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SUMÁRIO:
Unidade I – Ética e Teoria do Jornalismo
Bibliografia Principal: 28
Bibliografia Complementar: 28
Capítulo 1.
Ética e Jornalismo: conceitos e aproximações.
A origem da palavra Ética vem do termo grego Ethos que insere dois significados, um
social e um individual. Ethos significa costume, hábito, cultura – sentido social -; e, caráter
– sentido individual.
Importante, porém é perceber que apesar das diferenças sócio-culturais e dos tempos
históricos há um significado universalmente aceito na qualificação do que é Ética. Trata-se da
reflexão coletiva sobre um conjunto de sistemas sociais, como o sistema religioso, da moral e
do direito; capaz de trazer a felicidade à vida social e/ou humana.
Isso mesmo, “reflexão coletiva”, ou seja, uma ciência (Aristóteles) para a felicidade.
Um atributo exclusivo e singular do Homem: a necessidade de pensar o seu destino, afinal
como diz Comparato (2006), “...nunca se ouviu falar de alguém que tivesse a infelicidade por
propósito ou programa de vida” (p.17).
A Ética influencia a Moral, inspira a criação, supressão ou mudança dos princípios que
as sociedades assumem como valores maiores e aos quais os costumes morais devem
submeter-se.
Senso ético é individual e social, reflexivo. O sujeito é ético quando pensa e sabe o
porquê de seus direitos e deveres em prol de seu próprio bem e do bem de outrem. A
instituição social é ética quando reflete a sua cultura em prol do bem comum.
Assim podemos dizer: Todo sujeito ético é moral, mas nem todo o sujeito moral é
ético.
Por exemplo: Já podemos aqui pensar o que significa a corrupção na política brasileira.
Uma classe de sujeitos sociais imorais, que burlam as leis, burlam a consciência ética de seu
povo. A urgência de se pensar uma nova ética para a política nacional que encare com
seriedade esta imoralidade é a pedra de toque Reforma Política.
O Estado Moderno tinha em seu cerne a administração financeira dos muitos impostos
arrecadados e, para estabilizar a dominação estatal, a esfera privada burguesa passa a divulgar
uma parte ínfima das informações contidas nos boletins comerciais, tornando público parte
dos seus negócios. Como nos diz Habermas, “A troca de informações se desenvolve na
trilha das trocas de mercadorias”. Estes jornais devem a sua existência às leis de mercado, a
própria informação é mercadoria e o político, ou seja, as relações entre Estado, Mercado, e
povo são ocultadas. Ironicamente estes jornais recebem a denominação de “Jornais Políticos”.
O vínculo das ações jornalísticas com o princípio ético universal de liberdade é o que
remete o jornalismo a sua função mediadora e construtora da esfera pública, como o elo que,
nos processos sociais, cria e mantém as mediações que viabilizam o direito de dar e receber
informações. Enfim, é o que traz à atividade jornalística o seu dever e direito e dever atrelados
aos direitos e deveres dos cidadãos: a sua responsabilidade social.
1º) Liberdade natural da razão. O homem só é livre enquanto ser racional e disposto a agir
como ser racional. Assim, é possíveis que tudo no cosmos esteja determinado, inclusive as
vidas dos homens. Mas, na medida em que estas vidas são racionais e têm consciência de que
tudo está determinado, elas gozam de liberdade. Concepção de liberdade na personalidade do
sábio.
3º) Liberdade pessoal e/ou individual. Uma liberdade das pressões ou das coações
procedentes da comunidade quer como sociedade, quer como Estado. Embora se reconheça
que todo indivíduo é membro de uma comunidade e embora se proclame que se tem dever
para com esta, permite-se abandonar por um tempo o seu “negócio” (no sentido de negociação
social) e entregar-se ao “ócio” (no sentido de fazer o que é de vontade própria) para melhor
desenvolver a sua personalidade.
