos núm eros que designam coleções de objetos individuais, a denom i­
nação de quantidades, qualificando-as de quantidades discretas ou descontínuas’.' Deve,
segundo ele, chamar-se-lhes quotidades*. Ibid. M as este em prego das palavras, ainda
que, com efeito, mais conform e à etim ologia, não prevaleceu. Encontrarem os um a ra­
zão para isso no texto de L. C ou tu rat citado mais à frente no artigo q u otidade. As
expressões qu antidades contínuas, qu antidades descon tín uas continuam a ser m uito
usuais. Q uando se diz que a quantidade é um a categoria, ela é entendida então no
sentido lógico e no sentido m atem ático lato, com o o fazia Kτ ÇI . (A. L.)
N o sen tid o m etafísico. O parágrafo C foi acrescentado a p artir d a proposta e das
indicações de Victor D elb o s e de L. Brunschvicg.
A divisão d e K ant acim a referida não é hom ogênea. A particularidade e a univer­
salidade dos juízos dizem respeito à relação d o predicado com o sujeito; o m esm o não
acontece com a singularidade e a pluralidade. Ver Particular, texto e observações.
Sobre Q uantificação d o predicado — Creio que seria necessário resolver a questão
com u m a negativa ab soluta e dizer que um predicado n unca tem nenhum a espécie de
quantidade porque não representa nem um a coisa, nem um a classe de coisas, m as sem­
pre, e somente, um a maneira d e ser, que n ão é em si m esm a senão qualidade pura,
idealidade pura. (J. Lachelier)
903 QUANTUM

Quantification o f the predícate·, F. Quan- são tom ados por obrigação umversalmen­
tiflcation du p rédicaf, I. Q uantificazione te, e os das afirm ativas particularm ente.
d ei p red ica to . R a d . in t.: Q uantifik.
Reform a lógica p ro posta por H τ O« Â ­
I ÃÇ : consiste em enunciar expressam en­ Q U A N T IF IC A R D . Q uantifizieren;
E . T o q u a n tify, F . Q uantifier, I. Q uan­
te nas proposições a quantidade d o pre­
tificar e.
dicado, de m aneira a poder tran sfo rm ar
a cópula irreversível num a cópula simé­ A tribuir um a quantidade a um term o.
R a d . in t.: Q uantifik.
trica. Assim, ele distingue as proposições
em to to -totais*, toto-parciais, parci- QUA N TITA TIV O D . Quantitativ, E.
parciais* e parci-totais*. Quantitative-, F . Q u a n tita tif, I. Q uanti­
NOTA ta tivo .
A . Q ue diz respeito à quantidade.
O predicado tam bém é quan tificado B. Q ue apenas tem em conta a quan­
pela lógica clássica, mas: 1° a m ín im a, tidade (e n ã o a qualidade). “ H edonism o
quer dizer, sem excluir um a quantidade q u an titativ o .”
m aior do que aquela sobre a qual se tem R a d . int.: Q uantesal.
direito de co ntar d o ponto de vista for­
m al; 2? im plicitam ente, quer dizer, sem Q U A N TU M Term o latino freqüente-
enunciar a quantidade através de um de­ m ente utilizado ta l e qual n a linguagem
term inante expresso: fica entendido que filosófica.
os predicados das proposições negativas A . P a ra designar certa quantidade fi-

Só se pode quan tificar o predicado subord inando exclusivamente o juízo unica­


m ente em relação à extensão: ora, a originalidade, a vida, a utilidade d a síntese m en­
tal que constitui o juízo é sempre aliar, em graus sim etricam ente inversíveis, o ponto
de vista da extensão e o da com preensão, quer dizer, qualificar os term os, mesmo
quando se encaram do ponto de vista da extensão, e quantificá-los, mesmo quando
se encaram do ponto de vista da compreensão. De m aneira que o juízo, mesmo quando
é reversível e “ sim étrico” , constitui um a síntese irredutível a um a simples equivalên­
cia algébrica: a cópula é um órgão vivo de arbitragem e não poderia ser substituído
pelo signo = sem que seja ig norado o ato judiciário do espírito que, p o r um a iniciati­
va superior às simples m anipulações quan titativas, institui um com prom isso fecun­
do entre dois pontos de vista heterogêneos e solidários. (M . Blondel)
N ada de m ais verdadeiro do que estas observações se encararm os o juízo científi­
co ou filosófico enquanto operação viva e decisão atual de pensam ento. M as deverá
fazer-se um a reserva: 1? no que concerne às proposições um a vez enunciadas; e a
lógica form al não pode ocupar-se do juízo senão através d a proposição; 2? no que
concerne à quantificação do predicado nas proposições narrativas, tais como: “ A
E uro pa, a Á sia e a Á frica eram as únicas partes do m undo conhecidas dos R om a­
n o s.” “ Várias crianças contam -se no núm ero das vítim as deste acid ente.” É verda­
de que, neste últim o caso, se atribui geralmente ao predicado um a quantificação p a r­
ticular lim itativa, que difere um pouco da quan tificação particular m ín im a, a única
considerada explicitamente pela lógica clássica (ver Particular). M as isso mesmo prova
a insuficiência desta categoria. (A . L .)
Sobre Q uanta — Perrin caracterizou de um a m aneira im pressionante os quanta
chamando-lhes “ grãos de energia” (Les atom es, p. 216). M as é preciso notar que estes
quanta não são todos iguais: o seu valor E é expresso pela fórm ula E = hv, onde v desig­
na a “ freqüência” da ação que se propaga (número de vibrações por segundo) e h um a
Q U A S E -C O N T R A T O 904

n ita e determ inada. “ Das Q uantum der qualquer convenção, nem da parte daque­
Substanz w ird in der N a tu r weder ver­ le que se obriga, nem da parte daquele em
m ehrt noch verm indert .” 1K τ Ç , Crítica I relação ao qual se é o b rigado” . C o d e ci­
d a razão p u ra , B 224, desenvolvendo a vil, 1370. Ele resulta de um ato volu ntá­
fó rm ula de B τ T Ã Ç : “ Q uantu m naturae rio do hom em , por exemplo, ao gerir be­
nec m in uitu r nec au g e tu r.” D e dig n it., nevolam ente os negócios de alguém na
III, I, § 5. sua ausência e ao assum ir deste m odo o
B. P a ra qualificar o que é suscetível com prom isso tácito de continuar a ges­
de quantidade no sentido B. Kτ ÇI cha­ tão com eçada até que o proprietário pos­
m a ao tem po e ao espaço os dois quanta sa fazê-lo novam ente, e, reciprocamente,
originários da nossa intuição, “ die zwei o proprietário cujos negócios foram bem
ursprünglichen Q uanta aller unserer Ans­ adm inistrados, mesmo sem ele saber, de­
chauung” . K rit. d er reinen Vern., A nti­ ve cum prir os compromissos que o geren­
nomie, § 1, A 411; B 438. te contraiu em seu nom e e reem bolsá-lo
C. “ Q u a n ta ” . A m aior parte dos fí­ de to d as as despesas úteis. (Ib id
sicos contem porâneos consideram que a 1371-1375.)
energia varia nos fenômenos de um a m a­ Léon B Ã Z 2 ; Ã « è
E generalizou este
neira descontínua, sendo as unidades des­ conceito propondo substituí-lo pelo de
sa variação designadas por quanta. H. C o n tra to na idéia de laço social. (La s o ­
P Ã « ÇT τ 2 é , “ A hipótese dos q u a n ta ” , lidante', 1896. Cf. C h. A Ç á Â 2 , “ Do
E

R evu e scien tifiqu e, fevereiro de 1912. O quase-contrato social” , Rev. de m éta., ju ­


term o foi criado por M ax P Â τ ÇT 3 , sob lho de 1897.)
a fo rm a “ Elem entares W irkungsquan­
Q U ES TÃ O D. Frage, Befragung; E.
tu m ” 2. Vorles. über d ie Theorie des
Q uestion; F. Q uestion; I. Q uestione.
W ärm estrahlung 3 (1906), § 149.
P rim itivam ente, procura (de quaere-
R ad. in t.\ Q uant.
re, pro curar), inquirição, investigação.
Q U A S E -C O N T R A T O D . Q u asi- Este sentido já não existe em francês.
K o n tra k t ; E. Q uasi-contract; F. Q uasi A. O que é colocado em discussão; as­
contrat·, I. Q uasi-contratto. sunto de que se tra ta . “ O rdem de ques­
O quase-contrato é um dos compromis­ tões da física” , títu lo d a 5? parte do D is­
sos “ que se form am sem que intervenha curso d o m éto d o .
B. Especialmente: A to lingüístico que
consiste em enunciar quer um a função
1. “ O q u a n tu m d a su b stân cia n ã o a u m e n ta nem
dim inui n a n a tu re z a .”
proposicional, quer um a lexis, d enotan­
2. “ Q u a n tu m d e a ção e le m e n ta r” . do (pela entoação, pela fo rm a gram ati­
3. Lições sobre a teoria d a irradiação calorífica. cal ou p o r um sinal de pontuação) que se

constante universal, d ita “ constante de P lan ck ” . E sta noção ainda é obscura. P ara
evitar certas dificuldades de ordem lógica e experim ental, P lanck pôs-se a questão
se não se poderia ab a n d o n ar a hipótese de um a ab sorção descontínua da energia,
m anifestando-se a descontinuidade apenas n a em issão. O “ q u an tu m ” poderia en tão
ser considerado como um pacote clássico de ondas concêntricas, em itidas pela fonte
sendo um a simples consequência de um a disposição e s t r u t u r a l dos elementos do á to ­
m o nas suas relações com a energia radiante. Einstein, pelo contrário, concebe os
quanta com o grãos de energia lançados pela fonte em to das as direções: pacotes de
ondas m uito cu rtas e m uito estreitas, isoladas um as das outras à m an eira dos feixes
lum inosos dos projetores. Certos fatos não podem com preender-se senão desse m o­
do. Tenta-se ham onizar as duas concepções. (A . R ey) Cf. Á to m o .
905 Q U IE T IS M O

pede a alguém p ara a com pletar no pri­ bre o valor dos questionários em psico­
m eiro caso, afirm á-la ou negá-la no se­ logia” , Journal d e P sych ., 1904, 1.
gundo caso.
NOTA
Ignorância da questão Ver Ignorân­ N ão se deve co nfundir o m étodo dos
c ia * d o assunto. questionários assim definido com o m é­
Q uestão m al posta (Sofism a da) to do da introspecção experim ental dito
Designa-se sob este nom e, alargando um A u sfra g em eth o d e, cujo nom e alemão se
pouco o sentido literal d a expressão gre­ poderia prestar à confusão.
ga, o sofism a ao qual A ristóteles cham a R ad. int.: Q uestionar.
nXeico ¿ Q W T iífia r a t v i t o i d v (L. escol. Q Ü ID ID A D E L. escol. Q uidditas,
Sophism a plu riu m qu aestionu m ) ¡le g i traduzindo o t ò t í y v d voa de A ristóte­
oo<pi<rnx<j)v e h ty x u v , V, 167b 38 ss. P o r les; D . Q u idditàf, Washed·, E . Q uiddity;
exem plo, diz ele, p a ra to m ar um a ques­ F . Q uiddité; I. Q uiddità.
tão cujo absurdo salta à vista, será a ter­ Termo introduzido pelas traduções la­
ra que é o m ar ou será o céu? M as por tinas de A vicena (EZ T3 E Ç , Gesch. der
vezes tam bém este vício é difícil de desen­ phil. Term inologie, p . 68).
redar, como quando se pergunta se tal gê­ O que responde à questão q u id sit, por
nero de coisas é bom ou m au, havendo oposição à questão an sit: a essência*, en­
entre elas coisas boas e m ás. Este sofis­ qu an to distin ta d a existência*. Exprím e­
m a é tam bém discutido em várias outras se na definição.
passagens do m esm o tra ta d o , V I, 169a6 A palavra é tom ada p o r S. Tom ás de
ss.; X X X , 181 a36 ss., etc. A quin o com o sinônim o de fo rm a, de es­
Podem os incluí-lo no “ sofism a do sência, de natureza, etc. (ST7 ü I U , Tho­
universo m al concebido” ( o / th e ¡11- m a s L ex ik o n , sub Vo.)
con ceived universé) segundo H . A . Ai-
3 « Çè . The p rin cip ies o f L ogic, cap. XX.
NOTA

R ad. int.: Q uestion. B 2 3 Â à parece entender esta p ala­


E E E

vra num sentido um pouco diferente: o


Q UESTIO N Á RIO S (M étodo dos) D.
fato de ser alguma coisa, na passagem se­
M eth o d e der Fragezettel; E . M e th o d o f
guinte: “ You will reply, perhaps that in
the p rin ted queries; F. M éth o d e des ques-
the foresaid definition is included what
tionnaires; I. M é to d o d ei questionarii.
doth sufficiently distinguish it from n o ­
P è « TÃÂ Ã; « τ . M étodo que consiste em
thing: the positive abstract idea o f quid­
elaborar um a lista de perguntas, distribuí­
dity, entity or existence .” 1 The P rinci­
da entre o público em grande núm ero de
p le s o f H um an K n o w ledge, § 81.
exemplares e cujos “ resultados” são clas­
R ad. int.: Q uidit.
sificados e exam inados por aqueles que
tom aram a iniciativa desse envio. É um a Q U IE TISM O D. Q uietism us; E.
das duas formas principais do m étodo das Quietism ; F. Q uiétism ; I. Q uietism o.
enquetes. “ N este m étodo, distingo duas
form as m uito diferentes que é preciso es­
1. “ Replicar-se-á talvez q ue a definição em ques­
tudar separadam ente: o inquérito indire­
tã o (a d e m atéria) en cerra um elem ento que b a s ta p a ­
to , ou qu estionário pro priam ente dito, e r a distinguir u m o b je to de nada: a sa b e r, a id éia a b s­
o inquérito direto ou o ra l.” R « ζ ÃI , “ So­ tr a ta positiva de qüididade, e n tid ad e o u ex istê ncia.”

Sobre Quietismo —- “ A paixão pura está longe de ter obtido nos sistemas um lugar
com parável ao do entendim ento puro . Este últim o sem pre foi a quim era dos pensa­
dores. T odavia, se consentirm os em ver n o quietism o e nas seitas análogas um a esco-
Q U IE T IV O 906

A . P ropriam ente, doutrin a de M Ã Â « ­ dass, nachdem durch die zum Quetiv


ÇÃ è (1627-1696) e de M m e. G Z à Ã Ç gw ordene Erkenntniss, die Verneinung
(1648-1717), parcialm ente a d o tad a por des W illens zum Leben einmal getreten
F é Ç Â ÃÇ
E nas suas M áxim as d o s Santos ist, sie nun nicht m ehr w anke, und m an
(1797) e p o r ele aban d o n ad a em 1699, a u f ih r rasten könne, wie a u f einem e r­
após a condenação do seu livro. Sob a sua w orbenen E ig entum .” 2
form a mais radical, esta doutrina consiste R ad. int.: Kalmigiv.
em afirm ar que se pode atingir facilmen­ “ Q U IN Q U E V O CES” Literalmente:
te um estado contínuo de am or e de união as cinco palavras, ou os “ cinco univer­
com D eus, estado que com unica à alm a sais” : o gênero*, a espécie*, a diferença,
um a paz ab soluta e a dispensa de qual­ o pró prio *, o acidente*. Ver tam bém
qu er o utra prática m oral ou religiosa. A trib u to s* . Esta lista tem com o origem
B. N um sentido m ais geral, qualquer a Isagoge de P Ã 2 E í 2 « Ã , m odificando um
doutrina que vê a perfeição espiritual num pouco a enum eração que A 2 « è ó Â è I I E E

estado de contem plação feliz e inativa. dava nos T ópicos, I, V, 101b38 e seguin­
R ad. int.: Quietism. tes: a defin ição*, o gênero*, o p ró p rio *
e o acidente*.
Q U IE TIV O D . Q uietiv; E . Q uietive;
F . Q uiétif; I. Q uietivo. Q U IN TA N A D. R em pfah l·, E. Quin­
A quilo que dá à alm a calm a e repou­ tain; F. Q uíntam e; I. Q uintana.
so. “ ... W elche E rk enntn iss... a u f dem P rim itivam ente, poste ou m anequim
Willen zurück w irkend, nicht wie jene a n ­ que se erguia para depois tentar furá-lo
dere M o tive für denselben liefert, sondern ou abatê-lo a golpes de lança.
im Gegentheil ein Q u ietiv alles W ollens D outrina im aginária que se atribui a
geworden is t.” 1 S T Ã ú Ç τ Z 2 , D ie
7 E 7 E
um adversário fictício p a ra d a r a si pró­
W elt, § 48. Todavia ele não subscreve o prio a ocasião de a refutar.
quietism o* propriam ente dito e a este Q U IN TE SSÊ N C IA D. Q uintessenz ;
opõe a necessidade de um ascetismo*·. E. Q uintessence ; F. Quintessence; I.
“ Indessen dürfen wir doch nicht m einen Q uintessenza.

