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Novembro 1999

Geração
de emprego
e renda

Proger
Programa de Geração
de Emprego e Renda

Proger Rural
Programa de Geração
de Emprego e Renda
para a Área Rural

Pronaf
Programa Nacional de
Fortalecimento da
Agricultura Familiar

DEMOCRACIA VIVA
E D I Ç Ã O E S P E C I A L
Novembro 1999

DEMOCRACIA VIVA
E D I Ç Ã O E S P E C I A L
Ibase - Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas
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Presidente
Regina Celia Reyes Novaes
Vice-Presidente
João Guerra de Castro Monteiro
Primeiro Secretário
Nadia Maria Rebouças de Carvalho
Segundo Secretário
Moacir Gracindo Soares Palmeira
Terceiro Secretário
Jane Maria Pereira Souto de Oliveira

Diretores Executivos
Cândido Grzybowski
Jaime Hugo Patalano

Democracia Viva
Edição Especial 1999

Diretor Responsável Projeto Gráfico , Capa


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Mais Programação Visual
Conselho Editorial Tels.: +(21) 533-3231 e 262-4274
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Carlos Alberto Plastino pág. 9 - Nélio Rodrigues (Abril Imagens)
Clara de Góes pág. 16 - Mozart dos Santos (AGRBS)
Pascoal Soto págs. 36 e 87 - Márcio Bredariol (arquivo Ibase)
Regina Reyes Novaes págs. 59 e 62 - arquivo Embrapa
Regina Zappa págs. 73 e 85 - Bia Cardoso

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Produção Tiragem
Shirley Villela 9.000
apresentação
Ministério do Trabalho e Emprego

O apoio aos pequenos e microempreendi- A avaliação do desempenho institucional é


mentos integra, junto com a formação profis- fundamental para assegurar a realização de
sional e a modernização da legislação uma política nacional eqüitativa e efetiva no
trabalhista, as denominadas políticas ativas de contexto de descentralização na execução de
emprego, destinadas a facilitar e estimular a políticas públicas, como também para con-
criação e a manutenção de emprego e renda. ferir maior grau de autonomia às instituições
executoras nos âmbitos estadual e munici-
Instituído em 1995, o Programa de Geração pal. Constitui, pois, instrumento indispensá-
de Emprego e Renda (Proger) vem se conso- vel para a boa gestão das políticas públicas.
lidando como um dos principais instrumen-
tos de que o governo e a sociedade dispõem Desde a sua concepção, o Proger conside-
para o acesso ao crédito pelos pequenos e rou a avaliação externa como etapa impor-
microempreendedores urbanos e rurais, in- tante para o seu aperfeiçoamento. Entende
clusive nas iniciativas de produção próprias o Ministério do Trabalho e Emprego que a
da economia informal, bem como às associ- avaliação é uma atividade que permite au-
ações de produção e aos trabalhadores au- mentar a eficiência, a eficácia e a efetividade
tônomos. Em parceria com o Ministério da dos seus programas. Na ausência de avalia-
Agricultura e Abastecimento, o programa ção e acompanhamento do Proger, poucas
tem atuado também na promoção da agri- seriam as considerações que se poderia tecer
cultura familiar, alocando recursos no Pro- sobre os benefícios de um sistema de crédito
grama Nacional de Fortalecimento da assistido, bem como parcas seriam as possi-
Agricultura Familiar (Pronaf). bilidades de aumentar a governabilidade so-
bre o programa.
O Proger contribui para o esforço nacional
de manter e gerar ocupação e renda, ofere- Dada a grande importância da avaliação do
cendo oportunidades concretas àqueles que desempenho dos programas de geração de
já são empreendedores e desejam ampliar emprego e renda para a otimização dos resul-
seus negócios, e aos que pretendem se tor- tados alcançados, o Ministério do Trabalho e
nar donos de seu próprio empreendimento. Emprego tomou a iniciativa de contratar,
logo nos primeiros anos de existência do
Em seu arranjo institucional, o programa pre- Proger, uma instituição publicamente reco-
vê a participação da sociedade civil organi- nhecida pela idoneidade e competência, de
zada, por meio da atuação das Comissões forma a conferir maior legitimidade e utili-
Estaduais e Municipais de Emprego, na defi- dade à avaliação.
nição de prioridades e no acompanhamento
de sua execução nos níveis estadual e muni- Desse modo, em meados de 1997, o MTE
cipal, garantindo maior transparência na firmou contrato com o Instituto Brasileiro de
aplicação dos recursos e potencializando seus Análises Sociais e Econômicas (Ibase) – orga-
resultados. Trata-se, pois, de uma experiên- nização reconhecida no país e no exterior por
cia inovadora e promissora do governo fede- sua capacidade técnica – para a realização
ral na área do emprego. de uma avaliação externa do Proger (nas mo-
dalidades Proger Urbano, Proger Rural e
O Proger é ainda uma experiência recente, Pronaf), através de projeto-piloto desenvol-
sendo necessário aperfeiçoar continuamente vido no Estado do Espírito Santo, cujo prin-
suas ações e, como toda ação de política cipal objetivo foi conceber uma metodologia
pública, também deve ser acompanhado e apropriada para a avaliação dos programas,
avaliado de forma contínua. que pudesse ser utilizada nacionalmente.
Desenvolvida a metodologia, o MTE firmou to requer uma abordagem complexa e im-
novo contrato com o Ibase, no primeiro se- porta em ações de organismos públicos, pri-
mestre de 1998, promovendo a avaliação em vados e da sociedade civil organizada, que
oito Unidades da Federação: Bahia, Ceará, busquem soluções efetivas para a questão.
Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro,
Rondônia e Rio Grande do Sul. Posteriormen- Com os resultados obtidos na avaliação ex-
te, foi incluída na avaliação a Região Metro- terna efetuada pelo Ibase é possível consta-
politana de São Paulo. O estudo realizado tar que o Proger logrou êxito, em termos de
cobriu os primeiros anos de existência dos democratização do acesso ao crédito e, es-
programas – janeiro/95 a fevereiro/98. pecialmente, da magnitude dos postos de
trabalho gerados e mantidos. Vale destacar,
A pesquisa do Ibase permitiu, entre outros ainda, que a avaliação enfatiza a importân-
aspectos: cia da articulação e motivação dos atores en-
• caracterizar os beneficiários dos programas volvidos com a gestão e a implementação
(empreendedores e empregados), de acor- do Proger, constituindo um fator crítico
do com seus perfis socioeconômicos; de sucesso do programa em âmbito local.
• levantar as principais características e A falta de envolvimento dos atores locais
perspectivas dos empreendimentos finan- faz com que essa política se aproxime do
ciados, inclusive as dificuldades no aces- crédito bancário tradicional, perdendo as
so ao crédito; características de uma política pública de
geração de emprego e renda.
• verificar a adequação das normas e critéri-
os de operacionalização dos programas,
A avaliação permite discutir o aperfeiçoamen-
bem como a eficiência das instituições fi-
to do programa com base em diagnóstico
nanceiras e demais atores envolvidos;
confiável e bem fundamentado, possibilitan-
• determinar o impacto dos programas, prin- do que estratégias consistentes sejam
cipalmente sob os aspectos da geração e traçadas, visando à otimização dos relevan-
manutenção de emprego e renda, e da tes impactos sociais e econômicos que essa
sustentabilidade dos empreendimentos; e medida é capaz de produzir na realidade
• recomendar aperfeiçoamentos na forma de brasileira. Além disso, a iniciativa de subme-
atuação dos diversos atores envolvidos na ter os programas federais à avaliação exter-
operacionalização dos programas, bem na é condizente com a direção atual
como nas normas e critérios operacionais. pretendida para a administração pública,
voltada para uma administração gerencial,
Diversos temas foram abordados pela avalia- isto é, orientada para resultados.
ção, sendo que os aspectos positivos dos
programas em muito superam os negativos. A presente edição especial da revista Demo-
No entanto, cabe citar um dos problemas cracia Viva ajudará a tornar públicos a evo-
detectados, que há algum tempo vem sendo lução e os resultados alcançados pelas
alvo de várias ações do ministério. Trata-se políticas de geração de emprego e renda,
da utilização da mão-de-obra infantil em em- objetos da avaliação do Ibase, merecendo,
preendimentos financiados pelo Proger, es- pois, o apoio institucional do Ministério do
pecialmente na área rural. Na sua maioria, Trabalho e Emprego.
são familiares envolvidos no trabalho do cam-
po como resultado de um conjunto de fato-
Fátima Bayma
res socioculturais, alguns inerentes à
Diretora do Departamento de Emprego
organização da atividade agrícola. Tal assun- e Salário do Ministério do Trabalho e Emprego
sumário

Editorial
7

Cenário Brasil
9

Proger
21
(Programa de Geração de Emprego e Renda)

Proger Rural
39
(Programa de Geração de Emprego e Renda para a Área Rural)

Pronaf
55
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)

Limites e potencialidades
79

O passo a passo da avaliação


89

Perfil local
101

Bahia 102

Ceará 106

Goiás 112

Minas Gerais 120

Paraná 128

Rio de Janeiro 134

Rio Grande do Sul 140

Rondônia 144

Região Metropolitana de São Paulo 150


Equipe da avaliação
dos programas de geração
de emprego e renda
Proger, Proger Rural e Pronaf

Coordenador-geral
Cândido Grzybowski
Coordenador técnico
Sebastião Soares
Supervisores
Fernanda Carvalho
Francisco Menezes
Jaerson Lucas Bezerra
Javier Lago Alonso
Jorge Romano
José Clemente de Oliveira
Luiz Renato Latgé
Nelson Giordano Delgado
Walter Aluísio Rodrigues
Gerentes locais
Bahia
Gil Nunesmaia Jr.
Maria da Conceição Casulari Rodrigues
Wilson José Dias
Ceará
João Bosco dos Santos
Pedro Jorge Lima
Uribam Xavier
Goiás
Ivônio Barros Nunes
José Paulo Pietrafesa
Minas Gerais
Edmar Gadelha
Mucio Tosta
Regina Rodrigues Santos
Paraná
Elvina Maria Chaves
Francisco Pedro do Canto
Valter Bianchini
Rio de Janeiro
Aurila Euridice Souza
Renato Maluf
Sérgio Leite
Rio Grande do Sul
Alberto Bracagioli Neto
Domingos Antonio Armani
Luiz Fernando Fleck
Rondônia
Benedita Nascimento
Brent Millikan
RM São Paulo
Álvaro Comin

Assessor estatístico
Marco Antonio de Souza Aguiar
Processamento dos dados
Carla Lyra
Eduardo Pereira Marques
José André Brito
Ricardo Moitta Monte
Secretária-geral
Rozi Judith Billo
A revista Democracia Viva tem o compromisso
de colocar em debate questões importantes da agenda
nacional. A democracia substantiva não pode prescindir
de uma institucionalidade jurídica e política assentada em
direitos e deveres da cidadania. Porém, de nada vale
a institucionalidade se não apontar permanentemente
para relações e processos econômicos, sociais e culturais
que assegurem as bases substantivas de inclusão social.
É crucial, no avanço da democratização no Brasil,
enfrentar a miséria e a exclusão social. Ou arrisca-se
a própria institucionalidade democrática. Por isso,
a importância de centrar o debate nas políticas ativas
e encarar tais questões.

Há muito por fazer no Brasil. É quase unânime a


necessidade de reformas que resgatem a enorme dívida
social. Reforma agrária, reforma educacional, reforma da
Previdência, reforma da Saúde e tantas outras estão a
exigir ousadia dos governantes. Mas, em termos
imediatos, a preservação e a ampliação das oportunidades
de emprego e renda aparecem, para muitos, como
cruciais.

Esta edição especial da revista Democracia Viva quer


alimentar o debate sobre as políticas brasileiras de
geração de emprego e renda. A base é uma recente
pesquisa de avaliação do Proger, Proger Rural e Pronaf
realizada pelo Ibase. Usando recursos do FAT, são
programas voltados para políticas de manutenção e
ampliação do emprego e da renda, através da
democratização do crédito produtivo a segmentos mais
fragilizados da população. São, por definição, políticas
que não visam atacar o problema do desemprego em
sua totalidade. Mas, como
a própria avaliação revela, apresentam significativos
impactos e potencialidades.

O Ibase foi contratado pelo Ministério do Trabalho e


Emprego e pelo Conselho Deliberativo do Fundo de
Amparo ao Trabalhador para realizar a avaliação dos três
programas. Como parte de sua missão institucional,
considera fundamental intervir na estratégia e na
implementação de políticas públicas de controle da
pobreza. Exercendo seu papel de ombudsman, julga
essencial tornar público os aspectos positivos e negativos
da avaliação realizada. A proposta é também contribuir
para aperfeiçoar os referidos programas. Organizar uma
edição especial de sua principal publicação para divulgar
os resultados da pesquisa revela a importância que o Ibase
atribui aos três programas.

Cândido Grzybowski
Cenário Brasil

Cenário Brasil
A iniciativa de implantar uma política pública de geração de em-
prego e renda no Brasil foi conseqüência da mobilização da sociedade.
Fortalecida com o Movimento pela Ética na Política, que culminou com
o impeachment de Fernando Collor, a sociedade despertou para seu papel
de participação cidadã. Em 1993, a Ação da Cidadania contra a Misé-
ria e pela Vida, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho,
colocou na agenda nacional o enfrentamento da fome e da pobreza.
A criação do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) foi
um marco na nova institucionalidade democrática.
Com a sociedade mobilizada, o combate à miséria não poderia mais
ser feito através de ações políticas isoladas. A revelação da existência de
32 milhões de miseráveis, através do Mapa da Fome, elaborado pelo
Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas), obrigou o governo a encarar o
apartheid social brasileiro. As questões de tra-
balho e renda eram cruciais nesse quadro.
Em dez anos (1985 a 1995), com os
ajustes econômicos feitos, quase 3 milhões
de postos de trabalho desapareceram.
Movimentos e organizações civis buscaram
saídas para garantir a qualidade nas relações
de trabalho. A implementação de políticas
públicas de geração de emprego e renda foi
uma resposta a essa participação política.
Surgia, assim, o Proger (Programa de Gera-
ção de Emprego e Renda), implantado em 1995.
No mesmo ano foi criado o Proger Rural.
Como resultado da mobilização dos agriculto-
res familiares, através dos vários episódios do
Herbert de Souza foi
Grito da Terra, ainda em 1995 era implanta- o articulador da
Ação da Cidadania
do o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar). No mesmo contexto, surge em 1996 o Planfor (Plano Na-
cional de Formação e Qualificação Profissional). São iniciativas que só
edição especial 1999

foram concretizadas graças aos recursos do FAT (Fundo de Amparo


ao Trabalhador), à vontade de seu Conselho Deliberativo, o Codefat, e
à eficiência do Ministério do Trabalho e Emprego.

9
Destino certo nem sempre estiveram alinhadas às políticas
O FAT é o grande esteio das políticas pú- macroeconômicas. Políticas dirigidas para o
blicas no Brasil. Entre 1995 e 1998, reu- mercado de trabalho são de indiscutível va-
niu recursos da ordem de R$ 30,9 bilhões. lor, mas seus resultados são pequenos se não
Do total aplicado na geração de emprego e há uma estratégia macro de desenvolvimen-
renda, R$ 7 336 889 564,00, a maior parte to sustentável e democrático. Como preocu-
destinou-se ao Pronaf (44%) enquanto que pação central devem estar a geração de
ao Proger Rural coube o correspondente a empregos e a distribuição de renda.
36%. O Proger, concebido para ser o carro- Seguindo uma ten-
chefe dessa nova política, consumiu 20%. dência mundial, as polí-
Em 1997 e 1998, o Pronaf chegou a atingir ticas públicas brasileiras Proger
77% e 82%, respectivamente, do total de ope- são compensatórias, as- Programa de Geração
rações realizadas. Ao mesmo tempo, o Proger sumindo um caráter de Emprego e Renda

Rural teve seus recursos reduzidos, bem como mais ativo, procuram Criação: 25 de março de 1994, atra-
vés da resolução nº 59 do Codefat.
o número de operações realizadas. suprir o que o mercado
Objetivo: concessão de linhas especi-
Entre 1995 e 1998, Bahia, Ceará e Mi- por si só não resolve. ais de crédito a setores da sociedade bra-
nas Gerais receberam juntos 40% dos recur- Caracterizam-se como sileira tradicionalmente com pouco ou
nenhum acesso ao sistema financeiro,
sos do do Proger. Per nambuco, Piauí, sociais, não-assistenciais e associadas a ações de capacitação, assis-
Paraná e São Paulo foram responsáveis por de dimensão econômica. tência técnica e acompanhamento aos
25%. Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Sul O relevante é que visam empreendimentos financiados. Teve
como público-alvo as pequenas e
e Santa Catarina, cada um com valores entre proporcionar a inclusão microempresas, cooperativas e associa-
4% e 5% do montante, tiveram uma partici- econômica de setores ções de produção, além de iniciativas
próprias da economia informal.
pação de cerca de 18% dos recursos. Para 17 menos favorecidos da
outros estados, restaram apenas 17%. Não há sociedade. O grave é
critério demográfico ou econômico que expli- que historicamente há Proger Rural
que essa distribuição dos recursos, determina- um desencontro entre Programa de Geração de Emprego
e Renda para a Área Rural
da pela vontade política e participação. políticas macro e aque-
Como herança do tradicional crédito las específicas de gera-
Criação: 03 de maio de 1995, através
das resoluções nºs 82 e 89 do Codefat.
agrícola, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas ção de emprego e renda. Objetivo: financiamentos produtivos
Gerais, Santa Catarina e São Paulo tiveram O quadro da página para investimento e custeio agrícola e
pecuário a pequenos e microprodutores
participação da ordem de 81% dos recursos 11 retrata os principais
rurais de forma individual ou coletiva,
do Proger Rural. Os outros 22 estados fica- resultados da avaliação associados a programas de qualificação,
ram com apenas 19%. realizada pelo Ibase so- assistência técnica e extensão rural.
No Pronaf, somente cinco estados con- bre o Proger, o Proger
centraram 80% das aplicações: Rio Grande Rural e o Pronaf em Pronaf
do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina oito estados – Bahia, Programa Nacional de Fortalecimento
e Bahia. São regiões onde há uma acentuada Ceará, Goiás, Minas da Agricultura Familiar

integração da agricultura familiar com a agro- Gerais, Paraná, Rio de Criação: 24 de agosto de 1995, atra-
vés da resolução nº 22.191 do Con-
indústria e também uma histórica luta por me- Janeiro, Rondônia, Rio selho Monetário Nacional.
lhores condições de produção e renda agrícola. Grande do Sul – e na Objetivo: proporcionar o aumento
A experiência brasileira demonstra que Região Metropolitana da produção agrícola, a geração de
ocupações produtivas e a melhoria da
iniciativas voltadas ao mercado de trabalho de São Paulo. renda e da qualidade de vida dos agri-
democracia viva

cultores familiares.

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Cenário Brasil

Potencialidades e impactos dos programas

Período 1995 a 1998 Proger Proger Rural Pronaf


Número de novas ocupações por operação de crédito 2,02 0,24 0,58

Número de ocupações mantidas por operação de crédito 5,62 5,34 4,84

Financiamento por nova ocupação (R$) 7.083,33 32.973,69 6.470,81

Financiamento por ocupação mantida (R$) 2.548,17 1.481,69 775,24

Garantia de direitos quem for possível. Trata-se de garantir e for-


Algumas questões são particularmente impor- talecer direitos para quem nada tem. Apontam
tantes no âmbito desses programas. São aque- para mais política e ação pública, mais reco-
las referentes ao direito ao emprego e a salários nhecimento de potencialidades e direitos, ain-
justos, à participação através de comissões e da que restritos a determinados públicos.
conselhos, às estratégias de desenvolvimento Uma conquista considerável do Proger
local e à capacitação dos beneficiários dos pro- é a possibilidade de transformar em públi-
gramas. Elas serão discutidas mais detalhada- co e clientes da rede bancária uma parce-
mente na apresentação dos resultados da la da população que pelos simples critérios
pesquisa, mas são de mercado é excluída. Sem a vigilância
aqui introduzidas de comissões e conselhos, de sindicatos e
por permearem os cooperativas, de movimentos sociais e ou-
três programas. tras entidades da sociedade civil, facilmen-
Os programas te o público dos programas se reduzirá a
de geração de em- clientes potenciais.
prego e renda não Não são critérios ou leis de mercado
devem ser vistos que demarcam o público dos programas.
como solução para Há uma definição política que considera o
uma crise comple- crédito como alavanca de mudança eco-
xa, como a atual, nômica. Para muitos dos possíveis benefi-
com componentes ciários, o acesso ao crédito significa o
estruturais e outros acesso à cidadania. Um desafio para o
resultantes das po- Proger, por exemplo, tem sido a criação
líticas de ajuste le- de instrumentos que alcancem os micro e
vadas a efeito. Eles pequenos empresários urbanos dos setores
têm como estratégias formal e informal. Na prática, a estraté-
diminuir o desempre- gia do programa incorpora uma análise
go, evitar a instabili- que vê esse público como verdadeiramen-
edição especial 1999

dade e a exclusão te portador de direitos a políticas ativas e


social, onde e com solidárias de inclusão.

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Entraves regionais

Embora o número de indivíduos em busca de ocupação no mercado de trabalho evolua em


ritmo inferior ao da população em idade ativa, a economia das regiões metropolitanas não
é capaz de absorvê-lo. A modernização das atividades, a abertura comercial, as políticas
de contenção de gastos públicos e a instabilidade nas taxas de crescimento econômico
são alguns dos entraves. Os empreendimentos de pequeno porte, justamente os mais im-
portantes como geradores de emprego, demonstram pouca capacidade de sobrevivência e
demandam a formulação de políticas públicas específicas.

Entre 1991 e 1998, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador,
Belo Horizonte e Rio de Janeiro, desapareceram cerca de 570 mil postos de trabalho na in-
dústria de transformação. No mesmo período, o setor de comércio e serviços abriu 1 mi-
lhão 500 mil vagas. Isso, porém, não é o suficiente para absorver a mão-de-obra ociosa.
Com o aumento das taxas de desemprego, as mulheres, os jovens e as pessoas com instru-
ção média são os mais duramente atingidos.

Até o início desta década, a relação formal de trabalho era predominante, chegando a
mais da metade das ocupações. Hoje o vínculo empregatício informal, o trabalho por con-
ta própria e a condição de empregador são os que mais crescem. As ocupações nas in-
dústrias metropolitanas registram as maiores taxas de empregados com carteira assinada
– entre 80% e 95%. Já o setor de comércio e serviços chega a manter 50% de sua mão-
de-obra na informalidade.

Na maioria dos casos, o trabalho formal é melhor remunerado. As regiões metropolitanas de


São Paulo e do Recife têm as maiores variações entre os rendimentos de trabalhadores for-
mais e informais. As regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte apresen-
tam um perfil intermediário, e em São Paulo e Porto Alegre a diferença é bem menor.
democracia viva

12
Cenário Brasil

Participação cidadã as comissões de emprego municipais ou es-


Como política pública de geração de empre- taduais apresentam fragilidades institucio-
go e renda, os programas são inovadores nais. Assim, para o fortalecimento dessas
porque pressupõem – em âmbito federal, instâncias torna-se fundamental a capacita-
estadual e municipal – a participação ativa ção de seus integrantes.
de diferentes segmentos da sociedade na sua O melhor mecanismo de controle é a
orientação e implementação: gestores gover- participação social. Os programas precisam
namentais, trabalhadores e empresários. ser apropriados pelas organizações locais.
A parceria com a cidadania marca os pro- O Proger e o Pronaf apresentam claramen-
gramas, mas concretizá-la não é tarefa das te melhor desempenho nos locais onde há
mais fáceis. É preciso criar vontade política maior interação entre os programas e as or-
local, responsabilidade social e cidadã. Esses ganizações e movimentos.
fatores determinam o êxito ou não dos pro-
gramas, independentemente dos agentes fi- Dois alvos
nanceiros e da orientação político-partidária. Existem diferenças entre a promoção da ge-
A participação social tem sido decisiva. ração de renda e a de emprego. Para aumen-
Assim como as parcerias, não é obtida unica- tar e manter a renda é preciso reconhecer a
mente com regras ou instituições. A previsão especificidade de quem trabalha sozinho ou
de comissões e conselhos em regulamentos com familiares – situações de auto-ocupação,
não é garantia suficiente de que isso funcione. pequenos empreendimentos da economia in-
É necessário adaptar a forma de participa- formal, agricultores familiares. A geração de
ção às característi- emprego requer conhecimento da lógica de
cas locais. Muitas mercado que transforma o emprego em um
Resolução nº 138, vezes, institucionali- componente da produção, dos custos e do
de 3 de abril de 1997 dades criadas atra- volume de investimentos. São estratégias di-
Integração das Comissões Estaduais e Municipais de Empre- vés de lutas sociais ferentes, com claras implicações para a
go no esforço nacional de combate ao trabalho infantil.
O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalha- locais são as mais le- administração do crédito, da capacitação e
dor - Codefat, no uso das atribuições que lhe confere o
inciso XVII do artigo 19 da Lei nº 7.998, de 11 de janeiro gítimas. Dialogar da assistência técnica.
de 1990 e considerando o esforço nacional que vem sen-
do empreendido com vistas ao combate do trabalho infan- com diferentes ato- As condições, as possibilidades, os pro-
til e à proteção do trabalho do adolescente, principalmente,
na sua forma mais degradante, e considerando o importante res, construir parce- blemas e as necessidades dos micro e peque-
papel das Comissões Estaduais e Municipais de Emprego,
que na sua composição têm a representação dos diversos rias e descentralizar nos empreendedores que geram empregos
segmentos da sociedade, nas ações inerentes ao Programa
de Geração de Emprego e Renda, resolve: atribuições constitu- não são as mesmas das unidades produtivas
Art. 1º Determinar às Comissões Estaduais e Municipais de em um grande po- que ocupam apenas o titular e seus familiares.
Emprego que, na sua implementação de programas que uti-
lizem recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT, tencial que contribui O empreendedor – micro ou pequeno, for-
seja observado o estrito cumprimento das normas que
proíbem o trabalho infantil e protegem o trabalho do ado- para a renovação das mal ou informal – requer uma política pú-
lescente.
Art. 2º Solicitar às Comissões Estaduais e Municipais de políticas públicas. blica que enfoque o emprego gerado e a sua
Emprego que enviem sugestões, aos órgãos encarregados
de políticas na área do trabalho, em níveis estadual e mu- A gestão descen- qualidade. Já no caso das unidades familia-
nicipal, e, às unidades descentralizadas do Ministério do
trabalho, de ações voltadas para o combate e eliminação do tralizada e participa- res, obter uma renda decente é o motor
trabalho infantil.
tiva é condição para principal. Disto depende sua inserção na so-
Art 3º Esta Resolução entra em vigor na data de sua pu-
blicação. o sucesso dessa po- ciedade. Por isso quem se incorpora direta-
lítica. No entanto, mente na atividade deve ser alvo de uma
edição especial 1999

Daniel Andrade Ribeiro de Oliveira


esta avaliação indica política específica, voltada para as condições
Presidente do Codefat
que freqüentemente econômicas que determinam sua renda.

13
Desenvolvimento local necessárias ao seu sucesso. A articulação
O êxito de um projeto não depende só do com outros programas e ações de organi-
seu planejamento e da aprovação dos zações governamentais ou não-governa-
agentes financeiros, mas da densidade mentais é imprescindível.
econômique pode alcançar. Isso é particu- Os recursos chegam aos beneficiários
larmente válido para o Pronaf, mas tam- como crédito bancário; sem participação
bém para o Proger nas pequenas e médias social funcionam como um mero crédito
cidades. Nas regiões metropolitanas, além tradicional. O que os diferencia é a partici-
de adaptar as regras operacionais do pação e a articulação com outras ações pú-
Proger, é necessário que o poder público blicas (apoio à comercialização, capacitação
sinalize sobre o desenvolvimento local. e outras). Mas não confundir, como se viu
É preciso identificar os nichos para os em muitos lugares, participação com análise
projetos financiados e criar condições dos projetos, função fundamental dos agen-

Atuação diferenciada
O Banco do Brasil é a instituição que tem a maior participação na distribuição dos recursos.
De 1995 a 1998, foi responsável por quase 69% do total aplicado nos três programas. O Ban-
co do Nordeste e o BNDES, este só no Pronaf, alocaram, respectivamente, 17,7% e 12%.
A Caixa Econômica Federal teve uma participação pequena: menos de 2% dos recursos
aplicados nos programas. Também o Banco do Brasil foi o responsável pelo maior volume
de aplicações no Proger Rural (96%) e no Pronaf (64%).

Mesmo com sua atuação limitada à área da Sudene (Superintendência do Desenvolvimento


do Nordeste), o Banco do Nordeste liderou as liberações de crédito no Proger, alocando 61%
dos recursos. Já a Caixa Econômica Federal, que opera exclusivamente recursos para esse pro-
grama, teve 8,5% do total.

