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João Domingos Bomtempo é um dos compositores mais importantes na


história da música em Portugal. Foi ele quem modernizou a composição
musical em Portugal, na passagem do Século XVIII para o Século XIX. Antes
dele, a música de orquestra deveria estar orientada para a dança, o ouvinte
tinha por força de sentir o incentivo a movimentar o corpo.
Haydn, Bethoven e Mozart eram ainda praticamente desconhecidos. ‘
O compositor foi já bastante estudado, mas muito resta ainda por fazer.
Parecem ter sido perdida as cartas recebidas e outros documentos que
deixou e que seu filho Fernando Maria Bomtempo (23 -8-1837 ± 1914)
emprestou a Ernesto Vieira (nota, pags. 111),para este escrever a biografia
que inseriu no Dicionário. ‘
Outro elemento importante em falta são documentos comprovativos da
sua pertença à Maçonaria, pois toda a gente di sso fala sem apresentar
provas.
João Domingos Bomtempo nasceu em 28 de Dezembro de 1775, em
Lisboa, filho de Francesco Saverio Buontempo e de Mariana da Silva, o 6.º
filho de ambos. O seu pai era italiano, natural de Foggia, no Reino de
Nápoles e, antes de vir para Portugal era professor no Conservatório de
Sant¶Onofrio em Nápoles. Em Portugal foi contr atado para tocar oboé na
Orquestra da Real Câmara (e não Real Orquestra de Câmara, como se diz
por vezes), bem como órgão. Casou em 27 de Junho de 1767 com Mariana
da Silva, filha de João da Silva e de Maria Elisabeth Gedult, nascida em 10 de
Junho de 1747. A mãe já tinha falecido quando ela se casou (era austríac a,
de Pingue ± na Mogúncia). O pai dela era de Pitões. Depois aportuguesou o
nome para Francisco Xavier Bomtempo. Mariana era 15 anos mais nova que
o marido. Francisco e Mariana tiveram onze filh os.‘
‘‘
A educação musical de João Domingos foi sobretudo caseira. Não se
prova que tenha frequentado a Escola de Música do Seminário da Patriarcal.
Aos 14 anos foi admitido na Irmandade de Santa Cecília, onde também se
estudava música. Tinha a sede na Capela Real da Bemposta, pelo que os

c
meninos-cantores eram conhecidos por Cantores da Bemposta. Como ali
actuou como soprano até 1795, deveria cantar em falsete, depois de ter
mudado a voz. ‘
O seu pai faleceu em 8 de Agosto de 1795, com 63 anos, dei xando a
família algo desprovida, financeiramente. Valeu-lhe a protecção real.
João Domingos tomou o lugar do pai na Orquestra da Real Câmara em
16 de Setembro de 1795, como oboísta e organista, com o ordenado anual de
288$000 réis, o mesmo que ganhava o falecido pai. ‘
Domingos Bomtempo tinha ambições de ser alguém no campo musical.
Em 1800, regressara a Lisboa, Marcos Portugal, coroado de glória em Itália,
para onde partira em 1792. Bomtempo preferiu partir para França para
aprender matéria nova; a música italiana er a já por demais conhecida em
Portugal. O momento era propício porque acabava de ser celebrada em 6 de
Junho de 1801, a paz de Badajoz entre Portugal, Espanha e França (Luz
Soriano, vol. cit., pags. 465 e ss.). O País tinha pago aos Franceses para que
fossem nossos amigos.

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Não há muitas notícias da estadia de Bomtempo em Paris, a não ser
dos concertos públicos em que tocou e que promoveu, tendo sido assinalados
na imprensa. Mas os concertos não chegavam para o sustentar e ele teve
certamente de procurar alunos interessados n as suas lições de piano. Em
Lisboa, deveria ter já bastante prática de instrumentos de tecla, mas
sobretudo de órgão. Chegado a Paris, deverá ter procurado praticar muito o
piano forte (como se dizia na altura), estudar composição, e ouvir Haydn,
Mozart e também Beethoven, pouco tocados em Lisboa. ‘
Sendo solteiro, deverá ter frequentado os amigos portugueses que ali se
encontravam. Alguns deles eram maçónicos e foi possivelmente também
iniciado nalguma loja. Não existem notícias concretas, embora alguns aut ores
afirmem sem hesitação que ele foi maçónico (por exemplo, o Prof. Rui Vieira
Nery). No Dicionário de Maçonaria, escreveu o Prof. Oliveira Marques: ³x 
  