Note-se, no entanto, que o projeto liberal do Estado Moderno, como seu próprio
título indica escolheu a liberdade como princípio ético de felicidade, no entanto, deu mais
valor à terceira concepção de liberdade e o atrelamento do Estado ao Capitalismo e o
acelerado desenvolvimento tecnológico a legitimou, fazendo parecer aos homens que apenas a
tecnologia e os bens de consumo poderiam oferecer-lhe uma liberdade pessoal de levar a vida
de acordo com o seu livre-arbítrio. Assim, o indivíduo moderno fragmentado na sua
Mas o que é afinal positivismo? Simples, trata-se das teorias embasadas nas leis
oriundas das ciências positivas, como a Física, a Matemática, as Ciências Naturais. São nas
leis positivas da Física que Comte se inspira para a criação de sua teoria sociológica, o
Fisiologismo Social. Como? Com a formulação de leis gerais que, como na Física, através da
repetição e da regularidade dos fenômenos sociais fossem comprovadas como leis sociais.
Explicação positivista fundamentada na lei de causa e efeito: se tal coisa acontece com
freqüência toda a vez que um fato se repete, uma é causa da outra: explicação original da
Física.
1ª) Nasce um Jornalismo como processo social independente das relações para o
desenvolvimento social das forças produtivas, da luta de classes Um Jornalismo fora do
contexto histórico e do conjunto da vida social.
2ª) Nasce uma concepção de jornalismo “objetivo, imparcial, que olha sempre os dois lados da
questão”. Como se os fatos sociais tivessem apenas dois lados da questão e, passando por cima
de toda a teoria do conhecimento que diz que qualquer fato social está dependente da
interpretação dos homens que o vivenciam ou o experimentam de alguma forma. Os fatos
sociais tratados como coisas, e as matérias jornalísticas como mercadorias.
Uma das grandes contribuições para o estudo funcionalista da imprensa brasileira veio
dos estudos do jornalista e professor, José Marques de Mello. Para ele, o Jornalismo brasileiro
visto em função das necessidades produzidas pela sociedade na sua dimensão global. Estudo
que tem utilidade até hoje, quando queremos recorrer á história das origens do jornalismo no
Brasil ou no ocidente, por conter uma descrição histórica detalhada das chamadas
“necessidades sociais”.
Como conseqüência da procura cada vez maior por mais informações, temos por trás a
possibilidade da indústria da informação: empresas privadas que veiculam noticias com a
mesma lógica comercial da troca de mercadorias. Jornalismo necessário à ideologia burguesa,
ideologia do Capitalismo.
O modelo americano de jornalismo, adotado por vários países e também pelo Brasil,
abandona algumas tentativas de sua aura militante (que chegaram a existir no final do século
XIX) para assumir o discurso da imparcialidade científica, enfim do “profissionalismo”
como termo natural e sinônimo de competência. Ignora também a criação da DUDH, que
confere sentido social a um fenômeno social que é a atividade jornalística e seus sentidos
adquiridos na esfera pública.
Além disso, ocultam a prática da escolha das notícias que nem sempre, ou quase
nunca, acontecem por si só, criam sérios constrangimentos entre editores, chefes de
reportagens e repórteres, produzem o famoso “empastelamento” do noticiário e, pior,
retiram da cena pública toda e qualquer possibilidade de escolha e/ ou reflexão do leitor
na leitura de sua realidade.
A astúcia desses homens de negócio, que termina por retirar a autonomia do olhar do
jornalista diante dos fatos que investiga, ou seja, o afasta da justificação ética de sua própria
profissão, está em fazer jornalistas e público acreditarem na autoridade do mediador
neutro, garantindo foros de verdade aos fatos que divulgam, ou seja, seus negócios. É a
isto, o que hoje chamamos corriqueiramente de “Quarto Poder”.
Hannah Arendt desvela bem esta astúcia do auto-intitulado “Quarto Poder”, quando
fala do problema similar na profissão do historiador: “A necessidade da interpretação (da
subjetividade) na apreensão do fato não constitui argumento contra a existência da matéria
factual, nem pode ser justificativa para que o historiador (jornalista?) manipule os fatos ao seu
bel prazer” (grifos da professora).
