Está en la página 1de 23

Sebenta de Textos de

Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Psicologia do Desenvolvimento
© Celeste Duque1, 2004 (celeste.duque@gmail.com)

1. INTRODUÇÃO
O presente texto tem como objectivo fornecer aos alunos do Curso de Terapêutica da Fala, da Universidade
do Algarve, da ESSaF, uma forma sintética de estudar as Teorias da Personalidade consideradas mais
adequadas no enquandramento do programa da disiciplina da Psicologia do Desenvolvimento. Por mais
longo que possa parecer o desenvolvimento das mesmas, muito mais haveria a dizer sobre o assunto, pelo
que se recomenda a leitura das obras originais que constam da bibliografia ao aluno interessado em
aprofundar um pouco mais os diversos conceitos.
Aconselha-se igualmente a presença nas aulas, quer teóricas quer teórico-práticas já que nestas, e apesar de
se fornecer o texto síntese da teoria apresentada, são referidos inúmeros exemplos e a verbalização
utilizada vai sempre de encontro às necessidades, dúvidas e interesses dos alunos presentes, pelo que são
únicas e irrepetíveis. Fornecendo toda uma informação que não está escrita em nenhum livro, nem mesmo
nos apontamentos da disciplina, já que aí se tem o cuidado de relacionarem conceitos do âmbito da
Psicologia do Desenvolvimento apresentando uma contextualização histórica, e sócio-cultural, socorrendo-
se igualmente de outras áreas de saber sempre que isso se mostre relevante para a melhor explicação e
integração do conceito, por parte dos alunos.
Posto isto passamos a apresentar uma síntese teórica elaborada em 2001, e que foi totalmente revista para
melhor se adaptar ao Curso de Terapêutica da Fala do ESSaF.
Recomenda-se ainda a consulta dos apontamentos (Textos de Apoio) fornecidos na disciplina de
Introdução à Psicologia2, em 2003-2004.

2. TEORIAS DA PERSONALIDADE
Antes de se abordarem as Teorias da Personalidade, propriamente ditas é necessário definir-se o que se
entende por personalidade.

2.1. Personalidade
São padrões ou elementos relativamente constantes, duradouros e permanentes de percepcionar, pensar,
sentir e comportar-se que atribuem ou parecem atribuir aos sujeitos identidades separadas. Personalidade é
um ‘constructo sumário’ que inclui pensamentos, motivos, emoções, interesses, atitudes, capacidades e
outros fenómenos semelhantes.

2.2. Instrumentos de estudo e metodologias


Os diferentes autores que se debruçam sobre o estudo da personalidade tentam compreender a sua natureza
geral e, assim, explicar as diferenças inter-individuais.
Para o estudo da personalidade de sujeitos específicos existem diversos instrumentos e metodologias. Nos
primeiros incluímos as entrevistas e os testes de personalidade (testes objectivos e projectivos). Nos
segundos, os métodos clínico e experimental e a observação controlada (ver Texto de Apoio da disciplina
de Introdução à Psicologia).

1
Psicóloga Clínica; Formadora; Executive Coach; Student Mentor & Coach.
2
Sobre Metodologia em Psicologia e em Saúde, bem como os textos referentes à Personalidade (Teorias da
Personalidade e a Perspectiva Psicanalítica).

©Celeste Duque 10-05-2011 1


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

As páginas que se seguem são traduções mais ou menos livres de escritos de Sigmund Freud, de Margaret
Mahler e colaboradores. É igualmente utilizado o Vocabulário de Psicanálise, da autoria de Laplanche e
Pontalis, para maior clarificação de alguns dos conceitos psicanalíticos aqui abordados.

3. TEORIA PSICANALÍTICA DE SIGMUND FREUD

3.1. Primeira Tópica do Aparelho Psíquico (1ª Tópica)


A divisão da vida psíquica em consciente e inconsciente constitui a premissa fundamental da psicanálise,
sem a qual ela seria incapaz de compreender os processos patológicos, tão frequentes e graves, da vida
psíquica e de os fazer entrar no quadro da ciência. Mais uma vez, e por outras palavras: a psicanálise
recusa-se a considerar o consciente como constituindo a verdadeira essência da vida psíquica, mas vê no
consciente uma qualidade simples desta última, podendo coexistir com outras qualidades, ou não surgir de
todo.
‘Estar consciente’ é antes de mais uma expressão puramente descritiva e relaciona-se com a percepção
mais imediata e segura. Mas a experiência mostra-nos que um elemento psíquico (uma representação, por
exemplo) nunca é consciente de forma permanente. O que caracteriza melhor os elementos psíquicos é o
desaparecimento rápido do seu estado consciente. Uma representação, consciente num dado momento, não
o é mais no momento seguinte, mas pode retomar ao consciente sob certas condições, fáceis de
compreender. No intervalo ignoramos o que ela é. Podemos dizer que está “latente”, entendendo com isto
que é capaz de se “tornar consciente” a qualquer momento. Dizendo que uma representação ficou, no
intervalo, “inconsciente” formulamos ainda uma definição correcta: este estado inconsciente coincide com
o estado latente e a capacidade de retornar ao consciente.
Obtivemos o termo ou a noção de inconsciente utilizando experiências vividas em que intervém o
“dinamismo” psíquico. Relembremo-nos que a teoria psicanalítica declara que se há algumas
representações que são incapazes de se tomarem conscientes isto se deve a uma determinada força que se
lhes opõe. Sem essa força elas poderiam tomar-se conscientes, o que nos permite constatar a reduzida
diferença com outros elementos psíquicos oficialmente reconhecidos como tais. O que toma esta teoria
irrefutável é que ela encontrou na técnica psicanalítica um meio que permite vencer a força de oposição e
de trazer ao consciente estas representações inconscientes. Ao estado em que estas representações se
encontram, antes de voltarem ao consciente, damos o nome de “recalcamento”. E quanto à força que
produz e mantém o recalcamento dizemos que a sentimos, durante o trabalho analítico (terapêutico), sob a
forma de “resistência”.
A noção de recalcamento deduz-se, deste modo, da teoria do recalcamento. O que é recalcado é o protótipo
do inconsciente. Sabemos entretanto que existem duas variedades de inconsciente: os factos psíquicos
latentes, mas susceptíveis de se tomarem conscientes, e os factos psíquicos recalcados que, como tal,
entregues a si mesmos, são incapazes de chegarem ao consciente. Esta maneira de encarar o dinamismo
psíquico não pode deixar de influenciar a terminologia e a descrição. Assim, dizemos que os factos
psíquicos latentes, isto é, inconscientes ao nível descritivo mas não ao nível dinâmico, são factos “pré-
conscientes”. E reservamos a palavra “inconsciente” para os factos psíquicos recalcados, isto é,
dinamicamente inconscientes. Deste modo, estamos na posse de três termos: consciente, pré-consciente e
inconsciente, em que o significado não é mais puramente descritivo.
Estes três termos (consciente, pré-consciente e inconsciente) são fáceis de manipular e dão-nos uma grande
liberdade de movimentos, sob a condição de não esquecermos que, se do ponto de vista descritivo há duas
variedades de inconsciente, só há uma do ponto de vista dinâmico. Nalguns casos podemos fazer uma
exposição negligenciando estas distinções mas noutros ela é indispensável. Seja como for, estamos
suficientemente acostumados a este duplo significado de inconsciente.

3.2. Segunda Tópica do Aparelho Psíquico (2ª Tópica)


Mas as pesquisas posteriores mostraram que estas distinções eram, elas também, insuficientes e
insatisfatórias.

©Celeste Duque 10-05-2011 2


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Admitimos que a vida psíquica é função dum aparelho ao qual atribuímos uma extensão espacial e que
supomos formado por diversas partes, Vemo-lo como uma espécie de telescópio, de microscópio ou algo
do género. A construção e o acabamento duma tal concepção são uma novidade científica, apesar das
tentativas análogas que já foram feitas.
Foi o estudo da evolução dos indivíduos que permitiu o conhecimento deste aparelho psíquico. À mais
arcaica das instâncias psíquicas constituintes deste aparelho damos o nome de Id. O seu conteúdo abrange
tudo o que o ser traz consigo ao nascer, tudo o que é constitucionalmente determinado, isto é e antes de
mais, as pulsões emanadas da organização somática e que encontram no Id, sob formas que nos são
desconhecidas, um primeiro modo de expressão psíquica. Todo o material que se encontra no Id está sob a
forma inconsciente. No Id encontram-se quer as pulsões de auto-conservação quer as pulsões de
destruição.
Sob influência do mundo exterior real que nos cerca, uma fracção do Id sofre uma evolução particular. A
partir da camada cortical original, fornecida com órgãos aptos a percepcionar os estímulos assim como a se
proteger contra eles, estabelece-se uma organização especial que, desde logo, vai servir de intermediário
entre o Id e o exterior, É a esta fracção do nosso psiquismo que damos o nome de Ego.

3.2.1. Principais características do Ego


No seguimento das relações já estabelecidas entre a percepção sensorial e as acções musculares, o Ego
dispõe do controlo dos movimentos voluntários. Assegura a auto-conservação e, no que diz respeito ao
exterior, assegura a sua tarefa aprendendo a conhecer os estímulos, acumulando (na memória) as
experiências que eles lhe fornecem, evitando os estímulos demasiado fortes (pela fuga), acomodando-se
aos estímulos moderados &ela adaptação) e, por fim, chegando a modificar de forma apropriada e para seu
próprio proveito o mundo exterior (através da actividade). No interior, dirige uma acção contra o Id,
adquirindo o controlo das exigências pulsionais e decidindo se elas podem ser satisfeitas ou se convém
adiar esta satisfação até ao momento mais favorável, ou ainda se é necessário simplesmente sufocá-las
completamente. Na sua actividade, o Ego guia-se pela tomada em consideração das tensões provocadas
pelos estímulos de dentro e de fora. Um acréscimo de tensão provoca geralmente o desprazer e a sua
diminuição gera o prazer.
De qualquer modo, o prazer e o desprazer não dependem provavelmente do grau absoluto das tensões mas
mais do ritmo das variações destas últimas. O Ego tende para o prazer e a evitar o desprazer. A todo o
aumento esperado (previsto) de desprazer corresponde um sinal de angústia, e o que dispara este sinal, de
dentro ou de fora, denomina-se perigo. De tempos a tempos o Ego, quebrando os laços que o unem ao
mundo exterior, retira-se para o sono, onde modifica notavelmente a sua organização. O estado de sono
permite constatar que este modo de organização consiste numa certa repartição particular de energia
psíquica.
Durante o longo período de infância que o indivíduo atravessa e durante o qual depende dos seus pais o
indivíduo em curso de evolução vê formar-se no seu Ego, como que por uma espécie de precipitado, uma
instância particular através da qual se prolonga a influência parental. Esta instância é o Super-Ego. Na
medida em que se destaca do Ego ou se opõe a ele, o Super-Ego constitui um terceiro poder que o Ego é
obrigado a ter em conta.
É considerado como correcto todo o comportamento do Ego que satisfaz em simultâneo as exigências do
Id, do Super-Ego e da realidade, que se produz quando o Ego consegue conciliar estas diversas exigências.
Sempre e seja qual for o contexto social, as particularidades das relações entre o Ego e o Super-Ego
tomam-se melhor compreensíveis se as relacionarmos com as relações da criança com os pais. É evidente
que não é só a personalidade dos pais que age sobre a criança mas, transmitidas através deles, a influência
das tradições familiares, raciais e nacionais, assim como as exigências do meio social imediato que eles
representam. Ao longo da sua evolução, o Super-Ego dum sujeito modela-se também pelos sucessores ou
substitutos dos pais (certos educadores ou personalidades que representam no seio da sociedade ideais
respeitados, por exemplo). Vemos que, apesar da sua diferença funcional, o Id e o Super-Ego têm um
ponto em comum: ambos representam o papel do passado. O Id, o papel da hereditariedade. O Super-Ego,
o papel que pediu “emprestado” a outros. Pelo seu lado, o Ego é sobretudo determinado pelo que o
indivíduo viveu, isto é, o acidental, o actual.

©Celeste Duque 10-05-2011 3


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Segundo Freud, há dois princípios que regem o funcionamento mental: o princípio do prazer e o princípio
da realidade. Segundo o princípio do prazer, a actividade psíquica no seu conjunto tem por objectivo evitar
o desprazer e proporcionar o prazer. Na medida em que o desprazer está ligado ao aumento das
quantidades de excitação e o prazer à sua redução, o princípio do prazer é um princípio económico, O
princípio da realidade forma par com o princípio do prazer e modifica-o. Na medida em que o princípio da
realidade se consegue impor como princípio regulador, a procura da satisfação já não se efectua pelos
caminhos mais curtos, mas toma por desvios e adia o seu resultado em função das condições impostas pelo
mundo exterior.