   
   
     U (1.º vol.,
pag. 199). A mim, parece-me que, para decidir esta incógnita, se deveriam
também procurar influências da música maçónica da época nas suas


composições. É sabido que as músicas maçónicas tinham características
próprias; por exemplo, a música maçónica de Mozart é muito diferente das
suas outras composições. De qualquer modo, as companhias que procurou
mais tarde em Lisboa, indiciam de facto a sua pertença à maçonaria. ‘
Bomtempo ficou célebre em Paris sobretudo como bom pianista. Isto é
verdade, embora um crítico do AMZ (G 
    
)
escrevesse que ele nunca poderia ser um grande pianista, porque tocava com
os braços, o que o cansava não só a ele, mas também aos espectadores, só
de vê-lo (AMZ, 1810, col. 333). As críticas deste jornal devem, porém, ser
lidas com prudência, porque eram escritas por concorrentes - músicos
alemães que exerciam a actividade na mesma cidade. ‘
Em meados de 1803, compôs Bomtempo a Grande Sonata que dedicou
à Princesa de Portugal, D. Carlota Joaquina, e foi impressa e posta à venda.
Tem dois andamentos G   e  . Para E. Vieira tem um
³   
     
   
   
  
   
    
 
 
    
    
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Há notícia de um concerto em que participou em 24 de Janeiro de 1804.
A 1 de Março, num concerto dado em seu benefício, executou o seu primeiro
concerto para pianoforte, opus 2, que agradou aos críticos, e que foi
publicado nessa altura. ‘
No dia 12 de Março seguinte, novo concerto, desta vez a favor da
cantora espanhola Laurenza Correa. Executou uma sonata, provavelmente a
Grande Sonata, opus 1, já referida. ‘
Ainda a 23 de Março, outro concerto com fins caritativos em que
participou, executando o concerto n.º 1 , já referido.‘
Bomtempo executou a mesma obra de sua composição para piano mais
duas vezes: a 7 de Abril em Paris, num concerto em favor de um antigo
músico da Capela de Versalhes e num concerto em que teve muito sucesso
(com seiscentas ou setecentas pessoas na assistência) realizado em Bordéus
em 31 de Dezembro de 1804.‘
Em 22 de Maio de 1805, participa noutro concerto em Paris juntamente
com Philippe Libon, de que foi amigo. Executou um novo concerto para piano,
devendo tratar-se do n.º 2. ‘
Constata-se, a seguir, um grande intervalo na sua participação em
concertos, pois o concerto seguinte, de que há conhecimento pela imprensa,
em que Bomtempo participou, teve lugar em 8 de Maio de 1809. Nele foram
executados um novo concerto para piano (provavelmente o n. º 3) e a sua 1.ª
sinfonia. ‘
Na 
seguinte, a 15 de Janeiro de 1810, participou no seu último
concerto na capital parisiense. Tocou um novo concerto para piano, isto é, o
n.º 4 e de novo a sua 1.ª sinfonia. ‘
Entretanto, o ambiente de Paris não podia de ixar de lhe ser
desfavorável. Com a substancial ajuda dos ingleses, Portugal tinha infligido
uma humilhante derrota aos invasores franceses. Estes, naturalmente,
passaram a olhar de lado os nossos compatriotas residentes em Paris.
Melhores ventos sopravam do lado de Inglaterra e para lá se dirigiu então
João Domingos Bomtempo no Outono de 1810.