Nos anos 40 um grupo de sociólogos inaugurou o que hoje chamamos de Teoria Crítica da
sociologia. A obra mais conhecida e “carro-chefe” da Teoria Crítica, foi escrita pelos
sociólogos Theodor Adorno e Max Horkheimer, sob o Título “Dialética do
Esclarecimento”. Nela, como vocês já viram na disciplina Teorias da Comunicação, e não
nos interessa aqui descrever em pormenores, temos a critica geral ao Funcionalismo oriundo
do esclarecimento fornecido pelo desenvolvimento da ciência que ampliou na cultura
ocidental o que a Escola de Frankfurt chamou de Razão Instrumental. Mas, o que isto
interessa à Ética no jornalismo? Esta critica desvelou definitivamente a utilização deste tipo de
racionalização da comunicação como reprodutor do status quo e a serviço do sistema
capitalista.
A Escola de Frankfurt foi de extrema importância para que classe científica enxergasse a
própria racionalidade da ciência social ocidental, mas não passava daí. Ou seja, não apontava
caminhos para que saíssemos desta situação aterradora. Muito pelo contrario, a Indústria
Cultural era a “alma” do Capitalismo que não sobreviveria sem ela. Essa indústria e todo o
seu aparato comunicacional estariam garantindo o desenvolvimento do Capitalismo
tanto no Ocidente, quanto no Oriente, tanto no próprio Capitalismo como no Stalinismo:
idéia de totalização de mundo através da cultura da manipulação oriunda da Indústria
Cultural.
A Teoria Crítica provocou de tal ordem o desencantamento do mundo, que alguns autores
chegaram a chamar este período de “Fim da História” (título do livro escrito por um
funcionário da Secretaria de Estado norte-americana, Francis Fukuyama, 1990). Para o
jornalismo, o resultado deste pensamento foi o de se pensar a informação como necessidade
mercantil, jornalismo essencialmente alienado e alienador. Podemos definir esta fase como
a fase do eclipse ética do jornalismo, pois como atividade profissional intrinsecamente ligada
à sociedade e, no âmbito da ciência, à Sociologia; temos a diminuição e até mesmo a
paralisação em alguns países, do pensamento ético sobre o lugar social da atividade
profissional. Nas redações de todo o mundo, como já vimos acima, imperou o jornalismo
No final dos anos 60, durante os anos 70 e inicio da década de 80, alguns intelectuais,
notadamente os marxistas, começaram a se contrapor a esta estigmatização da comunicação
em geral e da informação em particular. No Brasil, um deles foi o jornalista, Adelmo Genro,
que critica a Teoria da Escola de Frankfurt, dizendo que tal teoria soube refletir a cultura
capitalista, mas toda a pertinência de sua critica não pode pretender abranger a totalidade
do fenômeno cultural através da sua conceituação de Indústria Cultural: pois a cultura
não é totalitária e, portanto, não se deixa submeter integralmente pela categoria mercantil
pelo simples fato de que cultura é práxis e, portanto, dotada de contradições, paradoxos e
conflitos.
Outro foi Umberto Eco (1964), que faz a mesma crítica que fez Adelmo em seu famoso
texto, “Apocalípticos e Integrados”, no qual caracteriza a Escola de Frankfurt como
criadora de uma teoria apocalíptica, que não contempla tantas outras formas de
pensamento que, apesar de serem dominantes, existem e atuam no seio das sociedades,
seriam “os integrados”.
Habermas desenvolveu a Teoria da Ação Comunicativa, uma teoria que contempla pela
primeira vez nos estudos da comunicação, a importância do receptor no que ele chama de
“mundo da vida”. Habermas se afasta do método Marxista (o materialismo histórico) de seus
colegas frankfurtianos, se aproximando de Gramsci e acreditando que não é só através da
produção que podemos analisar a história da humanidade, podemos fazê-la também pela
interação, através do estudo do nosso agir comunicativo. Assim, em suas pesquisas, passa a
mostrar a importância do receptor na ação comunicativa, quando ninguém (nem mesmo as
desenvolvidas técnicas de manipulação da Indústria Cultural) garante total passividade.
