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2 | PARADIGMA, DE PROCESSAMENTO DE INFORMAGAO Considere-se a seguinte transcrisio relativa a um paciente hipotético (MF) enviado pelo clinico geral a uma clinica psicoligica de atendimento ambulatério: (© que se passa com MF? Uma solucio simplista seria fazer-Ihe um diagnéstico de neurose mista de ansiedade e depressio. No entanto, um rétulo destes nao serve para melhorar a compreensio dos seus problemas. Cada sintoma dle anomalia indica que qualquer coisa esti a fancionar mal no MF, € s6 se pode compreender a natureza da condigao deste raciente se se puder desctever com rigor os processos fundamentais que dio origem aos seus problemas espectficos. E que tipo de modelos se devern construir? Um olhar atento a transericao feita revelard algumas opecagdes cognitivas importantes que talvez estejam a contribuir para o sofrimento emocional de MF. Por exemplo, a descrigio sugere a possibilidade, nfo s6 de alguma deficiencia geral do Funcronamento cognitivo, mas também de vieses de processamento: maicrsaliéncia perceptiva dosestimalos relacionados com ameaga, juizos de probabilidade, distorcidos e relativos & 34 Pucotocia Coon EPexrUAgDISEMDOIONAS probabilidade de acontecimentos perigosos, ¢ vieses inferenciais na maneira como as situages ambiguas sao interpretadas. Cada tum dos tipos possiveis de vieses de processamento, ¢ outros mais, sed considerado mais pormenoriza- damente nos principaiscapitulos deste livro. Mas, neste, faremos uma introducio ‘muito geral de uma abordagem especifica de modelagem psicoldgica baseada no paradigma de processamento de informago,e apontaremos a sua capacicade para geras hip6teses plausiveis de explicagio dos diversossintomas associados com as perturbagdes emiocionais. [Antes de comecar, sublinharemos, todavia, as necessérias limitagdes desta nossa panordmica. A psicologia cognitiva é uma disciplina jovem, multiforme ce em constante desenvolvimento. Com cada mudanga de énfase, stirgem novos niveis de explicagZo e novos conceitos tedricos correspondents que, 3s vezes, 6 aguentam um breve espaco de tempo antes de a sua utilidade ser imediata- mente posta em causa. Para os objectivos desta curta introdugio, nao seria apropriado concentrarmo-nos nas novas fronteiras da ciéncia cognitiva. Pelo contticio, tentaremos introduzir alguns dos temas fundamentais que carac- terizam habitualmente 0 paradigma de processamento de informacao e que sobzeviveram, de uma forma ou de outra, através das varias fases da sua evolugio. O que resultard inevitavelmente numa orientagdo um canto erono- lgica mas que familiarizars o leitor com o tipo de problemas que ainda persstem ‘edo mais comuns na investigacio cognitiva aplicada. Natureza dos paradigmas cientificos Ao formularem modelos hipotéticos, os cientistas recorrem geralmente a um conjunto deesteururase peocessos conceptusis eapoiamse numa sérieconvencional de suposigdes. Utlizam, na realidade, os componentes de ums wcaixa de ferra- rmentas de construcion preexistente que facilita a construgio do modelo, mas restringe também a sua gama de potencialidades. As ferramentas de construcio usilizadas para desenvolver cada modelo representam o paradigma cientifico adoptado pelo seu consteutor. Um paradigma cientifco nfo € certo nem ecrado, € por isso nio é costume tentar provéclo ou desconfirmé-lo. Pode, noentanto, et considerado mais ou menos frutuoso, na medida da sua capecidade para produ zie modelos que se adaptem e sejam capazes de predizer dados relevances, Na verdade, Kusin (1962) defendeu que os avancos cientficos mais importantes si0 :mareados, nio simplesmente pelo surgimento de modelos inovadores, mas pela adopeio de paradigmas originais e mais produtivos, capazes de gerar tis mode- los. Na sua curta historia a diseiplina da psicologia foi marcada pelo desenvol- vimento de varios desses paradigmas alternativos. Os modelos psicanaliticos concebem as actividades do homem como tentativas para reduzir a tensio de contlizo entre os impulsos internos, os valores morais eas resides externas impostas pela realidade. Os modelos comportamentalistas consideram fanda- Paganicn og Processaniento ob Iitonnagio 3S rmentalmente o homem como um dispositiva basico de aprendizagem, e tentam cexplicara actividade em curso em teemos da hst6ria do condicionamento clissi- co instrumental