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Autor(es)
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Antônio Roberto Chacra
Set-2010
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Professor Titular da Disciplina de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo-UNIFESP/EPM;
Chefe da Disciplina de Endocrinologia da UNIFESP/EPM.
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6 - Como é feito o diagnóstico do diabetes tipo 2?
O diagnóstico de diabetes é feito por um dos seguintes exames, com confirmação em um dia
diferente, em casos de hiperglicemia sem descompensação metabólica:
• glicemia de jejum (oito horas de jejum): ≥ 126 mg/dL;
• glicemia duas horas após sobrecarga com 75 g de glicose oral (teste de tolerância à
glicose oral; TTGO): ≥ 200 mg/dL;
• glicemia aleatória: ≥ 200 mg/dL associada a sinais e sintomas de diabetes (poliúria,
polipsia, polifagia e perda de peso).
7 - O que é pré-diabetes?
O termo pré-diabetes passou a englobar duas situações laboratoriais, glicemia de jejum
alterada e intolerância à glicose:
• glicemia de jejum alterada: entre 100 e 125 mg/dL;
• intolerância à glicose: glicemia duas horas após sobrecarga de 75 g glicose entre 140 e
199 mg/dL.
Devido ao início “silencioso” do diabetes tipo 2, cerca de 50% dos pacientes já apresentam
algum grau de complicação crônica ao diagnóstico. Existe uma forte associação entre
hiperglicemia e complicações crônicas. As evidências que sustentam a relação entre controle
glicêmico e complicações microvasculares no diabetes tipo 2 confirmaram-se no estudo
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UKPDS (United Kingdom Prospective Diabetes Study), no qual os efeitos de controle glicêmico
rígido com sulfoniluréia, metformina ou insulina foram comparados ao tratamento convencional
com dieta. O grupo de controle rígido, que manteve a hemoglobina glicada em média de 7%,
teve redução no risco de desenvolvimento de complicações microvasculares de 25%, em
comparação ao grupo de tratamento convencional, que apresentou hemoglobina glicada de
7,9% em média. Além disso, houve redução do risco de complicações macrovasculares no
grupo de controle rígido, notando-se redução de 16% na incidência de infarto agudo do
miocárdio e morte súbita.
11 - Quais as conseqüências da retinopatia diabética e qual a importância de sua
prevenção e tratamento?
A retinopatia diabética é a principal causa de cegueira em adultos nos Estados Unidos, sendo
estimados 5.000 novos casos por ano. Ela ocorre em mais de 60% dos pacientes diabéticos
após 20 anos do diagnóstico e está presente em cerca de 21% já ao diagnóstico. Sintomas,
tais como redução da acuidade visual, podem ocorrer apenas numa fase mais avançada da
doença, já na presença de retinopatia proliferativa ou de edema macular. Portanto, é
mandatório o exame de fundo de olho anual, realizado por um oftalmologista. O UKPDS
demonstrou que o controle rígido da glicemia, próximo do normal, reduz a incidência de
retinopatia diabética, tornando-o fundamental no paciente diabético.
12 - Como ocorre a nefropatia diabética?
A nefropatia diabética acomete cerca de 40% dos pacientes com a doença. O desenvolvimento
da nefropatia é assintomático e seu diagnóstico depende do laboratório. A primeira
anormalidade da nefropatia diabética é o hiperfluxo renal e o primeiro sinal é o
desenvolvimento de microalbuminúria (>30 mg de albuminúria/24 horas). Na medida em que a
nefropatia progride, a proteinúria “clínica” ocorre (>300 mg de albuminúria em 24h), geralmente
em concomitância com hipertensão arterial sistêmica. Na evolução da doença, acaba por
ocorrer proteinúria nefrótica, com redução progressiva da função glomerular até insuficiência
renal em estágio terminal. Assim que é diagnosticada a microalbuminúria, o passo mais
importante é controlar de forma agressiva os níveis pressóricos. Os principais anti-
hipertensivos aí utilizados são os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA) e os
inibidores do receptor da angiotensina II, que reduzem a evolução de microalbuminúria para
macroalbuminúria.