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Bomtempo não teve qualquer dificuldade em fazer amigos entre a
comunidade portuguesa em Londres. Foram amigos de Bomtempo, o
redactor-principal de ³
    ! "
  U, José Liberato
Freire de Carvalho, e o poeta Vicente Pedro Nolasco da Cunha. Este último,
que era maçónico, compôs os versos sobre que Bomtempo escreveu a
música da sua obra ³Hino PortuguêsU. ‘
Fez imprimir e publicar as últimas obras que tinha composto em Paris.
Arranjou muitos alunos de idades variadas, para o ensino do piano. Travou
amizade com o músico e editor Muzio Clementi, que provavelmente já tinha
conhecido em Paris. A ele dedicará as suas Três Grandes Sonatas (opus 9). ‘
O Hino Lusitano foi executado numa festa promovida pelo Embaixador a
13 de Maio de 1811, data do aniversário de D. João VI, e logo a seguir, a 3 de
Junho, num concerto em que também tocou o 4.º concerto para piano. ‘
ñ
Embora a sua estadia em Londres tenha sido bastante mais curta do
que em Paris, foi ali que publicou maior número de obras, nada menos que
dez. Ficou certamente muito conhecido e apreciado por lá. Em 1813 foi
fundada a Philarmonic Society (depois, Royal Philarmonic Society), com trinta
membros, sendo os sete Directores escolhidos entre eles; seguia -se um
grupo de 25 ³associatesU, donde eram escolhidos os novos membros. Ao
contrário do que tem sido escrito entre nós, Bomtempo não era membro, mas
sim ³associateU (cf. Œ #  
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&'&()&*&+
pag. 6). 18 dos 30 membros e 12 dos 25 ³associatesU eram compositores,
cantores ou pianistas. ‘
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Regressando a Lisboa em 1814, Bomtempo esperava encontrar um
meio favorável ao exercício da sua profissão de compositor, pianista e
director de orquestra. Grande foi a desilusão dele, quando encontrou o País
esgotado pela Guerra Peninsular, na maior das po brezas, com boa parte da
elite cultural afastada no Brasil, junto da Corte. ‘
Para consolação dele, recebeu uma encomenda para uma cantata, do
Cônsul de Espanha em Lisboa, para comemorar a paz geral e exaltar a
reposição no trono de Fernando VII. Compôs ele então a cantata ³Anúncio da
PazU que foi executada na festa celebrada a 30 de Maio de 1814 na
Embaixada de Espanha, com aplauso geral. O texto da cantata foi depois
impresso em Lisboa. A mesma cantata serviu de base a uma outra, chamada
³A Paz da EuropaU, a 4 vozes com acompanhamento de orquestra ou piano,
depois impressa em Londres e que é o opus 17. ‘
Diz E. Vieira que, nesta visita a Lisboa, Bomtempo tentou ainda
estabelecer em Lisboa uma Sociedade Filarmónica a exemplo da de Londres,
mas o ambiente não era propício para isso. Por isso, regressou a Londres. ‘
No início de 1816, publicou em Londres os ³ ‰ 
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2    345   U ± 66 páginas
de texto e música. Diz E. Vieira que a progressão dos exercícios é demasiado
rápida, o que desvaloriza o trabalho. ‘
Em Londres ficou pouco mais de um ano, durante o qual se ocupou da
impressão e divulgação das suas obras. Saindo de Londres, passou por
Paris e chegou a Lisboa a meados de 1816, quando se soube (a 13 de Julho)

¬
a notícia da morte de D. Maria I, ocorrida e m 20 de Março de 1816, no Rio de
Janeiro. ‘
Esta estadia em Lisboa não foi mais proveitosa para Bomtempo, antes
pelo contrário: com o luto pela morte da Rainha, estavam cancelados todos
os espectáculos. Não era fácil a sua vida. Em 1817, o 3 
 5G 
 