do individuo. Jé os modelos cognitivos caracterizam 0 homem como um complexo sistema de processamento de informacao tentam descrever a experiéncia ¢ a actividade humanas em termos do funcionamento integrado dos mocanismos fundamentais de processaento que actuam sobre o fluit da informagio através do sistema, sendo, eles proprios, por sua vez influenciados (cf. Massano e Cowan, 1993). O ter ida buscar, nos anos 50, oconceito de infor- tmacio is ciéncias da comunicacio, libertou a psicologia tedrica dos constrangi- mentos do behavorismo E-R. Coma demonstragio de que até os comportamen~ tos simples como petis de tempos de resposta em situagdes de escolha dependiam de varidveis como o nimero de estimutos de um conjurto (Hicks, 1952}, a frequén- cia dos estimulos (Hystas, 1952) ¢ as espocificagdes do contexto (CROSMAN, 1953}, ficou desacreditada a ideia behavorista de que todas as respostas cepresen- tam reacgdes condicionadas a estimulos disc-etos, Este reconhecimento de que o ‘érebro gere a informagio e nao suscita apenas respostas condicionadas a est- mulos especifcos permiti aos psiclogos discutr as representagdes internas sem se comprometer com qualquer quadro conceptual neurol6gico ou bioquimico, A despeito da sua nacureza fisica,essas representagées internas podem ser agora consideradas em termos do tipo e quantidade de informagio veiculada, ‘Nas duas siltimas décadas houve um reconhecimento cada vez maior de que 98 processos cognitivos podem desempenhar um papel importante no desenvalvimento e manutencdo das perturbagdes neurdticas. Assim, desde rmeados dos anos 70, 0s teéricos elinieos témsugerido muitas vezes que idiossin- ‘rasias no processamento de informacio pedem levat a estilos de pensamento ‘que caracterizam, e até talvez constituam, es neuroses afectivas (por exemplo Beck, 1976; Beck, Eseay e GaeeNsexG, 1985). Contudo, 6 nos iltimos anos que cessas explicagdes comegaram a explorar cakalmente 0 fecundo potencial que 0 paradigma de informagio oferece para a formulagao de moclelos sobre a natureza dlessas hipotétias diferencas individuais (por exemplo, Evsenck, 1992, 1988; Teaspate © BaRNaKD, 1993). O resto deste capitulo apresenta alguns destes importantes conceitos que caracterizaram historicamente este paradigma. Limitagées de capacidade Uma das caracteristicas de todos 0s dispositivos de processamento de informa- 40 € que estdo de alguma forma limitados pela capacidade disponivel. Assim, ‘os modelos de processamento de informagac do cézebro caracterizam-no come tum sistema de capacidade imitada, considerando que determinados aspectos dda experiencia e actividade humanas retlectem essas restrigdes, Que mio conse ssuimos fazer tudo ao mesmo tempo com toraleficacia nao precisa de explica- ‘io, contudo, hé varias maneiras de conceptualizaressaslimitagdes. Uma das 36 Pacovo% CocarmnaePexrumacorsEnoCONAS ‘opsdes tem sido postular que os processos cognitivos earecem de erecursos» para funciorar (ou wesforgo» ou «atengio»: por exemplo, KaKNEMAN, 1973; Rornicee, 1976; Rovoicee, KNIGHT KaNtownrZ, 197; HASHeR e Zacks, 19795 Kariventase Trisian, 1984) e que esses recursos, atribuidas em quantidades constantemente moduladas, provém de um reservatério comumeindiferenciado. (Os pariimetros da tarefa e do sujeito determinardo a quantidade de recursos necesséria para o fancionamento de determinado processo. Os processos que fazem relativamente poucas exigéncias ao resecvat6rio de recursos podem, por isso, desenrolar-se simultaneamente, mas isso nao é possivel sempre que as cexigéncias gerais excederem essa capacidade. Embora sea tentadora esta simples formulagio da limitaglo da capacidade e cla tenha sido introduzida nalguns modelos de vali, €contraditéria com a obsee- vagio de que muitas veres a interferéncia entre tarefas mais parece refiectic a estrutura da tarefa do que a sua difculdade (por exemplo, MacLr00, 1977, 1978; KinssouNe Hicxs, 1978), Isto é, uma tarefa pode causar graves interferéncias quando desempenhada simultaneamente com outra de outro tipo, mas pouca interferéncia quando é simultinea com uma tarefa diferente da mesma dificuldade, Isto levou alguns investigadoses a avancar explicagées estruturais paca as limi tagbes de capacidade (por exemplo, Kestr, 1973; Fovor, 1983; BROADRENT, 1984; Paste. JOHNston, 1989; McCaNNe JOHNSTON, 1992; De Jona, 1993; RUTHRUFE, Miuten