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P I E R R E L E V Y

As Formas do Saber

arte e pensamento

NOMADS.USP
estágio supervisionado

créditos 2001

Transcrição do texto Estagiária SABRINA ELLEN BROSSI DAHER


Cooperação VARLETE BENEVENTE

Fitas
SOLITRENIK Direção artística KIKO
MARCO BOAVENTURA e CARL

1
Texto transcrito na integra a partir das gravações feitas de uma entrevista com
o filósofo francês Pierre Levy ao jornalista Florestan Fernandes Jr. para a série
“As Formas do Saber” e que trás reflexões sobre:

 Arte e pensamento
 Educação
 Tecnologia
 Trabalho

Esses assuntos foram agrupados em 4 fitas temáticas e estruturados em 4


blocos específicos, desenvolvidos a partir de uma argumentação introdutória
do jornalista e perguntas respondidas pelo filósofo. O texto transcrito obedece
esta estrutura e está apresentado segundo esta mesma ordem.

A R T E E P E N S A M E N T O

De onde sopram os ventos que inspiram a arte contemporânea. A tecnologia é


parte do motor gerador de mudanças sociais, das formas de comunicação,
das artes. A imprensa, o rádio, o cinema, a televisão, o vídeo, o cd e a web
revolucionaram a nossa história, fizeram ( ? ) espaço de expressão. As artes
chegam à grande rede criando obras onde a autoria passa ser coletiva. A
democratização do conhecimento é a verdadeira globalização que deve
caracterizar o século 21. Os artistas como sempre, estão se apropriando das
técnicas e tecnologias. Qual será o resultado desta experiência no futuro da
humanidade? a série as “As Formas do Saber” apresenta a reflexão do filósofo
Pierre Levy sobre a arte.

Pierre, em 1984, William Gibson em seu livro “( )” usou o termo ciber espace
ou ciberespaço você coloca de forma contundente no cenário dos tipos de
cultura o termo cibercultura ao mesmo tempo, você fala em ciberarte e realiza
analises das propriedades deste tipo de arte. Como tudo isso é ainda muito
novo principalmente no Brasil, Você poderia nos falar um pouco sobre o que é
ciberarte.