Para Habermas existem e sempre existiram duas formas de se comunicar: uma seguindo
uma razão instrumental e outra uma razão comunicativa. A razão instrumental produz a ação
instrumental, ou seja, uma forma de ação técnica, que aplica meios para alcançar fins
(funcionalismo). A razão comunicativa produz a ação comunicativa, ou seja, uma forma de
ação no “mundo da vida”, que aplica a linguagem nas relações sociais cotidianas, sejam elas
espontâneas (conversa) e/ou padronizadas (através dos meios de comunicação). A ação
comunicativa é aquela que tem a pretensão de efetivar a comunicação com o seu sentido de
ação comum que, portanto, implica em compreensão.
E em que a teoria de Habermas contribui para a ética no Jornalismo? Primeiro tal teoria
retira o Jornalismo da situação meramente funcionalista de reprodutor do sistema
capitalista, pois nos permite pensar num Jornalismo a serviço da diversidade cultural
geral no mundo e em especial da diversidade cultural brasileira, veremos claramente a
importância de uma informação que contemple essas muitas diferenças. Em segundo lugar, se
elevamos a importância do receptor, elevamos também a importância do conceito de
liberdade de expressão com responsabilidade social, como reza a DUDH (direito de
informar e ser informado). Por último, se temos dois tipos de ação comunicativa convivendo
na esfera pública, a saber, ação instrumental e ação propriamente comunicativa; então, temos
também dois tipos de jornalistas: os que agem de acordo com a razão instrumental e os que
agem com a razão comunicativa. Isto, definitivamente nos obriga a enxergar a importância
da consciência social de cada um que exerce a profissão. É na percepção que este público
tem da consciência social de cada jornalista, que construímos a tão falada credibilidade.
Reparem que o conceito de cultura está assim atrelado à comunicação em todas as suas
formas de expressão, incluindo a informação. Na análise histórica que Habermas faz do
jornalismo ele encontra três fases de desenvolvimento da cultura política em favor da
economia na sociedade capitalista, mostrando a hegemonia da razão instrumental na
modernidade. São elas:
Com esta análise Habermas adverte para o que ele chama de “colonização” dos
espaços contra-hegemônicos da comunicação nos nossos dias. Ou seja, apesar dos dois tipos
de comunicação agirem no seio social concomitantemente, temos uma prevalência da razão
instrumental própria da cultura individualista (liberdade pessoal) capitalista sobre a razão
comunicativa, própria da cultura secular que deu origem ao Estado de Direito.
3.3 Jornalismo à luz da Fenomenologia: a teoria da notícia ética por Adelmo Genro.
O eixo da universalidade contém tudo o que é comum entre o mundo da vida (para
usarmos a expressão de Habermas) do jornalista e o mundo da vida do seu público, sem ele a
notícia simplesmente não seria entendida, sem ele não haveria, portanto, informação. Trata-se
da linguagem, do censo comum enfim, da cultura de cada público ouvinte, leitor, ou
telespectador. Já aqui percebemos o desafio que um jornalista em nossos tempos enfrenta em
seu cotidiano: a flexibilidade cultural que precisa ter para passar de um público a outro, uma
flexibilização exigida a cada projeto de trabalho, a cada matéria, a cada apuração, a cada olhar
para o singular.
É no diálogo entre estes três eixos, que evidentemente Adelmo separa apenas para teorizar
sobre a definição de uma notícia ética socialista (o autor declara a pretensão de uma teoria
marxista da notícia) e, portanto, não-capitalista; que vai definir o que é a notícia ética: aquela
que equilibra a singularidade da noticia através dos dois outros eixos. Para isso ele se
utiliza da metáfora da pirâmide, recorrendo à sua geometria. A pirâmide que conhecemos
invertida no texto da notícia, partindo do mais importante para os detalhes, Adelmo recoloca
em pé partindo do vértice, lugar da singularidade; para a base, lugar do eixo da universalidade.
A forma deste triângulo, ou da pirâmide em pé, varia de acordo com o binômio equilíbrio-
desequilíbrio. Para equilibrar a singularidade pelos outros dois eixos, de forma eqüitativa e
justa, temos o triângulo eqüilátero. Assim, os outros formatos de triângulos teriam maior
universalidade ou maior particularidade conforme o aumento de seus eixos.
