PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS NA REGIÃO DO CARIRI: SISTEMA

PAIS

Polyana da Costa Matias1; Ana Carolina da Costa Matias²

¹Estudante do Curso de Agronomia do campus Cariri da Universidade Federal do Ceará; E-
mail: polyanamatias@hotmail.com
²Estudante Concludente do Curso de Geografia da Universidade Regional do Cariri – URCA/
Diretora de Programas/Projetos da Fundação Mussambê; E-mail: carolcmatias@gmail.com

Resumo
Este trabalho trata de uma pesquisa sobre a experiência de implantação do Sistema de
Produção Agroecológica Integrada Sustentável- PAIS na região do Cariri cearense. Apresenta
como objetivo maior analisar resultados obtidos qualitativa e quantitativamente. Os dados
apresentados foram coletados através de entrevistas e aplicação de questionários com os
envolvidos diretamente no Projeto. Como principal resultado, constata-se um nível de grande
satisfação dos beneficiados, em razão da melhor convivência com o semiárido no que diz
respeito à geração de renda, produção de alimentos mais saudáveis e preservação do meio
ambiente.

Palavras- chave: Agroecologia; comunidades rurais; geração de renda.

Introdução
Tradicionalmente, o sistema agrícola é voltado para a produção centrada exclusivamente na
produtividade. Essa visão leva ao uso indiscriminado dos recursos naturais pelo corte e
queima da vegetação nativa, necessidade intensiva de água, utilização excessiva de insumos
agrícolas. O esgotamento dos nutrientes do solo, a contaminação da água e da própria
produção torna a desertificação uma conseqüência inevitável.
A agricultura convencional no Brasil teve início já no período colonial, onde foi introduzida a
monocultura, que se tornou a base da economia da época. Após a segunda guerra mundial, os
produtos químicos tornaram- se mais conhecidos e seu uso era cada vez mais freqüente nas
lavouras. As pessoas que falavam sobre agricultura alternativa eram ridicularizadas.
Atualmente, a evolução tecnológica se tornou uma das maiores causas da devastação. O uso
de tratores e colhedeiras pesadas é responsável pela compactação do solo, que dificulta o
crescimento das raízes prejudicando o desenvolvimento da planta, além de dificultar a
movimentação da água no solo, causando o acúmulo da água nas camadas superficiais e,
consequentemente, a lixiviação e a erosão.
A agroecologia foi criada como novo sistema de produção, para substituir o tradicional, com o
objetivo de utilizar as potencialidades das terras de maneira sustentável, ser socialmente justa
e economicamente viável. O princípio agroecológico é a visualização da agricultura como um
sistema vivo e complexo, englobando além das plantas os animais, os microorganismos, o
solo e os minerais.
O SEBRAE, a Fundação Banco do Brasil e o Ministério da Integração Nacional vêm
contribuindo para a inclusão econômico e social de produtores(as) rurais, através da
introdução da tecnologia social PAIS, em vários estados do País, somando atualmente mais de
3000 experiências. O Sistema PAIS inspirou-se nos pequenos produtores que optaram por
fazer uma agricultura sustentável, orgânica e com a preocupação de preservar o meio
ambiente.
As principais técnicas utilizadas pelo Sistema PAIS são: a sua instalação dá-se em forma
circular. Utiliza-se o sistema de irrigação por gotejamento, através do uso de uma caixa
d`água acima da horta, para utilizar a força da gravidade e proporcionando eficiência e
racionalização no uso dos recursos hídricos; integração de aves, pequenos animais, caprinos e
bovinos ao sistema, de acordo com as potencialidades locais e regionais; uso dos resíduos
produzidos por esses animais na produção de composto que será usado nas plantações;
diversificação da produção para máximo aproveitamento dos nutrientes do solo e auxílio no
controle de pragas e doenças; quintais agroecológicos para complementar a renda familiar,
com a produção de frutas, raízes.
A produção no PAIS é agroecológica, pois dispensa o uso de ações prejudiciais ao meio
ambiente, como o emprego de agrotóxicos, queimadas e desmatamentos. É integrada por aliar
a criação de animais com a produção vegetal e utilizar insumos da propriedade em todo o
processo produtivo e sustentável, preservando a qualidade do solo e da água, incentivando o
associativismo dos produtores e apontando novos canais de comercialização dos produtos.
Os objetivos básicos do modelo são: alcançar uma produção diversificada, utilizar
eficientemente e racionalmente os recursos hídricos, gerar sustentabilidades nas pequenas
propriedades, produzir harmonicamente com os recursos naturais e diminuir a dependência de
insumos vindos de fora da propriedade.
A realização deste trabalho tem como objetivo analisar a experiência de implantação sistemas
PAIS na região do Cariri e seus resultados como agricultura ambientalmente sustentável.

