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Teoria e Prática da Educação e-ISSN: 2237-8707

A RELAÇÃO DO MOVIMENTO LGBT COM O ESTADO:


APONTAMENTOS ACERCA DAS CONTRADIÇÕES QUE
POSSIBILITARAM A CRIAÇÃO E A IMPLEMENTAÇÃO DA
POLÍTICA DE COMBATE A HOMOFOBIA
THE RELATIONSHIP OF THE LGBT MOVEMENT WITH THE STATE: NOTES ABOUT THE CONTRADICTIONS
THAT POSSIBLE THE CREATION AND IMPLEMENTATION OF THE HOMOPHOBIA COMBAT POLICY
LA RELACIÓN DEL MOVIMIENTO LGBT CON EL ESTADO: APUNTES ACERCA DE LAS CONTRADICCIONES
QUE POSIBILITARON LA CREACIÓN Y LA IMPLEMENTACIÓN DE LA POLÍTICA DE COMBATE A LA HOMOFOBIA

Alexandre José Rossi1


Jaqueline Marcela Villafuerte Bittencourt2

Resumo: O artigo discute a relação entre o Estado e movimento de LGBT3 brasileiro com o objetivo de apontar as
contradições produzidas na história recente das políticas públicas instituídas e implementadas por meio da parceria
entre o Estado e movimento social. Utilizamos como foco principal o Programa Brasil sem Homofobia que compôs o
arcabouço legal de ações estatais de combate à homofobia. A análise pautada no referencial teórico materialista
histórico-dialético busca compreender como o Estado, no momento em que teve suas funções redefinidas pelas
políticas neoliberais, formula e implementa a política de combate à homofobia. Concluímos que o movimento de
esvaziamento do Estado e a redução das políticas públicas produziram, contraditoriamente, caminhos de maior
presença do movimento LGBT na formulação de políticas de combate à homofobia e como consequência disso uma
maior garantia de direitos para sujeitos LGBTs, ainda que muito parcas.
Palavras chave: Estado; Movimento LGBT; Política de combate à homofobia.

Resumen: El artículo discute la relación entre el Estado y el Movimiento LGBT brasileño, cuyo objetivo es señalar las
contradicciones producidas en la reciente historia de las políticas públicas instituidas e implementadas a través de la
alianza entre el estado y el movimiento social. Hacemos foco principal en el Programa Brasil sin Homofobia, que
constituyó el marco legal de acciones estatales para combatir a la homofobia. El análisis se embasa en el referencial
teórico materialista histórico-dialéctico, busca comprender cómo el Estado, cuando tenía sus funciones redefinidas
por las políticas neoliberales, formula e implementa la política para combatir la homofobia. Concluimos que el
movimiento de vaciamiento del Estado y la reducción de las políticas públicas han producido, contradictoriamente,
caminos de una mayor presencia del movimiento LGBT en la formulación de políticas para combatir la homofobia y,
en consecuencia, una mayor garantía de los derechos de los sujetos LGBT, pero todavía muy parcos.
Palabras clave: Estado; Movimiento LGBT; Política de combate a la homofobia.

Abstract: The article discusses the relationship between the State and the Brazilian LGBT Movement, whose objective
is to point out the contradictions produced in the recent history of public policies instituted and implemented through
the alliance between the state and the social movement. We focus on the Brazil without Homophobia Program, which

1
Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil. ajrossi.rossi@gmail.com. http://orcid.org/0000-0002-1512-6306
2
Professora da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio
Grande do Sul, Brasil. jackiebt@gmail.com. http://orcid.org/0000-0002-1265-2634.
3
Movimento que congrega Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros no Brasil.

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constituted the legal framework for state actions to combat homophobia. The analysis is based on the historical-
dialectical materialist theoretical reference, seeks to understand how the State, when it had its functions redefined by
neoliberal policies, formulates and implements the policy to combat homophobia. We conclude that the state
emptying movement and the reduction of public policies have produced, contradictorily, paths of a greater presence
of the LGBT movement in the formulation of policies to combat homophobia and, consequently, a greater guarantee
of the rights of LGBT subjects, still very sparse.
Keywords: State; LGBT movement; Homophobia policy.

Introdução três momentos. O primeiro tratará do


período entre 1978, ano em que surge o
Neste artigo se analisa a relação entre movimento no Brasil, até inicio da década de
Estado e movimento LGBT brasileiro, 1990, momento em que o movimento se
representando lésbicas, gays, bissexuais, consolida no cenário político nacional como
travestis, transexuais ou transgêneros, com o um movimento organizado na luta por
objetivo de demonstrar como o movimento direitos dos LGBTs. O segundo momento será
ao longo de três décadas de existência se demarcado a partir de 1995, momento em
relacionou com o Estado evidenciando as que é fundada a Associação Brasileira de
principais contradições desta relação, as Gays Lésbicas Bissexuais e Transgêneros,
quais possibilitaram a produção do Programa quando ocorre uma aproximação maior entre
Brasil sem Homofobia. Assim, lançamos a movimento e Estado, por conta das
seguinte questão: como o movimento de redefinições e reformulações que o Estado
esvaziamento do Estado no que tange a sua Nacional, com o surgimento do Programa
responsabilidade na execução de algumas Brasil Sem Homofobia como uma das
políticas sociais, ocorrido na década de 1990, respostas do Estado às reivindicações do
a partir da Reforma do Aparelho do Estado movimento e como o espaço educacional se
produziu, contraditoriamente, caminhos de constitui como um dos principais espaços
maior presença do movimento LGBT na para a implementação da política de
formulação de políticas de combate à combate à homofobia no Brasil. E, por fim,
homofobia? apresentaremos uma aproximação ao
Estamos demarcando o campo do que momento atual, quando a posição é de
seja o movimento LGBT, por entender que defesa do arcabouço legal construído entre o
existe uma distinção entre uma organização Estado e o Movimento, este se caracteriza
legal (detentora de CNPJ, ou seja, pessoa pela judicialização do tema, uma vez que a
jurídica) e grupos de pessoas que se reúnem garantia dos avanços é o modo como
em torno de uma causa sem percebemos a temática vem sendo tratada.
necessariamente possuírem esse caráter Com base nas categorias de
jurídico. Neste caso, o movimento LGBT contradição, totalidade, historicidade,
Brasileiro é o conjunto de todas essas lançamos mão do referencial teórico
pessoas e associações. materialista histórico-dialético para
O eixo de análise se dá no entendermos como o Estado, no momento
deslocamento da relação entre Estado e em que teve suas funções redefinidas pelas
movimento LGBT, que de início era marcada políticas neoliberais e da terceira via, formula
principalmente como oposição, no final do e implementa a política de combate à
período ditatorial e início do período de homofobia.
redemocratização, passando em um segundo A metodologia aplicada para a
momento a marcar-se como parceria. construção deste artigo foi à análise de
A análise desta relação dar-se-á por documentos e revisão bibliográfica,
meio de um breve histórico que se divide em assumindo um caráter qualitativo por

