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UNIVERSIDADE LUSÓFONA

DE HUMANIDADES E TECNOLOGIAS
Paulo Jorge Bispo Pinto
(20084367 – 2N1)
Professora Berta Campos
Técnicas de Expressão Escrita
2010/06/16

Assunto: Texto lento – Passeio ao longo da praia.

Quem sou eu? E como será o meu final?


O sol já queima. Sento-me, como sempre, na esplanada da praia. Tomo um café,
junto àquela janela embaciada com a transpiração da minha vida passada. Eis-me, uma
figura digna de ser vista, a passear como habitualmente, ao longo da praia de Vale do
Lobo -t-shirt branca, calça de ganga russa esburacada, havaianas pretas, óculos de sol
Ray-Ban, comprados em Faro faz cinco anos, mochila de ganga sobre o ombro
esquerdo, o protector solar, duas sandes, frutas e água. Num sol de tarde que já não se
suporta, escolho e sento-me num lugar na praia. O calor está irrespirável; entretanto,
vão chegando as mesmas famílias do costume, tal como eu, “habituèes” ; alguns
homens bem mais novos e grupos de estrangeiros que estão de férias. Subitamente o
vento, como um dragão, vomita um ar quente. Levanto-me da cadeira em direcção ao
mar, logo de fronte, na esperança de arrefecer esse calor, contínuo e borbulhante, jamais
distante, aceso há sessenta e cinco anos.
Já com a bainha das calças apanhadas, os pés molhados, em tronco nú, a mochila
na areia, passeio. Olho o fim do mar e penso – sessenta e cinco anos! Apesar de aceitar
a idade, surpreende-me ainda não ter conseguido sentir-me frio.
Passeio. Já não corro ao longo da praia, como fazia. Olho o tempo no relógio de
pulso, apercebo-me de que já não sou o que era. Aumento de repente o ritmo do passo, e
passo após passo, inicio o exercício habitual, na tentativa me manter em forma. Vou e
volto até ao bar mais próximo, na Quinta do Lago, o “gigi”. Ao aproximar-me das
minhas coisas, estico os braços acima da cabeça e depois para os lados, fazendo rolar os
ombros, alongando e descontraindo os músculos, para terminar o exercício. Sinto-me
bem. Mesmo ali à minha frente, o mar. Mergulho nas pequenas ondas que se fazem
sentir, ouvir e desejar. Volto para junto das minhas coisas, limpo e fresco. Os músculos
cansam; amanhã, sei, estão algo doridos, mas sinto-me feliz, confiante, com uma auto-
estima reforçada, por ter conseguido, mais uma vez, acabar com o que me propusera
fazer.
Estendo a toalha de praia, tiro a sandes e a peça de fruta da mochila. Começo a
lanchar, observando a vizinhança perto das minhas coisas. Depois desta ligeira merenda,
deito-me na toalha a repousar e apanhar o sol de fim de praia.
Passados alguns minutos, o frio de um focinho encosta no meu braço. Uma
cadelinha, que se deita depois junto aos meus pés. “-Olá rapariga, como estás?”
pergunto-lhe eu, dando-lhe umas palmadinhas na cabeça, Ela rosna docemente, e lança
inquisidoramente os seus olhos redondos. Um acidente de automóvel fizera-a perder
uma pata, mas ainda se conseguia mexer bastante bem. A Alicia, uma inglesa que reside