Primeiramente, gostaria de dizer algumas palavras sobre a arte em geral. Creio


que, já há muito tempo os seres humanos exploram novas formas de
sensibilidades eles exploram um espaço de formas. Por exemplo, na pintura,
nas artes visuais, exploram um espaço de forma visual. E os grandes pintores, os
grandes artistas visuais, são as pessoas que se colocar na fronteira desse
espaço e o ampliam. Começa a fazer parte da consciência coletiva uma
nova maneira de vivenciar a visão Quando os cubistas inventaram a pintura
cubista foi uma nova maneira de viver a visão deles. Aconteceu o mesmo em
relação aos impressionistas. Outro exemplo evidente foi quando inventaram a
perspectiva durante o renascimento. Era uma nova maneira de existir
visualmente no mundo que estava sendo proposto ao mundo renascentista.
Assim, também, por exemplo, os músicos exploram um espaço sonoro. Os
grandes músicos são aqueles que levaram mais longe os limites do espaço
sonoro em novo espaço de som e de silêncio. Uma nova maneira de existir
dentro do mundo sonoro. Os artistas são pessoas que permanecem na
interface do espaço das formas e que a ampliam. Ou seja, um grande artista é
alguém que não imita. Ou ainda, é alguém que não reproduz as formas
existentes mas que vai buscar aonde ninguém foi uma forma que vai ecoar
em nosso espírito. Não se trata de fazer algo de novo simplesmente pela
novidade. É preciso que isso toque as pessoas de sua própria cultura, e ,
eventualmente, toda a humanidade. As grandes obras são aquelas que fazem
bater mais forte o coração da maioria das pessoas. Portanto, para mim, a arte,
é isto!.
Mas é claro que essa ampliação do espaço, das formas essa ampliação da
consciência não existe somente na esfera da sensibilidade. Ela existe também
na esfera do conhecimento, existe na esfera da ação, graças ao
desenvolvimento da técnica. È um desenvolvimento multidimensional no
espaço das formas, do trabalho que corresponde em outras áreas à técnica
ou à ciência ou a outras dimensões da vida cultural. Atualmente, o espaço da
nossa consciência está se ampliando de uma maneira impressionante. Já
falamos bastante a respeito disso. È normal que os artistas acompanhem esse
movimento cultural, e principalmente a transformação do espírito humano, da
maneira de estarmos no mundo da maneira que temos para nos comunicar
uns com os outros que está ligada a todos os instrumentos da cibercultura. Não
quero de modo algum dizer que a única arte importante atualmente é aquela
que vai utilizar os computadores e as redes digitais. Claro que não podemos
dizer: “É esse o rumo que a arte tem que tomar” De jeito nenhum. A arte pode
ir a qualquer parte. Não devemos lhe dar uma direção. Cabe aos artistas
explorar estes novos espaços, mas é preciso compreender que, hoje em dia
uma das direções para a arte é aquela que utiliza os novos meios técnicos. A
utilização desses novos meios técnicos, digitais, numéricos dá um certo número
de característica a esta ciberarte ou a esta arte eletrônica. Em primeiro lugar
podemos dizer que se trata de uma arte de interatividade. Já definimos este
termo. Não se trata de propor uma nova forma ou uma mensagem particular,
mesmo se esta mensagem é longa e complexa mas de propor uma matriz de
mensagens ou uma matriz de formas virtuais com a qual o “interator”, não
podemos mais dizer ”espectador”, “leitor” ou “ouvinte”, vai agir. Uma matriz de
formas virtuais que o “interator” vais explorar ou atualizar na medida em que
interage com ela. Em primeiro lugar de forma muito simples. Um simples site da
web ou um cd-room é alguma coisa desse gênero. Se construirmos um mundo
virtual com um tipo de simulação de espaço tridimensional labiríntico teremos
então uma forma mais complexa. Se esse mundo puder ser habitado por
grande número de “interatores” ou personagens que podem contribuir para
sua construção, a forma ainda será ainda mais complexa. Em geral, podemos
dizer, ainda que isto não seja uma regra absoluta e universal freqüentemente
as obras da cibercultura são meios que devem ser explorados. São espaços
nos quais um indivíduo é levado a interagir. Eis o motivo pelo qual
freqüentemente comparamos as pessoas que trabalham neste novo ramo aos
arquitetos. Mas é claro que elas não constroem um espaço físico mas um
espaço virtual, que pode ser chamado de espaço na medida que é algo que
pede para ser habitado e onde cada um, é claro, vai habitar de modo
diferente. Ele deixa espaço para o telespectador. Que não é mais um
espectador, justamente. Ele lhe dá a possibilidade de construir a obra em
conjunto. Creio que isto é algo novo, pois é claro que as obras do passado
davam uma liberdade de interpretação. Um texto de literatura pode ser
interpretado de maneiras diferentes por pessoas diferentes. Cada um vive uma
imagem, uma música de modo diferente. Com as obras de arte da
cibercultura, não é somente a interpretação que é deixada àquele que
experimenta a obra, mas também a própria manifestação da obra para a
qual ele é levado a participar.

Você fala da ciberarte é uma arte a mais que o mundo ganha ou como a
gente pensou no passado que a máquina fotográfica ia acabar com a pintura
e depois ela apareceu e ressurgiu com uma nova criação isso deve ocorrer
agora.

