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1. Supremacia constitucional
- Leis federais, estaduais e municipais
- Lei complementar e ordinária
- Tratados internacionais
3. Formas de inconstitucionalidade
6.2.Controle concentrado
- Competência
- Objeto
- Legitimidade ativa
- Parâmetro
- Procurador-Geral da República
- Advogado-Geral da União
- Amicus curiae- Medida cautelar
- Ação declaratória de constitucionalidade (ADC)
- Objetivo
- Pressuposto (Lei n. 9.868/99, art. 14, III)
- Argüição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF)
- ADI Por omissão e Mandado de injunção
- Representação Interventiva (CF, art. 36, III)
2. ADI Estatisticas
Das dez primeiras ADIs que chegaram ao STF, por exemplo, nove foram arquivadas porque combatiam
leis anteriores à Constituição de 88. Foi assim com a ADI 1, ajuizada pelo estado de Rondônia, em 6 de
outubro de 1998, questionando lei sobre a organização do Poder Judiciário rondoniense. O relator foi o
ministro Célio Borja, que considerou prejudicado o pedido e determinou o arquivamento do pleito. A
ADI 2 teve o mesmo desfecho: foi arquivada por questionar norma mais antiga que a Carta Magna.
INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
Aula n°02
Com o passar do tempo, a Ação Direta de Inconstitucionalidade passou a fazer parte do dia-a-dia dos
julgamentos do Plenário do STF. Nesses vinte anos, 650 ações foram julgadas totalmente procedentes,
enquanto 166 foram parcialmente procedentes. Em maio deste ano, aguardavam julgamento final, 943
ADIs.
Quem mais recorreu ao Supremo questionando leis federais ou estaduais foram os governadores
estaduais – e do DF: 1042, ou 25,5% do total.
O procurador-geral da República foi responsável pela entrada de 890 ações, seguido pelo segmento de
confederações sindicais e entidades de classe nacionais, com 865, e pelos partidos políticos, que
recorreram contra dispositivos legais 730 vezes.
Previsão legal
As ADIs estavam previstas no texto original da Constituição Federal de 1988, mas só foram
regulamentadas com a promulgação da Lei 9.868, em 10 de novembro de 1999. Durante muito tempo,
os ministros do Supremo tiveram que aperfeiçoar esse instrumento.
A Lei 9.68/99 definiu quem pode ajuizar Ação Direta de Inconstitucionalidade ou Ação Declaratória de
Constitucionalidade no STF: o presidente da República, as Mesas do Senado Federal, da Câmara dos
Deputados e das Assembléias Legislativas (incluída a do DF), os governadores de estado e do DF, o
procurador-geral da República, o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, partidos
políticos com representação no Congresso e confederações sindicais ou entidades de classe, desde que
de âmbito nacional.
ADPF
A Constituição e o Supremo
Na página de Internet do STF está à disposição dos interessados a íntegra da Constituição Federal de
1988, atualizada, com apontamentos, artigo por artigo, dos parâmetros jurisprudenciais dominantes na
mais alta Corte brasileira acerca dos dispositivos da Lei Maior.
Trata-se do link “A Constituição e o Supremo”, que agrega todo o conhecimento acumulado pelo STF
aos temas e normas definidos pela Carta.
INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
Aula n°02
Grandes Temas
Nos vinte anos da Constituição cidadã, grandes temas nacionais passaram pela Suprema Corte, nos
autos de Ações Diretas, onde se questionava a possibilidade de intervenção do Estado no poder
econômico; a liberdade de expressão e de pensamento; a guerra fiscal entre estados-membros, entre
outros.
Foi também por meio de uma ação declaratória (ADC 12) que o Supremo, considerando constitucional
a Resolução 7/2005, do Conselho Nacional de Justiça, vedou a contratação de parentes de magistrados,
até o terceiro grau, para cargos de chefia, direção e assessoramento no Poder Judiciário – o chamado
nepotismo.
Atualmente, o STF analisa a ADC 18, sobre a constitucionalidade da inclusão do ICMS na base de
cálculo da Cofins. De acordo com o advogado-geral da União, a depender do resultado desse debate, a
questão pode resultar em prejuízos da ordem de R$ 60 bilhões aos cofres públicos. O julgamento da
ação foi interrompido, em maio, por um pedido de vista do ministro Marco Aurélio.
Outras questões de repercussão nacional estão sob análise da Corte em ADPFs que tratam da
constitucionalidade do monopólio dos correios; da possibilidade de aborto de fetos anencéfalos; da
importação de pneus usados; da Lei de Imprensa; e do reconhecimento, para fins civis, da união estável
entre homossexuais.
MB/EH//AM
Veja as estatísticas:
Ações Diretas de Inconstitucionalidade - 1988 a 2008*
INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
Aula n°02
Liminar Qtd. %
Com liminar deferida 245 6,0%
Com liminar deferida em parte 71 1,7%
Com liminar indeferida 126 3,1%
Prejudicada 23 0,6%
Total Liminar 465 11,4%
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
Aula n°02
17/07/2007 - 20:12 - Íntegra da decisão da presidente do STF que negou seguimento a ADI
contra dispositivos do regimento interno do CNMP
Confira a íntegra da decisão da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, que
negou seguimento (arquivou) à Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3912, ajuizada pelo
governador do Paraná contra artigos do Regimento Interno do Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP).
A ministra Ellen Gracie entendeu estar ausente a pertinência temática* entre os interesses do estado do
Paraná e os dispositivos impugnados na ação. "É manifesta a ausência de interseção entre os interesses
do Estado do Paraná e a matéria tratada nos dispositivos impugnados."
*A pertinência temática é um requisito implícito para que o Governador do estado possa ajuizar Ação
Direta de Inconstitucionalidade. Ela representa a ligação entre os interesses da unidade federativa
administrada e o possível dano a ser causado pela norma alegada inconstitucional.
11/07/2007 - 19:17 - Supremo determina que Febrafite comprove legitimidade para propor
Ação Direta de Inconstitucionalidade
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, intimou a Federação Brasileira de
Associações de Fiscais de Tribunais Estaduais (Febrafite) a comprovar, no prazo de dez dias, que tem,
efetivamente, associados em pelo menos nove estados da Federação e, portanto, legitimidade para
propor Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI).
O despacho da ministra foi dado nos autos da ADI 3913, com pedido de liminar, na qual a Febrafite
alega a inconstitucionalidade de duas leis de Minas Gerais (15.464/05 e 16.190/06) que criam e
determinam o preenchimento dos cargos nas carreiras do Grupo de Atividades de Tributação,
Fiscalização e Arrecadação do Poder Executivo daquela unidade da Federação.
A entidade alega que as duas leis, ao regular o assunto, violam o artigo 37, inciso II, da Constituição,
que estabelece a realização de concurso público para provimento dos cargos públicos efetivos (não
comissionados) no âmbito da União, dos estados e dos municípios.
No seu despacho, a presidente do STF observa que, não obstante a afirmação da requerente de que é
entidade de classe, de âmbito nacional, conforme consignado em seu estatuto, “carece tal declaração de
efetiva comprovação”. Ellen Gracie salientou que há, nos autos da ADI proposta pela entidade, apenas a
prova da filiação de associada no estado de Minas Gerais, o que é insuficiente para demonstrar sua
abrangência territorial.
Gracie lembra que a Febrafite já foi, em duas ocasiões anteriores, em 1993 e 1994, considerada sem
legitimidade para propor ADIs, "por ser uma associação composta por outras associações, e não
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
Aula n°02
diretamente por pessoas físicas que, juntas, formariam uma determinada classe profissional ou
econômica".
Ela lembra, no entanto, que, em 2005, essa orientação jurisprudencial foi alterada a partir do
julgamento de um recurso de agravo regimental na ADI 3153, que teve como relator o ministro
Sepúlveda Pertence. Na oportunidade, o STF passou a admitir a legitimidade das chamadas associações
de associações de classe. Mesmo assim, o Supremo decidiu, ao julgar a ADI 108, de 1992, que essas
entidades devem comprovar seu caráter nacional (Constituição, artigo 103, inciso IX), isto é, a
existência de associados em pelo menos nove estados da Federação
4. ADI Objeto
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
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ADI N. 3.691-MA
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. 2. Portaria n° 17/2005, do Estado do Maranhão, que
altera e fixa os horários de funcionamento dos estabelecimentos que comercializam bebidas alcoólicas
no Estado. 3. Generalidade, abstração e autonomia que tornam apto o ato normativo para figurar como
objeto do controle de constitucionalidade. 4. Competência do Município para legislar sobre horário de
funcionamento de estabelecimentos comerciais (art. 30, I, CF/88). Matéria de interesse local.
Precedentes. Entendimento consolidado na Súmula 645/STF. 5. Ação julgada procedente.
ADI N. 2.862-SP
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ATOS NORMATIVOS ESTADUAIS QUE
ATRIBUEM À POLÍCIA MILITAR A POSSIBILIDADE DE ELABORAR TERMOS CIRCUNSTANCIADOS.
PROVIMENTO 758/2001, CONSOLIDADO PELO PROVIMENTO N. 806/2003, DO CONSELHO SUPERIOR DA
MAGISTRATURA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO, E RESOLUÇÃO SSP N. 403/2001,
PRORROGADA PELAS RESOLUÇÕES SSP NS. 517/2002, 177/2003, 196/2003, 264/2003 E 292/2003, DA
SECRETARIA DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO. ATOS NORMATIVOS SECUNDÁRIOS.
AÇÃO NÃO CONHECIDA.
1. Os atos normativos impugnados são secundários e prestam-se a interpretar a norma contida no art.
69 da Lei n. 9.099/1995: inconstitucionalidade indireta.
2. Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal pacífica quanto à impossibilidade de se conhecer de ação
direta de inconstitucionalidade contra ato normativo secundário. Precedentes.
3. Ação Direta de Inconstitucionalidade não conhecida.
ADI N. 3.778-RJ
RELATORA: MIN. CÁRMEN LÚCIA
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 3/2001 E PARÁGRAFO ÚNICO
DO ART. 4º DA RESOLUÇÃO N. 15/2003, DO ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RIO DE
JANEIRO.
1. A Resolução n. 3/2001, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que cuida da
criação, por transformação, de cargos de provimento em comissão, foi revogada pelo art. 3º da
Resolução n. 6/2005.
2. O parágrafo único do art. 4º da Resolução n. 15/2003, do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do
Rio de Janeiro, que trata da estrutura organizacional do Poder Judiciário do Rio de Janeiro, foi revogado
pela Lei n. 5.163, de 9.10.2007.
3. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada prejudicada em razão da perda superveniente de seu
objeto.
A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3927, ajuizada pelo Partido Popular Socialista (PPS) contra
a nova portaria (1220/07) do Ministério da Justiça (MJ), que trata da classificação indicativa das obras
audiovisuais destinadas à televisão, foi arquivada pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministra Ellen Gracie.
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
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O partido alegava, na inicial, que mesmo tendo trazido algumas alterações, a nova portaria do MJ, que
revogou portarias anteriores sobre o mesmo tema (796/2000 e 264/2007), manteve a vinculação
obrigatória entre a classificação indicativa e as faixas horárias de exibição, “evidenciando, assim, grave
ofensa ao princípio maior da liberdade de expressão consagrado pela Carta Política”.
Decisão
A ministra lembrou o fato de que o Supremo já se manifestou pelo não cabimento de outras ações
diretas de inconstitucionalidade contra portarias anteriores do MJ que regulamentavam a classificação
indicativa das obras audiovisuais. O entendimento do STF é de que não cabe ADI contra atos
“flagrantemente regulamentares”, revelou Ellen Gracie, mesmo ante a insistência do PPS de que o ato
normativo questionado possuiria natureza autônoma.
Para Ellen Gracie, o que o PPS chama de esquivamento do STF no seu dever de guarda da Constituição
é, na verdade, a obediência da Corte à organização do sistema de controle abstrato vigente, que possui
como um de seus pilares o princípio da hierarquia das normas. “Tenho como certo que essa casa, ao se
deparar, nesse tema, com o instrumento processual cabível e adequado, não se furtará, nem por um
instante, à sua missão constitucional precípua”, finalizou a presidente do STF.
ADI N. 2.104-DF
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONTROLE CONCENTRADO DE
CONSTITUCIONALIDADE DE RESOLUÇÕES DE TRIBUNAIS (ARTIGO 102, I, a, da constituição do brasil).
RESOLUÇÃO ADMINISTRATIVA N. 51/99 DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 14ª REGIÃO. ATO
QUE DETERMINA QUE A VERBA DE REPRESENTAÇÃO INSTITUÍDA PELO DECRETO-LEI N. 2.371/87 SEJA
CALCULADA COM A INCIDÊNCIA DO VENCIMENTO BÁSICO E DA PARECLA DE EQUIVALÊNCIA. AUMENTO
DE REMUNERAÇÃO SEM RESERVA LEGAL E PRÉVIA DOTAÇÃO ORÇAMENTÁRIA.
INCONSTITUCIONALIDADE. AFRONTA AO DISPOSTO NO ARTIGO 96, INCISO II, ALÍNEA “B”, DA
CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. É cabível o controle concentrado de resoluções de tribunais que deferem
reajuste de vencimentos. Precedentes. 2. Inconstitucionalidade do ato normativo que configura aumento
de remuneração dos magistrados de forma diversa da prevista no artigo 96, inciso II, alínea “b”, da
Constituição do Brasil. Jurisprudência do Supremo. 3. Ação direta julgada procedente para declarar a
inconstitucionalidade da Resolução Administrativa n. 51/99 do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª
Região.
* noticiado no Informativo 489
ADI N. 820-RS
RELATOR: MIN. EROS GRAU
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 202 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO
DO RIO GRANDE DO SUL. LEI ESTADUAL N. 9.723. MANUTENÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO ENSINO
PÚBLICO. APLICAÇÃO MÍNIMA DE 35% [TRINTA E CINCO POR CENTO] DA RECEITA RESULTANTE DE
IMPOSTOS. DESTINAÇÃO DE 10% [DEZ POR CENTO] DESSES RECURSOS À MANUTENÇÃO E
CONSERVAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS ESTADUAIS. VÍCIO FORMAL. MATÉRIA ORÇAMENTÁRIA.
INICIATIVA PRIVATIVA DO CHEFE DO PODER EXECUTIVO. AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 165,
INCISO III, E 167, INCISO IV, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. 1. Preliminar de inviabilidade do controle
de constitucionalidade abstrato. Alegação de que os atos impugnados seriam dotados de efeito concreto,
em razão da possibilidade de determinação de seus destinatários. Preliminar rejeitada. Esta Corte fixou
que “a determinabilidade dos destinatários da norma não se confunde com a sua individualização, que,
esta sim, poderia convertê-lo em ato de efeitos concretos, embora plúrimos” [ADI n. 2.135, Relator o
Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 12.5.00]. 2. A lei estadual impugnada consubstancia lei-norma.
Possui generalidade e abstração suficientes. Seus destinatários são determináveis, e não determinados,
sendo possível a análise desse texto normativo pela via da ação direta. Conhecimento da ação direta. 3.
A lei não contém, necessariamente, uma norma; a norma não é necessariamente emanada mediante
uma lei; assim temos três combinações possíveis: a lei-norma, a lei não norma e a norma não lei. Às
normas que não são lei correspondem leis-medida [Massnahmegesetze], que configuram ato
administrativo apenas completável por agente da Administração, portando em si mesmas o resultado
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
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específico ao qual se dirigem. São leis apenas em sentido formal, não o sendo, contudo, em sentido
material. 4. Os textos normativos de que se cuida não poderiam dispor sobre matéria orçamentária.
Vício formal configurado — artigo 165, III, da Constituição do Brasil — iniciativa privativa do Chefe do
Poder Executivo das leis que disponham sobre matéria orçamentária. Precedentes. 5. A determinação de
aplicação de parte dos recursos destinados à educação na “manutenção e conservação das escolas
públicas estaduais” vinculou a receita de impostos a uma despesa específica — afronta ao disposto no
artigo 167, inciso IV, da CB/88.
6. Ação direta julgada procedente para declarar a inconstitucionalidade do § 2o do artigo 202 da
Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, bem como da Lei estadual n. 9.723, de 16 de setembro de
1.992.
* noticiado no Informativo 459
25/06/2007 - 16:50 - Supremo arquiva ADI contra portaria sobre classificações de diversões
e espetáculos públicos
Com o voto da ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a Corte arquivou a
ação que contestava a Portaria 796/2000, do Ministério da Justiça (MJ), que definia critérios de
classificação das diversões e espetáculos públicos. A norma foi questionada na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 2398, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB).
A OAB alegou que dispositivos da portaria ministerial teriam estabelecido “uma verdadeira censura
horária prévia no rádio e na televisão”, que restringiriam a liberdade de expressão artística, garantida
pela Constituição.
Antecedentes
O relator, ministro Cezar Peluso, extinguiu o processo, sem julgamento do mérito, porque “a Portaria
impugnada extrai fundamento de validade ao artigo 74 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
de modo que eventual crise normativa poderia ter lugar apenas no campo da legalidade, e não no da
constitucionalidade, o que impede cognição da demanda por esta Corte.”
Na tentativa de obter a reforma da decisão de Cezar Peluso, a OAB interpôs o agravo no qual sustentava
que a portaria ministerial “visava extrair sua validade diretamente da Lei Maior”. A OAB argumentou,
ainda, que o artigo 74 do ECA não teria atribuído ao ministro da Justiça competência para editar a
norma impugnada.
Retomada do caso
O julgamento foi retomado hoje (25) após empate em 5 a 5 na votação (em 2 de fevereiro) de agravo
regimental, interposto pelo conselho da OAB, contra a decisão monocrática do ministro Cezar Peluso.
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
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Com o voto de Ellen Gracie, acompanhando o entendimento do relator, deu-se o desempate para negar
provimento ao agravo. A ministra ponderou que em 9 de fevereiro outra portaria do MJ revogou a norma
contestada, com exceção de seu artigo 2º, que permanece como único dispositivo vigente. A presidente
da Corte rejeitou alegações da Advocacia Geral da União (AGU) de que o artigo 2º, “não tem o efeito de
manter o conteúdo material da portaria atacada, eis que ele veicula apenas uma legenda para
classificação dos programas de televisão”.
Voto de desempate
A ministra Ellen Gracie declarou que o conteúdo normativo do artigo 2º remanescente “não expõe
apenas um mero quadro de convenção orientado pelo binômio ‘faixa etária e faixa de horário’ utilizado
na classificação dos programas de televisão”, pois essa sistemática, “ao classificar um programa como
inadequado para ser transmitido antes de determinada hora, tem sua veiculação ‘terminantemente
vedada em horário diverso do permitido’”. Para a ministra, “há, portanto, no dispositivo, forte carga
proibitiva dirigida às emissoras de televisão. Assim, não há como negar que essa proibição constitui uma
das causas determinantes para o ajuizamento da ADI”, motivo para a manutenção do interesse da OAB
em ter sua ação conhecida para o exame da inconstitucionalidade apontada. Dessa forma, a ministra
rejeitou a alegação de prejudicialidade e prosseguiu analisando a possibilidade de conhecimento da ADI.
Ellen Gracie citou o precedente aberto da ADI 392, que possuía a mesma finalidade da portaria agora
examinada. Naquele julgamento, negou-se seguimento à ação. “O quadro, ora examinado, em nada
difere das circunstâncias apreciadas pela Corte na referida ADI 392, cujo objeto era a Portaria-MJ
773/90, que veio a ser revogada exatamente com a edição da Portaria 796/00, ora questionada”.
Para a ministra, a presente ação revela renovada tentativa de submeter ao STF ato normativo
regulamentar, que tem seu fundamento diretamente no Estatuto da Criança e do Adolescente, norma
infraconstitucional, não admitida pela Corte o conhecimento para análise de sua legalidade. Nesse
sentido, a ministra citou os precedentes das ADIs 1670, 2387 e 2489. Acompanhando o relator, Ellen
Gracie também negou provimento ao Agravo Regimental.
ADI N. 2.907-AM
RELATOR: MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. PORTARIA 954/2001 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO
ESTADO DO AMAZONAS, ATO NORMATIVO QUE DISCIPLINA O HORÁRIO DE TRABALHO DOS
SERVIDORES DO JUDICIÁRIO. VÍCIO DE NATUREZA FORMAL. OFENSA AO ART. 96, I, a e b, da CF.
AÇÃO JULGADA PROCEDENTE COM EFEITOS EX NUNC.