Participação dos agentes financeiros no número


de contratos (total Brasil) entre 1995 e 1998

Proger Proger Rural Pronaf Total


Operações % Operações % Operações % Operações %

Banco Nordeste 111.298 72,8 15.704 5,1 74.962 (1) 7,8 201.964 14,2

Banco do Brasil 28.957 19,0 291.810 94,9 764.461 79,7 1.085.228 76,5

CEF 12.538 8,2 - - - - 12.538 0,9

BNDES - - - - 119.572 12,5 119.572 8,4

Total 152.793 100,0 307.514 100,0 958.995 100,0 1.419.302 100,0


(1) Inclui 24.490 operações do PEF - Estiagem
Fonte: Informe CGEM (Fev/99)
democracia viva

14
Cenário Brasil

tes financeiros. Deve ser fortalecido o que Chance desperdiçada


está na concepção original dos programas: A capacitação para ampliar a capacidade ge-
a participação como criação de condiciona- rencial dos beneficiários não vem sendo
lidades ativas, de critérios de desenvolvimen- uma prática. No caso do Proger, apenas
to local, de vigilância e pressão sobre 23% se submeterem a algum tipo de treina-
agentes, de responsabilização social e cidadã mento, com enorme variação entre os estados.
dos beneficiários dos créditos. Em algumas Embora seja considerada uma ferramenta
situações, a co-responsabilidade é a mais fundamental para o sucesso dos empreendi-
importante contrapartida às excessivas ga- mentos, principalmente dos pequenos negó-
rantias exigidas pelos agentes financeiros. cios, é uma grande ausência. No entanto,
mais de 90% dos que fizeram algum curso
a consideram importante.
Proger Rural - Capacitação
Mais grave ainda é a situação no Proger
antes do financiamento
Rural. Não há capacitação nem antes da con-
cessão do crédito (95,6%), nem depois de
tê-lo recebido (88,5%). Além disso, duas em
cada dez pessoas que receberam capacitação
consideram que não resultou em melhoria
para o estabelecimento. Como sugestões
apontam a importância de conhecimentos
técnicos e a necessidade de que os cursos te-
nham maior abrangência e melhor divulgação.
Muitos ignoram que esses cursos são reali-
zados com recursos do FAT.
Também no Pronaf as iniciativas de ca-
pacitação atingem um pequeno número de
beneficiários. Ministrados pela Emater e, em
menor proporção, por técnicos de cooperati-
Proger Rural - Capacitação vas ou associações, os cursos enfocam princi-
após o financiamento palmente a produção. Constatou-se que 89%
dos alunos melhoraram seu desempenho e as
condições do seu estabelecimento.
Em geral, a capacitação revelou-se qua-
se inexistente. Porém, através de mecanis-
mos de participação local pode-se apontar o
treinamento adequado à região. Um obstá-
culo à ampliação da oferta e melhoria da ca-
pacitação é a falta de articulação entre os
programas e as diferentes instâncias gover-
namentais. Um caminho seria promover a
interação dos diversos programas federais,
edição especial 1999

dos órgãos estaduais e municipais com os


executores das ações descentralizadas.

15
Os exemplos de Estrela e Erechim

A forma de atuação dos agentes financeiros dos programas de geração de emprego e renda
expressa, muitas vezes, desconfiança e divergência de propósitos em relação aos objetivos
dos programas. Muitos não os vêem como linhas de crédito atraentes devido à sua baixa
rentabilidade, aos riscos e ao custo operacional. Apesar dessas dificuldades, há vários casos
positivos de envolvimento das agências bancárias com comissões municipais de empregos
e parcerias técnicas. É o que ocorre na cidade gaúcha de Estrela, com pouco mais de 31 mil
habitantes. Até setembro de 1998, 13 contratos de crédito estavam em andamento através
do Proger. Problemas freqüentes na implementação do programa, como falta de partici-
pação e entrosamento entre os atores e inadimplência, não existem. A comissão de em-
prego local faz um excelente trabalho de informação e pré-seleção dos pretendentes ao
crédito. Também realiza visitas constantes de acompanhamento, checando inclusive o
número de empregos gerados. Houve casos em que a comissão exigiu a regularização de
postos de trabalho informais.

Em Erechim, também no Rio Grande do Sul, a comissão de empregos resolveu suas dificul-
dades firmando diversas parcerias. Insatisfeita com o baixo índice de empregos gerados com
as iniciativas aprovadas pelo Proger, uniu-se a uma grande cooperativa regional, a Cotrel, para
criar cooperativas locais de agricultores associadas à agroindústria. Conta também com o
apoio de entidades como a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e com
o próprio Ministério da Agricultura para captação de recursos. A comissão de Erechim vem
articulando as comissões de emprego de toda a região, com uma proposta de centrar o de-
senvolvimento regional na associação dos setores de agroindústria e ecoturismo.

Erechim, no Rio Grande do Sul


democracia viva

16
Cenário Brasil

Impactos positivos Positivos ou negativos, os resultados não


Como políticas públicas, o Proger e o devem ser vistos isoladamente. A interven-
Pronaf tentam incluir uma parcela da ção pública, através de uma política especí-
população que o mercado marginaliza. fica, está ligada a estruturas e processos nas
Atacam parte do problema do desempre- diferentes conjunturas e a tendências da
go, subemprego ou ocupação precária e política macroeconômica. A estabilização
fortalecem a inserção econômica dos que monetária e seu impacto no emprego urba-
têm alguma potencialidade. São programas no e rural e nos preços e desempenho da
de combate à pobreza e à exclusão que agricultura acabaram funcionando como
buscam a sustentabilidade de grupos e se- condicionantes e agravantes dos problemas
tores fragilizados. Já o Proger Rural, por específicos a enfrentar.
sua origem e seus entraves operacionais, O Proger e o Pronaf revelam impactos
não poderia ser incluído na política de ge- positivos e potencialidades que devem ser
ração de emprego e renda aqui considerada. aprimoradas. Garantido o espaço à partici-
Os gestores do Proger e do Pronaf pação social, podem ocupar um lugar de des-
precisam avançar na operacionalização. taque como políticas públicas de geração de
Apesar de algumas expectativas frustra- emprego e renda no Brasil. O Proger Ru-
das, o que sobressai na avaliação desses ral está fora desse contexto. Não contri-
dois programas – ao contrário do Proger bui em quase nada para a criação de
Rural – são as potencialidades estratégicas uma política pública de emprego e ren-
e os resultados que já apresentam. Com a da e deverá ser considerado naquilo
edição especial 1999

curta existência de apenas quatro anos, que realmente é – um substituto do cré-


ainda há tempo para aperfeiçoamentos. dito agrícola tradicional.

17
Conquista local

Na região de Crateús, no Ceará, o papel dos dirigentes sindicais é exemplar na implemen-


tação do Pronaf. Através da Delegacia Regional da Fetraece (Federação dos Trabalhadores na
Agricultura do Estado do Ceará), 18 municípios foram beneficiados por essa articulação.
Os sindicalistas estudaram as normas dos programas, mantendo-se atualizados sobre as mu-
danças ocorridas. Estreitaram as relações com os gerentes do Banco do Brasil e do Banco do
Nordeste em todas as agências da região. Além de informar sobre o programa, buscavam
saber qual a disposição dos agentes em financiá-lo.

O principal objetivo era criar um clima favorável que garantisse uma conquista dos agricul-
tores familiares. Nas palavras de um dirigente da delegacia regional “a apresentação de pro-
jetos é que dá consistência e razão para cobrar dos bancos o funcionamento do programa”.

Em um segundo momento, os sindicalistas também estiveram nos escritórios locais da


Ematerce (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará), responsáveis pela
elaboração das propostas de crédito. Hoje, em 8 dos 18 municípios da região, os diri-
gentes sindicais acompanham de forma sistemática as ações do Pronaf e articulam-se sa-
tisfatoriamente com a Ematerce. Os bancos passaram a respeitar a ação do movimento
sindical dos trabalhadores rurais.

A maior incidência dos financiamentos do Proger e do Pronaf no Rio Grande do Sul deve-
se, principalmente, à presença dos movimentos sociais organizados. Entre estes estão a Fe-
deração dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), a Central Única dos Trabalhadores Rural
(CUT Rural), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Trabalha-
dores Rurais Sem-Terra (MST).
democracia viva

18
Cenário Brasil

ANÚNCIO
OBSERVATÓRIO
DA CIDADANIA

edição especial 1999

19
Programa de Geração
de Emprego e Renda
Proger
O Programa de Geração de Emprego
e Renda (Proger) foi criado em 1994 para conceder
crédito a setores da sociedade com pouco ou nenhum acesso
ao sistema financeiro associado a ações de capacitação e
assistência tecnológica e gerencial. Seu objetivo é manter e
gerar novos empregos e renda, criando ou ampliando as
oportunidades no mercado de trabalho. O público-alvo
abrange pequenas e microempresas, cooperativas e
associações, além de atividades da economia informal.
democracia viva

22
Proger

Cerca de 150 mil brasileiros foram bene- Minas Gerais. Cada um deles foi responsá-
ficiados com o programa, de 1995 a 1998. vel, respectivamente, por 19%, 8,2% e
As áreas pesquisadas nesta avaliação repre- 72,8% do total das operações de crédito.
sentam 54,5% do total dos investimentos do Dentro do universo pesquisado, mesmo com
Proger no país, no período de janeiro de a limitação regional, o Banco do Nordeste
1995 a fevereiro de 1998. Foram aplicados foi o responsável pela maior parte dos va-
2.657 questionários em oito estados - Bahia, lores aplicados pelo Proger.
Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de As micro e pequenas empresas consegui-
Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia - e ram mais da metade das concessões de cré-
na Região Metropolitana de São Paulo. dito (50,3%), seguidas de perto pelo setor
Seus agentes finan- informal, com 43,6%. Grande parte dos es-
ceiros são o Banco do tabelecimentos pesquisados não possui ne-
O tempo médio entre a Brasil, a Caixa Econô- nhum tipo de registro. O número de pessoas
mica Federal e o Banco ocupadas é, em média, de seis. A principal
entrega do projeto e a
do Nordeste, este com atividade é o comércio. A pecuária e a agri-
liberação do crédito é de atuação restrita à Região cultura representam 30% do total das ope-
Nordeste e ao norte de rações do Proger no Ceará, no norte de
70 dias.

Proger - Valor do financiamento


(média em R$)

edição especial 1999

23
Minas e na Bahia. Para evitar essa distor- fletindo diferentes realidades econômicas, no
ção seria preciso acabar com o financia- Rio de Janeiro e na Região Metropolitana de
mento rural no programa ou adaptá-lo às São Paulo, esse valor chegou a mais que o
condições rurais. dobro do que foi alcançado no Ceará.
Os locais dos empreendimentos estão
próximos ou na própria residência do bene- Tendências opostas
ficiário. A maioria conta com serviços de Homens brancos entre 31 e 40 anos de
água, esgoto e coleta de lixo. Aproximada- idade são os que mais se beneficiam com o
mente 65% não têm outra fonte monetária. Proger. Apresentam tendências opostas ao
A influência da família ou a experiência an- conjunto da população brasileira. Têm uma
terior é o que determina a escolha do ramo escolaridade bem acima da média nacional,
de atividade. mais de 20% com curso superior e 33%
Com o financiamento, o aumento da com ensino médio completo. Em Rondônia
renda foi de cerca de 18%, passando de quase a metade dos beneficiários completou
R$ 1 417,48 para R$ 1 670,70. O valor o ensino médio, enquanto que, na popula-
médio do crédito foi de R$ 13 359,89. Re- ção urbana, esse índice é de cerca de 20%.

Proger - Rondônia
Escolaridade da população acima
de 18 anos e do beneficiário
democracia viva

Fontes: IBGE e Ibase

24
Proger

No Rio de Janeiro, mais de 60% dos bene- pertence às classes A e B (54,2%). Somadas,
ficiários têm ensino superior. Na população as classes D e E representam apenas 16,86%.
do estado, esse índice não chega a 15%. Nos oito estados pesquisados, 59,2%
Chama a atenção o dos entrevistados declararam-se brancos.
fato de 44% dos bene- Na Bahia, os dados são ainda mais
Antes de participar do ficiários pertencerem às reveladores. Apesar de integrarem, majo-
Proger, a maioria dos classes de consumo A e ritariamente, a população urbana, os par-
B. Na Região Metropo- dos não chegam a 40% no Proger. Já os
beneficiários em Minas litana de São Paulo, esse brancos representam mais de 50% no
Gerais estava empregada percentual chega a 90%, programa. Em Goiás, o quadro não é di-
ainda que, no total da ferente. A maioria dos que conseguiram
em alguma empresa população local, repre- crédito no programa se declarou branca
privada (30,11%) ou sente pouco mais de um (73,02%), 23,31%, parda, e apenas 0,1%,
terço. Em Minas Gerais, preta. Segundo o IBGE, a população
pública (13,92%) e outra mais da metade dos goiana é for mada, em sua maioria, por
parcela expressiva era tomadores de crédito pardos e pretos (52,94%).

constituída de
trabalhadores autônomos
(28,60%). Apenas 1,29% Proger - Rio de Janeiro
estava desempregada. Escolaridade da população acima
de 18 anos e do beneficiário

edição especial 1999

Fontes: IBGE e Ibase

25
Proger - Identificação Sexo
do beneficiário

Grau de escolaridade

Idade

Classe de consumo
democracia viva

26
Proger

Os beneficiários do Proger
declaram-se em maior
número de cor branca e em
menor número de cor
parda ou preta do que a
composição encontrada no
conjunto da população do
universo pesquisado. Proger - Cor declarada da população urbana
na área pesquisada e do beneficiário

Fontes: IBGE e Ibase


*os dados do IBGE referem-se a São Paulo capital e região do grande ABC
edição especial 1999

27
Oportunidade única Através do programa, também foram
O Proger significou a primeira experiência de mantidas cerca de 180 mil ocupações. O fi-
empréstimo para 78% dos beneficiários. Os nanciamento necessário para cada nova
recursos foram usados, principalmente, para a ocupação é, em média, no valor de R$ 7,1
compra de máquinas e equipamentos (60%). mil, com grandes oscilações. No Ceará, foi
O número de beneficiários que não teve difi- de R$ 18,9 mil, enquanto que, em Goiás,
culdade na hora de pedir o financiamento é ficou em R$ 5,3 mil. O valor para manter
significativo (42%). Os demais apontaram uma ocupação é inferior, correspondendo, em
como problemas a demora na liberação do média, a R$ 2.548,17.
dinheiro, a burocracia e a exigência de garan- O perfil das novas pes-
tias. Os motivos mais citados pelo atraso no soas ocupadas pode ser O atraso no pagamento de
pagamento aos bancos foram a queda no pre- assim resumido: 58% são parcelas se verificou entre
ço dos produtos, a demora nos recebimentos homens e mais de 88%
e o alto valor das parcelas do financiamento. têm entre 18 e 44 anos. 44% dos beneficiários.
Nas regiões pesquisadas, o Proger gerou Quase 60% recebem Apesar das dificuldades
mais de 100 mil novas ocupações, sendo até três salários míni-
40% com carteira assinada. No Ceará, a mé- mos. O índice de escola- relatadas, 50,7%
dia de ocupações geradas foi de 0,51, en- ridade não varia muito pretendem fazer novos
quanto que, em Goiás, foi de 3,84 por entre os estados pesquisa-
operação de crédito. A média nacional dos, 48% são apenas alfa- investimentos e 59%
alcançada foi de 2,02. betizados, ou nem isso. declararam ter melhorado
seu estabelecimento.

Proger - Geração de novas


ocupações por categorias

Categorias Total de novas ocupações %

Assalariados permanentes com carteira 40.452 40,2

Assalariados permanentes sem carteira 14.763 14,7

Assalariados temporários 24.401 24,2

Familiares não-remunerados 8.607 8,5

Sócios 12.470 12,4


democracia viva

28
Proger

Rompendo barreiras

Na Bahia, o Proger é operacionalizado pelo Banco do Nordeste, responsável por 94,87% dos
financiamentos; o Banco do Brasil responde por 4,60%; a Caixa Econômica Federal por
0,83%. Até o momento, o estado tem sido o que mais realizou operações de crédito do
programa na área urbana.

Do total de recursos do FAT aplicado na Bahia, 52,77% destinaram-se aos beneficiários do


Proger. Foram aplicados R$ 248,2 milhões, de janeiro de 1995 a agosto de 1998. O núme-
ro de operações foi de 22.856, com um valor médio de R$ 10 859,00, distribuídas em 397
dos 415 municípios existentes no estado.

Com a concessão do crédito, a quantidade de pessoas ocupadas passou de 52.433 para


102.559, uma variação de 96%, que corresponde ao índice de 2,62% de ocupações gera-
das por operação.

O acesso ao crédito está condicionado à existência e ao funcionamento das Comissões Mu-


nicipais Tripartites e Paritárias de Emprego. Com isso, vem rompendo barreiras. Um repre-
sentante da CUT na Comissão Municipal de Emprego (CME) de Salvador relata: “O Proger,
através da CME, vem abrindo caminho para agentes econômicos até então qualificados de
secundários, como a baiana do acarajé. Hoje essas mulheres são vistas como uma fonte ge-
radora de renda e emprego. Estão recebendo cursos de gerenciamento e qualidade”. Para o
representante dos trabalhadores na comissão, o Proger deve representar uma quebra de
burocracia: “Não pode existir dificuldade para um trabalhador pegar o dinheiro, pois o re-
curso é do FAT.”

Os agentes financeiros afirmam que, em geral, o processo de financiamento é bastante sim-


ples. Com a apresentação de todos os documentos, a aprovação é rápida, levando em tor-
no de três semanas.

edição especial 1999

29
É preocupante o número de
crianças e adolescentes entre
aqueles que conseguiram
uma nova ocupação.
O correspondente a 6%
dessa força de trabalho está
entre menores de 17 anos
(cerca de 6 mil).
democracia viva

30
Proger

Públicos diversos

Entre os que conseguiram aumentar as ocupações destacam-se os mais jovens, com menos
de 40 anos, com escolaridade acima da média, pertencentes à classe A ou B. São donos de
empreendimentos recentes e com registro. Desfrutam com o Proger da primeira experiência
de crédito.

Têm um perfil parecido os 48% dos beneficiários que expandiram seus lucros. No entanto,
as mulheres, aqueles que declararam cor branca, os que têm outra fonte de renda, da
classe A, B ou C, tendem a obter mais lucros nos seus empreendimentos.

Já aqueles que não alteraram o quadro de ocupações têm um perfil oposto: com mais de
40 anos, apresentam baixos níveis de escolaridade e consumo, possuem empreendimentos
mais antigos e menos estruturados (informais).

Proger - Impactos no total


de ocupações

Ocupações % dos beneficiários do crédito

Aumentaram 58,5

Estáveis 36,2

Diminuíram 5,3

Total 100,0

Proger - Impactos
nos lucros

Lucros % dos beneficiários do crédito

Aumentaram 48,4

Estáveis 26,4

Diminuíram 25,2

Total 100,0
edição especial 1999

31
Lucro e capacitação dos beneficiários (produção, vendas e lu-
O Proger serviu para aumentar a produção, cros). São dados que não deixam dúvida
as vendas e o lucro da maioria dos benefi- quanto ao impacto do Proger como política
ciários. A exceção é encontrada nos estados de geração de emprego e renda.
do Nordeste, especialmente no Ceará. Após O treinamento e o
um longo período de seca, a região teve con- acompanhamento dos
seqüências negativas até na área urbana. beneficiários é uma das A falta de capital de giro é
Entre os que melhoraram seu lucro, 70% maiores fragilidades na
atribuíram os ganhos ao programa. A maior implementação do pro- um grande entrave,
parte dos beneficiários investiu no próprio grama, atingindo apenas revelando a necessidade de
negócio, principalmente através da compra 23%. No Ceará, com o
de máquinas e matéria-prima. Outra parce- incentivo do Banco do uma linha de crédito
la significativa desse lucro foi destinada a Nordeste, o índice che- exclusiva para esse fim.
despesas pessoais, com destaque para ali- ga a 40%. Destaca-se a
mentação, saúde e pagamento de dívidas. atuação do Sine (Siste-
O programa mostrou resultados positivos ma Nacional de Emprego), que, já na elabo-
tanto no volume, perfil e estabilidade das ração do cadastro, promove cursos sobre
ocupações, quanto na inserção econômica técnicas de gerenciamento de negócios.
democracia viva

32
Proger

Proger - Capacitação
na área pesquisada

Proger - Ceará
Capacitação

edição especial 1999

33
Acima do tolerável

Em Rondônia, foram realizadas 463 operações de crédito do Proger, ao valor médio de


R$ 13.950,00. Trata-se do estado que apresenta o terceiro maior índice de inadimplência
do país, 28,07%. Perde apenas para Roraima, com 32,6%, e Amapá, com 69,6%. A média
nacional é de 8,65%. A falta de viabilidade e sustentabilidade econômica dos negócios fi-
nanciados é um dos principais motivos da inadimplência. Segundo os beneficiários, foi
comum o atraso no recebimento por serviços prestados ou bens fornecidos.

De janeiro de 1995 a fevereiro de 1998, o Banco do Brasil foi o único agente financeiro
do programa. A Caixa Econômica Federal só começou a operar no fim de 1997, reali-
zando poucas operações até fevereiro de 1998. A quase totalidade dos beneficiários
pesquisados apresentou projetos e teve recursos liberados entre fevereiro e agosto de
1996. Com índices de inadimplência acima do permitido, o Banco do Brasil resolveu
interromper o programa em Rondônia. Ainda assim foram criadas 2,45 novas ocupações
por operação de crédito realizada.

Para os envolvidos no programa, os processos de capacitação, assistência técnica, monito-


ramento e acompanhamento dos negócios falharam. Faltou maior intervenção da Comissão
Estadual do Trabalho, assim como interação entre os órgãos executores. Evidenciou-se a
ausência de uma política de divisão de trabalho e responsabilidades. Além disso, os bene-
ficiários alegam ter sido informados, por representantes do governo estadual, que o crédito
era não-reembolsável.

Proger - Rondônia
Motivos para o atraso do pagamento*

*Resposta múltipla
democracia viva

34
Proger

Proger - Associativismo
na área pesquisada
O baixo nível de
associativismo (36%) não
significa falta de
participação social local. É
possível que o acesso ao
crédito tenha
sido facilitado justamente
por essa participação.
Porém, a sobrevivência do
programa depende do
Proger - RMSP
Associativismo engajamento de cada um.
Em Minas Gerais e
na Região Metropolitana
de São Paulo, o vínculo
com organizações está bem
acima da média (52,22%
e 50%, respectivamente).
A maior parte filiou-se
antes da concessão
do crédito.
Proger - Minas Gerais
Associativismo
edição especial 1999

35
Ferramenta de valor para a geração de emprego e outro para a
O impacto do Proger no combate à po- geração de renda. São duas estratégias di-
breza é significativo. Se é verdade que ferentes que não podem continuar avalia-
muitos beneficiários não são pobres, é d a s d o m e s m o m o d o. D i r i g e m - s e a
verdade também que o acesso ao crédito públicos distintos, por isso devem ter ju-
gera emprego principalmente para pobres ros e normas específicos.
com pouca escolaridade. A pesquisa mostrou que os beneficiários
Como política pública, o programa pre- com escolaridade mais baixa e menor poder
cisa ser aperfeiçoado. A concessão ou não de consumo, à frente de pequenos estabele-
do próprio crédito é a arma dos gestores cimentos, se voltam
públicos. É inadmissível permitir a contrata- mais para a estabilização
ção de menores de 14 anos. Assim como de sua ocupação e de Em todos os estados
devem ser estabelecidos limites ao trabalho seus familiares. Já os
pesquisados, 64% dos
daqueles com menos de 18 anos. Nos dois micro e pequenos em-
casos, verifica-se a necessidade da obrigato- preendedores formais, entrevistados vêem com
riedade de escolarização. Também deve com escolaridade acima
otimismo o futuro do
haver uma rigorosa fiscalização para coibir da média da população,
situações em que a remuneração não chega da classe A ou B, ge- empreendimento; 21%
ao mínimo legal. ram novos empregos e
estão inseguros e apenas
O Proger funcionaria melhor se fosse tendem a aumentar os
dividido em dois programas, um voltado ganhos com os negócios. 8%, pessimistas.
democracia viva

36
Proger

Encarando obstáculos

Na tentativa de acelerar a liberação dos recursos, diminuir a burocracia e os índices de


inadimplência no Proger, o Banco do Brasil apresentou ao Codefat o projeto para a implan-
tação das Agências do Empreendedor, mediante convênio com o Ministério do Trabalho e
Emprego e a Fundação Banco do Brasil. Oferecendo um atendimento diferenciado ao poten-
cial beneficiário, essas agências foram implantadas em municípios de Minas Gerais e do Rio
de Janeiro, em Brasília e em Curitiba. A experiência ainda não surtiu efeito.

A idéia é estimular a criação e a manutenção do emprego com qualidade, mapeando os


segmentos mais dinâmicos da economia. E, além disso, garantir a auto-sustentação dos ne-
gócios através de treinamento e consultoria aos beneficiários.

Em Belo Horizonte, duas agências foram inauguradas. Foi contratado o Centro Cape (Cen-
tro de Capacitação e Apoio ao Pequeno Empreendedor), uma entidade sem fins lucrativos
especializada em microcrédito. Das 962 pessoas que procuraram o crédito entre julho e de-
zembro, apenas 16 firmaram contratos – 12 para microempresa, três para pequena empre-
sa e uma para o setor informal. Dessas, 80% desistiram ainda na primeira fase do processo.
Uma pesquisa do Centro Cape informa que dos que foram à agência e não obtiveram cré-
dito, 29% só buscavam informações; 19% desejavam empréstimos de capital de giro isoaldo;
15% não ofereceram as garantias exigidas; e outros 15% não atendiam a alguma das exigên-
cias das linhas do Proger, entre outros.

No estado do Rio de Janeiro, a experiência ainda não desenvolveu todo o seu potencial. Com
apoio da Fundação Coppetec, gerenciadora da Coppe/UFRJ, foram inauguradas Agências do
Empreendedor na capital e em Duque de Caxias. Para contar com uma equipe especializada, a
fundação ofereceu um curso a 100 alunos. Eram funcionários do banco, formandos e pós-
graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foram selecionados 30 agentes para atender
o público do programa e foi criado um conselho consultivo com professores da universidade.

Dados de novembro de 1998 mostram que 1.027 clientes procuraram as agências a partir de
agosto, e nenhuma operação foi concluída. A maioria (73,32%) teve os projetos recusados, por
diversos motivos. Os responsáveis pela iniciativa no Banco do Brasil acreditam que ainda é muito
cedo para avaliar esses resultados. E admitem a necessidade de alguns ajustes.

Proger - Rio de Janeiro


Motivos da recusa de projetos*

edição especial 1999

*Resposta múltipla

37
Programa de Geração
de Emprego e Renda
para a Área Rural
Proger
Rural
O Programa de Geração de Emprego
e Renda para a Área Rural (Proger
Rural) foi criado em maio de 1995. Sua proposta é finan-
ciar pequenos e miniprodutores, de forma individual ou co-
letiva, aumentando a produção e a produtividade no campo.
Também prevê cursos de qualificação, assistência técnica e
extensão rural que garantam o uso racional da terra e a pro-
teção ambiental.
democracia viva

40
Proger Rural

De 1995 a 1998, cerca de 307 mil pessoas de R$ 32 973,69. A manutenção de ocupa-


foram beneficiadas pelo Proger Rural no ções teve um melhor resultado, da ordem de
Brasil. Seus agentes financeiros são o Banco 5,34 por operação, com um financiamento
do Nordeste e o Banco do Brasil, respecti- de R$ 1 481,69.
vamente com 5,1% e 94,9% dos contratos. O Em relação a esses impactos, o cenário
setor mais beneficiado foi a agricultura, com pesquisado é diversificado. Na Bahia, no Ce-
80% dos recursos destinados ao programa. ará e em Rondônia, o índice de ocupações
Os oito estados pesquisados – Bahia, Ce- geradas é maior (1,79, 1,42 e 1,29, respecti-
ará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Ja- vamente). Em Goiás, o programa tem gera-
neiro, Rio Grande do Sul e Rondônia – do menos ocupações (0,59). Minas Gerais e
representam 68% do total de recursos ope- Rio de Janeiro apresentam valores interme-
rados entre 1995 e 1998. Foram aplicados diários (0,96 e 0,84, respectivamente). Já no
2.052 questionários, dos quais 76,6% cor- Paraná, diminuiu o total de ocupados, apesar
respondem a operações do Banco do Bra- de o financiamento por ocupação total ser
sil e 23,4% a operações do Banco do próximo ao da média. No Rio Grande do
Nordeste. O valor médio do financiamen- Sul, o baixo índice de novas ocupações (0,07)
to é de R$ 7 857,65, com uma absurda va- eleva o financiamento a R$105.000,00. O au-
riação de R$ 431 852,00 a R$ 99,00. mento do número de pessoas ocupadas,
Como gerador de emprego e renda, o quando ocorre, se verifica principalmente na
programa conseguiu atingir, em média, o lavoura, seguido das atividades de colheita e
índice de apenas 0,24 de nova ocupação por extrativismo, produção animal, melhoria das
crédito concedido, com um financiamento benfeitorias e moradias e serviços gerais.

