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METODOLOGIA DO ENSINO DA CAPOEIRA: O CONTEXTO

TÁTICO NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Tiago Fernando Vargas Muller


Acadêmico de Educação Física da UNIJUÍ
tiago.muller@unijui.edu.br

RESUMO: Este trabalho consiste em uma revisão bibliográfica referente ao desenvolvimento da tática
no processo de ensino-aprendizagem da Capoeira, visualizando qual a importância de sua aplicação,
seja no campo escolar como em academias. Este estudo possibilitou a pesquisa de diferentes autores e
suas idéias diante do que determinamos como tática, estudada pela Educação Física e aplicada em todas
suas áreas. Como área em destaque da Educação Física o estudo foca no que vem acontecendo em sua
estruturação no que diz respeito à Capoeira e como este novo conteúdo vem sendo trabalhado tanto na
escola como em academias. A perspectiva em maior destaque é acelerar o processo de ensino através da
aplicação do âmbito tático.
PALAVRAS CHAVE: Capoeira. Metodologia de ensino. Tática. Educação física.

INTRODUÇÃO

O percurso da educação brasileira tem passado por grandes mudanças em seu


processo durante as ultimas décadas, e cada uma destas mudanças sem dúvida tem
somente enriquecido a qualidade do ensino, e atualmente, conseguimos visualizar uma
qualidade extraordinária no ensino. Um dos campos que vem se desenvolvendo de uma
maneira muito acelerada e conquistando muitos espaços diferenciados é a Educação
Física.
A escola como um todo deve “possibilitar aos seus alunos a estruturação e o
entendimento a respeito do mundo e dos fenômenos que nele ocorrem de uma forma
mais ampla possível” (NASCIMENTO & FENSTERSEIFER, 2007). Conforme adquire
novas demandas e possibilidades, novos caminhos passam a ser apresentados, e dentro
desta idéia de novos sub-temas a serem estudados surge um especificamente, que
engloba uma complexidade pedagógica, esta nova temática a ser estudada é a capoeira.
Cabe argumentar que todo o profissional da área de Educação Física deve
primar para que todo o aluno vivencie as diferentes formas que a cultura corporal de
movimento tem oferecido, e incluído neste processo está a Capoeira como uma
atividade que trabalha “a tática, a flexibilidade, a coordenação dos movimentos e a
resposta aos estímulos de forma mais rápida em função da velocidade dos movimentos
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da Capoeira, a lateralidade, o equilíbrio entre outros” (SILVA apud JERÔNIMO et al.
p. 01, 2010).
O estudo aqui apresentado eleva o sentido da aplicação da tática, e como ela vem
se realizando no processo do ensino da Capoeira. Ainda dentro desta proposta, esse
estudo permite uma reflexão dos processos metodológicos que tem ocorrido no ensino
da Educação Física, fazendo compreender como vem acontecendo à utilização da tática
no ensino da Capoeira e porque é importante seu desenvolvimento no processo de
ensino.
O grande objetivo desta revisão de literatura é investigar quais possíveis
possibilidades existem para contemplar o âmbito tático no ensino da capoeira, e
verificar como pode ocorrer o processo de aplicação dessa forma metodológica. Nesta
proposta torna-se possível identificar o que se tem estudado sobre o processo do ensino
tático na capoeira na escola associada à Educação Física e também em academias.

1. A CAPOEIRA COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR:


QUAL A FINALIDADE/RELEVÂNCIA DE ENSINAR CAPOEIRA NA
ESCOLA?

