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Geração
de emprego
e renda
Proger
Programa de Geração
de Emprego e Renda
Proger Rural
Programa de Geração
de Emprego e Renda
para a Área Rural
Pronaf
Programa Nacional de
Fortalecimento da
Agricultura Familiar
DEMOCRACIA VIVA
E D I Ç Ã O E S P E C I A L
Novembro 1999
DEMOCRACIA VIVA
E D I Ç Ã O E S P E C I A L
Ibase - Instituto Brasileiro de Análises
Sociais e Econômicas
Rua Visconde de Ouro Preto 5/ 7º andar - Botafogo
CEP 22250-180 Rio de Janeiro/RJ
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Presidente
Regina Celia Reyes Novaes
Vice-Presidente
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Primeiro Secretário
Nadia Maria Rebouças de Carvalho
Segundo Secretário
Moacir Gracindo Soares Palmeira
Terceiro Secretário
Jane Maria Pereira Souto de Oliveira
Diretores Executivos
Cândido Grzybowski
Jaime Hugo Patalano
Democracia Viva
Edição Especial 1999
Gráficos
Assistentes Editoriais Tiago Cambará
Lourdes M. C. Grzybowski
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Editora Segmento
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Edição CEP 05421-001 São Paulo - SP
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Produção Tiragem
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apresentação
Ministério do Trabalho e Emprego
Editorial
7
Cenário Brasil
9
Proger
21
(Programa de Geração de Emprego e Renda)
Proger Rural
39
(Programa de Geração de Emprego e Renda para a Área Rural)
Pronaf
55
(Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar)
Limites e potencialidades
79
Perfil local
101
Bahia 102
Ceará 106
Goiás 112
Paraná 128
Rondônia 144
Coordenador-geral
Cândido Grzybowski
Coordenador técnico
Sebastião Soares
Supervisores
Fernanda Carvalho
Francisco Menezes
Jaerson Lucas Bezerra
Javier Lago Alonso
Jorge Romano
José Clemente de Oliveira
Luiz Renato Latgé
Nelson Giordano Delgado
Walter Aluísio Rodrigues
Gerentes locais
Bahia
Gil Nunesmaia Jr.
Maria da Conceição Casulari Rodrigues
Wilson José Dias
Ceará
João Bosco dos Santos
Pedro Jorge Lima
Uribam Xavier
Goiás
Ivônio Barros Nunes
José Paulo Pietrafesa
Minas Gerais
Edmar Gadelha
Mucio Tosta
Regina Rodrigues Santos
Paraná
Elvina Maria Chaves
Francisco Pedro do Canto
Valter Bianchini
Rio de Janeiro
Aurila Euridice Souza
Renato Maluf
Sérgio Leite
Rio Grande do Sul
Alberto Bracagioli Neto
Domingos Antonio Armani
Luiz Fernando Fleck
Rondônia
Benedita Nascimento
Brent Millikan
RM São Paulo
Álvaro Comin
Assessor estatístico
Marco Antonio de Souza Aguiar
Processamento dos dados
Carla Lyra
Eduardo Pereira Marques
José André Brito
Ricardo Moitta Monte
Secretária-geral
Rozi Judith Billo
A revista Democracia Viva tem o compromisso
de colocar em debate questões importantes da agenda
nacional. A democracia substantiva não pode prescindir
de uma institucionalidade jurídica e política assentada em
direitos e deveres da cidadania. Porém, de nada vale
a institucionalidade se não apontar permanentemente
para relações e processos econômicos, sociais e culturais
que assegurem as bases substantivas de inclusão social.
É crucial, no avanço da democratização no Brasil,
enfrentar a miséria e a exclusão social. Ou arrisca-se
a própria institucionalidade democrática. Por isso,
a importância de centrar o debate nas políticas ativas
e encarar tais questões.
Cândido Grzybowski
Cenário Brasil
Cenário Brasil
A iniciativa de implantar uma política pública de geração de em-
prego e renda no Brasil foi conseqüência da mobilização da sociedade.
Fortalecida com o Movimento pela Ética na Política, que culminou com
o impeachment de Fernando Collor, a sociedade despertou para seu papel
de participação cidadã. Em 1993, a Ação da Cidadania contra a Misé-
ria e pela Vida, liderada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho,
colocou na agenda nacional o enfrentamento da fome e da pobreza.
A criação do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar) foi
um marco na nova institucionalidade democrática.
Com a sociedade mobilizada, o combate à miséria não poderia mais
ser feito através de ações políticas isoladas. A revelação da existência de
32 milhões de miseráveis, através do Mapa da Fome, elaborado pelo
Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas
Aplicadas), obrigou o governo a encarar o
apartheid social brasileiro. As questões de tra-
balho e renda eram cruciais nesse quadro.
Em dez anos (1985 a 1995), com os
ajustes econômicos feitos, quase 3 milhões
de postos de trabalho desapareceram.
Movimentos e organizações civis buscaram
saídas para garantir a qualidade nas relações
de trabalho. A implementação de políticas
públicas de geração de emprego e renda foi
uma resposta a essa participação política.
Surgia, assim, o Proger (Programa de Gera-
ção de Emprego e Renda), implantado em 1995.
No mesmo ano foi criado o Proger Rural.
Como resultado da mobilização dos agriculto-
res familiares, através dos vários episódios do
Herbert de Souza foi
Grito da Terra, ainda em 1995 era implanta- o articulador da
Ação da Cidadania
do o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura
Familiar). No mesmo contexto, surge em 1996 o Planfor (Plano Na-
cional de Formação e Qualificação Profissional). São iniciativas que só
edição especial 1999
9
Destino certo nem sempre estiveram alinhadas às políticas
O FAT é o grande esteio das políticas pú- macroeconômicas. Políticas dirigidas para o
blicas no Brasil. Entre 1995 e 1998, reu- mercado de trabalho são de indiscutível va-
niu recursos da ordem de R$ 30,9 bilhões. lor, mas seus resultados são pequenos se não
Do total aplicado na geração de emprego e há uma estratégia macro de desenvolvimen-
renda, R$ 7 336 889 564,00, a maior parte to sustentável e democrático. Como preocu-
destinou-se ao Pronaf (44%) enquanto que pação central devem estar a geração de
ao Proger Rural coube o correspondente a empregos e a distribuição de renda.
36%. O Proger, concebido para ser o carro- Seguindo uma ten-
chefe dessa nova política, consumiu 20%. dência mundial, as polí-
Em 1997 e 1998, o Pronaf chegou a atingir ticas públicas brasileiras Proger
77% e 82%, respectivamente, do total de ope- são compensatórias, as- Programa de Geração
rações realizadas. Ao mesmo tempo, o Proger sumindo um caráter de Emprego e Renda
Rural teve seus recursos reduzidos, bem como mais ativo, procuram Criação: 25 de março de 1994, atra-
vés da resolução nº 59 do Codefat.
o número de operações realizadas. suprir o que o mercado
Objetivo: concessão de linhas especi-
Entre 1995 e 1998, Bahia, Ceará e Mi- por si só não resolve. ais de crédito a setores da sociedade bra-
nas Gerais receberam juntos 40% dos recur- Caracterizam-se como sileira tradicionalmente com pouco ou
nenhum acesso ao sistema financeiro,
sos do do Proger. Per nambuco, Piauí, sociais, não-assistenciais e associadas a ações de capacitação, assis-
Paraná e São Paulo foram responsáveis por de dimensão econômica. tência técnica e acompanhamento aos
25%. Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Sul O relevante é que visam empreendimentos financiados. Teve
como público-alvo as pequenas e
e Santa Catarina, cada um com valores entre proporcionar a inclusão microempresas, cooperativas e associa-
4% e 5% do montante, tiveram uma partici- econômica de setores ções de produção, além de iniciativas
próprias da economia informal.
pação de cerca de 18% dos recursos. Para 17 menos favorecidos da
outros estados, restaram apenas 17%. Não há sociedade. O grave é
critério demográfico ou econômico que expli- que historicamente há Proger Rural
que essa distribuição dos recursos, determina- um desencontro entre Programa de Geração de Emprego
e Renda para a Área Rural
da pela vontade política e participação. políticas macro e aque-
Como herança do tradicional crédito las específicas de gera-
Criação: 03 de maio de 1995, através
das resoluções nºs 82 e 89 do Codefat.
agrícola, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas ção de emprego e renda. Objetivo: financiamentos produtivos
Gerais, Santa Catarina e São Paulo tiveram O quadro da página para investimento e custeio agrícola e
pecuário a pequenos e microprodutores
participação da ordem de 81% dos recursos 11 retrata os principais
rurais de forma individual ou coletiva,
do Proger Rural. Os outros 22 estados fica- resultados da avaliação associados a programas de qualificação,
ram com apenas 19%. realizada pelo Ibase so- assistência técnica e extensão rural.
No Pronaf, somente cinco estados con- bre o Proger, o Proger
centraram 80% das aplicações: Rio Grande Rural e o Pronaf em Pronaf
do Sul, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina oito estados – Bahia, Programa Nacional de Fortalecimento
e Bahia. São regiões onde há uma acentuada Ceará, Goiás, Minas da Agricultura Familiar
integração da agricultura familiar com a agro- Gerais, Paraná, Rio de Criação: 24 de agosto de 1995, atra-
vés da resolução nº 22.191 do Con-
indústria e também uma histórica luta por me- Janeiro, Rondônia, Rio selho Monetário Nacional.
lhores condições de produção e renda agrícola. Grande do Sul – e na Objetivo: proporcionar o aumento
A experiência brasileira demonstra que Região Metropolitana da produção agrícola, a geração de
ocupações produtivas e a melhoria da
iniciativas voltadas ao mercado de trabalho de São Paulo. renda e da qualidade de vida dos agri-
democracia viva
cultores familiares.
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Cenário Brasil
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Entraves regionais
Entre 1991 e 1998, nas regiões metropolitanas de São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador,
Belo Horizonte e Rio de Janeiro, desapareceram cerca de 570 mil postos de trabalho na in-
dústria de transformação. No mesmo período, o setor de comércio e serviços abriu 1 mi-
lhão 500 mil vagas. Isso, porém, não é o suficiente para absorver a mão-de-obra ociosa.
Com o aumento das taxas de desemprego, as mulheres, os jovens e as pessoas com instru-
ção média são os mais duramente atingidos.
Até o início desta década, a relação formal de trabalho era predominante, chegando a
mais da metade das ocupações. Hoje o vínculo empregatício informal, o trabalho por con-
ta própria e a condição de empregador são os que mais crescem. As ocupações nas in-
dústrias metropolitanas registram as maiores taxas de empregados com carteira assinada
– entre 80% e 95%. Já o setor de comércio e serviços chega a manter 50% de sua mão-
de-obra na informalidade.
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Cenário Brasil
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Desenvolvimento local necessárias ao seu sucesso. A articulação
O êxito de um projeto não depende só do com outros programas e ações de organi-
seu planejamento e da aprovação dos zações governamentais ou não-governa-
agentes financeiros, mas da densidade mentais é imprescindível.
econômique pode alcançar. Isso é particu- Os recursos chegam aos beneficiários
larmente válido para o Pronaf, mas tam- como crédito bancário; sem participação
bém para o Proger nas pequenas e médias social funcionam como um mero crédito
cidades. Nas regiões metropolitanas, além tradicional. O que os diferencia é a partici-
de adaptar as regras operacionais do pação e a articulação com outras ações pú-
Proger, é necessário que o poder público blicas (apoio à comercialização, capacitação
sinalize sobre o desenvolvimento local. e outras). Mas não confundir, como se viu
É preciso identificar os nichos para os em muitos lugares, participação com análise
projetos financiados e criar condições dos projetos, função fundamental dos agen-
Atuação diferenciada
O Banco do Brasil é a instituição que tem a maior participação na distribuição dos recursos.
De 1995 a 1998, foi responsável por quase 69% do total aplicado nos três programas. O Ban-
co do Nordeste e o BNDES, este só no Pronaf, alocaram, respectivamente, 17,7% e 12%.
A Caixa Econômica Federal teve uma participação pequena: menos de 2% dos recursos
aplicados nos programas. Também o Banco do Brasil foi o responsável pelo maior volume
de aplicações no Proger Rural (96%) e no Pronaf (64%).
Banco Nordeste 111.298 72,8 15.704 5,1 74.962 (1) 7,8 201.964 14,2
Banco do Brasil 28.957 19,0 291.810 94,9 764.461 79,7 1.085.228 76,5
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Cenário Brasil
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Os exemplos de Estrela e Erechim
A forma de atuação dos agentes financeiros dos programas de geração de emprego e renda
expressa, muitas vezes, desconfiança e divergência de propósitos em relação aos objetivos
dos programas. Muitos não os vêem como linhas de crédito atraentes devido à sua baixa
rentabilidade, aos riscos e ao custo operacional. Apesar dessas dificuldades, há vários casos
positivos de envolvimento das agências bancárias com comissões municipais de empregos
e parcerias técnicas. É o que ocorre na cidade gaúcha de Estrela, com pouco mais de 31 mil
habitantes. Até setembro de 1998, 13 contratos de crédito estavam em andamento através
do Proger. Problemas freqüentes na implementação do programa, como falta de partici-
pação e entrosamento entre os atores e inadimplência, não existem. A comissão de em-
prego local faz um excelente trabalho de informação e pré-seleção dos pretendentes ao
crédito. Também realiza visitas constantes de acompanhamento, checando inclusive o
número de empregos gerados. Houve casos em que a comissão exigiu a regularização de
postos de trabalho informais.
Em Erechim, também no Rio Grande do Sul, a comissão de empregos resolveu suas dificul-
dades firmando diversas parcerias. Insatisfeita com o baixo índice de empregos gerados com
as iniciativas aprovadas pelo Proger, uniu-se a uma grande cooperativa regional, a Cotrel, para
criar cooperativas locais de agricultores associadas à agroindústria. Conta também com o
apoio de entidades como a Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) e com
o próprio Ministério da Agricultura para captação de recursos. A comissão de Erechim vem
articulando as comissões de emprego de toda a região, com uma proposta de centrar o de-
senvolvimento regional na associação dos setores de agroindústria e ecoturismo.
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Cenário Brasil
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Conquista local
O principal objetivo era criar um clima favorável que garantisse uma conquista dos agricul-
tores familiares. Nas palavras de um dirigente da delegacia regional “a apresentação de pro-
jetos é que dá consistência e razão para cobrar dos bancos o funcionamento do programa”.
A maior incidência dos financiamentos do Proger e do Pronaf no Rio Grande do Sul deve-
se, principalmente, à presença dos movimentos sociais organizados. Entre estes estão a Fe-
deração dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), a Central Única dos Trabalhadores Rural
(CUT Rural), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Trabalha-
dores Rurais Sem-Terra (MST).
democracia viva
18
Cenário Brasil
ANÚNCIO
OBSERVATÓRIO
DA CIDADANIA
19
Programa de Geração
de Emprego e Renda
Proger
O Programa de Geração de Emprego
e Renda (Proger) foi criado em 1994 para conceder
crédito a setores da sociedade com pouco ou nenhum acesso
ao sistema financeiro associado a ações de capacitação e
assistência tecnológica e gerencial. Seu objetivo é manter e
gerar novos empregos e renda, criando ou ampliando as
oportunidades no mercado de trabalho. O público-alvo
abrange pequenas e microempresas, cooperativas e
associações, além de atividades da economia informal.
democracia viva
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Proger
Cerca de 150 mil brasileiros foram bene- Minas Gerais. Cada um deles foi responsá-
ficiados com o programa, de 1995 a 1998. vel, respectivamente, por 19%, 8,2% e
As áreas pesquisadas nesta avaliação repre- 72,8% do total das operações de crédito.
sentam 54,5% do total dos investimentos do Dentro do universo pesquisado, mesmo com
Proger no país, no período de janeiro de a limitação regional, o Banco do Nordeste
1995 a fevereiro de 1998. Foram aplicados foi o responsável pela maior parte dos va-
2.657 questionários em oito estados - Bahia, lores aplicados pelo Proger.
Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de As micro e pequenas empresas consegui-
Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia - e ram mais da metade das concessões de cré-
na Região Metropolitana de São Paulo. dito (50,3%), seguidas de perto pelo setor
Seus agentes finan- informal, com 43,6%. Grande parte dos es-
ceiros são o Banco do tabelecimentos pesquisados não possui ne-
O tempo médio entre a Brasil, a Caixa Econô- nhum tipo de registro. O número de pessoas
mica Federal e o Banco ocupadas é, em média, de seis. A principal
entrega do projeto e a
do Nordeste, este com atividade é o comércio. A pecuária e a agri-
liberação do crédito é de atuação restrita à Região cultura representam 30% do total das ope-
Nordeste e ao norte de rações do Proger no Ceará, no norte de
70 dias.
23
Minas e na Bahia. Para evitar essa distor- fletindo diferentes realidades econômicas, no
ção seria preciso acabar com o financia- Rio de Janeiro e na Região Metropolitana de
mento rural no programa ou adaptá-lo às São Paulo, esse valor chegou a mais que o
condições rurais. dobro do que foi alcançado no Ceará.
Os locais dos empreendimentos estão
próximos ou na própria residência do bene- Tendências opostas
ficiário. A maioria conta com serviços de Homens brancos entre 31 e 40 anos de
água, esgoto e coleta de lixo. Aproximada- idade são os que mais se beneficiam com o
mente 65% não têm outra fonte monetária. Proger. Apresentam tendências opostas ao
A influência da família ou a experiência an- conjunto da população brasileira. Têm uma
terior é o que determina a escolha do ramo escolaridade bem acima da média nacional,
de atividade. mais de 20% com curso superior e 33%
Com o financiamento, o aumento da com ensino médio completo. Em Rondônia
renda foi de cerca de 18%, passando de quase a metade dos beneficiários completou
R$ 1 417,48 para R$ 1 670,70. O valor o ensino médio, enquanto que, na popula-
médio do crédito foi de R$ 13 359,89. Re- ção urbana, esse índice é de cerca de 20%.
Proger - Rondônia
Escolaridade da população acima
de 18 anos e do beneficiário
democracia viva
24
Proger
No Rio de Janeiro, mais de 60% dos bene- pertence às classes A e B (54,2%). Somadas,
ficiários têm ensino superior. Na população as classes D e E representam apenas 16,86%.
do estado, esse índice não chega a 15%. Nos oito estados pesquisados, 59,2%
Chama a atenção o dos entrevistados declararam-se brancos.
fato de 44% dos bene- Na Bahia, os dados são ainda mais
Antes de participar do ficiários pertencerem às reveladores. Apesar de integrarem, majo-
Proger, a maioria dos classes de consumo A e ritariamente, a população urbana, os par-
B. Na Região Metropo- dos não chegam a 40% no Proger. Já os
beneficiários em Minas litana de São Paulo, esse brancos representam mais de 50% no
Gerais estava empregada percentual chega a 90%, programa. Em Goiás, o quadro não é di-
ainda que, no total da ferente. A maioria dos que conseguiram
em alguma empresa população local, repre- crédito no programa se declarou branca
privada (30,11%) ou sente pouco mais de um (73,02%), 23,31%, parda, e apenas 0,1%,
terço. Em Minas Gerais, preta. Segundo o IBGE, a população
pública (13,92%) e outra mais da metade dos goiana é for mada, em sua maioria, por
parcela expressiva era tomadores de crédito pardos e pretos (52,94%).
constituída de
trabalhadores autônomos
(28,60%). Apenas 1,29% Proger - Rio de Janeiro
estava desempregada. Escolaridade da população acima
de 18 anos e do beneficiário
25
Proger - Identificação Sexo
do beneficiário
Grau de escolaridade
Idade
Classe de consumo
democracia viva
26
Proger
Os beneficiários do Proger
declaram-se em maior
número de cor branca e em
menor número de cor
parda ou preta do que a
composição encontrada no
conjunto da população do
universo pesquisado. Proger - Cor declarada da população urbana
na área pesquisada e do beneficiário
27
Oportunidade única Através do programa, também foram
O Proger significou a primeira experiência de mantidas cerca de 180 mil ocupações. O fi-
empréstimo para 78% dos beneficiários. Os nanciamento necessário para cada nova
recursos foram usados, principalmente, para a ocupação é, em média, no valor de R$ 7,1
compra de máquinas e equipamentos (60%). mil, com grandes oscilações. No Ceará, foi
O número de beneficiários que não teve difi- de R$ 18,9 mil, enquanto que, em Goiás,
culdade na hora de pedir o financiamento é ficou em R$ 5,3 mil. O valor para manter
significativo (42%). Os demais apontaram uma ocupação é inferior, correspondendo, em
como problemas a demora na liberação do média, a R$ 2.548,17.
dinheiro, a burocracia e a exigência de garan- O perfil das novas pes-
tias. Os motivos mais citados pelo atraso no soas ocupadas pode ser O atraso no pagamento de
pagamento aos bancos foram a queda no pre- assim resumido: 58% são parcelas se verificou entre
ço dos produtos, a demora nos recebimentos homens e mais de 88%
e o alto valor das parcelas do financiamento. têm entre 18 e 44 anos. 44% dos beneficiários.
Nas regiões pesquisadas, o Proger gerou Quase 60% recebem Apesar das dificuldades
mais de 100 mil novas ocupações, sendo até três salários míni-
40% com carteira assinada. No Ceará, a mé- mos. O índice de escola- relatadas, 50,7%
dia de ocupações geradas foi de 0,51, en- ridade não varia muito pretendem fazer novos
quanto que, em Goiás, foi de 3,84 por entre os estados pesquisa-
operação de crédito. A média nacional dos, 48% são apenas alfa- investimentos e 59%
alcançada foi de 2,02. betizados, ou nem isso. declararam ter melhorado
seu estabelecimento.
28
Proger
Rompendo barreiras
Na Bahia, o Proger é operacionalizado pelo Banco do Nordeste, responsável por 94,87% dos
financiamentos; o Banco do Brasil responde por 4,60%; a Caixa Econômica Federal por
0,83%. Até o momento, o estado tem sido o que mais realizou operações de crédito do
programa na área urbana.
29
É preocupante o número de
crianças e adolescentes entre
aqueles que conseguiram
uma nova ocupação.
O correspondente a 6%
dessa força de trabalho está
entre menores de 17 anos
(cerca de 6 mil).
democracia viva
30
Proger
Públicos diversos
Entre os que conseguiram aumentar as ocupações destacam-se os mais jovens, com menos
de 40 anos, com escolaridade acima da média, pertencentes à classe A ou B. São donos de
empreendimentos recentes e com registro. Desfrutam com o Proger da primeira experiência
de crédito.
Têm um perfil parecido os 48% dos beneficiários que expandiram seus lucros. No entanto,
as mulheres, aqueles que declararam cor branca, os que têm outra fonte de renda, da
classe A, B ou C, tendem a obter mais lucros nos seus empreendimentos.
Já aqueles que não alteraram o quadro de ocupações têm um perfil oposto: com mais de
40 anos, apresentam baixos níveis de escolaridade e consumo, possuem empreendimentos
mais antigos e menos estruturados (informais).
Aumentaram 58,5
Estáveis 36,2
Diminuíram 5,3
Total 100,0
Proger - Impactos
nos lucros
Aumentaram 48,4
Estáveis 26,4
Diminuíram 25,2
Total 100,0
edição especial 1999
31
Lucro e capacitação dos beneficiários (produção, vendas e lu-
O Proger serviu para aumentar a produção, cros). São dados que não deixam dúvida
as vendas e o lucro da maioria dos benefi- quanto ao impacto do Proger como política
ciários. A exceção é encontrada nos estados de geração de emprego e renda.
do Nordeste, especialmente no Ceará. Após O treinamento e o
um longo período de seca, a região teve con- acompanhamento dos
seqüências negativas até na área urbana. beneficiários é uma das A falta de capital de giro é
Entre os que melhoraram seu lucro, 70% maiores fragilidades na
atribuíram os ganhos ao programa. A maior implementação do pro- um grande entrave,
parte dos beneficiários investiu no próprio grama, atingindo apenas revelando a necessidade de
negócio, principalmente através da compra 23%. No Ceará, com o
de máquinas e matéria-prima. Outra parce- incentivo do Banco do uma linha de crédito
la significativa desse lucro foi destinada a Nordeste, o índice che- exclusiva para esse fim.
despesas pessoais, com destaque para ali- ga a 40%. Destaca-se a
mentação, saúde e pagamento de dívidas. atuação do Sine (Siste-
O programa mostrou resultados positivos ma Nacional de Emprego), que, já na elabo-
tanto no volume, perfil e estabilidade das ração do cadastro, promove cursos sobre
ocupações, quanto na inserção econômica técnicas de gerenciamento de negócios.
democracia viva
32
Proger
Proger - Capacitação
na área pesquisada
Proger - Ceará
Capacitação
33
Acima do tolerável
De janeiro de 1995 a fevereiro de 1998, o Banco do Brasil foi o único agente financeiro
do programa. A Caixa Econômica Federal só começou a operar no fim de 1997, reali-
zando poucas operações até fevereiro de 1998. A quase totalidade dos beneficiários
pesquisados apresentou projetos e teve recursos liberados entre fevereiro e agosto de
1996. Com índices de inadimplência acima do permitido, o Banco do Brasil resolveu
interromper o programa em Rondônia. Ainda assim foram criadas 2,45 novas ocupações
por operação de crédito realizada.
Proger - Rondônia
Motivos para o atraso do pagamento*
*Resposta múltipla
democracia viva
34
Proger
Proger - Associativismo
na área pesquisada
O baixo nível de
associativismo (36%) não
significa falta de
participação social local. É
possível que o acesso ao
crédito tenha
sido facilitado justamente
por essa participação.
Porém, a sobrevivência do
programa depende do
Proger - RMSP
Associativismo engajamento de cada um.
Em Minas Gerais e
na Região Metropolitana
de São Paulo, o vínculo
com organizações está bem
acima da média (52,22%
e 50%, respectivamente).
A maior parte filiou-se
antes da concessão
do crédito.
Proger - Minas Gerais
Associativismo
edição especial 1999
35
Ferramenta de valor para a geração de emprego e outro para a
O impacto do Proger no combate à po- geração de renda. São duas estratégias di-
breza é significativo. Se é verdade que ferentes que não podem continuar avalia-
muitos beneficiários não são pobres, é d a s d o m e s m o m o d o. D i r i g e m - s e a
verdade também que o acesso ao crédito públicos distintos, por isso devem ter ju-
gera emprego principalmente para pobres ros e normas específicos.
com pouca escolaridade. A pesquisa mostrou que os beneficiários
Como política pública, o programa pre- com escolaridade mais baixa e menor poder
cisa ser aperfeiçoado. A concessão ou não de consumo, à frente de pequenos estabele-
do próprio crédito é a arma dos gestores cimentos, se voltam
públicos. É inadmissível permitir a contrata- mais para a estabilização
ção de menores de 14 anos. Assim como de sua ocupação e de Em todos os estados
devem ser estabelecidos limites ao trabalho seus familiares. Já os
pesquisados, 64% dos
daqueles com menos de 18 anos. Nos dois micro e pequenos em-
casos, verifica-se a necessidade da obrigato- preendedores formais, entrevistados vêem com
riedade de escolarização. Também deve com escolaridade acima
otimismo o futuro do
haver uma rigorosa fiscalização para coibir da média da população,
situações em que a remuneração não chega da classe A ou B, ge- empreendimento; 21%
ao mínimo legal. ram novos empregos e
estão inseguros e apenas
O Proger funcionaria melhor se fosse tendem a aumentar os
dividido em dois programas, um voltado ganhos com os negócios. 8%, pessimistas.
democracia viva
36
Proger
Encarando obstáculos
Em Belo Horizonte, duas agências foram inauguradas. Foi contratado o Centro Cape (Cen-
tro de Capacitação e Apoio ao Pequeno Empreendedor), uma entidade sem fins lucrativos
especializada em microcrédito. Das 962 pessoas que procuraram o crédito entre julho e de-
zembro, apenas 16 firmaram contratos – 12 para microempresa, três para pequena empre-
sa e uma para o setor informal. Dessas, 80% desistiram ainda na primeira fase do processo.
Uma pesquisa do Centro Cape informa que dos que foram à agência e não obtiveram cré-
dito, 29% só buscavam informações; 19% desejavam empréstimos de capital de giro isoaldo;
15% não ofereceram as garantias exigidas; e outros 15% não atendiam a alguma das exigên-
cias das linhas do Proger, entre outros.
No estado do Rio de Janeiro, a experiência ainda não desenvolveu todo o seu potencial. Com
apoio da Fundação Coppetec, gerenciadora da Coppe/UFRJ, foram inauguradas Agências do
Empreendedor na capital e em Duque de Caxias. Para contar com uma equipe especializada, a
fundação ofereceu um curso a 100 alunos. Eram funcionários do banco, formandos e pós-
graduandos da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foram selecionados 30 agentes para atender
o público do programa e foi criado um conselho consultivo com professores da universidade.
Dados de novembro de 1998 mostram que 1.027 clientes procuraram as agências a partir de
agosto, e nenhuma operação foi concluída. A maioria (73,32%) teve os projetos recusados, por
diversos motivos. Os responsáveis pela iniciativa no Banco do Brasil acreditam que ainda é muito
cedo para avaliar esses resultados. E admitem a necessidade de alguns ajustes.
*Resposta múltipla
37
Programa de Geração
de Emprego e Renda
para a Área Rural
Proger
Rural
O Programa de Geração de Emprego
e Renda para a Área Rural (Proger
Rural) foi criado em maio de 1995. Sua proposta é finan-
ciar pequenos e miniprodutores, de forma individual ou co-
letiva, aumentando a produção e a produtividade no campo.
Também prevê cursos de qualificação, assistência técnica e
extensão rural que garantam o uso racional da terra e a pro-
teção ambiental.
democracia viva
40
Proger Rural
Atividades financiadas
pelo Proger Rural
41
Atividades das novas
pessoas ocupadas
N° de ocupações Financiamento
Estado Número de ocupações por operação por ocupação (R$)
Antes Geradas Total Gerada Total / Mantida Gerado Total / Mantida
42
Proger Rural
Fatias desiguais
A distribuição dos recursos do Proger Rural é um reflexo do tradicional crédito agrícola. Paraná
e Rio Grande do Sul receberam, juntos, 52% dos recursos. Agregando-se os estados de Minas
Gerais, Santa Catarina e São Paulo, essa participação chega a 81%. Para os outros 22 esta-
dos brasileiros restaram apenas 19% dos recursos disponíveis no programa.
O Banco do Brasil concentrou 54% dos seus recursos no Paraná e no Rio Grande do Sul. Já
o Banco do Nordeste destinou 65% dos seus recursos à Bahia.
AC - - PB 10.416.193 0,4
AP - - PR 725.727.502 27,4
43
Contra a correnteza
O estado que mais impactos obteve
com o Proger Rural foi a Bahia. Os re-
sultados surpreendem. Lá o programa
dá sinais de estar efetivamente aten-
dendo ao seu objetivo de geração de
emprego. Em cada 100 contratos de
crédito firmados, 179 ocupações foram
geradas, a maioria exercida por traba-
lhadores temporários. No quadro geral
de pessoas ocupadas, o aumento foi da
ordem de 25,87%.
