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CAPÍTULO 6
ESCOAMENTO SUPERFICIAL
6.1. Introdução
Das fases básicas do ciclo hidrológico, talvez a mais importante para o engenheiro seja a do
escoamento superficial, que é a fase que trata da ocorrência e transporte da água na superfície
terrestre, pois a maioria dos estudos hidrológicos está ligada ao aproveitamento da água
superficial e à proteção contra os fenômenos provocados pelo seu deslocamento.
Como já foi visto a existência de água nos continentes é devida à precipitação. Assim, da
precipitação que atinge o solo, parte fica retida quer seja em depressões quer seja como
película em torno de partículas sólidas. Quando a precipitação já preencheu as pequenas
depressões do solo, a capacidade de retenção da vegetação foi ultrapassada e foi excedida a
taxa de infiltração, começa a ocorrer o escoamento superficial. Inicialmente, formam-se
pequenos filetes que escoam sobre a superfície do solo até se juntarem em corredeiras, canais
e rios. O escoamento ocorre sempre de um ponto mais alto para outro mais baixo, sempre das
regiões mais altas para as regiões mais baixas até o mar.
O processo do escoamento inclui uma série de fases intermediárias entre a precipitação e o
escoamento em rios. Para entender o processo do escoamento é necessário entender cada uma
destas fases. Esta seqüência de eventos é chamada de ciclo do escoamento.
O ciclo do escoamento pode ser descrito em três fases: na primeira fase o solo está seco e as
reservas de água estão baixas; na fase seguinte, iniciada a precipitação, ocorrem
interceptação, infiltração e escoamento superficial; na última fase o sistema volta a seu estado
normal, após a precipitação. Fatores como tipo de vegetação, tipo de solo, condições
topográficas, ocupação e uso do solo, são fatores que determinam a relação entre vazão e
precipitação. A seguir, são descritas as fases do ciclo do escoamento superficial em uma
região úmida.
1a Fase:
Após um período de estiagem, a
vegetação e o solo estão com pouca
umidade. Os cursos d’água
existentes estão sendo alimentados
pelo lençol d’água subterrâneo que
mantém a vazão de base dos cursos
d'água. Quando uma nova
precipitação se inicia, boa parte da
água é interceptada pela vegetação, e
a chuva que chega ao chão é
infiltrada no solo. Exceto pela
parcela de chuva que cai diretamente
sobre o curso d'água, não existe
nenhuma contribuição para o
escoamento nesta fase. Parte da água
retida pela vegetação é evaporada
Fig. 6.1 – 1a Fase do ciclo do escoamento
2a Fase:
Com a continuidade da precipitação,
a capacidade de retenção da
vegetação é esgotada, e a água cai
sobre o solo. Se a precipitação
persistir, a capacidade de infiltração
do solo pode ser excedida, e a água
começa a se acumular em
depressões rasas, que em seguida se
unem formando um filme de água
sobre o solo, começando, então, a
mover-se como escoamento
superficial, na direção de um curso
d'água. A água infiltrada no solo
começa a percolar na direção dos
aqüíferos subterrâneos. Finalmente,
se a chuva continuar, o escoamento Fig. 6.2 – 2a Fase do ciclo do escoamento
superficial ocorrerá de forma
contínua, na direção de um rio.
O nível do lençol freático poderá subir, fornecendo uma contribuição extra de água
subterrânea ao escoamento.
Na maioria dos casos, a contribuição das águas subterrâneas para o escoamento superficial,
devido à recarga pela chuva, ocorre quando a precipitação já cessou, devido à baixa
velocidade do escoamento subterrâneo.
3a Fase:
O ciclo do escoamento em uma região árida ou semi-árida é diferente do que ocorre em uma
região úmida. Nas regiões árida e semi-árida, a água subterrânea costuma estar em camadas
muito profundas do solo, bem abaixo do leito dos rios. Por isso, a maior parte da vazão dos
rios depende apenas da precipitação e, como longos períodos de estiagem separam os
períodos chuvosos, os rios são intermitentes.
A vazão, ou volume escoado por unidade de tempo, é a principal grandeza que caracteriza o
escoamento. Normalmente é expressa em m3/s ou em l/s. O hidrograma é a denominação
dada ao gráfico que relaciona a vazão no tempo. A distribuição da vazão no tempo é
resultado da interação de todos os componentes do ciclo hidrológico entre a ocorrência da
precipitação e a vazão na bacia hidrográfica.
O comportamento do hidrograma típico de uma bacia, após a ocorrência de uma seqüência
de precipitações é apresentado na Figura 6.5. Verifica-se que após o início da chuva, existe
um intervalo de tempo em que o nível começa a elevar-se. Este tempo retardado de resposta
deve-se às perdas iniciais por interceptação vegetal e depressões do solo, além do próprio
retardo de resposta da bacia devido ao tempo de deslocamento da água na mesma.
O hidrograma atinge o máximo, de acordo com a distribuição de precipitação, e apresenta a
seguir a recessão onde se observa normalmente, um ponto de inflexão. Este ponto caracteriza
o fim do escoamento superficial e a predominância do escoamento subterrâneo. O primeiro
ocorre num meio que torna a resposta rápida, finalizando antes do escoamento subterrâneo
que por escoar pelo solo poroso apresenta um tempo de retardo maior. Na Figura 6.5 é
esboçado o comportamento da vazão subterrânea.