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no Algarve há uns bons anos, -e que conheci por intermédio de um casal no jantar de
sábado à noite, no restaurante perto dos campos de ténis-, traz-la sempre consigo, faz-
lhe companhia todos os dias, e tal como eu, é também uma veraneante habitual da praia.
Alicia, olhando para mim, abana a cabeça, passa as mãos pelo cabelo como que
me pedindo desculpa. Sorrio, pego na cadelinha, levanto-me, dirijo-me a ela. Começa a
rir, pergunta-me do que é que tenho andado a fugir desde sábado? Respondo-lhe
perguntando o que queria dizer com aquilo, a que retorque “ tu sabes, tenho andado a
observar-te, evitas o olhar, esforças-te tanto que nem páras na tolha para leres ou
repousar. Fazes isso por três motivos. Por seres louco, estúpido ou para tentares
esquecer. E contigo eu sabia que era para tentares esquecer. Só não sabia porquê. Fiz
algo de errado? Fui fácil demais? Não gostaste? Ou estás com medo de assumir os
sentimentos porque passaste? Alicia, já com voz embargada, passa as mãos pelo cabelo
loiro, e dirige-se em direcção ao mar. Clamo “-Espera!” e corro para ela. Digo-lhe: “-é
estranho..., tu sabes, no sábado contei-te, após o jantar, que estava refém da minha
(falecida) companheira, com quem vivi durante os últimos dez anos da minha vida. Para
qualquer lado que olho vejo a imagem dela, vejo coisas que a trazem de volta à vida,
mas eu estou aqui ao teu lado, perto de ti, não fugi. Tens de me dar algum tempo, um
amor só se esquece com outro amor”.
Alicia senta-se à beira mar e agarra-me na mão. “-Raios!”, murmura, “O que é
que estou aqui a fazer? Não devia estar aqui. Não há motivo para isso!”, mas assim que
o disse, sabia que não era verdade. Olha-me por um momento, diz “-És tu o motivo
porque estou aqui”. Inspira fundo, levanta-se, agarra-me na mão, vamos de mão dada
até ao areal. Apanhamos os nossos pertences e dirigimo-nos para a esplanada. Aí,
pedimos umas imperiais, e um prato de deliciosos caracóis, que servido passados alguns
minutos, começamos de imediato a comer.
O gerente, lá do fundo, por detrás do balcão, sorri e acena, perguntando-nos se
estava tudo bem, se os caracóis estavam do nosso agrado. Alicia, de imediato, acena
afirmativamente e ambos sorrimos de uma forma comprometida para o Srº Beirão. Este
numa expressão percebida, retorque também com um sorriso de satisfação, não só por
nos ver juntos, como por sentir que estamos a gostar do serviço. Entretanto, já os raios
de sol daquela dia de Julho se começavam a pendurar directamente sobre as árvores, a
temperatura mantinha-se acima dos vinte cinco graus - o final de tarde parecia destinado
a não vir nunca.
Agarro na mão de Alicia, acerco-me dela e digo-lhe, sussurrando, que quando
olhava nos olhos dela parecia que via as ondas do mar, quando a tocava conseguia sentir
a sua pele macia. Quase em simultâneo beijo-a carinhosamente e sinto que a faço feliz.
Alicia diz-me que sabe que não vamos ficar juntos para sempre, mas gostaria de me
poder dar aquilo que procuro, mas não sabia o que era. “-Há uma parte em ti, que parece
manténs fechada. Tens momentos, em que pareces estar ausente, é como se não
estivesses realmente comigo. Tens na cabeça, alguém diferente de mim”. Aproximo-me,
tento negar, mas ela não acredita. Responde, “-Sou mulher, sei destas coisas. Às vezes,
quando olhas para mim, sei que estás a ver outra. É como se estivesses à espera de que
ela surgisse do nada para te levar para longe…”. Exclamo “-Por favor não digas mais

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isso, que me ofendes!” Faço-lhe uma carícia no rosto e no bonito cabelo loiro, olho-a
nos olhos, e lentamente abraçamo-nos, por uns instantes.
Acabados os caracóis, pedimos mais imperiais e uns pregos especiais da casa,
deliciosos, e por fim o inevitável café.
O céu entretanto ficou mais escuro, a Lua erguendo-se alta à medida que a noite
avançava. E sem que nenhum de nós tivesse dado por isso, começamos a conquistar
intimidade, um sentir bem de estar ali um com o outro.
Acabada a refeição, ambos satisfeitos com o “petisco”, nenhum fala. Alicia olha
para o relógio e viu serem já quase vinte e duas horas. As estrelas no esplendor do seu
brilho, pergunto-lhe se quer ir dar um passeio a pé pelo aldeamento para conversar,
descontrair e passear a cadelinha. Levantados, vamos passear no complexo de Vale do
Lobo. Olho para as estrelas e digo-lhe que já há muitas noites que não me sentia tão
bem, tão feliz, como naquela. Alicia muito carinhosamente dá-me um beijinho, abraça-
me e diz – “Contigo sinto-me outra mulher, também há muito que não me sentia tão
preenchida como hoje”. Começamos a rir que nem umas crianças e a fazer algum
barulho fora do normal. Uns turistas, passando, olham para nós a sorrir; de imediato
controlamos-nos e continuamos a andar.
Apercebo-me então, que alguns sentimentos vêm à superfície, impossíveis de
reprimir. Sento então que quero de novo fazer amor com ela e receber o amor dela. Era
o que mais queria fazer naquele momento. Mas também me apercebo de que não podia
ser como tinha sido da última vez. Alicia percebeu, pelo meu silêncio ensurdecedor, que
estava a pensar nela. Passados cerca de uns bons quarenta minutos, pergunto-lhe se está
cansada, liberto-me dos meus pensamentos. Alicia responde “-Um bocadinho. Na
verdade, começam a ser horas de ir para o apartamento.” Digo-lhe, num tom neutro, “-
Eu sei”. Ela olha para mim, agarra-me pela mão, vamos na direcção do seu apartamento.
À porta, convida-me a entrar para tomar um chá.
Passada cerca de uma hora de conversa, diz-me que se divertiu imenso,
pergunta-me se me volta a ver amanhã; respondo-lhe que sim e começo a beijá-la e
acariciá-la.
Por volta das cinco da manhã, acordo, levanto-me, caminho até à mesa da sala,
apanho uma caneta e uma folha. Sento-me e começo a escrever.
“Querida Alicia,
Escrevo-te esta carta à luz da vela enquanto estás deitada a dormir no quarto que
partilhamos esta noite. Embora não possa ouvir os sons harmoniosos do teu sono leve,
sei que estás aí, e que em breve acordarás. Não estarei ao teu lado para te ver acordar.
Mas sentirei o teu calor, o teu conforto. E os sons da tua respiração irão guiar-me
devagar para um lugar onde possa sonhar contigo, a mulher maravilhosa que tu és. Esta
chama que vejo agora ao meu lado leva-me a recordar outras chamas que têm passado
na minha vida (desculpa, não leves a mal). Sei que tudo na vida é efémero, tudo tem
princípio, meio e fim. Sou daqueles homens, que tenho medo do fim, e, por esse motivo
nem quero chegar ao meio, prefiro prosseguir o meu caminho sozinho para somente
recordar os momentos bons. Obrigado por este dia maravilhoso, não sei como te
agradecer, mas tornaste-o num dia que agradeço a Deus o ter-me dado na vida.