44
Proger Rural
Infância perdida
Entre os que conseguiram trabalho a partir do programa, 51% não são da família do bene-
ficiário. Fazem parte desse grupo 10 mil crianças de até 14 anos (2%). Em Rondônia, esse
índice chega a 6,3%. O absurdo é ainda maior quando se considera que os projetos são fi-
nanciados por um programa do o governo.
% 0,6 1,4 3,6 12,7 42,9 27,8 7,4 2,9 0,7 100,0
Encarada como uma questão cultural, também é alarmante a quantidade de crianças que tra-
balha no campo junto com a família. Dos 750 mil menores de 18 anos parentes dos bene-
ficiários, 530 mil ajudam no sustento doméstico de alguma forma. Os menores de 10 anos
representam 7,2% do total. Desses, 5,2% (39 mil) estão fora da escola. O trabalho infantil
típico (entre 10 e 14 anos) fica em 11,6%, dos quais 6,4% (48 mil) também não têm aces-
so à educação formal.
45
Bem de vida 1,1% fizeram curso técnico e 4,2% têm
A maioria dos beneficiários é do sexo mas- nível superior completo ou incompleto.
culino (94,5%) e se autodeclara branca Considerando os níveis de pobreza da
(88,1%), ou seja, um contingente superior população rural, o beneficiário do Proger
ao dobro da população rural dos oito esta- Rural faz parte de um grupo razoavelmen-
dos pesquisados. Cerca de 70% têm mais de te estruturado e com boas condições de
40 anos. Refletindo os índices de escolari- vida, produção e renda. A maioria (79,8%)
dade da população rural, mais da metade tem acesso à rede elétrica; 68,4% utilizam
não concluiu o ensino fundamental (52%) poços ou nascentes para o abastecimento
e 14,5% são analfabetos ou só sabem ler de água; 94,9% possuem casas de alvena-
e escr ever. Dentre os mais instr uídos, ria ou madeira, com distribuição em seis
15,4% completaram o ensino fundamental, cômodos (19,2%), sendo três destinados a
12,1% têm o ensino médio completo ou não, dormitórios (42,7%).
46
Proger Rural
47
Poucas mudanças
Grande parte do público do programa
acredita que os índices de produção, ven-
da e lucro tenham-se mantido estáveis,
mesmo depois do financiamento. Já entre
os que conseguiram incrementar seus índi-
ces, cerca de 30% atribui isso ao Proger
Rural. O aumento na renda acabou sendo
consumido, em 21% dos casos, pelo paga-
mento de dívidas.
48
Proger Rural
Seca e desafio
A seca no Nordeste é um fenômeno que atravessa séculos e, até hoje, os programas con-
cebidos desde a época do Império não foram capazes de impedir o agravamento da pobre-
za e da miséria. A cada estiagem recrudesce a migração, principalmente de jovens e chefes
de família que buscam trabalho nas grandes cidades.
No Ceará, 38% dos que utilizaram recursos do Proger Rural tiveram perdas, principalmente
nas safras de milho e feijão. Na Bahia não foi diferente: quase a metade dos que consegui-
ram o crédito perdeu 75% da produção de milho e 44,5% da safra de feijão. Outro preju-
ízo foi a diminuição dos rebanhos provocada pela falta de alimentos e pela seca.
Nos mesmos estados, 31,6% dos beneficiários recorrem a poços para abastecimento de água;
22,9% usam cacimbas e 19,3% contam com açudes. Apenas 5,8% estão alistados em frentes
de trabalho, sendo no máximo três pessoas por família. Também é pequeno o percentual dos
que recebem cesta básica, ou outro tipo de ajuda, desde 1997 (12,8%).
49
Sem capacitação dade à atividade rural. A explicação talvez
Não há capacitação para os beneficiários do seja o fato de 65,2% e 53,1%, respectiva-
programa, nem para obter o crédito (95,6%), mente, considerarem boas suas condições de
nem depois de recebê-lo (88,5%). Duas en- saúde e moradia. Mais de 70% não têm
tre cada dez pessoas que fizeram algum cur- queixas quanto à alimentação disponível
so, em geral ministrado pela Emater, não para si e para a família.
viram melhorias no estabelecimento. Tam-
bém a maioria (85,1%) não sabe que os cur- Atores desconhecidos
sos são mantidos com verbas do FAT. O Proger Rural se distancia da estratégia de
Em relação à assistência técnica, o qua- participação social. Dos programas de gera-
dro é diferente: 88,8% dos beneficiários afir- ção de emprego e renda implementados
mam ter recebido. Na maioria dos casos, o com recursos do FAT, é, sem dúvida, o me-
serviço foi prestado pela Emater (45,8%), nos vísivel, com pouco ou nenhum acompa-
por técnicos de cooperativas (40,8%) e de nhamento da sociedade.
empresas de planejamento (32,6%). A asses- No Ceará, dos 184
soria foi prestada nas áreas de produtivida- municípios existentes no
de das lavouras e conservação de solos. estado apenas 87 contam
Apesar de representarem
Os beneficiários do Proger Rural se reve- com as comissões mu-
lam um grupo estruturado e integrado no pro- nicipais de emprego. Destas apenas 6% do universo dos
cesso de desenvolvimento da agricultura. apenas 25 foram homolo-
beneficiários do Proger
Mesmo antes da concessão do crédito, 70,4% gadas e poucas se reú-
já pertenciam a alguma associação. As mais ci- nem. No Rio de Janeiro, Rural, as mulheres geraram
tadas são as cooperativas de produtores a Comissão Estadual de
maior número de novas
(48,2%) e os sindicatos (33,4%). Mais de 15% Emprego participa apenas
ocupam cargos de direção nessas entidades. da definição dos municípi- ocupações.
os prioritários integrantes
Garantindo o próprio futuro dos bolsões de pobreza
Os maiores problemas, na opinião de quem no estado. Os projetos encaminhados pe-
recebeu o crédito, são a instabilidade do los beneficiários aos agentes financeiros
mercado (39,5%), os custos de produção não sofrem interferência dessa comissão.
(37,9%) e os juros altos e a dificuldade de O Banco do Brasil é o único agente fi-
acesso ao crédito (37,3%). Como solução, nanceiro. Os ag ricultores interessados
63,3% apontam a necessidade de mudar as apresentam um plano simples ou projeto
condições do crédito. Apenas 8,9 % desejam elaborado por empresas credenciadas no
a criação de uma política diferenciada para o Banco do Brasil. O público-alvo do Proger
pequeno agricultor. Rural no estado do Rio de Janeiro coinci-
Para 53% o futuro é inseguro, ainda que de quase totalmente com o público do
42% desejem que seus filhos dêem continui- Pronaf (90% dos casos).
democracia viva
50
Proger Rural
Aumentaram 26,0
Estáveis 65,6
Diminuíram 8,4
Total 100,0
Aumentaram 39,5
Estáveis 45,0
Diminuíram 15,5
edição especial 1999
Total 100,0
51
Mão única
No estado, o programa é visto como uma linha de crédito rural tradicional. Trata-se de
uma relação única do beneficiário com o banco, sem o acompanhamento de nenhuma
instância pública. Na verdade, é entendido como uma linha de crédito do Banco do Brasil
dirigida a seus clientes.
Entre janeiro de 1995 e fevereiro de 1998 o programa atingiu 92 dos 242 municípios. Dados
mais recentes, porém, indicam que, na região sudoeste, 10 municípios somam 2.341 ope-
rações das 8.551 realizadas no estado de Goiás.
Essa concentração não é por acaso. Na região, são desenvolvidas atividades agropecuárias com
alta tecnologia, em propriedades de tamanho médio e com forte influência das agroindústrias.
No Paraná, também houve uma concentração dos recursos do Proger Rural. A área mais
beneficiada foi a região oeste, onde há uma grande incidência das culturas de milho, soja
e trigo. As cidades de Toledo e Cascavel tiveram as maiores participações nos financia-
mentos (acima de 10%), seguidas de Campo Mourão, Foz do Iguaçu e Pato Branco (entre
5% e 10%). O valor médio do financiamento no estado foi de R$ 7 122,90, variando de
R$ 52 981,85 em Campo Mourão a R$2 430,44 em Rio Negro.
democracia viva
52
Proger Rural
Fora de alcance
Nos estados pesquisados, apenas 1,1% dos
financiamentos está em assentamentos ru-
rais, quase todos pertencentes ao Incra (Ins-
tituto Nacional de Colonização e Reforma
Agrária), beneficiando cerca de cem famíli-
as em cada uma das áreas.
Na Bahia, quase 80% das operações de
crédito do Proger Rural destinam-se a agri-
cultores que exploram a terra na condição de
proprietários. Historicamente excluídos do
crédito bancário, os arrendatários e posseiros
representam apenas 7,26% dos beneficiários.
É significativa a proporção de 11,5% de
imóveis financiados em assentamentos ru-
rais. O mesmo quadro se verifica em Minas
Gerais, onde 23,41% dos estabelecimentos
edição especial 1999
53
Programa Nacional
de Fortalecimento
da Agricultura Familiar
Pronaf
O Programa Nacional de Fortalecimento
da Agricultura Familiar (Pronaf) foi criado em
1995, com o objetivo de aumentar a produção agrícola, a
geração de ocupações produtivas e a qualidade de vida dos
agricultores familiares. Através da concessão de linhas de
crédito especiais, beneficia um público que normalmente não
teria acesso ao setor bancário. O programa também cria con-
dições para melhor distribuição da renda no campo e busca
garantir a sobrevivência da agricultura familiar.
democracia viva
56
Pronaf
57
O campeão
O Rio Grande do Sul, estado que mais recebeu recursos do Pronaf, é também o que está em
primeiro lugar no ranking nacional do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU.
Empatando com o Distrito Federal, sua classificação é de 0,869, enquanto que o índice do
país é de 0,809.
Cinco regiões – Alto Uruguai, Planalto, Noroeste, Vale do Taquari e Depressão Central – con-
seguiram efetivar 84% dos contratos do Pronaf e também do Proger Rural. Em todo a área
rural gaúcha, são essas as regiões de maior presença da agricultura familiar e dos movimentos
sociais organizados.
AP - - PR 499.748.770 15,7
58
Pronaf
59
Pronaf - Área dos estabelecimentos
financiados na região pesquisada
Pronaf - Condição do
estabelecimento financiado
democracia viva
60
Pronaf
A ausência de planejamento na distribuição nacional dos recursos pode gerar conflitos que
prejudicam a imagem do Pronaf. O estado de Rondônia, mesmo com um significativo con-
tingente de agricultores familiares, recebeu apenas 0,59% das verbas do FAT aplicadas ao
programa pelo Banco do Brasil.
Em Rondônia, a propaganda oficial do Pronaf criou a falsa imagem de que os recursos eram in-
finitos. A expectativa de muitos agricultores era de que bastava ir ao banco para ter acesso ao
financiamento. Na prática, a operacionalização do programa ainda precisa de muitos ajustes.
Em 1998, na Cidade de Ouro Preto D’Oeste, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais cadastrou
700 produtores interessados no programa. Entretanto, apenas 350 projetos puderam ser
inscritos. Revoltados, os agricultores ocuparam a agência local do Banco do Brasil e conse-
guiram aumentar o número de inscrições.
61
Uma política de renda vés de crédito produtivo, pode estabilizar e
Nos estados pesquisados, o Pronaf gerou cer- fortalecer a agricultura familiar. Deve ser
ca de 211 mil novas ocupações, apesar de não visto mais como uma política de renda e não
ser esse o seu objetivo primordial. Os princi- de geração de novas ocupações.
pais beneficiados foram os trabalhadores tem- Por isso, o maior impacto do programa
porários (89%), alocados nas atividades de está na manutenção de 1.550 ocupações,
custeio agrícola. Minas Gerais detém o índice 4,84 em média por operação. Em Minas
mais alto de novas ocupações por operação, Gerais, essa média sobe para 7,31, já em
1,88, enquanto o mais baixo ficou para o Rio Goiás desce para 3,71.
Grande do Sul, 0,06 por operação. A média O financiamento necessário para ga-
dos oito estados foi de 0,58. O valor médio de rantir a estabilidade de uma ocupação no
financiamento necessário para cada nova ocu- Pronaf é também um dado significativo,
pação é de R$ 6 470, 81. Na Bahia está o pois corresponde a apenas R$ 775,24, ou
custo mais baixo, R$ 2 623,00, e no Rio Gran- seja, a metade do requerido no Proger Ru-
de do Sul, o mais alto, R$ 50 278,00. ral. Os números mostram que manter um
Sem dúvida, o aumento da ocupação não trabalhador ocupado no Ceará é três vezes
é o melhor indicador nesse caso. O Pronaf mais barato do que em Goiás (R$ 341,00
é, sobretudo, uma política pública que, atra- contra R$ 1 489,00).
democracia viva
62
Pronaf
N° de ocupações Financiamento
Estado Número de ocupações por operação por ocupação (R$)
Antes Geradas Total Gerada Total / Mantida Gerada Total / Mantida
63
Vergonha nacional tro caminho é a implantação de projetos do
A exploração infantil é uma realidade cruel tipo bolsa-escola. A adoção de uma renda
no cenário brasileiro. Mas a constatação de mínima para quem pouco tem pode ser uma
sua presença nos três programas de geração solução bastante eficaz.
de emprego e renda implementados pelo
governo choca tanto quanto os números en-
contrados na avaliação, feita de 1995 a 1998.
Uma única criança trabalhando, sem direito ao
estudo e, principalmente, à infância, deveria
ser o suficiente para mover sociedade e gover-
no em busca de mudança. No Proger, exis-
tem 500 menores de 14 anos que trabalham
para não-familiares. No Proger Rural, são 10
mil, e no Pronaf, 5 mil.
Entre os que trabalham com a família
sem oportunidade de estudo estão 48 mil
crianças, na faixa de 10 a 14 anos, no Proger
Rural, e 155 mil, no Pronaf.
A sociedade civil e o governo estão
diante de uma oportunidade única: mu-
dar o futuro do país, eliminando a ima-
gem de conivência com a exploração infantil.
As alternativas são simples e já foram apro-
vadas em experiências locais. A primeira me-
dida a ser tomada é condicionar o crédito ao
acesso à escola, impedindo que o trabalho
infantil seja financiado com o dinheiro pú-
blico. Considerando a situação de pobreza
em que vive a maioria dessas famílias, ou-
Trabalham Trabalham
Idade e estudam e não estudam Total
64
Pronaf
segurança no trabalho.
65
Pronaf - Bahia
Cor declarada da população rural
e do beneficiário
Pronaf - Ceará
Cor declarada da população rural
e do beneficiário
democracia viva
66
Pronaf
As mulheres representam
apenas 7% do universo dos
beneficiários do Pronaf.
Entre os chefes de família
da área rural pesquisada
chegam a pouco
mais de 10%.
edição especial 1999
67
Pronaf - Rondônia
Cor declarada da população rural
e do beneficiário
68
Pronaf
Pronaf - Impactos
no total de ocupações
Aumentaram 18,2
Estáveis 76,6
Diminuíram 5,2
Total 100,0
Pronaf - Impactos
na renda
Aumentaram 44,4
Estáveis 40,3
Diminuíram 15,3
edição especial 1999
Total 100,0
69
Ação exemplar
As cooperativas de crédito representam um grande apoio para a implementação dos programas
de geração de emprego e renda. Segundo a pesquisa, a distribuição por estado dos contratos dos
três programas com esse tipo de associação foi a seguinte: Minas Gerais (33%), Bahia (24%),
Rio Grande do Sul (18%), Ceará (15%) e Paraná (10%). Entre os cooperados beneficiados pelo
Proger, 89% afirmam que de outra forma não teriam conseguido o crédito. O percentual cai para
59%, no caso do Pronaf, e para 55% entre os cooperados do Proger Rural.