3.3. A Evolução Psicossexual


A expressão ‘relação de objecto’ é própria da psicanálise e pode desorientar um pouco aqueles não
familiarizados com os textos psicanalíticos. “Objecto deve ser neles tomado no sentido específico que
possui em psicanálise em expressões como ‘escolha de objecto’ ou ‘amor de objecto’”. É sabido que uma
pessoa, na medida em que é visada pelas pulsões, é qualificada de objecto. Isto nada tem de pejorativo,
nada em especial que implique que a qualidade de sujeito seja por esse facto recusada à pessoa em causa.
Relação deve ser tomado na plena acepção da palavra: trata-se de facto de uma inter-relação, isto é, não
apenas da forma como o sujeito constitui os seus objectos, mas também da forma como estes modelam a
sua actividade.
“O de” (que está onde poderíamos esperar um com o) vem acentuar esta inter-relação. Efectivamente, falar
de relação com o objecto ou com os objectos implicaria que estes preexistem à relação do sujeito com eles
e, simetricamente, que o sujeito está já constituído.
“É sabido que Freud, numa preocupação de análise do conceito de pulsão, distinguiu a fonte, o objecto e o
alvo pulsionais. A fonte é a zona ou aparelho somático sede da excitação sexual; a sua importância aos
olhos de Freud é demonstrada pelo facto das diversas fases da evolução libidinal serem designadas pelo
nome da zona erógena predominante” (Laplanche & Pontalis, 1990, pp. 577-578).
As fases pré-genitais da evolução libidinal apoiam-se inicialmente em actividades directamente
relacionadas com as pulsões de auto-conservação.
A primeira fase da evolução libidinal é a fase oral: o prazer sexual está então ligado de forma
predominante à excitação da cavidade bucal e dos lábios que acompanha a alimentação. A actividade de
nutrição fornece as significações electivas pelas quais se exprime e se organiza a relação de objecto. Por
exemplo, a relação de amor com a mãe será marcada pelas seguintes significações: comer e ser comido. A
actividade de chupar assume a partir da época de amamentação um valor exemplar, que permite a Freud
mostrar como a pulsão sexual (que a princípio se satisfaz apoiada numa função vital) adquire autonomia e
se satisfaz de forma auto-erótica (auto-satisfação das necessidades sexuais).
A segunda fase da evolução libidinal, segundo Freud, é a fase anal-sádica que podemos situar
aproximadamente entre os 2 e os 4 anos. Esta fase é caracterizada por uma organização da líbido sob o
primado da zona erógena anal; a relação de objecto está impregnada de significações ligadas à função de
defecção (expulsão-retenção) e ao valor simbólico das fezes.
A fase fálica é a fase da organização da líbido que vem depois das fases oral e anal, e e caracterizada por
uma unificação das pulsões parciais sob o primado dos orgãos genitais. Mas, o que já não será o caso da
organização genital pubertária, a criança (de sexo masculino ou de sexo feminino) só conhece um único
órgão genital, o órgão masculino, e a oposição dos sexos é equivalente à oposição fálico-castrado. A fase
fálica corresponde ao momento culminante e ao declínio do complexo de Édipo. O complexo de castração
é aqui dominante.
Por fim, a fase genital é a fase do desenvolvimento psicossexual caracterizada pela organização das
pulsões parciais sob o primado das zonas genitais. Esta fase compreende dois períodos, separados pelo
período de latência: o período fálico (ou organização genital infantil – fase fálica) e a organização genital,
propriamente dita, que se institui na puberdade.

©Celeste Duque 10-05-2011 4


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Em termos do desenvolvimento psicossexual, e caso o sujeito se fixe numa das fases pré-genitais acima
descritas (fixação libidinal), ele fica marcado por experiências infantis, mantém-se ligado de forma mais ou
menos disfarçada a modos arcaicos de satisfação, a tipos arcaicos de objecto ou de relação. A fixação liga-
se à teoria da líbido e define-se pela persistência, particularmente manifesta nas perversões, de
características anacrónicas de sexualidade: o indivíduo exerce certos tipos de actividade ou então
permanece ligado a algumas características do ‘objecto’ cuja origem se pode encontrar em certo e
determinado momento da vida sexual infantil.
Com o desenvolvimento da teoria das fases pré-genitais do desenvolvimento psicossexual (fases oral, anal-
sádica e fálica) a noção de fixação assume nova extensão: pode não incidir apenas sobre um alvo ou um
objecto libidinal parcial, mas também sobre toda a estrutura da actividade característica de uma dada fase.
Assim, a fixação na fase anal está na origem da neurose obsessiva e de certo tipo de carácter. A fixação
libidinal desempenha um papel predominante na etiologia dos diversos distúrbios psíquicos, o que levou a
determinar a sua função nos mecanismos neuróticos. A fixação está na origem do recalcamento e pode
mesmo ser considerada como o primeiro momento do recalcamento tomado no sentido lato.

4. MARGARET MAHLER

4.1. Nascimento psicológico do ser humano


O momento do nascimento biológico do recém-nascido e o momento do nascimento psicológico do
indivíduo não coincidem. O primeiro é um acontecimento dramático, observável e bem circunscrito. O
segundo é um processo intra-psíquico que se desenvolve lentamente.
O adulto normal, ou quase normal, considera como um dom inato, como sendo natural, a experiência que
tem de si mesmo como de um ser ao mesmo tempo e bem separado do ‘mundo exterior’. Ele oscila, com
mais ou menos facilidade e segundo diferentes ritmos de alternância e de simultaneidade, entre a
consciência de si e a receptividade sem tomada de consciência de si. Mas, também aqui, estamos face a um
processo que se desenvolve lentamente.
Chamamos ao nascimento psicológico do indivíduo o processo de separação-individuação: face a um
mundo de realidade, é a aquisição do sentimento, em simultâneo, de estar separado e em relação, sobretudo
no que diz respeito ao seu próprio corpo e ao objecto de amor primário, que é o principal representante do
universo tal como ele é experimentado pelo recém-nascido, Como todos os processos intrapsíquicos,
possui repercussões ao longo de toda a vida. Não tem fim e está sempre activo: as novas fases do ciclo da
vida são ocasiões para novas derivações dos primeiros processos sempre em construção. Mas as
realizações psicológicas principais deste processo completam-se ao longo do período que vai do 4º-5º mês
até ao 35º-36º mês de vida. Este período designa-se por fase de separacão-individuação.
Desde o início a criança forma-se e desenvolve-se na matriz de unidade dual mãe-bebé. Sejam quais forem
as adaptações ao seu bebé que a mãe possa realizar, quer ela seja sensitiva e empática quer não,
continuamos firmemente, convencidos que a capacidade de adaptação da criança, nova e flexível, e a sua
necessidade de adaptação (tendo em vista a obtenção da satisfação), ultrapassam largamente as
capacidades da mãe, cuja personalidade, com todos os seus padrões de carácter e de defesa, está finalizada
e estabelecida, e muitas vezes é rígida. O bebé modula-se em harmonia e em contraponto à maneira e ao
estilo da mãe (representando ela mesmo, para uma tal adaptação, um objecto são ou patológico).
De um ponto de vista metapsicológico, o aspecto dinâmico – o conflito entre pulsão e defesa – revela-se
muito menos importante nos primeiros meses de vida do que mais tarde, pois que a estruturação da
personalidade criará conflitos intra e intersistémicos de primeira importância. A tensão, a angústia
traumática, a fome biológica, o aparelho do Ego e a homeostasia são conceitos quase biológicos,
pertinentes nos primeiros meses e precursores, respectivamente, da angústia de conteúdo psicológico, do
sinal de angústia, das pulsões orais e outras, das funções do Ego e dos mecanismos de regulação interna
(defesa e traços do carácter), O ponto de vista da adaptação é dos mais pertinentes na primeira infância – o
bebé nascendo da própria convergência das exigências de adaptação a que é submetido. Felizmente, estas
exigências encontram no bebé, com personalidade flexível pois ainda não está formada, uma capacidade de
©Celeste Duque 10-05-2011 5
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

se deixar modelar pelo e a se conformar ao seu ambiente. Esta capacidade do bebé se conformar aos
elementos do seu ambiente encontra-se já presente desde a primeira infância.
O trabalho desenvolvido por Margaret Mahler trata essencialmente da realização cognitivoafectiva da
consciência de ser separado (condição essencial a uma verdadeira relação de objecto) e do papel dos
aparelhos do Ego por exemplo, a motilidade, a memória e a percepção) e de funções do Ego mais
complexas (a prova da realidade, por exemplo) no acesso a um tal consciente. Mahler tenta mostrar como a
relação de objecto se desenvolve depois do narcisismo infantil, simbiótico ou primário, e em paralelo com
a realização da separação e da individuação, Como o funcionamento do Ego e o narcisismo secundário
nascem na relação com a mãe, de início narcísica e depois objectal.
Antes de mais, emprega-se o termo separação ou sentimento de estar separado em referência à realização
intra-psíquica dum sentimento de estar separado da mãe e, deste modo, do universo no seu conjunto. Este
sentimento de estar separado leva gradualmente a representações intra-psíquicas claras do Eu distinto das
representações do mundo objectal. Naturalmente, no curso normal dos acontecimentos que marcam o
desenvolvimento (as separações físicas reais da mãe – de rotina ou outras – por exemplo) são, para a
criança, contribuições importantes para o seu sentimento de ser uma pessoa separada. Mas o objecto dos
estudos de Margaret Mahler é o sentimento de ser um indivíduo separado e não o facto de estar fisicamente
separado de alguém. (Com efeito, nalgumas condições anormais o facto físico da separação pode conduzir
a uma negação com cada vez maior pânico ao facto de estar separado e ao delírio de união simbiótica).
Em segundo lugar, e de modo semelhante, recorre-se ao termo simbiose para designar uma condição intra-
pessoal e não um comportamento. Este estado é fruto duma dedução, pois está para além da observação
directa.
Em terceiro lugar, descrevem-se o autismo infantil e a psicose simbiótica como dois distúrbios extremos da
personalidade. O termo identidade é empregue no sentido da primeira consciência dum sentimento de ser,
de entidade – sentimento que compreende em parte um investimento de energia libidinal dirigida para o
corpo. O que está em jogo não é o sentimento de quem eu sou mas o sentimento de ser. E por isso é o
primeiro passo dum processo de desenvolvimento da individualidade.
Qual é a ‘maneira normal’ de vir a ser um indivíduo separado, a que as crianças psicóticas não têm acesso?
A que se parece o ‘processo de eclosão’ no bebé normal? Como compreender ao pormenor as
contribuições da mãe para este processo – como catalisadora, iniciadora, organizadora?

4.1.1. Fases anteriores ao Processo de separação-individuação


Nas semanas que antecedem a evolução para a simbiose, o recém-nascido conhece mais correntemente os
estados próximos do sono que os estados de vigília. Estes estados lembram o estado arcaico de distribuição
libidinal que predomina ao longo da vida intra-uterina sob o modelo dum sistema monádico fechado,
autosuficiente na satisfação alucinatória do desejo.
Na fase autistica normal, temos uma ausência relativa de investimento dos estímulos exteriores
(especialmente da percepção à distância). É o período onde aparece mais claramente a barreira de
protecção contra os estímulos, a tendência inata do bebé a não responder aos estímulos exteriores, O bebé
passa a maior parte do seu dia num estado meio acordado, meio a dormir: acorda sobretudo quando a fome
ou outras tensões o levam a gritar, para de seguida cair de novo no sono quando está saciado, isto é,
quando há um alívio da sobrecarga de tensões. São os fenómenos fisiológicos, mais que os psicológicos,
que predominam e a função deste período concebe-se melhor em termos fisiológicos. O bebé encontra-se
protegido contra as estimulações extremas, numa situação próxima do estado pré-natal, tendo em vista
facilitar o seu crescimento fisiológico.
Conceptualizando metaforicamente este estado sensorial, utilizamos a expressão autismo normal para
caracterizar as primeiras semanas de vida. São os próprios cuidados maternais que fazem com que o bebé
efectue gradualmente a passagem duma tendência inata á regressão vegetativa para uma consciência
sensorial acrescida do meio envolvente e um melhor contacto com ele. Em termos de energia ou de
investimento libidinal, isto pode traduzir-se pela necessidade de operar um deslocamento da líbido desde o
interior do corpo particularmente dos órgãos abdominais) para a sua periferia.

