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ee Copyright © 1997 Ingedore Villgs Koch ‘Todos os direitos desta edigéo reservados & Editora Contexto (Editora Pinsky Ltda.) Composigdo FA Eibriea de Comunicagio/Texto & Arte Servigos Editorais Revisto z Vera Liicia Quintanilha/Texto & Arte Servigos Editoriais Capa T & ‘Antonio Kehl ; Dados Internacionais de Catalogagéo na Publicagio (ctr) (Camara Brasileira do Livro, sp, Brasil) Koch, Ingedore Grunfeld Villaga , O texto e a construgéo dos sentidos / Ingedore Koch. ~ 10. ed., 5# reimpressio, — Séo Paulo : Contexto, 2018, Bibliografia ISBN 978-85-7244-068-4 1. Fala 2, Linguagem 3. Textos I. Titulo II. Série 97-1799 Indices para catdlogo sistematico: 1, Linguistica textual 415 2. Sentidos: Linguistica 415 Linguistica 415 Rua Dr. José Elias, 520 — Alto da Lapa (05083-030 — So Paulo ~ sp. ax: (11) 3832 5838 contexto@editoracontexto.com.br ‘www.editoracontexto.com.br i a. “ Proibida a reproducio total ou parcial, Os infratores serio processados na forma da le Digitalizada com CamScanner TEMATIZACAO E REMATIZACAO: ESTRATEGIAS DE CONSTRUCAO DO TEXTO FALADO Esabido que cada lingua apresenta uma variedade de formas de expressio, abrindo-se, desta maneira, para o falante um amplo exspaco de formulacao, isto é, a possibilidade de escolha entre um leque de opgdes possiveis, Assim, a construcgao dos sentidos no texto depende, em grande parte, das escolhas que ele realiza. As varias possibilidades de efetivar, nos textos, a articulacao ‘ema-rema constituem um desses leques de escolhas significativas. Este capitulo objetiva, Portanto, examinar as diferentes possibi- lidades de articulagéo tema-rema, com énfase especial naquelas em que, 93 em virtude de deslocamentos de constituintes, ocorre algum grau de segmentacao sintatica do enunciado — casos em Que o falante opta pela utilizacao de estratégias de tematizagéo e de "ematizacdo (ou seja, de deslocamento do tema ou do rema) -, “m como descrever as nuances de sentido que cada uma delas, uando posta em ago, viabiliza. Os conceitos de temae remaem questao sao aqueles postulados autores da Escola Funcionalista de Praga (Danes, Firbas, Sgalll, ‘6 Outtos), ou seja: do ponto de vista funcional, cada enunciado divide-se em (pelo menos) duas partes — tema e rema — a P mele "5 quais consiste no segmento sobre o qual recai a predic tida pela Segunda, Isto é, tem-se um segmento com “statico ~o tema— Pelos u posto a outro segmento com Namic * & a nico~o rema, nticleo ou comentario, Ni 94 posicional (posigao defendida, como se sabe, por muito 3 mas de um critério funcional, fortemente telacionado 3 (portanto, verificavel especialmente na fala) ociado as nogées de dado e novo. um critério linguistas), prosédia do enunciado b muitos aspectos, ass doe: ae No dizer de Hari (1992:25), “a Escola Funcionalista de Pr. aga? desenvolve em suma uma linguistica da fala (...) € insiste no fato de que se podem encontrar regularidades que autorizam tentativas de organizagao ¢ descricao, mesmo no nivel da oragao realizada (utterance). Ora, ao analisar oracées efetivamente realizadas, e nao apenas oragées que sirvam de exemplo de boa formagdo sintatica, constata-se que, enquanto unidade comunicativa, “a oragdo serve aos locutores para realizar uma dupla fungao: a de estabelecer um elo com a situacao de fala, ou com 0 texto linguistico que a pre- cedeu, ea de veicular informagées novas”. Assumindo tal posicao, tomaremos como unidade basica de andlise o enunciado ou a unidade comunicativa (Marcuschi, 1986:62)!, embora, como sera ressaltado mais adiante, uma construgéo com tema marcado tenha, em muitos casos, a fungao de delimitar segmentos tépicos ou indiciar a introducdo ou a mudanca de tépicos discursivos. Em termos da articulacéo tema-rema, particularment ém se tratando da lingua falada, tem-se, como mostra & Oesterreicher (1 991). plena (construgées nao » a0 lado de casos de integracao sintat marcadas, em que o rema, portade informaca fon asst nov sucede naturalmente ao tema, que veic ‘ormacao dada), um, falar de segmentag a série de padrdes expressivos em qui : ‘40 cou de deslocamento de co 0 serd aqui entendida como qualquer construgées de tema ou rema marcados. Danes (1967) 4 ue a ordem dos constituintes, que seria de se esperar a ordem sintatica, é frequentemente infringida ne ordem funcional. Existem, assim, duas grandes modalid lades de Sequenciacao tema-rema: inais néo preposicionados (SPs sem-cabeca, na ‘“tminologia de Kato, 1989) ou a configurar o tipo especifico de “matizacao marcada derivada da anteposicao do que, nas gram4- Uicas tradicionais, se costuma denominar adjunto adverbial de “sunto (cf. item 1.1, caso 1). 