Atividades financiadas
pelo Proger Rural

edição especial 1999

41
Atividades das novas
pessoas ocupadas

Proger Rural - Ocupação e financiamento


por unidade da federação

N° de ocupações Financiamento
Estado Número de ocupações por operação por ocupação (R$)
Antes Geradas Total Gerada Total / Mantida Gerado Total / Mantida

BA 52.395 13.557 65.952 1,79 8,71 3.800,42 781,21

CE 51.104 10.087 61.191 1,42 8,61 4.594,95 757,45

GO 35.859 5.174 41.033 0,59 4,68 21.202,85 2.673,54

MG 93.701 12.663 106.364 0,96 8,06 11.041,85 1.314,57

PR 342.584 (-7.283) 335.301 N/A* 5,44 N/A* 1.519,30

RJ 1.784 274 2.058 0,84 6,31 11.855,57 1.578,44

RS 297.115 4.802 301.917 0,07 4,40 105.435,00 1.676,95

RO 11.311 2.405 13.716 1,29 7,36 3.302,07 578,99

Geral 885.853 41.679 927.532 0,24 5,34 32.973,69 1.481,69


democracia viva

*N/A - Não se aplica (não foram gerados novos empregos)

42
Proger Rural

Fatias desiguais

A distribuição dos recursos do Proger Rural é um reflexo do tradicional crédito agrícola. Paraná
e Rio Grande do Sul receberam, juntos, 52% dos recursos. Agregando-se os estados de Minas
Gerais, Santa Catarina e São Paulo, essa participação chega a 81%. Para os outros 22 esta-
dos brasileiros restaram apenas 19% dos recursos disponíveis no programa.

O Banco do Brasil concentrou 54% dos seus recursos no Paraná e no Rio Grande do Sul. Já
o Banco do Nordeste destinou 65% dos seus recursos à Bahia.

Alocação dos recursos do Proger Rural


por UF entre 1995 e 1998

UF Total (R$) % UF Total (R$) %

AC - - PB 10.416.193 0,4

AL 28.660.567 1,1 PE 34.208.058 1,3

AM 1.047.378 - PI 24.235.184 1,0

AP - - PR 725.727.502 27,4

BA 91.985.499 3,5 RJ 3.989.914 0,2

CE 40.650.778 1,5 RN 7.515.790 0,3

DF 347.232 - RO 7.602.429 0,3

ES 24.689.832 1,0 RR 418.501 -

GO 122.495.231 4,6 RS 650.628.084 24,6

MA 20.826.634 0,8 SC 341.689.468 12,9

MG 159.748.430 6,0 SE 11.326.994 0,4

MS 19.714.811 0,7 SP 260.835.066 9,8

MT 40.611.096 1,5 TO 2.994.514 0,1

PA 15.816.658 0,6 Total 2.648.181.841 100,0


edição especial 1999

Fonte: Informe CGEM (fev/99)

43
Contra a correnteza
O estado que mais impactos obteve
com o Proger Rural foi a Bahia. Os re-
sultados surpreendem. Lá o programa
dá sinais de estar efetivamente aten-
dendo ao seu objetivo de geração de
emprego. Em cada 100 contratos de
crédito firmados, 179 ocupações foram
geradas, a maioria exercida por traba-
lhadores temporários. No quadro geral
de pessoas ocupadas, o aumento foi da
ordem de 25,87%.

Proger Rural - Bahia


Geração de novas ocupações
segundo categorias e sexo
democracia viva

44
Proger Rural

Infância perdida

Entre os que conseguiram trabalho a partir do programa, 51% não são da família do bene-
ficiário. Fazem parte desse grupo 10 mil crianças de até 14 anos (2%). Em Rondônia, esse
índice chega a 6,3%. O absurdo é ainda maior quando se considera que os projetos são fi-
nanciados por um programa do o governo.

Proger Rural - Faixas etárias dos


não-familiares ocupados nas 8 UFs
Faixas Menos de 10 a 14 a 17 a 21 a 30 a 40 a 50 a mais de
etárias 10 anos 14 17 21 30 40 50 60 60 anos Total

% 0,6 1,4 3,6 12,7 42,9 27,8 7,4 2,9 0,7 100,0

Encarada como uma questão cultural, também é alarmante a quantidade de crianças que tra-
balha no campo junto com a família. Dos 750 mil menores de 18 anos parentes dos bene-
ficiários, 530 mil ajudam no sustento doméstico de alguma forma. Os menores de 10 anos
representam 7,2% do total. Desses, 5,2% (39 mil) estão fora da escola. O trabalho infantil
típico (entre 10 e 14 anos) fica em 11,6%, dos quais 6,4% (48 mil) também não têm aces-
so à educação formal.

A exploração de menores acontece quase que exclusivamente nos próprios estabelecimen-


tos. Mais triste é constatar que essa situação inadmissível esteja presente em todos os es-
tados pesquisados sobre o Proger Rural, apenas com pequenas variações.

Proger Rural - Familiares menores


de 18 anos que trabalham (em %)

Faixas Trabalham Trabalham e


etárias e estudam não estudam Total

Até dez anos 2,0 5,2 7,2

10 a 14 anos 5,2 6,4 11,6

14 a 18 anos 5,3 46,9 52,2

Total 12,5 58,5 71,0


edição especial 1999

45
Bem de vida 1,1% fizeram curso técnico e 4,2% têm
A maioria dos beneficiários é do sexo mas- nível superior completo ou incompleto.
culino (94,5%) e se autodeclara branca Considerando os níveis de pobreza da
(88,1%), ou seja, um contingente superior população rural, o beneficiário do Proger
ao dobro da população rural dos oito esta- Rural faz parte de um grupo razoavelmen-
dos pesquisados. Cerca de 70% têm mais de te estruturado e com boas condições de
40 anos. Refletindo os índices de escolari- vida, produção e renda. A maioria (79,8%)
dade da população rural, mais da metade tem acesso à rede elétrica; 68,4% utilizam
não concluiu o ensino fundamental (52%) poços ou nascentes para o abastecimento
e 14,5% são analfabetos ou só sabem ler de água; 94,9% possuem casas de alvena-
e escr ever. Dentre os mais instr uídos, ria ou madeira, com distribuição em seis
15,4% completaram o ensino fundamental, cômodos (19,2%), sendo três destinados a
12,1% têm o ensino médio completo ou não, dormitórios (42,7%).

Proger Rural - Cor declarada da


população rural na área pesquisada
e dos beneficiários
democracia viva

46
Proger Rural

Quase a totalidade dos que se benefici- o de mulheres (53,1% para 46,8%). A


aram com o programa conta, apenas, com o maior parte tem plena capacidade para o
estabelecimento financiado como fonte de trabalho (49,6% entre 20 e 49 anos).
renda (77,7%). Aproximadamente 5% traba- Em geral, além do casal, moram na
lham fora em alguma atividade agrícola ou casa dois ou três filhos. Em um terço
em outra ocupação. Cerca de 10% dividem dos casos existe ainda mais uma pessoa
seu tempo entre o trabalho externo e o pró- dividindo o espaço, podendo ser um dos
prio empreendimento. avós, outro parente ou agregado.
As pequenas propriedades, com menos O nível de escolaridade das famílias é
de 10 hectares, representam quase a metade baixo: mais da metade não chega a ter o
dos estabelecimentos existentes nos estados ensino fundamental. Apenas 27,9% estu-
pesquisados. Apesar disso foram os proprie- dam, contra 71,9% que não freqüentam
tários de terras com 20 a 100 hectares os as aulas. Em relação à ocupação, a mai-
maiores beneficiários. Ocupando apenas oria se dedica ao negócio da família
26,7% da área rural pesquisada, tiveram uma (61,7%) e 18% estão desempreg ados.
participação no programa de quase 60%. Apenas 2,6% participam em atividades
agrícolas externas. O percentual de apo-
Solução caseira sentados e pensionistas é de 3,2%, dos
Nas famílias dos beneficiários do Proger quais mais da metade também trabalha
Rural, o número de homens é maior que no estabelecimento.

Proger Rural - Grau de escolaridade


dos familiares

edição especial 1999

47
Poucas mudanças
Grande parte do público do programa
acredita que os índices de produção, ven-
da e lucro tenham-se mantido estáveis,
mesmo depois do financiamento. Já entre
os que conseguiram incrementar seus índi-
ces, cerca de 30% atribui isso ao Proger
Rural. O aumento na renda acabou sendo
consumido, em 21% dos casos, pelo paga-
mento de dívidas.

Proger Rural - Impactos na


produção, venda e lucro
democracia viva

48
Proger Rural

Seca e desafio

A seca no Nordeste é um fenômeno que atravessa séculos e, até hoje, os programas con-
cebidos desde a época do Império não foram capazes de impedir o agravamento da pobre-
za e da miséria. A cada estiagem recrudesce a migração, principalmente de jovens e chefes
de família que buscam trabalho nas grandes cidades.

No semi-árido brasileiro, as famílias que ainda conseguem se manter no setor da agricultu-


ra não têm como negociar preço e qualidade. Com produtos de baixa competitividade, as
condições econômicas e sociais são cada vez piores para os que vivem na região. Além das
reduzidas oportunidades de acesso ao crédito oficial, a tecnologia empregada é rudimentar.

No Ceará, 38% dos que utilizaram recursos do Proger Rural tiveram perdas, principalmente
nas safras de milho e feijão. Na Bahia não foi diferente: quase a metade dos que consegui-
ram o crédito perdeu 75% da produção de milho e 44,5% da safra de feijão. Outro preju-
ízo foi a diminuição dos rebanhos provocada pela falta de alimentos e pela seca.

Nos mesmos estados, 31,6% dos beneficiários recorrem a poços para abastecimento de água;
22,9% usam cacimbas e 19,3% contam com açudes. Apenas 5,8% estão alistados em frentes
de trabalho, sendo no máximo três pessoas por família. Também é pequeno o percentual dos
que recebem cesta básica, ou outro tipo de ajuda, desde 1997 (12,8%).

edição especial 1999

49
Sem capacitação dade à atividade rural. A explicação talvez
Não há capacitação para os beneficiários do seja o fato de 65,2% e 53,1%, respectiva-
programa, nem para obter o crédito (95,6%), mente, considerarem boas suas condições de
nem depois de recebê-lo (88,5%). Duas en- saúde e moradia. Mais de 70% não têm
tre cada dez pessoas que fizeram algum cur- queixas quanto à alimentação disponível
so, em geral ministrado pela Emater, não para si e para a família.
viram melhorias no estabelecimento. Tam-
bém a maioria (85,1%) não sabe que os cur- Atores desconhecidos
sos são mantidos com verbas do FAT. O Proger Rural se distancia da estratégia de
Em relação à assistência técnica, o qua- participação social. Dos programas de gera-
dro é diferente: 88,8% dos beneficiários afir- ção de emprego e renda implementados
mam ter recebido. Na maioria dos casos, o com recursos do FAT, é, sem dúvida, o me-
serviço foi prestado pela Emater (45,8%), nos vísivel, com pouco ou nenhum acompa-
por técnicos de cooperativas (40,8%) e de nhamento da sociedade.
empresas de planejamento (32,6%). A asses- No Ceará, dos 184
soria foi prestada nas áreas de produtivida- municípios existentes no
de das lavouras e conservação de solos. estado apenas 87 contam
Apesar de representarem
Os beneficiários do Proger Rural se reve- com as comissões mu-
lam um grupo estruturado e integrado no pro- nicipais de emprego. Destas apenas 6% do universo dos
cesso de desenvolvimento da agricultura. apenas 25 foram homolo-
beneficiários do Proger
Mesmo antes da concessão do crédito, 70,4% gadas e poucas se reú-
já pertenciam a alguma associação. As mais ci- nem. No Rio de Janeiro, Rural, as mulheres geraram
tadas são as cooperativas de produtores a Comissão Estadual de
maior número de novas
(48,2%) e os sindicatos (33,4%). Mais de 15% Emprego participa apenas
ocupam cargos de direção nessas entidades. da definição dos municípi- ocupações.
os prioritários integrantes
Garantindo o próprio futuro dos bolsões de pobreza
Os maiores problemas, na opinião de quem no estado. Os projetos encaminhados pe-
recebeu o crédito, são a instabilidade do los beneficiários aos agentes financeiros
mercado (39,5%), os custos de produção não sofrem interferência dessa comissão.
(37,9%) e os juros altos e a dificuldade de O Banco do Brasil é o único agente fi-
acesso ao crédito (37,3%). Como solução, nanceiro. Os ag ricultores interessados
63,3% apontam a necessidade de mudar as apresentam um plano simples ou projeto
condições do crédito. Apenas 8,9 % desejam elaborado por empresas credenciadas no
a criação de uma política diferenciada para o Banco do Brasil. O público-alvo do Proger
pequeno agricultor. Rural no estado do Rio de Janeiro coinci-
Para 53% o futuro é inseguro, ainda que de quase totalmente com o público do
42% desejem que seus filhos dêem continui- Pronaf (90% dos casos).
democracia viva

50
Proger Rural

negros ou pardos tendem a aumentar mais o


Clientela atípica número de ocupações. Os estabelecimentos
Não é fácil identificar o perfil do benefici- típicos da agricultura mecanizada (de 101 a
ário de sucesso no Proger Rural. Há poucas 500 hectares) geram mais ocupação, mas tam-
características comuns entre os que aumen- bém são os que mantêm menos empregos.
taram ou mantiveram a ocupação, ou expan- Quanto à renda, 39,5% conseguiram
diram a renda. O traço mais consistente aumentá-la. Sobressaem-se os jovens com
desse grupo é o fato de o Proger Rural ser menos de 29 anos e os que têm até o segun-
o primeiro crédito. do grau completo. Não fazem diferença da-
Em relação à ocupação, 26% a aumenta- dos como cor, sexo, área do estabelecimento,
ram e 65,6% a mantiveram. As mulheres, os associativismo, capacitação ou a intenção de
fazer novos negócios.

Proger Rural - Impactos


no total de ocupações

Ocupações % dos beneficiários do crédito

Aumentaram 26,0

Estáveis 65,6

Diminuíram 8,4

Total 100,0

Proger Rural - Impactos


na renda

Renda % dos beneficiários no crédito

Aumentaram 39,5

Estáveis 45,0

Diminuíram 15,5
edição especial 1999

Total 100,0

51
Mão única

Nacionalmente, o Pronaf destaca-se por ter o maior número de operações contratadas. Em


Goiás, esse lugar é ocupado pelo Proger Rural com o maior volume de recursos contratados
(R$ 122 495,20) e também o maior número de operações (9.974).

No estado, o programa é visto como uma linha de crédito rural tradicional. Trata-se de
uma relação única do beneficiário com o banco, sem o acompanhamento de nenhuma
instância pública. Na verdade, é entendido como uma linha de crédito do Banco do Brasil
dirigida a seus clientes.

São comuns o desrespeito ao limite máximo de área da propriedade, a não-residência dos


proprietários no local ou próximo a ele, e o fato de os beneficiários não terem a atividade
rural como principal.

Entre janeiro de 1995 e fevereiro de 1998 o programa atingiu 92 dos 242 municípios. Dados
mais recentes, porém, indicam que, na região sudoeste, 10 municípios somam 2.341 ope-
rações das 8.551 realizadas no estado de Goiás.

Essa concentração não é por acaso. Na região, são desenvolvidas atividades agropecuárias com
alta tecnologia, em propriedades de tamanho médio e com forte influência das agroindústrias.

No Paraná, também houve uma concentração dos recursos do Proger Rural. A área mais
beneficiada foi a região oeste, onde há uma grande incidência das culturas de milho, soja
e trigo. As cidades de Toledo e Cascavel tiveram as maiores participações nos financia-
mentos (acima de 10%), seguidas de Campo Mourão, Foz do Iguaçu e Pato Branco (entre
5% e 10%). O valor médio do financiamento no estado foi de R$ 7 122,90, variando de
R$ 52 981,85 em Campo Mourão a R$2 430,44 em Rio Negro.
democracia viva

52
Proger Rural

Fora de alcance
Nos estados pesquisados, apenas 1,1% dos
financiamentos está em assentamentos ru-
rais, quase todos pertencentes ao Incra (Ins-
tituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), beneficiando cerca de cem famíli-
as em cada uma das áreas.
Na Bahia, quase 80% das operações de
crédito do Proger Rural destinam-se a agri-
cultores que exploram a terra na condição de
proprietários. Historicamente excluídos do
crédito bancário, os arrendatários e posseiros
representam apenas 7,26% dos beneficiários.
É significativa a proporção de 11,5% de
imóveis financiados em assentamentos ru-
rais. O mesmo quadro se verifica em Minas
Gerais, onde 23,41% dos estabelecimentos
edição especial 1999

financiados são arrendados ou de posse.

53
Programa Nacional
de Fortalecimento
da Agricultura Familiar
Pronaf
O Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) foi criado em
1995, com o objetivo de aumentar a produção agrícola, a
geração de ocupações produtivas e a qualidade de vida dos
agricultores familiares. Através da concessão de linhas de
crédito especiais, beneficia um público que normalmente não
teria acesso ao setor bancário. O programa também cria con-
dições para melhor distribuição da renda no campo e busca
garantir a sobrevivência da agricultura familiar.
democracia viva

56
Pronaf

Além do crédito rural, o programa tam- blicas ou privadas de apoio ao desenvolvi-


bém prevê o financiamento da infra-estrutu- mento rural também podem ser beneficiadas,
ra no campo. Trata-se da linha de créditos desde que suas propostas estejam de acordo
do Pronaf Institucional. O objetivo, no caso, com as necessidades e características da agri-
é oferecer serviços que garantam o desen- cultura familiar.
volvimento em áreas em que predomina a
agricultura familiar. Assim, podem ser finan- Crédito rural
ciados itens como rede de energia elétrica, Na área específica de geração de emprego e
canal de irrigação, estradas, armazéns e renda, o Pronaf recebeu 44% dos recursos do
abatedouros comunitários, habitação rural e FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) até
escolas. A proposta é que o crédito individu- 1998. O Banco do Brasil foi o responsável,
alizado esteja em sintonia com as possibili- em âmbito nacional, pela operacionalização de
dades de inserção e sustentabilidade da 63,7% desses recursos. Já o BNDES, que atua
agricultura familiar. só nesse programa, contratou 27,7% do mes-
É preciso constituir o Conselho Muni- mo montante. Ao Banco do Nordeste coube
cipal de Desenvolvimento Rural (CMDR) o correspondente a 8,6% dos recursos. O va-
com representantes do poder público, dos lor médio de financiamento dos três agentes fi-
agricultores familiares nanceiros foi de R$ 3 325,00.
e de entidades parcei- Foram beneficiados pelo programa, des-
Receberam mais ras. Cabe ao conselho de sua criação até 1998, 958.995 agriculto-
recursos do Pronaf elaborar o Plano Muni- res familiares. Apenas cinco estados
cipal de Desenvolvi- concentram mais de 80% das aplicações do
estados em que há mento Rural, para a Pronaf, da ordem de R$ 1,028 milhão, de
uma integração com a obtenção de recursos 1995 a 1998. O Rio Grande do Sul é o
não-reembolsáveis do maior destaque, com 32,3% das aplicações
agroindústria e onde orçamento da União, realizadas, seguido pelos estados do Paraná,
historicamente inclusive para áreas com 15,7%; Minas Gerais, com 13,2%; San-
não contempladas pelo ta Catarina, com 12,2%; e Bahia com 7%
ocorrem lutas por Pronaf. Entidades pú- dos valores contratados.
melhores condições de
produção e renda
agrícola. edição especial 1999

57
O campeão

O Rio Grande do Sul, estado que mais recebeu recursos do Pronaf, é também o que está em
primeiro lugar no ranking nacional do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU.
Empatando com o Distrito Federal, sua classificação é de 0,869, enquanto que o índice do
país é de 0,809.

O setor de serviços representa mais da metade do PIB do estado. A indústria é responsável


por 35% e a agropecuária por 11%. A principal atividade agropecuária é a lavoura, com
destaque para a produção de grãos (arroz, soja, milho, trigo e feijão). A fruticultura e a cultura
do fumo também são segmentos importantes.

Cinco regiões – Alto Uruguai, Planalto, Noroeste, Vale do Taquari e Depressão Central – con-
seguiram efetivar 84% dos contratos do Pronaf e também do Proger Rural. Em todo a área
rural gaúcha, são essas as regiões de maior presença da agricultura familiar e dos movimentos
sociais organizados.

Pronaf - Alocação dos recursos por UF entre 1995 e 1998

UF Total (R$) % UF Total (R$) %

AC 118.961 - PB 42.148.275 1,3

AL 36.753.099 - PE 70.737.355 2,2

AM 1.870.588 1,2 PI 49.549.776 1,6

AP - - PR 499.748.770 15,7

BA 224.550.795 7,0 RJ 18.165.942 0,6

CE 53.744.260 1,7 RN 33.492.452 1,1

DF 1.845.252 0,1 RO 36.207.615 1,1

ES 58.714.249 1,8 RR 13.115 -

GO 38.684.850 1,2 RS 1.028.705.653 32,3

MA 37.004.575 1,2 SC 389.839.962 12,2

MG 421.624.374 13,2 SE 37.921.320 1,2

MS 24.645.644 0,8 SP 49.160.867 1,5

MT 16.536.312 0,5 TO 9.380.805 0,3

PA 7.710.915 0,2 Total 3.188.875.779 100,0


democracia viva

Fonte: Informe CGEM (fev/99)

58
Pronaf

Tamanho não é documento da na estrutura fundiária dos estados pes-


O Pronaf é o primeiro programa de gover- quisados (81,2%). As propriedades de 10
no que enfoca especificamente a questão da a 50 hectares, típicas da agricultura fami-
agricultura familiar. Foram pesquisados oito liar, detêm 57% dos financiamentos. É sig-
estados, que somados representam 73% dos nificativa também a participação dos
recursos alocados no Brasil até dezembro de beneficiários que têm até 10 hectares (31%).
1998. E aplicados 3.724 questionários em A maioria dos entrevistados possui um úni-
896 municípios da Bahia, Ceará, Goiás, Mi- co estabelecimento (79%) e são donos da
nas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio própria terra (77%).
Grande do Sul e Rondônia. O valor médio Em Minas Gerais, os proprietários de es-
do financiamento nesses estados foi de tabelecimentos com até 100 hectares res-
R$ 3 770,39, variando de R$ 5 743,70 pondem por metade ou mais da produção
em Rondônia a R$ 2 131,17 no Ceará. de banana, feijão, mandioca, tomate, milho,
O programa financiou prioritariamente batata, algodão, laranja, arroz e café. Os
áreas de até 50 hectares (88%). Trata-se de mesmos produtores detêm 68% do pessoal
uma proporção maior do que a encontra- ocupado na área rural mineira.

edição especial 1999

59
Pronaf - Área dos estabelecimentos
financiados na região pesquisada

Pronaf - Condição do
estabelecimento financiado
democracia viva

60
Pronaf

Falsa imagem e conflito

A ausência de planejamento na distribuição nacional dos recursos pode gerar conflitos que
prejudicam a imagem do Pronaf. O estado de Rondônia, mesmo com um significativo con-
tingente de agricultores familiares, recebeu apenas 0,59% das verbas do FAT aplicadas ao
programa pelo Banco do Brasil.

Em Rondônia, a propaganda oficial do Pronaf criou a falsa imagem de que os recursos eram in-
finitos. A expectativa de muitos agricultores era de que bastava ir ao banco para ter acesso ao
financiamento. Na prática, a operacionalização do programa ainda precisa de muitos ajustes.

Segundo representantes do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Jarú, das 8 mil


famílias de agricultores da região, apenas 350 foram contempladas. Os empréstimos foram
concedidos pela agência local do Banco do Brasil, principal agente financeiro do programa
no estado. De 1995 a 1998 foram realizadas 11.588 operações de crédito em Rondônia.

Outra constatação é a falta de informações nas agências locais do banco. Os beneficiários


em potencial queixam-se de que não conseguem saber quanto estará disponível para cada
linha de crédito.

A falta de recursos financeiros do Pronaf no estado é grave principalmente nas aplicações de


investimento. Uma das causas apontadas é a preferência dos bancos pelo crédito de custeio,
operações de curto prazo e com recuperação acelerada do capital. Além disso, têm sido
priorizados os produtores rurais que já são clientes bancários, mais estruturados e capazes
de oferecer garantias.

Em 1998, na Cidade de Ouro Preto D’Oeste, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais cadastrou
700 produtores interessados no programa. Entretanto, apenas 350 projetos puderam ser
inscritos. Revoltados, os agricultores ocuparam a agência local do Banco do Brasil e conse-
guiram aumentar o número de inscrições.

O conflito mostra que é imprescindível um mapeamento das necessidades dos municípios


e estados, levando em conta índices socioeconômicos, como nível de pobreza, e a existên-
cia de outras linhas de crédito.

edição especial 1999

61
Uma política de renda vés de crédito produtivo, pode estabilizar e
Nos estados pesquisados, o Pronaf gerou cer- fortalecer a agricultura familiar. Deve ser
ca de 211 mil novas ocupações, apesar de não visto mais como uma política de renda e não
ser esse o seu objetivo primordial. Os princi- de geração de novas ocupações.
pais beneficiados foram os trabalhadores tem- Por isso, o maior impacto do programa
porários (89%), alocados nas atividades de está na manutenção de 1.550 ocupações,
custeio agrícola. Minas Gerais detém o índice 4,84 em média por operação. Em Minas
mais alto de novas ocupações por operação, Gerais, essa média sobe para 7,31, já em
1,88, enquanto o mais baixo ficou para o Rio Goiás desce para 3,71.
Grande do Sul, 0,06 por operação. A média O financiamento necessário para ga-
dos oito estados foi de 0,58. O valor médio de rantir a estabilidade de uma ocupação no
financiamento necessário para cada nova ocu- Pronaf é também um dado significativo,
pação é de R$ 6 470, 81. Na Bahia está o pois corresponde a apenas R$ 775,24, ou
custo mais baixo, R$ 2 623,00, e no Rio Gran- seja, a metade do requerido no Proger Ru-
de do Sul, o mais alto, R$ 50 278,00. ral. Os números mostram que manter um
Sem dúvida, o aumento da ocupação não trabalhador ocupado no Ceará é três vezes
é o melhor indicador nesse caso. O Pronaf mais barato do que em Goiás (R$ 341,00
é, sobretudo, uma política pública que, atra- contra R$ 1 489,00).
democracia viva

62
Pronaf

Pronaf - Ocupação e financiamento


por unidade da federação

N° de ocupações Financiamento
Estado Número de ocupações por operação por ocupação (R$)
Antes Geradas Total Gerada Total / Mantida Gerada Total / Mantida

BA 201.852 43.016 244.868 1,14 6,49 2.623,00 460,76

CE 75.050 10.875 85.925 0,79 6,24 2.692,00 340,71

GO 17.768 1.678 19.446 0,32 3,71 17.254,00 1.488,84

MG 335.755 116.213 451.968 1,88 7,31 2.691,00 691,88

PR 239.946 24.514 264.460 0,40 4,32 12.098,00 1.121,42

RJ 11.175 1.505 12.680 0,64 5,39 7.625,00 904,97

RS 655.565 11.143 666.708 0,06 3,59 50.278,00 840,32

RO 15.275 2.357 17.632 0,75 5,61 6.465,00 864,26

Geral 1.552.386 2 1 1 . 3 0 1 1.763.687 0,58 4,84 6.470,81 775,24


edição especial 1999

63
Vergonha nacional tro caminho é a implantação de projetos do
A exploração infantil é uma realidade cruel tipo bolsa-escola. A adoção de uma renda
no cenário brasileiro. Mas a constatação de mínima para quem pouco tem pode ser uma
sua presença nos três programas de geração solução bastante eficaz.
de emprego e renda implementados pelo
governo choca tanto quanto os números en-
contrados na avaliação, feita de 1995 a 1998.
Uma única criança trabalhando, sem direito ao
estudo e, principalmente, à infância, deveria
ser o suficiente para mover sociedade e gover-
no em busca de mudança. No Proger, exis-
tem 500 menores de 14 anos que trabalham
para não-familiares. No Proger Rural, são 10
mil, e no Pronaf, 5 mil.
Entre os que trabalham com a família
sem oportunidade de estudo estão 48 mil
crianças, na faixa de 10 a 14 anos, no Proger
Rural, e 155 mil, no Pronaf.
A sociedade civil e o governo estão
diante de uma oportunidade única: mu-
dar o futuro do país, eliminando a ima-
gem de conivência com a exploração infantil.
As alternativas são simples e já foram apro-
vadas em experiências locais. A primeira me-
dida a ser tomada é condicionar o crédito ao
acesso à escola, impedindo que o trabalho
infantil seja financiado com o dinheiro pú-
blico. Considerando a situação de pobreza
em que vive a maioria dessas famílias, ou-

Pronaf - Menores que trabalham com a família

Trabalham Trabalham
Idade e estudam e não estudam Total

Até 10 anos 42 mil 76 mil 118 mil

De 10 a 14 anos 100 mil 155 mil 255 mil

De 14 a 18 anos 100 mil 700 mil 800 mil


democracia viva

64
Pronaf

Cor, sexo e oportunidade Assim como no Proger Rural, a partici-


O percentual de pessoas brancas beneficiadas pação feminina entre os beneficiários do
com o Pronaf (79%) é superior à população Pronaf é mínima (apenas 7%). A explica-
rural branca encontrada na região pesquisada. ção está no fato de os homens represen-
A exceção está no Rio Grande do Sul, onde tarem 88% dos chefes de família na área
os brancos chegam a rural dos oito estados pesquisados. Em
cerca de 85% no campo. geral, os tomadores de crédito têm mais
O Ministério da Política Apesar disso, o progra- de 40 anos (64%), não completaram o ensi-
ma foi o único entre os no fundamental (55%) e trabalham exclusiva-
Fundiária está criando
analisados que registrou mente no estabelecimento financiado (82%).
selos de qualidade para os a participação de ne- Entre as famílias, há uma divisão mais equi-
gros proporcionalmen- librada entre os sexos (53% são homens e
produtos de assentamentos
te maior, considerando 47%, mulheres), e verifica-se a predominância
rurais e da agricultura sua representação na de adultos com até 49 anos de idade (48%).
população rural local. São geralmente filhos (47%) ou cônjuge (21%)
familiar. Será preciso
Isso aconteceu nos esta- do beneficiário, que também trabalham exclu-
registrar o produto, dos da Bahia, do Ceará sivamente no empreendimento financiado (68%)
e de Rondônia. e não completaram o ensino fundamental.
respeitar a legislação
ambiental, cumprir a
legislação federal sobre o
trabalho infantil e as Pronaf - Cor declarada da população rural
exigências relacionadas à na área pesquisada e do beneficiário

segurança no trabalho.

edição especial 1999

65
Pronaf - Bahia
Cor declarada da população rural
e do beneficiário

Pronaf - Ceará
Cor declarada da população rural
e do beneficiário
democracia viva

66
Pronaf

As mulheres representam
apenas 7% do universo dos
beneficiários do Pronaf.
Entre os chefes de família
da área rural pesquisada
chegam a pouco
mais de 10%.
edição especial 1999

67
Pronaf - Rondônia
Cor declarada da população rural
e do beneficiário

Pronaf - Rio Grande do Sul


Cor declarada da população rural
e do beneficiário
democracia viva

68
Pronaf

Bom para a maioria dito anteriormente foram os que consegui-


Diferenças de cor, idade, sexo e o associa- ram estabilizar o número de ocupações do
tivismo não figuram como características estabelecimento (76% dos beneficiários).
determinantes do aumento da ocupação no Evidencia-se uma relação entre esses e a es-
Pronaf. Entre os que a aumentaram (18% tabilização da produção e da venda. Nesse
dos beneficiários) estão os de maior nível de grupo, não há registro de participação em
escolaridade; donos de terras maiores que a curso de treinamento.
típica propriedade de agricultura familiar; os Quase a metade dos agricultores familiares
que expandiram a área física do estabeleci- (44,4%) aumentou a renda depois do Pronaf.
mento; aqueles que desfrutam o primeiro Desses, 64% ou mais têm nível superior in-
crédito; e os que realizaram algum curso de completo e 88% ampliaram também a produ-
capacitação. ção e a venda. Não influenciam no aumento
Os agricultores familiares com áreas de da renda fatores como cor, sexo, idade, tama-
até 50 hectares; com nível de escolaridade nho da área, acesso ao primeiro crédito, capa-
mais baixo; e que já haviam conseguido cré- citação e associativismo.

