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A previdência imprevidente

Por Ruy M. Altenfelder Silva

É unânime no país, inclusive na opinião de alguns


poucos segmentos defensores de posições
corporativas, a necessidade de se promover a
urgente reforma da Previdência Social. Afinal, não
há cidadão, instituição ou entidade que, no gozo
de perfeita saúde mental ou honesto juízo de
valores, possa defender um modelo que
transforma a maioria dos aposentados em quase
indigente, privilegia alguns poucos brasileiros e,
de quebra, se constitui no mais perdulário ralo do
dinheiro público. Trata-se, assim, de um sistema
que não atende, há muito, a quaisquer de seus
objetivos precípuos.

Referendado o consenso em torno da questão,


torna-se atitude mesquinha defender uma
reforma previdenciária melhor para este ou
aquele grupo. Na concepção de justiça social,
democracia plena e igualdade de direitos -
virtudes pelas quais propugnam as mentes,
organizações e correntes ideológicas mais éticas e
lúcidas do mundo contemporâneo -, não há mais
espaço para o oportunismo, como defendem alguns no âmbito da Previdência Social brasileira.

Em meio ao acalorado debate do tema, por meio da imprensa, seminários e eventos em todo o
país, tem-se utilizado rebuscadas figuras de retórica e teses jurídicas complexas para justificar o
injustificável. Porém, traduzindo ao bom português os porquês de se manterem privilégios, o
raciocínio é exatamente este: "desde que eu tenha uma aposentadoria polpuda, não importe
quem pague. Meu direito tem de ser garantido, mesmo que inviabilize o direito de todos os
demais e lhes imponha o dever compulsório de sustentar meu alto
padrão de vida".

Não se constroem
Assim colocada, como de fato é, a argumentação realmente choca. grandes nações pisando
É este o fulcro da questão. O Brasil não pode mais conviver com em ovos para não ferir
cenários artificiais, buscando soluções irreais para problemas suscetibilidades de
analisados de forma enviesada, superficial. Não se constroem minorias
grandes nações pisando em ovos para não ferir suscetibilidades de
minorias, em detrimento dos interesses da maioria. Exemplo
patente disto foi a reforma da Previdência aprovada pelo Congresso Nacional em dezembro de
1998 (Emenda Constitucional nº 20), que substituiu, para efeito de aposentadoria, o tempo de
serviço pelo de contribuição e introduziu a figura do fator previdenciário.

Foi a reforma adequada? Claro que não, conforme indicam os números com a clareza
indiscutível da matemática: o déficit da conta previdência é hoje de R$ 71 bilhões/ano,
tendendo a crescer a cada exercício. Isto corresponde a 5% do PIB (em 1995, eram
3%). Ou seja, a Previdência é uma das principais causas do desequilíbrio fiscal e,
portanto, do apetite tributário do Estado, que elevou de 19%, em 1994, para 36% do
PIB, em 2002, a carga de impostos paga pela sociedade.
Nessa conta, é importante identificar os problemas e distorções, em particular a existência de
dois regimes distintos, que bebem da mesma fonte de recursos, mas distribuem a receita de
forma absolutamente desigual: o Regime Geral de Previdência Social, aplicável aos
trabalhadores da iniciativa privada, regidos pela CLT, e o Regime Jurídico Único, relativo aos
servidores públicos. Este, pasmem, responde por 76% do déficit da Previdência, mas atende a
apenas 15% do total de beneficiários. Claro está que a grande massa dos 85% restantes é
imensamente prejudicada. ...

O que destacamos é que a matemática financeira está muito mais presente em nossas vidas do
que imaginamos... e, se não estivermos atentos, podemos deixar que uma dívida de R$100,00
hoje seja transformada em R$1.000,00 amanhã!

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