A contribuição da vazão subterrânea é influenciada pela infiltração na camada superior do
solo, sua percolação e conseqüente aumento do nível do aqüífero. Essa elevação rápida do
nível provoca a inversão de vazão ou represamento do fluxo no aqüífero na vizinhança com o
rio. Isso é observado na Figura 6.5 pela linha tracejada. O processo começa a inverter-se
quando a percolação aumenta e o fluxo superficial diminui.
A forma do hidrograma depende de um grande número de fatores, os mais importantes são:
modificações artificiais no rio: o homem produz modificações no rio para o uso mais
racional da água. Um reservatório para regularização da vazão tende a reduzir o pico e
distribuir o volume (Figura 6.4b), enquanto a canalização tende a aumentar o pico, como
mostra a bacia urbana;
solo: as condições iniciais de umidade do solo são fatores que podem influenciar
significativamente o escoamento resultante de precipitações de pequeno volume, alta e média
intensidade. Quando o estado
de umidade da cobertura vegetal, das depressões, da camada superior do solo e do aqüífero
forem baixos, parcela ponderável da precipitação é retida e o hidrograma é reduzido.
O hidrograma pode ser caracterizado por três partes principais: ascensão, altamente
correlacionada com a intensidade da precipitação, e com grande gradiente; região do pico,
próximo ao valor máximo, quando o hidrograma começa a mudar de inflexão, resultado da
redução da alimentação de chuvas e/ou amortecimento da bacia. Esta região termina quando
o escoamento superficial acaba, resultando somente o escoamento subterrâneo; recessão,
nesta fase, somente o escoamento subterrâneo está contribuindo para a vazão total do rio.
O escoamento superficial, que caracteriza as duas primeiras partes do hidrograma pode ser
descrito por modelos hidrológicos. Para simular o escoamento superficial é necessário
separá-lo do escoamento subterrâneo e obter a precipitação efetiva que gerou o escoamento.
A recessão identificada pelo escoamento subterrâneo pode ser representada por uma
equação exponencial do tipo seguinte:
Qt = Q0 ⋅ e −α .t
(6.1)
onde Qt = a vazão após t intervalos de tempo; Q0 = vazão no tempo de referência zero; α =
coeficiente de recessão. Este coeficiente pode ser determinado através da plotagem num
papel log-log dos valores de vazão, defasados de t intervalos de tempo. A declividade da reta
permite estimar o valor de α.
Os escoamentos são em geral definidos em: superficial, que representa o fluxo sobre a
superfície do solo e pelos seus múltiplos canais; subsuperficial, que alguns autores definem
como o fluxo que se dá junto às raízes da cobertura vegetal e; subterrâneo, que é o fluxo
devido à contribuição do aqüífero. Em geral, os escoamentos superficial e subterrâneo
correspondem a maior parte do total, ficando o escoamento subsuperficial contabilizado no
superficial ou no subterrâneo. Para que os mesmos sejam analisados individualmente é
necessário separar no hidrograma a parcela que corresponde a cada tipo de fluxo.
A parcela de escoamento superficial pode ser identificada diretamente do hidrograma
observado por métodos gráficos que se baseiam na análise qualitativa apresentada no item
anterior. A precipitação efetiva que gera o escoamento superficial é obtida quando não se
dispõe dos dados observados do hidrograma ou deseja-se determinar os parâmetros de um
modelo em combinação com o hidrograma do escoamento superficial. Na Figura 6.6 são
apresentados três métodos gráficos tradicionalmente usados.
A vazão máxima pode ser estimada com base na precipitação, por métodos que representam
os principais processos da transformação da precipitação em vazão e pelo método racional,
que engloba todos os processos em apenas um coeficiente ( C ).
O método racional é largamente utilizado na determinação da vazão máxima para bacias
pequenas (≤ 2 km2). Os princípios básicos desta metodologia são: a) considera a duração da
precipitação intensa de projeto igual ao tempo de concentração. Ao considerar esta igualdade
admite-se que a bacia é suficientemente pequena para que esta precipitação ocorra, pois a
duração é inversamente proporcional à intensidade. Em bacias pequenas, as condições mais
críticas ocorrem devido a precipitações convectivas que possuem pequena duração e grande
intensidade; b) adota um coeficiente único de perdas, denominado C, estimado com base nas
características da bacia; c) não avalia o volume da cheia e a distribuição espacial de vazões.
• Fórmula Racional
Da definição de coeficientes de deflúvio, pode-se escrever:
onde: C é o coeficiente de deflúvio
Q Q é a vazão
C= (6.3) i é a intensidade de chuva
i⋅ A A é a área de drenagem
Pode-se também calcular o valor de C para uma chuva de características conhecidas, desde
que se conheça a variação de vazão correspondente.
Exemplo: Dada a Tabela 6.2, com dados de vazão e sabendo-se os valores da área de
drenagem (A=115.106 m2) e da altura de chuva (h=160 mm), procede-se da seguinte forma
para calcular o coeficiente de deflúvio:
40
inclinação da curva de vazão (início do 30
escoamento superficial ) e o seu ponto final 20
no ponto de máxima curvatura e, sempre, 10
relativo a um período igual a um número 0
inteiro de dias ou pelo menos um ponto 0 18 12 6 0 18 12
imediatamente superior que satisfaça esta tempo (hora)