Creio que a história da arte pode realmente esclarecer acerca desse tipo de
problema. Isso é algo muito simples e que todo mundo conhece. Poderíamos
ter imaginado por exemplo que a fotografia substituiria a pintura. Ora, é
evidente nos dias de hoje que a fotografia não substituiu a pintura. O que
acontece simplesmente é que se tornou menos urgente ou menos necessário
para a pintura fazer reproduções idênticas a realidade, pois a fotografia faz
isso muito bem. Podemos dizer, aliás que a pintura que respeita o código visual
da perspectiva em seu dado técnico parece-se muito com a fotografia. Na
verdade, o ancestral da fotografia é o espaço da perspectiva da pintura da
renascença. A fotografia é a continuação da pintura não é qualquer coisa
que vai ficar em seu lugar. È a pintura em perspectiva tornada ainda mais
perfeita. A partir do momento que possuímos máquinas que permitem que se
tenha uma imagem ótica da realidade visual então de certo modo a pintura
se encontra livre para outras tarefas. Tudo o que vimos no desenvolvimento da
história da arte, como o impressionismo não teria sido imaginado sem a
criação da fitografia. Não haveria arte abstrata, cubismo, todas as
vanguardas sem a invenção da fotografia. Portanto, em certo sentido houve
uma substituição de um certo tipo de pintura pela foto. Mas, por outro lado,
houve uma complexificação e abertura de um novo espaço para a pintura.
Não se deve raciocinar em termos de substituição. Atualmente assistimos a um
tipo de emaranhamento se nos limitarmos à imagem, das artes das imagens. A
pintura ainda existe, a fotografia ainda existe o cinema ainda existe, o cinema
de animação ainda existe e também imagens de síntese, continuação das
imagens animadas. Apenas os desenhos, são feitos por computador, uma vez
foram feitos a mão. E aparecem sempre coisas ainda mais novas como os
mundos virtuais onde não mais olhamos as imagens ms uma imagem no
interior da qual podemos entrar. A imagem torna-se espaço e ai também há a
continuação das idéias de perspectivas da renascença que são utilizadas nas
simulações tridimensionais. Mas existem também tentativas de fabricar
espaços não-perspectivos, não geométricos muito mais intuitivos, muito mais
vivos, biológicos. Um campo do qual gostaria de falar e que torna ainda mais
complexo o universo da imagem é o campo dos videogames. Estou
convencido de que no futuro consideraremos os videogames como sendo um
gênero artístico muito importante. É nos vídeogames que se inventa grandes
partes dos efeitos visuais as interfaces de informática comercial e outras coisas
que, em seguida, serão utilizadas no cinema. É um meio extremamente
criativo. Os jovens que hoje querem fazer alguma coisa nova freqüentemente
entram em contato com os videogames. A originalidade do videogame é o
fato de que mesmo em não havendo a ilusão física total da imersão como no
caso da realidade virtual você, tem um representante de você mesmo no
interior da imagem: o personagenzinho que você manipula. Este
personagenzinho vai explorar o universo enfrentar inimigos, muitas coisas vão
acontecer a eles. O que é interessante é que cada parte é diferente. Aquele
que concebe o videogame concebe o universo com regras finitas dentro das
quais há uma infinidade de partes possíveis. Esta é uma nova maneira de
imaginar os universos visuais. Poderíamos chamar o artista da cibercultura se
generalizarmos, de um engenheiro de mundos. Ou seja, alguém que vai
designar, que vais conceber um universo um universo de interação para uma
pessoa, ou para um grande número de pessoas. Não uma mensagem, mas
um universo de interação.