1. “ E ste conhecim ento reage tam b ém so b re a 2. “ C o n tu d o , n ão se deve acreditar que u m a vez


su a v o n ta d e , m as, d iferen tem en te d o co nhecim ento p ro d u zid a pelo c o n h ecim en to que serviu de q u ie ti­
vulg ar, long e de ap rese n ta r m o tivo s a esta v o n ta d e , vo, a negação d o querer-viver n ã o vacile n u n ca e que
difunde so bre to d o o querer a su a v irtu d e ap azig uan- se possa rep o u sar so bre ela com o so bre u m a p ro p rie­
te, o q u ietivo .” d ad e a d q u ir id a .”

la filosófica, terem os algum a idéia do que se to rn a o hom em tom ado do ponto de


vista exclusivo da afetividade. O puro am or, a contem plação, a adoração, o êxtase,
a subm issão to tal às leis divinas, com o ab andono do juízo e a resignação da vonta­
de, são as form as da d o u trin a quietista. D esta disposição m oral, é preciso aproxim ar
aqui, ainda que m uito diferente, aquela que adm ite o livre m ovim ento das paixões,
recom enda o sentim ento, o entusiasm o e as sim patias naturais com o princípios de
atividade superiores à razão, à ju stiça e à v o n tad e.” R Ç Ã Z â « 2 , P sych ologie ra-
E E

tionnelle, cap. VI. Texto assinalado por M . M arsal.


Sobre Quintessência — C I T 2 Ã faz d a Quinta essentia de Aristóteles a m atéria da
E

alm a: “ N am ut illa n a tu ra coelestis et terra vacat et hum ore, sic utriusque harum
rerum hum an us anim us est expers. Sin autem est quinta quaedam n atu ra , ab Aristo-
tele inducta prim urn, haec D eorum est et an im o ru m .” Tuscul., I , 2 6 . Cf. L Ã T 3 , E
907 Q U O T ID A D E

P ro priam ente, quinta essência (quin­ C o n junto de unidades naturais da


ta essentia ), quer dizer a α ι θ ή ρ , acrescen­ m esm a espécie; núm ero cardeal. C arac­
tada aos quatro elementos de Empédocles terística do que constitui tal conjunto.
por certos físicos (dos quais A 2 « è ó ­ I I E
“ Fere-se ao m esm o tem po o sentido fi­
 è cita e ad o ta a opinião) distioguindo-
E
losófico e as analogias q u an d o se aplica
a do fogo d a qual parece ter sido prim ei­ aos núm eros... que designam coleções de
ram ente apenas um a variedade. D ela ele
objetos individuais a denom inação de
faz a essência do céu e dos astros: “ Έ *
quan tidad es, qualificando-as de qu an ti­
òè τ ο ύ τ ω ν çocvet t òv o n τ έ ρ υ χ ί t is ο υ σ ά
d a d es discretas ou descontínuas. O co ­
ο ώ μ α τ ο ί ά λ λ η πα ρ ά rà s ε ν τ α ύ θ α ο υ σ τ ά -
ou s” (Π ί ρ ί ο υ ρ α ν ο ύ , 1 ,2:269*30. — Cf. m erciante que entrega cem pés de árvo­
I, 3;270b22) res e vinte cavalos não entrega quantida­
Esta palavra tom ou, ao longo d a Id a­ des, m as núm eros o u q u o tid a d es.”
de M édia, significações m uito variadas COURNOT, artigo Q uan titaté no D iction­
que apenas retêm em com um a idéia da naire p h ilo so p h iq u e de F ranck, 1441a.
essência mais p ura; daí o uso quím ico da “ As grandezas são hom ogêneas e contí­
palavra para designar a p arte ativa dos nuas: as coleções são discretas e hetero­
co rpos, desem baraçada de tu d o o que é gêneas. N um caso, o núm ero responde
só m atéria inútil e finalm ente o uso m o­ à pergunta: quantos? e representa um a
derno que é du plo : A. O ex trato m ais re­ q u o tid a d e ; no o u tro, corresponde à per­
duzido e mais co ncen trado de um corpo gunta: quão grande? e representa um a
que contém as suas propriedades carac­ qu an tidade. T odavia, p o r m ais diferen­
terísticas. Resumo de um pensam ento, de
tes que sejam ... estes dois papéis do n ú ­
um a doutrina que exprime com brevida­
de todo o essencial. “ Quintessência d e ...” m ero ligam-se u m ao outro por um a fi­
d iz-sejje um a qualidade, ou mais geral­ liação n a tu ra l... M ostrarem os assim a
m ente de um defeito que se m anifesta analogia, ou antes, a identidade de n a­
m ais p u ra e por assim dizer mais con­ tureza entre o núm ero-m edida e o núm e­
centrada. ro-coleção.” L. C ÃZ Z 2 τ
I I, L ’infini m a­
B. (sempre no sentido pejorativo). Su­ th ém atique, p. 523-524.
tileza inútil e atingida com esforço.
R ad. int.: Q uintesenc. C R ÍT IC A

Q U O TID A D E D. Quotitat, Vielheif, Este term o tende a cair em desuso.


E. Quotity; F. Quotité; I. Quotitá. Ver Q u an tidade observações e N otas.

T hird letter to the B ishop o f W orcester (sobre a natureza da alm a e sobre a questão
de saber se a Q uinta essentia poderia pensar). R eproduzida em n o ta em LOCKE, E s­
sa y IV , 3. (ed. de 1760, tom o II, p. 161). (A . L .)
“ Paracelso adm itia, além dos qu atro elem entos... um a quinta espécie de m até­
ria, resultante da reunião dos outro s quatro sob a sua fo rm a mais perfeita; porque,
segundo ele, o fogo não é exatam ente o calor, a água não é a hum idade e considera
possível depreender a qualidade da fo rm a ... É esse o elem ento predestinado, a quin­
ta essência de R aym ond Lulle, qu in ta essen tia... Ele procura descobrir esse elemento
predestinado, ou pelo menos algum a coisa que se aproxim asse dele. É o que acredi­
tava fazer ao ver exaltar-se um a qualidade q ualquer num corpo, acrescentar-se a ele
um a propriedade m édica, por exemplo, assim p ara ele a quinta essência do vinho
é o álcool. ” J.-B . DUM A S, L eçon s su r la ph ilo sp h le chism ique, p. 43. (Texto c o m u ­
nicado po r M . M arsal.)
R

R A Ç A D . Rasse; E . Race; F. Race; m um ). Diz-se dos indivíduos nos quais


I. R azza. se en contra, através dos tem pos, um a
A . N o sentido biológico: divisão que m esm a característica, n o sentido C: “ A
se situa ¡mediatamente abaixo de espécie; raça dos otim istas.” “ A raça dos descon­
sinônim o de “ variedad e” . P o r exemplo, ten tes.” Neste sentido, este term o tem
n a espécie hum ana: a raça b ran ca, a ra ­ freqüentem ente um a conotação pejo­
ça am arela. rativa.
B. M ais estritam ente: gru po de in di­
víduos, de m enor extensão do que a va­ C R ÍT IC A
riedade, nos quais se perpetua, pela he­ A existência de um a realidade bioló­
reditariedade e independentem ente da gica, correspondente a este conceito, no
ação do m eio, um co njunto de caracte­ sentido B, é contestável. A perm anência
rísticas biológicas, psicológicas ou sociais
das características, atribuídas pelos “ par­
que os distingue dos indivíduos pertencen­
tidários das raças” à hereditariedade
tes a outros grupos próxim os. Ver por
fisiológica, é atribuída p o r outro s so­
exemplo o retrato físico e m oral d a “ ra ­
ciólogos à educação, à im itação, ao meio,
ça grega” em T τ « Ç , Filosofia da arte na
E

G récia, 1? parte : “ A ra ç a .”
etc.
C. C onjunto dos ascendentes e dos P o r outro lado, alguns biólogos con­
descendentes de um a m esma família. “ A sideram as variedades como combinações
raça de A d ã o .” “ N ão há quem se canse de “ ra ç a s” mais elementares, caracteri­
de o ouvir e gabar-se da sua bravura e do zadas por u m a hereditariedade simples e
brilho da sua ra ç a ." M Ã Â « 2 , O m isan­
E E
invariável (p. ex. as espécies jo rd an ianas
tro p o , I, I. Cf. a expressão d e raça. em botânica).
D . (im propriam ente m as m uito co­ R ad. int.·. Ras.

Sobre R aça — Pode-se extrair um argum ento, p a ra a realidade biológica das ra ­


ças, a p artir de um a observação biom étrica: num a verdadeira raça, as m edidas que
dizem respeito à freqüência de um a característica mensurável em fu nção da sua gran­
deza dispôr-se-iam segundo a fo rm a de um a exponencial, sem elhante à curva dos
erros, o que n ão aconteceria num co njunto de hom ens pertencentes a raças diferen­
tes. Ver Vico V Ã Â 2 2 τ , “ A è m atem áticas nas ciências biológicas e sociais” , Re-
I E

vue du m o is, janeiro de 1906. (M . W inter) Com a condição de entender raça num
sentido m uito lato, p o r exem plo, raça branca, raça am arela; porém Q uételet encon­
tro u u m a curva deste tipo p a ra u m a porção de cem mil conscritos franceses, to m a­
dos de todas as regiões do país, e que form am p o r conseqüência um a m istu ra d e vá­
rias “ raças” sensivelmente diferentes, no sentido estrito desta palavra. E, na sua opi­
nião (mas talvez estivesse errado), chegar-se-ia a um resultado sem elhante com pa­
ra ndo as medições efetuadas sobre u m a m istura de belgas e de chineses; ele n ão hesi­
tava em concluir que um a das mais curiosas aplicações da teoria das probabilidades
aos fenômenos relativos ao hom em é a dem onstração direta da unidade da espécie
hu m ana e d a possibilidade de dem arcar o seu tipo. H τ Â ζ ç τ T è , L a th éorie d e
7

1‘h o m m e m oyen , p. 29; segundo Q Z é Â I E , Théorie d e s p ro b a b ilité s, 72 ss. (A . L .)


E I
909 R A C IO N A L

R A C IO C ÍN IO D. Vernunftschluss·, cha do espírito sem valor de prova: “ A


E. Reasoning·, F. Raisonnem enl·, I. R a- indução am plificante não é um raciocí­
g io m m e n to . nio, mas um a inferência.” G. H . Lu-
Operação discursiva pela qual se con­ I Z E I, L ogiqu e, m orale, m étaphysique,
clui que um a o u várias proposições [pre­ p. 42. M as esta especialização do term o
m issas) implicam a verdade, a pro babili­ é rara. É geralm ente adm itido que o ra ­
dade ou a falsidade de u m a o u tra p ro p o ­ ciocínio pode ser rigoroso e apodítico
sição {conclusão ). Cf. A 2 « è ó Â è , P ri­
I I E E
(dedução*) ou, pelo contrário, im perfei­
m eiros analíticos, 1 ,1 . to e som ente plausível (indução*, no sen­
tid o A ). P E « 2 TE pro pôs p a ra este últim o
NOTA sentido abd u çã o . A indução, no sentido
Raciocínio e Inferência*, no essencial, B, qu ando consiste num a passagem alea­
designam , p o rtan to , a m esm a coisa. P o ­ tó ria dos fato s às leis, ou d o mais espe­
rém no uso corrente cada um a destas pa­ cial ao m enos especial, é um a das formas
lavras tem certos em pregos tradicionais deste raciocínio. D aí a oposição usual,
e com porta certas nuances que lhe são m as lam entável, entre a dedução “ passa­
próprias. P o r um lado, raciocínio evoca gem do geral ao partic u la r” e a indução
quase sempre a idéia de um a construção “ passagem d o particular ao geral” .
complexa; as inferências imediatas só são R ad. i n t Rezon.
designadas raciocínios por generalização, RA CIO N A L D . Vernünftig, rational;
e a expressão raciocínio im ediato teria al­ E. Rational·, F . R ationnel; I. R azionale.
go de chocante. P o r o u tro lado, inferên­ A . Que pertence à razão, ou que lhe
cia não se diz de um encadeam ento de é conform e, em particular nos sentidos B,
proposições que não sejam assertóricas, C ou D. “ Princípios racionais.” Ver Prin­
de um a implicação de lexis*: inferência cípios. “ W as vernünftig ist, das ist wirk-
p e lo absu rdo seria totalm ente contrária lich; und was wirklich ist, das ist vernünf­
ao uso; raciocínio p e lo absu rdo é, pelo tig .” 1 HEGEL, R ech tsp h il., V orrede.
co ntrário, m uito corrente.
Alguns autores reservam o nom e ra­
1. “ T u d o o q ue é ra c io n a l é real; e tu d o o q u e
ciocínio para um a operação lógica rigo­
é real é ra c io n a l.” [FU. do direito, p refá cio). A cerca
rosamente concludente, e, por conseguin­ d a questão de saber o que se deve en tender, nesta fó r­
te, opõem -na a inferência*, simples m ar­ m u la, p o r real (wirklich), ver R. BE 2 I 7 E ÂÃI , “ SÃ -

Sobre Raciocínio — O caráter discursivo da operação deve-se à necessidade de


m ostrar a intuição por palavras. M as a operação em si m esm a não é discursiva. O
raciocínio consiste em estabelecer um a série de relações. Mas cada um a delas é apreen­
dida no e p o r um “ actus sim pex” . C om o afirm avam os tratados antigos, falando
do juízo “ no n dividi potest; vel enim to tu m est, vel n ullum ” . Assim se evita o p ro ­
blem a artificial e ocioso de saber se o raciocínio é a m arca d a nossa inferioridade
intelectual. J á não se põe a questão se ele for um a série de intuições continuadas
e articuladas. (J. Boisse)
C ada um dos m om entos que com põem um raciocínio é, com efeito, um todo in ­
divisível, enquanto percepção de um a relação, quer dizer, um juízo; m as um a vez
que estes m om entos form am um a série, o co njunto perm anece discursivo. E pode
dizer-se o u tro tan to do pró prio ju ízo, enquanto considerado, na sua fo rm a analisa­
da, com o um a operação que visa a reconstruir tão adequadam ente quanto possível,
com term os no princípio separados, a unidade de um ato perceptivo ou intelectual.
(A. L .)
RACIONALIDADE 910