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entendermos que esse tipo de pesquisa “não múltiplas explosões e revoltas no mundo
admite visões isoladas, parceladas, todo: dos operários, dos estudantes, das
estanques. Ela se desenvolve em interação mulheres, dos negros, dos movimentos
dinâmica, retroalimentando-se, ambientalistas e dos homossexuais”. No
reformulando-se constantemente” Brasil, apesar da influência de fatores
(TRIVIÑOS, 2008, p. 137). Ela considera todo externos e da identidade com movimentos
o processo de construção do conhecimento, contestadores de outros países, o ano de
os meios para se atingir os objetivos, e não 1968 teve suas especificidades. No entanto,
apenas os resultados. os autores nos alertam que, apesar da
especificidade do caso brasileiro, “não
Trinta anos de Movimento: do MHB ao LGBT significa que os brasileiros não estiveram
sintonizados com as manifestações que
O movimento de defesa dos direitos ocorriam mundo afora” (ANTUNES; RIDENTI,
dos LGBT surgiu na Europa ainda no século 2008, p. 43).
XIX, tendo como principal reivindicação a luta Na década de 1960, com a explosão dos
contra a discriminação e o reconhecimento movimentos sociais das minorias,
dos direitos civis dos homossexuais. étnicas/raciais e sexuais e com o
Entretanto, neste artigo nos deteremos à fortalecimento dos estudos sobre gênero no
análise a partir das décadas de 1950 e 1960, mundo, o movimento Homossexual4 tornou-
filiando-nos ao posicionamento de Rizzo se objeto de estudos e análises no âmbito
(2006), o qual afirma que é a partir desse acadêmico, bem como passou a ter um maior
período que surgem as primeiras protagonismo no cenário político.
organizações políticas em torno da luta No Brasil, o movimento teve início no
contra a discriminação por orientação sexual, ano de 1978, data associada à criação do o
na medida em que essas organizações Grupo Somos – Grupo de Afirmação
começam a cobrar do Estado o Homossexual no estado de São Paulo, sendo
reconhecimento dos direitos civis que lhes a primeira organização que lutava pelo
são negados. reconhecimento dos direitos dos
No contexto mundial o movimento homossexuais, bem como com a publicação
LGBT nasce na década de 1960, impulsionado do jornal “O Lampião da Esquina”, editado no
pelo que época que Eric Hobsbawm (1995, Rio de Janeiro por jornalistas, intelectuais e
p.55) denomina de “período de revolução artistas homossexuais, que servia como um
social e cultural”. Segundo o autor, essa veículo de informação e mobilização da
revolução transformou o mundo ocidental. comunidade homossexual.
Tais transformações influenciaram os A organização do movimento LGBT no
movimentos sociais da época a colocarem na Brasil não tem um data de inicio específica,
agenda dos Estados a garantia, mesmo que mas as manifestações contra o preconceito
no plano jurídico, de diretos sociais. O autor que se exercia contra os sujeitos
faz uma referência às mudanças ocorridas homossexuais pode ser sentida ainda na
nesse período, dizendo que “para 80% da
humanidade, a Idade Média acabou de 4
Neste período, o movimento se denominava
repente em meados da década de 1950; ou Movimento Homossexual Brasileiro (MHB), mais
talvez melhor, sentiu-se que ela acabou”. recentemente assume a sigla LGBT – Lésbicas,
Ricardo Antunes e Marcelo Ridenti Gays, Bissexuais, Travestis e Transgênero. Para
(2008, p. 43) partem do pressuposto de que a saber mais ver a obra Sopa de letrinhas:
década de 1960, culminando no que ficou movimento homossexual e produção de
identidades coletivas nos anos 1990. Regina
conhecido como Maio de 1968, foi “a era das Facchini. io de Janeiro: Garamond, 2005.

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década de 1960 em especial a partir dos anos Os movimentos sociais surgidos no


de 1970, A criação da primeira organização Brasil, principalmente a partir da década de
em defesa dos direitos homossexuais se deu 1980, têm a característica de reunir-se em
em 1978, com a fundação do Somos: Grupo torno de identidades. Segundo Gonh (1999),
de Afirmação Homossexual. Isso ocorreu os movimentos sociais identitários podem ser
tardiamente principalmente pelo fato de que compreendidos como movimento de
na década anterior, o país vivia o auge da mulheres, étnicos, ecológicos, LGBT e
ditadura civil militar pela qual o Brasil possuem uma característica específica, por
passava. Com a censura vivida neste período, envolver sujeitos de diferentes classes
as notícias e as informações da organização sociais, diferentemente dos movimentos
do movimento em âmbito internacional anteriores que estavam agrupados quase que
pouco chegava ou era reproduzia aqui, bem exclusivamente por uma questão de classe.
como a perseguição aos movimentos sociais Eles lutam por novas culturas, políticas de
organizados na época, tornou mais difícil a inclusão, contra a exclusão, atuam pelo
mobilização do Movimento. reconhecimento da diversidade cultural
O movimento LGBT brasileiro surge sob tematizando e redefinindo a esfera pública.
a denominação de Movimento Homossexual Neste artigo, entendemos que o
Brasileiro (MHB) e, ao longo das décadas movimento LGBT brasileiro é formado por
sofreu algumas alterações. De acordo com pessoas que podem estar organizadas em
Facchini (2005, p. 20): torno de grupos, associações, entidades,
podendo essas terem o caráter jurídico de
A sigla tem sido utilizada para auto- associação civil sem fins lucrativos, de
referência, principalmente quando utilidade pública ou filantrópica, ou, ainda,
se trata de abordagens como organização da sociedade civil de
generalizantes e históricas. Em interesse público, bem como por sujeitos que
momentos específicos, como em
não se filiam a nenhuma desses formatos de
1993, esse movimento aparece
grupos acima citados, mas participam de
descrito como MGL (Movimento de
Gays e Lésbicas). A partir de 1995, grupos em universidades, partidos políticos,
aparece primeiramente como grupos de estudos, etc. Esses
movimento GLT (Gays, Lésbicas e sujeitos/grupos, lutam em torno da garantia
Travestis) e, posteriormente, a partir de direitos relacionados à livre expressão
de 1999 passa a figurar como sexual, no combate ao preconceito e
movimento GLBT – gays, lésbicas, discriminação por orientação sexual,
bissexuais e transgêneros. independente de qual seja a sua orientação e
identidade sexual.
Em junho 2008, o movimento GLBT A partir da década de 1980, os
passa a autodenominar-se por movimento movimentos de cidadania e direitos
LGBT, sigla de Lésbicas, Gays, Bissexuais, homossexuais se espalharam por todo o
Travestis e Transexuais, iniciando com a letra Brasil. A história do movimento LGBT está
“L” em referência às lésbicas, no início da diretamente ligada ao processo de abertura
sigla, dando maior visibilidade as mulheres política que ocorre no final da década de 70,
lésbicas. Segundo Facchini (2005), essa com várias manifestações que exigiam a
transformação das siglas ao longo da história democracia e condições mais justas aos
mostra um pouco da evolução do próprio trabalhadores e a sociedade. De acordo com
movimento que ao longo das décadas foi Moraes (2003, p. 2):
incorporando a luta de lésbicas, travestis e
recentemente das transexuais.