Assim, quanto maior for o eixo da particularidade mais sensacionalista e/ou opinativa
será a notícia, quanto maior for o eixo da universalidade, mais explicativa e com conteúdo
mais argumentativo e interpretativo (ex: a reportagem nos meios especializados). Note-se que
sempre que aumentamos o eixo da particularidade, também aumentamos o eixo da
universalidade. A notícia ética é a notícia diária representada pelo triângulo eqüilátero
com todos os lados iguais equilibrando em perfeita harmonia o vértice ou a singularidade
da notícia.
Então, qual o segredo da pirâmide? Simples. Para Adelmo a pirâmide está invertida.
A formatação do texto jornalístico do Lead para os detalhes, ou mais importante para o menos
importante não garante por si só a veracidade do tratamento ao assunto que irá se desenvolver.
As perguntinhas que respondemos no Lead, não passam de uma reprodução sintética e
organizadora da experiência individual, e, portanto, não garante por si a objetividade na escrita
do fato a ser narrado. Ele ensina,
O Lead assim não precisa inclusive estar na cabeça da matéria jornalística, pode estar em
qualquer parte, embora o lugar inicial da matéria seja o mais comum por ser também o mais
natural no caminho percorrido pela percepção humana.
Em relação aos vários tipos de técnica jornalística, a teoria também oferece uma
significativa abordagem analítica que nos permite avaliar de forma clara a subjetividade
tipológica no Jornalismo. Nas reportagens, por exemplo, Adelmo se utiliza do conceito
formulado por outro Jornalista, Nilson Lage: “reportagem é investigação, interpretação e
literatura. Está na região de fronteira entre a literatura e o jornalismo”. Já no Jornalismo
Objetivo norte-americano, reportagem é apenas uma notícia grande, é vista apenas pelo lado
operacional.
Esta significação é que pode ser alcançada de várias maneiras: estética – se utilizando de
recursos literários; e teórico - cientifica (quote-story) ou informativa (meta-linguagem). O
segredo da reportagem ética é não deixar que neste eixo da particularidade se dilua na
singularidade: preservação da singularidade que pode se dar de duas formas de
significar a reportagem: estética ou sintético-analítica. Mas o autor não nega a relação
entre jornalismo e literatura: “Há interpenetração entre ambos, mas vemos a diferença quando
percebemos que um escritor só pode fazer uma notícia excepcional se dominar a lógica
jornalística e um jornalista só escreverá um bom livro se tiver talento literário”.
Ora, esta noção iluminista de cultura da qual falamos acima, cultiva o pensamento
vertical de poder (de cima para baixo): dos mais desenvolvidos para os menos
desenvolvidos, dos mais cultos para os menos cultos. Mas exatamente como isso opera no seio
social? A matéria-prima da cultura é a comunicação, é através da comunicação que
fazemos cultura, que mantemos a nossa cultura, que transformamos a vida social. O
jornalismo é uma forma de comunicação, de natureza política, intrinsecamente
relacionada com a cultura dos públicos onde atua. É por isso que muitos jornalistas não
Mas, voltando à nossa questão: se fazemos cultura para alcançar liberdades e, se a fazemos
através da comunicação então, a razão iluminista que criou a idéia de progresso serviu como
uma luva para o desenvolvimento do capitalismo. Agora, ser culto ou ser livre significava ser
detentor do poder do capital, não mais ser detentor de direitos civis, mas de direitos de
consumidor. A promessa da cultura capitalista era a liberdade material para todos. E como
isto seria alcançado? Simples. Através da Indústria Cultural. Chegamos à explicitação da
crítica feita pela Escola de Frankfurt: trata-se da cultura da razão instrumental, operando
não só no desmantelamento do Estado de Direito, da cultura secular, através da
transformação da informação em mercadoria.
Sem dúvida o Holocausto mostrou a face mais cruel do poder da comunicação guiada
pela razão instrumental de Hitler ao convencer o mundo da superioridade da cultura alemã em
detrimento das outras culturas, mas principalmente, em detrimento da cultura da judaico-
cristã. O trauma deixou sua inevitável lição: a cultura guiada por valores instrumentais não é
capaz de levar os homens à liberdade, e sim à dominação, seja ela pelo Estado totalitário, seja
pelo Mercado. A cultura só liberta com a participação efetiva de seu próprio povo, ou do
demos, no resgate do seu significado grego, a cultura política com participação popular.