BLOCO 2

Pierre, a cultura não se faz no vazio. Se você tivesse que fazer uma
abordagem de natureza histórica da ciberarte, que referências
poderiam ser apontadas?
Desde que os artistas puderam se apoderar do computador eles
imediatamente tentaram fazer disso algo de novo e original. É isso que
é maravilhoso em relação à arte. Pois, como eu disse há pouco, os
artistas são pessoas que estão na fronteira, onde o espaço poderá se
ampliar. Talvez possamos citar os músicos. Assim que um músico pôde
ter acesso a um computador imediatamente instalou no computador os
programas que compõe música automaticamente. Isso é feito desde os
anos 50. em seguida, nos anos 60 foram fabricados os sintetizadores,
máquinas que simulavam mais ou menos bem instrumentos naturais,
para produzir sons. Se continuarmos na história da música, percebemos
que temos atualmente uma situação completamente diferente
daquela que prevalecia no início. Pois no início, os computadores eram
máquinas muito raras, muito caras, muito difíceis de serem
programadas. Atualmente, qualquer músico pode ter seu computador,
o programa seqüenciamento que lhe permite fazer composições
automaticamente, seu sintetizador que lhe permite produzir sons
diretamente e, também seu sampler, que lhe permite gravar todos os
tipos de música, e todos os tipos de som, digitaliza-los e, em seguida,
trabalha-los de tal forma que é como se cada músico tivesse à sua
disposição, um estúdio de gravação. Você não precisa mais de uma
orquestra que trabalhe com você. Isso dá uma grande liberdade.
Dificilmente podemos separar a história da ciberarte da história da
técnica. Acontece o mesmo em relação ao tratamento da imagem. No
início, os computadores eram extremamente caros e o cálculo custava
extremamente caro. Hoje, você tem programas que podem tratar
imagens, que podem funcionar em computadores pessoais, que as
pessoas podem possuir. Então não só existe essa apropriação do
instrumento de produção, de certa maneira, como também existe uma
apropriação, por parte dos artistas do instrumento de distribuição que é
essencialmente a rede. Desde que a World Wide Web começou a se
expandir no início dos anos 80 imediatamente nasceram sites artísticos.
Não somente sites em que se apresentavam obras de arte clássicas,
mas também sites que pretendiam ser instalações artificiais, que
envolvessem o espectador, colocando-o em uma posição determinada
para desestabiliza-lo, tentando produzir um efeito estético. É
interessante observar que cada vez que uma tecnologia aparece ou
progride, imediatamente os artistas se apossam dela e tentam ver o que
podem fazer com ela. Então, muito freqüentemente as pessoas se
indagam: ”Ok, isso é muito bom, mas será que é a grande arte? Serão
as verdadeiras obras?” .Não é porque utilizamos a tecnologia que o que
fazemos é uma grande obra de arte. Creio que essa noção de obra de
arte com um artista muito bem identificado, que é o autor com uma
obra que também tem limites bem precisos com um público muito bem
delineado que recebe a mensagem, toda essa noção está
desaparecendo provavelmente isso porque vai existir mas está se
tornando um setor particular da arte. Está se abrindo um novo setor de
atividade e de interação artística, em que a noção de artista ou de
autor tem menos importância e em que são os processos de criação
coletiva e de interação que vêm para frente do palco. Os artistas são os
promotores desses processos e não os autores de obras. O que eles
tentam fazer é experimentar novos tipos de comunicação, novas
formas de criatividade coletiva. Você sabe, eu falo de inteligência
coletiva e eles tentam colocar em prática dispositivos de criatividade
coletiva, de um certo modo ou dispositivos que visam fazer com que as
pessoas tomem consciências das transformações de espaço e do
tempo, da nova relação com a informação, etc. são mais freqüentes
intervenções do que as obras de arte no sentido clássico do termo. Aí
eles se situam dentro da tradição das instalações dentro da tradição
dos happinings. Como vemos, é essa noção de obra de arte que pode
ser colocada em um museu que, de certa forma, está balançando um
pouco

BLOCO 3

Como fica a idéia do autor quando as obras de arte passam a ser coletivas?