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No Brasil, a longa transição Apesar do ainda incipiente ativismo


democrática conheceu um leque homossexual reagir com aversão às primeiras
variado de iniciativas populares e notícias do ‘câncer gay6’, acreditando que era
políticas que incluem tanto um novo uma estratégia armada para esmaecer o
sindicalismo operário, rompendo
nascente movimento em defesa da liberdade
com o tradicional modelo do
sexual entre iguais, logo foi percebido que se
paternalismo estatal e da
subordinação sindical, como tratava de uma questão muito séria que
também a emergência de precisava ser inserida também na pauta dos
movimentos mais relacionados à grupos homossexuais da época.
reivindicações do cotidiano além da No Brasil, na década de 1990 o
formação do Partido dos movimento incorporou em sua bandeira de
Trabalhadores. luta a prevenção ao HIV/AIDS junto à
comunidade LGBT. As ações do movimento
Uma das primeiras grandes na época eram voltadas à assistência e
mobilizações do movimento LGBT Brasileiro prevenção do HIV/AIDS, caracterizando-se
foi em torno da inclusão do termo orientação pela rápida e ampla mobilização e
sexual como forma de discriminação na envolvimento de seus ativistas. Os programas
constituição de 1988. O art. 3º que versa de prevenção, governamentais, direcionados
sobre os objetivos fundamentais da a população LGBT foram os precursores de
República Federativa do Brasil, deveria uma série de ações que ajudaram na
contemplar no inciso IV a questão da proliferação da epidemia de AIDS no Brasil.
orientação sexual. Além dessa, outras Desta forma, irônica e
campanhas5 foram encampadas pelo contraditoriamente o ‘câncer gay’, como era
movimento na década 1980. Tais campanhas inicialmente chamada a AIDS, serviu para
serviram para unificar o movimento em torno estruturar definitivamente a luta pelos
de uma bandeira e consolidá-lo enquanto direitos dos homossexuais no país.
movimento social organizado. Segundo
Howes (2003) não dava mais para fechar os A relação do movimento LGBT com o Estado
olhos diante da questão homossexual no a partir da reforma do Estado brasileiro
Brasil; a homossexualidade tinha saído do
gueto e queria ter um pedaço do bolo nesse O ano de 1995 pode ser considerado
novo processo de redemocratização do um ano de grandes transformações para o
Brasil. movimento LGBT Brasileiro e a sua relação
Contraditoriamente, outro fator que com o Estado. Uma série de fatos,
serviu para fortalecer o movimento, foi a propiciados principalmente pelo novo
propagação da epidemia da Síndrome da contexto político, econômico e cultural,
Imunodeficiência Adquirida (AIDS) no Brasil. advindos do processo de reforma do Estado
Nacional desencadeia um processo de
5
a) Pelo registro jurídico dos grupos estreitamento nas relações entre esses entes
homossexuais; b) Contra o parágrafo 302.0 da concretos.
Classificação Internacional de Doenças (CID) da
Organização Mundial de Saúde, que rotulava o
6
homossexualismo como “desvio e transtorno Era o termo usado pela mídia mundial para
sexual”; c) Pela proibição de discriminação por identificar a síndrome no início da epidemia. Tal
“orientação sexual” no Código de Ética dos fato foi crucial para o avanço da epidemia, pois
Jornalistas; d) Pela proibição de discriminação era tida como uma doença que só atacava
por “orientação sexual” na Constituição de 1988 homossexuais, e também para criar contribuiu
e na revisão constitucional de 1994 (HOWES, para criação de um forte estigma da comunidade
2003, p. 299). LGBT.

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O Brasil, a partir dos anos de 1990, que redefinem o papel do Estado,


intensificou o processo de implantação do principalmente para com a execução de
modelo neoliberal de Estado nos campos políticas sociais. Aqui nos interessa
social, cultural, político e, principalmente, no desenvolvermos de forma mais sistemática a
processo de produção do capital exigido pela influencia do neoliberalismo e da terceira via
nova ordem econômica em nome da na reconfiguração do papel do Estado. De
continuidade do processo de produção acordo com Peroni (2009, p. 763):
capitalista, na medida em que vieram
ocorrendo transformações significativas no A teoria neoliberal e a da Terceira
mundo do trabalho e na reestruturação do Via têm em comum o diagnóstico de
Estado. que o culpado da crise é o Estado,
De acordo com Carvalho e Faustino mas propõem estratégias diferentes
de superação: o Neoliberalismo
(2016) à medida que o Estado restringe os
defende a privatização e a Terceira
gastos e se exime da solução direta dos Via, o Terceiro Setor.
problemas sociais, pautado no projeto
neoliberal da Terceira Via, ele estimula a Como estratégias adotadas para
reorganização da sociedade civil e a oferta de superar essa pseudocrise, execução das
serviços públicos em parceria com políticas sociais para o neoliberalismo não
instituições que compõem o chamado devem ser uma responsabilidade exclusiva do
‘terceiro setor’, denominado não-
Estado, devendo o mesmo repassar a
governamental e não-empresarial,
responsabilidade da execução também para
demarcando uma ‘nova cultura cívica’ de
a sociedade civil organizada. Segundo a
participação na execução de políticas sociais.
autora, ocorre que, tendo o mesmo
O Estado, que nesse modelo assume o
diagnóstico de que a crise está no Estado, nas
papel de gerenciador das políticas sociais e,
duas teorias, este não é mais o responsável
que de acordo com o diagnóstico daqueles
pela execução das políticas sociais: “o
que defendem a reforma do Estado, ele já
primeiro a repassa para o mercado e o
não consegue mais suprir as demandas
segundo, para a chamada sociedade civil sem
assistencialistas e assegurar os direitos
fins lucrativos” (PERONI, 2009, p. 763).
constituídos, forjando uma ação de
A Terceira Via possui como uma das
reestruturação desse modelo pautada no
principais estratégias o Terceiro Setor.
Neoliberalismo. A transição desse processo é Segundo Montaño, o termo “Terceiro Setor”
a passagem do modelo de Estado provedor utilizado pelos teóricos da terceira via “é
para o de Estado Mínimo. Vale salientar que, carente de rigor teórico” (MONTAÑO 2005,
o modelo de ‘Estado Mínimo’ consiste em p. 181), e se traduz em um conceito
uma redução nas políticas sociais e na desarticulador do social, pois ele pressupõe a
redistribuição de renda, mas constitui-se existência de primeiro e de um segundo setor
num ‘Estado Máximo’ para o capital, na esfera social. Para Montaño (2005), esses
assegurando as condições necessárias para a autores referem-se a ele como:
sua reprodução e fortalecimento.
No entanto, essa suposta crise do [...] organizações não-lucrativas e
Estado advindo do Welfare State, é na não-governamentais – ONGs,
verdade uma crise estrutural do capital. Para movimentos sociais, organizações e
a sua superação, foram adotas algumas associações comunitárias,
estratégias, dentre as quais o Neoliberalismo, instituições de caridade – religiosas,
a Globalização, Terceira Via e a atividades filantrópicas – fundações
Reestruturação Produtiva (PERONI, 2006) empresariais, filantropia
empresarial, empresa cidadã, ações