É esta a concepção de cultura que está na origem do pensamento dos Direitos Humanos,
que levou à criação da ONU em 1945, ano do término da Segunda Grande Guerra, e à
DUDH, em 1948. Mas, a sensação que a História nos passa é que a lição não foi apreendida
por todos, como disse Habermas, convivemos hoje com dois tipos de racionalidade, dois tipos
de cultura, operando concomitantemente por duas formas de comunicação no âmago político
das nações: a cultura capitalista e a cultura socialista que está na base dos princípios de valores
da República. Uma opera com o poder de forma verticalizada (de baixo para cima) e outra
opera de forma horizontal (com a participação de todos). Em última análise, o que temos nas
“Na acepção filosófica, é virtual aquilo que existe apenas em potência e não
em ato, o campo de forças e de problemas que tende a resolver-se em uma
atualização. O virtual encontra-se antes da concretização efetiva ou formal
(a árvore está virtualmente presente no grão). No sentido filosófico, o virtual
é obviamente uma dimensão muito importante da realidade” (LÉVY, 1999.
P.47).
Mas a intensidade deste impacto vem mesmo com o advento da Internet, produto
comunicativo produzido pelo desenvolvimento e popularização da Cibernética no Brasil, em
meados dos anos 90. A cultura virtual produzida através da popularização das ferramentas
cibernéticas, a cibercultura, tem em sua essência o “universal sem totalidade”:
Ora, isto cria mais um problema para a Ética: temos que pensar no direito à conexão,
como um dia pensamos no direito à Educação, ou, mais próximo ainda, no direito à
informação, ou no direito à interpretação. Há, no entanto, uma argumentação que Lévy não
levou em conta quando aponta a totalização dos meios virtuais clássicos: as transmissões de
sinais, sejam radiofônicos ou televisivos, fazem-se por meio de um bem público, o espaço
aéreo, e a concessão deste espaço é concedida pelo Estado. Trata-se de uma concessão
administrativa. Se esta administração estivesse referendada pela participação de seu
povo, não poderíamos falar em totalização no sentido lato do termo. No entanto, não é o
caso principalmente nos países mais pobres, onde ainda temos comunidades/sociedades com
culturas verticalizadas de poder.
4ª) A glocalidade, ou seja, a fabricação de conteúdos no local mas com alcance global.
Isto aumenta cada vez mais a obrigação do Jornalista no cuidado com valores oriundos da
diversidade cultural e, obriga o Jornalista a uma maior e cada vez mais apurada competência
cultural.
Mas, ainda assim, mesmo que não haja nada de verdadeiramente novo no campo da ética
profissional, precisamos sim de uma marca clara de postura ética tendo em conta as novas
variáveis trazidas pelo ciberjornalismo, para que sejam absorvida no cotidiano profissional.
Por exemplo, se o jornalista vai a um chat em busca de informações, deve identificar-se como
jornalista, da mesma forma que precisa se identificar em qualquer estabelecimento que
freqüente na apuração de uma notícia. Os links que devem ser colocados numa notícia devem
seguir a postura ética do projeto jornalístico a que se destina. Devemos ultrapassar o problema
da instantaneidade para não perder credibilidade, mas devemos usar e abusar desta mesma
instantaneidade para corrigir informação falsa ou equivocada, para fornecer o direito de
resposta ao leitor. E principalmente precisamos que os jornalistas fiquem mais conscientes
da humildade que agora mais do que nunca se impõe à profissão, e para falar no que nos
é mais caro, o tão polemizado direito à liberdade de expressão dos Jornalistas.