I. Embora não haja ofensa ao princípio da separação dos poderes, visto que a Portaria em questão não
altera a jornada de trabalho dos servidores e, portanto, não interfere com o seu regime jurídico,
constata-se, na espécie, vício de natureza formal. II. Como assentou o Plenário do STF nada impede que
a matéria seja regulada pelo Tribunal, no exercício da autonomia administrativa que a Carta Magna
garante ao Judiciário. III. Mas a forma com que o tema foi tratado, ou seja, por portaria ao invés de
resolução, monocraticamente e não por meio de decisão colegiada, vulnera o art. 96, I, a e b, da
Constituição Federal. IV. Ação julgada procedente, com efeitos ex nunc.
25/06/2007 - 16:50 - Supremo arquiva ADI contra portaria sobre classificações de diversões
e espetáculos públicos
Com o voto da ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), a Corte arquivou a
ação que contestava a Portaria 796/2000, do Ministério da Justiça (MJ), que definia critérios de
classificação das diversões e espetáculos públicos. A norma foi questionada na Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 2398, ajuizada pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB).
A OAB alegou que dispositivos da portaria ministerial teriam estabelecido “uma verdadeira censura
horária prévia no rádio e na televisão”, que restringiriam a liberdade de expressão artística, garantida
pela Constituição.
Antecedentes
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O relator, ministro Cezar Peluso, extinguiu o processo, sem julgamento do mérito, porque “a Portaria
impugnada extrai fundamento de validade ao artigo 74 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
de modo que eventual crise normativa poderia ter lugar apenas no campo da legalidade, e não no da
constitucionalidade, o que impede cognição da demanda por esta Corte.”
Na tentativa de obter a reforma da decisão de Cezar Peluso, a OAB interpôs o agravo no qual sustentava
que a portaria ministerial “visava extrair sua validade diretamente da Lei Maior”. A OAB argumentou,
ainda, que o artigo 74 do ECA não teria atribuído ao ministro da Justiça competência para editar a
norma impugnada.
Retomada do caso
O julgamento foi retomado hoje (25) após empate em 5 a 5 na votação (em 2 de fevereiro) de agravo
regimental, interposto pelo conselho da OAB, contra a decisão monocrática do ministro Cezar Peluso.
Com o voto de Ellen Gracie, acompanhando o entendimento do relator, deu-se o desempate para negar
provimento ao agravo. A ministra ponderou que em 9 de fevereiro outra portaria do MJ revogou a norma
contestada, com exceção de seu artigo 2º, que permanece como único dispositivo vigente. A presidente
da Corte rejeitou alegações da Advocacia Geral da União (AGU) de que o artigo 2º, “não tem o efeito de
manter o conteúdo material da portaria atacada, eis que ele veicula apenas uma legenda para
classificação dos programas de televisão”.
Voto de desempate
A ministra Ellen Gracie declarou que o conteúdo normativo do artigo 2º remanescente “não expõe
apenas um mero quadro de convenção orientado pelo binômio ‘faixa etária e faixa de horário’ utilizado
na classificação dos programas de televisão”, pois essa sistemática, “ao classificar um programa como
inadequado para ser transmitido antes de determinada hora, tem sua veiculação ‘terminantemente
vedada em horário diverso do permitido’”. Para a ministra, “há, portanto, no dispositivo, forte carga
proibitiva dirigida às emissoras de televisão. Assim, não há como negar que essa proibição constitui uma
das causas determinantes para o ajuizamento da ADI”, motivo para a manutenção do interesse da OAB
em ter sua ação conhecida para o exame da inconstitucionalidade apontada. Dessa forma, a ministra
rejeitou a alegação de prejudicialidade e prosseguiu analisando a possibilidade de conhecimento da ADI.
Ellen Gracie citou o precedente aberto da ADI 392, que possuía a mesma finalidade da portaria agora
examinada. Naquele julgamento, negou-se seguimento à ação. “O quadro, ora examinado, em nada
difere das circunstâncias apreciadas pela Corte na referida ADI 392, cujo objeto era a Portaria-MJ
773/90, que veio a ser revogada exatamente com a edição da Portaria 796/00, ora questionada”.
Para a ministra, a presente ação revela renovada tentativa de submeter ao STF ato normativo
regulamentar, que tem seu fundamento diretamente no Estatuto da Criança e do Adolescente, norma
infraconstitucional, não admitida pela Corte o conhecimento para análise de sua legalidade. Nesse
sentido, a ministra citou os precedentes das ADIs 1670, 2387 e 2489. Acompanhando o relator, Ellen
Gracie também negou provimento ao Agravo Regimental.
5. ADI parâmetro
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Estado-membro, eis que, em tema de ação direta ajuizável perante a Suprema Corte, o único
parâmetro de fiscalização reside na Constituição da República. Doutrina.
ADI 514/PI*
- A revogação superveniente do ato estatal impugnado, ainda que tácita, faz instaurar situação de
prejudicialidade, que provoca a extinção anômala do processo de fiscalização abstrata de
constitucionalidade. Precedentes.
- Não se conhece da ação direta, sempre que a impugnação nela veiculada revelar-se destituída de
fundamentação jurídica ou desprovida de motivação idônea e adequada. Em sede de fiscalização
normativa abstrata, não se admite impugnação meramente genérica de inconstitucionalidade, tanto
quanto não se permite que a alegação de contrariedade ao texto constitucional se apóie em
argumentos superficiais ou em fundamentação insuficiente. Lei nº 9.868/99, art. 4º, “caput”.
Precedentes.
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9. O mesmo se verifica quanto à impugnação do art. 28, da Lei Complementar nº 04/1990, pois a
norma inserta no artigo 93, VI, da Constituição Federal, supostamente violada, também foi
substancialmente alterada com a edição da Emenda Constitucional nº 20, de 16 de dezembro de
1998, tornando inviável o controle concentrado da norma em face desse dispositivo constitucional.
10. Quanto à impugnação da expressão ‘e remuneração’ contida no art. 12, da LC nº 04/1990,
cumpre, inicialmente, esclarecer que, embora este artigo tenha sido alterado pela LC nº 09/1992, a
expressão impugnada foi mantida, razão pela qual não se verifica prejudicado o pedido quanto a esse
dispositivo. Eis o teor do dispositivo ora em vigor:
‘Art. 12 – O Advogado Geral do Estado é o Chefe da Advocacia Geral do Estado e da Procuradoria Geral
do Estado, com prerrogativas e remuneração de Secretário de Estado, nomeado em comissão pelo
Governador, dentre maiores de trinta anos, de notório saber jurídico e reputação ilibada.’ (...).
11. Verifica-se, entretanto, que não merece ser conhecida a ação quanto à impugnação do artigo
12 da Lei Complementar nº 04/1990, porquanto não expôs o requerente os fundamentos jurídicos
do pedido com relação ao mencionado dispositivo infraconstitucional, limitando-se a transcrevê-lo
sem sequer apontar a norma constitucional supostamente violada.
12. Ante o exposto, manifesta-se o Ministério Público Federal pelo não-conhecimento da ação
quanto à impugnação do artigo 12, da Lei Complementar nº 04/1990; e, em relação aos demais
dispositivos hostilizados, pela prejudicialidade da presente ação direta de inconstitucionalidade.”
(grifei)
Sendo esse o contexto, entendo aplicável, à espécie, o magistério jurisprudencial desta Suprema
Corte, cujas reiteradas decisões, no tema, têm reconhecido a ocorrência de prejudicialidade da
ação direta, quando, após o seu ajuizamento, sobrevém a cessação de eficácia das normas
questionadas em referido processo objetivo, como sucedeu, no caso, com o art. 5º da Lei
Complementar estadual nº 02/90.
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A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, a propósito de tal situação, tem enfatizado que a
superveniente cessação de eficácia dos atos estatais impugnados em ação direta de
inconstitucionalidade provoca a extinção anômala do processo de controle normativo abstrato,
independentemente da existência de efeitos residuais concretos que possam ter derivado da
aplicação dos diplomas questionados (RTJ 153/13 – RTJ 154/396-397 - RTJ 154/401 – RTJ 156/29 -
RTJ 160/145 – RTJ 174/80-81, v.g.):
Sendo assim, e quaisquer que possam ser os parâmetros de controle que se adotem - a
Constituição escrita, de um lado, ou a ordem constitucional global, de outro (LOUIS
FAVOREU/FRANCISCO RUBIO LLORENTE, “El bloque de la constitucionalidad”, p. 95/109, itens ns. I
e II, 1991, Civitas; J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional”, p. 712, 4ª ed., 1987, Almedina,
Coimbra, v.g.) -, torna-se essencial, para fins de viabilização do processo de controle normativo
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abstrato, que tais referências paradigmáticas encontrem-se, ainda, em regime de plena vigência,
pois, como precedentemente assinalado, o controle de constitucionalidade, em sede concentrada,
não se instaura, em nosso sistema jurídico, em função de paradigmas históricos, consubstanciados
em normas que já não mais se acham em vigor, ou, embora vigendo, tenham sofrido alteração
substancial em seu texto.
É por tal razão que, em havendo a revogação superveniente (ou a modificação substancial) da
norma de confronto, não mais se justificará a tramitação do processo objetivo de fiscalização
concentrada de constitucionalidade.
Bem por isso, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, desde o regime constitucional anterior,
tem proclamado que tanto a superveniente revogação global da Constituição da República (RTJ
128/515 - RTJ 130/68 - RTJ 130/1002 - RTJ 135/515 – RTJ 141/786), quanto a posterior
derrogação (ou alteração substancial) da norma constitucional (RTJ 168/436 - RTJ 169/834 - RTJ
169/920 - RTJ 171/114 - RTJ 172/54-55 - RTJ 179/419 - ADI 296/DF - ADI 595/ES - ADI 905/DF -
ADI 906/PR – ADI 1.120/PA - ADI 1.137/RS - ADI 1.143/AP - ADI 1.300/AP – ADI 1.510/SC – ADI
1.885-QO/DF), por afetarem o paradigma de confronto invocado no processo de controle
concentrado de constitucionalidade, configuram hipóteses caracterizadoras de prejudicialidade da
ação direta ou da ação declaratória, em virtude da evidente perda de seu objeto:
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como fator determinante do caráter constitucional, ou não, dos atos estatais contestados em face da
Carta Política.
- A superveniente alteração/supressão das normas, valores e princípios que se subsumem à
noção conceitual de bloco de constitucionalidade, por importar em descaracterização do parâmetro
constitucional de confronto, faz instaurar, em sede de controle abstrato, situação configuradora de
prejudicialidade da ação direta, legitimando, desse modo - ainda que mediante decisão
monocrática do Relator da causa (RTJ 139/67) - a extinção anômala do processo de fiscalização
concentrada de constitucionalidade. Doutrina. Precedentes.”