 
 % 
 no seu n.º XXII, pag. 343, publicou um artigo em
louvor da sua obra, elencando as músicas por ele publicadas e o preço,
anunciando que se vendiam em casa do autor na Rua Larga de S. Roque, n.º
55. ‘
Refere Vieira o interesse que B omtempo teve em ir a Itália no barco que
saiu do Tejo em 2 de Julho de 1817, para ir buscar a noiva do Príncipe
herdeiro D. Pedro, D. Leopoldina, Arquiduquesa de Áustria, a fim de a levar
para o Brasil. Não teve a sorte de ser convidado, apesar de haver um a banda
de música a bordo.‘
Em meados de 1818, foi de novo para Paris, onde encontrou um
ambiente de desolação. E. Vieira transcreve três cartas desta época, em que
ele manifesta o seu desânimo. Sem poder tocar para um público, vai
compondo mais músicas. De facto, por esta altura, começou e adiantou a
composição da Missa de Requiem à memória de Camões. ‘
A 18 de Maio de 1819, escreve a um amigo dizendo -lhe que pensa ir
para o Brasil, mas depois desistiu da ideia. Entretanto, manifestava o desejo
de se fixar definitivamente na sua Pátria. Concluiu a Missa de Requiem, que
fez ouvir a amigos em Paris e que agradou. Mandou a partitura para Londres
onde foi executada com aplauso. Encomendou a impressão da Missa ao
editor Leduc e partiu para Londres em meados de Jul ho de 1819. ‘
A Missa de Requiem à memória de Camões é considerada a obra prima
de Bomtempo. É uma partitura volumosa, de 205 páginas e é o opus 23.
Foram vendidos exemplares em Londres, em Lisboa, em Paris e no Rio de
Janeiro. ‘
Entretanto, Bomtempo deveria ter já notícias de que estava para chegar
a Revolução Liberal. E, quando soube do eclodir da Revolução, em 24 de
Agosto de 1820, apressou-se a regressar a Portugal.

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Na sessão da Assembleia de Constituinte de 9 de Março de 1821, foi
presente um memorial de J.D. Bomtempo, oferecendo à Constituinte uma
Missa, que chamou Missa da Regeneração. Determinaram as Cortes que
fosse impressa e executada no dia do Juramento das Bases da Consti tuição,
o que aconteceu em 28 do mesmo mês. Ao mesmo tempo, foi executado o Te
Deum que ele tinha composto poucos anos antes em França, juntamente com
a dita Missa. As Cortes determinaram que se louvasse o ³0    6
 !           
      2 U
(Diário das Cortes Gerais e Extraordinárias de 9-3-1821, pag. 237). A Missa
não chegou a ser impressa; certamente, as Cortes estavam muito ocupadas
com coisas mais importantes. ‘
Em 20 de Outubro de 1821, foi celebrada uma Missa de Requiem
composta também por Bomtempo, sob encomenda dos liberais, para
celebrar a memória de Gomes Freire de Andrade e dos supliciados de 1917. ‘
Foi-lhe também pedida outra Missa de Requiem para as exéq uias de D.
Maria I, aquando da trasladação dos seus restos mortais do Brasil para
Lisboa, cerimónia efectuada em 20 de Março de 1822. ‘
Note-se também que o Marquês de Fronteira, nas suas Memórias o
chama ³.
    U. Rodeado de muitos apoios, todos pertencentes à
causa liberal, Bomtempo estava em condições de realizar o seu sonho de
fundar una Sociedade Filarmónica à imitação da de Londres e foi o que fez.
Instalou-se no n.º 5 da Rua Nova do Carmo e começou a dar concertos
periódicos, o primeiro dos qu ais em Agosto de 1822. ‘
Voltando às Memórias do Marquês de Fronteira: ‘
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Outra iniciativa de Bomtempo foi propor ao Governo e às Co rtes a
reforma do ensino de música, que até então estava confinado ao Seminário
Patriarcal. Foi encarregado de fazer uma proposta de reforma que deu
entrada nas Cortes
Entretanto, os concertos da Sociedade Filarmónica prosseguiam com
regularidade. Mas em 16 de Julho de 1823 era anunciado o 4.º concerto do
4.º trimestre que já se não realizou. Ocorrera a Vilafrancada em 27 de Maio, a
revolta de D. Miguel, foram proibidas reuniões e ajuntamentos e também os
encontros musicais em casa de Bomtempo. ‘
Dava-se assim início à terrível guerra civil entre os liberais (³  U)
e os miguelistas (³  
U), que tanto sangue fez correr. A polícia até
hesitou em proibir as reuniões em casa de Bomtempo, porque sabia que
bastantes dos músicos amadores eram fidalgos, mas depois jogou pelo
seguro e um seu pedido de 10 de Julho de 1823 para prosseguir os encontros
musicais foi indeferido. ‘
Desanimado, Bomtempo pensou em exilar-se. Porém, alguns dos seus
amigos incitaram-no a ficar e conseguiram que D. João VI desse autorização
para o prosseguimento dos concertos por despacho de 13 de Janeiro de
1824. O Duque de Cadaval cedeu algumas salas do seu Palácio denominado
³palácio velhoU (onde é agora a Estação do Caminho de Ferro do Rossio),
para o efeito. Assim se iniciou a segunda época do Estabelecimento
Sinfónico, dirigido por Bomtempo. A assinatura era de 4$800 réis por seis
concertos, sendo o primeiro a 9 de Março (uma 3.ª feira) e sucessivamente
todas as terças-feiras. Assinaram 271 subscritores de toda a alta sociedade
de Lisboa, fidalgos, corpo diplomático, banqueiros, comerciantes e homens
de letras. ‘
Tocavam músicos profissionais e amadores amigos de Bomtempo.
Havia cantores, uma das irmãs de Bomtempo e uma senhora de nome,
Francisca Romana Martins. Os concertos prosseguiram com regularidade de
9 de Março a 27 de Abril (1.º da 2.ª série). Houve depois uma interrupção, em
consequência da ³AbriladaU, nova revolta de D. Miguel a 30 de Abril. O 2.º
concerto da 2.ª série só se realizou a 18 de Maio, seguindo -se os restantes
até princípios de Julho. A 3.ª série, aos sábados e a 4.ª, às quintas-feiras,
decorreu com alguma regularidade. Houve depois uma nova assinatura que
se iniciou em 21 de Abril de 1825. Mais tarde, um concerto anunciado para 9
de Março de 1826, já não se realizou, em virtude de o Rei D. João VI estar