95 96 Levar-se-4o em conta, na anilise, os Seguintes Ctitétiog " nos moldes Postulads, por Koch & Oesterreicher, 1991; b. procedimentos linguistic, s utilizados para realizar a tematizacao ou a rematizacao (marca, c. fungées discursivas das construgées resultantes de Segmentacio, Essa descrigao situa-se, pois, na interface sintaxe-discurso a. grau de integragao sintatica do enunciado, |. Sequéncias tema-rema O papel das construgées segmentadas é, em se tratando de construgées com tema marcado, destacar um elemento do enun- ciado, colocando-o em posicao inicial, com o objetivo de indicar para o interlocutor, desde o inicio, aquilo de que se vai tratar, ou em posicio final, para fornecer um esclarecimento a mais, uma complementagao, um adendo. O emprego dessas construgées permite, assim, operar um tipo de hierarquizagao das unidades linguisticas utilizadas, trazendo uma contribuigao importante para acoeréncia discursiva, da mesma forma que a anteposi¢40 do rema ao tema desempenha fungées discursivas e interacionais relevantes, conforme ser visto a seguir. Passaremos, pois, a examinar as sequéncias tema-rema de acordo com os critérios acima explicitados. 1.1. No que diz respeito aos graus de integragao sintatica, na acepgio de Koch & Oesterreicher (1991), podemos destacat OS seguintes casos: ae 5 r OnstrucSes com tematizagio marcada, introduzidas Po! express6 sj . Pressoes do tipo quanto a.. , no que diz » no tocante a... Aen CCC+» QUE sao comuns as sendo mais frequentes na cO- mal. Além do enunciado que por exemplo: com referencia oral € escrita, Jativamente for nte item, vejam-se respesto dows modalidades municagao Fe jntroduz © prese! ercistas sentem maiores difi- de senadores chegou a convi- Fleury Filho (SP) para uma FSP, 1913/93, 1-9). _ inclusive na Tupi “Bm relagéo as bancadas, oS qu culdades no Senado. Um grupo dar 0 governador Luiz Antonio conversa anteontem, ¢m Brasilia.” ( emos boas orquestras também ()... eno que tange a nossa misica indo as portas... (2) .endst temos boas orquestras € temos... popular eu acho que:: agora a televisao est abril para a nossa miisica popuLAR coisa que 0 radio nao faz... (NURCISP - D2 333:335-339) entio... sobre o problema do primdrio... essa reforma do primdrio ¢ gindsio eu néo estou muito a par néo, né? (NURC/SSA — DID 231:17-19) s a lari (1992:58) acrescenta a esse tipo de construc4o enun ciados ii i i . ciados introduzidos mediante express6es como “por falar em...” '@ propésit aria é on propdsito de...”, “j4 que vocé tocou em” / “j& que est: ‘stamos tocando em...” e o .” € Outras, bastante 2 co! i S. face a face. muns na interacdo informal 2 6 Construgées com tema marcado, sigéo is4o de um elemento do enuncia a que ocorre a antepo- em defini 7 ae Be : com fungao sintdtica a7 8 ‘0 formal de um principio funcional: a codific agao manifestaga de uma relac4o tema-propésito na estructura de superficie do enunciado. Blasco (1995), acusando de reducionistas as anélises pu. maticas OU discursivas, procura mostrar a importancia as propriedades morfossintaticas dos ele- as construcées e, em especial, de distinguir diante do verbo e deslocamentos para ramente tel de se levarem em conta mentos que entram ness entre deslocamentos para depois do verbo, jA que, pata ela, tanto a morfoldgica ea funcio sintatica do elemento deslocado séo indis- socidveis de seu valor informacional. Tais questées serao retomadas mais adiante. Limitamo-nos, por ora, @ apresentar alguns exemplos posi¢ao como a forma do caso em tela: (4) sn ele vai ao jogo de futebol com o tio... porque o Nébon... fins de semana ele estuda entéo:: quase nao sai com a gente-~ (NURCISP - D2 360:1356-1358) (5) entéo o Japéo... ele... desde 0 seu inicio... ((interferéncia de locutor acidental)) desde o seu inicio... ele tinha... ele contin? como forca fundamental das suas cidades-colénias... 0S dois fatores... (NURC/RJ — EF 379:53-56) (6) esses Bicudos... parece-me que um deles foi para:: regiao de Itu... € 0 outro entrou... para o vale do Paraiba... (NURC/SP- DID 208:551-553) (7) como assim? néo entendi a sua diivida por exemplo (i oe vez. que tem superpopulagao eles vio pata © mar aos montes... (NURC/SP — D2 343: 1466-1468) esse problema de pusar pela crianga — “Ah, niio deve puxet Pe? URCISSA- 8 crianga” — et . u acho que iss nao funciona muito (N' DID 231:93-95) Cabe observar que, quando o elemento de retomada é, como no exemplo (8), um pronome demonstrativo ou indefinido como isto, isso, aquilo, tudo exc., ele remete, frequentemente, a sequéncias significativas expressas ou subentendidas no contexto precedente, que nem sempre sao faceis de delimitar com precisao. 