(ADI 595/ES, Rel. Min. CELSO DE MELLO, “Informativo/STF” nº 258/2002)
Cumpre ressaltar, por necessário, que essa orientação jurisprudencial reflete-se no próprio
magistério da doutrina (CLÈMERSON MERLIN CLÈVE, “A Fiscalização Abstrata da
Constitucionalidade no Direito Brasileiro”, p. 225, item n. 3.2.6, 2ª ed., 2000, RT; OSWALDO LUIZ
PALU, “Controle de Constitucionalidade - Conceitos, Sistemas e Efeitos”, p. 219, item n. 9.9.17,
2ª ed., 2001, RT; GILMAR FERREIRA MENDES, “Jurisdição Constitucional”, p. 176/177, 2ª ed., 1998,
Saraiva), cuja percepção do tema ora em exame põe em destaque, em casos como o destes
autos, que a superveniente alteração da norma constitucional revestida de parametricidade
importa na configuração de prejudicialidade do processo de controle abstrato de constitucionalidade,
eis que, como enfatizado, o objeto do processo de fiscalização abstrata resume-se, em essência, ao
controle da integridade da ordem constitucional vigente.
Vê-se, desse modo, que a promulgação das Emendas Constitucionais nºs 19/98 e 20/98, ocorrida
em momento posterior ao do ajuizamento da presente ação direta, importou em alteração
substancial das cláusulas de parâmetro invocadas para justificar a instauração deste processo de
controle normativo abstrato, ensejando, assim, o reconhecimento – tal como preconizado pelo
eminente Procurador-Geral da República – de uma típica situação caracterizadora de prejudicialidade
apta a gerar a extinção anômala desta causa.
Cumpre ter presente, neste ponto, considerado o que dispõe o art. 3o, I, da Lei nº 9.868/99, que
não se conhece da ação direta, sempre que a impugnação nela deduzida revelar-se destituída de
fundamentação jurídica, tal como ocorre, no caso, em relação ao art. 12, “caput”, da Lei
Complementar nº 04/90.
Cabe ressaltar, na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, que nada pode justificar
uma alegação meramente genérica de ofensa à Constituição, pois incumbe, a quem faz tal
afirmação, o dever de indicar, fundamentadamente, as razões justificadoras do suposto vício de
inconstitucionalidade.
Ao compulsar-se a petição inicial (fls. 02/21), constata-se que o autor simplesmente não expôs
qualquer fundamento jurídico que desse suporte à tese da inconstitucionalidade material do “caput”
do art. 12 da Lei Complementar nº 04/90.
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É certo que o Supremo Tribunal Federal não está condicionado, no desempenho de sua atividade
jurisdicional, pelas razões de ordem jurídica invocadas como suporte da pretensão de
inconstitucionalidade deduzida pelo autor da ação direta. Tal circunstância, no entanto, não suprime,
à parte, o dever processual de motivar o pedido e de identificar, na Constituição, em obséquio ao
princípio da especificação das normas, os dispositivos alegadamente violados pelo ato normativo
que pretende impugnar. Impõe-se, ao autor, no processo de controle concentrado de
constitucionalidade, indicar as normas de referência - que são aquelas inerentes ao ordenamento
constitucional e que se revestem, por isso mesmo, de parametricidade - em ordem a viabilizar,
com apoio em argumentação consistente, a aferição da conformidade vertical dos atos normativos de
menor hierarquia.
Quaisquer que possam ser os parâmetros de controle que se adotem - a Constituição escrita ou a
ordem constitucional global (J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito Constitucional”, p. 712, 4a ed., 1987,
Almedina, Coimbra) -, não pode o autor deixar de referir, para os efeitos mencionados, quais as
normas, quais os princípios e quais os valores efetiva ou potencialmente lesados por atos estatais
revestidos de menor grau de positividade jurídica, sempre indicando, ainda, os fundamentos, a
serem desenvolvidamente expostos, subjacentes à argüição de inconstitucionalidade.
Esse dever de fundamentar a argüição de inconstitucionalidade onera e incide sobre aquele que faz
tal afirmação, assumindo, por isso mesmo, um caráter de indeclinável observância (ADI 561/DF,
Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Não cabe, desse modo, ao Supremo Tribunal Federal, substituindo-se ao autor, suprir qualquer
omissão que se verifique na petição inicial. Isso porque a natureza do processo de ação direta de
inconstitucionalidade, que se revela instrumento de grave repercussão na ordem jurídica interna,
impõe maior rigidez no controle dos seus pressupostos formais (RTJ 135/19, Rel. Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE - RTJ 135/905, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Considerada a jurisprudência desta Suprema Corte - que deu causa à formulação da regra inscrita no
art. 3o, I, da Lei nº 9.868/99 -, não se pode conhecer de ação direta, sempre que a impugnação nela
veiculada, como ocorre na espécie, revelar-se destituída de fundamentação ou quando a argüição
de inconstitucionalidade apresentar-se precária ou insuficientemente motivada.
A gravidade de que se reveste o instrumento de controle normativo abstrato impõe, àquele que possui
legitimidade para utilizá-lo, o dever processual de sempre expor, de modo suficientemente
desenvolvido, as razões jurídicas justificadoras da alegação de inconstitucionalidade.
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Nem se diga que, em ocorrendo situação como a ora exposta, impor-se-ia ao Tribunal o dever de
ensejar, ao autor, a possibilidade de complementar a petição inicial.
Tal providência não se revela processualmente viável, porque a Lei nº 9.868/99 - que dispõe sobre o
processo e o julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da ação declaratória de
constitucionalidade - estabelece que a ausência de fundamentação autoriza o indeferimento
liminar da petição inicial, por ocorrência do vício grave da inépcia.
Na realidade, a Lei nº 9.868/99, ao dispor sobre essa conseqüência de ordem processual, assim
prescreve em seu art. 4º, “caput”: “A petição inicial inepta, não fundamentada e a manifestamente
improcedente serão liminarmente indeferidas pelo relator” (grifei).
Cabe ter presente, no ponto, no sentido desta decisão, o julgamento plenário da ADI 1.775/RJ,
Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA (RTJ 177/669), na parte em que esta Corte afastou a proposta de que
se deveria ensejar, ao autor, a oportunidade de aditar a petição inicial, quando deficientemente
fundamentada.
Sendo assim, e presentes tais razões, não conheço desta ação direta, no ponto em que, sem
qualquer fundamentação, o autor questionou a constitucionalidade do “caput” do art. 12 da Lei
Complementar nº 04/90, julgando-a prejudicada, de outro lado, no que concerne aos demais
preceitos normativos que foram impugnados nesta sede de controle abstrato.
A inviabilidade da presente ação direta, em decorrência das razões mencionadas, impõe uma
observação final: no desempenho dos poderes processuais de que dispõe, assiste, ao Ministro-
Relator, competência plena para exercer, monocraticamente, o controle das ações, pedidos ou
recursos dirigidos ao Supremo Tribunal Federal, legitimando-se, em conseqüência, os atos decisórios
que, nessa condição, venha a praticar.
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Cabe acentuar, neste ponto, que o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a inteira
validade constitucional da norma legal que inclui, na esfera de atribuições do Relator, a competência
para negar trânsito, em decisão monocrática, a recursos, pedidos ou ações, quando incabíveis,
inviáveis, intempestivos, sem objeto ou que veiculem pretensão incompatível com a jurisprudência
predominante do Tribunal (RTJ 139/53 - RTJ 168/174-175).
Impõe-se enfatizar, por necessário, que esse entendimento jurisprudencial é também aplicável
aos processos de ação direta de inconstitucionalidade (ADI 563/DF, Rel. Min. PAULO BROSSARD – ADI
593/GO, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - ADI 2.060/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.207/AL,
Rel. Min. CELSO DE MELLO - ADI 2.215/PE, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), eis que, tal como já
assentou o Plenário do Supremo Tribunal Federal, o ordenamento positivo brasileiro “não subtrai,
ao Relator da causa, o poder de efetuar - enquanto responsável pela ordenação e direção do processo
(RISTF, art. 21, I) - o controle prévio dos requisitos formais da fiscalização normativa abstrata, o que
inclui, dentre outras atribuições, o exame dos pressupostos processuais e das condições da própria
ação direta” (RTJ 139/67, Rel. Min. CELSO DE MELLO).
Sendo assim, em face das razões expostas, e acolhendo, ainda, o parecer do eminente Procurador-
Geral da República, não conheço da presente ação direta quanto ao art. 12 da Lei Complementar nº
04/90 do Estado do Piauí, julgando-a prejudicada no que se refere aos demais preceitos normativos
ora questionados. Em conseqüência, declaro extinto este processo de controle normativo abstrato,
restando insubsistente a medida cautelar anteriormente deferida (fls. 61/110).
Publique-se.
6. ADPF SUBSIDIARIEDADE
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É que, nesse processo de controle abstrato de normas locais, permite-se, ao Tribunal de Justiça
estadual, a concessão, até mesmo “in limine”, de provimento cautelar neutralizador da suposta
lesividade do diploma legislativo impugnado, a evidenciar a existência, no plano local, de instrumento
processual de caráter objetivo apto a sanar, de modo pronto e eficaz, a situação de lesividade,
atual ou potencial, alegadamente provocada por leis ou atos normativos editados pelo Município.
Doutrina. Precedentes.
- A questão da parametricidade das cláusulas constitucionais estaduais, de caráter remissivo,
para fins de controle concentrado, no âmbito do Tribunal de Justiça local, de leis e atos normativos
estaduais e/ou municipais contestados em face da Constituição Estadual.
Revela-se legítimo invocar, como referência paradigmática, para efeito de controle abstrato de
constitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais e/ou municipais, cláusula de caráter
remissivo, que, inscrita na Constituição Estadual, remete, diretamente, às regras normativas
constantes da própria Constituição Federal, assim incorporando-as, formalmente, mediante
referida técnica de remissão, ao plano do ordenamento constitucional do Estado-membro.
Com a técnica de remissão normativa, o Estado-membro confere parametricidade às normas,
que, embora constantes da Constituição Federal, passam a compor, formalmente, em razão da
expressa referência a elas feita, o “corpus” constitucional dessa unidade política da Federação, o que
torna possível erigir-se, como parâmetro de confronto, para os fins a que se refere o art. 125, § 2º
da Constituição da República, a própria norma constitucional estadual de conteúdo remissivo.