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És uma boa amiga e uma boa amante, não sei do que gosto mais em ti. Acarinho
ambos os lados, como acarinhei as pessoas que mais amei ao logo da minha vida. Tens
algo dentro de ti, Alicia, algo de belo e forte. Bondade - foi o que vi quando olhei para
ti. És uma das mulheres mais cheias de perdão e paz que conheci. Deus está contigo,
tem que estar, porque és a coisa mais próxima de um anjo que alguma vez encontrei.
Por favor, não fiques zangada comigo nos dias em que não me lembrar de ti, e
ambos sabemos que esses dias virão. Sabes que gosto muito de ti, que estarás sempre no
meu coração, e o que o que quer que aconteça, que saibas que adorei estar contigo e que
te dei todo o meu amor. Lamento muito não ter sido capaz de me despedir…”

João Pedro

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As justificativas para a fundamentar o texto lento acima escrito são o uso de:
Metáforas – “ … junto àquela janela embaciada com a transpiração da minha vida
passada …”; “…O calor está irrespirável …”; “…Subitamente o vento, como um
dragão, vomita um ar quente…”; “…na esperança de arrefecer esse calor, contínuo e
borbulhante …”; “…mergulho nas pequenas ondas que se fazem sentir, ouvir e
desejar…”; ”… ela rosna docemente, e lança inquisidoramente os seus olhos
redondos…”; “…se começavam a pendurar directamente sobre as árvores …” ; “olhava
nos olhos dela parecia que via as ondas do mar…”; “…leva-me a recordar outras
chamas que têm…”; “…És uma das mulheres, mais cheias de perdão e paz que
conheci….”; “…porque és a coisa mais próxima de um anjo que alguma vez
encontrei…”.
Encaixes – “…como sempre…”; “… a passear como habitualmente…”; “…o protector
solar…”; “…duas sandes…”; “…como um dragão…”; “…logo de fronte…”, etc.
Coordenação (conj.coordenativa) – “…escolho e sento-me num lugar na praia …”; “…
contínuo e borbulhante…” (copulativas);”…mas sinto-me feliz …”(adversativa); “…
nas pequenas ondas que se fazem sentir…”(explicativa), etc..
Subordinação (conj. subordinativa) – “…e digo-lhe, sussurrando, que quando olhava
nos olhos dela parecia que via as ondas do mar…”( integrante , funciona como c.
directo do verbo da oração subordinante); “…estar ausente, é como se não estivesses
realmente comigo…”(conjunção subordinativa comparativa)
Oração subordinada – “…És tu o motivo, porque estou aqui…”(“…porque estou
aqui…”, é oração subordinada (ligada pela conjunção subordinativa) e tem função de
complemento circunstancial da oração subordinante (“…és tu o motivo…”) ; ” … Deus
está contigo, tem que estar, porque és a coisa mais próxima de um anjo que alguma vez
encontrei…” ( a oração subordinada “… és a coisa mais próxima…”é introduzida pela
conj.subordinativa causal, logo é uma oração subordinada causal).
Advérbios – “…, a passear, como habitualmente, ao longo da praia…” (este
adv.circunstancial de modo, indica que era usual a pessoa passear (verbo) pela praia);
“…acena afirmativamente…” (adv.circunstancial de modo, dá-nos a circunstância de
como o verbo se exprime).
Adjectivos – “…mergulho nas pequenas ondas…” (este adjectivo tem função restritiva,
porque induz que há ondas maiores); ”…o calor está irrespirável …”( este adjectivo
tem função explicativa); “…silêncio ensurdecedor…”; ”…lançando os olhos redondos
…”( estes adjectivos têm função explicativa).
Para terminar acrescento, que é patente no decorrer da narrativa a ausência de ligação
entre as palavras e orações (da conjunção coordenada copulativa e), esperando, com
esse efeito estilístico dar ênfase aos principais termos das frases (ex. … Eis-me, uma
figura digna de ser vista, a passear como habitualmente, ao longo da praia de Vale do
Lobo -t-shirt branca, calça de ganga russa esburacada, havaianas pretas, óculos de sol
Ray-Ban, comprados em Faro faz cinco anos, mochila de ganga sobre o ombro
esquerdo, o protector solar, duas sandes, frutas e água...).

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