Pronaf - Impactos
no total de ocupações

Ocupações % dos beneficiários do crédito

Aumentaram 18,2

Estáveis 76,6

Diminuíram 5,2

Total 100,0

Pronaf - Impactos
na renda

Renda % dos beneficiários do crédito

Aumentaram 44,4

Estáveis 40,3

Diminuíram 15,3
edição especial 1999

Total 100,0

69
Ação exemplar
As cooperativas de crédito representam um grande apoio para a implementação dos programas
de geração de emprego e renda. Segundo a pesquisa, a distribuição por estado dos contratos dos
três programas com esse tipo de associação foi a seguinte: Minas Gerais (33%), Bahia (24%),
Rio Grande do Sul (18%), Ceará (15%) e Paraná (10%). Entre os cooperados beneficiados pelo
Proger, 89% afirmam que de outra forma não teriam conseguido o crédito. O percentual cai para
59%, no caso do Pronaf, e para 55% entre os cooperados do Proger Rural.

No Paraná, o sistema Cresol Baser destaca-se no fortalecimento do Pronaf. Com 17 cooperati-


vas filiadas, trata-se de um sistema de crédito rural que promove a interação solidária entre os
agricultores e agricultoras para consolidar os interesses financeiros da agricultura familiar.

O sistema abrange 55 municípios e já se expandiu para os estados de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Começou a funcionar em 1996, e no ano seguinte já havia realizado 1.380 contratos atra-
vés do Pronaf. Dirigidas por agricultores e agricultoras familiares, as cooperativas têm autono-
mia administrativa e interagem através da Cresol Baser. Funcionam como meio de acesso,
canalização e desburocratização dos créditos rurais.

Em 1998, dos recursos aplicados pelo Pronaf através do Cresol Baser, a maior parte foi para o
custeio (89,1%), principalmente de milho, soja e feijão. Para o investimento restaram 10,9%, dis-
tribuídos em atividades agropecuárias diversas. Evidencia-se aqui a dificuldade que agricultores
menos capitalizados têm de acesso ao crédito de investimento.

As cooperativas de crédito realizam todo o processo necessário para o financiamento. Além da


projeção inicial de custeio, realizam orçamentos e elaboram projetos. A maior virtude desse sistema
está no fato de que as cooperativas facilitam o acesso dos agricultores ao crédito, dando mais
segurança se houver problemas com a safra.

O departamento técnico e de serviços cuida da bu-


rocracia. Outra vantagem é a não-exigência de
Proger, Proger Rural e Pronaf - compra de serviços bancários como seguro, cartões,
Contratos com cooperativas ou de aplicação de parte dos recursos de crédito.
Itens como a assistência técnica antes e depois do
crédito e o financiamento de produtos não são
menos importantes.

Até o momento, a iniciativa não tem se defrontado


com problemas comuns em outros sistemas de coo-
perativas. Não existe preferência por associados mais
estruturados na produção e comercialização. Também
não há obrigatoriedade de optar por um pacote de in-
sumos, dando liberdade ao agricultor de escolher um
sistema de produção adequado a sua realidade.

Os resultados do sistema Cresol Baser apontam o


cooperativismo de crédito como uma ferramenta
de viabilização do Pronaf. O maior desafio é a sus-
tentabilidade desse tipo de organização, levando-se
em conta a baixa capitalização e os gastos a que
está sujeita.
democracia viva

70
Pronaf

Novo público Dos outros 50%, a maior parte experimen-


Uma característica marcante no programa é tou alguma forma convencional de crédito
a concentração dos recursos para custear rural (67%), e já haviam conseguido em-
culturas agrícolas específicas, principalmen- préstimo anteriormente através do próprio
te fumo, soja e milho (80%). À pecuária e à Pronaf (14%) ou de cooperativas e associ-
agropecuária restou pouco: apenas 12% e ações (12%). O Proger Rural só atendeu a
5%, respectivamente. 5% desses beneficiados.
Ainda assim, os resultados demonstram O Pronaf significou uma das principais
que o programa abriu uma linha de crédito fontes de crédito para 81% dos entrevis-
para agricultores que, até então, não po- tados. A maior parte foi direcionada ao
diam usufruir de qualquer tipo de financia- custeio (72%), com a compra de adubos e
mento. Para a metade dos beneficiários, esse corretivos, agrotóxicos, herbicidas e se-
foi o único crédito recebido na década de 90. mentes, ou com o pagamento de serviços.

Pronaf - Aplicação do financiamento (em %)*

Média
Destino RO CE BA MG RJ PR RS GO (8 UFs)

Compra de adubos e corretivos 35 16 25 77 81 77 72 54 66

Compra de agrotóxicos 38 68 26 50 60 69 53 29 53

Compra de sementes 17 49 63 40 52 70 45 44 50

Compra de herbicidas 44 14 07 37 26 70 44 13 42

Pagamento de serviços 43 82 68 69 82 53 19 44 42

Instalações e benfeitorias 47 06 17 15 13 11 15 23 14

Maq./equip./implementos 11 09 06 10 07 12 18 10 14

Compra de animais 44 06 16 15 09 05 07 31 10

Culturas perenes 34 12 11 29 10 08 02 08 10

Comercialização 03 04 02 07 20 02 00 05 02

Moradia 08 01 01 04 06 01 01 03 02

Compra de terra 02 00 01 01 00 03 00 01 01
edição especial 1999

Outros 06 19 20 13 17 06 07 08 10
* Resposta múltipla

71
Agricultura familiar e a agroindústria

A utilização de recursos do Pronaf pela agroindústria é uma realidade constatada pela pes-
quisa. A cultura do fumo absorveu 32% do total de recursos disponíveis para o custeio no
programa. Além do Rio Grande do Sul, onde o fumo absorveu sozinho 46% do crédito de
custeio, a atividade também está presente em Santa Catarina e no Paraná.

Nesses estados, há uma forte integração dos produtores agrícolas com a indústria do fumo.
A cultura do fumo é feita em áreas pequenas, mas sua demanda de força de trabalho é grande.
Para os agricultores familiares, ocupa um lugar importante no sistema de produção.

A garantia de custeio da produção e de comercialização da safra, o tabelamento do preço,


o pagamento do frete e a própria tradição regional são algumas das razões que explicam
esse quadro de integração entre colonos e indústria.

A agroindústria tem sido a única a decidir sobre o processo de produção do fumo no Sul
do país. Fornece os insumos, a assistência técnica, o crédito, as sementes, e também se
responsabiliza pela determinação do preço e pela classificação e compra do produto. Age,
ainda, como facilitadora para obtenção do crédito bancário. Ao produtor, resta seguir as
normas estabelecidas.

As operações de crédito do Pronaf não são conhecidas da maior parte dos agricultores.
Eles não recebem cópia do contrato de empréstimo, e somente o agente financeiro e a
indústria sabem qual o valor creditado em nome de cada fumicultor e para que se des-
tina o valor total financiado. Isso só é possível porque, através de uma declaração, o
produtor autoriza a empresa a encaminhar em seu nome o pedido de crédito. Também
repassa à Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil) o direito de representá-lo pe-
rante os bancos. Até o momento, as tentativas de sindicatos para tornar a operação mais
transparente não surtiram efeito.

Em geral, não há dificuldade para as empresas na obtenção do crédito. Como elas se en-
carregam da parte burocrática e oferecem garantia de pagamento e reciprocidade, para os
agentes financeiros o custo operacional é baixo, e o risco, inexistente.

O fato é que acabam beneficiadas com linhas de crédito subsidiadas que, ao financiarem o
agricultor integrado, servem como capital de giro da agroindústria. Os recursos do Pronaf
estão, assim, permitindo a manutenção de relações econômicas e sociais já tradicionais na
cadeia produtiva do fumo. Passam distantes da meta de impulsionar um processo de desen-
volvimento rural na região e do fortalecimento da própria agricultura familiar.

Ainda que alguns objetivos do programa estejam sendo cumpridos, como impedir o aumento
do êxodo rural e estimular a presença de pequenos agricultores no campo, é preciso cuida-
do para analisar essa situação. Entre as safras de 93/94 e 97/98, o setor agroindustrial do
fumo reduziu em cerca de 24% o número de trabalhadores efetivos. O fumo ainda hoje
envolve em torno de 74 mil famílias no Rio Grande do Sul, mas recentemente houve uma redução
de quase 2 mil trabalhadores. Há um evidente processo de concentração e seletividade dos
agricultores, já típico na avicultura e na suinocultura.

O desmatamento de grandes áreas no Sul do país para secagem do fumo também causa
preocupação. Com a exigência de reflorestamento, a agroindústria vem pressionando para
que a legislação ambiental seja flexibilizada. A justificativa é que com isso a produção seria
inviabilizada. Grave ainda é o enorme uso de agrotóxicos de alta toxidade na lavoura do fumo.
democracia viva

72
Pronaf

O fumicultor típico da Região


Sul tem uma propriedade
de até 20 hectares, cultiva em
torno de 1,8 hectares com fumo
e conta com o trabalho de pelo
menos três pessoas da família.
Além do fumo, costuma plantar
feijão e milho, e tem uma
pequena criação produzindo
leite, suínos e aves voltada
para o autoconsumo e a venda
de excedentes.

edição especial 1999

73
De olho no amanhã Como um resultado direto da boa pene-
Assim como no Proger e no Proger Rural, tração do Pronaf entre os agricultores, 75%
as principais reclamações do público no pretendem fazer outros financiamentos
Pronaf também foram a burocracia e a de- no futuro, principal-
mora na liberação dos recursos do emprés- mente para aplicar em
timo, principalmente nos casos de operações benfeitorias na produ- A maior parte dos
para financiar custeio. A exigência de garan- ção agrícola e pecuária
beneficiários contou com a
tias por parte dos agentes financiadores foi ou na compra de má-
outra dificuldade apontada. Chama a aten- quinas e implementos. Emater (Empresa de
ção, porém, o fato de a maioria dos benefi- Pelo menos a metade
Assistência Técnica e
ciários não ter encontrado nenhum entrave desses ficaria satisfeita
nesse sentido (73%). em conseguir um novo Extensão Rural), tanto
Outro ponto comum foi em relação ao empréstimo em torno
para obter informações
conhecimento do programa – 82% afirmaram de R$ 3 mil, um valor
não ter dúvidas sobre as condições do crédi- baixo mesmo para a sobre o programa (47%)
to e pagaram suas parcelas em dia (69%). agricultura familiar.
como para a elaboração de
projetos (51%).

Pronaf - Investimentos
futuros*

* Resposta múltipla
democracia viva

74
Pronaf

Saídas contra o desgaste

No Ceará, o número de solicitações rejeitadas pelos agentes financeiros do Pronaf foi muito
elevado. Em 1997, a Ematerce ( Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural)) elaborou
11.901 propostas de financiamento, das quais apenas 4.885 (41%) foram contratadas. Em
1998, a aprovação foi um pouco maior – 3.381 (54,8%) dos 6.165 planos. O resultado foi
um grande desgaste da instituição e do programa.

Alguns dos atores envolvidos nesse processo indicam que a seca pode ter influenciado ín-
dices tão elevados de reprovação. Explicam que a maioria dos projetos era de custeio de
lavoura, com improvável sucesso em períodos de estiagem. A justificativa, no entanto, não
esclarece por que foram recusados os pedidos de investimento.

Apesar disso, surgem exemplos bem-sucedidos. Em algumas agências, os gerentes usam de


transparência administrativa para evitar a insatisfação. Eles informam aos escritórios de pro-
jetos e à Ematerce o volume de recursos para cada uma das linhas de crédito. Também os
convidam para uma reunião onde se define o teto máximo com que podem contar.

Com medidas simples, garantem que as propostas elaboradas estejam de acordo com os
recursos disponíveis e com a capacidade de atendimento das agências bancárias. Evitam o
desperdício na elaboração de propostas que não têm possibilidades reais de contratação.

Propostas elaboradas
pela Ematerce Aprovadas

1997 11.901 4.885

1998 6.165 3.381

edição especial 1999

75
Parceria organizada a documentação. Em contrapartida, pediu
Na área pesquisada, algo que reforça a di- uma contribuição de 1% sobre cada emprés-
mensão participativa do programa é o fato timo. O banco, por sua vez, não cobrou taxa
de 67% dos seus beneficiários terem ligação de abertura de conta e nem de cadastro.
com organizações de classe. Na maioria dos Em Arroio do Meio, a atuação do MPA
casos, o sindicato é a entidade mais citada. foi decisiva na liberação de empréstimos em
Na Região Sul, a funcionalidade do pro- grupo para custeio e investimento, benefici-
grama está diretamente relacionada à presen- ando 2 mil agricultores familiares.
ça da agroindústria e dos movimentos Na Bahia, as organizações rurais, associa-
sociais que lutaram pela criação do Pronaf. ções, cooperativas e sindicatos foram respon-
Nas regiões, há uma forte atuação da Fetag sáveis, em grande parte, pela divulgação do
(Federação dos Trabalhadores na Agricultura), programa. As principais iniciativas, no entan-
da CUT Rural (Central Única dos Trabalha- to, são as que visam à concessão de créditos
dores), do MPA (Movimento dos Pequenos coletivos. A Fetag organizou encontros em
Agricultores) e do MST (Movimento dos todo o estado para incentivar a participação
Trabalhadores Rurais Sem-Terra). dos sindicatos rurais na reivindicação do cré-
Nos municípios gaúchos de Ijuí, Getúlio dito. Os resultados dessa atuação variaram des-
Vargas e Arroio do Meio, parcerias entre os de a ocupação e fechamento de agências
sindicatos de trabalhadores rurais e os ban- bancárias até a completa indiferença.
cos facilitaram o acesso do pequeno agricul- As organizações locais, mesmo com tí-
tor ao crédito, mesmo os mais pobres. O mida atuação, foram as que mais se forta-
principal parceiro foi o Banco do Brasil. leceram com o Pronaf. O número de
Em Ijuí, o banco colocou um funcioná- sócios aumentou em 34%. É lamentável a
rio à disposição do sindicato para elaborar as quase total desvinculação do Pronaf Ins-
propostas de contrato. Em Getúlio Vargas, titucional da linha de crédito de geração de
essa parceria também reduziu a burocracia. emprego e renda. Um deveria completar
O sindicato ficou responsável pelo preenchi- o que o outro faz. Essa desvinculação só
mento das propostas e recolhimento de toda fragiliza o programa.
democracia viva

76
Pronaf

Em busca da cidadania

A cada estiagem no semi-árido brasileiro, milhares de nordestinos seguem para as regiões me-
tropolitanas de todo o país. Procuram emprego e oportunidade de uma vida melhor. A cena
de paus-de-arara cruzando as estradas nacionais é velha conhecida. No Nordeste, quando che-
ga a seca, parte o homem. Famílias são divididas e destruídas. As viúvas da seca e seus filhos
pequenos são as testemunhas de uma histórica realidade brasileira.

Os programas de geração de emprego e renda têm sido fundamentais para mudar o desti-
no desses cidadãos. Na Bahia, os recursos do Pronaf contribuíram para que 95,7% dos
beneficiários continuassem na condição de empreendedor rural. Mais de 80% afirmaram que
nenhum dos seus familiares precisou trabalhar fora, e quase 60% garantiram que o Pronaf
evitou o êxodo rural. No Ceará, apenas 14% dos beneficiários tiveram familiares que deixa-
ram o estabelecimento.

edição especial 1999

77
ANÚNCIO
REVISTA EDUCAÇÃO
democracia viva

78
Limites e potencialidades

Limites e
potencialidades
O s resultados de uma pesquisa têm mais valor quando, além de
um diagnóstico, são capazes de propor alternativas. A avaliação dos
três programas de geração de emprego e renda nos oito estados –
Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul e Rondônia – e na Região Metropolitana de São Pau-
lo tem esse propósito.

O estudo aponta os entraves que impedem um resultado melhor


e as sugestões para maximizar os objetivos dos programas. Muitas
vezes, soluções encontradas e divididas por poucos podem servir de
exemplo para todo o país. Da mesma forma, conhecer os obstácu-
edição especial 1999

los para implementação dessa política pode ajudar a aperfeiçoá-la.

79
Os programas de geração de emprego e Perfil do beneficiário
renda ainda são recentes para um julgamen- Em geral, os tomadores de empréstimos
to definitivo. Sem dúvida, o Proger e o do Proger não refletem as características
Pronaf são capazes de enfrentar o desem- da população local em que se inserem.
prego, o subemprego ou a ocupação precá- Em relação à cor, os
ria, fortalecendo as condições de inserção beneficiários se dife-
econômica dos que têm alguma potencialida- renciam da população Mantendo-se permeáveis à
de. São programas de combate à pobreza urbana em toda a área
e à exclusão, na medida em que buscam vi- pesquisada. No progra- participação que
abilizar grupos e setores fragilizados ou ma, a maioria se decla- lhes é intrínseca, o Proger
ainda não consolidados. Já o Proger Rural ra de cor branca e um
apresenta vícios de origem e de operacio- menor número, de cor e o Pronaf podem ocupar
nalização. Assim, sua avaliação como par- preta ou parda. Distribu- um lugar específico e
te da política de geração de emprego e ídos por classe de consu-
renda não é favorável. mo, também apresentam fundamental como
políticas públicas
nacionais.
democracia viva

80
Limites e potencialidades

estrutura oposta a do conjunto. Nos níveis Emprego versus ocupação


de escolaridade, a assimetria constatada é O resultado quanto às ocupações novas (2,02)
ainda mais clara. e mantidas (5,62) por operação são indicativos
Os beneficiários do Proger Rural se di- de que o Proger é eficaz. O financiamento
ferenciam do restante da população rural médio necessário para gerar uma nova ocu-
quanto à cor declarada e à escolaridade. pação foi de R$7 083,33, enquanto que para
Mas o que chama a atenção é o tamanho manter foram necessários R$2 548,17. São
dos estabelecimentos financiados. Os bene- parâmetros médios que qualificam positiva-
ficiários estabelecidos em áreas entre 20 e mente o programa.
100 hectares representam 57,7% do total. Sobre a qualidade das ocupações gera-
Dos programas avaliados, o Pronaf é o das pelo Proger, é preciso destacar aspectos
que tem o público mais homogêneo e bem positivos e negativos. Houve um crescimen-
definido. Aproximadamente dois terços dos to do grupo de assalariados com carteira as-
beneficiários podem ser caracterizados como sinada (40,2%), com direitos trabalhistas e
integrantes de uma agricultura familiar em certa sustentabilidade. Os mais beneficiados
processo de consolidação, e um terço como pela geração de ocupações foram os de me-
agricultores mais fragilizados. A pesquisa nor nível salarial e escolaridade, revelando
mostra uma correlação entre os benefici- que essas foram destinadas principalmente
ários estabelecidos em áreas de até 50 aos pobres, o público que de fato o progra-
hectares (88%) e o tamanho do grupo na ma visa atingir.
estrutura agrícola dos estados avaliados, Apesar desse quadro altamente positi-
onde a mesma faixa re- vo, é necessário resolver a exploração do
presenta 81,2% do to- trabalho infantil, ainda que residual, e da
tal. A discrepância fica remuneração abaixo do mínimo legal. Re-
A erradicação do trabalho por conta da cor decla- comenda-se que o Proger adote condicio-
infantil é uma questão rada. O número de be- nalidades sociais na concessão do crédito,
neficiários com cor tais como sua vinculação à não-exploração
fundamental para o branca é maior do que do trabalho infantil, à obrigatoriedade da
Ministério do Trabalho e os existentes na popu- freqüência escolar para os filhos dos bene-
lação total, à exceção ficiários e de pagamento de salário mínimo
Emprego e para as da Região Sul. aos trabalhadores.
Secretarias do Trabalho.
edição especial 1999

81
No Proger Rural o impacto é insignifi- Na questão da ocupação, o dado lamen-
cante em termos de novas ocupações. Uma tável e inaceitável para uma política pública
alternativa seria incorporar as condições de emprego e renda é a presença do traba-
operacionais do Pronaf, estabelecendo faixas lho infantil entre os tomadores de crédito do
diferenciadas de custos e prazos, ampliando Pronaf. Trata-se de crianças com menos de
o número de beneficiários potenciais com 14 anos e fora da escola. Nesta condição
acesso ao crédito. Mas deve ser levada em estão 246 mil crianças familiares e 5 mil
conta a capacidade do Proger Rural de man- não-familiares trabalhando nos estabeleci-
ter ocupações. O programa atuou positiva- mentos de beneficiários do Pronaf. A estas
mente ampliando a quantidade de dias somam-se cerca de 700 mil adolescentes e
trabalhados dos assalariados temporários. O jovens familiares, na faixa de 14 a 18 anos,
aspecto negativo e inadmissível, em se tra- que trabalham e não mais estudam. Mais
tando de beneficiários de política pública, é uma vez, cabe aos gestores criar condiciona-
a presença significativa de trabalho infantil lidades firmes no sentido de transformar o
(menores de 14 anos), tanto de familiares crédito concedido em um instrumento com
quanto de fora do estabelecimento, embora efeitos similares à bolsa-escola.
esta em menor proporção.
O maior impacto do Pronaf como polí-
tica pública de emprego e renda está na sua
capacidade de preservar e manter ocupações
na área rural. Foi encontrada uma relação de
4,84 ocupações mantidas por operação, com
um financiamento médio necessário de ape-
nas R$ 775,24 por ocupação mantida. É um
resultado muito significativo. Além disso,
foram geradas 0,58 novas ocupações por
operação, com um financiamento médio de
R$ 6 470,81 por ocupação gerada.
democracia viva

82
Limites e potencialidades

Acesso ao crédito gestão do crédito não podem ser repassadas


O Proger funcionou como política de demo- a entidades da sociedade civil, que não de-
cratização de crédito produtivo, pois 78% têm capacidade financeira e operacional,
dos beneficiários pela primeira vez obtive- própria dos agentes públicos.
ram crédito bancário. Além disso, quase a Um dos impactos do Pronaf é o fato de
metade dos beneficiários promoveu novos que 50% dos beneficiários desfrutaram do
estabelecimentos com o financiamento obti- primeiro crédito. A proporção aumenta para
do. É fato que o programa vem ocupando um 57% se forem somados a estes os que já ti-
lugar de destaque como política pública e está nham tido crédito, mas do próprio Pronaf. É
cumprindo importante preciso destacar a inexistência de dificulda-
função. Ainda assim, é des no acesso ao programa para dois terços
É séria a constatação de necessário que se criem dos beneficiários.
que 44,4% dos ações de apoio às micro
e pequenas empresas, Na fila do caixa
beneficiários do Proger for mais e infor mais, Os agentes financeiros envolvidos com
admitiram ter atrasado que apresentem potenci- o Pronaf, no geral, ainda não conseguiram
alidades de consolidação. absorver a lógica do programa, limitando-
pagamentos de parcelas do As atividades finan- se a executá-lo dentro de uma perspectiva
crédito. Simplesmente ciadas pelo Proger são de retorno garantido e rentabilidade fi-
basicamente de comér- nanceira. As exigências de garantias e re-
interrompê-lo não pode ser cio e serviços. Porém a ciprocidades, bem como o desinteresse
a melhor solução. pecuária e a agricultura por contratos de pequeno valor (com cus-
representam em torno to mais elevado), acabam criando entra-
A questão requer melhor de 30% do total das ves ao seu desenvolvimento. Provocam,
avaliação de todos os operações na Bahia, Ce- com isso, a exclusão de agricultores famili-
ará e região norte de ares que não podem reivindicar o crédito
agentes envolvidos na Minas, onde atua o Ban- em formas convencionais. Recomenda-se,
gestão do programa. co do Nordeste. O me- por isso, que sejam disseminadas as experi-
lhor a ser feito é acabar ências exitosas, como as dos fundos de aval
com o financiamento municipais, o maior envolvimento dos sindi-
rural pelo programa ou adaptá-lo às condi- catos de trabalhadores rurais e as coopera-
ções rurais, integrando também o Banco do tivas de crédito solidário como garantias
Brasil nesse tipo de operação. para os bancos dos empréstimos concedidos.
É preciso adaptar o Proger à realidade Uma questão crucial para a continuida-
das áreas metropolitanas, onde seu desempe- de e o desenvolvimento do Proger é o
nho tem sido fraco. A experiência de agên- modo como os beneficiários se relacionam
cias especializadas não está resolvendo o com os agentes financeiros. Sem normas
problema, dada à complexidade econômica, operacionais claras e, sobretudo, sem atua-
política e cultural das metrópoles. É indis- ção em parceria com os governos, comis-
pensável garantir a participação social, sões e diferentes atores locais, o potencial
direcionando o programa às características público do programa vira somente uma fra-
edição especial 1999

do tecido institucional das grandes cidades ção dos tradicionais clientes dos bancos. Há
brasileiras. Porém, as responsabilidades da uma necessidade de formatação de normas

83
bancárias que se adeqüem à realização de No Pronaf, há uma concentração de con-
operações de crédito de menor valor que as tratos e de recursos no Sul do país que não
usuais do sistema bancário. Como uma po- reflete a distribuição da agricultura familiar
lítica pública, o Proger deve ser gerido na brasileira. Ficam de fora camadas da socieda-
busca do maior interesse público, diferenci- de menos consolidadas e integradas ao merca-
ado das tradicionais linhas de crédito para do, que deveriam ser o público prioritário do
clientes. Recomenda-se a procura de formas programa. Essa concentração é explicada, em
inovadoras e mais solidárias de garantias, parte, pela atuação de organizações e movi-
com o envolvimento dos beneficiários. mentos de agricultores familiares na região, his-
toricamente envolvidos na luta por melhores
Fatias generosas condições de produção e renda agrícola.
A distribuição estadual dos recursos do FAT Essa concentração também se verifica
destinados ao Proger não obedece a critéri- em alguns poucos produtos agrícolas, como
os demográficos ou socioeconômicos. É fumo, soja, milho e trigo, privilegiando o
principalmente a organização dos atores lo- setor mais rentável da agricultura familiar.
cais que determina a dinâmica do programas, Nesse quadro, a agroin-
interferindo na quantidade de operações de dústria aparece como
crédito e no perfil dos beneficiários. Estimu- intermediária, oferecen-
lar essa participação social é uma das gran- do melhores garantias
O desempenho do Proger
des potencialidades do Proger, indispensável em troca do acesso ao seria melhor se houvesse
para sua continuidade. crédito rápido e com
A distribuição de recursos no Proger m e n o r c u s t o. É u m
normas e juros
Rural reflete uma situação prévia ao pro- grave problema que diferenciados para a
grama, a utilização do tradicional crédito pode ser enfrentado
agrícola. Aqui, os recursos do FAT sim- com o estabelecimento
economia informal e para
plesmente ocupam a lacuna criada com a de critérios na conces- as micro e pequenas
crise do crédito rural. Assim, o programa são do crédito por re-
não é uma novidade, de conteúdo ou de gião e produto. Assim,
empresas. Não se pode
forma. Complica a própria política públi- impede-se que os re- atender da mesma
ca de emprego e renda adotada recente- cursos sejam distribuí-
mente no Brasil, em especial a sua dos de acordo com os
maneira os que querem
identidade diante de outras políticas. Pau- interesses imediatos estabilizar a própria
latinamente e desde que restaurado o tra- dos agentes financei-
dicional crédito agrícola, o ideal é ros, mas sim em sinto-
ocupação e de familiares e
transferir os recursos do FAT alocados no nia com os objetivos os que geram empregos.
Proger Rural para o Pronaf. maiores do Pronaf.
São duas situações opostas,
estratégias que não podem
continuar sendo avaliadas
do mesmo modo.
democracia viva

84
Limites e potencialidades

A cultura do fumo

Para os agricultores familiares a integração com a agroindústria pode ser um caminho de for-
talecimento e sustentabilidade. Mas eles não podem ser tratados como subordinados à
agroindústria, como no caso do fumo. Além dos riscos ambientais e de saúde relacionados
ao fumo, outro problema é o volume considerável de recursos do Pronaf que acaba finan-
ciando esse tipo de produção. Em dois dos estados analisados (Rio Grande do Sul e Paraná),
a fumicultura absorve aproximadamente um terço das operações e dos recursos. Grande parte
dos benefícios dessa situação é apropriada diretamente pela indústria e não pelos agricultores.