Se pegarmos, por exemplo o caso da música. Tem um sistema de notas em


sistema sonoro podemos dizer que este sistema é um tipo de instrumento
conceitual para a música. Você. tem um violino ou um piano. Eles são feitos
por artistas: as pessoas que fabricam o piano, que fabricam o violino, esses
instrumentos podem ser considerados obras de arte. Um Stradivarius é uma
obra de arte. Alguém que utiliza um Stradivarius não diminui sua criatividade.
Quem se inscreve no sistema da tonalidade clássica ocidental não tem sua
criatividade diminuída. Ele a utiliza como instrumento como uma regra de
jogo. Ora, o que estamos experimentando atualmente é uma situação na qual
cada pessoa que compõe um trecho de música fabrica não somente uma
mensagem, uma obra de arte mas, ao mesmo tempo um instrumento que os
outros poderão utilizar. È como se disséssemos: cada pintor faz um quadro ou
vários quadros mas esses quadros são também, pigmentos que os outros
pintores vão poder empregar para pintar seus quadros. Portanto, hoje em dia,
cada obra tem, de certo modo um duplo papel: um papel de mensagem ou
de obra e um papel de instrumento. Podemos dizer que há uma hierarquia da
complexidade. Você fabrica um computador. Ele é um tipo de instrumento
universal. É preciso criatividade para se construir um computador. Você
fabrica um programa de criação musical. E isto já está em um grau mais
elevado. Um programa de computador é uma obra mas também um
instrumento para se construir outras. Você fabrica um banco de efeitos
sonoros: ele é uma obra, mas também um instrumento para que outros possam
criar música. Você cria um trecho de música, isso já é uma obra. Mas é
também matéria prima que outros poderão utilizar. Perceba que existe, o
tempo todo, esse papel duplo. È um fenômeno presente em toda a
cibercultura. Essa noção de dupla face. Por exemplo, você. cria um site web.
Um site web é um conjunto de informações. Ao cria-lo, você. acrescenta
informações ao estoque de informações já disponíveis. Mas, ao mesmo tempo
um site oferece certo número de links com outros sites web.Trata-se de um
instrumento para navegar na informação, e não apenas de um instrumento de
informação. Acho que a dissolução da separação entre o instrumento de
produção e a obra é algo própria à cibercultura. Todas as obras podem se
transformar em instrumentos de produção, podem ser considerados como
obras, pois eles moldam a sensibilidade ou a capacidade de produzir
mensagens . portanto, há uma espécie de difusão da criatividade e,
finalmente, é por isso que a noção de autor ou artista não digamos que
desapareça mas começa a ser questionada e passa um pouco para o
segundo plano uma vez que a produtividade e a criatividade estão no
processo coletivo. Isto não quer dizer que talento, originalidade e inspiração
não são necessários. Provavelmente sempre precisaremos disso. Mas há um
deslocamento dessa noção de criatividade em direção aos processos
coletivos e podemos perceber nisso muito bem na música tecno.

Quando se fala da música tecno, não devemos acreditar que este seja um
gênero particular e bem definido. É certo que a música tecno é a música que
toca nas raves tomamos ecxtasy e vamos dançar ritmos extremamente
mecânicos, até mesmo industriais. Isso é somente uma das dimensões do
fenômeno. Na verdade, podemos dizer que toda a música contemporânea
está se tornando música tecno e que entre os diferentes gêneros por exemplo
acid-jazz, tecno, hip-hop, new age, etc. Existem cada vez menos fronteiras
entre todos estes gêneros e vivemos um processo de expansão da
consciência musical, em que as distinções entre os gêneros têm cada vez
menos importância
Você. concorda com o termo cibermídia E de que maneira estas cibermídias
acrescentam outras qualidades as mídeas anteriores como a TV, vídeo e
outras linguagens técnicas usadas na criação?