Material e Métodos
As informações e dados presentes neste artigo, foram obtidas através de consultas
bibliográficas, e também por meio de explorações de campo, onde foram realizadas coletas de
dados, constando de entrevistas com agricultores, contemplados com o Sistema PAIS e com
os responsáveis pela implantação deste Sistema aqui na Região do Cariri/CE.

Resultados e Discussão
A experiência do sistema PAIS na região do Cariri Cearense foi uma iniciativa da Fundação
Mussambê, instituição sem fins lucrativos, sediada na cidade de Juazeiro do Norte, que
desenvolve ações voltadas para a reaplicação de tecnologias sociais a fim de sedimentar
práticas de desenvolvimento ambiental sustentável. A execução dos Projetos conta com o
apoio do Fundo Viva o Amanhã da AVON, da COELCE, através do Programa Troca Solidaria
e do SEBRAE.
Os sistemas PAIS, instalados no Cariri/CE estão localizados nas cidades de Juazeiro do Norte
(Sítio Passagem Rasa), Crato (Sitio Baixa do Maracujá) e Jardim (comunidade Cacimbas).
Primeiramente, entrevistamos o coordenador do Projeto, José Erisvaldo da Silva Figueredo.
Indagamos-lhe sobre as etapas de instalação do PAIS. O mesmo relatou que inicialmente,
houve a identificação das comunidades que apresentavam condições adequadas para a
instalação do Projeto, tais como áreas planas e com abundância de água. Em seguida, foram
feitas reuniões para articulação e sensibilização dos possíveis participantes, mostrando quais
os benefícios e as vantagens de aderir a esse sistema de cultivo. Selecionadas as comunidades
foi realizado um cadastro dos produtores(as), que aderiram ao Projeto.
Segundo ele, foram ainda realizadas, com os participantes, oficinas sobre as técnicas
utilizadas na instalação do sistema, além de consultorias continuadas, envolvendo todas as
etapas do processo de instalação. Os agricultores puderam colocar em prática os
conhecimentos adquiridos, trabalhando eles mesmos na construção dos PAIS, participando e
aprendendo em cada etapa. Semanalmente, as comunidades recebem a visita do técnico
agrícola responsável pelo acompanhamento/monitoramento do projeto.
O coordenador do Projeto chamou atenção para a importância do Sistema PAIS para a
complementação de renda e, por consequência, da melhoria na qualidade de vida para os
agricultores, antes desacreditados da eficiência do sistema, e agora com muitas expectativas
quanto ao futuro.
Acerca das dificuldades, destacou a questão de encontrar áreas adequadas. Mas, segundo ele,
o grande risco de insucesso do projeto é o não engajamento dos agricultores. Chamou a
atenção para o fato de que o projeto precisa sofrer adequações de acordo com a região. Um
exemplo é o sistema de irrigação utilizado, no projeto original, que é o gotejamento, não
encontrado aqui na região do Cariri. Daí, houve uma adaptação. Os PAIS no Cariri utilizam o
sistema de microaspersão, encontrado com mais facilidade. Ele mencionou ainda que: “O
sistema é viável ao observar sua adaptação a cada local”. Destacou, por fim, que as famílias
gostam muito do Projeto, principalmente porque o resultado é muito rápido, gerando renda
em até quarenta e cinco dias.
Também foi entrevistado o técnico agrícola Alan Romão dos Santos, responsável pelas visitas
técnicas semanais às comunidades. Ele ressaltou a confiança adquirida pelos agricultores após
o início dos trabalhos, e o quanto eles estão empenhados em solucionar todas as dificuldades
que, por ventura, aparecerem, como ocorreu em Juazeiro do Norte. O poço existente no local
não estava atendendo eficientemente às necessidades da produção, então eles logo se
organizaram para cavar um novo poço, que já está sendo utilizado para o abastecimento do
Sistema PAIS. Já no Crato, a solução vista pelos moradores para o problema da falta de água,
por iniciativa própria, foi transportar água de carroça até o local.
Como dificuldade encontrada, ressaltou o uso de práticas tradicionais, consideradas nocivas
ao meio ambiente, como por exemplo, o uso das queimadas/brocas pelos participantes na
etapa de limpeza do terreno.
Porém, um dos pontos mais importantes na opinião do técnico Alan é o momento da venda
dos produtos: “Os agricultores daqui do Cariri estão muito bem articulados para a venda. É
isso que vai trazer de fato a sustentabilidade para as famílias”
Já os agricultores entrevistados (dois de cada comunidade) relataram, primeiramente, estar
muito satisfeitos com a participação no Projeto e que, no início, a resistência dava-se em
relação à aceitação do sistema, o que ocorreu pela falta de conhecimento. Anteriormente, eles
trabalhavam em terras arrendadas. Como eles próprios afirmaram, “era muito trabalho e
pouca recompensa”. Após o inicio dos trabalhos no PAIS, os participantes já sentiram uma
grande diferença e disseram que: “ agora trabalhamos para nós mesmos. Temos expectativas
para o futuro!”. Eles estão muito esperançosos quanto ao crescimento da renda gerada pela
venda da sua produção. Além disso, percebe-se uma melhora na alimentação dos
participantes, que informaram que não comiam hortaliças e agora se alimentam das
produzidas por eles e sem veneno.
Mesmo com a falta de conhecimento técnico citada por um dos agricultores, eles
reconheceram a importância de se alimentar com um produto sem agrotóxicos: “Quando a
gente come uma verdura com veneno, todos esses venenos vão para o nosso corpo, fazendo
mal!”. Outra observação feita por uma das agricultoras engajadas foi: “A gente nunca recebeu
nenhuma ajuda como essa. As pessoas só vêm aqui de quatro em quatro anos, na época da
eleição, depois esquecem.”
Em se tratando da renda obtida, os agricultores afirmaram que semanalmente apuram entre
cento e cinqüenta e duzentos reais. No caso do PAIS Juazeiro, as vendas são bem maiores.
Segundo o senhor Antônio Filho, já chegaram a vender por semana até quatrocentos reais.