©Celeste Duque 10-05-2011 6


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Ao autismo normal segue-se uma etapa de consciência difusa para o bebé de que não pode satisfazer as
suas próprias necessidades, que esta satisfação vem de alguma parte exterior a si. E isto designa-se por
narcisismo primário da fase simbiótica nascente.
A vida acordada do recém-nascido concentra-se em tomo dos seus esforços incessantes para realizar a
homeostasia. O bebé não consegue nem isolar os efeitos dos cuidados matemos, que lhe reduzem a fome,
nem os diferenciar dos seus esforços para reduzir a tensão pelos seus próprios meios, tal como urinar,
defecar, tossir, arrotar, vomitar – meios pelos quais a criança tenta desfazer-se de uma tensão desagradável.
O efeito destes fenómenos de expulsão, tanto como a gratificação obtida pelos cuidados matemos, ajudam
o bebé, no momento oportuno, a diferenciar uma qualidade de experiência ‘boa’/’agradável’ de uma outra
‘má’/’dolorosa’. A partir do 2º mês, uma consciência difusa do objecto de satisfação das necessidades
marca o começo da fase de simbiose normal, na qual o bebé se comporta e funciona como se a sua mãe e
ele formassem um sistema omnipotente – uma unidade dual no interior dum só limite comum. É neste
momento que começa a haver falhas na barreira quase sólida (negativa porque não investida) de protecção
contra os estímulos – é a concha autística que parava os estímulos exteriores, Graças ao deslocamento do
investimento para a periferia sensório-perceptiva, começa-se a formar um pára-excitações, protector mas
também receptivo e selectivo, investido positivamente, que começa a envolver a esfera simbiótica da
unidade dual mãe-criança.
É evidente que se o bebé depende de maneira absoluta do parceiro simbiótico, a simbiose toma um sentido
diferente para o parceiro adulto da unidade dual. A necessidade que o bebé tem da sua mãe é absoluta; a
necessidade que a mãe tem do seu bebé é relativa. Neste contexto, o termo simbiose é uma metáfora. Não
descreve, como o conceito biológico de simbiose, o que se passa realmente numa relação mútua benéfica
entre dois indivíduos separados de espécies diferentes. Descreve antes um estado de indiferenciação, de
fusão com a mãe, no qual o ‘eu’ não se diferencia ainda do ‘não-eu e onde o dentro e o fora só vêm
gradualmente a serem sentidos como diferentes. Toda a percepção desagradável, interna ou externa, é
projectada para lá do limite comum do meio interior simbiótico que inclui a gestalt do parceiro adulto
durante os cuidados maternos. E somente de maneira passageira que o bebé parece receber os estímulos
provenientes do exterior do meio simbiótico. O investimento libidinal fixado na esfera simbiótica substitui
a barreira inata de protecção contra os estímulos e protege o Ego rudimentar de toda a tensão prematura e
não adaptada, de todo o traumatismo de tensão. O carácter essencial da simbiose é uma fusão somato-
psíquica omnipotente, alucinatória ou delirante, à representação da mãe e, em particular, à ideia delirante
dum limite comum entre dois indivíduos fisicamente separados. E a este mecanismo que regride o Ego nos
casos mais graves de individuação e de desorganização psicótica, descritos como ‘psicose simbiótica da
criança’.
A função e os meios de auto-conservação estão atrofiados na espécie humana. O Ego rudimentar (ainda
não funcional) do recém-nascido e do jovem bebé deve receber em complemento o apoio emocional dos
cuidados atentos da mãe, espécie de simbiose social. É no seio desta dependência fisiológica e sócio-
biológica da mãe que se opera a diferenciação estrutural que conduz à organização adaptativa do indivíduo:
o Ego no seu conjunto de funções. O autismo normal e a simbiose normal são os dois primeiros estádios de
não indiferenciação, o primeiro an-objectal, o segundo pré-objectal. Ambos aparecem antes da
diferenciação da matriz indiferenciada, isto é, antes que sejam produzidas a separação e a individuação e a
emergência do Ego rudimentar como estrutural funcional. A fase simbiótica normal caracteriza-se no bebé
por um acréscimo do investimento preceptivo e afectivo de estímulos que definimos como provenientes do
mundo exterior, mas que o bebé, segundo a nossa concepção, não reconhece claramente a origem exterior.
O bebé começa por estabelecer ‘ilhotas mnésicas’ mas não ainda uma diferenciação entre o interior e o
exterior, o Eu e o outro. O mundo torna-se cada vez mais investido, sobretudo a pessoa da mãe, mas como
unidade dual, com um Eu ainda não claramente demarcado, nem cercado de fronteiras, nem
experimentado. O investimento na mãe representa a principal realização psicológica desta fase. Mas há,
ainda, continuidade com o que se passará de seguida.
Sabemos que o bebé responde de modo diferenciado aos estímulos provenientes do interior e aos do
exterior (a luz, por exemplo, será objecto duma experiência diferente da fome). Mas, se não queremos
postular a existência de representações inatas, temos boas razões para presumir que a criança não tem nem
conceito nem esquema de si e do outro ao qual atribuir e assimilar essas diferenças de estímulos. Pensamos
que a experiência do interior e do exterior se encontra ainda vaga: o objecto mais investido, a mãe, é ainda
©Celeste Duque 10-05-2011 7
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

um objecto parcial. Os cuidados matemos e “o jogo” com a criança (segurá-la, apoiá-la, pegá-la ao colo,
sustentá-la, limpá-la, mexer nela...) são essenciais para a demarcação do Eu corporal no interior da matriz
simbiótica. Estas representações constituem o ‘esquema corporal’. A partir deste momento, as
representações do corpo que fazem parte do Ego rudimentar formam uma ligação entre as percepções
internas e externas. Isto corresponde à ideia de Freud que o Ego se modela pelo impacto da realidade, por
um lado, e pelas pulsões, por outro, O Eu corporal compreende dois tipos de representações de si: um
núcleo interno do esquema corporal, em que o limite se volta para o interior do corpo e o separar do Ego; e
um envelope externo de engramas sensório-perceptivos, que contribuem para os limites do corpo próprio’.
As sensações internas do bebé constituem o núcleo do Eu. Elas permanecem o ponto central, cristalizadas,
do ‘sentimento de si’ em tomo do qual se estabelecerá um ‘sentimento de identidade, O órgão sensório-
perceptivo (‘o envelope externo do Ego’ – Freud) contribui essencialmente para delimitar o Eu do mundo
objectal. As duas espécies de estruturas intrapsíquicas formam em conjunto o quadro de auto-orientação.
No seio da esfera simbiótica comum, pode-se dizer que os dois parceiros ou pólos da diade polarizam os
processos de organização e de estruturação. As estruturas derivadas deste duplo quadro de referência
representam uma base à qual todas as experiências deverão ser associadas antes de se tornarem no Ego
representações claras e unificadas do Eu e do mundo objectal. Spitz diz que a mãe é o Ego auxiliar do
bebé. Do mesmo modo, o ‘comportamento de apoio’ do parceiro materno, a sua preocupação materna
primária’ é o organizador simbiótico, a parteira da individuação, do nascimento psicológico.

4.1.2. Processo de separação-individuação


O processo de separação-individuação ocorre em quatro sub-fases. Numa primeira sub-fase verifica-se a
diferenciação e desenvolvimento corporal. Na segunda sub-fase é sinónimo de “ensaios”. Ao nível da
terceira sub-fase verifica-se a procura da “reaproximação” em relação à mãe ou aos objectos. E, por fim, na
quarta sub-fase observa-se a “consolidação da individualidade e início da permanência do objecto
emocional”

4.1.2.1. 1ª Subfase: Diferenciação e desenvolvimento do esquema corporal


Por altura do 4º ou 5º mês, no momento culminante da simbiose, os fenómenos do comportamento
parecem indicar o começo da primeira subfase da separação-individuação, isto é, a diferenciação. Ao longo
dos meses de simbiose, o bebé familiarizou-se com a metade ma terna do seu Eu simbiótico, tal como
indica o sorriso não específico e social. Esse sorriso toma-se gradualmente a resposta específica
preferencial do sorriso da mãe, sinal decisivo que um laço específico se estabeleceu entre o bebé e a sua
mãe.
Freud sublinha o facto de que as percepções interiores são mais fundamentais e mais elementares que as
percepções exteriores. Estas percepções interiores são respostas do corpo a si mesmo e aos órgãos internos,
Greenacre sustenta que os estados de troca entre a tensão e a relaxação ‘parecem... constituir uma espécie
de núcleo duma consciência difusa do corpo’.
Os padrões do que constitui o núcleo não são acessíveis através da observação, mas esta permite estudar os
comportamentos que, pelo mecanismo de reflexo em espelho, servem para a demarcação do Eu e do
‘outro’. Jacobson sublinha o facto de que a capacidade de distinguir os objectos se desenvolve mais
rapidamente que a capacidade de distinguir entre o ‘eu’ e os objectos. Podemos ver o bebé moldar-se ao
corpo da sua mãe ou distanciando-se dele, Sentir o seu próprio corpo e o da mãe, e manipular os objectos
transicionais. Hofier acentua a importância do tocar e mexer no processo de formação dos limites e
igualmente a importância da libidinização do corpo do bebé pela sua mãe, Greenacre chama a atenção
sobre a ‘aproximação dum sentimento de unicidade sob o efeito do corpo quente da mãe, que representa
um grau relativamente pequeno de diferença de temperatura, textura e odor. Estas diferenças relativamente
pequenas podem provavelmente ser facilmente assimiladas pelos esquemas sensório-motores do bebé.
Quando o prazer interior originado numa fixação segura na esfera simbiótica continua e que o prazer
ligado à percepção sensorial exterior (visão ou olhar e, provavelmente, audição ou escuta exterior), em via
de maturação crescente, estimula o investimento da atenção dirigida para o exterior, então estas duas
formas de investimento da atenção podem oscilar livremente. O resultado deveria ser um estado simbiótico
óptimo. de onde pode nascer uma diferenciação sem dor uma expansão fora da esfera simbiótica. O

©Celeste Duque 10-05-2011 8


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

‘processo de eclosão’ é uma evolução ontogenética gradual do sensório – o sistema percepção-consciência


– que favorece no bebé, desde que esteja acordado, um sensório mais constantemente alerta.
Isto é, a atenção do bebé, que nos primeiros meses da simbiose era dirigida em larga medida para o
interior, ou concentrada duma maneira vagamente cinestésica no interior da esfera simbiótica, expande-se
progressivamente com o começo de uma actividade perceptiva dirigida para o exterior ao longo dos
períodos de vigília cada vez maiores do bebé. E uma mudança mais de grau que de espécie porque, no
estado simbiótico, o bebé certamente que se manteve atento á figura materna. Mas esta atenção combina-se
gradualmente com um stock crescente de traços mnésicos das idas e vindas da mãe, das experiências ‘boas’
e ‘más’, sendo que estas últimas não podiam de nenhuma maneira ser aliviadas pelo Eu, mas o bebé podia
‘antecipar com confiança’ o alivio trazido pelos cuidados da mãe,
A partir dos 6 meses começa, a título de tentativa, a experimentação da separação-individuação. Podemos
fazer a observação a partir dos comportamentos do bebé, tais como puxar os cabelos, as orelhas e o nariz,
meter os alimentos na boca da mãe, tentar afastar o seu corpo do da mãe a fim de ter uma melhor visão
dela, explorar visualmente a sua mãe e o ambiente. Isto contrasta com o simples facto de se moldar ao
corpo da mãe, sendo pegado por ela. Há sinais precisos do facto de que o bebé começa a diferenciar o seu
próprio corpo do da sua mãe. Entre os é e os 7 meses é o ponto culminante da exploração manual, táctil e
visual do rosto da mãe e das suas partes tanto cobertas como descobertas. E ao longo destas semanas que o
bebé vai descobrir, com fascínio, um colar, um par de óculos ou outro adorno usado pela mãe. Podem
existir jogos de esconde-esconde (O bebé não está. Está! Está!) nos quais o bebé joga ainda um papel
passivo. Estes padrões de exploração transformam-se mais tarde numa função cognitiva de verificação do
não familiar oposto ao já conhecido. Tocar e absorver as diversas partes do corpo pelos olhos (visão) ajuda
a reunir o corpo numa imagem central para além do nível da simples consciência sensorial imediata.
É ao longo da primeira subfase da separação-individuação que todos os bebés normais efectuam as suas
primeiras tentativas de ruptura, no sentido corporal, com o seu estado (até agora completamente passivo)
de bebé-ainda-ao-colo – o estado de unidade dual com a mãe. Todas as crianças gostam de se aventurar e
continuar a uma distância ligeira dos braços envolventes da mãe. Desde que tenham a capacidade motora,
gostam de se deixar deslizar pelos joelhos da mãe, mas têm tendência a ficar o mais perto possível da mãe,
ou a ela retomarem para brincar.
A partir dos 7 ou 8 meses é o padrão visual de ‘reverificação junto da mãe’ o sinal relativamente estável
mais importante do começo da diferenciação somato-psíquica. Parece ser, de facto, o padrão normal do
desenvolvimento cognitivo e afectivo mais importante.
O bebé inicia uma exploração comparativa. Começa a interessar-se pela ‘mãe’ e parece compará-la com o
‘outro’, o não familiar com o familiar, característica por característica. Parece familiarizar-se de modo mais
aprofundado com o que é a mãe, lhe dá a mesma sensação, tem o mesmo gosto e cheira como ela, se
parece com ela e faz o mesmo ‘som’ que ela. A par da aprendizagem da ‘mãe enquanto mãe’, faz também
a descoberta do que pertence ou não pertence ao corpo da mãe – um colar ou uns óculos, Começa a
estabelecer uma discriminação entre a sua mãe e aquela ou aquele que se lhe parece ou não, que lhe dá uma
sensação parecida ou não e se desloca da mesma maneira ou diferente da da mãe.
Os primeiros padrões de diferenciação parecem não ser só duma grande racionalidade em termos da
relação mãe-criança e do talento particular de cada criança, mas parecem igualmente desencadear os
padrões de organização da personalidade que aparentemente persistem no desenvolvimento futuro do
processo de separação-individuação, e provavelmente mais além. E a necessidade específica inconsciente
da mãe que, a partir das potencialidades infinitas do bebé, vai acordar aquelas em particular que criam para
cada mãe ‘a criança’ que reflecte as suas próprias necessidades únicas e individuais. Este processo
desenvolve-se nos limites dos talentos inatos da criança.
Os bebés e as mães que tiveram prazer numa fase simbiótica sem demasiados conflitos, aqueles bebés que
ficaram saturados, mas não super-saturados, ao longo deste período de unicidade importante com a sua
mãe, começam no momento normal a mostrar os sinais de diferenciação activa, afastando-se ligeiramente
do corpo da mãe. Pelo contrário, nos casos em que havia ambivalência e parasitismo, intrusão,
‘sufocamento’ por parte da mãe a diferenciação mostra perturbações em diversos graus e sob diferentes