Sim. Cibermídia já é algo mais interessante que multimídia, pois, se tentarmos


guardar o sentido real das palavras “multi“ e “ciber” isso quer dizer “várias
mídias”. O cinema e a TV são meios de comunicação a internet é um meio de
comunicação. Mas quando dizemos “multimídia” não é de jeito nenhum isso o
que queremos dizer. Acredito que devemos perceber é que existe uma
espécie de convergência em direção ao suporte digital. Ou seja, as imagens
cada vez serão diretamente processadas em um suporte digital. O som,
atualmente, quase é inteiramente gravado em um suporte digital. Os textos,
estão quase sempre disponíveis a partir de um programa de tratamento de
texto, em um suporte digital. Portanto, há uma espécie de reunião de suportes
e do sistema de codificação da informação em direção a um sistema de
codificação que se torna o sistema universal, e que é o sistema digital. A
vantagem deste sistema é que todos os tipos de mensagens e informações
que estão em um suporte digital poderão ser tratadas por computadores ou
seja, tratadas de modo muito r5ápido e muito fino pelos computadores, de um
modo muito mais fino do que o que era possível em relação aos outros
suportes: o suporte fotográfico para imagem, o suporte de vídeo ou o suporte
magnético ou os sulcos de discos para o som. Existe uma capacidade de
manipulação, uma disponibilidade da informação que se encontra em
suporte digital, superior à encontrada em outros suportes. Por outro lado, os
próprios sistemas de comunicação estão se digitalizando cada vez mais e,
dentro de alguns anos, dentro de algumas dezenas de anos a maoi9or parte
da comunicação serão digitalizadas. Caminhamos rumo a um imenso
ciberespaço, um espaço de comunicação em que os suportes físicos na
verdade, não importam muito. Isso poderá passar pela via hertziana – TVs
abertas pelos cabos coaxiais, pelas fibras óticas, pelos raios infravermelhos, por
tudo o que você. imaginar. O que conta é a codificação digital e a interação
geral assim como a manipulabilidade e facilidade do tratamento pela
informática. Caminhamos para a situação em que haverá uma espécie de
receptor universal de todas as mensagens e de acessibilidade geral a esse
receptor universal de todas as mensagens, no qual todo mundo está
conectado. E então, poderemos talvez falar de uma espécie de unimídea.

Já que um dos fatores inovadores do cd-room é a navegação e esta forma de


navegação é organização segundo uma estrutura de uma árvore ou de uma
rede, que tipo de inovação estaria ainda por vir?

O cd-room é um suporte de informação. Você. pode usar um cd-room para


gravar uma base de dados. Você. pode utilizar um cd0room para fazer um
programa de formação profissional. Você. pode utilizar um cd-room para fazer
um livro sobre arte clássica, por exemplo. Mas, em vez de ser feito sobre papel
acetinado, será feito com imagens, na tela do computador no interior das
quais você. poderá navegar. No fundo, ele é um suporte editorial. É preciso
que você. tenha isso em mente. Agora, podemos considerar que o modo de
navegação no interior de um cd-room é uma forma de arte na medida em
que as pessoas que cuidaram da edição da diagramação, da elaboração
das maquetes na concepção gráfica desde o início da imprensa, são os
artistas. Você entende o que quero dizer. Portanto, existe uma arte não da
diagramação mas da formatação e da navegação para um propósito que
pode ser informativo ou educativo. Entretanto, existe um outro nível que
consiste em dizer: “mas isso também pode ser suporte de arte”. Ou seja, o cd-
room, em si mesmo, vai conter algo cujo propósito é sobretudo estético. Isto é
ainda um outro nível Existem pessoas, atualmente, que concebem cd-rooms
cujo propósito é essencialmente estético. No que vai se transformar, em não
posso lhe dizer. Estamos no início dessa revolução e são os artistas que vão
explorar essas novas possibilidades. Mais uma vez, tenho a impressão de que o
lugar quem as transformações são mais evidentes é o dos viodegames. Pelo
menos, em relação ao que já vi. Ou seja, os cd-rooms que nos faz
experimentar coisas que nunca vimos antes são na verdade cd-rooms de
jogos.
BLOCO 4
Hoje no mundo há uma procura cada vez maior pelas drogas. Como você vê
esta questão?

Creio que esta procura pelas drogas faz parte de uma procura geral pela
expansão da consciência. Tentamos experimentar novas formas de atividades
artísticas nas formas de pesquisa científicas, novas formas nas técnicas, etc.
Existe uma interatividade contínua e toda essa interconexão favorece uma
abertura do mundo. È absolutamente natural que tentemos abrir nossa
consciência do mundo a partir de uma ação química sobre esse sistema
nervoso. Quando tomamos um café, já estamos fazendo isso. Ou quando
fumamos um cigarro, ou bebemos um vinho. Isso simplesmente assume, hoje,
um caráter mais sistemático. Cada cultura tem a sua droguinha local, isso é
certo. Por exemplo, na América Latina existe a coca, o tabaco, o peyolt, ms
nem todos utilizavam essas drogas. Na Europa tinha o vinho, alguns cogumelos
alucinógenos, no oriente, o haxixe na china, a papoula. Hoje em dia, as
drogas também estão se tornando planetárias.