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solidárias – consciência solidária de carregando compreensões alinhadas à


ajuda mútua e de ajuda ao próximo, interesses antagônicos.
ações voluntárias e atividades Segundo Wood (2006), corre-se o risco
pontuais e formais. (MONTAÑO, de hoje vermos a “sociedade civil,
2005, p. 181-182).
transformar-se num álibi para o capitalismo”
(WOOD, 2006, p. 205), e ressalta que, neste
Todas essas instituições e ações acima
período particular da história, sociedade civil
citadas constituiriam o chamado Terceiro
se transformou “numa expressão mágica e
Setor, ou seja, tudo aquilo que estaria fora do
adaptável a todas as situações da esquerda,
primeiro setor (Estado) e do segundo
abrigando uma ampla gama de aspirações
(mercado). Essa gama de instituições e
emancipadoras” (WOOD, 2006, p. 205).
organizações estariam localizados na
Porém, não é somente no campo da
sociedade civil (MONTAÑO, 2005).
esquerda, tão somente no campo marxista
A tentativa dos teóricos do Terceiro
que se tem produzido diferentes conceitos
Setor em identificá-lo como sociedade civil é
de sociedade civil, os conceitos em disputa
equivocada na medida em que coloca todas são produzidos tanto por posições políticas
as organizações, independente do seu antagônicas quanto por teorias divergentes.
caráter social, se são com ou sem fins
Para Wood (2006), a nova sociedade
lucrativos, se são empresariais ou não, civil diz respeito ao domínio das relações
inclusive movimentos sociais organizados, gerado pela reprodução global do capitalismo
tais como Movimento Sem Terra, onde os movimentos sociais modernos
Movimentos LGBT, em pé de igualdade. Para perseguem seus objetivos políticos. Além
Montaño (2005), o fenômeno real disso, trata-se a sociedade civil como uma
identificado como terceiro setor nada mais é arena caracterizada pelos antagonismos
que a transferência das demandas sociais políticos e sociais inerentes às relações
que até o surgimento do neoliberalismo, sociais capitalistas. Deste modo, a sociedade
eram de responsabilidade do Estado e agora civil não é uma esfera de ação política e
são repassadas para organizações da social branda, mas sim um espaço de lutas
sociedade civil. onde se dá o embate entre interesses
Outra importante discussão abordada conflitivos. De um lado, o Estado, que é de
na identificação do terceiro setor é o classe, e configura-se como uma arena de
conceito de sociedade civil. Conforme
luta de classes, e está a serviço da classe
explicitado por Montaño (2005) a sociedade
dominante, do outro, a sociedade civil
é frequentemente identificada como terceiro
fragmentada em grupos sociais cada qual
setor. A autora Ellen M. Wood (2006) em seu
defendendo os seus interesses, e por fim o
livro Democracia contra o Capitalismo, nos
capital tentando controlar essas duas
ajuda a entender o fenômeno por de trás
instâncias.
desse “novo” conceito de sociedade civil a
O movimento LGBT no Brasil é
qual tudo engloba.
entendido por alguns autores, como os
Para Wood (2006), sociedade civil é um
teóricos da Terceira Via como parte do
termo que vem ganhando tantos significados,
Terceiro Setor. Com a reforma do Aparelho
com o objetivo de servir a interesses
do Estado que ocorreu no governo de
diversos, que seria praticamente impossível
Fernando Henrique Cardoso, momento em
isolar um único conceito comum. Porém,
que algumas políticas sociais, antes eram de
entendemos que, em um mesmo momento responsabilidade quase que exclusiva do
histórico existem diferentes conceituações de Estado, a partir da reforma passaram a ser de
sociedade civil disputando hegemonia, responsabilidade também da sociedade civil

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identificada como terceiro setor, ocorreu o ao Estado, que era marcado principalmente
que denominamos de processo de pela reivindicação de políticas públicas, o
‘institucionalização’ do Movimento que se movimento passou a ser parceiro dele na luta
deu na medida em que alguns grupos de ao combate a AIDS.
homossexuais buscaram obter um caráter Juntamente com a execução das
jurídico de Organização da Sociedade Civil de políticas de prevenção a AIDS, o movimento
interesse público e/ou privado através da também se utiliza dos recursos financeiros
conquista de registro civil desses grupos, repassados pelo Estado para formar novas
passando a ser identificado como pessoa lideranças, a fim de fortalecer a luta contra o
jurídica. preconceito e de afirmar os direitos sociais
A partir da Reforma do Estado, e da de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e
institucionalização do movimento LGBT transgêneros.
possibilitou que o Estado repassasse recursos Uma marca desse fortalecimento se
para algumas ONGs financiamento público deu na criação da Associação Brasileira de
para executar políticas publicas. A execução Gays Lésbicas e Travestis e Transexuais
dessas políticas que outrora eram de (ABGLT), em 1995. Ela constitui-se como uma
responsabilidade quase exclusiva do Estado ONG com o caráter de Organização da
passaram a partir da reforma a serem de Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP)
responsabilidade também da sociedade civil com o intuito de reunir em torno dela o
identificada como Terceiro Setor. maior número de organizações
A partir da Reforma do Estado o governamentais e não governamentais, bem
Movimento LGBT irá assumir um novo como de sujeitos interessados na luta pelos
protagonismo no cenário nacional. Ele direitos da população LGBT.
passará a desenvolver serviços sociais nos Acompanhando a trajetória do
campos da saúde, educação, assistência movimento, podemos dizer que a criação
social, e etc., o que acarretará num desta associação permitiu uma maior
deslocamento no foco da relação entre o unificação e fortalecimento do movimento
Movimento e o Estado que, até então, era de em torno de bandeiras de luta, a luta no
contraposição, de tensão de luta por políticas combate ao preconceito e discrição sofrida
públicas, passar a ser de parceria, que se dá por pessoas LGBTs, e uma maior
principalmente na execução de políticas aproximação com o Estado, como parceiro na
públicas. Contraditoriamente, essa nova execução das políticas. No entanto, a criação
relação permitirá o crescimento e da ABGLT com seu caráter jurídico possuía
fortalecimento do Movimento no Brasil outros fins além dos de representatividade
possibilitará futuramente a formulação do do movimento. Tal caráter permitiu a
Programa Brasil sem Homofobia. associação, bem como a todas as outras
Este estreitamento das relações ONGs que passaram a caracterizar-se como
carrega em si uma grande contradição. Por pessoa jurídica, firmar parcerias com o
um lado, os recursos e financiamentos Estado para fins de financiamentos de
fornecidos pelo Ministério da Saúde a grupos projetos.
LGBTs para executar a políticas de prevenção Segundo Santos (2007), como uma das
das DST/AIDS junto da comunidade consequências deste novo cenário, muitos
possibilitou a reestruturação do movimento grupos ligados a movimentos sociais
em todo o país, propiciando um crescimento tornaram-se ONGs, “a fim de obter
e fortalecimento do Movimento. Por outro, financiamentos e manter uma estrutura de
acabou por amenizar as tensões entre essas mobilização mais ou menos estável, ao
duas instituições. Do claro papel de oponente contrário dos antigos grupos, mais