©Celeste Duque 10-05-2011 9


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

formas. Noutros casos, em que a mãe agia claramente segundo as suas próprias necessidades simbiótico-
parasitárias mais do que em função do bebé, a diferenciação instala-se de modo quase veemente.
É no fim do primeiro ano e nos primeiros meses do segundo que podemos ver que há no processo
intrapsíquico da separação-individuação duas linhas de desenvolvimento, interligadas mas não tendo
sempre a mesma amplitude ou uma progressão proporcional. Uma destas linhas é a individuação, a
evolução da autonomia, da percepção, da memória, da cognição, da prova da realidade. A outra e a linha
intrapsíquica do desenvolvimento da separação, que leva à diferenciação, à distanciação, á formação dos
limites e ao afastamento da mãe. Todos estes processos de estruturação culminarão eventualmente em
representações interiorizadas do Eu, que são distintas das representações interiores do objecto.
Os fenómenos comportamentais superficiais do processo de separação-individuação podem ser observados
em inúmeras variações subtis como acompanhando o desenvolvimento psíquico. As situações óptimas
parecem ser aquelas em que a consciência da separação corporal em termos da diferenciação da mãe
seguem paralelamente (isto é, não estão muito para trás nem muito para a frente) ao desenvolvimento do
funcionamento autónomo do bebé – cognição, percepção, memória, prova da realidade, etc., isto é, as
funções do Ego que servem à individuação.

4.1.2.2. 2ª Subfase: Ensaios


O período dos ensaios segue-se à subfase de diferenciação. Podemos subdividir o período dos ensaios em
duas partes:
1. O primeiro período dos ensaios, que se caracteriza pela capacidade do bebé em se afastar fisicamente da sua
mãe rastejando, gatinhando, trepando, e pondo-se em pé – demorando-se sempre
2. O período dos ensaios propriamente dito, caracterizado do ponto de vista fenomenológico pela locomoção
livre em posição vertical.

Há pelo menos três desenvolvimentos interligados mas identificáveis que contribuem para os primeiros
progressos da criança para a consciência de estar separada e para a identificação: a diferenciação corporal
face á mãe; o estabelecimento duma ligação específica com ela; o crescimento e o funcionamento dos
aparelhos autónomos do Ego em relação estreita com a mãe.
Este desenvolvimento parece abrir a possibilidade ao bebé de estender o seu interesse pela mãe para
objectos inanimados apresentados por ela – cobertor, almofada, brinquedo, o biberão antes da separação
para a noite. O bebé explora visualmente estes objectos e examina o seu gosto, a sua textura e o seu odor
através dos órgãos perceptivos de contacto, em particular a boca e as mãos, Seja qual for a fase de
diferenciação, é característico deste primeira etapa de ensaios que, apesar do interesse e da absorção destas
actividades, é o interesse pela mãe que parece tomar decisivamente a prioridade.
A maturação da locomoção e das outras funções ao longo do primeiro período de ensaios tem um efeito
dos mais salutares nas crianças que conheceram uma relação simbiótica intensa mas inconfortável. Parece
plausível que isto esteja ligado, pelo menos em parte, a um processo simultâneo de desprendimento
satisfatório por parte das mães. Estas mães, que estavam angustiadas por não poderem acalmar a aflição
dos seus bebés ao longo das fases de simbiose e de diferenciação, ficam agora mais aliviadas por verem os
seus filhos tomarem-se menos frágeis, menos vulneráveis e um pouco mais independentes. Estas mães e os
seus filhos não conseguiram ter prazer no contacto físico estreito, mas podem ambos ter agora prazer a
uma distância ligeiramente maior. Estas mesmas crianças tornam-se mais calmas e mais capazes de
recorrerem às suas mães para encontrarem conforto e segurança.
Pelo contrário, podemos observar um outro padrão de interacção mãe-criança ao longo do primeiro período
dos ensaios naquelas crianças que procuravam mais activamente a proximidade física da mãe, crianças
cujas mães tinham a maior dificuldade em entrar em relação com elas ao longo do processo de
diferenciação activo. Estas mães apreciavam a proximidade da fase simbiótica, mas uma vez esta fase
passada, elas gostariam de ver os seus filhos tomarem-se ‘grandes duma só vez. E interessante notar que
estas crianças acham difícil crescer. São incapazes de ter prazer na sua capacidade nascente de se
distanciarem e reclamam muito activamente a proximidade.
A capacidade de locomoção crescente ao longo da primeira subfase dos ensaios alarga o universo da
criança. Não só tem um papel mais activo na determinação da proximidade e da distância à mãe, mas as
©Celeste Duque 10-05-2011 10
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

modalidades utilizadas até ai para explorar um ambiente relativamente familiar expõem-no, de súbito, a um
maior segmento da realidade: há mais para ver, mais para ouvir, mais para tocar. O modo de experimentar
este universo novo parece subtilmente ligado à mãe, ainda o centro deste universo da criança, donde ela sai
gradualmente por círculos cada vez mais largos.
As primeiras explorações servem para:
1. Estabelecer uma familiaridade com um segmento maior do universo;
2. Percepcionar e reconhecer a mãe, a ter prazer com ela a uma distância maior. São as crianças que têm um
melhor ‘contacto à distância com a mãe que se aventuram mais longe dela.

Um bebé que esteja neste período dos ensaios ocupa-se alegremente a explorar por si mesmo o seu
ambiente físico. De tempos a tempos volta à sua mãe para efectuar uma recarga emocional. Normalmente,
a mãe aceita este desprendimento gradual do seu bebé e encoraja o seu interesse pelos ensaios. Está
emocionalmente disponível, atenta às necessidades da criança, e assegura este apoio materno necessário a
um desenvolvimento óptimo das funções autónomas do Ego.
Quando a criança, graças à maturação do seu aparelho de locomoção, se tenta aventurar a uma maior
distância em relação à sua mãe, Está muitas vezes tão absorvida nas suas próprias actividades que, durante
longos períodos de tempo, esquece aparentemente a presença da mãe. Contudo, volta a ela regularmente,
parecendo ter necessidade de vez em quando da sua proximidade física.
A distância óptima, neste primeiro período dos ensaios, parece ser aquela que dá à criança a liberdade de se
deslocar, de explorar gatinhando e a oportunidade de explorar a uma certa distância física da mãe. E
necessário notar, contudo, que ao longo de toda a subfase dos ensaios a mãe continua a ser necessária
como ponto fixo, ‘porto de abrigo’, para preencher a necessidade de recarga por contacto físico. Os bebés
de 7 a 10 meses gatinham ou arrastam-se rapidamente em direcção à sua mãe, apoiando-se ao longo da sua
perna, tocando-a, ou simplesmente apoiando-se nela. É o que se designa por ‘recarga emocional’. É fácil
de constatar a rapidez com que o bebé abatido e cansado se ‘revigora’ após o contacto com a mãe: volta
rapidamente à sua exploração e deixa-se mais uma vez absorver pelo prazer que tem com o seu
funcionamento.
Com o desenvolvimento das funções autónomas, como a cognição, e mais particularmente a locomoção em
posição vertical começa ‘a história de amor com o mundo’, O bebé passa o maior degrau da individuação
humana. Caminha livremente em posição vertical. Por isso, o plano da sua visão muda. Dum ponto de vista
completamente novo, descobre perspectivas, prazeres e frustrações inesperados e novos. A posição em pé
trás um nível visual novo.
Durante estes preciosos 6 a 8 meses (dos 10 ou 12 meses aos 16-18 meses), o mundo é a ostra do bebé. O
investimento libidinal desloca-se de modo substancial para se meter ao serviço do Ego autónomo, em vias
de crescimento rápido, e das suas funções. E a criança parece intoxicada pelas suas próprias faculdades e
da imensidade do seu próprio universo, O narcisismo encontra-se no ponto auge! Os primeiros passos
independentes da criança em posição vertical marcam o início dos ensaios por excelência, com um
alargamento substancial do seu universo e da sua prova da realidade. Há um investimento libidinal,
crescendo de maneira estável, dos talentos motores para os ensaios, da exploração do ambiente que se
expande, tanto humano como inanimado. A principal característica deste período dos ensaios é, na criança,
o grande investimento narcísico das suas próprias fincões, do seu próprio corpo enquanto objecto e
objectivos da sua ‘realidade’ em crescimento. Paralelamente, constatasse uma impermeabilidade
relativamente grande aos golpes, quedas e frustrações (o facto de outra criança agarrar um brinquedo, por
exemplo).
A criança fica maravilhada com os seus próprios talentos, continuamente orgulhosa das descobertas que
faz no seu universo em vias de expansão e quase apaixonado pelo universo e pela sua própria grandeza e
omnipotência. A importância de caminhar para o desenvolvimento emocional da criança é inestimável.
Andar dá ao bebé muito mais possibilidade de descobrir a realidade e de fazer a prova do universo, sob o
seu próprio controlo e poder mágico. Ao longo do mês que se segue imediatamente à aquisição da
locomoção livre e activa, a criança faz sérios progressos na afirmação da sua individualidade. Parece ser o
primeiro grande passo para a formação da identidade, A locomoção livre em posição vertical parece tomar-
se para numerosas mães a prova suprema de que os seus bebés ‘conseguiram’.
©Celeste Duque 10-05-2011 11
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Resumindo, andar parece ter, tanto para a mãe como para o bebé, uma grande significação simbólica: é
como se o bebé que anda tivesse a prova, pela sua locomoção independente em posição vertical, de que ele
já foi promovido ao mundo dos seres humanos independentes. A antecipação e a confiança fornecidas pela
mãe, que tem um sentimento de que o seu filho pode ‘conseguir’, parecem servir de despoletadores
importantes para o próprio sentimento de segurança da criança e constituir o encorajamento inicial para
que ela troque uma parte da sua magia omnipotente pelo prazer ligado à sua própria autonomia e à estima
de si crescente.