- ADPF não conhecida.
“O Prefeito Municipal de Palmas encaminhou projeto de lei para a alteração do Código Tributário
Municipal, sendo tal projeto aprovado junto a Câmara de Vereadores, culminando com a sanção do novo
Código Tributário Municipal (CTM), através da Lei Complementar Municipal nº 116/05, instituindo a
Contribuição para o Custeio do Serviço de Iluminação Pública (COSIP), regulamentada por
intermédio dos artigos 135 a 142 do CTM.
.......................................................
No tocante ao lançamento do tributo em exame, o CTM prevê como base de cálculo para a aferição
do valor a ser recolhido, três tratamentos diferenciados entre contribuintes. A primeira distinção é
no tocante aos imóveis edificados e imóveis não edificados. A segunda diferenciação ocorre entre
imóveis residenciais e não residenciais. E o terceiro tratamento diferenciado de contribuintes, para
cobrança da COSIP individualiza os valores a serem cobrados, em conformidade com o consumo de
energia elétrica, ou seja, quanto maior o consumo, maior o valor a ser cobrado pelo Município de
Palmas (...).
.......................................................
É explícito o indevido, ilegal e inconstitucional tratamento diferenciado entre contribuintes (...).
.......................................................
O autor da presente ação busca, na presente sede processual, que seja evitada e reparada lesão ao
preceito fundamental da isonomia tributária, em face do indevido tratamento tributário entre
contribuintes que a mesma promove, reconhecendo a inconstitucionalidade do art. 138, ‘caput’, e
Anexo V, Tabelas ‘1’ e ‘2’, da Lei Complementar Municipal nº 116/05, resultante de ato do Poder
Público.
.......................................................
No tocante à admissibilidade da argüição, somente será admitida ‘quando não existir qualquer
outro meio processual, ou seja ele carente, insuficiente ou ineficaz’ (Controle Jurisdicional de
Constitucionalidade, Zeno Veloso, Editora Del Rey, 2ª edição, p. 306).
Alega, quanto à admissibilidade da presente ação, que não há outro remédio processual regular,
tendo em vista que a ADIN junto ao Tribunal Estadual não se mostra possível, seja em face da
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argumentação central tratar-se de ofensa ao princípio constitucional tributário da isonomia, que não se
encontra devidamente regulamentado na Constituição Estadual do Estado do Tocantins (doc. em
anexo), seja pelo fato da impossibilidade de manejamento de ADIN de Lei Municipal em
confronto com dispositivo da Constituição Federal.
Destaca, ainda, que o Tribunal de Justiça Tocantinense já se manifestou quanto à incompetência
no tocante à ADIN, quando não estiver disposição expressa na Carta Estadual, constando apenas a
mensuração de sua aplicabilidade, e segundo o entendimento do STF, a não-existência expressa ou
transcrição literal, do princípio constitucional, na Constituição Estadual, acarreta a impossibilidade de
aferição da constitucionalidade através de ADIN junto ao Tribunal de Justiça Estadual.
Por fim, após a EC 042/03, o Legislativo Tocantinense não providenciou a devida adequação da
Constituição Estadual em relação ao novo artigo 149-A da Carta da República, e, portanto, perante a
Constituição Estadual, não há qualquer determinação legal que legitime o Estado ou Município a
instituir a COSIP, existindo apenas o originário dispositivo do art. 149-A da CF/88.” (grifei)
“Não será admitida argüição de descumprimento de preceito fundamental quando houver qualquer
outro meio eficaz de sanar a lesividade.” (grifei)
O diploma legislativo em questão – tal como tem sido reconhecido por esta Suprema Corte (RTJ
189/395-397, v.g.) – consagra o princípio da subsidiariedade, que rege a instauração do processo
objetivo de argüição de descumprimento de preceito fundamental, condicionando o ajuizamento dessa
especial ação de índole constitucional à ausência de qualquer outro meio processual apto a sanar, de
modo eficaz, a situação de lesividade indicada pelo autor:
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O exame do precedente que venho de referir (RTJ 184/373-374, Rel. Min. CELSO DE MELLO) revela
que o princípio da subsidiariedade não pode - nem deve - ser invocado para impedir o exercício da
ação constitucional de argüição de descumprimento de preceito fundamental, eis que esse instrumento
está vocacionado a viabilizar, numa dimensão estritamente objetiva, a realização jurisdicional de
direitos básicos, de valores essenciais e de preceitos fundamentais contemplados no texto da
Constituição da República.
Se assim não se entendesse, a indevida aplicação do princípio da subsidiariedade poderia afetar a
utilização dessa relevantíssima ação de índole constitucional, o que representaria, em última
análise, a inaceitável frustração do sistema de proteção, instituído na Carta Política, de valores
essenciais, de preceitos fundamentais e de direitos básicos, com grave comprometimento da própria
efetividade da Constituição.
Daí a prudência com que o Supremo Tribunal Federal deve interpretar a regra inscrita no art. 4º, §
1º, da Lei nº 9.882/99, em ordem a permitir que a utilização dessa nova ação constitucional possa
efetivamente prevenir ou reparar lesão a preceito fundamental causada por ato do Poder Público.
Não é por outra razão que esta Suprema Corte vem entendendo que a invocação do princípio da
subsidiariedade, para não conflitar com o caráter objetivo de que se reveste a argüição de
descumprimento de preceito fundamental, supõe a impossibilidade de utilização, em cada caso, dos
demais instrumentos de controle normativo abstrato:
“(...) 6. Cabimento de argüição de descumprimento de preceito fundamental para solver controvérsia
sobre legitimidade de lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, inclusive anterior à
Constituição (norma pré-constitucional) (...). 9. ADPF configura modalidade de integração entre os
modelos de perfil difuso e concentrado no Supremo Tribunal Federal. 10. Revogação da lei ou ato
normativo não impede o exame da matéria em sede de ADPF, porque o que se postula nessa ação é
a declaração de ilegitimidade ou de não-recepção da norma pela ordem constitucional superveniente
(...). 13. Princípio da subsidiariedade (art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99): inexistência de outro
meio eficaz de sanar a lesão, compreendido no contexto da ordem constitucional global, como aquele
apto a solver a controvérsia constitucional relevante de forma ampla, geral e imediata. 14. A
existência de processos ordinários e recursos extraordinários não deve excluir, ‘a priori’, a utilização
da argüição de descumprimento de preceito fundamental, em virtude da feição marcadamente
objetiva dessa ação (...).”
(ADPF 33/PA, Rel. Min. GILMAR MENDES - grifei)
A pretensão ora deduzida nesta sede processual - que tem por objeto diploma legislativo municipal
editado em 2005, exatamente por se revelar suscetível de impugnação perante o Tribunal de Justiça
local, mediante ajuizamento da pertinente “representação de inconstitucionalidade”, considerados,
para tanto, parâmetros de confronto definidos na própria Constituição estadual (CF, art. 125, § 2º)
- encontra obstáculo na regra inscrita no art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99, o que não permite, no
contexto em exame, por não satisfeita a exigência imposta pelo postulado da subsidiariedade, a
instauração deste processo objetivo de controle normativo concentrado, a tornar inadmissível, pois,
sob a perspectiva do referido princípio, a utilização do instrumento processual da argüição de
descumprimento de preceito fundamental.
Como se sabe, o processo objetivo de fiscalização normativa abstrata, instaurável perante os
Tribunais de Justiça locais, somente pode ter por objeto leis ou atos normativos municipais (como na
espécie), estaduais ou distritais, desde que contestados em face da própria Constituição do Estado-
membro (ou, quando for o caso, da Lei Orgânica do Distrito Federal), que representa, nesse
contexto, o único parâmetro de controle admitido pela Constituição da República, cujo art. 125, § 2º,
assim dispõe:
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norma local contestada em face de Carta Estadual é do Tribunal de Justiça respectivo, ainda que o
preceito atacado revele-se como pura repetição de dispositivos da Constituição Federal de
observância obrigatória pelos Estados (...).”
(RTJ 163/836, Rel. Min. MARCO AURÉLIO - grifei)
Assentadas tais premissas, cumpre observar que a Constituição do Estado do Tocantins possui
regra, como aquela inscrita em seu art. 69, cujo conteúdo normativo – por permitir erigi-lo à
condição de pauta de referência ou de parâmetro de confronto para efeito de controle abstrato no
plano local – inviabiliza a utilização da presente ação constitucional, tendo em vista o que dispõe o
art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99.
Com efeito, a agremiação partidária ora argüente, embora dispondo de instrumento processual
idôneo, de perfil eminentemente objetivo (como o é a “representação de inconstitucionalidade” a
que se refere o § 2º do art. 125 da Constituição da República), deixou de utilizá-lo perante o
Tribunal de Justiça local, dando ensejo, assim, em face da existência, no âmbito estadual, de meio
apto e eficaz a sanar a lesividade temida, à invocação da cláusula da subsidiariedade.
É que, com esse paradigma de confronto (Constituição do Tocantins, art. 69), constata-se a
existência, em referida unidade da Federação, como enfatizado, de instrumento processual de caráter
objetivo (CF, art. 125, § 2º), capaz de inibir a lesividade receada pelo ora argüente, o que faz
incidir, na espécie, o obstáculo processual a que alude o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.882/99.
O artigo 69 da Constituição do Tocantins veicula prescrição normativa impregnada de
parametricidade, cujo teor permite qualificá-la como paradigma de confronto para fins de
instauração, perante o E. Tribunal de Justiça local, do concernente processo objetivo de fiscalização
concentrada de constitucionalidade, tal como o autoriza o § 2º do art. 125 da Constituição da
República.
Eis o conteúdo normativo do art. 69 da Constituição do Estado do Tocantins:
“Art. 69. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, aplicam-se ao Estado e aos
Municípios as vedações ao poder de tributar, previstas no art. 150 da Constituição Federal.” (grifei)
O conteúdo remissivo desse preceito constitucional estadual torna legítimo considerá-lo como
padrão de referência para o fim específico de se ajuizar a “representação de inconstitucionalidade”
perante o Tribunal de Justiça local, em cuja competência se inclui o exercício do poder geral de
cautela, o que lhe permitirá deferir eventual provimento suspensivo da eficácia da própria
aplicabilidade da Lei Complementar nº 116/2005 do Município de Palmas/TO, a atestar a existência,
no plano estadual, de meio processual apto a sanar, desde logo, e de modo eficaz, mediante
utilização de instrumento de natureza objetiva, a suposta lesividade do diploma legislativo impugnado
na presente sede processual.