S u b stan tiv am en te: “ O ra c io n a l” (tí­ ciedades m odernas). D. P τ 2 Ãá« , Tradi­


tu lo d a o b r a d e G . M« Â 7 τ Z á , 1898). cionalism o e dem ocracia, 2? parte (títu­
B. E m p a rtic u la r, q u e é ló gico e c o n ­ lo do capítulo II).
fo rm e a u m b o m m é to d o . “ T a i é e n tã o R ad. int.: R acio n ale s.
a d istrib u ição ra c io n a l do s p rin cip ais r a ­
m os d a ciência geral d o s co rp o s b ru to s .” R A C IO N A L IS M O D. Rationalismus ;
A u g . COMTE, Curso, 2 “ lição. “ É a cien­ E . Rationalism·, F . R ationalism e ; I. R a ­
cia m atem ática q u e deve constituir o ver­ zio nalism o.
d ad eiro p o n to de p artid a de to d a e qual­ A . N o sentido m etafísico, d o u trin a se­
q u e r ed u cação ra cio n al.” Ib id ., ad fin. g u n d o a q u al n a d a existe que n ão te n h a
C. N úm ero racional, aquele que p o ­ a su a ra z ã o de ser, de tal m an eira que p o r
d ireito , sen ão de fa to , n ã o h á n a d a que
de ser po sto sob form a de um a relação
entre dois núm eros inteiros. n ã o seja inteligível. C f. Inteligibilidade
D . Mecánica racional, conjunto de to­ (P rin cíp io d e univ ersal).
P o r co n seq ü ên cia : d o p o n to de vista
das as questões de m ecánica que são tra ­
d as orig ens do c o n h ecim en to , p o r o p o si­
tadas usando um m étodo puram ente de­
ção a em pirism o:
dutivo a p artir das noções de m assa, de
força, de ligação e de inércia. 1? B. D outrina segundo a qual todo
conhecimento certo provém de princípios
NOTA irrecusáveis, a priori, evidentes, de que ela
CÃZ 2 ÇÃ Iopõe francam ente a ordem é a conseqüência necessária e, por si sós,
lógica, que força o assentim ento sem os sentidos não podem fornecer senão
m ostrar as verdadeiras razões das coisas, um a idéia confusa e provisória da verda­
à ordem racional, que liga as verdades ao de. (DE è Tτ 2 I E è , Eè ú « ÇÃè τ , H E ; E Â .)
seu princípio natural, e que, por conse- “ D este m o d o , o em p irism o n ã o so u ­
qüência, ilum ina o espírito (Essai, cap. II be d ar u m a fo rm a do m in an te a esta im en­
e X V I). A ordem lógica, segundo ele, é sa m a té ria , e n q u a n to q u e o racio n alism o
sempre linear e discursiva; a ordem racio­ n ã o co n seg u ia d a r às fo rm a s u m c o n te ú ­
nal, sintética e intuitiva. Cf. R azão, d o su fic ie n te .” EZ T3 E Ç , A s grandes cor­
Crítica. rentes d o p ensam ento contem porâneo.
Rad. in t .: A . C . D . R acio n al; B. So bre este sentido d e racionalismo, ver to ­
L o g ik al. d o o ca p ítu lo B, 1.
2? C , D o u trin a seg u n d o a q u a l a ex­
R A C IO N A L ID A D E D . Rationalität, p eriên cia só é possív el p a ra u m esp írito
Vernunftmässigkeit·, E . R ationality, F . q u e p o ssu a ra z ã o n o sen tid o D , q u e r d i­
Rationalité; I. R azionalità. z er, u m siste m a d e p rin cíp io s univ ersais
C a ra cterística d o q u e é ra c io n a l, em e n ecessário s q u e o rg a n iz a o s d a d o s em ­
p a rtic u la r n o s sen tid o s la u d a tiv o s d a p a ­ p íricos (Kτ ÇI ).
la v ra ra z ã o . “ A rac io n a lid a d e d o s p rin ­ D . D o p o n to de v ista d a discip lina in ­
cíp io s d e 1789” (q u er d izer, o fa to d e te ­ tele ctu al: fé n a r a z ã o , n a ev id ên cia e n a
rem p o r o rig em , n ã o acid en tes h istó ric o s d e m o n stra ç ã o ; cren ça n a efic ácia d a luz
c o n tin g en tes, m as u m a co n ex ão necessá­ n a tu ra l. O põe-se, neste sen tid o , a irracio­
ria , que os ju stific a , com o estad o d as so- nalism o, so b to d a s as su as fo rm a s (m is­
ticism o, ocultism o, filo so fia d o sentim en­
b r e a lib erd ad e, a nec essidade e a fin alid a d e em H e-
to , tradicio nalism o). “ [Os utilitários] n ão
g e P \ BuUetin d a Socied . F ra n cesa de F iloso fia, abril terão nesse aspecto so frid o o co ntágio dos
d e 1907 (sessão d e 31 d e ja n e iro ). re fo rm ista s so ciais d o século X V III q u e,

Sobre Racionalism o — A rtigo com pletado a p artir de u m a observação de M . Drouin.


911 RADICALISM O FILOSÓFICO

n a F ran ça e n a In g la te rra , parecem ter si­ S tate S tan d s fo r g o o d , u n til th ey b e con-


d o , eles ta m b é m , ra cio n alistas e in d iv i­ vinced w ith b e tte r .” 1 C Â τ 2 Çá Ã Ç , Sta­
E

d u a lista s? ” E . H τ Â é â à , L e radicalisme te Papers, v o l. I I , s u p l., p ág . X L (14 d e


philosophique, c o n clu são , p . 377. o u tu b ro d e 1646). L « ζ Ç« U diz neste sen­
E

E . (especialm ente n o s teólogo s). D o u ­ tido: “ O s teólogos ra c io n a is.” T eodicéia,


trin a seg u n d o a q u al só n o s devem os fiar Discurso da conform idade da f é com a
n a ra z ã o (n o sentid o C) e n ã o ad m itir no s razão, § 14.
d o g m as religio sos se n ão o q u e ela reco ­ Rad. int.: R acio n alism .
n h ece co m o ló gico e s a tisfa tó rio seg u n ­
“ R A C IS M O ” D o u trin a q u e ad m ite
d o a lu z natural*.
n a espécie h u m a n a a existência de raças* ,
“ M u lta su n t in D eo s u p ra ra tio n e m
n o se n tid o B , m ais especiais q u e as raças
tu a m p o sita . H a e c erg o ra tio c in a n d o as-
b ran ca, neg ra, am arela o u verm elha e so­
sequi d esp era; n e ta m e n c o n fu n d a s cum
b re tu d o 1 ? q u e co n sid era estas d ife re n ­
irra tio n a b ilib u s. R atio n alism u s est e rro r
ças co m o o s fa to re s essenciais d a h istó ­
o m n ia in div in is to llen s su p ra ra tio n e m
ria ; 2? q u e fu n d a so b re elas u m d ireito
e rra n tis p o s ita .” B τ Z O; τ 2 Ç , Ética,
I E
d e as raças (o u a raça) su p erio res s u b o r­
§ 51-52.
d in a re m as o u tra s e m esm o de as elim i­
“ E rro d aq u eles que re je ita m to d a re ­
n arem . V er n o m e a d a m e n te G Ã ζ « Ç τ Z , E

v elação p a ra se restrin g irem ao s sim ples


Ensaio sobre a desigualdade das raças hu ­
d a d o s d ire to s d a s u a ra z ã o p e sso a l.” P a ­
m anas (1853-1855).
d re É lie B Â τ Ç T , D iction. d ephilosophie,
su b Vo. R A D IC A L D . R adikal (A . Wurzel...·,
M uitas vezes tid o com o sinônim o ate ­ B . Gründlich)·, E . Radical', F . Radical·, I.
n u a d o de irrelig ião : q u er n o m a u sen ti­ Radícate.
d o , p a ra d esig n ar u m a in clin ação do es­ A . Q ue diz resp eito à raiz, em q u a l­
p irito seca, in teresseira, que n ã o d á n e­ q u er dos sen tid o s d e sta p a la v ra .
n h u m v alo r a o sen tim en to e à in tu ição ; B. Q ue vai até a raiz e, p o r consequên­
q u er n o b o m se n tid o , en q u a n to o p o sto a cia, que n ã o co m p o rta restrições. M al ra­
fid eísm o * (no sen tid o B d esta p alav ra), dical·. 1 ? o m al e n q u a n to co n sid erad o co ­
o u a in d a a m isticism o e a su p erstição . m o real, efetiv o , e n ã o so m en te com o
C hega-se e n tã o ao sen tid o D . u m a p riv ação o u u m b em m en o r. 2? E s ­
p ecia lm en te , o m al que consiste n a c o r­
NOTA
ru p ção o rig in al d o h o m em . P o r exem plo
Racionalismo, o u racionalista no sen­ K τ Ç , Religion innerhalb der Grenzen
I

tid o B, d a ta pelo m enos d o século X V II. der blossen V ernunft, cap . I: “ Ü b er das
“ Em píricos form icae m o re congerere tan- r a d ik a l B ö se in d e r m e n sc h lic h e n
tu m et uti, R atio n ales au te m ara n e a ru m N a tu r .” 12
m o re telas ex se c o n ficere.” Bτ TÃÇ , Co­ Rad. int.: R ad ik al.
gítala et visa (Eli e S p ed d ., III, 616). “ The
R atio n alists are like to spid ers, e tc .” T E - R A D IC A L IS M O F IL O S Ó F IC O E .
Çí è ÃÇ , Baconiana (1679). Ib id . , V II, 177. Philosophical radicalism ; F , Radicalisme
M as a té o século X IX , o sen tid o teo ló g i­ philosophique.
co E parece ter sido o m ais difundid o, Ver
E « è Â E 2 , sub Vo, e E Z T3 E Ç , Term inol., p. 1. “ U m a n o v a se ita cresceu en tre eles (os P re s­
173, n o ta , o n d e cita entre o u tro s este te x ­ biteria nos e os In dependentes); são os Ra cion alistas.
to : “ T here is a new sect sp ru n g up am ong A q u ilo que a su a ra z ã o d ita relativ am en te à Ig reja
e a o E sta d o é tid o co m o b o m , até se co nven ce rem
th em (P resb y terian s a n d In d ep en d en ts)
que h á m e lh o r.”
a n d th ese a re th e R a tio n alists; a n d w h at 2. A religião nos limites da sim ples razão: “ S o ­
th eir reaso n d ic ta te s th em in C h u rch or bre o m al rad ical n a n a tu re z a d o h o m e m .”
R A IZ 912

D outrina política, econôm ica e filo­ hàltnis, ratio; G . H . Grund; E . R eason,


sófica do gru po de publicistas e dos filó­ em to d o s os sen tid o s; F . Raison; I.
sofos ingleses do qual BE ÇI 7 τ O , James Ragione.
M« Â Â, J. S. MIEL são os principais repre­ D iscute-se q u a l o sen tid o m ais an tig o
sentantes. Os pontos essenciais desta dou­ d a p a la v ra ratio. L iga-se p ro v av elm en te
trin a são o liberalism o sob todas as suas a ratus, p articip io d e reor (crer, p en sar),
form as, em particular a mais am pla liber­ e p arece te r s o b re tu d o sig nificado cálcu­
dade com ercial e industrial; o individua­ lo e relação an tes d a ép o c a clássica. Ver
lismo; a superioridade do governo repre­ A lb e rt YÃÇ , “R atio e as p alav ras d a fa ­
sentativo; a fé na razão; o utilitarism o m ília de reor” . Société linguistique de P a ­
m oral, o determ inism o psicológico e a ris, 1933. C o m L u crécio e C ícero , que a
teoria associacionista do conhecim ento. fazem e n tra r n a linguagem filo só fica, ela
V er E . H τ Â é âà , L a fo rm a tio n du ra­ inclui os sen tid o s de δ ι ά ν ο ι α , de ν ό η σ ι ς
dicalism e p h ilo so p h iq u e , 3 v o l., 1901- e so b re tu d o de Xo-yos, q u e já se em p reg a­
1904, p a rtic u la rm en te to m o III, L e radi­ v a ela ta m b ém nas acepções m ais v a­
calisme philosophique, co n clu são . riad as.
R A IZ D . Wurzel; E . Root·, F . R aci­ I. E nq u a n to faculdade:
ne; I. Radice. A . Faculdade de raciocinar discursi­
Im agem fre q u e n te n a linguagem filo­ vamente, de com binar conceitos e propo­
só fica desd e a A n tig ü id a d e , e que q u ase sições ( δ ι ά ν ο ι α , Xóyos). Ver ME « Â Â E I ,
p erd eu o seu c a rá te r m e ta fó ric o devid o Histoire de la langue latine, principalmen­
a o u so . P o r exem plo ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , te a p . 214.
em Über die vierfache W urzel des Satzes A R azão é q u ase u n iv ersalm ente co n ­
vom zureichenden Gr un d e 1, p a rtic u la r­ sid e ra d a , n este se n tid o , c o m o o p ró p rio
m en te § 16. A o b ra tem , aliás, co m o ep í­ d o h o m em , ÇCiav X oyixóv. “ E ten in ratio ,
grafes dois versos pitagó ricos o n d e ^ if o - q u a u n a p ra e sta m u s b ellu is, p er q u a m ...
¡iu é já to m a d o no sen tid o fig u ra d o , co ­ a rg u m e n ta m u r, refellim u s, disserim us,
m o aco n tece fre q ü en tem en te no grego. confícim us aliq uid, concludim us, certe est
C R ÍT IC A co m m u n is, d o c trin a d iffe re n s, discend i
q u id em fa c ú lta te p a r .” C í TE 2 Ã , D e legi-
E sta p a la v ra serve co m o sin ô n im o
bus, 1 , 10; 30. “ R a tio n a le est d iffe re n tia
a m p lo p a r a os term o s c a u sa , p rin cíp io ,
an im alis e t D eo n o n c o n v en it nec A ng e-
o rig em , etc. P o r co n seq u ên cia, d á lu g a r
lis .” S. TÃOá è áE A I Z « ÇÃ , in lib . III
a o s m esm os eq uív ocos e p o d e a in d a le­
S en ten tiaru m , 25, q u . 1, a rt. 1, § 4. A ra­
v a r a c o n fu n d i-lo s e n tre si.
Rad. in t.: R ad ik . tio opõe-se, seg u n d o ele, a intellectus, f a ­
c u ld a d e d e co n h ecer su p e rio r e in tu itiv a ,
R A Z Ã O L . R a tio ; D . V ern u n ft (so­ a in d a q u e a m b a s te n h a m u m a raiz c o ­
m en te n o sen tid o d e facu ld ad e); G . Ver- m u m n a n a tu re z a d a alm a: “ Etsi intellec­
tu s et ra tio n o n sin t d iv ersae p o te n tia e ,
1. Sobre a quádrupla raiz d o principio da razão
ta m e n d e n o m in a n tu r ex diversis actib u s.
suficiente. In te llectu s en im n o m en s u m itu r a b in ti-

S o b re Razão — A o rd e m p rim itiv am en te seg u id a e n tre os sen tid o s d a p a la v ra


razão fo i u m p o u c o m o d ific a d a a p a r tir d as o b serv açõ es d e v ário s m em b ro s d a S o ­
cie d ad e, p a rtic u la rm e n te M . D rouin, a q u em dev o ig u alm en te alg u n s co m p le m en to s
ú teis. P re fe rim o s se p a ra r d o re sto e re u n ir n u m só a rtig o , sob a ru b ric a R azão pura,
a q u ilo q u e d iz resp eito a o e m p reg o d esta p a la v ra em K an t.
913 RAZÃO

m a penetratione veritatis, nom en autem “ en tid ad es fu n d a d a s so b re a n a tu re z a e


rationis ab inquisitione et discu rsu.” 1 so b re a ra z ã o d a s co isas” , p o r o p o sição
S u m m a theol., II, 2, 49, 5 ad 3. às “ en tid ad es artificiais q u e são ap en as
B ossuet to m a freq ü en tem en te a p a la ­ sig nos ló g ico s” . Essai, cap . X I, § 159.
vra neste sentido, ain d a q u e lhe acrescente M as este uso é ex cep cio n al.)
m u ito do sentido B (razão norm ativa). N a B. F acu ld ad e “ de bem ju lg a r” (DE è ­
v e rd a d e , ra z ã o , p a ra ele, d esig n a so b re­ Tτ 2 I E è , M éto d o , I, 1), q u er d izer, de
tu d o aq u ilo q u e u ltra p a ssa os sentidos discern ir o bem e o m a l, o v erd ad eiro e
(ver ad ian te), o falso (o u m esm o o b elo e o feio) a tr a ­
E ste sentido tradicio nal persiste em a l­ vés de u m sentim ento in terio r esp ontâneo
gu ns m o d ern o s. “ D ie B egriffe sin d das e im ed iato . “ E n q u a n to o en ten d im en to
E ig en th u m des M enschen dessen ih n von in v en ta e p e n e tra , cham a-se esp írito ; e n ­
allen T h ieren u n tersch eid en d e F äh ig k eit q u a n to a ju íz a e se dirige p a ra o verd ad ei­
zu denselben von jeh er V ernunft g en an n t
ro e p a ra o b em , cham a-se razão e ju í­
w o rd e n i s t . ” 1 2 ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 , D ie
z o ... A razão en q u an to nos desvia d o ver­
Welt', I, § 3. D iz-se a in d a neste sen tid o
d ad eiro m al d o h o m e m , que é o p ecad o ,
razão racionante.
cham a-se c o n sciên cia.” BÃè è Z E I , Co­
Encontram o-la tam bém n a expressão
nhecim ento de D eus e de si p róprio, cap .
ser* de razão, entidade fictícia criada pelo
I , § 7. (S obre a ra z ã o ju iz d a b eleza e d a
espírito p ara as necessidades do discur­
so. (CÃZ 2 ÇÃI aplicou essa expressão às o rd em , cf. ibid., 8.) “ N u n ca devem os d ar
to ta l consentim ento sen ão às proposições
q u e parecem tã o evid entem ente verdadei­
1. A liás, esse n ã o é o ún ico sentid o que S . T o ­ ras q u e n ã o possam os recusá-las sem sen­
m ás de A q u in o d á à p a la v ra ratio. O T hom as-Lexl·
ko tt d ê ST7 OI U d istin g u e nele dezen ove acep ções.
tir u m a p e n a in te rio r e u m a rep ro v ação
M as é o m ais co m u m , e n q u a n to se tr a ta d a razão - secreta d a r a z ã o .” Mτ Â E ζ RANCHE, Re-
facu ld ad e. cherche d e la vérité, I, c a p . I I , 4.
2. “ O s conceitos s ã o o p r ó p rio d o h o m em , e a
A ra z ã o , neste se n tid o , o põe-se q u er
fa c u ld a d e que ele tem d e os fo rm a r, fa c u ld a d e que
o distingue dos an im ais, é aquilo a q u e se m pre se ch a­ à loucura, q u e r à p a ixã o ; m as n esta o p o ­
m o u ra z ã o [antes d e K a n t] .’’ sição acrescen ta-se p o r vezes alg um a coi-