O sistema abrange 55 municípios e já se expandiu para os estados de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul. Começou a funcionar em 1996, e no ano seguinte já havia realizado 1.380 contratos atra-
vés do Pronaf. Dirigidas por agricultores e agricultoras familiares, as cooperativas têm autono-
mia administrativa e interagem através da Cresol Baser. Funcionam como meio de acesso,
canalização e desburocratização dos créditos rurais.
Em 1998, dos recursos aplicados pelo Pronaf através do Cresol Baser, a maior parte foi para o
custeio (89,1%), principalmente de milho, soja e feijão. Para o investimento restaram 10,9%, dis-
tribuídos em atividades agropecuárias diversas. Evidencia-se aqui a dificuldade que agricultores
menos capitalizados têm de acesso ao crédito de investimento.
70
Pronaf
Média
Destino RO CE BA MG RJ PR RS GO (8 UFs)
Compra de agrotóxicos 38 68 26 50 60 69 53 29 53
Compra de sementes 17 49 63 40 52 70 45 44 50
Compra de herbicidas 44 14 07 37 26 70 44 13 42
Pagamento de serviços 43 82 68 69 82 53 19 44 42
Instalações e benfeitorias 47 06 17 15 13 11 15 23 14
Maq./equip./implementos 11 09 06 10 07 12 18 10 14
Compra de animais 44 06 16 15 09 05 07 31 10
Culturas perenes 34 12 11 29 10 08 02 08 10
Comercialização 03 04 02 07 20 02 00 05 02
Moradia 08 01 01 04 06 01 01 03 02
Compra de terra 02 00 01 01 00 03 00 01 01
edição especial 1999
Outros 06 19 20 13 17 06 07 08 10
* Resposta múltipla
71
Agricultura familiar e a agroindústria
A utilização de recursos do Pronaf pela agroindústria é uma realidade constatada pela pes-
quisa. A cultura do fumo absorveu 32% do total de recursos disponíveis para o custeio no
programa. Além do Rio Grande do Sul, onde o fumo absorveu sozinho 46% do crédito de
custeio, a atividade também está presente em Santa Catarina e no Paraná.
Nesses estados, há uma forte integração dos produtores agrícolas com a indústria do fumo.
A cultura do fumo é feita em áreas pequenas, mas sua demanda de força de trabalho é grande.
Para os agricultores familiares, ocupa um lugar importante no sistema de produção.
A agroindústria tem sido a única a decidir sobre o processo de produção do fumo no Sul
do país. Fornece os insumos, a assistência técnica, o crédito, as sementes, e também se
responsabiliza pela determinação do preço e pela classificação e compra do produto. Age,
ainda, como facilitadora para obtenção do crédito bancário. Ao produtor, resta seguir as
normas estabelecidas.
As operações de crédito do Pronaf não são conhecidas da maior parte dos agricultores.
Eles não recebem cópia do contrato de empréstimo, e somente o agente financeiro e a
indústria sabem qual o valor creditado em nome de cada fumicultor e para que se des-
tina o valor total financiado. Isso só é possível porque, através de uma declaração, o
produtor autoriza a empresa a encaminhar em seu nome o pedido de crédito. Também
repassa à Afubra (Associação dos Fumicultores do Brasil) o direito de representá-lo pe-
rante os bancos. Até o momento, as tentativas de sindicatos para tornar a operação mais
transparente não surtiram efeito.
Em geral, não há dificuldade para as empresas na obtenção do crédito. Como elas se en-
carregam da parte burocrática e oferecem garantia de pagamento e reciprocidade, para os
agentes financeiros o custo operacional é baixo, e o risco, inexistente.
O fato é que acabam beneficiadas com linhas de crédito subsidiadas que, ao financiarem o
agricultor integrado, servem como capital de giro da agroindústria. Os recursos do Pronaf
estão, assim, permitindo a manutenção de relações econômicas e sociais já tradicionais na
cadeia produtiva do fumo. Passam distantes da meta de impulsionar um processo de desen-
volvimento rural na região e do fortalecimento da própria agricultura familiar.
Ainda que alguns objetivos do programa estejam sendo cumpridos, como impedir o aumento
do êxodo rural e estimular a presença de pequenos agricultores no campo, é preciso cuida-
do para analisar essa situação. Entre as safras de 93/94 e 97/98, o setor agroindustrial do
fumo reduziu em cerca de 24% o número de trabalhadores efetivos. O fumo ainda hoje
envolve em torno de 74 mil famílias no Rio Grande do Sul, mas recentemente houve uma redução
de quase 2 mil trabalhadores. Há um evidente processo de concentração e seletividade dos
agricultores, já típico na avicultura e na suinocultura.
O desmatamento de grandes áreas no Sul do país para secagem do fumo também causa
preocupação. Com a exigência de reflorestamento, a agroindústria vem pressionando para
que a legislação ambiental seja flexibilizada. A justificativa é que com isso a produção seria
inviabilizada. Grave ainda é o enorme uso de agrotóxicos de alta toxidade na lavoura do fumo.
democracia viva
72
Pronaf
73
De olho no amanhã Como um resultado direto da boa pene-
Assim como no Proger e no Proger Rural, tração do Pronaf entre os agricultores, 75%
as principais reclamações do público no pretendem fazer outros financiamentos
Pronaf também foram a burocracia e a de- no futuro, principal-
mora na liberação dos recursos do emprés- mente para aplicar em
timo, principalmente nos casos de operações benfeitorias na produ- A maior parte dos
para financiar custeio. A exigência de garan- ção agrícola e pecuária
beneficiários contou com a
tias por parte dos agentes financiadores foi ou na compra de má-
outra dificuldade apontada. Chama a aten- quinas e implementos. Emater (Empresa de
ção, porém, o fato de a maioria dos benefi- Pelo menos a metade
Assistência Técnica e
ciários não ter encontrado nenhum entrave desses ficaria satisfeita
nesse sentido (73%). em conseguir um novo Extensão Rural), tanto
Outro ponto comum foi em relação ao empréstimo em torno
para obter informações
conhecimento do programa – 82% afirmaram de R$ 3 mil, um valor
não ter dúvidas sobre as condições do crédi- baixo mesmo para a sobre o programa (47%)
to e pagaram suas parcelas em dia (69%). agricultura familiar.
como para a elaboração de
projetos (51%).
Pronaf - Investimentos
futuros*
* Resposta múltipla
democracia viva
74
Pronaf
No Ceará, o número de solicitações rejeitadas pelos agentes financeiros do Pronaf foi muito
elevado. Em 1997, a Ematerce ( Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural)) elaborou
11.901 propostas de financiamento, das quais apenas 4.885 (41%) foram contratadas. Em
1998, a aprovação foi um pouco maior – 3.381 (54,8%) dos 6.165 planos. O resultado foi
um grande desgaste da instituição e do programa.
Alguns dos atores envolvidos nesse processo indicam que a seca pode ter influenciado ín-
dices tão elevados de reprovação. Explicam que a maioria dos projetos era de custeio de
lavoura, com improvável sucesso em períodos de estiagem. A justificativa, no entanto, não
esclarece por que foram recusados os pedidos de investimento.
Com medidas simples, garantem que as propostas elaboradas estejam de acordo com os
recursos disponíveis e com a capacidade de atendimento das agências bancárias. Evitam o
desperdício na elaboração de propostas que não têm possibilidades reais de contratação.
Propostas elaboradas
pela Ematerce Aprovadas
75
Parceria organizada a documentação. Em contrapartida, pediu
Na área pesquisada, algo que reforça a di- uma contribuição de 1% sobre cada emprés-
mensão participativa do programa é o fato timo. O banco, por sua vez, não cobrou taxa
de 67% dos seus beneficiários terem ligação de abertura de conta e nem de cadastro.
com organizações de classe. Na maioria dos Em Arroio do Meio, a atuação do MPA
casos, o sindicato é a entidade mais citada. foi decisiva na liberação de empréstimos em
Na Região Sul, a funcionalidade do pro- grupo para custeio e investimento, benefici-
grama está diretamente relacionada à presen- ando 2 mil agricultores familiares.
ça da agroindústria e dos movimentos Na Bahia, as organizações rurais, associa-
sociais que lutaram pela criação do Pronaf. ções, cooperativas e sindicatos foram respon-
Nas regiões, há uma forte atuação da Fetag sáveis, em grande parte, pela divulgação do
(Federação dos Trabalhadores na Agricultura), programa. As principais iniciativas, no entan-
da CUT Rural (Central Única dos Trabalha- to, são as que visam à concessão de créditos
dores), do MPA (Movimento dos Pequenos coletivos. A Fetag organizou encontros em
Agricultores) e do MST (Movimento dos todo o estado para incentivar a participação
Trabalhadores Rurais Sem-Terra). dos sindicatos rurais na reivindicação do cré-
Nos municípios gaúchos de Ijuí, Getúlio dito. Os resultados dessa atuação variaram des-
Vargas e Arroio do Meio, parcerias entre os de a ocupação e fechamento de agências
sindicatos de trabalhadores rurais e os ban- bancárias até a completa indiferença.
cos facilitaram o acesso do pequeno agricul- As organizações locais, mesmo com tí-
tor ao crédito, mesmo os mais pobres. O mida atuação, foram as que mais se forta-
principal parceiro foi o Banco do Brasil. leceram com o Pronaf. O número de
Em Ijuí, o banco colocou um funcioná- sócios aumentou em 34%. É lamentável a
rio à disposição do sindicato para elaborar as quase total desvinculação do Pronaf Ins-
propostas de contrato. Em Getúlio Vargas, titucional da linha de crédito de geração de
essa parceria também reduziu a burocracia. emprego e renda. Um deveria completar
O sindicato ficou responsável pelo preenchi- o que o outro faz. Essa desvinculação só
mento das propostas e recolhimento de toda fragiliza o programa.
democracia viva
76
Pronaf
Em busca da cidadania
A cada estiagem no semi-árido brasileiro, milhares de nordestinos seguem para as regiões me-
tropolitanas de todo o país. Procuram emprego e oportunidade de uma vida melhor. A cena
de paus-de-arara cruzando as estradas nacionais é velha conhecida. No Nordeste, quando che-
ga a seca, parte o homem. Famílias são divididas e destruídas. As viúvas da seca e seus filhos
pequenos são as testemunhas de uma histórica realidade brasileira.
Os programas de geração de emprego e renda têm sido fundamentais para mudar o desti-
no desses cidadãos. Na Bahia, os recursos do Pronaf contribuíram para que 95,7% dos
beneficiários continuassem na condição de empreendedor rural. Mais de 80% afirmaram que
nenhum dos seus familiares precisou trabalhar fora, e quase 60% garantiram que o Pronaf
evitou o êxodo rural. No Ceará, apenas 14% dos beneficiários tiveram familiares que deixa-
ram o estabelecimento.
77
ANÚNCIO
REVISTA EDUCAÇÃO
democracia viva
78
Limites e potencialidades
Limites e
potencialidades
O s resultados de uma pesquisa têm mais valor quando, além de
um diagnóstico, são capazes de propor alternativas. A avaliação dos
três programas de geração de emprego e renda nos oito estados –
Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul e Rondônia – e na Região Metropolitana de São Pau-
lo tem esse propósito.
79
Os programas de geração de emprego e Perfil do beneficiário
renda ainda são recentes para um julgamen- Em geral, os tomadores de empréstimos
to definitivo. Sem dúvida, o Proger e o do Proger não refletem as características
Pronaf são capazes de enfrentar o desem- da população local em que se inserem.
prego, o subemprego ou a ocupação precá- Em relação à cor, os
ria, fortalecendo as condições de inserção beneficiários se dife-
econômica dos que têm alguma potencialida- renciam da população Mantendo-se permeáveis à
de. São programas de combate à pobreza urbana em toda a área
e à exclusão, na medida em que buscam vi- pesquisada. No progra- participação que
abilizar grupos e setores fragilizados ou ma, a maioria se decla- lhes é intrínseca, o Proger
ainda não consolidados. Já o Proger Rural ra de cor branca e um
apresenta vícios de origem e de operacio- menor número, de cor e o Pronaf podem ocupar
nalização. Assim, sua avaliação como par- preta ou parda. Distribu- um lugar específico e
te da política de geração de emprego e ídos por classe de consu-
renda não é favorável. mo, também apresentam fundamental como
políticas públicas
nacionais.
democracia viva
80
Limites e potencialidades
81
No Proger Rural o impacto é insignifi- Na questão da ocupação, o dado lamen-
cante em termos de novas ocupações. Uma tável e inaceitável para uma política pública
alternativa seria incorporar as condições de emprego e renda é a presença do traba-
operacionais do Pronaf, estabelecendo faixas lho infantil entre os tomadores de crédito do
diferenciadas de custos e prazos, ampliando Pronaf. Trata-se de crianças com menos de
o número de beneficiários potenciais com 14 anos e fora da escola. Nesta condição
acesso ao crédito. Mas deve ser levada em estão 246 mil crianças familiares e 5 mil
conta a capacidade do Proger Rural de man- não-familiares trabalhando nos estabeleci-
ter ocupações. O programa atuou positiva- mentos de beneficiários do Pronaf. A estas
mente ampliando a quantidade de dias somam-se cerca de 700 mil adolescentes e
trabalhados dos assalariados temporários. O jovens familiares, na faixa de 14 a 18 anos,
aspecto negativo e inadmissível, em se tra- que trabalham e não mais estudam. Mais
tando de beneficiários de política pública, é uma vez, cabe aos gestores criar condiciona-
a presença significativa de trabalho infantil lidades firmes no sentido de transformar o
(menores de 14 anos), tanto de familiares crédito concedido em um instrumento com
quanto de fora do estabelecimento, embora efeitos similares à bolsa-escola.
esta em menor proporção.
O maior impacto do Pronaf como polí-
tica pública de emprego e renda está na sua
capacidade de preservar e manter ocupações
na área rural. Foi encontrada uma relação de
4,84 ocupações mantidas por operação, com
um financiamento médio necessário de ape-
nas R$ 775,24 por ocupação mantida. É um
resultado muito significativo. Além disso,
foram geradas 0,58 novas ocupações por
operação, com um financiamento médio de
R$ 6 470,81 por ocupação gerada.
democracia viva
82
Limites e potencialidades
do tecido institucional das grandes cidades ção dos tradicionais clientes dos bancos. Há
brasileiras. Porém, as responsabilidades da uma necessidade de formatação de normas
83
bancárias que se adeqüem à realização de No Pronaf, há uma concentração de con-
operações de crédito de menor valor que as tratos e de recursos no Sul do país que não
usuais do sistema bancário. Como uma po- reflete a distribuição da agricultura familiar
lítica pública, o Proger deve ser gerido na brasileira. Ficam de fora camadas da socieda-
busca do maior interesse público, diferenci- de menos consolidadas e integradas ao merca-
ado das tradicionais linhas de crédito para do, que deveriam ser o público prioritário do
clientes. Recomenda-se a procura de formas programa. Essa concentração é explicada, em
inovadoras e mais solidárias de garantias, parte, pela atuação de organizações e movi-
com o envolvimento dos beneficiários. mentos de agricultores familiares na região, his-
toricamente envolvidos na luta por melhores
Fatias generosas condições de produção e renda agrícola.