Ao invés de fortalecer os agricultores familiares, dando-lhes inclusive a possibilidade de buscar


produtos alternativos, o crédito do Pronaf, via indústria do fumo, aprofunda a dependência.
Trata-se de um sério desvirtuamento dos objetivos do programa. Provavelmente o conjunto
de indicadores de avaliação aqui usados seriam outros, e melhores, não fosse o efeito
perturbador trazido por essa questão.

Propõe-se uma revisão completa da prática adotada na cultura do fumo. É preciso impedir
que uma política pública de crédito para o fortalecimento da agricultura familiar acabe
utilizada para fortalecer o domínio da indústria sobre os produtores.

edição especial 1999

85
Participação Esse aspecto, assim como a inserção dos
Dos três programas, o Proger Rural é o me- projetos em cadeias produtivas – só alcançá-
nos visível, com baixo ou nenhum acompa- vel com um plano de desenvolvimento local
nhamento da sociedade. Previstos na bem articulado –, é tão importante quanto o
concepção original do programa, o conselho projeto em si.
federal e as comissões estaduais e munici-
pais sequer foram instalados. É possível Crédito e investimento
suprir essa lacuna na gestão institucional do O Pronaf é ainda dominantemente um cré-
programa, através das instâncias colegiadas dito de custeio, atendendo a uma demanda
em atuação no Pronaf. essencial de financiamento de safra que não
Em muitas situações avaliadas, há fragilida- encontra outras vias de satisfação. Na prá-
de institucional e debilidade das equipes esta- tica, o programa ainda não cumpre satisfa-
duais e das comissões municipais e estaduais toriamente aquela que deve ser a sua
de emprego. Além da adequada prioridade função principal. Oferecer crédito de inves-
política que precisa ser dada a essas instân- timento para capitalizar a agricultura fami-
cias, a capacitação de seus membros é tam- liar, tornando-a rentável, sustentável e,
bém imprescindível. Nesse campo, é mesmo, competitiva é uma meta ainda não
inadmissível qualquer postura paternalista cumprida. Assim, o crédito para investimento
ou assistencialista por parte dos gestores es- deve ser priorizado, e o acréscimo de novos
taduais dos programas. recursos dentro do programa deverá estar vol-
A gestão descentralizada e participativa tado para essa finalidade.
dos programas é condição fundamental para É importante também
o sucesso dessas políticas públicas. Os me- que o crédito individualiza-
lhores desempenhos ocorrem quando há do, de custeio ou investi- Um indicador de
uma interrelação dos programas com o te- mento, esteja em sintonia
cido de organizações e os movimentos lo- com as possibilidades de in-
impacto positivo do
cais. Os programas precisam ser apropriados serção e desenvolvimento Pronaf é a elevação da
pelas organizações locais, como sendo seus, sustentável da agricultura
de alguma forma, trazendo as instituições par- familiar. O que se constatou
produção, das vendas e
ceiras para uma atuação articulada. Por isso, nesta pesquisa foi uma da renda depois
ressalta-se que os gestores públicos sejam in- enorme desvinculação en-
transigentes quanto ao princípio participativo, tre Pronaf Crédito e Pronaf
do crédito, com
atraindo os parceiros para ação conjunta. Institucional, como se os significativo
É preciso que essa participação resulte na dois não tivessem o mesmo
definição de prioridades para o desenvolvi- objetivo. Vale lembrar que
reconhecimento dos
mento local, orientando a aplicação dos cré- esta última modalidade do beneficiários quanto à
ditos em projetos específicos. A garantia de programa possibilita financi-
sucesso dos programas não depende só do ar a infra-estrutura rural, in-
responsabilidade do
bom projeto individual apresentado e apro- cluindo-se aí eletrificação, programa nesses
vado pelos agentes financeiros, mas da den- apoio à comercialização, en-
sidade econômica que são capazes de criar. tre outros itens.
resultados.
democracia viva

86
Limites e potencialidades

Treinamento, uma prioridade pendentemente da aprovação. É necessário


Para suprir a quase inexistente capacitação no também que o responsável por essa elabo-
Proger recomenda-se uma condicionalidade: só ração se comprometa com o acompanha-
terá direito ao crédito quem previamente re- mento regular dos projetos, garantindo a
ceber treinamento ou atestar habilidade es- qualidade técnica das iniciativas.
pecífica para o negócio. Essa proposta Apesar de pouco freqüente, a capacita-
depende da articulação entre o Ministério ção tem relação positiva com os indicadores
do Trabalho e Emprego, as comissões esta- de impacto analisados no Pronaf. Por isso,
duais de emprego, o Planfor e o próprio precisa ser incorporada como uma priorida-
Proger. O acompanhamento dos projetos de antes e depois da concessão do financi-
deve ser repensado, da elaboração à conclu- amento. A Emater deve ser fortalecida com
são. Propõe-se que sejam modificados o va- maior dotação orçamentária para cumprir
lor e a forma de remuneração das entidades esse papel, ou devem-se buscar outras orga-
que elaboram os projetos. A prática de re- nizações locais capazes de fazê-lo. A capacita-
munerar em 2% do valor do financiamen- ção deve ser pensada também como um meio
to somente os projetos aprovados deve ser para a disseminação de técnicas que favore-
substituída pela fixação de um valor, inde- çam e propiciem a preservação ambiental.
edição especial 1999

87
Os resultados encontrados
nesta avaliação, bons e ruins,
não podem ser atribuídos
somente aos programas avaliados.
A intervenção pública através de
uma política específica não pode
ser desligada do processo macro-
econômico. A política de
estabilização, assim como seu
impacto no emprego urbano e
rural, é algo a ser considerado.
democracia viva

88
O passo a passo da avaliação

O passo
a passo
da avaliação
P ara realizar este projeto de avaliação de políticas públicas, con-
tratado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Conselho
Deliberativo do FAT, o Ibase decidiu trabalhar em rede, em vez
de ampliar sua estrutura interna. Isso envolveu parceiros em
diferentes regiões. O instituto formulou e negociou o projeto, fixou
os parâmetros de execução, controlou o desenvolvimento e garantiu
a qualidade final. Na execução, dividiu o trabalho com parceiros de
outras ações que realiza. Fizeram parte dessa rede pessoas que têm
uma contribuição a dar pelo conhecimento do tema analisado, dos
atores envolvidos e da área em que atuam. Para montar a rede, a
referência para o instituto foram ONGs parceiras e seus profissio-
nais, acadêmicos ou autônomos que com elas se relacionam.

edição especial 1999

89
N a avaliação do Proger, Proger Rural e que aplicaram os questionários. Também se
Pronaf, o Ibase montou uma extensa rede agregaram à rede estagiários universitários e
com gerentes locais em todos os estados pes- digitadores, sob a supervisão de uma técni-
quisados. Além dos coordenadores, no Rio ca de processamento. Ao todo, a rede envol-
de Janeiro, contou também com superviso- veu mais de 700 pessoas.
res, técnicos de processamento de dados, A estratégia garantiu a realização dos tra-
um consultor estatístico e secretárias. Esse balhos e o cumprimento do cronograma do
grupo constituiu o que se pode chamar de contrato. Mas qualificou também a própria
nodos da rede. No Rio de Janeiro, foram avaliação, na medida em que permitiu que
realizados um seminário geral de toda a fosse imediatamente apropriada por profissi-
equipe e outros com representantes dos onais e instituições com interesses estratégicos
estados e da Região Metropolitana de São na política de geração de emprego e renda.
Paulo. A finalidade foi definir um padrão Para o Ibase fica ainda a experiência adqui-
homogêneo de atuação da rede, além de rida, além das parcerias e alianças reforçadas e da
servir como estímulo ao trabalho. certeza de que esse é o caminho para avançar no
Em torno dos nodos giraram técnicos da monitoramento e avaliação de políticas públi-
Emater nos estados e pequenos grupos locais cas, de forma transparente e conseqüente.

Cronograma Contrato 09/04/98


09/05 09/07
da avaliação
MÊS ABR MAI JUN JUL AGO
1 Mobilizações preliminares
Seminário inicial
Programação geral detalhada (1)

2 Levantamento de informações
Descrição dos programas
Recursos alocados
Contexto socioeconômico

3 Consolidação dos meios pesquisados


Ajustes de questionários e roteiros
Contratação de entrevistadores

4 Definição da amostra

5 Relatório sobre a abordagem geral (2)

6 Aplicação dos questionários

7 Entrevistas com outros atores

8 Relatório sobre o andamento da avaliação (5)

9 Processamento de dados

10 Seminário sobre resultados

11 Relatório final

12 Relatório geral
democracia viva

(1) Programação detalhada dos estudos; (2) GO + RJ + RO; (3) BA + CE + MG + PR + RS; (4) RMSP; (5) 1º relatório;
(6) 2º relatório; (7) RO; (8) CE; (9) BA + GO + MG + PR + RJ + RS + RO + RMSP; (10) conjunto das 8 UFs + RMSP

90
O passo a passo da avaliação

Encontros valiosos Da reunião geral - a cada 45 dias - parti-


O gerenciamento, a supervisão e as coordena- cipavam os coordenadores geral e técnico, su-
ções técnica e geral dos trabalhos se efetiva- pervisores, e profissionais de processamento
ram observando rotinas e procedimentos de dados e de apoio. O objetivo era avaliar,
sistemáticos. Nos diversos estados, além das em conjunto, o andamento dos estudos e acer-
tarefas específicas, os gerentes locais realiza- tar orientações e procedimentos comuns.
vam reuniões resolver questões comuns. Esta- Ao final da apuração, ou nas etapas
vam também em permanente contato com os cruciais da avaliação por estado, foram or-
supervisores no Rio de Janeiro. ganizados, no Rio de Janeiro, seminários
A cada dois meses, os supervisores visi- por unidade da federação. Dessa forma,
tavam os estados para orientar os gerentes garantiu-se a discussão sobre aspectos rele-
locais, fazer entrevistas e contato com ou- vantes, assim como a coerência entre os
tros atores relevantes e acompanhar a apli- resultados obtidos nas diversas geografias.
cação dos questionários nas capitais e no Os encontros também ser viram para se
interior. Para um exame detalhado da pes- chegar às conclusões do trabalho e apontar
quisa, os supervisores reuniam-se com o co- recomendações para a melhoria dessas po-
ordenador técnico a cada quinze dias. líticas públicas.

Aditivo RMSP 1999 Final 09/04/99


09/10 09/12 09/01

SET OUT NOV DEZ JAN FEV MAR ABR

(3) (4)

(6)

(7) (8) (9)


edição especial 1999

(10)

91
Pesquisa de campo Durante esse processo, foram encon-
Foram elaborados quatro questionários dis- trados diversos problemas nos cadastros
tintos: para o Proger (pessoa física e jurídi- fornecidos. Os principais foram o cadastro
ca), com 78 perguntas; para o Proger Rural, incompleto; erro na localização do estabe-
com 108 perguntas; para o Pronaf, com 106 lecimento financiado ou do beneficiário;
perguntas; e para as cooperativas, com 36 não-discriminação da origem dos recursos
perguntas. Os cooperados tiveram que res- das operações; diferenças entre o total de
ponder também a um encarte especial com recursos utilizados e o registrado no
nove perguntas. cadastro; e falta de padronização dos
Dois modelos foram utilizados na con- contratos coletivos.
fecção dos questionários, o do projeto-piloto
do Espírito Santo e um outro da Universi- Definição das amostras
dade Federal de Pernambuco. Foram constituídas 102 amostras, uma para
Para homogeneizar e padronizar a apli- cada segmento da pesquisa. No Proger, por
cação da pesquisa nos oito estados e na exemplo, em cada estado pesquisado e para
Região Metropolitana de São Paulo, utiliza- cada agente financeiro, realizaram-se duas
ram-se dois manuais, um para a área urba- pesquisas independentes. Uma para os bene-
na e outro para a rural. Semanalmente, os ficiários que receberam financiamentos até
dados colhidos eram enviados à coordenação R$ 50 000,00, e outra para os que recebe-
no Rio de Janeiro. Também houve a preo- ram acima desse limite.
cupação de homogeneizar as entrevistas com As pesquisas realizadas na área rural se-
aqueles que operacionalizaram os programas. guiram a mesma metodologia do Proger. No
A pesquisa com os beneficiários abran- Proger Rural e no Pronaf, o público foi di-
geu o período compreendido entre janeiro vidido em três estratos de valor, um inferi-
de 1995 e fevereiro de 1998. Na Região or, um intermediário e um para as grandes
Metropolitana de São Paulo, o período con- operações. Também foram analisadas pesso-
siderado estendeu-se até setembro de 1998. as físicas que tomaram crédito com apoio
Os registros sobre os recursos aplica- de cooperativas.
dos nos três programas e os seus benefi- A estratificação em função do valor das
ciários por estado, por programa e por operações de crédito foi feita com base nos
agente financeiro, foram fornecidos, em limites estipulados e nas normas de cada
forma de banco de dados, pelo Ministério programa. Os objetivos foram avaliar a re-
do Trabalho e pelo Banco Nacional de lação entre o impacto na geração de empre-
Desenvolvimento Econômico e Social go e renda e o valor do financiamento, e
(BNDES). Os dados foram divididos por identificar o nível de concentração dos re-
localização (município e estado), por agen- cursos aplicados.
te financeiro e por valor do empréstimo. No caso específico das cooperativas,
Também foram considerados os seg- realizou-se uma pesquisa censitária,
mentos das operações efetivadas em par- pois o número de operações não justi-
ceria ou através das cooperativas e outro ficava a definição de uma amostra,
formado por todas as cooperativas relaci- aplicando-se os questionários de avaliação
onadas no banco de dados. a todos os beneficiários.
democracia viva

92
O passo a passo da avaliação

Proger - Número de entrevistas


e de amostras independentes

área pesquisada
municípios na
entrevistas

municípios
Operações Operações

amostras

visitados
Total de

Total de

Total de
Total de
<=R$50.000 >R$50.000
Estado BB BN CEF BB BN CEF

BA 142 189 60 - 74** - 465 4 415 87

CE 156 167 1* - 35** - 359 4 179 49

GO 156 - 97 - - - 253 2 211 38

MG 164 184 137 1* 24** - 510 5 723 98

PR 153 - 149 - - - 302 2 323 73

RJ 116 - 4* - - - 120 2 70 14

RO 120 - - - - - 120 1 23 6

RS 150 - 138 1* - 2* 291 4 333 84

RMSP 128** 114** - - - 242 2 39 23

Total 1.285 540 700 2 133 2 2.662 26 2.316 472

*Neste segmento optou-se por realizar o censo dos beneficiários


**Neste segmento utilizou-se a técnica de aleatória simples para escolha dos beneficiários a entrevistar
edição especial 1999

93
Proger Rural - Número de entrevistas
e de amostras independentes

nos estados
entrevistas

municípios

municípios
Operações R$30.000<Operações Operações

amostras

visitados
Total de

Total de

Total de

Total de
<=R$30.000 <=R$150.000 >R$150.000 Cooperados

Estado BB BN BB BN BB BN BB

BA 150 128 18** 27** - - - 323 4 415 98

CE 168 152 34** 5** - 1* - 360 5 179 86

GO 179 - 27** - - - - 206 2 211 53

MG 153 156 39** 14** - - 39** 401 5 723 124

PR 174 - 40** - 1* - 45** 260 4 323 110

RJ 117 - 5** - - - - 122 2 70 39

RO 149 - 2* - - - - 151 2 23 31

RS 148 - 29** - 2* - 58** 237 4 333 94

Total 1.238 436 194 46 3 1 142 2.060 2 8 2.277 635


*Neste segmento optou-se por realizar o censo dos beneficiários
**Neste segmento utilizou-se a técnica de aleatória simples para escolha dos beneficiários a entrevistar
democracia viva

94
O passo a passo da avaliação

Pronaf - Número de entrevistas


e de amostras independentes

nos estados
entrevistas

municípios

municípios
Operações R$5.000<Operações Operações

amostras

visitados
Total de

Total de

Total de

Total de
<=R$5.000 <=R$75.000 >R$75.000 Cooperados

Estado BB BN BNDES (1) BB BN BNDES (2) BB BN BNDES BB BNDES

BA 184 175 165 41** 50** 2* - 2* - - - 619 7 415 144

CE 172 181 - 52** 54** - - - - 44** - 503 5 179 73

GO 173 - 152 25** - - - - - - - 350 3 211 96

MG 175 151 158 43** 58** 2* - - - 40** - 627 7 723 195

PR 175 - 160 43** - 40** - - - 60** 43** 521 6 323 146

RJ 163 - 75 14** - - - - - 37** - 289 4 70 44

RO 155 - 124 - - - - - - 32** - 311 3 23 40

RS 196 - 120 49** - 49** - - - 39** 42** 495 6 333 158

Total 1.393 5 0 7 954 267 162 93 - 2 - 252 85 3.715 4 1 2.277 8 9 6


(1) Operações de valor <= 15.000
(2) Operações de valor >15.000 e <= 75.000
*Neste segmento optou-se por realizar o censo dos beneficiários
**Neste segmento utilizou-se a técnica de aleatória simples para escolha dos beneficiários a entrevistar
edição especial 1999

95
Cooperativas - Número de entrevistas
e de amostras independentes

Estado Total Total


de entrevistas de amostras

BA 105* 1

CE 64* 1

GO - -

MG 140* 1

PR 42* 1

RJ 1* 1

RO 1* 1

RS 76* 1

RMSP - -

Total 429 7
*Neste segmento optou-se por realizar o censo das cooperativas

Entrevistas com outros atores Essas entrevistas foram bastante úteis


Com o objetivo de avaliar a participação e o para entender a dinâmica diferenciada dos pro-
desempenho dos outros atores que participam gramas nos diversos estados onde foi realiza-
da operacionalização dos programas, os geren- da a avaliação.
tes locais e os supervisores realizaram uma
outra série de entrevistas nos municípios das Os casos recusados
principais regiões dos estados pesquisados. A ausência de registros confiáveis a respeito de
Dessa vez, o público abrangeu superinten- pedidos de empréstimos recusados nos três
dentes e gerentes dos agentes financeiros; programas dificultou essa avaliação. Em alguns
membros de Comissões Estaduais e Munici- estados, as comissões estaduais mantêm esta-
pais de Emprego; membros de Conselhos tísticas sobre esses casos, mas não de modo
Municipais de Desenvolvimento Rural; diri- sistemático ou homogêneo.
gentes de associações, cooperativas, sindica- No Proger, os pedidos recusados foram
tos e movimentos de Igrejas que tinham principalmente por falta de garantias; nome
inserção representativa e significativa nos registrado nos sistemas de proteção ao crédi-
programas; representantes das Secretarias to; problemas com a justiça; ou sugestão de
Estaduais de Trabalho; representantes do projeto em áreas ou setores saturados.
Sebrae regionais e locais; agentes de desen- No Proger Rural, o processo de acesso
volvimento do Banco do Nordeste; e chefes ao crédito é estimulado e comandado qua-
democracia viva

e técnicos da Emater nos estados. se que exclusivamente pelos agentes

96
O passo a passo da avaliação

financiadores. Isso se deve à baixa visibilida- em alguns estados. Os principais motivos fo-
de da operacionalização e à falta de controle ram a ocorrência de seca, que frusta a con-
social e de atuação das comissões estaduais cretização do empréstimo; a não-utilização
e municipais. Quando o gerente orienta o pela Emater do software adotado pelo ban-
potencial beneficiário a procurar a Emater, co para a elaboração de projetos; as verbas
ou uma empresa, para a elaboração do pro- reduzidas; a carência de pessoal para anali-
jeto, este já está aprovado. Praticamente não sar os projetos nas agências, aliada à má
há pedidos de financiamentos recusados. vontade no atendimento ao público; e a
No Pronaf, a recusa de pedidos de fi- ausência de planejamento por parte das
nanciamento atingiu índices muito elevados agências bancárias envolvidas.

edição especial 1999

97
Radiografia da apuração
Por estado
As apurações foram realizadas por
amostra independente, por agente
financeiro, por estrato de valor, além
da apuração geral, que reuniu todas as
amostras independentes. Obteve-se um
total de 193 apurações para os
diversos estados e para a Região
Metropolitana de São Paulo onde a
pesquisa foi aplicada.

Conjunto dos estados


Um esquema similar foi montado para
a apuração do conjunto da área
pesquisada. Para cada programa,
geraram-se apurações por agente
financeiro e por estrato de valor, além
da apuração geral, totalizando 22
apurações para o conjunto.

Cruzamentos
A elaboração permitiu traçar os perfis
dos beneficiários que obtiveram
sucesso ou não em relação à geração
de emprego e renda. Foram gerados
102 cruzamentos, refletindo o
resultado da pesquisa no conjunto, em
cada um dos oito estados e na Região
Metropolitana. No Proger, geraram-se
também cruzamentos para apurar
isoladamente o perfil das pessoas
físicas e jurídicas beneficiadas.
democracia viva

98
O passo a passo da avaliação

Os instrumentos usados
foram aperfeiçoados a
partir da bem-sucedida
Para aperfeiçoar experiência-piloto no Espírito Santo. Como
É preciso ressaltar que esse foi um traba- resultado, formou-se um vasto banco de
lho de avaliação e não de auditoria. Pre- dados com as características dos benefici-
domina a análise da eficácia sobre aquela ários dos programas, que poderá ser apro-
do respeito às normas e da lisura dos di- veitado para explorar outros aspectos não
ferentes atores no uso dos recursos. relacionados com essa pesquisa. De qual-
Foi acertada a opção por diferenciar a quer forma, os questionários podem ser
avaliação dos programas por estado e por ainda aperfeiçoados para utilização em fu-
agente financeiro. A dinâmica dos progra- turas avaliações, procurando ajustar ques-
mas depende muito das dinâmicas político- tões, com base na experiência obtida com
institucionais locais e do modo como os esse trabalho.
próprios agentes financeiros as incorporam O método de amostragem se revelou
em suas estratégias. Além de valorizar a adequado para dar conta da diversidade em
especificidade estadual e a atuação dos cada programa, em cada estado. O grande
agentes, foi possível ver características e ten- volume de amostras daí resultante exigiu
dências comuns de cada programa. O mes- muito cuidado no controle das aplicações.
mo procedimento deveria ser adotado em Os mesmos critérios e rigor deveriam ser
futuras avaliações. seguidos em avaliações futuras.
edição especial 1999

99
O trabalho em parceria com
entidades e empresas que conhecem
a realidade local foi fundamental
ao sucesso da avaliação. A garantia
do padrão de qualidade e da
homogeneidade na coleta de dados
foi obtida graças à supervisão
permanente, ao treinamento das
equipes e aos instrumentos de
orientação prática utilizados.
democracia viva

100
Perfil Local

Perfil local
Proger, Proger Rural e Pronaf
Resultados por área pesquisada
Este capítulo aborda os impactos dos três programas nos oito esta-
dos em que a avaliação foi realizada – Bahia, Ceará, Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia – e
mais a Região Metropolitana de São Paulo, com atuação apenas do
Proger. A idéia é permitir ao leitor uma análise local baseada nos prin-
cipais resultados por programa e nos indicadores sociais estaduais. São
dados como a situação do mercado de trabalho, identificação da popu-
lação urbana e rural ou o IDH, que mede o nível de qualidade de vida
do estado, entre outros. A comparação permite visualizar, na amostra
realizada, os reais efeitos do Proger, do Proger Rural e do Pronaf na
geração de emprego e na renda, sinalizando a capacidade ou não dos
três programas de combater o desemprego e a exclusão social.

edição especial 1999

101
Bahia
Área: 567.295,3 km², equivalente a 6,64% do território nacional,
o quinto lugar entre os estados.

População: 12.541.745 habitantes, representando 7,9% da popu-


lação nacional (IBGE/1996). Urbana: 7.826.843. Rural: 4.714.902,
a maior do país.
Das 720 mil propriedades
Nº de municípios: 415, sendo 284 na região semi-árida.
rurais do estado, apenas 289
Mercado de trabalho: da população ocupada 48% estão no se-
tor de serviços; 39% estão na agropecuária e extrativismo e 13% atu-
mil são cadastradas pelo
am na indústria. Incra. A diferença se deve à
IDH: 0,609. Comparado aos outros estados nordestinos, posiciona- presença de minifúndios e
se atrás de Sergipe, que detém o IDH de 0,663.
áreas não identificadas.
Educação: de 1981 a 1991, a taxa de analfabetismo caiu de 43,7%
para 41,4%. Ainda assim é uma das mais elevadas do Brasil. Deste
percentual 61,4% estão no campo e 28,1%, na cidade. Entre 1992 e
1996 diminuiu a parcela da população sem instrução e aumentou a
participação dos que têm escolaridade igual ou superior ao ensino fun-
damental. Ainda assim, em 1996, mais da metade da população a partir
de 10 anos tinha, no máximo, três anos de escolaridade.

Proger, Proger Rural, Pronaf


e PEF – Brasil e Bahia
Aplicações em R$ milhões (jan/95 a ago/98)
Distribuição dos recursos do
FAT por programa
O estado participou com a aplicação
de 17,5% dos recursos do Proger,
4,18% dos recursos do Proger Rural, 5,77%
do Pronaf e 24% do PEF - Programa Es-
pecial de Financiamento (combate aos efei-
tos da estiagem no Nordeste).
Em relação ao conjunto do país, a Bahia
efetuou o maior número de operações de cré-
dito do Proger. Não estão sendo considerados Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, outubro/98

aqui os recursos do Fundo Constitucional do


Nordeste - FNE, operacionalizado pelo Ban-
democracia viva

co do Nordeste, que também destina recursos

102
Perfil Local

para essa linha de crédito. No Pronaf e no sando os recursos para o Banco do Brasil
Proger Rural, os recursos foram muito meno- e o Banco do Nordeste.
res do que os aplicados nos demais estados. As operações de crédito na Bahia ocor-
Os recursos para o setor urbano foram reram em praticamente todos os municípios,
aplicados pelo Banco do Brasil, Banco do Nor- de janeiro de 95 a fevereiro de 98. Foram ao
deste e Caixa Econômica Federal. No setor todo 402 municípios contemplados com as
rural, o Banco do Brasil e o Banco do linha de crédito do FAT, 397 receberam re-
Nordeste ficaram responsáveis pela aplica- cursos do Proger, 244 do Proger Rural e
ção. O BNDES aplica no Pronaf, repas- 257 do Pronaf.