3. Construgées com tema marcado, sem retomadas prono- minais, isto é, com elipses (categorias vazias), mas em quea funcao sintética, no enunciado, do elemento tematizado é, em geral, bem definida: (9) bebida alcodlica... eu gosto muito (Q)... sabe? (NURC/. ‘RJ - DID 328:773) (10) mas eu:: ahn merenda escolar eu tenho pouca nocio (Q) (NURC/RJ — DID 328:510-511) (11) ... eu no viajo nem num outro carro acima de oitenta ou noventa... de velocidade... a Kombi da pra fazer isso (@) de modo que eu you tranquilo (NURCISSA - D2 98) (12) Olinda ninguém mora (Q)... ninguém diz é lé que eu moro... nio... diz € ld que cu pernoito (NURC/REC — D2 05:1094- 1096). (13) as comidas baianas eu gostei muito (@) sabe? (NURC/RJ - DID 328:167-168) (14) ... entéo a menopausa.. nds vamos notar uma diminuigio considerdvel d/dos horménios... dessas gkindulas mamirias (Q)... (NURCISSA — EF 049:62-64) Casos dos tipos 2 ¢ 3 so extremamente comuns em nosso Corpus, nos trés tipos de inquéritos, com o elemento tematizado exercendo as mais variadas fung6es sintaticas no enunciado. Ha exemplos em que os dois tipos estéo copresentes, como em: 99 (15) ... mas 0 campo deles eu acho ue (8) esté mu; to do que o nosso... tanto é que::... eu conheg Mais Satutady " 0... ems: que eles estéo trabalhando Como... auxiliares n, = eas a Nos a empresa entende?... (NURC/SP — D2 6,1 199. ran Em outros casos, temos a coexisténcia dos tipos 3] i » C01 se pode verificar no exemplo (3) acima, 4. Construgées com tema livre (“tema pendens”, “hanging topic”), antecedendo uma sequéncia oracional, sem expli- 100 citagao do nexo sintético e/ou Idgico-semantico: (16) agora H. ahi: filme... dgua com agticar — digamos assim — para a gente ver certas coisas que a gente vé:: americanas principalmente... antes A Moreninha né? (NURC/SP - D2 333:779-781). (17) ... 0 direito... 0 fendmeno juridico... voce olha... 0 fenimeno jur- dico... através de uma perspectiva... (NURC/REC — EF 33) Em (17), acumulam-se dois segmentos tematizados, 0 pri- meiro — 0 direito — um “hanging topic” e o segundo —o fenémeno juridico — do tipo 2, com as peculiaridades que serio apontadas no item 1.2. | 5. Construgées com deslocamento para o final de um a ‘ mento do enunciado que, no interior deste, ¢ introduzi apenas por meio de um pronome ou de uma categon® vazia, as quais tém recebido a denominagio de desloca 4 direita e construgées de antitépico, Trata-se de um pro- cedimento bastante produtivo, em que o SN deslocado convalida, precisando-o melhor, ou chamando a atencio sobre, o referente da forma pronominal ou da categoria vazia, desambiguizando a mensagem e facilitando a com- preensio. Vejam-se os exemplos: (18) L1 e... depois volto para casa mas chego j4 apronto 0 outro para ir para a escola... 0 menorzinho... ¢ fico naquelas lides domésticas... (NURC/SP - D2 360:157-159) (19) ... entéo os ingleses estao importando os filas nacional/brasi- leitos... Para... amansarem — isso? que é lindo a contribuigéo do Brasil para a paz ((risos)) — nao digo entre os povos mas pelo menos entre os cies — para amansar os cies de guar- da... ingleses que eram muito ferozes... (NURC/SP - D2 333:1057-1062) Na terminologia de Blasco (1995), temos aqui o deslocamento para depois do verbo. Segundo a autora, nesses casos 0 elemento lexical deslocado para depois do verbo é sempre uma espécie de lembrete (“rappel”) lexical, referencial e sintético. Para ela, o referente do sintagma deslocado nao pode ser pressuposto: sera sempre um referente conhecido e dado pelo contexto anterior. Acontece, porém, que, em muitos casos, o referente, mesmo tendo sido mencionado 0u indiciado, de alguma forma, no contexto anterior, é dificil de determinar, de modo que o uso desse tipo de construcao tem por fim, justamente, deixar claro para o interlocutor, precisando-o melhor, 0 referente de que se trata, como é 0 caso em (18). lol 102 6. (20) (21) por meio da combinagio dos seguintes parametro: Construgées em que se justapéem os dois magao, sem qualquer ligacao sintdtica, P blocos de infor. or exemplo; ‘os amigos... nada...” (embora se trate de um ex cem| so construg6es extremamente comuns na fala Plo ciad, esp porque a telenovela... como éfeita aqui éum ginee estrangeiro... o estrangeiro... de bom nivel intlectinclen ; que chega ao Brasil... se enamora das boas novelas bene, sendido entio Gabriela... conversei com um professor ance, que disse que jamais isso veria nada parecido em Paris. ou achava a televisdo que se fazia ld... do ponto de vista ficcional.., era... infinitamente pior... porque... eles ndo tém:: eles/ eh em matéria de ficgao sao os velhos filmes néo é (NURCISP - D2 333:385-394) Poder-se-ia, pois, definir os seis tipos aqui apresentados 3 Quadro 1 Caso” diregio do desloc. _ligagto sintitica _pres. de prom sombra caso 1 esquerda explicita ou inexistente sim/nio caso 2 esquerda explicita sim caso 3 esquerda nao explicita-intuivel nio caso 4 esquerda nao ha nko caso 5 direita cexplicita ou intuivel nt caso sem deslécamento nao h: ps 7 _ geeearniel 1.2. Quanto aos procedimentos linguisticos podem-se, pois, arrolar os seguintes: 1.2.1. deslocamento a direita do SN extrafdo: a, com presenga de uma forma pronominal no lugar do ele- mento extraido; b, sem a presenga de qualquer forma pronominal marcando o lugar do elemento extraposto (categoria vazia). 