4.1.2.3. 3ª Subfase: reaproximação


Graças à aquisição da locomoção livre em posição vertical e à realização, pouco tempo depois, do estádio
do desenvolvimento que Piaget considera como o início da inteligência representativa (que culminará no
jogo simbólico e no discurso), o ser humano emergiu como pessoa separada e autónoma. Estas duas ‘forças
organizadoras’ são as parteiras do nascimento psicológico. Neste estádio final do processo de ‘eclosão’ o
bebé atinge o primeiro nível de identidade – ser uma entidade individual separada.
Durante o 2º ano de vida, o bebé torna-se cada vez mais consciente do facto de estar fisicamente separado e
utiliza este facto cada vez mais extensivamente. Contudo, paralelamente ao crescimento das suas
faculdades cognitivas e à diferenciação crescente da sua vida emocional, há uma diminuição assinalável da
sua anterior imperturbabilidade à frustração e, igualmente, uma diminuição do que foi uma tendência
relativa a esquecer a presença da sua mãe.
Podemos observar um aumento da angústia de separação: no início consiste essencialmente no medo de
perder o objecto, e que podemos inferir a partir de numerosos comportamentos das crianças. A ausência
relativa de preocupação relacionada com a presença da mãe, característica da subfase dos ensaios,
encontra-se agora substituída por uma preocupação aparentemente constante relacionada com as idas e
vindas da mãe e por um comportamento activo de aproximação. A medida que se desenvolve no bebé a sua
consciência de ser separado – estimulada pela sua capacidade, adquirida por maturação, de se afastar
fisicamente da mãe e pelo seu crescimento cognitivo – parece haver uma necessidade acrescida, um desejo
maior de ver a sua mãe partilhar com ela cada um dos seus talentos e das suas novas experiências, e um
desejo muito grande do amor do objecto.
Como já foi descrito anteriormente, a necessidade de proximidade entrou em declínio durante o período
dos ensaios. É por esta razão que esta subfase se designa por reaproximação. O género de aproximação
corporal ‘de recarga que caracterizou a criança durante o período dos ensaios, é substituída (a partir dos
15-24 meses) pela procura deliberada, ou o evitamento, do contacto corporal estreito. Isto é agora marcado
pela interacção do bebé e da sua mãe a um nível muito mais elevado: a linguagem simbólica, tanto vocal
como sob outros modos de comunicação, e o jogo tomam-se cada vez mais predominantes.
Ao longo da subfase de reaproximação observam-se reacções à separação em todas as crianças. Os dois
padrões característicos do comportamento do bebé nestas idades – o seguimento da mãe (o hábito
incessante da criança de vigiar e seguir cada um dos movimentos da mãe) e a partida precipitada para
longe dela, com a expectativa de ser perseguida e pegada nos seus braços – indicam o seu desejo de
reunião com o objecto de amor e o seu medo de ser reincorporada. Observa-se no bebé um padrão de
‘afastamento’ dirigido contra todo o impedimento sobre a sua autonomia recentemente adquirida. Mais, o
seu medo nascente de perder o amor representa um elemento de conflito com a interiorização. Na idade da
reaproximação, certas crianças parecem ser já mais sensíveis á desaprovação. Apesar de tudo, a autonomia
é defendida pelo ‘não’, assim como pela agressividade acrescida e o negativismo da fase anal.
Durante o período dos ensaios, e paralelamente à aquisição dos talentos primitivos e das faculdades
perceptivas cognitivas, produziu-se uma diferenciação cada vez mais clara, uma separação entre a
representação intrapsíquica do objecto e a representação do Eu. No apogeu do seu domínio sobre o mundo,
no final do período dos ensaios, o bebé começou a entrever que o universo não era uma ostra, que tinha de
o enfrentar mais ou menos ‘por ele mesmo’, muitas vezes como indivíduo relativamente sem defesas,
pequeno e separado, incapaz de solicitar apoio ou assistência pelo simples facto de sentir a necessidade ou
mesmo de dar voz a essa necessidade.
A qualidade e o grau do comportamento de solicitação do bebé face á sua mãe ao longo desta subfase
fornece indicadores importantes relacionados com a normalidade do processo de individuação. O medo da
©Celeste Duque 10-05-2011 12
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

perda do amor do objecto (mais do que o medo da perda do objecto) toma-se cada vez mais evidente. É
normal a existência de incompatibilidades e incompreensões entre a mãe e o seu filho. Estas
incompatibilidades e incompreensões estão enraizadas nalgumas contradições desta subfase. A exigência
do bebé de ver a sua mãe constantemente implicada parece contraditória para a mãe: agora que ele já não é
tão dependente e não está tão desarmado em comparação com seis meses atrás, e que o deseja ser cada vez
menos, manifesta, contudo e com cada vez maior insistência, o desejo de ver a sua mãe partilhar com ele
todos os aspectos da sua vida.
Ao longo desta 3ª subfase, o da reaproximação, quando a individuação se efectua muito rapidamente e que
a criança a exerce até ao limite, a criança toma-se igualmente cada vez mais consciente de estar e de ser
separada, e recorre a todos os mecanismos a fim de resistir a, e a desfazer, esta realidade de separação em
relação à mãe. É um facto, entretanto, que, seja qual for a influência exercida pela criança sobre a mãe, os
dois não podem funcionar efectivamente mais como uma unidade dual – isto é, a criança já não pode
sustentar o delírio da força omnipotente parental que, espera ele em determinados momentos, vai restaurar
o status quo simbiótico.
A comunicação verbal toma-se cada vez mais necessária. A utilização dos gestos por parte da criança e a
empatia pré-verbal mútua entre a mãe e a criança não são mais suficientes para atingirem o objectivo
comunicacional. O bebé apercebe-se pouco a pouco que os seus objectos de amor (os seus pais) são
indivíduos separados, tendo os seus próprios interesses pessoais. Ele deve, pouco a pouco e não sem
sofrimento, abandonar o seu delírio sobre a sua própria grandeza, muitas vezes através de lutas dramáticas
com a mãe – e em grau menor com o pai. É este cruzamento que se designa por ‘crise de reaproximação’.
Se a mãe está ‘discretamente disponível’, com uma provisão acessível de líbido objectal, se ela partilha as
explorações aventureiras do seu bebé, se ela interage com ele nos jogos e nas brincadeiras, e facilita deste
modo os seus esforços salutares para imitar e se identificar, então a interiorização da relação entre a mãe e
o bebé pode progredir até ao ponto onde, no momento previsto, a comunicação verbal se toma relevante,
mesmo se há ainda predominância dum comportamento gestual bem saliente, No final do 2º ano e início do
3º, a implicação emocional previsível por parte da mãe parece facilitar o desenvolvimento florescente dos
processos mentais do bebé, a prova da realidade e os comportamentos para os realizar. Por outro lado, o
crescimento emocional da mãe na sua função materna, a sua vontade emocional de deixar ir o bebé – de
lhe dar, como a mãe-pássaro, um ligeiro empurrão, um encorajamento para a independência – ajuda
grandemente. Pode mesmo ser uma condição sine qua non da individuação normal e sã.
Aquilo que se designa por ‘seguimento’ da mãe parece, até certo ponto, necessário ao bebé (ou o seu
contrário, a partida precipitada), muitas vezes verificada no início desta subfase). Nos casos normais, o
‘seguimento’ faz parte, na segunda metade do 3º ano, dum certo grau de permanência do objecto.
Entretanto, quanto menos a mãe se mostra disponível no momento da reaproximação mais o bebé tentará
solicitá-la intensamente e desesperadamente. Em certos casos, este processo canaliza de tal modo a energia
disponível da criança para o desenvolvimento que não restará suficiente energia, nem de líbido nem de
agressividade construtiva (ambas neutralizadas), para a evolução das numerosas funções ascendentes do
Ego.
Pelos quinze meses, regista-se uma mudança importante na qualidade da relação da criança com a sua mãe.
Ao longo do período dos ensaios a mãe representava o ‘porto de abrigo’ para o qual a criança retomava
quando necessitava – necessidade de comida, de reconforto ou de ‘recarga’, quando estava cansada. Mas,
ao longo deste período, a mãe não parecia ser reconhecida como pessoa separada de pleno direito. Para
algumas, perto dos 15 meses, a mãe não é somente o porto de abrigo’. Parecia transformar-se numa pessoa
com quem o bebé deseja partilhar as suas descobertas do mundo cada vez mais alargado. O sinal de
comportamento mais importante neste novo modo de relação é o facto, para o bebé, de trazer
incessantemente coisas à mãe, cobrindo os seus joelhos de objectos que ele encontra no seu universo em
vias de expansão. Todos eles têm interesse para ele, mas o investimento emocional principal repousa na
necessidade da criança os partilhar com a sua mãe. Ao mesmo tempo, o bebé indica à sua mãe, por
palavras, sons ou gestos, o seu desejo de a ver interessada nas suas ‘descobertas’ e partilhar o prazer que
ele tem. Ao mesmo tempo que começa a ter consciência de ser separada, a criança apercebe-se que os
desejos da sua mãe não parecem sempre idênticos aos seus – ou, pelo contrário, que os seus desejos não
coincidem sempre com os da sua mãe. Esta constatação representa um desafio imenso ao seu sentimento de

©Celeste Duque 10-05-2011 13


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

grandeza e de omnipotência do período dos ensaios, quando a criança se sentia nos ‘píncaros do universo’.
E dado um grande golpe na crença da sua omnipotência e é perturbada a beatitude da unidade dual!
A fonte de maior prazer da criança desloca-se da locomoção independente e da exploração do universo
inanimado em vias de expansão para a interacção social. Os jogos de esconde-esconde, assim como os
jogos de imitação, tomam-se nos passatempos favoritos. O reconhecimento da mãe como pessoa separada
do grande universo faz-se paralelamente à tomada de consciência da existência separada de outras crianças,
do facto de que elas são parecidas e, em simultâneo, diferentes do seu próprio Eu. A prova é dada pelo
facto das crianças manifestarem um maior desejo de ter e de fazer o que outra criança tem ou faz – isto é,
um desejo de reflectir em espelho, de imitar e de se identificar, até certo ponto, com outra criança. Ao
mesmo tempo que se desenvolvem estas novas características, aparece a ira especifica dirigida a um
objectivo, a agressividade se o objectivo não puder ser atingido. Não podemos esquecer que estes
desenvolvimentos se dão a meio da fase anal, com as suas características de aquisitividade, de ciúme e de
inveja.
Nesta subfase, o bebé parece experimentar o seu corpo como sua possessão. Deixa de gostar de ser
manipulado: resiste a ser segurado numa posição passiva quando o vestem, E não gosta de ser acarinhado e
abraçado, a não ser que esteja preparado. O desejo da criança por uma autonomia acrescida tem expressão
não só no negativismo face aos outros e à mãe, mas também se traduz numa extensão activa do universo
mãe-criança: principalmente a inclusão do pai. O pai, como objecto de amor, pertence muito cedo a uma
categoria de objectos de amor inteiramente diferente da da mãe. Se bem que ele não esteja completamente
fora da união simbiótica também não faz completamente parte. Mais, o bebé percebe provavelmente cedo
uma relação especial do pai com a mãe. Mas na altura da reaproximação a criança desenvolve relações
com outras pessoas que não o pai e a mãe.
Durante a primeira fase de reaproximação, regista-se uma mudança interessante nas reacções das crianças
face à presença ou ausência da sua mãe. Estão agora cada vez mais conscientes da ausência da mãe e
perguntam onde ela está. Por outro lado, contudo, são capazes igualmente de se manterem cada vez mais
absorvidas pelas suas próprias actividades, e muitas vezes não gostam de ser interrompidas. Querem ‘ir
ver’ a mãe, mas sem a intenção de se demorarem perto dela, só um momento, para de seguida continuarem
com as suas ocupações. À medida que progridem na subfase de reaproximação, as crianças encontram
novas maneiras activas de enfrentarem a ausência da mãe (considerando a hiperactividade e a agitação
motora como uma actividade defensiva precoce contra a tomada de consciência do afecto doloroso da
tristeza): entram em relação com substitutos adultos e absorvem-se nos jogos simbólicos. Numerosas
formas de jogo traduzem a sua identificação precoce à mãe ou ao pai – por exemplo, a sua forma de
segurar as bonecas ou os ursos. Parece instalar-se o início da interiorização da representação do objecto.
Para a maioria das crianças, o primeiro período da reaproximação conhece o seu apogeu perto dos 17-18
meses, pelo que parece uma consolidação e uma aceitação temporárias da consciência de ser separada. Isto
é acompanhado por um grande prazer em partilhar objectos e actividades com a mãe e com o pai e, cada
vez mais, com o universo social agora em vias de expansão, compreendendo não só os adultos mas
também outros bebés, crianças da sua idade e mais velhas. Ao longo do período dos ensaios a palavra
‘adeus’ era a mais importante. A palavra mais importante neste período de reaproximação é ‘olá’. Aos 18
meses, as crianças parecem muito impacientes por exercerem em toda a sua extensão a sua autonomia
rapidamente crescente. Cada vez mais, preferem não ser lembradas que em determinados momentos não se
conseguem desembaraçar sozinhas, Seguem-se conflitos que se parecem articular no desejo de ser
separada, grande e omnipotente, por um lado, e, por outro, de ver a sua mãe concretizar magicamente os
seus desejos, sem ter de reconhecer que a ajuda vem do exterior, do outro. É característico desta idade que
as crianças recorram à sua mãe como extensão do seu Eu – processo pelo qual negam a consciência
dolorosa de estarem separadas. Um comportamento típico deste género consiste em pegar na mão da mãe e
usá-la como instrumento para ir buscar o objecto desejado.
Aos 21 meses podemos observar uma atenuação dos esforços de reaproximação. Verifica-se, a
reivindicação por um controlo omnipotente, os períodos extremos de angústia de separação, a alternância
das exigências de proximidade e de autonomia diminuem. Enquanto isso acontece, parece que cada criança
procura, mais uma vez, encontrar a distância óptima à sua mãe, A distância a partir da qual a criança pode
funcionar melhor.