Cabe destacar, neste ponto, por extremamente relevante, fragmento da decisão proferida pelo
eminente Ministro GILMAR MENDES, que, ao julgar a Rcl 4.432/TO, reafirmou a legitimidade da
utilização, no plano local, da técnica das normas remissivas, salientando, então, a esse propósito,
que “(...) as normas pertencentes à Constituição estadual, que remetem à disciplina de determinada
matéria na Constituição Federal, podem servir de parâmetro de controle abstrato de
Constitucionalidade no âmbito estadual” (Rcl 4.432/TO, Rel. Min. GILMAR MENDES - grifei).
É importante assinalar que esta Suprema Corte, ao reconhecer a possibilidade de controle abstrato
no âmbito local, considerada, para tanto, como referência paradigmática idônea, norma
constitucional estadual de conteúdo remissivo, teve presente, no julgamento da Rcl 4.432/TO,
Rel. Min. GILMAR MENDES - que versava controvérsia em torno de leis complementares tributárias
editadas pelo Município de Palmas/TO (tal como sucede na espécie) -, o já mencionado art. 69 da
Constituição do Estado do Tocantins, valendo reproduzir, por inteiramente aplicável ao caso ora em
exame, passagem dessa decisão:
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“Feitas essas digressões, é preciso deixar claro que, no caso em análise, como se pode aferir nas
informações prestadas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Tocantins, a ADI n° 1.523 tem como
parâmetro de controle o art. 69, ‘caput’, da Constituição estadual, que assim dispõe:
‘Art. 69. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, aplicam-se ao Estado e aos
Municípios as vedações ao poder de tributar, previstas no art. 150 da Constituição Federal.’
Vê-se, portanto, admitida a legitimidade da utilização, na espécie, como padrão de confronto, das
normas constitucionais estaduais de conteúdo remissivo (Constituição Estadual, art. 69), para efeito
de instauração, perante o Tribunal de Justiça do Tocantins, de processo objetivo de fiscalização
abstrata, que o ora argüente dispõe de meio processual, de natureza objetiva (a “representação de
inconstitucionalidade” a que alude o art. 125, § 2º da Constituição da República), capaz de inibir, de
imediato, a suposta lesividade da lei complementar em questão, suscetível – insista-se - de sofrer
impugnação “in abstracto” no âmbito da Corte judiciária local.
Mostra-se evidente, pois, que o autor poderia valer-se de outros meios processuais, de índole
eminentemente objetiva, cuja utilização permitir-lhe-ia neutralizar, em juízo, de maneira
inteiramente eficaz, o estado de suposta lesividade decorrente da lei municipal ora impugnada.
Constata-se, desse modo, que o postulado da subsidiariedade, considerados os fundamentos que
vêm de ser expostos, impede o acesso imediato da agremiação partidária ao mecanismo
constitucional da argüição de descumprimento, pois registra-se, no caso, a possibilidade
(incontornável) de utilização idônea de instrumento processual específico, apto, por si só, a fazer
cessar o estado de lesividade que se pretende neutralizar.
Incide, na espécie, por isso mesmo, o pressuposto negativo de admissibilidade a que se refere o
art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99, circunstância esta que torna plenamente invocável, no caso, a
cláusula da subsidiariedade, que atua - ante as razões já expostas - como causa obstativa do
ajuizamento, perante esta Suprema Corte, da argüição de descumprimento de preceito fundamental.
Sendo assim, tendo em consideração as razões invocadas, não conheço da presente ação
constitucional, restando prejudicado, em conseqüência, o exame do pedido de medida liminar.
Arquivem-se os presentes autos.
Publique-se.
Brasília, 15 de dezembro de 2008.
7. Amicus Curiae
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O Tribunal desproveu agravo regimental interposto contra decisão que negara seguimento a reclamação
em que Deputado Federal pretendia a suspensão do processo da ação civil pública contra ele ajuizada
pela suposta prática de atos de improbidade administrativa, em razão de o juízo de 1ª instância ter
reconhecido sua competência para a causa. Alegava desrespeito à autoridade da decisão do Supremo no
julgamento da Rcl 2381/MG (j. em 7.10.2003) e da Rcl 2657/PR (j. em 21.6.2004). Esclareceu-se que a
orientação da Corte acerca da matéria era no sentido de que, até o julgamento final da ADI 2797/DF
(DJU de 19.12.2006), a atual redação do art. 84 do CPP integraria o ordenamento jurídico e
permaneceria em vigor, ante o indeferimento da cautelar na referida ADI (Rcl 2381 AgR/MG), mas que,
a partir do julgamento da Rcl 2810 AgR/MG (DJU de 18.3.2005), o Plenário, por maioria, ao rever o
tema, assentara que o indeferimento de liminar em ação direta de inconstitucionalidade, qualquer que
fosse seu fundamento, não daria margem ao ajuizamento de reclamação. Outro precedente citado: Rcl
3466/SP (DJU de 1º.8.2005).
Rcl 3458 AgR/MG, rel. Min. Cezar Peluso, 29.10.2007. (RCL-3458)
MS 26915 MC/DF*
RELATOR: MIN. GILMAR MENDES
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado por Carlos
Fernando Coruja Agustini e outros Deputados Federais, contra decisão do Presidente da Câmara dos
Deputados (fls. 30-31) que indeferiu o Recurso nº 104/2007, e, consequentemente, manteve decisão
que indeferiu questão de ordem, na qual se sustentava o impedimento do Deputado Federal Pedro
Novais para presidir Comissão Especial em Proposta de Emenda à Constituição da qual foi signatário.
Alega a inobservância do devido processo legislativo na tramitação da PEC nº 558/06, visto que do art.
43 do RICD (“Nenhum Deputado poderá presidir reunião de Comissão quando se debater ou votar
matéria da qual seja autor ou Relator”) se extrai uma proibição peremptória regimental” de que o
Deputado seja autor ou relator de alguma proposição e, ao mesmo tempo funcione como presidente da
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1946, art. 141, § 4o). Observe-se que o texto de 1988 inova ao garantir o acesso à justiça também no
caso de ameaça a direito).
A intenção do constituinte de 1946 era romper com a ordem constitucional conformada pela Constituição
Polaca (de 1937), que prescrevia em seu art. 94 ser “vedado ao Poder Judiciário conhecer de questão
exclusivamente política” (O art. 94 da Constituição de 1937 repetia o teor do art. 68 da Constituição de
1934: “É vedado ao Poder Judiciário conhecer de questões exclusivamente políticas.”).
Assim, alternando momentos de maior e menor ativismo judicial, o Supremo Tribunal Federal, ao longo
de sua história, tem entendido que a discricionariedade das medidas políticas não impede o seu controle
judicial, desde que haja violação a direitos assegurados pela Constituição.
Mantendo essa postura, o Supremo Tribunal Federal, na última década, tem atuado ativamente no
tocante ao controle judicial das questões políticas, nas quais observa violação à Constituição. Os
diversos casos levados recentemente ao Tribunal envolvendo atos das Comissões Parlamentares de
Inquérito corroboram essa afirmação. No julgamento do MS n° 23.452/RJ, Rel. Min. Celso de Mello,
deixou o Tribunal assentado o entendimento segundo o qual “os atos das Comissões Parlamentares de
Inquérito são passíveis de controle jurisdicional, sempre que, de seu eventual exercício abusivo,
derivarem injustas lesões ao regime das liberdades públicas e à integridade dos direitos e garantias
individuais” (MS 23.452/RJ, Relator Celso de Mello, DJ 12.5.2000).
Tal juízo, entretanto, não pode vir desacompanhado de reflexão crítica acurada. A doutrina tradicional
da insindicabilidade das questões interna corporis sempre esteve firmada na idéia de que as Casas
Legislativas, ao aprovar os seus regimentos, estariam a disciplinar tão-somente questões internas, de
forma que a violação às normas regimentais deveria ser considerada apenas como tais (ZAGREBELSKY,
Gustavo. La giustizia costituzionale. Bologna, Mulino, 1979, p. 36.)
Muito embora minoritária hoje, não se pode negar que tal postura contempla uma preocupação de
ordem substancial: evitar que a declaração de invalidade de ato legislativo marcado por vícios menos
graves, ou adotado em procedimento meramente irregular, mas que tenha adesão de ampla maioria
parlamentar, seja levada a efeito de forma corriqueira e, por vezes, traduzindo interferência indevida de
uma função de poder sobre outra. (ZAGREBELSKY, Gustavo. La giustizia costituzionale. Bologna, Mulino,
1979, p. 37.)
Ainda Zagrebelsky afirma, por outro lado, que se as normas constitucionais fizerem referência expressa
a outras disposições normativas, a violação constitucional pode advir da violação dessas outras normas,
que, muito embora não sejam formalmente constitucionais, vinculam os atos e procedimentos
legislativos, constituindo-se normas constitucionais interpostas. (ZAGREBELSKY, Gustavo. La giustizia
costituzionale. Bologna, Mulino, 1979, p.40-41).
Na verdade, o órgão jurisdicional competente deve examinar a regularidade do processo legislativo,
sempre tendo em vista a constatação de eventual afronta à Constituição (CANOTILHO, J.J. Gomes.
Direito Constitucional, apud MENDES, Gilmar. Controle de Constitucionalidade: aspectos jurídicos e
políticos. Saraiva, 1990, p. 35-36), mormente, aos direitos fundamentais.
O caso dos autos remete à uma questão que envolve interpretação sistemática do regimento interno da
Câmara dos Deputados:
“Art. 43. Nenhum Deputado poderá presidir reunião de Comissão quando se debater ou votar matéria da
qual seja Autor ou Relator.
Parágrafo único. Não poderá o Autor de proposição ser dela Relator, ainda que substituto ou parcial.”
“Art. 102. A proposição de iniciativa de Deputado poderá ser apresentada individual ou coletivamente.
§ 1º Consideram-se Autores da proposição, para efeitos regimentais, todos os seus signatários, podendo
as respectivas assinaturas ser apostas por meio eletrônico de acordo com Ato da Mesa. (Parágrafo com
redação dada pela Resolução nº 22, de 2004).
§ 2º As atribuições ou prerrogativas regimentais conferidas ao Autor serão exercidas em Plenário por um
só dos signatários da proposição, regulando-se a precedência segundo a ordem em que a
subscreveram.”