1.2.2. deslocamento a esquerda: a, com 0 uso de expresses tematizadoras (exs. 1 a 3); b.com retomada do elemento tematizado no interior do enunciado (exs. 4 a 8); c. sem retomada do elemento tematizado no interior do enun- ciado (exs. 9 a 14); d. por meio de mera justaposicao, acompanhada de entonacao especifica (exs. 20 ¢ 21), Nos casos de deslocamento com retomada do elemento tematizado, é interessante examinar a natureza do elemento des- locado (fungao sintatica e categoria sintagmatica, bem como a do elemento utilizado como repetidor e, ainda, as diferencas que correm conforme os varios casos. 1. Quanto a fungao sintatica do elemento deslocado (coin- dexado): a. sujeito: (22) ... a glandula maméria.. como vocés estio vendo... ela repre- Senta a forma de uma semiesfera.. (NURCISSA — EF 049:41-42) (23) entio a minha de onze anos ... ela supervisiona o trabalho dos cinco... (NURC/SP — D2 360:61) . de uma semiesfera... 103 104 b. sujeito da subordinada: (24) medicina vocé sabe que (Q) é 231:145) (25) ... a Air France.a gente sé ouve falar que (NURCIRJ — D2 355:1203-1204) Pratica (NURC)ggq _ Dip () 8 prejuis,, c. complemento: (26) inclusive o tal pato no tucupi eu achei () muito ruim ((rindo) sabe... (NURC/RJ - DID 328:140-141) (27) mas eu... ahn... merenda escolar eu tenho Pouca nogio (0) (NURC/RJ — DID 328:512) (28) doce em calda... eu nao vi (®) nao... (NURC/RJ - DID 328:287-288) )) d. complemento da subordinada: (29) essas outras pecas que eu tenho assistido eu nao acho que o pi- blico se manifestasse assim aplaudindo (@) (NURCISP - DID 234:116) Jando e. adjunto (indexado a posigao no-V-argumental), dan origem a “SPs sem-cabega”: amigo (30) Paris eu nao pago hotel... Paris... eu fico na cast de ser) _ (NURCIRY ~ D2 33%! apartamento de um amigo.. 934:155) (31) Drama jd basta a vida (NURCISP - DID 298°" pcl (32) 0 Amazonas é impressionant RJ - DID 328:85) eo numero de fruras ¥ 2. Quanto a categoria sintagmatica do elemento deslocado: a, SN—simples ou complexo: veja-se, por exemplo, (27), (28), (29), (30); b. pronome — pessoal ou déitico: (33) eles também eles comem muitas coisas... (NURC/RJ — DID 328:171) (34) Olhe isso eu repito (Q) ... (NURC/REC ~ EF 337:140) (35) é... i850 cu jd estou sabendo a causa (2) (NURCISP - D2 343: 625) Caso interessante é 0 seguinte, que parece “ir contra” as regras de anaforizacdo, j4 que o pronome vem antes de seu referente, ou seja, age cataforicamente: (36) L. ... inclusive o pato no tucupi eu achei muito ruim... sabe... eu nao gostei realmente... achei ruim demais... nao... nao sei se é por que nio é... eles acham aquilo maravilhoso... né... mas pro meu gosto [Doc. como é... vocé sabe? L. €0 pato é assim... ele em 0 pato cozido feito uma espécie de canja... (NURC/RJ - DID 328:140-147). Talvez se pudesse classificd-lo como um deslocamento a direita, mas nao me parece ser este 0 caso. Seria algo como: “Nes- se prato (pato no tucupi) 0 pato vem cozido...” ou “Ele (o pato) vem cozido”. d. SP: 37) De primeira classe hoje em dia aqui nds temos poucas (9) (NURCISSA - D2 98:194) 105 106 e. SP sem-cabega: (38) ... Amazonas é impressionante o ntimero de frutas,., (NURC RJ - DID 328:90-91) 3. Quanto 4 categoria sintagmatica do elemento Coindexado interno ao enunciado: embora se costume dizer que 0 caso mais comum é a retomada através de um Pronome-cépia ou pronome-sombra (pessoal, demonstrativo, Partitivo), s4o mais frequentes em nosso corpus as retomadas por meio da repeticao integral ou parcial do proprio elemento lexical anteposto, como foi também constatado por Koch (1992) € Callou, Moraes, Leite, Kato et al.(1993) ¢ se pode ver nos exemplos abaixo: (39) ... entao a salada pro... pro pessoal de Buenos Aires a salada se resume a alface e tomate... (NURC/RJ — DID 328:231- 232) (40) Doc. a que se deve esse hiato que o senhor mencionou? Inf. 0 qué? Doc. esse hiato Inf. esse hia::to olha é um pouco dificil de se estabelecer assim:: 4... causa desse hiato porque... 0... essa... (é) 0 Orfeu do Carnaval Se eu nao::estou bem lembrada da data... mas me parece que foi hum momento... (NURC/SP — D2 333:698-704) (41) no... tu vés.. Por exemplo... 0 peixe... peixe aqui no Rio Grande eu tenho impressao que se come peixe exclusivament na Semana Santa... (NURC/POA — D2 291:25-26) im arquiteto que se forma, o salatio inicial de arquiteto (eS) em torno de quatro mil e quinhentos cruzeiros... enuRc! RJ-D2 335:265-267) (42) Questo interessante, que ja tem sido objeto de estudos na drea da sintaxe (cf., por exemplo, Kato, 1989) ena interface sintaxe/discurso (cf. Pontes, 1987), éa do SP sem-cabega: sen- do o elemento tematizado um adjunto adverbial introduzido por preposi¢4o, ao operar-se o deslocamento para a esquerda, a preposicdo é, com grande frequéncia, omitida na fala. Isso me leva a discordar de Ilari (1992:56), quando afirma haver “uma compulsao para preposicionar 0 tépico quando falta um