©Celeste Duque 10-05-2011 14


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Os elementos de individuação crescente que parecem tomar possível esta capacidade de funcionar melhor a
uma distância maior, e sem a presença da mãe, são os seguintes:
1. O desenvolvimento da linguagem, no sentido de nomear os objectos e de exprimir os seus desejos com
palavras precisas. A possibilidade de nomear os objectos parece fornecer à criança um maior sentimento de
controlo do seu ambiente;
2. O processo de interiorização, que podemos inferir a partir de actos de identificação com a ‘boa’ mãe ou o
‘bom’ pai, fontes de aprovisionamento, e a partir da interiorização de regras e de exigências (início do Super-
Ego);
3. Um progresso na capacidade de exprimir os seus desejos e os seus fantasmas pelo jogo simbólico e a
utilização do jogo com fins de domínio da realidade.

Quando as crianças atingem o 21º mês constata-se que já não é possível reagrupá-las segundo os critérios
gerais anteriores. As vicissitudes dos seus processos de individuação são tão diferentes e produzem-se com
tal rapidez que não são mais específicos duma fase mas, antes, muito distintas individualmente e diferentes
de criança para criança. O ponto principal não é tanto a consciência de ser separada mas antes como essa
consciência é afectada pela, e afecta a relação mãe-criança, a relação pai-criança (esta última muito
claramente diferente da primeira), e a integração da personalidade individual e total da criança. Existem
grandes diferenças entre rapazes e raparigas. Enquanto que os rapazes manifestam uma maior tendência
para se separarem da mãe e terem prazer no seu funcionamento no universo em expansão, as raparigas
exigem uma maior proximidade e fixam-se nos aspectos ambivalentes da relação.
Ao 23º mês, parece que a capacidade dos crianças enfrentarem a consciência da separação, tanto quanto ao
facto físico da separação, depende, em cada caso, da história da relação mãe-criança e do seu estado actual.
Sejam quais forem as diferenças sexuais que pré-existam no domínio dos aparelhos do Ego e dos primeiros
modos do Ego, elas são certamente complexas e marcadas geralmente pelos efeitos da descoberta pela
criança das diferenças dos sexos. Isto produz-se ao 20º-21º meses, por vezes antes (16º- l7º meses).
A descoberta pelo rapaz do seu próprio pénis dá-se mais cedo. A componente sensório-táctil desta
descoberta pode dar-se no 1º ano de vida, mas subsistem dúvidas quanto ao seu impacto emocional. Aos
12-14 meses a posição vertical facilita a exploração visual e sensório-motriz do pénis.
Quando as raparigas descobrem o pénis são confrontadas com qualquer coisa que lhes falta. Esta
descoberta origina alguns comportamentos que indicam claramente a angústia, a cólera e a desconfiança
das raparigas. Elas desejam desfazer a diferença sexual.
Resumindo, parece que a tarefa de se tomar um indivíduo separado parece, neste momento, ser geralmente
mais difícil para as raparigas que para os rapazes, porque as raparigas descobrindo as diferenças dos sexos
têm tendência a revoltarem-se contra a mãe, a responsabilizá-la, a exigir dela, estão desapontados e, apesar
de tudo, permanecem ligadas a ela de maneira ambivalente,

4.1.2.4. 4ª Subfase: Consolidação da individualidade e início da Permanência do objecto


emocional
Do ponto de vista do processo de separação-individuação, a tarefa principal da 4ª subfase apresenta-se em
dois elementos: 1) a aquisição duma individualidade bem definida e, sob certos aspectos, para toda a vida;
e 2) a realização dum certo grau de permanência do objecto.
No que diz respeito ao Eu, há uma estruturação extensiva do Ego e há sinais precisos da interiorização das
interdições parentais, que indicam a formação dos precursores do Super-Ego. A realização da permanência
do objecto afectivo (emocional) depende da interiorização gradual duma imagem interior da mãe, imagem
constante e investida de energia positiva. Para começar, Isso permite à criança funcionar separadamente
num ambiente familiar, apesar dum certo grau (moderado) de tensão e de desconforto. A permanência do
objecto emocional será fundada, em primeiro lugar, na aquisição cognitiva do objecto permanente, mas
todos os outros aspectos do desenvolvimento da personalidade da criança participam igualmente nesta
evolução. A última subfase (o 3º ano de vida) é um período extremamente importante do ponto de vista do
desenvolvimento intrapsíquico: um sentimento estável de identidade é atingido (limites do Eu). Parece
também ser nesta subfase que se dá uma consolidação primitiva da identidade sexual.

©Celeste Duque 10-05-2011 15


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Mas a permanência do objecto implica mais que a manutenção da representação do objecto de amor
ausente. Implica também a unificação do bom’ e do ‘mau’ objectos numa só representação global. Isto
favorece a intrincação das pulsões agressivas e libidinais, e ameniza o ódio ao objecto, quando a
agressividade é intensa. Num estado de permanência do objecto, um objecto de amor não será rejeitado ou
trocado por outro se já não dá satisfação. Neste estado, a nostalgia do objecto subsiste sempre e este não é
rejeitado (odiado) como sendo insatisfatório simplesmente por causa da sua ausência.
Os principais factores que determinam a permanência do objecto são:
1) a confiança e a segurança adquiridas graças à experiência repetida do alívio da tensão por um agente de
satisfação das necessidades e tão precocemente como a fase simbiótica. Ao longo das subfases do processo de
separação-individuação, o alívio da tensão da necessidade é gradualmente atribuída ao objecto total (a mãe),
fonte de satisfação das necessidades, e de seguida transferida, por meio da interiorização, para a representação
intrapsíquica da mãe; e
2) a aquisição cognitiva da representação simbólica interior do objecto permanente (segundo o significado
puramente cognitivo de Piaget), de objecto único de amor, a mãe.

A maturidade plena da relação, própria da criança em idade escolar e do adulto revela-se por uma relação
do objecto de amor sob a forma de uma troca mútua (dar e receber). Uma vez que é neste período que a
criança aprende a exprimir-se verbalmente, podemos traçar algumas vicissitudes do processo intrapsíquico
da separação com a mãe, e os respectivos conflitos, por intermédio do material verbal e pela
fenomenologia do comportamento. A comunicação verbal, que se Iniciou ao longo da 3 subfase,
desenvolve-se rapidamente nesta 4 subfase da separação-individuação e substitui lentamente as outras
formas de comunicação. A linguagem gestual do corpo continua, contudo, presente. Começa a ser
constituído um significado da temporalidade, e com ela uma maior capacidade de tolerar um adiamento da
gratificação e de prolongar a separação. A criança compreende e utiliza os conceitos de ‘mais tarde’ e
‘amanhã’.
A 4ª subfase caracteriza-se pelo desenvolvimento das funções cognitivas complexas: comunicação verbal,
fantasmatização e prova da realidade. Ao longo deste período de diferenciação rápida do Ego (dos 20 ou
22 meses até aos 30 ou 36 meses), a individualização desenvolve-se rapidamente e a aquisição das
representações mentais do Eu como distintamente separadas das representações do objecto, abre a via à
formação da identidade do Eu.
Ao longo da segunda metade do 3º ano, e nos casos ideais, o investimento libidinal persiste mesmo na
ausência de satisfação imediata e mantém o equilíbrio emocional da criança durante as ausências
temporárias do objecto. As principais condições da saúde mental, no que diz respeito ao desenvolvimento
pré-edipiano, repousam na aquisição pela criança duma capacidade contínua de manter e de restaurar a
estima de si, no contexto duma relativa permanência do objecto libidinal. Na 4ª subfase, que não tem fim,
as duas estruturas internas – a permanência do objecto libidinal e também a imagem unificada do Eu
baseada nas verdadeiras identificações do Ego – devem-se começar a desenvolver.

5. TEORIA DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO


“A aprendizagem era outrora o domínio privilegiado das teorias comportamentais. Também actualmente é
estudada no quadro das teorias do desenvolvimento cognitivo” (Vandenplas-Holper, 1982, p. 231), que
analisam as interacções entre desenvolvimento e aprendizagem (Coll, 1984; Furth, 1974; Inhelder, Sinclair
& Bovet, 1974; Piaget, 1973; Piaget & Chomsky, 1987; Piaget & Gréco, 1974; Pontecorvo, 1988; Tavares
& Alarcão, 1989; Vygotsky, 1977).
Segundo Vandenplas-Holper (1982), enquanto que as teorias da aprendizagem social insistem sobretudo na
acção determinante do meio, os teóricos do desenvolvimento cognitivo põem a tónica quase
exclusivamente na actividade estruturante do sujeito que, do interior, organiza os dados do mundo físico e
social (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974; Perret-Clermont, 1979; Piaget, 1973; 1974; 1976a; 1976b; 1978;
Piaget & Chomsky, 1987; Piaget & Gréco, 1974).
À semelhança da observação de Lewin, também Piaget (Piaget & Chomsky, 1987) e Inhelder, Sinclair e
Bovet (1974), interrogando-se sobre a validade das experiências realizadas sobre o primado das teorias

©Celeste Duque 10-05-2011 16


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

associacionistas da aprendizagem, também consideram que estas são “fenómenos particulares que devem
ser inseridos num sistema explicativo muito mais geral” (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974, p. 34),
nomeadamente através de uma rigorosa experimentação realizada segundo os pressupostos de uma
epistemologia estrutural e genética (Piaget & Gréco, 1974; Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974).

5.1. Desenvolvimento Cognitivo da Inteligência

5.1.1. Interaccionismo piagetiano


Vandenplas-Holper (1982, p. 27) acentua que “a teoria de Piaget é uma teoria interaccionista e
constructivista”, isto é, o desenvolvimento cognitivo é visto em função das interacções que o sujeito
estabelece com os objectos, físicos e sociais (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974; Piaget, 1973; 1976;
Vandenplas-Holper, 1987). “O sujeito humano constrói o seu conhecimento dos objectos, incluindo os
outros humanos, interagindo activamente com eles” (Vandenplas-Holper, 1987, p. 19), que é um processo
no qual “o indivíduo é em parte agente da sua própria mudança e participa na orientação do
desenvolvimento” (Gilly & Piolat, 1986, p. 22) e onde o conhecimento é construído em sucessivas etapas
evolutivas e adaptativas, visando sucessivos 'equilíbrios majorantes' (Piaget, 1987), equilíbrios que
correspondem a modos estruturais diferentes e superiores de compreensão e apreensão da realidade do
meio físico e social.
Por outro lado, Inhelder, Sinclair e Bovet (1974, p. 14) consideram que a contribuição de Piaget se
caracteriza por “três traços dominantes:
1. A dimensão biológica;
2. A interacção dos factores sujeito-meio...;
3. O construtivismo psicogenético”.

5.1.2. Adaptação e Evolução


Condenando o empirismo, Piaget (1973; 1974; 1987) tem como ponto de partida para a sua teoria de
desenvolvimento cognitivo os fundamentos filosóficos preconizados por Kant sobre a origem do
conhecimento humano: os conhecimentos ‘a priori’ (Piaget & Chomsky, 1987).
Para Piaget (1973; Piaget & Chomsky, 1987; Piaget & Gréco; 1974; Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974) o
desenvolvimento cognitivo da inteligência rege-se por processos de adaptação e evolução análogos aos
processos adaptativos e evolutivos encontrados em Biologia e analisados noutros seres vivos.
À nascença a criança possui estruturas orgânicas hereditárias (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974) ou,
como nos diz Piaget (Piaget & Chomsky, 1987, p. 395), “...o funcionamento (da estrutura cognitiva)
implica mecanismos nervosos hereditários”.