A capoeira é um misto de jogo, arte, luta, dança e folclore que vem se


incorporando à lógica do esporte, e essa lógica de esportivização acaba fazendo deste
fenômeno, mais uma opção a ser experimentada no contexto escolar. Conforme afirma
Falcão (1998, p 60) “o ensino da capoeira na escola não tem o compromisso de
aperfeiçoar a técnica dos gestos em relação a um padrão preestabelecido, mas exercitá-
la com objetivos crítico-emancipatório. [...] A capoeira na escola não deve ser algo
apenas para ser praticado, mas algo para ser estudado” (FALCÃO, 1998, p. 57-60). A
capoeira no contexto da realidade em que se encontra pode ser considerada como
“sendo um método de ginástica genuinamente brasileiro, bem ajustado aos alunos, por
ser oriundo de uma manifestação popular rica de movimentos e música com substrato
cultural, e bastante difundida na sociedade” (CAMPOS apud NASCIMENTO, 2005).
Pensar a capoeira como parte da educação física, visualizando uma
obrigatoriedade curricular, não é simplesmente colocar mais um conteúdo a ser pensado
e trabalhado, e sim, é colocar a cultura brasileira em primeiro lugar, que capacitará a
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formação do aluno com conhecimentos e práticas corporais que possivelmente
mostrarão novas oportunidades e os alunos assemelharão vivências práticas com
situações do mundo que os cerca.
Para o desenvolvimento da capoeira como uma aplicação na escola seguindo as
fases de desenvolvimento da criança, podemos colocar a capoeira neste contexto com
atividades diferenciadas respeitando as limitações de cada ciclo de aprendizagem.
Segundo Coletivo de Autores (1992) a educação se desenvolve em quatro ciclos: o 1º
deles vai da pré-escola à 3º série, e é um ciclo onde esta acontecendo a organização da
identidade dos dados da realidade, momento de visão sincrética da realidade, e nesse
momento o professor tem importância fundamental, pois é ele quem organiza a
identificação desses dados; o segundo ciclo vai da 4º série à 6º série, e é o ciclo de
iniciação à sistematização do conhecimento; o terceiro ciclo trata da 7º à 8º série,
momento de ampliação e sistematização dos conhecimentos; e o quarto ciclo abrange o
1º, 2º e 3º anos do ensino médio - este é o momento de aprofundamento da
sistematização do conhecimento.
Visualizando esses fatores que são estabelecidos diante das fases de
desenvolvimento da criança e do adolescente, pode-se aplicar uma série de conteúdos de
Capoeira seguindo esta mesma lógica, uma metodologia que primeiramente traz o
lúdico, e posteriormente conforme seus ciclos aumentam, aumenta-se as exigências dos
conteúdos a serem aplicados, e conseqüentemente, torna-se uma necessidade que o
aprendiz desenvolva suas habilidades, aprofundando o conhecimento dos elementos
técnicos e desenvolvendo a tática para que o jogo aconteça de maneira madura.

2. APONTAMENTOS ACERCA DAS DIFERENTES TEMATIZAÇÕES


METODOLÓGICAS NO ENSINO DA CAPOEIRA

O que ensinar nas aulas de capoeira é algo de grande relevância no processo de


aprendizagem, pois se o professor não envolver o aluno desde a primeira aula com
atividades que facilitem seu desenvolvimento, ele rapidamente se desligará das
atividades, e por resultado, na maior parte acaba desistindo. Para que o aluno não crie
uma falsa ilusão do que é a capoeira, é necessário que esteja sempre empregado
juntamente com a aula o fator lúdico, assim será possível conquistar a atenção dos
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praticantes. Conforme Hanlon apud Heine et al (2009, p. 02) “os aspectos de motivação
também são importantes, principalmente em se tratando de crianças entre 7 e 10 anos de
idade. O aspecto lúdico, a aprendizagem de habilidades e o contato com os amigos são
fatores determinantes da motivação dos alunos.”
Como anteriormente foi descrito, o fator lúdico é sempre importante, mas como
fazer para ensinar os movimentos que exigem uma determinada técnica? Como aplicar
as movimentações mais complexas aos alunos? A resposta é agir de forma inteligente,
mesclando o que queremos ensinar, usando de processos lúdicos, e conforme o aluno se
envolve nas atividades proporcionadas, acaba por desenvolver elementos essenciais para
seu próprio crescimento como a independência, a confiança e a tomada de decisão.
Anteriormente, aprender capoeira era algo bastante disciplinado, como podemos
ver no depoimento de Ângelo Decânio Filho. Ele é uma prova de como era a
metodologia aplicada aproximadamente na década de 30 a 50.