A distribuição estadual dos recursos do FAT Essa concentração também se verifica
destinados ao Proger não obedece a critéri- em alguns poucos produtos agrícolas, como
os demográficos ou socioeconômicos. É fumo, soja, milho e trigo, privilegiando o
principalmente a organização dos atores lo- setor mais rentável da agricultura familiar.
cais que determina a dinâmica do programas, Nesse quadro, a agroin-
interferindo na quantidade de operações de dústria aparece como
crédito e no perfil dos beneficiários. Estimu- intermediária, oferecen-
lar essa participação social é uma das gran- do melhores garantias
O desempenho do Proger
des potencialidades do Proger, indispensável em troca do acesso ao seria melhor se houvesse
para sua continuidade. crédito rápido e com
A distribuição de recursos no Proger m e n o r c u s t o. É u m
normas e juros
Rural reflete uma situação prévia ao pro- grave problema que diferenciados para a
grama, a utilização do tradicional crédito pode ser enfrentado
agrícola. Aqui, os recursos do FAT sim- com o estabelecimento
economia informal e para
plesmente ocupam a lacuna criada com a de critérios na conces- as micro e pequenas
crise do crédito rural. Assim, o programa são do crédito por re-
não é uma novidade, de conteúdo ou de gião e produto. Assim,
empresas. Não se pode
forma. Complica a própria política públi- impede-se que os re- atender da mesma
ca de emprego e renda adotada recente- cursos sejam distribuí-
mente no Brasil, em especial a sua dos de acordo com os
maneira os que querem
identidade diante de outras políticas. Pau- interesses imediatos estabilizar a própria
latinamente e desde que restaurado o tra- dos agentes financei-
dicional crédito agrícola, o ideal é ros, mas sim em sinto-
ocupação e de familiares e
transferir os recursos do FAT alocados no nia com os objetivos os que geram empregos.
Proger Rural para o Pronaf. maiores do Pronaf.
São duas situações opostas,
estratégias que não podem
continuar sendo avaliadas
do mesmo modo.
democracia viva
84
Limites e potencialidades
A cultura do fumo
Para os agricultores familiares a integração com a agroindústria pode ser um caminho de for-
talecimento e sustentabilidade. Mas eles não podem ser tratados como subordinados à
agroindústria, como no caso do fumo. Além dos riscos ambientais e de saúde relacionados
ao fumo, outro problema é o volume considerável de recursos do Pronaf que acaba finan-
ciando esse tipo de produção. Em dois dos estados analisados (Rio Grande do Sul e Paraná),
a fumicultura absorve aproximadamente um terço das operações e dos recursos. Grande parte
dos benefícios dessa situação é apropriada diretamente pela indústria e não pelos agricultores.
Propõe-se uma revisão completa da prática adotada na cultura do fumo. É preciso impedir
que uma política pública de crédito para o fortalecimento da agricultura familiar acabe
utilizada para fortalecer o domínio da indústria sobre os produtores.
85
Participação Esse aspecto, assim como a inserção dos
Dos três programas, o Proger Rural é o me- projetos em cadeias produtivas – só alcançá-
nos visível, com baixo ou nenhum acompa- vel com um plano de desenvolvimento local
nhamento da sociedade. Previstos na bem articulado –, é tão importante quanto o
concepção original do programa, o conselho projeto em si.
federal e as comissões estaduais e munici-
pais sequer foram instalados. É possível Crédito e investimento
suprir essa lacuna na gestão institucional do O Pronaf é ainda dominantemente um cré-
programa, através das instâncias colegiadas dito de custeio, atendendo a uma demanda
em atuação no Pronaf. essencial de financiamento de safra que não
Em muitas situações avaliadas, há fragilida- encontra outras vias de satisfação. Na prá-
de institucional e debilidade das equipes esta- tica, o programa ainda não cumpre satisfa-
duais e das comissões municipais e estaduais toriamente aquela que deve ser a sua
de emprego. Além da adequada prioridade função principal. Oferecer crédito de inves-
política que precisa ser dada a essas instân- timento para capitalizar a agricultura fami-
cias, a capacitação de seus membros é tam- liar, tornando-a rentável, sustentável e,
bém imprescindível. Nesse campo, é mesmo, competitiva é uma meta ainda não
inadmissível qualquer postura paternalista cumprida. Assim, o crédito para investimento
ou assistencialista por parte dos gestores es- deve ser priorizado, e o acréscimo de novos
taduais dos programas. recursos dentro do programa deverá estar vol-
A gestão descentralizada e participativa tado para essa finalidade.
dos programas é condição fundamental para É importante também
o sucesso dessas políticas públicas. Os me- que o crédito individualiza-
lhores desempenhos ocorrem quando há do, de custeio ou investi- Um indicador de
uma interrelação dos programas com o te- mento, esteja em sintonia
cido de organizações e os movimentos lo- com as possibilidades de in-
impacto positivo do
cais. Os programas precisam ser apropriados serção e desenvolvimento Pronaf é a elevação da
pelas organizações locais, como sendo seus, sustentável da agricultura
de alguma forma, trazendo as instituições par- familiar. O que se constatou
produção, das vendas e
ceiras para uma atuação articulada. Por isso, nesta pesquisa foi uma da renda depois
ressalta-se que os gestores públicos sejam in- enorme desvinculação en-
transigentes quanto ao princípio participativo, tre Pronaf Crédito e Pronaf
do crédito, com
atraindo os parceiros para ação conjunta. Institucional, como se os significativo
É preciso que essa participação resulte na dois não tivessem o mesmo
definição de prioridades para o desenvolvi- objetivo. Vale lembrar que
reconhecimento dos
mento local, orientando a aplicação dos cré- esta última modalidade do beneficiários quanto à
ditos em projetos específicos. A garantia de programa possibilita financi-
sucesso dos programas não depende só do ar a infra-estrutura rural, in-
responsabilidade do
bom projeto individual apresentado e apro- cluindo-se aí eletrificação, programa nesses
vado pelos agentes financeiros, mas da den- apoio à comercialização, en-
sidade econômica que são capazes de criar. tre outros itens.
resultados.
democracia viva
86
Limites e potencialidades
87
Os resultados encontrados
nesta avaliação, bons e ruins,
não podem ser atribuídos
somente aos programas avaliados.
A intervenção pública através de
uma política específica não pode
ser desligada do processo macro-
econômico. A política de
estabilização, assim como seu
impacto no emprego urbano e
rural, é algo a ser considerado.
democracia viva
88
O passo a passo da avaliação
O passo
a passo
da avaliação
P ara realizar este projeto de avaliação de políticas públicas, con-
tratado pelo Ministério do Trabalho e Emprego e pelo Conselho
Deliberativo do FAT, o Ibase decidiu trabalhar em rede, em vez
de ampliar sua estrutura interna. Isso envolveu parceiros em
diferentes regiões. O instituto formulou e negociou o projeto, fixou
os parâmetros de execução, controlou o desenvolvimento e garantiu
a qualidade final. Na execução, dividiu o trabalho com parceiros de
outras ações que realiza. Fizeram parte dessa rede pessoas que têm
uma contribuição a dar pelo conhecimento do tema analisado, dos
atores envolvidos e da área em que atuam. Para montar a rede, a
referência para o instituto foram ONGs parceiras e seus profissio-
nais, acadêmicos ou autônomos que com elas se relacionam.
89
N a avaliação do Proger, Proger Rural e que aplicaram os questionários. Também se
Pronaf, o Ibase montou uma extensa rede agregaram à rede estagiários universitários e
com gerentes locais em todos os estados pes- digitadores, sob a supervisão de uma técni-
quisados. Além dos coordenadores, no Rio ca de processamento. Ao todo, a rede envol-
de Janeiro, contou também com superviso- veu mais de 700 pessoas.
res, técnicos de processamento de dados, A estratégia garantiu a realização dos tra-
um consultor estatístico e secretárias. Esse balhos e o cumprimento do cronograma do
grupo constituiu o que se pode chamar de contrato. Mas qualificou também a própria
nodos da rede. No Rio de Janeiro, foram avaliação, na medida em que permitiu que
realizados um seminário geral de toda a fosse imediatamente apropriada por profissi-
equipe e outros com representantes dos onais e instituições com interesses estratégicos
estados e da Região Metropolitana de São na política de geração de emprego e renda.
Paulo. A finalidade foi definir um padrão Para o Ibase fica ainda a experiência adqui-
homogêneo de atuação da rede, além de rida, além das parcerias e alianças reforçadas e da
servir como estímulo ao trabalho. certeza de que esse é o caminho para avançar no
Em torno dos nodos giraram técnicos da monitoramento e avaliação de políticas públi-
Emater nos estados e pequenos grupos locais cas, de forma transparente e conseqüente.
2 Levantamento de informações
Descrição dos programas
Recursos alocados
Contexto socioeconômico
4 Definição da amostra
9 Processamento de dados
11 Relatório final
12 Relatório geral
democracia viva
(1) Programação detalhada dos estudos; (2) GO + RJ + RO; (3) BA + CE + MG + PR + RS; (4) RMSP; (5) 1º relatório;
(6) 2º relatório; (7) RO; (8) CE; (9) BA + GO + MG + PR + RJ + RS + RO + RMSP; (10) conjunto das 8 UFs + RMSP
90
O passo a passo da avaliação
(3) (4)
(6)
(10)
91
Pesquisa de campo Durante esse processo, foram encon-
Foram elaborados quatro questionários dis- trados diversos problemas nos cadastros
tintos: para o Proger (pessoa física e jurídi- fornecidos. Os principais foram o cadastro
ca), com 78 perguntas; para o Proger Rural, incompleto; erro na localização do estabe-
com 108 perguntas; para o Pronaf, com 106 lecimento financiado ou do beneficiário;
perguntas; e para as cooperativas, com 36 não-discriminação da origem dos recursos
perguntas. Os cooperados tiveram que res- das operações; diferenças entre o total de
ponder também a um encarte especial com recursos utilizados e o registrado no
nove perguntas. cadastro; e falta de padronização dos
Dois modelos foram utilizados na con- contratos coletivos.
fecção dos questionários, o do projeto-piloto
do Espírito Santo e um outro da Universi- Definição das amostras
dade Federal de Pernambuco. Foram constituídas 102 amostras, uma para
Para homogeneizar e padronizar a apli- cada segmento da pesquisa. No Proger, por
cação da pesquisa nos oito estados e na exemplo, em cada estado pesquisado e para
Região Metropolitana de São Paulo, utiliza- cada agente financeiro, realizaram-se duas
ram-se dois manuais, um para a área urba- pesquisas independentes. Uma para os bene-
na e outro para a rural. Semanalmente, os ficiários que receberam financiamentos até
dados colhidos eram enviados à coordenação R$ 50 000,00, e outra para os que recebe-
no Rio de Janeiro. Também houve a preo- ram acima desse limite.
cupação de homogeneizar as entrevistas com As pesquisas realizadas na área rural se-
aqueles que operacionalizaram os programas. guiram a mesma metodologia do Proger. No
A pesquisa com os beneficiários abran- Proger Rural e no Pronaf, o público foi di-
geu o período compreendido entre janeiro vidido em três estratos de valor, um inferi-
de 1995 e fevereiro de 1998. Na Região or, um intermediário e um para as grandes
Metropolitana de São Paulo, o período con- operações. Também foram analisadas pesso-
siderado estendeu-se até setembro de 1998. as físicas que tomaram crédito com apoio
Os registros sobre os recursos aplica- de cooperativas.
dos nos três programas e os seus benefi- A estratificação em função do valor das
ciários por estado, por programa e por operações de crédito foi feita com base nos
agente financeiro, foram fornecidos, em limites estipulados e nas normas de cada
forma de banco de dados, pelo Ministério programa. Os objetivos foram avaliar a re-
do Trabalho e pelo Banco Nacional de lação entre o impacto na geração de empre-
Desenvolvimento Econômico e Social go e renda e o valor do financiamento, e
(BNDES). Os dados foram divididos por identificar o nível de concentração dos re-
localização (município e estado), por agen- cursos aplicados.
te financeiro e por valor do empréstimo. No caso específico das cooperativas,
Também foram considerados os seg- realizou-se uma pesquisa censitária,
mentos das operações efetivadas em par- pois o número de operações não justi-
ceria ou através das cooperativas e outro ficava a definição de uma amostra,
formado por todas as cooperativas relaci- aplicando-se os questionários de avaliação
onadas no banco de dados. a todos os beneficiários.
democracia viva
92
O passo a passo da avaliação
área pesquisada
municípios na
entrevistas
municípios
Operações Operações
amostras
visitados
Total de
Total de
Total de
Total de
<=R$50.000 >R$50.000
Estado BB BN CEF BB BN CEF
RJ 116 - 4* - - - 120 2 70 14
RO 120 - - - - - 120 1 23 6
93
Proger Rural - Número de entrevistas
e de amostras independentes
nos estados
entrevistas
municípios
municípios
Operações R$30.000<Operações Operações
amostras
visitados
Total de
Total de
Total de
Total de
<=R$30.000 <=R$150.000 >R$150.000 Cooperados
Estado BB BN BB BN BB BN BB
RO 149 - 2* - - - - 151 2 23 31
94
O passo a passo da avaliação
nos estados
entrevistas
municípios
municípios
Operações R$5.000<Operações Operações
amostras
visitados
Total de
Total de
Total de
Total de
<=R$5.000 <=R$75.000 >R$75.000 Cooperados
95
Cooperativas - Número de entrevistas
e de amostras independentes
BA 105* 1
CE 64* 1
GO - -
MG 140* 1
PR 42* 1
RJ 1* 1
RO 1* 1
RS 76* 1
RMSP - -
Total 429 7
*Neste segmento optou-se por realizar o censo das cooperativas
96
O passo a passo da avaliação
financiadores. Isso se deve à baixa visibilida- em alguns estados. Os principais motivos fo-
de da operacionalização e à falta de controle ram a ocorrência de seca, que frusta a con-
social e de atuação das comissões estaduais cretização do empréstimo; a não-utilização
e municipais. Quando o gerente orienta o pela Emater do software adotado pelo ban-
potencial beneficiário a procurar a Emater, co para a elaboração de projetos; as verbas
ou uma empresa, para a elaboração do pro- reduzidas; a carência de pessoal para anali-
jeto, este já está aprovado. Praticamente não sar os projetos nas agências, aliada à má
há pedidos de financiamentos recusados. vontade no atendimento ao público; e a
No Pronaf, a recusa de pedidos de fi- ausência de planejamento por parte das
nanciamento atingiu índices muito elevados agências bancárias envolvidas.
97
Radiografia da apuração
Por estado
As apurações foram realizadas por
amostra independente, por agente
financeiro, por estrato de valor, além
da apuração geral, que reuniu todas as
amostras independentes. Obteve-se um
total de 193 apurações para os
diversos estados e para a Região
Metropolitana de São Paulo onde a
pesquisa foi aplicada.