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informalmente organizados” (TEIXEIRA apud Em nossa análise, o movimento LGBT possui


SANTOS, 2007, p. 123). É a partir desta lógica também a postura de luta de classe. Ou seja,
que os as organizações de luta LGBT no Brasil consideramos que, por mais que alguns
passam a assumir um caráter jurídico, com militantes, ou lideres do movimento não
fins de buscar financiamento junto ao Estado tenham a perspectiva da luta de classe
estabelecida via parcerias público-privada. somada à luta dos direitos LGBTs, não
Esse tipo de parceria é analisado por podemos afirmar que esse movimento não
Susin (2005), a qual afirma, com base em cumpra com uma das suas funções que
Montaño, que o Estado repassa recursos para formar novas bases e conscientizar a os
o chamado Terceiro Setor “como uma forma sujeitos LGBTs dos seus direitos fortalecendo
de baratear os gastos com serviços públicos”, o movimento de forma a cobrar mais e
além de trazer em si um cunho ideológico, garantir mais formulação de políticas pró-
“pois visa mostrar a transferência destas LGBT.
atividades de uma esfera supostamente Acreditamos que uma parte do
insuficiente e burocrática, para uma esfera movimento brasileiro tenha a clareza de que
mais democrática, participativa e eficiente” passou a assumir funções do Estado e que,
(MONTAÑO apud SUSIN, 2005, p. 22). mesmo que isso signifique um engessamento
Davis (2006, p. 86), afirma que essa ou a possibilidade de cooptação pelo Estado,
responsabilização pela execução de políticas existia a possibilidade de através dos
“gera uma profissionalização das ONGs que recursos da política de combate a AIDS,
tende a diminuir a característica de fomentar o crescimento e fortalecimento do
mobilização do ativismo de base ao mesmo movimento.
tempo cria uma nova forma de clientelismo”. Ainda que muitos grupos neste período
De acordo com o autor, as ONGs cumprem histórico tenha em parte adquirido um cárter
também o papel de afastar os sujeitos da luta jurídico institucional, na medida do possível,
de classes com base nos ideais de dentro das limitações impostas por essas
solidariedade e humanitarismo. parcerias, ele continuou a cobrar do Estado
mais política públicas para a população LGBT.
A sua atividade constante é Para além das políticas de saúde, o
subverter, desinformar e movimento começou a cobrar políticas que
desidealizar as pessoas, de modo a atendessem também a aspectos relacionados
mantê-las afastadas das lutas de à cultura, à segurança e à educação. O Estado
classe. Adotam e propagam a prática
deveria também ampliar o seu campo de
de pedir favores com base na
atuação nas políticas de combate à
solidariedade e no humanitarismo,
em vez de tornar os oprimidos homofobia, não podendo ficar somente no
conscientes dos seus direitos (DAS financiamento de projetos que visassem o
apud DAVIS, 2006, p. 86). combate ao HIV/AIDS.
Os dois mandatos do Governo
Ainda que algumas ONGs cumpram Fernando Henrique (1995-2003)
esse papel desidealizador, de preterir a luta caracterizaram-se por estreitar o diálogo
de classe em favor da luta pelo entre movimento e Estado. No entanto, a
reconhecimento dos direitos da comunidade elaboração de políticas de que atendessem a
LGBT, essa análise não pode se tornar outras reivindicações e pautas não foram
universal, pois, entendemos que alguns atendidas, permanecendo aquelas
movimentos sociais se valeram desse direcionadas para o campo da saúde, mais
momento particular de redefinição do papel especificamente, as ações de prevenção ao
do Estado para obter recursos e se fortalecer. HIV/AIDS. Essa relação permanece durante os

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dois primeiros governos do Partido dos partir de previsão, no Plano Plurianual (PPA) -
Trabalhadores (PT), mas se modifica em (2004-2007), da ação ‘Elaboração do Plano de
alguma medida. Combate à Discriminação contra
Durante o primeiro mandato do Homossexuais’ (BRASIL, 2004), vinculada ao
Governo Lula (2003-2006), a relação do ‘Programa Direitos Humanos, Direito de
movimento com o Estado modificou-se Todos’ (BRASIL, 2004), no âmbito da
significativamente. As parcerias estabelecidas Secretaria de Direitos Humanos, da
entre Estado e o movimento LGBT Presidência da República (SDH/PR), definida
permaneceram, principalmente as como responsável por sua articulação,
estabelecidas com Ministério da Saúde, implantação e avaliação.
porém, são criados novos canais de diálogos Tal Programa resultou de
entre o Governo Federal e o Movimento. reivindicações do movimento LGBT junto ao
Também o Governo do Partido dos Estado, visando garantir a cidadania à
Trabalhadores (PT) organizou um novo comunidade no Brasil, por meio da criação de
desenho institucional, onde foram criadas políticas afirmativas dos direitos dos
Secretarias Especiais, tais como Secretaria homossexuais.
Especial de Políticas para as Mulheres, Esse Programa tem a particularidade de
Secretaria Nacional de Políticas de Promoção ser o primeiro programa de governo7, com
da Igualdade Racial e Secretaria de Educação vista à promoção dos direitos humanos,
Continuada, Alfabetização e Diversidade, combate à homofobia e a discriminação por
dentre outras, que dialogavam com os orientação sexual. Com base nas principais
movimentos sociais e que comtemplassem as demandas dessa população, o documento
suas demandas. indica 60 ações distribuídas em onze áreas,
O movimento LGBT, assim como outros envolvendo oito Secretarias e Ministérios,
movimentos sociais, passou a ter um diálogo voltadas para fortalecimento de instituições
mais direto com o governo federal. As públicas e não governamentais de
políticas sociais passaram a ter maior "promoção da cidadania homossexual" e
prioridade neste governo em detrimento do combate à homofobia; indicando ações
que vinha acontecendo nos governos governamentais nas áreas da saúde,
anteriores. Em decorrência desta nova educação, cultura, trabalho, justiça e
postura, menos conservadora e mais segurança, incluindo também políticas para a
democrática, nos limites da democracia juventude, mulheres e negros. Também
capitalista, em 2004, o Governo Federal lança prevê ações de capacitação de profissionais e
o Programa “Brasil sem Homofobia -
Programa de Combate à Violência e à 7
Discriminação contra a população GLTB e de Estamos entendendo o ‘Programa Brasil Sem
Homofobia’ como um programa de governo e
Promoção da Cidadania Homossexual” em não um programa de Estado, por se tratar de um
resposta às reivindicações do movimento programa pontual do atual Governo Lula. Ele
LGBT, apontando o espaço escolar como um nasceu no primeiro mandado do governo Lula e
espaço privilegiado para a implementação da teve continuidade no segundo mandato. Em
política junho de 2008 foi realizada a primeira
conferência nacional LGBT, que tinha como
objetivo avaliar o ‘Programa Brasil Sem
A produção do Programa Brasil sem Homofobia’ e elaborar o ‘Plano Nacional de
Homofobia Promoção da Cidadania e dos Direitos Humanos
de LGBT’ que se pretende tornar um plano de
O Programa Brasil sem Homofobia Estado. Tal plano foi lançado em maio deste ano
em Brasília, e pretende-se substituir o Programa
(BSH) foi lançado em novembro de 2004, a BSH.