Etim ologia. D ivisão do s sentidos — D eve ter h av id o n o latim u m a ra iz rat (id ên ­


tic a ta lv ez à ra iz art, d e ars, artus, d e ¿¡piOfiós, etc.) q u e ex p rim ia alg o d e a d a p ta d o ,
d e c o m p o sto , e d e estável em co n seq ü èn cia d essa o rd e m . D a í o p a rtic ip io ratus, asse­
g u ra d o , fix o , q u e r fa la n d o de u m a co isa q u e r fa la n d o d e u m a p esso a; d a í ratis, ja n ­
g a d a , c o n ju n to d e peças de m a d e ira , e ratio, siste m a d e id éias lig ad as e n tre si, c o n ta ,
racio cín io . (J. Lachelier)
O sen tid o o rig in al p arece ser aq u ele q u e a v elh a ex p ressão “livro d e razão ” su ge­
re, e q u e sig nifica liv ro d e c o n ta s e v erificação p o rm e n o riz a d as d as receitas e desp e­
sas, reg istro d iscu rsiv o de to d o o m o v im en to d e u m a c a s a 1. A p a rtir d e sta significa­
ção p rim e ira , o te rm o ev o lu iu em d u as d ireçõ es d ife re n te s, q u e le v aram n ã o só a d i­
fe ren ciar, m as ta m b é m a o p o r as acepções q u e ela c o m p o rta n a lin g u ag em filo só fi­
ca: d a í as co n fu sõ es c o n tra tis q u ais é essencial p recav erm o -n o s. R azão, con-

1. “ A cresc en taria d e b o m g ra d o o seguin te: a q u ilo q u e p erm ite dar co n ta , ver n u m relance, dep o is de
tê-lo n o ta d o p o n to p o r p o n to , o c o n ju n to d o seu o rç a m e n to , o u m esm o d a su a ca rre ira . P o rq u e o ‘livro
d e ra z ã o ’ n ã o se co n fu n d ia co m o liv ro d e c o n ta s d iá ria s; e freq ü e n te m e n te se rv ia p a r a a n o ta r ta m b é m fa to s
im p o rta n te s p a ra a h istó ria d a fam ília: n a scim en to s, casam en to s, m o rte s, m u d a n ç a s d e situ a ç ã o o u de fu n ­
ções, qu e, aliás, estav am ligadas, em m u ito s ca so s, a conseqüências p e c u n iá ria s.” (A . L .)
RAZÃO 914

sa do sentido A : o hom em ap aix o n ad o ra­ sim ples an im ais e nos faz te r a R azão e
ciocina m al, c o n tra ria m en te às leis ló gi­ as Ciências, elevando-nos ao conhecim en­
cas; e do m esm o m o d o o lo u c o , p elo m e­ to de nós p ró p rio s e de D e u s .” L « ζ Ç « U ,
E

no s em certo s casos. M onadologia, 29. “ A R azão p u ra e sim ­


C . C o n h ecim en to n a tu ra l, en q u a n to ples, d istin ta d a experiência, só tem a ver
o p o sto a o co n h ecim en to rev elad o , o b je ­ com v erd ad es in d ep en d en tes d o s sen ti­
to d a fé. “ O o b je to d a fé é a v erd ad e que d o s .” Id ., Teodicéia , D is. d a la c o n fo r­
D eus revelo u de u m a m a n e ira e x tra o rd i­ m ité, 1.
n á ria ; ... a ra z ã o é o e n c ad eam en to d as E ste se n tid o , fav o re c id o , aliás, pelo
v erd ad es; m as p a rtic u la rm e n te , q u a n d o k a n tism o , fo i desd e h á q u a se um século
c o m p a ra d a com a fé, d a q u e la s q u e o es­ o m ais usual n o nosso ensino clássico: “ A
p írito h u m a n o p o d e atin g ir n a tu ra lm e n ­ in telig ência h u m a n a n ã o fo i co lo cad a p e­
te , sem ser a ju d a d o pelas luzes d a fé. E s­ ra n te o m u n d o co m a fa c u ld a d e d e o co ­
ta d e fin ição d a ra z ã o (q u e r d izer, d a reta n h ecer to ta lm e n te a c a b a d a : tra z ia ta m ­
e v erd ad eira ra z ã o ) su rp reen d eu alg um as
bém em si as n o çõ es p rim eiras in d isp en ­
pesso as ac o stu m a d a s a d e clam ar c o n tra
sáveis p a ra o co m p reen d er... E stas noções
a ra z ã o to m a d a n u m sen tid o v ag o ” .
in a ta s co m p õ em a q u ilo a q u e se ch am a
LE « ζ Ç« U , Teodicéia, D iscu rso d a c o n fo r­
a r a z ã o .” J ÃZ E E 2 Ãà , N o u vea u x m élan­
m id ad e d a fé co m a ra z ã o , § 1.
ges , D a o rg a n iz a ç ão d a s ciências filo só ­
E le a c h a , além d isso , q u e este sen ti­
ficas, p. 6. “ A existência d a razão foi con­
do n ão d ifere em n a d a d o sentido D , quer
te sta d a p o r to d a u m a escola de filó so fo s,
d izer, d a razão e n q u a n to d istin ta d a ex­
a escola em p irista. A tese geral d o em p i­
periência, p o rq u e, diz ele, ‘‘pode-se co m ­
p arar a fé com a experiência, u m a vez que rism o é q u e a in telig ên cia h u m a n a d eriv a
to ta lm e n te d a e x p e riê n c ia .” Bë 2 τ T ,
a fé, q u an to aos m otivos que a verificam ,
d ep en d e d a ex p eriên cia daqueles q u e vi­ C ours de philosophie (18? e d ., p . 110).
veram os m ilag res so b re os q u ais a reve­ E. M ais esp ecialm en te, fa c u ld a d e de
la ção está fu n d a d a , e d a tra d iç ã o dig na co n h ecer d iretam en te o real e o a b so lu to ,
de cren ça q u e os fez ch eg ar até n ó s .” p o r o p o sição àquilo que é ap aren te ou aci­
Ibid. d e n ta l; e, p o r vezes (p o r co n seq ü ên cia da
D . S iste m a de p rin cíp io s a prio ri cu ja id en tid ad e en tre o p e n sam en to e o seu o b ­
verdade n ã o d ep en d e d a exp eriência, que je to ), o p ró p rio a b so lu to . “ N ós receb e­
p o d em ser lo gicam ente fo rm u lad o s e dos m os sem cessar e a to d o o m o m e n to u m a
quais tem o s u m a consciência refletid a. razão su p erio r a nó s assim com o re sp ira ­
“ O co n h ecim en to das v erd ad es n ecessá­ m os sem cessar o a r q u e n o s é u m co rp o
rias e etern as é o q u e n o s distin g u e dos e s tra n h o .” FÉNELON, Tratado da exist.

so an te en cararem o s so b re tu d o q u e r o c a rá te r an alítico d as suas o p eraçõ es, q u e r a cla­


reza certa d as suas asserções, aplica-se u m as vezes à facu ld ad e essencialm ente d isc u r­
siva, q u e, cap az de o rg a n iz a r experiências ou p ro v a s, estabelece as suas d e m o n stra ­
ções; o u tra s vezes à fa c u ld ad e de a firm a r o a b so lu to , d e co n h ecer e, p o r assim d izer,
de c a p ta r o ser ta l co m o ele é, e d e fo rn ecer os p rin cíp io s, de alc a n ç ar as verdades
n ecessárias e su ficientes a o p e n sa m e n to e à v id a. N o p rim eiro se n tid o , a razão é um
sim ples in stru m e n to (“ u m in stru m e n to u n iv e rsa l” , d izia D escartes), p a ra servir, a ju ­
d a r ou im ita r a o b ra d e u m a fa c u ld a d e m ais ele v ad a de in tu ição ; n o seg u n d o sen tid o ,
d esem p en h a o p ap el p rin cip al; p re te n d e , m ais o u m en o s d elib erad am en te, a trib u ir
um v alo r re a lista a o tra b a lh o discursiv o d o esp írito , e re stitu ir o re a l co m a a ju d a do s
frag m en to s artificiais d a an álise. (M . Blondel)
915 RAZÃO

de Deus, I, 56. “ C ad a um sente em si u m a o u co m o o c o n té m ... P o d e m o s rep resen ­


ra z ã o lim itad a e s u b a lte rn a ... q u e só se tá -la p o r u m a fra ç ã o em q u e u m n ú m ero
corrige ao v o ltar a cair so b o ju g o d e u m a se rá o n u m e ra d o r e o o u tro o d e n o m in a ­
o u tra ra z ã o su p e rio r, u n iv ersal e im u tá ­ d o r .” CÃÇá« Â Â τ C, Linguagem dos cál­
v e l.” Ib id ., 57. “ O n d e e stá ela, essa r a ­ culos, liv. I, c a p . X II. (C f. ibid., ch. IX .)
zão su p rem a? N ão se rá ela o D eus que eu G . P rin cíp io d e ex p licação , no sen ti­
p ro c u ro ? ” Ib id ., 60. “ É o ser in fin ita ­ d o teó rico ; ra z ã o d e ser: o q u e dá conta
m ente perfeito que se to rn a ¡m ediatam en­ d e u m efeito . “ S eja u m c o n ju n to q u a l­
te p resen te a m im , q u a n d o o co n ceb o , e q u e r de d a d o s q u a isq u e r; assim que eles
é ele p ró p rio a id éia q u e dele te n h o .” este ja m efetiv am en te lig ad o s, existe u m a
Ib id ., II, 1. ra z ã o , u m porque, um in term ed iário que
Este sentido, rejeitad o p o r Kτ ÇI , que
explica, d e m o n stra e to r n a a su a ligação
ju lg a tal conhecim ento im possível, foi re­
n ecessária.” Tτ « ÇE , D e l ’intelligence, II,
to m ad o com alg um as m odificações pelos
437. “ U m a destas faculd ades (pelas quais
seus sucessores, p articularm en te p o r Schel-
o hom em u ltrap assa o an im al) é a de co n ­
ling. Ver Razão* pura e as observações.
“ C hega-se assim a u m ju íz o p u rific a ­ ceber a razão das coisas.” CÃZ 2 ÇÃI , Es­
d o de q u a lq u e r reflex ão , à in tu ição im e­ sai, ch . II, § 13. E le o p õ e a ra z ã o , neste
d ia ta , filha legítim a d a energia n atu ral d o se n tid o , q u er à sim ples ca u sa lid a d e efi­
p e n sa m e n to , tal co m o a in sp ira ç ã o do cien te, q u e r à d e m o n stra ç ã o lógica que
p o e ta e o in stin to d o h e r ó i... A reflexão fo rç a o assen tim en to , m as sem esclarecer
é o te a tro dos com bates qu e a razão m an ­ o esp írito .
tém consigo p ró p ria , com a d ú v id a, o so ­ H . N o sen tid o n o rm a tiv o , cau sa ou
fism a e o erro . M as, acim a d a reflex ão , m o tiv o leg ítim o , ju stific a ç ã o (cf. o sen ­
existe u m a esfera de luz e de p a z , n a qu al tid o B). “ O c o ra ç ã o tem as suas r a ­
a ra z ã o ap erceb e a v erd ad e sem re to rn a r z õ e s ...” “ N ã o sem r a z ã o .” P o r co n se­
a si, ap en as p o rq u e a v e rd a d e é a v erd a­ guin te, argum ento destinado a pro v ar que
de, e po rq u e D eus fez a razão p ara a ap er­ se te m ra z ã o (m esm o se esse a rg u m en to
ceb er, ta l com o fez o s o lh o s p a r a ver e n ã o fo r b o m ). “ A p o n ta r falsas ra z õ e s .”
os o u v id o s p a ra o u v ir.” C o u siN , D u “ A ra z ã o d o m ais fo rte é sem pre a m e­
vrai, du beau et du bien, 3? lição, p . 61. lh o r .”
C f. Im pessoal (T eo ria d a razão ). Razão suficiente, v er as o bservações.
II. Enquanto objeto de conhecim ento:
C R ÍT IC A
F. Relação. “ R azão m édia e extrem a.
R azão de u m a p ro g re ssã o .” “ Ex ip sa ra- A m ultiplicid ade de sentid os d a p a la ­
tione qu am prim um [num erum ] ad secun- vra razão (so bretu do en q u an to faculdade)
d u m h ab ere u n o in tu itu v id im u s, ip sum foi freq u e n te m en te ressaltad o pelos filó ­
q u a rtu m c o n c lu d im u s.” ESPINOSA, É ti­ sofos. L Ã T 3 (Ensaio , liv. IV , ch. X V II:
E

ca, U, 40, schol. 2. “ A razão exprim e co­ “ D a ra z ã o ” ) salien ta q u e esta designa:


m o u m n ú m ero está co n tid o num o u tro , q u e r o c o n ju n to dos p rin cíp io s claros e

A s diversas defin ições d a R azão , e n q u a n to “ fa c u ld a d e ” , n ã o p o d e rã o ser sim ­


p lificad as e a g ru p a d a s à v o lta d e u m a id éia m ais cen tral? A razão seria a p ró p ria
ativ id ad e do esp írito , co n sid erad a no q u e ela tem de essencial, o u , m elh o r d iz en d o ,
aq u ilo q u e d irig e essa a tiv id a d e p a ra o seu a c a b a m en to e p erfeição . P o d er-se-iam
d istin g u ir e n tã o d u as funções d a ra z ã o , u m a vez que existem d u as m an ifestaçõ es d a
ativ id ad e do esp írito : n a o rd em d a esp ecu la ção , a siste m atização d o co n h ecim en to ;
n a o rd em d a p rá tic a , a sistem atização d a c o n d u ta . (A. Landry)
RAZÃO 916

v erd ad eiro s, q u e r o fa to de se tira r deles co n ceito s d o e n ten d im en to ta l co m o este


conclusõ es que deles re su lta m in co n tes­ faz a sín tese dos elem ento s sensíveis
ta v elm en te, q u e r a cau sa, e esp ecialm en­ (Kτ ÇI ); 4? a facu ld ad e de a p re n d e r as
te a cau sa fin al, q u er, p o r fim , a d ife re n ­ v erd ad es ab so lu tas e necessárias, a idéia
ça específica do h o m em que o sep ara dos de D eus, a d o dever e o u tra s do m esm o
an im ais. É neste ú ltim o sen tid o que ele gênero (LE «ζ Ç« U ). A d m ite to d as estas d e­
se detém e parece entend ê-la p ro p riam en ­ finições, m as vê nelas usos “ a rb itrá rio s ”
te com o a ativ id ad e in telectu al n o q u e ela d a p a la v ra ra z ã o , que ele ju lg a suscetível
tem de c riativ o , e n q u a n to d esco b re p ro ­ de um sentid o diferente e m elh or. A o em ­
vas e as o rd e n a de m a n e ira a to rn a r m a­ p re g a r a p a la v ra razão n o sen tid o su b je­
n ifesto o seu v alo r d e m o n stra tiv o . LE « ζ ­ tiv o , con clu i ele, p reten d erem o s designar
Ç«U parece a p ro v a r esta classificação , e a p rin cip alm en te a fa c u ld ad e de ap reen d er
red u z a do is term o s essenciais, a in v en ­ a ra z ã o das coisas, ou a o rd em segundo
ção e o ju ízo (N o v o s ensaios, ibid.), m as a q u al os fa to s, as leis, as conexões, o b ­
ressalta ain d a, tal com o n a M onadologia, jeto s do nosso co n h ecim en to , se en ca­
o c a rá te r reflexivo do co n h ecim en to dos deiam e procedem uns dos o utros (ver aci­
p ró p rio s p ela razão . m a o sen tid o G ).
CÃZ 2 ÇÃI (Essai , cap . II) assin ala em P o r m ais filo só fica q u e seja essa c o n ­
p rim eiro lu g ar a am b ig ü id ad e d a “ razão cep ção , p arece co n stitu ir, ela ta m b ém ,
su b je tiv a ” (ra z ã o do ho m em ) e d a “ r a ­ u m a re striç ã o a rb itrá ria do sen tid o d esta
zão o b je tiv a ” (razão d as coisas); vê aí p a lav ra. H a v e rá p a ra c a d a caso u m a e
u m a m a rc a “ d a im p o tên cia em que e sta ­ u m a só ra z ã o das coisas q u e satisfaça o
m o s de co n ceb er e exp licar esta relação espírito? A preender-se-á “ a ra z ã o ” d e u m
en tre o o b je to e o s u je ito ... que co n stitu i te o rem a através de u m a das suas d em o n s­
o c o n h ecim en to , assim co m o d a te n d ê n ­ traçõ es, com exclusão d e to d a s as o u tras?
cia do esp írito p a ra d isfa rç a r essa im p o ­ P are c e difícil ad m iti-lo .
tên cia d eix an d o flu tu a r a im ag in ação so ­ A id éia c e n tral de ra z ã o p arece co n ti­
b re n ã o sei q u ais seres m isto s o u in term e­ n u a r a ser a d e u m a c o rd o , d e u m a co ­
d iário s q u e p a rtic ip a ria m d a n a tu re z a do m u n id a d e ideal: e n tre as coisas e o esp í­
su je ito e d a d o o b je to ” . A crescen ta q u e rito , p o r u m la d o , e, p o r o u tro , e n tre os
a p a la v ra razão “ m esm o q u a n d o é u tili­ div erso s esp írito s. S eria d ifícil, n o e sta ­
zad a p a ra designar positivam ente u m a fa­ d o a tu a l d o s n o sso s co n h ecim en to s, c o n ­
cu ld ad e d o esp írito h u m a n o ” c o m p o rta ceber esta o rd em co m o u m a re a lid a d e fi­
a in d a m u ito s eq u ív o co s. E la desig n a: 1? x a e im u táv el. P o r o u tro la d o , é co n tu d o
o p o d e r d e ra c io cin ar; 2? o p o d e r d e fo r­ u m a fu n ç ã o d a ra z ã o , e d as m ais essen­
m a r id éias g erais (CÃÇá« Â Â τ T ); 3? a f a ­ ciais, re p re se n ta r u m a a u to rid a d e firm e,
cu ld ad e su p e rio r q u e faz a síntese d o s q u e escap e às c o n tro v érsias e ao s m ovi-