prono- me-sombra no comentario” (0 que explicaria, inclusive, 0 uso do objeto direto preposicionado), mesmo porque tal uso fica praticamente limitado a linguagem escrita ou a fala altamente formal. Relevante é lembrar, como 0 faz também Blasco (1995:53), que os elementos lexicais deslocados para diante do verbo, mes- mo que ja tenham sido mencionados no contexto precedente, nem sempre correspondem a entidades dadas, no sentido de informagao velha, de modo que se faz preciso distinguir entre retomada lexical e retomada referencial. Hi casos, por exemplo, em que se antepée ao verbo um SN genérico, que é depois retomado no interior do enunciado por um pronome ou um SN definido, que refere membros da classe, sendo, pois, ao mesmo tempo, novo e previsivel, devido & relagio semantica que mantém com o SN ja mencionado: " ne le- (43) como assim? nao entendi a sua diivida por exemplo o : fo eles vio para o mar mingue toda vex. que tem superpopulagio eles vo par e:: se matam aos montes (NURC/SP - D2 343:1466-1468) Outras vezes, o SN anteposto é retomado apenas parcialmente + izagéo, um (cf. ex. 42); ou, entdo, expande-se, por ocasiao da tematizacio, 107 108 SN presente no contexto imediatamente anterj % er como “O motor é NOVO; um m ne tempo de amaciamento”. Pode oO um elemento lexical que designa sendo 0 elemento de retomada um dos elementos d exemplos do tipo O énibus, 0 ) pneu estava furado), . de retomada pode remeter a algum conhecimento Press SN tematizado. Também aqui, 0 elemento deslocady ae tempo, novo ¢ previsivel, em funcao do sae! com um elemento precedente‘, Hi; ainda, casos como 0 do ex. (17), topic” — o direito — é, em seguida, tematizado — 0 fendmeno juridico do enunciado. rencia Se dominig ( 0 6, 0 ¢| lem, le fram, ‘em eNto Pelo smo Nexo semantico que mantém em que o “hanging especificado por outro elemento —, sendo este retomado no interior Interessante é também 0 exemplo (44) abaixo, em que o SN complexo tematizado é retomado por outro elemento também tematizado, no caso, o demonstrativo aquilo: (44) aquelas matérias todas que publicam ali aquilo até eu coleciono (®) (NURC/SP — D2 255:1176-1177) i 4o veicula ne- tematizado no veicul caso em que o elemento ; ae : que dois enunciados (1980) defende s conectivos cessariamente informagio dada é aquele em so ligados por conectivos semanticos. ve ; a posicao de que, ao relacionarem dois oa a email semanticos abrem a possibilidade de introduzit, 4 ia 0 caso de: do segundo, informacao nova. Seria o ci i é ue eu fe (45) L1 agora eu vou por isso sd... pord bel negécio e vou aproveitar pra uma CO! é uiné... desejava ver... que € 0 Maq 2 Maquiné... LI... tem uma visita 4 gruta do Maquiné... porque Ouro Preto eu jd conhego ja tive 14... Congonhas também... de modo que minha pretensao agora é essa ... (NURC/SSA — D2 89:432) Contudo, a informacao aqui introduzida é nova apenas com relacao ao contexto imediatamente precedente: levando-se em conta que 0 tépico desse segmento € viagens e que o locutor esté falando de Maquiné, local turistico do Estado de Minas, Ouro Preto e Congonhas fazem parte do mesmo frame ou dominio de referéncia. 1.3. Quanto as fungées da tematizagao: Vimos acima que, ao lado das sequéncias em que hd inte- gracao plena entre elementos tematicos e rematicos, sem segmen- tagdes ou retomadas pronominais — as constru¢ées nao marcadas, que constituem um padrao neutro em relagao a oralidade/escrita — tém-se procedimentos de tematizac4o marcada, alguns também comuns aos textos falado e escrito (em geral aqueles em que se verifica maior integracdo sintatica!), outros tipicos apenas da modalidade oral. Pode-se dizer que, de modo geral, ao recorrer as ConstrugGes com tema marcado, o falante seleciona um elemento (estado de coisas, propriedade, relagéo, coordenada espacial ou temporal, individuo ou grupo de individuos etc.) que deseja ativar ou reativar na meméria do interlocutor e sobre o qual seu snunciado deverd langar nova luz, para apresentar a seguir algo que considera desconhecido por este, que deseja enfatizar ou com 8 qual Pretende estabelecer algum tipo de contraste. E por esta "3240 que o elemento tematizado desempenha papel relevante ce Processamento pragmatico-cognitivo do sentido, na medi- ‘2 em que esta forma de organizacao é determinada quer por 109 110 questoes ligadas & continuidade ou mudanga de tépico, fre fatores como facilitagio do processamento do texto, interesse, relevancia, expressividade, necessidade de ganhar tempo a o planejamento da parte restante do enunciado, entre outros, Vejamos um exemplo em que, através da tematizacio, s¢ jntroduz um novo segmento tépico: (46) Doc. agora aquela zona ali do Parand... eu tenho parentes li as sobremesas deles voce teve oportunidade de... L. ah... sobremesas... nao... nés nao ficamos muito tempo em Curitiba nds... fomos a/ viemos.... quando nés voltamos da Ar- gentina nés fizemos pernoite