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representantes do movimento LGBT; responsabilidade do Ministério da Educação


divulgação de informações sobre direitos e e Cultura (MEC).
promoção da autoestima; e incentivo à Nos campos da educação e cultura o
denúncia de violações dos direitos humanos documento propõe a elaboração de políticas
do segmento LGBT. culturais que valorizem a diversidade sexual,
Para cumprir com o seu propósito, o elaboração de estudos e pesquisas, formação
Programa é constituído de três objetivos que e capacitação de profissionais da educação,
se desdobram em 60 ações, sendo eles: normatização do ensino, formulação de
políticas educacionais não discriminatórias e
a) apoio a projetos de que incluam o tema da diversidade sexual.
fortalecimento de instituições Na sequência iremos analisar as ações
públicas e não-governamentais que do Programa que foram executadas pela
atuam na promoção da cidadania Secretaria de Educação Continuada,
homossexual e/ou no combate à
Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC)
homofobia;
por meio de edital para a concorrência de
b) capacitação de profissionais e
representantes do movimento projetos.
homossexual que atuam na defesa
de direitos humanos; A política implementada por meio de Editais
c) disseminação de informações
sobre direitos, de promoção da auto- O MEC, em 2005, deu início ao
estima homossexual; e processo de implementação do Programa
d) incentivo à denúncia de violações BSH e lançou o primeiro edital para a
dos direitos humanos do segmento concorrência de projetos no âmbito do
GLTB. (BRASIL, Conselho Nacional de combate à homofobia. Para realizar esta
Combate a Discriminação/Programa
ação, ele dispunha de R$ 500.000,00
Brasil sem Homofobia, 2004. p. 11,
(quinhentos mil reais), alocados na ação
grifos nossos).
denominada “Apoio à Qualificação de
Profissionais da Educação em Educação para
Podemos afirmar que ao longo da
a Diversidade e Cidadania”, gerenciada pela
história é uma das maiores respostas do
SECAD. Esta ação integra o Programa
Estado frente às reivindicações do
“Educação para a Diversidade e Cidadania”
Movimento. Nenhum outro governo até
da SECAD (BRASIL, SECAD/MEC, 2005).
então havia acatado as reivindicações de
De acordo com o ‘Relatório Sobre a
forma a incorporar em seu plano de governo
Seleção de Projetos de
um programa com ações definidas para uma
Capacitação/Formação de Profissionais de
política nacional como é o BSH que envolve
Educação para a Cidadania e a Diversidade
vários Ministérios e/ou secretaria do
Sexual’, produzido pela SECAD/MEC de 2005,
Governo Federal, que também foram
a finalidade desta ação era:
coautores do mesmo.
Para cada um dos eixos propostos no
Apoiar a qualificação de profissionais
Programa existe uma série de ações a serem
em educação (gestores, professores,
implementadas sem indicar necessariamente servidores e profissionais que lidam
o órgão ou ministério responsável pela com a área de educação, inclusive do
implementação. No entanto, fica explicito MEC) com relação às questões de
nos títulos de cada capítulo do Programa qual valorização da diversidade, em suas
Ministério será responsável, como por múltiplas dimensões, dentro da
exemplo, o Direito à Educação, que será de Educação [...] Ao propor a
capacitação de profissionais da

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educação não se pretende tornar o ou pelo fato de não entenderem a política de


tema da diversidade sexual matéria combate à homofobia como uma política
específica de cursos regulares, mas legítima e necessária, utilizar-se dessas
sim desenvolver entre profissionais estratégias para não implementar o
da educação posturas de respeito a
Programa de forma que a verba acaba sendo
todas as diferenças que constituem,
realocada e destinada para outros fins e
unem e enriquecem a sociedade
brasileira (BRASIL, 2005, n.p.). interesses.
O Termo de Referência estabelecia,
Em 5 de agosto de agosto de 2005, foi dentre outras questões, que poderiam
lançado o Termo de Referência que participar desta concorrência as instituições
orientaria as instituições a apresentarem públicas e privadas sem fins lucrativos:
projetos junto ao MEC, sob o seguinte título: Secretarias de Educação Estaduais e
‘Instruções para a Apresentação e a Seleção Municipais, universidades e organizações
de Projetos de Capacitação/Formação de não-governamentais (BRASIL, SECAD/MEC,
Profissionais de Educação para a Cidadania e 2005).
a Diversidade Sexual’. O prazo para o envio O documento definia os critérios que
de projetos se esgotava em 30 de agosto, e deveriam ser levados em conta durante a
as instituições interessadas teriam 25 dias avaliação da execução do Programa. O
para escreverem os projetos e enviarem para primeiro critério de mérito é a adequação
o MEC. Com base nestes documentos e os aos princípios do Programa BSH. Os demais
prazos apresentados, vemos claramente um critérios diziam respeito às condições das
curto espaço de tempo para que as instituições/organizações em executar os
organizações interessadas escrevessem os projetos bem como a experiência no
projetos e enviassem ao MEC. desenvolvimento de projetos, quadro de
Dada à complexidade que o termo de pessoal adequado ao proposto no projeto,
referencia exigia para a apresentação do capacidade de articulação para firmar
projeto e o curto espaço de tempo para parcerias com os sistemas de ensino locais.
enviá-lo, é possível afirmar que ele, em certa Porém, o que nos chama a atenção são os
medida, dificulta a elaboração de projetos critérios gerenciais e financeiros. Conforme
tão complexos. Essa prática de divulgação de estabelecido no Edital de 2005:
prazos a toque de caixa em alguns casos
5.2.1. Experiência e estrutura
pode ser utilizada como uma forma de
institucional de gerenciamento de
dificultar a implementação de políticas. Na recursos públicos da
medida em que os prazos acabam sendo instituição/organização proponente;
muito curtos, algumas instituições não teriam 5.2.2. Coerência do orçamento com
tempo hábil para escrever um projeto ou os objetivos, atividades e resultados
escreviam projetos que não atenderiam as propostos;
exigências do edital de forma a não ser 5.2.3. Identificação de contrapartida
aprovado. e ou co-financiamento na proposta
Segundo Paro (1998), em política apresentada (BRASIL, 2005 n.p.)
educacional, a burocratização dos meios
“tem prestado, muitas vezes Conforme podemos observar, os
intencionalmente para se evitar que se critérios gerenciais e financeiros de certa
alcance fins declarados” (PARO, 1998, p.5). forma dificultam que organizações não
Neste sentido, aqueles gestores, governamentais que até então não tivessem
responsáveis pela implementação da política, firmado parcerias com entidades públicas
podem, em detrimento de outros interesses teriam menos chances de terem os seus