P o r fim , v ário s m e m b ro s d a S o cied ad e p e rg u n ta ra m se n ã o c o n v iria, an tes, si­


tu a r razão h isto ricam en te, n o sen tid o de re la ç ã o , d e p rin cíp io ex p licativ o , e tc ., antes
d o s diverso s sen tid o s d e razão e n q u a n to facu ld ad e; p o rq u e , dizia-se, este sen tid o é
m ais a n tig o . É p ro v áv el, com e feito , q u e n o latim seja assim . P o ré m , desd e a ép o ca
d e C ícero e d e L u crécio , raíio, n o sen tid o de fa c u ld a d e , é m u ito u su a l. E , p o r co n se­
q u ên cia, em fran cês, as d u a s acepções existem a ig u al títu lo d esd e a o rig em d a lin ­
guagem filo só fica. N ã o se p o d e esquecer q u e a n o ssa p a la v ra R azão n ã o tran screv e
u n icam en te o latim R a tio , m as tra d u z Xo-yos e m esm o i'ous. Ju lg u e i, p o rta n to , p o d e r
m a n te r em p rim e ira lin h a o sen tid o q u e o c u p a h o je o lu g ar m ais im p o rta n te n o uso
filo só fic o . (A . L .)
917 RAZÃO

m entos individuais de pensam ento ju lg an ­ clarecer e p recisar o sen tid o d e sta p a la ­


d o en tre o s h o m en s e decid in d o quem es­ v ra. P o d er-se-iam a d o ta r, p a ra ta n to , as
tá errado o u q u em tem razão, ta n to n a d u as expressões d e razão constituinte e de
o rd e m p rá tic a assim c o m o n a o rd e m in ­ razão constituída.
telectu al (sen tid o B). É p reciso , p o r ta n ­ Sobre a id éia geral d e razão, ver Bou-
to , reco n h ecer n ela sim u ltan eam en te: 1? TROUX (d iscu tin d o as teses d e R . BE 2 -
u m esfo rço n u m a d ireção c e rta , q u e p o ­ I 7 E Â ÃI so b re H egel), n o Bulletin d a S o­
dem os talvez d eterm in ar a posteriori a tra ­ cie d ad e F ran cesa d e F ilo so fia , ab ril d e
vés d o estu d o d a s suas p ro d u ç õ e s, m as 1907, p p . 140 ss. P τ 2 Ãá « , Traditionalis­
u m esfo rço c u jo sucesso c o n tém u m a m e et d é m o c r a tie , p p . 2 4 8 -2 5 0 ;
q u o ta d e co m p ro m isso e d e a d a p ta ç ã o à B2 Z Çè T7 â« T; , A s fu n ç õ e s da razão
m a té ria do c o n h ecim en to ; 2? um co rp o (Bull, d a Soc. F r. de F ilo s., ju n h o de
d e p rin cíp io s estab elecid o s e fo rm u la d o s 1910). A . L τ Â τ Çá E , R azão constituinte
(razão n o sen tid o D ) e c u ja tra n s fo rm a ­ e razão constituída, cu rso pú b lico de
ção é su fic ie n te m en te le n ta p a ra q u e re­ 1909-1910. (As aulas de a b e rtu ra e de en ­
lativ am en te ao s in d iv íd u o s e às circu n s­ cerram en to aparecem n a R evue des cours
tân cias de vid a p o ssam ser co n sid erad o s et conférences de ab ril de 1925.)
co m o “ v erd ad es e te rn a s” . E isto ta n to Rad. int.: A . In telek t (ver E ntendi­
m ais le g ítim am en te q u a n to a ra z ã o , e n ­ mento)·, B . D . E . R acio n (K o n stitu an t,
q u a n to esfo rço , p o ssu i u m a d ireção bem konstitu it); C . Intelig.; F . R ap o rt; G . M o-
d eterm in ad a, n ã o v arian d o esse co rp o de tiv; H . Ju stifik .
p rin cíp io s de u m a m a n eira q u alq u er;
su b stitu ir-se-ão u n s aos o u tro s , n ã o se R a z ã o p u ra D . Reine V ernunft e R a ­
d estru in d o , m as absorvendo-se. D esig nar zão p rática D . Praktische Vernunft.
d iferen tem en te estes do is aspecto s d a r a ­ Kτ ÇI en ten d e p o r estas expressõ es:
zão p arece-m e necessário se se q u iser es­ 1 ? A R a z ã o , ta l co m o é d e fin id a aci-

Sobre a R azão, a Superstição e a F é — M en tré assin a la o im p o rta n te lu g ar o c u ­


p a d o p o r esta o p o sição n o Tractatus Theologico-politicus d e E è ú « ÇÃè τ . “ V idem us
eos o m n i su p erstitio n is g en eri ad d ictissim o s esse, q u i in c e rta sine m o d o c u p iu n t...
e t R a tio n e m , q u ia a d v a n a , q u a e c u p iu n t, c e rtam viam o sten d ere n e q u it, caecam ap -
p ellare h u m a n a m q u e sap ien tiam v a n a m , et c o n tra im ag in atio n is d eliria, so m n ia , et
p u eriles in ep tias d iv in a resp o n sa cred ere, im o D eu m sap ie n te s a v e rsa ri... C u m haec
ergo an im o perp en d erem , scilicet L um en N atu rale, n o n ta n tu m co n tem n i, sed a m ultis
ta n q u a m im p ie ta tis fo n te m d a m n a ri... sedulo s ta tu i, S c rip tu ra m d e n o v o in teg ro et
lib ero a n im o ex am in are et n ih il d e ead em a ffirm a re , n ih ilq u e, ta n q u a m eju s d o c tri-
n a m a d m itte re , q u o d ab ead em clarissim e n o s e d o c e re r.” P re fá c io , 1 e 5.

Sobre o sentido kantiano d e R azão (V ern u n ft) — P a re c e ser o vov s d e P la tã o


e o intellectus de S ão T o m ás q u e K a n t e o s seus su cessores en te n d e ra m re sta u ra r sob
o n o m e de V ernunft, m as so b fo rm a s e com precisões in te ira m e n te n o v as.
T o d o s estes filó so fo s parecem ig u alm en te te r tid o a id éia d e u m re a l, d e u m a b so ­
lu to d e c a d a co isa, q u e é, so b u m véu m ais o u m en o s d ifícil d e le v a n ta r, o ser v e rd a ­
d eiro e, p o r co n seg u in te, o v erd ad eiro o b je to d o n o sso c o n h ecim en to . P o ré m K an t,
m ais d o q u e q u a lq u e r o u tr o , to rn o u esse v éu esp esso, d izen d o q u e ele e ra n a d a m e­
n o s d o q u e o espaço e, p o r trá s d o e sp aço , o te m p o , sem o s q u ais n ã o p o ssu ím o s
in tu iç ã o e com os quais tu d o o q u e n o s é d a d o n a in tu iç ã o n ã o é sen ão ap arên cia,
fu n d a d a sem d ú v id a , p o rém fu n d a d a de u m a m an eira in com preensível, n o único que
é real.
RAZÃO 918

m a no sen tid o D , q u er d izer, tu d o o que E m pirischen entg egen” 1. Krit. der reinen
n o p e n sam en to é a priori, e n ã o vem d a Vern., A 835; B 836. C f. in tro d u ç ã o , §
experiência, “ Ich verstehe hier u n ter V er­
1. “ E n te n d o aq u i p o r R azão to d a a facu ld ad e
n u n ft das ganze obere E rkenntn issv erm ö- de co n h ecer su p e rio r, e o p o n h o , p o r co nseqüência,
gen , u n d setze also das R atio n a le dem ra c io n a l a em p íric o ” .

N in guém fo i m ais im p ie d o so do q u e K a n t p a ra co m a n o ssa a sp ira ç ã o a u m c o ­


nh ecim ento p u ram en te intelectual do fu n d o das coisas; ninguém fez m ais p ara to rná-lo
irresistív el, m o s tra n d o que esse co n h ecim en to é, n ã o o b sta n te , o ú n ico dig n o deste
n o m e, n ã o sen d o o co n h ecim en to sensível vazio — p o rq u e é sim b ó lico d o co n h eci­
m en to v erd ad eiro e nos faz ap re e n d e r o ser p e r especulum et in aenigm ate — , m as
in a d e q u a d o , p ro v isó rio e m esm o in teiram en te v ão q u a n d o crê ap re e n d e r o real no
p ró p rio sensível. A s a n tin o m ia s têm talv ez p o r ú n ico o b je to estab ele cer que o sensí­
vel n ã o é, e n ã o p o d e ser. N en h u m o b je to sensível é p o rq u e : 1? n e n h u m o cu p a um
lu g ar d ete rm in a d o n o tem p o e n o esp aço p o rq u e n ã o te m u m com eço e lim ites a p a r ­
tir dos q u ais se p o ssa calcu lar; 2? n en h u m é c o n stitu íd o p o r u m a q u a n tid a d e de m a­
té ria d e te rm in a d a , p o rq u e n ão h á ele m en to s ú ltim o s, u n id ad es d e m a té ria , d e que
se p o ssa d izer ser co m p o sto ; 3? n en h u m é c o m p letam en te ex p licad o q u a n to ao seu
devir, p o rq u e a regressão n as séries causais vai a o in fin ito ; 4? n e n h u m é c o m p leta­
m ente explicado q u a n to à sua ex istên cia, p o rq u e n ão existe u m p rim e iro ser q u e exis­
ta p o r si p ró p rio e faça existir to d o s os o u tro s. E to d a v ia o c o m p letam en te d eterm i­
n a d o (extensiva e in te n siv am en te ), o co m p letam en te explicado (q u a n to a o d evir e à
existência) deve ser, p o rq u e n ã o p o d e m o s im p ed ir-n o s d e os p ro c u ra r; m as se ria n e­
cessário p ro c u rá -lo s p a ra além d o te m p o e d o esp aço , q u e r d izer, aí o n d e n o s é a tu a l­
m en te im possív el ach á-lo s. D aí este p a ra d o x o d a lin g u ag em d e K an t seg u n d o o q u a l
inteligível, q u e r diz er, o p ró p rio o b je to d a n o ssa in teligência, é p recisam en te aq u ilo
q u e escap a à a p reen são d a n o ssa in teligência.
C reio q u e o conceito (em g eral, o co n ceito d e u m o b je to q u a lq u e r), n o q u e tem
d e p ró p rio e en q u a n to d istin to d o esquem a e d a im agem , é, em K an t, o a to p elo q u al
n ó s p o m o s, p o r trá s d o véu d o te m p o e d o esp aço , o ser p ró p rio , a id éia d e cad a
co isa. E le se ria o a to p ró p rio d a R a z ã o , se fosse a o m esm o tem p o in tu iç ã o d este ser,
co m o q u al se c o n fu n d iria in te ira m e n te . M as ele n a d a ap reen d e e é vazio: e n tã o ele
se c o m p leta c o m o p o d e , su b stitu in d o a in tu iç ã o in telectu al d o ser, p rim eiro p e la do
seu esquem a, n o te m p o , e em seg u id a p e la s u a im agem , n o esp aço . E le to rn a-se a s­
sim co n ceito n o sen tid o v u lg ar d a p a la v ra , sim ples u n id a d e ex terio r e acid en tal do
d iv erso d a in tu iç ã o sensível, e a razão to rn a-se entendim ento.
K an t sem pre se ateve à su a só b ria e sev era co n cep ção d e u m c o n h ecim en to p u r a ­
m en te sim b ó lico d o inteligível p elo sensível. M as p en sa-se q u e os seus su cessores p o ­
d e rã o ter so n h a d o com u m co n h ecim en to d ireto e a d e q u a d o d o re a l, sem n en h u m
p o n to d e a p o io n o sensível; d a í, neles, este no v o p a p e l d a ra z ã o to rn a d a já n ão só
p o sição , a firm a ç ã o , m as tam b ém in tu ição d o real e in te ira m e n te id e n tificad a com
ele1. ( /. Lachelier)

1. “ A usser d e r V e rn u n ft ist nichts, u n d in ihr ist a lle rs... D ie V ern u n ft ist das A b so lu te , sobald sie ge­
2
d ach t wie w ir es bestim m t h a b e n ” (“ F o ra d a Ra â o , n a d a h á, e tu d o está n e la ... A R a zão é o A b so lu to ,
q u a n d o é e n te n d id a d a fo rm a que dissem os” , q u er dizer, e n q u a n to ra z ã o a b so lu ta , p o r o p o siç ão à razão
919 RAZAO

V II, o n d e a ra z ã o é d e fin id a c o m o a fa ­ E sta ra z ã o é teórica o u especulativa


cu ld ad e qu e n o s fo rn ece os p rin cip io s do {theoretisch, spekulativ) q u a n d o d iz ex­
co n h ecim en to a p rio ri, e a ra z ã o p u ra clu siv am en te re sp e ito a o c o n h e c im e n to ,,
aq u ela qu e co n tém os prin cip io s q u e p er­ e neste caso ela fu n d a a ciência; é prática
m item co n h ecer a lg u m a coisa exclusiva­ (praktisch ) q u a n d o co n sid erad a com o
m en te a prio ri (welche die Principien et­ c o n ten d o o p rin c íp io a prio ri d a ação ,
was schlechthin a p rio ri zu erkennen, q u er dizer, a reg ra d a m o ralid ad e. “ A u f
enthalt). diese W eise... w ären die Prinzipien apriori

P a r a K a n t, se e n te n d o b e m , a razão, te ó ric a o u p rá tic a , é a fo rm a d a u n iv ersali­


d a d e . O entendim ento re su lta d a re la ç ã o d esta fo rm a c o m o esp aço , o te m p o e a
in tu iç ã o sensível; d a í d eco rre q u e ele n ã o p o d e ser a d e q u a d o à ra z ã o , p o rq u e p a rtic i­
p a a o m esm o te m p o d o c a rá te r in fin ito d e sta e do c a rá te r fin ito d a in tu ição . E sta
d istin ção d o m in a o racio n alism o a p a rtir d e K an t. E m to d o caso , d o m in a in te ira ­
m en te to d a a filo so fia d e H egel (co n sistin d o esta u n icam en te em m o s tra r q u e as c a ­
te g o rias d o en ten d im en to se co n trad izem q u a n d o se q u e r igu alá-las à razão ). E la tem ,
p o r ta n to , u m a g ra n d e im p o rtâ n c ia h istó ric a . E n ã o te rá u m a im p o rtâ n c ia d u ra d o u ­
ra ? Se se reco n h ecer (e co m o n ã o ? ) q u e o en te n d im e n to m u d a , n ã o será a ra z ã o ,
sen ão e n q u a n to id éia a c a b a d a , p elo m en o s e n q u a n to id e a l, q u e d e te rm in a a d ireção
d esta s m u d a n ç a s, assim co m o ta m b é m talv ez a d a s m u d a n ç a s n as reg ras d a m o ral?
{P.-F. Pécaut)
A o p o sição k a n tia n a e n tre o en ten d im e n to e a ra z ã o , m esm o so b a fo rm a m enos
e stática q u e to m a n a filo so fia d e H eg el, n ã o m e p arece ter tid o g ra n d e in flu ên cia
n a fo rm a ç ã o d e sta id éia . A co n cep ção d e u m a ra z ã o a d q u irid a , asse g u ra d a p ela re la ­
ção com o in d iv íd u o , m as tra n sfo rm á v e l em lo n g o s p e río d o s, p ro v ém d o s em piris-
ta s, p a rtid á rio s d a ev o lu ção o u p ra g m a tista s; e o seu sucesso fo i fav o recid o p elo d e­
sejo d e alg uns filó so fo s (B τ Â E Ã Z 2 , p o r exem plo ) o p o re m esta v a ria ç ã o à fix id ez d a
fé. P o r o u tro la d o , a id éia “ c o m p e n sa d o ra ” que p erm ite, a d esp eito d a p rim eira,
m a n te r u m racio n alism o o u , o q u e vem d ar ao m esm o , u m a filo so fia, q u ero d izer,
u m a vecção, u m a tra n sfo rm a ç ã o d irig id a, n ã o é o u tra co isa senão a id éia d a “ c o n ­
v erg ên cia” ta l co m o a d efin ia A u g u ste C o m te; id éia q u e se liga à co n cep ção d o p ro ­
gresso em d ireção a u m lim ite, fam ilia r a L eib niz e ao século X V III e cu ja origem
re m o n ta à te o ria aristo télica d o m o v im en to e do fim : ο υ σ ί α ô è ò 7A Ã è . É preciso I

ch eg ar a q u i, p arece-m e, o u c o n tin u a r n o p u ro acaso e recu sar to d o v alo r racio n al