5.1.3. Assimilação e Acomodação


Segundo Inhelder, Sinclair e Bovet (1974), as primeiras condutas de adaptação cognitiva processam-se
através de assimilação funcional a partir de estruturas biologicamente pré-existentes. Assimilação no
sentido do sujeito incorporar elementos novos nas estruturas programadas hereditariamente.
Por outro lado, esta actividade de assimilação ou de incorporação, na medida em que se reproduz e se
generaliza, conduz a mudanças na cognição sensório-motora, através da acomodação diferenciadora. Deste
modo, essa assimilação está na “origem dos primeiros esquemas de conhecimento do sujeito e da sua
integração constituem-se as novas condutas que não estão inscritas nas estruturas orgânicas hereditárias”
(Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974, p. 15).
Essas estruturas hereditárias não determinam em absoluto o desenvolvimento cognitivo do sujeito
(Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974), pressupõem antes uma “...hereditariedade de funcionamento das
próprias construções” (Piaget, 1987, p. 281), isto é, o conhecimento concreto não está inscrito e
biologicamente pré-programado (Eibl-Eibesfeldt, 1978), o modo estrutural de funcionamento cognitivo de
aquisição e construção do conhecimento, físico ou lógico-matemático, é que é hereditário (Inhelder,
Sinclair, & Bovet, 1974; Piaget & Chomsky, 1987).
©Celeste Duque 10-05-2011 17
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Deste modo, Piaget não se situa no campo estritamente apriorístico: “Do ponto de vista epistemológico, a
ausência de toda a aprendizagem das estruturas lógicas, seria então naturalmente favorável a uma
interpretação apriorística. Recorrendo a um puro desenvolvimento interno, a redução possível de tal
aprendizagem, reconhecida como existente, à das estruturas físicas, conduziria pelo contrário a uma
interpretação empirista, enquanto o circulo presumido das estruturas lógicas aprendidas e das estruturas
anteriores constituindo a condição dessa aprendizagem sugeriria uma interpretação interaccionista, na
qual seria necessário aliás precisar o papel de existência e das actividades do sujeito” (Piaget, 1975, p.
25).

5.1.4. Construtivismo piagetiano


Em epistemologia genética, o sujeito e o objecto não são dissociáveis (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974).
O sujeito só pode conhecer o objecto através das relações e acções que exerce sobre esse mesmo objecto,
realizando 'aproximações sucessivas' ao conhecimento deste (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974).
O conhecimento dos objectos não é um dado imediato, o sujeito elabora o objecto segundo duas direcções
complementares e interdependentes: “aquela que conduz à elaboração de formas de conhecimento ou
estruturas lógico-matemáticas e aquelas que conduzem ao conhecimento dos objectos e das relações
espacio-temporais e causais que os constituem” (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974), ou às estruturas
lógicas e às estruturas físicas (Piaget, 1974).

5.2. Estádios do Desenvolvimento Cognitivo


Obviamente, que a construção desse conhecimento é feito em sucessivas etapas, que Piaget baptizou de
estádios de desenvolvimento cognitivo, que mais não são, cada um deles, que formas bem diferenciadas de
esquemas, e de coordenação de esquemas de apreensão e construção da realidade (física e social), que
correspondem a formas dinâmicas de equilíbrio da estrutura cognitiva.

5.2.1. Coordenação de Esquemas e Equilibração


No início os esquemas cognitivos só são parcialmente coordenados, o que origina julgamentos
contraditórios ou incompatíveis entre si (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974) e que correspondem a uma
forma determinada de equilíbrio da estrutura cognitiva (Piaget, 1973; 1974; 1987). Com a subsequente
construção de esquemas lógico-matemáticos melhor coordenados entre si e que correspondem a formas
superiores de apreensão lógica dos objectos físicos e sociais (que são testemunhos da capacidade
organizativa da estrutura cognitiva – Inhelder, Sinclair e Bovet, 1974 –, através de sucessivos equilíbrios
ou processos de equilibração – Piaget, 1978 – ou equilibração cognitiva – Piaget e Chomsky, 1987 –
ampliadores ou majorantes – Piaget e Chomsky, 1987) estes conduzem, não a retornos a formas anteriores
de equilíbrio, mas sim a formas superiores de equilíbrio, “caracterizada pelo aumento das dependências
mútuas ou implicações necessárias” (Piaget, 1987, p. 60).

5.3. Desenvolvimento e Aprendizagem


As teorias do estímulo-resposta, S – R, ou a sua evolução estímulo-organismo-resposta, S – O – R, de
Hull, são acusadas por Smesdlund (Piaget & Gréco, 1974) de imprecisão na definição de S e de R (que
acusa de ser tão precisa como a utilização de esquemas causas-efeitos). Piaget (1974) considera, por sua
vez, que “o esquema S – R constituiria uma verificação do empirismo se (se pudesse) reduzir o estímulo S
às propriedades do objecto e se (se pudesse) reciprocamente reduzir a parte do sujeito no conhecimento às
respostas R” (Piaget & Gréco, 1974, pp. 20-21).
Deste modo, e transpondo a epistemologia interaccionista em termos de estímulos e respostas, o esquema
preconizado por Piaget é S(O) → R, “onde o estímulo S é indissociável do organismo O, o qual, antes
mesmo de fornecer a resposta R, percebe e interpreta esse estímulo S em função das actividades
(perceptivas ou outras), intervindo necessariamente na sua qualificação ... nesse caso o problema
epistemológico situa-se primeiramente ao nível da relação SO” (Piaget & Gréco, 1974, p. 21).

©Celeste Duque 10-05-2011 18


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

De qualquer modo, os processos de aprendizagem analisados pelos associacionistas e comportamentalistas,


apesar de não explicarem o desenvolvimento cognitivo dos sujeitos, estão sujeitos às suas leis (Piaget &
Chomsky, 1987), pois o estímulo ou um padrão de estímulos não actua no vazio, a sua acção supõe a
presença de um esquema (Inhelder, Sinclair, &e Bovet, 1974; Piaget & Chomsky, 1987), que é na
realidade a fonte da resposta (Piaget & Chomsky, 1987).

5.4. Estrutura Cognitiva e 'inconsciente cognitivo'


“O que caracteriza (...) o aspecto cognitivo dos comportamentos é a sua estrutura, quer se trate de
esquemas de acção elementares, de operações concretas de classificação ou de seriação, etc., ou da lógica
das proporções com os seus diferentes foncteurs (implicações, etc.)” (Piaget, 1972, p. 42).
Assim, e em relação ao aspecto meramente cognitivo do comportamento e da acção, o factor que Piaget
realça é a estrutura cognitiva do sujeito. Estrutura cognitiva que Piaget (1972) caracteriza por uma relativa
consciência do resultado (embora bastante pobre), e total inconsciência dos mecanismos que conduzem os
comportamentos e as acções: é o “inconsciente cognitivo” (Piaget, 1972).
Esse inconsciente cognitivo representa os mecanismos (ou estruturas) que fazem funcionar o aparelho
cognitivo, transformando o pensamento: “O pensamento do indivíduo é orientado por estruturas cuja
existência ignora e que determinam não só o que ele é capaz ou incapaz de 'fazer' (...) mas ainda o que é
'obrigado' a fazer (...) (A) estrutura cognitiva é o sistema de ligações que o indivíduo pode e deve utilizar,
não se reduzindo de forma alguma ao conteúdo do seu pensamento consciente” (Piaget, 1972, p. 43).
O problema não está em relação à consciência do conteúdo do pensamento mas sim às razões estruturais e
funcionais que levam o sujeito a pensar deste ou daquele modo, isto é, do mecanismo íntimo que dirige o
pensamento (Piaget, 1972). Por outro lado, a consciência dos resultados obtidos pelo pensamento não dá
indicação nenhuma dos mecanismos íntimos que transformam o pensamento, permanecendo as suas
estruturas inconscientes enquanto estruturas.
Podemos dizer que a estrutura cognitiva “é uma forma de organização da experiência” (Piaget; op. cit.
Battro, 1978, p. 98). É, simultaneamente, um produto e um processo, modo de funcionamento, onde se
inscrevem os mecanismos que transformam o pensamento, determinando as formas desse pensamento, e,
uma vez que as determina, não podemos distinguir as estruturas do seu conteúdo.

5.4.1. Estrutura Cognitiva e Equilíbrio


“Cada estrutura é de conceber como uma forma particular de equilíbrio, mais ou menos estável no seu
domínio restrito e tornando-se instável nos limites deste. Mas estas estruturas, escalonadas em estádios,
devem ser consideradas como sucedendo-se segundo uma lei da evolução tal que cada uma delas assegure
um equilíbrio mais lato e mais estável aos processos que intervinham já dentro da precedente. A
inteligência torna-se, assim, um mero termo designando as formas superiores de organização ou de
equilíbrio das estruturas cognitivas” (Piaget, 1978, p. 15).
Mas se os mecanismos que transformam o pensamento funcionam de modo inconsciente, podemos,
partindo da própria acção, tentar perceber como actuam esses mecanismos e quais as estruturas que lhes
estão subjacentes. Deste modo, “para atingir o funcionamento real da inteligência é importante, pois,
inverter este movimento natural do espírito e de nos recolocarmos na perspectiva da própria acção”
(Piaget, 1978, p. 44; grifo do autor).

5.4.2. Acção e Sistema de Operações


Por um lado, Piaget considera que o comportamento ou acção se baseia num sistema de operações.
Psicologicamente, essas operações têm dois aspectos paralelos: exteriormente tratam-se de acções
coordenadas entre si (comportamentos observáveis ou mentalizados) e interiormente, isto é, para a
consciência, tratam-se de relações que se implicam umas às outras. Por outro lado, essas operações, em
termos logiciais, são o produto de uma abstração reflexiva (Inhelder, Sinclair, & Bovet, 1974; Piaget,
1976; Piaget & Gréco, 1974) do processo que resulta em acção ou comportamento: o esquema da acção.

©Celeste Duque 10-05-2011 19


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

“O esquema de uma acção é, por definição, o conjunto estruturado dos caracteres generalizáveis da
acção, isto é, dos que permitem repetir a mesma acção e aplicá-la a novos conteúdos. Mas o esquema de
uma acção não é nem perceptível (percebe-se uma acção particular mas não o seu esquema) nem
directamente introspectável e só se toma consciência das suas implicações repetindo a acção e
comparando os seus resultados” (Piaget; op. cit. Battro, 1978, p. 92).
Deste modo, o esquema é o modo particular de apreensão da realidade, o modo de funcionamento da
estrutura cognitiva, organizador da experiência (Piaget, 1976a). Através do esquema da acção pode-se
inferir o papel da operação (acção interior, como designou Piaget, em 1976a) ou sistema de operações.
Mas a realidade psicológica, tal como é percebida pelo sujeito “...consiste em sistemas operatórios de
conjunto e não em operações isoladas concebidas a título de elementos anteriores a esses sistemas: é
portanto unicamente quando as acções ou representações (...) se organizam em sistemas tais que elas
adquirem (...) a natureza de ‘operações’ ” (Piaget, 1978, p. 48).
Mas as operações não são apenas acções interiorizadas: para que existam operações é necessário que essas
acções se tornem reversíveis e se coordenem em estruturas de conjunto (Piaget, 1973).

5.5. Socialização da Inteligência Individual


As estruturas próprias relativas ao pensamento, e que designamos por cognitivas, também estão sujeitas a
uma socialização, que Piaget (1978) designou por socialização da inteligência individual.

5.5.1. Conflito Sociocognitivo


Nos estudos sobre conflito sociocognitivo (Coll, 1984; Gilly, 1988; Perret-Clermont, 1978; Pontecorvo,
1988) há uma tentativa de se pôr em evidência a importância de certas interacções sociais na mudança da
estrutura cognitiva do sujeito. O que está em jogo são “os processos de reorganização interna” que são
desencadeadas pelas interacções sociais. “Ao abordar o problema dos laços existentes entre interacções
sociais e estruturas cognitivas, Piaget (...) elabora um modelo que demonstra o isomorfismo entre as
estruturas operatórias e as estruturas subjacentes às interacções sociais de troca de ideias e de valores”
(Perret-Clermont. 1978, p. 66).
Segundo Piaget, a interacção social favorece o desenvolvimento do raciocínio lógico e a aquisição dos
conteúdos escolares (Coll, 1984) graças aos processos de reorganização cognitiva despoletados pelos
conflitos cognitivos e respectiva superação.
Deste modo, o conceito socialização da inteligência individual possui uma dupla articulação: a simbólica,
influenciando o nível simbólico do pensamento e agrupando conceitos próximos das representações sociais
de Moscovici (Leyens & Yzerbyt, 1985); a objectiva, influenciando o nível objectivo ou lógico do
pensamento, constituído por 'agrupamentos' de operações e de acções lógicas exercidas pelo indivíduo
sobre o mundo exterior. “É indispensável, para tratar das relações entre as funções cognitivas e os
factores sociais, começar por opôr as 'coordenações gerais' das acções colectivas às transmissões
culturais particulares que se cristalizam de maneira diferente em cada sociedade” (Piaget, 1972, p. 65).
Sem troca de pensamento e cooperação com os outros o indivíduo não conseguiria agrupar as suas
operações “num todo coerente”: neste sentido, o agrupamento operatório supõe a vida social (Piaget,
1978). Deste modo, é a socialização da inteligência individual do sujeito que torna o seu pensamento
objectivo.