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projetos aprovados. Outra questão que nos governamentais, o que corresponde a 68%; 6
chama a atenção é a identificação de de Universidades, o que corresponde a 6%;
contrapartida. Essa contrapartida não 24 de Órgãos governamentais (Prefeituras,
necessariamente precisa ser em recursos Secretarias Municipais e Estaduais de
financeiros, ela pode ser por meio de Educação), o que corresponde a 25% do
recursos, tais como aluguel de salas, total de projetos, envolvendo 13 de estados e
despesas com pessoal, telefone, materiais de 11 de municípios.
divulgação e etc. Entendemos que esses Como podemos verificar, o número de
critérios beneficiam aquelas ONGs corresponde a quase 1/3 do total do
organizações/instituições que possuem uma número de entidades/organizações que
estrutura organizacional já consolidada em enviaram projetos para a
detrimento daquelas que não possuem capacitação/formação de profissionais. Esses
nenhum ou poucos recursos humanos e dados podem demonstrar dois fatos
financeiros. referentes ao processo de implementação do
Ainda, em relação a esses critérios, a Programa BSH. Em um primeiro momento,
contrapartida implica em barateamento da eles demonstram o engajamento das ONGs –
política, na medida em que o Estado não na maioria delas LGBTs – na luta e no
precisará disponibilizar mais recursos combate à homofobia, fato esse que reflete a
financeiros com gastos como infraestrutura máxima apresentada por Montaño (2007) em
e, muitas vezes, com a própria mão de obra, que as ações que serão desenvolvidas para
devido ao apelo ao trabalho voluntário que atender a determinada demanda serão de
algumas organizações não-governamentais “responsabilidade dos próprios portadores
fazem aos seus pares. Esse aspecto evidencia de necessidades, de seus pares e de suas
a posição de Montaño (2005) de que o localidades a resposta às suas demandas”
repasse de recursos públicos para o chamado (MONTAÑO 2005, p. 185).
Terceiro Setor é uma forma de baratear os Porém, para além desta análise de
investimentos em políticas sociais, de forma Montaño, e considerando a singularidade da
a direcioná-los para as políticas econômicas. política de combate à homofobia, devemos
Também nos chama a atenção o fato interpretar esses dados com uma certa
de que no Edital em nenhum momento foi “despreparo” do governo em implementar
mencionado, critérios de distribuição com políticas desse cunho. Historicamente o
geográfica, ou definidos critérios para o movimento LGBT brasileiro sempre esteve à
atendimento da população nos locais onde os frente de ações políticas de reconhecimento
índices de violência homofóbicos são mais da diversidade sexual e, assim, como
elevados. Neste sentido, entendemos que incorporou na sua agenda em parceria com o
não é levado em consideração onde a ação Estado o desenvolvimento das políticas de
política é mais necessária, mas sim onde combate ao HIV direcionado à população
existem organizações/instituições capazes de LGBT. Neste caso, não podemos negar que a
desenvolver e executar os projetos com um participação do movimento na execução da
custo menor tentando garantir a qualidade política foi de suma importância para
do trabalho. efetivação da mesma e ampliação de direitos.
Segundo Relatório da SECAD/MEC de A concorrência pública para o pleito de
2005, foram recebidos 94 projetos, dos quais recursos financeiros, um dos moldes utilizado
48 foram recomendados pela comissão para implementar o Programa BSH, fica
avaliadora como bons projetos para serem fragilizada na medida em que não atende
executados. Os 94 projetos estão assim todas as regiões do Brasil. Além da região
distribuídos: 64 de Organizações não norte, vemos, nesses dados, que a região

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nordeste teve apenas 3 (três) projetos a mulher9. O Conselho Nacional de Justiça


aprovados. Contudo, é a região que mais aprovou e editou, no dia 14 de maio de 2013,
demonstra casos de violência contra LGBTs8. Resolução que veda recusa de habilitação,
De nossa perspectiva, o movimento deveria celebração ou conversão de união estável de
dar maior atenção a essas questões e cobrar pessoa do mesmo sexo em casamento civil10
do Estado uma maior atuação nelas, bem (MICHELS, 2019), que passou a passou a
como necessitaria haver uma soma de valer para todos os cartórios do país em 14
esforços do próprio movimento no que diz de maio de 2013. Este reconhecimento do
respeito ao fortalecimento de ações nessas “casamento gay” fez com que muitas famílias
regiões para que a política seja a mais ganhassem visibilidade e relevância social. No
abrangente possível. entanto, para alguns este reconhecimento foi
uma frágil conquista, à medida que não
A construção do arcabouço legal de passou pela aprovação do legislativo.
proteção e luta Considerando-se que o Congresso Nacional é
um espaço de grande conservadorismo, a tal
Este percurso da relação entre o Estado proposição não obteria sucesso. . Se
e o movimento LGBT teve nesse percurso aprovada pelo legislativo, a medida jurídica
histórico a formulação de um arcabouço legal estaria associada ao entendimento dos
que é onde pode sustentar que a luta contra princípios da dignidade da pessoa humana,
a homofobia pode manter vigente na agenda da igualdade, da liberdade, do
governamental. autodesenvolvimento e da não
A diferença é que as ações discriminação, o resultado do julgamento se
anteriormente descritas elas eram de dá a partir da e na vida, e não no direito.
combate à homofobia na sociedade e de
suporte aos grupos para que não estejam 9
O STF, em 4 e 5 de maio, julgou conjuntamente a
isolados nessa luta. Por outro lado, a Ação de Descumprimento de Preceito
discussão chegou ao tratamento civil dos Fundamental (ADPF 132/RJ), proposta pelo
relacionamentos homoafetivos. Para Michels governo do Estado do Rio de Janeiro, e a Ação
(2019, p 34), “Impreterivelmente, ao se falar Direta de Inconstitucionalidade (ADI 4277),
proposta pela Procuradoria-Geral da República.
sobre a união civil de pessoas do mesmo Em decisão unânime, dez ministros – Cezar
sexo, fala-se também sobre família. O Peluzo (presidente), Ayres Britto (relator), Celso
casamento está na área do direito conhecida de Mello, Marco Aurélio, Ellen Gracie, Gilmar
como direito da família e reside neste Mendes, Joaquim Barbosa, Ricardo
quesito uma das maiores vitórias legais. Lewandowski, Cármen Lúcia e Luiz Fux – votaram
pelo reconhecimento da união estável
Em 5 de maio de 2011, o Superior homoafetiva no ordenamento jurídico brasileiro.
Tribunal Federal reconheceu a união estável O ministro Dias Toffoli declarou-se impedido por
homoafetiva. Por este entendimento, a figura ter atuado nas mesmas ações como advogado-
do casal heterossexual já não traduz geral da União e ter sustentado em defesa da
procedência dos pedidos.
fidedignamente a realidade de muitos
10
brasileiros. Esta norma estendeu à família O CNJ, sob a presidência do ministro Joaquim
homossexual o mesmo tratamento jurídico Barbosa, votou a resolução 175, em 14 de maio
de 2013, que obriga todos os cartórios do País e
dispensado à união estável entre o homem e os Ministérios Públicos das Unidades da
Federação a habilitarem casais homossexuais
8
Ver pesquisa “Violação dos Direitos Humanos dos para o casamento civil em consonância com as
Gays, Lésbicas, Travestis e Transexuais no Brasil: decisões anteriormente proferidas pelo STF e STJ.
2004”, organizada pelo Grupo Gay da Bahia. O órgão de fiscalização e controle do Poder
Disponível http://www.ggb.org.br/direitos.html Judiciário editou a norma com apoio de 14 dos
Acesso em 13 de nov. 2009. 15 conselheiros.