às reg ras lógicas e m o rais. Q u a n to a servir-se d a op o sição en tre os term o s entendi­
m ento e razão p a r a re p re se n ta r a d e razão constituída e razão constituinte, creio que
só p o d e ria co n d u z ir a co n fu sõ es. E x iste , em p a rtic u la r, u m a ra z ã o p rá tic a co n stitu í­
d a . Se quiséssem os ch am ar-lh e “ e n ten d im en to p rá tic o ” , esta ex p ressão seria c o m ­
p reen d id a sem falso s sentidos? P o r o u tro la d o , as “ Idéias d a R a z ã o ” , tais com o as
e n u m era K an t, o M u n d o , a A lm a, D eu s, e, d o p o n to de v ista p rá tic o , a L ib erd ad e
e o S o b eran o B em , são ev id en te m en te p ro d u to s d a ra z ã o a d q u irid a : po d em o s c o n s­
ta ta r a sua tran sfo rm ação . P o ré m , pod er-se-iam atrib u ir ao “ en ten d im en to ” ? (A. L .)

rac io c in a n te , facu ld ad e de fo rm a r Vernunftschiüsse, e e n q u a n to id e n tid a d e , in d istin ção to ta l [totale In d iffe ­


renz] d o o b jetiv o e d o su b je tiv o ). ST7 E Â Z Ç; , Darstellung m eines Syst, der P h ilo ., § 1 e 2. Sam t. W erk, VI,
114-115. D a m esm a fo rm a , H E ; E Â diz q u e a R a zão é a certeza d e ser to d a a realid ad e, “ die G ew issheit aller
R e alität zu sein“ ( P h ä n o m p. 177). M as, se po r u m a c e rta via, fó rm u las se m elhantes desenvolvem o sen ti­
d o k a n tia n o , p o r o u tr a elas ligam -se ao se ntid o E e à u tilização q u e J τ TÃζ « , p o r exem plo , fazia desta p a la ­
2
v ra ao defin ir a R a ã o , p o r op o sição ao en ten d im en to , co m o a fa c u ld a d e de c a p ta r o supra-sensív el. C f.
E « è Â E 2 , Vo. (A. L.)
RAZAO 920

zw eier V erm ö g en des G e m ü th s, des 2? K ant entende tam b ém p o r Vernunft,


E rk e n n tn iss-u n d B egehrungsverm ögens, n u m sentido m ais restrito e que lhe é espe­
a u sg e m itte lt.” 1 K rit. der praktischen cial, a facu ld ad e d e p en sar su p erio r à q ual
Vernunft, V o rred e, § 13. C f. ib id . , § 14: devem os as Idéias* d a A lm a, d o M u n d o
“ V ern u n fterk en n tn iss u n d E rk en n tn iss a e de D eus (Krit. der reinen Vernunft,
prio ri ist ein e rle i.” 12 T ran s. D ial.; in tro d ., § II e livro I, seção
1). A R azão , neste caso , já n ã o se o p õ e à
experiência, m as a o entendim ento * (Vers-
1. ‘ 'D e s ta m a n e ira [ao co n sid e ra r a ra z ã o , n ão tand). C f. acim a os sentidos B e E . A ssim
n o p o rm en o r d o s d a d o s elem entares q u e ela contém , en ten d id a, ela tem ta m b ém o seu uso p rá ­
m as n a id éia to ta l d o seu p a p e l), a cab a ríam o s po r
tico especial: é d ela que p ro v êm as idéias
d esco b rir [e red u zir à u n id ad e] os p rin cíp io s a priorí
d e d u as facu ld ad es d a alm a, a fa c u ld a d e d e c o n h e­ d e lib erd ad e, d e im o rtalid ad e e d e D eus,
cer e a de d e s e ja r.” (A s ex plicações en tre colch etes e n q u a n to p o stu lad o s m o rais. C f. P ostu­
fo ra m re tira d a s d o co n te x to .) lados* da razão prática.
2. “ C o n h e cim e n to p ela ra z ã o e c o n h ecim en to a S o b re a u n id ad e destes dois sentid os,
p río rí são u m a só e m esm a c o is a .” ver as observações.

R azão constituinte e R azão constituída. N a p rim e ira re d a ç ã o d este a rtig o , a C rí­


tica te rm in av a assim : “ D istin g u ir estes d o is asp ecto s d a ra z ã o p arece-m e necessário
se q u iserm o s esclarecer e p recisar o se n tid o d esta p a la v ra . P e ç o a p erm issão p a ra
m e n cio n ar, p a ra ta n to , as d u as expressões razão constituinte e razão constituída q u e
já em preguei n u m cu rso c o n sa g ra d o a esta an álise (1909-1910); d esd e e n tã o , servi-
m e delas m u itas vezes no m eu en sin o e achei-as claras p a ra os au d ito re s e cô m o d as
nas aplicações. ’ ’ N o que m e diz resp eito , tin h a sid o lev ad o a esta distin ç ã o p e la a n á ­
lise d a ev o lu ção e d a d isso lu ção , p o r u m la d o , e, p o r o u tro , p o r alg u m as c o n s ta ta ­
ções feitas so b re a h istó ria d as ciências. Q u a n to a o s p ró p rio s te rm o s , creio q u e , sem
m o lem brarem expressam ente, m e fo ram sugeridos p o r u m a frase de Boutroux: “ T erá
o hegelianism o en cerrad o o p erío d o d o d esen v o lv im en to d a n o ç ã o d e in telig ib ilid a­
d e ? ... A R azão, n u m a p a lav ra, estará d efin itiv am en te constituída'!” Bulletin d a Soc.
F r. d e F ilo s., 1907, p. 151. E stes te rm o s p ro v o c a ra m além d a o b serv ação d e F. P é
caut que fo i re p ro d u z id a m ais ac im a as seguin tes o b serv açõ es d e M entré:
“ P o r que n ã o a d o ta r os term o s m ais sim ples d e razão raciocinante e razão racio­
cinada ■ ? P o r o u tro la d o , esta d istin ção re p o u sa so b re o p o stu la d o d e q u e a ra z ã o n ão
é fix a, m as em e sta d o d e devir: a ra z ã o o rg an iza-se p o u c o a p o u c o . A lé m d isso , este
d ev ir p o d e ser ex p licad o d e v ária s m a n e irá s e n ã o im p lica fo rç o sa m e n te a tese ev o lu ­
cio n ista: o u a ra z ã o se explicita p ro g ressiv am en te e to m a u m a co n sciên cia c a d a vez
m ais c la ra d o s seus p rin cíp io s e d o m ecan ism o d e seus p ro cesso s, o u e n tã o fo rm a-se
e m od ifica-se n o decurso d a exp eriência específica a p a rtir de u m certo estad o in ic ia l.”
S o b re o p rim e iro p o n to , n ã o creio ser possív el e m p re g a r razão raciocinante, p o r­
q u e esta ex p ressão tem j á , n o u so filo só fico , u m sen tid o u su al e co n sag rad o : designa
a ra z ã o n o se n tid o A . (Ratio de S ão T o m á s, e n q u a n to se o p õ e a Intellectus; cf. D .
Vernunftschlüsse.)
S o b re o seg u n d o p o n to , eu n ã o carac teriz a ria o d evir d a ra z ã o co n stitu íd a nem
p ela ev o lu ção sp en cerian a, p a ra a q u al n ã o existe o u tr a ra z ã o co n stitu in te sen ão a
n a tu re z a d as “ co isas” à q u a l o p e n sa m e n to se a d a p ta g ra d u a lm e n te ; nem p o r u m a
o u o u tr a d a s teses q u e M e n tré p ro p õ e p a r a s u b stitu ir aq u ela. E u ta m b ém n ã o o e n ­
te n d e ria d a m esm a m a n e ira q u e B o u tro u x n o artig o cita d o m ais acim a: sou sensível
à fo rç a d as suas críticas c o n tra o heg elian ism o e à p ro f u n d a v e rd ad e d as suas o bser-
921 RAZOÁVEL

R A Z Ã O S U F IC IE N T E (P rin cíp io de) A m esm a fó rm u la , co m alg u m as v a ria n ­


Diz-se tam bém , m ais raram ente, Princí­ tes: Princípios da natureza e da graça fu n ­
p io de razão determ inante e Princípio de dados na razão, § 7 , e M onadologia, 32.
razão. D . S a tz vom zureichenden G ran­ ST7 Ãú E Ç7 τ Z E 2 d iv id e este p rin cíp io
de; E . Principie o f su ffic ie n t reason; F. em q u a tro fó rm u la s a q u e ch am a resp ec­
Principe de raison su ffisa n te ; I. Princi­ tiv am en te p rin cíp io s d a ra z ã o su ficien te
p io die ragione sufficiente. d o devir {Satz vom zur. Gr. des Werdens),
“ Existem dois grandes princípios dos d a ra z ã o su ficien te d o co n h ecer {des Er-
nossos raciocínios; um é o princípio d a kennens), d a ra z ã o su ficien te d o ser {des
c o n t r a d i ç ã o . .o o u tro é o da razão sufi­ Seins: tra ta -se d as relações m atem áticas),
ciente: nunca nada acontece sem que te­ d a razão suficiente do agir {des Handelns)
nha um a causa o u , pelo m enos, um a ra ­ o u d a m o tiv a ç ã o . Über die vierfache
zão determ inante, quer dizer, que possa W urzel des Satzes vo m zureichenden
servir para d a r razão a p rio ri de p o r que G runde. C f. R aiz.
é que isto existe em vez de n ã o existir e R A Z O Á V E L D . V ernünftig (m ais la ­
porq ue isto é assim em vez de ser de o u ­ to ; ver Racional)', E . Reasonable; F . R a i­
tra m an eira.” LE « ζ NIZ, Teodicéia, I, 44. sonnable; I. Ragionevole, razionale.

vações so b re o p erig o e o e rro d e esten d er as d iferen ças até fazer delas co n trad içõ es;
m as n ã o p o d e ria co n clu ir a p a rtir d aí q u e o p ro g resso d a ra z ã o é u m a m a rc h a em
d ireção ao in d iv id u al. D este m o d o , e p a r a re to m a r u m d o s exem plo s q u e ele p ró p rio
c ita , n ã o le v ará este p ro g resso a u m a assim ilação das classes sociais h ere d ita riam e n ­
te d iferen ciad as m ais d o q u e a u m a h a rm o n ia o n d e seriam m a n tid a s as suas o p o s i­
ções? E u d iria , an tes, q u e o esp írito , o u p elo m en o s u m a d as fu n çõ es essenciais d o
e sp írito , co n siste n a ten d ên cia p a r a a id e n tid a d e . O m esm o vale m ais d o q u e o o u tro ,
co m o já d izia P la tã o ; e este ju íz o , d e c a rá te r n o rm a tiv o n o seu fu n d o , p arece-m e
ser o que se a p ro x im a m ais d e ex p rim ir a ra z ã o co n stitu in te . E sta te n d ê n c ia n ã o p o ­
de a tin g ir o seu o b je tiv o in te g ra lm e n te , u m a vez q u e a id e n tid a d e p u ra , p a ra o n o sso
m o d o a tu a l d e p e n sa m e n to , seria o n a d a ; m as ela p o d e p ro g re d ir sem cessar nessa
d ireção , assim ilan d o g ra d u alm en te as div ersidades dadas, cu ja presen ça efetiv a co n s­
titu i o “ real” , n o sen tid o C . C a d a c a te g o ria , c a d a p rin c íp io fo rm u la d o são c o m p ro ­
m issos e n tre esta ten d ên cia e ta l o u ta l p a rte d a ex p eriê n cia q u e a ela se p re sta m ais
o u m en o s facilm en te (e talv ez se p re ste m ais à m e d id a q u e ela p ró p ria se tra n s fo r­
m a). D ei disso u m exem plo n o artig o Causa* (C rítica e o b serv açõ es). N o tas a n á lo ­
g as p o d e ria m ser feitas so b re o te m p o , o esp aço , a su b stâ n c ia , a m a té ria , o n ú m ero .
N ã o te m o s, p o r ta n to , u m p o n to d e p a rtid a fix o , u m c a p ita l ra c io n a l, p o rq u e à m ed i­
d a q u e recu am o s a ra z ã o co n stitu íd a é c a d a vez m en o s firm e, c a d a vez m enos coe­
ren te. T am b ém n ã o te m o s p rin cíp io s im p lícito s que se esclareceriam c a d a vez m ais
c o m o a d m itia L eib n iz (pelo m en o s ex o téricam en te, n o s N o v o s ensaios), m as u m a
v e rd ad eira c o n stru ç ã o , q u e retém d a m a té ria q u e ela o rg a n iz a u m elem en to de in in -
telig ib ilid ad e e m esm o d e c o n tra d iç ã o co n cep tu al. N o n ú m e ro ca rd e a l a b s tra to , p o r
ex em p lo , as u n id ad es devem , a o m esm o te m p o , n ã o d ife rir em n a d a u m a d a o u tra ,
p o rq u e só se p o d e m to ta liz a r te rm o s e strita m e n te h o m ô n im o s, e to d a v ia elas devem
p erm an ecer d istin ta s, p o rq u e sem isso elas se c o n fu n d iria m , ta l c o m o n a lo gística,
em q u e a + a = a. M as se ria d e m a sia d o lo n g o ex p o r a q u i co m p le ta m e n te esta in te r­
p re ta ç ã o , q u e , aliás, c o n stitu i o o b je to d e to d o o cu rso c ita d o m ais acim a e cu ja a p li­
c ação e n c o n tra rem o s em L a raison et les norm es (1948). {A. L .)
S o b re R azoável — R azo áv el ex p rim e fre q ü e n te m en te a id éia d e q u e n ã o se vai
a té o ex trem o d o s d ireito s q u e c a d a u m tem , p o r m o d e ra ç ã o o u b en ev o lên cia. D iz-se
REAÇAO 922

A . Q ue p o ssu i a ra z ã o , d e fin id a nos p o s ta a u m a ex citação . D iz-se em g eral


sen tid o s A , B, D o u E . “ O h o m em é u m ap e n a s d as ações ex terio rm en te p e rc e p tí­
a n im a l ra z o á v e l.” “ O co n h ecim en to das veis, q u e afe ta m as funções de relação do
verdades necessárias e etern as é o que nos ser co n sid erad o ; m as teo ricam en te se d e­
d istin g u e d o s sim ples an im ais, e nos faz ve, segundo p arece, fazer e n tra r n a idéia
ter a R azão e as ciências, elevando -nos ao d e re a ç ã o to d o s os efeito s p ró x im o s d e ­
co n h ecim en to d e nó s p ró p rio s e de D eus. te rm in a d o s p o r u m estím u lo , m esm o se
E é o que se ch a m a em n ó s A lm a ra z o á ­ n ão fo rem ap aren tes (p o r exem plo , as se­
vel o u E s p irito .” M onadologia, '29. creções in te rn a s ou m esm o as in ib ições),
B. Q u e pen sa ou age d e u m a m an eira exclu in do ap en as as m o d ificaçõ es dos
q u e n ã o se p o d e c e n su ra r; q u e p ro v a te r centros nervo so s im ed iatam en te p ro d u zi­
u m ju ízo sã o e n o rm al. (O co n trário é en ­ d as p e la ex citação .
tã o não razoável.) A plica-se em p a rtic u ­ Tempo de reação (D . Reaktionszeit; E .
la r à d isposição de esp írito pela q u al co n ­ Reaction time-, F . Tem ps de réaction; I.
tem o s os nosso s d esejo s, q u a n d o a in te­ Tem po di reazione), d u ra ç ã o que sep ara
ligência o s d e sa p ro v a , e p ela q u al facil­ a excitação d a reação.
m en te ren u n cia m o s àquilo que n ã o p o d e ­ Psicologia de reação, ver Psicologia, A.
m os te r ou àq u ilo qu e ap en as po d eríam o s B. E feito de u m a ação que te m p o r re­
o b te r à c u sta d e in co n v en ie n te s co n sid e­ su lta d o m o d ific a r o p ró p rio ag en te que
ráv eis. A p a la v ra , n este se n tid o , im p lica a p ro d u z. “ A ig u ald ad e d a ação e d a rea­
so b retu d o u m a c o n fo rm id a d e aos prin cí­ ç ã o .”
pio s d o senso co m u m e ao s ju íz o s d e v a ­ C . E sp ecialm en te, P è « T Ã Â Ã ; « τ e so ­
lo r g eralm en te aceito s, u m a id éia de m o ­ b re tu d o S Ã T « Ã Â . A ção p ela q u al u m ser
d e ra ç ã o e d e ju s ta m ed id a. q u e se m o d ific o u n u m c erto sen tid o se
U tiliza-se o m esm o sentid o falan d o de m o d ifica d e n o v o n o se n tid o in v erso p o r
coisas. u m sen tim en to m ais o u m en o s co n scien ­
Rad. in t .: A . In telek to z, racio noz; B. te , m ais o u m en o s ju stific a d o d e ter u l­
(pesso a): R acio n em ; (a to , sentim ento ): trap assad o a ju sta m edida. “ A nyone w ho
R acio n al. contem plates the average sweep o f h um an
R E A Ç Ã O D , R eaktion, Gegenwir­ p ro g ress, m ay feel to le ra b ly certain th a t
kung-, E . Reaction-, F . Reaction-, I. th is v io le n t re a c tio n w ill b e fo llo w ed by
Reazione. a re-rea c tio n .” 1 H . S ú Ç T 2 , Justice,
E E

Sentido geral. A ção co m p en sató ria.