Cruzamentos
A elaboração permitiu traçar os perfis
dos beneficiários que obtiveram
sucesso ou não em relação à geração
de emprego e renda. Foram gerados
102 cruzamentos, refletindo o
resultado da pesquisa no conjunto, em
cada um dos oito estados e na Região
Metropolitana. No Proger, geraram-se
também cruzamentos para apurar
isoladamente o perfil das pessoas
físicas e jurídicas beneficiadas.
democracia viva
98
O passo a passo da avaliação
Os instrumentos usados
foram aperfeiçoados a
partir da bem-sucedida
Para aperfeiçoar experiência-piloto no Espírito Santo. Como
É preciso ressaltar que esse foi um traba- resultado, formou-se um vasto banco de
lho de avaliação e não de auditoria. Pre- dados com as características dos benefici-
domina a análise da eficácia sobre aquela ários dos programas, que poderá ser apro-
do respeito às normas e da lisura dos di- veitado para explorar outros aspectos não
ferentes atores no uso dos recursos. relacionados com essa pesquisa. De qual-
Foi acertada a opção por diferenciar a quer forma, os questionários podem ser
avaliação dos programas por estado e por ainda aperfeiçoados para utilização em fu-
agente financeiro. A dinâmica dos progra- turas avaliações, procurando ajustar ques-
mas depende muito das dinâmicas político- tões, com base na experiência obtida com
institucionais locais e do modo como os esse trabalho.
próprios agentes financeiros as incorporam O método de amostragem se revelou
em suas estratégias. Além de valorizar a adequado para dar conta da diversidade em
especificidade estadual e a atuação dos cada programa, em cada estado. O grande
agentes, foi possível ver características e ten- volume de amostras daí resultante exigiu
dências comuns de cada programa. O mes- muito cuidado no controle das aplicações.
mo procedimento deveria ser adotado em Os mesmos critérios e rigor deveriam ser
futuras avaliações. seguidos em avaliações futuras.
edição especial 1999
99
O trabalho em parceria com
entidades e empresas que conhecem
a realidade local foi fundamental
ao sucesso da avaliação. A garantia
do padrão de qualidade e da
homogeneidade na coleta de dados
foi obtida graças à supervisão
permanente, ao treinamento das
equipes e aos instrumentos de
orientação prática utilizados.
democracia viva
100
Perfil Local
Perfil local
Proger, Proger Rural e Pronaf
Resultados por área pesquisada
Este capítulo aborda os impactos dos três programas nos oito esta-
dos em que a avaliação foi realizada – Bahia, Ceará, Goiás, Minas
Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Rondônia – e
mais a Região Metropolitana de São Paulo, com atuação apenas do
Proger. A idéia é permitir ao leitor uma análise local baseada nos prin-
cipais resultados por programa e nos indicadores sociais estaduais. São
dados como a situação do mercado de trabalho, identificação da popu-
lação urbana e rural ou o IDH, que mede o nível de qualidade de vida
do estado, entre outros. A comparação permite visualizar, na amostra
realizada, os reais efeitos do Proger, do Proger Rural e do Pronaf na
geração de emprego e na renda, sinalizando a capacidade ou não dos
três programas de combater o desemprego e a exclusão social.
101
Bahia
Área: 567.295,3 km², equivalente a 6,64% do território nacional,
o quinto lugar entre os estados.
102
Perfil Local
para essa linha de crédito. No Pronaf e no sando os recursos para o Banco do Brasil
Proger Rural, os recursos foram muito meno- e o Banco do Nordeste.
res do que os aplicados nos demais estados. As operações de crédito na Bahia ocor-
Os recursos para o setor urbano foram reram em praticamente todos os municípios,
aplicados pelo Banco do Brasil, Banco do Nor- de janeiro de 95 a fevereiro de 98. Foram ao
deste e Caixa Econômica Federal. No setor todo 402 municípios contemplados com as
rural, o Banco do Brasil e o Banco do linha de crédito do FAT, 397 receberam re-
Nordeste ficaram responsáveis pela aplica- cursos do Proger, 244 do Proger Rural e
ção. O BNDES aplica no Pronaf, repas- 257 do Pronaf.
Agente
Financeiro Proger Proger Rural Pronaf PEF
N° OP Valor N° OP Valor N° OP Valor N° OP Valor
Banco do Nordeste 21.602 235,61 9.442 69,40 12.188 41,96 7.592 29,75
103
Proger miliares; possuem 2,54 dependentes; resi-
Com a implementação do programa, o núme- dem em domicílios próprios urbanos per-
ro de pessoas ocupadas na Bahia passou de manentes, com uma média de 4,48 pessoas
52.433 para 102.559, correspondendo à gera- residentes.
ção de 2,62 novas ocupações por operação. O A maioria dos beneficiários não havia feito
perfil do novo ocupado na Bahia é: masculi- empréstimos antes do Proger (76,10%). As di-
no (60,22%); idade entre 18 e 29 anos ficuldades encontradas para a obtenção do cré-
(58,53%); remuneração entre meio até 2 salá- dito foram a burocracia (31%) e a demora na
rios mínimos (63,72%); e escolaridade até a 8ª liberação dos recursos (34%). Mais da metade
série (30,20%). Quanto ao ramo de atividade, atrasou o pagamento das prestações (57,18%).
destaca-se o comércio, com 40,74%. O valor
do financiamento por ocupação gerada é dos Proger Rural
mais baixos, R$ 5 721,82, sendo, inclusive, in- O número de pessoas ocupadas na Bahia
ferior à média encontrada para o conjunto dos com a implementação do programa passou
estados pesquisados. de 52.395 para 65.952.
O perfil dos beneficiários do Proger na Foram criados 13.557 novos postos de
Bahia revela que são homens (70,57%); en- trabalho como resultado direto do progra-
tre 31 a 50 anos (58,98%); brancos(50,88%) ma na Bahia, representando um aumento
ou pardos (38,99%). São chefes de família de 25,87% nas ocupações existentes. Para cada
(69,76%); não possuem outra fonte de ren- 100 beneficiários diretos do crédito 179 ocu-
da; têm até o ensino médio; pertencem às pações foram geradas. A maior incidência foi
classes B e C (58,95%); têm experiência entre os assalariados temporários. O custo
anterior como autônomos ou negócios fa- por ocupação gerada foi de R$ 3 800,42.
Proger - Bahia
Geração de novas ocupações por categoria
104
Perfil Local
Pronaf
Proger Rural – Bahia No período avaliado, 244.868 pessoas tive-
Geração de novas ocupações ram ocupação garantida no meio rural gra-
por categoria e sexo
ças ao Pronaf. O incremento na oferta de
postos de trabalho foi de 43.016, um acrés-
cimo de 21,3% no contingente ocupado. O
valor do financiamento por ocupação gera-
da foi de R$ 2 622,87, o mais baixo encon-
trado em toda a avaliação, e correspondente
a 40% da média nos oito estados. Manter
um emprego com o Pronaf na Bahia custa
apenas R$ 460,76, cerca de 59% da média
encontrada na pesquisa.
Os beneficiários são quase todos homens
(91,49%). Quanto à cor, 51,18% auto-decla-
ram-se pardos, 32,98%, brancos e 10,46%,
negros. Entre os familiares em idade escolar,
apenas 59,20% estavam estudando no perí-
odo da pesquisa.
A principal atividade financiada foi a
agricultura (75,59%). Os estabelecimentos
de até 50 hectares representam quase 80%
dos financiamentos.
Pronaf – Bahia
Área dos estabelecimentos
financiados
edição especial 1999
105
Ceará
Área: 146.348 km², cerca de 92% situados no semi-árido.
106
Perfil Local
107
Proger Rural e trabalham no próprio estabelecimento
Os resultados demonstram que o programa (61,3%). Registra-se a presença de 6,7% de
vem contribuindo para a melhoria das con- aposentados entre os beneficiários.
dições de vida e para a fixação do homem Entre as atividades financiadas, a agricul-
no campo. Antes do crédito, os beneficiári- tura ficou com 66,2%, a pecuária com
os ocupavam 51.104 pessoas e depois pas- 21,9% e a agropecuária com 5,1%. O pro-
saram a ocupar 61.191, significando um grama financiou princi-
aumento de 20%. O número de ocupações palmente minifúndios e
geradas por operação de crédito ficou em pequenas propriedades
1,41,com um financiamento em média de de até 100 hectares
43% dos beneficiários
R$ 4 594,95. Os novos ocupados atuaram (69%). A maior parte
principalmente em serviços gerais de lavou- dos estabelecimentos fi- encontraram dificuldades
ra, colheita e extrativismo e na melhoria das nanciados são próprios
ao pedir o empréstimo,
benfeitorias e moradias. (87,5%). Poucos arren-
Um total de 44,5% dos beneficiários já datários e assentados principalmente por conta
haviam tido acesso a outros financiamentos foram beneficiados, ape-
da burocracia, prazo curto
na década de 90. Quantos aos impactos do nas 8,3%. As benfeito-
programa na produção, 36% dizem que rias das propriedades de pagamento, juros muito
houve aumento. As vendas permaneceram financiadas revelam uma
elevados, exigências
estáveis depois do crédito para a maior parte estrutura agrícola ainda
do público (34%).Quanto à renda, 38% rudimentar: 94,8% têm de garantias e demora
afirmam que houve uma diminuição, mas cercas, 87,3% têm casas,
na liberação.
37% não atribuem ao programa a responsa- 65,2%, currais, 31,6%,
bilidade pela modificação. chiqueiros ou pocilgas,
O público do Proger Rural no Ceará é 25,6%, galinheiros, 42,2%,
assim definido: homens (91,8%); analfabe- açudes, e somente 0,6%
tos ou que apenas lêem e escrevem (52,8%); máquinas e equipamentos.
108
Perfil Local
Pronaf
No Ceará, o programa não só está conse-
guindo cumprir o objetivo de fortalecer a
agricultura familiar, através da manutenção
das ocupações existentes (85.925), mas tam-
bém está possibilitando o acréscimo de ocu-
pações em um cenário adverso para a
Pronaf – Ceará prática da agricultura. Os novos ocupados
Acesso ao crédito na década de 90 (10.875) são principalmente assalariados tem-
porários contratados. Isso se deve ao fato de
82% dos beneficiários terem aplicado os re-
cursos na contratação de serviços de plantio,
tratos culturais e colheitas das lavouras. Para
gerar uma ocupação, foram necessários, em
média, R$ 2 692,00; já para manter o custo o
valor cai em média para R$ 340,71.
Os financiamentos foram destinados pre-
dominantemente à agricultura (93%) e, em
menor proporção, à pecuária (4,8%). O valor
do financiamento teve uma grande variação,
entre R$ 103,50 e R$ 27 875,38, em média.
Observou-se uma tendência para a redu-
ção da produção (49%), das vendas (42%)
e da renda (46%). Nos casos em que hou-
edição especial 1999
109
adicionais foram empregados principal- Em 69,69% dos casos, os estabelecimen-
mente no pagamento de dívidas (20%), tos financiados têm até 50 hectares. O des-
mas também em despesas com alimenta- taque fica na incidência de áreas com menos
ção (18%), vestuário (11%) e saúde (11%), de 20 hectares (49,45%).
indicando uma preocupação dos agriculto- Para 54,6% dos entrevis-
res em melhorar, pelo menos temporaria- tados o estabelecimento é Os financiamentos
mente, sua qualidade de vida. próprio. Registra-se que
Quase todos os beneficiários do progra- 28,2% dos beneficiários
pequenos, quase
ma no Ceará são homens (95,2%), analfabe- mantêm a posse precá- irrisórios, são resultado
tos ou que sabem apenas ler e escrever ria dos estabelecimentos
(75,46%). A maioria trabalha no próprio es- que exploram, sejam ar-
dos dois últimos anos de
tabelecimento (53,67%)e está desfrutando rendatários (14,2%), seca, levando à liberação
com o Pronaf o primeiro crédito da déca- posseiros (7,1%) ou par-
da de 90 (68%). ceiros (6,9%).
apenas parcial dos
créditos de custeio
aprovados – uma ou
duas parcelas em
vez de três.
Pronaf – Ceará
Condição do estabelecimento financiado
democracia viva
110
Perfil Local
ANÚNCIO
BANCO DO
NORDESTE
111
Goiás
População: 4,3 milhões de habitantes. Em 1980, 32% dos goianos
viviam na área rural, em 1994 o percentual caiu à metade, indicando
um processo de urbanização crescente.
IDH: 0,786, um dos mais elevados do país. Sua capital, Goiânia, está
entre as melhores cidades brasileiras, tanto do ponto de vista da qua-
O estado se destaca
lidade de vida como em oportunidades de investimento. como o mais
Mercado de trabalho: o estado possui uma economia dinâmica. importante, em
Entre 1990 e 1996 seu PIB cresceu 28,59%, enquanto o PIB nacio-
nal cresceu apenas 12,66%. Em 1996 a renda per capita chegou a termos de volume de
U$ 5.119,65. Contudo, o crescimento econômico não tem se tra-
duzido em empregos para todos, muito menos em empregos de
produção, da Região
qualidade. Nos anos 90, Goiás passou por um processo de cres- Centro-Oeste.
cimento do setor de serviços por conta da terceirização. Como
conseqüência, houve a degradação das condições de trabalho. Es-
tas se tornaram cada vez mais precárias, com remunerações em
declínio e ocupações sem carteira assinada.
112
Perfil Local
Em Goiás, 41,7% de
proprietários de terras com
menos de 100 hectares ocupam
a mesma área de 0,2% de
proprietários de terras com
edição especial 1999
113
Proger da assim evidencia-se a participação da
Fica claro o incremento de oportunidades de mulher entre os empreendedores (32,32%).
trabalho possibilitado pelo programa. Antes A maioria se declara branca, possui, em mé-
do Proger, a média do pessoal ocupado era dia, 2,37 dependentes, e pertence à classe B
de 4,99 por empreendimento, depois passou (42,69%). Registram-se também percentuais
a 8,83. Foram geradas 3,84 ocupações por significativos nas classes A (26,20%) e C
operação de crédito, a um custo médio de (24,54%). O beneficiário possui um nível
R$ 5 286,16. Os mais beneficiados foram os de escolaridade bastante elevado em com-
assalariados permanentes com carteira. paração com a população goiana. A mai-
A maior parte dos novos contratados tem or parte completou o ensino médio
entre 18 e 29 anos (59%) e recebe até 2 sa- (31,61%) ou o nível superior e está na pós-
lários mínimos (51,16%). Registra-se também graduação (24,11%).
um percentual significativo que está na faixa Antes de ter seu próprio empreendimento,
dos 30 a 44 anos (29%) e dos que recebem o beneficiário do Proger trabalhava em empre-
entre 2 e 3 salários (21,96%). Mais da meta- sa privada ou pública (54,51%) ou era autôno-
de tem baixa ou nenhuma escolaridade e tra- mo (26,34%). A maioria não tem outra fonte
balha de 30 a 44 horas semanais (74,24%). de renda (58,98%). Daqueles que possuem
Para 67,61% dos tomadores de crédito, o mais de uma remunera-
programa significou melhora na situação da ção (40,92%), mais da
produção e das vendas, além de aumento da metade é empregada, Foram as mulheres que
renda. A maioria atribui a alteração nos lucros cerca de 35% trabalham
ocuparam o maior número de
ao programa: 29,95% totalmente e 47,69% por conta própria e
parcialmente. O rendimento do empreendedor 8,55% são empregado- novas vagas geradas com os
passou de R$ 2 071,80 para R$ 2 440,31. res em outros negócios.
financiamentos do Proger em
Os beneficiários são em geral homens, Cerca de 80% estão des-
chefes de família, entre 31 a 50 anos, com frutando com o Proger Goiás, representando 53,91%
predominância daqueles com 40 anos. Ain- o primeiro crédito.
do total das contratações.