s6 em Curitiba e viemos... entende? (NURC/RJ - DID 328:252-258) Em (47), por sua vez, a tematizagao do SN bebida alcoblica na resposta do informante assinala a mudanga de tépico induzida pela pergunta do doc. (47) Doc. e bebida alcodlica? L. bebida alcodlica... eu gosto muito... sabe... e domingo também eu as vezes me dou ao luxo... eh... 4s vezes a gente poe assim um vinhozinho... entdo a gente toma vinho de acordo também com o tipo de comida... se é carne... aqueles habitos que a gente tem se é carne é vinho tinto... se é peixe a gente usa vinho branco. (NURC/RJ — DID 328:772-778) emplo O exemplo (4), aqui repetido como (48), € um ext em que, através da tematizagao, ocorre a retomada de anterior (Nelson, marido da locutora, havia constituido 0 6 um segmento anterior do didlogo): a S oh age PEP (48) ... ele vai ao jogo de futebol com o tio... Porque o Nelson... fins de semana ele estuda entéo:: quase no sai com a gense (NURC/SP - D2 360:1356-1358) Em (49), temos um caso semelhante: o documentador apresenta um quadro tépico — derivados do leite — cujos diversos itens a locutora passa a desenvolver Para, no final, através de um “posto resumitivo”, reiterar o tépico que lhe foi oferecido, sob forma de um antitépico: (49) Doc. ha um derivado da:: do leite... que (assenta) bem em regimes... dependendo do tipo né? [. €0 queijo de Minas... eu 0 usor: de manhi &s vezes eu como um pedaco de queijo Minas... e quando eu ch quando cu sinto {ve vou pasar (um) perfodo do dia... fora de casa que eu nao vou chegar a tempo Pra comer meio-dia. pedago de queijo de Minas... é0 que eu uso e/| ticota... Doc. ah td... L. ... gosto muito de ricota.. de tomar café com leite., eu entao levo um ‘uso também muita + sal iogurte as vezes eu em ver + eu tomo fogurte ou coalhada tam- bém... que eu Bosto... sabe?... cu gosto muito de coalhada, iogurte esses produtos derivados do leite eu... mas sé... queijos brancos... eu s6 como queijos brancos (NURC/RJ ~ DID 328:610-623) Outra funcao que costuma ser atribuida 4 tematizacao é de ¢stabelecer contraste entre a informacao veiculada pelo elemento tematizado e alguma informacio apresentada anteriormente ou 4 Qual a Primeira se Opoe. Veja-se, por exemplo: _ gs outros mesmos nao se incumbem de colocé-lano ly gar (50) L2: dela? L1 bom... L2ahn LI [mas com palavras ela nao se coloca porque ela 12 [ahn L1 aumenta a voz com os irmaos... nio é... (NURCISP ~ D2 360:228-234) | com uns TApas... &s vezes ela se coloca Funcio interessante € aquela apontada por Blasco (1995:52). 112 Segundo ela, o deslocamento do SN para diante do verbo funciona como um dispositivo que permite retomar, em posicao associada ao sujeito, um elemento lexical com todo o seu peso referencial. ‘Assim, de uma parte, 0 elemento lexical se desloca no interior do discurso de uma posigao construida pelo verbo regente (argumental) auma posig4o nao construfda (nao argumental); de outra parte, esse deslocamento permite “etomar” o elemento ja citado no context anterior em posi¢ao associada ao sujeito, podendo-se, assim, dizet que se trata de wma articulagdo sintdtica que organiza a repeticio. A par de tudo 0 que foi discutido acima, pode-se afirmat, de conformidade com Van Dijk (1982, 1983) que, 20 estabele cer o quadro geral de referéncia no interior do qual o conretido proposicional do enunciado se verifica, a estratégia da tematiza desempenha papel de relevo na construgao da coeréncia, ante no nivel local, quanto no nivel global do texto. 2. Sequéncias rema-tema Ao lado das estratégias de tematizagio anteriormente descri- as, existem, também, as estratégias de rematizacéo, responsaveis tas, 4 pela marcagéo do elemento focal, frequentemente com a antepo- sigao do rema ao tema. 2.1. Também aqui podem-se observar diferentes graus dein- tegracao sintdtica, nos termos de Koch & Oesterreicher (1991): 1, Casos em que se verifica um alto grau de integracdo sint4- tica € 0 de algumas das oragées, comuns & fala e 4 escrita, denominadas cindidas por Ilari (1992:43), nas quais ocorrem “particulas de realce” ou construgGes gramaticais uuilizando oragées relativas que “desdobram” a oracéo em duas partes. Tais oragées so também denominadas na literatura de clivadas (cf., por exemplo, Kato et al. 1995; Braga, 1991), podendo apresentar configuracées sintaticas bastante diferentes. Em (51), que é clivada, bem como em (52), clivada com inverséo (cf. Kato focal, ocorrendo, Portanto, a que constitui etal., 1995), antepée-se o elemento rematizagao: (51) €0 tal problema que a gente sente (NURC/SP — D2 62:325- 326) (52) ... éisso que eu acho entende? (NURCISP — D2 62:436 — D2 343:1571-1573) Ja (53) consist Pseudocli © em exemplo do que se tem denominado vada em q ue ocorre rematizacao: 113 114 (53) 0 que me revolta Profundamente éo Pro; (NURCISP -D2333:1117) | "*Cinderely (den 2. Construgées com rema anteposto, marcad, i A , lo ape