Parafraseando Comparato: “...a liberdade de expressão tende a tornar-se mais coletiva
do que individual” (COMPARATO, 2006. P.632)
4.2 Uma nova Ética para uma nova Era: por Bernardo Kucinski
O texto se tornou obrigatório para todos aqueles que estão ingressando na profissão, pois
se trata, sobretudo, de uma angústia desenvolvida pelo jornalista em sala de aula, ou seja,
enquanto professor de ética em jornalismo. A angústia que invariavelmente acomete todos os
profissionais da referida disciplina atualmente, pode ser exposta em apenas uma pergunta:
como educar jornalistas éticos para um mercado de trabalho antiético?
Mas, cruzando as reflexões do texto com todo o percurso de estudos que fizemos até aqui,
podemos pensar que se o a luta é política ela não se dá unicamente em âmbitos institucionais
através da política partidária “representativa” atuante no país e sim, na cultura popular. O
saber-fazer cultura no Brasil já é uma luta política, pois não basta a luta através da
negociação e/ou convencimento de políticos, esta necessita ser complementada com o que
Comparato chamou de “mudança de mentalidades”, no âmbito social.
Kucinski acredita que é possível que surja um veículo que possa concorrer com os grandes
grupos de comunicação quando houver uma mobilização popular, pessoas interessadas numa
alternativa. As "ilhas" que hoje existem – sejam os programas de TVs comunitárias, sejam os
pequenos jornais de formato tablóide, sejam as rádios comunitárias – representam o
aparecimento dessa alternativa simples, democrática e de interesse público. Mas, não
devemos esquecer dos meios digitais, que permitem ainda a luta em âmbito
internacional, os novos formatos políticos em discussão, como o nascimento da TV
Pública no país e que tem pela frente um imenso desafio em relação à esfera cultural do
povo brasileiro: a superação do trauma promovido pela lembrança dos 21 anos de
ditadura que ainda vive em todos nós.
1º) Cidadania: No contexto de transformação por que passa o Estado brasileiro, contexto de
luta contra os valores culturais colonialistas e de resistência ao pensamento neoliberal, o
conceito de cidadão que se reconhece como membro da polis antes mesmo de se reconhecer
como jornalista, não basta. O movimento veloz na experiência vivida na atividade entre
valores universais e locais, entre desterritorialização e reterritorialização, exige um novo
exercício de cidadania no contexto da relação entre política e cultura, que nada tem a ver
com a obsessão de politizar tudo, que tem no reconhecimento da diferença como espaço
de aprofundamento da democracia e da autogestão, na luta contra a discriminação e
contra as várias formas de exclusão.
3º) Cuidado: No sentido Heideggeiriano, “Sorge”, o cuidado do Ser na sua existência. Este
princípio refere-se principalmente à escuta e aos conteúdos produzidos. Trata-se de um
olhar que desconstrói as tendências objetivadas e o acesso será dado pela busca da
palavra íntima, singular, desatrelada dos contextos generalizantes e uniformes. Uma
decisão estará sempre vinculada ao modo como compreendemos o real, aquilo que se
apresenta para nós e no seu sentido. Sentido aproximado como a direção do existir, pois
qualquer decisão terá implicações no nosso existir, o que certamente inclui os outros. O
impacto social, cultural e ambiental causado por certas decisões nas relações de co-existência.
Bibliografia Complementar:
COMPARATO, Fábio Konder. Ética. São Paulo. Companhia das Letras, 2006.
GIDENS, Anthony. As idéias de Dürkheim. São Paulo, Cultrix, 1978.
GOMES, Pedro Gilberto. Filosofia e Ética da Comunicação na Midiatização da Sociedade.
São Leopoldo. Ed. Unisinos, 2006.
HABERMAS, Jürgen. A Mudança Estrutural da Esfera Pública. Rio de Janeiro. Ed. Tempo
Brasileiro,1984.
________________ Teoria de la acción comunicativa I - Racionalidad de la acción y
racionalización social. Madri. Taurus, 1987.
________________. Teoria de la acción comunicativa II - Crítica de la razón funcionalista.
Madri. Taurus, 1987.
HANNAH, Arendt. A Condição Humana. 9ª Edição. Rio de Janeiro. Editora Forense, 1997.
LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo. Editora 34, 1999.
SANTOS, Boaventura de Souza. “Pela Mão de Alice: o social e o político na pós-
modernidade”. São Paulo; Cortez, 2003.