13 - Qual a fisiopatologia e como se manifesta a neuropatia diabética?
A neuropatia representa a principal complicação crônica do diabetes e manifesta-se de
variadas formas. A duas principais formas de neuropatia são a polineuropatia e a neuropatia
autonômica. A polineuropatia constitui a disfunção das fibras nervosas periféricas autonômicas
ou sensitivo-motoras. O primeiro estágio caracteriza-se por piora da condução nervosa e
manifesta-se clinicamente por redução de respostas reflexas. Posteriormente surge redução da
sensibilidade ou hiperestesia, que se caracteriza por dor noturna, em pontada ou em agulhada,
geralmente nos membros inferiores. O tratamento visa, principalmente, o controle dos sintomas
dolorosos. Tratamento com antidepressivos tricíclicos, gabapentina e carbamazepina podem
ser úteis. Há evidências clínicas de melhora da dor noturna também com antidepressivo
inibidor duplo de recaptação de serotonina e noradrenalina. Além disso, o rígido controle
glicêmico também reduz a incidência da neuropatia diabética.
14 - Os pacientes com diabetes tipo 2 podem desenvolver complicações agudas?
Sim. A principal complicação aguda que pode ocorrer em pacientes com diabetes é a
hipoglicemia, especialmente naqueles pacientes com tratamento intensivo, com uso
concomitante de insulina e medicações hipoglicemiantes orais. Entre os hipoglicemiantes, as
sulfoniluréias estão especialmente associadas a risco de hipoglicemia durante o tratamento e
devem ser usadas com cuidado, principalmente em idosos.
15 - Quais os objetivos do tratamento do diabetes tipo 2?
O tratamento do diabetes tipo 2 tem como principais objetivos evitar as complicações crônicas
e aliviar sintomas da hiperglicemia, tais como a poliúria e a polidipsia. Além disso, a
hiperglicemia por si induz resistência à insulina e prejudica a função da célula beta. O controle
glicêmico melhora a sensibilidade insulínica, a secreção de insulina, além de reduzir o risco de
desenvolvimento e progressão das complicações crônicas (nefropatia, retinopatia e
neuropatia).
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16 - Quais as medidas não-farmacológicas no tratamento do diabetes tipo II?
Mudança de estilo de vida, principalmente por meio de dieta e exercícios. Aproximadamente
80% a 90% dos indivíduos com diabetes tipo 2 são obesos. Portanto, a perda de peso é,
inicialmente, o objetivo primário do tratamento. A simples restrição calórica pode ser
responsável por melhora na tolerância à glicose, pois a perda de 5% a 10% do peso corporal já
leva à melhora da resistência insulínica e da captação de glicose, reduz o requerimento
secretório de insulina e reduz a produção hepática de glicose. A redução do peso pode ser
atingida com uma combinação de fatores, tais como restrição calórica, atividade física,
mudança de comportamento e de hábitos alimentares, além de suporte psicossocial. A perda
de peso é mais benéfica se obtida mais precocemente no tratamento, logo após o diagnóstico
do diabetes tipo 2, quando a secreção insulínica ainda está presente de forma mais robusta.
17 - Qual o tratamento farmacológico e quais as medicações disponíveis?
As medicações hipoglicemiantes evoluíram muito nos últimos 20 anos, com o desenvolvimento
de uma série de medicamentos com novos mecanismos de ação, com o objetivo de melhorar o
controle glicêmico nos pacientes com diabetes tipo 2. Os hipoglicemiantes orais podem ser
divididos em 2 grandes grupos:
Aqueles que aumentam os efeitos da insulina:
• biguanidas: metformina,
• tiazolidinedionas (glitazonas): rosiglitazona e pioglitazona,
• inibidores da alfa-glicosidase: acarbose e miglitol.
Aqueles que aumentam o suprimento de insulina endógena:
• sulfoniluréias:
o primeira geração: clorpropamida, tolbutamida
o segunda geração: glipizida, gliburida, glimepirida
• glinidas: repaglinida e nateglinida
• incretinomiméticos: análogos do GLP-1, inibidores da DPP IV (dipeptidil-peptidase IV).