[...] ao chegar à roda de Mestre Bimba já encontrei sistema e método


de ensino estabilizado [...] o sistema se erigia sobre três pontos fundamentais
o primeiro pilar era a prática freqüente, cuidadosa, respeitosa,
disciplinada, obediente aos preceitos médico-esportivos dominantes na
época [...] O segundo pilar era o ritmo a musicalidade inata do Mestre e a
Tradição faziam do berimbau o centro donde se irradiava a capoeira que nos
dominava havia uma preocupação geral em aprender os toques a convicção
de que sem conhecer os toques ninguém podia aprender capoeira todos
compravam berimbau. [...] O terceiro pilar era o desenvolvimento do golpe
de vista a prática repetida, sem violência das seqüências de ensino a
freqüência dos jogos com diferentes parceiros apressava a fixação dos
reflexos e a mentalização das situações possíveis nos bastava perceber que
poderíamos aplicar o golpe esboçávamos o movimento de ataque
dissimulado num conjunto de manobras de floreio para que o parceiro não
descobrisse em tempo útil o nosso verdadeiro objetivo! [...] o grau mais
elevado de sabedoria era adquirir a certeza da nossa superioridade técnica
sem que o adversário disto se apercebesse [...] o método era claro, simples,
sadio e eficaz. Iniciar com movimentos isolados simples e seguros, para
desenvolver a força muscular e o equilíbrio indispensáveis a prática do
esporte [...]. (DECÂNIO FILHO, 1997, P. 165-168)

Na época, a capoeira era trabalhada de uma maneira que primava ao Máximo


pelas suas origens, porém já havia determinados cuidados e objetivos. A prática dos
movimentos da capoeira não era no sentido de simplesmente a pratica pela pratica, mas
eram desenvolvidas formas de se pensar e planejar o jogo. Esses fatores têm alguma
semelhança com a proposta que queremos que a escola trabalhe. Porém, a escola,
quando tiver em seu contexto a prática da capoeira, não será o local de treinamento da
capoeira, será somente o local para que a criança possa vivenciar essa representação da

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cultura corporal do movimento (NASCIMENTO & FENSTERSEIFER, 2007). O ensino
da capoeira não deve de maneira alguma ser desvinculado da sua origem cultural. Deve
ser ensinada enquanto manifestação cultural, trabalhando sua historicidade, sem
“desencarná-la do movimento cultural e político que a gerou” (SOUZA & OLIVEIRA,
2001, p. 45).
Para o aprendiz de Capoeira, seja ele um aluno de Educação Física, ou um aluno
especifico que treina a capoeira, valores e princípios são adotados, desenvolvendo no
aluno a autonomia, a cooperação, a participação social e a democratização. Estes
mesmos valores também trabalhados em metodologias de outros esportes, porém na
roda de capoeira é possível visualizar que o “jogador” tem liberdade de se expressar,
sem preocupar-se com uma obrigatoriedade pré- estabelecida. Na roda ele pode ser
criativo, conforme o andar das necessidades que venham a surgir. (SOUZA &
OLIVEIRA, 2001).
Mas, ainda assim vale ressaltar que a Educação Física brasileira deve resgatar a
capoeira juntamente com sua história, resgatar esse fenômeno como manifestação
cultural que é, e não transformando em simplesmente mais uma modalidade esportiva a
ser repetida. Outros contextos culturais incluídos na Educação Física acabaram
passando por esse processo de esportivização, o que fez da pratica algo desvinculado da
cultura, recebendo um tratamento ligado diretamente a técnica. (COLETIVO DE
AUTORES, 1992)

3. QUAIS ASPECTOS SÃO FUNDAMENTAIS/RELEVANTES NO PROCESSO


DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA CAPOEIRA?

Ao realizar este estudo, percebeu-se uma determinada lacuna no ensino da


capoeira. Em qualquer local que se visita e acompanha-se aulas referente à unidade
tática, não se vê treinos focados na imprevisibilidade, o que se vê é um treino técnico, e
isso acaba fazendo com que o praticante, ao ser colocado em uma roda de capoeira
realize movimentos aleatórios, sem sentido, ou muitas vezes sem necessidade.
Resumindo, realiza o movimento somente pelo movimento.

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Se visualizarmos uma ordem lógica no ensino da capoeira, constatamos que a
base do processo de aprendizagem se dá a partir do movimento básico conhecido como
Ginga, que segundo Netto:

Entre os movimentos, destaca-se prioritariamente a ginga,


movimentação básica da capoeira, de onde partem todos os outros
movimentos e golpes da capoeira. Caracteriza-se pela oposição entre braços e
pernas, em que os pés deslizam para trás, em busca de um equilíbrio
dinâmico. (NETTO, s.d, Pg. 08).

