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Essas mudanças fazem com que os adolescentes busquem identificações com grupos de
amigos com os quais eles se assemelham. Durante essa face da vida é necessário à presença
freqüente da família e da sociedade, pois esta dará suporte ao adolescente para suas
escolhas.
O meio social no qual o adolescente esta inserido, fará com que ele defina suas decisões e
suas expectativas em relação a sua identidade.
Adolescentes que estão inseridos em situações desfavoráveis, muitas vezes buscam recursos
para satisfazer suas necessidades em práticas indevidas a conduta de um adolescente dito
“normal”. Normal no sentido de estar vivendo de acordo com os padrões estabelecido pela
sociedade.
A sociedade estabelece normas e padrões, mas é necessário observar a individualidade de
cada sujeito, visto que o contexto em que cada sujeito esta inserido não pode ser
padronizado.
Muitos adolescentes se envolvem com práticas ilícitas que os denominam com delinqüentes
ou infratores. Estes atos cometidos por estes, são muitas vezes propiciados pelos fatores
sócio-econômicos.
Os atos cometidos por adolescentes são denominados com atos infracionais a conduta
descrita como crime ou contravenções penais.
Os adolescentes que comentem atos infracionais são vistos como aqueles não têm recursos
básicos para a sobrevivência no ciclo familiar, então passam a buscar estratégias para se
sobressaírem e adquirirem reconhecimento no seu meio visto que a sociedade os
caracterizam como adolescentes com desvio de conduta que se refere ao comportamento
desordenado.(ZUCCHI, 1998).
O adolescente na visão psicológica é estigmatizado pela sociedade que o exclui, condenando-
o a miserabilidade.
“... a maioria dos adolescentes com prática de delitos é marginalizada. A situação de
marginalização os leva a criminalização e a delinqüência.” ( Schneider, 1982).
Visto que o adolescente é sujeito de direito e deveres, então quando atos infracionais são
cometidos, estes devem ser inseridos em medidas estabelecidas pela Lei nº 8.069/1990
(Estatuto da Criança e do Adolescente), pois dessa maneira será possível que ele se
reintegre ao seu meio.
AS PENAS ATRIBUÍDAS AO ADOLESCENTE INFRATOR AO LONGO DA HISTÓRIA DO DIREITO
PENAL
Ao longo da história do direito penal a idade penal varia dos 9 aos 18 anos.
“A posição do Direito Penal Brasileiro diante da idade da punição tem uma marca de
ambivalência, ela oscila com freqüência na direção de valores e exigências que a conjuntura
social aponta”. (Menezes, 2006, pág.201).
As tradições das práticas jurídicas sempre voltaram sua atenção especial para a violência
entre os jovens.
As regras ditadas pela Coroa Portuguesa, alojadas na Ordenação da Filipinas (1603), diz que
a pena aplicada ao delinqüente (termo utilizado na época), era total, executava-se nos
termos previstos. Essa idade penal era distribuída em dois cenários distintos sendo que o
primeiro compreendido os jovens de 17 a 20 anos e para a pena ser aplicada a estes se
contavam com três fatores objetivos: o modo como o delito foi cometido; suas circunstâncias
e a pessoa do menor, e um fator subjetivo, a malicia da ação. O segundo cenário é
constituído por aqueles abaixo dos 17 anos, para essa idade o soberano extingui a pena de
morte, esta não era aplicada mesmo se o infante viesse a merecer, sendo definida a mais
adequada para o caso.
O Código Criminal de 1830 reconhecia o individuo na sua autonomia, sendo portador de uma
identidade gerado pela sua consciência que o torna único, passando a ser senhor de direitos.
A exclusão da responsabilidade penal ao jovem infrator era desconhecida, sendo criado o
primeiro Código Criminal do Império e o Estado estabelece a idade penal será a partir dos 14
anos.
“(...) eles dependem da posição subjetiva do autor por ocasião do fato. Assim se houver
prova de que o menor de 14 anos agiu com discernimento, será recolhido a casa de correção
(....). A imputabilidade em si, imprópria para a produção de qualquer conseqüência, somente
era reconhecida para quem, sendo menor de 14, agisse sem aptidão para distinguir o bem
do mal na base de sua conduta”.( Menezes, 2006, pág. 205).