Ú
muito doente; de facto, morreu no dia seguinte. A cidade e o País ficaram de
luto, mas os teatros foram autorizados a abrir um mês depois.
Prudentemente, Bomtempo pediu licença para continuar com os concertos, o
que lhe foi deferido. ‘
Dom Miguel desembarcou em Lisboa em 21 de Fevereiro de 1828 e em
13 de Março seguinte eram dissolvid as as Cortes, iniciando-se o regime
absoluto. ‘
O círculo de amigos de Bomtempo era constituído sobretudo pelos
liberais revolucionários de 1820. Nos tempos da Constituinte, reuniam -se
eles frequentemente no livreiro Rei, no Chiado; o grupo incluía Manuel Borges
Carneiro.‘
Entretanto Bomtempo recebeu notícias de que seria provavelmente
preso e não hesitou: refugiou -se no Consulado da Rússia, sob a protecção do
respectivo Cônsul, seu amigo, Carlos Ivanov Radzevich. Ali ficou cinco anos,
enquanto durou o regime miguelista e o País se autodestruía na guerra civil. ‘
O seu nome não foi esquecido pelos adversários que o tentavam
ridicularizar com textos como 9
  

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 < 2     =G 7 
x<  G   <    "
  > , citado por Zília Osório de Castro
(ob. citada).‘
Os dias de amargura terminaram quando a vitória dos liberais se tornou
definitiva. D. Pedro IV desembarcou em Lisboa em 28 de Julho de 183 3, e
nomeou logo Bomtempo professor de música de D. Maria II, então com 14
anos, e deu-lhe a Comenda da Ordem de Cristo. ‘
D. Maria II foi entronizada em 20 de Setembro de 1834 e seu pai morreu
logo quatro dias depois. ‘
A jovem Rainha tratou muito bem Bomtempo que certamente respirou
de alívio depois dos tormentos por que havia passado. ‘
No primeiro aniversário da morte de D. Pedro IV compôs um %,
para ser executado nas solenes exéquias. ‘
Com data de 5 de Maio de 1835, um Decreto Real satisfazia um anseio
de há muito de Bomtempo: era criado o Conservatório de Música, integrado
na Casa Pia, sendo ele nomeado Director-Geral na parte instrutiva. Nesta lei,
o Conservatório era um mero anexo da Casa Pia, mas tal situação não iria
durar muito. Após a Revolução de Setembro de 1836, ficou no poder Manuel
da Silva Passos, mais conhecido por Passos Manuel e este encarregou o
seu amigo Almeida Garrett de apresentar o projecto de um Conservatório
Geral da Arte Dramática, o que ele fez logo a 12 de Novembro. Datada de 15
do mesmo mês, foi publicada a respectiva lei criando, integradas no
Conservatório, a Escola Dramática ou de Declamação, a Escola de Música, e
a Escola de Dança, Mímica e Ginástica Especial. Foi instalado no Con vento
dos Caetanos, onde ainda hoje se encontra. Uma lei de 7 de Abril de 1838
estabeleceu o quadro do pessoal e respectivo orçamento. Um decreto de 27
de Março de 1839 aprovou o Regimento do Conservatório, preparado por