Segundo Duarte (s.d.) “[...] ginga, movimento de corpo destinado a enganar o


oponente, e que traduz toda a malícia inerente à prática de dissimular os golpes em
esquivos passos de dança”. Segundo Decânio Filho (1997, p. 46) “[...] é o movimento
fundamental donde emanam todos os componentes do conjunto harmonioso da
capoeira!”
Usando como base a ginga explicada por esses autores, podemos afirmar que é a
partir dela que todos os outros movimentos passam a desenvolver-se e a interligar-se,
enriquecendo a qualidade do jogo que possivelmente o aluno venha a desenvolver.
Seguindo um processo de aprendizagem crescente, defendido por muitos autores, que
desenvolva do fácil para o difícil, do simples para o composto, chegamos à realidade
que nos é imposta ou até mesmo que é permitida, mostrando que a capoeira também
possui uma realidade de ensino composta, com muitas possibilidades a serem
exploradas.
Após o aluno conhecer o movimento da ginga, está então desencadeado o
processo de aprendizagem técnica de todos os movimentos, sejam eles de ataque, defesa
ou acrobacias. Através de um processo evolutivo, os movimentos são constituídos para
contemplar a essência do desenvolvimento do jogo de Capoeira. Ainda nesse processo
de ensino da capoeira é necessário que os alunos tenham uma vivência integral, a qual
envolverá domínios motores, físicos cognitivos, afetivos e sociais, sem contar os
próprios conteúdos da capoeira como movimentos, músicas, instrumentos, ritmos,
tradições e rituais. Uma riqueza de conteúdos dentro do processo de ensino de uma
única atividade desportiva. (SILVA apud HEINE et al, 2009).
Por fim, um último elemento é acrescentado para completar os recursos que o
aluno vem utilizando, que é essencial para que o jogo da capoeira passe a ter um
significado real, deixando o aluno apto a jogar. Segundo Heine et al (2009), o jogo da
capoeira não é algo pré-estabelecido, ela (a capoeira) permite a liberdade de
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movimentos e isso gera estratégia de jogo, que em outras palavras é a contemplação do
nosso permanente elemento de ensino: a tática.

4. A IMPORTÂNCIA DA TÁTICA NO ENSINO DOS ESPORTES EM GERAL

Quando tratamos do elemento tático no ensino dos esportes em geral estamos


nos referindo à qualidade mais importante quando tratamos do contexto busca por
resultado. A tática é um elemento essencial quando se necessita objetivar, planejar o
resultado que se quer obter. Utilizar-se da tática é fazer o planejamento de determinados
procedimentos para que como resultado possa-se alcançar um objetivo em determinadas
circunstâncias. (BARBANTI, 2002)
Se objetivarmos a busca pelo melhor resultado, ao final o que atingimos será o
fruto desse planejamento inicial que em outras palavras é o que estamos buscando
entender, a tática no ensino das modalidades esportivas. Kunz (1991) coloca que os
alunos devem agir de forma independente, devem estabelecer e definir situações de
forma responsável dentro dos esportes, o que indica a importância de um aluno aplicar o
melhor de si dentro de qualquer situação. Isso significa pré-determinar seu futuro, que
em outras palavras é o mesmo que propor sua tática.
Paes & Balbino (2005, p. 70) dizem que “um dos meios que contribui com a
preparação técnico-tatica [...] é a utilização de conhecimentos teóricos que norteiam o
treinamento [...] podem auxiliar na compreensão dos objetivos e metas no decorrer do
processo[...]”. Analisando esta passagem vimos que não basta apenas aprender o
movimento, mas também é necessário teorizá-lo para que sua compreensão alcance
maiores objetivos. Esta percepção de importância das múltiplas capacidades será
analisada no capitulo a seguir.
Garganta (1998, p. 21) considera que “Na medida em que as ações de jogo
ocorrem em contextos de elevada variabilidade, imprevisibilidade e aleatoriedade, aos
jogadores é requerida uma permanente atitude estratégico-tática”, o que quer dizer que
quanto mais for desenvolvido o âmbito da imprevisibilidade, mais capacidade o
aprendiz terá diante da leitura de uma situação de jogo.