e Lacan, 1995), De acordo com essas formulagoes, as limitagies de capacidade reflectem a competicdo, entre tarefas, pelos mecanistnos espectficos de processamento de informagao ou estruturas necessétias ao desempestho. NZo podem ser executadas ao mesmo tempo tarefas que necessitem de utilizar uma ‘estrutura comum de processamento e, dai, sua execucio obriga a uma morosa “alteraincia entre tarefas, enquanto podem prosseguir eficazmente, em simultineo, 8 que no requerem a utilizagao dessas estruturas comuns. Muitos tedricos defenderam nesteséltimos anos que 0 mecanismo de seleccio da resposta € uma ‘operagio cognitiva cujo acesso é muito disputado, Aparecem agora muitos daclos ‘experimentais compatives com esa proposta, que sugere a presenca de um estran- sgulamento, dentro do sistema cognitivo, na seleccao de respostas (por exemplo, Paster, 1993, 1994; Canniene Paste, 1995) Determinadas explicagdes alternativas para as limitagdes de capacidade integraram, num quadro conceptual comum, as formulagées referentes a0s recursos ¢& estrutura (por exemplo, Kantowrrz e Knicarr, 1976; KinssOunse € Hicks, 1978; Navow e Gorter, 1979a, 1979b; SanoeRs, 1979; WickENs, 1979, 1984). A sugestio & que as tarefas recorzem a alguns reservatérios de recursos de processamento de estrutura especifica, Isto é, o sistema de processamento incorpora alguns mecanismos, tendo cada um a sua prépria capacidade, estas estruturas podem partilhar ou distribuir os recursos limitados de pro- cessamento elas actividades em curso. Esta abordagem das restrigées da capacidade de modelagem tornou-se conhecida como a «teoria de recursos miitiplos» tem provado possuir potencialidades ¢ accitacio para explicar Pavone Processanesta x tsronacao 37 uuma grande diversidade de padres de interleréncia das tarefas dus, incluindo ‘0s observaclos no processamento de apresentades visuais complexas (por exem= plo, Wickes e Borrs, 1987), indicios da fala (por exemplo, PaYNe ecol., 1994) ‘noticias (por exemplo, Leick, 1991), Wickens (1984) sugere que pode dferenciar ‘0s reservatdriosdiscretos de recursos cognitivas em, pelo menos, trs das seguintes dimensGes: a) caractersticas dos estimulos, por exemplo, modalidade sensorial; 1) cédigos internos que pocem ser estruturais, fonéticos, semanticos, etc.; ‘modo de resposta, que pode ser, por exemplo, gestual ou verbal, Hé realmente rnuitos indieios de que os recursos podem ses diferenciads com base em factores como modalidade de put (por exemplo, Bapoe.+y e LiseR3an, 1980; ROLLINS «¢ Hexonucxs, 1980}, as exigéncias de armazenamento a curto prazo (BADDELEY € rcs, 1974; Baonetzy, 1986), os meios de resposta (por exemplo, WICKENS, 1984) e, até, o hemistério cerebral mais implicado no processamento de cada input ipor exemplo, FatgbMAn ecol., 19825 SmELMAN, 1992). Todavia, os investigadores que tentam caracterizar as limitagdes da capa- cidade fizeram uma abordagem muito diferznte, no em termos das limitacbes dos recursos nem da competigio estrutural, mas como consequéncia de fimi- tagdes de competéncia na coordenacao paralela dos processos cognitivos _miiltiptos {por exemplo, Hinst, 1986; Hins’ ¢ Katman, 19875 Krenas e Meve, 1994; Meyer e Kieaas, 1994, 1995), De acordo com essas explicagdes, uma competéncialimitada para separar duas ou mais mensagens pode resultar uma transformagao desadequada de cada uma das informacdes. Essas «conversas cruzadas» entre tarefaslevam a uma intertup;io do processamento caracte dos sistemas cognitivos sobrecarregados. Assim, estes modelos pdem a principal énfase nos procedimentos de controlo execttivo de alto nivel que coordenam o dlesempenho das tarefes miltiplas através da atribuigio flexivel de processadores pecceptivos, processadores cognitivos e processadores motores, atribuem essa dupla interferéncia nas tarefas duais ao esealonamento inadequado dessas ‘operagées (cf. Mevre e col, 1995). Em sintoaia com essa premissa fundamental, ha provas de que o oferecimento de instrugées explicitas para orientar os processos de controlo cognitive pode servie para reduzir a importancia dessas scconversas cruzadas» observadas entre as tarefas desempenhadas em simulténeo (porexemplo, Durta ecol, 1995). ‘Como é que se podem utilizar estes conctitos para esclarecer a possivel base de alguns dos siatomas observados no nosso hipotético paciente MF? Uma caracteristca