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As Formas do Saber
arte e pensamento
NOMADS.USP
estágio supervisionado
créditos 2001
Fitas
SOLITRENIK Direção artística KIKO
MARCO BOAVENTURA e CARL
1
Texto transcrito na integra a partir das gravações feitas de uma entrevista com
o filósofo francês Pierre Levy ao jornalista Florestan Fernandes Jr. para a série
“As Formas do Saber” e que trás reflexões sobre:
Arte e pensamento
Educação
Tecnologia
Trabalho
A R T E E P E N S A M E N T O
Pierre, em 1984, William Gibson em seu livro “( )” usou o termo ciber espace
ou ciberespaço você coloca de forma contundente no cenário dos tipos de
cultura o termo cibercultura ao mesmo tempo, você fala em ciberarte e realiza
analises das propriedades deste tipo de arte. Como tudo isso é ainda muito
novo principalmente no Brasil, Você poderia nos falar um pouco sobre o que é
ciberarte.
Você fala da ciberarte é uma arte a mais que o mundo ganha ou como a
gente pensou no passado que a máquina fotográfica ia acabar com a pintura
e depois ela apareceu e ressurgiu com uma nova criação isso deve ocorrer
agora.
Creio que a história da arte pode realmente esclarecer acerca desse tipo de
problema. Isso é algo muito simples e que todo mundo conhece. Poderíamos
ter imaginado por exemplo que a fotografia substituiria a pintura. Ora, é
evidente nos dias de hoje que a fotografia não substituiu a pintura. O que
acontece simplesmente é que se tornou menos urgente ou menos necessário
para a pintura fazer reproduções idênticas a realidade, pois a fotografia faz
isso muito bem. Podemos dizer, aliás que a pintura que respeita o código visual
da perspectiva em seu dado técnico parece-se muito com a fotografia. Na
verdade, o ancestral da fotografia é o espaço da perspectiva da pintura da
renascença. A fotografia é a continuação da pintura não é qualquer coisa
que vai ficar em seu lugar. È a pintura em perspectiva tornada ainda mais
perfeita. A partir do momento que possuímos máquinas que permitem que se
tenha uma imagem ótica da realidade visual então de certo modo a pintura
se encontra livre para outras tarefas. Tudo o que vimos no desenvolvimento da
história da arte, como o impressionismo não teria sido imaginado sem a
criação da fitografia. Não haveria arte abstrata, cubismo, todas as
vanguardas sem a invenção da fotografia. Portanto, em certo sentido houve
uma substituição de um certo tipo de pintura pela foto. Mas, por outro lado,
houve uma complexificação e abertura de um novo espaço para a pintura.
Não se deve raciocinar em termos de substituição. Atualmente assistimos a um
tipo de emaranhamento se nos limitarmos à imagem, das artes das imagens. A
pintura ainda existe, a fotografia ainda existe o cinema ainda existe, o cinema
de animação ainda existe e também imagens de síntese, continuação das
imagens animadas. Apenas os desenhos, são feitos por computador, uma vez
foram feitos a mão. E aparecem sempre coisas ainda mais novas como os
mundos virtuais onde não mais olhamos as imagens ms uma imagem no
interior da qual podemos entrar. A imagem torna-se espaço e ai também há a
continuação das idéias de perspectivas da renascença que são utilizadas nas
simulações tridimensionais. Mas existem também tentativas de fabricar
espaços não-perspectivos, não geométricos muito mais intuitivos, muito mais
vivos, biológicos. Um campo do qual gostaria de falar e que torna ainda mais
complexo o universo da imagem é o campo dos videogames. Estou
convencido de que no futuro consideraremos os videogames como sendo um
gênero artístico muito importante. É nos vídeogames que se inventa grandes
partes dos efeitos visuais as interfaces de informática comercial e outras coisas
que, em seguida, serão utilizadas no cinema. É um meio extremamente
criativo. Os jovens que hoje querem fazer alguma coisa nova freqüentemente
entram em contato com os videogames. A originalidade do videogame é o
fato de que mesmo em não havendo a ilusão física total da imersão como no
caso da realidade virtual você, tem um representante de você mesmo no
interior da imagem: o personagenzinho que você manipula. Este
personagenzinho vai explorar o universo enfrentar inimigos, muitas coisas vão
acontecer a eles. O que é interessante é que cada parte é diferente. Aquele
que concebe o videogame concebe o universo com regras finitas dentro das
quais há uma infinidade de partes possíveis. Esta é uma nova maneira de
imaginar os universos visuais. Poderíamos chamar o artista da cibercultura se
generalizarmos, de um engenheiro de mundos. Ou seja, alguém que vai
designar, que vais conceber um universo um universo de interação para uma
pessoa, ou para um grande número de pessoas. Não uma mensagem, mas
um universo de interação.