dicamente, especificas da modalidade oral, ps Nas * Segun (1992:43-44), a expresso do rema estj sem aalgum tipo de Proeminéncia pel de rema estaria ligado um invariante fonol permite o seu reconhecimento nas diferentes oragao em que possa ocorrer?, Vejam-se algun: plos extrafdos de nosso corpus: Pte : Associ, Entoacional. Asgi mt 'M, a0 pa. BIC que Posicdes da S dos exem. (54). ... passei ali em frente &:: Faculdade de Direito... entéo estava lembrando... que eu ia muito lé quando tinha sete nove onze,,, (com) a titia sabe?... es: estd muito piora cidade... esté...0 aspec- to dos prédios assim é bem mais sujo... tudo acinzentado né? (NURC/SP — D2 343:20-24) (55) L1... e toda segunda & noite eu passo ali do lado da faculdade certo? ae fi o L2 quando vocé vai pra:: para Alianga né? é ft Jase L1 é quando eu pego 0 carro... e:: também é horrivel omens (parece) assim montoeira de concreto... sem nenhum asp humano certo? (NURC/SP - D2 343:28-33) (56) ... Lins por exemplo nao é assim né vod de::... de acho que parece bairroa cidad ho- 343:58-59) ae em TW tem m8 (57) Doc. vocés acham entdo que o noticiario e aspect é tem um é tem. p2 Jené (NURCISP- rado bastante [ tem pode melhorar mais nesse ponto o o:: telejornal nosso... pode aprimorar bastante... eu acho... bastante (NURC/SP — D2 333:988-992) Interessante é notar que, no exemplo anterior, tem-se um caso de “double-bind” sintatico (cf. Frank, 1986): 0 tema o o:: telejornal nosso, posposto ao rema, torna-se, por sua vez, o tema (nao marcado) do rema seguinte pode aprimorar bastante. (58) entao o cara af... analogia né? o cara est4 no carro mas... 0 que querem?... é tribal a coisa né? (NURC/SP — D2 343:701- 702) (59) € o pato é assim... ele vem o pato cozido feito uma espécie de canja... 86 que o caldo é justamente é uma égua misturada com uma farinha eu acho que é... éta/ tacacd se nao me engano o nome da farinha que eles usam... (NURC/RJ — DID 328:133-136) 3. Sequéncias formadas dos dois blocos — rema-tema — sem verbo, apenas justapostos sem vinculo sintatico, em que Ocorre um aumento da expressividade, a par de um menor esforco de planejamento*: (60) ... eu gostei é um filme de amor... umas cenas maravilhosas... 4indo © filme... eu assisti faz tempo jé... (NURC/SP - DID 234:335-337) » Sequéncias em que se antepée um elemento rematico que € repetido imediatamente na sequéncia (cf. Castro, 1994). Trata-se de tepeticao que incide quase sempre sobre um substantivo, adjetivo, advérbio ou verbo, tendo, como uma Ws das principais funcées, enfatizar o termo ou, muitas vezes, questionar a dese a do emprego naquela situacao, Por exempl © almocei ainda; sé comi um sanduiche p, Nting?. bom, sé achei o tiltimo capitulo”, Todavia, : cree (65), extraido do nosso corpus, ng Plo fungao, mas algo como “vocé me Pergunta se evoluiu, » a fs » eeu me apresso a responder” ou, entao, “ PFeCisO reconhecer que evoluiu”: Significadg 6s 0, “alm, 116 (61) Doc. vocé acha que 0 teatro evolui::u? como € que esta? Inf. evoluir evoluiu... evoluiu muito o te; Brasil... (NURC/SP — DID 161:625-627) ‘tro principalmente no 2.2. Quanto aos procedimentos linguisticos utilizados, tem-se, basicamente, 0 deslocamento 3 esquerda. Este pode ocorrer acompanhado apenas de marcas Prosédicas (casos 2 ¢ 3), ou com autilizacao de determinadas marcas sin oragoes cindidas (caso 1), a saber: a. expresso é que (foi que) delimitando o rema anteposto; b. expresso é que (foi(o) quelque) seguindo o rema anteposto; “: construgées gramaticais usando oragées adjetivas, como 0 que (me)... éifei, podendo o Pronome relativo vir elidido. tdticas que caracterizam as 0M anteposicio do Tema, qi igadas verifica-se que esto diretamente liga 4 cxpressivid, . com vimento do falante com o assunto € ‘ . f jue 1 Por isso, mais frequentes na fala do q! a . - als. Mm situages de interacéo menos form: lade ¢ a0 envo} 9 interlocutor, sendo, ser} 4 especialmente A anteposi¢ao do rema ao tema constitui expresso de alto envolvimento. Na perspectiva do falante, permite-lhe antecipar na formulacdo aquilo que constitui a meta de sua comunica¢io; do ponto de vista do interlocutor, tal sequéncia, normalmente acompanhada de acentuag4o entonacional do rema, é sentida como marcada relativamente a sequéncia tema-rema e, portanto, veiculadora de algum tipo de informacao discursiva adicional, 0 que, sem ditvida, compensa o seu duplo custo operacional: 0 rema fora de sua posigao sintatica normal e de sua posicio em termos da estrutura informacional dado/novo. Assim, no caso das oragées cindidas, em que comumente a parte focal representa informagao nova e a parte pressuposicional, informagao dada, a funcio é enfatizar o rema anteposto. Desta for- ma, um importante fator determinante do uso das cindidas seria 0 propésito do falante de assinalar uma sutil oposic4o ou contraste. Segundo Hupet & Costermans (1982:280), ao usar uma estrutura cindida, a intenco