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Filosofia e Religião

Creio porque é absurdo!


Santo Agostinho

Uma da mais contundentes personalidades da filosofia Cristã é Santo Agostinho. Filho de mãe cristã
(Santa Mônica) e de pai relutante às idéias do Nazareno, este filho do século IV d.C. levou uma vida muito
intrépida. Fez sua educação literária em Milão, embora Roma e Cártago hajam presenciado algumas
dissipações de sua juventude. O pensamento platônico o fascinou desde cedo, e isto não passou
desapercebido para o futuro bispo de Hipona. Precursor do humanístico pensamento do renascimento
propõe a conciliação entre a ética greco-latina e a mensagem dos evangelhos. O "De Civitate Dei" (Cidade
de Deus) e Confessiones (Confissões) são suas mais conhecidas obras.
Emergindo de profundos conflitos emocionais característicos de sua infância, Agostinho vê-se
atormentado quando após a morte de sua mãe, busca sua conversão ao Cristianismo. Educado na filosofia
de Aristóteles e Platão, o jovem de Tagaste encontra-se em um abismo cultural e intelectual: como
conciliar o pensamento Helênico e o Cristão? Como aceitar a arte dos gregos se eram politeístas? Qual a
raiz de seus conflitos, se tais artes entre as quais a Astrologia pareciam funcionar tão bem?

Os Vaticínios dos Astrólogos

No texto de Confissões, Agostinho confessa que praticava a Astrologia: "Este homem chamado
Firmino, que tinha sido educado nas artes liberais e instruído na eloqüência, consultou-me um dia, como a
amigo muito íntimo, a respeito de uns negócios em que tinha grandes esperanças. Perguntou qual fosse o
meu vaticínio, "segundo sua estrela", como eles dizem. Porém, eu que já então neste assunto começava a
deixar dobrar pelas questões de Nebrídio, não me recusei a expor-lhe meus prognósticos e o que me
ocorrera, acrescentando contudo que estava já quase persuadido de que tudo aquilo era falso e
quimérico."
Este trecho evidencia a prática da Astrologia pelo Santo. Entretanto, sua consultoria estava
carregada de dúvidas. Quanto ao vaticínio de santo Agostinho, nunca o saberemos. Por ser consultado
pelo culto amigo, Agostinho obviamente possuía conhecimentos sólidos de Astrologia e Astronomia, já que
naquela época, não existia nem Canopus nem Vega e muito menos o SolarFire.

Só Deus pode ter o conhecimento do futuro. Nenhuma arte existiria para prevê-lo.
(Confissões)

"Também já tinha rejeitado as enganadoras predições e os ímpios delírios dos Astrólogos. Ainda nisto meu
Deus, Vos quero confessar as vossas misericórdias, desde as fibras mais secretas da minha alma!".
"O primeiro (o amigo Vindiciano) dizia-me com toda a veemência e o segundo freqüentemente (outro
amigo: Nebrídio) - ainda que com certa hesitação - que nenhuma arte existia para prever o futuro; que as
conjecturas eram fundadas no acaso, e que, por jogo de palavras, se vaticinavam muitas coisas; que
aqueles mesmos que as diziam ignoravam se haviam de realizar, acertando nelas somente porque as não
calaram".
Nesta passagem, Agostinho influenciado por dois amigos, confessa a Deus seu erro: a prática da
Astrologia. Segundo sua visão, a arte de prever o futuro era falsa, e com ela a Astrologia. Somente Deus
possuiria tal habilidade. A capacidade, por exemplo, de antever a uma futura doença pela medicina ou
qualquer outra arte torna-se difícil de conciliar. Quais os limites do que se pode prever sem o conflito com
a sabedoria de Deus?