“Art. 202. A proposta de emenda à Constituição será despachada pelo Presidente da Câmara à Comissão
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A discussão posta para debate no presente mandado de segurança não é nova na dinâmica do processo
legislativo perante a Câmara dos Deputados.
Na Questão de Ordem nº 10.330/96, de autoria da Deputada Sandra Starling, que questionava a
indicação do Deputado José Múcio para relator da PEC 01/1995 (Reeleição de Presidente da República,
Governadores e Prefeitos), o argumento era de que, sendo a PEC de iniciativa coletiva, dever-se-ia
considerar todos os subscritores da PEC como seus autores, para os efeitos do art. 43, parágrafo único,
e, nos termos do art. 102, §1º, do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Naquela ocasião, a
referida questão de ordem foi rejeitada pelos seguintes fundamentos:
“(...)É da tradição do Congresso Nacional e dos Parlamentos a assinatura de proposições como mero
apoiamento político, sem implicação de autoria. Essa praxe constava expressamente do Regimento
anterior da Câmara (art. 114, §8º, da Resolução nº 30, de 1972) e ainda vigora no Regimento interno
do Senado Federal (art. 243).
Por essa razão, viu-se o legislador interno na contingência de, ao editar o atual Regimento, estabelecer
uma presunção legal no sentido de considerar autores todos os signatários, para inadmitir, dali em
diante, as assinaturas de simples apoiamento.
Vê-se assim que nem todos que assinam uma proposição o fazem na condição de autores, no sentido
comum do termo, isto é, de criadores, de idealizadores da peça produzida.
Na maioria das vezes, o trabalho de criação e a iniciativa política é de um determinado Parlamentar que,
de posse de um anteprojeto da matéria, passa a buscar o apoio dos pares, especialmente em se
tratando de proposição para a qual a iniciativa coletiva é constitucionalmente imposta.
Essas considerações nos levam à conclusão de que os dispositivos regimentais relativos à autoria que
não reproduzam mandamentos da Lei Maior devem ser interpretados no contexto do próprio Regimento
e da prática parlamentar, atendendo inclusive à intenção de quem pratica o ato do processo legislativo e
não exclusivamente a sua forma. É a partir dessa perspectiva que consideramos o parágrafo único do
artigo 43.
A intenção inequívoca desse dispositivo é a de impedir que o autor de determinada proposição, como
seu proponente e idealizador, venha a examiná-la, como Relator, no âmbito de Comissão, em virtude de
seu notório posicionamento sobre a matéria e interesse, mais do que todos, na sua aprovação, o que
poderia torná-lo menos imparcial no exame das sugestões e emendas dos demais membros do
Colegiado. Trata-se, portanto, de preceito de natureza essencialmente ética.
Tal assertiva é absolutamente verdadeira no caso da iniciativa individual, pois a identificação do
signatário com a proposição é absoluta e completa. Vale, ainda, nos casos em que a co-autoria é
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Por fim, a decisão sobre a Questão de Ordem nº 10.330/96 restou assim posta:
“(...)1) o dispositivo regimental que impede o autor de proposição ser dela relator deve ser interpretado
de forma restrita, aplicando-se de modo absoluto apenas à iniciativa individual e a autoria coletiva
voluntária; 2) no caso de iniciativa coletiva imposta pela Constituição ou pelo Regimento, não há a
presunção de vinculação obrigatória, no que diz respeito à autoria, dos subscritores com o conteúdo da
proposição, à exceção do primeiro signatário.”
Seguindo a mesma linha de raciocínio, duas outras questões de ordem foram, recentemente,
apresentadas e deliberadas pela Câmara dos Deputados.
Na Questão de Ordem nº 106/07, levantada por ocasião da construção de acordo de procedimentos para
votação do Projeto de Lei nº 1.210/2007 (Reforma Política), do qual o Deputado Ronaldo Caiado, um
dos signatários, poderia ser designado Relator, alegou-se que, nos termos do art. 110 do Regimento
Interno da Câmara dos Deputados, qualquer um de seus proponentes estava impedido de ser indicado
como Relator, ao contrário do que ocorre em Propostas de Emendas à Constituição. A decisão,
entretanto, não obstante toda a argumentação buscando diferenciar a situação daquela em que se
discute proposta de Emenda à Constituição, foi a seguinte:
“Indefere a questão de ordem do Deputado Arnaldo Faria de Sá, citando precedente decidido pelo então
Presidente, Deputado Luis Eduardo, na Questão de Ordem nº 10330, de 1996, onde ficou estabelecido
que, no caso de iniciativa coletiva imposta pela Constituição ou pelo Regimento, não há presunção de
vinculação obrigatória dos subscritores com o conteúdo da proposição, à exceção do primeiro signatário,
podendo, os demais, serem indicados para relatá-la”
Por fim, na Questão de Ordem nº 175/07, cuja decisão é objeto do presente mandado de segurança,
assim restou posta a questão:
“Por meio do ofício nº 1.650/2007, indefere o recurso do Deputado Fernando Coruja por entender que o
dispositivo que veda ao deputado presidir reunião de Comissão quando se debater ou votar matéria da
qual seja autor deve ser interpretado de forma restrita, de modo que, para as proposições com
subscrição de apoiamento, considera-se autor somente o primeiro signatário.”
A jurisprudência mais recente do Supremo Tribunal Federal já vem colecionando decisões, em que se
afasta o argumento da insindicabilidade dos atos internos das Casas Legislativas, reconhecendo o direito
subjetivo dos parlamentares ao devido processo legislativo. Esclarecedor o precedente firmado pelo
Plenário, no MS 23.831/DF, Relator Min. Celso de Mello, DJ 04/08/06:
“(...)
O CONTROLE JURISDICIONAL DOS ATOS PARLAMENTARES: POSSIBILIDADE, DESDE QUE HAJA
ALEGAÇÃO DE DESRESPEITO A DIREITOS E/OU GARANTIAS DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL. - O Poder
Judiciário, quando intervém para assegurar as franquias constitucionais e para garantir a integridade e a
supremacia da Constituição, desempenha, de maneira plenamente legítima, as atribuições que lhe
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conferiu a própria Carta da República, ainda que essa atuação institucional se projete na esfera orgânica
do Poder Legislativo. - Não obstante o caráter político dos atos parlamentares, revela-se legítima a
intervenção jurisdicional, sempre que os corpos legislativos ultrapassem os limites delineados pela
Constituição ou exerçam as suas atribuições institucionais com ofensa a direitos públicos subjetivos
impregnados de qualificação constitucional e titularizados, ou não, por membros do Congresso Nacional.
Questões políticas. Doutrina. Precedentes. - A ocorrência de desvios jurídico-constitucionais nos quais
incida uma Comissão Parlamentar de Inquérito justifica, plenamente, o exercício, pelo Judiciário, da
atividade de controle jurisdicional sobre eventuais abusos legislativos (RTJ 173/805-810, 806), sem que
isso caracterize situação de ilegítima interferência na esfera orgânica de outro Poder da República.”
Evidenciou-se, neste precedente, a proposta de Hans Kelsen, que associava a jurisdição constitucional à
democracia, exatamente na situação em que a atividade jurisdicional atua na defesa ou na proteção das
minorias representativas.
É sabido de todos que a função de legislar não pode ser exercida por meio de qualquer procedimento,
existindo normas constitucionais e regimentais a resguardar um devido processo também para a
elaboração das normas.
Esta Corte, no presente caso, é acionada justamente para garantir eficácia ao direito da minoria
parlamentar de ver garantido o direito ao devido processo legislativo, alegadamente, desrespeitado pela
infringência da norma regimental específica.
Como se sabe, devemos a Kelsen a associação sistemática da jurisdição constitucional a esse aspecto
importante do conceito de democracia, que é, exatamente, a possibilidade de sobrevivência e de
proteção das minorias. A opção de Kelsen pelo modelo democrático está vinculada à concepção teórica
do relativismo. O sistema democrático não se legitima pela verdade, mas, sim, pelo consenso (KELSEN,
Hans. Vom Wesen und Wert der Demokratie. 2 ed. 1929, p. 101).
Na famosa conferência proferida perante a Associação dos Professores de Direito Público alemães,
Kelsen deixou claro que a jurisdição constitucional haveria de ter papel central em um sistema
democrático moderno:
“Ao lado dessa significação geral comum a todas as Constituições, a jurisdição constitucional também
adquire uma importância especial, que varia de acordo com os traços característicos da Constituição
considerada. Essa importância é de primeira ordem para a República democrática, com relação à qual as
instituições de controle são condição de existência. Contra os diversos ataques, em parte justificados,
atualmente dirigidos contra ela, essa forma de Estado não pode se defender melhor do que organizando
todas as garantias possíveis da regularidade das funções estatais. Quanto mais elas se democratizam,
mais o controle deve ser reforçado. A jurisdição constitucional também deve ser apreciada desse ponto
de vista. Garantindo a elaboração constitucional das leis, e em particular sua constitucionalidade
material, ela é um meio de proteção eficaz da minoria contra os atropelos da maioria. A dominação
desta só é suportável se for exercida de modo regular. A forma constitucional especial, que consiste de
ordinário em que a reforma da Constituição depende de uma maioria qualificada, significa que certas
questões fundamentais só podem ser solucionadas em acordo com a minoria: a maioria simples não
tem, pelo menos em certas matérias, o direito de impor sua vontade à minoria. Somente uma lei
inconstitucional, aprovada por maioria simples, poderia então invadir, contra a vontade da minoria, a
esfera de seus interesses constitucionais garantidos. Toda minoria - de classe, nacional ou religiosa -
cujos interesses são protegidos de uma maneira qualquer pela Constituição, tem pois um interesse
eminente na constitucionalidade das leis. Isso é verdade especialmente se supusermos uma mudança de
maioria que deixe à antiga maioria, agora minoria, força ainda suficiente para impedir a reunião das
condições necessárias à reforma da Constituição. Se virmos a essência da democracia não na
onipotência da maioria, mas no compromisso constante entre os grupos representados no Parlamento
pela maioria e pela minoria, e por conseguinte na paz social, a justiça constitucional aparecerá como um
meio particularmente adequado à realização dessa idéia. A simples ameaça do pedido ao tribunal
constitucional pode ser, nas mãos da minoria, um instrumento capaz de impedir que a maioria viole seus
interesses constitucionalmente protegidos, e de se opor à ditadura da maioria, não menos perigosa para
a paz social que a da minoria. (Kelsen, Hans. Jurisdição Constitucional. São Paulo: Martins Fontes, 2003,
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p. 181-182).