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22 - Quais os eventos adversos com o uso de sulfoniluréias (SU)?
O principal evento adverso resultante do tratamento com SU é a hipoglicemia, sendo os idosos
mais propensos à complicação, especialmente em casos de função renal reduzida. Aumento
moderado do peso corporal pode ser notado no início do tratamento.
23 - Quais as doses recomendadas das sulfoniluréias?
Na tabela 1 encontram-se as características posológicas das principais sulfoniluréias e glinidas.
Tabela 1. Características posológicas das principais sulfoniluréias
Nome Dose Dose máxima efetiva Duração de ação
genérico diária aproximada (mg) (horas)
(mg)
Clorpropamida 100 – 500 500 (1x/dia) > 48
Glimepirida 1–8 4 (1x/dia) 24
Glibenclamida 2,5 a 20 10 (2x/dia)
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enzima há um atraso na absorção de carboidratos até que tenham passado pelo intestino
delgado medial até o distal, o que resulta em redução dos picos hiperglicêmicos pós-prandiais.
29 - Qual a indicação para o uso dos inibidores da alfa-glicosidase?
Geralmente o efeito de redução geral da glicemia é modesto, e a redução de hemoglobina
glicada (HbA1c) ocorre em cerca de 0,5% a 1%. Portanto, esta classe de medicamentos é
geralmente utilizada em associação com outro hipoglicemiante oral.
30 - Quais os principais eventos adversos dos inibidores da alfa-glicosidase?
O principal evento adverso é a flatulência, sendo que também podem ocorrer outros eventos
ligados ao trato gastrointestinal, como diarréia e distensão abdominal. Esses eventos resultam
da inibição da alfa-redutase, com conseqüente aumento da fermentação e formação de gases
no íleo.
31 - O que são incretino-miméticos e qual o mecanismo de ação?
Os incretino-miméticos representam um novo grupo de medicações para o tratamento de
diabetes tipo 2, que se caracterizam por agirem de maneira a mimetizar as ações das
incretinas. As incretinas são hormônios produzidos pelas células dos intestinos em resposta à
ingestão de alimentos e que aumentam a secreção de insulina. A principal incretina é o GLP-1.
Os incretino-miméticos exercem sua ação por meio da ligação ao receptor do GLP-1, e levam a
um aumento da secreção de insulina de forma glicose-dependente. Os incretino-miméticos
podem ser:
• análogos do GLP-1: resultados de modificações na cadeia do GLP-1, com meia-vida
mais longa; ex: liraglutida;
• substância nativa que se liga ao receptor; ex: exenatida;
• inibidores da enzima di-peptidil-peptidase (DPP-IV), que degrada o GLP-1,
aumentando a meia-vida do próprio GLP-1 endógeno.
40 - Leitura recomendada
A desktop guide to type 2 diabetes mellitus. European Diabetes Policy Group 1999. Diabet
Med. 1999;16:716-30.
Davidson JA. Treatment of the patient with diabetes: importance of maintaining target HbA1c
levels. Curr Med Res Opinion 2004;20:1919-1927.
Huxley R, Barzi F, Woodward M. Excess risk of fatal coronary heart disease associated with
diabetes in men and women: meta-analysis of 37 prospective cohort studies. BMJ. 2005 Dec
21; [Epub ahead of print].
Michael TS. Current therapeutic options in type 2 diabetes mellitus: a practical approach. Clin
Med Res 2003;1:189-200.
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Nathan DM. Initial management of glycemia in type 2 diabetes mellitus. N Engl J Med
2002;347:1342-1349.
UK Prospective Diabetes Study Group. Effect of intensive blood-glucose control with metformin
on complications in overweight patients with type 2 diabetes: UKPDS 34. Lancet 1998;352:854-
65.
UK Prospective Diabetes Study Group. Tight blood pressure control and risk of macrovascular
and microvascular complications in type 2 diabetes: UKPDS 38. BMJ 1998;317:703-12.
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