Sua obra é marcada pelo interesse nas novas tecnologias e suas implicações
nas relações humanas. Agora você. acaba de escrever o livro “O Fogo
Liberador” onde são tratadas questões puramente filosóficas, como amor, a
solidão, a felicidade, a vida e a morte. O que o conduziu a esta aparente
mudança de temática.

No fundo, há 15 anos que eu me interesso pelas novas tecnologias pois me


parece que foi nesse setor que houve o maior número de forças motrizes para
a mudança da sociedade. Estou convencido de que foi sob o impulso do
desenvolvimento das novas tecnologias concebidas, claro, como uma das
dimensões da atividade e das relações humanas, e não como algo separado
que nesse espaço das novas tecnologias houve a interface que começou a
abrir a sociedade para o desconhecido. É por isso que essa questão me
interessava, pois podíamos ao nos interessar pelas novas tecnologias tentar
apreender as mutações da arte as mutações do trabalho as mutações da
economia as mutações das relações com as novas formas de comunicação.
Por isso a questão me interessou. E, a partir de um certo número de
experiência e da conscientização pessoal, processo bastante doloroso, devo
admitir. Eu me questionei não somente sobre a humanidade em geral mas
saber a minha própria mudança pessoal. Após ter-me interessado por essa
interface em direção à liberdade ou à ampliação dos horizontes externos
sociais e antropológicos eu me interessei por essa interface que podia,
potencial e virtualmente, conquistar espaço de liberdade interior. No fundo, o
“Fogo libertador” trata um pouco disso: Após ter explorado o ocidente resolvi
explorar o meu Oriente interior.

O PODER E A POTÊNCIA

Pois bem, se, tentarmos refletir sobre o que é a potência a primeira coisa a
fazer é dissipar um mal entendido e diferenciar muito bem, potência e o
poder. Em poucas palavras, o poder está na dualidade e a potência na não
dualidade. Temos poder sobre os outros podemos influencia-los podemos
proibir-lhes algo, controlá-los, temos poder sobre o mundo, um poder de ação.
Tudo isso porque fazemos a distinção entre o mundo e nós mesmos. A própria
noção de poder reside na separação. Inversamente, para a potência não
existe o problema do eu e dos outros. Assim, por exemplo, aumento minha
potência quando aprendo a ouvir música quando ouço cada vez mais música
e compreendo interiormente o que é a música quando começo a explorar o
que é um espaço musical a pluralidade, a multiplicidade do espaço sonoro,
aumento minha potência porque amplio minha consciência. Sempre que
apreendo algo torno-me mais sensível, aumento minha potência. Quando me
torno mais sensível aos outros, aumento minha potência de amar. Isto é
potência ao passo que o poder é completamente diferente pois não existe
sem uma insensibilização aos outros. Toda potência consiste, enfim, em deixar
fluir a sensibilidade, em abrir o coração, em ampliar a consciência. É isso a
potência. A potência acompanha o conhecimento.
No que você, esta trabalhando atualmente?

Justamente, isso sobre o que estou trabalhando hoje é no fundo, a reunião de


duas linhas de experiência e reflexão. Isto é: estou tentando entender a
planetarização que está acontecendo. Acho que meu próximo livro tratará de
planetarização e de como esta planetarização não é somente um fenômeno
econômico, um fenômeno de comunicação, um fenômeno técnico, etc. mas
também uma transformação da essência da espécie humana, sendo que
essa essência é a de transformar de maneira constante e de ampliar seu
universo. Portanto, vou tentar demonstrar que cada vez em que há um
aumento de conexões exteriores há uma virtualidade crescente de conexões
consigo próprio e ao mesmo tempo com a espécie humana e com os
indivíduos que a compõem.

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