Nesse contexto, os entes de representação devem agir dentro de limites prescritos, estando os seus atos
vinculados a determinados procedimentos. Essas constituições pretendem, portanto, que os atos
praticados pelos órgãos representativos possam ser objeto de crítica e controle (GRIMM, Dieter.
Verfassungserichtsbarkeit - Funktion und Funktionsgrenzen in demokratischem Staat. In: Jus-Didaktik,
Heft 4, Munique, 1977, p. 83 (95). Trata-se, em verdade, de um modelo de fiscalização democrática dos
atos do Poder Público.
Essa colocação tem a virtude de ressaltar que a jurisdição constitucional não se mostra incompatível
com um sistema democrático, que imponha limites aos ímpetos da maioria e discipline o exercício da
vontade majoritária. Ao revés, esse órgão de controle cumpre uma função importante no sentido de
reforçar as condições normativas da democracia.
Também na ADI 3833/DF, relator Min. Carlos Britto; Redator para o acórdão Min. Marco Aurélio, DJ
13/02/07, a Min. Carmen Lúcia ressaltou a competência do Supremo Tribunal Federal para julgar atos
políticos, trazendo à baila a lição de Pedro Lessa, que citando Ruy Barbosa, defendia que era de acabar
“(...)de uma vez com o equívoco, definindo (que)... uma questão pode ser distintamente política,
altamente política, segundo alguns, até puramente política, fora dos domínios da justiça, e, contudo, em
revestindo a forma de um pleito, estar na competência dos tribunais, desde que o ato, executivo ou
legislativo, contra o qual se demande, fira a Constituição, lesando ou negando um direito nela
consagrado. (...) Noutras palavras: a violação de garantias constitucionais, perpetrada à sombra de
funções políticas, não é imune à ação dos tribunais. A estes compete sempre verificar se a atribuição
política, invocada pelo excepcionante, abrange nos seus limites a faculdade exercida. Em substância,
exercendo atribuições políticas e tomando resoluções políticas, move-se o poder legislativo num vasto
domínio, que tem como limites um círculo de extenso diâmetro, que é a Constituição Federal. Enquanto
não transpõe essa periferia, o Congresso elabora medidas e normas que escapam à competência do
Poder Judiciário. Desde que ultrapasse a circunferência, os seus atos estão sujeitos ao julgamento do
Poder Judiciário, que, declarando-os inaplicáveis por ofensivos a direitos, lhes tira toda a eficácia
jurídica” (Lessa, Pedro. Do Poder Judiciário. Rio de Janeiro : Livraria Francisco Alves, 1915, p. 54 e ss).
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Assim sendo, ressalvada a possibilidade de melhor análise da questão quando do julgamento de mérito,
indefiro o pedido de liminar, por não vislumbrar a presença inequívoca dos seus pressupostos
autorizadores.
Comunique-se.
Publique-se.
Após, solicitem-se informações.
Prestadas as informações, encaminhem-se os autos à Procuradoria-Geral da República.
STF – Rcl (AgR) n. 1.880, rel. Min. Maurício Corrêa (DJ 19.03.2004): “É constitucional lei ordinária que
define como de eficácia vinculante os julgamentos definitivos de mérito proferidos pelo Supremo
Tribunal Federal em ação direta de inconstitucionalidade (Lei n. 9.868/99, art. 28, parágrafo único).
Para efeito de controle abstrato de constitucionalidade de lei ou ato normativo, há similitude substancial
de objetos nas ações declaratória de constitucionalidade e direta de inconstitucionalidade. Enquanto a
primeira destina-se à aferição positiva de constitucionalidade a segunda traz pretensão negativa.
Espécies de fiscalização objetiva que, em ambas, traduzem manifestação definitiva do Tribunal quanto à
conformação da norma com a Constituição Federal”.
STF – ADI n. 2.675/PE, rel. Min. Carlos Velloso e ADI n. 2.777/SP, rel. Min. Cezar Peluso: Não obstante
ter destacado a necessidade de motivação idônea, crítica e consciente para justificar eventual
reapreciação de uma questão já tratada pela Corte, o STF admitiu o julgamento das ações diretas, por
considerar que o efeito vinculante não o condiciona.
STF – Rcl (Agr) n. 2.617/MG, rel. Min. Cezar Peluso. “As constituições, enquanto planos normativos
voltados para o futuro, não podem de maneira nenhuma perder a sua flexibilidade e abertura.
Naturalmente e na medida do possível, convém salvaguardar a continuidade dos standards
jurisprudenciais: alterações de rota, decisões overruling demasiado repentinas e brutais contrastam com
a própria noção de jurisdição. A percepção da continuidade como um valor não deve, porém, significar
uma visão petrificada da jurisprudência ou uma indisponibilidade dos tribunais para atender às
solicitações provenientes do ambiente”.
STF – Rcl (AgR) n. 2.475/MG, rel. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio (02.08.2007): “... Reportando-se à
parte dispositiva e à ementa do acórdão proferido na referida ação declaratória, entendeu-se que o
Tribunal, no julgamento da ADC 1/DF, não decidira no sentido de que a LC 70/91 seria materialmente lei
ordinária ou apenas formalmente complementar, e que a afirmação de que a mencionada lei
complementar seria materialmente ordinária, constante dos votos do relator e do Min. Carlos Velloso,
proferidos naquele julgado, caracterizara-se como obiter dictum, que não integra o dispositivo da
decisão, nem se sujeita ao efeito vinculante. Vencidos os Ministros Gilmar Mendes, Cármen Lúcia,
Joaquim Barbosa e Celso de Mello que, salientando que a referida afirmação constituíra premissa
essencial que conduzira à conclusão pela constitucionalidade dos dispositivos em discussão naquele
julgamento, proviam o recurso, por entender que o alcance do efeito vinculante da decisão não está
limitado a sua parte dispositiva, devendo abranger, também, os chamados “fundamentos
determinantes”.
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STF – AI (AgR) n. 582.280/RJ, rel. Min. Celso de Mello: “A declaração de inconstitucionalidade reveste-
se, ordinariamente, de eficácia “ex tunc” (RTJ 146/461-462 - RTJ 164/506-509), retroagindo ao
momento em que editado o ato estatal reconhecido inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal. O
Supremo Tribunal Federal tem reconhecido, excepcionalmente, a possibilidade de proceder à modulação
ou limitação temporal dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade, mesmo quando proferida, por
esta Corte, em sede de controle difuso”.
STF – Rcl n. 2.576/SC, rel. Min. Ellen Gracie (23.06.2004): “A declaração da constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de lei surte efeitos a partir da publicação da decisão no DJU, ainda que esta não
tenha transitado em julgado”.
STF – ADI n. 2.884/RJ, rel. Min. Celso de Mello: “A declaração final de inconstitucionalidade, quando
proferida em sede de fiscalização normativa abstrata, importa – considerado o efeito repristinatório que
lhe é inerente – em restauração das normas estatais anteriormente revogadas pelo diploma normativo
objeto do juízo de inconstitucionalidade, eis que o ato inconstitucional, por juridicamente inválido (RTJ
146/461-462), não se reveste de qualquer carga de eficácia derrogatória”. No mesmo sentido: STF –
ADI n. 3.148/TO e STF – ADI (MC) n. 2.215/PE.
STF – ADI (QO) n. 2.982/CE, rel. Min. Gilmar Mendes: “Extensão da declaração de inconstitucionalidade
a dispositivos não impugnados expressamente na inicial. Inconstitucionalidade por arrastamento”.
STF – ADI n. 2.895/AL, rel. Min. Carlos Velloso (02.02.2005): “Não obstante de constitucionalidade
duvidosa a primeira parte do mencionado art. 74, ocorre, no caso, a impossibilidade de sua apreciação,
em obséquio ao ‘princípio do pedido’ e por não ocorrer, na hipótese, o fenômeno da
inconstitucionalidade por ‘arrastamento’ ou ‘atração’, já que o citado dispositivo legal não é dependente
da norma declarada inconstitucional”.
STF – ADI n. 3.645/PR, rel. Min. Ellen Gracie (31.05.2006): “Declaração de inconstitucionalidade
conseqüencial ou por arrastamento de decreto regulamentar superveniente em razão da relação de
dependência entre sua validade e a legitimidade constitucional da lei objeto da ação”.
11. 23/07/2007 - 20:15 - Decisão sobre improbidade administrativa no caso Sardenberg não
tem efeito vinculante
A ministra Ellen Gracie, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o arquivamento das
Reclamações (RCL) 5389, 5391 e 5393, ajuizadas por três prefeitos do estado do Pará que queriam que
o STF estendesse para eles os efeitos da decisão na Reclamação 2138, que determinou não ser aplicável
a agentes públicos –somente naquele caso - a lei de improbidade administrativa.
Os prefeitos dos municípios paraenses de Altamira, Brasil Novo e Vitória do Xingu respondem a ações
por improbidade administrativa. As reclamações se baseiam nos mesmos argumentos. Os prefeitos
afirmam que as decisões em seus processos estariam em divergência com a jurisprudência do Supremo,
que segundo eles teria sido firmado no julgamento da RCL 2138, e que o resultado daquele julgamento
deveria possuir efeito vinculante.
Em sua decisão, a ministra Ellen Gracie ressaltou que a decisão do julgamento da RCL 2138 - que
tratava do caso do ex-ministro Ronaldo Motta Sardenberg, não possui efeito vinculante e nem eficácia
erga omnes (sobre todos), e que como os prefeitos não figuravam como partes naquele julgamento, a
decisão não vale para eles.
RCL 5378
Nesse mesmo sentido, o ex-secretário de Administração de Vila Velha (ES) ajuizou no STF a Reclamação
5378. Além de citar a RCL 2138, o ex-secretário capixaba alegou a possibilidade da Lei 8429/92 (Lei de
improbidade administrativa) vir a ser declarada inconstitucional no julgamento da Ação Direta de
Inconstitucionalidade (ADI) 2182. A ministra lembrou, contudo, que não existe afronta à autoridade de
decisão do STF, já que o julgamento da ADI 2182 ainda não foi concluído.
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INTENSIVO I
Disciplina: Direito constitucional
Prof.: Marcelo Novelino
Data: 13.02.2009
Aula n°02
Da mesma forma e com os mesmos argumentos, a ministra negou seguimento (arquivou) à Reclamação
5378.
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