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Pierre, a cultura não se faz no vazio. Se você tivesse que fazer uma
abordagem de natureza histórica da ciberarte, que referências
poderiam ser apontadas?
Desde que os artistas puderam se apoderar do computador eles
imediatamente tentaram fazer disso algo de novo e original. É isso que
é maravilhoso em relação à arte. Pois, como eu disse há pouco, os
artistas são pessoas que estão na fronteira, onde o espaço poderá se
ampliar. Talvez possamos citar os músicos. Assim que um músico pôde
ter acesso a um computador imediatamente instalou no computador os
programas que compõe música automaticamente. Isso é feito desde os
anos 50. em seguida, nos anos 60 foram fabricados os sintetizadores,
máquinas que simulavam mais ou menos bem instrumentos naturais,
para produzir sons. Se continuarmos na história da música, percebemos
que temos atualmente uma situação completamente diferente
daquela que prevalecia no início. Pois no início, os computadores eram
máquinas muito raras, muito caras, muito difíceis de serem
programadas. Atualmente, qualquer músico pode ter seu computador,
o programa seqüenciamento que lhe permite fazer composições
automaticamente, seu sintetizador que lhe permite produzir sons
diretamente e, também seu sampler, que lhe permite gravar todos os
tipos de música, e todos os tipos de som, digitaliza-los e, em seguida,
trabalha-los de tal forma que é como se cada músico tivesse à sua
disposição, um estúdio de gravação. Você não precisa mais de uma
orquestra que trabalhe com você. Isso dá uma grande liberdade.
Dificilmente podemos separar a história da ciberarte da história da
técnica. Acontece o mesmo em relação ao tratamento da imagem. No
início, os computadores eram extremamente caros e o cálculo custava
extremamente caro. Hoje, você tem programas que podem tratar
imagens, que podem funcionar em computadores pessoais, que as
pessoas podem possuir. Então não só existe essa apropriação do
instrumento de produção, de certa maneira, como também existe uma
apropriação, por parte dos artistas do instrumento de distribuição que é
essencialmente a rede. Desde que a World Wide Web começou a se
expandir no início dos anos 80 imediatamente nasceram sites artísticos.
Não somente sites em que se apresentavam obras de arte clássicas,
mas também sites que pretendiam ser instalações artificiais, que
envolvessem o espectador, colocando-o em uma posição determinada
para desestabiliza-lo, tentando produzir um efeito estético. É
interessante observar que cada vez que uma tecnologia aparece ou
progride, imediatamente os artistas se apossam dela e tentam ver o que
podem fazer com ela. Então, muito freqüentemente as pessoas se
indagam: ”Ok, isso é muito bom, mas será que é a grande arte? Serão
as verdadeiras obras?” .Não é porque utilizamos a tecnologia que o que
fazemos é uma grande obra de arte. Creio que essa noção de obra de
arte com um artista muito bem identificado, que é o autor com uma
obra que também tem limites bem precisos com um público muito bem
delineado que recebe a mensagem, toda essa noção está
desaparecendo provavelmente isso porque vai existir mas está se
tornando um setor particular da arte. Está se abrindo um novo setor de
atividade e de interação artística, em que a noção de artista ou de
autor tem menos importância e em que são os processos de criação
coletiva e de interação que vêm para frente do palco. Os artistas são os
promotores desses processos e não os autores de obras. O que eles
tentam fazer é experimentar novos tipos de comunicação, novas
formas de criatividade coletiva. Você sabe, eu falo de inteligência
coletiva e eles tentam colocar em prática dispositivos de criatividade
coletiva, de um certo modo ou dispositivos que visam fazer com que as
pessoas tomem consciências das transformações de espaço e do
tempo, da nova relação com a informação, etc. são mais freqüentes
intervenções do que as obras de arte no sentido clássico do termo. Aí
eles se situam dentro da tradição das instalações dentro da tradição
dos happinings. Como vemos, é essa noção de obra de arte que pode
ser colocada em um museu que, de certa forma, está balançando um
pouco
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Como fica a idéia do autor quando as obras de arte passam a ser coletivas?