Proger – Goiás
Geração de ocupações por estabelecimento financiado
114
Perfil Local
Proger – Goiás
Grau de escolaridade do beneficiário
Escolaridade %
Nenhum 0,68
Alfabetizado 1,84
Proger Rural
Cada operação de crédito gerou, em média,
0,6 ocupação, a um custo médio de
No Proger, apenas 23,88% R$ 21 202,85, considerado elevado, muito
dos beneficiários não acima do valor correspondente no Pronaf,
de R$ 17 254,00. Houve um expressivo au-
encontraram dificuldades mento na contratação de assalariados tem-
na solitação do crédito. porários, acompanhado do aumento do
número de dias trabalhados (de 98,2 para
O restante se queixa do 107,6 dias). Esses trabalhadores ocuparam
excesso de burocracia 80% das novas ocupações. Foram alocados
principalmente em serviços gerais de lavou-
(38,40%), da exigência de ra (83,2%) e de produção animal (14,3%), e
garantias pelos bancos em atividades de colheitas (13,5%). Os res-
tantes 20% foram preenchidos por assalari-
(35,04%) e da demora ados permanentes com ou sem carteira.
na liberação dos A participação feminina entre os assala-
riados é extremamente reduzida, mas entre
recursos (33,54%). os trabalhadores familiares é significativa,
representando quase um terço das novas ocu-
edição especial 1999
115
de idosos é inexpressiva, assim como de Aqui a participação das mulheres ainda é
jovens de 14 a 17 anos. Não há registro de inexpressiva (9,7%), mas significativa com-
trabalho infantil. parando com o mesmo percentual no
Em termos de manutenção de ocupa- Pronaf (5,9%). Metade dos beneficiários
ções existentes, o programa pode ser ava- (50,6%) já havia recebido outro financia-
liado como bem-sucedido. Está mantendo mento na década de 90.
35.919 homens e 5.114 mulheres na ativi- O nível de escolaridade dos tomadores
dade rural. de crédito é bastante elevado para a média
O Proger Rural contribuiu para estabili- da população goiana.
zar a produção, as vendas e a renda dos be- Há uma baixa taxa de
neficiários (45%). Entre aqueles que analfabetismo entre os
Após o recebimento do
verificaram aumento na produção (38,9%), mutuários (1,7%) e mais crédito, 7,8% dos
a maioria atribuiu ao Proger Rural a respon- da metade (58,4%)
sabilidade pela melhoria total (48,18%) ou possui pelo menos o
produtores participaram
parcialmente (27,43%). Entre os que tive- ensino fundamental. de cursos de capacitação
ram aumento na renda (33%), a maioria uti- Evidencia-se o percen-
lizou o lucro para pagar dívidas e em gastos tual de 11,38% com ní-
nas áreas de produção e
que visam à melhoria da qualidade de vida vel superior. Quanto à administração. Poucos
familiar e das condições de produção e ca- idade, 59,8% têm entre
pitalização do estabelecimento. 30 e 49 anos e 68,4%
produtores (13%) sabem
Os beneficiários do Proger Rural em trabalham somente no que os cursos contaram
Goiás são majoritariamente homens brancos. estabelecimento.
com recursos do FAT.
116
Perfil Local
Pronaf
Como era esperado, o impacto do programa
na geração de novas ocupações não foi ex-
pressivo, apenas 0,32 por operação de cré-
dito, a um custo de R$ 17 253,80 cada. O
Pronaf está cumprindo sua proposta princi-
Proger Rural – Goiás pal de manutenção dos produtores rurais
Área do estabelecimento financiado nas sua atividades. Foram mantidas 19.446
ocupações a um custo de R$ 1 488,84 cada.
Entre os novos ocupados, aqui também
saem na frente os trabalhadores temporári-
os, com aumento do número médio de dias
trabalhados, de 86,4 para 142,8 dias. Eles
têm sido ocupados em serviços gerais de
lavoura, e uma parcela menor, na pecuária.
A segunda categoria que mais cresceu foi a
dos familiares.
Depois que recebeu o financiamento,
68,86% dos beneficiários declararam que
a produção aumentou. Em apenas 3,17%
diminuiu, e se manteve estável em 26,42%
dos casos. O impacto sobre as vendas foi
semelhante, com aumento para 65,60%
dos mutuários, diminuição para apenas
2,71%; e estabilização para 30,64%. Em-
edição especial 1999
117
renda também foi registrado em 47,55% Pronaf – Goiás
dos estabelecimentos. Em 23,34% ela se Área do estabelecimento financiado
manteve e em 10% caiu.
A quase totalidade dos contratos
(93,8%) do Pronaf em Goiás foi assinada
por homens brancos. A maioria (59,73%)
não completou o ensino médio. Destes,
16,60% são analfabetos ou sabem sim-
plesmente ler e escrever. Poucos são jo-
vens, apenas 13,4% estão na faixa de 20
a 29 anos, enquanto 32,09% têm mais de
50 anos e dedicam-se integralmente ao
trabalho no estabelecimento (76,18%). O
Pronaf representa o primeiro crédito na
década de 90 para 55,3%.
Aqui também boa parte dos contratos foi
firmada com arrendatários (28%). O dado
é surpreendente considerando a situação
fundiária do estado. Os proprietários fica-
ram com 67,65% das operações realizadas
e os assentamentos receberam 3,42%. A
maior parte dos estabelecimentos financia-
dos estão em áreas de 20 a 50 hectares e de
50 a 100 hectares. Os miniprodutores, com
áreas de até 20 hectares, representam 11%
do total. Registra-se a presença de estabele-
cimentos em áreas de 100 a 500 hectares e
até com mais de 500 hectares (1%).
Pronaf – Goiás
Geração de novas ocupações por categoria e sexo
118
Perfil Local
ANÚNCIO
BANCO DO
BRASIL
119
Minas Gerais
Área: 588 mil km 2
Nº de municípios: 853
O estado possui o
Mercado de trabalho: nos anos 90 a precarização das relações de
maior rebanho bovino do
trabalho no estado, iniciada na década anterior, aumentou. Os índices país e a maior área
apontam para a estagnação do emprego industrial e para o cresci-
mento do trabalho informal. Na Região Metropolitana de Belo Ho-
reflorestada do território
rizonte, o número de empregados sem carteira assinada sobe a nacional. Destaca-se na
cada ano: passou de 19,6% em 1989 para 24,2% em 1994. O
mesmo acontece com os que trabalham por conta própria, que produção de café e leite
passaram de 19,9% em 1989 para 22,3%.
e por seu parque industrial
Educação: ocupa a 11ª posição no índice de melhoria da taxa de
analfabetismo no país, estipulado pelo Unicef. Está abaixo dos es-
nas áreas siderúrgica e
tados do Sul, do Centro-Oeste e do estado do Espírito Santo. automobilística. Também é
o estado com maior
extensão de rodovias
federais – cerca de
10 mil km.
120
Perfil Local
O Banco do Nordeste concentra sua atuação setor informal. Sua pequena participação no
na região norte de Minas, abrangendo os três Proger – apenas 17,4% dos contratos e
programas. Foi responsável por 15,6% do total 12,7% do montante total contratado no pro-
de recursos emprestados e por 13,5% de todos grama – explica-se pelo fato de ter iniciado
os contratos do estado. Sua maior participação foi suas operações somente em março de 97.
no Proger, principalmente em termos de contra- O BNDES, por intermédio dos agentes
tos firmados. Em relação ao Proger Rural e ao financeiros credenciados, começou a atuar
Pronaf, teve uma atuação reduzida. no Pronaf em novembro de 96. Foi respon-
A Caixa Econômica Federal atua exclusi- sável por 30,5% do total de recursos em-
vamente no setor urbano. Seus recursos des- prestados no programa e por 15,7% do
tinam-se a pequenas e microempresas e ao número de contratos firmados.
121
Proger (35,81%) e pagamentos de salários (23,46%).
O programa possibilitou a geração de 18.839 Mas também é significativo o percentual de
novas ocupações, equivalente a um aumen- gastos com alimentação (57,63%), saúde
to de 45,96%. Foi criado o correspondente (33,96%), educação (26,87%), dívidas
a 2,10 ocupações por cada operação de cré- (17,47%) e moradia (16,06%).
dito realizada, a um custo de R$ 8 097,41. Os beneficiários do Proger em Minas
Os novos ocupados recebem, em média, são homens (75,78%), brancos (61,70%) e
de 1 a 2 salários mínimos (53,02%). Mas chefes de família (71,25%). A maioria per-
existem aqueles que recebem entre meio e tence às classes A e B
1 salário (12,21%); os que recebem de 2 (54,2%) e tem entre 31
a 3 salários mínimos (9,79%); e há ainda e 40 anos (36,16%).
Antes de ter o próprio
uma parcela significativa de não-remune- Mas fica claro que o negócio, a maior parte dos
rados (9,79%). programa está permitin-
Os empréstimos contribuíram para ele- do a inserção no merca-
beneficiários do Proger em
var a renda dos beneficiários: 57,74% decla- do de todas a faixas Minas trabalhava em
raram ter incrementado a produção; etárias: 25,78% têm en-
49,13%, as vendas; e 50,46%, o lucro. Antes tre 41 e 50 anos; 20,62%,
empresa privada ou pública
do programa, a média de rendimento familiar até 30 anos; e 16,70%, (44,03%) ou era autônomo
era de R$ 1 578,2 e passou para R$ 1 887,3. mais de 51 anos. H á
A maioria atribuiu a mudança ao programa um predomínio de es-
(28,60%). Os que não
total (46,58%) ou parcialmente (34,06%). colaridade alta, mais de trabalhavam eram estudantes
No caso da geração de ocupação, os bene- 60% com ensino mé-
ficiários reconhecem a responsabilidade to- dio ou mais. A maior
ou donas de casas (69,85%).
tal do programa em 39,86% dos casos e parte (62,43%) tem no Somente 1,29% estavam
parcial, em 20,71%. Proger sua única fonte
O destino dado ao lucro conseguido reflete de renda e está desfru-
desempregados.
a fragilidade financeira dos beneficiários. tando o primeiro cré-
Boa parte concentrou-se em investimentos dito (82,27%).
122
Perfil Local
123
Quanto aos impactos do programa na condições de pagamento do programa.
produção, 55,69% dos beneficiários dizem Apesar disso, um terço (32,91%) teve di-
que aumentou; 35,55% afir mam que se ficuldades para saldar a dívida.
manteve estável e somente 4,78% acusam Entre as atividades financiadas, a agricul-
que diminuiu. Dos que declararam o au- tura ficou com 66,65%, a pecuária, com
mento, 40,77% consideram esse resultado 25,64%, e a agropecuária, com apenas
responsabilidade do programa. Após o cré- 4,61%. Os estabelecimentos financiados são
dito, as vendas melhoraram em 52,19% dos pequenas e médias propriedades (83,23%
casos ou mantiveram-se estáveis (39,99%). possuem até 100 hectares). Porém é expres-
O impacto do crédito sobre a renda dos be- siva a quantidade de propriedades entre 100
neficiários também foi positivo em 52,78% e 500 hectares (16,36%).
das situações, e 36,94% não sofreram al- Os beneficiados com o Proger Rural em
terações. Entre os que responderam, a mai- Minas são homens (94,25%), brancos
oria (38,73%) responsabilizou o Proger (82,96%), com idade avançada – acima de
Rural pela modificação. Os recursos rece- 50 anos (36,41%), ou entre 40 e 49 anos
bidos foram aplicados em pagamento de (32,70%) – e com ensino fundamental in-
serviços (63,68%), mas também na com- completo (43,85%). Não possuindo outro
pra de adubos e corretivos (65,63%), se- estabelecimento (67,38%), a maior parte tra-
mentes (56,45%), agrotóxicos (47,11%) e balha exclusivamente no próprio negócio
herbicidas (34,83%). (68,18%), mas se evidencia o percentual dos
O valor dos empréstimos variou de que trabalham fora (29,87%). Quase a
R$ 115,00 a R$ 48 mil, com uma média de metade (45,87%) já tinha feito outro em-
R$ 10 155,29. A maioria dos tomadores de préstimo na década de 90, (29,89% do pró-
crédito (82,49%) afirmou conhecer bem as prio Proger Rural e 5,68% do Pronaf).
124
Perfil Local
125
Os financiamentos obtidos variaram de tiu principalmente da Emater (61,48%).
R$ 306,00 a R$ 74 906,00, com um valor Mas também foi relevante a presença de téc-
médio de R$ 5 118,10. Entre as atividades nicos de cooperativas (19,05%). Poucos be-
financiadas predomina a agricultura, com neficiários dispõem de equipamentos e
70,13%, sobre a pecuária, com 23,66%. maquinarias nas áreas financiadas. Só uma
A agropecuária e a agroindústria respondem quarta parte tem trator (25,21%), menos da
por apenas 3,90%. Os estabelecimentos fi- metade arado (42,63%) e quase não existem
nanciados são em geral pequenas proprieda- colheitadeiras (2,52%).
des (78,35% com até 50 hectares). A faixa Apesar da dificuldade em saldar a dívida
que predomina é de até 10 hectares (26,58%), a maioria dos beneficiários
(34,79%), mas é também significativo o (79,60%) pretende soli-
percentual de propriedades entre 20 e 50 citar um novo emprésti-
hectares (26,42%). mo ao Pronaf, no valor Com o Pronaf, a
A assistência técnica recebida para o de R$ 3 mil a R$ 5 mil quantidade de dias de
desenvolvimento do empreendimento par- (33,96% dos casos).
trabalho dos assalariados
temporários aumentou em
25,45%. O tempo médio
de contratação em
atividades rurais
não-agrícolas é de 160 dias;
em produção animal,
Pronaf - Minas Gerais
Escolaridade do beneficiário de 83; em colheita e
extrativismo, de 58; e na
lavoura, de 55.
democracia viva
126
Perfil Local
*Resposta múltipla
127
Paraná
População: 9.003.804 habitantes (IBGE/1996). Urbana: 7.011.990 Entre 1991 e
Rural: 1.991.814
1996, a população
Mercado de trabalho: dados do IBGE de 1996 demonstram que
do total de homens da população (4.234.083), 28,76% trabalham rural paranaense
no setor agrícola; 12,71%, na indústria; 6,33%, na construção civil;
13,43%, no comércio; e 38,75%, em serviços gerais. Do total de
diminuiu 2,44%
mulheres (1.657.480), 24,08% exercem atividades agrícolas; 8,33% enquanto a urbana
atuam na indústria, 0,23% na construção civil; 14,25%, no comércio;
e 53,08%, em serviços. cresceu 2,47%.
128
Perfil Local
129
O valor médio do financiamento conce- Proger - Paraná
dido foi de R$ 12 526,21. A maior parte dos Geração de novas ocupações
empreendimentos foi alocada na área de ser-
por estabelecimento
viços (50,2%), mas destacam-se também a
indústria (30,5%) e o comércio (32,4%). As-
sinala-se que 56,1% dos beneficiários pen-
sam em realizar novos investimentos nos
próximos 12 meses e 58,4% pretendem re-
correr novamente ao programa.
Proger Rural
Depois do programa, constata-se uma redu-
ção de 5% no percentual de ocupações lo-
cais na maioria das categorias. Apenas os
assalariados permanentes sem carteira apre-
sentaram um leve aumento. Segundo a ava-
liação, o resultado é coerente com o
desenvolvimento do programa no estado,
onde mais de 90% dos recursos são aplica-
dos em custeio. A tendência do programa
foi principalmente de manutenção da mão-
de-obra existente.
O programa resultou na estabilização da
produção (53%), das vendas (59%) e da
renda (52%). Quanto aos 36% que aumen-
taram o lucro, a maior parte não respondeu
a que o destinou (63%), 21% utilizaram
para o pagamento de dívidas e 16% inves-
tiram no próprio negócio.