5. COMO TEM SE PENSADO A APLICAÇÃO DA TÁTICA NO PROCESSO DE


ENSINO APRENDIZAGEM DA CAPOEIRA

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Constata-se através de estudos sobre a metodologia de ensino da Capoeira que
“se configuram ainda no modelo de aula, adotado no século passado”, o que aqui é
descrito tem um foco direcionado para a repetição de movimento, o movimento treinado
tecnicamente como relato: “Vale atentar que um determinado modelo de técnica (forma
mais adequada de lançar o golpe) é dominante e praticamente único” (ARAÚJO, et al.
p.25. s.d.), então, sem sombra de dúvida, identificamos a falha maior que indica a não
realização de um treinamento tático.
Araújo et al (s.d, p. 25) apresenta um modelo de aula que na atualidade é
praticamente o que se encontra em academias ou até mesmo em modelos de aula
escolares:

Seu início consiste no que podemos chamar de aquecimento, um mix


de movimentos ginásticos (corridas, saltito, exercícios localizados com
apoios e abdominais e flexibilidade), em seguida a aula propriamente dita
que se organiza praticamente em cima da mesma lógica inventada por Bimba
no século passado- a seqüência de ensino - que é realizada pelos capoeiras
repetidas vezes com algumas diferenças . Por fim, o volta à calma geralmente
um jogo entre as duplas, ou uma pequena e breve roda e em alguns casos
seqüencialmente um trabalho de alongamento e relaxamento. (ARAÚJO et
al. s.d. p. 25)

Quem observa uma roda de capoeira não percebe toda a complexidade existente.
Tem-se a impressão de somente existir uma forma de se jogar a capoeira, que a
criatividade não está presente, que tudo não passa de uma combinação. O contrário do
que se visualiza nas rodas de Capoeira, pode ser visto na aula, onde uma rigidez técnica
e programática é aplicada dentro das conformidades necessárias. Porém esse âmbito
severo desenvolvido na aula acontece de forma diferente na roda, onde o que se vê uma
alegria dominante, não como desordem, e sim como disciplina. Essas diferentes
realidades têm a missão de disseminar culturalmente e até mesmo esportivamente a
Capoeira em todas suas áreas de atuação direta ou indiretamente (ARAÚJO et al, s.d.).
Tanto na escola como nas academias e centros de treinamento a capoeira é
trabalhada focada na perfeição da movimentação, e repetindo o movimento inúmeras
vezes para que se possa estabelecer uma melhor qualidade em sua execução. Pensando
nessa lógica, é possível detectar falhas no processo do ensino e perceber a não
contemplação do elemento tático no contexto do ensino-aprendizagem.

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Nascimento (2010) estabelece uma proposta metodológica que contempla uma
realidade que visa o desenvolvimento de algumas dimensões não trabalhadas no ensino
da Capoeira.

Temas

Dimensão dos Dimensão técnico-tática Dimensão dos conhecimentos


conhecimentos teóricos teórico-crítico
técnico-operativos

– Conceituação de a) Elementos técnicos básicos: – A influência cultural


capoeira – A ginga africana na formação da
– Histórico da capoeira – Benção sociedade brasileira, em
– Estilos de capoeira – Chapa de costas relação à cultura
– Classificação das – Meia lua de frente corporal de movimento
técnicas da capoeira – Martelo de chão – Os papéis
– A instrumentação da – Meia lua de compasso hierarquizados dos
capoeira – Rabo de arraia praticantes de capoeira
– A música de capoeira – Negativas – A violência na capoeira
– A dinâmica da roda de – Esquivas – Capoeira e religião
capoeira (rituais e b) Movimentações acrobáticas: – As cantigas de capoeira
procedimentos) – Aú e seus significados
– Organização – Queda de rim – Os preconceitos na
institucional da – Parada de mão(bananeira) sociedade brasileira
capoeira – Parada de cabeça – A mercadorização da
– Macaco capoeira
c) Elementos táticos elementares:
– Movimentação contínua
– Circularidade da
Movimentação;
– Mudanças de direção
– Quebras na constância da
Ginga;
– Apreciar as distâncias
conforme o contexto do jogo
– Contra-golpear
Quadro 01: proposta metodológica para trabalhar a capoeira no contexto escolar conforme Nascimento
(2010)