Proger, Proger Rural e Pronaf – Bahia


Nº de municípios do estado e dos
contemplados (jan/95 a fev/98)

Proger, Proger Rural, Pronaf e PEF – Bahia


Aplicações do FAT em R$ milhões
por operação e por agente financeiro (jan/95 a ago/98)

Agente
Financeiro Proger Proger Rural Pronaf PEF
N° OP Valor N° OP Valor N° OP Valor N° OP Valor

Banco do Brasil 1.004 11,29 3.314 20,82 19.643 25,79 - -

Banco do Nordeste 21.602 235,61 9.442 69,40 12.188 41,96 7.592 29,75

CEF 250 1,29 - - - - - -

BNDES - - - - 5.383 34,40 - -


edição especial 1999

Totais 22.856 248,19 12.756 90,22 37.214 102,15 7.592 29,75


Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, março/98

103
Proger miliares; possuem 2,54 dependentes; resi-
Com a implementação do programa, o núme- dem em domicílios próprios urbanos per-
ro de pessoas ocupadas na Bahia passou de manentes, com uma média de 4,48 pessoas
52.433 para 102.559, correspondendo à gera- residentes.
ção de 2,62 novas ocupações por operação. O A maioria dos beneficiários não havia feito
perfil do novo ocupado na Bahia é: masculi- empréstimos antes do Proger (76,10%). As di-
no (60,22%); idade entre 18 e 29 anos ficuldades encontradas para a obtenção do cré-
(58,53%); remuneração entre meio até 2 salá- dito foram a burocracia (31%) e a demora na
rios mínimos (63,72%); e escolaridade até a 8ª liberação dos recursos (34%). Mais da metade
série (30,20%). Quanto ao ramo de atividade, atrasou o pagamento das prestações (57,18%).
destaca-se o comércio, com 40,74%. O valor
do financiamento por ocupação gerada é dos Proger Rural
mais baixos, R$ 5 721,82, sendo, inclusive, in- O número de pessoas ocupadas na Bahia
ferior à média encontrada para o conjunto dos com a implementação do programa passou
estados pesquisados. de 52.395 para 65.952.
O perfil dos beneficiários do Proger na Foram criados 13.557 novos postos de
Bahia revela que são homens (70,57%); en- trabalho como resultado direto do progra-
tre 31 a 50 anos (58,98%); brancos(50,88%) ma na Bahia, representando um aumento
ou pardos (38,99%). São chefes de família de 25,87% nas ocupações existentes. Para cada
(69,76%); não possuem outra fonte de ren- 100 beneficiários diretos do crédito 179 ocu-
da; têm até o ensino médio; pertencem às pações foram geradas. A maior incidência foi
classes B e C (58,95%); têm experiência entre os assalariados temporários. O custo
anterior como autônomos ou negócios fa- por ocupação gerada foi de R$ 3 800,42.

Proger - Bahia
Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois Variação


Nº %

Assalariados permanentes c/ carteira 8.283 20.089 11.806 23,6

Assalariados permanentes s/ carteira 6.740 15.122 8.382 16,7

Assalariados temporários 10.106 27.526 17.420 34,7

Familiares não-remunerados 9.597 15.198 5.601 11,2

Sócios 17.707 24.623 6.916 13,8


democracia viva

104
Perfil Local

Grande parte das atividades financiadas pardos (45,41%) ou brancos (43,15%).


foi para o setor da agricultura (66,31%). Quanto ao grau de instrução, quase a me-
São operações de curto prazo, destinadas em tade sabe apenas ler ou escrever ou é
geral ao custeio das despesas com o prepa- analfabeta (45,38%), atestando o elevado
ro do solo, aquisição de insumos e colheita percentual de agricultores que nunca fre-
das culturas tradicionais. qüentou a escola. A principal fonte de ren-
O perfil dos beneficiários do Proger da é o próprio empreendimento, onde
Rural mostra que são homens (88,14%), trabalham exclusivamente (67,38%).

Pronaf
Proger Rural – Bahia No período avaliado, 244.868 pessoas tive-
Geração de novas ocupações ram ocupação garantida no meio rural gra-
por categoria e sexo
ças ao Pronaf. O incremento na oferta de
postos de trabalho foi de 43.016, um acrés-
cimo de 21,3% no contingente ocupado. O
valor do financiamento por ocupação gera-
da foi de R$ 2 622,87, o mais baixo encon-
trado em toda a avaliação, e correspondente
a 40% da média nos oito estados. Manter
um emprego com o Pronaf na Bahia custa
apenas R$ 460,76, cerca de 59% da média
encontrada na pesquisa.
Os beneficiários são quase todos homens
(91,49%). Quanto à cor, 51,18% auto-decla-
ram-se pardos, 32,98%, brancos e 10,46%,
negros. Entre os familiares em idade escolar,
apenas 59,20% estavam estudando no perí-
odo da pesquisa.
A principal atividade financiada foi a
agricultura (75,59%). Os estabelecimentos
de até 50 hectares representam quase 80%
dos financiamentos.

Pronaf – Bahia
Área dos estabelecimentos
financiados
edição especial 1999

105
Ceará
Área: 146.348 km², cerca de 92% situados no semi-árido.

População: 6.809.794 habitantes (IBGE/1996). Urbana: 4.713.311,


destes 540.720 vivem em favelas em Fortaleza. Rural: 2.096.483. O estado apresenta uma alta
Nº de municípios: 184 densidade populacional,
Mercado de trabalho: Das 3.039.911 pessoas ocupadas, a maioria 46,53 hab./km2, comparado
exerce atividade agrícola (38,51%); 15,93% estão na indústria; 12,34%,
no comércio; 18,42%, em serviços; 3,60% são funcionários públicos; aos 29 hab./km2 do
7,87% pertencem à área social; e 3,33% a outros ramos de atividade.
Nordeste e aos
IDH: 0,506, ficando na frente apenas de Piauí e Sergipe. É o esta-
do com a maior concentração de renda no país.
17,9 hab./km2 do Brasil.
Educação: o analfabetismo está presente em 37,4% da população
a partir de 15 anos. Acrescente-se a esse dado o alto índice de evasão
escolar e de repetência, 13,5% e 15,5%, respectivamente.

Proger, Proger Rural e Pronaf – Brasil e Ceará


Aplicações por agente financeiro

Agente Relação do Ceará


Financeiro Programa Ceará (R$) Brasil (R$) sobre o Brasil (%)

Banco do Brasil Proger 13.009.438,00 463.816.715,00 2,80

Proger Rural 33.758.348,00 2.536.076.593,00 1,33

Pronaf 17.547.550,00 2.029.859.919,00 0,86

Banco do Nordeste Proger 156.418.804,00 908.860.252,00 17,21

Proger Rural 6.892.430,00 112.105.248,00 6,15

Pronaf 25.758.834,00 275.356.820,00 9,35

CEF Proger 844.495,00 127.154.978,00 0,66

BNDES Pronaf 10.437.876,00 883.659.040,00 1,18

Total 264.667.775,00 7.336.889.564,00 3,61


democracia viva

Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/99

106
Perfil Local

Distribuição dos recursos estado em 97 e 98. O Proger proporcionou a


por programa geração de 6.626 novas ocupações, a um custo
Foram concretizadas 52.838 operações de de R$ 18 859,03 cada.
crédito, movimentando um montante de Quanto ao ramo de atividade, destacam-se
R$ 264 667 775,00. Isto representa 3,7% do o comércio (56,2%), seguido da agricultura
total de operações realizadas no país. (20,4%) e da indústria (19,6%).A média do
Dos recursos aplicados, 43,46% foram pelo valor do financiamento ficou em R$ 9 346,15
Pronaf. Em segundo lugar, ficou o Proger Apesar da predominância masculina en-
Rural, com 36,10%, e o Proger, com o me- tre os beneficiários, é expressiva a participa-
nor volume de recursos (20,44%). O Banco ção da mulher à frente de empreendimentos.
do Nordeste é o principal financiador dos três A maioria pertence às classes C e D (70%),
programas nesse estado, respondendo por se declarou branca (51%) ou parda (46%),
71,44% do valor aplicado, seguido pelo Ban- tem entre 31 e 50 anos de idade (56%) e é
co do Brasil, com 24,30%. O BNDES e a chefe de família (57%). É significativa tam-
Caixa Econômica Federal vêm muito atrás, bém a presença de cônjuges (28%) entre os
com 3,94% e 0,32%, respectivamente. tomadores de crédito. O nível de escolarida-
de (53% com ensino fundamental) é supe-
Proger rior à média do estado.
O programa significou o primeiro financia- Os empréstimos serviram para elevar a
mento bancário para a maioria dos benefi- renda dos beneficiários, que registraram
ciários do estado (80,1%) e foi responsável aumento na produção, nas vendas e no lu-
pela melhoria nas condições do empreendi- cro depois do programa. Os rendimentos
mento (55%). A geração de empregos foi passaram de R$ 886,53, em média, para
modesta, apenas 0,5 ocupação por operação R$ 1 044, 15. A maioria (66,81%) tem na
de crédito. O resultado é atividade financiada pelo Proger a única
atribuído à concentra- fonte de renda. Os lucros foram utilizados
No Ceará, a capacitação ção de operações no principalmente com gastos pessoais e com
setor informal (51,2%), a família. Destacam-se também gastos
atinge 40% dos beneficiários. aos financiamentos para com alimentação, saúde e pagamento de
O Sine é o responsável por agricultura e pecuária dívidas, revelando a fragilidade financeira
(cerca de 30%) e à seca dos empreendimentos e dos próprios be-
cursos sobre técnicas de rigorosa que castigou o neficiários.
gerenciamento.
edição especial 1999

107
Proger Rural e trabalham no próprio estabelecimento
Os resultados demonstram que o programa (61,3%). Registra-se a presença de 6,7% de
vem contribuindo para a melhoria das con- aposentados entre os beneficiários.
dições de vida e para a fixação do homem Entre as atividades financiadas, a agricul-
no campo. Antes do crédito, os beneficiári- tura ficou com 66,2%, a pecuária com
os ocupavam 51.104 pessoas e depois pas- 21,9% e a agropecuária com 5,1%. O pro-
saram a ocupar 61.191, significando um grama financiou princi-
aumento de 20%. O número de ocupações palmente minifúndios e
geradas por operação de crédito ficou em pequenas propriedades
1,41,com um financiamento em média de de até 100 hectares
43% dos beneficiários
R$ 4 594,95. Os novos ocupados atuaram (69%). A maior parte
principalmente em serviços gerais de lavou- dos estabelecimentos fi- encontraram dificuldades
ra, colheita e extrativismo e na melhoria das nanciados são próprios
ao pedir o empréstimo,
benfeitorias e moradias. (87,5%). Poucos arren-
Um total de 44,5% dos beneficiários já datários e assentados principalmente por conta
haviam tido acesso a outros financiamentos foram beneficiados, ape-
da burocracia, prazo curto
na década de 90. Quantos aos impactos do nas 8,3%. As benfeito-
programa na produção, 36% dizem que rias das propriedades de pagamento, juros muito
houve aumento. As vendas permaneceram financiadas revelam uma
elevados, exigências
estáveis depois do crédito para a maior parte estrutura agrícola ainda
do público (34%).Quanto à renda, 38% rudimentar: 94,8% têm de garantias e demora
afirmam que houve uma diminuição, mas cercas, 87,3% têm casas,
na liberação.
37% não atribuem ao programa a responsa- 65,2%, currais, 31,6%,
bilidade pela modificação. chiqueiros ou pocilgas,
O público do Proger Rural no Ceará é 25,6%, galinheiros, 42,2%,
assim definido: homens (91,8%); analfabe- açudes, e somente 0,6%
tos ou que apenas lêem e escrevem (52,8%); máquinas e equipamentos.

Proger Rural – Ceará


Condição do estabelecimento financiado
democracia viva

108
Perfil Local

Proger Rural - Ceará


Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois

Assalariados permanentes c/ carteira 4 141

Assalariados permanentes s/ carteira 7.402 10.372

Assalariados temporários 32.429 39.828

Familiares e agregados ocupados 11.269 10.850

Pronaf
No Ceará, o programa não só está conse-
guindo cumprir o objetivo de fortalecer a
agricultura familiar, através da manutenção
das ocupações existentes (85.925), mas tam-
bém está possibilitando o acréscimo de ocu-
pações em um cenário adverso para a
Pronaf – Ceará prática da agricultura. Os novos ocupados
Acesso ao crédito na década de 90 (10.875) são principalmente assalariados tem-
porários contratados. Isso se deve ao fato de
82% dos beneficiários terem aplicado os re-
cursos na contratação de serviços de plantio,
tratos culturais e colheitas das lavouras. Para
gerar uma ocupação, foram necessários, em
média, R$ 2 692,00; já para manter o custo o
valor cai em média para R$ 340,71.
Os financiamentos foram destinados pre-
dominantemente à agricultura (93%) e, em
menor proporção, à pecuária (4,8%). O valor
do financiamento teve uma grande variação,
entre R$ 103,50 e R$ 27 875,38, em média.
Observou-se uma tendência para a redu-
ção da produção (49%), das vendas (42%)
e da renda (46%). Nos casos em que hou-
edição especial 1999

ve aumento, a responsabilidade é atribuída


totalmente ao Pronaf em produção (26%),
vendas (27%) e renda (24%). Os recursos

109
adicionais foram empregados principal- Em 69,69% dos casos, os estabelecimen-
mente no pagamento de dívidas (20%), tos financiados têm até 50 hectares. O des-
mas também em despesas com alimenta- taque fica na incidência de áreas com menos
ção (18%), vestuário (11%) e saúde (11%), de 20 hectares (49,45%).
indicando uma preocupação dos agriculto- Para 54,6% dos entrevis-
res em melhorar, pelo menos temporaria- tados o estabelecimento é Os financiamentos
mente, sua qualidade de vida. próprio. Registra-se que
Quase todos os beneficiários do progra- 28,2% dos beneficiários
pequenos, quase
ma no Ceará são homens (95,2%), analfabe- mantêm a posse precá- irrisórios, são resultado
tos ou que sabem apenas ler e escrever ria dos estabelecimentos
(75,46%). A maioria trabalha no próprio es- que exploram, sejam ar-
dos dois últimos anos de
tabelecimento (53,67%)e está desfrutando rendatários (14,2%), seca, levando à liberação
com o Pronaf o primeiro crédito da déca- posseiros (7,1%) ou par-
da de 90 (68%). ceiros (6,9%).
apenas parcial dos
créditos de custeio
aprovados – uma ou
duas parcelas em
vez de três.
Pronaf – Ceará
Condição do estabelecimento financiado
democracia viva

110
Perfil Local

ANÚNCIO
BANCO DO
NORDESTE

edição especial 1999

111
Goiás
População: 4,3 milhões de habitantes. Em 1980, 32% dos goianos
viviam na área rural, em 1994 o percentual caiu à metade, indicando
um processo de urbanização crescente.

IDH: 0,786, um dos mais elevados do país. Sua capital, Goiânia, está
entre as melhores cidades brasileiras, tanto do ponto de vista da qua-
O estado se destaca
lidade de vida como em oportunidades de investimento. como o mais
Mercado de trabalho: o estado possui uma economia dinâmica. importante, em
Entre 1990 e 1996 seu PIB cresceu 28,59%, enquanto o PIB nacio-
nal cresceu apenas 12,66%. Em 1996 a renda per capita chegou a termos de volume de
U$ 5.119,65. Contudo, o crescimento econômico não tem se tra-
duzido em empregos para todos, muito menos em empregos de
produção, da Região
qualidade. Nos anos 90, Goiás passou por um processo de cres- Centro-Oeste.
cimento do setor de serviços por conta da terceirização. Como
conseqüência, houve a degradação das condições de trabalho. Es-
tas se tornaram cada vez mais precárias, com remunerações em
declínio e ocupações sem carteira assinada.

Distribuição de recursos o Proger Rural aparece não só com o maior


por programa volume de recursos contratados, mas também
Entre janeiro de 1995 e dezembro de 1998 com o maior número de operações.
foram aplicados R$ 194 533 484,00 no estado, Nesse estado o Banco do Brasil é o
referentes a 20.793 operações de crédito, com maior agente financeiro do Proger e do
um valor médio por contrato de R$ 9 355,72, Proger Rural. Realizou, até dezembro de
quase o dobro da média nacional. 1998, 92% do total das operações e aplicou
Nacionalmente, o Pronaf é o programa 90,05% dos recursos. O BNDES, através
com o maior número de operações contra- do Banco do Estado de Goiás, atua somente
tadas e, no final de 1998 superou o Proger no Pronaf. Sua participação no total de
Rural, passando a ser também o primeiro em operações foi de 13,6% e de 34,2% do
valor contratado. Em Goiás, ao contrário, valor contratado.
democracia viva

112
Perfil Local

Proger, Proger Rural e Pronaf – Goiás


Aplicações do FAT por agente financeiro (jan/95 a dez/98)

Agente Número de Valor Valor


financeiro Programa operações contratado (R$) médio (R$)

Banco do Brasil Proger 1.839 28.190,10 15.329,04

Proger Rural 9.974 122.495,20 12.281,45

Pronaf 7.314 25.443,60 3.478,75

CEF Proger 515 5.163,30 10.025,82

BNDES Pronaf 1.151 13.241,30 11.504,17

Total 20.793 194.533,50 9.355,72


Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/99

Proger, Proger Rural e Pronaf – Goiás


Aplicações do FAT (jan/95 a dez/98)

Número de Valor Número Valor


Programa operações aplicado (R$) (%) (%)

Proger 2.354 33.353,40 11,3 17,1

Proger Rural 9.974 122.495,20 48,0 63,0

Pronaf 8.465 38.684,90 40,7 19,9

Total 20.793 194.533,50 100,0 100,0


Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/98

Em Goiás, 41,7% de
proprietários de terras com
menos de 100 hectares ocupam
a mesma área de 0,2% de
proprietários de terras com
edição especial 1999

mais de 5 mil hectares.

113
Proger da assim evidencia-se a participação da
Fica claro o incremento de oportunidades de mulher entre os empreendedores (32,32%).
trabalho possibilitado pelo programa. Antes A maioria se declara branca, possui, em mé-
do Proger, a média do pessoal ocupado era dia, 2,37 dependentes, e pertence à classe B
de 4,99 por empreendimento, depois passou (42,69%). Registram-se também percentuais
a 8,83. Foram geradas 3,84 ocupações por significativos nas classes A (26,20%) e C
operação de crédito, a um custo médio de (24,54%). O beneficiário possui um nível
R$ 5 286,16. Os mais beneficiados foram os de escolaridade bastante elevado em com-
assalariados permanentes com carteira. paração com a população goiana. A mai-
A maior parte dos novos contratados tem or parte completou o ensino médio
entre 18 e 29 anos (59%) e recebe até 2 sa- (31,61%) ou o nível superior e está na pós-
lários mínimos (51,16%). Registra-se também graduação (24,11%).
um percentual significativo que está na faixa Antes de ter seu próprio empreendimento,
dos 30 a 44 anos (29%) e dos que recebem o beneficiário do Proger trabalhava em empre-
entre 2 e 3 salários (21,96%). Mais da meta- sa privada ou pública (54,51%) ou era autôno-
de tem baixa ou nenhuma escolaridade e tra- mo (26,34%). A maioria não tem outra fonte
balha de 30 a 44 horas semanais (74,24%). de renda (58,98%). Daqueles que possuem
Para 67,61% dos tomadores de crédito, o mais de uma remunera-
programa significou melhora na situação da ção (40,92%), mais da
produção e das vendas, além de aumento da metade é empregada, Foram as mulheres que
renda. A maioria atribui a alteração nos lucros cerca de 35% trabalham
ocuparam o maior número de
ao programa: 29,95% totalmente e 47,69% por conta própria e
parcialmente. O rendimento do empreendedor 8,55% são empregado- novas vagas geradas com os
passou de R$ 2 071,80 para R$ 2 440,31. res em outros negócios.
financiamentos do Proger em
Os beneficiários são em geral homens, Cerca de 80% estão des-
chefes de família, entre 31 a 50 anos, com frutando com o Proger Goiás, representando 53,91%
predominância daqueles com 40 anos. Ain- o primeiro crédito.
do total das contratações.

Proger – Goiás
Geração de ocupações por estabelecimento financiado

Categorias Antes Depois

Assalariados permanentes c/ carteira 2,82 5,36

Assalariados permanentes s/ carteira 0,43 0,98

Assalariados temporários 0,26 0,44

Familiares não-remunerados 0,36 0,44


democracia viva

Sócios 0,86 1,11

114
Perfil Local

Proger – Goiás
Grau de escolaridade do beneficiário

Escolaridade %

Nenhum 0,68

Alfabetizado 1,84

1° grau incompleto 12,07

1° grau completo e 2° grau incompleto 14,20

2° grau completo 31,61

Superior incompleto 6,66

Superior completo e pós incompleta 24,11

Pós-graduação completa 8,83

Proger Rural
Cada operação de crédito gerou, em média,
0,6 ocupação, a um custo médio de
No Proger, apenas 23,88% R$ 21 202,85, considerado elevado, muito
dos beneficiários não acima do valor correspondente no Pronaf,
de R$ 17 254,00. Houve um expressivo au-
encontraram dificuldades mento na contratação de assalariados tem-
na solitação do crédito. porários, acompanhado do aumento do
número de dias trabalhados (de 98,2 para
O restante se queixa do 107,6 dias). Esses trabalhadores ocuparam
excesso de burocracia 80% das novas ocupações. Foram alocados
principalmente em serviços gerais de lavou-
(38,40%), da exigência de ra (83,2%) e de produção animal (14,3%), e
garantias pelos bancos em atividades de colheitas (13,5%). Os res-
tantes 20% foram preenchidos por assalari-
(35,04%) e da demora ados permanentes com ou sem carteira.
na liberação dos A participação feminina entre os assala-
riados é extremamente reduzida, mas entre
recursos (33,54%). os trabalhadores familiares é significativa,
representando quase um terço das novas ocu-
edição especial 1999

pações nessa categoria. Os novos ocupados


são jovens entre 21 e 30 anos. A participação

115
de idosos é inexpressiva, assim como de Aqui a participação das mulheres ainda é
jovens de 14 a 17 anos. Não há registro de inexpressiva (9,7%), mas significativa com-
trabalho infantil. parando com o mesmo percentual no
Em termos de manutenção de ocupa- Pronaf (5,9%). Metade dos beneficiários
ções existentes, o programa pode ser ava- (50,6%) já havia recebido outro financia-
liado como bem-sucedido. Está mantendo mento na década de 90.
35.919 homens e 5.114 mulheres na ativi- O nível de escolaridade dos tomadores
dade rural. de crédito é bastante elevado para a média
O Proger Rural contribuiu para estabili- da população goiana.
zar a produção, as vendas e a renda dos be- Há uma baixa taxa de
neficiários (45%). Entre aqueles que analfabetismo entre os
Após o recebimento do
verificaram aumento na produção (38,9%), mutuários (1,7%) e mais crédito, 7,8% dos
a maioria atribuiu ao Proger Rural a respon- da metade (58,4%)
sabilidade pela melhoria total (48,18%) ou possui pelo menos o
produtores participaram
parcialmente (27,43%). Entre os que tive- ensino fundamental. de cursos de capacitação
ram aumento na renda (33%), a maioria uti- Evidencia-se o percen-
lizou o lucro para pagar dívidas e em gastos tual de 11,38% com ní-
nas áreas de produção e
que visam à melhoria da qualidade de vida vel superior. Quanto à administração. Poucos
familiar e das condições de produção e ca- idade, 59,8% têm entre
pitalização do estabelecimento. 30 e 49 anos e 68,4%
produtores (13%) sabem
Os beneficiários do Proger Rural em trabalham somente no que os cursos contaram
Goiás são majoritariamente homens brancos. estabelecimento.
com recursos do FAT.

Proger Rural – Goiás


Geração de ocupação por categoria e sexo

Antes Depois Variação


Categorias Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.

Assalariados permanentes c/ carteira 1.711 53 1.979 103 268 50

Assalariados permanentes s/ carteira 4.067 462 4539 663 472 201

Assalariados temporários 16.785 254 20.915 308 4.130 54

Familiares e agregados 8.535 3.988 8.485 4.038 (-50) 50


democracia viva

116
Perfil Local

Proger Rural – Goiás Surpreendentemente, os arrendatários tive-


Condição do estabelecimento financiado ram mais acesso ao crédito do que os propri-
etários (52,7% contra 45%). Isto não reflete a
participação dessas áreas na estrutura agrária
do estado. Em 1995/96, Goiás contava com
111 mil estabelecimentos rurais, destes apenas
4.800 eram áreas arrendadas.
O programa financiou estabelecimen-
tos em áreas entre 50 e 100 hectares em
35,3% dos casos; com mais de 100 e até
500 hectares foram 29,6%; e áreas meno-
res, entre 20 e 50 hectares, 22%. Identi-
ficou-se que 4,7% das áreas financiadas
têm mais de 500 hectares, infringindo as
normas para concessão de crédito.

Pronaf
Como era esperado, o impacto do programa
na geração de novas ocupações não foi ex-
pressivo, apenas 0,32 por operação de cré-
dito, a um custo de R$ 17 253,80 cada. O
Pronaf está cumprindo sua proposta princi-
Proger Rural – Goiás pal de manutenção dos produtores rurais
Área do estabelecimento financiado nas sua atividades. Foram mantidas 19.446
ocupações a um custo de R$ 1 488,84 cada.
Entre os novos ocupados, aqui também
saem na frente os trabalhadores temporári-
os, com aumento do número médio de dias
trabalhados, de 86,4 para 142,8 dias. Eles
têm sido ocupados em serviços gerais de
lavoura, e uma parcela menor, na pecuária.
A segunda categoria que mais cresceu foi a
dos familiares.
Depois que recebeu o financiamento,
68,86% dos beneficiários declararam que
a produção aumentou. Em apenas 3,17%
diminuiu, e se manteve estável em 26,42%
dos casos. O impacto sobre as vendas foi
semelhante, com aumento para 65,60%
dos mutuários, diminuição para apenas
2,71%; e estabilização para 30,64%. Em-
edição especial 1999

bora não tão significativo, o impacto na

117
renda também foi registrado em 47,55% Pronaf – Goiás
dos estabelecimentos. Em 23,34% ela se Área do estabelecimento financiado
manteve e em 10% caiu.
A quase totalidade dos contratos
(93,8%) do Pronaf em Goiás foi assinada
por homens brancos. A maioria (59,73%)
não completou o ensino médio. Destes,
16,60% são analfabetos ou sabem sim-
plesmente ler e escrever. Poucos são jo-
vens, apenas 13,4% estão na faixa de 20
a 29 anos, enquanto 32,09% têm mais de
50 anos e dedicam-se integralmente ao
trabalho no estabelecimento (76,18%). O
Pronaf representa o primeiro crédito na
década de 90 para 55,3%.
Aqui também boa parte dos contratos foi
firmada com arrendatários (28%). O dado
é surpreendente considerando a situação
fundiária do estado. Os proprietários fica-
ram com 67,65% das operações realizadas
e os assentamentos receberam 3,42%. A
maior parte dos estabelecimentos financia-
dos estão em áreas de 20 a 50 hectares e de
50 a 100 hectares. Os miniprodutores, com
áreas de até 20 hectares, representam 11%
do total. Registra-se a presença de estabele-
cimentos em áreas de 100 a 500 hectares e
até com mais de 500 hectares (1%).

Pronaf – Goiás
Geração de novas ocupações por categoria e sexo

Antes Depois Variação


Categorias Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.

Assalariados permanentes c/ carteira 329 69 451 101 122 32

Assalariados permanentes s/ carteira 1.393 198 1.621 278 228 80

Assalariados temporários 3.596 1358 5.646 171 2.050 (-1.187)


democracia viva

Familiares e agregados 6.912 3.907 7.269 3.907 357 -

118
Perfil Local

ANÚNCIO
BANCO DO
BRASIL

edição especial 1999

119
Minas Gerais
Área: 588 mil km 2

População: 16.458 mil habitantes, 76% vivendo na área urbana.

Nº de municípios: 853
O estado possui o
Mercado de trabalho: nos anos 90 a precarização das relações de
maior rebanho bovino do
trabalho no estado, iniciada na década anterior, aumentou. Os índices país e a maior área
apontam para a estagnação do emprego industrial e para o cresci-
mento do trabalho informal. Na Região Metropolitana de Belo Ho-
reflorestada do território
rizonte, o número de empregados sem carteira assinada sobe a nacional. Destaca-se na
cada ano: passou de 19,6% em 1989 para 24,2% em 1994. O
mesmo acontece com os que trabalham por conta própria, que produção de café e leite
passaram de 19,9% em 1989 para 22,3%.
e por seu parque industrial
Educação: ocupa a 11ª posição no índice de melhoria da taxa de
analfabetismo no país, estipulado pelo Unicef. Está abaixo dos es-
nas áreas siderúrgica e
tados do Sul, do Centro-Oeste e do estado do Espírito Santo. automobilística. Também é
o estado com maior
extensão de rodovias
federais – cerca de
10 mil km.

