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A GALÁXIA INTERNET
Reflexões sobre Internet, Negócios e Sociedade,
de Manuel Castells (2001)
Julho de 2009
A GALÁXIA INTERNET:
2008/2009
REFLEXÕES SOBRE INTERNET, NEGÓCIOS E SOCIEDADE
A obra, que imerge o leitor na “Galáxia Internet”, conduz-nos numa viagem que
começa com a criação histórica e cultural da Internet, proporcionando-nos uma visão
do que é a Internet, enquanto tecnologia e prática social. Seguidamente analisa o seu
papel no aparecimento de uma nova economia, considerando o seu papel
transformador na gestão empresarial, nos mercados de capitais, no trabalho, e na
inovação tecnológica. De seguida, aborda o surgimento de novas formas de
sociabilidade online, conduzindo-nos às implicações políticas da Internet.
Primeiramente estudando as novas formas de participação de cidadania e dos
movimentos sociais e, em segundo, as questões e conflitos relacionados com a
liberdade e a privacidade em qualquer forma de interacção na Internet. Seguindo para
o capítulo seguinte, aborda a convergência entre multimédia e internet, explorando a
existência de um hipertexto multimodal. Posteriormente explanará a geografia da
Internet e a sua consequência para as cidades, as regiões e a vida urbana. Finalmente
aborda a temática da desigualdade e exclusão social na era da Internet.
Na “Galáxia Internet”, Castells apresenta-nos uma sociedade que gira em torno
da Internet. As actividades sociais, políticas e económicas dependem desta tecnologia
de comunicação que se assume como mais que isso. Pela sua grande influência
nestes sectores, a Internet configura-se cada vez mais como um instrumento de
exclusão social, seja pela falta de acesso, seja pelo acesso deficitário (e.g. largura de
banda, baixo índice de penetração da Internet no mercado específico) ou ainda por
não dominar a “linguagem da rede”. Desta forma reforça ainda mais as clivagens
sociais existentes entre pessoas, regiões, países ou governos. Contrariamente a
Internet também se constitui como um ponto de encontro, de discussão e de
construção. A Internet tem assim o poder de conferir voz às aspirações, desejos,
revoltas e críticas de todo um grupo, de toda uma sociedade. Por se difundir por todo o
mundo, a Internet constituiu-se como um veículo para a voz social (Wenger, 2007).
Nunca esta [voz social] teve tamanho alcance e influência.
Castells alerta para a falta de compreensão de certos fenómenos relacionados
com a Internet, fruto da sua rápida propagação. Segundo o autor, a lógica, linguagem
e limites da Internet não são entendidos além dos aspectos tecnológicos. A velocidade
das transformações observadas não permitiu a constituição de estudos empíricos para
trade1. Mal, na nossa opinião, uma vez que este é um factor gerador de desigualdades
sucessivas, num ciclo vicioso que teima em não se extinguir. Como pode, por
exemplo, uma agricultura baseada principalmente no esforço sectorial dos
agricultores, num país, competir com uma agricultura subsidiada pelo Estado, noutro
país?” Estas desigualdades são fomentadas pela disponibilidade e acesso a recursos
tecnológicos e económicos díspares, e alimentadas por nós, enquanto consumidores.
Castells alerta para uma necessidade de mudança em relação ao conformismo social
e político que prolifera na sociedade, referindo que “ou levamos a cabo uma mudança
política no sentido amplo do termo (…) ou você e eu teremos de reconfigurar as redes
do nosso mundo em torno dos nossos projectos pessoais.” (p. 325). Vaneigem (2001),
insurgindo-se contra este conformismo vírico, propõe a auto-realização, a
comunicação e a participação como as formas revolucionárias de agir conducentes a
uma maior justiça social.
No entanto na nova economia nem toda a mão-de-obra é qualificada, ou pelo
menos tão qualificada. Castells refere a existência de trabalhadores com menos
habilitações para desempenhar as novas funções exigidas. Esta mão-de-obra é,
segundo o autor, facilmente substituída por maquinaria sofisticada, fruto da inovação
tecnológica de outros trabalhadores mais qualificados. Segundo Castells, esta falta de
investimento na formação, por parte de muitos, é uma consequência de um défice no
investimento social e não dependente da qualidade individual. Uma ideia subjacente à
política que vigora no programa “Novas Oportunidades”, no qual, supostamente, o
Estado investe na formação destes trabalhadores menos qualificados.