Para o legislador da época, não importava a idade, a qualquer tempo o jovem pode e é capaz
de praticar o crime com clareza e compreensão do ato que esta cometendo.
Já no Código Penal de 1890, Lombroso em seus estudos demonstrava que a criança já trazia
embutido o germe da loucura moral e da delinqüência, trazendo uma nova legalidade a ser
aplicada aos menores. Este código reduzia aos 9 anos os limites da inimputabilidade penal,
tornava inimputáveis os maiores de 9 e menores de 14 anos, desde que estes agissem sem
discernimento, e quando estes agissem com discernimento do ato eram recolhidos a
estabelecimento disciplinares.
As Consolidações das Leis Penais (1932), considerava muito baixo 9 anos para a
inimputabilidade, e considerava a palavra discernimento imprópria.
A idade penal neste documento foi redefinida, considerando o limite da inimputabilidade
penal para 14 anos, considerando que durante essa fase nenhuma penalização seria
aplicada. Sendo que para os jovens que estivessem na faixa etária de 14 a 18 anos, estes
seriam submetidos a regime especial.
No Código Penal de 1940, o legislador oscila, determinando o limite da inimputabilidade para
os 18 anos.
Para Nelson Hungria (principal autor do projeto que resultou o Código de 1940), a
menoridade deve subsistir com a teoria de Lombroso de que “todas as tendências para o
crime tem seu começo na primeira infância”.
“É preciso renunciar à crença “no fatalismo da delinqüência” e assumir o ponto de vista de
que a criança “é corrigível por métodos pedagógicos.”(Hungria, 1978)
O trabalho com estes adolescentes “é a tarefa que se coloca para uma equipe
interdisciplinar, é além de contextualizar o adolescente, dar início ao processo educativo”.
(XAUD, 1999, p.94)
De acordo com Miranda Jr (2003), “a interdisciplinaridade não implica eliminar os
pressupostos epistemológicos básicos de cada campo do conhecimento, ao contrário implica
a busca de um diálogo que considere as diferenças e os limites das construções teóricas e
das praticas correlativas”. (p.159)
O art.101 do ECA prevê: “(...) a autoridade competente poderá determinar (...) V- requisição
de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatório”.
(BRASIL, 2005, p.37).
Miranda Jr (2003) ressalta que:
Podemos dizer que a psicanálise pode intervir no trabalho com crianças e adolescentes, na
medida em que permite uma mudança de olhar sobre ela, considerando que sua história e o
ambiente onde cresce sejam percebidos por ela como lhe dando maior ou menor
possibilidade de ser sujeito, sujeito de direitos. (ALTOÉ, 2004, p.55)
Em sumo, a intervenção psicológica com adolescentes passa a ser um facilitador que cria
oportunidades para que adolescentes possam subjetivar sua posição, tanto no âmbito
familiar quanto nos grupos sociais, pois será dado a eles o direito a se expressar.
REFERÊNCIA
ALTOÉ, S. A Psicanálise pode ser de algum interesse no trabalho institucional com crianças e
adolescentes? IN. Sujeito do Direito, Sujeito do Desejo – Direito e Psicanálise. Sônia Altoé.
Segunda Edição, 2004. p. 51 a 60.
VOLPI, Mário. O adolescente e o ato infracional - 3º ed. São Paulo: Cortez, 1999.
XAUD, Geysa Maria Brasil. Os desafios da intervenção psicológica na promoção de uma nova
cultura de atendimento do adolescente em conflito com a lei. IN. Temas de Psicologia
Jurídica/ Organização Leila Maria Torraca de Brito – Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1999.p.
87-101.
ZUCCHI, Maria Cristina. O jovem infrator e o ideal de justiça. IN. Direito de Família e
Ciências Humanas/ Coordenação geral, Eliana R. Nazareth, Maria A.P. Motta – São Paulo:
Editora Jurídica Brasileira, 1998. p. 141-147 – (Cadernos de Estudos, n.1)