Distribuição dos recursos Rural estão presentes o Banco do Brasil e o


por programa Banco do Nordeste. O Pronaf conta com a
De janeiro de 95 a fevereiro de 98, foram atuação dos mesmo bancos que atendem o
contratadas 129.258 operações de crédito com Proger Rural, e também com o BNDES.
recursos do FAT nos três programas, atingin- O número de contratos realizados pelo
do um montante de R$ 751 861, 80. Desses, Banco do Brasil alcançou 72,6% do total
22,7% foram destinados ao Proger, 21,2% realizado e 64,4% do valor contratado nos
ao Proger Rural e 56,1% ao Pronaf. Em re- três programas no estado. Trata-se do prin-
lação ao desenvolvimento dos programas em cipal agente financeiro a operar o Proger
todo o país, a participação de Minas Gerais Rural em Minas. Sua participação em rela-
pode ser considerada expressiva, represen- ção ao Proger é expressiva em termos de
tando cerca de 9,1% das operações realiza- valor contratado, embora registre um núme-
das e 10,2% do volume de recursos ro de operações realizadas inferior a 30%.
liberados nacionalmente. A situação inversa ocorre no Pronaf: o
Em Minas, o Proger é atendido pelo Ban- banco aparece com 76,5% dos contratos
co do Brasil, Banco do Nordeste e pela Caixa realizados, mas com apenas 63,4% do
democracia viva

Econômica Federal. No atendimento ao Proger montante contratado.

120
Perfil Local

O Banco do Nordeste concentra sua atuação setor informal. Sua pequena participação no
na região norte de Minas, abrangendo os três Proger – apenas 17,4% dos contratos e
programas. Foi responsável por 15,6% do total 12,7% do montante total contratado no pro-
de recursos emprestados e por 13,5% de todos grama – explica-se pelo fato de ter iniciado
os contratos do estado. Sua maior participação foi suas operações somente em março de 97.
no Proger, principalmente em termos de contra- O BNDES, por intermédio dos agentes
tos firmados. Em relação ao Proger Rural e ao financeiros credenciados, começou a atuar
Pronaf, teve uma atuação reduzida. no Pronaf em novembro de 96. Foi respon-
A Caixa Econômica Federal atua exclusi- sável por 30,5% do total de recursos em-
vamente no setor urbano. Seus recursos des- prestados no programa e por 15,7% do
tinam-se a pequenas e microempresas e ao número de contratos firmados.

Proger, Proger Rural e Pronaf - Minas Gerais


Aplicação dos recursos do FAT

Valor Número Valor médio


aplicado de contratos por contrato
(R$) % Quantidade % (R$)

Proger 170.489,00 22,7 12.459 9,6 13.684,00

Proger Rural 159.748,40 21,2 16.508 12,8 9.677,03

Pronaf 421.624,40 56,1 100.291 77,6 4.204,01

Total 751.861,80 100,0 129.258 100,0 5.816,75


Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/99

Proger, Proger Rural e Pronaf - Brasil e Minas Gerais


Evolução do total de recursos aplicados (R$)

1995 1996 1997 1998 Total

Minas Gerais 23.080,30 139.534,60 334.859,50 254.387,40 751.861,80

Brasil 678.926,10 1.709.725,70 2.751.406,90 2.196.830,90 7.336.889,60

Minas Gerais/Brasil (%) 3,4 8,2 12,2 11,6 10,2


edição especial 1999

Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/99

121
Proger (35,81%) e pagamentos de salários (23,46%).
O programa possibilitou a geração de 18.839 Mas também é significativo o percentual de
novas ocupações, equivalente a um aumen- gastos com alimentação (57,63%), saúde
to de 45,96%. Foi criado o correspondente (33,96%), educação (26,87%), dívidas
a 2,10 ocupações por cada operação de cré- (17,47%) e moradia (16,06%).
dito realizada, a um custo de R$ 8 097,41. Os beneficiários do Proger em Minas
Os novos ocupados recebem, em média, são homens (75,78%), brancos (61,70%) e
de 1 a 2 salários mínimos (53,02%). Mas chefes de família (71,25%). A maioria per-
existem aqueles que recebem entre meio e tence às classes A e B
1 salário (12,21%); os que recebem de 2 (54,2%) e tem entre 31
a 3 salários mínimos (9,79%); e há ainda e 40 anos (36,16%).
Antes de ter o próprio
uma parcela significativa de não-remune- Mas fica claro que o negócio, a maior parte dos
rados (9,79%). programa está permitin-
Os empréstimos contribuíram para ele- do a inserção no merca-
beneficiários do Proger em
var a renda dos beneficiários: 57,74% decla- do de todas a faixas Minas trabalhava em
raram ter incrementado a produção; etárias: 25,78% têm en-
49,13%, as vendas; e 50,46%, o lucro. Antes tre 41 e 50 anos; 20,62%,
empresa privada ou pública
do programa, a média de rendimento familiar até 30 anos; e 16,70%, (44,03%) ou era autônomo
era de R$ 1 578,2 e passou para R$ 1 887,3. mais de 51 anos. H á
A maioria atribuiu a mudança ao programa um predomínio de es-
(28,60%). Os que não
total (46,58%) ou parcialmente (34,06%). colaridade alta, mais de trabalhavam eram estudantes
No caso da geração de ocupação, os bene- 60% com ensino mé-
ficiários reconhecem a responsabilidade to- dio ou mais. A maior
ou donas de casas (69,85%).
tal do programa em 39,86% dos casos e parte (62,43%) tem no Somente 1,29% estavam
parcial, em 20,71%. Proger sua única fonte
O destino dado ao lucro conseguido reflete de renda e está desfru-
desempregados.
a fragilidade financeira dos beneficiários. tando o primeiro cré-
Boa parte concentrou-se em investimentos dito (82,27%).

Proger - Minas Gerais


Geração de novas ocupações por operação

Categorias Nº Variação (%)

Assalariados permanentes c/ carteira 1,06 52,2

Assalariados permanentes s/ carteira 0,23 11,3

Assalariados temprários 0,28 13,8

Familiares não-remunerados 0,14 6,9


democracia viva

Sócios 0,32 15,8

122
Perfil Local

Os recursos foram utilizados para aqui- Proger Rural


sição de maquinaria e equipamentos, ma- Antes do crédito, os beneficiários ocupavam
téria-prima, mercadorias e materiais. 93.700 pessoas e passaram a ocupar
Pouco mais da metade dos beneficiários 106.363, um aumento de basicamente de
apontou diversos tipos de dificuldades 13,51% de trabalhadores temporários. O nú-
para conseguir o empréstimo. Entre elas mero médio de ocupações geradas por ope-
se destacam o excesso de burocracia (27,43%) ração é de 0,96, a um custo de R$ 11 041,85
e a demora na liberação dos recursos cada. Os novos ocupados estão atuando
(27,36%). Quanto ao pagamento das parce- principalmente em serviços gerais de la-
las do financiamento, 31,35% atrasaram. voura, produção animal, colheita e extrati-
Os motivos alegados foram o atraso no rece- vismo. Quase a metade dos tomadores de
bimento do pagamento de clientes (26,04%), crédito (46%) não atribuiu ao programa a
a queda nos preços dos responsabilidade pela alteração da mão-de-
bens e serviços e o valor obra. Dos que atribuíram, 30,41% afirma-
Em Minas, os beneficiários muito elevado das parce- ram ser o programa totalmente responsável
las (14,12%). e 23,70%, parcialmente.
do Proger não receberam
capacitação ou treinamento
vinculado ao programa
(87,18%). Destes, 74,42%
apontam que os cursos não
foram oferecidos ou
simplesmente não existem.

Proger Rural - Minas Gerais


Geração de novas ocupações por operação

Categorias Antes Depois

Assalariados permanentes c/ carteira 4.025 4.088

Assalariados permanentes s/ carteira 8.910 8.833

Assalariados temporários 58.076 70.038


edição especial 1999

Familiares e agregados ocupados 22.689 23.404

123
Quanto aos impactos do programa na condições de pagamento do programa.
produção, 55,69% dos beneficiários dizem Apesar disso, um terço (32,91%) teve di-
que aumentou; 35,55% afir mam que se ficuldades para saldar a dívida.
manteve estável e somente 4,78% acusam Entre as atividades financiadas, a agricul-
que diminuiu. Dos que declararam o au- tura ficou com 66,65%, a pecuária, com
mento, 40,77% consideram esse resultado 25,64%, e a agropecuária, com apenas
responsabilidade do programa. Após o cré- 4,61%. Os estabelecimentos financiados são
dito, as vendas melhoraram em 52,19% dos pequenas e médias propriedades (83,23%
casos ou mantiveram-se estáveis (39,99%). possuem até 100 hectares). Porém é expres-
O impacto do crédito sobre a renda dos be- siva a quantidade de propriedades entre 100
neficiários também foi positivo em 52,78% e 500 hectares (16,36%).
das situações, e 36,94% não sofreram al- Os beneficiados com o Proger Rural em
terações. Entre os que responderam, a mai- Minas são homens (94,25%), brancos
oria (38,73%) responsabilizou o Proger (82,96%), com idade avançada – acima de
Rural pela modificação. Os recursos rece- 50 anos (36,41%), ou entre 40 e 49 anos
bidos foram aplicados em pagamento de (32,70%) – e com ensino fundamental in-
serviços (63,68%), mas também na com- completo (43,85%). Não possuindo outro
pra de adubos e corretivos (65,63%), se- estabelecimento (67,38%), a maior parte tra-
mentes (56,45%), agrotóxicos (47,11%) e balha exclusivamente no próprio negócio
herbicidas (34,83%). (68,18%), mas se evidencia o percentual dos
O valor dos empréstimos variou de que trabalham fora (29,87%). Quase a
R$ 115,00 a R$ 48 mil, com uma média de metade (45,87%) já tinha feito outro em-
R$ 10 155,29. A maioria dos tomadores de préstimo na década de 90, (29,89% do pró-
crédito (82,49%) afirmou conhecer bem as prio Proger Rural e 5,68% do Pronaf).

Proger Rural - Minas Gerais


Ocupação atual do beneficiário
democracia viva

124
Perfil Local

Proger Rural - Minas Gerais


Impacto na renda do beneficiário

Pronaf 19,54% apenas em parte. Os lucros foram


Antes do crédito havia 335.755 ocupações e direcionados para investimentos na em-
depois passaram a ser 451.967, um aumento presa (34,10%), mas também despesas
de 34,61%, principalmente entre trabalhadores pessoais com alimentação, saúde, vestuário
temporários. O número médio de ocupações e educação e pagamento de dívidas.
geradas por operação é de 1,88, a um custo Os beneficiários do Pronaf são basicamen-
considerado baixo, R$ 2 690,81 cada. Os no- te homens (94,12%), brancos (80,05%), com
vos ocupados foram alocados principalmente mais de 50 anos (37,60%), que não completa-
em ser viços gerais de lavoura (54,09%), ram o ensino fundamental (47,97%). Registra-
colheita e extrativismo (30,14%). se que 16% só sabem ler e escrever e 2,99%
O financiamento possibilitou o aumento são analfabetos. A maior parte possui apenas
da produção para 74,64% dos beneficiários o estabelecimento financiado (78,35%), onde
e a manteve estável em 17,60% dos casos. trabalha (77,13%) e tem o programa como
As vendas aumentaram em 68,91% ou se sua primeira experiência de crédito na déca-
mantiveram estáveis (23,84%). Apenas uma da de 90 (74,57%).
pequena percentagem constatou sua dimi- Suas famílias estão compostas em média
nuição (5,46%). O impacto do crédito sobre por cinco pessoas, a maioria homens
a renda dos beneficiários foi positivo, impli- (51,66%), entre 20 e 49 anos (46,66%).
cando aumento para 50,72%. A maioria Menos de um terço estuda, não tendo ter-
edição especial 1999

(48,53%) atribuiu ao Pronaf a responsabi- minado o ensino fundamental, e trabalha no


lidade total por essa modificação e próprio estabelecimento (57,28%).

125
Os financiamentos obtidos variaram de tiu principalmente da Emater (61,48%).
R$ 306,00 a R$ 74 906,00, com um valor Mas também foi relevante a presença de téc-
médio de R$ 5 118,10. Entre as atividades nicos de cooperativas (19,05%). Poucos be-
financiadas predomina a agricultura, com neficiários dispõem de equipamentos e
70,13%, sobre a pecuária, com 23,66%. maquinarias nas áreas financiadas. Só uma
A agropecuária e a agroindústria respondem quarta parte tem trator (25,21%), menos da
por apenas 3,90%. Os estabelecimentos fi- metade arado (42,63%) e quase não existem
nanciados são em geral pequenas proprieda- colheitadeiras (2,52%).
des (78,35% com até 50 hectares). A faixa Apesar da dificuldade em saldar a dívida
que predomina é de até 10 hectares (26,58%), a maioria dos beneficiários
(34,79%), mas é também significativo o (79,60%) pretende soli-
percentual de propriedades entre 20 e 50 citar um novo emprésti-
hectares (26,42%). mo ao Pronaf, no valor Com o Pronaf, a
A assistência técnica recebida para o de R$ 3 mil a R$ 5 mil quantidade de dias de
desenvolvimento do empreendimento par- (33,96% dos casos).
trabalho dos assalariados
temporários aumentou em
25,45%. O tempo médio
de contratação em
atividades rurais
não-agrícolas é de 160 dias;
em produção animal,
Pronaf - Minas Gerais
Escolaridade do beneficiário de 83; em colheita e
extrativismo, de 58; e na
lavoura, de 55.
democracia viva

126
Perfil Local

Pronaf - Minas Gerais


Atividades dos novos ocupados

Pronaf - Minas Gerais


Alocação do lucro*

edição especial 1999

*Resposta múltipla

127
Paraná
População: 9.003.804 habitantes (IBGE/1996). Urbana: 7.011.990 Entre 1991 e
Rural: 1.991.814
1996, a população
Mercado de trabalho: dados do IBGE de 1996 demonstram que
do total de homens da população (4.234.083), 28,76% trabalham rural paranaense
no setor agrícola; 12,71%, na indústria; 6,33%, na construção civil;
13,43%, no comércio; e 38,75%, em serviços gerais. Do total de
diminuiu 2,44%
mulheres (1.657.480), 24,08% exercem atividades agrícolas; 8,33% enquanto a urbana
atuam na indústria, 0,23% na construção civil; 14,25%, no comércio;
e 53,08%, em serviços. cresceu 2,47%.

Distribuição dos recursos


por programa
De janeiro de 1995 a dezembro de 1998, os
três programas realizaram no estado 219 mil
operações de crédito, envolvendo um total
de R$ 1,31 bilhão, uma média de R$ 6 mil Proger, Proger Rural e Pronaf - Paraná
por contrato firmado. Isso corresponde a Distribuição dos recursos do FAT
18% do total nacional de operações. A par-
(jan/95 a dez/98)
ticipação no Proger é pouco expressiva. Nos
financiamentos rurais, contudo, o estado tem
grande destaque. No Proger Rural, é o princi-
pal tomador, seguido de perto pelo Rio Grande
do Sul. No Pronaf, dá-se justamente o contrá-
rio, ficando o Paraná em segundo lugar.
O Banco do Brasil foi o principal agen-
te financiador do Proger no estado. O valor
contratado representa 22,7% do total aplica-
do no país pelo banco. Já o da Caixa Econô-
mica Federal corresponde a 17,5% do total.
O Proger Rural é operado apenas pelo Banco
do Brasil, representando 29% do total con-
tratado nacionalmente. No Pronaf, o Banco
do Brasil respondeu por cerca de 70% do
valor contratado até dezembro de 1998.
As aplicações mais recentes ficaram por
conta do BNDES, que só começou a ope-
democracia viva

rar em novembro de 96.

128
Perfil Local

Proger - Paraná Proger


Faixas etárias dos Antes do programa, havia uma média de
novos ocupados 5,11 trabalhadores nos estabelecimentos
contratados. Depois, essa média subiu para
7,53. Foram geradas 2,42 ocupações por ope-
ração de crédito realizada. Entre os novos ocu-
pados, 56,4% são homens e 43,6%, mulheres,
a maioria jovens entre 18 e 29 anos. Não foi
registrada aqui nenhuma contratação de meno-
res de 14 anos. O nível de escolaridade vai até
o ensino fundamental e a remuneração não
passa de dois salários mínimos.
O programa atuou positivamente para me-
lhorar a situação da produção (67,1% do casos),
das vendas (59,9%) e para aumentar os lucros
dos beneficiários (54,9%). Dos entrevistados,
37% atribuíram esse aumento ao programa;
43% consideraram como um resultado parci-
al e 18% não relacionaram as alterações com
o Proger. O rendimento familiar antes do em-
préstimo era de R$ 1 793,53 e passou a ser
Proger - Paraná de R$ 2 264,63.
Grau de escolaridade Os beneficiários típicos no Paraná são ho-
do beneficiário mens brancos, com idade entre 31 e 50 anos,
chefes de família, com 1,59 dependentes em
média, pertencentes às classes A e B (67%) ,
com nível de escolaridade elevado: ensino mé-
dio completo ou mais. A existência de 35% com
curso superior é bastante superior às médias
brasileira e paranaense. Apenas 35,2% trabalham
fora do estabelecimento financiado, indicando que
o programa está favorecendo a geração de ocu-
pação para o próprio beneficiário. A maioria está
desfrutando o primeiro crédito (77%). edição especial 1999

129
O valor médio do financiamento conce- Proger - Paraná
dido foi de R$ 12 526,21. A maior parte dos Geração de novas ocupações
empreendimentos foi alocada na área de ser-
por estabelecimento
viços (50,2%), mas destacam-se também a
indústria (30,5%) e o comércio (32,4%). As-
sinala-se que 56,1% dos beneficiários pen-
sam em realizar novos investimentos nos
próximos 12 meses e 58,4% pretendem re-
correr novamente ao programa.

Proger Rural
Depois do programa, constata-se uma redu-
ção de 5% no percentual de ocupações lo-
cais na maioria das categorias. Apenas os
assalariados permanentes sem carteira apre-
sentaram um leve aumento. Segundo a ava-
liação, o resultado é coerente com o
desenvolvimento do programa no estado,
onde mais de 90% dos recursos são aplica-
dos em custeio. A tendência do programa
foi principalmente de manutenção da mão-
de-obra existente.
O programa resultou na estabilização da
produção (53%), das vendas (59%) e da
renda (52%). Quanto aos 36% que aumen-
taram o lucro, a maior parte não respondeu
a que o destinou (63%), 21% utilizaram
para o pagamento de dívidas e 16% inves-
tiram no próprio negócio.

Proger Rural - Paraná


Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois Variação

Assalariados permanentes c/ carteira 14.026 12.815 (-1.211)

Assalariados permanentes s/ carteira 7.057 7.501 444

Assalariados temporários 179.242 173.523 (-5.719)


democracia viva

Familiares e agregados 142.258 141.462 (-796)

130
Perfil Local

Os beneficiários do Proger Rural são em estabelecimentos. A atividade principal de-


geral homens brancos, entre 30 e 49 anos, senvolvida é a agricultura (96,1%), com
que não completaram o ensino fundamental alto grau de modernização: 89,9% utili-
e trabalham no estabelecimento financiado. zam tração mecânica, dispondo de trato-
A maioria já havia recebido outro financia- res (82,7%), pulverizadores (81,8%) e
mento na década de 90 (85%). semeadeiras (77,9%).
Entre os integrantes das famílias tam- A maioria dos entrevistados (94%) decla-
bém predomina o sexo masculino (52,9%). rou receber assistência técnica, pelo menos
O grau de instrução dos familiares pode 20% há mais de 20 anos. O dado demons-
ser considerado bom se comparado ao da tra a tradição desses produtores agrícolas.
população rural: 14% têm ensino funda- Os maiores prestadores de assistência são as
mental contra 11,8% da população rural cooperativas (65%), as empresas de planeja-
total; 12% têm ensino médio contra 5,2% mento (51%) e a Emater (41%).
da população rural to-
tal; e 6% têm nível su- Pronaf
70% dos beneficiários perior contra 0,6% da O programa gerou ocupações em todas as
população rural total. categorias de trabalhadores, embora os as-
declararam não ter Do total de estabele- salariados temporários tenham tido o cres-
encontrado dificuldades cimentos financiados, cimento mais acentuado. Foram geradas
44% possuem entre 20 24.513 novas ocupações, a um custo de
para obter o e 50 hectares, sendo R$ 12 098,00. O crescimento da mão-de-
financiamento, o que 37% com área superior obra torna-se ainda mais relevante quando
a 50 hectares. É elevado se considera que o êxodo rural foi, em
confirma o fato de serem o percentual de produ- média, de 70 mil pessoas anualmente nos
clientes já tradicionais do tores que exploram áre- últimos 15 anos. Outro resultado do progra-
as próprias (74,6%) e ma foi a manutenção de 264.459 ocupa-
agente financeiro. 40% possuem outros ções, a um custo de R$ 1 121,00 cada.

Pronaf - Paraná
Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois

Assalariados permanentes c/ carteira 5.300 7.337

Assalariados permanentes s/ carteira 4.182 4.958

Assalariados temporários 74.490 94.925


edição especial 1999

Familiares e agregados 155.974 157.239

131
O aumento da mão-de-obra ocupada é tiveram acesso ao crédito, o que comprova
maior nas atividades relacionadas ao crédi- a dificuldade dos mesmos em financiar as
to de custeio. Os serviços de lavoura e co- atividades do seu estabelecimento. Cerca de
lheita representam 68% da ocupação gerada. 70% já haviam obtido financiamento na dé-
Mas também é significativa a oferta de ocu- cada de 90.
pações ligadas a atividades de investimento O programa financiou prioritariamente
agrícola. áreas de, no máximo, 50 hectares, sendo
A maior parte dos beneficiários obser- 52% de até 20 hectares e 36% de 20 a 50
vou que a produção e a venda nos estabe- hectares. A área média
lecimentos ficaram estáveis depois do dos estabelecimentos é
financiamento, apesar de um percentual sig- de 24,8 hectares. Apro-
Os financiamentos do
nificativo ter declarado que houve aumento ximadamente 79% das Pronaf em 95% dos casos
(40%). Já a renda aumentou para 56%. famílias beneficiárias
Considerando-se que a maior parte dos recur- são proprietárias do
são para atividades agrícolas
sos do Pronaf destinou-se ao custeio, a redu- imóvel, mas é conside- e em 40% para a pecuária.
ção na renda, percebida por 24% dos rável o percentual de
beneficiários, tem a ver com as perdas verifi- parceiros e arrendatá-
O extrativismo, a pesca e a
cadas na colheita da safra de verão 1997/98. rios (25%). agroindústria são pouco
Os beneficiários do Pronaf no Paraná Cerca de 85% dos
são homens brancos, com mais de 40 anos, beneficiários afir ma-
explorados, demonstrando
que não completaram o ensino fundamental ram conhecer bem as que são beneficiadas
e que trabalham exclusivamente no empre- condições do financia-
endimento financiado, com a ajuda dos fa- mento e 73% não tive-
atividades mais tradicionais
miliares (em 66% dos casos). Registra-se que ram dificuldades em e integradas à dinâmica
apenas 11% dos produtores de até 29 anos pagar suas parcelas.
de mercado.

Pronaf - Paraná
Impactos na produção,
venda e renda
democracia viva

132
Perfil Local

ANÚNCIO
BALANÇO
SOCIAL

edição especial 1999

133
Rio de Janeiro
Área: 43.907 km 2
O Rio de Janeiro
Municípios: 91, sendo o Rio de Janeiro o mais populoso, com
41,4% da população total.
possui a maior
População: (IBGE/1996) a grande diferença entre a população ur-
densidade demográfica
bana e a rural agrava os problemas clássicos de subdesenvolvimen- do país, com 303,27
to característicos do estado: urbanização intensa, grande
concentração da propriedade da terra e desequilíbrio estrutural do habitantes por km2, e
sistema produtivo. Urbana: 12.806.488 habitantes. Rural: 599.820
habitantes.
a maior taxa de
Mercado de trabalho: dos 5.673.146 ocupados no estado, a maior
urbanização, com
parte pertence ao setor de serviços, seguido do comércio, da indústria 95,5% da população
de transformação e da área social. A taxa de desemprego que havia sido
reduzida até 1995, voltou a crescer, atingindo 5,61% entre janeiro e
vivendo em áreas
outubro de 1998. De 1997 a 1998, a taxa de desemprego na Região urbanas.
Metropolitana cresceu mais que o dobro da média nacional.

Distribuição dos recursos relação ao total do Brasil e ainda reduziu-se, de


por programa 1997 para 1998, de 0,49% para 0,38%.
Entre janeiro de 1995 e dezembro de 1998 No Rio de Janeiro, o Proger Rural apare-
foram aplicados R$ 31 343 786,00 nos três ce com o menor volume de recursos contra-
programas no estado. O número de opera- tados e com o menor número de operações. A
ções realizadas foi de 5.270, com um valor liderança é do Pronaf. O Banco do Brasil é
médio por contrato de R$5 947,59, cerca de o maior agente financeiro dos programas
15% superior à média nacional. O estado no estado. Realizou, até dezembro de 1998,
teve um dos menores índices de aplicação 80,9% das operações e aplicou 83,2% dos
de recursos do país, 0,43%. É superior ape- recursos. O BNDES, através do Banco do
nas aos do Acre, Amazonas, Amapá, Distrito Brasil, atua somente no Pronaf. Sua partici-
Federal, Roraima e Tocantins. O índice de ope- pação em operações foi de 4,9% e em va-
rações realizadas também é muito baixo em lor contratado foi de 9,7%.
democracia viva

134
Perfil Local

Proger, Proger Rural e Pronaf - Rio de Janeiro


Aplicação dos recursos do FAT

Número Valor aplicado Número Valor


Programa de operações (R$ mil) N° (%) (%)

Proger 462 9.188 8,8 29,3

Proger Rural 399 3.990 7,6 12,7

Pronaf 4.409 18.166 83,6 58,0

Total 5.270 31.344 100,0 100,0

Proger mentos financiados. A maioria dos benefi-


Foram criadas 3,54 novas ocupações, em ciários atribuiu a melhoria dos lucros ao
média, por operação, ocupando principal- Proger, parcial (33,33%) ou totalmente
mente os assalariados per manentes com (41,67%). O rendimento médio se elevou
carteira. O custo de cada nova ocupação foi de R$ 2 741,18 para R$ 3 154,62. O exce-
de R$ 6 621,37. Para manter uma ocupação dente foi investido principalmente em ma-
o custo é inferior, em média R$ 2 383,92. quinaria e equipamentos (50,46%), seguido
Os novos postos de trabalho foram pre- por matéria-prima e insumos (24,77%) e por
enchidos em 55,67% dos casos por jovens mercadorias e materiais (22,02%). Fora do
entre 18 e 29 anos, seguidos dos que estão empreendimento, os gastos foram basica-
na faixa de 30 a 44 anos. O nível de esco- mente com moradia, alimentação e saúde.
laridade é baixo: quase 11% são analfabetos O perfil dos beneficiários do Proger nesse
e 44,84% são apenas alfabetizados. Somen- estado é de homens brancos, entre 31 a 50
te 9,73% completaram o ensino fundamental anos e chefes de família. Também se registra
e 10,52% o ensino mé- a presença de cônjuges e filhos (em 22,41% e
dio. A remuneração é de 12,07% dos casos, respectivamente). Possuem
1 a 2 salários mínimos em média 1,84 dependentes e na sua resi-
Os beneficiários do Proger no (43,52%), mas também dência 2,56 pessoas contribuem para a ren-
se registram casos de 2 a da familiar. A maior parcela pertence às
Rio de Janeiro não receberam 3 salários (37,73%). classes A (31,04%) ou B (57,76%). O grau
qualquer tipo de capacitação O programa possibi- de escolaridade é elevado, de nível superior
litou o aumento ou a à pós-graduação. Na maioria dos casos têm
(97,41%) pela ausência de estabilização da produ- na atividade financiada a única fonte de
oferta de cursos (49,56%) ou ção, das vendas e da renda (78,45%) e estão desfrutando o pri-
renda dos estabeleci- meiro crédito (76,72%).
por não sentirem necessidade
edição especial 1999

de treinamento (41,59%).