do falante é contrastar sua mensagem com qual- quer outra proposicao que poderia invalida-la. Os autores acabam por concluir que, em termos dos componentes pragmiticos deter- minantes desse uso, as cindidas podem ser vistas como motivadas pela discordancia que o falante supée existir entre a sua posi¢ao € aquela que ele se sente autorizado a atribuir ao seu interlocutor. E importante essa ressalva: n4o se trata da real posicao do interlo- Cutor, mas daquela que o falante lhe atribui, isto é, das crengas que, Correta ou incorretamente, o falante atribui ao seu parceiro. Hupet & Costermans ressaltam, ainda, que ha casos em que 4 oracao cindida enfatiza nao um elemento que poderia ser visto como néo partilhado pelo interlocutor, mas um elemento sobre 0 qual o préprio falante nao tinha total certeza até alguns minutos atrés, Aqui seria como se o falante “falasse com seus bot6es”, cor rigindo seu ponto de vista anterior. 117 118 ee eee das estratégias de tematizacs zacao. pla gama de investigacées, as oa ate iC: 2 excetuando-se 0 caso das oracdes cli estraté, paanst um dominio ainda eae clivadas ¢ que diz respeito ao portugués (ee Ilari, 1987/1992). tem 5 ‘ Sido Blas de. remat i. Pseudoctnadn co. Pelo menos a : Nntudo, o trabalho 2 le CONSIDERAGOES FINAIs ; O grupo de estratégias que estamos estudando sob P _ i ple 10 sob o rd segmenta¢do tem interferéncia direta na produgio d “ne oe 10 Senti etc portanto, papel relevante na construgio do t 7 coeréncia textual. mec As marcas de redundancia implicadas na formasio das construgées segmentadas, conforme ressalta Lébre (1987:129) constituem, para o locutor, um meio de remediar os inconvenientes da linearidade da fala, j4 que nesta qualquer retorno éimpossivel, bem como acrescentar ao seu enunciado indices que, sem elas, nto lhe seria possivel inserir. Frequentemente, precedidas ou seguidas de he como enfim, quer dizer, bom, estratégias de reformulagao ou corre ‘Além disso, como bem mostra oceder a uma espéci utilizadas, ¢ apres starte Seu enunci arcas da inscrigao do ¢ as construgoes segmentadas, por vezes sitacoes ou de marcadores di bem, entre outros, sao restt cao do texto falado. Lebre, a segmentacio per ie de hierarquizacto das ro de vist jiscursivos Icantes de mite ao locutor pr unidades linguisticas pessoal, modalizando de construgées constituem Mm: discurso. to do enunciad ‘Ao destacar um elemen! Je ¢ outros elem ntar um pon! ‘ado. Dest jador 2° lo, estab oposigao entre © implicita. As oposigées implicitas, que so apenas sugeridas pelo elemento destacado, revelam a presenca de um néo dito: “Fazer de um objeto (elemento, N. T.) qualquer um tema marcado, isola-o e, dessa forma, 0 define como algo cujo comentario so- mente a ele pode ser aplicado. Ha uma exclusio implicita em toda topicalizagao, e, em todo tema marcado, h4 sempre, impli- cito, um outro”.” Além disso, salienta Lébre, as construgées segmentadas des- velam um ndo dito de certa forma inerente 4 elaboracao de toda € qualquer produc4o de linguagem, j4 que permitem distinguir entre 0 que € posto ¢ o que é pressuposto e estabelecem as proprias condigées de existéncia do discurso. Assim, para o interlocutor, as construgées segmentadas sio também o indice de uma confrontacao ou de uma aproximacaio nao explicitamente marcada entre os Propésitos explicitamente aptesentados e outras produces discursivas, 0 que vem compro- var a afirmacao de Bakhtin (1929:113) de que “toda comunica- S40 verbal, toda interacao verbal, desenrola-se sob a forma de um intercémbio de enunciados, isto é, sob a forma de um didlogo”. Sao as aproximagées implicitas que permitem relacionar a expresso destacada, isolada do enunciado, a tematica global de um discurso, estabelecendo um liame entre seus diferentes seg- mentos. Isto explica por que, muitas vezes, o emprego de cons- ‘tug6es segmentadas coincide com a Ppassagem de um segmento t6pico a outro, isto é, marca uma mudanga ou um deslocamento do tépico discursivo, Outra fungio importante das construgGes segmentadas “1 Sue se desloca para a direita o elemento extraido é, como foi dito, ade desambiguizar 0 enunciado e facilitar a compreensio: aredundancia assegurada pela retomada contribui para a melhor 'tetpretacio do texto e para a construcio de sua coeréncia. 19 ~~; Por todas essas raz6es — a par de out, ser aqui destacadas — é que se pode afirma segmentagdo desempenham papel de relevan compreensao do texto falado. Embora muitas delas ja tenham merecido bastante atencs, da parte de muitos sintaticistas e semanticistas, as abordagen, textuais-discursivas sao ainda Pouco numerosas em nosso Pais, HS que nao Puderam, T que as Stratégias dp cia na Construcag ena especialmente em se tratando das estratégias de tematizacio, em. bora, evidentemente, se deva ressalvar, a par de outros, os autores citados neste trabalho. 120

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