©Celeste Duque 10-05-2011 20


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

6. BIBLIOGRAFIA3
Battro, A. M. (1978). Dicionário terminológico de Jean Piaget. São Paulo: Pioneira.
Bowlby J. (1969). Attachment and loss. London: Hogarth Press.
Ceci, S.; & Williams, W. (Eds.) (1999). The Nature-Nurture Debate. Oxford: Blackwell.
Coll, C. S. (1984). Estrutura grupal, interación entre alumnos y aprendizaje. Infância y Aprendizaje, 27-38.
DeVries, R. & Kohlberg, L. (1987). Constructivist early education: Overview and comparison with other programs.
Washington DC: National Association for the Education of Young Children.
Dolle, J.-M. (1999). Para Compreender Jean Piaget. Lisboa: Instituto Piaget.
Eibl-Eibesfeldt, (1978). Ethologie: Biologie du comportement. Paris: Ophrys.

Feldman, R. S. (2001). Compreender a Psicologia. Amadora: McGraw-Hill.


Freud, S. (2006). Sigmund Freud: Obras completas, 24 volumes. RJ: Imago.
Furth, H. (1974). Piaget e o conhecimento. Rio de Janeiro: Forense Universitária.
Gilly, M. (1978)
Gilly, M. (1988). Interactions entre pairs et constructions cognitives: des travaux experimentaux de laboratoire au
terrain pédagogique. European Journal of Psychology of Education, vol. ESP, 127-138.
Gilly, M. & Piolat, M. (1986). Psicologia da Educação, Estudo da Mudança na Interacção Educativa. Análise
Psicológica, 11(1), 13-24.

Inhelder, B., Sinclair, H. S., & Bovet, (1974). Aprendizagem e estruturas do conhecimento. São Paulo: Saraiva.
Leyens, J.-P., & Yzerbyt, V. (1985). Psicologia social. Lisboa: Edições 70.
Mahler, M. S. (1982). O processo de separação individuação. Porto Alegre: Editora Artes Médicas.
Mahler, M. S. (1983). As psicoses infantis e outros estudos. Porto Alegre: Editora Artes Médicas.
Mahler, M. S., Pine, F., & Bergman, A (1975). The psychological birth of the human infant. New York: Basic Books.
Matta, I. (2001). Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Lisboa: Universidade Aberta.
Perret-Clermont, A. N. (1978). A construção da inteligência pela interacção social. Lisboa: Sociocultur.
Perret-Clermont, A. N. (1998). Desenvolvimento da Inteligência e Interacção Social. Lisboa: Instituto Piaget.
Piaget. J. (1971). O Juízo e raciocínio na criança. Rio de Janeiro, São Paulo: Distribuidora Record.
Piaget, J. (1972). Essais de logique opératoire. Paris: Dunod.
Piaget, J. (1972). Genetic approach to the psychology of thought. Readings in educational psychology. Learning and
teaching (pp. 60-67). London: Methuen.
Piaget, J. (1972). Notions de mouvement et de vitesse chez l’enfant. Paris: PUF.
Piaget. J. (1972). The child's conception of the world. Towota, NJ: Littlefield Adams.
Piaget, J. (1973). A linguagem e o pensamento da criança. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura.
Piaget, J. (1973). Dévelloppement de la notion de temps chez l’enfant. Paris: PUF.
Piaget, J. (1973). Estudos sociológicos. Rio de Janeiro: Forense.
Piaget, J. (1973). Problemas da psicologia genética. Rio de Janeiro: Forense.

3 A bibliografia que aqui se apresenta, não representa fielmente a citada ao longo do texto, já que partes de texto e
muitas das referências utilizadas para a escrita da actual sebenta, se perderam aquando de um grave problema
informático. Pelo que se optou por se mencionar uma bibliografia mais detalhada, por ex., da obra de Piaget.
©Celeste Duque 10-05-2011 21
Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Piaget, J. (1974). Need and significance of cross-cultural studies in genetic psychology (p. 299-309). London:
Methuen.
Piaget, J. (1975). Como forman los niños los conceptos matemáticos. Psicologia contemporânea (pp. 108-112).
Madrir: Blume.

Piaget, J. (1976). A Equilibração das Estruturas Cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar Editores.
Piaget, J. (1977). Langage et la pensée chez l’enfant. Neuchatel: Delachaux & Niestlé.
Piaget, J. (1978). Formação do símbolo na criança: Imitação, jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro:
Zahar.
Piaget, J. (1978). O julgamento moral na criança. Rio de Janeiro: Zahar Editores.

Piaget, J. (1979). A noção de tempo na criança. Rio de Janeiro: Record.


Piaget, J. (1979). Metodo clinico: Lecturas de psicologia del nino (vol. 1). Teorias, metodos y el desarollo tempran
(pp. 265-287). Madrid : Alianza.
Piaget, J. (1979). Psicologia da criança. Lisboa: Moraes.
Piaget, J. (1980). A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar.
Piaget, J. (1981). Représentation de l’espace chez l’enfant. Paris: PUF.
Piaget, J. (1983). Génese das estruturas lógicas elementares. Rio de Janeiro: Zahar.
Piaget, J. (1983). Problemas de Psicologia Genética. Coleção “Os pensadores”. São Paulo: Abril Cultural.
Piaget, J. (1985). Equilibration of cognitive structures. University of Chicago Press.
Piaget, J. (1991). Trois structures fondamentales de la vie psychique: rythme, regulation e groupment.
Fonctionnement mental (pp. 67-86). Lausanne: Delachaux et Niestlé.

Piaget, J. (1994). Seis estúdios de Psicologia. Bogotá: Labor.


Piaget, J. (1998). A epistemologia genética. São Paulo: Companhia das Letras.
Piaget, J. (2000). Seis Estudos de Psicologia. Lisboa: Publicações Dom Quixote.
Piaget, J., (1987). O Nascimento da Inteligência na Criança. Rio de Janeiro: Guanabara.

Piaget, J. et al. (1988). Lógica e conhecimento científico. Porto: Livraria Civilização.


Piaget, J., & Bringuier, J.-C. (1977). Propósito da criatividade: Os três métodos. Análise Psicológica, 1 (1), 67-69.
Piaget, J., & Chomsky, (1987). Teorias da linguagem, teorias da aprendizagem. Lisboa: Edições 70.
Piaget, J., & Gréco, P. (1974). Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos.
Piaget, J., & Inhelder B. (1971). O desenvolvimento das quantidades físicas na criança: conservação e atomismo. Rio
de Janeiro: Zahar.
Piaget, J., & Inhelder, B. (1979). Memória e inteligência. Rio de Janeiro: Ed. Artenova.
Piaget, J., & Inhelder, B. (1980). Génese des structures logiques elémentaires. Neuchâtel: Delachaux & Niestlé.
Piaget, J., & Inhelder, B. (1993). A representação do espaço na criança. Porto Alegre: Artes Médicas.
Piaget, J., & Inhelder, B. (1969). The psychology of the child. New York: Basic Books.
Piaget, J., & Inhelder, B. (1977). A imagem mental na criança: estudo sobre o desenvolvimento das representações
imagéticas. Porto: Livraria Civilização.
Piaget, J., & Inhelder, B. (1983). A psicologia da criança. Lisboa: Moraes.
Piaget, J., & Szemiska, A . (1971). A génese do número na criança. Rio de Janeiro: Zahar.

©Celeste Duque 10-05-2011 22


Sebenta de Textos de
Ψ Psicologia do Desenvolvimento

Pontecorvo (1988). Interactions sócio-cognitives et aquisition des connaissances en situation scolaire: contexte,
théorie, bilan et perspective. European Journal os Psychology of Education, vol. ESP, 139-149.

Ramozzi-Chiarotino, Zélia. (1988). Psicologia e Epistemologia Genética de Jean Piaget. São Paulo: EPU.
Slater, A., & Muir, D. (Eds.) (2001). The Blackwell Reader in Developmental Psychology. Oxford: Blackwell.
Smith, P., Cowie, H., & Blades, M. (2001). Compreender o Desenvolvimento da Criança. Lisboa: Instituto Piaget.
Sroufe, L., Cooper, R., & DeHart, G. (1996). Child Development: Its Nature and Course. New York: McGraw-Hill.
Tavares, J., & Alarcão, I. (1989). Psicologia do desenvolvimento e da aprendizagem. Coimbra: Livraria Almedina.
Vandenplas-Holper, (1987). Thérories implicites du dévelloppement et de l’éducation. European Journal of
Psychology of Education, 2(1), 17-39.

Vygotsky, L. (1987). Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes.


Vygotsky, L. (1998). A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São
Paulo: Martins Fontes.
Vygotsky, L. (2003). Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed.
Vygotsky, L. S. (1977). Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. In A. R. Luria, L. S.
Vygotsky, & A. N. Leontiev. Psicologia e pedagogia I: bases psicológicas da aprendizagem e do
desenvolvimento (pp. 31-50). Lisboa: Estampa.

***
Como citar este texto:
Duque, C. (2004). Sebenta de Textos da disciplina de Psicologia do Desenvolvimento – Curso Terapêutica da Fala. Faro: UAlg-ESSaF. Retrieved
on (data em que se acedeu; ex. 12-12-2008) from (copiar link internet) at (hora).

Índice
1. Introdução .............................................................................................................................................. 1
2. Teorias da Personalidade .......................................................................................................................... 1
2.1. Personalidade ................................................................................................................................... 1
2.2. Instrumentos de estudo e metodologias ............................................................................................... 1
3. Teoria Psicanalítica de Sigmund Freud ........................................................................................................ 2
3.1. Primeira Tópica do Aparelho Psíquico (1ª Tópica) .............................................................................. 2
3.2. Segunda Tópica do Aparelho Psíquico (2ª Tópica) .............................................................................. 2
3.2.1. Principais características do Ego .......................................................................................... 3
3.3. A Evolução Psicossexual ................................................................................................................. 4
4. Margaret Mahler ...................................................................................................................................... 5
4.1. Nascimento psicológico do ser humano ................................................................................................ 5
4.1.1. Fases anteriores ao Processo de separação-individuação.................................................................. 6
4.1.2. Processo de separação-individuação ............................................................................................. 8
4.1.2.1. 1ª Subfase: Diferenciação e desenvolvimento do esquema corporal ..................................... 8
4.1.2.2. 2ª Subfase: Ensaios .................................................................................................... 10
4.1.2.3. 3ª Subfase: reaproximação .......................................................................................... 12
4.1.2.4. 4ª Subfase: Consolidação da individualidade e início da Permanência do objecto
emocional ............................................................................................................................... 15
5. Teoria do desenvolvimento cognitivo ........................................................................................................ 16
5.1. Desenvolvimento Cognitivo da Inteligência ......................................................................................... 17
5.1.1. Interaccionismo piagetiano ......................................................................................................... 17
5.1.2. Adaptação e Evolução ................................................................................................................ 17
5.1.3. Assimilação e Acomodação ......................................................................................................... 17
5.1.4. Construtivismo piagetiano .......................................................................................................... 18
5.2. Estádios do Desenvolvimento Cognitivo ............................................................................................. 18
5.2.1. Coordenação de Esquemas e Equilibração ..................................................................................... 18
5.3. Desenvolvimento e Aprendizagem ..................................................................................................... 18
5.4. Estrutura Cognitiva e 'inconsciente cognitivo'...................................................................................... 19
5.4.1. Estrutura Cognitiva e Equilíbrio ................................................................................................... 19
5.4.2. Acção e Sistema de Operações .................................................................................................... 19
5.5. Socialização da Inteligência Individual ............................................................................................... 20
5.5.1. Conflito Sociocognitivo ............................................................................................................... 20
6. Bibliografia ........................................................................................................................................... 21

©Celeste Duque 10-05-2011 23

También podría gustarte