A. A ç ã o d e u m ser p ro v o c a d a p o r
1. “ S eja qu em fo r q u e co n tem p le a cu rv a m éd ia
u m a ação que ele so fre. d o pro g resso h u m a n o sen tir-se-á quase certo de que
E sp ecialm en te, em F « è « Ã Â Ã ; « τ e P è «­ essa v io len ta re a ç ã o (co n tra o a prior:) se rá se guid a
TÃÂ Ã; íτ , ação d o o rg an ism o com o res­ p o r u m a r e -re a ç ã o .’’

a u m cred o r exigente: “ O ra , seja razo áv el.” D e b o m g ra d o ch am am o s razoável àquilo


q u e nos favorece. U m “ p reço razo áv el” , p a ra o v e n d e d o r, está u m p o u co a b a ix o
d o preço ju s to ; p a ra o c o m p ra d o r, está u m p o u co acim a. (J. Lachelier) O sen tid o
p rim itiv o n ã o se rá p a r a um e p a r a o u tro : um p re ç o pelo q u al é razo áv el c o m p ra r
(o u vender)? N o p rim eiro caso , o sen tid o ex ato d a ex p ressão é m ais difícil d e su p o r;
talv ez p o rq u e “ a p e rfe ita ra z ã o foge d o s ex trem o s” , d ife ren tem en te d o in teresse o u
d a p aix ão ; talv ez ta m b ém a ra z ã o , “ o ratio n is et v itae so cietas” , d ev a ser u m p rin cí­
p io de b o as relações e n tre os h o m en s e d e resp eito m ú tu o . (A. L .)
S o b re R eação — M en tré p en sa q u e se p o d e ria em p reg ar recorrência em vez de
re a ç ã o n o sen tid o C. M as reação é m u ito m ais especial d o que reco rrên cia co n sag ra-
923 REAL

§ 33. P o r co n seq ü ên cia (q u a n d o se tr a ta “ O m o v im en to é algo d e re la tiv o ...; m as


d e so ciedades, e falan d o daqueles através a fo rç a é alg o d e real e d e a b s o lu to .”
d e q u e se e fe tu a esse m o v im en to p a ra L « ζ Ç« U , Carta a A m auld·, “ A m a té ria é
E

trá s ), esfo rço d irig id o c o n tra u m estad o u m a co isa c o m p letam en te re lativ a, n ã o é


d e coisas ex isten te, visan d o re sta u ra r u m realm en te o que é . ” R Ç τ Ç , Dial, p h il.,
E

esta d o m ais an tig o . II I , 141. “ D ie tra n sc e n d e n tale M ate rie


R ad. int.\ R e a k t. V er as observações aller G eg en stän d e, als D inge an sich,
so b re Recorrência. die Sachheit, R ealität.” 1 KANT, Krit. der
reinen Vern. (S ch em atism u s), A 143; B
R E A L D . Wirklich, real (ver as obser­
182.
vações); E. Real, actual\ F . Réel; I. Reale.
C. N a ord ern d a re p resen tação , o que
Q ue é u m a coisa ou q u e co n cern e às
é a tu a l, d ad o :
coisas.
1? P o r o p o sição q u e r a o possível*
A . P o r o p o sição ao a p a re n te , a o ilu ­
q u er ao ideal*, as coisas tais com o são ,
só rio , a o fictício : o que a tu a efe tiv a m e n ­
n ão tais com o p o d eriam ou deveriam ser.
te; aq u ilo com que se p o d e c o n ta r. “ U m
“ T u d o o que é real é im p e rfe ito .” C o u ­
m érito re a l.” “ Existem d u as coisas n a ex­
sin, D u vrai, du beau et du bien, 8? li­
pressão graça suficiente: h á apenas o som
ção : D a a rte.
d o v en to e a coisa q u e ela sig n ifica, que
2? P o r o p o sição à fo rm a d o co n h eci­
é re a l e e fe tiv a .” P τ è T τ Â , Provinciais ,
m en to , o que constitui a su a m atéria, quer
II, 10 “ A b ri os o lh o s, d u v id an d o se a a l­
a títu lo de co n te ú d o positivo e n ã o de sim ­
v o rad a era o u n ã o re a l.” S Z Â L Y -P 2 Z -
ples p riv ação : “ U m a re a l e p o sitiv a id éia
á 7 Ã OOE , Um sonho.
d e D e u s” (e n ã o u m a “ id é ia n e g a tiv a ”
B. P o r oposição ao relativo* e em p a r­
c o m o a d o n a d a ). D è T τ 2 è , Quarta
E I E
tic u la r a o fe n o m e n a l, e n q u a n to este é
co n ceb id o q u e r c o m o u m a relação en tre
term o s su b sta n cia is, en tre coisas e u m es­ 1. “ A m a té ria tra n sc e n d e n ta l d e to d o s os o b je ­
p írito ; q u e r ta m b é m co m o u m a aparên­ to s e n q u a n to co isas em si; o fa to d e ser u m a coisa,
cia q u e as coisas revestem n o esp írito . a R e alid a d e.”

d a p elo uso : p o d er-se-ia fa la r d a “ re c o rrê n cia ” c o n tra o racio n alism o cien tífico , a
p ro p ó sito de B a lfo u r e d e B ru n etière? R e co rrên cia, n o sen tid o A , é u m gênero do
q u al re ação , n o sen tid o B o u C , é u m a espécie. V er m ais à fren te a análise d esta id éia.

S o b re R eal — E is um exem plo q u e m e p arece b a sta n te co n v in cen te d o s p a ra lo ­


gism os q u e d esen cad eia a a n fib o lo g ía das p a la v ra s real e realidade. É tira d o d o p re ­
fácio escrito p o r B 2 Z Ç « è 2
E I E p a r a a tra d u ç ã o fran cesa d a o b r a d e B alfo u r: The
F oundations o f B elief. A p ó s te r citad o estas d u as p assag en s de P τ à Ã : “ A m in h a I

ciência n ão im p ed e em n a d a q u e a m in h a ig n o rân cia d a realidade seja a b s o lu ta ...


L in g u ag em sim b ó lica, ad m iráv el sistem a d e sig nos, q u a n to m ais a ciência p ro g rid e,
m ais se a fa sta d a realidade p a r a m erg u lh ar n a a b s tra ç ã o ” , ele conclu i: “ E m en o s,
acrescen tarem o s n ó s, p o d e rá g o v e rn a r a cren ça que se n ã o a lim e n ta d e ab straçõ es,
m as vive apenas de realidades, e te n d e à a ç ã o ” (p. IX ). É visível q u e n esta s três f r a ­
ses realidade é to m a d a p rim eiro n o sen tid o B (coisas em si); d ep o is no sen tid o de
rep resen tação im e d ia ta , d e p u ra m a té ria d o co n h ecim en to (C , IP; v er a C rítica aci­
m a); e q u e, p o r fim , n a re fu ta ç ã o , é en te n d id a no sen tid o A : o que é sério , só lid o;
com o q u e se p o d e c o n ta r n a ação . U m a fa lsa o p o sição do m esm o g ên ero en co n tra-
se alg u m as p ág in as m ais à fren te a p ro p ó sito d a “ re a lid a d e ” das q u alid ad es p rim ei­
ras e seg u n d as, e do m u n d o do senso co m u m . (A . L .)
REAL 924

m editação , § 3; quer a títu lo de d ad o em ­ Reale d e r E m p fin d u n g als bloss s u b je k ­


pírico: “ A lle äussere W a h rn e h m u n g a l­ tive V o rste llu n g .” 2 Ib id ., A 166; B 207.
so bew eiset u n m itte lb a r etw as W irkliches “ S en satio [est] realitas p h a e n o m e n o n .”
im R au m e o d e r ist vielm ehr das W irk li­ Ib id ., A 146: B 186.
che se lb st.” 11ibid. (P aralo g ism der Id ea­ D . Q u e diz resp eito às coisas e n ã o às
litä t), A 374-375. C f. ibid., B ., W id erle­ pesso as. “ D ireito s re a is .”
gu ng des Id ealism u s. “ D ie M a te rie n ... E . Q u e diz resp eito às coisas e n ã o às
p a la v ra s. “ D efin ição re a l” , ver D efin i­
w o d u rch etw as existirendes im R au m e
ção. “ P ed ag o g ia r e a l.” “ P en sam en to
o d er d er Z eit v o rg este llt, w ird , d .i. das

2. “ A m a té ria (d o co n h ecim en to ) pela q u a l é re­


1. “Toda percepção exterior prova» pois, ime­ p re se n ta d a alg u m a co isa de ex iste nte no te m p o e no
diatamente alguma coisa de real no espaço, ou me­ es p aço , q u er d izer, o real d a se n saçã o , e n q u a n to re ­
lhor, é esse mesmo real.” p resen taç ão sim plesm en te s u b je tiv a .”

A s d u as p alav ras alem ãs W irklichkeit e R ealität p o d em o p o r-se em vez de terem


d u p lo em p reg o ; p o r exem plo em L ÃI UE (M ikrokosm us, vol. III, liv ro IX , c a p . II
e III): “ So wie E reignisse w irklich geschehen, o bgleich sie nie sin d , so w ie d as L icht
w irklich g län zt, ob gleich nie au sser dem Sinne d e r es e m p fin d e t, sow ie die M ach t
des G eldes u n d die W a h rh e it d er m a th em atisch en G esetze w irklich g elten , obgleich
je n e au sser d er S ch ätz u n g d er M en sch en , diese au sse r d e r b e n a n n te r R eale n , a u f das
sie sich beziehen, n irgends sin d ; g an z eb en so h a t d e r R a u m W irk lich k eit, obgleich
er n ich t ist, so n d ern stets ersch ein t. D en n W irk lic h k e it... u m fasst n ic h t n u r d as Sein
des S eiend en, so n d e rn au ch d as W erd en d es G esch eh end en , d as G elten v o n Bezie­
h u n g en , das Schein en des E rsch ein en d en ; v e rk e h rt ist es n u r, d em ein en v o n diesen
d u rch au s diejenig e A rt d e r W irk lich k eit geb en zu w o llen , d ie n u r ein em an d eren z u ­
k o m m en k a n n .” 1 (497-498). “ ... So ist re a litä t die b eso n d ere A rt d er W irk lich k eit,
w elche w ir d e n D ingen als A u sg an g s-u n d Z ielp u n k ten des G esch eh en beilegen o d e r
fü r sie su ch en . D iese R ealitä t h a t sich u n s ab h än g ig gezeigt v o n d e r N a tu r dessens,
dem sie zu kom m en soll: sie ist das D asein des F ü rsich seien d en .” 2 (535.) (M . Drouiri)
A especificação d o sen tid o in d icad o p o r L ÃI UE é in teressante; n o co n ju n to é co n ­
fo rm e a o u so e à e tim o lo g ia d as p a la v ra s, s o b re tu d o n o q u e co n cern e a wirklich.
M as n a d a tem de co n sag rad o : p o d e-se v er q u e K a n t, n as p assag en s c itad as m ais aci­
m a (Real, C ), em p reg a in d iferen tem en te “ d as W irk lich im R a u m e ” “ d as R eale d er
E m p fin d u n g ” , “ R ealitas p h a e n o m e n o n ” . (A. L .)

1. “ D a m esm a fo rm a q u e o s aco n tecim en to s a c o n te c e m efetiv am en te ( w ir k lic h ), a in d a q u e n ã o s e j a m ;


d a m esm a fo rm a q u e a luz b rilh a efetiv am en te, a in d a q u e n ã o o fa ç a f o ra d o se n tid o q u e a percebe; d a m es­
m a fo rm a q u e o p o d e r d o d in h e iro e a v erd ad e d a s leis m atem áticas têm u m v alo r efe tiv o , a in d a q u e n ão
se jam n a d a , a p rim e ira fo ra d a estim a dos h o m en s, a segunda f o ra d a q u ilo a q u e c h a m a m o s o re a l ( R e a le n )
a o qual se refe re m ; d a m esm a fo rm a q u e o esp aço tem u m a ex istência e fetiv a ( W ir k tic h k e if) a in d a q u e n ã o
se ja, m as q u e se m p re ap a re ç a . P o rq u e a ex istê ncia efetiv a ( W i r k l i c h k e i t ) ... n ã o co m p reen d e ap e n a s o ser
d a q u ilo qu e é, m as tam b ém o devir d a q u ilo q u e aco n tece , o valo r d a s relações, a a p a riç ã o d a q u ilo que a p a re ­
ce; o ú nico e rro co nsiste em q u e re r d a r a u m a d estas espécies d e ex istência e fetiv a p recisam en te o gênero
d e existência q u e ap e n a s co nvém a o u tr a .”
2. " . . . A ssim , a re alid ad e ( R e a l itä t) é esse gê n ero p a rtic u la r d e ex istência efetiv a ( W ir k lic h k e it ) q u e a tr i­
buím os às co isas e n q u a n to o rig em ou fim d o dev ir o u q u e p ro c u ra m o s p a ra elas. V im os q u e e sta realid ad e
( R e a l itä t) d e p en d ia d a n a tu re z a d a q u ilo a q u e e la deve atrib u ir-se: é a ex istência d a q u ilo q u e é p a r a s i.”
925 REAL

r e a l” (estas ú ltim as ex pressões n ã o são je to real; o a r é-o . C f. M à 2 è Ã Ç , Iden-