Observando os conteúdos apresentados por Nascimento, podemos relacionar


com os conteúdos apresentados no referencial curricular por González & Fraga (2009)
apresentados como proposta de conteúdo para a educação física escolar. Associado a
todos os conhecimentos possíveis em relação ao ensino das lutas (neste caso
especificamente a Capoeira), contemplam-se tanto os saberes corporais: saber praticar e
conhecer, como os saberes conceituais: técnicos e críticos. (GONZÁLEZ & FRAGA,
2009).

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Se observarmos esse modelo de conteúdos apresentado por Nascimento (2010,
mimeo), fica clara a riqueza de possibilidades que se pode inserir no conhecimento de
um aluno que aprende a Capoeira. Ao observarmos o item “c” relacionado à dimensão
técnico-tática, percebemos que ao tratar do ensino dos movimentos cabe ressaltar que
para além da técnica, é preciso que o aluno aprenda a movimentar-se utilizando de sua
base-ginga, e aprenda a desenvolver novas possibilidades, experimentando tudo aquilo
que auxilie no processo de definição do jogo, neste caso associado diretamente à tática.
“Jogar Capoeira significa, [...] constante tomada de decisões para a solução de
problemas, em que cada gesto ou movimento executado por um dos jogadores repre-
senta um pequeno problema que deverá ser resolvido imediatamente pelo parceiro de
jogo.” (HEINE et al. 2009, p. 10) Observando esta passagem, fica mais do que clara a
presença da imprevisibilidade no jogo da capoeira. A partir do momento que instigamos
o aluno a desenvolver o âmbito tático em seu processo de ensino-aprendizagem,
estaremos desenvolvendo uma qualidade imensa de jogo e este estará sempre motivado,
não se cansando do que está aprendendo, cada aula se torna uma novidade, um
momento prazeroso de contato com a cultura da Capoeira e com os colegas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com todas as referências bibliográficas pesquisadas, é possível


constatar que o elemento tático não aparece de forma clara, e no ensino da capoeira
escolar. Se refletirmos diante do ensino da Capoeira, chegamos a conclusão de que é a
tática que vai desenvolver o jogo do aluno, a técnica do movimento poderá ser aplicada
em um contexto posterior. A tática pode ser visualizada como a essência do ensino da
Capoeira, quanto mais desenvolver metodologias voltadas ao ensino tático, mais
capacidade de percepção o aluno poderá desenvolver.
A capoeira como conteúdo programático na educação física escolar utilizando
um foco de ensino voltado para o processo de desenvolvimento da tática no ensino
aprendizagem faz com que o aprendiz desta cultura desenvolva mais rapidamente a
atenção e agilidade o que resultará num rápido aprendizado do aluno pela arte, e este
aluno não só terá uma visão mais ampla como também poderá se sujeitar mais
facilmente aos conteúdos impostos em uma aula de Capoeira. O aluno desenvolve uma

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grande capacidade de envolvimento, onde o seu objetivo principal não é realizar
corretamente um determinado movimento, utilizando-se do melhor desempenho técnico
possível, mas ter a liberdade de se expressar e construir sua maneira de jogo como ele
vier a compreender melhor.
Conclui-se então que a falta de aplicação do elemento tático no jogo da capoeira,
pode prejudicar não só o empenho do aluno como sua própria auto-estima. O aprendiz
necessita de um envolvimento maior para que desenvolva com maior capacidade e
velocidade o jogo da capoeira. A técnica é importante também, mas no processo de
iniciação, a tática mostra resultados maiores, e um aproveitamento maior da aula na
qual o aluno está condicionado a realizar.
Aprender a desenvolver a tática na aprendizagem da Capoeira é um processo que
demanda do educador estratégias que contemplem este contexto, seja no jogo como no
próprio desenvolvimento das atividades de aula. É necessário estar centrado nas
capacidades possíveis a serem desenvolvidas de acordo com a exigência e o nível de
entendimento do aluno. A tática é quem vai determinar o desenrolar do jogo.

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