desta condigdo era queas arcfas simples pareciam excessivamnente dirduas e lhe era dificil manter a concentracio. Ao destacar a natural capacidade limitada do sistema cognitivo, 0 paradigms do processamento de informagao “As paloveas inglsns iu e output entraram deal foram no vocabuitio Ecnico —ja no talando as exptesoescorentesenetentgm syoeres de una tao conipcnds radudo. longasexprsssbes, quando s sua curta simpledade exprine tio bem ein de inforsa ‘que enen que sat de um determinado sistema ou subsstema, que se opton por as conse ro ongind. (NT) 38 Pacotncts Coen sPrerunnacors EUQCIONAS sugere a possbilidade de esses sintomas decorrerem das graves testtigdes na capacidade de processamento disponivel. Poder deduzir-se hipdteses mais especificas a partir de explicagoes das limitagdes de capacidade respeitantes 0s recursos, & estrutura ou as competéncias. Na realidade, jf existe muica literatura a tentar caracterizar precisamente desta forma os détices cognitivos associados com a depressio e a ansiedade (por exemplo, ELS © ASHEROOKE, 1988; Evsenck, 1992; SARASON, SARASON e PtrRce, 1994). Esses temas serio discutidos mais eabalmente no capitulo 3. Processamento selectivo Independentemente da sua natureza exacta, as limitagdes de capacidade do sistema cognitivo levam inevitavelmente a uma competigio e, muitas vezes, a uma selectividade dle processamento. Este processamento diferencial das dife- rentes fontes de informacio é geralmente apelidado de atensio selectiva e mui- tos investigadores devotaram maito do seu esforgo a estudé-la. O letor éreme- tido para as revisdes destas investigagies feitas por JouNstON e Dank (1986), Kcrta 1992}, Puuor, Enns e Brooru (1994). -Embora ceterminados aspectos da selectvidade possam reflectc as caracteristcas simples dos estimulos como a saligncia ou a intensidade (por exemplo, Mutt ¢ Renacrr, 1989; Tieewues, 1994), também é ébvio que ela pode ser regulada pelo controlointeeno, través de diversas e&nicas de preparagio, 0 sistema c pode ser programado para processar selectivamente a informagio de uma dterminadamodalidade sensorial (por exemplo FinLyARb e KutAs, 1983; Osos, 1984; Woo0s, ALHO¢ ALGAZI, 1993}, on relativa @ uma determinada dimensio do cstimulo por exemplo, Wattzy, MeLon e WetneN, 1994), on de uma determinada rea semintica (por exemplo, JOHNSTON € DARK, 1982, 1985; Teoen, Kiya.a e [NaaraNen, 1993; Dark, VocHaT2ee¢ Van Voorsts, 996) ou de um determinado dominio espacial efou temporal por exemplo, SNYDER € URANOWTTZ, 19785 ERIKSEN, 1990; Yawnse JONES, 1991; ALHo, Woons ¢ AtGxzi, 1994}, Sutgiram algumas controvérsias importantes no campo da atengio selectiva. Porexemplo, alguns tedricos ublinharam os mecanismos de selectividade baseados nas ferences isicas entre os inputs relevantes irrelevantes que operam num dos cextremos do continu de processamento (por exemplo, Brospsenr, 1958). No centanto, hd muitas provas de que uma mensagem irrelevante a que nao se preste tengo pode sofrer um consideravel processamento semantico (por exemplo, “Taatswan, 1960; Deursck e Datrsct, 1963; BRoxoeN, 1971, 1982). Com base nessas observagdes, outros tedricos enfatizaram os mecanismos de selectividade ‘que operam, com base na informagao semantica, mais adiante no continua de processamento, No entanto, essa antiga controvérsia sobre o locus da seectividade rem sido em grande parte substtuida pela opiniao de que ele esté difundido ao longo de todo continu (Enoetst, 1974) Panu oe PaocesaeNro DetsFoRci 39 Outra controvérsia fundamental, sublinhada nas revisdes de JOHNSTON € Dank (1986) e Dank, Vocuarzer e Van Voor (1986) - jd reconhecida em 1890 por William Jats—distingue estas abordagens que concebem a atengio selectiva como a causa do processamento diferencil ipor exemplo, Lunpi, 1979 Duncan, 1980; Bopper, 19825 Marcel, 1983b; Krhvenan, TREISMAN e Buskett, 1983; Serr, 1985) € as que o compreendem como consequéncia do processamento dliferencial (por exemplo, Nessex, 1976; Focumens, 1978; Jonnston e Dark, 1986), A primeira requer que o sistema de atengao selectiva opere sobre os registos de um sistema separado, de grande capacidade e nio-consciente, que determina quais as linhas de processamenta a prosseguir para completar e/ou resultar numa representagao consciente. Um dos problemas dessa rencativa é que

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