"Poderão ainda dizer que as estrelas indicam, mas não realizam acontecimentos. É como se a sua posição
fosse uma linguagem de predizer o futuro (foi de fato o parecer de homens não mediocremente doutos).
Não é assim que os astrólogos costumam falar. Não dizem, por exemplo: -Esta posição de marte anuncia
um homicida - mas -faz um homicida. Concedamos, porém, que eles não falam como devem e que
deviam tomar dos filósofos a sua maneira de falar para anunciar os acontecimentos que julgam descobrir
na posição dos astros”.
O segmento é inequívoco: Agostinho bate de frente com o problema "o que torna uma pessoa um
homicida?" Isto não pode vir de Deus nem dos astros, e muito menos de um distúrbio no Complexo
Reptiliano de Eccles. Isto abalaria toda a doutrina Romana-cristã que estava em vias de ser instituída.
Para isto, seria necessário expulsar toda espécie de interferência.
Ele alerta, entretanto, quase insinuando que se os astrólogos tratassem os efeitos como
interferências do mundo natural, ele até talvez pudesse rever a sua posição. Sua formação clássica o
ajudou a fazer interessantes reflexões, a despeito de sua fé maior que qualquer outra coisa. É correto,
entretanto, o fato de muitos astrólogos da época não falarem a língua dos filósofos. Isto não mudou muito
desde o século IV. Agostinho admite o efeito astrológico e sideral na natureza.

Os seres sem espírito podem sofrer o efeito dos astros.


(Cidade de Deus cap. VII - livro V)

"Não é absolutamente absurdo admitir que mudanças, mas apenas quando a diferenças do corpo, sejam
devidas à influência sideral: vemos assim que o Sol pela sua aproximação ou afastamento provoca as
estações do ano; a Lua, conforme vai para a crescente ou minguante, assim faz crescer ou minguar certas
categorias de seres, tais como ouriços do mar e as conchas, e ainda as maravilhosas marés do oceano".
Este segmento transparece seu pensamento de cientista natural. Apesar das justificativas
apresentadas à causa das estações do ano estarem equivocadas, isto é conhecimento de Alexandrino. A
exclusão do homem sob o efeito dos astros é antes a maneira mais eficiente de resolver aparentemente a
questão da "moral como um fenômeno do homem" e não da natureza. Se Agostinho estiver certo e se
nossos estudos como astrólogos não forem equivocados, a convivência destas duas teses fará com que
nosso parentesco com algas e mexilhões seja mais estreito do que imaginamos.

Astrólogos são inspirados por demônios. Tal arte não existe.


(Cidade de Deus cap VII - livro V)

"Bem consideradas todas estas coisas, há motivos para crer que, se os astrólogos dão tantas respostas
surpreendentemente verdadeiras, isso se deve a oculta inspiração de maus espíritos que põe todo o
cuidado em infundir nos espíritos humanos essas e nocivas opiniões acerca das fatalidades astrais, e de
forma nenhuma à arte de examinar os horóscopos:- Tal arte não existe".
Ao fim do capítulo VII, Agostinho admite que os astrólogos dão respostas corretas e até
surpreendentes. Como justificá-la? A resposta estaria na ação oculta de espíritos. Teríamos que admitir
duas coisas: Demônios são inteligentes o suficiente para serem bons na arte da astrologia e desocupados
o bastante para o fazê-lo apenas com a finalidade de infundir conceitos contrários à opinião do filósofo.
Longe de pretender esgotar o assunto, este ensaio pretende estimular o leitor a pensar por que
caminhos andou a Astrologia. As críticas de Agostinho à Astrologia parecem associar-se mais ao problema
do destino e da moral que ao seu sentido em si. Isto lhe roubou muitas noites de sono. Seus clássicos
argumentos sobre a questão dos Gêmeos em Astrologia serão desenvolvidos em outro capítulo.
Agostinho tinha uma missão: a de trazer o cristianismo como modelo de sociedade. O humanismo
que inspirou as artes e o pensamento renascentista possuem muito de sua base. Talvez São Thomas
tenha conseguido um melhor resultado nesta interface entre o mundo Greco-Helênico e o mundo do
Jesus-Romano. Ele foi um exemplo de fé, e a colocou sobre todas as coisas. Talvez tenha sido esta sua
maior virtude e sua maior condenação.

"Vós, porém, Senhor - justíssimo organizador de tudo - por meio de um secreto instinto, desconhecido
dos consulentes e dos Astrólogos, fazeis que cada qual, enquanto consulta, ouça o que lhe convenha
ouvir, segundo os merecimentos ocultos da sua alma e segundo os abismos dos vossos incorruptíveis
juízos. Que nenhum se atreva a perguntar-Vos : "-Que é isto? para que é isto?" Não vo-lo pergunte,
porque é um simples homem."

Notas:
Artes Liberais: Artes necessárias ao pleno saber no período medieval. São: A retórica, a dialética, a
gramática conhecida como trivium. A astronomia/Astrologia, a Aritmética a Geometria.

Carlos Fini
Extraído e adaptado de http://portodoceu.terra.com.br

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