r
Garrett. A 24 de Maio de 1841, é p ublicado um decreto com os Estatutos do
Conservatório que substituem o Regimento anterior. ‘
A convivência de Bomtempo e Almeida Garrett no Conservatório não era
fácil e o primeiro suportava mal ter de estar subordinado ao segundo. Ambos
tinham consciência do seu muito valor como artistas. ‘
Em 15 de Julho de 1841, Garrett atacou violentamente o ministro
António José d¶Ávila, no célebre discurso sobre a Lei da Décima e, logo no
dia seguinte, foi demitido do cargo de Inspector -Geral dos Teatros, o que
implicou a sua saída do Conservatório. Foi substituído por Joaquim Larcher,
com quem Bomtempo se deu melhor. ‘
Quanto à sua vida privada, João Domingos Bomtempo casou em
Outubro de 1836 na Igreja dos Jerónimos com Maria das Dores Almeida, de
quem teve o único filho em 23 de Agosto de 1837, Fernando Maria
Bomtempo. Deste, foram padrinhos de baptismo a Rainha D. Maria II e o Rei
consorte D. Fernando, o que foi uma honra de vulto. ‘
O seu filho foi protegido pelo padrinho, o Rei D. Fernando. Aparece
como secretário no relato de uma expedição real a Marrocos, publicado em
1882. Existe também impressa uma peça para piano da autoria dele,
denominada ?  
. Terá morrido em Fevereiro de 1914. ‘
Mariana da Silva, a mãe de João Domingos, faleceu na Rua das Chagas
a 9 de Abril de 1838, com 91 anos. ‘
Corria-lhe bem a vida quando faleceu de repente em 18 de Agosto de
1842, com 66 anos. ‘

  3 ‘

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A msica sinf nica de Bomtempo era demasiado adiantada para o
Portugal do in cio do Sec. XIX. E de facto, depois que ele regressou a
Portugal em 1820, apenas compôs m sica religiosa. A m sica que tinha

c
composto e publicado no estrangeiro tamb dm não influenciou a composição
musical portuguesa por muitos dec dnios. ‘
As opiniões sobre o valor da sua msica são algo d spares. Parece
haver unanimidade em considerar o seu ;       9 / a
sua obra prima. O Prof. Rui Vieira Nery escreveu: §G  d


       
      
 
   Õ. Jÿ
Ernesto Vieira, no in cio do Sec. XX, era algo cr tico: §
    
 
 
     
  

    
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  ..Õ. Parece severidade a mais. O Requiem d obra que
ainda hoje se ouve com muito agrado. ‘
Dizem os music logos que, nas suas composições para piano,
Bomtempo se esforçou sobretudo de escrever trechos de execução dif cil
para fazer valer o seu virtuosismo como pianista. Mas os quatro concertos
para piano e orquestra publicados são agrad ÿveis de ouvir. Mais uma vez, E.
Vieira d severo. Diz ele em relação ao Concerto n. 4: §]   2 
 
 

    
 
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As duas sinfonias conhecidas e publicadas (diz-se que escreveu mais
quatro, que se extraviaram) são obras que se ouvem com muito agrado. ‘
Segundo o maestro Álvaro Cassuto que dirigiu a gravação de ambas, a
primeira mostra influências de Haydn e Mozart. Já na segunda, que considera
de maior alcance e dimensão, encontra ressonâncias da Heróica de
Bethoven.‘
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http://www.amsc.com.pt/musica/compositores/bomtempo.htm

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