E E

co rretas). tité e t réalité, cap . X I e X II (p rin cip al­


m en te 2? e d ., p . 421): “ O c ie n tista ...
C R ÍT IC A
crio u d estru in d o [a realidade d o senso co ­
P arece existir n o uso das palavras real, m u m ]; e é a p en as em p ro v eito d a reali­
realidade, d o is g ran d es co n ceito s p rim i­ d ad e n o v a q u e ele a b o liu a a n tig a .” E sta
tiv am en te d istin to s, m as h o je tã o estrei­ realid ad e fe n o m en al, stricto sensu, u n e,
tam en te ligados q u e a m a io r p a rte das ve­ p o rta n to , o sen tid o d e atu a lid a d e a o de
zes n ã o co n seg u im o s sep ará-lo s: v alo r ló gico e de eficácia. É neste sen ti­
1? U m sen tid o q u e se liga à id éia d e d o q u e os p ra g m a tista s ad m itira m q u e a
coisa* e n q u a n to o b je to d e p e n sam en to re a lid ad e “ se fa z ” , q u e ela é fu n ç ã o d o
(alg u m a co isa, som ething). É o a tu a l, o senso co m u m , d a técn ica, d a ciência, d a
d a d o ; co m p reen d e to d a a m a té ria d o c o ­ filo so fia; p o r exem plo F . C. S. SCHIL-
n h ecim en to , tu d o o q u e está p resen te ou L E R , Studies in H u m a n ism , cap . X IX :
é a p re se n ta d o . A s m en o res m o d alid ad es “ T h e m akin g o f reality .” O real co n stru í­
d a “ re p resen tação ” d ela fazem p a rte , ao d o opõe-se a o real d a d o . U m é o termi-
m esm o títu lo que as m ais fixas ou as m ais nu s a q u o , o o u tro o term inas ad quem .
im p o rta n te s: “ Só a ex p eriê n cia n o s d irá O s do is sentid os fu n d am en ta is, n o es­
q u ais são os asp ecto s ou fu n çõ es d a rea­ ta d o d e iso lam en to a b s o lu to , são excep­
lidade que cien tíficam en te d ev erão co n ­ cio n ais e q u ase ch o can tes. R eal q u er d i­
ta r p a ra alg u m a coisa e q u ais são aq u e ­ zer, so b retu d o , v erdadeiro, autêntico, sin­
les q u e, do p o n to de v ista d a ciência p o ­ cero , só lid o ; é u m te rm o lau d a tiv o , q u e
sitiva, n ã o deverão co n ta r p a ra n a d a .” H . faz ap elo a o ju íz o d a ap re c ia çã o d e um
B 2 ; è Ã Ç , Essai sur les données im m ., p.
E
esp írito sério e n o rm al e à v o lta deste cen­
116. E ste sen tid o é p ró x im o d aq u ele que tr o , p ro v av elm en te se c u n d á rio , m as f o r ­
tê m os term o s ingleses actual, actuality, tem ente co n stitu íd o , colocam -se os d iver­
ou d o s term o s alem ães wirklich, W irk- sos sen tid o s d esta p a la v ra .
lichkeit (q u a n d o to m a d o s n o seu sen tid o P o r ta n to , n u n c a se rá d em ais, q u a n ­
p ró p rio , p o rq u e tam b ém ai a p u re z a se­ d o falarm o s de realid ad e, assin alar a q ual
m án tica é m uito rara). C om o a tu al e a tu a ­ d o s critério s, sim ples ou co m p lex o , p re ­
lid ad e têm h o je a p en as u m v alo r te m p o ­ te n d em o s r e f e r ir n o s .
ra l, real e realidade h e rd a ra m este sen ti­
D efin içõ es reais V er D efinição.
do que lhes p erten ce in co n testav elm en te
m esm o n a linguagem c o rren te: “ A reali­ N ú m e ro real D . Reell; E . Real; F .
d a d e é u m a v isã o .” M Z è è , N o va s p o e­
E I Réel; I. Reale.
sias, Id ílio . E u m p o u co m ais à fren te: T o d o n ú m e ro , ra cio n al o u irracio n al,
“ M esm o q u e a re a lid a d e fosse ap en as q u e p o d e ser rep re se n ta d o p o r u m c o m ­
u m a im a g e m ...” p rim e n to d ete rm in a d o to m a d o n u m a re ­
2? U m sentido q u e se liga igualm ente ta a p a rtir d e u m a o rig em . O s n ú m ero s
à idéia de coisa*, m as n o sentido pleno des­ reais (p o r o p o sição ao s imaginários) são,
ta p alav ra: o q u e co n stitu i u m o b jeto d e ­ p o rta n to , o c o n ju n to , o u m elh o r, o
finid o, lógico, perm anente, ten d o u m a cer­ c o r p o 1 d o s n ú m e ro s in teiro s, o u fra c io ­
ta au to n o m ia; o qu e ap resen ta u m caráter n á rio s, p o sitiv o s o u n eg ativ o s, racio n ais
d e eficácia, d e v alo r co m u m (ou pelo m e­ o u irracio n ais. V er N ú m ero , III.
n o s sinôm ico). E sta coisa, este real pode R ad. i n t R eal.
ser concebid o co m o in teiram en te fen o m e­
n a l, co m o im an en te à represen ta ção . E é
1. U m c o r p o é c o n ju n to d e n ú m e r o s ta is que
assim m esm o que a p alav ra se em prega u m a q u a lq u e r d a s q u a tr o operaçõ es, a p licad as a e s­
m ais com um ente: o arco-íris n ã o é u m ob ­ ses n ú m e ro s, re p ro d u z u m elem en to d este co n ju n to .
R E A L ID A D E 926

R E A L ID A D E D . Realität, W irklich­ R E A L IS M O D . R ealism us ; E . R ea ­


keit', E . R eality (p o r vezes, n o sen tid o A , lism; F. Réalism e; I. Realism o.
actuality, actualness; ver as o bservações A . D o u trin a p latô n ica segund o a qual
so b re Real); F. Réalité; I. Realità. as Idéias* são m ais reais d o que os seres
A . C aracterística d aq u ilo que é real*, in d iv id u ais e sensíveis, que são ap en as o
em q u a lq u e r do s sen tid o s d esta p alav ra. seu reflexo e a su a im agem .
“ Q u e p en a n ã o p o d e rm o s... e n c o n tra r­ B. P o r conseqüência, n a Id ade M édia,
m o -n o s com os nossos que m o rreram p a ­ d o u trin a seg u n d o a q u al os U niversais*
ra vir d ar-n o s c o n ta d a re a lid a d e d as coi­ existem in dependentem ente das coisas nas
sas d a o u tra v id a !” R E Çτ Ç , Dialog, f i ­ q u ais se m a n ife sta m . O p õ e-se q u e r ao
los., III, 148. nominalismo*, q u er ao conceptualismo *,
B. O que é real, q u er o co n sid erem o s
p o rém de dois p o n to s de v ista diferentes.
q u a n to a u m d o s seus elem ento s (urna
C . D o u trin a segund o a q ual o ser é in ­
realid ad e), q u er o co n sid erem o s n o seu
dep en d en te m en te do co n h ecim en to atu al
c o n ju n to (a realidade). “ M esm o que con­
que po d em te r os sujeito s conscientes; es­
cordássem o s que certas n atu rezas ap aren ­
se não é eq u iv ale n te a percipi, m esm o no
tes, que n o s fazem atrib u ir-lh es nom es,
sen tid o m ais la to que se p o ssa d ar a essa
n a d a têm em co m u m de in te rio r, as n o s­
p alav ra.
sas defin ições n ã o d eix ariam de ser fu n ­
D . D o u trin a seg u n d o a q u al o ser é,
d ad as nas espécies reais: p o rq u e os p r ó ­
p rio s fen ô m en o s são re a lid a d e s.” L E « ζ - p o r natureza, d iferen te do p en sam en to e
Ç« U , N o v o s ensaios, III, V I, 13. ST7 « Â ­
n ã o p o d e ser n em tira d o d o p en sam en to ,
 E 2 , Studies in H u m a n ism , cap . X IX :
n em exprim ir-se de u m a fo rm a exaustiva
“ T h e m ak in g o f re a lity .” 1 em te rm o s lógicos.
“ O id ealism o de K a n t... é u m d u a lis­
C R ÍT IC A m o q u e , so b o n o m e d e m atéria e d e f o r ­
V er R ea l e cf. Polirrealism o. m a, d e sensibilidade e de entendim ento,
R ad. in t.: A . R eales; B. R eala j. c o n tin u a a d eix ar su b sistir a a n tig a o p o ­
sição d o o b je to e d o su jeito . É este resto
de d u a lism o , d e realism o , c o n serv ad o n a
1. “ C o m o é feita a r e a lid a d e .” filo so fia d e K an t, q u e explica o s destinos

S o b re R ealism o — A rtig o co m p le ta d o seg u n d o as in d ic açõ es d e J. Lachelier, de


E m m a n u el L ero u x, d e C. R a n zo li e d e I. B enrubi.
P arece-m e in co n testáv el q u e o ser é d iferente d o p ensam ento e isto em vário s sen ­
tid o s. P rim e iro , o sensível, o d a d o , é d ife re n te d as ab stra ç õ e s, d a s n o çõ es, d a s leis,
n as q u ais o n o sso e n ten d im en to os reso lv e. E m seg u id a, tu d o o q u e é o b je to d e p e n ­
sam en to é d ife re n te d o p ró p rio a to d o p e n sam en to e o p e n sa m e n to n ã o p o d e ria ser
tira d o d e si p ró p rio . M as é p o rq u e o p e n sam en to n ã o é o que q u e re ría e d ev eria ser,
q u e r dizer in tu itiv o . P o rq u e se fosse in tu itiv o , o seu o b je to n ã o lhe seria ex te rio r,
m as im an en te; o u antes os dois em c o n ju n to n ã o seriam senão u m a ú n ic a e m esm a
id éia, o u v erd ad e. ( J . Lachelier)
E u d e fin iria de p re ferên cia o sen tid o D diz en d o que o realism o é, neste caso, a
in d ep en d ên cia do ser em relação à necessidade ló gica e n ã o só d o p e n sa m e n to . O s
em p iristas são sem pre realistas n o sen tid o D , assim d efin id o ; os racio n alistas são -n o
g eralm en te no sen tid o C (p o r exem plo P la tã o , E sp in o sa, C o u tu ra t, Russell). E sta s
d u as teses parecem -m e q u ase o p o sta s. S eg u ram en te p o d em o s excluí-las am b as, tal
co m o H am elin , e talvez, no fu n d o , L eibniz. M as n ão as pod em o s ad m itir sim ultânea-
927 R E A L IS M O

u lterio res d a filo so fia a le m ã .” P a u l J τ ­ m en to in d iv id u al, no a to de conh ecim en­


ÇE I , Trai té de philosophie, 4? e d ., p. to , a p re e n d e p o r u m a in tu ição d ire ta o
812. ‘‘O id ealism o m a te ria lis ta ... n ã o re ­ n ão -eu , e n q u a n to d istin to d o eu. O “ rea­
p re se n ta sen ão a su p erfic ie d as coisas; a lism o n a tu ra l” d e H τ O« Â Ã ÇI (Leetures,
verdadeira filo so fia d a n atu reza é u m rea­ I , 290).
lism o esp iritu alista, aos o lh o s d o q u al to ­ G . E è é « T τ . 1 D o u trin a q u e p re ­
I I

d o ser é u m a fo rç a , e to d a fo rç a u m p e n ­ te n d e q u e a a rte n u n c a deve p ro c u ra r


sam en to q u e te n d e p a ra u rn a con sciencia id ealizar o real, fazer “ m e lh o r d o q u e à
c a d a vez m ais c o m p le ta d e si p r ó p r io .” n a tu re z a ” , m as apenas exprim ir as carac­
J . L τ T Â « 2 , D u fo n d e m e n t de Tinduc­
7 E E
te rísticas efetiv as essenciais d o q u e é.
tio n , a d . fin em . 2? M enos p ro p ria m e n te , sin ô n im o de
M ais radicalm ente ain d a, d o u trin a se­ naturalism o*, C: ten d ên cia artística p a ­
g u n d o a q u al o real se o p õ e a o inteligível r a re p resen tar so b re tu d o n o hom em o la ­
e im plica u m a p arte de “ irracio n alid ad e” . d o pelo q u al revela d a n a tu re z a , n o sen­
tid o C o u G . V er Idealism o, B.
V er M à 2 è Ã Ç , Id en tité et réalité, n o ­
E E

m eadam ente cap . IX e X I; L τ Â τ Çá , La E


H . Senso d a realid ad e (p o r o p o sição
a o v erb alism o , ao ab u so d as ab straçõ es,
dissolution, § 136.
o u a in d a à q u im era). “ É este p en sam en ­
E . P o r u m a síntese dos sentidos A , B,
to , de u m realism o tã o preciso, que se en ­
e C, cham a-se realismo, nos m atem áticos
c o n tra n o fu n d o d a te o ria , n a ap arên cia
co n te m p o râ n e o s, à o p in ião seg u n d o a
fo rm al e sutil d a vontade geral.” G .
q u a l as fo rm a s e as v erd ad es m a te m á ti­
B τ Z Â τ â Ã Ç , In tro d u ç ã o à edição d o
E
cas n ão são criadas pelo cientista, m as p o r
C ontrato social, p . 60. E ste sen tid o é
ele d esco b ertas. “ E u creio q u e os n ú m e ­
recente.
ros e as funções d a análise n ã o são o p ro ­
d u to a rb itrá rio do nosso esp írito ; penso C R ÍT IC A
que existem fo ra d e nós com o m esm o ca­ E ste te rm o p a rtic ip a d a in d ete rm in a-
rá te r de necessid ade q u e as coisas d a re a ­ ção d a p a la v ra idealismo*, a que se opõe.
lid ad e o b jetiv a e q u e nó s o s e n co n tram o s V er a C rítica e as o b serv açõ es so b re esta
o u os d esco b rim o s o u e stu d am o s ta l co ­ p a la v ra . N o ta re m o s, a in d a , a tro c a de
m o os físicos, os quím icos e os zo ó lo g o s.” sen tid o s q u e se p ro d u z iu e n tre estes dois
H 2 O« E I E, Correspondence avec Stieltjes, te rm o s, ap lic an d o -se h o je idealismo à
I I , 398. d o u trin a segu ndo a q u al as Idéias (no sen­
C f. P olirrealism o . tid o p la tô n ic o ) estão a n te s d as coisas e
F . D o u trin a se g u n d o a q u a l o p e n sa ­ lh es servem d e fu n d a m e n to .

m e n te , p arece-m e, sen ão ao p reço de u m ag n o sticism o b a sta n te a c e n tu a d o . P o r o u ­


tro la d o , a in d ep en d ên cia d o ser relativ am en te a o co n h ecim en to consciente p o d e ser
a firm a d a em do is sen tid o s q u e m e p arece ú til d istin g u ir: 1? o ser existe fo ra do c o ­
n h ecim en to ; 2? o ser n ã o é m o d ific a d o p elo co n h ecim en to . P o d e-se ad m itir a p r i­
m eira tese m esm o recu san d o a seg u n d a. T al p arece ser, p o r ex em p lo , a a titu d e a d o ­
ta d a p o r D ew ey. E m tais casos ter-se-á o d ireito d e se in titu la r realista, co m o ele faz?
T alv ez. P elo m en o s existe a o p o sição a o id ealism o . (E . L eroux) T a l é ta m b ém o caso
d o “ R ealism o tra n s fig u ra d o ” que p ro fe ssa S pencer. N este se n tid o , o realism o
caracteriz a-se e n tã o p ela p rim e ira destas d u a s teses. (A . L .)
É p reciso q u e se m en cio n e, co m o o ex em plo q u e m e lh o r cara c teriz a o sen tid o
D , a filo so fia de A ristó teles, e o “ re alism o ” esco lástico q u e d ela d eriv a, n ã o n o que
to c a ao s u n iv ersais, m as n o q u e d iz resp eito à n a tu re z a d o co n h ecim en to e d o c o n h e­
cid o . (G. D avy )
R E A L IS M O 928

M esm o lim ita d a aos sen tid o s C e D , m o \ R ealism o crítico (W Z Çá I , n o sen ti­
a p a la v ra c o n tin u a tã o v a g a q u e os filó ­ d o de realism o filo só fico, e n ã o ingenuo);
so fo s lh e acre sc en ta ra m os ep íte to s m ais R ealism o hipotético (H Ãá; è ÃÇ ); Realis­
variado s p ara lem brar convencionalm ente m o arrazoado (LE ç E è ), etc.
o sen tid o especial que d a v a m a essa p a ­ E n c o n tra re m o s a e n u m e ra ç ão , a d e­
la v ra , ou p a ra a c e n tu a r aq u ele que lhe finição e a crítica de m u itas etiq uetas des­
atrib u íam falan d o de um adversário: rea­ te gênero em C. Rτ ÇUÃÂ « , II linguaggio
lism o transcendental (designação p o r d e ifilo so fi, p p . 87-104. A s únicas usuais
K a n t do p o n to de vista d o g m ático segun­ parecem ser:
do o q u al o te m p o , e o esp aço , os fe n ô ­ R ealism o ingênuo (D . N aiver Realis-
m enos percebidos são coisas em si; opõe- mus; E . Crude realism; F. Réalism e na'ifi,
se-lhe o seu p ró p rio p o n to d e v ista so b o I. Realism o volgare ou ingenuo). C ren ça
n o m e de realismo em pírico, im p lican d o do senso co m u m que ad m ite, sem críti­
u m idealismo transcendental. K ritik der ca, a existência de u m m u n d o de o b jeto s
reinen Vernunft, A 369; cf. A 490; B 519). m ateriais e de su je ito s conscientes, com
El

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