135
Proger - Rio de Janeiro
Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois Variação

Assalariados permanentes c/ carteira 440 776 336

Assalariados permanentes s/ carteira 60 76 16

Assalariados temporários 16 39 23

Familiares e agregados 7 16 9

Sócios 220 254 34

Total 743 1.161 418

Antes do financiamento,
a maioria dos beneficiários
trabalhava como funcionário
de empresa privada
Proger - Rio de Janeiro (40,18%), autônomo
Grau de escolaridade do beneficiário
(23,21%) ou era estudante
Escolaridade % (17,65%) ou dona de
1° grau incompleto 3,45
casa (11,76%).
2° grau incompleto 15,52

Superior incompleto 12,07

Superior completo 52,59

Pós incompleta 1,72

Pós-graduação completa 6,03

Não responderam 5,0


democracia viva

136
Perfil Local

Proger Rural casos), nas vendas (68,7% declararam que


Foram geradas 324 novas ocupações, a aumentou) e na renda (61% registraram
maioria entre assalariados temporários aumento). O lucro foi utilizado em alimen-
(309).O aumento deveu-se basicamente à tação (32,82%), pagamento de dívidas
realização de serviços gerais da lavoura e (31,19%), saúde (31,10%), investimentos no
da produção, seguido negócio (30,37%) e vestuário (25,39%).
das atividades de co- Os beneficiários do Proger Rural no
As condições de infra- lheita. Isso representa Rio de Janeiro são homens, apesar de se
cerca de 0,84 ocupação registrar uma participação significativa de
estrutura dos por operação, a um cus- mulheres (11,9%) como titulares do finan-
estabelecimentos fianciados to de R$ 11 855,57 em ciamento, fato que não se obser va nos
média. Já para manter demais programas. A maioria possui o en-
pelo Proger Rural são as ocupações existen- sino fundamental completo ou incomple-
razoáveis: 82,86% têm tes foram necessários to (51,66%) e trabalha exclusivamente no
R$ 1 578,44 por operação. próprio estabelecimento (70,86%). Nota-se
acesso à rede elétrica, 92% Os impactos do pro- a presença de várias faixas etárias: 26,24%
dispõem de poço ou nascente grama refletiram positiva- têm entre 50 e 60 anos, 24,23% entre 40
mente na produção (com e 50 anos, 23,62% entre 30 a 40 e 21,2%
para abastecimento de água, aumento em 70,6% dos mais de 60.
as casas são de alvenaria
(93,47%), com 5 a 6
cômodos.

Proger Rural - Rio de Janeiro


Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois Variação

Assalariados permanentes c/ carteira 282 245 (-37)

Assalariados permanentes s/ carteira 254 273 19

Assalariados temporários 511 820 309

Familiares e agregados 687 720 33

Total 1.734 2.058 324


edição especial 1999

137
As principais atividades financiadas fo- Proger Rural - Rio de Janeiro
ram a agricultura e a pecuária. Os emprés- Atividades financiadas
timos foram em média de R$ 9 915,80.
Não foi encontrado nenhum caso de ope-
ração com valor acima do limite de finan-
ciamento (R$ 48 mil). O valor mínimo foi
de R$ 386,06 e o máximo de R$ 40 mil.
Os estabelecimentos beneficiados têm
entre 10 e 50 hectares (43,34%) ou mais
de 50 hectares (32,09%). Registram-se os
percentuais de 22,9% de áreas inferiores a
10 hectares, de 9,06% maiores de 100 hec-
tares e de 0,82% com mais de 500 hectares.

Pronaf
Foi gerada 0,64 ocupação por operação a
um custo de R$ 7 624,62. Houve um au-
mento da participação dos assalariados
permanentes com carteira em detrimento
dos sem carteira e um expressivo aumen-
to na contratação de trabalhadores tem-
porários. A manutenção de ocupações no
programa tem um custo bem mais baixo,
R$ 904,97. Os novos ocupados foram alo-
cados principalmente em atividades de la-
voura e colheita. São na maioria homens,

Pronaf - Rio de Janeiro


Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois Variação

Assalariados permanentes c/ carteira 382 414 32

Assalariados permanentes s/ carteira 1.189 949 (-240)

Assalariados temporários 4.722 6.055 1.333

Familiares e agregados 4.882 5.262 380

Total 11.175 12.680 1.505


democracia viva

138
Perfil Local

entre 21 e 40 anos. Registra-se o percentual renda. O principal destino dos lucros foi o
de pouco mais de 1% de crianças com pagamento de dívidas, seguido de investi-
menos de 14 anos. mentos no negócio e alimentação.
Os beneficiários registraram aumento na Os tomadores de crédito são homens
produção (60%), vendas (55%) e renda brancos, com baixo grau de instrução – 3% são
(50%) depois do programa. Mas também é analfabetos e 56,8% não completaram o ensi-
significativo o percentual que se manteve es- no fundamental – , têm entre 30 e 49 anos e
tável: 30% da produção, trabalham apenas no estabelecimento. Eviden-
32% para as vendas e cia-se o percentual de 18,2% entre os que
10% da renda. Para trabalham no próprio empreendimento e tam-
52% dos entrevistados, bém fora, em atividades agrícolas. Os estabe-
A instabilidade de mercado
o Pronaf é parcial ou lecimentos financiados têm em média 55
e as dificuldades de acesso integralmente responsá- hectares, uma área considerada grande diante
vel pela modificação na da realidade agrária do estado.
e de custo do crédito
aparecem como os problemas
mais citados pelo
agricultor familiar no
Rio de Janeiro.
Pronaf - Rio de Janeiro
Área do estabelecimento financiado

edição especial 1999

139
Rio Grande do Sul
Área: 282.062 km 2 , ocupa cerca de 3,32% do território nacional

Municípios: 467 — mais 30 foram criados por lei, mas ainda não Nota-se um percentual
estão implantados.
significativo de mulheres
População: 9.637.682 habitantes (IBGE/1996), cerca de 79% viven-
chefes de família no
do na área urbana.

IDH: 0,869; o estado está em primeiro lugar entre os estados bra-


estado, 20,95%,
sileiros, empatado com o Distrito Federal. O alto índice de qualida- praticamente igual à
de de vida expressa o seu desempenho em indicadores como
expectativa de vida (1º lugar); alfabetização (3º lugar); taxa de
média nacional.
matrícula escolar (9º lugar) e PIB per capita ajustado pelo poder de Na Região
compra (4º lugar). A cidade de Feliz, com cerca de 10 mil habitan-
tes, é a campeã nacional em qualidade de vida. Metropolitana de Porto
Mercado de trabalho: a populacão economicamente ativa do Rio Alegre essa proporção
Grande do Sul é integrada por 5.233.630 pessoas. O desemprego tem
se tornado uma preocupação crescente. O setor de serviços na Re-
atinge cerca de 25%.
gião Metropolitana de Porto Alegre eliminou 18 mil postos de tra-
balho em um único mês, outubro de 1998. Também é marcante a
elevação do tempo médio de procura de vagas, que chegou a 42
semanas, segundo o Dieese. Isso é um reflexo do crescimento do de-
semprego estrutural, de longa duração, que tende a gerar formas
precárias de trabalho.

Distribuição de recursos ta apenas 3,66%. Ressalta-se que 96% dos


por programa recursos foram destinados à área rural.
De janeiro de 1995 a dezembro de 1998, Em relação à quantidade de operações, o
foram realizadas, no Rio Grande do Sul, Pronaf também fica em primeiro lugar, com
456.996 operações de crédito, movimen- 80,37% e o Proger com a menor participa-
tando R$ 1 743 096 891,00. Isto represen- ção – 0,92%. O Proger Rural realizou
ta 32,2% do total de operações dos três 18,71% do total de operações.
programas no país. Em termos de valor O Banco do Brasil foi o principal res-
atinge 23,8%, indicando que os valores ponsável pela aplicação do maior montante
médios dos contratos no estado são infe- de crédito, equivalente a 84,84% do total
riores aos do país. no estado. O BNDES r espondeu por
O Pronaf destaca-se como responsável 14,03% apenas no Pronaf. A Caixa Eco-
pela maior parcela do total de recursos do nômica Federal, que atuou somente no
FAT no estado (59,01%). O Proger Rural Proger, teve um desempenho menos ex-
democracia viva

responde por 37,33% e o Proger represen- pressivo, 1,13%.

140
Perfil Local

Proger, Proger Rural e Pronaf - Brasil e Rio Grande do Sul


Aplicação dos agentes financeiros

Agente Valor
financeiro Número de operações Valores aplicados (R$) médio (R$)
Brasil RS % RS/BR RS(%) Brasil (R$) RS (R$) % RS/BR RS (%) Brasil RS

BN 201.964 - - - 1.296.322.320 - - - 6.419 -

BB 1.085.228 413.238 38,08 90,42 5.029.753.227 1.478.808.350 29,40 84,84 4.635 3.579

CEF 12.538 2.000 15,95 0,44 127.154.978 19.755.231 15,54 1,13 10.142 9.878

BNDES 119.572 41.758 34,92 9,14 883.659.040 244.533.310 27,67 14,03 7.390 5.856

Total 1.419.302 456.996 32,20 100,00 7.336.889.565 1.743.096.891 23,76 100,00 5.169 3.814

Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/99

Proger 2 a 3 salários mínimos, e de 10% que rece-


O programa gerou, em média, 2,62 novos bem acima de 3 salários. O nível de escola-
postos de trabalho por operação de crédito, ridade varia entre o ensino fundamental e o
a um custo de R$ 6 694,37. Os novos ocu- ensino médio (61,10%). O percentual com
pados são principalmente assalariados per- curso superior é relevante – 12,7%.
manentes com carteira (73,7%). Apesar da Depois do Proger, a situação do empre-
predominância dos homens (58,8%) tam- endimento financiado melhorou para 80%
bém é expressivo o percentual de mulheres dos beneficiários do Rio Grande do Sul.
(41,2%). São, em geral, jovens entre 18 e 29 Cerca de 68% registraram aumento na pro-
anos (57,7%) ou entre 30 e 44 anos dução; 58,6% ampliaram suas vendas e
(30,8%). Recebem de 1 a 2 salários mínimos 58%, os lucros. Apenas 2,6% indicaram dimi-
em 43,3% dos casos. Mas também se regis- nuição da produção, 4,6% das vendas e 10,9%
tra o percentual de 38,3% que recebem de da renda. A maioria atribuiu a modificação
total ou parcialmente ao programa (86,3%).
A renda familiar subiu de R$ 2 439,93 para
Proger - Rio Grande do Sul
Geração de novas ocupações R$ 3 111,89 depois do financiamento.
por categoria A maioria dos beneficiários é composta
de homens (74,9%) brancos, mas se registra
a presença de 24,3% de mulheres. São che-
fes de família entre 31 e 50 anos, com 1,69
dependentes em média, pertencentes às clas-
ses A e B e com escolaridade corresponden-
te ao ensino médio completo ou superior.
Com o Proger, estão desfrutando o primeiro
edição especial 1999

crédito e não possuem outro trabalho remune-


rado. Antes do financiamento eram funcioná-
rios em empresa pública ou privada ou

141
autônomos e somente 0,9% estava desem- havia feito outro empréstimo na década de 90
pregado. Quanto ao ramo de atividade pre- (68,54%). Os recursos foram utilizados prin-
domina o setor de serviços, com 51,2%, cipalmente para custeio (75,06%).
seguido do comércio, com 48,4% e da in- A área média dos estabelecimentos finan-
dústria, com 30,6%. ciados é de 43,25 hectares, sendo que
As principais dificuldades apontadas no 31,08% dos mutuários possuem outro esta-
acesso ao crédito foram a burocracia (40,4%), belecimento e 38,49% dos financiamentos
a demora na liberação do financiamento – estão em áreas arrendadas. A principal ativi-
cerca de 103 dias – (26,6%) e a exigência de dade desenvolvida é a agricultura (99,25%).
garantias (23,2%). A maioria não teve dificul-
dade em pagar as parcelas (84,7%) e quase
a metade pretende realizar novos investi-
mentos nos próximos 12 meses (48,5%). Proger Rural - Rio Grande do Sul
Período médio de contratação para
Proger Rural assalariados temporários
Foi gerada apenas 0,07 nova ocupação por
Atividades Dias
operação de crédito, a um custo elevado
de R$ 105 435,00 cada. Os dados são bas-
Serviços gerais de lavoura 55,24
tante discrepantes em relação aos outros
estados e também ao conjunto pesquisado. Colheita/extrativismo 65,54
As causas estão nas características dos agri-
Serviços gerais da produção animal 82,72
cultores beneficiados no estado. O número
de dias de trabalho dos assalariados tempo-
Atividades rurais não-agrícolas -
rários cresceu cerca de 6%, um dado signi-
ficativo na agricultura gaúcha, que não tem Serviços gerais 130,80
um padrão de funcionamento baseado no
Melhoria de benfeitorias e moradias 167,80
trabalho temporário e também pela escassez
de mão-de-obra eventual no estado.
É relevante o aumento da produção
obtido com o financiamento do Proger Ru- Proger Rural - Rio Grande do Sul
ral, admitido por 41,54% dos entrevistados. Caracterização do estabelecimento financiado
As vendas aumentaram para 38,79% dos
mutuários. No caso da renda, 43,43% con- Área (hectares) %
sideraram que se manteve estável e 39,45%
até 10 19,50
registraram aumento. A maior parte dos
lucros foi destinada ao pagamento de dívidas mais de 10 até 20 18,15
(21,46%), seguido de gastos com saúde, ali-
mentação e vestuário. mais de 20 até 50 43,34
Os beneficiários são homens brancos, en-
mais de 50 até 100 13,12
tre 30 a 50 anos, que não completaram o
ensino fundamental. Não estudam e trabalham mais de 100 até 500 5,84
exclusivamente no estabelecimento financiado,
democracia viva

com a ajuda dos familiares. Mais da metade já mais de 500 0,05

142
Perfil Local

Pronaf Proger Rural, as causas estão nas caracte-


Foi gerado o correspondente a 0,06 ocupação rísticas do conjunto de agricultores fami-
por operação a um custo de R$ 50 278,00 liares beneficiados.
cada. Foram mantidas 666.708 ocupações, ao O impacto do programa é nítido no au-
custo de R$ 840,00. Verifica-se que os dias de mento da produção (41,35%) e da renda
trabalho dos trabalhadores temporários tive- (30,58%) e na estabilização das vendas
ram um aumento de 3,7%. A mudança pode (46,12%). A maior parte dos lucros foi uti-
ser considerada pequena, mas é significativa lizada com gastos em alimentação, saúde e
quando se trata de pagamento de dívidas.
produção familiar, Os tomadores de crédito do Pronaf no
onde a utilização de Rio Grande do Sul são homens, brancos, en-
Em 1997, a fumicultura mão-de-obra externa tre 21 e 40 anos, que não completaram o
tende a ser menor. ensino fundamental. Não estão estudando e
absoveu 32,4% do total de No caso da ge- trabalham exclusivamente no estabelecimento
recursos nacionais do Pronaf. ração de ocupa- financiado. Mais da metade já havia recebido
ções, os índices são crédito antes dessa operação na década de 90
Dos R$ 552 milhões aplicados bastante desfavorá- (57,57%). Os recursos foram utilizados prin-
no custeio, R$ 10 milhões veis quando com- cipalmente para aquisição de adubos e corre-
parados aos outros tivos, agrotóxicos, sementes e herbicidas.
destinaram-se à cultura do estados pesquisa- A maioria dos estabelecimentos financi-
fumo. O Rio Grande do Sul dos e ao restante ados tem áreas de até 50 hectares (95,75%),
do país. Como no com 35,76% até 10 hectares.
consumiu sozinho 46% do
crédito de custeio.

Pronaf - Rio Grande do Sul


Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Antes Depois Variação

Assalariados permanentes c/carteira 5.624 7.345 1.721

Assalariados permanentes s/carteira 7.601 6.911 (-690)

Assalariados temporários 54.309 62.114 7.805

Familiares e agregados 588.031 590.338 2.307


edição especial 1999

143
Rondônia
Área: 23.512,8 km 2 , equivalente a 2,79% do território nacional e
a 6,13% da Região Norte.

População: 1.231.007 habitantes (IBGE/1996). Urbana: 762.864


Rural: 468.143

N.º de municípios: 52, sendo 34 criados a partir de 1990. Estima-se que o grau
IDH: 0,820, o 10º lugar entre os estados brasileiros. de endividamento do
Educação: aproximadamente 11% das crianças de 7 a 14 anos estão fora
governo de Rondônia
da escola. O índice de passagem do ensino fundamental para o ensino
médio não ultrapassa 13%. Entre a população adulta há altos índices de seja de R$ 1,2 bilhão,
analfabetismo, baixo nível de escolaridade e de qualificação profissional.
quase cinco vezes a
receita tributária de
Distribuição dos recursos 1996 ou 40% do PIB
por programa
O estado recebeu apenas 0,69% dos recur-
estadual de 1995.
sos do FAT destinados aos três programas Quase 80% da dívida
de geração de emprego e renda, equivalen-
te a R$ 50 269 188,00. Ao todo, foram
é de curto prazo.
realizadas 14.836 operações com um finan-
ciamento médio de R$ 3 388,00.

Proger, Proger Rural e Pronaf - Rondônia


Aplicação por agente financeiro (jan/95 a dez/98)

Agente Quantidade Valor Valor médio Valor total/


Financeiro Programa de operações contratado (R$) por contrato (R$) Brasil (%)

Banco do Brasil Proger 424 5.705.626,00 13.456,00 1,23

Proger rural 2.128 7.602.429,00 3.573,00 0,30

Pronaf 11.588 30.805.569,00 2.658,00 1,52

CEF Proger 39 753.518,00 19.321,00 0,60

BNDES Pronaf 657 5.402.046,00 8.222,00 0,61

Total 14.836 50.269.188,00 3.388,00 0,69*


democracia viva

Fonte: Ministério do Trabalho - Informe CGEM, fev/99


*Considerando também os recursos alocados pelo Banco do Nordeste (BN)

144
Perfil Local

Proger - Rondônia Proger


Faixas etárias dos novos ocupados Houve um aumento de 36% no número de
assalariados com carteira assinada em esta-
belecimentos financiados pelo Proger, pas-
sando de uma média de 4,03 para 5,50.
Porém a maior variação foi entre os assala-
riados temporários, em torno de 220%,
passando de 0,19 para 0,61. O número de
sócios passou de 0,66 para 0,84 por empre-
endimento, uma variação de 27%. No geral,
a variação foi de 2,45 pessoas por empreen-
dimento. O perfil dos novos ocupados pode
ser assim resumido: 71% do sexo masculino e
59% com idade entre 18 e 29 anos. Mais de
81% não completaram o ensino fundamental.
A população masculina (85%) foi a que
conseguiu mais financiamentos do Proger
em Rondônia. Quanto à idade, 78% dos
tomadores de crédito estão na faixa de 30 a
50 anos. São predominantemente brancos
(82%) e mais de 70% são das classes A ou B.

Proger - Rondônia
Geração de ocupações por categoria

Categorias Antes Depois

Assalariados permanentes c/ carteira 4,03 5,50

Assalariados permanentes s/ carteira 0,94 1,23

Assalariados temporários 0,19 0,61

Familiares não-remunerados 0,32 0,42

Sócios 0,66 0,84

Nº de ocupações por operação: 2,45


edição especial 1999

Financiamento por ocupação gerada: R$ 7 325,52

145
Os beneficiários possuem residência fixa Proger - Rondônia
(97%) e a maioria (85%) é proprietária dos Escolaridade dos novos ocupados
imóveis habitados. Têm acesso a serviços de
água canalizada (79%), coleta de lixo (92%),
mas apenas 35% dispõem de esgoto sanitário.
Cerca de 75% dos beneficiários atribuem
ao Proger a responsabilidade total ou parcial
pela geração das novas ocupações. Entre os
que aumentaram o lucro, 83% relacionam o
fato ao programa. A maioria dos beneficiá-
rios (94%) declarou não ter passado por
nenhum curso de capacitação. Mesmo as-
sim, foram apontados como sugestões para
a melhoria de negócios cursos técnicos e
profissionalizantes, novas técnicas de produ-
ção, venda e marketing, entre outros.
O programa significou a primeira expe-
riência de crédito bancário para 67% dos
Proger - Rondônia
beneficiários. Aproximadamente 70% pre-
Primeiro crédito
tendem solicitar um novo crédito. Os prin-
cipais entraves nos negócios foram a falta de
capital de giro (69%), os impostos (55%) e
a redução da demanda (24%).

Proger - Rondônia
Classe do beneficiário
democracia viva

146
Perfil Local

Proger Rural - Rondônia Proger Rural


Faixas etárias dos novos O acréscimo nas novas ocupações foi de
ocupados não-familiares 21%, passando de 11.310 para 13.715. Com
o programa, foram contratados 27 assalari-
ados permanentes com carteira, categoria
antes inexistente. Os assalariados sem cartei-
ra passaram de 176 para 298, uma variação
de 69%, e os familiares não-remunerados
aumentaram em apenas 1,41%. No geral,
foram 2.404 novas pessoas ocupadas como
resultado da aplicação dos recursos do
Proger Rural. O custo de cada ocupação
gerada foi de R$ 3 302,07.
Chama a atenção o fato de 11,9% das
pessoas ocupadas possuírem idade igual ou
inferior a 17 anos. Destes, 6,3% têm menos
de 14 anos. Do total, 61,5% estão na faixa
de 21 a 40 anos.
A agricultura foi a atividade preponde-
rante entre os beneficiários (87%), ficando
Proger Rural - Rondônia
Aplicação dos recursos* a pecuária com 8% e a agropecuária com
apenas 4%.O programa significou a primeira
experiência de crédito para 54% dos bene-
ficiários. Daqueles que receberam financia-
mentos anteriores, 18% foram através do
próprio Proger Rural ou do Pronaf.
Para 65%, não houve dificuldades de
acesso ao financiamento. A maioria afirmou
conhecer bem as condições de pagamento
do financiamento (92%) e 69% declararam
pagar as parcelas sem maiores problemas.
Os recursos recebidos foram utilizados na
compra de herbicidas e agrotóxicos, de adu-
bos e corretivos, de sementes, no pagamento
de serviços, no investimento em culturas
perenes e em instalações e benfeitorias.
edição especial 1999

*Resposta múltipla

147
A produção aumentou depois do progra- Proger Rural - Rondônia
ma em 60% e as vendas em 56%. A renda Aplicação do lucro*
gerada foi direcionada a investimentos no
próprio negócio, pagamento de dívidas, com-
pra de animais, realização de benfeitorias e
aquisição de máquinas. Destaca-se que boa
parte do lucro foi utilizada com gastos que
visam à melhoria da qualidade de vida do
beneficiário e sua família, em itens como
saúde, educação, moradia e vestuário.

Pronaf
O número global de ocupações geradas
pelo Pronaf em Rondônia foi de 2.357,
uma variação de 21%. Houve uma estag-
nação no número de assalariados perma-
nentes com carteira, ao mesmo tempo que
diminuía o número de assalariados perma-
nentes sem carteira. O custo por nova
ocupação foi de R$ 6 465,25. Os trabalha-
dores temporários foram os principais
beneficiados, com um aumento de 32% na
quantidade de dias trabalhados. Também
foram mantidas 17.632 ocupações, a um
*Resposta múltipla
valor bem mais baixo, R$ 864,26.
A nova mão-de-obra foi utilizada principal-
mente nos serviços gerais de lavoura, colhei-
Pronaf - Rondônia
ta/extrativismo e melhoria das benfeitorias. Faixas etárias dos novos ocupados
A maioria é integrada por homens (87%), não-familiares
entre 21 e 40 anos, mas é preciso ressaltar o
percentual de 4% com menos de 14 anos.
Depois do Pronaf, a renda de 53% dos
beneficiários aumentou, assim como a produ-
ção (66%) e as vendas (66%). Os lucros foram
utilizados na melhoria da qualidade de vida da
família, com gastos com alimentação (30%),
saúde (24%), vestuário (19%), educação
(10%) e moradia (16%). Apesar disso, um
percentual considerável de recursos foi absor-
vido pelo pagamento de dívidas (33%).
democracia viva

148
Perfil Local

Os beneficiários são homens (94%), bran-


cos (56%), que sabem apenas ler e escrever
(46%). Nesse aspecto estão abaixo do nível
Pronaf - Rondônia
Escolaridade do beneficiário de escolaridade familiar, com ensino fun-
damental incompleto na metade dos casos.
Os tomadores de crédito têm mais de 50 anos
(49%) e possuem apenas o estabelecimento
financiado (82%), onde trabalham exclusiva-
mente (77%). Para isso, contam com a ajuda
dos parentes (70% dos casos).
O Pronaf financiou prioritariamente áre-
as de até 50 hectares (51%), mas também é
significativo o percentual de áreas benefici-
adas com 50 a 100 hectares (33%). Em ge-
ral, os estabelecimentos são próprios (88%),
mas aparecem também em assentamentos
(22%). A agricultura (91%) e a pecuária
(78%) são as atividades mais desenvolvidas.
Quase a metade dos beneficiários já ha-
via recebido crédito na década de 90 (46%).
Desses 13% haviam recebido outro financi-
amento do Pronaf ou do Proger Rural.
Quase 70% declararam não ter encontra-
do dificuldades para solicitar o crédito e
estar bem-informados sobre as condições
Pronaf - Rondônia do financiamento (88%) razão pela qual
Escolaridade da família
não tiveram dificuldades em pagar as par-
do beneficiário
celas em dia (74%).

edição especial 1999

149
Região
Metropolitana de
São Paulo
População: 16,5 milhões de habitantes (IBGE/1996). O Banco do Brasil
N.º de municípios: 39 realizou operações quase
exclusivamente com
empresas. Já a Caixa
Distribuição dos recursos ciário é em média de
Econômica Federal teve
do Proger 38,7 anos, mas também mais de 70% de suas
Nos 39 municípios que compõem a Região é significativa a partici-
Metropolitana de São Paulo, de janeiro de pação de jovens. Quan-
operações efetuadas com
1995 a setembro de 1998, foram realizadas to à cor, cerca de 95% pessoas físicas,
788 operações do Proger, efetuadas pelo são brancos, e não há
Banco do Brasil e pela Caixa Econômica presença de nenhum
principalmente recém-
Federal. O valor total alocado na região foi de negro. Entre os benefi- formados.
R$ 18,5 milhões. A média do financiamento ciários, 44,6% e 46,9%
foi de R$ 23 mil, com operações variando de são de famílias das
R$ 1 mil a R$ 154 mil. A capital de São Paulo classes A ou B, respectivamente. Na clas-
concentrou mais de 70% das operações. se C, estão apenas 8% dos financiados; na
Entre os que conseguiram o crédito, classe D, menos de 1%. Não há registro
quase 70% são homens. A idade do benefi- para a classe E.

Proger - Brasil, estado de São Paulo e RMSP


(jan/95 a set/98)

Número de Valor das


operações operações (R$)

Brasil 154.456 1.435.180,30

Estado de São Paulo 5.096 80.822,80

RMSP 824 19.005,70


democracia viva

Fonte: Ministério do Trabalho e Emprego - Informe CGEM, novembro/98 (BR e SP)


Banco de Dados fornecido pelo MTE (RMSP)

150
Perfil Local

Proger - RMSP Diante dos parâmetros nacionais, o grau


Operações por agente financeiro de escolaridade dos beneficiários na RMSP
é extremamente elevado. Os que têm ensi-
no médio incompleto não chegam a 10%.
Quase 75% ingressaram na universidade e
mais de 10% têm pós-graduação. Conside-
rando as baixas taxas de sindicalização no
país, chama a atenção o fato de metade dos
beneficiários ter vínculo com alguma associ-
ação corporativa.
Na RMSP foram geradas mais de 1.500
novas ocupações, em média 3 por operação.
Mais de 70% dos novos ocupados consegui-
ram postos de trabalho formais, com carteira
assinada. Em geral, são homens (57%) e com
menos de 30 anos (70%). O custo de cada
Proger - RMSP
Operações por região ocupação foi de R$ 7 400,00.

Proger - RMSP
Geração de novas ocupações por categoria

Categorias Nº %

Assalariados permanentes c/ carteira 1.102 71,8

Assalariados permanentes s/ carteira 67 4,4

Assalariados temporários 95 6,2

Familiares não-remunerados 113 7,4

Sócios 156 10,2


edição especial 1999

Total 1533 100

151
ANÚNCIO
AMIGOS
DO IBASE
democracia viva

152
Apoio

O Ministério do Trabalho e Emprego, através da


Secretaria de Políticas de Emprego e Salário, e
referendado pelo Conselho Deliberativo do Fundo de
Amparo ao Trabalhador, firmou em 1997 um primeiro
contrato com o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises
Patrocínio
Sociais e Econômicas). Entre os objetivos estava a
elaboração de uma metodologia de avaliação do
Proger (Programa de Geração de Emprego e Renda),
Proger Rural (Programa de Geração e Emprego e
Renda para a Área Rural) e Pronaf (Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar).
Como resultado desta experiência-piloto, desenvolvida
no Espírito Santo, um segundo contrato foi firmado,
em 1998, para avaliação dos programas de geração de
emprego e renda em outros oito estados – Bahia,
Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul e Rondônia – e para realização de
um estudo específico do Proger na Região
Metropolitana de São Paulo.
Na pesquisa, foram levantados aspectos como o perfil
dos beneficiários, os empreendimentos apoiados, as
formas de financiamento, geração e manutenção de
emprego, a atuação dos agentes financeiros e de
outros atores sociais.
Os principais resultados estão nesta publicação.

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