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Outra norma em vigência é a que homofobia e de transfobia, e optando por


criminaliza a violência contra homossexuais. instituir a norma que representa instrumento
Em 13 de junho de 2019 que o Supremo de defesa deste segmento da sociedade.
Tribunal Federal (STF) decidiu permitir a
criminalização da homofobia e da transfobia Considerações Finais
se enquadrando na categoria de crimes de
racismo. A decisão da corte aponta: "praticar, Apesar de o Estado brasileiro perseguir,
induzir ou incitar a discriminação ou desde a sua reforma, um caminho de
preconceito" em razão da orientação sexual descentralização, desregulamentação e
da pessoa poderá ser considerado crime; a privatização das políticas sociais, esse
pena será de um a três anos, além de multa; movimento caracterizou uma maior
se houver divulgação ampla de ato participação do na elaboração de políticas de
homofóbico em meios de comunicação, combate à homofobia. De um lado, o
como publicação em rede social, a pena será movimento passou a ser coadjuvante e
de dois a cinco anos, além de multa; a muitas vezes a ter o papel principal na
aplicação da pena de racismo valerá até o excussão das políticas sociais. Assim, o que
Congresso Nacional aprovar uma lei sobre o teria que ser necessariamente prejuízo, vai se
tema (BRASIL, 2019). configurando como avanços pontuais: o
A grande contradição está em que a fortalecimento do movimento, o
norma do Conselho Nacional de Justiça foi envolvimento de setores diversos da
aprovada no período em que o sociedade civil na implementação da política
consevadorismo está representado e a preocupação do Estado por caminhos
amplamente no Congresso Nacional. Esses inegavelmente mais democráticos, como tem
grupos conservadores estão compostos por sido a atuação da SECAD ao formular
sujeitos com discurso moralizante, religioso, programa a partir da pauta das lutas dos
nacionalista, militarista como caminho para a movimentos.
“salvação da pátria”, valores que, no seu A estratégia de repasse da
ponto de vista, foi desvirtuado nos governos implementação da política da política de
anteriores, principalmente ao reconhecer e combate à homofobia para o movimento
defender a causa LGBT. LGBT se insere claramente na redefinição do
Neste momento, denominado de papel do Estado ocorrida a partir de 1995
“judiacilização”, são assegurados direitos na com a execução do ‘Plano Diretor da Reforma
luta contra a homofobia, não mais a partir de do Estado’, momento em que a execução das
ações do Poder Executivo ou o Legislativo e políticas sociais deixam de ser exclusividade
sim do Poder Judiciário. Esta garantia, no do Estado, o qual repassa tal
entanto, fica fragilizada diante da responsabilidade para a “Sociedade Civil
possibilidade de ir ao parlamento e sofrer Organizada”. Neste sentido, é inegável que
vetos ou não ser aprovado como Lei. os governos têm incorporado de forma mais
Obviamente, enquanto isto não acontece, contundente as demandas do movimento
ainda tem-se este conjunto de normas como LGBT. No entanto, sabemos que a onda
a Ação Direta de Inconstitucionalidade por neoconservadora pela qual a política e a
Omissão (ADO) 26, e do Mandado de sociedade brasileira vem atravessando tem
Injunção (MI) 4733 de 13 de junho de 2019 como consequência a fragilização de várias
emitido pelo Supremo Tribunal Federal, cujo políticas sociais, é claro que não há neste
Plenário entendeu que houve omissão momento interesse em que esta temática
inconstitucional do Congresso Nacional por seja tratada na agenda de ações
não editar lei que criminalize atos de governamentais.

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Esse movimento de esvaziamento do BRASIL. Presidência da República: Texto Base


Estado e a redução das políticas públicas da Conferência Nacional de Gays, Lésbicas,
produziram, contraditoriamente, caminhos Bissexuais, Travestis e Transexuais. Brasília,
de maior presença do movimento LGBT na 2008.
formulação de políticas de combate à
homofobia e como conseqüência disso uma BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Plenário
maior garantia de direitos para os sujeitos do Supremo Tribunal Federal (STF) entendeu
LGBTs, ainda que muito parcas. que houve omissão inconstitucional do
Finalmente, entendemos que é por Congresso Nacional por não editar lei que
meio da educação formal e não formal, do criminalize atos de homofobia e de
espaço escolar que temos um vasto campo transfobia. O julgamento da Ação Direta de
para atuar e desarticular as práticas Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 26,
discriminatórias e exclusivas que perduram e do Mandado de Injunção (MI) 4733, 13 de
em tempo de culto a diversidade e a junho de 2019. In: http://www.stf.jus.br.
celebração das diferenças, sem perdermos de Acesso em: 02 set. 2019.
vista, que algumas diferenças, como as de
classe social, pobreza, opressão, fome, CARVALHO, E. J. G.; FAUSTINO, R. C.
violência, etc. não podem ser amenizadas, Educação para a diversidade cultural:
mas sim superadas. reflexões sobre as influências internacionais
na atual política educacional. Nupem, Campo
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