No capítulo 4 (Comunidades virtuais ou sociedades em rede?) Castells debate
a questão do surgimento de novas formas de sociabilidade na Internet. Com o
aparecimento e generalização da Internet, imergem novos padrões de interacção
social. No entanto, segundo o próprio, o volume de estudos realizados não está à
altura da importância deste tema, algo que sem dúvida mudou ao longo do tempo.
Neste capítulo aborda as relações entre a Internet e a sociedade. Segundo estudos
analisados por Castells, as utilizações da Internet são fundamentalmente
instrumentais, sendo que o e-mail representa 85% da utilização da Internet. Segundo
análise da Pew Internet & American Life Project (2009), reportando-se a estudos de
Dezembro de 2008, a consulta/envio de e-mail foi apontada como principal actividade
realizada por 91% dos inquiridos2.
1
Comércio justo
2
Estudo realizado nos Estados Unidos.
3
”Postura tradicional de fomento do poder estatal na cena internacional, através da negociação,
a força, ou o potencial uso da força. A realpolitik não desaparece na era da informação, mas permanece
centrada no Estado numa era em que está organizada em torno de redes, incluindo as redes de Estados.”
(Castells, 2007:192)
14 IEP -UNIVERSIDADE DO MINHO
A GALÁXIA INTERNET:
2008/2009
REFLEXÕES SOBRE INTERNET, NEGÓCIOS E SOCIEDADE
Tabela 1 – World Internet Usage Statistics News and World Population Stats (2009)
Internet, a população continua o seu êxodo para as cidades. Este movimento tem
vindo a acentuar-se desde a revolução industrial, em especial desde meados do
século XX, com as populações a procurarem melhores condições de saúde, educação,
comunicação e transportes, fruto da ausência de políticas de desenvolvimento das
zonas rurais. Prevendo que cerca de dois terços da população vivam em cidades por
volta de 2025, Castells refere-se ao crescente crescimento urbano de zonas tão
empobrecidas como a África subsaariana, numa resposta à melhoria das
necessidades básicas das populações. As cidades constituem-se assim como a
referência para o desenvolvimento económico, humano, cultural, educativo e
tecnológico. Este acentuado crescimento das cidades contradiz a capacidade
tecnológica da Internet para interagir e trabalhar à distância. Porquê? De acordo com o
autor, devido à “ (…) concentração espacial de empregos, actividades geradoras de
salários, serviços, e oportunidades de desenvolvimento humano que se dão nas
cidades, especialmente nas áreas metropolitanas de maior tamanho.” (p. 264). O
maior número de receitas gerado nestas áreas propicia uma melhor oferta de serviços
essenciais como educação e saúde. A convergência dos centros de inovação
tecnológica nas grandes metrópoles está na base da conversão destas em centros de
riqueza, conforme demonstraram Philippe Aydalot, Peter Hall e Manuel Castells nos
seus estudos. Nesta era de informação, com o surgimento de novos modelos de
urbanização suburbana e exurbana, a dependência das pessoas em relação às
infraestruturas de transporte, comunicação e informação é grande. Desta forma, o
teletrabalho, o trabalho a partir de casa, ou entre locais espacialmente distantes está a
aumentar. Mas só parcialmente relacionado com a Internet. Castells demonstra que o
teletrabalho existe, no entanto este não assume uma preponderância significativa na
sociedade. Funcionando através das residências, não elimina as deslocações
periódicas ao local de emprego. Refere ainda os call centers, ou centros de apoio ao
cliente, instalados nas periferias ou em áreas vazias das zonas históricas ou
comerciais das cidades.
Relativamente ao trabalho móvel, este move-se pelas áreas metropolitanas
pelo mundo inteiro, dependendo de computadores ou telemóveis com acesso sem fios
à Internet, e nos quais organizam o seu trabalho. No entanto, nem todos têm direito a
este acesso a uma banda larga de alta velocidade. Esta desigualdade de acesso, fruto
da falta de políticas de desenvolvimento, é um dos factores responsáveis pelo hiato
económico e tecnológico entre países, entre regiões, inclusive entre bairros.
Provocando fragmentações de variadíssima ordem entre regiões, as infraestruturas
tecnológicas são o motor de uma tecnologia cada vez mais reactiva à mínima
informados, conscientes dos nossos deveres e direitos, com confiança nos nossos
projectos” (p.324), seria possível efectuar alterações nas práticas governamentais no
sentido de uma verdadeira democracia. Ao responsabilizarmo-nos “ (…) por aquilo que
fazemos e por aquilo que se passa à nossa volta, a nossa sociedade poderá controlar
e orientar esta criatividade tecnológica sem precedentes.” (ibidem). A Internet é o
suporte e o campo para essa interacção entre governos e cidadãos.
Bibliografia
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publicado em 1968).