Quando se fala da música tecno, não devemos acreditar que este seja um
gênero particular e bem definido. É certo que a música tecno é a música que
toca nas raves tomamos ecxtasy e vamos dançar ritmos extremamente
mecânicos, até mesmo industriais. Isso é somente uma das dimensões do
fenômeno. Na verdade, podemos dizer que toda a música contemporânea
está se tornando música tecno e que entre os diferentes gêneros por exemplo
acid-jazz, tecno, hip-hop, new age, etc. Existem cada vez menos fronteiras
entre todos estes gêneros e vivemos um processo de expansão da
consciência musical, em que as distinções entre os gêneros têm cada vez
menos importância
Você. concorda com o termo cibermídia E de que maneira estas cibermídias
acrescentam outras qualidades as mídeas anteriores como a TV, vídeo e
outras linguagens técnicas usadas na criação?
Creio que esta procura pelas drogas faz parte de uma procura geral pela
expansão da consciência. Tentamos experimentar novas formas de atividades
artísticas nas formas de pesquisa científicas, novas formas nas técnicas, etc.
Existe uma interatividade contínua e toda essa interconexão favorece uma
abertura do mundo. È absolutamente natural que tentemos abrir nossa
consciência do mundo a partir de uma ação química sobre esse sistema
nervoso. Quando tomamos um café, já estamos fazendo isso. Ou quando
fumamos um cigarro, ou bebemos um vinho. Isso simplesmente assume, hoje,
um caráter mais sistemático. Cada cultura tem a sua droguinha local, isso é
certo. Por exemplo, na América Latina existe a coca, o tabaco, o peyolt, ms
nem todos utilizavam essas drogas. Na Europa tinha o vinho, alguns cogumelos
alucinógenos, no oriente, o haxixe na china, a papoula. Hoje em dia, as
drogas também estão se tornando planetárias.
Sua obra é marcada pelo interesse nas novas tecnologias e suas implicações
nas relações humanas. Agora você. acaba de escrever o livro “O Fogo
Liberador” onde são tratadas questões puramente filosóficas, como amor, a
solidão, a felicidade, a vida e a morte. O que o conduziu a esta aparente
mudança de temática.
O PODER E A POTÊNCIA
Pois bem, se, tentarmos refletir sobre o que é a potência a primeira coisa a
fazer é dissipar um mal entendido e diferenciar muito bem, potência e o
poder. Em poucas palavras, o poder está na dualidade e a potência na não
dualidade. Temos poder sobre os outros podemos influencia-los podemos
proibir-lhes algo, controlá-los, temos poder sobre o mundo, um poder de ação.
Tudo isso porque fazemos a distinção entre o mundo e nós mesmos. A própria
noção de poder reside na separação. Inversamente, para a potência não
existe o problema do eu e dos outros. Assim, por exemplo, aumento minha
potência quando aprendo a ouvir música quando ouço cada vez mais música
e compreendo interiormente o que é a música quando começo a explorar o
que é um espaço musical a pluralidade, a multiplicidade do espaço sonoro,
aumento minha potência porque amplio minha consciência. Sempre que
apreendo algo torno-me mais sensível, aumento minha potência. Quando me
torno mais sensível aos outros, aumento minha potência de amar. Isto é
potência ao passo que o poder é completamente diferente pois não existe
sem uma insensibilização aos outros. Toda potência consiste, enfim, em deixar
fluir a sensibilidade, em abrir o coração, em ampliar a consciência. É isso a
potência. A potência acompanha o conhecimento.
No que você, esta trabalhando atualmente?