Conclusões
A realização da pesquisa fez-nos concluir que o sistema de Produção Agroecologia Integrada
Sustentável é uma excelente alternativa para a área rural, contribuindo para o fortalecimento
da agricultura familiar.
Considerando as dificuldades encontradas, aqui na região semiárida, entende-se que o sistema
PAIS poderá ser disseminado de forma integrada a projetos de captação de água, como por
exemplo, a Cisterna Calçadão, que vai garantir um maior abastecimento de água nos períodos
mais secos.
O êxito de experiências como estas mostra que é possível conviver com o semiárido e
disseminar práticas agrícolas que não agridam o meio ambiente, produza alimentos saudáveis
e também gere renda para as famílias que vivem da agricultura.
É preciso então encontrar maneiras de difundir essas tecnologias sociais, através da adoção
políticas públicas, a fim de melhorar a vida do trabalhador do campo e também trazendo
mudanças de fundamental importância para a preservação do meio ambiente.

Agradecimento
Agradecemos à Fundação Mussambê, pela oportunidade e pelo apoio na realização dessa
pesquisa, e a todo o suporte dado na obtenção dos dados, teóricos e práticos.

Referências Bibliográficas

SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), FUNDAÇÃO

BANCO DO BRASIL e o MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Produção
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Acesso: 08 out. 2010.

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_______. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL (MDS). Territórios de

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www.mds.gov.br/segurancaalimentar. Acesso: 10 set. 2010

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SISTEMA PAIS – Produção Agroecológica Integrada e Sustentável. Disponível em:

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