130
Perfil Local
Pronaf - Paraná
Geração de novas ocupações por categoria
131
O aumento da mão-de-obra ocupada é tiveram acesso ao crédito, o que comprova
maior nas atividades relacionadas ao crédi- a dificuldade dos mesmos em financiar as
to de custeio. Os serviços de lavoura e co- atividades do seu estabelecimento. Cerca de
lheita representam 68% da ocupação gerada. 70% já haviam obtido financiamento na dé-
Mas também é significativa a oferta de ocu- cada de 90.
pações ligadas a atividades de investimento O programa financiou prioritariamente
agrícola. áreas de, no máximo, 50 hectares, sendo
A maior parte dos beneficiários obser- 52% de até 20 hectares e 36% de 20 a 50
vou que a produção e a venda nos estabe- hectares. A área média
lecimentos ficaram estáveis depois do dos estabelecimentos é
financiamento, apesar de um percentual sig- de 24,8 hectares. Apro-
Os financiamentos do
nificativo ter declarado que houve aumento ximadamente 79% das Pronaf em 95% dos casos
(40%). Já a renda aumentou para 56%. famílias beneficiárias
Considerando-se que a maior parte dos recur- são proprietárias do
são para atividades agrícolas
sos do Pronaf destinou-se ao custeio, a redu- imóvel, mas é conside- e em 40% para a pecuária.
ção na renda, percebida por 24% dos rável o percentual de
beneficiários, tem a ver com as perdas verifi- parceiros e arrendatá-
O extrativismo, a pesca e a
cadas na colheita da safra de verão 1997/98. rios (25%). agroindústria são pouco
Os beneficiários do Pronaf no Paraná Cerca de 85% dos
são homens brancos, com mais de 40 anos, beneficiários afir ma-
explorados, demonstrando
que não completaram o ensino fundamental ram conhecer bem as que são beneficiadas
e que trabalham exclusivamente no empre- condições do financia-
endimento financiado, com a ajuda dos fa- mento e 73% não tive-
atividades mais tradicionais
miliares (em 66% dos casos). Registra-se que ram dificuldades em e integradas à dinâmica
apenas 11% dos produtores de até 29 anos pagar suas parcelas.
de mercado.
Pronaf - Paraná
Impactos na produção,
venda e renda
democracia viva
132
Perfil Local
ANÚNCIO
BALANÇO
SOCIAL
133
Rio de Janeiro
Área: 43.907 km 2
O Rio de Janeiro
Municípios: 91, sendo o Rio de Janeiro o mais populoso, com
41,4% da população total.
possui a maior
População: (IBGE/1996) a grande diferença entre a população ur-
densidade demográfica
bana e a rural agrava os problemas clássicos de subdesenvolvimen- do país, com 303,27
to característicos do estado: urbanização intensa, grande
concentração da propriedade da terra e desequilíbrio estrutural do habitantes por km2, e
sistema produtivo. Urbana: 12.806.488 habitantes. Rural: 599.820
habitantes.
a maior taxa de
Mercado de trabalho: dos 5.673.146 ocupados no estado, a maior
urbanização, com
parte pertence ao setor de serviços, seguido do comércio, da indústria 95,5% da população
de transformação e da área social. A taxa de desemprego que havia sido
reduzida até 1995, voltou a crescer, atingindo 5,61% entre janeiro e
vivendo em áreas
outubro de 1998. De 1997 a 1998, a taxa de desemprego na Região urbanas.
Metropolitana cresceu mais que o dobro da média nacional.
134
Perfil Local
de treinamento (41,59%).
135
Proger - Rio de Janeiro
Geração de novas ocupações por categoria
Assalariados temporários 16 39 23
Familiares e agregados 7 16 9
Antes do financiamento,
a maioria dos beneficiários
trabalhava como funcionário
de empresa privada
Proger - Rio de Janeiro (40,18%), autônomo
Grau de escolaridade do beneficiário
(23,21%) ou era estudante
Escolaridade % (17,65%) ou dona de
1° grau incompleto 3,45
casa (11,76%).
2° grau incompleto 15,52
136
Perfil Local
137
As principais atividades financiadas fo- Proger Rural - Rio de Janeiro
ram a agricultura e a pecuária. Os emprés- Atividades financiadas
timos foram em média de R$ 9 915,80.
Não foi encontrado nenhum caso de ope-
ração com valor acima do limite de finan-
ciamento (R$ 48 mil). O valor mínimo foi
de R$ 386,06 e o máximo de R$ 40 mil.
Os estabelecimentos beneficiados têm
entre 10 e 50 hectares (43,34%) ou mais
de 50 hectares (32,09%). Registram-se os
percentuais de 22,9% de áreas inferiores a
10 hectares, de 9,06% maiores de 100 hec-
tares e de 0,82% com mais de 500 hectares.
Pronaf
Foi gerada 0,64 ocupação por operação a
um custo de R$ 7 624,62. Houve um au-
mento da participação dos assalariados
permanentes com carteira em detrimento
dos sem carteira e um expressivo aumen-
to na contratação de trabalhadores tem-
porários. A manutenção de ocupações no
programa tem um custo bem mais baixo,
R$ 904,97. Os novos ocupados foram alo-
cados principalmente em atividades de la-
voura e colheita. São na maioria homens,
138
Perfil Local
entre 21 e 40 anos. Registra-se o percentual renda. O principal destino dos lucros foi o
de pouco mais de 1% de crianças com pagamento de dívidas, seguido de investi-
menos de 14 anos. mentos no negócio e alimentação.
Os beneficiários registraram aumento na Os tomadores de crédito são homens
produção (60%), vendas (55%) e renda brancos, com baixo grau de instrução – 3% são
(50%) depois do programa. Mas também é analfabetos e 56,8% não completaram o ensi-
significativo o percentual que se manteve es- no fundamental – , têm entre 30 e 49 anos e
tável: 30% da produção, trabalham apenas no estabelecimento. Eviden-
32% para as vendas e cia-se o percentual de 18,2% entre os que
10% da renda. Para trabalham no próprio empreendimento e tam-
52% dos entrevistados, bém fora, em atividades agrícolas. Os estabe-
A instabilidade de mercado
o Pronaf é parcial ou lecimentos financiados têm em média 55
e as dificuldades de acesso integralmente responsá- hectares, uma área considerada grande diante
vel pela modificação na da realidade agrária do estado.
e de custo do crédito
aparecem como os problemas
mais citados pelo
agricultor familiar no
Rio de Janeiro.
Pronaf - Rio de Janeiro
Área do estabelecimento financiado
139
Rio Grande do Sul
Área: 282.062 km 2 , ocupa cerca de 3,32% do território nacional
Municípios: 467 — mais 30 foram criados por lei, mas ainda não Nota-se um percentual
estão implantados.
significativo de mulheres
População: 9.637.682 habitantes (IBGE/1996), cerca de 79% viven-
chefes de família no
do na área urbana.
140
Perfil Local
Agente Valor
financeiro Número de operações Valores aplicados (R$) médio (R$)
Brasil RS % RS/BR RS(%) Brasil (R$) RS (R$) % RS/BR RS (%) Brasil RS
BB 1.085.228 413.238 38,08 90,42 5.029.753.227 1.478.808.350 29,40 84,84 4.635 3.579
CEF 12.538 2.000 15,95 0,44 127.154.978 19.755.231 15,54 1,13 10.142 9.878
BNDES 119.572 41.758 34,92 9,14 883.659.040 244.533.310 27,67 14,03 7.390 5.856
Total 1.419.302 456.996 32,20 100,00 7.336.889.565 1.743.096.891 23,76 100,00 5.169 3.814
141
autônomos e somente 0,9% estava desem- havia feito outro empréstimo na década de 90
pregado. Quanto ao ramo de atividade pre- (68,54%). Os recursos foram utilizados prin-
domina o setor de serviços, com 51,2%, cipalmente para custeio (75,06%).
seguido do comércio, com 48,4% e da in- A área média dos estabelecimentos finan-
dústria, com 30,6%. ciados é de 43,25 hectares, sendo que
As principais dificuldades apontadas no 31,08% dos mutuários possuem outro esta-
acesso ao crédito foram a burocracia (40,4%), belecimento e 38,49% dos financiamentos
a demora na liberação do financiamento – estão em áreas arrendadas. A principal ativi-
cerca de 103 dias – (26,6%) e a exigência de dade desenvolvida é a agricultura (99,25%).
garantias (23,2%). A maioria não teve dificul-
dade em pagar as parcelas (84,7%) e quase
a metade pretende realizar novos investi-
mentos nos próximos 12 meses (48,5%). Proger Rural - Rio Grande do Sul
Período médio de contratação para
Proger Rural assalariados temporários
Foi gerada apenas 0,07 nova ocupação por
Atividades Dias
operação de crédito, a um custo elevado
de R$ 105 435,00 cada. Os dados são bas-
Serviços gerais de lavoura 55,24
tante discrepantes em relação aos outros
estados e também ao conjunto pesquisado. Colheita/extrativismo 65,54
As causas estão nas características dos agri-
Serviços gerais da produção animal 82,72
cultores beneficiados no estado. O número
de dias de trabalho dos assalariados tempo-
Atividades rurais não-agrícolas -
rários cresceu cerca de 6%, um dado signi-
ficativo na agricultura gaúcha, que não tem Serviços gerais 130,80
um padrão de funcionamento baseado no
Melhoria de benfeitorias e moradias 167,80
trabalho temporário e também pela escassez
de mão-de-obra eventual no estado.
É relevante o aumento da produção
obtido com o financiamento do Proger Ru- Proger Rural - Rio Grande do Sul
ral, admitido por 41,54% dos entrevistados. Caracterização do estabelecimento financiado
As vendas aumentaram para 38,79% dos
mutuários. No caso da renda, 43,43% con- Área (hectares) %
sideraram que se manteve estável e 39,45%
até 10 19,50
registraram aumento. A maior parte dos
lucros foi destinada ao pagamento de dívidas mais de 10 até 20 18,15
(21,46%), seguido de gastos com saúde, ali-
mentação e vestuário. mais de 20 até 50 43,34
Os beneficiários são homens brancos, en-
mais de 50 até 100 13,12
tre 30 a 50 anos, que não completaram o
ensino fundamental. Não estudam e trabalham mais de 100 até 500 5,84
exclusivamente no estabelecimento financiado,
democracia viva
142
Perfil Local
143
Rondônia
Área: 23.512,8 km 2 , equivalente a 2,79% do território nacional e
a 6,13% da Região Norte.
N.º de municípios: 52, sendo 34 criados a partir de 1990. Estima-se que o grau
IDH: 0,820, o 10º lugar entre os estados brasileiros. de endividamento do
Educação: aproximadamente 11% das crianças de 7 a 14 anos estão fora
governo de Rondônia
da escola. O índice de passagem do ensino fundamental para o ensino
médio não ultrapassa 13%. Entre a população adulta há altos índices de seja de R$ 1,2 bilhão,
analfabetismo, baixo nível de escolaridade e de qualificação profissional.
quase cinco vezes a
receita tributária de
Distribuição dos recursos 1996 ou 40% do PIB
por programa
O estado recebeu apenas 0,69% dos recur-
estadual de 1995.
sos do FAT destinados aos três programas Quase 80% da dívida
de geração de emprego e renda, equivalen-
te a R$ 50 269 188,00. Ao todo, foram
é de curto prazo.
realizadas 14.836 operações com um finan-
ciamento médio de R$ 3 388,00.
144
Perfil Local
Proger - Rondônia
Geração de ocupações por categoria
145
Os beneficiários possuem residência fixa Proger - Rondônia
(97%) e a maioria (85%) é proprietária dos Escolaridade dos novos ocupados
imóveis habitados. Têm acesso a serviços de
água canalizada (79%), coleta de lixo (92%),
mas apenas 35% dispõem de esgoto sanitário.
Cerca de 75% dos beneficiários atribuem
ao Proger a responsabilidade total ou parcial
pela geração das novas ocupações. Entre os
que aumentaram o lucro, 83% relacionam o
fato ao programa. A maioria dos beneficiá-
rios (94%) declarou não ter passado por
nenhum curso de capacitação. Mesmo as-
sim, foram apontados como sugestões para
a melhoria de negócios cursos técnicos e
profissionalizantes, novas técnicas de produ-
ção, venda e marketing, entre outros.
O programa significou a primeira expe-
riência de crédito bancário para 67% dos
Proger - Rondônia
beneficiários. Aproximadamente 70% pre-
Primeiro crédito
tendem solicitar um novo crédito. Os prin-
cipais entraves nos negócios foram a falta de
capital de giro (69%), os impostos (55%) e
a redução da demanda (24%).
Proger - Rondônia
Classe do beneficiário
democracia viva
146
Perfil Local
*Resposta múltipla
147
A produção aumentou depois do progra- Proger Rural - Rondônia
ma em 60% e as vendas em 56%. A renda Aplicação do lucro*
gerada foi direcionada a investimentos no
próprio negócio, pagamento de dívidas, com-
pra de animais, realização de benfeitorias e
aquisição de máquinas. Destaca-se que boa
parte do lucro foi utilizada com gastos que
visam à melhoria da qualidade de vida do
beneficiário e sua família, em itens como
saúde, educação, moradia e vestuário.
Pronaf
O número global de ocupações geradas
pelo Pronaf em Rondônia foi de 2.357,
uma variação de 21%. Houve uma estag-
nação no número de assalariados perma-
nentes com carteira, ao mesmo tempo que
diminuía o número de assalariados perma-
nentes sem carteira. O custo por nova
ocupação foi de R$ 6 465,25. Os trabalha-
dores temporários foram os principais
beneficiados, com um aumento de 32% na
quantidade de dias trabalhados. Também
foram mantidas 17.632 ocupações, a um
*Resposta múltipla
valor bem mais baixo, R$ 864,26.
A nova mão-de-obra foi utilizada principal-
mente nos serviços gerais de lavoura, colhei-
Pronaf - Rondônia
ta/extrativismo e melhoria das benfeitorias. Faixas etárias dos novos ocupados
A maioria é integrada por homens (87%), não-familiares
entre 21 e 40 anos, mas é preciso ressaltar o
percentual de 4% com menos de 14 anos.
Depois do Pronaf, a renda de 53% dos
beneficiários aumentou, assim como a produ-
ção (66%) e as vendas (66%). Os lucros foram
utilizados na melhoria da qualidade de vida da
família, com gastos com alimentação (30%),
saúde (24%), vestuário (19%), educação
(10%) e moradia (16%). Apesar disso, um
percentual considerável de recursos foi absor-
vido pelo pagamento de dívidas (33%).
democracia viva
148
Perfil Local
149
Região
Metropolitana de
São Paulo
População: 16,5 milhões de habitantes (IBGE/1996). O Banco do Brasil
N.º de municípios: 39 realizou operações quase
exclusivamente com
empresas. Já a Caixa
Distribuição dos recursos ciário é em média de
Econômica Federal teve
do Proger 38,7 anos, mas também mais de 70% de suas
Nos 39 municípios que compõem a Região é significativa a partici-
Metropolitana de São Paulo, de janeiro de pação de jovens. Quan-
operações efetuadas com
1995 a setembro de 1998, foram realizadas to à cor, cerca de 95% pessoas físicas,
788 operações do Proger, efetuadas pelo são brancos, e não há
Banco do Brasil e pela Caixa Econômica presença de nenhum
principalmente recém-
Federal. O valor total alocado na região foi de negro. Entre os benefi- formados.
R$ 18,5 milhões. A média do financiamento ciários, 44,6% e 46,9%
foi de R$ 23 mil, com operações variando de são de famílias das
R$ 1 mil a R$ 154 mil. A capital de São Paulo classes A ou B, respectivamente. Na clas-
concentrou mais de 70% das operações. se C, estão apenas 8% dos financiados; na
Entre os que conseguiram o crédito, classe D, menos de 1%. Não há registro
quase 70% são homens. A idade do benefi- para a classe E.
150
Perfil Local
Proger - RMSP
Geração de novas ocupações por categoria
Categorias Nº %
151
ANÚNCIO
AMIGOS
DO IBASE
democracia viva
152
Apoio